"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > Romanos |
Rm.1:1 | 1. Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, Paulo. Anteriormente chamado Saulo (sobre o significado desses nomes, ver a Nota Adicional a Atos 7). Paulo seguiu um antigo costume quando inseriu seu nome como autor em suas saudações iniciais. Alguns exemplos desse costume são encontrados em: Josefo, Antiguidades xvi.6.3, 4; At.23:26; e 1 Macabeus 11:30, 32. Servo. Do gr. doulos, literalmente, “alguém obrigado”, portanto, “servo” ou “escravo”. Paulo usa este termo para expressar seu relacionamento com Cristo (Gl.1:10; Fp.1:1; Tt.1:1). A palavra envolve a ideia de pertencer a um senhor e de prestar serviço como seu escravo. Paulo entendia que os cristãos pertencem a Cristo por compra (1Co.6:20; 1Co.7:23; Ef.1:7; 1Pe.1:18-19) e aplicava a palavra doulos aos cristãos (Rm.6:22; 1Co.7:22; Ef.6:6; 1Pe.2:16; Ap.19:2; Ap.19:5). Não devemos nos envergonhar desse título. Precisamos reconhecer que fomos adquiridos por Cristo e, por isso, nos entregamos à Sua vontade. Esse serviço absoluto constitui a verdadeira liberdade (1Co.7:22; Gl.4:7), pois, quanto mais somos submissos à autoridade de Cristo, mais livres nos tornamos da escravidão dos homens (1Co.7:23). Jesus Cristo. Sobre o significado desses títulos, ver com. de Mt.1:1. Apóstolo. Do gr. apóstolos, literalmente, “enviado”, portanto, “mensageiro”, “enviado em uma missão especial”. No NT, o título é geralmente restrito àqueles que foram selecionados e instruídos pessoalmente por Cristo, ou seja, os doze (Lc.6:13), assim como por Paulo, que também foi chamado diretamente pelo Senhor (At.9:15; At.22:14-15; At.26:16-17; Gl.1:1) e instruído por Ele (Gl.1:11-12). Separado. Do gr. aphorizo, “marcado por um limite”; a palavra descreve a separação entre o povo de Deus e o mundo (Lv.20:26, LXX), a separação final entre os justos e os ímpios (Mt.13:49; Mt.25:32) e a separação dos apóstolos para tarefas especiais (At.13:2). É uma explicação do chamado apostólico de Paulo, indicando que ele foi selecionado do mundo, dentre seus companheiros, e consagrado ao ministério do evangelho. Evangelho. Do gr. euaggelion (ver com. de Mc.1:1). A palavra “evangelizar” vem a partir das mesmas duas raízes. Um evangelista é aquele que conta as boas-novas. Na carta aos Romanos, Paulo cumpre sua missão de tornar conhecida uma boa notícia sobre Deus. Tyndale, em 1525, entendeu que a frase “para o evangelho” significa “pregar o evangelho”. Ele tem sido seguido nessa interpretação por um bom número de tradutores modernos. Outros preferem deixar a frase ambígua. O contexto parece indicar que, aqui, Paulo revela o propósito de sua vocação e separação. Ele foi chamado para ser apóstolo, separado para proclamar as boas-novas de Deus acerca de Seu Filho (ver com. de Rm.1:3). |
Rm.1:2 | 2. o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, Prometido. Essa promessa foi feita nas passagens do AT que prediziam a vinda do Messias, mas também estava implícita no significado de todo o AT. O evangelho não foi um adendo da parte de Deus, nem foi uma mudança abrupta em Seu propósito constantemente revelado ao ser humano. Foi o cumprimento de Sua promessa feita aos nossos primeiros pais (ver com. de Gn.3:15) e a cada nova geração. Por intermédio dos Seus profetas. Não foram só os escritores dos livros proféticos do AT, mas também outros, como Moisés (Dt.18:18), Samuel (At.3:24) e o salmista (Sl.40:7) que profetizaram o evangelho (cf. Hb.1:1). Sagradas Escrituras. Ao longo da epístola, Paulo se refere a passagens do AT para mostrar que o evangelho estava em plena harmonia com os oráculos de Deus já reconhecidos (ver At.26:22-23). Paulo estava ainda mais ansioso para provar a seus compatriotas que o cristianismo estava edificado sobre o fundamento dos profetas e escritos sagrados judaicos. |
Rm.1:3 | 3. com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi Com respeito a Seu Filho. Também é possível conectar esta frase com “as Sagradas Escrituras” ou com “outrora, prometido”. Nosso Senhor Jesus Cristo (NTLH). No grego e na ARA, estas palavras não estão aqui no v. 3, mas no final do v. 4 (ver com. Rm.1:4). Veio. Do gr. ginomai, “tornar-se”. A palavra pode ter o significado de “nascer” (ver Gl.4:4; ver com. de Jo.8:58). Segundo a carne. Ou seja, conforme Sua natureza humana (Rm.9:5). Descendência de Davi. Os judeus estavam esperando que o Messias viesse da linhagem real (Mt.22:42; Jo.7:42), como previsto (Is.11:1; Je.23:5; ver com. de Mt.1:1). |
Rm.1:4 | 4. e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor, Designado. Do gr. horizo, “marcar por um limite”, portanto, “designar”, “determinar”, “definir”. A palavra também é traduzida como “ordenado” (At.10:42; At.17:31). Horizo é a raiz da palavra composta grega traduzida como “separado”, em Rm.1:1. Com poder. Ou, “em poder”. Estas palavras podem estar conectadas, funcionando como advérbio com “designado”, ou, como adjetivo, ligadas a “Filho de Deus”. Tomada como advérbio, a passagem significa que Jesus foi declarado, de forma poderosa ou miraculosa, ser o Filho de Deus, pela ressureição. Tomada como um adjetivo, a passagem remete ao estado de exaltação de Cristo como “Filho de Deus com poder”, na ressurreição e depois dela. Ambas as interpretações estão em harmonia com o restante das Escrituras (cf. Ef.1:19-21). Nenhuma dessas interpretações dá a entender que Jesus não tinha poder ou qualidade divina antes da ressurreição. Espírito de santidade. Alguns veem aqui uma referência ao Espírito Santo e citam Rm.8:11, em apoio a essa interpretação. No entanto, o Espírito nunca é designado dessa maneira. Outros interpretam a frase como contrapartida de “segundo a carne” (Rm.1:3). Observam que, segundo a carne, Jesus era descendente de Davi, mas, de acordo com o espírito de santidade, Ele também era Filho de Deus. As implicações teológicas dessa passagem têm sido discutidas pelos intérpretes. No entanto, não parece que, aqui, Paulo estava preocupado com o contraste entre a humanidade e a divindade de Cristo, mas era como evidenciar que Jesus é tanto o prometido Messias judeu como o Filho de Deus. Dos mortos. Paulo apresenta a ressurreição de Jesus como prova de filiação divina. Jesus afirmou repetidamente que era o Filho de Deus (Mt.27:43; Jo.5:17-30; Jo.10:36) e previu que ressuscitaria ao terceiro dia (Mt.12:40; Jo.2:19; Jo.2:21). Paulo, então, enfatiza que Jesus foi provado como Filho de Deus, pelo cumprimento de Sua ressurreição miraculosa, como previsto. No grego, as palavras “Jesus Cristo, nosso Senhor” (v. 3) ocorrem no final do v. 4. Paulo, finalmente, identifica o Filho de Davi e Filho de Deus com o Jesus de Nazaré, já reconhecido pelos cristãos como Cristo e Senhor. Esses nomes estavam cheios de significado para os judeus. “Jesus”, transliteração grega do aramaico Yeshua’, “Josué”, significa “Yahweh é salvação” (ver com. de Mt.1:1). “Cristo” é uma transliteração do equivalente grego do heb. Mashiach, “Messias”, o “Ungido” (ver com. de Mt.1:1). “Senhor”, como título de um divino governante e mestre, já era familiar por ter sido usado na LXX (ver com. de Jo.20:28). |
Rm.1:5 | 5. por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios, Por intermédio de quem. Paulo afirma que sua missão apostólica originava-se do próprio Cristo, não de homens. Viemos a receber. Provavelmente, o plural é usado para o singular, prática que não é incomum para pessoas em posição de autoridade. No entanto, também é possível que Paulo inclua aqui os demais apóstolos. Graça e apostolado. Muitos intérpretes tomam estes dois termos em conjunto, como equivalente à graça, ou favor, do apostolado. Paulo fala muitas vezes de seu chamado ao apostolado como a “graça que foi dada” por Deus (Rm.15:15-16; Gl.2:7-9; Ef.3:7-9). Outros, porém, preferem entender que “graça” se refere especialmente à graça pessoal da salvação, que Paulo aceitou pela primeira vez na estrada de Damasco (At.9:1-16; At.15:10; sobre os significados do termo “graça”, ver com. de Rm.3:24). Para o apóstolo, sua conversão e chamado ao apostolado, que ocorreram quase simultaneamente, devem ter parecido um só evento. De “blasfemo, e perseguidor, e insolente” (1Tm.1:13), ele foi chamado para pregar “a fé que, outrora, procurava destruir” (Cl.1:23). Não é de admirar que Paulo pudesse exclamar: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1Co.15:10), não apenas um cristão convertido, mas também um apóstolo comissionado. Obediência por fé. A frase grega assim traduzida ocorre novamente em Rm.16:26. Esta é a tradução mais literal, pois o artigo definido não está presente no grego. Na ausência do artigo, “fé” não é, provavelmente aqui, equivalente a um corpo de doutrina a ser recebido e crido (ver At.6:7; Jd.1:3, em que o artigo não ocorre). Fé representa o hábito e a atitude de espírito pelos quais o cristão mostra lealdade e devoção a Cristo, assim como sua dependência dEle. Essa fé produz obediência. “Obediência de fé” pode ser entendida como significando tanto a obediência à fé como um princípio controlador quanto a obediência que caracteriza ou brota da fé. De qualquer maneira, o fato significativo é que Paulo associa a fé à obediência. A grande mensagem da epístola aos Romanos é que a justiça vem pela fé (Rm.3:22) Essa é a boa notícia que Paulo foi chamado a divulgar. Ele considera seu apostolado como uma incumbência de levar a obediência que brota da fé a todas as nações. Por amor do Seu nome. Ou seja, provavelmente, “por causa do Seu nome”. O objetivo final da missão de Paulo era promover o conhecimento e a glória de Cristo. O nome de Cristo seria engrandecido pela obediência que provém da fé nEle. Paulo estava disposto a arriscar a vida por uma causa (At.15:26; At.21:13; At.9:16). Todos os gentios. A palavra “gentios” se refere aos não judeus e pode apontar para o próprio apostolado especial de Paulo (ver At.22:21; Gl.1:16; Gl.2:7-9; Ef.3:1; Ef.3:8). Aqui, no entanto, a frase pode refletir a incumbência original que Jesus deu aos discípulos (Mt.28:19-20; Mc.16:15-16) e a ordem a Paulo, no momento de sua conversão (At.9:15), de levar o evangelho a todo o mundo. |
Rm.1:6 | 6. de cujo número sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo. De cujo número. Isto é, dentre todas as nações, ou gentios, em favor de quem ele recebeu sua designação. Talvez Paulo expresse aqui sua autoridade para enfrentar os cristãos em Roma. Chamados para serdes de Jesus Cristo. Os chamados de Jesus Cristo (KJV). Isso pode significar “os chamados que pertencem a Jesus Cristo”, “chamados por Jesus Cristo” ou “chamados para serdes de Jesus Cristo”. |
Rm.1:7 | 7. A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Todos [...] que estais em Roma. Por estas palavras, Paulo dá a entender, evidentemente, todos os cristãos em Roma (v. Rm.1:8). Amados de Deus. Deus ama a todos (Jo.3:16; Ef.2:4-5), mas, para os que foram reconciliados com Deus pela morte de Cristo, foi removida a barreira que os separava do amor de Deus (Rm.5:10; ver com. de Jo.16:27). Santos. Do gr. hagioi, literalmente, “os santos”. O termo é comum no NT para descrever os cristãos (At.9:32; At.9:41; At.26:10; Ef.1:1); não representa necessariamente pessoas que já são perfeitas em santidade (1Co.1:2; 1Co.1:11), mas aqueles que podem ser considerados separados do mundo e consagrados a Deus, pela profissão e pelo batismo. A ideia básica de hagioi é “separado do uso comum para o sagrado”. Era nesse sentido que o termo hebraico equivalente, qodesh ou qadosh, era utilizado no AT e aplicado, por exemplo, ao tabernáculo e seus móveis (Ex.40:9). Era usado com respeito ao povo judeu como nação (Ex.19:5-6; Dt.7:6), não que eles fossem, individualmente, perfeitos e santos, mas que eram distintos das outras nações e separados para o serviço do verdadeiro Deus, ao passo que as outras nações eram dedicadas à adoração de ídolos. Assim, o termo é usado aqui em relação aos cristãos de Roma, que foram chamados para ser separados das demais pessoas e de outras formas de vida e consagrados ao serviço de Deus. Graça. Do gr. charis, “boa vontade”, não é a palavra comum de saudação usada em uma carta grega. O termo comum era chairein, que manifestava o desejo de saúde e prosperidade. Chairein ocorre no NT, na carta de Lísias ao governador romano Félix (At.23:26, NTLH) e na epístola de Tiago (Tg.1:1). Em cada um desses casos, é traduzida como “saudações”. Chairein, usada em 2 João 10 (“dar as boas-vindas”), indica que os cristãos estavam acostumados a saudar uns aos outros dessa maneira (ver Mt.26:49; Mt.27:29; Mt.28:9; Mc.15:18; Lc.1:28; Jo.19:3, em que chaire e chairete são traduzidas como “salve”). Mas, em vez de chairein, “saudações”, com sua ideia predominante de prosperidade temporal, Paulo usou charis, “graça”, uma palavra que começava a assumir um sentido exclusivamente cristão (ver com. de Rm.3:24). Paz. A forma hebraica comum de saudação era shalom, “paz”, ou shalom leka, “paz a vós” (ver Gn.29:6; Gn.43:23; Dn.10:19; Lc.10:5-6). Jesus cumprimentou dessa forma os discípulos reunidos após a ressurreição (Jo.20:19; Jo.20:26). A vida, morte e ressurreição de Cristo deram novo significado para esses dois termos familiares antigos. “Graça” passou a ser entendida como o amor redentor de Deus em Cristo (ver 2Tm.1:9). “Paz” tornou-se a paz com Deus por meio da redenção (Rm.5:1). Com esse significado cristão, “graça” e “paz” se tornaram a saudação habitual de Paulo em todas as suas epístolas (1Co.1:3; 2Co.1:2; Gl.1:3; Ef.1:2; Fp.1:2; Cl.1:2; 1Ts.1:1; 2Ts.1:2; Fm.1:3; 1Tm.1:2; 2Tm.1:2; Tt.1:4). Pedro e João também usaram saudações semelhantes (1Pe.1:2; 2Pe.1:2; 2Jo.1:3; Ap.1:4). Deus, nosso Pai. Como criador, Deus é o pai de todos (At.27:28-29), mas especialmente dos cristãos, que nasceram de Deus (Jo.1:12-13; 1Jo.5:1; 1Jo.3:1-2), que foram adotados em Sua família (Rm.8:15) e que estão se tornando semelhantes a Ele (Mt.5:43-48). A saudação de Paulo é realmente uma oração para que Deus conceda graça e paz aos crentes de Roma. Assim, em todas as suas epístolas, suas saudações são mais do que uma mensagem de cortesia. Foram transformadas pelo amor cristão em oração pela bênção celestial. Senhor Jesus Cristo. Jesus e o Pai são colocados juntos, sendo ambos considerados a fonte de graça e paz. Essa é uma prova do reconhecimento de Paulo sobre a divindade de Cristo (cf. Fp.2:6). No NT, Jesus é mencionado como Aquele que trouxe paz ao ser humano (Jo.14:27; Jo.16:33; At.10:36; Rm.5:1; Ef.2:17). |
Rm.1:8 | 8. Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé. Dou graças. Paulo inicia muitas de suas cartas agradecendo a Deus em favor de seus leitores (ver 1Co.1:4; Fp.1:3; Cl.1:3; 1Ts.1:2; 2Ts.1:3; 2Tm.1:3-5; Fm.1:4) e, às vezes, expressa seu desejo de vê-los (Fp.1:8; 2Tm.1:4). Paulo reconhecia e era grato pelos avanços já alcançados por outros no caminho cristão, embora pudessem necessitar de censura (ver 1Co.1:4-5; 1Co.1:11). Dessa forma, ele encorajava os cristãos e conquistava sua atenção e simpatia às instruções subsequentes. Meu Deus. Paulo enfatiza a natureza pessoal de sua relação com Deus, como cristão e apóstolo (cf. 1Co.1:4; Fp.1:3; Fp.4:19; Fm.1:4). Mediante Jesus Cristo. Por ação de graças, bem como pela oração, podemos nos aproximar de Deus por meio de Cristo (cf. Ef.5:20; Hb.13:15). Em todo o mundo. Isso pode ser o equivalente ao nosso “em toda parte” (ver com. de Jo.12:19; At.17:6; Cl.1:6) ou pode ser entendido como se representasse o império romano. Uma vez que Roma era a capital, e os viajantes passavam constantemente por ela para as várias partes do império, é fácil ver como as notícias sobre os cristãos romanos poderia se espalhar para “todo o mundo”. Essa notícia era recebida com interesse pelos membros das outras igrejas cristãs por todo o império. Paulo pode ter pensado nestes, em particular, como os que proclamavam a fé e a obediência de seus companheiros cristãos em Roma. Vossa fé. Ou seja, “vossa lealdade e devoção a Cristo, vosso cristianismo”. Um bom relatório semelhante é mencionado em Rm.16:19: “Pois a vossa obediência é conhecida por todos”. |
Rm.1:9 | 9. Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós Deus [...] é minha testemunha. Só Deus poderia conhecer a veracidade dessa declaração, e o apóstolo apela a Ele como testemunha (cf. 2Co.1:23; 2Co.11:31; Gl.1:20; Fp.1:8; 1Ts.2:5; 1Ts.2:10). Paulo escreveu sua carta em Corinto, onde pouco antes sua sinceridade fora questionada, especialmente por causa do adiamento de uma visita prometida (2Co.1:15-24). Então, ele estava prestes a partir para Jerusalém, aparentemente dando as costas à igreja de Roma. É possível que sua sinceridade fosse novamente posta em dúvida. Podia-se até suspeitar de que ele tivesse vergonha de pregar o evangelho em Roma. No momento em que Paulo não estava em posição de provar o contrário, ele só podia afirmar seu amor, suas muitas orações, seu sincero desejo de vê-los e convidar o Deus onisciente como testemunha de que ele dizia a verdade (Rm.1:9-16). Em meu espírito. O serviço de Paulo não era mais uma função cerimonial, mas espiritual, devoção própria a serviço de Deus na pregação do evangelho de Cristo. Incessantemente. Paulo mostrava preocupação semelhante por outras igrejas (cf. Ef.1:15-16; Fp.1:3-4; Cl.1:3-4; 1Ts.1:2-3; 1Ts.2:13). O progresso do evangelho em todos os lugares era seu único interesse. Faço menção. Paulo nunca tinha visto a comunidade cristã de Roma, mas não se esquecia dela em suas orações. |
Rm.1:10 | 10. em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos. Nalgum tempo. Ou, “finalmente”. Havia muito tempo, Paulo desejava visitar Roma (v. Rm.1:13). Pela vontade de Deus. Deus conhece o fim desde o princípio, e é sempre bom se submeter a Sua vontade e direção. Essa era a prática de Paulo em seu ministério (ver At.16:7; At.16:9-10), e somos instruídos a fazer o mesmo (Tg.4:15). Pela vontade de Deus, o pedido de Paulo para visitar Roma foi concedido mais tarde, mas não como o apóstolo esperava. Ele chegou lá como prisioneiro em cadeias (At.28:14-16; At.28:20). Ofereça boa ocasião. Ou, “seja bem-sucedido”. O significado literal é “uma boa viagem”, mas, nos tempos do NT, a expressão era usada costumeiramente para designar prosperidade em geral (ver 1Co.16:2; 3Jo.1:2). |
Rm.1:11 | 11. Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, Dom. Do gr. charisma, “dom de favor ou graça”, a partir da palavra charis, “graça”. Este dom espiritual que Paulo ansiava compartilhar pessoalmente com os crentes de Roma era a bênção do incentivo e crescimento na fé cristã (v. Rm.1:12). Confirmados. Ou, “fortalecidos”. Paulo não diz: “para que eu possa fortalecê-los”. Ele sabe que é apenas um instrumento por meio do qual o próprio Deus iria fortalecer e revigorar a vida espiritual dos cristãos romanos (cf. Rm.16:25; 2Ts.2:17). |
Rm.1:12 | 12. isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. Isto é. Com toda humildade e cortesia cristãs, Paulo se apressa a corrigir qualquer impressão que possa ter dado pela declaração do v. Rm.1:11, de que seu objetivo seria apenas transmitir algo, cabendo aos cristãos romanos apenas receber. Não era sua intenção ter “domínio sobre a fé” daquela comunidade (2Co.1:24). Ele reconhecia que seus leitores também eram cristãos e esperava ser beneficiado pela partilha de uma “fé mútua”. Confortemos. Ou, “incentivemos”. O v. 12 parece ser mais do que uma mera expressão de tato e cortesia. O apóstolo experiente se une aos crentes em Roma como alguém que também necessita ser incentivado. A perfeição cristã não é para ser encontrada em reclusão ou isolamento. Ela é desenvolvida quando a fé dos cristãos é incentivada e estimulada pelos companheiros fiéis. |
Rm.1:13 | 13. Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios. Não quero [...] que ignoreis. A expressão usual de Paulo, quando deseja chamar a atenção para um ponto importante (ver Rm.11:25; 1Co.10:1; 1Co.12:1; 2Co.1:8; 1Ts.4:13). Impedido. Isto é, obstruído ou estorvado. Paulo dá mais uma prova da sinceridade de seu desejo de visitar a igreja de Roma. Visitá-los tinha sido não só seu desejo, mas seu objetivo (At.19:21). Contudo, ele tinha sido impedido de fazer a viagem (Rm.15:22; 1Ts.2:18; At.16:6-7). Conseguir [...] algum fruto. Paulo esperava colher algum fruto entre eles, de pessoas levadas ao conhecimento de Cristo ou ao aumento de fé e boas obras. Jesus tinha orientado Seus discípulos a “ir e dar fruto”, na própria vida e na vida de outros (Jo.15:16; Jo.4:36). “Fruto” é uma figura de linguagem comum no NT, Paulo a utiliza para representar os bons e os maus resultados (Rm.6:21-22; Rm.7:4-5; Gl.5:22; Fp.1:22; Fp.4:17; Cl.1:6). Gentios. Ou, “nações” (ver com. do v. Rm.1:5). As palavras “entre vós [...] também entre os outros gentios” sugerem que a igreja de Roma era predominantemente gentílica. |
Rm.1:14 | 14. Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; Devedor. Paulo sentia que “pesava” sobre ele a “obrigação” de pregar o evangelho (1Co.9:16). Esse sentimento da obrigação de tornar conhecido o evangelho, tanto quanto possível, a todas as nações da Terra pode ter sido em parte devido à sua incumbência especial para os gentios (At.9:15; Rm.11:13). Porém, a mesma obrigação repousa sobre os cristãos de todos os lugares, que receberam as bênçãos do conhecimento da salvação (ver MDC 135). Tanto a gregos. Paulo adota a divisão convencional grega de toda a humanidade em gregos e não gregos. Os gregos consideravam como bárbaras todas as pessoas que falavam línguas estrangeiras. A expressão não é necessariamente de reprovação. A distinção é principalmente de língua e de raça (ver 1Co.14:11). Em Roma, a grande metrópole, viviam representantes de todas as nações e níveis de cultura e educação. Paulo declara sua dívida de pregar o evangelho a todo o mundo gentílico, independentemente de raça e cultura. Tanto a sábios. O evangelho tem uma mensagem para todos. Os filósofos estavam inclinados a desprezar a multidão ignorante. Os escribas judeus consideravam amaldiçoados aqueles que não conheciam a lei (Jo.7:49). Mas o evangelho é para todas as pessoas. Na verdade, parece ter sido mais prontamente recebido primeiro pelas pessoas comuns (1Co.1:26-29). Nem os “sábios” deveriam ser esquecidos. Os gregos se orgulhavam de sua sabedoria e nela confiavam (1Co.1:22). No entanto, o evangelho era destinado a eles também. O próprio Paulo era muito educado. As pessoas podem diferir em língua, cultura e inteligência, mas o evangelho é para todos. A relação que os homens têm para com Cristo é mais profunda do que as distinções nacionais e pessoais. |
Rm.1:15 | 15. por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma. Quanto está em mim. Trata-se de uma expressão idiomática grega difícil. Muitos intérpretes entendem que a primeira parte deste versículo significa “no que me diz respeito, e até onde tiver essa oportunidade, estou pronto a pregar o evangelho a vós também”. Em Roma. Paulo já havia pregado nas grandes cidades de Éfeso, Atenas e Corinto. Ele estava ansioso para proclamar o evangelho na capital do mundo mediterrâneo. |
Rm.1:16 | 16. Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; Não me envergonho. Os judeus consideravam Paulo um apóstata. Ele havia sido desprezado e perseguido entre os gentios. Havia sido expulso de cidade em cidade e tinha sido considerado “lixo do mundo” e “escória de todos” (1Co.4:13). Ele estava bem consciente de que a palavra da cruz é “loucura” para os gregos e “escândalo” para os judeus (1Co.1:23). Mas, por estar tão convencido da veracidade do evangelho e por ter vivido tão plenamente sua bênção e poder, não só se orgulhava do evangelho, mas também exaltava a cruz de Cristo, que era o que mais ofendia a muitos (Gl.6:14). De Cristo (ACF).Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam que estas palavras devem ser omitidas. No entanto, a omissão não muda o significado da passagem. O poder de Deus. O evangelho é a maneira pela qual Deus exerce Seu poder para a salvação. Onde quer que o evangelho encontre corações crentes, ele é um poder divino pelo qual são removidos todos os obstáculos para a redenção da humanidade. Paulo afirmava essa realidade, levando em conta sua experiência. Ele sentia esse “poder de Deus” em sua vida e testemunhava de seu efeito sobre os outros (1Co.1:18; 1Co.1:24; 1Co.2:1-5). Que crê. O evangelho é para todos (1Tm.2:4), mas é “o poder de Deus para a salvação” apenas para aqueles que voluntariamente o aceitam. Essa aceitação voluntária é a fé (ver Jo.3:16-17). Primeiro do judeu. Paulo sempre situa os judeus em primeiro lugar, no privilégio e na responsabilidade (Rm.2:9-10). A eles haviam sido confiados os oráculos de Deus (Rm.3:1-2). Eles tinham a lei e os serviços típicos do templo. O Messias tinha vindo por meio deles (Rm.9:5). Era mais que natural que o evangelho fosse pregado a eles, em primeiro lugar. De fato, essa foi a ordem pela qual o evangelho foi proclamado ao mundo (At.13:46; Mt.10:5-6; Mt.21:43; Lc.24:47; At.18:6). Em seu ministério, Paulo costumava iniciar seu trabalho pelas sinagogas (At.17:1-2; At.18:4; At.18:6; At.19:8). Um de seus primeiros atos após a prisão em Roma foi o de apresentar o evangelho aos líderes judeus de lá (At.28:17; At.28:23). Grego. Do gr. hellen, aqui equivalente a “gentio” (ver Rm.2:9-10; Rm.3:9; ver também com. de Jo.7:35). “Judeu e grego” era a designação judaica de toda a humanidade, de acordo com a religião (ver At.14:1; 1Co.10:32). “Gregos e bárbaros” era a divisão grega de acordo com a nacionalidade e cultura (ver com. Rm.1:14). |
Rm.1:17 | 17. visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. A justiça de Deus. Pode-se entender que essa frase se refere: (1) à própria justiça de Deus, seja a justiça que vem de Deus, ou a que é aceitável a Ele; ou (2) à forma de restituir o ser humano à justiça de Deus. Parece que, nesta declaração que resume o grande tema da epístola, Paulo usa o termo “justiça de Deus” num sentido geral e abrangente. O evangelho revela a justiça e a perfeição de Deus (Rm.3:26). Revela o tipo de justiça que vem de Deus e como pode ser recebido pelo ser humano (Mt.5:20; Fp.3:9; ver com. de Rm.4:3-5). Revela. Ou, “está sendo revelada”. O tempo presente indica uma ação contínua. A justiça de Deus foi revelada especialmente na morte de Cristo (Rm.3:21-26), mas a revelação é repetida na proclamação do evangelho e na experiência espiritual de cada pessoa que ouve e crê no evangelho (Gl.1:16). O ser humano, sem a ajuda divina, jamais poderia conceber ou atingir essa justiça divina por sua própria razão e filosofia. A justiça de Deus é uma revelação dEle. Nele (ARC). Ou seja, no evangelho. De fé em fé. Comparar com “de glória em glória” (2Co.3:18) e “de força em força” (Sl.84:7). A justiça de Deus é recebida pela fé e, quando recebida, resulta em uma fé sempre crescente. Conforme a fé é exercitada, somos capazes de receber cada vez mais da justiça de Deus, até que a fé se torne uma atitude permanente em relação a Ele. Como está escrito. Aqui, como no v. Rm.1:2 e em muitas outras passagens da epístola, Paulo demonstra que a mensagem do evangelho está em harmonia com os ensinamentos do AT. O justo viverá por fé. Ou, “aquele que pela fé é justo viverá”. A expressão “pela fé” pode ser conectada com “o justo” ou com “viverá”. A citação é de Hc.2:4. Durante a invasão dos caldeus, Habacuque foi confortado com a certeza de que o justo estaria a salvo, por sua fé e confiança em Deus (ver com. de Hc.2:4). Um significado semelhante pode ser notado no uso que Paulo fez da citação em Rm.1:17. A pessoa justa não viverá na dependência de suas próprias obras nem de seus méritos, mas pela confiança e fé em Deus. Outros preferem ligar “por fé”, a “o justo”, como forma de expressar mais exatamente o tema da epístola, a justificação pela fé. Paulo tenta mostrar que é somente pela fé que a pessoa pode ser justa diante de Deus. Unicamente a pessoa que é justa pela fé viverá. Qualquer que seja a forma, o significado é o mesmo. Em ambos os casos, a ênfase está na fé. |
Rm.1:18 | 18. A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; Porque (ARC). Aqui se inicia o principal argumento da epístola. Primeiramente, Paulo procura mostrar que todos, gentios e judeus, precisam da justiça que se revela no evangelho, pois todos são pecadores e, por isso, estão expostos à ira de Deus, tanto gentios (Rm.1:13-32) como judeus (Rm.2:1; Rm.3:20). A ira de Deus. Ou seja, o desagrado divino contra o pecado, resultando, em última análise, no abandono da pessoa ao juízo da morte (Rm.6:23; Jo.3:36). A ira do Deus infinito não pode ser comparada à paixão humana. Deus é amor (1Jo.4:8) e, embora odeie o pecado, Ele ama o pecador (CC, 54). No entanto, Deus não força Seu amor sobre aqueles que não estão dispostos a receber Sua misericórdia (ver DTN, 22, 466, 759). Assim, a ira de Deus contra o pecado é exercida quando Ele retira Sua presença (e Seu poder de dar vida) daqueles que optam por permanecer no pecado e, consequentemente, colhem suas consequências inevitáveis (ver Gn.6:3; cf. DTN, 107, 763, 764; CC, 17, 18). Isso é ilustrado pela terrível experiência dos judeus após haverem rejeitado a Cristo. Desde que se firmaram em sua impenitência obstinada e recusaram as últimas ofertas de misericórdia, “afastou Deus então deles a proteção, retirando o poder com que restringia Satanás e seus anjos, de maneira que a nação ficou sob o controle do chefe que haviam escolhido” (GC, 28). Quando a ira de Deus contra o pecado caiu sobre Cristo como nosso substituto, foi a separação de Seu Pai que Lhe provocou tão grande angústia. “Para escapar a essa agonia, não deve exercer Seu poder divino. Como homem, cumpre-Lhe sofrer as consequências do pecado humano. Como homem, deve suportar a ira divina contra a transgressão” (DTN, 686). Finalmente, na cruz, “a ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniquidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. [...] O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem” (DTN, 753). Assim, como Paulo explica em Romanos 1:24, 26 e 28, Deus revela Sua ira fazendo cair sobre os impenitentes os resultados inevitáveis de sua rebelião. Essa resistência persistente ao amor e à misericórdia de Deus culminará na revelação final da ira de Deus no dia em que, finalmente, o Espírito de Deus for retirado. Desabrigados da graça divina, os ímpios não terão proteção contra o maligno. “Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda” (CC, 614). Então, descerá fogo do céu, da parte de Deus, e pecado e pecadores são destruídos para sempre (Ap.20:9; Ml.4:1; 2Pe.3:10). Todavia, nem mesmo essa revelação final da ira de Deus na destruição dos ímpios será um ato arbitrário de poder. “Deus é a fonte da vida; e quando alguém escolhe o serviço do pecado, separa-se de Deus, desligando-se assim da vida” (DTN, 764). Deus dá às pessoas um tempo de existência, tempo para que desenvolvam seu caráter. Quando isso está feito, elas recebem os resultados de sua própria escolha. “Por uma vida de rebelião, Satanás e todos quantos a ele se unem colocam-se em tanta desarmonia com Deus, que Sua própria presença lhes é um fogo consumidor” (ibid.; cf. GC, 543). Revela. Ou, “está sendo revelada” (ver Rm.1:17). A plena manifestação da ira de Deus será vista no fim do mundo (Rm.2:5; 1Ts.1:10; 2Ts.1:7-9; Ap.6:16-17). Mas o desagrado de Deus contra o pecado também está sendo revelado na condição da humanidade. Os vícios degradantes e a maldade deliberada a que os pecadores estão entregues (Rm.1:24-32) comprovam a condenação e punição do pecado, da parte de Deus. A pregação de Paulo sobre a justiça de Deus revelada no evangelho (v. Rm.1:17) também serve para revelar a ira de Deus mais claramente. Do céu. A revelação da ira divina vem do trono de Deus como uma mensagem de advertência. Impiedade. Do gr. asebeia, “falta de reverência para com Deus”, “impiedade” (v. Rm.1:21). Perversão. Do gr. adikia, “falta de conduta correta”, “injustiça” (v. Rm.1:29). Detêm. Do gr. katecho, “possuem”, “seguram firmemente”, “retêm”, “impedem”, “suprimem”. O contexto aqui mostra que é preferível o significado “deter” (comparar usos semelhantes da palavra em Lc.4:42; 2Ts.2:6-7). A verdade. Referência ao conhecimento sobre Deus (cf. Rm.1:19; Rm.1:25; ver com. de Jo.8:32). Pela injustiça. Em sua impiedade e por meio dela as pessoas retinham e suprimiam a verdade sobre Deus. Em sua determinação de praticar a iniquidade, as pessoas demonstravam estar dispostas a reter o conhecimento de um Deus puro e santo, que eles sabiam que Se opunha a esses atos e que os punia. Assim fazendo, estavam não apenas suprimindo a verdade em seu próprio coração, mas também a escondendo dos outros. |
Rm.1:19 | 19. porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Que [...] se pode conhecer. Ou,“que é conhecido”. Entre eles. Ou seja, em seu coração e consciência (ver Rm.2:15). Deus lhes manifestou. Deus Se revela ao ser humano de três maneiras: por uma revelação interna à razão e à consciência de cada pessoa (Rm.2:15; Jo.1:9), por uma revelação externa nas obras da criação (Rm.1:20) e pela revelação especial nas Escrituras e na pessoa e na obra de Cristo, que confirma e completa as outras revelações. Aqui, Paulo está se referindo às duas primeiras. Deus dotou o ser humano de razão e consciência. Ele o fez capaz de ver e investigar Suas obras. Estendeu diante dele a evidência de Sua bondade, sabedoria e poder. Assim, Deus tornou possível tanto aos gentios como aos judeus aprender dEle. |
Rm.1:20 | 20. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; Atributos invisíveis. Ou seja, “Seu eterno poder e Sua divindade”, como é mencionado mais tarde. Em sua cegueira, as pessoas tinham substituído esses atributos invisíveis de Deus pelas imagens visíveis. Divindade. Do gr. theiotes, “natureza divina”, “divindade”. Esta é a única ocorrência de theiotes no NT. Aqui, o apóstolo fala da essência divina e a manifestação dos atributos divinos, e não da Trindade como tal (comparar a palavra theiotes em Cl.2:9, que significa “divindade”). Claramente se reconhecem. Os atributos invisíveis de Deus podem ser percebidos pela mente com a ajuda das obras criadas da natureza. Apesar de terem sido marcadas pelo pecado, “as coisas que foram criadas” testemunham que um poder infinito criou este mundo. Ao nosso redor, vemos abundantes evidências da bondade e do amor divinos. Assim, é possível, mesmo aos pagãos, reconhecer o poder do Criador. Desde o princípio do mundo. Ou seja, desde a criação. Indesculpáveis. A revelação de Deus pela consciência e pela natureza é suficiente para iluminar os seres humanos quanto às exigências divinas. Diante dessa revelação, eles não têm desculpa por não cumprir o dever, isto é, por sua idolatria e por ocultar a verdade. |
Rm.1:21 | 21. porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Tendo conhecimento de Deus. Ou, “embora conhecessem a Deus”, isto é, pela revelação da consciência e da natureza (ver com. do v. Rm.1:20). Além disso, as pessoas tementes a Deus, como Noé e seus filhos, conheciam a Deus e transmitiram esse conhecimento a seus filhos. Entretanto, devido à negligência pecaminosa, a mente da maioria de seus descendentes logo se obscureceu, e o conhecimento de Deus praticamente se perdeu entre os gentios. Não O glorificaram. A indisposição de honrar a Deus como o criador foi a verdadeira razão do obscurecimento mental e das práticas abomináveis dos gentios. Glorificar a Deus significa reverenciá-Lo, amá-Lo e obedecer-Lhe. Nem Lhe deram graças. A indisposição de dar graças a Deus por Seu amor e bondade para com os homens é uma das causas da corrupção e da idolatria. A ingratidão endurece o coração e leva as pessoas a se esquecer dAquele a quem não estão dispostas a expressar gratidão. Antes, se tornaram nulos. Do gr. mataioo, “tornar-se tolo” ou “tornar-se fútil”. Maquinando vaidades, os gentios tinham se tornado presunçosos e tolos. A mente humana, que cultua os ídolos mudos de madeira e de pedra, transforma-se à imagem do objeto de adoração (Sl.115:8). Comparar kenos, também traduzido como “vão” (ver com. de 1Co.15:10), mas significando “vazio” ou “oco”. Raciocínios. Do gr. dialogismoi, “imaginações”. Paulo usa o termo para se referir às ideias e especulações inúteis que os gentios tinham chegado a alimentar a respeito de Deus, em oposição à verdade que tinham conhecido e que ainda estava diante deles nas obras criadas por Deus (v. Rm.1:20). Obscurecendo-se-lhes. As pessoas tinham se afundado tanto na ignorância e no pecado que suas mentes se tornaram obscuras e sem sentido. Não percebiam nem entendiam a verdade. Essa condição de trevas sempre foi propósito de Satanás no grande conflito. Deus deu a cada pessoa “individualidade, faculdade esta de pensar e agir” (Ed, 17). A salvação depende do correto exercício e desenvolvimento desse poder na decisão de ter fé em Deus e obedecer a Sua vontade. Consequentemente, por seis mil anos, tem sido intento de Satanás enfraquecer e destruir esse poder dado por Deus, para que as pessoas se tornem impotentes e incapazes de reconhecer, receber e praticar a verdade. Portanto, uma das primeiras e mais necessárias promessas do evangelho é que Deus dará às pessoas um novo coração ou uma nova mente (Ez.36:26; Jo.3:3). “As palavras: ‘E vos darei um coração novo’ (Ez.36:26, ARC) significam: ‘E vos darei um novo entendimento’ (CPPE, 452). Esta é a mensagem de Paulo na epístola aos Romanos: que essa maravilhosa transformação do coração e da mente se tornou possível a todos os que têm fé em Cristo. Coração. Um termo abrangente, que se refere a todas as faculdades humanas de pensamento (Rm.10:6), vontade (1Co.4:5), ou sentimento (Rm.9:2). Os judeus consideravam o coração como a sede da vida interior. Pode ser a habitação do Espírito Santo (Rm.5:5), ou de maus desejos (Rm.1:24; Mc.7:21-23). Insensato. Do gr. asunetos, literalmente, “sem entendimento” (ver Mt.15:16), por isso, “pouco inteligente”, “sem sentido”. |
Rm.1:22 | 22. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos Inculcando-se por sábios. Paulo não está se referindo aqui apenas às pretensões da filosofia grega, embora desse pouco valor a essa sabedoria (1Co.1:18-25). Ele se refere à vaidade daqueles cuja sabedoria está conectada a qualquer desvio intencional da verdade divina e da qual a idolatria deve ter surgido originalmente em suas formas diversas e fantásticas. Em sua suposta sabedoria, as pessoas se afastaram do verdadeiro conhecimento de Deus, e o paganismo foi o resultado inevitável. Tornaram-se loucos. O clímax de sua loucura foi a idolatria (ver Je.10:14-15), pois que tolice poderia ser maior do que adorar um animal em lugar de Deus? |
Rm.1:23 | 23. e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Mudaram. Melhor, “trocaram”. Em sua loucura, as pessoas tinham trocado a adoração a Deus pelo culto a imagens. Em vez de confiar em um Ser pleno de majestade e poder, inclinaram-se diante de répteis e feras. Permutaram um Ser glorioso de adoração pelo que era degradante e humilhante (ver Sl.106:20; Je.2:11). O ser humano foi designado senhor da criação animal (Sl.8:6-8) e se degradou, adorando as criaturas feitas por Deus para servi-lo (cf. Os.8:6). Incorruptível. Ou seja, imortal e imune à decadência à qual todas as criaturas estão sujeitas. Paulo contrasta a incorruptibilidade de Deus com a corruptibilidade do ser humano. Somente Deus é imutável, indestrutível, imortal, portanto, o próprio objeto de adoração (1Tm.1:17). Imagem. As pessoas não se satisfizeram em adorar a Deus “em espírito” (Jo.4:23-24). Não se contentaram com a revelação do próprio Deus na natureza (Rm.1:20). Escolheram representá-Lo para si mesmas, por meio de imagens que se assemelham a homens, pássaros, animais ou répteis. Paulo parece demarcar as sucessivas fases da degradação moral e intelectual dos pagãos, terminando na representação do Deus vivo do Céu por répteis imundos e outras criaturas rastejantes. Deuses em forma humana eram comuns nas religiões grega e romana. A adoração de todos os tipos de criaturas, como touros, crocodilos, serpentes e íbis, era predominante no Egito. Imitando a idolatria do Egito, os israelitas fizeram o seu bezerro de ouro (Ex.32:4). Mais tarde, Jeroboão fez dois bezerros de ouro, em Dã e em Betel e lhes ofereceu sacrifícios (1Rs.12:28-32). Alguns dos pagãos mais cultos podem ter considerado as imagens como meras representações simbólicas, mas muitas pessoas comuns consideravam os ídolos como os próprios deuses. A Bíblia não leva em conta essa distinção, mas simplesmente condena todos os adoradores de imagem como idólatras (Ex.20:4-5; Lv.26:1; Mq.5:13; Hc.2:18-19). |
Rm.1:24 | 24. Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; Entregou. Quando os pagãos voluntariamente se afastaram de Deus e O removeram da mente e do coração, Deus lhes permitiu andar em seus próprios caminhos de autodestruição (Sl.81:12; At.7:42; At.14:16). Isso faz parte do preço da liberdade moral. Se as pessoas insistem em seguir seu mau caminho, Deus lhes permite fazê-lo, retirando Sua ajuda e restrição. Em seguida, os gentios foram deixados a colher os resultados de sua rebelião em escravidão cada vez mais profunda sob o poder do pecado (cf. Rm.1:26; Rm.1:28; cf. GC, 431). Imundícia. Ou seja, impureza, corrupção moral, como é especificada nos v. Rm.1:26-27. Geralmente, a imoralidade acompanha a idolatria e, antigamente, era consagrada como parte da religião. Pelas concupiscências. Ou, “por meio de suas concupiscências”. Isso se refere à condição moral em que eles já estavam quando Deus os entregou às consequências de suas inclinações e de desejos depravados. Desonrarem o seu corpo. Nosso corpo é templo do Espírito Santo, mas essa dignidade se perde pela imoralidade (1Co.6:15-19; 1Ts.4:3-4). O paganismo deixa sua marca sobre o corpo, bem como sobre a mente de homens e mulheres. |
Rm.1:25 | 25. pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! Mudaram a verdade. Ou, “trocaram a verdade”. Eles trocaram a verdade de Deus pelo que era falso. Em mentira. Comparar com Je.10:14. Os ídolos são mentiras materializadas. As pessoas precisam deles, mas eles não representam Aquele que fez o ser humano (Is.40:18-20). Têm olhos, mas não conseguem ver, têm boca, mas não podem falar (Sl.115:5-7; Sl.135:15-17). Adorando e servindo. O primeiro termo pode se referir à adoração de modo geral, o segundo, a adorar mediante ritos especiais ou sacrifícios. A criatura. Isto é, qualquer ser ou coisa criada. Em lugar. Melhor, “em vez de”. Rejeitaram o Criador para adorar a criatura. Bendito. Do gr. eulogetos, palavra diferente da usada nas bem-aventuranças (ver com. de Mt.5:3), mas, com frequência, é expressão de louvor e glória, como aqui, atribuída a Deus (cf. Sl.89:52, LXX; Rm.9:5; 2Co.1:3; 2Co.11:31). Essa atribuição é especialmente apropriada para mostrar a própria fidelidade de Paulo a Deus, em contraste com a apostasia dos gentios, que o apóstolo descreve. |
Rm.1:26 | 26. Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; Entregou. Ver com. do v. Rm.1:24. Paixões infames. Literalmente, “paixões da desonra”. A história confirma esse relato dos vícios antinaturais da sociedade pagã. Assim, em contraste com a liberdade dos escritores pagãos de sua época, Paulo descreve a imoralidade dos pagãos com reserva considerável. Ele até considerava uma vergonha falar dessas coisas (Ef.5:12). |
Rm.1:27 | 27. semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. Homens com homens. Aqui, Paulo se refere eufemisticamente às práticas depravadas de sodomia e homossexualismo. Merecida. Ou seja, devida. A recompensa de seu erro de idolatria foi a degradação física, mental e espiritual. Essa foi a penalidade inevitável para o que tinham feito. |
Rm.1:28 | 28. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, Desprezado. Literalmente, “não aprovavam”, isso significa que o fato de haverem rejeitado a Deus não era inconsciente. Eles se recusavam a reconhecê-Lo. Em vez de aumentar seu conhecimento de Deus (v. 21), suprimiam a verdade (v. 18) e se tornaram “gentios, que não conhecem a Deus” (1Ts4:5). Conhecimento. Do gr. epignosis, “pleno conhecimento”. Deus os entregou. Ver com. do v. 24. Reprovável. Do gr. adokimos, “reprovado”. Uma palavra relacionada, dokimazo, “aprovar”, é traduzida como “querem”, no início do versículo (NTLH). Visto que os homens não “aprovam” o conhecimento de Deus, este os entregou a uma disposição mental “reprovável”. Como consequência de sua determinação de esquecê-Lo, Deus os entregou a um estado mental ímpio, o qual não podia aprovar. Inconvenientes. Ou seja, impróprias, indecentes. |
Rm.1:29 | 29. cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, Injustiça. Termo geral usado para descrever a condição em relação à qual a ira de Deus é revelada (v. Rm.1:18; comparar as listas de pecados em Gl.5:19-21; 1Tm.1:9-10; 2Tm.3:2-4). Prostituição (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. Malícia. Do gr. poneria, termo geral para baixeza, malícia, vileza, mesquinhez. Avareza. Do gr. pleonexia, “o desejo de ter mais”. Em outra parte, Paulo descreve esse pecado como idolatria (Cl.3:5). Maldade. Do gr. kakia, com significado um pouco semelhante a poneria (ver acima em “malícia”). Alguns sugerem que poneria representa maldade ativa, em contraste com kakia, que salienta o estado interior de maldade. Inveja. Do gr. phthonos. A inveja também está alistada entre as obras da carne (Cl.5:19-21). Contenda. Do gr. eris, “discussão”. Paulo não se refere aos debates, no sentido atual do termo. A palavra grega enfatiza principalmente os elementos de discórdia, brigas e raiva (ver também Rm.13:13; 1Co.1:11; 1Co.3:3; 2Co.12:20; Gl.5:20; Fp.1:15; 1Tm.6:4 em que a mesma palavra também é traduzida como “porfias” e “provocação”). Dolo. Do gr. dolos, “astúcia”, “engano”, traduzida como “traição” (Mt.26:4), “engano” (At.13:10; 1Ts.2:3), “dolo” (Jo.1:47). Malignidade. Do gr. kakoetheia, “malícia”, “malvadeza”, “maldade”, “sutileza”. Difamadores. Do gr. psithuristai, “mexeriqueiros”, “fofoqueiros”. |
Rm.1:30 | 30. caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, Caluniadores. Ou seja, maledicentes. Aborrecidos de Deus. Do gr. theostugeis, que também pode ser traduzido como “odiosos para Deus”. No grego clássico, essa palavra ocorre geralmente no sentido passivo: “odiados por Deus”. No entanto, muitos intérpretes consideram o sentido ativo, “odiar a Deus”, mais apropriado nesta lista de pecados. Insolentes. Ou seja, acintosos. Paulo usa o termo para descrever seu comportamento antes da conversão (1Tm.1:13). Soberbos. Do gr. huperephanoi, “considerando-se superiores aos outros”, “arrogantes”, “orgulhosos”. Presunçosos. Do gr. alazones, “fanfarrões”, “afetados”. Inventores de males. Ou seja, inventores de novas formas de vício e autoindulgência, dos quais Nero foi um exemplo (ver p. 69-72; DTN, 37). Desobedientes aos pais. O fato de este pecado ter sido incluído na lista revela a gravidade com que Paulo considerava a desobediência aos pais (cf. Ml.4:6; Lc.1:17). |
Rm.1:31 | 31. insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Insensatos. Do gr. asunetoi, forma singular da que é traduzida como “tolo” no v. Rm.1:21. Pérfidos. Ou seja, falsos em seus contratos. Sem afeição natural. O infanticídio e o divórcio eram comuns nos dias de Paulo. Quando, por sua rebelião persistente contra Deus, as pessoas afastam o Espírito Santo (Ef.4:30), a vida revela falta de amor e afeição natural. Deus não força Seu Espírito de amor sobre as pessoas. Quando elas persistem na oposição à vontade de Deus, Ele as entrega a suas próprias inclinações naturais e egoístas (Rm.1:24; Rm.1:26; Rm.1:28). Irreconciliáveis (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. A mesma palavra grega ocorre, no entanto, na lista de pecados em 2Tm.3:3, sendo traduzida como “implacáveis”. Sem misericórdia. Ou seja, sem piedade e compaixão. A satisfação mórbida que os espectadores obtinham no abate de gladiadores e mártires em Roma indica a pouca piedade e compaixão que havia no coração das pessoas daquela época. Jesus ensinou que ser impiedoso é evidência de um caráter corrompido, impróprio para o Céu (Mt.25:41-43). |
Rm.1:32 | 32. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem. Conhecendo. A palavra significa “pleno conhecimento” (comparar com o v. Rm.1:28). Sentença. Do gr. dikaioma, “lei”, “decreto”. Paulo se refere à sentença justa de Deus, que declara o que é certo e o que é errado e conecta a morte ao pecado e a vida à justiça. Esse decreto é revelado não só no AT, mas também na consciência humana (Rm.2:14-16). Paulo enfatizou, neste primeiro capítulo, que os pecados dos pagãos foram cometidos diante de considerável conhecimento sobre Deus (v. Rm.1:19-21; Rm.1:25; Rm.1:28). Passíveis de morte. Isso não se refere à justiça civil, mas às consequências fatais do pecado (Rm.6:23). Praticam. O grego indica ação repetida e contínua. Aprovam. Ou, “aprovam de coração”, “aplaudem”. A palavra descreve mais do que um assentimento passivo para o mal. Sugere ativo consentimento e aprovação (ver At.8:1; At.22:20). O clímax da lista de pecados de Paulo é a maldade depravada de obter satisfação nas más práticas dos outros. Quão profundamente a pessoa degenerada vai quando se recusa a conhecer e honrar o Deus verdadeiro. A imagem escura de Paulo sobre a corrupção pagã pode ser verificada a partir dos escritos seculares do primeiro século. Uma das descrições mais frequentemente citadas da iniquidade que prevalecia nos dias de Paulo é a de Sêneca, contemporâneo de Paulo, que em sua obra De Ira (ii.9.1) declara: “Todo lugar está cheio de crime e vícios; os crimes cometidos são demasiados e ultrapassam qualquer possível restrição. As pessoas competem em uma poderosa rivalidade de maldade. A cada dia, o desejo de injustiça é maior, e menor é o temor; tudo que se refere ao que é melhor e mais justo é banido; a luxúria insinua-se onde quer que deseje, e os crimes não são mais secretos. Exibem-se diante de nossos olhos, e a maldade chega a tal estado público e ganhou tal poder sobre o coração de todos, que a inocência não é rara, é inexistente” (ed. Loeb, Ensaios Morais, vol. 1, p. 183; ver também Sabedoria de Salomão 14:22-30; comparar com DTN, 36, 37). Por quatro mil anos, prosseguiu o experimento para saber se a humanidade poderia se salvar por suas próprias obras. “O princípio de que o homem pode se salvar por suas próprias obras [...] jaz à base de toda religião pagã” (DTN, 35). Então, ficou claro que era necessário outro plano de salvação. “Satanás rejubilava por haver conseguido rebaixar a imagem de Deus na humanidade. Então, veio Cristo, a fim de restaurar no ser humano a imagem de seu Criador” (DTN, 37, 38; ver Gl.4:4-5). A boa notícia de que a condição do ser humano não é sem esperança, mas que a justiça está disponível a todos os que têm fé em Cristo foi a mensagem de esperança de Paulo para o mundo pagão. Este é o “evangelho de Cristo”, tema desta epístola aos cristãos em Roma. |
Rm.2:1 | 1. Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas. Portanto. Ou, “por causa disso”. A referência pode ser tanto ao juízo em Rm.1:32 (“são passíveis de morte os que tais coisas praticam”) como ao pensamento fundamental de toda a seção dos v. Rm.1:18-32. Paulo prossegue em seu argumento de que há uma necessidade universal do poder salvífico contido na revelação da justiça de Deus pela fé (v. Rm.1:16-17). Ele já havia traçado o curso descendente do ser humano a partir da primeira rejeição voluntária do conhecimento de Deus em todas as etapas da idolatria e do vício. Finalmente, no v. Rm.1:32, ele descreve que a última etapa da degradação humana, em que os homens não só perderam toda virtude, em si, mas chegaram ao extremo de aprovar o vício dos outros. Eles mantêm apenas a consciência de sua culpa e miséria, pois conhecem a sentença justa de Deus, que é pronunciada contra os que praticam essas coisas. Paulo, então, passa a explicar que os judeus não são menos culpados que os gentios e que também eles precisam das provisões do mesmo plano de salvação. Mostra que os judeus foram abençoados com mais luz do que os gentios e, ainda assim, praticaram as mesmas coisas. Grande parte do que foi dito sobre os gentios em Rm.1:18-32 também se aplica aos judeus, pois eles também pecaram contra o conhecimento e a consciência. És indesculpável. Os judeus eram rápidos em condenar os gentios, mas, tendo em vista que, por séculos, os judeus foram tão favorecidos com maior luz que os gentios, eles eram indesculpáveis por cometer os mesmos pecados (ver vol. 4, p. 17-21). Julgas. Do gr. krino. Esta palavra não significa só “condenar”, mas também, “separar”, “distinguir”, “selecionar”, “mostrar preferência por”, “determinar”, “aprovar”, “pronunciar juízo” e, quando o contexto exige, “condenar”. Neste caso, o contexto dos v. 1 a 3 indica o sentido de condenar. Quem quer que sejas. Paulo começa sua discussão sobre o fracasso dos judeus em alcançar a justiça de Deus com uma declaração aplicável a todos. Ele começa sua discussão sobre o fracasso dos gentios com uma declaração semelhante (Rm.1:18). Talvez essa seja uma prova da habilidade do apóstolo em argumentar. Se Paulo os tivesse nomeado na primeira frase, poderia ter despertado imediata oposição dos judeus. Ao contrário, Paulo escolhe abordar o assunto de forma gradual e em termos gerais. Então, depois de ter apresentado provas, ele faz a aplicação específica aos judeus (Rm.2:17). Condenas. Do gr. katakrino, forma do verbo “julgar”, que significa condenação. O argumento de Paulo é semelhante ao do profeta Natã ao falar com o rei Davi (2Sm.12:5-7). Paulo disse aos judeus que até o próprio ato de se assentar em juízo contra seus semelhantes os faz pronunciar uma sentença contra si mesmos. Eles apontam como criminosos os atos dos quais eles mesmos são culpados. Praticas. Do gr. prasso, palavra que denota prática habitual ou costumeira. Um exemplo de judeus que condenavam a imoralidade dos pagãos e exaltavam a própria pureza é encontrado na Carta de Aristeu: “Pois a maioria dos outros homens se contamina por relações promíscuas, praticando, assim, grande iniquidade, e países e cidades inteiras se orgulham desses vícios. Pois eles mantêm relações sexuais não só com homens, mas contaminam as próprias mães e até mesmo as filhas. Mas nós nos temos conservado afastados desses pecados” (citado de R. H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament in English, vol. 2, p. 109). O fato de que as condições morais entre os judeus não eram tão ideais como é indicado aqui é evidente pelas referências incidentais nos escritos rabínicos aos vícios antinaturais praticados entre os judeus, bem como pelos regulamentos de prevenção nas leis rabínicas sobre esses vícios. A situação real, provavelmente, seja refletida com exatidão razoável nos “Testamentos dos Doze Patriarcas” (ver R. H. Charles, The Apocrypha e Pseudepigrapha, vol. 2), um trabalho pseudoepigráfico judaico do início do 2º século a.C.: “E, na sétima semana, se tornarão sacerdotes [aqueles que são] idólatras, adúlteros, amantes do dinheiro, soberbos, sem lei, lascivos, abusadores de crianças e de animais” (O Testamento de Levi 17:11). “Essas coisas vos digo, meus filhos, porque tenho lido nos escritos de Enoque que vós, aqui, também, vos afastareis do Senhor, andando de acordo com toda a ilegalidade dos gentios, e agireis de acordo com toda a maldade de Sodoma” (O Testamento de Naftali 4:1). Uma questão comumente observada: aqueles que são rápidos em criticar e acusar os outros são culpados dos mesmos crimes. Às vezes, as pessoas são particularmente zelosas na oposição a esses delitos que eles mesmos praticam secretamente. O exemplo clássico disso é a hipocrisia degradante revelada pelos piedosos acusadores da mulher apanhada em adultério. “Esses pretensos guardas da justiça haviam, eles próprios, induzido a vítima ao pecado” (DTN, 461). Davi prontamente condenou a suposta injustiça relatada por Natã (2Sm.12:1-6). |
Rm.2:2 | 2. Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas. Bem sabemos. Paulo supõe que a verdade do juízo de Deus é admitida e que pode fundamentar seu argumento sobre ela. Juízo. Do gr. krima, referindo-se a uma sentença, seja ela boa ou ruim; neste caso, a condenação. Segundo a verdade. Enfatizando o verdadeiro padrão de medida no juízo divino. Deus não julga segundo as aparências (ver Jo.7:24). Seu juízo se fundamenta no conhecimento das motivações das pessoas e da verdadeira natureza de sua conduta, e é imparcial (Rm.2:11). Até os pecados mais secretos são colocados sob Seu escrutínio (Ec.12:14). |
Rm.2:3 | 3. Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais coisas e fazes as mesmas, pensas que te livrarás do juízo de Deus? Pensas. Em outras palavras, “você acha que, por causa de seu elevado conhecimento da verdade, ou por causa de sua ligação com a ascendência divina, ou com o povo escolhido, ficará livre do juízo?” Essa esperança ilusória de livramento pessoal do juízo é uma forma comum de autoengano. É contrária à verdade do julgamento imparcial de todos os pecadores por Deus. No entanto, parece ter sido a opinião popular entre os judeus que, desde que observassem os ritos e cerimônias de sua religião, Deus não os julgaria tão severamente quanto faria com os gentios abandonados e idólatras. Achavam que sua nacionalidade lhes garantia uma consideração especial no juízo. Essa falsa noção foi repreendida por João Batista. “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão” (Mt.3:8-9; Jo.8:33; Gl.2:15). Pecado é pecado, seja onde for e por meio de quem seja cometido. Tampouco se torna menos pecaminoso por ser cometido em meio a privilégios religiosos. O povo de Deus não tem licença especial para pecar, como se Deus não fosse tão rigoroso em perceber as ofensas daqueles que professam servi-Lo. Ao contrário, a Bíblia ensina de forma consistente que os pecados mais graves entre os seres humanos são os cometidos pelo professo povo de Deus (Is.1:11-17; Is.65:2-5; Mt.21:31-32). Que te livrarás. O pronome é enfático no grego. |
Rm.2:4 | 4. Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? Desprezas. O amor e a paciência de Deus produzem apenas um sentimento de desprezo e segurança no coração da pessoa endurecida no pecado. “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal” (Ec.8:11; SI.10:11; Sl.10:13). Os judeus estavam acostumados a usar o argumento de que, uma vez que Deus ainda os estava abençoando, Ele não os considerava pecadores (Lc.13:1-5; Jo.9:2). Facilmente podemos cair no mesmo engano, hoje. Visto que Deus continua graciosamente a nos conceder tempo e oportunidade para nos preparar para Sua volta, abusamos de Sua misericórdia e paciência, insistindo em nossos caminhos pecaminosos. Deixamos de reconhecer o propósito de Sua paciência e longanimidade. Riqueza. Palavra muito usada de Paulo para descrever a qualidade dos dons e atributos de Deus (Rm.11:33; Ef.1:7; Ef.1:18; Ef.2:7; Ef.3:8; Ef.3:16; Fp.4:19; Cl.1:27). Bondade. Do gr. chrestotes, “excelência”, “bondade”, “ternura”, “gentileza”. Tolerância. Do gr. anoche, literalmente, “ato de reter”. No grego clássico, este termo era usado em uma trégua militar. Implica algo temporário que pode passar se as condições se alterarem. Assim, esta palavra é usada para descrever a “paciência” de Deus em conexão com a “tolerância” dos pecados (Rm.3:25). Em Sua paciência, Deus tem retido Sua ira, como se tivesse feito uma trégua com o pecador. Isso não significa que, finalmente, Sua ira não será executada. Ao contrário, implica que virá, a menos que o pecador aproveite esse tempo de trégua para se arrepender. Longanimidade. Embora Deus odeie o pecado, em Sua longanimidade, Ele não agirá imediatamente para punir o pecado no momento em que é cometido. Ao contrário, Ele poupa as pessoas no dia a dia para lhes dar a oportunidade de se arrepender e ser salvas (2Pe.3:9). As pessoas “desprezam” a longanimidade de Deus, achando que Ele nunca tem a intenção de punir o pecado e que, portanto, podem, com segurança, continuar a pecar. Ignorando. Está implícita uma ignorância voluntária (Os.2:8). Que te conduz. O texto grego pode ser interpretado como a expressão de um esforço que não pode concretizar seu propósito. Portanto, a frase poderia significar “destina- se a levar-te”, “está tentando levar-te”. Arrependimento. Do gr. metanoia. Como em outras passagens do NT, esta palavra implica inversão de direção, mudança de mente, de propósito e de vida. Significa mais do que simplesmente tristeza pelo pecado (ver com. de SI.32:1). |
Rm.2:5 | 5. Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, Segundo. Do gr. kata, “de acordo com”, “por causa de”. Dureza. Ou, “obstinação”, “teimosia”. Os judeus se achavam em um estado de espírito em que a bondade e a paciência de Deus não tinham nenhum efeito. Coração Impenitente. Ou seja, um coração que se recusa a se arrepender. Não havia mudança de atitude no coração. As pessoas continuavam e cresciam voluntariamente no endurecimento do coração, apesar do apelo de Deus. Contra ti mesmo. Aqui há um contraste com as riquezas da bondade de Deus (v. Rm.2:4) e do tesouro celestial (Mt.6:20). A rejeição das riquezas da bondade tem como consequência um tesouro de ira. A pessoa que rejeita o amor de Deus não está na mesma condição de alguém que nunca conheceu a graça divina. Toda bênção e privilégio concedidos trazem uma responsabilidade equivalente. A persistente resistência ao amor de Deus acumula gradualmente um suprimento de ira para o dia do acerto de contas (Dt.32:34-35). Como em Rm.1:18 (ver o com. ali), a ira é o desagrado divino contra o pecado, que resulta no abandono do ser humano ao juízo da morte. Paulo não diz: “Deus está acumulando ira”, mas, sim: “Você está acumulando ira contra si mesmo”. Para o dia da Ira. Literalmente, “no dia da ira”. Justo juízo. O “dia da ira” revelará aos homens e aos anjos, bons e maus, que Deus é um juiz justo. Nessa revelação, ocorrerá a retribuição a cada um segundo suas obras (ver DTN, 763, 764; GC, 668). Essa revelação final, que se realiza na consumação de todas as coisas, deve ser contrastada com a revelação da ira e do justo juízo de Deus, visto na condição depravada da humanidade (Rm.1:18). |
Rm.2:6 | 6. que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: Retribuirá. Paulo cita Pv.24:12 ou Sl.62:12. As Escrituras são unânimes ao ensinar que as pessoas serão julgadas de acordo com o que fizeram (Je.17:10; Mt.16:27; 2Co.5:10; Ap.2:23; Ap.20:12; Ap.22:12). Todos, inclusive os judeus privilegiados, serão recompensados ou condenados de acordo com sua vida e seu caráter. Alguns têm encontrado problemas em conciliar esta passagem com a doutrina de que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm.3:28). No entanto, aqui, Paulo não traça um contraste entre fé e obras, mas entre o que as pessoas realmente são e o que dizem ser. Paulo afirma que Deus julga as pessoas de acordo com atos reais de justiça ou injustiça. Mais tarde, na epístola, Paulo explica que as meras obras da lei, em contraste com as obras da fé (1Ts.1:3; 2Ts.1:11), não são atos reais de justiça (Rm.9:31-32). As obras são reconhecidas no juízo final como provas de fé. A fé na graça de Deus não é um substituto para a conduta correta e uma vida santa. A fé pode provar sua realidade e sinceridade apenas mediante essas provas (Tg.2:18). Deus retribuirá a cada um segundo essa evidência. |
Rm.2:7 | 7. a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; Vida eterna. Do ponto de vista gramatical, como o grego indica, esta frase está relacionada com a cláusula “que retribuirá” (v. Rm.2:6); assim: “que retribuirá a vida eterna aos que [...]”, etc. Deus retribuirá a vida eterna aos que procuram por ela na forma prescrita. Perseverando. Do gr. hupomone, “paciência”, “perseverança”, “firme resistência”. Paulo não fala aqui de uma resignação passiva, mas de uma resistência ativa. Em fazer o bem. Literalmente, “em boas obras”. A frase inteira pode ser traduzida como “perseverando em boas obras”. A Bíblia não ensina que Deus dará a vida eterna àqueles que, ocasionalmente, realizam boas obras. Ele a dá aos que continuam e perseveram em fazer o bem de tal forma que se torna evidente que obedecer a Deus é seu estilo de vida (Mt.10:22; Ap.2:10). Procuram. Do gr. zeteo, que pode denotar sério esforço, como em “buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino [de Deus]” (Mt.6:33; comparar com “procuramos partir para [a Macedônia]”, em At.16:10). O mesmo verbo é usado nessas passagens. Não é suficiente apenas ter o desejo de vida eterna. “Não nos é possível deslizar para dentro do Céu. Nenhum preguiçoso pode entrar lá. Se não nos esforçarmos para conseguir entrada no reino, se não procurarmos aprender o que constitui suas leis, não estaremos aptos para dele participar” (PJ, 280). Glória, honra e incorruptibilidade. Essas são concedidas no momento da ressurreição (1Co.15:42-43; 1Pe.1:4-7). Em seu estado original, o ser humano sem pecado foi coroado “de glória e de honra” (Hb.2:7). Tudo isso vai ser restaurado para aqueles que “procuram” por elas, com perseverança. |
Rm.2:8 | 8. mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Ira e indignação. Gramaticalmente, estas palavras não estão relacionadas com a afirmação “que retribuirá”, como estão as palavras “vida eterna” (ver com. do v. Rm.2:7). É necessário adicionar alguma palavra, como “haverá”. Paulo pode ter pretendido essa mudança de construção para expressar a distinção de que, embora Deus seja a fonte e o doador da vida eterna, estrita e principalmente, Ele não é o autor do castigo eterno. A destruição é o resultado necessário da própria conduta do pecador (ver com. de Rm.1:18). Distinção semelhante pode ter sido planejada pela mudança de construção em Rm.9:22-23, do passivo “preparados para a perdição” para o ativo “para a glória preparou”. Deus preparou vasos de misericórdia para a glória, mas os vasos da ira são preparados ou arranjados por eles mesmos para a destruição (ver GC, 543). A ordem das palavras no grego é “ira e indignação”. Entende-se que a palavra grega traduzida como “ira” (orge), expressa sentimento e disposição resolutos (comparar com “sobre ele permanece a ira de Deus”, Jo.3:36). A palavra “indignação” (thumos) expressa um impulso momentâneo ou surto do sentimento de ira, como no dia da destruição final (Ap.14:10; sobre o significado da ira divina, ver com. de Rm.1:18). Facciosos. Do gr. eritheia, “espírito mercenário, egoísta”. Eritheia também tinha o significado de “trabalho por salário”. Mais tarde, a palavra passou a significar “ambição egoísta ou facciosa”, “intriga”, “rivalidade”. Em outras passagens do NT, a mesma palavra é usada para se referir a intrigas e partidarismo (2Co.12:20; Gl.5:20; Fp.1:16; Fp.2:3; Tg.3:14; Tg.3:16). Na maioria desses casos, a ARA traduz eritheia como “contenda”, evidentemente, sob o pressuposto de que a palavra era derivada de outra raiz com som um pouco semelhante, eris, que significa “contenda”, “briga” (ver com. de Rm.1:29). Em contraste com os justos, que perseveram em fazer o bem, os injustos são aqui descritos como egoístas e facciosos em sua atitude para com Deus e a verdade. Foi um espírito semelhante que levou tantos judeus a se opor ao evangelho (ver At.13:45). Sua atitude legalista e mercenária em relação à religião e sua visão egoísta da salvação os levaram a rejeitar o caminho de Deus de justificação pela fé em Cristo e, assim, a rejeitar o próprio Deus. Desobedecem à verdade. Comparar com a experiência dos que “detêm a verdade pela injustiça” (Rm.1:18). Os facciosos e egoístas não se importam em ser fiéis à verdade. Sendo egoístas (2Tm.3:2), não receberam “o amor da verdade para serem salvos” (2Ts.2:10). Preferem deleitar-se “com a injustiça” (v. 2Ts.2:12). |
Rm.2:9 | 9. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; Tribulação. Do gr. thlipsis, denotando pressão de um peso esmagador, como de provações e calamidades e, neste caso, de punição pelos pecados. Angústia. Do gr. stenochoria, literalmente, “estreiteza de espaço”. A ideia é uma restrição. Na tradução LXX de Dt.28:53; Dt.28:57, a palavra descreve o confinamento de um cerco. Aqui, ela descreve a ansiedade e a angústia que a pessoa experimenta quando é pressionada por todos os lados por aflições e provas ou punição, e não sabe aonde ir em busca de alívio. Contrasta a frequente descrição do AT de um estado de alegria, como ir para um lugar espaçoso (2Sm.22:20; SI.118:5). Sobre a alma de qualquer homem. Ou seja, em cada ser humano. Este versículo tem sido usado para apoiar a ideia de que a alma, e não o corpo, sofrerá a penalidade. No entanto, a palavra “alma” (psyche) frequentemente denota toda a pessoa (Rm.13:1; SI.16:10; Mt.10:28). Ao judeu primeiro. Como o judeu é o primeiro em obter privilégio e oportunidade, ele é o primeiro na responsabilidade e na culpa (ver com. de Rm.1:16; Lc.12:47-48). |
Rm.2:10 | 10. glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego. Glória [...] e honra, e paz. Em contraste com a “tribulação e angústia” que aqueles que fazem o mal irão sofrer. Pratica o bem. Estas palavras estão em contraste com “faz o mal” (v. Rm.2:9; sobre a relação das boas obras com a salvação, ver com. de Rm.3:28). |
Rm.2:11 | 11. Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Acepção de pessoas. Do gr. prosopolempsia, literalmente, “aceitação da face”, que significa “parcialidade”. Esta palavra ocorre em outras partes do NT, apenas em Cl.3:25; Ef.6:9; Tg.2:1. Prosopolemptes, “aquele que mostra parcialidade”, ocorre em At.10:34 (KJV), e prosopolempteo, “julgar com parcialidade”, em Tg.2:9 (KJV). Nenhuma das três formas ocorre na LXX ou em escritos não cristãos, por isso se acredita que a palavra é de origem cristã. No AT, a frase hebraica correspondente significa tanto dar uma recepção graciosa a um suplicante ou pretendente (Gn.19:21; Jó.42:8) como mostrar parcialidade (Lv.19:15; 2Cr.19:7). No NT, a palavra tem sempre o sentido negativo de parcialidade. A liberdade da parcialidade faz parte do caráter de Deus, como justo juiz (Dt.10:17; 2Cr.19:7; Jó.34:19). |
Rm.2:12 | 12. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados. Pois. Por causa de seus privilégios, os judeus tinham questionado se o princípio de que “com Deus não há acepção de pessoas” (v. Rm.2:11) era aplicável a eles. Até então, eles tinham abusado de sua posição privilegiada, até chegar ao ponto de se sentirem livres para condenar os crimes dos outros, enquanto cometiam os mesmos pecados (v. Rm.2:1-3). Então, Paulo passa a explicar como Deus exercerá imparcialidade no julgamento dos judeus privilegiados e dos gentios menos privilegiados. Cada um será julgado pelo método apropriado: o judeu, pela lei escrita, contra a qual pecou, e o gentio, pela lei não escrita da consciência, contra o qual ele pecou. Sem lei. Esta expressão significa, evidentemente, sem lei revelada ou escrita, pois os gentios não estão sem a lei não escrita da consciência (v. Rm.2:14-15). Os gentios não serão julgados por uma lei que não possuem. No entanto, se transgredirem a lei não escrita da consciência, estarão perdidos, assim como os que pecaram contra a luz maior. Paulo já explicou que os pecados dos gentios são indesculpáveis, porque rejeitaram a revelação de Deus para eles na natureza e na consciência (Rm.1:19-20; Rm.1:32). A falta de mais luz não dá a ninguém o direito de pecar contra a luz menor. Os pagãos que pecaram estarão perdidos, mesmo que não tenham a lei escrita de Deus. Eles pecaram contra a lei que possuem, e a punição segue como consequência inevitável. Sob a lei. Literalmente, “em lei”, isto é, na esfera da lei, sob a autoridade da lei. Nesta declaração geral do princípio do juízo de Deus, Paulo usa o termo “lei” sem o artigo definido “a”. No original da epístola aos Romanos, a palavra “lei” (do gr. nomos) ocorre 39 vezes sem o artigo e mais 35 vezes sem ele. O problema da determinação da lei específica mencionada em cada passagem tem sido objeto de debates. Parece certo que nenhuma decisão final a respeito de a referência ser aos dez mandamentos, à lei cerimonial, ou não, deve ser baseada apenas na presença ou ausência do artigo. No entanto, parece ser bastante consensual que, na ausência do artigo, a ênfase é colocada sobre a palavra “lei”, principalmente como um princípio abstrato e universal. Quando o artigo está presente, a ênfase é sobre “a lei” como um código especial e objetivo. Na ausência de uma regra precisa e simples para se chegar à identidade da “lei”, por meio da utilização ou não do artigo definido, talvez seja mais sábio depender principalmente do contexto para indicar a identificação específica a ser feita. Em cada passagem significativa em que o termo “lei” ou “a lei” ocorre, a menção será feita para saber se o artigo está presente ou ausente no grego. Em seguida, será considerado o contexto para ajudar a determinar se a referência é à lei moral ou cerimonial, à lei como um princípio, ou a outros aspectos da lei. Neste versículo, uma vez que o artigo não está presente, a passagem pode ser entendida como uma afirmação do princípio de que aqueles que pecaram contra a lei serão julgados pela lei. Aqueles que pecaram sem lei, perecerão sem lei. No entanto, é evidente, a partir do contexto, que Paulo também se refere ao código de conduta moral revelado ou escrito, contra o qual os judeus pecaram. Fundamentalmente, essa é a lei moral dos dez mandamentos, mas Paulo também pode ter considerado todo o sistema de instrução do AT, com suas regras e padrões de conduta moral baseados nos dez mandamentos (ver PP, 464). Aqueles que tiveram o privilégio de conhecer essa lei e, ainda assim, pecaram contra uma expressão tão clara da vontade de Deus devem receber punição maior do que a dos menos instruídos. A severidade da punição corresponde à medida da culpa, e a medida da culpa depende do grau de oportunidades. A Bíblia ensina que há diferentes graus de punição (Mt.11:21-24; Mt.12:41-42; Lc.12:47-48). Mediante lei serão julgados. O paralelo “também [...] perecerão” sugere que este é um juízo de condenação. A palavra “julgar” pode ter esse significado quando o contexto o indicar (ver Jo.3:18; 2Ts.2:12; Hb.13:4, em que a ARA traduz como “julgado” ou “julgará”). As duas classes de pecadores serão condenadas, ambas morrerão. Mas o juízo “pela lei” é mencionado apenas sobre aqueles que têm a lei. |
Rm.2:13 | 13. Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Simples ouvidores. Os judeus tinham a oportunidade de ouvir a lei, lida regularmente nas sinagogas (At.15:21). Mas chegaram a supor que o conhecimento teórico da lei, em si, constituía justiça. Aparentemente, eles não reconheciam a necessidade de obediência perfeita e perpétua. Jesus repreendeu os judeus por essa atitude para com a Palavra de Deus. “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna [...] Contudo, não quereis vir a Mim para terdes vida” (Jo.5:39-40; cf. DTN, 211). “Os judeus estavam de posse das Escrituras e supunham que, no mero conhecimento que delas possuíam, tinham a vida eterna” (DTN, 212). Essa mesma visão equivocada de que o conhecimento por si só traz justiça e salvação ainda é corrente entre judeus e cristãos. A vontade de Deus não só deve ser conhecida, mas obedecida (Mt.7:21; Mt.7:24; Lc.6:47-49; Tg.1:22). Da lei. Literalmente, “de lei”. O artigo “a” está ausente no grego. Aqueles que têm uma lei à qual possam ouvir e pela qual possam ser guiados devem ser obedientes a ela, se quiserem ser “justificados” no juízo. O contexto indica que, no que concerne aos judeus, Paulo ainda se refere aqui ao padrão de conduta moral à sua disposição, revelado no AT e, especialmente, nos dez mandamentos. Justificados. Ou, “considerados justos”, “declarados justos”. Paulo ainda contrasta a condição no juízo daqueles que conhecem a vontade de Deus, mas não estão dispostos a obedecê-la, com a posição de quem não só conhece a vontade de Deus, mas lhe dá seu pleno cumprimento. Já foi mencionado na epístola que essa obediência só pode vir de fé (Rm.1:5; Rm.1:17; Rm.3:20). Este versículo dá mais ênfase ao fato de que as pessoas são julgadas, não pelo que pretendem conhecer ou professam ser, mas pelo que realmente fazem (Rm.2:6). |
Rm.2:14 | 14. Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Quando [...] os gentios. Literalmente, “sempre que os gentios”. A ausência do artigo “os” chama a atenção para o caráter deles como não judeus. Não têm lei. Isto é, não têm qualquer código de conduta moral revelado, diferentemente dos judeus. Paulo está prestes a explicar que os gentios têm uma lei, mas de outro tipo. Procedem, por natureza. Ou seja, praticam de forma espontânea, não conscientemente, agindo de acordo com as exigências de uma lei exterior, mas de acordo com os testemunhos da consciência (v. Rm.2:15). “Assim como por meio de Cristo todo ser humano tem vida, também por meio dEIe, cada pessoa recebe algum raio da luz divina. Existe em cada pessoa não somente poder intelectual, mas percepção espiritual do que é reto, anelo de bondade” (Ed, 29). Aqueles dentre os gentios que reconheceram a revelação de Deus nas obras da criação (Rm.1:19-20) e responderam ao impulso divinamente implantado para fazer o bem têm praticado “por natureza” as coisas contidas na lei (ver PJ, 385). De conformidade com a lei. Neste caso, “a lei” é a tradução literal. O artigo está presente no grego (ver com. do v. Rm.2:12). Evidentemente, Paulo se refere aos princípios da lei moral como são revelados nos dez mandamentos. Os gentios não poderiam realizar “por natureza” as muitas atividades e cerimônias prescritas em toda a lei mosaica, mas poderiam cumprir “por natureza” as exigências da lei moral. Mais à frente, Paulo explica que “o cumprimento da lei é o amor” (Rm.13:10; ver DTN, 638). Tudo isso está no comentário sobre o v. Rm.2:13: apenas “os que praticam a lei” serão considerados justos. Os gentios ignorantes, que mostraram por seu espírito amorável que são os verdadeiros “praticantes da lei”, “são justos diante de Deus”, enquanto os informados, judeus e cristãos privilegiados, que mostram, por falta de amor, que são apenas “ouvidores da lei” “não são justos”. Lei para si mesmos. A necessidade e o impulso de fazer o bem que existe na razão e na consciência são, em certo sentido, padrão e lei para cada pessoa, como explica o v. Rm.2:15 (Tg.4:17). |
Rm.2:15 | 15. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, A obra da lei (ARC). Ou seja, a obra que a lei exige, a conduta que a lei requer. A frase também tem sido entendida como o efeito prático ou obra da própria lei, ao estabelecer a distinção entre o certo e o errado. Gravada no seu coração. Muito embora os gentios não conheçam a lei escrita, sempre que eles revelam amor a Deus e a seus semelhantes, eles mostram que a norma da lei está escrita em seu coração (Je.31:33; Hb.10:16; sobre o significado de “coração”, ver com. de Rm.1:21). “Onde quer que haja um impulso de amor e simpatia, onde quer que o coração se comova para abençoar e amparar os outros, é revelada a operação do Santo Espírito de Deus” (PJ, 385; cf. Gl.5:22). O Espírito Santo não está de forma alguma restrito aos judeus e cristãos, mas trabalha na mente e no coração das pessoas em todos os lugares. Deve ter sido difícil para os judeus aceitarem a doutrina expressa nesta passagem. Não é menos necessária hoje aos cristãos que são tentados a assumir uma visão demasiado estreita e egoísta da salvação (ver Jo.3:16; 1Tm.2:4). Testemunhando. Paulo aponta para o exercício da consciência entre os gentios como mais uma prova de que eles ainda possuíam alguma consciência da vontade de Deus, apesar de sua ignorância da lei escrita. Consciência. Do termo gr. suneidesis, “co-conhecimento”, um conhecimento adjacente que a pessoa tem da qualidade de seus atos, paralelo ao conhecimento dos atos em si. Paulo usa suneidesis mais de 20 vezes em suas epístolas. As pessoas têm a capacidade de julgar os próprios pensamentos, palavras e ações. A consciência pode ser superescrupulosa (1Co.10:25) ou “cauterizada” pelo abuso (1Tm.4:2). Pode ser esclarecida por mais conhecimento da verdade (1Co.8:7) e agir de acordo com a luz que tem. Pensamentos. Ou, “raciocínios”, “pensamentos”. Mutuamente acusando-se. Estas palavras e as restantes do v. 15 têm sido explicadas de diversas maneiras. Alguns consideram que “mutuamente” significa gentios com gentios, e concluem que Paulo se refere aqui a acusações ou a vindicações feitas pelos gentios entre si. De qualquer maneira, esta passagem indica que Paulo estabelece seu argumento de que os gentios não estavam privados de um senso de certo e errado. Por sua resposta aos estímulos da consciência, eles são julgados. |
Rm.2:16 | 16. no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho. No dia. Ou seja, no tempo do juízo final (At.17:31). Este versículo pode ser considerado um resumo de toda a argumentação anterior. Por meio de Jesus Cristo. A Bíblia ensina que Jesus não é nosso Salvador apenas, mas também nosso juiz (Mt.25:31-46; Jo.5:22; Jo.5:27; At.10:42; At.17:31; 2Tm.4:1). Segredos. Ou, “coisas ocultas”. Por essas coisas, o caráter é revelado (ver com. de Pv.7:19). Uma vez que Deus tem um registro exato de cada coisa secreta em nossa vida (Ec.12:14; Mt.10:26; Lc.8:17; 1Co.4:5), Ele é capaz de julgar sem “acepção de pessoas” (Rm.2:6; Rm.2:11; cf. GC, 486). “Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas” (Ec.12:14). Esse versículo explica ainda mais o principal argumento de Paulo em Romanos 2. O judeu favorecido, com todo o seu conhecimento da lei, estava inclinado a desprezar o gentio ignorante e a considerá-lo indigno da salvação. Mas somente Deus, que pode ler a vida interior, está em posição de tomar essa decisão. A disposição amorosa, a prontidão para obedecer à lei da consciência, são coisas que só Deus conhece plenamente. No entanto, essas são as coisas essenciais que constituem realmente a observância da lei de Deus. São as qualidades de caráter que Deus espera dos judeus e dos gentios, e, no juízo final, nenhuma piedade exterior pode expiar sua ausência. De conformidade com o meu evangelho. Alguns entendem que isso significa que Paulo estava tão confiante na veracidade de sua mensagem que podia afirmar que seu evangelho seria o padrão no juízo final (ver 1Co.15:1; Gl.1:6-9). No entanto, Paulo pode ter pretendido dizer simplesmente que o fato observado é apresentado no evangelho, isto é, que as pessoas não só serão julgadas, mas que o julgamento será feito por Jesus Cristo. O juízo vindouro é ensinado no AT (Dn.7:9-12; Dn.7:26-27). Um dos ensinamentos distintivos do evangelho é que Aquele que viveu e morreu para salvar os seres humanos também irá julgá-los (2Co.5:10). |
Rm.2:17 | 17. Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; Eis (ARC). Do gr. ide. Evidências textuais (cf. p. xvi) sugerem que ide seja substituído por ei de, “se, porém” (ARA). As expressões gregas ide e ei de são muito semelhantes na forma e na fonética. A redação “se, porém” fortalece a conexão entre os v. 17 a 20 e 21 a 24. Em sua epístola, até este ponto, Paulo mostrou que os gentios pecaram. Ele explicou que judeus e gentios estão sujeitos a um juízo imparcial, da parte de Deus. Então, ele passa a mostrar que os judeus são culpados dos mesmos pecados e vícios pelos quais são tão prontos a condenar os gentios. Dessa forma, Paulo prova que todos, em todos os lugares, estão sob condenação e necessitados da justiça e da salvação reveladas no evangelho. Que tens por sobrenome judeu. Ou, “levas o nome de judeu”. Em outras palavras, “suponha que você se chame judeu”; ou “que tal se você quiser levar o nome de judeu”. O título “judeu” ocorre pela primeira vez em 2Rs.16:6 (ver o com. ali). Depois do cativeiro babilônico, tornou-se o nome nacional do povo hebreu. Os judeus tinham orgulho de seu nome e de sua nacionalidade (Gl.2:15; Ap.2:9; Ap.3:9). Ser um judeu significava ser distinguido das nações e desfrutar de privilégios especiais (Rm.9:4; Gl.2:15). Em sua discussão sobre a culpa dos judeus, Paulo destaca momentaneamente o alardeado privilégio (Rm.2:17-18) e a pretendida superioridade deles sobre os outros (v. Rm.2:19-20). Mais tarde, ele traz à tona a flagrante incoerência entre sua profissão elevada e sua prática. Repousas na lei. Literalmente, “repousas sobre a lei”. Os judeus tinham chegado a considerar a mera posse da lei como garantia do favor de Deus. Eles se baseavam no fato de que tinham a lei e tinham sido assim distinguidos dos outros, em vez de usar a lei como regra de vida e luz para a consciência. A mesma palavra grega traduzida aqui como “repousas” ocorre na LXX em Mq.3:11: “E ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.” E te glorias em Deus. Literalmente, “te gabas em Deus”, ou “te jactas de Deus”. Os judeus afirmavam ter uma relação especial com Deus, mas, em vez de essa relação se revelar em humilde dependência e obediência leal, manifestou-se em presunção e arrogância para com as demais nações. Essa foi uma perversão do gloriar-se que Deus recomenda: “Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra” (Je.9:24). É verdade que os judeus foram muito privilegiados por seu conhecimento de Deus (Dt.4:7). Esse devia ter sido motivo de gratidão e não de vanglória. Infelizmente, é muito mais comum se orgulhar pelos privilégios do que ser grato por eles. Não é nenhuma evidência de piedade que alguém se orgulhe de seu conhecimento de Deus. A gratidão humilde por possuir esse conhecimento, a gratidão que o leva a desejar que os outros tenham o mesmo privilégio, é evidência da verdadeira piedade na vida do cristão. |
Rm.2:18 | 18. que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; Sua vontade. Ou seja, a vontade de Deus. Aprovas. Do gr. dokimazo, “testar”, “provar”, “discernir” (Rm.12:2; 1Co.3:13; 1Co.11:28; 2Co.8:8), ou “aprovar”, como resultado de um teste (ver Rm.14:22; 1Co.16:3; 1Ts.2:4). Coisas excelentes. Literalmente, “coisas que são diferentes”, portanto, coisas excelentes, do ponto de vista de quem as aprova. Esta passagem se refere tanto à capacidade dos judeus de discernir, por meio da lei entre o bem e o mal, como ao fato de que os judeus realmente aprovavam, em teoria, as coisas que sobressaem. Eles eram orgulhosos desse refinamento de suas sensibilidades morais, como se a mera aprovação sem obediência constituísse justiça. É claro que Paulo estava se preparando para contrastar a iluminação espiritual dos judeus com seu fracasso espiritual (v. Rm.2:21-24). Instruído. Do gr. katecheo. O verbo ocorre nos papiros com a conotação de instrução legal (comparar seu uso em Lc.1:4; At.18:25; 1Co.14:19; Gl.6:6). Katecheo é a origem da palavra portuguesa “catequizar”. Os judeus eram instruídos nos ensinamentos da lei, em sua juventude, e para o resto da vida ouviam a leitura regular e a exposição do AT. |
Rm.2:19 | 19. que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, Estás persuadido. O propósito de Deus era que os judeus fossem testemunhas e mestres da verdade para o mundo. O pecado estava em apenas desfrutar seus privilégios sem cumprir a responsabilidade correspondente. |
