"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > João |
Jo.1:1 | 1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. No princípio. [A encarnação do Verbo, Jo 1:1-18]. Embora no grego aqui não haja artigo definido, o significado da frase o pressupõe. Se o artigo definido tivesse sido usado, poderia indicar um determinado ponto no tempo, ou um “princípio”. Sem o artigo definido, e pelo contexto dos v. 1 a 3, a frase denota o tempo mais remoto que se possa conceber, antes da criação de “todas as coisas” (v. Jo.1:3), antes de todo e qualquer outro “princípio”, isto é, a eternidade passada. O relato da criação se inicia com palavras hebraicas equivalentes a estas (ver com. de Gn.1:1). Assim como Gn.1 apresenta a natureza da criação e o fato de que o homem foi originalmente formado à imagem de Deus, o prólogo do evangelho de João apresenta a natureza do Criador (v. 1-4) e o meio pelo qual Deus decidiu tornar possível a recriação de Sua imagem no ser humano (v. Jo.1:5-14). Gn.1:1 se refere ao “princípio” deste mundo. Mas o “Verbo” de João 1:1 a 4 é o Criador de todas as coisas e, portanto, antecede o “princípio” de Gn.1:1. Assim, o “princípio” de João 1:1 é anterior ao “princípio” de Gn.1:1. Quando tudo o que teve um princípio começou, o “Verbo” já “era”. Era. Do gr. en, uma forma do verbo eimi, “ser”, que expressa continuidade de existência, isto é, sendo. O Verbo era por toda a eternidade; nunca Se tornou o que era. Mas, no tempo, o Verbo “Se fez [literalmente, “Se tornou”, do gr. egeneto, uma forma do verbo ginomai, “tornar-se”, que expressa ação iniciada e completada em determinado momento] carne” (v. Jo.1:14). Assim, Cristo sempre foi Deus (Jo 1:1; Hb.1:8); mas, em contraste, Se tornou homem (Jo.1:14; Fp.2:7). Tanto pela escolha de palavras quanto por sua forma, João expressa a existência contínua, atemporal e ilimitada de Cristo antes da encarnação. Na eternidade passada não houve um ponto antes do qual poderia ser dito que o Verbo não era. O Filho esteve “com o Pai desde toda a eternidade” (AA, 39). “Nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus” (Ev, 615). Isto deve ser comparado com Ap.22:13, em que Jesus Se proclama “o Princípio e o Fim”. Ele, “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb.13:8). A palavra ginomai, usada no v. Jo.1:14, ocorre também no v. Jo.1:3, com relação à criação de todas as coisas (literalmente, “por ele todas as coisas se tornaram”). Jesus declarou: “Antes que Abraão existisse [gr. ginomai, literalmente, “se tornasse” ou “viesse a existir”], Eu Sou [gr. eimi]” (Jo.8:58). O mesmo contraste ocorre na LXX no Sl.90:2: “Antes que as montanhas viessem a existir [gr. ginomai], de era em era Tu és [gr. eimi] Deus”. A forma verbal en ocorre três vezes em João 1:1, primeiro com respeito à eternidade do Verbo, depois com relação a Seu eterno companheirismo com o Pai e, finalmente, com referência a Sua eterna igualdade de natureza com o Pai. O v. Jo.1:2 reafirma a duração desta condição de existência durante toda a eternidade. Verbo. Do gr. logos, “pronunciamento”, “ditado”, “discurso”, “narrativa”, “relato” ou “tratado”, com ênfase no arranjo sistemático e significativo das ideias assim expressas. João usa o termo aqui como uma designação para Cristo, que veio para revelar o caráter, a mente e a vontade do Pai, assim como uma fala é a expressão das ideias da mente. Na LXX, a palavra logos é comumente usada tanto para expressões criadoras (Sl.33:6; cf. Gn.1:3; Gn.1:6; Gn.1:9) quanto comunicativas (Je.1:4; Ez.1:3; Am.3:1) da mente e da vontade divinas. Sem dúvida, esses usos de logos no AT estavam na mente de João enquanto ele escrevia. Deus havia expressado a vontade e o propósito divino através da criação e da revelação; então (Jo.1:14) Ele o fez através da encarnação, que é Sua suprema e perfeita revelação (ver Ellen White, Material Suplementar sobre o v. 18). Assim, a palavra logos aponta para o tema dominante de João (ver Jo.14:8-10; ver também o “O Verbo era Deus” a seguir e Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). No v. Jo.1:18, João declara sua razão para falar de Cristo como “o Verbo”: Ele veio para revelar o Pai. Como uma designação para Cristo, a palavra logos é usada no NT somente por João, no evangelho (Jo.1), em 1Jo.1:1 e Ap.19:13. O termo identifica a Cristo como a expressão encarnada da vontade do Pai de que todos os seres humanos sejam salvos (ver 1Tm.2:4) como “o pensamento de Deus tornado audível” (DTN, 19). Com Deus. Do gr. pros ton theon. A palavra pros denota íntima associação e companheirismo. Se João quisesse dizer simplesmente que no princípio o Verbo estava próximo de Deus, se poderia esperar que ele usasse a palavra para, “ao lado de”, ou meta, “com” (cf. com. de Jo.6:46). No entanto, João queria expressar mais do que essas palavras podiam transmitir, como quando escreveu: “Temos Advogado junto ao (gr. pros) Pai” (1Jo.2:1), não no sentido de que Jesus está simplesmente na presença do Pai, mas que está intimamente associado ao Pai na obra da salvação. Pros é usado no mesmo sentido em Hb.4:13: “a quem temos de prestar contas”, isto é, “com quem temos negócios a tratar”. A palavra, neste caso, implica íntimo companheirismo pessoal num empreendimento de preocupação e interesse mútuos (comparar com Jo.17:5). O fato de que o Verbo estava “com Deus”, isto é, com o Pai, declara enfaticamente que Ele era/é um ser totalmente distinto do Pai. Como o contexto deixa claro, o Verbo estava associado com Deus num sentido único e exclusivo. O Verbo estava “com Deus” na eternidade passada, mas Se fez “carne” a fim de estar conosco (ver com. do v. Jo.1:14; cf. DTN, 23-26). Ele era Emanuel, “Deus conosco” (ver com. de Mt.1:23). É impossível compreender o significado da encarnação, a não ser a partir do pano de fundo da preexistência de Cristo como Deus e de Sua associação com Deus (ver Ellen White, Material Suplementar sobre Rm.1:20-25). O Verbo era Deus. A ausência, no grego, do artigo definido antes da palavra “Deus” torna impossível traduzir a declaração como “Deus era o Verbo”. Traduzi-la desta forma seria igualar Deus ao Verbo e, assim, limitar a Divindade exclusivamente ao Verbo. Os dois termos, “Verbo” e “Deus”, não são intercambiáveis. Seria tão incorreto dizer que “Deus era o Verbo” quanto dizer que “o amor é Deus” (cf. 1Jo.4:16) ou que “a carne se fez o Verbo” (cf. Jo.1:14). Embora no v. 1 a palavra “Deus” não seja precedida do artigo definido, seu sentido é definido. A declaração não pode ser traduzida como “o Verbo era um Deus”, como se o Verbo fosse um deus entre muitos. No grego, a ausência do artigo muitas vezes enfatiza a qualidade expressa por uma palavra ou inerente a ela. Portanto, João quer dizer que o Verbo participava da essência da Divindade, que Ele era divino no sentido supremo e absoluto. Assim, numa breve declaração, João nega que o Verbo fosse um deus, isto é, um entre muitos, ou o Deus, como se só Ele fosse Deus. No prólogo (v. 1-18), João declara o objetivo que o guiou ao escrever o evangelho: apresentar o homem Jesus como o Deus encarnado (cf. 1Jo.1:1). De incidente em incidente e de discurso em discurso ele persegue fielmente esse objetivo. Na conclusão ele declara que seu propósito ao escrever foi levar outros a crer “que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”, e que, crendo, tenham “vida em Seu nome” (Jo.20:30-31). Na introdução de sua primeira epístola, João novamente se refere às suas experiências pessoais com “o Verbo” (1Jo.1:1-3). Da mesma forma, as palavras de abertura do Apocalipse declaram que o livro é a “revelação de Jesus Cristo” (Ap.1:1; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver também com. de Fp.2:6-8; Cl.2:9). Cristo é eternamente Deus no sentido supremo e absoluto do termo (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; sobre noção de que Jesus foi meramente um grande e bom homem, ver com. de Mt.16:16). As evidências da divindade de Cristo são muitas e irrefutáveis. Podem ser resumidas da seguinte forma: (1) a vida que Ele viveu (Hb.4:15; 1Pe.2:22), (2) as palavras que Ele falou (Jo.7:46; Jo.14:10; Mt.7:29), (3) os milagres que Ele operou (Jo.5:20; Jo.14:11) e (4) as profecias que Ele cumpriu (Lc.24:26-27; Lc.24:44; Jo.5:39; DTN, 799, cf. 406, 407). |
Jo.1:2 | 2. Ele estava no princípio com Deus. Ele estava. Por questão de ênfase, o v. 2 repete os fatos essenciais do v. Jo.1:1. |
Jo.1:3 | 3. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. Todas as coisas. Uma frase filosófica comum que denota todo o universo (ver 1Co.8:6; Cl.1:16; Hb.1:1-2; ver com. de Jo.1:9). Foram feitas. Do gr. ginomai, “se tornaram”, “vieram à existência”, “vieram a existir” (ver com. do v. Jo.1:1). João descreve a criação como um ato acabado. As coisas materiais não são eternas; houve um momento em que “foram feitas”. Por intermédio dEle. João não estava pensando no logos, ou “verbo”, no sentido abstrato e metafísico da filosofia grega. A associação de Cristo com o Pai na obra da criação é apresentada vez após vez no NT (ver Rm.11:36; 1Co.8:6; Cl.1:16-17; Hb.1:1-2; Ap.3:14). João apresenta Cristo como o criador de todas as coisas, como em Jo.1:14 ele O apresenta como o agente da misericórdia e da graça divinas para a restauração ou recriação de todas as coisas. Na eternidade passada, o Verbo não era uma entidade passiva e inativa, mas ativa e intimamente associada com o Pai no desenvolvimento e na administração de “todas as coisas”. Sem Ele. A mesma verdade declarada de forma negativa. De maneira única e exclusiva, o “Verbo” é o Criador. |
Jo.1:4 | 4. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A vida. Do gr. zoe, princípio de vida partilhado por todos os seres vivos, a antítese de morte. João está pensando também na vida espiritual e, mais particularmente, na vida eterna, à qual tem acesso o que recebe a Cristo e nEIe crê (ver v. Jo.1:12). Por causa do pecado, o ser humano se separou da fonte da vida e, portanto, se tornou sujeito à morte, mas a oportunidade de vida eterna foi restaurada por meio de Jesus Cristo (Rm.5:12; Rm.5:18; Rm.6:23) e, com ela, tudo o mais que Adão perdeu por causa da transgressão (ver Jo.10:10; Jo.11:25; Jo.14:6). “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530). A luz dos homens. No grego, o artigo definido precede tanto “vida” quanto “luz”, o que torna ambas equivalentes. Havia tempo que as trevas espirituais envolviam os seres humanos, mas a “verdadeira Luz” (v. Jo.1:9) da vida e da perfeição divinas então brilhou para iluminar o caminho de todos (cf. Is.9:1-2). Não só a luz do Céu brilha por meio de Cristo, mas Ele é essa luz (Jo.1:9). João cita essa afirmação de Cristo vez após vez (ver Jo.8:12; Jo.9:5; Jo.12:35; Jo.12:46; 1Jo.1:5-6; 1Jo.2:8). A luz é símbolo da presença divina (ver com. de Gn.3:24). Como primeiro ato da criação, Deus inundou o mundo de luz (Gn.1:3). Da mesma forma, ao iniciar a obra de recriação de Sua imagem na humanidade, Deus primeiramente ilumina o coração e a mente com a luz do amor divino (2Co.4:6). “Pois em Ti”, diz o salmista, “está o manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz” (Sl.36:9). |
Jo.1:5 | 5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. A luz. Isto é, a luz do amor divino manifestada no Verbo encarnado (ver com. do v. Jo.1:4). Trevas. Isto é, as trevas morais do pecado, as trevas mentais da ignorância com respeito ao amor, à misericórdia de Deus e à perspectiva inevitável da morte (ver Ef.2:12). Foi para dispersar essas trevas que a Luz da vida veio ao mundo (ver 2Co.4:6). Não prevaleceram. Do gr. katalambano, “apreender”, “agarrar”, “compreender”, quer seja de forma literal, com as mãos, ou de forma figurativa, com a mente. Katalambano é usado no sentido de “reconhecer” ou “compreender” (At.10:34; At.25:25; Ef.3:18) porém, com mais frequência, no sentido de “apanhar” (Mc.9:18; Jo.8:3-4; Jo.12:35; 1Ts.5:4). O verbo “apreender” reflete ambas as nuanças. A tradução “prevalecer” transmite a ideia de o bem triunfar sobre o mal (cf. Ef.6:12; Cl.2:15). Essa tradução foi possivelmente influenciada pelo conceito atual de que o evangelho de João reflete o dualismo do mitraísmo e dos essênios (ver p. 42, 79, 80). Contudo, o desenvolvimento da ideia em Jo.1:9-12 favorece a tradução “compreenderam” (ARC), no sentido de que as trevas humanas personificadas não compreenderam nem apreciaram a Luz da vida (Jo.3:19; cf. DTN, 80). |
Jo.1:6 | 6. Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Enviado por Deus. Literalmente, “de Deus” (ARC). O evangelista afirma a origem divina do testemunho do Batista com respeito ao Messias (ver com. de Jo.1:23; Am.7:14-15; Jo.4:34). João. Isto é, João Batista. João o evangelista nunca se refere a si mesmo pelo nome (ver com. de Mt.3:1-12; Lc.3:1-18; sobre o significado do nome, ver com. de Lc.1:13). |
Jo.1:7 | 7. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Testificasse. Em sua condição de cegueira espiritual, os seres humanos em geral ignoraram a luz e não foram receptivos a ela (v. Jo.1:10; Jo.1:26). Porém, a percepção espiritual de João o levou a reconhecer o Messias (v. Jo.1:32-34; ver Is.6:9; 2Co.4:4; Ap.3:17-18). Luz. Do gr. phos, uma fonte de luz. Como o contexto deixa evidente, aqui é dito que Cristo é a luz, da mesma forma que o v. Jo.1:4 diz que Ele é o portador da luz (ver com. dos v. Jo.1:4-5). Crer. Esta palavra ocorre no evangelho de João mais de 100 vezes, enfatizando a importância vital de uma resposta positiva à revelação de Deus. |
Jo.1:8 | 8. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, Ele não era a Luz. Ver com. do v. Jo.1:20. |
Jo.1:9 | 9. a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. A verdadeira Luz. Qualquer outra coisa que se denomine “luz”, mas que não se origine em Jesus Cristo, é falsa (cf. Is.50:11; Tg.1:17). Contudo, é provável que João não use aqui a palavra “verdadeira” como o oposto de “falsa”, querendo dizer que todas as outras luzes eram falsas e enganosas, pois Cristo, mais tarde, falou de João Batista como “a lâmpada [do gr. luchnos, em contraste com phos, a luz em si; ver com. do v. Jo.1:7] que ardia e iluminava” (Jo.5:35). Mas o evangelista nega (Jo.1:8) que João Batista fosse aquela “Luz” da qual ele está falando aqui. A diferença entre João Batista e Jesus não era a diferença entre o falso e o verdadeiro, mas entre o que é parcial e o que é pleno (ver 1Co.13:10). O testemunho de João poderia ser comparado ao brilho do planeta Vênus, ou ao de Sírius (ver com. de Is.14:12), mas em Jesus a luz da verdade brilhava como a luz do Sol ao meio-dia (ver com. de Ml.4:2; 2Pe.1:19). João também apresenta Jesus como o “verdadeiro pão” (Jo.6:32), a “videira verdadeira” (Jo.15:1), a verdadeira “porta” (Jo.10:7-9), e como a própria verdade (Jo.14:6). Vinda. No grego esta frase pode se referir a “todo homem” (ARC) ou à “verdadeira Luz” (ARA, NTLH, NVI). Em Jo.3:19, menciona-se novamente que a luz veio ao mundo. Jesus Se refere à Sua própria vinda (Jo.5:43; Jo.7:28; Jo.10:10; Jo.16:28; Jo.18:37; Jo.1:31; Jo.6:14; Jo.11:27), não como um bebê em Belém, mas em Seu papel como o Messias. Em Jo.12:46, Jesus diz: “Eu vim como luz para o mundo.” Em Jo.1:10, se declara que Cristo, “a verdadeira Luz”, estava no mundo. Não seria apropriado que se mencionasse Sua vinda ao mundo no versículo anterior? Alguns sugeriram que, se a frase “que vem ao mundo”, se referisse a “todo homem”, ela seria redundante, ao passo que, caso se referisse à “verdadeira Luz”, acrescentaria significado à declaração e prepararia o caminho para a referência à encarnação no v. Jo.1:14. Contudo, ambas as interpretações são gramaticalmente válidas. Mundo. Do gr. kosmos, geralmente, o “mundo” do ponto de vista de seu arranjo harmônico (ver com. de Mt.4:8). João usa kosmos cerca de 80 vezes, em comparação com as 15 vezes somente que a palavra ocorre nos três sinóticos, e ele a aplica ao mundo dos homens, especialmente daqueles que se opõem a Deus e à verdade. Ilumina a todo homem. Isto não significa que todas as pessoas são necessariamente iluminadas pela luz, mas que, se chegarem a receber alguma iluminação, será por meio desta luz (cf. Jo.6:68; At.4:12). Toda a luz que os seres humanos têm vem de Cristo (DTN, 464, 465). A luz verdadeira brilha sobre todos no mesmo sentido em que Jesus morreu por todos, mas isso não significa que todos têm conhecimento sobre Ele ou que serão salvos. João se refere aqui, não a uma vaga faísca de luz que esteja sobre todos os seres humanos, ou seja, de santos, de pecadores e de pagãos igualmente, mas à luz do conhecimento salvador de Jesus Cristo (ver DTN, 317). João deixa claro nos v. Jo.1:10-12 que, em sua maior parte, “o mundo não O conheceu” e “os Seus não O receberam”. Estes, portanto, não foram iluminados pela “verdadeira Luz”. Como João se apressa a acrescentar, os que recebem designação especial aqui são somente “todos quantos O receberam” e creram nEle (v. Jo.1:12; cf. DTN, 317). |
Jo.1:10 | 10. O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. No mundo. Isto é, entre os homens (ver com. do v. Jo.1:9). Feito por intermédio dEle. Ver com. do v. Jo.1:3. Não O conheceu. Isto é, “o mundo” não reconheceu Jesus como o Messias, “a verdadeira Luz”. E não apenas isto, mas O rejeitou e O crucificou (ver com. do v. Jo.1:11). |
Jo.1:11 | 11. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. O que era Seu. Do gr. ta idia, uma expressão idiomática que aqui significa “Sua própria casa” (ver Jo.16:32; Jo.19:27; At.21:6; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Jo.1:1-3; Jo.1:14). Esta não deve ser uma alusão direta à rejeição de Jesus em Nazaré, Sua “casa” literal, mas à “casa de Israel” coletivamente (Mt.10:6; Mt.15:24; Ex.19:5; Dt.7:6), ou seja, à nação escolhida. A segunda ocorrência da expressão, “os Seus”, está no plural, hoi idioi, e significa “Seu próprio povo”. Embora os próprios irmãos de Jesus (Jo.7:3-5) e Seus concidadãos (Lc.4:28-29) tenham negado Sua messianidade, João aqui provavelmente se refira aos membros da “casa de Israel” individual e particularmente a seus líderes. Eles eram as “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt.15:24). Não O receberam. O quarto evangelho é, às vezes, chamado “o evangelho da rejeição” porque retrata mais claramente do que os outros o processo pelo qual os líderes de Israel rejeitaram o Messias (ver Jo.3:11; Jo.5:43; Jo.6:66; Jo.8:13; Jo.9:29; Jo.10:25; Jo.12:37; Jo.12:42; Jo.19:15). Mas é claro que muitos sinceros “O receberam” em diversos lugares (Jo.1:12; Jo.2:11; Jo.3:2; Jo.4:29; Jo.4:39; Jo.4:42; Jo.4:53; Jo.6:14; Jo.7:31; Jo.7:40-41; Jo.7:43; Jo.8:30; Jo.10:19; Jo.10:42; Jo.11:45) |
Jo.1:12 | 12. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome Todos quantos O receberam. Não meramente como um bom homem ou mesmo um profeta, mas como o Filho de Deus, o enviado de Deus, o Messias. João reporta como erro a crença de que, simplesmente por ter Cristo morrido por todos, portanto, todos serão salvos. É também classificada como falsa a crença de que Deus predestina algumas pessoas para a salvação e outras, para a perdição. João declara enfaticamente que o fator decisivo está com as próprias pessoas: “todos quantos” recebem e creem obtêm a filiação (acerca da predestinação, ver com. de Is.55:1; Ef.1:5; Ap.22:17). Poder. Do gr. exousia, “autoridade”, “direito” ou “poder de escolha”, não dynamis, “poder” no sentido usual. Em Jo.5:27, exousia é corretamente traduzido como “autoridade”. Devido ao pecado, o ser humano perdeu todos os direitos e merece a pena de morte. O plano da salvação devolve a oportunidade de conhecer a Deus e de escolher servi-Lo. Serem feitos. Deus não faz arbitrariamente os seres humanos Seus filhos. Ele os capacita a serem feitos ou a se tornarem (NTLH, NVI, BJ) tais, se assim o desejam. Filhos de Deus. O termo empregado aqui é teknos. Esta é uma das expressões favoritas de João (ver Jo.11:52; 1Jo.3:1-2; 1Jo.3:10; 1Jo.5:2), que nunca usa o termo huios para se referir aos cristãos. Tornar-se um filho de Deus é entrar no relacionamento de aliança (ver com. de Os.1:10) por meio do novo nascimento (Jo.3:3). Aos que creem. Ver com. do v. Jo.1:7. No Seu nome. Crer no nome não é equivalente a crer na pessoa. Crer em alguém pode simplesmente significar que se dá crédito às suas palavras. Os demônios dão crédito ao fato de que há apenas um Deus (Tg.2:19), mas isto é uma experiência muito diferente de crer “no nome de Deus”. O primeiro é um ato intelectual, o segundo é moral e espiritual. Crer no nome de Cristo é apropriar-se das provisões da salvação. “A fé é a condição sob a qual Deus escolheu prometer perdão aos pecadores; não que exista na fé qualquer virtude pela qual se mereça a salvação, mas porque a fé pode prevalecer-se dos méritos de Cristo, o remédio provido para o pecado” (FO, 100, 101). O substantivo “nome” é aqui usado num sentido idiomático do aramaico; significa a própria pessoa. |
Jo.1:13 | 13. os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. Nasceram. Ver com. de Jo.3:3-8. Do sangue. Isto é, não foi do nascimento físico. Vontade da carne. Talvez uma referência ao desejo sexual. Homem. Do gr. aner, “pessoa do sexo masculino”, provavelmente uma referência ao desejo de se deixar uma posteridade. De Deus. Os motivos e os planos humanos não têm parte no nascimento do qual João fala. Ele se assemelha ao nascimento físico apenas no sentido de que ambos marcam o início de uma nova vida (ver com. de Jo.3:3-8; Rm.6:3-5). Não é efetuado pela iniciativa e ação humana, mas é uma criação totalmente nova, que depende inteiramente da vontade e da ação do próprio Deus. É Ele quem efetua em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp.2:13). João não exclui a livre escolha do ser humano com respeito à conversão (ver com. do v. Jo.1:12), nem nega a necessidade da cooperação humana com os agentes divinos. Ele simplesmente afirma que a iniciativa e o poder são de Deus. |
Jo.1:14 | 14. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. E [...] Se fez carne. Diante do mistério da encarnação do Verbo a mente humana se torna perplexa e incapaz de seguir em frente. Paulo fala da encarnação como um grande mistério (1Tm.3:16). Ir além dos limites do que a Escritura tornou conhecido é mergulhar em mistérios que a mente não tem capacidade para compreender (ver com. de Jo.6:51; Jo.16:28). João afirmara a divindade de Cristo (ver com. do v. Jo.1:1) e, então, afirma Sua verdadeira humanidade. Cristo é divino no sentido absoluto e irrestrito da palavra; também é humano no mesmo sentido, exceto pelo fato de que “não conheceu pecado” (2Co.5:21). As Escrituras de forma repetida e enfática proclamam esta verdade fundamental (ver Lc.1:35; Rm.1:3; Rm.8:3; Gl.4:4; Fp.2:6-8; Cl.2:9; 1Tm.3:16; Hb.1:2; Hb.1:8; Hb.2:14-18; Hb.10:5; 1Jo.1:2; ver com. de Fp.2:6-8; Cl.2:9). Embora Cristo existisse originalmente “em forma de Deus”, Ele não considerou a igualdade com Deus algo a que devesse Se agarrar. Em vez disso, Ele “Se esvaziou” e, “tornando-Se em semelhança de homens”, foi “reconhecido em figura humana” (Fp.2:6-7). NEle estava “corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl.2:9); porém, “convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos” (Hb.2:17, ARC). “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai”, mas “preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai e descer do trono do Universo” para que “pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e Sua vida divina” (DTN, 19, 22, 23). As duas naturezas, a divina e a humana, foram misteriosamente mescladas em uma única pessoa. A divindade foi revestida da humanidade, não trocada por ela. Em nenhum sentido Cristo deixou de ser Deus quando Se tornou homem. As duas naturezas se tornaram uma só de forma íntima e inseparável, porém cada uma delas continuou distinta. A natureza humana não foi transformada em divina, nem a divina, em humana (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver com.de Mt.1:1; Lc.1:35; Fp.2:6-8; Hb.2:14-17; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Jo.1:1-3; Jo.1:14; Mc.16:6; Fp.2:6-8; Cl.2:9; Hb.2:14-17). Cristo “assumiu as vulnerabilidades da natureza humana” (ME 1, 226); contudo, Sua humanidade foi “perfeita” (DTN, 664). Embora, como homem, pudesse haver pecado, não repousou sobre Ele nenhuma mancha de corrupção ou inclinação para tal; não possuía propensões para o pecado (Carta 8 de Ellen White, 1895; ver p. 1261). Foi “tentado... à nossa semelhança, mas sem pecado” (ver com. de Hb.4:15; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Habitou. Do gr. skenoo, literalmente, “acampou-Se” ou “armou [Sua] tenda” entre nós (cf. DTN, 23). Cristo Se tornou um de nós a fim de revelar o amor do Pai, tomar parte de nossas experiências e nos dar exemplo, a fim de nos socorrer na tentação, sofrer por nossos pecados e ser nosso representante diante do Pai (ver com. de Hb.2:14-17). O Verbo eterno, que sempre estivera com o Pai (ver com. de Jo.1:1), devia tornar- Se Emanuel, “Deus conosco” (ver com. de Mt.1:23). Glória. Do gr. doxa, aqui equivalente ao heb. kabod, que é usado no AT para significar a “glória” da permanente presença do Senhor, o shekinah (ver com. de Gn.3:24; Ex.13:21; cf. com. de 1Sm.4:22). Na LXX doxa é usada 177 vezes para traduzir kabod. João e seus companheiros de discipulado deram um testemunho ocular do fato histórico de que “o Verbo Se fez carne” (Jo.1:14; Jo.21:24; 1Jo.1:1-2). Aqui João, sem dúvida, está pensando particularmente em experiências como a transfiguração, em que a divindade por um momento irradiou por meio da humanidade. Pedro, de maneira semelhante, fala sobre ser “testemunhas” da “majestade” e da “glória excelsa” de Cristo na transfiguração (2Pe.1:16-18). Essa glória, acrescenta Pedro, acompanhou a declaração: “Este é o Meu Filho amado”. Em várias ocasiões, a glória do Céu iluminou o semblante de Jesus (ver com. de Lc.2:48). Em Jo.17:5, Jesus ora ao Pai: “Glorifica-Me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que Eu tive junto de Ti, antes que houvesse mundo.” A fé cristã está fundamentada no fato de que essa “glória” divina repousou sobre uma pessoa histórica, Jesus de Nazaré. Secundariamente, talvez João também tivesse em mente a perfeição de caráter exemplificada pelo Salvador (ver com. “a graça e a verdade” a seguir). Unigênito. Do gr. monogenes, que vem de duas palavras cujo significado é “único” e “espécie” e, assim o vocábulo é corretamente traduzido como “singular”, “único” e “único de sua espécie”. Da mesma forma que ocorre com o título Logos (ver com. do v. Jo.1:1), somente João aplica o termo monogenês a Cristo (ver Jo.1:18; Jo.3:16; Jo.3:18; 1Jo.4:9). A ausência do artigo definido no grego significa que monogenes é indefinido, “um único”, ou torna a palavra uma locução adjetiva. Neste caso, João estaria dizendo: “glória como de um único [que havia vindo] de junto do Pai”. Este parece ser evidentemente o sentido aqui (ver com. de Lc.7:12; Lc.8:42, em que monogenes é traduzido como “único”). Em Hb.11:7, monogenes é usado para Isaque, que de maneira alguma era o “unigênito” de Abraão, ou mesmo seu primogênito. Mas ele era o filho da promessa e, como tal, estava destinado a suceder o pai como herdeiro do direito de primogenitura (Gn.25:1-6; Gl.4:22-23). “Da mesma forma que as cinco passagens dos escritos de João referentes a Cristo, a tradução deve ser uma das seguintes: ‘singular’, ‘precioso’, ‘único’, ‘exclusivo’, o ‘único de sua espécie’, mas não ‘unigênito’ (Problems in Bible Translation, p. 198). A tradução “unigênito”, aqui e em outras passagens, aparentemente se originou com os antigos pais da igreja católica e entrou cedo nas traduções inglesas da Bíblia sob a influência da Vulgata Latina, a Bíblia oficial católica. Refletindo corretamente o grego, vários manuscritos em latim antigo, anteriores à Vulgata, dizem “único” em vez de “unigênito”. A ideia de que Cristo “nasceu do Pai antes de toda a criação” ocorreu pela primeira vez nos escritos de Orígenes, cerca de 230 d.C. Quase um século mais tarde, Ário foi o primeiro a usar gegennemenon, a palavra grega correta para “gerado”, em relação a Cristo, e foi o primeiro a afirmar que Ele foi “gerado por Deus antes de todas as eras” (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Essa palavra grega nunca é usada na Bíblia com respeito ao Cristo pré-encarnado. A ideia de que Cristo foi “gerado” pelo Pai em algum momento na eternidade passada é totalmente estranha às Escrituras (para uma discussão detalhada, ver Problems in Bible Translation, p. 197-204). Corretamente entendida como uma referência à posição singular de Cristo como o Filho de Deus, a palavra monogenes coloca uma distinção entre Ele e todos os outros que, pela fé em Sua pessoa, recebem o “poder de serem feitos filhos de Deus” (v. Jo.1:12), e a respeito de quem se declara especificamente que “nasceram [...] de Deus” (v. Jo.1:13). Cristo é, e sempre foi, verdadeiro “Deus” (ver com. do v. Jo.1:1); e, em virtude desse fato, somos “feitos filhos de Deus” quando recebemos a Cristo e cremos em Seu nome. A declaração do v. 14, obviamente, diz respeito à encarnação e seu propósito é enfatizar que o Verbo encarnado conservou a natureza divina, como é evidenciado pela manifestação nEle da glória divina pré-encarnada (ver Jo.17:5). Embora a palavra monogenes signifique estritamente “singular” ou “único” - e não “unigênito” - João, contudo, a aplica aqui a Cristo no momento de Sua encarnação, à ocasião em que “o Verbo Se fez carne”, a fim de habitar entre nós. Paulo confirma essa aplicação em Hb.1:5-6, em que liga as palavras gegenneka, “gerei” (de gennao, “gerar”), e prototoktos, “primogênito” (de pro, “antes”, e tikto, “gerar”), ao momento de “introduzir o Primogênito no mundo”. Parece, portanto, totalmente injustificado entender que monogenes se refira a uma geração misteriosa do “Verbo” em algum ponto do tempo na eternidade passada (com respeito a uma discussão de Cristo como o Filho de Deus, ver com. de Lc.1:35; e como o Filho do Homem, ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10; ver também Ellen G. White, Material Suplementar sobre Fp.2:6-8; Cl.2:9). Do Pai. Do gr. para theou, literalmente “com o Pai” ou “ao lado do Pai”, aqui com a força de “procedente do lado do Pai”. A preposição gr. para, às vezes, tem a força de ek, “de”, “procedente de”, que aqui concorda melhor com o contexto. O Verbo encarnado procedia da presença do Pai quando entrou neste mundo (ver com. de Jo.6:46). Cheio de. Isto claramente se aplica ao Verbo encarnado. Ao habitar na Terra como homem entre os seres humanos, o Verbo foi “cheio de graça e de verdade”. De graça e de verdade. Do gr. charis kai aletheia. Charis aqui significa “boa vontade”, “longanimidade”, “favor [imerecido]” e “misericórdia”. Aletheia se refere à “verdade” sobre o amor do Deus Pai pelos pecadores segundo foi revelada no plano da salvação e no Salvador encarnado. Aqui, charis é equivalente ao heb. chesed (ver Nota Adicional ao Salmo 36; Sl.36:12; ver com. de Jó.10:12). Da mesma forma, aletheia equivale ao heb. emeth, “fidelidade” ou “fidedignidade”. Essas palavras ocorrem juntas no AT, como “misericórdia” e “verdade”, num contexto claramente messiânico, no Sl.85:10-11. Foram precisamente esses atributos de Deus que Cristo veio para revelar de maneira especial. Enquanto esteve na Terra, Ele foi “cheio” deles e, assim, pode dar uma revelação plena e completa do Pai. Deus sempre é fiel a Seu próprio caráter, e Seu caráter é revelado mais completamente na misericórdia e na graça. Deus havia instruído Israel, 1.500 anos antes da encarnação, a construir um “santuário”, ou tenda, para que pudesse “habitar no meio deles” (Ex.25:8). Assim, no passado, a presença divina se manifestou na forma da glória do shekinah, acima do propiciatório da arca e em outros locais (ver com. de Gn.3:24; Ex.13:21); no NT, a mesma glória se manifesta na pessoa de Jesus. João e os demais discípulos deram testemunho desse fato; e, para eles, isso era evidência incontestável de que Jesus viera do Pai, já que tal glória não poderia vir de nenhuma outra fonte. É digno de nota que, no hebraico, tanto a palavra mishkan, “lugar de habitação”, “tenda” e “tabernáculo”, quanto shekinah, a gloriosa “presença permanente”, são derivadas de shakan, “habitar” ou “permanecer”. No grego, skene, “tenda” ou “tabernáculo”, está também relacionada a skenoo, “armar tenda” ou “acampar-se” e, assim, “habitar” ou “permanecer”. No passado, a glória divina, a santa “presença”, havia habitado entre o povo escolhido no tabernáculo literal; então, João diz que a mesma “presença” gloriosa, o próprio Deus, veio habitar entre Seu povo na pessoa do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Acredita-se que a “glória” da qual Paulo fala em Rm.9:4 deva ser relacionada à glória do shekinah e também à “nuvem luminosa” que se manifestou na transfiguração (Mt.17:5). Na passagem messiânica de Is.11:1-10, é predita a vinda do Messias, e a respeito dEle é dito, literalmente: “Sua habitação será gloriosa”. Segundo o Sl.85:9-10, o dia da salvação faria com que a glória de Deus habitasse novamente na terra (ARC, ACF, NVI), e nesse tempo a “graça [do heb. chesed, ver Nota Adicional ao Salmo 36; Sl.36:12]” e a “verdade [do heb. emeth, “fidelidade”, “fidedignidade”]” se encontrariam (ver DTN, 762). As mesmas duas palavras heb. chesed e emeth, “misericordioso” e “piedoso”, estão associadas na proclamação do “nome” do Senhor, quando Moisés teve permissão para contemplar Sua “glória [do heb. chabod]” (ver com. de Ex.33:22; Ex.34:6). Essas e outras passagens messiânicas do AT encontram íntimo paralelo com João 1:14, que apresenta o fato de que, na encarnação, a glória que só poderia ter vindo da presença do Pai foi manifestada no Verbo encarnado e “habitou entre nós”, cheia de “graça [misericórdia] e de verdade”. Cada um dos aspectos principais da vida de Cristo desempenhou parte importante na obra da salvação. Seu nascimento virginal reuniu as famílias do Céu e da Terra que estavam separadas. Ele trouxe a Divindade à Terra para que pudesse levar a humanidade consigo de volta ao Céu. Sua vida perfeita como homem provê um exemplo de obediência (Jo.15:10; 1Jo.2:6) e santificação (Jo.17:19). Como Deus, Ele comunica poder para obedecer (Rm.8:3-4). Sua morte vicária tornou possível que o ser humano desfrute a graça (CM, 137) e permite que Ele justifique a “muitos” (Is.53:5; Is.53:11; Rm.5:9; Tt.2:14). Pela fé em Sua morte somos libertados da culpa do pecado, e pela fé em Sua vida ficamos livres do poder do pecado (Rm.5:1; Rm.5:10; Fp.4:7). Sua gloriosa ressurreição nos assegura que breve também iremos nos “revestir” da imortalidade (1Co.15:12-22; 1Co.15:51-55). Sua ascensão confirma a promessa de voltar e nos levar consigo para encontrar o Pai (Jo.14:1-3; At.1:9-11) e, dessa forma, completar a obra de salvar “Seu povo”. Esses cinco aspectos da missão de Cristo na Terra foram, todos eles, assunto das profecias (Is.9:6-7; Is.9:53; Is.61:1-3; Sl.68:18). |
Jo.1:15 | 15. João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim. João testemunha. [O testemunho de João Batista, Jo.1:15-18]. Esta é a tradução literal, embora a ARC e ACF coloquem o verbo no passado. Mais de meio século se havia passado desde o martírio de João Batista, mas seu testemunho de Cristo continuou ecoando ao longo dos anos. Era verdade a seu respeito, como a respeito de Abel, que, “mesmo depois de morto, ainda fala” (Hb.11:4; ver Jo.1:19-36; Jo.3:27-36; ver com. de Mt.3:11-12; Lc.3:15). Este é. O Batista identifica Jesus como aquele de quem havia falado desde o princípio de seu ministério (ver v. Jo.1:27; Jo.1:30). Depois de mim. A versão ACF diz: “após mim”, isto é, em sentido cronológico; Jesus não foi “após” João no sentido de um discípulo que, como aprendiz, segue “após” o mestre (ver com. de Mt.10:37-38). Tem [...] a primazia. Literalmente, “antes de mim vem a tornar-se”. “Vem a tornar-se” significa, aqui, ter a precedência. João nunca questionou a posição e a dignidade superiores do Messias (ver Jo.3:28- 31). “Antes de mim” vem do gr. emprosthen mou, “na minha frente”, isto é, relativamente à grandeza. Existia antes de mim. Aqui João usa opiso para “antes”, enquanto que na frase anterior ele usa emprosthen. Em vista do fato de que João nascera seis meses antes de Jesus, a referência é claramente à existência pré-encarnada de Cristo. Alguns tradutores e comentaristas consideram o v. 15 uma interpolação que interrompe a linha de pensamento entre os v. Jo.1:14 e Jo.1:16. Contudo, o apóstolo de fato introduz o testemunho do Batista neste ponto para confirmar o dos apóstolos, que já tinha sido mencionado no v. Jo.1:14, quanto à exaltada posição e preexistência de Cristo. A importância atribuída pela igreja primitiva ao testemunho de João Batista reflete as declarações do próprio Senhor (ver Jo.5:32-36; Mt.11:11). |
Jo.1:16 | 16. Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Sua plenitude. Ver com. de Jo.1:14; Cl.1:19; Cl.2:9; Ef.3:19; Ef.4:13. Graça sobre graça. Provavelmente com o sentido de “graça acrescentada a graça”. Dia a dia todo verdadeiro crente vai ao armazém celestial em busca de graça divina suficiente para as necessidades do dia. Diariamente ele cresce em graça e em compreensão do propósito de Deus para sua vida (cf. 2Pe.3:18); avança firmemente em direção ao alvo de um caráter perfeito (ver Mt.5:48). |
Jo.1:17 | 17. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A lei. Isto é, o sistema de religião revelado, sob o qual os judeus viviam no tempo do AT, prescrito por Deus, mas gradualmente pervertido pela tradição humana (ver com. de Mc.7:9-13). Nos dias de Cristo, o termo “lei” incluía não só o decálogo, mas tudo o que Moisés e os profetas haviam escrito (Lc.24:27; Lc.24:44), conforme a interpretação dos rabis. Em si e por si mesma, segundo originalmente dada por Deus, “a lei” era boa (cf. Rm.3:1-2). Tinha o objetivo de levar as pessoas à salvação por meio da fé no Messias vindouro (Jo.5:39; Jo.5:45-47; Lc.24:25-27; Lc.24:44). O fato de que “alguns não creram” (Rm.3:3), e buscavam a salvação pelas “obras” (Rm.9:32), não pela fé, e como resultado deixaram de entrar no descanso espiritual que Deus tinha em mente para eles (Hb.3:18-19; Hb.4:2), não significa que o sistema em si, conforme havia sido prescrito por Deus, fosse defeituoso. Todas as coisas que Deus faz são “perfeitas” (Dt.32:4). Houve muitos no AT que “obtiveram bom testemunho por sua fé” (Hb.11:39). Na verdade nunca houve outra maneira de obter “bom testemunho”, a não ser pela fé. A tradição judaica havia pervertido o plano da salvação ao enfatizar as formas de religião em vez de seus objetivos espirituais e morais (ver com. de Mc.7:1-13). Jesus expôs o verdadeiro espírito da lei ao aplicá-la aos problemas diários (ver com. de Mt.5:17-22; sobre a palavra “lei”, ver com. de Gl.3:24; acerca do meio de salvação no AT, ver com. de Ez.16:60). Por intermédio de Moisés. Literalmente, “através de Moisés”. “A lei” não se originou com Moisés, mas em Deus. Moisés foi simplesmente o agente através do qual a vontade revelada de Deus foi comunicada (ver Dt.5:22-6:1; Hb.1:1). A NTLH acrescenta um “mas” depois desta frase, porém isso subentende um contraste mais forte entre “lei” e “graça” do que João pretendia transmitir. João não quer dar a entender que o sistema revelado por meio de Moisés era mau em comparação com o que então foi revelado por meio de Cristo, mas que, se o sistema de Moisés era bom, o de Cristo é ainda melhor (ver Hb.7:22; Hb.8:6; Hb.9:23; Hb.10:34). A graça e a verdade. Ver com. dos v. Jo.1:14; Jo.1:16. Esses atributos divinos já eram inerentes ao sistema da religião revelada no AT (ver Ex.34:6-7), mas, para propósitos práticos, haviam se perdido sob uma grossa camada de tradições humanas. O contraste entre a “lei” e a “graça” não é tanto entre o sistema de religião do AT, que aguardava um Messias vindouro, e o sistema revelado por Cristo (cf. Hb.1:1-2), mas entre a interpretação pervertida que os rabis, os expositores oficiais da lei, colocaram sobre a graça e a verdade reveladas por Deus (cf. Rm.6:14-15; Gl.5:4), e a verdade como foi revelada por meio de Jesus Cristo. Ao afirmar que a “verdade” vem por meio de Cristo, João O identifica como a realidade à qual apontavam todos os tipos e cerimônias do AT, que eram uma sombra dos bens vindouros. O tipo encontrou o antítipo em Cristo (Cl.2:16-17). Em nenhum sentido João deixa implícito que o sistema do AT fosse falso ou errôneo. Por meio de Jesus Cristo. Era Cristo que falava por meio de Moisés e dos profetas (1Pe.1:9-10; PP, 366); então Ele Se manifestou em pessoa para reafirmar as grandes verdades eternas reveladas àqueles homens santos do passado e lhes devolver o brilho original, não ofuscado pelas tradições humanas (ver com. de Mt.5:17-19). Ele veio para revelar o Pai em Seu verdadeiro caráter (cf. Ex.34:6-7), para convencer os seres humanos a praticar a justiça e a misericórdia e a andar humildemente com Deus (Mq.6:6-8). Aquele que falara “muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas”, então falou aos seres humanos por meio de Seu Filho (Hb.1:1-2). Aqui, pela primeira vez, João se refere ao Senhor pelo nome histórico, Jesus Cristo (ver com. de Mt.1:1). O “Verbo” eterno havia Se encarnado, como homem entre os homens, e João daqui por diante se refere a Ele dessa forma. |
Jo.1:18 | 18. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. Ninguém jamais viu a Deus. Isto é, o Pai (cf. PP, 366). Pecadores não podem ver Deus face a face e continuar vivos. Nem mesmo Moisés, o grande legislador de Israel, pôde contemplá-Lo (Ex.33:20; Dt.4:12). Alguns testemunharam a glória da presença divina (ver com. de Jo.1:14), mas, exceto em visão, ninguém jamais viu a pessoa divina (cf. Is.6:5). Cristo veio para revelar o Pai e, para todos os propósitos práticos, aqueles que O viam, viam o Pai (Jo.14:7-11; ver também Jo.5:37; Jo.6:46). Deus. Ver com. de Jo.1:14; Jo.3:16. A evidência textual está dividida (cf. p. 136) entre as variantes “Filho” e “Deus”. De qualquer forma, a referência seria a Cristo. Se for aceita a variante “Deus”, o significado seria: “o Deus singular e verdadeiro, o que habita no seio do Pai, ou: “o único, [que é] Deus, aquele que habita no seio do Pai”. No seio. Uma expressão idiomática que indica a mais íntima associação (cf. Jo.13:23). Aquele que melhor conhece o Pai é quem veio do Céu para torná-Lo conhecido (Jo.14:7-9). É quem O revelou. Do gr. exegeomai, “ir à frente”, “desvendar [pelo ensino]”, “revelar” e “interpretar”. A palavra “exegese” vem do mesmo vocábulo grego. |
Jo.1:19 | 19. Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: Quem és tu? O testemunho de João. [João Batista repete o seu testemunho, Jo.1:19-28 = Mt.3:1-12 = Mc.1:2-8 = Lc.3:1-18. Ver mapa, p. 216]. Isto é, seu testemunho concernente ao Cristo: (1) no dia em que a delegação foi de Jerusalém para interrogá-lo (v. Jo.1:19-28), (2) no dia seguinte, quando ele identificou publicamente a Jesus como o “Cordeiro de Deus” (v. Jo.1:29-34) e (3) no terceiro dia, quando ele, em particular, apresentou dois de seus próprios discípulos a Jesus (v. Jo.1:35-36). O evangelista João começa sua narrativa do evangelho com o relato do testemunho dado pelo precursor do Messias, Jesus de Nazaré (cf. Mt.3:1-2; Mc.1:1-4; Lc.3:1-6; At.10:37-38; ver com. de Lc.3:15-18). Quando os judeus lhe enviaram. Isto é, o Sinédrio, a autoridade suprema dos judeus nessa época (cf. Jo.5:15-18; Jo.7:13; Jo.9:22; Jo.18:12; ver p. 54). As perguntas feitas a João refletem a alta estima em que ele era tido pelo povo em geral (Mt.14:5; Mt.21:26) e a séria atenção dada pelos líderes à crença popular de que ele era um profeta e talvez até pudesse ser o Messias (ver Lc.3:15). Pode-se ver a extensão da influência de João pelo fato de que, entre seus ouvintes, se encontravam não apenas uma vasta multidão de pessoas comuns (Mt.3:5), mas também líderes religiosos (v. Mt.3:7) e políticos da nação (ver Mt.14:4; DTN, 214). O clima de expectativa havia subido a tal ponto que o Sinédrio não podia mais se esquivar da questão. O povo, sem dúvida, pressionava os líderes para que dessem uma resposta às perguntas que a delegação fez a João. É presumível (ver com. de Jo.1:25) que os líderes reconhecessem o direito de um profeta, como porta-voz direto de Deus, de ensinar sem a autorização deles, uma vez que fossem reconhecidas as suas credenciais (ver com. de Mt.12:38; Mt.16:1). Exceto isso, eles tinham o direito de controlar todos os ensinos públicos. De Jerusalém. Que ficava, talvez, a cerca de 40 km de distância. Sacerdotes e levitas. Ver com. de Ex.28:1; Dt.10:8. Embora a maioria dos sacerdotes e levitas fosse composta de saduceus, esta delegação era composta de fariseus (ver com. de Jo.1:24), talvez porque estes estivessem mais preocupados com o assunto. Da mesma forma, foram os fariseus que, mais tarde, incomodaram persistentemente a Jesus. Talvez sacerdotes e levitas tivessem sido nomeados para investigar a João por consideração ao fato de o pai dele ter sido sacerdote, e a mãe, filha de sacerdote (Lc.1:5). O próprio João estava qualificado a se tornar sacerdote e, assim, um mestre da lei. Quem és tu? Literalmente, “Tu, quem és?” Eles não estavam preocupados com a identidade de João como indivíduo, mas com sua autoridade para pregar e ensinar (ver v. Jo.1:25). Mais tarde, as autoridades fizeram a mesma pergunta a Jesus (Jo.8:25). Talvez a delegação tivesse certa expectativa de que João reivindicasse ser o Messias. A pergunta deles refletia essa expectativa, pois a resposta de João foi uma negação direta dessa reivindicação (Jo.1:20; cf. DTN, 134). |
Jo.1:20 | 20. Ele confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. Ele confessou. A negativa categórica de João, de que não era o Messias, resolveu esse aspecto da pergunta. Como é próprio de seu estilo, o evangelista João reforça essa afirmação positiva com uma declaração negativa correspondente: “não negou” (cf. Jo.1:3; Jo.3:16; Jo.6:50; 1Jo.1:5; 1Jo.2:4). Eu não sou o Cristo. O pronome pessoal “eu” é enfático, como se João dissesse: “Eu não sou o Cristo.” |
Jo.1:21 | 21. Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não. Quem és, pois? A negativa de João deixou sem resposta a questão básica quanto à sua autoridade para pregar. Es tu Elias? Acreditava-se popularmente que Elias apareceria em pessoa para proclamar a vinda do Messias (Mt.17:10; DTN, 422). Não sou. João afirmou que viera para fazer a obra que os profetas do passado predisseram que Elias faria (Jo.1:23; Ml.3:1; Ml.4:5; Mc.1:2-3), mas teria sido mal compreendido se tivesse afirmado ser Elias. Fora predito a respeito de João que ele devia ir adiante do Messias “no espírito e poder de Elias” (Lc.1:17; sobre a declaração de Cristo de que João era Elias, ver o com. de Mt.11:14; Mt.17:12). O profeta. Isto é, o profeta predito por Moisés em Dt.18:15 (ver com. ali). Havia uma crença popular de que Moisés ressuscitaria dos mortos, e alguns aparentemente cogitavam se João não seria ele (ver DTN, 135). Mais tarde, as pessoas pensaram a mesma coisa sobre Jesus (Jo.6:14; Jo.7:40; At.3:22; At.7:37). |
Jo.1:22 | 22. Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? Quem és. A indagação então, em vez de ser específica, era geral (ver com. dos v. Jo.1:19-21). Resposta. Até aqui o interrogatório havia resultado apenas em respostas negativas. Então, os sacerdotes e levitas procuraram conseguir de João uma declaração positiva. Àqueles que nos enviaram. Isto é, o Sinédrio em Jerusalém (ver com. do v. Jo.1:19). |
Jo.1:23 | 23. Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. Eu sou a voz. Ver com. de Mt.3:3. João parece relatar as exatas palavras do Batista, pois a citação, da forma relatada aqui, parece ser diretamente do hebraico, de memória. Caso contrário, como nos sinóticos, provavelmente seria da LXX. É declarado que Jesus é “o Verbo” (Jo.1:1-3; Jo.1:14); o Batista afirmou ser apenas uma “voz”. Ele era somente o porta-voz de Deus; Jesus era o Verbo encarnado. O caminho do Senhor. João deixa implícito que os líderes de Israel deviam desviar a atenção daquele que fora enviado para anunciar a vinda do Messias e começar a procurar o próprio Messias. |
Jo.1:24 | 24. Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus. De entre os fariseus. Isto é, eram da seita conhecida como os fariseus. Alguns têm sugerido que a delegação era composta de saduceus enviados pelos fariseus, mas parece não haver razão válida para se aceitar essa interpretação. A expressão grega implica que a delegação era composta de indivíduos “dentre os” fariseus, isto é, que pertenciam aos fariseus (ver com. do v. Jo.1:19). |
Jo.1:25 | 25. E perguntaram-lhe: Então, por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? Por que batizas [...]? Aqui estava o ponto crucial da questão: a autoridade de João. Se ele não afirmava ser o Messias nem um dos profetas, que direito, então, tinha de apresentar-se como um reformador, sem a permissão deles? (ver o com. do v. Jo.1:19). A pergunta subentende familiaridade com o rito do batismo em água ou, pelo menos, uma compreensão parcial de seu significado (ver com. de Mt.3:6). As descobertas de Qumran revelam que o rito do batismo em água era praticado naquela época (ver com. de Mt.3:6; ver p. 50, 51, 78, 79; sobre o rito do batismo, ver com. de Mt.3:6; Rm.6:3-6). |
Jo.1:26 | 26. Respondeu-lhes João: Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis, Eu batizo. Ver com. de Mt.3:11. Está quem. Jesus havia sido batizado (cf. v. Jo.1:29-34) pelo menos 40 dias antes disto, e fazia pouco tempo que voltara do deserto (ver com. de Mt.3:13-4:11; cf. DTN, 137). Enquanto falava, João viu a Jesus, e esperava que Jesus respondesse ao anúncio que ele fez naquele momento (DTN, 137). O evangelho de João não diz nada sobre o batismo de Jesus. Uma explicação para o silêncio de João sobre este e outros incidentes importantes é que ele pressupõe que os leitores que desejava alcançar estivessem familiarizados com os relatos já disponíveis nos sinóticos (sobre o batismo de Cristo, ver com. de Mt.3:13-17). Vós não conheceis. A palavra “conhecer” vem do gr. oida. Mais de três anos depois, os sacerdotes e anciãos declararam que não sabiam (gr. oida) se João Batista havia sido nomeado por Deus (Mt.21:27). Os sacerdotes e levitas que foram para interrogar a João examinaram os ouvintes, mas não viram ninguém a quem a descrição de João pudesse se aplicar (DTN, 136). Porém, João falou primariamente de se reconhecer Jesus como o Messias da profecia. Em sua ignorância espiritual, esses líderes religiosos deixaram de apreender a verdadeira Luz (ver com. de Jo.1:5), não conheceram a Jesus (v. Jo.1:10) e, portanto, “não O receberam” (v. Jo.1:11; Jo.1:31-33; Jo.8:19; Jo.14:7; Jo.14:9; Jo.16:3). Nem eles nem os que os enviaram conseguiram chegar a uma decisão que pudesse ser anunciada publicamente; portanto, assumiram uma atitude neutra (ver com. de Mt.21:23-27). |
Jo.1:27 | 27. o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias. Este é Aquele (ARC). Importantes evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a omissão desta frase, que não ocorre na ARA. Ela parece ter sido inserida posteriormente, por não se ter reconhecido que a frase seguinte, “o qual vem após mim”, é uma sequência da última parte do v. Jo.1:26: “no meio de vós, está quem vós não conheceis”. A inserção da frase “este é Aquele” entrou em algumas traduções por influência da Vulgata Latina. Consequentemente, a primeira parte do v. 27 está corretamente expressa na ARA: “o qual vem após mim”. Após mim. Ver com. de Mt.3:11. Que foi antes de mim (ARC). Evidências textuais também favorecem (cf. p. 136) a omissão desta frase, que não ocorre na ARA. Ela é atestada apenas por alguns manuscritos de época tardia (cf. DTN, 136). Contudo, as evidências textuais atestam a expressão nos v. Jo.1:15; Jo.1:30. Não sou digno. Ver com. de Mt.3:11. |
Jo.1:28 | 28. Estas coisas se passaram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando. Betânia. As evidências textuais (cf. p. 136) favorecem esta variante. A cidade é chamada “Betânia, do outro lado do Jordão” para distingui-la da Betânia que ficava próxima de Jerusalém. A KJV diz “Betabara”. Esta variante foi adotada por Orígenes (c. 250 d.C.), que em seus dias não achou nenhuma cidade próxima do Jordão com o nome de Betânia, mas encontrou uma que naquele tempo era conhecida como Betabara. Nenhum dos dois sítios foi identificado em tempos modernos. Há um vau chamado Abarah, cerca de 20 km ao sul do mar da Galileia, mas isso seria muito ao norte. É possível que Betabara represente uma inversão de sílabas, de forma que Beth-arabah tenha se tornado Beth-abarah. Havia uma cidade na fronteira entre Judá e Benjamim com o nome de Beth-haarabah (Bete-Arabá, ver Js.15:6; Js.15:61; Js.18:22), mas não ficava junto ao rio. Betabara, literalmente: “casa [ou lugar] de travessia”, seria um nome apropriado para uma aldeia próxima a algum dos numerosos vaus ao longo do Jordão. O lugar tradicional do batismo de Jesus é MaHadet el-Hajlah, hoje Ain Hajlah, que fica próxima de Bete-Hogla, 6,5 km a sudeste de Jericó (ver mapa, p. 213, vol. 1, p. 1049). |
Jo.1:29 | 29. No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! No dia seguinte. [João Batista torna a repetir o seu testemunho, Jo.1:29-31]. Isto é, o dia após os eventos dos v. Jo.1:19-28. João se caracteriza por informações cronológicas detalhadas e precisas (ver Jo.1:29; Jo.1:39; Jo.1:43; Jo.2:1; Jo.2:12; Jo.4:43; Jo.6:22; Jo.11:6; Jo.11:17; Jo.12:1; Jo.12:12; Jo.20:26). Viu João a Jesus. A delegação de Jerusalém já havia partido e não levara João a sério, do contrário teria prosseguido com a investigação, para descobrir, se possível, de quem ele estava falando (ver v. Jo.1:26). No dia anterior, Jesus não havia sido identificado pela referência indireta de João a Ele como o Messias (v. Jo.1:26). Então Ele foi destacado da multidão. Eis. Foi privilégio do Batista ser o primeiro a anunciar (ver com. de Mt.3:1) a Jesus, aquele de quem haviam testemunhado todos os profetas do passado, como o verdadeiro sacrifício. Os profetas teriam vibrado de emoção ante tal privilégio. Não é de admirar que Jesus, mais tarde, tenha falado de João como um profeta maior do que qualquer outro que já havia se levantado em Israel (Lc.7:28). O Cordeiro de Deus. Isto é, o Cordeiro provido por Deus. Somente João usa esta designação para Cristo, embora Lucas (At.8:32) e Pedro (1Pe.1:19) tenham feito comparações semelhantes (cf. Is.53:7). João Batista apresentou Jesus como “o Cordeiro de Deus” para João, o evangelista (ver com. de Jo.1:35-36), e para o discípulo este título deve ter tido profundo significado. A figura, que enfatiza a inocência e a perfeição de caráter de Jesus, bem como a natureza vicária de Seu sacrifício (ls.53:4-6; Is.53:11-12; ver com. de Ex.12:5), evoca o cordeiro pascal do Egito, que tipificava o livramento do cativeiro do pecado. “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1Co.5:7). Por meio da figura de um cordeiro, João identifica o Messias sofredor como aquele em quem o sistema sacrifical do AT encontra sua realidade e significado. Na presciência e no propósito divino, Ele era o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap.13:8). Em vista do fato de que, no pensamento judaico da época, não havia lugar para um Messias sofredor, os críticos duvidam de que João pudesse ter defendido tal conceito (ver Jo.12:34; Mc.9:31-32; Lc.24:21). Mas, como Robertson observou (Word Pictures in the New Testament, sobre Jo 1:29), “certamente o Batista não tinha de ser tão ignorante quanto os rabis”. João tinha a profecia messiânica de Is.53 (ver com. de ls.53:1; Is.53:4-6; ver DTN, 136). Além do mais, seria muito estranho que Deus nomeasse João Batista como o arauto da vinda do Messias e não lhe comunicasse o conhecimento desse aspecto fundamental da missão do Messias. Tira. Do gr. airo, “levantar”, “levar para outro lugar” ou “remover”. Só em virtude do fato de que, no Cordeiro de Deus, não havia pecado (Hb.4:15; 1Pe.2:22) é que Ele podia “tirar [gr. airo] os pecados” (1Jo.3:5). Uma vez que o fardo do pecado era pesado demais para que o levássemos, Jesus veio para levantar o peso de nossa vida sobrecarregada. O pecado. Ao usar a palavra no singular, João coloca ênfase no pecado como um princípio, e não em pecados particulares (ver 1Jo.2:2; 1Jo.3:5; 1Jo.4:10). |
Jo.1:30 | 30. É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim. A favor de quem. A tradução literal é esta, e não “sobre quem” ou “a respeito de quem”. Após mim [...] tem a primazia. Ver com. do v. Jo.1:15. |
Jo.1:31 | 31. Eu mesmo não o conhecia, mas, a fim de que ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, batizando com água. Eu mesmo não O conhecia. A palavra “mesmo” foi acrescentada para exprimir a ênfase do original. O primeiro testemunho de João em favor do Messias foi baseado numa revelação direta. Não tinha havido nenhum acordo secreto entre Jesus e João. Por conhecer as circunstâncias que envolveram os primeiros anos da vida de Jesus e Sua perfeição de caráter, João acreditava que Jesus fosse o Messias prometido, mas até o batismo não possuía nenhuma evidência inegável de que este era o caso (ver DTN, 109). Fosse manifestado a Israel. João era a “voz” de Deus (ver com. do v. Jo.1:23) para dirigir os homens ao “Cordeiro de Deus” (ver com. do v. Jo.1:29). O batismo de Jesus marcou o clímax da missão de João, embora seus labores tenham continuado por talvez mais um ano e meio. Ele declarou, após o batismo: “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30). |
Jo.1:32 | 32. E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. João testemunhou. [O batismo de Jesus, Jo.1:32-34 = Mt.3:13-17 = Mc.1:9-11 = Lc.3:21-22. Comentário principal: Mt e Lc]. Ver com. do v. Jo.1:19. Vi o Espírito. Ver com. de Mt.3:16-17; Lc.3:21-22. |
Jo.1:33 | 33. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Eu não O conhecia. Ver com. dos v. Jo.1:29; Jo.1:31. Aquele [...] que me enviou. João indica Deus como a fonte de sua autoridade (ver com. do v. Jo.1:6). |
Jo.1:34 | 34. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus. Eu [...] vi. João fala como uma testemunha ocular (cf. 1Jo.1:1). Filho de Deus. Há algumas evidências textuais (cf. p. 136) para a variante “o Escolhido de Deus” (ver com. de Lc.1:35; cf. com. de Jo.1:1-3; Jo.1:14). No AT (Sl.2:7) e no livro pseudoepígrafo de Enoque (105:2), do primeiro século a.C., “Filho [de Deus]” ocorre como um título distintamente messiânico. Somente no evangelho de João é relatado que Jesus usou o título para Se referir a Si mesmo (Jo.5:25; Jo.10:36; Jo.11:4). Os judeus do tempo de Cristo claramente entenderam o título em seu sentido mais elevado (ver Jo.19:7). O objetivo de João ao escrever o evangelho era fornecer evidências convincentes de que “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (Jo.20:31). |
Jo.1:35 | 35. No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos No dia seguinte [...] outra vez. [Dois discípulos de João Batista seguem Jesus, Jo.1:35-42. Ver mapa, p. 213; gráfico, p. 227]. Ver com. do v. Jo.1:19; Jo.1:29; Jo.1:43. João, frequentemente usa a expressão “outra vez” mais como um conectivo, para ligar a nova seção de sua narrativa à seção anterior, do que no sentido de repetição (ver Jo.8:12; Jo.8:21; Jo.10:7; Jo.10:19; Jo.21:1). Dois dos seus discípulos. Um deles era André (v. Jo.1:40). A reticência de João, ao longo de todo o seu evangelho, em se referir a si mesmo em conexão com os incidentes dos quais participou, constitui forte indício de que ele seja o outro discípulo (cf. Jo.20:2; Jo.21:20-25; ver DTN, 138). |
Jo.1:36 | 36. e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Vendo. Aqui e no v. Jo.1:42, significa contemplar de maneira fixa, atenta, persistente. Esta é a última ocasião em que a narrativa evangélica fala de João Batista haver estado com Jesus. |
Jo.1:37 | 37. Os dois discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus. Seguiram. Do gr. akoloultheo, “seguir”, mas, provavelmente, não ainda no sentido de se tornarem discípulos (Jo.8:12; Jo.10:4; Jo.10:27; Jo.12:26; Jo.21:19-20; Jo.21:22; ver com. de Mt.4:19). Aqui, André e João “seguiram” Jesus no sentido de que reconheceram que Ele era o “Cordeiro de Deus” (Jo.1:36). André e João foram os primeiros seguidores. Logo Pedro, Filipe e Natanael (Bartolomeu) se uniram a eles (ver Jo.1:40; Jo.1:43; Jo.1:45; ver com. de Mc.3:16-18). Os seguidores, nessa época, ainda não tinham deixado completamente suas ocupações para se tornarem discípulos. Foi somente mais de um ano depois, na primavera de 29 d.C., que eles receberam o chamado para o discipulado permanente (ver com. de Lc.5:1; Lc.5:11). Só então se poderia dizer que eles, “deixando tudo, O seguiram” (Lc.5:11). A nomeação formal dos doze ocorreu ainda mais tarde, durante o verão do mesmo ano (ver com. de Mc.3:14). |
Jo.1:38 | 38. E Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam, disse-lhes: Que buscais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde assistes? Que buscais? Estas são as primeiras palavras de Jesus relatadas por João (cf. Lc.2:49). Rabi. Do gr. rhabbi, que vem do aramaico rabi e significa “meu grande”, geralmente equivalente a “senhor”, mas usado também num sentido mais restrito como título de distinção e respeito para um mestre da lei (ver com. de Mt.23:7). Tem-se sugerido que fazia pouco tempo que a palavra tinha passado a ser usada neste último sentido. Em João, “rabi” é o termo consistentemente usado para se dirigir a Jesus por parte daqueles que O reconheciam como um mestre, talvez até um profeta, mas que ainda não tinham compreendido que Ele era o Messias ou ainda estavam relutantes em admitir isso (ver Jo.1:38; Jo.1:49; Jo.3:2; Jo.4:31; Jo.6:25; Jo.9:2; Jo.11:8). Aqueles em favor de quem Jesus realizou milagres, com frequência, O chamavam de “Senhor” (Jo.9:36; Jo.11:3; Jo.11:21; Jo.11:27; Jo.11:32). Segundo o relato de João, os discípulos, no início de sua associação com Jesus, O chamavam de “rabi”, mas depois do aprofundamento da convicção de que Ele era de fato o enviado de Deus, passaram a chamá-Lo de “Senhor” (Jo.6:68; Jo.11:12; Jo.13:6; Jo.13:25; Jo.14:5; Jo.14:8; Jo.14:22; Jo.21:15; Jo.21:20). Após a ressurreição, o título usado para Jesus é sempre “Senhor” (1Co.16:22), nunca “rabi”. Os sinóticos não fazem discriminação entre esses títulos como João o faz. Os discípulos do Batista o chamavam de “rabi” (Jo.3:26, ARC). Os que se dirigiam a Jesus como “rabi” expressavam, dessa forma, sua disposição de aprender dEle, ao passo que os que se dirigiam a Ele como “Senhor” (aramaico mari, gr. kurios) expressavam, assim, respeito comum ou submissão incondicional como servos. Contudo, os termos eram muitas vezes usados sem uma clara distinção entre eles. Que quer dizer. Como está escrevendo para leitores gregos, João muitas vezes relata as palavras originais do Senhor em aramaico, mas sempre as traduz para o grego (Jo.1:41-42; Jo.4:25; Jo.5:2; Jo.9:7; Jo.11:16; Jo.19:13; Jo.19:17; Jo.20:16; Jo.20:24; Jo.21:2). Onde assistes? André e João desejam uma conversa mais prolongada e pessoal, que não seria apropriada em um lugar público. |
Jo.1:39 | 39. Respondeu-lhes: Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde Jesus estava morando; e ficaram com ele aquele dia, sendo mais ou menos a hora décima. A hora décima. Isto é, cerca de 16 horas. No tempo de Cristo, o computo romano, que então era corrente na Palestina, dividia a parte clara do dia em 12 horas (ver Jo.11:9; p. 38; cf. Josefo, Vida, 54). A vívida recordação de João quanto à hora reflete a profunda impressão que os eventos desse dia causaram em sua memória. João repetidamente menciona a hora do dia (ver Jo.4:6; Jo.4:52; Jo.18:28; Jo.19:14; Jo.20:19). Essa exatidão se harmoniza com sua afirmação de ser uma testemunha ocular (Jo.19:35; Jo.21:24; 1Jo.1:1-2). |
Jo.1:40 | 40. Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. André. Ver com. de Mc.3:18. Simão Pedro. Ver com. de Mc.3:16. Um dos dois. O escritor identifica somente um dos dois. Geralmente se crê que o outro era o próprio escritor, João, o irmão de Tiago, que modestamente evita identificar-se (ver com. do v. Jo.1:35; cf. Jo.21:20-24; DTN, 138). E seguido Jesus. João e André desejavam conversar com Jesus sobre a declaração do v. Jo.1:36: “Eis o Cordeiro de Deus!” Eles não estavam pensando ainda em segui-Lo no sentido formal de se tornar seguidores regulares (ver com. do v. Jo.1:43). Era provavelmente o final do outono ou o princípio do inverno do ano 27 d.C. (ver gráfico, p. 225). Eles seguiram Jesus durante o período seguinte de um ano e meio antes de Ele lhes fazer o chamado para o discipulado permanente (ver com. de Lc.5:11). A nomeação formal dos doze por Jesus só ocorreu no final do verão de 29 d.C. (ver com. de Mc.3:13-19). Os cinco que “seguiram” Jesus no Jordão o fizeram simplesmente no sentido de aceitar o testemunho de João quanto à Sua messianidade. |
Jo.1:41 | 41. Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo), O seu próprio irmão. André se tornou o primeiro discípulo a começar a trazer outros para Jesus. Ele fez isso “primeiro”, isto é, antes de fazer qualquer outra coisa. Isso testifica da profunda impressão despertada nele por aquela primeira conversa com Jesus. Messias. Ver com. de Mt.1:1. Que quer dizer. Ver com. do v. Jo.1:38. |
Jo.1:42 | 42. e o levou a Jesus. Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). Olhando Jesus. No v. Jo.1:36 (ver com. ali), “vendo” vem da mesma raiz grega da palavra aqui traduzida como “olhando”. Simão [...] Cefas. Ver com. de Mt.16:18; Mc.3:16. O nome “Simão” é a forma grega do hebraico “Simeão” (ver com. de Gn.29:33). Que quer dizer. Ver com. do v. Jo.1:38. |
Jo.1:43 | 43. No dia imediato, resolveu Jesus partir para a Galiléia e encontrou a Filipe, a quem disse: Segue-me. No dia imediato. [Filipe e Natanael, Jo.1:43-51]. Isto é, o dia seguinte aos eventos dos v. Jo.1:35-42 e, provavelmente, o terceiro dia após os eventos dos v. Jo.1:19-28 (ver v. Jo.1:29; Jo.1:35). Resolveu [...] partir. Isto é, decidiu ir ou estava prestes a ir. Encontrou a Filipe. Talvez como resultado dos esforços dos três que já haviam encontrado Jesus (sobre Filipe, ver com. de Mc.3:18). Segue-Me. Aqui, mais no sentido de se tornar um discípulo (ver com. de Mc.2:14), não no simples sentido de seguir alguém andando, como no v. Jo.1:37 (ver com. de Lc.5:11; Jo.1:40). |
Jo.1:44 | 44. Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Betsaida. Ver com. de Mt.11:21. |
Jo.1:45 | 45. Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José. Filipe encontrou a Natanael. Como no dia anterior André levara seu irmão a Jesus, então Filipe levou um amigo. O primeiro impulso do coração de alguém convertido é partilhar a alegria e a bênção da salvação com outros, particularmente com aqueles que são próximos e queridos. Natanael é comumente identificado com Bartolomeu (ver com. de Mc.3:18). Lei. Aqui, uma designação técnica para os primeiros cinco livros do AT (ver com. de Lc.24:44). Filipe se refere particularmente à predição de Dt.18:15 (ver com. ali), que teria se cumprido em Jesus de Nazaré (ver com. de Jo.6:14). Filho de José. Ver com. de Mt.1:20-21; Lc.2:33; Lc.2:41. |
Jo.1:46 | 46. Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê. Nazaré. Ver com. de Mt.2:23. Alguma coisa boa. Há uma pitada de sarcasmo na resposta de Natanael ao emocionante anúncio de Filipe. Natanael era de Caná (Jo.21:2), que ficava a pouca distância de Nazaré e, sem dúvida, falava de onde conhecia. Vem e vê. Ver v. Jo.1:29. Um encontro com Jesus face a face seria uma evidência mais convincente do que apresentar extensos argumentos. O mesmo ocorre hoje. O único modo de se obter evidências positivas da certeza da fé em Cristo é experimentá-la. |
Jo.1:47 | 47. Jesus viu Natanael aproximar-se e disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo! Um verdadeiro israelita. Isto é, alguém que servia a Deus com sinceridade de coração (ver Jo.4:23-24), e não como um hipócrita (ver com. de Mt.6:2; Mt.7:5; Mt.23:13). Natanael fazia parte do pequeno mas devoto grupo que aguardava ansiosamente “a consolação de Israel” (ver com. de Lc.2:25) e anelava alcançar os elevados ideais postos diante deles por Deus (ver vol. 4, p. 13-17). Um verdadeiro israelita não era necessariamente um descendente literal de Abraão (ver Jo.8:33-44), mas alguém que escolhia viver em harmonia com a vontade de Deus (ver Jo.8:39; At.10:34-35; Rm.2:28-29; Rm.9:6-7; Rm.9:25-27; Rm.10:12-13; Gl.3:9; Gl.3:28-29; 1Pe.2:9-10). Dolo. Do gr. dolos, literalmente, “isca”, como para se pescar, mas figurativamente, “dissimulação”, ou “deslealdade”. Falsas alegações são a “isca” usada pelo hipócrita para convencer as pessoas de que ele é melhor do que realmente é. |
Jo.1:48 | 48. Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Donde me conheces? Natanael ficou surpreso ao descobrir que sua vida era um livro aberto para Jesus. Figueira. Na Palestina, a figueira e a oliveira eram as árvores favoritas para cultivo, devido a seus frutos. Sentar-se debaixo da própria figueira significava estar à vontade e em paz (ver Mq.4:4; Zc.3:10). |
Jo.1:49 | 49. Então, exclamou Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel! Mestre. A versão ARC diz “Rabi” (ver com. do v. Jo.1:38). Filho de Deus. Ver com. de Lc.1:35. A profunda impressão causada pela declaração de Cristo (v. Jo.1:47) é evidenciada pela declaração de fé direta e incondicional de Natanael (v. Jo.1:49). Foi seu ansioso desejo de uma luz mais clara sobre a identificação de Jesus por João Batista como o “Cordeiro de Deus” (v. Jo.1:29; Jo.1:36) e como o “Filho de Deus” (v. Jo.1:34) que o havia levado a procurar um lugar apropriado para meditação e oração (ver DTN, 140). Em resposta a essa oração foi lhe dada evidência convincente de que Jesus era divino. Cristo muitas vezes lia os mais íntimos pensamentos e os motivos secretos das pessoas, dando-lhes, assim, evidências de Sua divindade (ver com. Mc.2:8). Declarações posteriores evidenciaram a fé na divindade de Jesus por parte dos discípulos (ver Mt.14:33; Mt.16:16; Jo.6:69; Jo.16:30). Rei de Israel. Outro título messiânico pelo qual Natanael reconheceu Jesus como aquele que os profetas prometeram que restauraria “o reino a Israel” (At.1:6). Este título era equivalente à expressão “filho de Davi” (ver com. de Mt.1:1; Mc.10:48; Zc.6:13). |
Jo.1:50 | 50. Ao que Jesus lhe respondeu: Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. Maiores coisas. Jesus aqui Se refere às muitas evidências convincentes de divindade que Natanael testemunharia durante sua associação com Cristo (ver DTN, 142). |
