"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > Lucas |
Lc.1:1 | 1. Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, Visto que. [Prefácio, Lc 1:1-4] Os v. 1 a 4, que constituem o prefácio de Lucas a seu evangelho, estão num esplêndido koinê literário, isto é, a “[linguagem] comum” da fala grega no mundo romano. Esta introdução está de acordo com os melhores modelos da literatura grega. Ela é polida, graciosa e modesta (sobre uma transição de estilo, ver com. do v. Lc.1:5). A semelhança desta introdução com a do livro de Atos (At.1:1-2), unida ao fato de que Atos retoma a narrativa no ponto em que o evangelho de Lucas a deixou (ver Lc.24:50-53), sugere que Lucas pretendia que os dois livros formassem uma história da igreja cristã primitiva em dois volumes. Muitos. Não há como dizer se Lucas inclui Mateus e Marcos em sua referência a “muitos”, embora por várias razões pensa-se que pelo menos Marcos e, possivelmente, Mateus, já tivessem sido escritos (ver p. 165- 167). “Muitos” indica mais de dois e é provável que o termo, neste verso, inclua algumas outras histórias escritas além dos evangelhos. Lucas não poderia ter em mente os evangelhos apócrifos que existem hoje, porque eles não foram escritos senão muitos anos depois. Parece que pelo menos alguns dos escritores anteriores foram “testemunhas oculares” das coisas que eles registraram e podem, portanto, ter pertencido aos doze ou aos setenta (ver com. do v. Lc.1:2). Empreenderam. Do gr. epicheireo, literalmente, “colocar as mãos para”; por isso, “realizar” ou “tentar”. Alguns comentaristas entendem que a declaração de Lucas indica que os escritores a quem ele está se referindo prosseguiram por si mesmos, sem a orientação do Espírito Santo. No entanto, é claro, a partir do uso de epicheireo no papiro, que tal conclusão é injustificável e que Lucas não tece comentários a nenhum dos autores anteriores. Eles tinham boas intenções, e os relatos deles não foram rejeitados como fonte material histórica, embora as pessoas não fossem necessariamente divinamente inspiradas, como aconteceu com Lucas. Ele considera esses escritores numa perspectiva favorável e, de fato, se inclui entre eles, com a expressão “igualmente a mim” (v. Lc.1:3). Narração. Do gr. diegesis, uma “narrativa”. Ela é composta por duas palavras gregas que significam, literalmente, “liderar o caminho através”. Coordenada. Do gr. anatassomai, “compilar”, “arranjar”, “compor”. A ideia de ordem cronológica ou combinação não é necessariamente indicada (comparar com o gr. pathexes; ver com. do v. Lc.1:3). Esses termos podem sugerir que os relatos dos escritores evangélicos anteriores estavam incompletos, mas de modo algum indica que eles eram imprecisos. |
Lc.1:2 | 2. conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, Transmitiram. Do gr. paradidomi, “entregar”, “transmitir” ou “enviar”. Isto é, as “testemunhas oculares e ministros”. O pronome implícito no verbo (eles) também pode se referir aos “muitos” do v. Lc.1:1. Neste versículo, refere-se simplesmente à transmissão de informação de uma geração ou grupo de pessoas para outro(a) (ver 1Co.11:23; 1Co.15:3; 2Tm.2:2). Aqueles que “receberam” a verdade deveriam “transmiti-la” a outros. Paulo e Lucas eram, por assim dizer, a segunda geração de cristãos, e “receberam” o que eles passaram a outros. Os que. Em outras palavras, aqueles que “transmitiram” as narrativas eram as “testemunhas oculares”, e não aqueles que as receberam. Desde o princípio. Isto é, do início do ministério público de Jesus, embora algumas das “testemunhas oculares” também podem ter conseguido relatar circunstâncias ligadas à infância de João Batista e de Jesus. Testemunhas oculares. Do gr. autoptai, “aqueles que veem com seus próprios olhos”. João se referiu a si mesmo como uma testemunha ocular (Jo.1:14; Jo.21:24; 1Jo.1:1-2). Todos os doze, os setenta discípulos e as mulheres que acompanharam e ministraram a Jesus e Seus discípulos foram testemunhas oculares, mais ou menos, “desde o início”. Em contraste, Lucas, Paulo e Timóteo podiam ser chamados “testemunhas auditivas”, porque o conhecimento deles acerca da vida e do ministério de Jesus era derivado de outros. Essa aparente desvantagem, no entanto, de forma alguma diminui o valor do testemunho deles, porque receberam a informação por meio de testemunhas oculares e por meio de revelação divina (1Co.15:3-7; Gl.1:11-12). A modéstia manifestada neste versículo por Lucas é um excelente testemunho em favor da confiabilidade e validade do evangelho que leva seu nome. Ele foi cuidadoso ao afirmar a verdade exata e não estabeleceu nenhuma pretensão de ser uma “testemunha ocular”, como seria de se esperar de um falsário. O próprio Lucas declara que sua própria compreensão dos fatos a respeito da vida e do ministério de Cristo se originou dos relatos das testemunhas oculares. Assim, parece que o papel do Espírito Santo, no caso de Lucas, não era tanto transmitir a informação original como garantir a exatidão do que ele registrou do testemunho de outros. Lucas foi um historiador que partiu em busca das fontes originais, mas ele foi muito mais que isso, pois atuou como um historiador inspirado por Deus (2Tm.3:16; 2Pe.1:21). Fica claro, a partir da experiência de Lucas, que o processo de inspiração funciona de um modo consistente com a operação natural das faculdades mentais e não à parte delas [para uma análise mais aprofundada, ver vol. 9, p. 26-66]. Trata-se de um escritor inspirado que foi dirigido pelo Espírito Santo para empreender um estudo diligente das fontes materiais escritas e orais disponíveis sobre a vida de Cristo e, então, combiná-las numa narrativa conectada à informação assim reunida (para consideração adicional sobre como o Espírito Santo guia o instrumento humano na utilização dos documentos históricos existentes, ver Francis D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics, p. 413-422). |
Lc.1:3 | 3. igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, A mim me pareceu bem. Pareceu apropriado a Lucas compor um relato autêntico, acurado e completo da vida de Cristo, talvez tendo em mente registrar alguns eventos que pudessem ter sido omitidos em registros anteriores, escritos por “muitos” (ver com. do v. Lc.1:1). Essas palavras revelam o modo em que pelo menos alguns dos escritores bíblicos foram dirigidos por Deus para preparar o registro inspirado. A impressão transmitida à mente de Lucas pelo Espírito Santo fez que lhe parecesse apropriado e desejável uma determinada maneira de atuar. No registro do concílio de Jerusalém, em que foi considerada a admissão dos gentios na igreja cristã, Lucas cita os apóstolos, dizendo que estes haviam escrito aos crentes de Antioquia o que lhes parecia bem (ver At.15:25). Os irmãos se aconselharam mutuamente, mas suas deliberações foram guiadas pelo Espírito Santo, e eles explicaram confiantemente que “pareceu bom ao Espírito Santo e a nós” (v. At.15:28). Assim ocorreu com Lucas: o Espírito Santo o impeliu a escrever. No entanto, quando ele escreveu, foi de vontade própria, guiado por Deus (sobre o modo pelo qual o Espírito Santo guiou os vários escritores bíblicos, ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre 2Pe.1:21). Depois de acurada investigação. Literalmente, “tendo buscado acuradamente”. A segunda razão de Lucas para escrever foi o desejo de transmitir a outros os benefícios que obteve por meio do estudo da vida e dos ensinos de Jesus. Aparentemente, Lucas começou pelo início e investigou tudo. Ele mostra sua narrativa evangélica como uma apresentação sistemática e acurada da história de Jesus. Essas são características da verdadeira erudição. Enquanto Mateus enfatiza os ensinos de Jesus, e Marcos, os incidentes de Sua vida ministerial, Lucas combina os dois elementos de modo mais completo e sistemático que o dos outros evangelistas. A declaração de Lucas a respeito de sua “acurada investigação” não é vã presunção; 43 das 179 seções da narrativa sinótica ocorrem apenas em seu evangelho (ver p. 178-180). Desde sua origem. Isto é, da vida de Jesus. Como um explorador, Lucas traçou o fluxo dos eventos desde o início e seguiu o fluxo bem de perto por todo o seu curso. Consequentemente, ele apresenta as circunstâncias que cercaram o nascimento e a infância de Jesus com mais detalhes que os outros evangelistas. Apenas Lucas registra cinco dos seis eventos antes do nascimento de Jesus (ver p. 184-186). Excelentíssimo. Pronome de tratamento usado com frequência com relação a oficiais do alto governo, comparável ao atual “sua excelência”. O mesmo termo é usado para se referir aos procuradores romanos da Judeia (At.23:26; At.24:3; At.26:25). É notável encontrar um homem, aparentemente um alto funcionário, aceitando o cristianismo nesse período inicial. Teófilo. Literalmente, “amigo de Deus”. Há pouca evidência para apoiar a explicação popular de que o nome Teófilo não representava uma pessoa, mas um nome geral usado por Lucas para os cristãos. Além disso, o título “excelentíssimo” parece indicar uma pessoa real. Teófilo foi, possivelmente, um converso gentio, como indica seu nome grego. Em ordem. Do gr. kathexes, “um após outro” ou “consecutivamente” (ver com. do v. Lc.1:1). O evangelho de Mateus consiste, em grande parte, dos discursos de Jesus arranjados em tópicos, enquanto Marcos lida com os eventos da vida de Jesus, agrupando-os de acordo com o tipo. O arranjo geral de Mateus e Marcos é cronológico, mas a sequência cronológica não é o principal objetivo deles. Eles rearranjaram a ordem de vários incidentes em harmonia com o propósito de cada evangelho. Lucas, por outro lado, segue uma ordem cronológica bastante rigorosa. Mateus e Marcos não atentaram a esse critério (ver p. 178-180). |
Lc.1:4 | 4. para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído. Conheças (ARC). Do gr. epiginosko, “conhecer completamente”. Isto é, Teófilo conheceria mais do que já sabia sobre as “verdades” nas quais ele havia sido “instruído”. Certeza. Do gr. asphaleia, que não falhará, de duas palavras sphallo, “cambalear”, “cair”, e o prefixo a, “não”. Há “certeza” quanto aos fatos da fé cristã e aquele que crê neles estará firme e seguro contra o erro. Foste instruído. Do gr. katecheo, “instruir” ou “ensinar oralmente”; literalmente, “parecer sobre”. Katecheo é a origem da palavra portuguesa “catequese”. É traduzida como “informado” (At.21:21) e “instruído” (At.18:25; Cl.6:6). Esta palavra pode indicar que Teófilo tinha, até aquele momento, recebido apenas instrução oral, como a que precedia o batismo. É possível que ele fosse um dos conversos de Lucas, alguém a quem Lucas “catequizou”. Ou pode ser que Lucas escreveu para refutar informações falsas contra o cristianismo. |
Lc.1:5 | 5. Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel. Nos dias. [Zacarias e Isabel, Lc.1:5-7. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. A datação pelos anos de reinado era muito comum na literatura grega. Ao iniciar sua narrativa, Lucas deixa o estilo literário koine dos v. Lc.1:1-4, com sua linguagem elegante, e se volta para um estilo hebraico na forma, que faz lembrar narrativas do AT, como a do nascimento de Samuel. Na verdade, Lc.1:5-2:52 talvez sejam os mais “hebraicos” de todos os escritos de Lucas. Revelam as marcas características de Lucas como autor. Diferentemente de outros evangelistas, Lucas relata detalhes de natureza íntima. Ele informa, por exemplo, que Maria “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração” (Lc.2:19). Em vista disso e pelo fato de que outros escritores dos evangelhos tiveram pouco a dizer sobre esses aspectos, é possível que a informação registrada neste versículo possa não ter sido de conhecimento geral entre os cristãos dos primeiros anos da igreja apostólica. Visto que Lucas se refere a muitas fontes de informação orais e escritas (ver com. dos v. Lc.1:1-3), alguns sugerem que ele pode ter sido informado sobre os eventos da infância de Jesus pela própria Maria. Parece que a narrativa é apresentada do ponto de vista de Maria, assim como Mateus apresenta a narrativa do nascimento de Jesus do ponto de vista de José (Mt.1). A seção do nascimento (Lc.1:5-2:52) consiste de sete partes: (1) O anúncio do nascimento de João Batista (Lc.1:5-25); (2) o anúncio do nascimento de Jesus (v. Lc.1:26-38); (3) a visita de Maria a Isabel (v. Lc.1:39-56); (4) o nascimento de João Batista (v. Lc.1:57-80); (5) o nascimento de Jesus (Lc.2:1-20); (6) a circuncisão e a apresentação de Jesus (v. Lc.2:20-38); e (7) a infância de Jesus (v. Lc.2:39-52). Herodes. Ver p. 26-30; gráficos, p. 28, 231. O reinado de Herodes foi de crueldade e opressão para o povo judeu, apesar de o rei ter publicamente aderido à religião judaica. Seu caráter dissoluto, mais ou menos típico na época em que ele viveu, é descrito em forte contraste com o caráter de Zacarias. Judeia. Escrevendo primeiramente aos leitores não palestinos, Lucas parece utilizar o nome “Judeia” como um termo geral para toda a Palestina (Lc.6:17; Lc.7:17; At.10:37). Zacarias. Do heb. Zekaryah, “Yahweh lembra” ou “Yahweh tem lembrado”. Este nome foi utilizado pelo filho de Joiada (2Cr.24:20), pelo profeta Zacarias e por muitos outros. Do turno de Abias. Davi dividiu o serviço sacerdotal em 24 turnos (1Cr.24:1-18; 2Cr.8:14), dos quais o turno de Abias (ou Abia) era o oitavo (1Cr.24:10). Dezesseis turnos eram cobertos pelos descendentes de Eleazar e oito eram dirigidos pelos descendentes de Itamar, ambos filhos de Arão. Apenas quatro turnos foram representados pelos sacerdotes que retornaram de Babilônia depois do cativeiro, e Abias não estava entre esses (ver com. de Ed.2:36). Mas os que retornaram foram divididos em 21 ou 22 turnos (expandidos para 24 no tempo do NT), e foram-lhes atribuídos os nomes dos turnos originais (ver com. de Ne.12:1). Segundo Josefo, esperava-se que cada turno de sacerdotes servisse por uma semana, de sábado a sábado (Antiguidades, vii. 14.7 [365, 366]), semestralmente. Na Festa dos Tabernáculos, esperava-se que os sacerdotes de todos os 24 turnos estivessem presentes. As tentativas para se determinar a época do ano em que ocorreu o turno de serviço de Abias, baseadas no turno de serviço na época em que os romanos destruíram o templo, em 70 d.C., são aparentemente de pouco ou nenhum valor, no que diz respeito à datação da narrativa de Lucas. Isabel. Do heb. Elisheba, significando “meu Deus jurou” ou “meu Deus é abundância”, o nome da esposa de Arão (Ex.6:23). |
Lc.1:6 | 6. Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor. Justos. Aparentemente, Zacarias e Isabel pertenciam ao pequeno grupo que avidamente estudava as profecias e aguardava a vinda do Messias (DTN, 44, 47, 98). Entre os judeus, o termo “justo” chegou a ter um sentido técnico, referindo-se àqueles que observavam estritamente a lei ritual e as tradições rabínicas. É evidente, no entanto, que, em relação a Zacarias e Isabel, a justiça era muito mais que conformidade externa à lei. Eles não eram meros legalistas, mas conscientes e exemplares em seu firme propósito de adorar a Deus “em espírito e em verdade” (Jo.4:24). Outros membros deste pequeno e seleto círculo que aguardava a vinda do Messias eram José e Maria (ver com. de Mt.1:16-19), bem como Simeão e Ana (ver com. de Lc.2:25-26; Lc.2:38). Diante de Deus. Antes de sua conversão, Paulo considerava ter a “justiça que há na lei” (Fp.3:6; At.23:1). Mas a conversão trouxe a ele a percepção de que tal “justiça” não tinha valor (ver Rm.2:24-25; 1Tm.1:15). No caso de Zacarias e Isabel, no entanto, a “justiça” deles excedia a dos escribas e fariseus (Mt.5:20), que faziam suas boas obras para serem vistos (Mt.6:1; Mt.6:5). Zacarias e Isabel eram justos “diante de Deus”. Eram nobres sucessores a heróis da fé como Noé (Gn.6:9; Gn.7:1; Hb.11:7), Abraão (Hb.11:8), Jó (Jó.1:8; Jó.2:3) e Daniel (Dn.5:11-12; Dn.10:11), aprovados pela justiça do Céu (ver Ez.14:14). Preceitos e mandamentos. Nos dias de Zacarias e Isabel isto significava viver em harmonia com a lei moral e a lei de Moisés. Uma vez que todos os homens “pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm.3:23; ver também 1Jo.3:4), todos têm necessidade de que alguém os liberte da morte, que é a penalidade da desobediência (Rm.6:23; Rm.7:24). O Libertador é ninguém mais que Cristo Jesus (Lc.7:25-8:4). Mas até que o Salvador viesse ao mundo, Deus ordenou um sistema de sacrifícios (Hb.9:1), que Ele impôs “até ao tempo oportuno de reforma”, isto é, até que Cristo iniciasse Seu ministério sacerdotal (Hb.9:10-11). Em outras palavras, Zacarias e Isabel se propuseram a obedecer a Deus, buscando a salvação através dos meios previstos e, como resultado, foram considerados como “justos diante de Deus”. |
Lc.1:7 | 7. E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias. Não tinham filhos. Entre os povos orientais a falta de filhos sempre era vista como uma grande aflição. Geralmente, os judeus consideravam a falta de filhos como punição divina para o pecado (ver com. de Lv.20:20). Entre os judeus, bem como entre os povos orientais de hoje, a falta de filhos é considerada motivo suficiente para a poligamia e o concubinato, e é aceita como razão jurídica suficiente para o divórcio. Com frequência homens escolhidos antes do nascimento para realizar uma grande tarefa para Deus nasceram a despeito da idade ou esterilidade por parte de seus pais (ver Gn.11:30; Gn.17:17; Gn.18:11; Gn.25:21; Gn.30:22-24; 1Sm.1:2; 1Sm.1:8; 1Sm.1:11). Para o ser humano, muitas coisas são impossíveis, mas “para Deus não haverá impossíveis” (Lc.1:37). Muitas vezes, Deus leva as pessoas a se darem conta de sua própria fraqueza para que elas valorizem Seu poder quando a libertação ocorre. No caso de Isabel, houve uma razão dupla para não esperar filhos, porque além da esterilidade, ela tinha idade avançada. Avançados em dias. A expressão vem de um idiomatismo hebraico característico (ver Gn.24:1; Js.13:1), que quer dizer apenas “avançado em idade”. |
Lc.1:8 | 8. Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, Aconteceu que. [Predições referentes a João Batista, Lc.1:8-23. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. Do gr. egeneto, de ginomai, “tornar” ou “estar”. A expressão, quando ocorre no início de uma seção narrativa como neste verso, é o equivalente grego da fórmula heb. wayehi, “aconteceu que”, muito comum no AT. A expressão é consistentemente omitida em algumas traduções modernas, visto que o sentido é claro e completo sem ela. Seu turno. Ver com. do v. Lc.1:5. Coube-lhe por sorte. Do gr. lagchano, “conseguir por sorte”. Devido ao grande número de sacerdotes, nem todos podiam oficiar em qualquer serviço. Por esse motivo, as sortes eram lançadas para se determinar quem participaria a cada manhã e tarde. Segundo a tradição judaica, os sacerdotes ficavam num semicírculo e cada um levantava um ou mais dedos para serem contados. Dizendo algum número, tal como 70, o “presidente” começava contando e continuava até que o número selecionado indicasse quem foi escolhido. A primeira sorte determinava quem purificaria o altar de ofertas queimadas e prepararia o sacrifício; e a segunda, quem deveria oferecer o sacrifício e purificar o candelabro e o altar de incenso. A terceira sorte, que determinava quem ofereceria o incenso, era a mais importante. A quarta sorte determinava quem queimaria as partes do sacrifício no altar e realizaria a parte final do serviço. Lançar sortes de manhã se aplicava também ao serviço da noite, exceto que a sorte fosse lançada mais uma vez para a queima de incenso. |
Lc.1:9 | 9. segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso Para queimar o incenso. A queima do incenso era considerada a parte mais importante e sagrada dos serviços diários matutinos e vespertinos. Esses momentos de adoração, nos quais um cordeiro era oferecido (Ex.29:38-42) para a oferta queimada, eram conhecidos como “oferta queimada” ou “sacrifício” da manhã e da tarde (2Cr.31:3; Ed.9:4-5) ou como a “hora do incenso” (Lc.1:10, ARC; ver Ex.30:7-8). Eram momentos de oração para todos os israelitas, quer para os que estavam presentes no serviço, quer para os que estavam em casa ou em terras estrangeiras. Como o incenso subia do altar de ouro, as orações de Israel subiam com ele até Deus (Ap.8:3-4; ver com. de Sl.141:2) por eles mesmos e por sua nação, em consagração diária (PP, 352, 353). Nesse serviço o sacerdote oficiante orava pelo perdão dos pecados de Israel e pela vinda do Messias (DTN, 99). O privilégio de oficiar no altar de ouro em favor de Israel era considerado uma grande honra, e Zacarias era digno dela em todos os aspectos. Esse privilégio normalmente era dado a cada sacerdote apenas uma vez na vida, e era um grande momento. Geralmente, nenhum sacerdote poderia oficiar no altar mais que uma vez, e é possível que alguns deles nunca teriam essa oportunidade. O sacerdote escolhido por sorte para oferecer o incenso selecionava dois companheiros sacerdotes para auxiliá-lo: um para remover as brasas antigas do altar, e o outro, para colocar novas brasas, tiradas do altar de ofertas queimadas. Esses dois sacerdotes saíam do lugar santo depois que terminavam suas tarefas, e o sacerdote escolhido por sorte arranjava o incenso sobre as brasas enquanto intercedia por Israel. Ao subir a nuvem de incenso, ela enchia o lugar santo e passava por cima do véu para o lugar santíssimo. O altar de incenso ficava diante do véu, e, embora situado no lugar santo, parece ter sido considerado como pertencendo ao lugar santíssimo (ver com. de Hb.9:4). O altar de ouro era “um altar de intercessão perpétua” (PP, 353), porque dia e noite o santo incenso difundia sua fragrância por todos os sagrados arredores do templo (PP, 348). |
Lc.1:10 | 10. e, durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando. Multidão. Do gr. plethos, uma palavra favorita de Lucas, que a utilizou 25 vezes, em comparação com as sete vezes que os demais escritores do NT a utilizaram juntos. Alguns comentaristas sugeriram que Zacarias estava oficiando no culto matutino; outros creem que oficiava no culto vespertino. No tempo de Cristo, o sacrifício matutino era oferecido aproximadamente às nove horas e o vespertino, às 15 horas. Nos dois períodos, uma multidão considerável se reunia (ver At.2:6; At.2:15). Talvez os idosos e piedosos Simeão e Ana (ver com. de Lc.2:25; Lc.2:36) estavam misturados e despercebidos no grupo de adoradores dessa reunião, e elevaram os pensamentos em oração pela vinda do Messias. Fora. Isto é, fora do santuário, mas dentro dos pátios sagrados do templo. |
Lc.1:11 | 11. E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. Eis que lhe apareceu. A partir do registro, parece que a aparição do anjo não foi apenas em visão, mas realmente visível às percepções normais dos sentidos. Anjo do Senhor. Este era o anjo Gabriel (ver com. do v. Lc.1:19), que mais de cinco séculos antes tinha aparecido a Daniel para anunciar o tempo da vinda do Messias (Dn.9:21; Dn.9:25). Então, com a proximidade da vinda do Senhor, Gabriel surge para anunciar o nascimento do profeta que prepararia o povo para a vinda do Prometido. À direita. Do altar. Este era o lado sul, a posição considerada do ponto de vista do altar que está com a frente para o leste. O lado direito era geralmente uma posição de honra (ver Mt.25:33; At.7:55-56; Hb.1:3), e Zacarias deveria ter reconhecido a posição como uma indicação de favor, mas não o fez (DTN, 97, 98; ver PP, 351). |
Lc.1:12 | 12. Vendo-o, Zacarias turbou-se, e apoderou-se dele o temor. Apoderou-se dele o temor. A reação do idoso sacerdote dificilmente poderia ser considerada inesperada ou pouco natural (ver Jz.6:22; Jz.13:22; Lc.2:9; Lc.9:34; At.19:17). |
Lc.1:13 | 13. Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João. Não temas. Geralmente, estas são as primeiras palavras dos seres celestiais quando se dirigem aos seres humanos (Gn.15:1; Gn.21:17; Lc.1:30; Lc.2:10). Os anjos estão constantemente trabalhando para remover o temor do coração de homens e mulheres consagrados (ver Hb.1:14; Hb.2:15) e para substituí-lo pela “paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp.4:7). A perfeita compreensão de Deus e o amor por Ele removem todo temor do coração (ver Mt.6:30-34; 1Jo.4:18). Foi ouvida. Alguns creem que foi ouvida a oração de Zacarias pela vinda do Messias. Por meio do estudo das profecias, principalmente as de Daniel, Zacarias sabia que o tempo para o aparecimento do Messias estava próximo. Por muitos anos, ele tinha orado pela concretização da esperança de Israel, e então Gabriel lhe assegurou que o cumprimento dessas profecias estava próximo (ver DTN, 98). Outros creem que a “oração” ouvida foi a anterior, em que Zacarias pediu por um filho. Nos anos anteriores, Zacarias orou por um filho (ver Gn.15:1-2; Gn.25:21; Gn.30:22; 1Sm.1:10-11). Não é provável, como sugerem alguns comentaristas, que Zacarias orasse por um filho naquela ocasião, porque sua resposta ao anjo (Lc.1:18) indica que ele já tinha desistido da esperança de ter um filho. João. Do gr. loannes, do heb. Yochanan, ou Yehochanan, significando “Yahweh é gracioso”. Várias pessoas tiveram esse nome (ver 2Rs.25:23; 1Cr.3:15; 1Cr.26:3; 2Cr.17:15; Ed.10:6; Ed.10:28; Ne.12:13; Je.40:8). |
Lc.1:14 | 14. Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão com o seu nascimento. Em ti haverá prazer e alegria. Os v. 14 a 18 estão na forma métrica característica da poesia hebraica, em que há ritmo e repetição, em vez de medida e som. O nascimento de um filho a Isabel traria alegria a Zacarias, mas essa alegria se tornaria em alegria para todos que prestassem atenção à mensagem do filho e fossem “para o Senhor um povo preparado” (v. Lc.1:17; Lc.2:32). |
Lc.1:15 | 15. Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno. Será grande. Na estima do Céu, não é riqueza, posição, nobre descendência ou dons intelectuais que constituem grandeza. Deus valoriza a dignidade moral e aprecia os atributos do amor e da pureza. João era grande “aos olhos do Senhor” (ver Mt.11:11), em contraste com Herodes, “grande” à vista dos homens que anseiam por posição, riqueza e poder. João foi um grande servo de seus companheiros; Herodes foi um grande tirano sobre eles. João viveu para os outros; Herodes viveu apenas para si. João foi grande do mesmo modo como Elias foi grande, em converter “muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus” (Lc.1:16). Herodes foi grande do mesmo modo que Ninrode o foi (ver com. de Gn.10:9-12), em levar pessoas a duvidar e a se opor a Deus (Gn.10:9-10; Lc.11:2-4; ver p. 27-30; ver com. de Mt.11:13-14). Vinho. Do gr. oinos (ver com. seguinte). Bebida forte. Do gr. sikera, uma palavra emprestada do aramaico shikra e do heb. shekar (ver com. de Nm.28:7). Shekar pode ser vinho ou alguma bebida intoxicante como o vinho, caso seja feita de cevada ou destilada de mel ou tâmaras. A raiz do verbo hebraico significa “beber ao máximo”, “beber até a hilaridade” ou “estar bêbado”. Alguns comentaristas têm pensado que o uso que Lucas faz destes dois termos oinos, “vinho”, e sikera, “bebida forte”, indica que bebidas intoxicantes feitas de uvas não estão incluídas no termo sikera. Mas essa distinção não é justificada porque: (1) sikera é apenas uma transliteração grega do heb. shekar, que inclui todas as bebidas intoxicantes; (2) a forma poética dos v. Lc.1:14-17 não justifica uma distinção quanto à classificação entre “vinho” e “bebida forte”, assim como ocorre entre “alegria” e “regozijo”, no v. Lc.1:14. Quando falamos em trabalhar com “poder e princípio” não nos referimos a duas fontes de poder separadas e distintas; apenas nos referimos ao exercício de todas as forças. Do mesmo modo, Lucas, ou melhor, o anjo Gabriel, usa os dois termos simplesmente para enfatizar a exclusão de qualquer coisa intoxicante. Como Sansão (Jz.13:4-5) e Samuel (ver com. de 1Sm.1:22), João Batista era nazireu de nascimento (DTN, 102). Em todos os momentos, um nazireu (ver com. de Gn.49:26; Nm.6:2) deveria manter os apetites e paixões sob estrita sujeição ao princípio (ver com. de Jz.13:5). A importante tarefa atribuída a João Batista, exigia força mental e discernimento espiritual, para que ele permanecesse como um exemplo diante do povo de sua época. De modo semelhante, aqueles que participam na tarefa de proclamar a segunda vinda de Cristo devem purificar sua vida “assim como Ele é puro” (1Jo.3:3). Cheio do Espírito Santo. Em vez de bebida forte (ver Ef.5:18). Quando os apóstolos estavam “cheios do Espírito Santo” no Pentecostes (At.2:4; At.2:15-17), foram acusados de estar “embriagados” (At.2:13). Com aqueles a quem Deus escolheu para Seu serviço não deve haver dúvida quanto ao tipo de estímulo que os move à ação. O estímulo de tipo inferior exclui o de natureza superior. João devia ser iluminado, santificado e guiado pela influência do Espírito Santo. Em seu evangelho e no livro de Atos, Lucas menciona o Espírito Santo mais de 50 vezes, muito mais do que os outros evangelistas juntos, que fizeram 13 referências a Ele. Já do ventre materno. A existência de João foi devida à vontade e ao poder de Deus, não do ser humano. Ele veio ao mundo com a missão de sua vida já designada, e deveria ser dedicado a Deus desde o princípio. Foi possível ao Espírito Santo “encher” João desde o nascimento, pois o Espírito primeiro “encheu” a mãe de João, Isabel, dirigindo sua vida. Durante os primeiros anos das crianças, os pais estão no lugar de Deus para eles (PP, 308). “Felizes são os pais cuja vida é um verdadeiro reflexo da Divindade” (PR, 245). Foi por meio do Espírito Santo que Maria recebeu sabedoria para cooperar com os agentes celestiais no desenvolvimento e educação de Jesus (DTN, 69). As mães, hoje, que escolhem viver em comunhão com Deus podem esperar que o divino Espírito Santo molde seus pequenos filhos, “já desde os primeiros momentos” (DTN, 512). Desta forma, nossas crianças, como João Batista, podem desfrutar o feliz privilégio de ser “cheios do Espírito Santo” (ver com. de Lc.2:52). |
Lc.1:16 | 16. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Converterá muitos. Isto é, por meio do arrependimento. O batismo de João era um “batismo de arrependimento” (Lc.3:3; ver também Mc.1:4; At.13:24; At.19:4). Arrependimento, ou conversão do pecado, era a parte mais importante de sua mensagem. Os seres humanos precisam se arrepender caso queiram estar preparados para o dia do Senhor (Lc.1:17) e para entrar em Seu reino (ver Mt.3:2; Mt.4:17; Mt.10:7). A obra de João era persuadir as pessoas a abandonar seus pecados e exortá-las a buscar ao Senhor, seu Deus. Essa era a obra que Elias realizava (ver com. de 1Rs.18:37). A narrativa do AT termina (ver Ml.3:1; Ml.4:5-6) e a do NT começa com o tema dos “filhos de Israel” voltando “ao Senhor, seu Deus” (ver Lc.1:16). |
Lc.1:17 | 17. E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado. Irá adiante do Senhor. Como profetizado especificamente por Isaías (ver com. de Is.40:3-5) e Malaquias (ver com. de Ml.3:1). Essa é a tarefa atribuída à igreja remanescente hoje. Nos v. Lc.1:16-17 encontra-se uma pérola da verdade. Nos v. Lc.1:16-17 Lucas afirma que João Batista converteria muitos dos filhos de Israel ao Senhor, e então segue imediatamente com o comentário: “Ele [João Batista] irá diante dEle” [obviamente o Messias, mas também o “Senhor, seu Deus”, do v. Lc.1:16-17]. É evidente que Lucas aponta à divindade do Messias, mesmo que de forma indireta. No espírito e poder de Elias. A intrépida coragem de Elias em dias de apostasia e crise (ver 1Rs.17:1; 1Rs.18:1-19; 1Rs.18:36-40) fez do profeta um símbolo de completa reforma e lealdade a Deus. Uma obra similar era necessária a fim de converter o coração das pessoas à fé de seus pais (ver Jo.8:56; 1Pe.1:10-11). A obra de João Batista como precursor do Messias tinha sido prevista pelos profetas (ver Is.40:1-11; Ml.3:1; Ml.4:5-6), como sabiam aqueles que estudavam as profecias. Até os escribas reconheceram que “Elias deveria vir primeiro”, antes da vinda do Messias (Mt.17:10; Mc.9:11-12). Sua mensagem era de reforma e arrependimento (ver Mt.3:1-10). João se assemelhava a Elias não apenas na obra que ele deveria fazer e na coragem com que deveria proclamar a verdade (ver 1Rs.21:17-24; Mt.3:7-10), mas até mesmo em seu modo de vida e em sua aparência externa (ver Mt.3:4; ver com. de 2Rs.1:8). Ambos os profetas sofreram perseguição (ver 1Rs.18:10; 1Rs.19:2; Mt.14:10). As profecias a respeito do precursor do Messias foram tão notavelmente cumpridas em João Batista que o povo e seus líderes reconheceram a semelhança entre João e Elias (ver Jo.1:19-21). Mesmo depois da morte de João, sacerdotes, escribas e anciãos não negaram que João tinha sido um profeta (Mt.21:24-27; Mc.11:29-33; Lc.20:3-7). Nem o cruel Herodes ousou tirar a vida de João até que as circunstâncias aparentemente o levaram a executá-lo (Mt.14:3-11; Mc.6:17-28; DTN, 222). João negou ser Elias em pessoa (Jo.1:21), mas Jesus afirmou que João veio em cumprimento das profecias da vinda de Elias (Mt.11:9-14; Mt.17:10-13). Esse fato foi totalmente compreendido pelos discípulos (Mt.17:13). A obra de Elias e João Batista é necessária hoje. Nestes dias de corrupção moral e cegueira espiritual há necessidade de vozes que corajosamente proclamem a vinda do Senhor a toda a Terra. O chamado dessa hora é para homens e mulheres que ordenarão suas vidas como fez João e o Elias da antiguidade, e que convidarão outros a fazer o mesmo. Há a necessidade de uma obra de reforma sincera, não apenas fora da igreja, mas dentro dela. Deus convida a todos que O amam e O servem para irem “no espírito e poder de Elias” (T3, 61). Coração dos pais. O contexto neste versículo e em Ml.4:5-6 sugere o emprego de uma linguagem figurada. A mensagem de Gabriel foi dada na forma literária da poesia hebraica, em que o ritmo do pensamento é usado em vez da métrica (ver vol. 3, p. 1-13). Os “filhos de Israel” deveriam ter voltado para o “Senhor, seu Deus”, o Pai celestial deles (Lc.1:16); os “desobedientes”, para a “prudência dos justos” (v. Lc.1:17). A obra de Elias era converter o coração dos desobedientes filhos de Israel em sua geração para a sabedoria do justo Pai celestial, chamando a atenção para as experiências de seus “pais” (ver 1Co.10:11). Esta foi a obra que Elias realizou (ver 1Rs.18:36-37). Como descendentes espirituais de nosso pai Abraão (Gl.3:29) deveríamos, em fé, volver nosso coração para Deus (Hb.11:8-13; Hb.11:39-40) e sempre lembrar o modo pelo qual Ele conduziu os “pais” no passado (ver LS, 196). A declaração de Malaquias, citada neste versículo por Lucas, também tem sido explicada literalmente como aplicada à responsabilidade paterna de educar os filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef.6:4). Um dos primeiros resultados da verdadeira conversão é o fortalecimento dos laços familiares. A reforma genuína sempre faz isso. O lar certamente está incluso na obra de reforma descrita neste verso, como sendo um importante aspecto para levantar “para o Senhor um povo preparado” (ver com. do v. Lc.1:15). Prudência. Do gr. phronesis, “compreensão”, “intenção”. A “prudência” da qual o anjo fala é do tipo que leva a pessoa a se converter da desobediência para a obediência, da injustiça para a justiça. Essa transformação ocorre não tanto em resultado de conhecimento intelectual, mas de uma mudança de mente (ver Rm.12:2) que acompanha a mudança de coração (ver Ez.11:19; Ez.18:31; Ez.36:26). É apenas quando a pessoa ama a Deus que ela deseja obedecê-Lo (Jo.14:15; Jo.15:10). Quando as afeições são postas “nas coisas lá do alto” (Cl.3:2), a verdadeira “prudência” se apodera do coração e da vida. Um povo preparado. As pessoas dos dias de Noé não estavam preparadas para o dilúvio (Lc.17:27), nem as pessoas de Sodoma estavam preparadas para a destruição que atingiu aquela cidade. Os filhos de Israel que deixaram o Egito não estavam preparados para entrar na terra prometida (Hb.3:19). O povo dos dias de Cristo não estava preparado para encontrá-Lo e, portanto, “não O receberam” (ver Jo.1:11). No entanto, devido em grande parte ao ministério de João Batista, houve alguns que estavam prontos para recebê-Lo. Da mesma forma, somos aconselhados a estar “prontos” (Mt.24:44), porque aqueles que estiverem “prontos” irão com Cristo para as bodas (Mt.25:10). O cristão que mantém acesa a esperança do retorno do Senhor em seu coração é que estará “preparado para o Senhor” quando Ele vier (ver Hb.9:28; 2Pe.3:11-12; 1Jo.3:3). |
Lc.1:18 | 18. Então, perguntou Zacarias ao anjo: Como saberei isto? Pois eu sou velho, e minha mulher, avançada em dias. Como saberei isto? A promessa parecia muito boa para ser verdade! Não há dúvidas de que, por anos, Zacarias orou por um filho (ver com. de Lc.1:13) e quando sua oração estava prestes a ser respondida, sua fé não foi suficientemente grande para aceitar a resposta. Quantas vezes as pessoas veem dificuldades no modo do cumprimento das promessas de Deus, esquecendo que “para Deus não haverá impossíveis” (Lc.1:37). Assim foi com Sara (ver Gn.18:11-12), com Moisés (ver Ex.4:1; Ex.4:10; Ex.4:13), com Gideão (ver Jz.6:15-17; Jz.6:36-40) e com os crentes que oraram na casa de Maria em prol da libertação de Pedro (ver At.12:14-16). Até Abraão, que “não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus” (Rm.4:20), sentiu a necessidade de evidência tangível sobre a qual estabelecer sua fé (ver Gn.15:8; Gn.17:17). Eu sou velho. A idade de aposentadoria para os levitas era de 50 anos (ver com. de Nm.8:24). No entanto, os sacerdotes se aposentavam do serviço ativo apenas quando a idade ou a doença os impossibilitava fisicamente para ministrar no altar. Abraão e Sara foram descritos como “avançados em idade” quando tinham 99 e 89 anos, respectivamente (Gn.18:11). Por volta de 92 anos de idade, Josué foi chamado de “idoso, entrado em dias” (ver com. de Js.13:1), embora ele tenha vivido até os 110 anos (Js.24:29). Foi dito que Davi era “velho e entrado em dias” (1Rs.1:1), na época de sua morte, no seu 71° ano (2Sm.5:4-5). É seguro concluir que Zacarias tinha entre 60 e 70 anos de idade, talvez próximo à última. Avançada em dias. Ver com. do v. Lc.1:7. |
Lc.1:19 | 19. Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te estas boas-novas. Gabriel. Do gr. Gabriel, do heb. Gabriel, significando “homem de Deus”. A palavra hebraica usada para “homem” é geber, indicando um “homem forte”. Gabriel ocupa a posição da qual Lúcifer caiu (DTN, 693; GC, 493) e está próximo, em honra e posição, ao próprio Cristo (DTN, 98, 99, 234; Dn.10:21). Foi Gabriel que apareceu a Daniel (Dn.8:16; Dn.9:21) para anunciar a vinda do “Ungido”, o “Príncipe” (Dn.9:25). Nos tempos do NT, ele apareceu a Zacarias (Lc.1:19), a Maria (v. Lc.1:26-27) e, possivelmente, a José (ver com. de Mt.1:20). Foi Gabriel quem fortaleceu a Cristo no Getsêmani (DTN, 693), que interveio entre Ele e a multidão (DTN, 694), que abriu a tumba e chamou o Salvador (DTN, 779, 780). Gabriel também foi um dos dois anjos que acompanhou a Cristo durante Sua vida (DTN, 793) e apareceu aos discípulos no monte das Oliveiras enquanto Cristo ascendia ao Céu (DTN, 832; cf. 780). Foi Gabriel que apareceu a João em Patmos (DTN, 99; ver com. de Ap.1:1) e que falou de si mesmo como “conservo teu, [conservo] dos teus irmãos, os profetas” (Ap.22:9). Assisto diante. Esta expressão é utilizada no AT para os altos oficiais que ministravam no palácio (1Rs.10:8; 1Rs.12:6; Pv.22:29; Dn.1:19). Por meio desta simples declaração que revela a honrada posição que ele ocupa no Céu, Gabriel apresenta-se a Zacarias como um representante de Deus. Diz-se dos anjos que eles “veem incessantemente a face” do Pai celeste (Mt.18:10). Gabriel é, por assim dizer, o “primeiro ministro” do Céu, o líder da hoste angélica “para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.1:14). Ele é, num sentido especial, o embaixador celestial nesta terra (DTN, 99). Gabriel não manteve comunhão apenas com pessoas justas na terra; ele também se associou com outras pessoas. Foi justamente ele quem atuou no palácio persa para influenciar Ciro e Dario a emitirem o decreto autorizando a reconstrução do templo (Dn.10:13; Dn.10:20; Dn.11:1). Ele é o anjo da profecia que foi comissionado pelo Céu para organizar os assuntos dos seres humanos em harmonia com a vontade de Deus. Segundo a tradição judaica, Gabriel é o anjo do juízo e um dos quatro arcanjos que possuem acesso à presença divina permanentemente. Trazer-te estas boas-novas. Do gr. euaggelizo, “proclamar boas novas” ou “anunciar boas-novas” (ver com. de Lc.2:10). |
Lc.1:20 | 20. Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais, a seu tempo, se cumprirão. Ficarás mudo. Zacarias expressou dúvida na palavra do anjo. Então, ele recebeu um sinal de confirmação que também era uma penalidade pela descrença. Sua falta de fé trouxe juízo e bênção. Sua descrença foi curada imediata e completamente. Simultaneamente, sua aflição foi um meio de atrair a atenção do povo para o anúncio do nascimento do precursor do Messias. A condição de Zacarias não apenas atraiu a atenção da multidão reunida no pátio do templo (v. Lc.1:22) como lhe deu a oportunidade de comunicar o que ele tinha visto e ouvido (DTN, 99) de uma forma que eles nunca esqueceriam. Em alguns aspectos, a experiência de Zacarias é semelhante à de Ezequiel no que se refere a ficar mudo (ver Ez.3:26) e permanecer assim (Lc.24:27) até o cumprimento de sua mensagem (Lc.33:22). Não acreditaste. Embora não fosse fácil para Abraão compreender a realidade da promessa divina de que seu próprio filho deveria ser seu herdeiro (ver Gn.15:2-3; Gn.17:17-18), ele estava pronto para acolher a palavra do Senhor (ver Gn.15:6). Ele tinha uma fé forte e “não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus” (ver Rm.4:19-22). Parece que Zacarias, embora “justo’’ e “irrepreensível” diante de Deus (Lc.1:6), não estava à altura de Abraão quando chegou o tempo de exercer a fé. |
Lc.1:21 | 21. O povo estava esperando a Zacarias e admirava-se de que tanto se demorasse no santuário. Estava esperando. Zacarias permaneceu sozinho no lugar santo mais tempo do que o normal. A tradição exigia que o sacerdote que oferecia incenso nas horas de oração matutinas e vespertinas não deveria prolongar sua permanência no lugar santo, temendo que as pessoas tivessem oportunidade para a ansiedade. Além disso, o povo não ficava livre para sair até que o sacerdote oficiante saísse para pronunciar a bênção de Arão (ver Nm.6:23-26). Segundo o Talmude, o oferecimento de incenso no altar de ouro deveria ser feito com rapidez. |
Lc.1:22 | 22. Mas, saindo ele, não lhes podia falar; então, entenderam que tivera uma visão no santuário. E expressava-se por acenos e permanecia mudo. Não lhes podia falar. Quando o sacerdote oficiante saía do lugar santo depois de oferecer incenso, esperava-se que ele levantasse as mãos e pronunciasse uma bênção sobre a multidão expectante. Tivera uma visão. Quando Zacarias saiu, seu rosto brilhava com a glória de Deus (DTN, 99). Sua aparência, de certo modo, era uma bênção silenciosa, porque a fórmula da bênção incluía as palavras: “o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti” (Nm.6:25) e “o Senhor sobre ti levante o rosto” (Nm.6:26). A primeira representava a benevolência de Deus, e a segunda, Seu dom de paz. Sem dúvida, muitos dentre os adoradores reunidos pensaram em Moisés ao retornar do monte Sinai (ver Ex.34:29-30; Ex.34:35). Expressava-se por acenos. Melhor seria, “ele continuou acenando”, isto é, fazendo gestos num esforço de explicar ao povo o que tinha acontecido. Eventualmente, e talvez escrevendo enquanto gesticulava, ele conseguiu comunicar-lhes o que tinha visto e ouvido (DTN, 99). Mudo. Do gr. kophos, “embotado” ou “opaco”. Isto poderia se referir à fala, à audição ou a ambos. A narrativa parece indicar que Zacarias se tornou surdo e mudo (ver com. do v. Lc.1:62). |
Lc.1:23 | 23. Sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para casa. Ministério. Do gr. leitourgia, uma palavra grega comum denotando “serviço público”. Na LXX, leitourgia é extraída do ministério do sacerdote em favor da congregação. O termo é usado em Hb.8:6; Hb.9:21 para o “ministério” de Cristo no santuário celestial. Cada “turno” de sacerdotes se mantinha no plantão do templo de sábado a sábado. Segundo a tradição judaica, era costume que o grupo de sacerdotes aposentados oferecesse o incenso matutino no dia de sábado, e o grupo que chegava oferecia o incenso vespertino. Portanto, o turno de Abias, ao qual Zacarias pertencia (ver com. do v. Lc.1:5), permaneceu no seu posto até o sábado seguinte. Zacarias pode ter considerado que sua experiência com o anjo justificava sua aposentadoria precoce e o retorno para casa. Mas ele escolheu permanecer em seu posto designado até ser liberado do serviço. O texto do v. Lc.1:23 indica fortemente que ainda restavam vários dias de seu prazo de dever, e que, portanto, a aparição do anjo não ocorreu no dia de sábado. Voltou para casa. Na “região montanhosa” da Judeia (v. Lc.1:39). Das oito cidades da Judeia atribuídas por Josué aos sacerdotes (ver com. de Js.21:9; 1Cr.6:57-59), Hebrom e Hilem (Holom) parecem se qualificar melhor para a localização na “região montanhosa”. Não se sabe se Hilem foi reconstruída depois do cativeiro e se as cidades originalmente atribuídas aos sacerdotes por Josué eram deles no tempo de Cristo (ver com. de Lc.1:39). |
Lc.1:24 | 24. Passados esses dias, Isabel, sua mulher, concebeu e ocultou-se por cinco meses, dizendo: Ocultou-se. [A felicidade de Isabel, Lc.1:24-25. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. A razão de Isabel se ocultar por cinco meses de gravidez não está clara. Nenhum costume judaico poderia ter exigido dela agir assim e o contexto indica que ela fez isso voluntariamente. Alguns comentaristas sugerem que ela permaneceu em casa até que ficasse evidente que seu “opróbrio” (ver com. do v. Lc.1:25) fora removido. Outros pensam que a menção de um período de cinco meses é inserida simplesmente em antecipação da visita de Maria no sexto mês. Pode ser, no entanto, que, em antecipação da vida dedicada que João viveria como nazireu (ver com. do v. Lc.1:15), Isabel procurou se retirar dos contatos costumeiros com a sociedade e refletir e estudar para a responsabilidade de educar um filho a quem tão importante tarefa como a de João seria confiada. Esse motivo estaria em perfeita harmonia com o caráter de Isabel (ver v. Lc.1:6). |
Lc.1:25 | 25. Assim me fez o Senhor, contemplando-me, para anular o meu opróbrio perante os homens. Opróbrio. Isto é, a infelicidade de não ter filhos, segundo os judeus, era a maior desgraça que poderia sobrevir a uma mulher (Gn.30:1; 1Sm.1:5-8; ver com. de Lc.1:7). Acreditava-se que a esterilidade era um castigo de Deus (ver Gn.16:2; Gn.30:1-2; 1Sm.1:5-6), e a oração era, em tais circunstâncias, feita para buscar Seu favor (ver Gn.25:21; 1Sm.1:10-12), para que Ele Se “lembrasse” dos que foram assim afligidos. Quando a concepção ocorria depois de orações desse tipo, dizia-se que Deus havia se lembrado deles (ver Gn.30:22; 1Sm.1:19). Por todas as Escrituras acredita-se que os filhos são uma bênção concedida por Deus (ver Gn.33:5; Gn.48:4; Ex.23:26; Js.24:3; Sl.113:9; Sl.127:3; Sl.128:3). Em contraste, entre as nações pagãs, os filhos eram normalmente expostos ou oferecidos como sacrifício aos deuses. |
Lc.1:26 | 26. No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, No sexto mês. [Predito o nascimento de Jesus, Lc.1:26-38. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. Isto é, o sexto mês depois da aparição de Gabriel a Zacarias (v. Lc.1:11) e a concepção de Isabel (v. Lc.1:24), como especificamente declarada pelo anjo (ver v. Lc.1:36). Gabriel. Ver com. dos v. Lc.1:11; Lc.1:19. Nazaré. Uma obscura cidade galileia não mencionada no AT nem no Talmude, nem incluída por Josefo na lista de 204 cidades da Galileia (ver com. de Mt.2:23). A infância e juventude de Jesus, um período sobre o qual as Escrituras são silentes, foram passadas numa localidade sobre a qual não há registros históricos disponíveis. Numa pequena comunidade, Jesus estava livre da influência rabínica dos grandes centros judaicos, bem como da cultura grega pagã que permeava a “Galileia dos gentios” (Mt.4:15). A atitude frequente dos judeus com relação a Nazaré é refletida na resposta incisiva de Natanael a Filipe: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo.1:46) e dos fariseus a Nicodemos: “Examina e verás que da Galileia não se levanta profeta” (Jo.7:52; ver fotos, p. 549). O fato de Lucas situar Maria e José como vivendo em Nazaré e especificamente chamá-la de “sua cidade” (Lc.2:39) é evidência da exatidão histórica da narrativa evangélica. Tivesse ele ou outros de quem ele recebeu informação (v. Lc.1:1-3) inventado a história, e teriam procurado situar Maria e José em Belém durante toda a narrativa da concepção e do nascimento de Cristo, em vez de situá-los numa cidade da Galileia, em vista da reputação desfavorável da Galileia, em geral, e de Nazaré, em particular. O fato de Mateus não mencionar Nazaré em conexão com os eventos anteriores ao nascimento de Jesus (ver Mt.1:18-25) atesta igualmente a natureza independente da evidência registrada nos dois evangelhos. Tivesse havido conluio entre os vários escritores dos evangelhos, com intenção de enganar, eles teriam tomado muito cuidado para pelo menos dar aos seus relatos a aparência de semelhança superficial, o que não é o caso. A nota explicativa de Lucas de que Nazaré era “uma cidade da Galileia” pode evidenciar, como alguns creem, que Lucas escreveu para não residentes na Palestina, que não estariam familiarizados com uma cidade tão desconhecida. |
Lc.1:27 | 27. a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. Uma virgem. Ver com. de Mt.1:23. O fato de Lucas não mencionar os pais de Maria ao apresentar um relato tão detalhado das circunstâncias do nascimento de Jesus sugere que eles poderiam estar mortos na época e que Maria poderia estar morando com alguns de seus parentes (ver DTN, 144, 145). Quase sem exceção, os escritores judeus identificavam aqueles de quem falavam como filhos e filhas de determinadas pessoas citadas. Desposada. Ver com. de Mt.1:18. A sequência de eventos neste versículo é digna de nota. O anjo fez o anúncio do nascimento de Jesus depois do noivado de Maria. Se ela fosse informada que geraria uma criança quando não havia planos de casamento, isso a angustiaria muito. Por outro lado, se o anúncio tivesse sido depois do seu casamento com José, até mesmo Maria e José teriam considerado Jesus como seu filho. Atestar o nascimento virginal teria sido difícil, senão impossível. A intencionalidade na sequência de eventos testifica do plano divino e da providência soberana de Deus. Se José estava pronto para se divorciar de Maria ao ouvir que ela estava grávida (Mt.1:18-19), e se foi impedido de o fazer pela revelação de Deus (v. Mt.1:20; Mt.1:24), possivelmente teria sido muito mais difícil harmonizá-lo com a ideia do casamento, se ela já estivesse grávida (v. Mt.1:19). O planejamento divino facilitou ao máximo a situação para Maria e José. Maria era de fato uma virgem, mas ela estava noiva. Deus já havia providenciado a ela um ajudante e protetor antes de lhe anunciar o esperado nascimento de Jesus. José. Ver com. de Mt.1:18. Pouco se sabe de José além de sua descendência davídica (Mt.1:6-16), sua pobreza (ver com. de Lc.2:24), seu ofício (Mt.13:55), o fato de ele ter quatro filhos (Mt.12:46; Mt.13:55-56; DTN, 87) e que ele morreu antes que Jesus iniciasse Seu ministério (ver DTN, 145). O último evento registrado de José ocorreu quando Jesus tinha 12 anos (Lc.2:51). A ausência de qualquer referência adicional a José atesta a possibilidade de que ele morreu antes que Jesus iniciasse Seu ministério (ver com. de Lc.2:51). O fato de, na cruz, Jesus ter confiado o cuidado de Sua mãe a João (Jo.19:26-27) é uma evidência convincente de que a morte de José ocorreu antes daquela época. Casa de Davi. Isto é, da família real (ver com. de Mt.1:1; Mt.1:20). As opiniões divergem quanto à possibilidade de a expressão “da casa de Davi”, neste versículo, se referir a Maria ou a José. A repetição da palavra “virgem” na última oração do versículo indica que a frase em questão se refere a José em vez de Maria. De qualquer maneira, a descendência davídica de José é claramente declarada em Lc.2:4. No entanto, Maria também era da casa de Davi (ver com. de Mt.1:16; Lc.1:32; DTN, 44). Por intermédio de Maria, Jesus literalmente “segundo a carne, veio da descendência de Davi” (Rm.1:3). Em Lc.1:32; Lc.1:69 está claro que Maria era descendente de Davi. Essas e outras declarações das Escrituras perderiam muito de sua força e sentido se Maria não pudesse afirmar que Davi era seu antepassado. A referência no v. Lc.1:36 a Isabel como “prima” (ARC) não serve de base para a ideia de que Maria era da tribo de Levi (ver com. do v. Lc.1:36). Tanto Maria quanto José eram de descendência real, assim como Zacarias e Isabel eram de linhagem sacerdotal (v. Lc.1:5). Maria. Ver com. de Mt.1:16. Lucas apresenta a narrativa do nascimento de Jesus do ponto de vista de Maria, fato que alguns comentaristas consideram uma indicação de que Lucas ouviu pessoalmente a história dos lábios dela ou de alguém que falou com ela (ver com. dos v. Lc.1:1-3). Os muitos detalhes e a requintada beleza da narrativa de Lucas sugerem familiaridade com os fatos, seja por contato direto com pessoas que os testemunharam (v. Lc.1:2) ou por inspiração. Sendo que consultou testemunhas oculares (Lc.1:2), é possível que os dois fatores estavam envolvidos: o relato de uma testemunha ocular, garantido, naturalmente, pela inspiração. |
Lc.1:28 | 28. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Alegra-te [...]! Do gr. chaire, uma forma comum de saudação na antiguidade (ver Mt.28:9) que expressava estima e boa vontade. A palavra assim traduzida é a forma imperativa do verbo chairo, “regozijar” ou “ser agradecido”. Esta forma de saudação pode ser comparada com a saudação: “Paz seja convosco” (Lc.24:36), uma forma comum de saudação no Oriente atualmente, bem como nos tempos antigos. Muito favorecida! Literalmente, “dotada com graça”. Esta expressão designa Maria como quem recebia o favor divino ou a graça, não a despenseira dele. A frase plena gratia, da versão latina Vulgata, é traduzida como “cheia de graça” por Wyclif, Tyndale e por vários tradutores católicos. Se essa frase for tomada para indicar que Maria foi, a partir daquele momento, uma despenseira da graça divina, em vez de alvo dessa graça, essa afirmação contrariaria a declaração do anjo. Gabriel não a dotou de mérito pessoal para ser distribuído a outros. O que o anjo outorgou a Maria está disponível a todos os crentes em Cristo. A mesma palavra grega para o verbo dotar é utilizada em Ef.1:6, em que Paulo declara: “Ele [o Pai] nos concedeu” [literalmente, dotou-nos] gratuitamente em Cristo - não “em Maria”. A mãe de Jesus foi apenas “muito favorecida”, como o anjo explicou, porque o Senhor estava com ela. Maria achou graça diante de Deus (Lc.1:30) e foi literalmente “dotada com graça”. Em nenhuma outra parte da Bíblia Maria é chamada “abençoada”, exceto por Isabel (v. Lc.1:42), por uma mulher desconhecida (Lc.11:27) e pela declaração que Jesus fez pessoalmente a seguir para retificar isso (v. Lc.11:28). Ele sempre tratou Sua mãe com cortesia e consideração (ver com. de Jo.2:4), mas nunca a exaltou acima de outros que ouviram e creram nEle (Mt.12:48-49). Na cruz, Ele não Se referiu a ela como a “Mãe de Deus” ou mesmo como “mãe”. Apenas a chamou de “mulher”, um título de respeito (ver com. de Jo.19:26). Nenhum escritor do NT atribui a ela algum mérito extraordinário ou influência diante de Deus. A exaltação católica de Maria não tem base na Escritura. Está fundada completamente sobre as lendas fantásticas dos evangelhos apócrifos, aos quais até os católicos negam um lugar no cânon sagrado. Nos primeiros séculos cristãos, essas lendas foram combinadas com mitos pagãos a respeito da Rainha dos Céus oriental (ver Je.7:18; Je.44:17-18), consorte dos deuses e da Magna Mater ou Grande Mãe, da Ásia Menor. O conceito católico de Maria como a “Mãe de Deus” é basicamente pouco mais que esta divindade feminina pagã vestida na terminologia cristã, transformada em dogma no Concílio de Éfeso, em 431 d.C. Éfeso foi o lar de Diana, do gr. Artemis; não a virgem deusa grega Artêmis, mas uma deusa mãe asiática algumas vezes identificada com a “Grande Mãe”. Segundo a tradição, Maria passou seus últimos anos em Éfeso, no lar do apóstolo João. As palavras da saudação do anjo têm sido pervertidas pela igreja católica numa oração endereçada a Maria como intercessora. Segundo a Catholic Encyclopedia, ela é composta (1) das palavras do anjo, com a adição (antes de 1184) das (2) palavras iniciais da saudação inspirada de Isabel a Maria, encontrada no v. Lc.1:42; na adição posterior (em 1493) de (3) um pedido por oração; e ainda (4) uma última adição, feita em 1495 e incluída no catecismo do Concílio de Trento, com a forma completa reconhecida oficialmente no Breviário Romano de 1568. Assim, construída artificialmente, a Ave Maria é traduzida como segue: [1] Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. [2] Bendita sois vós entre as mulheres, e Bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus! [3] Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, [4] Agora e na hora de nossa morte. Amém! Está contigo. A palavra “está” tem sido acrescentada pelos tradutores, já que no grego ela geralmente é compreendida em vez de expressa. Talvez “seja contigo” seja preferível a “está contigo”. Essa era uma forma comum de saudação nos tempos do AT (ver Jz.6:12; Rt.2:4). Abençoada és tu entre as mulheres. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta frase. Ela é declarada, no entanto, no v. Lc.1:42; (ver com. do v. Lc.1:42). |
Lc.1:29 | 29. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Perturbou-se. Do gr. diatarasso, “agitar grandemente” ou “perturbar-se grandemente”. Maria estava perplexa com a súbita e inesperada aparição do anjo, mas ainda mais pela alta honra expressada na extraordinária saudação que o anjo lhe fez. Ela estava “perturbada”, mas se manteve serena. Pôs-se a pensar. Embora “perturbada”, Maria procurou pensar no que estava ocorrendo e descobrir a razão para esta experiência incomum. Sob tais circunstâncias, muitas pessoas perderiam, momentaneamente, a capacidade de raciocínio. Maria parece ter sido não apenas uma donzela virtuosa e devota, mas alguém de inteligência notável. Ela não apenas tinha uma familiaridade incomum com as Escrituras, como também refletia sobre o sentido das várias experiências que a vida lhe proveu (ver Lc.2:19; Lc.2:51). Ao contrário de Zacarias, que temeu (Lc.1:12), Maria parece ter mantido a presença de espírito. |
Lc.1:30 | 30. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Não temas. Ver v. Lc.1:29; ver com. do v. Lc.1:13. Dirigindo-se a ela como “Maria”, o anjo revelou que conhecia a personalidade dela. Esta e a declaração seguinte foram designadas a inspirar confiança. Graça. Do gr. charis, “graça,” geralmente considerada como originada do mesmo radical de chairo, “regozijar” (ver com. do v. Lc.1:28), palavra muito usada pelos primeiros cristãos. Deus Se deleitou ao encontrar em Maria alguém que se aproximava bastante do ideal divino. |
Lc.1:31 | 31. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Conceberás. A redação do v. 31 se assemelha um pouco com Gn.16:11, em que foi feita uma promessa semelhante a Hagar. O anjo anunciou o cumprimento da promessa feita a Eva (ver com. de Gn.3:15). Como o Rei do universo poderia e condescenderia em ser feito “carne” (Jo.1:14), ser “nascido de mulher” (Gl.4:4), “em semelhança de homens” (Fp.2:7), é um mistério insondável e incompreensível que a Bíblia não revela. Com que temor e reverência o Céu deve ter observado o Filho de Deus “descer do trono do Universo” (DTN, 23), partir das cortes de glória e condescender em tomar sobre Si a humanidade, ser feito “em todas as coisas (...) semelhante aos irmãos” (Hb.2:17), humilhar-Se e ser “reconhecido em figura humana” (Fp.2:7; ver com. de Fp.2:7-8; ver também Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Com temor e reverência também devemos contemplar o amor incomparável de Deus ao doar Seu único Filho para tomar nossa natureza (Jo.3:16). Por Sua humilhação Cristo “ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá” (DTN, 25). Neste maravilhoso dom, o caráter de Deus permanece em completo contraste com o caráter do maligno que, embora um ser criado, desejou se exaltar e ser como o Altíssimo (Is.14:14). Chamarás pelo nome. Ver com. de Mt.1:21. |
Lc.1:32 | 32. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai Este será grande. Há uma notável semelhança entre os v. 32 e 33 e Is.9:6-7; um texto é uma clara reflexão do outro. Seis meses antes Gabriel disse a Zacarias que João seria “grande” (Lc.1:15). Chamado. Neste verso, tem o sentido de “reconhecido” ou “conhecido”, como em Mt.21:13. A divina filiação de Cristo foi anunciada por Deus aos anjos celestiais (Hb.1:5-6), confessada por Seus discípulos (Mt.16:16; Jo.16:30) e pelos escritores do NT (Rm.1:4; Hb.4:14; 1Jo.5:5). Filho do Altíssimo. Ver v. Lc.1:35. No batismo, o Pai declarou que Jesus era Seu Filho (Lc.3:22). A mesma declaração foi feita novamente, poucos meses antes da crucifixão (Mt.17:5). Todos os que fazem “o que é agradável diante dEle” (Hb.13:21) têm o privilégio de ser chamados “filhos do Altíssimo” (Lc.6:35; ver com. de Jo.1:1-3; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). O trono. Segundo o profeta Isaías, o Príncipe da Paz deveria sentar sobre o trono de Davi para administrar Seu reino (Is.9:6-7). O “trono” representa o reino eterno de Cristo, não uma restauração do reino literal de Davi no mundo atual, como está evidente em todo o NT (ver Jo.18:36; ver com. de Lc.4:19). Davi, Seu pai. Ver com. de Mt.1:1; Mt.1:16; Mt.1:20; Lc.1:27. A descendência literal de Jesus da linhagem de Davi é claramente afirmada tanto no AT como no NT (Sl.132:11; At.2:30; Rm.1:3). Mesmo os inimigos de Cristo não negaram que o Messias deveria ser “filho de Davi” (Lc.20:41-44). O glorioso reino de Davi se tornou, para o profeta, um símbolo único da vinda do reino messiânico (Is.9:6-7; 2Sm.7:13; Sl.2:6-7; Sl.132:11; ver vol. 4, p. 17, 18). A expressão “Davi, seu pai” é significativa. Jesus poderia ter sido o Filho de Davi como o Filho de José, ou de Maria, ou de ambos. Maria obviamente compreendeu que o anjo quis dizer que a concepção de Jesus seria apenas pelo Espírito Santo (v. Lc.1:34-35). A declaração do anjo em apontar a Davi como o “pai” de Jesus poderia ser entendida como significando que a própria Maria era descendente de Davi (ver com. de Mt.1:16; cf. DTN, 44). |
Lc.1:33 | 33. ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Ele reinará. É digno de nota que, nas mensagens angélicas e proféticas dadas com relação ao nascimento de Cristo, pouca indicação foi dada acerca do papel de Cristo como o sofredor. Neste versículo, por exemplo, Gabriel olha para frente, ao glorioso clímax do plano da salvação, passando por cima de qualquer referência à crucifixão. Talvez o regozijo no Céu pelo nascimento do Salvador, bem como daqueles poucos na terra que O reconheceram e receberam, fez parecer impróprio mencionar a cruz que precederia a coroação. O próprio Senhor, “o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb.12:2). Com que frequência os profetas do AT elevaram olhos inspirados da angústia trazida pelo pecado para a glória final do universo purificado de todos os traços do mal! Casa de Jacó. Isto é, os descendentes de Jacó. No sentido espiritual, estes incluem todos os que creem em Cristo, quer sejam judeus ou gentios (Rm.2:25-29; Gl.3:26-29; 1Pe.2:9-10). Não terá fim. Literalmente, “pelas eras” (ver com. de Mt.13:39). Os homens santos da antiguidade olharam adiante para o tempo quando as coisas transitórias da Terra dariam lugar às realidades eternas. Os reinos da terra que, do ponto de vista humano, geralmente parecem se elevar majestosamente um após o outro, desaparecem como casas de gelo sob o sol de verão. As pessoas lutam por permanência e segurança; mas essas coisas nunca serão alcançadas até que Cristo estabeleça Seu reino, o qual nunca será destruído (Dn.2:44), que “não passará” (Dn.7:14), que será eterno (Mq.4:7; ver com. de Sl.145:13). A promessa do Pai de que o reino de Seu filho deveria ser “para todo o sempre” (Hb.1:8) não era desconhecida aos judeus dos dias de Cristo (Sl.45:6-7; Jo.12:34). |
Lc.1:34 | 34. Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Como será isto [...]? O contexto indica que Maria creu resolutamente no anúncio do anjo. Numa fé simples, ela perguntou como ocorreria o futuro milagre. Não tenho relação. Isto é, relação sexual. Maria poderia perguntar como uma donzela pura, afirmando sua virgindade (ver com. de Mt.1:23). O modo dela de expressar esse fato é o idiomatismo hebraico comum para a castidade pré-marital (ver Gn.19:8; Jz.11:39). Como Ele faz conosco hoje, Deus primeiro deixou Maria se tornar completamente consciente do fato de que o evento antecipado estava além do poder humano, que era impossível do ponto de vista humano antes de apresentar a ela os meios pelos quais isso ocorreria. É assim que Deus nos leva a apreciar Seu poder e bondade e nos ensina a ter confiança nEle e em Suas promessas. A tentativa de ler um voto de virgindade perpétua nessas palavras de Maria é completamente injustificada (ver com. de Mt.1:25). Permanecer virgem perpetuamente era geralmente considerado pelos judeus como uma reprovação, não uma virtude. A incapacidade de gerar filhos era sempre ocasião de desgosto e remorso por parte da esposa (ver Gn.30:1; 1Sm.1:4-7). A ideia de que ela permaneceu sempre virgem surgiu nos séculos posteriores, possivelmente de um sentido pervertido do que constitui a virtude. Acreditar dessa forma indica que o lar, uma instituição divinamente ordenada, não representa o ideal supremo da vida social (ver com. de Mt.19:3-12). |
Lc.1:35 | 35. Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. O Espírito Santo. Ver com. de Mt.1:18; Mt.1:20. Descerá sobre ti. Uma expressão geralmente usada para descrever a recepção do poder do Espírito Santo (Jz.6:34; 1Sm.10:6; 1Sm.16:13). Poder. Do gr. dynamis, “força” ou “habilidade” enquanto contrastada com exousia, “poder”, no sentido de autoridade. Dynamis é normalmente usada nos evangelhos para se referir aos milagres de Cristo (Mt.11:20-23; Mc.9:39). Neste verso, o “poder do Altíssimo” é paralelo ao “Santo Espírito”, não significando, entretanto, que o Espírito Santo é apenas a expressão do poder divino, mas que Ele é o agente por meio do qual o poder divino é exercido. As palavras do anjo foram ditas no estilo hebraico poético, em que há um ritmo de pensamento, em vez de rima e métrica (ver Lc.1:32-33; Lc.1:35; ver também vol. 3, p. 8). Filho de Deus. Neste versículo, o anjo Gabriel afirma a divindade de Jesus Cristo, ainda que a divindade seja inseparável de Sua humanidade. O Filho de Maria seria o Filho de Deus porque a concepção ocorreu pelo “poder do Altíssimo”. Desta passagem e de outras nas Escrituras alguns concluíram que o título Filho de Deus foi aplicado primeiramente a Cristo na encarnação. Outros concluíram que o título é descritivo da relação pré-encarnada de Cristo com o Pai. Outros ainda consideram o termo Filho de Deus como adequadamente usado para o Cristo pré-encarnado, num sentido proléptico, ou em ligação com Seu papel no plano da salvação. Os escritores e editores deste Comentário, no entanto, não creem que as Escrituras apoiam algum desses pontos de vista em linguagem clara e inequívoca. Assim, falar dogmaticamente sobre o assunto seria ir além do que Deus tem revelado. Neste versículo, o silêncio vale ouro. Os vários nomes e títulos dados a Cristo na Escritura são designados a auxiliar na compreensão da Sua relação conosco nos vários aspectos de Sua obra salvífica. Alguns erroneamente aplicam esses nomes relativos à obra salvadora de Cristo em relação a Suas absolutas e eternas relações com seres sem pecado do universo. Fazer isso pode levar à falácia de aceitar a linguagem humana como uma completa e adequada expressão do mistério divino. As Escrituras apontam para a ressurreição como um evento que confirma o título Filho de Deus. O salmista escreveu: “Tu és Meu Filho; Eu, hoje, Te gerei” (Sl.2:7). Paulo cita esta “promessa feita a nossos pais” e acrescenta imediatamente que “Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus” (At.13:32-33; Mt.28:18; Rm.1:4; Fp.2:8-10; Hb.1:5-8). Jesus raramente Se referiu a Si próprio pelo título “Filho de Deus” (Jo.9:35-37; Jo.10:36), embora Ele frequentemente indicasse a relação entre Ele e o Pai (Mt.11:27; Lc.10:21; Jo.5:18-23; Jo.10:30; Jo.14:28). Antes de “descer do trono do Universo” (ver DTN, 23; PP, 64), Cristo era “igual a Deus” (Fp.2:6), “um com o Pai” (DTN, 19; ver também Jo.10:30). Na encarnação, Ele voluntariamente Se humilhou e assumiu uma posição subordinada ao Pai (Fp.2:7; Hb.2:9). Várias declarações de Cristo enquanto esteve na Terra testificam de Sua renúncia voluntária e temporária de prerrogativas, embora não de natureza, à divindade (Fp.2:6-8), como quando Ele disse: “O Pai é maior que Eu” (Jo.14:28) ou “O Filho nada pode fazer de Si mesmo” (Jo.5:19; ver com. de Lc.2:49). O Pai confirmou a filiação de Cristo em Seu nascimento (Lc.1:35; Hb.1:5-6), no batismo (Lc.3:22), na transfiguração (Lc.9:35) e novamente na ressurreição (Sl.2:7; At.13:32-33; Rm.1:4). João Batista também testemunhou dEle como “Filho de Deus” (Jo.1:34) e os doze O reconheceram como tal (Mt.14:33; Mt.16:16). Mesmo os espíritos maus admitiram que Ele era o Filho de Deus (Mc.3:11; Mc.5:7). Depois de curar o homem que nasceu cego, Cristo testificou diante dos líderes que Ele era o “Filho de Deus” (Jo.10:35-37). Foi Sua afirmação de ser o “Filho de Deus” que finalmente trouxe sobre Ele a condenação e a morte (Lc.22:70-71). Cristo Se referiu a Deus como “Meu Pai” (Mt.16:17). Ele deseja que aprendamos a conhecer a Deus como “Pai nosso” (Mt.6:9) e entendamos o que Deus pensa de nós (ver com. de Mt.6:9). “Cristo nos ensina a dirigirmo-nos a Ele por um nome novo [...] Concede-nos o privilégio de chamar o infinito Deus de nosso Pai”, como “um sinal de nosso amor e confiança para com Ele e um penhor de Sua consideração e parentesco conosco” (PJ, 141, 142; ver também PJ, 388). De Cristo, Deus diz: “Eu Lhe serei Pai, e Ele Me será Filho” (Hb.1:5). E daquele que, pela fé, é adotado na família celestial como filho do Pai, Deus diz novamente: “Eu lhe serei Deus, e ele Me será filho” (Ap.21:7). Aquele que “é nascido de Deus”, o apóstolo João afirma, “vence o mundo” porque Cristo venceu, e “não vive em pecado” (1Jo.5:4; 1Jo.5:18). O grande objetivo do plano da salvação é levar “muitos filhos à glória” (Hb.2:10; 1Jo.3:1-2; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver também com. de Mt.16:16-20; Mc.2:10; Lc.2:49). |
Lc.1:36 | 36. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Parenta. Do gr. suggenis, “parenta”. Suggenis não significa necessariamente “prima” (ARC), porque a palavra grega não indica o grau de parentesco. A lei fez provisão para casamentos entre as tribos (ver com. de Nm.36:6), e os membros das tribos de Levi e de Judá geralmente casavam entre si. Isabel era da tribo de Levi (ver com. de Lc.1:5); Maria, de Judá (ver com. dos v. Lc.1:27; Lc.1:32). Se Maria era de Judá, parece que o pai de Maria também seria de Judá, e é possível que a ligação de Maria e Isabel fosse por meio da mãe dela ou da mãe de Isabel. A palavra “prima” foi usada primeiramente na tradução de Wyclif, quando a palavra não tinha o significado específico que tem agora. Não há um termo exato no grego, hebraico ou aramaico para denotar o que descrevemos como uma “prima”. Uma má compreensão do problema tem levado alguns comentaristas à conjectura de que Jesus seria descendente tanto de Levi como de Judá. Não há, no entanto, evidência para indicar que Maria não era descendente direta de Davi (ver com. do v. Lc.1:27). Na sua velhice. Ver com. do v. Lc.1:7. |
Lc.1:37 | 37. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Não haverá impossíveis. O pensamento deste versículo é manifestado repetidamente por toda a Escritura. A Abraão foi feita a pergunta: “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn.18:14; ver com. ali). Por meio de Isaías, Deus proclamou: “Assim será a palavra que sair da Minha boca: não voltará para Mim vazia” (Is.55:11). |
Lc.1:38 | 38. Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela. Aqui está a serva. Não um imperativo, mas uma expressão de submissão à vontade de Deus. O assunto foi resolvido por Maria assim que ficou claro para ela qual era a vontade de Deus. Em seguida, ela recebeu informação suficiente para habilitá-la a realizar sua parte de modo inteligente. Que se cumpra em mim. Maria se expressa ainda num espírito manso e submisso. A delicadeza, simplicidade, pureza e dignidade naturais com que Lucas relata a história evidencia a marca do fato histórico, não de origem imaginativa. Os esforços de alguns para envergonhá-la, e de outros, para deificá-la são igualmente injustificados pelos fatos da Escritura. |
Lc.1:39 | 39. Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, Dispondo-se Maria. [Maria visita a Isabel, Lc.1:39-45. Ver mapa, p. 211]. A visita de Maria ao lar de Isabel ocorreu quase imediatamente após o anúncio do nascimento de Jesus, porque o anúncio foi dado no sexto mês da gravidez de Isabel, e Maria permaneceu com ela por três meses (ver Lc.1:26; Lc.1:56). Além disso, Maria viajou “apressadamente”. Naqueles dias. Isto é, logo depois do anúncio do nascimento de Jesus. A região montanhosa. Ver com. do Lc.1:23. O relevo montanhoso de Judá estendia-se de Jerusalém, ao norte, até Hebrom, ao sul (ver Js.21:11). Apressadamente. Neste versículo, a expressão parece se referir não tanto à rapidez com que Maria empreendeu a viagem, mas à vontade dela de encontrar Isabel. Maria acabara de ouvir um dos maiores segredos dos tempos eternos (ver Rm.16:25) e deve ter sentido um desejo intenso de conversar a respeito com alguém que a compreendesse. Ninguém estaria em melhor situação para entendê-la do que Isabel, que, segundo o anjo, experimentava em si mesma um milagre. Além disso, os anos de devoção de Isabel à vontade de Deus conforme as Escrituras a capacitariam não apenas a ouvir com simpatia, mas a dar orientações e conselhos valiosos a Maria, uma jovem que se deparava com problemas e responsabilidades maiores (ver com. do v. Lc.1:7). Maria não viajou para descobrir se o que o anjo dissera era verdade, mas porque creu nas palavras dele. A amizade de alguém que compreende nossos sentimentos é um dos tesouros mais preciosos da vida. O valor da amizade e da comunhão cristã está além de qualquer avaliação. Os pais e as mães em Israel, em particular, têm uma obrigação solene de compartilhar sua experiência a respeito da vontade e dos caminhos de Deus com os mais jovens. Esses jovens, como Maria, buscam conselho dos mais experientes para definir um plano de ação que trará alegria a seu coração e sucesso a seus empreendimentos. Nenhum cristão deve estar muito ocupado que não possa se relacionar com aqueles que necessitam de auxílio, se ele tiver condição de ajudá-los. Uma cidade de Judá. Segundo a tradição, esta era a cidade de Hebrom, a principal dentre nove cidades atribuídas aos sacerdotes nas tribos de Simeão e “Judá” (ver Js.21:13-16; 1Cr.6:57-59). Este foi o primeiro território que Abraão possuiu em Canaã (ver Gn.23:17-19) e ali Davi foi ungido rei (ver 2Sm.2:1; 2Sm.2:4). Alguns sugerem que “Judá” deve ser uma variação ortográfica no hebraico para “Jutá” (Js.15:55; Js.21:16), outra cidade sacerdotal aproximadamente oito quilômetros ao sul de Hebrom. No entanto, essa identificação não é sustentada por qualquer evidência escriturística, histórica ou arqueológica. Além disso, Lucas se refere a Nazaré como “uma cidade da Galileia” (Lc.1:26), e parece mais provável que a expressão paralela, “uma cidade de Judá” fizesse de Judá uma província e não uma cidade. |
Lc.1:40 | 40. entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Saudou Isabel. Maria e Isabel imediatamente se viram unidas por um laço comum de simpatia. Estava evidente para Maria que o sinal dado pelo anjo (v. Lc.1:36) era de fato verdadeiro, e isso confirmou sua fé. Além disso, Zacarias ainda não falava e, sua mudez que se prolongava por seis meses, confirmava a aparição do anjo a ele e servia como uma reprovação contínua a sua inicial falta de fé. |
Lc.1:41 | 41. Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. Estremeceu. Do gr. skirtao, a mesma palavra encontrada na LXX com relação a Jacó e Esaú antes do nascimento deles (Gn.25:22). Os movimentos uterinos de um bebê são muito comuns; mas, nesta ocasião Isabel, por inspiração, corretamente interpretou o movimento (Lc.1:41-43) como tendo mais que um sentido comum. Isabel ficou possuída. Nesta ocasião, foi Isabel quem “ficou possuída do Espírito Santo”. O anjo contou a Maria sobre Isabel (v. Lc.1:36), mas até esse momento Isabel aparentemente não sabia nada sobre o ocorrido com Maria. |
Lc.1:42 | 42. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! Bendita. Do gr. eulogeo, “abençoar”, derivado de eu, “bem”, e logos, “palavra”. “Bendita és tu” é uma expressão baseada no costume do AT (ver Jz.5:24; Rt.3:10). |
Lc.1:43 | 43. E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Meu Senhor. No coração de Isabel não havia inveja de Maria, mas apenas humildade e alegria. Uma confissão de fé semelhante foi feita mais tarde por Pedro (Mt.16:16), algo que lhe ocorreu por revelação. Paulo declarou que somente por meio do Espírito Santo uma pessoa pode dizer que Jesus é o Senhor (1Co.12:3). |
Lc.1:44 | 44. Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. De alegria. Figura de linguagem, atribuindo esta emoção ao feto. |
Lc.1:45 | 45. Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor. Bem-aventurada a que creu. Isto é, Maria, que neste versículo é parabenizada por sua fé e pela grande honra que lhe fora concedida. Talvez Isabel estivesse pensando na descrença de seu esposo e na evidência do desfavor divino que resultou disso. Deus é honrado e agradado quando Seus filhos aceitam Suas promessas numa fé humilde e incondicional. “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo.20:29). Que. Do gr. hoti, que possui dois significados básicos: “que” ou “porque”. Os dois significados fazem sentido neste versículo. |
Lc.1:46 | 46. Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, Disse Maria. [O cântico de Maria, Lc.1:46-56. Ver mapa, p. 211]. O dom de profecia agora parece recair sobre Maria, que fala calma e majestosamente. Todas as ideias, até mesmo suas próprias palavras, refletem o que os homens inspirados escreveram no passado. O cântico de Maria (v. 46-55) é considerado um dos hinos mais sublimes de toda a literatura sacra, um poema lírico de requintada beleza e digno de Davi, o antepassado dela. Ele está permeado com um espírito de humilde adoração e gratidão, e glorifica o poder, a santidade e a misericórdia de Deus. Ele expressa a emoção e a experiência pessoal dela enquanto meditava na mensagem do anjo Gabriel. O cântico de Maria é frequentemente designado Magnificat, “engrandece”, a partir de sua primeira palavra na Vulgata Latina. A primeira metade da canção está relacionada à gratidão pessoal de Maria (v. Lc.1:46-50); a segunda está ligada ao agradecimento nacional (v. Lc.1:51-55). Este cântico revela o caráter de Deus e enfatiza Sua graça (v. Lc.1:48), onipotência (v. Lc.1:49; Lc.1:51), santidade (v. Lc.1:49), misericórdia (v. Lc.1:50), justiça (v. Lc.1:52-53) e fidelidade (v. Lc.1:54-55). A qualidade poética do cântico se torna mais impressionante quando é impressa em forma poética. O cântico está dividido em quatro estrofes, como se segue: 1. (v. Lc.1:46-48) Nestes versículos, Maria pensa primeiramente em si mesma, em seus sentimentos de adoração e santa alegria. Ela foi escolhida e honrada acima das demais mulheres e se admira de que Deus a tenha levado em consideração e passado de largo as outras. Ela está ciente de que nada a recomendaria a Deus. 2. (v. Lc.1:49-50) Nesta estrofe, Maria glorifica o poder, a santidade e a misericórdia de Deus. 3. (v. Lc.1:51-53) Estes versículos apresentam um nítido contraste entre os valores de caráter exaltados por Deus e pelo ser humano. A concepção de Deus a respeito do que constitui a verdadeira grandeza é a antítese do que o ser humano tem em consideração. 4. (v. Lc.1:54-55) O cântico de Maria termina com uma nota de gratidão pela fidelidade eterna de Deus a Seu povo escolhido. O cântico de Maria tem sido comparado ao de Ana (ver 1Sm.2:1-10), que foi uma oração de gratidão por Samuel. Ambos exalam fé e alegre adoração, mas o de Maria reflete, talvez, um conceito mais elevado sobre Deus. As palavras foram extraídas do melhor que os profetas haviam escrito. O cântico de Maria é também uma reminiscência do cântico de Moisés (ver Ex.15), do cântico de Débora e Baraque (ver Jz.5) e é semelhante em espírito aos Sl.113; Sl.126, entre outros. Uma evidência textual (cf. p. 146) atribui este cântico a Isabel e não a Maria. Indiscutivelmente, porém, este cântico foi de Maria. O cântico de Maria reflete o pensamento das seguintes passagens do AT: Lc.1:46 (1Sm.2:1; Sl.103:1); v. Lc.1:47 (1Sm.2:1); v. Lc.1:48 (Gn.30:13; 1Sm.1:11); v. Lc.1:49 (Dt.10:21; Sl.111:9); v. Lc.1:50 (Sl.103:17); v. Lc.1:51 (Sl.89:10); v. Lc.1:52 (1Sm.2:7-10; Jó.5:11; Jó.12:19); v. Lc.1:53 (1Sm.2:5; Sl.107:9); v. Lc.1:54 (Sl.98:3; Is.41:8); e v. Lc.1:55 (2Sm.22:51; Mq.7:20). A minha alma. Em vista do fato de que o alegre cântico de Maria é poético na forma, e porque a poesia hebraica consiste essencialmente em repetição de pensamento com palavras diferentes, parece haver pouca validade na afirmação que alguns têm feito de que há diferença entre “alma” no v. 46 e “espírito” no v. Lc.1:47. Nas duas declarações, Maria está apenas se referindo a sua apreciação mental, emocional e espiritual da honra concedida a ela como mãe do Messias. Engrandece. Do gr. megaluno, “fazer [ou declarar] grande”, “exaltar” ou “enaltecer”. As pessoas nada podem fazer para aprimorar a grandeza e majestade de Deus, mas com uma melhor compreensão do caráter, da vontade e dos caminhos de Deus elas deveriam estar conscientes, como Maria, de uma revelação mais gloriosa. “Engrandecer” ao Senhor significa declarar Sua grandeza. |
Lc.1:47 | 47. e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, Em Deus, meu Salvador. Como qualquer outro ser humano, Maria necessitava de salvação. Nunca lhe ocorreu que ela nascera sem pecado, como argumentam alguns, em desacordo com as Escrituras. Os escritores do AT falam da “Rocha” da sua salvação (Dt.32:15; Sl.95:1), do “Deus” da sua salvação (Sl.24:5) e com frequência se referem a Deus como “Salvador” (Is.63:8). |
Lc.1:48 | 48. porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, Porque contemplou. Ao coração humilde é maravilhoso que Deus, que guia as órbitas celestiais através do espaço infinito, condescenda em habitar com o “contrito e abatido de espírito” (ver Is.57:15). Ele não apenas observa nossa baixa condição de pecado, mas tem empregado, para nossa salvação, recursos celestiais ilimitados. Humildade. Do gr. tapeinosis, “baixeza”, “baixa condição” ou “humilhação”. A palavra se refere à modesta condição social de Maria e não ao seu espírito de humildade. No entanto, mesmo em sua “baixa condição” Maria “encontrou favor diante de Deus”, e isso foi mais valioso para ela do que todos os tesouros e toda honra e respeito que o mundo podia lhe oferecer. Considerarão bem-aventurada. Isto é, pensariam nela como feliz e honrada. Lia expressou um pensamento semelhante no nascimento de Aser (ver Gn.30:13). |
Lc.1:49 | 49. porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. Santo é o Seu nome. Expressão de um pensamento independente dos anteriores e posteriores. A declaração de Maria reflete a reverência e o temor com relação ao nome sagrado de Deus, Yahweh (ver com. de Ex.3:14-15; cf. vol. 1, p. 149-151). Mais tarde, os cristãos consideraram o nome de Jesus com reverência semelhante, embora sem medo de usá-lo respeitosamente (ver At.3:6; At.4:10). |
Lc.1:50 | 50. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. A Sua misericórdia. Isto é, o amor e o favor abundantes de Deus, concedidos mesmo quando menos merecidos. Tem-se observado que a graça afasta o erro, e a misericórdia remove a miséria do pecado. Os que O temem. Expressão hebraica típica para piedade, comum em todo o AT. O temor também é utilizado no NT no sentido de reverência piedosa (At.10:2; At.10:22; At.10:35; Cl.3:22; Ap.14:7; Ap.15:4), embora a mesma palavra também seja usada para medo e pânico (Mt.21:46; Mc.11:32; Lc.12:4). |
Lc.1:51 | 51. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Valorosamente. Outra expressão tipicamente hebraica. O “braço” é símbolo de poder (ver Ex.6:6; Sl.10:15; Sl.136:12). A palavra “valorosamente” ou “fortaleceu” é utilizada pelos autores gregos, como neste versículo, para denotar a vitória sobre os inimigos. Pensamentos. Do gr. dianoia, “mente” ou “compreensão”; isto é, discernimento intelectual ou compreensão moral. Dianoia se refere à faculdade do pensamento, especialmente à compreensão moral. Soberbos. Ou, “os arrogantes”. Deus os confunde, como se eles tivessem sido espalhados e seus planos, interrompidos por um vendaval. O orgulho é a essência do pecado. Foi o orgulho no coração de Lucifer que ocasionou a rebelião no Céu (ver Is.14:12-14). Um falso senso de orgulho deixa seu possuidor, por um tempo, fora do alcance do auxílio que Deus poderia lhe dar. Nada é mais ofensivo a Deus que o orgulho, que consiste essencialmente na exaltação própria em correspondente depreciação dos outros. Não admira que as Escrituras declarem: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv.16:18). Jesus disse: “Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado” (Lc.14:11). A humildade é o oposto do orgulho e é a característica mais valiosa aos olhos de Deus (ver com. do v. Lc.1:48). |
Lc.1:52 | 52. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Poderosos. Do gr. dynastai, “príncipes” ou “potentados”, a origem da palavra “dinastia”. A palavra dynastai é derivada de dynamai, “ser capaz”, “ser poderoso”, daí a palavra “dinamite”. Neste versículo, a referência é, particularmente, aos opressores. Talvez Maria tivesse em mente o cruel tirano Herodes, que assassinou milhares de judeus, bem como seus parentes mais próximos (ver p. 26-30). A literatura judaica contemporânea também revela o fato de que o povo comum com frequência sofreu intensamente com a opressão econômica. Humildes. Do gr. tapeinoi, “[os] humildes” ou “[os] simples”; a forma adjetiva grega do substantivo traduzido como “humildade” (ver com. do v. Lc.1:48). No tempo devido, Deus faz justiça aos que têm sido oprimidos. |
Lc.1:53 | 53. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Bens. Possivelmente, tanto o alimento literal como o espiritual (ver com. de Mt.5:6). Os ricos. Como regra geral, os que acumularam grande riqueza o fizeram oprimindo seus vizinhos e foram consequentemente qualificados pelos pobres como pessoas más. Ao passo que, em certo sentido, a riqueza passou a ser encarada como sinal de favor divino, principalmente por aqueles que a possuíam, ela era identificada com a impiedade pelos oprimidos. Em contraste, as pessoas pobres, que normalmente não tinham como oprimir ninguém, se achavam justas. Esse conceito de riqueza e pobreza é refletido na parábola de Cristo sobre o rico e o mendigo (Lc.16:19-31). |
Lc.1:54 | 54. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia Servo. Do gr. pais, “filho” ou “servo”. Como povo escolhido de Deus, Israel com frequência é mencionado no AT como Seu “servo” (ver com. de Is.41:8; ver vol. 4, p. 30-35). |
Lc.1:55 | 55. a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais. Como prometera. Referência às promessas de Deus repetidas muitas vezes (ver Gn.22:17-18; Dt.7:12-14; Mq.7:20). Neste versículo, é feita uma referência especial à misericórdia e ao auxílio de Deus exercidos em favor de Seu povo escolhido de geração em geração (Lc.1:54). Sua descendência. Isto é, os descendentes de Abraão. |
Lc.1:56 | 56. Maria permaneceu cerca de três meses com Isabel e voltou para casa. Maria permaneceu. É possível que Maria tenha ficado com Isabel até depois do nascimento de João, embora a narrativa de Lucas pareça sugerir que ela saiu antes disso. Parece uma total contradição que Maria saísse na época que Isabel mais precisaria de seu auxílio terno e compreensivo. É possível que, neste versículo, Lucas mencione a partida de Maria neste ponto para completar a porção da narrativa relacionada à visita de Maria a Isabel. Outro exemplo dessa técnica literária, comum tanto no AT como no NT, ocorre em Lc.3:20-21, em que o aprisionamento de João é apresentado no registro anterior ao batismo de Jesus, embora ele realmente tenha ocorrido depois. O fato de Maria não ser mencionada pelo nome em Lc.1:57-58 não indica, de modo algum, que ela não participou no episódio relatado aqui. Voltou para casa. É possível que os eventos de Mt.1:18-25 (a aparição do anjo a José e o casamento dele) tenham ocorrido logo depois do retorno de Maria do lar de Isabel para Nazaré. |
Lc.1:57 | 57. A Isabel cumpriu-se o tempo de dar à luz, e teve um filho. Cumpriu-se o tempo. [O nascimento de João Batista, Lc.1:57-66. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. Nada se sabe sobre a época do ano em que João nasceu. Diz-se que a antiga igreja de Alexandria celebrava este evento em 23 de abril. Em vista do fato de que essa data está baseada numa tradição muito antiga, pode haver motivo para pensar que ela representasse o período aproximado do nascimento. Mais tarde, a igreja em Alexandria mudou a celebração para 24 de junho (data escolhida arbitrariamente seis meses antes de 25 de dezembro) a fim de estar em harmonia com a prática das igrejas latinas e gregas. Com 23 de abril como a possível data para o nascimento de João Batista, o nascimento de Jesus teria sido por volta de 19 de outubro (ver p. 236-239; ver com. de Mt.2:1). Deve-se notar que esse cálculo está baseado apenas numa antiga tradição cujo valor é desconhecido. |
Lc.1:58 | 58. Ouviram os seus vizinhos e parentes que o Senhor usara de grande misericórdia para com ela e participaram do seu regozijo. Participaram do seu regozijo. Os vizinhos de Isabel estavam felizes com ela. Algumas traduções dizem “a felicitaram”, o que certamente fizeram seus amigos e parentes; mas a declaração de Lucas neste versículo não se preocupa tanto com felicitações, mas com o genuíno sentimento de compreensão por parte dos amigos de Isabel (cf. Lc.15:6; Lc.15:9; 1Co.12:26). Um interesse genuíno nas alegrias e tristezas dos outros é uma virtude cristã fundamental. Ela é, na verdade, a base em que repousam todos os relacionamentos saudáveis. Essa preocupação com o bem-estar alheio é o resultado prático da operação da lei de Deus no coração - do tipo de amor que cumpre a lei (Mt.22:39-40; Rm.13:10). Uma pessoa não pode ser seguidora do Mestre a menos que esteja pronta e disposta a alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm.12:15; ver com. de Mt.5:43-48). |
Lc.1:59 | 59. Sucedeu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. No oitavo dia. Entre os hebreus era costume administrar o rito de circuncisão no oitavo dia; isto é, quando a criança tinha sete dias segundo a nossa contagem de tempo (Gn.17:10-14; Gn.21:4; ver com. de Lc.17:10-11). A circuncisão representava a admissão da criança à relação da aliança. Sua importância é comprovada pela exigência de sua realização (Lv.12:3). A circuncisão até ocorria no sábado (Jo.7:22-23; Fp.3:5) e marcava os judeus do sexo masculino como membros do povo escolhido na teocracia. Deus tomou Abraão e seus descendentes como uma raça, e os descendentes de Abraão foram considerados automaticamente como súditos da teocracia. João não tinha escolha; era um israelita, e os israelitas eram a nação escolhida de Deus. A descendência abraâmica, no entanto, não assegurava salvação, como se evidencia nas repetidas declarações das Escrituras Sagradas (ver Lc.3:8; Jo.8:33-39; Rm.2:25-29; Rm.9:4-8; Gl.3:7; Gl.3:9; Gl.3:16; Gl.3:29); assim, nenhum judeu poderia entrar no relacionamento da aliança sem se submeter a esse rito, que Deus ordenou a Israel. Como a circuncisão era um sinal do relacionamento de aliança do Israel literal com Deus, assim é o batismo para os cristãos (ver Cl.2:10-12; ver com. de Gn.17:10), os descendentes espirituais de Abraão (Gl.3:7; Gl.3:9; Gl.3:27-29). O povo escolhido de Deus não se torna herdeiro da promessa com base na descendência física, mas pela fé pessoal em Cristo para salvar do poder e da penalidade do pecado (ver At.2:38; At.3:19; At.8:36-37). Dar-lhe o nome. A palavra grega pode ser interpretada como significando que eles lhe dariam nome ou que começariam a lhe dar o nome de seu pai. Os amigos e parentes se reuniram para se alegrar com Zacarias e Isabel. Eles aparentemente tomaram a iniciativa nos eventos do dia. Alguns deles, sem dúvida, eram membros do sacerdócio, e um deles administrou o rito da circuncisão. Podemos imaginar a discussão entre eles acerca do nome e para chegar a um acordo com Zacarias. Há precedente no AT de amigos e parentes participando na escolha do nome da criança (ver Rt.4:17). Ao propor dar o nome do pai à criança, os que se reuniram na casa de Zacarias e Isabel estavam seguindo um procedimento costumeiro e sentiam que nenhuma objeção seria levantada ao honrarem dessa forma a Zacarias e lhe mostrar respeito. O fato de que Zacarias, nesta época, estava surdo e mudo (ver com. de Lc.1:62) parece tê-lo eliminado da discussão e da decisão. |
Lc.1:60 | 60. De modo nenhum! Respondeu sua mãe. Pelo contrário, ele deve ser chamado João. Respondeu sua mãe. Evidentemente Zacarias informou Isabel das instruções do anjo sobre o nome da criança (ver v. Lc.1:13). Não há evidência de que Isabel falou aqui por inspiração. |
Lc.1:61 | 61. Disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que tenha este nome. Parentela. Do gr. suggeneia (ver com. do v. Lc.1:36). Não havia precedentes familiares para o nome João. Geralmente o primeiro filho perpetuava o nome do pai ou, com mais frequência, o nome do avô. Esse costume mostrava respeito pelas gerações anteriores e servia para identificar a pessoa que tinha o nome da família à qual ela pertencia. |
Lc.1:62 | 62. E perguntaram, por acenos, ao pai do menino que nome queria que lhe dessem. Por acenos. O tempo verbal no grego indica esforços repetidos para conversar com Zacarias. |
Lc.1:63 | 63. Então, pedindo ele uma tabuinha, escreveu: João é o seu nome. E todos se admiraram. Uma tabuinha. Do gr. pinakidion, “uma pequena tábua”; “uma tábua para escrever”. Se esta tábua de escrever não era uma peça de acessório comum nos lares judeus, é provável que a condição de Zacarias tornou seu uso necessário em seu lar durante o período de aflição (ver com. do v. Lc.1:62). Escreveu. Um idiomatismo tipicamente hebraico usado para introduzir uma citação direta (ver 2Rs.10:6). João. Ver com. dos v. Lc.1:13; Lc.1:60. Zacarias escreveu, literalmente: “João, é o seu nome”. A questão não foi aberta para mais discussões. Todos se admiraram. Possivelmente não tanto por causa da escolha de um nome, pois Zacarias concordou com Isabel em dar esse nome ao filho deles (ver com. dos v. Lc.1:22; Lc.1:62). Alguns comentaristas, apoiados por pelo menos um manuscrito antigo (Beza), unem essa declaração e a declaração seguinte, isto é, o desimpedimento da língua de Zacarias (v. Lc.1:64), em vez de ligá-la à declaração anterior. Isso pode ter ocorrido, mas é certo que Zacarias começou a falar “imediatamente” após ter escrito o nome “João” (v. Lc.1:64). Naquele mesmo instante, sua fala e sua audição foram restauradas (ver com. do v. Lc.1:62). O Códice de Beza e os antigos manuscritos latinos possuem frases dos v. Lc.1:63 e Lc.1:64 numa ordem diferente: “Imediatamente sua língua foi desimpedida, e todos se maravilharam, e sua boca foi aberta.” |
Lc.1:64 | 64. Imediatamente, a boca se lhe abriu, e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus. Desimpedida. A dificuldade física de Zacarias foi removida. Esse milagre, ocorrendo quando se deu nome à criança, serviu para confirmar o nascimento de João como o cumprimento da visão no templo. Louvando a Deus. Foi apropriado que as primeiras palavras de Zacarias fossem de louvor a Deus. Enquanto suas últimas palavras tinham expressado dúvidas (v. Lc.1:18), suas primeiras palavras foram uma expressão de fé. Isso indicaria que os meses de silêncio resultaram em grande benefício espiritual. Com todas as outras vozes silenciadas e esperando em quietude e humildade diante de Deus, Zacarias descobriu que “o silêncio da alma” tornou “mais distinta a voz de Deus” (ver DTN, 363). |
Lc.1:65 | 65. Sucedeu que todos os seus vizinhos ficaram possuídos de temor, e por toda a região montanhosa da Judéia foram divulgadas estas coisas. Temor. Não terror, mas profundo temor e reverência religiosos (ver com. do v. Lc.1:30). Região montanhosa. Isto é, a região ao redor do lar de Zacarias e Isabel (ver com. dos v. Lc.1:23; Lc.1:39). Divulgadas. Isto indica conversa contínua entre o povo sobre este assunto. |
Lc.1:66 | 66. Todos os que as ouviram guardavam-nas no coração, dizendo: Que virá a ser, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele. A mão do Senhor. Expressão usada figurativamente neste versículo para a providência divina. No NT, esta expressão é peculiar a Lucas (ver At.11:21; At.13:11), embora ela ocorra frequentemente no AT (Jz.2:15; 1Rs.18:46). Outros escritores do NT utilizam a expressão “mão do Senhor” (cf. 1Pe.5:6; Rm.10:21). |
Lc.1:67 | 67. Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou, dizendo: Cheio do Espírito Santo. [O cântico de Zacarias, Lc.1:67-80. Ver mapa, p. 211; gráfico, p. 224]. O inspirado “cântico de Zacarias” (v. Lc.1:68-79), como geralmente é conhecido, algumas vezes é chamado de Benedictus, “bendito”, pois é a primeira palavra na Vulgata Latina do v. Lc.1:68. A referência do v. Lc.1:64 à fala de Zacarias e ao louvor a Deus possivelmente antecipam essas palavras. O cântico de Zacarias é sacerdotal no teor e apropriado a um filho de Arão, assim como o cântico de Maria é régio e apropriado a uma filha de Davi. As frases sugerem que Zacarias passou o tempo anterior ao nascimento de João em estudo diligente do que os profetas escreveram sobre o Messias e sobre a obra de Seu precursor. O hino inteiro é tipicamente hebraico e messiânico. Ele é um cântico de louvor a Deus, em antecipação do iminente cumprimento das promessas relativas ao Messias e Seu reino. Divide-se em duas grandes seções: a primeira consiste em três estrofes (v. Lc.1:68-69; Lc.1:70-72; Lc.1:73-75) essencialmente relacionadas com a missão do Messias, e a segunda, em duas estrofes (v. Lc.1:76-79) relacionadas à obra do precursor do Messias. O conteúdo e a fraseologia do hino denotam um conhecimento íntimo das Escrituras do AT, principalmente dos profetas: v. Lc.1:68 (Sl.41:13; Sl.72:18; Sl.106:48), v. Lc.1:69 (1Sm.2:10; Sl.132:17), v. Lc.1:71 (Sl.23:5), v. Lc.1:72 (Sl.105:8; Sl.106:45), v. Lc.1:73 (Ex.2:24; Sl.105:9; Je.11:5; Mq.7:20), v. Lc.1:76 (Ml.3:1; Is.40:3) e v. Lc.1:79 (Is.42:7; Sl.107:10; Is.9:1-2). Além dessas referências mais ou menos diretas, há muitas alusões ao AT. Visitou. Do gr. episkeptomai, “inspecionar”, “examinar”, no sentido de observar a questão a fim de auxiliar. Em Mt.25:36 a mesma palavra é usada para visitar uma pessoa aprisionada, não tanto no sentido de fazer uma visita social mas para tentar socorrê-la. Aqui, Zacarias prevê o cumprimento das promessas messiânicas feitas a seu povo de geração em geração. Isso foi significativo em vista do fato de que, então (por aproximadamente quatro séculos), as vozes dos profetas canônicos cessaram. A maioria do povo dizia no coração: “Prolongue-se o tempo e não se cumpra a profecia” (Ez.12:22). Deus “visita” Seu povo, não em juízo, mas em misericórdia, para livrá-lo e redimi-lo. Redimiu o Seu povo. Estas palavras constituem um anúncio implícito de que o Redentor logo surgiria, “para [...] dar a Sua vida em resgate por muitos” (Mt.20:28). Como é frequente nas profecias do AT, Zacarias fala de um evento futuro como se ele já tivesse ocorrido (ver vol. 1, p. 2-4). As promessas de Deus são tão certas que Zacarias falava do plano da redenção como um fato realizado. Israel não foi apenas um grupo de pessoas em necessidade de salvação do pecado (Lc.1:68; Lc.1:77), mas também uma nação, um “povo escolhido”, precisando de livramento dos inimigos (v. Lc.1:68; Lc.1:71). Nas gerações passadas, Deus com frequência libertara os israelitas dos inimigos de sua nação, tais como Egito, Midiã, Filístia, Assíria e Babilônia. Na verdade, o estabelecimento do reino messiânico como anunciado pelo profeta Daniel (Dn.2:44; Dn.7:14; Dn.7:18; Dn.12:1) vislumbrou a libertação completa e permanente de todos os inimigos. No entanto, no plano de Deus, a libertação do pecado deve preceder a libertação das nações circunvizinhas. O orgulho nacional levou os judeus a pensar na salvação quase que exclusivamente em termos de libertação de inimigos externos e a negligenciar a necessidade de livramento de inimigos internos ocultos. O conceito popular do Messias como um salvador político não foi realmente uma questão de erro; foi, em parte, um caso de ênfase equivocada (ver DTN, 30, 235), porque o AT está repleto de predições das glórias messiânicas. Os judeus esqueceram que, sem livramento do pecado pessoal, não poderia haver livramento dos inimigos da nação. Eles se concentravam nas recompensas do reto proceder enquanto se esqueciam de fazer o bem (ver vol. 4, p. 13-20). |
Lc.1:68 | 68. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, Sem comentário para este versículo. |
Lc.1:69 | 69. e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, Um chifre (KJV). Uma metáfora comum do AT para designar força e poder (a ARA diz “poderosa”; ver 1Sm.2:10; ver com. de 2Sm.22:3), baseado no fato de que a força de combate de animais com chifres, como touros e carneiros, está em seus chifres. Essa explicação também pode ser uma referência aos capacetes dos guerreiros, em muitos casos, adornados com chifres. Desta forma, “chifre” representa coisas como sucesso pessoal (Sl.92:9-10), o poder das nações (ver com. de Dn.8:21) e até a força divina - “a força da minha salvação” (Sl.18:2). Aqui, o “chifre” se refere ao próprio Messias. Na casa. Isto é, a dinastia da família. Como prometido, o Messias seria descendente de Davi (ver com. de Mt.1:1). Servo. Do gr. pais, “criança” ou “servo” (ver com. do v. Lc.1:54). |