Rm.2:20 | 20. instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; Instrutor. Ou, “corretor”. A palavra grega combina os sentidos de ensino e disciplina. Crianças. Isto é, pessoas religiosas imaturas. Os judeus davam muito valor à conquista de prosélitos gentios ao judaísmo. Jesus usou o termo para Se referir às pessoas comuns que O ouviam com prazer (Mt.11:25). Paulo descreveu assim os novos conversos de Corinto (1Co.3:1). Na lei. Talvez uma referência geral aos ensinamentos do AT como um todo (ver com. do v. Rm.2:12). Forma. Do gr. morphosis, “forma”, “esboço”, “simulacro”. Paulo se refere ao esboço sem a substância. A única outra ocorrência desta palavra no NT está em 2Tm.3:5, em que a “forma de piedade” é contrastada com o “poder”. Em Romanos, Paulo fala do esboço, quadro, personificação do conhecimento e da verdade, que os judeus tinham disponíveis na lei. Deus havia planejado que essa “forma” fosse não somente um guia para os judeus, mas que, por sua vez, fosse usada por eles para ensinar as verdades do evangelho aos gentios. |
Rm.2:21 | 21. tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Pois. Uma vez que os judeus faziam uma profissão tão elevada de piedade e reivindicavam essa superioridade, era certo que se deveria esperar muito deles. Mas Paulo revela a incoerência entre suas reivindicações e sua conduta real. Eles “dizem e não fazem” (Mt.23:3). Furtas. Essa incoerência não era um fato recente entre os judeus. Muito antes, o salmista tinha lamentado a decadência moral de seu povo (SI.50:16). Ao fazer acusação de roubo, Paulo, sem dúvida, tinha em mente, entre outras coisas, os métodos desonestos de realização de negócios, como, por exemplo, os que eram realizados no próprio pátio do templo, com a aprovação e colaboração dos sacerdotes e príncipes (ver com. de Mt.21:12; ver também DTN, 155). A acusação de adultério pode ter incluído uma referência especial à prática livre do divórcio (ver com. de Mt.5:31-32; sobre as condições morais entre os judeus, ver com. de Rm.2:1). |
Rm.2:22 | 22. Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos? Cometer adultério. Ver com. do v. Rm.2:1. Abominas. Do gr. bdellusso, “detestar”, “afastar-se com desgosto”. Cometes sacrilégio (ARC). Ou, “roubas os templos”. Esta acusação é geralmente explicada como a pilhagem dos templos pagãos, o que significa que Paulo está se referindo aqui à incoerência de roubar os templos, apesar da professada contaminação de contato com a idolatria. A suspeita de que os judeus tinham reputação de cometer esse crime possivelmente pode ser inferida a partir de At.19:37-41, em que o escrivão da cidade de Éfeso absolve Paulo e seus companheiros de serem ladrões do templo. Esse pecado era proibido pelos judeus, em harmonia com Dt.7:25. Josefo parafraseia assim essa proibição: “Que ninguém blasfeme os deuses que outras cidades reverenciam, nem roube os templos estrangeiros, nem tome tesouro que foi dedicado em nome de qualquer deus” (Antiguidades, iv.8.10 [207]). No entanto, é possível que Paulo se referisse à profanação do templo judaico e dos serviços do templo. A essência da idolatria é a profanação de Deus, e disso, os judeus tinham um alto grau de culpa. Eles faziam da casa de Deus um “covil de salteadores” (Mt.21:13; Mc.11:17; Lc.19:46). |
Rm.2:23 | 23. Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Que te glorias na lei. Síntese dos v. Rm.2:17-20. Transgressão da lei. Síntese da linha de pensamento estabelecida nos v. Rm.2:21-22. Desonras. Ver com. do v. Rm.2:24. |
Rm.2:24 | 24. Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa. Está escrito. A referência deve ser a Is.52:5, embora Paulo também possa ter tido em mente 2Sm.12:14 ou Ez.36:21-24. Paulo aplica a passagem em um novo sentido. Isaías falava do desprezo a que o nome de Deus fora lançado pelos inimigos porque tinha sido permitido que Israel caísse em suas mãos. Paulo dizia que a causa da desonra é a vida incoerente dos próprios judeus. É blasfemado. Ou, “é mencionado de maneira profana”, “é abusado”. Os gentios julgavam a religião dos judeus pela vida incoerente de seus devotos, por isso, eram levados a blasfemar de Deus e do Autor da religião. Os judeus se vangloriavam da lei, mas, por sua desobediência, lançavam desonra sobre o Legislador. A má conduta e hipocrisia dos judeus faziam com que os gentios desprezassem uma religião que parecia não ter efeito na purificação e restrição dos que professavam segui-la. Os judeus eram tão zelosos do nome de Deus que sequer pronunciavam a forma mais sagrada desse nome (ver vol. 1, p. 149, 150). No entanto, viviam de tal maneira que os gentios eram levados a blasfemar do nome divino. |
Rm.2:25 | 25. Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão. Circuncisão. Os judeus davam grande importância ao rito da circuncisão, como se a cerimônia exterior garantisse um favor divino especial. Deus instituiu esse rito como um sinal de Sua aliança com Abraão e seus descendentes (Gn.17:9-14; At.7:8). Como marca e memorial dessa relação, a circuncisão poderia ter sido uma bênção para os judeus. Mas, visto que, em tão grande medida, eles não tinham conseguido fazer jus às exigências essenciais da aliança, a circuncisão se tornou em nada mais que uma forma vazia. Se praticares a lei. Não há artigo no grego (ver com. do v. Rm.2:12), pelo que a cláusula, talvez, seja equivalente a “se és guardador da lei”. O guardador da lei é contrastado com o transgressor, da frase seguinte. O grego enfatiza a prática habitual da obediência. O desejo sincero de obedecer à lei de Deus sempre foi a condição pela qual Deus concordou em cumprir Suas graciosas promessas para os judeus (Ex.19:5-6; Dt.26:16-19; Je.4:4). Transgressor da lei. Ou, “quebrantador da lei”. “Lei”, aqui, não tem nenhum artigo no grego (ver com. do v. Rm.2:12). “Transgressor” vem de uma antiga palavra grega parabates, que significa “aquele que passa por cima de uma linha”, portanto, um “transgressor”, como a palavra é traduzida em Gl.2:18; Tg.2:11. Existem muitas palavras gregas diferentes no NT para expressar os vários aspectos do pecado. Parabates se refere àquele que transgride um mandamento revelado. |
Rm.2:26 | 26. Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão? A incircuncisão. Ou seja, o homem não circuncidado, o gentio. Preceitos. Ou, “requisitos”, do gr. dikaiomata (ver com. de Rm.8:4). Paulo já tinha explicado que era possível aos gentios cumprir o que a lei exige (ver com. de Rm.2:14-15). Considerada. Ou, “contada”. Se um gentio obedece às exigências da lei, a incircuncisão não torna menos aceitável sua obediência. A circuncisão era um rito simbólico destinado por Deus a ajudar os filhos de Israel no desenvolvimento de um estilo de vida coerente com a lei de Deus. Se os gentios, sem o benefício desse rito simbólico, praticassem as coisas contidas na lei, eles também compartilhariam as promessas feitas aos judeus (ver Mt.8:11; 1Co.7:19; Gl.5:6; ver vol. 4, p. 14, 15). |
Rm.2:27 | 27. E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei. Por natureza. “Incircunciso por natureza” pode ser considerado como em contraste com a expressão “judeus por natureza” (Gl.2:15). Então, as palavras significam “em seu estado natural de incircuncisão”, ou a frase pode ser considerada equivalente a “incircunciso”, em conformidade com o argumento de Rm.2:28-29 de que a verdadeira circuncisão não é algo exterior e físico. É uma questão de coração, espiritual, e não literal. Julgará. No sentido de condenação. A ideia pode ser a de envergonhar pelo contraste (Mt.12:41-42). A letra. Do gr. gramma. Esta palavra era usada para escritos ou documentos de todos os tipos (ver Lc.16:6-7; At.28:21). Neste contexto, evidentemente, se refere à lei escrita, em geral. A ênfase está no fato de que os judeus possuíam a lei por escrito, em contraste com os gentios, que não eram assim favorecidos (Rm.2:14). Os judeus transgrediam a vontade de Deus, apesar de terem as vantagens da lei escrita, e eram circuncidados. Assim, eles são condenados pela obediência de quem cumpre a lei em circunstâncias menos favoráveis. |
Rm.2:28 | 28. Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Não é judeu. A mera conformidade exterior com a lei não faz da pessoa um verdadeiro judeu, de acordo com a definição da Bíblia, mesmo que seja descendente de Abraão e tenha sido circuncidado. |
Rm.2:29 | 29. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. Interiormente. Literalmente, “em secreto” (Mt.6:4). Judeus verdadeiros são aqueles que possuem espírito e caráter que cumprem o propósito de Deus em chamá-los para ser Seu povo escolhido. Deus os separou, não apenas para cumprir certos ritos exteriores, mas para ser um povo santo no coração e na vida (Dt.6:5; Dt.10:12; Dt.30:14; SI.51:16-17; Is.1:11-20; Mq.6:8). Do coração. O fundo espiritual da circuncisão, sem o qual a cerimônia exterior era inútil, foi ensinado no AT (ver Dt.10:16; Dt.30:6; Je.4:4; Je.9:26; Ez.44:9; At.7:51; Fp.3:3; Cl.2:11). O desígnio da circuncisão era que ela devia ser um sinal de separação do mundo pagão e de consagração ao Deus verdadeiro. O rito incluía a renúncia e o abandono de todos os pecados, a separação de tudo que era ofensivo a Deus. Essa obra era claramente “do coração”. No espírito. Literalmente, “em espírito”, isto é, na vida espiritual interior. Não segundo a letra. Comparar com Rm.7:6; 2Co.3:6-8. Verdadeira circuncisão envolve um trabalho interior e espiritual, de submissão a Deus, e é mais do que conformidade exterior com a exigência ritual. Louvor. Aqui pode haver um jogo de palavras. O nome “judeu” é derivado de “Judá”, que, em hebraico, é construído em torno de uma raiz que significa “louvor” (ver com. de Gn.29:35). Em Rm.2:17, Paulo começou sua análise da condição espiritual dos judeus referindo-se ao nome do qual eles eram tão orgulhosos. No v. 29, ele descreve o tipo de pessoa que é digna desse nome. É apropriado que Paulo tenha acrescentado que o verdadeiro judeu é a pessoa cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (comparar 1Sm.16:7). Grande parte do que foi dito sobre os judeus neste capítulo pode ser aplicado aos professos cristãos. Aquele que está na posse da Palavra de Deus e compreende seu dever é privilegiado. Esse conhecimento pode levar à santidade e felicidade nesta vida e à vida eterna no futuro. Mas é terrível quando os cristãos negligenciam os privilégios recebidos. Eles serão julgados de acordo com a luz que receberam. A mera profissão da religião não os pode salvar, não importando quão ortodoxas sejam suas crenças. A consideração que as pessoas podem colocar sobre sua aparente piedade não é a verdadeira medida de seu caráter nem de que estão com Deus. Os ritos e cerimônias são muito menos importantes do que a condição da mente e do coração. O fato de que alguém foi batizado, por si só, não irá salvá-lo. O fato de a pessoa estar registrada como membro da igreja, ou de nascer de ancestrais piedosos, não garante sua salvação. O verdadeiro cristão é aquele que o é interiormente, pois a verdadeira religião é uma questão individual. Em toda sua vida diária, o cristão deve fazer do louvor a Deus o objetivo de sua existência. Não fazemos nosso trabalho “servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus” (Ef.6:6; Cl.3:22). Cristo é nosso exemplo nisso. Ele disse: “Eu faço sempre o que Lhe agrada” (Jo.8:29). Paulo igualmente testemunhou da necessidade de agradar, não aos homens, mas a Deus (1Ts.2:4). |
Rm.3:1 | 1. Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Qual é [...] a vantagem do judeu? Literalmente, “qual é o ganho?” Que privilégio ou vantagem têm os judeus sobre os gentios? Uma vez que o verdadeiro judeu o é interiormente, qual é a vantagem de pertencer ao povo escolhido? Uma vez que um gentio incircunciso que preenche os requisitos da lei é considerado como um circuncidado (Rm.2:26), qual é a vantagem de ser circuncidado? Um cristão pode perguntar de maneira similar: se o batismo e a participação como membro de uma igreja em si não trazem vantagem especial (ver com. de Rm.2:29), qual é a utilidade de ser batizado e de se unir à igreja? |
Rm.3:2 | 2. Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus. Principalmente. Ou, “em primeiro lugar”. Paulo menciona apenas uma vantagem e não continua a enumerar as demais. Ele responde à pergunta com mais detalhes em Rm.9:4-5. Foram confiados. Ou, “foram-lhes confiados” os oráculos. Oráculos. Do gr. logia, literalmente, “breves palavras”. A palavra ocorre apenas quatro vezes no NT (At.7:38; Hb.5:12; 1Pe.4:11). Neste contexto, Paulo evidentemente se refere às Escrituras do AT, embora possa se referir, em particular, às promessas e mandamentos de Deus a Seu povo, Israel. A primeira vantagem que os judeus desfrutavam era a revelação direta de Deus a respeito da vontade divina para o ser humano. Receber essa revelação era grande honra e privilégio e trazia consigo a obrigação correspondente de compartilhá-la com o mundo (ver Dt.4:6-8). Se os judeus tivessem reconhecido e valorizado seu privilégio e responsabilidade, Deus poderia ter atuado por meio deles para a salvação do mundo (ver vol. 4, p. 13, 14). |
Rm.3:3 | 3. E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? Não creram. Ou, “estavam sem fé“, “foram infiéis”. Há uma semelhança fundamental entre as palavras gregas geralmente traduzidas como “crer”, “crença” e “fé”, na ARA. “Crer” é pisteuo; “crença” é pistis; “fé” também provém de pistis. “Descrer” é apisteo; “incredulidade” é apistia. A referência é, sem dúvida, à falta de crença e fé na revelação de Deus, sobretudo, à falta de fé em Jesus, o Salvador prometido. Pode haver uma referência à infidelidade geral entre os judeus, a sua incapacidade de viver de acordo com o conhecimento e a instrução a eles confiada. Paulo não diz que todos os judeus eram infiéis ou descrentes. “Alguns dos ramos foram quebrados” (ver com. de Rm.11:17). No entanto, “alguns” (tines) pode representar a grande maioria (cf. Hb.3:16). Incredulidade. Ou, “falta de fé”. Desfazer. Do gr. katargeo, “tornar nula e sem efeito”. Esta palavra ocorre frequentemente nas epístolas de Paulo e é traduzida de diversas maneiras, como “anular” (Rm.3:31), “reduzir a nada” (1Co.1:28), “desistir” (1Co.13:11), “abolir” (Ef.2:15), “desfazer” (Gl.5:11), etc. O significado básico é “tornar inútil”. A falha dos judeus não significa que Deus não conseguiu cumprir as promessas feitas a eles. A promessa de salvação ainda é válida, mas única e tão somente para os que têm fé (Rm.1:16). Em nosso tempo, alguns podem ser tentados a considerar o atraso na volta de Cristo como uma falha da parte de Deus em cumprir as promessas ao Seu povo. Mas as promessas de Deus são condicionais (ver com. de Ez.12:27). Nossos pecados e a falta de fé tornaram impossível a Deus cumprir a promessa de breve retorno. Os mesmos pecados que excluíram o antigo Israel da terra de Canaã têm retardado a entrada do Israel espiritual na Canaã celestial. “Em nenhum dos casos houve falta da parte das promessas de Deus. É a incredulidade, o mundanismo, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo de Deus que nos têm detido neste mundo de pecado e dor por tantos anos” (Ev, 696; ver vol. 4, p. 30-34). A fidelidade de Deus. Ver 2Tm.2:13; Hb.10:23; Hb.11:11; 1Jo.1:9. |
Rm.3:4 | 4. De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado. De maneira nenhuma! Do gr. megenoito, literalmente, “que não aconteça”. Paulo usa esta expressão 18 vezes, sempre para indicar forte aversão. A expressão hebraica correspondente é chalilah, literalmente, “uma coisa abominável, impensável, profana” (ver com. de 1Sm.20:2). Seja Deus verdadeiro. Ou, “que Deus continue a ser verdadeiro”, “que Deus seja encontrado verdadeiro”, ou “que Deus prove ser verdadeiro”. Significa que apesar de as pessoas terem sido incoerentes em relação ao que lhes foi confiado, que Deus seja visto e reconhecido como verdadeiro (ver 2Tm.2:13). Mentiroso, todo homem. Palavras do SI.116:11, na LXX. Segundo está escrito. Uma citação da LXX, do Sl.51:4, no qual Davi expressa a profundidade de seu arrependimento pelo pecado com Bate-Seba e reconhece que Deus está apenas condenando e punindo o pecado. Paulo apela a essas palavras de Davi, em apoio a seu raciocínio no v. Rm.3:3, de que a infidelidade das pessoas de modo algum anulou a fidelidade de Deus, mas só serviu para confirmar Sua justiça. Justificado. Ou, “reconhecido como justo”, “declarado justo”. Este é o único significado da palavra que poderia ser aplicado ao Deus todo-justo. Vencer. Ou, “prevalecer”. Palavra grega que por vezes era usada com referência aos processos judiciais. Fores julgado. Ou, “fores a juízo” (ver 1Co.6:1; 1Co.6:6, em que o mesmo termo grego é traduzido assim). Paulo pode se referir aqui à questão central do grande conflito entre Cristo e o diabo. O caráter e a justiça de Deus estavam, de certo modo, sob o julgamento da humanidade e de todo o universo (Rm.3:25-26). |
Rm.3:5 | 5. Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.) Traz a lume. Do gr. sunistemi. Esta palavra e suas formas afins são utilizadas no NT, com dois significados: (1) “ser louvado por vós” (2Co.12:11); e (2) “demonstrar”, “provar” (Rm.5:8; Gl.2:18, traduzida pelos verbos “provar”, “constituir”). O sentido de “provar” pode se aplicar a esta passagem. Paulo se prepara para enfrentar a objeção de que, se o pecado tende apenas a louvar e demonstrar a justiça de Deus, por que seria punido? Justiça de Deus. Ver com. de Rm.1:17. Neste contexto, parece que Paulo enfatiza a perfeição do caráter divino. Que diremos? Expressão comum nos escritos de Paulo (Rm.4:1; Rm.6:1). Será Deus injusto [...]? No grego, a forma desta pergunta implica que a resposta deve ser negativa. Por aplicar a Sua ira? Literalmente, “por provocar a ira”, isto é, trazer o desprazer divino contra o pecado (ver com. de Rm.1:18). Falo como homem. Comparar com Rm.6:19; Gl.3:17. O senso de reverência de Paulo parece pedir desculpas por sua franca analogia entre as coisas humanas e divinas. |
Rm.3:6 | 6. Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo? Certo que não. Ver com. do v. Rm.3:4. Como julgará Deus o mundo? Para Paulo, não há necessidade de provar a certeza de que Deus julgará a humanidade. Paulo não precisaria convencer os judeus dessa verdade fundamental (ver Ec.12:14). Uma vez que é geralmente aceito que Deus será o juiz do mundo, a conclusão sugerida no v. Rm.3:5 (de que Ele é injusto ao punir o pecado) deve ser rejeitada. Se for injusto que Deus condene e puna o pecado porque este serviu indiretamente para demonstrar Sua justiça, como Ele poderia julgar, afinal? |
Rm.3:7 | 7. E, se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para a sua glória, por que sou eu ainda condenado como pecador? Minha mentira. Ou seja, a infidelidade às reivindicações de Deus e da consciência, a negação da veracidade das promessas de Deus, especialmente devido a pessoa ter rejeitado a oferta de salvação por meio de Cristo. Paulo repete o contraste do v. Rm.3:4, mas aqui, talvez por causa da argumentação, ele fala como se ele próprio levantasse a objeção (1Co.4:6). Fica em relevo. A veracidade de Deus não pode ser aumentada, mas pode existir em maior abundância, para que Sua glória seja mais plenamente manifestada. A verdade de Deus. Ou seja, a autenticidade ou veracidade de Deus, Sua fidelidade às promessas. Condenado. Ver com. de Rm.2:1. Se a minha incredulidade e falsidade servem para vindicar a Deus, por que ainda sou condenado como pecador? Como um ato que tende a promover a glória de Deus pode ser considerado mal? E se essa objeção fosse válida, por que não deveríamos continuar no pecado, para que viesse como resultado maior bem ainda? Paulo não parou para explicar a evidente falácia desse raciocínio tão destrutivo de toda moralidade. É evidente que o pecador não merece crédito pelo bem que advêm de seu pecado, a despeito de suas intenções. |
Rm.3:8 | 8. E por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa. Caluniosamente. Literalmente, “somos blasfemados”. O falso relatório era uma deturpação grosseira da fé e da doutrina de Paulo e, ainda assim, havia quem “afirmasse” que o apóstolo havia dito essas coisas. A acusação de que Paulo, e os cristãos em geral, eram culpados de ensinar esse erro era aparentemente uma conclusão extraída desses ensinamentos de que o ser humano é justificado pela fé e não pelas obras da lei (Rm.3:20; Rm.3:28) e que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm.5:20). A refutação completa dessa acusação é apresentada no cap. Rm.6. Condenação. Ou, julgamento. Não está claro se a última frase se refere aos caluniadores já mencionados, ou àqueles que se atrevem a dizer: “façamos males, para que venham bens”, ou aos que falam e agem de acordo com um princípio tão pernicioso. A última interpretação parece se encaixar melhor ao contexto, pois a menção de Paulo aos caluniadores é apenas incidental ao seu objetivo nos v. Rm.3:5-8, que é de eliminar qualquer alegação dos judeus de que estão imunes ao juízo de Deus. |
Rm.3:9 | 9. Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; Que se conclui? A consulta expressa uma transição no raciocínio. Aqui, Paulo se refere aos v. Rm.3:1-2. Temos nós qualquer vantagem? Do gr. proechometha, que alguns têm traduzido como “somos piores do que eles?” No entanto, o contexto parece ser contrário a essa tradução. Paulo já havia declarado no v. Rm.3:2 que os judeus tinham vantagens importantes sobre os gentios. No entanto, privilégio elevado envolve mais responsabilidade. Nesse sentido, é verdade que os judeus esclarecidos mereciam punição mais severa que os gentios ignorantes (Lc.12:47-48). O restante do versículo deixa claro que, independentemente de vantagem ou desvantagem, judeus e gentios estão debaixo do pecado e necessitados de justificação. Não, de forma nenhuma. Isto é, “nem um pouco”. Já temos demonstrado. Ou, “já provamos”. A acusação foi feita contra os gentios em Rm.1:18-32 e contra os judeus, em Rm.2:1-29. Gregos. Ou, gentios (ver com. de Rm.1:16). Debaixo do pecado. Ou seja, sob o poder ou controle do pecado. A expressão denota a sujeição ao pecado como um poder que governa a vida de todos em seu estado natural, não regenerado pela graça de Deus (Rm.7:14; Gl.3:22). |
Rm.3:10 | 10. como está escrito: Não há justo, nem um sequer, Como está escrito. Paulo se volta às Escrituras para provar sua acusação de pecado universal, o que já fez sob outros motivos. Essa evidência bíblica enfatiza particularmente que até o povo escolhido tem parte na necessidade universal de justiça. A seguinte série de citações é extraída de vários textos bíblicos (SI.14:1-3; Sl.53:1-3; Sl.5:9; Sl.140:3; Sl.10:7; Sl.36:1; Is.59:7). Os textos estão em grande parte de acordo com a LXX, embora com algumas variações. Paulo não especifica onde qualquer dessas passagens pode ser encontrada, admitindo que seus leitores judeus fossem bem versados no AT. Ele usa citações compostas em outras passagens (Rm.9:25-28; Rm.11:26-27; Rm.11:34-35; Rm.12:19-20; 2Co.6:16-18). Não há justo. Extraído do Sl.14:1 ou do Sl.53:1. Em vez de “pratica o bem”, Paulo usa a palavra “justo”, transmitindo o mesmo sentido, mas de uma forma que se adapta mais facilmente a toda a sua argumentação sobre a justificação pela fé. Esta frase é um resumo de tudo o que se segue. |
Rm.3:11 | 11. não há quem entenda, não há quem busque a Deus; Não há quem entenda. Uma citação do SI.14:2. Condensando a passagem, Paulo expressa o sentido negativo implícito no original. A falta de compreensão universal é devida ao obscurecimento e a perversão do intelecto causados pelo pecado (Rm.1:31). As coisas de Deus se tornaram loucura para a pessoa não regenerada (1Co.2:14; Ef.4:18). O salmo que Paulo cita começa com a declaração: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI.14:1). Busque. Não há desejo espiritual nem esforço para conhecer a Deus (Rm.1:28). |
Rm.3:12 | 12. todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Todos se extraviaram. A citação do Sl.14:3 concorda com a LXX (em que está como SI.13:3; ver vol. 3, p. 706). À uma se fizeram inúteis. A expressão hebraica equivalente no salmo citado significa “ser imundo” (ver com. de SI.14:3). Bem. Do gr. chrestotes. No NT, esta palavra só ocorre nos escritos de Paulo. Também é traduzida como “bondade” (Ef.2:7; Cl.3:12; Gl.5:22) e mencionada como fruto do Espírito. A palavra pode ser definida como uma disposição amável para com o próximo. Quando as pessoas não têm nenhum desejo de conhecer a Deus e seu entendimento se tornou obscurecido, elas não têm essa disposição bondosa (Rm.1:28-31). Nem um sequer. Pode-se objetar que a Bíblia e a história registram a vida de muitos homens e mulheres nobres que viveram retamente, no temor do Senhor. Depois dessa declaração, o próprio salmista se refere à “geração dos justos” (SI.14:5, ARC). O próprio discípulo e companheiro de Paulo, Lucas (ver com. de At.16:10), não hesita em dizer que Zacarias e Isabel eram “justos diante de Deus, vivendo irrepreensívelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (Lc.1:6). Mas “a geração dos justos” seria rápida em concordar com Paulo, que “todos pecaram” (Rm.3:23) e que não constituem exceção à descrição da pecaminosidade geral. Seriam os primeiros a reconhecer que já estiveram sob o domínio do pecado e que a justiça que desfrutam vem de Deus por meio da fé. |
Rm.3:13 | 13. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, Sepulcro aberto. Como a sepultura aberta em breve estará cheia de morte e corrupção, de igual modo, a garganta dos ímpios, aberta para o discurso, está cheia de falsidade, corrupção e morte (comparar com Je.5:16, em que a aljava dos caldeus também é chamada de sepulcro aberto). Alguns explicam que a figura significa que seu discurso é como o cheiro de um túmulo aberto (ver Jo.11:39). Urdem engano. Literalmente, “estavam usando o engano”. O tempo verbal indica insistência na prática do engano. O texto original do Sl.5:9 significa, literalmente, “tornaram suave a língua”, ou seja, usaram palavras suaves, lisonjeiras. Veneno de víbora. Esta parte do versículo é idêntica à LXX do Sl.140:3. O veneno da mentira é tão mortal quanto o da serpente. |
Rm.3:14 | 14. a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; A boca. Ver SI.10:7. “Garganta”, “língua” e “lábios” (Rm.3:13) podem ser considerados estágios pelos quais o discurso é produzido. A “boca” resume tudo. |
Rm.3:15 | 15. são os seus pés velozes para derramar sangue, Seus pés. Os v. 15 a 17 são uma citação abreviada de Is.59:7-8, em que o profeta representa o caráter da nação judaica de seu tempo. |
Rm.3:16 | 16. nos seus caminhos, há destruição e miséria; Sem comentário para este versículo. |
Rm.3:17 | 17. desconheceram o caminho da paz. Sem comentário para este versículo. |
Rm.3:18 | 18. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Não há temor de Deus. Uma citação do Sl.36:1. Paulo começa esta série de citações com uma declaração geral sobre o pecado de todos. Em seguida, ele se refere a algumas das várias manifestações do pecado. Por fim, cita uma declaração sobre a origem do pecado. A impiedade se origina da falta de reverência para com Deus. Onde não há respeito nem reverência pelo caráter, autoridade e honra de Deus, não há restrição para o mal (ver também Rm.1:32). Essas citações do AT serviram para apoiar a afirmação de Paulo de que os judeus estavam longe de ficar livres da pecaminosidade universal do ser humano. Em vista dessas descrições da condição do povo judeu, certamente o judeu não podia esperar ser salvo simplesmente por ser judeu. Se esse era o caráter do povo escolhido, com todos os seus privilégios e vantagens, qual deve ter sido a condição dos gentios menos esclarecidos? Assim, não é difícil acreditar na descrição terrível do mundo pagão em Romanos 1. De fato, o mundo inteiro está envolvido em pecado, e todos os seus habitantes estão poluídos, arruinados e indefesos. A ruína poderia muito bem levar ao desalento e desesperança, não fosse o fato de que o Deus de misericórdia Se apiedou de nossa condição e criou um plano pelo qual os seres humanos perdidos e caídos podem ser exaltados à “glória, honra e incorruptilidade” (Rm.2:7). |
Rm.3:19 | 19. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, Sabemos. Uma expressão comum em Paulo, referindo-se a algo geralmente admitido (ver com. de Rm.2:2; Rm.7:14; Rm.8:22). A lei. O artigo está presente também no grego (ver com. de Rm.2:12). A referência é entendida como as Escrituras do AT, das quais Paulo extraiu as citações anteriores. O AT era dividido em três coleções de livros: a Lei, os Profetas e os Salmos ou Escritos (ver vol. 1, p. 13). Mas o título completo, como ocorre em Lc.24:44, raramente era usado, e todas as três divisões podem ser referidas como a Lei e os Profetas (Rm.3:21; Mt.5:17; Mt.22:40), ou simplesmente como a Lei (ver com. de Jo.10:34). A fim de apresentar aos judeus a evidência das Escrituras e evitar qualquer tentativa de sua parte de transferir para os gentios a referência a si mesmos, Paulo chama a atenção para o fato de que o AT, a partir do qual estava citando, fala especialmente àqueles a quem foi dado. Os judeus reconheciam a inspiração divina do AT, que denunciava os pecados da nação judaica. Por isso, dificilmente, eles poderiam escapar da conclusão de Paulo de que eles também deviam compartilhar com os gentios a culpa universal do ser humano. Diz [...] o diz. O primeiro “diz” é a tradução do gr. lego, que aqui destaca o assunto do que é falado. O segundo “diz” é a tradução do gr. laleo, que se refere à expressão da lei. A primeira palavra é aplicável à matéria contida na lei, enquanto a segunda se refere a sua proclamação. Essa distinção entre as duas palavras é ilustrada na tradução: “tudo que a lei diz é dirigido àqueles que estão sujeitos à lei”. Debaixo da lei (ARC). Literalmente, “na lei” (ARA), isto é, sob a autoridade da lei (ver Rm.2:12). Que se cale toda boca. Diante das provas apresentadas, as pessoas não têm desculpa a oferecer (Rm.2:1; SI.63:11). Todo o mundo. Judeus e gentios juntos. Paulo já havia declarado a culpabilidade dos gentios (ver Rm.1:20; Rm.1:32). Culpável. Do gr. hupodikos, palavra que ocorre somente aqui no NT e não é encontrada na LXX. No grego clássico, significa “passível de ação judicial” e pode ser seguida por uma referência ao direito violado, à pessoa lesada ou ao legítimo procurador. A passagem pode ser traduzida como: “tornar-se responsável diante de Deus”. Portanto, Paulo apresenta Deus como se tivesse uma controvérsia com os pecadores (Je.25:31). Aqui, Paulo fala de Deus não só como a parte ofendida, mas também como juiz (Rm.2:5-6; Rm.2:16). |
Rm.3:20 | 20. visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Por isso (ARC). Paulo apresenta a razão pela qual toda boca será calada e todo o mundo será responsabilizado perante Deus (v. Rm.3:19). Pelas obras da lei. Literalmente, “a partir das obras de lei”, isto é, obras prescritas pela lei. No grego, “lei” está sem o artigo (ver com. de Rm.2:12). Paulo afirma uma verdade geral que se aplica tanto aos gentios quanto aos judeus. A justiça pelas obras da lei tem sido a base de todo falso sistema religioso e se tornou o princípio central da religião judaica (DTN, 35, 36). Mas as obras realizadas em obediência a qualquer lei, seja essa lei conhecida pela razão, pela consciência ou pela revelação, não podem justificar um pecador diante de Deus (Gl.3:21). No cap. 1, Paulo demonstrou que os gentios violavam a lei que lhes fora revelada na natureza e na consciência. Da mesma forma, no cap. 2, ele provou que os judeus violavam a lei revelada a eles no AT e, particularmente, nos dez mandamentos (Rm.2). Judeus e gentios necessitam de justificação, mas a lei não tem poder para justificar. Ela só pode expor a pecaminosidade do pecado em sua verdadeira condição. Não há contradição entre a declaração em Rm.2:13: “os que praticam a lei hão de ser justificados” e esta passagem: “ninguém será justificado [...] por obras da lei”. A primeira enfatiza o fato de que são justificados somente aqueles que se submetem tão completamente a Deus que estejam dispostos a fazer o que Ele manda, portanto, não são apenas “ouvidores da lei”. O último enfatiza o fato igualmente verdadeiro de que as boas obras de obediência nunca podem conquistar a salvação. Elas podem, na melhor das hipóteses, ser a evidência da fé pela qual a justificação é recebida. Ninguém. Paulo, sem dúvida, se refere ao Sl.143:2. Será justificado. Do gr. dikaioo, “tornar justo”, “considerar justo”, “declarar justo”, “tratar como sendo justo”, “apresentar como justo”. A palavra ocorre 39 vezes no NT, 27 das quais estão nos escritos de Paulo. O significado de dikaioo é um pouco obscurecido pela tradução. No grego, dikaioo, “justificar”; dikaios, “justo”; dikaiosune, “justiça”, são todos construídos sobre a mesma raiz, e a relação entre os três é clara. Da forma como é usada no NT, com referência aos seres humanos, a justificação indica o ato pelo qual a pessoa é colocada em um status de justiça em relação a Deus. Por esse ato, Deus absolve a pessoa que era culpada de delito, ou trata como justo alguém que era injusto. Isso significa o cancelamento das acusações contra o crente na corte celestial. “Se vos entregardes a Ele e O aceitardes como vosso Salvador, sereis então, por pecaminosa que tenha sido vossa vida, considerados justos por Sua causa” (CC, 62; ver com. de Rm.3:28; Rm.4:25; Rm.5:1). Por obras da lei. Literalmente, “por meio de lei”. Não há nenhum artigo no grego (ver com. de Rm.2:12). Conhecimento. Do gr. epignosis, palavra que significa conhecimento claro e exato (Rm.1:28; Rm.10:2; Ef.4:13), e não a palavra comum para o conhecimento (gnosis). A lei é a norma do direito, e tudo o que não cumpre a lei é pecado, pois o pecado é rebeldia, desobediência à lei (1Jo.3:4). Quanto mais a pessoa fica familiarizada com o padrão da lei, maior é a consciência e a percepção do pecado. É por isso que ninguém pode ser justificado pelas obras da lei. No que se refere à justificação, a lei fez tudo o que podia fazer quando o pecador foi levado a exclamar: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (ver com. de Rm.7:24). A lei desperta a consciência para a culpa, mas não pode removê-la. Este versículo, juntamente com a declaração de Paulo de que a lei deve nos conduzir a Cristo (Gl.3:24), mostra a relação entre a lei e o evangelho. De maneira nenhuma o evangelho retira a função necessária da lei. A doutrina da justificação pela fé “apresenta a lei e o evangelho, unindo os dois num todo perfeito” (TM, 94). |
Rm.3:21 | 21. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; Mas agora. Isto pode ser entendido tanto em sentido temporal: “no momento atual”, como em sentido lógico: “neste estado do processo” (sobre o último significado, comparar com Rm.7:17; 1Co.13:13). Paulo demonstrou a necessidade universal de justiça (Rm.1:18-3:20) e então se voltou do lado negativo para o positivo do tema proposto em Rm.1:17. Sem lei. Literalmente, “além da lei ”. Não há artigo no grego (ver com. de Rm.2:12). Estas palavras estão em contraste com “por obras da lei” (Rm.3:20). Enfatizam que a justiça de Deus foi revelada sem qualquer referência à lei. Isto é, a justiça de Deus se manifestou além de todo princípio da lei e toda ideia de obediência legal como forma de obtenção de justiça, ou além do sistema legalista dos judeus, apresentado como base de justiça. Manifestou. Literalmente, “tem-se manifestado”. A palavra pode significar que aquilo que se manifestou antes estava escondido (ver Rm.16:25-26; Cl.1:26). Embora a justiça de Deus tenha sido revelada até certo ponto no AT, sua plena manifestação ocorreu na pessoa de Cristo (ver PP, 373). A justiça de Deus. Ver com. de Rm.1:17. Em contraste com a pecaminosidade universal do ser humano e suas tentativas fúteis de obter justiça pelas obras da lei, Paulo passa a descrever a justiça de Deus, a qual Ele está pronto a conceder a todos os que têm fé em Jesus Cristo. Testemunhada. Ou seja, atestada. Pela lei e pelos profetas. Ou seja, as Escrituras do AT (ver com. do v. Rm.3:19). No grego, a palavra “lei” vem acompanhada de artigo (ver com. de Rm.2:12). Não há contradição entre o AT e o NT. Embora essa manifestação da justiça de Deus esteja à parte da lei, não está em oposição à lei e aos profetas. Ao contrário, estava prevista por eles (ver Jo.5:39). Em sua substância, o AT é profético da justiça a ser revelada em Cristo e recebida pela fé, como está registrado no NT (ver At.10:43; 1Pe.10-11). Paulo já havia citado Hc.2:4: “O justo viverá por fé” (Rm.1:17). Ao longo da epístola, Paulo se refere constantemente ao AT para fundamentar sua tese de que a justiça é pela fé (ver Rm.4; Rm.10:6; Rm.10:11). A lei cerimonial tinha como principal objetivo ensinar que os seres humanos podem ser justificados, não pela obediência à lei moral, mas pela fé na vinda do Redentor (ver PP, 367). |
Rm.3:22 | 22. justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, Mediante fé em Jesus Cristo. Ou, “pela fé de Jesus Cristo”. Em Mc.11:22, em que o grego significa, literalmente: “tende a fé de Deus”, a NVI verteu como: “tenham fé em Deus”. Da mesma forma, o literal “a fé do Seu nome” é traduzida como “fé em o nome” (At.3:16). O literal “aquele que tem fé de Jesus é traduzido como “daquele que tem fé em Jesus” (Rm.3:26). Os santos são os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé em Jesus (Ap.14:12; TM, 58). Alguns têm preferido entender que “a fé de Jesus” representa a fé que o próprio Jesus exerceu, Sua fidelidade, a vida santa que viveu e o caráter perfeito que desenvolveu, que são concedidos como um dom gratuito a todos os que O recebem (ver DTN, 762; comparar com “a fidelidade de Deus”, ver com. de Rm.3:3). Além disso, Sua “fé” incluiria a fidelidade em Sua morte vicária (Rm.3:25-26; Fp.2:8). Em qualquer operação de justificação, esses dois aspectos estão em atividade. É a “fé de Jesus” que torna possível para Deus ser “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm.3:26). “A fé em Jesus” é o canal pelo qual o indivíduo entra na posse das bênçãos da justificação (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre Rm.4:3-5). No entanto, a justiça não é recebida como recompensa pela fé em Cristo, mas, em vez disso, é o meio pelo qual nos apropriamos da justiça. Quando, por amor e gratidão, o crente em Jesus se consagra sem reservas à misericórdia e à vontade de Deus, a justiça da justificação lhe é imputada. Quando ele segue diariamente nessa experiência de confiança, entrega e comunhão, sua fé aumenta, permitindo-lhe receber mais e mais da justiça comunicada da santificação. A fé é como se fosse a mão que o pecador estende para receber o “dom gratuito” da misericórdia de Deus (Rm.5:15). Esse é o dom que Deus sempre espera e se dispõe a nos conceder, não como recompensa por qualquer ação, mas inspirado por Seu amor infinito. O dom é nosso quando o recebemos, e é recebido “por meio da fé”. E sobre todos. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) quanto a se estas palavras faziam parte do manuscrito original. Mas a omissão delas não afeta o sentido. Creem. Ou, “têm fé” (ver com. do v. Rm.3:3). Não há distinção. Ou, “não há diferença”. Gentios e judeus estão todos incluídos no mesmo método de salvação. O motivo de não ser feita distinção entre eles é que não existe qualquer diferença em sua necessidade (v. Rm.3:23). |
Rm.3:23 | 23. pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, Todos pecaram. O pecado de Adão maculou a imagem divina no ser humano (ver com. de Rm.5:12; cf. OE, 80) e, desde a queda da humanidade, todos os descendentes de Adão continuaram a ser insuficientes e carentes da imagem e da glória de Deus. Paulo apela para que judeus e gentios igualmente reconheçam o fato vital de que toda a evidência da experiência e da história mostra que o ser humano caído, com sua natureza depravada, é incapaz de cumprir as exigências da lei de Deus e de estabelecer a própria justiça. A única maneira de se obter a justiça é pela fé em Jesus Cristo. Por essa experiência de fé, as pessoas são mais uma vez conduzidas a um relacionamento correto com Deus (Rm.3:24), um novo coração é criado nelas e, assim, são habilitadas pela fé a viver mais uma vez em obediência à lei de Deus (ver com. de Rm.5:1). Carecem. Do gr. hustereo, termo também usado com o significado de “padecer necessidade” (Fp.4:12, ARC), “necessitar” (Hb.11:37), “passar necessidade” (Lc.15:14). No relato das bodas de Caná, hustereo é usado para relatar o fim do suprimento de vinho (Jo.2:3). O texto grego indica que os pecadores ainda estão aquém das expectativas. Além disso, a forma particular do verbo pode expressar não só o fato de estar carente, mas também a consciência dessa falta. Se esse é o caso aqui, o verbo poderia ser traduzido como “conscientemente continuam a estar carentes”. Esse sentimento de perda levou as pessoas em todos os lugares a tentar estabelecer sua própria justiça pelas obras da lei. Glória. Do gr. doxa. Na Bíblia, doxa parece ter dois usos principais e um tanto diferentes, embora ambos se baseiem no significado original, no grego clássico, de “opinião”, “ideia”, “reputação”. Doxa é usada para significar “honra”, “fama”, “reconhecimento” (Jo.5:44; Jo.7:18). É o antônimo de “desonra” (1Co.11:14-15; 1Co.15:43; 2Co.6:8). Nesse sentido, é procurada (Jo.5:44; Jo.7:18; 1Ts.2:6), recebida (Jo.5:41; Jo.5:44), dada (Lc.17:18; Jo.9:24), ou atribuída a Deus (Lc.2:14; Ap.1:6). Se esse é o uso que Paulo faz do termo aqui, então, “a glória de Deus” representa a honra, o louvor ou a aprovação que Deus concede e da qual os seres humanos carecem. Uma vez que, neste trecho, Paulo trata da posição do ser humano diante de Deus, e se refere, no versículo seguinte, à justificação, a qual constitui o único meio pelo qual a pessoa pode ser restaurada à aprovação de Deus, esse sentido do termo “glória” pode ser apropriado nesse contexto. Por outro lado, “glória” também é usada na Bíblia para significar “brilho”, “aparição gloriosa que atrai o olhar” (Mt.4:8; Lc.12:27; At.22:11). Às vezes, é usada em um sentido paralelo com “imagem”, “semelhança”, “forma”, “aparência” (cf. Rm.1:23; comparar com Nm.12:8, LXX, que traduz doxa por “semelhança”). A glória revelada a Moisés (Ex.33:18; Ex.33:22) foi o caráter, a bondade, a misericórdia e o perdão de Deus (ver OE, 417). Essa glória também pode ser refletida naqueles, entre as criaturas de Deus, que são capazes de conhecer, amar e crescer com seu Criador. Assim, Paulo fala do ser humano como “a imagem e glória de Deus” (1Co.11:7), sem dúvida, porque ele é capaz de receber e refletir a glória de Deus. A revelação completa da glória e perfeição de Deus é “a glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2Co.4:6). À medida que essa glória de Deus, revelada em Cristo, resplandece a partir do evangelho, para o coração e a mente do crente, ela o transforma em “luz no Senhor” (Ef.5:8). Assim, “todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória” (2Co.3:18). A esperança e aspiração do cristão é participar cada vez mais plenamente da glória de Deus (Rm.5:2; 1Ts.2:12; 2Ts.2:14). Se “a glória de Deus” pode ser compreendida de modo melhor neste último sentido, “carecer da glória de Deus” significa carecer da perfeição de Deus, ter perdido Sua imagem e tornar-se destituído de Sua semelhança. Talvez essas duas interpretações não sejam mutuamente exclusivas, e ambas façam sentido neste versículo. |
Rm.3:24 | 24. sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, Sendo justificados. Visto que as pessoas não têm nada pelo que possam se reconciliar com Deus, a justificação deve vir como um dom gratuito. Somente quando, com toda a humildade, a pessoa está preparada para reconhecer que está destituída da glória de Deus e que nada tem em si mesma que a recomende a Ele, está habilitada pela fé a aceitar a justificação como um dom gratuito. Gratuitamente. Do gr. dorean, “livremente, como um presente” (comparar com o uso da palavra em Mt.10:8; 2Co.11:7; Ap.21:6; Ap.22:17). Graça. Do gr. charis, que ocorre 155 vezes no NT. Paulo utilizou esse termo significativo mais do que qualquer outro escritor do NT, havendo 108 ocorrências em suas epístolas. Seu colaborador próximo, Lucas, usou a palavra 25 vezes em Lucas e Atos. Portanto, o uso de charis por esses dois autores representa, cerca de cinco sextos de todas as ocorrências do NT. “Graça” não foi, de maneira nenhuma, uma palavra inventada pelos apóstolos. O termo foi amplamente utilizado com diversos significados associados na LXX, na literatura clássica e, posteriormente, no grego. No entanto, o NT muitas vezes parece acrescentar um significado especial à “graça”, que não se encontra plenamente fora dele. Primariamente, graça significa “aquilo que dá alegria ou prazer”, transmitindo noções de beleza, graciosidade, formosura, algo que encanta o espectador (comparar com “graça se derramou de Teus lábios”, no SI.45:2, LXX; cf. Pv.1:9; Pv.3:22). A mesma ideia está presente em algumas ocorrências do NT. Quando Jesus falou em Nazaré, Seus ouvintes “se maravilhavam das palavras de graça [literalmente, “as palavras de graça”] que Lhe saíam dos lábios” (Lc.4:22). Paulo aconselhou aos cristãos de Colossos que suas palavras fossem agradáveis (gr. en charis, Cl.4:6). “Graça” também transmitia a ideia de uma emoção bela ou agradável sentida ou expressa em favor de outros, em gestos de bondade, favor, boa vontade. José achou “graça”, aos olhos do faraó (At.7:10; cf. v. 46). Quando pregavam, os discípulos contavam “com a simpatia”, literalmente, “graça”, de todo o povo. Quando Jesus era menino, “a graça de Deus estava sobre Ele” (Lc.2:40). Certamente, a definição “um favor imerecido”, que muitas vezes é atribuída à palavra não é adequada aqui. A graça deve ser entendida no sentido de Lc.2:52: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens.” Como expressão do sentimento de boa vontade, graça tinha o sentido de gratidão. Assim, “porventura, terá de agradecer ao servo” (Lc.17:9) significa, literalmente, “será que ele tem graça para o servo?” Graça é frequentemente usada nesse sentido na expressão “graças a Deus” (1Co.15:57; 2Co.8:16; Rm.6:17; 2Co.2:14; 2Co.9:15). Esse não é um “favor imerecido”, oferecido pelos mortais a Deus. Como expressão substancial de boa vontade, “graça” também era usada para um presente, um favor feito ou uma bênção. Os judeus foram a Festo e lhe pediram um “favor”, literalmente, “graça”, contra Paulo (At.25:3). Paulo fala da oferta que as igrejas coletaram para os pobres de Jerusalém, como “graça” (1Co.16:3; 2Co.8:4; 2Co.8:6-7; 2Co.8:19). Nenhum dos usos acima é diferente do encontrado em outra literatura grega. O significado distinto, ligado ao termo “graça” no NT e, especialmente, nos escritos de Paulo, é o do amor abundante, salvador, de Deus para com os pecadores, como Jesus Cristo revelou. Obviamente, visto que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3:23, ARC), o favor e a bondade da parte de Deus são imerecidos pelo pecador. A humanidade tem vivido em ódio e rebelião contra Deus (Rm.1:21; Rm.1:30; Rm.1:32), perverteu Sua verdade (v. Rm.1:18; Rm.1:25), preferiu adorar animais e répteis (v. Rm.1:23), maculou a imagem divina em seu próprio corpo (v. Rm.1:24-27), blasfemou de Seu nome (Rm.2:24) e até mesmo desprezou a Deus por Sua paciência e tolerância (v. Rm.2:4). Finalmente, assassinou Seu Filho, enviado para salvá-la (At.7:52). No entanto, em tudo isso, Deus continuou a considerar a humanidade com amor e bondade, a fim de que a revelação de Sua bondade conduzisse as pessoas ao arrependimento (Rm.2:4). Essa é a graça de Deus em seu sentido peculiar do NT. Não é apenas o favor de Deus para com aqueles que merecem Sua aprovação, é Seu amor ilimitado, inclusivo, transformador pelos homens e mulheres pecadores, e as boas-novas dessa graça, revelada em Jesus Cristo, são “o poder de Deus para a salvação” (Rm.1:16). Não é apenas a misericórdia e a disposição de Deus de perdoar, é um poder energizante, transformador e ativo para salvar. Assim, Ele pode encher uma pessoa (Jo.1:14), pode ser dado (Rm.12:3; Rm.12:6), é autossuficiente (2Co.12:9; Rm.5:20), reina (Rm.5:21), ensina (Tt.2:11-12) e estabelece o coração (Hb.13:9). Em alguns casos, a “graça” parece quase equivalente ao “evangelho” (Cl.1:6) e à obra de Deus em geral (At.11:23; 1Pe.5:12). “A graça divina, eis o grande elemento do poder salvador” (OE, 70). “Cristo deu a vida a fim de tornar possível ao pecador o ser restaurado à imagem de Deus. É o poder de Sua oração que une os homens na obediência da verdade” (CPPE, 249). Redenção. Do gr. apolutrosis, literalmente, “resgate”, “libertação por meio de resgate”. A palavra grega é composta de duas partes: apo, “de” e lutrosis, relacionado com lutron, termo comum nos papiros para descrever o preço para libertar escravos. O termo é utilizado para designar a libertação da escravidão, do cativeiro, ou de qualquer tipo de mal. A ideia do pagamento de um preço ou resgate geralmente está implícita. A palavra “redimir” vem de um verbo latino que significa “comprar de volta”, “resgatar”. No AT, o grande ato típico que simbolizava a redenção era a libertação do Egito. Yahweh, como redentor ou libertador, prometeu: “E vos resgatarei com braço estendido” (Ex.6:6; Rm.15:13). O propósito da redenção foi a consagração de Israel ao serviço de Deus (Ex.6:7). A fim de participar da redenção, os israelitas foram obrigados a realizar um ato de fé: comer o cordeiro pascal e aspergir o sangue (Ex.12). Esses tipos são cumpridos na redenção da humanidade do pecado e da morte. Jesus é “o Cordeiro que foi morto” (Ap.5:12; Jo.1:29; 1Co.5:7; 1Pe.1:18-19). É ensinado no NT que foi pago um resgate ou um preço por nossa redenção. Jesus declarou que “o próprio Filho do homem veio [...] para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos” (Mc.10:45). Paulo fala de Cristo como Aquele que “Se deu em resgate por todos” (1Tm.2:6). Os cristãos são representados como tendo sido “resgatados” (2Pe.2:1), ou “comprados por preço” (1Co.6:20). “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se Ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl.3:13). Assim, em certo sentido, a justificação não é gratuita, pois um grande preço foi pago por ela nos sofrimentos e na morte de Cristo. Mas é gratuita para nós, pois seu custo não é cumprido por nós, mas foi pago pelo próprio Filho de Deus. Essa redenção nos resgata do pecado (Ef.1:7; Cl.1:14; Tt.2:14; Hb.9:15; 1Pe.1:18-19), da corrupção, da morte (Rm.8:23) e, finalmente, da presente condição de pecado para a de glória e felicidade (Lc.21:28; Ef.4:30). Cristo nos redime da penalidade do pecado pela justificação; do poder do pecado, pela santificação; e, no momento da segunda vinda e da ressurreição, nos redime da presença do pecado, pela glorificação. Como no caso dos israelitas, na libertação do Egito, assim também nossa participação no plano divino da redenção do pecado exige o exercício da fé, o reconhecimento pessoal e a aceitação de Jesus como nosso redentor, com tudo o que essa medida significa. Em Cristo Jesus. Ele “Se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co.1:30). Ele é em Si mesmo o redentor (Tt.2:14) e o resgate (1Tm.2:6). Não é de admirar que Paulo exclamasse: “Cristo é tudo em todos” (Cl.3:11). A restrição que o apóstolo estabeleceu para si mesmo não era estreita quando afirmava estar determinado a “nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co.2:2). Pois conhecê-Lo bem é conhecer todo o plano de Deus para a restauração do ser humano. Não há sabedoria maior. |
Rm.3:25 | 25. a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; Propôs. Do gr. protithemi. Este verbo grego traz dois significados associados. Um significado possível é “expor à vista” (comparar com “pães da proposição”, em Mc.2:26). O segundo significado possível, derivado da ideia de criar alguma coisa antes, é “determinar um propósito”, “decretar”, “determinar sua finalidade”. A mesma palavra é traduzida como “propor” (Rm.1:13). O último sentido concordaria com o ensino de Paulo (Ef.3:11; 2Tm.1:9), mas o contexto parece indicar que a exposição pública do sacrifício de Cristo é o ponto a ser enfatizado neste versículo. Comparar “ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado” (Gl.3:1) e “do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado” (Jo.3:14). O propósito de Deus na exposição pública do sacrifício de Cristo foi “demonstrar a Sua justiça”. E essa declaração pública da justiça de Deus não foi apenas para o benefício da humanidade, mas para todo o universo, para que as questões do grande conflito fossem entendidas por todos tentados a duvidar da perfeição do caráter de Deus (cf. DTN, 626, 758, 759). No Seu sangue, [...] mediante a fé. Ou, “pela fé, no Seu sangue”. A conexão dessas frases com o restante do versículo pode ser entendida de diversas maneiras. Como foi traduzida pela ARC, esta passagem significa que o sacrifício de Jesus traz perdão e reconciliação para os que têm fé em Seu sangue. No entanto, é possível conectar “mediante a fé” e “em Seu sangue”, separadamente, com “propiciação”, sendo este o significado: “A quem Deus propôs, no Seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (ARA). Gramaticalmente, as duas interpretações são possíveis. A última pode ser preferível neste contexto, por indicar mais claramente o sacrifício de Cristo como o meio pelo qual é realizada a propiciação. O sacrifício expiatório se torna eficaz por meio da fé que se apropria dele. A menos que o perdão oferecido seja aceito pela fé, a expiação não tem nenhum proveito em conciliar a mente e o coração das pessoas pelas quais foi feito o sacrifício. O NT enfatiza a relação entre o sangue de Cristo e a obra da redenção. Jesus falou de Seu próprio sangue como sendo “derramado em favor de muitos” (Mc.14:24). Somos “justificados pelo Seu sangue” (Rm.5:9). “Temos a redenção, pelo Seu sangue” (Ef.1:7). Cristo fez “a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl.1:20). Aqueles que estavam “longe” foram “aproximados” pelo Seu sangue (Ef.2:13). A igreja de Deus foi comprada “com o Seu próprio sangue” (At.20:28). “Em Seu sangue, [Ele] nos lavou dos nossos pecados” (Ap.1:5, ARC). No AT, o sangue representa a vida (ver com. de Lv.17:11). Deus proibiu o ser humano de comer carne “com sua vida, isto é, com seu sangue” (Gn.9:4). O derramamento e a aspersão do sangue nos serviços do santuário do AT significavam a remoção e a oferta da vida dos animais sacrificados. Assim, o derramamento antitípico do sangue de Jesus significa a oferta de Sua vida como um sacrifício. O sangue de Cristo representa Sua vida oferecida como sacrifício expiatório pelos pecados do mundo. Por representar a vida perfeita de Jesus oferecida pelo ser humano, o sangue de Cristo é eficaz não só para a “propiciação” (Rm.3:25), justificação (Rm.5:9), como para a reconciliação (Ef.2:13). “É recebendo a vida por nós derramada na cruz do Calvário que podemos viver a vida de santidade” (DTN, 660). Propiciação. Do gr. hilasterion. Esta importante palavra tem sido discutida extensamente por muitos comentaristas e tem sido interpretada de diversas maneiras. A dificuldade parece ser não só descobrir o sentido exato do termo grego, mas, também, encontrar em nossa língua uma palavra ou frase adequada para representar esse significado. Hilasterion ocorre somente aqui e em Hb.9:5, em que se refere à parte da arca da aliança geralmente conhecida como “propiciatório”. Esse uso da palavra é comum na LXX como tradução do heb. kapporeth, que descreve a tampa ou cobertura da arca. Era sobre essa peça de ouro do mobiliário que o sangue era aspergido no Dia da Expiação (Lv.16:14-15), e “do qual, em virtude da obra expiatória, se concedia o perdão ao pecador arrependido” (PP, 349). Uma vez que essa que era a mais sagrada de todas as cerimônias hebraicas, constituía um tipo (símbolo) da obra expiatória de Cristo, a compreensão do significado desse termo, kapporeth, para o lugar central na cerimônia típica da expiação pode lançar alguma luz sobre seu uso por Paulo em referência ao sacrifício de Cristo. Essa palavra hebraica para o chamado “propiciatório” é derivada de uma palavra (kafar), que significa, basicamente, “cobrir”. No entanto, apenas uma vez no AT, em sua forma mais simples, kafar é usado para cobrir, em sentido comum (Gn.6:14). Na maioria das vezes, ocorre em outra forma e é usada em sentido figurado, com o significado de “cobrir o pecado”, portanto, “perdoar”, “ser misericordioso”, “expiar”. Para kapporeth, Lutero usou o substantivo gnadenstuhl, “propiciatório”. Mais tarde, Tyndale assumiu a palavra e, de sua versão, passou a muitas das principais versões da Bíblia em inglês. Alguns têm sugerido a tradução “lugar de expiação”, que representa mais claramente a obra da redenção e reconciliação que era realizada ali. Os tradutores da LXX estavam cientes desse significado do nome e escolheram para representá-lo o gr. hilasterion. O significado de hilaste é ainda iluminado por uma comparação das outras palavras relacionadas que ocorrem no NT. Hilaskomai é usado na oração: “ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc.18:13) e na descrição da obra de Jesus “para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb.2:17). Outra forma relacionada, hilasmos, ocorre duas vezes nas descrições de Cristo como “a propiciação pelos nossos pecados” (1Jo.2:2; 1Jo.4:10). Como é usado em Rm.3:25 e, nesse contexto, descrevendo a oferta de justificação e redenção por meio de Cristo, hilasterion, “propiciação”, parece representar o cumprimento de tudo o que era tipificado pelo hilasterion, “propiciatório”, no santuário do AT. Por Sua morte sacrifical, Jesus foi estabelecido como meio de expiação (ver DTN, 469), propiciação (ver CC, 15) e reconciliação. Talvez não exista uma palavra em nossa língua que retrate adequadamente tudo o que está implícito. E mesmo alguns dos termos mencionados acima receberam definições de teólogos em completa divergência com a verdadeira natureza da expiação. Devem ser tomados cuidados na utilização desses termos para que significados indevidos não se apeguem a eles. Seja qual for a palavra usada, o significado deixa claro que a morte sacrifical de Jesus Cristo pagou a pena do pecado e tornou possível o perdão e a reconciliação de todos os que têm fé em Cristo. Isso, naturalmente, não significa que o sacrifício de Cristo foi, como os sacrifícios pagãos, oferecido para conciliar um Deus ofendido e para persuadi-Lo a aceitar os pecadores de modo mais favorável. “A expiação de Cristo não foi feita a fim de induzir Deus a amar aqueles a quem de outra forma odiaria, não foi feita para produzir um amor que não existia, mas foi feita como uma manifestação do amor que já estava na vontade do coração de Deus” (Ellen G. White, Signs of the Times, 30/05/1895; cf. CC, 15). Na verdade, Deus Se sacrificou em Cristo para a redenção da humanidade. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co.5:19; cf. DTN, 762). Para manifestar a Sua justiça. Literalmente, “para uma demonstração de Sua justiça”, isto é, para exibir a própria justiça divina. Esta exposição foi necessária por causa do perdão dos pecados passados. A finalidade é explicada no v. Rm.3:26. Por. Do gr. dia, “por causa de”, “por este motivo”. Isto introduz o motivo pelo qual a manifestação da justiça de Deus foi necessária. Remissão (ARC). Do gr. paresis, a única ocorrência desta palavra grega no NT. É diferente da palavra traduzida como “remissão” (aphesis) em Mt.26:28. O significado não é primariamente de perdão, mas de passar por alto, passar de lado. Nos papiros, paresis é usado para remissão da pena e da dívida. Tolerância. Do gr. anoche, literalmente, “suspensão”, “retenção”. A palavra ocorre no NT só aqui e em Rm.2:4 (ver com. ali). Em Seu amor pelo ser humano pecador e, de acordo com Seu plano de revelar a graça a todas as inteligências criadas no universo, Deus havia protegido as pessoas do pleno resultado de seus pecados (ver DTN, 764). Essa tolerância ao pecado levou a um grave equívoco sobre o caráter de Deus (SI.50:21; Ec.8:11). É verdade que a morte havia prevalecido e que houve alguma revelação do desprazer divino contra o pecado (Rm.1:18-32). Também é verdade que o sistema sacrifical foi instituído para simbolizar a percepção divina da gravidade do pecado e o preço infinito que deveria ser pago para redimir a humanidade da condenação e do poder do pecado. Mas a grande manifestação da justiça de Deus e de Seu ódio pelo pecado foi dada pela vida e morte de Jesus. Não há mais necessidade de que a paciência de Deus seja mal interpretada como indiferença para com o pecado. O tratamento gracioso de Deus para com os pecadores culpados não significa que Ele ama a culpa e o pecado, pois expressou Seu repúdio a essa poluição no sacrifício expiatório de Seu Filho. Quando o Senhor admite pecadores que outrora foram rebeldes, não significa que Ele aprova seu comportamento e caráter passados, pois já mostrou o quanto odeia seus pecados, permitindo que Seu Filho sofresse uma morte vergonhosa em favor dos pecadores. Pecados. Do gr. hamartema. Não em sentido abstrato, hamartia (“pecaminosidade”, cf. com. de Mt.18:15; ver também 1Jo.3:4). Hamartema se refere a atos de pecado e de desobediência (ver Mc.3:28; Mc.4:12; 1Co.6:18). Anteriormente cometidos. No contexto, parece que Paulo não trata principalmente dos pecados cometidos pelos crentes antes da conversão, mas dos pecados do mundo antes da morte expiatória de Cristo. Deus tinha permitido que os gentios “andassem nos seus próprios caminhos” (At.14:16). Ele havia passado por alto, ou fechado os olhos, para os “tempos da ignorância” (At.17:30). Por isso, a justiça de Deus fora um tanto obscurecida, daí a necessidade de uma manifestação ou demonstração pública. Então, finalmente, “no tempo presente” (Rm.3:26), essa manifestação se realizou no sacrifício de Cristo (comparar com Jo.15:22; At.17:30; Tg.4:17). |
Rm.3:26 | 26. tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. No tempo presente. Literalmente, “na época de agora”, “presentemente”. Por séculos, Deus tinha “fechado os olhos” aos pecados humanos (At.17:30), mas Sua justiça foi manifestada no envio de Seu Filho, finalmente, na “plenitude do tempo” (Gl.4:4; Ef.1:10). Justo. Do gr. dikaios, “justo”. O significado da frase é: “para que Deus seja considerado justo”. Justificador. Literalmente, “justificante”. A conexão com a justiça de Deus seria mais evidente se essa parte do versículo fosse traduzida como: “para que Ele seja justo e considerado justo”. Estes versículos refletem a questão central no grande conflito, o ponto fundamental no plano da redenção (ver com. do v. Rm.3:4). Satanás havia declarado que a justiça era incompatível com a misericórdia e que, se a lei fosse transgredida, seria impossível que o pecador fosse perdoado. A rebelião e o pecado subsequentes ofereceram mais uma oportunidade para Satanás apresentar suas acusações arrogantes contra o caráter e governo de Deus. “O Senhor não podia ser justo, argumentava, e ainda mostrar misericórdia ao pecador” (DTN, 761). Por milhares de anos, Deus suportou as acusações de Satanás e a rebeldia do ser humano. Em todo o tempo Ele desdobrou gradualmente Seu maravilhoso plano, que não só possibilitaria perdoar e restaurar os pecadores, mas também demonstraria a absoluta perfeição de Seu caráter e a união completa da justiça e do amor no governo divino. Tudo isso foi antecipado por tipos, símbolos e profecias em todo o AT. A manifestação suprema foi dada na encarnação, vida, no sofrimento e morte do próprio Filho de Deus. Por fim, Deus estava vindicado perante o universo, por Sua aparente desconsideração dos pecados humanos e por ter justificado aqueles que tinham fé. A vida e a morte de Jesus provaram para sempre como Deus considera o pecado (2Co.5:19; cf. DTN, 762). Provou para sempre Seu amor ilimitado por todas as Suas criaturas - amor que não só podia perdoar, mas também ganhar os pecadores caídos à submissão, fé e obediência perfeitas. Assim, as acusações de Satanás foram refutadas e a paz do universo foi garantida eternamente. O caráter de Deus foi vindicado perante o universo (ver PP, 68, 69). Daquele que tem fé em Jesus. Ou, “daquele que tem a fé de Jesus” (ver com. do v. Rm.3:22). A justificação é concedida somente para aquele que aceita a revelação de Jesus sobre a justiça e o amor de Deus, que se vê como um perdido e condenado, necessitado de um redentor. Tendo encontrado o Salvador, o crente O reconhece confiantemente e se entrega de todo o coração. |
Rm.3:27 | 27. Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Onde, pois, a jactância? Uma vez que todos pecaram e não conseguiram estabelecer a própria justiça pelas obras da lei, e visto que todos são igualmente dependentes da graça de Deus para a justificação, todos os motivos para vanglória humana foram removidos. Isso se refere às pretensões dos judeus, que se orgulhavam de seus privilégios (ver Rm.2:17; Rm.2:23). Por que lei? Literalmente, “por que tipo de lei?” No grego, “lei” aqui está sem o artigo (ver com. de Rm.2:12). Paulo se refere à lei como princípio. Das obras? Ou seja, um princípio segundo o qual a justiça vem pela obediência à lei. Esse princípio não exclui a vanglória, pois, se alguém pudesse alegar justificação e justiça com base no cumprimento dos atos exigidos por lei, essa pessoa poderia ter alguns motivos para manifestar orgulho e jactância (Rm.4:2; Ef.2:9). Não haveria lugar para a graça. Pela lei da fé. Literalmente, “por uma lei de fé”. Não há artigo no grego (ver com. de Rm.2:12). Paulo se refere ao princípio do evangelho de que a justificação e a justiça vêm pela fé. A fé recebe com humildade e gratidão o que Deus provê, e isso dificilmente abre espaço para vanglória. “O que é justificação pela fé? É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si mesmo não pode fazer” (TM, 456). |
Rm.3:28 | 28. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. Concluímos. Do gr. logizomai. A mesma palavra é usada com o significado de “pensar” (Rm.2:3), “imputar” (Rm.4:3), “considerar” (Rm.4:4; Rm.8:18; Rm.14:14) e “atribuir” (Rm.4:6). O sentido aqui parece ser “considerar”, “manter”. Pois. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre “pois” e “portanto”. “Pois” parece mais adequado aqui. Paulo confirma a declaração do v. Rm.3:27 de que a jactância é excluída pelo princípio da fé. O homem. Do gr. anthropos, o termo geral para qualquer membro da raça humana. Justificado pela fé. Esta justificação não se trata de mero ajuste impessoal da condição legal da pessoa perante Deus. A fé em Cristo envolve uma relação pessoal com o Redentor. Implica uma atitude de amor e gratidão para com o Salvador, em resposta ao Seu amor por nós, pecadores. Baseia-se em profunda admiração de Jesus, por tudo que Ele é, com um sincero desejo de conhecê-Lo e de se tornar semelhante a Ele. Significa uma confiança em Cristo sem reservas, que estamos dispostos a tomá-Lo por Sua palavra e seguir aonde quer que Ele nos conduza. Sem essa fé não pode haver justificação. Deus não está preocupado apenas com o perdão dos pecados passados, mas com a restauração do ser humano. A restauração só pode ser experimentada por meio da fé em Jesus Cristo. Portanto, a justificação não pode ser separada das experiências transformadoras da conversão, novo nascimento e subsequente crescimento na santificação. Só os que pela fé aceitam e entram voluntariamente em todas as fases do plano de Deus para a restauração podem reivindicar legitimamente a justiça imputada de Cristo para a justificação (ver com. do v. Rm.3:22; Rm.4:25; Rm.5:1). Independentemente das obras da lei. Literalmente, “sem as obras da lei”. No grego, “lei” está sem o artigo (ver com. de Rm.2:12). O significado desta frase é claro no contexto de todo o capítulo. A base de todo sistema religioso falso é a ideia equivocada de que a justificação pode ser alcançada pela obediência à lei. Mas as obras da lei não podem expiar os pecados passados. A justificação não pode ser conquistada. Ela só pode ser recebida pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Portanto, nesse sentido, as obras da lei não têm nenhuma relação com a justificação. Somos justificados sem haver qualquer coisa em nós que nos faz merecer a justificação. Evidentemente, isso não pode ser interpretado como se o que foi justificado passa a estar livre de obedecer à lei ou de realizar boas obras. A fé pela qual foi justificado se revelará na obediência. Paulo enfatiza o lugar das boas obras na vida do cristão (1Tm.5:10; 1Tm.6:18; 2Tm.3:17; Tt.2:7; Tt.2:14; Tt.3:8). Mas ele também deixa claro que essas boas obras não conquistam a justificação (Rm.4:2; Rm.4:6; Rm.9:32; Rm.11:6; Gl.2:16; Rm.3:2; Rm.3:5; Rm.3:10; Ef.2:9; 2Tm.1:9). |
Rm.3:29 | 29. É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios, Somente dos judeus. Uma vez que a justificação é pela fé e não pelas obras da lei, está tão livremente disponível aos gentios, como aos judeus, que foram privilegiados com a lei escrita. A salvação é oferecida a gentios e judeus precisamente nos mesmos termos. Deus deu Seu Filho, pois amou “ao mundo” (Jo.3:16), não só os judeus. Quer que “todos os homens” sejam salvos (1Tm.2:4). Para alguns líderes judeus da igreja cristã primitiva, não era fácil entender essa concepção do amor todo-inclusivo de Deus (ver At.10:28; At.10:34; At.11:1-3; At.11:17-18; At.15:1; At.15:8-11). Não existe parcialidade no Senhor (Rm.2:11). |
Rm.3:30 | 30. visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso. Visto que Deus é um só. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “se é que Deus é um só”. Paulo sabe que sua declaração sobre a unicidade de Deus é tão certa para seus leitores quanto para ele mesmo, mas ele se expressa dessa forma para tornar a lógica de seu raciocínio mais eficaz. A mais fundamental de todas as crenças judaicas era que só o Senhor é Deus e Senhor de todos os reinos da Terra (Dt.6:4; 2Rs.19:15; Is.44:6; 1Co.8:4-6; 1Tm.2:4-6). “De um só [Ele] fez toda a raça humana” (At.17:26), e nEle todos nós “vivemos, e nos movemos, e existimos” (v. Rm.3:28). Esse mesmo e único Deus oferece a justificação a todos, em todos os lugares, sem “acepção de pessoas”, sobre a base da fé. O circunciso. Ou seja, a circuncisão, os judeus (ver Gl.2:9). Mediante a fé. Isto é, a fé mencionada no início do versículo. Não é certo que se deve dar importância à diferença entre “mediante a fé” e “pela fé”. Alguns têm considerado essencialmente o mesmo significado. A ênfase está na fé. A fé, não a circuncisão, trará justificação para o judeu. Da mesma forma, o gentio, mesmo que não seja circuncidado, será justificado pela mesma fé exigida do judeu. |
Rm.3:31 | 31. Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei. Anulamos. Do gr. katargeo, “tornar nulo e sem efeito” (ver com. do v. Rm.3:3). A lei pela fé. No grego, “lei” está sem o artigo (ver com. de Rm.2:12). Paulo já havia dito que a justiça de Deus se manifestou sem a lei (Rm.3:21) e que o ser humano “é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (v. Rm.3:28). Presumindo que essas declarações podiam levar à ideia errônea de que a fé anula o princípio da lei, Paulo levanta essa pergunta retórica e responde com uma negação imediata e categórica. É verdade que Paulo “anulou” a ideia judaica da lei como meio de alcançar a justiça e a insistência judaica de que os gentios devem seguir o mesmo método (At.15:1; Gl.2:16-19). Mas a lei, em sua verdadeira função, é confirmada, em vez de ser revogada, pelo método designado por Deus para justificar os pecadores (ver com. de Rm.3:28). De maneira nenhuma! Ver com. do v. Rm.3:4. Antes. Em vez disso, “ao contrário”. Confirmamos a lei. Paulo enfatiza o papel da lei como um princípio e, particularmente, no contexto deste capítulo, como está implícito na lei revelada do AT. Ele já havia falado do testemunho do AT sobre ensinamentos que estavam prestes a se tornar conhecidos como o NT (v. Rm.3:21). Então, ele afirma que a lei, considerada como uma revelação da santa vontade de Deus e dos princípios eternos da moral, é justificada e estabelecida pelo evangelho da justificação pela fé em Jesus Cristo. Jesus veio a este mundo para engrandecer a lei (Is.42:21; Mt.5:17) e para revelar, por intermédio de Sua vida de perfeita obediência a ela, que os cristãos podem, por meio da graça capacitadora de Deus, prestar obediência à Sua lei. O plano da justificação pela fé revela a consideração de Deus por Sua lei, ao exigir e oferecer o sacrifício expiatório. Se a justificação pela fé anulasse a lei, não haveria necessidade da morte expiatória de Cristo para libertar o pecador e, assim, restaurar-lhe a paz com Deus. Além disso, a fé genuína inclui uma disposição irrestrita para cumprir a vontade de Deus em uma vida de obediência à Sua lei (ver com. de Rm.3:28). A verdadeira fé, baseada no amor incondicional pelo Salvador, só pode conduzir à obediência. O fato de Cristo ter suportado tanto sofrimento por termos transgredido a lei de Deus é um dos motivos mais fortes para a obediência. Não repetimos fácil e prontamente uma linha de conduta que provoque calamidades a nossos amigos. De igual modo, temos ódio pelos pecados que infligiram desgraças sobre nosso Amigo maior. Uma das principais glórias do plano da salvação é que, enquanto o plano torna possível a justificação do pecador pela fé, também fornece influências poderosas para incutir nele o desejo de obedecer. O plano da justificação pela fé situa a lei em sua posição correta. A função da lei é convencer do pecado (v. Rm.3:20) e revelar a grande norma de justiça. O pecador que se confronta com a lei enxerga não somente o pecado, mas também sua falta de qualidades positivas. A lei, portanto, o conduz a Cristo e ao evangelho (Gl.3:24). Então, a fé e o amor produzem uma nova obediência à lei de Deus, que brota da fé (Rm.1:5; Rm.16:26) e do amor (Rm.13:8; Rm.13:10). É sobre essa questão da autoridade e da função da lei de Deus que se dará a batalha final no grande conflito entre Cristo e Satanás. O último grande engano que Satanás traz sobre o mundo é que não mais é necessário dar completa obediência a todos os preceitos da lei de Deus (Ap.12:17; Ap.14:12; cf. DTN, 763). |
Rm.4:1 | 1. Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Que, pois, diremos [...]? Expressão comum nos escritos de Paulo, ligando o que segue com a passagem anterior (ver também Rm.6:1; Rm.7:7; Rm.9:14; Rm.9:30). Se o plano da justificação pela fé exclui toda jactância (Rm.3:27) e não faz distinção entre judeus e gentios (v. Rm.3:22-23), que diremos sobre o caso de Abraão? Certamente, os judeus poderiam afirmar: o pai do povo escolhido foi aceito diante de Deus por causa de seu grande mérito. Então, Paulo passa a explicar, sob a autoridade das Escrituras do AT, que até Abraão foi justificado na mesma base em que a justificação é oferecida aos pagãos. Além disso, Abraão desfrutou essa experiência antes de ter sido circuncidado (Rm.4:10). Assim, dificilmente poderia ser alegado que Paulo lançou uma doutrina estranha, ao sustentar que a justificação vem pela fé. Ele podia alegar que se mantinha dentro do espírito da religião do AT no ensino de que os gentios, embora não circuncidados, também podiam ser justificados pela fé. A história da fé demonstrada por Abraão (ver Gn.15:6) fornece um exemplo da justiça “sem a lei” e “testemunhada pela lei” (Rm.3:21). Ter alcançado. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. Quer as palavras estejam incluídas, quer não, o propósito de Paulo é claro. A pergunta geral: “Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” (Rm.3:1) é respondida por uma recapitulação da experiência do grande patriarca. Em que consiste realmente a superioridade incontestável de Abraão? Abraão, nosso pai. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “Abraão, nosso antepassado”. Os judeus se orgulhavam muito em ter Abraão como seu progenitor, e um exemplo extraído de sua vida e conduta seria especialmente forte (ver com. de Mt.3:9; Jo.8:39-40; Jo.8:53). Segundo a carne. Tem havido alguma incerteza quanto a saber se esta frase deve ser ligada a “ter alcançado” ou a “nosso pai”. A primeira conexão diria: “Que diremos, o que Abraão, nosso pai, alcançou com relação à carne?” Isto é, Abraão foi justificado por alguma coisa que se refira à carne? A outra conexão possível significaria: “Que diremos, o que Abraão, nosso pai segundo a carne, alcançou?” Isso estaria se referindo a Abraão como antepassado por descendência natural. Qualquer alternativa faz sentido nesse contexto. Alguns veem uma terceira conexão possível: “Que diremos, então? Que verificamos [ser] Abraão o nosso antepassado [apenas] de acordo com a carne?” |
Rm.4:2 | 2. Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Foi justificado. Se Abraão tivesse sido justificado como recompensa por suas obras de obediência, ele teria algo de que se orgulhar. Mas Abraão não tinha nada de que se vangloriar diante de Deus. Paulo explica por que nos v. Rm.4:3-5. A verdade é que Abraão não recebeu sua justificação como recompensa por obras, absolutamente, mas da mesma forma que todos os demais crentes. |
Rm.4:3 | 3. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. A Escritura. Uma citação de Gn.15:6, da LXX. Em Gênesis, a passagem é um comentário sobre a fé demonstrada por Abraão na promessa de que seus descendentes seriam tão inumeráveis quanto as estrelas. Creu. Do gr. pisteuo, forma verbal do substantivo pistis, “fé” (ver com. de Rm.3:3). Assim, a citação também poderia ser traduzida por: “Abraão teve fé em Deus”, ou “Abraão depositou sua fé em Deus”. A fé demonstrada por Abraão não foi apenas uma crença em algo impessoal, mas a confiança em Deus (ver com. de Rm.3:22). Imputado. Do gr. logizomai. A mesma palavra é traduzida como “considerado” (v. Rm.4:4) e “atribui” (v. Rm.4:6). No grego clássico e nos papiros, a palavra era usada em conexão com a prestação de contas. A fé de Abraão foi lançada no lado do crédito para a justiça. A palavra hebraica usada em Gn.15:6 (chashab) significa “pensar”, “considerar”, “contar”. Ela ocorre em 1Sm.1:13: “porisso, Eli a teve por embriagada” (comparar o uso de chashab em Gn.38:15; 2Sm.19:19; SI.32:2; Is.10:7; Je.36:3; Os.8:12). Para justiça. As implicações legais da imputação da fé demonstrada por Abraão para justiça têm sido a fonte de sério debate por muitos estudiosos da Bíblia. Mas pode ser bom observar aqui que é possível discutir o plano da justificação pela fé em termos tão legalistas que não seja mais justiça pela fé, afinal. Os judeus receberam os princípios da justificação pela fé no monte Sinai, mas, por causa de sua atitude legalista para com esse plano para sua restauração, logo o transformaram em justiça pelas obras. O fato de que a fé demonstrada por Abraão lhe foi imputada como justiça não significa que a fé tem em si algum mérito que lhe permita alcançar a justificação (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre Rm.4:3-5). A fé em Deus foi contada como justiça para Abraão. Essa fé é uma relação, atitude ou disposição da pessoa para com Deus. Isso significa uma disposição de receber com alegria tudo o que Deus revela e fazer com alegria tudo o que Deus ordena. Abraão amava a Deus, confiava nEle e Lhe obedecia porque O conhecia e era Seu amigo (Tg.2:21-23). Sua fé era um verdadeiro relacionamento de amor, confiança e submissão. Além disso, Abraão conhecia o evangelho da salvação, sabia que sua justificação dependia do sacrifício expiatório dAquele que havia de vir (Gl.3:8; Jo.8:56). Na época da elaboração da aliança, o plano da redenção “foi-lhe ali desvendado, na morte de Cristo, o grande sacrifício, e em Sua vinda em glória” (PP, 137). Abraão creu na promessa do Messias, e a “fé do patriarca fixou-se no Redentor vindouro” (PP, 154). Foi a aceitação grata e confiante de Abraão da expiação e da justiça de Cristo que lhe foi creditada. Essa é a mesma experiência da justificação pela fé desfrutada por todos os cristãos que creem. |
Rm.4:4 | 4. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Ao que trabalha. Ou seja, esperando assim merecer a justificação. Paulo extrai sua ilustração da vida quotidiana. Este verbo era utilizado para retratar a permuta do trabalho pelo sustento (ver At.18:3; 1Co.9:6; 2Ts.3:12). Salário. Do gr. misthos, “pagamento”, “salário”, “recompensa merecida” (ver Mt.20:8; Tg.5:4). Considerado. Do gr. logizomai (ver com. do v. Rm.4:3). Esta palavra pode ser usada para registrar algum valor na conta de uma pessoa que pode ou não lhe ser devido. Neste versículo, o salário do trabalhador é “creditado” ou “contado” como seu direito legal. No v. Rm.4:8, Paulo fala que o Senhor “não imputará aos homens” ou “atribuirá” o pecado do pecador. Como favor. Ou seja, como presente (ver com. de Rm.3:24). Dívida. “Digno é o trabalhador do seu salário” (Lc.10:7). Se necessário, ele pode reivindicá-lo em um tribunal legal. Isso representa o método legalista de buscar a salvação. Se a justificação é uma recompensa para as obras, fazemos de Deus nosso devedor. Não existe participação da graça. |
Rm.4:5 | 5. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. Ao que não trabalha. Ou seja, a pessoa que não tenta comprar a justificação por suas obras. Isso não nega a necessidade de boas obras (ver com. de Rm.3:28). Paulo enfatiza mais uma vez a verdade fundamental de que a pessoa é justificada, não pelas obras, mas pela fé. Assim, a pessoa participa da vida e da justiça de Deus, o que gera e inspira boas obras. Crê nAquele. Ou, “tem fé nAquele”, “confia nAquele” (ver com. de Rm.3:3). Essa fé não é mera crença na bondade de Deus, mas a confiança em Deus para justificar aqueles que não poderiam ser justificados, caso fosse aplicada a justiça sem misericórdia. Isso inclui não apenas confiança nas promessas de Deus, mas a completa submissão do coração e da vida Àquele em quem o crente aprendeu a confiar. Crer nEle significa mais do que considerar Sua palavra como verdade. Tem que ver com uma relação pessoal (ver com. de Rm.4:3). Ímpio. Do gr. asebes, palavra mais forte do que “injusto”. Descreve aquele que não adora o Deus verdadeiro, como um pagão e, em sentido mais geral, se refere a uma pessoa ímpia ou irreligiosa. Paulo pode ter escolhido esta palavra para aumentar o contraste entre o ser humano em sua indignidade e a misericórdia de Deus em justificá-lo. Sua fé lhe é atribuída. Esta é a fé da pessoa que, reconhecendo-se “ímpia”, indigna e incapaz de se justificar por suas próprias obras, confia plenamente na misericórdia de Deus para justificá-la. Em contraste com a autossuficiência daquele que se atreve a afirmar a justificação como recompensa por suas boas obras, a fé atribuída como justiça envolve a renúncia a todo mérito. Pela fé, o pecador arrependido apresenta a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor credita à sua conta a obediência de Seu Filho (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre Rm.4:3-5). Mais uma vez, a palavra “fé” inclui não apenas um ajuste legal, mas o início de uma nova vida de amor, obediência e transformação. A justiça de Cristo, revelada em Sua vida perfeita e morte sacrifical, tornou possível a Deus ser justo aos olhos do universo e justificador de todos os que têm fé em Jesus (ver com. de Rm.3:26). A aceitação da justiça de Cristo pela fé torna possível que o passado pecaminoso do pecador seja coberto e seu ser pecaminoso seja transformado. |
Rm.4:6 | 6. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: É assim também que Davi. Uma citação do Sl.32:1-2. Está de acordo com a LXX e não com o texto massorético. A declaração de Davi é citada por Paulo para confirmar e explicar melhor sua interpretação da experiência de Abraão, que ele retoma em Rm.4:9. Assim, ele fornece outras evidências de que a doutrina da justificação pela fé, sem as obras, está bem apoiada no AT e era entendida pelos líderes judeus. Declara ser bem-aventurado. Literalmente, “fala a bênção”, daí a tradução preferida por muitos intérpretes na língua inglesa (exemplo: “Davi pronuncia uma bênção”, RSV). Outros, porém, preferem atribuir a Deus a pronúncia de bênção, pela seguinte tradução: “Davi também fala da bênção.” Atribui. Do gr. logizomai (ver com. do v. Rm.4:3). Atribuir justiça é o mesmo que justificar. O objetivo do Salmo 32, o qual Paulo cita, é mostrar que é bem-aventurado aquele que é perdoado, cujos pecados não são cobrados dele, e que, portanto, é tratado como uma pessoa justa. Já não é considerado como um pecador rebelde, mas como amigo de Deus. Independentemente de obras. Davi não usa esta frase, mas a ideia está implícita no salmo. As obras não são de nenhum proveito para expiar a iniquidade passada (ver com. de Rm.3:28). |
Rm.4:7 | 7. Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; Bem-aventurados. Do gr. makarioi, que também pode ser traduzido como “feliz”. A mesma palavra grega é usada nas bem-aventuranças (ver com. de Mt.5:3). Iniquidades. Do gr. anomiai, literalmente, “ilegalidades”, “violações da lei”. Pecados. Do gr. hamartiai, “falhas”, “defeitos”, pecados e desvios de todo tipo. Cobertos. Do gr. epikalupto, literalmente, “cobertos como uma mortalha”, “velados”. A palavra ocorre somente aqui no NT. |
Rm.4:8 | 8. bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado. A quem. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “de quem”. A última forma torna possível a tradução: “Bem-aventurado o homem cujo pecado o Senhor não levará em conta”. Jamais imputará pecado. Ou seja, o Senhor não irá cobrar ou lançar seu pecado contra ele. Este é o lado negativo da justificação: o perdão dos pecados passados. Do lado positivo, como está expresso nos Rm.4:3; Rm.4:5-6; Rm.4:9; Rm.4:11; Rm.4:22, é a imputação da justiça. Os dois são inseparáveis. Enfatizar apenas o primeiro, pensando na justificação somente como perdão, pode remover dessa experiência parte de seu poder reconciliador e vivificante. A percepção positiva de que Deus não apenas perdoa, mas também atribui a justiça de Cristo, enche não só de gratidão, mas também de esperança e aspiração para o futuro. Deus está interessado não apenas em perdoar, mas em restaurar o pecador à comunhão com Ele. Pensar na justificação simplesmente como perdão é, talvez, olhar demais para o passado. Deus deseja que saibamos que Ele não só nos perdoou, mas também nos trata como se nunca tivéssemos pecado (ver CC, 62). A vida passada não será usada contra nós. A partir da fé, seremos tratados como amigos, até mesmo como filhos (1Jo.3:1-2). Assim, Ele nos dá um novo começo. Ele fez todo o possível para nossa reconciliação completa. Essa consciência pela fé, do significado da experiência da justificação, inspira-nos com coragem e determinação para o futuro. Sabemos que o caráter perfeito de Cristo atribuído a nós na justificação pode ser-nos transmitido na santificação, para assim transformar nosso caráter à Sua semelhança. Assim, enquanto a justificação se refere principalmente ao passado, ela representa não apenas o fim de uma vida de alienação e rebelião, mas, também, e mais importante, o início de uma nova vida de amor e obediência. O catecismo evangélico de Heidelberg, publicado pela primeira vez em 1563, explica a justificação com essas palavras: “Como és justo diante de Deus? Resposta: Somente mediante verdadeira fé em Jesus Cristo, ou seja, embora a minha consciência me acuse de que pequei gravemente contra todos os mandamentos de Deus e nunca guardei nenhum deles, e que ainda sou propenso sempre a todo o mal, Deus, sem qualquer mérito meu, por mera graça, me concede e me atribui a perfeita satisfação, a justiça e a santidade de Cristo, como se eu nunca tivesse cometido nem tivesse qualquer pecado, e tivesse eu mesmo praticado toda a obediência que Cristo cumpriu por mim, se eu tão somente aceitar esse benefício com um coração crente” (comparar com Ellen G. White, Material Suplementar sobre Rm.4:3-5). |