Jo.1:51 | 51. E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18. De todos os escritores do NT, somente João usa a expressão repetida, como ocorre aqui. No total, ele o faz 25 vezes, em todas elas citando a Jesus. O equivalente hebraico da expressão “em verdade, em verdade”, ocorre repetidamente no Manual de Disciplina (1QS), um dos manuscritos do Mar Morto (ver p. 78, 79), mas num sentido um pouco diferente do empregado por João. Anjos de Deus. Nesta pitoresca figura de linguagem, Jesus descreve Seu próprio ministério em favor da humanidade (ver DTN, 142, 143). A figura é evidentemente baseada no sonho de Jacó, em Betel, quando estava a caminho de Harã (Gn.28:12; Hb.1:14). Filho do Homem. Ver com. de Mc.2:10. Este é o primeiro registro do uso deste título por Jesus. NOTA ADICIONAL A JOÃO 1. A fé cristã encontra sua fonte, seu centro e sua certeza no Cristo histórico do NT. Como é dito em Jo.1:1-3; Jo.1:14 (ver com. ali) e sistematicamente afirmado ao longo de todo o NT, Cristo é verdadeiro Deus no sentido absoluto e irrestrito do termo e verdadeiro homem em todos os aspectos, exceto no pecado. Na encarnação, a divindade e a humanidade foram inseparávelmente unidas na pessoa de Jesus Cristo, o Deus-homem singular (ver com. de Mt.1:1). Mas as Escrituras também declaram que “o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só” (Dt.6:4, NVI, margem; Mc.12:29). Assim, o legado da verdade do qual a igreja cristã é herdeira inclui o paradoxo de um monoteísmo triúno e o mistério de um Deus encarnado, conceitos que transcendem a compreensão finita, mas demandam análise e reflexão. Contudo, para os cristãos dos tempos apostólicos, o fato dinâmico de um Senhor crucificado, ressurreto e vivo, que muitos deles haviam visto e ouvido (ver Jo.1:14; 2Pe.1:16; Jo.1:1-3), relegou as questões cristológicas a um lugar de menos importância. Mas, após aquela geração (ver Ap.2:4; Js.24:31), a visão de um Senhor vivo foi se dissipando e a pureza e a devoção original foram se desvanecendo. Os crentes negligenciaram cada vez mais as realidades práticas do evangelho e se voltaram para seus intrigantes aspectos teóricos, com a ilusão de que, usando os intrincados raciocínios da filosofia, poderiam encontrar a Deus (ver Jó.11:7; Rm.11:33). Entre as diversas heresias que surgiram para perturbar a igreja, nenhuma foi mais complexa do que aquelas que diziam respeito à natureza e à pessoa de Cristo. A controvérsia em torno desse tema agitou a igreja por séculos e foi marcada por uma longa sucessão de heresias, concílios e cismas. Para uma pessoa alheia à história da igreja, um estudo detalhado dessa controvérsia pode parecer destituído de interesse e valor prático. No entanto, deve-se considerar que, hoje, não menos do que nos tempos apostólicos, a fé cristã se centraliza no Cristo histórico do NT. Além disso, sob uma forma ou outra, várias heresias antigas acabaram sobrevivendo ou foram revividas. A partir de uma breve recapitulação dos rumos dessa controvérsia antiga, os cristãos modernos podem aprender a reconhecer os mesmos erros que deixaram perplexos seus antigos irmãos em eras passadas (ver Jo.8:32; 1Jo.4:1) e a estar alertas, a fim de evitá-los. As duas principais fases desse longo debate geralmente são conhecidas como a controvérsia trinitariana e a controvérsia cristológica. A primeira tinha que ver com o status de Cristo como Deus, e a segunda, com a relação entre Suas naturezas humana e divina durante a encarnação. A controvérsia trinitariana girou em torno das batalhas da igreja contra o docetismo, o monarquianismo e o arianismo, do primeiro ao quarto séculos. Por sua vez, a controvérsia cristológica tratava com o nestorianismo, o monofisismo e o monotelismo, do quinto ao sétimo séculos. A igreja apostólica — A crença da igreja apostólica em relação a Jesus é bem resumida na afirmação de Pedro de que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt.16:16) e na simples declaração de fé citada por Paulo: “Jesus é o Senhor [gr. Kurios, equivalente aqui ao heb. Yahweh]” (1Co.12:3, ARC). Os cristãos primitivos acreditavam que Jesus era Deus no mais elevado sentido da palavra e fizeram dessa crença a pedra angular de sua fé (ver com. de Mt.16:18). “Carne e sangue” não podiam revelar ou explicar essa verdade; ela precisa ser aceita pela fé (ver Mt.16:17). Essa certeza implícita da igreja primitiva com respeito à Trindade e à natureza divino-humana de Cristo estava fundamentada nos claros ensinos de Jesus e dos apóstolos. Não muito tempo após a ascensão de Cristo, contudo, “lobos vorazes” começaram a devorar o rebanho, e dentro da própria igreja surgiram homens falando “coisas pervertidas” para arrastar os discípulos atrás deles (ver At.20:29-30). Docetismo e gnosticismo — O primeiro erro concernente à natureza e à pessoa de Cristo é geralmente denominado docetismo. Este nome vem de uma palavra grega que significa “parecer”. O docetismo assumiu várias formas, mas a ideia básica era que Cristo somente parecia ter um corpo, que Ele era um fantasma e não um homem. O Verbo teria Se encarnado apenas na aparência. Essa heresia surgiu nos tempos apostólicos e persistiu até quase o final do segundo século. O docetismo era característico de grupos como os ebionitas e os gnósticos. Os primeiros eram cristãos judeus que aderiam estritamente aos ritos e práticas do judaísmo. Os últimos eram primariamente cristãos gentios. O gnosticismo era pouco mais que uma mistura de várias filosofias pagãs ocultas sob o disfarce de uma terminologia cristã. Uma tradição antiga e possivelmente autêntica identifica Simão, o mago, (ver At.8:9-24) como o primeiro proponente do erro concernente à natureza e à pessoa de Cristo e como o primeiro cristão gnóstico. Anos mais tarde, surgiu em Alexandria um cristão de nome Cerinto, classificado por alguns como ebionita e, por outros, como gnóstico. Ele negava que Cristo tinha vindo em carne, afirmando que Sua suposta encarnação era apenas aparente, não real. Os ebionitas não eram gnósticos, mas tinham conceitos semelhantes a respeito da humanidade de Cristo. Eles consideravam Cristo apenas como o filho literal de José, e que teria sido escolhido por Deus como o Messias por ter sido distinguido pela piedade e observância da lei; por isso, teria sido adotado como Filho de Deus no batismo. Um grupo dos ebionitas, os elcasitas, ensinavam que Cristo literalmente havia sido “gerado” pelo Pai em eras passadas e, assim, era inferior a Ele. Em contraste com os ebionitas, que consideravam Cristo essencialmente como um tipo superior de ser humano, os gnósticos negavam que Ele fosse um ser humano. Concebiam Cristo como um fantasma, ou “aeon”, que temporariamente teria tomado posse de Jesus, um ser humano comum. A Divindade não teria Se encarnado de fato. Com respeito ao impacto do gnosticismo sobre o cristianismo, Kenneth Scott Latourette, o historiador da igreja, sugere que “durante certo tempo a maioria daqueles que se consideravam cristãos aderiam a uma ou outra de suas muitas formas” (K. S. Latourette, A History of Christianity, p. 123). Tendo surgido gradualmente nos tempos apostólicos, o gnosticismo alcançou o clímax de sua influência sobre a igreja durante o 2 século. Reconhecendo a grave ameaça provocada pelo gnosticismo, a igreja lutou heroicamente contra o mesmo. Escrevendo durante a última metade do 2 século, Irineu diz que João escreveu seu evangelho com o propósito específico de refutar os conceitos docéticos de Cerinto (Irineu, Contra Heresias; ver Jo.1:1-3; Jo.1:14; Jo.20:30-31). Nas epístolas, João adverte ainda mais claramente contra a heresia docética, cujos advogados ele rotula como “anticristos” (1Jo.2:18-26; Jo.4:1-3; Jo.4:9; Jo.4:14; 2Jo.1:7; 2Jo.1:10). Durante seu primeiro aprisionamento em Roma (c. 62 d.C.), Paulo advertiu os crentes de Colossos contra o docetismo (Cl.2:4; Cl.2:8-9; Cl.2:18); e, mais ou menos na mesma época, Pedro emitiu uma advertência ainda mais forte (2Pe.2:1-3). Judas (v. Jd.1:4) se refere à heresia docética. Os “nicolaítas” de Ap.2:6 eram gnósticos, embora não necessariamente docetistas. Durante a primeira metade do 2 século, vários gnósticos perseguiram a igreja com suas heresias corruptoras. Entre esses, destacaram-se Basílides e Valentino (Valentim) de Alexandria. Mas talvez o mais influente e bem-sucedido proponente das ideias docéticas tenha sido Marcion, durante a última metade do 2 século. Ele não foi, de maneira alguma, um gnóstico, mas seus conceitos sobre Cristo se assemelhavam muito aos dos gnósticos. Ele afirmava que o nascimento, a vida física e a morte de Jesus não tinham sido reais, mas simplesmente uma aparência de realidade. A igreja lutou corajosamente contra o docetismo. Durante a última metade do 2 século, Irineu se destacou ousadamente como o grande paladino da ortodoxia contra a heresia. Sua obra argumentativa Contra Heresias, especificamente a heresia gnóstica, chegou até nossos dias. Irineu enfatizou a unidade de Deus. Monarquianismo — Como o nome indica, a unidade da Divindade era a ênfase do monarquianismo (um “monarca” é, literalmente, um “governante único”). Era, na verdade, uma reação contra os muitos deuses gnósticos e os dois deuses de Marcion: o Deus do AT, que ele considerava um Deus mau, e Cristo, um Deus de amor. Como ocorre frequentemente com os movimentos reacionários, o monarquianismo foi para o extremo oposto e, como resultado, se tornou uma heresia que a igreja, mais tarde, achou necessário condenar. Talvez a tendência que caracterizava o monarquianismo possa, de maneira geral, receber o mérito de ter purificado a igreja dos ensinos gnósticos, mas o remédio causou quase tanto mal quanto a doença que ele pretendia curar. A luta contra o monarquianismo começou próximo ao final do 2 século e continuou durante parte do seguinte. Havia dois tipos de monarquianos: os dinamistas (da palavra grega que significa “poder”), os quais ensinavam que o corpo humano de Jesus era animado por um poder divino e que Ele não tinha divindade própria nem possuía uma alma humana verdadeira; e os modalistas, que concebiam um Deus que havia Se revelado de diferentes modos. A fim de manter a unidade da Divindade, os dinamistas negavam completamente a divindade de Cristo, a quem consideravam um homem escolhido por Deus para ser o Messias e ser elevado ao nível da Divindade. Segundo o adocionismo, uma variante dessa teoria, o homem Jesus alcançou a perfeição e foi adotado como o Filho de Deus por ocasião do batismo. Os modalistas ensinavam que um só Deus havia Se revelado de diferentes modos. Negando qualquer distinção de pessoas, eles abandonaram totalmente a crença numa natureza triúna da Divindade. Aceitavam a divindade tanto do Pai quanto do Filho, mas se apressavam a explicar que os dois eram apenas designações diferentes para o mesmo ser divino. Esse ponto de vista é, às vezes, chamado de patripassianismo, porque supõe que o Pai teria Se tornado o Filho na encarnação e assim teria sofrido e morrido. Semelhantemente, na ressurreição, o Filho teria Se tornado o Espírito Santo. Uma vez que Sabélio foi o mais famoso expoente desta teoria, ela é também chamada de sabelianismo. Os sabelianistas afirmavam que os nomes da Trindade eram meramente designações pelas quais a mesma pessoa divina realizava várias funções cósmicas. Assim, antes da encarnação, este ser divino seria o Pai; na encarnação o Pai teria Se tornado o Filho; e, na ressurreição, o Filho teria Se tornado o Espírito. No início do 3 século, Tertuliano refutou o monarquianismo modalista, enfatizando tanto a personalidade do Filho de Deus como a unidade da Divindade. Contudo, ele propôs que Cristo era um tipo de Deus subordinado, teoria conhecida como subordinacionismo. Na metade do 3 século, Orígenes propôs a teoria da geração eterna, segundo a qual somente o Pai é Deus no mais alto sentido. O Filho é coeterno com o Pai, mas é “Deus” apenas em sentido derivado. Orígenes cria que a alma de Cristo, como a alma de todos os seres humanos, segundo ele equivocadamente supunha, era preexistente, mas diferia de todas as outras por ser pura e sem pecado. O Logos, ou Verbo divino, teria entrado em união indissolúvel com a alma humana de Jesus. Ao fazer distinção entre theos, Deus, e ho theos, o Deus, em Jo.1:1, Orígenes concluiu que o Filho não é Deus no sentido primário e absoluto, mas “Deus” apenas em virtude de Lhe ter sido comunicada um tipo secundário de divindade que poderia ser chamado de theos, mas não de ho theos. Assim, Cristo estaria no meio termo entre as coisas criadas e as incriadas. Orígenes é considerado o pai do arianismo. Arianismo — No início do 4 século, Ário, um presbítero da igreja de Alexandria, adotou a teoria do Logos proposta por Orígenes, a não ser pelo fato de que ele negava qualquer substância intermediária entre Deus e os seres criados. A partir daí, ele deduziu que o Filho não seria divino em qualquer sentido da palavra, mas estritamente uma criatura, embora a mais elevada e a primeira de todas, e que, portanto, “houve [um tempo] em que Ele não era”. Ário ensinava que há apenas um ser a quem pode ser atribuída uma existência atemporal: o Pai. Ele cria que o Pai criou o Filho do nada, e que o Filho não existia antes de Sua geração por um ato da vontade do Pai. Para Ário, Cristo não era nem verdadeiramente humano (pois não tinha uma alma humana) nem verdadeiramente divino (pois não tinha a essência e os atributos de Deus). Era simplesmente o mais exaltado de todos os seres criados. O ser humano Jesus teria sido escolhido para ser o Cristo devido ao fato de, por Sua presciência, Deus saber que Ele triunfaria. No Primeiro Concílio de Niceia, convocado em 325 d.C. para resolver a controvérsia ariana, Atanásio se destacou como “o pai da ortodoxia”, afirmando que Jesus Cristo sempre existiu e que Ele não proveio de um estado de não existência prévia, mas que era da mesma essência do Pai. Ao aplicar a Cristo o termo homoousios, “da mesma substância”, o concílio afirmou sua crença de que a substância de Cristo e a do Pai eram uma só e a mesma. Homoousios não podia ser entendido de outra forma. O concílio anatematizou tanto o arianismo quanto o sabelianismo como os dois dos principais desvios da verdade e declarou que não se negava a unidade da Divindade quando se afirmava a Trindade, nem se negava a Trindade quando se afirmava a unidade. Assim, o Credo Niceno declarou que o Filho é “gerado pelo Pai [... da essência do Pai, Deus de Deus], Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, da mesma substância que o Pai”. Este credo se tornou o teste crucial da ortodoxia trinitariana. Os arianos rejeitaram a decisão do concílio e provocaram um cisma, e durante séculos o arianismo se demonstrou o mais aguerrido inimigo da igreja católica romana (ver com. de Dn.7:8). Após o Primeiro Concílio de Niceia, um grupo às vezes chamado de semiariano também perturbou a igreja. A palavra-chave deles era homoiousios, pela qual descreviam o Filho como sendo de “substância semelhante” ao Pai, em contraste com o homoousios (“mesma substância”) do Credo Niceno. Apolinário e Marcelo destacaram-se entre os oponentes da ortodoxia após o Concílio de Niceia. Ambos afirmavam a unidade do divino e do humano em Cristo, mas negavam Sua humanidade, afirmando que a vontade divina tornou a natureza humana de Jesus um instrumento passivo. Esses vários problemas levaram a outro concílio, no ano 381, em Constantinopla. Este concílio reafirmou o Credo Niceno, esclareceu seu significado e afirmou a presença de duas naturezas reais em Cristo. Nestorianismo — Após o Concílio de Constantinopla, a atenção da igreja se voltou para o chamado aspecto cristológico do problema da natureza e da pessoa de Cristo. Foram feitas tentativas de se definir a natureza dos elementos divino e humano em Cristo, a fim de se esclarecer a relação entre os dois. Como poderiam coexistir duas naturezas pessoais em uma pessoa? Essa fase da controvérsia se polarizou em duas escolas de pensamento opostas: uma em Alexandria e outra em Antioquia, na Síria. Ambas reconheciam a verdadeira unidade da divindade e da humanidade em uma só pessoa, Jesus Cristo, mas a escola alexandrina enfatizava a unidade das duas naturezas e a importância da divindade, enquanto que a escola antioquina enfatizava a distinção entre as duas naturezas e a importância do aspecto humano. Os partidários de Antioquia afirmavam que a divindade e a humanidade teriam entrado numa relação de constante coexistência e cooperação sem, na verdade, se mesclar. Eles separavam as duas naturezas numa única pessoa, declarando que não havia uma união completa, mas uma permanente associação. Faziam uma nítida distinção entre Cristo como o Filho de Deus e Cristo como o Filho do Homem, atribuindo à natureza humana um reconhecimento mais distinto. Entendiam que a unidade das duas naturezas se realizava através da unidade das respectivas vontades. Preservavam a realidade e a totalidade da natureza humana de Cristo, mas colocavam em perigo a unidade da pessoa. Era uma união imperfeita, incompleta, indefinida e mecânica, na qual as duas naturezas não estavam verdadeiramente unidas numa única pessoa autoconsciente. Os alexandrinos, por outro lado, concebiam uma mistura completa das duas naturezas, sendo que a humana se fundia em uma só com a divina e se tornava subordinada a ela. Deus, assim, teria entrado na humanidade e, por meio dessa união da divindade com a humanidade, teria se tornado possível que Cristo levasse a humanidade de volta a Deus. A colisão entre essas duas escolas de pensamento alcançou o clímax na controvérsia nestoriana, no início do 5 século. Nestório, de Antioquia, admitia a verdadeira divindade e a verdadeira humanidade, mas negava a união delas numa única pessoa autoconsciente. O Cristo nestoriano era, na verdade, duas pessoas que desfrutavam uma união moral e de afinidades, mas sem que qualquer das duas fosse decisivamente afetada pela outra. A divindade não é humilhada; a humanidade não é exaltada. Havia um Deus e havia um homem, mas não havia um Deus-homem. Assim, foi convocado em Éfeso, em 431, o terceiro concílio ecumênico da igreja, com o propósito de resolver a disputa entre as escolas de Antioquia e Alexandria. O concílio condenou Nestório e seus ensinos, mas não considerou necessário elaborar um novo credo para substituir o Credo Niceno. Na verdade nada foi estabelecido ou realizado, exceto o alargamento da brecha, e a controvérsia resultante tomou tal proporção que todos os outros problemas doutrinários foram colocados de lado. Monofisismo — Após o Concílio de Éfeso, surgiu ainda outra teoria, conhecida como monofisismo ou eutiquianismo, que se caracterizava por apresentar um conceito de Cristo precisamente oposto ao de Nestório. Eutico (ou Eutiques), seu principal expoente, defendia que a natureza humana original de Jesus teria se transmutado na natureza divina por ocasião da encarnação, e o resultado era que o Jesus humano e o Cristo divino se tornaram uma só pessoa e uma só natureza. Ele afirmava a unidade da autoconsciência, mas mesclava as duas naturezas de tal forma que, para propósitos práticos, elas perdiam sua identidade individual. O Concílio de Calcedônia, convocado em 451 para discutir o nestorianismo e o monofisismo, condenou a ambos. Tanto Nestório quanto Eutico rejeitaram a decisão do concílio e fundaram seitas cristãs independentes, como Ário havia feito mais de um século antes. O Concílio de Calcedônia afirmou a perfeita divindade e a perfeita humanidade de Cristo. Declarou que Ele é da mesma substância que o Pai, concernente à Sua natureza divina, e da mesma substância que nós, concernente à Sua natureza humana, a não ser pelo pecado. O concílio preservou a identidade de cada natureza e declarou que as duas eram distintas, não misturadas, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis. A Divindade, não a humanidade, foi reconhecida como a base da personalidade de Cristo. Pelo fato de que numa única pessoa há a união de duas naturezas, o sofrimento do Deus-homem foi verdadeiramente infinito. Ele sofreu em Sua natureza humana e não na natureza divina, mas a paixão foi infinita porque a pessoa é infinita. O que mais tarde veio a ser conhecido como o Símbolo de Calcedônia diz, em parte: Nós, então, seguindo os santos pais, todos, unanimemente, ensinamos os homens a confessarem a um só e ao mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, sendo o mesmo perfeito em Divindade e também perfeito em humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e corpo; consubstancial ao Pai segundo a Divindade, e consubstancial a nós segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado antes de todos os séculos pelo Pai, segundo a Divindade, e nestes últimos dias, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, a Mãe de Deus, segundo a Humanidade; um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que deve ser reconhecido em duas naturezas inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis; sendo que a distinção de naturezas de maneira alguma é removida pela união; antes, as propriedades de cada natureza são preservadas e reunidas em uma só Pessoa e uma só Hipóstase (Philip Schaff, The Creeds of Christendom, v. 2, p. 62). O resultado do Concílio de Calcedônia iria perpetuar e intensificar o cisma no Oriente. Finalmente, o imperador Justiniano, convencido de que a segurança do império exigia uma resolução do problema, fechou permanentemente as escolas de Antioquia e Alexandria, os dois centros da controvérsia. Num segundo concílio em Constantinopla, em 553, a igreja decidiu pela forçosa supressão do monofisismo, o que causou um cisma permanente e que persiste até hoje em seitas cristãs como as dos jacobitas, os coptas e os abissínios. Reafirmando o Símbolo de Calcedônia, a igreja chegou a uma distinção definitiva entre ortodoxia e heterodoxia. Monotelismo — É verdade que uma pergunta permaneceu sem resposta: As duas naturezas, a divina e a humana, são movidas por uma só vontade que controla ambas as naturezas, ou por duas vontades? Os monotelistas consideravam que a vontade divina era dominante, e que a vontade humana estava imersa nela. No Terceiro Concílio de Constantinopla, em 680, a igreja decidiu que a vontade é um assunto das naturezas e não da pessoa única, e decidiu a favor de duas vontades em uma só pessoa volitiva. Isto completou a definição ortodoxa da natureza e da pessoa de Cristo para a igreja ocidental e, formalmente, encerrou as longas controvérsias trinitárias e cristológicas. Por volta do ano 730, João de Damasco recapitulou essas doutrinas para a igreja oriental. Tanto para o Oriente quanto para o Ocidente, as decisões dos concílios se tornaram dogmas. Na época da Reforma — A Reforma evidenciou que tanto o ramo católico quanto o protestante do cristianismo estavam fundamentalmente de acordo sobre a Trindade e a natureza de Cristo. O Credo Niceno e o Símbolo de Calcedônia se demonstraram, de maneira geral, aceitáveis para ambos. Lutero ensinou um intercâmbio mútuo de características entre as duas naturezas, de maneira que o que era próprio de cada uma delas se tornou comum a ambas. A natureza divina se apropriou de tudo o que era humano em Cristo, e a humanidade recebeu o que pertencia à natureza divina. As igrejas reformadas enfatizaram a fraternidade do divino com o humano em Cristo. Dois grupos menores da Reforma discordaram da posição de Niceia. O primeiro foi o dos socinianos, que reavivaram basicamente a ideia monarquista de que uma Trindade divina é inconcebível. O unitarismo (unitarianismo) moderno é um continuador desse conceito. O segundo grupo foi o dos arminianos, que adotaram um ponto de vista semelhante, em alguns aspectos, ao de certos grupos anteriores: o de que o Filho é subordinado ao Pai. Este conceito, da mesma forma, é refletido por várias seitas cristãs da atualidade. Os adventistas do sétimo dia — Os escritores e editores deste Comentário confessam que há grandes mistérios na Bíblia que transcendem os limites da compreensão finita e, assim, não podem ser definidos de maneira precisa em linguagem humana. A união do divino com o humano em Cristo é um desses mistérios. Ao lidar com questões teológicas desse tipo os adventistas do sétimo dia sempre procuraram evitar a especulação e as minúcias filosóficas, a fim de não obscurecer os desígnios divinos com palavras sem conhecimento (ver T8, 279). Se os escritores inspirados não tornaram claro cada detalhe dos mistérios divinos, por que escritores não inspirados tentariam fazê-lo? Contudo, a Escritura provê informações suficientes para nos capacitar a compreender em parte o mistério do plano da salvação. Os adventistas do sétimo dia creem em: 1. A Divindade. A Divindade, ou Trindade, consiste de três pessoas: o Pai eterno, o Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai eterno, e o Espírito Santo (ver Mt.28:19; Jo.1:1-2; Jo.6:27; Jo.14:16-17; Jo.14:26; At.5:3-4; Ef.4:4-6; Hb.1:1-3; Hb.1:8; ver com. de Jo.1:1-3; Jo.1:14). “Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste [...] o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (Ev, 615). Cristo e o Pai são “um em natureza, caráter, propósito” (PP, 34), mas “não em pessoa” (T8, 269; cf. T9, 68). O Espírito Santo “é tanto uma pessoa como o próprio Deus” (Ev, 616; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Rm.1:20-25). 2. A divindade e preexistência de Cristo. Cristo é Deus no sentido supremo e absoluto do termo - em natureza, em sabedoria, em autoridade e em poder (ver Is.9:6; Mq.5:2; Jo.1:1-3; Jo.8:58; Jo.14:8-11; Cl.1:15-17; Cl.2:9; Hb.1:8; ver com. de Mq.5:2; Mt.1:1; Mt.1:23; Lc.1:35; Jo.1:1-3; Jo.16:28; Fp.2:6-8; Cl.2:9). “Cristo é o Filho de Deus, preexistente, existente por Si mesmo. [...] Nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus. [...] Ele era igual a Deus, infinito e onipotente” (Ev, 615; cf. DTN, 469, 470; Ev, 614; PP, 38, 63). “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre. O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa distinta, mas um com o Pai” (MEl, 247; cf. DTN, 19; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Jo.1:1-3; Jo.1:14; Cl.2:9; Cl.3:10). 3. A humanidade de Cristo. O Senhor Jesus Cristo era um ser humano verdadeiro e completo, semelhante a outros homens em todos os aspectos, exceto pelo fato de que Ele “não conheceu pecado” (2Co.5:21; Lc.24:39; Jo.1:14; Rm.1:3-4; Rm.5:15; Gl.4:4; Fp.2:7; 1Tm.2:5; Hb.2:14; Hb.2:17; 1Jo.1:1; 1Jo.4:2; 2Jo.1:7; ver com. de Mt.1:23; Jo.1:14; Fp.2:6-8). “Cristo foi um homem real” (ME1, 244), “plenamente humano” (ST, 17/06/1897), “participante de nossa natureza” (ME1, 408). “Ele veio como um bebê indefeso, tendo a mesma humanidade que nós temos” (Ms 21, 1895), e “como membro da família humana ... |era| mortal” (DTN, 484). “Ele orou por Seus discípulos e por Si mesmo, identificando-Se assim com nossas necessidades, fraquezas e falhas” (T2, 508; cf. CBV, 422; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Jo.1:1-3; Jo.1:14; Cl.1:26-27; Hb.2:14-18). 4. A encarnação de Cristo. A encarnação foi uma união verdadeira, completa e indissolúvel das naturezas divina e humana na pessoa de Jesus Cristo, sendo, porém, que cada natureza foi preservada intacta e distinta da outra (ver Mt.1:20; Lc.1:35; Jo.1:14; Fp.2:5-8; 1Tm.3:16; 1Jo.4:2-3; ver com. de Mt.1:18; Jo.1:14; Jo.16:28; Fp.2:6-8). “Cristo era um homem real. [...] Mas era Deus em carne” (YI, 13/10/1898). “Sua divindade ocultou-se na humanidade - a glória invisível na visível forma humana” (DTN, 23). “Ele tem uma natureza dupla, ao mesmo tempo humana e divina. Ele é tanto Deus quanto homem” (Ms 76, 1903). Foi a natureza humana do Filho de Maria transformada na natureza divina do Filho de Deus? Não; as duas naturezas fundiram-se misteriosamente numa só pessoa — o homem Cristo Jesus” (Ex [MM 92], 77). “O humano não tomou o lugar do divino, nem o divino, do humano” (ST, 10/05/1899). “A divindade não se degradou, para tornar-se humanidade”; - a divindade conservou seu lugar” (ME1, 408). Ele exibia uma humanidade perfeita, combinada com a divindade: [...] preservando distinta cada uma das naturezas” (GCB, 4 trim/1899, 102). A humanidade de Cristo não podia ser separada de Sua divindade” (Ms 106, 1897; ver Ellen White, Material Suplementar sobre Jo.1:1-3; Jo.1:14; Ef.3:8; Fp.2:6-8; Cl.2:9). 5. A subordinação de Cristo. Assumindo voluntariamente as limitações da natureza humana na encarnação, o Senhor Jesus Cristo, dessa forma, subordinou-Se ao Pai en |
Jo.2:1 | 1. Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. Três dias depois. [As bodas em Caná da Galileia, Jo.2:1-12. Ver mapa, p. 213; gráfico, p. 227; sobre os milagres, ver p. 204-210.] Literalmente, “ao [ou “no”] terceiro dia” (ARC, NVI). Um idiomatismo hebraico e grego comum que significa “dois dias depois” (NTLH), ou o equivalente a “depois de amanhã” (cf. Lc.13:32; ver p. 246- 248; vol. 1, p. 160, 161; neste caso, o segundo dia após o incidente de Jo.1:43-51. Jesus saiu das vizinhanças de Betânia (ver com. de Jo.1:28) e viajou o resto do dia mencionado em Jo.1:43, todo o dia seguinte e a maior parte do terceiro dia. O cap. 2 continua a narrativa do cap. 1 sem interrupção. Se o batismo de Cristo ocorreu pela época da Festa dos Tabernáculos (ver com. de Mt.3:13), seria então mais ou menos o mês de dezembro. Cerca de dois meses haviam se passado desde que Jesus saíra de Nazaré (ver DTN, 145). Um casamento. Do gr. gamos, “um casamento”, “festividades de casamento”. Estas eram geralmente realizadas na casa do noivo e se prolongavam por vários dias (ver DTN, 145, 146; Mt.25:1-13). Caná. Desde os tempos bizantinos era tradicionalmente identificada com Kefr Kenna, que fica 5,5 km a nordeste de Nazaré, mas hoje se crê que seja a moderna Khirbet Qana, que fica 13 km ao norte de Nazaré (ver mapa, p. 215). Caná significa “lugar de canas”. As canas são abundantes em pântanos próximos a Khirbet Qana, e foram encontrados ali fragmentos de cerâmica que datam dos tempos romanos. Além disso, o nome Qana corresponde mais de perto ao nome antigo de Caná. Natanael era de Caná (Jo.21:2). Nessa cidade, o oficial do rei encontrou Jesus cerca de um ano mais tarde (Jo.4:43-54). A mãe de Jesus. João nunca se refere a Maria por nome (ver Jo.2:12; Jo.6:42; Jo.19:25). José, sem dúvida, já havia morrido nessa época (ver com. de Lc.2:51; sobre Maria como a mãe de Jesus, ver com. de Mt.1:23; Lc.1:27-28). |
Jo.2:2 | 2. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Jesus também foi convidado. Ele ficara sabendo do casamento e aparentemente retornou à Galileia nesse tempo para estar presente (DTN, 144). Seus discípulos. Havia cinco deles: João, André, Pedro, Filipe e Natanael (ver Jo.1:40-45). Possivelmente eles eram amigos ou parentes das duas famílias ou receberam o convite quando foram a Caná como companheiros de Jesus. A presença deles testificava do fato de que Jesus iniciara Sua obra como um mestre (ver com. de Jo.1:37; Jo.1:40). |
Jo.2:3 | 3. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Tendo acabado o vinho. Literalmente, “o vinho falhou”. Tendo ajudado nos preparativos do casamento (ver DTN, 146), Maria se sentiu responsável por suprir a falta e procurou evitar o embaraço que, de outra forma, ocorreria. É digna de nota a confiança de Maria ao ir a Jesus com o problema. Como bom filho, Jesus estivera atento às expectativas da mãe e sempre encontrava uma solução apropriada. A narrativa do evangelho não deixa claro se Maria esperava que Jesus realizasse um milagre, o que Ele nunca havia feito antes (cf. DTN, 145, 146). Possivelmente a presença de Jesus e dos discípulos havia atraído uma multidão. |
Jo.2:4 | 4. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Mulher. No Oriente, esta é uma forma de tratamento costumeira, digna e respeitosa (Jo.19:26; cf. DTN, 146). Aquele que havia ordenado que os seres humanos honrassem seus pais (Ex.20:12; cf. PP, 366) foi, Ele próprio, um vivo exemplo desse princípio. Durante 30 anos Jesus havia sido um filho amoroso e prestativo (ver com. de Lc.2:51-52; cf. DTN, 147). Que tenho Eu contigo? Literalmente, “o que para ti e para mim?” A expressão indica que o interlocutor excedeu os limites do que lhe diz respeito (ver Jz.11:12; 2Sm.16:10; 1Rs.17:18; 2Rs.3:13; 2Cr.35:21; Mt.8:29; Mc.1:24; Lc.8:28). A forma como Maria instruiu os serventes evidencia que ela não interpretou a resposta de Jesus como uma recusa (ver Jo.2:5). Ela ficou convencida de que Jesus supriria a necessidade no tempo e da maneira que achasse melhor. Ao longo de Sua vida privada em Nazaré, Jesus havia honrado a autoridade de Sua mãe; na verdade, sempre fora um filho solícito dentro do círculo de ação do lar, onde prevalecia essa relação (ver Jo.19:26-27). Porém, Jesus havia assumido uma vida pública, e Maria não compreendia plenamente o quanto isso limitava sua autoridade sobre Cristo. Talvez ela achasse que tinha, pelo menos em certo grau, o direito de dirigi-Lo em Sua missão (ver com. de Mt.12:46-50). Assim, nessas palavras inequívocas, porém corteses, Jesus procurou deixar clara a distinção entre Sua relação para com ela como Filho do Homem e como Filho de Deus (DTN, 147). O amor dEle para com ela não havia mudado, mas dali em diante Ele precisaria trabalhar dia a dia sob a direção de Seu Pai celestial (ver DTN, 208; ver com. de Lc.2:49). Como ocorreu no caso de Maria e Jesus, os pais hoje, muitas vezes, acham difícil afrouxar, aos poucos, a autoridade que exercem sobre os filhos, até abdicarem dela totalmente, a fim de que estes ganhem experiência ao enfrentar os problemas da vida por si mesmos e aprendam a aceitar a responsabilidade por suas decisões. Sábios são os pais e afortunados são os filhos quando essa transição de autoridade ocorre naturalmente e sem atritos. Minha hora. Ver Jo.7:6; Jo.7:8; Jo.7:30; Jo.8:20. Maria aparentemente esperava que Jesus, nessa ocasião, Se proclamasse o Messias (ver DTN, 145), mas ainda não havia chegado a hora de Ele anunciar isso (ver com. de Mc.1:25). Havia um momento marcado para cada acontecimento de Sua vida (DTN, 451; ver com. de Lc.2:49). Foi só perto do final de Seu ministério que Jesus afirmou publicamente ser o Messias (ver com. de Mt.21:1-2) e, por causa disso, Ele foi crucificado (Mt.26:63-65; Lc.23:2; Jo.19:7; ver com. de Mt.27:63-66); e foi somente na noite da traição que Jesus disse: “O Meu tempo está próximo” (Mt.26:18; Jo.12:23; Jo.13:1; Jo.17:1). |
Jo.2:5 | 5. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Serventes. Do gr. diakonoi, de onde vem a palavra “diácono”. Os serventes aparentemente recorreram a Maria como a pessoa responsável por fornecer mais vinho, pois nem mesmo “o mestre-sala” sabia ainda que este havia acabado (ver DTN, 148). |
Jo.2:6 | 6. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Talhas de pedra. Presume-se que a pedra era preferível à cerâmica comum como recipiente de água para propósitos de purificação. A água armazenada nesses recipientes se destinava a uso cerimonial dos convidados do casamento. Os judeus. João estava, evidentemente, escrevendo para não judeus. A explicação dada aqui não seria necessária para leitores judeus. As purificações. Isto é, a lavagem cerimonial das mãos antes e depois das refeições (ver com. de Mc.7:2-5) e talvez também dos vários utensílios necessários ao preparo e consumo dos alimentos durante a festa de casamento. Duas ou três metretas. A “metreta” (ver p. 38) devia ter 22 litros, ou, como outros pensam, 39 litros. Ao se tomar a estimativa menor de duas metretas por talha, em cada talha haveria 44 litros, ou 78 litros; todas as seis teriam ou 264 litros ou 468 litros. Deve ter ido a esse casamento grande número de convidados. |
Jo.2:7 | 7. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Enchei [...] as talhas. Tudo o que o poder humano for capaz de poder realizar deve ser feito por mãos humanas (ver p. 205, 206). O poder divino estava prestes a ser revelado, mas o esforço humano consciente devia estar unido a ele. Deus nunca faz pelos seres humanos o que eles podem fazer por si mesmos, pois isso os tornaria espiritualmente fracos. A semelhança de Moisés (ver Ex.4:2), da viúva (2Rs.4:2) e dos próprios discípulos de Jesus (Mt.15:34), devemos utilizar plenamente os recursos à mão se esperamos que Deus acrescente Sua bênção. Totalmente. Os serventes, mais tarde, puderam testificar que nas talhas não havia sido colocado nada a não ser água pura. |
Jo.2:8 | 8. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Mestre-sala. Do gr. architriklinos, literalmente, “governante dos três divãs de reclinação”. Em ocasiões sociais formais os convidados para uma festa se reclinavam em divãs inclinados para a frente colocados em três lados de uma mesa baixa, sendo que o quarto lado era deixado livre para que a mesa fosse servida. Esse arranjo da mesa com os divãs era chamado trilklinion (ver com. de Mc.2:15). |
Jo.2:9 | 9. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo Vinho. Este era “o puro suco de uva” (DTN, 149). Jesus agiria de maneira consistente com os princípios revelados aos escritores bíblicos anteriores (ver Pv.20:1; Pv.23:29-32; 1Co.3:16-17; 1Co.6:19; ver com. de Mt.26:27). Haviam tirado a água. A água deve ter continuado como água enquanto estava nas talhas, pois é dito que era “água” quando os servos a tiraram. Talvez tenha sido durante o processo de tirar a água das talhas que ela se tornou em vinho (ver Mc.6:41). Chamou o noivo. Nas regiões orientais, esperava-se que o noivo ou sua família fornecesse os suprimentos necessários para uma festa de casamento. |
Jo.2:10 | 10. e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Todos. O “mestre-sala” ficou confuso com o que parecia ser um desvio da prática comum e temeu que os convidados o censurassem por essa quebra do costume. Chamando o noivo, ele procurou deixar claro que a responsabilidade não era sua dele. Já beberam fartamente. Depois de as pessoas já terem bebido fartamente, seus sentidos estariam entorpecidos, e elas não seriam capazes de distinguir o bom do ruim. Bom vinho. Este vinho era superior a qualquer outro que o mestre-sala já havia provado (DTN, 148). Os convidados também notaram a qualidade do vinho (um detalhe que mostra que eles, a essa altura, ainda não haviam bebido “fartamente”) e fizeram indagações quanto a sua origem (DTN, 149). O Céu reserva as melhores coisas por último, para aqueles que esperam pacientemente. |
Jo.2:11 | 11. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Deu Jesus princípio. O primeiro milagre foi realizado cerca de uma semana após o chamado dos primeiros discípulos (ver v. Jo.2:1). O segundo milagre registrado também foi realizado em Caná, por ocasião da visita seguinte de Jesus, mais ou menos um ano depois (ver Jo.4:43-54). Sinais. Do gr. semeia (ver p. 204, 205). Sua glória. Isto é, a evidência do caráter e poder divinos (ver p. 205, 206; ver com. de Jo.1:14). Seus discípulos creram. Este milagre proporcionou aos primeiros discípulos uma evidência inicial e visível do poder divino que operava por meio de Cristo, fortaleceu-os contra a descrença e antipatia dos líderes judeus e lhes proporcionou a primeira oportunidade de testemunhar de sua recém-encontrada fé. Além disso, honrou a fé de Maria. De maneira prática, expressou o compassivo interesse de Jesus na felicidade humana. |
Jo.2:12 | 12. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. Depois disto. Do gr. meta touto, uma frase de transição usada por João (ver Jo.11:7; Jo.11:11; Jo.19:28) para indicar uma estrita sequência cronológica, mas sem especificar o intervalo de tempo. Desceu Ele para Cafarnaum. De Caná, que ficava em plena zona montanhosa da Galileia, Ele literalmente “desceu” para Cafarnaum, que ficava à margem do lago da Galileia, 200m abaixo do nível do Mediterrâneo (ver com. de Mt.4:13). O propósito dessa visita não é declarado. Seus irmãos. Ver com. de Mt.12:46. Não muitos dias. Provavelmente nos últimos dias do inverno de 27-28 d.C. |
Jo.2:13 | 13. Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. A Páscoa dos judeus. [Jesus purifica o templo, Jo.2:13-22; cf. com. de Mt.21:12-17. Ver mapa, p. 214; gráficos, p. 226-228]. Esta Páscoa, a de 28 d.C., foi a primeira do ministério de Jesus (ver p, 181, 244, 245). Se João estivesse escrevendo para leitores judeus, ele simplesmente teria dito “a Páscoa” (sobre a festa da Páscoa, ver com. de Ex.12:3-15; Lv.23:5; Dt.16:1-2). |
Jo.2:14 | 14. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados Templo. Do gr. hieron, o templo com seus átrios, pórticos e anexos, não o naos, o edifício principal em si, como no v. Jo.2:20 (ver com. de Mt.4:5). Em Jo.2:21, Jesus usa naos com referência a Seu corpo. O átrio externo, ou átrio dos gentios, foi o palco do comércio profano aqui descrito. Os que vendiam. Esta foi a primeira purificação do templo feita por Jesus, Seu primeiro ato de importância nacional. Por meio dela, Ele declarou Seu direito de administrar os assuntos do templo e anunciou Sua missão como o Messias. A segunda purificação ocorreu três anos mais tarde, na quarta Páscoa (ver p. 181, 244, 245; ver gráfico 5, p. 226; ver com. de Mt.21:12-17) como lembrete de que Suas reivindicações ainda eram válidas. Os cambistas. Ou, banqueiros (ver com. de Lc.19:23). |
Jo.2:15 | 15. tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas Um azorrague. Ou, “chicote”. Jesus na verdade não atingiu as pessoas. O chicote era um símbolo de Sua autoridade e, uma só vez que Ele o brandisse no ar, bastaria para tornar clara Sua intenção. Não é mencionado nenhum chicote em relação com a segunda purificação. De cordas. Do gr. schoinia, “corda de juncos trançados”. |
Jo.2:16 | 16. e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Casa de Meu Pai. O templo era o lugar da habitação de Deus entre os seres humanos (ver Ex.25:8). Vez após vez os judeus criticaram Jesus por falar de Deus como Seu Pai (ver Jo.5:17-18; Jo.8:18-19; Jo.8:38-39; Jo.10:30-33). Eles também reivindicavam a Deus como seu Pai (Jo.8:41), mas entendiam que Jesus fazia isso num sentido mais elevado. Perceberam que, em outras palavras, Jesus reivindicava absoluta divindade. Na segunda purificação, Jesus falou do templo como “Minha casa” (Mt.21:13) e, quando os líderes rejeitaram Seu apelo final, no dia seguinte, Ele Se referiu ao templo como “vossa casa” (Mt.23:38). Casa de negócio. Isto é, um mercado, um lugar para transações comerciais comuns. Na segunda purificação, Ele usou a expressão “covil de salteadores” (ver com. de Mt.21:13). Hoje, os que procuram fazer da casa de seu Pai uma “casa de oração” (Mt.21:13) evitarão torná-la um lugar para pensamentos, palavras ou atos comuns. Entrarão em Sua casa com respeito e reverência, cônscios de Sua santa presença, e com o coração e a mente elevados em oração e louvor (ver Jo.4:23-24; Sl.96:9). |
Jo.2:17 | 17. Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. Lembraram-se. Talvez na mesma hora (cf. v. Jo.2:22). Zelo. Do gr. zelos, “zelo”, “ardor”, “indignação” ou “ciúmes”. Esta é uma citação do Sl.69:9 (ver com. ali). Jesus desejava que a casa de Seu Pai fosse usada para o propósito para o qual tinha sido dedicada (ver com. de Ex.25:8-9; Mt.21:13). Consumirá. Para Jesus, a lealdade a Deus era uma paixão consumidora; o mesmo devia acontecer com os crentes. |
Jo.2:18 | 18. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Os judeus. A designação característica de João para os líderes religiosos da nação. Sinal. Do gr. semeion (ver p. 204, 205; ver com. de Is.7:14; Mt.12:38-39). Os líderes exigiam evidências de que Jesus tinha o direito de assumir a direção dos negócios do templo. Seu ato constituiu um desafio direto à autoridade deles, algo que não podiam passar por alto (cf. com. de Jo.1:19; Jo.1:25). Como sempre, a exigência de um “sinal” do tipo que esses críticos desejavam ficou sem resposta (ver com. de Mt.12:38-39; Lc.23:8). |
Jo.2:19 | 19. Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Destruí este santuário. Aqui a palavra é naos, o santuário propriamente dito (ver com. do v. Jo.2:14). Nestas palavras, Jesus, pela primeira vez, dá uma pista do destino que O aguardava no final de Sua peregrinação terrestre. Os judeus já estavam tramando Sua morte (ver DTN, 164). Em Seu julgamento, eles distorceram esta declaração e O acusaram de ter a intenção de destruir o templo, fazendo da acusação uma desculpa, e assim cumpriu-se a profecia acerca de Cristo (cf. Mc.14:58; ver com. de Mt.26:61). A analogia entre o templo literal e o corpo de Cristo não é tão remota quanto a princípio parece. O santuário, e mais tarde o templo, cumpriam o propósito de ser a habitação terrena de Deus (ver com. de Ex.25:8-9). Ali, acima do propiciatório, aparecia o shekinah, o glorioso símbolo da sagrada e permanente presença de Deus (ver com. de Gn.3:24; Ex.25:17). Mas, como João já havia salientado (ver com. de Jo.1:14), essa mesma glória divina habitou em carne humana na pessoa do Senhor (cf. 1Co.3:16). Três dias. Ver p. 246-248. Reconstruirei. Jesus Se referia a Sua ressurreição (ver com. de Jo.10:18). Mas, ignorando o significado da declaração, os judeus pensaram na estrutura do templo literal. Finalmente eles acabaram discernindo o significado das palavras de Jesus (ver Mt.27:63-64). |
Jo.2:20 | 20. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Quarenta e seis anos. Ver p. 239, 240. Aplicada literalmente ao templo, a declaração figurativa de Jesus se tornava absurda. Os judeus se recusavam a ver em Suas palavras algo além do significado superficial, ou a ver nEle próprio algo além da aparência de um homem comum (ver Jo.7:15; Jo.7:20; Jo.7:33-36; ver com. de Jo.5:17-18; Jo.8:52-59; Jo.9:29). Esta interpretação superficial da vida e dos ensinos de Jesus é típica de muitos até hoje. |
Jo.2:21 | 21. Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. Porém, Se referia. Ver com. de Jo.2:19-20; 1Co.3:16-17. |
Jo.2:22 | 22. Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus. Quando, pois. Isto é, quando a predição se cumprisse (cf. com. de Mt.17:9). Foi apenas do ponto de vista do ministério de Jesus como um todo que os discípulos puderam entender o significado de algumas de Suas palavras e atitudes. Após a ressurreição, o Espírito Santo os conduziu a uma compreensão mais perfeita do significado de Suas palavras e ações (ver Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:13). Na Escritura. João parece ter em mente uma passagem específica das Escrituras, possivelmente o Sl.16:10, ou Sl.69:9, citado no v. Jo.2:17. Talvez ele se refira, de maneira geral, a todas as profecias messiânicas do AT, cujo significado os discípulos entenderam mais plenamente após a ressurreição (cf. com. de Lc.24:25-27; Lc.24:44; Jo.12:16). Na palavra. Isto é, naquilo que Jesus disse no v. Jo.2:19. |
Jo.2:23 | 23. Estando ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome Páscoa. [Muitos creem em Jesus, Jo.2:23-25]. Ver com. do v. Jo.2:13. Muitos [...] creram. Este é o primeiro registro de uma resposta pública à mensagem de Jesus. João nota que, em várias ocasiões, “muitos creram” (ver Jo.4:39; Jo.11:45; Jo.12:42; ver com. de Jo.1:12). Isso marca a abertura do ministério na Judeia, que durou muitos meses e foi encerrado formalmente na Páscoa de 29 d.C. (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44; gráfico, p. 227; com. de Mt.4:12). Os sinais. Este é o único registro de milagres durante o período do ministério na Judeia. O único milagre específico mencionado foi o que assinalou a terminação dessa etapa: a cura do homem no tanque de Betesda (Jo.5:1-9). |
Jo.2:24 | 24. mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. Não Se confiava. Isto é, aos que professavam crer nEle (v. Jo.2:23). Ele sabia que muitos daqueles que se mostravam tão ansiosos para aclamá-Lo iriam, como o povo da Galileia dois anos mais tarde, abandoná-Lo (cf. Jo.6:66). Ele conhecia a inconstância do coração humano e sabia que muitos conversos nos tempos de bonança são superficiais ou hipócritas (ver Jo.6:64; ver com. de Jo.7:2-9). |
Jo.2:25 | 25. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana. O que era a natureza humana. Jesus frequentemente lia os pensamentos das pessoas, dando, assim, evidência de Sua divindade (ver com. de Mc.2:8). |
Jo.3:1 | 1. Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Nicodemos. [Nicodemos visita a Jesus, Jo.3:1-15. Ver mapa, p. 214; gráfico, p. 227]. Este é um nome grego que significa “conquistador do povo”. Nos tempos do NT, muitos judeus já haviam adotado nomes gregos. Este era o caso dos discípulos André, Filipe, Dídimo e Alfeu. Nicodemos era um homem rico, fariseu e membro do conselho nacional, o Sinédrio. A divisão em capítulos aqui obscureceu a relação da narrativa do cap. 3 com os versículos finais do cap. 2. A entrevista com Nicodemos ilustra a declaração de Jo.2:25, de que Jesus “sabia o que era a natureza humana” (ver com. de Jo.3:3). Ele reconheceu neste líder um sincero inquiridor da verdade, alguém a quem podia confiar um conhecimento mais claro e completo de Sua missão (Jo.2:24). Nicodemos era uma notável exceção ao princípio geral apresentado nos v. Jo.2:24-25. Assim, no próprio começo de Seu ministério público, Jesus ganhou um amigo cuja influência providencialmente frustrou os planos dos líderes que queriam fazê-Lo encerrar prematuramente Seus labores (ver Jo.7:50-51; Jo.19:39; DTN, 176, 460). Um dos principais. Isto é, um membro do Sinédrio (ver p. 54). Dos judeus. Ver com. de Jo.1:19. |
Jo.3:2 | 2. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. De noite. Ciente da atitude dos líderes em geral em relação a Jesus, Nicodemos achou que seria sábio não comprometer sua reputação ou posição dando a conhecer que ele levava Jesus suficientemente a sério a ponto de buscar uma entrevista pessoal com Ele. Esta precaução deu mais peso aos esforços de Nicodemos para desviar os líderes do propósito de prender a Jesus. Foi ter com Jesus. Esta entrevista ocorreu no monte das Oliveiras (DTN, 168; cf. 685, 686), talvez não muito depois da primeira purificação do templo (Jo.2:13-17). Nicodemos testemunhara aquele dramático incidente (ver DTN, 168) e, sem dúvida, havia ouvido Jesus e testemunhado alguns de Seus milagres (Jo.2:23). Ele certamente partilhava com outros judeus a esperança de um Messias político que libertaria a nação do jugo de Roma (ver com. de Lc.4:19) e deve ter ficado perplexo quando Jesus explicou a natureza espiritual de Seu reino. Nicodemos era cauteloso por natureza e só se declarou abertamente um seguidor do humilde nazareno depois da crucifixão (Jo.19:39; cf. DTN, 177). A semente plantada nessa ocasião caiu em solo fértil e, finalmente, produziu uma colheita abundante. Rabi. Ver com. de Jo.1:38. Sabemos. Nicodemos ficara convencido com as evidências da aprovação divina tão clara nas palavras e obras de Jesus. Os outros líderes tiveram igual oportunidade de observar e considerar a natureza das credenciais de Jesus (ver Jo.2:18-20) e, sem dúvida, sabiam tão bem quanto Nicodemos a conclusão para a qual as evidências apontavam. No entanto, o orgulho e a perversidade de coração os impediram de aceitar a validade delas, como Nicodemos o fez. Ele foi um dos “muitos” dos que “creram” (Jo.2:23). Mestre. Do gr. didaskalos (ver com. de Jo.1:38), um título de respeito. O próprio Nicodemos era um “mestre [didaskalos] em Israel” (Jo.3:10), mas estava disposto a aceitar a Jesus como seu igual, que não tinha educação formal nem permissão oficial para ensinar. A única explicação dessa visita é que ele sentiu no coração o fato de Jesus ser mais do que simplesmente um mestre. A princípio, contudo, o orgulho o impediu de revelar seus pensamentos de que Jesus pudesse ser o Messias. Mas, quando sua reação é contrastada com a dos outros líderes da nação, pode-se ver como é surpreendente o grau em que seu desejo pela verdade venceu o orgulho. Da parte de Deus. Estas palavras estão em posição enfática no grego. Com elas, Nicodemos reconheceu que os milagres de Jesus demonstravam que Suas credenciais constituíam a prova de uma autoridade mais que humana. Ninguém. Os milagres (ver Jo.2:23) constituíam uma evidência do poder divino que não se podia negar. Em ocasiões posteriores, Jesus dirigiu a atenção dos líderes judeus para o significado de Seus milagres, a fim de provar que Sua missão era divina (ver Jo.5:36; Jo.10:38; cf. p. 205, 206; DTN, 406). Que Tu fazes. O pronome pessoal “tu” é enfático. Os milagres de Jesus eram diferentes dos de outros homens; demonstravam ser genuínos. Se Deus não estiver com ele. Os milagres atestavam aprovação e reconhecimento divinos. Nicodemos foi levado pelas evidências às suas conclusões lógicas. |
Jo.3:3 | 3. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Em verdade, em verdade. Ver com. de Jo.1:51. Jesus desconsiderou o elogio proferido e direcionou Sua resposta ao anseio pela verdade implícito no fato de Nicodemos procurá-Lo para uma entrevista particular. De novo. Do gr. anothen, que em outras passagens de João significa “do alto”, “de cima” (Jo.3:31; Jo.19:11). A palavra pode ser usada corretamente nos dois sentidos. Está claro que Nicodemos a compreendeu no sentido de “de novo” (v. Jo.3:4), mas Jesus certamente quis dizer “do alto”, como anothen é usado um pouco adiante (Jo.3:31). Certamente o nascimento ao qual Jesus Se refere aqui é um segundo nascimento, mas não é uma repetição do primeiro, como a tradução “de novo” poderia sugerir. Segundo a teologia judaica, nascer como filho de Abraão era quase uma garantia de admissão no reino do Céu (Jo.8:33). Mas, para serem salvos, os não judeus precisavam se tornar filhos de Abraão por adoção. Nicodemos não teria se surpreendido ao ouvir Jesus afirmar que os não judeus precisavam “nascer de novo” para “ver o reino de Deus”. No entanto, a ideia de que ele, um judeu respeitável, estivesse fora do círculo da salvação era nova e perturbadora. Dois anos e meio mais tarde (Jo.8:39), Jesus declarou explicitamente que pertencer à linhagem de Abraão significa ter uma semelhança moral e não uma relação física (ver os ensinos de Paulo sobre este mesmo ponto, em Rm.2:28-29; Rm.9:6-7; Rm.10:12-13; Gl.3:9; Gl.3:28-29). A conversão e o nascimento são semelhantes no sentido de que ambos marcam o início de uma nova vida (ver com. de Jo.1:13; Rm.6:3-6; 2Co.5:17; Ef.4:22-24; Cl.3:9-11). Ver. Isto é, “entrar em” (v. Jo.3:5). O reino de Deus. Jesus aqui Se refere primariamente a Seu reino espiritual, o reino da graça divina (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:2). |
Jo.3:4 | 4. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Pode, porventura, voltar [...]? Nicodemos sabia que Jesus não falava de um renascimento físico, e sua resposta não subentende que ele pensasse assim. Ele simplesmente reconhecia a impossibilidade disso. Mas a conclusão alternativa lhe parecia igualmente incrível, que ele, um judeu devoto, precisasse passar pela experiência que Jesus mencionava. Ele enfrentou um dilema: era incapaz de aceitar a primeira alternativa e não estava disposto a aceitar a segunda. |
Jo.3:5 | 5. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Da água e do Espírito. Jesus passou a explicar o que significa nascer do alto (ver com. de Jo.1:12-13). A referência à “água” era uma clara alusão ao batismo na água, ministrado aos prosélitos judeus e praticado pelos essênios (ver p. 50, 51, 78, 79). Além disso, fazia meses, João vinha batizando seus irmãos judeus no rio Jordão (Mt.3:5-6; Mt.3:11). Contudo, os fariseus, que pretendiam ter um grau superior de justiça, recusavam o batismo (Lc.7:30) porque João o tornou um símbolo do arrependimento (ver com. de Mt.3:6). Sem dúvida, Nicodemos havia escutado João e talvez tenha ouvido suas declarações sobre o batismo com água (Jo.1:26) e com o Espírito Santo (v. Jo.1:33). Nicodemos esperava ser admitido no reino de Deus como um judeu por nascimento e por devoção, mas Jesus declarou que qualquer coisa inferior a uma completa transformação da vida pelo poder do Espírito Santo era insuficiente (ver com. de Rm.6:3-6). “Nascer da água e do Espírito” equivale a “nascer de novo”, isto é, “do alto” (ver com. de Jo.3:3). Os que são nascidos do alto têm a Deus como Pai e se assemelham a Ele no caráter (ver 1Jo.3:1-3; Jo.8:39; Jo.8:44). Portanto, almejam, pela graça de Cristo, viver livres do pecado (Rm.6:12-16) e não entregam sua vontade ao pecado (1Jo.3:9; 1Jo.5:18). |
Jo.3:6 | 6. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Nascido da carne. Isto é, pelo nascimento natural (ver Jo.1:13). O princípio do mundo natural, de que todas as coisas vivas se reproduzem “segundo as suas espécies” (Gn.1:21), é igualmente verdadeiro no mundo espiritual. No NT, “carne” e “Espírito” são antagônicos e representam duas formas de vida opostas e mutuamente exclusivas (cf. Rm.6:12-18). |
Jo.3:7 | 7. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. Sem comentário para este versículo. |
Jo.3:8 | 8. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. Vento. Do gr. pneuma, “espírito”, “fôlego” ou “vento”. Obviamente aqui se aplica o último significado. Assim é todo. À semelhança do vento, o novo nascimento é invisível. Em cada um desses casos a avaliação deve basear-se nos efeitos produzidos. |
Jo.3:9 | 9. Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Sem comentário para este versículo. |
Jo.3:10 | 10. Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Mestre em Israel. Literalmente, “o mestre de Israel”. Nicodemos ficou perplexo ante as coisas que ele mesmo devia ensinar. |
Jo.3:11 | 11. Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Nós dizemos. Jesus fala aqui no plural talvez por declarar um princípio geral, que era válido em relação a Si mesmo bem como a Nicodemos. O que Nicodemos dissera (v. Jo.3:9) mostrava que, para um “mestre em Israel”, ele desconhecia coisas essenciais. As afirmações e as perguntas de Nicodemos revelam sua falta de conhecimento. Sua noção de salvação era apenas teórica e estava baseada numa falsa teoria. Se Nicodemos tivesse experimentado o novo nascimento, não só ele próprio o entenderia, mas seria capaz de falar dele a outros. Alguns sugerem que, com o pronome “nós”, Jesus Se referia aos membros da Divindade. Não aceitais. Se persistisse em entender mal o que Jesus dizia, Nicodemos estaria se colocando entre os que “não O receberam” (Jo.1:11). |
Jo.3:12 | 12. Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Coisas terrenas. A distinção aqui entre as “coisas terrenas” e as “celestiais” não é inteiramente clara. Talvez com a expressão “coisas terrenas” Jesus fizesse referência a princípios elementares da salvação, como o novo nascimento. Em contraste, as coisas “celestiais” seriam os mistérios mais profundos de Deus, dos quais, talvez, pudesse se esperar que apenas um mestre em Israel tivesse discernimento. Nicodemos ainda lutava com os princípios elementares e estava despreparado para discutir verdades mais profundas (cf. 1Co.3:1-2; Hb.5:12-14). |
Jo.3:13 | 13. Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu]. Ninguém. Nenhuma pessoa pode falar com autoridade sobre as “coisas celestiais” a menos que tenha estado no Céu (cf. v. Jo.3:11). Os seres humanos discernem os segredos do Céu apenas por revelação, nunca por especulação. Subiu ao céu. Isto é, nenhum ser humano foi ao Céu para aprender as “coisas celestiais” (v. Jo.3:12). Apenas o Filho do Homem, que veio do Céu e é de lá, pode revelá-las. Não há referência aqui à ascensão de Cristo ao Céu após a ressurreição. De lá desceu. Cf. Jo.6:33; Jo.6:38; Jo.6:41-42; Jo.6:50-51; Jo.6:58; ver com. de Jo.1:14. O Filho do Homem. Título característico de Cristo para Si mesmo, Seu uso aqui prova que é Jesus que ainda está falando (ver com. de Mc.2:10). Que está no céu. Importantes evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta frase. Caso ela seja original, refere-se à existência atemporal de Jesus no Céu, Sua morada permanente. É possível, contudo, que a frase tenha sido acrescentada por um escriba posterior e, portanto, numa época em que Jesus já estava novamente “no Céu”. |
Jo.3:14 | 14. E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, A serpente. Ver com. de Nm.21:6-9. Assim. No deserto, o ansioso olhar da fé produzia cura. “Assim”, a fé no infinito sacrifício no Calvário proporciona cura para a ruína causada pelo pecado. No último dia em que ensinou no templo, Jesus declarou: “Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim mesmo” (Jo.12:32). Em João, a expressão “levantado” sempre se refere à crucifixão (ver Jo.8:28; Jo.12:34). O evangelho não cita nenhuma outra ocasião, neste período inicial do ministério de Jesus, em que Ele tenha revelado a profunda verdade dita aqui para Nicodemos. Quando Nicodemos viu Jesus pendendo da cruz, ele deve ter-se lembrado vividamente da figura de Moisés levantando a serpente no deserto e das palavras de Jesus sobre ser “levantado”. No entanto, esse evento, que destruiu as esperanças dos discípulos, convenceu Nicodemos da divindade do Filho de Deus (DTN, 775, 776). Dos sinóticos, apenas Mateus (Mt.20:19) cita o fato de Jesus ter predito Sua morte por crucifixão. Importa. Ou, “é necessário”. Toda vez que usa esta palavra com referência a Si mesmo (ver Jo.9:4; Jo.10:16; Jo.12:34; Jo.20:9), Jesus afirma o plano divino que O trouxe à Terra para a concretização da salvação (ver com. de Lc.2:49). A maioria dos comentaristas defende que as palavras de Jesus terminam no v. Jo.3:15, e que, a partir do v. Jo.3:16, estão comentários do evangelista. |
Jo.3:15 | 15. para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Crê. Ver com. de Jo.1:12; Jo.3:16. Não pereça (ARC). A evidência textual favorece (cf. p. 136) a omissão destas palavras no v. Jo.3:15, como na ARA, mas confirma sua inclusão no v. Jo.3:16. |
Jo.3:16 | 16. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus amou. [A missão do Filho, Jo.3:16-21]. A palavra “amor” é totalmente inadequada para expressar a profundidade do interesse e da solicitude expressos pelas palavras gregas agape, “amor”, e agapao, “amar” (ver com. de Mt.5:43). O amor é o atributo supremo do Criador em relação a Suas criaturas. É a força controladora no governo divino. “Deus é amor” (1Jo.4:8). João refere-se a si mesmo como “aquele discípulo a quem Jesus amava” (Jo.21:7; Jo.13:23; Jo.19:26; Jo.20:2; Jo.21:20), isto é, amava mais. A razão para isso era simplesmente que João, mais do que seus companheiros, se submeteu à influência da vida perfeita de Jesus e, por isso, entendeu e refletiu essa perfeição mais plenamente (ver p. 983, 984). Assim, João estava mais qualificado do que os outros a apreciar a magnitude do amor divino e a explicá-la. É isso que ele tenta fazer em Jo.3:16: “Deus amou ao mundo de tal maneira”. Em 1Jo.3:1, ele exclama novamente: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai.” Faltam palavras para expressar a profundidade desse amor eterno e imutável, e João simplesmente faz a todos o convite para que o contemplem. A suprema expressão do amor divino é o ato do Pai em dar Seu Filho (Jo.3:16), por meio de quem se toma possível “sermos chamados filhos de Deus” (1Jo.3:1). “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo.15:13). Mundo. Do gr. kosmos, o mundo como uma entidade criada e organizada (ver com. de Mt.4:8). O amor de Deus alcança toda a humanidade, mas beneficia diretamente apenas os que respondem a ele (ver com. de Jo.1:12). O amor requer reciprocidade a fim de ser eficaz. No entanto, o amor de Deus beneficia não só os que o aceitam, mas também os que o rejeitam. Os perdidos podem acusar a Deus de não amá-los. Afirmar que Deus predestinou certas pessoas para se perderem, não importando a própria escolha delas, é dizer que Ele as odeia; é estigmatizá-Lo como injusto e colocar sobre Ele a culpa pelo destino delas (ver Rm.5:8; 2Co.5:19; ver com. de Jo.3:17-20). Que deu. O amor é genuíno apenas quando está em ação. O amor de Deus pelos pecadores O levou a dar tudo o que tinha para que se salvassem (ver Rm.5:8). A essência do amor é sacrificar-se por outros; o egoísmo é a antítese do amor. O Seu Filho unigênito. Literalmente, “o Seu Filho único” (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver com. de Lc.1:35; Jo.1:14). Todo o que. Não há limites ao amor de Deus. Não há ninguém a quem Ele arbitrariamente restrinja os benefícios da graça salvadora. Há apenas uma condição: a crença em Cristo e a voluntária cooperação com Ele (ver com. de Jo.1:12). É a bondade de Deus que leva as pessoas ao arrependimento (Rm.2:4). O amor divino atrai os corações endurecidos, traz de volta os perdidos e transforma pecadores em santos. Crê. Ver com. de Jo.1:12. Pereça. Do gr. apollumi, “destruir completamente”, “apagar da existência”, “desvanecer-se no nada”. “O salário do pecado é a morte” (Rm.6:23). O oposto de “vida eterna” não é miséria eterna, mas aniquilação eterna, morte eterna. O pecado tem dentro de si as sementes da dissolução. Segue-se então a morte, não porque Deus a deseja, mas porque o pecador escolhe separar-se de Deus, a fonte da vida. A vida eterna. Do gr. zoe aionios. Em João, o adjetivo aionios, “eterno(a)”, ocorre apenas com a palavra zoe, “vida” (Jo.3:15-16; Jo.3:36; Jo.4:14; Jo.4:36; Jo.5:24; Jo.5:39; Jo.6:27; Jo.6:40; Jo.6:47; Jo.6:54; Jo.6:68; Jo.10:28; Jo.12:25; Jo.12:50; Jo.17:2-3; sobre o significado de zoe, ver com. de Jo.1:4; e o de aionios, ver o com. de Mt.25:41). O grego de Jo.3:16 diz, literalmente: “pudesse continuar tendo vida eterna”. “Vida eterna” é uma vida que dura para sempre, uma vida que não tem fim. Ela se torna possível somente por meio de uma ligação ininterrupta com a Fonte da vida. Em 1Jo.5:11, o evangelista enfatiza o fato de que Deus “nos deu a vida eterna [zoe aionion]”. O dom da vida eterna ocorreu quando Deus ofereceu o dom inefável de Seu único Filho. É privilégio do cristão sincero regozijar-se porque tem a “vida eterna” agora, como um dom de Deus, e “esta vida está no Seu Filho” (1Jo.5:11; 1Jo.3:2). “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo.5:12). A posse da vida eterna está condicionada à habitação de Cristo no coração pela fé. Aquele que crê tem a vida eterna, e “passou da morte para a vida” (ver com. de Jo.5:24-25; Jo.6:54; Jo.8:51). |
Jo.3:17 | 17. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Deus enviou. Equivalente a “Deus deu” (Jo.3:16; Mt.15:24; Mc.9:37; Lc.4:18; Lc.4:43). João aqui não está preocupado com a relação teológica entre Aquele que foi enviado e Aquele que O enviou, mas com o propósito do envio (ver com. de Mt.1:23). O “envio” de Jesus não implica a superioridade do que envia nem a inferioridade do que é enviado. Ao longo de toda a eternidade passada, Cristo era “igual a Deus” (Ev, 615; ver com. de Jo.1:1). O Seu Filho. Ver com. de Lc.1:35; Jo.1:14. Ao mundo. Isto é, na encarnação (ver com. de Jo.1:14). Para que julgasse o mundo. João se apressa em explicar (v. Jo.3:18-19) que se alguém não crê no Filho “já está julgado”, simplesmente por se recusar a crer. O propósito de Deus ao enviar Seu Filho é salvar o mundo. Se, por causa da vinda do Salvador, alguns entram em condenação, isso não é culpa de Deus. A condenação não resulta da vinda da Luz verdadeira (ver com. de Jo.1:4-9), mas de as pessoas deliberadamente darem as costas à Luz por preferirem as trevas. Os judeus imaginavam o Messias vindo como um juiz para condenar os descrentes (ver com. de Lc.4:19), e os anjos se alegrando com a destruição dos perdidos (ver com. de Jo.15:7). Cristo veio, porém, não para condenar o mundo, como este merecia, mas para salvá-lo (cf. DTN, 25). Por Ele. Ver com. de Mt.1:21; Lc.19:10. Deus deseja que todos sejam salvos e, pelo dom de Seu Filho, fez provisão para isso. Contudo, a vontade de Deus precisa ser unida à vontade de cada pessoa individualmente, a fim de que possa se efetivar. A salvação é apenas para os que creem em Cristo e O recebem (ver com. de Jo.1:12; Jo.3:16). |
Jo.3:18 | 18. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Já está julgado. Da mesma forma que os que creem em Cristo são justificados em virtude de sua fé, os que não creem são condenados por sua falta de fé. Nunca foi a vontade do Pai que alguns rejeitassem a Cristo, e aqueles que o fazem trazem o juízo sobre si mesmos. É a ausência da fé salvadora que resulta em condenação. “Tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm.14:23). Essa condenação não foi o objetivo da vinda do Salvador ao mundo. Mas, para os que não creem, ela é o resultado inevitável de Sua vinda. Deus predeterminou que os que creem sejam salvos e que os descrentes se percam, mas deixou a critério de cada pessoa escolher crer ou não. Nesse sentido, o destino de crentes e descrentes foi, em perspectiva, decidido quando o plano da salvação foi formulado; mas é dada ao indivíduo a possibilidade de escolha. Esta é a predestinação bíblica. No juízo final, a sentença será proferida de forma individual, da mesma forma como, há muito tempo, foi proferida coletivamente (ver com. de Jo.3:19; Jo.5:29; Ef.1:3-12). No nome. Ver com. de Jo.1:12. Unigênito. Ver com. de Jo.1:14. Filho de Deus. Ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver com. de Lc.1:35. |
Jo.3:19 | 19. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. O julgamento. Do gr. krisis, o processo de julgar, não krima, a sentença, o resultado do julgamento. A luz veio. Ver com. de Jo.1:4-5; Jo.1:9. Aqui João explica como a condenação recai sobre as pessoas. Alguns se perderão não porque Deus desejou (ver com. de Jo.3:18), mas porque preferiram as trevas. A sentença não é arbitrária, mas é o resultado inevitável da lei de que “o salário do pecado é a morte” (Rm.6:23). O destino de toda pessoa é determinado por sua resposta à luz celestial. Enquanto as pessoas não recebem a luz, não há condenação (Sl.87:4; Sl.87:6; Ez.3:18-21; Ez.18:2-32; Ez.33:12-20; Lc.23:34; Jo.15:22; Rm.7:7; Rm.7:9; 1Tm.1:13), mas quando a luz da verdade brilha no coração, “não têm desculpa do seu pecado” (Jo.15:22). Os que não estão dispostos a renunciar aos maus caminhos preferem as trevas e, ao fazê-lo, cegam-se a si mesmos (2Co.4:4). Por outro lado, Jesus promete que os que escolhem segui-Lo não andarão nas trevas (Jo.8:12) e que ninguém os arrebatará de Sua mão (Jo.10:28). |
Jo.3:20 | 20. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Aborrece a luz. Somente quem odeia a luz da verdade é cegado pelo maligno (ver com. do v. Jo.3:19). Ele evita a luz pela mesma razão que o ladrão evita o policial. |
Jo.3:21 | 21. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. Pratica a verdade. Isto é, anseia que os princípios da verdade operem mais plenamente na vida. Como Paulo, tal pessoa reconhece, que em si mesma “não habita bem nenhum” (Rm.7:18) e que o crédito pela vida vitoriosa pertence a Deus, que a tornou possível por meio de Jesus Cristo (Rm.8:1-4; 1Co.15:57; Gl.2:20; ver com. de Mt.5:48). |
Jo.3:22 | 22. Depois disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia; ali permaneceu com eles e batizava. Depois disto. [Outro testemunho de João Batista, Jo.3:22-30. Ver mapa, p. 218; gráfico, p. 226, 227]. Do gr. meta tauta, uma frase comum de transição (ver Jo.5:1; Jo.6:1; Jo.7:1). “Isto” refere-se aos eventos de Jo.2:13-3:21, que ocorreram na Páscoa de 28 d.C. ou pouco depois. Seus discípulos. João, André, Pedro, Filipe e Natanael (ver Jo.1:40-45). Para a terra da Judeia. Os eventos de Jo.2:13-3:21 ocorreram nas proximidades de Jerusalém. A partir de Jerusalém, Jesus então passa a estender Seu ministério às cidades e aldeias da Judeia, onde trabalhou por um período de aproximadamente oito meses, de abril a dezembro do ano 28 d.C. (ver gráficos, p. 226, 227; ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44). Com exceção do breve relato de Jo.3:22-36, a narrativa evangélica silencia sobre os detalhes desse período do ministério do Senhor. Jesus reservou a fase inicial de Seu ministério público a Jerusalém e à Judeia, com o objetivo específico de dar aos líderes a oportunidade de verem as evidências de Sua missão divina, de O aceitarem como o Messias e de levar a nação a cumprir a tarefa que Lhe fora designada por Deus (DTN, 231; ver vol. 4, p. 13-17). Mas, apesar do aparente sucesso da fase inicial, o ministério na Judeia foi de poucos resultados práticos (ver DTN, 194, 245). De fato, ocorreram mais conversões verdadeiras no dia de Pentecostes do que durante todo o ministério terreno de Cristo (ver Ellen White, Material Suplementar sobre At.2:1-4; At.2:14; At.2:41). A grande popularidade de Jesus (Jo.3:26) despertou ciúmes dos discípulos de João em favor de seu mestre, que estava simultaneamente pregando e batizando na mesma região. Por isso, mais ou menos no mês de dezembro, Jesus Se retirou temporariamente para a Galileia (Jo.4:1-3). Ele retornou a Jerusalém para a Páscoa de 29 d.C., quando concluiu Seu primeiro ministério na Judeia e direcionou Seus esforços na Galileia (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44; gráfico, p. 226; ver com. de Mt.4:12; Lc.4:16). Permaneceu [...] e batizava. Os verbos gregos indicam um ministério prolongado. Ao batizar, Jesus deu aprovação ao ministério de Seu precursor, mas Ele próprio delegava o ato do batismo em si aos discípulos (Jo.4:2). Como João Batista, Jesus sem dúvida procurava locais onde havia “muitas águas” (Jo.3:23; sobre o rito do batismo, ver com. de Mt.3:6). |
Jo.3:23 | 23. Ora, João estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era batizado. João estava também batizando. O ministério de João continuou pelo menos até o período do afastamento temporário de Jesus da Judeia, mais ou menos no mês de dezembro. Ele foi preso e encarcerado entre esse momento e a Páscoa seguinte (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44; gráfico, p. 226; ver com. de Lc.3:19-20). Enom, perto de Salim. A localização destes lugares antigos é incerta. Segundo William F. Albright, a identificação mais provável parece ser com a moderna Salim, que fica 6,5 km a sudeste de Nablus e Siquém, e perto da aldeia atual de Ainun. Essas aldeias ficam próximas às cabeceiras do Wad Farah, onde há muitas nascentes. A localização tradicional, de época posterior, fica alguns quilômetros a sudeste de Citópolis (Bete-Seã), próxima ao rio Jordão, onde pareceria desnecessário João enfatizar que havia “muitas águas”. Esta descrição seria significativa somente em relação a uma localidade comparativamente desconhecida, onde a falta de um abundante suprimento de água poderia suscitar um questionamento sobre como o rito do batismo poderia ser realizado (ver mapa, p. 327). Muitas águas. Este comentário sugere o batismo por imersão, a única forma do rito em que seriam indispensáveis “muitas águas” (ver com. de Mt.3:6; Rm.6:3-6). |
Jo.3:24 | 24. Pois João ainda não tinha sido encarcerado. Encarcerado. João ficou na prisão cerca de um ano, mais ou menos da época da Páscoa em 29 d.C. até a mesma época do ano seguinte (ver com. de Lc.3:19-20). |
Jo.3:25 | 25. Ora, entre os discípulos de João e um judeu suscitou-se uma contenda com respeito à purificação. Suscitou-se uma contenda. Embora evitassem um ataque aberto a João, por medo do povo (Mt.21:26), as autoridades judaicas procuraram maneiras menos notórias de atrapalhar sua obra. O batismo era um dos pontos centrais da pregação de João (Mc.1:4; Lc.3:3), como símbolo do arrependimento e da purificação do pecado. Os judeus praticavam o batismo de prosélitos, para a purificação cerimonial dos conversos gentios (ver com. de Jo.3:3-5). Mas João exigia que os judeus aceitassem o rito e o tornassem um sinal de arrependimento e de abandono do pecado. Os essênios praticavam um batismo semelhante ao que João ministrava (ver p. 50, 51, 78, 79), mas eles eram poucos em número e tinham pouca influência na vida e nas ideias da nação. Purificação. Isto é, lavagem cerimonial. |
Jo.3:26 | 26. E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro. Rabi (ARC). Ver com. de Jo.1:38. Aquele que estava contigo. Ver Jo.1:29-36. Está batizando. Ver com. de Jo.4:2. Todos lhe saem ao encontro. A pregação de João havia alcançado tal aclamação popular que os escribas e sacerdotes ficaram com inveja dele (ver com. de Jo.1:19-25). Mas, eis que surgiu um Mestre ainda mais popular do que João. Os discípulos de João se ressentiram do aparente sucesso de Jesus e ficaram com ciúmes por causa de seu mestre (cf. Mc.9:38). Achavam que o batismo de João era tão peculiar (ver com. de Jo.3:25) que Jesus e outros não diretamente associados a João não tinham o direito de ministrá-lo. |
Jo.3:27 | 27. Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. O homem não pode receber. João reconheceu que seu sucesso vinha do Céu e afirmou que o sucesso maior que então acompanhava os esforços de Cristo também vinha do Céu. Em ambos os casos, a iniciativa partia de Deus, e que direito tinham os homens de questionar os atos de Deus? João tinha certeza de sua comissão divina e predisse, desde o princípio, a vinda de alguém maior do que ele (Jo.1:26-27). Por que se ressentiria do cumprimento de sua própria predição? A completa humildade e a abnegada submissão de João são traços característicos do verdadeiro seguidor de Cristo. Foi por entender sua própria relação com o Messias e por causa do toque do divino amor que o havia transformado é que João foi capaz de dizer: “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30; ver DTN, 179). O orgulho e o ciúme tentaram em vão destruir seu equilíbrio intelectual e emocional. |
Jo.3:28 | 28. Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. Sois testemunhas. A atitude de João em relação a Cristo já estava registrada na memória de seus discípulos. Eu não sou o Cristo. Ver Jo.1:20. Fui enviado como Seu precursor. Ver com. de Mt.3:3. |