Lc.1:70 | 70. como prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas, Seus santos profetas. Todos os profetas da antiguidade deram testemunho de Cristo (ver Lc.24:25; Lc.24:27; Lc.24:44; Jo.5:39; At.3:21) e “indagaram e inquiriram” diligentemente para entender o que o “Espírito de Cristo, que neles estava”, significava (1Pe.1:10-11). Desde a antiguidade. Esta expressão é característica de Lucas (ver At.3:21; At.15:18). A primeira profecia de um Redentor foi feita no jardim do Éden quando o ser humano pecou (ver Gn.3:15). Enoque falou para o povo de sua geração sobre o Messias (Jd.1:14-15) e, a todas as gerações, Deus enviou pessoas inspiradas para testemunhar da certeza da salvação. Todos deram testemunho de Cristo (ver At.3:21; 1Pe.1:10-12). |
Lc.1:71 | 71. para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam Libertar dos nossos inimigos. Em resultado da transgressão, Israel serviu a sucessivos povos estrangeiros: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. O mortificante jugo de escravidão de Roma pesava sobre eles. Para haver certeza, era necessária a libertação das nações inimigas antes do estabelecimento do eterno reino messiânico (ver com. do v. Lc.1:74). Na verdade, a obra do Messias culminaria no estabelecimento de Seu reino (ver Dn.2:44; Dn.12:1; Mt.25:31-34; vol. 4, p. 16, 17). Neste ínterim, o “reino de Deus” deveria ser estabelecido no coração (ver Lc.17:20-21). Primeiramente, deveria haver livramento do poder do pecado (ver Mt.1:21), e isso possibilitaria o livramento do salário do pecado, a morte (ver Jo.3:16; Rm.6:23). Só então os seres humanos conseguiriam desfrutar o reino eterno que Cristo veio estabelecer (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:2; ver vol. 4, p. 16, 17). |
Lc.1:72 | 72. para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança Misericórdia. A misericórdia de Deus, num certo sentido, guardada “em silêncio nos tempos eternos”, seria por fim manifesta (Rm.16:25-26). Por inúmeras gerações aqueles “que jaziam nas trevas e na sombra da morte” esperavam pela misericórdia encarnada de Deus para dirigir seus “pés pelo caminho da paz” (Lc.1:79). Sua santa aliança. A “aliança eterna” como revelada a Adão e Eva no jardim do Éden, a Noé, depois do dilúvio, a Abraão e sua descendência e aos fiéis de todas as eras (ver Gn.9:16; Gn.17:19; Lv.24:8; Hb.13:20). A principal referência é feita à aliança entregue a Abraão e aos seus descendentes (Gn.15:18; Gn.17:4-7). |
Lc.1:73 | 73. e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai, Do juramento. O “juramento” aqui mencionado foi dado por Deus em confirmação de Sua aliança com Abraão (ver Gn.22:16-18; Hb.6:13-18). Esta é uma das duas “coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta” (Hb.6:18), a outra é a promessa que o juramento confirma. Ao dar a Abraão um juramento, Deus empregou um costume humano para assegurar a Abraão a certeza de Sua promessa. A aliança eterna, o plano da salvação, nos dá hoje “forte alento” e é como “âncora da alma, segura e firme” (Hb.6:18-19). |
Lc.1:74 | 74. de conceder-nos que, livres das mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, Adorássemos sem temor. O contexto atribui o temor principalmente aos “inimigos”, isto é, da tirania de conquistadores pagãos cujo exercício de poder arbitrário e cruel era muitas vezes um impedimento à adoração e ao serviço a Deus. No nascimento de João e de Jesus, César e Herodes foram os principais inimigos do povo judeu (ver com. de Lc.1:5; Mt.2:1). É possível também que Zacarias se referisse ao temor que enche o coração e impregna a vida daqueles que não conhecem “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp.4:7). É o temor dos mistérios das forças desconhecidas que controla o destino das pessoas, bem como o temor do grande dia do juízo. |
Lc.1:75 | 75. em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias. Em santidade e justiça. Ver Ef.4:24. Esses dois termos podem ser considerados inclusivos “dos deveres de todo homem” (ver Ec.12:13), de tudo que Deus exige dele (ver Mq.6:8). Todos os nossos dias. Aqueles que servem a Deus “em santidade e justiça” podem estar confiantes no futuro, independentemente das incertezas e vicissitudes da vida, eles podem desfrutar paz e segurança de mente e corpo. Em meio a conflitos e tumultos, eles vivem, por assim dizer, na presença de Deus e respiram a pura e revigorante atmosfera celeste. |
Lc.1:76 | 76. Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, Profeta do Altíssimo. Neste versículo, começa a maior seção do cântico de Zacarias. Da benevolência do Senhor, na primeira seção, os pensamentos de Zacarias passam a seu filho recém-nascido, João, que era o precursor do Messias, o prometido mensageiro do Senhor. Jesus é apropriadamente chamado “Filho do Altíssimo” (v. Lc.1:32) e João, “profeta do Altíssimo”. Cristo testificou que João era “muito mais que profeta” (Mt.11:9); na verdade, ele era, num sentido, o maior de todos os profetas (ver com. de Lc.1:15; Lc.1:17). Precederás o Senhor. As específicas predições de Isaías (Is.40:3) e de Malaquias (Ml.3:1) foram, mais tarde, declaradas por João como se referindo a ele (ver Jo.1:23; Mt.11:10; Lc.3:4). “O Senhor” é, evidentemente, o Messias, e Cristo é identificado, neste caso pelo menos, com Yahweh do AT (Is.40:3; ver vol. 1, p. 150). Preparando-Lhe os caminhos. Esta foi a tarefa de João Batista. Ele deveria preparar o coração e a mente do povo para o Messias, ao promover interesse nas profecias a respeito dEle, ao afirmar que o tempo para o cumprimento dessas profecias chegara, e ao convidar ao “arrependimento” por meio do qual as pessoas podem se qualificar para a cidadania no reino do Messias. |
Lc.1:77 | 77. para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados, Conhecimento da salvação. Faz parte da natureza das coisas que o conhecimento preceda a crença, porque “como [...] invocarão Aquele em quem não creram?” (Rm.10:14). A fé em Jesus exige uma compreensão inteligente dos fatos e princípios fundamentais do plano da salvação. Para crer, a pessoa deve ter algo para crer, e o grande objetivo do ministério de João foi lançar uma base firme para a crença de que Jesus de Nazaré era, de fato, o Messias prometido, “o Filho de Deus”, “o Cordeiro de Deus” (Jo.1:34; Jo.1:36). É o Messias quem possibilita a remissão de pecados (ver Mt.1:21; Mt.26:28); foi Seu precursor quem trouxe o conhecimento do pecado. Lucas torna evidente que a “salvação” de que ele fala é salvação pessoal, em vez de salvação política da nação. É pela falta do conhecimento que salva que as pessoas são “destruídas”, não por não ter ouvido sobre isso, mas por ter rejeitado (ver Os.4:6). |
Lc.1:78 | 78. graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, Entranhável misericórdia. Ver Fp.2:1; Cl.3:12. Os gregos consideravam as “entranhas” (o abdômen) como o centro das emoções: ira, ansiedade, compaixão e amor. Sol nascente. Do gr. anatole, “sair [do sol ou estrelas]” ou “leste”, isto é, o local do nascer do sol. O termo é normalmente usado no NT no último sentido (ver Mt.2:1; Mt.8:11; Mt.24:27; Ap.7:2; Ap.16:12). Entre os antigos povos do Oriente, bem como entre os orientais da atualidade, o leste é o ponto cardeal da bússola que indica posição de honra e respeito. Alguns comentaristas têm relacionado a palavra anatole, ao surgimento do “Renovo”, que nasceria das “raízes” de Davi (ver Is.11:1-4; Je.23:5). É verdade que a palavra anatole pode ser usada dessa forma; na verdade, ela é utilizada nesse sentido na LXX (Je.23:5). No entanto, o contexto de Lucas 1:78 e 79 deixa claro que Zacarias, nestes versículos, se refere ao nascer do sol, em vez do crescimento de uma planta. Malaquias fala de Cristo como “o sol da justiça” (Ml.4:2; ver DTN, 22, 463, 464). Visitou (ARC). A evidência textual (cf. p. 136) favorece a variante “Visitará” (ARA: ver com. do v. Lc.1:68). |
Lc.1:79 | 79. para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. Alumiar. A linguagem deste versículo está claramente baseada na profecia messiânica de Is.9:2. A luz sempre foi um símbolo da presença divina (DTN, 464), dAquele “que habita em luz inacessível” (1Tm.6:16; ver com. de Gn.3:24; Lc.1:78), Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo.8:12; ver Lc.12:36). Nosso Salvador é “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo.1:9). Mateus aplica as palavras de Is.9:1-2 a Cristo (Lc.4:14-16). A alegria da salvação pertence àqueles que andam na luz (1Jo.1:7), porque o caminho deles é “como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18; ver com. de Jo.1:4-9). Jazem nas trevas. Aqueles que figuradamente jazem nas trevas, evidentemente agem assim porque não veem por onde andam. Precisam da “luz” para guiar seus pés “no caminho da paz”. As pessoas jaziam desconsoladas, esperando com olhos anelantes a vinda da Luz da vida, cuja chegada dissiparia as trevas e tornaria claro o mistério do futuro (ver DTN, 32). Por 4 mil anos, os céus estavam escuros sob as nuvens do pecado e da morte e, por séculos, nenhuma estrela profética havia surgido nas trevas para guiar os peregrinos na busca pelo Príncipe da Paz (ver DTN, 31). Também nos encontramos desconsolados, com a vida vazia e incompleta, a menos que a Estrela da Alva surja em nosso coração e derrame a luz do dia eterno em nossa vida (ver 2Pe.1:19). Sombra da morte. Ver com. de Sl.23:4. A sentença de morte é imposta sobre todas as pessoas como resultado do pecado (ver Rm.6:23). Mas “assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co.15:22). “Os remidos do Senhor, os que Ele resgatou da mão do inimigo”, “andaram errantes pelo deserto, por ermos caminhos”, e jaziam “nas trevas e nas sombras da morte”, mas Ele “conduziu-os pelo caminho direito” (Sl.107:2; Sl.107:4; Sl.107:7; Sl.107:10). Dirigir os nossos pés. Zacarias se incluía entre aqueles cujos pés o Messias “guiaria (...) ao caminho de paz”. Caminho da paz. Isto é, o caminho da salvação, o caminho pelo qual aqueles cujo pecado os tem transformado em inimigos de Deus podem uma vez mais estar em paz com Ele (Rm.5:1; Rm.5:10; 2Co.5:18; Ef.2:16). Cristo, o Príncipe da Paz, conseguiu isso, fazendo “propiciação pelos pecados do povo” (Hb.2:17). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co.5:19). “Grande paz têm os que amam a Tua Lei” (Sl.119:165). Cristo veio para que pudesse dar paz a nós, como o mundo não conhece e não pode oferecer (Jo.14:27). Esta “paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará” nosso “coração” e nossa “mente em Cristo Jesus” (Fp.4:7). Quando Cristo entra no coração é sempre com as palavras: “Paz seja convosco!” (Lc.24:36). Dessa forma termina o cântico de Zacarias (ver com. de Jo.14:27). |
Lc.1:80 | 80. O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de manifestar-se a Israel. O menino crescia. Essencialmente uma referência ao crescimento físico (cf. Lc.2:40; Lc.2:52). Uma declaração semelhante foi feita a respeito do menino Samuel (ver 1Sm.2:26). E se fortalecia em espírito. Isto é, em percepção intelectual e moral (ver 1Sm.2:26; Lc.2:40; Lc.2:52). O desenvolvimento simétrico da força física, mental e moral é bem ilustrado na vida de João, porque seus pais o criaram “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef.6:4). De modo semelhante, é nosso privilégio hoje viver em comunhão com Deus porque “também nós podemos esperar que o Espírito divino molde nossos pequenos já desde os primeiros momentos” (DTN, 512; ver com. de Lc.1:15; Lc.1:24; Lc.2:52). Desertos. Os “desertos” em que João passava a maior parte do tempo “até ao dia em que havia de manifestar-se” são geralmente conhecidos como os desertos da Judeia (ver Mt.3:1). Esta região semiárida, selvagem, acidentada e despovoada ficava entre o Mar Morto e o cume dos planaltos montanhosos do sul da Palestina e constitui as encostas orientais da cordilheira. Possivelmente esta foi a região onde Cristo mais tarde jejuou por 40 dias e meditou em Sua missão. O deserto de Judá estava próximo a Hebrom, o possível lar de Zacarias e Isabel (ver com. de Lc.1:23; Lc.1:39). Embora alguns essênios, uma seita rígida e asceta do judaísmo, mantivessem colônias isoladas nesta área deserta, não há evidência histórica para o ponto de vista de que João se tornou um essênio (ver com. de Mt.3:4). O lar do profeta Amós foi na vizinhança de Tecoa, uma pequena cidade situada próximo às fronteiras desta área desértica (ver com. de Am.1:1). Em anos posteriores, João fez por si mesmo o voto de nazireu, realizado por seus pais em seu favor por ocasião do nascimento dele (DTN, 102). É possível que seus pais, que já eram idosos quando ele nasceu (ver com. do v. Lc.1:7), haviam morrido quando João ainda era jovem. Parece, também, que ele assumiu a sua residência na solidão do deserto, não muito tempo depois. A solidão foi para João um mestre superior ao melhor rabino que Jerusalém poderia oferecer, e o deserto foi uma mais bem equipada sala de aula do que o palácio de Herodes ou os átrios do templo. As escolas rabínicas o teriam incapacitado para sua tarefa (DTN, 101). Assim como apenas as águas conseguem refletir as estrelas, apenas um coração não perturbado pelas ondas e redemoinhos deste mundo consegue refletir perfeitamente a luz da “Estrela” que procedeu “de Jacó” (Nm.24:17). João escolheu como seu lar um local onde todas as demais vozes que não fossem a de Deus foram silenciadas e onde ele podia em quietude esperar diante do Senhor. Foi ali, na solidão do deserto, que o silêncio de sua alma tornou mais distinta a voz de Deus (ver DTN, 363). Ali ele levou uma vida relativamente isolada até que chegou a hora de assumir seu ministério público. Assim como o deserto foi a grande sala de aula de Deus para educar líderes como Moisés, Amós e João Batista, assim também as vicissitudes do deserto da vida podem proporcionar excelentes oportunidades para colocar a pessoa em harmonia com o Céu. A tranquilidade que vem com uma visão das coisas invisíveis é o preparo necessário para aqueles a quem Deus escolhe hoje para preparar o caminho para a vinda de Jesus. A vida moderna não é propícia para a meditação acerca da vontade e dos caminhos de Deus, como revelados em Sua Palavra e em Seu trato providencial conosco. A menos que encontremos tempo para escapar do ruído do mundo e nos apeguemos a Deus, aguardando em silêncio diante dEIe, nunca ouviremos o “cicio tranquilo e suave” que fala à mente (DTN, 330-331; cf. 1Rs.19:12). Deveria ser nosso propósito passar cada vez menos tempo com as coisas da Terra e devotar cada vez mais tempo para caminhar com Deus como fez Enoque. Como João, precisamos colocar nossa afeição nas “coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl.3:2). Manifestar-se. Do gr. anadeixis, “apontar” ou “uma manifestação pública”. A palavra anadeixis é usada com frequência pelos escritores clássicos nos discursos de posse de pessoas nomeadas para cargos públicos e também na dedicação de templos. Lucas usa o verbo relacionado, anadeiknumi, com referência à nomeação dos setenta (Lc.10:1). João era de descendência sacerdotal e como estipulado pela lei de Moisés, um sacerdote deveria iniciar seu ministério na idade aproximada de 30 anos (ver com. de Nm.4:3). É possível que João se “manifestou” quando tinha 30 anos, assim como Jesus quando iniciou Seu ministério (ver com. de Lc.3:23). |
Lc.2:1 | 1. Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Naqueles dias. [O nascimento de Jesus Cristo, Lc.2:1-7 = Mt.1:18-25. Ver mapa, p. 211; gráficos, p. 224, 231]. Isto é, logo depois do nascimento de João Batista. Jesus nasceu aproximadamente seis meses depois de João (ver Lc.1:26; Lc.1:56-57). Um decreto. Este decreto foi emitido em Roma (DTN, 44). Em vista do fato de que nenhum historiador secular da época menciona este decreto, a erudição crítica há muito tempo considerava que Lucas devia ter se enganado. Mais recentemente, no entanto, papiros e inscrições têm trazido apoio para a narrativa de Lucas em cada fato essencial declarado nos v. 1 a 3. A partir dos registros oficiais de Augusto, sabe-se que ele realizou pelo menos três levantamentos gerais do império romano durante seu reinado, em 28 a.C., 8 a.C., e 14 d.C. Nenhum dos três parece coincidir com o que Lucas se refere, mas é completamente possível que a tensa situação política na Palestina e a severa resistência judaica à tributação retardaram a execução do edito real nessa parte do império. Na verdade, houve levantamentos similares, ou censos, em outras partes do império que não foram realizados nos períodos mencionados acima, como por exemplo, o censo de 12 a.C., na Gália. É digno de nota que nenhum crítico pagão ou judeu, como Celso e Porfírio, contestou a precisão de Lucas neste ponto. Até mesmo por aqueles que não aceitam Lucas como um escritor inspirado, ele é reconhecido como um historiador capaz e confiável (ver com. de Lc.1:1-4). Não é provável que um escritor tão cuidadoso seria negligente e se abriria às críticas por desvirtuar fatos contemporâneos bem conhecidos (ver p. 238, 239; gráficos, p. 224, 225, 231). César Augusto. Imperador de Roma de 28 a.C. a 14 d.C. (ver p. 24-26, 235; gráficos, p. 225, 231). Otaviano, que adotou o título de Augusto, era sobrinho-neto de Júlio César, que foi assassinado em 44 a.C. Um decreto emitido sob sua autoridade parecia ter sua sanção mesmo se não fosse emitido por ele pessoalmente. Mundo (ARC). Do gr. oikoumene, o “mundo habitado”, mais apropriadamente o “mundo civilizado”, como distinto do mundo bárbaro ou não romano. Vários escritores romanos como Políbio e Plutarco usam oikoumene nesse sentido. Recensear-se. Do gr. apographo, “anular”, “copiar”, “registrar” ou “se inscrever” (ver DTN, 44, em que é usada a palavra “alistamento”). A palavra apographo não é apropriadamente usada para cobrança de impostos, mas para o que chamaríamos hoje de um censo. Nos tempos antigos, no entanto, um censo normalmente incluía o registro de propriedade bem como dos nomes e era feito normalmente como a base para a imposição de um imposto sobre a propriedade. O termo pode indicar tributação. |
Lc.2:2 | 2. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Primeiro. Do gr. protos, palavra algumas vezes usada quando poderia ser esperado o gr. proteros, “mais cedo” (ver Jo.1:15; Jo.1:30; Jo.15:18; 1Jo.4:19). É possível, embora gramaticalmente difícil, que a palavra protos seja usada neste sentido aqui. Lucas usa a forma adverbial proton para indicar que algo aconteceu primeiramente, no sentido de “antes” ou anterior a outra coisa (ver Lc.6:42; Lc.9:59; Lc.21:9). Seja como for, não é possível duvidar que Lucas esteja correto em afirmar que um alistamento ou tributação de todo o império romano ocorreu sob Augusto. Assim, Lucas está justificado como um historiador preciso. Ao comentar sobre o v. 2, o International Critical Commentary menciona: “A precisão de Lucas é tal que devemos exigir prova muito forte antes de rejeitar qualquer declaração de sua autoria como um erro inquestionável.” Quirino. Sentio Saturnino foi governador da província romana da Síria, de 9 a 6 a.C. e foi sucedido por Quintilio Varo, que continuou no ofício até algum tempo depois da morte de Herodes, em abril de 4 a.C. Cirênio (Quirino) exerceu o cargo em 6 d.C. (Josefo, Antiguidades, xviii.1.1), embora não se saiba quanto tempo ele serviu na Síria (ver p. 238). |
Lc.2:3 | 3. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Cada um à sua própria cidade. Entre os romanos possivelmente teria sido suficiente para cada pessoa se registrar na cidade onde residia na época, em vez de na cidade de seu antigo lar. Sabe-se que o costumeiro “alistamento” romano por cidades nem sempre era seguido nas províncias. Por exemplo, os gauleses foram alistados por tribos. Um decreto existente autorizando um censo romano no Egito exigia que as pessoas se registrassem no local de origem (ver referência bibliográfica de George Bradford Caird, p. 266, 267). Em vista do fato de que a genealogia tribal significava muito para os judeus, é provável que Herodes, o Grande, decidiu sobre o “alistamento” por tribos como o melhor procedimento para a região. De qualquer forma, esta informação indica que Herodes foi o instrumento pelo qual o decreto romano foi executado na Judeia. Esta informação também vindica a confiabilidade do relato de Lucas. |
Lc.2:4 | 4. José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, José também subiu. As Escrituras mantêm silêncio quanto ao fato de José e Maria estarem cientes de que a profecia apontava Belém como o local onde o Messias deveria nascer (ver com. do v. Lc.2:5). Lucas apenas indica o cumprimento, com o decreto de Augusto, informando sobre o motivo da viagem. Cidade de Davi. Assim chamada porque foi o antigo lar de Davi (ver 1Sm.17:12; 1Sm.17:58), seu cidadão mais ilustre. Belém. Ver com. de Gn.35:19; Mt.2:1. A cidade está oito quilômetros ao sul de Jerusalém e tem uma parcela de sua população constituída por árabes cristãos. Seu nome atual é Beit Lahm. Da casa e família. Embora a declaração neste versículo se aplique exclusivamente a José, é evidente que Maria também era da “casa e família” de Davi (ver com. de Mt.1:16; Mt.1:18; Lc.1:27; cf. DTN, 44). |
Lc.2:5 | 5. a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Com Maria. Não se informa o motivo que levou Maria a acompanhar José. Nenhuma lei romana ou judaica exigia que ela viajasse. Segundo a lei romana, a mulher deveria pagar o imposto do censo, mas não precisava estar presente. Pode ser que Maria, sabendo que o nascimento de seu filho estava próximo, soubesse também que a profecia apontava Belém como o local de seu nascimento (Mq.5:2), e intencionalmente acompanhou José. Eles podem ter proposto estabelecer residência em Belém (ver DTN, 66). Novamente, pode ser que sua ida foi ditada pelo Espírito Santo. O fato de eles não conseguirem encontrar um local de hospedagem em Belém pode indicar que não possuíam propriedade ali. Em Lc.2:39, Nazaré é chamada “sua cidade”. Em Belém, então, ambos eram estrangeiros, “desabrigados”, “não eram reconhecidos nem honrados” (DTN, 44). Esposa. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta palavra. Maria possivelmente não teria viajado com José a menos que eles fossem casados. Mateus indica que José casou com Maria imediatamente depois de o anjo instruí-lo a se casar com ela (Mt.1:24), ou seja, antes da viagem a Belém (ver com. de Lc.2:1). |
Lc.2:6 | 6. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, Completarem-se-lhe os dias. Isto é, segundo a promessa do anjo a Maria (Lc.1:31). Isso ocorreu aproximadamente seis meses após o nascimento de João Batista (Lc.1:36; Lc.1:39; Lc.1:56-57; ver com. de Lc.1:39). O ano exato e a época do ano do nascimento de Cristo não são conhecidos (sobre o ano, ver p. 236-239; sobre a época do ano, ver com. de Lc.1:57; Lc.2:8). |
Lc.2:7 | 7. e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Primogênito. Do gr. prototokos (ver com. de Mt.1:18; Mt.1:25; cf. com. de Lc.1:35). Não há evidência direta se Maria teve outro filho após o nascimento de Jesus (ver com. de Mt.1:25), embora o fato de Jesus, na cruz, ter entregado Sua mãe aos cuidados de João torna improvável que ela tenha tido outros filhos que estivessem vivos na época (ver com. de Jo.19:26). Enfaixou-o. As crianças hebreias, ao nascer, eram lavadas em água, esfregadas com sal e envolvidas em faixas (ver com. de Ez.16:4), que eram tiras de tecido que enrolavam livremente o tronco e os membros do bebê. Segundo o costume, o bebê era posto diagonalmente numa peça quadrada de tecido; duas pontas eram dobradas sobre seu corpo, uma ponta sobre seus pés, e a outra, por baixo da cabeça. Esse arranjo era mantido por mãos que seguravam frouxamente o exterior. Numa manjedoura. Nenhum lugar mais humilde poderia ter sido achado para deitar o bebê Jesus; ninguém pode dizer que iniciou a vida de um modo mais renegado. Pobres em riquezas deste mundo (ver com. do v. Lc.2:24), José e Maria eram ricos na fé. Uma tradição, que se originou alguns séculos mais tarde, situa o local da natividade numa caverna na vizinhança de Belém. O local, no entanto, era um “rústico rancho” onde os “animais” eram abrigados (DTN, 44). Pensa-se que o boi e o jumento normalmente introduzidos nas ilustrações da natividade pelos artistas foram sugeridos por Is.1:3. Não havia lugar. Pela simples razão de a hospedaria já estar repleta de hóspedes. Não é indicado nenhum pensamento de falta de hospitalidade por parte do administrador da hospedaria. É possível que a grande maioria dos judeus residentes na Palestina naquela época fosse descendente de Judá, Benjamim ou Levi. Por isso, as acomodações por toda a Judeia estavam lotadas. Hospedaria. Do gr. kataluma, “um local de hospedagem” ou “uma pousada”. Possivelmente um pequeno caravançarai oriental, que normalmente é constituído de quartos de frente a uma varanda coberta ao redor de um pátio central. Os viajantes poderiam ficar em um dos quartos ou ocupar poucos metros quadrados atribuídos a eles no piso da varanda coberta. Os animais e a bagagem dos viajantes deveriam ser mantidos no pátio. |
Lc.2:8 | 8. Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. Pastores. [Os anjos e os pastores, Lc.2:8-20. Ver mapa, p. 211]. Homens simples e devotos, os pastores passavam as horas silenciosas da noite conversando sobre o Messias prometido e orando por Sua vinda (ver DTN, 47). Aparentemente, eles estavam entre o pequeno grupo de fiéis que aguardavam pela “consolação de Israel” (v. Lc.2:25) e “esperavam a redenção de Jerusalém” (v. Lc.2:38; ver com. de Mt.1:18; Lc.2:25-26; Lc.2:38). É sempre a tais pessoas que o Céu comunica a luz e a verdade. Apenas aqueles que “têm fome e sede de justiça” podem esperar ser “fartos” (Mt.5:6). Apenas aqueles que buscam por luz e verdade as encontrarão (ver Mt.7:7; Hb.9:28). Não importa quão humilde é nossa condição social, o mais importante é acalentar no coração a “bendita esperança” (Tt.2:13). Os líderes de Israel, desleais à sua crença, foram passados ao largo em favor de um grupo de pastores humildes e devotos. Mesmo quando os sacerdotes e rabinos em Jerusalém ouviram o relato da visita dos anjos aos pastores, eles recusaram crer. Ao contrário dos pastores, eles não foram a Belém para investigar, e qualificaram o relatório como um delírio (ver DTN, 63). Viviam. Se o costume estava sendo seguido, os pastores viviam nos campos dia e noite. Isso indica claramente que a estação daquela ocasião era depois das chuvas de abril e antes das de novembro (ver vol. 2, p. 92, 94), o período em que as ovelhas eram mantidas em campo aberto. Os invernos eram frios e chuvosos nas regiões montanhosas da Judeia, e se fosse esse o caso, os pastores teriam procurado abrigo das fortes chuvas de inverno, tanto para si mesmos como para os rebanhos. Considerando todas as evidências a respeito da época do nascimento de Cristo, parece que situar o nascimento no outono preencheria melhor o padrão cronológico do contexto. Isso não significa, no entanto, excluir a possibilidade de que o nascimento tenha ocorrido em algum outro período do ano (ver com. de Lc.1:57). Foi só no 4 século da era cristã que o dia 25 de dezembro passou a ser observado como aniversário de Cristo. Segundo o calendário Juliano, esta era a data do solstício de inverno, quando o Sol se volta em direção ao norte. Nas regiões pagãs, essa época era marcada pelas celebrações festivas, conhecidas entre os romanos como a Saturnália, realizadas em honra a várias divindades solares. Na igreja ocidental é que o nascimento de Cristo foi primeiramente associado ao feriado pagão. Guardavam. Literalmente “observavam vigilantes”, o plural possivelmente indicando que os pastores se revezavam. Esses campos eram os mesmos onde Davi guardava os rebanhos de seu pai (ver DTN, 47). Nas proximidades de Belém estava “a torre de Eder”, literalmente, “a torre do rebanho” (ver com. de Gn.35:21; Mq.4:8). Segundo a tradição, os rebanhos destinados ao sacrifício no templo em Jerusalém eram reunidos ali. Pode ser que os pastores a quem os anjos apareceram estavam “guardando” os rebanhos já separados para esse propósito. |
Lc.2:9 | 9. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. Um anjo. A importante missão de anunciar o nascimento do Messias estaria mais apropriadamente confiada ao líder da hoste angélica, Gabriel (ver DTN, 780; ver com. de Lc.1:19). Desceu aonde eles estavam. Talvez o anjo estivesse acima dos pastores a uma discreta altura. É possível que o primeiro vislumbre deles tenha sido sua aparição aos pastores. Glória. Do gr. doxa, neste versículo, essencialmente “esplendor”, talvez comparável com o que mais tarde se manifestou no monte da transfiguração (Lc.9:31-32; ver com. de Rm.3:23). Grande temor. Como pode se considerar natural numa ocasião em que o véu entre seres humanos e o mundo invisível é retirado. Nos tempos do AT, as pessoas às quais os anjos apareciam, algumas vezes, pensavam neles como mensageiros da morte (Jz.6:22; Jz.13:21-22). Este anjo veio anunciar livramento e alegria (ver Lc.2:10). |
Lc.2:10 | 10. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: Não temais. Ver com. de Lc.1:13. Boa-nova. Do gr. euaggelizo, “proclamar boas-novas” ou “anunciar boas-novas”. As palavras “evangelista”, “evangelizar” e “evangelismo” são derivadas dessa palavra grega. É nesse sentido que os escritores evangélicos são chamados “evangelistas”. Desde seu início, à cristandade foram anunciadas as “boas-novas” ou “boas notícias”, o “evangelho” do amor redentor. Para todo o povo. Segundo a comissão apostólica, os discípulos deveriam ensinar a “todas as nações” o evangelho da salvação (Mt.28:19). |
Lc.2:11 | 11. é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Cidade de Davi. Ver com. do v. Lc.2:4. Cristo nasceu no momento (ver Gl.4:4) e no local certos (ver com. de Mq.5:2). Salvador. Do gr. soter, título que contém a mesma ideia que o nome de Jesus (ver com. de Mt.1:1; Mt.1:21). Cristo, o Senhor. Não mais vestido com a glória celeste, mas “envolto em faixas” (v. Lc.2:7; Lc.2:12), o filho de Maria era ainda assim, “Cristo, o Senhor” (cf. Hb.1:6). O título identifica Cristo com “o Senhor” dos tempos do AT (ver PP, 366; DTN, 52; ver com. de Lc.1:76), e seria equivalente à expressão Yahweh Messias (ver com. de Mt.1:1; ver vol. 1, p. 150). |
Lc.2:12 | 12. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. De sinal. A evidência textual favorece (cf. p, 136) a variante “o sinal”. Como usado nas Escrituras, um “sinal” não é necessariamente miraculoso (ver com. de Is.7:14). O “sinal” dado aos pastores era um meio de identificação. O nascimento do Bebê de Belém seria o oposto do que os pastores esperavam, em vista de suas exaltadas ideias a respeito do Messias. Envolta em faixas. Ver com. do v. Lc.2:7. |
Lc.2:13 | 13. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Subitamente. Uma multidão incontável de anjos se reuniu acima das montanhas de Belém, aguardando o anúncio angélico do nascimento do Salvador. Milícia. Do gr. stratia, “exército”, “hoste” ou “bando”, um termo militar comum, referindo-se, neste versículo, às fileiras do exército angelical (ver com. de Sl.24:10; Js.5:14). |
Lc.2:14 | 14. Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. Glória a Deus. O plano da salvação foi originado em Deus, e é justo que os anjos e os seres humanos atribuam glória e louvor a Ele. Nesse cântico dos anjos, “glória” é poeticamente harmonizada com “paz”, “Deus” é harmonizado com “homens” e “alturas” é harmonizada com “terra”. O plano da salvação reconcilia Deus e seres humanos, trazendo, assim, paz aos seres humanos e glória a Deus. A paz pode ocorrer apenas quando a vontade de Deus é feita “assim na terra como no Céu” (Mt.6:10). Boa vontade para com os homens! (ABC). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “paz na terra entre os homens de boa vontade”, isto é, pessoas que estão bem dispostas para com Deus e os semelhantes (ver com. de Mq.6:8; Mt.22:36-40). Em alguns manuscritos, a referência é à expressa “boa vontade” de Deus para com os seres humanos; de acordo com outros manuscritos, é a efetiva “boa vontade” de Deus operando nos seres humanos. Cristo é a “boa vontade” de Deus encarnada. Ele é o “Príncipe da Paz” (Is.9:6), Aquele que proclamou: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; [...] Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo.14:27). Em consequência da Sua vinda é nosso privilégio termos “paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm.5:1). “Ele é a nossa paz” (Ef.2:14). Esta é a “paz de Deus” que “guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp.4:7). |
Lc.2:15 | 15. E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. E aconteceu que (ARC). Ver com. de Lc.1:8. Vamos. Não restou dúvida na mente dos pastores quanto à veracidade da mensagem de Gabriel. Eles agiram imediatamente. Há um contraste entre a crença deles e a hesitação de Zacarias (ver com. de Lc.1:18; Lc.1:20). |
Lc.2:16 | 16. Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura. Apressadamente. Os pastores não estariam satisfeitos até que vissem por si mesmos o “sinal” prometido, confirmando as palavras do anjo. |
Lc.2:17 | 17. E, vendo-o, divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito deste menino. Divulgaram. Era impossível aos pastores esconder a luz que fora derramada em seu coração, assim como o sol não cessa seu brilho. As boas-novas eram boas demais para guardarem para si mesmos. Afinal, o relato da visita dos anjos aos pastores alcançou os ouvidos dos sacerdotes, anciãos e rabinos em Jerusalém - mas eles trataram o ocorrido como indigno de nota (DTN, 62). Esses líderes sentiam que certamente Deus não os passaria de largo, eles, os líderes religiosos da nação, em benefício de um inculto bando de pastores insignificantes, a seu ver (ver com. de Mt.2:4). Todos aqueles em cujo coração Cristo nascer hoje compartilharão, como os pastores, as boas-novas com outras pessoas. |
Lc.2:18 | 18. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores. Sem comentário para este versículo. |
Lc.2:19 | 19. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração. Guardava. Maria guardava os incidentes vivamente na memória. No entanto, ao contrário dos pastores, ela não saiu contando a todos que encontrava sobre as maravilhosas coisas que lhe aconteceram. Meditando-as. Literalmente, “as reuniu”. Maria meditava sobre os vários acontecimentos ligados ao nascimento de Cristo, comparando uns com os outros para melhor compreender o significado de tudo. Ela não apenas lembrava vividamente as palavras de Gabriel a ela, mas as comparava com o relato dos pastores. |
Lc.2:20 | 20. Voltaram, então, os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado. Sem comentário para este versículo. |
Lc.2:21 | 21. Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido. Oito dias. [A circuncisão de Jesus, Lc.2:21]. Isto é, no oitavo dia, incluindo o dia do nascimento (ver com. de Lc.1:59). Circuncidado. Para Abraão, “o sinal da circuncisão” foi “um selo” de “justiça” por sua “fé” (Rm.4:11). A circuncisão representava a admissão aos privilégios e responsabilidades do relacionamento de aliança; era um compromisso de obediência. Cristo, o Autor da aliança e de seu sinal visível - o rito da circuncisão (PP, 373, 396) - submeteu-Se ao rito, e assim veio sob os termos da aliança representada por este. Ele nasceu “sob a lei” (Gl.4:4) e submeteu-Se às suas exigências. O nome de Jesus. Ver com. de Mt.1:1. Os meninos recebiam o nome na circuncisão (ver Lc.1:59-66). O anjo Gabriel informou Maria e José que o nome da criança seria Jesus (Mt.1:21; Lc.1:31). |
Lc.2:22 | 22. Passados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, Os dias da purificação (ARC). [A apresentação de Jesus no templo, Lc.2:22-24. Ver mapa, p. 212], Evidências textuais (cf p. 136) favorecem a variante “purificação deles” (ARA). A palavra “deles” poderia se referir a Jesus e Maria ou a José e Maria. Se a palavra “deles” incluir Jesus, é possível que seja no sentido de Sua dedicação no templo estar intimamente ligada com a purificação dela. Se incluir José, é possível que seja no sentido de, como líder do lar, ele ser o responsável pelo cumprimento dos rituais exigidos para Maria. Parece mais natural ter os pronomes “deles” e “eles” (incluindo José) como se referindo às mesmas pessoas. A lei levítica estipulava que o tempo de “impureza” da mãe se tivesse um menino era de 40 dias, se tivesse uma menina, era de 80 dias (ver com. de Lv.12). Durante esse período ela deveria permanecer em casa e não deveria participar das práticas religiosas públicas. Era a mãe, e não a criança, que precisava de “purificação”. A mãe e a criança deveriam comparecer ao templo para a “purificação” de um e apresentação do outro. Houve uma finalidade dupla que levou José, Maria e Jesus a Jerusalém nessa ocasião, numa distância de cerca de oito quilômetros. A ida ao templo ocorreu antes da visita dos magos, porque, depois disso, José e Maria não se atreveriam a visitar Jerusalém. Além disso, deixaram Belém e foram ao Egito quase que imediatamente após a visita dos magos (ver Mt.2:12-15). Segundo a Lei de Moisés. Nascido “sob a lei” (Gl.4:4), Cristo obedeceu às leis que Ele mesmo deu a Moisés 1.500 anos antes (PP, 366, 373; ver com. de Lc.2:21). Como substituto do ser humano, foi necessário que Cristo Se “conformasse com a lei em cada particular” (DTN, 50). É interessante observar que a palavra “lei” ocorre cinco vezes neste capítulo (v. Lc.2:22-24; Lc.2:27; Lc.2:39) e apenas quatro vezes no restante do livro de Lucas. Para O apresentarem. Todo menino recém-nascido deveria ser consagrado ao Senhor. Isso era feito em reconhecimento da promessa divina de dar Seu Primogênito para redimir o ser humano e em memória e gratidão pela libertação dos primogênitos na época do êxodo (ver com. de Ex.13:2; Ex.13:12; Nm.3:12-13). O recém-nascido deveria ser resgatado, ou comprado de volta, por meio de pagamento em dinheiro, uma quantia estipulada de cinco siclos (Nm.18:15-16). Essa quantia representava aproximadamente 20 denários romanos, ou era equivalente ao salário de 20 dias de um trabalhador (ver p. 37). |
Lc.2:23 | 23. conforme o que está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito ao Senhor será consagrado Conforme o que está escrito. Ver Ex.13:2; Ex.13:12; Ex.13:15. Todo primogênito. Ver com. do v. Lc.2:22. |
Lc.2:24 | 24. e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito na referida Lei: Um par de rolas ou dois pombinhos. Um sacrifício. Pela “purificação” de Maria (ver com. do v. Lc.2:22). Um par de rolas. Uma espécie de pombo. Estivessem José e Maria em circunstâncias mais favoráveis e teriam trazido um cordeiro para o sacrifício (ver Lv.12:6). Em vez disso, trouxeram a oferta dos pobres: uma ave era para o sacrifício, e a outra, para a oferta pelo pecado (ver Lv.12:8; ver com. de Lv.1:14; Lv.5:7). |
Lc.2:25 | 25. Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Simeão. [O cântico de Simeão, Lc.2:25-35]. É infundada uma tradição que identifica esse santo idoso com o rabino Simeão, filho de Hillel e pai de Gamaliel. O rabino Simeão se tornou presidente do Sinédrio em 13 d.C., 17 ou 18 anos depois do nascimento de Jesus. No entanto, o Simeão de Lucas 2 já era idoso (v. Lc.2:26; Lc.2:29), como indicado pelo fato de que lhe foi dada a certeza de que viveria para ver o Messias. Justo e piedoso. Simeão era “piedoso”, ou piedoso de coração, com relação a seus deveres para com Deus, e “justo” em sua conduta para com seus companheiros (ver com. de Mq.6:8; Mt.22:36-40). Esperava. Simeão pertencia ao grupo dos humildes e devotos pesquisadores das Escrituras, assim como Zacarias e Isabel (Lc.1:6; Lc.1:67), José (Mt.1:19), Maria (Lc.1:28), os pastores (DTN, 47), Ana (Lc.2:37), os magos (Mt.2:11; DTN, 59), José de Arimatéia (Mc.15:43) e poucos outros (Lc.2:38). Foi a esses fiéis que procuravam pelo Messias que o Céu deu a conhecer a chegada de Cristo (cf. Hb.9:28). É nosso privilégio hoje procurar “a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt.2:13). A consolação de Israel. Esta expressão fazia parte de uma fórmula de oração judaica comum: “Que eu possa ver a consolação de Israel”, quer dizer, “Que eu viva para ver o Messias”. A expressão “consolação de Israel” reflete várias profecias messiânicas do AT sobre o “conforto” da esperança messiânica (ver Is.12:1; Is.40:1; Is.49:13; Is.51:3; Is.61:2; Is.66:13). |
Lc.2:26 | 26. Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. Não passaria pela morte. Em todas as épocas, os piedosos têm entesourado a expectativa de viver para ver o cumprimento da esperança messiânica. Deus propôs que essa esperança deve brilhar no coração de Seus fiéis porque, mais que qualquer outra coisa, ela leva as pessoas a santificar a vida (ver 1Jo.3:2-3). No entanto, os piedosos nos dias de Simeão tinham a certeza profética de que sua geração veria o Messias. O Cristo do Senhor. Ou, “o Ungido do Senhor” (ver com. de Mt.1:1), um título judaico pré-cristão para o Messias. |
Lc.2:27 | 27. Movido pelo Espírito, foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o menino Jesus para fazerem com ele o que a Lei ordenava, Movido pelo Espírito. Sendo “justo e piedoso” (v. Lc.2:25), Simeão andara na luz com a qual o Céu iluminava, até o momento, seu caminho, então seus olhos foram abertos para uma luz maior. Quão diferente foi com o sacerdote que momentaneamente segurou o bebê Jesus nos braços (ver DTN, 52)! Como muitos companheiros sacerdotes, ele estudou as Escrituras em vão (ver DTN, 30), principalmente por causa da indisposição para viver pelos princípios ali revelados (ver Os.4:6). Em consequência, seus olhos espirituais estavam completamente cegos quando ele foi levado face a face com a Luz da vida (ver Jo.1:7-11). Não tendo aproveitado a luz já revelada, ele estava despreparado para maior luz. |
Lc.2:28 | 28. Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: Louvou a Deus. Comparar com Lc.1:64. Sobre o significado da expressão “louvar a Deus” no AT, ver com. de Sl.63:4. |
Lc.2:29 | 29. Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra Senhor. Do gr. despotes, significando “governante absoluto”. A palavra despotes em si mesma originalmente não indica se o “governante absoluto” era bom ou mal. No entanto, é perigoso colocar poder absoluto nas mãos de qualquer ser humano. O caráter de uma pessoa é logo revelado pelo uso do poder, a extensão de sua impiedade é revelada no nível do abuso de poder. Sendo a natureza humana o que é, poder absoluto normalmente tende a realçar o mal em uma pessoa em vez de realçar o bem; por isso, as palavras “déspota”, “despótico” e “despotismo”, derivadas de despotes, refletem o uso do poder tirânico e mau. Mas o uso de despotes com relação a Deus apresenta uma ideia diferente. Deus, como “Governante absoluto”, refletiria em Seu governo a perfeição absoluta de Seu caráter. Despotes é uma palavra raramente usada para o Senhor (At.4:24; Jd.1:4; Ap.6:10); em vez disso, é usada para “dono” de escravos (1Tm.6:1-2; 2Tm.2:21; Tt.2:9; 1Pe.2:18). A palavra usual do NT para Senhor ou senhor é kurios, que apenas denota um superior sem especificar o grau de superioridade. Com frequência, a palavra kurios era usada apenas como um título de respeito, como “senhor”. Nos v. 29 e 30, Simeão fala do que o Messias significa para ele pessoalmente; nos v. Lc.2:31-32 seus pensamentos se voltam para o que o Messias significa para todas as pessoas. Podes despedir. Simeão realizou seu objetivo. Viveu para ver o Salvador esperado. Não havia outro desejo ou exigência de sua parte, e ele estava pronto para terminar seu serviço e descansar (ver com. do v. Lc.2:26). Em paz. Simeão realizou o desejo de seu coração e, pela fé, viu no bebê Jesus o cumprimento das promessas messiânicas do AT. No coração de todas as pessoas há um vazio que não pode ser preenchido, um anseio que não pode ser saciado, a não ser por Jesus. Não deveríamos descansar até que também víssemos pela fé, como Simeão, “o Cristo do Senhor”. |
Lc.2:30 | 30. porque os meus olhos já viram a tua salvação, Salvação. Do gr. soterion (ver com. do v. Lc.2:11). Na LXX, a palavra soterion é geralmente usada para o heb. shelem, “uma oferta de gratidão” ou “uma oferta de paz” (ver vol. 1, p. 754). |
Lc.2:31 | 31. a qual preparaste diante de todos os povos: Preparaste. Ou, “aprontaste”. Todos os povos. Lucas novamente observa o apelo universal da mensagem evangélica (ver vol. 4, p. 15-17). |
Lc.2:32 | 32. luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel. Luz. Ver com. de Lc.1:78-79. Para revelação. O “véu que está posto sobre todas as nações” (Is.25:7) seria removido (ver Is.60:1-3). Aos gentios. Desde os tempos antigos, o povo hebreu foi instruído a respeito de seu papel como representante do verdadeiro Deus diante das nações da Terra. Este fato vital foi claramente indicado na primeira promessa feita a Abraão (Gn.12:3) e, mais tarde, repetida a Isaque (Gn.26:4) e a Jacó (Gn.28:14). A mesma verdade foi mais claramente anunciada a Israel como o povo que saiu do Egito e se preparou para entrar na terra prometida (ver Dt.4:6-8; Dt.28:10). De geração em geração, os profetas sempre mantiveram diante do povo o alcance mundial de sua missão sagrada (ver Sl.98:3; Is.42:6; Is.49:6; Is.53:10; Is.56:6-7; Is.60:1-3; Is.61:9; Is.62:2; Zc.2:11; Zc.8:22). Cristo repetidamente assinalou que Sua missão incluía gentios e judeus (ver Mt.12:18; Mt.12:21; Jo.12:32; ver vol. 4, p. 13-17). Para glória. Aos judeus foram dados privilégios muito superiores aos de qualquer outro povo, para que se tomassem representantes aptos do verdadeiro Deus diante das nações da terra (ver vol. 4, p, 15-17). A escolha celeste não recaiu sobre eles por serem mais sábios ou melhores do que outros povos, mas porque Deus julgou adequado torná-los Seus embaixadores especiais de luz e verdade (ver Dt.7:7-8). O progenitor deles, Abraão, era um sincero investigador da verdade e, como tal, submetia-se à orientação divina. O Senhor está constantemente pronto a trabalhar com aqueles que estão dispostos a ser liderados por Ele. A vantagem especial dos judeus como nação consistia principalmente no fato de que eles deveriam ser recipientes, guardiões e arautos da verdade (ver Rm.3:1-2; Rm.9:4-5). Povo. Do gr. laos, um termo que os escritores do NT consistentemente aplicam a seu próprio povo, tanto a judeus como a cristãos. A palavra “gentios” é da raiz ethnos, “uma multidão que vive junta”, portanto, “uma nação”. No NT, a palavra ethnos é consistentemente traduzida como “nação” ou “gentio”. |
Lc.2:33 | 33. E estavam o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia. José (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “pai” (ARA). Isso não indica necessariamente negação do nascimento virginal, fato que Lucas expôs clara e inequivocamente (Lc.1:26-35; Mt.1:18-25). Lucas poderia estar pensando em José no sentido legítimo e popular, não no sentido físico e literal (ver com. de Mt.1:21; Mt.1:24). Como esposo de Maria, José se tornou o pai de Jesus no momento em que nasceu. Daí em diante, ou pelo menos da época do alistamento no templo, José era visto como tal (ver Lc.3:23; Lc.4:22; Jo.6:42). A primeira das tarefas de José, nesse papel como pai legítimo, era dar nome ao filho (ver Mt.1:21). Mais tarde, por orientação divina, José representou esse papel (ver Mt.2:13; Mt.2:19-22). A própria Maria chamou José de pai (Lc.2:48), por isso não é inadequado chamá-lo dessa forma. Também no v. Lc.2:27, Lucas inclui José como um dos “pais” de Jesus, certamente não no sentido literal, ainda que num sentido popular seja completamente apropriado (ver DTN, 82). Admirados. Não no sentido de surpresa, porque o anjo já tinha aparecido a José (Mt.1:20) e a Maria (Lc.1:26-27) com uma mensagem similar. Além disso, Isabel se dirigiu a Maria com palavras obviamente inspiradas (v. Lc.2:41-45). José e Maria também ouviram o relato dos pastores (Lc.2:20). A admiração deles crescia a cada evidência consecutiva da messianidade do pequeno Jesus, como as profecias haviam descrito de modo claro a tarefa designada a Ele por Seu Pai no Céu. Talvez eles também tenham ficado surpresos que um estranho reconhecesse o grande segredo. |
Lc.2:34 | 34. Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição Disse a Maria. Parece que Simeão, pelo Espírito Santo, compreendeu o fato do nascimento virginal. Ele parece ter ignorado José completamente. Para ruína como para levantamento. Cristo falou de Si mesmo como “a pedra que os construtores rejeitaram” (Mt.21:42; ver com. de Sl.118:22). “Precisamos cair sobre a Rocha e despedaçar-nos, antes de poder ser elevados em Cristo” (DTN, 57). Cristo é o grande ímã de todos os tempos, atraindo a Si aqueles que são humildes e contritos de coração. Alguns, como Mateus, Zaqueu e Maria Madalena — normalmente considerados como “publicanos e pecadores” - sentiam-se estranhamente atraídos ao Médico que poderia restaurar por completo suas vidas quebrantadas. Outros, como os escribas e fariseus, que pensavam não necessitar do Médico celestial, foram afastados do Salvador por sua dureza de coração. Sinal (ARC). Do gr. semeion, “um sinal”, “uma marca” ou “um símbolo”. Como representante celestial, Cristo é o símbolo da salvação. Ele é um símbolo vivo, ou testemunha, do amor do Pai, do que Sua missão na Terra oferece evidências irrefutáveis (ver Jo.3:16; DTN, 19). |
Lc.2:35 | 35. (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. Espada. Do gr. rhomphaia, palavra usada para descrever uma grande espada, tal como a longa espada da Trácia, e que deve ser diferenciada do termo comum para espada no NT, machaira, que descreve a pequena espada romana. A palavra rhomphaia é utilizada na LXX para a espada de Golias. Presumivelmente, a rhomphaia era uma arma mais temível que a machaira, e ela é usada neste versículo figuradamente para descrever a tristeza que traspassou o coração de Maria na cruz (ver Jo.19:25; DTN, 744, 752). Assim, o primeiro prenuncio da paixão de Cristo, reflete as profecias de Is.52:14; Is.53:12. Essas misteriosas palavras de Simeão passaram pela mente de Maria como um presságio assustador e sinistro do que estava por vir. Além disso, o fato da declaração de Simeão ter sido dirigida a Maria parece indicar que José não testemunharia a cena no Calvário. Tua própria alma. Como todos os outros judeus, Maria esperava que Jesus reinasse gloriosamente sobre o trono terreno de Davi (cf. Lc.1:32). A expectativa compartilhada pelos discípulos de Cristo poderia apenas tornar o desapontamento da cruz mais amargo. No entanto Deus, em Sua misericórdia, deu-lhe esta indicação sobre o que esperar. Manifestem. Literalmente, “descoberto” ou “desvendado”. |
Lc.2:36 | 36. Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara Ana. [A profetisa Ana, Lc.2:36-38]. Do gr. Hanna, do heb. Channah (ver com. de 1Sm.1:2). Esta venerável idosa tem o mesmo nome da mãe de Samuel, o fundador das escolas dos profetas. Segundo os evangelhos apócrifos e uma tradição mais tarde adotada pela igreja, Maria foi educada no templo sob a tutela e orientação de Ana, que supostamente seria sua mãe. Isso é pura ficção. Nada há neste versículo que indique que as duas mulheres tivessem se encontrado anteriormente. A presença permanente de Ana no templo testemunha do amor com que ela servia ao Senhor. O detalhe biográfico com que Lucas fala de uma personagem bíblica desconhecida como Ana testifica da qualidade histórica de seu relato. Uma profetisa. O dom de profecia de tempos em tempos foi outorgado a mulheres piedosas, assim como a homens piedosos. Entre as profetisas estiveram mulheres como Miriã (Ex.15:20), Débora (Jz.4:4), a esposa de Isaías (Is.8:3), Hulda (2Rs.22:14) e também as quatro filhas donzelas de Filipe (At.21:9). Avançada em dias. Ana tinha, no mínimo, 84 anos de idade (ver com. do v. Lc.2:37), mas poderia estar acima dos 100 anos. |
Lc.2:37 | 37. e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. Oitenta e quatro anos. É um tanto incerto a partir do grego se os 84 anos se referem à idade de Ana ou à sua viuvez. Os comentaristas estão divididos sobre a questão. Algumas versões bíblicas aplicam o período à sua idade, e outras, à sua viuvez. A tradução da ARA, “e que era viúva de oitenta e quatro anos”, reflete a ambígua fraseologia original. Os detalhes apresentados e o texto utilizado parecem indicar que os 84 anos se referem mais provavelmente ao período de viuvez de Ana. Se Ana se casou aos 15 anos, ficou casada por 7 anos, e permaneceu viúva por 84 anos e estaria com 106 anos de idade. Isso seria perfeitamente possível, embora a idade de 84 anos também a tornasse “avançada em dias”. Não deixava. Alguns compreenderam que isso significava que à Ana, como pensionista do templo, tinha sido designado um local adjacente aos recintos do templo, talvez com outras viúvas, e que, em troca, ela devotava seu tempo a ensinar as jovens que iam ao templo para receber instrução religiosa. Não se sabe se havia provisão para isto nos dias de Cristo. Outros pensam que ela “não deixava o templo” no mesmo sentido em que os discípulos, após a ascensão, “estavam sempre no templo, louvando a Deus” (ver Lc.24:53; At.2:46). É evidente que, neste último exemplo, Lucas não quis dizer que eles residiam no templo, mas que mantinham uma frequência regular aos serviços religiosos no templo, além de testemunhar diante das pessoas que se reuniam ali (ver At.3:1; At.5:12; At.5:20-21; At.5:25; At.5:42). Noite e dia. Possivelmente, uma referência às horas de culto matutino e vespertino. Ana frequentava fielmente os horários de culto matutino e vespertino. Sua vida era absorvida no serviço de Deus; ela não tinha outros interesses. Paulo elogia uma vida assim como a mais apropriada a alguém que é “verdadeiramente viúva” (ver 1Tm.5:5). |
Lc.2:38 | 38. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Naquela hora. Isto é, quando Simeão estava falando. Ao ouvir o inspirado testemunho de Simeão a respeito de Jesus, o coração de Ana foi tocado com o vislumbre do Messias, ao encontrar aquele bebê (ver DTN, 55; cf. Mt.16:17). Desta forma, na dedicação, duas testemunhas inspiradas confirmaram o que Maria e José já sabiam a respeito da criança. Dava graças. O verbo grego usado neste versículo indica gratidão ou louvor “retribuído” em apreciação por um dom ou favor recebido. É evidente que Lucas se refere ao louvor de Ana apenas como uma expressão de alegria ao ver o Messias. Falava. De acordo com a força do tempo verbal grego, “continuou falando” seria a melhor tradução. Até então, ela havia falado de profecias que apontavam para a vinda do Messias. Por fim, ela poderia falar por experiência pessoal, que o Messias tinha vindo. A todos os que esperavam. Esta expressão enigmática revela que havia um pequeno e sincero grupo de pessoas que estudavam as profecias e estavam cientes de que havia chegado “a plenitude do tempo” (Gl.4:4; Dn.9:24-27; DTN, 34, 35; ver com. de Lc.2:25). Em Jerusalém (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “de Jerusalém” (ARA; ver com. de “consolação de Israel”, v. Lc.2:25). |
Lc.2:39 | 39. Cumpridas todas as ordenanças segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. Cumpridas todas as ordenanças. [O menino Jesus em Nazaré, Lc.2:39-40 = Mt.2:19-23. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 212]. Jesus nasceu “sob a lei” (Gl.4:4), como um judeu e, consequentemente, cumpriu todas as exigências da “lei do Senhor”, como as leis levíticas pertinentes à purificação e à apresentação (Lc.2:22-24) são chamadas aqui. Embora dadas a Israel pelas mãos de Moisés, essas leis foram originadas em Deus (ver Dt.5:31-33). Somente os dez mandamentos foram dados diretamente por Deus ao povo (ver Dt.5:22). Voltaram. Lucas não menciona a visita dos magos nem a fuga para o Egito, duas situações que precederam o retorno à Galileia (ver Mt.2:1-23). Uma omissão semelhante de detalhe narrativo ocorre em At.9:26, em que Lucas indica que Saulo saiu imediatamente de Damasco e foi para Jerusalém. No entanto, fica evidente em Gl.1:17-18 que houve um intervalo de três anos antes que Paulo retornasse a Jerusalém. É natural que a visita dos magos tenha ocorrido em sequência à dedicação no templo, porque seria inconcebível que José levasse Maria e Jesus para Jerusalém depois de ser avisado para fugir para o Egito a fim de escapar de Herodes. Quando a família retornou a Nazaré, Herodes estava morto e seu filho Arquelau governava em seu lugar (ver Mt.2:19-23). Arquelau reinou de 4 a.C. a 6 d.C. Assim, o retorno a Nazaré deve ter ocorrido dentro desse período, possivelmente pouco depois do início do reinado de Arquelau. Nazaré. Ver com. de Mt.2:23. |
Lc.2:40 | 40. Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Crescia o menino. Esta passagem cobre a infância de Jesus, até que ele completasse 12 anos de idade (v. Lc.2:42), como os v. Lc.2:51-52 cobrem Sua juventude e início da vida adulta. O desenvolvimento da natureza humana e da personalidade de Jesus Cristo continuou de modo normal, exceto que Ele jamais cedeu ao pecado. Viveu como uma criança e um jovem normais vivem no círculo familiar. Passou por todos esses anos como qualquer ser humano, na medida em que o crescimento físico, mental, espiritual e social ocorre com todas as pessoas (ver com. do v. Lc.2:52), exceto que nenhuma deficiência prejudicou seu processo de crescimento. Esse processo de crescimento claramente comprova a verdadeira humanidade de Jesus, como Sua perfeição comprova Sua divindade. E Se fortalecia. As mesmas expressões, “crescia” e “fortalecia”, são usadas para o desenvolvimento de João Batista (Lc.1:80). Tanto João quanto Jesus eram saudáveis e vigorosos. Em espírito (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a omissão destas palavras (cf. ARA). A expressão se refere ao desenvolvimento de uma personalidade simétrica. Enchendo-se de sabedoria. O processo de crescimento mental acompanhou o ritmo do crescimento físico. Esta expressão resume o desenvolvimento intelectual, moral e espiritual da criança (ver com. do v. Lc.2:52). Graça. Ou, “favor”, isto é, a aprovação de Deus (ver com. do v. Lc.2:52). Ver o testemunho direto do Pai no batismo de Cristo (Lc.3:22). |
Lc.2:41 | 41. Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa. Iam Seus pais. [O menino Jesus no meio dos doutores, Lc.2:41-52. Ver mapa, p. 212; gráfico, p. 224]. A referência neste versículo a José como um dos “pais” de Jesus de modo algum nega o nascimento virginal, já relatado por Lucas muito explicitamente (Lc.1:31-35). Durante a infância, Jesus teve o cuidado e a proteção paternais de José (ver com. de Mt.1:24) e, mesmo quando adulto, continuou submisso a ele, como todo jovem deve ser a seu pai (ver Lc.2:51). No v. Lc.2:48, Maria fala a Jesus sobre José como seu pai. A Jerusalém. O tempo verbal grego mostra que José e Maria estavam acostumados a ir a Jerusalém com o propósito de participar das festas religiosas anuais (ver com. de Lv.23:2). No caso de José era exigido por lei que ele comparecesse às três grandes festas (ver com. de Ex.23:14-17; Dt.16:16). O fato de Maria acompanhá-lo costumeiramente testifica de sua devoção às coisas espirituais, pois o comparecimento por parte das mulheres, embora recomendado, não era exigido. A Festa da Páscoa. A primeira das três grandes festas anuais, sendo as outras duas a do Pentecostes e a dos Tabernáculos (ver com. de Ex.23:14-17; Lv.23:2). Comemorando o livramento dos hebreus da opressão egípcia, a festa da Páscoa era uma lembrança impressionante da sucessão de eventos dramáticos por meio dos quais Deus fez de Israel uma nação independente. A importância da Páscoa para o povo hebreu é confirmada pelo fato de eles normalmente comparecerem à festa mesmo que fosse impossível estar em Jerusalém para as demais. Era o ápice do ano religioso, porque sem esses acontecimentos eles teriam permanecido escravos dos egípcios. Não apenas isso, mas a Páscoa tipificava o Messias (ver 1Co.5:7), a esperança de uma vinda que unia a nação e a preservava de geração em geração. |
Lc.2:42 | 42. Quando ele atingiu os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Doze anos. Segundo o cálculo judeu, Jesus seria considerado como tendo 12 anos quando completasse o 11° aniversário (ver com. de Gn.5:32; Mt.2:16) e teria “doze anos” até o 12° aniversário. Ao completar o 12° ano, um menino judeu era confirmado como um “filho da lei” (DTN, 75) e se tornava pessoalmente obrigado a observar as várias ordenanças religiosas. O 12° ano marcava a transição da infância para a juventude. Com três anos, os meninos judeus recebiam as vestes com borlas prescritas pela lei de Moisés (ver com. de Nm.15:38-41; Dt.22:12) e, com cinco anos, esperava-se que memorizassem porções da Lei. No final do 12° ano, eles deveriam usar o tefilim ou filactério (ver com. de Ex.13:9) nas horas de orações — como exigido pela tradição rabínica, embora não pela lei de Moisés. Jesus nunca obedeceu a essa tradição (ver DTN, 84; cf. Mt.23:5). Segundo a Mishnah, os meninos hebreus se tornavam pessoalmente responsáveis por observar os mandamentos na idade de 13 anos, isto é, ao término do 12° ano. Se o nascimento de Jesus ocorreu no outono de 5 a.C., como parece provável (ver p. 238), Seu 12° ano, segundo o computo judaico, seria do outono de 7 d.C. ao outono de 8 d.C., e Sua primeira Páscoa seria a do ano seguinte, 9 d.C (ver gráfico, p. 224). Subiram. Ver com. do v. Lc.2:41. Na época de Cristo, os judeus viajavam entre a Galileia e Samaria evitando, quando possível, a rota mais direta através de Samaria, por causa da hostilidade entre judeus e samaritanos (ver DTN, 487). É possível, portanto, que Jesus e Seus pais tenham feito essa viagem pelo caminho do vale do Jordão, que era uma rota alternativa. Tendo doze anos, Jesus participava da Páscoa pela primeira vez. Esta também foi, possivelmente, sua primeira visita a Jerusalém desde a dedicação, sendo Sua primeira visita ao templo (ver DTN, 78). Segundo o costume. A observância fiel de todas as exigências da lei era uma característica de José e Maria (ver com. de Mt.1:19; Lc.2:21-24). |
Lc.2:43 | 43. Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Terminados os dias. O cordeiro pascal normalmente era morto no final da tarde de 14 de nisã, e comido após o pôr do sol na mesma noite, no dia 15 (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75). O dia 15 também era o primeiro dia da festa dos Pães Asmos, que durava até o 21° dia, sendo que o dia 15 e o dia 21 de nisã eram celebrados como sábados, independente dos dias da semana em que eles caíssem (ver com. de Ex.12:16; Lv.23:6-7). No dia 16, o molho movido era apresentado diante do Senhor. As cerimônias do 14° dia ao 16° dia da festa eram consideradas as mais importantes, e no 17° dia permitia-se que os participantes da festa retornassem para casa, caso quisessem. Uma circunstância narrada por Lucas (ver com. do v. Lc.2:46) tem levado muitos comentaristas a pensar que Maria e José partiram nesse período permitido. No entanto, a devoção com que eles observavam as exigências da lei ritual (ver com. do v. Lc.2:41-42) pode tê-los levado a permanecer durante toda a festa, em vez de o tempo mínimo exigido pelos rabinos (ver gráfico, p. 230). Permaneceu [...] Jesus. A natureza obediente de Cristo, mesmo quando criança, deu motivos abundantes para José e Maria confiarem nEle. “Seu espírito era ativo e penetrante, com uma reflexão e sabedoria além de Sua idade” (DTN, 68, 69), o que não tornava Sua obediência cega, mas inteligente. Mesmo enquanto criança, Jesus sempre era atencioso e se antecipava aos desejos de seus pais (DTN, 80). Ele parecia sempre saber o que fazer e era fiel nisso; e, naquela ocasião, Maria e José tinham como certo que Ele se comportaria como sempre. Após esta visita a Jerusalém, Jesus, pela primeira vez, percebeu que Ele era, num sentido único, o Filho de Deus (ver DTN, 75, 78), e as implicações de Sua missão terrestre começaram a surgir em Sua mente. Ele sinceramente ansiava por uma compreensão mais clara da natureza de Sua obra e permaneceu no templo, o lar terrestre de Seu Pai celestial (ver Jo.2:16), para comungar mais com Ele. O período da juventude foi estabelecido por Deus como a época quando as crianças aprendem a pensar e a agir por si mesmas e a aceitar responsabilidades por suas escolhas. Quanto mais jovens, eles são em grande parte dependentes de seus pais nessas questões; mas quando o período da juventude chega ao fim, espera-se que eles tenham assumido a função da maturidade. Desde o princípio, os pais deveriam procurar desenvolver em seus filhos a habilidade de escolher inteligentemente e sentir sua responsabilidade pessoal. Contudo, na fase em que a infância se mescla imperceptivelmente com a juventude, os pais devem promover o amadurecimento à medida que os filhos estejam qualificados para aceitar as novas responsabilidades. Deveria se permitir aos jovens que façam suas próprias escolhas e ajam independentemente de seus pais tão logo demonstrem a capacidade de agir inteligentemente. Há poucos quadros mais patéticos do que o de um jovem à beira da maturidade, mas ainda sujeito aos pais pelas limitações de escolha e de ação mais apropriadas à infância. Ninguém estará menos preparado para assumir as responsabilidades que acompanham a maturidade. Simultaneamente, a juventude deveria ser ensinada a valorizar e considerar seriamente o conselho e a exortação de seus pais e, ao longo da vida, procurar se beneficiar da sabedoria e da experiência dos outros (ver com. do v. Lc.2:51). Menino. Do gr. pais, “um menino” ou “um rapaz”. No v. Lc.2:40, a palavra traduzida como “menino” é derivada de paidon, a forma diminutiva de pais. Seus pais. Ver com. do v. Lc.2:41. |
Lc.2:44 | 44. Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram caminho de um dia e, então, passaram a procurá-lo entre os parentes e os conhecidos Pensando. Jesus nunca deu um motivo válido para que seus pais se afligissem. Eles imaginaram que Ele estivesse familiarizado com seus planos para retornar com os companheiros, e que Ele sabia a hora da partida. Companheiros. Do gr. sunodia, “um grupo de viajantes” ou “uma caravana”, derivado da palavra sun, “junto a”, e da palavra hodos, “uma estrada” ou “um caminho”. Para desfrutar companheirismo e proteção, os participantes das várias festas anuais em Jerusalém costumavam viajar em grandes grupos. Frequentemente, todos os que partiam de uma vila ou cidade planejavam viajar juntos, em caravanas. Na agitação da saída de uma grande caravana, seria difícil para José e Maria confirmarem com todos os seus parentes e amigos se sabiam onde Jesus estava. Além disso, como fazia parte do costume que as mulheres viajassem num grupo à frente dos homens, é possível que José e Maria tivessem se separado pouco depois que iniciaram a viagem, e cada um deles pensou que Jesus estivesse com o outro. Caminho de um dia. Num grupo como este, a viagem de volta para Nazaré se prolongava por dias (ver com. do v. Lc.2:42). O primeiro dia de viagem, caso seguissem o caminho do Jordão, os levaria não muito longe de Jericó, a 24 km de Jerusalém. Procurá-Lo. Eles O procuraram persistentemente por todo lugar. Pode-se imaginar a crescente ansiedade de José e Maria ao iniciar a busca no fim do dia, depois de um “caminho de um dia”, e continuaram a procurar entre os parentes e amigos por todo o local de acampamento da caravana. Essa busca deve tê-los conduzido noite adentro. Mas seus esforços foram em vão. Jesus não foi encontrado. |
Lc.2:45 | 45. e, não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. Sem comentário para este versículo. |
Lc.2:46 | 46. Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Três dias depois. Isto é, desde o tempo quando eles perceberam que Jesus não estava na caravana. Com certeza, ao José e Maria se levantarem cedo na manhã seguinte para voltar a Jerusalém, seu coração se encheu com terríveis pressentimentos, pois relembraram das tentativas de Herodes para tirar Sua vida. Se tivessem voltado desde Jericó (ver com. do v. Lc.2:44), teria sido preciso subir a íngreme estrada para Jerusalém, de mais de 900 metros. Tendo refeito os passos até Jerusalém, passaram as poucas horas restantes desse segundo dia procurando por Jesus, mas em vão. Esse dia de busca foi tão improdutivo quanto o anterior. No dia seguinte reiniciaram as buscas. Sua tristeza e aflição se transformaram em alegria e regozijo quando, finalmente, ouviram a voz de Jesus entre os adoradores no templo. Segundo o computo judaico, esse dia em que encontraram a Jesus no templo seria o terceiro (ver DTN, 81). Por esse sistema de computo inclusivo, os primeiros e os últimos dias de um período de tempo estão inclusos no cálculo do tempo decorrido (ver p. 246-248). Templo. Do gr. hieron, todo o complexo do templo, incluindo os pátios ou salões dos recintos sagrados que o circundavam. O edifício do templo é normalmente designado pela palavra grega naos. Uma escola rabínica era dirigida num dos terraços ou num dos salões da área do templo, principalmente nas épocas festivas. Assentado. A postura de um aprendiz (ver At.22:3). Doutores. Literalmente, “professores”, isto é, rabinos ou escribas instruídos nos escritos sagrados e na tradição oral (ver p. 43). Notável entre os “doutores” da geração anterior foi Hillel, o ancião, fundador de uma influente escola do pensamento judeu. Não menos ilustre foi Shammai, um mestre mais conservador da lei judaica. Os “doutores” em destaque nos dias de Cristo foram Gamaliel, o professor de Saulo (ver At.22:3), Simeão, filho e sucessor de Hillel, Nicodemos (ver com. de Jo.3:1; Jo.3:10) e, possivelmente, José de Arimatéia (ver com. de Mt.27:57). Um ou talvez mais de um desses homens, conhecidos como ativos professores da lei, podem ter estado presentes nessa ocasião. Era costume, principalmente nos sábados e nos dias festivos, encontrar esses homens sentados em bancos no terraço do templo e seus pupilos sentados ao redor deles. Alguns comentaristas têm sugerido que a menção aos “doutores” neste versículo indica que a Festa dos Pães Asmos ainda estava ocorrendo e que José e Maria haviam saído antes, como permitido pelo costume (ver com. de Lc.2:43). Ouvindo-os. Isto é, Jesus ouvia a exposição que eles faziam da Escritura e da tradição, prestando atenção às perguntas deles e às respostas que davam às Suas perguntas. O modo habitual rabínico de instrução era por meio de perguntas, respostas e discussão. Interrogando-os. Isto é, como um aprendiz sincero e respeitoso. Maria e José esperavam que, nesta visita a Jerusalém, Jesus entrasse em contato com os reverenciados e instruídos rabinos, que Ele aprendesse a respeitá-los e a obedecer às exigências rabínicas. No entanto, logo ficou evidente que a compreensão de Jesus acerca das profecias excedia à dos rabinos. Suas perguntas inteligentes abriam seus olhos para verdades negligenciadas com relação à missão do Messias e os cumprimentos proféticos contemporâneos que provavam que a aparição do Messias estava às portas (ver DTN 78, 80; cf. 30, 55, 212, 234, 257). Dentre esses eventos estava o acontecimento de 6 d.C., quando o governador local Arquelau foi deposto, e a Judeia, pela primeira vez, foi organizada como uma província governada diretamente por um procurador romano sujeito ao governador da Síria. Nos consecutivos impérios estrangeiros, a Judeia considerou-se um estado submisso, mas com “governo local” feito por príncipes judeus ou sacerdotes (Zorobabel, Esdras, Neemias e, posteriormente, os sumos sacerdotes), pelos reis-sacerdotes macabeus e, mesmo sob Roma, pelo rei Herodes local. Então, esta nova ação deve ter levado muitos a perceber que, pela segura palavra da profecia, o Messias logo deveria aparecer. Séculos antes, o profeta escreveu: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló” (ver com. de Gn.49:10; ver DTN, 34, 103, 104). |
Lc.2:47 | 47. E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. Admiravam. Os líderes religiosos não conseguiam explicar o fato de uma criança que, ao que eles bem sabiam, não tinha frequentado as escolas dos rabinos (ver DTN, 80; ver com. de Jo.7:15), compreendesse profundamente as profecias como Jesus compreendia. Deus era Seu professor, por meio dos preceitos de Maria, por meio do estudo individual dos escritos proféticos e, naquele momento, por meio da impressão da verdade direta a Seu coração, enquanto Ele meditava nos átrios do templo (ver DTN, 70, 78). Em contrapartida, o ensino dos rabinos tendia a obscurecer em vez de clarificar a verdade; a encorajar a ignorância, em vez de transmitir conhecimento (ver DTN, 69). Sua inteligência. Isto é, das Escrituras, principalmente das profecias que apontavam para a vinda do Messias, a missão de Israel às nações e o estabelecimento do reino messiânico. Sua compreensão da Palavra de Deus não era obscurecida pelas explicações tortuosas e enganosas utilizadas pelos rabinos e anciãos. Jesus estava familiarizado não apenas com a letra, mas com o espírito das Escrituras. Ele não Se importava com a interpretação rabínica. Nenhum erro confundia Seu pensamento. Respostas. Esses professores veneráveis fizeram muitas perguntas a Jesus, num esforço de sondar a profundidade de Sua compreensão das Escrituras, e ficaram intrigados com Suas respostas claras e lógicas, todas baseadas nas Escrituras. Se, como um menino “ignorante”, Jesus possuía tão profunda compreensão da Lei e dos Profetas, pensaram os mestres de Israel, o que Ele poderia Se tornar se fosse treinado por suas mãos? Como um professor de canto percebe as possibilidades latentes numa voz naturalmente bela, mas sem treino, eles vislumbraram em Jesus o maior professor que Israel já tinha conhecido. |
Lc.2:48 | 48. Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. Logo que Seus pais O viram. Maria e José ficaram “maravilhados” com a porção da conversa que ouviram entre Jesus e os doutores da Lei. Contudo, mais do que isso, eles se maravilharam com a aparência de Jesus. “Havia em Seu rosto uma luz que os levou a meditar. A divindade estava irradiando através da humanidade” (DTN, 81) pela primeira vez, em testemunho da verdade de que o Filho do Homem não era outro senão o Filho de Deus (ver com. de Ml.1:1; Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Teu pai e eu. Esta é a última vez, em toda a narrativa do evangelho que José é mencionado como “pai” de Jesus. Uma vez que Jesus estava ciente do relacionamento com Seu Pai celestial, era apropriado que Seu “pai” terrestre desaparecesse da narrativa do evangelho (ver com. do v. Lc.2:51). O silêncio das Escrituras a respeito de José, desta época em diante, sugere que ele não viveu para ver o início do ministério público de Cristo (ver DTN, 145; para uma referência a José como o “pai” de Jesus, ver com. do v. Lc.2:33). |
Lc.2:49 | 49. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? Por que Me procuráveis? As palavras de Jesus não refletem aborrecimento porque Seus pais estavam preocupados com Ele, mas uma surpresa inocente de que eles tivessem passado por dificuldades e ansiedade para encontrá-Lo. Por que eles tiveram dificuldades em encontrar Seu filho? Onde mais, em Jerusalém, eles deveriam esperar encontrá-Lo, senão no templo? Eles conheciam Seu interesse e devoção às coisas espirituais. E por que eles estariam “aflitos” e “ansiosos” por causa dEle? Ele já havia lhes dado motivo para preocupação? Ele apenas permaneceu no templo quando eles partiram. Ali, onde eles O deixaram (ver DTN, 78), eles deveriam esperar encontrá-Lo novamente. Além disso, Ele não fugiu deles; eles saíram sem Ele. A culpa foi de Seus pais, e eles não deveriam tê-Lo censurado. A conscientização de Jesus quanto a Sua relação com Seu Pai celestial não diminuiu Seu senso do dever para com Seus pais terrestres (ver v. Lc.2:51). Não sabíeis [...]? Verdadeiramente, “eles não sabiam” (v. Lc.2:50). Que Me cumpria estar. Literalmente, “é necessário que Eu esteja” ou “cabe a Mim estar”. Jesus era sempre fiel ao dever. Ele lidava sempre com Suas tarefas fielmente. Enquanto criança, Jesus já estava consciente do destino que Lhe aguardava, não por Sua própria vontade, mas pela vontade do Pai celestial (ver Mt.7:21; Mt.26:39; Jo.4:34). Na casa de Meu Pai. Literalmente, “nas [coisas] de Meu Pai”, uma expressão que poderia se referir tanto aos “negócios” de Seu pai como Sua “casa”’. Maria acabara de se referir a José como o “pai” de Jesus (v. Lc.2:48). Jesus não negou diretamente essa relação, mas afirmou claramente que Deus, no Céu, era Seu Pai. Pela primeira vez na terra, Jesus compreendeu e proclamou Sua filiação divina. É digno de nota que essas primeiras palavras registradas de Jesus afirmam Sua divindade. Em Seu coração nasceu uma compreensão do mistério de Sua missão na terra (DTN, 82), mas Seus pais “não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera” (v. Lc.2:50). Antes de Cristo vir a este mundo, o plano para Sua vida “jazia perante Ele, perfeito em todos os seus detalhes” (DTN, 147). Como a época estabelecida para a encarnação (Gl.4:4; DTN, 31), “cada evento em Sua obra tinha seu momento determinado” (DTN, 451). Mesmo assim, quando Ele veio à Terra, foi guiado passo a passo, enquanto andou entre os homens, pela vontade do Pai, revelada a Ele dia a dia (DTN, 147; sobre a vida de oração de Jesus, através da qual era instruído por Deus, ver com. de Mc.1:35; Mc.3:13). Repetidas vezes, Jesus expressou o pensamento: “O Meu tempo ainda não chegou” (Jo.7:6-8); mas, na última Páscoa, Ele disse: “Meu tempo está próximo” (Mt.26:18). É nosso privilégio viver uma vida entregue diariamente ao Pai, como Cristo o fez, e ser guiados para cumprir nossa parte no grande plano (DTN, 209; ver Jo.15:10). Durante todos os dias da eternidade, o Senhor Jesus foi igual ao Pai (ver com. de Jo.1:1-3), mas, no período da encarnação, Ele aceitou uma função subordinada ao Pai (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver com. de Lc.1:31; Lc.1:35; Jo.1:14). Então, com a idade de 12 anos, Ele Se conscientizou pela primeira vez de Sua filiação ao Pai celestial e de Sua função como um homem entre os homens. |
Lc.2:50 | 50. Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera. Não compreenderam. “Não sabíeis?”, Jesus perguntou a Seus pais, mas eles “não compreenderam” Sua negação implícita de José e Sua afirmação de Deus como Seu Pai. Maria “sabia que negara Seu parentesco com José, e declarara Sua filiação de Deus” (DTN, 82), mas ela não compreendeu a importância de Suas palavras, principalmente no que se aplicava à obra de Sua vida. A partir desse período, Seu plano de ação foi um mistério aos Seus pais (DTN, 89). A palavra “eles”, neste versículo, refere-se a Maria e a José. Se mesmo “eles” não compreenderam, o mesmo seria verdadeiro acerca dos doutores da Lei e outras pessoas presentes. |
Lc.2:51 | 51. E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração. Submisso. Ou, “obediente”. Embora claramente negando a filiação a José, Jesus, no entanto, de modo obediente Se submetia a ele, como se espera que um filho se submeta a seu pai enquanto permaneça sob o mesmo teto. Nos 18 anos seguintes, antes que Ele deixasse o lar, Jesus percebeu que era o Filho de Deus, ainda que durante esses 18 anos tenha se mantido como um filho obediente aos Seus guardiões terrestres. Como Filho de Deus, Ele poderia ter-Se considerado isento da jurisdição paterna, mas, como um exemplo a todos os jovens, Ele foi “obediente” aos pais humanos. Fica, portanto, evidente que a resposta de Jesus no v. Lc.2:49 não foi, de modo algum, uma rejeição à autoridade de José e Maria. Durante esses 18 anos, Jesus Se tornou conhecido entre os Seus concidadãos como “o carpinteiro” de Nazaré (Mc.6:3) e “o filho do carpinteiro” (Mt.13:55). Em algum momento desses 18 anos José morreu, porque, no final desse período, fala-Se da “carpintaria que fora de José” (DTN, 109, 145). Em Lc.2:51 encontramos a última referência indireta da Escritura a José na narrativa da vida de Cristo (ver com. do v. Lc.2:48). Guardava. Do gr. diatereo, “guardar cuidadosamente”. Maria guardou esses “dizeres” ou “coisas” e os conservou vívidos na memória (ver com. do v. Lc.2:19). |
Lc.2:52 | 52. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. E crescia Jesus. A infância e juventude de Jesus foram anos de desenvolvimento harmonioso de Sua capacidade física, mental e espiritual (ver Ed, 13). A meta a que Ele aspirava era refletir perfeitamente o caráter de Seu Pai celestial. Aqui estava a perfeita humanidade, restaurada à imagem de Deus. Trinta anos de constante preparo precederam um breve ministério de três anos e meio. A declaração do v. Lc.2:40 se refere principalmente à infância de Jesus, e a declaração do v. Lc.2:52, à Sua juventude e ao início da idade adulta. Declarações semelhantes foram feitas a respeito da juventude de Samuel (1Sm.2:26) e de João Batista (Lc.1:80). As lendas supersticiosas a respeito da infância e juventude de Jesus, registradas nos evangelhos apócrifos dos primeiros séculos cristãos, apresentam-se em contraste com a dignidade e beleza simples e o poder irresistível da narrativa bíblica (ilustrações destes relatos lendários podem ser conferidas na obra apócrifa, 1 Infância 7:1-35; 13:1-13; 15:1-7; 16:1-16; 18:1-19). Jesus não realizou milagres antes do tempo em que assumiu Seu ministério público (cf. DTN, 72, 74, 92). Sabedoria. Do gr. sophia, “inteligência ampla e plena”; isto é, excelência mental no sentido mais pleno (ver com. de Lc.1:17). Sophia inclui não apenas o conhecimento, mas a habilidade e o julgamento para aplicar tal conhecimento às circunstâncias e situações da vida. É importante reconhecer que Jesus não nasceu com conhecimento, compreensão e sabedoria completos, nem foi dotado com eles de modo sobrenatural. Ele “crescia” em sabedoria. “Toda criança pode adquirir conhecimento como Jesus o adquiriu” (DTN, 70). Estatura. Jesus Se envolveu na mais elevada forma de exercício, o exercício útil, o único que confere força física verdadeira e desenvolve plenamente as faculdades. Este exercício O treinou para suportar Sua parcela dos fardos da vida; foi um benefício a Ele e uma bênção aos demais (DTN, 72). Graça, diante de Deus. Desde o primeiro despontar da inteligência, Jesus cresceu constantemente em graça espiritual e no conhecimento da verdade. Ele crescia em força moral e compreensão por meio do tempo passado em solidão na natureza, principalmente nas primeiras horas da manhã, meditando, pesquisando as Escrituras e buscando a Seu Pai em oração (ver DTN, 90). Em Nazaré, proverbial por sua iniquidade mesmo naquela geração, Ele sempre esteve exposto à tentação e tinha que estar constantemente em guarda para preservar Sua pureza de caráter (DTN, 71, 116). No final dos preparativos para o ministério, o Pai testemunhou dEle: “Tu és o Meu filho amado, em Ti Me comprazo” (Lc.3:22). Ele foi um exemplo vivo do que significa ser perfeito “como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt.5:48; DTN, 72; sobre o modo como Jesus lidava com as tentações, ver com. de Mt.4:1-11; Mt.26:38-41; Lc.2:40; Hb.2:17; Ellen G. White, Material Suplementar sobre Lc.2:40). E dos homens. Quanto à personalidade, Jesus era conhecido pela amabilidade singular do caráter (DTN, 68, 254), pela paciência que nada conseguia perturbar (DTN, 68, 69), pela graça de uma cortesia altruísta (DTN, 69), pelo fato e o bom humor (DTN, 73, 87), pela simpatia e ternura (DTN, 74), pelo recato juvenil e pela graça (DTN, 80). Desde a infância, Seu único propósito na vida era abençoar os outros (DTN, 70, 90, 92), e Suas mãos estavam sempre dispostas a servir (DTN, 86). Ele realizou perfeitamente as tarefas de um filho, irmão, amigo e cidadão (DTN, 72, 82). O perfeito desenvolvimento do caráter de Jesus, sem pecado, desde a infância até a idade adulta talvez seja o fato mais maravilhoso de toda a Sua vida. Isso supera toda imaginação. E em vista das garantias de que Ele não desfrutou de oportunidades que Deus não esteja disposto a proporcionar a nossos filhos (DTN, 70), podemos perguntar: “Como pode suceder isto?” (cf. Jo.3:9). Em primeiro lugar: “Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por 4 mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade” (DTN, 49). A Ele foi permitido “que enfrentasse os perigos da vida em comum com toda a alma humana, combatesse o combate como qualquer filho da humanidade o tem de fazer, com risco de fracasso e ruína eterna” (DTN, 49). Em segundo lugar, o menino Jesus não foi dotado sobrenaturalmente com sabedoria acima de outras crianças normais. Ele pensava, falava e agia com a sabedoria de uma criança (DTN, 70, 71; PJ, 83). “Mas, em cada fase de Seu desenvolvimento, era perfeito, com a graça simples e natural de uma vida inocente” (PJ, 83). Em terceiro lugar, o ambiente em que Jesus cresceu, a notória impiedade de Nazaré, sujeitou-O “a todos os conflitos que nós outros temos de enfrentar” (DTN, 71; cf. 116). Ainda assim na infância e juventude Sua vida não foi marcada por um único pensamento ou ato errado (DTN, 88). É em grande parte pelo ensino e exemplo dos pais que o caráter dos filhos é determinado. Quando os filhos são privilegiados em ver na vida de seus pais um reflexo da ternura, da justiça e da paciência de Deus, eles O conhecerão como Ele é (PP, 308). O cultivo do amor, da confiança e da obediência aos pais terrestres prepara as crianças para amar, confiar e obedecer ao Pai celestial (ver PR, 245; T4, 337; ver com. de Mt.1:16). Se os pais forem humildemente ao Salvador, desejando ser guiados por Ele na educação de seus filhos, a eles é prometida graça para moldar o caráter de seus filhos, assim como Maria moldou o caráter do menino Jesus (ver DTN, 69; cf. 512). Os pais que gostariam de ver o caráter de Jesus refletido em seus filhos aproveitarão a riqueza dos conselhos inspirados disponíveis sobre esse assunto importante e os aplicarão diligente e pacientemente no círculo familiar (ver PJ, 80-89, 325-365; DTN, 68-74, 84-92; CBV, 349-394). Como Abraão, eles “ordenarão” seus filhos e seu lar (ver com. de Gn.18:19) com bondade, paciência e compreensão (ver Ef.6:4; Cl.3:21), ainda que com firmeza (ver com. de Pv.13:24; Pv.19:18). |
Lc.3:1 | 1. No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes, tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da Ituréia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, Décimo quinto ano. [A pregação de João Batista, Lc.3:1-14 = Mt.3:1-10 = Mc.1:2-5. Comentário principal: Mt e Lc. Ver gráfico 3, p. 225]. Nos tempos antigos, era costume datar os eventos pelos anos de governo de um rei ou pelos nomes dos oficiais sob os quais estes eventos ocorreram. Não havia cronologia universal comparável de alguma forma à que utilizamos hoje. Embora, em alguns aspectos, os seis pontos de observação histórica que Lucas dá aqui presenteiem os estudantes bíblicos com um problema cronológico hoje, eles, inegavelmente, marcam Lucas como um historiador que teve muito cuidado para ser rigoroso e preciso (ver com. de Lc.1:1-4) e, desta forma, testificam da confiabilidade de sua narrativa evangélica. A principal dificuldade cronológica apresentada neste versículo repousa na correspondência do “décimo quinto ano do reinado de Tibério César” com outras datas cronológicas disponíveis sobre a vida de Cristo e com a datação da era cristã (sobre este problema, ver p. 240-245). Embora Lucas geralmente tenha sido considerado um gentio, parece que ele pode estar utilizando, neste versículo, a fórmula de computo cronológico corrente entre os judeus. Com base num ano de outono a outono e de um sistema de ano da não ascensão para calcular os anos de reinado (ver vol. 2, p. 119-123), o primeiro ano de Tibério seria considerado como terminado no outono de 14 d.C. Consequentemente, seu “décimo quinto ano” se iniciaria no outono de 27 d.C. e continuaria até o outono de 28 d.C. O batismo de Jesus ocorreu durante o outono de 27 d.C. e, assim, muito cedo durante o “décimo quinto ano” de Tibério (ver DTN, 233). Outro processo pelo qual alguns têm buscado determinar o início do ministério de Cristo está baseado em Jo.2:13; Jo.2:20, que situa a primeira Páscoa de Seu ministério público no 46° ano do templo (sobre essa questão, ver p. 239, 240; a respeito da expressão, “cerca de trinta anos”, ver com. de Lc.3:23). Tibério César. Ver p. 243, 244. Exceto pela menção de Augusto em Lc.2:1, as referências a “César” em todos os evangelhos sempre se aplicam a Tibério César. Tibério era conhecido por muitas campanhas militares bem-sucedidas antes de sua nomeação como governador militar das províncias, sendo aclamado o “primeiro soldado do Império”. Ele foi conhecido pela disciplina estrita, indulgência na tributação e economia rígida em administração. Ele encorajou o comércio e as comunicações. O lago da Galileia foi renomeado como o mar de Tiberíades (Jo.6:1), em sua honra (ver gráficos 3, 11, p. 225, 231). Pôncio Pilatos. O quinto na sucessão de procuradores indicados por Roma depois da deposição e do banimento de Arquelau, em 6 d.C. (ver com. de Mt.2:22). Pilatos sucedeu Valério Grato, em 26 d.C., e foi destituído por Tibério, em 36 d.C., por má conduta no cargo (ver p. 54-56; ver gráficos 3, 11, p. 225, 231). Governador. Um “governador” ou procurador era um administrador de origem nobre, indicado pelo imperador como “governador” de uma subdivisão de uma província. Nesta época, a Judeia era uma subdivisão da província romana da Síria (ver p. 53, 54; ver com. de Mt.27:2). Herodes. Isto é, Herodes Antipas (ver com. de Mt.2:22), indicado por seu pai Herodes, o Grande, como tetrarca da Galileia e Pereia. A nomeação foi confirmada mais tarde por Augusto. Sua mãe era uma samaritana. Este foi o Herodes que se casou com a sobrinha, Herodias, esposa de seu meio irmão (ver gráfico, p. 28), uma união à qual os judeus se opunham e pela qual Antipas foi repreendido por João Batista (Lc.3:19-20). Jesus apropriadamente o caracterizou como “essa raposa” (Lc.13:31-32) e Se referiu a sua má influência como o “fermento de Herodes” (Mc.8:15). Foi a Herodes Antipas que Jesus foi enviado por Pilatos durante o progresso de Seu julgamento (Lc.23:7-15). O nome Antipas é a forma contraída de Antipater, o nome dado por seu avô. Embora apenas um tetrarca, ele praticamente governou como rei desde a morte de seu pai, Herodes, o Grande, até que foi deposto em 39 d.C. Parece que lhe foi permitido o título de rei como cortesia (Mc.6:14; ver p. 51-53; gráficos 3, 11, p. 225, 231; mapa, p. 327). Tetrarca da Galileia. Em suas moedas, Antipas refere-se a si mesmo pelo título de “tetrarca”. A princípio, um “tetrarca” era o governador da quarta parte de uma província e, mais tarde, de uma subdivisão de uma província. Por fim, o termo foi usado para designar qualquer governante que tivesse menos hierarquia que um rei. Filipe. Herodes Filipe, filho de Herodes, o Grande (ver gráfico, p. 28) e, possivelmente, o mais justo e sensato de todos os filhos de Herodes, o Grande (Josefo, Antiguidades, xvii.4.6). Ele se casou com Salomé, a filha de Herodias e Herodes Filipe 1, não muito depois do incidente registrado em Mc.6:22-25 (Antiguidades, xvii.5.4). Filipe foi o primeiro dos Herodes a ter imagens de Augusto e Tibério impressas em suas moedas. Isso os judeus consideravam idolatria, contudo, para Filipe, seus súditos eram quase todos pagãos. Ele reconstruiu a Cesareia de Filipe ao pé do monte Hermom, nomeando-a assim, em honra a Tibério César e a si mesmo (Antiguidades, xviii.2.1; Guerra dos Judeus, ii.9.1 [168]). Ele reconstruiu a cidade de Betsaida Julias, que ele nomeou em honra à filha de Augusto. A última cidade, na extremidade norte do lago da Galileia, foi o lar de Pedro, André e Filipe (ver Jo.1:44; Jo.12:21). Filipe governou por 37 anos, de 4 a.C. a 34 d.C. (ver gráficos 3, 11; p. 225, 231). Itureia. Região a nordeste do lago da Galileia e a leste de Cesareia de Filipe. Alguns pensam que o nome é derivado de Jetur, filho de Ismael (ver Gn.25:15; ver mapa, p. 327). Traconites. Uma região largamente estendida a leste da Itureia. O nome é evidentemente derivado do gr. trachus, significando uma área “acidentada” ou “pedregosa”, que descreve essa região. Seus soldados eram famosos por ter sido arqueiros habilidosos. Lisânias. Os críticos da Bíblia há muito apontaram a menção de Lucas a “Lisânias, tetrarca de Abilene”, como um erro cronológico grosseiro. Observaram que o único governador com esse nome nas proximidades era filho de Ptolomeu, um rei (não um tetrarca), cuja capital foi Cálcis, na Celessíria, não em Abilene, e que reinou de 40 a 36 a.C. Embora se deva admitir que não há confirmação histórica específica da declaração de Lucas, várias referências indiretas a Lisânias correspondem ao Lisânias de Lucas, em vez do filho de Ptolomeu, e são fortemente a favor de Lucas. Josefo se refere a “Abila de Lisânias” (Antiguidades, xix.5.1) e ao tetrarca de Lisânias. Uma medalha foi encontrada designando um certo Lisânias como “tetrarca e sumo sacerdote”. Uma inscrição prova que o primeiro Lisânias, filho de Ptolomeu, deixou filhos, um dos quais pode ter sido o Lisânias que Lucas menciona. Outra inscrição da época de Tibério fala de um “tetrarca Lisânias”. Comentando sobre um suposto erro de Lucas, o International Critical Commentary observa que “tal erro é improvável; e a única dificuldade acerca da declaração de Lucas é que não temos evidências incontestáveis deste tetrarca Lisânias”. Abilene. Um distrito entre Damasco e as montanhas do Antilíbano. |
Lc.3:2 | 2. sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. Sumos sacerdotes. Caifás, oficialmente sumo sacerdote, e Anás, deposto pelos romanos, ainda popularmente honrado como sumo sacerdote (ver Jo.18:13; Jo.18:24; At.4:6). Originalmente, o ofício do sumo sacerdote havia sido hereditário e vitalício, mas, sob os governos herodiano e romano, os sumos sacerdotes eram normalmente eleitos e depostos numa rápida sucessão. Um deles manteve o ofício por apenas um dia. Desde a ascensão de Herodes, o Grande, em 37 a.C., até a queda de Jerusalém, em 70 d.C., 28 pessoas mantiveram o sagrado ofício, seu prazo médio de ofício sendo, assim, de pouco mais que três anos e meio. Anás. Nomeado sumo sacerdote por Quirino, governador da Síria, em 6 ou 7 d.C.; deposto em 14 ou 15 d.C. por Valério Grato (Josefo, Antiguidades, xviii.2.2), que precedeu Pilatos como procurador da Judeia. Anás teve cinco filhos, cada um se tornou sumo sacerdote, como também seu genro, Caifás. O ofício foi mantido pelos membros de sua família intermitentemente por cerca de 50 anos depois que ele próprio foi deposto. Embora ele não mais servisse como sumo sacerdote durante o ministério de Jesus, ainda era considerado o legítimo sumo sacerdote pela maioria de seus contemporâneos (ver At.4:6). Caifás. Genro de Anás. Eleito sumo sacerdote por Valério Grato, em aproximadamente 18 ou 19 d.C., ele continuou no ofício até por volta de 36 d.C. Foi oficialmente o sumo sacerdote durante todo o ministério de Jesus. Era um saduceu orgulhoso e cruel, autoritário e intolerante, mas de caráter fraco e indeciso (ver Jo.11:49-50; DTN, 539, 540, 703; ver gráficos, 1, 3, p. 224, 225). João. Ver com. de Mt.3:1. Apenas Lucas designa João como o filho de Zacarias (ver Lc.1:67). Aparentemente, a data cronológica de Mt.3:1 se aplica à época quando “a palavra de Deus veio a João”, significando o tempo quando Deus o chamou para sua obra e lhe deu a “palavra” específica, ou mensagem, que deveria proclamar. João pode ter iniciado seu ministério por volta da Páscoa de 27 d.C. (ver gráfico, p. 227). No deserto. Ver com. de Mt.3:1. Os três evangelhos sinóticos referem-se ao fato de que João estava “no deserto”, com o objetivo de enfatizar que ele evitava lugares onde as pessoas se ajuntavam naturalmente. A “palavra de Deus” possivelmente veio a João no deserto da Judeia, onde ele passou grande parte de sua juventude e início da vida adulta (ver com. de Lc.1:80), mas ele, na realidade, começou a pregar e batizar na Pereia, do outro lado de Jericó (Jo.10:40; DTN, 132; ver com. de Lc.1:80; Jo.1:28). |
Lc.3:3 | 3. Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados, Circunvizinhança. Do gr. perichoros, “uma região em redor” (ver com. de Mt.3:1; Mt.3:5). João começou a pregar e a batizar em Betábara (Betânia), “além do Jordão” (Jo.10:40). Mais tarde, ele é mencionado como estando próximo a Salim (ver com. de Jo.3:23). A maior parte de seu ministério foi conduzida no deserto (DTN, 220). Pregando. Do gr. kerusso, “proclamar”. João proclamava o valor e a necessidade do batismo e do abandono do pecado (ver com. de Mt.3:2; Mt.3:6) como um preparo necessário para a vinda do Messias e de Seu reino. Batismo de arrependimento. Ver com. de Mt.3:2; Mt.3:6; Is.1:16. O “arrependimento” como pregado por João incluía mais que a confissão de pecados passados (ver Sl.32:1). Como evidenciam suas palavras de exortação (Lc.3:9-14), o “arrependimento” deveria ser seguido por uma nova vida em que os princípios da justiça já revelados na Escritura deveriam ser praticados (cf. Mq.6:8). Remissão. Do gr. aphesis, “libertação” ou “perdão”; literalmente, “mandar embora” ou “uma demissão”. O arrependimento, a confissão e, consequentemente, o perdão, deveriam preceder o batismo, e eram as primeiras medidas adotadas no preparo do “caminho do Senhor”, “endireitar as veredas”, em aterrar os “vales” e nivelar as “montanhas” do caráter (Lc.3:4-5; Mt.3:6). Lucas usa a palavra aphesis com mais frequência que os demais escritores neotestamentários juntos. |
Lc.3:4 | 4. conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Caminho. Literalmente, “trilhas batidas”. |
Lc.3:5 | 5. Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão retificados, e os escabrosos, aplanados Todo vale. Isto é, cada abismo ou barranco, todo lugar difícil na estrada. Apenas Lucas dentre os evangelhos acrescenta os detalhes dos v. 5 e 6, citado de Is.40:4-5. O trabalho descrito neste versículo é uma ilustração adequada da transformação de caráter que acompanha a conversão genuína. As alturas do orgulho e do poder humanos deveriam ser derrubadas (DTN, 215; ver com. de Mt.3:3). |
Lc.3:6 | 6. e toda carne verá a salvação de Deus. Verá a salvação. Is.40:5, de que Lucas faz a citação, traduz: “A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá.” Mediante a contemplação de Jesus como um infante no templo, Simeão exclamou: “Os meus olhos já viram a Tua salvação” (Lc.2:30). Jesus veio à Terra para revelar a glória do caráter divino, e isto é como contemplarmos “a glória do Senhor” que nos transforma “de glória em glória, na Sua própria imagem” (2Co.3:18). |
Lc.3:7 | 7. Dizia ele, pois, às multidões que saíam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Dizia ele. Literalmente, “ele continuou dizendo” ou “costumava dizer”, significando que João falava repetidamente, enfatizando o mesmo tema. Desta forma, o relato de Lucas acerca da pregação de João não deve ser tomado como se referindo a um sermão em especial, preparado para uma ocasião determinada, mas como uma síntese dos pontos que impressionaram aqueles que o ouviam, recolhidos de vários sermões (ver com. do v. Lc.3:18). Multidões. Do gr. ochloi, “multidão” ou “povo”. Saíam. Ver com. de Mt.3:5. Para serem batizadas. Ver com. de Mt.3:6. Raça. Do gr. gennemata, neste contexto, “raça”. Estas palavras foram dirigidas especificamente aos fariseus e saduceus (ver com. de Mt.3:7). A imagem gráfica empregada por João em sua pregação enfatizando o que é familiar, as cenas diárias do campo, faz lembrar as mensagens de profetas do AT como Joel e Amós e as parábolas de Cristo. Observe a rápida sucessão de figuras de linguagem: operários reparando uma estrada, uma raça de víboras, frutos, um machado posto à raiz de uma árvore, um escravo removendo as sandálias de seu mestre, um batismo de fogo, a eira com a pá de joeirar, a pilha crescente de grãos e o joio jogado para o lado pelo vento. Quem vos induziu [...]? Com esta pergunta contundente, o profeta do deserto questionou os motivos dos fariseus e saduceus. Seus motivos e ideais eram estranhos aos princípios do reino celestial. Neste estado de espírito, eles não seriam mais bem recebidos no reino que uma raça de víboras na eira em época de colheita (ver Lc.3:17; cf. com. de Mt.3:7). |
Lc.3:8 | 8. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Produzi. Ver com. de Mt.3:8. Pai. No grego, a palavra traduzida como “pai” está na posição enfática. |
Lc.3:9 | 9. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Já está posto o machado. Ver com. de Mt.3:10. |
Lc.3:10 | 10. Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer? Então, [...] o interrogavam. Literalmente, “continuavam perguntando”. Depois de cada discurso, as pessoas perguntavam individualmente como aplicar os princípios aos próprios problemas. A cada um João dava o conselho adequado (ver v. Lc.3:10-14). Que havemos, pois, de fazer? As palavras de João Batista, inspiradas pelo Espírito Santo, agitaram os corações até que o povo estivesse ávido para fazer algo para preparar-se para “a ira vindoura” (v. Lc.3:7) e para o reino de Deus (v. Lc.3:4). Um sermão que não comove as pessoas para alguma resposta positiva falhou em seu propósito. João era um evangelista poderoso. Depois do apelo às pessoas para se prepararem para a vinda do Senhor, eles pediram informação específica quanto ao que deveriam fazer. Em resposta, João salientou aos indivíduos, ou aos grupos, os pecados que os assediavam, indicando, assim, por onde cada pessoa deveria começar. Josefo escreveu que João “era um bom homem, e ordenava aos judeus que exercessem a virtude, a justiça de uns para com os outros, a devoção sincera para com Deus e então, viessem para o batismo” (Antiguidades, xviii.5.2). |
Lc.3:11 | 11. Respondeu-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Túnicas. Do gr. chitones, “túnicas”, as vestes internas usadas sobre a pele, distintas de himatia, “capas” ou “mantos”, as vestes externas usadas sobre as chitones, as “túnicas” ou “camisas”. Reparta. Literalmente, “distribua”. Comida. Do gr. bromata, alimentos em geral, sem distinção de origem vegetal ou animal. |