Rm.4:9 | 9. Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça. Vem, pois, esta bem-aventurança[...]? Ou, “é esta declaração de bem-aventurança?” Não há verbo no texto grego desta passagem. Paulo se prepara para responder à possível objeção de que, embora se deva admitir que a justificação seja pela fé, em vez de pelas obras, certamente, o fato de que Davi e Abraão tinham obedecido à lei da circuncisão deve ter tido algo a ver com sua justificação. Caso se considere que seja assim, aqueles que são circuncidados devem ter alguma vantagem no plano da justificação. Paulo responde a esse argumento, apontando que Abraão foi justificado antes de ser circuncidado. Na verdade, Abraão não foi circuncidado até alcançar os 99 anos de idade (Gn.17:1; Gn.17:10-11; Gn.17:24), quando seu filho Ismael tinha 13 anos (v. Gn.17:25). A experiência de fé demonstrada por Abraão na promessa de Deus ocorreu antes que Ismael nascesse (Gn.15:6). Os circuncisos. Ou seja, os judeus. |
Rm.4:10 | 10. Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e sim quando incircunciso. Como, pois, lhe foi atribuída? Ou seja, em que circunstância Abraão estava quando foi justificado? Será que ele teve essa experiência antes ou depois de ter sido circuncidado? O AT mostra que sua justificação antecedeu em muito a circuncisão (Gn.15:6; Gn.17:24). |
Rm.4:11 | 11. E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, Sinal da circuncisão. Ou seja, a circuncisão como um sinal. Quando instituiu a circuncisão, Deus disse: “será isso por sinal [LXX, semeion, ‘sinal’] de aliança entre Mim e vós” (Gn.17:11). Selo. Do gr. sphragis. Esta palavra era usada para determinadas marcas pelas quais os contratos e acordos eram confirmados ou autenticados, ou para os instrumentos com os quais se faziam as marcas (ver 1Co.9:2; 2Tm.2:19; Ap.5:1; Ap.7:2). Assim, a circuncisão foi concebida como sinal distintivo exterior, simbolizando a ratificação da aliança feita com Abraão e a confirmação de sua experiência anterior de justificação pela fé. Assim, a circuncisão não pode ser considerada como o motivo para a aceitação de alguém diante de Deus. Para Abraão e seus descendentes, era apenas um sinal e selo da justiça que vem pela fé. A circuncisão não transmitia justiça, mas dava apenas uma evidência exterior dela. Da mesma forma, para o cristão, o batismo não traz justiça, mas a ordenança pode ser considerada como um sinal e selo da fé e da justificação experimentada antes do batismo. Justiça da fé. Ou, “justificação pela fé”. Comparar com a frase “a obediência por fé” (Rm.16:26). O pai. Ou seja, o pai espiritual. Abraão é o antepassado daqueles que têm fé. Nessa condição, ele é um modelo e exemplo. Aqueles que seguem seus passos são considerados seus filhos espirituais (ver Lc.19:9; Jo.8:39; Gl.3:7; Gl.3:29). Creem. O dom da salvação é oferecido a todos, em todos os lugares, nas mesmas condições, quer sejam circuncidados quer não (Rm.3:29-30). Abraão e todos os seus verdadeiros filhos preencheram esse requisito. O único laço nessa família espiritual é a fé. Alguns membros da família possuem o sinal externo dessa fé, outros, não. A condição de membro não é determinada pela posse do sinal, mas, sim, daquilo que o sinal tinha a intenção de representar. Se o significado original da circuncisão não tivesse sido perdido, os judeus sempre seriam lembrados do alcance universal do plano da salvação, pelo qual a imputação da justiça é oferecida a todos os que creem. Assim, eles teriam sido mais prontos a cooperar com Deus no cumprimento do significado espiritual de Suas promessas a Abraão de que ele seria pai de muitas nações (Gn.17:4) e que nele seriam abençoadas todas as famílias da Terra (Rm.12:3). |
Rm.4:12 | 12. e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado. Pai da circuncisão. Ou seja, pai dos circuncisos. Isso deve ser conectado com “para vir a ser” (v. Rm.4:11). Era desígnio de Deus que Abraão passasse o rito da circuncisão a todos os seus descendentes físicos como sinal da fé que deveriam compartilhar com ele. Paulo não minimiza o significado da circuncisão, corretamente entendido (ver Rm.3:1-2). Era um privilégio ser um membro do povo escolhido e ostentar o selo da justificação pela fé. Apenas circuncisos. Enquanto Abraão era o antepassado físico de todos os judeus circuncidados, ele era “pai” apenas daqueles que receberam a circuncisão com o mesmo espírito e a mesma fé que ele tinha. A mera circuncisão nada valia, mas a circuncisão conectada com a fé semelhante à de Abraão assinalava os que eram seus verdadeiros descendentes (Rm.2:28-29; Rm.9:6-7). Andam. Do gr. stoicheo, “seguir uma pessoa [ou coisa]”, “estar de acordo com”, “concordar com”, “submeter-se”. No antigo jargão militar, significa “mover-se em linha” (comparar com o uso de stoicheo em Gl.5:25; Fp.3:16). Abraão é o pai dos que são não apenas circuncisos, mas também “andam nos passos” e seguem o exemplo da fé que ele tinha antes de ter sido circuncidado. O exemplo da fé demonstrada por Abraão lança mais luz sobre o significado da fé genuína. Sua fé não foi uma experiência momentânea, mas o hábito de uma vida, revelando-se em consistente obediência e boas obras. Deus mesmo declarou que “Abraão obedeceu à Minha palavra e guardou os Meus mandados, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis” (Gn.26:5). |
Rm.4:13 | 13. Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. Por intermédio da lei. Não há artigo no grego (ver com. de Rm.2:12). Além disso, no grego, esta frase surge no início do versículo, talvez para enfatizar que “não por intermédio de lei foi a promessa feita a Abraão ”. O raciocínio de Paulo aqui se assemelha ao de Gl.3:18. Ali, “lei”, sem o artigo (ver com. de Rm.2:12), é mencionada como um princípio em oposição à “promessa”. A herança não pode ser dependente de lei, porque Deus a concedeu a Abraão pela promessa. Aqui, “lei” e “justiça de fé”, ambos sem o artigo, são os dois princípios contrastantes. Paulo afirma que a promessa deve ser realizada e apropriada, “não por intermédio de lei” (cf. v. Rm.4:14-15), mas “pela justiça de fé” (cf. v. Rm.4:16-17). Herdeiro do mundo. Esta expressão exata não ocorre em nenhuma das promessas feitas a Abraão. É possível que Paulo tenha resumido todas as promessas nesta expressão abrangente, ou pode se referir particularmente à mais inclusiva de todas as promessas: “nela [tua semente] serão benditas todas as nações da Terra” (Gn.22:18). Essa foi “a bênção de Abraão”, que deveria ser estendida aos gentios por meio de Jesus Cristo (Cl.3:14). Todos os que são de Cristo são “descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl.3:29). Sendo que o reino de Cristo vai encher toda a Terra, Abraão e sua semente são realmente herdeiros do mundo. A promessa será cumprida literalmente quando os reinos deste mundo forem entregues ao povo do Altíssimo e Cristo reinar com Seus santos para todo o sempre (Dn.7:27). |
Rm.4:14 | 14. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa, Da lei. Literalmente, “de lei”. Não há artigo no grego (ver com. de Rm.2:12). Aqui são descritos os que dependem da obediência para obter a justificação: os legalistas. Anula-se. Se os legalistas hão de herdar o reino, então, a fé foi esvaziada de todo significado e não há nenhuma razão para o elogio de Deus a Abraão. Cancela-se. Do gr. katargeo, “tornada ociosa”, “tornada inútil” (ver com. de Rm.3:3). Se o cumprimento da promessa dependesse de nossa obediência legalista, nunca poderia ser cumprida plenamente. Em Rm.4:15, Paulo explica por que (ver também Cl.3:17-19). |
Rm.4:15 | 15. porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão. Suscita a ira. Os legalistas que dependem de obediência à lei para a justificação do pecado baseiam suas expectativas em uma falsa premissa. A função da lei é revelar o pecado (Rm.3:20) e mostrar que ele é a transgressão da vontade de Deus. Longe de justificar o pecador, ou de o tranquilizar, a lei o condena e traz a ira de Deus sobre ele. Uma vez que Paulo já provou que todos pecaram (Rm.1-3), segue-se que qualquer pessoa que tente ser justificada pela lei se envolverá apenas em ira e condenação. Assim, a lei pode produzir um efeito oposto ao que se pretende com a promessa. Por este versículo, Paulo não nega de forma alguma a necessidade da lei. Ele só esclarece a função da lei no plano da salvação (ver com. de Rm.3:20; Rm.3:31; Cl.3:21). Não há transgressão. Ou seja, não há desobediência a um mandamento conhecido. Paulo parece usar esta declaração negativa para confirmar a veracidade de sua afirmação positiva de que onde existe lei, a transgressão é revelada e traz a ira. Ele tenta deixar claro aos legalistas que, se a justiça não é mediante a fé, mas mediante a lei, não há esperança de salvação. Para os judeus, há uma lei, e todos transgrediram suas exigências. Assim, todos estão expostos às penalidades da transgressão, e, se a promessa de justificação sem as obras da lei não se aplicar a eles, eles estão completamente sem esperança. |
Rm.4:16 | 16. Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, Essa é a razão por que provém da fé. Literalmente, “por conta dessa fé”. Visto que a lei só traz condenação, a justificação e a salvação devem provir da fé, como a Abraão (Cl.3:11-12). Segundo a graça. Ver com. de Rm.3:24. Neste capítulo, Paulo contrasta lei, obras e mérito, por um lado, com a promessa, fé e graça, do outro. O legalismo tenta obter a salvação por meio dos três primeiros. Mas o sistema está fadado ao fracasso pelas razões já expostas. A salvação só poderia vir mediante graça, promessa e fé, pois Deus deve suprir o total desamparo do ser humano. Além disso, são a graça e o amor de Deus que trazem o pecador de volta à reconciliação e à vida de fé. A fim. Ou, “para o efeito”, “a fim de que”. Firme. Do gr. bebaios, “seguro”, “estabelecido”, o oposto de “sem efeito” (cf. v. Rm.4:14). Se a promessa dependesse da perfeita conformidade do ser humano com a lei, essa não seria certa, pois só Cristo prestou essa obediência. Mas a promessa é firme a toda a descendência de Abraão, judeus e gentios, pois sua única condição é a resposta de fé à graça de Deus. Toda a descendência. Ou seja, todos aqueles que creem (Gl.3:29). Paulo os divide em duas classes. Que está no regime da lei. Ou seja, os crentes entre os judeus, que possuíam a lei. O artigo está presente no grego (ver com. de Rm.2:12). Ao que é da fé. Ou seja, os crentes gentios. Pai de todos nós. Os crentes judeus e os gentios compõem a família da qual Abraão é o pai espiritual (ver com. do v. Rm.4:11). |
Rm.4:17 | 17. como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí. ), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem. Está escrito. Uma citação de Gn.17:5. Na época em que a promessa foi feita, o nome de Abrão foi mudado para Abraão (ver com. de Gn.17:5). Paulo interpreta essa promessa como uma referência à paternidade espiritual de Abraão. Constituí. Do gr. tithemi, “nomear”, “constituir”. O verbo usado no hebraico de Gn.17:5 também pode ser traduzido assim (sobre o uso semelhante desta palavra grega no NT, ver Mt.24:51; Jo.15:16; At.13:47, em que é traduzido respectivamente por “lançar a sorte”, “designar” e “constituir”). Perante. Ou, “na presença de”. Este termo pode ser conectado com as palavras que precedem imediatamente a citação entre parênteses de Gn.17:5, fazendo com que a passagem diga: “Aquele que se destaca como o pai de todos nós na presença de Deus, em quem ele cria”. Ou a frase pode ser conectada com a primeira parte do versículo anterior, enfatizando, assim, a certeza ou a garantia da promessa aos olhos de Deus. Aqui, Paulo pode ter levado em conta a ocasião da conversa de Abraão com Deus, quando aceitou pela fé a promessa divina de que seria pai de muitas nações (Gn.17:1-4). Aos olhos humanos, a promessa tinha cumprimento impossível. Mas Abraão, como amigo de Deus, estava na presença do Deus todo-poderoso da criação, que poderia prever o futuro e levar a efeito Suas próprias ordens. E enquanto Abraão estava lá, ele foi nomeado pai de muitas nações. A experiência de Abraão é típica de todos os crentes. Deus promete perfeita restauração ao pecador e, humanamente falando, não parece possível que a promessa se cumpra. No entanto, a promessa é certa, pois nos é dada à própria vista dAquele que nos vê e conhece, o Deus que possui o poder criativo de nos transformar novamente à Sua imagem. Tudo o que nos pede é que aceitemos isso pela fé, como Abraão fez. Vivifica os mortos. O poder milagroso de Deus é muitas vezes representado na Bíblia como capaz de ressuscitar mortos (ver Dt.32:39; 1Sm.2:6; Is.26:19; Jo.5:21; 2Co.1:9). A razão para a referência de Paulo ao poder vivificador de Deus neste versículo não está clara. Parece ser consensual que Paulo pensa primeiro nas circunstâncias do nascimento de Isaque (Rm.4:19) e, depois, na ressurreição de Cristo (v. Rm.4:24; comparar com Hb.11:19). Chama [...] as coisas. A parte final do versículo diz, literalmente, “chama as coisas que não existem como existindo”, isso pode ser entendido no sentido de que Deus chama à existência as coisas que não existem, ou que Deus fala de coisas inexistentes como se existissem. Também pode haver uma referência remota ao chamado dos gentios que, embora ainda não fossem povo de Deus, estavam incluídos na promessa, como se fossem. “Chamarei povo Meu ao que não era Meu povo; e amada, à que não era amada” (Rm.9:25; Os.1:9-10). Todas essas interpretações podem ter o mesmo sentido. Deus prometeu a Abraão que seria pai de muitas nações, que ainda não existiam, no momento em que o próprio Abraão ainda não tinha herdeiro e quando já havia passado da idade em que poderia esperar ter um (Rm.4:19). Mas Abraão teve fé para crer que Deus podia dar vida ao seu corpo morto e podia chamar à existência as coisas que prometia, das quais Deus falava em Sua presciência, como se já existissem. A fé cristã não deve ser inferior, e, nos versículos seguintes, Paulo expõe a fé demonstrada por Abraão como um exemplo. |
Rm.4:18 | 18. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência. Contra a esperança. Apesar das circunstâncias desesperadoras, Abraão continuou a exercer esperança e fé. “Contra a esperança” se refere ao fato de que a idade tornava impossível o cumprimento da promessa de forma natural. A segunda “esperança” era inspirada na palavra da promessa de Deus. Para vir a ser. Ou, “de modo que se tornou”. Isto pode ser entendido como resultado da fé de Abraão, “para vir a ser pai de muitas nações”. Ou pode se referir ao propósito de Deus para Abraão, que “creu, a fim de que, de acordo com o propósito de Deus, se tornasse pai de muitas nações”, ou à própria esperança e aspiração de Abraão de se tornar tudo o que havia sido prometido. Ele creu com a plena intenção de se tornar o que Deus prometera, “pai de muitas nações”. Segundo lhe fora dito. Ou seja, a promessa de Gn.15:5, de que a descendência de Abraão seria tão numerosa quanto as estrelas. |
Rm.4:19 | 19. E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, Sem enfraquecer na fé. Ou, “ele não enfraqueceu na fé”. Nem atentou (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) sugerem a omissão da palavra “nem”. Se o “não” for mantido, a expressão pode ser entendida como se referindo à narrativa de Gn.15:1-6. Na ocasião, está registrado que Abrão não deu ouvidos às dificuldades contidas na promessa, mas logo a aceitou. Se o “não” for omitido, a expressão pode ser entendida como se referindo à experiência registrada em Gn.17:17, a partir da qual Paulo toma emprestadas algumas palavras. Desta vez, Abraão considerou devidamente as circunstâncias desfavoráveis, o fato de que ele e Sara estavam bem além da idade normal de ter filhos, mas sua fé não foi enfraquecida. A fé que persiste, mesmo em face de dificuldades reconhecidas, é mais forte do que a que simplesmente as ignora. Amortecido. Ou seja, incapaz de gerar filhos (Hb.11:12). A primeira promessa de um filho foi feita a Abraão antes do nascimento de Ismael (Gn.15:3-4), e Abraão tinha 86 anos quando Ismael nasceu (Gn.16:16). A segunda promessa foi feita quando Abraão tinha 99 anos (Gn.17:1), embora ele mesmo dissesse que tinha cem, e Sara tinha, provavelmente, 89 anos (v. Gn.17:17). Idade avançada de Sara. Ver Gn.18:11. |
Rm.4:20 | 20. não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, Não duvidou. Ou, “não vacilou”, “não titubeou”. O texto grego sugere um esforço mental. Pela fé, se fortaleceu. Literalmente, “foi reforçado na [sua] fé”, ou “foi reforçado pela [sua] fé”. Isso pode ser entendido no sentido de que a fé demonstrada por Abraão foi reforçada. Sua fé cresceu à medida que foi exercitada. Ou pode significar que o próprio Abraão recebeu o poder, por meio da fé. A incredulidade não o levou a vacilar. Pelo contrário, sua fé foi fortalecida. Em outra ocasião, Paulo afirma que “pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe” (Hb.11:11). Isso parece confirmar a segunda interpretação, embora a primeira, sem dúvida, seja verdade quanto à experiência de Abraão. Dando glória a Deus. Isto não inclui, necessariamente, uma expressão verbal de louvor, mas pode se referir a qualquer coisa que tenda a glorificar a Deus, seja em pensamento, em palavra ou ação (ver Js.7:19; Je.13:16; Lc.17:18; Jo.9:24; At.12:23). Abraão deu glória a Deus por sua firme confiança nas promessas de Deus. Assim, ele reconheceu a onipotência de Deus. Dessa forma, todos os que creem nas promessas divinas honram a Deus. Dão testemunho de que Deus é digno de confiança. Abraão também deu glória a Deus em atos, bem como em pensamentos, por sua pronta obediência (Gn.17:22-23). |
Rm.4:21 | 21. estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera. Estando plenamente convicto. Do gr. plerophoreo, “satisfazer plenamente”. Na forma usada aqui, significa estar preenchido com um pensamento ou uma convicção, portanto, estar totalmente convencido. Paulo usa a mesma palavra para exortar Timóteo a “cumprir cabalmente” o seu ministério (2Tm.4:5) e expressar o propósito de Deus de que por meio dele a pregação do evangelho fosse “plenamente cumprida” (v. 2Tm.4:17). A verdadeira fé significa convicção. A vida de fé é uma vida de confiança e segurança. Assim, Paulo podia dizer: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (2Tm.1:12). É um erro supor que a falta dessa convicção é uma prova de humildade. Pelo contrário, duvidar das promessas de Deus e de Seu amor é desonrá-Lo, porque duvidar é questionar Seu caráter e Sua palavra (ver TM, 518, 519). É mais difícil para muitos acreditar que Deus pode amar e lhes perdoar, não importa sua pecaminosidade, do que era para o velho patriarca crer que seria pai de muitas nações. Mas a confiança em Deus de que Ele pode fazer o que nos parece impossível é tão necessária em um caso como no outro. O pecador honra a Deus, confiando em Sua graça, tanto quanto Abraão fez para confiar em Seu poder. Poderoso. Do gr. dunatos, traduzido assim em outras passagens (Lc.24:19; At.18:24; 2Co.10:4). A ocasião da aceitação da promessa de Abraão não foi a única vez em que ele mostrou tanta confiança no poder de Deus. Sua fé estava decidida e forte quando lhe foi ordenado que sacrificasse seu filho prometido (Hb.11:19). O objetivo do discurso sobre Abraão é mostrar, com referência a Gn.17:15-22; Gn.18:9-15, como a fé que Abraão mantinha na promessa de uma semente por meio de Sara essencialmente corresponde à nossa fé “nAquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor” (Rm.4:24). A fé demonstrada por Abraão estava na força divina sobrenatural, nAquele que é capaz de trazer à vida o que está humanamente morto. Assim como a fé do patriarca no nascimento prometido de Isaque envolveu mais fé no cumprimento de todas as promessas por meio de Isaque, assim também a fé dos cristãos na ressurreição de Cristo envolve fé em tudo o que está simbolizado e assegurado por esse evento. Não só na experiência aqui descrita, mas em toda a sua vida, Abraão se destacou como um exemplo de fé habitual em uma ordem divina, além da visão comum. O que prometera. Visto que foi Deus quem fizera a promessa, Abraão creu sem questionar. A fé em Deus é, em essência, um relacionamento pessoal. O conhecimento e a confiança que Abraão tinha em Deus eram tamanhos que estava pronto para aceitar tudo o que Deus dizia e para obedecer a tudo o que Ele ordenava. |
Rm.4:22 | 22. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça. Pelo que. Isto se refere ao contexto anterior (Rm.4:18-21). Foi a fé inabalável de que Deus poderia cumprir tudo que havia prometido que foi imputada como justiça a Abraão. A análise de Paulo sobre a experiência de Abraão fornece uma evidência adicional sobre o tipo de fé que pode ser assim abrigada. A fé que Abraão tinha não era somente uma crença de que Deus dizia a verdade. Sua vida de confiança e obediência consistentes, apesar da evidência natural de que poderia ser tentado a pensar e agir de outra forma, revela que sua fé era uma verdadeira relação pessoal com Deus. Abraão creu em Deus (Rm.4:3; Rm.4:17). Ou seja, Abraão colocou sua fé em Deus, não em algo impessoal. Sua fé não estava em uma doutrina ou em um credo, mas num Deus pessoal. Assim, foi possível a Abraão aceitar e obedecer ao que o Senhor prometera ou ordenara, mesmo quando, humanamente, parecia razoável supor que essas promessas e ordens nunca poderiam ser cumpridas. Hoje, a fé do cristão não deve ser menor do que a de Abraão (PJ, 312). Nossa vida revela se estamos ou não aproveitando essa experiência. Em nenhum desses versículos que tratam do reconhecimento da justiça, ou da atribuição da fé como justiça, é afirmado expressamente que a justiça de Cristo é creditada ao crente. No entanto, está implícita no sentido pleno da experiência da justificação pela fé, entendida à luz de todo o grande plano de Deus para a restauração do ser humano (ver com. de Rm.3; Rm.5; Rm.8; Rm.3:25-26; Rm.3:28). A lei requer justiça, a qual o ser humano é incapaz de dar. Mas Jesus, enquanto esteve na Terra, viveu uma vida justa e desenvolveu um caráter perfeito. Estes, Ele oferece como um presente para os que os desejam. Sua vida se ergue pela vida da humanidade (ver DTN, 762; Ellen G. White, Material Suplementar sobre Rm.4:3-5). Por causa da vida perfeita de Cristo, culminando com Sua morte sacrifical, é possível que a pessoa seja tratada como se ela mesma tivesse cumprido as exigências da lei. Assim, a justiça de Cristo é atribuída a ela. |
Rm.4:23 | 23. E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, E não somente por causa dEle. Paulo está preocupado não só com ainterpretação histórica das Escrituras, mas também com sua aplicação para a vida cristã. |
Rm.4:24 | 24. mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, Mas também por nossa causa. Não apenas para ser um incidente e um exemplo histórico (ver com. de Rm.4:21; Rm.15:4; 1Co.10:11), mas, sobretudo, para nos assegurar que a justiça será igualmente atribuída a nós. Que cremos. Ou, “para aqueles que creem”. Isso descreve a classe a quem a fé vai ser considerada como justiça. Naquele. Paulo enfatiza que a fé atribuída a ele como justiça deve ser colocada em Deus como pessoa. Assim, a fé não é simplesmente uma convicção da veracidade de um fato histórico. É uma relação interpessoal. O mesmo Deus a quem Abraão buscou para o cumprimento da promessa é aquele cujo poder e fidelidade foram manifestados a uma era posterior, na ressurreição de Cristo e na qual, portanto, os cristãos depositam sua confiança. Que ressuscitou [...] a Jesus. A fé cristã é semelhante à de Abraão não apenas no sentido devocional, mas também na crença em que Deus é capaz de extrair vida da morte. Abraão depositou sua fé numa promessa que somente o poder criativo e vivificador de Deus poderia cumprir (v. Rm.4:17). Da mesma forma, os cristãos acreditam na justificação e na redenção por meio do Deus que já ressuscitou Jesus dentre os mortos para esse exato propósito. A restauração do ser humano caído à imagem de Deus (com a qual ele foi criado) só é possível por meio do exercício do poder criador. A ressurreição de Cristo é a garantia suprema de que o poder vivificante de Deus pode triunfar sobre a morte e que, pela fé, esse mesmo poder criativo está disponível para restaurar a imagem de Deus em nós. A ressurreição de Cristo foi um triunfo do poder do Deus todo-poderoso, semelhante, embora muito maior, à geração de Isaque no corpo “amortecido” de Abraão. Pela fé no milagre da ressurreição, com tudo o que isso implica, a ressurreição é espiritualmente repetida em nós, tornamo-nos novas criaturas em Cristo e caminhamos com Ele em novidade de vida (Rm.6:4; Ef.1:19-20; Cl.3:1). |
Rm.4:25 | 25. o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Foi entregue. Do gr. paradidomi. Esta palavra significa, basicamente, “entregar ao outro”. É usada nos evangelhos para a traição de Cristo (Mt.10:4; Mt.17:22; Jo.6:64; Jo.6:71). Por causa. Ou, “por conta de”. Isso pode ser entendido no sentido de que Jesus foi entregue por causa das nossas transgressões, ou seja, como resultado delas, ou a fim de expiar nossos pecados. Na verdade, ambos estão implícitos, pois a morte de Cristo foi o resultado de nossas transgressões e, na medida em que foi o propósito de Deus, pela morte, fazer expiação pelos nossos pecados. Transgressões. Do gr. paraptomata, “passos em falso”, “erros”. A palavra também é traduzida como “ofensas” (Mt.6:14), e no singular, “ofensa” (Gl.6:1, ARC). Por causa da nossa justificação. Ou, “por conta da nossa justificação”, ou seja, “com vista à nossa justificação”. A declaração de Paulo de que nossa justificação depende não apenas da morte de Cristo, mas também de Sua ressurreição lança mais luz sobre o significado da experiência de sermos considerados justos por Deus (ver com. de Rm.3:20; Rm.3:28). Deus não está preocupado com nosso passado pecaminoso, mas com a restauração futura. Justificação não é só perdão, mas também reconciliação, o estabelecimento de um novo relacionamento, a experiência da reconciliação com Deus. Essa experiência só é possível pela fé no Cristo vivo, que está “vivendo sempre para interceder” por nós (Hb.7:25). A justificação é dada apenas aos que aceitam e se comprometem com todo o plano divino de justificação pela fé, o que significa amar o Cristo vivo e recorrer a Ele em busca de intercessão e de poder transformador. Na cruz, nosso Senhor Se entregou por nós. Pela ressurreição, Ele Se dá a nós. Além disso, a ressurreição de Cristo assegura que nossa redenção foi aprovada pelo Pai (At.2:36; At.3:13-15; 1Co.15:15; 1Co.15:17-18) e que os propósitos de Deus por meio dEle estão sendo cumpridos (At.17:31). A ressurreição revela a veracidade das afirmações de Jesus sobre Si mesmo (ver com. de Rm.1:4) e a certeza de Suas promessas de salvação para o pecador (Jo.5:40; Jo.6:33; Jo.6:63; Jo.10:10; Jo.11:25-26; 1Co.15:20; 1Co.15:22; 2Co.4:14). |
Rm.5:1 | 1. Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; Justificados. Ou, “tendo sido justificados” (ver com. de Rm.3:20; Rm.3:28; Rm.4:8; Rm.4:25). Pois. Ou seja, tendo em vista a declaração do versículo anterior e de toda argumentação e evidência dos cap. 1 a 4. Paulo demonstrou que todos, tanto judeus como gentios, são pecadores e necessitados de justiça. Provou que essa necessidade de justiça não pode ser satisfeita de forma legalista pelas obras (Rm.3:20). Mas, como foi revelado nas boas-novas do evangelho, Deus fez tudo o que é necessário para suprir nossas necessidades. Deus oferece a todos, como dom gratuito de Sua graça, o perdão completo e reconciliação pela fé em Jesus Cristo, que viveu, morreu e ressuscitou para a redenção e restauração do ser humano caído. Tendo estabelecido a doutrina da justificação pela fé como a única maneira pela qual judeus e gentios podem obter justificação, como Abraão, Paulo passa a explicar alguns dos benefícios experimentados pelos que passam por essa experiência salvífica. Temos paz. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “tenhamos paz”. A evidência pelos manuscritos, por si só, favorece a última forma. No entanto, muitos comentaristas e tradutores se opõem a ela porque não se encaixa no contexto. Afirmam que é muito improvável que Paulo exortasse os que haviam sido justificados a procurar ter paz. Acreditam que ele assegurou aos crentes que já tinham paz, como resultado da justificação. No entanto, existe uma forma de traduzir essa frase, tornando possível aceitar a forma favorecida pelos manuscritos e ainda dar uma interpretação apropriada ao contexto. A forma do verbo traduzido como “tenhamos” permite a tradução “continuemos a ter paz”, que significa “vamos desfrutar a paz que temos”, ou “desfrutemos a paz”. Se Paulo tivesse a intenção de dizer “obtenhamos a paz”, a forma do verbo grego teria sido diferente. Essa forma diferente ocorre em Mt.21:38 em que foi traduzida como “vamos, matemo-lo e apoderemo- nos da sua herança”. Visto que a justificação, em seu sentido pleno, inclui a reconciliação e a paz, Paulo diz aqui: “Visto que fomos justificados pela fé, mantenhamos [ou, desfrutemos] a paz que já possuímos”. Se, no entanto, a leitura “temos paz” for a preferida, o significado não é essencialmente diferente. A ênfase está na bênção da paz que vem com a experiência de ser perdoado e estar reconciliado com Deus mediante a fé em Jesus Cristo. A verdadeira religião é representada na Bíblia como uma experiência de paz (Is.32:17; At.10:36; Rm.8:6; Rm.14:17; Gl.5:22). Muitas vezes, Paulo chama a Deus de “Deus da paz” (Rm.15:33; 1Ts.5:23; Hb.13:20; 2Co.13:11; 2Ts.3:16). Os pecadores são descritos como inimigos de Deus (Rm.5:10; Rm.8:7; Jo.15:18; Jo.15:24; Jo.17:14; Tg.4:4). Para eles, não há paz, não há sossego nem segurança (Is.57:20). Mas o efeito da provisão de Deus em nos dar justiça pela fé é trazer paz ao antes atribulado e alienado coração do pecador. Antes da experiência da justificação, o pecador se encontra em um estado de inimizade contra Deus, como é mostrado por sua rebelião contra a autoridade de Deus e pela transgressão de Suas leis. Mas, depois que está reconciliado, ele tem paz com Deus. Antes, ainda sob o sentimento de culpa do pecado, ele não tem nada, a não ser medo e inquietação na consciência. Com os seus pecados perdoados, ele tem paz no coração, sabendo que toda a sua culpa foi retirada. A associação da paz com a justificação pela fé, feita por Paulo, torna ainda mais claro que a justificação não é um mero ajuste de status legal do pecador com Deus (ver com. de Rm.3:20; Rm.3:28; Rm.4:25). Por si só, o perdão não necessariamente traz a paz. Aquele que foi perdoado de algum crime pode ter um sentimento de gratidão para com seu benfeitor, mas, ao mesmo tempo, também pode estar repleto de tanta vergonha e embaraço, que procura evitar a companhia até mesmo daquele que o perdoou. Embora perdoado, ele pode se sentir pouco melhor do que um criminoso solto. Sua autoestima desapareceu, e há pouca motivação para uma vida de justiça. Se a justificação não significasse mais do que isso, estaria realmente agindo contra o plano de Deus para nossa restauração. A única maneira de a imagem divina ser restaurada no ser humano é pela comunhão confiante e amorosa com Cristo pela fé. Portanto, Deus não apenas perdoa, mas também nos reconcilia, nos coloca em boas relações com Ele mesmo. Ele nos trata como se nunca tivéssemos pecado, atribuindo a justiça de Seu Filho para cobrir nosso passado pecaminoso (ver com. de Rm.4:8). Ele nos convida à comunhão com Jesus, que nos inspirará com coragem para o futuro e nos fornecerá um exemplo, pelo qual possamos modelar a vida. Essa compreensão da justificação pela fé revela o papel da conversão e do renascimento na experiência do pecador arrependido. Não seria possível ao ser humano caído entrar na nova relação espiritual de paz à qual a justificação o habilita e admite, exceto pela mudança miraculosa realizada pelo novo nascimento espiritual (Jo.3:3; 1Co.2:14). Portanto, quando Deus justifica o pecador convertido, Ele também cria um coração puro e renova um espírito inabalável dentro dele (ver SI.51:10; sobre a relação entre conversão, novo nascimento e justificação, ver PJ, 163; GC, 470; CC, 52, 53). |
Rm.5:2 | 2. por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. Obtivemos. Literalmente, “temos tido”. O texto grego indica não apenas a obtenção do acesso, mas a contínua posse do privilégio. Tivemos esse acesso desde que nos tornamos cristãos pela primeira vez, e o temos, enquanto continuarmos cristãos. Acesso. Do gr. prosagoge. Esta palavra é usada apenas por Paulo no NT e ocorre somente aqui e em Ef.2:18; e Ef.3:12. Aqui, ela pode ser entendida como uma introdução, não pelo ato de irmos a Deus, mas por Cristo nos levar a Ele. O mesmo pensamento é igualmente expresso em 1Pe.3:18: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos [prosago] a Deus.” A ideia sugerida é a sala de audiências do rei, em que os súditos não podem entrar sozinhos, mas devem ser apresentados por alguém que esteja em posição de autoridade. Nesse caso, Jesus é Aquele que nos apresenta. Não podemos entrar, por nós mesmos, na sala de audiência de Deus, pois nossos pecados estão entre nós e Deus, e nos separam dEle (Is.59:2). Mas Cristo, em virtude de Seu sacrifício, é capaz de nos levar de volta a Deus e de nos apresentar ao glorioso estado de graça e de favor no qual estamos firmes (ver Hb.10:19). Mediante Cristo, fazemos nossa primeira aproximação a Deus, e é por meio dEle que o privilégio é mantido para nós. Esse acesso a Deus, essa introdução à Sua presença divina, deve ser considerado um privilégio duradouro. Não somos apresentados a Deus com o propósito de ter uma entrevista, mas para permanecer com Ele. Pela fé. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) quanto à omissão ou não desta frase. No entanto, tenha ou não Paulo mencionado a fé neste versículo, é óbvio que podemos ter acesso à graça somente pela fé nAquele por meio de quem a graça é disponibilizada. Esta graça. Ou seja, a condição de reconciliação e aceitação por Deus (ver com. de Rm.3:24). Estamos firmes. Comparar com 1Pe.5:12. O estado de justificação representa segurança e confiança. E gloriamo-nos. Do gr. kauchaomai. Em contraste com toda falsa vanglória, o crente possui a esperança da glória de Deus. Os judeus se vangloriavam de suas realizações (Rm.2:17). Os cristãos exultam no que Deus faz. A verdadeira religião, muitas vezes, é descrita na Bíblia como a produção de muita alegria e satisfação (Is.12:3; Is.52:9; Is.61:3; Is.61:7; Is.65:14; Is.65:18; Jo.16:22; Jo.16:24; At.13:52; Rm.14:17; Gl.5:22; 1Pe.1:8). A expressão grega pode ser traduzida tanto por “exultamos” como por “exultemos” (ver com. de Rm.5:1). Aqui, como no v. Rm.5:1, “tenhamos” significa “continuemos a ter”, por isso, aqui, “alegremo-nos” significaria “continuemos a nos alegrar”. De acordo com essas palavras, Paulo exortava os crentes justificados a continuar desfrutando a paz com Deus e a se manter exultando na esperança da glória de Deus. A alegria e confiança triunfantes da fé de Paulo contrastam com a doutrina dos que acreditam que “fé” significa, necessariamente, que a pessoa deve estar sempre em estado de ansiedade e incerteza sobre a justificação. Deus quer que saibamos que fomos aceitos, para que realmente tenhamos a paz que vem dessa experiência (Rm.5:1; Rm.8:1). João também diz que podemos saber que já passamos da morte para a vida (1Jo.3:14). Fé significa não apenas crer que Deus pode nos perdoar e restaurar. A fé cristã significa crer que Deus, em Cristo, nos perdoou e que criou um novo coração dentro de nós. Isso, naturalmente, não significa que, uma vez justificados, nossa salvação futura está assim garantida e não há necessidade de uma contínua experiência de fé e obediência. Deve existir uma importante distinção entre a certeza de um presente estado de graça e da certeza da futura redenção (ver PJ, 155). A primeira está implícita no sentido da verdadeira fé, a aceitação pessoal de Cristo e todos os Seus benefícios. A última é uma questão de esperança e deve ser acompanhada por constante vigilância. Mesmo que se tenha a alegria e a paz da justificação, é necessária a diligência para tornar segura a vocação e eleição (2Pe.1:10). A possibilidade de fracasso era um poderoso estímulo à fidelidade e santidade, mesmo na vida do próprio apóstolo Paulo. Ele exercia estrita autodisciplina, para que, tendo pregado a outros, ele mesmo não fosse rejeitado (1Co.9:27). Assim, o cristão que está na graça e exulta na esperança da glória de Deus também deve cuidar para não cair (1Co.10:12). Na esperança. Ou, “com base na esperança”. Da glória de Deus. Ver com. de Rm.3:23. |
Rm.5:3 | 3. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; Não somente isto. Paulo explica como o plano divino da justificação pela fé traz paz e alegria, não só em tempos de prosperidade, mas também nos momentos de angústia e provação. A esperança da glória futura e a resistência nos problemas presente andam juntas. Jesus notou esse fato quando disse: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em Mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; Eu venci, o mundo” (Jo.16:33). Também nos gloriamos. Do gr. kauchaomai, que também é traduzido como “gloriamo-nos” no v. Rm.5:2 (ver com. ali). A frase pode ser traduzida como “continuemos exultando”. Nas próprias tribulações. Ou, “em nossas tribulações”. O termo gr. thlipsis significa “pressão”, “esmagar”, “opressão” e é traduzido diversas vezes como “problemas” ou “aflição”. Os primeiros cristãos foram chamados a suportar diversas formas de perseguição e sofrimento. O apóstolo não poderia prometer aos crentes qualquer isenção da tristeza. Em vez disso, ele explicou como a fé cristã pode usar as tribulações para aperfeiçoar o caráter. Paulo informou aos discípulos em Listra que, “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At.14:22). Os apóstolos se alegravam “por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas” (At.5:41). Pedro escreveu que os cristãos não devem estranhar o “fogo ardente”, mas precisavam “alegrar-se” (1Pe.4:12-13). Jesus mesmo disse: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça” (Mt.5:10; Rm.8:17; Rm.8:28; Rm.8:35; 2Tm.2:12). No entanto, os cristãos não devem se tornar fanáticos e se gloriarem no sofrimento em si. Devem se alegrar na aflição porque consideram uma honra sofrer por Cristo. Também percebem que as tribulações sofridas são uma oportunidade para testemunhar do poder de Jesus manifestado ao apoiá-los e livrá-los. Também sabem que o sofrimento, quando suportado devidamente (ver Hb.12:11), torna-se um instrumento de santificação e preparação para a utilidade presente e futura. A última dessas razões é o que Paulo enfatiza, particularmente, neste contexto (ver T3, 416). Sabendo. Paulo podia dizer isso com certeza. Talvez nenhum outro cristão tenha sofrido mais do que ele, na tentativa de divulgar o evangelho (ver 2Co.11:23-27). Paulo sabia por experiência própria que “a tribulação produz perseverança”. Produz. Do gr. katergazomai, “alcançar”, “trazer”, “trabalhar”. A palavra também é traduzida como “desenvolver” (Fp.2:12). Perseverança. Do gr. hupomone. “Paciência” pode sugerir apenas resistência passiva ao mal, submissão calma de alguém que se conforma com o sofrimento. Hupomone significa mais que isso; é também uma virtude ativa, perseverança corajosa e persistência que não pode ser abalada pelo temor do mal ou do perigo. A melhor tradução seria “fortaleza” ou “resistência”. O verbo do qual esse substantivo deriva ocorre frequentemente no NT e é traduzido como “perseverar” (Mt.10:22; Mt.24:13; Mc.13:13; 1Co.13:7; 2Tm.2:10; Hb.10:32; Hb.12:2; Hb.12:7; Tg.1:12; Tg.5:11). No homem ou na mulher natural, que não tenha nascido de novo do Espírito Santo, tribulação, atraso e oposição muitas vezes produzem apenas impaciência, ou até mesmo o abandono da boa causa que se pode ter abraçado (Mt.13:21). Mas, para os que são espirituais e, consequentemente, estão sob a influência do Espírito de amor, aflição e provações produzem a mais perfeita paciência e resistência (1Co.13:7). O supremo exemplo de força cristã na aflição foi demonstrado por Jesus durante as últimas horas antes de Sua morte. Suportando a toda crueldade e todo insulto, Jesus Se entregou com paciência majestosa (ver DTN, 710, 731, 734-736, 744). O cristão que deseja ser semelhante a Cristo vai se alegrar nas provações e nos sofrimentos que Deus permita recair sobre ele, sabendo que por meio dessas experiências ele pode ganhar mais da paciência divina de Cristo e, assim, ser capaz de suportar até o fim. |
Rm.5:4 | 4. e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Experiência. Do gr. dokime, a partir de um verbo que significa “testar” ou “aprovar”. Esta palavra grega é usada apenas por Paulo no NT. Em outras passagens, é traduzida como “prova”, “provado” (2Co.2:9; 2Co.8:2; 2Co.9:13; 2Co.13:3; Fp.2:22). O termo pode se referir tanto ao processo do teste, quanto ao resultado dele. Neste contexto, o último significado parece ser o mais adequado (ver com. do v. Rm.5:3). A tradução mais literal seria “prova”, “aprovação”, “aprovação por meio de testes”. Provações e aflições suportadas pacientemente provam a legitimidade da religião e o verdadeiro caráter da pessoa. Esperança. A perseverança nas provas e tribulações confirma e refina a fé do cristão. Desse processo advém uma esperança cada vez mais confiante. É a esperança inicial do crente de participar da glória de Deus (v. Rm.5:2) que o encoraja a perseverar, da qual ele obtém uma constante e calma segurança. A esperança e a fé crescem quando são testadas e exercitadas. Por exemplo, a fé já existente dos discípulos de Cristo foi confirmada e aumentada no milagre que Jesus realizou em Caná (Jo.2:11). A experiência de Jó ilustra como a severa disciplina do caráter pode fortalecer a fé e a esperança de um crente sincero (ver com. de Jó.40; Jó.42). |
Rm.5:5 | 5. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Não confunde. Do gr. kataischuno, “desgraçar”, “desonrar”, “chegar a nada” (comparar com o uso de kataischuno, em 2Co.7:14; 2Co.9:4). A esperança cristã nunca traz desgraça nem desonra. Paulo pode ter pensado no Sl.22:5: “Confiaram em Ti e não foram confundidos.” Essa não é uma esperança comum, pois, muitas vezes, a esperança é desapontada. Essa é a esperança fundamentada na consciência da justificação e apoiada pela presença do Espírito Santo no coração (Rm.8:16). Tal esperança não pode decepcionar nem envergonhar. O amor de Deus. Este pode ser entendido como o amor de Deus por nós ou nosso amor a Deus. Os versículos seguintes parecem indicar que este é o amor de Deus para conosco, revelado por Deus em Cristo. A esperança do cristão não se baseia em nada dele mesmo, mas na certeza do amor imutável de Deus por ele. Esse sentimento de Seu amor, por sua vez, nos conduz a amar a Deus (1Jo.4:19) e os nossos semelhantes (v. Rm.5:7), e essa experiência de amor fortalece a confiança e esperança para o futuro. A base da certeza de que a esperança não deixa cair na vergonha do desapontamento é o amor de Deus. É derramado. Literalmente, “foi derramada”. A doação das bênçãos espirituais é descrita como “derramamento”. “Derramarei o Meu Espírito sobre a tua posteridade e a Minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is.44:3; Jl.2:28-29; Jo.7:38-39; At.2:17-18; At.2:33; At.10:45; Tt.3:5-6). Essa figura seria especialmente significativa nos países do Oriente Médio, tendo em vista o calor e a frequente escassez de água. “Derramada” também pode sugerir a riqueza e a abundância do amor e das bênçãos de Deus. Coração. Ver com. de Rm.1:21. Espírito Santo. Esta é a primeira menção de Paulo, em sua epístola, ao Espírito Santo, de cuja presença e atividade na experiência cristã ele tem mais a dizer, especialmente no cap. Rm.8. O Espírito Santo derrama o amor em nossos corações, testemunhando de Jesus (Jo.15:26; Jo.16:14). Quando vemos a glória, perfeição e amor de Jesus, somos transformados à Sua semelhança, sob a influência do Espírito (2Co.3:18). Que nos foi outorgado. Ou, “que nos foi dado”, ou “a quem foi dado”. Paulo pode se referir especialmente ao dom no dia de Pentecostes (At.2:1-4; At.2:16-17), mas, além disso, à experiência de cada crente (ver At.8:15; At.19:2; 2Co.1:22; 2Co.5:5; Gl.4:6; Ef.1:13; Ef.4:30). O Espírito Santo é representado como tendo habitação em nós (1Co.3:16; 1Co.6:19). |
Rm.5:6 | 6. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque [...] quando. Paulo passa a dar mais provas de que a esperança cristã, baseada no amor de Deus, não pode falhar. Ele descreve a suprema grandeza desse amor, conforme é revelado pelo fato de Cristo ter morrido por nós, estando nós ainda em nosso estado impotente e ímpio. Fracos. Ou, “sem força”, “impotentes”. Paulo trata da condição de desamparo exposta nos capítulos anteriores. No grego, a palavra usada aqui é aplicada aos fisicamente doentes e fracos (ver Mt.25:39; Lc.10:9; At.5:15). É traduzida como “impotente”, descrição adequada da condição de um pecador antes de aceitar a graça e o poder de Deus. A referência de Paulo à impotência e ao desamparo do pecador não regenerado contrasta com a imagem do crente justificado, regozijante quando se torna mais forte na esperança, na resistência, no caráter e na certeza do amor de Deus. A seu tempo. Ou, “no momento certo”, “no momento apropriado”. Essencialmente, é o mesmo que “a plenitude do tempo” (Gl.4:4; Mc.1:15). Por milhares de anos, a experiência de obter justiça pelas obras seguiu seu curso. Mas os legalistas mais zelosos entre os judeus e os intelectuais mais esclarecidos entre os gregos e os romanos não conseguiram conceber qualquer esquema que pudesse curar os males do mundo e salvar o ser humano do pecado e da morte. Ao contrário, o pecado e a degradação levaram a humanidade às maiores profundezas quando Jesus veio a este mundo. Em alguns casos, homens e mulheres se entregaram ao controle de Satanás, e o próprio selo dos demônios se estampou em seu semblante. Assim, foi demonstrado ao universo que, sem Deus, a humanidade nunca poderia ser restaurada. A menos que algum elemento novo de vida e poder fosse dado pelo Criador, não havia esperança de que o ser humano fosse salvo (ver DTN, 36, 37). Foi nesse momento decisivo que Jesus veio para morrer pelos ímpios. Este foi também o momento predito pelo profeta Daniel em que o Messias deveria morrer (Dn.9:24-27; Jo.13:1; Jo.17:1). Era também o momento certo, no sentido de que as condições no mundo tinham preparado o coração de muitos para receber com alegria as boas-novas do evangelho. Em todo o mundo, havia homens e mulheres cansados do ritual interminável e vazio da religião legalista e estavam ansiosos pela libertação do pecado e de seu poder. Além disso, na providência de Deus, o mundo estava unido sob um só governo, falava uma só língua, e o povo judeu tinha sido disperso entre as nações, tornando assim possível a rápida disseminação das novas da salvação. Assim, Cristo veio e morreu, quando o mundo mais precisava dEle, no tempo previsto e na hora em que Seu sacrifício pudesse cumprir melhor sua finalidade de revelar a justiça e o amor de Deus para a salvação da humanidade caída (ver com. de Gl.4:4). Pelos ímpios. Literalmente, “pelos [homens] ímpios” (sobre o significado do termo “ímpio”, ver com. de Rm.4:5). Paulo não sugere que Cristo morreu pelos “ímpios” como uma classe distinta dos “piedosos”, mas por serem todos ímpios. Isso é mostrado por não ser utilizado o artigo no texto grego. Cristo morreu por nós, seres humanos ímpios. Se dissermos que não pertencemos aos ímpios, excluímo-nos dos benefícios da expiação de Cristo, assim como os judeus (Lc.5:31; 1Jo.1:10). |
Rm.5:7 | 7. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Dificilmente. Do gr. molis, “com dificuldade”, “dificilmente”, “não facilmente”. O objetivo dos v. 7 e 8 é ilustrar a grandeza do amor de Deus, comparando-o com o máximo que as pessoas estão dispostas a fazer. Enquanto, entre as pessoas, é difícil conceber que alguém esteja disposto a dar a vida mesmo por uma pessoa justa, a maravilha do amor que Cristo teve por nós é que Ele esteve disposto a morrer pelos ímpios pecadores. Um justo. Literalmente, “o bom [homem]”. De acordo com vários comentaristas, Paulo faz uma distinção entre “uma pessoa justa” e “uma pessoa boa”, embora a intenção exata da distinção não seja clara. Parece consensual que o “justo” é alguém rigorosamente justo e inocente e tem o cuidado de realizar todas as tarefas exigidas dele. O “bom” não é apenas justo, mas também amoroso e benevolente e está sempre feliz em prestar favores aos outros. Portanto, Paulo afirma que, apesar de alguém dificilmente se dispor a morrer pela pessoa correta ou estritamente justa, ela se disporia a dar a vida pela pessoa nobre e gentil que inspira amor e carinho. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo.15:13). Mas Paulo enfatiza que isso é o máximo que se pode esperar do amor humano. É possível que alguém esteja disposto a se sacrificar por um amigo querido que seja suficientemente bom e amável. Mas o amor de Deus por Suas criaturas errantes é tão grande que Jesus morreu por nós quando éramos inimigos ímpios e rebeldes. |
Rm.5:8 | 8. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Prova. Do gr. sunistemi, que também tem o significado de “recomendar” (Rm.16:1; 2Co.4:2). Daí o uso que a KJV faz, como “louva”, pode ser apropriado aqui, pois abrange os dois sentidos possíveis, e ambos podem estar envolvidos nesse contexto. A morte de Cristo pelos pecadores não só prova que o amor de Deus é um fato, como também expõe esse amor diante de nós em toda a sua grandeza e perfeição. A forma da palavra no grego indica que Deus continua a provar e demonstrar Seu amor por nós. O sacrifício de Cristo permanece como a maior demonstração de Seu amor. Jesus morreu uma vez por todas, mas, nos resultados duradouros de sua morte, temos sempre presente a prova do amor de Deus em favor de cada um de nós. Seu próprio amor. O amor de Deus Pai foi revelado na morte de Cristo. Esse fato vital deve ser reconhecido pela compreensão correta da expiação (ver com. de Rm.3:25). Cristo não morreu para apaziguar o Pai ou para induzi-Lo a nos amar. Foi o amor divino que concebeu o plano de expiação e de salvação no início, e tanto o Pai como o Filho e o Espírito Santo trabalharam juntos em perfeita harmonia para efetivá-la (Jo.3:16; Jo.10:30; Jo.14:16; Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.17:11; Jo.17:22-23; Rm.3:24; Rm.8:32; Ef.2:4-7; 2Ts.2:16; 1Jo.4:10). Alguns acham que é difícil conciliar essa concepção do amor eterno de Deus com a ira divina frequentemente mencionada. Mas a ira divina é o antagonismo de Deus ao pecado, resultando, em última análise, na completa erradicação do pecado do universo. Enquanto as pessoas optam por permanecer sob o domínio do pecado, estão envolvidas na ira de Deus (ver com. de Rm.1:18). Foi Seu amor pelos pecadores que levou Deus a dar Seu Filho para morrer, e Ele deu a Si mesmo nesse sacrifício expiatório (2Co.5:19). Por. Do gr. hyper, que pode ser entendido como “em favor de”, “em lugar de”. Paulo não diz apenas que Cristo morreu “em nosso lugar”, como “propiciação” (Rm.3:25), como “oferta e sacrifício” por nós (Ef.5:2) e “em resgate por todos” (1Tm.2:6). Se a morte de Cristo tivesse sido uma morte involuntária, teria sido suficiente dizer que Ele morreu “em nosso lugar”. Mas Paulo também diz que Cristo morreu “por” nós, “em nosso favor”. Como amigo e irmão, Ele entregou deliberada e voluntariamente a própria vida por amor a nós, porque nos ama (Ef.5:2). Por esse sacrifício, Ele Se tornou nosso representante, pois quando “um morreu por todos; logo, todos morreram” (2Co.5:14). Assim, é correto dizer que Cristo morreu “em nosso lugar” e “em nosso favor”, e a palavra simples “pois” parece ser uma escolha apropriada para cobrir essas duas ideias. Ainda pecadores. Não havia nada no homem para merecer o amor de Deus. O hipotético “bom” (v. Rm.5:7) é afetuoso, benevolente, amável e inspirado. Mas o amor que Deus teve em relação a nós não foi uma resposta ao amor que tínhamos por Ele, pois éramos Seus inimigos. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou” (1Jo.4:10). |
Rm.5:9 | 9. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Muito mais agora. Se Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores, é certo que Ele vai nos salvar, agora que estamos justificados. Se Seu amor foi tão grande que Ele Se dispôs a dar a vida por Seus inimigos, certamente Ele salvará Seus amigos da ira (v. Rm.5:10). Pelo Seu sangue. Isto é, por Sua morte, a doação de Sua vida perfeita no sacrifício expiatório (ver com. de Rm.3:25). Neste versículo, Paulo fala da justificação como sendo “pelo Seu sangue”, em vez de “pela fé”, porque aqui ele considera a justificação do ponto de vista de Deus. Nossa fé não acrescenta nada ao dom de Deus, além de aceitá-lo. O preço infinito pago por nossa redenção revela não só o maravilhoso amor de Deus, mas também o alto valor que Deus vê no ser humano. Paulo raciocina que, como Deus nos ama tanto que esteve disposto a pagar um preço infinito para nossa justificação, com certeza vai conservar o que foi comprado por um preço tão elevado. Da ira. A ira de Deus por vir (1Ts.1:10; ver com. de Rm.1:18; Rm.2:5). |
Rm.5:10 | 10. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; Inimigos. Paulo repete e amplia o raciocínio do v. Rm.5:9. Reconciliados. Do gr. katallasso. A palavra significa basicamente “troca”, portanto, a mudança de relação entre partes hostis para uma relação de paz. Pode ser usado tanto para hostilidade mútua como unilateral, e o contexto deve determinar qual significado se aplica. O pecado fez com que a humanidade se alienasse de Deus, e seu coração estava em guerra contra os princípios da lei divina (Rm.1:18-3:20; Rm.8:7). No entanto, Deus deu Seu Filho para que o ser humano pecador e rebelde fosse reconciliado (Jo.3:16). Em parte alguma a Bíblia diz que Deus foi reconciliado com o ser humano. É verdade que a morte de Cristo tornou possível que Deus fizesse algo pelo ser humano que não poderia ter feito de outra forma (ver com. de Rm.3:25-26). Por tomar a pena da transgressão, Cristo proveu a maneira pela qual a humanidade poderia ser restaurada ao favor de Deus e ser levada de volta para sua casa no Éden (ver PP, 69); mas, a não ser pelo sacrifício de Cristo, todos teriam colhido os resultados inevitáveis do pecado e rebelião: a destruição final sob a ira de Deus (Rm.2:5; Rm.3:5; Rm.5:9; 1Ts.1:10). Mas isso não quer dizer que Deus precisava ser reconciliado. A alienação foi inteiramente da parte do ser humano (ver Cl.1:21), e é Deus que, em Seu grande amor, toma a iniciativa da reconciliação. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co.5:19; Ef.2:16; Cl.1:20). Embora Deus odeie o pecado, Seu amor pelos pecadores é ainda mais forte, e Ele não poupou nada, por mais caro que fosse, para prover a reconciliação (ver DTN, 57). Cristo não morreu para conquistar o amor de Deus pela humanidade, mas para conquistar a humanidade de volta para Deus (ver com. de Rm.5:8). Na verdade, o plano e a provisão de Deus para a reconciliação da humanidade foi concebido na eternidade, antes mesmo que o ser humano pecasse (Ap.13:8; cf. PP, 63; DTN, 834). Assim, em antecipação ao sacrifício expiatório, foi possível que a fé demonstrada por Abraão fosse contada como justiça (Rm.4:3) e que o patriarca fosse considerado amigo de Deus (Tg.2:23) muito antes de Cristo morrer na cruz. O argumento de Paulo nesta primeira parte de Romanos 5 é: uma vez que temos evidência tão esmagadora do amor sem limites de Deus, mesmo pelos pecadores alienados, temos alicerce seguro sobre o qual fundamentar nossa paz, alegria e esperança da salvação final. A referência à reconciliação, neste versículo, paralela à justificação do v. Rm.5:9, dá mais uma confirmação da ideia de que a justificação não é apenas o perdão, mas também a renovação de um relacionamento de amor (ver com. de Rm.3:20; Rm.3:28; Rm.4:25; Rm.5:1). Morte. O mesmo que “sangue” do v. Rm.5:9, pelo qual foi obtida a justificação. Pela Sua vida. Literalmente, “na Sua vida”. Isso pode ser entendido no sentido de que somos salvos pela união pessoal com o Salvador vivo, que vive para sempre para interceder por nós (Hb.7:25; Rm.4:25). Jesus disse: “porque Eu vivo, vós também vivereis” (Jo.14:19; Rm.8:11; Gl.2:20). Se a morte de Cristo tinha tal poder salvador para efetuar a reconciliação, Sua vida tem muito mais poder de levar a salvação a um feliz cumprimento. |
Rm.5:11 | 11. e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação. Não apenas isto. Paulo menciona outros resultados da justificação pela fé. Ele já havia dito que nos alegramos nas tribulações e na esperança da glória de Deus (v. Rm.5:2-3). Ele acrescenta que “também nos gloriamos em Deus”. Gloriamos. Do gr. kauchaomai (ver com. dos v. Rm.5:2-3). Em Deus. Não há motivo para nos gloriarmos em nós mesmos (Rm.3:27; Rm.4:2), mas temos todos os motivos para nos gloriar em Deus, especialmente tendo em vista Seu amor salvífico (Je.9:23-24; Rm.5:5-10; 1Co.1:31; 2Co.10:17). Os cristãos se alegram na beneficência de Deus e no fato de que o universo está sob a administração de Deus. O pecador se opõe a Deus e não encontra prazer nEle. Ele O teme ou odeia. Uma evidência de conversão e reconciliação com Deus é alegrar em Deus e encontrar prazer na contemplação de Sua perfeição, conforme revelada nas Escrituras. Por nosso Senhor. Em todos os atos e experiências da vida cristã, a mediação de Cristo é continuamente destacada pelos escritores do NT. Nós nos gloriamos em Deus por meio de Jesus Cristo, que nos revelou o verdadeiro caráter de Seu Pai e nos reconciliou com Ele. Reconciliação. Do gr. katallage, “reconciliação”; o verbo “reconciliar” é katallasso (ver com. do v. Rm.5:10). Em todas as outras três ocorrências da palavra gr. katallage no NT, ela é traduzida por “reconciliando” ou “reconciliação” (Rm.11:15; 2Co.5:18-19). Paulo se refere aqui não ao meio pelo qual a reconciliação foi realizada (Rm.3:25), mas ao fato da reconciliação (Rm.5:10). A palavra grega para o sacrifício expiatório é diferente desta (ver com. de Rm.3:25). |
Rm.5:12 | 12. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Portanto. A passagem aqui introduzida tem sido considerada por muitos como a mais difícil do NT, se não de toda a Bíblia. No entanto, essa dificuldade parece ter sido em grande parte devida à tentativa de usar a passagem para fins diversos do que Paulo pretendia. O principal objetivo do apóstolo parece ter sido enfatizar os resultados de longo alcance da obra de Cristo, comparando e contrastando as consequências de Seu ato justificador com o efeito do pecado de Adão. A conjunção “portanto” provavelmente remete à descrição no v. Rm.5:1-11 sobre a obra salvadora de Cristo na reconciliação e justificação do pecador e estendendo-lhe a esperança de salvação final. Assim como por um só homem. Com estas palavras, Paulo inicia a comparação entre os efeitos do pecado de Adão e os resultados da redenção em Cristo, mas traz apenas a primeira parte da comparação. Tendo afirmado essa parte, ele faz uma pausa, à sua maneira característica, para discutir alguns problemas envolvidos no que já havia dito. No entanto, Paulo parece retomar seu raciocínio no v. Rm.5:15. Se Paulo tivesse completado a comparação, ele poderia ter dito algo como: “Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram; assim também, por um só homem, Jesus Cristo, a justiça entrou no mundo, e a vida por meio da justiça, para que todos, sendo justificados pela fé, sejam salvos.” Philip Schaff observa que “o apóstolo poderia ter poupado os comentaristas de uma grande quantidade de problemas, se tivesse, de acordo com as regras normais de composição, exposto primeiramente a comparação na íntegra e, em seguida, dado as explicações e qualificações; mas essas dificuldades gramaticais nas Escrituras são geralmente deixadas para uma investigação e elucidação mais profunda do sentido” (Lange’s Commentary, sobre Rm.5:12). Nesta passagem, os principais pontos de comparação que Paulo enfatiza são: (1) assim como o pecado e a morte, como princípio e poder foram transmitidos de Adão a toda a humanidade, também a justiça e a vida, como um princípio e poder neutralizante e conquistador, passaram para toda a humanidade, a partir de Cristo; e (2) assim como a morte foi transmitida a todas as pessoas que participam no pecado de Adão, da mesma maneira, a vida é transmitida a todos os que participam da justiça de Cristo. No entanto, o paralelo não é perfeito, pois, embora a participação no pecado de Adão seja universal, a participação na justiça de Cristo é limitada aos crentes. Todos são pecadores, mas, embora a justiça de Cristo seja igualmente universal em poder e propósito, nem todos são crentes. Além disso, o que Cristo obteve é maior do que aquilo que foi perdido por Adão (ver DTN, 25). Entrou [...] no mundo. Paulo representa o pecado como algo que veio de fora do mundo para a humanidade. O termo “mundo” é frequentemente utilizado para designar a humanidade (Rm.3:19; Rm.11:15; Jo.3:16-17). Além disso, Paulo não discute a origem do mal. O primeiro humano violou a lei de Deus e, dessa forma, o pecado foi introduzido entre os seres humanos. Pecado. Paulo aqui personifica o pecado. Ele “reina pela morte” (v. Rm.5:21), causa a morte (Rm.7:13), tem domínio (Rm.6:14), desperta toda sorte de concupiscência (Rm.7:8), engana e mata o pecador (Rm.7:11). Pela “ofensa” de Adão, o princípio do “pecado” entrou no mundo (comparar Rm.5:12-13; Rm.5:20-21 com os v. Rm.5:15-18). O “pecado”, por sua vez, se tornou a fonte de inúmeros “crimes”. Ao longo desta seção, pode ser vista a diferença entre o “pecado” como princípio e essência da ilegalidade (ver com. de 1Jo.3:4) e os atos concretos do pecado, aqui traduzidos como “ofensas”. Pelo pecado, a morte. Antes que o pecado acontecesse, Deus advertiu Adão de que a morte seria o resultado do pecado (Gn.2:17). Após o pecado, Deus pronunciou a frase: “és pó e ao pó tornarás” (Gn.3:19). A Bíblia fala de três tipos de morte: (1) a morte espiritual (Ef.2:1; 1Jo.3:14); (2) a morte temporal, a “primeira morte”, descrita por Jesus como um “sono” (ver Jo.11:11-14; Ap.2:10; Ap.12:11); e (3) a morte eterna, a “segunda morte” (ver Mt.10:28; Tg.5:20; Ap.2:11; Ap.20:6; Ap.20:14; Ap.21:8). Tem havido muita discussão sobre o tipo de morte que resultou do pecado de Adão e, especialmente, quanto ao tipo de morte transmitida a seus descendentes. Grande parte dessa dificuldade tem sido devida à incompreensão geral quanto à natureza da morte. Paulo, no entanto, não parece estar preocupado com esses problemas, neste contexto. Ele simplesmente afirma o fato histórico de que o pecado entrou no mundo por meio de Adão, e a morte foi a consequência. Não havia nem pecado nem morte neste mundo antes da ofensa de Adão. Depois disso, ambos passaram a existir. Portanto, a transgressão de Adão foi a causa de ambos. O contraste importante é entre a morte como resultado do pecado e a vida de Adão como resultado da justiça de Cristo. O raciocínio de Paulo é que o dom da vida e os benefícios oferecidos por Cristo são muito maiores que os efeitos do pecado de Adão. A tônica desta passagem é que “superabundou a graça” (Rm.5:20). A morte passou. Do gr. dierchomai, “espalhar”, “impregnar”. A cláusula pode ser traduzida como “a morte passou completamente a todos”. A palavra sugere que a morte fez seu caminho para cada membro da família humana. A todos os homens. Equivalente ao anterior “ao mundo”, mas se distingue como as partes concretas são diferentes do todo abstrato. “Passou a todos” é diferente do anterior “entrou”, assim como ir de casa em casa é diferente de entrar em uma cidade. Essa afirmação de que a morte pronunciada sobre Adão passou a todos mostra que a sentença de Adão (Gn.2:17) não se refere à “segunda morte” (ver GC, 544). A segunda morte não pode ser transmitida aos outros, pois vem como resultado do juízo final, do qual se diz que “foram julgados, segundo as suas obras” (Ap.20:12-13). O juízo final de Deus e a sentença de morte eterna se baseiam na responsabilidade individual (Rm.2:6). Todos descem igualmente à sepultura, e é nesse sentido que todos tomam parte na sentença da transgressão de Adão. A vida foi perdida pela transgressão. Adão não poderia transmitir à posteridade aquilo que não possuía (ver GC, 533). É nesse sentido que “em Adão, todos morrem” (1Co.15:22). Não fosse pelo plano de salvação, o resultado do pecado de Adão teria sido a morte eterna. Mas, pelas provisões do plano divino, todos os membros da família de Adão, bons ou maus, ressuscitarão da sepultura (At.24:15; 1Co.15:22). Nesse tempo, será claramente reconhecido pelos perdidos que eles permanecerão nessa situação unicamente como resultado de seu pecado. Eles não conseguirão culpar Adão por sua situação. Aqueles que “fizeram o bem”, que pela fé aceitaram a justiça de Cristo e se apropriaram dela, sairão para a “ressurreição da vida” (Jo.5:29). “Sobre esses a segunda morte não tem autoridade” (Ap.20:6). Aqueles que “praticaram o mal”, que rejeitaram a justiça de Cristo e que não obtiveram o perdão por meio do arrependimento e da fé, irão para “a ressurreição da condenação” (Jo.5:29, ABC). Estes receberão a pena da transgressão, o “salário do pecado” final (Rm.6:23), “a segunda morte” (ver GC, 544). Porque. Do gr. eph’ ho. Esta frase tem sido fonte de muita controvérsia teológica, e foi traduzida de diversas maneiras. Parece claro, no entanto, que o significado é simplesmente “porque” ou “à medida que”. No grego clássico, a expressão geralmente significava “sob a condição de que”, mas isso não parece representar seu uso no NT (comparar com sua utilização em 2Co.5:4; Fp.3:12; Fp.4:10). Todos pecaram. A frase apresenta a mesma forma verbal de Rm.3:23. Aqui, Paulo não enfatiza primeiramente que todos “transgrediram” individualmente e, por essa razão, a morte foi compartilhada por todos (ver com. de Rm.5:13). Essa interpretação não condiz com o contexto, pois, no v. Rm.5:14, Paulo acrescenta que, até Moisés, as pessoas “não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”. Quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus, eles não só perderam o direito à árvore da vida, o que resultou, inevitavelmente, em sua morte e na transmissão da morte a seus descendentes; mas, pelo pecado, também passaram a possuir uma natureza depravada, perdendo força para resistir ao mal (ver PP, 61). Assim, Adão e Eva passaram a seus descendentes a tendência para o pecado e a sujeição ao castigo: a morte. Pela transgressão, o pecado foi introduzido à natureza humana como um poder contagioso, antagônico a Deus, e esse contágio continua desde então. É devido a esse contágio da natureza, proveniente do pecado de Adão, que as pessoas precisam nascer de novo (ver com. de Rm.3:23; Rm.5:1). Sobre a transmissão da natureza pecaminosa de pai para filho, deve-se ter em mente o seguinte: “É inevitável que os filhos sofram as consequências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral, o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e exemplo os filhos se tornam participantes do pecado dos pais. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai para filho, até a terceira e quarta geração” (PP, 306). |
Rm.5:13 | 13. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei. Até ao regime da lei. Literalmente, “até lei” (ver com. de Rm.2:12). Ou seja, durante o período entre Adão e Moisés (Rm.5:14). Embora, neste contexto, “lei” se refira à lei dada no tempo de Moisés, o artigo é omitido. Todos estão igualmente envolvidos na morte. Paulo procura mostrar que há algo mais em ação, além da culpa pelos pecados individuais. Esse algo é o resultado da queda de Adão. Todos os descendentes de Adão participam do efeito da queda de Adão, porque a morte e a tendência para o pecado são males herdados. Havia pecado no mundo. Aqui, Paulo emitiu uma declaração que seus leitores não poderiam contestar. Levado em conta. Do gr. ellogeo, palavra diferente daquela traduzida como “considerado”, “atribuído”, “imputado” (ver com. de Rm.4:4-6). No NT, ocorre apenas aqui e em Fm.1:18, e significa “acertar a conta de alguém”. Seu significado é ilustrado nos papiros em que duas mulheres escrevem ao seu mordomo: “coloque em nossa conta tudo o que gastar no cultivo da propriedade”. Paulo não quer dizer que os gentios, que não possuíam a lei escrita, estavam sem pecado. Ele já havia observado que todos, tanto judeus como gentios, “pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm.3:23) e, novamente, em Rm.5:12, que “todos pecaram”. Assim, os gentios não estavam sem pecado. Eles estavam sob a obrigação de obedecer à lei que até então lhes tinha sido revelada (ver com. de Rm.1:20; Rm.2:14-15). O pecado tem estado no mundo desde a transgressão original de Adão. Ele pode ser definido como falta de conformidade com a vontade de Deus, seja em ato, disposição ou condição. A argumentação de Paulo é que, tivessem ou não um conhecimento explícito da vontade de Deus (Rm.5:14), “todos pecaram” e estão envolvidos na herança da morte (v. Rm.15:12). O ato da transgressão de Adão resultou na entrada do pecado como um princípio e um poder neste mundo. Mesmo na ausência de transgressões pessoais, como no caso das crianças, as pessoas estão sujeitas à morte. Paulo enfatiza a universalidade do pecado e da morte, a fim de destacar a universalidade da graça, por contraste. |
Rm.5:14 | 14. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir. Reinou a morte. Paulo personifica a morte como já havia personificado o pecado (ver com. do v. Rm.15:12). Ele aponta para o reinado universal da morte como prova do efeito devastador do pecado de Adão. Essa tirania da morte teria sido eterna, não fosse por causa do evangelho. A semelhança. Isto é, do mesmo modo como Adão pecou, contra uma ordem expressa. Mesmo que as pessoas tenham um conhecimento apenas limitado da vontade de Deus, revelada pela natureza e pela consciência (Rm.1:20; ver com. de Rm.2:15), elas tinham alguma medida de culpa (Mt.10:15). Mas, além de possíveis graus de culpa individual, a morte reinou igualmente sobre todos. Mesmo as crianças estavam sob seu domínio. Prefigurava. Do gr. typos, “tipo”. Esta palavra é comum no NT, mas é traduzida diversas vezes como “forma” (Rm.6:17), “sinal” (Jo.20:25), “modelo” (At.7:44), “termos” (At.23:25; Fp.3:17) e “figura” (Hb.8:5). Isso significa, basicamente, a impressão feita por uma estampa. Por isso, passou a significar “cópia”, “figura”, também “padrão” e “exemplo”. Paulo não entra em todas as possíveis implicações do que disse, mas se concentra apenas em um argumento, ou seja, que os efeitos do pecado de Adão foram transmitidos a todos. O princípio e o poder do pecado e da morte têm sido transmitidos a todos os descendentes de Adão. Visto que seu ato afetou toda a humanidade, ele é um tipo dAquele cujo ato de justiça resultou na transmissão do princípio e no poder da justiça e da vida a todos os que nasceram de novo em Sua família (Jo.1:12-13 ). Havia de vir. Comparar “aquele que estava para vir” (ver Mt.11:3; Lc.7:19). Adão era um tipo de Cristo na medida era que os dois eram representantes de toda a família humana. Ele era o representante e autor da humanidade caída. Cristo era o representante e autor da humanidade restaurada. Em vista disso, Cristo é chamado “o último Adão” (1Co.15:45) e “o segundo homem” (v. 1Co.15:47; cf. GC, 647). No entanto, não há apenas uma semelhança, mas também uma grande diferença entre a obra dos dois Adões, como Paulo passa a explicar. |
Rm.5:15 | 15. Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos. Dom gratuito. Do gr. charisma, derivado de charis, “graça” (ver com. de Rm.3:24), e significa “ato de graça”, “dom da graça”. Charisma é usado para os poderes sobrenaturais concedidos pelo Espírito Santo (1Co.12:4; 1Co.12:31). Paulo faz seu primeiro contraste entre o efeito do pecado de Adão e o da obra de Cristo. Não há comparação entre a queda da justiça e o dom da graça. Ofensa. Do gr. paraptoma. Literalmente, “deslize”, “passo em falso”, “erro”. É uma palavra apropriada para o momento em que Adão caiu da justiça. De um só. Literalmente, “de um”, isto é, de Adão. Muitos. Literalmente, “os muitos”, equivalente a “todos”, como mostra a frase “todos os homens”, no v. Rm.5:18. Graça. Ver com. de Rm.3:24. Para Paulo, a graça de Deus não é apenas Seu favor imerecido, mas também o poder salvador de Seu amor por meio de Jesus Cristo. Dom. Definido no v. Rm.5:17 como “o dom da justiça”. De um só homem. Literalmente, “por um só homem ”. Abundantes. Do gr. perisseuo, “estar mais e acima” (comparar com o uso da palavra em Rm.3:7; 1Co.14:12; 2Co.1:5). Sobre muitos. Literalmente, “aos muitos”. Cristo morreu por toda a humanidade (2Co.5:14-15; Hb.2:9; 1Jo.2:2). A oferta de salvação é feita a todos (Mt.11:28-29; Mc.16:15; Jo.7:37; Ap.22:17). Assim, a provisão foi feita para atender a todos os males da queda de Adão, disposição tão extensa em sua aplicabilidade quanto a ruína causada pelo pecado. No entanto, esse dom da justiça não serve para nada se não for aceito pela fé (Jo.3:16), mas nem todos escolhem crer. Apesar da ampla provisão feita para a salvação de todos, relativamente poucos aceitam a graça oferecida (Mt.22:14). Não há limite no dom em si, mas apenas na disposição da pessoa em aceitá-lo. |
Rm.5:16 | 16. O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação. Não é como no caso em que somente um pecou. Literalmente, “através de um tendo pecado”. Paulo diz que não há comparação entre o “dom” de Cristo e os resultados do pecado de Adão. Julgamento. Do gr. krima, “decisão proferida”, “sentença”. O pecado de Adão resultou na sentença de condenação. De uma só ofensa. Literalmente, “a partir de um”. “Um” pode ser entendido como “um homem”, referindo-se assim ao fato de “um ter pecado”, ou pode ser entendido como se referindo a “uma ofensa”, tendo em vista o paralelo com “muitas ofensas”. De qualquer maneira, a linha de raciocínio de Paulo é clara. Condenação. Adão tinha recebido uma ordem específica: “Não comerás.” E essa ordem trazia consigo uma penalidade: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn.2:17). Seu pecado, portanto, foi uma transgressão explícita da ordem, e foi imediatamente “atribuído” ou tido em conta (ver com. de Rm.5:13). A sentença de condenação foi pronunciada de modo justo contra ele. Mas a frase não pronunciada sobre o primeiro humano se estendeu, em seus efeitos, a todos os seus descendentes. Dom gratuito (ARC). Do gr. charisma “dom de favor ou graça”, a partir de charis, “graça” (ver com. de Rm.3:24). O dom gratuito é definido em Rm.5:17 como “o dom da justiça”. De muitas ofensas. Uma ofensa de Adão foi seguida por muitas outras, suas e das pessoas que o seguiram. Cada uma delas era merecedora de condenação. Porém, cada uma significa uma oportunidade para a revelação do favor imerecido e do perdão de Deus, portanto, o dom gratuito foi “de muitas ofensas para justificação”, para aqueles que aceitaram o dom. Justificação. Do gr. dikaioma, geralmente “ato de justiça”, “exigência”, “decreto” (ver com. de Rm.2:26). No entanto, aqui Paulo parece usar dikaioma em vez de dikaiosis, “justificação” (ver com. de Rm.4:25). Um possível motivo para a utilização de dikaioma é sugerido pelo grego. As palavras “dom”, “julgamento”, “condenação”, “dom gratuito” e "ofensas”, todas terminam em ma. Não é improvável que Paulo tenha usado dikaioma simplesmente como um recurso literário. |
Rm.5:17 | 17. Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Reinou a morte. Ver com. do v. Rm.5:14. Muito mais. O contraste neste versículo é entre a transgressão e a graça, a morte e a vida, Adão e Cristo. Recebem. A justiça é um dom de Deus, e seja ela atribuída na justificação ou transmitida na santificação, é um dom a ser recebido pela experiência de fé em Jesus Cristo. Somente os que estiverem dispostos a reconhecer a própria impotência e necessidade e, com toda a humildade e gratidão, aceitarem a justiça como um dom, reinarão em vida. Reinarão. Tendo mencionado duas vezes o reino da morte, Paulo o contrasta com o reinado em vida. A Bíblia descreve frequentemente os santos reinando na vida após a morte. “Se sofrermos, também com Ele reinaremos” (2Tm.2:12, ARC; Lc.22:30; Ap.3:21; Ap.20:6; Ap.22:5). O plano da redenção restaura tudo o que foi perdido pelo pecado. Quando a terra for restaurada e se tornar o lar eterno dos salvos, o propósito original de Deus na criação do mundo terá sido cumprido (ver GC, 674). O domínio perdido da humanidade terá sido recuperado (ver PR, 682). “Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre” (SI.37:29). Em vida por meio de um só. Essas palavras enfatizam a posição que Cristo ocupa como mediador na obra de redenção dos seres humanos. Por Sua morte, o crente é justificado e, mediante a união com Ele, o cristão recebe esse poder vitalizante e santificador que transforma a vida presente e lhe assegura a vida eterna no por vir. |
Rm.5:18 | 18. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Pois. Do gr. ara oun, “se assim”, indicando a conclusão do raciocínio. A mesma expressão grega ocorre em Rm.7:3; Rm.7:25; Rm.8:12. Paulo resume as comparações e contrastes dos versículos anteriores. Uma só ofensa. Da mesma forma, “um só ato de justiça” pode ser traduzido como “uma justiça”. Veio o juízo. Estas palavras foram acrescentadas. O mesmo ocorre com as palavras “veio a graça”. Em grego, o versículo é conciso, indicando paralelos e contrastes. O versículo pode ser traduzido literalmente como: “Portanto, assim como por uma só ofensa, a todos os homens, para condenação, assim também, por um só ato de justiça, a todos os homens, para justificação da vida.” Justiça. Do gr. dikaioma, a mesma palavra traduzida como “justificação”, no v. Rm.5:16 (ver com. ali). No entanto, aqui ela provavelmente tem o significado de “ato de justiça” e é provavelmente equivalente a “obediência”, mencionada no v. Rm.5:19. A vida perfeita de Jesus, a obediência até a morte (Fp.2:8), previa a justificação de todos os que olham a Jesus com fé (ver com. de Rm.4:8). Justificação que dá vida. Deve significar justificação que resulta em vida. Comparar com “assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna” (v. Rm.5:21). |
Rm.5:19 | 19. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Desobediência. Do gr. parakoe, “ouvir erradamente”. A palavra ocorre apenas duas vezes mais no NT (2Co.10:6; Hb.2:2). O verbo “desobedecer” (parakouo) ocorre em Mt.18:17 e é traduzido por “recusar ouvir”. A sugestão de descuido implícita nesta palavra pode indicar o primeiro passo para a queda de Adão. Muitos. Literalmente, “os muitos” (ver com. do v. Rm.5:15). Tornaram. Do gr. kathistemi. Em Tt.1:5, kathistemi é usado no sentido de “constituir”, isto é, para um cargo ou função. Esse é o uso mais comum no NT (ver Mt.24:45; At.6:3; At.7:10; Hb.5:1). O significado básico é “estabeleceram”, e a palavra é usada no grego clássico com o significado de “levar a”, como um navio para a terra ou uma pessoa a outra pessoa ou a algum lugar. Esse é o seu significado em At.17:15. Daí vem o significado “colocar como”, “tornar” e “constituir”. Em que sentido os seres humanos foram constituídos pecadores pela desobediência de Adão? O paralelismo sugere que foram constituídos pecadores pela transgressão de Adão da mesma forma como são constituídos justos pela obediência de Cristo. Uma vez que a ênfase nesse contexto está na justificação, em vez de na santificação (Rm.5:16; Rm.5:18), a ideia de Paulo parece ser que as pessoas são feitas justas pelos resultados do ato redentor de Cristo, independentemente de seus próprios esforços (ver com. de Rm.3:28). Da mesma forma, como resultado da desobediência de Adão, eles se tornaram pecadores (ver com. de Rm.5:12-14). No entanto, esse pensamento não pode ser separado do fato de que, como resultado da desobediência de Adão, seus descendentes vivem em transgressão (v. Rm.5:16), de igual modo a obediência de Cristo resulta na vida de obediência por parte de todos os que vivem em união com Ele pela fé. Essa é a ênfase de Paulo no cap. Rm.6. Obediência. Do gr. hupakoe. A ideia desta palavra é de “submissão ao que ouve”. Está em contraste com a palavra “desobediência” (parakoe), “deixar de ouvir”, ou “recusar-se a ouvir” (sobre a obediência de Cristo, ver com. do v. Rm.5:18). |
Rm.5:20 | 20. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, Sobreveio. Do gr. pareiserchomai, literalmente, “entrar pelo lado”. A palavra ocorre em outras partes do NT, apenas em Gl.2:4, em que é traduzida como “se entremeteram”. A lei. Literalmente, “lei” (ver com. de Rm.2:12; Rm.5:13). A partir de Rm.5:13-14, fica claro que Paulo está pensando no tempo de Moisés, como a ocasião em que a “lei” sobreveio. Foi no Sinai que as leis de Deus foram formalmente declaradas para a orientação de Seu povo, apesar de Sua lei moral dos dez mandamentos ter sido escrita no coração de Adão na criação. Abundou. Este não era o objetivo principal da lei: revelar o padrão de justiça. Mas, por causa da tendência hereditária e cultivada para o mal dos seres humanos, realmente, o efeito da lei foi o de multiplicar a transgressão. A lei teve esse efeito porque proibia certos atos pecaminosos, que até aquele momento não haviam sido reconhecidos como pecaminosos. Mas, quando a lei foi formalmente declarada, a continuação desses atos se tornou transgressão premeditada. Visto que a lei é espiritual e santa e proíbe a indulgência pecaminosa, inevitavelmente desperta oposição nos corações rebeldes e se torna ocasião para incitar o pecado e multiplicar a transgressão. Se o coração humano fosse santo e houvesse a disposição de fazer o bem, a lei não teria essa tendência. Superabundou. Do gr. hyperperisseuo, “abundar sobre e acima”. A palavra ocorre somente aqui e em 2Co.7:4. “Abundam” e “abundantes” no início do versículo são do gr. pleonazo, “ser muitos”, “multiplicar-se”. Deus permitiu o pecado e permitiu que se multiplicasse, e depois o anulou para fazer a mais maravilhosa exposição de Sua glória e graça, a fim de que os benefícios da redenção ultrapassassem infinitamente os males da rebelião. |
Rm.5:21 | 21. a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Pela morte. Ou, “na morte”, pois, por assim dizer, a morte é a esfera ou domínio em que a soberania do pecado é exercida (cf. v. Rm.5:14; Rm.5:17). O pecado reina sobre um reino de morte. Reinasse a graça. Graça (ver com. de Rm.3:24) é personificada aqui como o foram o pecado (ver com. de Rm.5:12) e a morte (ver com. do v. Rm.5:14). Justiça. Isto é, a justiça de Cristo atribuída na justificação e comunicada na santificação (ver com. de Rm.3:31; Rm.4:8). Mediante Jesus Cristo. Paulo iniciou o cap. 5 descrevendo a alegria e a certeza que sobrevêm ao crente que aceitou a justificação pela fé em Jesus Cristo. Isso o levou a falar da grandeza do amor e da graça de Deus em possibilitar tão generoso plano para salvar os pecadores indignos. Então, para aumentar o amor e a graça de Deus como base de esperança e confiança do cristão, Paulo passou a contrastar a extraordinária abundância e o poder da graça salvadora de Deus, mediante Jesus Cristo, com o pecado e a degeneração do ser humano, resultantes da queda de Adão. Deus fez ampla provisão para atender a todos os terríveis resultados da grande apostasia do ser humano. |
Rm.6:1 | 1. Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? Que diremos, pois? Sobre esta frase, ver com. de Rm.4:1. No capítulo anterior, Paulo abordou a decadência universal do ser humano, resultante da queda de Adão. Mas o apóstolo assegurou ao crente que, apesar de o ser humano ter herdado e cultivado tendências para o mal, a graça de Deus é mais do que suficiente para salvá-lo do pecado e transformar a transgressão em justiça, e a morte, em vida eterna. Quanto mais o pecado transbordou, a graça de Deus, muito mais. Será que isso implica, Paulo pergunta, que as pessoas poderiam continuar pecando para que a graça seja ainda mais transbordante? Permaneceremos. Do gr. epimeno, ou seja, em primeiro lugar, “permanecer”, “habitar” ou “habitar com” (ver 1Co.16:8; Fp.1:24). Também significa “perseverar” (Rm.11:23; Cl.1:23). A pergunta de Paulo é: “permaneceremos no pecado?” Paulo já havia mencionado que a doutrina da justificação pela fé sem as obras da lei estava sendo deturpada pelos inimigos, como incentivo a praticar o mal para que sobreviesse o bem (ver com. de Rm.3:8). Também havia o perigo de que mesmo os crentes abusassem da liberdade recém-encontrada (Gl.5:13). Portanto, diante dessa incompreensão da justificação pela fé que envolve essa falha tão grande em perceber o propósito do plano de Deus para a restauração da humanidade, Paulo explica o que deve seguir a experiência genuína da justificação, ou seja, a santificação. |
Rm.6:2 | 2. De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. Viveremos ainda. Uma coisa é cometer um pecado ocasional, por causa da fraqueza da carne. Outra bem diferente é viver em pecado. Viver em pecado significa que o pecado é a atmosfera moral em que respiramos. Essa vida é absolutamente incompatível com a fé. A fé em Cristo, que possibilita a justificação ao pecador, inclui a disposição irrestrita para cumprir Sua vontade e o ódio a tudo o que causou tão grande sofrimento ao Salvador (ver com. de Rm.3:28; Rm.3:31). A fé que alega justificação, mas permite a continuação de velhas formas de pecado não é verdadeira. A evidência de que a pessoa está justificada, nasceu de novo e passou da morte para a vida é que encontra prazer em obedecer à lei de Deus (1Jo.2:1-6; Rm.13:8). “No novo nascimento, o coração é posto em harmonia com Deus, ao colocar-se em conformidade com a Sua lei. Quando essa poderosa transformação se efetua no pecador, ele passou da morte para a vida” (GC, 468). É verdade que, por vezes, o crente pode cair nalgum pecado (1Jo.2:1), mas a evidência de que a pessoa realmente nasceu de Deus é que não permanece na prática do pecado (1Jo.3:9) ou, como Paulo afirma, já não vive em pecado. Que para ele morremos. O texto grego aponta para um tempo ou evento em particular, neste caso, a entrega do crente a Cristo e seu consequente novo nascimento e justificação. Para Paulo, viver em pecado é incompatível com o fato de ter morrido para ele. |