Jo.3:29 | 29. O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. O que tem a noiva. A relação de Deus com Seu povo é, muitas vezes, comparada à de um noivo com sua noiva (ver Is.54:5; Je.2:2; Je.3:20; Ez.16:8; Ez.23:4; Os.2:19-20; Os.11:2; Ef.5:25-27). Nesse contexto, Jesus estava sendo bem-sucedido em ganhar o povo de Israel para Si. O amigo do noivo. O “amigo do noivo” era o mediador que fazia os arranjos entre a família do noivo e a da noiva. Ele ficava satisfeito quando o acordo chegava a um final feliz. João havia cumprido o papel que lhe fora designado de chamar Israel a aceitar seu Senhor e Mestre e, então, se regozijava com o aparente sucesso daquele em prol de quem trabalhara. Assim, sua própria “alegria” já se cumprira (ver com. de Mc.2:19). Está presente e o ouve. João fala do amigo do noivo como alguém que procura conhecer e cumprir a vontade do noivo, ou talvez se refira ao momento em que o noivo cumprimenta a noiva pela primeira vez face a face, momento em que o amigo do noivo se regozija com o sucesso de sua tarefa. Da mesma forma, João não podia lamentar que as pessoas fossem atraídas a Cristo; na verdade, isso era o cumprimento de suas expectativas. |
Jo.3:30 | 30. Convém que ele cresça e que eu diminua. Convém que Ele cresça. Ver com. dos v. Jo.3:27; Jo.3:29. João Batista entendia que não podia ser de outra forma. Essas são quase as últimas palavras de João registradas antes de seu encarceramento. Elas refletem sua humildade, submissão e abnegação. No auge de seu ministério, ainda um homem saudável, ele é convocado a se retirar e a deixar o lugar para outros. Certamente “ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt.11:11). |
Jo.3:31 | 31. Quem vem das alturas certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos Quem vem. [O Filho em relação ao mundo, Jo.3:31-36]. Um idiomatismo técnico da língua hebraica que significa “o Messias” (ver Mt.11:3; Mt.21:9; Mt.23:39; Lc.7:19; ver com. de Jo.1:14). Das alturas. Do gr. anothen (ver com. do v. Jo.3:3). Cristo veio “das alturas” para que os seres humanos pudessem nascer do alto. Pelo fato de Cristo ter vindo do alto, declara João, é correto e adequado e, na verdade, apropriado que Ele esteja “acima de todos” os de origem terrena. Da terra. O que é de origem terrena também tem natureza terrena. Fala da terra. João era “da terra” e falava como homem. Jesus veio “das alturas” e falava com a sabedoria do alto. Por isso, as pessoas volviam de João para Jesus, do menor para o maior. Está acima de todos. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta expressão pela segunda vez no v. 31. Se estas palavras forem omitidas, o v. 31 se conecta ao Jo.3:32 e diz: “Quem veio do céu testifica do que tem visto e ouvido.” Se a expressão for conservada, João Batista estaria admitindo que Cristo é infinitamente maior do que ele próprio, e maior, na verdade, do que todos os homens; assim, se recusa a considerar-se rival de Jesus. |
Jo.3:32 | 32. e testifica o que tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho. Visto e ouvido. Isto é, o que Cristo tinha visto e ouvido do caráter e da vontade do Pai (ver com. dos v. Jo.3:11-13). João sempre lembra a seus leitores de que o testemunho de Jesus quanto às coisas celestiais se originou com o Pai (ver Jo.8:40; Jo.15:15). Ninguém aceita. Uma hipérbole retórica que enfatiza quão poucos da multidão que seguia a Jesus realmente O aceitavam como o enviado de Deus (cf. Jo.1:11; Jo.2:24). O fato de que alguns receberam o testemunho de Jesus e nEle creram se evidencia em Jo.3:33 (cf. Jo.1:11-12). |
Jo.3:33 | 33. Quem, todavia, lhe aceita o testemunho, por sua vez, certifica que Deus é verdadeiro. Aceita. Ver com. de Jo.1:12. Alguns se destacam como exceções notáveis à declaração geral do versículo anterior. Certifica. Ao afixar seu selo pessoal a um documento, a pessoa atesta a exatidão e a validade deste, acrescentando assim seu testemunho pessoal à declaração do documento propriamente dito. Ao receber Jesus como o Cristo, a pessoa expressa a convicção de que a revelação de Deus acerca dEle “é verdadeira”. Que Deus é verdadeiro. Isto é, que a mensagem de Deus com respeito a Jesus como o Cristo é verdadeira (ver a expressão negativa desta mesma verdade, em 1Jo.5:10). |
Jo.3:34 | 34. Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida. O enviado de Deus. Isto é, o Cristo (ver com. de Jo.1:14; Jo.3:31; sobre o sentido em que o Pai enviou o Filho, ver com. do v. Jo.3:17). Jesus veio, não em Seu próprio nome, e falando Suas próprias palavras, mas no nome do Pai, falando as palavras do Pai (cf. Jo.5:19; Jo.5:30). Por medida. Isto é, de maneira escassa. João declara que o ministério de Jesus é bem-sucedido porque Ele veio “das alturas” (v. Jo.3:31) e era cheio do Espírito Santo. João Batista não podia reivindicar essas qualificações na mesma medida em que Jesus as possuía e, portanto, Jesus é infinitamente superior. Na melhor das hipóteses, João só podia conhecer em parte e profetizar em parte (1Co.13:9). Como ser divino, Jesus não precisava que o Espírito Santo Lhe fosse outorgado; mas, como ser humano, tudo o que Ele possuía havia sido recebido do Pai. |
Jo.3:35 | 35. O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos. Ama ao Filho. Isso fora atestado pela voz do Céu em Seu batismo (ver com. de Mt.3:17). Antes de Jesus vir à Terra, o Pai e o Filho estiveram associados como iguais num companheirismo eterno (ver com. de Jo.1:1). Mas João aqui fala do amor do Pai pelo Filho em Seu estado encarnado, vivendo na Terra como homem entre os homens. O amor infinito que existira entre Pai e Filho durante toda a eternidade não havia, de maneira alguma, sido enfraquecido pela encarnação. Todas as coisas tem confiado. Mesmo como homem entre os homens, Jesus tinha plena autoridade para agir no nome do Pai (cf. Jo.5:22; Jo.5:26-27; Jo.13:3; Jo.17:2; Jo.17:24; ver com. de Mt.11:27; Mt.28:18). |
Jo.3:36 | 36. Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. Quem crê. Literalmente, “quem continua crendo”. Estar “na graça” apenas uma vez não é suficiente; a pessoa precisa permanecer “na graça” se quiser entrar no reino. A posição de uma pessoa diante do Pai é determinada por sua atitude para com o Filho (ver com. de Jo.1:12; Jo.3:15-16). O que [...] se mantém rebelde. Do gr. apeitheo, literalmente, “ser desobediente” (ver 1Pe.2:7-8). Mas o termo se refere a uma condição mental e volitiva de rebeldia e não a atos de desobediência. A forma substantiva da mesma palavra é traduzida como “desobediência” (Ef.5:6). A condição mental determina o rumo da vida (cf. Jo.3:18). Não verá a vida. Isto é, não participará da vida eterna (ver v. Jo.3:16; ver com. do v. Jo.3:3). Uma pessoa não pode rejeitar a Cristo e esperar obter a vida eterna diretamente do Pai. A ira de Deus. Ver com. de Rm.1:18. Em Mc.3:5, a mesma palavra é traduzida como “indignação” (ARC, ACF) e usada para Cristo (ver com. ali). “A ira de Deus” é dirigida contra todo pecado. Deus proveu um meio pelo qual os seres humanos podem escapar das garras do pecado, mas caso se recusem a se separar dele, inevitavelmente partilharão de seu fim e serão exterminados junto com ele. |
Jo.4:1 | 1. Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João Senhor. [A mulher de Samaria, Jo.4:1-18. Ver mapa, p. 214; gráfico, p. 226,227]. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre as variantes “Senhor” e “Jesus”. Os fariseus tinham ouvido. Os fariseus tiraram vantagem dos ciúmes dos discípulos de João devido à crescente popularidade de Jesus, na esperança de criar dissensão entre João e Jesus e, dessa forma, prejudicar os esforços de ambos (ver com. de Jo.3:25). Mais discípulos. Ver com. de Jo.3:26; Jo.3:30. Obviamente, João ainda estava pregando e batizando e não tinha sido aprisionado. |
Jo.4:2 | 2. (se bem que Jesus mesmo não batizava, e sim os seus discípulos), Jesus mesmo. Ao aceitar pessoalmente o batismo das mãos de João Batista, Jesus havia aprovado o rito, declarando: “Assim, nos convém cumprir toda a justiça” (Mt.3:15). Além disso, os discípulos de Jesus ministravam o rito sob Sua direção (Jo.3:22; Jo.4:1). Não se diz por que Jesus mesmo não batizava; talvez fosse para evitar a ideia de alguém desejar autoridade superior na igreja por ter sido batizado pessoalmente por Cristo. Havia questionamento acerca de supostos méritos do batismo realizado por Jesus e pelos discípulos (ver com. de Jo.3:22; Jo.4:1-3). A menção seguinte ao batismo é feita em conexão com a comissão evangélica de Mt.28:19-20. Talvez Jesus tenha interrompido o rito por certo tempo devido ao conflito que este ocasionava. |
Jo.4:3 | 3. deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia. Deixou a Judeia. Isto ocorreu por volta de dezembro de 28 d.C. ou janeiro de 29 d.C. A razão para esta saída temporária da Judeia foi evitar conflitos com os fariseus, por um lado, e com João e seus discípulos, por outro. A decisão de deixar a Judeia foi motivada, não por medo, mas por prudência (cf. Mt.10:23; sobre o contexto cronológico desta saída da Judeia, ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44; e gráfico 6, p. 226). Outra vez para a Galileia. Sobre a visita anterior à Galileia, ver Jo.2:1-12. |
Jo.4:4 | 4. E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. Atravessar a província de Samaria. A rota direta para a Galileia atravessava Samaria. Contudo, por causa da animosidade entre judeus e samaritanos, os peregrinos galileus que viajavam a Jerusalém para as grandes festas nacionais preferiam dar a volta e passar pelo vale do Jordão (ver Lc.9:51-52; ver com. de Jo.2:42). Nesse tempo, Samaria e Judeia formavam uma só unidade política administrada por um procurador romano, Pôncio Pilatos (ver p. 32, 33, 54; mapa, p. 327; gráfico, p. 231; sobre os samaritanos, ver vol. 3, p. 55; vol. 5, p. 3, 4, 32, 33; ver com. de 2Rs.17:23-34). |
Jo.4:5 | 5. Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Sicar. Provavelmente a moderna Askar. |
Jo.4:6 | 6. Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. A fonte de Jacó. O poço fica cerca de 10 minutos de caminhada depois da aldeia de Askar, na estrada que vai para Jerusalém. Nenhum sítio ligado à vida de Jesus é identificado com mais certeza do que este poço, que ainda fornece água para o jardim de um mosteiro que fica no sopé do monte Gerizim. O fato de haver muitas nascentes na região faz parecer estranho que alguém se desse ao trabalho de cavar um poço. Mas Jacó era um estranho na terra e talvez tenha cavado o poço para evitar uma disputa com respeito a direitos sobre a água (cf. Gn.26:17-22). Cansado. Jesus e os discípulos deviam estar viajando desde o romper do dia, e talvez já tivessem andado 25 ou 30 km. João frequentemente menciona as emoções e as características físicas de Jesus como homem (ver Jo.1:14; Jo.11:3; Jo.11:33; Jo.11:35; Jo.11:38; Jo.12:27; Jo.13:21; Jo.19:28; ver com. de Jo.4:7). Jesus nunca realizou um milagre para satisfazer Suas necessidades pessoais ou para mitigar a própria fome ou sede (ver com. de Mt.4:3; Mt.4:6). Junto à fonte. Isto é, sobre a borda do poço. Hora sexta. Não há certeza sobre qual sistema de computo de horas João usou (cf. Jo.1:39; Jo.4:52; Jo.19:14). De maneira geral, porém, crê-se que a “hora sexta” seria meio-dia (ver DTN, 183). Se tivesse sido à tarde, Jesus provavelmente teria acompanhado os discípulos até Sicar ou continuado até Siquém, que ficava um pouco mais adiante, a fim de encontrar acomodações para passar a noite. Além disso, a manhã e a tarde eram os horários comuns para se tirar água e, sem dúvida, haveria outras pessoas no poço. |
Jo.4:7 | 7. Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Uma mulher samaritana. Isto é, uma mulher de linhagem samaritana (ver com. do v. Jo.4:4), não uma mulher de Samaria, que ficava a mais de duas horas de distância. Dá-Me de beber. É confortador saber que Jesus experimentou sensações como sede, fome, cansaço e dor, da mesma forma que nós (ver com. do v. Jo.4:6). Ele Se tornou um conosco a fim de nos socorrer em qualquer circunstância (ver com. de Jo.1:14). O processo pelo qual a mulher de Samaria foi ganha merece o cuidadoso estudo por parte dos interessados em ganhar pessoas para Cristo. Houve quatro estágios principais: (1) O despertamento de um desejo por algo melhor, v. Jo.4:7-15. (2) O despertamento de uma convicção da própria necessidade, v. Jo.4:16-20. (3) O chamado a uma decisão para reconhecer Jesus como o Messias, v. Jo.4:21-26. (4) O estímulo para uma ação adequada à decisão, v. Jo.4:28-30, e Jo.4:39-42 (sobre os passos em cada um desses quatro estágios, ver com. dos v. Jo.4:7; Jo.4:16; Jo.4:21; Jo.4:28). Jesus conquistou a atenção da mulher com o pedido: “Dá-Me de beber”. A reação dela é evidenciada pela pergunta do v. Jo.4:9: “Como [...]?” Havendo, assim, captado a atenção dela, Jesus despertou seu interesse pelo oferecimento da “água viva” (v. Jo.4:10). A reação da mulher está na pergunta quanto a “onde” Ele obtinha tal água (v. Jo.4:11) e se Ele professava ser “maior” do que Jacó, que cavara o poço (v. Jo.4:12). Da atenção e do interesse, Jesus a levou ao desejo pela “água viva”, declarando que aquele que dela beber “nunca mais terá sede” (v. Jo.4:14). Ela respondeu com um pedido: “Senhor, dá-me dessa água” (v. Jo.4:15), embora ainda tivesse pouca noção do que estava pedindo. |
Jo.4:8 | 8. Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. A cidade. Isto é, Sicar, 1,2 km adiante na estrada, em direção a Siquém. Alimentos. Do gr. trophe, “alimentos”, “alimentação” (ver com. de Mt.3:4). |
Jo.4:9 | 9. Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)? Como [...]? O ódio racial mantinha judeus e samaritanos tão afastados que ambos evitavam o contato social tanto quanto possível (sobre a origem dos samaritanos, ver com. de 2Rs.17:23-29; sobre a origem da antipatia entre judeus e samaritanos, ver vol. 3, p. 55; ver com. de Ed.4:1-3; Ed.4:17-23; Ne.2:10; Ne.4:1-2; sobre os problemas entre eles, ver Josefo, Antiguidades, xx.6.2). Os judeus não se dão. Este parece ser um comentário explicativo de João para benefício de seus leitores não judeus, não uma declaração feita pela mulher a Jesus. Contudo, podem ser citadas evidências textuais (cf. p. 136) para a omissão desta frase. O pedido de Jesus surpreendeu a mulher; o que poderia ser mais estranho do que um pedido como esse vindo da parte de um judeu? |
Jo.4:10 | 10. Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. O dom de Deus. Isto é, o próprio Jesus, como a frase seguinte deixa claro. Ele parece ser apenas um viajante cansado e sedento, mas há mais coisas no oferecimento da “água viva” do que a mulher compreende a essa altura. Por mais estranho que à primeira vista o pedido de Jesus parecesse, havia algo ainda mais misterioso. O que era significativo sobre Jesus não era o fato de Ele ser um judeu, mas o fato de que Ele era, e é, “o dom de Deus” (ver Jo.3:16; 2Co.9:15). Quem é. Jesus estava prestes a Se apresentar à mulher como o Messias (ver v. Jo.4:25-26), e aqui, com tato, Ele a leva a entender que Sua proposta envolvia mais do que transparecia à primeira vista. O que Jesus deixou implícito foi: “Você pode satisfazer Minha sede física, mas Eu posso satisfazer sua sede espiritual.” Água viva. Do gr. hudor zon, “água fresca”, “água corrente” ou “água da [que dá] vida” (cf. Ez.47:9). Jesus Se refere a Si mesmo (ver Jo.7:37; Jo.6:27; Jo.6:51). O profeta Jeremias falou do Senhor como “o manancial de águas vivas” ou “a fonte das águas vivas” (Je.2:13; Je.17:13; Is.12:3; Ap.22:1). A mulher achou que Jesus Se referia à água corrente de uma fonte, em contraste com a água do poço. Mas se Jesus tinha acesso a uma “água viva” literal, por que lhe teria pedido de beber? |
Jo.4:11 | 11. Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? Senhor. Do gr. kurios, “senhor”, no sentido de mestre, ou como título de respeito; aqui tem este último sentido. Algo na voz e nas maneiras de Jesus impressionou a mulher, e a maneira indiferente como ela se referiu anteriormente a Ele no v. Jo.4:9 (“Sendo Tu judeu”) se transformou então numa forma de tratamento que reflete respeito. Onde [...]? A mulher ainda pensava que Jesus falava de água literal, mas que obviamente não estava Se referindo àquele poço (cuja profundidade era de mais de 30m), pois Ele não tinha equipamento para tirar água dali. |
Jo.4:12 | 12. És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado? És Tu, porventura [...]? A palavra “tu” é enfática. Quem Jesus Se diz ser? (cf. Jo.8:53). Jacó, o nosso pai. Os samaritanos reivindicavam ser descendentes de Jacó por meio de José e consideravam Jacó seu “pai”, mais ou menos da mesma forma que os judeus o faziam com relação a Abraão (ver Jo.8:33). O local onde Jesus e a mulher se encontravam havia sido designado para os descendentes de José (Js.24:32). |
Jo.4:13 | 13. Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede Sem comentário para este versículo. |
Jo.4:14 | 14. aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. Aquele [...] que beber. Literalmente, “aquele que vier a beber [uma vez]”. Um único gole da “água viva” que Jesus oferece proporcionará satisfação permanente para a alma sedenta (ver com. de Jo.7:38). Eu lhe der. O pronome “eu” é enfático e traça um nítido contraste entre a “água viva” e a água do poço de Jacó. Nunca mais terá sede. Literalmente, “não [ou] não mais [me] terá sede pelas eras adentro [eis ton aiona]”. As palavras portuguesas “nunca mais” traduzem a expressão grega ou me eis ton aiona. O grego é bem mais enfático do que esta tradução o indica. A expressão eis ton aiona é traduzida como “eternamente” (Jo.6:51; Jo.6:58), “não [...] eternamente” (Jo.8:51-52; Jo.11:26) e “jamais” (Jo.10:28; sobre a palavra grega aion, ver com. de Mt.13:39). Nele uma fonte. A natureza figurativa da “água viva” que Jesus ofereceu à mulher está totalmente clara. Esta água satisfaz a sede da alma por coisas melhores do que as que esta vida tem a oferecer. Para a vida eterna. Do gr. eis zoen aionion (ver com. de Jo.3:16; sobre aionios, “eterno”, ver com. de Mt.25:41). O resultado de se beber da “água viva” (ver com. de Jo.4:10) é uma existência sem fim. |
Jo.4:15 | 15. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la. Dá-me dessa água. Com uma pálida noção, afinal, do que Jesus tinha a oferecer, a mulher respondeu avidamente às promessas do v. Jo.4:14, de que, se beber da “água viva”, ela “nunca mais terá sede” e, na verdade, terá a “vida eterna”. Contudo, ela ainda associava o oferecimento da “água viva” à água literal, achando que, se obtivesse a “água viva”, não mais precisaria fazer a viagem diária até o poço de Jacó. Talvez ela pensasse que a “água viva” fosse somente para si própria e que ainda precisaria ir tirar água para o “marido” (ver v. Jo.4:16). Mas, como Jesus lhe explica, essa “água viva” diz respeito tanto a ela quanto ao marido. |
Jo.4:16 | 16. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá Chama teu marido. Depois de haver despertado o desejo pela “água viva” (v. Jo.4:15), Jesus então mudou o tema da conversa. Seu objetivo, nos v. 16 a 20, era despertar na mulher uma convicção de sua urgente necessidade dessa água (ver com. do v. Jo.4:7). Ele fez isso focalizando a atenção dela nos segredos de sua vida. Ela ainda não estava pronta para receber a “água viva” que pedia de maneira casual (v. Jo.4:15). Primeiramente era preciso que fossem removidas as águas estagnadas do pecado. A velha vida de pecado precisava morrer antes que a nova vida de justiça pudesse começar; as duas não podiam coexistir (cf. Tg.3:11-12). No entanto, a mulher tentou impedir Jesus de descobrir sua vida, negando ter um marido. Ela preferia não discutir assuntos particulares com um estranho. Jesus reconheceu que a declaração da mulher era correta (v. Jo.4:17), mas deu evidências de saber muito mais sobre ela do que ela estava disposta a revelar (v. Jo.4:18). Assim, Ele a convenceu de que era um profeta (ver com. do v. Jo.4:10) e de que ela era uma grande pecadora. A mulher habilmente evitou que Jesus fizesse ainda mais afirmações sobre sua vida ao desviar outra vez a conversa dela própria para Jesus (v. Jo.4:19) e, depois, para uma controvérsia geral sobre religião (v. Jo.4:20). Como toda pessoa culpada de erro ou pecado, ela procurava se esquivar. As tentativas de se desviar a conversa de uma verdade indesejada para tópicos religiosos irrelevantes ou triviais são evidências de que a pessoa se convenceu de que será necessária uma mudança dos padrões de pensamento e de vida. Ela faz, então, esforços desesperados para se desviar da verdade ou para encontrar formas de ignorá-la ou rejeitá-la. O que é preciso, porém, não é que sejam esclarecidas questões apresentadas para um debate. Jesus não perdeu tempo discutindo Seu status como “profeta” nem o assunto do local apropriado para a adoração. Em vez disso, simplesmente dirigiu a atenção da mulher (1) para o espírito da verdadeira adoração e (2) para Si mesmo como o Messias. Essas são as questões necessárias para levar as pessoas à decisão (ver com. do v. Jo.4:21). |
Jo.4:17 | 17. ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido Não tenho marido. Esta foi a primeira tentativa da mulher de conservar ocultos os segredos de sua vida (ver com. do v. Jo.4:16). |
Jo.4:18 | 18. porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. Cinco maridos. Jesus então desnudou completamente o passado dela, dando evidências de que, para Ele, os segredos de sua vida eram um livro aberto (ver com. de Jo.1:48). Ela era uma mulher pecadora, que precisava urgentemente da “água viva” que Ele generosamente lhe ofereceu. |
Jo.4:19 | 19. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Tu és profeta. [A verdadeira adoração, Jo.4:19-30]. A mulher se esquivou de uma discussão sobre sua própria vida, mudando a conversa para algo que não tinha implicação pessoal. Se ela conseguisse envolver Jesus numa controvérsia religiosa, isso lhe pouparia o embaraço de confessar os atos obscuros de seu passado. |
Jo.4:20 | 20. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Neste monte. Isto é, o monte Gerizim, em cujo sopé ficavam Sicar e o poço de Jacó. Os samaritanos haviam erigido um templo sobre o Gerizim em 432 a.C., mas este estava em ruínas desde sua destruição por João Hircano, em 129 a.C. (ver p. 18, 21; sobre os samaritanos e sua religião, ver p. 3, 4, 32, 33). Onde se deve adorar. Para essa mulher, bem como para a maioria dos judeus e samaritanos, a religião consistia essencialmente nas formas ligadas à adoração. Ela não percebia que os “verdadeiros adoradores” são aqueles que adoram o Pai “em espírito e em verdade” (v. Jo.4:23). |
Jo.4:21 | 21. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mulher, podes crer-Me. Este é o único uso da expressão enfática “podes crer-Me”, no NT (ver a solene afirmação: “em verdade, em verdade”, no com. de Jo.1:51). Jesus apelou solenemente para que a mulher esquecesse das formas de adoração e da controvérsia tradicional entre judeus e samaritanos quanto ao local em que essas formas deviam ser praticadas. A hora vem. Ver v. Jo.4:23. Nem neste monte. A adoração a Deus não estaria restrita a qualquer localidade em particular: nem à Judeia, Samaria ou a qualquer outro lugar. Depois de despertar na mulher um desejo pela “água viva”, o que quer que isso fosse, e uma convicção de sua necessidade pessoal dessa água, Jesus passou então a guiá-la ao ponto da decisão (v. 21-27). Ao definir a verdadeira religião, Ele procurou levar os pensamentos errantes dela a se concentrarem num foco (v. 21-23), estendeu-lhe então um convite para se tornar uma verdadeira adoradora (v. Jo.4:23-24) e, depois, a levou ao ponto da decisão, identificando-Se como o Messias (v. Jo.4:26), alguém que fala com autoridade espiritual. Jesus desarmou completamente o preconceito e frustrou sua tentativa de fugir da questão, ao deixar claro que não partilhava do preconceito religioso que separava os judeus dos samaritanos. Ambos podiam se tornar “verdadeiros adoradores”. Por fim, haverá apenas “um rebanho” (Jo.10:16). Ela respondeu com uma honesta declaração de fé na esperança messiânica, da qual os samaritanos partilhavam. Sua pronta ação (Jo.4:28-29) testificou de sua decisão. Jesus aqui previu o dia em que os judeus deixariam de ser o povo escolhido. Adorareis. A referência é a todos os samaritanos que verdadeiramente adoravam a Deus. |
Jo.4:22 | 22. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. A salvação. Isto é, a única salvação que há (ver At.4:12). Os samaritanos viviam uma combinação da religião hebraica apóstata com o paganismo (ver p. 3, 4, 32, 33). Eles tinham o Pentateuco como sua Bíblia e afirmavam ser mais ortodoxos do que os judeus, mas adoravam a Deus cegamente. Não sabiam o que adoravam; e, portanto, O adoravam “em vão” (Mc.7:7). Na providência de Deus, os judeus tinham sido feitos testemunhas escolhidas para as nações da Terra (ver vol. 4, p. 13-17) e eram recipientes e guardiões da vontade divina revelada (ver Rm.3:1-2; Rm.9:3-5). Jesus, portanto, afirma a superioridade da religião judaica, mas já havia deixado claro que essa superioridade não implicava um local exclusivo de adoração (Jo.4:21). A superioridade do judaísmo consistia no fato de Deus haver escolhido os hebreus como Seus representantes na Terra, de lhes confiar os oráculos divinos e de o Messias ser um judeu (Rm.9:4-5). |
Jo.4:23 | 23. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Já chegou. A “hora” do v. Jo.4:21, quando o local de adoração deixaria de ser um assunto importante, já havia chegado. Não era mais necessário continuar na rotina do passado, nem aguardar um tempo futuro para entrar na verdadeira adoração e receber a “água viva”. Jerusalém era o lugar designado para a adoração (ver v. Jo.4:21) e continuaria assim por mais um breve tempo, mas a verdadeira adoração poderia começar “já”. O que contava não era onde alguém adorava, mas a quem e como o fazia. Os verdadeiros adoradores. Isto é, aqueles cuja adoração vem do coração, em vez de meras formas rituais realizadas em determinado local. Em espírito e em verdade. Isto é, com toda a sinceridade, com as mais elevadas faculdades do ser, aplicando à vida os princípios da verdade (ver com. de Mt.5:3; Mt.5:48; Mt.7:21-27; Mc.7:6-9). Jesus afirma ser esta a genuína adoração; tudo o mais é falso. A mesma distinção feita entre a adoração verdadeira e a formal é apresentada por Miqueias (Mq.6:7-8). O Pai procura. O Pai não é um Deus distante, indiferente a Seus filhos, mas Se interessa por eles individualmente (ver Is.57:15). Ele não apenas aceita os “verdadeiros adoradores”, mas “procura” aqueles dispostos a adorá-Lo “em espírito e em verdade” e os estimula a ir a Ele (ver Ez.18:31-32; Jo.3:16; At.17:24-31; 2Pe.3:9). A salvação não é resultado dos débeis esforços humanos para alcançar um Deus indiferente, mas dos incansáveis esforços do Pai celestial que busca Seus filhos perdidos (ver com. de Mt.18:12-14; Jo.10:1-21). João enfatiza repetidamente essa verdade (ver Jo.3:16; Jo.6:44; Jo.15:16; 1Jo.4:10; ver as parábolas da ovelha e da dracma perdidas, e do filho pródigo (Lc.15:1-32). |
Jo.4:24 | 24. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Deus é espírito. Como um ser espiritual infinito, Deus não está sujeito às limitações dos seres finitos e, consequentemente, não Se preocupa com locais e modo de adoração visíveis, mas com o espírito com que os seres humanos O adoram (ver com. do v. Jo.4:22). |
Jo.4:25 | 25. Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. Eu sei. Na mente da mulher, a verdadeira adoração estava associada ao Messias vindouro. Os samaritanos baseavam suas esperanças messiânicas na predição de Dt.18:15; Dt.18:18. Referiam-se comumente ao Messias como Taheb, que significa “Aquele que voltará” ou “o Restaurador”. Chamado Cristo. Esta é uma frase explicativa adicionada por João para benefício de seus leitores não judeus (ver com. de Jo.1:38). |
Jo.4:26 | 26. Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo. Eu que falo. O caminho tinha sido preparado para esta surpreendente revelação, que pôs um fim abrupto à conversa. Jesus já havia manifestado conhecimento sobrenatural da vida dela (ver com. dos v. Jo.4:17-19), e ela já O havia reconhecido como “profeta”. Pensando em Dt.18:15; Dt.18:18, ela havia expressado a crença de que o Messias lhes anunciaria “todas as coisas” (Jo.4:25); e, então, este “profeta” declara ser o Messias. Assim, ela concluiu: Ele não é apenas um profeta, mas o Profeta predito por Moisés. |
Jo.4:27 | 27. Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela? E se admiraram. Ou, “ficaram surpresos”. Os judeus consideravam o ato de conversar com uma mulher em público como altamente impróprio a um homem e indigno de um rabi. Uma antiga obra literária judaica, aconselha: “Ninguém fale com uma mulher na rua, não, nem com sua própria esposa”. Na Mishnah, os homens são admoestados: “Não se envolvam em conversas demais com mulheres”. Nenhum Lhe disse. Por respeito ao Mestre, os discípulos não disseram nada a Ele nem à mulher. |
Jo.4:28 | 28. Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Deixou o seu cântaro. Ela estava para ir embora, já com o cântaro cheio (DTN, 183), quando os discípulos voltaram da aldeia, tendo comida para Jesus. Ela estava ansiosa para chegar à aldeia e contar sobre sua grande descoberta; e, por isso, não quis se atrasar com o cântaro pesado. Havia experimentado desejo, convicção e decisão (ver com. do v. Jo.4:7), e o passo lógico seguinte era a ação: ela foi contar a outros. Isso testificou da realidade de sua decisão. O cântaro deixado para trás evidenciava que ela queria voltar logo. |
Jo.4:29 | 29. Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! Tudo. O anúncio da mulher foi um pouco exagerado. Ela raciocinou que, se Jesus conhecia os segredos de sua vida, nada mais podia estar oculto a Ele. Será este [...] o Cristo? A evidência apresentada (o conhecimento sobrenatural de Jesus) levava à conclusão de que Ele devia ser o Cristo (ver com. do v. Jo.4:26). Com tato, a mulher declarou sua descoberta na forma de uma pergunta e convidou os habitantes da aldeia a ir e examinar as evidências por si mesmos. Atitude semelhante tomou Filipe em relação a Natanael: “Vem e vê” (ver Jo.1:46). |
Jo.4:30 | 30. Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele. Saíram. O relato da mulher impressionou os aldeões e os animou a investigar. A princípio, a crença deles se baseou no relato da mulher, mas, depois, em experiência própria (ver v. Jo.4:39; Jo.4:42). |
Jo.4:31 | 31. Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come! Mestre, come! [A ceifa e os ceifeiros, Jo.4:31-38]. Solícitos pelo bem-estar do Mestre (ver v. Jo.4:6), os discípulos haviam poupado a Ele o esforço de ir comprar alimento. Faziam o que podiam para Lhe aliviar o fardo (sobre a palavra “Mestre”, rhabbi, ver com. de Jo.1:38). |
Jo.4:32 | 32. Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. Comida. Do gr. brosis, alimento de qualquer tipo (cf. com. do v. Jo.4:8). A resposta da mulher foi mais revigorante para Jesus do que o alimento o teria sido. As coisas materiais são de menor importância para os verdadeiros colaboradores de Cristo. A importância que os cristãos atribuem às coisas materiais é um indicador de sua devoção (ver com. de Mt.20:15). |
Jo.4:33 | 33. Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer? Ter-Lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer? A forma da pergunta no grego antecipa uma resposta negativa. Os discípulos sabiam que Jesus não tinha Se alimentado, mas estavam perplexos em ver que Ele não estava mais faminto (ver v. Jo.4:6). |
Jo.4:34 | 34. Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Minha comida. Ver com. do v. Jo.4:32. Jesus vivia pelo único propósito de fazer a vontade do Pai (ver com. de Mt.4:4; Lc.2:49; Jo.6:38). A maioria das pessoas vive pela “comida que perece” (Jo.6:27), mas Jesus não tinha apetite para outra coisa exceto a comida “que subsiste para a vida eterna”. As demandas materiais da vida eram secundárias para Ele em relação à salvação do ser humano (ver com. de Mt.6:24-34; Jo.6:26-58). Daquele que Me enviou. Ver com. de Jo.3:17. João, muitas vezes, cita estas palavras de Jesus com respeito a Sua missão divina (Jo.3:17; Jo.5:30; Jo.5:36-37; Jo.6:38; Jo.6:44; Jo.7:18; Jo.7:28; Jo.7:33; Jo.8:16; Jo.8:18; Jo.8:26; Jo.8:29; Jo.9:4; Jo.10:25; Jo.10:32; Jo.12:44; Jo.10:37; Jo.12:49; Jo.13:20; Jo.14:10; Jo.14:24; Jo.14:31; Jo.15:21; Jo.16:5; Jo.17:4; ver com. de Lc.2:49). Realizar a Sua obra. Isto é, a “obra” para a qual Deus enviou o Filho ao mundo (ver com. de Mt.1:21; Jo.17:4). |
Jo.4:35 | 35. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. Ceifa. Na Palestina, o cereal era semeado no outono e colhido na primavera (ver vol. 2, p. 92-94). Uma vez que a colheita do cereal em regiões como Sicar ocorria em abril ou maio, isto deve ter sido no mês de dezembro ou janeiro (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44; gráfico 6, p. 226; cf. DTN, 191). Vede os campos. Os discípulos podiam ver os aldeões passando pelos campos do cereal em crescimento (DTN, 191) para chegar até o poço. A semente da verdade lançada ao coração da samaritana já tinha começado a dar frutos e, nos dois dias seguintes, ocorreria colheita abundante (ver v. Lc.4:39-42). |
Jo.4:36 | 36. O ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e, dessarte, se alegram tanto o semeador como o ceifeiro. O ceifeiro recebe. Evidências textuais apoiam (cf. p. 136) o uso de “já” (ou “desde já”, ARA) no v. 36, embora a ARC não o faça. No caso da mulher samaritana, mal havia sido completada a semeadura e já havia chegado o tempo da ceifa (cf. Tg.5:7). Entesoura o seu fruto. Ver com. de Mt.13:30. Vida eterna. Ver com. de Jo.3:16. Alegram. Ver Sl.126:5-6; Is.9:3; ver com. de Lc.15:7. |
Jo.4:37 | 37. Pois, no caso, é verdadeiro o ditado: Um é o semeador, e outro é o ceifeiro. Um é o semeador. Talvez Jesus pensasse em Si mesmo como semeador e nos discípulos como ceifeiros (ver Jo.4:38; Mt.9:37-38; Mt.10:1) e estivesse divisando a colheita maior que ocorreria em Samaria após Sua ressurreição (ver com. de At.8:6-8; At.8:14; At.8:25). Quanto aos resultados da pregação, muitas vezes o que semeia o evangelho não é quem ceifa a messe (cf. 1Co.3:6-7). Jesus é o semeador inicial da boa semente (ver com. de Mt.13:3-8; Mt.13:18-23). |
Jo.4:38 | 38. Eu vos enviei para ceifar o que não semeastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho. Eu vos enviei para ceifar. Jesus devia Se referir ao ministério na Judeia, mencionado de maneira breve em Jo.3:22. Em certo sentido, Ele e os discípulos estavam então ceifando a messe das sementes lançadas por João Batista. Após a ressurreição, os discípulos ceifariam uma abundante colheita semeada pelo ministério de Jesus (ver At.2:41; At.2:47; At.5:14). |
Jo.4:39 | 39. Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Muitos samaritanos. [Muitos samaritanos creem em Jesus, Jo.4:39-42]. Este foi o primeiro grupo de conversos. Ao longo dos dois dias seguintes houve uma segunda colheita (v. Jo.4:41). No decorrer da missão, os setenta enviados por Cristo visitaram cidades de Samaria e tiveram uma recepção cordial (ver DTN, 488). Após a ressurreição, houve ainda outra colheita (ver com. do v. Jo.4:38). Do testemunho da mulher. Ver com. do v. Jo.4:29. Os que a conheciam devem ter presumido o que estava incluso na declaração de que Jesus Lhe dissera “tudo” o que ela já tinha feito. O fato de alguém como a samaritana ter uma tal convicção sobre as coisas espirituais é suficiente para arrebatar a atenção de qualquer pessoa. João comenta que muitos “creram” em Jesus (ver Jo.7:31; Jo.8:30; Jo.10:42; Jo.11:45; Jo.12:42; ver com. de Jo.1:12). |
Jo.4:40 | 40. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. Dois dias. Isto é, o restante deste dia e o dia seguinte (v. Jo.4:43; ver p. 248-250; vol. 1, p. 160, 161). Esses dois dias foram uma ocasião alegre de semeadura e colheita espiritual. |
Jo.4:41 | 41. Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra, Muitos outros. Cf. v. Jo.4:39. Creram. Ver com. de Jo.1:12. Por causa da Sua palavra. Os que não foram convencidos pela palavra da mulher, sem dúvida, questionavam qualquer coisa que ela dissesse. Talvez por serem mais cautelosos quanto a aceitar algo sem investigação pessoal, eles creram depois de ouvir por si mesmos. Além disso, talvez alguns não tinham ouvido o testemunho da mulher. |
Jo.4:42 | 42. e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo. Temos ouvido. Eles eram testemunhas em primeira mão. Nenhuma evidência é mais convincente do que a experiência pessoal. Este é verdadeiramente. A prontidão dos samaritanos em crer nas evidências de que Jesus era o “Profeta” do qual Moisés tinha falado (ver com. do v. Jo.4:26) contrasta nitidamente com a incerteza dos judeus (ver com. de Jo.1:10-11). A vida e a mensagem de Cristo foram evidências convincentes para os samaritanos de que a predição de Moisés havia se cumprido na pessoa de Jesus de Nazaré (ver com. de Mt.1:23; cf. DTN, 407). O Cristo (ARC). As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) entre a conservação e a omissão destas palavras. O Salvador. Ver com. de Mt.1:21. |
Jo.4:43 | 43. Passados dois dias, partiu dali para a Galiléia. Passados dois dias. [Jesus volta à Galileia, Jo.4:43-45. Ver mapa, p. 214; gráfico, p. 227; sobre os milagres, ver p. 204- 210]. Isto é, o dia seguinte aos eventos registrados nos v. Jo.4:5-39 (ver com. do v. Jo.4:40). A viagem dos v. Jo.4:3-5 é então retomada. |
Jo.4:44 | 44. Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra. Na sua própria terra. Isto é, Nazaré (ver com. de Mc.6:1; Mc.6:4; cf. DTN, 196), não na Galileia (ver Jo.4:45). João insere este comentário para explicar por que Jesus foi diretamente para Caná, que fica 13 km mais ao norte (ver com. de Jo.2:1). |
Jo.4:45 | 45. Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido. Os galileus. Ver com. de Mt.4:13. Deve-se notar, porém, que Mt.4:13 se refere ao início formal do ministério na Galileia, cerca de seis meses mais tarde (ver Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44). Porque viram. Provável referência aos incidentes de Jo.2:13-23, particularmente aos milagres do v. Jo.2:23. A purificação do templo (Jo.2:13-22) levou à propagação de um rumor de que Jesus havia Se declarado o Messias (ver DTN, 196). Eles também tinham comparecido. Como o faziam todos os judeus piedosos (ver com. de Ex.23:14-17; Dt.16:16). |
Jo.4:46 | 46. Dirigiu-se, de novo, a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Caná. [A cura do filho de um oficial do rei, Jo.4:46-54]. Ver com. de Jo.2:1. Da água fizera vinho. Ver com. de Jo.2:1-11. Jesus estava entre amigos, que já tinham testemunhado Seu poder divino. Oficial do rei. Literalmente, “[homem] do rei”, isto é, aqui talvez se referindo a um oficial da corte de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e Pereia. Este oficial era um judeu, provavelmente um herodiano (cf. com. de Mc.3:6). Alguns sugeriram a identificação deste nobre com Cuza (Lc.8:3) ou Menaém (At.13:1), oficiais de Herodes que se tornaram cristãos. Em Cafarnaum. Cristo e o oficial do rei estavam em Caná, e o filho, em Cafarnaum, a cerca de 25 km de distância. Jesus havia visitado Cafarnaum aproximadamente um ano antes (Jo.2:12), mas não há registro de que tenha realizado algum trabalho público ali nessa época. |
Jo.4:47 | 47. Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte. Tendo ouvido dizer. A rapidez com que se espalhou a notícia da volta de Jesus à Galileia testifica de Sua popularidade (ver Jo.4:45; Mc.3:7-12). E Lhe rogou. Este é o primeiro exemplo registrado de um pedido de cura, embora já tenham sido mencionados milagres em geral (Jo.2:23). Que descesse. Ver com. de Jo.2:12. A morte. A sabedoria e a habilidade humanas não podiam fazer mais nada e, como último recurso, o pai fez a viagem a Caná, na esperança de persuadir Jesus a voltar com ele a Cafarnaum (ver v. Jo.4:49). Ao encontrar Jesus rodeado por uma multidão, o pai fez arranjos para uma entrevista particular (ver DTN, 197). |
Jo.4:48 | 48. Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. Se [...] não virdes. Esse pai aceitaria Jesus como o Messias (ver com. do v. Jo.4:45) se Ele atendesse a seu pedido (ver DTN, 198). Ele pensava que Jesus concordaria mais prontamente a fim de conseguir um “oficial do rei” como Seu adepto. No entanto, Jesus detectou certa falta de sinceridade na maneira de falar e no porte do oficial e percebeu que sua fé era imperfeita. Ele já possuía certo grau de fé, do contrário não teria ido até ali, mas uma fé longe de ser perfeita. Jesus sempre exigiu fé implícita e incondicional antes que o poder divino fosse exercido. O oficial planejava primeiro ver para depois crer; Jesus exigiu que ele cresse antes de ver. A fé que impõe como condição a concessão de certos pedidos repousa sobre um fundamento frágil e falhará nas circunstâncias onde Deus achar melhor não conceder o que é esperado. Jesus demorou a atender ao pedido do oficial porque este não estava pronto para receber o que pedia. Com tal sentimento, o homem não estava qualificado a receber algo do Senhor (ver Tg.1:5-7), e nada se podia fazer por ele até que compreendesse sua necessidade e se dispusesse a exercer fé incondicional. Jesus, portanto, não lhe disse “sim” nem “não”, e o pai viu que o pedido não tivera resposta. Sinais e prodígios. Isto é, milagres (ver p.204-206). De modo nenhum crereis. No grego, a dupla negativa torna a declaração enfática. O oficial deve ter percebido que isto refletia seus próprios pensamentos (ver com. de Jo.1:47-49). O verbo está no plural porque Jesus pensava nos líderes judeus e em outros cuja atitude era semelhante à do oficial, que Ele classificou no mesmo grupo desses compatriotas descrentes (ver Jo.2:18; Jo.6:30; 1Co.1:22; ver com. de Mt.16:1-9). Em contraste, o povo de Samaria havia acreditado nas palavras de Jesus e O recebera com sinceridade e fé (Jo.4:41-42). Jesus Se entristeceu pelo fato de os próprios compatriotas serem tão tardios para crer (ver com. de Jo.1:10-11). Ele tinha uma dádiva maior do que a que o oficial pedira: o dom da salvação; e não podia conceder o dom menor - a cura do filho - sem o maior (ver p. 205, 206; DTN, 198). |
Jo.4:49 | 49. Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. Senhor. Do gr. kurios (ver com. do v. Jo.4:11). Antes que meu filho morra. A transformação necessária ocorreu num momento. Vendo que Jesus lia seu coração, o pai viu que seus motivos tinham sido egoístas. Ele entendeu que sua única esperança de salvar o menino dependia de exercer fé incondicional e, sem hesitar, renunciou à descrença e ao falso orgulho. Ele se refere então afetuosamente ao filho como uma “criancinha”, com uma palavra grega diferente da traduzida por “filho”, no v. Jo.4:46. |
Jo.4:50 | 50. Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu. Vai. Uma vez ocorrida a necessária transformação, não houve demora na resposta, embora de uma forma que o pai não esperava. Ele havia solicitado a Jesus que descesse a Cafarnaum, mas Jesus lhe disse simplesmente: “Vai”. Assim, foi requerido do oficial que partisse sem ter evidências de que seu pedido tinha sido atendido (ver com. do v. Jo.4:48). Sua fé foi colocada à prova. Para ter a dádiva, ele precisava recebê-la pela fé. Precisava agir em fé, crendo que havia recebido o que pedira. Vive. O grego expressa a ideia de que o filho não apenas “vivia”, mas que continuaria vivendo. O homem creu. Sua intenção tinha sido ver antes de crer; então ele creu na palavra de Jesus. Agiu em fé e, como resultado, a paz e a alegria lhe encheram o coração (ver DTN, 198-200; ver com. de Jo.1:12). |
Jo.4:51 | 51. Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciando-lhe que o seu filho vivia. Descia. A distância não ia além de 25 Km. Caná estava localizada na região montanhosa da Galileia, talvez a uma altitude de cerca de 250m, enquanto Cafarnaum ficava às margens do lago da Galileia, 200m abaixo do nível do mar, ou seja, 450m de altitude a menos. A viagem para casa levaria quatro ou cinco horas e pode ter sido feita na mesma tarde. Embora o pai estivesse ansioso pela vida do filho, sua fé recém-despertada alcançou a realidade do precioso dom a ele outorgado, e não houve pressa indevida no retorno. Seus servos lhe vieram. Isto foi na manhã seguinte, estando o oficial ainda a alguma distância de casa. Seu filho vivia. Os servos ecoam as mesmas palavras pronunciadas por Jesus no dia anterior (v. Jo.4:50). |
Jo.4:52 | 52. Então, indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem, à hora sétima a febre o deixou. Sentira melhor. Literalmente, “ficou melhor”, ou, “começou a melhorar”. À hora sétima. Isto é, cerca de uma hora da tarde (cf. Jo.1:39; Jo.4:6). |
Jo.4:53 | 53. Com isto, reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa. Precisamente a hora. Ficou evidente a relação de causa e efeito. Se a cura tivesse ocorrido mais cedo ou mais tarde, poderia ter permanecido alguma dúvida quanto a se ela devia ser atribuída a alguma outra causa a não ser a vontade e as palavras de Jesus. Creu. A palavra é aqui usada no sentido absoluto. O pai aceitou Jesus como o Messias, ou seja, tornou-se um cristão. Os resultados deste milagre tiveram longo alcance. O menino foi curado, toda a família creu e foi preparado o caminho para que, seis meses mais tarde, Jesus fizesse de Cafarnaum o centro de Seu ministério na Galileia (ver com. de Lc.4:31). |
Jo.4:54 | 54. Foi este o segundo sinal que fez Jesus, depois de vir da Judéia para a Galiléia. O segundo sinal. Ver Jo.2:11. O povo de Cafarnaum acolheu a Jesus de forma positiva (ver com. de Mc.1:32-37; Mc.1:45). |
Jo.5:1 | 1. Passadas estas coisas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para Jerusalém. Passadas estas coisas. [A cura de um paralítico, Jo.5:1-18. Ver mapa, p. 214; gráfico, p. 226; sobre os milagres, ver p. 204- 210]. Literalmente, “depois destas [coisas]”, a mesma frase usada no início dos cap. Jo.6 e Jo.7 (ver com. de Jo.6:1). Uma festa. As evidências textuais (cf. p. 136) estão divididas entre esta variante e “a festa”. Desde tempos antigos, os comentaristas estão divididos quanto a esta festa. Os pais da igreja se dividiram entre a Páscoa e o Pentecostes. Um manuscrito do evangelho, que se encontra em Oxford e data do 9 século, insere “festa dos pães asmos” em vez de “festa dos judeus”, identificando esta festa como a Páscoa. Outro manuscrito posterior, contudo, mostra uma tentativa diferente de identificação, inserindo depois da palavra “judeus” a expressão “os Tabernáculos”. Alguns comentaristas defenderam esta como sendo a Festa da Dedicação, e muitos outros argumentaram que seria a festa de Purim. Assim, quase todas as festas do ano religioso judaico já foram defendidas como sendo esta comemoração. Embora não seja possível dar uma resposta final ao problema, há certas evidências que favorecem pelo menos uma hipótese. No capítulo anterior (Jo.4:35), Jesus declarou que haveria quatro meses até a ceifa. Como a colheita de cereais na Palestina ocorria em abril e maio, parece que os eventos do cap. Jo.4 ocorreram em dezembro ou janeiro. Nessa mesma época era celebrada a Festa da Dedicação (também conhecida como Hanukkah) em todas as sinagogas da Palestina. É improvável, contudo, que esta seja a festa mencionada aqui, não só por não ser uma das festas às quais os judeus iam regularmente celebrar em Jerusalém (ver Ex.23:14; Dt.16:16), mas também por ocorrer no inverno (ver Jo.10:22), uma época em que dificilmente os doentes estariam nos pavilhões que circundavam o tanque de Betesda. A festa seguinte era o Purim, que ocorria na metade do último mês do ano judaico, próximo ao final de março. Embora nessa época o clima já estivesse mais ameno, ainda é improvável que a festa aqui seja o Purim, porque, assim como a Festa da Dedicação, não era uma das festas para as quais os judeus, em geral, viajavam a Jerusalém. As três outras festas com as quais a festa de João 5:1 foi identificada (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos) eram todas celebradas em Jerusalém e ocorriam em época de clima geralmente ameno. Dessas três, a Páscoa parece ter mais evidências a seu favor, nesta passagem. Ela foi identificada como tal já no 2 século por Irineu (Contra Heresias, ii.22.3). A mesma expressão, “a festa dos judeus”, é usada para a Páscoa (Jo.6:4); e a festa de 5:1 é a primeira festa, após a observação feita em Jo.4:35, à qual Jesus, como os judeus em geral, teria subido “para Jerusalém” (ver p. 180, 181; gráfico 5, p. 226; com. de Mt.20:17). Este milagre e a resultante acusação de Jesus perante o Sinédrio (ver com. dos v. Jo.5:16-18) marcam o fim do ministério na Judeia. Era provavelmente a Páscoa do ano 29 d.C. (ver p. 180; gráfico 5, p. 226; Nota Adicional a Lucas 4; Lc.4:44), um ano após a primeira purificação do templo (ver com. de Jo.2:13). Assim, o ministério na Judeia durou cerca de um ano, sendo interrompido pelo afastamento para a Galileia mencionado em Jo.4:1-3. Para Jerusalém. Ver com. de Mt.20:17. |
Jo.5:2 | 2. Ora, existe ali, junto à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Porta das Ovelhas. Do gr. probatike, um adjetivo que se refere a ovelhas. Os intérpretes divergem quanto se o significado aqui seria “mercado das ovelhas”, “tanque das ovelhas” ou “porta das ovelhas”, e as três interpretações são possíveis. Podem-se tomar juntas as palavras “tanque” e “ovelhas”, levando à tradução: “Ora, há em Jerusalém, junto ao tanque das ovelhas, [um lugar] chamado na língua hebraica de Betesda.” Em favor dessa hipótese há o fato de que, até o século 13, todos os escritores cristãos entenderam a passagem dessa forma. Por outro lado, se “tanque” e “ovelhas” não forem tomadas juntas, e o adjetivo “das ovelhas” for entendido como um nome abreviado para certo local em Jerusalém, uma provável identificação pode ser com a “Porta das Ovelhas” (Ne.3:1; Ne.12:39). Tanque. Embora ainda haja discussão quanto à localização deste tanque, de maneira geral se aceita a identificação com um tanque duplo junto à Igreja de Santa Ana, ao norte da atual Via Dolorosa. Orígenes, no 3 século, escreveu que este tanque estava cercado por quatro pavilhões e que havia um quinto que o dividia em dois, o que corresponde ao relato de João. Da forma como existe hoje, ele mede 16,5 por 3,5m e fica muitos metros abaixo da superfície do solo, pois o nível do solo hoje é mais alto do que nos tempos antigos. É coberto por cinco arcos, que sustentam o piso de uma antiga igreja cristã que foi construída acima dele. Betesda. O nome deste lugar ocorre de várias formas nos manuscritos: Bethesda, Bethzatha, Belzetha e Bethsaida, e as evidências textuais em favor de cada uma dessas variantes não deixam de ter importância. Embora não se possa chegar a uma decisão final, é provável que a palavra original era Bethzatha, ou algo semelhante, uma vez que a região nordeste da cidade, na qual este tanque devia estar situado, se chamava Bezetha (ver Josefo, Guerra dos Judeus, ii.19.4; v.4.2), que facilmente poderia ser uma variante de Bethzatha. O nome Betesda parece vir do aramaico (aqui chamado “hebraico”, como em Jo.19:13; Jo.19:17; Jo.20:16) beth chesda, “casa de misericórdia”. Talvez tenha sido introduzido em manuscritos de época tardia, por ser um nome apropriado para um lugar onde Jesus curou doentes. Contudo, uma vez que não interpretou a palavra aqui, João não pretendia salientar o significado da palavra, e o melhor a fazer é seguir seu exemplo, abstendo-se de alegorizar o nome. |
Jo.5:3 | 3. Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos Sem comentário para este versículo. |
Jo.5:4 | 4. [esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse]. Esperando que se movesse. Importantes evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão das palavras “esperando que se movesse a água” e todo o restante do v. 4. Assim, a explicação parece não ser parte do texto original, mas teria sido acrescentada para explicar o v. Jo.5:7. A tradição era antiga, como indica Tertuliano, que a conhecia no princípio do 3 século. Não há evidências dessa inserção antes de seu tempo. A agitação da água era real (DTN, 202) e pode ser explicada por fenômenos naturais. Várias fontes de Jerusalém são intermitentes, ou seja, a água jorra forte por um tempo e, depois, diminui. Se o tanque de Betesda era alimentado por uma dessas fontes, a pressão da água podia alterar a calma da água do tanque alternadamente. Assim, no tanque, os mais fortes atropelavam os fracos em sua ansiedade para chegar à água quando esta se agitava, e muitos morriam à beira do tanque (ver DTN, 201, 202, 206). Assim, quanto mais egoísta, determinado e forte fosse o indivíduo, era mais provável que chegasse ao tanque primeiro. Os mais necessitados tinham menos chances, ao passo que Jesus escolheu o pior caso. Cria-se que seria curado o primeiro a chegar ao tanque quando a água se movia, sendo que os dons de Deus são para todos igualmente que se qualificam para recebê-los. Além disso, a cura ocorreria apenas periodicamente. Os princípios implícitos neste relato a respeito dos que eram “curados” no tanque são bem diferentes dos princípios pelos quais Jesus realizava milagres (ver p. 204-206). |
Jo.5:5 | 5. Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Trinta e oito anos. Esta declaração é um importante testemunho da natureza miraculosa da cura operada por Jesus, pois elimina qualquer possibilidade de que o homem estivesse sofrendo de uma invalidez temporária (ver Lc.13:1; At.4:22). Este inválido estava sentado sozinho e sem amigos, inerte e sem esperança (ver DTN, 202, 203). Dentre os reunidos à beira do poço, seu caso era o pior (ver DTN, 206). |
Jo.5:6 | 6. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Queres [...]? Deve-se evitar enfatizar a função da vontade, que estaria implícita nesta pergunta, pois o grego transmite o sentido simples, isto é: “Você quer ser curado?” A pergunta de Jesus era retórica, pois era óbvio que o homem queria, mas serviu para atrair a atenção do sofredor para Jesus e para o problema da cura de sua aflição. |
Jo.5:7 | 7. Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Não tenho ninguém. A resposta do aflito revela uma história de miséria física, do abandono por parte dos amigos e do repetido reavivamento da esperança, seguido, cada vez, por amargo desapontamento. Neste ponto da narrativa, sua esperança ainda estava centralizada no tanque supostamente miraculoso. Ainda não lhe tinha ocorrido que Jesus podia curá-lo por outros meios. |
Jo.5:8 | 8. Então, lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. Levanta-te. As palavras de Jesus aqui são semelhantes às registradas em Mc.2:11. O fato de serem breves e diretas deve ter inspirado confiança no doente (ver DTN, 202, 203). Jesus não fez qualquer tentativa de refutar a crença com respeito ao tanque, nem questionou as causas da doença do homem. Ao contrário, por uma abordagem positiva, instigou o homem a demonstrar fé. Em geral, Jesus fazia certas recomendações àqueles que iria curar (ver p. 205, 206). Leito. Uma esteira que podia ser enrolada e carregada ao ombro. |
Jo.5:9 | 9. Imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar. E aquele dia era sábado. Imediatamente. João usa esta palavra com muito menos frequência que Marcos (ver com. de Mc.1:10), e aqui ela está em contraste com os “trinta e oito anos” durante os quais o homem estivera doente. Pôs-se a andar. A forma da palavra empregada aqui implica, no grego, não simplesmente o ato de andar, mas um novo recurso que o homem continuou a possuir. Fisicamente ele iniciou um novo modo de vida. Sábado. Este é o primeiro dos sete milagres realizados no sábado (ver os milagres de número 3, 5, 6, 9, 27-29, alistados às p. 207- 210). Então, pela primeira vez, Jesus desafiou abertamente os regulamentos rabínicos a respeito do sábado (ver com. de Mc.1:22; Mc.2:23-28; Mc.7:6-13). Jesus fez isso quando a cidade estava cheia de visitantes para a festa. Ele ilustrou Sua rejeição às tradições por meio da realização de um milagre e da ordem para que o homem carregasse o leito. Isso mostra a importância que Ele atribuía ao assunto (ver com. de Jo.5:10; Jo.5:16). |
Jo.5:10 | 10. Por isso, disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito. Não te é lícito. Ver com. de Mc.2:24. Os judeus não estavam preocupados com o fato de o homem ser curado no sábado, mas por ele carregar, naquele dia, um peso: sua cama. A lei tradicional judaica fornecia regulamentos estritos com respeito ao transporte de cargas no sábado. A Mishnah menciona 39 tipos de trabalho que não podiam ser realizados, sendo que o último deles é “carregar coisas de uma propriedade para outra”. Outra passagem da Mishnah declara que se um homem carrega para um território público “uma pessoa viva numa cama, ele não é culpável nem com respeito à cama, porque a cama é secundária com relação a ele”, o que sugere que carregar um leito vazio seria uma transgressão. |
Jo.5:11 | 11. Ao que ele lhes respondeu: O mesmo que me curou me disse: Toma o teu leito e anda. O mesmo que me curou. O ex-inválido não tez nenhuma tentativa de justificar seu ato em termos da lei judaica; mas, em vez disso, apelou para a autoridade maior que Jesus possuía, segundo sua experiência lhe havia mostrado. |
Jo.5:12 | 12. Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? Quem é [...]? Os que fizeram a pergunta sabiam que ninguém exceto Jesus poderia ter realizado o milagre, mas buscavam evidências diretas pelas quais pudessem demonstrar que Ele era um violador dos regulamentos sabáticos. Como os eventos subsequentes mostram (v. Jo.5:16-47), eles achavam que tinham uma acusação válida contra Ele. |
Jo.5:13 | 13. Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, por haver muita gente naquele lugar. Jesus Se havia retirado. Do gr. ekneuo, “sair sem ser notado”, “sair às ocultas”. O propósito de Jesus ao realizar este milagre não era debater com os judeus, mas, por um ato concreto e surpreendente, demonstrar a natureza da verdadeira guarda do sábado e mostrar a falsidade das restrições tradicionais com as quais os fariseus procuravam prender a nação. Muita gente. Jerusalém ficava apinhada durante as festas (ver v. Jo.5:1) e, sem dúvida, este milagre foi realizado na presença de muitas pessoas, que levariam o relato para além das fronteiras da Judeia. Jesus não exigiu nenhuma confissão de fé da parte do enfermo antes de curá-lo. Obviamente, contudo, o enfermo exerceu uma fé à altura da ocasião. |
Jo.5:14 | 14. Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior. Jesus o encontrou. Aparentemente Jesus procurou o homem, pois ele ainda não havia sentido o impacto espiritual da cura. Embora o propósito mais amplo do milagre deva ter sido mostrar aos judeus a falta de sentido de suas tradições (ver com. do v. Jo.5:10), Jesus não negligenciou a salvação do homem. Templo. Do gr. hieron, palavra que se refere a todo o complexo do templo e não apenas ao santuário propriamente dito (ver com. de Mt.4:5). Jesus deve ter encontrado o homem em um dos pátios do templo. Não peques mais. Ou, “não continues pecando”. Jesus dirigiu a mente do homem de seu bem-estar físico para sua necessidade de purificação espiritual. A atitude dele à ordem de Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”, foi uma resposta de fé, o início da saúde física e espiritual. A admoestação adicional de Jesus, “não peques mais”, deixou implícito que sua vida anterior tinha sido de pecado (ver DTN, 202) e que esses pecados tinham sido perdoados. A relação íntima entre a cura física e o perdão foi demonstrada na cura do paralítico (Mc.2:5-12). Coisa pior. Isto poderia ser entendido como uma recaída numa doença ainda mais severa do que a que o homem havia sofrido, talvez uma doença aguda. Contudo, não se deve concluir a partir desta passagem que a doença constitua um castigo divino por uma vida iníqua da parte da pessoa afetada, ou que a doença resulte de uma vida de pecado. A história de Jó e as palavras de Jesus com respeito ao cego (Jo.9:2-3) indicam claramente o perigo de se pressupor tal ligação (ver com. de Jó.42:5; Sl.38:3; Sl.39:9). |
Jo.5:15 | 15. O homem retirou-se e disse aos judeus que fora Jesus quem o havia curado. Disse aos judeus. O homem revelou a identidade de seu benfeitor aos judeus porque ao cooperar, respondendo a pergunta deles, procurava amenizar a condenação que lhe dirigiam (ver v. Jo.5:10-13) e também porque desejava divulgar o conhecimento daquele que o havia curado. |
Jo.5:16 | 16. E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Perseguiam Jesus. Jesus foi arrastado até o Sinédrio e acusado de transgressão do sábado (ver DTN, 204) e, a esta acusação, foi acrescentada a de blasfêmia (v. Jo.5:18). Os líderes da nação procuravam neutralizar a grande influência de Jesus sobre o povo (ver com. de Jo.2:23). Também colocaram espias para vigiá-Lo, a fim de obter evidências para condená-Lo à morte (ver DTN, 213). Pelo ato de censurar publicamente a Jesus, na primavera de 29 d.C., os líderes judeus procuravam minar Sua autoridade e influência junto ao povo (DTN, 213). Fizeram uma proclamação pública advertindo a nação com relação a Jesus e colocaram espias para segui-Lo, a fim de encontrar motivos para medidas legais contra Ele. Com pleno conhecimento de que a oposição a Cristo era injustificável, tornaram-se, daí em diante, ainda mais agressivos e começaram a fazer planos sobre como Lhe podiam tirar a vida. Conseguiram alcançar seu objetivo dois anos mais tarde, na Páscoa de 31 d.C. Na primavera de 29 d.C., eles já possuíam amplas evidências de Sua messianidade: sabiam sobre a visão de Zacarias (Lc.1:5-20), o anúncio feito aos pastores (Lc.2:8-12), a vinda dos magos (Mt.2:1-2), a visita de Jesus ao templo com a idade de 12 anos (Lc.2:42-50) e o testemunho de João Batista de que Cristo era o Messias (Jo.1:19-34). Havia pouco, eles tiveram evidências adicionais da perfeição inequívoca do caráter de Cristo, da retidão de Seus ensinos e do caráter divino dos milagres. Além de tudo isso, tinham as profecias, que estavam se cumprindo nos eventos em ocorrência e que devem tê-los impressionado. No sábado. Além da censura pública, os judeus parecem não ter aplicado outra punição ao homem por carregar o leito no sábado. Contudo, procuravam matar a Jesus, o autor do milagre, não só por ter curado o homem, mas por ter-lhe ordenado que carregasse o leito no sábado (ver com. de Jo.7:22-24; Jo.9:6; Jo.9:14). Embora fosse permitido pela lei judaica tratar de alguém que fosse acometido por uma doença aguda, o tratamento de um caso crônico como este era proibido. Assim, um antigo comentário judeu, escrito muitos séculos após a época de Jesus, mas que sem dúvida reflete a situação de Seus dias, declara: “É permitido a uma pessoa curar no sábado? Nossos mestres têm ensinado: um perigo de morte permite pôr de parte o sábado, mas se há dúvidas quanto a se ele [o doente] vai recuperar a saúde ou não, não se deve pôr de parte o sábado [por causa dele]”. A escolha de Jesus, neste caso, de um homem que estava doente havia 38 anos, parece ter sido proposital, para demonstrar a falácia das restrições legais judaicas. |
Jo.5:17 | 17. Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Trabalha até agora. Literalmente, “está trabalhando até agora”. Com estas palavras, Jesus assegurou a Seus ouvintes que Deus, que criara o mundo, ainda estava operando ativamente no meio deles, mesmo no dia de sábado (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre At.17:28). Isto contradizia o conceito deísta de alguns círculos do judaísmo, que tendia a apresentar a Deus como distante do mundo e com pouco contato com ele. Ainda mais do que isto, as palavras de Jesus eram uma afirmação de que Suas próprias obras, como a que fora revelada no milagre de cura que Ele acabara de realizar, eram, na verdade, uma obra de Deus. A ideia aqui expressa é fundamental para o discurso de Jesus em Jo.5:19-47. E Eu. O uso enfático do pronome junto à conjunção coordenativa implica a igualdade de Jesus com Deus. |
Jo.5:18 | 18. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. Seu próprio Pai. Falar de Deus como “Pai” não era algo alheio ao costume judaico. Ocasionalmente, na literatura judaica intertestamentária (ver p. 71-74), Deus é chamado de Pai dos judeus (ver Jubileus 1:24, 25, 28; Tobias 13:4). Algumas vezes, em orações, Ele é chamado de “meu Pai” (ver Eclesiástico 23:1, 4; Sabedoria 14:3). Não foi pelo uso da expressão que os judeus acusaram Jesus de blasfêmia. Sem dúvida, por não terem resposta para a defesa que Ele apresentou por curar no sábado (ver com. de Jo.5:17), eles passaram a questionar Sua reivindicação de igualdade com Deus, que reconheciam estar implícita na declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também.” João registra a distinção, clara na mente dos judeus, entre o falar de Deus como Pai e a afirmação implícita de Jesus de que Deus era Seu próprio Pai em sentido particular. Igual a Deus. Ver Fp.2:6; ver com. de Jo.1:1. É significativo o reconhecimento de que a relação Pai-Filho existente entre Deus e Cristo é de igualdade. Às vezes, apresenta-se o argumento de que Jesus era o Filho de Deus apenas no mesmo sentido em que todos são filhos de Deus, isto é, em virtude da criação e da paternidade espiritual. Tem sido salientado que o termo “Filho de Deus” era usado no mundo greco-romano como título para os imperadores, indicando que eles eram semi-deuses, mas não que possuíssem divindade completa. Contudo, o relato de João mostra que os judeus entenderam claramente que as palavras de Jesus eram uma afirmação de igualdade com o Altíssimo. |
Jo.5:19 | 19. Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. O Filho. [Jesus explica a Sua missão, Jo.5:19-47]. Embora Jesus Se referisse a Si mesmo como o Filho do Homem, um título que enfatizava a humanidade e subentendia a messianidade (ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10), no presente contexto, o título “o Filho”, sem qualificativos, claramente significa “o Filho de Deus”. Isto é evidente tanto pelo fato de Jesus o usar em conexão com o Pai como por Sua referência ao Filho de Deus em Jo.5:25. É significativo que, quando os judeus acusaram Jesus de reivindicar divindade, Ele passou a explicar e a ampliar a reivindicação, em vez de procurar minimizá-la (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). De Sí mesmo. Isto é, por Sua própria vontade ou iniciativa. Vir fazer o Pai. Literalmente, “vê o Pai fazendo”. Os atos de Jesus estavam em harmonia com a maneira de Deus tratar o ser humano. Mais do que isso, eram a suprema expressão do interesse amoroso de Deus por Suas criaturas. Jesus podia expressar o caráter do Pai de maneira tão completa somente porque o Filho prestava inteira obediência à vontade do Pai. |
Jo.5:20 | 20. Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Ama ao Filho. Ver Jo.3:35. Tudo. Aqui Jesus afirma Sua perfeita compreensão da vontade do Pai. Somente alguém que fosse Deus podia fazer tal afirmação. Maiores obras. Isto é, maiores do que os milagres que Jesus realizava (ver com. do v. Jo.5:21). A declaração de Jesus é ainda mais notável pelo fato de Ele a ter feito em face de uma condenação pelo milagre realizado. |
Jo.5:21 | 21. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. Assim como o Pai. A comparação implica a igualdade do Filho com o Pai. Os judeus criam que ressuscitar mortos era uma prerrogativa divina; ao afirmar ter tal poder, Jesus afirmava Sua divindade. O Filho vivifica. Sem dúvida, isto se aplica tanto ao poder de Jesus de ressuscitar os mortos, “ao ressoar da última trombeta” (1Co.15:52), quanto a Seu poder de dar nova vida a todo cristão que experimenta o novo nascimento (ver Jo.3:3). Somente mais tarde é que a literatura judaica indicou que a ressurreição era considerada como uma obra do Messias; neste discurso, contudo, Jesus não estava enfatizando Sua messianidade, mas Sua divindade. |
Jo.5:22 | 22. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, O Pai a ninguém julga. O Pai confiou ao Filho a obra da redenção. O Pai não Se tornou homem, não deu Sua vida para salvar o homem; mas o Filho Se tornou humano e deu a vida pela raça humana. Por isso, Ele tem o direito de julgar os que O rejeitam. Somente Ele conhece o pleno poder da tentação, somente Ele levou sobre Si os pecados do mundo (ver com. de Jo.5:27; Jo.5:29; Hb.4:15). |
Jo.5:23 | 23. a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Honrem. Em seu contexto imediato, as palavras de Jesus admoestavam os ouvintes que professavam honrar a Deus de que, por esta mesma razão, deviam honrar também o Filho. É impossível, na verdade, honrar a Deus sem honrar o Filho a quem Ele enviou. |
Jo.5:24 | 24. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Quem ouve. Este versículo é significativo pela íntima relação que demonstra existir entre ouvir e crer. Na verdade, os dois atos são expressos no grego por dois particípios regidos por um único artigo, o que implica que ouvir não é significativo a menos que a pessoa também creia (ver com. de Mt.7:24). Aqui Jesus continua a enfatizar Sua submissão ao Pai, pois a mensagem do Filho (“Minha palavra”) tem o objetivo de levar as pessoas a crer e a depositar confiança no Pai. Tem a vida eterna. Esta declaração é mais do que uma promessa de vida eterna no futuro; é uma certeza de que o crente aqui e agora pode começar a desfrutar uma vida que é eterna em qualidade, por estar unido espiritualmente ao Senhor, de cuja vida partilha. “É por meio do Espírito que Cristo habita em nós; e o Espírito de Deus, recebido no coração pela fé, é o princípio da vida eterna” (DTN, 388; ver Jo.6:47; 1Jo.5:11-12; ver com. de Jo.3:16). Não entra em juízo. Ver Jo.3:18; Rm.8:1. Passou. A passagem da na morte para a vida não é apenas uma transformação do corpo na ressurreição futura, mas também uma experiência pela qual todo verdadeiro cristão já passou e cujos frutos continua a desfrutar. Em termos espirituais, a mudança crucial da morte para a vida advém quando a pessoa nasce de novo (ver Ef.2:5; Cl.2:13; Cl.3:1; ver com. de Jo.1:13; Jo.3:5). |
Jo.5:25 | 25. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Vem [...] e já chegou. Embora a palavra “vem” se aplique à ressurreição literal no futuro (ver v. Jo.5:28), as palavras “já chegou” parecem aludir à experiência que Jesus acabou de mencionar, quando o cristão “passou da morte para a vida” (v. Jo.5:24). Assim, elas constituem um lembrete de que a ressurreição espiritual está à disposição imediata de qualquer pessoa que, embora espiritualmente morta, ouve “a voz do Filho de Deus” (ver uso semelhante destas frases, em Jo.4:21; Jo.4:23). Também é verdade que o versículo em consideração parece falar de uma ressurreição apenas parcial, enquanto o v. Jo.5:28 declara distintamente que na ressurreição futura “todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz”. Se for assim compreendido, o v. 25 pode se referir à ressurreição especial de muitos “santos [...] que dormiam”, mas que se levantaram na ressurreição de Cristo como as primícias de Sua vitória (ver Mt.27:52-53). |
Jo.5:26 | 26. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. Assim como. Ver com. do v. Jo.5:21. Concedeu ao Filho. Ver com. de Jo.6:37. Vida em Si mesmo. “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530). Contudo, como o Filho encarnado que “Se esvaziou” (Fp.2:7) de Suas prerrogativas divinas, Cristo, falando de Sua existência na Terra como homem, podia Se referir à vida que possuía como sendo um dom de Deus. “A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente” (DTN, 530; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). |
Jo.5:27 | 27. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. Autoridade. Ao comissionar o Filho a executar o plano da redenção para a salvação do ser humano e para a glória de Deus, o Pai também Lhe confiou a execução do juízo. É razoável que assim fosse, pois o Filho de Deus, um ser divino, é também o Filho do Homem, um ser humano que resistiu à tentação (Hb.4:15), levou sobre Si o pecado vicariamente e provou a morte. Portanto, triunfou no grande conflito contra Satanás. Nenhum outro ser no universo está assim qualificado a realizar o juízo eterno dos seres humanos, e nenhum outro ser pode glorificar e vindicar a Deus por meio desse juízo (ver com. do v. Jo.5:22). |
Jo.5:28 | 28. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: Vem a hora. Ver com. do v. Jo.5:25. Todos. Esta é uma referência geral à ressurreição dos mortos no fim de tudo, sem distinguir entre a primeira e a segunda ressurreições (Ap.20:5-6). O conceito judaico na época de Jesus estava dividido com respeito ao assunto da ressurreição. Os saduceus negavam que os mortos ressuscitariam, enquanto os fariseus defendiam isso vigorosamente. Mesmo entre os judeus que defendiam a doutrina da ressurreição, aparentemente também existia uma divisão sobre o ponto de quem estaria incluído nela, sendo que alguns defendiam que só ressuscitariam os justos, enquanto outros defendiam que tanto os justos quanto os ímpios sairiam da sepultura. Na mesma linha deste último ponto de vista, um documento do final do 2 século e início do primeiro século a.C. apresenta a seguinte declaração como se fosse feita pelos patriarcas: “Então também ressuscitaremos, cada um de nós sobre nossa tribo, adorando ao Rei do Céu. Então também todos os homens ressuscitarão, alguns para a glória e outros para a vergonha”. Jesus, em harmonia com Seu modo costumeiro de agir, não entrou em discussão com respeito aos vários pontos de vista defendidos pelos judeus com respeito à ressurreição, mas simplesmente declarou a verdade de que “todos os que se acham nos túmulos [...] sairão”. |
Jo.5:29 | 29. os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. Os que tiverem feito o bem. Não se deve inferir destas palavras que a salvação seja conquistada por se fazer o bem. Bons e maus atos são um reflexo da condição espiritual do ser humano. Com base em seus frutos, as árvores podem ser julgadas como boas ou más e, consequentemente, como dignas de cultivo ou destruição, embora a bondade ou maldade intrínseca de uma árvore não resida em seus frutos. Da mesma forma, os seres humanos podem ser classificados em termos de suas obras, embora suas obras sejam apenas as evidências exteriores de sua condição espiritual interior, que é o fator determinante em sua salvação. Ressurreição da vida. Isto é, a ressurreição que é caracterizada pela vida eterna ou que resulta na vida eterna; na verdade, uma ressurreição que é a vida em si, no sentido de que é efetuada pela vida de Cristo, da qual o crente partilha. “Cristo tornou-Se uma mesma carne conosco, a fim de nos podermos tornar um espírito com Ele. É em virtude dessa união que havemos de ressurgir do sepulcro - não somente como manifestação do poder de Cristo, mas porque, mediante a fé, Sua vida se tornou nossa” (DTN, 388). Juízo. Do gr. krisis. O contraste desta palavra com “vida” indica que deve ser entendida aqui no sentido de “juízo adverso”. Esta é a mesma palavra traduzida como “julgamento”, no v. Jo.5:22, e “juízo”, no v. Jo.5:24. As três ocorrências parecem indicar que o juízo mencionado ali como tendo sido confiado a Cristo é primariamente o juízo dos ímpios (ver com. de Jo.9:39). |