Lc.3:12 | 12. Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? Publicanos. Do gr. telonai, “coletores de impostos”, chamados pelos romanos de publicani. A palavra telonai é originada do radical telos, “imposto” e da palavra oneomai, “comprar”, desta forma, literalmente, “compradores de impostos”. Em vez de ter empregados regulares do governo, nomeados como funcionários das receitas, os romanos leiloavam o privilégio de coletar os rendimentos dentro de uma cidade ou província. Apenas os homens ricos conseguiam fazer lances no leilão, porque se exigia daqueles que adquiriam o privilégio que pagassem um valor estipulado ao tesouro real, independente de quanto realmente fosse coletado, e que se desse garantia até que o montante fosse pago. Esses telonai normalmente seguiam a prática de subdividir, entre os subcontratantes, a área atribuída a eles, ou de contratar representantes para fazer o trabalho efetivo de coletar impostos. No NT, os “publicanos” eram os representantes que coletavam os impostos do povo e eram, com raras exceções, judeus. Como representantes de um conquistador pagão, os coletores de impostos eram, para o povo, a lembrança mais dolorosa do baixo nível ao qual a nação judaica havia caído. Somando-se à vergonha de terem os “publicanos” entre si, estava a prática inescrupulosa seguida por quase todos eles, de despojar o povo de cada centavo exigido pela lei ou mesmo por um soldado romano. Um judeu que se tornava um “publicano” era visto como um traidor de Israel, um lacaio dos odiados romanos. Se estava errado, do ponto de vista judeu, pagar imposto, muito pior deveria ter sido coletar impostos! Um “publicano” era banido da sociedade judaica e excomungado da sinagoga. Era visto e tratado como um cão pagão, e tolerado apenas porque o poder de Roma estava por trás dele (ver com. de Mc.2:14; ver p. 53, 54). Mestre. Literalmente, “professor”. Como Cristo, João não apenas pregava, ele também ensinava. |
Lc.3:13 | 13. Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. Não cobreis mais. João e Cristo não condenaram a cobrança de imposto como profissão. Jesus foi “amigo” de cobradores de impostos (ver Mt.11:19) e se uniu a eles em ocasiões sociais (ver Mt.9:10-13). No entanto, Jesus e João exigiram equidade, honestidade e bondade daqueles dentre essa classe que solicitaram a cidadania no reino celeste. Estipulado. Eles deveriam cobrar tanto quanto fosse exigido deles, inclusive uma taxa razoável por seu trabalho. No entanto, não havia lugar para ladrões e pessoas cruéis no reino celestial. |
Lc.3:14 | 14. Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo. Soldados. Literalmente, “[aqueles] que serviam como soldados”, possivelmente a serviço. João estava pregando na Pereia (ver com. de Jo.1:28), dentro da jurisdição de Herodes Antipas (ver com. de Lc.3:1), e os soldados que se dirigiram a João eram, possivelmente, judeus a serviço de Herodes. Eles podem ter sido enviados por Herodes para vigiar João, para evitar uma rebelião do povo, ou podem ter ido como assistentes policiais aos cobradores de impostos já mencionados. A palavra para “soldados” pode indicar que os “soldados” estavam ali a trabalho, e não por curiosidade. A pergunta deles aparentemente foi feita com toda sinceridade: poderiam eles, como soldados, qualificar-se para o reino celestial? Em resposta, João declarou que poderiam se qualificar se estivessem em conformidade com as condições da cidadania. Se os soldados fossem romanos, é provável que João teria dito a eles para crerem no verdadeiro Deus e se converterem à fé judaica. Que faremos? No grego, “nós” é enfático, como se os soldados tivessem dito: “E nós, o que nós faremos?” Esta ênfase pode indicar que os soldados estavam em companhia dos coletores de impostos, que já tinham interpelado João (v. Lc.3:12-13). A ninguém maltrateis. Ou seja: “Não extorquir dinheiro de ninguém por meio de intimidação.” O mau uso do poder como soldados era o pecado que esses homens deveriam vencer a fim de estar prontos para ver o Príncipe vindouro. João não condenou os soldados em si, mas salientou que deveriam exercer o poder com justiça e misericórdia. Soldo. Do gr. opsonia, “pagamento dos soldados” ou “salários”. Paulo usa a palavra opsonia em Rm.6:23 para o “salário” do pecado. Ele perguntou ao povo da igreja em Corinto: “Quem jamais vai à guerra à sua própria custa [do gr. opsonia]” (1Co.9:7). Os soldados que foram até João Batista, ao que parece, eram mercenários e não recrutas. |
Lc.3:15 | 15. Estando o povo na expectativa, e discorrendo todos no seu íntimo a respeito de João, se não seria ele, porventura, o próprio Cristo, Estando o povo na expectativa. [João dá testemunho de Jesus, Lc.3:15-20 = Mt.3:11-12 = Mc.1:7-8 = Jo.1:19-27. Comentário principal: Mt e Lc. Ver mapa, p. 214; gráfico, p. 227]. Do gr. prosdokao, “esperar”, “procurar” ou “aguardar”. A mesma palavra grega é usada para o homem paralítico sentado na porta chamada Formosa, que olhou para Pedro e João “esperando receber alguma coisa” deles (ver At.3:2-5). A imaginação da multidão que ouvia João foi acionada com a grande expectativa de que as profecias messiânicas às quais ele se referia estivessem prestes a se realizar. Como os dois discípulos a quem Cristo apareceu na estrada de Emaús, cujo coração ardia dentro deles (ver Lc.24:32), o povo esperava ardentemente que o libertador de Israel aparecesse logo. A mensagem de João capturou o imaginário popular de modo que agitou o país e chegou às mais remotas vilas e aldeias. Discorrendo [...] no seu íntimo. Literalmente, “estavam raciocinando” ou “estavam deliberando” (ver com. de Lc.1:29). As pessoas se admiravam com o que seria o resultado de toda essa agitação. Todos. O entusiasmo geral estava no auge. Josefo disse que as multidões que se reuniam para ouvir João “estavam muito comovidas ao ouvir suas palavras” e que Herodes Antipas “temia que a grande influência que João tinha sobre o povo pudesse levá-lo à iniciar uma rebelião (porque eles pareciam estar prontos a fazer qualquer coisa que ele aconselhasse)” (Antiguidades, xviii.5.2). A tarefa de João deveria despertar a mente das pessoas do sono dos séculos, incendiar o coração com a esperança de que um novo dia estava prestes a raiar e impeli-los a se preparar para a vinda dEle: o Desejado de Todas as Nações. Nessa obra, ele foi bem-sucedido. Na verdade, ele agitou até os líderes judeus para investigarem sua mensagem (ver Jo.1:19-25). “Todos” conheciam João e todos que podiam, iam ouvi-lo. Se não seria ele, porventura, o próprio Cristo. Os líderes judeus, geralmente, exigiam milagres de Jesus como evidência de Sua messianidade (ver com. de Mt.12:38; Mt.16:1). No entanto, “João não fez nenhum sinal” (Jo.10:41). Seu traje rude não possuía semelhança com os trajes da realeza. Ele era, na verdade, da tribo de Levi (ver Lc.1:5), não da de Judá, como disseram os profetas que o Cristo seria (ver com. de Mt.1:1). Ainda assim, o povo estava pronto a aceitá-lo como Messias caso ele assim se declarasse, e até os representantes do Sinédrio se perguntavam se ele poderia ser o Prometido (ver Jo.1:19-21). A nação judaica não poderia ter dado maior elogio a João; não poderia ter dado um testemunho mais eloquente quanto ao poder de sua mensagem. Na verdade, sua proclamação da vinda do Messias foi tão eficaz que o povo o confundia com o próprio Messias. |
Lc.3:16 | 16. disse João a todos: Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Eu [...] vos batizo com água. Ver com. de Mt.3:11. Não sou digno de desatar. Ver com. de Mc.1:7. Correias. Ver com. de Mc.1:7. Sandálias. Ver com. de Mt.3:11. Ele vos batizará. Ver com. de Mt.3:11. |
Lc.3:17 | 17. A sua pá, ele a tem na mão, para limpar completamente a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível. A sua pá. Ver com. de Mt.3:12. |
Lc.3:18 | 18. Assim, pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao povo Muitas outras exortações. Isto indica que os itens mencionados constituem um resumo da pregação de João Batista e não um relato integral de algum sermão (ver com. do v. Lc.3:7). |
Lc.3:19 | 19. mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que o mesmo Herodes havia feito, Herodes, o tetrarca. Lucas faz referência ao aprisionamento e à morte de João Batista neste ponto, a fim de completar seu relato a respeito de João antes de prosseguir com a narração do ministério de Cristo. Parece que João não foi aprisionado até que se passassem alguns meses, talvez um ano ou mais, depois do batismo de Jesus (DTN, 214; cf. p. 210), aproximadamente na época da Páscoa de 29 d.C. Ele permaneceu na prisão até o início da primavera de 30 d.C., e foi decapitado poucas semanas antes da Páscoa daquele ano (ver DTN, 360, 361, 364; ver p. 51, 52; ver gráfico 6, 7, p. 226-228). Repreendido. Segundo Josefo, os judeus como um todo também faziam objeção a esse casamento (Antiguidades, xviii.5.4). Herodias. Filha de Aristóbolo e neta de Herodes, o Grande. Herodes Antipas se divorciou de sua esposa, a filha do rei Aretas, da Arábia, a fim de se casar com Herodias (Josefo, Antiguidades, xviii.5.1; ver com. do v. 1). Filipe (ARC). Este Herodes (ver gráfico, p. 28) era meio irmão de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, e Mariamne (II); não Herodes Filipe, o tetrarca (ver com. do v. Lc.3:1), filho de Herodes, o Grande, e Cleópatra, Salomé era filha deste Herodes e Herodias. Ele foi deserdado por seu pai, Herodes, o Grande, e levou uma vida particular em Jerusalém e, mais tarde, em Roma. |
Lc.3:20 | 20. acrescentou ainda sobre todas a de lançar João no cárcere. Acrescentou. Este foi um acréscimo notável às outras “maldades” de Herodes (ver v. Lc.3:19). Lançar João. O profeta foi aprisionado no início da primavera de 29 d.C., após um ministério de cerca de dois anos (ver gráficos, p. 226-228; ver com. de Mt.3:1). O fato de ele ter sido aprisionado por Herodes Antipas indica que João estava pregando no rio Jordão do lado da Pereia, na época de seu aprisionamento (ver com. de Lc.3:3). Pareceu a Herodes que o povo estava pronto para fazer qualquer coisa que João dissesse, e Herodes temia que um levante popular ocorresse em decorrência disso (Antiguidades, xviii.5.2; DTN, 360). Josefo não menciona a questão de Herodias em conexão com o aprisionamento de João, embora mencione o casamento de Herodias e Antipas em outros lugares (Antiguidades, xviii.5.4). Assim, é possível que Josefo tenha registrado o motivo publicamente anunciado para a prisão de João. É improvável que Herodes anunciasse como seu motivo para agir assim a questão particular de Herodias, o que os judeus, como um todo, desaprovavam (ver DTN, 214). Cárcere. Segundo Josefo (Antiguidades, xviii.5,2) esta foi a fortaleza de Macaeros, na Pereia, a leste do Mar Morto. O sítio de Macaeros foi descoberto em 1807, e as ruínas das masmorras ainda podem ser vistas. No entanto, em vista da sequência dos eventos em Mc.6:17-30 (cf. DTN, 222), certos eruditos pensam que a celebração de aniversário pode ter sido realizada em Tiberíades e, por esse motivo, questionam a exatidão da declaração de Josefo. |
Lc.3:21 | 21. E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, Todo o povo. [O batismo de Jesus, Lc.3:21-22 = Mt.3:13-17 = Mc.1:9-11 = Jo.1:32-34. Comentário principal: Mt]. Uma figura comum de hipérbole judaica que, possivelmente, neste versículo, significava incluir a maioria daqueles que o ouviam. Fariseus e saduceus rejeitavam o batismo (Lc.7:30; Lc.7:33; Mt.21:25; Mt.21:32). Estando Ele a orar. Apenas Lucas registra que Jesus orou ao sair do rio. É adequado que Lucas, que tão frequentemente menciona Jesus no ato de orar, observe esse detalhe aqui. |
Lc.3:22 | 22. e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Em forma corpórea. Apenas Lucas qualifica a pomba dessa forma. Meu Filho amado. Ver com. de Mt.3:17. O Códice Bezae acrescenta: “hoje Eu Te gerei”. Embora neste versículo se afirme a real divindade de Jesus, Lucas prossegue, imediatamente, para provar Sua real humanidade (v. Lc.3:23-38). Mateus inicia seu relato da história evangélica ao apresentar a genealogia de Jesus (ver com. de Mt.1:1); Lucas reserva sua genealogia para o momento quando Jesus assumiu Sua missão. Moisés, de modo semelhante, apresenta sua própria linhagem depois de registrar sua primeira aparição pública como porta-voz de Deus e líder de Israel (ver Ex.6:16-20). |
Lc.3:23 | 23. Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério. Era, como se cuidava, filho de José, filho de Eli Ao começar. [A genealogia de Jesus Cristo, Lc.3:23-38 = Mt.1:1-16. Comentário principal: Mt e Lc]. Do gr. archomai, “iniciar” (ver Mt.4:17; Mc.4:1; Lc.3:8; At.1:1; At.1:22; At.10:37). Um problema surge em conexão com a forma utilizada neste versículo, archomenos. Não está claro se archomenos se refere ao “início” do 30° ano da vida de Jesus ou ao início de Seu ministério. A tradução de Tyndale da primeira parte de Lc.3:23 diz: “Jesus tinha cerca de trinta anos quando iniciou”. A Bíblia de Cranmer, de 1539, adotou uma nova tradução: “O próprio Jesus começava a ser de quase trinta anos” (como na ARC). Sendo que o contexto (v. Lc.3:1-22) diz respeito ao batismo de Jesus, com o qual Seu ministério público se iniciou, muitos concluíram que archomenos deve se referir a Seu ministério (ver com. de Mc.1:1; At.1:22; At.10:37-38). Eles, consequentemente, acrescentaram expressões como “ensinar” ou “seu ministério” (ARA) depois de archomenos (ver com. de Lc.1:57; Lc.2:42). Cerca de trinta anos. Lucas não se comprometeu quanto a idade precisa de Jesus na época de Seu batismo; em vez disso, enfatizou o fato de que Ele tinha “cerca de trinta anos”. Até aqui, como indica a declaração de Lucas, pode ser um ou dois anos a mais ou a menos da referência precisa a 30. Entre os judeus, a idade de 30 anos era geralmente considerada como a época quando um homem alcançava a completa maturidade e estaria, consequentemente, qualificado para as responsabilidades da vida pública (ver gráficos 1, 3, p. 224, 225). Se o nascimento de Jesus ocorreu no outono de 5 a.C., como parece provável (ver com. de Lc.2:6; Lc.2:8), Seu 30° ano, pelo método de cálculo judeu (ver com. de Lc.2:42), teria começado no outono de 25 d.C. e terminado no outono de 26 d.C. (ver com. do v. Lc.3:1). Esse fato está em plena harmonia com a declaração mais ou menos generalizada de Lucas, de que Jesus tinha “cerca” de 30 anos, e com todos os dados cronológicos conhecidos relacionados à vida de Cristo. Parece então que neste versículo, Lucas não está fazendo uma declaração cronológica precisa, mas apenas observando que Jesus atingiu a idade madura na época de Seu batismo e do início de Seu ministério público. Como se cuidava. Jesus era “considerado juridicamente” ou “cria-se popularmente” ser filho de José (ver Jo.8:41). Nos registros oficiais no templo em Jerusalém, Jesus foi registrado como o primogênito de Maria e José (ver Lc.2:21; DTN, 52). A ação rápida de José quando orientado pelo anjo a tomar Maria como sua esposa, sem dúvida, protegeu tanto o bom nome dela quanto o da Criança (ver com. de Mt.1:24). Segundo os registros oficiais e diante da lei, Jesus era filho de José. Filho. Sobre a importância da genealogia de Jesus para os tempos do NT, ver com. de Mt.1:1. A genealogia, como apresentada por Lucas, difere em muitos aspectos importantes da genealogia apresentada por Mateus, e essas diferenças confrontam os modernos leitores da Bíblia com o que é, reconhecidamente, um problema com muitas dificuldades. Esse problema consiste, essencialmente, no fato de que, embora as duas listas genealógicas tenham por finalidade apresentar a linhagem de José, elas diferem entre si não apenas quanto à quantidade de antepassados alistados num dado período de tempo, mas também quanto a quem foram esses antepassados. Os principais pontos divergentes entre as duas listas podem ser expressos como segue: 1. Lucas alista 41 descendentes de Davi que foram antepassados de Jesus; Mateus alista 26. 2. Exceto por Salatiel, Zorobabel e José, o esposo de Maria, as duas listas são completamente diferentes quanto aos descendentes de Davi. 3. As duas genealogias convergem brevemente em Salatiel e Zorobabel, mas Mateus identifica Salatiel como filho de Jeconias; Lucas o alista como filho de Neri. 4. Mateus identifica José como filho de Jacó; Lucas o identifica como filho de Heli. A princípio, essas diferenças parecem constituir importantes discrepâncias entre as listas de Mateus e Lucas. O problema é ainda mais complicado pelo fato de que absolutamente nada é conhecido a respeito de 60 das 64 pessoas citadas nas duas listas, e que a informação a respeito das outras quatro pessoas é escassa. Essa falta de informação torna praticamente impossível uma conciliação positiva entre as diferenças das duas listas. Felizmente, sabe-se o suficiente dos antigos costumes judaicos, seu modo de pensar e de expressar, para fornecer uma explicação plausível de cada ponto de diferença, e assim, demonstrar que as discrepâncias podem ser consideradas aparentes em vez de reais. Os vários pontos de diferença serão considerados em ordem: 1. Como observado, Mateus nomeia 26 gerações, numa média de 37 anos cada uma, para o período desde a morte de Davi até o nascimento de Cristo; Lucas apresenta 41 gerações, numa média de 24 anos cada. Segundo a cronologia seguida por este Comentário, Davi morreu em 971 a.C. (ver vol. 2, p. 62, 126, 127) e Cristo nasceu em 5 a.C. (ver p. 239), um intervalo de aproximadamente 966 anos. Em parte, é possível explicar a grande diferença entre as 26 e as 41 gerações ao se supor que cada antepassado de Jesus na linhagem traçada por Lucas era, em média, 13 anos mais novo por ocasião do nascimento de seu sucessor do que na média da linhagem de Mateus. Mas a diferença é muito grande para ser explicada inteiramente apenas deste modo. Em vista do fato de que Mateus claramente omitiu pelo menos quatro ligações genealógicas durante aquela parte dos 966 anos em que uma comparação com listas do AT podem ser feitas (ver com. de Mt.1:8; Mt.1:11; Mt.1:17), é plenamente possível que ele possa ter omitido pelo menos 11 ligações genealógicas dos mais desconhecidos períodos entre os Testamentos. Pode-se observar, também, que um prazo médio de 24 anos entre o nascimento de um homem e de seu sucessor é muito mais provável do que 37 anos. Essa observação tende a confirmar as 37 gerações de Lucas e a probabilidade de que Mateus chegou a 24 pela omissão intencional de cerca de 15 nomes de sua lista (ver com. de Mt.1:8; Mt.1:11; Mt.1:17). 2. Com exceção de Salatiel, Zorobabel e José, o esposo de Maria, as listas genealógicas apresentadas por Mateus e Lucas traçam a linhagem de Jesus a Davi por meio de duas linhagens completamente diferentes. De Davi ao cativeiro babilônico, Mateus segue a linhagem dos monarcas da família real, e admitimos que o mesmo se aplica aos nomes alistados do cativeiro em diante (ver com. de Ml.1:17). Lucas, aparentemente, segue o ramo da linhagem real, dos que não reinaram, até Natã, outro filho de Davi com Bate-Seba (1Cr.3:5; ver com. de Lc.3:31). O casamento entre as tribos dentro dos limites da família real facilmente representa que os descendentes de Cristo podem ser traçados até Davi por meio da linhagem de duas famílias distintas. Isso não explica o fato de duas linhagens serem apresentadas (ver n° 4, abaixo). 3. Sobre uma discussão do problema apresentado pela convergência das duas listas em Salatiel e Zorobabel, depois de quem elas novamente divergem, ver com. do v. Lc.3:27. 4. Ver abaixo sob os subtítulos: “De José” e “Filho de Eli”. De José. Como Mateus (ver com. de Mt.1:16), Lucas evita afirmar que Jesus era o filho de José. A ressalva “como se cuidava” não apenas indica a ausência de relacionamento sanguíneo direto, mas sugere, também, que jurídica e popularmente Jesus era considerado o filho de José. Entre o povo hebreu, os termos para “pai” e “filho”, “mãe” e “filha”, “irmão” e “irmã”, eram normalmente usados para incluir um relacionamento mais distante do que indicam as palavras em português (ver com. de Gn.29:12; Nm.10:29; Dt.15:2; 1Cr.2:7). Por isso, “filho”, por exemplo, como usado na Bíblia, pode denotar relacionamento por nascimento biológico (atual ou distante), por adoção, pelo casamento levirato (ver com. de Dt.25:5-9), ou apenas pelo caráter (ver 2Tm.1:2). Filho de Eli. Obviamente, José, o esposo de Maria, não poderia ser o filho literal de Eli, como neste versículo, e de Jacó, como em Mt.1:16. Duas explicações plausíveis foram propostas, cada uma delas está em plena harmonia com conhecidos costumes judaicos. Segundo uma das explicações, as duas listas apresentam a linhagem de José, uma com a descendência sanguínea e a outra por meio da adoção ou do casamento levirato. Segundo a outra explicação, Mateus apresenta os antepassados de José e Lucas apresenta os antepassados de Maria, por meio do pai dela. Aqueles que consideram as duas listas como representando a linhagem de José explicam que uma lista apresenta os descendentes sanguíneos reais, e a outra, os descendentes por adoção dentro de uma linhagem familiar relacionada. Se José era literalmente o “filho de Jacó”, como em Mateus, ele deve ter-se tornado “filho de Eli” de outra forma que não seja o sentido literal. Se Eli não tivesse herdeiro natural, poderia ter adotado José, por meio de quem, segundo o costume judaico, as duas linhagens poderiam ser preservadas. De acordo com a segunda explicação, Maria foi a única filha de Eli e, ao se casar com ela, José se tornou o filho legítimo e herdeiro de Eli, em harmonia com as provisões da lei do casamento de levirato, como dada no tempo de Moisés (ver com. de Dt.25:5-9; Mt.22:24). |
Lc.3:24 | 24. Eli, filho de Matate, Matate, filho de Levi, Levi, filho de Melqui, este, filho de Janai, filho de José Matate. Ver com. de Mt.1:15. Nada mais se sabe a respeito das pessoas citadas desde Matate (Lc.3:24) até Resa (v. Lc.3:27) além de que são antepassados de Jesus. Eles não são mencionados novamente na Bíblia, devido ao fato de o cânon do AT não se estender muito além do retorno dos judeus do cativeiro babilônico. |
Lc.3:25 | 25. José, filho de Matatias, Matatias, filho de Amós, Amós, filho de Naum, este, filho de Esli, filho de Nagai Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:26 | 26. Nagai, filho de Maate, Maate, filho de Matatias, Matatias, filho de Semei, este, filho de José, filho de Jodá Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:27 | 27. Jodá, filho de Joanã, Joanã, filho de Resa, Resa, filho de Zorobabel, este, de Salatiel, filho de Neri Zorobabel. Lucas denomina Zorobabel como filho de Salatiel, e Salatiel, como filho de Neri. Mateus também designa Zorobabel como filho de Salatiel, mas denomina Salatiel como filho de Jeconias (ver com. de Mt.1:12). Embora possa ter havido mais de um Zorobabel durante esse período (o nome possivelmente signifique “um disparo de Babilônia” ou “gerado em Babilônia”) com um pai chamado Salatiel, tal possibilidade é quase universalmente desconsiderada. Dessa forma, o problema levantado neste versículo é comum às duas teorias gerais desenvolvidas para explicar as diferenças entre as duas listas genealógicas (ver com. de Lc.3:23). Várias soluções ao problema do parentesco de Salatiel têm sido propostas. Alguns sugerem que Salatiel era filho literal de Neri, mas “filho” de Jeconias [Jeoiaquim; ver com. de 1Cr.3:16] por adoção. Outros sugerem que Salatiel, embora filho de Neri, se tornou o sucessor legítimo de Jeconias, possivelmente devido à extinção da família de Jeconias (ver com. de Je.22:30), ou por alguma outra razão. Ainda outros sugerem que uma filha de Jeconias se casou com Neri, e que Salatiel foi, assim, filho de Neri e neto de Jeconias, mas chamado “filho” de Jeconias de acordo com o costume judaico. Quanto ao parentesco de Zorobabel, tanto Lucas como Mateus o denominam filho de Salatiel (Sealtiel; ver Ed.3:2; Ed.5:2; Ne.12:1; Ag.1:1), embora o texto massorético de 1Cr.3:19 chame Zorobabel de filho de Pedaías (ver com. de 1Cr.3:19; Ed.2:2). No entanto, a LXX de 1Cr.3:19 alista Salatiel como pai de Zorobabel, e é evidente que Lucas, neste versículo, segue a LXX sempre que ela provê informação pertinente à sua lista genealógica (ver com. de Lc.3:36). Neri. As pessoas mencionadas de Neri, no v. Lc.3:27, até Matatá, no v. Lc.3:31, não são mencionadas novamente na Bíblia. O período coberto por esse grupo volta ao passado e se estende do cativeiro babilônico até o reino dividido de Salomão. |
Lc.3:28 | 28. Neri, filho de Melqui, Melqui, filho de Adi, Adi, filho de Cosã, este, de Elmadã, filho de Er Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:29 | 29. Er, filho de Josué, Josué, filho de Eliézer, Eliézer, filho de Jorim, este, de Matate, filho de Levi Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:30 | 30. Levi, filho de Simeão, Simeão, filho de Judá, Judá, filho de José, este, filho de Jonã, filho de Eliaquim Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:31 | 31. Eliaquim, filho de Meleá, Meleá, filho de Mená, Mená, filho de Matatá, este, filho de Natã, filho de Davi Natã. Este foi filho de Davi e Bate-Seba, nascido em Jerusalém (ver com. de 2Sm.5:14). Davi. Ver com. de Ml.1:1; Ml.1:6; sobre os nomes de Davi a Abraão alistados em Lc.3:31-34, ver com. de Mt.1:2-6. |
Lc.3:32 | 32. Davi, filho de Jessé, Jessé, filho de Obede, Obede, filho de Boaz, este, filho de Salá, filho de Naassom Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:33 | 33. Naassom, filho de Aminadabe, Aminadabe, filho de Admim, Admim, filho de Arni, Arni, filho de Esrom, este, filho de Perez, filho de Judá Sem comentário para este versículo. |
Lc.3:34 | 34. Judá, filho de Jacó, Jacó, filho de Isaque, Isaque, filho de Abraão, este, filho de Tera, filho de Naor Tera. Pai de Abraão (ver com. de Gn.11:26-32). A diferença na grafia dos nomes de Tera a Maalalel (Maleleel) é devido ao fato de que no AT esses nomes foram transliterados para o português diretamente do hebraico, enquanto, no NT, eles foram transliterados do grego, que, por sua vez, haviam sido transliterados do hebraico. Naor. Avô de Abraão (ver com. de Gn.11:22). |
Lc.3:35 | 35. Naor, filho de Serugue, Serugue, filho de Ragaú, Ragaú, filho de Faleque, este, filho de Éber, filho de Salá Serugue. Bisavô de Abraão (ver com. de Gn.11:20). Ragaú. Isto é, Reú (ver com. de Gn.11:18). Faleque. Isto é, Pelegue (ver com. de Gn.11:16). Éber. Ver com. de Gn.10:21; Gn.11:14. Salá. Ver com. de Gn.11:13. |
Lc.3:36 | 36. Salá, filho de Cainã, Cainã, filho de Arfaxade, Arfaxade, filho de Sem, este, filho de Noé, filho de Lameque Cainã. O nome Cainã ocorre neste versículo e na LXX de Gn.11:12-13; 1Cr.1:18, mas não ocorre no texto massorético. O fato de a transliteração grega desses nomes hebraicos em Lc.3:34-38 ser idêntica à da LXX em Gn.5:5-32; Gn.11:10-24 indica que Lucas possivelmente, seguiu a LXX nesta porção de sua genealogia. Essa possibilidade é confirmada pelo fato adicional de Lucas incluir Cainã neste versículo, entre Salá e Arfaxade. Arfaxade. Ver com. de Gn.10:22; Gn.11:12. Sem. O segundo filho de Noé (ver com. de Gn.5:32; Gn.11:10-11). Noé. Ver com. de Gn.5:29. Lameque. Ver com. de Gn.5:25. |
Lc.3:37 | 37. Lameque, filho de Metusalém, Metusalém, filho de Enoque, Enoque, filho de Jarede, este, filho de Maalalel, filho de Cainã Metusalém. Ver com. de Gn.4:18; Gn.5:25. Enoque. Ver com. de Gn.5:22; Gn.5:24. Jarede. Ver com. de Gn.4:18. Maalaleu. Ver com. de Gn.4:18. Cainã. Ver Gn.5:9. Este patriarca, filho de Enos, não deve ser confundido com o Cainã de Lc.3:36, que não é mencionado no texto massorético do AT (ver com. do v. Lc.3:36). |
Lc.3:38 | 38. Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus. Enos. Ver com. de Gn.4:26. Sete. O terceiro filho de Adão e Eva (ver com. de Gn.4:25). Adão. Para o sentido do nome, ver com. de Gn.1:26; Gn.3:17; Nm.24:3. Lucas começa sua genealogia com o nascimento sobrenatural do segundo ou “último Adão” (1Co.15:45) e a termina com uma referência à criação do primeiro Adão. Filho de Deus. Lucas, neste versículo, afirma sua fé em Deus como o Criador do ser humano e o Autor da vida, o único que “a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana” (At.17:25-26). No início, o ser humano foi criado à imagem de Deus. Por meio da fé em Jesus Cristo nosso privilégio é ser criados novamente à Sua semelhança (ver 2Co.5:17). |
Lc.4:1 | 1. Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, Cheio do Espírito Santo. [A tentação de Jesus, Lc.4:1-13 = Mt.4:1-11 = Mc.1:12-13. Comentário principal: Mt]. Uma referência ao recebimento do Espírito Santo no momento do batismo (ver Lc.3:21-22). Guiado. O tempo verbal grego indica que a condução do Espírito Santo neste versículo não se limitou à viagem ao deserto, mas continuou durante Sua permanência ali. |
Lc.4:2 | 2. durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. Quarenta dias. Mateus deixa claro que as três maiores tentações ocorreram no final dos 40 dias (ver com. de Mt.4:2-3), um fato evidente também a partir de Lucas 4:2. Quando Jesus entrou no deserto, estava rodeado pela glória do Pai e, quando a glória partiu, Ele foi deixado sozinho para lutar com a tentação (DTN, 118). As tentações de Satanás continuaram durante todos os 40 dias de jejum de Jesus. As três mencionadas nos v. Lc.4:3-13 representaram o clímax das tentações, no final do período (ver SP2, 90). |
Lc.4:3 | 3. Disse-lhe, então, o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão. Esta pedra. Talvez Satanás tenha salientado uma pedra em especial, cujo formato lembrava o liso e redondo pão oriental (ver com. de Mt.4:3). |
Lc.4:4 | 4. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:5 | 5. E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Momento. Do gr. stigme, de stizo, literalmente, “tatuar”; isto é, “picar” ou “perfurar”, portanto, “um ponto de tempo”. Poderíamos dizer, “num segundo” ou “num tique do relógio”, ou “no piscar de um olho” (versão de Tyndale). |
Lc.4:6 | 6. Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Ela me foi entregue. Isto é, por Adão quando ele pecou. Depois da Queda, Satanás denominou a si mesmo o “príncipe” deste mundo (DTN, 114), esquecendo-se que Adão mantinha o título apenas em virtude da obediência ao Criador. Satanás insinuou que Adão o escolheu como soberano e como seu representante no Céu. Neste versículo, a ênfase feita pelo grego aos pronomes, devido a suas posições, é reveladora: “Dar-Te-ei [...] porque ela me foi entregue [...] Tua, se prostrado me adorares”, etc. Pode-se quase ver a gesticulação enfática de Satanás enquanto faz esta proposta. |
Lc.4:7 | 7. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:8 | 8. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:9 | 9. Então, o levou a Jerusalém, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:10 | 10. porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem Que Te guardem. Do gr. diaphulasso, “guardar-te cuidadosamente” (ver com. de Mt.4:6). |
Lc.4:11 | 11. e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:12 | 12. Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:13 | 13. Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno. Tentações de toda sorte. Literalmente, “todas as tentações” (ver com. de Mt.4:11). Até momento oportuno. Isto é, até o tempo conveniente, quando outra oportunidade se apresentasse. Desde os primeiros anos, Cristo foi continuamente atacado pelo tentador (DTN, 71, 116). |
Lc.4:14 | 14. Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança. Poder. [Jesus volta para a Galileia e principia a Sua missão, Lc.4:14-15 = Mt.4:12-17 = Mc.1:14-15. Comentário principal: Mt]. De dynamis, “poder”, termo grego do qual deriva a palavra “dinamite” (ver com. de Lc.1:35). O Espírito Santo foi o agente ativo tanto na criação (ver Gn.1:2) como na recriação (ver Jo.3:5). O reino de Deus viria “com poder” (ver Mc.9:1). O poder do Espírito Santo encobriu Maria no momento da encarnação (ver Lc.1:35). Por meio do Espírito Santo, ela recebeu sabedoria para cooperar com o Céu no desenvolvimento do caráter de Jesus (DTN, 69). Mas, no momento de Seu batismo, o Espírito Santo desceu sobre Cristo de uma forma especial, e encheu-O com poder divino para a realização de Sua missão (ver com. de Jo.3:34). Mais tarde, aos discípulos foi prometido “poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” — poder para serem testemunhas da gloriosa mensagem de um Salvador crucificado e ressurreto (ver At.1:8; Lc.2:1-4). Fama. Do gr. pheme, “relato” ou “fama”; de phemi, “dizer”. A “fama” de uma pessoa consiste no que é dito sobre ela. A “fama” de Jesus crescia à medida que as notícias a respeito dEle se espalhavam pelos comentários feitos “por toda a circunvizinhança”. |
Lc.4:15 | 15. E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos. E ensinava. Segundo o grego, “Ele continuou ensinando”, O ensino era o modo costumeiro com o qual Jesus transmitia a verdade. Na definição atual, a pregação é uma apresentação mais formal da verdade; o ensino, menos formal. O ensino tende a ser mais eficaz do que a pregação, pois os ouvintes são participantes, enquanto na pregação eles são passivos. De vez em quando, Jesus proferia discursos mais formais, tais como o Sermão do Monte e o sermão do Pão da Vida. No entanto, mesmo a respeito do Sermão do Monte, o relato declara: “E Ele passou a ensiná-los, dizendo” (Mt.5:2). Feliz é o pregador que consegue dar à sua pregação a qualidade adicional do ensino. Nas sinagogas. Isto é, as sinagogas da Galileia (sobre a sinagoga e seus serviços, ver p. 44-46). Lucas, possivelmente, tenha mencionado o ensino de Jesus na sinagoga, a fim de antecipar o episódio seguinte (v. Lc.4:16-30). Logo após o incidente na sinagoga em Nazaré, ele relata outro episódio ocorrido na sinagoga em Cafarnaum (v. Lc.4:31-37) e observa mais uma vez que Jesus “pregava nas sinagogas da Galileia” (v. Lc.4:44, ARC). Glorificado. Ou, “honrado”, “louvado”. A Galileia era um campo mais favorável à obra do Salvador do que a Judeia (DTN, 232). Para onde Jesus ia, “grande multidão O ouvia com prazer” (Mc.12:37). |
Lc.4:16 | 16. Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Para Nazaré. [Jesus prega em Nazaré. É rejeitado pelos Seus, Lc.4:16-30 = Mt.13:54-58 = Mc.6:1-4. Ver mapa, p. 215; gráficos, p. 226-228; ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44]. Esta foi a primeira visita de Cristo a Nazaré, desde que Ele deixou a carpintaria no outono de 27 d.C. para Se dedicar ao ministério público (DTN, 236). Este seria, possivelmente, o final da primavera de 29 d.C., e quase metade do período de Seu ministério público já havia se passado. Um ano mais tarde, possivelmente no início da primavera de 30 d.C., Jesus fez Sua última (DTN, 241) visita a Nazaré. A primeira visita está registrada nos v. Lc.4:16-30 (quanto à segunda, ver com. de Mc.6:1-6). Em Nazaré ainda moravam a mãe, os irmãos e irmãs de Jesus (DTN, 236), que, sem dúvida, estavam entre os adoradores na sinagoga, nesse sábado, em especial. Criado. Ver com. de Mt.2:23; Lc.2:51-52. Num sábado. A simples declaração de Lucas de que Jesus frequentava as reuniões sagradas da sinagoga no dia de sábado, o qual ele especifica como o sétimo dia da semana (Lc.23:56-24:1), deixa claro o dever do cristão que ama seu Mestre e quer seguir Seus passos (ver Jo.14:15; 1Pe.2:21). O fato de Cristo pessoalmente ter observado o mesmo dia da semana que os demais judeus observavam é evidência de que a contagem do tempo não havia sido perdida desde o Sinai, ou mesmo desde a criação. Cristo é “Senhor também do sábado” (Mc.2:28); isto é, Ele o fez (Gn.2:1-3; Mc.2:27) e o reivindica como Seu dia. Seu exemplo ao observá-lo é um modelo perfeito para o cristão, tanto com relação ao tempo como quanto à maneira de observá-lo. Além disso, não há dúvida de que a semana como temos hoje se manteve em sequência ininterrupta desde o tempo de Jesus. Também aprendemos que observar o sétimo dia da semana é guardar o sábado como Cristo o fez. Desde aquela época, há milhões de judeus espalhados por todo o mundo civilizado, e seria impossível que todos eles, simultaneamente, cometessem o mesmo erro ao calcular o sétimo dia da semana. Na sinagoga. Sobre a antiga sinagoga e seus serviços, ver p. 44-46; sobre as ruínas de uma sinagoga em Cafarnaum, ver com. de Jo.6:59. Seu costume. Literalmente, “segundo o que era costumeiro a Ele”. Cristo tinha o hábito de frequentar as reuniões regulares da sinagoga aos sábados. A esta sinagoga em Nazaré, Ele havia sido regularmente convidado na juventude, para ler os Profetas, e Ele extraía lições de Seu profundo conhecimento das Escrituras, as quais comoviam o coração dos adoradores (DTN, 74; cf. 70). Jesus utilizava a oportunidade proporcionada pelo ajuntamento de pessoas nas sinagogas da Judeia e Galileia para ensiná-las (ver Mt.4:23; Mt.12:9; Mt.13:54; Mc.1:21; Mc.6:2; Jo.18:20; ver com. de Lc.4:15), assim como Paulo o fez, mais tarde, em terras estrangeiras (At.13:14-15; At.13:42). Levantou-Se. A reverência pela Palavra escrita exigia que aquele que a lesse publicamente permanecesse em pé. A Lei e os Profetas eram lidos dessa forma, mas não os Escritos, que não desfrutavam de reconhecimento semelhante (ver p. 45, 46; ver também vol. 1, p. 13). Para ler. Do gr. anaginosko, um termo comum no NT para a leitura pública das Escrituras (ver At.13:27; At.15:21; Cl.4:16; 1Ts.5:27), mas que também pode se referir à leitura particular (ver Mt.24:15; Lc.10:26; At.8:28). Era de se esperar o pedido para que Jesus lesse as Escrituras e pregasse um sermão quando retornasse a Nazaré - uma tarefa que qualquer israelita qualificado, mesmo aqueles com pouca idade, poderia ser chamado a realizar. Com frequência, Ele foi solicitado a ler, quando criança (DTN, 74), e Sua reputação como pregador na Judeia (ver Jo.3:26; DTN, 181) deixou Seus concidadãos ansiosos para ouvir o que Ele tinha a dizer. Esperava-se que aquele que lia a seleção dos Profetas fizesse o sermão. |
Lc.4:17 | 17. Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: Então, Lhe deram. Isto é, pelo diácono ou chazzan, cujo dever era tirar os rolos sagrados da arca e entregá-los ao leitor, e retorná-los à arca após a leitura (ver p. 44). Dessa forma, em harmonia com o ritual da sinagoga, o chazzan tirou da arca o rolo dos Profetas, removeu a cobertura e o entregou, fechado, a Jesus. É evidente que Jesus não apenas falava a linguagem comum do povo, como também lia bem em hebraico - naquela época, uma linguagem quase morta, exceto nas reuniões religiosas. A lição para o dia era sempre lida em hebraico. Isaías. Sabe-se que, na época de Cristo, a pessoa a quem era pedido que lesse a lição dos Profetas e pregasse o sermão poderia escolher a seção a ser lida. Jesus especificamente pediu o rolo do profeta Isaías (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44). Abrindo. Pode-se mencionar evidência textual (cf. p. 136) para a variante “desdobrou” ou “desenrolou”. Livro. Do gr. biblion, “um livro” ou “um rolo”. A palavra portuguesa “Bíblia” vem desta palavra. Este “livro” era um rolo (ver p. 99, 100). Achou o lugar. Jesus continuou desenrolando o rolo do cilindro até que Ele encontrou a passagem que desejava ler, ao mesmo tempo em que enrolava, com a outra mão, a porção já lida (ver a ilustração do rolo de Isaías, do Mar Morto, vol. 1, p. 9). Is.61:1-2 estava quase no final do rolo. Onde estava escrito. A citação feita por Lucas concorda com a LXX de Is.61:1-2, exceto pela omissão da frase, em muitos manuscritos antigos, “para curar os quebrantados de coração” e a inserção da frase “pôr em liberdade os oprimidos”, por meio da paráfrase de Is.58:6. Lucas possivelmente tinha diante de si a LXX de seus dias enquanto escrevia (ver com. de Lc.3:36). Era uma prática judaica comum unir várias passagens das Escrituras (ver com. de Mc.1:2). |
Lc.4:18 | 18. O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, Espírito do Senhor. Sobre o papel do Espírito Santo no ministério terrestre de Jesus, ver com. de Mt.3:16; Mt.4:1. Está sobre Mim. O Espírito Santo veio sobre Jesus na época de Seu batismo para capacitá-Lo ao Seu ministério terrestre (ver Lc.3:21-22; Jo.1:32; At.10:38). Ungiu. Do gr. chrio, de onde deriva o título de “Cristo”, o ungido (ver com. de Mt.1:1). No contexto messiânico, esta passagem pode ser traduzida desta forma: “Ele Me fez o Cristo” ou “Ele Me fez o Messias” (ver com. de Is.61:1). Evangelizar. Ver com. de Mc.1:1. Os pobres. Os pobres estavam à mercê de funcionários inescrupulosos, empresários e vizinhos. Além disso, cria-se que o sofrimento dos pobres era devido à maldição de Deus - que seu estado infeliz era culpa deles próprios. Poucos simpatizavam com eles em sua situação infeliz. O amor de Jesus pelos pobres era uma das grandes evidências de Sua messianidade; a este respeito, Ele chamou a atenção de João Batista quando este estava abatido na prisão (ver Mt.11:5). Aqueles que possuem poucos bens deste mundo normalmente estão cônscios de suas necessidades e de sua dependência de Deus e, assim, estão frequentemente suscetíveis à pregação do evangelho. O evangelho de Jesus significa auxílio para os pobres, luz para os ignorantes, alívio da angústia para os sofredores e libertação para os escravos do pecado. Qualquer pessoa que tivesse interesse em aliviar os pobres era considerada justa, e os atos de caridade se tornaram sinônimo de justiça (ver com. de At.10:2-4). Com frequência, os atos de caridade eram praticados não pelo interesse solidário em ajudar os pobres, mas por um desejo de obter a justiça (ver com. de Mt.6:1-4; Jo.12:5). No entanto, a preocupação genuína e compreensiva pelos sentimentos e necessidades de nossos semelhantes é uma das melhores evidências da “religião pura” (ver Tg.1:27), de conversão sincera (1Jo.3:10; 1Jo.3:14), do amor de Deus (ver 1Jo.3:17-19; 1Jo.4:21) e de prontidão para entrar no reino celestial (ver Mt.25:34-46). Talvez Jesus também estivesse pensando nos “humildes de espírito” (ver com. de Mt.5:3) - os que possuem necessidades espirituais, não materiais. Cristo prometeu os recursos infinitos do reino celestial aos “humildes de espírito”, aqueles que sentem sua necessidade espiritual. Na verdade, há pouca utilidade em pregar o evangelho a alguém, a não ser àqueles que sentem necessidade de algo mais que este mundo tem a oferecer (cf. Ap.3:17-18). Os que são ricos na fé, que ouvem e praticam a mensagem do evangelho (ver com. de Mt.7:24), serão os “herdeiros do reino” (ver Tg.2:5). Este é o “tesouro” que, no Céu, é levado em consideração (ver Lc.12:21; Lc.12:33; Lc.18:22). Quebrantados do coração (ARC). Inclui os que sofrem grande desapontamento, mas se refere principalmente aos “quebrantados do coração” e arrependidos pelo pecado. Os “quebrantados do coração” podem ser comparados aos que “choram” pelo pecado, isto é, aqueles que estão com o coração contrito (ver com. de Mt.5:4; Rm.7:24). Jesus veio para curar os corações quebrantados. Cativos. Isto não se refere aos cativos literais, mas aos que têm sido cativos de Satanás no corpo, na mente e no espírito (ver Rm.6:16). Jesus não libertou João Batista da prisão. Esses “cativos” são “espíritos” que definham na “prisão” de Satanás (ver 1Pe.3:19), pegos no “laço do diabo” e “tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2Tm.2:26). Cegos. Não apenas os cegos literais, mas também os cegos espirituais (ver Mt.15:14; Mt.23:16-19; Mt.23:26; Jo.9:39-41). Pôr em liberdade. Uma paráfrase de Is.58:6 (ver com. de Lc.4:17). Na leitura dos Profetas era permitido saltar de uma passagem a outra, o que não ocorria na leitura da Lei. Os oprimidos. A Escritura citada fala em deixar “os oprimidos saírem livres”, novamente no sentido espiritual. A mesma palavra hebraica traduzida por “oprimidos” em Is.58:6 é apresentada como “esmagará” em Is.42:3, onde está profetizado de Cristo: “não esmagará a cana quebrada”. Em Is.42:4 a palavra é traduzida como “quebrará”. Jesus veio para libertar as pessoas dos fardos pesados do pecado e das opressivas restrições rabínicas colocadas sobre os judeus (ver Mt.23:4; Lc.11:28-30). |
Lc.4:19 | 19. e apregoar o ano aceitável do Senhor. Ano aceitável. Isto é, a era do evangelho, quando os que sentem necessidade espiritual (os humildes de espírito), os que têm coração contrito (os quebrantados do coração), os que têm sido cativos do pecado e cegos para as coisas espirituais e os que têm sido feridos e esmagados pelo maligno podem esperar libertação do pecado. O “ano aceitável do Senhor” lembra o ano do jubileu, quando os escravos eram libertados, os débitos eram cancelados e as terras herdadas eram devolvidas aos proprietários originais (ver com. de Lv.25:10; Lv.25:15; Lv.25:24). Neste ponto, Jesus concluiu a leitura de Is.61:1-2. A frase seguinte, que era o clímax da passagem para o judeu patriota - “o dia da vingança do nosso Deus” - Ele não leu. Os judeus ingenuamente criam que a salvação era para eles, e a retribuição, para os gentios (ver Sl.79:6). A ideia judaica de que a salvação era uma questão de nacionalidade em vez de uma submissão pessoal a Deus, cegou o povo para a verdadeira natureza da missão de Cristo e os levou a rejeitá-Lo. Eles esperavam que o Messias aparecesse como um príncipe poderoso à frente de um exército numeroso, para derrotar os opressores e colocar o mundo sob o poder de Israel (DTN, 30, 236). Este equívoco fundamental ergue-se do fato de que os judeus deliberadamente negligenciaram as profecias que falavam de um Messias sofredor e aplicaram erradamente as que apontavam à glória de Sua segunda vinda (DTN, 30). Foi a opinião orgulhosa, preconceituosa e preconcebida que os levou a este estado de cegueira espiritual (ver DTN, 65, 212, 242). Estavam cegos ao fato de não considerar a quantidade de luz brilhando sobre uma pessoa, mas o uso dessa luz. Gostavam de pensar na ideia que o julgamento de Deus estava reservado para os outros e, possivelmente, surpreenderam-se quando Jesus não mencionou isso. Quando, em Seu sermão, Jesus exaltou a fé dos pagãos, indicando a falta de fé dos judeus, o público ficou fora de si, cheio de ressentimento e fúria (ver v. Lc.4:25-29; sobre os falsos conceitos dos judeus com relação ao reino messiânico, ver com. de Mt.3:7; Mt.4:9; Mt.5:2-3; Lc.1:68; sobre a verdadeira natureza do reino, ver com. de Mt.3:2-3; Mt.4:17; Mt.5:2-3; Mc.3:14). |
Lc.4:20 | 20. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Tendo fechado o livro. Isto é, enrolando o livro de Isaías em seu cilindro (ver com. do v. Lc.4:17). Assistente. Do gr. huperetes, literalmente, “remador”, portanto, qualquer um que sirva com as mãos, “um servo”. Neste versículo, Lucas se refere ao chazzan, ou diácono, que devolve o rolo à arca (ver com. do v. Lc.4:17). Sentou-Se. O costume exigia que o orador ficasse em pé para a leitura pública da Lei e dos Profetas. Mas, para o sermão, que seguia a leitura, o orador se sentava num lugar especial, algumas vezes chamado “a cadeira de Moisés”. Esta cadeira ficava numa plataforma elevada, próximo ao púlpito. Com frequência, Cristo Se assentava enquanto pregava e ensinava (ver Mt.5:1; Mc.4:1; Lc.5:3; Jo.8:2), um costume também seguido, pelo menos ocasionalmente, pelos Seus discípulos (ver At.16:13; ver p. 45). Fitos. Sem dúvida, havia uma atmosfera de suspense induzida pela atenção concentrada (ver At.6:15; At.10:4) e por uma expressão de seriedade no rosto de Jesus. Um efeito semelhante foi produzido nas duas purificações do templo (ver DTN, 157, 158, 591; ver com. de Lc.2:48). A atmosfera parecia vibrar com expectativa. |
Lc.4:21 | 21. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. Passou [...] a dizer-lhes. Jesus popularmente era considerado um rabino ou professor (ver Jo.1:38; Jo.1:49; Jo.3:2; Jo.6:25). Era de se esperar que, como um rabino visitante, fosse solicitado que Ele fizesse o sermão, principalmente em vista do fato de que Nazaré era Sua cidade natal e que nesta sinagoga Ele havia lido as Escrituras enquanto era um rapaz (ver com. de Lc.4:16). É evidente que Lucas fez um esboço dos comentários de Cristo nesta ocasião, selecionando os que produziram o efeito registrado no v. Lc.4:22 e a violenta reação dos v. Lc.4:28-29. Hoje. Este comunicado conscientizou as pessoas de que Jesus as considerava pobres, quebrantadas de coração, cativas, cegas e oprimidas (DTN, 237). Repetidas vezes durante Seu ministério Jesus fez citações dos profetas do AT e declarou: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (DTN, 242). A Escritura. Os críticos que afirmam despreocupadamente que Jesus nunca pensou em Si mesmo como o Messias da profecia do AT fariam bem em ponderar essa declaração. Nos dias de Cristo, os judeus compreendiam Is.61:1-2 como uma clara profecia messiânica. |
Lc.4:22 | 22. Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam: Não é este o filho de José? Todos Lhe davam testemunho. O povo de Nazaré ouviu relatos do poder que acompanhava a pregação de Jesus durante o período de Seu ministério na Judeia (ver com. de Mt.4:12). Então, eles próprios estavam sob o encanto da pregação e sabiam que os relatos não foram exagerados. Palavras de graça. Muito mais foi falado além do que se registrou neste versículo. A fluência das palavras graciosas e cativantes encantou o povo. Não é este [...]? A forma da pergunta no grego indica que os questionadores esperavam uma resposta afirmativa. A pergunta deles não expressava incerteza, mas admiração. Os anos de convivência com Jesus os levaram a considerá-Lo como um homem comum, como eles próprios, talvez não tão imperfeito. Eles recusavam crer que Jesus, a quem conheciam tão bem, fosse o Prometido, e que a falta de fé os deixava perplexos. Filho de José. Jesus era normalmente considerado como “filho de José” (ver com. de Lc.2:33; Lc.2:41; Lc.3:23). A mãe de Jesus, os irmãos e as irmãs ainda moravam em Nazaré (ver Mt.13:54-56; DTN, 236) e, sem dúvida, estavam presentes. Enquanto as pessoas pensavam consigo mesmas: “Não é este o filho de José?”, seus olhares naturalmente se voltavam em direção a esses membros da família de Jesus. Pode-se apenas especular quanto aos pensamentos de Maria numa ocasião como essa (ver Lc.2:34-35; Lc.2:51). |
Lc.4:23 | 23. Disse-lhes Jesus: Sem dúvida, citar-me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra. Sem dúvida. Do gr. pantos, “por completo”, “por todos os meios” ou “sem dúvida”. A palavra pantos é usada para enfatizar afirmações ou negações (ver At.18:21; Rm.3:9). Assim como Jesus lia os rostos e corações da audiência, Ele bem conhecia os pensamentos que os perturbavam. Sua tentativa de revelar aos ouvintes sua verdadeira atitude e condição (ver Lc.4:23-27) os enfureceu ainda mais e os levou a atentar contra Sua vida. Jesus com frequência deixava claro que lia os pensamentos das pessoas e, desse modo, evidenciava Sua divindade (ver com. de Lc.2:48). Médico, cura-te a ti mesmo. Este, aparentemente, era um provérbio popular. A versão hebraica do provérbio diz: “Médico, cura sua própria imperfeição.” Em formas variáveis, o mesmo pensamento foi expresso pelos gregos e outros povos antigos, como sarcasmo sobre o tratamento malsucedido. Foi essa parte do discurso de Jesus (v. Lc.4:23-27) que evidenciou que Ele lia os pensamentos secretos (DTN, 238; comparar com a zombaria semelhante lançada sobre Ele na cruz; ver Mt.27:42). Os comentaristas não concordam quanto ao significado preciso, pretendido por Jesus, acerca do provérbio transmitido a Sua audiência. Alguns têm sugerido que Ele interpretava os pensamentos deles como significando: “Você tem mostrado muitos sinais de cura e milagres relacionados a outros [significando o povo de Cafarnaum], agora mostre um sinal em favor de Si mesmo [isto é, ao povo de Nazaré]. Você afirma ser o Messias da profecia; deixe-nos ver alguns milagres”. Essa exigência por “sinais” geralmente era lançada sobre Jesus, mesmo que Ele nunca a cumprisse (ver Mt.12:38-39; Mc.8:11-12; Jo.6:30-32). Essa exigência silenciosa deixa claro que Jesus não realizou milagres durante Sua infância e juventude, como reivindicam os evangelhos apócrifos (ver com. de Lc.2:52). O povo de Nazaré pediu que Ele construísse Sua reputação em Nazaré, como se dissessem: “Demonstre aqui quem você é.” Ter-se dado em Cafarnaum. Muitos comentaristas consideraram a referência aos milagres em Cafarnaum como prova de que este episódio ocorreu mais tarde no ministério de Cristo na Galileia, e que o relato de Lucas acerca da visita a Nazaré corresponde ao relato do mesmo episódio registrado em Mt.13:54-58 e Mc.6:1-6. No entanto, esta conclusão é injustificada, em vista do fato de que o filho de um nobre foi curado em Cafarnaum (embora Jesus estivesse em Caná nessa época) e por a cidade ter sido agitada por esse episódio (DTN, 200). A cura do filho do nobre ocorreu vários meses antes dessa visita a Nazaré (ver com. de Jo.4:53; ver gráficos, p. 227, 228). Além disso, o povo da Galileia ouviu relatos dos milagres de Jesus na Judeia (ver Jo.4:44-45; DTN, 196). Fica evidente que o ministério formal em Cafarnaum ainda não havia se iniciado (ver com. de Mt.4:12-13), embora Jesus já tivesse visitado rapidamente a cidade (ver Lc.4:14-15; Jo.2:12; ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44). |
Lc.4:24 | 24. E prosseguiu: De fato, vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. De fato. Do gr. amen, “certamente” ou “verdadeiramente” (ver com. de Gn.15:6; Dt.7:9; Mt.5:18). Nenhum profeta. Jesus foi a Sua cidade natal, e seus conterrâneos não O receberam (cf. Jo.1:11). O orgulho proibiu que reconhecessem a pessoa do Messias no carpinteiro a quem conheceram desde a tenra infância (DTN, 237). |
Lc.4:25 | 25. Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra Três anos e seis meses. A respeito da duração da fome, ver com. de 1Rs.18:1 (cf. Tg.5:17). |
Lc.4:26 | 26. e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. E a nenhuma delas. Deus não pode fazer nada pelos que têm o coração endurecido e são incrédulos, que não sentem sua necessidade (ver com. de Mt.5:3). Nossa permanência diante de Deus não é determinada pela quantidade de luz que temos, mas pelo uso que fazemos dela (DTN, 239). É interessante notar que Lucas, que escreveu principalmente para leitores gentios, é o único que registra esses comentários de Jesus nos quais elogia os crentes gentios e condena os incrédulos israelitas. Uma viúva. Ver 1Rs.17:8-24. Sarepta. Isto é, Zarefate, uma cidade no litoral, próxima à moderna Tsarafand, 24 km ao norte de Tiro. Cristo relacionou o episódio aqui mencionado como Sua primeira ilustração da verdade que Ele procurava transmitir ao citar o provérbio do v. Lc.4:23. A falta de fé dos cidadãos de Nazaré impediu que Jesus realizasse milagres ali (Mc.6:5-6). Não que Ele fosse incapaz de realizá-los, mas porque estavam despreparados para receber as bênçãos que Ele desejava lhes outorgar. |
Lc.4:27 | 27. Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. Muitos leprosos. Jesus concede uma iluminação adicional ao provérbio citado no v. Lc.4:23 (sobre a narrativa da cura de Naamã, ver 2Rs.5:1-19). Alguns dos “muitos leprosos [...] em Israel” aos quais Jesus Se referiu são mencionados em 2Rs.7:3. |
Lc.4:28 | 28. Todos na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. Ouvindo. O povo de Nazaré não foi lento para compreender a aplicação das palavras de Jesus. Eles entenderam claramente a posição que Ele defendia. Talvez eles tenham se lembrado de alguns episódios da infância e juventude do Salvador, quando a lealdade de Jesus ao que é certo silenciosamente condenava a conduta errônea deles (DTN, 89). A repreensão implícita do Senhor caiu pesadamente sobre seus corações relutantes. Conscientes, por um instante, de seu caráter falho e de sua necessidade do verdadeiro arrependimento e conversão, o coração deles se rebelou (ver Rm.8:7). O orgulho e o preconceito obscureceram a mente hesitante para a luz da verdade que por um momento adentrou na alma fraca. Todos [...] se encheram de ira. Conscientes de que as palavras de Jesus os descrevia perfeitamente, eles não desejavam mais ouvi-Lo. Para aceitá-Lo, deveriam admitir que não eram melhores que os pagãos, a quem consideravam como cães. Os habitantes de Nazaré não estavam dispostos a humilhar o coração. Quão diferentes as palavras de Jesus eram das “palavras aprazíveis” que eles estavam acostumados a ouvir (ver com. de Is.30:10)! Aparentemente, o povo de Nazaré preferia permanecer pobre, cego e em servidão (ver Lc.4:18). Embora tivessem sido tocados, sua consciência culpada se ergueu rapidamente para silenciar as penetrantes palavras da verdade. O forte orgulho nacional se ressentiu do pensamento de que as bênçãos do evangelho deveriam estar disponíveis aos pagãos e, em seu preconceito irracional, estavam prontos a assassinar o Príncipe da vida (ver At.3:15). |
Lc.4:29 | 29. E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo. Levantando-se. O povo de Nazaré parou de ouvir antes que Jesus parasse de falar. Eles “não O receberam” (Jo.1:11). O assassinato estava no coração deles, mesmo no dia de sábado, e eles estavam prontos a destruí-Lo. Cimo do monte. Literalmente, a “sobrancelha do monte”, isto é, uma proeminência ou projeção do monte. O chamado Monte da Precipitação, o local tradicional desse evento, está localizado fora de Nazaré, acima dos limites permitidos para uma viagem em dia de sábado. É mais provável que o povo O tenha levado a um penhasco de calcário de 9 ou 12 m de altura no extremo sudoeste da cidade, visível do convento Maronita. Sobre o qual. Sobre o monte, não em sua extremidade. |
Lc.4:30 | 30. Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se. Passando por entre eles. Os anjos O cobriram e O levaram a um local seguro, como fizeram noutra ocasião (cf. Jo.8:59), como regularmente protegeram as testemunhas celestiais em todas as épocas (ver DTN, 240). Assim foi com Ló (ver Gn.19:10-11) e com Eliseu (ver 2Rs.6:17-18) e assim tem ocorrido nos tempos atuais. Jesus passou “pelo meio” da multidão protegido pelos santos anjos (ver DTN, 240). Por várias vezes, aqueles que se inclinaram a tirar a vida de Jesus foram impedidos de realizar suas más intenções (ver Jo.7:44-46; Jo.10:31-39), porque a obra dEle ainda não estava completa, “ainda não era chegada a Sua hora” (ver Jo.7:30). Retirou-Se. Como já mencionado, esta visita a Nazaré, a primeira desde o batismo de Cristo, possivelmente tenha ocorrido no final da primavera ou no início do verão de 29 d.C. (ver com. do v. Lc.4:16). A visita seguinte, e última, à cidade, ocorreu aproximadamente um ano depois, no início da primavera de 30 d.C., não muito antes da Páscoa (ver com. de Mc.6:1-6). |
Lc.4:31 | 31. E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado. Desceu. [A cura de um endemoniado em Cafarnaum, Lc.4:31-37 = Mc.1:21-28. Comentário principal: Mc]. Do vilarejo de Nazaré, no alto das colinas, até Cafarnaum, cerca de 32 km distante do mar da Galileia, é literalmente uma “descida” de 349 m acima do nível do mar para 209 m abaixo dele. É possível que Maria e outros membros da família tenham acompanhado a Cristo. Cidade da Galileia. Possivelmente, uma explicação adicionada por Lucas para benefício de seus leitores, pois nem todos estavam familiarizados com a geografia da Palestina (ver p. 727, 728). E os ensinava. De acordo com o texto grego, “continuou a ensiná-los”, o que envolvia certo período. O ensino começou na sinagoga de Cafarnaum e, possivelmente, tenha se concentrado ali. No sábado. Como era a prática do Senhor (ver com. do v. Lc.4:16). |
Lc.4:32 | 32. E muito se maravilhavam da sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade. Muito se maravilharam. A admiração era a reação habitual ao ensino de Jesus (ver Mt.7:28-29; Mt.13:54; Mc.6:2). Autoridade. Do gr. exousia (ver com. de Lc.1:35; sobre o modo impressionante da fala de Jesus, ver DTN, 237, 253-255). |
Lc.4:33 | 33. Achava-se na sinagoga um homem possesso de um espírito de demônio imundo, e bradou em alta voz: Na sinagoga. Talvez esta fosse a sinagoga construída por um oficial romano para o povo de Cafarnaum (ver Lc.7:5). Demônio. Ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45. |
Lc.4:34 | 34. Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus! Ah! Do gr. ea, considerado por alguns como o imperativo de eao, “deixar”, “permitir”; no entanto, é mais provável ser apenas a interjeição ea, uma exclamação de surpresa ou desaprovação, ira ou desânimo. |
Lc.4:35 | 35. Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai deste homem. O demônio, depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe fazer mal. Sem lhe fazer mal. Como seria de se esperar (ver com. de Mc.1:26). Apenas Lucas, o médico, registra esse detalhe significativo. |
Lc.4:36 | 36. Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem? Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:37 | 37. E a sua fama corria por todos os lugares da circunvizinhança. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:38 | 38. Deixando ele a sinagoga, foi para a casa de Simão. Ora, a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela. Deixando Ele. [A cura da sogra de Pedro; Muitas outras curas, Lc.4:38-41 = Mt.8:14-17 = Mc.1:29-34. Comentário principal: Mc]. Achava-se. Do gr. sunecho, “manter junto” ou talvez “apegar”, neste versículo. Febre muito alta. Esta frase também pode ter sido um termo médico. De acordo com determinadas fontes, a medicina grega dividia as febres em duas classes: “grande” e “pequena”, isto é, febre “alta” e febre “baixa”. |
Lc.4:39 | 39. Inclinando-se ele para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou; e logo se levantou, passando a servi-los. Inclinando-Se Ele para ela. Como um médico faria. |
Lc.4:40 | 40. Ao pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diferentes moléstias lhos traziam; e ele os curava, impondo as mãos sobre cada um. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:41 | 41. Também de muitos saíam demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de Deus! Ele, porém, os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser ele o Cristo. Demônios. Ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45. Tu és o Filho de Deus! Esta é uma declaração mais definida que a declaração que o outro endemoniado fez, mais cedo nesse dia (ver v. Lc.4:34). Repreendia. Ou, “não os permitia”. Jesus passou imediatamente a silenciá-los, talvez porque o testemunho poderia ser entendido como significando que Ele estava em aliança com os demônios (ver com. de Mc.3:11). O Cristo. Ou, o Messias. O artigo definido faz da palavra um título em vez de um nome pessoal (ver com. de Mt.1:1). |
Lc.4:42 | 42. Sendo dia, saiu e foi para um lugar deserto; as multidões o procuravam, e foram até junto dele, e instavam para que não os deixasse. Sendo dia. [Jesus vai a um lugar deserto, Lc.4:42-44 = Mc.1:35-39. Comentário principal: Mc]. Deserto. Do gr. eremos (ver com. de Lc.1:80). Instavam. Isto é, eles queriam impedir que Jesus os deixasse, aparentemente fazendo o que podiam para dificultar Sua partida. |
Lc.4:43 | 43. Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado. Sem comentário para este versículo. |
Lc.4:44 | 44. E pregava nas sinagogas da Judéia. Galileia (ARC). As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta e a variante “Judeia” (ARA). Lucas parece ter usado o termo “Judeia” como equivalente a “Palestina”. Uma vez que Lucas escreveu a gentios não palestinos, ele pode ter considerado o termo “Judeia” (ARA) mais significativo para eles e mais exato para seus propósitos (ver p. 727, 728). NOTA ADICIONAL A LUCAS 4. Há divergência quanto a primeira rejeição em Nazaré ter ocorrido antes ou depois da Páscoa de 29 d.C. Segundo um ponto de vista, esta visita a Nazaré e os episódios transcorridos até completar a primeira viagem pela Galileia ocorreram antes da Páscoa. Chega-se a esta conclusão, comparando-se a viagem de Cristo da Judeia para a Galileia, mencionada em Mt.4:12 e Mc.1:14 (por causa do aprisionamento de João Batista), com Sua viagem mencionada em Jo.4:1-3 (que resultou da contenda entre os discípulos de Jesus e os de João). Em apoio a essa referência, foi feita: (1) uma afirmação por Albert Ten Eyck Olmstead (Jesus in the Light of History, 281), atribuindo a leitura de Cristo de Is.61:1-3 nessa ocasião ao Seder 62d do ciclo trienal de leituras da sinagoga da Lei e dos Profetas, cujo Seder, ele declara, foi lido em 18 de dezembro de 28 d.C.; (2) afirmado que, de outro modo, haveria um silêncio singular por parte dos escritores sinóticos com relação aos episódios entre as Páscoas de 28 e 29 d.C., quando comparados ao relato completo dos episódios entre as Páscoas de 29 e 30 d.C.; e (3) enfatizado o silêncio de Lucas a respeito da presença dos discípulos com Jesus na época dessa visita a Nazaré. Argumenta-se que, depois do encontro com o nobre em Caná, Jesus foi sozinho a Nazaré, tendo enviado Seus discípulos a Cafarnaum para que não testemunhassem Sua rejeição em Nazaré (ver gráficos, p. 227, 2281. Há dificuldades com relação a esse ponto de vista: 1. A declaração de Olmstead de que Jesus leu Is.61:1-3 porque esta era a leitura regular do ciclo trienal para aquele sábado específico está baseada numa lista do ciclo trienal de leituras, datada aproximadamente em 600 d.C., e encontrada no genizah (um depósito para rolos desgastados) da sinagoga de Fustat, no Cairo. Sabe-se que um ciclo trienal foi utilizado uma vez na Palestina, mas não há evidência de que trechos dos Profetas fossem utilizados nas leituras sabáticas nas sinagogas, antes da destruição do templo, em 70 d.C. Além disso, Olmstead cita Jacob Mann (The Bible as Read and Preached in the Old Synagogue, 481, 569, 573), em apoio ao uso de Is.61:1-3 como a leitura dos Profetas para o 62° Seder, sendo que Mann conclui que a leitura de Is.61:1-3 não foi a leitura do ciclo trienal dos Profetas para o 62° Seder, muito tempo depois do período do NT (p. 511- 519). O argumento de que o 62° Seder do ciclo trienal fornece uma base válida para datar a primeira rejeição em Nazaré, desta forma, permanece sem confirmação. Além disso, segundo Ellen White (SP2, 110), “no término do serviço”, depois da leitura usual dos profetas (ver p. 45) e da exortação pelo ancião, “Jesus levantou-Se com calma e dignidade, e pediu-lhes que Lhe trouxessem o livro do profeta Isaías”. Aparentemente, Ele próprio fez a seleção (ver p. 45, 46; referência bibliográfica de Olmstead, 265). 2. O argumento de que o silêncio dos escritores sinóticos requer a atribuição dos episódios no ministério da Galileia entre a primeira rejeição em Nazaré e a primeira viagem à Galileia, inclusive até a Páscoa de 28-29 d.C. é, na melhor das hipóteses, um argumento para o silêncio e, como tal, não é convincente. João é tão silencioso sobre o ministério na Galileia quanto os autores dos sinóticos são silenciosos sobre o ministério na Judeia. Tanto quanto sabemos, nenhum dos autores sinóticos foi testemunha ocular do ministério na Judeia. Possivelmente, o fato de que o ministério na Judeia tenha sido improdutivo em comparação com o ministério na Galileia (ver DTN, 194, 232), levou os escritores sinóticos a ver pouco sentido num extenso relato do período anterior (ver com. de Lc.4:23). 3. A terceira controvérsia também está baseada no argumento do silêncio, portanto, é inconclusiva. Assim, à primeira vista, não há evidência positiva. Os motivos para atribuir a primeira rejeição em Nazaré à primavera de 29 d.C., depois da Páscoa, são os seguintes: 1. João diz claramente que a saída da Judeia para a Galileia, relatada por ele em Jo.4:1-3 ocorreu em resultado da contenda entre os discípulos de João Batista e os de Jesus (ver Jo.3:25-36; Jo.4:1-2), e indica fortemente que João não estava na prisão na época em que ocorreu essa contenda (Jo.3:23-26). Se João estivesse aprisionado e sua obra tivesse sido interrompida, porque haveria contenda quanto ao fato de que “Jesus fazia e batizava mais discípulos que João” (Jo.4:1)? Ele não poderia estar batizando caso estivesse na prisão, e os discípulos dificilmente teriam iniciado a discussão sobre quem era o maior (Jo.3:23; Jo.3:26; Jo.3:30; Jo.4:1). De acordo com o Desejado de Todas as Nações, 179, quando “os discípulos de João foram ter com ele com suas queixas” [...] a missão deste pareceu prestes a findar-se, e ainda lhe seria “possível prejudicar a obra de Cristo”, se quisesse. João ainda pregava e batizava. Na prisão, Ele pouco podia fazer para “prejudicar a obra de Cristo”. Por essas razões, parece difícil igualar a saída nos sinóticos (de Mt.4:12; Mc.1:14) com a de Jo.4:1-3. O relato inspirado ligou a viagem anterior de Jesus apenas ao aprisionamento de João, enquanto a segunda está relacionada à controvérsia entre os dois grupos de discípulos. 2. A saída de Jesus, relatada nos sinóticos (de Mt.4:12; Mc.1:14) e o início do ministério na Galileia são especificamente situados por Ellen White (DTN, 231, 232; MDC, 2) depois dos episódios de Jo.5, que ocorreram na Páscoa de 29 d.C. À luz dessas referências do Espírito do Profecia, a saída mencionada pelos sinóticos pode ser equiparada com a mencionada em Jo.4:1-3 apenas se a primeira rejeição em Nazaré, o início do ministério em Cafarnaum, o chamado junto ao mar e a primeira viagem à Galileia não forem considerados como parte do ministério na Galileia. 3. Jesus novamente Se referiu à mensagem de Is.61:1-3 poucas semanas mais tarde, na sinagoga em Cafarnaum (DTN, 255), e parece ter empregado palavras semelhantes às que utilizou em Nazaré, em várias ocasiões posteriores (ver DTN, 237; cf. 242). Assim, parece que a leitura de Is.61:1-3, em Nazaré, e o sermão baseado nesta passagem foram escolhidos pelo próprio Jesus (ver p. 45; SP2, 110), e que Ele normalmente pregava sobre esse texto para estabelecer a natureza e os objetivos de Seu ministério. Parece, portanto, preferível atribuir a primeira rejeição em Nazaré ao final da primavera de 29 d.C. (ver p. 181, 244, 245; gráficos, p. 226). |
Lc.5:1 | 1. Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré Aconteceu que. [A pesca maravilhosa, Lc.5:1-11 = Mt.4:18-22 = Mc.1:16-20. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 215; gráfico, p. 228; sobre os milagres, ver p. 204- 210]. Lucas relata, fora da ordem natural, o chamado de Pedro, André, Tiago e João no lago da Galileia. Cronologicamente, esta narrativa (v. 1-11) diz respeito a um trecho entre os v. Lc.4:32-33 (ver com. de Mt.4:23). A razão para Lucas situá-lo assim, evidentemente, é o desejo de agrupar os dois casos da sinagoga, um em Nazaré (Lc.4:16-30) e outro em Cafarnaum (v. Lc.4:31-37), e unir o chamado dos discípulos (Lc 5:1-11) com o relato da primeira viagem de pregação pela Galileia (v. Lc.5:12-15). Apertá-Lo. Em vista das semelhanças entre o episódio deste versículo e o relatado em Jo.21:1-17, alguns comentaristas concluíram que os dois relatos são versões diferentes do mesmo evento. No entanto, um estudo cuidadoso do contexto exclui essa possibilidade (ver também DTN, 809-817). Era ainda bem de cedo de manhã, quando Jesus caminhava junto ao mar, e as pessoas já se aglomeravam em torno dEle. Esse fato testemunha Sua “fama” ou popularidade, mesmo antes dos eventos milagrosos que ocorreriam num dia de sábado (Lc.4:31-41). Palavra de Deus. Isto é, conforme definida na pregação e no ensino de Jesus. Suas palavras eram graciosas (ver Lc.4:22), repletas de poder vitalizante (ver Jo.6:63; Jo.6:68), e o povo ansiava por elas. Devem ter se emocionado enquanto ouviam Aquele que era a Palavra de Deus encarnada (ver com. de Jo.1:1-3). Lago. Do gr. limne, “um tanque de água”. Lucas, cujas viagens o familiarizaram profundamente com o mar Mediterrâneo, nunca fala da Galileia como um “mar” (do gr. thalassa), mas consistentemente usa o termo limne, “lago”. Os demais escritores evangélicos, no entanto, sempre o chamam thalassa, “mar”. Genesaré. Nas proximidades estava a fértil planície de Genesaré, que possivelmente dera nome ao lago (ver Mt.14:34; Mc.6:53). A planície, situada entre as colinas e o lago, com Cafarnaum ao norte e Magdala ao sul, é agora chamada el-Ghuweir. A planície cobre uma área de aproximadamente 5 km de comprimento e 2,4 km de largura. Devido ao seu clima subtropical, produz nozes, figos, azeitonas e uvas. O lago de Genesaré era chamado de mar de Quinerete nos tempos do AT (Nm.34:11; Js.12:3). No tempo de Cristo, o mar da Galileia (ou lago de Genesaré) margeava o distrito mais rico e famoso da Palestina. A Galileia foi povoada principalmente por judeus, ainda que a uma grande distância de Jerusalém, a capital do judaísmo (ver com. de Lc.2:42; Lc.2:44). A região estava um pouco afastada do preconceito e da animosidade do judaísmo e, em muitos aspectos, foi o ambiente ideal para Cristo realizar Sua obra. |
Lc.5:2 | 2. e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. Barcos. Ou, “botes”. Um dos barcos mencionados neste versículo pertencia a Pedro e André; o outro, a Tiago e João. Os pescadores. Literalmente, “gente do mar”. Os quatro pescadores logo se tornariam pescadores de homens. Com Zebedeu e dois ou mais “empregados” (ver Mc.1:20), tinham acabado de retornar da pescaria noturna. Lavavam as redes. Isto é, antes de pendurá-las para secar. A expressão “lançavam as redes” (ver Mt.4:18; Mc.1:16) significa apenas que os homens estavam pescando, e pode ser considerada como descrevendo qualquer estágio de seu ofício. Cuidar das redes era tão importante como utilizá-las para pegar os peixes. Outras pessoas do grupo estavam “consertando” as redes (ver Mt.4:21; Mc.1:19), isto é, deixando-as prontas para a pescaria seguinte. Se os termos “cuidando” e “consertando” forem considerados em seus aspectos gerais, não há discrepância nas várias narrativas (ver Nota Adicional a Mateus 3; Mt.3:17; cf. com. de Mc.5:2; Mc.10:46; Lc.7:3; ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50). |
Lc.5:3 | 3. Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões. O de Simão. Isto é, de Simão Pedro (ver v. Lc.5:8; sobre Pedro e sua relação com os outros membros do grupo ocupados no cuidado de suas redes, ver com. de Mc.3:16). Assentando-Se. Era costume dos professores assentarem-se para dar suas aulas. Isto ocorria tanto nas escolas rabínicas quanto na instrução pública dada pelos rabinos nos pátios do templo em Jerusalém. Os instrutores nas sinagogas também se sentavam enquanto ensinavam (ver com. de Lc.4:20). |
Lc.5:4 | 4. Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Lançai. Do gr. chalao, termo usado para descrever a descida de cargas ou botes. Em At.27:17, a palavra é usada no sentido de “arriaram os aparelhos” e no v. Lc.5:30, para “arriar o bote”. A palavra também é usada para se referir a Paulo, quando “desceu” da muralha de Damasco num cesto (At.9:25; 2Co.11:33). |
Lc.5:5 | 5. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Mestre. Do gr. epistates, literalmente, “aquele que está acima [de outro]”; portanto, “um supervisor” ou “superintendente”. Lucas é o único escritor sinótico que usa esta palavra para Jesus. A palavra mais comum, usada por Lucas e os outros evangelhos é didaskalos, literalmente, “professor” (ver com. de Jo.1:32). Pedro era, na realidade, o epistates ou “superintendente” da empresa pesqueira conduzida pelos dois pares de irmãos e seus empregados (ver com. de Mc.3:16). Trabalhado toda a noite. Durante o dia, os peixes viam as redes espalhadas pelas claras águas do lago da Galileia. O único momento favorável para a pesca era à noite. Nada apanhamos. Nas águas do lago da Galileia, os peixes eram abundantes e a pesca era a ocupação comum daquela região. Deve ter sido uma experiência bastante incomum voltar sem pescar nada. Poderíamos supor que o mesmo poder que poucos minutos mais tarde forneceu abundância de peixes tornou infrutíferos os diligentes esforços da noite? Os esforços feitos por nossas próprias forças algumas vezes se mostram completamente infrutíferos, porque os resultados desejados podem ser assegurados apenas por meio da cooperação com um poder mais alto. No entanto, às vezes, como parece ter sido o caso neste versículo, Deus interfere em nossos planos e esforços a fim de tornar mais evidente e significativa a necessidade de cooperar com Ele. Mas. A pescaria foi a atividade de Pedro, talvez, desde a infância. Ele havia sido bem-sucedido até ali, porque um grupo se associou a ele nos negócios. Como pescador experiente, Pedro pensava que seu conhecimento sobre pesca era superior ao de Cristo, que era carpinteiro. No entanto, por amor ao Mestre e numa confiança baseada no que tinha visto Jesus fazer, Pedro e seus companheiros atenderam ao pedido de Cristo. De qualquer modo, nada poderia ser-lhes pior que a noite anterior. Lembrando os esforços infrutíferos da noite anterior, Pedro e seus companheiros pescadores estavam desencorajados. Durante as longas vigílias da noite, ele, bem como seus companheiros, refletiram no destino de João Batista, que definhava na prisão havia seis meses (ver com. de Lc.3:20). Possivelmente, eles também notavam que Cristo não conseguira ganhar a confiança e o apoio dos líderes judeus durante o último ano, quando a maioria de Seus esforços concentrou-se na Judeia. Talvez eles também se lembrassem da experiência então recente em Nazaré, em que os próprios concidadãos de Cristo tentaram matá-Lo. Exaustos com o trabalho infrutífero, o coração deles os torturava e, tentados pela descrença, Pedro e seus companheiros, estavam prontos a exclamar, como Jacó muito tempo antes: “Todas estas coisas me sobrevêm”! (Gn.42:36). No entanto, a experiência desencorajadora da noite estava prestes a ser seguida de outra que confirmaria a Pedro, o pescador, a evidência conclusiva da divindade de Cristo. De modo similar, no ministério de Jesus, as experiências desencorajadoras da Judeia e de Nazaré estavam prestes a dar lugar aos gloriosos sucessos da Galileia. Logo as multidões pressionariam Jesus de modo que Ele necessitaria, às vezes, esconder-Se a fim de Se alimentar e dormir. |
Lc.5:6 | 6. Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. Isto fazendo. Isto é, Pedro e André. Tiago e João aparentemente continuaram a consertar suas redes na margem do lago (ver v. Lc.5:7). Grande quantidade. Horas antes, não haviam conseguido pescar nada; porém, naquele momento em que cooperavam com Jesus, o sucesso excedeu as expectativas. Do mesmo modo como Cristo, enquanto vivendo como um homem entre homens, nada fez de Si mesmo (ver Jo.5:19; Jo.5:30; Jo.8:28), assim também aqueles que O seguiram se tornariam pescadores de homens e deveriam aprender que, sem Ele, nada poderiam fazer (Jo.15:5). Apenas quando o poder divino combina-se com o esforço humano, principalmente na obra de pescar homens, os resultados podem ser eficientes e permanentes. Uma grande quantidade de peixe foi pescada em circunstâncias semelhantes, aproximadamente um ano e meio depois (ver Jo.21:11). Rompiam-se. Pedro e André estavam em risco de perder sua grande pescaria. O fato de a rede começar a romper indica que essa pescaria era incomum em qualquer período, principalmente de dia. Aqui estava uma evidência do poder divino que não seria questionada, evidência que impressionou outros pescadores ao longo da praia. |
Lc.5:7 | 7. Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique. Fizeram sinais. Possivelmente, Pedro e André estariam muito longe para serem ouvidos, ainda que não estivessem fora da vista. Companheiros. Do gr. metochoi, literalmente, “[aquele que] compartilha”. A referência é a Tiago e João (ver v. Lc.5:10). A palavra metochoi também é traduzida como “participantes” (Hb.3:1; Hb.3:14; Hb.12:8), em referência à nossa parceria com Cristo. |
Lc.5:8 | 8. Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. Vendo isto, Simão Pedro. Como pescador experiente e, possivelmente, tendo passado a maior parte de sua vida na ocupação naquelas águas, Pedro rapidamente concluiu que havia ocorrido um milagre. Pedro pensava que conhecia os peixes da Galileia, mas até os peixes de seu lago estavam sujeitos a Jesus. Por fim, ele também estava pronto a obedecer à convocação do Mestre pescador de homens (ver com. dos v. Lc.5:6; Lc.5:9). Prostrou-se. Isto é, enquanto os barcos ainda estavam no lago e os outros estavam segurando o conteúdo das redes. Cristo ainda estava no barco de Simão (ver v. Lc.5:3). Senhor. Do gr. kurios, um título que Lucas aplica a Jesus em seu evangelho (ver com. de Lc.2:29). Retira-Te de mim. Sobre a consciência de Pedro pesou fortemente o reconhecimento de sua indignidade em estar associado a Jesus. No entanto, Ele se agarrou a Cristo, testemunhando que suas palavras refletiam um senso de profunda indignidade em vez de real desejo de estar separado de Jesus (ver DTN, 246). Sou pecador. Na presença de um policial, um ladrão naturalmente se sente desconfortável, mesmo que o policial não conheça seus atos criminosos. Quanto mais, então, um pecador sentiria vergonha e indignidade na presença de um Salvador perfeito! Esse senso de indignidade é a primeira reação no coração humano quando Deus, por meio de Seu Espírito, começa Sua obra de transformar a vida e o caráter. Assim foi com Isaías quando, em visão, foi levado diante da presença divina (Is.6:5). Deus nada pode fazer pela pessoa que não sente necessidade de salvação. Apenas aqueles que têm fome e sede de justiça serão fartos (ver com. de Mt.5:3; Mt.5:6). Despertou-se em Pedro, talvez pela primeira vez, um profundo senso de sua necessidade espiritual. |
Lc.5:9 | 9. Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros, Admiração se apoderou dele. Literalmente, “a admiração o envolveu” ou “a perplexidade o envolveu”. A alegria da grandeza da pesca desvanecia à medida que Pedro e seus companheiros viam, mais claramente, a evidência material do poder divino, a invisível verdade da qual o milagre dava um testemunho silencioso. |
Lc.5:10 | 10. bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. Bem como de Tiago. Os três companheiros de Pedro são mencionados nominalmente. Já havia sido feita uma referência a eles no v. Lc.5:9 como “todos os que estavam com Ele”. Lucas, desta forma, enfatiza o fato de que os quatro homens responderam de modo semelhante ao milagre e valorizaram seu significado. O fato de que tanto neste versículo como em outros Tiago seja mencionado antes de seu irmão sugere que ele era o primogênito (ver DTN, 292). Zebedeu. Ver com. de Mt.4:21. Sócios. Do gr. koinonoi, “associados” ou “companheiros”. A palavra koinonoi denota uma associação mais estreita que a palavra metochoi (ver com. do v. Lc.5:7). A Simão. Ver Mt.4:18-22; ver com. de Mc.1:16. Embora Jesus Se dirigisse principalmente a Simão, que foi o primeiro a compreender o significado do milagre e responder a ele, os outros souberam que eles também estavam incluídos (ver Lc.5:11). Pescador. Do gr. zogreo, derivado da palavra zoos, “vivo” ou “vivente” e de agreuo, “pegar”; portanto, “pegar vivo” ou “capturar”. O Mestre pescador, naquele momento, estava “pegando” a Pedro, André, Tiago e João. O milagre foi como uma rede. Seu propósito ao “pescar” quatro homens “vivos” era que eles, por sua vez, “pescariam” outras pessoas “vivas”. A ilustração não é inteiramente nova, pois muito tempo antes desse episódio o profeta Jeremias usou linguagem semelhante (ver Je.16:16). Pedro, André, Tiago e João foram, nesse momento, pegos na rede do evangelho; não havia escapatória; na verdade, não havia o desejo de escapar (ver com. de Lc.5:8-9). Que contraste! Durante toda a vida eles pescaram peixes, que morriam em resultado da captura; a partir de então, deveriam alcançar homens, para que tivessem “vida [...] em abundância” (Jo.10:10; Lc.19:10). |
Lc.5:11 | 11. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram. Deixando tudo. Os quatro companheiros estavam em posse da maior pesca que já haviam levado para a praia. No momento de maior sucesso material, abandonaram seu empreendimento (ver DTN, 273). Mesmo em vista do alto significado do milagre, essa atitude deve ter exigido uma medida real de fé para deixar a ocupação que escolheram e seguir um meio de subsistência incerto como seguidores de um professor itinerante que, até então, tivera pouco sucesso (DTN, 245). No entanto, na provisão da abundância de peixes, Jesus evidenciou Seu poder para suprir as necessidades de Seus seguidores e, em fé humilde, eles creram. Da parte dos discípulos não houve a menor hesitação. A decisão para dissolver a parceria bem-sucedida como pescadores, em prol de uma parceria maior com Jesus como pescadores de homens, foi feita instantânea e inteligentemente. Eles não precisaram de tempo para pensar que as coisas acabaram, não precisaram de tempo para suprir as necessidades de suas famílias (cf. Mt.8:19-22). Eles se lançaram ao lago como pescadores comuns; quando retornaram à praia, lançaram-se pela fé no “mar” para o qual Cristo então os chamava, para pescar homens. Durante toda a noite, eles procuraram em vão encontrar o que se propuseram para sustentar sua vida; então, por amor a Cristo, estavam dispostos a perder tudo o que a vida tinha a oferecer e, agindo assim, iniciaram uma vida mais rica e abundante (ver Mt.10:39). Tomaram a cruz do serviço e seguiram os passos de Jesus (ver com. de Mc.3:14). Como Paulo, poucos anos depois, eles estavam prontos a considerar como perda todas as posses terrenas, porque consideravam “a excelência do conhecimento de Cristo Jesus” de valor infinitamente maior. As coisas que antes pareciam valiosas já não tinham valor. A partir de então, seu destino era aprender de Jesus, associar-se com Ele em Seus sofrimentos e compartilhar com todas as pessoas o conhecimento do poder de Sua ressurreição (ver Fp.3:8-10). Tendo encontrado a Pérola de grande preço, descartaram todas as posses e os interesses terrenos e investiram todo seu capital físico e intelectual na causa do reino de Deus (ver Mt.13:45-46). Deixando tudo, O seguiram. Até então, pelo menos três dos quatro (Pedro, André e João) tinham acompanhado a Jesus. O chamado que receberam no Jordão dois outonos antes foi para reconhecer a Jesus como o Messias, o Cordeiro de Deus, que viera para tirar o pecado do mundo (ver com. de Jo.1:35-50). Então, foram chamados a unir sua vida e destino com os dEle, não apenas como crentes, mas como aprendizes e obreiros. Antes disso, nenhum deles havia se unido a Jesus plena e permanentemente (DTN, 246). Eram discípulos em período parcial, os interesses estavam divididos entre esta vida e a celestial. Dali em diante, o tempo e os talentos deles seriam dedicados em tempo integral à obra de Cristo. Os quatro homens seguiram a Jesus não porque fossem muito preguiçosos para sobreviver com o trabalho de suas mãos ou porque o trabalho físico não havia sido bem-sucedido, mas por causa de suas profundas convicções. Como os outros a quem Cristo chamou, eles estavam profissionalmente ativos, até serem convocados a abandonar tudo e segui-Lo. Nenhum dos quatro homens teria sido considerado pelas pessoas cultas da nação como possuindo qualificações suficientes para se tornar professor. Eram humildes e iletrados, mas esses mesmos traços foram os pré-requisitos ao discipulado. O fato de não serem educados nos falsos ensinos dos rabinos facilitou o aprendizado das lições necessárias para torná-los obreiros qualificados na edificação do reino celestial (ver com. de Mc.3:15). Embora, às vezes, fossem lentos para aprender as lições que Jesus procurava lhes ensinar, eram sinceramente dedicados a Ele. O amor divino pouco a pouco transformou seu coração e a mente, na medida em que eles se rendiam a Cristo. Quando saíram do período de treinamento, não eram mais incultos e iletrados; eram homens perspicazes e de bom-senso. Eram tão parecidos com Jesus, que as outras pessoas percebiam que haviam estado com Ele (ver At.4:13). A utilidade na causa de Deus não depende tanto de intelecto brilhante como da devoção a Cristo e da tarefa que se tem em mãos. Com certeza, a influência de uma pessoa com grandes talentos e inteligência superior normalmente será sentida num círculo mais amplo, se esses talentos forem consagrados a Deus (ver PJ, 333). E ainda, Deus pode prescindir mais facilmente dessas capacidades do que de um coração amoroso, uma mente ensinável e mãos dispostas. O mais importante no serviço a Deus é que o eu seja posto de lado para dar lugar à obra do Espírito Santo no coração (ver DTN, 250). |
Lc.5:12 | 12. Aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. Numa das cidades. [A cura de um leproso, Lc.5:12-16 = Mt.8:1-4 = Mc.1:40-45. Comentário principal: Mc]. Coberto de lepra. Lucas, médico, é o único evangelista a notar o estágio avançado da doença. Essa condição tornou a cura ainda mais notável. |
Lc.5:13 | 13. E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:14 | 14. Ordenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:15 | 15. Porém o que se dizia a seu respeito cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para o ouvirem e serem curadas de suas enfermidades. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:16 | 16. Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:17 | 17. Ora, aconteceu que, num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar. Num daqueles dias. [A cura de um paralítico em Cafarnaum, Lc.5:17-26 = Mt.9:1-8 = Mc.2:1-12. Comentário principal: Mc]. Literalmente, “num dos dias”. Fariseus. A primeira menção desta facção religiosa no evangelho de Lucas (ver p. 39, 40). Mestres. Literalmente, “professores” (ver p. 39, 40; ver com. de Mc.1:22). A palavra portuguesa para “doutores” significa originalmente “professor”; na verdade, como a palavra “doutrina” ou “ensino”, origina-se da palavra latina doctor, “professor”. A aplicação do termo “doutor” a um médico é um uso atual da palavra. Nos evangelhos, os “doutores da lei” normalmente são chamados de “escribas” (ver p. 39, 40). Esses homens se preocupavam principalmente com a exposição das leis escritas e orais da nação e com a aplicação dessas leis à vida. Muitos deles eram fariseus, porque se interessavam especialmente nos detalhes da lei. Todas as aldeias. Segundo Josefo, havia aproximadamente 200 cidades e aldeias na Galileia. Lucas usa de hipérbole e pode se referir, em especial, às aldeias visitadas por Cristo na recente viagem pela Galileia. Sem dúvidas, onde quer que Jesus fosse, os professores da lei procuravam se opôr e impedir Sua exposição da lei, e parece terem reunido em Cafarnaum para se aconselhar com os líderes da Judeia e de Jerusalém quanto ao plano de ação que deveriam seguir com relação ao sentimento popular a favor de Cristo. Tinham a finalidade de criticar e acusar a Cristo (ver com. de Mc.2:6). Jerusalém. O fato de Lucas mencionar Jerusalém especificamente, além da Judeia, é evidência de que estava familiarizado com a prática judaica de considerar Jerusalém como um distrito separado da Judeia (ver também At.1:8; At.10:39). A cidade estava numa área metropolitana, fora da jurisdição política da Judeia (ver com. de Lc.4:44). O poder do Senhor. Isto é, do Espírito Santo (ver DTN, 143, 268). Estava com Ele para curar. A menção particular da presença do Espírito Santo nesta ocasião não indica que Cristo possuía poder de cura intermitente. Lucas chama a atenção para o fato, em antecipação ao milagre relatado em seguida. |
Lc.5:18 | 18. Vieram, então, uns homens trazendo em um leito um paralítico; e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Jesus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:19 | 19. E, não achando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subindo ao eirado, o desceram no leito, por entre os ladrilhos, para o meio, diante de Jesus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:20 | 20. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, estão perdoados os teus pecados. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:21 | 21. E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:22 | 22. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração? Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:23 | 23. Qual é mais fácil, dizer: Estão perdoados os teus pecados ou: Levanta-te e anda? Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:24 | 24. Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:25 | 25. Imediatamente, se levantou diante deles e, tomando o leito em que permanecera deitado, voltou para casa, glorificando a Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:26 | 26. Todos ficaram atônitos, davam glória a Deus e, possuídos de temor, diziam: Hoje, vimos prodígios. Prodígios. Do gr. paradoxa, do radical para, significando neste versículo “contrário a”, e doxa, “opinião [popular]”, significando, consequentemente, “inesperado” ou “inacreditável”. A palavra “paradoxo” é originada dessa palavra grega e tem um sentido semelhante. Dos três escritores sinóticos, apenas Lucas menciona os três aspectos da reação do povo ao milagre: admiração, temor e gratidão a Deus (ver p. 204, 205). |
Lc.5:27 | 27. Passadas estas coisas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Passadas estas coisas. [A vocação de Levi, Lc.5:27-28 = Mt.9:9 = Mc.2:13-14. Comentário principal: Mc]. Viu. Do gr. theaomai, “contemplar”, “ver com atenção”. Cristo observava Mateus atentamente, como se lesse seu caráter. |
Lc.5:28 | 28. Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu. Deixando tudo. Apenas Lucas registra esse detalhe da narrativa. Mateus não retornou, na verdade, nem poderia retornar a seu trabalho em regime parcial, como Pedro, André e João fizeram durante o primeiro ano e meio depois de encontrarem a Cristo no Jordão (ver com. de Jo.1:35-45). |
Lc.5:29 | 29. Então, lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa. Um grande banquete. [Jesus come com pecadores, Lc.5:29-32 = Mt.9:10-13 = Mc.2:15-17. Comentário principal: Mc]. Literalmente, “uma grande recepção”. Lucas utiliza a mesma palavra grega novamente em Lc.14:13, e estas são as duas únicas ocorrências do termo no NT. |
Lc.5:30 | 30. Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Murmuravam. Do gr. gogguzo, uma palavra que imita o arrulho de pombas, que parecem discutir entre si. Publicanos e pecadores. No grego, um artigo definido no singular define as duas palavras, colocando, assim, os dois grupos numa única categoria. Do ponto de vista dos fariseus, não havia diferença entre eles. Um “publicano” automaticamente era um “pecador”, em virtude de ser um coletor de impostos (ver com. de Lc.3:12). |
Lc.5:31 | 31. Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:32 | 32. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:33 | 33. Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Frequentemente jejuam. [Do jejum, Lc.5:33-39 = Mt.9:14-17 = Mc.2:18-22. Comentário principal: Mc]. |
Lc.5:34 | 34. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:35 | 35. Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:36 | 36. Também lhes disse uma parábola: Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha. Ninguém põe (KJV). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem o acréscimo do verbo “rasgar” ou “tirar”, para modificar a leitura: “Ninguém tira um pedaço de veste nova e [o] põe em veste velha” (ARA). Rasgará a nova. A evidência textual comprova (cf. p. 136) a leitura “pois rasgará a nova” (ARA). A nova veste é rasgada (devido ao material de remendo ter sido retirado dela), e a velha não é melhorada substancialmente (por um remendo de material diferente ter sido costurado nela). Não se ajustará. Ou, “não combinará”. Apenas Lucas nota esse fato adicional, isto é, que o remendo é de material diferente da veste antiga, e que, dessa forma, a aparência fica prejudicada. |
Lc.5:37 | 37. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:38 | 38. Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos [e ambos se conservam]. Sem comentário para este versículo. |
Lc.5:39 | 39. E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente. Ninguém. Apenas Lucas registra este comentário adicional de Cristo. O velho é excelente. As evidências textuais se divididem (cf. p. 136) entre esta e a tradução “o velho é bom”, isto é, o velho é suave ou agradável. Quem está acostumado ao vinho velho o considera mais suave, quando comparado ao novo e, assim, mais agradável. Cristo diz que uma pessoa acostumada ao vinho velho acha que ele é agradável ao paladar; isto lhe convém e é o bastante. Ela não mudará seus hábitos antigos. Esta parábola ilustra o profundo preconceito dos fariseus. |
Lc.6:1 | 1. Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos. Num sábado. [Jesus é Senhor do sábado, Lc.6:1-5 = Mt.12:1-8 = Mc.2:23-28. Comentário principal: Mc]. Do gr. sabbaton deuteroproton, literalmente, “o segundo primeiro sábado”. O significado preciso desta expressão é incerto. A evidência textual (cf. p. 136) favorece a tradução “um sábado”. Alguns tradutores pensam que a relevância da evidência favorece a tradução mais curta, enquanto outros mantêm a tradução mais longa. Deuteroprotos não ocorre mais na Bíblia, nem na literatura grega antiga. Alguns conjecturaram que pode significar o segundo sábado depois da Páscoa; outros, que foi o primeiro sábado de um segundo ano numa série de anos sabáticos; outros, que foi o segundo sábado numa série de sábados no calendário ritual; outros, que apenas distingue o sábado mencionado neste versículo dos sábados anteriores de Lc.4:16; Lc.4:31. Nenhuma dessas sugestões parece ter evidências a seu favor. Talvez seja melhor admitir que não se sabe qual ideia esta palavra transmite. |
Lc.6:2 | 2. E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito aos sábados? Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:3 | 3. Respondeu-lhes Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros? Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:4 | 4. Como entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da proposição, e os deu aos que com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente aos sacerdotes? Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:5 | 5. E acrescentou-lhes: O Filho do Homem é senhor do sábado. E acrescentou-lhes. O Códice de Beza coloca o v. 5 imediatamente depois do Lc.6:10 e substitui uma inserção curiosa e incompatível neste versículo: “No mesmo dia, contemplando o trabalho de alguém no sábado, disse-lhe: “Homem, se você sabe o que está fazendo, você é feliz, mas, se você não sabe, você é maldito e um transgressor da lei!” Essa evidente interpolação, embora interessante, não tem valor na exegese bíblica. Ela foi feita na tentativa de fornecer apoio escriturístico para a guarda do domingo. |
Lc.6:6 | 6. Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida. Em outro sábado. [O homem da mão ressequida, Lc.6:6-11 = Mt.12:9-14 = Mc.3:1-6. Comentário principal: Mc e Lc. Ver mapa, p. 215; sobre os milagres, ver p. 204-210]. As Escrituras não fornecem indícios a respeito da configuração cronológica do episódio dos v. 6 a 11. Pode-se concluir, a partir de Mt.12:9 isoladamente, que a cura da mão ressequida ocorreu no mesmo sábado do episódio na seara, mas Lucas deixa claro que ocorreu “em outro sábado”. Além disso, Jesus e Seus discípulos estavam a caminho de casa, voltando da sinagoga, enquanto passavam pela seara (DTN, 284), ao passo que estão na sinagoga nesta ocasião (ver Mt.12:9). Parece que todos os três escritores sinóticos agruparam determinados episódios de conflito entre Jesus e os líderes judeus em ordem temática, não cronológica, para enfatizar a crescente oposição dos escribas e fariseus para com Jesus e Sua obra (ver p. 178-180, 276). Ensinava. Apenas Lucas registra que Jesus fez o que chamamos de sermão (ver com. do v. Lc.4:16-17; Lc.4:20-21). Mão direita. Apenas Lucas, com a visão profissional de um médico, observa esse detalhe. Não se sabe se era apenas a mão ou se a mão e o braço estavam atrofiados ou paralisados. A palavra grega traduzida neste versículo como “mão” pode também incluir o braço, e assim é utilizada pelos escritores gregos. Esse foi o quinto encontro de Cristo com os escribas e fariseus registrado desde o início de Seu ministério na Galileia (ver com. de Mc.2:24). |
Lc.6:7 | 7. Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar. Os escribas e os fariseus. Ver p. 39, 40, 43. É possível que houvesse escribas e fariseus em qualquer sinagoga grande e em qualquer sábado; é possível que alguns dos presentes, pelo menos, frequentassem a sinagoga como espias, com o propósito específico de observar a Jesus e informar o que Ele fazia e dizia (ver com. de Mc.2:6). Observavam-No. De acordo com o grego, “continuaram observando”. Os homens que observavam tão atentamente a Jesus estavam presentes para esse propósito específico. Na verdade, os espiões continuaram a seguir os passos de Jesus por todo o restante de Seu ministério na Galileia. Cura no sábado. Comparar com a cura do endemoniado na sinagoga em Cafarnaum (ver Mc.1:21-28), a cura do paralítico no tanque de Betesda (ver Jo.5:1-16), o cego no tanque de Siloé (ver Jo.9:1-7), a mulher enferma por 18 anos (ver Lc.13:10-17) e o homem hidrópico (ver Lc.14:1-6). Além desses milagres públicos no sábado, Cristo também curou a sogra de Pedro na casa dela (ver Mc.1:29-31). Juntamente com a cura do homem da mão ressequida, esses sete milagres de cura foram realizados no dia de sábado. Assim, dos aproximadamente 20 casos específicos de cura mencionados nos evangelhos, um terço ocorreu no sábado (ver p. 207-209; ver com. de Jo.5:16). Acharem. Os escribas e fariseus estavam empenhados em descobrir como interromper o ministério de Cristo; estavam determinados a encontrar algo para acusá-Lo. |
Lc.6:8 | 8. Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé. Conhecendo-lhes os pensamentos. Ver com. de Mc.2:8. Com os espias O perseguindo, Jesus não teria dificuldade para determinar a direção dos pensamentos deles com respeito a qualquer coisa que fizesse. A presença deles os entregou; e, como se não bastasse, a expressão facial deles dizia o mesmo. Isso não equivale a dizer, como fazem alguns críticos, que Jesus não tinha poderes sobrenaturais para ler o pensamento das pessoas. Houve vários casos em que Ele demonstrou compreensão sobrenatural dos processos de pensamento de várias pessoas (ver Jo.8:6-9; Jo.13:21-30; DTN, 461, 655). Vem para o meio. O homem deveria se levantar e mudar de posição, para que todos na sinagoga o vissem facilmente. É bem provável que estivesse assentado na última fileira, num canto, ou talvez atrás de uma coluna. Por outro lado, Jesus possivelmente estaria na frente da sinagoga e convidou o homem a se aproximar de onde Ele Se encontrava. Em flagrante contraste com a sinceridade, franqueza e abertura de Jesus estavam as astutas e deselegantes tentativas ocultas dos escribas e fariseus para espioná-Lo e para preparar armadilhas contra Ele. |