Rm.6:3 | 3. Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Ou, porventura, ignorais [...]? Literalmente, “Ou sois ignorantes?” Em outras palavras: “Você admite a verdade do que digo, ou é possível que não perceba tudo o que está envolvido no seu batismo?” Batizados. A frase assim traduzida ocorre também em 1Co.10:2, referente à experiência dos israelitas com Moisés. Em decorrência de terem estado sob a nuvem e passado pelas águas do Mar Vermelho, os israelitas vivenciaram uma estreita união com seu líder. O povo “creu no Senhor e em Moisés, Seu servo” (Ex.14:31). A partir de então, tiveram mais confiança em Moisés, como seu libertador e comandante. Evidentemente, a união do cristão com o Salvador é de ordem superior. Envolve uma relação de mais amor e certeza irrestrita de que o crente de fato está transformado à semelhança da bondade e misericórdia do Redentor (ver 2Co.3:18; cf. CPPE, 249). A expressão “em Cristo Jesus” significa “em união com Cristo Jesus”. Não significa que o batismo por imersão, por si só, realmente efetua essa união; o batismo é a proclamação pública de uma relação espiritual com Cristo, que ocorre antes da cerimônia exterior. O batismo representa a união da vida do cristão, de tanta intimidade com a vida de Cristo que os dois se tornam, por assim dizer, uma unidade espiritual (ver 1Co.12:12-13; 1Co.12:27; Gl.3:27). O conceito de Paulo sobre a união com Cristo revela que sua conversão foi mais que uma mudança intelectual. O fato de ter aceitado a Cristo pessoalmente como seu redentor e senhor o levou a uma comunhão espiritual tão próxima e fascinante, que quase se tornou uma verdadeira identificação da vontade (Cl.2:20). Não é incomum, no caso da amizade normal, que duas pessoas compartilhem uma unidade de propósito tão grande que pareçam pensar e agir como se fossem uma só. A amizade com Cristo está em nível ainda mais elevado e ligada por uma força não somente humana, mas divina. Na Sua morte. O significado desta expressão é dado nos versículos que se seguem, especialmente os v. Rm.6:10-11, nos quais Paulo explica que, assim como Cristo morreu pelo pecado, o cristão também deve se considerar morto para o pecado. Assim como o crente mostra participar na morte de Cristo pelo pecado (v. Rm.6:10) em seu favor, certamente ele não pode continuar a viver no pecado que tornou necessária essa morte (v. Rm.6:2). A fim de que o sacrifício de Cristo efetue a salvação para o pecador, o crente deve participar conscientemente da experiência e do sentido representados pela morte, pelo sepultamento e ressurreição de Cristo em seu favor. Como uma confissão pública dessa experiência, o crente se submete à cerimônia da imersão, em harmonia com a ordem de Jesus (Mt.28:19). |
Rm.6:4 | 4. Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Fomos [...] sepultados. Do gr. sunthapto, literalmente, “sepultar juntos”. A descrição de Paulo de que o batismo representa o sepultamento é uma evidência de que batizar por imersão era uma prática dos primeiros cristãos (ver com. de Mt.3:6). Se Paulo estivesse se referindo a uma das outras formas de batismo que se tornaram populares nos séculos futuros, seu simbolismo neste versículo teria sido bastante limitado, se não inútil. Na morte. Estas palavras podem estar conectadas com “sepultados” ou com “batismo” (v. Rm.6:3). A diferença não é importante. O argumento de Paulo é que a imersão ensina que a morte do crente para o pecado é tão real e completa quanto a morte de Cristo. E se é tão completa, certamente, deve marcar o fim do antigo modo de vida e o início do novo. A continuação da antiga vida de pecado representa uma negação do significado e do propósito do batismo. O sepultamento (ou imersão total) na água batismal é seguido pelo ressurgimento total. O mesmo ocorreu com a morte de Cristo pelo pecado, simbolizando que a imersão deve ser seguida pela ressurreição com Ele para um novo estilo de vida. Batismo. Do gr. baptismos, de baptizo, que significa “mergulhar”, “imergir” (ver com. de Mt.3:6). Foi ressuscitado. É importante reconhecer que o batismo simboliza não só a morte e o sepultamento, mas também a ressurreição. O rito aponta em duas direções: ao passado, à morte para o pecado, e ao futuro, à nova vida em Cristo. Assim como a morte de Cristo tinha em vista a ressurreição (ver Rm.4:25), assim também a obra da graça não termina com a morte do crente para o pecado. Ao contrário, essa morte para o pecado olha para o futuro, para uma vida mais elevada, mais santa e abundante. A justificação antecipa a santificação completa do cristão. A glória de Deus representa toda a perfeição e excelência divinas (ver com. de Rm.3:23). O atributo de poder foi especialmente manifestado na ressurreição de Cristo (Rm.1:4; 1Co.6:14; 2Co.13:4; Ef.1:19-20). A respeito da ressurreição de Lázaro, Jesus declarou: “Não te disse Eu que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo.11:40). Andemos. Literalmente, “continuemos andando”, sugerindo a conduta habitual, portanto, “vivamos” (Rm.8:4; 2Co.5:7; 2Co.10:3; Ef.2:10; Ef.4:1). Vida. Do gr. zoe. Note-se que Paulo não usa a palavra bios, que significa o estilo de vida e é traduzida por “vida” ou “sustento” (Mc.12:44; Lc.8:14; 1Tm.2:2; 2Tm.2:4; 1Jo.2:16). Zoe denota o princípio da vida (Mt.19:16; Lc.1:75; Lc.12:15; Jo.1:4; Jo.3:16; Jo.5:26; Rm.11:15; Ap.22:1). A conduta da vida diária já foi representada pela metáfora da “caminhada”. Quando o crente nasce de novo do Espírito Santo, a partir daí é animado por um novo elemento vital (ver Rm.8:9-11). Assim, “andar em novidade de vida” é andar “segundo o Espírito” (v. Rm.6:4). Portanto, a conduta diária do cristão revelará na vida a presença e o efeito do Espírito (ver Cl.3:1-3; T6, 98, 99). |
Rm.6:5 | 5. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição, Unidos com. Do gr. symphutoi, “crescemos junto”. A ideia é a de estar vitalmente ligados. É um quadro da união vital que existe entre Cristo e os que entraram em comunhão íntima de fé com Ele (comparar com a parábola de Cristo da videira e os ramos, Jo.15:1-8). A menos que o crente entre pela fé nessa ligação vital com Cristo, é impossível que ande em novidade de vida, não importando o quanto deseje fazê-lo. Seremos também. A última parte deste versículo é muito menor no grego. Traduzido literalmente, diz: “também seremos da ressurreição”. Alguns têm aplicado esta passagem principalmente à ressurreição futura, mas isso não é indicado pelo contexto. Paulo enfatiza que, assim como o crente participa da semelhança da morte de Cristo, pelo fato de Ele mesmo ter morrido pelo pecado, da mesma forma, deve partilhar na semelhança da ressurreição de Cristo, ressuscitando para uma nova vida de justiça. Nas duas experiências, ele mostra sua união vital com o Salvador. Evidentemente, é verdade que o novo nascimento espiritual e a vida no Espírito levam à ressurreição final e à vida eterna. Na verdade, para os que andam em novidade de vida, em certo sentido, a vida eterna já começou (ver com. de Jo.8:51). |
Rm.6:6 | 6. sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; Sabendo isto. Comparar com “ignorais” (v. Rm.6:3). O reconhecimento da união vital provém da compreensão do significado e propósito da morte e ressurreição de Cristo, como Paulo passa a desenvolver. Foi crucificado. A referência é à experiência do crente quando ele aceita a Cristo pela primeira vez, tendo renunciado ao seu passado de pecado e morrido para o pecado. Contrastando seu estado anterior com o atual, Paulo sentia como se fosse um novo ser e havia passado por uma mudança tão completa quanto a da morte para a vida. Seu antigo “eu” havia perecido. Ele era um novo ser em Cristo, e Cristo habitava nele (ver 2Co.5:17; Cl.2:20). Esta passagem enfatiza o fato de que a conversão e o novo nascimento significam mais que uma simples mudança de profissão e hábitos de vida. Envolvem uma mudança interior radical, que só pode ser feita pelo Espírito regenerador de Deus. O plano para a salvação da humanidade provê não só a libertação da condenação pela aceitação dos benefícios do sacrifício de Cristo, mas produz também o nascimento ou a criação de um novo ser, livre da escravidão do pecado. O profundo significado do rito do batismo, como é explicado aqui, é uma prova clara de que o batismo infantil de forma alguma cumpre o propósito do Senhor na ordenação desse rito. É a participação inteligente no significado do simbolismo que traz ao crente a bênção pretendida. Ele medita sobre cada etapa do processo e pensa: “Agora, vou entrar em comunhão com Cristo na Sua morte. Quando estiver imerso, serei sepultado com Cristo. Quando emergir da água, sairei para a nova vida em Cristo.” Assim, a cerimônia não é uma formalidade exterior vazia, mas uma experiência confirmadora e transformadora que será sempre lembrada como símbolo do fim da velha vida de pecado e o início da nova vida de justiça em união com Cristo. Nosso velho homem. Ou seja, nossa antiga condição corrompida e pecaminosa. O uso que Paulo faz dessa expressão ilustra seu significado aqui (Ef.4:22-23; Cl.3:9). O corpo do pecado. Ou seja, o corpo como sede do pecado, o corpo que pertence ao poder do pecado e é governado por ele, no qual os membros são instrumentos de iniquidade (v. Rm.6:13). Expressões semelhantes em outros lugares são “o corpo desta morte” (Rm.7:24), ou seja, “o corpo que está condenado a morrer”, “o corpo da carne” (Cl.2:11), que significa “o corpo que está propenso a servir aos seus próprios impulsos carnais”. Assim, “o corpo do pecado” é equivalente a “o nosso velho homem”. Representa o corpo, na medida em que é sede e instrumento do pecado e escravo do pecado. Deve ser crucificado e “destruído”, de modo que o pecado já não o possa usar como um escravo. Destruído. Do gr. katargeo, mesma palavra usada em Rm.3:3, em que é traduzida como “desfazer” (comparar o uso da palavra em Rm.3:31; Rm.4:14). Katargeo significa colocar o corpo do pecado a um estado de inércia e incapacidade. Isso não significa que o corpo físico deva ser destruído, mas que o corpo, em sua relação com o pecado, deve ser subjugado, ao ponto de estar tão completamente inerte, como se estivesse morto. Sirvamos o pecado. Ou, “ser escravos do pecado” (v. Rm.6:17). Viver em pecado (v. Rm.6:2) é a escravidão ao seu poder. Jesus ensinou que “todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo.8:34), mas que a verdade pode libertar as pessoas da escravidão (v. Jo.8:32). É por meio dos impulsos da carne que o pecado exerce seu domínio e mantém a pessoa sob seu controle. Por isso, o velho homem deve ser “crucificado com Cristo” (Gl.2:20), de modo que o crente seja libertado da influência do domínio do pecado. |
Rm.6:7 | 7. porquanto quem morreu está justificado do pecado. Quem morreu. Literalmente, “aquele que morreu”. No v. Rm.6:6 (ver com. ali), o pecador é representado como um escravo. Só a morte com Cristo pode libertá-lo da escravidão do pecado. Paulo ilustra isso apontando para a verdade óbvia de que, quando um escravo morre, ele deixa de estar sujeito ao controle de seu senhor. Assim, o cristão, quando morre para o pecado, está livre do controle do pecado (1Pe.4:1). |
Rm.6:8 | 8. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, Se já morremos. Literalmente, “se morremos” (v. Rm.6:7). Cremos. Assim como Abraão creu que o que Deus tinha prometido “Ele era poderoso para cumprir” (Rm.4:21; 1Ts.5:24; 2Ts.3:3; 2Tm.2:11). Também com Ele viveremos. Isso não se refere principalmente à vida futura em glória, embora esse sentido esteja de certa forma embutido (ver com. do v. Rm.6:5). Paulo enfatiza que a morte libertadora da escravidão do pecado é seguida por uma nova vida de liberdade (v. Rm.6:8-11), que não mais está sob o domínio do pecado, mas é dedicada ao serviço de um novo Senhor (v. Rm.6:12-14). Paulo se refere particularmente à “novidade de vida” (v. Rm.6:4) a ser desfrutada pelo cristão aqui neste mundo, a vida de Cristo no crente (Gl.2:20) e a vida do crente em Cristo (Cl.3:3). |
Rm.6:9 | 9. sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Sabedores. A crença de que viveremos com Cristo está baseada na consciência de que Ele está vivo para sempre (Hb.7:25). Já não morre. Comparar com Ap.1:18. Já não tem domínio. Ou, “não é mais senhor”. Foi o pecado que levou Cristo a estar sujeito ao domínio da morte, não Seu pecado, mas o nosso. Por nossa causa, Ele Se submeteu voluntariamente (ver Jo.10:17-18). Uma vez que Sua experiência de humilhação terminou, Ele permanece para sempre como conquistador e senhor da morte. |
Rm.6:10 | 10. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Quanto a ter morrido. Literalmente, “aquilo que Ele morreu”, que pode ser traduzido como “a morte que Ele morreu” (comparar com “a vida que agora vivo”, literalmente, “o que eu vivo”, Gl.2:20). De uma vez. Do gr. ephapax, “de uma vez por todas”. Não há necessidade de o sacrifício ser repetido (ver Hb.7:27; Hb.9:12; Hb.9:26; Hb.9:28; Hb.10:10). Morreu para o pecado. Ele Se tornou “pecado por nós”, mesmo sendo “aquele que não conheceu pecado” (2Co.5:21). O pecado que Ele carregou não era dEle, mas nosso (ver 1Pe.2:22-24). Porém, quando Cristo Se humilhou e Se tornou obediente até a morte (Fp.2:8), a reivindicação sobre Ele como nosso portador de pecados estava satisfeita. A finalidade para a qual foi realizada Sua submissão voluntária tinha sido alcançada uma vez por todas (Rm.3:25-26). Quanto a viver. Literalmente, “aquilo que Ele vive”, que pode ser traduzido como “a vida que Ele vive”. Nas palavras “Ele vive”, temos o testemunho de alguém que tinha visto o Senhor. Na luz ofuscante que brilhou ao seu redor na estrada para Damasco, Paulo reconheceu a presença divina e perguntou: “Quem és Tu, Senhor?” Depois, veio a descoberta surpreendente de que Jesus, cujos seguidores ele perseguia, estava vivo (At.9:3-9). Para Deus. Evidentemente, a vida de Cristo na Terra foi também “para Deus”. Mas Paulo parece fazer uma distinção entre a vida de Cristo na Terra, uma vida de conflito com o pecado e sujeição à morte, e Sua presente vida glorificada, exaltada à direita do Pai (Jo.17:5; At.7:55). Porque Ele “o fez pecado por nós” (2Co.5:21), Jesus sentiu “a ira divina sobre Ele, como substituto do homem” (DTN, 753). Mas, assim que triunfou sobre o pecado e a morte, Ele mais uma vez desfruta ininterrupta comunhão com o Pai e vive “para Deus”. |
Rm.6:11 | 11. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Considerai-vos. Com a finalidade de explicar a experiência cristã, Paulo fala do crente, como se ele consistisse de dois seres. O velho homem morreu, pois foi crucificado com Cristo (v. Rm.6:6). O novo ser está vivo, nascido de novo do Espírito Santo (v. Rm.6:4). Assim, Paulo pode falar de alguém como estando, ao mesmo tempo morto para o pecado e vivo em relação a Deus. Além disso, Paulo parece definir a consciência da pessoa para além do velho e do novo ser, de modo que o crente é capaz de decidir conscientemente se vai conservar morto o antigo, e vivo, o novo. Mortos. Isto sugere uma continuação do estado da morte. Assim como Cristo morreu uma vez por todas para o pecado (ver com. do v. Rm.6:10), o crente, de uma vez por todas unido a Cristo, deve se considerar para sempre morto para o domínio do pecado. Vivos para Deus. A nova vida do crente pertence a Deus e deve ser dedicada ao Seu serviço. Como Cristo “vive para Deus” (v. Rm.6:10), assim também o cristão vive para “Deus” uma vida que começa na Terra em santidade e vai continuar no Céu em glória, honra e imortalidade. Em Cristo Jesus. A conformidade do crente à semelhança da morte de Cristo para o pecado e sua vida para Deus é alcançada, e não apenas “por meio de”, mas “em” Cristo Jesus. Essa experiência foi disponibilizada para o cristão “por meio de” Cristo, mas somente o crente que está “em” Cristo pode participar. Nosso Senhor (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta frase, o que não afeta o significado. |
Rm.6:12 | 12. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; Reine. Ou, “continue reinando”, como fez no passado. Ao usar a palavra “reine”, Paulo não sugere uma comparação entre reinar e simplesmente existir, mas entre reinar e ser deposto. Os crentes morrem com Cristo, para que o pecado não mais tenha qualquer domínio sobre eles. De maneira que obedeçais às suas paixões. Embora o “velho homem” seja descrito como estando crucificado com Cristo (v. Rm.6:6), ainda estamos em nosso “corpo mortal”, com seus desejos e paixões mundanos. O pecado ainda é um poder. Se permitirmos, o pecado ainda pode ter domínio sobre nós. Nascer de novo do Espírito Santo não erradica os desejos mundanos da carne. No entanto, a experiência nos coloca em contato com uma força maior, pela qual podemos sempre resistir com êxito à tentativa de dominação do pecado. Mas ainda cabe a nós decidir se vamos continuar fiéis aos impulsos pecaminosos ou a Cristo. É por essa razão que devemos experimentar uma “nova conversão” todos os dias (ver T1, 699; T7, 44). Nossa experiência de ontem não é suficiente para hoje. Embora, ontem, tenhamos morrido para o pecado, nosso “velho homem” pode se erguer, hoje. Unicamente mantendo o velho “eu” morto para o pecado, representado pelo batismo, somos capazes de viver diariamente para Deus. Essa experiência só é possível pela união com Jesus Cristo, por uma fé nEle tão real e constante que odiemos o pecado e amemos a justiça (comparar com PJ, 331; sobre a experiência de Paulo de consagração diária, ver 1Co.15:31; CBV, 452, 453; 1Co.9:27). |
Rm.6:13 | 13. nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Ofereçais. A palavra “oferecer” ocorre duas vezes neste versículo, mas as formas em grego são diferentes. A primeira indica uma ação contínua, “não continuem oferecendo”, ou “parem de oferecer”. A segunda significa “oferecer-se uma vez por todas” (ver também Rm.12:1). Membros. Ou seja, os órgãos e faculdades do corpo (ver também Rm.7:5; Rm.7:23; Rm.6:15; Rm.12:12; Rm.12:18; Rm.12:20). Instrumentos. Do gr. hopla. A mesma palavra é traduzida como “armadura”, ou “armas” (Jo.18:3; Rm.13:12; 2Co.6:7; 2Co.10:4). No NT parece ser usado, sobretudo, a respeito de armas militares. Alguns comentaristas têm visto neste versículo uma imagem da guerra entre o pecado e a justiça, recrutando tropas para seu exército. O pecado, procurando ter domínio, convoca o exército dos desejos da carne e procura usar os órgãos e faculdades do corpo como armas com as quais os desejos restabeleçam a tirania da injustiça. Outros, porém, preferem entender que Paulo simplesmente diz aqui que nossos membros nunca devem ser submetidos à direção dos desejos pecaminosos para realizar qualquer tipo de propósito injusto (comparar com T2, 454). Mas oferecei-vos. Ou seja, uma vez por todas. Ressurretos. Ou seja, aqueles que ressuscitaram para a nova vida em Cristo (v. Rm.6:11). Instrumentos de justiça. Ao dedicar assim seus membros a Deus, o cristão se compromete a lutar, pela capacitação do Espírito de Deus, pela maior perfeição possível de todos os órgãos do corpo e qualidades da mente, a fim de conhecer, amar e servir a seu Redentor de forma aceitável (ver PJ, 330). |
Rm.6:14 | 14. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. Não terá domínio. Ou, “não será o senhor”. É verdade que o pecado vai tentar e molestar. No entanto, não terá domínio sobre o verdadeiro cristão. Assim, o crente deve se submeter corajosamente ao serviço de Deus, pois a vitória sobre o pecado está prometida. Não estais debaixo da lei. Literalmente, “não sob lei”. O artigo definido “a” não é usado nem com “lei”, nem com “graça” (ver com. de Rm.2:12). Aqui, Paulo não está se referindo principalmente a qualquer lei em particular, mas à lei como um princípio. Seu argumento é que os cristãos não estão debaixo da lei, como forma de salvação, mas da graça. A lei não pode salvar o pecador, nem pode pôr fim ao pecado ou ao seu domínio. A lei revela o pecado (Rm.3:20), e a lei faz com que a transgressão aumente, por assim dizer (Rm.5:20). A lei não pode perdoar o pecado, nem comunica qualquer poder para vencê-lo. O pecador que procura ser salvo pela lei encontra somente condenação e a escravidão ainda mais profunda. Onde quer que seja mantido o princípio de que a pessoa pode se salvar por obras próprias, não existe barreira eficaz contra o pecado (DTN, 35, 36). Mas o cristão não procura a salvação por meios legalistas, como se pudesse ser salvo por suas próprias obras de obediência (Rm.3:20; Rm.3:28). Ele reconhece que é transgressor da lei divina e que, por sua própria força, é incapaz de cumprir os requisitos, merecendo com justiça estar sob condenação e se oferecendo, por meio da fé em Cristo, à graça e à misericórdia de Deus. Então, pela graça de Deus (ver com. do v. Rm.3:24), seu passado pecaminoso é perdoado e ele recebe o poder divino para andar em novidade de vida. Quando a pessoa está “sob a lei”, apesar de seus melhores esforços, o pecado continua a ter domínio sobre ela, porque a lei não pode libertá-la. Sob a graça, no entanto, a luta contra o pecado não é mais uma esperança vã, mas um triunfo garantido. O oferecimento para estar debaixo da graça, para se obter vitória sobre o pecado, e o poder capacitador para o alcance de todas as virtudes foi estendido a cada um dos descendentes de Adão (Jo.3:16). Contudo, muitos escolhem cegamente ou com obstinação permanecer debaixo da lei. Muitos dos que professam o desejo sincero de ser salvos preferem permanecer debaixo da lei, como se pudessem se promover diante de Deus e obter a salvação. Essa era a experiência dos judeus, e é a de muitos cristãos de hoje que, em seu orgulho de autojustificação, não estão dispostos a reconhecer a própria impotência e entregar-se à misericórdia e à graça transformadoras de Deus. Paulo afirma que, enquanto a pessoa está sob a lei, ela também permanece sob o domínio do pecado, pois a lei não a pode salvar nem da condenação nem do poder do pecado. Todavia, os que estão debaixo da graça recebem não só a libertação da condenação (Rm.8:1), como também o poder para vencer (Rm.6:4). Assim, o pecado não tem domínio sobre eles dali em diante. |
Rm.6:15 | 15. E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum! Havemos de pecar [...]? Ver com. do v. Rm.6:1. A forma do verbo grego pode sugerir o ato ocasional do pecado, em comparação com a permanência numa vida de pecado (v. Rm.6:1). Podemos nos entregar ao pecado de vez em quando, agora que não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? A resposta de Paulo é que qualquer condescendência com o pecado é um retorno à escravidão da qual a graça libertou o pecador. A suposição de que estar sob a graça significa que o crente alcançou a liberdade de desobedecer impunemente à lei moral de Deus representa uma compreensão falsa de todo o propósito de Deus no plano da salvação. Em primeiro lugar, foi a violação da lei de Deus que levou Deus, em Seu amor, a oferecer graça ao pecador. Pela graça de Deus, as pessoas são libertas do jugo do pecado. Então, como alguém pode conceber que seja certo ou razoável voltar deliberadamente à antiga escravidão? Desobedecer à lei de Deus é se tornar mais uma vez servo do pecado, pois a desobediência à lei divina é pecado (1Jo.3:4), e quem continua pecando é escravo do pecado (Jo.8:34). Continuar na satisfação do pecado, depois de aceitar a graça perdoadora e transformadora de Deus é negar o propósito dessa graça. Quem se recusa a permitir que a graça de Deus o conduza mais e mais à perfeita obediência à lei divina rejeita a própria graça e vira as costas para a liberdade e a salvação. Debaixo da lei. Literalmente, “sob a lei”, como no v. Rm.6:14 (ver com. ali). De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. |
Rm.6:16 | 16. Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça? Não sabeis [...]? Paulo ilustra sua resposta à pergunta formulada no v. Rm.6:15, referindo-se aos costumes da escravidão, familiares a seus leitores. Servos. Do gr. douloi, “escravos”, “servos”. Entre os gregos e romanos, um escravo era considerado propriedade de seu dono, e seu proprietário poderia dispor dele como quisesse. Sob um senhor cruel, a vida do escravo era mais opressiva e, às vezes, ele era tratado pior do que um animal. Essa é a condição de cada miserável pecador. Ele é escravo de Satanás, e seus próprios maus desejos e apetites são seus feitores implacáveis (v. Rm.6:12). Paulo usa a mesma palavra “escravo” para descrever os servos de Cristo (ver com. de Rm.1:1). Com isso, ele deixa claro que são realmente propriedades do Senhor. Mas, considerando que Cristo é infinitamente bom e benevolente, o serviço a Ele representa a perfeita liberdade, pois não requer obediência que não se torne em uma vantagem eterna para Seus servos. Sois servos. Nossa conduta mostra a que senhor servimos. Ninguém pode servir a dois senhores simultaneamente (Mt.6:24; Lc.16:13; Jo.8:34). Para a morte. Isto é, levando à morte. Obediência. Isto é, naturalmente, a obediência a Deus, como se deduz pelo contexto. É a obediência da fé (ver com. de Rm.1:5; Rm.16:26). Justiça. Aqui, talvez, significando um caráter correto. Os atos de obediência levam aos hábitos de obediência, e esses hábitos compõem um caráter justo. |
Rm.6:17 | 17. Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; Graças a Deus. Comparar com Rm.7:25, que usa a mesma expressão grega. Outrora, escravos. Esta tradução literalista do grego parece dar a entender que Paulo agradece a Deus o fato de os cristãos romanos terem estado sob a escravidão do pecado. Obviamente, não é o caso. Ao contrário, o apóstolo é grato porque, embora tenham sido escravos do pecado, eles já tinham se tornado obedientes. Deve ser ocasião de grande alegria e gratidão quando os pecadores são ganhos para a obediência (Lc.15:7; Lc.15:23-24). Se atribuíssemos tanto valor à vida humana como o Céu o faz, haveria mais alegria entre nós quando os perdidos fossem encontrados e levados a Cristo. De coração. Este é o tipo de obediência que brota da fé em Cristo. É a resposta de amor e confiança. É a obediência sob a graça, em oposição à obediência legalista. Não forçada, mas disposta e sincera. Forma de doutrina. Literalmente, “tipo de ensino” (sobre “forma” ou “tipo”, typos, ver com. de Rm.5:14). O significado que parece mais adequado a esse contexto é o de “modelo”, “exemplo” (Fp.3:17; 1Ts.1:7; 2Ts.3:9; 1Tm.4:12; Tt.2:7). Paulo trata da norma ou padrão da fé e do dever cristão em que os crentes tinham sido instruídos. A que fostes entregues. Pode parecer mais normal falar de uma forma de doutrina a ser entregue aos crentes (ver 2Pe.2:21; Jd.1:3). Contudo, é possível que aqui Paulo prossiga em sua ilustração da transferência do pecador para um novo senhor. Os crentes, que antes eram escravos do pecado, tornaram-se obedientes de coração ao padrão de ensino ao qual foram entregues. |
Rm.6:18 | 18. e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Uma vez libertados. Ou, “tendo sido postos em liberdade”, isto é, libertos do domínio do pecado. Fostes feitos servos. Ou, “fostes escravizados”. A conversão significa mudança de senhorio. O crente é libertado da escravidão do pecado tirano e se torna escravo da justiça. Porém, a escravidão da justiça é realmente a verdadeira liberdade. Aqueles que servem ao pecado e a Satanás são escravos de seus próprios impulsos e paixões que, por sua vez, estão sob o controle do maligno. Ao chamar as pessoas a servir à justiça, Deus lhes oferece a liberdade. “Obediência a Deus é liberdade do cativeiro do pecado, livramento das paixões e dos impulsos humanos” (CBV, 131). |
Rm.6:19 | 19. Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Como homem. Isto é, em termos humanos conhecidos (comparar com Rm.3:5; Gl.3:15). Evidentemente, ele sentia que as figuras da escravidão e da servidão eram inadequadas para descrever a relação do cristão com o Senhor, pois poderia sugerir um serviço mecânico e forçado. Fraqueza da vossa carne. Ou, “vossa fragilidade humana”. “Carne” representa a natureza humana em sua fraqueza física, mental e espiritual. Paulo parece explicar que escolheu extrair sua ilustração da vida, considerando a falta de discernimento espiritual por parte dos crentes (Hb.5:11-14). Ele talvez tivesse preferido descrever o relacionamento com Cristo em termos mais abstratos e estritamente espirituais, mas, como todo bom professor, Paulo usou a ilustração mais adequada ao ambiente e à capacidade de seus “alunos”. Escravidão da impureza. Ou seja, escravos da impureza. O prazer aparentemente livre que surgia com o pecado, na realidade, era uma dura servidão. Maldade. Do gr. anomia, “ilegalidade”. Esta é a definição de João para o pecado (ver com. de 1Jo.3:4). “Impureza” e “ilegalidade” descrevem adequadamente as características do paganismo (Rm.1:24-32; 1Pe.4:3-4). Para a maldade. Submeter os membros do corpo à “impureza” e “ilegalidade” resulta na prática habitual do pecado. A condescendência com o pecado é punida pelo abandono ao pecado (Rm.1:24; Rm.1:26; Rm.1:28). Contraste com o efeito de justiça, resultando em santificação. Servirem à justiça. Ver com. do v. Rm.6:18. Paulo exorta os crentes a se dedicar tão plenamente à vida de retidão como tinham se dedicado anteriormente à vida de pecado. Santificação. Do gr. hagiasmos, termo traduzido como “santificação” (1Co.1:30; 1Ts.4:3-4; 2Ts.2:13; 1Pe.1:2). Hagiasmos é usado para descrever tanto o processo pelo qual é obtida a santidade como seu estado resultante. A última condição é também indicada por hagiosune (ver Rm.1:4; 2Co.7:1; 1Ts.3:13). Ambos se baseiam no termo gr. hagios, “santo”. Aqui, hagiasmos provavelmente denota o processo da santificação. A santificação é um processo contínuo de consagração (Ef.4:12-15; 2Pe.1:5-10). É o dia a dia do desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, mentais e espirituais, até que a imagem de Deus, em que foram originalmente criadas, seja restaurada em nós (ver Ed, 15, 16; GC, 470; CRA, 57). O propósito de Deus no plano da salvação não é apenas nosso perdão ou justificação, mas nossa restauração ou santificação. É propósito de Deus povoar a nova Terra de Deus com santos transformados. E é a essa experiência e ao processo de transformação que o apóstolo Paulo exorta os crentes a se dedicar de corpo, mente e coração. |
Rm.6:20 | 20. Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Escravos do pecado. Ver com. do v. Rm.6:6; cf. com. dos v. Rm.6:17-19. Isentos em relação à justiça. Ou seja, livres no que se refere à justiça. Não significa que estavam livres das reivindicações da justiça, mas que estavam inteiramente dedicados ao pecado, como os antediluvianos (Gn.6:5). |
Rm.6:21 | 21. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Naquele tempo. O texto grego introduz a passagem com a conjunção “portanto”, a qual é omitida na ARA. A expressão “portanto” remete à escravidão do pecado mencionada no versículo anterior. Então, a passagem pode ser traduzida como: “Portanto, que fruto vocês tinham naquele momento, ou seja, durante sua servidão ao pecado?” É possível concluir a pergunta com as palavras “naquele tempo” e considerar “as coisas de que, agora, vos envergonhais” como resposta. A versão ARA não fornece nenhuma resposta afirmativa, mas claramente sugere que eles não tinham frutos, pelo menos bons frutos. A última opção, talvez, deva ser a preferida. Resultados. Sobre o sentido e o uso deste termo, ver com. de Rm.1:13. Colhestes. Ou, “estáveis tendo”; o grego denota continuidade. Morte. Ver com. do v. Rm.6:23. |
Rm.6:22 | 22. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; Libertados do pecado. Ou seja, da escravidão do pecado (ver com. do v. Rm.6:18). Transformados em servos. Ou, “tornados escravos”. A mesma palavra grega é usada no v. Rm.6:18 (ver com. ali). Paulo não tinha vergonha de se chamar escravo de Cristo (ver com. de Rm.1:1). No entanto, em nosso serviço a Deus, não obedecemos porque estamos sob escravidão, mas porque O amamos (Jo.14:15), e Deus, por sua vez, na verdade não nos trata como escravos, mas como filhos (Gl.4:7). Para a santificação. Ver com. do v. Rm.6:19. Aquele que é “escravo” de Deus produz frutos permanentes e altamente desejáveis, ou seja, o fruto do Espírito (Gl.5:22). Esse serviço significa o desenvolvimento de todos os poderes da mente, do corpo e do coração (Rm.12:1-2) e resulta em vida eterna (Rm.2:7; Rm.5:21). |
Rm.6:23 | 23. porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Salário. Do gr. opsonia. Esta não é a palavra comum no NT para “salário”, “recompensa”, que é misthos (ver Lc.10:7; Jo.4:36; Rm.4:4, em que misthos é usado). Opsonia vem de uma palavra que significa “comida cozida”, especialmente carne ou peixe, juntamente com outra palavra que significa “comprar”. Por isso, passou a significar “provisão”, “subsídio”, “soldo”, tais como a “ração” dada aos soldados (ver Lc.3:14; 1Co.9:7; 2Co.11:8). Mais tarde, foi usada para salários, ou ordenados em geral. É possível, embora não seja certo, que Paulo estende aqui a metáfora do serviço militar (ver com. de Rm.6:13). Morte. O pecado paga aos escravos exatamente o que eles buscam. “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez.18:4). Visto que, aqui, a morte é contrastada com a vida eterna, Paulo se refere principalmente à morte eterna, a “segunda morte” (Ap.20:6; Ap.20:14-15; cf. GC, 544; PE, 51). Na destruição final, os pecadores serão tratados como merecem. Rejeitaram o oferecimento divino de graça e vida eterna e receberão os resultados de sua própria escolha (ver com. de Rm.2:6; Ver DTN, 763, 764). Dom. Do gr. charisma, mesma palavra anteriormente traduzida como “dom gratuito” (ver com. de Rm.5:15). “Dom” está em nítido contraste com o “salário”. Aquilo que o cristão recebe é representado como um dom da graça de Deus. Até o serviço e a obediência que o crente justificado e nascido de novo é capaz de prestar a Deus não são devidos a sua própria virtude, mas são fruto do Espírito Santo. Nenhum de nós pode conquistar a salvação. Nenhum de nós merece redenção. Somos salvos pela graça mediante a fé como “o dom de Deus” (Ef.2:8; ver com. de Mt.20:15). A vida eterna. O dom da vida eterna, que Adão e Eva perderam por causa de sua transgressão (ver com. de Rm.5:12), será restaurado a todos os que estiverem dispostos a recebê-lo e se preparar para ele, dedicando a vida ao serviço de Deus (Rm.2:7; Rm.6:22; Ap.21:4; Ap.22:2-3). Em Cristo Jesus. Ou, “em Jesus Cristo” (ver com. de Rm.6:11; 2Tm.1:1). Cristo é a “ressurreição e a vida” (Jo.11:25). É o autor da vida, que concede vida eterna a todos os que têm fé nEle (Jo.6:40). O dom divino da vida eterna não é apenas concedido por meio de Cristo, mas é em Cristo, sua fonte permanente e só pode ser recebido mediante a união com Ele, que é “a nossa vida” (Cl.3:4; cf. DTN, 786, 787). |
Rm.7:1 | 1. Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida? Porventura, ignorais [...]? Literalmente, “ou vocês são ignorantes?” (ver com. de Rm.6:3). A partícula “ou” sugere uma alternativa. Paulo, na verdade, diz: “Ou vocês admitem a veracidade da minha afirmação de que sua morte para o pecado (Rm.6:11) significa que vocês não mais estão sob a lei (Rm.6:14), ou vocês devem ser ignorantes sobre a natureza da lei, com a qual eu acreditava que vocês estavam bem familiarizados.” Ele apresenta outra ilustração para mostrar como é feita a transição da lei para a graça e quais deveriam ser os resultados dessa mudança. O cap. 7 amplia o sentido de sua declaração fundamental: “pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm.6:14). Para explicar isso, ele já se referiu ao batismo e à relação entre escravos e senhores. Então, ele apresenta uma ilustração, usando a lei do casamento. Conhecem a lei. Literalmente, “conhecem lei”. A ausência do artigo “a” antes de “lei” sugere que Paulo está se referindo ao princípio da lei em geral (ver com. de Rm.2:12). Seu raciocínio é que a lei não pode processar ou punir alguém depois que ele está morto. No contexto deste capítulo, no entanto, mais tarde, se torna evidente que Paulo tem em vista a lei do AT (ver Rm.7:7). Tem domínio. Paulo já tinha personificado a “morte” e o “pecado” como “tendo domínio”, ou “governo”, sobre o pecador (Rm.5:14; Rm.5:17; Rm.6:12). Para o apóstolo, estar sob o domínio da lei é equivalente a estar sob o domínio do pecado (ver com. de Rm.6:14). A razão para isto é que a lei revela meramente o padrão do direito. Não pode remover a culpa nem o domínio do pecado. Ela exige completa obediência a seus preceitos, mas não oferece ao pecador o poder capacitador para tanto. Por outro lado, a graça faz aquilo que é impossível à lei. A graça tanto anula a culpa do pecado como confere poder para vencê-lo. Assim, Paulo considera o fato de estar sob a lei como estar sob o pecado, e morrer para a lei como sendo equivalente a morrer para o pecado. Seu propósito neste capítulo é enfatizar que, devido ao pecado e à fraqueza da carne pecaminosa (Rm.8:3), a lei é incapaz de produzir salvação em favor do pecador. Homem. Do gr. anthropos, “humanidade” em geral (ver Mt.8:20; Mc.2:27), ou pessoas de ambos os sexos (ver Mt.15:11; Jo.3:4; Jo.16:21). A palavra “homem”, que se distingue do termo “mulher”, é aner (Mc.10:2; Lc.1:27). Toda a sua vida. É possível traduzir do grego “sua vida”, significando: “enquanto a lei está em vigor”. No entanto, “toda a sua vida” é a tradução mais natural e adequada ao contexto. Paulo se prepara para aplicar o princípio de que a lei só pode exigir a obediência de alguém enquanto este vive. |
Rm.7:2 | 2. Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. Casada. Do gr. hupandros, literalmente, “debaixo de um marido”, isto é, sujeita ao marido. Esta palavra ocorre somente aqui no NT. É encontrada na LXX (Nm.5:20; Nm.5:29; Pv.6:24; Pv.6:29) e pode ser traduzida como “a mulher casada”. Está ligada pela lei ao marido. Ou seja, a lei referente ao marido, as regras da lei que tratam do casamento (comparar com a expressão “a lei do leproso”, Lv.14:2). Quando o marido morre, a mulher é dispensada da “lei do marido”, que define sua relação jurídica com ele e proíbe o casamento dela com outro, enquanto o marido vive. Ele vive. A cláusula diz, literalmente: “para o marido vivo” (comparar com 1Co.7:39). Desobrigada. Do gr. katargeo (ver com. de Rm.3:3). Aqui, a definição “libertar de” é apropriada. Com a morte do marido, o status da mulher como esposa é anulado e abolido. |
Rm.7:3 | 3. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. Considerada. Do gr. chrematizo, que pode sugerir que a mulher é formalmente considerada ou tida como adúltera. Assim, ela estaria sujeita à punição mais grave sob a lei do AT (ver Lv.20:10). Da lei. Ou seja, a lei relativa ao marido (ver com. do v. Rm.7:2). |
Rm.7:4 | 4. Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Assim. Paulo aplica a ilustração da lei do casamento à experiência do cristão. Seu principal argumento é que a morte dissolve a obrigação legal. Portanto, assim como a morte liberta a esposa das reivindicações da lei matrimonial, para que ela possa se casar com outro, da mesma forma a crucifixão do cristão com Cristo o liberta do domínio do pecado e da lei, para que ele possa entrar em nova união espiritual com o Salvador ressuscitado. Morrestes. Literalmente, “fostes condenados à morte”, referindo-se à crucifixão do “velho homem” com Cristo (Rm.6:6). Na ilustração, foi a morte do marido que libertou da lei a mulher. Na aplicação, é a morte do velho homem pecador que liberta o crente da condenação e do domínio da lei e o libera para se juntar a Cristo. Como em Romanos 6, Paulo vê o cristão como se ele tivesse uma vida dupla: a velha vida condenada pelo pecado, que ele abandona com Cristo, e a nova vida de aceitação e santidade, para a qual ele ressuscita com Cristo (ver com. do v. Rm.6:11). Relativamente à lei. A morte do velho homem tem como resultado a libertação da escravidão autoimposta de tentar obter a salvação pelas obras da lei (ver com. de Rm.6:14). Por meio do corpo de Cristo. Isto é, pela morte sacrifical de Cristo (Ef.2:15; Cl.1:22; 1Pe.2:24). O crente é batizado nessa morte (Rm.6:4) e, participando da morte de Cristo para o pecado e a lei (cap. 6), pode considerar que seu velho “eu” morreu para as coisas de que ele já foi cativo. Aquele que aceita a Cristo, por assim dizer, toma seu lugar com Ele na cruz, e ali seu antigo “eu” é crucificado. Para pertencerdes a outro. Literalmente, “ser para outro”, embora “casar-se” seja, evidentemente, o significado correto neste contexto. A comparação da união entre Cristo e os crentes com o casamento não é desconhecida para Paulo (ver 2Co.11:2; Ef.5:25; Ef.5:28-29; Je.3:14). Aquele. Isto é, a Cristo. Frutifiquemos. O simbolismo deste capítulo se assemelha de perto ao de Romanos 6. O “velho homem” é o primeiro marido. A crucifixão do “velho homem” (Rm.6:6) é a morte do marido. A ressurreição para uma nova vida (Rm.6:5; Rm.6:11) é o novo casamento. Em cada caso, o resultado final é a produção de frutos para Deus, frutos de uma vida reformada (Rm.6:22). |
Rm.7:5 | 5. Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte. Segundo a carne. Ou seja, unidos ao velho homem, no corpo do pecado (Rm.6:6), obedecendo aos impulsos da natureza inferior. A frase descreve a vida não regenerada, cujo principal objetivo é a satisfação dos apetites e sentidos. Ela deve ser contrastada com a vida “no Espírito” (Rm.8:9). Pela lei. Literalmente, “por meio da lei”; Paulo explica isso nos versículos a seguir. Seu raciocínio não é que a lei seja a fonte dessas paixões pecaminosas, mas que, devido à natureza pecaminosa e rebelde do ser humano, a lei serviu para revelar (v. Rm.7:7) essas paixões, identificando-as como pecados. Ao fazer isso, a lei presta um serviço vital preliminar para a salvação dos pecadores. Portanto, é um grande erro culpar ou condenar a lei por alcançar esse propósito necessário. Paulo não minimiza a necessidade ou a importância da lei moral. Ao contrário, sua teologia, na verdade, serve para exaltar a lei. Uma de suas principais preocupações é que as pessoas devem compreender a correta relação que existe entre a lei e o evangelho. Sua grande mensagem é que os pecadores não podem depender da lei, nem mesmo da lei de Deus, para realizar o que pode ser feito unicamente pela graça justificadora e santificadora de Deus por meio de Jesus Cristo. A compreensão dessa verdade fundamental da salvação não diminui o respeito pela lei de Deus, mas, sim, tem um efeito precisamente oposto sobre aqueles que têm fé (ver com. de Rm.3:31). Operavam. Ou, “estavam ativas” (comparar com Rm.6:6). Em nossos membros. Ou seja, nos órgãos e faculdades do corpo (ver com. de Rm.6:13). Frutificarem. Comparar com Tg.1:15. |
Rm.7:6 | 6. Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra. Libertados. Do gr. katargeo (ver com. de Rm.3:3). A palavra é usada em Rm.7:2 para descrever o desligamento do vínculo matrimonial, deixando a mulher desobrigada em relação ao marido falecido. “Libertados da lei” equivale a não estar “sob a lei” (sobre o significado desta expressão, ver com. de Rm.6:14). Estamos mortos. Paulo reafirma o meio pelo qual somos libertos da lei. Isso é conseguido pela morte do velho homem pecaminoso (v. Rm.7:4), assim como a morte do marido dava liberdade à mulher (v. Rm.7:2). Quando o nosso velho homem foi crucificado com Cristo (Rm.6:6), à semelhança da esposa na ilustração, morremos para a lei (Rm.7:4), que exercia domínio opressivo sobre nós porcausa da infeliz união entre nós e nossa velha natureza pecaminosa (ver com. de Rm.6:14). De modo que servimos. O enunciado pode ser entendido como expressão de finalidade (cf. v. Rm.7:4) ou de resultado (cf. Rm.6:22). Em novidade de espírito. Os crentes que morreram para o pecado e ressuscitaram em novidade de vida (Rm.6:2; Rm.6:4) passaram a prestar um serviço novo e espiritual. Sua obediência à lei de Deus não é mais legalista e mecânica, como se a justiça consistisse apenas no cumprimento de um conjunto de regras exteriores de conduta, sem qualquer referência à condição do coração. Pela união com o Salvador ressuscitado, os crentes aprenderam uma nova forma de obediência espiritual, verdadeira e sincera. Esse serviço e essa adoração somente são possíveis para aqueles que nasceram de novo, do Espírito Santo, e vivem sob Sua influência. Paulo explica isso melhor no cap. 8. Na caducidade da letra. Literalmente, “na velhice da letra”. Isso descreve a obediência legalista dos que tentam assegurar a salvação pelas obras da lei. Era assim o serviço dos fariseus, que tinham o cuidado de “dar o dízimo da hortelã, do endro e do cominho”, mas, ao mesmo tempo, omitiam as coisas “mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé” (ver com. de Mt.23:23). Essas “coisas mais importantes” eram os assuntos do coração e do espírito. O serviço “na caducidade da letra” só pode conduzir ao pecado e à morte (Rm.7:5). Mas o evangelho traz o oferecimento de Deus para capacitar as pessoas a prestar serviço espiritual de coração. O novo nascimento do Espírito Santo significa a criação de um coração puro e a renovação de um espírito reto (ver SI.51:10), de modo que, a partir de então, o crente não mais serve a Deus por um sentimento de escravidão legal e por medo, mas em um novo espírito de liberdade e amor (Jo.4:23; Jo.6:63; 2Co.3:6). |
Rm.7:7 | 7. Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Que diremos, pois? Uma frase característica (ver com. de Rm.4:1). Paulo se prepara para resolver outro possível mal entendido sobre o que havia dito sobre a relação entre a lei e o pecado. É a lei pecado? Paulo havia afirmado (v. Rm.7:5) que o pecado faz uso da lei para trazer a destruição do pecador. Será que isso significa que a lei em si é pecaminosa, cuja única finalidade é tornar as pessoas piores? Paulo responde explicando que o mal não está na lei, mas no ser humano. Embora seja verdade que a lei é a “ocasião” para o pecado (v. Rm.7:8), no entanto, o próprio mandamento é “santo, e justo e bom” (v. Rm.7:12). De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. Mas. Do gr. alla, geralmente traduzido como “mas”, e, aqui, possivelmente, equivalente a “ao contrário” (ver 1Co.12:22). Ou seja, longe de a lei ser pecado, pelo contrário, ela expõe o pecado. Alla também pode ser entendido como “contudo” ou “no entanto” (cf. Rm.5:14). Ou seja, mesmo que se negue que a lei seja pecado, não obstante, se não fosse pela lei, eu não teria conhecido o pecado. Qualquer dessas interpretações é apropriada no raciocínio de Paulo. Eu não teria conhecido o pecado. Visto que pecado é “iniquidade” ou “transgressão da lei” (ver com. de 1Jo.3:4), é lógico que o efeito da lei na experiência do ser humano deve ser revelar a ele seu pecado em sua verdadeira natureza. A atitude ilógica para com a lei é considerá-la inimiga por ter feito essa exposição verdadeira. O espelho não é inimigo de alguém porque lhe revela sua feição natural. Nem o médico é inimigo do paciente porque lhe revela a doença. O médico não é a causa da doença, nem o espelho é a causa da aparência. Por intermédio da lei. Ver com. de Rm.2:12. Cobiça. Do gr. epithumia, “desejo ardente”, às vezes, por coisas adequadas (Lc.22:15; Fp.1:23) mas, geralmente, por coisas proibidas (Rm.13:14; Tg.1:14-15). A palavra para “cobiçar” no final do versículo é epithumeo, forma verbal de epithumia. A relação entre as duas palavras pode ser ilustrada pela seguinte tradução: “Eu não saberia o que é a cobiça se a lei não dissera: Não cobiçarás” (ver com. de Rm.7:8, em que epithumia é “concupiscência”). Não dissera. Referência ao décimo mandamento (Ex.20:17). Não cobiçarás. É significativo que Paulo tenha escolhido o décimo mandamento, pois este não é apenas uma amostra do restante, mas contém o princípio subjacente a todo pecado (ver PP, 309). O uso desse mandamento neste contexto revela um significado mais profundo para ele do que as palavras podem expressar literalmente. Ele viu nela a proibição não só do desejo de certas coisas mencionadas especificamente no mandamento, mas também do desejo de qualquer coisa proibida por Deus. Em outras palavras, a lei proíbe qualquer tipo de desejo egoísta e pecaminoso, e era isso que Paulo não teria conhecido “senão por intermédio da lei”. Ele descobriu que a verdadeira obediência aos mandamentos de Deus não era uma simples conformidade exterior à letra da lei, mas uma questão de mente, coração e espírito (v. Rm.7:14; Rm.2:29). Por outro lado, o pecado não é a mera violação exterior da letra da lei, mas uma condição profunda de mente, ânimo, hábito e caráter, dos quais brotam os atos pecaminosos (ver Mt.5:28; 1Jo.3:15). No entanto, o efeito inicial dessa profunda descoberta no coração regenerado de Paulo foi despertar sua natureza corrupta para a oposição pecaminosa (Rm.7:8). |
Rm.7:8 | 8. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado. Pecado. Aqui há uma personificação do pecado, como um princípio e poder antagônico à lei de Deus (ver com. de Rm.5:12). O pecado é representado no NT como um inimigo que está sempre à espreita para provocar nossa ruína, e aproveita cada oportunidade para isso. É descrito como um poder que nos envolve e assedia (Hb.12:1), nos reduz à escravidão (Rm.6:12), nos seduzindo e, assim, nos conduzindo à morte (Tg.1:14-15). Em outras palavras, o pecado é representado como tudo que Satanás, o arqui-inimigo da humanidade, procura realizar, tentando-nos. Satanás usa a lei como ocasião para tentar e seduzir a humanidade à desobediência, a fim de sujeitá-la à condenação e à morte (ver com. de Rm.7:11). Ocasião. Do gr. aphorme, “oportunidade”, “incentivo”. A palavra é usada apenas por Paulo no NT (Rm.7:11; 2Co.5:12; 2Co.11:12; Gl.5:13; 1Tm.5:14). Mandamento. Um único preceito, neste caso, o décimo mandamento, em contraste com “lei”, que se refere a todo o código. A expressão “pelo mandamento” pode ser conectada com “tomando ocasião”, o que significa que o pecado tirou vantagem do mandamento. Ou pode ser conectada com “despertou em mim”, significando o que o pecado operou em mim com a ajuda do mandamento. O segundo sentido pode ser comparado com a “morte operou em mim por aquilo que é bom” (v. Rm.7:13). Em ambos os casos, o significado é o mesmo. Despertou. Do gr. katergazomai, “trabalhar para um acabamento”, “realizar” (ver também Rm.2:9; 1Co.5:3; 2Co.7:10). É usado tanto para realizar o bem como o mal (Rm.7:15; Rm.7:17-18; Rm.7:20). Concupiscência. Do gr. epithumia, traduzida como “cobiça” no v. Rm.7:7 (ver com. ali). Paulo afirma que o mandamento para não cobiçar o fez cobiçar tudo o mais. Essa é a reação natural do coração não regenerado pela vontade expressa de Deus. O fato de que algo foi proibido, muitas vezes, parece fazer com que seja mais desejável e provoque as más paixões de um coração rebelde (Pv.9:17). O pecador pode muitas vezes parecer calmo e tranquilo, em paz consigo mesmo e com o mundo, mas quando a lei de Deus é apresentada à sua consciência, ele não raro fica irritado e até mesmo furioso. Ele rejeita sua autoridade, mas a consciência lhe diz que ela está certa. Ele tenta descartá-la, mas treme sob seu poder. Para mostrar independência e determinação para o pecado, mergulha na iniquidade e se torna um pecador mais perverso e obstinado. Ele insiste numa luta pela vitória, e, na controvérsia com Deus, resolve não ser vencido. Assim, muitas vezes, acontece que a pessoa é mais profana, blasfema e desesperada quando se encontra sob a convicção do pecado do que em outras circunstâncias. Por esse motivo, às vezes, quando a pessoa se torna particularmente violenta e abusiva em sua oposição a Deus, isso pode ser uma indicação clara de que está sob essa convicção. Em sua própria experiência anterior, Paulo tinha resistido à vontade de Deus que lhe fora revelada. Depois do martírio de Estêvão, ele ficou irritado com sua convicção íntima de que Estêvão estava com a razão e, para sufocá-la, mergulhou com zelo frenético em uma campanha de perseguição, terror e morte (ver AA, 112, 113). Procurou “recalcitrar contra os aguilhões” da convicção e da consciência esclarecida (At.26:14). Seu preconceito e orgulho de popularidade o levaram a se rebelar contra Deus, até que se tornou instrumento nas mãos de Satanás (ver AA, 101, 102). Foi assim que a revelação da vontade de Deus despertou a natureza pecaminosa de Paulo para um pecado ainda maior, até que, finalmente, foi levado ao ponto em que se dispôs a reconhecer seu pecado e a necessidade de um Salvador (At.9:6; ver AA, 119). A experiência de Paulo é uma clara ilustração do fato de que a lei não é capaz de erradicar a rebeldia e o pecado. Seu efeito pode ser exatamente o oposto. Só quando Paulo ficou frente a frente com Cristo, ele encontrou a libertação do poder e da condenação do pecado. Sem lei. Ou, “além da lei” (ver com. de Rm.2:12). Está morto o pecado. Paulo já sugeriu que o pecado está “morto” sem a lei (Rm.4:15; Rm.5:13). Evidentemente, por “morto”, ele não quer dizer que ele não exista, mas que está inativo, sem vida (comparar com “a fé sem obras é morta” [Tg.2:26]). O pecado reinou desde a transgressão de Adão (Rm.5:12; Rm.5:21), mas a total malignidade e o poder do pecado ficam expostos apenas quando a lei revela as restrições e proibições. Então, o pecado é mostrado como rebelião contra a vontade de Deus, e a natureza humana não regenerada é incitada à oposição e atividade pecaminosa. |
Rm.7:9 | 9. Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri. Outrora [...] sem a lei. O período anterior da vida de Paulo, ao qual ele se refere aqui, tem sido objeto de muita discussão. Parece evidente, pelo contexto, no entanto, que ele fala de antes de se tornar consciente da verdadeira natureza, espiritualidade e extensão da lei divina. Foi um período em que ele se considerava justo e, no que se refere aos atos externos, parecia obedecer à lei. Mas era uma justiça legalista, da mesma da qual o jovem rico se jactava, quando colocado face a face com os mandamentos: “Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?” (Mt.19:20). Da mesma forma, Paulo poderia alegar que, “segundo a justiça que há na lei”, ele era “irrepreensível” (Fp.3:6; At.26:5; comparar com a oração prepotente, hipócrita do fariseu, Lc.18:11-12). Mas, quando Paulo percebeu o caráter espiritual da lei, o pecado surgiu em sua verdadeira repugnância. Viu-se como um transgressor, e sua autoestima se desvaneceu (ver CC, 29, 30). Eu vivia. Paulo se refere à própria experiência, mas, por meio dela, ele representa a de todos os não convertidos que dependem da própria justiça. Sobrevindo o preceito. Ou seja, quando o significado espiritual do mandamento “Não cobiçarás” (v. Rm.7:7), foi levado à sua mente e consciência. Paulo viu nessa proibição de todo desejo pecaminoso o espírito de toda a lei, e quando esta chegou a ele como a palavra de Deus, viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes (Hb.4:12), a sua complacente justiça própria foi subitamente abalada. Reviveu o pecado. Paulo não quer dizer aqui que antes, quando sobreveio o mandamento, o pecado, aqui personificado como uma criatura repugnante, tinha estado inativo em sua vida, mas que ele não o havia percebido, nem sua verdadeira natureza nem suas consequências fatais (v. Rm.7:13). Na verdade, o pecado tinha estado sem oposição no controle de sua vida (v. Rm.7:5). Mas a vinda do “mandamento” desafiou a presença do pecado e de seu direito de controlar a vida. Então, o pecado se ergueu para manter sua autoridade contestada. Em toda a sua malignidade e força, ele surgiu em seu verdadeiro caráter, como um enganador, inimigo e assassino. Quando e como Paulo começou a sentir o poder da condenação da lei, ele não informa. No entanto, sabemos o suficiente sobre seus primeiros anos para ter uma ideia de sua experiência com a lei antes da conversão. Como um fariseu bem estudado, vivendo de acordo com a mais severa seita de sua religião, ele tinha tentado, com esforço intenso, mas inútil, satisfazer pela observância exterior às demandas de uma lei santa e perscrutadora. Mas a serenidade e o amor perdoador apresentados por Estêvão em seu martírio tocaram profundamente a mente de Paulo e despertaram sua consciência para alguma noção de que a obediência à lei era mais do que uma questão exterior (ver com. do v. Rm.7:8). Eu morri. Quando Paulo compreendeu a natureza espiritual da lei, o novo conhecimento só serviu para acusá-lo como transgressor e despertar nele todos os tipos de maus desejos (v. Rm.7:8). Assim, ele se conscientizou, no sentido mais amplo, de que era um pecador e descobriu que não tinha qualquer esperança de vida (Rm.6:21; Rm.6:23). |
Rm.7:10 | 10. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. E o mandamento. Literalmente, “o mandamento aquele para a vida, este foi encontrado para mim para a morte.” Que me fora para vida. A promessa de vida acompanhou a outorga das leis de Deus a Israel (Lv.18:5; Dt.5:33; Ez.18:9; Ez.18:21; Ez.20:11; Ez.20:13; Ez.20:21; Mt.19:17). Não há nada arbitrário nisso. As leis de Deus para o nosso bem-estar físico, mental e espiritual foram todas concedidas para nosso bem. A vida e a prosperidade, tanto na época atual como nos séculos vindouros, dependem da perfeita conformidade com as leis imutáveis de Deus. Verifiquei. Literalmente, “isso foi encontrado por mim”. Ou seja, o mandamento foi encontrado. A repetição do sujeito com a palavra “esse mesmo” (ARA), acrescenta ênfase à estranha incoerência expressa neste versículo. O próprio mandamento, cuja observância Paulo estava contando para a salvação, ele finalmente entendeu que só poderia condená-lo à morte. Este é um versículo chave no raciocínio de Paulo de que os pecadores não devem depender da lei para a salvação. Paulo explica claramente e ilustra, a partir da própria experiência, que a hipócrita dependência da lei é um grave equívoco a respeito da própria lei e só pode levar à descoberta expressa neste versículo. A lei de Deus apresenta um padrão espiritual tão elevado que nenhum mortal pecador consegue atingir pelos próprios esforços. Ele está diante somente de culpa e condenação. Porém, feliz é a pessoa que percebe seu desamparo e necessidade e se volta para o Salvador, em quem unicamente pode encontrar justiça e salvação (Gl.3:24). O grande erro de muitos judeus era o entendimento sobre a função da lei em um mundo pecaminoso. Em seu orgulho e justificação própria, não estavam dispostos a reconhecer sua culpa perante a lei e a incapacidade de viver de acordo com os preceitos dela. Assim, não viam a necessidade do Salvador. Dedicavam-se ao estudo diligente das Escrituras, acreditando que na lei encontrariam vida, não condenação. Não queriam ir a Cristo para obter justiça e vida (Jo.5:39-40; ver com. de Ez.16:60). Para morte. Pela lei, Paulo obteve o conhecimento do pecado (v. Rm.7:7-9; cf. Rm.3:20), e “o salário do pecado é a morte” (Rm.6:23). |
Rm.7:11 | 11. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou. Porque o pecado. A expressão “porque” introduz uma explicação do v. Rm.7:10. A primeira parte do versículo é semelhante ao v. Rm.7:8, mas a ordem diferente das palavras em grego dá ênfase ao fato de que não foi o mandamento, mas o pecado, que enganou e “me matou”. O pecado é novamente personificado e representado como o exercício do poder de seduzir e destruir, que normalmente é atribuído a Satanás. Pelo mesmo mandamento. Estas palavras podem estar conectadas a “prevalecendo-se” ou a “me enganou” (cf. com. do v. Rm.7:8). As palavras seguintes: “e me matou” podem indicar que a segunda ligação é a preferida. A passagem, então, significaria: “Porque o pecado, tomando ocasião, me enganou pelo mandamento.” A barreira que a lei erige contra o pecado é tomada como ocasião para sugerir a prática do pecado. Enganou. Do gr. exapatao, que significa, basicamente, “fazer alguém perder o caminho”. Esta expressão é usada no NT somente por Paulo (Rm.16:18; 1Co.3:18; 2Co.11:3; 2Ts.2:3). No jardim do Éden, o pecado se aproveitou do mandamento: “Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais” (Gn.3:3), para incitar o desejo do mal. Diante da árvore proibida, Eva se perguntou por que Deus havia retido deles o seu fruto (ver PP, 54). Essa foi a oportunidade de Satanás, e ele usou a proibição divina para enganar Eva, levando-a à transgressão. O engano do pecado consiste em apresentar o objeto de desejo pecaminoso como uma coisa boa. No entanto, depois que é obtido, ele se revela como um mal (Tg.1:14-15; Hb.3:13; Hb.3:17). Satanás insistiu que, comendo do fruto proibido, Eva atingiria uma esfera mais elevada de existência e obteria um conhecimento mais amplo (ver PP, 54). Dessa forma enganosa, Satanás usou o mandamento como uma provocação para o pecado. E quando seu mau propósito tinha sido realizado, ele usou o mesmo mandamento, como forma de condenação. Pois Satanás não é só o tentador do ser humano, mas também é seu acusador (Ap.12:10; Jó.1:9-11; Jó.2:4-5). Assim, Eva descobriu, para sua amarga tristeza, que o que ela tinha desejado como fonte de prazer trouxe apenas condenação e morte. Nenhum ser no universo está mais iludido do que um pecador quando cede ao desejo proibido (ver Pv.7:21-23). E me matou. Comparar com “eu morri” (v. Rm.7:9). O mandamento, embora em si mesmo seja santo e designado para trazer vida, tornou-se ocasião não só do pecado, mas também da morte, como consequência. E tudo isso aconteceu por engano. O objeto de desejo não era muito bom, mas a luxúria e a cobiça inspiradas pelo tentador fizeram que parecesse assim. Um grande propósito do poder transformador da graça de Deus é dissipar essa ilusão destruidora, para levar as pessoas de volta à verdadeira visão das coisas e, assim, à vida e paz com Deus. |
Rm.7:12 | 12. Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Por conseguinte. Isto introduz uma conclusão baseada na discussão dos v. Rm.7:7-11 e uma resposta à pergunta do v. 7: “É a lei pecado?” A lei. O artigo também ocorre no grego (ver com. de Rm.2:12). Como em Rm.7:9, Paulo pode ter usado o termo “lei” para se referir a todo o código, e o termo “o mandamento”, para se referir a um preceito específico da lei. É santa. Longe de a lei ser pecado (v. Rm.7:7), ela é santa e pura. Como revelação do caráter de seu Autor e expressão de Sua mente e vontade, a lei de Deus não pode ser nada além de verdadeira, justa e santa. E o mandamento, santo. Paulo afirmou primeiramente a santidade de toda a lei. Então, ele enfatiza, mais especificamente, a santidade, a justiça e a bondade do mandamento “Não cobiçarás”. Provavelmente, a ênfase se deve ao fato de que esse mandamento particular, foi descrito nos v. Rm.7:7-11 como sendo a ocasião especial para o aumento do conhecimento e da atividade do pecado. O décimo mandamento, como os demais, é uma expressão da santa vontade de Deus e proíbe os desejos impuros e profanos. A santidade do mandamento não é afetada pelo fato de ele revelar o pecado (v. Rm.7:7-9), expondo a condição de condenação e morte do pecador. A falha não está no mandamento, mas no pecador, que, em sua fraqueza e pecaminosidade, é incapaz de viver de acordo com o elevado padrão de pureza e santidade que a lei corretamente exige. Justo. O mandamento é justo e reto em suas exigências. Estabelece o padrão de um caráter justo. E, apesar das acusações de Satanás, não exige obediência que não possa ser prestada pelos seres humanos (ver com. de Mt.5:48; ver AA, 531; DTN, 24, 309). A própria vida de obediência de Jesus deu suporte à justiça das reivindicações da lei de Deus. Provou que a lei poderia ser observada e demonstrou a excelência do caráter que a obediência desenvolveria. Todos os que obedecem como Jesus fez declaram igualmente que a lei é “santa, e justa, e boa”. Por outro lado, todos os que violam os mandamentos defendem a pretensão de Satanás de que a lei é injusta e não pode ser obedecida (ver com. de Rm.3:26; ver DTN, 29). Bom. Do gr. agathos, bom em sentido moral (cf. com. do v. Rm.7:16). O mandamento tem o objetivo de nada trazer ao ser humano senão vida e bênção, agora e por toda a eternidade (ver com. do v. Rm.7:10). Se obedecido, promoverá justiça e felicidade em todos os lugares (ver SI.19:7-11). |
Rm.7:13 | 13. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. O bom [...] se tornou em morte? A primeira parte do versículo diz, literalmente: “Será que o que é bom, então, se tornou em morte para mim?” Em outras palavras, será que a culpa pela minha morte está na lei que é boa? Paulo responde à pergunta, repetindo que a culpa não estava na lei, mas em si mesmo e em suas inclinações pecaminosas. De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. A lei não produz morte mais do que o pecado o faz. Pelo contrário, o pecado. Depois desta frase, as palavras: “causou-me a morte” precisam ser acrescentadas. O raciocínio de Paulo é claro na tradução NTLH: “Será que o que é bom me levou à morte? É claro que não! Foi o pecado...” Para revelar-se como pecado. Ou, “a fim de se manifestar como pecado”, isto é, para que possa ser visto em sua verdadeira luz como pecado. Causou-me a morte. Ou, “operou a morte para mim”. A verdadeira natureza do pecado torna evidente como ele usa o que é bom para causar o mal e a morte. Toma aquilo que é a revelação do caráter e da vontade de Deus, que tem o propósito de servir como padrão de santidade, e usa para aumentar a culpa e a condenação dos seres humanos (v. Rm.7:8-11). O propósito de Deus em permitir que o pecado produzisse morte pela lei era que o pecado, ao perverter o que é bom, se expusesse e se apresentasse em toda a sua pecaminosidade e todo engano (ver PP, 42, 43). Sobremaneira maligno. Literalmente, “pecaminoso de acordo com o excesso”. O termo grego para “excesso” é hyperbole, a partir do qual é derivada a palavra em português “hipérbole” (sobre os usos que Paulo faz do termo, ver 1Co.12:31; 2Co.1:8; 2Co.4:7; 2Co.4:17; 2Co.12:7; Cl.1:13). O apóstolo já havia explicado como a lei serviu para revelar a enormidade do pecado. Em Rm.7:7-13, a lei de Deus é justificada de todas as acusações de que ela é a responsável pelo pecado e a morte que reinam sobre a humanidade (cf. Rm.5:14; Rm.5:17). A culpa é atribuída ao pecado. E, à medida que as pessoas persistem em se identificar com o pecado, elas compartilham sua culpa e condenação. Esses versículos também enfatizam a doutrina de Paulo de que a salvação não pode vir pela lei. A principal função da lei é desmascarar o pecado e condenar o pecador pelo erro de seus caminhos, mas não pode eliminar o espírito rebelde ou perdoar a transgressão. “A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio” (GC, 467). Estes versículos servem ainda para esclarecer a relação entre a lei e o evangelho. É contínua função dos mandamentos revelar o padrão de justiça, convencer do pecado e mostrar a necessidade de um Salvador. Se não houvesse lei para convencer do pecado, o evangelho seria impotente, pois, a menos que o pecador fosse convencido de seu pecado não sentiria necessidade de arrependimento e de fé em Cristo. Assim, a alegação de que o evangelho aboliu a lei não só deturpa o papel e a importância da lei, como também debilita o propósito e a necessidade do evangelho e do plano da salvação (ver com. de Rm.3:31). |
Rm.7:14 | 14. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque. Paulo confirma sua defesa da lei e revela a verdadeira natureza do pecado, mediante a análise profunda da operação do pecado na experiência pessoal. O significado dos v. 14 a 25 tem sido um dos problemas mais discutidos em toda a epístola. As principais questões se concentram em definir se a descrição dessa intensa luta moral seria autobiográfica e, em caso afirmativo, se a passagem se refere à experiência de Paulo antes ou depois de sua conversão. Parece evidente que Paulo fala de sua luta com o pecado (cf. Rm.7:11; CC, 19; T3, 475). Também é verdade que ele descreve um conflito experimentado por toda pessoa que se confronta com as reivindicações espirituais da santa lei de Deus e é despertada por elas. Mais importante é saber que período de sua experiência Paulo está representando. Alguns comentaristas afirmam que a descrição se refere à experiência real de Paulo como cristão convertido. Para tanto, enfatizam o tempo presente dos verbos e apontam para expressões que revelam o ódio ao pecado (v. Rm.7:15; Rm.7:19) e o desejo sincero de fazer o bem (v. Rm.7:15; Rm.7:19; Rm.7:21). Argumentam que a pessoa não convertida não seria capaz de dizer: “No tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus” (v. Rm.7:22), e “sou escravo da lei de Deus” (v. Rm.7:25). Outros comentaristas, porém, acreditam que a luta deve ter sido anterior a sua conversão. Argumentam que expressões como “sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (v. Rm.7:14), “o pecado que habita em mim” (v. Rm.7:17), “pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (v. Rm.7:18) e “desventurado homem que sou! Quem me livrará [...]” (v. Rm.7:24) não poderiam se referir à condição de Paulo depois do novo nascimento. Eles destacam, no entanto, que Paulo não descreve sua experiência no momento em que “outrora, sem a lei, eu vivia”, mas no momento em que, “sobrevindo o preceito”, “reviveu o pecado”, e ele “morreu” (ver com. do v. Rm.7:9). A experiência assim descrita seria, então, não de um crente regenerado em geral, mas de um pecador sob a profunda convicção de que é infeliz em sua carga de culpa e que se esforça sinceramente, mas por seus próprios méritos, para colocar a vida em harmonia com as exigências divinas. Seus melhores esforços terminam em fracasso miserável até que encontra Jesus Cristo e experimenta o poder capacitador do evangelho. Essa é também a experiência da pessoa que, embora tenha sido convertida, não tira proveito dos benefícios do evangelho e se esforça para obter pureza de vida pelas próprias forças, ou do cristão nominal que nunca fez uma entrega completa a Cristo. O principal objetivo de Paulo nesta passagem parece ser demonstrar a relação entre a lei, o evangelho e a pessoa que enfrenta duras lutas contra o pecado, em sua preparação para a salvação. A mensagem de Paulo é que, embora a lei possa servir para precipitar e intensificar a luta, somente o evangelho de Jesus Cristo pode trazer vitória e alívio (v. Rm.7:25; Rm.8). A intensidade do esforço e a ocasião de seu início variam na experiência de cada pessoa levada pela lei ao conhecimento do pecado. Certamente, cada cristão pode reconhecer, a partir de sua própria experiência, que uma intensa luta continua após a conversão e o novo nascimento. A vida do próprio apóstolo Paulo era “um constante conflito com o próprio eu. [...] Sua vontade e seus desejos lutavam cada dia com o dever e a vontade de Deus” (CBV, 452, 453). A realidade da luta de Paulo é revelada por suas palavras: “esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co.9:27). Da mesma forma, para cada cristão convertido, renascido e justificado, o processo de santificação envolve combates árduos e relutantes com o próprio eu (PJ, 331; AA, 560, 561). Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais claramente discernimos a excessiva malignidade do pecado e mais confessamos a culpa (ver com. de Ez.20:43; Ez.16:62-63; PJ, 160, 161). Embora seja verdade que, muitas vezes, intensas lutas morais ocorram após a conversão, quando os cristãos se consagram dia a dia novamente (ver Lc.9:23-25; 2Co.4:16; T5, 200; 47, 44), não se pode ter certeza de que o apóstolo aqui se refira a essa luta. Até aqui, seu propósito na epístola tem sido demonstrar a incapacidade humana de alcançar a justiça pelas obras da lei. Os que estão debaixo da lei mostraram estar sob a escravidão do pecado (ver com. de Rm.6:14). Apesar de seus melhores esforços, são incapazes de cumprir o que a lei exige. São infelizes e miseráveis até encontrarem Jesus Cristo. Em seguida, a condenação os abandona (Rm.8:1). Aquilo que antes eram incapazes de realizar, enfim podem alcançar pelo poder capacitador de Cristo (Rm.8:3-4). Já não valorizam as coisas da carne (Rm.8:5), mas caminham segundo o Espírito (Rm.8:1). Bem sabemos. Paulo presume que a espiritualidade da lei é reconhecida por seus leitores (Rm.2:2; Rm.3:19). A lei é espiritual. Paulo resume e repete o que já dissera no v. Rm.7:12. Ele novamente enfatiza que a lei não é responsável pelos males que ele mencionou. A lei é espiritual em sua origem, pois foi dada por Deus, e “Deus é espírito” (Jo.4:24). É de natureza espiritual, e no sentido de que é “santa, e justa e boa”, e na medida em que exige obediência que pode ser prestada apenas por aqueles que são espirituais e têm o fruto do Espírito (Mt.22:37-39; Jo.15:2; Rm.13:8; Rm.13:10; Gl.5:22-23; Ef.3:9). Eu, todavia, sou. A mudança do tempo passado nos v. Rm.7:7-11 para o tempo presente aqui e nos versículos restantes do capítulo é considerada por alguns como evidência de que Paulo descreve sua experiência. Outros veem nela um simples presente histórico ou dramático, como ocorre em Mc.14:17; Lc.8:49. Carnal. Ou seja, feito de carne e sangue, denotando a natureza humana em sua fraqueza (ver também 2Co.3:3). Este é o modo de Paulo expressar: “O que é nascido da carne é carne” (Jo.3:6). Seu equivalente “o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo.3:6) segue em Rm.8. Em contraste com a espiritualidade e a santidade da lei divina, Paulo se vê como uma criatura de carne, portanto, sujeito a todo pecado e autoindulgência para os quais sua natureza corrupta é inclinada. Assim, no desejo de obedecer à lei espiritual, ele se vê envolvido em uma contínua guerra com suas tendências herdadas e cultivadas para o pecado (Rm.7:23). Ele exorta os crentes a crucificarem a carne e declara que ele mesmo mantém seu corpo em sujeição (1Co.9:27; Gl.5:24). Também os exorta a viver com temperança (1Co.10:31) e a oferecer o corpo a Deus como sacrifício santo e vivo (Rm.12:1). Descreve o corpo como o templo do Espírito Santo (1Co.6:19) e exorta os cristãos a glorificarem a Deus no corpo (v. Rm.7:20). Menciona que tanto a carne como o espírito requerem purificação (2Co.7:1) e espera pela redenção e glorificação do corpo (Rm.8:23; 1Co.15:51-53). Vendido à escravidão do pecado. Isto é, sob o poder do pecado (comparar com “Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau” [1Rs.21:25; 1Rs.21:20; Is.50:1]). O domínio do pecado sobre a carne pode ser tão completo como o de um senhor sobre o escravo que lhe foi vendido. Alguns entendem que esta expressão comprova que o apóstolo fala de seus dias anteriores à conversão, isto é, sobre o tempo em que esteve sob profunda convicção, mas ainda não tinha se rendido totalmente a Cristo (ver com. de Rm.7:9). Para defender essa posição, levam em conta as declarações de Paulo anteriores de que o cristão convertido está livre da escravidão do pecado (Rm.6:18; Rm.6:22). Outros defendem que Paulo pode ter escolhido usar uma linguagem tão enfática para expressar a força da depravação contra a qual lutava, para mostrar que ele agia como o escravo de outra vontade, obedecendo aos impulsos de sua natureza carnal. Ele acrescenta que o pecado ainda habita em sua carne (v. Rm.7:17-18) e que, embora tenha chegado ao ponto de se regozijar na lei de Deus, ainda via um poder maligno agindo em seus membros, pondo-o na prisão do pecado (v. Rm.7:22-23). Em comparação com a espiritualidade da lei, o mais santo dos seres humanos é carnal. Seu discernimento do caráter sagrado dos mandamentos de Deus deixou Paulo ainda mais consciente de sua própria imperfeição. E, quando ele se descreve como estando “vendido sob o pecado”, dá a entender a profundidade de sua convicção. Um exemplo disso foi Jó, que, apesar de descrito pelo próprio Senhor como um homem íntegro e reto (Jó.1:1; Jó.2:3) confessou mais tarde: “Eu sou indigno”, e “me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó.40:4; Jó.42:6). |
Rm.7:15 | 15. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Porque. Paulo passa a explicar sua experiência durante o período em que estava “vendido à escravidão do pecado” (v. Rm.7:14). Compreendo. Do gr. ginosko, “conhecer”, “vir a conhecer”, “perceber”, “reconhecer”. Meu próprio modo de agir. Três verbos gregos diferentes expressam ação neste versículo. No primeiro caso, Paulo usa katergazomai, a mesma palavra que, no v. Rm.7:8, foi traduzida como “despertou” e também significa “alcançar” ou “realizar”. Não faço. O verbo fazer vem do gr. prasso, “praticar”. A palavra também ocorre em Rm.1:32; Rm.2:1-3; Rm.2:25. Prefiro. Do gr. thelo, “desejar”, “querer”. Isso faço (ARC). Neste caso, a palavra “faço” (poieo) envolve o desempenho ou a conclusão de um ato, como em Rm.4:21. Martinho Lutero, evidentemente, tinha aprendido o significado dessa experiência quando disse: “Tenho mais medo de meu coração do que do papa e de todos seus cardeais.” Aqueles que defendem que Paulo descreve sua experiência quando se encontrava sob convicção, mas antes de submeter-se a Jesus Cristo (ver com. de Rm.7:14), acreditam que o apóstolo enfatiza ainda mais a impotência de tudo que não seja o evangelho para fornecer a energia que permite executar as obras de justiça (comparar com a experiência de Charles Wesley, ver GC, 254-256). A experiência de todos os que buscam a salvação sem entrega total a Jesus Cristo será a completa frustração. Aqueles que defendem que Paulo descreve a luta contínua contra o próprio eu e o pecado, mesmo após a conversão, salientam que, mesmo depois da conversão, os cristãos ainda estão conscientes da própria imperfeição e do pecado em sua vida, e essa é uma fonte contínua de inquietação e ansiedade. Em momentos de descuido, por vezes, a força da paixão natural pode superá-los. O poder de hábitos longamente cultivados ainda os incomoda. Os maus pensamentos de autoindulgência ainda surgem em sua mente com a velocidade de um raio. Aquele que, antes da conversão, era infiel e cuja mente era preenchida pelo ceticismo, pode notar que o efeito de seus antigos hábitos de pensamento ainda persiste em sua mente e perturba sua paz por muitos anos. Esses são os efeitos do hábito. A própria passagem de um pensamento impuro pela mente deixa um rastro de poluição. Onde o pecado é o espetáculo, ele deixa uma ferida queimando na mente, mesmo depois da conversão, produzindo aquele estado de tensão com o qual todo cristão está familiarizado. Ao ver esses antigos desejos e sentimentos, que ele desaprova e odeia, dia a dia buscando reafirmar seu poder sobre ele, o cristão luta contra sua influência e anseia por ser preenchido com todo o fruto do Espírito de Deus. Mas ele descobre que nem por si mesmo nem com a ajuda da lei ele pode alcançar a liberdade do que odeia, ou ter sucesso no cumprimento desses atos que ele aprova e deseja praticar. Cada noite, ele testemunha sua penitente confissão de impotência e seu desejo de obter a ajuda divina (ver T4, 429). |
Rm.7:16 | 16. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Consinto. Do gr. sumphemi, literalmente, “falar com”, portanto, “concordar”, “concorrer”. Esta é a única ocorrência desta palavra no NT. O fato de Paulo desaprovar seus atos pecaminosos é em si mesmo evidência de que ele considera boa a lei de Deus. Boa. Do gr. kalos, “belo”, “excelente”, aqui, provavelmente, referindo-se à beleza moral e à excelência da lei, qualidades que Paulo admite aqui. No v. Rm.7:12, a palavra traduzida como “bom” é agathos, ou seja, bom em sentido moral. Kalos está relacionado com agathos, assim como a aparência está relacionada com a essência. |
Rm.7:17 | 17. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Neste caso. Do gr. nuni, que pode ser entendido tanto em sentido temporal, ou seja, “no momento”, ou em sentido lógico, “sendo este o caso”. Este último parece mais adequado aqui (Rm.7:20; 1Co.14:6). Já não sou eu. O “eu” é enfático no grego. Por “eu”, Paulo aqui se refere ao “homem interior” (v. Rm.7:22), que se distingue de outro “eu” no qual habita o pecado e é definido, no v. Rm.7:18, como “minha carne” e, no v. Rm.7:23, como “meus membros”. Paulo não afirma isso para negar a responsabilidade da pessoa por seus atos pecaminosos. Pelo contrário, ele faz essa afirmação para mostrar o grande poder interior do pecado, que se afirma contra seus esforços mais sinceros. Assim, se o cristão estiver desprevenido, o mal pode ganhar a supremacia em sua vida. Quando, ao falar de suas obras, Paulo diz: “todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1Co.15:10), ele não quer dizer que não executa as obras, mas que as realizou sob a influência da graça de Deus. Da mesma forma, quando ele diz: “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl.2:20, ARC), ele quer dizer que era dependente de Cristo para a origem e a manutenção de sua nova e restaurada vida. Então, ele não se desculpa pelas violações da lei, mas afirma que fez essas coisas sob uma influência que não mais era dominante em sua mente. |
Rm.7:18 | 18. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Bem nenhum. É impossível ao cristão resistir por si mesmo ao poder do mal. Um poder superior deve tomar posse do ser para que as más paixões sejam subjugadas. Paulo experimentou a dolorosa frustração que sobrevêm a todos os que procuram alcançar a justiça pelas próprias forças. Está em mim. Literalmente, “está ao meu lado”, isto é, está à mão. |
Rm.7:19 | 19. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Não faço. Este versículo é uma repetição do v. Rm.7:15, acrescentando ênfase à realidade e força da batalha da vontade contra o pecado (ver com. do v. Rm.7:15). |
Rm.7:20 | 20. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Mas, se eu. Este versículo repete o que se afirma nos v. Rm.7:16-17 (ver com. ali). |
Rm.7:21 | 21. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Encontro a lei. Literalmente, “acho, então, a lei”. O artigo definido está presente no grego (ver com. de Rm.2:12). Com o termo “lei”, Paulo aqui se refere à força maligna que operava nele, provocando problemas em sua experiência, descritos nos v. Rm.7:18-19. |
Rm.7:22 | 22. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Tenho prazer. Do gr. sunedomai, literalmente, “alegro-me com”. É a única ocorrência desta palavra grega no NT. É talvez mais forte do que “consinto”, no v. Rm.7:16 (cf. SI.1:2; Sl.119:97). No tocante ao homem interior. Ver com. do v. Rm.7:17. Na lei de Deus. O artigo também está presente no grego (ver com. de Rm.2:12). Paulo pode se referir a toda a vontade de Deus revelada ao ser humano. |
Rm.7:23 | 23. mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Nos meus membros. Ou seja, nos órgãos e faculdades do corpo (ver também Rm.3:13-15; Rm.7:5; 1Co.6:15; 1Co.12:12; 1Co.12:18; 1Co.12:20). Outra. Do gr. heteros, “outra de um tipo diferente”. Heteros não só distingue, mas, frequentemente, contrasta (ver com. de Cl.1:6-7). Essa “lei” diferente se opõe à lei que o ser interior aprova. A “lei do pecado” (Rm.7:23; Rm.7:25), a força maligna do v. Rm.7:21 (ver com. ali), se aproveita de todos os impulsos carnais. Que [...] me faz prisioneiro. Ou, “fazendo-me prisioneiro”. A palavra gr. aichmalotizo ocorre apenas aqui, em Lc.21:24 e em 2Co.10:5. Paulo empregou expressões muito fortes neste versículo para descrever a gravidade do conflito contra o pecado. Representa a si mesmo como envolvido em uma luta de vida ou morte para escapar do poder cativante de suas más inclinações. Guerreando contra. Do gr. antistrateuomai, a única ocorrência desta palavra no NT. A forma do verbo sugere a realização de uma campanha militar. A lei nos membros está em campanha contra a lei da mente (ver também Gl.5:17; 1Pe.2:11). A lei da minha mente. Paulo entende “mente” como uma inteligência contemplativa, o “homem interior” (v. Rm.7:22). É esse ser superior que concorda que a lei de Deus é boa (v. Rm.7:12; Rm.7:16; Rm.7:22). E a lei de Deus, revelada e aprovada pela mente, torna-se a lei da mente. Por outro lado, Paulo vê outra lei em ação com os impulsos do corpo e os desejos da carne: a lei “que está nos meus membros”, “a lei do pecado” (ver com. do v. Rm.7:21). |
Rm.7:24 | 24. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Desventurado. Do gr. talaiporos também pode ser traduzido como “angustiado”, “miserável”. A única outra ocorrência no NT está em Ap.3:17, em que talaiporos descreve a condição da igreja de Laodiceia. O sofrimento resultante do conflito interno e, às vezes, a luta agonizante entre o bem e o mal leva Paulo a emitir esse grito aparentemente desesperado, pedindo ajuda. Mas ele conhece a fonte de libertação de seus problemas e se apressa a declará-la (Rm.7:25). Quem me livrará [...]? Ou, “quem vai me salvar?” A pergunta fornece a Paulo a oportunidade de expressar a boa-nova que é tema de toda a sua epístola. A libertação vem pela lei? Alguém pode ganhar libertação e liberdade por sua força de vontade e de intelecto? Em vão as pessoas têm utilizado esses métodos, que resultaram em consequências desastrosas. Há apenas uma maneira: em “Jesus Cristo, nosso Senhor” (v. Rm.7:25). Corpo desta morte. Ou, “este corpo de morte”. A construção grega é inconclusiva sobre se “desta” está conectada com “corpo” ou com “morte”, embora esta última conexão pareça mais natural. O significado desta passagem tem sido muito debatido. Pelo menos, parece ser consensual que não há nenhuma evidência de que Paulo se refira a um costume antigo de acorrentar um prisioneiro vivo a um cadáver, embora essa prática horrível forneça uma vívida ilustração dessa situação espiritual. Paulo considera o corpo, a carne, a sede do pecado, a morada da lei do pecado que atua nos membros para levar à morte (v. Rm.7:5; Rm.7:13; Rm.7:23; Rm.7:25). Com isso, ele não quis dizer que o corpo físico é mau (ver com. do v. Rm.7:5). Seu grito de libertação é a libertação da escravidão da lei do pecado, para que o corpo deixe de servir como sede do pecado e da morte, para ser oferecido a Deus como “sacrifício vivo, santo e agradável” (Rm.12:1). |
Rm.7:25 | 25. Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Dou graças a Deus (ARC). As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “graças a Deus” (ARA). Paulo não dá uma resposta direta à sua pergunta: “quem me livrará?” Tampouco esclarece pelo que ele é grato a Deus. Mas isso é indicado pelo contexto. O que a lei, a consciência e a força humana desajudada não podem fazer, pode ser feito pelo plano do evangelho. A libertação completa está disponível por meio de Jesus Cristo e por meio dEle apenas (comparar com “graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” [1Co.15:57]). Este é o clímax para o qual aponta o raciocínio de Paulo neste capítulo. Não é suficiente ser convencido da excelência da lei ou reconhecer a sabedoria e a justiça de suas reivindicações. Não é suficiente consentir que ela é boa ou até mesmo deliciar-se com seus preceitos. Nenhum esforço sério de obediência vale contra a lei do pecado nos membros, até que o pecador em batalha se entregue à fé em Cristo. Então, a entrega a uma Pessoa toma o lugar da obediência legalista a uma lei. É visto que é uma submissão a uma Pessoa muito amada, ela é percebida como perfeita liberdade (ver CC, 19; CBV, 131; DTN, 466). Sou escravo. Alguns se perguntam por que, depois de atingir o clímax glorioso na expressão “graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”, Paulo se refira mais uma vez às lutas das quais ele, aparentemente, tinha sido libertado. Alguns entendem a expressão de ação de graças como uma exclamação entre parênteses. Acreditam que essa exclamação segue naturalmente o grito: “quem me livrará?” Sustentam que, antes de prosseguir com uma discussão ampliada da gloriosa libertação (Rm.8), Paulo resume o que disse nos versículos anteriores e confessa uma vez mais o conflito contra as forças do pecado. Outros sugerem que por “eu, de mim mesmo”, Paulo queira dizer: “entregue a mim mesmo, deixando Cristo fora de cogitação”. Acreditam que Paulo afirma aqui uma verdade geral, válida em qualquer ponto da experiência cristã. Por isso, consideram que a exclamação de Paulo não está entre parênteses, mas em boa sequência lógica. Sempre que alguém tenta encontrar a vitória sobre o pecado por si mesmo, à parte do poder de Cristo, está fadado ao fracasso. |