Jo.5:30 | 30. Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou. Nada posso fazer. Ver v. Jo.5:19; Jo.6:38. Na forma por que ouço. Isto é, o que procede do Pai. Juízo. Do gr. krisis (ver com. do v. Jo.5:29). Pelo contexto, as palavras de Jesus aqui são uma afirmação de que será justa a condenação dos pecadores no juízo final (ver com. dos v. Jo.5:22; Jo.5:27). Do Pai (ARC). A evidência textual apoia (cf. p. 136) a omissão destas palavras. |
Jo.5:31 | 31. Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Testifico a respeito de Mim mesmo. Acerca do testemunho legal quanto a certos aspectos, pelo menos, da vida de uma pessoa, a Mishnah declara: “Ninguém pode testificar com respeito a si mesmo”. A declaração de Jesus neste versículo tinha o objetivo de apelar para esse tipo de pensamento entre Seus ouvintes judeus. À primeira vista, Jo.8:14 parece contradizer a declaração feita por Ele aqui. Em cada um desses casos, porém, as palavras de Jesus eram adequadas ao modo de pensar de Seus ouvintes. Em Jo.8:14, a discussão não era referente à Sua relação para com o Pai, mas à Sua declaração: “Eu sou a luz do mundo”, que os fariseus rejeitaram pelo fato de Ele ter dito isso a respeito de Si mesmo. Diante dessa objeção, Jesus insistiu que, mesmo assim, Suas palavras eram verdadeiras. Contudo, na presente passagem, o contexto é diferente: aqui Jesus estava procurando demonstrar Sua dependência do Pai e, como evidência de Suas reivindicações, apontou para as obras que foi capacitado a realizar (Jo.5:36-37). Para reforçar Seu argumento, ao que parece, Ele lembrou aos ouvintes o princípio judaico de que o testemunho de alguém com respeito à própria conduta não era considerado válido. |
Jo.5:32 | 32. Outro é o que testifica a meu respeito, e sei que é verdadeiro o testemunho que ele dá de mim. Outro. Desde os tempos antigos, os comentaristas têm entendido este versículo de duas maneiras. Alguns consideram que a palavra “outro” se refira a João Batista, em vista do contexto imediato (v. Jo.5:33-35) e, sem dúvida, os ouvintes de Jesus naquele tempo entenderam dessa forma (ver com. do v. Jo.5:34). Assim, reconhecendo que Sua própria autoridade não era aceita (v. Jo.5:31), Jesus formulou Seu argumento apelando para quatro testemunhos diferentes: (1) o de João (v. Jo.5:32-35); (2) dos milagres (v. Jo.5:36), que os judeus não podiam ignorar; (3) do Pai (v. Jo.5:37); e (4) das Escrituras (v. Jo.5:39), particularmente, o dos escritos de Moisés (v. Jo.5:45-47), que os judeus consideravam sua principal autoridade. Muitos outros intérpretes, conquanto não neguem esses quatro pontos do argumento elaborado por Jesus, entendem que este versículo se aplica ao Pai, em antecipação ao v. Jo.5:37. Salientam que o v. 32 está no presente, a fim de expressar o contínuo testemunho que o Pai dá sobre o Filho, enquanto os v. Jo.5:33-35, que se aplicam a João, estão no passado, pois seu ministério, já havia terminado, nessa época. |
Jo.5:33 | 33. Mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. Mandastes. Esta é, provavelmente, uma referência ao incidente registrado em Jo.1:19-27. |
Jo.5:34 | 34. Eu, porém, não aceito humano testemunho; digo-vos, entretanto, estas coisas para que sejais salvos. Humano testemunho. Quando Jesus declarou que havia outro que dava testemunho dEle (v. Jo.5:32), sem dúvida, muitos dos judeus logo pensaram que Ele Se referia a João Batista (ver Jo.1:7-8; Jo.1:15-18; Jo.1:26-27; Jo.1:29-36). Porém, Jesus prosseguiu e salientou que João, de fato, tinha dado testemunho da verdade, mas que a validade daquilo que Ele afirmava não dependia de um testemunho humano como esse. Para que sejais salvos. Embora reconhecesse que a veracidade de Suas palavras não dependia de João ter testificado delas, Jesus lembrou os judeus de que João tinha testemunhado dEle, pois muitos criam em João (ver Mt.21:26). Apelando para tal testemunho, Jesus podia encorajar alguns a crerem nEle e, assim, podia salvá-los. |
Jo.5:35 | 35. Ele era a lâmpada que ardia e alumiava, e vós quisestes, por algum tempo, alegrar-vos com a sua luz. Lâmpada. Do gr. luchnos (ver com. de Jo.1:9). O apóstolo João declara, com respeito ao Batista, que “ele não era a luz” (Jo.1:8). João Batista era uma lâmpada em comparação a Cristo, que era “a verdadeira luz” (v. Jo.1:9). Assim como uma lâmpada não é mais necessária quando chega a luz do dia, a obra de João foi substituída pela de Jesus. A palavra traduzida como “ardia” é uma forma do verbo kaio, “ser inflamado” e, assim, pode implicar que João era apenas um luminar secundário, que fora “inflamado” pela Luz maior. Vós quisestes. Sobre a popularidade de João, ver Mt.3:5-7; Mt.21:26. Por algum tempo. Na ocasião em que foi feito este discurso, o ministério público de João já havia terminado, e ele devia estar na prisão (ver com. de Lc.3:19-20). |
Jo.5:36 | 36. Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço testemunham a meu respeito de que o Pai me enviou. O de João. Em vista do contexto do v. Jo.5:34, parece claro que Jesus dizia ter um testemunho maior do que qualquer um que João tenha dado a respeito dEle. As obras. Incluem não apenas os milagres de Jesus, mas todo o Seu ministério em favor do ser humano: Sua vida sem pecado, Seus ensinos, atos de misericórdia, a morte e a ressurreição. Tomadas em conjunto, essas obras constituem um testemunho da veracidade de Suas reivindicações, testemunho esse que não pode ser igualado em importância por nenhuma declaração humana. “A mais alta prova de que [Jesus] veio de Deus é o fato de Sua vida revelar o caráter divino” (DTN, 406, 407). |
Jo.5:37 | 37. O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim. Jamais tendes ouvido a sua voz, nem visto a sua forma. O Pai. A prova suprema da verdade em Cristo não se encontra no testemunho humano nem nas obras de Jesus, mas na voz de Deus que fala ao coração humano. Quando sabe, em seu coração, que “o Pai [...] tem dado testemunho de” Cristo, o cristão é possuído por uma certeza que transcende todas as outras garantias. Talvez Jesus estivesse pensando também na voz do Céu ouvida em Seu batismo (ver com. de Mt.3:17). Jamais. Os ouvintes de Jesus tinham visto Suas obras e presenciado o testemunho de João. Mas eles não sabiam nada a respeito de um terceiro tipo de testemunho, o do Pai, que é revelado ao coração, pois, como Jesus lhes disse, “não credes nAquele a quem Ele enviou” (v. Jo.5:38). Embora ouvir o testemunho humano e observar os feitos de Jesus possam vir antes da fé, a prova suprema da messianidade e da divindade de Jesus Cristo só pode ser recebida depois de a fé ter começado a brotar no coração. Somente pelos ouvidos e olhos da fé é que o Pai pode ser ouvido e visto, e a palavra que Ele fala sobre Jesus Cristo pode habitar no ser humano e ser apreendida. E, quando essa palavra é apreendida, não há certeza maior. |
Jo.5:38 | 38. Também não tendes a sua palavra permanente em vós, porque não credes naquele a quem ele enviou. Sem comentário para este versículo. |
Jo.5:39 | 39. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Examinais as Escrituras. Esta passagem pode ser traduzida como uma declaração simples: “Examinais as Escrituras”, ou como uma ordem: “Examinai as Escrituras!” O contexto parece indicar que são melhor compreendidas como uma declaração simples de Cristo para os judeus, conforme a tradução da ARA. O pensamento judaico na Antiguidade era de que o conhecimento da lei asseguraria a vida eterna. Assim, relata-se que Hillel, um rabi do primeiro século a.C., declarou: “Alguém que obteve a posse das palavras da Torah, adquiriu para si mesmo a vida do mundo por vir”. Jesus faz uso dessa crença para lembrar aos judeus que as Escrituras nas quais eles pensavam encontrar a vida eterna eram precisamente os escritos que testificavam dEle (ver PP, 367). Esta passagem também tem sido usada eficazmente como uma injunção para que se estudem as Escrituras (ver T2, 121). Se os judeus tivessem examinado as Escrituras com os olhos da fé, teriam estado preparados para reconhecer o Messias quando esteve entre eles. Uma passagem quase idêntica a este versículo ocorre num evangelho apócrifo descoberto no Egito, num papiro escrito, o mais tardar, em 150 d.C. Ela diz: “Voltando-Se dos governantes para o povo, Ele disse esta palavra: 'Examinais as Escrituras; [aquelas Escrituras] nas quais pensais que tendes vida, são aquelas que testificam a respeito de Mim”. Essa passagem parece ter sido baseada no evangelho de João e, consequentemente, é um importante testemunho da existência deste evangelho durante a primeira metade do 2 século. O fato de o papiro desse evangelho apócrifo ser descoberto no Egito indica que o evangelho de João pode ter circulado por lá, a uma distância considerável de Éfeso, seu provável local de origem, durante algum tempo antes de ser usado na elaboração de um relato apócrifo sobre Cristo. Isto, juntamente com o Papiro Rylands, de João, que é dessa mesma época, são evidências significativas da validade da datação tradicional do quarto evangelho, que o coloca próximo ao final do primeiro século d.C. (ver p. 167-169). |
Jo.5:40 | 40. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. Vir a Mim. Em dois discursos posteriores, Jesus mostrou que ir a Ele resulta em vida eterna, e que ir a Ele é sinônimo de crer nEle (Jo.6:35; Jo.7:37-38). Embora os judeus fossem a Ele para ouvi-Lo e questioná-Lo, não o fizeram com fé ou com o senso de sua própria necessidade do poder de Jesus para salvar. |
Jo.5:41 | 41. Eu não aceito glória que vem dos homens Glória que vem de homens. O sucesso final da obra de Jesus não dependia de os líderes judeus de Sua época O reconhecerem como o Messias. Os propósitos de Sua mensagem e de Seu ministério transcendiam qualquer aprovação que seres humanos pudessem dar. Seu objetivo supremo era vencer o reino do mal, para a glória de Deus. |
Jo.5:42 | 42. sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus. O amor de Deus. Isto é, o amor dos seres humanos a Deus, não o amor de Deus por eles. Deus amava os fariseus, mas com frequência eles deixavam de retribuir (ver 1Jo.4:10-11; 1Jo.4:19). |
Jo.5:43 | 43. Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente, o recebereis. Não Me recebeis. Ver Jo.1:5; Jo.1:10-11. Se outro vier. Alguns comentaristas entenderam isto como uma alusão histórica direta a Bar Cocheba, o líder revolucionário judeu que foi aclamado como o Messias durante a segunda revolta, de 132 a 135 d.C. (ver p. 66). Rejeitando a possibilidade de uma predição profética verdadeira, eles interpretaram este versículo como uma evidência de que o evangelho de João não podia ter sido escrito antes da segunda revolta. Essa interpretação deve ser rejeitada por dois motivos: (1) há claras evidências de que João foi escrito antes dessa época (ver o com. do v. Jo.5:39; ver também p. 167-169); e (2) a declaração de Jesus não afirma, de modo algum, que alguém viria reivindicando, em seu próprio nome, ser o Messias, mas é uma declaração hipotética de que, se alguém o fizesse, os judeus de boa vontade o receberiam. Ao mesmo tempo, é verdade que Bar Cocheba foi aceito como o Messias, mesmo pelo líder judeu Akiba e, dessa forma, a veracidade da proposição de Jesus foi demonstrada. |
Jo.5:44 | 44. Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único? Glória. Ou, “boa reputação”. Muitos dos judeus julgavam a si mesmos; consideravam a reputação de alguém boa ou má em termos de suas próprias tradições, em vez de tomar como padrão a Deus e Seu caráter. Consequentemente, não podiam crer em Cristo. Do Deus único. O fato de Deus ser único e absoluto significa que há apenas um padrão verdadeiro para o julgamento do caráter: o caráter do próprio Deus conforme revelado em Sua lei. O princípio da singularidade de Deus era um credo fundamental da fé judaica, mas os judeus o negavam por seus atos, na medida em que julgavam o próximo por padrões humanos tradicionais. |
Jo.5:45 | 45. Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança. É Moisés. Para os judeus, a lei de Moisés era a base da religião e da vida como um todo. Então Jesus salientou para Seus ouvintes o fato surpreendente de que, se tivessem entendido essa lei, eles O teriam visto revelado nela. Assim, eram condenados por seu maior profeta. No manuscrito de um evangelho apócrifo do 2 século d.C., há uma passagem muito semelhante a este versículo, que diz: “Não penseis que Eu venho para acusar-vos diante de Meu Pai; vosso acusador é Moisés, em quem pusestes vossa confiança” (ver com. de Jo.5:39). Essa e outras passagens desse documento são paralelas a João (ver com. do v. Jo.5:39). Confiança. Do gr. elpizo, “ter esperança”. Os judeus colocavam a esperança de vida eterna na conformidade com a lei de Moisés segundo a interpretação tradicional que davam a ela (ver com. do v. Jo.5:39). |
Jo.5:46 | 46. Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Ele escreveu a Meu respeito. Esta não parece ser uma referência a uma determinada passagem dos escritos de Moisés, a menos que seja a Dt.18:15; Dt.18:18 (ver com. ali), mas uma alusão geral aos elementos do Pentateuco que apontavam para Cristo, particularmente, o serviço do santuário e as profecias de Jacó (Gn.49:10) e Balaão (Nm.24:17). Se tivessem entendido essas declarações corretamente, os judeus teriam estado preparados para aceitar a Cristo quando Ele veio. Em vez disso, viram os preceitos de Moisés apenas como base para um modo de vida legalista. Por isso, não reconheceram Jesus como o Messias e, assim, se colocaram sob a condenação dos próprios escritos segundo os quais pretendiam estar vivendo. |
Jo.5:47 | 47. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras? Sem comentário para este versículo. |
Jo.6:1 | 1. Depois destas coisas, atravessou Jesus o mar da Galiléia, que é o de Tiberíades. Depois destas coisas. [A multiplicação de pães e peixes, Jo.6:1-15 = Mt.14:13-21 = Mc.6:30-44 = Lc.9:10-17. Comentário principal: Mc e Jo. Ver mapa, p. 217; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204-210]. No quarto evangelho, esta expressão geralmente indica que se passou um considerável período desde os eventos narrados anteriormente (cf. Jo.5:1; Jo.7:1; sobre uma expressão semelhante, no singular, ver com. de Jo.2:12). Os eventos de João 6 ocorreram quase um ano após os do cap. Jo.5, caso a festa não especificada em Jo.5:1 tenha sido a Páscoa (ver p. 181, 244, 245; ver com. de Jo.5:1). Na verdade, João aqui passa em silêncio por todo o período do ministério público de Jesus na Galileia. Segundo a cronologia adotada por este Comentário, o cap. 6 é datado aproximadamente da época da Páscoa (ver v. Jo.6:4) do ano 30 d.C. Os eventos deste capítulo são os únicos que João menciona dentro do período do ministério de Jesus na Galileia (ver p. 186- 190). Pode-se perguntar por que, ao compor sua narrativa com incidentes aparentemente desconexos, João decidiu relatar o milagre da alimentação dos cinco mil. Observa-se, primeiramente, que das quatro Páscoas do ministério de Jesus, esta é a única que Ele não celebrou em Jerusalém. João, na verdade, toma nota cuidadosamente dessas festas e menciona a presença de Jesus em cada uma das outras (ver Jo.2:13; Jo.5:1; Jo.12:1; Jo.12:12). Talvez, pelo menos em parte, seu propósito fosse que o relato do cap. 6 marcasse essa época da Páscoa e explicasse por que Jesus não subiu a Jerusalém. E o que é mais importante, os eventos do cap. 6 explicam como as pessoas da Galileia, que antes estavam tão ansiosas para seguir a Jesus (ver com. de Mc.1:44-45; Mc.3:7-12; Jo.4:45), então se voltaram contra Ele (ver com. de Jo.6:66), da mesma forma que, no ano anterior, os líderes de Jerusalém haviam se voltado contra Ele (ver com. de Jo.5:1). Assim como aquele incidente havia encerrado o ministério de Jesus na Judeia, os eventos do cap. 6 marcam o encerramento de Seu ministério público na Galileia (ver com. de Mt.15:21). O evangelho de João dá atenção especial às evidências de que Jesus era de fato o Messias (ver p. 983, 984) e à atitude dos judeus de crença ou descrença com relação a essas evidências (ver com. de Jo.1:12). Para esse propósito, ao que parece, João registra os principais passos pelos quais a nação se voltou contra Cristo e O rejeitou. Esse objetivo justificaria plenamente a seleção dos eventos do cap. 6. Talvez, também, João achasse que os evangelhos sinóticos já tinham fornecido detalhes suficientes sobre o ministério na Galileia. Atravessou [...] o mar. Isto é, foi de Cafarnaum para as vizinhanças de Betsaida (ver Lc.9:10; cf. com. de Mc.6:33), na extremidade norte do lago. Ao término do cap. Jo.5, Jesus ainda estava na Judeia. Então é dito que Ele atravessou o mar “de Tiberíades”, o que implica que, entre os eventos dos cap. 5 e 6, Ele havia voltado para a Galileia (sobre as circunstâncias e os propósitos desta viagem, ver com. de Mc.6:30). Tiberíades. João é o único escritor bíblico que se refere ao lago da Galileia como o mar de Tiberíades (ver Jo.21:1). Isso reforça que ele escreveu seu evangelho várias décadas após os demais, e que o nome Tiberíades, com relação ao lago, era sem dúvida mais usado então do que havia sido no passado. Na época de Jesus, a cidade de Tiberíades, que deu nome ao lago, havia sido construída por Herodes Antipas, e, consequentemente, o lago ainda não era conhecido por esse nome, pelo menos não de maneira geral. |
Jo.6:2 | 2. Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos. Seguia. Ou, segundo o tempo do verbo no grego, “estava seguindo”, isto é, constantemente. Isto se refere à popularidade geral de Jesus no clímax de Seu ministério na Galileia, após um extenso período de viagens, ensinos e curas nas cidades e aldeias da Galileia (ver com. do v. Jo.6:1). Tinham visto. Literalmente, “estavam vendo”. Enquanto as multidões seguiam a Jesus, repetidas vezes O viam operar milagres. Sinais. Ver p. 204-210. |
Jo.6:3 | 3. Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos. Ao monte. Do gr. eis to oros. Este devia ser um monte ou colina particularmente saliente próximo à praia, nas vizinhanças de Betsaida. A tradução “às colinas” (RSV) também é possível. As passagens paralelas nos sinóticos declaram que era um “lugar deserto”, isto é, desabitado (Mt.14:13; Mc.6:32; Lc.9:12). Aqui Jesus esperava ficar sozinho com os discípulos após eles terem regressado da pregação por toda a Galileia (Mc.6:31). |
Jo.6:4 | 4. Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Páscoa. Ver com. do v. Jo.6:1. Festa dos judeus. Esta frase explicativa seria desnecessária para leitores judeus e indica que João escreveu tendo em mente não só leitores judeus, mas também gentios. |
Jo.6:5 | 5. Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer? Vinha. Literalmente, “estava vindo". A forma do verbo grego indica que Jesus dirigiu a pergunta a Filipe enquanto a multidão estava se ajuntando. Por outro lado, os relatos sinóticos deste milagre retratam o fato de os discípulos terem trazido o problema a Jesus no fim do dia. Parece razoável concluir que o próprio Jesus levantou a questão da comida quando a multidão apareceu, e várias horas depois, não encontrando solução, Filipe e os outros discípulos voltaram ao Mestre com o problema, sugerindo que Jesus despedisse as pessoas sem comida. Filipe. João é o único que menciona Filipe especificamente em associação com este milagre. Uma vez que ele era de Betsaida (ver Jo.1:44), era natural que Jesus se voltasse para ele para perguntar como e onde se poderia obter comida (porém, ver com. de Jo.6:6; Jo.6:8). Onde [...]? Do gr. pothen, “de onde?” ou, se a palavra for entendida mais do ponto de vista da lógica do que da geografia, “como?” A resposta de Filipe, que diz respeito aos meios de obter comida e não ao lugar onde esta podia ser obtida, torna provável que ele tenha entendido que Jesus estivesse perguntando como lhes seria possível alimentar tal multidão. |
Jo.6:6 | 6. Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que estava para fazer. Para o experimentar. Jesus tinha uma razão mais complexa para dirigir a pergunta a Filipe do que simplesmente o fato de ele ser natural daquela região (ver com. do v. Jo.6:5) e, portanto, poder sugerir uma fonte de comida. A pergunta tinha o objetivo de testar a fé de Filipe. A resposta pessimista do discípulo quanto à impossibilidade de alimentar os milhares de pessoas presentes só tornou mais impressionante a solução de Jesus para o problema. Ao fazer com que ele, primeiramente, desse sua estimativa da situação, Jesus pôde, pelo milagre que operou, causar um impacto ainda maior na mente de Filipe do que teria sido possível de outra forma. Sabia o que estava para fazer. Estas palavras refletem o equilíbrio com que Jesus enfrentava o que parecia ser um problema insolúvel. A confiança emanava da fé plena no poder do Pai para suprir as necessidades daqueles em favor de quem Ele fizesse uma solicitação. Essa fé, por sua vez, era resultado da comunhão completa entre o Pai e o Filho (ver com. de Mc.3:13). Nenhum pecado ou atitude egoísta se interpunha para obstruir o fluxo pleno do poder do Pai por meio de Seu Filho encarnado. Só assim Jesus podia trabalhar entre os seres humanos seguro de que era capaz de enfrentar qualquer situação que surgisse, e de suprir qualquer necessidade que Lhe fosse apresentada. |
Jo.6:7 | 7. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço. Duzentos denários. Ver com. de Mc.6:37. |
Jo.6:8 | 8. Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: André. Como no caso de Filipe (v. Jo.6:5), João é o único evangelista a registrar a parte de André na narrativa. Essas referências a pessoas em particular não mencionadas em outros lugares em relação a este milagre, mostram que o evangelho de João é o relato de uma testemunha ocular. Como Filipe, André era de Betsaida, cidade próxima dali. João mostra Filipe indo a André, provavelmente em busca de conselho e apoio para apresentar a Jesus o caso dos gregos que perguntavam por Ele (Jo.12:20-22). Parece provável que neste caso também, ou Filipe foi a André em busca de ajuda quanto ao problema que Jesus lhe apresentara, ou André voluntariamente deu sua contribuição quando ficou sabendo da pergunta que Jesus fez a Filipe, seu amigo. |
Jo.6:9 | 9. Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente? Um rapaz. Do gr. paidarion, literalmente, “uma criancinha”. Contudo, a palavra não é restrita a este sentido e pode denotar até mesmo um rapaz quase adulto. A palavra é usada na LXX para José (Gn.37:30) quando ele tinha 17 anos (ver Gn.37:2) e no livro apócrifo de Tobias, que já tinha idade suficiente para se casar (Tobias 6:2). André, sendo de Betsaida, cidade próxima dali, talvez conhecesse esse rapaz pessoalmente, o que explicaria sua liberdade ao sugerir como possível fonte de alimento algo que era propriedade pessoal do rapaz. Pães de cevada. Ver com. de Mc.6:38. A cevada era considerada um alimento inferior. Filo declara que era própria para “animais irracionais e homens em circunstâncias infelizes”. Semelhantemente, um antigo comentário judeu declara que “lentilhas são alimentos para humanos e cevada, ração para animais” (ver Rt.2:9). Assim, Jesus ensinou uma lição de simplicidade (ver com. de Mc.6:42). Peixinhos. Do gr. opsaria, o diminutivo de opson, “alimento preparado”, “petisco”. Como peixinhos secos ou em conserva eram usados como petisco, opsarion se referia particularmente a estes. Esse sentido é confirmado pelas passagens paralelas nos sinóticos, que, em vez deste termo, usam a palavra costumeira para “peixe”, ichthus. O pão constituía a parte principal da refeição, e os peixes eram para dar sabor. Esse costume é ilustrado por um papiro egípcio de cerca do fim do primeiro século d.C., que, ao relatar a encomenda de provisões para uma festa, solicita: “Para a festa de aniversário de Gemella, envie algumas iguarias [opsaria] [...] e um artaba [uma medida grande] de pão de trigo” (ver com. de Jo.21:9). Isto que é [...]? André parece ter feito uma pergunta irônica ante a ideia de que Jesus sequer suporia que quantidade tão pequena de comida pudesse alimentar tão grande multidão. Cinco pães com alguns peixinhos para petisco só dramatizavam ainda mais a aparente impossibilidade da situação. Contudo, Jesus tomou o que André usou como insignificante e o transformou num meio de se demonstrar o poder de Deus para fazer o que de outra forma seria impossível. |
Jo.6:10 | 10. Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; pois havia naquele lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. Fazei o povo assentar-se. A palavra grega traduzida como “povo” aqui é anthropoi, “homens” no sentido genérico e, portanto, “povo”, o que incluiria todos os presentes. Não seria o caso de os homens se sentarem enquanto mulheres e crianças ficariam em pé. Assentaram-se, pois, os homens. Aqui, por outro lado, a palavra grega usada é andres, “homens” no sentido específico, isto é, pessoas do sexo masculino. Embora todos tivessem se assentado, de acordo com o costume oriental, apenas os homens eram contados (ver Mt.14:21). A multidão presente nessa ocasião podia facilmente chegar a 10 mil pessoas (sobre a forma em que as pessoas se assentaram, ver com. de Mc.6:39-40). A instrução de Jesus para os discípulos de que as pessoas se assentassem antes de receber o alimento enfatiza a ordem. Sem dúvida, teria sido impossível aos discípulos fazer uma distribuição equitativa do alimento a uma multidão aglomerada; mas com as pessoas sentadas em grupos sobre a grama, todo mundo pôde receber sua parte. |
Jo.6:11 | 11. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam. Tendo dado graças. Os outros três evangelhos declaram que Jesus abençoou o pão; João acrescenta que Jesus deu graças ao Pai pelo milagre que Ele sabia que iria ocorrer. A declaração de João é significativa no que diz respeito à fonte do poder pelo qual Jesus realizava milagres (ver DTN, 143). Ele havia velado Seu próprio poder como a segunda pessoa da Divindade quando assumiu “a forma de servo” (Fp.2:7). “O Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai” (Jo.5:19; ver v. Jo.5:30). Como tal, Ele confiava completamente no poder do Pai (ver DTN, 335, 336, 535, 536), e demonstrou essa confiança ao fazer uma oração de agradecimento mesmo antes que o milagre ocorresse. “Durante Seu período de vida, no qual assumiu a humanidade, o Salvador confiou implicitamente em Deus; Ele sabia que o poder de Seu pai era suficiente para todas as coisas. [...] Cristo pediu a bênção de Seu Pai sobre o alimento, e ela veio” (Ellen White, RH, 29/03/1898; sobre o meio pelo qual os milagres de Jesus foram realizados, ver DTN, 143). Discípulos (ARC). Podem ser citadas importantes evidências textuais (cf. p. 136) para a omissão das palavras “pelos discípulos, e os discípulos”. O fato de estas palavras estarem ou não no texto original de João não afeta o relato histórico, uma vez que os outros evangelhos dizem que Jesus deu o alimento aos discípulos, que o distribuíram ao povo. Queriam. Pode-se entender que a forma do verbo grego usada aqui implica que o povo pediu comida aos discípulos repetidamente até que todos estivessem satisfeitos. Os sinóticos relatam que “todos comeram e se fartaram” (Mt.14:20; Mc.6:42; Lc.9:17). O povo não só recebeu alimento, mas cada um recebeu o quanto desejava. |
Jo.6:12 | 12. E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Recolhei. Os sinóticos relatam que foram recolhidos 12 cestos, mas só João diz que Jesus fez questão de recolher o que sobrou para que nada se perdesse. Ele supriu as necessidades do povo abundantemente; e todos receberam mais do que podiam desejar. Mas, para que ninguém pensasse que o generoso milagre dava licença para o desperdício, o Senhor ensinou a lição da frugalidade no uso das bênçãos divinas. |
Jo.6:13 | 13. Assim, pois, o fizeram e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que haviam comido. Cestos. Ver com. de Mc.6:43. |
Jo.6:14 | 14. Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Homens. Do gr. anthropoi; ver com. do v. Jo.6:10. Sinal. Ver p. 204, 205. Disseram. Literalmente, “continuaram dizendo”; isto é, a declaração foi repetida vez após vez ao se espalhar pela multidão. O profeta que devia vir. Novamente, João é o único a registrar a impressão causada no povo por esse milagre (ver com. de Mt.14:22). A prontidão com que as pessoas comuns da Galileia estavam dispostas a aceitar Jesus como o Messias indica quão geral era a expectativa de um Salvador e quão grande havia se tornado a popularidade de Jesus. Ele já havia demonstrado Sua capacidade como líder; o povo sabia que Ele podia curar qualquer pessoa que fosse ferida em batalha; e então viram que Ele podia fornecer alimento para um exército! Certamente um líder como este seria invencível em batalha contra o opressor romano. Diante disso, Ele devia ser o Messias. Os judeus tinham consciência de que o verdadeiro dom profético não se manifestava entre eles havia séculos. Não é de surpreender, portanto, que esperassem seu reavivamento em conexão com a vinda do Messias (com respeito a essas expectativas no 2 século a.C., ver 1 Macabeus 4:46; 14:41; cf. Jo.1:21). Repetidas vezes, durante o primeiro século d.C., judeus extremistas foram enganados por impostores que se autoproclamavam “profetas” e que prometiam libertar os judeus do jugo romano, algo que se esperava do Messias, segundo o conceito popular. Josefo (Antiguidades, xx.5.1; 8.6) relata a queda de dois desses “profetas”: Teudas e um egípcio (cf. At.5:36; At.21:38). Jesus advertiu os discípulos contra os falsos “cristos” ou messias que viriam (Mt.24:4-5). |
Jo.6:15 | 15. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. Arrebatá-Lo. Do gr. harpazo, “agarrar rapidamente”, provável origem da palavra portuguesa “harpia”, uma criatura mitológica que supostamente arrebatava sua presa. Esta palavra descreve vividamente o intento das pessoas que Jesus tinha acabado de alimentar e que ficaram convencidas de que Ele era o Messias. A relutância de Jesus em reivindicar a realeza só aumentava a ansiedade do povo para torná-Lo rei. Aparentemente se tornou geral a convicção de que deviam agarrá-Lo rapidamente e proclamá-Lo rei. Sem dúvida, eles raciocinavam que, depois de ser assim proclamado, Ele teria então de defender as afirmações que faziam com respeito a Sua pessoa. Como estava chegando a Páscoa, talvez pretendessem apresentá-Lo às multidões que logo estariam reunidas em Jerusalém. Em vista da ansiedade posterior dos discípulos para o estabelecimento imediato do reino terrestre (ver Mc.10:35-40; Lc.24:19-21), não é injustificado concluir que eles então encorajaram a multidão a forçar Jesus a Se declarar rei (DTN, 378; ver com. de Jo.6:64-65). Rei. Ver com. do v. Jo.6:14. Retirou-Se. Do gr. anachoreo, “retirar-se”, “voltar novamente”. O verbo sugere que Jesus tinha descido do monte ou da região montanhosa onde buscara repouso com os discípulos e tinha ido ao encontro da multidão na praia. Assim, Ele estaria retornando ao monte para continuar meditando. Em vez de anachoreo, um importante e antigo manuscrito grego diz pheugo, “fugir”. Esta variante também é conservada em algumas versões antigas. Qualquer que seja a variante correta, está claro que Jesus percebeu que uma crise se aproximava e, silenciosamente, Se retirou. Sozinho. O fato de Jesus Se retirar sozinho, ao passo que antes da chegada da multidão havia levado os discípulos consigo para meditar e repousar é mais um indicativo de que eles próprios não entendiam Seu propósito ao recusar a realeza (ver com. de Mt.14:22). Esse dia, que havia sido inicialmente de descontração com os discípulos após a viagem pela Galileia, se tornou, em vez disso, num ponto crucial do ministério de Jesus. No final dele, Jesus Se sentia incompreendido e solitário (ver com. de Mt.14:23). Uma vez mais Jesus foi vencedor sobre a mesma tentação com que Satanás O havia confrontado no deserto: a de trair a natureza espiritual de Seu reino em troca de glória terrena. Uma vez mais Cristo havia tentado mostrar a Seus seguidores faltos de compreensão que Seu reino não era “deste mundo” (Jo.18:36), mas um reino de graça (ver Mt.5:3; Mt.5:10; Mt.13:18-52), um domínio espiritual em que os crentes entravam através da experiência do novo nascimento (Jo.3:3). Somente no ressoar da “última trombeta” é que o reino da graça se transformará no reino da glória (1Co.15:51-57; ver com. de Mt.4:17; Mt.5:2). Monte. Ver com. do v. Jo.6:3. |
Jo.6:16 | 16. Ao descambar o dia, os seus discípulos desceram para o mar. Ao descambar o dia. [Jesus anda por sobre o mar, Jo.6:16-21 = Mt.14:22-33 = Mc.6:45-52. Comentário principal: Mt]. Ver com. de Mt.14:23 sobre a frase “caindo a tarde”. Discípulos desceram. Os relatos de Mateus e Marcos indicam que Jesus dispensou os discípulos enquanto despedia a multidão, antes de Se retirar para as montanhas. João, por outro lado, declara que Jesus voltou para as montanhas e, quando chegou a noite, os discípulos começaram a atravessar o mar. Esta aparente discrepância pode ser resolvida ao se entender que, embora Jesus instruísse os discípulos a partir, eles na verdade só o fizeram depois, só à noite (ver DTN, 379, 380). |
Jo.6:17 | 17. E, tomando um barco, passaram para o outro lado, rumo a Cafarnaum. Já se fazia escuro, e Jesus ainda não viera ter com eles. Passaram. Literalmente, “começaram a ir” ao mar, isto é, começaram a travessia. Cafarnaum. Marcos declara que Jesus disse aos discípulos para irem de barco na direção de Betsaida, que ficava quase na extremidade norte do lago (ver Mc.6:45; ver com. de Mt.14:22). Marcos e Mateus declaram que, finalmente quando eles aportaram, haviam chegado à região de Genesaré (Mc.6:53; Mt.14:34), 8,5 km a sudoeste de Betsaida. João, por outro lado, diz que os discípulos partiram rumo a Cafarnaum, a sede das atividades de Jesus na Galileia, que ficava na praia noroeste do lago, entre Betsaida e Genesaré. Eles devem ter afinal chegado à região de Genesaré por terem sido desviados de sua rota pela tempestade. |
Jo.6:18 | 18. E o mar começava a empolar-se, agitado por vento rijo que soprava. Começava a empolar-se. Literalmente, “foi despertado”, “agitou-se”. Tempestades repentinas e violentas são frequentes no lago da Galileia. São causadas pelo ar frio procedente das regiões montanhosas vizinhas, que desce impetuosamente por desfiladeiros profundos e chega até a superfície do lago. Essas tempestades passam tão repentinamente como surgem. Mas, por causa de sua severidade, mesmo atualmente se diz que barcos pequenos geralmente se conservam próximos à praia, a menos que a água esteja calma. Do ponto de partida a leste de Betsaida, os discípulos normalmente não estariam longe da praia ao se dirigirem para Cafarnaum. Contudo, Mateus fala deles, nessa ocasião, como estando “no meio do mar” (Mt.14:24, ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam para a variante “longe, a muitos estádios da terra” (como na ARA). Quer esta última variante seja a original ou não, o fato é que, aparentemente por causa da tempestade, eles se desviaram do destino e aportaram mais ao sul, em Genesaré. Portanto, tinham sido levados para “longe [...] da terra” (ver com. de Mt.8:24; Mt.14:24). |
Jo.6:19 | 19. Tendo navegado uns vinte e cinco a trinta estádios, eis que viram Jesus andando por sobre o mar, aproximando-se do barco; e ficaram possuídos de temor. Estádios. Do gr. stadioi (ver p. 38). Os discípulos haviam percorrido de cinco a seis quilômetros, o que facilmente os teria levado a Cafarnaum caso não tivessem sido desviados de sua rota. Viram. Do gr. theoreo, “notar”, “dar atenção inteligente”. O uso do tempo presente aqui no grego torna particularmente vívida a aparição de Jesus de maneira inesperada. Por sobre o mar. Do gr. epi tes thalasses. Esta expressão ocorre novamente em Jo.21:1, em que se refere ao ato de Jesus andar pela praia, junto ao mar. Por isso, alguns argumentam que João não teve necessariamente a intenção de registrar um milagre aqui, e que os discípulos, estando próximos à terra, devem ter visto Jesus andando pela praia. Embora o relato de João, e possivelmente até o de Marcos, possa ser interpretado dessa forma, a história paralela de Mateus, com a narrativa de Pedro andando sobre a água, indica claramente que Jesus de fato andou por sobre o mar. Para os discípulos de Jesus este milagre foi um testemunho de Sua divindade, como o indica a reação deles (ver Mt.14:33). Jó fala de Deus como aquele que “sozinho [...] anda sobre os altos do mar” (Jó.9:8). Um antigo comentário judeu cita o Sl.86:8 e, então, pergunta: “Por que é dito: 'Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor'? [...] Porque não há ninguém que possa fazer segundo as Tuas obras. Por exemplo, um homem pode abrir caminho para si numa estrada, mas não é capaz de fazê-lo no mar, porém Deus abre para Si um caminho no meio do mar”. |
Jo.6:20 | 20. Mas Jesus lhes disse: Sou eu. Não temais! Sou Eu. Do gr. ego eimi, “eu sou”. Estas palavras são repetidamente encontradas na LXX como tradução do heb. ani hu, “Eu [sou] Ele”, uma declaração de Yahweh de que Ele é Deus (ver Dt.32:39; Is.43:10; Is.46:4). João registra que Jesus fez uso desta declaração repetidas vezes em momentos cruciais. Assim, ao afirmar a preexistência divina, Ele declarou: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jo.8:58); ao predizer a traição, disse aos discípulos: “Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que Eu Sou” (Jo.13:19); e, quando abordado por Judas e pelos soldados no jardim, em resposta à declaração deles de que procuravam por Jesus de Nazaré, novamente afirmou: “Sou Eu” (Jo.18:5). Com respeito a esta última ocasião, João acrescenta: “Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou Eu, recuaram e caíram por terra” (v. Jo.18:6). Embora em muitos contextos as simples palavras “Eu sou” provavelmente não devam ser consideradas como significativas (como em Jo.6:35; Jo.8:12), porém, quando usadas isoladamente por Jesus num momento de crise para declarar Sua identidade, elas parecem ter um significado semelhante ao do AT e, assim, são uma afirmação de Sua divindade. Isso parece ser aplicável em Jo.8:58; Jo.13:19; Jo.18:5. Embora no atual contexto essa interpretação talvez não seja tão indicada, a reação dos discípulos ao dizerem: “Verdadeiramente és Filho de Deus!” (Mt.14:33) sugere que as palavras de Jesus, ego eimi, “sou Eu”, eram mais do que uma simples declaração de Sua identidade pessoal. |
Jo.6:21 | 21. Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino. De bom grado. Do gr. thelo, “querer”, “desejar”. A forma do verbo usada aqui pode ser traduzida como “eles começaram a desejar”. O verbo enfatiza a mudança de atitude que sobreveio aos discípulos ao ouvirem as palavras de Jesus. Antes, estavam com medo; então, não somente estavam dispostos a recebê-Lo, mas desejavam Sua presença. “Então eles O receberam com prazer no barco” (NTLH). Logo [...] ao seu destino. A versão BV diz: “E imediatamente estavam onde queriam chegar!” Isto pode ser interpretado como um milagre adicional, indicando que, logo que Jesus entrou no barco, ele foi sobrenaturalmente transportado para a praia. Por outro lado, as palavras de João podem ser entendidas no sentido de que, quando Jesus apareceu, a tempestade já havia levado o barco para perto da praia ocidental do mar. Isso parece ser apoiado pelo fato de Mateus e Marcos não darem qualquer indicativo de que a viagem não tenha sido normal depois que Jesus entrou no barco. A declaração de Mateus de que os discípulos estavam “no meio do mar” (Mt.14:24, ARC) quando viram Jesus seria, então, entendida, não no sentido de que eles estivessem no centro geográfico do lago, mas de que estavam cercados por águas por todos os lados (ver com. do v. Jo.6:17). |
Jo.6:22 | 22. No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia senão um pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos, tendo estes partido sós. A multidão que ficara. [Jesus, o pão da vida, Jo.6:22-40. Ver mapa, p. 217; gráfico, p. 228]. Sem dúvida, muitos dos 5 mil voltaram na noite anterior para suas casas, que ficavam nas proximidades. Mas alguns, mais zelosos, devem ter permanecido à beira do mar a noite toda. Talvez ainda outros dos que foram alimentados no dia anterior voltaram, então, buscando uma repetição do milagre (ver com. do v. Jo.6:24). Do outro lado do mar. Isto é, a praia oriental do lago da Galileia, o lado oposto do local onde é relatado que Jesus e os discípulos aportaram (v. Jo.6:21). Vendo (ARC). Não é possível especificar o momento exato a que se refere cada um dos verbos deste versículo, mas parece que o verbo “ver” aqui deve ser entendido no sentido de “notar” (como na ARA) ou “perceber” (como na NVI). Assim, na manhã seguinte as pessoas que ficaram na margem oriental perceberam o significado do que haviam notado no dia anterior, isto é, que os discípulos usaram o único barco disponível, e que Jesus não havia ido com eles. Senão um pequeno barco. A versão ACF diz: “vendo que não havia ali mais do que um barquinho, a não ser aquele no qual os discípulos haviam entrado”. As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) quanto às palavras “a não ser aquele no qual os discípulos haviam entrado”, se estão ou não no texto original. Como certos manuscritos antigos importantes não contêm estas palavras, e também porque elas podem ser vistas como um acréscimo para explicar o que de outra forma seria uma passagem ambígua, alguns tradutores atuais não as têm considerado como originais; e, portanto, não as têm incluído em suas versões. O fato de estarem ou não no original não afeta a narrativa de João. |
Jo.6:23 | 23. Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. Entretanto. O objetivo deste versículo é explicar de onde saíram os barcos que as pessoas usaram para atravessar o lago na manhã seguinte ao milagre (ver v. Jo.6:24), pois seu elemento temporal é indicado nas palavras: “no dia seguinte” (v. Jo.6:22). Não se deve entender que isso tenha ocorrido no dia anterior, quando os discípulos partiram sem Jesus, nem que implique que Ele poderia ter embarcado nos barcos vindos de Tiberíades. Barquinhos chegaram de Tiberíades. Ver com. do v. Jo.6:1. Talvez estes fossem barcos de pesca que estiveram navegando no lago durante a noite (ver Jo.21:3) e que foram impelidos para a praia pela tempestade. Tendo. A NVI diz: “após o Senhor ter dado graças”. Este elemento temporal se refere ao momento em que as pessoas comeram, não à chegada dos barcos de Tiberíades, que só ocorreu no dia seguinte. Dado graças. O fato de João mencionar que as pessoas comeram, “tendo o Senhor dado graças”, enfatiza à ideia de que o milagre da alimentação dos 5 mil foi resultado direto da oração de Cristo e que o milagre foi obra do Pai, mediada por Jesus (ver com. do v. Jo.6:11). |
Jo.6:24 | 24. Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. Tomaram os barcos. Literalmente, “eles também entraram nos barcos”, isto é, os barcos que tinham chegado naquela manhã de Tiberíades. Estas eram, sem dúvida, pequenas embarcações e, assim, as pessoas que nelas atravessaram o lago devem ter sido apenas uma fração dentre as milhares que haviam se reunido no dia anterior. Cafarnaum. Sede dos trabalhos de Jesus na Galileia e local onde as pessoas naturalmente procurariam por Ele (ver com. do v. Jo.6:17). À Sua procura. Ver com. do v. Jo.6:26. |
Jo.6:25 | 25. E, tendo-o encontrado no outro lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Tendo-O encontrado. O v. Jo.6:59 indica que as pessoas que atravessaram o mar encontraram Jesus na sinagoga em Cafarnaum. No outro lado do mar. Aqui, em contraste com o v. Jo.6:22, estas palavras se referem à praia ocidental da Galileia. Elas são usadas em termos do contexto precedente, onde a cena é no lado oriental do lago. Mestre. Ver com. de Mt.23:7. O uso deste título ilustra o conceito equivocado dessas pessoas acerca de Jesus e Sua obra. |
Jo.6:26 | 26. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Vós Me procurais. Jesus ignorou a pergunta deles e começou imediatamente a discutir seus motivos em procurá-Lo. O fato de Ele revelar os motivos materialistas deles se aplicava não só à satisfação do apetite, mas também a todas as expectativas ambiciosas de que Ele Se afirmaria como conquistador militar e governante político. Sinais. Ver p. 204, 205. |
Jo.6:27 | 27. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. Trabalhai, não. O trabalho que Jesus censura aqui não é aquele necessário para ganhar a vida. Sua censura é dirigida aos que trabalham a tal ponto que negligenciam a nutrição espiritual. O que Jesus reprova é o hábito comum de trabalhar apenas pelas coisas temporais e ignorar as eternas. Comida. Do gr. brosis, que se refere a algo que é ingerido e, portanto, a alimento em geral. Vida eterna. Ver com. dos v. Jo.6:53-54. Selo. Nos tempos antigos, o selo era empregado de maneira muito semelhante à assinatura hoje; era um sinal de confirmação pessoal de propriedade. Em Jo.3:33, a palavra é usada de maneira semelhante a este presente versículo, indicando que o Pai testifica que Jesus é Seu Filho. Todos os milagres de Jesus, operados pelo poder do Pai, eram testemunhos desse fato. Contudo, embora o selamento seja associado por Paulo, de maneira especial, à recepção do Espírito Santo, que geralmente acompanhava o batismo (ver Ef.1:13; Ef.4:30), não parece razoável entender que a referência específica de Jesus aqui seja à Sua própria recepção do Espírito, acompanhada do endosso de Seu Pai, por ocasião de Seu batismo (ver Mt.3:16-17). |
Jo.6:28 | 28. Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Que faremos. Do gr. ti poiomen, “o que devíamos estar fazendo?” O tempo presente sugere que os judeus estavam indagando a respeito de um modo habitual de vida e não de algum ato isolado. Nisso estavam corretos, como Jesus o indica no v. Jo.6:29. A pergunta deles era um reconhecimento de que percebiam que as palavras de Jesus constituíam uma condenação à vida religiosa deles em geral. Obras de Deus. Estas palavras se encontram também em Je.48:10 (em que a LXX usa o plural, como aqui), onde se referem às obras desejadas por Deus. O conceito dos judeus sobre a verdadeira religião era, em grande parte, baseado nas obras. Portanto, era natural que, ao perguntarem como podiam agradar a Deus, indagassem que obras poderiam realizar. |
Jo.6:29 | 29. Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado. A obra de Deus. Jesus enfrentou os judeus em seus próprios termos e formulou Sua resposta com base na pergunta deles. Assim, procurou desviar a mente deles de um conceito equivocado de religião e levá-los a compreender o que realmente significa agradar a Deus. Creiais. As evidências textuais atestam (cf. p. 136) a variante pisteuête, que indica um hábito contínuo de crença, em vez de pisteuete, que indicaria uma crença em determinado momento. A primeira parece mais significativa neste contexto. As palavras de Jesus aqui apresentam a verdade básica da salvação pela fé. Crer (ou ter fé; pisteuo pode ser traduzida de ambas as formas) é o ato primordial da vida cristã. Nenhuma atitude pode ser “obra de Deus” ou algo desejado por Deus e, portanto, agradável a Ele, a menos que a fé a preceda, porque somente pela fé é que se entra em aliança com Deus (ver Hb.11:6). As palavras de Jesus aqui encontram paralelo na admoestação de Paulo e Silas ao carcereiro de Filipos. O carcereiro clamou: “Que devo fazer para que seja salvo?” O apóstolo respondeu: “Crê no Senhor Jesus” (At.16:30-31; 1Jo.3:23). |
Jo.6:30 | 30. Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Sinal. Do gr. semeion, a mesma palavra usada no v. Jo.6:26 (ver p. 204-206). Os questionadores de Jesus já haviam visto o milagre dos pães e dos peixes e tinham chegado a crer que Ele era o Messias, mas por não ter cumprido as expectativas deles quanto ao que o Messias faria, eles se desapontaram. Então, quando Ele começou a sondar a verdadeira condição do coração deles e a exigir que cressem a despeito de seu desapontamento, eles pediram mais um milagre. A atitude deles com essa exigência é provavelmente a mesma indicada por um antigo comentário judeu sobre Dt.18:19, que diz: “Se um profeta começa a profetizar e faz um sinal ou maravilha, então os homens o ouvem; mas, se não, então os homens não o ouvem”. Para que [...] creiamos em Ti. Do gr. pisteusomen soi. Esta declaração está em nítido contraste com a admoestação de Jesus no v. Jo.6:29: pisteusete eis hon, “que creiais nAquele” que foi enviado por Deus. Jesus havia declarado que eles deviam crer nEle. Os judeus responderam exigindo um milagre para que pudessem crer naquilo que Ele lhes dizia. Uma vez mais deixaram de compreender que a salvação não vem por simples assentimento intelectual, mas, o que é mais importante, na união, pela fé, com uma Pessoa. |
Jo.6:31 | 31. Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Maná. Ver com. de Ex.16:13. Um antigo comentário judaico sobre Ec.1:9 declara, concernente ao Messias: “Assim como o antigo redentor [Moisés] fez cair maná, [...] o último Redentor [o Messias] fará cair maná”. Embora esta declaração, pelo menos em sua presente forma, date somente do 4 século d.C., ela parece refletir uma tradição mais antiga que estaria na mente dos judeus que discutiram com Jesus em Cafarnaum. Assim, 2 Baruque 29:8 declara: “E acontecerá nesse mesmo tempo [quando o Messias começar a ser revelado] que o tesouro do maná novamente descerá do alto, e comerão dele naqueles anos, porque estes são os que vieram para a consumação do tempo”. Havia pouco Jesus fornecera pão miraculosamente para eles, mas, duvidando de Sua messianidade, declaravam que Moisés havia feito um milagre ainda maior ao dar aos seus pais pão “do Céu”. Além disso, deixaram implícito que o milagre de Moisés devia ser repetido pelo Messias. No conceito deles, Jesus não havia trazido pão do céu, mas havia apenas multiplicado simples pães de cevada e peixes que já estavam à mão. Devem ter raciocinado que se Jesus fosse verdadeiramente o Messias, realizaria pelo menos um milagre tão grande quanto acreditavam que Moisés havia realizado. Deu-lhes. As palavras aqui citadas não se encontram exatamente desta forma no AT hebraico nem na LXX. Parecem uma citação livre do Sl.78:24, com Ne.9:15 também em mente. Essas passagens indicam que foi Deus quem deu o maná, não Moisés. |
Jo.6:32 | 32. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Não foi Moisés. Os judeus aparentemente criam que Moisés fora responsável pela dádiva do maná (ver com. do v. Jo.6:31). Alguns consideram a resposta de Jesus aqui como uma negação dessa crença e como uma afirmação de que o maná (o “pão do Céu”) tinha vindo de Deus. Outros têm entendido que Jesus não entrou na questão de Moisés ter ou não feito descer o maná, mas que declarou que o maná, que era um alimento físico, não era na verdade “o pão do Céu” no sentido espiritual e, portanto, não era “o verdadeiro pão do Céu”. Não parece ilógico entender que Jesus aqui esteja proclamando ambas as verdades: que Deus, não Moisés, foi quem deu o maná físico, e também que o verdadeiro pão do Céu deve ser reconhecido como uma dádiva espiritual, não material. Dá. O uso do tempo presente aqui, tanto no grego quanto no português, enfatiza que o dom de Deus estava sendo oferecido naquele mesmo momento, na pessoa dAquele que Se encontrava diante deles. |
Jo.6:33 | 33. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Desce. A forma do verbo no grego implica um ato contínuo. A expressão fala da vinda de Jesus a este mundo como um ato eterno (em contraste, ver com. do v. Jo.6:38; Jo.6:41). Até este momento, os judeus pensavam em Jesus como alguém que dava pão. Então Ele começou a declarar que era o próprio pão, embora neste ponto, no grego, se possa considerar a declaração como aplicável ao pão ou a Cristo. O fato de os judeus compreenderem que Jesus Se referia ao pão como aquilo que “desce” fica claro pela resposta que deram no v. Jo.6:34. Ao mesmo tempo, a mentalidade judaica não estava completamente despreparada para um conceito espiritual. Vida. Do gr. zoe (ver com. de Jo.1:4; Jo.8:51; Jo.10:10). Assim como o pão físico promove a vida física, Cristo, “o pão de Deus [...] que desce do Céu” é a fonte da vida espiritual. |
Jo.6:34 | 34. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Dá-nos sempre. Por este pedido, os judeus demonstraram que não tinham compreendido que o próprio Jesus era o pão do Céu (v. Jo.6:33). Ainda pensavam nEle apenas como alguém que dá pão. Da mesma forma que a mulher samaritana havia pedido a água que saciaria para sempre sua sede (Jo.4:15), os judeus então pediram um suprimento contínuo de pão. Moisés, segundo pensavam, havia fornecido pão celestial a Israel durante 40 anos. Se Jesus era verdadeiramente o Messias, certamente Ele podia operar um milagre ainda maior e fornecer-lhes pão para sempre (ver com. do v. Jo.6:31-32). |
Jo.6:35 | 35. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. Eu sou o pão. Então Jesus afirmou claramente que Ele era o pão celestial do qual havia falado. Ele repetiu essa declaração com respeito a Si mesmo três vezes no discurso em questão (v. Jo.6:41; Jo.6:48; Jo.6:51). O que vem. Do gr. ho erchomenos. A forma grega do verbo implica, não um único ato de ir a Cristo, mas um hábito consistente. “O que vem a Mim” está aqui em claro paralelo com o que crê em Mim”, pois o ato de ir a Cristo pode ser realizado apenas pela fé (ver com. do v. Jo.6:29). Tanto o ir quanto o crer são “obras de Deus”. Jamais terá fome. As palavras de Jesus estão em nítido contraste com as que se encontram em Eclesiástico (um livro familiar aos judeus dessa época), em que a sabedoria declara: “Os que me comem terão ainda fome, os que me bebem terão ainda sede” (24:21, BJ). |
Jo.6:36 | 36. Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes. Sem comentário para este versículo. |
Jo.6:37 | 37. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Todo aquele. Do gr. pan, um adjetivo no gênero neutro, e que, assim, deve ser entendido no sentido mais amplo possível. Jesus expressa a verdade de que todas as coisas (Seu poder e autoridade, o pão diário, os seguidores) Lhe foram dados pelo Pai. Ele declarou: “Eu nada posso fazer de Mim mesmo” (Jo.5:30; ver com. de Jo.6:11). Não se deve pensar que este versículo indique que Deus escolheu certas pessoas para a salvação, e que elas, inevitavelmente, irão a Cristo e serão salvas (ver com. do v. Jo.6:40). É, antes, uma declaração nos termos mais amplos da relação de Jesus para com o Pai, uma relação de completa entrega, total dependência e inteira confiança de que tudo o que Deus desejou para Ele certamente se cumprirá. O que vem. A segunda frase do versículo é uma aplicação específica da verdade geral declarada na primeira frase. Só o amor de Deus proporciona graça pela qual o pecador pode ir a Jesus e, por meio dEle, ao Pai. De modo nenhum o lançarei fora. Um exemplo da figura de linguagem conhecida como lítotes, uma suavização, feita pela negação do contrário, que tem o objetivo de dar ênfase. Assim, Jesus queria dizer que Ele acolhe calorosamente todo o que vai a Ele. |
Jo.6:38 | 38. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. Eu desci. O tempo perfeito, no grego, aponta para um ato específico e também considera os resultados daquele ato. No v. Jo.6:33, a encarnação é mencionada como um fato eterno; aqui ela é considerada do ponto de vista do evento específico do nascimento de Jesus entre os homens e também é levado em conta o resultado do evento, visto em Seu ministério e em Sua presença permanente (ver com. dos v. Jo.6:33; Jo.6:41). Minha própria vontade. A completa submissão de Jesus ao Pai é uma certeza, para o crente, de que tudo o que Jesus faz por ele tem origem no amoroso coração de Deus. As palavras de Cristo desmentem a opinião de que Deus está irado com o ser humano e de que a salvação dos pecadores se baseia no fato de Cristo aplacar a ira do Pai. Em vez disso, o ministério e a morte sacrifical de Jesus foram expressões do amor do Pai. |
Jo.6:39 | 39. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. Do Pai (ARC). Evidências textuais atestam (cf. p. 136) a omissão destas palavras e apoiam a leitura feita pela ARA. Quer estas palavras estejam ou não no texto original, a referência é, naturalmente, ao Pai. Todos. Do gr. pan (ver com. do v. Jo.6:37). Este versículo não deve ser entendido como indicando que aquele que aceita a Cristo é inevitavelmente Seu para sempre (ver Lc.9:62; Jo.15:9-10; Hb.6:4-6). Este texto também não ensina a predestinação no sentido de que Deus determinou desde a eternidade a salvação de alguns e a perdição de outros (ver com. de Jo.6:40). Em vez disso, o versículo expressa a completa confiança de Jesus no Pai (ver com. de Jo.3:17-20). Eu o ressuscitarei. Do gr. anasteso auto. Como anteriormente no capítulo, o objeto aqui é neutro e inclui não apenas pessoas, mas todas as coisas dadas a Cristo pelo Pai. No v. Jo.6:37, Jesus declara que a vontade do Pai é que todas as coisas venham a Ele; aqui amplia a ideia e afirma que a vontade de Deus neste aspecto se estende até o “último dia”. Jesus olhava para “o fim, quando Ele entregar o reino ao Deus e Pai” (1Co.15:24), e quando toda criatura no universo declarará: “Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap.5:13). |
Jo.6:40 | 40. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Daquele que Me enviou (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) “a vontade de Meu Pai”, como na ARA. Jesus reafirma a declaração que havia feito no v. Jo.6:37, de que a vontade do Pai é salvar. Ele deixa aqui claro que o Pai não só deseja que os pecadores vão a Cristo, mas que Seu propósito também se estende ao momento em que o plano da salvação será consumado, na ressurreição. Todo homem. Do gr. pas, um adjetivo masculino que se refere a pessoas, em contraste com pan, nos v. Jo.6:37; Jo.6:39, que se refere a coisas. O v. Jo.6:37 primeiro apresenta uma verdade geral e, então, faz uma aplicação específica dessa verdade ao caso da pessoa que vai a Cristo. Por sua vez, o v. Jo.6:39 apresenta a mesma verdade geral de forma ainda mais ampla, e o v. Jo.6:40 aplica essa verdade ao caso específico de todo aquele que vai a Jesus e crê. A afirmação do Pai de que o Filho receberá todas as coisas a que tem direito assegura que toda pessoa que crê no Filho será ressuscitada quando Ele finalmente reivindicar o que é Seu. Vir o Filho. Isto não significa que somente os que viram a Jesus na carne terão parte na ressurreição. A palavra “vir” (do verbo “ver”) implica, aqui, discernimento espiritual, contemplação com os olhos da fé, como o indica o verbo seguinte “crer” (ver Jo.12:45). Crer. Como no v. Jo.6:35, Jesus afirma aqui novamente a importante função da fé nEle. Esta ênfase na fé mostra: (1) que o assentimento intelectual não é suficiente; os que creem terão parte na ressurreição dos justos, (2) pois eles têm uma fé que opera além dos limites de seus sentidos naturais. Vida eterna. Ver com. de Jo.8:51; Jo.10:10; 1Jo.5:12; cf. DTN, 388. Eu o ressuscitarei. Em contraste com o texto semelhante no v. Jo.6:39, esta declaração é notável pelo fato de o objeto “o” (do gr. auton) ser masculino, o que indica uma pessoa, ao contrário do neutro do v. Jo.6:39 (ver com. ali). Aqui Cristo fala especificamente dos justos que sairão da sepultura, em vista de que todas as coisas de Cristo serão finalmente por Ele reivindicadas. Esta passagem é significativa também pela posição enfática do pronome “eu”. O sentido da declaração de Jesus é: “Eu, Eu mesmo o ressuscitarei.” Como Cristo é o mediador entre Deus e o ser humano, e é quem salva do pecado, Ele também é quem ressuscita os salvos no último dia (ver Jo.5:25-27). |
Jo.6:41 | 41. Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. Que desceu. [A murmuração dos judeus, Jo.6:41-59]. Do gr. ho katabas. Aqui a descida de Cristo do Céu à Terra tem a ver com a encarnação (ver com. de Jo.3:13; Jo.6:33; Jo.6:38). Deixando de reconhecer a Jesus como o Filho de Deus, os judeus ficaram indignados ante a mera ideia de Ele reivindicar ter vindo do Céu. |
Jo.6:42 | 42. E diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe? Como, pois, agora diz: Desci do céu? Filho de José. Estas palavras parecem refletir a expressão aramaica Yeshua bar Yoseph, “Jesus, filho de José”, nome pelo qual Jesus devia ser conhecido entre os vizinhos. Para eles, a ideia de Ele ser o filho de José e Maria, pessoas que eles conheciam, excluía completamente a possibilidade de Ele ter uma origem celestial. Desci. Ver com. do v. Jo.6:38. |
Jo.6:43 | 43. Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Não murmureis. Jesus não fez qualquer tentativa de explicar o mistério de Seu nascimento e de Sua filiação divina. Em vez disso, Ele atacou o problema espiritual que estava por trás da errônea interpretação de Suas palavras por parte dos judeus. A murmuração não lhes podia trazer esclarecimento. |
Jo.6:44 | 44. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Se o Pai. A salvação é obra de Deus. O ser humano precisa ir a Deus por vontade própria, mas essa ida só é possível porque Deus o atrai por meio de Seu amor (ver com. de Je.31:3). Eu o ressuscitarei. Ver com. do v. Jo.6:40. |
Jo.6:45 | 45. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. Nos profetas. Estas palavras são usadas num sentido técnico e se referem à seção profética da Bíblia hebraica, que já era conhecida por esse nome nos dias de Jesus (ver Lc.24:44; At.7:42; At.13:40; vol. 1, p. 13; cf. o prólogo de Eclesiástico). Serão todos ensinados. Esta citação é tirada de Is.54:13, mas não segue exatamente o texto hebraico (refletido na ARA) nem a LXX, que pode ser traduzida da seguinte forma: “E todos os teus filhos [serão] ensinados por Deus”. Na presente passagem, a citação deve ter sido adaptada para se adequar ao contexto. Os antigos intérpretes judeus entendiam que essa passagem de Isaías era uma profecia que falava da obra de Deus no tempo do Messias. Eles declaravam: “Deus disse a Abraão: Ensinaste a teus filhos a lei neste mundo, mas no mundo futuro Eu lhes ensinarei a lei em Minha glória, como diz: E todos os teus filhos serão discípulos de Yahweh”. Se essa compreensão já era corrente nos dias de Jesus, o uso que Ele fez da passagem teve uma implicação messiânica para Seus ouvintes, e isso torna clara Sua conclusão de que todo aquele que tem aprendido do Pai vai a Cristo. Da parte do Pai. Isto indica que não é meramente o ouvir e aprender sobre o Pai que leva as pessoas a Cristo, mas o aprender da parte do Pai a mensagem que Ele quer que se conheça a respeito da salvação em Cristo. A mesma expressão ocorre em Jo.8:26; Jo.8:40, com referência à palavra pregada por Jesus, que Ele recebeu da parte do Pai e, em Jo.7:51, referindo-se ao testemunho de alguém com respeito a si mesmo. A palavra que Deus falou ao mundo por meio de Jesus é de fato um testemunho de Seu próprio amor pelo ser humano. Aqui se ensinava também a importante verdade de que o ouvir da parte de Deus é insuficiente se a pessoa não aprende, isto é, se não obedece ao que ouve. |
Jo.6:46 | 46. Não que alguém tenha visto o Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto. De Deus. Literalmente, “do lado de Deus”, “de junto a Deus”. Cristo, que é Deus, deixou Sua posição ao lado do Pai para vir à Terra (ver Jo.7:29; Jo.16:27; Jo.17:8; ver com. de Jo.1:1; Jo.3:13). |
Jo.6:47 | 47. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Quem crê. Isto é, quem tem fé. Em Mim. As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) quanto a se estas palavras são ou não parte do texto original (ver com. de Jo.1:12). Tem a vida eterna. Por meio da fé em Cristo, o cristão se torna participante da vida de Deus. Assim, aquele que tem fé também tem a vida eterna agora (ver com. de Jo.8:51; Jo.10:10; 1Jo.5:12; cf. DTN, 388). |
Jo.6:48 | 48. Eu sou o pão da vida. Eu sou. Ver com. do v. Jo.6:35. |
Jo.6:49 | 49. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Morreram. Os judeus orgulhosamente afirmavam que Moisés dera o maná do Céu a seus pais (ver v. Jo.6:30-31) e desafiaram Jesus a demonstrar Sua messianidade operando milagre ainda maior. Ele não o fez e, em vez disso, salientou para eles o significado espiritual da messianidade: Ele oferece alimento para a vida eterna. Neste versículo, Ele apropriadamente os relembra que seus pais, de quem eles tanto se orgulhavam, e que haviam comido do maná, estavam mortos. Como prova de Sua afirmação de ser maior do que Moisés, Jesus declarou que Ele próprio era o pão do Céu que podia dar a vida eterna (ver com. do v. Jo.6:50). |
Jo.6:50 | 50. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Que desce. Jesus não fala aqui especificamente de Seu nascimento, mas do fato de que, desde a eternidade, Ele é o Mediador entre Deus e o ser humano, Aquele por meio de quem Deus Se comunica com o mundo e o salva (ver 1Co.8:6). Não pereça. O maná, que os judeus afirmavam que Moisés havia dado a seus pais (ver v. Jo.6:31), não impediu que eles morressem; mas Jesus oferece um alimento celestial que assegura a vida eterna. |
Jo.6:51 | 51. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Eu sou. Ver com. do v. Jo.6:35. Que desceu do céu. Aqui, em contraste com o versículo anterior, o texto grego simplesmente declara que Cristo veio do Céu à Terra no momento da encarnação. Foi nisso que Jesus baseou a afirmação de ter vida eterna para o mundo. Se alguém dele comer. Cf. com. do v. Jo.6:53; ver DTN, 390, 391. Darei. O tempo verbal para falar do dom de Cristo ao mundo, nos v. Jo.6:32-33, é o presente, o que enfatiza que Ele é uma dádiva contínua e eterna. Mas aqui, como no v. Jo.6:27, é usado o futuro, que se concentra no evento específico da cruz, quando Cristo daria Sua “carne”, num ato culminante, “pela vida do mundo”. A versão ARC diz: “O pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo.” As evidências textuais favorecem (cf. p. 136) o texto mais simples, conforme está na ARA; de qualquer forma, o sentido da frase não fica alterado. Carne. Do gr. sarx, palavra já usada por João para a encarnação de Cristo (ver com. de Jo.1:14; Jo.17:2). Na passagem em consideração, “carne” parece se referir à humanidade de Cristo, mas sem a ideia de imperfeição implícita na palavra em Jo.3:6; Jo.6:63. Por assumir sobre Si a humanidade, o Filho de Deus foi capaz de dar Sua “carne”, isto é, de morrer e, assim, de colocar Sua humanidade perfeita à disposição dos que O aceitam pela fé. |
Jo.6:52 | 52. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Disputavam. Do gr. machomai, “lutar”, e, quando usado para uma discussão verbal, como aqui, “disputar”, “discutir”. Quando Jesus afirmou ser o pão do Céu, os judeus começaram a murmurar (v. Jo.6:41); então, quando os convidou a comer Sua carne, ficaram ainda mais exaltados. Aparentemente alguns deles viram um significado mais profundo em Suas palavras, mas todos parecem ter ficado confusos por interpretar literalmente as Suas expressões (ver com. do v. Jo.6:53). |
Jo.6:53 | 53. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Beberdes o Seu sangue. Esta declaração deve ter chocado ainda mais os ouvintes literalistas (ver v. Jo.6:52), pois a lei proibia especificamente o uso de sangue como alimento (Gn.9:4; Dt.12:16). Se os judeus tivessem recordado a razão para essa proibição, poderiam ter entendido melhor o significado das palavras de Jesus. A razão da proibição de sangue é a vida (Gn.9:4). Assim, poderiam ter compreendido que comer Sua carne e beber Seu sangue significa apropriar-se de Sua vida pela fé. “Comer a carne e beber o sangue de Cristo é recebê-Lo como Salvador pessoal, crendo que Ele perdoa nossos pecados, e nEle ficamos completos” (DTN, 389; cf. T8, 169, 170; RH, 23/11/1897). Pelo fato de Cristo ter dado Sua vida humana por nós é que podemos participar de Sua vida divina e eterna. |
Jo.6:54 | 54. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Quem comer. Do gr. ho trogon, um particípio presente que indica comer continuamente, alimentar-se constantemente. Não é suficiente participar uma única vez da vida de Cristo. Os crentes precisam de nutrição espiritual contínua, alimentando-se dAquele que é o pão da vida. Jesus havia acabado de declarar que quem crê nEle “tem a vida eterna” (v. Jo.6:47); então acrescentou: “Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue tem a vida eterna.” Isso deixa claro que comer Sua carne e beber o Seu sangue significa crer, ter fé nEle (ver v. Jo.6:53). Eu o ressuscitarei. Ver com. do v. Jo.6:40. |
Jo.6:55 | 55. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Minha carne [...] é comida. Ver com. do v. Jo.6:53. |
Jo.6:56 | 56. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Permanece em Mim. Em 1Jo.3:24, o apóstolo declara que aquele que guarda os mandamentos de Deus permanece nEle. Essa declaração, comparada com a presente passagem, enfatiza o sentido prático de se comer a carne e beber o sangue de Cristo. |
Jo.6:57 | 57. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. O Pai, que vive. Repetidamente a Divindade é mencionada como o “Deus vivo” (ver Dt.5:26; Mt.16:16; At.14:15; 2Co.6:16). Ele é o que vive por Si mesmo, sem depender de nenhum outro; assim, Ele é também a fonte da vida de todos os seres no universo. Assim, o que é verdade acerca do Pai também é a respeito do Filho, pois “em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Pelo Pai. Literalmente, “por causa do Pai”. Embora fosse Deus, enquanto estava na Terra como homem, Jesus dependia plenamente do Pai (ver com. do v. Jo.6:11). Ele vivia “por causa do Pai”. Assim, o cristão deve ser dependente de Cristo e receber dEle a vida e a natureza divina (ver DTN, 123). É dessa vida eterna que o cristão participa, e é também essa vida que o erguerá na ressurreição (ver Jo.5:26-29; cf. DTN, 388). |
Jo.6:58 | 58. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente. Maná (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão desta palavra. Mesmo assim, as variantes indicam que a referência é ao maná. |
Jo.6:59 | 59. Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Ensinava [...] de Cafarnaum. Há evidências textuais (cf. p. 136) para se acrescentar a expressão “no sábado”, ao v. 59. Embora seja provável que o texto original desta passagem não contenha essas palavras, alguns manuscritos preservam a interessante tradição de que o sermão de Jesus sobre o pão da vida foi pronunciado num sábado. Os discípulos não teriam feito a viagem de volta a Cafarnaum após o pôr do sol da sexta-feira à noite (ver p. 38; ver com. de Mt.14:22-36). Jesus repetidamente ensinava nas sinagogas (ver Mt.4:23; Mt.9:35; Mt.12:9; Mt.13:54; Mc.1:30; Mc.3:1; Jo.18:20). Como centro da vida comunitária judaica, a sinagoga era um lugar adequado para Jesus entrar em contato com as pessoas e estimular seu pensamento religioso (ver p. 44). Provavelmente esta sinagoga em Cafarnaum era a mesma presenteada aos judeus dessa cidade pelo centurião (ver Lc.7:5). No passado, pensava-se que algumas ruínas que ainda existiam em Tell Hum (geralmente reconhecida como a antiga Cafarnaum) fossem da sinagoga. Depois, porém, ficou claro que as ruínas não devem ser de um período anterior ao 3 século d.C. Contudo, elas estão em cima dos restos de uma estrutura mais antiga que pode ter sido o edifício em que Jesus ensinava. Nesse caso, talvez seja razoável pensar que as ruínas que ainda podem ser vistas reproduzem, de maneira geral, a aparência da sinagoga dos dias de Jesus. As ruínas atuais, com cerca de 15m de largura por 20m de comprimento, são de calcário branco, e seu posicionamento mostra que a congregação ficava voltada para o sul, isto é, na direção do templo de Jerusalém. Em três lados da câmara principal havia uma galeria para mulheres e crianças que era sustentada por colunas e acessada por uma escada vinda do lado externo. O piso principal parece que era reservado para os homens. Na lateral do edifício ficava um pátio. |
Jo.6:60 | 60. Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Seus discípulos. [Os discípulos escandalizados, Jo.6:60-65]. Os v. Jo.6:66-67 sugerem que estes não eram primariamente os doze, mas outros dentre as multidões que seguiam a Jesus. Desde o desapontamento durante a alimentação dos 5 mil, quando Jesus recusou ser feito rei, essas pessoas haviam passado a criticá-Lo cada vez mais. Elas seguiram Jesus até Cafarnaum, na esperança de continuar a receber alimento fornecido miraculosamente. Mas, quando Ele as censurou por isso e declarou que deviam, em vez disso, procurar o alimento espiritual e se tornarem participantes dEle, a atitude crítica delas se transformou em aberta rejeição. Ouvir. O verbo grego aqui empregado, akouo, pode significar “ouvir” ou “obedecer”, mais ou menos com o mesmo sentido do heb. shema (ver com. de Mt.7:24). O pronome autou (“o”) também pode se referir à declaração que Jesus acabara de fazer ou ao próprio Jesus. Assim, a pergunta desses discípulos pode ser entendida como: “Quem o [ou, O] pode ouvir?” ou “Quem pode obedecer a ele [ou, a Ele]?” Recusando-se a compreender a verdade espiritual das palavras de Jesus e insistindo apenas em seu sentido literal, eles declararam a completa impossibilidade de comer a carne de Jesus ou beber Seu sangue. Para a mente relutante deles, as palavras de Jesus eram, de fato, um “duro discurso”. |
Jo.6:61 | 61. Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Sabendo por Si mesmo. Ver Jo.2:25. Murmuravam. Até este ponto, só havia sido dito que os judeus murmuraram contra Jesus (ver v. Jo.6:41). Então, os que abertamente haviam sido Seus seguidores O deixaram e passaram para o lado dos compatriotas que se opunham a Jesus. Parece que durante esse discurso três grupos estavam presentes na sinagoga: os doze, que atravessaram o lago durante a tempestade; os seguidores de Jesus que atravessaram para Cafarnaum no dia seguinte; e aqueles que João denomina de “os judeus”, que, na sua maioria, haviam sido críticos de Jesus desde o princípio. Escandaliza. Do gr. skandalizo (ver com. de Mt.5:29). |