Lc.6:9 | 9. Então, disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer? Que vos parece? De acordo com o relato de Mateus, parece que os fariseus já tinham levantado a questão da cura no sábado (ver Mt.12:10). É lícito [...]? Ver com. de Mc.2:24. Novamente, as leis rabínicas se mostraram em conflito com as necessidades humanas. Aqueles que, hoje, afirmam que Jesus não considerou a lei de Deus, em outras palavras, que por preceito e exemplo Ele Se afastou das reivindicações do quarto mandamento, unem-se aos escribas e fariseus e compartilham do espírito deles. No final de Sua vida terrestre, Jesus afirmou que guardara todos os mandamentos de Seu Pai (ver Jo.15:10). Fazer o bem ou o mal? Neste caso, no sentido de trazer benefício ou dano. De acordo com o relato de Mateus, os escribas e fariseus dirigiram a questão primeiramente a Jesus, para saber se era lícito curar no sábado (Mt.12:10). Os regulamentos rabínicos distinguiam cuidadosamente os casos de enfermidades crônicas e os casos que envolviam perigo de morte. Para ser mais preciso, certas doenças eram indicadas como mais graves, e os que padeciam com elas poderiam receber auxílio de acordo com a necessidade. No sábado eram feitos poucos preparativos para aliviar a dor que não envolviam doença grave, ou para auxiliar os que sofriam havia muito tempo, como a pessoa que Jesus estava prestes a curar. É possível que, em geral, a lei fosse interpretada liberalmente, e que as pessoas que sofriam com muitas outras doenças recebiam cuidados no sábado. Salvar a vida [...]? De acordo com outra máxima judaica, recusar fazer o bem seria causar dano, negligenciar cuidar da vida seria tirá-la. Mas a vida deste homem não estava em perigo, e o ato de curar poderia ser postergado até que se passasse o sábado. No entanto, Jesus afirmou que não era errado fazer o bem no sábado. Do ponto de vista de Jesus, deixar passar a oportunidade de trazer alívio ao sofredor seria fazer o mal. Os escribas e fariseus pensavam nas regras mesquinhas que seriam violadas; Jesus dirigia a atenção aos princípios fundamentais envolvidos. Não salvar uma vida seria tirá-la; não fazer o que melhora a vida, seria reduzi-la (ver Tg.4:17). Esse princípio era uma extensão do sexto mandamento, como esclarecido por Cristo no Sermão do Monte (ver com. de Mt.5:21-24), e o sexto mandamento não conflitava com o quarto. Jesus disse que o sábado foi “estabelecido por causa do homem” (Mc.2:27), e os atos de misericórdia aos necessitados estavam inteiramente de acordo com esses objetivos. Os escribas e fariseus matavam, no íntimo. A acusação deles era parte de uma conspiração para tirar a vida de Jesus (ver com. de Lc.6:11; At.3:15) que, “conhecendo-lhes os pensamentos”, sabia que conspiravam para destruí-Lo (ver Lc.6:8). Talvez Jesus tivesse esse quadro em mente quando falou sobre destruir a vida, e procurou dirigir-lhes a atenção ao fato de que a malícia os tornava verdadeiros transgressores do sábado. Mateus acrescenta a significativa ilustração por meio da qual Cristo chamou a atenção para o fato de eles fazerem por um animal o que não estavam dispostos a fazer por um ser humano (ver Mt.12:11-12). Alguns deles deixariam uma pessoa sofrer, mas salvariam um animal do sofrimento, para que não resultasse em perda financeira ao proprietário. Somente um falso conceito de Deus poderia levar a uma regulamentação para o sábado que valorizava menos a vida humana do que a dos animais. |
Lc.6:10 | 10. E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada. Fitando todos ao redor. Havendo declarado nitidamente o princípio envolvido, Jesus fez uma pausa para dar tempo para que Suas palavras surtissem efeito. Seu olhar penetrante percorreu lentamente o público expectante, para reforçar a lição e dirigi-la ao coração dos amigos e inimigos. Enquanto Ele purificava o templo, Seu olhar dominava a assembléia com uma sensação de temor, acusando os presentes diante do tribunal da justiça divina, diante dAquele que fez o sábado e que os julgaria no último dia (ver DTN, 158; cf. 590). Todos os olhos estavam fixos em Jesus e no homem próximo a Ele. O princípio foi nitidamente declarado; Jesus estava prestes a quebrar o impressivo silêncio, agindo em harmonia com o princípio. Estende a mão. Jesus solicita ao homem que faça o que, até aquele momento, ele não conseguia fazer, e o homem estendeu a mão. Dessa forma, o homem evidenciou sua fé no poder de Jesus; ele obedeceu à ordem dAquele que também ordenava a observância do sábado, e ficou curado. A cooperação do esforço humano com o poder divino é sempre essencial; seja no contexto das coisas físicas ou espirituais. Sem essa cooperação não há cura física nem espiritual. |
Lc.6:11 | 11. Mas eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus. Furor. Do gr. anoia, literalmente, “uma falta de sentido”, do prefixo negativo a, e da palavra nous, “mente”; consequentemente, “raiva sem sentido”. Aqueles homens estavam “fora de si”. Do ponto de vista dos fariseus, esta foi a quinta ofensa de Jesus contra a lei rabínica desde o início de Seu ministério na Galileia (ver com. de Mc.2:24). Seus inimigos estavam enfurecidos; a fúria deles assemelhava-se à insanidade. O mesmo espírito que possuiu o endemoniado (ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45) endureceu o coração deles. Discutiam. Eles não conseguiam se conter e explodiam em ira enquanto discutiam o que fazer. O dilema repousava no fato de que Jesus enunciou um princípio que eles não podiam negar, e que o povo tomava partido ao lado de Jesus. De acordo com Marcos, parece que eles nem mesmo esperaram o término da reunião, mas saíram antes que a assembléia se dispersasse, para discutir o assunto (ver com. de Lc.3:6). Quanto ao que fariam. Mais cedo, na primavera do mesmo ano, 29 d.C., o Sinédrio determinou tirar a vida de Jesus e colocar espias para segui-Lo e relatar tudo o que Ele dissesse e fizesse (ver DTN, 213; Jo.5:18; ver com. de Mc.2:6). A decisão já tinha sido tomada, e restava apenas uma questão quanto ao modo como realizariam a obra com uma aparência de legalidade. As reações do povo e dos líderes eram surpreendentemente opostas. A inveja, a maldade e o ódio dos escribas e fariseus aumentavam em proporção direta à crescente onda de popularidade da obra de Cristo na Galileia. Pressentindo o perigo iminente, um pouco mais tarde, Sua mãe e Seus irmãos insistiram para que Ele interrompesse Seu ministério por causa da oposição que despertava (ver com. de Mt.12:46). |
Lc.6:12 | 12. Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Naqueles dias. [A escolha dos doze apóstolos. Os seus nomes, Lc.6:12-16 = Mt.10:1-4 = Mc.3:13-19. Comentário principal: Mc]. Isto é, não muito depois da experiência registrada nos v. Lc.6:6-11. Orar. Lucas parece ter-se impressionado com a vida de oração de Jesus, e faz referência a ela com mais frequência do que os outros evangelistas (ver com. de Mc.3:13). |
Lc.6:13 | 13. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:14 | 14. Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu Simão. Até este ponto do relato, Lucas se refere a Pedro como Simão (Lc.4:38; Lc.5:3-5; Lc.5:10), com exceção de uma vez em que o chamou de Simão Pedro (Lc.5:8). A partir deste ponto, ele é chamado de Pedro (Lc.8:45; Lc.8:51; Lc.9:20; Lc.9:28; Lc.9:32-33; Lc.12:41). |
Lc.6:15 | 15. Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:16 | 16. Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor. Que se tornou traidor. Nesta época, Judas não era um traidor de fato, apenas potencialmente. Quando foi escolhido, não manifestou tendência à traição. Ele não percebeu que determinados traços de caráter, errados e latentes, caso acalentados, o levariam ao vergonhoso clímax de sua vida (ver com. de Mc.3:19). |
Lc.6:17 | 17. E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom, Descendo. [Jesus cura muitos enfermos, Lc.6:17-19 = Mt.4:23-25 = Mc.1:35-39. Comentário principal: Mc]. Isto é, do monte onde Cristo passou a noite orando antes da escolha e ordenação dos doze (ver com. de Mc.3:13). Planura. Literalmente, “um local plano”, talvez nos montes para onde Jesus levou a multidão (ver DTN, 298; ver com. de Mt.5:1). |
Lc.6:18 | 18. que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por espíritos imundos eram curados. Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:19 | 19. E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos. Procuravam tocá-Lo. Ver com. de Mc.3:10. Poder. Do gr. dynamis (ver com. de Lc.1:35). O verbo auxiliar traduzido como “saía” é melhor interpretado como “estava saindo”. A ênfase reside no fato de que o poder continuava saindo dEle, irradiando sempre que houvesse necessidade. “O próprio ar estava eletrizado com poder espiritual” (Robertson). Assim deveria ocorrer com os representantes de Cristo na atualidade. |
Lc.6:20 | 20. Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Então. [As bem-aventuranças, Lc.6:20-49 = Mt.5:1-8:1. Comentário principal: Mt]. Ver com. de Mt.5:2. Bem-aventurados. Lucas registra quatro das oito bem-aventuranças apresentadas por Mateus (ver com. de Mt.5:3). Em acréscimo às quatro bem-aventuranças, Lucas menciona quatro ais equivalentes (ver Lc.6:24-26). Vós, os pobres. Lucas parece aplicar as bem-aventuranças de modo mais literal, ou material, que Mateus (ver com. de Mt.5:3). Essa literalidade se torna ainda mais evidente à luz dos ais anexos (ver com. de Lc.6:24). Não obstante, o relato breve e literal das bem-aventuranças, feito por Lucas, deveria ser lido à luz do sermão mais completo e específico, como registrado por Mateus. O forte contraste entre pobreza, fome e perseguição, “agora”, e a futura condição de bênção (ver v. Lc.6:21) pode, num primeiro momento, conduzir a um viés materialista das palavras de Cristo. Contudo, no contexto do sermão como um todo (ver com. de Mt.5:2), torna-se claro que não é este o caso. Cristo está apenas contrastando a condição daqueles que buscam o reino com a condição deles depois de adentrarem nele. |
Lc.6:21 | 21. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:22 | 22. Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Quando vos expulsarem. Considerado por alguns como uma referência à excomunhão da sinagoga (ver Jo.9:22; Jo.9:34; Jo.12:42; Jo.16:2). A excomunhão poderia ser permanente, envolvendo a exclusão plena do judaísmo para sempre, ou temporária. Na época de Cristo, a excomunhão temporária se estendia por um período de trinta dias, durante o qual a pessoa “expulsa” era privada de participar dos ritos religiosos e de se aproximar de outra pessoa a uma distância de dois metros. A excomunhão indicava contaminação religiosa e social, ou impureza. Rejeitarem o vosso nome. Isto é, descartá-lo com desdém. Essa rejeição se refere à circulação de calúnias (ver 1Pe.4:14). Filho do Homem. Ver com. de Mc.2:10. |
Lc.6:23 | 23. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:24 | 24. Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação. Ai de vós. O contraste entre bênçãos e ais parece ter sido um artifício literário característico dos judeus, originado, possivelmente, com as bênçãos e maldições de Deuteronômio (Dt.27-28; comparar com Mt.23). Ricos. O pouco valor que Jesus dava às coisas materiais (ver com. de Mt.5:3) alienava as afeições da classe social que considerava a riqueza e o prestígio como os principais objetivos da vida (ver Mt.6:1-6), embora o Salvador buscasse levar a salvação a todas as classes sociais, tanto ricos como pobres. Na verdade, comparativamente poucas pessoas da classe rica se tornaram amigas de Jesus, sendo que Nicodemos e José de Arimateia são notáveis exceções. Jesus estava preocupado em levar as pessoas a entesourar no Céu e não na terra (ver Mt.6:33-34; Lc.12:13-33), a fim de que o coração delas estivesse mais intimamente ligado a Deus. Em muitos casos, a riqueza provou ser uma insuperável barreira ao Espírito (ver Mc.10:23; Mc.10:25; Lc.18:24-25). Tendes. Do gr. apecho. Como ilustrado pelos papiros, esse termo pode indicar, num contexto como este, pagamento integral. Consolação. Do gr. paraklesis, significando aqui consolo ou satisfação que advêm de uma condição feliz (ver com. de Mt.5:4). |
Lc.6:25 | 25. Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Fartos. Isto é, saciados com as boas coisas da vida (cf. Lc.16:19-31). |
Lc.6:26 | 26. Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas. Todos vos louvarem! Precisamente o oposto de “vos injuriarem” (v. Lc.6:22). Aqui está outro paradoxo que enfatiza a grande diferença entre o cristianismo e o mundo, entre os ideais de ambos. As pessoas normalmente “falam bem” daqueles que possuem riqueza ou poder, bem como daqueles que estão em posição de retribuir a lisonja. Assim procederam seus pais. Comparar este comportamento aos maus-tratos que os antepassados deles deram aos profetas do Senhor (v. Lc.6:23). |
Lc.6:27 | 27. Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam Digo-vos, porém. Ver com. de Mt.5:22. Amai os vossos inimigos. Ver com. de Mt.5:43-44. |
Lc.6:28 | 28. bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Bendizei aos que vos maldizem. Ver com. de Mt.5:43. Orai pelos que vos caluniam. Ver com. de Mt.5:43-44. |
Lc.6:29 | 29. Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica Ao que te bate. Ver com. de Mt.5:39. |
Lc.6:30 | 30. dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. Dá a todo o que te pede. O tempo verbal dos verbos gregos traduzidos como “dá”, “tirar” e “pede” expressam ações repetidas ou habituais. O conselho “dá a todo o que te pede” não significa dar-lhe tudo o que ele pedir e também não requer que alguém dê algo toda vez que lhe pedirem. Como a forma verbal deixa claro, e como o conteúdo verbal de todo o Sermão do Monte evidencia, Cristo quer dizer que o ato de doar deveria se tornar um hábito. O conselho de Cristo não quer dizer que um cristão é obrigado a doar indiscriminadamente, a despeito da necessidade. Ele terá um espírito generoso, pronto e grato a doar de acordo com a necessidade representada pelo pedido e sua habilidade pessoal de satisfazer a necessidade (ver com. de Mt.5:42). Em geral, um cristão responderá favoravelmente aos pedidos de auxílio, não relutante, como fazem os de coração não regenerado. Ele estará disposto a cooperar com outros, em vez de se opor a eles. |
Lc.6:31 | 31. Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. Como quereis. Ver com. de Mt.7:12. |
Lc.6:32 | 32. Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. Amais os que vos amam. Ver com. de Mt.5:43-47. Pecadores. De acordo com os judeus, um “pecador” era alguém que não conhecia a lei plenamente ou conhecia e não a obedecia. Todos os gentios eram, dessa forma, pecadores, juntamente com os que, dentre os judeus, cobravam impostos, se prostituíam, etc. |
Lc.6:33 | 33. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. Fizerdes o bem. Ver com. de Mt.5:44-46. |
Lc.6:34 | 34. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Emprestais àqueles. Mateus não relata o tipo de empréstimo que, neste versículo, se refere a transações comerciais em que o dinheiro é emprestado com juros. Para receberem outro tanto. Isto é, receber o capital e, com ele, os juros estipulados. |
Lc.6:35 | 35. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Amai, porém, os vossos inimigos. Ver com. de Mt.5:44-46. Esperar. Do gr. apelpizo, que ocorre unicamente aqui no NT. Na literatura grega, ela significa “desesperar” ou “ceder ao desespero”. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a tradução “não desesperar de ninguém”, embora também haja apoio para a tradução “não desesperar de nada”. Os comentaristas geralmente sugerem “nunca desespere” como a melhor tradução, ou “não desistir de nada por desespero”. No entanto, o contraste aqui parece exigir uma frase oposta a “esperais receber” (v. Lc.6:34), e, consequentemente, há alguma justificativa para a tradução “sem esperar nenhuma paga”. Há evidências textuais (cf. p. 136) para a tradução “não desapontando a nenhum homem”. A tradução da KJV está baseada na Vulgata, que interpreta: “por este motivo, não espere nada”. Em consonância com a Vulgata, a Igreja Católica proibiu, por séculos, o empréstimo de dinheiro a juros e, como resultado, os judeus se tornaram os grandes credores e banqueiros da Europa (sobre os princípios bíblicos com relação ao empréstimo de dinheiro a juros, ver com. de Ex.22:25). O contexto de Lc.6:30-35 deixa claro que Cristo não Se refere, aqui, a juros sobre empréstimos, mas ao grande princípio de que os cristãos deveriam ser doadores (v. Lc.6:30), tratar aos outros com equidade (v. Lc.6:31), fazer o bem (v. Lc.6:31; Lc.6:35) e amar aos outros (v. Lc.6:32) - sem calcular com antecedência a probabilidade de obter de volta a mesma quantia ou além dela. Os cristãos devem ajudar mesmo em casos aparentemente sem esperança. A palavra apelpizo é utilizada na literatura grega para o desespero médico de um caso sem esperança. O auxílio deve estar baseado na necessidade, não na expectativa de obter retorno do investimento em boas obras. O cristão nunca deve se “cansar de fazer o bem” (cf. Gl.6:9), nem deveria sentir que seu trabalho é “em vão” (1Co.15:58). Vosso galardão. Cristo destacou que haverá recompensas para o viver correto, não primariamente como incentivos. Por outro lado, se corretamente compreendidas, elas são incentivos adequados para demonstrar que, embora as pessoas não apreciem os elevados princípios pelos quais atuam os cidadãos do reino celestial, Deus os conhece e aprecia. Ele dará fim ao reino do pecado e recomporá as coisas deste mundo em harmonia com os princípios pelos quais Seus “filhos” suportam a injustiça no mundo atual. Nossa maior motivação não é ter uma vida melhor a fim de adquirir determinadas recompensas, embora elas tenham seu lugar, mas viver corretamente em reconhecimento de que, por si só, isso é uma vida melhor. Um cristão encontra satisfação total em viver em harmonia com os grandes princípios eternos do reino celestial. Filhos. A semelhança moral entre eles e Deus demonstra que são Seus filhos porque pensam, falam e vivem em harmonia com Seus princípios (ver com. de Mt.5:45). Do Altíssimo. Do gr. Hupsistos. A expressão “filhos do Altíssimo” de Lucas é equivalente à expressão “filhos do vosso Pai”, em Mt.5:45. O equivalente hebraico da palavra Hupsistos é Elyon (ver com. de Gn.14:18; Nm.24:16). Os ingratos. Cristo não está tão preocupado com o fato de essas pessoas não expressarem apreciação pela bondade demonstrada a elas pelos cidadãos do reino celestial, quanto está preocupado com a atitude básica dos ingratos. Apesar disso, Deus ainda é bondoso com eles, e os filhos de Deus na Terra, aqueles que se assemelham ao Pai celestial no caráter, agirão do mesmo modo (ver com. de Jo.8:44). Maus. No grego, o artigo definido “os” não é repetido. Lê-se, literalmente, a frase completa: “aos indelicados e maus”. Os “indelicados” e “maus” são tratados neste versículo como um único grupo, e não como dois grupos separados. A bondade que Deus oferece se baseia em Sua própria benevolência como doador, e não em qualquer benevolência por parte dos beneficiários. Acontece, às vezes, que a benevolência oferecida às pessoas mais indignas e desinteressadas desperta nelas o desejo de escapar da prisão do pecado e, finalmente, produz uma transformação no caráter. |
Lc.6:36 | 36. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Misericordiosos. Ou, “compassivos”. O grau de merecimento que o próximo pode ter ou não, de modo algum determina a atitude e as ações do cristão para com ele. A força motriz para esse estilo de vida repousa na filiação do cristão a Deus por meio de Cristo, cujo amor o “constrange” ou controla (ver 2Co.5:14). |
Lc.6:37 | 37. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados Não julgueis. Ver com. de Mt.7:1-2. Perdoai. Ver com. de Mt.6:14-15. |
Lc.6:38 | 38. dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. Regaço (ACF). Do gr. kolpos. O peito ou a dobra feita na peça de vestuário externo, ajustando-a no cinto, fazendo uma cavidade ou bolso (ver Ex.4:6; Sl.79:12; Pv.6:27; Je.32:18; ver com. de Sl.65:6). Com a medida com que tiverdes medido. Ver com. de Mt.7:2. |
Lc.6:39 | 39. Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco? Propôs-lhes também. Este versículo geralmente é considerado como a marca inicial da segunda seção do Sermão do Monte, como relatado por Lucas. Das ilustrações utilizadas neste sermão, contadas por Mateus e Lucas, dezesseis podem ser classificadas como “parábolas”, embora apenas esta seja assim designada (sobre a definição de parábolas, ver p. 197-199). Pode, porventura, um cego guiar [...]? No grego, a forma da pergunta indica que se espera uma resposta negativa. Um cego não é um guia adequado para outro cego. Não cairão [...]? Neste versículo, a forma da pergunta no grego indica que se espera uma resposta afirmativa. É certo que resultará em algum infortúnio. Barranco. Preferivelmente, “poço”. |
Lc.6:40 | 40. O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem-instruído será como o seu mestre. O discípulo. Isto é, o aprendiz não está acima do professor. Esta frase é semelhante ao provérbio em que a corrente de água não se eleva acima do nível de sua nascente. Os chineses têm um provérbio com o sentido de que “o estudante não sobressai ao seu professor”. Nesse relacionamento contextual do v. Lc.6:39, o provérbio acerca do estudante e seu professor equipara o “mestre” com o cego que tenta liderar ou instruir a outro cego, e o “discípulo”, com o liderado. Ou seja, aqueles que posam como professores devem ter clara visão dos assuntos sobre os quais se propõem a instruir. A menos que ajam assim, atingirão um baixo padrão. Essa “parábola” ilustra a mesma lição demonstrada na metáfora dos v. Lc.6:41-42, acerca do homem que se propôs tirar o cisco do olho de seu irmão quando havia uma trave no próprio olho. Um homem deve se enxergar plenamente antes que possa ser de alguma ajuda para outros. Perfeito (ARC). Do gr. katartizo, “preparar”, “treinar”, “equipar cuidadosamente”. A palavra também é usada como um termo médico para descrever a fixação de um osso ou de uma articulação óssea. Será como o seu mestre. Isto é, não será melhor que seu mestre (cf. v. Lc.6:39). |
Lc.6:41 | 41. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Argueiro. Ver com. de Mt.7:3. Reparas. Do gr. katanoeo, literalmente, “fixar a mente sobre”, “considerar atentamente” ou “perceber”. |
Lc.6:42 | 42. Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Deixa [...] que eu tire. Ver com. de Mt.7:4. O homem com a trave no olho fala educadamente ao que tem um argueiro no seu, como se oferecendo para lhe fazer um favor. Ele pretende ser um “irmão” ao homem, quando na realidade, é um “hipócrita”. Hipócrita. Ver com. de Mt.7:5. |
Lc.6:43 | 43. Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Sem comentário para este versículo. |
Lc.6:44 | 44. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. Conhecida. Ver com. de Mt.7:16. |
Lc.6:45 | 45. O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração. |
Lc.6:46 | 46. Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? Senhor, Senhor. Ver com. de Mt.7:21-22. |
Lc.6:47 | 47. Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. Todo aquele que vem a Mim. Isto é, “Quem quiser ser Meu discípulo”, como os doze escolhidos mais cedo naquele dia, que se sentavam perto de Cristo (ver com. de Mt.5:1). |
Lc.6:48 | 48. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem-construída. Edificando uma casa. Ver com. de Mt.7:24-25. Abriu profunda vala. Literalmente, “escavou e desceu em profundidade”. Não a pôde abalar. Isto é, não foi intenso o bastante para abalá-la. Lançou o alicerce sobre a rocha. Pode-se citar evidência textual importante (cf. p. 136) para a tradução “bem construída” (ARA). |
Lc.6:49 | 49. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa. Ouve e não pratica. Ver com. de Mt.7:26. Desabou. Ver com. de Mt.7:27). |
Lc.7:1 | 1. Tendo Jesus concluído todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em Cafarnaum. Tendo. [A cura do servo de um centurião, Lc.7:1-10 = Mt.8:5-13. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 216; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204-210]. Ou, “depois” (ARC). Os eventos dos v. 1 a 10 ocorreram depois do Sermão do Monte (ver com. de Mt.8:2) e podem ter ocorrido no mesmo dia. Lucas 7:1 faz a transição do local onde foi apresentado o Sermão do Monte, para o local onde o servo do centurião foi curado. Textos de transição de sequências em Lucas são comuns (ver Lc.4:30; Lc.4:37; Lc.4:44; Lc.5:11; Lc.5:16; Lc.5:26; Lc.6:11). Possivelmente, este era o final do verão de 29 d.C. (ver MDC, 2, 45; ver com. de Mt.5:1), talvez, no fim da tarde. Suas palavras. Especificamente, o Sermão do Monte (Lc.6:20-49; Mt.7:28). Ao povo. Ou, “aos ouvidos”, isto é, “à audiência”. Entrou em Cafarnaum. Evidentemente, após o Sermão do Monte, como indica o contexto (ver DTN, 316). Cafarnaum foi o centro do ministério de Cristo (ver com. de Mt.4:13). Parece que a delegação de anciãos com o pedido do centurião encontrou Jesus quando Ele retornava para a cidade. O relato paralelo em Mt.8:5-13 parece ter várias diferenças, mas uma comparação entre os dois evidencia que não há discrepâncias. Os dois relatos são versões do mesmo acontecimento. As conversas são praticamente idênticas, e diferenças ocorrem principalmente nas seções narrativas. Nos dois casos, o ponto central é a grande fé do centurião, um gentio (ver com. de Lc.7:9). A raridade do milagre é o fato de a pessoa beneficiada não estar diante de Cristo, no momento da cura. |
Lc.7:2 | 2. E o servo de um centurião, a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte. Servo. Do gr. doulos, literalmente, “um escravo” ou “um servo cativo”. De um centurião. Do gr. hekaton-tarchos, que quer dizer “comandante de cem [homens]”; isto é, um capitão de um grupo do exército romano, chamado “centúria”. O número de soldados de uma centúria variava de 50 a 100. Este centurião, em especial, era responsável por um grupo de soldados romanos a serviço de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia. Como se evidenciou no decurso da narrativa (ver com. dos v. Lc.7:5-6; Lc.7:9), o centurião não era um prosélito judeu. Todos os centuriões mencionados no NT parecem ter sido homens de caráter louvável (Mc.15:39; Mc.15:44-45; Lc.23:47; At.10:22; At.22:26; At.23:17; At.23:23-24; At.24:23; At.27:43). Estimava. Do gr. entimos, “em honra”, “honrado” ou “estimado”. A palavra entimos é traduzida como “digno”, (Lc.14:8) “honrai” (Fp.2:29) e “preciosa” (1Pe.2:4; 1Pe.2:6). O vocábulo entimos ocorre nos papiros em referência aos soldados cujo tempo de serviço era longo e honrado. Este “servo” era muito estimado pelo centurião, por certo pelo valoroso serviço que prestava. O termo pode ou não indicar afeição pessoal, mas, neste caso, o centurião era “ternamente afeiçoado” a seu servo (DTN, 315). Estava doente. Ver com. de Mt.4:24. A paralisia comum não é normalmente tão dolorosa como indicam as palavras “sofrendo horrivelmente” (Mt.8:6). Assim, tem-se sugerido que a dor aguda e a paralisia do escravo coexistiam com alguma doença semelhante à febre reumática. |
Lc.7:3 | 3. Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, pedindo-lhe que viesse curar o seu servo. Tendo ouvido falar. O conhecimento que o centurião tinha de Jesus se limitava aos relatos que ouvia acerca das grandes obras do Salvador. Ele não vira Jesus, até aquele momento (DTN, 315). Anciãos. Estes homens poderiam ser os principais cidadãos da cidade, ou o conselho de anciãos da sinagoga local (ver p. 44), ou desempenhavam as duas funções. Em vista da cortesia do centurião (ver v. Lc.7:5), ele mantinha boas relações com os “anciãos”, a despeito de ser um gentio, e não um judeu. Consciente da costumeira atitude dos judeus para com os gentios (ver com. de Mt.7:6), o centurião não sabia como Jesus responderia ao pedido de alguém que não pertencia a Seu povo. O centurião pode ter tido experiências desagradáveis com líderes judeus anteriormente e temia ser rejeitado. De forma tipicamente oriental, o procedimento correto seria fazer arranjos por meio de um intermediário que estivesse em condições de conseguir o que de outra forma poderia ser recusado. Possivelmente, os “anciãos” pertencessem à sinagoga que Jesus frequentava quando estava em Cafarnaum (ver com. de Lc.4:16). A diferença mais evidente entre os relatos de Mateus e Lucas ocorre neste ponto da narrativa. Lucas registra que o centurião enviou duas delegações, os “anciãos” (v. 3) e os “amigos” (v. Lc.7:6), enquanto Mateus não faz menção alguma. O último fala apenas do próprio centurião indo a Jesus (Mt.8:5). É possível que Mateus, tendo em mente que as delegações, na realidade, falavam em nome do centurião, simplifica seu relato apresentando as palavras dos mensageiros em favor do centurião como se fossem ditas, pessoalmente, por ele. Hoje, assim como nos tempos antigos, diz-se normalmente que uma autoridade fez algo que foi feito por seus subordinados. Diz-se, por exemplo, que Pilatos açoitou a Jesus (Jo.19:1). No entanto, os açoites foram aplicados por um subordinado, cumprindo ordens de Pilatos. Evidentemente, as duas delegações, os “anciãos” e os “amigos”, se aproximaram de Jesus; mas, quando ficou evidente que Ele continuava a caminho do lar do centurião, este veio pessoalmente e, ao encontrar Jesus, repetiu praticamente a mesma mensagem que enviara por meio dos “anciãos” e dos “amigos”. Além disso, Lucas tinha motivos especiais para mencionar qualquer ato amistoso da parte dos líderes de Israel para com Jesus (ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50; ver com. de Lc.5:2). Pedindo. Ou, “solicitando”. Curar. Do gr. diasozo, “levar em segurança até”, “salvar”. O centurião desejava que Jesus conduzisse seu fiel servo em segurança em meio à doença. |
Lc.7:4 | 4. Estes, chegando-se a Jesus, com instância lhe suplicaram, dizendo: Ele é digno de que lhe faças isto Com instância. Do gr. spoudaios, “intensamente” ou “com urgência”. A questão era que o homem estava “prestes a morrer”, e havia pouco tempo. Suplicaram. Do gr. parakaleo, palavra mais forte que a utilizada no v. Lc.7:3, que significa apenas “pedir” ou “solicitar” (ver com. do v. Lc.7:3). É digno. O centurião, a seus próprios olhos, sentia-se indigno (v. Lc.7:6-7). Aos olhos dos “anciãos”, ele era “digno” (v. Lc.7:4). A percepção da própria indignidade é uma recomendação do mais alto nível diante de Deus. No entanto, com o centurião, parece que esta apreciação de sua condição social diante de Jesus era mais que humildade. Embora cresse no verdadeiro Deus, o centurião não era ainda um prosélito e, de acordo com o ponto de vista judaico, ainda era um pagão e, assim, não qualificado para participar das reuniões religiosas (ver com. dos v. Lc.7:2; Lc.7:5). Verdadeiramente humilde de coração diante de Deus e consciente de sua situação aos olhos dos judeus, ele procurou evitar embaraçar Jesus, obrigando-o a entrar num lar gentio. Na melhor das hipóteses, isso seria repulsivo a um judeu devoto e o tornaria impuro cerimonialmente (ver Jo.18:28). Um judeu convocado pela ordem direta de um oficial romano seria obrigado a cumpri-la, pois a recusa seria interpretada como resistência a uma autoridade constituída legalmente. O piedoso e humilde centurião procurou poupar Jesus desta situação e evitou embaraçá-Lo. A humildade do centurião era real e prática (ver com. de Lc.7:6). De que lhe faças isto. Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a variante “você [Jesus] deveria fazer isto”. |
Lc.7:5 | 5. porque é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. É amigo do nosso povo. E era, à vista disto, “digno” aos olhos dos anciãos (ver com. do v. Lc.7:4). Parece que o centurião era um “prosélito da porta”, alguém que cria no verdadeiro Deus e nos princípios da fé judaica, mas não aceitava a circuncisão, o sinal da aliança (ver com. de Gn.17:10-11), nem praticava o ritual cerimonial da religião judaica. É dito que, durante o primeiro século d.C., houve milhares de gentios por todo o império romano que se tornaram “prosélitos da porta”. Eles aprenderam a admirar e respeitar a adoração pura dos judeus e foram convencidos da superioridade dessa adoração em relação à praticada pelos pagãos. Muitos desses prosélitos, mais tarde, se tornaram judeus com direitos plenos (ver p. 49, 50). A sinagoga. Possivelmente a sinagoga onde esses mensageiros serviam como “anciãos”. Pode ter sido a sinagoga que Cristo frequentou enquanto permaneceu em Cafarnaum e onde iniciou Seu ministério. O pronome “ele” é enfático: possivelmente o centurião tenha construído esta sinagoga com seu dinheiro. De acordo com uma inscrição do 2 século, certo oficial pagão do Egito auxiliou os judeus na edificação de uma sinagoga em Atribis. Outros casos similares já foram registrados. |
Lc.7:6 | 6. Então, Jesus foi com eles. E, já perto da casa, o centurião enviou-lhe amigos para lhe dizer: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. Foi. De acordo com o grego, “estava prosseguindo”. Ele não os acompanhou todo o caminho até a casa do centurião, como a narrativa evidencia (ver Lc.7:7; Mt.8:5). Amigos. Esta segunda delegação pode ter sido composta de romanos, talvez companheiros pessoais do centurião. É evidente que Jesus continuou andando rumo a casa do centurião, a despeito da declaração dos representantes acerca de sua indignidade, porque o próprio centurião saiu ao encontro dEle (DTN, 316). Sendo que a segunda delegação encontrou Jesus “já perto da casa” e que Jesus ainda Se aproximou depois de receber a segunda delegação, o centurião deve ter encontrado Jesus bem próximo de seu lar. Não sou digno. Ver com. do v. Lc.7:4. Embora o centurião declarasse sua indignidade, depois Jesus disse a respeito dele: “Nem mesmo em Israel achei fé como esta” (v. Lc.7:9). A notável fé deste suposto pagão o tornou mais digno à vista do Céu do que qualquer compatriota de Jesus. É muito interessante comprovar que Jesus e os líderes judeus, frequentemente em completo desacordo, afirmassem ambos, a dignidade de um gentio. É claro que os motivos deles não eram os mesmos: os “anciãos” aprovavam as obras do centurião, Jesus aprovou sua fé. Talvez esteja implícito que, quando a fé e as obras estão mescladas na vida, uma pessoa pode ser altamente estimada tanto por Deus como pelo ser humano. É raro um líder ser estimado igualmente por amigos e inimigos, por pessoas de partidos ou ideais diferentes. É raro um professor ser honrado por seus estudantes, tanto os que recebem notas baixas quanto os bem avaliados. É raro um pastor apreciado por todos os segmentos em sua congregação. Telhado (ARC). Do gr. stege, “uma cobertura”. |
Lc.7:7 | 7. Por isso, eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Digno. Ver com. dos v. Lc.7:4; Lc.7:6. Talvez os cuidados por parte do centurião, que erroneamente pressupôs a atitude de Jesus para com os gentios (ver com. do v. Lc.7:4), é que o impediram de solicitar pessoalmente a boa vontade de Jesus e mesmo de se apresentar diante dEle. No entanto, ele foi até Jesus, e os v. 7 e 8 informam o que ele disse ao Senhor (ver DTN, 316). Com uma palavra. O centurião considerava a ordem de Jesus com relação à cura do servo como suficiente para realizar o que ele pedia. Foi esta atitude que assinalou a extensão de sua fé. Ao contrário do nobre de Cafarnaum, um ano antes, o centurião não exigiu nem esperou por “sinais e maravilhas” para fortalecer sua confiança no poder de Jesus (ver com. de Jo.4:48). Será curado. Como o leproso cuja grande fé o levou a exclamar: “se quiseres, podes purificar-me” (Mt.8:2), o centurião parecia perceber que tudo o que era necessário era Jesus querer que o servo fosse libertado da doença. |
Lc.7:8 | 8. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Também eu. O centurião reconheceu, do que ouviu, que Jesus representava a autoridade e o poder celestiais do mesmo modo que ele, um oficial do exército, representava o poder e a autoridade de Roma. Soldados às minhas ordens. Como o centurião era um representante do governo romano, e prestava obediência às suas ordens, os soldados a seu comando reconheciam sua autoridade e o obedeciam. Ele sabia receber e dar ordens, e via que estas ordens eram cumpridas. Uma palavra de seus superiores assegurava sua obediência, assim como uma palavra dele assegurava a obediência de seus subordinados. Tendo já aprendido a reconhecer o verdadeiro Deus como governante do Céu e da Terra, o centurião então reconhecia a Jesus como o representante de Deus. Ele sabia da cura do filho do nobre, ocorrida no ano anterior (ver Jo.4:46-53), e deve ter ouvido acerca dos muitos milagres que Jesus realizara desde que tornou Cafarnaum no centro de Seu ministério na Galileia. Como no caso do nobre (Jo.4:50), uma palavra de Jesus seria suficiente, e a cura poderia ser realizada à distância. Como no caso do leproso, a pergunta na mente do centurião era se Jesus desejaria atender ao pedido (ver com. de Mc.1:40). O leproso era um pária da sociedade por causa de sua doença. De modo semelhante, o centurião, possivelmente, sentia que não era socialmente aceitável aos judeus por causa de sua condição religiosa. |
Lc.7:9 | 9. Ouvidas estas palavras, admirou-se Jesus dele e, voltando-se para o povo que o acompanhava, disse: Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Admirou-Se. Do gr. thaumazo, “admirar” ou “maravilhar”. A fé do centurião, de que uma palavra de Jesus seria suficiente, era extraordinária em si mesma. O fato de o centurião nunca antes ter visto ou conversado com Jesus tornou sua fé ainda mais notável, principalmente em vista da lentidão dos judeus e mesmo dos próprios discípulos para exercer fé (Mt.6:30; Mt.8:26; Mt.16:8; Mc.4:40; Lc.8:25; Lc.12:28; Lc.17:6). Mas o fato de o centurião ser oficialmente, da perspectiva judaica, um gentio fez sua fé parecer grande, quase inacreditável. Um ano depois, Jesus elogiou a mulher siro-fenícia por sua grande fé (ver Mt.15:28), e ela também pertencia aos gentios (cf. Lc.4:24-27). Povo que O acompanhava. Com toda certeza, esta foi a multidão que ouviu, talvez naquele mesmo dia, o Sermão do Monte (ver com. de Mt.8:1; Lc.7:1). Em caso afirmativo, este milagre confirmaria as palavras de Jesus e deixaria uma vívida impressão na mente do povo. Nem mesmo em Israel. Lucas omite o comentário de Cristo, registrado em Mt.8:11-12, a respeito da grande reunião dos gentios no reino celestial, mas registra uma declaração semelhante em outra ocasião (Lc.13:28-29). Paulo, posteriormente, expressou a mesma verdade de modo semelhante (ver Rm.9:7-8; Rm.11:15; Rm.11:17; Rm.11:25). É digno de nota que nos dois exemplos de cura, realizados a pedido de gentios, o registrado aqui e o da filha da mulher siro-fenícia (Mt.15:21-28), a cura ocorreu, não apenas como recompensa de “grande fé”, mas à distância. Consequentemente, houve pouco contato com os gentios. Talvez isso pode ter sido uma concessão aos preconceitos dos discípulos. Era essencial, no preparo para a obra do evangelho em todo o mundo, que Jesus demonstrasse a eligibilidade dos gentios para compartilhar os benefícios do reino que Ele veio estabelecer, mas não era essencial que o Senhor saísse do caminho desnecessariamente para ofender a sensibilidade judaica pelo contato social com os gentios. Agir diferentemente do que Ele fez teria suscitado o preconceito judaico e dificultado a missão. Um ministro, embora livre de preconceito, pode achar necessário levar em conta os preconceitos dos outros, ao ministrar às pessoas. Fé como esta. Ver com. do v. Lc.7:8. A grande fé do centurião é o clímax da narrativa. O elogio de Cristo a ele pode ser considerado como indicando sua completa conversão, naquele momento ou posteriormente. O fato de que Cristo “não encontrou” fé dessa magnitude, indica um ministério anterior cobrindo um considerável período (ver com. do v. Lc.7:1). |
Lc.7:10 | 10. E, voltando para casa os que foram enviados, encontraram curado o servo. Os que foram enviados. Possivelmente incluindo os “anciãos” e os “amigos”, ou pelo menos os últimos. Eles não precisaram ir muito longe (ver com. do v. Lc.7:6) e puderam verificar o milagre imediatamente. Curado. Do gr. hugiaino, “estar saudável”, um termo médico comum (cf. Lc.5:31; 3Jo.2). Enfermo (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta palavra. |
Lc.7:11 | 11. Em dia subsequente, dirigia-se Jesus a uma cidade chamada Naim, e iam com ele os seus discípulos e numerosa multidão. Em dia subsequente. [A ressurreição do filho da viúva de Naim, Lc.7:11-17. Ver mapa, p. 216; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204-210]. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta e a variante “pouco depois” (ARC). Alguns eruditos consideram que a variante usada pela ARA está mais de acordo com o estilo normalmente empregado por Lucas. Dirigia-Se Jesus. Desta forma começa a segunda grande viagem missionária pelas cidades e vilas da Galileia, possivelmente durante o início do outono de 29 d.C. (ver com. de Mt.4:12; Mt.5:1; Mc.1:39). A segunda viagem começou em Cafarnaum, a sede de Jesus durante Seu ministério na Galileia (ver com. de Mt.4:13), poucos dias depois da escolha dos doze discípulos e da pregação do Sermão do Monte (ver com. de Mt.5:1; Lc.7:1). A primeira viagem foi realizada mais cedo, durante o mesmo verão (ver com. de Mt.4:23; Mc.1:39; Mc.2:1; Lc.4:16). Tendo Jesus formalmente inaugurado o reino da graça divina, com a indicação dos doze (ver com. de Mt.5:1), e tendo proclamado a lei fundamental e o propósito do reino no Sermão do Monte, então empreendeu Sua segunda viagem pela Galileia para demonstrar, por preceito e exemplo, a natureza de Seu reino e a extensão dos benefícios à humanidade. Assim como na primeira viagem (ver com. de Mc.1:39-40), é evidente que apenas os episódios mais significativos e impressivos são registrados pelos evangelhos (cf. Jo.20:30-31; Jo.21:25). A primeira vila mencionada nesta viagem é Naim, embora Jesus possivelmente tenha ministrado às necessidades do povo e ensinado em outras vilas ao longo do caminho. Não se sabe se Ele tomou uma rota direta ou mais sinuosa, embora a última pareça mais provável. Não está claro se essa “muita gente” acompanhou Jesus em Sua viagem além de Naim. Depois do milagre em Naim, chegou o dia do ministério em algum lugar ao longo da costa ocidental do lago da Galileia, durante o qual Cristo proferiu as parábolas registradas em Mt.13. Aquela noite, enquanto Cristo e os discípulos atravessavam o lago, ergueu-se a grande tormenta (ver com. de Mt.8:23-27) e, na manhã seguinte, ocorreu o encontro com os endemoniados gadarenos (ver com. de Mc.5:1-20). Mais tarde, naquele dia, Jesus retornou a Cafarnaum para participar da festa no lar de Mateus (Mc.2:15-17; ver DTN, 342), curou a mulher que tocou na orla de Sua veste e ressuscitou a filha de Jairo (ver com. de Mc.5:21-43). Assim, na segunda viagem, Jesus demonstrou Seu poder sobre a morte, sobre os elementos da natureza e sobre os espíritos maus; e, nas séries de parábolas, estabeleceu os princípios do reino celestial e sua operação entre os seres humanos. Nesta viagem, os doze, como Seus auxiliares, receberam um treinamento de valor inestimável em métodos de evangelismo, um treinamento que logo, na terceira viagem, teriam a oportunidade de colocar em prática. Naim. Esta cidade não é mencionada em outro lugar, seja na Bíblia ou em fontes seculares, mas, normalmente, é identificada com a moderna Nein, nas encostas do norte de uma montanha com vista para a vasta planície de Esdraelom, ao norte. Nein está cerca de 40 km a sudoeste do sítio da antiga Cafarnaum, e 8,5 km a sudeste de Nazaré. Há apenas um acesso à vila, ao longo de um caminho íngreme e rochoso (ver DTN, 318) a leste. Também a leste da vila está um antigo cemitério de tumbas cavadas na rocha, ainda em uso hoje. |
Lc.7:12 | 12. Como se aproximasse da porta da cidade, eis que saía o enterro do filho único de uma viúva; e grande multidão da cidade ia com ela. Como Se Aproximasse. O cemitério local fica 800m a leste de Naim, ao lado da única estrada para a vila (ver com. do v. Lc.7:11). Os túmulos de pedra talhada ainda permanecem ao lado da estrada, a cerca de dez minutos de caminhada. Isso marca a primeira ocasião, na narrativa evangélica, quando o Senhor da vida fica face a face com a morte e triunfa sobre ela. Único. Do gr. monogenes, “único” ou “único de uma espécie” (ver com. de Jo.1:14). Viúva. O fato de a mulher ser viúva e de esse ser seu único filho tornava a situação extremamente comovente. Grande multidão da cidade. Evidentemente, a adversidade extrema da viúva tocou o coração dos moradores, e muitos, se não a maioria, acompanharam-na ao local do enterro. A simpatia deles foi encontrada pela simpatia do grande doador da vida. |
Lc.7:13 | 13. Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores! O Senhor. Este é um dos poucos exemplos em que os evangelhos falam de Jesus como “Senhor”. Compadeceu. O amor e a piedade de Jesus frequentemente são mencionados como motivos para a realização de milagres (ver Mt.14:14; Mt.15:32; Mt.20:34; Mc.1:41; Mc.8:2). Nenhuma solicitação saiu dos lábios da mulher e, tanto quanto se sabe, nenhum pedido se ergueu em seu coração. Mas em simpatia pela humanidade sofredora, Jesus respondeu a oração não pronunciada, assim como Ele o faz frequentemente. Não chores! Ou, “pare de chorar”. A viúva tinha razão suficiente para sua profunda tristeza. No entanto, Jesus estava prestes a dar-lhe motivos para a maior alegria possível, e não era necessário que ela continuasse chorando, a não ser que derramasse lágrimas de alegria. De modo semelhante, antes de ressuscitar Lázaro, Jesus procurou inspirar esperança e confiança nas pessoas envolvidas (ver Jo.11:23-27). |
Lc.7:14 | 14. Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o conduziam, disse: Jovem, eu te mando: levanta-te! Tocou o esquife. O esquife, um caixão aberto com o corpo envolto em linho, era levado à frente do cortejo fúnebre (ver DTN, 318). Nos tempos bíblicos, um “esquife” era feito de vime (ver com. de Mc.6:43). O toque de Jesus no caixão era um sinal, aos que o carregavam, para que parassem. De acordo com a lei de Moisés, qualquer contato com cadáver, mesmo o toque em um esquife, trazia contaminação cerimonial por sete dias (ver com. de Nm.19:11). Mas, para Jesus, que não conhecia o pecado nem a contaminação, e que era a Fonte da vida, não poderia haver contaminação por causa do contato com a morte. Eu te mando. No grego, a palavra “te” é enfática: “A ti Eu digo, levante!” À mãe, Jesus disse apenas “não chore”. Ele tinha o direito de mandar que ela não chorasse mais, porque tinha o poder de repreender a morte, a causa do choro dela. |
Lc.7:15 | 15. Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe. Restituiu. Literalmente, “deu”. Na morte, a mãe viúva perdera seu filho, e ela não tinha meios para reclamá-lo. Então, o doador da vida veio e restaurou o filho à mãe (ver sobre a restauração do filho lunático ao seu pai, em Lc.9:42). |
Lc.7:16 | 16. Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo. Todos ficaram possuídos de temor. Ou, “todos temeram”. Glorificavam a Deus. De acordo com o texto grego, eles continuaram a louvar a Deus. Quando o povo se recobrou do medo, a atitude seguinte foi de louvar a Deus. Grande profeta. Esta experiência lembrou ao povo episódios semelhantes em tempos antigos. Ali estava uma evidência incontestável de poder divino; e o povo concluiu que o agente humano por meio de quem ele foi manifestado deveria ser um “profeta” (ver sobre a promessa messiânica, em Dt.18:15; e a reação dos judeus a João, em Jo.1:21; e, mais tarde, a Jesus, em Jo.6:14; Jo.4:19; Jo.7:40). Todo cristão que lamenta a perda de um ente querido encontra consolo na compaixão que Jesus sentiu pela viúva de Naim (ver com. do v. Lc.7:13), e tem o privilégio do conforto no fato de que o mesmo Jesus ainda “vela ao pé de todo enlutado, à beira de um esquife” (DTN, 319). Aquele que tem nas mãos as chaves da morte e da sepultura (Ap.1:18) um dia quebrará as cadeias que prendem Seus amados e os libertará para sempre das garras do grande inimigo da raça humana (ver 1Co.15:26; 2Tm.1:10). |
Lc.7:17 | 17. Esta notícia a respeito dele divulgou-se por toda a Judeia e por toda a circunvizinhança. Notícia. Ou, “palavra”, “relatório”. As notícias do ocorrido se espalharam por toda a região vizinha. Judeia. Com este termo, Lucas se refere a toda a Palestina, inclusive a Galileia e a Pereia, bem como o que normalmente se conhece como Judeia (ver com. de Lc.1:5). |
Lc.7:18 | 18. Todas estas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, Discípulos de João. [João envia mensageiros a Jesus, Lc.7:18-23 = Mt.11:2-6. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 216]. Perplexos, os discípulos de João contaram a ele os “rumores” de todas as obras maravilhosas de Jesus. A inserção desta declaração neste ponto sugere que foi especificamente o relato da ressurreição do jovem, em Naim, que levou João a enviar alguns de seus discípulos a Jesus para interrogá-Lo (ver v. Lc.7:19). Nesta época, João estava aprisionado por cerca de seis meses, e permaneceria ali por outros seis meses antes de ser executado (ver com. de Mt.4:12; Lc.3:19-20). Dois deles. Literalmente, “certos dois de seus discípulos”. A questão a respeito da messianidade de Jesus se originou com os discípulos de João, não com João (ver DTN, 214, 215). João estava perturbado por causa de eles acalentarem descrença em relação ao testemunho que o próprio João dera de que Jesus era, de fato, o Prometido (ver DTN, 216). Se os discípulos do Batista duvidavam de sua mensagem, como esperar que os outros acreditariam? Havia algumas coisas que João não compreendia, como a verdadeira natureza do reino messiânico e por que Jesus não fez nada para libertá-lo da prisão. No entanto, a despeito das dúvidas o perturbarem, ele não renunciou à sua fé em Jesus como o Cristo (ver DTN, 216; cf. v. Lc.7:24). O desapontamento e a ansiedade perturbavam a mente do prisioneiro solitário, mas ele se absteve de comentar essas perplexidades pessoais com seus discípulos. |
Lc.7:19 | 19. enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? Enviou-os ao Senhor. João enviou os dois homens a Jesus na esperança de que uma entrevista pessoal com Jesus confirmasse a fé desses discípulos, de que eles trariam uma mensagem que fortaleceria a fé dos demais, e que ele receberia uma mensagem pessoal para clarificar seu próprio pensamento. Se João estava na fortaleza de Macaeros, no lado oriental do Mar Morto (ver com. de Lc.3:20), os dois mensageiros possivelmente seguiriam a estrada através do vale do Jordão e, uma vez na Galileia, poderiam facilmente descobrir onde Jesus estaria naquele momento. Eles devem ter caminhado, pelo menos, 120 km em cada direção, e devem ter passado cerca de três dias em cada caminho. Isso significa que levaram pelo menos uma semana completa, contando o dia que passaram com Jesus, porque, sem dúvida, não viajaram no sábado. Es Tu [...]? No grego, a palavra “tu” é enfática. Aquele que estava para vir. Do gr. ho erchomenos, que geralmente era utilizada como uma expressão messiânica, talvez baseada originalmente no Sl.118:26 (ver também Mt.3:11; Mt.21:9; Mc.11:9; Lc.19:38; ver com. de Jo.6:14; Jo.11:27). A expressão ho erchomenos também é utilizada para Cristo com referência à Sua segunda vinda (ver Mt.23:39; Lc.13:35; Hb.10:37; Ap.1:4; Ap.1:8). Deus permite que sobrevenham momentos de perplexidade mesmo a Seus servos mais dignos e confiáveis, a fim de fortalecer sua fé e confiança. Às vezes, quando é necessário para o desenvolvimento do caráter ou para o bem da causa de Deus na terra, Ele os permite passar por experiências que parecem sugerir que os esqueceu. Assim ocorreu com Jesus enquanto pendia na cruz (ver Mt.27:46; DTN, 753, 754) e com Jó (ver Jó.1:21; Jó.13:15). Mesmo Elias, o protótipo de João Batista (ver com. de Ml.4:5; Mt.17:10), teve seus momentos de desencorajamento (ver 1Rs.19:4). A vista disso, pode-se facilmente entender que a experiência de João na prisão por cerca de um ano foi, na misericordiosa providência de Deus, permitida como meio de encorajar os incontáveis milhares de outros que, em anos posteriores, sofreriam o martírio (ver DTN, 224). Sabendo que a fé de João não vacilaria (ver 1Co.10:13), Deus fortaleceu o profeta para suportar. Inabalável até o fim, aprisionado e diante da morte, João permaneceu como “uma lâmpada que ardia e iluminava” (Jo.5:35). Sua força moral e paciência iluminam o escuro caminho dos mártires de Jesus através dos séculos. É apropriado indagar como João conseguiu dizer “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30) e como conseguiu aceitar, sem murmurar, os meses solitários no cárcere e ainda a morte pelas mãos de Herodes. O segredo residia no “toque do amor divino [que] o transformara” (DTN, 179); seu coração era correto. Ele se dispôs a ser fiel à missão, apesar de, em certa medida, não compreender a natureza do reino de Cristo, o que era compartilhado por seus contemporâneos (DTN, 215). Mesmo os discípulos de Jesus, depois da ressurreição, pensavam que Ele estava prestes a estabelecer Seu reino glorioso na Terra (At.1:6; Mt.24:3). Cristo disse aos fariseus: “Não vem o reino de Deus com visível aparência”, “porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc.17:20-21). Quantas vezes a perplexidade se ergue a partir de uma má compreensão da profecia bíblica! As opiniões preconceituosas dos discípulos, a despeito do que o Senhor tentou lhes ensinar, tornou a morte e o sepultamento dEIe em experiências muito amargas (DTN, 412, 772, 796). A experiência dos discípulos pode ser uma lição para que se estude diligentemente as mensagens que Deus envia a respeito do momento de crise que está por vir (GC, 594, 598; TM, 116). Outro. O que Jesus disse e fez (Seus sermões e milagres) não era exatamente o que João esperava. Jesus parecia feliz ao reunir um grupo de discípulos e sair pelo país ensinando e curando as pessoas (ver DTN, 215). João foi atormentado com dúvidas quanto ao fato de Jesus ser o Messias, porque Ele não estava em conformidade com o conceito popular de como seria o Messias e o que ele faria quando chegasse. Seria esta a pergunta de João, reformulada: “Você é a espécie de Messias que esperamos?” |
Lc.7:20 | 20. Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro? Enviou-nos. Os dois mensageiros desconheciam o fato de serem enviados, principalmente, para benefício próprio (ver com. do v. Lc.7:19). João possivelmente também desejava prepará-los para transferirem as afeições e o serviço a Jesus. É certo que esses homens estavam entre os discípulos de Jesus que, cerca de seis meses mais tarde, lançaram sua sorte com Cristo (ver DTN, 361). |
Lc.7:21 | 21. Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. Naquela mesma hora. Os dois mensageiros encontraram Jesus em meio à multidão, em algum lugar na Galileia. Os que sofriam com várias doenças abriam caminho por entre a multidão até onde o Mestre Se encontrava (ver DTN, 216). Cumprimentando os discípulos de João respeitosamente, Jesus evitou responder à pergunta deles e tranquilamente dedicou-Se à obra de curar. O método de Cristo em responder a pergunta formulada pelos dois mensageiros, como todos os Seus demais métodos, é de grande importância aos ministros e professores. Ele poderia ter dado, na ocasião, uma resposta teológica clara e prática, apoiada por diversas citações dos profetas, o que não foi o caso. Havia “um caminho sobremodo excelente” (1Co.12:31) que era, ao mesmo tempo, mais impressivo e com resultados permanentes. É digno de nota que a suprema evidência que Cristo ofereceu de Sua divindade foi a perfeita adaptação de Seu ministério à necessidade dos sofredores e da humanidade perdida (ver DTN, 217; cf. 406, 407). Cristo nem sempre utilizou o método empregado com os discípulos de João. Em ocasião posterior, depois de Sua ressurreição, Ele ocultou Sua identidade aos dois discípulos a caminho de Emaús, para dirigir a visão espiritual deles ao fato de que os eventos ligados à Sua morte e ressurreição cumpriam a profecia. Sua instrução prática nas Escrituras forneceu, nesse exemplo, uma evidência mais forte para que Seus seguidores mantivessem a fé (ver DTN, 799). Os dois mensageiros de João ouviram “rumores” ou “relatos” do ministério de Jesus (v. Lc.7:17-18); então, viram por si mesmos, e não poderiam duvidar da veracidade do que ouviram. O método de Cristo de responder-lhes, também ilustra outro princípio importante do ensino da verdade: Ele apresentou a evidência e deixou que os discípulos de João chegassem às suas próprias conclusões. Ele não dogmatizou nem os pressionou a tomar Sua palavra como uma resposta e declarar que qualquer um que dissesse algo contrário estaria em erro. A mente deles foi deixada completamente livre para julgar a questão, com base no que a profecia dizia que o Messias faria (ver com. do v. Lc.7:22), e o que Ele próprio estava fazendo (v. Lc.7:21). Moléstias, e de flagelos. Ver com. de Mt.4:23; Mc.3:10. Espíritos malignos. É importante notar que Lucas, o médico, distingue cuidadosamente os que estão possuídos por demônios daqueles cuja aflição está limitada ao corpo. Esse fato excluí a possibilidade de ele ter misturado as duas situações, como alguns declararam (ver Lc.6:17-18; Lc.7:2; Lc.8:27-36; ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45). Deu. Do gr. charizomai, “fazer um favor” ou “dar bondosamente”; do radical charis, “graça” ou “favor” (ver com. de Lc.1:30). Quando Jesus restaurou a saúde de outras pessoas, Sua ação não foi superficial ou mecânica; em vez disso, foi uma expressão de simpatia e de Seu grande amor pelas pessoas. |
Lc.7:22 | 22. Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho. Jesus lhes respondeu. Perto do final do dia, Jesus Se dirigiu aos dois homens e disse-lhes para levarem uma mensagem que seria suficiente para responder às perguntas de João e de seus discípulos (ver DTN, 217). Todas as dúvidas foram sanadas, apesar de haver aspectos do reino de Cristo que não foram completamente compreendidos. Anunciai a João. A resposta de Cristo à pergunta dos dois discípulos de João é uma paráfrase de Is.61:1, uma passagem reconhecida pelos judeus dos dias de Cristo como indiscutivelmente messiânica (ver com. de Lc.4:18-21). Não poderia ser dada resposta mais impressiva. Cristo não mencionou o “dia da vingança” em Nazaré ou nesta ocasião (ver Is.61:2; Lc.4:19). Na mensagem dirigida a João, Jesus também não falou nada sobre “liberdade” aos “cativos” (Is.61:1). Tal referência poderia facilmente ser mal compreendida e, talvez, teria avivado uma falsa esperança em João quanto à libertação da prisão. Indicada na resposta de Cristo, estava a explicação silenciosa de que Ele não viera destruir os pecadores (ver Lc.9:56; Jo.3:17; Jo.12:47), mas restaurá-los física, mental e espiritualmente. Ele veio “para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo.10:10). A resposta de Jesus à pergunta de João, “És Tu aquele que estava para vir”?, seria, por assim dizer: “Sim, mas não sou o tipo de Messias que se esperava.” Vistes e ouvistes. Não há melhor testemunho do que o ocular. Cristo tornou os dois mensageiros em testemunhas oculares da obra que Ele estava realizando pela vida das pessoas (cf. Lc.1:2; Jo.1:14; 2Pe.1:16; 1Jo.1:1-2). Aos pobres. O povo comum, os iletrados camponeses e os trabalhadores, recebiam pouca atenção dos arrogantes fariseus e dos eruditos rabinos. A atenção deles, em grande parte, estava reservada para pessoas ricas e influentes. O “povo comum”, de coração aberto e fé simples, era atraído a Cristo e “O ouvia com prazer” (Mc.12:37). Entre os judeus dos dias de Cristo, frequentemente “os pobres” não eram apenas pouco favorecidos quanto aos bens materiais, eram também oprimidos e afligidos pelos homens de poder e influência (ver com. de Mt.5:3; ver p. 43). Evangelho. Ou, “boas-novas” (ver com. de Mc.1:1). |
Lc.7:23 | 23. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço. Bem-aventurado. Ou, “feliz” (ver com. de Mt.5:3). Na graciosa forma de bênção, ainda que em palavras muito claras para João e os discípulos que levaram a mensagem a ele, Jesus deu uma branda repreensão (ver DTN, 218). A bênção, seguida da paráfrase de Is.61:1 (ver com. de Lc.7:22), era tudo o que Cristo diria, pessoalmente, ao profeta aprisionado. Esta bênção foi a resposta de Cristo ao silencioso anseio do coração de João por uma palavra pessoal de conforto e ânimo (ver DTN, 217). Até onde vai o relato dos evangelhos, este foi o último contato entre Jesus e João. Motivo de tropeço. Do gr. skandalizo, “levar a tropeçar”, consequentemente, “escandalizar” (ver com. de Mt.5:29). Muitos judeus do tempo de Cristo “tropeçaram na pedra de tropeço” ou na “rocha de escândalo [do gr. skandalon, um objeto de tropeço]”, que era Jesus (Rm.9:32-33), como o profeta Isaías previu (ver com. de Is.8:14). Ele “veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam” (Jo.1:11; DTN, 30, 213, 391-394). Algumas vezes, até os discípulos de Cristo se “escandalizaram” por causa dEle (ver DTN, 380), e por ter se “escandalizado” acerca de Jesus é que Judas O traiu (DTN, 719). Os discípulos foram “escandalizados” na noite da traição, e todos eles “deixando-O, fugiram” (Mt.26:31; Mt.26:56). |
Lc.7:24 | 24. Tendo-se retirado os mensageiros, passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Passou Jesus. [Jesus dá testemunho de João, Lc.7:24-35 = Mt.11:7-19. Comentário principal: Mt]. |
Lc.7:25 | 25. Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem bem e vivem no luxo assistem nos palácios dos reis. Roupas finas. Isto é, vestido com roupas magníficas. Palácios dos reis. Ou, “palácios”. |
Lc.7:26 | 26. Sim, que saístes a ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta. Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:27 | 27. Este é aquele de quem está escrito: Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:28 | 28. E eu vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele. Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:29 | 29. Todo o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João Todo o povo. Alguns veem os v. 29 e 30 como um comentário de Lucas, em vez de parte do discurso de Cristo sobre João Batista. Uma interpolação desta amplitude, porém, seria incomum para Lucas. Não há razão para Cristo não ter feito esta declaração. Que o ouviu. Isto é, ouviu João Batista. Publicanos. Ver com. de Lc.3:12. Justificaram (ARC). Do gr. dikaioo, significando, neste versículo, “reconheceram a justiça de Deus” (ARA). O povo “justificou a Deus” respondendo à mensagem divina por meio de João Batista. Eles reconheceram que João pregava a verdade e que, como profeta, tinha o direito de lhes fazer algumas exigências. Batizados. Ver com. de Mt.3:6. A aceitação do batismo pelas mãos de João era um reconhecimento público de que Deus falava por meio dele. Batismo de João. Ver com. de Mt.3:6. O batismo cristão foi padronizado pelo batismo de João (ver Jo.3:22-23; Jo.4:1-2). No entanto, a igreja cristã primitiva reconheceu que apenas o batismo de João não era suficiente (ver At.18:25; At.19:1-5). Seu batismo era, essencialmente, um símbolo de arrependimento, por isso era chamado assim (Mc.1:4). O batismo cristão tipifica o arrependimento (At.2:38) e a crença em Jesus Cristo como o Filho de Deus (At.8:36-37), além da recepção do Espírito Santo (At.10:44-48; At.19:1-6). Na verdade, João predisse que Jesus “batizaria” com o Espírito Santo (ver Mt.3:11; At.11:16). Isso não significa que o batismo de João não tinha a aprovação do Espírito Santo. |
Lc.7:30 | 30. mas os fariseus e os intérpretes da Lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele. Fariseus. Ver p. 39, 40. Intérpretes da Lei. Ver com. de Mc.1:22; Mc.2:16. Estes homens eram “doutores da lei”, no sentido de que eram estudantes e expositores da lei judaica. Quanto a si mesmos. Ou, “para si mesmos”, “a respeito de si mesmos”. Desígnio de Deus. A cada grupo que ia a João para ser batizado, o profeta descrevia detalhadamente o que precisava ser feito para produzir “frutos dignos de arrependimento” (ver com. de Mt.3:7-8; Lc.3:10-14). Ainda que alguns líderes religiosos fossem batizados, poucos deles aceitaram o rito pelas mãos de João. Eles recusavam admitir que eram pecadores e que necessitavam de arrependimento (ver com. de Mt.3:6). Uma vez que o batismo de João significava arrependimento, um passo para o qual não sentiam necessidade, os líderes não foram “batizados por ele”. |
Lc.7:31 | 31. A que, pois, compararei os homens da presente geração, e a que são eles semelhantes? E disse o Senhor (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a omissão destas palavras, que ocorrem na Vulgata e em manuscritos gregos posteriores. Sugere-se que a inserção indica que os v. Lc.7:29-30 não foram palavras de Jesus, mas um comentário editorial de Lucas (ver com. do v. Lc.7:29). |
Lc.7:32 | 32. São semelhantes a meninos que, sentados na praça, gritam uns para os outros: Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:33 | 33. Pois veio João Batista, não comendo pão, nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio! Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:34 | 34. Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:35 | 35. Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.7:36 | 36. Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. Um dos fariseus. [A pecadora que ungiu os pés de Jesus, Lc.7:36-50 = Mt.26:6-13 = Mc.14:3-9 = Jo.12:1-9. Comentário principal: Mt e Lc. Ver mapa, p. 221; gráfico, p. 230; Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50]. Jesus curou Simão de lepra (Mt.26:6; DTN, 557); e ele, desejando expressar gratidão, preparou uma festa e chamou a Jesus como convidado de honra. Essa festa ocorreu em Betânia, no dia anterior à entrada triunfal de Cristo em Jerusalém (DTN, 557; cf. 617, 618), menos de uma semana antes da crucifixão. Além disso, Lázaro, que fora ressuscitado havia menos de dois meses, durante a última parte do inverno de 30-31 d.C. (ver com. de Jo.11:1), estava entre os convidados de honra, juntamente com Jesus (DTN, 557). Jesus graciosamente aceitou a hospitalidade do fariseu e do publicano (ver Lc.5:29; Lc.19:5; Lc.11:37; Lc.14:1). Tomou lugar à mesa. Literalmente, “reclinou-se [à mesa]” (ver com. de Mc.2:15). Simão estava de um lado de Jesus, e Lázaro, do outro, quando os convidados se reclinavam para participar da refeição (DTN, 558). |
Lc.7:37 | 37. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento Uma mulher. Maria de Betânia, também conhecida como Maria Madalena (ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50). Alabastro. Uma pedra relativamente macia que pode ser esculpida em forma de copos, caixas, vasos ou frascos. Os antigos frascos de unguentos normalmente eram esculpidos em calcário cinza claro translúcido. Unguento. O “unguento” comum da Palestina era o óleo de oliva ao qual eram acrescentadas especiarias ou outros ingredientes aromáticos. O “unguento” de Maria era um “preciosíssimo” perfume de nardo (ver Mc.14:3; Jo.12:3), possivelmente extraído das perfumadas raízes de Nardostachys jatamansi. Esta planta cresce nas alturas das montanhas do Himalaia e, em tempos antigos, era utilizada como perfume e medicação (ver com. de Ct.1:12). Se o “unguento” de Maria era das montanhas ao norte da índia, não é de admirar que fosse considerado “preciosíssimo” (Jo.12:3; Jo.12:5). Foi estimado em cerca de 300 denários romanos (Mc.14:5; ver p. 37). Deve-se lembrar que esta quantia equivaleria ao salário de 300 dias de trabalho para um trabalhador daquele tempo (ver com. de Mt.20:2). Um presente tão valioso, digno dos monarcas terrestres, representava grande sacrifício pessoal da parte de Maria (ver DTN, 559, 564). |
Lc.7:38 | 38. e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. Estando por detrás, aos Seus pés. Os convidados da festa deveriam remover as sandálias antes de se alimentar e se reclinarem sobre o lado esquerdo nos sofás colocados em três lados da mesa, com o cotovelo esquerdo descansando sobre a mesa, e os pés, na extremidade inferior do sofá, longe da mesa (ver com. de Mc.2:15). Esta disposição tornou relativamente simples para Maria “ungir” os pés de Jesus sem ser observada, até que o aroma do unguento perfumado enchesse a sala. Regava. Literalmente, “molhava” ou “umedecia”. Com suas lágrimas. Maria não planejou derramar lágrimas de alegria e gratidão nos pés de Jesus. Enquanto ela se ajoelhou para aplicar o unguento, as lágrimas correram, apesar de tentar contê-las, e caíram nos pés dEle antes que ela aplicasse o unguento. Com os próprios cabelos. Considerava-se vergonhoso para uma mulher soltar os cabelos em público. No entanto, sem uma toalha para essa necessidade aparentemente imprevista, ela utilizou os cabelos. Beijava-lhe. De acordo com o texto grego, ela beijou várias vezes (ver v. Lc.7:45). Em algumas regiões orientais, tanto hoje como na Antiguidade, o beijo é um modo comum de saudação (ver com. de Mt.26:49). Abraçar os pés de outra pessoa e beijá-los era uma respeitosa e perfeitamente adequada demonstração de muita consideração (ver com. de Mt.28:9). E os ungia. Ver com. de Mt.6:17. Isto é, depois da explosão emocional. |
Lc.7:39 | 39. Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Disse consigo mesmo. Simão estava reclinado próximo a Jesus e seria uma das primeiras pessoas à mesa a sentir o perfume e notar o que estava ocorrendo. Como um anfitrião cortês, nada disse. No entanto, silenciosamente sentenciou a Jesus por permitir o ato de gratidão sem reclamar com a mulher. Profeta. Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a variante “o profeta”, isto é, o Profeta predito por Moisés (ver com. de Dt.18:15; Jo.1:21). Segundo o texto grego, a esta altura, Simão concluiu que Jesus não era um profeta, ou Ele saberia que tipo de mulher era Maria. Qual é. Ou, “que tipo”. Simão não se lembrou de que Jesus conhecia muito bem que “tipo” de mulher era. Maria. Simão sabia pouco sobre o que ocorrera a Maria desde a época em que ele a humilhou (DTN, 566), uma circunstância que tende a confirmar a sugestão (ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:45) de que Maria deixou Betânia para proteger a si e à sua família do constrangimento. |
Lc.7:40 | 40. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. E lhe disse. Isto é, respondendo ao pensamento ou à pergunta silente de Simão. |
Lc.7:41 | 41. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Certo credor. Sobre as parábolas, ver p. 197-204. Isto é, “certo [profissional] emprestador [de dinheiro a juros]”. Esta breve parábola diz respeito à gratidão pelas bênçãos da salvação. Evidentemente, a parábola se baseia no princípio fundamental de que a apreciação de uma pessoa pelas bênçãos recebidas é diretamente proporcional ao senso de necessidade em relação a essas bênçãos. Apenas aquele que chega a sentir seu total desamparo diante de Deus está no estado de espírito correto para apreciar o que Deus faz por ele, quer nas coisas materiais quer nas espirituais. Aquele que não sente a necessidade do auxílio divino confia na capacidade e nos recursos próprios e depende destes para encontrar solução para os problemas que enfrenta. É por essa razão que Deus geralmente permite que Seus filhos terrenos esgotem seus próprios recursos antes de lhes conceder auxílio divino. Se Ele intervem antes que se conscientizem da absoluta incapacidade, eles não apreciam realmente as bênçãos concedidas, seu caráter permanece imperfeito e eles continuam confiando nos próprios meios e habilidades para lidar com os problemas. Assim foi com Simão. Apesar de Jesus tê-lo curado de lepra e ele “desejara mostrar sua gratidão” (ver DTN, 557; Mt.26:6), era uma gratidão de homem para homem, não uma gratidão de homem para com o infinito Deus. O caráter deles “não estava transformado; permaneciam sem mudança seus princípios” (DTN, 557); resumindo, ele não estava convertido. Por isso, o objetivo fundamental de Cristo, ao curar a lepra física, era curá-lo da lepra do pecado, o que ainda não tinha ocorrido. A atitude de Simão para com Jesus foi semelhante à de Nicodemos, reconhecendo que Jesus era “Mestre vindo da parte de Deus”, mas deixando de reconhecer sua necessidade pessoal de “nascer de novo” (ver com. de Jo.3:2-3). Ambos eram, nesse estágio da experiência religiosa pessoal, ouvintes do tipo de solo “rochoso” (ver com. de Mt.13:5). Quinhentos denários. Isto é, 500 denários romanos (ver p. 37), que seriam quase dois quilos de prata. Um denário era o salário de um dia de trabalho (ver com. de Mt.20:2). |
Lc.7:42 | 42. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Não tendo [...] com que pagar. O tamanho do débito não fez diferença quanto à condição financeira dos dois devedores. Ambos eram incapazes de pagar o que deviam. Mas havia uma ampla diferença na apreciação deles quanto ao cancelamento do débito com o credor. O homem com o menor encargo (50 denários) acharia fácil ganhar dinheiro para quitar o débito, ao contrário do outro. O que devia 500 denários romanos (ver com. do v. Lc.7:41) estava tão endividado que tinha pouca esperança de quitação. Para os dois, chegaria a hora de saldar a dívida, e não restaria alternativa a não ser a escravidão (ver com. de Mt.18:25). |
Lc.7:43 | 43. Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. Suponho. A resposta era óbvia, como foi o caso de muitas das parábolas e lições de Jesus. Em alguns exemplos, aqueles a quem foram dirigidos estavam relutantes e, em outros, prontos para reconhecer a lição tão claramente demonstrada (Mt.21:31; Mt.21:41; Mt.21:45; Lc.10:36-37). A quem mais perdoou. Ver com. do v. Lc.7:42. Simão pronunciou julgamento sobre si mesmo. Com tato, o Salvador levou o orgulhoso fariseu a perceber que seu pecado, a sedução de Maria, era maior do que o pecado dela, assim como 500 denários valiam mais que 50 (DTN, 566, 567). |
Lc.7:44 | 44. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Voltando-se para a mulher. Apesar de Cristo se voltar para Maria enquanto falava, Suas palavras eram dirigidas a Simão. Esse fato pode indicar que Jesus queria dizer que Sua declaração era uma repreensão a Simão e uma expressão de gratidão a Maria pela bondade praticada. Essa homenagem teve mais significado para Maria do que uma palavra dita a ela sozinha mais tarde, porque Jesus a honrou na presença de outros que consideravam ter razão válida para desprezá-la e ignorá-la. Não Me deste água. Segundo o texto grego, em cada caso: a água (v. 44), o beijo (v. Lc.7:45) e o óleo (v. Lc.7:46), a palavra em si ocupa o primeiro lugar para enfatizar, como “água não me destes”, etc. Não se sabe por que Simão não forneceu água a seus convidados. É duvidoso que ele convidasse um grupo de pessoas para compartilhar a hospitalidade de seu lar e de sua mesa e negasse a elas essas atenções menores. Parece, em vez disto, que o contraste que Cristo delineia, neste versículo, entre Simão e Maria não é tanto de um dever omitido e de um dever realizado, mas um favor negligenciado e um favor concedido. Simão foi hospitaleiro, mas poderia fazer mais do que isso. A atitude de gratidão de Maria foi tomada, não como obrigação, mas como expressão de um coração transbordante de amor e devoção. |
Lc.7:45 | 45. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não cessa. Do gr. dialeipo, “ser intermitente”. Isto denota repetição em vez de ação contínua. |
Lc.7:46 | 46. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. Óleo. Do gr. elaion, normalmente “óleo de oliva”. Simão não ungiu Jesus nem com o óleo mais comum da Palestina. Em contrapartida, Maria utilizou “unguento”, muron, o mais caro que o dinheiro poderia comprar (ver com. do v. Lc.7:37). Este contraste se refletiu na atitude do coração de cada um deles. A hospitalidade de Simão era insignificante comparada à gratidão ilimitada de Maria. |
Lc.7:47 | 47. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Perdoados. O amor a Cristo leva ao perdão, pois o amor por Ele induz à contrição e à confissão. O amor que Maria sentia por Cristo era resultado do perdão já concedido a ela antes desta ocasião (ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:45). Simão amava pouco a Cristo, pois seus pecados não foram perdoados. Como Nicodemos (ver com. de Jo.3:3-7), ele não se considerava um pecador em necessidade do perdão divino. |
Lc.7:48 | 48. Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Perdoados são. Literalmente, “foram perdoados”. Maria já havia recebido o perdão pelos seus pecados. |
Lc.7:49 | 49. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Até. Do gr. kai, “e”, “também”. Neste versículo, “até”. |
Lc.7:50 | 50. Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz. A tua fé te salvou. A fé sempre deve se erguer para requerer as bênçãos do perdão, porque “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11:6). Um senso de necessidade e de dependência de Cristo deve acompanhar a fé (ver com. de Ml.5:3; Lc.5:8). NOTA ADICIONAL A LUCAS 7. Muitos comentaristas acreditam que o episódio relatado em Lucas 7 não deveria ser identificado com a festa mencionada pelos outros evangelhos. Algumas das razões mais importantes para essa ideia, são: (1) a dúvida de que Maria de Betânia tenha sido a personagem descrita por Lucas, uma vez que o que é registrado em outras partes dos evangelhos a respeito de Maria de Betânia parece contrariar tal identificação; (2) a suspeita de que um fariseu, que vivesse a apenas três quilômetros de Jerusalém, a menos de uma semana da crucifixão, hospedasse Jesus publicamente, quando ele mesmo duvidava da messianidade de Jesus; e (3) as aparentemente irreconciliáveis diferenças entre o relato em Lucas e dos outros evangelhos que pesariam mais que os pontos de semelhança. Essas dificuldades, deve-se admitir, não podem ser ignoradas. Entretanto, nenhuma conclusão baseada nelas é tão convincente quanto aparenta à primeira vista. Pode-se ver isso nas considerações a seguir: 1. João identifica Maria, a irmã de Marta e Lázaro, como aquela que ungiu os pés de Jesus, e seu relato do episódio é, evidentemente, paralelo ao de Mateus e Marcos que, como Lucas, não a mencionam pelo nome. Pode ser que a mulher, uma cristã devota, ainda fosse viva quando os evangelhos sinóticos foram escritos. Os três evangelistas sinóticos, apesar de entender que a narrativa deveria ser incluída no relato evangélico, podem ter decidido, por ética cristã, não mencionar o nome dela. João, no entanto, pode não ter tido essa preocupação, visto que escreveu seu evangelho várias décadas mais tarde (ver p. 168, 169) e, desta forma, muitos anos depois da morte da mulher. É importante notar que João, o único a mencionar Maria, é também o único a omitir o nome de Simão. Lucas (Lc.10:39; Lc.10:42) e João (Jo.11:1-2; Jo.11:19-20; Jo.11:28; Jo.11:31-32; Jo.11:45; Jo.12:3) mencionam e identificam uma Maria de Betânia. Maria, conhecida como Maria Madalena (possivelmente “de Magdala”, uma cidade no litoral oeste do Mar da Galileia [ver Mt.15:39; DTN, 405]), é listada entre as mulheres que acompanhavam Jesus na segunda viagem à Galileia (ver Lc.8:1-3) e mencionada pelos quatro evangelhos em ligação com a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus (Mt.27:56; Mt.27:61; Mt.28:1; Mc.15:40; Mc.15:47; Mc.16:1; Mc.16:9; Lc.24:10; Jo.19:25; Jo.20:1; Jo.20:11; Jo.20:16; Jo.20:18). Algum tempo antes da segunda viagem à Galileia, Jesus expulsou sete demônios dela (Lc.8:2; Mc.16:9). Se Maria de Betânia deixou o lar em resultado de sua vida vergonhosa, ela teria encontrado um lar em Magdala, talvez com amigos e parentes que vivessem ali. A maioria dos registros de episódios do ministério de Jesus na Galileia ocorreu nas proximidades da planície de Genesaré, onde Magdala estava localizada, e pode ser que, numa das primeiras visitas de Jesus a Magdala, Ele a tenha libertado da possessão demoníaca. Depois de acompanhar Jesus na segunda viagem à Galileia, ela teria retornado transformada a Betânia, e feito dali seu lar novamente. Esta possibilidade não prova que Maria de Betânia e Maria de Magdala sejam a mesma pessoa, entretanto, mostra como isso poderia ter acontecido, toda a informação sobre o tema, apresentada no relato evangélico, pode ser facilmente compreendida em harmonia com essa explicação. 2. Não é válido o argumento que, próximo ao final de Seu ministério, Jesus não tivesse amigos entre os líderes de Israel. Nicodemos, “um dos principais dos judeus” (Jo.3:1), ousadamente assumiu partido ao lado de Jesus num concilio de sumos sacerdotes e fariseus (ver Jo.7:45-53). Sua influência nessa ocasião (a Festa dos Tabernáculos, 30 d.C., aproximadamente seis meses antes da crucifixão) é evidente pelo fato de que seu conselho prevaleceu, e o grupo se dispersou sem realizar seu objetivo (ver Jo.7:53; DTN, 460). Na crucifixão, quando as pessoas temiam ser conhecidas como seguidoras de Jesus, quando “os discípulos todos, deixando-O, fugiram” (Mt.26:56) e quando Pedro, Seu defensor mais fervoroso, O negou repetidamente (Mt.26:69-75), José de Arimateia, outro “honrado” membro do conselho (ver com. de Mc.15:43), publicamente providenciou um local para sepultar Jesus e, com Nicodemos, abertamente supervisionou o enterro (ver Mt.27:57-60; Jo.19:38-40). Muitos “homens influentes” creram em Jesus nesse momento, mas não O “confessavam” por temer a excomunhão (Jo.12:42; ver DTN, 539, 699). Contudo, depois da ressurreição, muitos deles se tornaram cristãos (ver At.6:7). 3. Os supostos pontos de diferença entre os vários relatos não são tão grandes como aparentam nem tornam os relatos mutuamente excludentes. Apenas Lucas menciona o anfitrião de Jesus, nessa ocasião, como um fariseu. No entanto, isso não é de se estranhar, porque havia muitos fariseus, e foi uma questão de escolha por parte do escritor identificar um homem com um fariseu. Somente Lucas cita outras duas ocasiões em que Cristo jantou no lar de um fariseu (Lc.11:37; Lc.14:1). Evidentemente, Lucas considerou a associação de Cristo com os fariseus numa base social e amigável como um fato digno de observação, o que explicaria a descrição do anfitrião como um fariseu. Não é de estranhar que Lucas se detenha sobre a reação de Simão ao acontecimento, enquanto os outros evangelhos nada declaram sobre esse aspecto, enfatizando apenas a reação de Judas. Se Lucas tinha um motivo para introduzir a narrativa nesse ponto do relato, em vez de colocá-la no final do ministério de Cristo, como o fazem os demais, ele dificilmente relataria a atitude de Judas e a lição que Cristo procurou lhe ensinar; agir dessa forma seria inadequado a essa altura dos acontecimentos. Isso teria mostrado Judas num papel que ele ainda não tinha assumido abertamente; e o relato, como apresentado pelos outros três evangelhos num momento posterior da narrativa deles, apenas confundiria o leitor de Lucas no momento em que ele insere a história (ver p. 178, 180). Supondo que a festa no lar de um fariseu, que Lucas registra, seja idêntica à festa no lar de Simão, em Betânia, duas perguntas exigem resposta: (1) por que Lucas inseriu a história tão cedo em sua narrativa, tão distante da configuração cronológica real? (2) Porque seu relato é tão diferente dos outros três evangelhos em alguns aspectos importantes? O contexto em Lucas fornece uma resposta convincente e plenamente satisfatória a essas perguntas. Lucas escreve, principalmente, a cristãos gentios não palestinos (ver p. 727, 728). Tendo mencionado constantemente a oposição dos líderes judeus a Cristo (Lc.5:17; Lc.5:21; Lc.5:30; Lc.5:33; Lc.6:2; Lc.6:7; Lc.6:11), Lucas temia que leitores gentios entendidos questionassem: Como se esperaria crer em Cristo se todos os líderes de Sua própria nação, os mais qualificados a avaliar Suas reivindicações, O rejeitavam? Isso possivelmente explique por que apenas Lucas, entre os quatro evangelhos, mencionou três ocasiões específicas em que Jesus jantou no lar de um fariseu (Lc.7:36; Lc.11:37; Lc.14:1), bem como outros exemplos de aparente simpatia entre Jesus e alguns líderes judeus (ver com. de Lc.7:3). O contexto imediato do relato de Lucas sobre a festa na casa de Simão esclarece o motivo pelo qual ele inseriu a história nesse ponto da narrativa. Ele acabara de registrar que os líderes rejeitaram a mensagem de João Batista e de Jesus (ver v. Lc.7:30-35), nem todos os líderes, mas a grande maioria. Para esse fim, nesse exato ponto de sua narrativa de Cristo, Lucas estaria mais propenso a destacar que alguns dos líderes eram simpáticos a Ele. Além disso, é neste mesmo capítulo que Lucas relata a mediação cordial de alguns “anciãos dos judeus” (v. Lc.7:3). Imediatamente depois desse episódio, Lucas apresenta as circunstâncias que antecederam a própria confissão de Cristo de que os líderes de Israel rejeitaram a João e a Cristo (v. Lc.7:11-35). A simpatia de alguns dos líderes mencionados imediatamente antes e depois dos v. Lc.7:11-35 pode ter sido planejada por Lucas para dissipar qualquer suspeita por parte de seus leitores de que Cristo poderia não ser o Messias porque Sua própria nação O rejeitara. Partindo do pressuposto de que por essa razão Lucas inseriu o relato da festa de Simão nesse momento inicial da narrativa do evangelho, e não em sua configuração cronológica real, torna-se claro o motivo para a grande diferença entre o relato de Lucas e o dos outros três evangelistas. Assim, não há ocasião no relato de Lucas para a reação de Judas nem para as referências à iminente morte de Cristo. O tema principal era a atitude de Simão como um dos líderes de Israel. Para os outros três evangelistas, é a atitude de Judas que tem importância no contexto em que eles narram o evento. O relato da reação de Judas e o da reação de Simão não são mutuamente excludentes, mas complementares, e não se contradizem, mesmo que os dois fossem apresentados por um ou mais dos evangelhos. A festa na casa de Simão, narrada por Lucas, é claramente identificada, em O Desejado de Todas as Nações, com a festa no lar de Simão, em Betânia, como o fazem os outros evangelhos (DTN, 557-563). Simão, de Betânia, também é identificado com o Simão da narrativa de Lucas (DTN, 557, 558, 566). Além disso, a mulher anônima do relato de Lucas é identificada com Maria, de Betânia (DTN, 558-560, 566) e com Maria Madalena, de quem Jesus expeliu sete demônios (DTN, 568). Ainda, o próprio Simão é declarado ser aquele que levara Maria ao pecado algum tempo antes (DTN, 566). Simão já professava fé em Jesus como profeta, reconheceu-O como mestre enviado de Deus e esperava que Ele fosse o Messias (DTN, 557; cf. Jo.3:1-2). No entanto, ele ainda não O tinha aceitado como Salvador, e esse acontecimento se tornou um momento decisivo para sua salvação (DTN, 567, 568). |
Lc.8:1 | 1. Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, Depois disto. [As mulheres que assistiam Jesus, Lc.8:1-3 = Mt.9:35. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 216; gráfico, p. 228]. Do gr. kathexes, “um após o outro” ou “consecutivamente” (ver com. de Lc.1:3). Neste versículo, o escritor não se refere à narrativa de Lc.7:36-50 como anterior ao que ele está prestes a relatar, mas a seu relato do ministério na Galileia iniciado em Lc.4:14. Os v. 1 a 3 deste cap. 8 descrevem toda a segunda viagem à Galileia, um evento que já tinha sido relatado (Lc.7:11-17), e o aborda de modo geral (sobre os eventos ligados à segunda viagem à Galileia, ver com. de Mt.5:1; Lc.7:11). A segunda viagem à Galileia ocupou a maior parte, senão todo o início do outono de 29 d.C. Andava. Do gr. diodeuo, “viajar através de”. De cidade em cidade e de aldeia em aldeia. Havia mais de 200 cidades, vilas e vilarejos na Galileia, e seria difícil, se não impossível, visitar todas elas, mesmo que brevemente, durante as poucas semanas dedicadas a esse itinerário missionário. Anunciando o evangelho. Ver com. de Mc.1:1; Lc.1:19. Reino de Deus. Ver com. de Mt.3:2; Mt.4:17. Durante a primeira parte do ministério na Galileia, Jesus proclamou: “Está próximo o reino dos céus” (ver Mt.4:17; Mc.1:15). No entanto, entre a primeira e a segunda viagem, Ele estabeleceu Seu reino formalmente (ver com. de Mt.5:1; Mc.3:13). Então, Ele saía para proclamar o estabelecimento do reino e para demonstrar seus benefícios às pessoas (ver com. de Lc.7:11). Os doze. Na primeira viagem à Galileia, Jesus levou todos os discípulos com Ele (ver com. de Mc.1:39); na terceira viagem, Ele os enviou de dois em dois e saiu com outros discípulos (ver com. de Mt.9:36). |
Lc.8:2 | 2. e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios Algumas mulheres. Uma das características do evangelho de Lucas são as frequentes referências ao ministério de Cristo para com as mulheres da Palestina e a atuação de algumas delas em Seu favor. Essa situação era uma novidade, porque o papel da mulher judia na vida pública era pouco significativo, embora em exemplos isolados, profetas como Eliseu tenham servido a mulheres e tenham sido auxiliados por elas. Lucas é o único evangelista a registrar muitos dos detalhes do início da vida de Jesus e, geralmente, ele o faz do ponto de vista das mulheres mais preocupadas: Maria, Isabel e Ana. Em outras situações, ele menciona também a viúva de Naim, a mulher na festa de Simão, as mulheres citadas neste versículo, Marta e certa mulher incapacitada, bem como a filha de Jairo e a mulher inválida curada na mesma ocasião. No livro de Atos, ele menciona Safira, Priscila, Drusila, Berenice, Tabita, Roda, Lídia e várias outras mulheres. É como se Lucas dissesse que o evangelho do reino dos céus era para homens e mulheres, e que a parte delas na proclamação era tão importante quanto a dos homens. Nos movimentos de caráter estritamente religioso, como o dos fariseus, saduceus e outros, as mulheres parecem não ter desempenhado papel algum. Elas não receberam nem transmitiram nenhum benefício direto. Com a segunda viagem à Galileia, o alcance do ministério de Cristo expandiu-se rapidamente, e o grupo de pessoas que então O acompanhava cresceu muito em comparação com o grupo que esteve na primeira viagem. Essa situação envolveu gastos e trabalho consideráveis, a fim de prover alimento e manter as roupas limpas e restauradas. Cristo nunca realizou milagres em benefício próprio (ver com. de Mt.4:6); agir dessa forma seria contrário ao Seu propósito. No que concerne às necessidades materiais, Jesus e os discípulos mantinham o princípio de que “digno é o trabalhador do seu alimento” (Mt.10:10). Além disso, as multidões que se aglomeravam em torno de Jesus e dos discípulos nesses meses de grande expectativa geralmente lhes davam pouco ou nenhum tempo para se alimentarem ou para dormir (ver Mc.3:7-12; Mc.3:20). Às vezes, o Salvador achava necessário Se esconder das multidões (ver Mc.1:45; Mc.4:36; Mc.6:31) para descansar. Essas várias circunstâncias criaram uma oportunidade para as mulheres que passaram a crer em Cristo e assisti-Lo em Sua obra. Haviam sido curadas. Isto é, antes da segunda viagem à Galileia. Espíritos malignos. Maria Madalena, dentre outras, foi libertada de demônios. Enfermidades. Do gr. astheneiai, “fraquezas”, “debilidades”, “doenças”. Maria, chamada Madalena. Ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:45. As narrativas sinóticas sempre mencionam Maria Madalena em primeiro lugar, quando seu nome é alistado junto a outras mulheres (ver Mt.27:56; Mt.27:61; Mt.28:1; Mc.15:40; Mc.15:47; Mc.16:1; Lc.24:10). Esse fato testifica da intensa devoção dela a Jesus. A gratidão de Maria Madalena não era apenas emocional (ver com. de Lc.7:38; Lc.7:44), mas intensamente prática. Esta Maria é chamada Madalena para distingui-la de outras Marias. O nome Maria ocorre frequentemente no NT e deriva-se do nome hebraico “Miriã”, no AT (ver com. de Mt.1:16). A designação Madalena possivelmente indique que Maria vivia na cidade de Magdala (ver com. de Mt.15:39) quando Cristo a encontrou e libertou do poder dos demônios. |
Lc.8:3 | 3. e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens. Joana. Nada se sabe desta mulher além do que é mencionado neste versículo e em Lc.24:10, em que seu nome ocorre novamente junto ao de Maria Madalena. Sendo esposa do procurador de Herodes, ela deve ter sido uma pessoa rica e influente. Cuza. Nada mais se sabe sobre este homem. Um procurador mantinha posição importante na família a qual ele servia (ver com. de Mt.20:8). Suzana. O nome significa “lírio”. Nada mais se sabe sobre esta mulher. Os hebreus ocasionalmente escolhiam nomes de flores e árvores para suas filhas. As quais lhe prestavam assistência. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “lhes prestavam”, incluindo, assim, os discípulos, principalmente os doze (v. Lc.8:1), além de Jesus. Com seus bens. Isto é, “as coisas que lhes pertenciam”. Jesus e Seus discípulos mantinham os recursos numa bolsa comum (ver com. de Jo.13:29; Lc.12:6), e parece que essas discípulas ajudavam a evitar que a bolsa ficasse vazia. Pode-se dizer que esse grupo de mulheres devotas constituiu a primeira sociedade missionária feminina da igreja cristã. |
Lc.8:4 | 4. Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus por parábola: Afluindo uma grande multidão. [A parábola do semeador, Lc.8:4-15 = Mt.13:1-23 = Mc.4:1-20. Comentário principal: Mt]. |
Lc.8:5 | 5. Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:6 | 6. Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de umidade. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:7 | 7. Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:8 | 8. Outra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um. Dizendo isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:9 | 9. E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta? Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:10 | 10. Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:11 | 11. Este é o sentido da parábola: a semente é a palavra de Deus. A palavra de Deus. Isto é, a palavra que vem de Deus, ou a palavra dita por Deus. |
Lc.8:12 | 12. A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:13 | 13. A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, creem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:14 | 14. A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:15 | 15. A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:16 | 16. Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Acender uma candeia. [A parábola da candeia, Lc.8:16-18 = Mc.4:21-25]. Ver com. de Mt.5:14-16. Apenas Marcos e Lucas registram esta parábola como parte do sermão à beira-mar (Lc.8:4-18; Mc.4:1-34). Possivelmente, o motivo de Mateus não incluí-la, seja que ele já tinha mencionado o uso do mesmo tema por Cristo como parte do Sermão do Monte (ver Mt.5:14-16). Mais tarde, Lucas repete a parábola de Cristo, essencialmente a mesma (ver Lc.11:33), com uma aplicação diferente das duas apresentações anteriores do tema. Certas lições registradas aqui por Lucas também foram repetidas por Cristo em outras ocasiões (ver com. de Lc.8:17-18). |
Lc.8:17 | 17. Nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado. Nada há oculto. Ver Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:22. A lição que Cristo tira da parábola da candeia difere da lição extraída com relação ao mesmo tema no Sermão do Monte. Aqui, Cristo é o portador da luz do triunfo para dispersar as trevas da mente das pessoas em relação a Deus e ao reino dos céus (ver com. de Mt.13:11). Não há “mistério” ou “segredo” importante para a salvação que esteja escondido daqueles que “prestam atenção” e “ouvem” (Lc.8:18). |
Lc.8:18 | 18. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, se lhe dará; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado. Vede. Ver com. de Mt.11:15; Mt.13:13. Ao que tiver. Ver com. de Mt.13:12; ver também Mt.25:29; Mc.4:25; Lc.6:38; Lc.19:26. A verdade declarada neste versículo é explanada por Cristo em várias ocasiões, no início e no final de Seu ministério. |
Lc.8:19 | 19. Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos e não podiam aproximar-se por causa da concorrência de povo. Vieram ter com Ele. [A família de Jesus, Lc.8:19-21 = Mt.12:46-50 = Mc.3:31-35. Comentário principal: Mt]. |
Lc.8:20 | 20. E lhe comunicaram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:21 | 21. Ele, porém, lhes respondeu: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:22 | 22. Aconteceu que, num daqueles dias, entrou ele num barco em companhia dos seus discípulos e disse-lhes: Passemos para a outra margem do lago; e partiram. Num daqueles dias. [Jesus acalma uma tempestade, Lc.8:22-25 = Mt.8:23-27 = Mc.4:35-41. Comentário principal: Mt]. |
Lc.8:23 | 23. Enquanto navegavam, ele adormeceu. E sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o perigo de soçobrar. Sobreveio uma tempestade. Ver com. Mc.4:37. |
Lc.8:24 | 24. Chegando-se a ele, despertaram-no dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo! Despertando-se Jesus, repreendeu o vento e a fúria da água. Tudo cessou, e veio a bonança. Mestre. Do gr. epistates (ver com. de Lc.5:5). |
Lc.8:25 | 25. Então, lhes disse: Onde está a vossa fé? Eles, possuídos de temor e admiração, diziam uns aos outros: Quem é este que até aos ventos e às ondas repreende, e lhe obedecem? Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:26 | 26. Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galileia. Os gerasenos. [A cura do endemoniado geraseno; Os gerasenos rejeitam a Jesus, Lc.8:26-39 = Mt.8:28-34 = Mc.5:1-20. Comentário principal: Mc]. |
Lc.8:27 | 27. Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:28 | 28. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:29 | 29. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:30 | 30. Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:31 | 31. Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo. Abismo. Do gr. abussos, “um abismo” (ver com. de Mc.5:10). |
Lc.8:32 | 32. Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:33 | 33. Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:34 | 34. Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:35 | 35. Então, saiu o povo para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato, acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:36 | 36. E algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o endemoninhado. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:37 | 37. Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:38 | 38. O homem de quem tinham saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo: Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:39 | 39. Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:40 | 40. Ao regressar Jesus, a multidão o recebeu com alegria, porque todos o estavam esperando. Ao regressar Jesus. [O pedido de Jairo; A cura de uma mulher enferma; A ressurreição da filha de Jairo, Lc.8:40-56 = Mt.9:18-25 = Mc.5:21-43. Comentário principal: Mc]. |
Lc.8:41 | 41. Eis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga, e, prostrando-se aos pés de Jesus, lhe suplicou que chegasse até a sua casa. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:42 | 42. Pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte. Filha única. Do gr. monogenes, “único” (ver com. de Jo.1:14; cf. com. de Lc.1:35). É digno de nota que dois dentre três exemplos do uso que Lucas faz de monogenes estejam relacionados com casos de ressurreição: o filho da viúva de Naim (ver com. de Lc.7:12) e a filha de Jairo. O terceiro exemplo de monogenes em Lucas está ligado à cura do jovem possesso (ver Lc.9:38). Na mente de um oriental, um filho único ou filha única é a única chance de se preservar o nome da família; e, assim, é portador de grande responsabilidade. A morte desse filho ou filha era vista como especialmente trágica. Os israelitas consideravam esse acontecimento como uma tragédia para a família, que se extinguiria (ver com. de Dt.25:6). |
Lc.8:43 | 43. Certa mulher que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia, e a quem ninguém tinha podido curar [e que gastara com os médicos todos os seus haveres], Gastara [...] os seus haveres. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta frase. Alguns concluíram que a ética profissional de Lucas, como médico, o levou a evitar o que Marcos relatou, a saber, que os médicos pioraram o caso em vez de melhorá-lo (ver Mc.5:26). |
Lc.8:44 | 44. veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste, e logo se lhe estancou a hemorragia. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:45 | 45. Mas Jesus disse: Quem me tocou? Como todos negassem, Pedro [com seus companheiros] disse: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem [e dizes: Quem me tocou?]. E dizes: Quem Me tocou? Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras. Elas ocorrem na Vulgata latina e foram transferidas para a ARA (entre colchetes). |
Lc.8:46 | 46. Contudo, Jesus insistiu: Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:47 | 47. Vendo a mulher que não podia ocultar-se, aproximou-se trêmula e, prostrando-se diante dele, declarou, à vista de todo o povo, a causa por que lhe havia tocado e como imediatamente fora curada. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:48 | 48. Então, lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:49 | 49. Falava ele ainda, quando veio uma pessoa da casa do chefe da sinagoga, dizendo: Tua filha já está morta, não incomodes mais o Mestre. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:50 | 50. Mas Jesus, ouvindo isto, lhe disse: Não temas, crê somente, e ela será salva. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:51 | 51. Tendo chegado à casa, a ninguém permitiu que entrasse com ele, senão Pedro, João, Tiago e bem assim o pai e a mãe da menina. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:52 | 52. E todos choravam e a pranteavam. Mas ele disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:53 | 53. E riam-se dele, porque sabiam que ela estava morta. Sem comentário para este versículo. |
Lc.8:54 | 54. Entretanto, ele, tomando-a pela mão, disse-lhe, em voz alta: Menina, levanta-te! Pondo-os todos fora (ACF). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras. No entanto, a autenticidade delas em Mc.5:40 é indiscutível. |
Lc.8:55 | 55. Voltou-lhe o espírito, ela imediatamente se levantou, e ele mandou que lhe dessem de comer. Espírito. Do gr. pneuma, “vento”, “sopro”, “espírito”, da raiz pneo, “soprar” ou “respirar”. Todo uso da palavra para designar seres possuidores de inteligência é uma figura de linguagem conhecida como sinédoque, por meio da qual uma coisa é mencionada por nomear uma de suas partes, normalmente a parte que lhe é mais característica. Nada há inerente a pneuma para que seja entendida como entidade supostamente consciente capaz de existir separadamente do corpo. O uso da palavra em relação ao ser humano no NT não indica tal conceito. Esse conceito está baseado exclusivamente nas opiniões preconcebidas dos que, a priori, creem que a entidade consciente sobrevive ao corpo, na morte, e que impõem essa opinião preconcebida a palavras como “espírito” e “alma”. A palavra equivalente a pneuma no AT é a heb. ruach (ver com. de Nm.5:14). |