Rm.8:1 | 1. Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Agora, pois. Esta frase introdutória indica a estreita ligação entre Romanos 7 e 8. O cap. 8 é uma expansão da exclamação de Paulo em Rm.7:25: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.” Ele então deixa sua análise da dolorosa luta contra o pecado para uma explicação sobre a vida de paz e liberdade oferecida aos que vivem “em Cristo Jesus”. Nenhuma condenação. A boa notícia do evangelho é que Cristo veio para condenar o pecado, e não os pecadores (Jo.3:17; Rm.8:3). Para os que creem nas generosas disposições do evangelho e as aceitam e, com fé, comprometem-se a uma vida de amor e obediência, Cristo provê justificação e liberdade. Ainda pode haver deficiências no caráter do crente, mas “quando está no coração obedecer a Deus, quando são feitos esforços nesse sentido, Jesus aceita essa disposição e esse esforço como o melhor serviço do crente, e compensa a deficiência com Seu próprio mérito divino” (Ellen G. White, Signs of the Times, 16/06/1890). Para esses, não há nenhuma condenação (Jo.3:18). Em Cristo Jesus. Esta frequente expressão do NT sugere a proximidade da relação pessoal entre o cristão e Cristo. Isso significa mais do que ser dependente de Deus ou simplesmente ser Seu seguidor ou discípulo. Inclui uma união viva e diária com Cristo (Jo.14:20; Jo.15:4-7). João descreve essa união como estar “nEle” (1Jo.2:5-6; 1Jo.2:28; 1Jo.3:24; 1Jo.5:20). Pedro também fala de estar em Cristo (1Pe.3:16; 1Pe.5:14). Mas a ideia é própria de Paulo. Ele a aplica às igrejas (Gl.1:22; 1Ts.1:1; 1Ts.2:14; 2Ts.1:1), bem como às pessoas (1Co.1:30; 2Co.5:17; Ef.1:1). Jesus enfatizou a proximidade dessa união na parábola da videira e dos ramos (Jo.15:1-7). A menos que a pessoa experimente essa união transformadora com Cristo, não pode reivindicar liberdade da condenação. A fé salvadora, que traz reconciliação e justificação (Rm.3:22-26), requer a experiência que Paulo caracteriza como estar “em Cristo” (ver com. do v. Rm.8:28). Que não andam (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão da frase: “que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (ARC). Considera-se, geralmente, que foi acrescentada aqui de acordo com o v. Rm.8:4. |
Rm.8:2 | 2. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Espírito da vida. Isto é, o Espírito que dá vida. Ele é chamado assim porque exerce poder vivificante (v. Rm.8:11). A lei do Espírito da vida é o poder vivificante do Espírito Santo, vigorando como uma lei da vida. A expressão “da vida” expressa o efeito obtido, como em “justificação de vida” (ver com. de Rm.5:18) e “o pão da vida” (Jo.6:35). O Espírito traz vida e liberdade, em contraste com a lei do pecado, que produz morte e condenação (ver com. de Rm.7:21-24). Em Cristo Jesus. Alguns tradutores conectam estas palavras ao “Espírito da vida”; outros as relacionam com “te livrou”. Esta última parece ser a interpretação mais natural. Paulo enfatiza que o Espírito exerce Seu poder vivificante pela união com Cristo. É na experiência de comunhão e união com Cristo que o crente recebe poder para vencer o pecado. Porque [...] te livrou. Ou, “te libertou”. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre as variantes “me” e “te”. A diferença é irrelevante. Paulo se refere a sua experiência de novo nascimento e batismo, quando ele começou a andar “em novidade de vida” (Rm.6:4) e “em novidade de espírito” (Rm.7:6). Lei do pecado e da morte. Ou seja, a autoridade exercida pelo pecado e que leva à morte. O pecado já não exerce mais o predomínio e a influência controladora sobre a vida. O Espírito de vida, habitando no crente, inspira obediência e confere poder de mortificar “os feitos do corpo” (v. Rm.8:13). Assim, a lei do Espírito da vida atua diretamente nos membros, em oposição à lei do pecado e da morte; provê ao crente poder para vencer a influência destrutiva do pecado e o liberta da escravidão e da condenação do pecado. |
Rm.8:3 | 3. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, O que fora impossível à lei. Literalmente, “a coisa impossível da lei”. No texto grego, o artigo também está presente em conexão com “lei” (ver com. de Rm.2:12). Essa construção grega tem sido discutida. No entanto, a intenção de Paulo parece clara: Deus fez o que a lei não era capaz de fazer. Ele condenou o pecado, portanto, é possível ao cristão vencer seu poder e viver de maneira vitoriosa em Cristo. Enferma pela carne. Este fator de fraqueza já foi explicado em Rm.7:14-25. A lei pode apontar o caminho certo, mas não pode capacitar o ser humano, fraco e caído, a andar nele. Paulo continua a vindicar a lei (ver Rm.7:7; Rm.7:10; Rm.7:13-14), atribuindo sua “fraqueza” não a qualquer defeito inerente à lei em si, mas à impotência da natureza humana, corrompida e enfraquecida pelo pecado. Não é função da lei perdoar e restaurar para a obediência. A lei só pode revelar a transgressão e a justiça e ordenar obediência (Rm.3:20; Rm.7:7). Portanto, a lei de Deus não pode ser responsabilizada nem desprezada por não alcançar os resultados para os quais nunca foi designada. A responsabilidade pela incapacidade de prestar perfeita obediência é do próprio pecador. Seu próprio Filho. A palavra “próprio” enfatiza a relação entre o Pai e o Filho (v. Rm.8:32). Em Cl.1:13, Cristo é descrito como “Filho do Seu amor”, literalmente. Há a tendência de enxergar mais amor e autossacrifício em Cristo do que no Pai. É bom lembrar que foi “porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” (Jo.3:16; ver 1Jo.4:9) a fim de salvar o pecador. Deus Se sacrificou em Seu Filho (ver 2Co.5:19; cf. DTN, 762). Cristo veio para revelar o ilimitado amor do Pai (Jo.14:9; Mt.5:43-48). Carne pecaminosa. O Filho de Deus veio a este mundo com a divindade velada sob a humanidade a fim de alcançar a humanidade e com ela comungar em seu estado enfraquecido e pecaminoso. Se Ele tivesse vindo em Sua condição celestial, o pecador não suportaria a glória de Sua presença (ver PP, 330). Portanto, em Seu grande amor e propósito divino de salvar a humanidade, Jesus “não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homens” (Fp.2:6-7; ver DTN, 22, 23; vol. 5, p. 1014, 1015). Ao assumir a condição humana, era também propósito de Cristo demonstrar à humanidade e a todo o universo que Satanás e o pecado podem ser combatidos, e que a obediência à vontade de Deus pode ser prestada pelos seres humanos nesta vida (ver AA, 531; DTN, 761, 762). Desde a queda de Adão, Satanás havia apontado o pecado da humanidade como prova de que a lei de Deus era injusta e não podia ser obedecida. Então, Cristo veio para redimir o fracasso de Adão. Ele foi feito semelhante aos irmãos em todas as coisas, sofreu e foi tentado em todos os sentidos, como nós; mas viveu sem pecado (ver Hb.2:17-18; Hb.4:15; sobre a natureza humana de Jesus em relação à tentação e ao pecado, ver com. de Mt.4:1; Mt.26:38; Mt.26:41; Hb.2:17; Hb.4:15; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). E no tocante ao pecado. Ou, “a respeito do pecado”. O conectivo “e” indica ligação com a frase anterior. Deus enviou Seu Filho em semelhança da carne do pecado e tendo em vista o pecado. “No tocante ao pecado”, do gr. peri hamartias, também pode ser traduzido por “como oferta pelo pecado”. A expressão peri hamartias é usada com este sentido na LXX. Só em Levítico há mais de 50 dessas ocorrências (ver Lv.4:33; Lv.5:6-9; Lv.7:37; SI.40:6). A frase também ocorre com esse significado em Hb.10:6-8, em que é citado o Sl.40:6-8. Por isso, algumas versões optam pela tradução “como oferta pelo pecado” (NVI). Por outro lado, no entanto, o contexto pode indicar que a expressão deve ser entendida em sentido mais geral. O propósito de Paulo, nesta passagem, é explicar que o cristão pode ter vitória presente sobre o pecado. A lei foi impotente para lhe dar essa vitória, mas Deus, enviando Seu Filho, já tornou disponível o poder necessário. Cristo veio não só para assumir a penalidade do pecado na morte, mas também para destruir seu domínio e removê-lo da vida de Seus seguidores. Esse amplo propósito de Sua missão pode estar incluído nas palavras “e no tocante ao pecado”. Ele veio solucionar o problema do pecado, por meio da expiação e da destruição do poder do pecado. Assim, Ele justifica e santifica as vítimas do pecado. Condenou [...] o pecado. A humanidade impecável de Cristo é uma vívida condenação do pecado (ver Mt.12:41-42; Hb.11:7). Além disso, a cruz de Cristo (Rm.6:10) revelou a malignidade do pecado, pois foi o pecado que provocou a morte sacrificial do Filho de Deus. Essa condenação ao pecado, efetuada pela vida e morte de Cristo, também significa a destruição do poder maligno do pecado sobre o crente. Unido a Cristo em Sua morte, o crente renasce com Ele em novidade de vida no Espírito (v. Rm.6:1-13). Na carne. Cristo enfrentou, venceu e condenou o pecado no campo em que este já havia exercido seu domínio e senhorio. A carne, contexto de antigos triunfos do pecado, então se tornou o palco de sua derrota e expulsão. |
Rm.8:4 | 4. a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Justiça (ARC). Do gr. dikaioma. Esta não é a palavra comum para “justiça”, que é dikaiosune, usada por Paulo nesta epístola (Rm.1:17; Rm.3:5; Rm.4:3). Dikaioma expressa a ideia de “o que está previsto como direito”, “preceito” (ARA; cf. Rm.2:26; Lc.1:6, em que dikaioma é traduzido como “preceitos”, inclusive pela ARC). Assim, Paulo se refere aqui aos justos reclamos da lei, às suas justas exigências. Lei. O artigo está presente também no grego (ver com. de Rm.2:12). Neste contexto, Paulo ainda fala da lei, que ele aprovava (Rm.7:16) e na qual ele se deleitava (v. Rm.7:22), mas que se considerava incapaz de obedecer, sem Cristo (v. Rm.7:15-25). Se cumprisse. Ou, “se realizasse”. Deus enviou Seu Filho à semelhança de carne do pecado para que as pessoas fossem totalmente capacitadas a viver em conformidade com os preceitos de Sua santa lei. Levar a vida do ser humano à harmonia com a vontade divina é o propósito do plano da salvação. Deus não enviou Seu Filho a fim de alterar ou revogar a lei nem para libertar as pessoas da necessidade de perfeita obediência. A lei é a expressão da vontade e do caráter imutável de Deus. O ser humano caído é incapaz de obedecer às suas exigências, e a lei não possui poder para capacitá-lo a obedecer. Mas Cristo veio para tornar possível à humanidade prestar perfeita obediência. Esses versos indicam o lugar permanente e a autoridade da lei de Deus no evangelho e no plano da salvação (ver com. de Rm.3:31). Paulo não diz “fosse parcialmente cumprido”. A Bíblia sempre fala de transformação completa e de obediência perfeita (Mt.5:48; 2Co.7:1; Ef.4:12-13; Cl.1:28; Cl.4:12; 2Tm.3:17; Hb.6:1; Hb.13:21). Deus exige perfeição de Seus filhos, e a perfeita vida humana de Cristo é a certeza de Deus de que, pelo Seu poder, o cristão também pode alcançar perfeição de caráter (ver PJ, 315; AA, 531). Andamos. Literalmente, “caminhamos", no sentido de conduta habitual. Por isso, pode ser traduzida como “vivemos” (Rm.6:4; 2Co.5:7; 2Co.10:3; Ef.2:10; Ef.4:1). Não segundo a carne. Ou seja, não conforme a carne. Aqueles em quem o preceito da lei se cumpre não mais vivem de acordo com os ditames e impulsos da carne. A satisfação dos desejos carnais não é mais o princípio orientador de sua vida. Segundo o Espírito. Ou seja, a conduta de acordo com a orientação do Espírito, o Espírito de Cristo que habita no cristão (v. Rm.8:9). As justas exigências da lei se cumprem nele. O que a lei exige está resumido no amor cristão, pois “o amor é o cumprimento da lei” (Rm.13:10). Da mesma forma, o resultado da ação do Espírito Santo na vida é o amor, pois “o fruto do Espírito é amor” (Gl.5:22). Assim, a vida segundo o Espírito significa uma vida em que são cumpridas as justas exigências da lei; uma vida de amor e obediência. O grande propósito para o qual Deus enviou Seu Filho ao mundo foi que essa vida fosse possível aos crentes. Alguns comentaristas preferem interpretar esta frase como se referindo particularmente ao espírito humano renovado, por intermédio do qual o Espírito Santo trabalha. Entendem que Paulo estava enfatizando que a vida do cristão não é mais governada pela natureza inferior, mas pela natureza espiritual. Essa interpretação se reflete em versões que grafam “espírito” sem letra maiuscula (ver RV). |
Rm.8:5 | 5. Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Os que se inclinam. Isto pode expressar um aspecto diferente de “andar” (v. Rm.8:4). Inclinar-se “segundo a carne” significa ter a carne como princípio governante do ser. “Andar segundo a carne” é seguir esse princípio na vida prática. “Andar” reflete a manifestação da condição interior de estar “inclinado” (ver com. do v. Rm.8:4). Cogitam. Do gr. phroneo, “pensar”, “cuidar”, “aplicar a mente e o coração”, “esforçar-se após”. A palavra denota a ação tanto dos afetos e da vontade como da razão (comparar com o uso de phroneo, em Mt.16:23; Rm.12:16; Fp.3:19; Cl.3:2). Toda a atividade mental e moral daqueles que “se inclinam” para a carne é voltada para a gratificação egoísta dos desejos não espirituais. Coisas da carne. A pessoa está sob a influência predominante de um ou outro dos dois princípios em contraste neste versículo. O princípio que obtiver o domínio determina também a natureza da vida e o caráter das ações. Paulo descreve o contraste absoluto entre as coisas da carne e as coisas do Espírito (ver Gl.5:16-24). |
Rm.8:6 | 6. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. O pendor da carne. Literalmente, “a mente [ou ‘desejo’] carnal”. Neste caso, “mente” significa “pensamento”, “objetivo”, “intenção” ou “inclinação”, como na sentença: “Ele sabe qual é a mente do Espírito” (v. Rm.8:27). Morte. Pensar apenas na satisfação dos desejos carnais é caminhar para a morte. Quem vive para esse propósito egoísta está morto (1Tm.5:6; Ef.2:1; Ef.2:5), e sua atual condição de morte espiritual só pode levar à morte eterna. O motivo para isso é explicado em Rm.8:7. Pendor [...] do Espírito. Literalmente, “a mente [ou ‘desejo’] do Espírito”. Vida e paz. Ter a mente voltada para as coisas do Espírito e os pensamentos e desejos regidos pelo Espírito resulta naquela harmonia saudável e vivificante de todas as funções espirituais e é uma garantia e antecipação da vida futura (Ef.1:13-14). A presença do Espírito Santo traz amor, alegria e paz (Cl.5:22), o início do reino de Deus, que é “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm.14:17). Aqueles que têm o “pendor do Espírito” e “andam [...] segundo o Espírito” (Rm.8:4) desfrutam a paz do perdão e da reconciliação (Rm.5:1). O amor de Deus é “derramado” em seus corações (Rm.5:5), e eles têm a alegria e o encorajamento de ver os justos requisitos da lei cumpridos em sua vida (Rm.8:4). Aguardam a salvação final e a vida eterna. Ao contrário, os que andam segundo o “pendor da carne” e “andam [...]segundo a carne” (v. Rm.8:4; Rm.8:6) conhecem apenas a experiência de escravidão e condenação (v. Rm.8:1; Rm.8:15; Rm.8:21) e só podem esperar juízo e morte (Rm.1:32; Rm.2:5-6; Rm.6:21-22). |
Rm.8:7 | 7. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Por isso. Paulo explica por que o pendor da carne dá para a morte. Pendor da carne. Do gr. phronema tes sarkos (ver com. do v. Rm.8:6). Inimizade contra Deus. Ter a mente dirigida pelas coisas da carne e, como resultado, levar uma vida egoísta é viver de forma hostil a Deus e em desarmonia com Sua vontade (ver Tg.4:4). Esse modo de agir leva ao afastamento de Deus, a fonte da vida. Essa separação significa morte. A hostilidade contra Deus é o oposto da paz em que vivem os que estão no Espírito (Rm.8:6). Não está sujeito. Na terminologia militar, o verbo significa sujeição às ordens. O tempo presente sugere insubordinação contínua. A mente dirigida pelas coisas da carne revela hostilidade a Deus mediante contínua desobediência. Nem mesmo pode estar. A mente carnal é totalmente incapaz de se submeter à lei de Deus. Unicamente mediante o poder transformador do Espírito Santo a obediência é possível novamente. Quando foi criada, a mente e, por isso, a vida do ser humano estavam em perfeita harmonia com a vontade de Deus. Os princípios da lei foram escritos em seu coração. Mas o pecado trouxe separação de Deus, e o coração dos seres humanos veio a ser preenchido por inimizade e rebeldia. Assim, desde a queda ao poder do pecado, os seres humanos seguiram as inclinações da carne, o que levou à desobediência à lei de Deus. Por esse motivo, é impossível alcançar a justiça e a salvação pelas próprias tentativas legalistas de obedecer. A menos que morra para si mesmo e para o pecado, e nasça de novo para uma vida nova no Espírito (Rm.6), o ser humano é incapaz de se submeter à vontade de Deus (ver PP, 64). |
Rm.8:8 | 8. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Portanto. Do gr. de, aqui, simplesmente, “e”. A palavra não introduz uma conclusão ou consequência do v. Rm.8:7, mas apenas repete a ideia de forma diferente e, talvez, mais pessoal. A conexão pode ser parafraseada assim: “O pendor da carne é inimizade contra Deus [...] e os que estão na carne não podem agradar a Deus.” Na carne. Esta expressão pode ser mais forte do que “segundo a carne” (v. Rm.8:4-5). Significa ser absorvido e governado pelas coisas da carne. Não podem agradar a Deus. O Senhor Se alegra com a fidelidade e a obediência. Ele Se alegrou com Seu Filho (Mt.3:17; Mt.12:18; Mt.17:5; Jo.8:29). Contempla com prazer atos de fé e de amor (Fp.4:18; Cl.3:20; Hb.13:16; Hb.13:21). Mas essa vida de fé, obediência e amor é possível apenas aos que vivem pelo poder do Espírito Santo que neles habita. Os que estão na carne não podem fazer as coisas que agradam a Deus. Sua natureza os leva à hostilidade e desobediência. Este versículo acrescenta explanação à argumentação de Paulo de que as tentativas de obediência legalista são falhas (Rm.3:20; Rm.7:14-25). Aqueles que dependem da falsa esperança de que suas próprias obras de obediência agradam a Deus e merecem Seu favor para salvá-los são alertados de que isso não é possível. Os que estão na carne não podem agradar a Deus nem obedecer à Sua lei. |
Rm.8:9 | 9. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Vós, porém. Em sua forma característica, Paulo expressa confiança em seus leitores. Mas, então, ele qualifica sua afirmação, acrescentando a condição da qual depende necessariamente essa declaração. No Espírito. Ou seja, “se tendes a mente espiritual e estais sob a direção e influência do Espírito Santo”. Se, de fato. A velha vida na carne só deixa de existir quando começa a nova vida no Espírito. O poder dominante da carne só pode ser expulso quando o Espírito é convidado a exercer controle total da vida. Quando o Espírito realmente habita no interior, cessa a vida segundo a carne. Este versículo é um convite a um exame de consciência. Temos a mente dirigida pelo Espírito e vivemos no Espírito “se, de fato” o Espírito de Deus habita em nós. Podemos saber se o Espírito habita em nós pela presença ou ausência do fruto do Espírito (Gl.5:22). A ausência do fruto evidencia que ainda vivemos na carne. Habita. Isto indica a presença contínua e permanente do Espírito, e não apenas arroubos ocasionais de entusiasmo e zelo. Em outro texto, Paulo fala do Espírito Santo habitando no coração dos cristãos (ver 1Co.3:16; 1Co.6:19). A expressão “em vós” denota a proximidade da ligação entre o crente e o Espírito. Isso implica a completa submissão da vontade do crente à vontade de Deus. Espírito de Cristo. Em outros textos, o Espírito Santo é chamado de “Espírito de Cristo” (1Pe.1:11; 2Pe.1:21), “Espírito de Seu Filho” (Gl.4:6) e “Espírito de Jesus Cristo” (Fp.1:19; sobre a relação do Espírito Santo com Cristo, ver Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:7; Jo.16:13-14). Esse tal não é dEle. Ou, “não pertence a Ele”. Não é suficiente estar intelectualmente convencido da veracidade do cristianismo. O Espírito de Cristo deve habitar na vida. A profissão de fé, em si, não torna a pessoa uma verdadeira seguidora de Cristo. É possível saber que realmente pertencemos a Ele se Ele nos deu do Seu Espírito (1Jo.4:13). O amor, a alegria, a paz e as outras graças do Espírito (Gl.5:22) são evidências do verdadeiro cristianismo. Mas se, ao contrário, a vida está marcada por crueldade, egoísmo e vaidade, então é porque a pessoa não é dEle. Este versículo é repleto de advertências. O cristão pode defender as doutrinas e estar em conformidade com as práticas da igreja; pode ser ativo na causa de Deus e disposto a doar os bens para alimentar os pobres ou mesmo a oferecer o próprio corpo para ser queimado; mas, se o Espírito não habitar nele, e o fruto do Espírito (Gl.5:22) não for evidente em sua vida, ele não é um dos que pertencem a Cristo (1Co.13:3). O orgulhoso, vaidoso, frívolo, mundano, avarento, cruel e crítico tem comunhão, não com o Espírito de Cristo, mas com outro espírito (T5, 225). |
Rm.8:10 | 10. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se, porém, Cristo. Isto mostra que ter o Espírito de Cristo (v. Rm.8:9) é ter Cristo habitando no coração, como princípio de vida (ver Jo.6:56; Jo.15:4; 2Co.13:5; Gl.2:20; Ef.3:16-17; Cl.1:27). O corpo, na verdade, está morto. Os comentaristas têm interpretado este texto de diversas maneiras. No entanto, a referência evidente do v. Rm.8:11 à ressurreição do corpo mortal indica que Paulo trata da morte física por causa do pecado (Rm.5:12). Mesmo os que nasceram de novo para uma nova vida no Espírito ainda estão sujeitos à morte, que passou de Adão a todos. Mas, uma vez que o Espírito habita neles, aguardam a ressurreição e a vida eterna (Rm.8:11). O espírito. Ou, “o Espírito” (NTLH). O contexto, especialmente o contraste direto entre “corpo” e “espírito” (1Co.7:34; 2Co.7:1; Tg.2:26), parece indicar que Paulo se refere ao espírito humano. É vida. Paulo não diz que o espírito “está vivo”, mas que “é vida”, apesar de muitas versões recentes traduzirem como “está vivo” ou “tem a vida”. O espírito humano, que é permeado pelo poder vivificante do Espírito Santo, possui vida sustentada em Deus. É no espírito (mente) da pessoa que o Espírito de Deus realiza Sua obra vivificadora e transformadora. Por causa da justiça. Ao longo das Escrituras, a justiça é frequentemente associada à vida, assim como o pecado o é à morte. Quando há justiça na vida, há evidência da presença e do poder do Espírito de Deus; e isso significa vida. Alguns comentaristas preferem limitar o significado da justiça nesta passagem à justiça de Cristo atribuída ao crente para a justificação que dá vida (Rm.5:18). Mas o contexto não parece indicar essa limitação. Tomando a justiça em seu sentido mais amplo, o significado da expressão parece ser que, embora o corpo esteja morto por causa do pecado de Adão, do qual todos participam (ver com. de Rm.5:12), o espírito é vida por causa da justiça de Cristo, atribuída na justificação e, depois, transmitida na santificação. Esse dom da justiça é acompanhado pelo dom da vida eterna (Rm.5:17-18; Rm.5:21). A evidência do recebimento do dom da justiça e da reconciliação com Deus é a presença do Espírito de Deus (Ef.1:13). |
Rm.8:11 | 11. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita. Vivificará também. Paulo fala da ressurreição de Cristo como o penhor da ressurreição do crente (1Co.6:14; 1Co.15:20-23; 2Co.4:14; Fp.3:21; 1Ts.4:14). Por meio do Seu Espírito. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante: “por causa de Seu Espírito”. De acordo com a tradução da ARA, o Espírito Santo é o poder pelo qual os mortos são ressuscitados. De acordo com o outro entendimento, o Espírito Santo é o motivo para serem ressuscitados. As duas ideias são verdadeiras e apropriadas ao contexto. O Espírito Santo é o Espírito da vida (v. Rm.8:2), e é natural que, quando o Espírito está presente, também haja vida. Portanto, seria correto dizer que, tanto “pelo poder do Espírito” como “por causa da presença do Espírito”, Deus vai ressuscitar aqueles nos quais o Espírito doador de vida habita. |
Rm.8:12 | 12. Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Somos devedores. A presença salvífica do Espírito Santo traz obrigações morais de se viver de acordo com o pendor do Espírito. Paulo explica que o poder da carne produz morte (v. Rm.8:6). Portanto, o crente não deve estar sob as ordens de sua natureza carnal. Por outro lado, o Espírito de Deus traz liberdade da escravidão e da condenação do pecado (v. Rm.8:2; Rm.6:22), sendo a garantia da vida eterna por vir (Rm.8:11). Isso coloca na posição de devedores aqueles pelos quais o Espírito realiza essa obra salvífica e transformadora. Eles devem tudo ao Espírito, e sua fidelidade e obediência devem ser completas, tendo em vista esse poder superior presente em sua vida. Este versículo é uma resposta aos que não compreendem a liberdade do evangelho. O evangelho liberta da condenação da lei e do erro destrutivo de tentar guardar a lei pelos próprios esforços. Mas ele não isenta da obediência à lei de Deus, que é o eterno e imutável decreto de Deus ao qual todas as Suas criaturas devem obedecer (ver com. de Rm.3:31). Longe de o evangelho ser o fim da obediência, ele é o começo da verdadeira obediência. Paulo mostra que o Espírito desperta a vontade e a motivação para obedecer. Quando se permite ao Espírito plena atuação na vida, essa necessidade de obedecer não representa qualquer sentimento de subserviência. Na verdade, há um sentimento de alegria na harmonia com a vontade de Deus (cf. Rm.7:22), quando o Espírito Santo nos dá poder para viver segundo a mesma. Segundo a carne. Ver com. dos v. Rm.8:4-5. |
Rm.8:13 | 13. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis. Caminhais para a morte. O texto grego é mais enfático do que a forma verbal em português expressa. Para os que vivem segundo a carne, a morte é inevitável (comparar com Rm.6:21). Mortificardes. O tempo presente indica um processo contínuo de mortificação. Os feitos do corpo. Paulo se refere às ações do corpo, considerando sua tendência moral, que, neste caso, é inclinada para o mal. Neste versículo, o apóstolo reafirma o argumento desenvolvido nos dois capítulos anteriores, de que a vida carnal significa a morte, mas a crucifixão da carne significa vida (ver Rm.6:6; Rm.8:6). O cristão não deve ceder aos impulsos e apetites do corpo, a não ser quando estejam em conformidade com a lei de Deus. O comer, o beber e tudo o que faz, deve ser realizado tendo em vista a glória de Deus (1Co.10:31). Certamente, vivereis. Este é o futuro simples do verbo, portanto, difere da forma da expressão “caminhais para a morte”. A distinção sugere que, embora a morte seja a consequência inevitável de uma vida segundo a carne, a vida eterna não é exatamente a consequência de se mortificar as obras do corpo. É, antes, um dom de Deus por meio de Cristo (ver com. de Rm.6:23). Seja qual for a profissão de vida espiritual, permanece para sempre a verdade de que, quando se vive segundo a carne, a morte é certa (ver Gl.6:7-8; Ef.5:5-6; Fp.3:18-19; 1Jo.3:7-8). Um dos dois deve morrer: a vida de pecado ou o pecador. Ninguém pode ser salvo em seus pecados. |
Rm.8:14 | 14. Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. São guiados. Ou, “estão sendo guiados”. O tempo presente indica ação contínua. A direção do Espírito não significa um impulso momentâneo, mas uma influência habitual e constante. Os filhos de Deus não são aqueles cujo coração é tocado ocasionalmente pelo Espírito, ou que vez por outra se submetem a Seu poder. Deus reconhece como filhos os que são continuamente guiados pelo Seu Espírito. O poder orientador e transformador do Espírito é descrito como guiando, nunca forçando. Não há coerção no plano da salvação. O Espírito só habita naqueles que O aceitam pela fé. E a fé significa submissão voluntária à vontade de Deus e à influência do Espírito Santo. Filhos de Deus. Paulo pode estar fazendo alguma distinção entre “filhos” (huioi, substantivo masculino) e “filhos” (tekna, substantivo genérico, “crianças”; v. Rm.8:16). Se assim for, “crianças” denota a relação natural que os filhos têm com seus pais, enquanto “filho” implica, além disso, o status e os privilégios reservados aos herdeiros. No v. Rm.8:15, a posição de filiação é contrastada com a dos servos ou escravos (ver Gl.3:26; Gl.4:1-7). Enquanto vive sob a lei, a pessoa é escrava (ver com. de Rm.6:14) e procura, pelas próprias obras, obter a recompensa. Mas, apesar dos melhores esforços para estabelecer a própria justiça, ela colhe apenas condenação e ira e está diante de seu Senhor e Juiz com temor e tremor. Como escrava, a pessoa não tem parte na herança. Não espera a vida, mas a morte. Todavia, quando, pela fé, ela alcança justificação e nasce do Espírito Santo, passa de um estado de escravidão para o de filiação. Em vez da ira do Juiz, o amor do Pai então repousa sobre ela. Em vez do medo de um escravo, tem a confiança de um filho. Ser filho de Deus é viver verdadeiramente (Rm.8:13). O privilégio da filiação é apenas para os que são guiados pelo Espírito. Eles nasceram de novo (Jo.1:12-13; Jo.3:3-8) e, sendo judeus ou gentios, são os verdadeiros filhos de Abraão, os filhos da fé (Gl.3:7). |
Rm.8:15 | 15. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. Porque não recebestes. O texto grego pode ser entendido como uma referência ao início da vida cristã, quando o crente é reconciliado, justificado e nasce de novo. Nesse momento, Deus envia o Espírito ao crente (Gl.4:5-6). O espírito de escravidão. Paulo não se refere ao espírito humano nem ao Espírito divino. Ele faz um uso geral do termo “espírito” para expressar um estado de espírito, um hábito ou sentimento. Assim, a expressão pode ser traduzida como “o senso de escravidão”, “um sentimento de servidão”, “um espírito servil”. Isto pode ser comparado a “espírito de ciúmes” (Nm.5:14; Nm.5:30), “espírito angustiado” (Is.61:3), “espírito de prostituição” (Os.4:12), “espírito de enfermidade” (Lc.13:11), “espírito de mansidão” (1Co.4:21), “espírito de covardia” (2Tm.1:7), “espírito do erro” (1Jo.4:6). A servidão, que ao longo desta epístola é contrastada com a liberdade dos filhos de Deus, é a escravidão do pecado (Rm.6:6; Rm.6:16-17; Rm.6:20; Rm.7:25) e da morte como consequência do pecado (Rm.5:21). Outra vez, atemorizados. Isto implica uma recaída no estado de medo em que a pessoa vivia antes de ser cristã. Quem ainda está sob a lei e na escravidão do pecado (Rm.6:14) se assombra sob o peso do pecado não perdoado (Rm.1:32; Hb.2:14-15). Quando o Espírito Santo é recebido, esse estado desditoso termina. O Espírito traz vida, amor e libertação do temor (1Jo.4:18), com a certeza de que, em vez de ser escravo, o cristão é filho e herdeiro. Adoção. Do gr. huiothesia, literalmente, “colocar como um filho”. Há alguma diferença de opinião quanto se a frase “o Espírito de adoção” é uma referência ao Espírito Santo, que produz a condição de adoção, ou ao espírito, que é característica dos que são admitidos a essa relação de filiação. Se Paulo trata da consciência de adoção, “espírito” deve ser escrito sem maiuscula, que é o caso de muitas versões (em contraste com NVI e ACF). Naturalmente, é o Espírito Santo que traz a consciência de filiação. A consciência da adoção produz o sentimento de carinho, amor e confiança, como os filhos têm em relação a seus pais, e não o espírito servil, temeroso dos escravos em relação aos senhores. Os judeus não deviam ter a prática da adoção, mas ela não era incomum entre os gregos e romanos. A maneira de Paulo usar esse termo era, portanto, compreensível a seus leitores em Roma. Ele usa a expressão em outros textos de suas epístolas para descrever a adoção típica da nação judaica (Rm.9:4), a adoção real de crentes judeus e gentios como filhos de Deus (Gl.4:5; Ef.1:5) e a adoção aperfeiçoada dos crentes no futuro estado de glória (Rm.8:23). Adotar é tomar e tratar um estranho como o próprio filho, e Paulo aplica o termo para os cristãos porque Deus os trata como Seus próprios filhos, mesmo que, por natureza, fossem estrangeiros e inimigos (Rm.5:10; Cl.1:21). Considerando que, por natureza, o pecador não tem nenhum direito em Deus, Seu ato de adotá-lo é de puro e soberano amor (Jo.3:16). Significa também que, como filho adotivo, o pecador está sob a proteção e o cuidado de Deus e que, em gratidão, deve manifestar obediência voluntária em todas as coisas (ver com. de Rm.8:12). No qual clamamos. Literalmente, “no qual gritamos”. Também pode ser traduzido como, “quando choramos”, caso em que as palavras seriam ligadas ao versículo seguinte, como ocorre em algumas versões (ver RSV). Se a outra conexão for seguida, Paulo estaria dizendo que o grito é motivado pela consciência da adoção como filhos de Deus. A palavra traduzida como “grito” significa um brado expressivo de profunda emoção. Aba, Pai. A primeira palavra é uma transliteração do aramaico, a língua falada pelos judeus na Palestina. A segunda é traduzida do grego, língua também entendida por muitos judeus da Palestina. A menção da palavra “Pai”, primeiramente em aramaico e, depois, em grego, reflete o caráter bilíngue das pessoas às quais o cristianismo chegou. Porém, parece não haver explicação definitiva do motivo da repetição. Ela ocorre uma vez em Mc.14:36, e Paulo a usa novamente em Gl.4:6. Alguns sugerem que a palavra grega tenha sido introduzida por Paulo e Marcos simplesmente para explicar o significado do termo aramaico aos leitores de língua grega. No entanto, outros dizem que as três passagens em que ocorre essa repetição são emocionais e que, por isso, a repetição pode indicar a intensidade do sentimento. |
Rm.8:16 | 16. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. O próprio Espírito. Ou, “o mesmo Espírito”, como em muitas versões (ver ARC). O gênero gramatical da palavra “Espírito”, do gr. pneuma, é neutro. Assim, o adjetivo “próprio” no grego também é neutro. Quando o Espírito Santo é mencionado pelo nome masculino Parakletos, “Consolador”, é utilizado o pronome masculino (ver Jo.15:26; Jo.16:7; Jo.16:13). É óbvio que a personalidade do Espírito Santo não pode ser discutida pelo gênero dos pronomes que podem ser utilizados (cf. AA, 53; TM, 64). A obra do Espírito Santo é declarada nas Escrituras (ver Jo.14:26; Jo.16:8; Jo.16:13-15; Rm.8:26), mas a natureza do Espírito Santo é um mistério. Em “relação a tais mistérios, demasiado profundos para o entendimento humano, o silêncio é ouro” (AA, 52). Com o nosso espírito. O testemunho do espírito do próprio crente de que ele é filho de Deus depende do testemunho do Espírito Santo de que isso é assim. Paulo diz que “ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1Co.12:3). Também é verdade que ninguém pode chamar a Deus de Pai, se não for pelo mesmo Espírito (Gl.4:6). A seguinte tradução torna esta passagem um estreito paralelo a Gl.4:6: “Quando clamamos: ‘Aba, Pai’, é o próprio Espírito testificando com o nosso espírito de que somos filhos de Deus” (RSV). Filhos de Deus. Da mesma forma que nos tornamos filhos de Deus pelo poder regenerador do Espírito (Jo.1:12-13; Jo.3:5), a certeza de que somos filhos de Deus vem pela habitação do Espírito (Rm.8:14). O fato de Ele habitar em nós evidencia-se pela presença do fruto do Espírito (Gl.5:22). Se há amor para com Deus e os semelhantes, pode-se saber que já se passou da morte para a vida (1Jo.3:14), que se tornou filho do Pai celestial (Mt.5:44-45), adotado na família divina. |
Rm.8:17 | 17. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Também herdeiros. No plano de Deus para a restauração completa do ser humano, filiação e herança ocorrem juntas (Gl.4:7). Se nascemos de novo e somos adotados como Seus filhos, Deus também nos trata como herdeiros. A herança é o reino da glória (Mt.25:34; 1Pe.1:4-5) e vida eterna (Rm.2:7). A plena posse dessa herança é ansiosamente aguardada pelos filhos de Deus (Rm.8:18-25; 1Jo.3:1-3). Coerdeiros. Jesus Se descreveu como “herdeiro” na parábola dos lavradores maus (Mt.21:38). Como o “primeiro entre muitos irmãos” (Rm.8:29), Cristo admite que Seus irmãos igualmente compartilham a herança que Ele conquistou, não para Si, mas para eles (ver Jo.17:22-24; 2Tm.2:11-12; Ap.3:21). Com Ele sofremos. Ou, “sofremos juntamente”. No grego, Paulo usa três palavras compostas antecedidas pela preposição sim, “com”. Os cristãos são “coerdeiros”, ou herdeiros em conjunto (sugkleronomoi que “sofrem com” (sumfascho) e estão “glorificados com” (sundoxazo). Se sofremos com Cristo, Deus nos trata como coerdeiros com Seu próprio Filho. O mero sofrimento não satisfaz a condição aqui implícita. Ele deve estar sofrendo com Cristo (2Tm.2:11-12). A vida de Cristo é um exemplo para o crente. Através da dor, Jesus alcançou a paz; pelo sofrimento, chegou à glória. Assim também farão todos os que O amam (Mt.10:38; Mt.16:24; Mt.20:22; 2Co.1:5; Cl.1:24; 1Ts.3:3). Sofrer com Ele significa sofrer por causa dEle e do evangelho. Quando os primeiros cristãos foram confrontados com a perseguição cruel por amor a Cristo, Pedro os encorajou com as palavras: “Pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de Sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe.4:13). Sofrer com Cristo pode significar também lutar contra os poderes da tentação, como Ele o fez, para que, assim como Ele foi aperfeiçoado “por causa do sofrimento” (Hb.2:9-10; Hb.2:18), também o sejamos nós. O plano de salvação não oferece aos crentes uma vida imediata livre de sofrimento e provações. Pelo contrário, convida-os a seguir a Cristo no mesmo caminho de abnegação e opróbrio. Assim como Jesus sofreu a oposição de Satanás e a perseguição do mundo, assim também o é para todos os que são transformados à Sua semelhança. A diferença deles em relação ao mundo provoca hostilidade. Mas é por essas provas e perseguições que o caráter de Cristo é reproduzido e revelado em Seu povo. “Muitos serão purificados, embranquecidos e provados” (Dn.12:10). Ao compartilhar os sofrimentos de Cristo, somos educados, disciplinados e preparados para compartilhar as glórias futuras. |
Rm.8:18 | 18. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. Tenho por certo. Do gr. logizomai. A mesma palavra é traduzida em outros lugares como “pensas” (Rm.2:3), “concluímos” (Rm.3:28), “suponho” (2Co.11:5) e “julgo” (Fp.3:13). Não denota mera opinião ou suposição, mas julgamento ponderado. Os sofrimentos. Paulo podia falar disso, por sua experiência dolorosa. Quando escreveu esta carta, ele já tinha sofrido muito por Cristo e pelo evangelho, e muito sofrimento ainda lhe estava reservado antes de sua execução (ver At.19:23-41; At.20:23; At.21:27-36; 2Co.1:3-11; 2Co.6:4-10; 2Co.11:23-33; Cl.1:24). Tempo presente. À luz da eternidade, o presente nada mais é que um período breve e transitório, uma “leve e momentânea tribulação” (2Co.4:17). Comparados. Em comparação com a glória vindoura, todos os sofrimentos da vida presente se tornam insignificantes (ver PE, 17). A ser revelada. Paulo representa a futura revelação da glória como algo que certamente acontecerá. As mesmas palavras são utilizadas na mesma ordem categórica, em Gl.3:23. A glória prestes a ser revelada inclui o brilho celestial da segunda vinda e a manifestação de Cristo em toda a Sua divina perfeição e pleno poder (ver Tt.2:13). Essa glória será compartilhada pelos fiéis seguidores de Cristo (Cl.3:4), pois eles serão semelhantes a Ele, quando O virem como Ele é (1Jo.3:2). Eles O refletirão como um espelho e serão transformados à mesma imagem, de glória em glória (2Co.3:18). A revelação da glória também incluirá o esplendor e a beleza do Céu, do trono de Deus (At.7:49), lugar brilhante e glorioso (Ap.21:10-11; Ap.21:23-24; Ap.22:5). A expectativa dessa glória futura sustentará os cristãos em suas aflições terrenas. Os sofrimentos podem parecer intensos, mas são “leves” em comparação com o “eterno peso de glória” que lhes espera (2Co.4:17). São apenas por um momento, mas a glória será eterna. Passam logo, mas a glória nunca vai escurecer nem diminuir (1Pe.1:4). Em nós. Ou, “para nós”. A preposição eis sugere a ideia de que a glória se estende a nós em sua esplendorosa transfiguração. |
Rm.8:19 | 19. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Ardente expectativa. Do gr. apokaradokia. Esta palavra grega altamente expressiva é composta de três partes: apo, “longe”, kara, “cabeça”, dokeo, aqui, “aguardar”. O significado literal seria “aguardar com a cabeça erguida”. O prefixo apo, “longe” sugere um distanciamento de tudo e a fixação dos olhos em um único objeto. Sugere esperar com a cabeça erguida e os olhos fixos naquele ponto do horizonte a partir do qual o objeto esperado está por vir. Criação. Do gr. ktisis, “criação”. A palavra ktisis pode significar tanto o ato criador (ver Rm.1:20) como a coisa criada (ver Mc.16:15; Rm.1:25; Rm.8:22; Cl.1:23; Hb.4:13). Aqui é utilizada neste último sentido. O significado da passagem tem sido debatido longamente, e os comentaristas têm procurado traçar linhas de distinção entre o que está e o que não está incluído no termo “criação”. Alguns entendem que a “criação” se refere a todo o mundo da natureza, seres animados e inanimados, exceto o ser humano. Outros incluem também o mundo da humanidade. Alguns pensam que só a humanidade está em discussão. Talvez seja melhor não limitar a aplicação, pois, certamente, toda a natureza, em sentido figurado, e a humanidade, literalmente, gemem sob a maldição e esperam a liberdade. Não é incomum nas Escrituras que o mundo da natureza seja descrito como se fosse capaz de ter consciência humana (ver Dt.32:1; Is.35:1; Os.2:21-22). Aguarda. Do gr. apekdechomai, palavra rara no NT (Rm.8:23; Rm.8:25; 1Co.1:7; Gl.5:5; Fp.3:20; Hb.9:28; 1Pe.3:20, em que evidências textuais atestam a variante apexedecheto). Como a palavra traduzida por “ardente expectativa”, esta também é muito expressiva. Denota esperar por alguma coisa com forte desejo e expectativa, com a atenção retirada de tudo mais. Revelação. Do gr. apokalupsis, “revelação”, título do último livro do NT. Apokalupsis está relacionado com o verbo traduzido como “revelou” (apokalupto), no v. Rm.8:18. A revelação dos filhos de Deus será a manifestação pública de toda a obra da graça redentora, em sua plenitude. Isso ocorrerá na segunda vinda de Cristo (Cl.3:4; 1Jo.3:2), em que os justos mortos serão ressuscitados, e os vivos serão arrebatados para o encontro com o Senhor nos ares (1Co.15:51-53; 1Ts.4:16-17). A descrição de Paulo mostra que a criação aguarda ansiosamente por essa revelação. |
Rm.8:20 | 20. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, Está sujeita. O tempo do verbo grego indica que o evento ocorreu em um momento particular, que seria a queda de Adão e Eva. O pecado do ser humano produziu consequências que alcançaram todo o mundo ao redor. Quando o homem, centro da criação, foi desviado de seu verdadeiro curso, toda a esfera da qual ele era o centro foi afetada e ficou sob a sentença divina (Gn.3:17-19). Vaidade. Do gr. mataiotes. Esta palavra expressa ausência de finalidade, frustração, expectativas frustradas. Há apenas outras duas ocorrências de mataiotes no NT (Ef.4:17; 2Pe.2:18). O verbo relacionado, mataioo, pode ser comparado com “tornaram-se nulos” (Rm.1:21), com o adjetivo relacionado, mataios, “vão” (1Co.3:20; 1Pe.1:18). O livro de Eclesiastes é um comentário sobre a “vaidade” (ver Ec.1:2). Embora, no princípio, Deus haja criado tudo “muito bom” (Gn.1:31), depois, por toda parte, mostraram-se as marcas da decadência e da morte. A fúria dos elementos e os instintos destrutivos dos animais são uma prova da vaidade e da falta de rumo a que a criação foi submetida. Tudo que é imperfeito, corrompido e vil é a sombra que Adão, pelo pecado, lançou sobre sua posteridade: os descendentes, os animais, as plantas e todo o seu domínio. Não voluntariamente. Era Adão que tinha a escolha entre o serviço a Deus ou pela vaidade, e por causa de sua decisão rebelde, a humanidade e a natureza ficaram sujeitos à vaidade. Sua posteridade não teve escolha. A natureza é inocente. No entanto, Deus providenciou um meio de escape (ver com. de Ez.18:2). Por causa dAquele. A cláusula diz, literalmente, “por conta de quem o sujeitou”. Alguns a têm relacionado à humanidade como um todo, ou a Adão, em particular, ao passo que outros a relacionam a Deus. A última opção talvez seja a interpretação mais simples (sobre por que a maldição foi permitida, ver com. de Ez.18:2; ver GC, 497-499). |
Rm.8:21 | 21. na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Na esperança. Muitos comentaristas e algumas versões conectam estas palavras ao v. 21; e traduzem: “na esperança de que a criação”. Qualquer que seja a conexão, o significado deixa claro que a sujeição à vaidade não era o fim do propósito de Deus. A criação foi submetida na esperança de que alcançasse o objetivo que Deus tinha em mente ao sujeitá-la. O mundo da natureza foi feito para a humanidade e, em seu estado original, estava adaptado para servir às alegrias e felicidade de seres humanos sem pecado. Mas, quando o homem caiu, a natureza também mudou, e foi adaptada para atender à condição alterada do ser humano e para servir ao plano da redenção. O paraíso estava perdido e, sob a maldição do pecado, toda a natureza testemunha à humanidade o caráter e os resultados da rebelião contra Deus. Mas a “vaidade” da natureza se tornou um incentivo para que os seres humanos exercessem as faculdades morais e físicas. A vida de lutas e cuidados que, a partir de então, deveriam ser o destino do ser humano foi planejada para o bem final dele. Era uma disciplina necessária como resultado do pecado (ver PP, 59, 60). Além disso, a história da terrível experiência de rebelião serviria para alertar contra a futura transgressão (ver GC, 499). Criatura (ARC). Melhor, “a criação” (ARA; ver com. do v. Rm.8:19). O cativeiro da corrupção. Isto é, o estado de sujeição que resultou em dissolução e decomposição. A sujeição involuntária a uma condição que resulta em corrupção é chamada de “escravidão”. A liberdade da glória. Liberdade é um dos elementos do estado de glória mencionados no v. Rm.8:18. No aparecimento de Cristo, toda a criação espera compartilhar da emancipação prometida. Para os filhos de Deus, “a liberdade da glória” significa completa liberdade da presença e do poder do pecado, liberdade da tentação, da calamidade e da morte. No estado futuro de glória, eles estarão livres para exercer as suas faculdades em perfeita harmonia com a vontade e os propósitos de Deus. A mais elevada forma de liberdade é estar sob a soberania e o governo do sábio Criador. Na Nova Terra, a alegria e o desejo dos salvos será viver em harmonia com Deus. Uma vida de obediência eterna é a verdadeira liberdade. A longa história do pecado provou que tudo é escravidão, exceto o serviço a Deus; tudo é escravidão, a não ser a submissão às ordens divinas. |
Rm.8:22 | 22. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. Porque sabemos. Paulo apela para a experiência de seus leitores em suas observações do mundo ao redor. Criação. Do gr. ktisis. Esta é a mesma palavra traduzida como “criatura”, nos v. 19, 20 e 21 (ver com. do v. Rm.8:19). Geme. Estas dores indicam esperança, bem como sofrimento. Paulo retrata a criação sob as dores de parto, uma vez que aguarda a libertação (Jo.16:21). Somente o cristão, com as Escrituras nas mãos, pode explicar o mistério do sofrimento e da tristeza. Mediante a revelação da Palavra de Deus, ele conhece a causa e a origem do sofrimento que vê em “toda a criação”. Sabe que as dores de um mundo em agonia apontam para a futura libertação, em que haverá “novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pe.3:13). Até agora. As dores da criação têm existido desde a entrada do pecado, e o sofrimento não vai cessar até a vinda de Cristo. |
Rm.8:23 | 23. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Não somente ela. Literalmente, “não apenas”. É melhor acrescentar “a criação”. Os cristãos, juntamente com o restante da criação, suspiram pelo momento em que sua adoção como filhos de Deus será completa, e seu corpo mortal, transformado. Tudo o que eles viram até então só os faz aspirar por algo mais. Nós [...] igualmente. A repetição é um recurso de ênfase. Mesmo os cristãos, sob tantas bênçãos espirituais, também gemem juntamente com a criação. Embora tenham as primícias do Espírito, a santificação está apenas começando, e há tempo para alcançar a perfeição e redenção completa. Cada dom da graça de Deus traz um suspiro correspondente pelo que ainda está faltando. Primícias. Do gr. aparche. Esta palavra é usada na LXX para os primeiros frutos da colheita, a parte consagrada a Deus como oferta de gratidão (Ex.23:19; Lv.23:10; Dt.26:2). As “primícias do Espírito” podem ser entendidas como os dons iniciais do Espírito Santo, o penhor do pleno derramamento do poder divino. O Espírito Santo desceu em proporção especial no Pentecostes, e Suas bênçãos continuaram, como é evidente pelos vários dons espirituais (1Co.12-14) e pela transformação de caráter que distingue os cristãos verdadeiros (Gl.5:22-23). A aquisição desses dons iniciais só aumentou o desejo de uma concessão maior, especialmente, o dom da imortalidade, quando o corpo terrestre se transformará em corpo celestial (ver 1Co.15:44-53; 2Co.5:1-5). O texto grego desta passagem também pode ter o sentido de que o Espírito mesmo é as primícias, como promessa ou antecipação das bênçãos porvir (2Co.1:22). Aguardando. Do gr. apekdechomai (ver com. do v. Rm.8:19). Adoção. Do gr. huiothesia (ver com. do v. Rm.8:15). O cristão que recebeu o dom do Espírito Santo já é um filho adotivo de Deus (Rm.8:15-16; Gl.4:6). Mas o cumprimento final dessa adoção ocorrerá na “manifestação dos filhos de Deus” (Rm.8:19) por ocasião da vinda de Cristo. Redenção do nosso corpo. O pleno cumprimento da adoção ocorre quando o corpo for resgatado. Paulo usa a palavra “redenção” (apolutrosis) não para enfatizar a ideia de resgate (ver com. de Rm.3:24), mas apenas para expressar a libertação da escravidão. Na segunda vinda de Cristo, o corpo será libertado da atual condição de fraqueza, pecado, decadência e morte (ver 1Co.15:49-53; Fp.3:21; 1Ts.4:16-17). |
Rm.8:24 | 24. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Na esperança. Normalmente, Paulo fala da fé, em vez da esperança, como o canal de salvação (Rm.3:28). No entanto, alguns favorecem a tradução “por meio da esperança” (NTLH, KJV). As duas traduções se ajustam ao contexto. Mesmo que a esperança seja diferente da fé (1Co.13:13), ela é inseparável dela. É a esperança que apresenta vividamente a salvação diante do crente e assim o leva a se esforçar, pela fé, para obtê-la. Fomos salvos. Às vezes, Paulo diz, literalmente, “sois salvos” (Ef.2:5; Ef.2:8); outras vezes: “estais sendo salvos” (1Co.15:2) e, às vezes, “serás salvo” (Rm.10:9; Rm.10:13). Para o crente em Cristo, a salvação é uma condição já experimentada, mas que também deve ser mantida na vida diária. E ela não chega ao completo cumprimento antes da vinda de Cristo. Quando, pela fé, a pessoa se torna filha de Deus, pode-se dizer que foi salva. Isso está em harmonia com a afirmação: “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At.2:47). No entanto, quando o cristão é um “recém-nascido”, a salvação está apenas começando. Ele deve esperar uma vida de contínuo crescimento e transformação e a futura e completa libertação. O cristão pode ser tentado a supor que sua salvação é uma certeza e, por isso, relaxar a vigilância e o exame interior. Nesse caso, é bom lembrar o testemunho do mesmo apóstolo: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado (1Co.9:27). Esperança que se vê. Neste caso, Paulo não está se referindo à esperança, como um sentimento, mas ao objeto da esperança, isto é, a coisa esperada (At.28:20; Cl.1:5; 1Tm.1:1). Quando a coisa esperada já está presente diante dos olhos, deixa de ser um objeto de esperança. A esperança não busca as coisas que se veem, mas as que não se veem (Hb.11:1). Espera. As pessoas não continuam esperando por algo que já veem e possuem. |
Rm.8:25 | 25. Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. Paciência. Do gr. hupomone, palavra que denota perseverança em meio a obstáculos. Sem dúvida, Paulo aponta para os sofrimentos mencionados no v. Rm.8:18. Ainda não se pode ver a salvação final, mas se espera por ela. Por isso, o cristão se dispõe a suportar com paciência os sofrimentos com que se depara. Aguardamos. Do gr. apekdechomai (ver com. do v. Rm.8:19; cf. v. Rm.8:23). |
Rm.8:26 | 26. Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. Semelhantemente. Alguns conectam a seção assim introduzida às palavras anteriores, no sentido de que a ajuda do Espírito é um segundo motivo de encorajamento para a espera paciente, em meio ao presente sofrimento, pela glória a ser revelada. Assim como a esperança sustenta, também o Espírito Santo sustenta. Uma fonte de encorajamento é humana, e a outra, divina. No entanto, outros preferem fazer a conexão com todo o raciocínio anterior. Nesse caso, o significado é que, assim como os que creem gemem em seu íntimo, também o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. As palavras “geme” (v. Rm.8:22), “gememos” (v. Rm.8:23) e “gemidos” (v. Rm.8:26) parecem indicar que a segunda conexão deve ser preferida. O Espírito de Deus se une ao crente e com o mundo da natureza ansiosa pela conclusão da salvação. Assiste. Do gr. sunantilambanomai, literalmente, “segurar junto”, “enfrentar”, “colocar-se em favor de [alguém]”. A única outra ocorrência deste verbo duplamente composto no NT está em Lc.10:40, em que Marta pede que Jesus envie Maria para ajudá-la. Paulo não diz que o Espírito remove as enfermidades, mas que ajuda e dá forças para vencê-las (2Co.12:8-9). Fraqueza. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a forma singular: “fraqueza”. A palavra pode se referir a fraqueza espiritual enquanto se espera pela redenção final. Mas a fraqueza particular que Paulo menciona é que “não sabemos orar como convém”. Como convém. Literalmente, “como é necessário”. Devido à falta de clareza da visão humana, o crente não sabe se a bênção que pede será a melhor. Só Deus conhece o fim desde o princípio. Portanto, em oração, deve-se expressar sempre completa submissão à vontade divina. Jesus deu o exemplo neste sentido quando orou: “Todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres” (Mt.26:39; Jo.12:27-28). O mesmo Espírito. Ou, “o próprio Espírito” (ver com. do v. Rm.8:16). Intercede. Do gr. huperentugchano. Esta é a única ocorrência do verbo duplamente composto no NT. A forma simples (entugchano) ocorre cinco vezes (At.25:24; Rm.8:27; Rm.8:34; Rm.11:2; Hb.7:25) e significa “clamar”,“interceder” ou “suplicar”. A pitoresca palavra mais longa huperentugchano enfatiza a ideia de “em seu favor”. É obra do Espírito Santo motivar a orar, ensinar o que dizer e mesmo a falar por intermédio do crente (ver Mt.10:19-20; Rm.8:15; Gl.4:6; PJ, 147). Gemidos. Do gr. stenagmoi, que ocorre no NT somente aqui e em At.7:34. O verbo stenazo, “gemer”, é usado para o suspiro de Jesus na ocasião da cura do surdo e gago (Mc.7:34) e para o anseio pelo dia da redenção (Rm.8:23). |
Rm.8:27 | 27. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos. Aquele que sonda. Isto é, Deus (1Sm.16:7; 1Rs.8:39; Je.17:10; At.1:24; Ap.2:23). Mente. Ou seja, pensamento, intenção ou propósito (ver com. do v. Rm.8:6). Deus conhece os desejos que o Espírito Santo inspira no coração. Ele não precisa que essas emoções profundas sejam expressas em palavras nem que a eloquência da linguagem O induza a ouvir. Ele entende os anseios do coração e está pronto para ajudar e abençoar. Porque. Do gr. hoti, também traduzido como “que” (ARC). Nesse caso, a tradução se baseia no entendimento de que o restante do versículo não dá o motivo pelo qual Deus conhece a intenção do Espírito, mas uma descrição da natureza da intercessão do Espírito. A maioria, contudo, prefere “porque”. Segundo a vontade de Deus. Literalmente, “segundo Deus” (ver 2Co.7:9). No grego, estas palavras estão em posição de destaque antes do verbo “interceder”. A segunda metade deste versículo oferece as razões pelas quais Deus conhece a mente do Espírito. O Espírito intercede em conformidade com a vontade e propósito de Deus, pois “o Espírito a todas as coisas perscruta” (1Co.2:10). Além disso, a intercessão do Espírito é pelos “santos”, e os santos são o objeto especial do propósito divino, de acordo com o qual o Espírito intercede. O propósito de Deus para os santos é o tema dos versículos seguintes. Intercede. Do gr. entugchano (ver com. do v. Rm.8:26). O Espírito Santo é o outro “Consolador” (Parakletos, ver com. de Jo.14:16), que defende a causa de Deus em nós, assim como Cristo é nosso “Advogado” (Parakletos) junto ao Pai (1Jo.2:1). Pelos santos. Literalmente, “por santos”. |
Rm.8:28 | 28. Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Sabemos. Paulo acrescenta outro motivo para se olhar confiantemente o futuro. O crente sabe que, de acordo com o eterno propósito de Deus, todas as coisas contribuem para o bem daqueles que O amam. Mesmo os problemas e sofrimentos da vida, longe de impedir a salvação, podem ajudar a aprofundá-la. A cada passo, o cristão pode estar nas mãos de Deus e cumprir o propósito divino. Todas as coisas. Paulo deseja que essa afirmação seja entendida no sentido mais amplo possível, incluindo tudo o que é mencionado nos v. Rm.8:35; Rm.8:38-39. Mas ele pode estar se referindo especialmente aos “sofrimentos do tempo presente” (v. Rm.8:18). Cooperam. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre as variantes “todas as coisas cooperam para o bem” e “Deus faz todas as coisas para o bem”. Inserindo-se a palavra “Deus” ou não, este é o significado pretendido por Paulo. É Deus quem faz com que todas as coisas cooperem para o bem de Seus filhos. Para o bem. Nada pode tocar o cristão sem a permissão do Senhor (ver Jó.1:12; Jó.2:6), e todas as coisas que são permitidas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Se Deus permite que o sofrimento e a perplexidade caiam sobre o cristão, não é para o destruir, mas para o refinar e santificar (ver com. de Rm.8:17). Os problemas e decepções tiram as afeições do mundo e levam a olhar para o Céu, para o lar. Eles ensinam a verdade sobre a condição frágil e mortal e levam a confiar em Deus em busca de apoio e salvação. Também formam um espírito mais humilde e manso, com disposição mais paciente. Essa tem sido a experiência do povo de Deus ao longo da história e, no final, ele pode dizer que tudo contribuiu para o bem e para a glória de Deus (ver SI.119:67; Sl.119:71; Hb.12:11). José foi capaz de dizer a seus irmãos: “Vós [...] intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn.50:20). Daqueles que amam a Deus. No texto grego, esta frase é enfatizada. As palavras descrevem os verdadeiros seguidores de Deus, os que têm fé e confiam na direção divina. Seu amor a Deus é uma resposta ao amor de Deus por eles e à Sua obra divina para a salvação. Antes que a pessoa, por sua vez, ame a Deus, o amor de Deus deve estar em seu coração (1Jo.4:19), assim como o Espírito Santo deve primeiro esclarecer a pessoa para que saiba orar como convém (Rm.8:26). Paulo já falou do amor de Deus pelos fiéis (Rm.5:5; Rm.5:8) e menciona isso novamente (Rm.8:39). Ele também fala várias vezes sobre o amor pelos semelhantes (Rm.12:9-10; Rm.13:8-9). Mas esta é a referência mais específica na epístola ao amor para com Deus. A fé foi mencionada frequentemente; a esperança foi tema dos versículos anteriores (ver Rm.8:24-25). Então, Paulo aumenta a lista, mencionando o amor a Deus. Evidentemente, todas as referências à fé ao longo da epístola também fazem referência ao amor, pois a fé cristã se baseia em amor e admiração a Deus e por tudo o que Ele é. Em benefício dos que têm esse amor, Deus está sempre atuando (ver 1Co.2:9; Ef.6:24; 2Tm.4:8; Tg.1:12). Chamados. O contexto indica que os chamados foram aceitos (Rm.1:6-7; 1Co.1:2; 1Co.1:24; Jd.1:1; Ap.17:14). Os cristãos são considerados “chamados” porque Deus, fazendo uso do evangelho, os chamou para a salvação. A salvação nunca é forçada ao pecador relutante, mas é resultado de sua livre aceitação do convite. Juntamente com o chamado, Deus provê a influência do Espírito Santo para tornar o chamado eficaz. Os que “amam a Deus” têm na própria experiência a evidência de que foram “chamados segundo o Seu propósito”, pois o chamado produziu o efeito pretendido (ver Rm.8:16). Propósito. Do gr. prothesis, ou seja, basicamente, uma “proposição”, a colocação de alguma coisa aos olhos dos outros. É, portanto, aplicada ao pão colocado sobre a mesa dos pães da proposição (Mt.12:4; Mc.2:26; Lc.6:4). Em Rm.3:25, o verbo do qual este termo é derivado (protithemi) é usado para descrever o ato de Deus de “propor” Seu Filho. Quando em conexão com a mente, o termo significa “plano” ou “propósito”. É propósito eterno de Deus (Ef.3:11) salvar os pecadores pela graça (2Tm.1:9). E, como que é “o propósito dAquele que faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade” (Ef.1:11), segue-se que “todas as coisas” devem “cooperar para o bem” dos que são “chamados” de acordo com esse propósito. Paulo reconhece a liberdade humana. A ênfase que essa exortação desempenha em suas epístolas prova isso. Mas, por trás de tudo, ele vê a soberania e o propósito de Deus. Não há contradição nisso, pois o propósito de Deus de salvar a humanidade se cumpre pelo exercício correto da liberdade humana. |
Rm.8:29 | 29. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Porquanto. Ou, “porque”. A confiança expressa no v. Rm.8:28 é justificada e confirmada por uma explicação sobre a forma como é desenvolvido o propósito de Deus para aqueles que O amam. Esse propósito inclui todas as fases do processo de salvação (v. 29, 30). Assim, os que aceitam o chamado de Deus e se submetem a Seu propósito têm a certeza de que Ele vai completar por eles cada etapa em Seu plano de salvá-los. As aflições nada mais são do que o meio pelo qual eles devem chegar a “ser [...] conformes à imagem de Seu Filho”. O significado do v. 29 tem sido objeto de discussão. Quando a mente humana finita tenta considerar os propósitos eternos do Deus infinito, é bom atentar para este conselho sobre a passagem: “Em um caminho tão elevado e escorregadio para a razão humana, a segurança está em firmar os passos apenas onde o apóstolo inspirado já firmou os dele. Aventurar-se, como muitos se aventuraram, além dos limites, conduz a dificuldades por todos os lados, das quais dificilmente o mais cauteloso pode escapar” (E. H. Gifford, The Epistle of St. Paul to the Romans, p. 160). De antemão conheceu. Do gr. proginosko, “conhecer antecipadamente”. A palavra ocorre em outras passagens (At.26:5; Rm.11:2; 1Pe.1:20; 2Pe.3:17). Deus conhece porque é onisciente, isto é, Ele sabe todas as coisas. Acerca dEle, as Escrituras afirmam: “Todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos dAquele a quem temos de prestar contas” (Hb.4:13), Aquele “que desde o princípio [anuncia] o que há de acontecer” (Is.46:10) e “que faz estas coisas conhecidas desde séculos” (At.15:18). Passado, presente e futuro são igualmente conhecidos por Ele. Nada menos que o conhecimento absoluto iria satisfazer o nosso conceito fundamental da perfeição de Deus. Visto que Ele conhece o futuro, Ele nunca é apanhado de surpresa. A apostasia de Satanás e a queda do homem foram previstos por Deus, que tomou providências para atender à situação de emergência (1Pe.1:20; Ap.13:8; DTN, 22). A profecia preditiva é a prova suprema da Sua presciência. A profecia revela o que a presciência de Deus viu que ocorrerá (ver Ellen G. White, Review and Herald, 13/11/1900). Os eventos previstos não ocorrem porque são previstos, mas são previstos porque terão lugar. Isso foi bem ilustrado por John Milton, ao comentar sobre a queda de Satanás e seus anjos (Paraíso Perdido, Canto III, linhas 117 e ss. Trad. Antônio José de Lima Leitão): “Minha presciência vê como presentes Quantos sucessos no porvir se envolvem: Deles, porém, nenhum dela depende: De maneira que, se Eu a não possuísse, Sempre tais quais existiriam eles. Sem coação, pois, sem sombras de destino. Sem força alguma que de Mim emane, Transgrediram.” Predestinou. Do gr. proorizo, “separar de antemão”. A palavra é traduzida como “predeterminar” (At.4:28) e “preordenar” (1Co.2:7). Deus predestinou aqueles a quem de antemão conheceu. Para usar a linguagem humana, visto que Deus previa e, portanto, conhecia de antemão cada geração que viria ao palco da ação deste mundo, Ele ligou com Sua presciência a decisão de predestinar todos eles para serem salvos. Deus nunca teve qualquer outra finalidade a não ser a salvação da família humana. Ele “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm.2:4), “não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe.3:9). “Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva” (Ez.33:11). O próprio Cristo disse: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt.11:28). “Quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap.22:17). “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16). A salvação é oferecida a todos. Mas nem todos aceitam o convite do evangelho. “Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mt.22:14; Mt.20:16). A salvação não é imposta contra a vontade. Quem opta por resistir ao propósito de Deus, estará perdido. A presciência e predestinação divinas de modo algum excluem a liberdade humana. Paulo, ou qualquer outro escritor bíblico, não sugere que Deus predestinou alguns para serem salvos e outros para se perderem, independentemente de sua própria escolha. O objetivo deste versículo parece ser prático. Paulo tenta confortar o aflito povo de Deus, mostrando que a salvação está nas mãos divinas e em processo de ser executada segundo o propósito eterno e imutável do Céu. Evidentemente, a salvação também depende da perseverança (Hb.3:14; 1Co.9:27), mas esse não é o objetivo da ênfase de Paulo aqui. Conformes. Do adjetivo gr. summorphos, cuja única outra ocorrência no NT é em Fp.3:21, sendo traduzido como “igual”, e se refere à mudança de nosso corpo terreno à semelhança do corpo glorioso de Cristo. O verbo associado (summorphoo) é usado em Fp.3:10, na frase “conformando-me com Ele na Sua morte”. A conformidade não será apenas na aparência exterior e superficial, mas na semelhança interior e essencial. Imagem de Seu Filho. Cristo é a imagem do Pai, a manifestação visível do Deus invisível (2Co.4:4; Cl.1:15). É o glorioso destino de todo cristão ser transformado à semelhança do Filho de Deus (1Co.15:49; 2Co.3:18; Cl.3:10). Como uma transformação tal pode ocorrer é a mensagem do evangelho, acerca do perdão, novo nascimento, santificação e glorificação final. A mudança é feita pela união do humano com o divino. Assim como o Filho de Deus pôde tomar sobre Si a natureza humana, os cristãos podem se tornar templos do Espírito Santo (1Co.6:19) e Cristo pode habitar neles (Jo.14:23). O crente se torna participante da natureza divina (2Pe.1:4). Então, sob a influência do Espírito (Rm.8:13-14) e inspirado pelo exemplo de Cristo (Jo.15:12; Fp.2:5), ele passa a viver em santidade. Pela perseverança nos sofrimentos, o caráter mais e mais se assemelha ao do Salvador (Rm.5:3-4; 1Pe.2:21-24), até o dia da glorificação final, quando a semelhança será completa (1Jo.3:2). Primogênito. Do gr. prototokos, usado para Cristo (Mt.1:25; Lc.2:7; Cl.1:15; Cl.1:18; Hb.1:6; Ap.1:5). A ênfase de Paulo aqui é sobre a posição de Cristo como irmão mais velho da família dos remidos. O objetivo final do plano da salvação é a restauração da unidade familiar do reino de Deus, para que Deus seja tudo em todos (1Co.15:28). Nessa família, Cristo, o irmão mais velho, percorreu o caminho antes de nós e nos dá o exemplo. E embora seja perfeito e divino, Ele não Se envergonha de chamar os que seguem Seus passos de “irmãos” (Hb.2:11; ver vol. 5, p. 1013; com. de Jo.1:14). Muitos irmãos. Cristo nos faz Seus irmãos pela nova criação (2Co.5:17; Gl.6:15) e, assim, conduz “muitos filhos à glória” (Hb.2:10). Tendo nascido “da água e do Espírito” (Jo.3:5), o crente é adotado na família celestial (Ef.1:5), arrolado na “igreja dos primogênitos” e inscrito no registro da família “nos Céus”, o livro da vida (ver com. de Hb.12:23). |
Rm.8:30 | 30. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Predestinou. Ver com. do v. Rm.8:29. Chamou. Este chamado é feito pela pregação do evangelho, como em 2Ts.2:14: “Para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho.” O uso do verbo “chamar”, bem como do adjetivo “chamados” (ver com. de Rm.8:28), parece ser limitado ao chamado eficaz. O contexto indica que a referência é aos que responderam ao chamado de Deus. O apelo divino é o primeiro grande passo para a salvação, e a resposta constitui a experiência da conversão. O “chamado” indica a autoria divina dessa experiência e o poder soberano pelo qual somos chamados. Justificou. Ver com. de Rm.3:20; Rm.3:28; Rm.4:25; Rm.5:1. Glorificou. Jesus disse: “Eu lhes tenho transmitido a glória que Me tens dado” (Jo.17:22), mas a experiência da completa glorificação ainda está por vir (Rm.8:18). Embora ainda esteja no futuro, Paulo usa o verbo no passado: “glorificou”, como faz com todos os verbos nesta frase: “predestinou”, “chamou” e “justificou”. Isso sugere que no eterno conselho de Deus o processo, com todas as suas fases, está completo (Ef.1:4-6). Outra explicação pode ser encontrada no tempo aqui empregado nos quatro verbos gregos: o aoristo, que pode indicar atemporalidade. Com essa forma verbal, a tradução poderia ser: “Aqueles a quem Ele predestina Ele também chama, aqueles a quem Ele chama Ele também justifica, aqueles a quem Ele justifica Ele também glorifica.” Seja qual for a explicação, o objetivo de Paulo neste versículo é expressar a certeza dos estágios no processo de ser amoldado à imagem de Cristo. O primeiro passo é o chamado. Se este é aceito, traz consigo a justificação e tudo o que isso implica no processo. Assim, se o cristão permite a Deus operar Seu bom propósito para com ele (Rm.11:22), o resultado inevitável será a glorificação. Seria esperado que Paulo mencionasse a santificação como uma das etapas, mas esta está suficientemente implícita como consequência da justificação e como condição necessária para a glorificação. |
Rm.8:31 | 31. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Que diremos, pois [...]? Ver Rm.3:5; Rm.4:1; Rm.6:1; Rm.7:7; Rm.9:14, em que esta pergunta comum introduz uma conclusão contrária. Mas aqui e em Rm.9:30, ela introduz uma frase em harmonia com o argumento anterior. Destas coisas. Ou seja, as coisas mencionadas nos versículos anteriores, o propósito de Deus revelado e todos os passos de seu cumprimento. Em vista dessas coisas, que conclusão se deve tirar em relação ao poder de Deus em sustentar os fiéis nas provações? Se Deus é por nós. Não há duvida sobre isso, como mostra a construção grega. Paulo já garantiu que Deus está do nosso lado. Deus nos vê como Seus filhos (v. Rm.8:15-17) e envia Seu Espírito (v. Rm.8:26) para nos ajudar, porque Seu propósito é nos salvar (v. Rm.8:28-30). Quem será contra nós? É encorajador reconhecer que, se Deus propôs e está ativamente engajado em realizar a salvação, todos os inimigos dos fiéis também são Seus inimigos (ver SI.27:1; Sl.118:6). |
Rm.8:32 | 32. Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Aquele que. A expressão é enfática no grego e pode ser traduzida como “aquele mesmo”, significando que o mesmo Deus que não poupou Seu próprio Filho certamente vai nos dar tudo mais. Poupou. Do gr. pheidomai. Paulo usa este verbo várias vezes em suas epístolas (Rm.11:21; 1Co.7:28; 2Co.1:23; exceto em Paulo, só ocorre em At.20:29; 2Pe.2:4-5). A mesma palavra é usada na LXX sobre a disposição de Abraão de sacrificar Isaque (Gn.22:12; Gn.22:16), e pode ser que Paulo se refira ao registro dessa experiência. O elogio do Senhor à conduta de Abraão de oferecer seu filho dá um vislumbre do espírito do ato de Deus em entregar Seu próprio Filho Jesus. O maior de todos os dons é a mais forte de todas as provas de que Deus é “por nós” (Rm.8:31; Rm.5:6-10). Seu próprio Filho. Esta expressão é enfática no grego e denota algo que é distinto da pessoa (Rm.14:4). Entregou. Do gr. paradidomi. Este é o mesmo verbo usado em Rm.4:25, ao se afirmar que Jesus “foi entregue por causa das nossas transgressões”. Dará graciosamente. Do gr. charizomai, “dar como um favor”; comparar com o uso da palavra em Lc.7:21; At.3:14; 1Co.2:12. O verbo está relacionado aos substantivos “graça” (charis; ver com. de Rm.3:24) e “dom gratuito” (charisma; ver com. de Rm.6:23). Com Ele. Paulo argumenta do maior para o menor. Se Deus não poupou nem mesmo Seu próprio Filho, o que Ele haveria de recusar? Todas as coisas. Comparar com Rm.8:17; 1Co.3:21-23; Fp.4:19. O cristão não poderia esperar mais fundamento para a confiança e a perseverança do que é dado neste versículo. Quando Deus deu Seu Filho, Ele também deu a Si mesmo (2Co.5:19; cf. DTN, 762) e, assim, revelou ao universo o que estava disposto a fazer para salvar os pecadores arrependidos. Certamente, então, não importa que provas possam vir, nunca se deve duvidar de que Deus está atuando diretamente em cada experiência do crente a fim de prover o necessário para seu bem presente e futuro. |
Rm.8:33 | 33. Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Intentará acusação. Do gr. egkaleo, termo legal que significa literalmente “chamar”, “pedir contas”, “trazer uma acusação contra” ou “acusar” (ver At.19:38; At.19:40; At.23:28-29; At.26:2; At.26:7). Satanás é o grande acusador dos irmãos (Ap.12:10). O texto de Rm.8:33-35 apresenta certas dificuldades, e os comentários e versões oferecem diferentes soluções. Alguns recomendam que a última frase do v. 33 e a primeira do 34 sejam pontuadas de forma a indicar uma ligação estreita entre elas: “É Deus quem os justifica; quem os condenará?” (AA). Outros comentaristas argumentam que todas as frases dos v. 33 e 34 devem ser consideradas como uma série de perguntas. A BJ pontua as duas frases do v. 34 como duas perguntas. Qualquer que seja o arranjo seguido, o argumento encorajador de Paulo se destaca claramente. Deus declara que Seu povo é justo. Cristo, que morreu por eles, está à direita de Deus, intercedendo por eles. Então, quem, pode acusar os justificados? Quem pode condená-los? Quem pode jamais separá-los do amor de Cristo? Parece evidente que Paulo tem em mente Is.50:8-9: “Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? [...] Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene?” Eleitos. Do gr. eklektoi, “escolhidos”, “escolhido”, do verbo eklegomai, usado para descrever Cristo escolhendo Seus discípulos (Lc.6:13; Jo.6:70; Jo.13:18), e Deus escolhendo pessoas (Mc.13:20; At.1:24; At.13:17) ou coisas (1Co.1:27-28). Em Mt.22:14, Jesus faz uma distinção entre os chamados e os escolhidos. Paulo, porém, identifica os dois grupos, entendendo que o termo “chamados” inclui o sentido de que o chamado foi aceito (ver com. de Rm.8:30). Para Paulo, os eleitos de Deus são os que não só ouviram, mas também atenderam ao chamado divino para ter salvação em Cristo. É Deus quem os justifica. Os eleitos de Deus não precisam temer a nenhum acusador. É o próprio Deus, o juiz de todos, que os declara justos de acordo com Seu plano de justificação (Rm.3:20-26). “Justificar” é o oposto de “intentar acusação”. |
Rm.8:34 | 34. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Condenará. Satanás tem conhecimento de todos os pecados que conseguiu levar as pessoas a cometer e os apresenta a Deus como prova de que elas merecem destruição (ver GC, 618). Mas Deus responde às acusações levantadas contra Seus escolhidos. Cristo pagou seus pecados com a própria vida (Rm.4:25). Os eleitos de Deus estão livres de condenação (Rm.8:1). Ressuscitou. Ou, “foi ressuscitado” (ver Rm.4:24-25; Rm.6:4; Rm.6:9; Rm.7:4). Não adoramos a um Cristo morto, mas a um Deus vivo. Isso não significa que a ressurreição tem mais valor para a salvação do que a crucificação, mas enfatiza que Cristo não somente morreu, mas também vive para completar o propósito de Sua morte em favor dos fiéis (ver com. de Rm.4:25). A direita de Deus. A mão direita era considerada a posição de honra (1Rs.2:19; SI.45:9) e indicava participação no poder e na glória real (Mt.20:21). Estava previsto que Cristo ocuparia essa posição junto ao Pai (SI.110:1; Mc.16:19; At.7:56; Ef.1:20; Cl.3:1; 1Pe.3:22). Sua posição à direita indica não só a glória, mas também o poder, do exaltado Filho do Homem (ver Hb.1:3; Mt.26:64). Intercede. Do gr. entugchano. Esta é a palavra usada para a súplica do Espírito Santo, no v. Rm.8:27 (ver com. do v. Rm.8:26). As Escrituras afirmam claramente que Cristo é nosso intercessor e advogado junto ao Pai (Hb.7:25; Hb.9:24; 1Jo.2:1; Hb.4:14-16; Hb.9:11-12). Isso não significa que Deus precise ser persuadido a fazer coisas boas a Seu povo, pois Ele tanto amou o mundo que deu Seu Filho unigênito. A natureza dessa intercessão divina pode, talvez, ser ilustrada pela oração intercessória de Cristo por Seus discípulos (Jo.17:11-12; Jo.17:24). Neste versículo, Paulo acrescenta razões diversas para a certeza de que nada pode separar o cristão do amor de Cristo. Não é de um Cristo morto, mas vivo, que ele depende. Não é apenas um Cristo vivo, mas um Cristo entronizado em poder. Não é apenas um Cristo poderoso, mas um Cristo de amor salvífico, que vive para interceder por Seu povo (Hb.7:25). A Bíblia retrata todo o Céu em constante atividade para salvar os eleitos. Neste capítulo, Paulo fala sobre a obra do Pai ao chamar, justificar e glorificar. Ele descreve a direção e a intercessão de Cristo e do Espírito Santo. Em outros textos, os anjos são representados como sendo espíritos ministradores, “enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.1:14). O Céu não podia fazer mais. Se alguém se perder eternamente será o resultado da própria decisão de resistir e rejeitar o amoroso propósito e o poder de Deus para salvar. |
Rm.8:35 | 35. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Separará. Do gr. chorizo, literalmente, “colocar um espaço entre os dois”. Alguém pode distanciar o crente do amor de Cristo? Pode fazer com que Ele deixe de amar Seus filhos? Nenhuma das coisas que Paulo menciona fará Cristo amar menos os fiéis. Amor de Cristo. Este é, evidentemente, o amor de Cristo por nós, era vez de nosso amor por Cristo (cf. com. de Rm.5:5). Tribulação. Ver com. de Rm.5:3. Paulo é habilitado a falar sobre este assunto, tendo em conta as próprias experiências (ver 1Co.4:10-13; 2Co.11:23-33). Angústia. Do gr. stenochoria (ver com. de Rm.2:9). Os males mencionados neste versículo eram todos comuns aos primeiros cristãos. |
Rm.8:36 | 36. Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Como está escrito. Uma citação do SI.44:22. Paulo se refere a sofrimentos anteriores do povo de Deus como típicos de perseguições a que os cristãos estavam expostos em seus dias. Desde a entrada do pecado, o ódio dos ímpios contra os justos tem sido constante (ver Gl.4:29; 1Jo.3:12). Somos entregues à morte. Ou, “estamos sendo mortos”. |
Rm.8:37 | 37. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porém. Do gr. alla. Apesar das aflições, o crente continua a obter vitória espiritual (2Co.12:10). Somos mais que vencedores. Do gr. hupernikao, de hyper, “acima”, e nikao, “conquistar”, portanto, “superar na conquista” ou “conquistar gloriosamente”. Esta palavra composta só ocorre aqui, no NT. Paulo usa uma palavra que retrata o excesso de bênçãos de Deus sobre a necessidade do ser humano (Rm.5:20). Aquele que nos amou. Evidentemente, a referência é a Cristo, por cujo amor (v. Rm.8:35) incomparável nos tornamos vencedores. O tempo passado, “amou”, pode apontar para a revelação especial desse amor em Sua morte (Rm.5:6). Em vez de as tribulações nos separarem do amor de Cristo (Rm.8:35), “por meio dAquele que nos amou”, somos vitoriosos sobre elas. Não há aflição tão pesada, tentação tão forte, que não possa ser superada por meio de Cristo. Pois Aquele que nos amou a ponto de dar a Si mesmo vive em nós para continuar a obra da salvação (Cl.2:20). Portanto, podemos todas as coisas por meio dAquele que nos fortalece (Fp.4:13). Paulo experimentou e reconheceu esse poder salvador, que o levou a exclamar: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co.15:57). |
Rm.8:38 | 38. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, Estou bem certo. Ou, “estou convencido”. Paulo expressa a convicção pessoal de que nenhum poder, nem no Céu nem na Terra, no tempo ou na eternidade, pode nos separar do amor divino. Ele diz com isso que é impossível ao crente cair e se perder (ver Cl.1:23; 1Co.9:27). Significa que nada pode nos tirar de Cristo contra nossa vontade (ver com. de Jo.10:28). Nem a morte, nem a vida. Comparar com “se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos” (Rm.14:8). Anjos. Eles são mencionados no NT, geralmente os bons, e não os maus. No entanto, a palavra em si não indica qualidade particular. A distinção deve ser expressa ou ficar implícita pelo contexto (ver Mt.1:20; Mt.25:41; 1Co.6:3; 2Pe.2:4; Jd.1:6). Seria inconcebível que os anjos de Deus, enviados para ministrar aos santos (Hb.1:14), procurassem alienar a mente dos cristãos de seu Salvador, ou que sua influência tivesse essa tendência. No entanto, Paulo pode estar enfatizando seu argumento, falando hipoteticamente, como faz em Gl.1:8. Mesmo que os anjos bons tentassem desviar Seu povo do amor de Cristo, o que obviamente não fariam, eles não poderiam fazê-lo! Principados. Do gr. archai. Esta palavra se refere aos governantes civis, bem como aos poderes sobrenaturais que tentam exercer domínio maligno sobre as pessoas (Ef.6:12). Alguns comentaristas sugerem que a referência de Paulo aos “anjos”, “principados” e “potestades” pode refletir a designação judaica da hierarquia dos anjos (ver a obra apócrifa Enoque 61:10; cf. 1Co.15:24; Ef.1:21; Ef.3:10; Cl.1:16; Cl.2:10; Cl.2:15). Coisas do presente. Comparar com 1Co.3:22. As experiências do tempo presente já eram suficientemente probantes para Paulo e os primeiros cristãos (Rm.8:18; Rm.8:23; 2Co.1:4-10; 2Co.6:4-10; 1Pe.4:12). Mas o futuro reservava ainda mais provas de engano e angústia, pois a vinda de Cristo seria precedida pela apostasia e o aparecimento do anticristo (2Ts.2). E essa aparição seria acompanhada pela “eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (2Ts.2:9). No entanto, a confiança de Paulo permanecia inabalável. Poderes. Do gr. dynameis. As evidências textuais requerem (cf. p. xvi) a colocação da palavra após a frase “coisas do porvir”, embora, de forma mais natural, se possa esperar que ela esteja associada a “principados” (Ef.1:21). Em 1Pe.3:22, “poderes” são mencionados junto a “anjos” e “autoridades” que foram sujeitados a Cristo, quando ascendeu ao Céu. |
Rm.8:39 | 39. nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. A altura, nem a profundidade. É possível que nesta passagem retórica Paulo não tivesse a intenção de que cada uma destas expressões fosse muito bem definida. “Altura” e “profundidade” podem ter sido usadas para expressar simplesmente dimensões do espaço, assim como “coisas presentes” e “do porvir” são dimensões explícitas do tempo. O uso desses termos enfatiza ainda mais a ideia de universalidade, que parece ser o propósito de Paulo nestes versículos (comparar com Ef.3:18-19). Qualquer outra criatura. Ver com. do v. Rm.8:19; cf. v. Rm.8:19; Rm.8:22. Paulo enumera dez itens que não podem nos separar do amor de Deus. O décimo é suficientemente amplo para incluir qualquer coisa que tenha sido omitida. Todos os termos talvez devam ser tomados em seu sentido mais geral. A própria indefinição serve para enfatizar o argumento de Paulo de que não há nada que se possa imaginar em todo o universo criado, que afaste o cristão de seu amado Salvador. Separar. Do gr. chorizo (ver com. do v. Rm.8:35). Amor de Deus. “O amor de Cristo” (v. Rm.8:35) não é outro senão “o amor de Deus”, revelado a nós e que trabalha em nosso favor na pessoa de Cristo (ver com. de Rm.5:8). Paulo retrata a cooperação suprema do Pai, do Filho e do Espírito Santo na manifestação do amor divino. Por exemplo: “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo” (Rm.5:5); “Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós” (Rm.5:8); o Espírito, cuja vontade e propósito é nossa salvação (Rm.8:29-30), intercede por nós “segundo a vontade de Deus” (v. Rm.8:26-27); e Cristo morreu por nós, e agora intercede por nós à direita do Pai (v. Rm.8:34). Com esta expressão de confiança ilimitada no amor salvífico de Deus (v. Rm.8:31-39), Paulo atinge o clímax da explicação do plano de Deus para a restauração da humanidade. Justiça e salvação vêm pela fé. Essa fé deve se apoiar numa pessoa cujo amor seja tão grande e cujo objetivo de salvar seja tão forte que tenha tomado todas as providências possíveis para tanto. Então, os cristãos devem se unir ao apóstolo em prestar a Cristo confiança e obediência irrestrita. |
Rm.9:1 | 1. Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: Digo a verdade. Paulo deixa, então, o clímax triunfante de Romanos 8 e passa a considerar um problema que o enche de “grande tristeza e incessante dor” (Rm.9:2). Por que os judeus, o povo escolhido de Deus, rejeitaram tão amplamente o evangelho? Se o evangelho traz a certeza de salvação para os eleitos de Deus, por que Israel não se encontrava entre os herdeiros dessa salvação? Se a boa-nova da salvação é o cumprimento das promessas a Israel, certamente deveria contar com a aprovação daqueles a quem fora especialmente designada. Mas, em vez disso, despertou neles a mais amarga oposição. Paulo já vinha preparando o caminho para a discussão desse difícil tópico, salientando que, embora o evangelho esteja disponível a judeus e gentios, foi apresentado primeiramente aos judeus (Rm.1:16; Rm.2:10). Ele também havia enfatizado que Deus não faz acepção de pessoas (Rm.2:11), e que os judeus eram culpados de pecado (Rm.2:17-24). Ele dedicou um capítulo inteiro para provar que o evangelho da salvação pela fé está apoiado no AT (Rm.4). Em Rm.3:1, ele mesmo começou a considerar o problema diretamente, mas sua discussão completa sobre a questão foi reservada para Romanos 9, 10 e 11. Em primeiro lugar, Paulo afirma o amor por seu próprio povo (Rm.9:1-3). Em seguida, declara que a causa da rejeição não era por alguma falha no cumprimento das promessas de Deus a Israel (v. Rm.9:6-13). Nem há qualquer injustiça da parte de Deus nesse assunto (v. Rm.9:14-29). A razão está na rejeição “da justiça que vem da fé” (Rm.9:30-10:21). Mas Paulo não descreve a nação como estando sem esperança. Ele passa a falar da salvação de “um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm.11:1-10), e da aceitação dos gentios (v. Rm.11:11-22), evidências da sabedoria e da glória de Deus (v. Rm.11:33-36). Em Cristo. Paulo apela para sua experiência, como alguém que estava unido a Cristo, como prova da veracidade do que está prestes a dizer (2Co.2:17). Não minto. Comparar com 2Co.11:31; Gl.1:20; 1Tm.2:7. Paulo estava ciente de que muitos judeus o consideravam um traidor (At.21:28; At.22:22; At.25:24). Seus frequentes conflitos com os judeus e os judaizantes naturalmente lançavam dúvidas sobre seu amor à própria nação. Por isso, ele expressa a sinceridade de sua preocupação para com seu povo nestes termos fortes. Testemunhando. O mesmo verbo é usado em Rm.2:15; Rm.8:16. No Espírito Santo. Ver com. de Rm.5:5. Paulo falou sobre a união do crente com o Espírito de Deus (Rm.8:9; Rm.8:11; Rm.8:16). O Espírito Santo é “o Espírito da verdade” (Jo.14:17; Jo.15:26; Jo.16:13), e o testemunho de uma consciência iluminada por Ele e sob Sua influência deve ser um guia verdadeiro e seguro. |