Jo.6:62 | 62. Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? Que será, pois [...]? A pergunta de Jesus fica sem uma conclusão. Pode-se concluir que, se eles vissem o Filho do Homem subir ao Céu, então, em sua obstinação, ficariam ainda mais escandalizados; ou que, se eles O vissem subir, isso lhes seria uma prova de que Ele de fato viera do Céu e, então, perceberiam o verdadeiro significado espiritual de Suas palavras. O fato de Jesus não declarar a conclusão da pergunta é significativo, pois qualquer uma dessas duas conclusões poderia ser correta, dependendo do coração daquele que O visse subir. Para o lugar onde primeiro estava. Ver Jo.3:13. |
Jo.6:63 | 63. O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. Que vivifica. Literalmente, “aquilo que dá vida”. Jesus tinha exortado os ouvintes a serem participantes do alimento celestial que daria vida; então Ele salientou de maneira ainda mais clara que tal alimento é espiritual, um fato que Seus ouvintes, até então, ainda não haviam compreendido. Carne. Esta não é a “carne” mencionada nos v. Jo.6:51-56. Ali, a carne e o sangue de Cristo representam o sustento espiritual recebido por aquele que se torna participante da vida do Senhor. Aqui, a palavra “carne” é usada num contexto diferente; ela é contrastada com “espírito” e, assim, se refere às coisas materiais desta vida e, particularmente, ao alimento material, que não pode sustentar uma vida espiritual e eterna. Eu vos tenho dito. A referência é às palavras que Jesus havia acabado de falar e que, na verdade, ainda estava falando. São espírito. As verdades que Cristo pronunciou dizem respeito a coisas espirituais, e recebê-las pela fé é receber a vida espiritual (ver com. de Jo.3:16; Jo.17:3). |
Jo.6:64 | 64. Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. Descrentes. Novamente Jesus enfatizou a importância de se crer, ou seja, de ter fé. Suas palavras eram espírito e vida somente para os que criam (ver com. dos v. Jo.6:29; Jo.6:40). Sabia, desde o princípio. Ver Jo.2:25. Quem O havia de trair. Aparentemente, a declaração “há descrentes entre vós” incluía tanto Judas quanto os judeus que não criam. A dificuldade de Judas estava no fato de ele recusar a verdade de que o reino de Jesus é espiritual. Em vez disso, ele olhava para um reino material e terreno no qual esperava ter um lugar de importância (ver DTN, 718-721). A aceitação das palavras de Jesus, nessa ocasião, teria corrigido esse conceito errôneo em sua mente. |
Jo.6:65 | 65. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. Se [...] não lhe for concedido. Este versículo é uma sequência lógica da declaração de Jesus: “Há descrentes entre vós” (ver com. do v. Jo.6:64). Para Judas, estas palavras devem ter tido um significado particular (ver com. do v. Jo.6:64). Em seu orgulho e confiança própria, Judas estava tentando manobrar os acontecimentos de forma a fazer com que Jesus fosse proclamado rei pelos judeus (ver com. do v. Jo.6:15). Ele estava tentando, por habilidade própria, fazer com que fosse inaugurado o reino vindouro, da forma como ele o concebia. Mas, em tudo isto, ele deixou de reconhecer que o ser humano não é o autor do plano da salvação nem pode salvar-se a si mesmo; e que, embora possa cooperar com Deus para apressar o triunfo de Sua causa no mundo, o dom da salvação e a vinda do reino são obra divina (ver com. dos v. Jo.6:37; Jo.6:39). |
Jo.6:66 | 66. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Abandonaram. [Muitos discípulos se retiram, Jo.6:66-71]. Isto marca o ponto decisivo da obra de Jesus na Galileia, e, na verdade, de todo o Seu ministério. Até esse momento, Ele tinha sido amplamente aceito como um mestre e um profeta popular. Então, muitos de Seus seguidores O deixaram; e, desse momento em diante, Ele foi adentrando cada vez mais à sombra da cruz. |
Jo.6:67 | 67. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Aos doze. Esta é a única vez que João se refere aos doze discípulos como os “doze”, e o faz sem ter narrado previamente a escolha desse grupo por Jesus. Da mesma forma, ele introduz Pilatos (Jo.18:29) e Maria Madalena (Jo.19:25) em sua narrativa sem explicar quem eram eles. Isso indica que João, tendo escrito várias décadas depois de os outros evangelhos terem entrado em circulação, estava consciente de que quem lesse sua narrativa já estaria familiarizado com os principais personagens envolvidos na vida de Jesus, por meio dos evangelhos sinóticos e de outros relatos. Esse fato explica por que o quarto evangelho não apresenta um relato sistemático, como é o caso dos sinóticos, mas apenas uma interpretação teológica de certos eventos significativos do ministério de Cristo. Quereis também vós outros retirar-vos? A construção da pergunta no grego implica uma resposta negativa. Portanto, o sentido seria: “Vocês também não querem se retirar, querem?!” Como João acabara de declarar, Jesus sabia quem, dentre Seus seguidores, era leal a Ele e quem não o era (v. Jo.6:64). Consequentemente, a pergunta não foi feita para Sua própria informação, mas para testar os motivos dos doze em segui-Lo. |
Jo.6:68 | 68. Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna Para quem iremos? Estas palavras se contrastam com a declaração de Pedro em outra ocasião (ver Lc.5:8). Palavras da vida eterna. Pedro, sem dúvida, ainda não tinha compreendido plenamente a natureza espiritual do reino de Cristo. No entanto, esta declaração mostra que ele já havia começado a discernir que as palavras que Jesus dissera, na verdade, eram a chave para a vida eterna espiritual. Um antigo comentário judeu descreve as palavras faladas por Deus no Sinai como “palavras de vida” (Midrash Rabbah, sobre Ex.20:2, ed. Soncino, p. 343). O uso que Pedro faz de um termo semelhante aqui, para se referir ao que Jesus acabara de dizer, juntamente com seu reconhecimento de Jesus como o Messias logo a seguir (v. Jo.6:69), revelam que ele compreendeu a fonte divina das palavras de Jesus. |
Jo.6:69 | 69. e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus. Temos [...] conhecido. O verbo grego pode ser traduzido como “temos descoberto”, implicando que eles já haviam descoberto a verdade e que continuaram crendo nela como verdade, apesar dos muitos que então rejeitavam a Jesus. Falando pelos doze, Pedro declarou que eles não apenas tinham fé em Jesus como o Messias, mas também, por causa dos milagres vistos e das palavras ouvidas, podiam então dizer que sabiam ser Ele o Filho de Deus. Os judeus sem entendimento viram os mesmos milagres e ouviram as mesmas palavras, mas não tinham fé e, por isso, em sua descrença haviam se retirado. Os discípulos, por aceitar as palavras e obras de Jesus pela fé, haviam chegado à conclusão oposta e estavam convencidos de que Jesus era o Messias. Em assuntos espirituais, a fé leva ao conhecimento. O Cristo (ARC). Evidências textuais indicam que, nos tempos antigos, houve considerável diferença entre os manuscritos com respeito ao texto da última parte deste versículo. Assim, o texto de Tertuliano diz simplesmente “o Cristo”, enquanto outros dizem “o Cristo, o Santo de Deus”, “o Filho de Deus” e “o Cristo, o Filho de Deus”. Contudo, as evidências parecem favorecer (cf. p. 136) o texto “o Santo de Deus”, como na ARA. Este título, “o Santo”, ocorre repetidamente na literatura judaica produzida durante o período intertestamentário como um título para Deus (ver Eclesiástico 4:14; 23:9; 43:10; Baruque 4:22, 37; 5:5). Nesse sentido, os discípulos deviam estar familiarizados com ele e, assim, o uso que Pedro faz dele aqui para Cristo parece constituir um reconhecimento de Sua divindade. |
Jo.6:70 | 70. Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo. Replicou-lhes. João reconhece que Pedro falava pelos doze. Diabo. Isto é, alguém inspirado pelo diabo (ver Jo.13:2). As palavras de Jesus podem ser comparadas com a declaração semelhante que Ele fez a Pedro em outra ocasião (Mc.8:33). Jesus reconhece que, embora Pedro pensasse estar falando pelos doze, Judas não participava da consagração de Pedro (ver com. do v. Jo.6:64-65). |
Jo.6:71 | 71. Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze. Judas Iscariotes (ARC). Ver com. de Mc.3:19. As evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “Judas, filho de Simão Iscariotes”, como na ARA. Se, como é provável, o nome “Iscariotes” se refere ao local de origem de Judas, é razoável concluir que este seria tanto seu nome quanto o de seu pai. Este O havia de entregar (ARC). A frase diz, literalmente, “ele iria trair”. O texto grego não indica, de forma alguma, que Judas estava inevitavelmente predestinado a trair Jesus. De seu ponto de vista, muitos anos depois, João volta ao passado e olha para o futuro, então exclama: “Pois este iria traí-Lo - um dos doze!" |
Jo.7:1 | 1. Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo. Passadas estas coisas. [A incredulidade dos irmãos de Jesus, Jo.7:1-9. Ver mapa, p. 219; gráfico, p. 226, 228]. A frase assim traduzida é comum em João (Jo.3:22; Jo.5:1; Jo.5:14). Denota transição de uma narrativa para outra, mas não indica se o intervalo é curto ou longo. Andava. Do gr. peripateo, literalmente, “andar ao redor”, e metaforicamente, “viver”, “passar a vida”. Aqui se aplicam tanto o sentido literal quanto o metafórico. Judeia. Nome dado à região para distingui-la da Galileia, de Samaria, Pereia e Idumeia. Matá-Lo. Ver com. de Jo.5:18. A acusação perante o Sinédrio registrada em Jo.5 ocorreu cerca de um ano antes dos eventos registrados em Jo.6:1-7:1. Pouco depois da acusação, Jesus havia Se retirado para a Galileia (ver com. de Mt.4:12) e, cerca de um ano mais tarde, pronunciou o sermão sobre o pão da vida (Jo.6), que encerrou Seu ministério na Galileia. Nessa ocasião, “a Páscoa [...] estava próxima” (Jo.6:4), e a frase “não desejava percorrer a Judeia” (Jo.7:1) indica que Jesus não esteve presente à Páscoa que então se aproximava (cf. DTN, 395). |
Jo.7:2 | 2. Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima. Tabernáculos. Esta festa começava no dia 15 de tisri (Lv.23:34). O intervalo da Páscoa até Tabernáculos era de cerca de seis meses. A festa se prolongava por sete dias, durante os quais os israelitas habitavam em tendas de ramos, como recordação do fato de terem habitado em tendas quando saíram do Egito (Lv.23:40-42; Ne.8:16). Além disso, o oitavo dia devia ser um “sábado” (Lv.23:39). Como a Festa dos Pães Asmos e a Festa da Sega (Pentecostes), esta Festa da Colheita era uma das “três vezes no ano” em que todo varão judeu tinha de comparecer perante o Senhor (Ex.23:14; Dt.16:16). Josefo diz que ela era “considerada especialmente sagrada e importante”. Era, ao mesmo tempo, um memorial de gratidão pelo livramento nacional e uma ocasião anual de regozijo ao final de cada colheita (Lv.23:42-43; Dt.16:13-16). |
Jo.7:3 | 3. Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Seus irmãos. Quanto aos irmãos de Jesus, ver com. de Mt.1:18; Mt.1:25; Mt.12:46; cf. DTN, 450, 451. Eles ainda não criam nEle (cf. Jo.7:5; ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre At.1:14). Deixa este lugar. Os “irmãos” de Jesus estavam desapontados com Ele. Não podiam entender Seu modo de agir. Não compreendiam por que Ele não tirava vantagem de Sua popularidade. Sem dúvida, pensavam na glória e nos benefícios pessoais que obteriam caso Ele declarasse Sua messianidade. Uma vez que muitos de Seus discípulos O haviam rejeitado (Jo.6:66), esses irmãos deviam pensar que, ao manifestar poder na capital, o centro religioso da nação, Jesus poderia recuperar parte do prestígio perdido. Teus discípulos. O ministério na Judeia produzira poucos resultados (ver com. de Mt.4:12; Jo.3:22). Contudo, Jesus tinha discípulos ali. Na verdade, Ele havia saído da Judeia devido a dificuldades que surgiram por causa de Sua popularidade junto às pessoas daquela região (Jo.4:1-3). |
Jo.7:4 | 4. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Ao mundo. Esses “irmãos” desejavam que Jesus Se mostrasse abertamente às multidões reunidas em Jerusalém para a festa, e exibisse diante delas Seus maravilhosos milagres. Eles esperavam que os líderes testassem as reivindicações dEle e, caso Jesus fosse o Messias e Suas obras fossem genuínas, ansiavam que Ele fosse proclamado rei na sede de Seu reino e em meio às alegrias da festa. A solicitude deles pode ser comparada à de Maria na festa de casamento, quando esperava que Jesus provasse ao grupo ali reunido que Deus O havia escolhido (Jo.2:3-4). |
Jo.7:5 | 5. Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele. Seus irmãos criam. Eles sabiam que Ele operava milagres, pois O viram realizá-los. Estavam esperando que Ele fosse a Jerusalém e, com Seus milagres, atraísse o olhar das multidões reunidas. Mas, apesar dos milagres, eles estavam cheios de dúvida e descrença. Jesus não Se encaixava no conceito que tinham do Messias, e duvidavam que algum dia Ele viesse a Se encaixar. Talvez achassem que Ele era demasiado retraído e estivessem tentando dar-Lhe o estímulo que, segundo criam, Ele precisava. |
Jo.7:6 | 6. Disse-lhes, pois, Jesus: O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso sempre está presente. Tempo. Do gr. kairos, “momento auspicioso” (ver com. de Mc.1:15). Ainda não chegou. Ver a declaração de Jesus a Sua mãe (Jo.2:4). Talvez Seus irmãos estivessem bem-intencionados, mas Jesus tinha um conhecimento mais amplo. Para Ele, os eventos da vida eram dirigidos por prazos estabelecidos por Deus, e havia um tempo apropriado para a realização de cada propósito (ver com. de Lc.2:49; Jo.2:4). Sempre está presente. Como todos os judeus respeitáveis, os irmãos de Jesus assistiam regularmente à festa, e o dia que escolheram para iniciar sua viagem não era nenhuma ocasião especial. |
Jo.7:7 | 7. Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más. Mundo. Os irmãos solicitaram que Jesus Se mostrasse ao mundo (v. Jo.7:4), mas Ele os lembrou de que o “mundo” O odeia (cf. Jo.15:18). As suposições deles (ver com. dos v. Jo.7:3-4) eram falsas. Se Ele seguisse o que estavam propondo, não receberia a aclamação que esperavam. Por outro lado, as simpatias e os interesses deles eram como os do mundo. Assim, o mundo não podia odiá-los, pois o mundo ama o que é seu (Jo.15:19). Testemunho a seu respeito. As pessoas se ressentem quando seus maus caminhos são expostos. Caim matou Abel “porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1Jo.3:12). “Todo aquele que pratica o mal aborrece a luz” (Jo.3:20). |
Jo.7:8 | 8. Subi vós outros à festa; eu, por enquanto, não subo, porque o meu tempo ainda não está cumprido. Vós outros. No grego, este pronome está na forma enfática. Por enquanto. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) quanto a esta expressão, se é original ou não. Ainda não está cumprido. Ver com. do v. Jo.6:6. |
Jo.7:9 | 9. Disse-lhes Jesus estas coisas e continuou na Galiléia. Continuou. Não se sabe quanto tempo Jesus permaneceu na Galileia. Ele chegou a Jerusalém mais ou menos na metade da festa (v. Jo.7:14). |
Jo.7:10 | 10. Mas, depois que seus irmãos subiram para a festa, então, subiu ele também, não publicamente, mas em oculto. Em oculto. [Jesus na Festa dos Tabernáculos, Jo.7:10-13]. Esta frase sugere que Ele não viajou pelas rotas habituais das caravanas de peregrinos. Provavelmente escolheu uma rota pouco usada que atravessava a região de Samaria (cf. DTN, 452). |
Jo.7:11 | 11. Ora, os judeus o procuravam na festa e perguntavam: Onde estará ele? Os judeus. Com esta expressão, geralmente João se refere aos representantes oficiais da nação e não ao povo comum (v. Jo.7:12; Jo.7:25). Havia, sem dúvida, considerável incerteza quanto à ida de Jesus à festa, já que Ele não havia estado presente à Páscoa anterior (ver com. de Jo.6:1; Jo.7:1). Onde estará Ele? Literalmente, “onde está aquele?” “Aquele”, do gr. ekeinos, talvez usado aqui num sentido pejorativo. |
Jo.7:12 | 12. E havia grande murmuração a seu respeito entre as multidões. Uns diziam: Ele é bom. E outros: Não, antes, engana o povo. As multidões. Isto é, peregrinos de várias regiões, incluindo os da Galileia, que estavam presentes quando os 5 mil foram alimentados e que tentaram coroar a Jesus como rei (Jo.6:1-15). Quando Jesus frustrou seus esforços, eles murmuraram (v. Jo.6:41. Cf. v. Jo.6:61). Sem dúvida, continuaram com as murmurações na festa e contagiaram outros com sua atitude. Aqui a palavra parece indicar uma discussão em voz baixa, mais ou menos secreta, e não uma queixa aberta. A declaração “Ele é bom” dificilmente poderia ser considerada uma queixa. Bom. Do gr. agathos, “bom”, do ponto de vista moral. Usando a palavra em seu sentido absoluto, Jesus falou de Deus como o único que é “bom” (ver com. de Mt.19:17). Alguns na multidão haviam se convencido de que Jesus era de fato o Messias e defendiam suas convicções, embora não abertamente (Jo.7:13). Engana. Do gr. planao, “desencaminhar”, “induzir ao erro”. Os líderes judeus se referiam a Jesus como “aquele embusteiro” (Mt.27:63). |
Jo.7:13 | 13. Entretanto, ninguém falava dele abertamente, por ter medo dos judeus. |
Jo.7:14 | 14. Corria já em meio a festa, e Jesus subiu ao templo e ensinava. Corria já. [A controvérsia entre Jesus e os judeus, Jo.7:14-24. Ver mapa, p. 222). Em meio. Uma vez que a festa continuava até o oitavo dia, a metade seria no quarto dia (cf. com. dos v. Jo.7:2; Jo.7:37). |
Jo.7:15 | 15. Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como sabe este letras, sem ter estudado? Os judeus se maravilhavam. Literalmente, “continuavam a se maravilhar”. Letras. Do gr. grammata. A palavra pode indicar os símbolos individuais do alfabeto (Lc.23:38), correspondências (At.28:21), livros ou escritos (Jo.5:47), as Escrituras (2Tm.3:15) ou conhecimento, seja elementar ou avançado. Esta última definição parece ser a que melhor se aplica aqui. A surpresa não era porque Jesus sabia ler ou escrever, mas por Ele ser tão bem informado e capaz de apresentar um discurso com tanto conhecimento. Eles sabiam que Ele não havia sido educado nas escolas dos rabinos. Uma pessoa culta segundo a definição deles era alguém não só instruído por um mestre reconhecido, mas que também estivera intimamente associado com esse mestre e a seu serviço. O autodidata no estudo das Escrituras não era incomum, mas tal educação era considerada como bem inferior à do ensino das escolas rabínicas. |
Jo.7:16 | 16. Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Ensino. Do gr. didache, “ensino”, de didasko, “ensinar”, palavra que ocorre 97 vezes no NT e é traduzida como “ensinar”. Não é Meu. Jesus negou ser autodidata e, ao mesmo tempo, afirmou que Sua fonte de conhecimento era muito mais elevada do que a das escolas rabínicas. O próprio Deus era Seu mestre. Que Me enviou. Uma frase comum em João (Jo.4:34; Jo.5:30; Jo.6:38; ver com. de Jo.3:17). |
Jo.7:17 | 17. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. Quiser fazer a vontade dEle. A frase pode ser traduzida como “se a vontade de alguém for fazer a vontade dEle” (RSV). Aquele que deseja fazer a vontade de Deus sinceramente será esclarecido por Deus e capacitado a avaliar as reivindicações dos outros. Um pré-requisito para se receber a luz é que a pessoa esteja disposta a seguir a verdade que venha a ser revelada (sobre como se pode conhecer a vontade de Deus revelada, ver com. de Ez.22:28). A dificuldade para se descobrir o “que é a verdade” na religião é um assunto comum de queixa. As pessoas falam das muitas diferenças entre os cristãos em assuntos de doutrina e pensam ser impossível decidir quem está certo. Em geral, essa suposta incapacidade para desvendar a verdade se torna uma desculpa para viver sem religião. |
Jo.7:18 | 18. Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça. Glória. Do gr. doxa, que aqui significa “honra”, “fama”, “reputação”. Pessoas que se declaram mestres se orgulham do conhecimento e buscam honra e louvor humanos. O Céu desaprova o orgulho e o egoísmo (ver Mt.6:2; Mt.6:5; Mt.6:16). Aquele que exibe essas características não é um verdadeiro mestre. Verdadeiro. Do gr. alethes, palavra que, quando usada para pessoas, como aqui, significa “genuíno”, “verdadeiro”, “honesto”. O adjetivo é aplicado a Jesus (Mt.22:16; Mc.12:14; Jo.7:18) e a Deus (Jo.3:33; Jo.8:26; Rm.3:4), mas no NT não é usado para seres humanos, exceto em 2Co.6:8. Alethes está aqui em paralelo com a frase “não há injustiça”. A implicação nesse contraste é que os mestres orgulhosos de seu próprio mérito e de sua importância são falsos, desonestos e injustos. |
Jo.7:19 | 19. Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me? Não vos deu Moisés a lei? A pergunta é de tal natureza que todos os ouvintes de Cristo responderiam afirmativamente a ela. Moisés foi o intermediário mediante o qual as leis de Deus foram dadas a Israel (Lv.1:1-2; Lv.4:1-2; Jo.1:17). As pessoas o tinham em alta estima e professavam obedecer fielmente a ele. A palavra “lei” é aqui usada no sentido geral, referindo-se às instruções do Pentateuco. Ninguém dentre vós. Jesus elabora Seu argumento com base na premissa do v. Jo.7:17. A vontade de Deus estava contida no Pentateuco, mas os judeus não estavam obedecendo à mesma. Por isso, eram incapazes de julgar se os ensinos de Jesus eram do Céu ou não. Matar-Me. Ver Jo.5:16; Jo.5:18; ver com. de Mt 20:18. Com frequência, os preconceitos e as opiniões individuais quanto ao que constitui a obediência limitam a submissão à vontade divina. Muitos se contentam com o que é meramente exterior e poucos se esforçam para obter de Cristo Sua perfeita justiça. |
Jo.7:20 | 20. Respondeu a multidão: Tens demônio. Quem é que procura matar-te? |
Jo.7:21 | 21. Replicou-lhes Jesus: Um só feito realizei, e todos vos admirais. Um só feito. Isto é, a cura do homem enfermo no dia de sábado por ocasião da última visita de Cristo a Jerusalém, 18 meses antes (Jo.5; cf. DTN, 450). |
Jo.7:22 | 22. Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não vem dele, mas dos patriarcas), no sábado circuncidais um homem. Circuncisão. Ver Lv.12:3. Dos patriarcas. A circuncisão não havia se originado com Moisés. Foi iniciada no tempo de Abraão como sinal da aliança (Gn.17:10-14; Rm.4:11). No sábado. Segundo a Mishnah, era permitido aos judeus, no sábado, realizar todas as coisas necessárias à circuncisão. O rabi José dizia: “A circuncisão é um grande preceito, pois está acima [da severidade] do sábado”. |
Jo.7:23 | 23. E, se o homem pode ser circuncidado em dia de sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, por que vos indignais contra mim, pelo fato de eu ter curado, num sábado, ao todo, um homem? Não seja violada. O rabi Eliezer (c. 90 d.C.), cujo pensamento provavelmente refletia o dos líderes judeus da época de Cristo, arrazoou da seguinte forma: “A circuncisão predomina sobre o sábado; por quê? Porque se alguém a adiasse para depois do tempo fixado, se tornaria, por causa dela, sujeito à extirpação. [...] Se ele predomina sobre o sábado por causa de um de seus membros, não devia predominar sobre o sábado por causa de todo o seu corpo [no caso de perigo de morte]?”. Curei de todo (ARC). A circuncisão envolvia a reparação de apenas um membro do corpo. Jesus havia reparado o corpo todo. A seguinte declaração do Talmude data de cerca de 100 d.C., mas provavelmente reflete um pensamento de época anterior: “Se a circuncisão, que se restringe a apenas um dos duzentos e quarenta e oito membros do corpo humano, interrompe o sábado, quanto mais [a salvação de] todo o corpo interrompe o sábado!”. Se a vida estivesse em perigo, os judeus permitiam que se ministrasse ao doente; mas se não houvesse perigo imediato, o tratamento era proibido e adiado (ver com. de Jo.5:16). O caso do homem enfermo de Betânia não se enquadrava na última categoria. O sofredor havia esperado por 38 anos, e adiar a cura por mais um dia não faria diferença. Assim, segundo a tradição dos judeus, Jesus Se achava condenado. Contudo, o raciocínio deles era ilógico. Se permitiam que a circuncisão interrompesse o sábado, muito mais deviam permitir um ato de cura como o que Jesus realizara. Além disso, permitiam que o sábado fosse interrompido repetidamente, pois muitas circuncisões eram realizadas todo sábado, mas Jesus estava sendo condenado por “um só feito” (v. Jo.7:21). |
Jo.7:24 | 24. Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça. Não julgueis. Ou, “parai de julgar”. O sentido é: parem com seu hábito de julgar segundo a aparência exterior. Segundo a aparência. Cf. Dt.16:18-20; 1Sm.16:7. Reta justiça. Um julgamento desta natureza teria levado à conclusão de que atos de misericórdia como os que Jesus havia realizado no sábado não constituíam uma violação da lei sabática. A lei tradicional judaica com relação ao sábado continha muitas provisões mediante as quais ela própria podia ser burlada. Por exemplo, havia leis severas proibindo que fossem carregadas cargas no sábado, mas se os judeus quisessem transportar um objeto naquele dia, tinham meios de legalmente realizar seu objetivo. A seguinte declaração da Mishnah ilustra a ficção legal deles: “Se alguém carregar [um artigo] com sua mão direita ou com sua mão esquerda, no colo ou no ombro, é culpável, porque era assim que filhos de Coate faziam o transporte. Se o fizer de maneira indireta, com o pé, na boca, com o cotovelo, na orelha, no cabelo, no cinto com a abertura para baixo, entre o cinto e a camisa, na barra da camisa, no sapato ou sandália, não é culpável, porque não [o] carregou como as pessoas [geralmente] carregam”. |
Jo.7:25 | 25. Diziam alguns de Jerusalém: Não é este aquele a quem procuram matar? De Jerusalém. [Os guardas mandados para prender Jesus, Jo.7:25-36]. A referência é aos residentes em Jerusalém, para distingui-los das multidões da Galileia e de outras regiões periféricas da Palestina. Não é este [...]? A pergunta em grego mostra que se espera uma resposta positiva. |
Jo.7:26 | 26. Eis que ele fala abertamente, e nada lhe dizem. Porventura, reconhecem verdadeiramente as autoridades que este é, de fato, o Cristo? Nada Lhe dizem. Isto é de fato uma surpresa. Jesus falava de maneira aberta e ousada, porém os líderes judeus permaneciam em silêncio. As pessoas propõem uma possível razão: que investigações mais profundas teriam levado os líderes à conclusão de que Jesus era o Messias. Reconhecem. A argumentação das pessoas era equivocada. Os líderes continuavam determinados a eliminar Jesus. |
Jo.7:27 | 27. Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é. Este. Eles estavam familiarizados com os ancestrais terrenos de Jesus. “Não é este o filho do carpinteiro?”, disseram certa vez (Mt.13:55). Contudo, pareciam não saber que Ele havia nascido em Belém (Jo.7:42). Quando [...] vier o Cristo. Sobre o título Cristo significar Messias, ver com. de Mt.1:1; Jo.1:41. A declaração “ninguém saberá donde Ele é” não deve ser vista como ignorância a respeito de que o Cristo devia vir da tribo de Davi, pois os judeus tinham conhecimento desse fato (Mt.22:42). Também não implica ignorância quanto ao local de nascimento do Messias, pois quando Herodes exigiu que os principais sacerdotes e os escribas lhe dissessem onde o Cristo deveria nascer, eles responderam: “em Belém da Judeia” (Mt.2:4-5). A referência aqui deve ser à crença popular acerca do Messias refletida numa frase de Trifo, o judeu; “Mas o Cristo - se é que Ele de fato já nasceu e existe em algum lugar - é desconhecido, e nem Ele sabe quem é, e Ele não tem poder algum até que Elias venha para ungi-Lo e torná-Lo manifesto a todos” (Justino Mártir, Diálogo com Trifo, 8). |
Jo.7:28 | 28. Jesus, pois, enquanto ensinava no templo, clamou, dizendo: Vós não somente me conheceis, mas também sabeis donde eu sou; e não vim porque eu, de mim mesmo, o quisesse, mas aquele que me enviou é verdadeiro, aquele a quem vós não conheceis. Vós não somente Me conheceis. Jesus não negou os fatos quanto a Seus pais terrenos; também não Se deteve em discutir o argumento teológico deles. Em vez disso, procurou adverti-los da ignorância deles a respeito de Deus e, novamente, afirmou que não viera por Sua própria autoridade (ver com. dos v. Jo.7:15-16). Ele era conhecido em forma humana, mas desejava ser visto também em Sua divindade e filiação divina. Verdadeiro. Do gr. alethinos (ver com. de Jo.1:9). A quem vós não conheceis. Os judeus tinham uma concepção distorcida do caráter do Pai celestial. Séculos de obstinação e rebelião os havia impedido de ver a Deus como Ele realmente é: um Pai bondoso e misericordioso. Pensavam que Ele fosse cruel e severo e, em vários aspectos, não muito diferente das divindades pagãs adoradas pelas nações vizinhas. Por meio de Jesus, Deus queria corrigir essa errônea concepção. Quando as pessoas contemplassem Aquele que Deus havia enviado, deveriam obter uma noção de como era o Pai (ver com. de Jo.1:18). Jesus declarou: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo.14:9). Ao rejeitar Jesus, os judeus rejeitaram a revelação do Pai sobre Si mesmo e, assim, continuaram a desconhecê-Lo. |
Jo.7:29 | 29. Eu o conheço, porque venho da parte dele e fui por ele enviado. Eu O conheço. Sobre o relacionamento entre o Pai e o Filho, ver com. de Jo.1:1; Jo.1:18. |
Jo.7:30 | 30. Então, procuravam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a sua hora. Procuravam. Ou, “começaram a procurar”. Ainda não era chegada. Ver com. do v. Jo.7:6. |
Jo.7:31 | 31. E, contudo, muitos de entre a multidão creram nele e diziam: Quando vier o Cristo, fará, porventura, maiores sinais do que este homem tem feito? De entre a multidão. Em contraste com os governantes, que procuravam tirar a vida de Jesus. Maiores sinais. A pergunta no grego sugere resposta negativa. A seguinte tradução ilustra a força desta construção: “Ele não fará sinais maiores do que este, fará?” (ver p. 204-206). |
Jo.7:32 | 32. Os fariseus, ouvindo a multidão murmurar estas coisas a respeito dele, juntamente com os principais sacerdotes enviaram guardas para o prenderem. Fariseus. Esta seita era especialmente hostil a Jesus e, então, tomou a iniciativa de convocar o Sinédrio. Os principais sacerdotes eram, em sua maior parte, saduceus (sobre o Sinédrio, ver p. 54). Murmurar. Do gr. gogguzo, que aqui parece indicar uma discussão ou debate controlado, e não uma queixa (ver v. Jo.7:12). Guardas. Presumivelmente, os policiais do templo. |
Jo.7:33 | 33. Disse-lhes Jesus: Ainda por um pouco de tempo estou convosco e depois irei para junto daquele que me enviou. Disse-lhes. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão do pronome “lhes”. O contexto sugere que Jesus Se dirigia ao povo em geral e não simplesmente aos guardas do templo enviados para prendê-Lo. Um pouco de tempo. Desde a Festa dos Tabernáculos até a Páscoa, na primavera seguinte, quando Jesus foi crucificado, decorreram seis meses. Três anos de Seu ministério estavam no passado. Restava-Lhe ainda meio ano. |
Jo.7:34 | 34. Haveis de procurar-me e não me achareis; também aonde eu estou, vós não podeis ir. Haveis de procurar-Me. A referência deve ser ao juízo futuro, quando as pessoas lamentariam ter rejeitado a Cristo, mas buscariam a salvação em vão, porque seria tarde demais (ver Je.8:20; Am.8:11-12; Mt.7:21-23; Mt.25:11-12; Lc.13:25-30). |
Jo.7:35 | 35. Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá este que não o possamos achar? Irá, porventura, para a Dispersão entre os gregos, com o fim de os ensinar? A Dispersão. Do gr. diáspora, palavra técnica que se refere aos judeus dispersos por toda a extensão do mundo antigo após o exílio. Os gregos. O termo, em geral, designa as nações pagãs (Rm.1:16; Rm.2:9), mas aqui a referência deve ser aos judeus helenistas. |
Jo.7:36 | 36. Que significa, de fato, o que ele diz: Haveis de procurar-me e não me achareis; também aonde eu estou, vós não podeis ir? Que significa [...]? Os judeus não conseguiam entender a enigmática declaração. Nem Pedro pôde captar as implicações daquilo que Jesus afirmava (Jo.13:37). |
Jo.7:37 | 37. No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Último dia. [Jesus, a fonte da água viva, Jo.7:37-44]. Há diferença de opiniões quanto a se a referência é ao 7 ou ao 8 dia da festa. Não se sabe se a expressão “o grande dia da festa” era o oitavo. A festa durava sete dias (Lv.23:34), mas o 8 dia era “santa convocação” (Lv.23:36). Se a declaração de Jesus se refere a uma cerimônia de libação com água que ocorria imediatamente antes (ver a seguir; cf. DTN, 454), parece necessário identificar o “último dia” como sendo o sétimo, pois no tempo de Jesus a cerimônia era realizada só nos primeiros sete dias da festa. Se alguém tem sede. Estas palavras de Jesus, sem dúvida, fazem referência à cerimônia da libação de água realizada durante os sete dias da festa. A Mishnah descreve desta forma a cerimônia: “Como era [realizada] a libação de água? Um jarro de ouro com capacidade de três sextários (cerca de 900 ml) era enchido no tanque de Siloé. Quando chegavam à Porta da Água, faziam soar um tekiah [toque longo e alto], uma teruah [nota trêmula] e novamente um tekiah. [O sacerdote então] subia a rampa [do altar] e se virava para a esquerda, onde havia duas vasilhas de prata. [...] A do oeste era para água e a do leste era para vinho. De acordo com o Talmude, os três toques de trombeta eram dados em referência à declaração das Escrituras: “Vós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação” (Is.12:3). A cerimônia ocorria após o holocausto da manhã e estava ligada ao ritual da libação. As duas vasilhas continham aberturas ligadas a uma passagem subterrânea. O tamanho das aberturas era tal que a água e o vinho demorariam mais ou menos o mesmo tempo para se escoar (cf. DTN, 449). Venha a Mim. Durante sete dias sucessivos as pessoas testemunhavam a cerimônia da libação de água e participavam de outras atividades da festa, mas havia pouca coisa para satisfazer os anseios da vida espiritual. Entre essas, desta vez, estava Aquele que é a fonte da vida e que podia fornecer as águas vivas que saciariam a todas as necessidades. Os cristãos genuínos podem testificar da satisfação encontrada em Cristo, pois encontraram nEle mais do que esperavam; provaram Sua paz, e as dúvidas e temores foram removidos; encontraram graça na medida de sua necessidade e força equivalente às exigências de cada dia. Muitas vezes ficaram desapontados com eles mesmos, mas nunca se desapontaram com Cristo. |
Jo.7:38 | 38. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Quem crer em Mim. É possível pontuar o texto, como certas autoridades o fazem, de maneira a ligar esta frase com o verbo “beber”, do v. Jo.7:37. A ideia, então, seria como a expressa na BJ: “Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba, aquele que crê em Mim!” Se este é o sentido, então o pronome “seu” da frase seguinte se referiria a Cristo e não ao crente. Contudo, as evidências textuais parecem favorecer a pontuação adotada pela ARA e respaldada pelos pais da igreja gregos. Segundo esta interpretação, o pronome “seu” se refere ao crente, que se torna, ele próprio, uma fonte de bênção espiritual. Os antigos manuscritos gregos não tinham pontuação, e a atual pontuação na Bíblia é obra de editores de época posterior (sobre pontuação equivocada, ver com. de Lc.23:43; cf. com. de Jo.4:35-36). Como diz a Escritura. Não se sabe ao certo que passagem das Escrituras é mencionada aqui. Talvez a frase se refira ao pensamento que a precede e a sucede (a referência pode ser a Pv.18:4; Is.12:3; Is.44:3; Is.55:1; Is.58:11; Ez.47:1; Zc.14:8). Interior. Do gr. koilia, “ventre”, aqui, uma metáfora para a mente. Rios de água viva. Aquele que está em viva comunhão com Cristo se torna uma fonte de influência espiritual. Há nele um poder de vida que, quando ativado pela fé, flui como um rio, levando vida e refrigério a outros. O verdadeiro cristão recebe uma verdade que satisfaz seus próprios anseios e não pode ficar muito tempo sem expressá-la. Ele anela transmiti-la aos que buscam as águas espirituais. Desperta-se nele um rio de águas que nenhuma represa pode confinar (ver com. de Jo.4:14). |
Jo.7:39 | 39. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado. Com respeito ao Espírito. Este versículo é um parêntese explicativo de João, que tem o objetivo de esclarecer e enfatizar a ideia precedente. João escreveu seu evangelho cerca de 60 anos depois do incidente aqui relatado. Ao longo desse período, ele havia visto a atuação eficaz do Espírito Santo na propagação do evangelho. Não fora dado. Ver At.1:4-5; At.1:8; At.2:1-4. Não havia sido ainda glorificado. Uma referência à morte e ressurreição de Jesus (ver Jo.12:16; Jo.12:23-24). |
Jo.7:40 | 40. Então, os que dentre o povo tinham ouvido estas palavras diziam: Este é verdadeiramente o profeta O profeta. Ver com. de Dt.18:15; Jo.1:21. No pensamento dos judeus, “o profeta” não parece ter sido sempre identificado com o Messias. |
Jo.7:41 | 41. outros diziam: Ele é o Cristo; outros, porém, perguntavam: Porventura, o Cristo virá da Galiléia? Cristo. Isto é, o Messias (ver com. de Mt.1:1). Da Galileia. Cf. Jo.1:46. Os argumentos deles eram baseados em aparências exteriores. Jesus passou a maior parte do tempo lá, e Seu ministério ficara, em grande medida, restrito a essa província. Eles estavam familiarizados com a profecia de Mq.5:2 (ver Jo.7:42), mas ignoravam o sentido da de Is.9:1-2. |
Jo.7:42 | 42. Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi? Da descendência de Davi. Ver com. de 2Sm.7:12-13. Aldeia de Belém. Ver com. de Mq.5:2. Donde era Davi. Ver 1Sm.16:1. |
Jo.7:43 | 43. Assim, houve uma dissensão entre o povo por causa dele |
Jo.7:44 | 44. alguns dentre eles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos. Queriam prendê-Lo. Provavelmente, alguns, dentre a multidão estavam prontos para agir, ou, pelo menos, a ajudar e apoiar os guardas em sua tarefa, mas ninguém pôs as mãos em Jesus. Sua hora ainda não havia chegado (ver com. do v. Jo.7:6). |
Jo.7:45 | 45. Voltaram, pois, os guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Não O trouxestes. [Os guardas voltam sem Jesus, Jo.7:45-53]. Ver v. Jo.7:32. Os membros do Sinédrio ficaram, sem dúvida, indignados com a derrota de seu plano de prender Jesus. |
Jo.7:46 | 46. Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem. Como este homem. Ver com. de Mt.7:29. Só se pode ter uma remota ideia quanto à maneira como o Senhor Jesus falava em público. Os gestos, a voz, a maneira de falar e a articulação precisam ser vistos e ouvidos para serem apreciados. Mas não há dúvida de que a maneira de falar do Senhor era peculiarmente solene, notável e impressionante. Devia ter grandes diferenças em relação à entonação usada pelos judeus para a leitura da Lei e da que os magistrados e o povo estavam acostumados a ouvir. |
Jo.7:47 | 47. Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também vós fostes enganados? Também vós fostes enganados? No grego, a ênfase está em “vós”. Os indivíduos incluídos em “vós” são distintos da multidão (v. Jo.7:40-41). Segundo a narrativa, os fariseus nem perguntam o que foi dito; já têm uma opinião formada. Para eles, Jesus engana o povo (ver Mt.27:63; Jo.7:12). |
Jo.7:48 | 48. Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Autoridades. Isto é, os membros do Sinédrio e provavelmente outros. Quando não têm apoio na Bíblia, as pessoas procuram suprir essa falta com a força e o poder da autoridade. Os que resistem, muitas vezes, selam seu testemunho com o próprio sangue. No futuro se repetirá atitude semelhante (ver Ap.13). |
Jo.7:49 | 49. Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita. Plebe que nada sabe. Na Antiguidade, os judeus escolarizados se referiam com desprezo ao povo comum como, literalmente, “povo do chão”, do (ver p. 43; com. de Jo.7:52). |
Jo.7:50 | 50. Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Nicodemos. Com respeito a sua identidade, ver com. de Jo.3:1. Aquele que procurou Jesus à noite então falou em Seu favor durante o dia. Sua declaração foi uma resposta à pergunta dos líderes: “Porventura, creu nEle alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (v. Jo.7:48). |
Jo.7:51 | 51. Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Sem primeiro ouvi-Lo. Sobre os princípios aqui expressos, ver Dt.1:16-17; Dt.17:2-7; Dt.19:15. Nicodemos pede um tratamento justo e reto, segundo a lei. Quando Jesus foi, mais tarde, preso e condenado à morte, foram quebradas muitas regras da jurisprudência judaica (ver Nota Adicional 2 a Mateus 26; Mt.26:75). |
Jo.7:52 | 52. Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta. Também tu és da Galileia? Com esta pergunta, os líderes buscam se evadir à questão de Nicodemos, para a qual só poderia haver uma resposta. Os fariseus deixam implícito que Nicodemos se juntou aos galileus simpatizantes de Jesus. O ciúme exclusivista deles se reflete no desprezo pelos judeus galileus, que eram menos cultos (ver com. de Jo.7:49). Levanta. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “se levantou”. Este texto enfatizaria a confusão das ideias deles, pois seriam incapazes de defender uma generalização assim. Jonas é descrito (2Rs.14:25) como sendo de Gate-Hefer, uma cidade de Zebulom, na baixa Galileia (ver vol. 4, p. 1099). Possivelmente Elcós, a cidade natal do profeta Naum, também ficasse na Galileia (ver com. de Na.1:1). O testemunho do rabi Eliezer (c. 90 d.C.) também depõe contra essa generalização: “Não houve nenhuma tribo em Israel da qual não tenham vindo profetas”. Se for adotada a variante “se levanta”, então a aplicação pode ser ao futuro, isto é, não se esperaria que um futuro profeta se levantasse da Galileia. |
Jo.7:53 | 53. [E cada um foi para sua casa. Sem comentário para este versículo. |
Jo.8:1 | 1. Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras. Jesus, entretanto. [A mulher adúltera, Jo.8:1-11. Ver mapa, p. 219; gráfico, p. 228]. Esta seção toda (Jo.7:53-8:11) ocorre em apenas um dos antigos manuscritos unciais (D), embora Jerônimo afirme que ela constava em vários manuscritos gregos. A grande maioria dos manuscritos em latim antigo não a trazem. A passagem não é comentada em nenhuma parte dos escritos existentes dos pais da igreja mais antigos. Os primeiros comentários são encontrados após a época de Jerônimo, no Ocidente, e somente após o 10° século, no Oriente. Uns poucos manuscritos colocam a narrativa depois de Lc.21:38. Essas considerações bem como uma suposta diferença de estilo têm levado eruditos à conclusão de que a narrativa não fazia parte do original escrito por João. Contudo, admitem que a narrativa pode ser autêntica e que está em plena harmonia com o que Jesus fez e ensinou. A. posição deste Comentário é de que a narrativa é autêntica. |
Jo.8:2 | 2. De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava. De madrugada. Este incidente ocorreu na manhã seguinte, no 8° dia da Festa dos Tabernáculos (ver com. de Jo.7:37). Assentado. Sobre esta postura ao ensinar, ver com. de Mt.5:1. Ensinava. Ou, “começou a ensinar”, como havia feito anteriormente (Jo.7:14). |
Jo.8:3 | 3. Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, Trouxeram à Sua presença. O correto é que esses casos fossem levados aos tribunais. Os escribas e fariseus haviam planejado apanhar Jesus numa armadilha a fim de assegurar Sua condenação. O procedimento deles era desprezível. Não havia necessidade de fazer tal exibição pública do caso diante das multidões que estavam reunidas no templo. A humilhação pública deles próprios que ocorreu a seguir (v. Jo.8:9) foi totalmente merecida. |
Jo.8:4 | 4. disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Sem comentário para este versículo. |
Jo.8:5 | 5. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Apedrejadas. A lei de Moisés prescrevia a morte por adultério quando estava envolvida uma mulher casada, mas não especificava a maneira da execução. Segundo a Mishnah, a morte nesses casos era infligida por estrangulamento. A lei prescrevia a morte por apedrejamento quando estava envolvida uma mulher comprometida (Dt.22:23-24). Esta também é a regra na Mishnah. Portanto, parece provável que o caso em questão dizia respeito a uma mulher comprometida. Tu, pois, que dizes? No grego, a palavra “tu” está em posição enfática. Jesus é colocado em oposição a Moisés. Os fariseus estavam mais preocupados em apanhar Jesus numa armadilha do que em punir a mulher. Pensavam que, independentemente da resposta que Jesus desse, conseguiriam Sua condenação. Sem dúvida, conheciam Sua boa vontade para perdoar e talvez esperassem que Ele fosse recomendar a clemência. Neste caso, poderiam acusá-Lo de pôr de lado a lei. Se Ele recomendasse que a penalidade fosse executada, poderiam acusá-Lo de usurpar a autoridade de Roma, que, na época, se reservava o direito de tomar a decisão no caso de penas capitais. |
Jo.8:6 | 6. Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Tentando-O. Ver com. do v. Jo.8:5. Escrevia. Este é o único relato em que se diz que Jesus escreveu algo. De fato, muita coisa tem sido escrita sobre isso, mas nada do que Ele escreveu foi preservado. As palavras que Ele escreveu na poeira do solo logo foram apagadas pela movimentação de pessoas dentro do templo. Segundo a tradição, Ele escreveu os pecados dos acusadores (cf. DTN, 461). A prática de escrever na areia é mencionada na Mishnah. |
Jo.8:7 | 7. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. Sem pecado. Jesus dá aos persistentes inquiridores uma resposta que não esperavam e para a qual estavam despreparados. Nenhum deles podia afirmar estar sem pecado. Talvez diante do tribunal do Céu alguns deles fossem mais culpados do que a mulher (cf. DTN, 461). Nenhum deles aceitou o desafio. Jesus não estava declarando um princípio geral que tornaria a impecabilidade absoluta uma condição necessária para se tomar parte na punição da culpa. Isso anularia a lei, pois não se poderia achar ninguém capacitado a executar a punição. Ele fala aqui de um caso em que seres humanos se colocam como juízes sobre alguém a quem não deveriam condenar a menos que eles próprios estivessem sem culpa. Jesus aborrecia o adultério (ver com. de Mt.5:27-32), mas também aborrecia a justiça própria que levava a julgar outros (ver com. de Mt.7:1-5). Primeiro. Isto é, seja o primeiro do grupo a atirar uma pedra. Atire pedra. As testemunhas seriam as primeiras pessoas a atirar uma pedra no condenado (ver Dt.17:7; Jo.13:9). O procedimento a ser seguido no apedrejamento é descrito na Mishnah da seguinte forma: “O local do apedrejamento tinha duas vezes a altura de um homem. Uma das testemunhas o empurrava pelos quadris, [de forma que] ele caísse sobre seu coração. Ele era então virado de costas. Se isso causasse sua morte, ela havia cumprido [seu dever]; mas, se não, a segunda testemunha pegava a pedra e a atirava em seu peito. Se ele morresse com isso, ela havia cumprido [seu dever]; mas, se não, ele era apedrejado por todo o Israel, pois está escrito: A mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo; e, depois, a mão de todo o povo [Dt.17:7]”. |
Jo.8:8 | 8. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Continuou a escrever. Ver com. do v. Jo.8:6. |
Jo.8:9 | 9. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Acusados. Eles foram para acusar a mulher e saíram acusados pela própria consciência. Deixaram a cena, sem dúvida, temendo que fossem revelados para a multidão os segredos da vida deles e, particularmente, a própria cumplicidade no caso (ver DTN, 461). A derrota deles não podia ter sido mais dramática. |
Jo.8:10 | 10. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Mulher. Ver com. de Jo.2:4. |
Jo.8:11 | 11. Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.] Senhor. Do gr. kurios, que talvez aqui signifique simplesmente “senhor” como pronome de tratamento (ver com. de Jo.4:11). Contudo, é possível que ela já tivesse ouvido falar de Jesus e conhecesse algo sobre o que Ele afirmava ser. Em caso positivo, talvez ela tenha usado a palavra num sentido mais profundo, em reconhecimento de Sua posição como o Filho de Deus. Ela não tenta se defender nem suplica perdão. Não peques mais. Cf. Jo.5:14. “Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo.3:17). As palavras de Jesus foram para a mulher tremente como atos de misericórdia, em contraste com as atitudes iradas dos acusadores. Jesus lhe apontou para o que ela precisava: abandonar imediatamente o pecado. O arrependimento precisava ser honesto e sincero. Ela não só devia sentir tristeza pelo pecado, como também abandoná-lo. O arrependimento que consiste apenas em sentir, falar, professar, desejar ou esperar é totalmente sem valor aos olhos de Deus. Até que uma pessoa deixe de fazer o mal e abandone o pecado, ela não se arrependeu verdadeiramente (ver com. de Sl.32:1; Sl.32:6; 1Jo.1:7; 1Jo.1:9). |
Jo.8:12 | 12. De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. Eu sou. [Jesus, a luz do mundo, Jo.8:12-20]. Ver com. de Jo.1:4-9; Jo.6:20. Luz do mundo. Assim como a declaração de Jesus quanto à água viva (Jo.7:37-38) fazia referência à cerimônia de libação de água da Festa dos Tabernáculos, a declaração em que Ele afirma ser a luz do mundo estava, sem dúvida, ligada à cerimônia das luzes. Essa cerimônia é descrita na Mishnah da seguinte forma: “No encerramento do primeiro dia da Festa dos Tabernáculos, eles desciam para o Pátio das Mulheres [uma galeria especial], onde havia sido feita uma grande proclamação. Havia ali candeeiros de ouro com quatro receptáculos de ouro em cima de cada um deles e quatro escadas [segundo o Talmude os candeeiros tinham 50 côvados de altura] para se subir a cada um deles, e quatro jovens de linhagem sacerdotal, que tinham nas mãos jarras com 120 logues de azeite, despejavam o azeite nos receptáculos. “Dos calções e cintos gastos dos sacerdotes se faziam pavios e com estes se acendiam as lâmpadas; e não havia um só pátio em Jerusalém que não fosse iluminado pela luz do lugar de onde se extraía a água. “Homens piedosos e de boas obras costumavam dançar diante deles com tochas acesas em suas mãos e cantar canções e louvores. E levitas sem número, com harpas, liras, címbalos, trombetas e outros instrumentos musicais, estavam lá nos quinze degraus que levavam do Pátio dos Israelitas para o Pátio das Mulheres, correspondendo aos Quinze Cânticos dos Degraus dos Salmos (Sl.120-134). Era sobre esses degraus que os levitas ficavam com seus instrumentos musicais e cantavam seus cânticos (cf. DTN, 463; sobre o significado de Jesus como “a verdadeira Luz”, ver com. de Jo.1:4; cf. DTN, 464, 465). Nas trevas. Em um de seus comentários sobre o livro de Êxodo, os judeus descrevem as palavras da Torah (Lei) como se elas iluminassem a pessoa que se dedica a seu estudo. Quanto àquele que desconhece as palavras da Torah ou não se dedica a seu estudo, o comentário diz: “Ele tropeça numa pedra; depois dá de encontro com um canal, cai nele e bate o rosto no chão - e tudo porque não tem uma lâmpada na mão. O mesmo ocorre com o indivíduo que não tem a Torah em si; ele se depara com o pecado, tropeça e morre”. Os judeus tinham com eles Alguém que era maior do que a Torah, porque Ele próprio a havia dado. Ele era a fonte da luz da Torah (ver PP, 366). Mas os rabis haviam obscurecido por tal forma essa luz com suas tradições que aquele que tentasse andar na luz da Torah conforme interpretada pelos rabis estaria, em realidade, andando em trevas. Luz da vida. Esta frase pode ser interpretada como a luz que é vida, ou que dá vida, ou que tem sua fonte na vida. Jesus não é somente a luz; Ele também é a vida (Jo.11:25; Jo.14:6; ver com. de Jo.1:4). Aquele que O recebe, recebe a vida: “Quem tem o Filho tem a vida” (1Jo.5:12, ARC). Em Jesus, “há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530). Ele veio à Terra para que os homens “tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo.10:10); “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho” (1Jo.5:11). |
Jo.8:13 | 13. Então, lhe objetaram os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o teu testemunho não é verdadeiro. O Teu testemunho não é verdadeiro. Após o incidente de Betesda, o próprio Jesus apresentou o princípio para o qual os judeus apelaram aqui (Jo.5:31). A lei de Moisés claramente estipulava que, em casos de pena capital, o testemunho de apenas um homem era insuficiente para condenar (Nm.35:30; Dt.17:6). O princípio ocorre também na Mishnah: “Ninguém pode testificar com respeito a si mesmo”. “Um indivíduo não está autorizado [a dizer “santificado”] por si mesmo”. |
Jo.8:14 | 14. Respondeu Jesus e disse-lhes: Posto que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. O Meu testemunho é verdadeiro. O testemunho próprio não é necessariamente falso. O testemunho de alguém honesto seria confiável. Jesus, sendo quem era, um Ser divino, e por proceder de Deus, que não pode mentir (Tt.1:2), naturalmente falaria a verdade. Mas os judeus O consideravam um homem comum. Não reconheciam Sua origem nem Seu destino divinos. Além disso, se fosse exigida uma testemunha adicional, Ele tinha uma: o Pai, que O enviou, estava com Ele (Jo.8:16; Jo.8:18; ver com. de Jo.5:31-39). |
Jo.8:15 | 15. Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo. Segundo a carne. Eles julgavam o lado humano de Jesus, pois não discerniam Sua divindade (ver também 1Co.1:26; 2Co.5:16; Jo.7:24). Eu a ninguém julgo. Naquele momento, a obra de Jesus não era a de julgar, mas a de salvar (ver com. de Jo.3:17). Só no fim dos tempos é que Ele irá “julgar vivos e mortos” (2Tm.4:1; At.10:42; 2Co.5:10). |
Jo.8:16 | 16. Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou. O Meu juízo. Ver com. do v. Jo.8:14. |
Jo.8:17 | 17. Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Vossa lei. Esta expressão ocorre novamente em Jo.10:34 e na expressão similar “sua lei”, em Jo.15:25. Não se deve interpretar que essas passagens signifiquem que Jesus Se dissociou da lei ou que era antagônico a ela. Ele não viera para destruir a lei e os profetas (Mt.5:17); Ele próprio dera os princípios sagrados a Moisés. Com a expressão “vossa lei”, Jesus queria dizer, a lei da qual eles afirmavam ser os expositores, defensores e guardadores, ou a interpretação tradicional que davam a ela (ver com. de Mc.7:5-13). Testemunho de duas pessoas. Ver Dt.17:6; Dt.19:15; Nm.35:30. |
Jo.8:18 | 18. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Testifica. Ver o com. do v. Jo.8:14. |
Jo.8:19 | 19. Então, eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. Onde está Teu Pai? Provavelmente estas palavras foram ditas em zombaria e com possível alusão às circunstâncias do nascimento de Jesus. Nem a Meu Pai. Jesus determinou a verdadeira causa de não conhecerem o Pai: o fazerem pouco caso do meio pelo qual o Pai havia escolhido Se revelar. O meio estava bem ali naquele momento. Jesus estava revelando diante deles o caráter e a personalidade do Pai (ver com. de Jo.1:14). Se tivessem conhecido corretamente a Jesus, teriam conhecido Seu Pai. Para os discípulos, Jesus disse: “Ninguém vem ao Pai senão por Mim. Se vós Me tivésseis conhecido, conhecerieis também a Meu Pai” (Jo.14:6-7). |
Jo.8:20 | 20. Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora. Gazofilácio. Sobre a localização do “gazofilácio” onde Jesus ensinou, ver com. de Mc.12:41. É presumível que Jesus estivesse no Pátio das Mulheres, porque as mulheres tinham acesso a esse gazofilácio (Mc.12:41; ver Josefo, Guerra dos Judeus, v.5.2). Não era ainda chegada. Ver com. do v. Jo.8:6. |
Jo.8:21 | 21. De outra feita, lhes falou, dizendo: Vou retirar-me, e vós me procurareis, mas perecereis no vosso pecado; para onde eu vou vós não podeis ir. Vós Me procurareis. [Jesus defende a Sua missão e autoridade, Jo.8:21-59]. Ver com. de Jo.7:34. Perecereis no vosso pecado. Muitos de Seus ouvintes O buscariam tarde demais, ao descobrirem, também demasiado tarde, que Ele era o Messias que deviam ter recebido enquanto tinham oportunidade de fazê-lo. Mas a porta da misericórdia estaria fechada para eles, e buscariam em vão. O resultado seria que pereceriam em seus pecados, sem perdão (ver com. de Je.8:20). |
Jo.8:22 | 22. Então, diziam os judeus: Terá ele, acaso, a intenção de suicidar-se? Porque diz: Para onde eu vou vós não podeis ir. Terá intenção de suicidar-Se? A forma da pergunta no grego mostra que se espera resposta negativa. A sugestão é diferente da de Jo.7:35. Alguns conjecturam que os judeus faziam referência ao “mais escuro lugar do Hades”, o qual, declara Josefo (Guerra dos Judeus, iii.8.5), está reservado para os suicidas. O lugar seria inacessível aos vivos. A pergunta deles não era completamente sem lógica. Jesus morreria, e Sua morte O colocaria além do alcance deles. Mas, Ele iria para o Céu, um lugar que, em sua impenitência, nunca alcançariam, e não para o Hades, como talvez estivessem insinuando. Da mesma forma, a pergunta de Jo.7:35 era vagamente profética. Após a morte de Jesus, Seus emissários deviam ir aos judeus dispersos entre os gentios, e também ensinar os gentios (At.1:8). |
Jo.8:23 | 23. E prosseguiu: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou. Cá de baixo. Ver com. de Jo.3:31. O contraste é entre o mundo presente e o Céu (cf. Cl.3:1). Eles são deste mundo inferior, por isso são influenciados por considerações extraídas daquilo que é terreno, sensual, superficial e transitório. Jesus viera do Céu como o redentor da humanidade, o longamente esperado Messias, e foi a respeito desse grande fato que Jesus procurou lhes esclarecer. |
Jo.8:24 | 24. Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados. Morrereis nos vossos pecados. Para sua salvação, os judeus dependiam da aceitação do Libertador que Deus havia enviado. Não havia salvação em nenhum outro (At.4:12). A rejeição do Salvador os deixaria sem perdão para seus pecados (Jo.15:22). Eu Sou. Do gr. ego eimi. A mesma expressão ocorre nos v. Jo.8:28; Jo.8:58 e novamente em Jo.13:19. Na LXX, ego eimi representa o heb. ani hu, literalmente, “eu sou ele” (Dt.32:39; Is.43:10; cf. a expressão “eu sou o que sou” (do gr. ego eimi ho on, em Ex.3:14). Pode ter havido uma alusão direta a Is.43:10, em que as palavras têm notável semelhança com a passagem em consideração: “Para que o saibais, e Me creiais, e entendais que sou Eu mesmo” (ver com. de Jo.6:20). |
Jo.8:25 | 25. Então, lhe perguntaram: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Que é que desde o princípio vos tenho dito? Quem és Tu? Literalmente, “Tu, quem és Tu?” A declaração de Jesus foi um pouco vaga, e esta pergunta era provavelmente uma tentativa de arrancar dEIe alguma declaração que servisse de base para uma acusação técnica. Mas Jesus evitou dar resposta definida à pergunta. Desde o princípio. Do gr. ten archen. A tradução desta expressão tem sido muito discutida, mas, considerando-se o contexto, a tradução da ARA parece preferível e é defensável. Jesus estaria dizendo, em essência: “Eu vos tenho informado sobre isso o tempo todo.” Alguns sugerem que a expressão deva ser traduzida como “primariamente [em essência]”; outros sugerem a tradução “de alguma forma”, caso em que a frase diria: “Por que de alguma forma Eu falaria convosco?” |
Jo.8:26 | 26. Muitas coisas tenho para dizer a vosso respeito e vos julgar; porém aquele que me enviou é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo. Muitas coisas tenho. A primeira parte deste versículo pode ser assim traduzida: “Eu poderia dizer muitas coisas a respeito de vós e julgar, mas [...]”. Essa tradução explica melhor a conjunção adversativa “mas” do que a tradução comum. Aquele que Me enviou. Ver v. Jo.8:16; cf. Jo.12:49; ver com. de Jo.3:17. |
Jo.8:27 | 27. Eles, porém, não atinaram que lhes falava do Pai. Não atinaram. Porque a mente deles estava espiritualmente obscurecida (ver com. de Os.4:6). |
Jo.8:28 | 28. Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. Levantardes. A referência aqui é à crucifixão, embora a palavra grega assim traduzida seja também usada com respeito à exaltação de Cristo à destra do Pai (At.2:33; ver com. de Jo.3:14; Jo.12:32). Para os judeus, a declaração foi enigmática, embora alguns dos presentes, sem dúvida, vieram a compreendê-la após a crucifixão. É significativo que o fato de Cristo ter sido levantado na cruz foi um prelúdio para Sua verdadeira exaltação (Fp.2:9). Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Então, sabereis. Os eventos ligados à crucifixão e à ressurreição forneceram evidências de que Jesus era tudo o que afirmava ser. A destruição de Jerusalém confirmou a profecia de Jesus. Eu Sou. Ver com. do v. Jo.8:24. |
Jo.8:29 | 29. E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. Não Me deixou só. Jesus novamente enfatiza Sua união com o Pai (cf. Jo.17:21). Ele sempre havia cooperado com o Pai nos propósitos e planos divinos e sempre fizera o que Lhe agradava. Nunca havia sido deixado só. O Pai havia testificado de Seu prazer na pessoa do Filho (Mt.3:17). |
Jo.8:30 | 30. Ditas estas coisas, muitos creram nele. Creram. Ou, “começaram a crer” ou “vieram a crer”. |
Jo.8:31 | 31. Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos Nele. [Discurso sobre a descendência de Abraão, Jo.8:31-59]. Literalmente, “Ele”. Entretanto, no v. Jo.8:30, “nEle” é uma tradução literal do grego. É possível que houvesse a intenção de distinguir o grupo mencionado no v. Jo.8:30 e o mencionado aqui. Há uma diferença entre crer em alguém e crer no que alguém diz (ver com. de Jo.1:12; Jo.3:16). No último caso pode-se simplesmente crer que certas coisas que essa pessoa diz são verdade. Se a distinção for válida, a mudança de atitude dos “crentes” que se evidencia no restante do capítulo pode ser mais facilmente explicada. Permanecerdes. Do gr. meno, palavra também encontrada em Jo.15:4-7. O permanecer na doutrina de Jesus é evidência da sinceridade da profissão de fé em Jesus feita originalmente. Verdadeiramente. Do gr. alethos (palavra empregada em Mt.26:73; Mt.27:54; Lc.9:27; 1Jo.2:5). A paciente permanência na Palavra em face de provas e oposições é a marca do verdadeiro discipulado. Jesus estava exortando aqueles que depositaram a fé nEle a que permanecessem firmes. Havia o perigo de que muitos deles fossem ouvintes de beira de caminho ou de pedregal (ver com. de Mt.13:4-5). |
Jo.8:32 | 32. e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Verdade. Uma palavra frequente em João. Em seu sentido básico, verdade é aquilo que corresponde aos fatos. João frequentemente, como aqui, usa a palavra em sentido mais amplo, para indicar o que é verdadeiro nas coisas que concernem a Deus e aos deveres do ser humano, ou num sentido mais restrito, para os fatos ensinados na religião cristã com respeito a Deus e à execução de Seus propósitos por meio de Cristo. Essa revelação havia sido dada por Jesus (Jo.1:17). Ele, de fato, era “a verdade” (Jo.14:6) e era “cheio de graça e de verdade” (Jo.1:14). Esses fatos concernentes à religião cristã são revelados também pelo Espírito, que é, Ele próprio, a verdade (1Jo.5:6; Jo.14:17; Jo.14:26), e pela Palavra (Jo.17:17; ver com. de Jo.1:14). Libertará. As gloriosas verdades do evangelho tinham sido prefiguradas nos escritos de Moisés e dos profetas. Paulo descreve a fase do AT como sendo de “glória” e declara que a nova era a ultrapassaria em muito (2Co.3:9). No entanto, muitas das verdades que diziam respeito à religião de Yahweh haviam sido obscurecidas pelas invenções dos judeus. A mente do povo foi cegada e havia um véu sobre o coração quando liam o AT (2Co.3:14-15). Estavam presos às opressivas tradições dos anciãos (Mt.23:4; ver com. de Mc.7:1-13) e a seus pecados (Rm.2:17-24; Rm.6:14; Gl.4:21). Jesus veio para libertá-los. Ele declarou que Sua missão era “proclamar libertação aos cativos” (Lc.4:18) e prometeu liberdade aos que aceitassem a verdade (cf. 2Co.3:17; Gl.5:1). |
Jo.8:33 | 33. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Descendência de Abraão. Sobre a vanglória dos judeus como descendência de Abraão, ver com. de Mt.3:9; Jo.3:3-4. Jamais fomos escravos. Isto era uma mentira, caso a referência seja à escravidão literal. O Egito foi para eles uma “casa de servidão” (Ex.20:2). O período dos juízes havia sido caracterizado por repetidas opressões estrangeiras. Mais tarde, houve a humilhação nacional sob as mãos dos assírios e dos babilônios. Contudo, é possível que os judeus estivessem se referindo à liberdade espiritual, que aqui, sem dúvida, se jactam de jamais terem perdido. Isto pode ser refletido numa declaração de Eleazar, líder de um grupo de judeus que resistiu aos romanos após a queda de Jerusalém: “Desde há muito, meus bravos homens, decidimos não servir aos romanos nem a mais ninguém exceto a Deus, pois somente Ele é o verdadeiro e justo Senhor do ser humano” (Josefo, Guerra dos Judeus, vii.8.6). |
Jo.8:34 | 34. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Comete pecado. Isto é, de acordo com o grego, habitualmente (ver com. de 1Jo.3:9). Escravo. Do gr. doulos. Na Bíblia, os doulos são frequentemente contrastados com os livres (1Co.12:13; Gl.3:28; Ef.6:8; Cl.3:11; Ap.19:18). Onésimo, o escravo fugitivo, é chamado de um doulos, e Paulo recomenda que ele seja tratado como alguém acima de um doulos (Fm.1:16). A frase “fomos escravos” (Jo.8:33) vem de douleuo, que expressa a ideia verbal do substantivo doulos. A conexão entre os v. Jo.8:33-34 é, assim, claramente vista. Os judeus disseram: “Jamais fomos escravos”; Jesus replicou: “Todo o que comete pecado é escravo do pecado.” A metáfora da escravidão para simbolizar o pecado é também empregada por Paulo (Rm.6:16-20). |
Jo.8:35 | 35. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. O escravo. Ver com. do v. Jo.8:34. A posse de um escravo não é permanente. É possível que, a qualquer momento, este desagrade seu senhor e seja expulso. Porém, o mesmo não ocorre com o filho. O sangue de seu senhor lhe corre nas veias. Ele é o herdeiro e permanece no lar enquanto vive. Os judeus se vangloriavam de ser descendentes de Abraão (ver com. do v. Jo.8:33). Mas Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre (ver a alegoria de Gl.4). Os judeus eram escravos (ver com. de Jo.8:34) e, portanto, estavam em perigo de serem rejeitados. Mas o Filho podia emancipá-los, mudando sua condição (ver com. de Jo.3:3-4; Jo.8:36). |
Jo.8:36 | 36. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Verdadeiramente sereis livres. Os judeus se consideravam os filhos livres de Abraão e se vangloriavam de sua liberdade (ver com. do v. Jo.8:33). Não estavam dispostos a reconhecer a escravidão literal nem a espiritual, mas a liberdade da qual se gabavam era falsa. Jesus viera para lhes oferecer a verdadeira liberdade (Rm.8:2; 2Co.3:17; Gl.5:1). Somente é livre quem é livre do pecado. Os que desejam essa liberdade precisam recorrer a Cristo e satisfazer as condições. É a missão e o privilégio especial de Cristo emancipar a todos os que O aceitam. Somente através da liberdade espiritual é que a nação podia alcançar a liberdade política tão almejada (ver vol. 4, p. 17-19). |
Jo.8:37 | 37. Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós. Descendência de Abraão. A descendência literal não podia ser negada (cf. v. Jo.8:33). Matar-Me. Ver Jo.7:1; Jo.7:19; Jo.7:25. Os judeus estavam tramando um assassinato, e isso evidenciava que eram escravos do pecado (ver com. de Jo.8:34; Rm.6:16). Minha palavra não está. Comparar com a frase “permanecerdes na Minha palavra” (v. Jo.8:31). Os judeus não estavam dispostos a aceitar a mensagem de Jesus, uma mensagem que os teria libertado da escravidão do pecado (ver com. do v. Jo.8:32). |
Jo.8:38 | 38. Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai. Junto de Meu Pai. Cristo desfrutava íntima associação com o Pai (ver com. de Jo.1:1; Jo.5:19). Fazeis. Isto é, segundo o grego, habitualmente. Os filhos naturalmente refletem as características e obedecem às ordens do pai. Vosso pai. Jesus posteriormente o identifica com o diabo (v. Jo.8:44), a própria antítese do Pai de infinito amor. |
Jo.8:39 | 39. Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Nosso pai é Abraão. Isto eles já haviam afirmado (ver com. do v. Jo.8:33). Talvez tenham percebido as implicações da declaração de Jesus no v. Jo.8:38 e esperassem rebatê-la. Jesus então mostrou que simplesmente ser descendente físico do patriarca não era uma vantagem. Para Deus, o importante são as qualificações de caráter. Paulo argumentou nessa mesma linha (ver Rm.2:28-29; Rm.9:6-7). Obras de Abraão. Os judeus eram descendentes de Abraão, mas não eram filhos espirituais do patriarca. Um verdadeiro filho traz a estampa do pai. A Mishnah descreve desta forma os discípulos de Abraão: “Os discípulos de Abraão, nosso pai, [possuem] bons olhos, espírito humilde e alma mansa”. |
Jo.8:40 | 40. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. Matar-Me. Ver v. Jo.8:37; cf. Jo.7:1; Jo.7:25. Homem (ARC). Do gr. anthropos, usado aqui no sentido de pessoa. Verdade. Ver com. do v. Jo.8:32. Jesus estava sendo acusado por ter vindo para anunciar a verdade que recebera de Deus. Assim não procedeu Abraão. O patriarca era atento à voz divina. Quando solicitado a deixar a parentela e a casa paterna, “obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hb.11:8; Gn.12:1). Por ter persistido na caminhada da fé, obteve o título de “pai de todos os que creem” (Rm.4:11). Quando Cristo visitou Abraão nas campinas de Manre, Abraão O recebeu como um hóspede de honra (Gn.18:1-5). |
Jo.8:41 | 41. Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus. Vosso pai. Jesus já havia informado os judeus de que Seu Pai não era o pai deles (v. Jo.8:38), mas ainda não havia identificado o pai deles como sendo o diabo (ver v. Jo.8:44). Eles devem ter visto o que estava implícito nas palavras de Cristo e se apressaram a negar isso. Bastardos. Sem dúvida, há aqui uma alusão escarnecedora às supostas circunstâncias do nascimento de Cristo, com a implicação de que Jesus fosse bastardo. Que é Deus. Se Jesus estava Se referindo à ascendência espiritual, então os judeus faziam as mesmas reivindicações. A ideia de Deus como o pai de Israel não era nova (ver Dt.32:6; Is.64:8). |
Jo.8:42 | 42. Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Se Deus fosse [...] vosso Pai. Estava claro que aqueles judeus não eram filhos de Deus. Se o fossem, aceitariam Aquele que Deus enviou (ver 1Jo.5:1-2). De Mim mesmo. Este é um tema recorrente no evangelho de João. Jesus nega que haja, de Sua parte, qualquer busca de interesses próprios (ver Jo.7:16; Jo.7:18). |
Jo.8:43 | 43. Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Porque sois incapazes de ouvir. Talvez com o significado de “porque vocês não suportam ouvir” (RSV) ou “porque não querem ouvir” (ver NTLH). O resultado foi a má compreensão e interpretação do discurso de Jesus. Se eles fossem verdadeiros filhos do Pai celestial, teriam compreendido a linguagem do alto. |
Jo.8:44 | 44. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Diabo. Literalmente, “o caluniador” (ver com. de Mt.4:1). Quereis satisfazer-lhe. Literalmente, “quereis fazer” ou “quereis praticar”. Desejos. Do gr. epithumiai, “desejos”, sejam eles bons (Lc.22:15; Fp.1:23), ou, com mais frequência, maus (Rm.1:24; Rm.6:12; Rm.7:7-8). Da mesma raiz de epithumia, há o verbo epithumeo, traduzido como “cobiçar” no sentido do décimo mandamento, conforme citado por Paulo (Rm.7:7; Rm.13:9). Os “desejos” do pai deles são os desejos maus que o caracterizam ou os desejos que ele instila naqueles que fazem o que ele manda. Desde o princípio. Esta tem sido considerada uma alusão ao primeiro homicídio registrado, o de Abel (Gn.4:1-8). Mas o espírito de assassinato remonta à origem do pecado. Por sua rebelião, Lúcifer trouxe a sentença de morte sobre si mesmo e sobre os anjos que se uniram à sua revolta (2Pe.2:4). Quando levou os primeiros pais ao pecado, trouxe a morte a eles e a toda a família humana (Rm.5:12). O desejo dos judeus de matar Jesus era evidência da íntima afinidade entre eles e o assassino maior. Jamais se firmou. Uma referência à queda original de Lúcifer (Jd.1:6; 2Pe.2:4; ver com. de Is.14:12-14; Ez.28:12-14). Na verdade. Sobre uma definição da verdade, ver com. do v. Jo.8:32. Não há verdade. Isto é, não há veracidade. A verdade e Satanás não têm nada em comum. Do que lhe é próprio. Isto é, das coisas de sua natureza íntima. A natureza do diabo é mentir. Jesus, por outro lado, não falava de Si mesmo, mas da verdade que tinha ouvido de Seu Pai (v. Jo.8:38). Mentiroso. A carreira de mentira do diabo começou no Céu, onde ele pela primeira vez representou mal o caráter e os propósitos de Deus diante dos anjos. Por suas insinuações e mentiras no jardim do Éden, ele ocasionou a queda dos primeiros pais (ver com. de Gn.3:4). O Talmude contém a lenda de que, antes do sacrifício de Isaque, Satanás tentou colocar dúvidas na mente de Abraão a respeito de Deus, e que Abraão o repeliu com as palavras: “O castigo de um mentiroso é que, mesmo que ele diga a verdade, ninguém lhe dá atenção.” Pai da mentira. De acordo com o grego, esta frase pode significar tanto “pai do mentiroso” (BJ, margem) como “pai da mentira”. Qualquer dos dois sentidos designa o grande originador da falsidade. Como um mentiroso, Satanás foi expulso do Céu e nunca mais poderá retornar. O mesmo se dá com seus filhos, pois “fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira” (Ap.22:15). |
Jo.8:45 | 45. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Porque Eu. No grego, o “eu” está em posição enfática. Jesus Se coloca em contraste com eles. Os judeus criam avidamente nas mentiras perpetradas pelo arquienganador. Era ele quem lhes tinha sugerido seus falsos conceitos acerca do Messias (ver com. de Lc.4:19), os quais foram prontamente aceitos porque tais falsas ideias agradavam a suas ambições pessoais. A verdade que Jesus lhes trouxe era desagradável para seu coração amante do pecado e, por isso, a rejeitaram (cf. Jo.3:19). |