Lc.8:56 | 56. Seus pais ficaram maravilhados, mas ele lhes advertiu que a ninguém contassem o que havia acontecido. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:1 | 1. Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. Convocado os doze. [As instruções para os doze, Lc.9:1-6 = Mt.10:1; Mt.10:5-15 = Mc.6:7-13. Comentário principal: Mt]. Sobre a escolha dos doze, ver com. de Mc.3:13-19. |
Lc.9:2 | 2. Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:3 | 3. E disse-lhes: Nada leveis para o caminho: nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem deveis ter duas túnicas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:4 | 4. Na casa em que entrardes, ali permanecei e dali saireis. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:5 | 5. E onde quer que não vos receberem, ao sairdes daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:6 | 6. Então, saindo, percorriam todas as aldeias, anunciando o evangelho e efetuando curas por toda parte. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:7 | 7. Ora, o tetrarca Herodes soube de tudo o que se passava e ficou perplexo, porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos O tetrarca Herodes. [Herodes e João Batista, Lc.9:7-9 = Mt.14:1-12 = Mc.6:14-29. Comentário principal: Mc]. Perplexo. Do gr. diaporeo, “estar completamente perdido” (cf. com. de Mc.6:20). |
Lc.9:8 | 8. outros: Elias apareceu; e outros: Ressurgiu um dos antigos profetas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:9 | 9. Herodes, porém, disse: Eu mandei decapitar a João; quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais coisas? E se esforçava por vê-lo. Eu mandei decapitar a João. Ver Mc.6:17-29. E se esforçava por vê-Lo. Literalmente, “procurava vê-Lo”. Era mais que um desejo, por parte de Herodes; ele realmente procurava uma oportunidade adequada para ter uma entrevista com Jesus sem, como ele pressentia, comprometer sua dignidade como rei. Herodes parece que teve esse tipo de entrevista com João Batista (ver DTN, 214, 222, 223) e, evidentemente, não via motivo para não ter uma entrevista com Jesus. No entanto, como Nicodemos (ver DTN, 168), Herodes entendia que seria humilhante a alguém de sua alta posição ir a Jesus abertamente. Poderia parecer que ele estava levando a sério as afirmações de Jesus e que procurava conselho dEle. Herodes sabia como Herodias reagiria a esse tipo de comentário. Por fim, ele teve uma oportunidade de ver Jesus face a face (ver Lc.23:8), mas então o orgulho ferido voltou-o contra o Salvador. |
Lc.9:10 | 10. Ao regressarem, os apóstolos relataram a Jesus tudo o que tinham feito. E, levando-os consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida. Ao regressarem. [A primeira multiplicação de pães e peixes, Lc.9:10-17 = Mt.14:13-21 = Mc.6:30-44 = Jo.6:1-13. Comentário principal: Mc]. |
Lc.9:11 | 11. Mas as multidões, ao saberem, seguiram-no. Acolhendo-as, falava-lhes a respeito do reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:12 | 12. Mas o dia começava a declinar. Então, se aproximaram os doze e lhe disseram: Despede a multidão, para que, indo às aldeias e campos circunvizinhos, se hospedem e achem alimento; pois estamos aqui em lugar deserto. Declinar. Do gr. klino, “dobrar”, “prostrar-se”, “inclinar-se” (ver com. de Mc.2:15). Palavras como “declinar”, “inclinar”, “reclinar” e “clínica” são derivadas de klino. |
Lc.9:13 | 13. Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Responderam eles: Não temos mais que cinco pães e dois peixes, salvo se nós mesmos formos comprar comida para todo este povo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:14 | 14. Porque estavam ali cerca de cinco mil homens. Então, disse aos seus discípulos: Fazei-os sentar-se em grupos de cinquenta. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:15 | 15. Eles atenderam, acomodando a todos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:16 | 16. E, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos discípulos para que os distribuíssem entre o povo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:17 | 17. Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:18 | 18. Estando ele orando à parte, achavam-se presentes os discípulos, a quem perguntou: Quem dizem as multidões que sou eu? Orando à parte. [A confissão de Pedro. Jesus prediz a própria morte, Lc.9:18-22 = Mt.16:13-21 = Mc.8:27-31. Comentário principal: Mt]. Entre os v. Lc.9:17-18 ocorre o que, algumas vezes, é descrito como a “grande omissão” de Lucas. Nestes versículos, Lucas omite tudo o que está registrado em Mt.14:22-16:12; Mc.6:45-8:26; Jo.6:25-7:1; isto é, Jesus caminhando sobre o lago, o sermão do Pão da Vida, as discussões com os fariseus, o retiro para a Fenícia, a cura do surdo-mudo, a alimentação das quatro mil pessoas e a cura do cego de Betsaida. Para equilibrar essa “grande omissão”, Lucas faz o que é chamado algumas vezes de a “grande inserção”, que consiste aqui dos eventos de Lc.9:51-18:14. Quase nenhum deles ocorre nos outros evangelhos (ver com. de Lc.9:51). |
Lc.9:19 | 19. Responderam eles: João Batista, mas outros, Elias; e ainda outros dizem que ressurgiu um dos antigos profetas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:20 | 20. Mas vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou? Então, falou Pedro e disse: És o Cristo de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:21 | 21. Ele, porém, advertindo-os, mandou que a ninguém declarassem tal coisa, Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:22 | 22. dizendo: É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite. Filho do Homem. Sobre o contexto do relato dos v. 22 a 27, ver com. de Mt.16:21; sobre as críticas, ver com. de Mt.16:21-28. |
Lc.9:23 | 23. Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:24 | 24. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:25 | 25. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo? Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:26 | 26. Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:27 | 27. Verdadeiramente, vos digo: alguns há dos que aqui se encontram que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam o reino de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:28 | 28. Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar. Oito dias depois. [A transfiguração, Lc.9:28-36 = Mt.17:1-8 = Mc.9:2-8. Comentário principal: Mt). Sobre a contagem dos “oito dias”, ver p. 245-248. |
Lc.9:29 | 29. E aconteceu que, enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura. A aparência. Literalmente, “a aparência de Seu rosto tornou-se diferente”. Resplandeceram. Isto é, “brilharam” ou “cintilaram”. |
Lc.9:30 | 30. Eis que dois varões falavam com ele: Moisés e Elias, Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:31 | 31. os quais apareceram em glória e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém. Partida. Do gr. exodos, “partida”; dos radicais ex, “fora de”, e hodos, “caminho” (ver Hb.11:22; 2Pe.1:15). Este evento é uma referência ao que aguardava Jesus. |
Lc.9:32 | 32. Pedro e seus companheiros achavam-se premidos de sono; mas, conservando-se acordados, viram a sua glória e os dois varões que com ele estavam. Acordados. Os discípulos estavam sonolentos, em resultado do cansaço da viagem, da subida pela montanha e da hora avançada (ver com. de Mt.17:1). |
Lc.9:33 | 33. Ao se retirarem estes de Jesus, disse-lhe Pedro: Mestre, bom é estarmos aqui; então, façamos três tendas: uma será tua, outra, de Moisés, e outra, de Elias, não sabendo, porém, o que dizia. Mestre. Do gr. epistates (ver com. de Lc.5:5). |
Lc.9:34 | 34. Enquanto assim falava, veio uma nuvem e os envolveu; e encheram-se de medo ao entrarem na nuvem. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:35 | 35. E dela veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi. O Meu Filho, o Meu eleito. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “meu Filho eleito”. |
Lc.9:36 | 36. Depois daquela voz, achou-se Jesus sozinho. Eles calaram-se e, naqueles dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:37 | 37. No dia seguinte, ao descerem eles do monte, veio ao encontro de Jesus grande multidão. No dia seguinte. [A cura de um jovem possesso, Lc.9:37-43 = Mt.17:14-20 = Mc.9:14-29. Comentário principal: Mc]. Apenas Lucas menciona especificamente que a cura do menino ocorreu no dia seguinte à transfiguração. |
Lc.9:38 | 38. E eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu filho, porque é o único Único. Do gr. monogenes (ver com. de Lc.7:12; Lc.8:42; Jo.1:14). |
Lc.9:39 | 39. um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado. De repente. Do gr. exaiphnes, “inesperadamente” ou “repentinamente”. Convulsiona-o. Do gr. sparasso, “convulsionar” (ver com. de Mc.1:26). |
Lc.9:40 | 40. Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:41 | 41. Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze o teu filho. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:42 | 42. Quando se ia aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:43 | 43. E todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus. Majestade. Do gr. megaleiotes, “majestade”, “grandeza” ou “magnificência”. Como todos se maravilhassem. [De novo prediz Jesus a Sua morte, Lc.9:43-45 = Mt.17:22-23 = Mc.9:30-32. Comentário principal: Mc]. O restante do v. 43, que começou com estas palavras, deveria ser incluído no v. Lc.9:44, como parte do que vem a seguir. Como está, a divisão do versículo obscurece a transição de pensamento. |
Lc.9:44 | 44. Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras: o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Fixai nos vossos ouvidos. [De novo prediz Jesus a Sua morte, Mt.17:22-23 = Mc.9:30-32]. Uma figura de linguagem que significa apenas “não esquecer”. |
Lc.9:45 | 45. Eles, porém, não entendiam isto, e foi-lhes encoberto para que o não compreendessem; e temiam interrogá-lo a este respeito. E foi-lhes encoberto. Não porque Jesus desejasse que isto ocorresse, porque em várias ocasiões Ele Se esforçou para clarificar o assunto, que foi encoberto por causa da recusa deles em compreender (ver com. de Mc.9:32). Eles não desejavam compreender e, por isso, não compreenderam (ver com. de Mt.13:13). Para que o não compreendessem. O termo gr. hina, “para que”, como utilizado aqui, indica resultado em vez de propósito: “em consequência de que”, em vez de “a fim de que”. Uma boa ilustração do uso da palavra hina para indicar resultado em vez de propósito ocorre em 1Ts.5:4 (cf. Rm.11:11; Gl.5:17; Lc.1:43; Jo.6:7). |
Lc.9:46 | 46. Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Levantou-se entre eles uma discussão. [O maior no reino dos céus. Jesus ensina a tolerância e a caridade, Lc.9:46-50 = Mt.18:1-5 = Mc.9:33-37. Comentário principal: Mt e Mc]. |
Lc.9:47 | 47. Mas Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:48 | 48. e lhes disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande. Em Meu nome. Uma expressão característica de Lucas (Lc.21:8; At.4:17-18; At.5:28; At.5:40; At.15:14). Grande. De acordo com a definição de grandeza definida por Jesus, é possível a todos serem “grandes” (ver com. de Mt.5:5). |
Lc.9:49 | 49. Falou João e disse: Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:50 | 50. Mas Jesus lhe disse: Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:51 | 51. E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém Ao se completarem os dias. [Os samaritanos não recebem Jesus, Lc.9:51-56. Ver mapa, p. 219; gráficos 5, 7, p. 226, 228]. Ver com. de Lc.2:49. O ministério de Cristo rapidamente chegava ao final. A cruz estava, nesse momento, cerca de seis meses adiante. A seção de Lucas que se inicia em 9:51 e continua até Lc.18:14 é chamada algumas vezes de a “grande inserção” ou a “grande interpolação”, devido ao fato de esta parte do livro (quase um terço) registrar material que não ocorre nos demais evangelhos. Os outros evangelhos fazem silêncio quase completo a respeito desta fase do ministério de Jesus (ver com. de Lc.9:18). Ser assunto ao Céu. Do gr. analambano, “iniciar algo novo”. Este é o verbo utilizado normalmente em relação à ascensão de Cristo (ver At.1:2; At.1:11; At.1:22; 1Tm.3:16; Lc.24:50-51). Manifestou, no semblante. Todas as ocorrências na vida missionária de Cristo, desde a primeira até a última, aconteceram como cumprimento de um plano preexistente, antes da vinda dEle à Terra, e cada evento ocorreu em seu tempo determinado (ver com. de Lc.2:49). Repetidas vezes, Jesus disse que Seu “tempo” ou Sua “hora” ainda não havia chegado (ver Jo.2:4; Jo.7:6; Jo.7:8). Ele refez essa declaração antes da então recente Festa dos Tabernáculos (ver com. de Jo.7:6), em relação ao momento de Ele “ir a Jerusalém” e ser “recebido no alto”. Em Sua última saída da Galileia, Jesus estava consciente e intencionalmente indo para a cruz (ver com. de Mc.10:32). Um sentimento semelhante moveu Paulo em sua última viagem a Jerusalém (ver At.20:22-24; 2Tm.4:6-8). Jesus sabia o que estava por vir e não fez esforço algum para evitá-lo ou adiá-lo (ver com. de Mt.19:1). Ir para Jerusalém. Desde o momento em que Jesus partiu da Galileia pela última vez, os evangelhos consideram que Ele estava a caminho de Jerusalém, para cumprir o que O aguardava ali (ver Lc.9:51; Lc.9:53; Lc.13:22; Lc.17:11; Lc.18:31; Lc.19:11; Lc.19:28). Durante esse tempo, Jesus entrava e saía da Judeia, mas passou pouco tempo em Jerusalém ou na Judeia a fim de que a crise não fosse precipitada antes do tempo. Muitos meses foram envolvidos nesta última, sinuosa e lenta (DTN, 485, 495) viagem a Jerusalém. |
Lc.9:52 | 52. e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Enviou mensageiros. Aqui, especificamente, Tiago e João (ver Lc.9:54; DTN, 487). Nesta ocasião, parece que os mensageiros saíram primeiro para prover as acomodações para pernoitar. No entanto, esta também pode ser uma referência à publicidade que Jesus procurava, num esforço para chamar a atenção de todo o Israel para Si, em antecipação de Sua iminente crucifixão (ver DTN, 485). Este foi o propósito específico de Jesus posteriormente, ao enviar os setenta (ver com. de Lc.10:1). Aldeia de samaritanos. A menor rota entre a Galileia e a Judeia passava através das montanhas de Samaria. Dois anos antes, Jesus tomara a mesma rota em direção ao norte da Judeia para a Galileia (ver com. de Jo.4:3-4). Com frequência, principalmente nas ocasiões de festas, quando multidões iam a Jerusalém, os judeus preferiam a rota mais longa através do vale do Jordão, para evitar contato com os samaritanos. No entanto, o próprio Jesus dedicou uma fatia do restante de Seu ministério à região de Samaria (ver com. de Jo.11:54); e foi às cidades e aldeias de Samaria às quais os setenta foram enviados primeiro (ver DTN, 488). Em vista de que eles deveriam ir, de dois em dois, “em cada cidade e lugar aonde Ele estava para ir” (Lc.10:1), o Senhor deve ter visitado pessoalmente algumas regiões importantes de Samaria. |
Lc.9:53 | 53. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém. Não O receberam. Eles recusaram a Jesus uma noite de hospedagem (DTN, 487). Havia um ódio atroz entre judeus e samaritanos (ver Jo.4:9; sobre a origem dos samaritanos, ver com. de 2Rs.17:23-41; sobre experiências posteriores entre eles, ver Ne.4:1-8; Ne.6:1-14). Quem, decisivamente, ia para Jerusalém. Literalmente, “indo para Jerusalém”. Passar por Samaria até a Judeia, como geralmente faziam os judeus da Galileia, com o objetivo de adorar a Deus em Jerusalém, indicava a inferioridade da religião samaritana e era, desta forma, tido como insulto pelos samaritanos. |
Lc.9:54 | 54. Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Tiago e João. Ver com. de Mc.3:17. Estes dois irmãos foram os mensageiros enviados adiante para fazer os arranjos (ver DTN, 487) e o áspero tratamento que receberam dos aldeões feriu seu coração. Tiago e João eram de temperamento agressivo, característica que, no início, levou Cristo a chamá-los de “filhos do trovão” (ver com. de Mc.3:17). Não muito antes, João tomara para si a responsabilidade de uma repreensão severa a quem ele considerava um inimigo (ver com. de Mc.9:38-41). Mandemos descer fogo. À vista do monte Carmelo (ver DTN, 487), os pensamentos dos discípulos naturalmente se voltaram às severas medidas tomadas pelo profeta Elias ao lidar com o povo impenitente de seus dias (ver 1Rs.18:17-46). Talvez eles se lembrassem, também, da ocasião quando Elias mandou que caísse fogo do céu para destruir alguns inimigos declarados de Deus (ver com. de 2Rs.1:10; 2Rs.1:13). Como Elias também fez? (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras. Mas é possível que isto estivesse na mente de Tiago e João. |
Lc.9:55 | 55. Jesus, porém, voltando-se os repreendeu [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois]. Repreendeu. O impulso manifestado por Tiago e João era totalmente alheio à vontade de Cristo e resultaria apenas no entrave da obra do evangelho. Jesus havia pouco alertara os discípulos contra dificultar a obra dos que eram simpáticos a Ele (v. Lc.9:49-50); então aconselhou-os a não punirem os que se mostrassem hostis. O espírito de vingança não é de Cristo. Qualquer tentativa para coagir os que agem de modo diferente a nossas ideias é evidência do espírito de Satanás, não de Cristo (DTN, 487). O espírito de preconceito e intolerância religiosa é ofensivo aos olhos de Deus, especialmente quando manifestado por aqueles que professam amá-Lo e servi-Lo. Vós não sabeis. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão da última sentença do v. 55 e da primeira do v. Lc.9:56. No entanto, a verdade aqui expressa está em harmonia com outras declarações dos evangelhos (ver Lc.19:10; ver também Mt.5:17). |
Lc.9:56 | 56. [Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.] E seguiram para outra aldeia. Outra aldeia. Possivelmente outra aldeia samaritana, alguma que fosse mais amistosa. Neste versículo, Cristo proveu um exemplo da advertência feita anteriormente aos discípulos (ver Mt.10:22-24). Alguns sugeriram que esta poderia ser a aldeia de Sicar ou outra em suas proximidades, cujos habitantes ouviram a Cristo em ocasião anterior e foram amigáveis (ver Jo.4:39-42). |
Lc.9:57 | 57. Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. E aconteceu que (ARC). [Jesus põe à prova os que queriam segui-Lo, Lc.9:57-62. Cf. com. de Mt.8:18-22; Mt.16:24-25; Lc.14:25-33]. Os v. 57 a 62 normalmente são vistos como paralelos a Mt.8:19-22, com base no que Mateus e Lucas inseriram na narrativa em diferentes momentos em seus respectivos registros. No entanto, esta explicação não é convincente. Há motivos para considerar as narrativas de Mt.8:19-22; Lc.9:57-62 como relatos de episódios separados e distintos (ver com. de Mt.8:19). Cada narrativa está adequada ao seu próprio cenário e contexto. Indo eles caminho fora. Em Mt.8:19-22 se diz que Jesus e os discípulos estavam a ponto de entrar no barco para atravessar o lago. Neste versículo, eles estavam “no caminho”, isto é, fazendo a viagem por terra. Na verdade, eles estavam a caminho de Jerusalém (ver com. de Mt.19:1; Lc.9:51). |
Lc.9:58 | 58. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Sem comentário para este versículo. |
Lc.9:59 | 59. A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. A outro disse Jesus. No relato paralelo em Mateus, o homem a quem Jesus dirigiu este conselho se ofereceu para segui-Lo. Neste verso, Jesus ordenou que o homem O seguisse. |
Lc.9:60 | 60. Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus. Tu, porém, vai e prega. A ênfase parece ter sido: “Se você não está espiritualmente morto, seu objetivo é ir e pregar o reino de Deus. Deixe o sepultamento dos que estão fisicamente mortos para quem está espiritualmente morto.” |
Lc.9:61 | 61. Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Deixa-me primeiro. Esta desculpa indica hesitação e indecisão, talvez até mesmo indisposição para fazer o sacrifício exigido. Despedir-me. Este pedido envolvia mais que um breve retorno ao lar. De acordo com o costume oriental, poderia levar meses ou mesmo anos para arranjar as coisas em casa. Faltavam apenas cerca de seis meses para que o ministério de Jesus terminasse e, se este discípulo em perspectiva planejava seguir a Jesus, tinha que agir sem demora. Em pouco tempo, seria tarde demais. Ele então propôs deixar Jesus para despedir-se dos antigos amigos, e eles poderiam convencê-lo a não voltar mais. As exigências de Deus têm primazia sobre as das pessoas, mesmo das mais íntimas (ver Mt.12:48-49; Mt.19:29). Talvez o homem quisesse aproveitar mais uma aventura da vida antes de abandonar tudo e seguir a Jesus. As circunstâncias eram muito diferentes, neste verso, de quando Eliseu foi chamado para seguir a Elias. A resposta de Eliseu foi imediata; a despedida dos parentes foi rápida (ver com. de 1Rs.19:20). Dos de casa. Seus parentes poderiam tentar dissuadi-Lo, assim como a mãe e os irmãos de Jesus procuraram desviá-Lo de Seu dever (ver com. de Mt.12:46). |
Lc.9:62 | 62. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus. Olha para trás. Aquele que “olha para trás” não está concentrado na tarefa em questão. Ele é, na melhor das hipóteses, um obreiro indiferente (ver com. de Mt.6:24; Lc.14:26-28). Jesus manifestou “no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lc.9:51), e todos que desejavam segui-Lo deveriam necessariamente ser firmes em sua decisão (cf. Jo.11:16). Entretanto, quando o tempo de prova sobreveio aos doze, todos eles “deixando-O, fugiram” (Mt.26:56). No decorrer do tempo, porém, todos retornaram, exceto Judas. Devoção absoluta e integral é essencial ao verdadeiro discipulado. Aquele que deseja realizar um trabalho digno para Deus deve fazer sua tarefa de todo o coração, com atenção ininterrupta. O provérbio do v. 62 já era conhecido havia séculos em várias regiões do antigo Oriente Médio. Hesíodo, um poeta grego do 8 século a.C., escreveu: “Aquele que deseja arar sulcos retos não deve olhar ao redor” (Os Trabalhos e os Dias, ii.60). |
Lc.10:1 | 1. Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. Outros setenta. [A missão dos setenta, Lc.10:1-12. Cf. com. de Mt.9:36-11:1. Ver mapa, p. 219; gráfico, p. 228]. Ou, “setenta outros”; isto é, os setenta eram um acréscimo aos doze, e não a outros “setenta” anteriormente indicados. A palavra “ainda” (ARC) parece uma referência à missão dos doze no ano anterior (sobre a época e as circunstâncias da missão dos setenta, ver com. de Mt.19:1). Há evidências textuais (cf. p. 136) para a variante “setenta e dois”. O fato de os setenta não serem mencionados novamente indica uma eleição temporária. Parece que a eleição ocorreu na Pereia, e os setenta foram enviados primeiramente à região de Samaria (ver DTN, 488). Eles acompanharam Jesus na terceira viagem à Galileia, quando os doze saíram em missão, de dois em dois (ver DTN, 488). Há uma interessante comparação: Houve 12 patriarcas; houve também 12 discípulos (cf. Ap.7:4-8; Ap.21:12-14). Moisés elegeu 70 homens para auxiliá-lo a julgar Israel (ver Nm.11:16-25); Jesus também elegeu 70 para auxiliá-Lo. Segundo a tradição judaica, baseada numa lista de descendentes de Noé em Gn.10, houve 70 nações no mundo. O Sinédrio era constituído de 70 membros, além de seu presidente. Desta forma, o número 70 tinha papel importante no pensamento judaico. Os motivos pelos quais Jesus escolheu os setenta, e se Ele conferiu algum significado a esse número, não são revelados; e a especulação a respeito disso é inútil. Dois em dois. Assim como os doze (ver com. de Mc.6:7). Este costume parece ter-se tornado comum na obra missionária da igreja apostólica (ver At.13:2; At.15:27; At.15:39-40; At.17:14; At.19:22; ver também a missão dos dois discípulos de João, em Lc.7:19). Para que O precedessem. Esta expedição missionária traz as marcas de uma campanha evangelística organizada cuidadosamente. O fato de os setenta serem enviados a algumas localidades selecionadas significa que Jesus planejou Seu tempo e determinou com antecipação aonde iria durante os meses que Lhe restavam (ver com. de Lc.2:49). Os setenta foram primeiramente às cidades e aldeias de Samaria. isso indica que Jesus deve ter conduzido um ministério amplo aIi durante o inverno de 30-31 d.C. A atitude amigável de Jesus para com o povo de Samaria manifestada na ocasião da visita à mulher de Sicar e Seu ministério pelo povo daquela vizinhança (ver Jo.4:5-42) deve ter contribuído para quebrar o preconceito. Aquela visita ocorreu dois anos antes, possivelmente durante o inverno de 28-29 d.C. Na ocasião, “muitos” já tinham crido nEle (Jo.4:39; Jo.4:41). O ministério dos setenta ao povo samaritano prepararia os discípulos para os labores futuros naquela região (ver At.1:8). Depois da ressurreição, um notável êxito acompanhou o trabalho dos apóstolos ali (ver DTN, 488). |
Lc.10:2 | 2. E lhes fez a seguinte advertência: A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Seara. A maioria das instruções que Jesus deu aos setenta era semelhante às instruções dadas anteriormente aos doze. Não se sabe se a narrativa mais curta em Lucas é um relato abreviado do que Jesus mencionou nesta ocasião, ou se as instruções realmente foram mais breves que as apresentadas aos doze (sobre essas instruções, ver com. de Mt.9:37-38; Mt.10:7-16). |
Lc.10:3 | 3. Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Ide! Ver com. de Mt.10:5-6. Jesus disse anteriormente: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco” (Jo.10:16). Neste momento, Ele enviou os setenta para encontrar algumas dessas ovelhas perdidas. Como cordeiros. Mt.10:16 traduz “como ovelhas” (cf. Jo.21:15-17). |
Lc.10:4 | 4. Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho. Não leveis bolsa. Sobre a instrução aos doze, ver com. de Mt.10:9-10. Alforje. Do gr. pera, “um saco de couro”, geralmente utilizado pelos viajantes para guardar roupas ou provisões, possivelmente também um saco utilizado pelos pobres. Sandálias. No v. Lc.10:7, Jesus explicou por que os proibiu de levar estes itens, considerados necessários pelos viajantes. A ninguém saudeis pelo caminho. Os setenta deveriam reservar as saudações para os lares que visitariam (ver Lc.10:5; ver com. de 2Rs.4:29). Ainda hoje as saudações orientais são complicadas e longas. Restava pouco tempo de vida ao Salvador e a missão dos setenta deveria ser realizada com rapidez. Eles foram enviados para proclamar “o reino de Deus”, que exigia pressa (Lc.10:9; sobre a obra dos setenta, ver com. de Mt.3:3; Lc.3:5). |
Lc.10:5 | 5. Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja nesta casa! Paz. Uma forma comum de saudação oriental (ver com. de Je.6:14; Mt.10:13). |
Lc.10:6 | 6. Se houver ali um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; se não houver, ela voltará sobre vós. Filho da paz. Um hebraísmo típico, que descrevia o líder de uma família como um homem agradável, pronto a receber e hospedar. |
Lc.10:7 | 7. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar de casa em casa. Na mesma casa. Ver com. de Mt.10:11. O trabalhador. Ver com. de Mt.10:10; Dt.25:4. Este dito de Jesus é um dos poucos aos quais Paulo se refere diretamente (ver 1Tm.5:18). De casa em casa. Ver com. de Mt.10:11. |
Lc.10:8 | 8. Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido. Comei do que vos for oferecido. Os discípulos não deveriam ser comilões, solicitando alimento que o anfitrião não oferecesse; ou exigentes, rejeitando comer o que ele propiciava. A exortação de Jesus aos setenta é, às vezes, interpretada como permissão para comer o que for disponibilizado pelo anfitrião, mesmo que o alimento seja proibido nas Escrituras. Deve-se lembrar que os setenta não entrariam em lares gentios, onde seria servido alimento proibido, apenas entrariam em lares de judeus e samaritanos, e ambos eram rigorosos quanto às disposições do Pentateuco acerca de alimentos puros e impuros (ver com. de Lv.11). |
Lc.10:9 | 9. Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: A vós outros está próximo o reino de Deus. Reino de Deus. Ver com. de Mt.3:2; Mt.4:17; Mt.5:2; Mt.4:19. A mensagem dos doze (ver Mt.10:7) foi a mesma de João Batista (Mt.3:2) e do próprio Jesus (Mc.1:15). |
Lc.10:10 | 10. Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:11 | 11. Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:12 | 12. Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:13 | 13. Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. Corazim. [Ai das cidades impenitentes, Lc.10:13-16 = Mt.11:20-24]. Ver com. de Mt.11:21-24. Como prelúdio aos comentários que fez em Lc.10:16, Jesus menciona algumas cidades que rejeitaram Sua mensagem. Pano de saco. Do gr. sakkos, “um saco” ou “um pano grosso [feito de pelos]”; possivelmente do heb. saq (ver com. de Gn.42:25; Et.4:1). |
Lc.10:14 | 14. Contudo, no Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:15 | 15. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno. Elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Ver sobre que espírito motivou Satanás (Is.14:13-15). Inferno. Do gr. hades, “sepultura” ou “morte”; isto é, o reino dos mortos (ver com. de Mt.11:23; Mt.16:18; Is.14:15). As pessoas não serão condenadas no grande dia do julgamento final porque creram no erro, mas porque negligenciaram as oportunidades fornecidas pelo Céu para conhecer o que é a verdade (ver DTN, 490). |
Lc.10:16 | 16. Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou. Quem vos der ouvidos. Ver com. de Mt.10:40. |
Lc.10:17 | 17. Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Regressaram os setenta. [O regresso dos setenta, Lc.10:17-20]. Ver o retorno dos doze (ver com. de Mc.6:30). Alegria. A missão deles foi bem-sucedida. Demônios se nos submetem. Até onde vai o relato, Jesus não comissionou especificamente os setenta para expulsar demônios (ver v. Lc.10:9), assim como ocorreu com o doze (Mt.10:1). No entanto, este aspecto do ministério parece ter impressionado muito os setenta. Pelo Teu nome! Ver com. de Mt.10:18; Mt.10:40. Repletos de alegria, os setenta reconheceram que foi o poder de Jesus operando por meio deles que possibilitou o sucesso. |
Lc.10:18 | 18. Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Via. Do gr. theoreo, “olhar”, “contemplar”, “observar”, normalmente indicando a contemplação calma, intencional e contínua de um objeto (cf. Jo.2:23; Jo.4:19). Satanás. Do gr. Satanas, do heb. satan, “adversário”. Caindo do céu. Ver Is.14:12-15; Jo.12:31-32; Ap.12:7-9; Ap.12:12. Satanás era um inimigo conquistado. Nesta declaração, Jesus olhava adiante, para a crucifixão, quando o poder de Satanás seria desfeito (ver DTN, 679, 758; cf. 687). Ele também viu o tempo quando o pecado e os pecadores não mais existiriam. Os setenta testemunharam a expulsão de Satanás da vida de muitas pessoas; Jesus “viu” sua completa queda. Um relâmpago. Como uma luz ofuscante que pisca e repentinamente se extingue. |
Lc.10:19 | 19. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Autoridade para pisardes. Sobre a repetição desta promessa, ver Mc.16:18; e sobre seu cumprimento, ver At.28:3-5. Poder do inimigo. A palavra traduzida neste versículo como “poder” é dynamis, em comparação com exousia, “autoridade”, que foi dada aos setenta (ver com. de Lc.1:35). Satanás tinha certo dynamis sobre o qual os discípulos deviam exercer exousia (ver com. de Mt.10:1). Nada, absolutamente, vos causará dano. No grego, há uma negação tripla, que fortalece a declaração. |
Lc.10:20 | 20. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Alegrai-vos, não porque. A habilidade de operar milagres não assegura, em si mesma, a vida eterna de alguém (ver Mt.7:22-23;). Arrolado nos céus. No livro da vida (ver Fp.4:3; Ap.20:12; Ap.20:15; Ap.21:27; Ap.22:19), em que são inscritos os candidatos ao reino de Deus. |
Lc.10:21 | 21. Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Naquela hora. [Jesus, o Salvador dos humildes, Lc.10:21-24 = Mt.11:25-27]. Isto é, o momento do retorno dos setenta. Espírito Santo. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “o Espírito Santo”. |
Lc.10:22 | 22. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Quiser revelar. Isto é, “desejar” ou “escolher” revelar (ver com. de Mt.11:27). |
Lc.10:23 | 23. E, voltando-se para os seus discípulos, disse-lhes particularmente: Bem-aventurados os olhos que veem as coisas que vós vedes. Bem-aventurados. Do gr. makarios, “felizes” ou “bem-sucedidos” (ver com. de Mt.5:3). |
Lc.10:24 | 24. Pois eu vos afirmo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não o ouviram. Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:25 | 25. E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Intérprete da Lei. [O bom samaritano, Lc.10:25-37. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Jesus estava em Sua última viagem da Galileia para Jerusalém (ver com. de Mt.19:1). A narrativa indica que o evento ocorreu em Jericó. O cenário envolvendo o samaritano e a vítima de assalto teria ocorrido havia pouco (ver DTN, 499). Imediatamente após o encontro com o intérprete da Lei e a narração do caso do bom samaritano, Jesus foi para Betânia, partindo de Jericó (ver DTN, 525). É possível que Ele estivesse a caminho para participar da Festa de Dedicação, em Jerusalém (ver com. de Mt.19:1; Jo.10:22-38), após a qual Ele retornaria para a Pereia (ver Jo.10:39-40). Imediatamente após a saída dEle para a Pereia (v. Jo.10:39-40), João relata a ressurreição de Lázaro (Jo.11:1-46). Pôr Jesus à prova. A pergunta do intérprete da Lei a Jesus foi cuidadosamente estruturada pelos líderes religiosos (ver DTN, 497). Mestre. Literalmente, “professor”. Como profissional do ensino da Lei, o intérprete confronta Jesus com um problema que os próprios escribas discutiam longamente. Que farei [...]? A pergunta revela que o conceito de justiça do intérprete era equivocado. Para ele, bem como para a maioria dos judeus da época, obter a salvação era uma questão essencialmente de fazer as coisas prescritas pelos escribas. Desta forma, ele considerava que a pessoa poderia obter a salvação pelas obras. No grego, a ênfase é colocada sobre a palavra “fazer”. Eterna. Do gr. aionios (ver com. de Mt.13:39). |
Lc.10:26 | 26. Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? Como Interpretas? Era o ofício do intérprete saber a resposta a esta pergunta. Ele era professor da lei judaica e, como tal, era apropriado que lhe fosse concedida oportunidade para a resposta. A pergunta de Jesus não indica necessariamente uma repreensão. Dar oportunidade a outro de responder a própria pergunta era uma cortesia. |
Lc.10:27 | 27. A isto ele respondeu: Amarás. O intérprete da Lei cita Dt.6:5 (cf. Lc.11:13). Mais tarde, Jesus respondeu da mesma forma a mesma pergunta feita por outro intérprete da Lei (ver Mt.22:36-38). As palavras de Dt.6:5 eram citadas por todo judeu devoto de manhã e de tarde como parte do shema (ver p. 45), e eram também utilizadas nos filactérios (ver com. de Ex.13:9). Os judeus que possuíam uma visão do sentido intrínseco da “lei” (ver com. de Dt.31:9; Pv.3:1) sabiam que suas normas não eram arbitrárias, mas baseadas em princípios fundamentais do direito que poderiam adequadamente ser resumidos na ordem “amarás”. Amar a Deus no sentido indicado neste versículo quer dizer dedicar o ser completo a Seu serviço: as afeições, a vida, a força física e o intelecto. Este tipo de “amor” é “o cumprimento da lei” (Rm.13:10), é o tipo de “amor” em que uma pessoa permanece quando, pela graça de Cristo, decide “guardar” os “mandamentos” de Cristo (Jo.14:15; Jo.15:9-10). Na verdade, Deus enviou Seu Filho ao mundo com o propósito específico de possibilitar-nos guardar “a lei” neste sentido. É desta forma que “a justiça da lei” será “cumprida em nós” (cf. Rm.8:3-4). Aquele que verdadeiramente “conhece” a Deus guardará “Seus mandamentos” porque o “amor” de Deus é “aperfeiçoado” nele (1Jo.2:4-6; ver com. de Mt.5:48). Coração. Utilizado aqui no sentido de “inclinação”, “desejo”, “mente”. Alma. Ver com. de Mt.10:28. Próximo. Do gr. plesion (ver com. do v. Lc.10:36). Aqui o intérprete da Lei cita Lv.19:18, em que o “próximo” significa “um companheiro israelita”. Jesus estende a definição para incluir os samaritanos e, assim, os não judeus (ver com. de Lc.10:36). |
Lc.10:28 | 28. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás. Respondeste corretamente. Mais tarde, quando Jesus respondeu da mesma forma à pergunta de outro intérprete da Lei, o entrevistador O elogiou com as palavras: “Mestre, e com verdade disseste” (Mc.12:32). A resposta de Cristo ultrapassou o aglomerado de comentários orais e escritos da Lei, e mesmo todos os preceitos específicos da própria Lei. Cada preceito “da lei”, no sentido mais amplo de “Lei” (ver com. de Pv.3:1) bem como no sentido mais específico dos dez mandamentos, é uma expressão, extensão e aplicação do princípio do “amor” (ver com. de Lc.10:27). A forma da resposta do intérprete da Lei estava plenamente correta; faltava a visão espiritual na aplicação desse princípio à sua vida (ver com. de Mt.5:17-22). Ele conhecia a letra da lei, mas não seu espírito. Esse conhecimento vem apenas quando os princípios da lei são aplicados à vida (ver com. de Jo.7:17). Faze isto. Literalmente, “continue fazendo isto”; ou seja, aplicar esses princípios á vida e continuar aplicando-os. O problema era que esse homem, como o jovem rico, achava que guardava todas essas coisas desde a juventude (ver Mt.19:20); mas, ao mesmo tempo, percebia que algo ainda faltava em sua vida espiritual. A justiça legal nunca satisfaz plenamente, porque há algo vital faltando até que o amor de Deus assuma o controle da vida (ver 2Co.5:14). Apenas uma pessoa submissa à influência de tal amor (ver com. de Lc.10:27) pode verdadeiramente guardar o espírito da lei (ver Rm.8:3-4). Viverás. Isto é, no pleno sentido da palavra, tanto aqui como na vida futura (ver com. de Jo.10:10). No entanto, o contexto mostra que Jesus Se refere principalmente à vida eterna (ver Mt.19:16-17; Lc.10:25). |
Lc.10:29 | 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Querendo. Isto é, o intérprete da Lei “desejou” ou “decidiu” se justificar diante da audiência. Justificar-se. Como o jovem rico (Mt.19:16-22), o intérprete da Lei não estava satisfeito com o conceito farisaico de justiça (ver DTN, 497). Como o jovem rico, ele estava consciente de uma carência em sua vida que, intuitivamente, ele pressentia que Jesus preencheria. Como Nicodemos (ver com. de Jo.3:2-3), ele relutava admitir o fato, até para si mesmo. Portanto, em parte como um meio de negar sua convicção interna, ele passou a “justificar-se”, fazendo parecer que havia dificuldades maiores em realmente amar os companheiros (ver DTN, 498). Quem é o meu próximo? Ver com. de Mt.5:43. No grego, a ênfase recai sobre o pronome. O propósito desta pergunta era fugir da convicção e vindicar-se (DTN, 498). Quando uma pessoa faz perguntas sutis das quais sabe ou deveria saber a resposta, é evidente que ela está convicta (cf. Jo.4:18-20); mas, por alguma razão, lança desculpas para não fazer o que a consciência lhe diz que deve fazer. No pensamento do intérprete da Lei, pagãos e samaritanos estavam excluídos da categoria “próximo”. A pergunta dele tinha que ver com qual dos companheiros israelitas ele deveria considerar como “próximos”. |
Lc.10:30 | 30. Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Certo homem. Este foi um episódio real (DTN, 499), que era notícia em Jericó, o lar do sacerdote e do levita envolvidos no incidente (ver com. dos v. Lc.10:25; Lc.10:31). Esses dois homens estavam presentes nesta ocasião (DTN, 499). Descia de Jerusalém. “Descia” é a palavra correta para descrever a descida de Jerusalém, aproximadamente 790m acima do nível do mar, para Jericó, cerca de 210m abaixo do nível do mar. A rota principal de Jerusalém para Jericó seguia o WadiQelt, através de uma porção de colinas desabitadas, estéreis e áridas do deserto de Judá. A determinada altura, o WadiQelt estreita-se num desfiladeiro rochoso que é refúgio de ladrões desde tempos remotos. Toda a região, com suas muitas cavernas e rochas, provê um esconderijo oportuno para bandidos. Roubarem. Esse bando de salteadores era extremamente perverso. Ferimentos. Talvez porque ele tentou resistir. |
Lc.10:31 | 31. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Casualmente. Ou, “por coincidência”. Descia. Isto é, de Jerusalém para Jericó (ver com. do v. Lc.10:30). Um sacerdote. O sacerdote e o levita retornavam de seu período de serviço no templo (PJ, 382; cf. com. de Lc.1:5; Lc.1:9; Lc.1:23). Passou de largo. Como se não tivesse visto; na verdade, porque não se importava. A hipocrisia tinha se tornado uma capa, como se fosse para proteger o egoísmo da inconveniência. O viajante infeliz, nu e ferido (ver v. Lc.10:30; Lc.10:34) estava sujo e coberto de sangue. Se este desafortunado indivíduo estivesse morto, tocá-lo significaria contaminação ritual tanto para o sacerdote quanto para o levita (ver Nm.19:11-22). Além disso, ele poderia ser um samaritano ou um gentio. E, sob tais circunstâncias, era ilícito ao sacerdote tocar o cadáver de alguém, mesmo de um parente próximo (ver Lv.21:1-4). Muitas desculpas passaram pela mente desses homens enquanto procuravam justificar sua conduta. |
Lc.10:32 | 32. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. Vendo-o. O levita parece ter sido um pouco mais consciente que o sacerdote, ou apenas mais curioso. Pelo menos ele desceu até o local onde estava o homem, antes de seguir seu caminho (ver DTN, 499). |
Lc.10:33 | 33. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. Certo samaritano. O fato de o samaritano estar viajando no que para ele era um distrito estrangeiro, tornou sua atitude misericordiosa ainda mais notável. Nesse distrito seria provável que o desafortunado viajante fosse um judeu, membro da etnia que acalentava a mais profunda inimizade contra os samaritanos. O samaritano sabia bem que se ele fosse a vítima ferida repousando ao lado da estrada, não poderia esperar misericórdia de qualquer judeu comum. No entanto, o samaritano, arriscando-se aos ataques dos salteadores, decidiu auxiliar a pobre vítima. De modo real, a misericórdia demonstrada pelo samaritano reflete o espírito que moveu o Filho de Deus a vir a esta Terra resgatar o ser humano. Deus não era obrigado a resgatar a humanidade caída. Ele poderia ter passado de largo pelos pecadores, como o sacerdote e o levita ignoraram o viajante na estrada para Jericó. Mas o Senhor estava disposto a ser “tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito” (DTN, 25). |
Lc.10:34 | 34. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. Ferimentos. Do gr. traumata, de onde se originam as palavras “trauma”, “traumatismo”, etc. Óleo e vinho. Remédios caseiros comuns da antiga Palestina. Algumas vezes os dois eram misturados e utilizados como pomada. Uma hospedaria. Do gr. pandocheion, dos radicais pas, “todos”, e dechomai, “receber”. Um pandocheion era bastante grande em contraste com o menos pretensioso kataluma (ver com. de Lc.2:7). A hospedaria para onde o samaritano levou o desafortunado viajante era dentro ou nas proximidades de Jericó, para onde ele viajava, e a primeira cidade a que ele chegou. Hospedeiro. Do gr. pandocheus, “um hospedeiro”; isto é, alguém, que administra um pandocheion (ver com. do v. Lc.10:34). Eu to indenizarei. O texto grego enfatiza a palavra “eu”. Os “dois denários” eram apenas um pagamento inicial. Certamente seriam necessários muitos dias antes que o viajante ferido se recuperasse o suficiente para continuar sua jornada (ver v. Lc.10:30). Em vista disso, o bom samaritano assumiu total responsabilidade pelo estranho. Ele poderia ter racionalizado que o incidente era na Judeia, que o homem seria um judeu e que ele, um samaritano, estava livre da responsabilidade. Mas, não o fez. O interesse do samaritano era além do momentâneo; ele fez mais do que o esperado. O interesse dele no estranho continuou além da obrigação mínima que se esperava de qualquer transeunte. Quando voltar. Possivelmente, na viagem de volta. A confiança que o hospedeiro parece ter no samaritano indica que este último era um negociante que frequentemente passava por Jericó e era conhecido. |
Lc.10:35 | 35. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. Sem comentário para este versículo. |
Lc.10:36 | 36. Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Próximo. Do gr. plesion, literalmente, “[alguém] próximo”. O sacerdote, o levita e o samaritano tinham estado “próximos” ao infeliz viajante na hora da necessidade, ainda que apenas um deles tenha agido como um “próximo”. Ser um bom “próximo” não é tanto uma questão de proximidade quanto de vontade de carregar os fardos uns dos outros. Ser bom próximo é a expressão prática do princípio do amor pelo semelhante (ver com. do v. Lc.10:27). |
Lc.10:37 | 37. Respondeu-lhe o intérprete da Lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo. Usou. Do gr. poieo, literalmente, “fazer” (cf. v. Lc.10:25). Sob tais circunstâncias, os meros pensamentos não tinham valor; o que contou foram as obras. O intérprete da Lei percebeu o ponto crucial da parábola, que era uma resposta efetiva a sua pergunta (ver v. Lc.10:29). Nesta narrativa da vida real, Jesus rejeitou todo o sofisma legalista sobre quem deve ser o “próximo” de uma pessoa (ver com. do v. Lc.10:29). O “próximo” de uma pessoa é simplesmente quem necessita de seu auxílio. O verdadeiro bom “próximo” salvou a vida de um dos companheiros do intérprete da Lei, possivelmente um de seus amigos pessoais. Ele nada encontrou para criticar na resposta de Jesus à sua pergunta. Ele reconheceu, no íntimo, que a definição de Jesus de “próximo” era a única verdadeira. Como um intérprete da Lei, ele conseguia apreciar mais plenamente que outros na audiência a profunda compreensão de Jesus acerca do verdadeiro significado da lei (ver com. dos v. Lc.10:26-28); como professor, ele deve ter apreciado o modo lúcido com que Jesus tratou sua pergunta. De qualquer forma, seu preconceito contra Jesus foi removido (ver PJ, 380). Vai e procede tu. No grego, a ênfase está no pronome. A palavra “fazer” vem do gr. poieo, a mesma traduzida como “usou” na resposta do intérprete da Lei a Jesus. O intérprete disse: “o que usou de misericórdia”; Jesus respondeu: “vai e procede tu de igual modo”. Em outras palavras, se você deseja conhecer o verdadeiro bom “próximo”, vá e modele sua conduta pela do samaritano. Tal é a natureza da verdadeira religião (ver Mq.6:8; Tg.1:27). Nossos semelhantes precisam sentir o aperto de “uma mão cálida” e a amizade de “um coração cheio de ternura” (PJ, 388). Deus “permite que tenhamos contato com o sofrimento e a calamidade para nos tirar de nosso egoísmo” (PJ, 388). É para nosso bem eterno ser, na prática, o verdadeiro bom “próximo” onde quer que haja oportunidade (cf. Hb.13:2). |
Lc.10:38 | 38. Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Num povoado. [Marta e Maria, Lc.10:38-42. Ver mapa, p. 220]. Embora Lucas não cite aqui, esse “povoado” era Betânia (ver Jo.11:1), e esta foi a primeira visita de Jesus ali (ver DTN, 525). Ele acabara de chegar pelo Wadi Qelt, saindo de Jericó (DTN, 525; ver com. de Lc.10:30), não muito tempo depois do evento relatado nos v. Lc.10:25-37 (ver com. do v. Lc.10:25). Depois disso, Jesus frequentemente visitava o lar de Maria, Marta e Lázaro (ver DTN, 524), pelo menos há duas outras visitas registradas (Jo.11:17; Jo.12:1-3), mas Ele pode tê-los visitado várias vezes (ver Mt.21:17; Mc.11:1; Mc.11:11; Lc.19:29). Marta. A respeito de um breve esboço do caráter de Marta, ver com. do v. Lc.10:41. Marta era a mais velha das duas irmãs e aquela que administrava os assuntos do lar. Ela era aquela que “O hospedara em seu lar”. |
Lc.10:39 | 39. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Maria. Ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50. Marta era responsável pelo lar e tinha por natureza uma mente prática. Por sua vez, Maria era mais preocupada com as coisas espirituais. Marta “pensava” nas necessidades diárias do lar (ver com. de Mt.6:25-34), enquanto Maria buscava “primeiro o reino de Deus e sua justiça” (Mt.6:33). Embora não mencionado nesta ocasião, Lázaro, o irmão de Marta e Maria, era um dos constantes amigos de Jesus e discípulo leal (ver DTN, 524). Aos pés do Senhor. “Sentar” aos “pés” de alguém não se refere tanto à questão de assumir alguma postura, mas ser aprendiz, embora as duas ideias possam ter sido verdadeiras aqui (ver At.22:3; Dt.33:3). |
Lc.10:40 | 40. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Ocupada. Marta estava “ocupada” ou “demasiadamente ocupada” com a pressão de muitos detalhes necessários à hospitalidade aos convidados. Senhor, não Te importas [...]? Marta sabia, de experiências passadas, que nada conseguiria ao apelar diretamente a Maria. Como Jesus influenciava muito a Maria, talvez Sua influência serviria no que ela própria fracassara. Houve também um homem que apelou a Jesus para persuadir seu irmão a dividir a herança familiar (ver Lc.12:13-14). Ao apelar a Jesus, Marta não apenas envergonhou Maria, como indiretamente censurou a Jesus. O problema real, indicava ela, repousava no fato de que Ele “não Se importava” com a situação ou não tinha intenção de fazer nada a respeito, porque Ele Se agradava mais em que Maria O ouvisse do que auxiliando no preparo da refeição. |
Lc.10:41 | 41. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Marta, Marta. A repetição do nome indica afeição e, algumas vezes, preocupação (ver Lc.22:31; At.9:4). Andas inquieta. Do gr. merimnao, “estar ansioso”, “estar turbado [com cuidados]” ou “cuidar de”. A palavra merimnao se refere à distração mental, interior, que era a verdadeira causa da impaciência de Marta com Maria. No Sermão do Monte, Jesus fez uma advertência contra esse tipo de atitude (ali, a palavra merimnao é traduzida como “não andeis ansiosos”; ver Mt.6:25; Mt.6:28; Mt.6:31; Mt.6:34). Aqueles que se tornam seguidores de Jesus evitarão a ansiedade que moveu Marta em seu petulante apelo a Jesus. Preocupas. Uma referência ao comportamento externo de Marta, em contraste com seus sentimentos interiores. Ela estava “ansiosa” internamente e, assim, “preocupada” externamente. Se apenas buscássemos cultivar aquela compostura interior de que Marta tanto precisava, evitaríamos muita ansiedade desnecessária. Muitas coisas. A hospitalidade simples seria suficiente para Jesus; Ele não exigia coisas elaboradas. |
Lc.10:42 | 42. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. Uma só coisa. Ver Lc.18:22, “ainda te falta uma coisa”. Marta era diligente, rápida e enérgica, mas faltava a ela o espírito calmo e devocional de sua irmã Maria (ver DTN, 525). Ela não aprendera a lição dada em Mt.6:33, de dar prioridade ao reino de Deus, e um papel subordinado às coisas materiais (ver com. dos v. Lc.10:24-34). Escolheu a boa parte. Em resultado de suas próprias experiências, Maria aprendeu a lição que sua irmã Marta precisava captar (ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50). Alguns consideram a expressão “boa parte” como sendo um jogo de palavras, em que Jesus faz referência ao melhor prato na mesa. “A boa parte”, a “única coisa” necessária para Marta, era uma profunda preocupação pelo conhecimento do reino de Deus. Não lhe será tirada. As coisas materiais em que Marta se interessava seriam tiradas (ver Lc.12:13-21; Lc.16:25-26). Maria estava acumulando “tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome” (Lc.12:33; ver com. de Mt.6:19-21). |
Lc.11:1 | 1. De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. Estava Jesus orando. [A oração dominical, Lc.11:1-4 = Mt.6:9-15]. Lucas nada registra acerca do tempo e local deste evento. Se ele estiver seguindo uma sequência cronológica, o evento pode ter ocorrido logo depois da visita a Betânia (Lc.10:38-42). Nesse caso, pode ter ocorrido próximo da visita de Jesus a Jerusalém para a Festa da Dedicação, quando houve uma tentativa de apedrejá-Lo (DTN, 470; ver com. de Lc.17:1; Jo.10:22; Jo.10:31; Jo.10:33). O incidente pode ter ocorrido em Jerusalém, ou em algum lugar da Pereia (sobre os eventos dessa época, ver com. de Mt.19:1). A hora pode ter sido de manhã, o momento usual em que Jesus orava deste modo (PJ, 139). Nessa ocasião, os discípulos estiveram ausentes por pouco tempo (PJ, 140), talvez em missão (ver com. de Lc.10:1), ou para uma breve visita a seus lares (ver DTN, 259; sobre a vida de oração de Jesus, ver com. de Mc.1:35; Mc.3:13). Ensina-nos a orar. Os discípulos ficaram impressionados ao ouvir como Jesus orava, falando com o Pai celestial, como a um amigo. A oração dEle era diferente das preces dos líderes religiosos da época, na verdade, diferente de tudo o que tinham ouvido. A prece formal, expressa em frases prontas e aparentemente dirigidas a um Deus impessoal e distante, não tem a vitalidade que deveria caracterizar a oração. Eles pensavam que, se orassem como Jesus, sua eficácia como discípulos seria ampliada. Uma vez que Jesus os ensinou a orar por preceito (Mt.6:7-15) e exemplo (Lc.9:29), pode ser que, nessa ocasião, o pedido tenha sido de discípulos que não estiveram com Jesus em ocasiões semelhantes anteriormente. O termo “discípulos” não precisa ser confinado aos doze. Pode ter sido feito por alguns dos setenta. Em harmonia com o pedido “ensina-nos a orar”, Jesus respondeu com uma oração modelo, para ilustrar o espírito de súplica e um pouco de exortação à fidelidade e diligência na oração (Lc.11:2-13). Como também João ensinou. Nada mais se diz nas Escrituras acerca de João ensinar seus discípulos a orar. Naturalmente, os discípulos de João, ao se unirem aos de Jesus (ver com. de Mc.6:29), relatavam as coisas que aprenderam de seu mestre anterior. |
Lc.11:2 | 2. Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei: Dizei. Esta oração pode ser adequadamente chamada de a Oração do Discípulo, porque, de modo geral, não seria o tipo de oração que Jesus fazia. Por exemplo, Jesus não tinha necessidade de orar pelo perdão dos pecados (sobre a oração ensinada por Jesus em ocasião anterior, ver com. de Mt.6:9-13; ver PJ, 140). Pai. Um novo nome pelo qual Jesus ensinou as pessoas a se dirigirem a Deus, a fim de fortalecer a fé e imprimir nelas a ideia do íntimo relacionamento que se pode desfrutar em companheirismo com Deus (PJ, 141, 142). |
Lc.11:3 | 3. o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:4 | 4. perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não nos deixes cair em tentação. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:5 | 5. Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, Qual dentre vós. [A parábola do amigo importuno, Lc.11:5-8]. Jesus extraiu diversas lições desta parábola (ver com. do v. Lc.11:8; sobre as circunstâncias envolvidas, ver com. do v. Lc.11:1; e sobre as parábolas e os princípios para sua interpretação, ver p. 197-204). À meia-noite. No Oriente, muitas viagens durante o verão ocorrem à noite. Por outro lado, pode ser que este visitante (v. Lc.11:6) se atrasou na viagem. |
Lc.11:6 | 6. pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. Um meu amigo. Um importante detalhe na narrativa é que o homem não pede para si mesmo, mas para um amigo em necessidade (ver com. do v. Lc.11:8). Eu nada tenho. O fato de o homem não ter nada explica porque ele pediu ajuda à meia-noite. A consciência de que não podemos fazer nada de nós mesmos (Jo.15:5) deveria de modo semelhante, levar-nos à Fonte de alimento espiritual (ver Jo.6:27-58). Às vezes, aqueles que desejam levar os amigos a Cristo sentem que lhes falta o pão celestial que desejam compartilhar. |
Lc.11:7 | 7. E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes; a porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar Não me importunes. Isto não era por mesquinhez; a aversão ao incômodo conduziu às palavras: “Não me importunes.” Mas, uma vez que ele já havia sido importunado a sair da cama, abasteceu o visitante com o pão de que necessitava (v. Lc.11:8). Deus não é como o ser humano que se irrita ao ser importunado. Ele é um Pai generoso, amoroso e solícito (ver v. Lc.11:9-13). A relutância do amigo em se levantar para suprir a necessidade do próximo de modo algum representa a Deus (ver v. Lc.11:13). A lição da parábola não é de comparação, mas de contraste. Fechada. Como se dissesse: “Está fechada e permanecerá fechada.” Tornar uma porta segura, nos tempos antigos, não era uma tarefa simples. Comigo também já estão deitados. Em muitas regiões do Oriente, ainda hoje, os membros da família dormem juntos em um quarto, geralmente sobre um “colchão de palha” no assoalho, ou elevam plataformas no modelo de camas. Um membro da família que se levanta, facilmente acorda os demais. Não posso. Na verdade, atender ao pedido do amigo era apenas uma questão de disposição, não de capacidade. |
Lc.11:8 | 8. digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por causa da importunação e lhe dará tudo o de que tiver necessidade. Importunação. Do gr. anaideia, literalmente, “falta de vergonha” ou “atrevimento”. Várias vezes o líder do lar repeliu os chamados urgentes do visitante à meia-noite (ver PJ, 143), mas o visitante não aceitaria um “não” como resposta. “Há na fé genuína, firmeza, constância de princípio, e estabilidade de propósito, que nem o tempo nem fadigas podem enfraquecer” (PJ, 147). Novamente, a parábola ensina por contraste e não por comparação (ver com. do v. Lc.11:7). Deus não está indisposto a conceder o que é bom. Não é preciso que O convençamos a fazer algo que de outro modo não estaria disposto a fazer. Deus conhece nossas necessidades, é plenamente capaz de supri-las e está disposto a fazer “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef.3:20). |
Lc.11:9 | 9. Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pedi. [Jesus incita a orar, Lc.11:9-13 = Mt.7:7-12]. Sobre os v. 9-13, ver com. de Mt.7:7; Mt.7:11. A oração não é para persuadir Deus acerca de nossa vontade a respeito de uma questão; às vezes, é para descobrir a vontade dEle a respeito dessa questão. Ele conhece as necessidades antes de pedirmos; mais que isso, Ele sabe o que é melhor. Por outro lado, o ser humano geralmente tem uma consciência vaga de suas próprias necessidades. Com frequência, pensa que precisa de coisas que não são necessárias e que até podem ser prejudiciais. Às vezes, sequer está consciente de suas maiores necessidades (cf. PJ, 145). A oração pode levar a vontade e, desta forma, a vida, a estar em harmonia com a vontade de Deus (ver PJ, 143). A oração é o meio divinamente indicado para educar os desejos. Não é o verdadeiro propósito da oração operar uma mudança em Deus, mas operar uma mudança em nós, para que desejemos “tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp.2:13). Ao suplicante sincero Deus enviará uma resposta a cada pedido pronunciado com humildade e fé. Ele pode dizer “sim”, “não” ou “espere”. Algumas respostas podem ser adiadas porque uma mudança deve ocorrer na pessoa antes que Deus possa respondê-la (ver DTN, 200). Há condições definidas para a oração ser respondida; e, se parece haver demora, deve-se perguntar se a dificuldade não está com o suplicante. É um insulto ser impaciente quando as condições humanas que possibilitam a oração ser atendida não são cumpridas. A lição central da parábola é a constância na oração. A parábola também define o tipo de pedidos para os quais o Senhor aconselha perseverança: orações cujo objetivo é o bem dos semelhantes e a extensão do reino de Deus. “Tudo quanto Cristo recebeu de Deus podemos nós possuir também” (PJ, 149). A inconstância na oração não agrada a Deus, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg.1:17). Aquele que é inconstante na oração não espera, na verdade, algo de Deus. “O que duvida” não deve supor “que alcançará do Senhor alguma coisa” (Tg.1:6-7). |
Lc.11:10 | 10. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:11 | 11. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:12 | 12. Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:13 | 13. Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:14 | 14. De outra feita, estava Jesus expelindo um demônio que era mudo. E aconteceu que, ao sair o demônio, o mudo passou a falar; e as multidões se admiravam. Expelindo um demônio. [A cura de um endemoniado mudo. A blasfêmia dos fariseus. Jesus Se defende, Lc.11:14-23 = Mt.12:22-32; Mc.3:20-30. Comentário principal: Mt]. Quando se compara o evento e as falas subsequentes, narrados aqui por Lucas, com a passagem paralela em Mateus, fica evidente que Lucas não está seguindo uma ordem estritamente cronológica. O evento relatado por Mateus ocorreu quase um ano e meio antes do tempo indicado pelo contexto do registro de Lucas (ver com. de Mt.12:22; Lc.11:1). A semelhança entre os dois relatos (exceto Lc.11:16; Lc.11:27-28) contraria a ideia de que o registro de Lucas seja de um evento diferente, ligado ao ministério na Pereia (ver com. de v. Lc.11:1). Se dois eventos são descritos, nesse caso, eles seriam quase idênticos, inclusive a discussão subsequente. |
Lc.11:15 | 15. Mas alguns dentre eles diziam: Ora, ele expele os demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:16 | 16. E outros, tentando-o, pediam dele um sinal do céu. E outros, tentando-O. Ver com. de Mt.12:38-42; Mt.16:1. |
Lc.11:17 | 17. E, sabendo ele o que se lhes passava pelo espírito, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e casa sobre casa cairá. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:18 | 18. Se também Satanás estiver dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Isto, porque dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:19 | 19. E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:20 | 20. Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:21 | 21. Quando o valente, bem-armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:22 | 22. Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele, vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:23 | 23. Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:24 | 24. Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. O espírito imundo. [A estratégia de Satanás, Lc.11:24-26 = Mt.12:43-45]. Ver com. de Mt.12:43-45. |
Lc.11:25 | 25. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:26 | 26. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:27 | 27. Ora, aconteceu que, ao dizer Jesus estas palavras, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou e disse-lhe: Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram! Uma mulher. [A exclamação de uma mulher, Lc.11:27-28]. Ela era “da comunidade”, isto é, pertencia ao grupo que ouvira a discussão anterior. Além disso, a expressão “estas palavras” liga o evento dos v. Lc.11:27-28 à discussão anterior. Neste ponto da narração, Mateus fala a respeito da mãe e dos irmãos de Jesus (Mt.12:46), um incidente que Lucas relata em Lc.8:19-21. Pode ser que a chegada deles impeliu esta mulher a fazer a declaração registrada aqui. |
Lc.11:28 | 28. Ele, porém, respondeu: Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam! Antes. Jesus não contradisse o elogio da mulher a Maria; como qualquer boa mãe ela era merecedora de honra. Em vez disto, Jesus salientou a impropriedade do conceito da mulher acerca do reino dos Céus. Ele não aprovou nem desaprovou o que ela disse. Se Jesus pretendesse que os cristãos concedessem honra especial a Maria, esta teria sido uma oportunidade ideal para tanto. Ele também não aprovou cordialmente o que foi dito, como fez quando Pedro O reconheceu como o Filho de Deus (ver com. de Mt.16:17). Nas Escrituras, o reconhecimento da divindade de Jesus é essencial, enquanto a ideia de se prestar honra a Maria não é sequer insinuada (ver com. de Mt.1:18; Mt.1:25; Mt.12:48; Mt.12:50; Lc.1:28; Lc.1:47). Jesus parece negar qualquer importância especial atribuída a Maria, por parte dos cristãos (ver Mt.12:46-50). |
Lc.11:29 | 29. Como afluíssem as multidões, passou Jesus a dizer: Esta é geração perversa! Pede sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. Geração perversa. [O sinal de Jonas, Lc.11:29-32 = Mt.12:38-42]. Sobre os v. 29-32, ver com. de Mt.12:38-42. Não há consenso se este é o mesmo evento registrado em Mt.12:38-42, ou se é um incidente posterior ligado ao ministério na Pereia (ver DTN, 488; ver com. de Lc.11:1; Lc.11:33). |
Lc.11:30 | 30. Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do Homem o será para esta geração. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:31 | 31. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:32 | 32. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:33 | 33. Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar escondido, nem debaixo do alqueire, mas no velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Acender uma candeia. [A parábola da candeia, Lc.11:33-36 = Mt.6:22-23]. Ver com. de Mt.5:15. Lucas já havia registrado um discurso de Cristo sobre uma lâmpada e sua luz em ligação com o sermão à beira-mar (ver com. de Lc.8:16). Isso sugere que esse evento (Lc.11:33-36) teria ocorrido posteriormente, durante o ministério na Pereia. Jesus repetiu muito de Seus ensinos iniciais durante esse período (ver DTN, 488). Isso pode indicar que os v. Lc.11:14-32 tratam de eventos ocorridos na Pereia (ver com. dos v. Lc.11:14; Lc.11:29). |
Lc.11:34 | 34. São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o teu corpo ficará em trevas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:35 | 35. Repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:36 | 36. Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem ter qualquer parte em trevas, será todo resplandecente como a candeia quando te ilumina em plena luz. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:37 | 37. Ao falar Jesus estas palavras, um fariseu o convidou para ir comer com ele; então, entrando, tomou lugar à mesa. Um fariseu. [Jesus censura os fariseus, Lc.11:37-44]. Ver com. de Mt.23:1-39; Lc.20:45-47. O evento narrado nos v. 37 a 54 parece distinto do mencionado em Mt.23:1-39; Lc.20:45-47. As palavras “ao falar” (Lc 11:37) estão intimamente ligadas ao restante do capítulo em que estão inseridas. Nessa ocasião, Jesus estava jantando no lar de um fariseu, enquanto na outra Ele estava no pátio do templo em Jerusalém (ver com. de Mt.23:38; Mt.24:1). Este incidente ocorreu “poucos meses” antes do final do ministério de Jesus (PJ, 253; ver com. de Lc.12:1). A argumentação da Alta Crítica de que Lucas utiliza diversas fontes conforme as encontrava, arranjando-as conforme lhe aprazia, sem compreender a ligação delas com outros eventos da vida de Jesus, não tem fundamento. Em geral, os pregadores utilizam um mesmo sermão com algumas variações em ocasiões diferentes, e não há problema em se pensar que Jesus tenha agido da mesma forma na apresentação de Suas mensagens. Na realidade, seria estranho se, no ensino de aldeia em aldeia e de distrito em distrito, Ele nunca repetisse as mesmas verdades gerais. A semelhança verbal entre discursos que, como o contexto revela, foram apresentados em diferentes momentos também não é algo estranho. Às vezes, as palavras de Lucas são semelhantes às de outros escritores, mesmo no registro de diferentes incidentes na vida de Cristo. Contudo, isso não é razão para se negar a inspiração divina de seu relato. Além disso, é preciso lembrar que os evangelhos nem sempre seguem uma ordem cronológica na apresentação das narrativas (ver Ellen White, Material Suplementar sobre 2Pe.1:21). Comer com ele. Sobre os costumes judaicos à mesa, ver com. de Mc.2:15. |
Lc.11:38 | 38. O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara primeiro, antes de comer. Admirou-se. Ver com. de Mt.22:4; sobre o rito de lavar as mãos, ver com. de Mc.7:1-8; sobre os ensinos de Jesus sobre o tema, ver com. de Mc.7:9-23. |
Lc.11:39 | 39. O Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade. Limpais o exterior. Ver com. de Mt.23:25. Rapina. Do gr. harpage, “rapina”, “saque”, “pilhagem”, “roubo” ou “assalto”. Em Hb.10:34, a palavra harpage é traduzida como “espólio”. A forma adjetiva, harpax, é utilizada para lobos “devoradores” (ver com. de Mt.7:15) e para “roubadores” (ver Lc.18:11; 1Co.5:10; 1Co.6:10). |
Lc.11:40 | 40. Insensatos! Quem fez o exterior não é o mesmo que fez o interior? Insensatos. Do gr. aphrones, “insensatos” ou “tolos”. A palavra aphron é um adjetivo correspondente ao substantivo aphrosune, “loucura”. |
Lc.11:41 | 41. Antes, dai esmola do que tiverdes, e tudo vos será limpo. Antes, dai esmola. Ver Lc.12:33. O significado do v. 41 é obscuro. A expressão ta enonta, traduzida como “do que tiverdes”, não ocorre em outro lugar no NT, e o que Jesus quis dizer é incerto. O texto grego parece favorecer a tradução da NTLH: “o que está dentro”, isto é, “dentro” do “copo” e do “prato”, ou “dentro” dos próprios fariseus (ver v. Lc.11:39). Se Jesus Se referia a “copo” e “prato”, Ele estaria sugerindo que a generosidade para com os pobres é mais eficaz contra a contaminação do que a purificação cerimonial dos recipientes em que o alimento é colocado. Caso Se referisse aos próprios fariseus, Ele estaria dizendo que a generosidade e o cuidado pelos pobres é mais eficaz para a limpeza do coração do que a preocupação com minúcias da tradição (ver com. de Mc.7:7; ver o conselho de Jesus ao jovem rico, em Lc.18:22-23). E tudo vos será limpo. Ver com. de Mc.7:19. O sentido aqui é: “você será puro aos olhos de Deus”; e, quando esta condição predominar, nada mais deverá causar preocupação. No entanto, alguns consideram estas palavras como uma ironia: “Você será puro [aos próprios olhos]”, quando der esmolas. |
Lc.11:42 | 42. Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas. Ai de vós. Ver com. de Mt.23:13. Da hortelã, da arruda. Ver com. de Mt.23:23. |
Lc.11:43 | 43. Ai de vós, fariseus! Porque gostais da primeira cadeira nas sinagogas e das saudações nas praças. Primeira cadeira. Ver com. de Mt.23:6. |
Lc.11:44 | 44. Ai de vós que sois como as sepulturas invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber! Escribas e fariseus, hipócritas! (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) atestam a omissão destas palavras (sobre os escribas e fariseus, ver p. 39, 40; sobre a palavra “hipócritas”, ver com. de Mt.6:2). Sepulturas invisíveis. O tempo apaga toda evidência externa das sepulturas, e sobre elas as pessoas podem passar “sem o saber”. O contato com os mortos causava contaminação ritual. |
Lc.11:45 | 45. Então, respondendo um dos intérpretes da Lei, disse a Jesus: Mestre, dizendo estas coisas, também nos ofendes a nós outros! Um dos intérpretes da lei. [Ai dos intérpretes da Lei! Lc.11:45-52]. Este detalhe característico da narrativa de Lucas não ocorre no registro de Mt.23:27. Os “intérpretes da lei” eram os “escribas”. Escrevendo para gentios, que talvez não entendessem o significado hebraico técnico da palavra “escriba”, Lucas substitui o termo por “intérprete da lei”. Também nos ofendes. A maioria dos escribas eram fariseus. Os fariseus constituíam uma seita, e os escribas ou “intérpretes da lei” eram os expositores profissionais da lei. No relato de Mt.23, Jesus Se dirige aos fariseus e escribas desde o princípio. Esta é outra indicação de que Lucas registra, neste versículo, um incidente ocorrido em outra ocasião, diferente do mencionado em Mateus, a despeito de semelhanças entre os dois relatos (ver com. do v. Lc.11:37). |
Lc.11:46 | 46. Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais. Sobrecarregais os homens. Ver com. de Mt.23:4. |
Lc.11:47 | 47. Ai de vós! Porque edificais os túmulos dos profetas que vossos pais assassinaram. Edificai os túmulos. Ver com. de Mt.23:29-30. |
Lc.11:48 | 48. Assim, sois testemunhas e aprovais com cumplicidade as obras dos vossos pais; porque eles mataram os profetas, e vós lhes edificais os túmulos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:49 | 49. Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão, Sabedoria de Deus. Ver com. de Mt.23:34. O próprio Jesus é “a sabedoria de Deus” encarnada (1Co.1:24; 1Co.1:30), mas é duvidoso que Jesus Se refira a Si mesmo. É mais provável que Ele quisesse dizer “Deus em Sua sabedoria”. Não há conhecimento de um livro que tenha este título. |
Lc.11:50 | 50. para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo Desta geração. Ver com. de Mt.12:39; Mt.23:36; Mt.24:34. Dos profetas. Ver com. de Mt.23:35-36. |
Lc.11:51 | 51. desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração. Sem comentário para este versículo. |
Lc.11:52 | 52. Ai de vós, intérpretes da Lei! Porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando. Chave da ciência. Ver com. de Mt.23:13. A “chave da ciência” é a que abre a porta do conhecimento da salvação, como este contexto e o de Mt.23:13 o indicam (sobre o uso da palavra “chaves”, ver com. de Mt.16:19). |
Lc.11:53 | 53. Saindo Jesus dali, passaram os escribas e fariseus a argui-lo com veemência, procurando confundi-lo a respeito de muitos assuntos, Dizendo-lhes Ele isso (ARC). [O plano para tirar a vida de Jesus, Lc.11:53-54]. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “saindo Jesus dali” (ARA). Os escribas e fariseus. Sobre os escribas e fariseus, ver p. 39, 40; sobre o empenho deles para impedir a obra de Jesus, ver com. de Mt.4:12; Mc.2:24; Lc.6:6-7; Lc.6:11. |
Lc.11:54 | 54. com o intuito de tirar das suas próprias palavras motivos para o acusar. Motivos para O acusar. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta frase. Durante dois anos, espias do Sinédrio perseguiram os passos de Jesus na Galileia e na Judeia (DTN, 213; ver com. do v. Lc.11:53). A esta altura, eles estavam mais ativos ainda. Mas os espias nada ouviram que pudesse ser interpretado contra Ele, exceto com deliberada distorção e deturpação (ver com. de Mt.26:59-63). |
Lc.12:1 | 1. Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Entretanto (ARC). [O fermento dos fariseus. Algumas admoestações, Lc.12:1-12]. Em ocasiões anteriores Jesus tinha proferido a maioria dos conselhos registrados em Lucas 12 (ver DTN, 408, 488; Lc.12:2-9; Lc.12:51-53 é semelhante a Mt.10:26-36; Lc.12:22-34; Lc.12:57-59 é idêntico a Mt.6:25-34, Mt.6:19-21; Mt.5:25-26; Lc.12:39-46 é análogo a Mt.24:43-51; e Lc.12:54-56 tem as mesmas características de Mt.16:2-3). Mesmo assim, este capítulo deve ser, em sua totalidade, um discurso apresentado logo após a visita ao lar do fariseu (Lc.11), como sugere a conjunção “entretanto” (ARC; ver com. de Lc.11:53-54). Restavam poucos meses para o término do ministério terrestre de Jesus (PJ, 253). O tema do cap. 12 de Lucas é a sinceridade e a devoção que caracterizariam o verdadeiro seguidor de Jesus, em contraste com a hipocrisia dos fariseus. Miríades de pessoas. Do gr. muriades, literalmente, “dez milhares”; portanto, no uso geral, qualquer número grande (ver At.21:20). A palavra “miríade” origina-se do radical murias (plural, muriades). Uns aos outros se atropelarem. Um detalhe que enfatiza a extensão da multidão. Antes de tudo. O discurso seguinte foi dirigido aos discípulos, mas também se destinava às “miríades” de pessoas. As palavras “antes de tudo” não devem, ser ligadas a “acautelai-vos”, mas a “passou Jesus a dizer aos Seus discípulos”. Acautelai-vos. Ver com. de Mt.16:5-9. No incidente no lar do fariseu, os discípulos viram o fermento dos fariseus em ação (ver Lc.11:37-54). Hipocrisia. Antes, Jesus tinha definido o “fermento” dos fariseus como a “doutrina” deles (ver Mt.16:12), isto é, o que professavam crer e o que ensinavam. Neste versículo, o termo “fermento” é aplicado ao modo de vida deles. Na teoria (“doutrina”) e na prática (“hipocrisia”), por preceito e exemplo, a influência dos fariseus distanciava as pessoas de Deus e da verdade (sobre a palavra “hipócrita”, ver com. de Mt.6:2; Mt.23:13). |
Lc.12:2 | 2. Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Nada há encoberto. Sobre os v. 2-9, ver com. de Mt.10:27-33. |
Lc.12:3 | 3. Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados. Interior. Literalmente, “câmaras [interiores]”, onde os bens eram armazenados. |
Lc.12:4 | 4. Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:5 | 5. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer. |
Lc.12:6 | 6. Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Cinco pardais. Em Mt.10:29, dois pardais são vendidos por um “asse”. Asses. Do gr. assaria (ver p. 37; ver com. de Mt.10:29). |
Lc.12:7 | 7. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:8 | 8. Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus Confessar. Literalmente, “concordar com” e “reconhecer”. |
Lc.12:9 | 9. mas o que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:10 | 10. Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão. Uma palavra contra. Ver com. de Mt.12:32. |
Lc.12:11 | 11. Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes de falar. Os governadores e as autoridades. Literalmente, “líderes e autoridades” (sobre os v. 11, 12, ver com. de Mt.10:19-20). |
Lc.12:12 | 12. Porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma hora, as coisas que deveis dizer. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:13 | 13. Nesse ponto, um homem que estava no meio da multidão lhe falou: Mestre, ordena a meu irmão que reparta comigo a herança. Um homem. [Jesus reprova a avareza, Lc.12:13-21]. A respeito das parábolas, ver p. 197-204]. Isto é, alguém da “multidão” (ver v. Lc.12:1) que aguardava Cristo na rua, fora da casa do fariseu que o hospedava (ver Lc.11:37). Este homem que se dirigiu a Jesus tinha ouvido as acusações contra os escribas e fariseus (ver Lc.11:39-52; PJ, 253) e o conselho aos discípulos sobre o comparecimento diante de magistrados (ver Lc.12:11; cf. PJ, 252). Ele concluiu que se Jesus falasse com seu irmão com a mesma autoridade, ele não se atreveria a fazer diferentemente do que Jesus ordenasse. Ele imaginou o evangelho do reino apenas como um meio de promover interesses egoístas (comparar com a atitude do mago Simão, em At.8:9-24). Multidão. Do gr. ochlos, traduzido como “pessoas”, no v. Lc.12:1 (sobre a cronologia deste incidente, ver com. do v. Lc.12:1). Ordena a meu irmão. Os dois irmãos eram ambiciosos; do contrário, haveria pouca possibilidade de briga entre eles. Reparta comigo a herança. De acordo com a lei mosaica de herança, o irmão mais velho recebia duas partes dos bens do pai, e os demais, uma parte cada um (ver com. de Dt.21:17). Talvez fosse o irmão mais novo que apelava a Jesus e contestava que o irmão mais velho recebesse a porção dobrada designada por lei. |
Lc.12:14 | 14. Mas Jesus lhe respondeu: Homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre vós? Homem. Esta forma de tratamento indica rigor ou severidade (ver Lc.22:58; Lc.22:60; Rm.2:1; Rm.9:20). Juiz ou partidor. O reino que Jesus proclamou “não era deste mundo” (ver Jo.18:36). Ele não comissionou os discípulos como agentes de justiça social, importante como ela o seja, e em nenhum momento fez qualquer tentativa para agir judicialmente entre as pessoas (ver Jo.8:3-11). Como os profetas antigos (Mq.6:8), Jesus estabeleceu os princípios que regeriam os relacionamentos (ver com. de Mt.5:38-47; Mt.6:14-15; Mt.7:1-6; Mt.7:12; Mt.22:39), mas deixou a administração da justiça civil às autoridades civis nomeadas. Ele não Se desviou dessa norma, e os que falam em Seu nome fazem bem em seguir Seu exemplo neste e em outros aspectos (PJ, 254). |
Lc.12:15 | 15. Então, lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. Avareza. Do gr. pleonexia (ver com. de Mc.7:22). A avareza pode ser definida como afeição indevida às coisas materiais, especialmente as que pertencem a outrem. O homem que se dirigiu a Cristo não necessitava de mais riquezas; ele precisava que a avareza fosse tirada de seu coração, após o que as riquezas seriam de pouco valor para ele. Como sempre, Jesus foi à raiz da questão e propôs uma solução que excluiria problemas semelhantes no futuro. Ele não apresentou soluções temporárias como as propostas pelo denominado evangelho social. A maior necessidade das pessoas não é de salário ou lucros maiores. Elas precisam de uma mudança de coração e mente que as levará a buscar primeiro o reino de Deus e Sua justiça, em plena confiança de que as necessidades da vida “serão acrescentadas” (ver com. de Mt.6:33). Abundância dos bens. Ver com. de Mt.6:24-34. O apego aos bens materiais é a raiz dos grandes problemas do mundo. Ele está na base de grande parte das filosofias políticas e econômicas, sendo, assim, responsável pela maioria dos conflitos nacionais e de classes. A insatisfação com o que se possui gera o desejo de ter mais e conduz à exploração dos outros. Em vez disso, deve-se trabalhar honestamente. A avareza é a causa de muitos dos problemas mundiais insolúveis. O pedido do homem a Jesus foi induzido pelo mesmo espírito que leva empregadores a buscar mais rendimentos, a despeito dos meios pelos quais serão assegurados, e que leva trabalhadores a exigir salário crescente à revelia da contribuição deles para a produção da riqueza e da capacidade do empregador para pagá-los. Esse é o espírito que leva grupos a garantir legislação favorável a si mesmos sem se preocupar como tal legislação afetará outros grupos; e que leva uma nação a impor sua vontade sobre outros povos, independentemente das necessidades destes últimos. Este espírito arruina lares e leva à delinquência. Jesus exortou a ver as coisas materiais na perspectiva correta e a subordiná-las às coisas de valor eterno (ver com. de Mt.6:24-34; Jo.6:27). Contrariamente à opinião da maioria, ter mais “coisas” não traz necessariamente mais felicidade. A felicidade depende não de “coisas”, mas da realização pessoal que inclui a relação com Deus (ver com. de Ec.2:1-11). |
Lc.12:16 | 16. E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. Uma parábola. Sobre as parábolas e os princípios de sua interpretação, ver p. 197-204. Esta parábola, relatada apenas por Lucas, ilustra o princípio do v. Lc.12:15, de que as “coisas” materiais não são o objetivo final da vida (ver também com. de Mt.19:16-22). Campo. O homem planta a semente e cuida dela, mas é Deus quem a faz crescer (ver com. de Mc.4:26-29; 1Co.3:6-7). Deus é quem envia o sol e a chuva (ver com. de Mt.5:45) e abençoa os esforços humanos com “estações frutíferas” (ver At.14:17). Antes que entrasse na terra prometida, Deus advertiu Israel a não esquecer que é Ele que dá “força para adquirir riquezas” (ver Dt.8:11-18). Contudo, o ser humano é propenso a tomar sobre si o crédito do que Deus lhe concede, dizendo: “A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas” (Dt.8:17). Aquele cujo coração não é grato a Deus se torna “nulo” em seus “raciocínios”, e o “coração insensato” será “obscurecido” (ver Rm.1:21). O que é sábio aos próprios olhos torna-se louco aos olhos de Deus (ver Rm.1:22). Se ele persiste em tal procedimento, finalmente rejeita a Deus e se entrega à busca da felicidade material e do prazer físico (ver Rm.1:23-32); torna- se mais amigo dos prazeres que amigo de Deus (2Tm.3:4). |
Lc.12:17 | 17. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? Arrazoava consigo mesmo. Isto é, considerou a questão sob vários pontos de vista e deu ao assunto o que lhe parecia uma conclusão lógica. Não tenho onde. Esta percepção deveria levar o homem a pensar nas pessoas que necessitavam das coisas que Deus lhe outorgara em abundância. No entanto, os interesses egoístas o fizeram cego às necessidades dos semelhantes (ver com. de Lc.16:19-31). Recolher. Literalmente, “reunir”. |
Lc.12:18 | 18. E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Meu produto. Os pronomes possessivos revelam seu caráter: “meus frutos”, “meus celeiros”, “meus bens”, “minha alma” (cf. Os.2:5). Os pensamentos dele eram todos sobre si mesmo. Ele não percebia que “quem se compadece do pobre ao Senhor empresta” (Pv.19:17). |
Lc.12:19 | 19. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Alma. Ver com. de Mt.10:28. Descansa. Ele construiu uma fortuna e estava pronto para se aposentar. Então, se entregaria ao consumo das boas coisas da vida, sem pensar mais em produção. Come, bebe e regala-te. O homem estava certo de que tinha o bastante até ao fim da vida e que passaria os dias vivendo dissolutamente, como o filho pródigo num país distante, esquecendo-se de Deus e dos semelhantes (ver com. de Lc.15:13; Ec.8:15). |
Lc.12:20 | 20. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Louco. Ver com. de Lc.11:40. Jesus não disse que Deus proferiu estas palavras ao “louco” nem que o conscientizou disso. Também não disse que a conversa entre o rico e o “pai Abraão” (Lc.16:24-31) tenha ocorrido. Nos dois exemplos, o diálogo é imaginado para efeito ilustrativo. O interesse é no ensino da parábola, não em seus detalhes (ver também a conversa entre as árvores da floresta, em Jz.9:8-15). Tua alma. Literalmente, “eles estão exigindo tua alma de ti”. Alguns sugerem que o pronome implícito “eles” é um circunlóquio rabínico para evitar o uso do nome divino (ver com. de Lc.15:7). Outros se referem ao pronome com relação aos “destruidores” (ver Jó.33:22). |
Lc.12:21 | 21. Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. Entesoura para si mesmo. Toda pessoa que pensa e planeja só para si mesma não tem bom senso à vista de Deus (ver com.de Lc.11:40). O evangelho do reino deve tirar os pensamentos dos seres humanos de si mesmos e direcioná-los a Deus e aos semelhantes (ver com. de Lc.12:15). Para com Deus. Isto é, aos olhos de Deus. O “louco” não possui tesouro armazenado no Céu (ver com. de Mt.6:19-23). |
Lc.12:22 | 22. A seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Dizendo. [A ansiosa solicitude pela vida, Lc.12:22-34 = Mt.6:25-34]. Tendo respondido ao homem que O interrompeu, Jesus retoma o discurso à multidão e aos discípulos (ver com. dos v. Lc.12:1; Lc.12:13; sobre Lc 12:22-34, ver com. de Mt.6:19-21; Mt.6:25-33). Não andeis ansiosos. Literalmente, “não sejam ansiosos” ou “não tenham pensamentos [ansiosos]” (ver com. de Mt.6:25). |
Lc.12:23 | 23. Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes. Alimento. Do gr. trophe, “nutrição”, “alimento”, “mantimento” (ver com. de Mt.3:4). |
Lc.12:24 | 24. Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves! Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:25 | 25. Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? [105] Acrescentar um côvado. Ver com. de Mt.6:27. |
Lc.12:26 | 26. Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras? Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:27 | 27. Observai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:28 | 28. Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé! Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:29 | 29. Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações. Não andeis. No grego, “vós” é enfatizado. |
Lc.12:30 | 30. Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:31 | 31. Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:32 | 32. Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:33 | 33. Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome, Bolsas. Do gr. ballantia (ver Lc.10:4). |
Lc.12:34 | 34. porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:35 | 35. Cingido esteja o vosso corpo, e acesas, as vossas candeias. Cingido esteja o vosso corpo. [A parábola do servo vigilante, Lc.12:35- 48; sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Isto é, esteja preparado para agir (ver com. de Sl.65:6). A vigilância é a tônica desta parábola. Aqui, pela primeira vez, Jesus ensinou a respeito de Sua segunda vinda. Já se vislumbrava o final de Seu ministério terrestre. Por isso, Ele procura preparar as pessoas para Sua ascensão e Seu retorno em poder e glória. A ênfase da parábola está no viver corretamente em vista do retorno do Mestre. |
Lc.12:36 | 36. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. Esperam. Não ociosos, mas vigilantes e em preparo diligente (ver a parábola das dez virgens, em Mt.25:1-12). |
Lc.12:37 | 37. Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá. Bem-aventurados. Ou, “felizes” (ver com. de Mt.5:3). Era verdade. Ver com. de Mt.5:18. Cingir-se. Ver com. do Sl.65:6. Isto é, por causa da fidelidade e lealdade ao Senhor. |
Lc.12:38 | 38. Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar. Segunda vigília. Entre as 21h e 24h. (ver com. de Mt.14:25). Terceira. De meia-noite às 3h da manhã. |
Lc.12:39 | 39. Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, [vigiaria e] não deixaria arrombar a sua casa. Pai de família. Do gr. oikodespotes, “dono da casa” (ver com. de Lc.2:29; ver com. de Pv.7:19). Arrombar. As casas orientais eram feitas de paredes de barro, e o modo mais fácil de um ladrão entrar seria fazendo um buraco na parede (cf. Ez.12:5; Ez.12:12). |
Lc.12:40 | 40. Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:41 | 41. Então, Pedro perguntou: Senhor, proferes esta parábola para nós ou também para todos? Pedro perguntou. Como de costume, Pedro age por iniciativa própria como o porta-voz dos doze (ver com. de Mt.14:28; Mt.16:16; Mt.17:14). Ou também para todos. Os doze discípulos e a multidão estavam presentes (ver com. do v. Lc.12:1), e Pedro perguntou se a admoestação de Jesus sobre vigilância tinha uma aplicação especial aos discípulos como “servos” do “mestre” na parábola, ou se era aplicada à multidão em geral. |
Lc.12:42 | 42. Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? O mordomo fiel e prudente. Sobre os v. 42-46, ver com. de Mt.24:45-51. |
Lc.12:43 | 43. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:44 | 44. Verdadeiramente, vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:45 | 45. Mas, se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:46 | 46. virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:47 | 47. Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. Conheceu a vontade de seu senhor. Ver com. de Mt.7:21-27. Deus mede a responsabilidade de uma pessoa por seu conhecimento do dever, inclusive das verdades que ela deveria saber, mas não aproveitou (ver Ez.3:18-21; Ez.18:2-32; Ez.33:12-20; Lc.23:34; Jo.15:22; 1Tm.1:13; Tg.4:17). |
Lc.12:48 | 48. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:49 | 49. Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder. Lançar fogo. [Jesus traz fogo e dissensão à terra, Lc.12:49-53]. O grego enfatiza “fogo”. Ver com. de Mt.10:34-36. E bem quisera. O significado do restante do v. 49 não está claro. Uma tradução possível seria: “Bem quisera que já estivesse a arder” (ARA). |
Lc.12:50 | 50. Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize! Tenho, porém, um batismo. Não o batismo de Jesus pelas mãos de João, que então já fazia mais de três anos, mas o “batismo” de Sua morte (ver com. de Mt.3:11). A palavra “batismo”, quando utilizada figuradamente como neste caso, significa ser “imerso” em circunstâncias em que a pessoa fica face a face com a morte, como se fosse imerso em água por um tempo considerável. |
Lc.12:51 | 51. Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:52 | 52. Porque, daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:53 | 53. Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha, filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:54 | 54. Disse também às multidões: Quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logo dizeis que vem chuva, e assim acontece Quando vedes aparecer uma nuvem. [Os sinais dos tempos, Lc.12:54-59]. Sobre os v. 54-56, ver com. de Mt.16:2-3. |
Lc.12:55 | 55. e, quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e assim acontece. Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:56 | 56. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época? Sem comentário para este versículo. |
Lc.12:57 | 57. E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo? Não julgais. Sobre os v. 57-59, ver com. de Mt.5:25-26. |
Lc.12:58 | 58. Quando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te para te livrares desse adversário no caminho; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, o juiz te entregue ao meirinho e o meirinho te recolha à prisão. Adversário. Do gr. antidikos, “oponente [em um processo judicial]”, “inimigo” ou “adversário”. Arraste. Literalmente, “arrastar [violentamente]”. Ao meirinho. Aquele a quem a multa deveria ser paga. Incapacidade de pagamento significava aprisionamento (sobre o costume de aprisionamento por débito, ver com. de Mt.18:25). |
Lc.12:59 | 59. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo. Centavo. Do gr. lepton, uma moeda de bronze bem pequena (ver p. 37; cf. Lc.21:2). |
Lc.13:1 | 1. Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Naquela mesma ocasião. [A morte dos galileus e a queda da torre de Siloé, Lc.13:1-5. Acerca das parábolas, ver p. 197- 204]. Uma linguagem comum em Lucas, indicando relação direta com a seção anterior (ver com. de Lc.12:1). A ocasião era, possivelmente, o inverno de 30-31 d.C. Jesus falava sobre os sinais dos tempos. Chegando alguns. Ou, “estavam presentes” (ARC). O massacre já havia acontecido (PJ, 212, 213) e pode ser que as pessoas que conversavam com Cristo davam a notícia do incidente. Falavam a Jesus. Não se sabe quem eram estas pessoas nem o motivo porque narravam o acontecimento. Poderia haver motivos ocultos. Dos galileus. Este massacre específico não é mencionado por nenhum outro escritor além de Lucas, embora Josefo se refira a vários massacres semelhantes por parte de Pilatos e outros administradores da província da Judeia. Um massacre dos adoradores samaritanos no monte Gerizim, poucos anos mais tarde, em 36 d.C., levou à rejeição de Pilatos por César. Misturara. Eles foram mortos enquanto ofereciam sacrifícios. |
Lc.13:2 | 2. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Mais pecadores do que todos. Esta advertência indica que o massacre era considerado pelos mensageiros e pelo público ao redor de Jesus como um juízo divino sobre os que perderam a vida (cf. Jó.4:7; Jó.8:4; Jó.8:20; Jó.22:5; Jo.9:1-2). Jesus negou enfaticamente tal conclusão. Sempre que surgia uma oportunidade conveniente, Jesus repelia a crença popular de que o sofrimento é um castigo específico pelo pecado. A tentação de pensar em um acidente ou desgraça como um “ato de Deus” provém de Satanás, que busca fazer com que as pessoas considerem a Deus como um Pai cruel e severo. |
Lc.13:3 | 3. Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Arrependerdes. Segundo o texto grego, “arrepender e continuar se arrependendo”. O castigo será infligido no último grande dia do juízo. Jesus não condenou Pilatos, nem os galileus. Se algum dos judeus esperava extrair dEle uma denúncia da crueldade de Pilatos, ficou desapontado. Em toda experiência da vida, o cristão pode aprender como andar diante de Deus de modo mais perfeito, com um coração humilde. Desapontamento, infortúnio e calamidade, caso testemunhados ou experimentados, podem ensinar, ao humilde e receptivo filho de Deus, preciosas lições que não seriam aprendidas de outro modo. |
Lc.13:4 | 4. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Torre de Siloé. Possivelmente ligada ao tanque de Siloé, e parte do sistema de fortalezas de Jerusalém (sobre o tanque de Siloé, ver vol. 1, p. 101; vol. 2, p. 71; e com. de 2Rs.20:20; Ne.3:15; Jo.9:7). Mais culpados. Do gr. opheiletai, literalmente, “devedores”; portanto, utilizado neste versículo no sentido de “infratores”; não hamartoloi, “pecadores”, como no v. Lc.13:2 (cf. Mt.6:12; Lc.7:41). |
Lc.13:5 | 5. Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Arrependerdes. Ver com. do v. Lc.13:3. |
Lc.13:6 | 6. Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. A seguinte parábola. [A parábola da figueira estéril, Lc.13:6-9]. Sobre as parábolas e os princípios para sua interpretação, ver p. 197-204. Ao transmitir esta parábola, Jesus pretendia mostrar o relacionamento entre a misericórdia e a justiça divinas (PJ, 212). Além disso, a longanimidade de Deus é demonstrada em relação à necessidade de arrependimento oportuno da parte do ser humano. Uma figueira. A figueira ilustra a verdade de que Deus ama inclusive os improdutivos, mas que Sua misericórdia pode, afinal, esgotar-se. A figueira seria cortada a menos que desse fruto (cf. Is.5:1-7). Num sentido geral, a figueira representa cada pessoa e, num sentido especial, a nação judaica. Na sua vinha. É comum ter figueiras junto a vides nos jardins da Palestina. Não achou. Ver com. de Mc.11:13. |
Lc.13:7 | 7. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Viticultor. Literalmente, “trabalhador da videira”. Há três anos. Três anos haviam se passado desde que a árvore já deveria estar produzindo. O proprietário dera ampla oportunidade para ela frutificar. Cortá-la. Literalmente, “tirá-la do meio” das videiras. Ainda ocupando. O grego acrescenta “também”. Em outras palavras, além de não frutificar, a árvore também ocupava espaço que poderia ser produtivo. A nação judaica chegou ao ponto em que não era apenas inútil no cumprimento do papel que Deus lhe designara; ela se transformara num obstáculo à realização do plano de salvação (PJ, 215; ver vol. 4, p. 17-20). |
Lc.13:8 | 8. Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Deixa-a ainda. Tem-se sugerido que os “três anos” (v. Lc.13:7) figuradamente seriam os três primeiros anos inclusivos do ministério de Jesus. O ano em questão seria o da graça depois dos “três anos”, porque já haviam se passado mais de três anos desde o batismo de Jesus (ver com. de Mt.4:12), e faltavam poucos meses para a crucifixão (ver com. de Lc.13:1). A misericórdia de Deus ainda aguardava e apelava à nação judaica para se arrepender e aceitar Jesus como o Messias. No entanto, relacionada à ampliação de misericórdia estava a advertência implícita de que aquela oportunidade seria a última. Escave ao redor dela e lhe ponha estrume. O “viticultor” (ver com. do v. Lc.13:7) havia cuidado da árvore tanto quanto das demais. No entanto, nesta última tentativa para auxiliá-la a frutificar, ele parece fazer mais do que antes (ver Is.5:1-4; ver com. de Mt.21:37). |
Lc.13:9 | 9. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la. Se vier a dar fruto, bem está. A expressão “bem está” foi acrescentada. O grego representa uma figura de linguagem incomum, a aposiopese, em que há uma súbita ruptura no pensamento. Nada se fala sobre o resultado do experimento. |
Lc.13:10 | 10. Ora, ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas. Ensinava. [A cura de uma enferma, Lc.13:10-17. Sobre os milagres, ver p. 204- 210]. Isto deve ter ocorrido na Pereia, poucos meses antes da crucifixão (ver com. do v. Lc.13:1). Este é o último evento em que Jesus ensina numa sinagoga (sobre a sinagoga e seus serviços, ver p. 44, 45). Numa ocasião anterior, Jesus fora contestado pelas autoridades por curar numa sinagoga no sábado (ver com. de Mc.3:1-6; sobre outras experiências em sinagogas, ver Lc.4:16-30; Mc.1:21-28; sobre outro incidente de cura no sábado, ver Jo.9:1-14; para uma lista de milagres no sábado, ver p. 207-209). Sábado. Embora o grego seja plural, em harmonia com o uso judaico comum, o sentido é singular: este foi um sábado especial. |
Lc.13:11 | 11. E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se. Encurvada. Do gr. sugkupto, “curvar-se” ou “dobrar-se”, como sob um peso. A palavra também é usada como um termo médico para a curvatura dorsal. |
Lc.13:12 | 12. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade Estás livre. Isto é, libertada para permanecer livre. |
Lc.13:13 | 13. e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus. Impondo-lhe as mãos. Ver com. de Mc.1:31; Mc.7:33; Lc.4:40; Lc.5:13; Lc.8:54; Lc.22:51. |
Lc.13:14 | 14. O chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses dias para serdes curados e não no sábado. O chefe. Ver p. 44; ver com. de Mc.5:22. Disse. O chefe da sinagoga respondeu (do gr. apokrinomai) ou reagiu indignado à situação criada pela cura da mulher enferma (ver com. de Lc.14:3). A multidão. O chefe da sinagoga estava furioso com Jesus, mas hesitava em acusá-Lo pessoalmente; assim, ele dirigiu suas observações à multidão. Seis dias há. De acordo com os regulamentos rabínicos, os casos de urgência poderiam receber uma atenção mínima no sábado, mas não os casos crônicos. É possível que essa mulher frequentasse aquela sinagoga durante os 18 anos de sua “enfermidade”, e o caso dela não era classificado como urgente. Portanto, ela poderia esperar até que o sábado findasse (ver com. de Mc.1:32-33; Mc.3:1-6; Jo.5:16). |
Lc.13:15 | 15. Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura, no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber? Hipócritas. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante plural “hipócritas”. Jesus incluiu tanto o chefe da sinagoga como todos os que concordaram com ele (sobre a palavra traduzida por “hipócritas”, ver com. de Mt.7:5; Mt.6:2). Manjedoura. No NT, a palavra grega ocorre apenas neste versículo e em Lc.2:7; Lc.2:12; Lc.2:16 (ver com. de Lc.2:7; Lc.2:12; Lc.2:16). |
Lc.13:16 | 16. Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos? Esta filha de Abraão. Como ser humano, ela era infinitamente mais valiosa que um animal e pertencia também a um povo favorecido. Este argumento apelaria à multidão e silenciaria o chefe da sinagoga (ver v. Lc.13:17), apesar de não convencê-lo de que estava errado. Satanás trazia presa. Is.61:1-3 diz que o Messias livraria os cativos de Satanás. Neste versículo, Jesus Se refere a Satanás como o responsável por todas as doenças. |
Lc.13:17 | 17. Tendo ele dito estas palavras, todos os seus adversários se envergonharam. Entretanto, o povo se alegrava por todos os gloriosos feitos que Jesus realizava. O povo se alegrava. O interesse de Jesus no caso da mulher foi uma repreensão implícita ao chefe da sinagoga, que nada fez por ela durante os 18 anos de “enfermidade”. Ele olhou para Jesus “indignado” (v. Lc.13:14); mas o povo, com alegria. |
Lc.13:18 | 18. E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? O reino de Deus. [A parábola do grão de mostarda, Lc.13:18-19 = Mt.13:31-32 = Mc.4:30-32. Cf. com. de Mt.13:31-33. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Ver com. de Mt.3:2; Mt.5:2-3; Mc.3:14; Lc.4:19. |
Lc.13:19 | 19. É semelhante a um grão de mostarda que um homem plantou na sua horta; e cresceu e fez-se árvore; e as aves do céu aninharam-se nos seus ramos. Um grão de mostarda. Neste versículo, Cristo repete uma das parábolas que utilizou no lago da Galileia, quase um ano e meio antes (ver DTN, 488; ver com. de Mt.13:31-32). |
Lc.13:20 | 20. Disse mais: A que compararei o reino de Deus? Disse. [A parábola do fermento, Lc.13:20-21 = Mt.13:33]. Uma parábola que Jesus utilizou em várias ocasiões (ver com. de Mt.13:33). |