Rm.9:2 | 2. tenho grande tristeza e incessante dor no coração; Tristeza. Do gr. lupe, “tristeza”, “dor”. Incessante. Do gr. adialeiptos, literalmente, “sem sair”. Há apenas mais uma ocorrência desta palavra no NT (ver 2Tm.1:3). Dor. Do gr. odune, “dor”, “angústia”, palavra que ocorre só aqui e em 1Tm.6:10. Coração. Ver com. de Rm.1:21. |
Rm.9:3 | 3. porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. Porque. Este versículo não dá o motivo para a tristeza de Paulo, mas evidencia sua sinceridade. Desejaria. Literalmente, “estaria desejando” ou “estava orando”. A frase grega é uma expressão idiomática que significa um desejo real, mas já abandonado como algo impraticável. O desejo estava em sua mente, mas havia condições que tornavam impossível o cumprimento (ver a mesma expressão, em Gl.4:20). Anátema. Tem havido discussão sobre o significado desta expressão forte de Paulo. A solução mais simples parece ser a comparação com a oração de Moisés: “Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Ex.32:32). A resposta de Deus a Moisés mostra que essa oração não poderia ser atendida. “Riscarei do Meu livro todo aquele que pecar contra Mim” (Ex.32:33). Segundo a carne. Ou seja, os judeus, que eram irmãos de Paulo pela relação racial. Segundo o espírito, Paulo era membro do Israel espiritual, e seus irmãos espirituais eram os membros da igreja cristã (cf. Mc.3:33-35). |
Rm.9:4 | 4. São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; Israelitas. Paulo não os chama de “hebreus”, nome que os distinguia pela linguagem, nem de “judeus”, que caracteriza a raça. Em vez disso, ele usa o título que designa sua posição como povo escolhido de Deus. Como descendentes de Jacó, que recebeu de Deus o nome de “Israel”, eles eram herdeiros das promessas feitas aos pais (Ef.2:12). No NT, o título é transferido para a igreja cristã, à qual Paulo se refere como “o Israel de Deus” (Gl.6:16). Adoção. Ver com. de Rm.8:15. Aqui, o termo inclui a relação entre Deus e Israel, anunciada em Ex.4:22: “Israel é Meu filho, Meu primogênito” (Dt.14:1; Dt.32:6; Je.31:9; Os.11:1). O chamado de Abraão e à sua descendência para ser o povo peculiar de Deus marcou o início desta “adoção” (ver vol. 4, p. 12-14). A glória. Ver com. de Rm.3:23. Neste caso, a referência parece ser ao sinal visível da presença de Deus. Isso foi visto na coluna de nuvem e de fogo, na luz brilhante no monte Sinai, o shekinah no tabernáculo e no primeiro templo (ver Ex.16:10; Ex.24:16; Ex.40:34-35; 1Sm.4:22; 1Rs.8:10-11; Hb.9:5). Entre todas as nações, só Israel tinha tido o privilégio de tal manifestação da presença de Deus (ver com. de Jo.1:14). Alianças. Estas são “as alianças da promessa” às quais os gentios eram “estranhos” (Ef.2:12-13; ver também Gn.17:2; Gn.17:7; Gn.17:9; Ex.2:24). Os judeus achavam que essas alianças punham Deus sob a obrigação de favorecê-los com Sua proteção e Sua bênção. Ao mesmo tempo, ignoravam suas obrigações e não cumpriam as condições sobre as quais as alianças estavam firmadas. Legislação. A referência é, sem dúvida, às leis dadas no Sinai. Israel, acima de todas as outras nações, tinha sido favorecido pela revelação da vontade de Deus (Dt.4:8; Ne.9:13-14). Paulo já havia repreendido os judeus por pensar que a mera posse da lei, sem a obediência, traria bênçãos (Rm.2:17-29). Culto. Do gr. latreia, traduzido como “serviço” (Hb.9:1). A referência é ao serviço do santuário (ver Hb.9:6, em que latreia é novamente traduzido como “serviços sagrados”). Uma vez que todo o propósito do sistema cerimonial era desenvolver um povo santo e ensinar-lhe as disposições do plano da justificação pela fé na vinda do Redentor, os israelitas tinham sido altamente favorecidos por lhes ser confiados os “serviços sagrados”. Mas esse privilégio não fora honrado (ver Mt.21:13; Jo.2:14-16). Promessas. Estas são as promessas do AT a respeito do Messias e de Seu reino e do futuro glorioso de Israel (ver também At.26:6; Gl.3:16; Gl.3:21; Hb.7:6). |
Rm.9:5 | 5. deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém! Patriarcas. Abraão, Isaque e Jacó eram considerados os “patriarcas” (At.3:13; At.7:32). Os judeus reputavam por grande mérito ser descendentes desses nobres antepassados (ver com. de Mt.3:9; Jo.8:39; Jo.8:53; 2Co.11:22). Mais à frente, Paulo fala do amor de Deus por Israel “por causa dos patriarcas” (Rm.11:28). Deles. Ou, “de quem”. O maior de todos os privilégios concedidos aos israelitas foi que o Messias nasceu como um judeu. Todas as outras bênçãos apontavam para esse privilégio mais sublime. O Cristo. Referindo-se ao título e posição como “o Messias”. Segundo a carne. Paulo limita a origem judaica de Jesus a Sua natureza humana (cf. Rm.1:3). O qual é. A interpretação da última metade do v. 5 gerou muitos debates. As discussões chegaram a um ponto alto com o lançamento do NT da versão inglesa revisada (RV), em 1881. Revistas teológicas daquele tempo dedicaram espaço considerável à questão. O problema tinha que ver com o fato de os manuscritos gregos originais terem sido escritos sem qualquer forma de pontuação. De forma que o texto poderia ser lido como “o qual é sobre todo deus bendito eternamente”. Naturalmente, a solução era uma questão de interpretação (cf. com. de Lc.23:43). Com diferentes pontuações, três possíveis interpretações da passagem foram propostas (cf. texto da RV e margem). Uma delas é deixar sem pontuação, ou colocar uma vírgula depois da palavra “carne” e fazer toda a passagem se referir a Cristo como afirmação de Sua divindade. Essa tem sido a visão tradicional e é a interpretação oferecida pela ARA e a maioria das outras versões. Uma segunda possibilidade é colocar uma vírgula depois da palavra “carne” e um ponto depois de “todos”. A passagem, então diria: “De quem é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos. Deus seja [é] bendito eternamente”. Uma terceira possibilidade é colocar um ponto após a palavra “carne” e traduzir o restante do versículo como: “Aquele que é Deus acima de tudo seja bendito para sempre”, ou “Deus, que está acima de tudo, seja bendito para sempre”. Esta é a redação preferida pela RSV. O ponto básico é que a passagem deve ser interpretada como uma declaração da divindade de Cristo. Considerá-la assim, portanto, é a interpretação mais simples e natural da construção gramatical do versículo, e é a mais adequada ao contexto. Nos versículos anteriores, Paulo relaciona os muitos benefícios e privilégios que Deus havia confiado a Israel como Seu povo escolhido. Como clímax dessas bênçãos, Paulo menciona a descendência do Messias de sua própria nação. Mas essa descendência se restringia à natureza física. O Messias tem outra natureza, que não a da carne, e Paulo então dá a descrição mais detalhada de Cristo: “o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente”. A expressão de Paulo sobre a humanidade de Cristo parece exigir como antítese essa clara afirmação de Sua divindade (cf. Rm.1:3-4). Cristo é realmente divino e é “sobre todos”. Isso é ensinado em inúmeras passagens do NT (ver Jo.1:1-3; Ef.1:20-22; Fp.2:10-11; Cl.1:16-17; Cl.2:9; Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Sobre todos. Comparar com Rm.11:36. Esta descrição do supremo poder e da dignidade dAquele que era um israelita por descendência humana ressalta os privilégios da nação judaica. Ao enumerar esses privilégios, Paulo dá o motivo de sua “incessante tristeza”. Cada privilégio mencionado lembra o propósito original de Deus para Israel e o destino glorioso reservado para essa nação (ver vol. 4, p. 12-15). |
Rm.9:6 | 6. E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; Não pensemos. No entanto, Paulo não pretende que a dor por seus compatriotas seja entendida como fracasso da promessa de Deus a Israel. Palavra de Deus. Ou seja, a vontade e o propósito declarados de Deus. Haja falhado. Do gr. ekpipto, literalmente, “cair fora”, portanto, “falhar”. Nem todos os de Israel. A passagem diz, literalmente: “pois nem todos os que são de Israel, são Israel”. O que Paulo está dizendo é que nem todos os que descendem de Israel pertencem realmente a Israel no pleno significado espiritual desse nome. Seu propósito ao fazer esta declaração é dizer que a palavra de Deus a Israel não falhou. O cumprimento da promessa de Deus é limitado àqueles que reúnem as condições dessa relação de aliança. Para esse remanescente fiel e obediente, a palavra de Deus não falhará. Israelitas. Paulo se refere aos filhos de Israel segundo a carne, os descendentes de Jacó. Realmente, a promessa divina foi dada a Israel, mas isso não inclui todos os que poderiam afirmar a descendência de Jacó, sem qualquer outra limitação. Paulo já havia explicado que os crentes em Cristo são os verdadeiros filhos de Abraão (Rm.4; Gl.3:7-9; Rm.2:28-29). |
Rm.9:7 | 7. nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Descendentes. Ver Gl.3:29. Filhos. Ou seja, no sentido mais amplo, como em Rm.8:17: “se somos filhos, somos também herdeiros”. Os descendentes de Abraão não têm os direitos de herança simplesmente por recitar sua ascendência física até ele. Em Isaque. Ou, “por meio de Isaque”. A mesma palavra grega traduzida como “em” (em) é traduzida como “pelo” (Mt.9:34) e “por” (1Co.6:2; Cl.1:16). As palavras “em Isaque será chamada a tua descendência” são uma citação da LXX de Gn.21:12 (cf. Hb.11:18). Chamada. Segundo a carne, tanto Isaque quanto Ismael eram filhos de Abraão. No entanto, a Isaque e seus descendentes foram feitas as promessas. Ismael não foi incluído. Isso não significa que Ismael e seus descendentes estavam fora do alcance da salvação, mas simplesmente que Deus tinha escolhido os descendentes de Isaque para serem Seus representantes perante o mundo. Eles deveriam revelar os princípios de Seu reino perante as nações a fim de que o mundo fosse atraído a Ele (ver vol. 4, p. 13-17; ver com. de Ez.25:1). Deus atribui responsabilidades a pessoas e nações segundo Sua vontade (ver com. de Dn.4:17). |
Rm.9:8 | 8. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa. Filhos de Deus. Isto se refere, historicamente, aos descendentes de Abraão por meio de Isaque. Eles foram os únicos a ter a relação de aliança com Deus, herdaram as promessas e receberam os privilégios como povo escolhido. A partir dessa distinção entre Isaque e Ismael, Paulo expressa o princípio de que a verdadeira filiação a Abraão e a verdadeira filiação a Deus não dependem da descendência física. Essa era uma verdade dura para os judeus devido à crença mais acariciada deles de que o simples fato de ser judeu torna a pessoa um filho de Deus. Mas, ao mesmo tempo, ela era muito encorajadora para os gentios. Os da carne. Estes são os descendentes meramente físicos, que nascem no curso natural dos acontecimentos, como foi Ismael (ver Cl.4:23). Mas as bênçãos de salvação não são herdadas pela ascendência natural. Filhos da promessa. Sem dúvida, Paulo se refere ao caso de Isaque. Ele nasceu quando já havia passado o tempo para Abraão e Sara terem filhos naturalmente. Mas a promessa de Deus, aceita pela fé, tornou possível a eles se tornarem os pais de Isaque (ver com. de Rm.4:18-21). Da mesma forma, assim como Paulo, é a partir do novo nascimento sobrenatural que os gentios podem se tornar filhos de Abraão, filhos da promessa (ver Gl.4:21-31). |
Rm.9:9 | 9. Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho. Palavra da promessa. A frase pode ser traduzida como “a palavra é uma promessa”. No grego, a ênfase está sobre o termo “promessa”. O raciocínio de Paulo é que, quando Deus disse: “Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho”, Ele fez uma promessa. O nascimento de Isaque era uma promessa. A promessa não dependia do nascimento. Não fosse pela promessa e pela intervenção divina, Isaque não teria nascido. A partir daqui, Paulo continua a explorar o princípio de que a simples conexão com a nação judaica “segundo a carne” não significa participação na promessa mais do que significava nos dias de Isaque e Ismael. Por esse tempo. Literalmente, “de acordo com esta estação” (citação de Gn.18:10; Gn.18:14). |
Rm.9:10 | 10. E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai. E não ela somente. Paulo, então, apresenta uma ilustração ainda mais clara. Pode-se objetar que a eleição de Isaque e a rejeição de Ismael são facilmente compreendidas, tendo em vista que Sara era esposa de Abraão, enquanto Hagar era apenas uma escrava (Gn.16:1). Mas a escolha de Jacó em detrimento de Esaú não podia ser explicada dessa forma, pois suas origens eram idênticas. Mas também Rebeca. A frase que começa com estas palavras é interrompida pelo parêntese no v. Rm.9:11 e, depois, continua no v. Rm.9:12. O significado, no entanto, é claro: Rebeca é mencionada em lugar de Isaque, pois foi a ela que se dirigiu a profecia citada no v. Rm.9:12. De um só. Estas palavras enfatizam que havia apenas um pai. No entanto, apesar de Jacó e Esaú terem o mesmo pai e a mesma mãe, as situações peculiares na vida deles foram diferentes. Isaque, nosso pai. Os gêmeos tinham por pai o patriarca da nação escolhida. No entanto, Jacó foi escolhido para ser o progenitor da nação pela qual Deus planejava difundir o conhecimento de Sua vontade. |
Rm.9:11 | 11. E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), Ainda não eram [...] nascidos. O fato de o mais novo ter a preeminência sobre o mais velho foi predito a Rebeca antes de seu nascimento (ver com. do v. Rm.9:12). Eleição. Do gr. ekloge, “processo de escolha”, “seleção” (ver At.9:15; Rm.11:5; Rm.11:7; Rm.11:28; 1Ts.1:4; 2Pe.1:10). Provém do verbo gr. eklegomai, “escolher” ou “eleger” (ver com. de Rm.8:33; sobre a eleição em relação à salvação, ver com. de Rm.8:29; ver PP, 207, 208; TM, 453, 454). Prevalecesse. Ou, “permanecesse”, “continuasse”. Este é o oposto de “falhasse” (v. Rm.9:6). Não por obras. Isto é, não por causa de qualquer mérito obtido pelas obras. Aquele que chama. Deus nomeia pessoas e nações segundo Sua vontade (ver com. do v. Rm.9:7). As pessoas podem procurar “com zelo, os melhores dons” (1Co.12:31), mas é Deus que, pelo Espírito, distribui os dons, “como Lhe apraz” (v. 1Co.12:7-11). Simplesmente porque Jacó foi escolhido como progenitor da nação que seria o povo de Deus representante dEle, de maneira nenhuma significava que seu irmão foi eleito para se perder. Essa dedução é injustificada. Esta passagem tem sido usada para apoiar a doutrina de que Deus predestina alguns para a salvação e outros para a condenação eterna, independentemente do caráter. Mas essa doutrina é contrária à Palavra de Deus (ver com. de Rm.8:29). Portanto, não pode ser esse o conceito de Paulo neste versículo. O apóstolo explica aos judeus, referindo-se à conhecida história de Isaque e Ismael, Jacó e Esaú, que a mera ascendência étnica ao povo escolhido não garante as bênçãos da salvação. Era necessário que Paulo enfatizasse esse ponto porque os judeus entendiam mal a relação de aliança e se valiam dela. |
Rm.9:12 | 12. já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. A ela. Assim como Paulo descreveu a eleição de Isaque, citando a predição do Senhor a Abraão (v. Rm.9:7), da mesma forma, ele descreve a eleição de Jacó, repetindo a predição divina a Rebeca, citando Gn.25:23. Será servo do mais moço. Esta predição não se cumpriu literalmente no caso de Esaú e Jacó, mas aconteceu na história posterior de seus descendentes (ver com. de Gn.25:23). O fato de a eleição divina de Jacó em detrimento de Esaú também incluir as nações que deles descenderiam está claro na predição inicial. |
Rm.9:13 | 13. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Como está escrito. Uma citação de Ml.1:2-3. Amei jacó. Este versículo não explica o motivo da escolha de Jacó e a rejeição de Esaú por parte de Deus. Em vez disso, ele descreve a história dos dois filhos e dos dois povos que deles descenderam, Israel e Edom. Os descendentes bem como os antepassados estão incluídos. Isso é evidente a partir do contexto de Ml.1:2-3. Porém Me aborrecí de Esaú. Esta expressão não indica aborrecimento, como a palavra é entendida hoje, mas que Deus preferiu escolher Jacó a Esaú como progenitor da nação escolhida (ver com. do v. Rm.9:10-11). Era comum nos tempos bíblicos o uso do termo “aborrecer” nesse sentido. Assim, a preferência de Jacó por Raquel implicava “aborrecer” Lia (Gn.29:30-31, ARC). Da mesma forma, Jesus fala sobre “aborrecer” pai e mãe (Lc.14:26) e “odiar” a própria vida (Jo.12:25; comparar com Mt.6:24; ver com. de Ml.1:3). Referindo-se à história dos patriarcas, Paulo mostra que a escolha do Israel espiritual (ver com. de Mt.21:33-43), tendo em vista o fracasso dos judeus em cumprir o propósito divino, é plenamente coerente com Sua atitude no passado. Deus não estava sendo infiel a ninguém. Chamando a igreja cristã a cumprir Seus propósitos para com o mundo, Deus estava seguindo o mesmo princípio que empregou originalmente quando escolheu os israelitas e rejeitou os edomitas e os ismaelitas. Paulo começa então a provar que nem mesmo a presente rejeição significa que Deus é injusto. |
Rm.9:14 | 14. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Que diremos, pois? Esta pergunta introduz a primeira de duas possíveis objeções que um judeu poderia apresentar ao argumento de Paulo. A segunda está no v. Rm.9:19. A eleição de Israel e a rejeição de Ismael e Esaú foram exemplos das escolhas de Deus que um judeu gostaria vivamente de aprovar. Mas Paulo argumenta que esses exemplos envolvem um princípio que justificaria a exclusão da então descrente nação judaica. Certamente, para essa conclusão, ele espera uma objeção imediata. Há injustiça [...]? A construção grega implica uma resposta negativa. Paulo responde a essa questão apelando a uma autoridade que não pode ser questionada por um judeu. Deus não pode ser acusado de ser injusto, pois as Escrituras deixam claro que Deus, em questão de eleição, não de salvação, decide segundo Sua própria vontade. De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. |
Rm.9:15 | 15. Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Terei misericórdia. Citação de Ex.33:19. As palavras foram ditas a Moisés em conexão com seu pedido para ver a glória de Deus. A questão não é de salvação pessoal, mas do direito de Deus de eleger Seus representantes. O fato de Deus não revelar Sua glória a outros da maneira como fez a Moisés não é qualquer forma de injustiça. “Deus é sábio demais para errar e bom demais para reter qualquer coisa boa aos que andam em retidão” (CC, 96; ver SI.84:11). Quem. Citação de Ex.33:19. Paulo enfatiza que cabe a Deus decidir quem serão Seus representantes na ferra. |
Rm.9:16 | 16. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Pois. A conclusão extraída das palavras de Deus a Moisés é que a eleição do povo escolhido não depende da vontade ou esforço humano, mas da sabedoria de Deus, que sabe o que é melhor e que “silenciosamente, pacientemente” executa, “os conselhos de Sua própria vontade” (Ed, 173). Corre. Isto indica esforço extenuante. A metáfora, inspirada nas corridas a pé, é recorrente nos escritos de Paulo (1Co.9:24; 1Co.9:26; Cl.2:2; Cl.5:7; Fp.2:16). Mas de usar Deus. Deus oferece a salvação a todos (1Tm.2:4). Ninguém precisa temer ficar fora do alcance da redenção. Mas, em Sua sabedoria, Deus escolhe os instrumentos pelos quais executa Seus propósitos. Se aqueles que Ele escolhe para executar determinada tarefa falham, Ele escolhe outros para tomar seu lugar. As pessoas são exortadas a cooperar com os planos divinos e a não correr sem que o Senhor as tenha chamado (ver Je.23:21). |
Rm.9:17 | 17. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. A Escritura diz. As Escrituras são personificadas nesta fórmula de citação (ver também Gl.3:8; Gl.3:22). Em Rm.9:15, Paulo usou as palavras “Ele diz”, isto é, “Deus diz”, para introduzir a citação das palavras de Deus a Moisés. Para isto mesmo. O objetivo é afirmado no restante do versículo. A citação de Ex.9:16 tem algumas variações e faz parte das palavras dirigidas por Moisés ao faraó após a praga das chagas. Levantei. Do gr. exegeiro. Há apenas mais uma ocorrência desta palavra grega no NT (1Co.6:14), em que descreve a ressurreição. O contexto de Ex.9:16 indica que a passagem significa “Eu te levantei [da doença]”, isto é, o faraó não havia perecido nas pragas até então. Embora, devido ao seu caráter rebelde, o rei merecesse ser destruído, Deus havia preservado sua vida e nele cumpria Seu propósito. Outros veem uma referência mais geral ao fato de Deus levar o faraó ao palco da história (Hc.1:6; Zc.11:16) e, por seu intermédio, cumprir uma finalidade específica (ver com. de Rm.9:16). Uma coisa que esta passagem definitivamente não quer dizer é que Deus havia predestinado o faraó a uma vida de rebelião e destruição. Essa interpretação é contrária às Escrituras (ver com. de Rm.8:29; ver PP, 267). A questão em análise não é a salvação pessoal do faraó, mas sua posição como líder de uma grande nação em seu tempo. Deus opera mediante as nações e seus líderes para cumprir Seus propósitos na Terra (ver com. de Dn.4:17). Mostrar em ti o Meu poder. A tradução literal de Ex.9:16 diz: ‘mostrar-te o Meu poder”. A frase usada por Paulo concorda com a LXX. A contínua obstinação do faraó levou a manifestações cada vez maiores do poder divino, até que, finalmente, o próprio monarca foi forçado a admitir o poder superior de Deus (Ex.9:27). Seja anunciado. Ou, “seja publicado amplamente”. Este propósito de Deus ainda está sendo cumprido onde quer que o livro de Exodo seja lido. |
Rm.9:18 | 18. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz. Logo. Novamente, como no v. Rm.9:16, Paulo parte para a conclusão geral a partir dos exemplos citados. Tem Ele misericórdia. Ver com. do v. Rm.9:15. Quer. Do gr. thelo, “deseja”. Endurece. Do gr. skleruno. As outras ocorrências desta palavra no NT estão em At.19:9; Hb.3:8; Hb.3:13; Hb.3:15; Hb.4:7. Em Êxodo, o endurecimento do coração do faraó, às vezes, é descrito como sendo autoproduzido (Ex.8:15; Ex.8:32); outras vezes, como sendo produzido por Deus (Ex.4:21; Ex.7:3). Na Bíblia, às vezes, Deus é representado por fazer o que não impede (ver com. de 2Cr.18:18). Neste contexto, Paulo escolhe a última representação por ser mais adequada a seu propósito. O endurecimento do coração resulta de rebelião contra a revelação divina e rejeição ao Espírito de Deus. Anteriormente, Paulo havia falado como Deus entrega as pessoas às consequências inevitáveis de sua desobediência obstinada (Rm.1:24; Rm.1:26; Rm.1:28; sobre o endurecimento do coração do faraó, ver com. de Rm.4:21). |
Rm.9:19 | 19. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Tu, porém, me dirás: Isto introduz a segunda objeção que pode ser levantada contra o argumento de Paulo (v. Rm.9:14). De que se queixa ele ainda? A questão pode ser parafraseada como: Se Deus endurece o coração de alguém, como Ele pode encontrar falha nessa pessoa? Como Deus pode culpar os pecadores, se a conduta deles estiver de acordo com Seu propósito e for resultado de Sua vontade irresistível? Essa objeção pode lembrar a repreensão de Deus ao faraó: “Ainda te levantas contra o Meu povo, para não deixá-lo ir?” (Ex.9:17), e: “até quando recusarás humilhar-te perante Mim?” (Ex.10:3). No caso do faraó, o opositor diria: “Se Deus decidiu endurecer o coração do rei, por que Ele ainda encontra falha nele?” (comparar com Ex.9:15-16). Paulo não tenta responder por completo essa objeção. Ele enfatiza que, em Seu governo sobre o mundo, Deus tem perfeita liberdade para lidar com as pessoas segundo Seus propósitos e não segundo os delas. Evidentemente, isso não tem a ver com a oportunidade de salvação pessoal. Por não entender o argumento de Paulo, alguns teólogos têm visto nestes versículos algumas ideias que o apóstolo nunca defendeu. Calvino concluiu por este texto que Deus criou arbitrariamente alguns para a salvação e outros para a destruição. Esse conceito do propósito de Deus não está de acordo com a explicação de Paulo, em outras seções desta mesma epístola. Paulo afirma que Deus não mostra parcialidade (Rm.2:11), que julga cada um segundo as suas obras (Rm.2:6-10; Rm.3:22-23) e que salva todo aquele que O invoca (Rm.10:12-13). Resistiu. A pergunta significa: “Quem está resistindo à vontade de Deus?”, sugerindo que ninguém o pode fazer. Vontade. Do gr. boulema. Esta não é a palavra comum do NT para “vontade”, que é thelema (Rm.2:18; Rm.12:2; Rm.15:32). Há apenas outras duas ocorrências de boulema no NT: At.27:43; 1Pe.4:3. Boulema define melhor a ideia de propósito consciente e deliberado. |
Rm.9:20 | 20. Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Quem és tu [...]? A ordem das palavras em grego e o significado literal da frase seria: “Ó homem, na verdade, você, quem é você?” Um contraste enfático é sugerido entre Deus e o ser humano. Paulo lembra que a verdadeira relação nesse caso é a da criatura com seu Criador. Portanto, o ser humano tem que direito de reclamar ou de questionar os atos de Deus? Em vez de responder às perguntas levantadas no versículo anterior, Paulo volta à questão que as motivou. Discutires. Do gr. antapokrinomai, literalmente, “responder por contradição”. A outra ocorrência deste verbo no NT, Lc.14:6, em que é usado para descrever a incapacidade dos fariseus de “responder” a Jesus. Da mesma forma, neste versículo, a palavra pode sugerir a contradição a uma resposta que Deus já deu. Objeto. Do gr. plasma. O verbo relacionado, plasso, significa “moldar” ou “formar”, como com argila ou cera. A comparação do poder de Deus com o controle que um oleiro tem sobre o barro é comum no AT (Paulo cita aqui Is.29:16; Is.45:9; Is.64:8; Je.18:6). O uso que o apóstolo faz dessas palavras de Isaías é apropriado, considerando que tratam do mesmo assunto: a relação de Deus com Israel e o direito divino de lidar com a nação como julgar melhor. Porque me fizeste assim? Subentende-se uma crítica à presunção de queixar-se contra Deus. Como criador, Deus tem o direito de distribuir dons segundo Sua vontade (ver com. do v. Rm.9:11). |
Rm.9:21 | 21. Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? Direito. Do gr. exousia, “poder” ou “autoridade”. Negar que Deus tem o direito de fazer o ser humano como desejar equivale a afirmar que o oleiro tenha completo controle sobre o barro. Paulo pode se referir aqui a Je.18:6. Nessa declaração de Jeremias, afirma-se a natureza condicional das promessas de Deus (Je.18:7-10). Deus age pelo bem das pessoas e das nações. Mas, por sua obstinação e perversidade, elas trazem ruína sobre si mesmas. Do mesmo barro. A partir da mesma matéria, a seu critério, o oleiro pode optar por fazer um vaso para fins nobres e outro para uso mais humilde. Da mesma forma, Deus tem autoridade sobre toda a humanidade e lida com as pessoas de acordo com Seus propósitos. Ao trabalhar para a salvação da humanidade, Deus considera apropriado permitir que pessoas e nações sofram as consequências de sua própria rebelião. Muitas vezes, a Bíblia representa aquilo que Deus permite como se fosse algo feito diretamente por Ele (ver com. de 2Cr.18:18). |
Rm.9:22 | 22. Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, Se Deus. Literalmente, “mas se Deus”. A frase está incompleta, mas a construção não é incomum (ver Lc.19:41-42; Jo.6:61-62). Paulo afirma que se Deus tem direito de lidar com Suas criaturas da maneira que Lhe parecer melhor, na realidade, Ele tem exercido paciência com todos. Querendo. Alguns comentaristas interpretam isto como “porque Deus quer”, outros, como “enquanto quer” ou “embora Deus queira”. Se o primeiro for o correto, Paulo estaria dizendo que Deus suporta pacientemente os vasos da ira porque deseja revelar Sua ira e poder em um juízo final mais terrível. Assim, Deus poupou a vida do faraó (v. Rm.9:17), suportando com paciência o monarca obstinado, para dar ainda maiores manifestações de Seu poder e determinação em punir a crueldade e a opressão (ver PP, 268). Mas, se a segunda ou a terceira tradução estiver correta, o significado seria que, embora Deus queira dar a conhecer Seu poder e Seu ódio contra o pecado, ainda assim, Ele restringe com paciência Sua ira e preserva os vasos preparados para a destruição. A última interpretação parece concordar melhor com o contexto e com o tema da epístola (ver, por exemplo, Rm.2:4, em que o propósito da “paciência e longanimidade” de Deus é levar os pecadores “ao arrependimento”). É verdade que a longanimidade de Deus pode ser “desprezada” e, consequentemente, resultar no endurecimento do coração e em mais severidade no juízo, como no caso do faraó. Mas o objetivo principal da paciência de Deus é dar à humanidade a oportunidade para que se arrependa. Ira. Ver com. de Rm.1:18. Seu poder. Literalmente, “o que Lhe é possível” (v. Rm.9:17). Longanimidade. Ver com. de Rm.2:4. Vasos. Paulo continua com a figura do oleiro e do barro. De ira. Ou seja, que merecem a ira, ou experimentam a ira, como na frase “filhos da ira” (Ef.2:3). Preparados. Do gr. katartizo, que, na forma encontrada aqui, pode ser traduzida como “prontos” para a destruição. A construção grega é diferente da traduzida como “já dantes preparou”, do v. Rm.9:23. Paulo não quer dizer que Deus tinha preparado os vasos de ira para a destruição, mas apenas que eles estavam “maduros” ou “prontos” para isso. |
Rm.9:23 | 23. a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, A fim de que também desse a conhecer. A ligação gramatical entre os v. Rm.9:22-23 é imperfeita, mas o sentido é claro. A paciência de Deus pelos que estão preparados para a destruição também tem o propósito de mostrar misericórdia para com os que estão dispostos a cumprir o plano de Deus. Embora os judeus tivessem merecido a ira, Deus lhes mostrara paciência, tanto para seu próprio bem como para o bem supremo de Sua igreja. Riquezas da Sua glória. Cf. Ef.1:18; Ef.3:16; Cl.1:27; sobre o significado do termo “glória de Deus”, ver com. de Rm.3:23. Vasos de misericórdia. Ou seja, os vasos que receberam e experimentaram misericórdia. Dificilmente isso poderia ser interpretado como sendo “vasos merecedores de misericórdia”, como no caso dos “vasos de ira” (ver com. do v. Rm.9:22). A misericórdia de Deus nunca é merecida. Preparou de antemão. Do gr. proetoimazo. A outra ocorrência deste verbo no NT encontra-se em Ef.2:10. Paulo afirma que é Deus quem prepara os vasos de misericórdia para a glória, embora não descreva Deus preparando vasos de ira para a destruição (ver com. de Rm.9:22). Deus prepara Seu povo de antemão para a glória (Rm.8:28-30; 2Tm.1:9). |
Rm.9:24 | 24. os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Os quais somos nós. Ou seja, a igreja cristã, a quem foram atribuídos os privilégios concedidos no passado a Israel. “Aquilo que Deus propôs realizar em favor do mundo por intermédio de Israel, a nação escolhida, será executado afinal por meio de Sua igreja na Terra hoje” (PR, 713; ver vol. 4, p. 21-23). Não só dentre os judeus. A igreja cristã é constituída de judeus e gentios. Mais uma vez, Paulo enfatiza a universalidade da graça divina (cf. Rm.3:29-30). Ninguém é chamado e salvo porque é judeu. A salvação é oferecida a judeus e gentios nas mesmas condições (Rm.3:22; Rm.10:12-13). Gentios. Com esta referência aos gentios, Paulo introduz o assunto a ser discutido até o final de Rm.11. |
Rm.9:25 | 25. Assim como também diz em Oseias: Chamarei povo meu ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada; Como também diz. Paulo procura apoiar suas conclusões no AT, especialmente quando trata de temas polêmicos. Então ele mostra que tanto o chamado aos gentios como a salvação de um remanescente de Israel estavam previstos pelos profetas. Chamarei. Uma citação de Os.2:23, embora não idêntica ao hebraico nem à LXX. Da forma como foram citadas por Paulo, as palavras gregas dizem, literalmente: “Chamarei o não Meu povo de Meu povo e os não amados de amados” (sobre o significado da afirmação de Oseias em seu contexto original, ver com. de Os.2:23; Os.1:6; Os.1:9). |
Rm.9:26 | 26. e no lugar em que se lhes disse: Vós não sois meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo. E sucederá que (ARC). Uma segunda citação do AT, de Os.1:10. Em seu contexto original, é uma predição do chamado das tribos da diáspora. Paulo mostra como a promessa se cumprirá em relação à igreja (ver com. de Os.1:10). No lugar. Isto parece significar que, no mesmo lugar em que as tribos, ou mais tarde, os gentios, haviam sofrido a vergonha de ouvir que não eram povo de Deus, seriam chamados povo de Deus. |
Rm.9:27 | 27. Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Clama. Do gr. krazo, palavra que indica intenso fervor (ver Jo.1:15; Jo.7:28; Jo.7:37; Jo.12:44; At.23:6). Isaías. Paulo passa então das profecias aplicáveis ao chamado dos gentios para outras sobre a rejeição de todos, à exceção de um remanescente de Israel. Ainda que o número. Uma citação de Is.10:22-23, não idêntica ao hebraico nem à LXX. No entanto, as variações não alteram o significado da profecia. Areia do mar. As palavras de Isaías refletem a promessa feita a Abraão (Gn.22:17). O remanescente. Significa, neste contexto, “só um remanescente”. A doutrina do remanescente era uma parte importante da mensagem de Isaías. Foi incluída no comissionamento divino do profeta para ser mensageiro a Israel (Is.6:13), e ele a enfatiza repetidamente (Is.1:9; Is.10:20-22; Is.11:11-16; Is.37:4; Is.37:31-32; Is.46:3). Isaías foi ainda instruído pelo Senhor a chamar um de seus filhos de Shear-Jasub, literalmente, “Um Remanescente Voltará”. Outros profetas do AT também mencionam frequentemente o “remanescente” (ver Je.6:9; Je.23:3; Je.31:7; Ez.6:8; Ez.14:22; Jl.2:32; Am.5:15; Mq.2:12; Mq.4:7; Mq.5:7-8; Mq.7:18; Sf.2:7; Sf.2:9; Sf.3:13; Ag.1:12; Zc.8:6; Ag.1:14; Zc.8:12). Será salvo. O texto hebraico diz: “voltará”. Este retorno não deveria ser apenas do exílio, mas “ao Deus forte” (Is.10:21). Portanto, a tradução grega “será salvo” representa corretamente a intenção da profecia. |
Rm.9:28 | 28. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente e em breve; Cumprirá. O versículo pode ser traduzido, literalmente, como: “por uma palavra, completando[-a] e abreviando[-a] em justiça, porque uma breve palavra o Senhor vai trazer sobre a Terra”. No entanto, evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão das palavras “em justiça, porque uma breve palavra”. A expressão mais longa é a da LXX (sobre o significado do texto hebraico, ver com. de Is.10:22). Palavra. Do gr. logos, termo usado no NT com diversos significados. É traduzida como “notícia” (Mc.1:45), “pergunta” (Mc.11:29; Lc.20:3) e “contas” (Hb.13:17). Logos ocorre mais de 300 vezes no NT, sendo traduzido em geral por “palavra”; e é traduzido como “obra” somente aqui, pela ACF. Logos é o equivalente grego ao heb. dabar. Vários significados são possíveis neste contexto em particular. Um deles é sugerido pela tradução de logos em Rm.14:12: “Assim, pois, cada um de nós dará contas [logos] de si mesmo a Deus.” Esse significado está por trás da seguinte tradução da passagem em questão: “Pois o Senhor executará na Terra a Sua sentença, rápida e definitivamente” (NVI). Outra interpretação faz logos se referir às promessas de Deus a respeito de Israel, cumpridas apenas em grau limitado no remanescente. Ou, “abreviando” (ARC) pode se referir ao próprio Israel, cujo número seria muito reduzido na seleção do remanescente. |
Rm.9:29 | 29. como Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra. Já disse. Alguns tomam isto como significando “anunciou” ou “predisse” (Mt.24:25; At.1:16). Outros entendem que significa simplesmente “disse em um momento anterior” (2Co.7:3; Gl.1:9). A decisão depende de as palavras de Isaías serem consideradas como uma predição ou como uma descrição da situação de Israel em seu tempo. Neste último caso, Paulo estaria usando as palavras de Isaías como suas próprias a fim de descrever a condição semelhante de Israel em seus dias. Em qualquer caso, a citação é apropriada para o raciocínio do apóstolo. Ainda uma terceira interpretação considera que “antes” significa “em uma passagem anterior”. A declaração seria de uma parte anterior dos escritos de Isaías (Is.1:9). Se o Senhor. Uma citação de Is.1:9. Dos Exércitos. Do gr. Sabaoth, transliteração do heb. tseba’oth, “hostes”, “exércitos” (sobre o significado do título “Senhor dos Exércitos”, ver com. de Je.7:3). Descendência. Ou, “filhos”; os “remanescentes” do v. Rm.9:27. O hebraico de Is.1:9 diz: “um pequeno remanescente”. A LXX, bem como Paulo, os representa como “descendência”, da qual a nação brotará novamente (cf. Is.6:13; Os.2:23). O objetivo da citação é dizer que, a não ser por esse remanescente, a rejeição de Israel seria tão completa como a de Sodoma e Gomorra. Mas, ao longo dos séculos, um pequeno remanescente manteve a aliança. Apesar da infidelidade e da apostasia dominante, essa linhagem ininterrupta de testemunhas se manteve fiel a Deus e às condições de Suas promessas a Abraão (Rm.11:4-5; SI.22:30-31; Is.6:12-13). Como Sodoma. A destruição de Sodoma e Gomorra é frequentemente mencionada no AT como exemplo de destruição violenta (ver Dt.29:23; Is.13:19; Je.49:18; Je.50:40; Lm.4:6; Am.4:11; Sf.2:9). Jesus também Se refere a essas cidades quando fala do juízo divino (Mt.11:23-24; Mc.6:11; Lc.10:12). |
Rm.9:30 | 30. Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la, todavia, a que decorre da fé; Que diremos, pois? Tendo enfatizado a autoridade e a justiça divina na rejeição dos judeus e na vocação dos gentios, Paulo então se volta para a responsabilidade humana. Os gentios. Alguns gentios alcançaram a justiça. A conclusão que Paulo faz de sua discussão até aqui é: a promessa de Deus não falhou, mas, enquanto os gentios obtiveram justiça, os judeus não conseguiram encontrá-la, porque a procuraram no caminho errado. Isso, naturalmente, levanta a questão do v. Rm.9:32: “Por quê?”, e introduz o ponto em discussão seguinte: a falha e a culpa dos judeus, questão que Paulo discute deste ponto até Rm.10:21. Buscavam. Do gr. dioko, “perseguir”. Vieram a alcançá-la. Do gr. katalambano, “colheram”, “obtiveram”. Tanto dioko quanto katalambano são usados em conexão com a pista de corridas (ver com. de Rm.9:16; 1Co.9:24; Fp.3:12). Paulo afirma que os gentios, que sequer estavam se esforçando para obter a justiça, a compreenderam. Ele não diz que não havia nenhum desejo ou anseio por justiça entre os gentios, mas que, em contraste com os judeus legalistas, eles não estavam deliberadamente buscando-a. No entanto, quando a salvação lhes foi oferecida no evangelho, eles a receberam. Anteriormente, Paulo falou sobre os gentios que preenchem os requisitos da lei, embora não tenham qualquer código revelado, como os judeus, que tinham o privilégio de possuí-la (ver com. de Rm.2:14). Da fé. Esta definição do tipo de justiça que os gentios obtiveram explica o aparente paradoxo de terem alcançado a justiça pela qual não estavam se esforçando. |
Rm.9:31 | 31. e Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. A lei de justiça. Literalmente, “uma lei de justiça”, ou seja, uma justiça que produz lei. Paulo diz que os gentios não buscavam, mas obtiveram a “justiça”. No entanto, o que Paulo diz que os judeus perseguiam, mas não alcançavam é “a lei de justiça”. Esta frase tem sido interpretada de diversas maneiras. Alguns a consideram uma referência específica à lei do AT. Outros entendem que a frase significa que os judeus buscavam um princípio e uma regra de vida moral e religiosa que os tornasse justos (comparar com o uso da palavra “lei” na expressão “lei da fé”; ver com. de Rm.3:27; Rm.7:23). Os judeus pensavam ter encontrado esse princípio em seu sistema de leis morais e religiosas. Mas, visto que nunca foram capazes de viver de acordo com os requisitos da lei, seus princípios de justiça não poderiam produzir a justiça que procuravam. Isso os levou a multiplicar ainda mais as leis religiosas na busca legalista de um princípio de vida que os tornasse justos aos olhos de Deus. Outra interpretação, bem adaptada ao contexto, é considerar a frase a “lei de justiça” equivalente a “justiça que se baseia na lei”. A ênfase de Paulo nestes versículos está na natureza legalista da busca de Israel por justiça. Essa lei. Literalmente, “para uma lei”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão de “justiça” nesta segunda frase (comparar ARA e ARC). Israel seguia “uma lei de justiça”, mas não conseguia alcançá-la. A razão para essa falha é que a justiça da lei exige o perfeito cumprimento da lei, e as pessoas não são capazes de prestar essa obediência por si mesmas. Consequentemente, dependendo da justiça de uma lei que não podiam obedecer, os judeus não conseguiam chegar aos ideais prescritos pela lei nem à justiça que perseguiam. |
Rm.9:32 | 32. Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, Porque. A primeira parte da resposta diz, literalmente: “porque não decorreu da fé, e sim como que das obras da lei”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão da expressão “da lei” (ARC). Como que das obras. Literalmente, “como se fosse pelas obras”. Por essa frase qualificadora, Paulo indica que era opinião dos judeus que a justiça podia ser obtida desta forma. Eles pensavam que poderiam se tornar justos mediante as obras, o que, na verdade, era impossível (ver Rm.2:25-3:20). Perfeita justiça só é possível pela fé (Rm.3:21-22). Tropeçaram. Do gr. proskopto. Este verbo significa, literalmente, “chocar-se contra” (Mt.4:6; Lc.4:11), por isso, “tropeçar” (Jo.11:9-10) e, metaforicamente, “ofensa” (1Pe.2:8). Cristo veio para trazer justiça a todos os que a aceitam pela fé. Mas os judeus, que a buscavam de outra maneira, ofenderam-se com Ele e Sua mensagem. Era tão arraigada a crença errônea de que a justiça poderia ser obtida pelas obras, que esta os levou a se oporem abertamente ao Salvador e, finalmente, até a matarem-No. Se Paulo usa o verbo no sentido literal de “tropeçar”, estes versículos descrevem os judeus como perseguindo sinceramente a meta da justiça, mas tropeçando sobre a própria Pessoa que veio ajudá-los a alcançá-la. Pedra de tropeço. Evidentemente, o problema não estava na pedra, mas na atitude daqueles para quem ela se tornou motivo de tropeço. O “Cristo crucificado” era “escândalo” para os judeus, mas o “poder” e “sabedoria de Deus” para os crentes (1Co.1:23-24). Ele é pedra de tropeço para os infiéis e desobedientes, mas precioso aos que têm fé (1Pe.2:7-8). |
Rm.9:33 | 33. como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido. Está escrito. Citação de Is.28:16; Is.8:14, mas não idêntica ao hebraico nem à LXX. Pedro aplica estes dois versículos a Cristo (1Pe.2:6-8). A predição reúne as duas classes que Paulo descreve: aqueles para quem Cristo é motivo de escândalo e aqueles para quem Ele é a pedra angular de sua fé (ver SI.118:22; Mt.21:42; Mc.12:10; Lc.20:17; At.4:11). Nela. Esta expressão não está na LXX nem no texto hebraico de Is.28:16. Ao acrescentá-la, Paulo enfatiza a referência pessoal a Cristo. Não será confundido. Esta é a tradução da LXX. O hebraico diz: “não se apressará”, mas também permite a mesma tradução. Em ambos os casos, a ênfase está na confiança que tem o que exerce fé em Cristo e avança para o alvo da soberana vocação de Deus. |
Rm.10:1 | 1. Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos. Irmãos. Paulo utiliza esta expressão com frequência quando deseja ser enfático (Rm.7:1; Rm.8:12; Rm.12:1; 1Co.14:20; Gl.3:15). O tema discutido neste capítulo é afirmado em Rm.9:31-33, que Israel não alcançou a justiça porque a buscava com base nos méritos próprios. Mas, antes de apontar a falha e a culpa de seu povo, Paulo reitera sua preocupação pela salvação deles (Rm.9:1-3). Boa vontade. Do gr. eudokia, “aprovação”. Comparar com o uso da palavra em Mt.11:26; Ef.1:5; Ef.1:9; Fp.1:15; Fp.2:13; 2Ts.1:11. Paulo desejava sinceramente a salvação de seus compatriotas judeus. Súplica. Do gr. deesis, “petição”, “rogo” (Ef.6:18; Fp.4:6; 1Tm.2:1; 1Tm.5:5), a partir da palavra deomai, “querer”, “implorar” ou “orar”. Deesis descreve um pedido particular e se distingue de proseuche, uma oração geral (Rm.1:10). A favor deles. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “por eles”, isto é, os que foram mencionados antes (Rm.9:31-33). O pronome indica a ligação entre os dois capítulos. O cap. 10 é uma continuação do raciocínio de Paulo sobre a rejeição de Israel, discutida no cap. 9. Que sejam salvos. É significativo que, após a discussão sobre a rejeição de Cristo pelos judeus, Paulo fale em orar pela salvação deles. Isso mostra que ele não considera o caso deles sem esperança, apesar de sua culpa. Se Paulo considerasse essa rejeição como resultado de uma determinação de Deus para a destruição deles, como alguns entendem a doutrina da predestinação, ele não teria orado para que eles ainda fossem salvos. Por isso, ele afirma que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (v. Rm.10:13). O evangelho é para todos, incluindo os judeus (Rm.1:16; Rm.3:29-30; Rm.10:12). |
Rm.10:2 | 2. Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento. Por que lhes dou testemunho. Paulo podia fazer isso a partir da própria experiência. Ele mesmo havia sido “extremamente zeloso das tradições de [seus] pais” (Gl.1:14), portanto, estava familiarizado com o zelo equivocado deles (ver At.22:3; Fp.3:6). Zelo por Deus. Comparar SI.69:9; Jo.2:17. Os judeus se orgulhavam de seu zelo por Deus e pela lei (At.21:20; At.22:3; GI.1:14), e Paulo descreve o ardor deles pela religião durante esse período. A triste história dos judeus é que, apesar do fervor religioso, eles não alcançaram a justiça (Rm.9:30-32). A religião deles era legalista e formal. A aparência de obediência era um disfarce para a corrupção interior (Rm.2:17-29). No entanto, Paulo parece falar de seu zelo por Deus como algo que, em si mesmo, é louvável. Antes de discutir as falhas deles, ele primeiro aponta para uma boa qualidade (Rm.1:8). Ele parece encontrar nesse zelo mal direcionado alguma coisa para incentivar; a esperança de que, se o zelo fosse direcionado para o verdadeiro caminho da justiça, eles ainda poderiam ser salvos. Entendimento. Do gr. epignosis, palavra que denota conhecimento pleno e profundo (cf. Rm.1:28; Rm.3:20). Os judeus não estavam sem tal conhecimento (gnosis), mas faltava-lhes o verdadeiro conhecimento que os poderia ter levado a servir a Deus corretamente. Eles tinham sido favorecidos com o conhecimento de Deus (Rm.3:1-2), mas o zelo deles não era inteligente. Embora conhecessem a Lei e os Profetas, não compreendiam o significado das palavras e das obras de Deus. O fervor sem discernimento tornou-se fanatismo, e eles mostravam mais zelo para com os rituais e a letra da lei do que para com Deus. |
Rm.10:3 | 3. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porquanto. Este versículo explica que o zelo dos judeus era “não com entendimento”. Se estivessem dispostos a obedecer à vontade de Deus, eles teriam chegado ao conhecimento da verdade (ver Jo.7:17), mas se recusaram. Desconhecendo. Mais tarde, Paulo mostra que essa ignorância era indesculpável, pois os judeus haviam tido todas as oportunidades para se tornar iluminados (Rm.10:14-21; Jo.5:39-40). A justiça de Deus. Ver com. de Rm.1:17. Procurando. Do gr. zeteo, literalmente, “buscar”, “esforçar-se para”. Estabelecer. Do gr. histemi, “instituir”. A palavra sugere o orgulho dos judeus no esforço para desenvolver justiça própria. Em seu professo zelo por Deus, os judeus estavam realmente trabalhando para si mesmos. Oseias já dizia: “Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo” (Os.10:1, ARC). Em vez de buscar a justiça de Deus, os judeus se baseavam em suas próprias obras (cf. Fp.3:9). Consideravam os sacrifícios e as ordenanças como meios de justiça, em vez de buscar a justiça dAquele a quem todas essas coisas apontavam. Assim, a religião deles degenerou para um formalismo de autoglorificação e autossuficiência. E quanto mais os judeus perdiam de vista a justiça de Deus, mais rigorosos se tornavam no cumprimento dessas formas de estabelecer a justiça própria. Sujeitaram. Do gr. hupotasso, verbo que comumente significa “colocar-se sob ordens”, “obedecer” (Tg.4:7; 1Pe.2:13; 1Pe.5:5). A forma verbal aqui empregada é mais bem traduzida como “submeteram-se”. Os judeus se orgulhavam de seu conhecimento de Deus e da lei divina (Rm.2:17-20), mas recusavam obedecer à vontade de Deus. Confiantes na própria justiça, não se dispunham a ceder o coração a um plano que exigia que confessassem não ter justiça aceitável (Is.64:6) e que a salvação dependia dos méritos de outrem. Nenhum obstáculo para a salvação pela graça é tão grande quanto a autojustificação do pecador. Por causa da indisposição em se submeter ao mandamento de Deus, isto é, crer “em o nome de Seu Filho” (1Jo.3:23), os judeus revelaram que sua fé em Deus era inoperante, pois a essência da fé é confiar e obedecer. Essa relutância em crer era a causa, não só da ignorância, mas também da rejeição como povo escolhido. |
Rm.10:4 | 4. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê. O fim da lei é Cristo. No texto grego, a palavra “fim”, telos, está com ênfase. Estas palavras têm sido interpretadas como se Cristo fosse o fim da lei como tal (Gl.3:24), Cristo sendo o cumprimento da lei (Mt.5:17) e Cristo sendo o fim da lei como meio de salvação (Rm.6:14). A primeira interpretação, antinomista, é um equívoco (ver com. de Rm.3:31). A segunda apresenta uma proposição verdadeira; mas a terceira é a que melhor se enquadra no contexto deste versículo. Paulo contrasta o caminho da justiça de Deus pela fé com a tentativa humana de obter a justiça pela lei. A mensagem do evangelho é que Cristo é o fim da lei como forma de justiça a todo aquele que tem fé. É significativo que, no texto grego, não há um artigo definido (“a”) antes da palavra nomos, “lei” (ver com. de Rm.2:12), o que indica que Paulo se refere à lei, em geral, e não a uma lei específica. Além disso, o desdobramento da argumentação mostra que Paulo trata de lei em sentido geral. Este versículo não significa que a justiça, na verdade, poderia ser obtida pela lei nos tempos do AT, e que, com a vinda de Cristo, a fé substituiu a lei como forma de justiça. Desde a queda de Adão, Deus revelou apenas um caminho pelo qual a humanidade poderia ser salva: a fé no Messias (Gn.3:15; Gn.4:3-5; Hb.11:4; Rm.4). A passagem também não pode ser usada para afirmar que Cristo é o fim da lei como tal e que, portanto, em Cristo, as pessoas estão isentas da obediência à lei de Deus. É a lei como método de obtenção de justiça que foi levada ao fim, em Cristo. O propósito de Deus para proclamar sua lei era revelar a pecaminosidade do ser humano (Rm.3:20) e a necessidade de um Salvador (Cl.3:24). Mas os judeus tinham torcido o propósito de Deus e usavam as leis, tanto morais quanto cerimoniais, como meio de estabelecer a própria justiça. Cristo veio eliminar esse uso equivocado da lei e apontar o caminho de volta à fé. A fé não aboliu a lei, mas a confirmou (ver com. de Rm.3:31), tornando acessível aos seres humanos a justiça perfeita de Cristo (ver com. de Rm.8:4). |
Rm.10:5 | 5. Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela. Ora, Moisés. Paulo então descreve o contraste entre a justiça pela lei e a justificação pela fé, com linguagem extraída do AT. Ao fazer isso, ele também mostra que não há contradição entre o AT e o NT sobre esse assunto. Escreveu. Do gr. grapho, literalmente, “escrever”. Há evidência textual (cf. p. xvi) para a seguinte variante do v. Rm.10:5: “Moisés escreveu que o homem que pratica a justiça baseado na lei viverá por ela.” A citação é de Lv.18:5, que diz: “Portanto, os Meus estatutos e os Meus juízos guardareis; cumprindo-os, o homem viverá por eles” (cf. Gl.3:12). Paulo cita essas palavras para mostrar que, com base em conceitos judaicos, a justiça pela lei exige o perfeito cumprimento da lei. Ela deve ser observada criteriosamente. Não há graça nem misericórdia na lei. Tudo o que a lei exige deve ser cumprido, ou não há salvação (cf. Gl.3:10-13). Mas essa é uma condição que jamais foi cumprida pelo ser humano caído, como Paulo mostra em Romanos 1 a 3, e que não pode ser cumprida por pecadores não regenerados (Rm.8:5-8). Portanto, só pode haver condenação para os que dependem de seu próprio cumprimento da lei para se justificarem diante de Deus (Rm.3:20). No contexto de Lv.18:5, a lei de Deus é descrita como um conjunto de estatutos e juízos que poderiam ser guardados e mediante cuja observância as pessoas seriam mantidas na vida. As referências a essa mesma passagem em Ez.20:11; Ez.20:13; Ez.20:21 e Ne.9:13; Ne.9:29 também sugerem que a condição pode ser cumprida. Deve-se observar, no entanto, que Deus entregou a lei ao povo de Israel (Ex.20) não na condição de escravos no Egito para que fosse cumprida e, por isso, o povo pudesse ser salvo; mas na condição de povo salvo pelo sacrifício do cordeiro, imolado na Páscoa. Eles deveriam obedecer a Deus a fim de permanecer na condição de salvação dada a eles por Deus, por Sua graça (Ex.3:6-9). No NT, a exemplo de Israel, os cristãos recebem a graça do evangelho e são chamados a exercer fé no Redentor a fim de obter o perdão dos pecados e receber graça para a obediência (ver com. de Ez.16:60; Ez.20:11; Ez.36:26). Esses textos não devem ser tomados para supor que a justiça pode ser obtida pela guarda da lei sem o exercício da fé. Contudo, os fariseus e, por influência deles, o povo judeu entretinha essa visão errônea. Eles esperavam justiça e vida como recompensa pela estrita observância da lei. O relacionamento deles com Deus era puramente legalista. A aliança com Deus era pelas obras, não por meio da fé e da graça. Deus procurou levá-los a uma experiência mais elevada, mas eles se recusaram a avançar (ver com. de Ez.16:60). A fim de expor o mal-entendido dessa posição, Paulo cita Lv.18:5. Ele usa as palavras do próprio Moisés para lembrar aos judeus legalistas que a justiça só vem para os que obedecem perfeitamente. Mas o ser humano não é capaz de prestar essa obediência. Jesus respondeu ao doutor da lei que buscava “a justiça que é da lei”, indicando: “Faze isto e viverás” (Lc.10:28). |
Rm.10:6 | 6. Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; Decorrente da fé. Paulo personifica a justificação pela fé, como se estivesse falando por si mesma. O mesmo com a sabedoria (Pv.1:20; Lc.11:49) e a exortação (Hb.12:5). O apóstolo poderia ter dito: “Moisés fala assim sobre a justificação pela fé”. Assim, as afirmações em Rm.10:4 são provadas pelo testemunho de Moisés, ou seja, a impossibilidade de se obter a justiça por intermédio da lei (v. Rm.10:5) e a certeza de que podemos obter a justificação pela fé (v. Rm.10:6-8). Muitos comentaristas encontram dificuldade no fato de Paulo usar palavras de Moisés que parecem pertencer apenas à lei, para descrever a justificação pela fé. Mas a dificuldade reside na suposição de que a lei e o evangelho são opostos entre si. O problema é resolvido quando se reconhece que a justificação pela fé sempre foi o método de Deus para salvar a humanidade, e que a promulgação da lei por intermédio de Moisés foi parte desse plano. Além disso, Moisés foi usado por Deus para dar o grande sistema de tipos e cerimônias que simbolizavam o plano da justificação pela fé em Cristo. Por isso, não é razoável supor que Moisés fosse ignorante sobre o relacionamento entre a lei e o evangelho, nem que, ao falar sobre a obediência aos mandamentos de Deus, elogiasse a justiça pela lei e em lugar da fé. Assim diz. Isto é, fala desta maneira; uma citação de Dt.30:11-14. Nesse capítulo, Moisés enumera as bênçãos prometidas a Israel mediante a obediência à lei de Deus. Moisés fala àqueles a quem tinha dito anteriormente: “Deus, circuncidará o teu coração [...] para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Dt.30:6). Ele se refere ao Israel convertido e fiel. Ele fala da função da lei para os israelitas circuncidados de coração. Paulo não se apropria das palavras de Moisés sobre a lei para aplicá-las a algo que Moisés não tinha em mente. Assim como Paulo ressalta a justificação pela fé em Abraão, que creu e obedeceu a Deus, aqui ele destaca a essência da justificação pela fé na experiência dos israelitas salvos do Egito para viver em novidade de vida em Canaã. As palavras de Moisés, entendidas à luz dos atos salvíficos de Deus no êxodo, descrevem uma justiça que, de fato, é fruto da fé no Cordeiro de Deus. Não perguntes em teu coração. Estas palavras de Dt.9:4 são usadas por Paulo para introduzir sua citação de Dt.30:12-14. “Dizer no coração” é uma expressão idiomática hebraica que significa “pensar”, geralmente um mau pensamento (ver também Dt.15:9; Dt.18:21; SI.14:1; Mt.3:9; Mt.24:48; Ap.18:7; 1Co.7:37). Quem subirá ao céu? Moisés pronunciou estas palavras para indicar que a Palavra de Deus não está longe nem fora do alcance, mas que já foi revelada e deixada clara. Paulo aplica as mesmas palavras ao evangelho, a revelação ainda mais clara da Palavra de Deus, dada em Cristo. Para trazer do alto a Cristo. Como se Ele não houvesse chegado ainda. O crente justificado diz: “Não duvido: O Filho de Deus já Se fez homem e habitou entre nós. A fé é lógica, pois Cristo já veio”. |
Rm.10:7 | 7. ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos. Quem descerá ao abismo? Em vez de “Quem passará por nós além do mar?” (Dt.30:13), Paulo pergunta: “Quem descerá ao abismo?” Assim como não havia necessidade de os israelitas procurarem no além-mar para encontrar os mandamentos de Deus, também não havia necessidade de ninguém descer ao abismo para encontrar a Cristo. Ele já ressuscitou. Abismo. Do gr. abussos, “abismo” (ver com. de Mc.5:10). Paulo parece aplicar o termo ao lugar dos mortos, aonde Cristo tinha “descido”. |
Rm.10:8 | 8. Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Porém que se diz? Isto é, o que diz a justificação pela fé? Paulo continua a personificar a justificação (ver com. do v. Rm.10:6). A palavra está perto de ti. O propósito dessa passagem do AT era garantir a Israel que Deus provera condições para que a lei pudesse ser cumprida. A aliança eterna feita com Adão no Éden provia perdão para a transgressão e a graça habilitadora para a obediência por meio da fé no Messias por vir. As pessoas revelavam fé no Redentor apresentando seus sacrifícios de animais e observando os demais requisitos da lei. Mas os israelitas foram reticentes em receber essa aliança dada a Adão e renovada a Abraão (ver com. de Ez.16:60). Eles escolheram, em lugar disso, buscar a justiça por seus próprios esforços em obedecer. Os profetas do AT tentaram levar o povo a aceitar as disposições do eterno plano de Deus, mas sem sucesso. Por intermédio de Jeremias, o Senhor lhes ofereceu uma nova aliança (ver com. de Je.31:31-34). Ezequiel ressaltou a necessidade de um “novo coração” e “novo espírito” (ver com. de Ez.36:26). Assim, a justificação pela fé lhes foi oferecida, “mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram” (Hb.4:2; Gl.3:8). A palavra estava “perto” deles. Tudo o que era exigido deles era crer e confessar. Assim, Paulo contrasta a simplicidade da justificação pela fé à tarefa trabalhosa e sem esperança de buscar a justiça da lei (Rm.10:2-3; Rm.10:5). A palavra da fé. Ou seja, a mensagem do evangelho em relação à fé. Esta é a única ocorrência desta expressão no NT. A palavra que Moisés descreve como “mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires” (Dt.30:14) é a mesma que “a palavra da fé” pregada por Paulo, o evangelho que anuncia a fé como meio da justiça. Que pregamos. Paulo acrescenta isto para enfatizar que a verdade da justificação pela fé não é desconhecida, mas pode ser entendida por todos dispostos a ouvir. Os judeus já não podiam se desculpar, alegando ignorância (v. Rm.10:14-21). |
Rm.10:9 | 9. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. A saber (ARC). Se esta tradução (equivalente a “que”, KJV) for mantida, Paulo estaria se referindo ao conteúdo da mensagem sobre a fé. Se “porque” for preferido, Paulo estaria dando uma prova de que a palavra da fé está próxima. Em ambos os casos, o apóstolo mostra que o conteúdo da mensagem da fé corresponde ao ensino de Moisés em Deuteronômio. Confessares. Do gr. homologeo, palavra traduzida como “direi” (Mt.7:23), “professam” (Tt.1:16) e “confissão” (Hb.3:1). Significa, literalmente, “de acordo com”, “dizer a mesma coisa que outra pessoa”. Assim, a confissão de um crente é sua expressão de concordância com tudo o que Deus declarou ser verdade. Isso inclui o que Deus revelou sobre Sua lei, nosso pecado e nossa necessidade do Salvador. Inclui tudo o que Deus declarou sobre o único meio de salvação: a fé em Seu Filho Jesus Cristo. Jesus como Senhor. Ou, “que Jesus é o Senhor” (cf. 1Co.12:3; Fp.2:11). Os judeus atribuíam senhorio apenas a Deus, o Pai. Os gentios adoravam o imperador como seu senhor. Mas os cristãos reconheciam a Cristo como o Senhor dos céus (1Co.15:47), o “Filho unigênito” de Deus (Jo.3:16), que é a “cabeça da igreja” (Ef.5:23) e “Senhor de todos” (At.10:36). A confissão do senhorio de Cristo inclui a disposição de seguir Sua liderança e obedecer a Seus mandamentos (Jo.14:21; 1Jo.2:3-4). Creres. Normalmente, a crença vem antes da confissão, mas Paulo segue a ordem do v. Rm.10:8, em que a boca é mencionada antes do coração. No v. Rm.10:10, ele dá a ordem normal: fé, depois confissão. Deus O ressuscitou. Ver com. do v. Rm.10:7. A ressurreição foi a confirmação das reivindicações de Cristo, a aprovação divina de Seu sacrifício (ver com. de Rm.1:4). Crendo que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, o cristão reconhece o triunfo de Cristo sobre o pecado e a morte, bem como Seu poder de justificar e salvar os pecadores (ver com. de Rm.4:25). Em contraste com a justiça pela lei (Rm.10:5), a justificação pela fé depende do que Cristo fez e pode fazer, e não do que somos capazes de fazer. |
Rm.10:10 | 10. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. O coração. Ver com. de Rm.1:21. Os judeus consideravam o coração como sede da vida interior, do pensamento e do sentimento. Para eles, o coração não representava as afeições em contraste com o intelecto. Ao se referir à crença “com o coração”, Paulo sugere que a fé envolve completa mudança interior, e essa mudança resulta em justificação e justiça (Rm.3:22; Rm.5:1). Confessa. A evidência externa da mudança interior é a confissão verbal, a decidida defesa do que se acredita ser verdade. A disposição de confessar a Cristo em palavras e ações é o teste do verdadeiro discipulado (Mt.10:32; Lc.12:8; Ap.3:5). A firme confissão diante do mundo, mantida até o fim, resulta em salvação (Ap.2:10). |
Rm.10:11 | 11. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. A Escritura diz. Uma citação de Is.28:16 (ver com. de Rm.9:33). Todo aquele. Esta expressão não está no texto de Isaías. Paulo enfatiza que o evangelho é destinado a todos. |
Rm.10:12 | 12. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Pois. Isto introduz a explicação de Paulo acerca de “todo aquele”, no v. Rm.10:11. Distinção. Ou, “diferença” (Rm.3:22). Judeus e gentios pecaram e necessitam de salvação (ver com. de Rm.3:23). Deus proveu apenas um meio pelo qual as pessoas podem ser salvas. Ele não tem uma provisão para os judeus e outra para os gentios. Assim, todas as distinções étnicas, sociais, econômicas e individuais desaparecem. Grego. Ou seja, o gentio (ver com. de Rm.1:16). O mesmo é o Senhor de todos. Judeus e gentios têm o mesmo Senhor (Rm.3:29-30), que redimiu toda a humanidade (Jo.3:16). Uma comparação entre Rm.10:9-10 indica que “Senhor” aqui se refere a Jesus. Cristo é “Senhor de todos” (At.10:36; Rm.14:9; Fp.2:10-11). Rico para com todos. Não há limite para os recursos do Senhor (Rm.8:32; Rm.11:33; Ef.1:7; Ef.2:7; Ef.3:8). Que O invocam. Invocar o Senhor ou invocar o nome do Senhor é uma expressão habitual quase equivalente a adorar o Senhor. Pode ter surgido do hábito de iniciar um discurso a uma divindade com a menção de seu nome. Os hebreus eram conhecidos como os que invocavam Yahweh. Os cristãos eram os que invocavam a Cristo (1Co.1:2). É significativo ver esta expressão de Cristo no NT, pois, sendo que a adoração é devida somente a Deus, este é um claro reconhecimento da divindade de Cristo (ver At.7:59-60; At.9:14; At.9:21; At.22:16; 2Tm.2:22; sobre a divindade de Cristo, ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). |
Rm.10:13 | 13. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Todo aquele que invocar. Uma citação de Jl.2:32, passagem também citada por Pedro no sermão do Pentecostes (At.2:21). Os judeus entendiam que a passagem de Joel significava que todos os verdadeiros adoradores de Yahweh seriam libertos no dia do juízo. Paulo aplica a passagem a Cristo. As palavras “toda a carne” (Jl.2:28) mostram que os gentios estão incluídos na profecia. |
Rm.10:14 | 14. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? Como, porém, invocarão [...]? Tendo declarado a universalidade da salvação pela fé, Paulo então discute as condições para que todos tenham a mesma oportunidade. Ele menciona essas condições como uma série de perguntas. Cada pergunta é um argumento, e a conclusão é assumida claramente e constitui a base da pergunta seguinte. Por exemplo: “Como invocarão Aquele em quem não creram?” Não podem, por isso, devem primeiro crer. “E como crerão nAquele de quem nada ouviram?” Não podem. E assim por diante. Alguns conectam os v. Rm.10:14-15 com a passagem anterior e os relacionam com a pregação do evangelho aos gentios. Se o evangelho é destinado a todos, como está implícito na expressão “todo aquele” (v. Rm.10:13), ele deve ser pregado a todos. Outros preferem conectar os v. Rm.10:14-15 aos versículos restantes do capítulo. Argumentam que, neste capítulo, Paulo não trata da missão aos gentios, mas da incredulidade dos judeus. Os judeus, como Paulo já havia explicado, eram “ignorantes” acerca da maneira de se obter justiça. Para convencê-los de sua grande culpa nessa questão, Paulo procura mostrar que eles tiveram ampla oportunidade de conhecer e entender o plano de Deus. Ele começa perguntando pelas condições para se “invocar o Senhor” e, em seguida, mostra que essas condições foram cumpridas. Portanto, os judeus são indesculpáveis por sua incredulidade. O raciocínio dos v. Rm.10:14-21 pode ser resumido da seguinte forma: os pregadores do evangelho foram enviados a fim de que todos tivessem a oportunidade de crer (v. Rm.10:14)? Sim, o evangelho foi pregado, como Isaías profetizou (v. Rm.10:15). Será que o fato de nem todos crerem prova que não ouviram (v. Rm.10:16)? Não, pois Isaías também predisse que alguns não receberiam a mensagem (v. Rm.10:16-17). É possível que alguns dos judeus não tenham ouvido falar (v. Rm.10:18)? Isso não poderia ser, pois a mensagem do evangelho foi proclamada em todos os lugares. Mesmo que Israel tenha ouvido o evangelho, é possível que não tivesse compreendido (v. Rm.10:19)? Isso também não poderia ser, pois, como Moisés e Isaías descreveram, os gentios menos privilegiados e menos esclarecidos eram capazes de entendê-lo (v. Rm.10:19-20). Portanto, os judeus não podem alegar a ignorância do evangelho como desculpa para a incredulidade. O fato real é que, como Isaías já havia dito, eles são um povo rebelde e obstinado (v. Rm.10:21). De quem. Ouvir o evangelho de um pregador enviado por Cristo é ouvir o próprio Cristo (2Co.5:20). O Senhor fala por meio de Seus representantes. |
Rm.10:15 | 15. E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Se não forem enviados. Do gr. apostello, do qual vem “apóstolos”. Assim como o Pai enviou Seu Filho, também o Filho enviou Seus apóstolos, e eles, por sua vez, sob a orientação do Espírito de Cristo, enviaram outros (Lc.9:2; Lc.10:1; Lc.10:3; Jo.4:38; Jo.17:18; At.26:17; 1Co.1:17). A proclamação da mensagem divina deve ser feita por alguém comissionado por Deus (Je.1:7; Je.7:25; Je.14:14-15; Je.23:21). Como está escrito. Uma citação de Is.52:7, feita de forma livre e breve, omitindo “sobre os montes”, talvez por ter significado só local ou poético, mudando o singular “que anuncia” para o plural e omitindo “que proclamam a salvação”. Quão formosos são os pés. Ver com. de Is.52:7. Que anunciam, a paz (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta frase. Ao utilizar esta citação, Paulo sugere que os mensageiros comissionados foram enviados (ver com. de Is.52:7). Judeus e cristãos consideravam que essa seção de Isaías apontava para a obra do Messias. As boas-novas da libertação do cativeiro babilônico simbolizam a boa notícia da salvação. Que anunciam coisas boas. Do gr. euaggelizo, do qual vem a palavra euaggelion, “evangelho” (ver com. de Rm.1:1). |
Rm.10:16 | 16. Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? Obedeceram. Do gr. hupakouo, “obedecer, como resultado de ouvir”, “dar ouvidos”, “atender” (ver com. de Rm.5:19). A palavra é apropriada neste contexto, em que Paulo descreve a incredulidade com que foi recebida a mensagem do evangelho. Os judeus ouviram, mas não atenderam. Evangelho. Ou, “boas-novas”, “boa notícia” (ver com. de Rm.1:1). Isaías diz: A citação é de Is.53:1. O texto hebraico não contém a palavra “Senhor”, mas ela ocorre na LXX. A desobediência dos judeus também foi prevista pelo profeta. Imediatamente após sua descrição dos mensageiros das boas-novas (Is.52), Isaías prediz o fracasso das pessoas por receber a mensagem (comparar com a declaração do cumprimento dessa profecia em Jo.12:37-38). Essa citação também traz a implicação (cf. Rm.10:15) de que a mensagem foi dada, do contrário, não poderia ter sido ouvida e crida. |
Rm.10:17 | 17. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Fé. Para ver a ligação entre os v. Rm.10:16-17, deve-se observar que a língua grega não tem duas palavras para “crença” e “fé”. O substantivo gr. pistis, “fé” ou “crença”, deriva de pisteuo, verbo traduzido como “acreditou”, no v. Rm.10:16 (ver com. de Rm.3:3). Pregação. Do gr. akoe, que ocorre duas vezes neste versículo, e, literalmente, significa “ouvir” (ABC). Sendo atribuído o mesmo significado ao termo, ao contrário do que faz a ARC, fica evidente a conexão entre os v. Rm.10:16-17: “quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”. Palavra de Deus (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a variante “a palavra de Cristo” (ARA). Isto pode significar “a mensagem acerca de Cristo”, como “a palavra da fé” (v. Rm.10:8), representando “a mensagem sobre a fé” (ver com. do v. Rm.10:8). Este versículo é uma importante declaração da natureza e da fonte da verdadeira fé. A fé genuína não é cega confiança que precisa ser exercida na ausência de provas. A fé é a convicção das coisas que não se podem ver (Hb.11:1), convicção que deve ser fundamentada no conhecimento da Palavra de Deus, a mensagem de Cristo. Como meio de desenvolver uma fé operante, não há substituto para o estudo e a prática da palavra de Deus. |
Rm.10:18 | 18. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Mas pergunto. Os judeus podiam alegar que não tiveram a oportunidade de ouvir e, por isso, não aceitaram o evangelho. Paulo passa a refutar essa objeção. Porventura, não ouviram? Ou, “será que não conseguiram ouvir?” A construção grega desta pergunta indica que se espera uma resposta negativa e que a desculpa não pode ser admitida. O pronome subentendido “eles” se refere a “nem todos”, do v. Rm.10:16, ou seja, aos judeus. Sim, por certo. Esta é a correção de Paulo à sugestão de que eles não tinham ouvido a mensagem. Ele afirma, ao contrário, que o evangelho foi pregado a todo o mundo, e faz sua afirmação com base nas palavras do Sl.19:4. Voz. Do gr. phthoggos, palavra onomatopaica, pronunciada de forma a imitar o som produzido pela vibração de um instrumento musical (1Co.14:7). No AT, a expressão tem o sentido literal de “linha de medir” (ver com. do SI.19:4). De acordo com o salmista, a “voz” da natureza é a testemunha silenciosa com a qual “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos” (SI.19:1). O salmista compara a revelação de Deus em Suas obras (SI.19:1-6) com a revelação especial de Si mesmo em Sua palavra (SI.19:7-11). Paulo vê nisso uma representação da pregação global do evangelho, e usa as palavras do salmista para descrever como o “som” dos pregadores da palavra da fé percorrem “toda a Terra”. Mundo. Do gr. oikoumene, “o mundo habitado” (ver com. de Lc.2:1). Por ocasião da escrita desta epístola, o evangelho tinha sido pregado relativamente a todos os lugares, pois, evidentemente, ainda não tinha sido levado a Espanha (ver Rm.15:20; Rm.15:24; Rm.15:28). No entanto, a mensagem de fé já havia se espalhado tão amplamente em todo o mundo que Paulo é justificado ao fazer esta declaração geral. Na verdade, dentro de sua geração, o evangelho foi levado “a toda criatura debaixo do céu” (Cl.1:23; cf. Ed, 96). Além disso, a mensagem sempre foi levada “primeiro aos judeus” (At.9:20; At.11:19; At.13:5; At.14:1; At.17:1-2; At.17:10; At.18:4; At.18:19; At.28:17; Rm.1:16) e, provavelmente, era o propósito primordial de Paulo, neste capítulo, mostrar que nenhum israelita podia se desculpar sob a alegação de que nunca tinha ouvido do evangelho. |
Rm.10:19 | 19. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. Não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Ou, “será que Israel não sabia?” Como no v. Rm.10:18, a construção grega sugere uma resposta negativa. Apesar da revelação de Deus por meio de Moisés e dos profetas, Israel permaneceu ignorante acerca do caminho da justiça de Deus. Primeiramente (ARC). Isto é, pela primeira vez na linha profética. Moisés já dizia. Citação de Dt.32:21. Moisés, que transmitiu a Israel as vantagens da aliança em relação aos gentios, também tinha criado a norma de fé pela qual essa posição favorecida poderia se reverter no futuro (ver Dt.32:18; Dt.32:20). Eu vos porei. Ao mostrar misericórdia para com os gentios, Deus esperava provocar ciúmes em Seu próprio povo e inspirá-lo a ter zelo por Ele (comparar com Os.2:23; Rm.9:25). Com um povo que não é nação. Ver Dt.32:21. Os gentios são chamados de “não-nação” porque não estavam em relação de aliança com Deus, a exemplo de Israel (ver Dt.4:5-8). Eram “gente insensata” porque não tinham recebido a mesma revelação de Deus. Em vez disso, adoravam ídolos de madeira e pedra (ver com. de Rm.1:21). Paulo queria provocar ciúmes em seus compatriotas, afirmando que, como Moisés havia predito, Deus estava admitindo como Seu povo nações que os judeus estavam acostumados a considerar inferiores (ver Rm.11:14). Assim fazendo, o apóstolo esperava que, por suas orações, seu povo se arrependesse e aceitasse a salvação em Cristo (Rm.9:1-3; Rm.10:1). |
Rm.10:20 | 20. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Fui achado. Citação de Is.65:1. A inesperada fé dos gentios deveria ser uma repreensão aos privilegiados e iluminados, mas ainda incrédulos judeus (Rm.9:30-33). |
Rm.10:21 | 21. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente. Quanto a Israel. Isto é, no que diz respeito a Israel. Diz. Ou seja, Isaías diz. O profeta fala em nome de Deus. Paulo cita Is.65:2, segundo a LXX, mais do que como o hebraico. Todo o dia. Isaías expressa, portanto, a paciência e a longanimidade de Deus para com Seu povo, apesar de persistir na desobediência e de recusar Seus apelos. A atitude de Deus, mesmo com rebeldes, é plena de ternura e compaixão. Ele estende o braço da misericórdia aos rebeldes e contradizentes. Finalmente, mesmo os que rejeitaram a Cristo reconhecerão que Deus sempre foi gracioso e longânimo (Ap.15:4; GC, 670, 671). Contradizente. Literalmente, “falantes contra”, “contraditórios”. Ao recusar e resistir ao evangelho, os judeus estavam revelando uma característica que há muito havia sido apontada e condenada pelos profetas. Antes de seu martírio, Estêvão fez a mesma acusação (At.7:51-53; Lc.13:34). |
Rm.11:1 | 1. Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Pergunto, pois. Estas palavras marcam o início de uma nova etapa na argumentação de Paulo a respeito da condição dos judeus. “Pois” ou “portanto”, do gr. oun, pode se referir à descrição de Isaías da desobediência de Israel (Rm.10:21) ou a toda a discussão anterior da rejeição de Israel. Até aqui, nos cap. 9 e 10, Paulo explicou que Deus, como criador soberano, é livre para rejeitar Israel da posição de povo escolhido. Além disso, uma vez que os judeus recusaram o caminho da justiça de Deus, eles devem ser rejeitados. A rejeição, no entanto, é da posição de nação escolhida (ver vol. 4, p. 17-22), não da oportunidade de salvação. Rejeitado. Do gr. apotheo, literalmente, “repelir”, “afastar de si” (cf. At.7:27). A forma da pergunta em grego sugere resposta negativa: “Deus não repudiou Seu povo, não é mesmo?” Essa pergunta surge naturalmente, após o que foi dito sobre a falta de fé e a desobediência de Israel. No entanto, Paulo levanta a questão a fim de respondê-la de forma enfática. Seu povo. Paulo podia ter em mente a passagem do AT: “Pois o Senhor não há de rejeitar o Seu povo, nem desamparar a Sua herança” (SI.94:14; 1Sm.12:22) para, com isso, antecipar a negação prestes a ser feita. De modo nenhum! Ver com. de Rm.3:4. Porque eu também. Paulo mostra que nem todos os judeus foram rejeitados. Ele mesmo era israelita e foi aceito por Deus. Ele sabia por experiência que as bênçãos prometidas lhe pertenciam. Muitos outros judeus cristãos podiam testemunhar a mesma experiência de Paulo. Descendência de Abraão. Ver com. de Mt.3:9. Tribo de Benjamim. Por esta referência, Paulo afirma que era do próprio núcleo da nação judaica. As tribos de Judá e Benjamin estiveram unidas por ocasião da revolta das dez tribos do Norte (1Rs.12:21) e mantiveram a continuidade teocrática da nação judaica depois do exílio em Babilônia (Ed.4:1; Ed.10:9). Assim, um descendente da tribo de Benjamin era, de fato, “hebreu de hebreus” (Fp.3:5; 2Co.11:22). |
Rm.11:2 | 2. Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Não rejeitou. Paulo nega a questão que levantou no v. Rm.11:1. Seu povo. Mesmo que Israel, como nação, houvesse rejeitado profeta após profeta e, finalmente, selado sua rejeição do evangelho ao crucificar a Cristo, Deus não os rejeitou como indivíduos (ver AA, 375). É verdade que Deus havia abandonado a Israel “como nação” (PE, 213; GC, 615). “Devido à incredulidade e à rejeição do propósito do Céu para eles, Israel como nação perdera sua ligação com Deus” (AA, 377). No entanto, isso não significa que Deus houvesse retirado toda possibilidade de salvação em relação aos judeus que cressem em Cristo. A mensagem de Rm.11 é de esperança para os judeus. Deus ainda os chama, bem como aos gentios (ver vol. 4, p. 17-21; ver com. de Rm.9:6). Conheceu. Ver com. de Rm.8:29. De Elias. Literalmente, “em Elias”, que significa, provavelmente, “na passagem da Escritura que contém a história de Elias”. A frase pode ainda ser traduzida como “por Elias”, isto é, Elias foi quem pronunciou a passagem citada. Este último caso pode ser demonstrado a partir da literatura rabínica (ver Strack e Billerbeck, Kommentar zum Nenen Testament, vol. 3, p. 288). Insta. Do gr. entugchano, “reunir-se com”, “conversar com”, portanto, “defender”, “apelar" (ver com. de Rm.8:26). O apelo pode ser em favor de alguém (Rm.8:27; Rm.8:34) ou contra alguém, como neste caso. |
Rm.11:3 | 3. Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Senhor, mataram. Citação de 1Rs.19:10; 1Rs.19:14. As palavras foram ditas por Elias quando fugia de Jezabel para a caverna no monte Horebe (ver com. de 1Rs.19). A essa altura, o profeta acreditava que toda a nação de Israel havia se apostatado e que só ele permanecera fiel. Mas Deus respondeu que, embora fosse verdade que a nação como um todo O tivesse abandonado, ainda havia um remanescente de adoradores fiéis. |
Rm.11:4 | 4. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Resposta divina. Do gr. chrematismos, “a resposta divina”, a única ocorrência desta palavra no NT. Ela vem do verbo chrematizo, usado no NT para descrever uma comunicação ou um aviso divino (ver Mt.2:12; Mt.2:22; Lc.2:26; At.10:22; Hb.8:5; Hb.11:7). Reservei para Mim. Ou, “deixei para Mim”; citação de 1Rs.19:18. Diante de Baal. Do gr. te Baal, literalmente, “da Baal”. Às vezes, também na LXX (ver Os.2:8; Sf.1:4), o nome grego de “Baal” é precedido pelo artigo definido feminino (te), embora Baal seja masculino. Uma explicação é que, apesar de Baal ser um ídolo masculino, frequentemente, imagens pagãs de deuses eram designadas pelo feminino, daí a tradução “imagem da Baal”. Outra possível explicação é que os judeus, que tinham aversão a pronunciar o nome de Baal, desenvolveram o costume de ler, em seu lugar, a palavra feminina “vergonha”, heb. bosheth, gr. aischune (ver 1Rs.18:19; 1Rs.18:25, na LXX). Essa substituição pode ter estado na mente de Paulo quando escolheu usar o artigo feminino. |
Rm.11:5 | 5. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. Assim, pois, também. No tempo de Elias, a apostasia de Israel não era tão universal quanto parecia. Da mesma forma, também a rejeição de Cristo pelos judeus não era tão completa como alguns podiam supor. Havia, então, um remanescente fiel. Deus ainda estava lidando com Seu povo sob os mesmos princípios. Remanescente. Do gr. leimma, do verbo leipo “deixar”. Leimma não ocorre em nenhum outro lugar do NT. “Remanescente” é traduzido de kataleimma (Rm.9:27) e de loipos (Ap.11:13; Ap.12:17; Ap.19:21). No entanto, o significado das duas palavras não é substancialmente diferente. Eleição da graça. Deus escolhe, para constituir o remanescente, aqueles que aceitam a graça. Eles não obtêm esse direito por causa de obras, mas porque aceitaram livremente a graça (v. Rm.11:6). A razão pela qual havia apenas um remanescente de fiéis deixados em Israel é que a massa dos judeus confiava em suas próprias obras, em vez de confiar na graça de Deus. Portanto, Deus retirou o Espírito de graça e entregou os impenitentes à dureza de seus corações (v. Rm.11:7-10). O remanescente fiel, nos dias de Paulo, era constituído por aqueles que aceitaram Jesus como Messias e que se tornaram membros da igreja cristã (ver AA, 376, 377). |
Rm.11:6 | 6. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. Se é pela graça. Ou seja, se a eleição do remanescente é pela graça. Neste versículo, contra qualquer mal-entendido, Paulo procura deixar clara a doutrina da justificação pela graça de Deus mediante a fé. Se a salvação é pela graça, já não é mais na base do que os seres humanos fazem. Caso contrário, a graça já não seria graça. Se os remanescentes merecessem ser eleitos, já não haveria graça no trato de Deus com eles. A ideia da graça imerecida, dada livremente, é contrária à dos salários auferidos ou da recompensa merecida. Se o dom de Deus pudesse ser ganho como salário, a graça perderia o sentido. No entanto, todos, a não ser o remanescente de Israel, foram incapazes de entender isso. Já não é pelas obras. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão do restante deste versículo, cujo significado já está incluído na primeira metade do mesmo. Já não é graça. Literalmente, “já não se torna graça”. Ou seja, a graça deixa de ser o que era. |
Rm.11:7 | 7. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos, Que diremos, pois? Que conclusão deve ser extraída das verdades aqui declaradas? Uma vez que Deus não rejeitou o povo de Israel, qual é exatamente sua posição? Paulo passa então a mostrar que a declaração de Rm.9:31 deve ser entendida no sentido de que, embora, como nação, Israel não tenha atingido o objetivo, a falha não é completa. Uma parte de Israel, os eleitos, atingiu. Busca. O tempo presente indica que a busca ainda está em andamento. Como nação, Israel estava e ainda está em busca da justiça, a mesma que não conseguiu obter. O objeto da busca de Israel, procurado da maneira errada, já foi explicado em Rm.9:31-32; Rm.10:2-3. O princípio básico apresentado nesses textos foi repetido em Rm.11:6. Conseguiu. Do gr. epitugchano, “atingir a marca”, portanto, “alcançar”, “obter”. A eleição. Ou, os eleitos. Pode ser comparado com a expressão “a circuncisão”, ou seja, os que foram circuncidados (Rm.3:30; Rm.4:9). Paulo enfatiza que os salvos devem sua condição inteiramente à graça e à eleição divinas. Foram endurecidos. Do gr. poroo, “endurecer”, “tornar-se empedernido”, “tornar-se insensível” (2Co.3:14). A citação do AT em Rm.11:8 fala de Deus como o único responsável por este endurecimento. Na linguagem bíblica, às vezes, se diz que Deus faz aquilo que não impede (ver com. de 2Cr.18:18). Portanto, fica claro que os crentes judeus, assim como os crentes gentios, são salvos somente pela graça (Rm.11:6; Ef.2:8). Quanto aos demais de Israel, eles foram endurecidos não porque Deus os rejeitou (Rm.11:1-2), mas porque queriam a justiça das próprias obras em vez de se submeteram à justiça de Deus (Rm.10:3). |
Rm.11:8 | 8. como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje. Como está escrito. Uma combinação de frases de Dt.29:4; Is.6:9-10; Is.29:10. A situação de torpor espiritual de Israel não era nova na história da nação. Espírito. Aqui, a condição mental; pode ser comparada a “espírito angustiado” (Is.61:3), “espírito de mansidão” (1Co.4:21) e “espírito de escravidão” (Rm.8:15). Entorpecimento. Do gr. katanuxis, derivado de um verbo que significa, literalmente, “ferroar violentamente” (ver At.2:37), portanto, “atordoar”, como por um golpe ou uma emoção avassaladora (ver Gn.34:7; Dn.10:15, na LXX). No entanto, a palavra hebraica, em Is.29:10, significa “um sono profundo”, como o que caiu sobre Adão (Gn.2:21), Abraão (Gn.15:12) e os servos de Saul (1Sm.26:12). A afirmação de que é Deus quem dá esse espírito de entorpecimento deve ser entendida no mesmo sentido do endurecimento que Deus traria ao coração das pessoas (ver com. de Rm.9:18; Rm.11:7). Desde a queda de Adão, a condição natural da humanidade tem sido de insensibilidade espiritual (1Co.2:14). Por Sua graça, Deus procura mudar essa condição e despertar a percepção espiritual e, ao mesmo tempo, apresenta as verdades da salvação. Mas, quando as pessoas resistem persistentemente à graça, Deus, que não força ninguém, retira Sua graça e deixa o ser humano com as consequências naturais de sua resistência obstinada. Para não ver. A recusa em aceitar a graça divina resulta da falta de lucidez para discernir as coisas espirituais (1Co.2:14). Até ao dia de hoje. Isto lembra o relato detalhado feito por Estevão sobre a história de Israel para provar o mesmo ponto (At.7:2-53). |