Jo.8:46 | 46. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Convence. Do gr. elegcho, “acusar” ou “reprovar”; aqui, no primeiro sentido. A palavra é traduzida no sentido de “acusar” no v. Jo.8:9 e de “convencer” em Jo.16:8 (ver com. ali). Jesus apela para o conhecimento que os judeus tinham de Sua vida sem pecado. Ele próprio havia dado testemunho de Sua inteira conformidade com a vontade do Pai (Jo.8:29). Apesar de toda a espionagem dos líderes religiosos, nenhuma mancha de pecado havia sido detectada. O silêncio deles nesta ocasião confirmou Seu testemunho. Uma vez que admitiam a pureza da vida de Jesus, ficava manifesta a falta de lógica na conduta que adotavam (sobre absoluta impecabilidade de Jesus, ver 2Co.5:21; Hb.4:15; Hb.7:26; 1Pe.1:19; 1Pe.2:22; 1Jo.3:5). |
Jo.8:47 | 47. Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus. De Deus. Cf. Jo.1:13; 1Jo.3:10; 1Jo.4:6. Ouve. A inclinação para dar ouvidos à Palavra de Deus é um verdadeiro indicativo da condição do coração. Já se disse que “não há um indício mais seguro de uma natureza não santificada do que a antipatia pela Palavra de Deus”. |
Jo.8:48 | 48. Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio? Samaritano. Sobre a atitude dos judeus para com os samaritanos, ver Jo.4:9. Tens demônio. Uma velha acusação (ver Mt.12:24; Jo.7:20; Jo.10:20). |
Jo.8:49 | 49. Replicou Jesus: Eu não tenho demônio; pelo contrário, honro a meu Pai, e vós me desonrais. Eu não tenho demônio. Jesus passa por alto a acusação: “és samaritano”, talvez porque nem valesse a pena referir-Se a ela. Ser um samaritano, na verdade, não era nenhuma desonra; Deus não faz acepção de pessoas (Rm.2:11). “Não pode haver judeu nem grego” (Gl.3:28), “pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável” (At.10:35). Numa parábola, Jesus apresentou um samaritano como símbolo do amor ao próximo (Lc.10:33-37). Ele também declarou que, dos dez leprosos que foram purificados, o único que voltou para agradecer foi um samaritano (Lc.17:16; ver com. de Mt.12:22-30). Jesus negou a acusação de que tivesse demônio. Ele disse aos contenciosos judeus que, ao contrário, Ele estava trazendo honra a Seu Pai, enquanto eles O insultavam. |
Jo.8:50 | 50. Eu não procuro a minha própria glória; há quem a busque e julgue. A Minha própria glória. Cf. Jo.5:41; Jo.7:18; Jo.8:54. Quem a busque. Isto é, Deus. É Ele quem busca a honra do Filho (v. Jo.8:54). Julgue. Nessa controvérsia, o Pai é quem vai julgar, vindicando Seu Filho e condenando os adversários. |
Jo.8:51 | 51. Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente. Em verdade, em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Não verá a morte. A ideia deste versículo está, sem dúvida, ligada à do anterior. Jesus havia introduzido o assunto do julgamento de Seu Pai. Nesse julgamento, será concedida a vida eterna àqueles que perseverarem na palavra de Cristo. A morte aqui mencionada não é a física, que sobrevêm igualmente a justos e ímpios, mas a segunda morte, que, por fim, aniquilará os ímpios (Ap.20:6; Ap.20:14-15). O oposto da segunda morte é a vida eterna (Jo.3:16), que as Escrituras declaram ser concedida ao crente no momento em que aceita o Senhor (1Jo.3:14; 1Jo.5:11-12; cf. DTN, 388). O vencedor nunca perde essa dádiva, nem com a dissolução física na morte nem com o estado de inconsciência entre a morte e a ressurreição. Sua vida continua “oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl.3:3) e se converterá em gloriosa imortalidade na manhã da ressurreição. |
Jo.8:52 | 52. Disseram-lhe os judeus: Agora, estamos certos de que tens demônio. Abraão morreu, e também os profetas, e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, não provará a morte, eternamente. Agora, estamos certos. Eles acharam que agora tinham evidências convincentes de que Jesus estava sob o controle de um demônio (ver com. de Mt.12:24). Abraão morreu. Posteriormente, a tradição judaica viria a mencionar nove pessoas que entraram no paraíso sem ver a morte, mas Abraão não está na lista. Contudo, os judeus entenderam mal a declaração de Jesus. Pensaram que Jesus estivesse falando da morte física quando disse: “Nunca verá a morte” (v. Jo.8:51, ARC). Certamente Abraão devia, então, ter sido poupado das deteriorações da morte, pois o próprio Jesus havia dado testemunho de sua justiça (v. Jo.8:39-40). Provará a morte. Uma figura de linguagem comum (Mt.16:28; Hb.2:9). O sentido não é diferente da expressão “ver a morte” (cf. Jo.8:51), outra figura empregada por Jesus. Portanto, os judeus não estavam torcendo as palavras de Jesus, como poderia parecer. |
Jo.8:53 | 53. És maior do que Abraão, o nosso pai, que morreu? Também os profetas morreram. Quem, pois, te fazes ser? És maior [...]? A construção grega indica que se espera uma resposta negativa. Eles suspeitavam que Jesus fosse declarar ser o Messias (cf. Jo.5:18). Segundo uma tradição posterior, os judeus não faziam objeção à ideia de que o Messias seria maior que Abraão, e talvez tal objeção também não existisse na época de Cristo. Contudo, eles não estavam dispostos a admitir que Jesus fosse o verdadeiro Messias, pois Ele não satisfazia as expectativas deles quanto ao Messias. A samaritana tinha indagado a Ele: “És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai [...]?” (Jo.4:12). |
Jo.8:54 | 54. Respondeu Jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória nada é; quem me glorifica é meu Pai, o qual vós dizeis que é vosso Deus. Glorifico a Mim mesmo. Os judeus haviam perguntado: “Quem, pois, te fazes ser?” A implicação da pergunta é que Jesus não tinha credenciais válidas. Contudo, Ele havia repetidamente negado que tivesse vindo por conta própria (Jo.7:28; Jo.8:28; Jo.8:38; Jo.8:42; Jo.8:50) e, então, uma vez mais, afirmou que Sua honra vinha do Pai. O qual vós dizeis. Ver v. Jo.8:41. |
Jo.8:55 | 55. Entretanto, vós não o tendes conhecido; eu, porém, o conheço. Se eu disser que não o conheço, serei como vós: mentiroso; mas eu o conheço e guardo a sua palavra. Não O tendes conhecido. Se conhecessem a Deus, teriam guardado os Seus mandamentos (1Jo.2:4) e aceitado a Jesus, pois Ele viera de Deus (Jo.8:42). Eu [...] O conheço. Ver com. de Jo.1:18; Jo.8:42. Como vós: mentiroso. Eles professavam conhecer a Deus, contudo, por seus atos, O negavam (ver 1Jo.2:4). |
Jo.8:56 | 56. Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. Por ver o Meu dia. Uma antiga tradição judaica ensinava que, em ligação com a experiência registrada em Gn.15:9-21, Abraão recebeu uma revelação do futuro. O livro apócrifo de 4 Esdras contém o seguinte: “Escolheste para Ti um dentre eles, cujo nome era Abraão: amaste-o, e lhe revelaste o fim dos tempos em segredo, à noite” (3:14, edição de R. H. Charles). Viu-O e regozijou-se. Os judeus ficaram indignados com o fato de Cristo aplicar a Si próprio a visão do futuro recebida por Abraão. Abraão ansiava ver o prometido Salvador e, quando a revelação lhe foi dada, ele se regozijou. Em contraste, os judeus, que tiveram o privilégio de ver os dias do Messias pessoalmente, ficaram incomodados e indignados. |
Jo.8:57 | 57. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Cinquenta anos. Os filhos de Coate deviam prestar serviço entre as idades de 30 e 50 anos (Nm.4:3). A idade de 50 anos era, portanto, em certo sentido, um tempo de aposentadoria. Depois dessa idade, o serviço obrigatório cessava, mas eles ainda podiam ajudar no tabernáculo segundo sua capacidade (Nm.8:25-26). Os judeus estavam, sem dúvida, falando em números redondos. Jesus, na verdade, tinha apenas cerca de 33 anos (ver p. 239; ver com. de Lc.3:23). |
Jo.8:58 | 58. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18. A declaração feita a seguir foi muitíssimo solene e estava carregada de significado eterno. Antes que Abraão existisse. O verbo é ginomai, “vir à existência”, e não eimi, como o verbo seguinte que se refere a Cristo. A mesma combinação de verbos ocorre na LXX, no Sl.90:2: “Antes que os montes nascessem [ginomai] ... de eternidade a eternidade, Tu és [eimi] Deus” (ver com. de Jo.1:1). Eu Sou. Do gr. ego eimi, aqui usado em seu sentido absoluto e entendido pelos judeus como uma reivindicação de divindade (ver com. do v. Jo.8:24; ver sobre este título de divindade, em vol. 1, p. 148-151). |
Jo.8:59 | 59. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo. Pegaram em pedras. A pergunta acerca de como se poderia obter pedras no templo talvez encontre resposta no fato de que o templo de Herodes ainda estava em processo de construção. Alguns meses mais tarde, os judeus fizeram outra tentativa de apedrejar Jesus porque Ele reivindicou divindade (Jo.10:30-33). Saiu. Ainda não chegara o Seu tempo (ver com. de Jo.7:6). |
Jo.9:1 | 1. Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. Caminhando Jesus. [A cura de um cego de nascença, Jo.9:1-12. Ver mapa, p. 219; gráfico, p. 228; sobre os milagres, ver p. 204-210; acerca do contexto cronológico deste evento, ver Mt.19:1]. O milagre da cura ocorreu no dia de sábado (Jo.9:14), provavelmente no sábado seguinte à Festa dos Tabernáculos, à qual estavam associados os eventos dos cap. Jo.7 e Jo.8 (ver com. de Jo.7:2; Jo.8:2). Contudo, é possível que vários meses tenham decorrido entre o sermão de Jo.8 e o milagre. Se foi assim, o incidente ocorreu em associação com a visita de Jesus a Jerusalém para a Festa da Dedicação, alguns meses mais tarde (ver com. de Jo.10:22). Cego de nascença. A cegueira proveniente de várias causas, especialmente do tracoma, ainda é comum no Oriente. Vários milagres são mencionados nos evangelhos, mas somente este é dito que a doença era congênita. |
Jo.9:2 | 2. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Quem pecou [...]? Os judeus ensinavam que os sofrimentos desta vida eram um castigo divino pelo pecado. De acordo com o Talmude, “não há morte sem pecado, e não há sofrimento sem iniquidade”. “Um doente não se recupera de sua doença antes que todos os seus pecados lhe sejam perdoados”. Os rabis ainda ensinavam que Deus se encarregava de que o pecado fosse punido de acordo com a regra, medida por medida. Vários exemplos dessa regra são dados na Mishnah: “À medida que um homem usar para medir será usada para ele também. [...] Sansão foi após [os desejos de] seus olhos; portanto, os filisteus lhe arrancaram os olhos. [...] Absalão se gloriava em seu cabelo; portanto, ficou pendurado pelo cabelo. E por ter coabitado com as dez concubinas de seu pai, foi atravessado por dez lanças. [...] E por ter roubado três corações; o coração de seu pai, o coração do tribunal de justiça e o coração de Israel, [...] três dardos, portanto, o traspassaram”. Os judeus defendiam que todo pecado tinha uma determinada punição e criam que era possível, em certos casos pelo menos, determinar a culpa de alguém pela natureza de seu sofrimento. Após a destruição do templo e o fim do Sinédrio e, com ele, o fim das execuções infligidas pelos judeus, o rabi José passou a ensinar que Deus visitava com calamidades naturais aqueles que mereciam a morte: “Aquele que é sentenciado ao apedrejamento cai do telhado ou um animal selvagem o pisoteia. Aquele que é sentenciado a ser queimado cai no fogo ou uma serpente o morde. Aquele que é sentenciado à decapitação é entregue ao governo ou é atacado por ladrões. Aquele que é sentenciado ao estrangulamento se afoga no rio ou morre asfixiado”. Embora sejam de data posterior à época de Jesus, sem dúvida, essas declarações refletem o pensamento dos judeus de Seu tempo. Isso é evidente pela pergunta dos discípulos nessa ocasião e também pela pergunta de Jesus sobre este assunto em Lc.13:2; Lc.13:4. Deve ser notado que, embora o que foi dito acima represente a opinião geral, os judeus de fato incluíam a estipulação do que chamavam de castigo de amor. Criam que, neste caso, Deus enviava o castigo para provar e purificar. Defendiam que tais castigos nunca interfeririam no estudo da Torah ou na oração. Aquele que de boa vontade se submetesse a esses castigos seria ricamente recompensado. Contudo, consideravam os castigos de amor como exceções à regra geral de que onde há sofrimento também há culpa. Este. Se este homem fosse cego como resultado de seu próprio pecado, então devia ter pecado antes de nascer, uma vez que sua cegueira era de nascença. Há algumas insinuações na literatura rabínica de que os judeus consideravam o pecado pré-natal por parte da criança pelo menos como uma possibilidade. Por exemplo, a Midrash Rabbah sobre Gn.25:22 faz a acusação de que Esaú cometeu pecado tanto antes como durante seu nascimento. Contudo, o ponto de vista predominante dos judeus era de que uma criança não podia ser culpada de nenhuma transgressão antes do nascimento. A Midrash Rabbah sobre Lv.22:27 conta a história de uma mãe que levou seu filho ao juiz por causa de uma falta. Quando ela observou o juiz condenando outros ao açoitamento, começou a temer que, se revelasse a falta de seu filho, o juiz o mataria. Quando chegou sua vez, ela não disse nada sobre a falta, mas simplesmente fez a acusação de que antes de nascer seu filho tinha dado coices [como um animal]. O juiz perguntou: Ele fez alguma outra coisa? Ela respondeu que não. Ele disse: Isso não constitui falta alguma. A resposta do juiz reflete o ensino geral dos judeus com respeito a supostos pecados pré-natais por parte da criança. Os discípulos, sem dúvida, haviam ouvido os rabis discutirem minúcias com respeito a esta questão complicada e estavam ansiosos para ouvir o que Jesus tinha a dizer sobre o assunto. Seus pais. Esta parte da pergunta dos discípulos tinha pelo menos alguma base bíblica, pois a lei declara que o Senhor visita “a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles [que] ... [O] aborrecem” (Ex.20:5). Os filhos, muitas vezes, sofrem as consequências dos erros dos pais, mas não são punidos pela culpa dos progenitores (ver com. de Ez.18:1-2; cf. PP, 306). Alguns rabis ensinavam que a epilepsia, o manquejar, a mudez e a surdez, vinham como resultado da transgressão das regras tradicionais mais triviais. Eles haviam recebido de Satanás sua errônea filosofia do sofrimento, pois ele, “o autor do pecado e de todas as suas consequências, levara as pessoas a considerar a doença e a morte como procedentes de Deus — como castigos arbitrariamente infligidos por causa do pecado” (DTN, 471). Não haviam entendido a lição do livro de Jó, que mostra que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre ele para fins misericordiosos” (DTN, 471; ver com. de Sl.38:3). |
Jo.9:3 | 3. Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. Nem ele. Este ensino ia diretamente contra o conceito popular defendido pelos judeus (ver com. do v. Jo.9:2). Que se manifestem nele. Esta declaração tem sido muitas vezes interpretada ou mal interpretada como se ensinasse que uma criança inocente tinha sido visitada com a cegueira para que 38 anos mais tarde Deus pudesse revelar Seu grande poder. A tradução para o português tende a apoiar esta observação. Contudo, a conjunção “para que” (do gr. hina), que introduz a sentença, embora frequentemente expresse propósito, também pode muitas vezes expressar consequência ou resultado (ver por exemplo, Lc.9:45; Gl.5:17; 1Ts.5:4; 1Jo.1:9; ver com. de Mt.1:22). Se hina, em Jo.9:3, for interpretada como expressando resultado, então o problema causado por este versículo fica eliminado; e o versículo pode ser parafraseado da seguinte forma: “Nem este homem pecou, nem seus pais: mas como resultado de seu sofrimento as obras de Deus serão manifestadas nele.” Assim, Jesus “não explicou a causa da aflição do homem, mas disse-lhes qual seria o resultado” (DTN, 471). Para aqueles que O amam, Deus faz com que todas as coisas, inclusive as aflições originadas pelo inimigo, cooperem para o bem (Rm.8:28). Na providência de Deus, os sofrimentos infligidos pelo inimigo são revertidos para o nosso bem. |
Jo.9:4 | 4. É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Que façamos. As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) entre esta variante e a que “Eu faça” (ARC, ACF). A ARA enfatiza a associação dos discípulos com Jesus em Seus labores. Que Me enviou. Uma frase que ocorre frequentemente em João (ver Jo.4:34; Jo.5:24; Jo.6:38; ver com. de Jo.3:17). Enquanto é dia. Isto é, enquanto é hora de trabalhar (Sl.104:23). A frase sugere urgência. Uma figura semelhante é encontrada na Mishnah, em que o rabi Tarfon, comentando sobre o período diurno da vida, diz: “O dia é curto e o trabalho [a ser realizado] é muito; e os trabalhadores são indolentes, mas a recompensa é muita; e o senhor da casa é insistente”. A noite vem. Para Jesus, a noite não estava longe (ver Jo.7:33). O breve “dia” era o tempo de Seu ministério na Terra; a chegada da noite era o momento em que Ele partiria deste mundo (ver Jo.9:5). |
Jo.9:5 | 5. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Enquanto estou. Isto não significa que Jesus era a luz do mundo só durante Sua peregrinação histórica na Terra, pois Ele ainda é a luz do mundo. No entanto, Ele Se referia particularmente a Seu papel como “luz” durante o tempo em que andou visivelmente entre os seres humanos. O texto grego não traz artigo antes da palavra “luz”, nem separa o pronome “eu”, como ocorre na declaração “Eu sou a luz do mundo” (Jo.8:12; sobre o significado da figura, ver com. de Jo.1:4-5; cf. DTN, 464. 465). |
Jo.9:6 | 6. Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, Cuspiu na terra. Os antigos criam que a saliva continha propriedades curativas. Contudo, uma suposta virtude curativa na saliva não foi a razão pela qual Jesus fez uso dela, a menos que tenha sido simplesmente para fortalecer a fé do homem. O uso da saliva é mencionado em dois outros milagres (ver com. de Mc.7:33; Jo.8:23). A preparação de barro estava dentro das restrições das leis rabínicas com respeito ao sábado (ver Jo.9:14; ver com. de Jo.5:10; Jo.5:16; Jo.7:22-24). Misturar algo era especificamente proibido. Por exemplo, era permitido que se colocasse água no farelo para preparar comida para os animais, mas não lhes era permitido “misturá-lo” (ver com. de Jo.5:16; Jo.9:16). Untou com o lodo os olhos (ARC). Aqui também Jesus transgrediu a tradição rabínica, que permitia apenas a unção que era feita normalmente em outros dias. Qualquer unção incomum era proibida. Por exemplo, os antigos usavam vinagre para aliviar a dor de dente. Alguém com dor de dente não podia bochechar vinagre no sábado, mas podia ingerir vinagre de maneira usual na hora da refeição e obter alívio dessa forma. |
Jo.9:7 | 7. dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo. Siloé. Um tanque na parte sul de Jerusalém (ver com. de Is.8:6; ver mapa, p. 545). Que quer dizer Enviado. Siloé é uma transliteração, através do grego, do heb. Shiloach, que vem do verbo shalach, “enviar”. Uma das características de João é prover o significado dos nomes próprios hebraicos para os leitores gregos (ver Jo.1:38; Jo.1:42). A ordem para se lavar no tanque não foi porque a água tivesse qualquer poder curativo, mas, sem dúvida, porque Jesus desejava testar a fé do homem (cf. 2Rs.5:10). |
Jo.9:8 | 8. Então, os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que estava assentado pedindo esmolas? Que era cego (ARC). As evidências textuais apoiam (cf. p. 136) a variante “como mendigo” (ARA). Não é este [...]? A construção no grego mostra que se espera uma resposta positiva. Eles tinham certeza de que era ele mesmo. Estava assentado pedindo esmolas. Isto é, “que costumava ficar sentado pedindo esmolas”. Este era seu hábito. A Midrash cita várias fórmulas empregadas pelos mendigos quando pediam dádivas: “Faça um bem a si mesmo através de mim”, “Dê-me esmolas” (ibid.). O Talmude diz: “Senhor, ela lhe disse, me alimente”. |
Jo.9:9 | 9. Uns diziam: É ele. Outros: Não, mas se parece com ele. Ele mesmo, porém, dizia: Sou eu. Parece com ele. A aparência do homem estava, sem dúvida, grandemente mudada. Seus olhos abertos então iluminavam todo o rosto. Foi despertado considerável entusiasmo com respeito a sua identidade, mas o próprio homem resolveu o problema, afirmando: “Sou eu.” |
Jo.9:10 | 10. Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos os olhos? Como [...]? Uma pergunta natural. Os vizinhos não questionam a validade do milagre, como os líderes o fizeram posteriormente (v. Jo.9:18). |
Jo.9:11 | 11. Respondeu ele: O homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo. Chamado Jesus. Jesus deve ter Se identificado somente pelo nome; o cego não sabia que Ele era o Messias (ver v. Jo.9:35-38). Ele nunca havia visto a Jesus, pois quando foi se lavar no tanque de Siloé, que ficava na área sul de Jerusalém, ainda era cego. |
Jo.9:12 | 12. Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei. Onde está Ele? O desejo de ver o operador de milagres era natural (cf. Jo.7:11). |
Jo.9:13 | 13. Levaram, pois, aos fariseus o que dantes fora cego. Levaram. [Os fariseus interrogam o cego, Jo.9:13-34]. Literalmente, “eles estão levando”. João relata o incidente com intensidade dramática. A razão pela qual levaram o cego até os fariseus não é declarada. Talvez o fato de a cura ter sido uma quebra das leis sabáticas tradicionais (ver com. do v. Jo.9:6) tenha levado à conclusão de que o caso requeria a atenção dos fariseus. |
Jo.9:14 | 14. E era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos. Sábado. Uma vez que o caso do cego não era uma emergência, isto é, sua vida não estava em perigo, a cura foi vista como uma violação da lei tradicional judaica (ver com. de Jo.7:22-24). Essas leis também proibiam a mistura do barro e a unção dos olhos (ver com. de Jo.9:6). Os judeus, supostos defensores da lei, entendiam de forma totalmente errada a intenção e o propósito do sábado (ver com. de Mc.2:27-28). Não compreendiam que o dia era santificado para o bem físico, mental e espiritual do ser humano. A santificação do sábado nunca teve o propósito de impedir obras necessárias e misericordiosas, em harmonia com a energia criativa que ele comemora (ver com. de Gn.2:1-3). Curar o homem doente não era uma quebra da divina lei do sábado. Ao condenarem o Senhor por essa suposta quebra, os judeus mostravam sua ignorância acerca da lei que professavam observar. Ao todo são registrados sete milagres ocorridos no sábado (ver p. 201-204, 3, 5, 6, 9, 27, 28, 29). |
Jo.9:15 | 15. Então, os fariseus, por sua vez, lhe perguntaram como chegara a ver; ao que lhes respondeu: Aplicou lodo aos meus olhos, lavei-me e estou vendo. Então, os fariseus. Os líderes religiosos fizeram perguntas para se inteirar dos fatos. Eles não negam o milagre. O homem curado dá uma resposta breve, mas cortês. |
Jo.9:16 | 16. Por isso, alguns dos fariseus diziam: Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles. De Deus. Os fariseus admitiram o milagre, mas dão a entender que o poder pelo qual fora operado era do maligno (ver com. de Mt.12:24). Não guarda o sábado. A cura era considerada ilegal porque o caso era crônico e não requeria atenção imediata. A vida não estava em perigo (ver com. do v. Jo.9:14; ver com. do v. Jo.9:6). Diziam outros. Havia, entre os fariseus, homens de espírito e atitude nobres, como Nicodemos (Jo.3:1-21; Jo.7:50-51) e José (ver com. de Mt.27:57). Pecador. Os judeus ensinavam que Deus opera milagres apenas para os dignos. O Talmude contém esta interessante discussão: “Disse R. Papa para Abaye: Como é que milagres eram operados para as gerações anteriores e para nós não o são? [...] contudo quando o rabi Judá tirava um sapato [como preparo para o jejum], vinha chuva, ao passo que nós nos atormentamos e gritamos, e não somos notados! Ele respondeu: as gerações anteriores costumavam estar prontas a sacrificar a vida pela santidade do nome [de Deus]; nós não sacrificamos a vida pela santidade do nome [de Deus]” (cf. Lc.7:4). |
Jo.9:17 | 17. De novo, perguntaram ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta, respondeu ele. Que dizes tu [...]? A ênfase está no “tu”. Os fariseus discordavam entre si, e esta pergunta talvez tivesse o objetivo de disfarçar a divisão. Daquele que (ARC). A ligação entre esta frase e a anterior é mais evidente na ARA, que traduz a conjunção como “visto que”. Que é profeta. No grego, a palavra “profeta” não tem artigo. O homem curado não estava reconhecendo que Jesus era “o profeta”, como as multidões alimentadas com os pães e os peixes (ver com. de Jo.6:14; Jo.1:21); mas reconheceu que Jesus é mais que um homem comum. Ele estava convencido de que o poder que o curou viera de Deus, e que a pessoa que o exercera era um mensageiro de Deus. Seu testemunho contradisse o dos fariseus que declararam: “Este homem não é de Deus.” |
Jo.9:18 | 18. Não acreditaram os judeus que ele fora cego e que agora via, enquanto não lhe chamaram os pais Não acreditaram. Até este ponto, o milagre não havia sido questionado, mas os judeus se viram diante de circunstâncias aparentemente contraditórias: como podia um homem com poderes tão extraordinários de cura, derivados de Deus, quebrar o sábado? Talvez o milagre não fosse genuíno. Eles estavam tateando em busca de uma solução e decidiram interrogar os pais. |
Jo.9:19 | 19. e os interrogaram: É este o vosso filho, de quem dizeis que nasceu cego? Como, pois, vê agora? É este o vosso filho [...]? Há aqui três perguntas, talvez feitas de maneira a confundir os pais: É este o filho de vocês? Vocês dizem que ele nasceu cego? Como vocês explicam o fato de que agora ele enxerga? |
Jo.9:20 | 20. Então, os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego Nasceu cego. Este era o ponto que os judeus estavam esperando conseguir provar que não era verdadeiro. O plano para invalidar o milagre havia falhado. |
Jo.9:21 | 21. mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo. Não sabemos. Isto era uma inverdade, ou, pelo menos, uma evasiva. Eles não deviam estar presentes por ocasião da unção dos olhos do homem, nem quando ele foi se lavar no tanque e, assim, não podiam testificar como testemunhas oculares. Mas, junto com seus vizinhos, tinham ouvido sobre a cura e sabiam das circunstâncias (ver v. Jo.9:22). Idade tem. Os judeus consideravam que a maturidade começava aos 13 anos e um dia, no caso dos meninos, e um ano antes, para as meninas. Assim, o homem curado tinha mais de 13 anos, embora não se saiba quantos mais. No v. Jo.9:1, ele é identificado simplesmente como um “homem” (do gr. anthropos), um membro da família humana. |
Jo.9:22 | 22. Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. Estavam com medo dos judeus. Esta observação prova que os pais conheciam as circunstâncias do milagre (ver com. do v. Jo.9:21). Foi o medo da excomunhão que os levou a ocultar a verdade. Ser Jesus o Cristo. Cristo significa Messias (ver com. de Mt.1:1; Jo.1:41). Dizer que Jesus era o Cristo era confessar a crença de que Ele era o Messias. Muitos dos judeus (ver Jo.7:41), e mesmo algumas autoridades (Jo.7:50-51; ver com. de Jo.9:16), estavam convencidos de que Ele era de fato o enviado de Deus. Expulso da sinagoga. Isto sem dúvida se refere a uma censura que previa exclusão da sinagoga por 30 dias; era aplicada por certas faltas, como o uso de linguagem ofensiva contra uma autoridade. |
Jo.9:23 | 23. Por isso, é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai-o. Ele idade tem. Ver com. do v. Jo.9:21. |
Jo.9:24 | 24. Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Dá glória a Deus. Esta era uma fórmula técnica e requeria que a pessoa solicitada tomasse uma atitude apropriada às circunstâncias, que trouxesse glória a Deus. O contexto indica o tipo de ação esperada. No caso de Acã, a fórmula exigia uma confissão de culpa (Js.7:19). Aqui, os judeus deixaram implícito que a conduta e a confissão do homem curado não haviam trazido glória a Deus, e procuraram extrair dele a declaração de que não havia sido Jesus que o curara, mas Deus. Pecador. Isto é, porque, segundo eles, Cristo havia transgredido o sábado (ver com. do v. Jo.9:14). |
Jo.9:25 | 25. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo. Não sei. Ele não estava tão seguro quanto os judeus. Eles tinham afirmado que sabiam que Jesus era pecador (v. Jo.9:24), mas não forneceram evidências suficientes, nem resolveram o dilema de como um homem pecador podia fazer milagres desse tipo (v. Jo.9:16). Uma coisa sei. O homem curado revelou notável sagacidade. Recusou-se a ficar discutindo quanto a se Jesus era ou não um pecador. Baseou seu testemunho em evidências incontestáveis. |
Jo.9:26 | 26. Perguntaram-lhe, pois: Que te fez ele? como te abriu os olhos? Que te fez Ele? O novo interrogatório tinha o objetivo de confundir o que fora curado. Eles procuravam alguma contradição no testemunho dele. |
Jo.9:27 | 27. Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? Porventura, quereis vós também tornar-vos seus discípulos? Não atendestes. Isto é: não aceitastes meu testemunho. Tornar-vos Seus discípulos. A construção no grego mostra que se espera uma resposta negativa: “Não se dá o caso de também quererdes ser Seus discípulos, não é?” O Espírito Santo capacitou o homem inculto a fazer esta defesa ousada (ver com. de Mt.10:19). |
Jo.9:28 | 28. Então, o injuriaram e lhe disseram: Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés. Discípulos de Moisés. Embora não fosse uma designação comum, a expressão se encontra no Talmude, numa referência a fariseus eruditos. Os discípulos de Jesus são contrastados com os de Moisés. Um contraste semelhante é feito na Mishnah entre os discípulos de Abraão e os de Balaão, como os cristãos são denominados. |
Jo.9:29 | 29. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas este nem sabemos donde é. Deus falou a Moisés. Esta frase ocorre com frequência no AT (Lv.4:1; Lv.6:1; Lv.8:1; Ex.33:11; Hb.1:1). Nem sabemos. Alguns do povo afirmavam saber (Jo.7:27). Jesus dissera claramente aos judeus que viera de Deus (Jo.8:42), mas eles não quiseram crer em Seu testemunho. |
Jo.9:30 | 30. Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos. Nisto é de estranhar. Literalmente, “o maravilhoso é isto”. Esses líderes religiosos deviam conhecer a origem e os reclamos de um operador de milagres tão notável como Jesus. Ele estava atuando entre eles havia mais de três anos. Tinha sido dada uma evidência após outra para inspirar a fé, mas os judeus se voltaram contra as evidências de seus sentidos. Escolheram a ignorância voluntária, e a maneira como foram desmascarados nessa ocasião era totalmente merecida. |
Jo.9:31 | 31. Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Deus não atende a pecadores. Esta declaração estava de acordo com o ponto de vista de pelo menos uma das divisões dos fariseus (ver com. do v. Jo.9:16). O raciocínio do homem curado era irrefutável. Se, como alguns dos fariseus admitiam, Deus opera milagres apenas para os que são dignos, então eles precisam concordar que o operador de milagres era de Deus, especialmente em vista do caráter incomum do milagre (v. Jo.9:32). A declaração “Deus não atende a pecadores” se refere, logicamente, ao pecador atrevido e impenitente. Deus sempre ouve a oração do penitente que suplica misericórdia e perdão (ver com. de Lc.18:13). Ele também ouve as orações daqueles que se desviaram do caminho certo. Não abandona imediatamente os que se extraviam; com frequência continua a derramar bênçãos como incentivo para que retornem. Devido a esse fato, o inverso da declaração acima nem sempre é verdadeiro. O fato de Deus responder à oração de alguém não é necessariamente uma evidência de que Ele aprova toda a conduta daquela pessoa. Aquele que recebe respostas assinaladas à oração não deve exultar numa suposta evidência de justiça e aceitação; deve examinar diligentemente seu coração a fim de se conformar de maneira mais plena ao padrão divino. Não deve interpretar a bênção de Deus como se fosse uma sanção para todo o seu comportamento. Qualquer persistência deliberada no pecado conhecido acabará levando a uma irrevogável separação entre o pecador e Deus (Ap.22:11). Pratica a Sua vontade. Cf. 1Jo.3:22; CC, 95. |
Jo.9:32 | 32. Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Desde que há mundo. Literalmente, “desde as eras”, uma expressão equivalente a “nunca”. Os registros históricos nunca revelaram um caso de cura de cegueira congênita. |
Jo.9:33 | 33. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito. Nada poderia ter feito. Alguns dos próprios fariseus haviam levantado esta questão (v. Jo.9:16). Nicodemos confessara o mesmo (Jo.3:2). O homem tinha conseguido uma vitória completa: sua lógica era irrefutável. Os fariseus ficaram perplexos. Não tendo resposta para os argumentos, recorreram a insultos. |
Jo.9:34 | 34. Mas eles retrucaram: Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram. Nascido todo em pecado. Eles o acusaram da calamidade de seu nascimento como uma evidência de pecado peculiar, talvez dando a entender um pecado pré-natal (ver com. do v. Jo.9:2). E o expulsaram. Talvez em cumprimento da ameaça mencionada no v. Jo.9:22 (ver com. ali). |
Jo.9:35 | 35. Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho do Homem? Encontrando-o. [Jesus revela-Se ao cego, Jo.9:35-41]. A ovelha perdida que os pastores de Israel lançaram fora foi encontrada pelo bom pastor (Jo.10:11; ver com. de Lc.15:1-7). Jesus nunca está longe dos que são suscetíveis às influências divinas (Rm.10:8-9). Filho de Deus (ARC). As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) entre esta variante e “Filho do Homem” (ARA). A primeira tem a seu favor o fato de ser uma confissão de fé comum (ver Jo.1:49; Jo.11:27; Mt.16:16; Jo.1:34; Jo.20:31) e está mais em consonância com o testemunho que o homem curado dera diante dos fariseus (Jo.9:30-33). A humanidade de Jesus, enfatizada no título “Filho do Homem” (ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10), não é tanto o ponto em questão aqui. |
Jo.9:36 | 36. Ele respondeu e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia? Quem é [...]? O homem curado não havia visto Jesus. Quando o Senhor o mandou lavar-se no tanque de Siloé, ele ainda era cego. Por ser cego de nascença, nunca contemplara um rosto humano antes desse dia. Ele deve ter ficado emocionado ao ver o semblante dos pais e conhecidos. Então, pela primeira vez, contemplou o rosto amável de Jesus. Que contraste com o rosto severo dos fariseus! A voz, sem dúvida, identificava Jesus como Aquele que o havia curado. Senhor. Do gr. kurios, aqui talvez simplesmente um título de respeito equivalente a “senhor”. Para que eu nEle creia. Ele estava pronto a crer no Messias e achava que este homem, a quem ele havia reconhecido como profeta (v. Jo.9:17), poderia dizer quem era o Messias. |
Jo.9:37 | 37. E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo. Já O tens visto. As palavras não se referem a um encontro anterior, mas ao momento então presente. Ele viu em Jesus alguém que os que tinham tido a visão por toda a vida não conseguiam ver. O maior cego é o que não quer ver. Isso pode ser contrastado com a atitude dos judeus (Jo.6:36). |
Jo.9:38 | 38. Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou. Senhor. Do gr. kurios, termo então dito com reverência e implicações divinas (ver com. do v. Jo.9:36). Adorou. Como uma continuação dramática da narrativa, o homem cuja visão física fora restaurada vê a Jesus, a luz do mundo. Ele não apenas se regozija com a visão física, mas vê também com os olhos da alma. |
Jo.9:39 | 39. Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. Juízo. Do gr. krima; não o ato de julgar, que é krisis, mas o resultado do julgamento, que, neste caso, é um peneiramento ou separação. Assim, este versículo não é uma contradição de Jo.3:17 (cf. Jo.8:15). O propósito final do primeiro advento não era julgar o mundo, mas salvá-lo (cf. Lc.19:10). Contudo, a vinda de Cristo trouxe luz às trevas do coração humano e, à medida que as pessoas aceitavam ou rejeitavam essa luz, pronunciavam juízo sobre si mesmas. A luz em si não julga ninguém, mas por ela era julgado todo aquele sobre quem ela brilhava. Este efeito do ministério de Cristo foi predito por Simeão (Lc.2:34-35). Os que não veem. Isto era verdade num duplo sentido. Cristo curou os cegos fisicamente (Mt.11:5); curou também os cegos espirituais. Ambos os aspectos de Sua missão foram demonstrados neste milagre. E os que veem se tornem cegos. Cf. Is.6:9-10; Mc.4:11-12. Quando as pessoas amam as trevas mais do que a luz (Jo.3:19), finalmente perdem seu senso de percepção espiritual (ver Mt.6:23; 1Jo.2:11). |
Jo.9:40 | 40. Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: Acaso, também nós somos cegos? Também nós somos cegos? A construção grega antecipa uma resposta negativa. A ênfase está em “nós”: certamente nós, os líderes religiosos, não somos cegos! Esta não foi uma atitude humilde. Os fariseus, sem dúvida, viram a implicação da declaração do Senhor, e suas palavras foram proferidas com desdém. |
Jo.9:41 | 41. Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado. Se fôsseis cegos. Isto é, se não tivesse havido nenhuma oportunidade de receber esclarecimento. Deus julga com base na luz que as pessoas receberam ou que poderiam receber caso buscassem (ver com. de Jo.15:22). Nós vemos. Havia uma satisfação própria com o conhecimento adquirido que tornava impossível que Deus comunicasse novas revelações. Ao rejeitar Jesus, os judeus rejeitaram o canal por meio do qual o Céu procurava comunicar a luz. |
Jo.10:1 | 1. Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Em verdade. [Jesus, o bom pastor, Jo.10:1-18]. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Esta passagem é uma continuação da cura do homem cego. Os fariseus, que eram reconhecidamente os pastores de Israel, tinham sido infiéis a seu legado, expulsando do aprisco alguém que havia expressado fé no Messias (Jo.9:34). Aprisco. Do gr. aule, um espaço cercado e sem cobertura ao redor de uma casa, como um pátio (ver com. de Mt.26:58). Este era, às vezes, usado como um cercado para ovelhas. Alguns eruditos acham que a referência seja a um cercado descoberto no campo. Ladrão. Do gr. kleptes, alguém que furta ou rouba, como Judas roubava da bolsa comum (Jo.12:6). Essa pessoa pode ou não empregar a violência. A ideia de violência é mais destacada na palavra traduzida como “salteador”, lestes, “alguém que saqueia”? A palavra é empregada para Barrabás (Jo.18:40). Aquele que pula o muro do cercado, criando um meio próprio de entrada, mostra que não é o dono das ovelhas. Pode ser um ladrão sorrateiro que age sozinho e está usando a escuridão para furtar, ou pode ser membro de uma gangue de assaltantes que se apossam das coisas pela violência. De qualquer forma, é um falso pastor. Ao referir-se a ladrões e salteadores, Jesus está aqui designando especialmente os fariseus, que afirmavam ser os pastores de Israel. Eles decretavam quem devia ser admitido ao redil e quem devia ser expulso dele. Fechavam “o reino dos Céus diante dos homens” e impediam os que queriam entrar (Mt.23:13). Rodeavam o mar e a terra para fazer um prosélito, mas, uma vez feito, o tornavam filho do inferno duas vezes mais do que eles próprios (Mt.23:15). Tomavam a “chave da ciência” (Lc.11:52) e, por suas falsas interpretações das Escrituras, impediam as pessoas de reconhecer e aceitar a luz. Ladrões e salteadores são os que oferecem às pessoas qualquer outro meio de salvação diferente do provido por meio de Jesus Cristo (At.4:12). O mundo tem tido e continuará a ter seus falsos messias. Eles não entram pela porta, Cristo Jesus (Jo.10:9). Suas reivindicações são falsas, e suas tramas, cuidadosamente elaboradas, terminarão em desastre. |
Jo.10:2 | 2. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. O pastor das ovelhas. O verdadeiro pastor faz uso da porta regular do aprisco. Vai até ela e sai com suas ovelhas em plena luz do dia. Aqui se faz distinção entre o pastor e a porta. Posteriormente, Jesus Se identificou tanto como a “porta” (v. Jo.10:9) como com o “pastor” (v. Jo.10:14). A figura do pastor é comum nas Escrituras. Yahweh é apresentado como o divino pastor (Sl.23; Is.40:11), e os líderes infiéis de Israel, como falsos pastores (Ez.34:1-10; Je.23:14). Ef.4:11 fala dos pastores da igreja. |
Jo.10:3 | 3. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. Porteiro. A forma feminina desta palavra é traduzida como “a encarregada da porta” (Jo.18:16). O “porteiro” ficava encarregado do rebanho durante a noite. Pela manhã, o pastor voltava, chamava as ovelhas pelo nome e as conduzia para o pasto. As suas próprias ovelhas. Esta frase implica que havia outros rebanhos abrigados ali; talvez dois ou três fossem acomodados num único cercado. Somente as ovelhas que pertenciam ao pastor responderiam a seu chamado. Hoje em dia, nas regiões orientais, vários rebanhos se acomodam juntos à noite e, de manhã, cada pastor parte numa direção diferente, chamando suas ovelhas. E as conduz para fora. Comparar com Nm.27:17. |
Jo.10:4 | 4. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz Elas o seguem. O pastor oriental vive muito perto de seu rebanho. Quando a última ovelha já foi tirada do aprisco, o pastor se coloca à frente do rebanho e as ovelhas o seguem, normalmente sem hesitação. O costume é mencionado na Midrash: “O Teu povo, Tu o conduziste, como rebanho” (Sl.77:20). Como um rebanho segue o pastor enquanto este o guiar, assim Israel, por onde quer que Moisés e Arão o fizessem andar, os seguia”. “Uma grande lição para pastores que procuram conduzir a igreja como se toca o gado, e fracassam. O verdadeiro pastor conduz com amor, em palavras e em atos” (Robertson). |
Jo.10:5 | 5. mas de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. De modo nenhum seguirão. No grego, há uma forte negativa. As ovelhas associam proteção, direção e pasto ao timbre familiar da voz do pastor. Já a voz do estranho as deixa alarmadas. O estranho. Particularmente o ladrão e o salteador mencionados no v. Jo.10:1, embora isto se aplique a qualquer pessoa, mesmo a um pastor de outro rebanho. |
Jo.10:6 | 6. Jesus lhes propôs esta parábola, mas eles não compreenderam o sentido daquilo que lhes falava. Parábola. Do gr. paroimia, não parabole, que é a palavra usual para “parábola” (ver p. 197-199). Na LXX, são usadas tanto paroimia quanto parabole para traduzir o heb. mashal (cuja definição se encontra no vol. 3, p. 1061). Paroimia ocorre apenas cinco vezes no NT: aqui, em Jo.16:25; Jo.16:29, e em 2Pe.2:22. Nesta última referência, ela é claramente usada com o significado de “provérbio”, mas essa definição não se enquadra com o uso da palavra em João. Ele emprega o termo para descrever um dito simbólico ou figurativo, talvez enigmático. Um equivalente próximo em português seria “alegoria” ou “figura”. O discurso de João 10 difere do que geralmente se classificaria como uma parábola, pelo fato de não conservar os fatos externos totalmente distintos das verdades ideais, como ocorre nas verdadeiras parábolas. Eles não compreenderam. Isto é, eles não captaram a verdade que Jesus estava ilustrando. Entenderam os fatos externos, mas as verdades espirituais continuaram ocultas para eles porque estavam cegos espiritualmente (Jo.9:40-41). |
Jo.10:7 | 7. Jesus, pois, lhes afirmou de novo: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. A porta das ovelhas. Isto é, a porta pela qual as ovelhas entram. Posteriormente, Jesus Se identifica também como o pastor (v. Jo.10:11). Ele agora Se declara a única verdadeira entrada do aprisco espiritual (cf. v. Jo.10:9). O acesso ao reino espiritual é possível somente por meio dEle. Aqueles que apresentam qualquer outro meio de acesso a Deus são falsos pastores, falsos mestres. Nesta categoria se enquadram os fariseus, a quem estas palavras foram dirigidas. Eles se apegavam ao ensino de que a salvação é alcançada por aqueles que observam a Torah (ver com. de Mt.19:16). Rejeitaram a Jesus, “o caminho, a verdade e a vida” (Jo.14:6) e tentaram impedir que outros, como o cego de Jo.9, O aceitassem. |
Jo.10:8 | 8. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não lhes deram ouvido. Ladrões e salteadores. Ver com. do v. Jo.10:1. |
Jo.10:9 | 9. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem. Eu sou a porta. Ver com. do v. Jo.10:7. Se alguém. O chamado é universal. A porta está aberta para todos os que desejarem entrar (cf. Ap.22:17). Entrará, e sairá. Desfrutará todos os privilégios que a verdadeira salvação oferece: proteção, tranquilidade, segurança e paz, bem como alimento espiritual. |
Jo.10:10 | 10. O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. O ladrão. Ver com. do v. Jo.10:1. O pastor constantemente entra e sai, estando sempre junto com suas ovelhas. O ladrão visita o rebanho somente em raras ocasiões e, por motivos puramente egoístas, arruina o rebanho. Eu. O pronome é enfático no grego e está em contraste com o ladrão. Vida. Do gr. zoe, usada aqui no sentido teológico, equivalente a vida eterna. Quando Adão e Eva foram criados, possuíam zoe, mas a perderam quando pecaram. É verdade que sua vida física foi prolongada, mas eles não mais estavam na condição de vida eterna (ver com. de Gn.2:17). Jesus veio para restaurar a zoe que Adão havia perdido (ver com. de Jo.8:51). Em abundância. A “vida” inclui os aspectos físico, intelectual e espiritual. A vida física é considerada abundante quando a pessoa está cheia de vigor e em perfeita saúde. Os milagres de cura física operados por Jesus davam vida física abundante àqueles cujas forças vitais estavam declinando. Mas a restauração física não era, de forma alguma, o cumprimento completo da missão de Jesus. O ser humano também tem vida intelectual e espiritual e estas igualmente precisam ser restauradas, a fim de se experimentar abundância, pois “não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor” (Dt.8:3). Por mais importantes que sejam os aspectos físicos e intelectuais de uma vida balanceada, nenhuma pessoa está completa se a natureza espiritual não for nutrida. |
Jo.10:11 | 11. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O bom pastor. Com respeito à figura do pastor, ver com. do v. Jo.10:2. A imagem de Jesus como o pastor ficou profundamente gravada na mente da igreja, em sua literatura, arte, música e escultura. O adjetivo “bom” (do gr. kalos) designa alguém que realiza bem seu serviço, alguém que é extraordinário, notável e excelente. O termo kalos descreve um bom ministro (1Tm.4:6) e um bom soldado (2Tm.2:3). A figura do Messias como um pastor não era nova para os judeus. Nos chamados Salmos de Salomão, de meados do primeiro século a.C., é dito acerca do Ungido: “[Ele estará] pastoreando o rebanho do Senhor de maneira fiel e justa e não permitirá que nenhum dentre eles tropece no pasto. Ele conduzirá a todos de maneira correta e não haverá orgulho entre eles, para que ninguém dentre eles seja oprimido” (17:45, 46). Dá a vida. Esta atitude está em contraste com a do ladrão, que vem “para roubar, matar e destruir” (v. Jo.10:10). Não há nenhum exemplo no AT de um pastor que de fato tenha dado a vida pelas ovelhas, embora os riscos dessa ocupação sejam refletidos em 1Sm.17:34-37. A abnegação que leva o pastor a arriscar a vida por seu rebanho tem cumprimento ideal no bom pastor, que teria dado Sua vida por um único membro da raça humana (ver DTN, 483). |
Jo.10:12 | 12. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. Mercenário. A Mishnah menciona quatro tipos de guardadores de animais: “o que não é pago, o que tomou o animal emprestado, o que é pago e o que aluga o animal. O guardador que não é pago precisa apenas dar seu depoimento sob juramento. Se o animal for perdido ou destruído por qualquer causa, exceto negligência, o guardador que não é pago só precisa relatar a ocorrência sob juramento e fica livre de responsabilidades financeiras. O que tomou o animal emprestado precisa pagar por tudo. O guardador pago ou o que aluga o animal precisa apenas prestar depoimento sob juramento no caso de o animal ter sido ferido, capturado [numa pilhagem] ou morrido; mas precisa pagar pelos danos caso o animal seja perdido ou roubado”. O mesmo tratado apresenta a responsabilidade do guardador da seguinte forma: “[Se] um lobo [atacar], não é um acidente inevitável; se dois [atacarem], é um acidente inevitável. [...] [O ataque de] dois cachorros não é um acidente inevitável. [...] [O ataque de] um ladrão é um acidente inevitável. [O dano causado por] um leão, um urso, um leopardo, uma pantera e uma cobra é classificado como acidente inevitável. Quando é assim? Se eles chegaram [e atacaram] por iniciativa própria: mas se ele [o pastor] os levou para um lugar infestado de feras selvagens e ladrões, isto não é um acidente inevitável”. O mercenário se importa mais com seu pagamento do que com as ovelhas. Ele não tem interesse pessoal no rebanho (cf. 1Pe.5:2). A hora do perigo o distingue do verdadeiro pastor. O lobo as arrebata. Segundo a Mishnah, se apenas um lobo atacasse, o pastor seria considerado responsável pelo rebanho; se dois, isso era considerado um acidente inevitável. Mas o verdadeiro pastor arriscaria a vida para proteger o rebanho (cf. Mt.10:6; At.20:29). Dispersa. Ver Zc.13:7. |
Jo.10:13 | 13. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. O mercenário foge. As evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a omissão desta frase. Contudo, é necessária alguma frase para completar a ideia da sentença. A NVI acrescenta: “ele foge” (sobre o mercenário, ver com. do v. Jo.10:12). |
Jo.10:14 | 14. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, O bom pastor. Ver com. do v. Jo.10:11. Conheço as Minhas ovelhas. Ele conhece Suas ovelhas por nome (v. Jo.10:3). Elas não só conhecem a voz do pastor (v. Jo.10:4), mas conhecem o próprio. O conhecimento leva à ação. O bom pastor que conhece as ovelhas de Seu rebanho tem interesse pessoal e amoroso em cada uma delas; as ovelhas, por sua vez, conhecendo o caráter de seu pastor, colocam total confiança em seu guardador e prestam obediência amorosa e incondicional (ver DTN, 479). |
Jo.10:15 | 15. assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Eu conheço o Pai. Há íntimo relacionamento entre o Pai e o Filho (ver com. de Mt.11:27; Jo.1:1; Jo.1:18; Jo.7:29; Jo.8:55). Dou a Minha vida. Ver com. do v. Jo.10:11. |
Jo.10:16 | 16. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. Outras ovelhas. Isto se referia aos gentios. Isaías havia predito que o Messias seria “luz para os gentios” (Is.42:6; Is.49:6). Jesus declarou ser essa luz (Mt.12:16-21). Ele era a luz não apenas da nação judaica, mas do mundo (Jo.8:12). “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu” Jesus (Jo.3:16). No tempo em que os gentios fossem tomar seu lugar no reino espiritual, muitos dos judeus seriam rejeitados (Mt.8:11-12; Rm.11:1-26). O ensino de Jesus sobre esse assunto foi explícito, embora não tenha sido claramente entendido. O verdadeiro status dos gentios na igreja primitiva foi um ponto muito discutido (ver com. de At.15:1). Ouvirão a Minha voz. Como ocorre com as outras ovelhas (v. Jo.10:3). Um rebanho. A variante “um redil” (RJ, margem) não tem apoio em nenhum manuscrito grego e foi introduzida por Jerônimo, que traduziu tanto aule (aprisco, redil) quanto poimne (rebanho) pela palavra latina ovile (aprisco, redil). A versão de Jerônimo concorda com a crença católica romana de que a Igreja Católica é o único aprisco verdadeiro. Por outro lado, a passagem não sugere a interpretação dada a ela por muitos comentaristas protestantes de que há muitos apriscos nos quais está acomodado o único rebanho. |
Jo.10:17 | 17. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Por isso. As demonstrações de amor abnegado, como o ato voluntário de oferecer a Si mesmo para redimir a humanidade, se converteu em uma razão a mais para o amor do Pai. Para a reassumir. O plano da salvação havia sido formulado antes da criação da Terra (Ap.13:8; PP, 63). A ressurreição de Jesus era parte do plano eterno tanto quanto a crucifixão. Jesus ficaria sob o domínio da morte apenas por um breve período (Sl.16:10; At.2:13; At.2:32) e, então, sairia glorificado para ser a ressurreição e a vida (Jo.11:25) bem como nosso intercessor (Hb.7:25). Como resultado de Sua humilhação, o Pai O exaltaria sobremaneira e Lhe daria um nome que está acima de todo nome (Fp.2:9). |
Jo.10:18 | 18. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai. Ninguém. Um termo que poderia incluir seres sobrenaturais. O ato de Jesus entregar a vida para a salvação do ser humano foi inteiramente voluntário. Não houve compulsão por parte do Pai (ver com. do v. Jo.10:17). Além disso, Satanás não poderia ter tocado em Sua vida se Ele não a tivesse entregado voluntariamente. Tira. As evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) entre as variantes “tira” e “tirou”. Esta última poderia ser entendida no sentido de que a morte de Cristo foi conhecida “antes da fundação do mundo” (1Pe.1:20). Ele é “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap.13:8). Mas o oferecimento de Sua vida foi voluntário. Poder (ARC). Do gr. exousia, “autoridade” (ARA), “direito” ou “privilégio”, não capacidade ou força (ver com. de Jo.1:12). Recebi de Meu Pai. O procedimento estava em harmonia com a vontade de Deus, o Pai. Ao mesmo tempo, era a vontade de Cristo reaver Sua vida; era um ato livre. O Pai e o Filho estavam agindo em plena harmonia com o acordo feito antes da fundação do mundo (1Pe.1:20; PP, 63). |
Jo.10:19 | 19. Por causa dessas palavras, rompeu nova dissensão entre os judeus. Dissensão. [Nova dissensão entre os judeus, Jo.10:19-21]. Como houve no caso do cego de nascença (Jo.9:16; Jo.7:43). |
Jo.10:20 | 20. Muitos deles diziam: Ele tem demônio e enlouqueceu; por que o ouvis? Ele tem demônio. Uma antiga acusação (Jo.7:20; Jo.8:48; Mc.3:21-22). A loucura era considerada um dos resultados da possessão demoníaca (sobre a possessão demoníaca, ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45). |
Jo.10:21 | 21. Outros diziam: Este modo de falar não é de endemoninhado; pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos? De endemoninhado. Este grupo arrazoou que as palavras e os atos de Jesus eram muito diferentes dos de alguém endemoniado. Quando um demônio assume o controle, ele geralmente deixa a mente desordenada, o pensamento fica confuso e obscurecido e produz palavras e raciocínio incoerentes. Sob nenhuma circunstância alguém possuído por um espírito mau poderia realizar um milagre tão notável como o abrir os olhos a um cego de nascença. Há evidências neste versículo da presença de um grupo melhor de pessoas dentro do Sinédrio. |
Jo.10:22 | 22. Celebrava-se em Jerusalém a Festa da Dedicação. Era inverno. Festa da Dedicação. [A Festa da Dedicação. Jesus é interrogado, Jo.10:22- 42. Ver mapa, p. 220; gráfico, p. 228]. Esta festa foi instituída por Judas Macabeu para comemorar a purificação do templo e a restauração de seus serviços após a profanação por Antíoco Epifânio (ver com. de Dn.11:14). De acordo com 1 Macabeus 4:59, “Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias da dedicação do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria” (BJ). Josefo diz que o festival era chamado de “o festival das luzes” e era comemorado mais ou menos da mesma forma que a Festa dos Tabernáculos (2 Macabeus 10:6, 7). O mês de Casleu corresponde a novembro/dezembro (ver vol. 2, p. 100). Na literatura rabínica a festa é chamada Hanukkah, que significa “dedicação”. Era inverno. De acordo com o Talmude, o inverno se estendia mais ou menos da metade de quisleu até a metade de sebate (cerca de meados de dezembro à meados de fevereiro). A palavra para inverno (cheimon) pode se referir à estação ou simplesmente ao tempo chuvoso, tempestuoso. Talvez João tenha feito esta observação apenas para mostrar que Jesus estava no Pórtico de Salomão (v. Jo.10:23) porque o tempo era inclemente naquela estação do ano. |
Jo.10:23 | 23. Jesus passeava no templo, no Pórtico de Salomão. Pórtico de Salomão. Uma colunata a leste do templo propriamente dito e que, supostamente, teria resistido à destruição, em 586 a.C. e, assim, seria parte da construção erigida por Salomão. O pórtico é mencionado também em At.3:11; At.5:12. |
Jo.10:24 | 24. Rodearam-no, pois, os judeus e o interpelaram: Até quando nos deixarás a mente em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-o francamente. Deixarás a mente em suspenso. Literalmente, “terás a nossa alma suspensa” (ARC, ACF). O significado provável da expressão é o que está na ARA, ou, “nos afligirás [aborrecerás ou irritarás]”. A julgar pela atitude que os judeus haviam manifestado até o momento, esta não era uma pergunta sincera. O Cristo. Isto é, o Messias (ver com. de Mt.1:1). Jesus evitou aplicar este título a Si mesmo, talvez, em grande parte, devido a suas conotações políticas (ver com. de Lc.4:19). |
Jo.10:25 | 25. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Já vo-lo disse. Se Jesus tivesse dado à pergunta uma resposta direta com um “sim”, os judeus O teriam interpretado mal, pois Ele não era o Messias das expectativas judaicas (ver com. de Lc.4:19). Ele também não poderia dizer “não” sem negar Sua missão divina, pelo menos em certo sentido. Tanto quanto foi registrado, Ele nunca havia publicamente reivindicado o título (cf. Jo.4:26). Contudo, diversas vezes afirmou Seu parentesco com o Pai de maneira a não deixar dúvidas na mente do pesquisador honesto quanto a Sua identidade (ver Jo.5:17-47; Jo.7:14-44; Jo.8:12-59). As obras que Eu faço. Ver com. de Jo.5:36. |
Jo.10:26 | 26. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. Não sois das Minhas ovelhas. A fé e a obediência são os sinais inequívocos dos seguidores do verdadeiro Pastor. A incredulidade dos judeus não era o resultado de não pertencerem ao redil de Cristo, mas a evidência de que não eram Suas ovelhas. Como já vo-lo tenho dito (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a omissão desta frase, como na ARA. Não está envolvido nela nenhum ponto essencial. Quer tenha declarado isso ou não, Jesus estava Se referindo à discussão dos v. Jo.10:1-18 a respeito do bom pastor. |
Jo.10:27 | 27. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Ouvem a Minha voz. Ver com. do v. Jo.10:4. |
Jo.10:28 | 28. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Eu lhes dou. O tempo é o presente. A dádiva é conferida agora (ver com. de Jo.8:51; Jo.10:10). Jamais perecerão. A negativa é forte no grego. Em seu significado mais pleno, “perecerão” aqui faz referência à morte final e irrevogável, isto é, à segunda morte (Ap.20:14; Mt.10:28; Jo.3:16). A primeira morte é apenas um breve sono (Sl.146:4; 2Co.5:1-4; 1Ts.4:13-18), um pequeno descanso “antes que venha o mal” (Is.57:1), durante o qual a vida do justo está “oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl.3:3). A morte física sobrevêm igualmente a justos e ímpios, e dela as “ovelhas” não são protegidas. Contudo, é-lhes dada a promessa de que não sofrerão o “dano” da segunda morte (Ap.2:11; Ap.20:6; ver com. de Jo.3:16; Jo.5:25-29). Ninguém. Nem mesmo Satanás. Há apenas um modo em que as ovelhas podem ser removidas da mão do pastor: por escolha voluntária delas. Quando as ovelhas vão embora, elas o fazem voluntariamente, e a responsabilidade não é de ninguém a não ser delas mesmas. Não podem acusar a Satanás por sua apostasia, pois embora ele possa instigar, não pode forçar as pessoas a apostatar (ver T5, 177). Este versículo não apoia a presunção fatal de que, depois que alguém é salvo, é impossível que se perca. Não há nada que impeça as ovelhas de se afastarem do cuidado do pastor caso escolham fazê-lo. |
Jo.10:29 | 29. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Meu Pai, que mas deu (ARC). Evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta variante e “aquilo que Meu Pai Me deu” (ARA). O contexto parece favorecer a variante que ocorre na ARC. Aparentemente, o ponto de discussão é a superioridade do Pai sobre tudo, como base para a segurança das ovelhas, não a superioridade das ovelhas. |
Jo.10:30 | 30. Eu e o Pai somos um. Somos um. A palavra traduzida como “um” é neutra, mostrando que a unidade de pessoas não é o ponto em discussão. Jesus afirmou Sua unidade com o Pai em vontade, propósito e objetivos. O Pai estava envolvido diretamente nas palavras e nos atos de Jesus. Além disso, essas palavras implicam a íntima relação de Jesus com o Pai. Os judeus entenderam as palavras dEle como uma reivindicação de divindade (Jo.10:32-33; Jo.5:18-19). |
Jo.10:31 | 31. Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar. Pegaram [...] em pedras. Eles já haviam feito isso cerca de dois meses antes, na Festa dos Tabernáculos (Jo.8:59). |
Jo.10:32 | 32. Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai; por qual delas me apedrejais? Da parte do Pai. Cf. Jo.5:19; Jo.5:36; Jo.9:4. Por qual. Literalmente, “por qual tipo”. Apedrejais. Isto é, “tentais apedrejar”, como o grego pode ser interpretado. Há uma tentativa de realizar o ato, mas ele não é concretizado. |
Jo.10:33 | 33. Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. Por causa da blasfêmia. Os judeus sentiram a força da censura de Jesus, mas não admitiram que Suas boas obras os convenciam. Era verdade, contudo, que as boas obras de Cristo haviam intensificado a hostilidade deles. Contudo, atribuíam a si mesmos um motivo mais elevado do que o doutrinário: fingiam grande zelo pela honra de Deus. A acusação de blasfêmia posteriormente foi apresentada diante de Pilatos (Jo.19:7). |
Jo.10:34 | 34. Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Na vossa lei. Evidências textuais estão divididas (cf. p. 136) entre conservar e omitir o pronome “vossa”. Contudo, mesmo que seja aceita a variante “na vossa lei”, isso não precisa ser interpretado como se Jesus estivesse rejeitando a lei que Ele próprio dera. O pronome “vossa” poderia estar enfatizando a seguinte ideia: “A lei que vós mesmos reconheceis como autoritativa” (cf. Jo.8:17). A palavra “lei” (do gr. nomos), tanto aqui como em Jo.12:34; Jo.15:25, é usada para se referir a todo o AT, como era reconhecido naquela época, e não apenas ao Pentateuco, como frequentemente era o caso (Jo.1:17). Esse uso da palavra “lei” se encontra também na literatura rabínica. Por exemplo, em resposta à pergunta se a Torah (Lei) atesta a ressurreição dos mortos, o Talmude cita o Sl.84:4 como evidência. Sois deuses. A citação é do Sl.82:6, que acusa os juizes injustos, chamados de “deuses” (ver Introdução ao Sl.82 e com. dos v. Sl.82:1; Sl.82:6). A tradição rabínica aplicava o termo “deuses” aos que receberam a lei: “Os israelitas aceitaram a Torah só para que o Anjo da Morte não tivesse domínio sobre eles [Sl.82:6-7]”. Jesus parece formular Sua resposta em termos dessa tradição (ver com. de Jo.10:35). Contudo, Ele era “Deus” num sentido totalmente diferente daquele em que o termo é usado no Sl.82:6. |
Jo.10:35 | 35. Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar, A quem foi dirigida a Palavra de Deus. Se, como parece provável, Jesus estava pensando na interpretação rabínica do Sl.82:6 (ver com. de Jo.10:34), então a referência seria aos israelitas em geral, que receberam a lei. Falhar. Do gr. luo, “soltar”, “quebrar”, “anular” ou “cancelar” (ver com. de Mt.5:19). Os judeus reconheciam este princípio. Portanto, precisavam reconhecer também as conclusões baseadas nele. Se a tradição chamava os israelitas de “deuses”, como podiam os judeus acusar Jesus de blasfêmia por reivindicar ser o Filho de Deus? |
Jo.10:36 | 36. então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus? Santificou. Isto é, separou para propósito especial (ver com. de Gn.2:3). Enviou. Ver Jo.3:17; Jo.20:21. Ao mesmo tempo, a vinda de Jesus a este mundo foi voluntária (cf. com. de Jo.5:18). Filho de Deus. Ele não havia reivindicado divindade diretamente, mas por implicação (ver Jo.2:16; Jo.5:10-30; Jo.10:30). |
Jo.10:37 | 37. Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis Não Me acrediteis. “O Senhor nunca exige que creiamos em alguma coisa sem dar suficientes provas sobre as quais fundamentar a fé” (CC, 105). Os milagres que Jesus realizou tinham o objetivo de proporcionar a base necessária para a fé (ver p. 205, 206). Além disso, o caráter de Jesus era inteiramente consistente com o do Pai. Da mesma forma, na igreja primitiva as obras dos apóstolos e os dons sobrenaturais do Espírito conferidos aos crentes confirmaram “o testemunho de Cristo” (1Co.1:6). |
Jo.10:38 | 38. mas, se faço, e não me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai. Crede nas obras. Ver com. do v. Jo.10:37. Para que conheçais e acrediteis (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136), o verbo “compreender” (ARA), em vez de “acreditar”, isto é, vir a conhecer e perseverar nesse conhecimento. O significado literal do texto refletido na ARC é “para que venhais a conhecer e a fixar vossa fé”. Em Mim. Uma vez mais Jesus afirma Sua unidade com o Pai (ver com. do v. Jo.10:30). |
Jo.10:39 | 39. Nesse ponto, procuravam, outra vez, prendê-lo; mas ele se livrou das suas mãos. Procuravam, outra vez. Cf. Jo.7:30; Jo.7:32; Jo.7:44; Jo.8:20; Jo.8:59. Ele Se livrou. Cf. Jo.8:59. |
Jo.10:40 | 40. Novamente, se retirou para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali permaneceu. Para além do Jordão. Sobre o ministério de Jesus na Pereia, ver com. de Mt.19:1. Onde João. Ver com. de Jo.1:28. Ali permaneceu. Jesus parece ter passado na Pereia a maior parte do tempo entre a Festa da Dedicação (ver com. do v. Jo.10:22) e a Páscoa, alguns meses mais tarde (ver com. de Mt.19:1). |
Jo.10:41 | 41. E iam muitos ter com ele e diziam: Realmente, João não fez nenhum sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade. E iam muitos. Isto era um alentador contraste com a rejeição em Jerusalém (v. Jo.10:39). João não fez nenhum sinal. Em contraste com Jesus, que operou milagres ali (Mt.19:2; sobre o testemunho de João acerca de si mesmo, ver Jo.1:19-28). João afirmava ser apenas uma voz. Contudo, seu ministério havia causado profunda impressão nas pessoas que moravam na região de seus labores, e a recepção então conferida a Jesus se devia, em grande parte, à obra de João. As pessoas se lembraram da mensagem do precursor. |
Jo.10:42 | 42. E muitos ali creram nele. Muitos [...] creram. Uma frase comum em João (ver Jo.4:41; Jo.7:31; Jo.8:30). |
Jo.11:1 | 1. Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã Marta. Estava enfermo. [A Ressurreição de Lázaro, Jo.11:1-46. Ver mapa , p. 220; gráfico, p. 228; sobre milagres, ver p. 204-210]. Com respeito à cronologia deste evento, ver com. de Mt.19:1; Lc.17:1; Lc.17:11. Lázaro. Este nome é derivado do heb. Elazar, que significa “[aquele] a quem Deus ajuda”, “[aquele] cuja ajuda é Deus” ou “Deus ajuda”. Lázaro não é mencionado nos evangelhos sinóticos, embora Lucas se refira a uma visita de Jesus ao lar de Maria e Marta (Lc.10:38-42). Lucas, porém, não menciona o fato de as duas terem um irmão muito amado por Jesus. O mendigo na parábola de Lc.16:19-31 se chamava Lázaro. Alguns veem uma possível ligação entre o presente incidente e a escolha do nome para o mendigo (ver com. de Lc.16:20). Betânia. Uma aldeia a 2,7 km de Jerusalém (ver v. Jo.11:18), na encosta leste do monte das Oliveiras. O lugar geralmente é identificado com a moderna el-Azariyeh, que significa “[aldeia] de Lázaro”. Maria. Sobre a identificação de Maria, ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50. Marta. Para uma descrição do caráter de Marta, ver com. de Lc.10:41. |
Jo.11:2 | 2. Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava enfermo, era a mesma que ungiu com bálsamo o Senhor e lhe enxugou os pés com os seus cabelos. Ungiu [...] o Senhor. Ver com. de Jo.12:1-7; Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50. Embora João só mencione o incidente mais tarde, ele presume que seus leitores já estivessem familiarizados com a narrativa. |
Jo.11:3 | 3. Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. Mandaram [...] dizer. Isto é, enviaram um mensageiro. Amas. Do gr. phileo, “amar como amigo”. Distingue-se phileo de agapao, o amor de admiração, respeito e estima (ver com. de Mt.5:43-44). Agapao é usado em Jo.11:5 para descrever o amor de Jesus por Lázaro e suas irmãs. A súplica das irmãs pelo irmão enfermo foi proferida em palavras simples que indicavam o companheirismo chegado e o amor que as unia a Jesus. Elas achavam que bastava Jesus ser informado da necessidade delas para ir imediatamente em seu socorro. Como Ele não chegava, não entendiam a demora. A dor encheu o coração delas quando o irmão faleceu. As orações delas pareciam não ter sido atendidas. Contudo, Aquele que compreendia tudo e que conhecia o futuro tinha em vista uma resposta mais gloriosa do que a que elas esperavam. |
Jo.11:4 | 4. Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado. Não é para morte. A doença de fato resultou em morte, mas, neste caso, a morte foi apenas de curta duração e logo deu lugar novamente à vida. A fim de que. Do gr. hina, que aqui foi corretamente entendido como um resultado (ver com. de Jo.9:3), isto é, seria dada glória ao nome de Deus como resultado da doença e morte de Lázaro. Deus toma os planos do inimigo e os reverte para propósitos de misericórdia em favor daqueles que O amam (Rm.8:28; DTN, 471). |
Jo.11:5 | 5. Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Amava. Do gr. agapao, o amor de admiração, respeito e estima (ver com. de Mt.5:43-44). Para expressar o amor de Jesus apenas por Lázaro é usada a palavra phileo (ver com. de Jo.11:3). Alguns comentaristas veem evidências nos v. Jo.11:3; Jo.11:5 de que João usa aqui phileo e agapao como sinônimos. Essa conclusão, porém, não é necessária. Na verdade, agapao pode ter sido usado no v. Jo.11:5, em que estão envolvidas as irmãs, para evitar uma possível dedução de que a referência fosse a uma simples afeição humana. Agapao é empregado nos escritos de João para o amor que os cristãos devem manifestar uns pelos outros (Jo.13:34; Jo.15:12; 1Jo.4:7; 1Jo.4:11). |
Jo.11:6 | 6. Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava. Ainda Se demorou dois dias. A demora ocorreu para um propósito conhecido por Jesus, mas desconhecido pela ansiosa família de Betânia. Se Lázaro morresse, seria possível Jesus demonstrar Sua divindade e dar irrefutável evidência de que Ele era de fato a ressurreição e a vida. Por meio do milagre de devolver a vida a Lázaro, Jesus objetivava dar a prova máxima aos judeus incrédulos de que Ele era o Messias, o Salvador do mundo. Do local que servia de base para Jesus em Pereia, até Betânia, na Judeia, havia uma distância de 40 km, cerca de um dia de viagem. É possível que a viagem de Jesus tenha sido mais pausada, ocupando talvez dois dias. Era Seu costume ministrar aos que encontrava no caminho (ver DTN, 529). Lázaro devia estar ainda vivo quando o mensageiro retornou depois de falar com Jesus (ver DTN, 526) e morreu pouco depois, porque ao Jesus chegar Lázaro já estava morto havia quatro dias (v. Jo.11:17). Assim, é possível encaixar os vários elementos de tempo mencionados no capítulo e não é necessário concluir, como alguns o fazem, que Lázaro já estava morto quando o mensageiro informou a Jesus. |
Jo.11:7 | 7. Depois, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia. Outra vez para a Judeia. Jesus saíra fazia pouco da Judeia por causa da hostilidade dos judeus (Jo.10:39-40; ver com. de Mt.19:1). Em Sua sugestão para que voltassem para lá, Ele não mencionou Lázaro. Lázaro parecia não estar no pensamento dos discípulos, como a resposta deles sugere (ver Jo.11:8). |
Jo.11:8 | 8. Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá? Mestre. Do gr. rhabbi, um título aplicado a ensinadores eminentes, que significa, literalmente, “meu grande” (ver com. de Jo.1:38). Apedrejar-Te. Ver Jo.10:39. Voltas para lá? Parecia insensato aos discípulos que Jesus arriscasse a vida indo para um lugar de incredulidade e inimizade mortal. |
Jo.11:9 | 9. Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo Doze as horas. O dia judaico era computado do nascer ao pôr do sol e dividido em 12 partes. A extensão do dia variava de acordo com as estações, de cerca de 14 horas e 12 minutos no solstício de verão até cerca de 10 horas e 3 minutos no inverno. Da mesma forma, variavam as horas. A variação máxima na extensão de uma hora era de cerca de 20 minutos. Andar de dia. A mesma ideia expressa nos v. 9 e 10 ocorre em Jo.9:4 (ver com. ali). A ênfase em Jo.9:4 está em se trabalhar enquanto dura a oportunidade; aqui está no fato de que a hora de Jesus ainda não havia chegado (ver com. de Jo.7:6). |
Jo.11:10 | 10. mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. Sem comentário para este versículo. |
Jo.11:11 | 11. Isto dizia e depois lhes acrescentou: Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo. Nosso amigo. Lázaro é aqui apresentado como um amigo dos discípulos também (ver com. do v. Jo.11:3). Adormeceu. Do gr. koimao, palavra usada tanto para o sono comum (Mt.28:13; Lc.22:45) como para o sono da morte (Mt.27:52; 1Co.7:39). Os discípulos pensaram que Jesus falava do sono natural (ver p. 91). O sono é uma figura adequada para a morte, pois: (1) O sono é um estado de inconsciência. “Os mortos não sabem coisa nenhuma” (Ec.9:5). (2) O sono é o repouso de todas as atividades externas da vida. “No além [...] não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec.9:10). (3) O sono torna impossível o pensamento consciente. “Sai-lhes o espírito [...] perecem todos os seus desígnios” (Sl.146:4). (4) O sono continua até a pessoa despertar. “Assim o homem se deita [...] enquanto existirem os céus, não acordará” (Jó.14:12). (5) O sono impede a participação da pessoa nas atividades dos que estão acordados. “Para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz” (Ec.9:6). (6) O sono deixa inoperantes as emoções. “Amor, ódio e inveja para eles já pereceram” (Ec.9:6). (7) O sono é normal e inevitável a todos. “Os vivos sabem que hão de morrer” (Ec.9:5). Por fim, (8) o sono faz com que cesse todo o louvor a Deus. “Os mortos não louvam o Senhor” (Sl.115:17; Is.38:18). |
Jo.11:12 | 12. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Estará salvo. Do gr. sozo, com respeito à doença: “recuperar-se”, “restabelecer-se”. |
Jo.11:13 | 13. Jesus, porém, falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham que tivesse falado do repouso do sono. Porém. A referência de Cristo ao sono não foi compreendida. Os discípulos imaginavam que Lázaro teria superado a crise e que estivesse se recuperando num sono saudável. |
Jo.11:14 | 14. Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu Claramente. Jesus então falou de forma direta. |