Lc.13:21 | 21. É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado. Sem comentário para este versículo. |
Lc.13:22 | 22. Passava Jesus por cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. Caminhando para Jerusalém. [A porta estreita, Lc.13:22-30]. Ver com. de Mt.19:1. Não se sabe se esta jornada foi parte da longa viagem da Galileia a Jerusalém, através de Samaria e Pereia, ou de outra viagem mais tarde, da Pereia a Jerusalém. A partida definitiva da Galileia deve ter ocorrido algum tempo antes, e esta seria uma viagem separada. Apesar de Jesus Se concentrar na Pereia e em Samaria, durante os últimos seis meses de Seu ministério, Ele visitou Betânia e Jerusalém em várias ocasiões, mesmo que brevemente, por causa da animosidade dos líderes judeus (ver com. de Lc.9:51). |
Lc.13:23 | 23. E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos? Alguém Lhe perguntou. A identidade da pessoa é desconhecida. São poucos os que são salvos? Diz-se que esta era uma pergunta teológica, teórica e abstrata que os rabinos se deleitavam em discutir. |
Lc.13:24 | 24. Respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão. Esforçai-vos. Do gr. agonizomai, relacionado ao substantivo agon, “disputa”, “julgamento”, “luta”, e ao substantivo agonia, “medo”, “angústia”, “agonia”. Agonizomai originalmente se referia ao esforço para obter o prêmio em uma competição esportiva, e daí surgiu o significado geral de “lutar” ou “empenhar-se”. A palavra é utilizada algumas vezes no NT para os esforços dos cristãos em se qualificarem para entrar no reino dos céus (1Co.9:25; Cl.1:29). É também traduzida como “combate” (1Tm.6:12), com relação ao combate da fé (ver 2Tm.4:7), e “empenhar-se” (Jo.18:36; ver com. de Mt.7:13-14). Jesus não respondeu à pergunta do homem diretamente (v. Lc.13:23). Em vez disso, Sua resposta apontou para o que deveria ser uma preocupação legítima do crente: não quantos serão salvos, mas se nós mesmos seremos salvos. Na parábola da semente de mostarda, Jesus ensinou que muitos entrariam no reino (ver com. de Mt.13:31-32) e, na parábola do fermento, Ele enfatizou a influência transformadora do evangelho, que prepara para o reino (ver com. de Mt.13:33). |
Lc.13:25 | 25. Quando o dono da casa se tiver levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta, ele vos responderá: Não sei donde sois. Fechado a porta. Ver com. de Mt.25:1-13; sobre “fechar a porta”, ver com. de Mt.25:7. |
Lc.13:26 | 26. Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. Ensinavas em nossas ruas. Ver com. de Mt.7:22. |
Lc.13:27 | 27. Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades. Apartai-vos de mim. Ver com. de Mt.7:23. Vós que praticais iniquidade. Ver com. de Mt.7:21-28. |
Lc.13:28 | 28. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós, lançados fora. Choro e ranger de dentes. Ver com. de Mt.8:12; Mt.13:42. Vós, lançados fora. Ver com. de Mt.22:11-14; Lc.16:22-23. |
Lc.13:29 | 29. Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus. Virão do Oriente. Neste versículo, Jesus cita palavras de Is.49:12, texto referente ao ajuntamento dos gentios à família de Deus (ver vol. 4, p. 13-17). Tomarão lugares. Literalmente, “reclinarão”, a postura comum em festas (ver com. de Mc.2:15). Tomar lugar na festa do reino messiânico era um modo judaico comum de se referir às alegrias desse reino (ver com. de Lc.14:15; Ap.19:9). |
Lc.13:30 | 30. Contudo, há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos. Primeiros que serão últimos. Jesus repetiu esta declaração em várias ocasiões (ver Mt.19:30; Mt.20:16) como uma advertência aos que se consideravam seguros em ser admitidos no reino do Messias, baseados na filiação a Abraão. Os que tinham mais chances de entrar não aproveitaram as oportunidades (ver vol. 4, p. 13-17) e até mesmo menosprezaram as vantagens concedidas a eles (ver com. de Lc.14:18-24). Os gentios, a quem os judeus desprezavam e consideravam indignos e inelegíveis para o reino, em muitos casos, obteriam lugar à mesa messiânica, porque aproveitariam melhor as oportunidades do que os judeus. |
Lc.13:31 | 31. Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. Naquele mesmo dia (ARC). [A mensagem de Jesus a Herodes. O lamento sobre Jerusalém, Lc.13:31-35 = Mt.23:37-39]. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “naquela mesma hora” (ARA). Lucas usa esta expressão para indicar uma proximidade de tempo com a narrativa anterior (sobre as circunstâncias deste evento, ver com. do v. Lc.13:1). Fariseus. Ver p. 39, 40. Os fariseus, como classe, se tornaram então inimigos declarados de Jesus e estavam decididos por Sua morte (ver com. de Mt.19:3; Mt.20:18-19). Vai-Te daqui. Este incidente ocorreu no domínio de Herodes Antipas, que incluía a Galileia e a Pereia (ver com. de Lc.3:1). Visto que Jesus, deixara a Galileia várias semanas antes (ver com. de Mt.19:1-2), deveria estar na Pereia. Herodes quer matar-Te. Aproximadamente um ano antes, Herodes tirara a vida de João Batista (ver com. de Mc.6:14-29). Considerando o temor que Herodes tinha de Jesus (ver com. de Mt.14:1-2) e seu desejo de vê-Lo (ver Lc.23:8), é improvável que ele planejasse a morte de Jesus. Os fariseus usaram isso para tentar amedrontar Jesus, a fim de tirá-Lo da Pereia e conduzi-Lo à Judeia, onde poderiam prendê-Lo. Por cerca de dois anos os líderes judeus tramaram a morte de Jesus (ver DTN, 213, 401; Jo.11:53-54; Jo.11:57; ver com. de Mt.15:21), e os judeus já haviam tentado apedrejá-Lo duas vezes (ver Jo.8:59; Jo.10:31; Jo.11:8). |
Lc.13:32 | 32. Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Essa raposa. Enfatizando mais a astúcia de Herodes do que sua avidez (ver p. 51, 52). Hoje e amanhã. A hora de Jesus ainda não era chegada; ainda havia trabalho a realizar. No terceiro dia. Este é um claro exemplo do costume oriental de cálculo inclusivo. O “terceiro” dia de acordo com o cálculo judaico seria “o dia seguinte”, de manhã (v. Lc.13:33); os ocidentais diriam ser o segundo dia (sobre o cálculo inclusivo, ver p. 246-248; vol. 1, p. 160). Neste versículo, Cristo falava de quando Seu ministério terreno terminaria. Aquela hora, embora não no futuro imediato, não estava longe. Sou consumado (ARC). Do gr. teleioo, “terminar”, “completar”, “aperfeiçoar” ou “fazer cessar” (ver com. de Mt.5:48). Jesus Se refere à proximidade de Sua morte, que seria “perfeita”, isto é, Seu ministério terrestre estaria “terminado” (cf. ARA). Jesus foi “aperfeiçoado” por meio do sofrimento (Hb.2:10; Hb.5:9). Em Sua oração intercessória, antes de entrar no jardim do Getsêmani, Jesus declarou: “consumando [do gr. teleioo] a obra que Me confiaste para fazer” (Jo.17:4; sobre o plano preestabelecido para a vida de Jesus, ver com. de Lc.2:49). |
Lc.13:33 | 33. Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra fora de Jerusalém. Importa, contudo, caminhar hoje. Ver com. de Lc.2:49. Ele deveria continuar a obra indicada e não interromperia Seu ministério por causa de Herodes. O dia é o tempo costumeiro para caminhar e trabalhar. Morra fora de Jerusalém. Isto é, um profeta não poderia morrer fora de Jerusalém. Jesus não quer dizer que Jerusalém não estaria sem um profeta, mas que Jerusalém era a cidade que matava os profetas, como explicou logo a seguir (v. Lc.13:34). Ele não estava preocupado com Sua segurança enquanto trabalhava no território sob jurisdição de Herodes e sabia muito bem que seria morto em Jerusalém. |
Lc.13:34 | 34. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Jerusalém, Jerusalém. Sobre os v. 34, 35, ver com. de Mt.23:37-39. |
Lc.13:35 | 35. Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor! Sem comentário para este versículo. |
Lc.14:1 | 1. Aconteceu que, ao entrar ele num sábado na casa de um dos principais fariseus para comer pão, eis que o estavam observando. Ao entrar Ele [...] na casa. [A cura de um hidrópico, Lc.14:1-6. Sobre os milagres, ver p. 204-210; sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Não há evidências quanto ao tempo e local deste evento, exceto que o contexto em Lucas indica que pode ter sido na Pereia, entre a Festa da Dedicação, no inverno de 30-31 d.C., e a Páscoa, na primavera seguinte. Sábado. Devia ser comum entre os judeus da época de Cristo receber alguém no sábado. O alimento era preparado no dia anterior e mantido aquecido, ou era ingerido frio. Era considerado ilícito acender fogo no sábado (ver com. de Ex.16:23; Ex.35:3); assim, todo alimento deveria ser preparado no dia anterior (ver com. de Ex.16:23). Uma festa para a qual se convidavam amigos era vista como um tipo das bênçãos da vida eterna (ver com. de Lc.14:15; cf. PJ, 219). Um dos principais fariseus. Ver ocasião anterior em que Jesus aceitou o convite de um fariseu para jantar (Lc.11:37-54). A narrativa atual indica que o anfitrião de Jesus nesta ocasião era um rabino rico e influente. Não há registro de que Jesus recusou a um convite, fosse de um fariseu ou de um publicano (ver com. de Mc.2:15-17). Comer pão. Uma expressão idiomática judaica que significa “jantar”. Eis que O estavam observando. Havia espias nesta ocasião (ver com. de Lc.11:54), vigiando com intenção maligna (ver com. de Lc.6:7). Não se sabe se os espias combinaram para que o homem “hidrópico” estivesse presente. No entanto, eles viram em ocasiões anteriores que Jesus não hesitava em curar no sábado, violando a tradição legal. Assim, eles presumiram que Ele curaria novamente. De modo geral, sete exemplos de cura no sábado são relatados nos evangelhos, e esta é a sétima e última (ver Lc.4:33-36; Lc.4:39; Lc.6:6-10; Lc.13:10-17; Lc.14:2-4; Jo.5:5-10; Jo.9:1-14). |
Lc.14:2 | 2. Ora, diante dele se achava um homem hidrópico. Hidrópico. Do gr. hudropikos, um termo médico comum derivado da palavra grega hudor, “água”, e que descreve a doença da pessoa que possui um acúmulo excessivo de líquido nos tecidos do corpo. A palavra ocorre apenas no grego bíblico. Este é o único exemplo relatado de um caso como este chamando a atenção de Jesus. Ele pode ter ido até lá por vontade própria, na esperança de ser curado, embora o relato não declare que ele tenha se apresentado a Jesus para ser curado. É possível que alguns dos fariseus presentes tenham feito arranjos para que o homem doente estivesse ali, a fim de prenderem Jesus por curar no sábado. A cura ocorreu antes de os convidados tomarem lugar à mesa (ver v. Lc.14:7). |
Lc.14:3 | 3. Então, Jesus, dirigindo-se aos intérpretes da Lei e aos fariseus, perguntou-lhes: É ou não é lícito curar no sábado? Jesus respondeu (KJV). Jesus não “respondeu” (do gr. apokrinomai) no sentido de replicar a alguma pergunta dirigida a Ele. Ele estava “respondendo” aos pensamentos dos fariseus, que observavam para ver o que Ele faria. A utilização do verbo “responder” neste sentido é comum no hebraico (ver com. de Lc.13:14). Aos intérpretes da lei e aos fariseus. No grego, há apenas um artigo definido para as duas palavras, indicando que eles são tratados como um só grupo (cf. Lc.7:30, em que o artigo definido ocorre duas vezes no grego; sobre os “intérpretes da lei” e “fariseus”, ver p. 39, 40, 43). É lícito [...]? Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem o acréscimo “ou não”. |
Lc.14:4 | 4. Eles, porém, nada disseram. E, tomando-o, o curou e o despediu. Porém, nada disseram. A conversa cessou; eles se recusaram a responder. Percebendo que nada conseguiriam, refugiaram-se no silêncio. Os fariseus não ousaram dizer que era “ilícito” porque os regulamentos rabínicos pareciam proibir a cura num caso como este, nem se atreveram a dizer que não era. Lucas parece gostar de ocasiões em que os inimigos de Cristo “nada disseram” ou foram silenciados (Lc.20:26; At.15:12; At.22:2). Tomando-o. Isto é, “apoderando-se dele”. Despediu. Do gr. apoluo, “libertar”, “soltar”, “deixar ir” ou “despedir”. Este fato parece ter ocorrido antes do início da refeição (ver v. Lc.14:7). Talvez Jesus tenha procurado proteger o homem do constrangimento que os líderes judeus havia pouco tempo colocaram sobre outra pessoa curada no sábado (ver Jo.9). |
Lc.14:5 | 5. A seguir, lhes perguntou: Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado? Filho. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta variante e “jumento” (ARC). Poço. Do gr. phrear, “poço” ou o “eixo de um poço ou cisterna”. |
Lc.14:6 | 6. A isto nada puderam responder. Nada puderam responder. Os críticos ficaram na defensiva. Eles não queriam admitir que davam mais importância a um boi ou a um jumento do que a uma pessoa. |
Lc.14:7 | 7. Reparando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola: Lugares. [Os primeiros lugares, Lc.14:7-14]. Ou, “lugares reclináveis”. Sobre os costumes na festa judaica, ver com. de Mc.2:15-17. Segundo o Talmude, os lugares de honra ficavam próximos ao anfitrião. Em outra festa, entre outras coisas, Jesus reprovou os escribas e fariseus por procurarem os lugares de honra (ver Mt.23:6). Uma parábola. Uma “parábola” não era exatamente uma narrativa, poderia ser apenas um provérbio conciso (ver p. 197- 200). Esta “parábola” foi baseada na observação imediata dos convidados sentando-se à mesa. Ele “reparou” como os convidados “escolhiam” os assentos de honra. Uma controvérsia semelhante a esta parece ter ocorrido entre os discípulos na última Ceia (ver com. de Lc.22:24). |
Lc.14:8 | 8. Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, Um casamento. Isto é, “uma festa de casamento”, como evidencia o contexto. |
Lc.14:9 | 9. vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás, envergonhado, ocupar o último lugar. Vindo aquele que te convidou. Ou, “o anfitrião ”. A ele. O convidado honrado. Último lugar. Todos os lugares intermediários foram ocupados, e não restou outro. |
Lc.14:10 | 10. Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. Senta. Ou, “reclina”. Honra. Ou, “respeito”. De todos os mais. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem esta variante em vez de “dos que” (ARC). |
Lc.14:11 | 11. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. Todo o que se exalta. Jesus repete um provérbio que utilizou frequentemente de uma forma ou outra (ver Mt.18:4; Mt.23:12; Lc.18:14). O princípio enunciado aqui atinge a raiz do orgulho, o desejo de exaltar-se na opinião dos outros; e o orgulho, por sua vez, junto ao egoísmo, é a raiz de todo pecado. Jesus deu o supremo exemplo de humildade (ver Is.52:13-14; Fp.2:6-10). Humilhado. Este é um axioma: a pessoa, cujo principal objetivo na vida é a promoção dos próprios interesses, normalmente encontra outra que a obriga a ocupar um lugar mais humilde. Exaltado. Inversamente, a pessoa que esquece os próprios interesses e faz de sua ocupação encorajar e auxiliar outros é normalmente a que as outras têm prazer em homenagear. A humildade é o passaporte para a exaltação no reino celestial, ao passo que o desejo de se exaltar é uma barreira à entrada no reino (cf. Is.14:12-15; Fp.2:5-8). |
Lc.14:12 | 12. Disse também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. Jantar. Do gr. Ariston, originalmente significava a primeira refeição ou o café da manhã. No entanto, foi usado posteriormente para a refeição do meio-dia. Ceia. Do gr. deipnon, normalmente se refere à refeição noturna. Não convides os teus amigos. Segundo o grego, o pensamento pode ser resumido como: “Não se habitue a convidar apenas seus amigos.” Jesus não exclui a hospedagem de amigos, mas adverte contra os motivos egoístas que levam muitos a hospedar apenas aqueles de quem esperam cortesia semelhante. Jesus encorajou a hospitalidade baseada no interesse genuíno em satisfazer as necessidades dos semelhantes. Ele salientou que esse tipo de hospitalidade, embora não dê recompensa na vida atual, será recompensada na vida futura. Por sua vez. Isto é, em retribuição ao convite anterior. |
Lc.14:13 | 13. Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos Convida os pobres. Segundo a lei mosaica, este era um dever (ver com. de Dt.14:29). Quem estava em necessidade não deveria ser esquecido. |
Lc.14:14 | 14. e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos. Recompensar. Literalmente, “recompensar” ou “reembolsar”. Dos justos. A “menção da ressurreição dos justos” indica uma ressurreição semelhante dos “injustos” (ver Jo.5:29; At.24:15). |
Lc.14:15 | 15. Ora, ouvindo tais palavras, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no reino de Deus. Um dos que estavam. [A parábola da grande ceia, Lc.14:15-24. Cf. com.de Mt.22:1-14. A respeito das parábolas, ver p. 197-204]. Sobre as circunstâncias desta declaração, ver com. do v. Lc.14:1. Bem-aventurado. Ou, “feliz” (ver com. de Mt.5:3). A recomendação desagradável que Jesus fez nos v. Lc.14:12-14 levou a esta tentativa de voltar a conversa para temas mais agradáveis (ver PJ, 221). A referência de Jesus à ressurreição (v. Lc.14:14) sugeriu ao fariseu uma piedosa declaração que ele então proferiu. O homem se deleitava em visualizar a recompensa do reto proceder, mas considerava desagradável a ideia do agir correto. Ele ansiava desfrutar os privilégios do reino celestial, mas não queria as responsabilidades envolvidas. Ele relutava em concordar com as condições de entrada no reino, mas parecia não ter dúvida de que lhe seria concedido um lugar de honra na grande Ceia. Comer pão. Isto é, “refeição” (ver com. do v. Lc.14:1). No uso idiomático judaico, “comer pão no reino de Deus” significava desfrutar a bem-aventurança celestial (cf. Is.25:6; Lc.13:29). A declaração do fariseu estava correta, mas o espírito com que foi feita e o motivo que a estimulou estavam completamente errados. O interlocutor estava convicto de receber um convite (sobre o significado da expressão “reino de Deus”, ver com. de Mt.5:2-3; Mc.3:14; Lc.4:19). |
Lc.14:16 | 16. Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande ceia e convidou muitos. Uma grande ceia. Jesus fala das abundantes bênçãos do reino celestial com o símbolo de uma grande festa, que era comum aos ouvintes (ver com. do v. Lc.14:15). Ele não contestou a declaração do fariseu (v. Lc.14:15), mas colocou em dúvida a sinceridade de quem a fez. O fariseu era um dos que, naquele momento, rejeitava o convite do evangelho (ver com. dos v. Lc.14:18; Lc.14:24). Há muitas semelhanças entre esta parábola e a da festa de casamento do filho do rei (ver Mt.22:1-14), mas há também diferenças. As circunstâncias em que as duas parábolas foram propostas também são diferentes. A parábola de Lucas 14 foi apresentada no lar de um fariseu, enquanto a de Mt.22 foi proferida no contexto da tentativa de aprisionar Jesus (ver Mt.21:46). Convidou muitos. Isto representa o primeiro convite à festa do evangelho, o convite aos judeus em todo o período do AT (ver vol. 4, p. 13-20). Refere-se especificamente aos repetidos apelos divinos a Israel por meio dos profetas (cf. com. do v. Lc.14:21-23). |
Lc.14:17 | 17. À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Enviou o seu servo. O próprio Jesus pode ser considerado como o “servo” enviado para proclamar que “tudo já está preparado”. Nas culturas orientais, ainda é costume enviar um mensageiro pouco tempo antes do início da festa, para lembrar os convidados. No caso de o convidado ter esquecido o convite, ou não saber quando deveria comparecer, esse lembrete concederia tempo para se preparar para a ocasião e chegar ao local designado para o banquete. No Oriente, onde se presta menos atenção a calendários e relógios do que nas culturas ocidentais, esse lembrete é de valor prático, a fim de se evitar constrangimento tanto ao anfitrião como aos convidados. |
Lc.14:18 | 18. Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Todos, à uma. Isto dá a impressão de que os convidados conspiraram para insultar o benevolente anfitrião. Naturalmente, foram convidadas mais de três pessoas para a festa (ver v. Lc.14:16). As desculpas que Jesus enumera exemplificam o que o servo ouviu por onde passou. Houve outra amostragem semelhante de casos em que estavam envolvidas mais de três pessoas (ver Lc.19:16-21). Começaram. Cada convidado em perspectiva inventou seu pretexto, porque nenhum deles tinha uma justificativa aceitável. O motivo real, em cada caso, era que o convidado estava mais interessado em outra coisa qualquer, algo que ele poderia postergar se quisesse ir à festa. As desculpas indicavam também que não havia apreciação pela hospitalidade e amizade do anfitrião. Os que rejeitaram o convite do evangelho valorizaram mais os interesses temporais do que as coisas eternas (ver Mt.6:33). Nas culturas orientais, recusar um convite, exceto quando é impossível aceitá-lo, é considerado rejeição da amizade. Entre alguns árabes, recusar um convite na época do lembrete (ver com. do v. Lc.14:17), depois de ter aceitado o convite original, é considerado como uma declaração de hostilidade. Por outro lado, aceitar um convite e participar da festa indica amizade. Comprei um campo. Mesmo se aceita ao pé da letra, a desculpa era inconsistente - a compra já havia sido feita. Certamente o comprador examinava o campo antes de fechar o negócio. |
Lc.14:19 | 19. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. Cinco juntas de bois. Novamente, a compra já fora efetuada. O comprador planejava apenas confirmar o bom negócio que fizera, tarefa que poderia ser postergada caso ele desejasse participar da festa. |
Lc.14:20 | 20. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir. Não posso ir. O homem que deu esta desculpa parece ter sido ainda mais rude que os demais. Enquanto os outros pediram para serem dispensados, este informou categoricamente ao servo: “Não posso ir.” Alguns reconhecem que este homem baseava sua recusa em certas isenções de obrigações militares e tarefas civis, concedidas durante o primeiro ano da vida marital (ver com. de Dt.24:5). Por isso, ele disse: “Não posso ir.” No entanto, essa lei não o isentava do convívio social, e qualquer tentativa para fingir que agiu de acordo com tal lei seria um falso pretexto. A desculpa deste homem era, na verdade, pior do que a dos anteriores. |
Lc.14:21 | 21. Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Irado. À medida que o servo relatava uma a uma as desculpas, a ira do anfitrião aumentava. A princípio, os homens aceitaram o convite e, apoiado na confirmação deles, o anfitrião preparou a festa. No entanto, uma vez que os preparativos terminaram e o alimento estava pronto, parecia haver uma conspiração para envergonhá-lo (ver com. do v. Lc.14:18). Além disso, ele fizera gastos consideráveis. Deus, que prepara a festa celestial, não Se “indigna” da mesma forma que os seres humanos. Mesmo assim, em vista de tudo que Ele fez para prover as bênçãos da salvação, as pessoas que desprezam o convite e o favor divino entristecem o Pai celestial. Todos os recursos celestiais foram investidos na obra de salvação, e o mínimo que as pessoas podem fazer é valorizar e aceitar o que Deus preparou. Sai depressa. É evidente que o anfitrião não desejava ver desperdiçados os caros mantimentos. Se os melhores amigos dele escolheram não aproveitar os símbolos de sua boa vontade, ele de bom grado convidaria estranhos para os usufruir. Essa atitude está em harmonia com o conselho que Jesus deu um pouco antes desta parábola (ver os v. Lc.14:12-14), o qual pareceu desagradável aos convidados da festa, da qual Jesus então participava, e que também levou um deles a mudar de assunto (ver com. do v. Lc.14:15). Ruas e becos. Isto é, as ruas principais e as secundárias ou becos. O convite do evangelho fora dado primeiramente aos judeus, representados neste versículo como os moradores de uma “cidade”. Os principais cidadãos da cidade, que recusaram o convite, eram os líderes judeus, alguns dos quais estavam reunidos com Jesus na festa na casa de um fariseu (ver com. do v. Lc.14:1). Os convidados que recusaram o convite representavam a aristocracia religiosa de Israel. Então, o benevolente anfitrião se volta de seus amigos escolhidos para os estranhos da “cidade”, os negligenciados e, muitas vezes, desprezados pela sociedade. Estes estranhos residiam na mesma “cidade” que os convidados e, assim, eram judeus. No entanto, alguns deles eram publicanos e pecadores, homens e mulheres a quem os aristocratas religiosos consideravam como párias. Apesar disso, estavam famintos e sedentos do evangelho (ver com. de Mt.5:6). Os pobres, os aleijados. Os judeus criam que as pessoas que sofriam financeira ou fisicamente não tinham o favor de Deus e, por isso, essas classes eram desprezadas e negligenciadas (ver com. de Mc.1:40; Mc.2:10). Supostamente, Deus os teria abandonado, e a sociedade também os considerava como rejeitados. Nesta parábola, Jesus nega que tais pessoas fossem desprezadas por Deus e declara que elas não devem ser desprezadas por seus semelhantes, mesmo quando os sofrimentos se devem aos próprios erros ou imprudência. As pessoas atingidas pela pobreza e as deficientes fisicamente parecem representar, neste versículo, principalmente os que são moral e espiritualmente arruinados. Eles não possuíam boas obras para oferecer a Deus em troca das bênçãos da salvação. |
Lc.14:22 | 22. Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. E ainda há lugar. O servo percebe que o anfitrião desejava que todos os lugares em seu banquete fossem preenchidos. O mesmo ocorre na festa do evangelho. Deus não criou a terra “em vão” (ver com. de Is.45:18), como um deserto vazio, mas designou que ela fosse habitada como o lar eterno de uma raça humana feliz. Embora o pecado tenha adiado o cumprimento desse propósito divino por um tempo, ele será finalmente alcançado (ver PP, 67). A cada pessoa que nasce é concedida a oportunidade de participar da festa do evangelho e habitar para sempre na terra renovada. Esta parábola indica claramente que a mesma oportunidade rejeitada por uma pessoa será avidamente aceita por outra (cf. Ap.3:11). |
Lc.14:23 | 23. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Caminhos e atalhos. Os convidados para a festa do evangelho foram os judeus (ver com. dos v. Lc.14:16; Lc.14:21). Deus os chamou primeiro, não porque os amava mais, nem porque eram mais dignos, mas para que compartilhassem os sagrados privilégios confiados a eles (ver vol. 4, p. 12-25). Jesus esteve na companhia de publicanos e pecadores, os párias da sociedade, para consternação dos líderes judeus (ver com. de Mc.2:15-17). Durante o ministério na Galileia, Ele trabalhou muito por esses, os espiritualmente “pobres” e “aleijados”, nas “ruas e becos” da Galileia (ver com. de Lc.14:21). No entanto, quando o povo galileu O rejeitou na primavera de 30 d.C. (ver com. de Mt.15:21; Jo.6:66), Jesus ministrou aos gentios, aos samaritanos e aos judeus (ver com. de Mt.15:21). No entanto, transmitir o convite do evangelho aos que estavam “nos caminhos e atalhos” refere-se principalmente à evangelização dos gentios depois da rejeição final do evangelho por parte dos judeus, como nação, uma rejeição que culminou no apedrejamento de Estêvão (ver vol. 4, p. 20-23; At.1:8). Os “caminhos e atalhos” da parábola correspondem ao lado externo da “cidade” e, portanto, representam as regiões não judaicas, ou os gentios (ver com. de Lc.14:21). Na evangelização do mundo, quando se depararam com a oposição de seus próprios concidadãos, os apóstolos se voltaram para os gentios (At.13:46-48; Rm.1:16; Rm.2:9). Obriga. Do gr. anagkazo, “constranger” ou “compelir”, por força ou persuasão. Alguns consideraram que esta declaração justifica a utilização da força para converter pessoas a Cristo. O fato de Jesus não recorrer à força para compelir pessoas a crer nEle, nem instruir os discípulos a agir dessa forma, e de a igreja apostólica nunca constranger pessoas evidencia que Jesus não pretendia que tal interpretação fosse dada às Suas palavras. Por preceito e exemplo, o Senhor constantemente aconselhava os discípulos a evitar controvérsia e retaliação pelas injustiças (ver com. de Mt.5:43-47; Mt.6:14-15; Mt.7:1-5; Mt.7:12), tanto como indivíduos quanto como arautos oficiais do evangelho (ver com. de Mt.10:14; Mt.15:21; Mt.16:13; Mt.26:51-52; Lc.9:55). Os discípulos não deveriam perseguir outras pessoas (Lc.9:54-56) e deveriam suportar a perseguição com mansidão (ver com. de Mt.5:10-12; Mt.10:18-24; Mt.10:28). Com as palavras “obriga a todos a entrar”, Jesus apenas enfatiza a urgência do convite e a força irresistível da graça divina. Amor e bondade devem constituir a força irresistível (ver PJ, 235). A palavra anagkazo é utilizada com este mesmo sentido com relação à ocasião quando Jesus “obrigou” os discípulos a entrar no barco (Mt.14:22). Há uma grande diferença entre o apelo insistente que Jesus tinha em mente e o constrangimento que muitos cristãos consideraram adequado nos séculos passados e que alguns utilizariam na atualidade, caso tivessem oportunidade. A parábola demonstra que a força física não foi utilizada em momento algum para conseguir convidados para a festa. Se fosse propósito do anfitrião utilizá-la, ele o teria feito com o primeiro grupo de convidados. Os convites para a festa do evangelho têm as palavras: “quem quiser” (Ap.22:17). Esta parábola não sanciona a teoria da perseguição religiosa como meio de levar pessoas a Cristo. Qualquer utilização de força ou perseguição em questão de religião é uma política não inspirada por Cristo. Para que fique cheia a minha casa. Ver com. do v. Lc.14:22. O anfitrião convidou “muitas” pessoas (ver v. Lc.14:16). Além disso, quando o servo saiu pelas ruas e becos da cidade, não conseguiu encontrar pessoas suficientes para encher o salão de festa (ver v. Lc.14:22). |
Lc.14:24 | 24. Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia. Nenhum daqueles homens. Esta exclusão contundente dos convidados iniciais é por ordem do anfitrião da parábola. Mas isso não significa que o Céu exclui alguém arbitrariamente. O anfitrião da história simplesmente cancela o convite original que fora recusado. Sua casa então fica “cheia” (v. Lc.14:23) e não há mais espaço. Mas, no reino celestial, há espaço abundante para quem desejar entrar (ver com. do v. Lc.14:22). Jesus não ensina nesta parábola que as posses terrenas são necessariamente incompatíveis com o reino celestial, mas que a afeição exagerada pelos bens materiais desqualifica a pessoa para o Céu - na verdade, tira-lhe o desejo pelas coisas divinas. Ninguém pode “servir a dois senhores” (ver com. de Mt.6:19-24). Os que investem os melhores esforços para acumular posses ou desfrutar prazeres terrenos ficarão de fora porque a afeição do coração está nas coisas terrenas e não nas celestiais (cf. Mt.6:25-34). A cobiça pelos bens materiais finalmente elimina o anseio pela salvação (ver com. de Lc.12:15-21). Quando pessoas cobiçosas são chamadas a partilhar sua riqueza acumulada, elas vão embora “tristes” (ver com. de Mt.19:21-22). É “difícil” para “um rico entrar no reino dos Céus” (Mt.19:23, ARC) pela simples razão de que, em geral, ele não deseja entrar. Nenhum [...] provará a minha ceia. Isto é, no caso de eles mudarem de ideia mais tarde. A salvação consiste no convite que Deus estende e na aceitação do ser humano. Ambos se complementam. As Escrituras constantemente retratam a mudança de ideia por parte daqueles que recusaram a graça de Deus quando for tarde demais, isto é, quando o chamado do evangelho não mais soar (ver Je.8:20; Mt.25:11-12; Lc.13:25). Esse chamado será finalmente retirado, não por causa de um limite à misericórdia de Deus, mas porque os que foram excluídos terão tomado uma decisão conclusiva e final. Se mudarem de ideia depois, essa mudança apenas refletirá a percepção deles de que fizeram a escolha errada, e não significa que eles repentinamente adquiriram um desejo genuíno de viver em obediência a Deus. |
Lc.14:25 | 25. Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse: Grandes multidões O acompanhavam. [O serviço de Cristo exige abnegação, Lc.14:25-33. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Não há um registro claro acerca do tempo, local ou das circunstâncias em que o conselho desta seção foi dado. Possivelmente, a época foi bem antes de 31 d.C., e o local, a Pereia (ver com. do v. Lc.14:1). Novamente, as multidões se aglomeraram ao redor de Cristo, como durante Seu ministério público na Galileia (ver com. de Mt.5:1; Mc.1:28; Mc.1:37; Mc.1:44-45; Mc.2:2; Mc.2:4; Mc.3:6-10). Nestas circunstâncias, rumo ao final de Seu ministério, também parece ter havido uma convicção crescente na mente de muitos de que Ele estava prestes a Se proclamar o líder de Israel numa revolta contra Roma (ver com. de Mt.19:1-2; Mt.21:5; Mt.21:9-11). Embora muitos O seguissem com sinceridade, a maioria o fazia devido à curiosidade ou por motivos egoístas. Voltando-Se. Enquanto a multidão seguia Jesus, um dia Ele parou, olhou diretamente para as pessoas e proferiu os princípios relatados nos v. Lc.14:26-35. Muitos dos que seguiam o Mestre eram um obstáculo e não um auxílio à Sua causa. Jesus aconselhou todos a pensar no que estavam fazendo. |
Lc.14:26 | 26. Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Se alguém vem. Jesus então apresentou quatro princípios: (1) o discipulado envolve tomar a cruz, v. 26 e 27; (2) o custo do discipulado deve ser considerado cuidadosamente, v. Lc.14:28-32; (3) as ambições pessoais e posses materiais devem ser colocadas no altar do sacrifício, v. Lc.14:33; e (4) o espírito de sacrifício deve ser permanente, v. Lc.14:34-35. Aborrece. O emprego que a Escritura faz deste verbo deixa claro que isto não é “aborrecer” no sentido costumeiro. Na Bíblia, “aborrecer” normalmente deve ser compreendido apenas como uma típica hipérbole oriental que significa “amar menos” (ver Dt.21:15-17). Este fato é visto claramente na passagem paralela onde Jesus diz: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim” (Mt.10:37). Esta hipérbole é utilizada para tornar vívido ao seguidor de Cristo que, em todo o tempo, ele deve dar o primeiro lugar em sua vida ao reino dos céus. Com relação às posses materiais, novamente o princípio que rege é uma questão do que se coloca em primeiro lugar (ver com. de Mt.6:19-34). Não pode ser Meu discípulo. A questão não é “não será”, e sim “não pode”. Aqueles cujos interesses pessoais prevalecem sobre a lealdade a Cristo e a devoção a Seu serviço considerarão impossível atender às exigências divinas. Em todos os momentos e circunstâncias, o chamado do reino deve ter prioridade. O serviço de Jesus exige renúncia completa e permanente (sobre os v. 26, 27, ver com. de Mt.10:37-38). |
Lc.14:27 | 27. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Tomar a sua cruz. Ou, “tomar sua própria cruz” (ver com. de Mt.10:38-39). A execução por crucifixão foi introduzida na Palestina por Antíoco Epifânio. |
Lc.14:28 | 28. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Qual de vós [...]? As parábolas gêmeas dos v. 28 a 32 constituem uma advertência quanto a assumir as responsabilidades do discipulado de forma leviana. Aqueles que inicialmente aceitaram o convite para a festa e mudaram de ideia quando surgiram outros interesses não refletiram seriamente quanto ao convite. Essas duas parábolas se aplicam especificamente a tais pessoas. Torre. Uma “torre” pode ser uma estrutura grande e dispendiosa (cf. Lc.13:4) ou uma estrutura simples, feita de ramos (cf. Mt.21:33). Neste versículo, refere-se à primeira. Talvez houvesse um exemplo das situações apresentadas na parábola na vila em que Jesus estava ensinando. Calcular a despesa. Não há sentido em iniciar algo que não se possa concluir. Tal projeto absorve tempo e energia sem produzir recompensas equivalentes. O “custo” do discipulado é a renúncia completa e permanente das ambições terrenas. Quem não está disposto a percorrer todo o caminho não deveria começar. |
Lc.14:29 | 29. Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, Zombem dele. A falta de previsão deste sujeito incorre não apenas em falha, mas também no constrangimento pessoal. |
Lc.14:30 | 30. dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Este homem. Algumas vezes, o pronome “este” é usado para manifestar desprezo ou sarcasmo em relação a uma pessoa (ver com. de Lc.15:2). |
Lc.14:31 | 31. Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Qual é o rei [...]? Sobre o significado desta parábola e sua relação com o discurso como um todo, ver com. do v. Lc.14:28. A ilustração anterior procede do mundo empresarial; esta, proveniente do mundo político, ilustra a mesma verdade. Vinte mil. Embora a desvantagem esteja para o rei com 10 mil, pode haver outros fatores que neutralizem a superioridade numérica do inimigo e façam da expectativa de vitória uma possibilidade. |
Lc.14:32 | 32. Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz. Condições de paz. Ou, “termos de paz”. |
Lc.14:33 | 33. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. Assim, pois. Como de costume, Jesus claramente afirma a lição que pretende ensinar com a parábola. O discipulado envolve depor sobre o altar tudo o que a pessoa tem na vida: planos, ambições, amigos, parentes, posses, riquezas; tudo que possa interferir no serviço para o reino dos céus (cf. Lc.9:61-62). Essa foi a experiência do apóstolo Paulo (ver Fp.3:8-10). |
Lc.14:34 | 34. O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor? O sal é certamente bom. [Os discípulos, sal da terra, Lc.14:34-35 = Mt.5:13 = Mc.9:50]. Sobre os v. 34, 35, ver com. de Mt.5:13; Mc.9:50. Neste versículo, o sabor do “sal” representa o espírito de devoção. Jesus declara que, sem o espírito de devoção, o discipulado não tem significado. |
Lc.14:35 | 35. Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Quem tem ouvidos. Ver com. de Mt.11:15. |
Lc.15:1 | 1. Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. Aproximavam-se. [Jesus recebe pecadores, Lc.15:1-2]. Com exceção da posição das parábolas neste capítulo de Lucas, não há pistas quanto ao momento e ao local em que foram proferidas. Lc.9:51-19:28 registra eventos ligados ao ministério de Cristo na Pereia (ver com. de Lc.9:51; Mt.19:1-2), provavelmente do final do outono de 30 d.C. ao início da primavera de 31 d.C. As parábolas do cap. 15 possivelmente foram apresentadas na mesma ocasião (PJ, 192), nos prados da Pereia (PJ, 186). Faltavam cerca de dois meses para a crucifixão (ver com. de Mt.19:1-2; Lc.10:25; Lc.11:37; Lc.12:1). Nestas parábolas, Jesus anunciou o alcance de Seu sacrifício. Todos os publicanos e pecadores. Literalmente, “todos os publicanos e os pecadores”, distinguindo as duas classes. Às vezes, eram consideradas um só grupo (ver com. de Lc.5:30; sobre os publicanos ou cobradores de impostos, ver com. de Lc.3:12). É provável que o termo “pecadores” incluísse homens e mulheres sem a aspiração de buscar a justiça segundo as prescrições da tradição rabínica, além de prostitutas, adúlteros e outros que violavam abertamente a lei. Os fariseus mais rígidos também consideravam “pecadores” as pessoas comuns, os amme haares (literalmente, “o povo da terra”), que não tinham o privilégio da educação rabínica e, por isso, não eram dignos de respeito. O próprio nome “fariseu” (ver p. 39) indicava os membros desse partido como superiores ao povo comum e, supostamente, mais justos do que as pessoas em geral. A palavra “todos” pode se referir ao fato de, por onde Jesus passava durante esta parte de Seu ministério, os “publicanos” e os “pecadores” da região se reunirem para ouvi-Lo. Essa evidência de interesse irava ainda mais os escribas e fariseus, pois desprezavam tais classes e, em troca, eram desprezados por elas. Os líderes religiosos se irritavam ao ver que Jesus tratava de maneira amistosa os excluídos e rejeitados da sociedade (ver com. de Mc.2:15-17) e que estes, por sua vez, Lhe correspondiam (ver PJ, 186). |
Lc.15:2 | 2. E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. Murmuravam. Do gr. diagogguzo, forma enfática de gogguzo, também traduzido por “murmurar” (ver com. de Lc.5:30; Mt.20:11). Sem dúvida, alguns eram espias enviados pelo Sinédrio para seguir Jesus por onde quer que Ele fosse, a fim de ouvir, observar e relatar a eles (ver DTN, 213; ver com. de Lc.11:54; sobre os motivos que os levavam a reclamar, ver PJ, 186; ver com. do do Lc.15:1). É um paradoxo as pessoas que se consideravam modelos de perfeição se sentirem tão desconfortáveis na presença de Jesus, enquanto os que não se consideravam justos se sentirem atraídos ao Salvador (PJ, 186). Certamente, era a hipocrisia dos primeiros e a falta de pretensão dos últimos que fazia a diferença (ver Lc.18:9-14). Uma classe não sentia necessidade das bênçãos que Jesus oferecia, ao passo que a outra reconhecia suas carências e não se esforçava para escondê-las (ver com. de Mt.5:3; Mc.2:5; Lc.4:26; Lc.5:8). Uma estava satisfeita com sua justiça própria; a outra sabia que não tinha justiça própria a oferecer. Fazemos bem em nos perguntar como nos sentimos na presença de Jesus. Os fariseus e os escribas. Literalmente, “tanto os fariseus quanto os escribas”, considerados classes distintas, assim como os “publicanos” e os “pecadores” no v. Lc.15:1. A respeito dos escribas e fariseus, ver p. 39, 40, 43. Alguns dos críticos presentes nesta ocasião aceitaram a Jesus como Messias posteriormente (PJ, 192). Este. Expressão usada para demonstrar desprezo por Jesus (ver com. de Lc.14:30; Mt.9:3; Mt.12:24; Mt.26:71; Mc.2:7; Lc.7:39; Lc.14:30; Lc.18:11; Lc.22:56; Lc.22:69; Jo.6:52). Recebe pecadores. Os escribas e fariseus rejeitavam as pessoas que consideravam pecadoras, mas Jesus as recebia. Numa ocasião anterior, Cristo respondera a essa acusação declarando que não viera chamar justos, mas, sim, pecadores ao arrependimento (ver com. de Mc.2:17). Parece que os escribas e fariseus estavam insinuando que Jesus escolhia se associar a esse tipo de gente porque seu estilo de vida Lhe era familiar. Cristo odiava o pecado, mas amava o pecador, ao passo que os fariseus e escribas acariciam pecados, mas odiavam o pecador. Ficava claro que Jesus amava os pecadores, e os críticos insinuavam que Ele também devia, de igual forma, amar os pecados que esses “pecadores” cometiam (ver com. de Lc.15:1). Jesus não Se mostrava superior a esses excluídos da sociedade. Ele parecia preferir Se associar a eles a Se unir aos líderes religiosos. Para os “pecadores”, Cristo só tinha palavras de incentivo; para os escribas e fariseus, cheios de justiça própria, Ele proferia palavras de censura e condenação (ver Lc.14:3-6; Lc.14:11; ver com. de Mc.3:4; Lc.14:4; ver outras referências a reclamações de líderes judeus sobre Jesus Se associar a “publicanos” e “pecadores”, em Lc.7:34; Lc.7:37). |
Lc.15:3 | 3. Então, lhes propôs Jesus esta parábola: Esta parábola. [A parábola da ovelha perdida, Lc.15:3-7 = Mt.18:10-14. Ver com. de Mt.18:12-14; Jo.10:1-18. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Parece que, durante o ministério na Pereia, Cristo deu atenção especial às classes desprezadas e menos favorecidas (ver com. de Lc.14:21) e boa parte de Seus ensinos, na época, fora direcionada a elas. As parábolas de Lucas 15 enfatizam o interesse de Deus por aqueles que muitos costumam desprezar, os esforços divinos para conquistar a confiança deles e a alegria do Céu quando as pessoas se convertem. É importante notar que as três parábolas apresentam diferentes aspectos do problema do pecado e da salvação, e nenhuma é completa por si só. Em cada uma, o que estava perdido é encontrado e restaurado. Portanto, em todos os casos, Cristo justifica Sua atitude em relação aos pecadores e Seus esforços em prol deles. As duas primeiras são parábolas irmãs e enfatizam a dificuldade que as pessoas enfrentam para recuperar bens perdidos, assim como a alegria de encontrá-los. A primeira parábola ressalta o cuidado do pastor e, portanto, o valor intrínseco de uma pessoa para Deus. A segunda ilustra a última ideia de maneira diferente. A terceira destaca o processo pelo qual passa o perdido a fim de encontrar o caminho de volta a Deus. Jesus tinha o hábito de responder a perguntas e críticas por meio de parábolas, como nesta ocasião (sobre as parábolas e os princípios para interpretá-las, ver p. 197-204). |
Lc.15:4 | 4. Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? Qual, dentre vós [...]? Na região montanhosa da Pereia, criar ovelhas era ocupação comum. Sem dúvida, muitos dos que ali se encontravam conseguiam se lembrar de ocasiões em que saíram em busca de uma ovelha perdida. A maioria das parábolas de Jesus se baseava na experiência pessoal ou no conhecimento de Seus ouvintes (ver p. 199, 200). Cem ovelhas. Nos dias de Jesus, isto era considerado um grande rebanho. Perdendo uma delas. A perda de um animal parecia uma questão comparativamente pequena. Mas, para o dono do rebanho, mesmo a perda de uma ovelha causava sérias preocupações (cf. Jo.10:11). Os pastores orientais conheciam cada ovelha e cuidavam delas individualmente, não só pensando no rebanho como um todo, mas no próprio animal em si. Além disso, a perda de uma única ovelha fazia uma diferença significativa em sua renda. Na parábola, fica evidente que a ovelha se perdeu por sua própria ignorância e insensatez. Mas, uma vez perdida, parecia completamente impossibilitada de encontrar o caminho de volta. Ela percebia estar perdida, mas não sabia o que fazer. A ovelha perdida representa tanto o pecador individual quanto o mundo que se perdeu (PJ, 190). Esta parábola ensina que Jesus teria morrido mesmo que houvesse apenas um pecador (ver com. de Jo.3:16), e Ele de fato morreu por um único mundo que pecou (ver com. de Lc.15:7). Deserto. Do gr. eremos, “deserto” ou “sertão”; como adjetivo, o termo significa “ermo”, “desolado” ou “solitário”. A ênfase da palavra é sobre uma região não habitada (ver com. de Lc.1:80) e, por isso, não cultivada ou não cultivável, uma “ruína”. No entanto, a referência é feita aos pastos, montes, planaltos e baixadas comuns da Pereia. Este “deserto” não devia ser um local de perigo específico, e o fato de deixar as 99 ovelhas ali não demonstra negligência ou descuido. No relato da parábola em Mateus, o pastor deixa as ovelhas, literalmente, “nos montes” (ver com. de Mt.18:12). Vai em busca da que se perdeu. Segundo a parábola, a menos que o pastor fosse em busca da ovelha, ela permaneceria perdida. O pastor precisava tomar a iniciativa para que o animal fosse restaurado ao aprisco. A eficácia da salvação não consiste em nossa busca por Deus, mas, sim, na busca que Ele faz por nós. Se deixados sozinhos, poderíamos procurá-Lo por toda eternidade sem sucesso. Qualquer conceito que considere o cristianismo uma mera tentativa humana de encontrar a Deus erra o alvo, ao não perceber que é Deus quem busca o ser humano (ver com. de Jo.3:16; Mt.1:21; 2Cr.16:9). |
Lc.15:5 | 5. Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. Sobre os ombros. Ao que tudo indica, o pastor carrega a ovelha em volta da parte de trás do pescoço, suportando seu peso sobre os ombros (ver Is.40:11; Is.49:22; Is.60:4; Is.66:12). Ele não repreende o animal, não o empurra, nem mesmo o toca de volta, mas o carrega. |
Lc.15:6 | 6. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Alegrai-vos comigo. A alegria do pastor era maior que a da ovelha, por mais agradecida que a pobre criatura estivesse. |
Lc.15:7 | 7. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Haverá maior júbilo no céu. Como propósito de evitar pronunciar o nome sagrado de Deus, os judeus usavam diversas expressões (ver com. de Lc.12:20), inclusive a palavra “Céu”. Os rabinos ensinavam que o pecador deveria se arrepender para que Deus se dispusesse a amá-lo ou a prestar atenção a ele. Muitas vezes, o conceito deles sobre Deus era o que Satanás queria que eles pensassem. Concebiam o Senhor como aquele que derrama afeto e bênçãos sobre quem lhe obedece e retém as dádivas a quem não o faz. Na parábola do filho pródigo (v. Lc.15:11-32), Jesus procura revelar a verdadeira natureza do caráter de Deus (ver com. do v. Lc.15:12). Na verdade, todo o propósito da missão de Jesus na Terra pode se condensar na declaração de que Ele veio revelar o Pai (ver com. de Mt.1:23; comparar com a expressão “júbilo diante dos anjos”, em Lc.15:10). Um pecador que se arrepende. O amor divino levaria Jesus a fazer este grande sacrifício mesmo por um só pecador (PJ, 187, 196; ver com. de Jo.3:16). Há uma conexão sutil entre este “pecador” e os “pecadores” do v. Lc.15:1. Não nos arrependemos para receber o amor de Deus; já o tínhamos “sendo nós ainda pecadores” (Rm.5:8). É a “bondade” do Senhor, manifestada em amor e longanimidade, que nos leva ao arrependimento (Rm.2:4; cf. Fp.2:13). Justos. Ou, “retos”. Esta declaração é tão válida quanto parece ser. De todo modo, é provável que Jesus a tenha proferido com ironia. Os escribas e fariseus se orgulhavam de se sentirem mais justos do que as outras pessoas (ver Lc.18:11-12); e, quando Cristo falou em “justos”, eles naturalmente se incluiriam nesta categoria. Pensavam que não tinham necessidade de se arrepender (ver com. de Jo.3:4). Nesse caso, para construir Seu argumento, Jesus usou as próprias palavras deles. Portanto, se os escribas e fariseus eram justos, os “pecadores” tão desprezados por eles eram, por isso mesmo, necessitados do amor e da atenção que Cristo lhes oferecia. Assim, Jesus demonstrou que a atitude crítica dos escribas e fariseus era injustificada (ver Lc.5:31-32). |
Lc.15:8 | 8. Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la? Ou qual é a mulher. [A parábola da dracma perdida, Lc.15:8-10. Cf. Mt.13:44-46. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Acerca das circunstâncias que inspiraram esta parábola e sua relação com as outras duas, ver com. dos v. Lc.15:3-4. A parábola anterior parecia direcionada aos homens ali reunidos. É possível que esta se direcionasse, de maneira especial, às mulheres ouvintes. Com frequência, Jesus usava ilustrações que chamavam a atenção das mulheres em particular (cf. Mt.13:33; Lc.17:35). Dracmas. Do gr. drachmai. No tempo de Cristo, a drachme tinha 3,56 g de prata. Era, portanto, equivalente em valor ao denário romano (ver p. 37), que correspondia ao salário típico de um trabalhador do campo (ver com. de Mt.20:2). O número dez não tem um significado específico; ocorre com frequência como um número arredondado (1Sm.1:8; Ec.7:19; Is.5:10; Am.6:9). Jesus o usou em várias parábolas (ver Mt.25:1; Mt.25:28; Lc.19:13; Lc.19:16-17). É possível que as dez dracmas fizessem parte do dote da mulher e fossem, portanto, suas economias. Perder uma. Foi o descuido da mulher que resultou na perda. A moeda não sabia que estava perdida. Além disso, estava perdida dentro de casa, não nos montes, como a ovelha, nem numa “terra distante”, como o filho pródigo. Candeia. Ou, uma “lâmpada”. O lar oriental típico costumava ter apenas um cômodo e não contava com luz natural, com exceção da que entrava pela porta ou por pequenas janelas em treliça. Para encontrar um objeto pequeno, a dona de casa precisaria de uma fonte de luz artificial, mesmo durante o dia. Varre a casa. Muitas casas orientais, nas regiões rurais e nas vilas, ainda têm chão de terra batida. Nesse tipo de chão e num ambiente escuro, seria muito fácil perder uma moeda e bem difícil encontrá-la de novo. Era necessária uma busca diligente. |
Lc.15:9 | 9. E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. As amigas e vizinhas. O grego traz a ideia de feminino. Alegrai-vos comigo. A alegria partilhada com os outros é intensificada no coração de quem a reparte. Todo aquele que já teve a experiência de encontrar algo de valor que temia ter perdido para sempre consegue entender o júbilo dessa mulher (cf. Rm.12:15). Mas de todas as alegrias que a vida tem para oferecer, nenhuma se compara à de encontrar um pecador perdido e levá-lo a Jesus. |
Lc.15:10 | 10. Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. Há júbilo. Ver com. do v. Lc.15:7. |
Lc.15:11 | 11. Continuou: Certo homem tinha dois filhos Certo homem. [O parábola do filho pródigo, Lc.15:11-32. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Sobre o contexto desta parábola e sua relação com as duas anteriores, ver com. dos v. Lc.15:3-4; Lc.15:8. Embora o texto não indique quando e onde a parábola foi contada, é razoável pensar que tenha sido na mesma época das duas anteriores, ou pouco depois. É possível que esta seja a mais famosa de todas as parábolas de Jesus. É formada por duas partes. A primeira (v. 11-24) enfatiza as emoções do pai do filho pródigo, seu amor pelo rapaz e a alegria que sentiu quando este retornou. A segunda (v. Lc.15:25-32) consiste numa repreensão àqueles que, assim como o filho mais velho, se ressentem do amor e da alegria do pai. A última seção é a resposta de Cristo ao murmúrio dos escribas e fariseus (ver v. Lc.15:2). As parábolas da ovelha e da dracma perdida destacam a parte divina na obra da redenção; já a parábola do filho pródigo ressalta o papel humano em aceitar o amor de Deus e agir em harmonia com isso. Os judeus haviam criado uma interpretação falsa da natureza do amor divino (ver com. do v. Lc.15:7). Na parábola, o filho mais novo representa os publicanos e pecadores; o mais velho, os escribas e fariseus. |
Lc.15:12 | 12. o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. O mais moço. Este jovem, cansado das regras e talvez sentindo que sua liberdade era restringida pelo pai, desejava, acima de tudo, viver a vida a seu próprio modo. Ele sabia muito bem o que queria ou, pelo menos, achava que sabia. O fato de ele, na verdade, não saber fica evidente quando se diz que, “caindo em si” (v. Lc.15:17), mudou completamente o rumo de suas ações. De fato, o pródigo não entendia a si mesmo nem ao pai. O pior é que ele não compreendia nem valorizava o fato de que o pai o amava e de que todas as decisões e exigências se baseavam, no fim das contas, naquilo que era melhor para os filhos. A narrativa deixa claro que o pai era sábio e compreensivo, ao mesmo tempo, justo, misericordioso e, acima de tudo, razoável. Em contrapartida, o jovem inexperiente parecia considerar como direito inquestionável o tirar plena vantagem de todos os privilégios filiais, sem assumir nenhuma responsabilidade. Depois de refletir, chegou à conclusão de que a única forma de resolver o problema era sair de casa e partir por conta própria, a fim de viver a vida como bem entendia. O rumo das ações que escolheu começou com a violação direta do quinto mandamento. Havia claras responsabilidades dos filhos em relação aos pais e vice-versa (ver com. de Lc.2:52). Parte dos bens. Ou seja, sua parte da propriedade. A literatura judaica da época revela que não era incomum um pai fazer a divisão da herança entre os filhos enquanto estava vivo, em vez de esperar que as provisões, conforme sua vontade, entrassem em vigor depois de sua morte. Mas nenhum pai tinha a obrigação de fazê-lo. Portanto, a exigência do jovem foi extremamente inadequada. Fica evidente que o pedido significava falta de confiança do filho no pai e uma rejeição completa e definitiva da autoridade paterna. Que me cabe. Ou seja, a porção que me pertence por direito. Esta expressão é comum em papiros gregos para se referir ao privilégio ao qual alguém tem direito ou a uma obrigação que a pessoa deve cumprir. Repartiu. O pai tinha direito legítimo de recusar o pedido irracional do filho. Mas, mesmo assim, resolveu atendê-lo. Essa decisão comunica muito sobre seu bom-senso de pai e deixa a pista de que a escolha ruim do filho não se devia a uma atitude insensata da parte do pai. Há momentos em que a melhor coisa que um pai pode fazer é permitir que o jovem obstinado obtenha o que deseja, a fim de que descubra, por experiência própria, quais são as consequências de sua escolha. De acordo com a lei de Moisés, o primogênito tinha o direito a uma porção dupla da propriedade do pai, e os mais novos receberiam uma única porção cada (ver com. de Dt.21:17). A parte extra dada ao filho mais velho tinha o objetivo de lhe conceder os recursos necessários para desempenhar suas responsabilidades como chefe da família. Quando o pai tinha apenas dois filhos, como neste caso (ver v. Lc.15:11), o mais novo recebia um terço da propriedade. Em geral, quando a divisão da propriedade era feita enquanto o pai ainda vivia, ela permanecia intacta até a morte do patriarca. No entanto, o filho mais novo da parábola exigiu não só a divisão da propriedade, mas também a posse de sua parte. A narrativa (ver v. Lc.15:13) dá a entender que ele converteu sua porção da propriedade em dinheiro ou outros bens portáteis. |
Lc.15:13 | 13. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. O filho mais moço. Ao sair da tutela do pai, o filho mais novo representa os publicanos e pecadores (v. Lc.15:1), que haviam cortado relações com o Pai celestial e não professavam lealdade a Ele. Uma terra distante. O jovem não se contentou em ficar perto de casa, onde se lembraria, de tempos em tempos, do pai e de seus conselhos. Procurou se livrar de todos os vínculos com seu lar. Portanto, a “terra distante” representa um distanciamento, o esquecimento de Deus. Dissipou todos os seus bens. Ou seja, desperdiçou sua herança. Gastou rapidamente os tesouros que havia reunido com avidez (ver com. do v. Lc.15:12). Parece que sua consciência estava adormecida e, na “terra distante” do esquecimento dos conselhos e da orientação paterna, nada havia para impedi-lo de fazer tudo o que desejava. Segundo seu conceito de vida, ele estava aproveitando ao máximo. Vivendo dissolutamente. O gr. asotos, “prodigamente”, “dissolutamente” ou “libertinamente”, é um advérbio derivado de a, prefixo negativo, e soo ou sozo, “economizar”. A “vida” do jovem podia ser pródiga e desperdiçada, moralmente dissoluta, ou tudo isso. O filho mais velho da parábola enfatiza a última dessas duas nuanças possíveis de significado quando se refere ao estilo de vida do irmão (ver v. Lc.15:30). No entanto, a segunda opção costuma incluir a primeira. A forma escolhida pelo jovem para dissipar seus recursos financeiros, que pareciam ser consideráveis, revela seu conceito da vida. Segundo sua forma de entender as coisas, o ser humano passa por este mundo com o propósito de extrair o máximo possível dele, sem dar nada em troca. |
Lc.15:14 | 14. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Depois de ter consumido tudo. De início, sua fortuna parecia tão grande que ele pensava poder usá-la por tempo indeterminado, sem precisar repô-la. Então, de repente, os recursos haviam desaparecido. Para piorar ainda mais, uma fome severa se espalhou pela terra. Se ele tivesse sido diligente em aumentar seus recursos, e econômico nos gastos, é provável que a fome não tivesse sido tão extrema. Mas é evidente que ele não previra a pobreza associada à falta de alimentos. Começou a passar necessidade. Na hora do aperto, os amigos dos bons momentos desapareceram. Sem dúvida, eram parecidos com ele: só viviam para a gratificação pessoal. Mas o jovem era estrangeiro, um recém-chegado; e, num tempo de dificuldade, cada um foi fazer o que podia para suprir as próprias necessidades. A gastança imprevidente do rapaz (ver com. do v. Lc.15:13) não lhe granjeou sequer um amigo de quem depender na necessidade. |
Lc.15:15 | 15. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. E se agregou. Do gr. kollao, “colar”, portanto, “unir-se” ou “apegar-se a”. O pródigo praticamente se vendeu a um homem que pouco lhe ofereceria. A um dos cidadãos. Tratando-se de uma “terra distante”, o cidadão desse lugar seria gentio e pagão. Os seus campos. O cidadão seria homem de posses. A guardar porcos. Para os judeus, que consideravam os porcos imundos, dificilmente existiria emprego mais degradante. Era impossível ao jovem afundar mais. É possível que não fosse qualificado para um ofício superior. Ao que tudo indica, ele não fizera bom uso de seu tempo em casa a fim de adquirir habilidades úteis, e sua vida dissoluta (v. Lc.15:13) o transformara num excluído da sociedade. |
Lc.15:16 | 16. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Desejava ele. Literalmente, “ansiava”. Fartar-se. Ele não ganhava o suficiente para comer e estava reduzido a uma posição em que até o alimento dos porcos lhe parecia desejável. Por um momento, portanto, suas ambições não eram superiores às dos suínos. Na verdade, seus desejos também não eram superiores durante o período em que viveu dissolutamente, mas ele só foi se dar conta disso quando se viu vítima da fome. Alfarrobas. Do gr. keratia, “chifrinhos”, forma diminutiva de “chifre”. Keratia é usado para as vagens da keratea, a alfarrobeira, por causa do formato das vagens, semelhantes a um chifre. A alfarroba também é chamada de “pâo-de-são-joão”, seguindo a tradição de que fazia parte da alimentação de João Batista (ver Nota Adicional a Mateus 3; Mt.3:17). Após a remoção das sementes para consumo humano, as alfarrobas eram usadas como forragem para animais domésticos, como menciona a literatura judaica da época. A alfarrobeira continua a ser cultivada na Palestina e também foi introduzida nos Estados Unidos. |
Lc.15:17 | 17. Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Caindo em si. Algumas pessoas andam a esmo pela vida até estar diante de uma situação sem saída. Em todas as questões práticas, o jovem tinha agido sem pensar, mas a necessidade tremenda na qual se encontrava então o forçara a cair em si. Os que não enxergam além do âmbito do prazer não entendem as lições da vida, até se depararem com situações de necessidades físicas. O pródigo agira, até então, como se estivesse “fora” de si, mas voltou à razão. Ele se conscientizou de quão tolo havia sido. Quantos trabalhadores. Eram “trabalhadores”, não escravos. É provável que, no passado, o jovem tivesse desprezado e até maltratado os trabalhadores de seu pai. Por fim, a vida de um desses homens na propriedade paterna lhe parecia desejável. A verdade é que ele estava vivendo como um escravo, passando fome e sofrendo. A liberdade de que ele tanto se orgulhara provara ser, de fato, o pior tipo de escravidão. Ele fora escravo o tempo inteiro, só não havia se dado conta disso. Este era o resultado de uma vida segundo sua visão dele. Sua condição era resultado da própria insensatez. A sabedoria da filosofia de vida de seu pai começava a fazer sentido. Pequei. Não deve ter passado por seus pensamentos apresentar desculpas para suas ações, muito menos culpar o pai. Seu estado evidenciava o fato de que o pai estivera certo o tempo inteiro, e ele, errado. Sua confissão seria honesta e irrestrita. Contra o Céu. A instrução religiosa que o pródigo recebera na casa do pai não fora esquecida por completo. Ele reconhecia que qualquer ato errado contra outras pessoas era interpretado no Céu como transgressão contra Deus (ver Gn.39:9). Ele violara os princípios do quinto mandamento e de outros. |
Lc.15:18 | 18. Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti Sem comentário para este versículo. |
Lc.15:19 | 19. já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. Já não sou digno. Ele não tinha dignidade própria a fim de receber um emprego na propriedade da família. Não podia fingir que tivesse, pois era óbvio que ele não podia fazer reivindicação alguma. Como um dos teus trabalhadores. Ele pediria o trabalho como favor, não como direito. Antes, não se mostrara disposto a se submeter à disciplina paterna, em seu papel de filho. Mas, então, estava pronto a se submeter ao pai, como dono das terras. A verdade é que o pródigo havia renegado o pai e, para fazer justiça, o esperado seria que o pai o renegasse como filho. Mas quem sabe o aceitaria como um trabalhador. |
Lc.15:20 | 20. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. Levantando-se, foi. O pródigo agiu sem hesitar. Assim que tomou a decisão, partiu. Na parábola, é o filho quem toma a iniciativa de voltar. Parece ser a escolha dele, não o amor do pai, que realiza a reconciliação. Alguns usam esse detalhe para dizer que Jesus, nesta parábola, ensina que o primeiro passo na reconciliação é dado pelo indivíduo ao voltar para Deus por vontade própria, que seria o amor de Deus que o atrai primeiro. No entanto, tal conclusão viola princípios fundamentais de interpretação das parábolas de Cristo (ver p. 197-204). Além disso, nas parábolas da ovelha e da dracma, Jesus deixa clara essa verdade: a iniciativa da reconciliação e da salvação é de Deus. Além disso, nenhuma parábola baseada em relacionamentos humanos comuns é capaz de refletir com perfeição todos os aspectos do amor e da misericórdia de Deus. O presente divino do Filho ao mundo ocorreu antes da crença dos homens (Jo.3:16), e as Escrituras ensinam de maneira específica que mesmo o desejo de fazer o bem é colocado por Deus no coração humano (ver Fp.2:13). Seu pai o avistou. Jesus deixa subentendido que o pai desejava o retorno do filho e até o esperava. O pai devia conhecer o caráter e a disposição do rapaz e sabia que lhe faltavam atributos para ter sucesso em uma empreitada, mesmo quando deu ao jovem sua parte na fortuna da família. Parece que sabia que, mais cedo ou mais tarde, o pródigo cairia em si (ver com. do v. Lc.15:17). O pai reconheceu o filho à distância, mesmo de roupas rasgadas. Nos v. 20 a 24, Jesus revela o caráter do Pai, assim como se detém, nos v. Lc.15:11-19, no caráter do filho mais novo. Correndo. Ele poderia ter esperado o rapaz chegar até onde estava. Em vez disso, demonstrou a ânsia e a alegria ao correr para encontrá-lo. Abraçou. O filho ainda não havia começado a falar, mas seu retorno em estado tão infeliz comunicava com mais eloquência do que quaisquer palavras que houvesse planejado dizer. Não se diz o que o pai disse ao filho, mas apenas as ordens aos servos, junto com sua manifestação de amor paternal, as quais foram, da mesma forma, bem mais eloquentes do que as palavras o poderiam ser. |
Lc.15:21 | 21. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Pequei. Ver com. do v. Lc.15:18. Ser chamado teu filho. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam o acréscimo de “trata-me como um dos teus trabalhadores”. |
Lc.15:22 | 22. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés Roupa. Do gr. stole, veste externa larga para homens, que ia até os pés; em geral, era usada por pessoas de posição. Desde o início, o pai o recebeu como filho, não como servo. Para começar, colocou o próprio manto em volta do jovem, com o propósito de esconder seus trapos (ver PJ, 203, 204) e de poupá-lo da vergonha de ser visto com roupas esfarrapadas mesmo pelos servos da família. Os servos não acompanharam o senhor na corrida para saudar o filho. Portanto, a ordem para trazer “depressa a melhor roupa” foi dada quando pai e filho se aproximavam da casa. Um anel. Outro sinal de que o pai ainda o considerava o filho. É bem provável que fosse um anel-selo (ver com. de Et.3:10; Et.8:2). Se for o caso, a transferência para o filho indica a restauração da posição do jovem dentro da família. Sem dúvida, o pródigo vendera ou penhorara o anel-selo que usara no passado. Sandálias. Ver com. de Mt.3:11. Era comum os servos andarem descalços. As “sandálias” eram mais um indicativo de que o pai aceitou o pródigo arrependido como filho, não como servo. A melhor roupa, o anel e as sandálias não eram necessidades, mas demonstrações especiais de proteção. O pai não só atendeu às necessidades do filho, como também o honrou. Ao fazê-lo, deu evidências do amor e da alegria que enchiam seu coração. Por meio dessa parábola, Jesus justificou a aceitação dos pecadores que O rodeavam (ver com. do v. Lc.15:1) e reprovou a atitude crítica dos escribas e fariseus (ver com. do v. Lc.15:2). |
Lc.15:23 | 23. trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, Sem comentário para este versículo. |
Lc.15:24 | 24. porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Meu filho estava morto. Isto é, “morto”, por não ter recebido notícias deles e, de maneira literal e figurada, por causa da natureza da separação entre eles (sobre o uso figurado da palavra “morto”, ver com. de Lc.9:60). Começaram a regozijar-se. O jovem não se transformou no servo que imaginava, mas no convidado de honra em um banquete feito para celebrar seu retorno. Os banquetes orientais costumam durar várias horas. |
Lc.15:25 | 25. Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. O filho mais velho. A parábola não traz mais nenhuma informação direta acerca do filho mais novo. Sua restauração foi completa, e a lição a seu respeito fica clara: o Céu recebe graciosamente o pecador arrependido que volta. Até aqui, Jesus justificou Sua atitude amistosa em relação aos “publicanos e pecadores” (ver com. do v. Lc.15:2). O restante da parábola (v. 25-32) trata da atitude dos fariseus e escribas para com os “pecadores” (ver com. do v. Lc.15:2), representada pela atitude do irmão mais velho em relação ao mais novo. Essa parte da história deveria servir de repreensão aos hipócritas, cheios de justiça própria, que “murmuravam” sobre a forma de Cristo tratar os excluídos da sociedade (v. Lc.15:2). No campo. Ele estava trabalhando, como se espera de um filho diligente em seus deveres (ver Mt.21:28-31). De maneira semelhante, os escribas e fariseus trabalhavam duro, na esperança de receber a herança que o Pai celestial dá aos filhos fiéis. Contudo, não serviam a Deus por amor (ver com. de Mt.22:37), mas por um senso de obrigação e para merecer a justificação por obras. A mesma atitude era comum na época de Isaías (ver Is.1:11-15) e de Malaquias (ver Ml.1:12-14). Em lugar de obediência verdadeira, ofereciam a Deus a contrafação da aderência meticulosa a tradições humanas (ver com. de Mc.7:6-13), ignorando, com um sorriso no rosto, as palavras de Samuel: “o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1Sm.15:22; cf. com. de Mt.7:21-27). Música. Do gr. sumphonia, literalmente, “sons em uníssono”, da qual deriva a palavra “sinfonia”. Sumphonia pode designar vários instrumentos ou vozes em uníssono, um instrumento e vozes em uníssono, ou um instrumento musical parecido com a gaita de foles (ver com. de Dn.3:5). Festas assim contavam com músicos profissionais. Fica claro que o pai não poupou esforços para transformar o retorno do filho perdido num momento de celebração grandiosa, cuja notícia daria conta na cidade da restauração do status do jovem. |
Lc.15:26 | 26. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.15:27 | 27. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Sem comentário para este versículo. |
Lc.15:28 | 28. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Ele se indignou. Assim como os escribas e fariseus em relação a Jesus (v. Lc.15:2). A indignação do filho mais velho faz um contraste extremo com a alegria do pai (ver com. dos v. Lc.15:20; Lc.15:22). Não queria entrar. Segundo o original grego, ele se recusou persistentemente a fazê-lo, mesmo depois dos apelos do pai. |
Lc.15:29 | 29. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos Sirvo. Do gr. douleno. O problema era que o irmão mais velho trabalhava com o espírito de “servo”, em vez de filho. Reivindicava a propriedade do pai por direito, porque ele a merecia, e se sentia indignado (v. Lc.15:28) com o pai, por não reconhecer aquilo que considerava ser sua parte como filho mais velho. Sem jamais transgredir. Ele cumpria rigorosamente todas as exigências externas de um filho diligente, mas nada sabia sobre o verdadeiro espírito de obediência. Seu serviço nada mais era do que a aceitação servil das formas de submissão filial. Nunca me deste um cabrito sequer. O grego enfatiza o “me”, como se ele houvesse dito: “A mim tu nunca deste um cabrito.” Quer este filho reconhecesse ou não, ele teve ciúmes da atenção dada ao irmão e achou que toda essa atenção deveria ser dispensada a ele. Reclamou por nunca ter sido recompensado sequer com um “cabrito”, muito menos com um novilho cevado. Sem dúvida, também imaginou que a aceitação do irmão significaria que o pai daria ao pródigo uma parte da propriedade — que agora pertencia legalmente ao primogênito (ver com. do v. Lc.15:12). Talvez o irmão mais velho estivesse sugerindo que mesmo o novilho cevado pertencia legalmente a ele, e que o pai não tinha direito de usá-lo, nem de dispor de qualquer outra parte da propriedade sem seu consentimento pessoal. Alegrar-me com os meus amigos. Aqui ele sugere que sua vida não era boa e que, até certo ponto, invejava a experiência dissoluta que o irmão havia desfrutado. Ele não se alegrava em servir ao pai; na verdade, parecia não apreciar a companhia do pai, mas preferir a dos “amigos”. |
Lc.15:30 | 30. vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Esse teu filho. Expressão que revela desprezo e sarcasmo (ver com. de Lc.14:30; Lc.15:2). O filho mais velho desdenha o mais novo e friamente escarnece do pai, referindo-se ao irmão como “teu filho”. Em seu coração, ele se sentia mais justo do que o pai e o irmão. Desperdiçou os teus bens. Ver o v. Lc.15:12. Com meretrizes. O moço pressupõe o tipo de vida que o irmão tinha levado. |
Lc.15:31 | 31. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Filho. Do gr. teknon, “criança” ou “filho”. Neste versículo, o pai não usa a palavra costumeira para “filho”, huios, mas se dirige ao primogênito com o termo mais afetivo teknon. É como se ele dissesse: “meu querido garoto”. Tu sempre estás comigo. O filho mais novo não estivera “sempre” com o pai e nisso estava a diferença que levara à celebração. A mesma alegria teve o pastor ao encontrar a única ovelha perdida em relação às que não se afastaram do aprisco (ver com. dos v. Lc.15:4; Lc.15:7). No entanto, o pai continua a destacar que sentia idêntico amor pelo primogênito, mesmo sem ter havido ocasião para demonstrá-lo por meio de uma festa. Tudo o que é meu é teu. Nesse tempo, o pai já havia repartido os “haveres” e dado ao filho mais novo a sua porção. Também já tinha dado ao primogênito a porção dobrada que era sua por direito (ver com. do v. Lc.15:12). O argumento de que o pai era sovina (v. Lc.15:29) se mostra falho. A propriedade pertencia então ao filho mais velho e ele poderia se alegrar com os amigos se quisesse. Nesta declaração, o pai garante que os direitos do primogênito não seriam prejudicados pelo retorno do irmão. Caso isso o perturbasse, podia deixar de lado seus temores e entrar na celebração. O pai prova que todos os argumentos do filho mais velho eram inválidos e o convida a se unir a ele nas boas-vindas ao irmão (ver com. do v. Lc.15:28). |
Lc.15:32 | 32. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. Era preciso. É verdade que o filho mais novo não merecia a recepção que recebera, mas o pai mostra que era adequado e próprio dar alegres boas-vindas ao rapaz. A festa não foi dada com base nos méritos; tratava-se apenas de uma expressão da alegria do pai e, desta alegria, também “era preciso” que o irmão mais velho participasse. Esta, diz Jesus, deveria ser a atitude dos escribas e fariseus em relação aos pecadores. A afeição do pai pelo filho mais novo, perdido havia tempo, não diminuía em nada seu amor pelo primogênito. O amor paterno incluía a ambos, a despeito de seus defeitos óbvios. Felizmente, o amor do Pai celestial não depende de merecimento. Esse teu irmão. Em resposta à expressão de desprezo usada pelo irmão mais velho, “esse teu filho” (v. Lc.15:30), o pai usa uma forma carinhosa e terna: “teu irmão”. Na súplica do pai ao rapaz mais velho, Jesus representa Sua própria súplica aos escribas e fariseus, mostrando que os amava tão plenamente quanto aos “publicanos e pecadores” (v. Lc.15:1-2). Eles não deviam se ofender com a atitude de Cristo em relação aos excluídos da sociedade. Não deviam temer a perda dos próprios direitos e privilégios. Mas “era preciso” que mudassem de atitude em relação a Deus e ao próximo (comparar com a parábola do bom samaritano, em Lc.10:25-37, e com a experiência do jovem rico, em Mt.19:16-22). Não se diz que o primogênito tenha mudado sua forma de pensar, nem que o mais novo passara a ter uma conduta honrosa dali em diante. Nada disso era relevante para a lição que Jesus queria ensinar com a parábola. Na verdade, ela continuava a ocorrer na vida real e o resultado dependia dos ouvintes (ver PJ, 209). |
Lc.16:1 | 1. Disse Jesus também aos discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como quem estava a defraudar os seus bens. Disse Jesus também. [A parábola do administrador infiel, Lc.16:1-13. Sobre as parábolas, ver p. 197-204]. Não há informação direta sobre tempo, lugar ou circunstâncias em que as parábolas e instruções de Lucas 16 foram proferidas. Entretanto, as palavras iniciais deixam subentendido que foi logo após os eventos do cap. Lc.15. Faltavam poucos meses para o fim do ministério de Cristo, provavelmente entre janeiro ou fevereiro de 31 d.C., e o local era a Pereia, a região além do Jordão (ver com. de Lc.15:1). Aos discípulos. Como costumava ocorrer (ver com. de Mt.5:1-2), Jesus dirigia Seus ensinos primeiramente aos discípulos, mesmo quando outros estavam presentes. Como em Lucas 15 (v. Lc.15:2), havia fariseus na ocasião (Lc.16:14), chegou o momento em que Cristo Se dirigiu diretamente a eles (v. Lc.16:15; ver com. do v. Lc.16:9). Os publicanos também faziam parte do círculo de ouvintes, e a parábola tinha um significado especial para eles. Sem dúvida, muitos deles eram ricos. Havia um homem rico. Só Lucas registra esta parábola, bem como grande parte do ministério na Pereia (ver com. de Mt.19:1-2; Lc.9:51). As duas parábolas aqui relatadas se referem ao uso das oportunidades presentes levando em conta a vida futura (Lc.16:25-31), sobretudo no tocante aos bens materiais. A primeira parábola se dirigia especificamente aos discípulos, ao passo que a segunda foi proferida principalmente para os fariseus. A primeira ilustra um princípio vital de mordomia: o uso diligente e criterioso das oportunidades terrenas. A segunda aborda a mordomia de um ponto de vista negativo, assim como as parábolas do amigo importuno (Lc.11:5-10) e do juiz iníquo (Lc.18:1-8). Na primeira parábola, Jesus orienta a tirar o pensamento das coisas terrenas e voltá-lo para as eternas (PJ, 366). Entre os publicanos, acontecera um caso parecido não fazia muito tempo (PJ, 369), e os que se encontrassem em meio à multidão ficariam impressionados ao ouvirem a estória. Em geral, os comentaristas acham difícil explicar esta parábola por causa do aparente elogio feito ao administrador infiel (ver v. Lc.16:8). Tais dificuldades se devem à tentativa de se atribuir significado a cada detalhe, bem como à sugestão de que o “homem rico” representa a Deus. Mas esta parábola não deve ser interpretada de maneira alegórica. Um princípio fundamental na interpretação de parábolas é que não se deve tentar atribuir significado especial a cada detalhe (ver princípios de interpretação das parábolas, nas p. 197, 200). Jesus contou esta parábola a fim de ilustrar uma verdade específica, mencionada nos v. Lc.16:8-14. Um administrador. Pessoa que cuidava dos negócios de uma casa ou propriedade. O contexto deixa claro que este “administrador” era um homem livre, não um escravo, como alguns de sua classe. Caso fosse escravo, sua expectativa seria a escravidão a outra pessoa e não haveria preocupação quanto a ganhar o sustento depois de ser demitido; além disso, se fosse escravo, não teria liberdade para colocar em prática o plano a que se propôs (v. Lc.16:4). Estava a defraudar. De acordo com o texto grego, o administrador continuava a defraudar os bens de seu senhor. Na verdade, ele é acusado de roubar sistematicamente o patrão (ver PJ, 366, 367), e as denúncias pareciam ser suficientes para levá-lo à demissão antes de ter a oportunidade de prestar contas de seu trabalho (v. Lc.16:8). O problema, em parte, era incompetência ou negligência. Mas a astúcia do administrador (v. Lc.16:4-8) sugere que ele era inteligente o bastante para correr atrás dos próprios interesses. |
Lc.16:2 | 2. Então, mandando-o chamar, lhe disse: Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes mais continuar nela. Que é isto [...]? A frase também pode ser traduzida como: “por que eu ouço isto a teu respeito?” Presta contas. O administrador deveria equilibrar seus registros e entregar a prestação de contas ao senhor, que a examinaria e decidiria se as acusações eram justas. |
Lc.16:3 | 3. Disse o administrador consigo mesmo: Que farei, pois o meu senhor me tira a administração? Trabalhar na terra não posso; também de mendigar tenho vergonha. Disse [...] consigo mesmo. Ao preparar a prestação de contas com os registros que entregaria ao senhor, ele refletiu sobre o que estava acontecendo. Não posso. Ou, “não consigo”, ou “não tenho força suficiente”. |
Lc.16:4 | 4. Eu sei o que farei, para que, quando for demitido da administração, me recebam em suas casas. Eu sei o que farei. O administrador devia ser culpado e sabia não ser possível limpar seu nome. Caso seu trabalho se caracterizasse pela integridade, não é provável que ele recorresse a esse tipo de esquema para lidar com as acusações. Ele é retratado como se vivesse de astúcias e então propunha uma estratégia ainda mais esperta que lhe daria lucro fácil. Ele usaria a posição de autoridade a fim se preparar para seu futuro incerto. Quando for demitido. Isto é, “a qualquer momento em que eu for demitido”. Recebam. O administrador tinha em mente os “devedores do seu senhor” (v. Lc.16:5). Ele lhes faria dever uma obrigação pessoal. |
Lc.16:5 | 5. Tendo chamado cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu patrão? Tendo chamado cada um. Ou, “convocou então os devedores do seu senhor um a um” (BJ). O administrador colocou sua estratégia em prática de maneira sistemática e diligente. Caso houvesse empregado o mesmo zelo e habilidade usados em busca de seus interesses em seu trabalho teria sido bem-sucedido em ampliar o patrimônio de seu senhor. Quando atuava como servo na casa de Potifar, José demonstrou traços de caráter que o fizeram lograr mercê diante de seu senhor (ver Gn.39:1-6). Ao promover os interesses do chefe como se fossem pessoais, José foi promovido a mordomo sobre a casa de Potifar. Quanto deves [...]? Por incompetência ou descuido, o administrador teria registros incompletos ou nenhum registro das transações anteriores. Nesse caso, seria fácil se aliar aos devedores de seu senhor a fim de beneficiar tanto a si mesmo quanto os compradores à custa do patrão. |
Lc.16:6 | 6. Respondeu ele: Cem cados de azeite. Então, disse: Toma a tua conta, assenta-te depressa e escreve cinqüenta. Cados. Do gr. batoi, do heb. bath, mas com capacidade distinta, equivalente a 39,4 litros (ver p. 38). Portanto, 100 cados seriam quase 4 mil litros, uma dívida alta. Azeite. Sem dúvida, o azeite de oliva, o mais comum na Palestina e regiões vizinhas. Conta. Literalmente, “escritos” ou “documentos”, neste caso, com o sentido de “contratos” ou “notas” da transação original. Depressa. Muitos teriam feito negócios com o administrador e, para que seu esquema fosse bem-sucedido, ele precisaria realizá-lo sem demora. |
Lc.16:7 | 7. Depois, perguntou a outro: Tu, quanto deves? Respondeu ele: Cem coros de trigo. Disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta. Coros. Do gr. koroi, do heb. kor, mas com volumes distintos, equivalente a 525 litros (ver p. 38). Portanto, 100 coros seriam mais de 50 mil litros, outra dívida imensa. |
Lc.16:8 | 8. E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera atiladamente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz. Elogiou o senhor. Estas palavras não são um comentário editorial de Lucas, como pensam alguns, mas parte da parábola de Jesus. Quem faz o elogio é o “homem rico” do v. Lc.16:1. Seria inconcebível que Jesus fizesse um elogio a um esquema desonesto para defraudar alguém (ver PJ, 367). A avaliação que Cristo faz do administrador é revelada nas palavras “o administrador infiel”. No entanto, como o elogio é o clímax da parábola, fica claro que Jesus encontrou algo de útil no elogio do homem rico ao administrador, a fim de ensinar uma lição aos discípulos e ao povo. A própria narrativa torna evidente o que era. O homem rico não apoiava a desonestidade do administrador; foi por esse motivo que o dispensou de seus deveres. Mas a astúcia usada para levar a um clímax sua carreira de improbidade administrativa foi tão surpreendente, e ele foi tão meticuloso ao colocar em prática um plano digno de objetivos mais nobres, que o homem rico não pôde deixar de admirar esperteza e a diligência. Atiladamente. Isto é, do ponto de vista do interesse próprio, ao reunir uma série de amigos que se sentiriam obrigados a lhe retribuir o favor futuro. A palavra “atiladamente” vem do gr. phronimos, que, assim como a forma adjetiva phronimos (ver Mt.7:24; Mt.10:16), se origina de phren, “mente”. Como se diria, o administrador “usou a cabeça”. Ele pensou com antecedência ao planejar o próprio futuro com astúcia e esperteza. Sua “sabedoria” ou “inteligência” consistiu no bom uso das oportunidades enquanto elas duravam. Se ele fosse lento em fazer o ajuste de contas final com os devedores como o fora na condução dos negócios até então, não teria obtido êxito em seu esquema. Filhos do mundo. Literalmente, “filhos desta era”, considerando o mundo do ponto de vista da época e dos acontecimentos. Aqueles que vivem para este mundo são contrastados com os que vivem para o mundo por vir, “os filhos da luz”. Mais hábeis. As pessoas que vivem para este mundo costumam ser mais ávidas em aproveitar o que ele tem a oferecer do que os cristãos, que se preparam para aquilo que Deus tem a oferecer. É uma fraqueza humana pensar mais em como servir a si mesmo do que em como servir ao Senhor e aos outros (ver PJ, 370). O cristão faz bem em ser zeloso, mas seu “zelo” deve ser “com entendimento” (Rm.10:2). Ele deve se diferenciar por seu senso de valores (ver com. de Mt.6:24-34). Sua própria geração. Isto é, do tempo então presente (ver com. de Mt.23:36). Filhos da luz. Comparar com Jo.12:36; Ef.5:8; 1Ts.5:5. Jesus também usou expressões como “filhos de Deus” (Mt.5:9; Lc.20:36; Jo.11:52), “filhos do reino” (Mt.8:12; Mt.13:38) e “filhos do vosso Pai celeste” (Mt.5:45) para Se referir aos que aceitam Seus ensinos e colocam o reino dos Céus em primeiro lugar (ver com. de Mt.6:33). |
Lc.16:9 | 9. E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos. Riquezas de origem iníqua. Ver com. de Mt.6:24. Esta expressão revela desprezo pelas “riquezas”, assim como “dinheiro sujo”. Fazer amigos “das” riquezas de origem iníqua quer dizer fazer amigos “por meio delas”. Fazei amigos. Nesta declaração, Jesus Se volta para os fariseus presentes (ver v. Lc.16:14; ver PJ, 369). Por serem líderes da nação judaica, eram, num sentido especial, administradores da verdade e das bênçãos que Deus havia derramado sobre Seu povo escolhido (ver vol. 4, p. 13-15). Em seu papel de “administradores”, os líderes de Israel estavam defraudando os “bens” confiados a eles, e não demoraria para serem chamados para “prestar contas”. Jesus não sugere que o Céu possa ser comprado. A verdade a que Ele chama a atenção é que se deve aproveitar as oportunidades presentes, tendo em vista o bem-estar eterno. Cada pessoa é apenas um mordomo dos bens materiais que chegam às suas mãos nesta vida. Deus confiou bens ao ser humano a fim de que este aprenda os princípios de fidelidade. Tudo nesta vida, na verdade, é “alheio”, ou seja, pertence de Deus (Lc.16:12; 1Co.6:19). As coisas materiais devem ser usadas para o avanço dos interesses do Pai celestial e empregadas para atender às necessidades do próximo (ver Pv.19:17; Mt.19:21; Mt.25:31-46; Lc.12:33) e para a propagação do evangelho (ver 1Co.9:13; 2Co.9:6-7). Quando aquelas vos faltarem. A referência é às riquezas (cf. p. 136), não às pessoas. Quando uma pessoa falta, o sentido é de morte. As Escrituras não ensinam que somos recebidos nos “tabernáculos eternos” após a morte, mas, sim, por ocasião do retorno do Senhor (ver Jo.14:3). “Quando aquelas vos faltarem” quer dizer “quando as riquezas [de origem iníqua] acabarem”. Foi quando a fonte de renda do administrador faltou (Lc.16:3), que ele pensou no futuro (v. Lc.16:4). A lição da parábola não é o fracasso do administrador em seu trabalho, nem sua morte, mas, sim, seu método de resolver o problema de perda da renda pessoal. O contexto, bem como o teor geral da Bíblia, requer a leitura: “quando aquelas falharem”, sendo que “aquelas” são as riquezas. |
Lc.16:10 | 10. Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. Quem é fiel no pouco. O texto sugere que as riquezas são o “pouco”. Mais uma vez, deve-se ressaltar que Jesus não elogiou a desonestidade do administrador (ver com. do v. Lc.16:8). Para que os discípulos e outras pessoas não tomassem a parábola como justificativa para a desonestidade, Jesus afirma com clareza a verdade profunda de que todos os Seus discípulos devem se caracterizar pela integridade e diligência. De acordo com o Midrash, Deus só dá algo grande a um ser humano após havê-lo provado em algo menor; só depois o promove a uma coisa grandiosa. O Midrash dá como exemplo as supostas palavras de Deus a Davi: “Tu foste considerado digno de tuas ovelhas; vem, portanto, e apascenta Meu rebanho.” Também é fiel no muito. Ele será promovido (ver com. de Mt.25:21). |
Lc.16:11 | 11. Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verdadeira riqueza? A verdadeira riqueza. Isto é, a “riqueza” espiritual (ver Tg.2:5). Cristo admoesta a não trabalharmos “pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna” (Jo.6:27). Um pouco antes, no ministério na Pereia, Jesus advertiu as pessoas contra o acúmulo de tesouros para si, em vez de serem ricas “para com Deus” (Lc.12:21). |
Lc.16:12 | 12. Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará o que é vosso? Do alheio. Uma das coisas mais importantes a aprender é que todo o dinheiro e os bens materiais não são frutos da própria sabedoria e habilidade, mas um empréstimo de Deus. O Senhor advertiu Israel contra esse engano fatal e lembrou o povo de que é Ele quem dá “força para [adquirir] riqueza” (ver com. de Dt.8:18). A desatenção à instrução foi, em grade medida, o motivo da queda de Israel como nação (ver vol. 4, p. 19-20). É verdade que, quando as pessoas não honram a Deus nem reconhecem que as boas coisas vêm de Sua generosa mão, elas se tornam nulas “em seus próprios raciocínios” e seu “coração insensato” é obscurecido (Rm.1:21). Somos meros mordomos, ou administradores, de Deus. O que é vosso. Neste texto, Jesus Se refere à vida eterna, junto com as bênçãos e alegrias que a acompanham, como sendo nossas. Somos “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Rm.8:17). Jesus, entronizado na glória, estenderá a todos os fiéis o gracioso convite para entrar “na posse do reino” preparado “desde a fundação do mundo” (Mt.25:34). |
Lc.16:13 | 13. Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Ninguém pode servir. Ver com. de Mt.6:24. Deve-se lembrar que boa parte dos ensinos anteriores de Cristo foi repetida durante Seu ministério na Pereia (DTN, 488). Não há motivo para supor, como o fazem muitos críticos, que Lucas ou Mateus incluíram este dito no lugar errado em seu evangelho. |
Lc.16:14 | 14. Os fariseus, que eram avarentos, ouviam tudo isto e o ridiculizavam. Os fariseus. [Jesus reprova os fariseus, Lc.16:14-17], Ver p. 39, 40]. Avarentos. Do gr. philarguroi, literalmente, “amantes do dinheiro”. A palavra só ocorre no NT nesta passagem e em 2Tm.3:2. Alguns comentaristas críticos sugerem que os saduceus é que foram descritos assim, não os fariseus como disse Lucas, baseando-se no fato de os primeiros formarem a classe mais abastada da sociedade judaica. Mas Jesus não estava falando da posse de riquezas por si só. Não é o fato de ter bens que impede o ser humano de chegar ao Céu, mas o amor excessivo às riquezas e o mau uso delas. Ouviam tudo isto. O que se segue (v. 14-31) é a continuação de um relato da mesma ocasião relatada nos v. Lc.16:1-13. Ridicularizavam. Ou, “zombavam”. Sem dúvida, os fariseus perceberam que Jesus dirigia Seus comentários a eles (ver v. 9-13; ver com. do v. Lc.16:9). Parece que a sequência de relatos, que começa em Lc.15:1, registra o que Jesus ensinou em uma única ocasião (ver com. de Lc.15:1; Lc.16:1; Lc.16:14). Se for o caso, os fariseus estavam presentes desde o começo (ver Lc.15:2), e as parábolas da ovelha, da dracma e do filho pródigo foram dirigidas a eles, ao Jesus justificar Seu interesse pelos “publicanos e pecadores” (ver Lc.15:1-3). |
Lc.16:15 | 15. Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus. Justificais a vós mesmos. Comparar com o “intérprete da Lei” que, “querendo justificar-se”, perguntou: “Quem é o meu próximo?” (Lc.10:25-29). Os fariseus haviam alcançado sucesso em difundir a validade da teoria de que a riqueza é uma recompensa pela justiça. Defenderam habilmente sua ideia e aqueles que tinham sua porção de bens neste mundo se acomodavam com ela. Deus conhece o vosso coração. Ver 1Sm.16:7; 1Cr.28:9. O problema dos fariseus era a hipocrisia (ver com. de Mt.6:2; Mt.7:5); em sua justiça, eles não passavam de sepulcros caiados (ver Is.64:6; Mt.23:13-33). Abominação. Do gr. bdelugma, “coisa pútrida”, “coisa detestável”. Comparar com o uso de bdelugma em Ap.17:4-5; Ap.17:21:27. |
Lc.16:16 | 16. A Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele. A Lei e os Profetas. Isto é, os escritos canônicos do AT (ver Mt.5:17; Mt.7:12; Mt.22:40; Lc.24:27; Lc.24:44; At.13:15; At.28:23; ver com. de Lc.24:44). Até João. Ou seja, João Batista. “Até” a pregação do “reino de Deus” por João, os escritos sagrados constituíam o principal guia para a salvação (ver Rm.3:1-2). A palavra “até” (do gr. mechri) não implica, como alguns pensam, que “a Lei e os Profetas”, as Escrituras do AT, perderam força ou valor depois que João começou a pregar. O que Jesus quer dizer é que, até o ministério de João, “a Lei e os Profetas” eram tudo o que as pessoas tinham. O evangelho chegou não para substituir ou anular Moisés e os profetas, mas para complementar, reforçar e confirmar esses escritos (ver com. de Mt.5:17-19). O evangelho não assume o lugar do AT, mas soma-se a ele. Este é o sentido claro com que mechri (também traduzido por “para”) é usado em passagens como esta e em Mt.28:15; e Rm.5:14. Ao longo do NT, não há nenhuma ocasião em que se diminui o AT de alguma maneira. Pelo contrário, era em textos do AT que os cristãos do NT encontravam as mais fortes confirmações de sua fé. Na verdade, o AT era a única Bíblia que a primeira geração da igreja possuía (ver com. de Jo.5:39). Eles não o desprezavam, como alguns cristãos fazem hoje, mas o honravam e obedeciam. Nesta mesma ocasião, Jesus anunciou que os escritos do AT eram suficientes para guiar as pessoas ao Céu (ver Lc.16:29-31). Os que defendem que o AT não tem valor ou autoridade para o cristão propagam um ensino contrário ao de Cristo. Paulo afirmou que seus ensinos só incluíam “o que os profetas e Moisés disseram haver de acontecer” (At.26:22). Em suas instruções, o apóstolo se referia constantemente à “lei de Moisés” e aos “profetas” (ver At.28:23). No Sermão do Monte, Jesus deixou claro que Seus ensinos não desconsideravam em nada os do AT. Declarou que não viera tirar nem mesmo um “til” ou um “i” das Escrituras do AT (ver com. de Mt.5:18). Quando declarou “Eu, porém, vos digo” (ver com. de Mt.5:22), o contraste que estabeleceu entre Seus ensinos e os do AT não serviu para diminuir a importância do último, mas para libertar o povo da mentalidade fechada dos judeus de Sua época, a fim de ampliar e fortalecer os conceitos antigos. Desde esse tempo. Desde a proclamação do reino de Deus por João Batista, mais luz vinha sendo lançada sobre o caminho da salvação, e os fariseus não tinham desculpas para ser “avarentos” (ver v. Lc.16:14). Houve luz suficiente para eles no AT (ver v. Lc.16:29-31), mas eles a rejeitaram (ver Jo.5:45-47). Agora assumiam a mesma atitude em relação à luz crescente que emanava da vida e dos ensinos de Jesus (ver Jo.1:4; Jo.14:6). Todo homem. Provavelmente Cristo tinha em mente a grande multidão que O seguia por onde passava pela Pereia (ver com. de Lc.12:1; Lc.14:25; Lc.15:1). Havia grande interesse nEle, bem como nos milagres e ensinos, embora tal interesse às vezes tinha motivos equivocados. Esforça. Do gr. biazo, “usar força” ou “fazer força” (ver com. de Mt.11:12-13). |
Lc.16:17 | 17. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei. É mais fácil. Cf. com. do v. 17; Mt.5:18. Til. Do gr. keraia, “chifre pequeno”, “apêndice” ou “ponto”, de keras, “chifre” (ver com. de Mt.5:18). Uma ilustração do sentido de keraia é a parte da letra “G” que a distingue do “C”. Lei. Por “lei”, os judeus se referiam a toda a vontade revelada de Deus, sobretudo os escritos de Moisés (ver com. de Dt.31:9; Pv.3:1). Quando o termo é usado isoladamente no NT, como aqui, pode ser considerado como uma referência geral a todo o AT. Em sua versão, Marcion, um mestre cristão herege de cerca de 150 d.C., mudou o termo de “lei” para “Minha palavra”, a fim de fugir da referência óbvia às Escrituras do AT e à aprovação delas por Jesus. Marcion se considerava um seguidor de Paulo, mas não queria qualquer relação com o judaísmo ou o AT. Foi um dos primeiros cristãos a defender que o AT não tinha valor, nem significado para os cristãos. |
Lc.16:18 | 18. Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido também comete adultério. Repudiar sua mulher. [Acerca do divórcio, Lc.16:18 = Mt.19:3-12 = Mc.10:2-12]. Ver com. de Mt.5:27-32; Mt.19:9; 1Co.7:10-11. O adultério continua a ser adultério mesmo quando as pessoas o legalizam. Os críticos do evangelho afirmam que, em Lc.16:14-18, Lucas agrupou uma série de ditos não relacionados que Jesus proferiu em diversas ocasiões. Mas eles não conseguem perceber a linha de raciocínio subjacente que transforma todo o capítulo num discurso sistemático e unificado. De acordo com o v. Lc.16:15, os fariseus e seus ensinos eram uma abominação diante de Deus. No entanto, tal situação não acontecia por falta de luz. Eles tiveram “a Lei e os Profetas” o tempo inteiro (v. Lc.16:16) e, naquele momento, tinham o evangelho. No v. Lc.16:17, Jesus afirma a unidade fundamental de Seus ensinos com o AT e, no v. 18, dá uma ilustração disso. No Sermão do Monte, Cristo já havia usado esses exemplos como evidência de que Seus ensinos não anulavam o AT (ver com. de Mt.5:17-19; Mt.5:27-32). |
Lc.16:19 | 19. Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente. Certo homem rico. [O rico e o mendigo, Lc.16:19-31. Sobre as parábolas, ver p. 197-200]. Acerca das circunstâncias desta parábola, ver com. dos v. Lc.16:1-14. Fica claro que a parábola se dirigia em particular aos fariseus (ver Lc.15:2; Lc.16:14), embora os discípulos (Lc.16:1), “publicanos e pecadores” (Lc.15:1) e, sem dúvida, um grande público (ver com. de Lc.12:1; Lc.14:25; Lc.15:1) também estivessem presentes. Nesta parábola, Jesus dá continuidade à lição ensinada na parábola do administrador infiel (Lc.16:1-12), de que o uso das oportunidades presentes determina o destino futuro (ver com. dos v. Lc.16:1; Lc.16:4; Lc.16:9; Lc.16:11-12). Aquela parábola se dirigia, em especial, aos discípulos (ver com. do v. Lc.16:1). Mas, no v. Lc.16:9, Jesus deixa os discípulos para falar aos fariseus (ver com. do v. Lc.16:9). Os fariseus se recusavam a aceitar os ensinos de Jesus sobre mordomia e O ridicularizaram (ver v. Lc.16:14). Cristo, porém, observou que eles podiam até ser honrados pelos homens, mas Deus era capaz de ler seu coração (ver com. do v. Lc.16:15). Eles tinham luz suficiente, conheciam a instrução da lei e dos profetas havia tempo e, desde o ministério de João, a luz adicional do evangelho lhes estava disponível (ver com. do v. Lc.16:16). Nos v. Lc.16:17-18, Jesus afirma que os princípios estabelecidos na “Lei” são imutáveis, pois Deus não muda, e dá um exemplo desta verdade. A parábola do rico e do mendigo é contada para mostrar que o destino eterno é decidido na vida presente pelo uso que se faz dos privilégios e das oportunidades (ver PJ, 260). O “certo homem rico” representa todas as pessoas que fazem mau uso das oportunidades da vida; e, num sentido coletivo, se aplica a toda a nação judaica, que, assim como o homem rico, estava cometendo um erro fatal (ver PJ, 267). A parábola consiste de duas cenas. Uma representa esta vida (v. 19-22), e a outra, a futura (v. Lc.16:23-31). A parábola do administrador infiel aborda o problema de uma perspectiva positiva, ou seja, do ponto de vista daqueles que se preparam para o futuro. A parábola do rico e Lázaro aborda a mesma questão de uma perspectiva negativa, ou seja, do ponto de vista de quem deixou de fazer tais preparativos. O homem rico errou ao pensar que a salvação se baseava em sua ascendência abraâmica, em vez de depender de seu caráter (cf. Ez.18). Assim como as demais parábolas, a do homem rico e Lázaro deve ser interpretada em harmonia com seu contexto e com o conteúdo geral da Bíblia. Um dos princípios mais importantes de interpretação é que cada parábola é proposta para ensinar uma verdade fundamental e os detalhes não precisam ter significado em si, a não ser como acessórios da estória. Em outras palavras, não se deve insistir que cada detalhe da parábola tenha sentido literal e represente uma verdade espiritual, a menos que o contexto deixe claro que esse é o significado pretendido. Desse princípio se origina outro: os detalhes de uma parábola não servem como evidências doutrinárias. Somente o ensino principal da parábola, definido com clareza pelo contexto e confirmado pelo teor geral das Escrituras, junto com os detalhes explicados dentro do contexto, pode ser considerado acessório para uma discussão doutrinária (ver p. 197-200). O argumento de que Jesus tinha a intenção de ensinar, com esta parábola, que os seres humanos, tanto os bons quanto os maus, recebem sua recompensa assim que morrem viola ambos os princípios. O contexto elucida com clareza que esta parábola tinha o objetivo de ensinar que o destino futuro é determinado pelo uso que as pessoas fazem das oportunidades da vida presente. Jesus não estava debatendo o estado do ser humano após a morte ou o momento em que se recebe o galardão. Ele tão somente estabeleceu uma clara distinção entre esta vida e a futura, mostrando a relação existente entre as duas. Além disso, interpretar que esta parábola ensina o recebimento da recompensa imediatamente após a morte contradiz de forma clara a declaração do próprio Cristo de que “o Filho do Homem [...] retribuirá a cada um conforme as suas obras” quando “vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos” (ver com. de Mt.16:27; Mt.25:31-41; 1Co.15:51-55; 1Ts.4:16-17; Ap.22:12). Uma das regras de interpretação mais importantes diz que as expressões e narrativas figuradas devem ser compreendidas à luz das declarações literais das Escrituras sobre as verdades a que se referem. Até mesmo os que defendem uma interpretação desta parábola contrariamente ao contexto imediato e ao teor geral dos ensinos de Cristo admitem que muitos detalhes desta parábola são figurados (ver com. dos v. Lc.16:22-26). Uma questão apropriada é: por que Jesus incluiu ilustrações figuradas numa parábola que não representa com precisão a verdade tão claramente apresentada em outras partes das Escrituras e, sobretudo, em suas próprias declarações literais? A resposta é que assim Ele Se aproximava da mentalidade do público. Muitos dos que O ouviam, sem compreensão do AT, acreditavam num estado de existência consciente entre a morte e a ressurreição (ver PJ, 263). Essa crença errônea, que não está no AT, permeia a literatura judaica pós-exílica em geral (ver p. 71-89) e, assim como várias outras crenças tradicionais, havia se tornado parte do judaísmo dos tempos de Jesus (ver com. de Mc.7:7-13). Nesta parábola, Cristo simplesmente fez uso de uma crença popular a fim de deixar clara a lição que desejava plantar na mente de Seus ouvintes. Também se deve notar que, na parábola anterior (Lc.16:1-12), Jesus não elogiou nem aprovou a conduta desonesta do mordomo, muito embora tal ação seja a parte principal da parábola (ver com. do v. Lc.16:8). O International Critical Commentary diz o seguinte acerca do v. Lc.16:22: “O princípio geral se mantém de que alegria e suplício após a morte são determinados pela conduta anterior; mas os detalhes da imagem são extraídos de crenças judaicas populares a respeito da condição das almas no sheol [ver com. de Pv.15:11].” Às vezes, chama-se atenção para o fato de Jesus não afirmar que a parábola do rico e de Lázaro seja uma parábola, pelo menos no que revela o relato de Lucas (embora um manuscrito antigo a chame de parábola), enquanto outras parábolas recebem esse título (Mt.13:3; Mt.13:24; Mt.13:33; Mt.13:44-45; Mt.13:47). Entretanto, deve-se destacar que, embora Jesus costumasse introduzir as parábolas dizendo tratar-se desse gênero ou afirmando que o reino do Céu é “semelhante” a uma pessoa ou coisa em tais circunstâncias e, então, começasse o relato, Ele nem sempre o fez assim (ver Lc.15:8; Lc.15:11; Lc.16:1). O mesmo se aplica a várias parábolas do AT, como as de Jz.9:8-15 e a de 2Rs.14:9. Contudo, ninguém acredita que, pelo fato de tais parábolas não serem claramente intituladas, elas devam ser interpretadas de maneira literal. Com este “homem rico”, sem dúvida, Jesus queria que os fariseus se identificassem, e na triste existência dele, pretendia retratar o destino infeliz do grupo (ver com. do v. Lc.16:14; comparar o “homem rico” desta parábola com o da anterior, no v. Lc.16:1). A tradução do gr. plousios, “rico”, pela palavra latina dives, na Vulgata, deu origem à tradição de que o nome do homem era Dives. Uma série de nomes ocorre em várias outras versões, provavelmente em decorrência da ideia de que, se o pobre da parábola tinha nome, o rico também teria. Púrpura. Do gr. porphura, “tecido púrpura” ou “roupa feita de tecido púrpura”. Nesse caso, é provável que se refira a uma veste exterior dispendiosa, a capa ou o manto (do gr. himation, ver com. de Mt.5:40) tingido de cor púrpura. Púrpura era a cor da dignidade real. Originalmente, porphura se referia a uma espécie de molusco comum no Mediterrâneo, o murex, do qual se extraía a tinta púrpura. Então o termo, ou seu equivalente, passou a ser aplicado ao tecido tingido de púrpura ou a roupa feita com tal tecido (ver Mc.15:17; Mc.15:20; At.16:14; Ap.17:4). A tinta era produzida em três tons, que equivalem ao roxo, escarlate e azul. Linho finíssimo. Do gr. bussos, “fibra de linho”, “linho”, a roupa feita dele. Nesta passagem é provável que se refira à roupa interna, o “casaco” ou a “túnica” (do gr. chiton ver com. de Mt.5:40), feitos de linho egípcio. A princípio, bussos se referia à fibra do linho e, depois, passou a ser aplicado ao tecido feito com essa fibra. Assim como a “púrpura” era a cor da dignidade real, o “linho finíssimo” era o tecido do luxo (ver Ap.18:12; Ap.19:8; Ap.19:14). |