Rm.11:9 | 9. E diz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha, em tropeço e punição; Diz Davi. Citação do Sl.69:22-23, diferente do hebraico e da LXX. No contexto original, o salmista invoca a ira de Deus sobre seus inimigos, a quem ele considera que também são inimigos de Deus (ver com. de salmos “de maldição”, vol. 3, p. 703). Várias passagens do Sl.69 são empregadas por escritores do NT como referência profética ao Messias, o sofredor sem pecado (ver com. de Sl.69). Estas palavras citadas por Paulo são aplicadas aos que rejeitam a Cristo. Mesa. Do gr. trapeza, que pode designar também o que está sobre a mesa. Os Targuns interpretam esta mesa como algo espalhado diante do Senhor, como nas festas de sacrifício. As bênçãos que os judeus apreciavam se tornaram uma maldição para eles. Da mesma forma, as Escrituras, as leis e as instituições religiosas, nas quais eles confiavam para a vida e salvação dadas por Deus (Jo.5:39-40; Rm.2:17; AA, 99, 100; DTN, 212), se tornaram urna armadilha e um empecilho. Os dons de Deus para eles, por terem sido mal interpretados e mal utilizados, tornaram-se a causa de sua queda e da persistência na incredulidade. Os mais preciosos dons do Céu, quando usados de forma inadequada, trazem problemas para quem os recebe. |
Rm.11:10 | 10. escureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam, e fiquem para sempre encurvadas as suas costas. Escureçam-se-lhes os olhos. O escurecimento dos olhos é usado como figura da cegueira espiritual (ver com. de Is.6:9-10). Assim, embora possuíssem claras revelações da vontade de Deus, os judeus permaneceram ignorantes acerca do significado e propósito das mesmas, ao passo que alguns gentios foram capazes de compreendê-las. Encurvadas. Do gr. sugkampto, literalmente, “dobradas juntas”, como dos cativos, cujas costas eram encurvadas sob fardos. O salmo diz: “Faze que sempre lhes vacile o dorso” (SI.69:23). A expressão de Paulo concorda com a LXX. A imagem sugerida é de temor e desânimo. Este versículo descreve bem a condição dos judeus incrédulos. Eles deram atenção às formas exteriores dos rituais e cerimônias e perderam o discernimento espiritual e a capacidade de apreciar as verdades morais e espirituais essenciais (ver Mt.23:23-25; Mc.7:2-9). Nas tentativas contínuas de estabelecer a justiça própria, a carga de exigências legais era sempre aumentada (ver Mt.23:4). Ao utilizar essas citações do AT, Paulo mostra que a descrição que fazia sobre a condição de seus irmãos judeus era apoiada pelas Escrituras em que eles criam. Além disso, a condição pecaminosa deles não era nova nem diferente da que havia no tempo de Moisés e dos profetas. |
Rm.11:11 | 11. Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Tropeçaram [...]? A construção grega da pergunta implica resposta negativa (v. Rm.11:1), como se dissesse: “Eles não tropeçaram a ponto de cair, não é?” Os judeus realmente “tropeçaram na pedra de tropeço” (Rm.9:32-33). Muitos ficaram ofendidos com Cristo. Mas o tropeço deles resultou no anúncio do evangelho aos gentios. Isso, por sua vez, deveria ser como um incentivo aos judeus. Para que caíssem. Ou, “de modo a cair”. A construção grega pode ser interpretada como expressão tanto de objetivo como de resultado. O último é o mais apropriado neste contexto. Caíssem. Do gr. paraptoma, literalmente, “escorregão [ou queda] para fora”, “um passo em falso”. Em Rm.5:15-20, paraptoma é traduzida como “ofensa”. De modo nenhum. Ver com. de Rm.3:4. Aos gentios. A rejeição do evangelho pelos judeus e a crescente oposição por parte deles promoveram grandemente a pregação do evangelho aos gentios bem como sua aceitação (ver At.8:4; At.11:19-21). Esse foi o caso na experiência de Paulo em Antioquia da Pisídia (At.13:45-49). Pô-los. Ou seja, os judeus. Os privilégios os haviam tornado negligentes e apáticos. A visão de outros recebendo esses privilégios deveria despertá-los de sua apatia e inspirá-los a compartilhar as bênçãos então desfrutadas pelos gentios. |
Rm.11:12 | 12. Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude! A sua queda (ARC). Ver com. do v. Rm.10:11. Riqueza para o mundo. Os judeus foram chamados para ser missionários de Deus ao mundo (ver vol. 4, p. 13-16), mas falharam na tarefa. O mundo fora deixado na ignorância. A rejeição da nação de Israel como embaixadora escolhida para o mundo e o chamado da igreja cristã para a evangelização dos gentios (Mt.28:18-20) resultaram num poderoso movimento missionário. O mundo gentio ouviu falar das “insondáveis riquezas” (Ef.3:8), e muitos aceitaram a Cristo. Abatimento. Do gr. hettema, “perda”, “derrota”, “fracasso”. A outra ocorrência desta palavra no NT é em 1Co.6:7, em que é traduzida por “derrota”. Também ocorre uma vez na LXX, em Is.31:8, em que significa claramente “derrota”. Este pode ser o significado aqui. A incredulidade dos judeus não foi apenas um passo em falso e uma transgressão, mas também uma derrota. Porque, por essa derrota, eles foram rejeitados como nação, pois não conseguiram obter o que procuravam. No entanto, alguns comentaristas preferem compreender hettema como referência ao declínio de Israel. Argumentam que essa interpretação preserva uma antítese mais exata de “plenitude” no final do versículo. Riqueza para os gentios. Deve ser entendida como variante literária de “riqueza do mundo”. Plenitude. Do gr. pleroma. Esta palavra pode ser entendida no sentido passivo, “o que foi preenchido”, “a totalidade”, ou no sentido ativo: “o que enche”, “preenchimento” (Jo.1:16; Rm.13:10; 1Co.10:26; Ef.1:23; Ef.3:19; Cl.1:19). Os comentaristas discordam quanto ao significado exato deste versículo. Mas o argumento principal de Paulo parece ser de que, se a perda e derrota dos judeus foram provocadas por Deus para produzir riqueza aos gentios, quanto mais se a reparação dessa perda significar riquezas para todos! |
Rm.11:13 | 13. Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério, Porque (ARC). As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre “pois”, “e” e “mas”. Paulo chega a um ponto em que sua argumentação sobre a condição dos judeus afeta a posição dos gentios (v. Rm.11:11-12). Portanto, faz uma pausa para explicar, entre parênteses, que tanto seu amor por seus irmãos como seu zelo para levar avante sua incumbência aos gentios operavam com o mesmo fim. Seu desejo de salvar seus irmãos judeus o tornava ainda mais zeloso em trabalhar pela salvação dos gentios, pois isso faria bem aos judeus e traria mais bem ainda aos gentios. Vós outros, que sois gentios. Paulo se referiu aos judeus na terceira pessoa, “eles” (v. Rm.11:11), mas se dirige aos gentios na segunda pessoa, “vós” (v. Rm.11:13-31). Este versículo fornece uma evidência adicional de que a igreja de Roma era composta em grande parte por gentios (ver com. de Rm.1:13). Visto, pois, que. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) o acréscimo da palavra “pois” entre “visto que”. A inclusão desta expressão separa esta frase da anterior, “dirijo-me a vós outros, que sois gentios”, e se conecta à segunda frase com: “glorifico o meu ministério”. Algumas versões colocam um ponto após “gentios” (ARA, NVI, TB). Ministério. Do gr. diakonia, “trabalho” (NTLH). Paulo glorificava seu ministério aos gentios, empenhando-se para levar o evangelho a eles. Ele expressa a esperança de que o sucesso de seu ministério entre os gentios produza influência favorável sobre os judeus (ver com. de Rm.11:11). Ele glorificava seu ministério a fim de trazer ciúmes a seus irmãos judeus e, assim, salvar alguns deles (v. Rm.11:14). |
Rm.11:14 | 14. para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles. Incitar à emulação. Do gr. parazeloo, palavra traduzida como “pôr em ciúmes” (Rm.10:19; Rm.11:11). A mesma tradução nos três casos não obscureceria a conexão com a profecia original de Dt.32:16-21 (citada em Rm.10:19). Meu povo. Ou, meus parentes (Rm.9:3). O objetivo de Paulo é despertar nos judeus o desejo de compartilhar as bênçãos oferecidas primeiramente a eles, mas que, então, estavam sendo desfrutadas em grande medida pelos gentios. Salvar alguns. Comparar com 1Co.9:22. |
Rm.11:15 | 15. Porque, se o fato de terem sido eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos? O fato de terem sido eles rejeitados. Do gr. apobole. A palavra ocorre no NT só aqui e em At.27:22, em que é traduzida como “perderá”. Paulo havia negado que Deus tivesse rejeitado Seu povo (Rm.11:1-2); mas, aqui, ele afirma isso. No entanto, as duas afirmações são apropriadas. A nação de Israel, como povo escolhido para uma missão no mundo, de fato, foi rejeitada, mas um remanescente fiel tinha aceitado o Messias, e os esforços missionários deste produziam grandes resultados (ver vol. 4, p. 21, 22). Neste versículo, o argumento do v. Rm.11:12 é repetido de outra forma. Apesar de ter que abandonar a maior parte de Seu antigo povo por causa da falta de fé, Deus anulou isso para reconciliar consigo aqueles que não O haviam “procurado” (cf. Rm.10:20). Reconciliação ao mundo. Paulo considerava seu ministério como uma obra de reconciliação (2Co.5:18-19; Cl.1:20). Após a rejeição da nação de Israel (ver com. de Rm.11:2; Rm.11:12), o evangelho de Cristo se espalhou a todas as nações do mundo, e os crentes em todos os lugares eram reconciliados com Deus. Restabelecimento. Do gr. proslepsis, “aceitação”, “recepção”. A palavra não ocorre em nenhum outro texto no NT, mas seu significado é claro pelo uso do verbo do qual ela é derivada (ver Rm.14:3; Rm.15:7). Paulo fala da chegada à igreja dos judeus que aceitam Cristo. Vida dentre os mortos. Alguns comentaristas têm entendido esta declaração de forma literal, indicando que, assim como o propósito de Deus foi cumprido no “restabelecimento” de Israel, esse mesmo propósito para a salvação do mundo também será concluído, e o reino de Cristo será anunciado na ressurreição. No entanto, este Comentário assume que a linguagem de Paulo aqui é figurativa (Lc.15:24; Lc.15:32). A expressão “vida dentre os mortos” não é usada em outras passagens do NT para a “ressurreição”. Paulo estava se referindo a mudanças rápidas que varreriam o mundo, como resultado da pregação do evangelho. Muitos judeus espiritualmente mortos aceitariam Jesus Cristo e se uniriam na proclamação do evangelho (ver AA, 381). A expressão “o seu restabelecimento” não deve ser vista como uma previsão de que o status anteriormente atribuído a Israel estivesse para ser restaurado e que a nação judaica voltaria a ser o povo escolhido de Deus. A perda da condição de povo eleito, por causa da morte de Cristo, foi definitiva. Jesus deixou isso bem claro na parábola dos lavradores maus (ver com. de Mt.21:33-43). O “reino de Deus” foi tirado deles e “entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt.21:43). No entanto, como indivíduos, eles podem ser salvos pela união com a igreja cristã (ver com. de Rm.11:23-24). |
Rm.11:16 | 16. E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão. E. Do gr. de, “pois”, “agora”. Primícias. Paulo se refere à cerimônia descrita em Nm.15:19-21, de dedicar uma porção da massa de farinha a Deus. A oferta das primícias santificava toda a massa. As primícias representavam a primeira parte da colheita do evangelho entre os judeus (ver AA, 377). Massa. Do gr. phurama, literalmente, “aquilo que está misturado”. Igualmente o será. Ou seja, toda a massa: aqueles que, posteriormente, se tornaram membros da igreja cristã. Raiz. Paulo usa uma segunda metáfora para expressar a mesma ideia. Se a raiz é santa, a árvore inteira também é santa. |
Rm.11:17 | 17. Se, porém, alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira, Alguns dos ramos. Jeremias representa Israel como uma oliveira (ver Je.11:16; Os.14:6), bem como outras passagens do AT (SI.80:8; Is.5:7). Jesus Se comparou a uma videira, e os discípulos, aos ramos (Jo.15:1-6). Forem quebrados. Literalmente, “foram quebrados”. A referência é aos judeus incrédulos, que, por rejeitarem Cristo, selaram não só o próprio destino, mas também o da nação. O reino de Deus foi tirado deles e “dado a uma nação que dê os seus frutos” (ver com. de Mt.21:43). Oliveira brava. Isto pode ser entendido como “um broto de oliveira selvagem”, ou de “zambujeiro” (ARC). A figura representa a condição dos gentios, que antes não conheciam as bênçãos da aliança da salvação. Foste enxertado. Paulo não fala de uma possibilidade futura, mas de algo que já estava ocorrendo na experiência de muitos gentios. O enxerto do ramo de uma árvore selvagem no tronco de uma árvore cultivada é um processo que, normalmente, nunca é realizado. O procedimento comum é o enxerto de um ramo de fruto agradável em um “porta-enxerto” de fruto amargo, como, por exemplo, a laranjeira num tronco de limão. Paulo declara, no v. Rm.11:24, que o enxerto dos gentios no porta-enxerto de Israel é “contrário à natureza”. O chamado e a conversão dos gentios eram contrários à expectativa judaica. Em meio deles. Esta é a tradução mais simples, ou seja, “entre os ramos bons”. No entanto, também se usa a frase “em lugar deles” (ARC), ou seja, “no lugar dos ramos cortados”. Tornaste participante. Ver Ef.3:6. Os cristãos gentios se tornaram participantes do plano eterno divino de salvação. Da raiz e da seiva. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão da palavra “raiz”, o que não altera o significado. Outras evidências apoiam a variante “seiva que vem da raiz” (NVI). |
Rm.11:18 | 18. não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti. Não te glories. Seria totalmente inaceitável que cristãos gentios, beneficiados pela salvação por meio de Israel e chamados para serem arautos dessas bênçãos, viessem a se vangloriar sobre os judeus que caíram. |
Rm.11:19 | 19. Dirás, pois: Alguns ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Dirás. Paulo já havia afirmado que a rejeição dos judeus resultou no enriquecimento dos gentios (ver com. dos v. Rm.11:11-15). Mas seria arrogância imaginar, como nesta suposição, que Deus tivesse rejeitado Seu povo com a finalidade única de levar bênçãos aos gentios, como se fossem de mais valor que os judeus. O egoísmo é implícito no texto grego pelo pronome pessoal enfático ego, “eu”, na frase “que eu fosse enxertado”. Alguns ramos. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão do artigo “os” (ARC). Nem todos os ramos foram quebrados. |
Rm.11:20 | 20. Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Bem! Do gr. kalos, “isso é verdade”, “concedido” (cf. Mc.12:32). Paulo admite que alguns ramos foram quebrados e que outros foram enxertados. Incredulidade. Do gr. apistia, “falta de fé”. A palavra pistis é traduzida por “fé”, na frase seguinte. Há uma estreita relação entre as duas palavras no grego. Mediante a fé, estás firme. Paulo continua a corrigir a falsa segurança expressa no versículo anterior, lembrando os cristãos gentios de como eles haviam se tornado membros do Israel espiritual. Os judeus tinham sido rejeitados devido à própria incredulidade. Os gentios foram aceitos devido à fé. Quando a verdadeira causa da rejeição de Israel é reconhecida, não há por que o cristão gentio se vangloriar. Ao contrário, é um aviso para que se apegue à fé como a única condição para permanecer como ramo enxertado. Portanto, o crente gentio não devia se “ensoberbecer”, mas cui- dar para não cair como outros caíram (ver com. de Rm.3:3; Rm.10:17). Não te ensoberbeças. Ou, “pare de pensar em coisas elevadas”, no sentido de ficar convencido. O cristão gentio não possuía mais méritos do que o judeu. Portanto, não tinha motivos para ser vaidoso. Além disso, a fé não permanece na pessoa cuja “alma se incha” (Hc.2:4, ARC). Mas teme. O excesso de confiança e a falsa sensação de segurança levariam aos mesmos resultados que os judeus haviam experimentado (ver Hb.4:1). |
Rm.11:21 | 21. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará. Não poupou. Este versículo explica a razão pela qual os gentios convertidos deviam temer. Apesar de seu privilégio como crentes, Deus não poupara os ramos naturais quando pecaram. Mais razão havia para que os enxertos selvagens temessem que Deus não os poupasse, se cometessem o mesmo pecado. Teme (ARC). Evidências textuais (ver p. xvi) apoiam a omissão deste verbo. |
Rm.11:22 | 22. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado. Bondade. Do gr. chrestotes, “benevolência”, “gentileza” (ver com. de Rm.3:12). Severidade. Do gr. apotomia, literalmente, “que corta”, portanto, “de rigor inflexível”. Esta palavra não ocorre em outras passagens do NT. É derivada do verbo apotemno, “cortar”. O advérbio relacionado, apotomos, é traduzido como “rigor” (2Co.13:10) e “severamente” (Tt.1:13). O relacionamento de Deus com os gentios mostra que Ele é bondoso e longânimo (cf. Rm.2:4) e usa de bondade para com os que nEIe confiam, independentemente de seus méritos ou posição. Por outro lado, o relacionamento de Deus para com os judeus revela a severidade com que Ele trata os que confiam em si mesmos. Com os que caíram. Ou seja, os judeus desobedientes. Para contigo. Os gentios. Se nela permaneceres. A maneira de permanecer na bondade e na graça de Deus (At.13:43) é “permanecer firmes na fé” (Cl.1:23), não se afastando da confiança na misericórdia alcançada. Este versículo ensina que há a possibilidade de se cair da graça. Os crentes podem desprezar e rejeitar a bondade de Deus e, assim, ser cortados. |
Rm.11:23 | 23. Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo. Eles também. Deus não só tem a vontade, mas também o poder de restaurar os que foram cortados da oliveira. O fato de Deus ter esse poder de restaurar é ilustrado na conversão dos gentios (ver v. Rm.11:24). |
Rm.11:24 | 24. Pois, se foste cortado da que, por natureza, era oliveira brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira aqueles que são ramos naturais! Quanto mais. A conversão de gentios pagãos e ignorantes à aliança da salvação mostra que Deus é bem capaz de restaurar os judeus rejeitados. |
Rm.11:25 | 25. Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. Ignoreis. Comparar com Rm.1:13; 1Co.10:1; 1Co.12:1; 2Co.1:8; 1Ts.4:13. Mistério. Do gr. mysterion, no sentido grego clássico de “coisa oculta”, “segredo”, palavra relacionada com mystes, “iniciado”. A forma verbal myeo significa “iniciar” e está relacionada a myo, “fechar [os olhos ou a boca]”. Entre os pagãos, mysterion, geralmente no plural, mysteria, era usado para segredos ou doutrinas secretas, que deviam ser conhecidos apenas por iniciados. Era o termo técnico para cerimônias e ritos secretos, bem como para os implementos místicos e ornamentos usados nos mesmos (sobre o uso do termo “mistério” na literatura Qumran, ver vol. 5, p. 79). No NT, mysterion se refere a algo que Deus deseja revelar aos que estejam dispostos a receber a revelação, e não a algo que Ele queira manter em segredo. Ao longo dos escritos de Paulo, a palavra tem o sentido de coisas que, embora não possam ser compreendidas pela mente humana, são dadas a conhecer pela revelação divina (Rm.16:25-26). Em Ap.1:20; Ap.17:5; Ap.17:7, a palavra se refere a um símbolo que requer interpretação. Paulo considerava que sua missão era tornar conhecida “a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos” (Rm.16:25; 1Co.2:7; Ef.3:3-4). O propósito eterno de Deus de redimir a humanidade em Cristo havia sido revelado aos cristãos. Assim, o apóstolo descreve toda a revelação cristã como um mistério (Rm.16:25; 1Co.2:7-10; Ef.1:9; Ef.6:19; Cl.1:26; Cl.2:2; 1Tm.3:9). Ele aplica o termo à encarnação de Cristo (1Tm.3:16), à união de Cristo com a igreja, tipificada pelo casamento (Ef.5:32), à transformação dos santos na segunda vinda (1Co.15:51), à oposição do anticristo (2Ts.2:7) e, especialmente, à admissão dos gentios ao reino de Deus (Rm.16:25-26; Ef.3:1-6; Cl.1:26-27). O mistério que Paulo menciona é o propósito de Deus de salvar judeus e gentios para o reino dos céus. O endurecimento de Israel seria usado, além da compreensão humana (Rm.11:33), para a concretização desse plano divino. Presumidos em vós mesmos. Literalmente, “sábios em vós mesmos”, ou “sábios por vós mesmos”. Paulo procura evitar que os gentios se tornassem vaidosos por supor que a aceitação deles daquilo que os judeus haviam rejeitado constituía, de alguma forma, um mérito próprio. Não havia motivo para os crentes gentios desprezarem os judeus incrédulos. Esta frase indica que os “irmãos”, aos quais Paulo se refere, são os cristãos gentios. Ele fala desses cristãos desde o v. Rm.11:13. Endurecimento. Do gr. porosis (cf. Rm.11:7; Mc.3:5; Ef.4:18). Aqui indica “embotamento mental”, “insensibilidade espiritual”. Em parte. O endurecimento não veio a todo o Israel, mas apenas “em parte”. O “remanescente segundo a eleição da graça” não foi afetado (v. Rm.11:5). “Alguns dos ramos” não foram de todo quebrados (v. Rm.11:17). Até que. Até o fim dos tempos, a dureza “parcial” seria o estado espiritual dos judeus. As duas frases-chave nos v. 25 e 26 são “a plenitude dos gentios” e “todo o Israel” (v. Rm.11:26). Se, como alguns entendem, Paulo inclui nestas frases, literalmente, a população total dos gentios e “todos” da raça judaica segundo a carne, então ele ensinaria a salvação universal. Apesar da dificuldade deste texto, é certo que ele não ensina a salvação universal, pois há várias declarações inequívocas em oposição a essa doutrina (cf. Rm.1:18; Rm.1:32; Rm.2:1-11; 2Ts.1:7-10). Deus não impõe a salvação a ninguém. Se as pessoas escolhem endurecer o coração contra o evangelho, Ele não interfere nessa escolha. O endurecimento do coração, portanto, é de resultado de escolha deliberada. Por isso, a responsabilidade não é colocada sobre Deus (ver com. de Rm.9:18). Só é possível Deus salvar uma nação na medida em que as pessoas aceitem a Cristo por si mesmas. Haja entrado. Ou seja, ao reino de Cristo, à comunidade do povo de Deus, que é representada pela oliveira boa e na qual alguns dos gentios já estavam enxertados. Plenitude. Ver com. do v. Rm.11:12, em que Paulo menciona a “plenitude” dos judeus. “A plenitude dos gentios” pode ser entendida como referência aos gentios que aceitam as disposições da salvação. |
Rm.11:26 | 26. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. E assim. Do gr. kai houtos, “e, desta forma”. O advérbio expressa maneira, não conclusão ou tempo. Todo o Israel. Paulo não ensina a salvação universal para gentios nem para judeus (ver com. do v. Rm.11:25). Além disso, por que só a geração de judeus que viver no tempo do fim teria a oportunidade da salvação por algum decreto divino? Paulo expressa a esperança de que “alguns deles” (v. Rm.11:14) fossem salvos. Fica evidente que ele cria que muitos rejeitavam os esforços por salvá-los, e que, portanto, ele nunca imaginou a conversão de toda a nação. Alguns comentaristas afirmam que o remanescente fiel (ver com. do v. Rm.11:5), ao qual são acrescentados os judeus que aceitam a Cristo durante a era cristã, constitui “todo Israel” que será salvo. Essa visão se fundamenta na observação de que a preocupação de Paulo em Romanos 11 é a salvação dos israelitas. Ele contrasta a salvação deles com a dos gentios. Os dois grupos são distinguidos ao longo do capítulo pela referência aos judeus na terceira pessoa e aos gentios, na segunda. A salvação dos primeiros é descrita na expressão “todo o Israel será salvo”; e a destes últimos por “até haja entrado a plenitude dos gentios”. Outros comentaristas afirmam que “todo o Israel” representa o Israel espiritual. Essa visão se fundamenta na ideia de que Paulo está completando sua ilustração da oliveira. Ele mostrou como os ramos, que representam os judeus incrédulos, foram quebrados, e como os brotos de oliveira selvagem, representando os gentios, foram enxertados. Explicou também como os ramos cortados poderiam se unir novamente ao porta-enxerto. Pelo enxerto desses ramos, a árvore representando o Israel espiritual, voltaria a ser completa. “Todo o Israel”, portanto, representa a totalidade dos salvos, judeus e gentios, que, juntos, constituem “todo” o verdadeiro Israel (Rm.2:28-29; Cl.6:15-16). Como está escrito. Uma citação de Is.59:20-21; Is.27:9, mais semelhante à LXX do que ao hebraico. Em vez da expressão da LXX “pelo amor de Sião”, a citação de Paulo diz “a partir de Sião”. A modificação pode ter sido sugerida por diversas passagens (SI.14:7; Sl.50:2; Sl.53:6; Is.2:3; Mq.4:2). Sião. Isto é, Jerusalém (ver com. de SI.48:2). Libertador. O texto hebraico de Is.59:20 diz “go’el”, “redentor” (ver com. de Jó.19:25; Dt.25:5-10; Rt.3:12-13; Rt.4:7-10). Jacó. Ou seja, Israel (ver Nm.23:21; SI.78:5; Mq.3:8). Impiedades. Do gr. asebeia, “impiedade em pensamento e em ação”, “incredulidade”. A predição de Isaías expressava a esperança de que um avivamento alcançasse as fileiras do apóstata Israel, e que a nação finalmente cumprisse seu destino divino. Paulo mostra como a profecia se cumprirá, não com a nação judaica, mas com os judeus individuais que aceitarem Jesus como Messias e forem enxertados no porta-enxerto do verdadeiro Israel (v. Rm.11:23). |
Rm.11:27 | 27. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados. Minha aliança. Literalmente, “a Minha aliança”. A base da nova aliança de Deus com Israel era o perdão dos pecados (ver Je.31:31-34). Quando o Redentor conduzir o remanescente (Rm.9:27), desviado da semente de Abraão, a se converter da transgressão, a aliança quebrada será renovada, e Deus não mais se lembrará de seus pecados (comparar com Hb.8:6-13). |
Rm.11:28 | 28. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; Inimigos. Talvez uma referência à hostilidade dos judeus para com o evangelho, ou ao fato de que, tendo rejeitado Cristo, tornaram-se realmente inimigos de Deus. Este último sentido é refletido na tradução “inimigos de Deus” (NTLH). Por vossa causa. O resultado da exclusão dos judeus foi o chamado aos gentios, como Paulo já havia explicado (v. Rm.11:11-12; Rm.11:15; Rm.11:19). Quanto [...] à eleição. Literalmente, “de acordo com a eleição”, aqui, provavelmente se referindo ao princípio da eleição, ou seja, ao fato de Deus ter escolhido Israel para ser Seu povo, e que salvará o remanescente fiel entre eles. Amados. Comparar com Rm.9:25. Mesmo rejeitados, os judeus são amados por Deus. |
Rm.11:29 | 29. porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Dons. Do gr. charismata, “dons da graça” (ver com. de Rm.5:15; Rm.6:23). Vocação. Sobre a natureza do chamado de Deus, ver com. de Rm.8:30. Irrevogáveis. Do gr. ametameleta, “sem arrependimento”. A única outra ocorrência desta palavra no NT é em 2Co.7:10. Deus não mudou de ideia em relação a Israel (ver com. de Mt.21:33-46), mas um remanescente dele será salvo. Deus não Se arrepende de ter chamado a descendência de Abraão e lhe ter dado dons (ver Nm.23:19; 1Sm.15:29; SI.89:34-36; Ez.24:14; Tt.1:2; Hb.6:18; Tg.1:17). As pessoas podem falhar, e Deus pode mudar de método, mas nunca abandona Seu propósito. Paulo expressa essa verdade como uma razão para crer que Deus ainda oferece perdão e salvação àqueles a quem chamou e escolheu e sobre quem derramou tantas bênçãos (Rm.9:4-5). |
Rm.11:30 | 30. Porque assim como vós também, outrora, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da desobediência deles, Outrora. Ou seja, antes da pregação do evangelho entre os gentios. Deus havia escolhido os judeus para serem Seus embaixadores ao mundo, mas eles falharam. Por isso, no tempo da igreja cristã, foi estendido o convite para a salvação dos gentios. Desobedientes. Do gr. apeitheo. A antiga desobediência deles deveria reprimir todos os sentimentos negativos que os gentios pudessem ter a respeito da desobediência dos judeus (v. Rm.11:18-20). Desobediência. Do gr. apeitheia. A desobediência dos judeus resultou em o evangelho ser levado aos gentios (At.13:46). |
Rm.11:31 | 31. assim também estes, agora, foram desobedientes, para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida. Assim também estes. Paulo, falando então sobre os judeus que, por causa da desobediência, se puseram em pé de igualdade com os gentios. A misericórdia. Os judeus perderam todos os privilégios da aliança e só podem ser recebidos de volta da mesma forma pela qual os gentios o são. Alguns comentaristas consideram que esta referência adicional tinha o propósito de provocar um ciúme piedoso em Israel por ver os gentios desfrutando “a misericórdia e as bênçãos de Deus” (v. Rm.11:11). Assim, Deus usou a desobediência dos judeus como uma ocasião para levar misericórdia aos gentios (At.13:46). Então, por sua vez, Ele usa a revelação de Sua misericórdia aos gentios para levar misericórdia novamente aos judeus. |
Rm.11:32 | 32. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. Encerrou. Do gr. sugkleio, literalmente, “aprisionar juntos”, como uma rede que prende uma infinidade de peixes (Lc.5:6). Sugkleio também é traduzido como “encerrar” (Gl.3:22-23). O significado da frase “Deus encerrou a todos em desobediência” é esclarecido pela tradução da LXX do Sl.78:62: “Entregou o Seu povo à espada”, literalmente, “Ele os encerrou para a espada”. Paulo já havia descrito como Deus entregou os seres humanos aos seus pecados (ver com. de Rm.1:24; cf. com. de Rm.1:18). Neste versículo, Paulo declara que todas as relações de Deus com a humanidade, embora, por vezes, difíceis de se entender, estão em conformidade com Seu grande esforço para salvar. Mesmo a atitude do ser humano contra Deus é transformada por Ele em ocasião para cumprir Seu plano. Não que o pecado da incredulidade e da desobediência seja desejado por Deus. Mas, quando o pecado está presente, Deus é sábio para organizar Seu governo de forma a anular o mal com o bem. Assim, ao permitir que o ser humano se envolva com as consequências da própria rebeldia, Deus procura ensinar-lhe o horror do pecado e revelar a absoluta fraqueza de quem se separa do poder divino. Deus permite aos que tentam estabelecer a própria justiça mediante as obras colherem os resultados inevitáveis dessa atitude. Assim, Ele procura deixar claro a todos que a salvação só pode ser obtida pela fé e pela submissão ao amor, à misericórdia e ao poder transformador revelados em Cristo. A todos. Todas as pessoas, incluindo judeus e gentios. Desobediência. Do gr. apeitheia, como no v. Rm.11:31. Misericórdia para com todos. Nem todos aceitam se submeter à misericórdia de Deus. As pessoas são livres para aceitar e rejeitar. Mas Deus está pronto e disposto a ter misericórdia de todos (2Pe.3:9). Todos os Seus atos sábios e pacientes com os seres humanos caídos têm cooperado para o cumprimento desta finalidade: a revelação do amor divino na salvação dos pecadores. |
Rm.11:33 | 33. Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Profundidade. Ou seja, a plenitude incomensurável e inesgotável. O salmista declara que “os Teus juízos [são] como um abismo profundo” (SI.36:6). Paulo alcança o clímax de seu raciocínio. Tudo começou com a condenação de todos os pecadores (Rm.1-2) e termina com misericórdia a todos. “A ira de Deus [... revelada] do Céu contra toda impiedade e perversão” (Rm.1:18) dá lugar à misericórdia que alcança todos os povos da Terra. Essa grande verdade, afirmada em Rm.11:32, leva a irromper em reconhecimento pela infinita sabedoria e bondade de Deus. Riquezas. Comparar com Rm.2:4; Rm.9:23; Rm.10:12; Ef.1:7; Ef.1:18; Ef.2:7; Ef.3:16; Fp.4:19. Por meio desses recursos insondáveis de Sua glória e graça, Deus é capaz de extrair o bem até mesmo do mal. Tanto da sabedoria. A primeira parte deste versículo pode ser traduzida como: “Ó profundidade da riqueza e da sabedoria e do conhecimento de Deus!” A sabedoria de longo alcance de Deus é demonstrada em Sua intervenção nos eventos a fim de cumprir Seus propósitos de salvação (ver 1Co.1:21-24; Ef.3:9-11). Juízos. Ou, “decisões”, como aquelas pelas quais Israel foi rejeitado, e os gentios, admitidos. Para a razão humana alienada, esses juízos são tão insondáveis quanto o grande abismo (SI.36:6). Inescrutáveis. Do gr. anexichniastoi, literalmente, “que não podem ser rastreados”. A outra ocorrência da palavra no NT é em Ef.3:8. O livro de Jó é um comentário sobre o mistério inescrutável dos caminhos de Deus (Jó.5:9; Jó.9:10). Uma parte da sabedoria de Deus pode ser conhecida (Rm.1:20), mas não toda ela (Ec.8:17). Mesmo Paulo, com seu grande intelecto e aguçada percepção das coisas de Deus, é constrangido a reconhecer que as decisões e os caminhos de Deus estão além da limitada compreensão humana. Deus nos revela Sua sabedoria e Seus propósitos até à medida que é para nosso bem. Além disso, devemos contar com as amplas evidências de Seu amor, misericórdia e poder. |
Rm.11:34 | 34. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Quem, pois, conheceu [...]? Uma citação de Is.40:13, conforme a tradução da LXX (cf. 1Co.2:16). O hebraico diz: “Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, sendo Seu conselheiro, Lhe ensinou?” Paulo justificou as exclamações feitas em Rm.11:33, citando textos do AT que falam do conhecimento, da sabedoria e da riqueza de Deus. Este versículo fala do conhecimento e da sabedoria de Deus; o v. Rm.11:35, de Suas riquezas. |
Rm.11:35 | 35. Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Quem primeiro deu a Ele [...]? Citação de Jó.41:11. Nenhum dom divino pode ser considerado como pagamento de um favor ou de uma oferta feita a Deus. Todas as bênçãos se originam de Sua graça. Mais uma vez, Paulo aponta o erro dos judeus, de que se pode conquistar o favor de Deus mediante as obras. |
Rm.11:36 | 36. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Porque dEle. Este versículo dá a razão pela qual não se pode fazer de Deus um devedor. Pois todas as coisas foram criadas por Ele (At.17:24-25; 1Co.8:6). Tudo que vive deve a contínua existência e atividade Àquele que “opera tudo em todos” (1Co.12:6; At.17:28; Hb.2:10). E todas as coisas são dirigidas para a elaboração de Seus propósitos e a glória de Seu nome. A Ele, pois, seja a glória. Comparar com Rm.16:27; Gl.1:5; Fp.4:20; 2Tm.4:18; Hb.13:21. Com essa breve, mas sublime doxologia, Paulo chega ao fim de mais uma seção doutrinária e argumentativa de sua epístola. |
Rm.12:1 | 1. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Rogo-vos. Paulo então se volta para a aplicação prática da justificação pela fé, que explicou nos cap. 1 a 11. Ele mostra que justificação pela fé significa não só perdão dos pecados, mas também novidade de vida. Inclui justificação e santificação; reconciliação bem como transformação. O propósito de Deus é restaurar completamente os pecadores, tornando-os aptos a viver em Sua presença. Pois. Isto pode se referir à misericórdia de Deus (Rm.11:32-36) ou, de forma mais geral, a toda a argumentação precedente da epístola, da qual Rm.11:32-36 é o clímax. Uma vez que o crente foi justificado pela fé em Cristo e restaurado como filho de Deus e membro da família celestial, deve levar uma vida de pureza e santidade, como convém a sua nova condição. Assim, Paulo deixa claro que a justificação pela fé e a salvação pela graça não permitem a ilegalidade ou o descumprimento dos mandamentos de Deus. Ao contrário, aquele que é justificado e santificado torna-se cada vez mais disposto a obedecer, pois “a justiça da lei” está sendo cumprida nele (Rm.8:4, ARC). Em amor e gratidão, procura conhecer, compreender e cumprir “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.12:2). Misericórdias. Do gr. oiktirmoi, palavra que exprime a mais terna compaixão (ver 2Co.1:3). É uma palavra mais forte do que eleos, traduzida como “misericórdia” em Rm.11:31. Paulo apresenta essas ternas misericórdias como o motivo da obediência. Deus mostrou grande misericórdia ao dar Seu Filho para morrer pelos pecadores e para perdoar a rebelião, a fim de que se dedicassem a Ele. Apresenteis. Do gr. paristemi, literalmente, “Vos coloqueis [ou, “permaneçais”] ao lado de”, portanto, “apresentai” (comparar com o uso da palavra em Lc.2:22; Ef.5:27; Cl.1:28). Vosso corpo. Paulo primeiramente apela aos cristãos para que consagrem o corpo a Deus. Então, ele os exorta a dedicar a Ele suas faculdades intelectuais e espirituais (v. Rm.12:2). A verdadeira santificação é a dedicação de todo o ser: corpo, mente e espírito (1Ts.5:23), ou seja, o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, mentais e espirituais, para que a imagem de Deus, na qual, originalmente, o ser humano foi criado, seja restaurada (Cl.3:10). Em grande medida, a condição da mente e da vida espiritual depende da condição do corpo. Portanto, é essencial que as forças físicas sejam mantidas com a boa saúde e o melhor vigor possível. Qualquer prática nociva ou condescendência egoísta que diminua a força física torna mais difícil que o desenvolvimento mental e espiritual ocorra. O inimigo do bem sabe disso e, dessa forma, dirige suas tentações para enfraquecer e degradar a natureza física. Os resultados dessa obra maligna estavam evidentes a Paulo, que tentava libertar os pagãos de suas práticas degradantes (ver Rm.1:24; Rm.1:26-27; Rm.6:19; Cl.3:5-7) e estabelecer os novos conversos numa vida de pureza (ver 1Co.5:1; 1Co.5:9; 1Co.6:18; 1Co.11:21; 2Co.12:21). Por isso, ele apelou para que apresentassem seus “membros” a Deus como “instrumentos de justiça” (Rm.6:13; 1Co.6:15; 1Co.6:19; 1Co.7:34). O cristão deve colocar as tendências da natureza física sob o domínio das faculdades superiores de seu ser, e estas, por sua vez, devem ser submetidas ao controle de Deus. “O régio poder da razão, santificada pela graça divina, deve controlar a vida” (PR, 489). Só então, o crente poderá sentir-se apto a oferecer a Deus o “culto racional”. Sacrifício vivo. Os sacrifícios do sistema cerimonial do AT eram de animais mortos. O sacrifício cristão é o ser vivo. O adorador cristão se apresenta vivo com todas as suas energias e faculdades dedicadas a Deus. Santo. Os judeus eram proibidos de oferecer em sacrifício um animal que fosse coxo, cego ou vítima de qualquer deformidade (Lv.1:3; Lv.1:10; Lv.3:1; Lv.22:20; Dt.15:21; Dt.17:1; Ml.1:8). Toda oferta era examinada e, se descoberta qualquer mancha, o animal era rejeitado. Da mesma forma, os cristãos devem apresentar o corpo na melhor condição possível. Todas as faculdades e virtudes devem ser preservadas puras e santas; caso contrário, a dedicação de si mesmo a Deus não pode ser aceitável. Esse requisito não é arbitrário. O propósito de Deus para os crentes é a completa restauração. Isso inclui, necessariamente, a purificação e o fortalecimento da integridade física, bem como dos poderes mentais e espirituais. Portanto, o cristão que, pela fé, se submete à maneira divina de salvar, de bom grado obedece a essa ordem de manter a saúde do corpo. O contrário impede a obra divina de restauração. Agradável. Literalmente, “bem agradável” (cf. Fp.4:18; Cl.3:20; Tt.2:9). O Deus que amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho para salvar deleita-Se quando os pecadores se convertem dos hábitos autodestrutivos e se dedicam a Ele. Isso torna possível a Ele cumprir Seu propósito de restaurá-los e levá-los de volta à perfeição em que foram originalmente criados. Culto. Do gr. latreia. Este termo se refere a um culto religioso. Em Hb.9:1 é traduzido como “serviço sagrado” (Rm.9:4), Paulo fala de um culto que diz respeito a mente, razão e entendimento, em contraste com o que é exterior e formal. A vida cristã em pureza e santidade é um ato de adoração espiritual. O sacrifício já não consiste de animais, mas da própria pessoa, num ato de culto que diz respeito à sua razão. Nessa perspectiva, Pedro descreve os crentes como “um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe.2:5, ARC; cf. T3, 162). Este versículo eleva o significado dos princípios do viver saudável. O crente realiza um ato de adoração espiritual, oferecendo a Deus um corpo santo e saudável, juntamente com mente limpa e coração consagrado, porque, assim fazendo, submete à vontade de Deus tudo o que há nele e abre o caminho para a plena restauração da imagem divina em si. É um ato de culto preservar as faculdades físicas na melhor condição. O motivo é que o cristão glorifica a Deus em seu corpo (1Co.6:20; 1Co.10:31), servindo como exemplo vivo da graça salvífica de Deus e participando com mais força e vigor na obra de difundir o evangelho. Foi assim que a corte de Babilônia viu em Daniel e seus companheiros “a ilustração da bondade e beneficência de Deus e do amor de Cristo” (PR, 489). A vida pura e o excelente desenvolvimento físico, mental e espiritual desses jovens foram uma demonstração do que Deus faz por aqueles que se entregam a Ele e procuram cumprir Seu propósito (ver com. de Dn.1:12; Dn.1:18). Racional. Do gr. logikos, “racional”, “espiritual”, “lógico”. A outra ocorrência desta palavra no NT é em 1Pe.2:2, em que “espiritual” é a tradução preferível (ver com. ali). |
Rm.12:2 | 2. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Conformeis. Do gr. suschematizo, “assumir a forma de outro padrão”. A palavra é traduzida com o significado de “amoldar-se”, em 1Pe.1:14. Século. Do gr. aion, literalmente, “época” (ver com. de Mt.13:39; Mt.24:3). Assim, “os filhos deste mundo” (Lc.16:8; Lc.20:34) pode ser traduzido como “os filhos deste século”. O cristão não deve seguir os costumes de sua época, como era seu hábito anterior, quando vivia segundo a carne (Rm.8:12). Ao contrário, deve passar por completa transformação mediante a renovação da mente. Transformai-vos. Do gr. metamorphoo, de onde vem a palavra “metamorfose”. A palavra é usada para descrever a transfiguração de Cristo (Mt.17:2; Mc.9:2). Também descreve a transformação do crente à imagem de Cristo (2Co.3:18). Paulo afirma que o cristão não deve reproduzir os costumes externos e passageiros deste mundo, mas ser transformado em sua natureza interior. A santificação inclui tanto a separação dos costumes mundanos como a transformação interior. Em outras partes do NT, essa mudança é descrita como nascer de novo (Jo.3:3), ressuscitar (Rm.6:4; Rm.6:11; Rm.6:13) e ser nova criatura (2Co.5:17; Gl.6:15). Renovação da vossa mente. Antes da conversão, o poder de raciocínio e a faculdade de discernir entre o certo e o errado estão sob o domínio dos impulsos corporais. A mente é descrita como “carnal” (Cl.2:18). Mas, na conversão, a mente é posta sob a influência do Espírito de Deus. O resultado é que “temos a mente de Cristo” (1Co.2:13-16). “As palavras: “Também vos darei um novo coração” significam: Vou lhes dar uma nova mente” (Ellen G. White, Review and Herald, 18/12/1913). A morte da velha vida na carne e o início da nova vida no Espírito (Rm.6:3-13) são descritos como “o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt.3:5). Essa renovação, que começa quando o crente é convertido e nasce de novo, é uma transformação progressiva e contínua, pois o “homem interior se renova de dia em dia” (2Co.4:16) para o “pleno conhecimento” (Cl.3:10). E, ao ser o interior transformado pelo poder do Espírito Santo, a vida exterior é progressivamente alterada. A santificação da mente se revela por um modo de vida mais santo, assim como o caráter de Cristo é reproduzido cada vez mais no crente (ver PJ, 69). Experimenteis. Do gr. dokimazo. Esta palavra significa testar e aprovar. Inclui o duplo processo de decidir qual é a vontade de Deus e, em seguida, aprovar e agir em conformidade com ela (cf. Rm.2:18; Ef.5:10; Fp.1:10). Pela renovação da mente, o crente é habilitado a saber o que Deus deseja que ele faça. É iluminado para rejeitar as formas de conduta desta época má. Se já não tem mente carnal, mas a mente de Cristo, ele está disposto a fazer a vontade de Deus e, assim, é capaz de reconhecer e compreender a verdade (Jo.7:17). Só a mente renovada pelo Espírito Santo pode interpretar corretamente a Palavra de Deus. As Escrituras inspiradas só podem ser compreendidas pela iluminação do mesmo Espírito por meio de quem foram originalmente dadas (ver Jo.16:13-14; 1Co.2:10-11; OE, 297). Qual seja a boa. A segunda parte deste versículo pode ser traduzida como: “para que experimenteis e aproveis qual é a vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita”. De acordo com a tradução ARA, são descritas as características da vontade de Deus; já a NTLH ressalta o conteúdo dessa vontade. A diferença de significado é pequena. |
Rm.12:3 | 3. Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque [...] digo. Paulo passa então a demonstrar os resultados práticos da mente renovada e iluminada. Primeiramente, ele fala da humildade e sobriedade de espírito que convêm ao crente consagrado e do uso apropriado dos dons espirituais para a construção unificada da igreja. Pela graça. Paulo fala em virtude de sua autoridade para declarar a vontade de Deus, conferida a ele como apóstolo (Rm.1:5; Rm.15:15-16; 1Co.3:10; 1Co.15:10; Gl.2:9; Ef.3:2; Ef.3:7-8). A cada um. Com estas palavras enfáticas, Paulo inclui cada membro individual da igreja de Roma, não importando seu ofício ou sua influência. Talvez o apóstolo temesse que os cristãos de Roma caíssem na mesma presunção espiritual dos crentes de Corinto, de onde estava escrevendo (ver 1Co.1-5; 2Co.10:13). Não pense. No grego, há aqui um jogo de palavras que não pode ser reproduzido em português. A tradução literal seria: “Para não se ensoberbecer além do que deveria pensar, mas pensar de modo a estar sóbrio.” Esta é uma advertência contra superestimar-se a si mesmo. Cada cristão precisa se familiarizar com os pontos fracos, bem como com os traços positivos de seu caráter, a fim de estar protegido contra o envolvimento em empreendimentos e responsabilidades para os quais Deus nunca o capacitou (ver OE, 319). Moderação. Do gr. sophroneo, “ter mente sadia”, “ter a ideia correta”. O orgulhoso e vaidoso não tem uma ideia correta de si mesmo. A humildade é o efeito imediato da entrega a Deus e à consequente renovação da mente. O cristão consagrado reconhece sua dependência da graça de Deus por todo dom espiritual que possa desfrutar, e isso não deixa espaço para autoestima desvirtuada. O cristão vê a si mesmo com discernimento iluminado e julgamento sóbrio. A medida da fé. Este é o verdadeiro padrão pelo qual se deve medir. A pessoa com mente carnal não regenerada avalia-se pelos padrões do mundo, por riqueza, posição ou erudição. Está sempre se esforçando para dar a impressão de ser maior do que realmente é. Mas, quando a fé assume o comando, e a mente se renova, a pessoa tem poder para discernir as reais limitações de suas habilidades. A fé apresenta um novo padrão de medida, de acordo com o qual se pode determinar com precisão a natureza e a extensão das habilidades e, assim, não pensar demasiadamente sobre si mesmo. Percebe-se que, quanto maior a fé, maior será a influência e o poder espiritual. Mas isso não pode ser um motivo para orgulho, pois quanto maior a medida da fé, mais elevada será a percepção da dependência de Deus. |
Rm.12:4 | 4. Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, Num só corpo. A razão pela qual os cristãos devem ter humildade e bom-senso é que a igreja, assim como o corpo humano, é composta de muitos membros, com diferentes funções a executar. Essas funções são necessárias e importantes, mas nem todas parecem igualmente gloriosas. Na igreja, o bem-estar e o progresso de todos dependem do espírito de amor, cooperação e estima recíproco entre os membros, cada um exercendo suas funções designadas. Essa ilustração do corpo e seus membros é desenvolvida de forma mais completa em 1Co.12:12-27. Função. Do gr. praxis, “cargo”, “modo de agir”. |
Rm.12:5 | 5. assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, Um só corpo em Cristo. Assim como muitos membros compõem um só corpo humano, assim também, a multidão de cristãos é um só corpo em Cristo. Jesus é o único que une e vitaliza toda a congregação de crentes. Paulo descreve Cristo como a cabeça da igreja, e os membros todos sujeitos a Ele (Ef.1:22; Ef.4:15-16; Cl.1:18). Essa unidade da igreja cristã sugere a interdependência de seus membros. Uma vez que todos pertencem a um só corpo, pertencem individualmente uns aos outros. Assim, Paulo ordena que os crentes trabalhem unidos, cada um em sua própria esfera, para o bem comum da igreja. |
Rm.12:6 | 6. tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; Diferentes. De acordo com a graça recebida, Paulo foi nomeado apóstolo (ver com. do v. Rm.12:3). Pela mesma graça, outros crentes foram designados como profetas, mestres, operadores de milagres e curadores de doentes, entre outros (1Co.12:28). Pela graça de Deus, os membros da igreja cristã são dotados de grande variedade de poderes espirituais, a fim de atender às diferentes necessidades de seus irmãos e disseminar o evangelho a cada nação, língua e povo. Paulo desenvolve esse assunto com mais detalhes em 1Co.12 (ver com. ali). Dons. Do gr. charismata, “dons da graça” (Rm.1:11; Rm.5:15-16; Rm.6:23; Rm.11:29; 1Co.7:7; 1Co.12:4; 1Co.12:9; 1Co.12:28). Estas são qualidades e faculdades especiais transmitidas aos crentes pelo Espírito Santo, para o serviço da igreja. Muitas vezes, parecem ser talentos naturais de que o Espírito Se apropria, aumentando seu poder e santificando seu uso. Todos os dons espirituais são “dons da graça”, concedidos de acordo com a vontade e o propósito de Deus. Os que os recebem não têm motivo para vaidade. A fonte de sua força e influência não está em si mesmos. Profecia. Nas Escrituras, este termo se aplica a qualquer palavra inspirada e não deve ser limitado à predição de eventos. Um profeta pode falar do passado, do presente ou do futuro (ver Ex.7:1; Lc.1:76-77; At.15:32; 1Co.14:3; 1Co.14:24-25). Proporção. Do gr. analogia, palavra que ocorre somente aqui no NT. No grego clássico, era usada como termo matemático. Ela é a origem da palavra “analogia”. O significado da expressão “de acordo com a proporção da fé” é indicado pela frase paralela “segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (v. Rm.12:3). Se a mente do cristão foi renovada (v. Rm.12:2) e se torna capaz de fazer um julgamento sóbrio (v. Rm.12:3), ele avalia corretamente as próprias habilidades e poderes e empregá-los adequada mente e com humildade a serviço de Deus, que o dotou com esses dons para esse fim (ver com. do v. Rm.12:3). |
Rm.12:7 | 7. se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; Ministério. Do gr. diakonia. O termo é usado no NT em sentido geral em referência a todos os ministérios e cargos da igreja (ver At.1:17; At.1:25; At.20:24; At.21:19; Rm.11:13; 1Co.12:5; 2Co.3:8-9; 2Co.4:1; 2Co.5:18; 2Co.6:3; 2Co.11:8; Ef.4:12; 1Tm.1:12; 2Tm.4:5; 2Tm.4:11). Às vezes, é usado em sentido especial de distribuição de assistência e atenção às necessidades físicas (At.6:1; At.11:29, em que é traduzida como “socorro”; At.12:25; Rm.15:31; 1Co.16:15; 2Co.8:4; 2Co.9:1; 2Co.9:12-13). Uma vez que Paulo fala aqui de diferentes dons e distingue “ministério” de profecia, ensino e exortação, parece evidente que a palavra deve ser entendida no sentido mais limitado de serviço em assuntos temporais e externos, tais como o suprimento das necessidades dos pobres, dos doentes, bem como dos estrangeiros. Dediquemo-nos. Esta expressão foi acrescentada e, aparentemente, de forma correta. O texto grego diz, literalmente: “Ou ministério, em nosso ministério”. O sentido é que os que foram chamados para esse tipo de serviço devem se dedicar a ele. O trabalho de atender às necessidades temporais da igreja não deve ser considerado de pouca importância. É tanto um dom da graça de Deus como o é a profecia. O significado espiritual desse serviço é enfatizado pelo fato de que, no tempo dos apóstolos, só homens “cheios do Espírito Santo e de sabedoria” eram colocados sobre “o ministério diário” da assistência (At.6:1; At.6:3). Ensina. Em 1Co.12:28, o mestre é alistado logo depois de apóstolos e profetas. Seu trabalho é organizar, desenvolver, impressionar a mente e aplicar à vida prática as verdades reveladas. Este dom consiste em um entendimento iluminado e na habilidade da exposição clara. Essas foram as qualificações que deram a Apolo grande poder (ver At.18:24-28). Os que foram chamados por Deus para ser mestres não devem lamentar não terem sido considerados prontos a ser profetas ou apóstolos, nem devem desprezar seu trabalho como sendo de menor importância e consequência. O Espírito de Deus nomeia os crentes para o tipo de serviço para o qual são mais adequados e estão de acordo com o propósito divino para a igreja. Portanto, o mestre cristão que tem fé na liderança da igreja de Cristo dedica-se inteiramente em seu ministério. Além disso, como Paulo instruiu Timóteo (1Tm.5:17), os anciãos que trabalham no ensino são dignos de “dupla honra”. |
Rm.12:8 | 8. ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria. Exorta. Do gr. paraklesis, “apelo”, “encorajamento”, “consolação” (comparar com Rm.15:5; 2Co.8:4; Fp.2:1). O ensino é dirigido ao entendimento. A exortação visa, sobretudo, ao coração e à vontade. Alguns têm o dom especial de estimular as pessoas à ação, ou confortá-las quando em aflição. Esse é um dom de Deus a ser empregado para a edificação da igreja (ver com. de Mt.5:4). Contribui. Do gr. metadidomi. O termo significa “contribuir” ou “compartilhar” os próprios bens e as riquezas (comparar com Lc.3:11; Ef.4:28). Paulo passa então dos dons que qualificam para um cargo específico na igreja a outros de natureza mais geral. A aceitação do cristianismo implicou pobreza para muitos dos primeiros crentes, e tornou-se necessário que fossem apoiados pelas ofertas liberais de seus irmãos na fé (At.2:44-45; Rm.15:26; 1Co.16:1; Gl.2:10). Liberalidade. Do gr. haplotes, “sinceridade”, “singeleza de propósitos”, portanto, às vezes, “liberalidade” (ver 2Co.8:2; 2Co.9:11; 2Co.9:13). O cristão que compartilha os bens com os outros deve fazê-lo com singeleza de coração (cf. Ef.6:5; Cl.3:22) e não para se gloriar. Não deve nutrir qualquer ostentação nem objetivo egoísta. Essa sinceridade e generosidade também são dons do Espírito, cuja influência orientadora é necessária para o uso correto das riquezas (cf. Mt.6:3; Mt.19:21). O que preside. Literalmente, “aquele que é colocado à frente”. A palavra é usada no NT para quem ocupa posição de autoridade ou influência, seja na igreja (1Ts.5:12; 1Tm.5:17) ou em casa (1Tm.3:4-5; 1Tm.3:12). Este é o dom de “governo” (1Co.12:28). Diligência. Do gr. spoude. Em outras passagens do NT, a ARA traduz esta expressão por “sem demora” (Mc.6:25), “apressadamente” (Lc.1:39), “cuidado” (2Co.7:11), “solicitude” (2Co.7:12; 2Co.8:16) e “diligência” (2Co.8:8). De toda pessoa em posição de liderança, espera-se energia e zelo. Essas qualidades são dons do Espírito Santo, e o cristão que delas foi dotado deve dedicar todo esforço ao trabalho a ele designado. Exerce misericórdia. Nesta lista de dons, Paulo faz alguma distinção entre o ato de dar esmolas e a prática da bondade. Talvez ele se refira a formas de mostrar misericórdia como “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações” (Tg.1:27), “curar os quebrantados de coração” (Is.61:1; Lc.4:18) e visitar os doentes ou presos (Mt.25:36; Mt.25:39; Mt.25:44). Alegria. Do gr. hilarotes, de que se originam as palavras portuguesas “hilaridade”, “hilariante”. Essa é a única ocorrência da palavra no NT, embora o adjetivo (hilaros) seja usado em 2Co.9:7: “Deus ama a quem dá com alegria.” Seja ao confortar os enlutados ou ao aliviar os sofredores, quem “exerce misericórdia” deve deixar claro que o serviço é prestado voluntariamente e de bom grado. Os atos de bondade realizados com ânimo e alegria são de mais elevado valor do que aqueles praticados apenas pelo cumprimento do dever. Jesus era constantemente cercado por sofredores e enfermos; e sempre agia de forma gentil, bondosa e alegre (ver CBV, 24). Os vários dons que Paulo menciona devem ser exercidos no devido espírito e para o bem de todos. O cristão não desprezará a posição ou função particular que o Senhor lhe confiou. Nem vai pensar de si mesmo além do que deveria. Seu objetivo e sua alegria serão cumprir com fidelidade os deveres a que Deus lhe chamou. |
Rm.12:9 | 9. O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amor. Do gr. agape (ver com. de Mt.5:44; 1Co.13:1). Da discussão sobre o uso correto dos dons espirituais, Paulo passa então a instruir os crentes acerca do exercício do maior de todos os dons e do princípio básico de todo o verdadeiro cristianismo: o amor. Assim, como em 1Co.12-13, Paulo aqui conclui a discussão acerca dos dons espirituais com uma referência ao amor. As virtudes enumeradas em Rm.12:9-21 são o desenrolar do genuíno amor cristão. Sem hipocrisia. Do gr. anupokritos, “sincero”, “genuíno”, “real” ou “verdadeiro”. Só é verdadeiro o amor que repele o que é mau e se apega ao bem (cf. 1Co.13:6). Detestai. Do gr. apostugeo, que ocorre só aqui no NT e significa aversão tão grande a algo que a pessoa se mantém longe do mesmo. O amor sincero não pode tolerar o mal, mesmo que seja numa pessoa amada. Seu objetivo será sempre combater o mal e encorajar o bem. O amor de Eli por seus filhos rebeldes não revelou essas marcas de autenticidade. Caso seu amor tivesse sido verdadeiro, ele teria corrigido as más tendências dos jovens. As Escrituras registram os resultados desastrosos da indulgência cega em lugar do verdadeiro amor (ver Lv.10:1-2; PP, 360, 361; 1Sm.3:13; 1Sm.4:11. Apegando. Do gr. kollao, literalmente, “colar” [ou “cimentar”], portanto, “juntar-se” a algo (ver Mt.19:5; At.8:29). |
Rm.12:10 | 10. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Amai-vos cordialmente. Do gr. philostorgoi, termo que expressa o terno amor e carinho existente entre parentes próximos. Portanto, a palavra é aplicada à irmandade da família cristã. Os crentes devem considerar-se mutuamente com amor, como filhos e filhas do mesmo Pai (cf. Mc.3:35). Amor fraternal. Do gr. philadelphia, termo que descreve o vínculo estreito que deve existir entre os membros da igreja (comparar com 1Ts.4:9; Hb.13:1; 1Pe.1:22; 2Pe.1:7). A ordem literal das palavras desta parte do versículo é: “em amor fraternal, uns aos outros, amai-vos cordialmente”. Paulo afirma que, em amor por seus irmãos em Cristo, os crentes devem manter aquela mesma calorosa afeição que os parentes próximos. Preferindo-vos. Do gr. proegeomai, literalmente, “ir antes como líder”. Esta é a única ocorrência da palavra no NT. A frase grega aqui traduzida como “preferindo-vos em honra uns aos outros” é de difícil tradução. Ela tem sido interpretada de diversas formas: “prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios” (NVI), “se esforcem para tratar uns aos outros com respeito” (NTLH). Talvez o significado pretendido seja o sugerido na passagem quase paralela de Fp.2:3: “por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”. Um resultado do verdadeiro amor é que a pessoa não busca a própria honra ou vantagem, mas está disposta a honrar os outros. Os cristãos, motivados pelo amor genuíno, serão mais dispostos a prestar respeito do que a recebê-lo. Ninguém deve ambicionar honra para si mesmo, mas cada um deve promover a honra ao próximo. |
Rm.12:11 | 11. No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor; No zelo. Do gr. spoude: “zelo”, “ardor”, “fervor”. Spoude é traduzido como “diligência”, no v. Rm.12:8. Aqui, Paulo não se refere a negócios seculares, mas ao zelo e energia espirituais. O cristão não deve permitir que seu zelo esmoreça, mas deve colocar o coração a serviço do Senhor (Cl.3:23). O zelo permanente é resultado do genuíno amor cristão, pois é o amor de Cristo que “constrange” ou “controla” Seus seguidores (2Co.5:13-14). No reino de Deus não há lugar para preguiçosos (cf. TM, 183, 184), pois a falta de zelo é marca de egoísmo e falta de amor. Os preguiçosos não foram motivados pelo amor e pelo sacrifício de Cristo a ponto de estar dispostos a se unir com todas as forças ao Mestre na obra urgente de resgate dos pecadores. Remissos. Do gr. okneroi, “demorados”, “hesitantes”, “tímidos”, “lentos”, “descuidados”, “preguiçosos”. A palavra ocorre com frequência na LXX, em Provérbios (ver Pv.20:4; e outros), e é usada para descrever o servo mau na parábola dos talentos (Mt.25:26). Fervorosos. Do gr. zeo, literalmente, “ferver”. Apolo é descrito como alguém que era “fervoroso de espírito” (At.18:25). O cristão zeloso sempre mantém o interesse na causa de Deus, como se estivesse a ponto de ebulição. Seu fervor lhe dá poder com as pessoas (At.18:25; At.18:28) e lhe traz o poder de Deus. O apóstolo João era “pregador de poder, fervente e profundamente sincero”, e “o fervor que lhe caracterizava os ensinos [dava-lhe] acesso a todas as classes” (AA, 546). Espírito. Esta palavra pode se referir tanto ao espírito humano quanto ao Espírito de Deus. Talvez Paulo esteja falando sobre o espírito humano inspirado e encorajado pelo Espírito de Deus. O crente consagrado e ativo não considera o exercício de suas funções cristãs como um trabalho desinteressante e penoso, mas uma experiência alegre e vitalizante. Com o coração em chamas, ele sempre se apressa para onde quer que haja algum bem a ser feito. Compartilha o amor de Cristo pela humanidade caída e, assim, encontra a mais profunda satisfação em ministrar às necessidades dos semelhantes. Assim como o Senhor, ele tem uma energia que outros não conhecem, pois sua comida “consiste em fazer a vontade dAquele que [o] enviou e realizar a Sua obra” (Jo.4:32-34). Servindo ao Senhor. Zelo e fervor são naturais no coração de quem reconhece, em qualquer esfera de atividade em que esteja servindo, que está trabalhando “como para o Senhor e não para homens” (Cl.3:23-24; Ef.6:5-8). |
Rm.12:12 | 12. regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes; Regozijai-vos na esperança. As três orientações deste versículo parecem ainda mais claras quando se mantém a ordem das palavras como estão no grego: “Na esperança, alegria; na tribulação, pacientes; na oração, perseverantes.” Paulo já havia elogiado o espírito de alegria (v. Rm.12:8). Em Rm.5:2, ele fala da alegria “na esperança da glória de Deus”. A esperança cristã é a causa da alegria, e é explicada em Rm.8:20-25. É ela que permite ao cristão olhar para além da escuridão e das dificuldades do mundo presente para as coisas invisíveis e eternas (2Co.4:17-18). A esperança, bem como muitas das virtudes cristãs, brota da virtude fundamental, que é o amor. Isso é indicado por 1Co.13:7: o amor “tudo espera”. Pacientes. Do gr. hupomeno, “suportar” (cf. hupomone, “paciência”; ver com. de Rm.5:3). O zelo descrito no versículo anterior logo encontra oposição e problemas. Mas, com a esperança da glória de Deus diante de si, o cristão não murmura contra Deus nem alimenta inimizade contra os perseguidores. Ele permanece em seu posto de dever, apesar das provações que isso envolva. Essa perseverança foi exemplificada por Cristo, que, sob circunstâncias ainda mais difíceis, sofreu mais do que qualquer de Seus seguidores. A virtude da resistência era necessária nos tempos angustiosos pelos quais a igreja passava nos dias de Paulo. O apóstolo sabia por experiência que os sofrimentos por causa de Cristo seriam intensos (ver Rm.8:35; 2Co.1:4; 1Ts.1:6; 1Ts.3:3-7; 2Ts.1:4-6). A conexão entre o amor e a persistência também é sugerida em 1Co.13:7: o amor “tudo suporta”. Perseverantes. Do gr. proskartereo, “persistir”, “continuar firmes”, “perseverar”. A mesma palavra é traduzida como “tivessem pronto” (Mc.3:9), “serviam [...] continuamente” (At.10:7) e “atendendo constantemente” (Rm.13:6). Unicamente pela constante comunhão com Deus é que o cristão pode conservar a força e a coragem para suportar os desafios próprios da fé (ver At.1:14; At.6:4; Cl.4:2). O demorar-se nas coisas que são de cima (Cl.3:2) e medir cada ato e impulso pela contemplação da glória e da vontade de Deus é o antídoto contra a impaciência sob provocação e oposição. Além disso, Deus dá o Espírito aos que desejam Sua presença constante (Jo.16:23-24; At.1:14; At.2:4). O mesmo Espírito que traz “amor” (cf. Rm.12:9) e “alegria” (v. Rm.12:12) também desperta “paciência” e “temperança”, literalmente, “domínio próprio” (Gl.5:22-23). |
Rm.12:13 | 13. compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; Compartilhai. Do gr. koinoneo, “compartilhar”, “tomar parte em”, “atuar como parceiro” (ver Rm.15:27; Fp.4:15; 1Tm.5:22; Hb.13:16; 1Pe.4:13). Paulo afirma que os cristãos devem compartilhar as necessidades de seus irmãos na fé, e atendê-las como se fossem as suas próprias. Isso é muito mais do que dar esmolas, é uma aplicação prática do princípio do amor (Rm.12:9). Paulo praticava o que pregava; isso é evidente em seu esforço para arrecadar fundos para a assistência dos conversos atingidos pela pobreza (cf. Rm.15:25-26; 1Co.16:1; 2Co.8:1-7; 2Co.9:2-5; Cl.2:10). Santos. Ver com. de Rm.1:7. Os que são “da família da fé” merecem cuidado especial (Gl.6:10). Praticai. Do gr. dioko, literalmente, “perseguir”, “seguir após” (comparar com 1Co.14:1; 1Ts.5:15; Hb.12:14; 1Pe.3:11). O termo indica que os cristãos não devem apenas oferecer hospitalidade, mas estar ansiosos por praticá-la. Hospitalidade. Do gr. philoxenia, literalmente, “amor aos estranhos”, portanto, “abrigar os estranhos”. Desde cedo, os cristãos consideraram a hospitalidade uma das mais importantes virtudes cristãs (cf. 1Tm.3:2; Tt.1:8; Hb.13:2; 1Pe.4:9). Isso ocorria em vista do grande número de viajantes e perseguidos. Muitos cristãos eram expulsos de suas casas e cidades e obrigados a procurar abrigo com aqueles que mantinham a mesma fé (ver At.8:1; At.26:11). A hospitalidade que os crentes praticavam uns para com os outros contribuía para os vínculos que mantinham unidos os membros dispersos da igreja. |
Rm.12:14 | 14. abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. Abençoai. Do gr. eulogeo, “falar bem de”, “invocar bênçãos sobre”. No v. Rm.12:13, Paulo fala do tratamento dos cristãos aos amigos; neste versículo, ele indica o tratamento adequado aos inimigos. Nós “abençoamos” nossos perseguidores, quando oramos e trabalhamos por seu bem. As palavras de Paulo são semelhantes às de Jesus (ver Mt.5:44; Lc.6:28; 1Pe.3:9). Perseguem. Do gr. dioko, “perseguir”, muitas vezes com má intenção, como aqui. Esta é a mesma palavra traduzida como “praticai”, no v. Rm.12:13. O cristão deve “perseguir” a hospitalidade para com os irmãos e abençoar os ímpios que os “perseguem”. Com essa prescrição, Paulo antecipa o pensamento que desenvolve mais plenamente nos v. Rm.12:17-21, de que é dever do cristão amar seus inimigos e vencer o mal com o bem. Esse dever só pode ser realizado pela pessoa cuja mente foi renovada pelo Espírito (v. Rm.12:2) e cujo amor é “sem hipocrisia” (v. Rm.12:9). |
Rm.12:15 | 15. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Alegrai-vos. A simpatia em todas as circunstâncias é uma evidência da autenticidade do amor. Das duas formas de simpatia mencionadas neste versículo, a primeira talvez seja a mais difícil. Parece mais fácil e natural simpatizar-se com a dor. Mas alegrar-se com o sucesso e as alegrias dos outros requer nobreza de caráter. Os opostos dessas virtudes são a inveja, que diz respeito à boa sorte dos outros, e a dor e a maldade, que se satisfazem com os infortúnios dos outros. Essas manifestações de egoísmo são tendências naturais do coração não regenerado. Em 1Co.12:26-27, Paulo compara a simpatia que deve haver entre os membros da igreja com a que é mantida por uma parte do corpo para com a outra. Jesus chorou em simpatia junto ao túmulo de Lázaro (Jo.11:35; DTN, 533). Ele Se alegra com a salvação mesmo do pecador mais indigno (ver Lc.15:5-7; Lc.15:10; Lc.15:23-24; Lc.15:32; Jd.1:24). |
Rm.12:16 | 16. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Tende o mesmo sentimento. O cristão deve compartilhar dos sentimentos e aspirações de seus irmãos (cf. Rm.15:5; 2Co.13:11; Fp.2:2; Fp.4:2). Entre os cristãos, deve existir sempre a harmonia que resulta de um objetivo comum, esperanças e desejos comuns. Em lugar de serdes orgulhosos. Ou, “não te ensoberbeças” (Rm.11:20), “não cuideis das coisas altivas” (TB). “O amor [...] não se ufana, não se ensoberbece” (1Co.13:4). O orgulho pode ser motivado até por realizações espirituais (ver 1Co.12). A harmonia não pode existir onde há pessoas cuja mente esteja determinada a “coisas altivas” e exista ambição pessoal, presunção ou desprezo pelos outros. Condescendei. Do gr. sunapago, literalmente, “carregar consigo”, como por uma inundação; portanto, “sujeitar-se”, “submeter- se”, “entregar-se”. Há só mais duas ocorrências deste verbo no NT (Gl.2:13; 2Pe.3:17), nas quais o sentido desfavorável é indicado pelo contexto, não pelo verbo. Humilde. O texto grego aqui é ambíguo e pode se referir tanto a homens humildes como a coisas humildes. A palavra grega para “humilde” (tapeinos) é usada para pessoas, em outras passagens do NT, mas não é impossível que, neste contexto, Paulo esteja falando de “deveres humildes” ou “tarefas humildes”. A maioria dos membros da igreja era pobre, e os poucos ricos podem ter sido tentados a considerar com algum desdém os irmãos mais humildes (Tg.2:1-9). Mas essa falta de amor e simpatia tornaria impossível aos crentes ter “o mesmo sentimento uns para com os outros”. Portanto, os cristãos devem ter a mente semelhante à de Jesus. Mesmo sendo divino, Ele não “cuidava das coisas altivas”. Ao contrário, “assumiu a forma de servo” e “Se humilhou”, a fim de Se aproximar de pessoas humildes e pecaminosas e trabalhar com elas em favor de sua salvação (Fp.2:5-8). Se o filho de Deus Se dispôs a humílhar-Se por amor de Suas criaturas corrompidas, certamente, os cristãos devem estar dispostos a “rebaixar-se” para se associar a qualquer um dos seus semelhantes (ver OE, 330-336; ver com. de Tg.1:9-10). Sábios aos vossos próprios olhos. Literalmente, “sábios por vós mesmos”, o que significa “sábios na própria opinião” (cf. com. de Rm.11:25). Esse tipo de orgulho é um pecado contra o amor cristão, pois significa desprezo pela opinião dos outros e, finalmente, até mesmo aos conselhos de Deus. Portanto, Isaías adverte: “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Is.5:21; Pv.3:7). O cristão que tem a mente renovada não confia na presunção da própria habilidade e compreensão nem se recusa a ouvir os conselhos dos outros. Ao contrário, em amor e humildade, ele respeita o julgamento de seus irmãos e mantém a mente aberta e receptiva ao ensino. Está pronto a reconhecer suas limitações e seus erros, e a aprender com os outros. |
Rm.12:17 | 17. Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; Não torneis. Ou, “retribuais”, “pagueis de volta” (sobre o princípio aqui estabelecido, ver com. de Mt.5:38-48). O amor devolve o mal com o bem e trabalha para promover bênçãos, e não destruição, aos outros (cf. Rm.12:14; 1Co.13:5-6; 1Ts.5:15; 1Pe.3:9). Esforçai-vos. Do gr. pronoeo, “agir depois de pensar”. Fazer o bem. Do gr. kala, “coisas boas”, “coisas nobres”, “coisas corretas”. Paulo pode estar se referindo à versão LXX de Pv.3:4. A fim de desarmar a oposição, o cristão deve pensar e agir a fim de que sua conduta, devido a bondade e justiça transparente, seja irrepreensível não só diante de Deus, mas aos olhos de todos. Os seguidores de uma causa impopular que querem convencer outros da veracidade e excelência de sua mensagem devem fazer com que seu comportamento esteja acima de qualquer suspeita. O cristão deve fazer sua luz brilhar diante dos semelhantes, para que vejam suas boas obras e glorifiquem ao Pai que está nos céus (Mt.5:16). Para isso, nunca devem se engajar em atividades ou empreendimentos de caráter duvidoso que coloquem em descrédito não só a si mesmo, mas também todo o corpo cristão. Paulo nunca teve medo de incorrer em oposição quando o dever ou a consciência o exigiam. No entanto, aconselha e exorta aqui os cristãos à cautela e previdência, de modo a não ofender desnecessariamente e, assim, despertar hostilidade dos outros. Essa é a maneira de agir ditada não só pelo amor, mas também pelo bom-senso. É impossível persuadir e antagonizar as pessoas ao mesmo tempo. |
Rm.12:18 | 18. se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; Quanto depender de vós. Literalmente, “com referência àquilo proceder de vós”, ou seja, “até aqui, desde que dependa de vós”. A conexão com o versículo anterior é evidente. Tanto quanto se refira ao cristão, ele deve fazer tudo que puder para manter a paz. Mas há momentos em que a fidelidade ao princípio pode implicar incorrer no antagonismo dos outros. Portanto, PauIo acrescenta a qualificação: “se possível”. O registro da própria vida de Paulo, que foi um conflito quase constante, mostra que nem sempre é possível manter em paz. Em um mundo cujo príncipe é Satanás, os soldados de Cristo não devem esperar que tudo seja paz. No entanto, o cristão deve sempre se certificar de que, se a paz for quebrada, que não seja por sua culpa. |
Rm.12:19 | 19. não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Não vos vingueis. A ordem das palavras no grego é “não vos vingueis, amados”. Dai lugar à ira. O artigo definido antes da palavra “ira” indica que a referência é à ira de Deus (cf. com. de Rm.5:9). Essa interpretação é confirmada pelas palavras seguintes: “a Mim Me pertence a vingança; Eu é que retribuirei”. “Dar lugar” significa “dar espaço” para que a ira vingadora de Deus opere. Os cristãos nunca devem buscar vingança contra quem os trata injustamente. Devem deixar o assunto com Deus. Apenas um Deus onisciente, todo-amoroso e perfeito pode julgar e punir os malfeitores com justiça. Tanto a linguagem como o pensamento dessa ordem são ilustrados em Ef.4:27, em que Paulo explica que vingar a nós mesmos é “dar lugar ao diabo”. Os que estão cheios de pensamentos de vingança dão oportunidade a que Satanás inspire ira, ódio e amargura, quando deveriam encorajar o crescimento do fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade (Gl.5:22). Algumas vezes, outras duas interpretações desta passagem têm sido propostas. Uma delas é: “Dai tempo ou espaço para que vossa própria raiva esfrie.” A outra: “dai espaço para”, isto é, cedei à “ira de vosso adversário”. No entanto, nenhuma dessas interpretações se ajusta ao original grego nem ao contexto. Está escrito. Citação de Dt.32:35; comparar com Hb.10:30. Em Deuteronômio, esta declaração é um alerta ao povo de Deus. Em Hebreus, é direcionada aos apóstatas. Mas, em Romanos, é usada como um consolo ao povo de Deus, que é perseguido injustamente. Deus os vinga no devido tempo, pois “não fará Deus justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite?” (Lc.18:7; Dt.32:40-43; 2Ts.1:6-10; Ap.6:9-11). Vingança. Do gr. ekdikesis, “vindicação”, “retribuição”, “punição” (At.7:24; 2Co.7:11; 1Pe.2:14). A ideia de vingança pessoal deve ser eliminada a partir da expressão usada aqui: a justiça vingadora é de Deus, pois Ele impõe plena justiça a todas as partes. No dia da vingança de Deus, os ímpios receberão as inevitáveis consequências da própria escolha. Devido à vida de rebeldia, eles se puseram tão fora da harmonia com Deus que Sua própria presença lhes é um fogo devorador (2Ts.1:6-10; Ap.6:15-17). “A glória dAquele que é amor os destruirá” (DTN, 764). |
Rm.12:20 | 20. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Se o teu inimigo. Citação de Pv.25:21-22. Brasas vivas. Ver com. de Pv.25:22. A bondade é a melhor vingança que o cristão pode tomar contra um inimigo. Amontoar brasas vivas sobre a cabeça de um oponente significa um ato de amor, e não de maldade. Isso está indicado, tanto pelo contexto do AT como do NT. Pv.25:22 termina com estas palavras, não citadas aqui por Paulo: “e o Senhor te retribuirá”, ou seja, as boas obras praticadas para teu inimigo. Da mesma forma, no presente contexto, o significado geral é resumido nas palavras: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm.12:21). |
Rm.12:21 | 21. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem. Não te deixes vencer do mal. A vingança é um sinal, não de força, mas de fraqueza. Sofre derrota quem permite que seu humor seja afetado e seus princípios cristãos de amor e domínio próprio sejam abandonados. Mas quem controla o desejo de vingança e faz do mal sofrido uma oportunidade para mostrar bondade obtém a vitória sobre si mesmo e sobre os poderes do mal. Essa atitude não é apenas mais nobre, quanto mais eficaz. Com ela, pode-se desarmar o inimigo (Pv.15:1) e conquistar outra pessoa. Assim, Deus não retribuiu aos pecadores a vingança que mereciam, mas revelou amor e misericórdia. É a bondade, paciência e longanimidade de Deus que leva as pessoas ao arrependimento (Rm.2:4). O cristão que é transformado à imagem de Deus (Rm.12:2) mostra por sua maneira de tratar os inimigos que seu caráter se torna mais e mais semelhante ao de Deus, que é amor (1Jo.4:8). |
Rm.13:1 | 1. Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. Todo homem. Ou seja, cada pessoa (ver com. de Rm.2:9; cf. com. de SI.16:10). Esteja sujeito. Do gr. hupotasso, “submeter-se”, “estar em sujeição”, “obedecer”. Autoridades superiores. Literalmente, “aqueles que estão em posição de autoridade sobre os outros”, significando “as autoridades que se colocam acima” (ver 1Pe.2:13; Lc.12:11; Tt.3:1). Ao longo desta seção, a palavra traduzida como “poder” (exousia) significa “autoridade”, isto é, o poder de governar ou mandar. Deve ser distinguida de dynamis, também traduzida como “poder” (Rm.1:16; Rm.1:20; 1Co.1:18), mas que significa “força”, “poder [ou capacidade] para realizar”. Não há autoridade que não procedade Deus. Ou seja, nenhuma autoridade humana existe, a não ser pela permissão de Deus e sob Seu controle. O AT afirma que Deus ergue um e depõe outro (ver com. de Dn.4:17; Dn.2:21; Dn.4:25; Dn.4:34-35). Por Ele instituídas. As palavras gregas nos v. 1 e 2, traduzidas como “sujeito”, “instituídas”, “resistem” (primeira ocorrência) e “ordenação” são todas construídas sobre a mesma raiz tasso, “ordenar”, “organizar” ou “definir”. Isso dá uma força antitética à passagem que não pode ser representada em nossa língua. Paulo não sugere nestes versículos que Deus sempre aprova a conduta dos governos civis nem indica que é dever do cristão sempre se submeter a eles. Às vezes, as exigências do governo podem ser contrárias à lei de Deus e, sob essas circunstâncias, o cristão deve antes “obedecer a Deus do que aos homens” (At.4:19; At.5:29). O raciocínio de Paulo é que o poder dominante dos governos humanos é confiado por Deus aos homens, de acordo com Seus propósitos para o bem-estar da humanidade. A manutenção do poder ou a perda da autoridade está nas mãos de Deus. Portanto, o cristão deve apoiar a autoridade. Não deve tomar nas próprias mãos resistir ou depor “os poderes constituídos”. Essa instrução era muito necessária nos dias de Paulo, pois os judeus viviam num clima turbulento, e revoltas já se despertavam em várias partes do império romano. Para os cristãos, a demonstração de semelhante espírito de insubmissão representaria incorrer no mesmo descontentamento que começava a cair sobre os judeus. Teria também resultado na renúncia à proteção do Estado romano, que muitas vezes foi uma bênção para os primeiros cristãos, como Paulo pôde testificar a partir de sua própria experiência (ver At.22:24-30). Além disso, a rebeldia teria trazido vergonha sobre a igreja cristã e sua mensagem de amor fraternal e paz. Por isso, em outros textos, Paulo exorta os crentes a orar por aqueles que exercem autoridade (1Tm.2:1-2) e a obedecer-lhes (Tt.3:1). Da mesma forma, Pedro ordena que os cristãos se sujeitem “a toda instituição humana por causa do Senhor” (1Pe.2:13-17). |
Rm.13:2 | 2. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Que se opõe à autoridade. Literalmente, “se alinha contra a autoridade”, “entra em ordem de batalha contra a autoridade”. Ordenação. Do gr. diatage, literalmente, “o que é ordenado”, “o que está definido”. Há outra ocorrência desta palavra no NT, em At.7:53, em que é traduzida como “ministério”. O que Paulo diz pode ser traduzido literalmente como: “aquele que se coloca contra o que é divinamente ordenado”. Condenação. Do gr. krima, “condenação”, “juízo” (Rm.2:2; Rm.5:16; Rm.11:33). Paulo aqui se refere à sentença proferida pelas autoridades do governo, como ministros de Deus neste mundo (Rm.13:4), sobre aqueles que resistem. Visto que desobedecer “aos poderes que existem” é resistir à ordenação de Deus, a penalidade que as autoridades impõem também representa o juízo e a ira de Deus sobre o rebelde. |
Rm.13:3 | 3. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, Não são para temor. Em geral, os governantes não devem ser temidos, a não ser pelo que pratica o mal. Na realidade, nem todos os governantes pertencem a essa classe, pois muitos deles têm perseguido o bem. Por exemplo, Nero, o imperador romano na época em que Paulo escreveu esta carta, mais tarde, foi responsável pelo martírio do apóstolo. No entanto, geralmente, é verdade que os virtuosos não têm nada a temer das autoridades civis. Os governos, como tais, não são para temor pelos que praticam boas obras. Ao contrário, existem para um propósito benéfico e, em geral, é vantagem ao cristão submeter-se a suas exigências (ver 1Tm.2:1-2). Queres tu [...]? Do gr. thelo, “desejar”, “querer”. O cristão que não quer temer o governo civil deve praticar o que é certo e, por isso, será elogiado por sua boa conduta (1Pe.2:14-15). Dela. Literalmente, “a partir dela”, significando “da autoridade governante”. |
Rm.13:4 | 4. visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. Visto que. Isto introduz o motivo da declaração anterior. Uma vez que o Estado existe como servo de Deus para um bom propósito, o cristão não tem motivo para temer sua autoridade. Aqui, novamente, Paulo expressa uma verdade geral, não se demorando em qualificar sua declaração com exceções específicas. Autoridade. Referindo-se ao “poder”, “autoridade”, do v. Rm.13:3. Ministro. Do gr. diakonos, “servo” (Rm.15:8; Rm.16:1). Diakonos também é a palavra usada para descrever o cargo de diácono (1Tm.3:8; 1Tm.3:12). Para teu. Ou seja, “para tua vantagem”, “em teu interesse”. Bem. Isto é, para promover o bem. Esta é a verdadeira razão para a existência do governo civil, como servo e representante de Deus. A espada. Símbolo da autoridade do governante para aplicar punição. Vingador. Do gr. ekdikos, “vingador”. Há apenas mais uma ocorrência desta palavra no NT, (ver 1Ts.4:6). Nos papiros gregos, o termo é geralmente utilizado para “um representante legal”. Para castigar. Literalmente, “para a ira”. Como “ministro de Deus”, cabe ao estado aplicar a punição sobre os malfeitores (v. Rm.13:2; Rm.12:19). |
Rm.13:5 | 5. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Portanto (ARC). Refere-se aos quatro versículos anteriores, em que Paulo apresenta as razões para a obediência. Temor da punição. Literalmente, “por causa da ira”. Visto que as autoridades civis existem por determinação divina, o cristão deve obedecer, não só porque quer evitar a punição, mas porque é certo obedecer. A única exceção é quando a lei do Estado conflita com a lei de Deus. |
Rm.13:6 | 6. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagais tributo. O contexto sugere que este não é um mandamento, mas uma declaração de fato. Assim, a variante “pagais” é preferível a “pagai”. Evidentemente, os primeiros cristãos consideravam questão de princípio pagar impostos, talvez em obediência ao ensinamento de Cristo (Lc.20:20-25), que se reflete em Rm.13:7. Apoiando, assim, o governo civil com seus tributos, os cristãos estavam reconhecendo que deviam obediência ao Estado, como ordenado por Deus “tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (1Pe.2:14). Ministros. Do gr. leitourgoi, “servos”, “funcionários públicos”, de que se origina a palavra “liturgia”. Esta não é a mesma palavra traduzida como “ministro” no v. Rm.13:4 (ver com. ali). As duas palavras são usadas para serviços seculares, mas este termo também é aplicado especialmente ao ministério sacerdotal (Rm.15:16; Hb.8:2). Pela utilização deste termo, Paulo pode estar enfatizando a adequação e a necessidade de obediência ao poder civil, revestindo-o com certa sacralidade de caráter como “servos públicos de Deus”. Atendendo, constantemente. Ou,“com perseverança”, como a palavra é traduzida em Rm.12:12. A este serviço. Ou seja, o serviço de Deus descrito nos v. Rm.13:3-4. |
Rm.13:7 | 7. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. Portanto (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. Alguns comentaristas consideram que este versículo é a conclusão da argumentação de Paulo sobre o dever dos cristãos de obedecer ao Estado. Neste caso, entendem que “todos” se refere às autoridades. Outros, no entanto, interpretam este versículo como uma afirmação do princípio geral, aplicável tanto à seção anterior como às seguintes. Nesse caso, “todos” refere-se a pessoas, e a máxima de Paulo seria: “pagai a todos o que lhes é devido”. Tributo. Do gr. phoros, “imposto”, “dever”. Nos papiros, encontra-se o sentido de “aluguel” (comparar com Lc.20:22). Imposto. Do gr. telos (ver com. de Mt.17:25). Respeito. Do gr. phobos, significando aqui o respeito com que cada autoridade deve ser considerada, não medo no sentido de temor ou terror (comparar com 1Pe.2:18; 1Pe.3:2). Honra. Comparar com 1Pe.2:17. Na época de Paulo, para os judeus, os agentes do governo romano habilitados a coletar impostos e taxas eram, no mínimo, objeto do ódio e desprezo. Portanto, o conselho do apóstolo de que os cristãos de Roma deviam não apenas pagar tributo, mas também dar a devida honra e o respeito a seus governantes estava em contraste com o crescente sentimento de rebelião que agitava os judeus prestes a atrair destruição sobre a própria nação (ver Josefo, Guerra dos Judeus, II.13.4-7 [258-270]). |
Rm.13:8 | 8. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. A ninguém fiqueis devendo. O cristão deve pagar tudo o que deve, mas há uma dívida que não pode quitar plenamente: o amor para com os semelhantes. Ameis uns aos outros. O amor mútuo é uma obrigação infinita, visto que sempre há a oportunidade para fazer o bem. Ama o próximo. Literalmente, “ama o outro”. Tem cumprido. Quem ama os semelhantes cumpre a intenção e o propósito da lei. Todos os mandamentos de Deus estão fundamentados no princípio do amor (Mt.22:34-40; Rm.13:9). Portanto, Sua lei não pode ser perfeitamente obedecida por mera conformidade exterior à letra. A verdadeira obediência é uma questão de coração e de espírito (Rm.2:28-29). Não se fala de cumprimento exterior, mas do amor sincero, que é o cumprimento da lei (Rm.13:10). Os judeus foram lentos para crer e praticar essa verdade fundamental, apesar dos claros ensinamentos de Moisés sobre o assunto (ver Lv.19:18; Lv.19:34; Dt.6:5; Dt.10:12). Eles transformaram a lei do amor de Deus num código rígido de requisitos legais sem vida. Eles estavam prontos a dar o dízimo, mesmo da hortelã, do endro e do cominho, mas passavam por alto as questões mais importantes da lei; a fé, a justiça, a misericórdia e o amor de Deus (Mt.23:23; Lc.11:42). Por isso, Jesus procurou revelar mais uma vez o verdadeiro propósito dos mandamentos do Pai. Ele ensinou que todos os mandamentos se resumem no amor (Mt.22:37-40; Mc.12:29-34; Lc.10:27-28), e que a marca distintiva de um discípulo obediente é o amor aos semelhantes (Jo.13:34-35). Lei. Ver com. de Rm.2:12. Embora as referências a mandamentos específicos do decálogo (Rm.13:9) indiquem que Paulo tinha essa lei em mente, a ausência do artigo “a” no original, junto a “lei”, sugere que ele podia estar falando de “lei”' como um princípio. Assim como pecado é a desobediência à lei, ou “iniquidade” (1Jo.3:4, ARC; ver com. ali), da mesma forma, ao contrário, o amor é, literalmente, “o cumprimento da lei” (Rm.13:10). |