Jo.11:15 | 15. e por vossa causa me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer; mas vamos ter com ele. Lá não estivesse. A implicação é que a morte não teria ocorrido se Jesus estivesse lá. Possais crer. A fé dos discípulos em Jesus como o Filho de Deus seria fortalecida pelo supremo milagre de Seu ministério (cf. com. do v. Jo.11:6). |
Jo.11:16 | 16. Então, Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com ele. Tomé. Uma transliteração do heb. teom, “gêmeo” (ver com. de Mc.3:18). Dídimo. Uma transliteração do gr. Didumos, que também significa “gêmeo”. É totalmente sem fundamento a antiga tradição encontrada, por exemplo, no livro apócrifo Atos de Tomé, de que ele era gêmeo de Jesus. Tomé desempenha um papel importante em João (ver Jo.14:5; Jo.20:24-29; Jo.21:2). Ele é visto em sua típica natureza: “leal, se bem que tímido e temeroso” (ver DTN, 296). Uma vez que o Mestre estava decidido a ir para Betânia, a lealdade de Tomé o levou a segui-Lo, embora para ele, que era cheio das mais negativas apreensões, parecesse que marchavam para a morte. |
Jo.11:17 | 17. Chegando Jesus, encontrou Lázaro já sepultado, havia quatro dias. Quatro dias. Ver com. do v. Jo.11:39; sobre a relação deste período com os “dois dias”, ver com. do v. Jo.11:6. |
Jo.11:18 | 18. Ora, Betânia estava cerca de quinze estádios perto de Jerusalém. Betânia. Ver com. do v. Jo.11:6. Quinze estádios. Cerca de 2,7 km (ver p. 38). Perto de Jerusalém. Isto é mencionado para mostrar que seria fácil muitos visitantes de Jerusalém estarem presentes (ver v. Jo.11:19). Entre estes havia alguns hostis a Jesus. |
Jo.11:19 | 19. Muitos dentre os judeus tinham vindo ter com Marta e Maria, para as consolar a respeito de seu irmão. Consolar. Confortar os enlutados era contado entre os atos de amor que um israelita era obrigado a praticar. Cria-se em grandes recompensas àqueles que cumpriam essa obrigação. Por outro lado, os que negligenciavam essas responsabilidades eram advertidos dos castigos que se seguiriam. |
Jo.11:20 | 20. Marta, quando soube que vinha Jesus, saiu ao seu encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa. Marta. Os mesmos traços de personalidade são mencionados a respeito dela em Lc.10:38-42. É impulsiva, enérgica e voltada para os deveres práticos. Maria, por outro lado, era contemplativa, melancólica e muito amorosa; ela “ficou sentada em casa”. Jesus estava fora da aldeia quando Marta O encontrou (ver Jo.11:30). |
Jo.11:21 | 21. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão. Se estiveras. As mesmas palavras ditas por Maria quando encontrou Jesus (v. Jo.11:32). Certamente este sentimento estava nos lábios e no coração das duas irmãs desde a morte de Lázaro. Elas estavam corretas em sua observação (ver com. do v. Jo.11:15; ver DTN, 528). |
Jo.11:22 | 22. Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. Pedires. Marta reconhecia que Jesus era o Filho de Deus (v. Jo.11:27) e cria que Deus sempre escutava as orações de Seu Filho. Não se sabe até que ponto ela alimentou a esperança de que Jesus ressuscitaria seu irmão. Sem dúvida, Marta tinha ouvido falar da ressurreição da menina (Mc.5:35-43) e do filho da viúva (Lc.7:11-15). Ela estava certa de que Jesus faria algo para as consolar. |
Jo.11:23 | 23. Declarou-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Ressurgir. Embora os saduceus negassem a ressurreição (ver com. de Mt.22:23), os fariseus, o maior dos dois partidos, confessavam crer na ressurreição e na vida futura (ver At.23:8). Sem dúvida, muitos deste último grupo haviam procurado confortar Marta com as palavras usadas por Jesus nesta ocasião. |
Jo.11:24 | 24. Eu sei, replicou Marta, que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. No último dia. Marta tinha muita confiança na ressurreição futura, e isso ajudava a mitigar seu sofrimento (cf. 1Ts.4:13-18). Mas esse dia parecia estar muito distante, e ela buscava algo mais imediato para aliviar a tristeza (ver com. de Jo.11:22). |
Jo.11:25 | 25. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá Eu sou a ressurreição. Esta é mais uma das frases de Jesus em que usa a expressão “Eu sou” (cf. Jo.6:35; Jo.6:51; Jo.8:12; Jo.10:7; Jo.10:9; Jo.10:11; Jo.10:14; Jo.14:16; Jo.15:1; Jo.15:5). Jesus declara ser o doador da vida. Nele, há “vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530). Aquele que O recebe, recebe a vida (1Jo.5:11-12) e a certeza da futura ressurreição para a vida eterna (cf. 1Co.15:51-55; 1Ts.4:16). Crê. Jesus procurou desviar a atenção da ressurreição futura para Si mesmo. Somente os que fixam nEle a fé durante o período de sua peregrinação terrena podem esperar receber a vida naquele dia. A fé em Cristo deve receber atenção imediata. |
Jo.11:26 | 26. e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto? Nunca morrerá (ARC). A negativa é enfatizada no grego (ver com. de Jo.4:48). A referência aqui é à segunda morte e não à cessação da vida que sobrevêm a todos no final da jornada (ver com. de Jo.10:28). Isso está implícito em Jo.11:25, na expressão “ainda que morra”. A segunda morte é sinônima da expressão “pereça” (Jo.3:16). Os que crerem em Cristo serão livrados dessa experiência (Ap.20:6). |
Jo.11:27 | 27. Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo. Eu tenho crido. Marta reafirma sua fé em Jesus como o Messias e, assim, indiretamente, no que Ele acaba de dizer. Cristo. Ver com. de Mt.1:1. Filho de Deus. Ver com. de Lc.1:35; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51. Vir ao mundo. Comparar com Mt.11:3; Jo.1:9; Jo.3:31; Jo.6:14; Jo.9:39; Jo.16:28; Jo.18:37. |
Jo.11:28 | 28. Tendo dito isto, retirou-se e chamou Maria, sua irmã, e lhe disse em particular: O Mestre chegou e te chama. Em particular. Isto era para que os pranteadores não seguissem Maria até o lugar onde Jesus estava e, assim, ela pudesse encontrá-Lo sozinha. As irmãs sabiam também do plano para matar Jesus e, portanto, exerceram cautela, não divulgando o fato de Ele estar nas proximidades. É possível, também, que esta consideração as tenha levado a evitar fazer um pedido direto (ver com. do v. Jo.11:3) para que Ele fosse até lá. Mestre. Do gr. Didaskalos, que significa “professor”, um título comum para Jesus (ver Jo.13:13; ver com. de Jo.1:38). |
Jo.11:29 | 29. Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa e foi ter com ele, Levantou-se depressa. Ela havia ficado sentada em casa (v. Jo.11:20). |
Jo.11:30 | 30. pois Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas permanecia onde Marta se avistara com ele. Ainda não tinha entrado. Sem dúvida, por causa da hostilidade dos judeus (ver v. Jo.11:8) e, além disso, para que pudesse sozinho encontrar as irmãs. |
Jo.11:31 | 31. Os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se depressa e sair, seguiram-na, supondo que ela ia ao túmulo para chorar. Seguiram-na. O fato de a terem seguido é significativo, pois assim se tornaram testemunhas do milagre que Cristo estava prestes a realizar. |
Jo.11:32 | 32. Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. Lançou-se-Lhe. Ela era mais expressiva que a irmã (cf. v. Jo.11:20-21). Se estiveras aqui. Precisamente o que Marta havia dito (ver com. do v. Jo.11:21). Aparentemente, porém, não ocorreu nenhum diálogo, como no caso de Marta. Maria ficou prostrada aos pés de Jesus, chorando. Talvez sua emoção fosse grande demais para se expressar verbalmente. |
Jo.11:33 | 33. Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. Bem assim os judeus. O choro de Maria e dos amigos de Lázaro era genuíno, mas grande parte do choro de outros consistia dos lamentos característicos dos funerais no Oriente. A palavra aqui traduzida como “chorar” ocorre em Mc.5:39, em que descreve os gemidos artificiais dos pranteadores contratados. Agitou-Se. Do gr. embrimaomai, que basicamente significa “ofegar” ou “bufar [de raiva]”. A palavra ocorre na LXX (Dn.11:30), num contexto que sugere indignação. Esta ideia parece estar presente também em Mc.14:5. A frase associada, “perturbou-Se” (Jo.11:33, ARC), sugere a mesma ideia daqui. Portanto, embrimaomai descreve uma agitação íntima, uma forte experiência emocional, de indignação, causada pela tristeza hipócrita dos judeus ali reunidos, alguns dos quais planejariam a morte daquele pelo qual agora pranteavam e de quem logo comunicaria vida ao morto (ver DTN, 533). |
Jo.11:34 | 34. E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! Sepultastes. Do gr. tithemi, palavra que designa o ato de dispor de um corpo morto (ver Jo.19:41-42; Jo.20:2; Jo.20:13; Jo.20:15) e, portanto, equivalente a “sepultar”. |
Jo.11:35 | 35. Jesus chorou. Chorou. Do gr. dakruo, “derramar lágrimas”, esta palavra ocorre também na LXX (Jó.3:24; Ez.27:35; Mq.2:6). O verbo para “chorar” em Jo.11:33 é klaio, termo que descreve não apenas o choro contido, mas também o gemido que comumente acompanhava a lamentação pelos mortos no Oriente (ver com. do v. Jo.11:33). Klaio, contudo, ocorre em Lc.19:41, mas com outro sentido. Jesus foi tocado pela tristeza humana e chorou ante a dor. “Pelo que convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos” (Hb.2:17, ARC). Por identificar-Se com a humanidade, “pode socorrer aos que são tentados” (Hb.2:18, ARC; sobre a humanidade de Jesus, ver com. de Lc.2:52; Jo.1:14; sobre as lágrimas de Jesus, ver DTN, 533, 534). |
Jo.11:36 | 36. Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava. |
Jo.11:37 | 37. Mas alguns objetaram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse? Não podia Ele [...]? À primeira vista, estas palavras parecem ser uma repetição da ideia expressa por Marta e Maria, de que, se o Senhor estivesse presente, Lázaro não teria morrido (v. Jo.11:21; Jo.11:32). Contudo, neste contexto (ver com. do v. Jo.11:38), parece mais natural interpretá-las como uma expressão de ceticismo e dúvida e, na verdade, até de zombaria. Neste caso, o significado seria: “Se Ele fosse realmente o operador de milagres que afirma ser, com certeza teria feito alguma coisa por um de Seus amigos mais chegados”. A inferência seria de que, afinal de contas, essa falha era a prova de que Ele não abrira os olhos ao cego. |
Jo.11:38 | 38. Jesus, agitando-se novamente em si mesmo, encaminhou-se para o túmulo; era este uma gruta a cuja entrada tinham posto uma pedra. Agitando-Se. Ver com. do v. Jo.11:33. A incredulidade expressa no comentário feito por um segmento dos judeus (ver v. Jo.11:37) contribuiu para esta agitação. Túmulo. Do gr. mnemeion, literalmente, “um memorial”, de mnemoneuo, “lembrar”. O termo é usado para designar um memorial para os mortos, mas, na maior parte das vezes, indica a sepultura ou a própria câmara mortuária (Mc.16:5). Gruta. As cavernas naturais, melhor adaptadas mediante escavações, eram locais comuns de sepultamento na Palestina (cf. Gn.23:19; Is.22:16). A Mishnah descreve o que seria um túmulo familiar típico: “O espaço central da gruta deve ter [uma área de] seis por oito côvados. E devem partir dele treze câmaras: quatro de um lado, quatro de outro, três na frente [da entrada], além de uma à direita e outra à esquerda da entrada. Do lado de fora da entrada da gruta, deve ser feito um pátio de seis [côvados] por seis, [que é] o espaço ocupado pelo esquife e por aqueles que o enterram. Esse pátio deve dar entrada para duas grutas: uma de um lado e outra de outro”. As descobertas arqueológicas mostram que as entradas dos túmulos geralmente estavam num plano horizontal. Pedra. Essas pedras, muitas vezes circulares, de forma que pudessem ser roladas, cobriam a abertura da gruta. Em geral, outra pedra calçava a pedra circular para que não se movesse. |
Jo.11:39 | 39. Então, ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias. Tirai. Jesus poderia ter removido a pedra por um milagre, mas a tarefa era algo que mãos humanas poderiam realizar. Os homens devem cooperar com Deus em vez de esperar que Deus faça por eles o que eles próprios podem fazer (ver p. 205, 206). Cheira mal. Esta exclamação mostra que a fé de Marta era limitada para apreender o significado do que Jesus deixara implícito nos v. Jo.11:23-26 (ver com. do v. Jo.11:22). As palavras dela, no entanto, proporcionaram evidências claras para os judeus de que não estava sendo praticada nenhuma farsa e de que Lázaro estava realmente morto. O fato de Marta temer que já houvesse corrupção do corpo sugere que ele não fora embalsamado, embora o v. Jo.11:44 indique uma cuidadosa preparação do corpo. Quatro dias. Uma tradição judaica do 3 século d.C., que provavelmente reflita elementos de crença do tempo de Jesus, ensinava que por três dias a alma retornava ao corpo na esperança de reentrar nele. Quando, no final do período, a alma observa que o semblante estava desfigurado, ia embora e nunca mais voltava. Por isso, durante três dias os parentes visitavam o túmulo, na esperança de que a pessoa estivesse só num coma e não morta de fato. Quando chegava o quarto dia, já não havia dúvida sobre a morte. Se essa tradição já circulava no tempo de Jesus, o fato de ser já o quarto dia seria evidência convincente de que Lázaro estava realmente morto. Talvez Jesus tivesse esse conceito popular em mente quando retardou Sua chegada até o quarto dia. |
Jo.11:40 | 40. Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus? Não te disse Eu [...]? Estas palavras exatas não se encontram nos v. Jo.11:21-27, mas estão implícitas se comparadas com a mensagem enviada por Jesus quando Ele foi informado sobre a doença de Lázaro (v. Jo.11:4; cf. DTN, 526). |
Jo.11:41 | 41. Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Pedra. Ver com. do v. Jo.11:38. A versão ACF traz, após esta palavra, a frase “de onde o defunto jazia”, mas as evidências textuais favorecem a omissão (cf. p. 136) dessa frase explicativa. Levantando os olhos. Uma postura comum que Jesus assumia ao orar (cf. Mc.6:41; Jo.17:1). Em relação a outras pessoas, o costume raramente é mencionado. Em geral, pelo menos de acordo com uma tradição do 2 século d.C. que deve refletir um costume anterior a essa época, os olhos eram dirigidos para o templo. Pai. A forma costumeira de Jesus dirigir-Se a Deus (ver Lc.22:42; Jo.12:27; Jo.17:1; Jo.17:11; Jo.17:25). Na “oração do Senhor”, Jesus ensinou os seguidores a se dirigirem a Deus usando este título (ver com. de Mt.6:9). Porque Me ouviste. Jesus estava em constante comunhão com o Pai. Os incidentes de Sua vida estavam em harmonia com o pacto estabelecido antes de Jesus vir à Terra (ver com. de Lc.2:49). A execução do plano requeria uma evidência suprema da divindade de Cristo. A oração foi simples, em nítido contraste com os encantamentos dos praticantes de magia. Não houve um pedido, mas uma simples expressão de agradecimento, acompanhada de reconhecimento da completa harmonia do Filho com a vontade do Pai. |
Jo.11:42 | 42. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste. Por causa da multidão. De outra forma não haveria necessidade da oração. A ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc.7:11-17) havia ocorrido numa pequena e obscura cidade da Galileia. A ressurreição da filha de Jairo (Lc.8:41-56) ocorreu na reclusão de um quarto de dormir, com algumas testemunhas presentes. Além disso, ela havia morrido havia pouco tempo (ver com. de Jo.11:39). O presente milagre foi realizado em plena luz do dia, tendo amigos e inimigos como testemunhas. Foram eliminadas todas as razões possíveis que poderiam dar lugar à dúvida. Os fariseus haviam feito a acusação de que Jesus expulsava demônios pelo maioral dos demônios (Mt.12:24). Jesus reconheceu abertamente Sua união com o Pai, sem a qual afirmava não poder fazer nada (ver Jo.5:19-30; Jo.7:28-29) e, então, declarou que Seu objetivo era “que creiam que Tu Me enviaste”. |
Jo.11:43 | 43. E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! Clamou. Do gr. kraugazo, “gritar”, que ocorre em outras passagens do NT (Mt.12:19; Mt.15:22; Jo.18:40; Jo.19:6; Jo.19:15; At.22:23). Alta voz. Do gr. phone megale. Estas palavras gregas ocorrem juntas em outros textos (Mt.24:31; Mc.15:34; Mc.15:37; Ap.1:10). Lázaro. Jesus Se dirigiu a ele como se faz a um amigo familiar a quem quiséssemos despertar do sono. Vem para fora! Do gr. deuro exo. O termo deuro, que significa “para cá”, tem o sentido de “vem” e é assim traduzido em outros textos (Mt.19:21; Mc.10:21; At.7:34), e exo significa “para fora”. Não há sugestão nesta narrativa de que uma suposta alma tivesse deixado o corpo de Lázaro no momento da morte e ascendido ao Céu. Se esse tivesse sido o caso, podia-se esperar que Jesus Se dirigisse à alma consciente, em vez de ao corpo sem vida. Ele poderia ter dito: “Lázaro, desce e vive novamente na carne”. Mas, como Davi, Lázaro “não subiu aos céus” (At.2:34). Os últimos quatro dias tinham sido para ele um período de esquecimento e inconsciência (ver Sl.146:4). Se alguém esperava ouvir dele um glorioso relato das aventuras da alma após a morte, essa pessoa ficaria desapontada, pois Lázaro não teve nada a relatar. |
Jo.11:44 | 44. Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir. Os pés e as mãos. Há especulação sobre como Lázaro pôde se mover naquelas circunstâncias. Não há dúvidas de que seus movimentos estavam travados, pois Jesus ordenou que ele fosse desatado (cf. DTN, 536). Ataduras. Do gr. keiriai, “bandagens”. A Mishnah fala de “um cadáver” e de seu “esquife e mortalhas” (cf. Jo.19:40). Lenço. Do gr. soudarion, e do latim sadarium, literalmente, “um pano para limpar a transpiração”. A palavra é usada ainda em Lc.19:20; Jo.20:7; At.19:12. |
Jo.11:45 | 45. Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que fizera Jesus, creram nele. Creram nEIe. Para muitos, este milagre tão além das expectativas cumpriu seus objetivos (v. Jo.11:42; cf. Jo.2:23; Jo.7:31). Esta resposta deve ter levado encorajamento a Jesus e aos discípulos. |
Jo.11:46 | 46. Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos que Jesus realizara. Com os fariseus. Entre os informantes estavam alguns dos espias que constantemente andavam no encalço de Jesus. Outros, talvez, tenham simplesmente achado que um evento tão notável devesse chegar ao conhecimento dos líderes religiosos. Ou, talvez quisessem uma orientação deles quanto a como deviam encarar o milagre. |
Jo.11:47 | 47. Então, os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Os principais sacerdotes. [O plano para tirar a vida de Jesus, Jo.11:47-57. Ver mapa, p. 220; ver p. 39]. Estes eram, em sua maior parte, saduceus (ver p. 40). Os saduceus negavam a ressurreição (Mt.22:33; At.23:8), por isso ficaram perturbados ao ver uma de suas principais teorias ser tão sumariamente refutada. Então uniram-se aos fariseus em hostilidade aberta contra Jesus. Na verdade, os principais sacerdotes desempenharam um papel muito importante na prisão, no julgamento e na condenação de Jesus (ver Mt.20:18; Mt.21:15; Mt.21:23; Mt.21:45; Mt.26:3). Fariseus. Ver p. 39. Sinédrio. Do gr. sunedrion, derivado de sun, “juntos”, e hedra, “assento” (sobre este conselho, ver p. 54). Que estamos [...]? Eles pensaram que as coisas haviam chegado a tal ponto que não poderia haver mais demora. Oponentes de Cristo se tornaram crentes, inimigos dEle se tornaram amigos e alguns em suas próprias fileiras experimentavam profunda convicção. A influência desses principais sacerdotes e fariseus junto às pessoas diminuía rapidamente. |
Jo.11:48 | 48. Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação. Virão os romanos. Ironicamente, quando este evangelho foi escrito (ver p. 167), os romanos haviam feito precisamente o que se temia aqui (ver p. 61-64), mas por uma razão bem diferente. Se Jesus tivesse sido o messias político das expectativas judaicas, qualquer tentativa de colocá-Lo no trono teria sido seguida por represálias romanas. No entanto, Jesus nunca reivindicou ser um libertador nacional. Quando as multidões procuraram fazê-Lo rei, Ele as despediu e Se retirou de cena (Jo.6:15). O nosso lugar. Provavelmente o templo (ver Je.7:15; 2 Macabeus 5:19), ou, num sentido mais amplo, Jerusalém. Nação. Apesar da nomeação de um procurador romano (ver p. 53, 54) e da presença da fortaleza romana de Antônia, na própria colina do templo (ver mapa, p. 222), os judeus desfrutavam considerável grau de liberdade no que diz respeito a seus assuntos locais. Estavam em perigo de perder essa liberdade e, de fato, a perderam cerca de 40 anos mais tarde. |
Jo.11:49 | 49. Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vós nada sabeis, Caifás. Ver com. de Mt.26:57; Lc.3:2. Naquele ano. Isto não significa que o sumo sacerdote ficava no ofício por apenas um ano. No passado, o cargo havia sido vitalício, mas, sob o domínio romano, o sumo sacerdote era arbitrariamente deposto e outro, instalado em seu lugar. Caifás ocupou o cargo de cerca de 18 a 36 d.C. (ver com. de Lc.3:1). A expressão “naquele ano” indica o ano decisivo ou memorável em que o Senhor foi crucificado. |
Jo.11:50 | 50. nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação. Que morra um só homem. Este princípio é atestado na literatura rabínica. O Midrash Rabbah sobre Gn.43:8 (ed. Soncino, p. 846), diz: “É melhor uma vida ser arriscada do que todas estarem condenadas [a morrer],” O mesmo Midrash, sobre Gn.46:26 e versículos seguintes (ed. Soncino, p. 879), diz: “É melhor você ser executado do que toda a comunidade ser punida por causa de você”. A implicação do argumento de Caifás era a de que, mesmo que Jesus fosse inocente, sua eliminação seria para o bem de Israel. |
Jo.11:51 | 51. Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação Não [...] de si mesmo. É verdade que Caifás tinha conhecimento das profecias, mas as predições divinas eram só palidamente compreendidas. Ele estava preocupado com a retenção de seu poder e com a continuação da vida nacional dos judeus. Contudo, suas palavras constituíram uma profecia notável do que Jesus estava para fazer. Jesus morreria; ironicamente, porém, a nação que Caifás esperava assim salvar da destruição pereceria miseravelmente. |
Jo.11:52 | 52. e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos. Não somente pela nação. Este é um comentário acrescentado por João. Caifás se referiu apenas á nação dos judeus. Contudo, a morte de Jesus seria por todos e, de todas as nações, os que O aceitassem seriam unidos num grande corpo de crentes (Ef.2:11-22). Essas eram as “outras ovelhas” que o Bom Pastor chamaria (Jo.10:16). |
Jo.11:53 | 53. Desde aquele dia, resolveram matá-lo. Resolveram. O Sinédrio oficialmente concordou em levar Jesus à morte. O problema que restava era como podiam executar o plano sem causar um tumulto popular. Houve tentativas contra a vida de Jesus (Jo.5:18), mas a ressurreição de Lázaro levara o assunto a um ponto crucial. A sugestão de Caifás de uma saída que não dependia de se provar a culpa ou a inocência de Jesus (ver com. do v. Jo.11:50) pareceu ser a solução que os membros do conselho procuravam. |
Jo.11:54 | 54. De sorte que Jesus já não andava publicamente entre os judeus, mas retirou-se para uma região vizinha ao deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali permaneceu com os discípulos. Efraim. Geralmente identificada com a moderna et-Taiyibeh, a cerca de 6,5 km a nordeste de Betel (ver 2Sm.13:23; 2Cr.13:19; Josefo, Guerra dos Judeus, iv.9.9). Ficava próxima ao deserto que se estende ao longo do vale do Jordão. |
Jo.11:55 | 55. Estava próxima a Páscoa dos judeus; e muitos daquela região subiram para Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem. A Páscoa dos judeus. Considerando-se que a festa sem nome, de Jo.5:1 (ver com. ali) seja a Páscoa, esta seria a quarta Páscoa mencionada por João (ver p. 181, 244, 245; gráfico 5, p. 226). Região. Isto é, a região da Palestina de maneira geral, embora judeus de todas as partes do mundo frequentassem a Páscoa. Se purificarem. Acerca da pureza cerimonial como requisito para se comer a Páscoa, ver 2Cr.30:17-20; Nm.9:10. Os sacerdotes no julgamento de Jesus se recusaram a entrar no pretório para não se contaminarem e ficarem impedidos de comer a Páscoa (Jo.18:28). |
Jo.11:56 | 56. Lá, procuravam Jesus e, estando eles no templo, diziam uns aos outros: Que vos parece? Não virá ele à festa? Procuraram. Como haviam feito anteriormente, na Festa dos Tabernáculos (Jo.7:11). Mas, desta vez, com a união de esforços dos saduceus e fariseus (ver com. de Jo.11:47), a procura foi intensificada. Não virá Ele [...]? Em vista da ordem então recente para a prisão de Jesus, havia dúvidas quanto a se Ele estaria na festa. O texto grego pode ser interpretado como se transmitisse a seguinte ideia: “Ele não ousaria vir à festa, ousaria?” Eles esperavam que Ele o fizesse e, assim, Sua prisão seria facilitada. |
Jo.11:57 | 57. Ora, os principais sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para, se alguém soubesse onde ele estava, denunciá-lo, a fim de o prenderem. Principais sacerdotes. Ver com. do v. Jo.11:47. Soubesse. Isto é, “descobrisse”. Denunciá-Lo. Do gr. menuo, “revelar”, “denunciar”. |
Jo.12:1 | 1. Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Seis dias antes da Páscoa. [Jesus ungido por Maria em Betânia; A parábola dos dois devedores Jo.12:1-8 = Mt.26:6-13 = Mc.14:3-9. Comentário principal: Mt e Lc. Ver mapa, p. 221; gráficos, p. 226, 228]. Com respeito à relação deste banquete com aquele registrado nos outros evangelhos, ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50. A ceia provavelmente ocorreu na noite do sábado anterior à crucifixão (ver com. de Mt.21:1; Mt.26:3), o que tecnicamente seria no primeiro dia da semana (ver vol. 2, p. 85). Isso seria, pela contagem inclusiva (ver vol. 1, p. 160, 161), exatamente seis dias antes da Páscoa, que caiu na sexta-feira (ver Nota Adicional 1 Mateus 26; Mt.26:75). Onde estava Lázaro. Ver com. de Jo.11:1. |
Jo.12:2 | 2. Deram-lhe, pois, ali, uma ceia; Marta servia, sendo Lázaro um dos que estavam com ele à mesa. Deram-Lhe. A ceia foi na casa de Simão (Mt.26:6). Ceia. Do gr. deipnon (ver com. de Lc.14:12). Marta servia. Como parece ter sido típico dela (ver Lc.10:40). |
Jo.12:3 | 3. Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo. Libra. Do gr. litra, equivalente ao latim libra, cerca de 300 g (ver p. 38). A palavra ocorre no NT apenas aqui e em Jo.19:39. Bálsamo de nardo puro. Do gr. murou nardou pistikes. A mesma combinação de palavras é traduzida como “perfume de nardo puro”, em Mc.14:3. “Puro” é a tradução do adjetivo pistikos, contudo nem todos concordam que pistikos signifique “puro” ou “genuíno”. Alguns sugerem que significa “líquido”, outros consideram que pistikos seja o nome de um local (sobre o bálsamo, ver com. de Lc.7:37). Os pés. Mt.26:7 e Mc.14:3 declaram que o bálsamo foi derramado sobre a cabeça. Sem dúvida, Maria fez as duas coisas, sendo que cada evangelista menciona uma delas. Lucas e João mencionam a unção dos pés (Lc.7:38). O perfume. O ato não pôde ser ocultado; o forte aroma que encheu o cômodo chamou a atenção para o ato de Maria. |
Jo.12:4 | 4. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Um dos Seus discípulos. Mateus menciona que “indignaram-se os discípulos” (Mt.26:8). A crítica se originou com Judas, mas se espalhou entre os outros. Traí-Lo. Ver com. de Jo.6:71. |
Jo.12:5 | 5. Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Sem comentário para este versículo. |
Jo.12:6 | 6. Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava. Bolsa. Do gr. glossokomon, literalmente, um receptáculo para os bocais de instrumentos de sopro, mas a palavra veio a ser usada também para descrever um receptáculo para objetos em geral e, mais particularmente, para se guardar dinheiro. Portanto, uma tradução adequada seria “cofre”. A palavra ocorre na LXX, em 2Cr.24:8. Tirava. Do gr. bastazo, que geralmente significa “carregar” (Lc.7:14; Lc.22:10) e também “pegar” (Jo.10:31). Aqui o significado é “surrupiar”, “furtar”, uma definição claramente atestada nos papiros. |
Jo.12:7 | 7. Jesus, entretanto, disse: Deixa-a! Que ela guarde isto para o dia em que me embalsamarem Guardou isto (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a variante “que ela guarde isto”, como na ABA. Contudo, o significado exato da frase grega assim traduzida é incerto. Parece improvável que Jesus Se refira à preservação de uma parte do conteúdo para que fosse usado na ocasião de Seu sepultamento. Em vez disso, Ele está fazendo alusão ao motivo que levou à compra do bálsamo (ver Mt.26:12; Mc.14:8Mt.26:12; cf. DTN, 559, 560). |
Jo.12:8 | 8. porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes. Sem comentário para este versículo. |
Jo.12:9 | 9. Soube numerosa multidão dos judeus que Jesus estava ali, e lá foram não só por causa dele, mas também para verem Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Soube. [O plano para tirar a vida de Lázaro, Jo.12:9-11]. Ou, “descobriu”. Numerosa multidão. De maneira geral, significa o povo comum. A expressão ocorre no v. Jo.12:12. Para verem Lázaro. Uma razão suficiente. Uma pessoa ressuscitada atrairia grandes multidões. |
Jo.12:10 | 10. Mas os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro Mas os principais sacerdotes. Ver gráfico, p. 230. Junto com o plano para matar Jesus (Mt.26:1-5; Mt.26:14-16; Mc.14:1-2; Mc.14:10-11; Lc.22:1-6), os principais sacerdotes tramaram também a morte de Lázaro. Não podiam apresentar uma acusação formal contra Lázaro. Contudo, pelo fato de a vida dele ser um testemunho da divindade dAquele que haviam condenado à morte e uma negação da doutrina que muitos deles defendiam (ver com. de Jo.11:47), julgaram necessário matá-lo também. |
Jo.12:11 | 11. porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus. Voltavam. Ou, “começaram a se afastar”. Isto é, afastavam-se do judaísmo e se uniam às fileiras dos discípulos de Jesus (cf. NTLH, NVI, BJ). |
Jo.12:12 | 12. No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, No dia seguinte. [A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, Jo.12:12-19 = Mt.21:1-11 = Mc.11:1-11 = Lc.19:28-40. Comentário principal: Mt. Ver mapa, p. 221; gráfico, p. 230]. O dia seguinte seria o domingo após a ceia (ver com. do v. Jo.12:1). Numerosa multidão. Ver com. do v. Jo.12:9. Embora provavelmente seja exagerada a declaração de Josefo de que em determinada Páscoa mais de 2,5 milhões de pessoas se reuniram em Jerusalém (Guerra dos Judeus, vi.9.3), ela indica, contudo, que grandes multidões deviam se reunir ali durante esse período. |
Jo.12:13 | 13. tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel! Ramos de palmeiras. São mencionadas palmas em 1 Macabeus 13:51 (BJ) em conexão com a entrada triunfal do sumo sacerdote Simão na torre de Jerusalém. As palmas nas mãos da grande multidão de Ap.7:9 são um símbolo de triunfo (ver GC, 665). Clamando. Ou, “clamando continuamente”. Rei de Israel. A primeira parte da frase deve ser uma citação do Sl.118:25-26, e a última parte, “que é Rei de Israel”, é uma alusão a Zc.9:9 (sobre o Messias e as expectativas judaicas, ver com. de Lc.4:19; Jo.18:37; Jo.19:19). As aclamações eufóricas das multidões são relatadas de várias maneiras pelos evangelhos. Sem dúvida, foram usadas diversas frases. |
Jo.12:14 | 14. E Jesus, tendo conseguido um jumentinho, montou-o, segundo está escrito: Um jumentinho. João omite os detalhes quanto a como o jumentinho foi obtido (ver Mc.11:1-7). |
Jo.12:15 | 15. Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí vem, montado em um filho de jumenta. Não temas. Esta frase não está no texto hebraico nem na LXX em Zc.9:9, mas talvez seja de Is.40:9. |
Jo.12:16 | 16. Seus discípulos a princípio não compreenderam isto; quando, porém, Jesus foi glorificado, então, eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele e também de que isso lhe fizeram. Não compreenderam. Os discípulos não compreenderam o propósito nem a importância do ato de Jesus (ver o com. de Mt.21:5; cf. DTN, 571, 572). Embora Jesus tivesse falado aos discípulos sobre Sua morte iminente (Mt.17:22-23), eles devem ter se esquecido disso na agitação do momento. O ato de Cristo, sem precedentes, de permitir que O declarassem “Rei de Israel” parece ter despertado as esperanças de que Ele fosse, afinal, cumprir as expectativas da multidão, declarando-Se rei e assumindo o papel de um messias político. Após a ressurreição, por meio do estudo das profecias e guiados pela iluminação do Espírito Santo, eles entenderam o propósito do ato. |
Jo.12:17 | 17. Dava, pois, testemunho disto a multidão que estivera com ele, quando chamara a Lázaro do túmulo e o levantara dentre os mortos. Dava, pois, testemunho. Os que foram testemunhas oculares da ressurreição de Lázaro se misturaram com as multidões e deram testemunho. Assim o entusiasmo se espalhou. |
Jo.12:18 | 18. Por causa disso, também, a multidão lhe saiu ao encontro, pois ouviu que ele fizera este sinal. Saiu ao encontro. Havia duas multidões: a que acompanhava Jesus e outra que saía de Jerusalém para encontrá-Lo. |
Jo.12:19 | 19. De sorte que os fariseus disseram entre si: Vede que nada aproveitais! Eis aí vai o mundo após ele. Nada aproveitais. Do gr. opheleo, com o sentido de realizar alguma coisa (cf. Jo.6:63). O mundo. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a variante “o mundo todo” (cf. NVI). Qualquer uma das duas expressões significa, simplesmente, “todos”. A linguagem é hiperbólica. Ela vem de pessoas frustradas e iradas. Em vez de encontrar um povo disposto a se apoderar de Jesus e entregá-Lo, autoridades veem as multidões rodeando-O com alegres aclamações e saudando-O como rei. Nessas circunstâncias, qualquer tentativa de prender Jesus teria suscitado um tumulto. Os líderes apelaram a Jesus para que fizesse as multidões se calarem, mas sem sucesso (Lc.19:39-40). Tudo que puderam fazer foi observar o desfile e ver seu odiado inimigo entrar em Jerusalém em régio triunfo. Devem ter se sentido como Hamã quando conduzia Mordecai num cavalo real (Et.6:11). Não sabendo qual era, na verdade, o propósito de Jesus, sem dúvida, imaginaram que Ele estivesse para Se proclamar rei, acabar com o poder deles e liderar uma revolta contra Roma. |
Jo.12:20 | 20. Ora, entre os que subiram para adorar durante a festa, havia alguns gregos Entre os que subiram. [Alguns gregos desejam ver Jesus, Jo.12:20-36]. Este incidente provavelmente ocorreu na terça- feira anterior à crucifixão, em conexão com a última visita de Jesus ao templo (ver com. de Mt.23:1; cf. DTN, 621). Para adorar. O fato de esses gregos irem para adorar e não para participar da Páscoa sugere que não eram prosélitos completos. Josefo menciona estrangeiros que iam a Jerusalém para adorar na época da Páscoa (Guerra dos Judeus, vi.9.3). Os semiprosélitos, como os gentios, ficavam restritos ao pátio dos gentios. |
Jo.12:21 | 21. estes, pois, se dirigiram a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e lhe rogaram: Senhor, queremos ver Jesus. Filipe. Ver com. de Mc.3:18. Betsaida. Ver com. de Mt.11:21. Ver. No sentido de ter uma entrevista (como em Lc.8:20; sobre os propósitos da entrevista solicitada, ver DTN, 622). |
Jo.12:22 | 22. Filipe foi dizê-lo a André, e André e Filipe o comunicaram a Jesus. Foi dizê-lo a André. Tanto Filipe quanto André tinham nomes gregos, e sua ascendência helênica pode explicar a parte que tiveram neste incidente. Não se diz por que Filipe consultou André, mas ele deve ter procurado o conselho dele sobre como apresentar o caso dos gregos a Jesus (ver com. de Jo.6:8). Na narrativa da alimentação dos 5 mil (Jo.6:1-14), André reflete uma disposição mais prática do que Filipe, que é ali mostrado como alguém não só cauteloso, mas tardo de coração para crer. |
Jo.12:23 | 23. Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Respondeu-lhes. As palavras expressaram mais uma reação à situação sugerida pela visita dos gregos do que uma resposta direta a eles. É chegada a hora. Jesus havia anunciado que Sua hora ainda não havia chegado (ver Jo.2:4; Jo.7:30; Jo.8:20; ver com. de Jo.2:4). Neste momento, contudo, a hora de Sua morte estava próxima. Faltavam apenas quatro dias para a crucifixão, conforme a contagem inclusiva. A visita dos gregos sugeriu a Jesus qual seria o resultado de Sua morte, isto é, a conversão de muitos dentre as nações gentílicas. |
Jo.12:24 | 24. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Morrer. Uma ilustração simples da natureza. Um grão de trigo colocado no solo morre como grão, mas a vida não é destruída. Há na semente um germe de vida que a dissolução da mesma não pode destruir. No crescimento da nova planta, uma semente produz muitas sementes. Contudo, essa multiplicação não ocorre se a semente não for lançada no solo. Assim era com Jesus. Se não tivesse escolhido morrer pela raça culpada, Ele teria permanecido “só”. A raça humana teria perecido e não teria havido colheita para o reino. Por Sua morte, Jesus trouxe vida a todos que fixariam sua fé nEle (ver o argumento de Paulo em 1Co.15:36). |
Jo.12:25 | 25. Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna. Ama a sua vida. Ver com. de Mt.10:39; Mc.8:35; Mc.10:39. A palavra para “vida”, aqui, é psyche (ver com. de. Mt.10:28), geralmente traduzida como “alma” (Mc.8:36-37). Aquele que está determinado a salvar e preservar sua vida física perderá a “alma”, ou vida eterna. O que está disposto a se sacrificar no serviço a Deus, neste mundo, preservará sua “alma” e desfrutará a vida eterna no mundo por vir. Assim, “a lei do sacrifício é a lei da conservação da vida”; “a lei do serviço ao próprio eu, é a lei da destruição de si mesmo” (DTN, 623, 624). Quem está pronto a lançar fora tudo o que é caro nesta vida ou que se interponha em seu crescimento espiritual descobrirá, no final, que não perdeu nada que valha a pena e que ganhou verdadeiras riquezas (ver Fp.3:8-10). O mundo considera a autonegação e o sacrifício próprio como tolice e desperdício, assim como uma criança poderia ver o ato de lançar bons grãos ao solo como uma atitude sem sentido. Mas o mundo futuro revelará que o amante deste mundo, na verdade, é tolo e que o filho de Deus é de fato sábio. A perda e a destruição final da “alma” é descrita em Mt.10:28. Odeia. No sentido de “amar menos” (ver com. de Lc.14:26). |
Jo.12:26 | 26. Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará. Se alguém Me serve. Ver com. de Jo.12:25; Mc.9:35; Mc.10:43-45. Siga-Me. Ver com. de Mt.16:24; Mc.8:34. Onde Eu estou. Quem serve ao Senhor tem o privilégio da comunhão espiritual com Ele nesta vida (Mt.28:20) e desfrutará do companheirismo face a face com Ele no mundo por vir. O Pai o honrará. Com respeito às recompensas do serviço, ver Mc.10:29-30. As condições e recompensas do discipulado são aqui mencionadas, sem dúvida, com referência aos gregos, que consideravam a possibilidade de se tornarem discípulos. |
Jo.12:27 | 27. Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Angustiada. Do gr. tarasso. O mesmo verbo ocorre em Jo.11:33; Jo.13:21, sendo que o sujeito, nessas passagens, é Jesus. Jesus aconselha os discípulos a não se preocuparem (Jo.14:1; Jo.14:27). A causa desta angústia de Jesus é indicada em Sua oração: “Pai, salva-Me desta hora.” A visita dos gregos havia levado à mente dEle a visão da colheita dos gentios. Mas, entre a colheita do evangelho e aquele momento, havia a cruz e a agonia mental e física a ela associadas, e a natureza humana de Jesus recuava diante disso. A causa da repentina agonia mental do Senhor foi uma vívida contemplação das cenas então futuras (cf. com. de Mt.26:38). Minha alma. Expressão idiomática equivalente a “eu” (ver com. de Sl.16:10). Salva-Me. Esta oração é semelhante à que foi feita dias mais tarde no Getsêmani (Mt.26:39). É certo que, se houvesse outro meio de salvar o ser humano, a oração de Jesus teria sido atendida. Mas o infinito sacrifício era necessário para realizar tudo o que o plano da salvação objetivava (ver PP, 68, 69). Em vista disso, Jesus Se sujeitou a levar o plano até a conclusão. |
Jo.12:28 | 28. Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. Pai. Ver com. de Mt.6:9; Jo.11:14. Glorifica o Teu nome. O texto grego coloca ênfase no pronome “teu”. Esta oração está em harmonia com o que Jesus havia ensinado antes acerca do relacionamento com o Pai, cuja glória Ele buscava (ver Jo.7:18; Jo.8:50; sobre nome e caráter, ver com. de Mt.6:9). Então, veio. Anteriormente, no batismo (Mt.3:17) e na transfiguração (Mt.17:5), tinha sido ouvida uma voz do Céu. Glorifiquei. Por meio da vida, do ministério e dos milagres, Jesus glorificou ao Pai (ver Jo.11:4). Ainda O glorificarei. Isto é, em Sua morte e ressurreição. |
Jo.12:29 | 29. A multidão, pois, que ali estava, tendo ouvido a voz, dizia ter havido um trovão. Outros diziam: Foi um anjo que lhe falou. Um trovão. As pessoas ouviram a voz celestial, mas não puderam compreender o significado, da mesma forma que alguns ouviram a voz que falou a Paulo em sua conversão (ver com. de At.23:9). Foi um anjo. Alguns interpretaram o som como uma mensagem divina. Isso sugere que compreenderam o que foi dito. A julgar pela resposta de Jesus, de que a voz era “por vossa causa”, parece que os gregos e, sem dúvida, alguns outros ouviram e compreenderam a voz (ver DTN, 625). Para eles, ela foi uma evidência de que Jesus era de fato o enviado de Deus. |
Jo.12:30 | 30. Então, explicou Jesus: Não foi por mim que veio esta voz, e sim por vossa causa. Por vossa causa. Ver com. do v. Jo.12:29; cf. DTN, 625. |
Jo.12:31 | 31. Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. Chegou o momento. Havia chegado uma hora solene na história do mundo. Jesus estava prestes a morrer pela raça culpada, assegurando assim a salvação do ser humano e tornando certa a derrota do reino de Satanás. Portanto, a expressão “chegou o momento” trazia um grande significado. Ser julgado este mundo. Não que Jesus estivesse para Se assentar como juiz, pois “Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (ver com. de Jo.3:17). Contudo, por meio do relacionamento com o Filho, os seres humanos decidem seu destino eterno (ver com. de Jo.9:39). Recusando-se a aceitar a Jesus como o Messias da profecia e Salvador do mundo, a nação judaica selou seu destino e incorreu em condenação. O seu príncipe. Este título de Satanás se encontra apenas em João (cf. Jo.14:30; Jo.16:11). Outros títulos dele são “deus deste século” (2Co.4:4) e “príncipe da potestade do ar” (Ef.2:2). Ele usurpou a autoridade sobre este mundo (ver com. de Mt.4:8-9). Expulso. Tinha havido uma expulsão anterior, quando Lúcifer caíra de sua exaltada posição (ver PP, 42). A partir deste contexto, sua obra estaria ainda mais restrita. Por sua atitude para com o Filho de Deus, Satanás revelou seu verdadeiro caráter. Daí em diante, “não mais podia esperar os anjos ao virem das cortes celestiais, nem perante eles acusar os irmãos de Cristo” (DTN, 761; ver com. de Ap.12:7-9). |
Jo.12:32 | 32. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Levantado. Isto é, na cruz. O mesmo verbo ocorre em Jo.3:14 (ver com. ali), quando Jesus compara a cruz com o erguimento da serpente no deserto. Em Jo.8:28, Jesus fala sobre ser levantado (na cruz) como algo realizado pelos judeus. Isso mostra que Ele não Se referia à ascensão. Atrairei. Para milhares de pessoas, a cruz exerce uma atração mais forte do que as fascinações do mundo. Depois dos esforços infrutíferos em Atenas, onde havia enfrentado lógica com lógica, Paulo decidiu, em Corinto, “nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co.2:2; cf. AA, 244). Em virtude disso, seus labores foram bem-sucedidos. A atração da cruz não diminuiu em nada com o passar dos séculos. Ela ainda é “o poder e a sabedoria de Deus para atrair almas a Cristo” (T6, 67). Todos. Não somente a família humana foi atraída a Cristo por Seu sacrifício, mas os anjos e os habitantes de outros mundos foram novamente atraídos a Ele pela demonstração do amor sacrificial de Deus (Cl.1:20). |
Jo.12:33 | 33. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer. Que gênero de morte. Ver com. do v. Jo.12:32. |
Jo.12:34 | 34. Replicou-lhe, pois, a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre, e como dizes tu ser necessário que o Filho do Homem seja levantado? Quem é esse Filho do Homem? Lei. Do gr. nomos, aqui usado com relação ao AT em geral, como em Jo.10:34 (ver com. ali). Cristo permanece para sempre. As pessoas que falam neste versículo talvez se referissem a passagens como Sl.89:36; Sl.110:4; Is.9:6; Dn.7:13-14. A literatura apocalíptica dessa época retratava o reino do Messias como sendo eterno. Por exemplo, o livro pseudoepígrafo de Enoque (ver p. 74, 75) declara, com respeito ao Eleito: “Pois a sabedoria é derramada como água, e não falta a glória diante dEle para sempre” (49:1). “E o Senhor dos espíritos permanecerá sobre eles, e com aquele Filho do Homem comerão e se deitarão e se levantarão para todo o sempre” (62:14). Filho do Homem. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Seja levantado. Os inquiridores não podiam conciliar as referências de Jesus a Sua morte com o que eles criam que as Escrituras ensinavam sobre o reino eterno do Messias. Se com o termo “Filho do Homem” Jesus queria dizer o Messias, como os judeus entenderam (ver Enoque 62:14; ver também p. 74, 75), então o que era esta referência à morte? A pergunta mostra que eles entenderam o ser “levantado” como uma alusão à morte. |
Jo.12:35 | 35. Respondeu-lhes Jesus: Ainda por um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; e quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Ainda por um pouco. Jesus não respondeu à pergunta diretamente. Havia coisas mais importantes para eles compreenderem. O tempo estava se esgotando. Jesus, a luz do mundo (Jo.8:12), logo deixaria o mundo. Os últimos raios de luz estavam brilhando. Seis meses antes, Ele havia dito: “Ainda por um pouco de tempo estou convosco” (Jo.7:33). Restavam então poucos dias. Ele apelou às pessoas para que O aceitassem. Elas deviam aproveitar as oportunidades e não gastar tempo com dúvidas menores. Andai. Do gr. peripateo (ver com. de Jo.7:1). Anda nas trevas. Ver com. de Jo.8:12. |
Jo.12:36 | 36. Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Jesus disse estas coisas e, retirando-se, ocultou-se deles. Filhos da luz. Ver com. de Lc.16:8. O crente se torna semelhante Àquele em quem crê. Os que recebem a Jesus se tornam, eles próprios, agentes a partir dos quais a luz irradia para outros (ver com. de Mt.5:14-16). Ocultou-Se. Cf. Jo.8:59. Este foi o último dia de Jesus no templo. Foi também Seu último dia de ministério público. Depois do apelo final aos líderes de Israel, Jesus deixou o templo para sempre (ver com. de Mt.23:38). |
Jo.12:37 | 37. E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, Não creram. [A explicação da incredulidade dos judeus, Jo.12:37-43. Ver mapa, p. 221; sobre os milagres como base para a fé, ver p. 204-206]. |
Jo.12:38 | 38. para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Para se cumprir. O texto grego pode ser traduzido como uma sentença que expressa resultado em vez de propósito, como em Jo.9:3 (ver com. ali; cf. com. de Jo.11:4). A passagem diria, então: “Não creram nEle; como resultado, se cumpriu a palavra do profeta Isaías” (ver com. de Mt.1:22; Jo.12:39). Senhor, quem creu [...]? Uma citação de Is.53:1 a partir da LXX e não do hebraico. Os dois textos são idênticos, exceto pelo título “Senhor”, que não ocorre no hebraico (ver com. de Is.53:1). |
Jo.12:39 | 39. Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Não podiam crer. Ver com. do v. Jo.12:38. A presciência de Deus não impede o livre-arbítrio. A profecia de Isaías era uma predição do que a presciência de Deus havia visto que aconteceria. “As profecias não moldam o caráter dos homens que as cumprem. Os homens procedem de acordo com seu livre-arbítrio” (Ellen White, RH, 13/11/1900; ver com. de Mt.1:22; Jo.3:17-20). |
Jo.12:40 | 40. Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados. Cegou-lhes os olhos. Uma citação de Is.6:10, embora não concorde exatamente com o texto atual hebraico nem com o da LXX. João faz uma citação livre, ou o texto que tinha diante de si era uma variante (ver com. de Is.6:10; Mt.13:15). |
Jo.12:41 | 41. Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito. Quando viu (ARC). Evidências textuais (cf. p. 136) atestam a variante “porque viu” (ARA). De qualquer forma, a referência parece ser à visão de Is.6, em relação à qual foram ditas as palavras de Jo.12:40. |
Jo.12:42 | 42. Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga Dentre as próprias autoridades. Em contraste com a cegueira da nação. Não o confessavam. Ou, “continuavam a não confessá-lo”. Contudo, aqui estava a resposta para a pergunta feita algum tempo antes: “Porventura, creu nEle alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (Jo.7:48). Mais tarde, alguns confessaram crer nEle abertamente, como Nicodemos (Jo.19:39; Jo.3:1) e José de Arimateia (ver com. de Mt.27:57). Expulsos. Ver com. de Jo.9:22. |
Jo.12:43 | 43. porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Amaram mais a glória dos homens. Ver com. de Mt.23:5. A Mishnah diz o seguinte, que mostra o valor dado à honra e ao louvor humanos: “Preza a honra de teu discípulo como a tua própria, e a honra de teu colega como a reverência por teu mestre, e a reverência por teu mestre como o temor ao Céu”. |
Jo.12:44 | 44. E Jesus clamou, dizendo: Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou. Jesus clamou. [O resumo do ensino de Jesus, Jo.12:44-50]. Não se sabe quando Jesus fez deste discurso, em relação ao momento em que Se retirou dali (v. Jo.12:36). Os v. Jo.12:37-50 parecem ser os comentários de João sobre a rejeição do Messias. O ensino desse dia no templo concluiu o ministério público de Cristo. Daí em diante, Ele só falou em particular aos discípulos. Que Me enviou. A frase “que Me enviou” é frequente em João (ver Jo.5:24; Jo.5:30; Jo.5:37; Jo.6:38-40; Jo.6:44). Esta frase enfatiza a completa unidade do Filho com o Pai (ver com. de Jo.3:17; Jo.10:30). |
Jo.12:45 | 45. E quem me vê a mim vê aquele que me enviou. Aquele que Me enviou. Cristo veio para representar o caráter do Pai ao mundo (ver com. de Jo.1:18). Quando Filipe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai”, Jesus declarou: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo.14:8-9). O Pai e o Filho estavam perfeitamente unidos em objetivos, propósitos e no modo de agir (ver com. de Jo.10:30). |
Jo.12:46 | 46. Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Luz. Com respeito a Jesus como a luz, ver com. de Jo.1:4; Jo.8:12. Nas trevas. Ver com. de 1Jo.2:11; Jo.12:35-36. |
Jo.12:47 | 47. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. |
Jo.12:48 | 48. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Quem o julgue. Cf. Jo.5:45. Aqui não é Moisés, mas a palavra de Cristo, que julga. Uma vez que ouviram dEle mesmo a verdade quanto a Sua identidade e missão, os contemporâneos de Jesus não tinham desculpa. Eles não podiam dizer que não conheciam os requisitos para a salvação. Se não tivessem ouvido a verdade, não seriam responsáveis (ver com. de Jo.9:39-41). Assim é com os que ouvem a Palavra de Deus hoje. As pessoas podem ridicularizar e mesmo desprezar a mensagem, mas terão de prestar contas disso no final. |
Jo.12:49 | 49. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. Por Mim mesmo. Ao rejeitarem as palavras de Jesus, os judeus estavam rejeitando a Deus, o Pai, a quem professavam adorar, e Jesus procurou adverti-los a respeito disso. Assim ocorre também quando as pessoas recusam os mensageiros celestiais; não rejeitam os mensageiros, mas Aquele que enviou a mensagem (ver com. de Mt.10:40). |
Jo.12:50 | 50. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo. A vida eterna. Ver com. de Jo.3:16. O mandamento do Pai era que as pessoas deviam crer em Cristo, a quem Ele havia enviado ao mundo. Somente assim poderiam ser salvas (ver At.4:12). Numa declaração paralela, João diz: “Ora, o Seu mandamento é este: que creiamos em o nome de Seu Filho, Jesus Cristo” (1Jo.3:23). Os judeus criam ter a salvação porque se exercitavam no estudo e na observância da Torah. Muitos deles colocavam a esperança da vida eterna no fato de serem descendentes de Abraão. Jesus advertiu que só seriam salvos os que aceitassem a Jesus Cristo como o Filho de Deus, o Salvador do mundo. “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo.17:3). |
Jo.13:1 | 1. Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Antes da Festa. [Jesus lava os pés aos discípulos, Jo.13:1-11 = Lc.22:24-30. Comentário principal: Lc e Jo]. Este incidente ocorreu em conexão com a ceia pascal, na noite de quinta-feira da Semana da Paixão (sobre os aspectos cronológicos desta ceia, ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75). Era chegada a Sua hora. Em ocasiões anteriores, Jesus havia declarado que ainda não era chegada a Sua hora (ver com. de Jo.2:4). Então, a hora crucial chegou. Nessa mesma noite, Ele seria traído e entregue nas mãos dos inimigos e, antes que terminasse o dia judaico, que começava ao pôr do sol, Jesus estaria descansando na tumba de José. Passar deste mundo. Jesus viera de Deus (ver com. de Jo.1:1; Jo.1:14); fora enviado ao mundo (ver com. de Jo.3:17), mas não permaneceria no mundo (Jo.16:7). Após completar a obra na Terra, voltaria para o Pai. João enfatiza isso diversas vezes (ver p. 983, 984). Os Seus. Aqui a referência é aos discípulos, não à nação judaica, como no caso de Jo.1:11. No mundo. Os discípulos de Jesus estavam “no mundo”, mas não eram “do mundo” (Jo.17:11-16). Até ao fim. Do gr. eis telos, também traduzido como “definitivamente” (1Ts.2:16). A expressão ainda pode ser traduzida como “ao extremo”, significado que pode ser aplicado aqui, embora a tradução literal, “até ao fim”, também seja apropriada ao contexto. |
Jo.13:2 | 2. Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus, Acabada a ceia (ARC). As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta variante e “durante a ceia” (ARA). Diante das informações providas pelos evangelhos, chega-se à conclusão de que a versão que consta na ARA está correta. Contudo, o lavar os pés provavelmente ocorreu no início da refeição, em conexão com a Ceia pascal (cf. DTN, 645, 646; ver com. de Lc.22:24). Nem todos os detalhes ocorridos durante a última Ceia são dados pelos evangelhos; portanto, não se pode saber ao certo em que ponto, durante o ritual da Páscoa (ver com. de Mt.26:21), foi introduzida a Ceia do Senhor - isto, se o ritual costumeiro foi minuciosamente seguido por Jesus na ocasião (cf. DTN, 653). |
Jo.13:3 | 3. sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, Tudo. Isto é, que tem a ver com o plano da salvação (Jo.17:2; Hb.2:8; ver com. de Mt.11:27; Jo.3:35). Viera de Deus. Isto é mencionado para ressaltar que, enquanto lavava os pés empoeirados dos discípulos, Jesus estava plenamente consciente de Sua divindade. O ato foi, assim, uma suprema demonstração de humildade. Voltava para Deus. Ver com. do v. Jo.13:1. |
Jo.13:4 | 4. levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Levantou-Se da Ceia. O costume era reclinar-se num divã durante a refeição (ver com. de Mc.2:15). Tirou a vestimenta de cima. Ela poderia dificultar os movimentos (ver com. de Mt.5:40). Cingiu-Se. O propósito destes atos e dos que se seguiram pode ser inferido do relato dado por Lucas quanto à disputa pela supremacia entre os discípulos (ver com. de Lc.22:24). Jesus queria dar um exemplo de serviço humilde e abnegado. Ele esperava que esta demonstração prática impressionasse os discípulos como uma instrução verbal não poderia fazer. |
Jo.13:5 | 5. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Lavar os pés aos discípulos. Segundo um costume judaico, que remonta provavelmente ao tempo de Jesus, o lavar os pés do mestre era dever de um escravo estrangeiro, mas não era esperado de um escravo judeu. Contudo, era um serviço que a esposa devia ao marido, e os filhos, ao pai. Assim, a tarefa era considerada servil. Uma vez que não havia nenhum servo presente por ocasião da última Ceia, um dos discípulos devia ter se encarregado da tarefa, mas nenhum se ofereceu para fazê-la. |
Jo.13:6 | 6. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim? Tu me lavas os pés a mim? A ênfase no grego está nos pronomes “tu” e “meus”, isto é: “Senhor, Tu lavas os meus pés?” Alguns comentaristas sugerem que Pedro pode ter encolhido as pernas quando disse estas palavras. O ato estaria em harmonia com sua natureza impulsiva (Mt.16:22; Jo.13:37; ver com. de Mc.2:15). |
Jo.13:7 | 7. Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois. O que Eu faço. A ênfase no texto grego está nos pronomes “eu” e “tu”: “O que Eu faço tu não o sabes agora”. O pleno significado do ato de Jesus só seria compreendido mais tarde. Nesse ínterim, Pedro foi solicitado a exercer a fé e a se submeter humildemente à vontade do Mestre. |
Jo.13:8 | 8. Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. Nunca me lavarás. A negativa está enfatizada no grego. Esses arroubos enfáticos eram característicos da maneira de Pedro falar (ver com. do v. Jo.13:6). Suas palavras refletem autoconfiança, não submissão. Ele não espera pela compreensão futura que Jesus promete lhe dar. Não tens parte. Só em vista do significado simbólico do ato de Jesus é que Pedro poderia ter parte com Cristo (ver com dos v. Jo.13:12; Jo.13:15). Além disso, o espírito independente e a atitude orgulhosa de Pedro eram inconsistentes com o caráter daqueles que desfrutam companheirismo espiritual com o Senhor nesta vida e que abrigam a esperança de ter o companheirismo eterno com Ele no mundo por vir. |
Jo.13:9 | 9. Então, Pedro lhe pediu: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça. Não somente os pés. Outro dos arroubos impetuosos característicos de Pedro. Compreendendo que, ao recusar, enfrentava a perspectiva da separação do Mestre, Pedro imediatamente se submeteu, mas, como era próprio de seu temperamento, até neste momento procurou dar conselhos ao Mestre; ele ainda não compreendia o significado do ato. |
Jo.13:10 | 10. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. Já se banhou. Do gr. louo, que é usado para o lavar do corpo todo (ver At.9:37; na LXX, Ex.2:5; Ex.29:4; Lv.14:8-9). Quando se lava somente uma parte do corpo, geralmente é empregada a palavra nipto, como ocorre um pouco adiante neste mesmo versículo e em Mt.6:17; Mt.15:2. Jesus devia estar fazendo referência ao costume de banhar-se antes de ir a uma festa. Quando os convidados chegavam, precisavam apenas que os pés fossem lavados. A lição espiritual disto é evidente. Os discípulos haviam recebido purificação espiritual na “fonte aberta para a casa de Davi [...] para remover o pecado e a impureza” (Zc.13:1). Não haviam caído em apostasia, de maneira a precisar de nova purificação por completo. Contudo, sua vida não tinha sido sem pecado. Haviam cedido com frequência às sugestões de Satanás. A lavagem era significativa apenas se representasse a remoção do pecado por sincero arrependimento e confissão. Senão os pés. Evidências textuais (cf. p. 136) apoiam a omissão destas palavras; sendo assim, a passagem diria: “Quem já se banhou não necessita ser lavado.” Todavia, tanto o texto quanto o contexto favorecem a conservação destas palavras. Mas não todos. A referência é a Judas, que nunca havia se submetido completamente a Cristo. |
Jo.13:11 | 11. Pois ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos. Pois Ele sabia. Jesus sabia disso “desde o princípio” (Jo.6:64). Quem era o traidor. Literalmente, “quem era o que O estava traindo”. O texto grego representa a ação como já estando em andamento, o que realmente era o caso (ver com. de Mt.26:14; cf. DTN, 645). |
Jo.13:12 | 12. Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Tomou as vestes. [Uma lição de humildade, Jo.13:12-20]. Ver com. do v. Jo.13:4. Compreendeis [...]? Parte do significado do ato já os havia impressionado. O exemplo de Jesus de serviço abnegado havia humilhado o orgulho deles, mas o pleno significado espiritual do serviço ainda devia ser revelado. |
Jo.13:13 | 13. Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Vós Me chamais. Isto é, “é vosso costume chamar-Me”. Mestre. Do gr. didaskalos (ver com. de Jo.1:38). Senhor. Do gr. kurios, termo usado tanto para seres humanos (Mt.6:24) quanto para a Divindade (Mt.1:22). Em geral, kurios representava apenas um título comum de respeito correspondente a “senhor”. Mais tarde e algumas vezes antes da ascensão de Jesus (ver Jo.20:28), kurios também foi usada em seu sentido mais pleno, atribuindo divindade a Jesus (ver At.10:36; Rm.14:8). A referência aqui aos dois títulos, sem dúvida, ressalta que, embora Jesus tivesse realizado essa tarefa servil, Ele é o Mestre e o Senhor. A tarefa não diminuía Sua dignidade (ver com. de Jo.4:11). |
Jo.13:14 | 14. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Deveis. Do gr. opheilo, “ser obrigado”. Opheilo tem o sentido de “dever dinheiro” (Mt.18:28), “ter a obrigação” (Lc.17:10) e “ser devedor” (Rm.15:27). O exemplo de serviço humilde de Cristo devia ser copiado por Seus seguidores. O serviço exigido deles era um ministério abnegado de amor que colocasse os interesses e as conveniências próprias abaixo das dos outros. |
Jo.13:15 | 15. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. O exemplo. Jesus fazia mais do que dar um exemplo de serviço. Ele estava instituindo uma ordenança para Seus seguidores observarem até o fim do tempo, a qual objetivava levar de maneira vívida à mente as lições da cerimônia original. A ordenança tem um triplo significado: (1) Simboliza a purificação do pecado. O batismo simboliza a primeira purificação experimentada pelo crente. A purificação das contaminações que se acumulam posteriormente é simbolizada pelo lava-pés. Como no caso do batismo, o rito não tem nenhum significado a menos que o participante, pelo arrependimento e pela conversão, tenha renunciado ao pecado em sua vida. Não há nenhum mérito em si no ato do lava-pés. Só quando há um adequado preparo preliminar é que a cerimônia passa a ter significado. (2) Simboliza uma renovada consagração ao serviço. O que participa e se inclina para lavar os pés de seus irmãos indica, desta forma, que está disposto a se empenhar no serviço do Mestre, não importa quão humilde seja esse serviço. (3) Tipifica o espírito do companheirismo cristão. A ordenança é, assim, um serviço preparatório adequado para a participação na Ceia do Senhor (ver DTN, 642-651). |
Jo.13:16 | 16. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Servo. Ou, “escravo”. Não é maior. Se uma tarefa servil não rebaixou a dignidade do Mestre, certamente o servo não deve pensar que rebaixa a sua (cf. com. de Lc.6:40; Mt.10:24; Lc.22:27). |
Jo.13:17 | 17. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. Se sabeis. O conhecimento do dever coloca sobre a pessoa a responsabilidade do cumprimento do mesmo. Ninguém é responsável por aquilo que não sabe, contanto, é claro, que essa ignorância não seja voluntária (ver Jo.9:41; Jo.15:22; Rm.5:13; Tg.4:17. Bem-aventurados. Do gr. makarioi (ver com. de Mt.5:3). Se as praticardes. O fazer não deve ser divorciado do professar (ver Mt.7:21; Lc.6:46; Lc.12:47; Rm.2:13; Tg.1:25). |
Jo.13:18 | 18. Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar. Não falo a respeito de todos. As palavras de bem-aventurança (v. Jo.13:17) não se aplicam a todo o grupo, Judas, o traidor, é excluído. Eu conheço. Jesus conhecia o caráter de cada um dos discípulos e, desde o princípio, sabia que Judas O trairía (ver Jo.6:64; sobre as razões de ele ter tido um lugar entre os doze, ver com. de Mc.3:19). Escolhi. Ver Jo.6:70. Que se cumpra. A profecia não havia decretado que Judas devia trair o Senhor. A presciência divina previra o que aconteceria (ver com. de Jo.12:39). Aquele que come. Uma citação do Sl.41:9 (ver com. ali). |
Jo.13:19 | 19. Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU. Antes que aconteça. Se Jesus não tivesse dito de antemão aos discípulos que Judas desertaria, eles poderiam ter concluído que Ele cometera um erro de julgamento ao permitir que Judas fosse um dos doze. A escolha de Judas tinha sido uma ideia, não de Jesus, mas dos próprios discípulos (ver com. de Mc.3:19). O cumprimento da profecia é o carimbo de autenticação colocado sobre aquele que pronunciou a predição. Eu sou. Ver Jo.8:24. |
Jo.13:20 | 20. Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou. A Mim Me recebe. Ver Mt.10:40. |
Jo.13:21 | 21. Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá. Angustiou-Se. [O traidor é indicado, Jo.13:21-30 = Mt.26:20-25 = Mc.14:17-21 = Lc.22:21-23. Comentário principal: Mt e Jo]. Ver com. de Jo.12:27. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Trairá. O anúncio é mais específico do que nos v. Jo.13:18-19 (cf. Mt.26:21; Mc.14:18). |
Jo.13:22 | 22. Então, os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia. Sem saber. Do gr. aporeo, “estar em estado de incerteza”, “estar perplexo” (ver 2Co.4:8). Os discípulos estavam perplexos porque não conseguiam entender como alguém do grupo poderia trair a Jesus. |
Jo.13:23 | 23. Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava Aconchegado a Jesus. O costume era de se reclinar nos banquetes (ver com. de Mc.2:15). Os convidados se reclinavam sobre o braço esquerdo em divãs especialmente projetados para tais ocasiões. O fato de João recostar a cabeça no peito de Jesus mostra que sua posição era à direita de Jesus. A famosa obra-prima de Leonardo da Vinci, a Última Ceia, não representa corretamente a maneira em que os convidados se reclinavam à mesa. Aquele a quem Ele amava. A descrição favorita de João sobre si mesmo (ver Jo.19:26; Jo.20:2; Jo.21:7; Jo.21:20). Em Jo.20:2, a palavra para “amava” é phileo, enquanto em outras passagens é usado o verbo agapao (ver com. de Jo.11:5). |
Jo.13:24 | 24. a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere. Fez [...] sinal. Alguns têm sugerido que Pedro ocupava a posição à esquerda de Jesus. Contudo, se assim fosse, teria sido difícil ele fazer sinal para João. É mais plausível o ponto de vista de que Judas ocupava esta posição de importância (cf. DTN, 644). |
Jo.13:25 | 25. Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é? Sem comentário para este versículo. |
Jo.13:26 | 26. Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Bocado (ARC). Do gr. psomion, “um pedaço”, “um bocado”, talvez de pão, embora alguns sugiram que aqui possa se referir a ervas amargas, uma porção das quais, segundo o ritual da Páscoa, devia ser mergulhada no molho doce, ou charoseth (ver com. de Mt.26:21; Mt.26:23). Filho de Simão. Ver com. de Jo.6:71. Iscariotes. Ver com. de Mc.3:19. |
Jo.13:27 | 27. E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa. Entrou nele. Isto é, tomou posse completa dele. Até então ainda havia oportunidade de Judas se arrepender, mas, neste momento, ele transpôs a linha divisória. Satanás. O nome ocorre apenas aqui em João. Em outras passagens, o apóstolo chama Satanás de o “diabo” (Jo.8:44; Jo.13:2; sobre o significado do nome “Satanás”, ver com. de Jó.1:6; Zc.3:1; Mt.4:1). Faze-o depressa. Se Jesus, o verdadeiro Cordeiro pascal, devia ser morto no dia em que os cordeiros pascais eram regularmente mortos (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75), não restava muito tempo para que Judas cometesse o ato desprezível. |
Jo.13:28 | 28. Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto. Percebeu. Ou, “tinha ficado sabendo”. A discussão tinha sido a respeito da traição, mas não era necessário associar a declaração de Jesus acerca de Judas (v. Jo.13:27) com a traição. Contudo, Judas mesmo entendeu o que Jesus queria dizer. |
Jo.13:29 | 29. Pois, como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse alguma coisa aos pobres. Bolsa. Do gr. glossokomon, “cofre” (ver com. de Jo.12:6). Judas era o tesoureiro do grupo. Para a festa. Os discípulos já haviam feito as provisões para a Ceia pascal, mas a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos ainda estavam à frente. Os que procuram estabelecer o dia regular da Páscoa argumentam que teria sido impossível que Judas comprasse provisões num dia festivo. Este argumento é inválido. Os judeus permitiam compras de alimento nesse dia, contanto que as transações não fossem feitas da maneira usual. Isso fica claro na Mishnah: “Não se pode amolar uma faca em dia de festa, mas pode-se passá-la sobre outra faca [para afiá-la]. Não se pode dizer a um açougueiro: 'Pese-me o valor de um denário de carne’, mas ele abate [o animal] e o reparte entre eles. Um homem pode dizer [durante uma festa] para seu vizinho: 'Encha-me esta vasilha’, mas não pode dizer a medida. Rabbi Judah ben Bathira diz: Se fosse uma vasilha de medir, ele não poderia enchê-la. Diz-se a respeito de Abba Saul ben Batnith que ele costuma encher suas medidas na véspera de uma festa e dá-las a seus fregueses durante a festa. Abba Saul diz: Ele costumava fazer isso durante os dias intermediários da festa também, por causa da clareza da medida; mas os Sábios dizem: Ele costumava fazer isso num dia comum para favorecer o esvaziamento gradual das medidas. Um homem pode ir ao dono de uma loja de onde é cliente regular e dizer a ele: ‘Dê-me [tantos] ovos e castanhas, e declarar o número; pois esta é a maneira de alguém contar esses artigos em sua própria casa”. Aos pobres. A ocasião era apropriada para doações aos pobres, que, de outra forma, não conseguiriam providenciar os cordeiros pascais usados na festa. |
Jo.13:30 | 30. Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite. Saiu logo. Judas entendeu o significado da declaração de Jesus (ver DTN, 654). Ele sabia que o Mestre lia seus propósitos. A decisão de não se entregar fez com que ele transpusesse o limite da oportunidade pessoal de salvação (ver com. do v. Jo.13:27). A traição resultou de sua própria decisão (ver com. de Jo.3:18-19). Era noite. Literalmente era noite (ver 1Co.11:23), pois a Ceia pascal era comida após o pôr do sol. Segundo a Mishnah, a oferta da Páscoa precisava ser comida apenas durante aquela noite e antes da meia-noite. No entanto, João devia pretender expressar mais do que isso. Era noite espiritual para Judas, que saiu da presença da “Luz do mundo” (Jo.8:12) para ser possuído e guiado pelo príncipe das trevas (cf. Lc.22:53; ver Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45). |
Jo.13:31 | 31. Quando ele saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele Filho do Homem. [O novo mandamento, Jo.13:31-35]. Ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10. Glorificado. A saída de Judas foi o sinal de que a traição e a morte do Filho de Deus estavam às portas. Jesus seria glorificado nos eventos que se seguiriam (ver Jo.7:39; Jo.12:16; Jo.12:23-24). O discurso de Jo.13:31-14:31 foi feito no cenáculo antes da saída para o monte das Oliveiras (ver Jo.14:31; cf. DTN, 672, 673). Deus foi glorificado. O Pai e o Filho estavam trabalhando em íntima harmonia para a salvação do mundo (ver com. de Jo.10:30). A glória de um era a glória do outro. |
Jo.13:32 | 32. se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente. Sem comentário para este versículo. |
Jo.13:33 | 33. Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; buscar-me-eis, e o que eu disse aos judeus também agora vos digo a vós outros: para onde eu vou, vós não podeis ir. Filhinhos. Do gr. teknia. Este termo carinhoso ocorre apenas aqui no evangelho de João, mas é frequente em 1 João (1Jo.2:1; 1Jo.2:12; 1Jo.2:28; 1Jo.3:7; 1Jo.3:18; 1Jo.4:4; 1Jo.5:21). Uma expressão semelhante (“meus filhos”) era comum na boca dos mestres judaicos quando se dirigiam a seus alunos. Ainda por um pouco. Cf. Jo.7:33. Disse aos judeus. Ver Jo.8:21. Não podeis ir. Ver com. de Jo.8:22. |
Jo.13:34 | 34. Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Novo mandamento. O mandamento para amar não era novo em si. Ele pertencia às instruções dadas pelo Senhor por meio de Moisés (Lv.19:18). A injunção se encontra também na Mishnah: “Sê tu dos discípulos de Arão, amando a paz e buscando-a, [sê tu] alguém que ama o próximo e o leva à Torah”. O mandamento era novo no sentido de uma nova demonstração de amor que os discípulos deviam imitar. Por esta revelação do caráter do Pai, Jesus tinha apresentado um novo conceito do amor de Deus. O novo mandamento ordenava preservar a mesma relação uns com os outros que Jesus havia cultivado com eles e com a humanidade em geral. Onde o antigo ordenava amar ao próximo como a si mesmo, o novo instava a amar como Jesus amou. O novo era, de fato, mais difícil que o antigo, mas era provida graça livremente para que fosse cumprido. Ameis. Do gr. agapao; ver com. de Mt.5:43-44. O mandamento diz, literalmente, “que continueis amando”. |
Jo.13:35 | 35. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros. Nisto. Seguidores de grandes mestres refletem as características de seus mestres. O amor era um dos principais atributos de Jesus. A vida de Jesus tinha sido uma demonstração prática do amor. Uma manifestação desse mesmo tipo de amor por parte dos discípulos evidenciaria o relacionamento e a íntima associação deles com o Mestre. É o amor, e não a profissão de fé, que distingue o cristão. Tiverdes amor. Literalmente, “continuardes a ter amor”. As evidências do discipulado são constantes manifestações de amor, em vez de arroubos isolados de caridade. Paulo define esse amor em 1Co.13. |
Jo.13:36 | 36. Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Respondeu Jesus: Para onde vou, não me podes seguir agora; mais tarde, porém, me seguirás. Para onde vais? [Pedro é avisado, Jo.13:36-38 = Mt.26:31-35 = Mc.14:27-31 = Lc.22:31-34]. Pedro passa por alto o comentário sobre o novo mandamento. Talvez as exigências do mandamento fossem rígidas demais para a experiência naquele momento. Ele estava, contudo, interessado na referência de Jesus a uma partida, cuja natureza ele entendeu mal (ver v. Jo.13:37), como os fariseus o fizeram anteriormente (Jo.7:35; Jo.8:22). Mais tarde, porém, Me seguirás. A passagem pode ter uma dupla aplicação: (1) Pedro seguiria a Jesus na morte. Isso o discípulo não estava preparado para fazer neste momento, como os fatos posteriores o indicaram (Mt.26:56; Mt.26:69-75). Contudo, mais tarde, ele foi crucificado por causa de sua fé (ver Jo.21:18-19; cf. AA, 537, 538). (2) Pedro seguiria Jesus na ascensão. Nesse caso, ele teria de esperar até a volta do Senhor no fim dos séculos (Jo.14:1-3). Pode ser que houvesse uma ambiguidade proposital na declaração. |