Lc.16:20 | 20. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele Mendigo. Do gr. ptochos, derivado da palavra ptasso, “encurvar-se”, “agachar”, “andar agachado ou se encurvando como um mendigo”. Às vezes, ptochos significa simplesmente “pobre” ou, usado como substantivo, “homem pobre” (ver com. de Mt.5:3). Lázaro. Do gr. Lazaros, nome derivado do heb. Elazar (ver com. de Ex.6:23), que significa “Deus ajuda”. Deve-se notar que o nome é o mais adequado para a condição espiritual do homem da parábola. Este é o único exemplo registrado em que Jesus dá nome a um dos personagens da parábola, recurso necessário neste caso por causa do diálogo (ver Lc.16:23-31). Embora Cristo tenha ressuscitado Lázaro de Betânia algumas semanas depois (ver Jo.11:1-46), não há ligação entre o personagem da parábola e o Lázaro ressuscitado. Coberto de chagas. Ou, “cheio de úlceras”. O fato de Lázaro jazer à porta indica que ele era inválido e não conseguia se locomover sozinho. Jazia à porta. O homem rico teve repetidas oportunidades de atender às necessidades de Lázaro, mas não o fez. É verdade que ele não maltratou o sofredor, o qual, em sua opinião, deveria estar sofrendo os juízos de Deus. Sua atitude era semelhante à demonstrada por Caim, quando disse: “acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (Gn.4:9). Seu relacionamento com Lázaro não envolveu atos de maldade, mas, sim, a omissão de atos de misericórdia. Ele teve uma atitude negativa em relação a suas responsabilidades na vida, em vez de assumir uma postura positiva. Nada sabia acerca do verdadeiro sentido do “segundo” grande mandamento da lei, que requer o amor ao próximo (ver com. de Mt.5:43; Mt.22:39; Mt.25:35-44). Assim como a nação judaica, este homem rico não fazia o bem e, por esse motivo, era culpado de fazer o mal. Todas as vantagens que o Céu lhe havia concedido eram usadas para prazer e gratificação pessoais (ver PJ, 291). |
Lc.16:21 | 21. e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Desejava alimentar-se. Era por isso que ele ficava à porta. Passava grande necessidade, e o homem rico tinha condições de supri-la. Nada na história sugere que Lázaro murmurasse ou reclamasse contra Deus por sua pobreza e seu sofrimento. Ao que parece, ele suportou tudo com paciência e coragem, assim como Jó. Das migalhas que caíam. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “as [coisas] que caíam”, isto é, as sobras da mesa (ver com. de Mc.7:28). Ao que tudo indica, o homem rico nunca estendeu a mão para dar comida a Lázaro. Lamber-lhe as úlceras. Não se afirma que isto aliviava sua aflição ou a intensificava, embora a última opção pareça mais provável. Se for, este foi o clímax da miséria do pobre sofredor. Ele seria incapaz de impedir esses animais semisselvagens que se alimentavam de lamber suas úlceras (ver com. de Mt.7:6; Mt.15:26). |
Lc.16:22 | 22. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. Levado pelos anjos. Comparar com Mt.24:31; sobre a interpretação de Lc.16:25-31, ver com. do v. Lc.16:19. Deve-se lembrar que o propósito da parábola é comparar as oportunidades desta vida e o uso que se faz delas com as recompensas da vida futura. O destino já está fixo na hora da morte, e os seres humanos devem fazer bom uso da vida presente a fim de desfrutar os privilégios da que está por vir. Seio de Abraão. Expressão judaica típica que significa “paraíso”. O Talmude menciona o “colo de Abraão” como a morada dos mortos santos. Em outra ocasião, Jesus Se referiu ao paraíso como o lugar no qual “muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão” na festa do “reino dos Céus” (ver com. de Mt.8:11; Lc.14:15; sobre Jesus estar “no seio do Pai”, ver com. de Jo.1:18; sobre estar “reclinado no seio” [ARC] de alguém durante uma festa, ver com. de Jo.13:23). Abraão foi o pai dos judeus (ver Jo.8:39; Jo.8:56) e estes praticamente passaram a depender dele para a salvação, em lugar de Deus (ver com. de Lc.16:24). Imaginavam Abraão dando as boas-vindas a seus filhos no paraíso, de maneira semelhante à representação por vezes feita de Pedro recebendo os cristãos à porta do Céu. Foi sepultado. Os que defendem a literalidade da narrativa, não considerando-a como parábola, devem observar que, se o homem rico fosse literalmente para o tormento em forma corpórea, Lázaro também teria subido ao Céu de forma literal e corpórea. Todavia, o corpo tanto de Lázaro quanto do homem rico retornou ao pó, de onde provinha (ver Gn.2:7; Gn.3:19; Ec.12:7). |
Lc.16:23 | 23. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Inferno. Do gr. hades, “sepultura” ou “morte” (ver com. de Mt.11:23). Hades é a morada de todos os seres humanos, bons e maus, até a ressurreição. Literalmente, Lázaro também deveria estar ali. Tormentos. Do gr. basanoi, termo ligado ao verbo basanizo, usado para pessoas que sofrem intensamente por doenças (Mt.8:6), para o balançar das ondas do mar (Mt.14:24) e para os discípulos remando com dificuldade diante do vento contrário (Mc.6:48). Também é usado para indicar estresse emocional (2Pe.2:8) e o tormento que os espíritos maus temiam quando colocados face a face com Jesus (Mt.8:29; Mc.5:7; Lc.8:28). Basanos (singular de basanoi) parece expressar aflição ou agitação aguda. A ideia de que, após a morte, as pessoas vão para um lugar onde sofrem “tormentos” é completamente alheia às Escrituras, que ensinam com clareza que “os mortos não sabem coisa nenhuma” (Ec.9:5; ver com. de Sl.146:4). O próprio Jesus comparou a morte a um sono (ver Jo.11:11; Jo.11:14). Concluir, com base nesta parábola, que Cristo ensina que os ímpios são levados para um lugar onde sofrem “tormentos” é contradizer Seu ensino claro sobre o assunto em diversas ocasiões, bem como a instrução da Bíblia como um todo. É no inferno de geenna que os pecadores passarão por tormentos de fogo (ver com. de Mt.5:22), não no hades. Portanto, ao apresentar o homem rico “atormentado nesta chama” (Lc.16:24) no hades, Jesus está, sem dúvida, usando linguagem figurada, e não há razão em interpretar literalmente Suas palavras (ver com do v. Lc.16:19). Os olhos. O corpo do homem rico, então no hades, estava sem vida. Ele não conseguia enxergar (ver com. do v. Lc.16:24). Viu ao longe a Abraão. Estariam o Céu e o inferno tão próximos que os habitantes da morada celestial pudessem testemunhar o sofrimento de amigos e amados no inferno sem poder aliviar seu tormento, enquanto os condenados observam a alegria dos justos no Céu? No entanto, esse seria o exato ensinamento da parábola se fosse interpretada literalmente (ver com. do v. Lc.16:19). Contudo, os que defendem a literalidade se apressam em acrescentar que o “seio de Abraão” é apenas uma figura de linguagem, que os santos não descansam literalmente em seu “seio”. Também declaram que a proximidade entre o Céu e o inferno retratada aqui é apenas figurativa. Contudo, ao se admitir que este e outros aspectos da parábola são figurados, coloca-se em obrigação de reconhecer o caráter figurado de toda a parábola. Caso não se disponha a admitir que a parábola é figurada, fica-se na obrigação de reconhecer que a decisão acerca de quais aspectos são figurados e quais não o são é uma questão de escolha arbitrária, destituída de princípios hermenêuticos claros. Lázaro no seu seio. Ver com. do v. Lc.16:22. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “Lázaro aconchegado em seu seio”. |
Lc.16:24 | 24. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Pai Abraão. A parábola parece apresentar Abraão presidindo o hades (ver com. do v. Lc.16:23). O homem rico se dirige a Abraão como se este fosse Deus. O sofredor é descendente do patriarca e apela para ele como um filho a seu pai. Manda a Lázaro. O rico presume que Lázaro deveria se colocar à sua disposição no hades, o que, em certo sentido, daria continuidade às posições que os dois ocupavam na Terra. Molhe. Do gr. bapto (ver com. de |
Lc.16:25 | 25. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. Filho. Do gr. teknon (ver com. de Lc.15:31). Recebeste. Ele recebeu todas as coisas boas que qualquer pessoa poderia desejar durante a vida, mas não se preparou para a vida futura. Aplicou o princípio de Mt.6:33 ao contrário: buscou primeiro “todas estas coisas” e esperou que Deus encontrasse alguma forma de lhe acrescentar o Céu depois (comparar com a experiência do rico louco, no com. de Lc.12:16-21; e com a instrução de Jesus sobre os tesouros no Céu, no com. de Mt.6:19-21). O homem rico recebeu toda a recompensa que teria (ver com. de Mt.6:2). Sua conta no Céu mostrou que ele estava falido moralmente. Deve-se ressaltar que não foi punido por possuir riquezas (ver com. do v. Lc.16:19), mas por usá-las indevidamente. O rico as desperdiçou consigo mesmo, em vez de colocá-las a serviço de Deus e do próximo (cf. Mt.19:21-22; Mt.25:25-30). Não é pecado ser rico, pois Abraão o era (ver Gn.13:2). O rico da parábola ignorou que era responsável por sua maneira de usar as riquezas. Lázaro igualmente, os males. Da mesma forma que o rico não foi castigado por ser abastado, Lázaro não recebeu recompensa no Céu apenas por ter sido pobre na Terra. É o caráter moral, não os bens materiais, que determina o destino. |
Lc.16:26 | 26. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós. Além de tudo. A resposta de Abraão à súplica do homem rico tem duas partes. Na primeira (v. Lc.16:25), ele declara que não seria certo atender ao pedido e, na segunda (v. 26), destaca que o sistema da vida futura impossibilitaria isso. Abismo. Do gr. chasma, “hiato” ou “fenda”, derivado de chaino, “bocejar”, “abrir-se muito”. O “abismo” representa a diferença de caráter moral entre o rico e Lázaro (ver PJ, 269). O fato de estar “posto” enfatiza que, após a morte, o caráter não pode ser mudado. É tarde demais para ser alterado (ver Is.26:10). O abismo que impedia o homem rico de desfrutar as alegrias do “seio de Abraão” se abrira na vida terrena, por sua negligência em fazer bom uso das oportunidades então concedidas para edificar o caráter (ver PJ, 271). |
Lc.16:27 | 27. Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, Eu te imploro. Nesta parte, o rico sugere que não houvera uma advertência justa quanto ao destino que o aguardava após a morte. Que o mandes. Ele não era capaz de se comunicar com os parentes vivos, e “Abraão” não permitiria que Lázaro o fizesse. |
Lc.16:28 | 28. porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Sem comentário para este versículo. |
Lc.16:29 | 29. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. Moisés e os Profetas. Isto é, as Escrituras do AT. Esta era uma designação comum para os escritos canônicos do AT nos tempos de Jesus (ver com. do v. Lc.16:16). Vez após vez, Jesus aponta para o AT como fonte do mais alto valor em questões de fé e doutrina, e o recomenda para Seus ouvintes como guia seguro para o caminho da salvação (ver Mt.5:17-19; Lc.24:25; Lc.24:27; Lc.24:44; Jo.5:39; Jo.5:45-47). Ouçam-nos. De acordo com a admoestação de Cristo feita aqui, embora aparentemente seja proferida por Abraão ao homem rico, as Escrituras do AT eram um guia suficiente da salvação para as pessoas da época e uma fonte confiável de informações acerca do destino futuro. O rico tivera amplas advertências acerca do destino que aguardava aqueles que escolhiam viver como ele vivera. A luz adicional também seria rejeitada, caso fosse concedida (ver com. do v. Lc.16:31). |
Lc.16:30 | 30. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Não, pai Abraão. O rico protesta com Abraão, sugerindo ser mais sábio que o patriarca. Ele não havia encontrado as evidências convincentes no AT e duvidava de que seus cinco irmãos o fariam. Aqueles que hoje desconsideram as mensagens solenes do AT sem grandes preocupações fariam bem em refletir no destino do homem rico desta parábola, que, embora tivesse acesso a “Moisés e aos profetas”, não aproveitou essa oportunidade. Se alguém dentre os mortos for ter com eles. Ou seja, se qualquer um dentre os mortos fosse ter com eles. Conforme observado no v. Lc.16:19, o homem rico representa não só os indivíduos que deixam de aproveitar as oportunidades nesta vida para a formação do caráter e para fazer o bem ao próximo, como também a nação judaica de maneira coletiva, que seguia o mesmo rumo (ver vol. 4, p. 17-20). Ao exigir mais evidências, o homem rico refletia as repetidas exigências dos escribas e fariseus por um sinal. Mas a vida, os ensinos e as obras de Jesus já eram evidências convincentes de Sua divindade para todos os sinceros (ver com. de Mt.15:21; Mt.16:1). No entanto, o tipo de evidência que Cristo dava não era o mesmo que eles queriam. |
Lc.16:31 | 31. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. Se não ouvem. Ver com. do v. Lc.16:30. Aqueles que não se impressionam com a declaração simples das verdades eternas encontradas nas Escrituras não teriam uma impressão mais favorável nem mesmo diante do maior dos milagres. Algumas semanas depois de proferir esta parábola, Jesus ressuscitou um homem chamado Lázaro dos mortos, como se desse uma resposta ao desafio dos líderes judeus por uma evidência maior do que tinham tido até então. Mas foi justamente esse milagre que levou os líderes da nação a intensificarem a conspiração contra Jesus (ver com. de Jo.11:47-54). E não apenas isso, eles entendiam ser necessário eliminar Lázaro a fim de resguardar a própria posição insustentável (ver Jo.12:9-10; DTN, 588). Portanto, os judeus fizeram uma demonstração literal da verdade da afirmação de Cristo, de que os que rejeitavam o AT também rejeitariam uma luz maior, inclusive o testemunho de alguém que ressuscitasse “dentre os mortos”. Persuadir. Isto é, a se arrepender (ver v. Lc.16:30). Ainda que ressuscite. Algumas semanas depois, o Senhor ressuscitou Lázaro dos mortos (ver com. de Jo.11:1), dando a críticos fariseus o cumprimento do pedido expresso pelo homem rico da parábola. Todavia, assim como o “pai Abraão” adverte o rico na história, a maioria dos judeus continuou a se recusar a crer. Na verdade, foi exatamente o milagre que os instigou, com determinação ainda maior, a tramar a morte de Jesus (Jo.11:47-54). |
Lc.17:1 | 1. Disse Jesus a seus discípulos: É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Disse Jesus. [Os tropeços; Lc.17:1-2 = Mt.18:6-7 = Mc.9:42]. Não há indicação direta acerca de tempo e local dos eventos relatados nesta seção. Parece haver pouca ou nenhuma ligação com o capítulo anterior, pelo menos no que se refere ao tema. Além disso, os fariseus, abordados anteriormente (ver com. de Lc.16:14) parecem estar ausentes em Lc.17:1-19. E, como uma viagem é registrada (ver Lc.17:11) antes de os fariseus voltarem à narrativa (v. Lc.17:20), o mais provável é que exista uma transição de tempo e lugar entre os cap. Lc.16-17. Com base no relato do cap. 17, parece que a jornada levou Jesus pela Samaria e pelas fronteiras da Galileia, até cruzar o Jordão e chegar à Pereia mais uma vez (ver com. de Lc.17:11; ver mapa, p. 220). A falta de conexão clara entre as subdivisões do ensino dado nos v. 1 a 10 levou alguns a pensar que Lucas relata aqui a essência do que foi dito em diversas ocasiões. Isso é possível e talvez o escritor bíblico tenha registrado os pontos altos da instrução dada aos discípulos no decorrer da viagem. No entanto, também se pode descobrir uma ligação subjacente às várias partes. Mesmo assim, é discutível se há real unidade de pensamento. Nos v. 1 e 2, Jesus declara que é pecado induzir os outros a pecar. Nos v. Lc.17:3-4, Ele afirma que é dever dos discípulos perdoar as pessoas que erraram. Os v. Lc.17:5-6 indicam que a fé é essencial para se viver os princípios do evangelho; e os v. Lc.17:7-10 consistem numa parábola que ilustra esses princípios (ver sobre os v. 1 e 2, no com. de Mt.18:6-7). Escândalos. Do gr. skandala, literalmente, “ocasiões para tropeço” (ver com. de Mt.5:29). |
Lc.17:2 | 2. Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.17:3 | 3. Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Acautelai-vos. [Quantas vezes se deve perdoar a um irmão, Lc.17:3-10 = Mt.18:21-22]. Ver com. de Mt.18:15-22. A recusa a perdoar é uma forma de provocar as pessoas à impulsividade e ao pecado. Os v. Lc.17:1-2 tratam do pecado de nossa parte contra os outros; os v. 3 e 4 se referem à nossa atitude quando outros pecam contra nós. Deve-se evitar fazer os outros tropeçarem e, ao mesmo tempo, usar de misericórdia para com eles quando nos fazem tropeçar. Contra ti. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão destas palavras, embora o contexto deixe claro que Jesus Se refere a esse tipo de transgressão. |
Lc.17:4 | 4. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. Sete vezes. Ver com. de Mt.18:21-22. |
Lc.17:5 | 5. Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. Os apóstolos. Pode ser que Lucas tivesse a intenção de diferenciar os doze dos outros que seguiam regularmente a Jesus, chamando os primeiros de “apóstolos” e os últimos de “discípulos” (ver v. Lc.17:1). Os v. 5 e 6 falam do poder da fé. Aumenta-nos a fé. Ver com. de Mt.17:20. O contexto sugere que este pedido tinha sido feito em outra ocasião, não durante os eventos relatados em Lc.17:1-4 (ver com. do v. Lc.17:1). Os “apóstolos” deviam pensar que possuíam um pouco de fé, mas não o suficiente. |
Lc.17:6 | 6. Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá. Fé. Jesus afirma que ter fé não é uma questão de quantidade. Ou a pessoa tem fé ou não a tem. Até mesmo a menor porção de fé é suficiente para realizar tarefas aparentemente impossíveis. O mais importante não é o tanto de fé, mas se ela é genuína. Amoreira. Do gr. sukaminos, a árvore que produz amoras pretas pequenas. Embora seja considerado distinto por alguns, o termo sukaminos era usado com frequência como sinônimo de sukomorea, o nome da amoreira branca. Sukomorea costuma ser traduzido por “sicômoro” (ver com. de Am.7:14; Lc.19:4). Nenhuma das duas deve ser confundida com o “plátano”. Transplanta-te no mar. É provável que Jesus tenha escolhido essa ilustração como uma hipérbole. É evidente que ele não queria que os discípulos realizassem feitos mágicos como estes. A ilustração é semelhante à do camelo passando pelo fundo de uma agulha (ver com. de Mt.19:24). Ambas são tão difíceis que esbarram na impossibilidade literal, e Jesus não tinha a intenção de que os discípulos as entendessem literalmente. Nenhum dos milagres do próprio Cristo foram dessa natureza. |
Lc.17:7 | 7. Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? Qual de vós. Este breve ensino (7-10) deve ter sido proferido em resposta ao pedido do v. Lc.17:5, embora não haja certeza quanto a esta ligação. A fé capacita os seres humanos a cumprir seus deveres como servos de Deus (ver com. do v. Lc.17:10). Se a conexão com o v. Lc.17:5 não for válida, é provável que a parábola tenha sido proferida aos discípulos em outro momento da jornada mencionada rapidamente no v. Lc.17:11 (ver com. do v. Lc.17:1). Um servo. Do gr. doulos, “servo” ou “escravo”. Na lavoura. A casa desse suposto senhor ficaria numa vila ou cidade não muito distante. Em geral, os servos saíam pela manhã para trabalhar nos campos e voltavam à noite (ver com. de Nm.35:4; Rt.2:3; Rt.3:4; Rt.4:1). Já. Do gr. eutheos, “de uma vez” ou “imediatamente” (ver com. de Mc.1:10). Nesta passagem, eutheos modifica o verbo “vem”, não “dirá”. Ou seja, o senhor ordena o servo a “ir imediatamente”. |
Lc.17:8 | 8. E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois, comerás tu e beberás? Antes, não lhe diga [...]? De acordo com o grego, seria esperada uma resposta positiva à pergunta (ver com. de Lc.6:39; comparar com a resposta negativa esperada, em Lc.17:9). |
Lc.17:9 | 9. Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Porventura. Expressão antiga da língua portuguesa que significa “por acaso”. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta palavra. Terá de agradecer [...]? Segundo o grego, seria esperada uma resposta negativa à pergunta (ver com. de Lc.6:39). |
Lc.17:10 | 10. Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. Somos servos inúteis. Ou seja, “não merecemos nenhum elogio especial”. O mestre vira que eles cumpriram seu dever, mas nada disso era digno de nota. Não fora beneficiado pelo serviço daqueles homens a ponto de se sentir obrigado a lhes demonstrar honra especial. Os servos recebiam salário e é só isso que deveriam esperar. O senhor não tinha nenhuma obrigação específica em relação a eles. Em outras palavras, Jesus tinha direito de esperar muito de Seus discípulos, e Deus tem o direito de esperar muito de nós hoje. Quando fazemos o melhor para Ele, não O colocamos em nenhum tipo de obrigação para conosco. Não cumprimos mais do que nosso dever. Paulo refletiu o espírito de serviço verdadeiro quando observou que tudo que ele havia suportado e sofrido em nome de Cristo não era motivo de se “gloriar” (1Co.9:16). Seu serviço era motivado por um senso profundo de obrigação a Seu Mestre. Ao pregar o evangelho, estava desempenhando uma pesada obrigação: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co.9:16). |
Lc.17:11 | 11. De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia. De caminho para Jerusalém. [A cura de dez leprosos, Lc.17:11-19. Ver com. de Mc.1:40-45; ver mapa, p. 220; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204-210]. A viagem aqui mencionada parece ter sido um circuito, primeiro por Samaria, depois pelas fronteiras da Galileia, em seguida, através do Jordão pela Pereia, até a chegada a Jerusalém. Se for o caso, é possível que, como alguns sugeriram, a jornada seja a mesma mencionada em Jo.11:52, quando Jesus e os discípulos se retiram para o norte, saindo das redondezas de Betânia e Jerusalém, a fim de evitar a hostilidade aberta que sucedeu a ressurreição de Lázaro (v. Jo.11:53). A viagem para o norte os levou para a fronteira da Galileia. Portanto, embora Jesus estivesse Se afastando de Jerusalém, também realizava o circuito final que O levaria de volta à cidade e à cruz. Além disso, durante o percurso, é provável que Cristo tenha permanecido com os discípulos em Samaria por um curto período, sem dúvida, dedicando-Se a ministrar a pessoas que ali viviam. Depois, Ele deve ter ficado um pouco na Pereia, de onde partiu, passando por Jericó e Betânia, a fim de participar de Sua última Páscoa. Pelo meio. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante dia meson, literalmente, “através [do que fica] entre”, em vez de dia mesou, “através do meio de”. Lucas podia não estar se referindo à viagem pela Samaria e Galileia, de onde Jesus já tinha feito Sua partida definitiva (ver com. de Mt.19:1-2), algumas semanas ou meses antes, mas, sim, a uma jornada entre as duas regiões, ou seja, ao longo da fronteira entre elas. |
Lc.17:12 | 12. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, Dez leprosos. Estes homens não estavam dentro da vila, pois isso não era permitido. Eles abordaram Jesus quando estava prestes a entrar na vila. Talvez compartilhassem uma cabana rústica nos campos a uma distância considerável da área urbana. As restrições a quem sofria da doença eram severas, bem como a atitude dos judeus em relação a essas pessoas e aos cuidados cerimoniais que se aplicavam aos leprosos (ver com. de Mc.1:40-45). |
Lc.17:13 | 13. que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! Ficaram de longe. Como a lei exigia, eles não tinham permissão para se aproximar de outras pessoas, nem mesmo na estrada. Estas vítimas de lepra eram mais cuidadosas em cumprir a lei da segregação do que a mencionada em Mc.1:40-45. Mestre. Do gr. epistates (ver com. de Lc.5:5). |
Lc.17:14 | 14. Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. Mostrai-vos. Conforme exigia a lei de Moisés (ver com. de Mc.1:44). Indo eles. A cura dependia de um ato de fé. Eles não foram curados enquanto permaneceram na presença de Jesus, mas somente ao prosseguirem para cumprir as instruções do Mestre. Quando saíram de perto de Cristo, ainda eram leprosos. Fica claro que, se houvessem esperado uma evidência visível de cura antes de partir para Jerusalém, onde seriam considerados “limpos”, o milagre não aconteceria. Era necessário que agissem pela fé, como se já estivessem sarados, antes que a cura chegasse de fato. Quem se aproxima de Deus sem fé não deve supor “que alcançará do Senhor alguma coisa” (Tg.1:7; Hb.11:6). Sem obediência, não há fé, pois “a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (ver Tg.2:17-20). Quem tem fé genuína age de acordo com as ordens divinas; sem fé, porém, a obediência é impossível e inútil. Nenhum dos dois pode existir sem o outro (ver Tg.2:17). |
Lc.17:15 | 15. Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, Um dos dez. Um somente (ver v. Lc.17:17). Dando glória a Deus. Ao reconhecer que o poder divino o libertara das cadeias de sua doença, “um dos dez” colocou o mais importante em primeiro lugar: ele louvou a Deus. Este samaritano se destaca na narrativa como um grande exemplo de gratidão. |
Lc.17:16 | 16. e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. Prostrou-se com o rosto em terra. Postura oriental típica de súplica e gratidão, a Deus ou a homens (ver com. de Et.3:2). Era samaritano. É possível que os outros nove achassem que, por serem filhos de Abraão, mereciam ser curados. Mas este samaritano, que não devia se considerar merecedor da bênção da saúde recebida de forma súbita e inesperada, valorizou e agradeceu o presente derramado pelo Céu. Os que se esquecem de agradecer a Deus as bênçãos recebidas e de apreciar o que Ele lhes faz correm o risco de se esquecer por completo do Senhor (ver Rm.1:21-22). |
Lc.17:17 | 17. Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Onde estão os nove? Esta é uma evidência de quão importante é para Deus a reação de agradecimento pelas coisas recebidas de Suas mãos. Os nove deveriam se sentir profundamente gratos, mas parece que não era esse o caso. Pelo menos, eles não expressaram seu apreço. |
Lc.17:18 | 18. Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? Estrangeiro. Ver com. de Lc.7:1-10; Mt.15:21-28; Mc.7:31-37; Mc.8:22-26. Sobre a palavra “estrangeiro” no AT, ver com. de Ex.12:19; Ex.12:43; Ex.12:45; Ex.20:10; Nm.9:14; Dt.10:19; Dt.14:21; Dt.14:29. |
Lc.17:19 | 19. E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou. A tua fé. Ver com. de Lc.17:14. |
Lc.17:20 | 20. Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Interrogado pelos fariseus. [A vinda do reino de Deus, Lc.17:20-37. Ver com. de Mt.24:3; Mt.24:26-41]. Não se sabe se os fariseus se encontraram com Jesus ao longo desta jornada (ver com. do v. Lc.17:11) ou depois de Sua chegada à Pereia. É provável que o episódio tenha ocorrido por volta do mês de março do ano 31 d.C., poucas semanas antes da Páscoa (ver exigências anteriores de informações a João Batista, em Jo.1:19-22, e a Jesus, em ver Mt.16:1; Mc.2:16; Jo.2:18). Quando viria o reino. Fazia quase quatro anos que João Batista havia começado a proclamar que estava “próximo o reino dos Céus” (ver Mt.3:2; ver com. do v. Mt.3:1). Durante pelo menos dois anos, o povo da Galileia ouvira Jesus proclamar a mesma mensagem (ver com. de Mt.4:12; Mc.1:15). Então, os fariseus chegaram perguntando quanto tempo mais eles deveriam esperar para ver alguma evidência tangível de que o reino estava, de fato, vindo. Ao fazer essa exigência, os fariseus foram claros em desafiar o caráter messiânico de Jesus, sugerindo que Ele fosse um falso messias. De Deus. Parece que era o falso conceito que tinham do reino messiânico que impulsionou os fariseus a esta pergunta (ver com. de Lc.4:19). Eles concebiam o reino de Deus como uma entidade política, com um Rei Messias que exerceria o papel de governante temporal, conquistaria todas as nações e as sujeitaria ao domínio judaico (ver vol. 4, p. 12-25). Uma vez que seus sonhos egoístas ainda não haviam se tornado realidade, os fariseus tinham certeza de que o “reino” não chegara. Em seu modo de pensar, tal conceito pertencia ao futuro. Não vem [...] com visível aparência. Literalmente, “não com cuidadosa vigilância”. O reino que João e Cristo anunciaram, o reino da graça, já estava presente, mas os fariseus não o enxergavam porque viam apenas a aparência exterior das coisas (ver 1Sm.16:7). Eles não testemunharam nenhum sinal que pudesse ser interpretado como prenuncio do tipo de reino que tinham em mente. Era necessário discernimento espiritual para detectar a chegada do reino da graça divina aos corações humanos (ver com. de Lc.17:21). |
Lc.17:21 | 21. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós. Dentro de vós. Significa “no meio de vós” ou “em vosso coração”. Há certo debate quanto ao sentido que o contexto favorece nesta passagem. Além deste, o único uso no NT da palavra traduzida aqui por “dentro” tem o significado claro de “do lado de dentro”, em vez de “em meio a” (ver Mt.23:26). Com certeza, o reino da graça divina não estava no coração dos fariseus e isso levou muitos comentaristas a favorecer a interpretação “no meio de vós”. Contudo, fica evidente que Jesus estava Se dirigindo aos fariseus (ver com. de Lc.17:20). Deve-se notar que, mesmo assim, a declaração de Cristo não requer o sentido de “no meio de vós”. Ele poderia simplesmente estar dizendo a Seus opositores: “O reino de Deus não é algo que vocês devem esperar ver por meio de observação cuidadosa da visão natural. Se ele for descoberto, será dentro do coração de vocês.” |
Lc.17:22 | 22. A seguir, dirigiu-se aos discípulos: Virá o tempo em que desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. Dirigiu-Se aos discípulos. Não se sabe se estas palavras foram ditas na presença dos fariseus (ver com. dos v. Lc.17:20-21) ou depois, quando Jesus estava sozinho com os discípulos. O discurso dos v. 22 a 37 pode ter sido proferido imediatamente após os comentários dos v. Lc.17:20-21, ou pouco depois. Virá o tempo. Os v. 22 a 37 falam do reino futuro de glória, não do reino presente da graça (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:2). Jesus afirmou que o reino da graça já estava estabelecido e em funcionamento, no coração dos seres humanos (Lc.17:21). Mas advertiu os discípulos de que o reino da glória, que os fariseus erroneamente concluíram ser o assunto abordado por Cristo, ainda era futuro: “virá o tempo”, em contraste com “[agora] dentro de vós” (v. Lc.17:21). Desejareis ver. Ou seja, a consolidação do reino da glória por ocasião da vinda do Filho do Homem (ver com. de Mt.25:31). Nesta passagem, Jesus Se refere ao anseio no coração de todo discípulo verdadeiro pela realização plena do reino vindouro. O desejo dos doze seria intensificado ao se lembrarem das oportunidades que tiveram no passado, mas não apreciaram plenamente na época, de andar e conversar com o amado Mestre (ver DTN, 506). Cristo estava com eles naquele momento; porém, muitos não estimavam Sua presença como deveriam. Quando Ele se fosse, a percepção do privilégio de ter estado com Jesus aumentaria grandemente. Antes de Sua partida, Ele prometeria voltar (ver Jo.14:1-3) e, em Sua ausência, Seus seguidores ansiariam avidamente pelo retorno prometido. Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Não O vereis. Porque ainda não haveria chegado o tempo de Sua segunda vinda. |
Lc.17:23 | 23. E vos dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Não vades nem os sigais Eí-Lo aqui. Ver com. de Mt.24:23; Mt.24:26. Quando Jesus voltar, Sua aparição não será restrita a um lugar específico. Não vades nem os sigais. Muitos falsos messias haviam surgido e vários outros ainda estavam por aparecer. É possível que Teudas, a quem 400 homens seguiram de uma vez, e Judas, o galileu que “levou muitos consigo”, possam ser citados entre os falsos messias (ver At.5:36-37). O deserto costumava ser o local de reunião desses entusiastas políticos. No desejo intenso dos discípulos pelo retorno do Mestre, não deveriam ser enganados a pensar que esses messias repentinos e com ideologia militar fossem o Cristo. |
Lc.17:24 | 24. porque assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu, assim será, no seu dia, o Filho do Homem. Assim como o relâmpago. Ver com. de Mt.24:27. Como um relâmpago ou raio, o retorno de Jesus virá de repente, de maneira inesperada (ver 1Ts.5:15), mas visível e dramática. No seu dia. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre manter e omitir esta expressão. |
Lc.17:25 | 25. Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração. Mas importa que Ele primeiro padeça. A cruz deveria vir antes da coroa (ver com. de Mt.16:21; Mc.9:31). Os discípulos não deveriam esperar o reino de glória imediatamente (ver com. de Mt.25:31). Rejeitado por esta geração. Ver com. de Mt.11:16; Mt.23:35-38. |
Lc.17:26 | 26. Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: Assim como foi. Ver com. de Mt.24:37. |
Lc.17:27 | 27. comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. Comiam. Literalmente, “eles estavam comendo”. Enquanto os antediluvianos mantinham suas atividades normais, o dilúvio chegou e os surpreendeu. Não estavam esperando uma mudança tão brusca. Foram embrutecidos por suas iniciativas mundanas e seus prazeres, embalados até dormir por uma falsa sensação de segurança. Não se preocupavam com o que lhes sobreviria (ver com. de Gn.6:5-13; 2Pe.2:5). |
Lc.17:28 | 28. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam Nos dias de Ló. Ver com. de Gn.18:20-21; 2Pe.2:7-8. |
Lc.17:29 | 29. mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos. Fogo e enxofre. Ver com. de Gn.19:24-25; 2Pe.3:7; 2Pe.3:10-12; Ap.20:9. |
Lc.17:30 | 30. Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar. Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10; Lc.17:22. Manifestar. Do gr. apokalupto, “tirar a cobertura”, ou seja, “revelar”, “mostrar” ou “manifestar”. A palavra “apocalipse” deriva da forma substantiva de apokalupto. |
Lc.17:31 | 31. Naquele dia, quem estiver no eirado e tiver os seus bens em casa não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo não volte para trás. Naquele dia. Comparar com a profecia de dupla aplicação encontrada em Mt.24:14-20, na qual a experiência dos cristãos de Jerusalém na época em que a cidade caiu diante dos romanos, em 70 d.C., representa, até certo ponto, a experiência dos cristãos antes da segunda vinda de Cristo (ver com. de Mt.24:16-17). No eirado. Ver com. de Mt.24:17. Os seus bens. Quando a própria vida corre perigo, os bens deste mundo têm pouco valor, e a tentativa de salvá-los pode levar até à morte. As posses em Sodoma não tiveram nenhum valor para Ló quando ele precisou fugir; ele teve sorte de conseguir escapar com vida (ver com. de Gn.19:17). |
Lc.17:32 | 32. Lembrai-vos da mulher de Ló. Lembrai-vos da mulher de Ló. A mulher de Ló se transformou num trágico exemplo dos resultados do apego às coisas materiais. Foi o amor às coisas que ela deixara em Sodoma que causou sua morte (ver com. de Gn.19:26). |
Lc.17:33 | 33. Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará. Preservar a sua vida. Ou, “se salvar”. Ver com. de Mt.16:25. Este grande paradoxo do cristianismo expressa uma das maiores verdades eternas do evangelho (ver com. de Mt.6:33). |
Lc.17:34 | 34. Digo-vos que, naquela noite, dois estarão numa cama; um será tomado, e deixado o outro Sem comentário para este versículo. |
Lc.17:35 | 35. duas mulheres estarão juntas moendo; uma será tomada, e deixada a outra. Duas mulheres. Ver com. de Mt.24:41. |
Lc.17:36 | 36. [Dois estarão no campo; um será tomado, e o outro, deixado.] Dois. Há evidências textuais (cf. p. 136) para a omissão do v. 36. Todavia, a mesma declaração ocorre, sem ser contestada, em Mt.24:40 (ver com. ali). |
Lc.17:37 | 37. Então, lhe perguntaram: Onde será isso, Senhor? Respondeu-lhes: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também os abutres. Onde será isso, Senhor? Isto é, “em que circunstâncias, Senhor?” Os discípulos pareciam confusos quanto a como e quando ocorreriam as coisas que Jesus estava mencionando (ver com. de Mt.24:3). Onde estiver o corpo. Parece que Cristo usou um provérbio comum de seus dias para responder à pergunta (ver com. de Mt.24:28). Abutres. Do gr. aetoi. Os abutres são aves gregárias que se alimentam de carniça (ver com. de Hc.1:8). |
Lc.18:1 | 1. Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer: Uma parábola. [A parábola do juiz iníquo, Lc.18:1-8. Ver com. de Lc.11:5-8. Sobre as parábolas, ver p. 197-200]. É provável que Jesus tenha contado esta parábola na mesma ocasião das instruções de Lc.17:20-37 (ver com. do v. Lc.17:20; cf. PJ, 164, 165). A data devia ser março de 31 d.C., pouco depois da ressurreição de Lázaro (ver com. dos v. Lc.18:11; Lc.18:20) e algumas semanas antes da última Páscoa. E o local devia ser alguma parte da Pereia. Alguns dos ensinos anteriores (ver com. do v. Lc.18:20) foram dirigidos diretamente aos fariseus; portanto, é provável que eles ainda estivessem presentes. No entanto, Jesus estava falando com os discípulos (Lc.17:1; Lc.16:1) quando os fariseus O interromperam com a pergunta sobre quando viria o reino (Lc.17:20). É provável que aqui, mais uma vez, Cristo estivesse voltando a atenção para os discípulos. Na verdade, depois de dar uma resposta específica aos fariseus (v. Lc.18:11), Jesus já havia, em parte, retornado Sua atenção aos discípulos (ver com. do v. Lc.18:22). Deve-se observar que a admoestação à oração é dada logo depois da exposição sobre o tempo de crise anterior ao segundo advento (Lc.17:22-37), em especial sobre os enganos que poderiam levar os eleitos a se desviarem. O mesmo se aplica a uma advertência semelhante em Lc.21:36 (ver também Mc.13:33). Sobre. Esta parábola se aplica à experiência do povo de Deus nos últimos dias (PJ, 164), em antecipação ao engano que deveria enfrentar e à perseguição que sofreria. Orar sempre. Tendo em vista, de maneira especial, o segundo advento e o período de prova que o antecede. A oração é mais que um dever; trata-se de uma necessidade. Jesus não Se refere, neste texto, a orar deixando de lado o esforço prático envolvido na cooperação com os poderes celestiais a fim de alcançar o objetivo da prece, nem a negligenciar as responsabilidades pessoais. Ele quer dizer que não se deve desistir de orar quando as respostas às orações tardam (ver v. Lc.18:7-8). Orar “sempre” também significa viver, dia a dia e hora a hora, em constante comunhão com Deus (ver interpretação das parábolas, nas p. 197-200; sobre a vida de oração de Jesus, ver com. de Mc.1:35; Mc.3:13; Lc.11:1-19; Mt.9:38). Nunca esmorecer. Isto é, foram admoestados a não se cansar nem desanimar na oração. Os judeus da época de Cristo ensinavam que era desejável orar três vezes ao dia (ver com. de Dn.6:10). Duas delas eram os horários regulares de oração matutinos e vespertinos, quando os sacrifícios da manhã e da tarde eram oferecidos por todo o Israel e o incenso era ministrado diante do véu (ver com. de Lc.1:9-10). Conta-se que alguns rabinos chegavam ao ponto de ensinar que era aconselhável evitar orar em outros horários além dos preestabelecidos, para não incomodar a Deus, como o faz a viúva importuna com o juiz iníquo, nesta parábola. |
Lc.18:2 | 2. Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Havia em certa cidade um juiz. Literalmente, “certo juiz em certa cidade”. Jesus era cauteloso ao usar uma ilustração como esta. Ele se certificava de que os ouvintes não a relacionariam com nenhum caso específico. Os inimigos de Jesus esperavam ansiosos por qualquer oportunidade para acusá-Lo de criticar o governo (ver com. de Lc.23:2). Não temia a Deus. Fica claro que este juiz seria a própria lei. Ele não demonstrava amor a Deus, nem ao próximo, muito menos respeito pela letra da lei (ver com. de Mt.22:34-40). |
Lc.18:3 | 3. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário. Uma viúva. Nas sociedades orientais antigas, as viúvas costumavam ser as pessoas mais desamparadas, ainda mais se não tivessem nenhum filho para defender seus direitos. Ao que tudo indica, esta viúva não contaria com ninguém para protegê-la. Além disso, não teria nada para subornar o insensível juiz ou oferecer em pagamento pela justiça. O salmista retrata o Senhor como o “juiz das viúvas” (ver Sl.68:5). Tiago afirma que é um atributo da “religião pura [...] visitar [...] as viúvas nas suas tribulações” (Tg.1:27). Um dos ais que Cristo pronunciou contra os escribas e fariseus refere-se ao fato de devorarem “as casas das viúvas” (ver com. de Mt.23:14; Jó.22:9). Vinha. De acordo com o grego, “ela continuava vindo”. Julga. Ou, “faze-me justiça” (ver PJ, 166). O marido teria deixado uma propriedade, talvez hipotecada para outros, que se recusavam a devolver no período estipulado segundo as provisões da lei (ver com. de Lv.25:23-25). Sem ninguém para defender seus direitos, a viúva dependia totalmente do senso de justiça e misericórdia do juiz, que não era justo nem misericordioso. Era a própria antítese de Deus; refletia o caráter de Satanás. Adversário. Do gr. antidikos, também usado comumente como termo legal para um oponente num processo judicial; em geral, o acusado, mas, às vezes, o autor (ver com. de Mt.5:25). Satanás é chamado de antidikos dos cristãos (1Pe.5:8; Zc.3:1-4). Antidikos também ocorre na LXX (1Sm.2:10; Et.8:1). |
Lc.18:4 | 4. Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum Ele [...] não a quis atender. De acordo com o grego, “ele continuava a se recusar”. Fazia isso com persistência. Depois, disse. A persistência da viúva o venceu pelo cansaço. Consigo. Ver com. do v. Lc.18:11. Eu não temo a Deus. Ver com. do v. Lc.18:2. |
Lc.18:5 | 5. todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-me. Esta viúva me importuna. A persistência em fazer seu pedido era a única arma que a viúva tinha à disposição. Sua grande necessidade não mexeu com o senso de justiça e misericórdia do juiz (ver com. do v. Lc.18:3), mas sua insistência foi eficaz em despertar a impaciência do magistrado. Rapidamente e com pouco esforço de sua parte, ele poderia ter feito justiça, mas só tomou providências quando administrar a justiça se tornou mais fácil do que evitar fazê-lo. Julgarei a sua causa. Ver com. do v. Lc.18:3. Não por um senso de justiça, nem por simpatia pelo desamparo da viúva, mas para evitar inconveniências futuras para si mesmo. O juiz não tinha consideração nenhuma pela lei e era completamente indiferente ao sofrimento e à opressão. Molestar-me. Literalmente, “golpear-me embaixo do olho”, ou “golpear-me até causar hematomas”; portanto, no sentido figurado, “cansar-me”. É neste sentido de “incomodar muito” que o juiz usa a expressão. |
Lc.18:6 | 6. Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Iníquo. Este termo descreve, de modo direto, a opinião de Jesus quanto ao juiz, assim como Ele emite Sua opinião a respeito do administrador infiel (ver com. de Lc.16:8). |
Lc.18:7 | 7. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Não fará [...]? Segundo o texto grego, seria esperada uma resposta positiva à pergunta (ver com. de Lc.6:39). A lição da parábola é o contraste marcante do juiz iníquo com um Deus justo e misericordioso. Se o juiz, por motivos egoístas, acabaria atendendo ao pedido da viúva, quanto mais Deus responderá àqueles que dirigem suas súplicas a Ele (ver com. de Mt.15:26-27). Se a persistência com um juiz iníquo traz resultados, com certeza a mesma virtude não passará despercebida e sem recompensa por um Deus justo. Seus escolhidos. Ou seja, os “eleitos” (ver Sl.105:6; Sl.105:43; Is.43:20; Is.65:15). Clamam dia e noite. De maneira contínua e persistente (ver com. do v. Lc.18:1). Comparar com o clamor de justiça das “almas” que João viu “debaixo do altar” (Ap.6:9-10). Embora pareça demorado em defendê-los. Talvez pareça aos “escolhidos” que Deus demore a responder (ver Hc.1:2), embora, na verdade, esteja trabalhando rapidamente todo o tempo. Ele coloca em ação as forças que cumprirão Sua boa vontade para os “escolhidos”, e elas começam a atuar bem antes de os resultados serem vistos. Além disso, às vezes, o Senhor pode adiar a justiça aos “escolhidos” a fim de dar tempo e oportunidade para os perseguidores se arrependerem. Deus ama os perseguidores assim como os perseguidos. “Não retarda o Senhor a Sua promessa”, mas, ao mesmo tempo, Ele não quer “que nenhum pereça” (2Pe.3:9). Além disso, o caráter é aperfeiçoado pelas provações (ver com. de Jó.23:10); e Deus pode, em algumas ocasiões, adiar a resposta às orações para dar oportunidade de desenvolvimento do caráter (ver DTN, 200; PJ, 175, 177). A demora também serve para intensificar o senso de necessidade, sem o qual costuma ser impossível Deus operar (ver PJ, 152). A atitude de Deus em relação aos “escolhidos” que sofrem injustamente equilibra justiça e misericórdia (1Pe.2:20-24). |
Lc.18:8 | 8. Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra? Digo-vos. Estas palavras enfatizam a conclusão do assunto. Vier. Esta é uma das primeiras referências diretas do Senhor à segunda vinda, a qual Ele já havia mencionado cerca de seis meses antes desta ocasião (ver Mt.16:27). A parábola do joio, proferida por volta de um ano e meio antes, fala do “Filho do Homem” enviando Seus anjos para separar o joio do trigo (ver com. de Mt.24:31), mas não se refere de maneira direta ao retorno de Cristo à Terra (ver Mt.13:40-43; Lc.17:22-30). Alguns comentaristas da Alta Crítica não veem conexão entre a declaração sobre o Filho do Homem encontrar ou não fé na Terra quando voltar e a parábola que a antecede. Por isso, concluem que se trata de uma frase isolada que Lucas inseriu aqui por acidente. Eles deixam de observar que “quando vier o Filho do Homem”, fará “justiça aos Seus escolhidos” (v. Lc.18:7-8), fato claramente ligado à segunda vinda em outras passagens (ver Mt.16:27; Ap.22:12). É nessa ocasião que Ele Se assentará como juiz (Mt.25:34-46; Rm.2:16; 2Tm.4:1; 2Tm.4:8; 1Pe.4:5; Ap.19:11). Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Achará, porventura, fé [...]? Literalmente, “achará, porventura, a fé?” As circunstâncias serão tão difíceis pouco antes do retorno de Cristo que parecerá que o mal triunfou e Deus deixou os “escolhidos” sofrendo e caindo diante de seus inimigos (ver GC, 630). Poucas semanas antes de contar esta parábola, Jesus falou sobre os sinais de Sua vinda e advertiu os discípulos de que eles passariam por “grande tribulação” (Mt.24:21), a qual os provaria ao máximo (v. Mt.24:22). No entanto, os “escolhidos” perseverariam “até o fim” (v. Mt.24:13) e seriam salvos. |
Lc.18:9 | 9. Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Esta parábola. [A parábola do fariseu e o publicano, Lc.18:9-14. Sobre as parábolas, ver p. 197-200]. Não existe conexão direta entre esta parábola e a anterior, do juiz iníquo, e provavelmente não há como saber se as duas foram proferidas na mesma ocasião. Assim como a anterior, esta parábola deve ter sido contada por volta do mês de março de 31 d.C., na Pereia. Confiavam em si mesmos. Embora eles não sejam mencionados diretamente, fica claro que Jesus estava pensando nos fariseus. Isso é enfatizado pela menção de um fariseu como aquele que confiava em si mesmo, que pensava ser “justo” e desprezava os outros. Os escribas e fariseus estavam presentes nas últimas vezes em que Cristo ensinara (ver com. de Lc.15:22; Lc.16:14; Lc.17:20), e é provável que também se encontrassem em meio ao público nesta ocasião. Em sua introdução à parábola, Lucas destaca que ela se dirige a quem tem fé “em si” mesmo, em vez de confiar em Deus (ver Lc.18:8-9). Essa fé era falsa, em contraste com a fé verdadeira que o Senhor gostaria que eles desenvolvessem. Falando de quando era fariseu, Paulo ilustra um pouco da mentalidade dos fariseus, “que confiavam em si mesmos” (cf. Fp.3:4-6). Por se considerarem justos. Isto é, segundo os próprios padrões de justiça, que os fariseus, de modo geral, colocavam em prática meticulosamente, ou pelo menos fingiam fazê-lo. O padrão farisaico de justiça consistia na observância estrita das leis de Moisés e da tradição rabínica. Em essência, era a justificação pelas obras. O conceito farisaico e legalista de justiça operava com base na premissa de que a salvação deve ser merecida por meio da observância de determinado padrão de conduta. Esses líderes religiosos davam pouca ou nenhuma atenção à devoção necessária a Deus e à transformação dos motivos e objetivos de vida do ser humano. Os fariseus enfatizavam a letra da lei, ignorando seu espírito. O conceito de que a conformidade exterior com os requisitos divinos correspondia a tudo que o Senhor pedia, sem importar o motivo que levava ao cumprimento, permeava a vida e o modo de pensar deles. Várias vezes, Jesus advertiu os discípulos e outros contra essa abordagem legalista da salvação (ver com. de Mt.5:20; Mt.16:6; Lc.12:1). Desprezavam. Do gr. exuotheneo, “não dar nenhum valor”, “desprezar completamente” ou “tratar com desdém”. Esta palavra também é traduzida por “tratar com desprezo”, “desprezar” (Lc.23:11; At.4:11; Rm.14:10) e “desprezível” (2Co.10:10). Aqueles que se consideram modelos de virtude costumam olhar para as outras pessoas com desprezo. Os outros. Literalmente, “o resto”, ou seja, “todos os outros”. Os fariseus tratavam com desprezo todos os que não reconheciam seu conceito de “justiça” e não viviam segundo seus padrões. |
Lc.18:10 | 10. Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. Dois homens. Jesus não quer dizer que não havia outras pessoas presentes, mas só menciona os dois personagens da parábola. Um deles se considerava santo e subiu com o propósito de se engrandecer diante de Deus e dos semelhantes. O outro olhava para si como um pecador e subiu para confessar suas faltas ao Senhor, clamar por misericórdia e obter perdão. Subiram. A palavra deve ser usada em referência à subida das regiões mais baixas da cidade até o monte Moriá. Para os fariseus, ir aos cultos da manhã e da tarde, bem como a outras reuniões do templo, era um ato de mérito, cujo objetivo era conquistar o favor de Deus e a aprovação das pessoas. Acerca dos atos religiosos realizados com esses motivos, Jesus declarou: “eles já receberam a recompensa” (ver com. de Mt.6:2). Um espírito de humildade genuína diante de Deus e dos seres humanos é uma das melhores evidências da conversão (ver com. de Mq.6:8). Orar. Provavelmente no horário da oração da manhã ou da tarde (ver com. de Lc.1:9-10). Mesmo depois do Pentecostes, alguns dos apóstolos parecem ter continuado a seguir a prática de participar dos cultos do templo nos horários de oração (At.3:1; Lc.10:3). Um, fariseu. Ver p. 39, 40. Ser fariseu era o mais elevado ideal judaico de piedade na época. Outro, publicano. Ver p. 53, 54. Em contrapartida, o publicano representava o nível mais baixo da escala social judaica. |
Lc.18:11 | 11. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano Em pé. Posição que, às vezes, era assumida durante a oração (ver 1Sm.1:26; 1Rs.8:14; 1Rs.8:22; Mt.6:5; Mc.11:25; ver com. de Ne.8:5; Dn.6:10). De si para si mesmo. Ou seja, de maneira inaudível, talvez mexendo os lábios ou sussurrando. Aparentemente, o fariseu estava se dirigindo a si mesmo, não a Deus. É possível que estivesse à distância dos outros adoradores congregados no átrio do templo, como se fosse bom demais para ficar perto deles, mesmo que em oração. Ó Deus, graças Te dou. Sem dúvida, o que ele queria dizer seria: “Senhor, Tu deves ser grato por ter uma pessoa como eu entre aqueles que vêm Te adorar. Sou bem superior ao povo comum. Como os demais homens. Literalmente, “como o resto dos homens”, isto é, todos os outros seres humanos (ver com. do v. Lc.18:9). O povo comum ficava muito distante de seu exaltado padrão de justiça própria. Nunca é seguro determinar nosso grau de justiça em comparação com outros seres humanos, qualquer que seja a condição deles (ver com. de Mt.5:48). Em surpreendente contraste com o fariseu, Paulo se considerava o principal dos pecadores (ver 1Tm.1:15). Roubadores. Do gr. harpages, “aqueles que levam embora”, “os vorazes”; portanto, “ladrões” ou “extorquidores” (ver com. de Mt.7:15; Lc.11:39). O fariseu começou a desfiar suas virtudes na negativa. Cria que isso o levaria a incorrer no favor de Deus. Ele faz uma lista oral de alguns pecados que nunca havia cometido. É grato pelas próprias vitórias, não pela justiça e misericórdia do Senhor. Era agradecido por cumprir com rigidez a letra da lei, mediante esforço diligente, mas parecia absolutamente ignorante do espírito que deve acompanhar a obediência verdadeira, a fim de torná-la aceitável diante de Deus. Injustos. Ou, “sem retidão”. Ele não transgredira a lei abertamente. Adúlteros. Ver com. de Mt.5:27-32. Nem ainda como este publicano. É provável que a palavra “este” não seja usada aqui para apontar quem era o publicano, mas para expressar desprezo por ele (ver com. de Lc.14:30; Lc.15:2). “Este publicano” era ainda mais evidente, pois podia ser visto ao “longe”, em outra direção (Lc.18:13). Quando os olhos do fariseu detectaram a presença daquele vigarista da sociedade, orou dizendo mais ou menos assim: “Senhor, é deste tipo que estou falando, aquele detestável cobrador de impostos. Alegro-me por não ser como ele.” |
Lc.18:12 | 12. jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Jejuo duas vezes. Depois de citar um catálogo de vícios dos quais não era culpado, o fariseu começa a enumerar as virtudes de que sentia orgulho e com as quais evidentemente contava para merecer a salvação. Nem todos os fariseus jejuavam “duas vezes por semana”, ou seja, nas segundas e quintas (ver com. de Mt.6:16-18). Os fariseus se orgulhavam de jejuar e dizimar mais do que a letra da lei exigia, achando que Deus apreciaria seus esforços voluntários além do dever, como gostavam de pensar (ver com. de Mt.23:23). Eles jejuavam, em especial, durante o período entre a Páscoa e o Pentecostes, e entre a Festa dos Tabernáculos e a Festa da Dedicação (ver vol. 2, p. 92; vol. 1, p. 764, 765; Lv.23:2-42; ver com. de Jo.10:22). De acordo com a teologia dos fariseus, um crédito suficiente de atos supostamente meritórios cancelava a dívida de atos de maldade. A Festa da Dedicação (ver p. 15, 16) ocorria no dia 25 do nono mês, cerca de dois meses depois da Festa dos Tabernáculos, a qual se encerrava no dia 22 do sétimo mês. No total, passavam-se sete semanas entre a Páscoa e o Pentecostes. Numa época futura, os cristãos zelosos criaram o costume de jejuar às quartas e sextas em determinadas épocas do ano, a fim de evitar serem confundidos com os judeus, que jejuavam às segundas e quintas. A Didaquê (cap. 8:1), documento cristão não canônico do 2 século, faz a seguinte advertência: “Não permitais que vosso jejum ocorra junto com os hipócritas; pois eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; mas vós deveis jejuar durante o quarto e [no dia da] preparação.” Dou o dízimo de tudo. Até mesmo de coisas não mencionadas especificamente na lei de Moisés sobre o dízimo (ver com. de Mt.23:23), como “o dízimo da hortelã, do endro e do cominho”. Talvez isso fosse mais até mesmo do que os ensinos rabínicos exigiam. Ganho. Literalmente, “adquiro”, ou seja, de seu lucro. |
Lc.18:13 | 13. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Estando em pé, longe. Provavelmente do fariseu e dos outros adoradores, pois sabia que todos o olhariam com desconfiança. As outras pessoas não permitiam uma associação próxima com um publicano (ver com. de Lc.3:12). Levantar. Comparar com a descrição de Ezequiel do homem justo que não levanta “os olhos para os ídolos” (Ez.18:6; Ez.18:15; cf. v. Ez.18:12). Também era costume orar em pé, com as mãos erguidas em direção ao céu (ver 1Rs.8:22; Sl.28:2; Sl.63:4; Sl.134:2; 1Tm.2:8). Batia no peito. Literalmente, “continuava a bater no peito”. As ações do cobrador de impostos evidenciam a sinceridade de suas palavras e constituem uma expressão vívida de seu senso de indignidade. Ele se sentia indigno até mesmo de orar. Mas a consciência de sua necessidade o impelia a fazê-lo. Propício. Ou, “misericordioso”, “gracioso” (ver com. de Mt.5:7). A consciência da própria necessidade é a primeira condição para ser aceito por Deus, numa percepção de que, sem Sua misericórdia, estaríamos completamente perdidos (ver PJ, 158). Em contraste com o fariseu, sem dúvida, o publicano pensou em muitos vícios e sabia que já os praticara todos; pensou nas virtudes e reconheceu que não possuía nenhuma delas. Assim como o apóstolo Paulo, ele sabia que era pecador (ver 1Tm.1:15) e necessitava da graça divina. A misericórdia é um aspecto do amor divino que não havia se manifestado antes da entrada do pecado no universo e, portanto, não podia ser plenamente conhecido até então. Misericórdia é a expressão do amor divino manifesta àqueles que não merecem. O termo grego traduzido neste versículo por “propício” ou “misericórdia” (NVI) parece ter o sentido intimamente ligado à palavra heb. hesed (ver Nota Adicional ao Salmo 36; Sl.36:12), traduzida muitas vezes por “misericórdia” (1Cr.16:34; Sl.136:1-26; Sl.138:2), “benignidade” (Sl.51:1) ou “bondade” (Sl.52:1). Pecador. Literalmente, “o pecador” (cf. 1Tm.1:15). O publicano fala como se não existissem outros pecadores e ele fosse o único. Assim como o fariseu, ele se coloca numa classe totalmente separada. Não era virtuoso como as outras pessoas; era um pecador. O fariseu se considerava muito acima dos “demais homens” (Lc.18:11); o publicano se considerava muito abaixo dos outros. |
Lc.18:14 | 14. Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. Digo-vos. Jesus usa esta expressão com frequência para introduzir uma importante declaração de verdade ou para dar ênfase; também introduz a conclusão de uma linha de raciocínio ou de uma parábola. A expressão “digo-vos” é registrada com frequência em Lucas (Lc.4:25; Lc.9:27; Lc.10:24; Lc.12:51; Lc.13:3; Lc.13:5; Lc.13:27; Lc.17:34; Lc.18:8; Lc.18:14; Lc.19:40). Justificado. Isto é, aceito por Deus e declarado justo diante dEle. O fariseu se considerava justo (ver v. Lc.18:9), mas não era essa a opinião do Senhor. O publicano sabia que era pecador (ver v. Lc.18:13) e essa percepção abria caminho para que Deus o declarasse sem pecado - um pecador justificado pela misericórdia divina (ver com. do v. Lc.18:13). Era a atitude dos dois homens em relação a si próprios e ao Senhor que fazia a diferença. E não aquele. O fariseu se desqualificou de receber a misericórdia e a graça divinas. A satisfação consigo mesmo fechou a porta do coração dele para as ricas torrentes do amor divino que levaram alegria e paz ao publicano. A oração do fariseu era inaceitável aos olhos de Deus, pois não estava acompanhada do incenso dos méritos de Cristo (ver PP, 353; ver com. de Ex.30:8). Exalta. Ver com. de Lc.14:11; Mc.9:35. O problema do orgulho em oposição à humildade está no centro do grande conflito. Lucas 18:14 encerra a “grande inserção” de Lucas, nome às vezes dado ao trecho de Lc.9:51-18:14 (ver com. de Lc.9:51), pelo fato de os outros evangelhos não registrarem a maior parte dos eventos e ensinos desta seção. |
Lc.18:15 | 15. Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse; e os discípulos, vendo, os repreendiam. Crianças. [Jesus abençoa as crianças, Lc.18:15-17 = Mt.19:13-15 = Mc.10:13-16. Comentário principal: Mt]. Ou, “bebês”. |
Lc.18:16 | 16. Jesus, porém, chamando-as para junto de si, ordenou: Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:17 | 17. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18. Como uma criança. Ver com. de Mt.18:2-4. |
Lc.18:18 | 18. Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Certo homem de posição. [O jovem rico, Lc.18:18-30 = Mt.19:16-30 = Mc.10:17-31. Comentário principal: Mt]. |
Lc.18:19 | 19. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:20 | 20. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:21 | 21. Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:22 | 22. Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:23 | 23. Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:24 | 24. E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Vendo-o assim triste. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras. |
Lc.18:25 | 25. Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:26 | 26. E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:27 | 27. Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:28 | 28. E disse Pedro: Eis que nós deixamos nossa casa e te seguimos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:29 | 29. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:30 | 30. que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:31 | 31. Tomando consigo os doze, disse-lhes Jesus: Eis que subimos para Jerusalém, e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho do Homem Subimos para Jerusalém. [Jesus outra vez prediz Sua morte e ressurreição, Lc.18:31-34 = Mt.20:17-19 = Mc.10:32-34. Comentário principal: Mt]. Embora o evento registrado nesta passagem costume ser conhecido como o terceiro anúncio feito por Jesus de Sua morte, trata-se do sexto no evangelho de Lucas. Os dois primeiros ocorreram durante os seis meses de isolamento após a rejeição pública de Cristo na Galileia (ver Lc.9:22; Lc.9:44), entre a Páscoa de 30 d.C. e a Festa dos Tabernáculos do mesmo ano. Posteriormente, ao longo do detalhado relato de Lucas sobre o ministério na Pereia (Lc.9:51-18:14), fase não relatada pelos outros evangelhos (ver com. de Lc.9:51), Lucas acrescenta mais três ocasiões em que Jesus Se referiu, pelo menos de maneira indireta, ao sofrimento e a morte iminentes (ver Lc.12:50; Lc.13:33; Lc.17:25). Essas três ocasiões adicionais ocorreram durante os seis meses que se seguiram à Festa dos Tabernáculos em 30 d.C. |
Lc.18:32 | 32. pois será ele entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:33 | 33. e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:34 | 34. Eles, porém, nada compreenderam acerca destas coisas; e o sentido destas palavras era-lhes encoberto, de sorte que não percebiam o que ele dizia. Nada compreenderam. Lucas reflete mais do que os outros sinóticos sobre a completa falha dos discípulos em compreender as tristes verdades que Jesus procurava revelar a eles. O motivo era que a mente deles estava cheia de conceitos equivocados quanto à natureza do reino que Cristo viera fundar. Parece que eles tiravam da cabeça qualquer coisa que não estivesse de acordo com suas ideias pré-concebidas sobre o assunto (ver DTN, 547, 548). |
Lc.18:35 | 35. Aconteceu que, ao aproximar-se ele de Jericó, estava um cego assentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Um cego. [A cura do cego de Jericó, Lc.18:35-43 = Mt.20:29-34 = Mc.10:46-52. Comentário principal: Mc]. |
Lc.18:36 | 36. E, ouvindo o tropel da multidão que passava, perguntou o que era aquilo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:37 | 37. Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:38 | 38. Então, ele clamou: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:39 | 39. E os que iam na frente o repreendiam para que se calasse; ele, porém, cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Os que iam na frente. Ou, “aqueles que estavam à frente”. Isto abre a possibilidade para um esclarecimento interessante sobre a formação do grupo que viajava com Jesus. “Os que iam na frente” podiam fazer parte do próprio grupo de Cristo, não apenas a multidão de curiosos que sempre se reunia ao redor dEle, nem alguns dos peregrinos que tinham a sorte de estar viajando para Jerusalém na mesma rota que Cristo (ver com. de Mc.10:47). |
Lc.18:40 | 40. Então, parou Jesus e mandou que lho trouxessem. E, tendo ele chegado, perguntou-lhe: Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:41 | 41. Que queres que eu te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu torne a ver. Sem comentário para este versículo. |
Lc.18:42 | 42. Então, Jesus lhe disse: Recupera a tua vista; a tua fé te salvou. Salvou. Isto é, curou. |
Lc.18:43 | 43. Imediatamente, tornou a ver e seguia-o glorificando a Deus. Também todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus. Todo o povo. Lucas acrescenta algo que Mateus e Marcos não mencionam: a reação dos que testemunharam o milagre. Em contraste com os líderes judeus, que costumavam atribuir o poder de Jesus ao diabo (ver com. de Mt.12:24), o povo comum, cuja percepção não fora cegada pelo preconceito, creditava a Deus o poder de Cristo. |
Lc.19:1 | 1. Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade. Entrando [...] atravessava. [Zaqueu, o publicano, Lc.19:1-10. Ver mapa, p. 220; gráfico, p. 228]. Sobre as circunstâncias e o contexto deste evento, ver com. de Mc.10:46. É provável que tenha ocorrido na semana antes da Páscoa de 31 d.C. e que Jesus estivesse a caminho de Jerusalém. |
Lc.19:2 | 2. Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos publicanos e rico, Zaqueu. Do gr. Zakchaios, do heb. Zakkai, que significa “puro”. Uma pessoa chamada Zakkai é mencionada no AT (ver Ed.2:9; Ne.7:14). Não há base para considerar que a história de Zaqueu é outra versão do relato do chamado de Mateus, como o fazem alguns, sobretudo porque Lucas também registra o segundo acontecimento (ver Lc.5:27-32). Fica claro que Zaqueu era judeu (ver Lc.19:9); por isso, os observadores protestaram contra a associação de Jesus com ele, dizendo que o cobrador de impostos era “pecador”, não que era gentio (ver com. do v. Lc.19:7; e com. de Mc.2:14-15). Maioral dos publicanos. Do gr. architelones, palavra composta que significa “chefe dos cobradores de impostos” (ver archiereus, “chefe dos sacerdotes”, em Mc.2:26). Zaqueu seria hoje um funcionário do Ministério da Fazenda. Ele era um rico servidor público encarregado da cobrança de impostos na importante cidade de fronteira à Judeia, chamada Jericó, a porta de acesso para todo o fluxo de gente que atravessava o rio Jordão ao leste. O vau a leste de Jericó era um dos três pontos mais importantes entre o Mar da Galileia e o Mar Morto, nos quais o rio podia ser atravessado mesmo na primavera. Lucas menciona cobradores de impostos com frequência (ver Lc.3:12; Lc.5:27; Lc.7:29; Lc.15:1; Lc.18:10) e, todas as vezes, fala sobre esses excluídos de maneira favorável, em harmonia com sua ênfase característica na amizade de Jesus com os pobres, oprimidos e rejeitados da sociedade. Rico. Apoiados por Roma, os publicanos costumavam recolher mais impostos do povo do que a lei exigia (ver p. 53, 54; ver com. de Lc.3:12). |
Lc.19:3 | 3. procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de pequena estatura. Procurava ver. É possível que ele já esperasse uma oportunidade de ver Jesus havia algum tempo. O início da obra de João Batista se deu em Betânia, do outro lado do Jordão, local não identificado, mas que talvez ficasse perto de Jericó (ver com. de Mt.3:2; Jo.1:28), e Zaqueu se unira às multidões que o ouviam pregar (DTN, 553). Talvez ele estivesse entre os publicanos que perguntaram a João: “Mestre, que havemos de fazer?” (Lc.3:12). Zaqueu ficou impressionado com a mensagem de João e, embora não tenha passado por uma conversão verdadeira na época, as palavras do Batista começaram a crescer como fermento em seu coração (DTN, 553). Antes dessa ocasião, Zaqueu ouvira sobre Jesus e começara a obra de confissão e restituição (DTN, 553, 555). Cheio de expectativa, ele ansiava ver a Cristo e aprender dEle o estilo de vida mais perfeito. Até certo ponto, ele já havia colocado em prática os princípios do evangelho em sua vida, agindo em harmonia com as orientações divinas (ver Lv.25:17; Lv.25:35-37; ver com. de Lc.19:8; comparar com a experiência de Mateus, em com. de Mc.2:13-14). Quem era Jesus. Zaqueu desejava ver quem era Jesus e distingui-Lo da multidão que se aglomerava a Seu redor na rua. Mas não podia, por causa da multidão. As ruas estreitas das cidades antigas, em geral pouco mais amplas do que os braços abertos de uma pessoa, de uma parede a outra, dificultavam ainda mais o problema de Zaqueu. |
Lc.19:4 | 4. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali havia de passar. Correndo adiante. Zaqueu ouviu a notícia de que o Mestre Jesus havia entrado em Jericó (ver DTN, 553). Sem dúvida, com as multidões que passavam pela cidade a caminho da Páscoa, o chefe dos cobradores de impostos (ver com. do v. Lc.19:2) estaria mais ocupado que de costume. Mas ele pôs tudo em ordem a fim de ter um vislumbre de Cristo. Subiu. Um procedimento indecoroso para um homem como Zaqueu. Ele estava disposto a ser considerado excêntrico para não perder a oportunidade de um vislumbre do Mestre. É provável que a árvore na qual Zaqueu subiu ficasse na periferia ocidental da cidade (ver com. de Mc.10:46), não em uma das ruas estreitas (ver com. de Lc.19:3). Sicômoro. Do gr. sukomorea, a amoreira branca. Acredita-se que o nome sukomorea derive de sukon, “figo”, e morea, “amoreira”, porque as folhas da árvore eram parecidas com a da amoreira, e o fruto, semelhante ao figo. Trata-se de uma árvore baixa, de galhos espalhados, que proporciona boa sombra. Dificilmente uma árvore como esta seria encontrada nas ruas estreitas das cidades antigas. Elas geralmente ficavam à beira da estrada, fora da cidade (ver com. de Mc.10:46; Am.7:14; Lc.17:6). |
Lc.19:5 | 5. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa. Viu-o (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a omissão destas palavras. Ficar hoje em tua casa. A expressão pode se referir a um descanso durante o dia ou a passar a noite. Esta é a única ocasião registrada em que Jesus Se convida para ficar na casa de alguém. Um homem da posição de Zaqueu certamente teria cômodos amplos para receber convidados, e Cristo sabia que o publicano não passaria vergonha mesmo que as visitas fossem inesperadas. Não se diz como Jesus reconheceu Zaqueu a ponto de chamá-lo pelo nome. É possível que alguns dentre a multidão tenham contado ao Mestre, mas é bem mais provável que seja um exemplo de conhecimento sobrenatural (ver Jo.1:47). Cristo sabia que Sua presença seria mais do que bem-vinda. Zaqueu desejava intensamente uma oportunidade de “ver [...] Jesus” (Lc.19:3) e deve ter se sentido muito honrado e feliz com o privilégio de receber o Mestre em sua casa. Jesus sabia de tudo isso e foi para a casa do cobrador de impostos com o propósito específico de lhe ensinar sobre o caminho do reino (DTN, 556). |
Lc.19:6 | 6. Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria. Com alegria. Do gr. chairo, literalmente, “regozijando-se” (ver com. de Lc.1:28). |
Lc.19:7 | 7. Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador. Murmuravam. Do gr. diagogguzzo, forma enfática de gogguzzo, também traduzida por “murmurar” (ver com. de Mt.20:11; Lc.5:30). Sem dúvida, havia em meio à multidão, muitos cidadãos de Jericó que tinham sido praticamente roubados por Zaqueu ou por seus subordinados e que por isso, o consideravam um ladrão. |
Lc.19:8 | 8. Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Levantou. Pode ser que Zaqueu estivesse caminhando com Jesus, mas, ao ouvir os protestos raivosos da multidão (v. Lc.19:7), virou-se para os caluniadores e se dirigiu a Jesus. Aos pobres. Para os judeus, cuidar dos pobres era o mais importante ato de piedade e de aplicação prática da religião. Deus deixou instruções específicas quanto ao cuidado desse grupo (ver Lv.19:10; Lv.19:15; Lv.25:35-42; Et.9:22; Rm.15:26; ver com. de Mt.5:3). Metade dos meus bens. A disposição voluntária de distribuir livremente a riqueza que ele havia adquirido de forma injusta era uma evidência da conversão de Zaqueu. “Não é genuíno nenhum arrependimento que não opere a reforma” (DTN, 555). A iniciativa voluntária de Zaqueu foi o oposto da recusa do jovem rico de abrir mão de suas riquezas quando Jesus o chamou a fazê-lo (ver com. de Mt.19:21-22). A experiência de Zaqueu evidencia que um rico pode entrar no reino dos céus (ver com. de Mt.19:23-26). Defraudado. Zaqueu já havia começado a fazer a restituição dos recursos obtidos desonestamente (ver com. do v. Lc.19:3). Então ele fez um plano sistemático e completo para restituir tudo o que havia adquirido de maneira ilícita. Isso superava o que os piores acusadores dele na multidão (sacerdotes, escribas e fariseus) podiam dizer a respeito da própria conduta deles. O fluxo de pessoas no templo lhes proporcionava oportunidades ilimitadas para defraudar os que iam ali para adorar (ver com. de Mt.21:12). Quatro vezes mais. Quando a restauração era voluntária, a lei de Moisés exigia apenas o acréscimo de um quinto do valor tomado (ver Lv.6:5; Nm.5:7). A restauração quatro vezes mais era uma das penalidades extremas por roubo deliberado com perda dos bens (ver Ex.22:1; ver com. de 2Sm.12:6). Em geral, o total devolvido deveria ser o dobro do tomado se a propriedade original ou o dinheiro fossem recuperados (Ex.22:4; Ex.22:7). O montante que Zaqueu prometeu restaurar era a melhor evidência de que ele havia passado por uma sincera mudança. |
Lc.19:9 | 9. Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Hoje. Provavelmente mencionado com referência à decisão que se refletiu na confissão e na promessa de Zaqueu (v. Lc.19:8), levando em conta a transformação que ocorrera em sua vida. Nesta casa. Os membros da família de Zaqueu se beneficiaram da decisão que ele tomou. Também este. Ver Lc.13:16. A sociedade judaica havia retirado Zaqueu do rol de pessoas respeitáveis. Ele era rotulado como “pecador” (ver Lc.19:7) e, por isso, não se qualificava para receber as recompensas que os judeus consideram merecidas pelos descendentes do pai Abraão. Usando uma linguagem que todos eram capazes de entender, Jesus o inclui na lista do favor divino (sobre o conceito judaico do valor da descendência literal de Abraão, ver com. de Mt.3:9; Jo.8:39). |
Lc.19:10 | 10. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido. O Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Buscar e salvar. Ver com. de Mt.1:21; Mt.10:6; Lc.15:6; Lc.15:9; Lc.15:20. O perdido. Ou, “o que estava perdido” (NVI). Ver com. de Mt.1:21. O termo da ARA sugere todos os pecadores. No entanto, Jesus veio restaurar não só as pessoas, mas também tudo aquilo que se perdeu por causa do pecado do ser humano. O mundo em si será conduzido novamente à beleza edênica, habitado por uma raça sem pecado e “o que estava perdido” será transformado nos “tempos da restauração de todas as coisas” (At.3:21). |
Lc.19:11 | 11. Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente. Ouvindo eles. [A parábola das dez minas, Lc.19:11-27. Ver com. de Mt.25:14-30. Sobre parábolas, ver p. 197-200]. Estas palavras conectam a parábola das minas ao que Jesus disse na casa de Zaqueu (ver v. Lc.19:9-10). Portanto, é provável que tenha sido contada dentro ou perto da casa do publicano, em Jericó, ou talvez pouco depois, em algum intervalo para descanso no caminho de Jericó até Betânia, uma distância de 25 quilômetros. Devia ser a semana anterior à Páscoa de 31 d.C. (sobre o contexto imediato desta parábola, ver com. de Mt.20:17). Propôs. O texto grego diz, literalmente: “acrescentou e disse”, o que seria uma redundância. Trata-se de uma expressão idiomática hebraica usada em outras partes do NT e que evidencia uma influência do hebraico no texto dos evangelhos (Lc.20:11-12; At.12:3; ver também Gn.4:2; Gn.8:12; Gn.25:1; Jó.29:1). Perto de Jerusalém. A despeito de tudo que Jesus tinha dito sobre ir a Jerusalém para morrer (ver com. de Mt.16:21; Mt.20:17-19; Mc.9:31; Lc.18:31), os discípulos ainda acreditavam que Ele seria aclamado rei de Israel e que aceitaria o trono de Davi. Essa falsa expectativa havia provocado várias discussões entre eles sobre quem seria o primeiro no reino (ver com. de Mc.9:33-40; Mt.20:20). Um ano antes, o povo havia tentado coroar Jesus na Galileia (ver com. de Mt.14:22; Mc.6:42; Jo.6:15; DTN, 377, 378). O sentimento popular favorecia, cada vez mais, essa atitude e, sem dúvida, os discípulos encorajavam a proposta, como já haviam feito antes. A base para essa concepção errônea sobre os objetivos de Cristo era a expectativa messiânica disseminada pelos rabinos, que se baseava numa interpretação equivocada das profecias messiânicas do AT (vol. 4, p. 13-21; ver com. de Lc.4:19; cf. Rm.11:25; 2Co.3:14-16). E lhes parecer. O falso conceito sobre o reino messiânico, nutrido tanto pelos discípulos quanto pelos judeus em geral, criou a ocasião para que esta parábola fosse contada. Os discípulos esperavam confiantes que o reino já estivesse estabelecido por ocasião da temporada pascal seguinte. A Páscoa celebrava a libertação de Israel do jugo egípcio e, mais do que qualquer outra festa, marcava o nascimento da nação hebraica. O reino de Deus. Sobre o reino de Cristo, ver com. de Mt.3:2-3; Mt.4:17; Mt.5:2; Lc.4:19. Cada parábola de Jesus foi contada para ilustrar uma verdade específica ligada a Seu reino, na maioria das vezes, com respeito ao reino da graça divina no coração humano, mas também, como aqui, no que se refere ao estabelecimento do reino da glória. Havia de manifestar-se imediatamente. Cada passo na direção de Jerusalém aumentava a empolgação dos discípulos. Neste contexto, eles estavam a cerca de 25 km da cidade. Pensavam estar numa marcha triunfal até a cidade para tomar posse do reino e colocar seu Mestre no trono de Israel. Diversos comentários que Jesus havia feito foram interpretados como evidências conclusivas de que isso aconteceria (ver com. de Lc.18:31). |
Lc.19:12 | 12. Então, disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino e voltar. Certo homem nobre. Fica claro que Jesus está representando a Si próprio. Há uma semelhança notável entre esta parábola, comumente conhecida como a parábola das minas, e a dos talentos (Mt.25:14-30). Há também diferenças notáveis. Alguns propõem que as duas são variantes da mesma história original, mas as divergências e as circunstâncias nas quais foram contadas inviabilizam essa conclusão, principalmente ao se considerar que os escritores bíblicos foram inspirados por Deus (ver com. de Mt.25:14; sobre a semelhança das duas parábolas, ver com. de Mt.25:14-30). O comentário aqui em Lucas aborda, em grande parte, os aspectos da parábola das dez minas que diferem da parábola dos talentos. Partiu para uma terra distante. É possível que Jesus tenha baseado esta parábola em fatos históricos com que Seus ouvintes estivessem familiarizados (ver com. de Lc.15:4). O primeiro incidente sugerido é a jornada de Herodes, o Grande, a Roma em 40 d.C., a fim de se opor às reivindicações de Antígono ao poder, e conseguir ser nomeado rei da Judeia. O senado romano rejeitou as ambições de Antígono e confirmou Herodes no trono. Mas um paralelo ainda mais próximo à parábola se encontra no segundo episódio, sugerido com mais frequência como sua base histórica. Trata-se da jornada a Roma feita por Arquelau, filho de Herodes, o Grande, que foi lá a fim de garantir a confirmação da sucessão ao pai, no reino de Judeia. Seu direito ao título real foi negado por César Augusto. E voltar. Ver com. de Mt.20:14. |
Lc.19:13 | 13. Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte. Dez servos seus. Os “servos” representam os discípulos e todos os cristãos, a quem Cristo confiou Seus interesses nesta Terra, durante sua ausência na “terra distante” (ver com. de Mt.16:19). Não existe significado particular no número “dez”, que Jesus usa com frequência como total arredondado (ver com. de Lc.15:8). Minas. Do gr. mnai, palavra derivada do heb. maneh (ver vol. 1, p. 142, 145). Nos tempos de Cristo, a mna, “mina”, era equivalente a 356,4 g, 1/60 de um talento de prata, equivalente a cem dracmas (p. 37; ver com. de Lc.15:8). O valor de compra era, é claro, bem maior do que o atual, pois uma mina equivalia ao salário de cem dias de trabalho (ver com. de Mt.20:2). Cada servo recebeu uma “mina” (comparar com a parábola dos talentos; ver com. de Mt.25:15). Negociai até que eu volte. Ver Lc.19:15; Ez.27:9; Ez.27:16; Ez.27:19; Ez.27:21-22. A quantidade de 385 g de prata parece pouca para o “homem nobre” dar a um de seus “servos” como capital. Até mesmo o “senhor” se refere ao montante como “pouco” quando retorna (Lc.19:17). Entretanto, esta era uma forma de testar a habilidade de cada servo, com a expectativa de atribuir responsabilidades mais importantes no futuro. As palavras “até que eu volte” sugerem que o nobre planejava ficar fora durante um período indeterminado. Por meio dessas palavras, Cristo subentende que Ele também permaneceria fora por um período considerável antes de voltar para dar a recompensa aos fiéis. |
Lc.19:14 | 14. Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. Os seus concidadãos o odiavam. Na aplicação da parábola ao reino dos Céus (v. Lc.19:11), o homem nobre representa Jesus, e os “concidadãos”, os judeus. O ódio que os judeus sentiam de Jesus era totalmente sem razão (ver com. de Sl.69:4; Jo.1:11; sobre esse ódio, ver com. de Jo.6:60-61; Jo.6:66). Não queremos. Os judeus não queriam aceitar a Cristo como seu rei. Perante Pilatos, declararam: “Não temos rei, senão César!” (Jo.19:15), rejeitando a Jesus por completo. |
Lc.19:15 | 15. Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido. Quando ele voltou. A parábola dos talentos relata a experiência dos servos durante a ausência do senhor (Mt.25:16-18) e também menciona que o mestre voltou “depois de muito tempo” (Mt.25:19). Mandou chamar os servos. Mateus acrescenta que o propósito ao chamá-los era fazer uma prestação de contas. O nobre queria saber como os servos haviam se saído na administração de seus bens e planejava lhes atribuir responsabilidades como oficiais em seu reino, a cada um segundo a habilidade demonstrada. |
Lc.19:16 | 16. Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez. O primeiro. Comparar com Mt.25:20. São relatadas só as experiências de três dos dez servos, como exemplos de graus variados de desempenho. O primeiro tinha muito para contar; o segundo, um pouco e o terceiro, nada. Na parábola dos talentos, tudo começa com três servos e os três são chamados para prestar contas. A tua mina. Todos os servos reconhecem que a “mina” recebida continuava a ser propriedade do senhor. Rendeu dez. Literalmente, “conquistou mais dez minas”. O lucro foi de mil por cento sobre o capital investido. O capital inicial fora de 100 dias de salário e o lucro, de mil dias. O primeiro servo então tinha um total de 11 minas, mais de três anos e meio de pagamento (ver com. do v. Lc.19:13). O primeiro servo demonstrou habilidade incomum em sua iniciativa de negócios. Isso refletia sua devoção ao senhor, além de diligência e fidelidade no cumprimento de seus deveres. |
Lc.19:17 | 17. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades. Servo bom. O servo na parábola dos talentos é chamado de “bom e fiel” (ver Mt.25:21). É provável que não haja intenção de fazer diferença entre os elogios, pois o “senhor” aqui passa a dar crédito ao primeiro servo por ter sido “fiel no pouco” (ver com. de Mt.25:21). Autoridade sobre dez cidades. A habilidade administrativa que o primeiro servo demonstrou deu evidências de que era possível confiar a ele o cuidado sobre uma pequena província no reino de seu senhor. Ele não recebeu aposentadoria ou pensão, nem recompensa material. Em vez disso, sua recompensa consistiu em mais responsabilidade e promoção a uma posição mais elevada. Ele obteve sucesso absoluto (ver com. de Lc.19:13; ver também com. de Mt.25:21). |
Lc.19:18 | 18. Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. Cinco. Ou, um lucro de quinhentos por cento (ver com. do v. Lc.19:17). O segundo servo contava então com seis “minas” ao todo, ou com o equivalente ao salário por 600 dias de trabalho. |
Lc.19:19 | 19. A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades. Sobre cinco cidades. Sua promoção foi proporcional à habilidade demonstrada (ver com. do v. Lc.19:17). |
Lc.19:20 | 20. Veio, então, outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num lenço. Veio, então, outro. Isto é, outro dentre os dez (Lc.19:13; Mt.25:24). Eis aqui, senhor, a tua mina. Na parábola dos talentos, o terceiro servo diz: “aqui tens o que é teu” (ver com. de Mt.25:25). Eu guardei embrulhada. Ele cuidou bem da mina que lhe fora confiada; não a perdeu nem a gastou. Lenço. Do gr. soudarion, do latim sudarium, derivada do radical sudor, “suor”. O “lenço” era um pedaço de pano usado como peça de vestuário. Papiros mencionam o soudarion como parte do dote de uma noiva. |
Lc.19:21 | 21. Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. Tive medo de ti. O principal motivo do temor deste servo era sua atitude errada em relação ao mestre, que parecia esperar que cada um fizesse seu melhor absoluto e nada menos. Fica óbvio que este servo era preguiçoso. O teste que o “nobre” lhe dera, se bem aproveitado, teria sido útil para ajudá-lo a superar essas características. Rigoroso. Do gr. austeros, “difícil de provar”, portanto, “duro”, “severo” ou “rigoroso”. A preguiça deste servo despertou reação bem diferente. O que não puseste. O que o servo disse, na verdade, foi: “De qualquer maneira, você pegaria o que eu ganhei e eu não teria recompensa por meus esforços. Qual é então o sentido de me preocupar tanto?” A recompensa recebida pelo primeiro e segundo servos é prova de que a falha se encontrava no terceiro servo, não no senhor (ver com. de Mt.25:24). |
Lc.19:22 | 22. Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei Servo mau. Ele havia abusado da confiança do senhor e negligenciado a oportunidade de ter sucesso. Quem não faz nada com os talentos que recebe é “mau” aos olhos do Céu e certamente colherá a recompensa dos ímpios. Na parábola dos talentos, o terceiro servo é censurado por ser “mau e negligente” (ver com. de Mt.25:26). Por tua própria boca. Não era preciso fazer nenhuma análise posterior dos fatos. O terceiro servo havia demonstrado ser indigno de confiança. Os que sempre culpam os outros pela falta de sucesso acabam denunciando os próprios defeitos de caráter. Deixam claro que não podem ser encarregados de maiores responsabilidades. Condenarei. Ver com. de Mt.7:1. Sabias. O restante do versículo pode ser considerado como uma interrogação. A falha deste servo não ocorreu por ignorância, mas por preguiça. Ele sabia o que fazer. Tinha consciência de que o senhor exigiria uma prestação de contas do aproveitamento da oportunidade recebida; e por que não fizera nada? Ele tinha as condições, por isso era culpado. |
Lc.19:23 | 23. por que não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda, o receberia com juros. Por que [...]? Uma vez que ele sabia o que esperar por ocasião do retorno do mestre, o mínimo que poderia ter feito seria deixar o dinheiro rendendo, sem precisar fazer esforço. Por que aceitou o dinheiro se não tinha a intenção de aproveitá-lo de alguma forma? O valor poderia ter sido dado a outro servo que faria algo digno com o mesmo. Banco. Do gr. trapeza, “mesa”; refere-se à mesa de um cambista, daí, “banco” (ver Mt.21:12; Mc.11:15; Jo.2:15). Seria necessário pouco esforço da parte do servo para levar o dinheiro a um dos cambistas da cidade. Portanto, além de sua conduta caracterizá-lo como preguiçoso, parece que este servo planejou privar seu senhor do lucro devido (ver com. de Mt.25:27). Juros. Sobre juros e empréstimos, ver com. de Ex.22:25. |
Lc.19:24 | 24. E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez. Aos que o assistiam. Auxiliares do nobre, além dos servos. “Assistir” um superior significava estar a seu serviço (ver 1Rs.10:8; ver com. de Dn.1:19). Tirai-lhe. O servo não parece receber castigo, a não ser a punição de devolver sem juros o capital que lhe fora confiado (ver com. do v. Lc.19:26). Dai. A mina sem juros foi dada ao primeiro servo, não como recompensa, mas pelas evidências de que ele conseguiria fazer mais com ela do que os outros. Seria uma estratégia de administração da parte do nobre confiar dinheiro e terras às mãos daquele que aproveitaria ao máximo as oportunidades recebidas. Assim, o primeiro servo passa a ter 12 minas. Era duas vezes mais do que a quantia do segundo servo. O rei não exigiria o retorno do capital nem do lucro, mas os deixaria nas mãos desses homens, para que continuassem trabalhando e multiplicando o valor (cf. Mt.25:28). |
Lc.19:25 | 25. Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez. Eles ponderaram. Não fica claro se “eles” se refere aos auxiliares do nobre (ver com. do v. Lc.19:24), protestando com ele, ou aos que ouviam a parábola, argumentando com o próprio Jesus. Se for este último caso, todo este versículo (v. 25) seria um parêntese. |
Lc.19:26 | 26. Pois eu vos declaro: a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado. A todo. Sobre o paradoxo, ver com. de Mt.13:12; Mt.25:27. Esta é a explicação do homem nobre para o motivo de dar a “mina” sem lucros ao homem que já tinha mais do que todos os outros servos. Será tirado. O servo preguiçoso apenas fica sem o capital antes confiado a ele. Seu correspondente na parábola dos talentos foi punido (ver com. de Mt.25:30). |
Lc.19:27 | 27. Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença. Esses meus inimigos. Isto é, aqueles que se rebelaram na ausência do nobre e tentaram impedi-lo de receber seu reino (ver com. do v. Lc.19:14). Executai-os. Do gr. katasphazo, “matar”. Ao que tudo indica, os opositores ao nobre não mudaram a conduta. Continuavam a ser contrários a seu governo, e a única forma de resguardar a paz e a segurança do reino era eliminá-los de uma vez por todas. |
Lc.19:28 | 28. E, dito isto, prosseguia Jesus subindo para Jerusalém. Subindo. [A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, Lc.19:28-40 = Mt.21:1-11 = Mc.11:1-11 = Jo.12:12-19. Comentário principal: Mt]. Ou seja, de Jericó, no vale do Jordão (ver com. do v. Lc.19:11. Em cerca de 25 km, eles subiram 1,5 mil metros de altitude (ver com. de Lc.10:30). A rápida transição no registro de Lucas parece abrir espaço apenas para um pequeno intervalo entre os acontecimentos em Jericó (v. Lc.19:1-28) e a entrada triunfal (v. Lc.19:29-44). |
Lc.19:29 | 29. Ora, aconteceu que, ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, enviou dois de seus discípulos, Aconteceu. Somente Lucas narra o clímax da entrada triunfal, que ocorreu no cume do monte das Oliveiras (v. Lc.19:41-44). |
Lc.19:30 | 30. dizendo-lhes: Ide à aldeia fronteira e ali, ao entrardes, achareis preso um jumentinho que jamais homem algum montou; soltai-o e trazei-o. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:31 | 31. Se alguém vos perguntar: Por que o soltais? Respondereis assim: Porque o Senhor precisa dele. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:32 | 32. E, indo os que foram mandados, acharam segundo lhes dissera Jesus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:33 | 33. Quando eles estavam soltando o jumentinho, seus donos lhes disseram: Por que o soltais? Seus donos. Apenas Lucas observa que os donos da jumenta e do jumentinho (ver Mt.21:2) questionaram os dois discípulos enviados para procurá-los. |
Lc.19:34 | 34. Responderam: Porque o Senhor precisa dele. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:35 | 35. Então, o trouxeram e, pondo as suas vestes sobre ele, ajudaram Jesus a montar. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:36 | 36. Indo ele, estendiam no caminho as suas vestes. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:37 | 37. E, quando se aproximava da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinham visto, Aproximava. Isto é, a decida do monte das Oliveiras até Jerusalém. Descida. Ou seja, descendo o vale do Cedrom, no lado em que Jerusalém se situa. Jubilosa, a louvar a Deus. O Sl.122 era um dos favoritos dos peregrinos assim que as torres da cidade de Jerusalém eram avistadas, e suas palavras eram apropriadas a isso: “Pararam os nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém!” (Sl.122:2; ver DTN, 76). Esta ocasião, em que os seguidores de Jesus pensavam que logo Ele seria coroado rei de Israel, foi marcada por júbilo sem precedentes. |
Lc.19:38 | 38. dizendo: Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas! Paz no Céu. Comparar com Lc.2:14. |
Lc.19:39 | 39. Ora, alguns dos fariseus lhe disseram em meio à multidão: Mestre, repreende os teus discípulos! Alguns dos fariseus. Na noite anterior, os líderes de Israel haviam decidido matar Jesus. Então, Judas se encontrou com eles pela primeira vez, irado pela repreensão que recebera na casa de Simão, em Betânia (DTN, 558, 563, 564; ver com. de Mt.21:1). O fato de as multidões deixarem de lado os cultos no templo a fim de ter um vislumbre de Jesus (DTN, 571), especialmente com a temporada pascal se aproximando, era um presságio do declínio do poder dos líderes religiosos da nação, que temiam que Cristo permitisse que as pessoas O coroassem (DTN, 572). Mestre. Ou, “professor”, termo que até os inimigos de Jesus usavam para se dirigir a Ele. |
Lc.19:40 | 40. Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:41 | 41. Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou Quando ia chegando. [Jesus chora à vista de Jerusalém, Lc.19:41-44). Ou seja, ao avistar a cidade de Jerusalém, que fica a oeste, depois de atravessar o estreito vale do Cedrom. Vendo a cidade. Do cume do monte das Oliveiras (GC, 17) era possível ver a cidade inteira, inclusive o templo. O monte era cerca de 100 m mais alto do que o templo. O Calvário também ficava visível, não muito distante da Porta das Ovelhas, que se localizava perto do extremo nordeste da cidade (DTN, 576). A beleza do templo, com seus domos de mármore branco e ouro reluzindo na luz do sol, no fim da tarde, devia ser uma visão inspiradora para os judeus (ver DTN, 575). Era natural que orgulho e alegria enchessem o coração de todos os filhos de Israel ao ter o primeiro vislumbre da cidade santa. Nesta ocasião, porém, Jesus chorou audivelmente, pois Ele era capaz de ver aquilo que a multidão não conseguia enxergar: o terrível destino de Jerusalém nas mãos do exército romano, menos de 40 anos depois. |
Lc.19:42 | 42. e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. O que. Isto é, as coisas que os líderes e o povo necessitavam saber a fim de impedir a calamidade e assegurar prosperidade e paz. Eram os requisitos que Deus esperava dos judeus, a fim de poder honrá-los plenamente como nação e transformá-los em Seus representantes para as nações da Terra (ver sobre o destino que o Senhor planejara para Israel, ver vol. 4, p. 13-17). Isto está agora oculto. Ou seja, não se realizaria. |
Lc.19:43 | 43. Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco Virão dias. Com visão profética do futuro, os olhos de Jesus captam o que viria e visualizam o exército de Roma cercando Jerusalém e deixando-a desolada. Posteriormente, fez um breve comentário sobre o futuro da cidade com alguns de Seus discípulos, na encosta ocidental do monte das Oliveiras (Mc.13:3; ver com. de Mt.24:15-20). Os teus inimigos. Neste caso, os romanos (ver com. de Lc.21:20). Trincheiras. Do gr. charax, “estaca”, “fortificação” ou “plataforma de proteção”. Josefo descreve o cumprimento desta profecia. Ao cercar Jerusalém, a princípio os romanos construíram fortificações de madeira e terra. Quando os judeus as destruíram, os romanos as substituíram por um muro. Apertarão o cerco. Os romanos cercaram Jerusalém e fizeram seus habitantes passar fome até se renderem. Quando a escassez de alimentos levou ao pânico, as legiões romanas atacaram a cidade e a tomaram. |
Lc.19:44 | 44. e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação. E te arrasarão. Ver com. de Mt.24:2. Pedra sobre pedra. Uma figura de linguagem hiperbólica, que indica completa destruição. Visitação. Ver com. de Sl.8:4; Sl.59:5. Isto é, pelos pecados da nação, sobretudo pela rejeição dos mensageiros de misericórdia que Deus enviara de tempos em tempos (ver com. de Mt.23:34-35). A retribuição por todos esses crimes seria “sobre a presente geração” (ver com. de Mt.23:36-37; Lc.19:41). |
Lc.19:45 | 45. Depois, entrando no templo, expulsou os que ali vendiam, Entrando no templo. [A purificação do templo, Lc.19:45-48 = Mt.21:12-17 = Mc.11:15-19. Comentário principal: Mt]. Compravam (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta palavra (ver com. de Mt.21:12). |
Lc.19:46 | 46. dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração. Mas vós a transformastes em covil de salteadores. Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:47 | 47. Diariamente, Jesus ensinava no templo; mas os principais sacerdotes, os escribas e os maiorais do povo procuravam eliminá-lo Sem comentário para este versículo. |
Lc.19:48 | 48. contudo, não atinavam em como fazê-lo, porque todo o povo, ao ouvi-lo, ficava dominado por ele. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:1 | 1. Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar, sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos, Aconteceu. [A autoridade de Jesus e o batismo de João, Lc.20:1-8 = Mt.21:23-27 = Mc.11:27-33. Comentário principal: Mt]. |
Lc.20:2 | 2. e o argüiram nestes termos: Dize-nos: com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem te deu esta autoridade? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:3 | 3. Respondeu-lhes: Também eu vos farei uma pergunta; dizei-me: Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:4 | 4. o batismo de João era dos céus ou dos homens? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:5 | 5. Então, eles arrazoavam entre si: Se dissermos: do céu, ele dirá: Por que não acreditastes nele? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:6 | 6. Mas, se dissermos: dos homens, o povo todo nos apedrejará; porque está convicto de ser João um profeta. Apedrejará. Isto é, lançar pedras até a morte. |
Lc.20:7 | 7. Por fim, responderam que não sabiam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:8 | 8. Então, Jesus lhes replicou: Pois nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:9 | 9. A seguir, passou Jesus a proferir ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e ausentou-se do país por prazo considerável. Certo homem. [A parábola dos lavradores maus, Lc.20:9-18 = Mt.21:33-46 = Mc.12:1-12. Comentário principal: Mt]. Por prazo considerável. Detalhe que só Lucas observa. |
Lc.20:10 | 10. No devido tempo, mandou um servo aos lavradores para que lhe dessem do fruto da vinha; os lavradores, porém, depois de o espancarem, o despacharam vazio. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:11 | 11. Em vista disso, enviou-lhes outro servo; mas eles também a este espancaram e, depois de o ultrajarem, o despacharam vazio. Enviou-lhes outro. Literalmente, “ele acrescentou para enviar outro”. |
Lc.20:12 | 12. Mandou ainda um terceiro; também a este, depois de o ferirem, expulsaram. Ferirem. Do gr. traumatizo, do substantivo trauma (ver com. de Lc.19:11). |
Lc.20:13 | 13. Então, disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. Que farei? Outro detalhe que somente Lucas preserva. |