Rm.13:9 | 9. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Pois isto. Ou seja, os mandamentos que Paulo cita. Quem ama o próximo não vai roubá-lo nem tirar sua vida, nem cobiçar seus bens; não vai dar falso testemunho a seu respeito ou cometer adultério com sua esposa. Falso testemunho (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão deste mandamento. Ele pode ter sido acrescentado por um copista para completar a lista familiar da segunda tábua dos mandamentos. No entanto, o fato de Paulo não fazer nenhuma tentativa de apresentar uma lista completa é indicado pelas palavras, “e se há qualquer outro mandamento”. A ordem dos mandamentos é diferente do original (Ex.20:13-15), sendo o sétimo colocado antes do sexto (a mesma disposição ocorre em Mc.10:19; Lc.18:20; Tg.2:11; a ordem regular é encontrada em Mt.19:18). Provavelmente, Paulo estivesse seguindo a ordem de um manuscrito da LXX. A ordem que segue é a do Códice Vaticano, em Dt.5:17. Em Ex.20:13-15, o mesmo manuscrito coloca o sétimo mandamento em primeiro lugar na série dos cinco últimos, depois o oitavo e em seguida, o sexto. Tudo nesta palavra se resume. Do gr. anakephalaioo, “resume”. Amarás. Uma citação de Lv.19:18 (ver com. ali). |
Rm.13:10 | 10. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. O amor não pratica. Ver com. de 1Co.13:4-6. Cumprimento. Do gr. pleroma, “cumprimento”, “preenchimento” (v. Rm.13:8). A lei. Literalmente, “lei” (ver com. do v. Rm.13:8). |
Rm.13:11 | 11. E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. Digo isto. Literalmente, “e isto”. A expressão lembra a injunção anterior de nada dever além do amor, que é o resumo dos deveres cristãos prescritos nos cap. 12 e 13. Como um motivo urgente para o cumprimento de seus deveres, Paulo apela para o que sempre foi um dos incentivos mais fortes para a vida cristã: a crença na proximidade da segunda vinda de Cristo (1Co.7:29; Hb.10:25; Hb.10:37; 1Pe.4:7). Tempo. Do gr. kairos. Este termo não se aplica ao tempo em geral, mas a um tempo definido, medido, ou fixo, ou a um período ou época críticos (ver com. de Mc.1:15; 1Co.7:29; Ap.1:3). Os crentes de Roma não podiam deixar de estar cientes do momento crítico em que viviam. Assim, Paulo os exorta a repelir toda indiferença e indolência, dar fim à indulgência própria e a se revestirem “do Senhor Jesus Cristo” (Rm.13:14). Já é hora. Do gr. hora ede, “a hora já é” (cf. Mt.24:44; Mt.25:13). Despertardes. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “acordarem” (NTLH). Sono. O preparo necessário para o grande dia de Deus exige dos cristãos vigilância. Na parábola das dez virgens, as moças “foram todas tomadas de sono e adormeceram” (Mt.25:5; 1Ts.5:6). Salvação está [...] mais perto. Por “salvação”, Paulo se refere à vinda de Cristo em poder e glória, e tudo o que ele já havia descrito como a ocorrer nesse evento: “a revelação dos filhos de Deus” (Rm.8:19), “a redenção do nosso corpo” (v. Rm.13:23) e a libertação da natureza “do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (v. Rm.13:21). Cremos. Ou seja, inicialmente cremos. No grego, o tempo deste verbo aponta ao passado, quando se aceitou inicialmente a fé (At.19:2; 1Co.3:5; 1Co.15:2). A constante expectativa da vinda do Senhor foi a atitude de espírito que Cristo ordenou em suas repetidas advertências (Mt.24). Desde o princípio, essa expectativa foi qualificada pela cautela: “daquele dia e hora ninguém sabe” (Mt.24:36), e Paulo não havia se esquecido dessa precaução (ver 1Ts.5:1-2; 2Ts.2:1-2). No entanto, sua expectativa daquele grande dia não estava menos viva (cf. 1Ts.4:15; 1Ts.4:17; 1Co.15:51-52). Outros escritores do NT compartilhavam a mesma expectativa (ver 1Pe.4:7; 2Pe.3; 1Jo.2:18; Ap.22:12; Ap.22:20; cf. Ev, 695; AA, 265). O fato de que o tempo tem se estendido mais do que o esperado não significa que a palavra de Deus falhou. Há um trabalho a ser feito, e há condições a serem cumpridas antes que Cristo possa vir (ver Ev, 694-697). Entretanto, um contínuo e vital senso da brevidade do tempo e da iminência do retorno de Cristo é a motivação indispensável para completar o trabalho necessário e atender as condições exigidas. Pois, continua sendo verdade que, para os que dormem indiferentes, o dia do Senhor virá como ladrão de noite, e “de nenhum modo escaparão” (1Ts.5:3). |
Rm.13:12 | 12. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Noite. Tendo comparado a atual condição espiritual de seus leitores ao “sono”, Paulo continua a figura, contrastando a vida presente com a que está por vir, como a noite com o dia (cf. Hb.10:25). Deixemos. Do gr. apotithemi, “deixar de lado”, “despojar-se”. Esta palavra é usada várias vezes no NT para descrever o abandono de maus hábitos (cf. Ef.4:22; Ef.4:25; Cl.3:8; Hb.12:1; Tg.1:21; 1Pe.2:1). Obras das trevas. Representadas aqui como a roupa que deve ser retirada. Em seu lugar, o cristão deve vestir a armadura da verdade e da justiça, para estar pronto para a luz do dia de Cristo, que está raiando. Armas. Do gr. hopla (ver Jo.18:3; 2Co.10:4). É traduzido por “instrumentos”, em Rm.6:13 (comparar com a descrição da armadura do cristão, em Ef.6:11-18). Da luz. As “armas da luz” são assim designadas para contrastá-las com as “obras das trevas”. Os cristãos são chamados “das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pe.2:9). São os “filhos da luz” (1Ts.5:5) que travam a batalha espiritual com as armas da luz. |
Rm.13:13 | 13. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; Andemos. Ou seja, vivamos, comportemo-nos. Dignamente. Do gr. euschemonos, literalmente, “de boa maneira”, portanto, “graciosamente”, “decentemente”, “honradamente”. A palavra é traduzida também como “decência” e “dignidade” (1Co.14:40; 1Ts.4:12). Como em pleno dia. Os ímpios procuram esconder seus atos de violência e luxúria na calada da noite (1Ts.5:7; Ef.5:11-12). Mas o cristão deve se comportar como se vivesse sempre na luz. Ele é filho do dia, não da noite (1Ts.5:5), e deve andar como filho da luz (Ef.5:8). Orgias. Do gr. komoi, “diversões”, “festanças”, “farras” (Gl.5:21; 1Pe.4:3). Impudicícias. Do gr. koitai, “devassidão”, “imoralidade”. Dissoluções. Do gr. aselgeiai, “sensualidade”, “libertinagem”, “indecência” (2Co.12:21; Gl.5:19). Os pecados dessa lista prevaleciam entre os pagãos no tempo de Paulo (Rm.1:24-31), e não estavam limitados a eles (ver Rm.2:3; Rm.2:21-24). Contendas. Do gr. eris, “brigas”. Ciúmes. Do gr. zelos, “inveja”. |
Rm.13:14 | 14. mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências. Revesti-vos. No v. Rm.13:12, o cristão é exortado a se vestir “das armas da luz”. Então, Paulo representa o próprio Cristo como sendo a armadura do cristão. A vida com a qual ele estava vestido devia ser continuamente renovada na experiência de crescimento diário em santidade (Et.4:24; Cl.3:12-14). Cada novo passo nesse desenvolvimento pode ser considerado um novo revestir-se de Cristo, e o cristão que persevera nessa experiência transformadora imitará mais e mais perfeitamente a vida e o caráter de Cristo, e o refletirá para o mundo (ver 2Co.3:2-3; Gl.4:19; PJ, 69). A carne. Ou seja, a natureza depravada (Rm.8:1-13). Devem ser buscadas provisões para as necessidades do corpo, mas o cristão não deve condescender com a satisfação de emoções e desejos profanos. A vida de luxo e autossatisfação estimula os impulsos carnais que o cristão deve mortificar (Rm.6:12-13; Rm.8:13). Portanto, Paulo adverte os crentes a não alimentar os pensamentos com essas coisas. NOTA ADICIONAL A ROMANOS 13 Alguns dos escritores do NT parecem falar da vinda de Cristo como um evento a ocorrer imediatamente. Vários textos são citados como exemplos típicos desse pensamento (Rm.13:11-12; 1Co.7:29; Fp.4:5; 1Ts.4:15; 1Ts.4:17; Hb.10:25; Tg.5:8-9; 1Pe.4:7; 1Jo.2:18). Alguns se apressam em concluir que os escritores bíblicos estavam confusos ou, pelo menos, que nada se pode conhecer quanto ao tempo da vinda de Cristo. Mas o assunto não requer essa conclusão. Certos fatos se destacam na discussão bíblica sobre o fim do mundo e a vinda de Cristo. E, à luz dos mesmos, pode-se acreditar ser possível uma conclusão coerente acerca da inspiração das Escrituras e do segundo advento de Cristo. Esses fatos são os seguintes: 1. Os escritores bíblicos sempre falam da certeza do advento. Isso é verdade tanto no AT quanto no NT. Qualquer leitor da Bíblia que tomar suas palavras em seu sentido mais evidente concluirá que “o dia do Senhor virá” (2Pe.3:10, ARC). 2. Os escritores bíblicos falam sobre o assunto tão dominados pela grandeza, glória e natureza culminante do evento para cada pessoa e para toda a criação que muitas vezes referem-se a isso como se fosse o único grande evento por vir. A luz resplandecente do dia de Deus parece excluir tudo mais dos olhos e da mente do profeta. O leitor tem a nítida impressão de que o escritor inspirado considera tudo o que precede o advento como sendo de menor importância, um prólogo para o grande clímax “para o qual se move toda a criação”. Na verdade, muitas vezes, ele pode sentir como se o grande dia estivesse exatamente à sua frente. Essa vívida apresentação do segundo advento começou com Enoque, “o sétimo depois de Adão”, que declarou aos ímpios em sua época: “Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos” (Jd.1:14-15). Não há nada no contexto para sugerir que Enoque entendesse que a vinda do Senhor ocorreria vários milhares de anos mais tarde. Na verdade, ele pode até não ter sabido disso. Foi-lhe revelado que o Senhor viria em juízo, nada mais importava. 3. Os escritores bíblicos enfatizam que o dia do Senhor virá repentinamente, de forma inesperada. As afirmações de Cristo são a melhor exposição disso. Ele disse: “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt.24:42). “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço. Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a Terra. Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem” (Lc.21:34-36). Paulo ecoa as palavras do Senhor: “O Dia do Senhor vem como ladrão de noite” (1Ts.5:2). Pedro escreve de maneira semelhante: “Virá [...] como ladrão, o Dia do Senhor” (2Pe.3:10). Foi esse fato da brevidade e da imprevisibilidade da segunda vinda, juntamente com a certeza do evento que deu à pregação do advento a ênfase de iminência, pelo menos potencialmente. O Senhor não considerou apropriado revelar o “dia e hora” (Mt.24:36) de Sua vinda e pediu a Seus seguidores constante vigilância para que aquele dia não viesse sobre eles como “ladrão”. Diante disso, que mais se deve esperar, senão que os escritores do NT escrevessem sobre o advento com o tom de iminência? Isso não traz nenhuma sombra sobre sua inspiração. Por revelação, e por instrução direta de Cristo, eles sabiam que Ele virá outra vez, que Sua vinda será precedida por tempos tumultuados, que será repentina e inesperada, e que eles e aqueles a quem ministravam deveriam estar em constante vigilância. Mas não lhes foi revelado o “dia e hora”. Assim, com essa única limitação sobre a revelação, eles apresentaram aos crentes a exortação constante e o alerta sobre o dia do Senhor. Fica evidente que, pelo plano de Deus, os profetas não deveriam ter conhecimento acerca de datas objetivas para a segunda vinda de Cristo. O Senhor, antes da ascensão, silenciou os questionamentos dos discípulos quanto ao momento de suas ações futuras, declarando: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela Sua exclusiva autoridade” (At.1:7). 4. Os autores bíblicos não escreveram simplesmente para seu tempo ou para determinada congregação à qual uma carta, por exemplo, seria destinada. Se assim fosse, a relevância das Escrituras teria terminado com a geração que recebeu as mensagens dos autores guiados por Deus. Em vez disso, eles escreveram, sob inspiração e, sem dúvida, às vezes, sem estar conscientes disso, a todas as gerações, até que o Senhor retorne. É verdade que algumas coisas que eles escreveram, sobre a circuncisão por exemplo, tiveram relevância para a geração deles, enquanto outras partes, ao contrário, têm cada vez mais relevância conforme o clímax da história terrestre se aproxima. O fato de os escritores bíblicos terem escrito para exortação, advertência e instrução a todos os que viverem até o segundo advento, lança mais luz sobre a questão das declarações do NT que refletem imediatismo. É verdade que as mensagens, vistas no contexto histórico, são dirigidas a um grupo particular vivendo naquele momento. A maior parte do material das Escrituras é colocada em um contexto histórico de determinadas pessoas e determinados contextos passados. Mas, apesar de uma declaração ser feita a determinados crentes, ela pode se aplicar tanto a eles quanto a seus descendentes espirituais. Quando Cristo enumerou aos discípulos certos eventos-chave que precederiam Sua vinda e que servem como sinais do acontecimento, Ele cobriu um período de cerca de dois milênios. Quando começou a falar da queda de Jerusalém, Ele disse: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo...” (Mt.24:15). O pronome “vós” refere-se aos discípulos, a quem Ele estava falando em nível imediato. Mas Ele continua discutindo a “grande tribulação”, da qual Daniel falou em termos de profecia, a qual cobriria até o século 18, e segue com a exortação: “Então, se alguém vos disser...” (v. Mt.24:23). Então, pode-se dizer que, nesse ponto, Cristo estava alertando os doze discípulos quanto a enganos ameaçadores. Mas todo o contexto leva a entender que Ele falava também, e ainda mais especificamente, a Seus seguidores que viveriam do século 18 em diante. Assim, as Escrituras falam à congregação imediata no tempo do escritor, mas em certos textos elas se referem também, e talvez mais particularmente, a uma geração posterior. Essa compreensão nos protege contra conclusões apressadas sobre a inspiração do escritor quando ele fala dos eventos futuros. Parece evidente que, imediatamente após a ascensão, “os irmãos”, inclusive os apóstolos, pensaram que Cristo poderia voltar em seus dias. “Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo [João] não morreria” (Jo.21:23), mas que viveria para ver a volta do Senhor (cf. At.1:6-7). No entanto, há evidências no NT de que Deus deu luz aos autores inspirados quanto ao tempo que transcorreria até a segunda vinda de Cristo. Em sua primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo escreveu sobre o advento e disse: “nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor” (1Ts.4:15). Mas Paulo desejava que os tessalonicenses concluíssem que o dia do Senhor estava à vista deles? Evidentemente, alguns concluíram assim, e na sua segunda carta ele voltou ao assunto: “Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com Ele, nós vos exortamos a que não vos demovais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor” (2Ts.2:1-2). Em seguida, ele passa a descrever acontecimentos que devem ocorrer antes do advento (v. 2Ts.2:3-12). Um fato importante seria certa “apostasia” (v. 2Ts.2:3). Mas tal “apostasia”, Paulo explica em outro texto, se daria sobretudo depois de sua morte (At.20:28-30; 2Tm.4:6-8). Tendo delineado para eles alguns acontecimentos que precederiam o advento, ele os exorta à firmeza e constância (2Ts.2:15-17). Em sua cela da morte, Paulo escreveu a seu filho espiritual Timóteo: “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm.2:2). É claro que Paulo estava instruindo Timóteo de que haveria algum tempo pela frente antes que Cristo viesse. Parece, portanto, que quando usou “nós” (1Ts.4:15), Paulo não estava se incluindo, mas falando daqueles cristãos que estariam vivos nos últimos dias. O “nós” indicaria que ele pertencia à congregação ininterrupta de fiéis ao longo dos séculos. Pedro escreveu: “Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações” (1Pe.4:7). Será que essas palavras se aplicam à congregação imediata a quem ele escreveu? A resposta parece ser negativa, pois ele diz em sua segunda epístola, escrita não se sabe quanto tempo após a primeira: “Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2Pe.3:2-4). É mais razoável supor que essas palavras de Pedro sugerem que ele estava ansioso por algum evento futuro que produziria certo tipo de escarnecedores. Ao discutir a segunda vinda, Pedro convida os crentes a se recordarem “das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas”. Antes, nessa mesma epístola, ele declarou: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração” (2Pe.1:19). Fica claro que Pedro ensinou que algum período de tempo devia transcorrer antes do segundo advento. Os crentes deviam seguir a luz profética “até que o dia clareie”. Semelhantemente, Paulo declarou aos Tessalonicenses: “Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa” (1Ts.5:1-4). Esse apelo dos apóstolos aos escritos dos profetas repercute as palavras de Cristo a respeito do que “o profeta Daniel” havia escrito dos eventos futuros: “quem lê, entenda” (Mt.24:15). 5. Nesse cenário de exortação aos fiéis para guiar os passos pela luz da profecia, deve-se reconhecer que a Bíblia contém certas profecias sobre a vinda do Senhor, as quais tratam de grandes períodos de tempo e que permitem saber quando o advento estaria “próximo, às portas” (Mt.24:33). Trata-se particularmente dos livros de Daniel e do Apocalipse. Na sabedoria de Deus, na melhor das hipóteses, esses livros foram pouco entendidos nos primeiros séculos da era cristã. De fato, algumas das profecias de Daniel deveriam ser “encerradas e seladas até ao tempo do fim” (Dn.12:9). Em grande parte, elas eram destinadas para o tempo do fim, quando seriam compreendidas. Hoje a luz brilha das páginas de Daniel e do livro do Apocalipse. Suas profecias de tempo permitem conhecer, de uma forma que não era possível antes, “os tempos e as épocas” proféticos (1Ts.5:1). Decorridos os grandes períodos proféticos, as profecias apocalípticas permitem concluir que o fim de todas as coisas, de fato, está próximo. Com a convicção dessas profecias cumpridas, tendo chegado o tempo do fim, é que se pode justificar a proclamação com a certeza da mensagem sobre a proximidade do dia de Deus. |
Rm.14:1 | 1. Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Acolhei. Do gr. proslambano, “tomar a si mesmo”. Os que são “débeis na fé”, no entanto, devem ser recebidos na comunhão cristã como irmãos, porque Cristo assim os recebeu e acolheu (Rm.15:7). Débil na fé. Ou seja, aquele que tem compreensão limitada dos princípios da justiça. Ele está ansioso para ser salvo e está disposto a fazer tudo o que crê que lhe é exigido. Mas, na imaturidade de sua experiência cristã (ver Hb.5:11-6:2) e, provavelmente, também como resultado da antiga educação e crença, ele tenta tornar certa sua salvação pela observância de regras e regulamentos que, na realidade, não lhe são obrigatórios. Para ele, essas normas assumem grande importância. Ele as considera obrigatórias para a salvação e se sente angustiado e confuso quando vê outros cristãos, especialmente aqueles que parecem ser mais experientes, não compartilharem de suas ideias. As declarações de Paulo em Romanos 14 foram interpretadas de várias maneiras, e têm sido usadas por alguns: (1) para depreciar a alimentação vegetariana, (2) para abolir a distinção entre carnes limpas e imundas e (3) para remover toda distinção entre dias, abolindo, assim, o sábado do sétimo dia. No entanto, Paulo não está fazendo nenhuma dessas três distinções. Isso se torna evidente quando se estuda este capítulo à luz de certos problemas religiosos e afins que perturbavam alguns dos cristãos do primeiro século. Paulo menciona diversos problemas que podem causar mal-entendidos entre os irmãos, como alimentação (v. Rm.14:2) e observância de dias (v. Rm.14:5-6). Em 1Co.8, o problema do irmão amadurecido versus o débil, no que se refere à alimentação, também é mencionado. A epístola aos Coríntios foi escrita menos de um ano antes da carta aos Romanos. Parece razoável concluir que, em 1 Coríntios 8 e Romanos 14, Paulo esteja lidando com o mesmo problema. Em Coríntios, o problema é identificado como a ingestão de alimentos sacrificados aos ídolos. De acordo com os antigos costumes, os sacerdotes pagãos praticavam um extenso comércio dos sacrifícios de animais oferecidos aos ídolos. Paulo disse aos conversos, tanto do judaísmo como do paganismo, em Corinto que, na medida em que os ídolos não eram nada, também nada havia de errado, em si, em comer alimentos dedicados a eles. No entanto, ele explica que, devido à experiência prévia, treinamento e diferenças de discernimento espiritual, nem todos tinham esse “conhecimento” e podiam não sentir a consciência livre para consumir esses alimentos (ver com. de 1Co.8). Assim, Paulo exortou os que não tinham problemas quanto a esses alimentos a que não colocassem uma pedra de tropeço no caminho de um irmão mediante o consumo dos mesmos (Rm.14:13). Sua admoestação, portanto, está em harmonia com a decisão do concilio de Jerusalém e, sem dúvida, lança luz sobre pelo menos uma das razões pelas quais o concilio tomou essa posição sobre o assunto (ver com. de At.15). Por receio de escandalizar outros, alguns cristãos se abstinham de alimentos cárneos, o que significa que sua alimentação era restrita a “legumes”, isto é, vegetais (cf. Rm.14:2). Paulo não trata de alimentos prejudiciais à saúde. Ele não afirma que o cristão amadurecido na fé pode comer qualquer coisa, independentemente do efeito sobre seu bem-estar físico. Ele já havia deixado claro (Rm.12:1) que o verdadeiro crente fará com que seu corpo seja conservado santo e agradável a Deus como um sacrifício vivo. Aquele que é maduro na fé considera um ato de adoração espiritual o manter a boa saúde (Rm.12:1; 1Co.10:31). Outro fato que lança luz sobre a questão é que, à primeira vista, muitos cristãos judeus compreendiam apenas vagamente que a lei cerimonial tinha sido cumprida em Cristo (ver com. de Cl.2:14-16) e que, a partir de então, já nâo era obrigatória. Na verdade, os primeiros cristãos não foram chamados a cessar abruptamente a participação nas festas judaicas anuais, nem a repudiar de uma só vez todos os rituais cerimoniais. Os judeus deveriam observar sete sábados cerimoniais anuais. O próprio Paulo participou de uma série de festas depois de sua conversão (At.18:21). Embora houvesse ensinado que a circuncisão não era nada (1Co.7:19), ele providenciou para que Timóteo fosse circuncidado (At.16:3) e concordou em cumprir um voto de acordo com as determinações do antigo código (At.21:20-27). Em face das circunstâncias, parecia melhor que as práticas da lei cerimonial judaica desaparecessem gradualmente, conforme a mente e a consciência fossem iluminadas. Assim, era inevitável que entre os cristãos judeus surgissem dúvidas sobre a conveniência de observar certos “dias” e feriados judeus, em conexão com suas festas anuais (ver Lv.23:1-44; ver com. de Cl.2:14-17). Diante desses fatos, torna-se evidente que Paulo, em Romanos 14, não deprecia a alimentação de “legumes” (vegetais), nem rejeita a milenar distinção bíblica entre carnes limpas e imundas, nem exclui o sábado do sétimo dia da lei moral (ver com. de Rm.3:31). Portanto, quem alega isso enxerga nos argumentos de Paulo algo que ele não defende. De fato, Paulo não ensina nem mesmo sugere a abolição do sábado do sétimo dia. Isso tem sido reconhecido por comentaristas como Jamieson, Fausset e Brown, em seu comentário sobre Rm.14:5-6: “A partir desta passagem sobre a observância de dias, Alford infelizmente conclui que essa linguagem não poderia ter sido usada se a lei do sábado estivesse em vigor sob o evangelho, sob qualquer forma. Certamente não poderia, se o sábado fosse meramente um dos dias das festividades judaicas; mas não é apropriado considerar assim apenas porque era observado sob o regime mosaico. E, certamente, considerando que o sábado era mais antigo que o judaísmo; que, mesmo sob o judaísmo, era consagrado entre as santidades eternas do decálogo, proferidas, como não foi nenhuma outra parte do judaísmo, entre os terrores do Sinai; e que o próprio Legislador disse, quando esteve na Terra: “O Filho do homem é senhor também do sábado” (Mc.2:28) - será difícil demonstrar que o apóstolo queria dizer que devia ser classificado por seus leitores entre aqueles dias festivos judaicos que desapareceriam, e que só os “débeis” poderiam imaginar que estava em vigor, fraqueza que aqueles que tinham mais luz deveriam tolerar, só por amor.” Em Rm.14:1-15:14, Paulo exorta os cristãos amadurecidos a levar em conta os problemas de seus irmãos débeis. Em Romanos 12 e 13, ele mostra que a fonte da unidade e da paz na igreja é o genuíno amor cristão. Esse mesmo amor e respeito mútuos assegurarão harmonia contínua entre o corpo de crentes, a despeito das opiniões divergentes e das restrições em matéria de religião. Discutir opiniões. Ou, “disputas sobre opiniões”. Os crentes “débeis” são bem-vindos à comunhão, mas não com a finalidade de criar controvérsias. Os irmãos amadurecidos não são chamados a resolver ou julgar os critérios de quem seria débil na fé. |
Rm.14:2 | 2. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; Crê. Ou, “tem fé” (ver com. de Rm.3:3). O raciocínio de Paulo é que a fé mantida por um lhe permite comer coisas que a fé mantida por outro não lhe permite. Legumes. Do gr. lachana, “vegetais” (ver com. do v. Rm.14:1). Paulo não discute a conveniência de comer certos alimentos ou abster-se deles, mas ordena paciência e tolerância nesses assuntos. “O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (v. Rm.14:17). O amadurecido na fé vai “[seguir] as coisas da paz” (v. Rm.14:19) e vai tomar cuidado para que, por seus costumes de comer, beber ou qualquer outra prática pessoal, não destrua a obra de Deus (v. Rm.14:20) e aqueles pelos quais Cristo morreu (v. Rm.14:15). |
Rm.14:3 | 3. quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Despreze. Do gr. exoutheneo, literalmente, “jogar fora como não sendo nada”, portanto, “olhar para baixo”, “tratar com desprezo”. Os que tinham mais fé, naturalmente, seriam inclinados a olhar com desdém sobre a estreiteza dos “débeis na fé” (v. Rm.14:1), no que diz respeito aos alimentos. Isso, naturalmente, revelaria que a fé dos supostamente amadurecidos ainda era deficiente, pois a pura fé atua pelo amor (Gl.5:6). Julgue. A censura é muitas vezes uma característica daqueles cuja experiência religiosa se fundamenta em grande parte no cumprimento de exigências exteriores. As duas partes estão erradas; ambas revelam orgulho espiritual, em vez de amor cristão. Deus o acolheu. Ou seja, o irmão amadurecido, que não tem critérios em comer de tudo (v. Rm.14:2). A argumentação de Paulo é que o crente que se abstém não deve condenar, por sua liberdade, aquele a quem Deus aceitou e recebeu em Sua igreja nessa liberdade (ver 1Co.10:29; Gl.5:13). Se Deus perdoou pecados desse crente e o aceitou como Seu filho, e uma vez que sua vida, em outros aspectos, revela a presença do Espírito Santo, toda essa crítica está fora de lugar. Acolheu. Do gr. proslambano, “tomar a si mesmo”. Esta é a palavra traduzida por “acolher”, no v. Rm.14:1. O cristão deve “acolher” seu irmão, assim como Deus o acolheu (Rm.15:7). |
Rm.14:4 | 4. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Tu que julgas. Paulo se dirige ao irmão débil, uma vez que “julgas” corresponde ao “julgue” do v. Rm.14:3. Servo alheio. Ou, “servo de outro”, neste caso, de Deus ou de Cristo, dependendo se “Deus” ou “Senhor” é aceito como o sujeito da última parte do versículo (cf. v. Rm.14:8-9). A palavra grega usada aqui para “servo” (oiketes) é rara no NT, ocorrendo poucas vezes (Lc.16:13; At.10:7; 1Pe.2:18). Ela dá o sentido de um “empregado doméstico”, diferente de um escravo comum, pois mantém uma conexão mais estreita com a família. O crente “débil” (Rm.14:1) condena um dos servos de Deus, alguém que é responsável diante de Deus, e não diante do conservo que o critica. Está em pé. Alguns entendem que isto significa firmeza moral e espiritual (cf. 1Co.16:13; Fp.1:27); outros, que significa absolvição ou aprovação aos olhos de Deus (cf. SI.1:5). Cai. Em contraste com “está em pé”. Alguns consideram esta uma falha moral e espiritual (cf. Rm.11:11; Rm.11:22); outros, como condenação ou desaprovação no juízo. Os dois termos são utilizados no primeiro desses dois sentidos, em 1Co.10:12: “Aquele [...] que pensa estar em pé veja que não caia.” Suster. Literalmente, “fazer ficar em pé”. Apesar das críticas de seu irmão censurador, o crente que, pela fé, exerce sua liberdade cristã nos assuntos em questão será fortalecido e apoiado por seu Mestre. Aquele cuja fé é “fraca” (v. Rm.14:1) pode até temer que o irmão amadurecido esteja em grande perigo por não compartilhar seus critérios. Mas Paulo sugere que, qualquer que seja o perigo, o Mestre, que chamou o servo para a liberdade (Gl.5:13), tem poder para preservá-lo dos perigos que a liberdade envolve, perigos esses que o irmão “débil” (v. Rm.14:1) procura evitar por outros meios. Alguns, entretanto, interpretam que esta frase se refere à absolvição no juízo. Deus (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “o Senhor” ou “o Mestre”, mantendo a ideia do mestre e seu servo, introduzida na primeira parte deste versículo. |
Rm.14:5 | 5. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente. Julga. Do gr. krino, “julgar”, “avaliar”, “aprovar”. Paulo discute então a observância de dias especiais, outra causa de discórdia e confusão entre os crentes (ver com. do v. Rm.14:1; comparar com questão semelhante nas igrejas da Galácia [Gl.4:10-11] e de Colossos [Cl.2:16-17]). Os crentes cuja fé os capacita a abandonar imediatamente todos os feriados cerimoniais não devem desprezar os outros cuja fé é menos experiente. Nem, por sua vez, estes últimos podem criticar os que lhes parecem liberais. Cada crente é responsável por si diante de Deus (Rm.14:10-12). E o que Deus espera de cada um de Seus servos é que “esteja inteiramente convicto em sua própria mente” e siga conscientemente as próprias convicções, de acordo com a luz que recebeu. Entre os seguidores de Cristo não deve haver força nem compulsão. É o espírito de amor e tolerância que deve prevalecer. Os amadurecidos na fé devem “suportar as debilidades dos fracos” (Rm.15:1), assim como Cristo tomou sobre Si as fraquezas de todos. Não há espaço para a crítica daqueles cujos pontos de vista e práticas podem ser diferentes, ou desprezo para com os que ainda são “crianças” (Hb.5:13). Opinião bem definida. Ou, “plenamente convencido” (ver com. de Rm.4:21). Paulo não sugere que os cristãos não discutam assuntos sobre os quais pode haver discordância. Ao contrário, ele insiste que os crentes cheguem a conclusões claras e definidas. Mas, ao mesmo tempo, devem fazê-lo com amor por aqueles de opiniões diferentes. Não se deve privar a ninguém da liberdade de ter a própria posição quanto ao dever pessoal (comparar com DTN, 550; Ed, 17). |
Rm.14:6 | 6. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. Quem distingue. As quatro ocorrências da palavra neste versículo são do gr. phroneo, que aqui significa “observar”, “estimar”. O termo é também traduzido por “mente”, “pôr as afeições sobre” (Fp.3:19; Cl.3:2). Para o Senhor. O motivo de ambas as partes é o mesmo, seja na observância, seja na negligência de um dia, no uso ou na abstinência de alimentos. O irmão mais amadurecido dá graças a Deus por “todas as coisas” (v. Rm.14:2) e participa de seu alimento para a glória de Deus (cf. 1Co.10:31). Seu irmão débil dá graças a Deus por aquilo que come, e para a glória de Deus, abstém-se de alimentos que possam ter sido sacrificados aos ídolos (ver com. de Rm.14:1). Não faz (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da frase: “o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz”, o que fazem a maioria das versões. O significado fica inalterado, pois a frase repete, de forma negativa, o pensamento da frase anterior. |
Rm.14:7 | 7. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Vive para si. Paulo expande então como uma regra geral da vida o pensamento sugerido pela frase “para o Senhor”, no v. Rm.14:6. Não é só na questão dos alimentos e dos dias especiais que o cristão faz tudo “para o Senhor”. É seu objetivo não viver “para si mesmo”, para o próprio prazer e de acordo com os próprios desejos, mas “para o Senhor”, para Sua glória e de acordo com Sua vontade (ver 2Co.5:14-15). Toda a vida cristã pertence ao Senhor (Rm.14:8) e, no devido tempo, o cristão dará conta de si mesmo a Deus (v. Rm.14:12). Portanto, o cristão deve viver como alguém que vai “[comparecer] perante o tribunal de Deus” (v. Rm.14:10). As palavras deste versículo têm sido muitas vezes aplicadas à influência que as pessoas exercem sobre seus semelhantes. Deve ser lembrado, porém, que este não é o sentido principal, como o contexto deixa evidente. Paulo enfatiza o pensamento de que tudo o que o cristão faz, ele o faz com referência ao Senhor. |
Rm.14:8 | 8. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Somos do Senhor. Ou seja, pertencemos a Cristo, pois Ele é o “Senhor tanto de mortos como de vivos” (v. Rm.14:9). Os débeis e os amadurecidos na fé, igualmente na vida ou na morte, são responsáveis perante o Senhor, pois são propriedade adquirida para Ele (At.20:28; 1Co.6:20; Ef.1:14). Que direito alguém tem de julgar quem pertence a Cristo? |
Rm.14:9 | 9. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Para esse fim. Ou seja, a fim de que Cristo Se torne Senhor de mortos e dos vivos. Ressurgiu (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “morreu e reviveu”. Mediante Sua morte, Cristo adquiriu um povo. Mediante Sua ressurreição, Ele liberta os que comprou (ver com. de Rm.4:25). Depois de Sua morte e ressurreição, Cristo foi entronizado à destra do Pai, e o domínio universal Lhe foi entregue (ver Mc.14:62; Mc.16:19; Ef.1:20-22; Fp.2:8-11; Hb.1:3). Para ser Senhor. Do gr. kurieuo, “governar”, “tornar-se senhor de”. De mortos como de vivos. A inversão da ordem habitual destas palavras talvez seja devida à ordem das palavras sobre Cristo, na primeira parte da frase. Mesmo na morte, o cristão pertence a Cristo, porque, quando morre, adormece “em Jesus” (1Ts.4:14; Ap.14:13). “Os mortos em Cristo ressuscitarão” e, então, “estaremos para sempre com o Senhor” (1Ts.4:16-17). Nem mesmo os que rejeitam a Cristo podem escapar da responsabilidade perante Ele pela morte. Pois todos os mortos ressuscitarão, seja “para a ressurreição da vida”, seja “para a ressurreição do juízo” (Jo.5:29; Ap.20:12-13). Naquele dia, “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm.14:12). Este versículo é usado por alguns para defender que a alma é imortal e que a morte só transfere o crente de uma esfera de serviço consciente para outra. A interpretação está fora de sintonia com o restante das Escrituras. A questão da natureza da alma deve ser determinada com base em outras passagens que tratam da condição da alma na morte, assunto que Paulo não trata aqui (ver Jó.14:21; Ec.9:5; Jo.11:11). |
Rm.14:10 | 10. Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Por que julgas [...]? A primeira parte deste versículo tem ênfase no grego: “Mas tu, por que julgas teu irmão?” Ou, “por que tu desprezas teu irmão?” O que julga o irmão é o que “come legumes”, e o que despreza é o que conscientemente acredita que “pode comer de todas as coisas” (v. Rm.14:2). Todos compareceremos. No texto grego, a palavra “todos” está enfatizada. Todos, débeis e experientes, estarão diante do tribunal divino. Considerando que todos os crentes são igualmente súditos e servos de Deus, e que todos devem comparecer perante o mesmo tribunal, eles não têm o direito de julgar uns aos outros. Esse julgamento usurpa uma prerrogativa de Deus (Rm.14:10; 2Co.5:10). De Cristo (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “de Deus”. A redação “de Cristo” pode ter vindo da passagem paralela (2Co.5:10). Deus, o Pai, vai julgar o mundo por meio de Cristo (cf. Rm.2:16; At.17:31). |
Rm.14:11 | 11. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Está escrito. Citação de Is.45:23, com algumas variações em relação ao hebraico. Todo joelho. Estas palavras enfatizam o caráter universal do juízo final. Dará louvores. Do gr. exomologeo, “reconhecer”, “louvar”. Este último significado é comum na LXX (ver 1Cr.29:13). Em Lc.10:21, a palavra é traduzida como “graças”. No entanto, o significado alternativo “confessar” ou “reconhecer” também é possível (cf. Tg.5:16: “confessai [...] os vossos pecados”). Ambos os significados podem ser adequados ao contexto de Rm.14:11. Na citação original de Isaías, o juramento de homenagem expresso pela palavra “jurar” (cf. Js.23:7; 2Cr.15:14; Is.19:18) assinala a apresentação de todos ao Senhor e o reconhecimento solene de Sua soberania. |
Rm.14:12 | 12. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus. Assim. A ordem das palavras deste versículo, no grego, atribui ênfase à responsabilidade de cada crente: “Assim, pois, cada um de nós de si mesmo dará contas a Deus.” Contas. Do gr. logos (ver com. de Rm.9:28). Em questões de consciência, cada um é pessoalmente responsável diante de Deus. |
Rm.14:13 | 13. Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Não nos julguemos. Esta é a segunda razão pela qual os crentes não devem criticar uns aos outros. Paulo dá essa razão com um trocadilho. Nesta frase, ele usa a palavra “julgar” no sentido de “decidir”, “determinar” (ver 1Co.2:2; 2Co.2:1; Tt.3:12). Se é que deve haver algum julgamento, que não seja a crítica dos outros, mas a determinação de não provocar a queda de um irmão. A primeira razão de Paulo para não julgar é que as pessoas são responsáveis, não a si mesmas, mas a Deus, que é senhor e juiz. A segunda razão é sua regra, repetida muitas vezes, do amor cristão. Os crentes amadurecidos na fé, por amor, terão consideração pelos sentimentos e pela consciência de seus irmãos débeis, e terão cuidado para evitar ofendê-los ou confundi-los. Embora seja verdade que, em matéria de consciência, ninguém é responsável perante o outro, todos os cristãos são responsáveis pelo bem-estar mútuo. Apesar de o cristão ser livre para abandonar todos os critérios legalistas do passado, o amor ao próximo lhe proíbe de usar essa liberdade, se isso puder prejudicar um irmão “débil na fé” (Rm.14:1). |
Rm.14:14 | 14. Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura. Eu sei. Paulo expressa a própria convicção pessoal, esclarecida pelo Espírito, sobre a liberdade do cristão e o direito de rejeitar certos critérios que outros alimentam (cf. 1Co.8:4). Por essa afirmação enfática, ele mostra que a consideração pelos débeis (Rm.14:1) deve se basear em amor e não no reconhecimento de que esses critérios são justificáveis. No Senhor Jesus. A convicção de Paulo brota de demorada comunhão com Cristo e da iluminação do Espírito (comparar com Rm.9:1). Nenhuma coisa. Isto é, neste contexto, os alimentos de que Paulo tratou (ver com. do v. Rm.14:1). A expressão “nenhuma coisa” não deve ser entendida em sentido absoluto. Frequentemente, as palavras transmitem mais de um sentido, portanto, a definição particular, em cada caso, deve ser determinada pelo contexto. Por exemplo, quando Paulo disse: “todas as coisas me são lícitas” (1Co.6:12), sua declaração, se isolada do contexto, seria a declaração de um libertino. O contexto, que é de uma advertência contra a imoralidade, proíbe imediatamente essa dedução (ver com. ali). Da mesma forma, em Ex.16:4, a expressão “diariamente” pode ser interpretada no sentido de todos os dias da semana. No entanto, o contexto mostra que o sábado estava excluído. De si mesma. Os alimentos dos quais o “débil” (v. Rm.14:1) se abstém de comer, mas que o irmão amadurecido aceita, não são os tipos de alimentos que são impuros em sua própria natureza, mas devem sua mancha aos escrúpulos da consciência (ver com. do v. Rm.14:23). Paulo não dissipa todas as distinções entre alimentos. A interpretação deve ser limitada aos alimentos específicos em discussão e ao problema específico com o qual o apóstolo lida, ou seja, o tratamento simpático daqueles cuja consciência parcialmente iluminada impede que façam uso de determinados alimentos. Impura. Do gr. koinos, literalmente, “comum”. Este termo era usado para descrever as coisas que, apesar de “comuns” para o mundo, eram proibidas aos judeus (ver com. de Mc.7:2). Para esse fim é impura. A impureza não se encontra na natureza dos alimentos, mas na visão que o crente tem deles. O cristão “débil” (v. Rm.14:1) crê que não deve comer alimentos oferecidos aos ídolos, por exemplo, e faz com que seja uma questão de consciência a abstinência desses alimentos. Enquanto mantém essa convicção, tal prática seria um erro para ele. Ele pode estar errado, pelo julgamento de outro ponto de vista, mas não seria adequado que ele agisse em violação do que ele conscientemente supõe que Deus requeira (v. Rm.14:23). |
Rm.14:15 | 15. Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu. Mas (ARC). Ou, “pois”, aparentemente ligando este versículo ao argumento anterior. Comida. Do gr. broma, termo geral para “alimento”. Entristece. O irmão débil é ofendido e tem a consciência perturbada ao ver os crentes mais experientes entregando-se ao que ele considera pecaminoso. Essa dor pode resultar em destruição, pois ele pode se afastar da fé, o que estaria associado a práticas que considera pecaminosas, ou pode ser levado pelo exemplo dos amadurecidos a concordar com atitudes que lhe parecem pecaminosas (ver 1Co.8:10-12). Andas. Ou, vives, comportas (cf. com. de Rm.13:13). Não [...] segundo o amor. Literalmente, “não de acordo com o amor” (comparar com Rm.13). Não faças perecer. Seja o que for que influencie alguém a violar a consciência, isso pode resultar na destruição de sua fé. A consciência, uma vez violada, fica enfraquecida. Uma violação pode levar a outra até que a fé seja destruída. Portanto, o cristão que, por condescendência egoísta, mesmo sobre algo que considera perfeitamente adequado, exerce influência tão destruidora, é culpado da perda de uma pessoa pela qual Cristo morreu (cf. 1Co.8). Por causa da tua comida. Literalmente, “por tua comida” (ver com. de Mc.7:19). Cristo morreu. Ele deu a vida para salvar os débeis (v. Rm.14:1), e seus irmãos não devem destruí-los por questão de indulgência sobre certos alimentos. Em comparação com o que Cristo fez, o sacrifício pedido é insignificante. Ele deu Sua vida. Certamente, os cristãos amadurecidos na fé estarão dispostos a renunciar ao prazer de alguma comida ou bebida favorita em favor dos débeis. |
Rm.14:16 | 16. Não seja, pois, vituperado o vosso bem. Seja [...] vituperado. Do gr. blasphemeo, “blasfemar” (ver Rm.3:8; 1Co.10:30). Os amadurecidos não devem permitir que o uso egoísta da liberdade dê ocasião para que os “débeis na fé” (Rm.14:1) condenem algo que para eles é uma coisa boa. Devem cuidar de não dar motivos para que outros os censurem pelos danos que sua conduta pessoal tenha provocado a algum irmão muito criterioso (ver com. de 1Co.8:7-13). Vosso bem. Isto provavelmente se refere à fé dos mais experientes, que têm mais conhecimento e liberdade (ver 1Co.8:9-11; 1Co.10:30). |
Rm.14:17 | 17. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. O reino de Deus. Esta expressão, isolada, pode se referir tanto ao futuro reino da glória (cf. 1Co.6:9-10) como ao presente reino da graça (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:2-3). Obviamente, este último é o significado pretendido aqui. A essência do reino de Deus não está em coisas exteriores, mas na graça interior da vida espiritual. Comida nem bebida. Ou, “comer e beber”. Estas questões são insignificantes, quando comparadas com o que, na verdade, constitui o reino de Deus. Presumivelmente, o cristão cuja fé é amadurecida estará ciente da natureza espiritual do reino de Deus. Na verdade, o conhecimento dessa verdade vital é parte do “bem” mencionado no v. Rm.14:16. Certamente, então, esse conhecimento deverá impedi-lo de lutar contra o irmão débil ou de destruí-lo com questões irrelevantes. Justiça. Ou seja. uma forma justa de viver, agir corretamente (cf. Rm.6:19; Ef.4:24). Paz. Inclui não só a reconciliação com Deus (Rm.5:1), mas também a harmonia e o amor na igreja (cf. Rm.14:19; Ef.4:3; Cl.3:14-15). Alegria no Espírito Santo. Esta é a condição dos que “vivem no Espírito” (Gl.5:25; Rm.15:13; Gl.5:22; 1Ts.1:6). Os amadurecidos na fé entendem que o reino de Deus consiste em graças espirituais como estas, e não em coisas materiais como comida e bebida. Assim, no que diz respeito à liberdade cristã no comer e beber, eles preferem restringir a própria liberdade a permitir que o exercício dela destrua a paz da igreja (Rm.14:13). Não querem que o irmão débil seja levado a fazer o que, para ele, seria injusto (v. Rm.14:14), ou que tire dele a alegria no Espírito por ofender a própria consciência (v. Rm.14:15). |
Rm.14:18 | 18. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Deste modo. Evidências textuais (cf p. xvi) apoiam a tradução “nisto” (ARC). O crente que age com amor conquista a boa vontade de seu irmão, em lugar de colocar uma pedra de tropeço em seu caminho. Aprovado. Do gr. dokimos, “testado”, “capaz de resistir ao teste da inspeção e da crítica” (ver uso do termo em 1Co.11:19; 2Co.10:18; 2Tm.2:15). |
Rm.14:19 | 19. Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros. Seguimos. O versículo diz, literalmente: “Então, busquemos as coisas da paz e as coisas que nos edifiquem mutuamente” (cf. 1Ts.5:11; ver também 1Co.14:26). |
Rm.14:20 | 20. Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. Destruas. Do gr. kataluo, literalmente, “derrubar”. A palavra é usada para descrever a demolição de algo que foi construído. Portanto, dá-se sequência aqui à figura iniciada com o termo “edificação”, literalmente, “construção”, no v. Rm.14:19. Pela mera questão de comida, os cristãos não podem lutar contra Deus, derrubando e destruindo a obra de Deus. Comparar com 1Co.3:9; Ef.2:10. Comida. Do gr. broma, alimentos em geral. Limpas. Ver v. Rm.14:14; cf. 1Co.10:23. Com escândalo. Isto pode se referir tanto ao irmão amadurecido que, aproveitando-se da própria liberdade, ofende o “débil”, ou ao “débil” (v. Rm.14:1) que, pelo exemplo do amadurecido, é encorajado a comer o que sua consciência não permite (ver 1Co.8:10). A maioria dos comentaristas prefere a primeira interpretação. Se isso estiver correto, Paulo estaria dizendo que “é errado a pessoa ser uma pedra de tropeço para os outros por causa do que come”. |
Rm.14:21 | 21. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. É bom. O cristão amadurecido deve estar disposto a abrir mão de sua liberdade nessas questões relativamente insignificantes, em vez de ofender o irmão débil (cf. 1Co.8:13). Carne. Do gr. krea, “alimentos cárneos”. A palavra ocorre somente aqui e em 1Co.8:13. Em Rm.14:15; Rm.14:20, é usado broma, termo para alimentos em geral. Vinho. Evidentemente, a carne e o vinho eram os principais objetos de escândalos religiosos para os “débeis”, provavelmente porque era usados pelos pagãos nos sacrifícios aos ídolos. Nem fazer qualquer outra coisa. As palavras “qualquer outra coisa”, embora supridas, estão implícitas no texto grego. Paulo acrescenta esta advertência geral para esclarecer qualquer atividade que, embora legítima em si mesma, possa perturbar ou confundir o crente que ainda não está convencido de que tais ações sejam divinamente permitidas. O cristão que planeja determinada atitude deve perguntar não só se tal coisa é correta, mas também se isso afetará ou não o próximo. Tropeçar. Do gr. proskopto, “bater contra”, “tropeçar”, “ir contra”, metaforicamente, “ofender-se”. Ofender. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da frase “ou se ofender ou se enfraquecer”. No entanto, essas ideias estão implícitas em “tropeçar”. Se enfraquecer. Literalmente, “ser fraco”, o que significa que o crente mais experiente deve cuidar em todos os assuntos sobre os quais a consciência de seu irmão débil possa ser afetada. |
Rm.14:22 | 22. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Tens tu fé? (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante: “A fé que tens” (ARA). O pronome “tu” é enfático no grego. “Fé”, neste contexto, é fé para “comer de todas as coisas” (v. Rm.14:2). Tem-na para ti mesmo. Esta fé não deve ser exercida abertamente para escandalizar (v. 1) o “débil”, mas deve ser mantida entre si mesmo e Deus. Bem-aventurado. Do gr. makarios (ver com. de Mt.5:3). Esta é a felicidade de uma consciência clara e confiante. Aprova. Do gr. dokimazo (ver com. de Rm.12:2). |
Rm.14:23 | 23. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado. Tem dúvidas. Ou, “debate dentro de si mesmo”. Isto se compara à pessoa de coração dividido (Tg.1:6; Mt.21:21; Mc.11:23; Rm.4:20). É condenado. Do gr. katakrino, “condenar”. Aquele que come, apesar das dúvidas de sua consciência, é condenado. Fé. Aqui, referindo-se à convicção do certo e errado, resultando na determinação de fazer o que acredita ser a vontade de Deus. Paulo afirma aqui que, se o cristão não age por convicção pessoal de que o que faz é certo, mas, em vez disso, segue o juízo de outros, sua ação é pecaminosa. Não se deve violar a própria consciência. Mas ela pode requerer treinamento. Pode sinalizar que certas coisas sejam erradas, quando de fato podem não ser. Assim, até que seja convencido pela Palavra e pelo Espírito de Deus de que determinada atitude é boa, o crente não deve seguir a consciência por si só. Não deve fazer dos outros o critério para sua conduta; deve ir às Escrituras e aprender por si mesmo seu dever sobre o assunto (ver T2, 119-124). |
Rm.15:1 | 1. Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Nós, que somos fortes. Literalmente, “mas os fortes”. A palavra traduzida como “fortes” significa “poder” ou “poderoso”, e descreve os espiritualmente amadurecidos. Esses crentes estão firmes e devem ajudar os outros a ficar firmes. Suportar. Do gr. bastazo, “acolher” ou “levantar”. A palavra é usada muitas vezes no sentido de “suportar”, “aturar com paciência”, como é possivelmente o caso aqui (ver Mt.20:12, “suportamos”; Ap.2:2). Debilidades. Ou, “fraquezas”, “falhas”, aqui especificamente os atos que revelam debilidade na fé, como critérios desnecessários ou julgamentos errôneos. Os amadurecidos são capazes e, de fato, devem tolerá-los com paciência. Agradar-nos a nós mesmos. Em vez de insistir nos próprios direitos e desejos, o cristão deve estar disposto a subordiná-los ao bem-estar dos irmãos, mesmo quando estes pareçam débeis (ver 1Co.9:19; 1Co.9:22; 1Co.10:24; 1Co.10:33; 1Co.13:5; 1Co.13:7; Fp.2:4). |
Rm.15:2 | 2. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. Próximo. Provavelmente, com a intenção de um termo mais amplo do que “débil” (v. Rm.15:1), incluindo também os amadurecidos. Para edificação. Ou seja, para beneficiar o próximo e ajudá-lo em seu crescimento espiritual. Paulo não quer dizer que os mais experientes devem agradar os débeis por concordar com suas opiniões e práticas, nem condescender com o que eles acham que seja bom. |
Rm.15:3 | 3. Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim. Não Se agradou a Si mesmo. Paulo ilustra e reforça o dever de sacrificar o próprio prazer para o bem dos irmãos, referindo-se ao exemplo supremo de amor abnegado. Cristo Se dispôs a abrir mão até mesmo da glória celestial pelo bem da humanidade caída, e espera que haja correspondente abnegação e sacrifício por parte dos que Ele veio salvar e abençoar (ver T5, 204). Certamente, Seus servos (Rm.14:4) não devem se considerar exaltados demais para não seguir o exemplo do Mestre (ver Fp.2:5-8; 1Pe.2:21). Como está escrito. Uma citação de SI.69:9 (ver com. ali). |
Rm.15:4 | 4. Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Foi escrito para o nosso ensino. Ou, “para nossa instrução” (cf. 1Co.10:11; 2Tm.3:16). Paulo enfatizou a natureza permanente do AT. Mesmo com a revelação maior em Cristo, o NT, então em processo de produção, o AT mantém seu lugar como fonte segura da moral e da fé. Paciência. Do gr. hupomone, “resistência”, “firmeza” (ver com. de Rm.5:3). Consolação. Do gr. paraklesis, “encorajamento”. Foi para trazer essas bênçãos que “o Deus de paciência e consolação” (v. Rm.15:5) fez com que as Escrituras fossem escritas. Das Escrituras. Ou, “que as Escrituras trazem”, ou “derivadas das Escrituras”. De acordo com a construção grega, é possível que estas palavras devam ser conectadas unicamente a “consolação”. Esperança. As Escrituras inspiram esperança naqueles que suportam o sofrimento por amor a Deus e para o bem de seus semelhantes. A resistência que o cristão está habilitado a exercer e o conforto que recebe na aflição confirmam e fortalecem a esperança (sobre a relação entre paciência e esperança, ver Rm.5:3-5; 1Ts.1:3). |
Rm.15:5 | 5. Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, O Deus da paciência. Comparar com as expressões: “o Deus da esperança” (v. Rm.15:13), “o Deus da paz” (Rm.15:33; Fp.4:9; 1Ts.5:23; Hb.13:20), “o Deus de toda consolação” (2Co.1:3), “o Deus de toda graça” (1Pe.5:10). O mesmo sentir. Literalmente, “pensar a mesma coisa” (ver com. de Rm.12:16). Paulo não ora pela uniformidade de opinião, mas por um espírito de unidade e harmonia, apesar das diferenças de opinião. Segundo Cristo Jesus. A simples unidade ou unanimidade não é o que Paulo deseja para os irmãos, mas um espírito de unidade representado pelo modelo perfeito dAquele cujo objetivo era fazer, não a própria vontade, mas a vontade dAquele que O enviou (Jo.6:38). A mente ou a atitude de Cristo deve ser a de todo seguidor dEle (Fp.2:5). |
Rm.15:6 | 6. para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Concordemente. Do gr. homothumadon, “de comum acordo”, “por unanimidade”. Esta unidade era característica da igreja apostólica (At.1:14; At.2:46). Uma voz. A unidade de mente e de coração resulta em harmonia de louvor e adoração. |
Rm.15:7 | 7. Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus. Acolhei-vos. Ou, “recebei” (cf. Rm.14:1). Esta é uma conclusão geral para o raciocínio do início do cap. 14. Os crentes devem reconhecer uns aos outros como cristãos e tratar uns aos outros como tais, mesmo tendo opiniões diferentes sobre questões diversas. Se Cristo esteve disposto a nos receber, com todas as nossas fraquezas (Lc.5:32; Lc.15:2), devemos certamente estar prontos a nos acolher mutuamente. Uns aos outros. Paulo dirige este apelo aos amadurecidos e aos débeis. Nos. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “vos”. Para a glória de Deus. Estas palavras podem se referir gramaticalmente à recepção dos pecadores por Cristo ou à aceitação mútua entre os crentes. Qualquer das duas coisas promove a glória de Deus. |
Rm.15:8 | 8. Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; Foi constituído. Literalmente, “tornou-se”. Ministro. Do gr. diakonos, “servo” (ver com. de Rm.13:4). Da circuncisão. Literalmente, “de circuncisão”. Alguns entendem que esta declaração significa que Jesus foi um “ministro da circuncisão”, no sentido de ser ministro da aliança da qual a circuncisão era um sinal. Outros interpretam que a passagem significa que Cristo veio para ministrar “àqueles que foram circuncidados”, os judeus (sobre esse significado de “circuncisão”, ver Rm.3:30; Rm.4:12; Gl.2:7; Ef.2:11). Cristo veio em primeiro lugar para ministrar à “casa de Israel” (Mt.15:24). O propósito de Paulo, em Rm.15:7-12, é enfatizar a universalidade da graça de Deus em Cristo, como demonstrado em relação aos judeus e gentios. Cristo Se dispôs a submeter-Se a tudo que fosse necessário a fim de resgatar as criaturas caídas, onde estivessem. Portanto, os cristãos, sejam judeus ou gentios, amadurecidos ou débeis, devem estar dispostos a se acolherem mutuamente, assim como Cristo os acolheu (v. Rm.15:7), a ser mutuamente considerados, apesar das fraquezas e falhas (v. Rm.15:1), e a se empenhar para a edificação da igreja (v. Rm.15:2). |
Rm.15:9 | 9. e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome. Para que os gentios. Esta construção grega oferece dificuldades de interpretação. Provavelmente, o sentido seja de que Cristo Se tornou “ministro da circuncisão” a fim de confirmar as promessas e para que os gentios glorificassem a Deus. A manifestação que Cristo faz da veracidade de Deus, por cumprir as promessas feitas a Israel, também é a base da misericórdia de Deus aos gentios. Ele foi “ministro da circuncisão”, a fim de que não só judeus, mas também gentios fossem salvos. Portanto, os cristãos judeus devem estar dispostos a acolher os gentios convertidos e a tratá-los como irmãos. Da mesma forma, os cristãos gentios devem ser atenciosos para com os crentes judeus, entendendo que a misericórdia de Deus lhes sobreveio porque os judeus foram rejeitados como nação (ver com. de Rm.11:15). Como está escrito. Citação do Sl.18:49. Os v. Rm.15:9-12 mostram que, desde o princípio, o plano salvífico de Deus incluía judeus e gentios. Cantarei louvores. Do gr. exomologeo, com o significado de “louvar” (ver com. de Rm.14:11). |
Rm.15:10 | 10. E também diz: Alegrai-vos, ó gentios, com o seu povo. Alegrai-vos, ó gentios. Uma citação de Dt.32:43 (sobre o propósito da citação, ver com. de Rm.15:9). |
Rm.15:11 | 11. E ainda: Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem. Louvai ao Senhor. Uma citação do Sl.117:1 (sobre o propósito da citação, ver com. de Rm.15:9). |
Rm.15:12 | 12. Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão. Isaías diz: Uma citação de Is.11:10 (ver com. a li). A raiz. Neste caso, “o rebento que brota da raiz” (cf. Ap.5:5; Ap.22:16). Este versículo mostra que o Messias dos judeus seria o desejo e a esperança dos gentios. Governar. Como rei dos reinos da graça e da glória (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:3). Esperarão. Sobre a relação da esperança com a salvação, ver com. de Rm.8:24. |
Rm.15:13 | 13. E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo. Esperança. Do gr. elpis, “confiar”, de elpizo, “esperança”. A denominação “da esperança” é sugerida pela frase de encerramento do v. 12: “nEle os gentios esperarão”. No vosso crer. Paulo ora para que a fé proporcione aos crentes uma vida cheia de alegria, paz e esperança, como resultado da verdadeira fé e da presença do Espírito Santo (cf. Rm.5:1-2; Gl.5:22). Quando esses frutos do Espírito forem cultivados, haverá amor e harmonia entre os crentes. Judeus e gentios, amadurecidos e débeis, todos viverão juntos na alegria e na paz, na esperança comum de partilhar da glória de Deus (Rm.5:2). |
Rm.15:14 | 14. E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Certo estou. Ou seja, “estou convencido sobre vós”. Eu mesmo. Paulo conclui a argumentação da epístola com uma explicação sobre os motivos de escrever aos crentes em Roma (v. Rm.15:15-22), uma declaração sobre seus planos futuros (v. Rm.15:23-33) e a sua saudação pessoal comum (Rm.16). Rm.15:14-33 corresponde à introdução em Rm.1:8-15. Bondade. Comparar com Gl.5:22; Ef.5:9. Todo o conhecimento. Particularmente, o conhecimento da verdade espiritual, como o possuído pelos amadurecidos na fé (cf. 1Co.8:1; 1Co.8:7; 1Co.8:10-11). Antes, Paulo já havia advertido os coríntios de que “o saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1Co.8:1). Felizmente, os cristãos romanos tinham a combinação desejável de “bondade” e “conhecimento”. Aptos para vos admoestardes. Ou, “qualificados também para exortar”, “competentes também para aconselhar”. |
Rm.15:15 | 15. Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus, Em parte. Cf. Rm.11:25. Isto é, em algumas partes da epístola. Paulo parece falar com mais ousadia do que a convicção da “bondade” e do “conhecimento” (Rm.15:14) de seus leitores parece fazer necessário. Trazer [...] à memória. Do gr. epanamimnesko, “chamar de volta à mente”, “refrescar a memória”. Este verbo não ocorre em nenhum outro texto do NT. Paulo procurou relembrar aos cristãos romanos as verdades fundamentais do evangelho. Graça. Ou seja, a graça de seu ministério indicado como apóstolo (ver com. de Rm.1:5; Rm.12:3). |
Rm.15:16 | 16. para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo. Ministro. Do gr. leitourgos (ver com. de Rm.13:6). Entre os gentios. Ver com. de At.9:15. No sagrado encargo. Literalmente, “ministrando como sacerdote”. A palavra não ocorre em nenhum outro texto no NT. Oferta. Do gr. prosphora, literalmente, “algo trazido a”, ou seja, ao altar; por isso, “uma oferta” (At.21:26; Ef.5:2). Paulo se representa como um sacerdote ministrando. A pregação do evangelho é sua função sacerdotal. Os crentes gentios, purificados e consagrados a Deus pelo Espírito Santo, são o sacrifício. Essa oferta é “aceitável” a Deus (cf. 1Pe.2:5). Espírito Santo. Ver com. de Jo.14:26. Somente as ofertas santificadas pelo Espírito Santo (ver com. de Rm.8:9) são aceitáveis a Deus. |
Rm.15:17 | 17. Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. Gloriar-me. A glória de Paulo não estava em si mesmo, mas “em Cristo Jesus". Ele reconhece que não tinha nada de que se gloriar (Rm.3:27), mas que, como ministro do evangelho, havia feito todas as coisas em Cristo e por meio dEle (2Co.10:17; Fp.4:13). No entanto, continua a descrever o sucesso de seu trabalho, especialmente entre os gentios. Seu propósito ao mencioná- los, bem como seu motivo para se referir à sua vocação como apóstolo (Rm.15:15-16), parece ser o de justificar a autoridade que ele exerce sobre os membros da igreja de Roma, escrevendo-lhes a carta. Concernentes. Comparar com Hb.2:17; Hb.5:1, em que o contexto mostra que a expressão “as coisas concernentes a Deus” descreve os deveres de um sacerdote diante de Deus. Paulo limita sua glória a seu ministério como sacerdote do evangelho, serviço que ele considera como apresentar uma oferta ao Senhor. |
Rm.15:18 | 18. Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, Não ousarei. Paulo não se aventura a falar de nada a não ser daquilo que Cristo realizou por meio dele. O apóstolo limita a enumeração de seus êxitos apenas àquilo com que ele próprio estava diretamente relacionado, ou seja, o êxito apostólico, devido a Cristo. Deus usou outros agentes, além de Paulo, mas ele não pretende falar das coisas realizadas por outros. Obediência. Uma “obediência da fé” (Rm.16:26; ver com. de Rm.1:5). Por palavras e por obras. Ou seja, por discurso e ação, mediante a pregação e a vida (cf. Lc.24:19; At.1:1; At.7:22; 2Co.10:11). Estas palavras qualificam o verbo “fez” e se referem à pregação do evangelho por parte de Paulo e a tudo o que ele tinha sido habilitado a fazer e sofrer em seu ministério. |
Rm.15:19 | 19. por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo, Por força de sinais e prodígios. Literalmente, “em poder de sinais e prodígios” operados pelo “poder do Espírito de Deus”. “Sinais e prodígios” é uma frase comum no NT para descrever os milagres cristãos (ver 2Co.12:12; Hb.2:4). As duas palavras têm significados semelhantes. Os “sinais” (semeia) enfatizam a importância dos milagres como meio de revelar e confirmar a verdade espiritual. Os “prodígios” (terata) expressam o efeito dos milagres sobre as testemunhas como manifestações de poder sobrenatural (cf. vol. 5, p. 204). A expressão “por força de sinais e prodígios” fala do poder que os sinais têm para convencer, e os prodígios, para intimidar. Em outros textos, Paulo se refere aos milagres como “credenciais do apostolado” (2Co.12:12; At.14:3; At.15:12; At.19:11). Espírito Santo. Os trabalhos de Paulo como apóstolo evidenciam a origem divina de seu chamado (Rm.1:1). Circunvizinhanças. O significado desta expressão não é claro. Alguns têm entendido que os “arredores” (ARC) se referem às regiões ao redor de Jerusalém. Outros interpretam que a frase descreve a extensão dos esforços missionários de Paulo a partir de Jerusalém até os “arredores”, como o Ilírico. Ilírico. A província romana situada ao norte da Macedônia, no mar Adriático. Essa área marcou os limites das viagens de Paulo, a oeste, pelo menos na época em que escrevia esta epístola. O registro bíblico não menciona se Paulo entrou neste território ou se simplesmente trabalhou até seus limites. Divulgado. Literalmente, “preenchido”. Paulo tinha coberto todo o território entre os pontos nomeados. Ele não tinha a pretensão de ter pregado em todas as cidades dessas regiões, mas estabeleceu igrejas em todos os principais centros, a partir das quais o evangelho pudesse ser levado às regiões adjacentes. O trabalho pioneiro tinha sido concluído. |
Rm.15:20 | 20. esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio; Esforçando-me. Do gr. philotimeomai, “esforçar-se ansiosamente”. É traduzido como “esforçar-se” (2Co.5:9) e “diligenciar” (1Ts.4:11). Anunciado. Paulo evitava pregar em lugares em que as pessoas já tivessem sido ensinadas a crer em Cristo e invocar Seu nome em confissão pública e adoração. Fundamento alheio. Comparar com 1Co.3:10; 2Co.10:15-16. Paulo considerava sua vocação e dever realizar trabalho pioneiro. |
Rm.15:21 | 21. antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito. Como está escrito. Citação de Is.52:15. Paulo defende sua prática de pregar onde o nome de Cristo era desconhecido, observando que o procedimento cumpria as profecias do AT. |
Rm.15:22 | 22. Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos. Essa foi a razão. Até esse tempo, o apóstolo tinha sido impedido de visitar Roma por causa do desejo de completar a pregação do evangelho nas regiões por onde tinha viajado. Finalmente, ele se sentia livre então para fazer a viagem a Roma, já que não mais tinha “campo de atividade nestas regiões” (v. Rm.15:23). Muitas vezes. Do gr. ta polla, que pode significar “há muito”. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a variante pollakis, “com frequência”. Certamente, Paulo teve muitas vezes a intenção, ou, talvez, a oportunidade, de ir a Roma (Rm.1:13), mas as exigências do trabalho e os problemas demorados como os que encontrava o haviam impedido. |
Rm.15:23 | 23. Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, Campo de atividade. Do gr. topos, aqui significando “espaço”, “oportunidade”, “extensão” (comparar com o uso do termo, em Rm.12:19; Ef.4:27; Hb.12:17). Regiões. Do gr. klimata. Paulo sentia não haver mais oportunidade naquela parte do mundo para o tipo de trabalho a que tinha sido nomeado. Desejando há muito. Do gr. epipothia, “anseio” (comparar com o uso do verbo relacionado, epipotheo, em Rm.1:11; Fp.1:8; 1Ts.3:6; 2Tm.4:1; 1Pe.2:2). |
Rm.15:24 | 24. penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia. Espanha. Não há evidências conclusivas, bíblicas ou históricas, de que Paulo tenha conseguido chegar à Espanha (ver p. 88, 89). Estarei convosco. Evidências textuais (cf. p. xvi) recomendam a omissão desta frase. O trecho fica incompleto, mas preserva o sentido. A mesma intenção é expressa no v. Rm.15:28. Seja por vós encaminhado. Paulo esperava que os cristãos romanos fizessem tudo que podiam para fazer prosperar sua viagem à Espanha. Talvez ele sentisse que poderia receber deles o mesmo carinho e apoio de outras igrejas que haviam enviado companheiros para sua jornada (ver At.15:3; At.21:5; 1Co.16:6; 1Co.16:11; 2Co.1:16; Tt.3:13; 3Jo.6). Essa demonstração de hospitalidade é comum no Oriente. Desfrutado um pouco a vossa companhia. A frase diz, literalmente: “Se de vós primeiramente em certa medida eu puder ser preenchido”. Paulo desejava a companhia dos cristãos romanos, mas apenas por pouco tempo, a fim de se apressar para a Espanha. |
Rm.15:25 | 25. Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. Estou de partida para Jerusalém. Apesar de seu desejo de ver os crentes de Roma, Paulo sentia ser seu dever primeiramente ir na direção oposta, a fim de levar assistência aos membros mais pobres de Jerusalém. Essa viagem a Jerusalém e a viagem prevista para Roma são mencionadas em At.19:21. Ele cumpriu seus planos de retornar a Jerusalém; isso está registrado em sua defesa perante Félix (At.24:17). Santos. Ver com. de Rm.1:7. |
Rm.15:26 | 26. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém. Macedônia. Primeira região do trabalho de Paulo na Europa (ver com. de At.16:9-10). Uma de suas principais cidades foi Filipos. Acaía. Incluía o Peloponeso e parte da Grécia continental (ver mapa, p. 19). A capital era Corinto, onde estava localizada a principal igreja da região. Coleta. Do gr. koinonia, literalmente, “comunhão”, “irmandade”. O uso deste termo sugere a ideia da partilha e da comunhão representada pela oferta (sobre como a oferta foi coletada, ver 1Co.16:1-4; 2Co.8:1-6; 2Co.9:1-2; 2Co.9:4-7; At.24:17). Pobres dentre os santos. Nem todos os membros da igreja de Jerusalém eram pobres, mas havia muitos pobres entre eles (ver At.4:32-5:4; At.6:1; At.11:29-30; Gl.2:10; Tg.2:2). |
Rm.15:27 | 27. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais. São devedores. A congregação de Jerusalém era a igreja-mãe a partir da qual o evangelho e as bênçãos espirituais foram comunicados aos gentios. Bens materiais. Do gr. sarkikos, “carnais”. Denota aqui as coisas que dizem respeito á vida física, como alimentos e roupas (sobre este sentido de “carnal”, ver 1Co.9:11). Em retribuição aos grandes dons espirituais que os gentios haviam recebido dos santos de Jerusalém, certamente eles deveriam “servi-los com bens materiais”. |
Rm.15:28 | 28. Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado este fruto, passando por vós, irei à Espanha. Concluído isto. Ou seja, entregar a contribuição aos santos de Jerusalém (ver com. do v. Rm.15:25). Consignado. Do gr. sphragizo, “certificar-se”, “garantir”. O sentido, de acordo com a utilização ilustrada nos papiros, deve ser de que tivessem sido tomadas todas as medidas adequadas no que diz respeito à contribuição. Paulo fala de sua preocupação de que a contribuição fosse tratada de forma livre de qualquer suspeita (2Co.8:14-23). A Espanha. Ver com. do v. Rm.15:24. |
Rm.15:29 | 29. E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção de Cristo. Bem sei. Do gr. oida, “conhecer”. Plenitude da bênção. Isto é, a bênção completa. Do evangelho (ARC). Evidências textuais (ver p. xvi) apoiam a omissão desta frase. Sem ela, a passagem diz: “na plenitude da bênção de Cristo”. Mas a “bênção” é o evangelho. A intenção de Paulo de visitar Roma finalmente se cumpriu, mas não da maneira que ele esperava (At.28:16). No entanto, a julgar pelo relato de Filipenses (Fp.1:12-20), seu ministério em Roma foi, de fato, “na plenitude da bênção de Cristo”. |
Rm.15:30 | 30. Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, Por nosso Senhor. A frase pode ser traduzida como: “por [ou, a] nosso Senhor Jesus Cristo”. Amor do Espírito. Ou seja, o amor que o Espírito inspira. Luteis juntamente. Do gr. sunagonizomai, literalmente, “agonizar com”. O termo implica esforço extenuante; aqui, indica seriedade na oração (cf. Lc.22:44). Mesmo sendo cheio dos dons de um apóstolo, Paulo ainda precisava e pedia as orações de outros crentes (ver 2Co.1:11; Ef.6:18-19; Cl.4:3; 1Ts.5:25; 2Ts.3:1-2). |
Rm.15:31 | 31. para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem-aceito pelos santos; Rebeldes. Ou, “desobedientes” (cf. Rm.11:30). Com razão, Paulo estava apreensivo quanto a possibilidade de hostilidade por parte de judeus incrédulos em Jerusalém (ver At.21:30-31). Meu serviço. Ou seja, a oferta que ele planejava entregar (ver com. do v. Rm.15:25-26). Seja bem aceito. Isto sugere que Paulo tinha dúvidas se a oferta seria recebida com gratidão. Paulo havia, sem dúvida, ofendido os judaizantes na igreja de Jerusalém por causa da atitude deles em relação ao ritual judaico e à questão da admissão dos gentios (ver At.21:20-24). Por isso, eles poderiam achar que era impossível aceitar cordialmente uma oferta daqueles que por tanto tempo eles estavam acostumados a desprezar. |
Rm.15:32 | 32. a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco. Com alegria. Comparar com 1Co.4:21; 2Co.2:1. A maneira como Paulo seria recebido em Jerusalém teria influência sobre o fato de ele chegar à cidade de Roma “com alegria”. Pela vontade de Deus. Aqui é enfatizada a necessidade de sempre se submeter à vontade de Deus. De fato, ele chegou a Roma, mas não “com alegria”, nem para “recrear-se”, pelo menos não da forma esperada (At.27-28). Recrear-me. Ou, “encontrar descanso”. Evidentemente, Paulo ansiava por um período de descanso e paz em uma comunidade amigável de fiéis, como a igreja de Roma parece ter sido. |
Rm.15:33 | 33. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém! O Deus da paz. O título é especialmente oportuno, tendo em vista o que Paulo havia mencionado nos v. Rm.15:31-32. A bênção da paz mencionada na abertura da carta ocorre novamente perto do fim (ver com. de Rm.1:7). Amém. Do gr. amen, aqui, “verdadeiramente”, “fielmente” (ver com. de Mt.5:18). |
Rm.16:1 | 1. Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencreia, Febe. O nome significa “radiante” ou “brilhante”. Nada se sabe sobre ela, além do que é dito aqui. Ela pode ter sido a portadora da epístola de Paulo. Nossa irmã. Isto é, em sentido espiritual. Era uma companheira cristã. Servindo. Do gr. diakonos, “diaconisa”, a única ocorrência da palavra no NT, no feminino. O uso deste termo sugere que o cargo de “diaconisa” já devia estar estabelecido na igreja cristã primitiva. Pelo menos, Febe era, em algum sentido, uma serva ou ministra da congregação de Cencreia. Cencreia. Porto oriental de Corinto, localizado a cerca de sete quilômetros da cidade. |
Rm.16:2 | 2. para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive. Como convém aos santos. Isto é, de um modo digno dos santos. Ajudeis. Do gr. paristemi, literalmente, “estar ao lado”. Tanto esta palavra como aquela traduzida como “questão“ (pragma; cf. 1Co.6:1) são termos usados em processos judiciais. É possível que Febe tivesse assuntos jurídicos em Roma, e que os membros da igreja de lá pudessem ser de alguma ajuda para ela. Como alguém que havia “hospedado a muitos”, é evidente que ela não precisa de assistência devido a pobreza. Protetora. Do gr. prostatis, “ajudadora”, “protetora”. A palavra ocorre somente aqui no NT. Febe pode ter sido uma mulher em posição de ajudar os irmãos crentes, não só financeiramente, como também política e socialmente. |
Rm.16:3 | 3. Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, Saudai. Do gr. aspazomai. A mesma palavra também é traduzida como “saúda”, neste capítulo. Priscila. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a variante “Prisca”, da qual Priscila” é a forma diminutiva. Áquila, seu marido, era um judeu de Ponto. Quando os judeus foram expulsos de Roma, por Cláudio, Priscila e Áquila chegaram a Corinto, onde Paulo os encontrou, e onde eles foram convertidos (At.18:1-3). Mais tarde, eles se mudaram para Éfeso (At.18:18-19; At.18:26; 1Co.16:19). No momento da redação desta epístola, estavam de volta a Roma, mas depois, aparentemente, voltaram para Éfeso (2Tm.4:19). Cooperadores. Do gr. sunergoi, “colegas de trabalho”. |
Rm.16:4 | 4. os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios; Sua própria cabeça. Numa ocasião desconhecida, Priscila e Áquila haviam arriscado a vida por Paulo, talvez durante o ataque dos judeus em Corinto (At.18:6-18) ou ainda no tumulto em Éfeso (At.19). Igrejas dos gentios. Estas seriam especialmente gratas, tendo em vista os trabalhos de Paulo entre elas. |
Rm.16:5 | 5. saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo. Na casa deles. Os primeiros cristãos, não tendo igrejas, dependiam, para locais de reunião, da hospitalidade dos irmãos que punham suas casas à disposição (cf. At.12:12; 1Co.16:19; Cl.4:15; Fm.2). Os crentes de Roma podem ter tido vários desses pontos de encontro (Rm.16:14-15). Epêneto. O nome significa “louvável”. Nada se sabe sobre ele, a não ser pelo que é mencionado aqui. Acáia (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “Ásia” (ARA). Se for “Acáia”, a declaração parece entrar em conflito com 1Co.16:15. Portanto, sem dúvida, Epêneto foi um dos primeiros conversos, as “primícias”, conquistados na província da Ásia. |
Rm.16:6 | 6. Saudai Maria, que muito trabalhou por vós. Maria. Provavelmente não seja nenhuma outra Maria mencionada no NT. Por nós (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “por vós” (ARA). |
Rm.16:7 | 7. Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em Cristo antes de mim. Andrônico. O nome significa “homem vencedor”. Júnias. Este pode ser um nome de homem ou de mulher. Parentes. Do gr. suggeneis, aqui, provavelmente, significa “compatriotas”, (Rm.9:3). Companheiros de prisão. Literalmente, “companheiros cativos”. Andrônico e Júnias podem ter sido presos com Paulo durante uma de suas várias prisões (ver 2Co.11:23), embora esta não seja a única interpretação da passagem. Eles podem simplesmente ter estado presos, em algum momento, como Paulo, por causa do evangelho. Notáveis. Do gr. episemoi. Literalmente, “tendo uma marca”, “selados”, portanto, “ilustres”. Entre os apóstolos. O significado pode ser que eles eram bem conhecidos pelos apóstolos, ou que eles próprios eram ilustres apóstolos. Antes de mim. Ou seja, eles haviam aceitado o cristianismo antes da conversão de Paulo. |
Rm.16:8 | 8. Saudai Amplíato, meu dileto amigo no Senhor. Amplias (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “Amplíato” (ARA), do qual “Amplias” é uma forma abreviada. O nome vem do latim e significa “ampliado”. Meu dileto amigo. Certamente, Paulo era pessoalmente familiarizado com ele. |
Rm.16:9 | 9. Saudai Urbano, que é nosso cooperador em Cristo, e também meu amado Estáquis. Urbano. Ou, “Urbanus”, nome latino que significa “educado”. Estáquis. O nome significa “espiga de grãos”. A frase “meu amado” indica que Paulo o conhecia pessoalmente. |
Rm.16:10 | 10. Saudai Apeles, aprovado em Cristo. Saudai os da casa de Aristóbulo. Apeles. Nada mais se sabe dele além de que era “aprovado em Cristo”. Da casa de Aristóbulo. Literalmente, “aqueles de Aristóbulo”, termo que poderia se aplicar apenas a seus escravos. Paulo não deixa claro se Aristóbulo era cristão ou não. Alguns comentaristas consideram que é provável que este Aristóbulo fosse neto de Herodes, o Grande. |
Rm.16:11 | 11. Saudai meu parente Herodião. Saudai os da casa de Narciso, que estão no Senhor. Herodião. Um judeu, como é indicado pela expressão “meu parente” (ver com. do v. Rm.15:7). Narciso. Talvez o infame favorito de Cláudio, condenado à morte depois da ascensão de Nero. Que estão no Senhor. Estas palavras sugerem que os outros da casa não eram cristãos. |
Rm.16:12 | 12. Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalhavam no Senhor. Saudai a estimada Pérside, que também muito trabalhou no Senhor. Trifena e Trifosa. Provavelmente, duas irmãs. Nada mais se sabe sobre elas. Pérside. Nome de uma mulher cristã ativa. Seu nome não ocorre em outros textos do NT. |
Rm.16:13 | 13. Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim. Rufo. Não se pode demonstrar definitivamente se esse Rufo é o mesmo mencionado em Mc.15:21, como o filho de Simão de Cirene. Sua mãe [...] mãe para mim. Ela não era a verdadeira mãe de Paulo. |
Rm.16:14 | 14. Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que se reúnem com eles. Asíncrito. As cinco pessoas mencionadas neste versículo não são identificadas em outros textos, nem é apresentada a razão para seu agrupamento. Os irmãos. Isto se refere, talvez, a outra congregação cristã reunida em algum lugar em Roma (cf. v. Rm.15:5; Rm.15:15). Muitos dos nomes deste capítulo também ocorrem em inscrições relativas aos componentes da casa de César. A coincidência geral dos nomes é importante à luz da menção de Paulo sobre os santos “da casa de César”, (Fp.4:22). |
Rm.16:15 | 15. Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles. Filólogo. Os quatro nomes mencionados aqui não são identificados em outros textos. |
Rm.16:16 | 16. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam. Ósculo santo. Modo habitual de saudação no oriente (ver também 1Co.16:20; 2Co.13:12; cf. com. de Mt.26:48). As igrejas de Cristo. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a variante “todas as igrejas de Cristo”. Esta frase não ocorre em outras passagens do NT. |
Rm.16:17 | 17. Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, Noteis. Do gr. skopeo, “prestar atenção”, “estar atento a”, “ficar de olho”. Paulo interrompe as saudações para advertir os crentes romanos contra falsos mestres que poderiam perturbar sua harmonia e destruir sua fé. O apóstolo havia experimentado os resultados negativos dessas influências na Galácia e em Corinto. Divisões. Do gr. dichostasiai, “dissensões”, “separações” ou “desuniões”. A mesma palavra é traduzida por “divisões” (1Co.3:3) e “dissensões” (Gl.5:20), as únicas outras ocorrências no NT. Escândalos. Do gr. skandala, “tropeços” ou “obstáculos” (ver com. de Mt.5:29). Doutrina. Do gr. didache, “ensino” ou “instrução”, referindo-se aqui às verdades fundamentais do cristianismo. Afastai-vos deles. Comparar com 2Ts.3:14. |
Rm.16:18 | 18. porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. Servem. Do gr. douleuo, “servir como escravo” (ver com. de Rm.1:1; Rm.6:6; Rm.6:18). Seu próprio ventre. Seus motivos são vis e seus objetivos são egoístas (cf. Fp.3:17-19; Cl.2:20-23). Suaves palavras. Do gr. chrestologia, “palavras agradáveis” mesmo sem sinceridade. Lisonjas. Do gr. eulogia, “louvor”, aqui, “discurso lisonjeiro”. Enganam. Do gr. exapatao, “enganar completamente”. Incautos. Do gr. akakoi, “inocente”, “sem dolo”. A palavra ocorre, além daqui, no NT, só em Hb.7:26, em que é traduzida como “inculpável”. |
Rm.16:19 | 19. Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal. Vossa obediência. Até aquele momento, os falsos mestres haviam provocado pouco dano. Paulo expressa confiança na idoneidade dos crentes romanos (Rm.15:14), mas estava ansioso para que eles estivessem atentos. Sábios. Comparar com o conselho de Jesus para ser “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt.10:16). Símplices. Do gr. akeraioi, “sem mistura”, “puro”, “incontaminado”, “inocente”. Esta não é a mesma palavra que ocorre no v. Rm.16:18 (ver com. ali). |
Rm.16:20 | 20. E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. O Deus da paz. A referência a Deus por este título é apropriada, uma vez que Paulo alerta contra influências que põem a paz da igreja em perigo (cf. com. de Rm.15:33). Ele é o “Deus da paz”, que destrói Satanás, o qual procura destruir a paz do povo de Deus. Esmagará. Do gr. suntribo, “esmagar”. Paulo aguarda com expectativa a vitória final predita em Gn.3:15, que não está longe. Esse triunfo sobre as forças do mal é retomado em cada vitória vivida pelos cristãos sobre a tentação e o engano. Paulo pensava na vitória que esperava que os crentes romanos desfrutassem ao “evitar” os falsos mestres que tentariam dividi-los e confundi-los. Graça. Ver com. de Rm.1:7. |
Rm.16:21 | 21. Saúda-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes. Timóteo. Paulo menciona o nome deste que foi um dos primeiros conversos e companheiro de trabalho em todas as outras epístolas, com exceção de Gálatas, Efésios e Tito. No discurso de abertura da epístola aos Romanos (Rm.1:1-7), o nome de Timóteo não está associado ao do apóstolo, como em outras epístolas (ver 2Co.1:1; Fp.1:1; Cl.1:1; 1Ts.1:1; 2Ts.1:1; Fm.1:1). Talvez ele estivesse ausente quando a carta foi iniciada, mas então chegara para juntar-se a Paulo na véspera da sua partida para Jerusalém (ver At.20:1-4). Lúcio. Possivelmente o Lúcio de Cirene, mencionado em At.13:1. Jasom. Talvez o que fora anfitrião de Paulo em Tessalônica (At.17:5-9). Sosípatro. Pode ser o mesmo que Sópatro, de At.20:4. Parentes. Do gr. suggeneis, aqui, “compatriotas” (Rm.9:3). |
Rm.16:22 | 22. Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, vos saúdo no Senhor. Tércio. O secretário de Paulo, a quem o apóstolo então permite que envie uma saudação em seu próprio nome. Geralmente, Paulo parece ter ditado suas cartas a um escriba e acrescentado uma saudação de próprio punho (ver 1Co.16:21; Cl.4:18; 2Ts.3:17; ver com. de Gl.6:11). No Senhor. Isto indica o tipo de assistentes que Paulo empregava. Tércio não era um mero escriba, mas um irmão. Ele deve ter seguido com interesse as instruções de Paulo aos cristãos de Roma. |
Rm.16:23 | 23. Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e de toda a igreja. Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade, e o irmão Quarto. Gaio. Este nome ocorre em outros quatro textos no NT (At.19:29; At.20:4; 1Co.1:14; 3Jo.1). A pessoa mencionada aqui pode ser Gaio, batizado por Paulo em Corinto (1Co.1:14). Ele é chamado de “meu hospedeiro e de toda a igreja”, talvez porque a igreja se reunisse na casa dele. Erasto. Ver At.19:22. Tesoureiro. Do gr. oikonomos, “administrador”, equivalente ao latino aedilis, comissário de ruas e edifícios públicos (ver com. de At.19:22). Irmão. Literalmente, “o irmão”, que significa “nosso irmão” (TB), em sentido cristão. Quarto. Desconhecido de outra maneira. |
Rm.16:24 | 24. [A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!] A graça. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão deste versículo (ver com. de Rm.1:7). |
Rm.16:25 | 25. Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, Ora, Àquele. Paulo conclui a carta aos Romanos com a melhor de todas as suas doxologias (cf. Fp.4:20; Hb.13:20-21). É poderoso. Ou, “é capaz”, como é traduzida a mesma frase grega em Ef.3:20. Para vos confirmar. Do gr. sterizo, “tornar estável”, “reforçar”, “confirmar”, “estabelecer” (cf. Rm.1:11). Segundo o meu evangelho. Comparar com Rm.2:16. O evangelho de Paulo era a mensagem de salvação que lhe fora confiada. A pregação de Jesus Cristo. Isto tanto pode significar “o que Jesus Cristo pregou” como “a pregação sobre Jesus”. A última é a tradução mais simples e adequada ao contexto. Jesus Cristo é o tema do evangelho de Paulo (ver também Rm.1:3; Rm.2:16; Rm.10:8-13; Gl.1:6-8). Mistério. Ver com. de Rm.11:25. Este mistério é o propósito eterno de Deus de salvar Suas criaturas caídas (ver 1Co.2:6-7; Ef.3:3-10; Cl.1:26). Nos tempos eternos, isto é, “em épocas passadas”. “Desde tempos eternos” (ARC) o plano de Deus para salvar a humanidade pela fé em Cristo esteve guardado em silêncio, mas, então, fora revelado. Há evidência textual (cf. p. xvi) para a inserção dos v. 25 a 27, após Rm.14:23 ou Rm.15:33. |
Rm.16:26 | 26. e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações, Agora, se tomou manifesto. Ou seja, desde a vinda de Jesus (ver DTN, 22, 23; cf. 2Tm.1:9-10; Tt.1:2-3). Das Escrituras. Foi por meio destas que o mistério de Deus foi “dado a conhecer a todas as nações”. O plano divino de salvar a humanidade, pela fé em Jesus Cristo, foi previsto no AT e está em plena conformidade com seus ensinamentos (ver Rm.1:1-2; Rm.3:21). Segundo o mandamento. Os mensageiros do evangelho são chamados ao trabalho por ordem de Deus (ver At.13:2; Rm.10:15). Paulo estava convicto de que recebera ordens diretas para pregar aos gentios (Rm.1:1; Rm.1:5). Para a obediência por fé. Ou, “para trazer a obediência da fé”, ou “para ganhá-los à obediência que provém da fé” (ver com. de Rm.1:5). |
Rm.16:27 | 27. ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém! Ao Deus único. Comparar com 1Tm.1:17; Jd.1:25. A sabedoria de Deus foi especialmente exibida no plano que então fora revelado (cf. Rm.11:33-34) e que se tornara objeto desta epístola. Glória. Ver com. de Rm.3:23. |