Lc.20:14 | 14. Vendo-o, porém, os lavradores, arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:15 | 15. E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o dono da vinha? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:16 | 16. Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ao ouvirem isto, disseram: Tal não aconteça! Tal não aconteça! Ou seja, “nem pense nisso!”. Esta forte exclamação foi proferida quando os fariseus reconheceram na parábola um retrato do próprio destino (ver PJ, 295). |
Lc.20:17 | 17. Mas Jesus, fitando-os, disse: Que quer dizer, pois, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:18 | 18. Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. Ficará reduzido a pó. Ou, “será feito em pedacinhos”. |
Lc.20:19 | 19. Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o povo. Naquela mesma hora. [A questão do tributo, Lc.20:19-26 = Mt.22:15-22 = Mc.12:13-17. Comentário principal: Mt]. Ver com. de Mt.21:23. Principais sacerdotes. Eles estavam prontos para pressionar Jesus sobre o assunto (ver Mt.21:46). Perceberam. Este era o motivo da raiva imediata deles. |
Lc.20:20 | 20. Observando-o, subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma palavra, a fim de entregá-lo à jurisdição e à autoridade do governador. Emissários. Neste caso, é provável que fossem alunos da escola de teologia de Jerusalém (ver DTN, 601; sobre encontros anteriores com emissários do Sinédrio, ver com. de Lc.11:54). Fingiam. Ou, “dissimulavam”. Para verem se O apanhavam. Eles estavam “observando” para ver se Jesus dizia algo que pudesse ser levado ao tribunal, a fim de não deixá-Lo escapar dos desígnios deles. |
Lc.20:21 | 21. Então, o consultaram, dizendo: Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente e não te deixas levar de respeitos humanos, porém ensinas o caminho de Deus segundo a verdade Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:22 | 22. é lícito pagar tributo a César ou não? Tributo. Do gr. phoros, o imposto fixo anual, arrecadado de propriedades ou pessoas. |
Lc.20:23 | 23. Mas Jesus, percebendo-lhes o ardil, respondeu: Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:24 | 24. Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição? Prontamente disseram: De César. Então, lhes recomendou Jesus: Denário. Moeda romana (ver p. 37; ver com. de Mt.20:2). |
Lc.20:25 | 25. Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:26 | 26. Não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua resposta, calaram-se. Não puderam apanhá-Lo. Não conseguiram encontrar uma só palavra de evidência contra Jesus (ver com. do v. Lc.20:20). Ele escapou deles e, ao fazê-lo, proferiu o princípio fundamental que governa as responsabilidades do cristão perante as autoridades civis. |
Lc.20:27 | 27. Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição, Alguns dos saduceus. [Os saduceus e a ressurreição, Lc.20:27-40 = Mt.22:23-33 = Mc.12:18-27. Comentário principal: Mt]. |
Lc.20:28 | 28. perguntaram-lhe: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de alguém, sendo aquele casado e não deixando filhos, seu irmão deve casar com a viúva e suscitar descendência ao falecido. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:29 | 29. Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou e morreu sem filhos Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:30 | 30. o segundo e o terceiro também desposaram a viúva Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:31 | 31. igualmente os sete não tiveram filhos e morreram. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:32 | 32. Por fim, morreu também a mulher. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:33 | 33. Esta mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles será esposa? Porque os sete a desposaram. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:34 | 34. Então, lhes acrescentou Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:35 | 35. mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos não casam, nem se dão em casamento. De alcançar. Isto é, “de conseguir”. |
Lc.20:36 | 36. Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição. Filhos da ressurreição. Expressão idiomática hebraica emprestada para o grego. Neste caso, é paralela a “filhos de Deus”. “Filhos da ressurreição” indica simplesmente os que ressuscitaram dos mortos. Eles receberam vida novamente pelo mesmo poder que lhes dera vida a princípio. Todo seu ser foi reconstituído para a vida em um mundo novo. |
Lc.20:37 | 37. E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:38 | 38. Ora, Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos; porque para ele todos vivem. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:39 | 39. Então, disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem! Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:40 | 40. Dali por diante, não ousaram mais interrogá-lo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:41 | 41. Mas Jesus lhes perguntou: Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi? Jesus lhes perguntou. [Cristo, o filho de Davi, Lc.20:41-44 = Mt.22:41-46 = Mc.12:35-37. Comentário principal: Mt]. |
Lc.20:42 | 42. Visto como o próprio Davi afirma no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, No livro dos Salmos. Só Lucas registra que a citação é do livro dos Salmos. |
Lc.20:43 | 43. até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:44 | 44. Assim, pois, Davi lhe chama Senhor, e como pode ser ele seu filho? Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:45 | 45. Ouvindo-o todo o povo, recomendou Jesus a seus discípulos: Ouvindo-o. [Jesus censura os escribas, Lc.20:45-47 = Mt.23:1-12 = Mc.12:38-40. Comentário principal: Mt]. Em outras palavras, enquanto os escribas e fariseus estavam ouvindo Jesus. |
Lc.20:46 | 46. Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e muito apreciam as saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes Sem comentário para este versículo. |
Lc.20:47 | 47. os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes sofrerão juízo muito mais severo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:1 | 1. Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Observar. [A oferta da viúva pobre, Lc.21:1-4 = Mc.12:41-44. Comentário principal: Mc]. |
Lc.21:2 | 2. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:3 | 3. e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:4 | 4. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:5 | 5. Falavam alguns a respeito do templo, como estava ornado de belas pedras e de dádivas Falavam alguns a respeito do templo. [A destruição do templo, Lc.21:5-6 = Mt.24:1-2 = Mc.13:1-2. Comentário principal: Mt]. Dádivas. É provável que fossem presentes para embelezar o templo, como a vinha de ouro de Herodes, colocada à entrada do templo (ver DTN, 575). |
Lc.21:6 | 6. então, disse Jesus: Vedes estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:7 | 7. Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? E que sinal haverá de quando estas coisas estiverem para se cumprir? Estiverem para se cumprir. [O princípio das dores, Lc.21:7-19 = Mt.24:3-14 = Mc.13:3-13. Comentário principal: Mt]. Literalmente, “estiverem prestes a acontecer”. |
Lc.21:8 | 8. Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os sigais. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:9 | 9. Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas, mas o fim não será logo. Logo. Do gr. eutheos, “imediatamente” ou “de uma vez”. O que Jesus disse foi: “o fim não virá de uma vez”. |
Lc.21:10 | 10. Então, lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino, contra reino Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:11 | 11. haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:12 | 12. Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome Antes, porém, de todas estas coisas. Aqui Lucas inclui (v. 12-16) uma parte do discurso profético no monte das Oliveiras que Mateus não menciona, provavelmente porque Mateus já havia relatado quase a mesma linha de raciocínio, usando palavras bem parecidas, num discurso anterior (ver com. de Mt.10:12-16). |
Lc.21:13 | 13. e isto vos acontecerá para que deis testemunho. Isto vos acontecerá. Ver com. de Mc.13:9. |
Lc.21:14 | 14. Assentai, pois, em vosso coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder Preocupardes. Do gr. promeletao, “praticar com antecedência”. A referência deve ser ao ensaio de um discurso antes de proferi-lo, para que o orador se familiarize com o tema. Ao fazer sua defesa perante “reis e governadores”, os discípulos não precisariam ter discursos prontos para falar de cor (sobre o motivo da advertência, ver com. de Mt.10:19-20). |
Lc.21:15 | 15. porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:16 | 16. E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:17 | 17. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:18 | 18. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. Não se perderá um só fio de cabelo. Esta promessa não é uma garantia universal de imunidade em relação ao martírio, pois Jesus havia acabado de dizer que alguns seriam condenados à morte (ver v. Lc.21:16). Talvez signifique que as autoridades que levam os cristãos a juízo não teriam poder sobre eles, a menos que Deus permitisse (ver Jo.19:11; At.5:35-38). Outra possibilidade é que Cristo Se referia ao resultado final, não à perspectiva imediata deste mundo, dizendo que as autoridades terrenas não têm poder nenhum no que se refere à felicidade eterna das pessoas (ver Jo.10:28-29; ver com. de Mt.10:28; Mt.10:30). |
Lc.21:19 | 19. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma. |
Lc.21:20 | 20. Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Sitiada de exércitos. [Jerusalém sitiada, Lc.21:20-24 = Mt.24:15-28 = Mc.13:14-23. Comentário principal: Mt]. Isto é, cercada de legiões romanas (ver Mt.24:2; Mt.24:15-20). Está próxima a sua devastação. [A destruição de Jerusalém em 70 d.C. significava o fim dos judeus como nação (ver Mt.24:14-15). |
Lc.21:21 | 21. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Campos. Ou seja, os campos em oposição à cidade. “Os que se encontrarem dentro da cidade [de Jerusalém; ver Lc.21:20]” : são os habitantes da região urbana e “os que estiverem nos campos”, os moradores das áreas rurais, que vivem em pequenas cidades e vilas. |
Lc.21:22 | 22. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. Estes dias são de vingança. Ver Mt.23:35-36. O que está escrito. Uma referência às maldições pela desobediência (ver Dt.27:11-26; Dt.28:15-68). |
Lc.21:23 | 23. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Ira contra este povo. Ou seja, contra os judeus (ver com. de Mt.23:35; Lc.5:29; sobre o plano de Deus para Israel e sua rejeição como nação, ver vol. 4, p. 13-17). |
Lc.21:24 | 24. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. Fio de espada. Literalmente, “boca da espada”. Trata-se de uma referência clara ao clímax sangrento do cerco de Jerusalém, no ano 70 d.C. (ver p. 57-64; ver Mt.24:2; Mt.15:20). Levados cativos. Conforme Moisés havia predito, caso Israel não tivesse cuidado de “guardar todas as palavras desta lei, escritas neste livro” (Dt.28:58; Dt.28:63-68). A advertência já havia se cumprido no passado, no cativeiro babilônico (Je.16:13; Je.40:1-2; Je.52:12-16; Je.28-31; Dn.1:1-3; Dn.9:11-14; etc.). Em conexão com a explicação a Daniel acerca da restauração do cativeiro babilônico (ver Dn.9:24-25), foi acrescentada uma advertência de que a repetição dos erros que ocasionaram o exílio resultariam numa segunda destruição de Jerusalém e do templo (ver Dn.9:26-27). É a esta segunda destruição e à dispersão dos judeus que Cristo Se refere aqui (ver com. de Mt.24:15-20; Lc.21:20). Esta situação não seria remediada “até que os tempos dos gentios se [completassem]” (ver vol. 4, p. 17-23). Tempos dos gentios. O tempo destinado à nação judaica logo terminaria e ela deixaria de ser o povo de Deus. Após sua rejeição como nação, o evangelho deveria se espalhar para todas as nações (ver At.1:8; At.13:46; At.18:6; At.28:25-28; Rm.1:16; sobre o papel dos judeus como povo escolhido de Deus, sua queda e substituição, ver no vol. 4, p. 13-23). Pisada. A aparente autonomia que os judeus desfrutaram sob domínio romano, até 70 d.C., não foi restaurada; e, desde aquele ano, Jerusalém sofreu controle gentílico. Por causa da revolta de Bar Cocheba, reprimida em 135 d.C., todos os judeus foram proibidos de entrar na cidade, com ameaça de morte para a desobediência. Desde o ano 70 d.C., o templo não foi mais reconstruído. Romanos, sarracenos, normandos, turcos, cruzados e árabes, dentre outros, estiveram no controle da cidade e da antiga área do templo. Durante a “guerra dos seis dias”, no ano 1967, Israel assumiu controle de toda a cidade, mas não da antiga área do templo (ver p. 65, 66). |
Lc.21:25 | 25. Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas Sinais. [A vinda do Filho do Homem, Lc.21:25-28 = Mt.24:29-31 = Mc.13:24-27. Comentário principal: Mt]. Ver Mt.24:29. Em perplexidade. O texto grego sugere que a “perplexidade” ocorre “por causa do bramido do mar e das ondas”. A última parte do v. 25 diz, literalmente: “e sobre a terra angústia das nações em perplexidade [diante] do bramido do mar e das ondas”. Mar. Nesta passagem, Cristo associa manifestações de forças destrutivas da natureza com sinais nos céus, antes de Seu retorno à Terra em poder e glória. |
Lc.21:26 | 26. haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. Haverá homens. Literalmente, “homens expirando de medo” ou “homens desmaiando de medo”. A última parte do versículo diz que o principal motivo para os seres humanos desmaiarem de terror é o abalo dos “poderes dos céus”. A cena aqui retratada recorre durante a sétima praga e sexto selo (PE, 41; GC, 636). “Os ímpios contemplam a cena com terror e espanto” (GC, 636), pedindo às montanhas e rochas que caiam sobre eles (Ap.6:14-17). |
Lc.21:27 | 27. Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:28 | 28. Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:29 | 29. Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores. Todas as árvores. [A parábola da figueira. Exortação à vigilância, Lc.21:29-36 = Mt.24:32-44 = Mc.13:28-37. Comentário principal: Mt]. Lucas informa a leitores não familiarizados com a figueira que esta verdade é ilustrada por todas as árvores. |
Lc.21:30 | 30. Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:31 | 31. Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. O reino de Deus. Isto é, o reino de glória, em contraste com o reino da graça (ver Mt.4:17; Mt.5:2). |
Lc.21:32 | 32. Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:33 | 33. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão. Sem comentário para este versículo. |
Lc.21:34 | 34. Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço. Orgia. Do gr. kraipale, “intoxicação” ou “ressaca”, de kras, “cabeça” e pallo, “balançar” ou “jogar de um lado para o outro”. Escritores gregos da área médica usavam kraipale para se referir a náusea e letargia que ocorrem após o excesso de bebidas. Preocupações. Isto é, “ansiedades”, “inquietações”. |
Lc.21:35 | 35. Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a terra. |
Lc.21:36 | 36. Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem. Vigiai. Do gr. agrupneo, “ficar sem sono”, literalmente, “manter-se desperto”. A todo tempo, orando. Ver Lc.18:1. Possais escapar. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “ter forças para escapar”. Estar em pé. Ver Lc.19:24. Este é o objetivo supremo da vida cristã. |
Lc.21:37 | 37. Jesus ensinava todos os dias no templo, mas à noite, saindo, ia pousar no monte chamado das Oliveiras. Todos os dias. [O povo vai ter com Jesus para O ouvir, Lc.21:37-38]. Uma declaração retrospectiva e resumida das atividades de Jesus durante os três primeiros dias da semana da paixão (ver Mt.23:38). À noite. No domingo e na segunda à noite, Jesus havia voltado para Betânia (ver Mc.11:11-12; Mc.11:20; ver também DTN, 581). Na noite de terça, Cristo e os discípulos devem ter permanecido no monte das Oliveiras. |
Lc.21:38 | 38. E todo o povo madrugava para ir ter com ele no templo, a fim de ouvi-lo. Todo o povo. Deve se tratar de outra síntese, comparável à do v. Lc.21:37. Jesus não ensinou no templo depois deste momento. |
Lc.22:1 | 1. Estava próxima a Festa dos Pães Asmos, chamada Páscoa. A Festa. [O plano para tirar a vida de Jesus, Lc 22:1-2 = Mt.26:1-5 = Mc.14:1-2. Comentário principal: Mt]. |
Lc.22:2 | 2. Preocupavam-se os principais sacerdotes e os escribas em como tirar a vida a Jesus; porque temiam o povo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:3 | 3. Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze. Satanás entrou. [O pacto da traição, Lc.22:3-6 = Mt.26:14-16 = Mc.14:10-11]. A ação de Judas não foi uma surpresa para Jesus (ver Jo.6:64; Jo.6:70-71). Este foi o primeiro contato de Judas com os líderes judeus com o propósito de trair seu Mestre (ver com. de Mt.26:14). João faz a mesma observação a respeito da experiência de Judas por ocasião de seu terceiro e último contato com os líderes judeus, na noite da traição (Jo.13:2; Jo.13:27). |
Lc.22:4 | 4. Este foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães sobre como lhes entregaria a Jesus Capitães. O título completo era “capitães do templo” (v. Lc.22:52). Sem dúvida, estes eram os líderes dos guardas do templo. |
Lc.22:5 | 5. então, eles se alegraram e combinaram em lhe dar dinheiro. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:6 | 6. Judas concordou e buscava uma boa ocasião de lho entregar sem tumulto. Sem tumulto. Ver com. de Mt.26:15-16. |
Lc.22:7 | 7. Chegou o dia da Festa dos Pães Asmos, em que importava comemorar a Páscoa. Chegou. [Os discípulos preparam a Páscoa, Lc.22:7-13 = Mt.26:17-19 = Mc.14:12-16. Comentário principal: Mt]. |
Lc.22:8 | 8. Jesus, pois, enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa para que a comamos. Pedro e João. Somente Lucas identifica os dois discípulos enviados para realizar esta tarefa. |
Lc.22:9 | 9. Eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:10 | 10. Então, lhes explicou Jesus: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem com um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar Ao entrardes. Pedro e João deveriam encontrar o homem designado na porta da cidade, ou perto dela. |
Lc.22:11 | 11. e dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:12 | 12. Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobilado; ali fazei os preparativos. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:13 | 13. E, indo, tudo encontraram como Jesus lhes dissera e prepararam a Páscoa. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:14 | 14. Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. A hora. [A última Páscoa, Lc.22:14-18. Ver gráfico, p. 229, 230]. Ou seja, a hora da refeição pascal, cujos preparativos são relatados nos v. Lc.22:7-13. Era quinta-feira à noite. Jesus instituiu a ordenança da Ceia do Senhor durante a refeição pascal costumeira (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75). Pôs-Se [...] à mesa. Ou, “reclinou-Se à mesa” (sobre a disposição da mesa e das almofadas numa festa oriental, ver com. de Mc.2:15). Na primeira Páscoa, os participantes precisaram comer em pé, prontos para partir do Egito. Depois de entrar na terra prometida, não ficavam mais em pé, mas sentados ou reclinados. Na primeira Páscoa, a postura em pé indicava a pressa em partir, já a postura reclinada de tempos posteriores demonstrava compostura e segurança na terra prometida. Os apóstolos. Esta foi a última ocasião em que os doze estiveram reunidos num só lugar. O costume exigia que houvesse no mínimo dez pessoas presentes para comer a refeição pascal em conjunto, mas não era permitido passar de trinta. Havia 13 pessoas presentes nesta ocasião. |
Lc.22:15 | 15. E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Desejado. O texto original traz uma construção tipicamente hebraica: “com desejo, tenho desejado”. Expressões idiomáticas parecidas ocorrem no original de Jo.3:29 (“muito se regozija”), At.4:17 (“ameacemo-los”) e de outros textos do NT. São muito comuns na LXX. Esta foi a última ocasião em que Jesus esteve com Seus amados discípulos antes da agonia da traição, do julgamento e da crucifixão. O clímax do ministério de Cristo sempre esteve em Sua mente enquanto ministrava aos seres humanos. Durante quase um ano, Ele buscou com toda diligência preparar Seus seguidores para os acontecimentos dessas horas finais de Sua vida (ver com. de Mt.16:21; Mt.20:17). Esta Páscoa. Foi a quarta Páscoa do ministério de Jesus (ver p. 181, 244, 245; gráfico 5, p. 226), a terceira celebrada com os discípulos em Jerusalém. No entanto, nem todos estavam presentes como membros do grupo nas duas anteriores (as Páscoas de 28 e 29 d.C.) que ocorreram antes da escolha e do chamado dos doze, no verão de 29 d.C. Certamente, esta foi a refeição pascal que Jesus e os doze celebraram juntos (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75; DTN, 642, 652; GC, 399). Antes do Meu sofrimento. Vez após vez, Jesus falou aos discípulos sobre Seu sofrimento (ver com. de Mt.16:21; Mt.20:17). Os profetas do AT mencionaram várias vezes o sofrimento do Messias (ver Sl.22; Is.53). Jesus deveria trilhar o caminho do sofrimento até a cruz, a fim de Se tornar para ser o “Autor” de nossa salvação (ver Hb.2:10). Sem a cruz, não poderia haver coroa (ver 1Pe.1:11). É nosso privilégio, como seguidores do humilde Jesus, participar de Seus sofrimentos (ver 2Co.1:7; Fp.3:10; 1Pe.4:13; DTN, 225). |
Lc.22:16 | 16. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus. Nunca mais. Esta era a última Páscoa da qual os seguidores de Jesus poderiam participar segundo o antigo modelo. O rasgo no véu do templo na hora da morte de Cristo na cruz (ver com. de Mt.27:51) foi o sinal do Céu de que os símbolos do sistema religioso judaico se cumpriram quando o Messias, para quem todos eles apontavam (ver Cl.2:17), deu a vida em resgate por muitos. Jesus estava prestes a substituir os símbolos pela realidade viva de Seu próprio corpo e sangue derramado (ver Lc.22:19-20; DTN, 652). Nunca mais a comerei. Ou seja, a refeição pascal (ver v. Lc.22:15). Até que ela se cumpra. A celebração final e completa do livramento do pecado acontecerá no reino de glória, sobre o qual Jesus já havia falado aos discípulos (ver com. de Mt.25:31). Esta declaração de Cristo consiste numa provável referência às “bodas do Cordeiro” (ver Ap.19:17-19), festa em comemoração ao fato de que “reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (ver Ap.19:1-6; sobre uma festa religiosa solene como símbolo da felicidade dos salvos no reino eterno, ver com. de Lc.14:15-16). Reino de Deus. Ver com. de Mt.25:31. |
Lc.22:17 | 17. E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós Reparti. Isto é, beber do mesmo copo, passando-o de um para o outro. |
Lc.22:18 | 18. pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:19 | 19. E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Tomando um pão. [A Ceia do Senhor, Lc.22:19-23 = Mt.26:26-30 = Mc.14:22-26 = 1Co.11:23-25. Comentário principal: Mt]. |
Lc.22:20 | 20. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. Semelhantemente. Isto se refere ao ato de pegar, agradecer e distribuir o vinho. |
Lc.22:21 | 21. Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa. A mão. Lucas relata a narrativa da Ceia do Senhor antes da identificação de Judas como o traidor, ao passo que Mateus e Marcos invertem a ordem (ver Mt.26:21-25; Mc.14:18-21). O relato de Lucas é o que se encontra em ordem cronológica (ver com. de Mt.26:21). Do traidor. Literalmente, “aquele que está traindo”. Judas já havia se encontrado com os líderes judeus e concordado em trair Jesus (ver com. de Mt.26:14-15). A traição já estava em processo. Comigo à mesa. Todos os discípulos estavam “à mesa”. Esta declaração não identifica Judas como o traidor, apenas afirma que ele era um dos que se encontravam reclinados à mesa. |
Lc.22:22 | 22. Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído! Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:23 | 23. Então, começaram a indagar entre si quem seria, dentre eles, o que estava para fazer isto. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:24 | 24. Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior. Discussão. [Seja o maior como o menor, Lc.22:24-30. Ver com. de Jo.13:1-20]. Literalmente, “disputa”, deixando subentendido um espírito combativo e a vontade de discutir. Esta propensão à discórdia parece ter se estendido por toda a refeição pascal. O relato de Lucas explica a ocasião que deu origem à ordenança da humildade, registrada por João. Ao se levar em conta os acontecimentos que estavam prestes a sobrevir, é trágico que os discípulos estivessem discutindo sobre posição num reino imaginário que Cristo não viera fundar. Em essência, era o conceito equivocado dos discípulos sobre a natureza do reino de Cristo que, como em ocasiões anteriores (ver Mt.18:1; Mt.20:21; Mc.9:33-35; Lc.9:46-48), havia dado origem à discussão sobre grandeza relativa. Os judeus e, até certo ponto, os discípulos, tiveram falsos conceitos sobre a natureza do reino messiânico, mesmo após a ressurreição (ver com. de Lc.24:19). Judas havia reivindicado para si um lugar de honra à esquerda de Jesus, e João, à Sua direita (DTN, 644). O maior. Ver com. de Mt.18:1-10; Mt.20:25-26. Os discípulos estavam pensando na posição que ocupariam no reino que Cristo estava prestes a fundar na Terra. |
Lc.22:25 | 25. Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Exercem autoridade. Ver com. de Mt.20:25-26. Benfeitores. Literalmente, “fazedores do bem”. |
Lc.22:26 | 26. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. O maior. Ver com. de Mt.20:26. O menor. Na vida doméstica oriental, os irmãos mais novos estão acostumados a dar preferência aos mais velhos. Portanto, em outras palavras, Cristo disse: “que o ‘maior’ assuma uma posição submissa”. Aquele que dirige. Ou, “líder”. |
Lc.22:27 | 27. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve. Quem serve. Jesus aponta para o próprio exemplo altruísta de serviço aos outros. O mesmo espírito que movia Cristo ao ministrar às necessidades físicas e espirituais das pessoas deve motivar a vida de todos que se dizem Seus discípulos. |
Lc.22:28 | 28. Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Permanecido. As palavras transmitem a ideia de lealdade persistente e consistente. A despeito das imperfeições óbvias dos discípulos, de modo geral, eles foram leais em sua devoção a Cristo. Tentações. Ou, “provações” (ver com. de Mt.6:13). |
Lc.22:29 | 29. Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, Eu vo-lo confio. Esta seria a recompensa deles pela lealdade (ver Ap.3:21; Ap.22:12; Lc.12:32; 2Tm.2:12; ver com. de Lc.19:17). |
Lc.22:30 | 30. para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Comais e bebais. Ver com. de Mt.8:11; Lc.14:15; Mt.19:28. E vos assentareis em tronos. Ver com. de Mt.19:28. |
Lc.22:31 | 31. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Simão, Simão. [Pedro é avisado, Lc.22:31-34 = Mt.26:31-35 = Mc.14:27-31 = Jo.13:36-38. Comentário principal: Mt]. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão das palavras “disse também o Senhor” (ARC). A repetição de “Simão” dá ênfase ao que Jesus estava prestes a dizer. Satanás vos reclamou. Ele já tinha Judas (ver Jó.1:12; Jó.2:6). O pronome é plural no texto grego: “vos”. Jesus estava Se dirigindo a Pedro, mas Suas palavras também se destinavam aos demais discípulos. |
Lc.22:32 | 32. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos. Eu, porém, roguei. É confortante saber que o Mestre se interessa de modo profundo por todos individualmente. Pouco depois desta conversa, Jesus ergueu a voz ao Pai em oração. Os discípulos eram o motivo de Sua oração (ver Jo.17:2; Jo.17:9; Jo.17:15; Jo.17:17). Ti. Em contraste com a palavra “vos” (ver com. do v. Lc.22:31), “ti” (singular), enfatiza a natureza pessoal do interesse de Cristo em cada um de Seus seguidores, neste caso, em Pedro de modo particular. Desfaleça. Do gr. ekleipo, “deixar de fora” ou “falhar”, expressando a ideia de fracasso. A palavra “eclipse” da língua portuguesa deriva de ekleipo. Converteres. Do gr. epistrepho, “voltar” ou “retornar”, portanto, “reformar”. Jesus deixa subentendido que Pedro realmente cairia. Mas esse não seria o fim da história, pois ele “voltaria”. A experiência amarga pela qual Pedro estava prestes a passar, em resultado de negar o Senhor, operaria nele uma transformação evidente para os outros discípulos (ver DTN, 713, 812). Fortalece os teus irmãos. A ousadia de Pedro pela verdade testifica do caráter completo de sua conversão e também da força e da coragem que seu ministério proveu aos cristãos de Jerusalém e região (ver At.2:14; At.3:12-15; At.4:8-13; At.5:29-33). |
Lc.22:33 | 33. Ele, porém, respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte. |
Lc.22:34 | 34. Mas Jesus lhe disse: Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante. Pedro. Nesta ocasião, Jesus chama Pedro pelo nome que Ele próprio havia dado ao discípulo (ver com. de Jo.1:42). |
Lc.22:35 | 35. A seguir, Jesus lhes perguntou: Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Nada, disseram eles. Quando vos mandei. [As duas espadas, Lc.22:35-38]. Cristo lembra aos doze quando os enviara de dois em dois às cidades da Galileia (ver com. de Mt.10:1; Mt.10:5; Mt.10:9-10). Faltou-vos [...]? A forma grega da pergunta sugere que Jesus esperava uma resposta negativa. Os discípulos foram recebidos com cordialidade, pelo menos na maior parte das vezes. Na época dessa jornada evangelística, Cristo estava no auge de Sua popularidade na Galileia e as pessoas estavam muito felizes em receber Seus representantes. |
Lc.22:36 | 36. Então, lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma. Agora, porém. A situação havia mudado. O período de popularidade na Galileia terminara um ano antes (ver com. de Jo.6:66). Portanto, ao proclamar o evangelho, os discípulos enfrentariam suspeitas e inimizade. Eles não deveriam esperar a hospitalidade generosa que tinham desfrutado no passado. A perseguição lhes sobreviria com frequência (ver com. de Mt.10:16-28; Jo.16:33). Espada. Do gr. machaira, que costuma significar uma pequena espada romana (ver com. de Lc.2:35). Além de seu sentido costumeiro, machaira é usado na LXX para traduzir o termo heb. maakeleth, “faca de açougueiro”, da palavra maakal, “comida”. Talvez o sentido pretendido seja o último, “faca de açougueiro”. Capa. Do gr. himation, o “manto” ou vestimenta externa (ver com. de Mt.5:40). Compre uma. Muitas vezes, a linguagem figurada que Jesus usou nesta passagem é incompreendida. À medida que os discípulos seguissem pelo mundo hostil, eles se encontrariam em circunstâncias nas quais, do ponto de vista humano, seria necessário pegar em armas. Mas o relato inteiro do livro de Atos não registra nenhum episódio dos apóstolos usando ou mesmo portando uma arma. Pode-se ter a certeza de que, se essa fosse a intenção de Cristo, eles o teriam feito. Uma ou duas horas depois, na mesma noite, quando Pedro tentou usar uma “espada” (ver com. de Mt.26:51-53), Jesus o repreendeu e deixou claro que o cristão, assim como seu Mestre, não deve recorrer à violência armada para se proteger. O crente não deve rebater força com força (ver com. de Mt.5:39). Não se defende o evangelho da vida eterna matando as pessoas pelas quais Cristo morreu. A evidência suprema do amor cristão é a disposição de morrer pelos outros (ver Jo.15:13). O desejo ou a intenção de tirar a vida daqueles que discordam de nós é uma demonstração do espírito de Satanás, que “foi homicida desde o princípio” (Jo.8:44). A perseguição sempre é obra do diabo, realizada por pessoas que se entregam a seu controle. A única arma que o cristão tem liberdade de usar em defesa da fé é a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef.6:17; Hb.4:12; ver com. de Mt.26:52). Portanto, considerando os ensinos do próprio Cristo e o registro dos métodos apostólicos do NT para o avanço do evangelho, conclui-se que Jesus fala de maneira figurada ao advertir os discípulos quanto à perseguição que eles e os conversos sofreriam, não do uso literal de armas de espécie alguma. |
Lc.22:37 | 37. Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores. Porque o que a mim se refere está sendo cumprido. Malfeitores. Do gr. anomoi, “transgressores”, literalmente, “os sem lei”, (ver Is.53:12, passagem citada por Jesus). |
Lc.22:38 | 38. Então, lhe disseram: Senhor, eis aqui duas espadas! Respondeu-lhes: Basta! Eis aqui duas espadas. Os discípulos não compreenderam Jesus e interpretaram literalmente o que Ele acabara de dizer acerca de providenciar espadas. A repreensão a Pedro, cerca de uma hora mais tarde (ver com. de Mt.26:51-52), é uma evidência de que Cristo não tinha a intenção de que Suas palavras fossem compreendidas de maneira literal. Basta! Não fica claro se Jesus está Se referindo às duas espadas para as quais Pedro havia acabado de chamar a atenção, ou à discussão como um todo. É provável que Cristo estivesse mudando de assunto, uma vez que não era hora de argumentar sobre este ponto específico. Havia questões mais importantes a abordar. Talvez Jesus quisesse dizer: “Basta desta [discussão]”. |
Lc.22:39 | 39. E, saindo, foi, como de costume, para o monte das Oliveiras; e os discípulos o acompanharam. Como de costume. [Jesus no Getsêmani, Lc.22:39-46 = Mt.26:36-46 = Mc.14:32-42. Comentário principal: Mt]. Literalmente, “segundo o costume [dEle]”. |
Lc.22:40 | 40. Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação. |
Lc.22:41 | 41. Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, Um tiro de pedra. Ou, “um arremesso de pedra”. Somente Lucas registra este detalhe. |
Lc.22:42 | 42. dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:43 | 43. [Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. Um anjo. Foi Gabriel que ministrou pessoalmente a Cristo várias vezes (ver com. de Lc.1:19; comparar com a experiência de Jesus na tentação no deserto, no com. de Mt.4:11). Que O confortava. Depois da terceira sessão de orações e após tomar a grande decisão de seguir o caminho da cruz até o fim, Jesus “cai moribundo no solo do qual Se erguera parcialmente”, pois “provara os sofrimentos da morte por todos os homens” (DTN, 693, 694). O poderoso anjo vem para Lhe dar forças para as horas de sofrimento até a cruz. Depois de ser fortalecido, Ele “saiu calmo e sereno”, sem “nenhum vestígio de Sua recente agonia” (DTN, 694). Foi assim que Jesus Se encontrou com a turba que fora prendê-Lo. |
Lc.22:44 | 44. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.] Agonia. Sobre a natureza desta agonia, ver com. de Mt.26:38. Gotas. Do gr. thromboi, “gotas grossas” ou “coágulos”. Há referências a exemplos históricos de pessoas cujos poros transpiraram suor com sangue (ver com. de Lc.22:44, em International Critical Commentary). Embora importantes evidências textuais possam ser citadas (cf. p. 136) para a omissão dos v. 43 e 44, o peso das evidências favorece sua permanência. |
Lc.22:45 | 45. Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos, e os achou dormindo de tristeza, Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:46 | 46. e disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:47 | 47. Falava ele ainda, quando chegou uma multidão; e um dos doze, o chamado Judas, que vinha à frente deles, aproximou-se de Jesus para o beijar. Falava Ele ainda. [Jesus é preso, Lc.22:47-53 = Mt.26:47-56 = Mc.14:43-50 = Jo.18:1-11]. |
Lc.22:48 | 48. Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem? |
Lc.22:49 | 49. Os que estavam ao redor dele, vendo o que ia suceder, perguntaram: Senhor, feriremos à espada? Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:50 | 50. Um deles feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha direita. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:51 | 51. Mas Jesus acudiu, dizendo: Deixai, basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou. Deixai, basta. Lucas não diz se Jesus dirigiu estas palavras aos discípulos, instruindo-os a deixar que as coisas seguissem seu rumo, ou ordenando-os a parar de agir com força e violência (ver v. Lc.22:50), ou se falava aos que chegaram para prendê-Lo, a fim de permitirem a cura da orelha de Malco. De acordo com Ellen G. White (DTN, 696), Cristo Se dirigiu aos soldados romanos, que O estavam segurando com força. Tocando-lhe a orelha. Esta foi a segunda evidência de divindade dada aos que chegaram para prender Jesus. A primeira foi a aparência de glória angelical (ver com. de Jo.18:6). Caso o ato precipitado de Pedro não fosse remediado na hora, poderia ser apresentado ao Sinédrio e a Pilatos como evidência de que Cristo e Seus discípulos eram homens perigosos, uma ameaça à nação. Da forma que aconteceu, porém, as autoridades não mencionaram o incidente, pois precisariam admitir a realização do milagre da cura. |
Lc.22:52 | 52. Então, dirigindo-se Jesus aos principais sacerdotes, capitães do templo e anciãos que vieram prendê-lo, disse: Saístes com espadas e porretes como para deter um salteador? Capitães. Ver com. do v. Lc.22:4. |
Lc.22:53 | 53. Diariamente, estando eu convosco no templo, não pusestes as mãos sobre mim. Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas. A vossa hora. Isto é, a “hora” em que eles teriam permissão de fazer o que quisessem com Jesus. Para homens e anjos maus, parecia que naquele momento, afinal, Cristo estava em suas mãos. Trevas. Era noite, momento apropriado para os desígnios sinistros, hora adequada para os inimigos realizarem sua obra. Mas a escuridão espiritual que cercava o coração daqueles homens era maior do que as trevas da noite. Desimpedidos, os perversos realizaram a vontade de demônios e deram rédeas ao ódio dentro de seu coração. |
Lc.22:54 | 54. Então, prendendo-o, o levaram e o introduziram na casa do sumo sacerdote. Pedro seguia de longe. Então, prendendo-O. [Pedro nega a Jesus, Lc.22:54-62 = Mt.26:69-75 = Mc.14:66-72 = Jo.18:15-18; Jo.18:25-27. Comentário principal: Mt]. Deve-se observar que Lucas narra o julgamento e a negação de Pedro em ordem cronológica precisa (cf. p. 180). |
Lc.22:55 | 55. E, quando acenderam fogo no meio do pátio e juntos se assentaram, Pedro tomou lugar entre eles. Pátio. Do gr. aule, “átrio” (ver com. de Mt.26:58). |
Lc.22:56 | 56. Entrementes, uma criada, vendo-o assentado perto do fogo, fitando-o, disse: Este também estava com ele. Perto do fogo. Literalmente, “na direção da luz”, isto é, a luz da fogueira (ver DTN, 710). |
Lc.22:57 | 57. Mas Pedro negava, dizendo: Mulher, não o conheço. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:58 | 58. Pouco depois, vendo-o outro, disse: Também tu és dos tais. Pedro, porém, protestava: Homem, não sou. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:59 | 59. E, tendo passado cerca de uma hora, outro afirmava, dizendo: Também este, verdadeiramente, estava com ele, porque também é galileu. Afirmava, dizendo. Ou seja, continuava afirmando ou insistindo com veemência. |
Lc.22:60 | 60. Mas Pedro insistia: Homem, não compreendo o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:61 | 61. Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Voltando-Se o Senhor. Somente Lucas registra este incidente tocante. |
Lc.22:62 | 62. Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente. Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:63 | 63. Os que detinham Jesus zombavam dele, davam-lhe pancadas e, Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:64 | 64. vendando-lhe os olhos, diziam: Profetiza-nos: quem é que te bateu? Sem comentário para este versículo. |
Lc.22:65 | 65. E muitas outras coisas diziam contra ele, blasfemando. Muitas outras coisas. Os acontecimentos mencionados apenas ilustram as muitas outras coisas que Jesus sofreu nas mãos das autoridades e da multidão (ver com. de Jo.21:25). |
Lc.22:66 | 66. Logo que amanheceu, reuniu-se a assembléia dos anciãos do povo, tanto os principais sacerdotes como os escribas, e o conduziram ao Sinédrio, onde lhe disseram: Logo que amanheceu. [Jesus perante o Sinédrio, Lc.22:66-71 = Mt.26:57-68 = Mc.14:53-65. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 222; gráfico, p. 230]. O julgamento noturno por membros selecionados do Sinédrio (ver com. de Mt.26:57-75), realizado na casa do sumo sacerdote, não foi uma sessão oficial, apesar da escuta do testemunho e do anúncio de um veredito. Era necessária uma convocação formal do Sinédrio assim que o sol nascesse, por volta das cinco e meia da manhã, naquela época do ano na latitude de Jerusalém. Por isso, os atos essenciais do julgamento noturno precisavam ser repetidos. Portanto, o julgamento diurno se parece, em suas partes principais, com o noturno. O fato de a sessão noturna também ser uma reunião do Sinédrio é sugerida pela declaração de que “assim que se fez dia, o Sinédrio tornou a reunir-se” (DTN, 714). Os principais sacerdotes. Ver com. de Mt.2:4; Mt.26:3. Escribas. Ver p. 43. E O conduziram. Do quarto da guarda, no palácio do sumo sacerdote, até a sala do conselho do Sinédrio. Sinédrio. Do gr. sunedrion, literalmente, “sentar juntos”, ou seja, “assembléia”. Num sentido especial, “o” sunedrion se referia ao Sinédrio. Sem dúvida, o termo é usado aqui no sentido técnico, em alusão ao grande Sinédrio de Jerusalém (ver p. 54). |
Lc.22:67 | 67. Se tu és o Cristo, dize-nos. Então, Jesus lhes respondeu: Se vo-lo disser, não o acreditareis Se Tu és o Cristo. O julgamento noturno já havia considerado a resposta dada por Cristo a esta pergunta como motivo suficiente para condená-Lo à morte (ver com. de Mt.26:63-66). A questão foi repetida para todos ouvirem. Muitos membros do Sinédrio presentes nesta ocasião não estiveram no julgamento noturno (ver DTN, 714). Nicodemos e José de Arimateia não foram convocados (DTN, 539, 699). Se vo-lo disser. Jesus já havia dito uma vez, uma hora ou mais antes (ver com. de Mt.26:64). |
Lc.22:68 | 68. também, se vos perguntar, de nenhum modo me respondereis. Também, se vos perguntar. Isto é, discutir a questão de maneira razoável, esclarecer os fatos. Eles não estavam interessados nos fatos e se recusariam a examinar as evidências. Jesus havia apresentado as evidências de que era o Messias, provavelmente no mesmo local, dois anos antes (ver com. de Jo.5:17-47, em especial os v. Jo.5:31-39). De nenhum modo. Eles estavam determinados a não liberar Jesus, por mais convincentes que fossem as evidências a Seu favor (ver com. de Mt.26:59). |
Lc.22:69 | 69. Desde agora, estará sentado o Filho do Homem à direita do Todo-Poderoso Deus. Desde agora. Isto é, até Sua segunda vinda (ver Ap.1:7). Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51. Direita. Ver com. de Mt.26:64. |
Lc.22:70 | 70. Então, disseram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? E ele lhes respondeu: Vós dizeis que eu sou. Vós dizeis que Eu sou. Jesus reconhece a verdade da declaração de Seus inimigos. Esta era apenas uma forma de dizer sim (ver Mc.14:62; Mt.26:64). O “Filho do Homem” é “o Cristo” (Lc.22:67; ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10). |
Lc.22:71 | 71. Clamaram, pois: Que necessidade mais temos de testemunho? Porque nós mesmos o ouvimos da sua própria boca. Que necessidade mais temos[...]? Ver com. de Mt.26:65-66. Esta foi a terceira condenação de Jesus nas mãos dos líderes judeus e a terceira cena de forte agressão e zombaria subsequentes (DTN, 714). Se não fosse pela presença repressora dos soldados romanos, sem dúvida, Jesus teria sido assassinado pela turba ali mesmo na presença do Sinédrio. Se Cristo não fosse quem afirmava ser, os líderes judeus estariam absolutamente corretos. Mas como Jesus de fato era o que dizia ser, eles se encontravam irremediavelmente enganados. |
Lc.23:1 | 1. Levantando-se toda a assembléia, levaram Jesus a Pilatos. Levaram Jesus a Pilatos. [Jesus perante Pilatos, Lc.23:1-7 = Mt.27:1-2; Mt.27:11-14; Mc.15:1-5 = Jo.18:28-40. Comentário principal: Lc e Jo. Ver mapa, p. 222; gráficos 9, 11, p. 230, 231]. |
Lc.23:2 | 2. E ali passaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei. Pervertendo a nossa nação. Lucas lista três das acusações preferidas das autoridades judaicas contra Jesus. Aqui, os líderes O acusaram de ser um agitador revolucionário. Ao longo de Seu ministério, Jesus tomou muito cuidado para evitar qualquer motivo para acusações como esta que então foi proferida contra Ele (ver com. de Mt.14:22; Mt.16:20; Mc.1:45; Mc.6:42; Jo.6:15). Esta acusação falsa estava relacionada aos falsos conceitos messiânicos defendidos pelos líderes judeus (ver com. de Lc.4:19). Vedando pagar tributo. Três dias antes disto, os fariseus haviam feito o máximo para induzir Jesus a fazer a declaração que então alegavam ter sido proferida, mas a tentativa resultou em derrota (ver com. de Mt.22:15-22). Cristo, o Rei. Jesus nunca fizera tal afirmação direta. Sem dúvida, Seus opositores estavam pensando na entrada triunfal em Jerusalém cinco dias antes, um evento que a nação judaica considerou como uma declaração do próprio Cristo de estar assumindo o trono de Davi (ver com. de Mt.21:5; Mt.21:9). |
Lc.23:3 | 3. Então, lhe perguntou Pilatos: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o dizes. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:4 | 4. Disse Pilatos aos principais sacerdotes e às multidões: Não vejo neste homem crime algum. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:5 | 5. Insistiam, porém, cada vez mais, dizendo: Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui. Insistiam, porém, cada vez mais. Ou, “com urgência”. Eles insistiam persistentemente para que Pilatos cedesse às exigências deles. Alvoroça o povo. A declaração era verdadeira, mas não no sentido que os líderes queriam que Pilatos acreditasse ser. Nas semanas anteriores, sobretudo desde a ressurreição de Lázaro, a opinião popular estava se tornando cada vez mais favorável a Jesus. Anteriormente, os próprios líderes e sacerdotes haviam admitido a contragosto uns para os outros: “vai o mundo após Ele” (Jo.12:19). Judeia. É provável que o termo seja usado de maneira inclusiva, abrangendo toda a Palestina israelita (ver com. de Lc.1:5; Lc.7:17). É preciso destacar que Lucas também usa o termo em referência à Judeia em si (ver Lc.2:4; At.1:8; At.8:1). No entanto, ele parece ser o único autor do NT a empregar a palavra em seu sentido mais amplo. Desde a Galileia. Onde Jesus obtivera mais sucesso. Pedro usa quase a mesma expressão em At.10:37 para caracterizar a propagação do evangelho. Até aqui. Talvez os acusadores de Jesus tivessem em mente os eventos dramáticos dos dias anteriores, os quais despertaram o temor de que Cristo estivesse prestes a iniciar um ministério prolongado e ainda mais bem-sucedido na Judeia, do que fora na Galileia. |
Lc.23:6 | 6. Tendo Pilatos ouvido isto, perguntou se aquele homem era galileu. Galileu. [Jesus perante Herodes, Lc.23:8-12. Ver mapa, p. 222; gráficos, 9, 11, p. 230, 231]. Somente Lucas registra este episódio do julgamento de Jesus. A fase mais impressionante e bem-sucedida do ministério de Cristo ocorreu na Galileia. Embora tenha nascido em Belém, Jesus cresceu na Galileia e passou quase a vida inteira ali. |
Lc.23:7 | 7. Ao saber que era da jurisdição de Herodes, estando este, naqueles dias, em Jerusalém, lho remeteu. Jurisdição de Herodes. Ou seja, a Galileia e a Pereia (ver p. 33, 34, 51, 52; ver com. de Lc.3:1). Em Jerusalém. Embora descendesse de idumeus e samaritanos (ver p. 51, 52; gráfico, p. 28), Herodes Antipas alegava professar a fé judaica (ver p. 18, 21) e, sem dúvida, estava em Jerusalém para participar da Páscoa. Isso não quer dizer que ele era um judeu devoto, mas simplesmente que mantinha as aparências religiosas como estratégia política. Em Jerusalém, é provável que Herodes ficasse no palácio dos hasmoneus, cuja localização é incerta (ver mapa, p. 587). Remeteu. Pilatos se deparou com um dilema. Estava plenamente convencido da inocência de Jesus e havia anunciado em público sua conclusão a esse respeito. Sua determinação em libertar Jesus só era menor que a das autoridades judias em crucificá-Lo. Durante o mandato anterior de cerca de cinco anos como procurador da Judeia (que, na época, incluía Samaria), Pilatos havia se tornado muito impopular entre os judeus. Ele temia que, ao desagradá-los ainda mais, pudesse colocar em risco seu cargo. Sabia muito bem como alguns dos líderes judeus eram traiçoeiros. Também sabia que o ódio que tinham de Jesus só se devia à malícia. Portanto, deve ter imaginado estar resolvendo o dilema ao enviar Jesus a Herodes, na expectativa de manter a boa vontade das autoridades judaicas ao mesmo tempo em que escapava da responsabilidade pela morte de alguém obviamente inocente. |
Lc.23:8 | 8. Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. Havia muito queria vê-Lo. [Jesus perante Herodes, Lc.23:8-12]. Herodes vivia em adultério já fazia algum tempo (ver com. de Mt.14:3; Mc.6:17). Havia se passado cerca de um ano desde a morte de João Batista (ver com. de Mc.6:1; Mc.6:29), e sua consciência continuava a perturbá-lo por isso. A princípio, ele temia que Jesus fosse João Batista ressurreto (ver com. de Mc.6:14; Mc.6:16). Havia certo tempo que Herodes desejava uma oportunidade de conversar com Jesus (ver com. de Lc.9:9). Vê-Lo fazer algum sinal. A curiosidade era outro motivo para Herodes desejar um encontro com Cristo. Doentes e aleijados foram levados ao palácio, e Herodes prometeu soltar Jesus como recompensa por curá-los (DTN, 279). Se Cristo o fizesse, seria, em sua opinião, uma evidência inequívoca de que era um profeta genuíno e, portanto, inocente das acusações proferidas pelos judeus. Dessa maneira, Herodes satisfaria sua curiosidade. Ao mesmo tempo, teria motivo suficiente para libertar Jesus, sem dar espaço para qualquer protesto dos líderes judeus. |
Lc.23:9 | 9. E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia. E [...] O interrogava. Como demonstração de favor e da promessa implícita de liberdade, Herodes ordenou que soltassem as cadeias de Jesus (ver DTN, 729) e então começou a questioná-Lo detalhadamente antes de permitir que os líderes judeus apresentassem suas acusações. Nada lhe respondia. Além dos motivos que haviam levado Jesus a permanecer em silêncio perante o Sinédrio e Pilatos (ver com. de Mt.26:63; Mt.27:13), havia o motivo adicional de que Herodes ouvira e rejeitara a mensagem de João Batista. Ele havia recusado a luz da verdade que Deus permitira brilhar em seu caminho. Para uma alma tão endurecida pelo pecado, Jesus não tinha palavras. O silêncio de Cristo foi uma repreensão severa ao orgulhoso monarca. Essa atitude e a recusa em operar um milagre, irou Herodes e o levou a se voltar contra Jesus. |
Lc.23:10 | 10. Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência. Os principais sacerdotes e os escribas. Ver p. 43; ver com. de Mt.2:4. Acusavam com grande veemência. Isto significa que as acusações foram feitas em voz alta e com ira. |
Lc.23:11 | 11. Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. Tratou-O com desprezo. Literalmente, “tratou-O como se fosse um nada”, ou seja, O insultou. Assim como Pilatos, Herodes tinha certeza de que era pura malícia que movia as acusações contra Jesus, mas o silêncio de Cristo o irritou, pois pareceu que sua autoridade estava sendo menosprezada. Um manto aparatoso. É possível que esta fosse uma das vestes externas de Herodes. Devia ter aparência pomposa em comparação com as roupas simples e sem ostentação que Jesus costumava usar. E O devolveu. Sem a intervenção dos soldados romanos, como ocorrera no final do julgamento diurno perante o Sinédrio (ver com. de Lc.22:71), sem dúvida, Jesus teria sido morto pela multidão durante a manifestação enfurecida retratada nesta passagem. Assim como Pilatos, porém, Herodes decidiu se esquivar da responsabilidade e enviou Jesus de volta. |
Lc.23:12 | 12. Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro. Herodes e Pilatos se reconciliaram. Eles resolveram suas diferenças. E provável que a tensão entre Pilatos e Herodes tenha durado vários anos. |
Lc.23:13 | 13. Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, Reunindo. [Jesus outra vez perante Pilatos, Lc.23:13-25 = Mt.27:15-26 = Mc.15:6-15 = Jo.18:39-19:36. Comentário principal: Mt e Jo]. |
Lc.23:14 | 14. disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes de que o acusais. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:15 | 15. Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. É, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de morte. A ele vos remeti (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “no-Lo tornou a enviar” (ARA), que melhor se ajusta ao contexto. |
Lc.23:16 | 16. Portanto, após castigá-lo, soltá-lo-ei. Castigá-Lo. Este foi o primeiro açoitamento que Pilatos ordenou sobre Jesus (sobre o segundo, ver com. de Mt.27:26). Por meio desta concessão, ele esperava evitar a pena de morte, na tentativa de despertar simpatia da multidão em relação a Cristo. Os açoites praticados naquela época com frequência resultavam em morte (ver com. de Mt.10:17). Todavia, em vez de aplacar a turba, esta concessão à ensandecida exigência pela morte de Jesus só serviu para aumentar ainda mais a sede por sangue. Se Pilatos era capaz de açoitar um homem inocente, com certeza, se pressionado um pouco mais, seria convencido acerca de sua morte. |
Lc.23:17 | 17. [E era-lhe forçoso soltar-lhes um detento por ocasião da festa.] Era-lhe forçoso. As evidências textuais se dividem (ver p. 136) entre manter ou omitir o Lc.23:17. Alguns manuscritos o trazem após o Lc.23:19. |
Lc.23:18 | 18. Toda a multidão, porém, gritava: Fora com este! Solta-nos Barrabás! Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:19 | 19. Barrabás estava no cárcere por causa de uma sedição na cidade e também por homicídio. Sedição. Do gr. stasis, literalmente, “posicionamento”; daí também “insurreição”. |
Lc.23:20 | 20. Desejando Pilatos soltar a Jesus, insistiu ainda. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:21 | 21. Eles, porém, mais gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o! Gritavam. Literalmente, “continuaram gritando”, isto é, com Pilatos. |
Lc.23:22 | 22. Então, pela terceira vez, lhes perguntou: Que mal fez este? De fato, nada achei contra ele para condená-lo à morte; portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:23 | 23. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E o seu clamor prevaleceu. Pedindo. Ou, "exigindo”. E os dos principais dos sacerdotes (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras, como o faz a ARA. |
Lc.23:24 | 24. Então, Pilatos decidiu atender-lhes o pedido. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:25 | 25. Soltou aquele que estava encarcerado por causa da sedição e do homicídio, a quem eles pediam; e, quanto a Jesus, entregou-o à vontade deles. Entregou-O. Jesus foi crucificado por sentença de Roma, executada sob supervisão romana (ver Lc.23:36). |
Lc.23:26 | 26. E, como o conduzissem, constrangendo um cireneu, chamado Simão, que vinha do campo, puseram-lhe a cruz sobre os ombros, para que a levasse após Jesus. E, como o conduzissem. [Simão leva a cruz de Jesus, Lc.23:26 = Mt.27:32 = Mc.15:21]. |
Lc.23:27 | 27. Seguia-o numerosa multidão de povo, e também mulheres que batiam no peito e o lamentavam. Numerosa multidão. [Jesus rumo ao Calvário, Lc.23:27-32]. A multidão incluía os discípulos (ver DTN, 743). |
Lc.23:28 | 28. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Voltando-Se para elas. Provavelmente isto seria impossível se Jesus estivesse carregando a cruz no momento. Filhas. Jesus Se dirigiu às mulheres como habitantes de Jerusalém. Não choreis por Mim. Contudo, Cristo não desdenhou da simpatia delas, nem as repreendeu. |
Lc.23:29 | 29. Porque dias virão em que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis, que não geraram, nem amamentaram. Dias virão. Aqui Jesus Se refere ao cerco do ano 70 d.C. (ver DTN, 743; ver com. de Mt.24:15-20). Bem-aventuradas as estéreis. Em geral, os judeus consideravam a esterilidade uma maldição (ver com. de Lc.1:7; Lc.1:25). |
Lc.23:30 | 30. Nesses dias, dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! |
Lc.23:31 | 31. Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco? Verde. Do gr. hugros, “úmido” ou “molhado”; “cheio de seiva” quando se refere a uma árvore. Ao falar de um lenho “verde”, Jesus Se referia a Si mesmo (DTN, 743). Cristo era inocente. Se as coisas que estavam ocorrendo sobrevinham a um inocente, qual então seria o destino dos culpados? Que será [...]? Mais uma vez, Jesus Se refere às calamidades por ocasião da queda de Jerusalém, cerca de 40 anos mais tarde (ver com. do Lc.23:29). No lenho seco. Descrição figurada do estado de Judá que levou à sua rejeição como o povo escolhido de Deus e à dissolução da nação (ver vol. 4, p. 12-25). |
Lc.23:32 | 32. E também eram levados outros dois, que eram malfeitores, para serem executados com ele. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:33 | 33. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda. Quando. [A crucifixão, Lc.23:33-38 = Mt.27:33-44 = Mc.15:22-32 = Jo.19:17-27. Principal comentário: Mt e Jo]. |
Lc.23:34 | 34. Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes. Pai, perdoa-lhes. Jesus Se refere tanto aos romanos quanto aos judeus, que desempenharam papéis cruciais em Sua condenação e crucifixão (ver DTN, 744). A oração de Cristo não removeria, por si só, a culpa dessas pessoas (ver DTN, 744). Num sentido mais amplo, esta prece inclui todos os pecados até o tempo do fim, pois todos são culpados pelo sangue de Jesus (ver DTN, 745). Esta é a primeira das sete declarações de Cristo na cruz, às vezes chamadas de sete palavras. Nenhum dos evangelhos menciona mais do que três, nem menos de uma. Organizadas de maneira cronológica, as declarações ficam assim: 1) “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc.23:34); 2) “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc.23:43); 3) “Mulher, eis aí teu filho [...] Eis aí tua mãe” (ver com. de Jo.19:26); 4) “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt.27:46; Mc.15:34); 5) “Tenho sede!” (Jo.19:28); 6) “Está consumado!” (Jo.19:30); e 7) “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!” (ver com. de Lc.23:46). Não sabem. Embora evidências textuais (cf. p. 136) apoiem a omissão da oração de Jesus neste versículo, o peso das evidências favorece que sejam mantidas. Os líderes judeus haviam tomado uma decisão deliberada contra Cristo, muito embora toda a luz da verdade que Jesus viera revelar-lhes estivesse disponível. No entanto, até certo ponto, nem eles entendiam por completo aquilo que estavam fazendo. Não compreendiam seu ato dentro do contexto do grande conflito entre Deus e Satanás (ver DTN, 744). O povo comum, de modo geral, pouco sabia sobre o que estava acontecendo. Seus insultos e escárnios eram feitos em ignorância. Seguiam cegamente seus líderes (ver com. de Mt.23:16). Os soldados romanos entendiam menos ainda o que faziam; contudo, mesmo nesta ocasião, a luz penetrou o coração do centurião (ver com. de Mt.27:54). |
Lc.23:35 | 35. O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido. Se. Literalmente, “se este [aí]”, proferido com desprezo (ver com. de Lc.14:30; Lc.15:2). Cristo. Isto é, o Messias, ou o Ungido (ver com. de Mt.1:1). |
Lc.23:36 | 36. Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: Soldados. De acordo com o texto grego, a zombaria dos soldados era menos persistente do que a encabeçada pelos líderes judeus. |
Lc.23:37 | 37. Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:38 | 38. Também sobre ele estava esta epígrafe [em letras gregas, romanas e hebraicas]: ESTE É O REI DOS JUDEUS. Gregas, romanas e hebraicas. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam aqui a omissão das línguas nas quais a inscrição foi gravada (ver com. de Mt.27:37). No entanto, a declaração completa em Jo.19:20 é totalmente comprovada. |
Lc.23:39 | 39. Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Se tu és o Cristo (ARC). [Os dois malfeitores, Lc.23:39-43]. Evidências textuais favorecem (ver p. 136) a tradução “Não és Tu o Cristo?” (ARA). |
Lc.23:40 | 40. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Temes a Deus. Isto é, “perante cujo trono de julgamento tu deverás comparecer”. Igual sentença. Em outras palavras: “Você é igualmente culpado. Quem é você para condenar?” |
Lc.23:41 | 41. Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. Nós, na verdade, com justiça. Este ladrão foi honesto a ponto de admitir com franqueza sua culpa (sobre a concessão da misericórdia divina neste evento, ver com. de Mt.5:3). Nenhum mal fez. Literalmente, “nada fora de lugar”. Este ladrão e, provavelmente, também seu companheiro haviam ouvido Jesus falar, estiveram com Ele na sala de julgamento diante de Pilatos e juntos se encaminharam para o local de execução (ver DTN, 749). Depois de ter visto e ouvido grande parte do que ocorrera nas últimas horas, o ladrão que falava estava plenamente convencido de que Jesus era tudo o que afirmava ser. E o mesmo sucedia com o centurião que supervisionava a execução (ver com. de Mt.27:54). |
Lc.23:42 | 42. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Quando vieres. Literalmente, “sempre que vieres” ou “sempre que puderes vir”. O ladrão arrependido aceitou Jesus como Messias e Salvador, aquele que deveria reinar sobre o trono de Davi e restaurar todas as coisas (ver com. de Mt.1:1; Lc.19:10). No Teu reino. Literalmente, “em Teu reino”. O conceito do ladrão arrependido a respeito do reino de Cristo provavelmente era o mesmo de seus compatriotas (ver com. de Lc.4:19). Não há indícios de que ele tivesse um conceito mais esclarecido sobre o “reino” do que os discípulos (ver com. de Mt.18:1; Mt.20:21). Não há base para se supor que o ladrão compreendesse plenamente os ensinos de Jesus a este respeito. No entanto, suas palavras sugerem a crença clara na ressurreição dos justos (ver At.24:15). Talvez sua ideia de ressurreição não fosse tão diferente da de Marta (ver com. de Jo.11:24). Mesmo os fariseus criam na ressurreição (At.23:8). Por mais imperfeito que fosse o entendimento do ladrão sobre a natureza do reino de Cristo e da ressurreição, a resposta de Jesus deve ser compreendida com base em Seus próprios ensinos acerca dessas questões (sobre os ensinos dEle acerca do assunto, ver com. de Mt.4:17; Mt.25:31). Jesus deixou claro que Seu “reino não é deste mundo” (Jo.18:36) e que o reino da glória só será estabelecido quando Ele voltar pessoalmente à Terra (ver com. de Mt.24:3). |
Lc.23:43 | 43. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18. Hoje. Do gr. semeron. O texto grego original foi escrito sem pontuação, e o advérbio semeron (“hoje”) fica entre duas orações que dizem, literalmente, “verdadeiramente a ti Eu digo” e “comigo tu estarás no paraíso”. A língua grega permitia que o advérbio ocorresse em qualquer posição na frase que o orador ou escritor desejasse. Levando em conta apenas a construção gramatical grega em questão, não é possível determinar se o advérbio “hoje” modifica “te digo” ou “estarás”. Gramaticalmente, as duas opções são possíveis. A pergunta é: Jesus quis dizer literalmente: “em verdade te digo hoje”, ou: “hoje estarás comigo no paraíso”? A única maneira de saber o que Cristo quis dizer é buscar a posição bíblica acerca de questões como: (1) O que é paraíso? (2) Jesus foi para o paraíso no dia de Sua crucifixão? (3) O que Jesus ensinou sobre quando os seres humanos receberão a recompensa no paraíso? As respostas a essas perguntas estão nos comentários a seguir: Estarás comigo. Na véspera da traição, menos de 24 horas antes de fazer esta promessa ao ladrão, Jesus disse aos doze: “Na casa de Meu Pai há muitas moradas [...] vou preparar-vos lugar [...] voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também” (ver com. de Jo.14:1-3). Além disso, três dias depois, Cristo informou a Maria: “ainda não subi para Meu Pai” (Jo.20:17). Portanto, fica evidente que Jesus não foi ao paraíso e não estava no paraíso no dia da crucifixão. Consequentemente, o ladrão não poderia ir com Cristo ao paraíso naquele dia. Paraíso. Em gr. paradeisos, uma transliteração do persa pairidaeza, que significa “lugar cercado”, “parque” ou “reserva” que contém árvores, ura local onde os animais costumavam ser colocados para a caça. Era cercado por muros e, às vezes, havia torres para os caçadores. A palavra hebraica equivalente, pardes, é traduzida por “matas” ou “pomares” (ver com. de Ne.2:8; Ec.2:5). Na LXX, o “jardim” do Éden é chamado de “paraíso” do Éden (ver com. de Gn.2:8). O termo paradeisos é comum na LXX em passagens em que a palavra heb. gan é traduzida por “jardim” nas versões em português (ver Gn.3:1; Is.51:3; Jl.2:3; etc.; no NT, paradeisos só ocorre em Lc.23:43; 2Co.12:4; Ap.2:7). Em 2Co.12:2-4, “paraíso” é um sinônimo óbvio de “Céu”. O fato de Paulo não se referir a nenhum “paraíso” terreno fica duplamente claro por ele igualar a expressão “arrebatado” ao “Céu” a “arrebatado ao paraíso”. Segundo Ap.2:7, a “árvore da vida [...] se encontra no paraíso de Deus”, ao passo que Ap.21:1-3; Ap.21:10; Ap.22:1-5 associam a árvore da vida à nova terra, à nova Jerusalém, ao rio da vida e ao trono de Deus. Não há dúvidas de que o uso consistente do termo paradeisos no NT o torna sinônimo de “Céu”. Portanto, quando Jesus garantiu ao ladrão um lugar com Ele no “paraíso”, estava Se referindo às “muitas moradas” da casa de Seu Pai e ao momento em que receberia os Seus ali (ver com. de Jo.14:1-3). Ao longo de todo Seu ministério, Cristo foi específico ao declarar que retribuiria "a cada um conforme as suas obras” (ver com. de Mt.16:27). Somente nessa ocasião convidará os salvos da Terra Para entrar “na posse do reino” preparado para eles “desde a fundação do mundo” (ver com. de Mt.25:31; Mt.25:34; Ap.22:21). Paulo ensinou que os que dormem em Jesus sairão da sepultura por ocasião da segunda vinda de Cristo (ver 1Co.15:20-23), a fim de receber a imortalidade (1Co.15:51-55). Os justos ressuscitados e os justos vivos serão arrebatados juntos, “para o encontro do Senhor nos ares” e, então, estarão “para sempre com o Senhor” (1Ts.4:16-17). Portanto, o ladrão estará “com” Jesus no “paraíso” depois da ressurreição dos justos, quando Cristo voltar. É importante destacar que a conjunção “que” entre “te digo” e “hoje” foi acrescentada pelos tradutores, e é interpretativa. O texto original grego, que não tinha pontuação nem divisão de palavras (ver p. 101) diz: amen soi lego semeron met emou ese en to paradeiso, literalmente, “em verdade te digo hoje comigo estarás no paraíso”. O advérbio semeron, “hoje” fica entre os dois verbos, lego, “digo”, e ese “estarás”, e pode se referir a qualquer um dos dois. Sua posição logo após o verbo lego, “digo”, pode sugerir uma relação gramatical mais próxima com ele do que com o verbo ese “estarás”. Obviamente, a inserção da conjunção “que” antes da palavra “hoje”, pelos tradutores, foi guiada pelo conceito extrabíblico de que os mortos recebem a recompensa quando morrem. No entanto, conforme explanado acima, fica evidente que nem Jesus nem os autores do NT acreditavam em tal doutrina. A conjunção “que” antes da palavra “hoje” faria Cristo contradizer aquilo que Ele e vários escritores do NT declararam de forma inequívoca em outras passagens. Assim, a própria Bíblia requer que a conjunção “que” seja colocada depois da palavra “hoje”, não antes dela (ver com. de Jo.4:35-36). Portanto, o que Cristo de fato disse ao ladrão na cruz foi: “Em verdade te digo hoje que estarás comigo no paraíso.” A grande dúvida do ladrão naquele momento não era quando ele chegaria ao paraíso, mas se ele realmente iria para Já. A declaração simples de Jesus lhe garantiu que, por mais que ele não merecesse e por impossível que parecesse, uma vez que ele estava sofrendo a morte de um criminoso, Cristo cumpriria a promessa, e o ladrão certamente estaria no paraíso. De fato, era a presença de Jesus na cruz que tornava possível tal esperança. |
Lc.23:44 | 44. Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. A hora sexta. |A morte de Jesus, Lc.23:44-49 = Mt.27:45-56 = Mc.15:33-41 = Jo.19:28-30]. |
Lc.23:45 | 45. E rasgou-se pelo meio o véu do santuário. Escurecendo-se o sol (ARC). Alguns já fizeram a sugestão de que Lucas se refere, nesta passagem, a um eclipse. Todavia, seria impossível um eclipse solar com a lua cheia, como na época da Páscoa. A escuridão foi sobrenatural. A evidência textual (cf. p. 136) que apoia a variante “eclipsando-se”, em vez de “escurecendo-se” é uma óbvia tentativa posterior de explicar a escuridão. |
Lc.23:46 | 46. Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. Pai. Sobre o uso deste termo por Jesus, ver com. de Mt.6:8. Acerca de Deus como “Pai”, na literatura judaica, ver com. de Jo.5:18. Nas Tuas mãos. Jesus morreu com as palavras do Sl.31:5 nos lábios. A atitude que Ele expressou eleva a um clímax sublime o espírito de humilde submissão à vontade do Pai, exemplificado por meio de Sua vida na Terra. No jardim do Getsêmani, foi o mesmo espírito abnegado que levou às palavras “não seja como Eu quero, e sim como Tu queres” (Mt.26:39; sobre a perfeita submissão de Cristo ao Pai, ver com. de Lc.2:49). Feliz é a pessoa que vive e morre nas “mãos” de Deus! Nosso destino está seguro em Suas mãos. Espírito. Do gr. pneuma (ver com. de Lc.8:55). |
Lc.23:47 | 47. Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:48 | 48. E todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos. Este espetáculo. Ou, “esta visão”. |
Lc.23:49 | 49. Entretanto, todos os conhecidos de Jesus e as mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia permaneceram a contemplar de longe estas coisas. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:50 | 50. E eis que certo homem, chamado José, membro do Sinédrio, homem bom e justo Certo homem. [O sepultamento de Jesus, Lc.23:50-56 = Mt.27:57-61 = Mc.15:42-47 = Jo.19:38-42. Comentário principal: Mt e Mc]. |
Lc.23:51 | 51. (que não tinha concordado com o desígnio e ação dos outros), natural de Arimatéia, cidade dos judeus, e que esperava o reino de Deus, Não tinha concordado. José e Nicodemos não foram convocados para a sessão do Sinédrio em que Jesus foi julgado e condenado por blasfêmia (DTN, 539, 699). A omissão foi deliberada. O voto para condenar Jesus foi unânime (ver com. de Mc.16:64). Caso estes dois homens justos estivessem presentes, certamente teriam levantado a voz em protesto, como haviam feito em ocasiões anteriores (ver DTN, 460, 539, 699, 773; ver com. de Jo.7:50-51). Cidade dos judeus. Nota explicativa que Lucas deve ter acrescentado para informar seus leitores não judeus (ver p. 727, 728). |
Lc.23:52 | 52. tendo procurado a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus, Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:53 | 53. e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado. Ninguém. No grego, há uma tripla negativa, enfatizando que a sepultura nunca fora usada (ver com. de Mt.27:60). |
Lc.23:54 | 54. Era o dia da preparação, e começava o sábado. O dia da preparação. Ou seja, sexta-feira (ver com. de Mc.15:42; Mc.15:46). |
Lc.23:55 | 55. As mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Sem comentário para este versículo. |
Lc.23:56 | 56. Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento. Descansaram, segundo o mandamento. Lucas faz menção específica à sexta-feira, “o dia da preparação” (Lc.23:54), ao dia de sábado (Lc.23:54; Lc.23:56) e ao “primeiro dia da semana” (Lc.24:1). É impossível restar dúvida quanto à sequência desses dias e sua identidade. Cristo foi crucificado na sexta-feira, descansou na sepultura durante o sábado, concluindo a obra da redenção (ver com. de Gn.2:2-3; Ez.20:20), e ressuscitou no dia seguinte, o primeiro da semana (ver com. de Lc.24:1). |
Lc.24:1 | 1. Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado. Mas. [A ressurreição de Jesus, Lc 24:1-12 = Mt.28:1-10 = Mc.16:1-8 = Jo.20:1-10. Comentário principal: Mt e Jo]. Do gr. de, “mas” ou “e”, ligando a primeira frase de Lucas 24 à declaração conclusiva do cap. Lc.23. A conexão fica ainda mais clara nesta alternativa de tradução: “De fato, elas descansaram no sábado, segundo o mandamento, mas no primeiro dia da semana...” O caráter santo que os primeiros cristãos atribuíam ao sábado fica bem evidente. O último ato das mulheres na sexta-feira foi preparar “aromas e bálsamos” (Lc.23:56). Então, deixaram tudo de lado para descansar, “segundo o mandamento” (ver com. de Ex.20:8-11), e só voltaram para suas atividades no início da manhã de domingo. O contraste entre o caráter santo do sábado e o secular do domingo deve ser percebido nesta narrativa do evangelho (sobre as circunstâncias da ressurreição, ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20; ver também com. de Mt.28:1). |
Lc.24:2 | 2. E encontraram a pedra removida do sepulcro Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:3 | 3. mas, ao entrarem, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:4 | 4. Aconteceu que, perplexas a esse respeito, apareceram-lhes dois varões com vestes resplandecentes. Dois varões. Isto é, anjos (ver com. de Mt.28:2), como fica claro em Lc.24:23. Há outros eventos em que anjos apareceram em forma humana (ver At.1:10; At.10:30). |
Lc.24:5 | 5. Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o chão, eles lhes falaram: Por que buscais entre os mortos ao que vive? Baixando os olhos para o chão. Certamente com temor e reverência, reconhecendo que, na realidade, os “varões” eram seres celestiais. |
Lc.24:6 | 6. Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galiléia, Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:7 | 7. quando disse: Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia. |
Lc.24:8 | 8. Então, se lembraram das suas palavras. Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:9 | 9. E, voltando do túmulo, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os mais que com eles estavam. Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:10 | 10. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago; também as demais que estavam com elas confirmaram estas coisas aos apóstolos. Joana. Mencionada apenas por Lucas (ver com. de Lc.8:3). |
Lc.24:11 | 11. Tais palavras lhes pareciam um como delírio, e não acreditaram nelas. Um como delírio. Ou seja, “como loucura”. “Tais palavras” não faziam sentido para os discípulos enlutados. |
Lc.24:12 | 12. Pedro, porém, levantando-se, correu ao sepulcro. E, abaixando-se, nada mais viu, senão os lençóis de linho; e retirou-se para casa, maravilhado do que havia acontecido. Pedro, porém, levantando-se. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão do v. 12. Contudo, o relato semelhante em João (ver Jo.20:3-6) é comprovado. |
Lc.24:13 | 13. Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Naquele mesmo dia. [Os discípulos no caminho de Emaús, Lc 24:13-35 = Mc.16:12-13. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 223; gráfico, p. 230]. Era o fim da tarde do dia da ressurreição (ver com. de Mt.28:11). Dois deles. Posteriormente na narrativa, um dos dois é chamado de Cleopas (ver v. Lc.24:18). Com certeza, eles foram a Jerusalém para a celebração da Páscoa e talvez tenham permanecido na cidade durante a maior parte do primeiro dia da semana, em decorrência dos acontecimentos ligados à crucifixão e, talvez, por causa dos rumores de que Jesus havia ressuscitado. Emaús. É provável que Emaús corresponda à vila de el-Qubeibeh, cerca de 12 km a noroeste de Jerusalém, pela estrada para Lida. Outro lugar identificado como Emaús é a vila de Qaloniyeh, 4,8 km ao sul de el-Qubeibeh. Sessenta estádios. Um “estádio” (do gr. stadion) era equivalente a 185 metros. Portanto, 60 “estádios” era pouco mais de 11 quilômetros. A distância pela estrada era de quase 13 km (ver DTN, 795). |
Lc.24:14 | 14. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. E iam conversando. Do gr. homileo, “associar-se com”; daí, “conversar com”. Estes dois seguidores de Jesus estavam bem informados sobre os acontecimentos em Jerusalém. Sem dúvida, tinham passado a maior parte do dia com outros crentes, ouvindo várias pessoas que deram relatos de eventos ligados à ressurreição (ver com. de Mt.28:1). |
Lc.24:15 | 15. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. O próprio Jesus Se aproximou. Os dois discípulos estavam no início do trajeto para Emaús (ver DTN, 795) quando Jesus os alcançou. Portanto, ficou com eles durante a maior parte da jornada, que devia levar cerca de duas horas. Sem dúvida, presumiram que Cristo era outro peregrino que, assim como eles, fora a Jerusalém para a Páscoa. |
Lc.24:16 | 16. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Os seus olhos. Eles estavam exaustos e tão absortos nos próprios pensamentos sombrios que não observaram a Jesus de perto quando Se uniu a eles. Circunstâncias semelhantes haviam impedido Maria de reconhecer a Cristo assim que O viu, mais cedo no mesmo dia. Em algumas das aparições posteriores à ressurreição, Jesus foi logo reconhecido, em outras não. As palavras de Lucas aqui e no v. Lc.24:31 deixam subentendido, neste caso, uma limitação sobrenatural dos sentidos dos dois discípulos, além das preocupações com as próprias angústias. Impedidos de O reconhecer. Jesus poderia ter Se revelado de imediato, mas, caso o fizesse, os dois discípulos ficariam tão entusiasmados que não conseguiriam apreciar as importantes verdades que Ele estava prestes a transmitir, nem se lembrar bem delas. Era essencial que compreendessem as profecias messiânicas do AT, junto com os acontecimentos históricos e ritos sagrados que apontavam para Cristo. Somente isso poderia lhes prover um alicerce sólido para a fé. Uma suposta fé em Jesus que não se encontre embasada nos ensinos das Escrituras não é capaz de permanecer em pé quando as tempestades aparecem (ver com. de Mt.7:24-27). Cristo dirigiu a atenção daqueles dois homens para o cumprimento do AT nos eventos registrados no NT. |
Lc.24:17 | 17. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Que é isso [...]? Uma pergunta apropriada para se começar uma conversa. O exaltado ânimo dos dois discípulos ao falar sobre os acontecimentos da ressurreição devia despertar a curiosidade dos que passavam. Ides tratando. Eles estavam trocando pensamentos; o diálogo não era unilateral. À medida que caminhais. Segundo esta leitura, favorecida por evidências textuais (cf. p. 136), os dois discípulos ficaram tão surpresos com a aparente ignorância do transeunte acerca dos acontecimentos em Jerusalém que pararam, provavelmente lançando um olhar de descrença ao companheiro de jornada (ver com. do v. Lc.24:18). Entristecidos. Eles estavam entristecidos porque não compreendiam. Muitas vezes tristeza e desapontamento resultam da incompreensão sobre Deus ou outras pessoas. Um entendimento adequado do AT teria dissipado seus pensamentos melancólicos, como aconteceu quando eles entenderam as coisas (ver v. Lc.24:25-27; Lc.24:33; Lc.24:44-46). Eles também esqueceram das instruções diretas que Cristo havia lhes dado antes de morrer (ver v. Lc.24:44). |
Lc.24:18 | 18. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Cleopas. Do gr. Kleopas, uma possível abreviação do nome Kleopatros. Há uma abreviação parecida no nome Antipas (ver com. de Lc.3:1). Há opiniões quanto a este homem ser o mesmo que Clopas (do gr. Klopas; ver com. de Jo.19:25). Ao passo que Klopas costuma ser considerado aramaico (e, com frequência, identificado com Alfeu), Kleopas certamente é um nome grego. No entanto, parece que era comum os judeus adotarem o nome genuinamente grego mais parecido com seu nome hebraico; por exemplo, Simão em lugar de Simeão. Todavia, ter o mesmo nome não prova que as duas pessoas em questão sejam necessariamente as mesmas. O único. Os dois discípulos acharam impossível acreditar que alguém vindo de Jerusalém, de onde Jesus parecia proceder, estivesse tão desinformado. |
Lc.24:19 | 19. Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, Varão profeta. Os dois discípulos começaram a confessar sua fé em Jesus. Embora no passado tivessem acreditado que Ele era o Messias (ver com. do v. Lc.24:21), continuavam a crer que Jesus fora só um “profeta” poderoso. |
Lc.24:20 | 20. e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. As nossas autoridades. Aqueles homens conheciam os fatos e colocaram a culpa nas pessoas corretas. Não culparam o povo comum, que aceitava a Jesus como profeta, nem responsabilizaram as autoridades romanas. A morte de Jesus fora causada pelos líderes da nação judaica (ver Mt.27:2). Entregaram. Ver com. de Mt.27:1-2. |
Lc.24:21 | 21. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. Nós esperávamos. Literalmente, “nós tínhamos a esperança”. Os dois discípulos, então, expressaram suas convicções pessoais. Eles haviam aceitado Jesus como profeta, mas depois passaram a crer que Ele era mais do que um profeta. A convicção era firme, mas a fé de ambos fora abalada porque não tinham entendido o que as Escrituras ensinavam a respeito do Messias. Mostraram estar equivocados em sua crença anterior. No entanto, a seriedade da conversa que se segue revela que eles não haviam abandonado totalmente a esperança, sobretudo após os relatos surpreendentes das discípulas que afirmaram ter visto Jesus (ver v. Lc.24:22-24). Ele. O pronome é enfático. Eles haviam pensado que Jesus era mesmo o Salvador prometido a Israel. Redimir a Israel. Sem dúvida, o conceito daqueles homens sobre o que era a obra de redimir Israel se limitava principalmente à salvação política do jugo de Roma (sobre as falsas esperanças messiânicas dos judeus, ver com. de Lc.4:19). O terceiro dia. Ver p. 245-248. |
Lc.24:22 | 22. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo Algumas mulheres. Ver com. de Mt.28:1. Das que conosco estavam. Literalmente, “das nossas”. Com esta expressão, os dois discípulos provavelmente estavam se referindo a todos que compartilhavam a “esperança” de que Jesus de Nazaré era o Messias prometido. |
Lc.24:23 | 23. e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. Uma visão. Do gr. optasia, “vista” ou “visão”, ou seja, qualquer coisa que se vê. Optasia pode ser um acontecimento natural ou sobrenatural. Não há evidências sobre qual dos dois seja o sentido pretendido pelo interlocutor. Ele vive. Para aqueles homens, a ressurreição era apenas um rumor, eles ainda não estavam convencidos. Os relatos os impressionaram, mas não a ponto de convencê-los. |
Lc.24:24 | 24. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Alguns dos nossos. Uma provável referência à visita apressada de Pedro e João à sepultura (ver Jo.20:2-10; ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20). |
Lc.24:25 | 25. Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Néscios. Literalmente, “não entendedores”, isto é, “tolos”. Eles poderiam conhecer a verdade, caso suas opiniões preconcebidas não lhes houvessem cegado para os ensinos bíblicos. Crer tudo. Toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm.3:16-17) e só se pode entendê-la com base nessa premissa. Cristãos que descartam, negligenciam ou dão interpretações fantasiosas a boa parte do que os profetas do AT escreveram estão, segundo as palavras de Cristo, carecendo de bom senso. |
Lc.24:26 | 26. Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? Não convinha [...]? Ou, “não era necessário?” Os profetas haviam predito o sofrimento do Messias (ver com. do v. Lc.24:27). O próprio Jesus previu repetidas vezes o sofrimento e a morte (ver com. de Lc.18:31). Além disso, Ele disse que o motivo para lhes contar era que o cumprimento de Suas predições formaria a base da fé nos novos crentes, isto é, quando o evento ocorresse, eles creriam (ver com. de Jo.13:19; Jo.14:29). Em vez de causar desapontamento, a morte de Cristo deveria ter sido uma grande confirmação da fé. É estranho observar que, ao mesmo tempo em que a crucifixão destruiu as esperanças dos discípulos de que Jesus era o Messias, deu a José e a Nicodemos provas convincentes dessa mesma grande verdade (ver DTN, 772, 775, 776). |
Lc.24:27 | 27. E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Começando por Moisés. O AT contém muitas passagens às quais Cristo pode ter feito referência (ver com. de Gn.3:15; Ex.12:5; Nm.21:9; Nm.24:17; Dt.18:15; Sl.22:1; Sl.22:8; Sl.22:16; Sl.22:18; Is.7:14; Is.9:6-7; Is.50:6; Is.53; Je.23:5; Mq.5:2; Zc.12:10; Zc.9:9; Zc.13:7; Ml.3:1; Ml.4:2; etc...). Expunha-lhes. Isto é, explicava ou interpretava. Todas as Escrituras. Um dos pontos fundamentais nos ensinos de Cristo era que “todas as Escrituras” do AT apontavam para Sua obra messiânica. Os autores do AT foram guiados para delinear a missão da vida do Messias (ver com. de Mt.1:22). As pessoas mal orientadas que denigrem o AT revelam pouco conhecimento da elevada estima que Cristo atribuía a esses escritos inspirados. Aqueles que estudam o AT e acreditam em sua mensagem, escrita pelas mãos de Moisés e de outros, encontram Cristo ali (ver com. de Jo.5:39; Jo.5:46). O próprio Jesus disse que quem minimiza a importância e o valor do AT não acredita nEle de verdade (ver com. de Jo.5:47). |
Lc.24:28 | 28. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Fez Ele menção. Jesus começou a se afastar daqueles homens e teria ido embora caso não tivessem instado para Ele ficar. Se não fosse pela insistência para que Cristo aceitasse sua hospitalidade, os dois discípulos teriam perdido a bênção que lhes sobreveio. O motivo para insistir que Jesus permanecesse com eles era o desejo profundo de receber mais das instruções preciosas que vinha lhes dando durante as últimas horas. Somente os que têm fome e sede de uma compreensão mais profunda das coisas de Deus podem esperar receber um amplo suprimento da luz celestial (ver com. de Mt.5:6). |
Lc.24:29 | 29. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. Constrangeram. Foi assim com Abraão e os três visitantes celestiais (ver Gn.18:1-8; Hb.13:2). A hospitalidade é fonte de bênçãos. Fica conosco. Ou seja, recebe a hospitalidade de nosso lar (ver DTN, 800). Isto pode sugerir que o companheiro anônimo de Cleopas era um membro de sua família. Já declina. Literalmente, “declinou”, significando que, segundo o calendário judaico, o primeiro dia da semana havia terminado, com o pôr do sol, e um novo dia começara. O sol já havia se posto (por volta das 18h30 naquela época do ano) antes da chegada a Emaús (ver DTN, 800). E entrou. O Rei do universo aceitou graciosamente a hospitalidade daquela humilde casa. |
Lc.24:30 | 30. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu Estavam à mesa. Literalmente, “reclinados à mesa” (ver com. de Mc.2:15). Pão. Um alimento básico e prato principal desta refeição noturna. Abençoou-o e, tendo-o partido. Sobre o costume judaico e a prática de Jesus de partir o pão, ver com. de Mc.6:41. Alguns comentaristas tentam transformar esta refeição numa comemoração da morte do Senhor, mas sem base bíblica. Isso seria uma distorção da simplicidade da narrativa e uma contradição ao contexto. |
Lc.24:31 | 31. então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. Os olhos. Ver com. do v. Lc.24:16. E O reconheceram. Pela forma de Jesus abençoar e partir o pão e pelas marcas dos cravos em Suas mãos (ver v. Lc.24:35; DTN, 800). |
Lc.24:32 | 32. E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Não nos ardia o coração [...]? Uma figura de linguagem (ver Sl.39:3; Je.20:9). A forma da pergunta no grego exige uma resposta afirmativa (ver com. de Lc.6:39). A luz espiritual havia penetrado a escuridão da alma enquanto ouviam com total atenção Jesus explicando as Escrituras. Então perceberam o que acontecera com eles. A melancolia se foi. A presença de Cristo iluminou seu humilde lar, e as verdades gloriosas que Jesus lhes transmitira dissiparam as sombras de dúvida e incerteza que haviam recaído sobre a mente deles. É provável que pensassem consigo que aquele estranho falava como Cristo, caso ainda estivesse vivo no meio deles. A experiência no coração desses dois discípulos é a mesma dos que ouvem com atenção a voz de Deus lhes falando por meio da Bíblia Sagrada. Aqueles que acham as Escrituras do AT confusas e desinteressantes devem se aproximar de Jesus e aprender dEle (ver com. do v. Lc.24:27). Quando Ele [...] nos falava. Provavelmente por cerca de duas horas (ver com. do v. Lc.24:14). |
Lc.24:33 | 33. E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles, Na mesma hora. Sem provar o alimento diante deles (ver DTN, 801), os dois discípulos partiram imediatamente para Jerusalém, a fim de compartilhar sua grande descoberta com os outros. Voltaram para Jerusalém. O sol havia se posto antes de sua chegada a Emaús. Portanto, já era depois de 18h30 (ver com. do v. Lc.24:29). Então, eles partiram para Jerusalém quando já era noite e fizeram a viagem sob a luz da lua. Por mais cansados que estivessem a caminho de casa em Emaús, viram desaparecer toda exaustão e fome. Ao chegar em Jerusalém, pela porta leste, a cidade escura e silenciosa era iluminada pela lua cheia (ver DTN, 802). Reunidos. No cenáculo, onde haviam celebrado a Páscoa juntos (ver com. de Mt.26:18; cf. DTN, 802). Os onze. O termo deve ter sido usado de forma técnica para se referir aos discípulos mais próximos de Cristo, assim como “os doze” era empregado antes da deserção de Judas (ver Lc.8:1; Lc.9:12). Na verdade, apenas dez dos apóstolos estavam presentes, pois Tomé não estava com eles nesta ocasião (ver Jo.20:24). E outros com eles. Outros que faziam parte do grupo de crentes (ver com. do v. Lc.24:22), provavelmente incluindo as mulheres, pelo menos aqueles que haviam ido à sepultura mais cedo e talvez outras pessoas também. |
Lc.24:34 | 34. os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Diziam. Isto é, várias das pessoas já saudaram os dois discípulos com esta notícia. Simão. Dos onze, este era o que mais necessitava de consolo e certeza da comunhão com o Senhor ressurreto (ver com. de Mc.16:7). Sem dúvida, os onze acharam estranho Jesus aparecer às mulheres e não a eles. Com certeza, pensavam: “Se Ele estivesse mesmo vivo, Se revelaria a nós, Seus companheiros mais chegados”? Considerando que Jesus Se uniu aos dois discípulos a caminho de Emaús pouco depois de partirem de Jerusalém (ver DTN, 795) e que, mesmo depois de desaparecer, permaneceu com eles ao longo de todo o caminho de volta à capital (ver DTN, 801), Cristo deve ter aparecido a Pedro antes de Se unir aos dois viajantes. No entanto, pode ser que os dois homens estiveram em contato próximo com os outros crentes durante boa parte do dia (ver com. do v. Lc.24:14). Caso a aparição a Pedro tivesse ocorrido bem antes de sua partida, eles provavelmente já saberiam do fato. |
Lc.24:35 | 35. Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão. Os dois contaram. Do gr. exegeomai, “liderar” ou “narrar”. Mesmo depois que os dois discípulos terminaram de contar seu relato, esta evidência adicional não dissipou toda a dúvida da mente do grupo por completo (ver Mc.16:13; DTN, 802). Na verdade, só quando Jesus realmente comeu com eles toda a descrença se desfez (ver Lc.24:41-43). |
Lc.24:36 | 36. Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco! Jesus apareceu. [Jesus aparece aos discípulos, Lc.24:36-43 = Jo.20:19-23. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 223; gráfico, p. 230]. O Mestre entrou no ambiente de forma invisível, no mesmo momento em que os dois discípulos de Emaús (ver DTN, 802). Ninguém conseguia vê-Lo ainda (ver com. do v. Lc.24:16; cf. o testemunho ocular de João da aparição de Jesus nesta ocasião, em Jo.20:19-23). |
Lc.24:37 | 37. Eles, porém, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um espírito. Surpresos e atemorizados. Os discípulos haviam se isolado no cenáculo por medo dos judeus (ver com. de Jo.20:19). Deviam estar sob alta carga de tensão emocional. Eles foram amigos íntimos dAquele que acabara de ser executado por sedição. Será que não sofreriam o mesmo destino? É provável que temessem ser presos a qualquer momento. Além de tudo isso, os relatos de que Jesus havia ressuscitado devem tê-los deixado tensos e empolgados ao mesmo tempo. No entanto, a despeito de todas essas histórias, eles pareciam despreparados para um encontro pessoal com o Cristo ressurreto. Um espírito. Do gr. pneuma. Neste caso, provavelmente signifique “uma aparição”, do gr. phantasma, como traz pelo menos um manuscrito antigo (ver com. de Mt.14:26, sobre a palavra phantasma). |
Lc.24:38 | 38. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao vosso coração? Sem comentário para este versículo. |
Lc.24:39 | 39. Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. As Minhas mãos. Esta foi uma evidência inegável de que Aquele que estava ali vivo diante deles não era outro senão o Senhor crucificado. Jesus foi paciente com a lentidão dos discípulos em compreender (ver com. do v. Lc.24:35) e lhes deu uma evidência tangível sobre a qual podiam basear sua fé. Foi esta confiança na realidade da ressurreição que deu poder convincente à mensagem que os apóstolos passaram a propagar (ver 1Jo.1:1-2; 1Jo.5:20; Lc.24:48). Os Meus pés. O texto deixa subentendido que os pés de Jesus, assim como as mãos, foram traspassados por cravos. Apalpai-Me. Cristo deu três tipos de evidências sensoriais para convencer os discípulos de que era um ser real e corpóreo mesmo depois de ressuscitado. Pela visão, audição e tato, eles puderam ter certeza de que Jesus era real, não uma aparição ou fruto da imaginação. No corpo ressurreto e glorificado de Jesus, há um exemplo de como seremos na ressurreição (ver 1Co.15:22-23; 1Jo.3:1-2). Um espírito. Do gr. pneuma (ver com. de Lc.8:55). Quando Jesus veio a esta Terra, não Se despojou de Sua natureza divina (ver com. de Jo.1:14). E ao retornar para o Pai, levou consigo a semelhança humana (ver DTN, 832). Ele “ascendeu ao Céu portando uma humanidade santificada. Levou essa humanidade consigo para os átrios celestiais e, ao longo das eras eternas, a revelará, provando ser Aquele que redimiu cada ser humano na cidade de Deus” (Ellen White, RH, 09/03/1905). |
Lc.24:40 | 40. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. Dizendo isto. Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a omissão do v. 40. Contudo, não há dúvidas quanto ao caráter genuíno da declaração básica feita aqui, pois ela aparece de maneira indiscutível em Jo.20:20. As mãos. As mãos perfuradas pelos cravos eram um testemunho silencioso, mas ao mesmo tempo eloquente da veracidade da ressurreição. |
Lc.24:41 | 41. E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? Por não acreditarem eles ainda. A realidade da presença de Cristo parecia boa demais para ser verdade (ver Mc.16:12-13; ver com. de Lc.24:35). Alguma coisa que comer? Jesus deu uma quarta evidência de que era um ser real e corpóreo (ver com. do v. Lc.24:39). |
Lc.24:42 | 42. Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de mel]. Peixe assado. Alimento comum na antiga Palestina (ver com. de Jo.21:9). Vários dos discípulos foram pescadores antes do chamado para seguir Jesus (ver com. de Lc.5:1-11). E um favo de mel. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão destas palavras. |
Lc.24:43 | 43. E ele comeu na presença deles. Comeu. Fez isto para convencer os discípulos de que Ele era um ser físico e corpóreo. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam o acréscimo “e o que sobrou deu a eles”. |
Lc.24:44 | 44. A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. As palavras que Eu vos falei. [Jesus explica as Escrituras, Lc.24:44-49]. Ver Lc.18:31-33. Importava se cumprisse tudo. Ver com. de Mt.1:22; Lc.24:26-27. De Mim. Ver com. de Mt.1:22; Lc.24:26-27; Jo.5:39. Na Lei de Moisés. Os escritos de Moisés, denominados Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. O Pentateuco é chamado em outras passagens de “a Lei” (Mt.7:1-2; Lc.16:16), “lei de Moisés” (At.28:23) e, às vezes, simplesmente de “Moisés” (Lc.16:29; Lc.16:31). Este é o único texto das Escrituras que faz menção específica à divisão do AT em três partes reconhecida pelo próprio povo hebreu (sobre a formação do cânon do AT, ver vol. 1, p. 12-21). Nos Profetas. Os hebreus dividiram esta seção do AT no que chamaram de “profetas anteriores” (Josué, Juízes e os livros de Samuel e Reis) e “profetas posteriores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 profetas menores; ver vol. 1, p. 13). Nos Salmos. Incluem não só o que chamamos de Salmos, mas provavelmente todos os outros livros não pertencentes a “Moisés” nem aos “profetas”. Os livros desta terceira seção costumam ser chamados de “Escritos” (ver vol. 1, p. 13). |
Lc.24:45 | 45. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras Então, lhes abriu. Muitas vezes Jesus quis fazer isto antes, mas sem sucesso (ver com. de Lc.18:34). |
Lc.24:46 | 46. e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia Está escrito. Expressão costumeira do NT para se referir às Escrituras do AT (ver com. de Mt.4:4). Havia de padecer. Ver com. do v. Lc.24:26. No terceiro dia. Ver p. 245-248. |
Lc.24:47 | 47. e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Em Seu nome. Ver com. de Mt.10:18. Arrependimento. Do gr. metanoia, “mudança de opinião” (ver com. de Mt.3:2; Mt.3:8). Remissão. Ou, “perdão”. Todas as nações. Ver com. de Mt.28:19-20. Começando de Jerusalém. Jesus havia começado Sua obra em Jerusalém e na Judeia (ver com. de Mt.4:17). Os discípulos deveriam fazer o mesmo. Lá muitas das maiores evidências da divindade de Cristo foram dadas. O Mestre trabalhou primeiramente na Judeia, a fim de dar uma oportunidade aos líderes da nação para conhecer Seus ensinos e ministério, de aceitá-Lo como Messias e unir seus esforços aos dEle na proclamação do evangelho do reino (ver DTN, 231). Conforme acontecimentos posteriores provariam, muitos dos sacerdotes, e é provável que outros líderes da nação também, aceitaram o evangelho do reino (At.6:7). O sucesso inicial do evangelho em Jerusalém foi extraordinário e animador (ver At.2:41; At.2:47; At.4:4; At.4:22; At.5:14; At.5:16; At.5:28; At.5:42; At.6:1; At.6:7). |
Lc.24:48 | 48. Vós sois testemunhas destas coisas. Vós sois testemunhas. Os discípulos de Cristo passaram vários anos com Ele. Sabiam o que Ele ensinava e como trabalhava. Foram testemunhas oculares da veracidade da ressurreição (ver com. do v. Lc.24:39). Tinham plenas condições de transmitir aos outros o que viram e ouviram (ver 2Pe.1:16-18; 1Jo.1:1-2). Por isso, nunca hesitaram em afirmar que eram “testemunhas” de Cristo (ver At.2:32; At.3:15; At.5:32; At.10:39; At.10:41). Tinham uma história grandiosa a contar e nunca se cansavam de compartilhá-la. Hoje, é privilégio dos crentes no Salvador ressurreto dar testemunho das coisas que viram e ouviram a respeito da salvação em Cristo (ver 2Tm.2:2; 2Co.5:18-20). |
Lc.24:49 | 49. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. A promessa de Meu Pai. Isto é, o Espírito Santo (ver com. de At.1:4; At.1:8). Jesus falou em detalhes sobre esta promessa com os discípulos na noite em que foi traído (ver com. de Jo.14:16-18; Jo.14:26; Jo.16:7-13). Permanecei. Isto é, depois da ascensão de Jesus (ver com. de At.1:4). Os discípulos ainda se encontraram com Jesus na Galileia (ver Mt.28:10), mas, depois, voltaram para Jerusalém, em obediência à ordem dada nesta passagem. Revestidos. Literalmente, “vestidos”. Poder. Do gr. dynamis, “habilidade para realizar”. Este “poder” os capacitaria a ser “testemunhas” eficazes (ver com. do v. Lc.24:48). Sem o poder do Céu, o testemunho dos discípulos não convenceria nem converteria o coração das pessoas. A descida do Espírito Santo, dez dias após a ascensão, comunicou o poder do qual Cristo fala nesta ocasião (ver com. de At.1:8; At.2:1-4) e imediatamente os apóstolos começaram a dar testemunho de Jesus. Esse testemunho, que se tornou forte e eficaz pelo poder do Espírito Santo, resultou na conversão de cerca de 3 mil pessoas em um só dia (ver At.2:41). Sob o poder orientador e convertedor do Espírito, a igreja vivenciou um crescimento fenomenal (ver com. de Lc.24:47). Do Pentecostes em diante, os cristãos foram, literalmente, “revestidos de poder”. |
Lc.24:50 | 50. Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Então, os levou. [A ascensão de Jesus, Lc.24:50-53 = Mc.16:19-20. Comentário principal: Lc. Ver mapa, p. 223; gráfico 10, p. 230]. Com exceção do breve relato de Marcos sobre a ascensão, somente Lucas (aqui e em At.1:8-12) registra este evento, dando os poucos detalhes expostos nas Escrituras. Só ele menciona o momento (ver At.1:3) e o local do acontecimento (ver Lc.24:40; sobre a cronologia da ascensão, ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20). Os discípulos devem ter voltado da Galileia para Jerusalém, onde retornariam ao trabalho (ver com. de Lc.24:49). Betânia. Ficava na encosta oriental do monte das Oliveiras, na elevação à qual Jesus conduziu os discípulos nesta ocasião (ver At.1:12; DTN, 830; ver com. de Mt.21:1). Erguendo as mãos. A postura costumeira para proferir uma bênção e, em geral, para orar (ver com. de Lc.18:13). |
Lc.24:51 | 51. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Abençoava. Uma conclusão apropriada para os anos de comunhão que os discípulos haviam desfrutado com Jesus. Ia-Se retirando deles. Jesus estava em pé próximo aos discípulos, talvez no meio, enquanto eles formavam um círculo a Seu redor. Com os braços estendidos em posição de bênção na direção deles, começou a subir (ver DTN, 830, 831). Sendo elevado para o céu. Jesus ascendeu ao Céu “na forma humana” (DTN, 832; ver com. de Lc.24:39). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta frase. Contudo, não há dúvidas quanto ao fato relatado (ver At.1:9-11). |
Lc.24:52 | 52. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo Adorando-O. Ver com. de Mt.28:17. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras. Voltaram para Jerusalém. Onde permaneceram no mesmo lugar em que haviam celebrado a Ceia com o Mestre (ver At.1:13; DTN, 802). Com alegria e fé iniciaram a tarefa ordenada pelo Senhor (ver com. de Mc.16:20). |
Lc.24:53 | 53. e estavam sempre no templo, louvando a Deus. No templo. O templo era um local de reunião, sobretudo nas horas de oração matutina e vespertina (ver com. de Lc.1:9). Ali os apóstolos tiveram a primeira oportunidade de dar testemunho de sua fé (ver At.2:46; At.3:1; At.5:21; At.5:42). Amém! (ARC) Ver com. de Mt.28:20. |