Jo.13:37 | 37. Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida. Por que não posso [...]? A impaciência era característica de Pedro (ver com. de Mc.3:16). Sua lealdade impulsiva era sincera na ocasião em que ele falou, mas se demonstrou demasiado volúvel quando posta à prova. Pedro bem podia ter ponderado as parábolas do homem que constrói uma torre e do rei que vai para a guerra (ver com. de Lc.14:27-33). Darei a própria vida. Cerca de 35 anos mais tarde, na cidade de Roma, Pedro de fato deu a vida pelo Mestre. Por seu próprio pedido, ele foi crucificado de cabeça para baixo (ver AA, 537, 538; ver com. de Mt.26:35). |
Jo.13:38 | 38. Respondeu Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo antes que me negues três vezes. |
Jo.14:1 | 1. Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Não se turbe o vosso coração. [Jesus conforta os discípulos, Jo.14:1-15]. Ou, “parai de deixar que vosso coração se turbe”. Os discípulos estavam perturbados porque Jesus tinha anunciado que os deixaria (Jo.13:33). Ele então passa a dizer-lhes que Sua ausência seria apenas temporária e que Sua partida seria para benefício deles. O cap. 14 dá sequência ao diálogo iniciado em Jo.13:31 (ver com. ali). Credes. Do gr. pisteuete, que pode ser traduzido como “credes” (indicativo) ou “crede” (imperativo), como na frase seguinte, pois no grego as duas formas são idênticas no tempo empregado aqui. Portanto, o contexto é que deve determinar o modo. Isso permite várias combinações: (1) ambos os verbos no imperativo: “crede em Deus, crede também em Mim”; (2) ambos no indicativo: “vós credes em Deus e credes também em Mim”; (3) o primeiro verbo no indicativo e o segundo no imperativo, como na ARA; (4) o primeiro no imperativo e o segundo no indicativo: “crede em Deus, e vós credes em Mim”. Essa última é uma combinação estranha e é a menos provável, mas as demais são coerentes com o contexto. Quando o primeiro elemento é considerado como imperativo, a admoestação está em harmonia com a instrução dada anteriormente: “Tende fé em Deus” (Mc.11:22). O discurso de João 14 foi feito no cenáculo antes da saída para o monte das Oliveiras e para o Getsêmani (ver com. de Jo.13:31). |
Jo.14:2 | 2. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. Na casa de Meu Pai. Uma bela representação do Céu. A palavra para “casa” (gr. oikia) também pode ser traduzida como “lar”, e o mesmo ocorre com a forma masculina oikos (Mc.5:19; Lc.15:6; 1Co.11:34; 1Co.14:35). Jesus estava voltando para o lar; e, por fim, os discípulos poderiam se juntar a Ele ali. Moradas. Do gr. monai (singular mone), literalmente, “lugares de habitação”. Na literatura grega não bíblica, a palavra, às vezes, tem o significado de lugares temporários de parada. Deste conceito, Orígenes extraiu sua falsa noção de que as moradas eram lugares de parada na viagem da alma até Deus. No entanto, esse não é o significado bíblico de monai. Isso fica claro no v. Jo.14:23, a única outra ocorrência da palavra na Bíblia. Certamente a morada de Cristo e do Pai com o cristão não é algo temporário. A ideia de permanência implícita em mone é refletida em 1 Macabeus 7:38, a única ocorrência da palavra na LXX. A palavra “mansões”, usada em algumas versões, vem do latim mansio, que tem o significado quase equivalente ao gr. mone. Mansio, como mone, significa “um lugar para se ficar”, “um lugar de habitação”. A ideia de um edifício grande ou pomposo não está associada à palavra latina nem à grega. Essa ideia foi uma posterior expansão no português de significado da palavra, e que não deve ser atribuído ao versículo em questão. Deve-se entender a palavra “mansão” em seu sentido arcaico de “morada”, “habitação”, ou um desses significados deve ser usado na tradução do versículo em lugar de “mansão” (como ocorre em nossas versões atuais). O fato de haver “muitas” moradas torna certo que há espaço suficiente na casa do Pai para todos os que atenderem a Seu convite. Vou. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) a inserção, antes de “vou”, da conjunção gr. hoti (como na ARA), que significa “pois”, “que” ou “porque”. Se essa conjunção for omitida, há uma parada completa após a frase precedente, como na ACF e NVI. Se é incluída, há dúvida acerca de como a frase que ela introduz se ligaria à precedente. Várias traduções são possíveis: (1) “Se não fosse assim, Eu vos teria dito que vou preparar-vos lugar.” Esta tradução fica excluída porque, segundo o v. Jo.14:3, esse era um dos objetivos da partida de Jesus. (2) “Se não fosse assim, Eu vos teria dito que vou preparar-vos lugar?” Essa tradução resolve a dificuldade da opção 1, mas introduz um novo problema, por não haver registro de Jesus ter dito aos discípulos que iria preparar lugar para eles. É claro que essa declaração pode simplesmente não ter sido registrada na narrativa. (3) “Há muitas moradas (e se não fosse assim eu vo-lo teria dito), pois vou preparar-vos lugar”. Se é feita a opção pelas evidências textuais em favor da inclusão de hoti, a última tradução (que é basicamente a da ARA) parece ser a mais natural. Contudo, o texto é perfeitamente inteligível se a conjunção for omitida. Estas palavras tinham o objetivo de consolar os discípulos. Jesus estava partindo, mas não os esqueceria. Aguardaria ansiosamente a reunião novamente com eles na casa do Pai. Nesse ínterim, Ele Se prepararia para a gloriosa chegada deles ao lar. |
Jo.14:3 | 3. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. Se Eu for (ARC). Esta frase condicional não tinha o objetivo de introduzir uma incerteza. O termo traduzido como “se” (ean) tem força temporal e provavelmente devia ser traduzido por “quando” (como na ARA nesta passagem, e como em 1Jo.3:2). Voltarei. O grego expressa esta promessa no tempo presente. Este chamado presente futurístico dá ênfase à certeza do evento. O fato é considerado tão certo como se já estivesse ocorrendo. A referência é ao advento pessoal de Jesus, descrito dias antes em resposta ao pedido: “Dize-nos [...] que sinal haverá da Tua vinda e da consumação do século” (ver com. de Mt.24:1-3; ver v. Mt.24:30-31). Receberei. Do gr. paralambano, literalmente, “receber ao lado de” (ver com. de Mt.24:40). Onde Eu estou. Os discípulos foram dirigidos ao tempo do segundo advento como sendo o momento em que se reuniriam novamente com o Senhor. Não há alusão aqui à doutrina popular de que os crentes vão para junto do Senhor no momento da morte, noção sem apoio nas Escrituras. Paulo também dirigiu a atenção dos crentes para o tempo do segundo advento como sendo o momento do grande reencontro (1Ts.4:16-17). Jesus foi para a casa do Pai. Ele espera e deseja ansiosamente manifestar-Se em Sua igreja. Quando Sua imagem for perfeitamente reproduzida em Seu povo, então Ele virá (PJ, 69). É nosso privilégio apressar o dia da gloriosa ida para o lar (2Pe.3:12; cf. DTN, 633, 632; PJ, 69). |
Jo.14:4 | 4. E vós sabeis o caminho para onde eu vou. E conheceis o caminho (ARC). Evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta variante e a da ARA: “E vós sabeis o caminho para onde Eu vou.” Contudo, esta última variante envolve uma dificuldade gramatical no grego. Portanto, o texto da ARC deve ser preferido. Jesus havia deixado claro o caminho para a casa do Pai, mas a lentidão dos discípulos em compreender os impedia de apreender o significado de Suas palavras. Para onde Eu vou. Isto já havia sido dito aos discípulos, e eles deviam ter compreendido o assunto. Tinham estado sob as instruções do Salvador por mais de três anos (ver p. 181). Na verdade, Jesus acabara de dizer a eles que estava indo para o Pai (v. Jo.14:2), embora já os tivesse informado disso (ver Jo.7:33). No entanto, as opiniões preconcebidas tornaram difícil que os discípulos captassem o significado das instruções de Jesus. |
Jo.14:5 | 5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? Tomé. Sobre o caráter de Tomé, ver com. de Mc.3:18. Nesta pergunta, ele revela um espírito duvidoso e que era tardo de coração para crer. Não sabemos. Deviam saber, pois isso lhes havia sido dito claramente (ver com. do v. Jo.14:4). Era difícil para eles se desvencilharem do conceito judaico do reino messiânico (ver com. de Mt.16:22; Lc.4:19). |
Jo.14:6 | 6. Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Eu sou o caminho. Outra das famosas frases de Jesus que utilizam a expressão “Eu sou” (ver com. de Jo.6:35; Jo.8:12; Jo.10:7; Jo.10:11; Jo.11:25; sobre o uso da expressão “Eu sou” sem o objeto “ele”, ver com. de Jo.8:24). Cristo é o caminho da Terra ao Céu. Com Sua humanidade, Ele toca a Terra e com a divindade toca o Céu. Ele é a escada que liga a Terra ao Céu (Jo.1:51; cf. PP, 184). Por causa de Sua encarnação e morte, um “novo e vivo caminho” foi consagrado para nós (Hb.10:20). Não há outro meio de salvação (At.4:12; 1Tm.2:5). Verdade. Ver com. de Jo.8:32. |
Jo.14:7 | 7. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. Se vós Me tivésseis conhecido. Cf. Jo.8:19. A construção no texto grego mostra que a condição aqui expressa é contrária ao fato. Os discípulos não haviam conhecido a Cristo; do contrário, conheceriam Aquele que Ele viera revelar (ver com. de Jo.1:18). Desde agora. A morte de Cristo seria um importante passo na revelação do Pai. As manifestações subsequentes do Espírito desvendariam ainda mais o caráter divino (Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:13-14;). Mais tarde, João escreveu a respeito dos cristãos: “conheceis o Pai” (1Jo.2:14). |
Jo.14:8 | 8. Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Filipe. Com respeito ao caráter de Filipe, ver com. de Mc.3:18. Mostra-nos o Pai. Talvez Filipe esperasse uma revelação da glória divina como a que foi dada a Moisés (Ex.33:18-23). |
Jo.14:9 | 9. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Há tanto tempo. Era desapontador para Jesus que os discípulos fossem tão lentos para compreender, mas Ele lidou pacientemente com a ignorância deles. Vê o Pai. Cristo revelou o caráter de Deus ao universo (ver com. de Jo.1:18). |
Jo.14:10 | 10. Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. No Pai. Jesus já havia enfatizado Sua unidade com o Pai (ver com. de Jo.10:30). As palavras. Tanto as palavras como as obras de Jesus davam testemunho de Sua divindade. Os discípulos deviam ter crido nas palavras de Jesus. Se isso era difícil para eles, deviam ter aceitado Sua palavra com base em Suas obras. |
Jo.14:11 | 11. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. Crede-Me. O verbo grego é plural, mostrando que Jesus então Se dirigia a todos os discípulos. Por causa das mesmas obras. Ver com. do v. Jo.14:10. |
Jo.14:12 | 12. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Outras maiores. Isto é, maiores em quantidade, não em qualidade. A atividade de Cristo esteve limitada a uma área relativamente pequena (do mundo). Após Sua ascensão, o evangelho se espalharia por todo o globo. Porque Eu vou. Após Sua partida, Cristo enviaria o Espírito Santo (v. Jo.14:16; Jo.16:7), que daria poder aos discípulos (Lc.24:49). Como resultado da descida do Espírito, o evangelho seria anunciado com grande poder, de forma que, cerca de 40 anos mais tarde, Paulo pôde dizer que o evangelho fora “pregado a toda criatura debaixo do céu” (Cl.1:23; cf. DTN, 633). |
Jo.14:13 | 13. E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Tudo quanto pedirdes. Enquanto cooperassem com o Céu na proclamação do evangelho, os discípulos podiam ter a certeza de que os ilimitados recursos da Onipotência estariam à sua disposição. Deus supriria todas as necessidades e honraria as petições colocadas diante do trono em nome de Jesus. Em Meu nome. Quanto ao significado de orar em nome de Jesus, ver DTN, 667, 668; cf. Jo.14:26; Jo.15:16; Jo.16:23-24. Isso farei. O fato de que se deve orar ao Pai em nome de Jesus, e de que é Jesus quem dá a resposta, enfatiza a unidade do Filho com o Pai. Em Jo.15:16; Jo.16:23, é dito que o Pai responde às petições apresentadas diante dEle. |
Jo.14:14 | 14. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se pedirdes (ARC). Este texto é uma repetição enfática da promessa do v. Jo.14:13. Contudo, podem ser citadas evidências textuais (cf. p. 136) para a inserção do pronome “me” junto ao verbo “pedirdes”, como na ARA. A versão da ARC sugere que as petições podem ser dirigidas tanto a Jesus quanto ao Pai (ver Jo.15:16; Jo.16:23). Há vários exemplos no NT de orações dirigidas a Jesus (At.7:59; Ap.22:20). Contudo, a expressão “se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome” é estranha, e portanto a variante que inclui o pronome “me” provavelmente deva ser rejeitada. Eu o farei. Aqui, o “eu” é enfático no grego, o que não ocorre no v. Jo.14:13. |
Jo.14:15 | 15. Se me amais, guardareis os meus mandamentos. Se Me amais. O amor é o motivo que impele à obediência (ver com. de Mt.5:43-44; 1Co.13:1). A obediência que procede da compulsão ou do medo não é a forma ideal. Pode haver ocasiões em que o motivo impelente do amor se encontre ausente ou seja frágil. Nessas circunstâncias, é preciso obedecer somente por princípio. Enquanto isso, o amor deve ser cultivado. A falta do requisito do amor nunca deve servir de desculpa para a desobediência. Uma das melhores ilustrações humanas de obediência motivada pelo amor é a dos filhos aos pais. Guardareis os Meus mandamentos. As evidências textuais se dividem (cf. p. 136) entre esta variante e “Se Me amais, guardai os Meus mandamentos” (ACF). Na primeira, o verbo grego está no futuro e também pode ser entendido como um imperativo (como em Mt.22:37; Mt.22:39). Se for assim entendido, há pouca diferença entre as duas variantes. Contudo, o verbo no futuro do indicativo salienta a significativa ideia de que a obediência é resultado natural do amor. A declaração paralela em Jo.14:23 está claramente no modo indicativo e, portanto, apoia essa leitura. Os mandamentos de Jesus eram também os do Pai, pois Jesus não falava de Si mesmo (Jo.12:49; Jo.14:10). Ele endossou os mandamentos morais dados ao antigo Israel (ver com. de Mt.5:17-19) e os magnificou (ver com. de Is.42:21). Ele deu Seus próprios mandamentos, como o novo mandamento (Jo.13:34), não para substituir qualquer dos preceitos morais, que refletiam o caráter do Deus imutável, mas para apresentar seu verdadeiro significado e mostrar como esses princípios devem ser aplicados às várias situações. |
Jo.14:16 | 16. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, Outro. [Jesus promete outro Consolador, Jo.14:16-31]. Do gr. allos, “outro da mesma espécie”. O próprio Jesus era um Consolador (ver 1Jo.2:1, em que “advogado” é a tradução da palavra aqui vertida como “consolador”). Ele deixaria os discípulos (Jo.13:33), mas pediria ao Pai que enviasse alguém semelhante a Ele para estar com os discípulos, não temporariamente, como Ele havia ficado, mas “para sempre”. Consolador. Do gr. parakletos, uma palavra usada no NT apenas por João (aqui; Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:7; 1Jo.2:1). É composta pela preposição para, que significa “ao lado de”, e pelo adjetivo kletos, “chamado”, ou “alguém chamado”. Portanto, o significado literal é “alguém chamado para o lado de”. Contudo, no uso bíblico, a palavra parece refletir um sentido mais ativo como o que se encontra no verbo correspondente parakaleo, “exortar” ou “consolar”; e, portanto, se referiria a “alguém que exorta” (ver Jo.16:8). Os pais latinos traduziram parakletos como advocatus, mas o sentido técnico de “advogado” ou “defensor” se aplica apenas a umas poucas das raras ocorrências da palavra na literatura pré-cristã e não cristã. A palavra “advogado” não é inteiramente apropriada para descrever a obra do Espírito Santo nem a de Cristo. O Pai e o Filho trabalham na mais plena cooperação para a salvação do ser humano (Jo.10:30). A intenção de Satanás é apresentar o Pai como alguém severo, duro e relutante em perdoar o pecador, disposto a perdoar apenas mediante a intercessão do Filho. É verdade que a encarnação, morte e ressurreição de Cristo possibilitaram o perdão, mas tanto o Pai quanto o Filho e o Espírito amam o pecador e trabalham em perfeita harmonia para sua salvação. Não é necessário um advogado no sentido humano do termo para induzir o Pai a ter misericórdia. Aquele que deseja aprender do amor e da compaixão do Pai precisa apenas olhar para o Filho (ver com. de Jo.1:18). Em outras passagens da literatura pré-cristã e não cristã, parakletos conserva o sentido mais geral de “alguém que se levanta em favor de outro”, “um mediador”, “intercessor” ou “ajudador” (ver com. de Mt.5:4). O verbo parakaleo, embora traduzido como “consolar” 23 vezes no NT, é também traduzido como “exortar”, 19 vezes. Chamar o Espírito Santo de “Consolador” é enfatizar apenas um aspecto de Sua obra. Ele é também um “Exortador”. Na verdade, este último significado é uma característica saliente da obra do Espírito conforme delineada por João. Ele “ensinará” e “fará lembrar” (Jo.14:26); dará testemunho de Cristo (Jo.15:26); “convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo.16:8); guiará a toda a verdade e anunciará as coisas que hão de vir (Jo.16:13); glorificará a Cristo e recebera dEle para comunicar aos discípulos (Jo.16:14). Para sempre. Não temporariamente, como Cristo durante Seu ministério terrestre. |
Jo.14:17 | 17. o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Espírito da verdade. Esta expressão ocorre novamente em Jo.15:26; Jo.16:13. A ênfase parece estar no fato de que o Espírito define, comunica e defende a verdade (sobre a definição de verdade, ver com. de Jo.8:32). O Espírito guiaria os discípulos “a toda a verdade” (Jo.16:13). Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de Mt.4:8). Não O vê. O pronome “o” se refere ao Espírito, como está claramente evidente no grego. O mundo não possui percepção espiritual. “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1Co.2:14). Nem O conhece. Se os discípulos em Éfeso, batizados “no batismo de João”, nem haviam ouvido “que existe o Espírito Santo” (At.19:1-3), muito menos o mundo teria qualquer conhecimento a respeito dEle. O mundo não sabia de Sua existência nem reconhecia o chamado ao arrependimento (ver Gn.6:3; Ap.22:7). Vós. O pronome é enfático no grego. Os discípulos são fortemente contrastados com o mundo. Em vós. Isto é, com a igreja. A frase “em vós” enfatiza a habitação do Espírito no coração dos cristãos individualmente. |
Jo.14:18 | 18. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. Órfãos. Do gr. orphanos, “despojado de pais”. A palavra “órfão” vem do latim através desta palavra grega. O termo orphanos é comum na LXX para traduzir o heb. yatom, “sem pais” ou “filhos sem pais” (Ex.22:22; Ex.22:24; Dt.10:18). No NT, orphanos ocorre em apenas mais uma passagem (Tg.1:27). Em Jo.14:18, a ideia é que Jesus não deixaria os discípulos despojados de seu Mestre. Ele voltaria para eles. A referência aqui não é à segunda vinda (v. Jo.14:1-3), mas à presença de Cristo com os discípulos por meio do Espírito. |
Jo.14:19 | 19. Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis. Ainda por um pouco. Cf. Jo.13:33; Jo.16:16-22. Vós, porém, Me vereis. Depois da crucifixão e do sepultamento, o mundo não mais veria a Cristo, mas os discípulos O veriam em Seu corpo ressuscitado. As palavras, sem dúvida, também possuem um significado espiritual. Mesmo após a ascensão os discípulos continuariam a ver Jesus por sua percepção espiritual. Vivereis. Tanto no sentido espiritual quanto no literal (Jo.6:57). |
Jo.14:20 | 20. Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós. Naquele dia. Isto é, no dia em que o “Consolador” viesse para estar com eles (ver v. Jo.14:16). Havia muitas coisas no âmbito espiritual que os discípulos ainda não entendiam e que lhes seriam esclarecidas mais tarde. Eu estou em Meu Pai. Cf. v. Jo.14:11. Vós, em Mim. Ver com. de Jo.15:4. |
Jo.14:21 | 21. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Tem os Meus mandamentos. Isto é, conhecê-los e entendê-los. Mas isto não é suficiente; é necessário também guardá-los. A convicção do dever cristão deve ser seguida pela pronta obediência. E o que Me ama. Esta declaração é a recíproca do v. Jo.14:15. O amor se manifesta na obediência, e a obediência evidencia o amor (cf. 1Jo.2:3-6). Amado por Meu Pai. Cf. Jo.16:27. Em Jo.3:16 enfatiza-se o amor do Pai pelo mundo. Aqui é enfatizado o amor dEle pelos Seus. Onde há uma resposta ao amor divino pode haver uma manifestação maior desse amor. Satanás tinha levado os seres humanos a considerar a Deus como severo e relutante em perdoar. Jesus veio para mudar esse conceito. Ele ensinou que o amor do Pai era como o dEle. E Me manifestarei. É provável que isto seja uma referência primariamente à revelação mais plena de Cristo por meio do Espírito. |
Jo.14:22 | 22. Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo? Disse-Lhe. O discurso no cenáculo foi marcado por frequentes interrupções (ver Jo.13:36; Jo.14:5; Jo.14:8). Judas. Geralmente identificado como Lebeu (Mt.10:3, ARC) ou Tadeu (Mc.3:18), embora não haja certeza dessa identificação (ver com. de Mc.3:18). Não o Iscariotes. Judas Iscariotes tinha deixado o cenáculo algum tempo antes disto (Jo.13:30). Não ao mundo. Sem dúvida, Judas tinha em mente uma manifestação visível de glória como a que se esperava que acompanhasse o advento do Messias. Deve ter sido desapontador para ele que a manifestação devesse ser feita apenas a uns poucos. Ele não entendeu a referência de Cristo ao reino da graça, que devia preceder o da glória. Em comum com seus compatriotas judeus, sem dúvida, ele partilhava da esperança de que o Messias Se manifestaria em juízo contra os gentios e no restabelecimento da teocracia espiritual. |
Jo.14:23 | 23. Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Se alguém Me ama. Jesus não responde diretamente à pergunta de Judas. Ele chama a atenção para as condições mediante as quais a manifestação à qual Ele Se referia (ver com. do v. Jo.14:22) seria feita ao crente individual. Palavra. Aqui o termo é sinônimo de “mandamentos” (ver v. Jo.14:15; Jo.14:21). Viremos. O plural enfatiza a unidade entre Pai e Filho. Eles vêm para habitar simbolicamente o coração do crente. Assim, há uma unidade não só entre o Pai e o Filho, mas entre o Pai, o Filho e o crente (ver TM, 519). Morada. Do gr. mone (ver com. do v. Jo.14:2). |
Jo.14:24 | 24. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou. Não Me ama. O oposto da declaração feita no v. Jo.14:23. O mundo não podia desfrutar o companheirismo aqui mencionado. O Pai e o Filho não forçam Sua companhia a ninguém. Palavras. Aqui o termo é sinônimo de “mandamentos” (cf. com. do v. Jo.14:23). |
Jo.14:25 | 25. Isto vos tenho dito, estando ainda convosco Estando ainda convosco. Isto é, em carne, antes de Sua partida e antes da vinda do “Consolador” (v. Jo.14:16). Jesus estava limitado às informações que podia dar a eles naquele momento (Jo.16:12). |
Jo.14:26 | 26. mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. Consolador. Do gr. parakletos (ver com. do v. Jo.14:16). Espírito Santo. No NT, a expressão “Espírito Santo” ocorre 91 vezes na ARA (93 na ARC). A palavra “Espírito” sem o adjetivo qualificativo é frequente. Esse. O antecedente é “Consolador”, que no grego é masculino e, portanto, requer o pronome no masculino. Ensinará todas as coisas. Uma das principais funções do Espírito Santo é ensinar. Grande parte do trabalho de Jesus consistia em ensinar (ver com. de Lc.4:15). Cinquenta vezes a palavra “Mestre” no NT (ARA) vem do gr. didaskalos, que significa “professor”. Por três anos, os discípulos tinham estado sob as instruções do grande Mestre, mas ainda havia muitas coisas para aprender. Eram ainda incapazes, em sua condição mental, de compreender muitas verdades (Jo.16:12). Eles precisavam de instruções adicionais, e estas o Espírito Santo lhes daria. O Espírito de Deus sabe as “coisas de Deus” e “a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1Co.2:10-11); portanto, é capaz de comunicá-las a pessoas que estejam dispostas a ser instruídas. Fará lembrar. O Espírito Santo não só revelaria novas verdades; também traria à mente verdades que haviam sido esquecidas dentre as coisas que Jesus ensinara, ou das coisas antes reveladas na Palavra da verdade. Em momentos de crise, como quando os discípulos fossem levados aos tribunais, o Espírito traria à mente as ideias apropriadas (Mt.10:19-20). Quando solicitados a dar a razão da esperança que há neles (1Pe.3:15), os cristãos diligentes estudantes da Bíblia podem ter a confiança de que o Espírito Santo lhes trará à mente passagens adequadas à ocasião. |
Jo.14:27 | 27. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Paz. Do gr. eirene, correspondente ao heb. shalom, a saudação comum no Oriente, usada por Jesus em Suas aparições após a ressurreição (Jo.20:19; Jo.20:21; Jo.20:26). Aqui Jesus fala da paz interior da alma, como a que vem a quem é justificado pela fé (Rm.5:1), cujo senso de culpa foi deixado ao pé da cruz e cujas ansiedades sobre o futuro se desvaneceram ante a confiança em Deus (Fp.4:6-7). Essa paz Jesus chama de “Minha paz”. O mundo, com todo o seu conhecimento, não pode conceder essa paz (cf. Jo.16:33). Não se turbe. Cf. v. Jo.14:1. Atemorize. Do gr. deiliao, “ser medroso”, “ser covarde”. |
Jo.14:28 | 28. Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Vou. Ver v. Jo.14:2-3; cf. Jo.7:33. Volto. Ver v. Jo.14:3; Jo.14:18. Se Me amásseis. Os discípulos amavam a Jesus, mas não com a plenitude de amor com que O teriam amado se tivessem compreendido mais plenamente Sua pessoa e missão. Alegrar-vos-íeis. Se os discípulos tivessem compreendido a humilhação de Jesus em Sua encarnação e também Sua exaltação, que viria após a ressurreição, e se tivessem entendido a solidão de Jesus durante Sua separação do Pai, teriam se alegrado com o fato de que Ele estava voltando para o Pai. Além disso, se tivessem compreendido que a partida de Jesus seria para seu próprio benefício (Jo.16:7), e que Sua ascensão e mediação no santuário celestial era um importante passo na execução do plano da salvação, teriam se alegrado ainda mais. Naquele momento, os pensamentos deles pareciam estar concentrados em si mesmos. Estavam temerosos ao pensar em enfrentar os problemas da vida sem a presença corporal de seu Mestre. O Pai é maior do que Eu. Sobre o estado pré-encarnado de Cristo, as Escrituras declaram que Ele “a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp.2:7; Hb.2:9; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Contudo, mesmo durante a encarnação, Jesus declarou que era um com o Pai (Jo.10:30). Qualquer distinção que Jo.14:28 pareça atribuir a Cristo deve ser entendida com referência a Sua encarnação, pois, após a crucifixão, Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu um nome que está acima de todo nome (Fp.2:9). Ele era “igual ao Pai” (T8, 268; ver com. de 1Co.15:27-28). |
Jo.14:29 | 29. Disse-vos agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais. Vós creiais. Jesus sabia que os acontecimentos do futuro imediato lançariam os discípulos em grande perplexidade, e o mesmo ocorreria com as provações que eles enfrentariam posteriormente na evangelização. Portanto, procurou adverti-los para que se preparassem (ver com. de Jo.13:19). |
Jo.14:30 | 30. Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim Aí vem. Uma referência aos eventos que se aproximavam: a aflição no Getsêmani, a prisão, o julgamento, a condenação e a crucifixão do Filho do Homem, nos quais o príncipe deste mundo faria grande esforço para tentar deter o plano da salvação. Jesus, porém, sorveu o cálice até seu amargo fim; e, quando declarou “está consumado” (Jo.19:30), soou o dobre fúnebre para o príncipe das trevas. Satanás não teve nada em Jesus que correspondesse a seus sofismas (ver DTN, 123). Príncipe do mundo. Ver com. de Jo.12:31. |
Jo.14:31 | 31. contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui. Para que o mundo saiba. Há aqui uma elipse, e deviam ser acrescentadas algumas palavras, como: “estas coisas estão ocorrendo para que o mundo saiba”. A ARA acrescenta: “contudo, assim procedo”. A frase que indica propósito pode também ser entendida como indicando resultado (ver com. de Jo.9:3); isto é, como resultado dos eventos que estavam para ocorrer, seria dada ao mundo uma demonstração do amor de Jesus pelo Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui. Depois de Jesus e os discípulos terem “cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras” (Mt.26:30). O hino era parte do Hallel de Páscoa (ver com. de Mt.26:30). Muitos eruditos acham que o discurso de Jo.15-16 e a oração do cap. Jo.17 também foram feitos no cenáculo, mas não há necessidade de supor uma transposição nesses capítulos. As instruções desses capítulos teriam sido dadas de maneira igualmente apropriada (ou talvez ainda mais) em meio às cenas da natureza no caminho para o Getsêmani, especialmente com vinhas florescentes para ilustrar a alegoria da vinha e seus ramos (ver DTN, 674). As encostas do Olivete haviam sido cenário de demoradas instruções apenas duas noites antes (ver com. de Mt.24:1). |
Jo.15:1 | 1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Eu sou. [A videira e os ramos, Jo.15:1-17]. Este “Eu sou” é uma das famosas declarações de Jesus (ver Jo.6:20; Jo.8:12; Jo.10:7; Jo.10:11; Jo.11:25; Jo.14:6; sobre o “Eu sou”, ver com. de Jo.8:24). Verdadeira. Do gr. alethinos, “autêntico”. No AT, Israel já havia sido comparado a uma videira (Sl.80:8-16; Is.5:1-7; Is.27:2-3; Je.2:21; Je.12:10). Uma videira de ouro decorava a entrada do templo de Herodes e imagens das folhas da videira ou de cachos de uvas eram vistas em moedas e na arquitetura. Os judeus dependiam de sua conexão com a videira de Israel para a salvação deles. Mas Israel provou ser indigno de seus privilégios espirituais e rejeitou seu verdadeiro rei, o Messias. Aqui, Jesus Se apresenta como a videira verdadeira. Somente por meio de uma conexão vital com Ele, o ser humano pode ser salvo. Agricultor. Do gr. georgos, “um trabalhador do solo”, aqui, um agricultor (ver o uso de georgos em Lc.20:9; 2Tm.2:6; Tg.5:7). Anteriormente, Deus tomara “uma videira do Egito” (Sl.80:8), plantando-a na terra de Canaã. Então, Ele tomou outra vinha, Seu próprio Filho, e a plantou na terra de Israel (ver DTN, 675). |
Jo.15:2 | 2. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Todo ramo. Os discípulos são representados como os ramos da videira. Assim como os ramos são dependentes de sua ligação com a videira para viver e frutificar, o cristão é dependente da união com Cristo para uma vida espiritual frutífera. Não der fruto. Daquele que professa estar em Cristo espera-se a produção de frutos adequados. Esses frutos também são chamados de “frutos do Espírito” (Cl.5:22; Ef.5:9) ou “frutos de justiça” (Fp.1:11; Hb.12:11), que são evidentes no caráter e na vida. Quando esses “bons frutos” (Tg.3:17) estão ausentes, torna-se necessário cortar o ramo infrutífero. Corta. Do gr. airo, “remover”, “tirar”. Limpa. Do gr. kathairo, “para limpar”, neste caso, por meio da remoção de crescimento inútil. Há um jogo de palavras no grego entre airo (“cortar”) e kathairo (“limpar”) que não pode ser reproduzido em português. O caráter é “purificado” através de testes e provações da vida. O Pai, o lavrador celeste, supervisiona o processo. E, embora pareça dolorosa, a disciplina “produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados” (Hb.12:11). Mais fruto. Não pode haver vida sem crescimento. Enquanto há vida, existe a necessidade de desenvolvimento contínuo. O aperfeiçoamento do caráter é obra da vida inteira (ver PJ, 65, 66; ver com. de Mt.5:48). |
Jo.15:3 | 3. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado Vós já estais limpos. Ver com. de Jo.13:10. Do gr. ede, “já”, “agora”. Pela palavra. Em vez disso, “por conta da palavra”. Os discípulos responderam à palavra de salvação apresentada a eles por Jesus (cf. com. de Jo.12:48). |
Jo.15:4 | 4. permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Permanecei em Mim. A contínua conexão com Cristo é essencial para o crescimento e a fecundidade. A dedicação eventual aos interesses religiosos não é suficiente. Experimentar elevado fervor religioso num dia apenas para cair em um período de negligência no seguinte não promove a força espiritual. Permanecer em Cristo significa que a pessoa deve estar em constante comunhão diária com Ele e viver Sua vida (Gl.2:20). Não é possível a um ramo depender de outro para a vitalidade; cada um deve manter sua relação pessoal com a videira. Cada membro deve produzir seus frutos. |
Jo.15:5 | 5. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Sem Mim. “A inclinação da carne [...] não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm.8:7, ARC). É impossível ao ser humano, por suas próprias forças, escapar do abismo do pecado em que caiu e produzir frutos para a santificação (ver CC, 18). Em qualquer tempo e lugar em que é mantido o princípio de que a humanidade pode se salvar por suas próprias obras, não haverá barreiras contra o pecado (ver DTN, 35, 36). |
Jo.15:6 | 6. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se alguém não permanecer. Esta condição desfaz a ilusão “uma vez salvo pela graça, salvo para sempre”. É possível àqueles que estão em Cristo romperem a conexão com Ele e se perderem (ver com. de Hb.6:4-6). A condição para ser salvo é permanecer em Cristo até o fim. Secará. O cristão representado pelo ramo cortado pode manter uma religião formal, mas lhe falta o poder (2Tm.3:5). Ao passar por provas e aflições, ele revelará a superficialidade de sua fé. Assim como os ramos cortados são finalmente recolhidos e queimados, o cristão que não dá frutos sofrerá o castigo eterno, da mesma forma que o descrente (Mt.10:28; Mt.13:38-40; Mt.25:41; Mt.25:46). Nenhum ato de evidente desobediência é mencionado, apenas o pecado da negligência (comparar com a parábola da ovelha e dos bodes, em Mt.25:31-46). Os que estarão à esquerda do Rei serão excluídos do reino por negligenciar a prática do dever cristão. |
Jo.15:7 | 7. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Se permanecerdes em Mim. A permanência é recíproca, como se expressa no v. Jo.15:4. Enquanto permanece em Cristo, Ele habita no ser humano e este se torna participante da natureza divina (2Pe.1:4). Seus pensamentos se identificam tanto com a vontade divina que apenas pedidos que estejam em harmonia com essa vontade são feitos (ver 1Jo.5:14; DTN, 668). Além disso, nenhum pecado interfere para impedir a resposta favorável. As Minhas palavras permanecerem. Isto mostra que a habitação de (ou permanência em) Cristo não é uma experiência mística ou inexplicável. As pessoas recebem a Cristo pela aceitação de Sua palavra. Enquanto se alimentam da Palavra, essas pessoas têm a mente iluminada por ela (ou, pelo Espírito Santo). E, quando elas escolhem inteligentemente seguir e obedecer a Palavra, pelo poder capacitador do Céu, Cristo, a esperança da glória, transforma-as interiormente (Cl.1:27). Além disso, para essa experiência ser constante, elas precisam se alimentar diariamente da Palavra (ver com. de Jo.6:53). |
Jo.15:8 | 8. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos. Muito fruto. O agricultor é honrado quando suas plantas produzem bem. Da mesma forma, a glória é dada a Deus quando Sua imagem é refletida na vida de Seus seguidores. Satanás alega que as exigências de Deus são severas e que a humanidade não pode atingir o ideal da perfeição cristã. Portanto, o caráter de Deus é vindicado quando o ser humano, pela graça de Deus, se torna participante da natureza divina. Assim vos tornareis Meus discípulos. Refletir a graça divina é uma evidência do discipulado. Sem ligação vital com Cristo, é impossível produzir os frutos da justiça (v. Jo.15:5; Jo.13:35). |
Jo.15:9 | 9. Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Pai Me amou. Comparar com Jo.3:35; Jo.5:20; Jo.10:17; Jo.17:24. Permanecei no Meu amor. Permanecer em Cristo significa estar abrigado em Seu amor. É animador saber que o amor de Cristo por nós é tão permanente quanto o amor do Pai para com o Filho. Mais do que isso, “o próprio Pai vos ama” (Jo.16:27) da mesma forma que ama o Filho (Ellen White, RH, 04/11/1890). |
Jo.15:10 | 10. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Os Meus mandamentos. Ver com. de Jo.14:15. Mandamentos de Meu Pai. Olhando para trás, Jesus podia dizer com total confiança: “Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai.” Ele faz sempre o que agrada o Pai (Jo.8:29). Cristo “não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca” (1Pe.2:22). Sua vida sem pecado provou que é possível ao ser humano, com a ajuda divina, guardar os mandamentos (ver DTN, 24). |
Jo.15:11 | 11. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. Meu gozo. A alegria de Cristo repousava na consciência de uma missão cumprida com fidelidade. O Salvador se alegrava em cumprir o propósito divino na redenção do ser humano, a fim de que a humanidade pudesse ser salva. O objetivo de Sua vida era glorificar o Pai. Vosso gozo. A alegria é o segundo fruto do Espírito alistado por Paulo (Cl.5:22). A verdadeira alegria não está no riso frenético ou no entusiasmo passageiro causados pelos prazeres superficiais do mundo. O cristão encontra alegria em desfrutar o amor de Cristo, nas vitórias conquistadas e no auxílio desinteressado ao próximo. A completa alegria só será alcançada no mundo por vir, mas grande alegria pode ser experimentada aqui e agora por aqueles que permanecem em Cristo. |
Jo.15:12 | 12. O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. O Meu mandamento. Ver com. de Jo.13:34. |
Jo.15:13 | 13. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Maior amor. O “novo mandamento” (Jo.13:34; Jo.15:12) ordenado aos discípulos é amar uns aos outros como Jesus os amou. Jesus veio revelar a extensão desse amor, que O levou a dar a vida por eles. No entanto, Seu amor excedeu aquilo que Ele recomenda: “Enquanto nós ainda éramos pecadores” Ele morreu por nós (cf. Rm.5:6-8). Amigos. Ver com. do v. Jo.15:14. |
Jo.15:14 | 14. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Amigos. Do gr. philoi, singular de philos, relacionado ao verbo phileo, “amar” (ver com. de Jo.5:43-44). Philos significa amado ou querido, ou aquele que é amoroso ou amigável. Na verdadeira amizade, há amor recíproco. Os discípulos mostrariam seu amor mediante obediência humilde (Jo.14:15). |
Jo.15:15 | 15. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. Servos. Do gr. douloi, singular de doulos, frequentemente significa “escravo”, aqui, possivelmente, um servo pessoal ou de confiança (ver com. de Jo.8:34). Espera-se completa obediência de um servo nessa posição, sem levar em conta os planos de seu senhor. Jesus escolheu discípulos que fossem dignos de confiança e lhes revelou muitas coisas. O Espírito Santo os iluminaria ainda mais (Jo.14:26). Jesus estava prestes a deixá-los, e eles teriam que realizar a obra sem Sua presença visível. Uma pesada responsabilidade recaía sobre eles. Ele queria que considerassem seu relacionamento com Ele como o de amigos. Anteriormente, Ele havia sugerido que eles eram servos (Jo.13:16), aqui, Ele afirma que são Seus amigos. |
Jo.15:16 | 16. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Não fostes vós que Me escolhestes a Mim. Os discípulos decidiram ser seguidores de Cristo, mas foi Jesus que, dentre os muitos seguidores, selecionou os doze para serem apóstolos (Lc.6:13; ver com. de Mc.3:14). Todos podem optar por seguir a Cristo, mas é Ele quem escolhe e qualifica seres humanos para exercer funções de responsabilidade e liderança em Sua causa (1Co.12:7-11; 1Co.12:28). Deis fruto. Isto é, sejam bem-sucedido em sua missão. Vosso fruto permaneça. Comparar com Jo.4:36. Tudo quanto pedirdes. Comparar com Jo.14:13. A condição para a oração ser respondida é permanecer em Cristo. Em Meu nome. Ver com. de Jo.14:13. |
Jo.15:17 | 17. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. |
Jo.15:18 | 18. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se o mundo vos odeia. [Advertência de perseguição, Jo.15:18-27]. Eles sofreriam o ódio do mundo, mas entre os crentes deveria haver amor (v. Jo.15:17). Eles seriam capazes de enfrentar o amargo conflito com o mundo, sem temor (Lc.22:24). O mundo odeia aqueles cujos interesses e simpatias estão em desacordo com ele (ver com. de Jo.7:7). Odiou a Mim. Os discípulos enfrentariam a fúria e o ódio do mundo. |
Jo.15:19 | 19. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Se vós fôsseis. A condição não é confortável, de acordo com o sentido do texto grego. Eles tinham sido do mundo, mas atenderam ao apelo de Jesus para sair do mundo. Acerca de Seus irmãos de sangue, filhos de José (ver com. de Jo.12:46), Jesus disse: “não pode o mundo odiar-vos” (Jo.7:7; ver com. de Jo.15:18). Odeia. Os motivos que despertam o ódio do mundo são: “permanecer” em Cristo (v. Jo.15:4), produzir frutos da justiça (v. Jo.15:5) e manifestá-los (v. Jo.15:16). As obras do mundo são reprovadas pela vida justa e pelo testemunho do cristão (Jo.7:7; 1Jo.3:13). Robertson faz a seguinte indagação: “Será que o mundo nos odeia? Se não, por que não? Será que o mundo tem se tornado mais cristão ou os cristãos, mais mundanos?” |
Jo.15:20 | 20. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Lembrai-vos da palavra. Ver Jo.13:16; Mt.10:24; Lc.6:40. Perseguirão a vós. Jesus já tinha avisado isto anteriormente (ver Mt.10:17-23). Ele não queria que os discípulos se desanimassem quando enfrentassem forte perseguição. Quão efetivamente essa lição fora aprendida seria visto mais tarde na coragem com o qual eles enfrentariam espancamento, prisão, tortura e morte (At.5:41; At.16:22-25). Ao enfrentar perseguição (1Co.11:23-28; 2Co.4:8-12), Paulo pôde dizer: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória” (2Co.4:17). Temendo que as aflições oprimissem a igreja nascente em Tessalônica, Paulo escreveu aos fiéis: “a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto” (1Ts.3:3; Fp.1:29; 2Tm.3:12; TB, 127-129). Guardaram a Minha palavra. Apesar da rejeição por parte da maioria, alguns creram na Palavra de Cristo. Assim seria com os discípulos. Alguns receberiam a palavra e seriam salvos. Seu trabalho seria recompensado. |
Jo.15:21 | 21. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Por causa do Meu nome. Ou seja, por Minha causa. “Nome”, muitas vezes, refere-se à pessoa ou ao caráter (ver Mt.10:22; Mt.12:21). Não conhecem Aquele que Me enviou. Eles professavam conhecer e adorar a Deus, mas desconheciam Seu caráter e interpretavam incorretamente Sua palavra (ver Jo.14:7; Jo.16:3; Jo.17:3). |
Jo.15:22 | 22. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Pecado não teriam. Ver com. de Jo.9:41. “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância” (At.17:30). Uma vez que Jesus veio e revelou o caminho da salvação, os judeus não tinham desculpa. Que maior revelação de Si mesmo Deus poderia ter-lhes dado? Pecaram em não aceitar Jesus, “o caminho, e a verdade e a vida” (Jo.14:6). “Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando” (Tg.4:17). No julgamento, as pessoas serão condenadas, não por terem errado, mas por terem “negligenciado as oportunidades enviadas pelo Céu, para conhecer a verdade” (DTN, 490). Desculpa. Do gr. prophasis, que significa “um pretexto”. |
Jo.15:23 | 23. Quem me odeia odeia também a meu Pai. Odeia também a Meu Pai. Comparar com Jo.13:20; Jo.14:7; Jo.14:9-11. |
Jo.15:24 | 24. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Tais obras. No v. Jo.15:22, o apelo estava relacionado às palavras que Jesus dissera. Aqui, o apelo está relacionado a Suas obras. Um e outro eram provas suficientes para fundamentar a fé nEle como Salvador do mundo. Pecado não teriam. Ver com. do v. Jo.15:22. |
Jo.15:25 | 25. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo. Para que se cumpra. O texto grego desta frase pode ser interpretado como a expressão de um resultado em vez de um propósito (ver com. de Jo.9:3; cf. com. de Mt.1:22). Na Sua lei. Ver com. de Jo.10:34. Odiaram-me. Provável referência ao Sl.69:4 (comparar com Sl.35:19). |
Jo.15:26 | 26. Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim Consolador. Ver com. de Jo.14:16. Eu vos enviarei. Em Jo.16:7, Jesus é novamente apresentado como aquele que envia o Espírito, ao passo que, em Jo.14:26 (cf. Jo.15:16), o Pai envia o Espírito. Não há contradição; o Pai e o Filho estão unidos na mesma obra (ver com. de Jo.10:30). |
Jo.15:27 | 27. e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio. Vós também. Ver At.5:32. Desde o princípio. Eles foram qualificados para ser testemunhas (ver At.1:21-22; ver o uso da frase “desde o princípio”, em 1Jo.2:7; 1Jo.2:24; 1Jo.3:11; 2Jo.1:5-6). |
Jo.16:1 | 1. Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. Escandalizeis. [A missão do Consolador, Jo.16:1-24]. Do gr. skandalizo (ver com. de Jo.5:29). Antes Jesus fizera admoestações a respeito da perseguição a fim de evitar o desânimo dos discípulos (ver com. de Jo.15:20). |
Jo.16:2 | 2. Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. Das sinagogas. Ver com. de Jo.9:22. Tributar culto a Deus. Os judeus que perseguiram os apóstolos argumentavam que esses evangelistas eram blasfemos e pretendiam derrubar a religião que Deus havia estabelecido (ver At.6:13-14; At.21:28-31). Um reflexo do fervor dos judeus pela religião e do zelo com que procuravam proteger sua honra é encontrado em um dos preceitos da Mishnah: “Se alguém roubar a Kiswah (bacia de libação do templo), ou amaldiçoar por encantamento, ou conviver com uma mulher pagã [lit., síria], será punido pelos zelotes (zelosos). Se um sacerdote realizar o serviço do templo, enquanto estiver imundo, seus irmãos sacerdotes não o acusarão nesse ponto no Beth Din (grupo de juízes), mas os jovens sacerdotes o tirarão do tribunal do templo e fenderão seu crânio com uma clava. [De] um leigo que realizou o serviço no templo, R. Akiba declarou: Ele será estrangulado; os sábios anunciaram: [Sua morte será] nas mãos do Céu”. A história registra constantes perseguições realizadas em nome da religião. |
Jo.16:3 | 3. Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim. Não conhecem. Comparar com Jo.15:21. |
Jo.16:4 | 4. Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio, porque eu estava convosco. A hora. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem a variante “sua hora”, isto é, a hora desses opressores (ver Lc.22:53). Recordeis. A admoestação fortaleceria os discípulos na hora da perseguição (ver com. de Jo.15:20). Eu estava convosco. Não houve necessidade de dizer isso antes, pois, se a perseguição tivesse vindo, Jesus estaria com eles para incentivá-los. De fato, enquanto Jesus estava na Terra, a perseguição foi dirigida contra Ele; mas, depois de Sua partida, recairia sobre Seus representantes. |
Jo.16:5 | 5. Mas, agora, vou para junto daquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? Vou para junto dAquele que Me enviou. Comparar com Jo.7:33; Jo.13:33; Jo.14:2. Nenhum de vós Me pergunta [...]? Literalmente, “continua a perguntar”. Este versículo não contradiz Jo.13:36; Jo.14:5. Os discípulos haviam feito, anteriormente, perguntas a esse respeito, mas deixaram de fazê-lo. Eles estavam absortos em pensamentos egoístas e não pensavam na alegria do Mestre de voltar para o Pai e completar o plano da Salvação. Era necessário que Ele fosse (Jo.16:7). |
Jo.16:6 | 6. Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. Tristeza. Ver com. de Jo.14:1. Eles deveriam se regozijar com a perspectiva da glória para a qual o Mestre estava retornando. Em vez disso, a ideia da partida enchia seus corações de receio e preocupação. |
Jo.16:7 | 7. Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Convém-vos. Ou, “proveitoso para vocês”. A morte, ressurreição e ascensão de Cristo eram eventos importantes no desenrolar do plano da salvação. Sem eles, a atuação plena do Espírito Santo não se tornaria uma realidade. A partida de Cristo seria para o benefício dos discípulos. Em sua humanidade, Jesus não poderia estar presente em toda parte, mas, por meio do Espírito, poderia estar com todos os Seus seguidores em cada momento e em todo lugar (ver Mt.28:20). Consolador. Ver com. de Jo.14:16. Eu vo-Lo enviarei. De acordo com o plano de Deus, Jesus deveria completar Sua obra na Terra e ascender ao trono do Pai antes que o Espírito pudesse vir. |
Jo.16:8 | 8. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: Convencerá. Do verbo gr. elegcho, “para condenar”. Em Jo.8:9, é traduzido por “acusados”; em Jo.8:46, por “convencer” (cf. 1Co.14:24; Tt.1:9), mas “condenado” seria preferível. O verbo também é traduzido por “reprovar” (Ef.5:11; Ef.5:13; Hb.12:5), “repreender” (Lc.3:19; 1Tm.5:20; Tt.1:13; Ap.3:19) e “corrigir” (2Tm.4:2). Do pecado. Jesus também tinha convencido do pecado (Jo.7:7). No dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi concedido, houve uma revelação marcante desse aspecto de Sua obra. O coração dos que ouviram o discurso de Pedro “compungiu-se” (At.2:37). Uma das primeiras evidências da operação do Espírito Santo é a profunda convicção de ser um pecador. Da justiça. O Espírito não apenas expõe o pecado; Ele convence da justiça. Ele exorta o ser humano a aceitar a justiça de Cristo, tanto a imputada (Rm.10:3-10) quanto a comunicada (Gl.2:20; Fp.2:13). Do juízo. Jesus também advertiu acerca do juízo vindouro (Mt.5:21-22; Mt.10:15; Mt.11:22; Mt.11:24; Mt.12:36). Ninguém pode escapar do juízo; isso é tão certo quanto a morte (Hb.9:27). O temor do julgamento não deve ser o motivo principal para se fazer o que é correto. Contudo, é um poderoso agente para despertar mentes obscurecidas pelo pecado e é certamente um apelo (ver Mc.9:43-48; Ap.14:9-11; ver com. de Jo.16:11). Assim, o Espírito convence os crentes de seus pecados, guia-os à salvação e à justiça, que é Jesus, e os adverte das consequências da permanência no pecado e de se negligenciar a salvação pela graça. |
Jo.16:9 | 9. do pecado, porque não crêem em mim Não creem em Mim. Deus proporcionou apenas um meio de salvação (At.4:12; 1Co.3:11), a saber, a fé em Jesus Cristo (Jo.3:16; Jo.3:18; Jo.3:36). Os que são iluminados, como os judeus o foram, não têm desculpa quando se recusam a crer em Jesus, o enviado de Deus (ver com. de Jo.15:22). |
Jo.16:10 | 10. da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais Vou para o Pai. Enquanto esteve na Terra, Jesus apontou o caminho para a perfeita retidão exigida dos que entram no reino dos céus (Mt.5:48; Mt.6:33). Depois de Sua partida, essa seria a obra especial do Espírito (ver com. de Jo.16:8). |
Jo.16:11 | 11. do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. Do juízo. Do gr. krisis, o ato de julgar. A vindicação do caráter divino na cruz assegurou que Satanás está julgado e condenado. E se isso ocorre com arqui-inimigo, também será o caso de todos os seus cúmplices (ver com. do v. Jo.16:8). |
Jo.16:12 | 12. Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora Muito que vos dizer. A mente humana é capaz de absorver a verdade a uma proporção limitada. Jesus havia passado mais de três anos com os discípulos e fielmente os instruiu nas coisas divinas. Eles tinham aprendido muito, mas ainda havia coisas a serem reveladas (ver com. de Jo.14:26). A sabedoria de Deus é infinita e não pode ser esgotada. Uma vida inteira de estudo diligente permite obter apenas um conceito limitado dos infinitos tesouros de conhecimento espiritual. Às vezes, a letargia espiritual impede uma maior apreensão da verdade divina. Este foi o caso dos coríntios, a quem Paulo designou como “carnais”, que precisavam ser alimentados com “leite” e não com alimento sólido, porque eram incapazes de suportar uma dieta espiritual substancial (1Co.3:1-2). Os cristãos são exortados a deixar os “princípios elementares da doutrina de Cristo” e a ir “para o que é perfeito” (Hb.6:1; Hb.5:11-14). |
Jo.16:13 | 13. quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Espírito da verdade. Ver com. de Jo.14:17. A toda a verdade. Ver com. de Jo.14:26; Jo.16:12. A palavra “verdade” é usada aqui em seu sentido teológico (ver com. de Jo.8:32). No entanto, também é verdade que todas as genuínas descobertas e invenções científicas têm sua fonte em Deus (ver CPPE, 277). Não falará por Si mesmo. Jesus já havia declarado isso a respeito de Si mesmo (Jo.12:49; Jo.14:10). A suprema fonte de autoridade é Deus. As coisas que hão de vir. Jesus revelara o que estava porvir (Mt.24). Porém, ainda seria dada mais luz sobre o futuro. As profecias do Apocalipse são um excelente exemplo de como essa promessa se cumpriu. Na mensagem às igrejas, João anunciou solenemente: “ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap.2:7; Ap.2:11). |
Jo.16:14 | 14. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Ele Me glorificará. Isto ocorreria mediante a revelação da glória e majestade do Cristo ressuscitado e dos mistérios do plano de salvação. Meu. Ver com. do v. Jo.16:12. |
Jo.16:15 | 15. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. |
Jo.16:16 | 16. Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis. Um pouco, e não Me vereis. O primeiro “um pouco” é geralmente compreendido como referência ao curto espaço de tempo até a cruz, e o segundo “um pouco”, ao período entre a crucifixão e a ressurreição. Alguns têm sugerido um duplo significado para este dito de Cristo: primeiro, que se refere à Sua morte e ressurreição; e, segundo, que se refere à Sua ascensão ao Pai e ao retorno, no fim dos tempos (Jo.14:1-3). Esse retorno é representado como não muito longe: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap.22:20; Jo.1:3). No entanto, tendo em vista Jo.16:20-29, parece melhor considerar a passagem como uma referência aos eventos então imediatos. |
Jo.16:17 | 17. Então, alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que vem a ser isto que nos diz: Um pouco, e não mais me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Vou para o Pai? Uns aos outros. Aparentemente, eles estavam relutantes em indagar diretamente a Jesus, e Sua declaração enigmática despertou a curiosidade deles. Que vem a ser isto [...]? Jesus já havia falado de Sua morte e ressurreição, mas os discípulos não O tinham compreendido bem (ver com. de Mt.16:21); por isso, sua perplexidade diante da declaração de Jesus. |
Jo.16:18 | 18. Diziam, pois: Que vem a ser esse - um pouco? Não compreendemos o que quer dizer. Sem comentário para este versículo. |
Jo.16:19 | 19. Percebendo Jesus que desejavam interrogá-lo, perguntou-lhes: Indagais entre vós a respeito disto que vos disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? Sem comentário para este versículo. |
Jo.16:20 | 20. Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. Chorareis e vos lamentareis. Jesus não deu uma resposta direta aos discípulos, porém lançou mais luz sobre as circunstâncias que cercavam os eventos então iminentes (sobre o cumprimento desta previsão, ver Lc.23:27; Jo.20:11). O mundo se alegrará. Os inimigos de Jesus se alegraram quando Ele morreu. Contudo, o regozijo deles durou pouco, o que também ocorreu em relação à tristeza dos amigos de Jesus. Converterá em alegria. Ver Jo.20:20. |
Jo.16:21 | 21. A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. A mulher. Literalmente, uma mulher típica. A figura de uma mulher em trabalho de parto é comum no AT (Is.26:17; Is.66:7). Mas só aqui se fala sobre a tristeza dela se transformando em alegria. Um homem. Do gr. anthropos, o homem em sentido genérico, isto é, um ser humano. |
Jo.16:22 | 22. Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar. Coração se alegrará. Esta é a aplicação que Jesus faz da figura apresentada no v. Jo.16:21. A imagem é explorada no sentido de que as dores de parto da mulher ilustram o nascimento de uma nova fase do reino de Cristo. A alegria dos discípulos foi retomada no dia da ressurreição. Ninguém. Do gr. oudeis, “nenhum”, inclusive o diabo e seus anjos. A alegria dos discípulos seria completa e permanente na comunhão espiritual com o Senhor ressuscitado, que estaria com eles “todos os dias até à consumação do século” (Mt.28:20). |
Jo.16:23 | 23. Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. Naquele dia. Isto é, quando o Espírito Santo fosse derramado (Jo.14:16-17; Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:7-14). Nada Me perguntareis. Jesus aparentemente estava dizendo aos discípulos que, no dia em que eles recebessem o Espírito Santo, não haveria necessidade de fazer perguntas, pois o Espírito lhes ensinaria todas as coisas (Jo.14:26). Na noite anterior, eles haviam feito muitas perguntas e demonstrado lentidão para compreender (Jo.14:5; Jo.14:8-9; Jo.14:22; Jo.16:17). No entanto, o Espírito iluminaria a mente deles, e seriam capazes de compreender o que então parecia enigmático. Eles não teriam mais a presença visível de Jesus, mas poderiam livremente pedir ao Pai, em nome de Jesus, com total segurança de que seus pedidos seriam atendidos. O verbo gr. erotao geralmente indica uma pergunta, e aiteo, um pedido, como as versões portuguesas os traduzem neste versículo. No entanto, João também usa erotao no sentido de pedir algo (ver Jo.14:16, em que o verbo é traduzido como “rogar”). Caso ele tenha usado aqui o verbo erotao com o sentido de “rogar”, então haveria um contraste entre “rogar” a Ele e “pedir” ao Pai. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Em Meu nome. Ver com. de Jo.14:13. |
Jo.16:24 | 24. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. Até agora nada tendes. A relação do Filho com o Pai ainda não havia sido bem compreendida. As preces eram dirigidas a Deus, mas sem uma compreensão da mediação por parte do intercessor. Depois da ascensão e da investidura de Cristo como sacerdote e rei, Sua verdadeira posição como mediador das orações dos cristãos seria mais bem compreendida. Vossa alegria. Ver com. de Jo.15:11. |
Jo.16:25 | 25. Estas coisas vos tenho dito por meio de figuras; vem a hora em que não vos falarei por meio de comparações, mas vos falarei claramente a respeito do Pai. Figuras [...] comparações. [Palavras de despedida, Jo.16:25-33]. Estas palavras traduzem o gr. paroimiai (ver com. de Jo.10:6). Falarei claramente. O Espírito avivaria a compreensão deles (Jo.14:26; Jo.16:13). |
Jo.16:26 | 26. Naquele dia, pedireis em meu nome; e não vos digo que rogarei ao Pai por vós. Em Meu nome. Ver com. de Jo.14:13. Não vos digo. A intercessão de Cristo não tinha por objetivo superar qualquer relutância ou falta de vontade, por parte do Pai, em ouvir as orações dos santos. O próprio Pai amou os discípulos (ver v. Jo.16:27) e estava tão disposto quanto o Filho a responder às orações. O objetivo da ilustração ao representar Jesus como intercessor (Hb.7:25) é que somente por meio do sacrifício do Filho de Deus é possível que o Pai ou o Filho conceda bênção em abundância ao suplicante. |
Jo.16:27 | 27. Porque o próprio Pai vos ama, visto que me tendes amado e tendes crido que eu vim da parte de Deus. Próprio Pai. Ver com. do v. Jo.16:26. Visto que Me tendes amado. Deus ama não só os que amam o Filho; Ele ama o mundo (Jo.3:16; Rm.5:8). No entanto, quando os homens respondem ao amor de Deus, há uma maior manifestação desse amor. |
Jo.16:28 | 28. Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai. Vim do Pai. Os grandes temas da fé cristã são aqui resumidos: a preexistência de Cristo (“Vim do Pai”), a encarnação e eventos associados (“entrei no mundo”) e a ascensão (“vou para o Pai”; ver com. de Jo.1:1; Jo.1:14). |
Jo.16:29 | 29. Disseram os seus discípulos: Agora é que falas claramente e não empregas nenhuma figura. Nenhuma figura. Ver com. de Jo.10:6. |
Jo.16:30 | 30. Agora, vemos que sabes todas as coisas e não precisas de que alguém te pergunte; por isso, cremos que, de fato, vieste de Deus. Vemos que sabes. Literalmente, “o que sabemos”. Os discípulos, provavelmente, concluíram que a iluminação mencionada no v. Jo.16:25 já havia chegado. Jesus lhes mostrou como essa conclusão era limitada (v. Jo.16:31-32). Não precisas de que alguém. Os discípulos aqui professaram fé na habilidade de Jesus de ver o oculto. Ele tinha mostrado Sua capacidade de responder às indagações abrigadas no coração (v. Jo.16:17-19). |
Jo.16:31 | 31. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora? Credes agora? Cristo não nega que eles haviam crido. Ele simplesmente sugere que a fé manifestada por eles era ainda imperfeita. |
Jo.16:32 | 32. Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo. Sereis dispersos. Ver Mc.14:27; Mc.14:50. E Me deixareis só. Todos eles, “deixando-O, fugiram” (Mt.26:56). Não estou só. A comunhão de Cristo com o Pai nunca falhara. |
Jo.16:33 | 33. Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. Paz. Ver com. de Jo.14:27. Passais por aflições. Ver com. de Jo.15:20; Jo.16:2. Tende bom ânimo. Do gr. tharseo, “para ter bom ânimo”, “estar cheio de coragem” (comparar com Mt.9:2; Mt.14:27). Eu venci o mundo. Jesus olhou à frente, em direção à cruz, com confiança, plenamente seguro de que triunfaria sobre os poderes das trevas (ver Cl.2:15). O príncipe deste mundo seria derrotado (ver com. de Jo.12:31; Jo.14:30; Jo.16:11), e os discípulos não tinham nada a temer. |
Jo.17:1 | 1. Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, Tendo Jesus falado estas coisas. [A oração sacerdotal de Jesus, Jo.17:1-26]. Esta oração conclui os conselhos de despedida que Jesus iniciou no cenáculo e continuou a caminho do Getsêmani. Esta oração de Cristo é a mais longa de Suas preces. Bengel diz, em relação a João 17, que, de todos os capítulos da Bíblia, este é o mais simples em relação às palavras e o mais profundo em ideias. A oração se divide naturalmente em três partes: (1) por Si mesmo (v. Jo.17:1-5); (2) pelos discípulos (v. Jo.17:6-19); e (3) por todos os fiéis (v. Jo.17:20-26). Levantou os olhos. Ver com. de Jo.11:41. Pai. Ver com. de Jo.13:31; Jo.12:16; Jo.12:23. Glorifica. Ver com. de Jo.13:13; Jo.12:16; Jo.12:23. Jesus seria glorificado por ser levantado na cruz, em Sua morte vitoriosa que foi o prelúdio necessário para a gloriosa ressurreição. |
Jo.17:2 | 2. assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. Autoridade. Do gr. exousia, “poder” (ver com. de Mt.28:18). Carne. Ou seja, os seres humanos (Mc.13:20; Lc.3:6). A vida eterna. Ver com. de Jo.1:4; Jo.3:16; Jo.8:51; Jo.10:10; Rm.6:23. Os que Lhe deste. Ver com. de Jo.6:37. |
Jo.17:3 | 3. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Conheçam a Ti. O conhecimento vivo e experimental de Deus conduz à vida eterna. Não há salvação no conhecimento por si só, mas também não pode haver salvação sem ele (Rm.10:13-15). O conhecimento salvífico é definido aqui como estando centralizado no “Deus verdadeiro”, em contraste com os deuses falsos, e em Jesus Cristo. O conhecimento de Jesus Cristo estava ausente da religião dos judeus. O ser humano será rejeitado no último dia por ter rejeitado o conhecimento essencial (ver com. de Os.4:6). O conhecimento de Deus é essencial para o desenvolvimento do caráter cristão (ver com. de Jo.17:17; cf. T5, 743). |
Jo.17:4 | 4. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer Glorificarei. A segunda parte da frase amplia a primeira. Deus foi glorificado na conclusão da obra de Jesus para a salvação do ser humano. |
Jo.17:5 | 5. e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. Glorifica-Me, o Pai. Comparar com o v. Jo.17:1. Jesus roga para que pudesse retornar à Sua antiga glória (sobre a preexistência de Cristo ver com. de Jo.1:1; Jo.1:14; Jo.8:58). Paulo descreve o cumprimento desta oração: “Pelo que também Deus O exaltou sobre maneira e Lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp.2:9). |
Jo.17:6 | 6. Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. Teu nome. Isto é, o caráter. Jesus é a revelação pessoal do caráter do Pai (ver com. de Jo.1:14; Jo.1:18). Que Me deste. Ver com. de Jo.6:37. A unidade do Pai e do Filho é enfatizada (ver com. de Jo.10:30). Guardado a Tua palavra. Equivalente a “guardado os Teus mandamentos”, isto não implica obediência perfeita, mas que, em contraste com a maioria dos judeus, os discípulos tinham parte com Jesus e se empenhavam em cumprir a vontade divina. |
Jo.17:7 | 7. Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti Eles reconhecem. Isto é, de acordo com o grego, “eles vieram a conhecer e estão atentos”. A relação de Cristo com o Pai, a quem os judeus adoravam, foi um ponto enfatizado nos ensinamentos de Jesus (Jo.8; Jo.10). Os judeus O acusaram de ser blasfemo e impostor, por afirmar que Deus era Seu Pai, mas os discípulos foram convencidos de Sua verdadeira origem e identidade. |
Jo.17:8 | 8. porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. Palavras que Me deste. Uma ênfase a respeito de Cristo depender do Pai durante a encarnação (Jo.1:14; Jo.5:19; Jo.5:30). Receberam. Ver com. do v. Jo.17:7. |
Jo.17:9 | 9. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus É por eles que Eu rogo. Os discípulos já haviam sido mencionados (v. Jo.17:6-8) aqui começa a oração por eles. Não rogo pelo mundo. Ou seja, naquele momento. Jesus estava concentrado em Seus discípulos. Ele não quis dizer que o mundo estava além dos limites de Sua solicitude ou da vista do Pai. Deus ama o mundo e oferece livremente a salvação a todos (Jo.3:16; Ap.22:17). Mais tarde, Jesus inclui em Sua oração “também [...] aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da sua palavra” (Jo.17:20). Que Me deste. Ver com. de Jo.6:37. |
Jo.17:10 | 10. ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. As Minhas coisas são Tuas. A posse mútua enfatiza ainda mais a unidade do Pai com o Filho (ver com. do v. Jo.17:6). Glorificado. O Pai foi glorificado pela obediência de Cristo (ver com. do v. Jo.17:4). Da mesma forma, o Filho foi glorificado pela obediência dos discípulos, especialmente pela realização de sua missão no mundo. |
Jo.17:11 | 11. Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós. Já não estou. O futuro imediato é considerado como presente. Pela contagem inclusiva judaica, o dia da crucificação já havia chegado. Eu vou para junto de Ti. Ou, “Eu vou para Ti”, um presente futurista, referindo-se ao retorno de Jesus para o Pai, não à Sua aproximação de Deus em oração. Pai santo. Este título ocorre somente aqui no NT. Nos v. Jo.17:1; Jo.17:5, a forma de tratamento é “Pai” e, no v. Jo.17:25, “Pai justo”. O termo, sem dúvida, foi escolhido tendo em vista as solicitações que se seguem na oração. O tema dos v. Jo.17:17-19 é a santificação. A palavra para “santificar” (v. Jo.17:17) é hagiazo, “tornar santo”, e a palavra para “santo”, no título “Pai santo”, é hagios. O pedido para tornar os discípulos santos é feito ao Pai santo. O título “Pai santo” também ocorre em uma oração eucarística na Didaquê (10:2; sobre a santidade de Deus, ver Lv.11:44; 1Pe.1:16). Guarda-os. Jesus estava prestes a deixá-los; por isso Ele entregou os discípulos aos cuidados do Pai (ver v. Jo.17:11-12). Eles seriam deixados em um mundo mau e necessitariam de graça especial na batalha contra o pecado. Esse poder mantenedor pode ser reivindicado por todo cristão. Deus não permite que o ser humano seja tentado além do que pode suportar (1Co.10:13). O crente é invencível aos ataques de Satanás enquanto lutar com a força e a luz do Céu. No entanto, Deus protege apenas os que escolhem ser abençoados. Quando, contra o conselho divino, o ser humano se coloca no terreno do inimigo, ele não pode esperar ser preservado pelo poder de Deus. Que. Evidências textuais favorecem (cf. p. 136) esta leitura, referente ao “nome”. Isso significa que Deus deu Seu nome ao Filho. Esse conceito pode ser entendido à luz de Jo.1:18; Jo.14:9. Jesus veio para representar o nome ou caráter do Pai e viveu durante a encarnação sob a autoridade do Pai. |
Jo.17:12 | 12. Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. Guardava-os. Ver com. do v. Jo.17:11. Que Me deste. Ver com. de Jo.6:37. Filho da perdição. Ou seja, Judas Iscariotes. A expressão descreve algo ou alguém destinado à perdição ou destruição. O título é aplicado ao anticristo (2Ts.2:3). A palavra para a perdição (apoleia) descreve a destruição final dos ímpios (ver Mt.7:13; Rm.9:22; Fp.3:19; Hb.10:39; Ap.17:8; Ap.17:11). Por sua própria escolha, Judas se destinou à destruição (ver com. de Jo.3:17-20). Para que se cumprisse. Esta frase deve, sem dúvida, ser reconhecida como a expressão de um resultado e não de um propósito. O grego pode ser entendido de ambas as formas (ver com. de Mt.1:22; Jo.9:3). Judas não estava destinado a trair Jesus (ver com. de Jo.6:71; Jo.13:18). Seu ato abominável foi por escolha própria. O trecho deve fazer alusão ao Sl.41:9; citado em Jo.13:18. |
Jo.17:13 | 13. Mas, agora, vou para junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos. Vou para junto de Ti. Uma referência ao retorno de Jesus para junto do Pai, como no v. Jo.17:11 (ver os com. ali). |
Jo.17:14 | 14. Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Eu lhes tenho dado. Comparar com os v. Jo.17:8; Jo.17:17. A palavra entregue aos discípulos deveria ser guardada por eles (v. Jo.17:6). Odiou. Ver com. de Jo.15:18-21. Não são do mundo. Eles estavam no mundo (v. Jo.17:11; Jo.17:15), mas não compartilhavam do espírito do mundo. Eles foram enviados ao mundo (v. Jo.17:18) a fim de influenciar outros a renunciar ao mundo (Mc.16:15). |
Jo.17:15 | 15. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Que os tires do mundo. Este seria o meio mais eficaz de se preservar contra o mal do mundo. Mas os discípulos tinham uma missão a cumprir, assim como Jesus viera ao mundo para realizar Sua obra (ver v. Jo.17:4). Do mal. O texto grego pode ser entendido como uma referência ao mal como um princípio, ou ao mal em si mesmo (ver com. de Mt.6:13). A mesma palavra ocorre em 1Jo.5:18, mas com uma desinência gramatical diferente que identifica o adjetivo como masculino, tornando-se, assim, uma referência clara ao maligno. |
Jo.17:16 | 16. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Não são do mundo. Ver com. do v. Jo.17:14. |
Jo.17:17 | 17. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Santifica-os. Do gr. hagiazo, literalmente, “tratar como santo”, “consagrar”, “tornar santo”. Os discípulos estavam prestes a ser consagrados para sua tarefa. A santidade é um dos atributos de Deus (1Pe.1:16). Assim, santificar-se é tornar-se como Deus. Esta obra faz parte do plano de salvação e deve ser cumprida (2Pe.1:4; Ed, 125). Na verdade. Sobre a definição de verdade, ver com. de Jo.8:32. A Palavra de Deus é a “verdade” declarada. As Escrituras revelam à humanidade o caráter de Deus e de Jesus Cristo. Os fiéis se tornam novas criaturas quando as verdades da Palavra de Deus são parte de sua vida. |
Jo.17:18 | 18. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. Tu Me enviaste. Ver com. de Jo.3:17. Enviei. Ele já havia enviado os discípulos anteriormente (Lc.9:1-2) e os comissionaria novamente antes de deixar este mundo (Jo.20:21-22). |
Jo.17:19 | 19. E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade. Santifico a Mim mesmo. Aqui o significado é “consagrar” ou “dedicar”, que parece ser a definição mais apropriada (ver com. do v. Jo.17:17). Jesus dedicou-Se à conclusão da obra que viera realizar no mundo. Antes de ser pendurado na cruz e no ato de oferecer a Si mesmo, Ele tornou possível a santificação de todos os crentes (ver Hb.10:10). |
Jo.17:20 | 20. Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra Por aqueles que vierem a crer. Aqui tem início a petição por todos os crentes (ver com. do v. Jo.17:1) até o fim dos tempos. Por intermédio da sua palavra. Isto é, por meio da pregação, dos ensinos e dos escritos dos discípulos. |
Jo.17:21 | 21. a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Todos sejam um. Haveria diversidade de dons (1Co.12), mas unidade de espírito, de objetivos e de crenças. Não deveria haver contendas por supremacia como as que vinham ocorrendo entre os doze (Lc.22:24-30). A unidade destacada na harmonia entre os primeiros cristãos impressionaria o mundo quanto à origem divina da igreja cristã. |
Jo.17:22 | 22. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos Glória. Aqui, provavelmente, a glória da encarnação de Cristo. Esta brilharia à frente do crente. Bengel observa: “Como é grande a majestade dos cristãos!” (comparar com Rm.8:30). |
Jo.17:23 | 23. eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. Eu neles. A íntima unidade entre o crente e os membros da Trindade é ainda mais enfatizada. Aperfeiçoados. Ver com. de Mt.5:48. O crescimento rumo à perfeição só pode ocorrer quando o fiel permanece em Cristo (ver Jo.15:1-5). O mundo conheça. Ver com. do v. Jo.17:21. |
Jo.17:24 | 24. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo. Estejam também comigo. Ou seja, estejam no Céu. Jesus roga pelo clímax do plano da redenção na glorificação da igreja de Deus, no momento da segunda vinda de Cristo. A família humana tem estado por longo tempo em uma terra estrangeira (Hb.11:13-14), longe da casa do Pai (Ap.14:2-3). “Toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora [...], aguardando a adoção de filhos, a redenção” do corpo (Rm.8:22-23). A redenção virá quando o Senhor descer do Céu, no fim dos tempos, e reunirá Seus filhos desde os quatro cantos da terra (Mt.24:31; 1Ts.4:16). Então, os fiéis estarão “para sempre com o Senhor” (1Ts.4:17). Jesus orou pela chegada desse evento extraordinário. Todo cristão deve orar pelo rápido cumprimento dessa promessa (Ap.22:20). Antes da fundação do mundo. Ver Ef.1:4; 1Pe.1:20 (ver com. de Jo.1:1; Jo.1:14). |
Jo.17:25 | 25. Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, te conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste. Pai justo. Comparar com o título “Pai santo” (v. Jo.17:11). O mundo não havia ainda reconhecido o Pai, apesar da revelação que Jesus fez dEle. |
Jo.17:26 | 26. Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja. Eu lhes fiz conhecer. Ver com. de Jo.1:18. Nome. Isto é, caráter. Farei conhecer. Por intermédio das revelações posteriores do Espírito (ver com. de Jo.14:26; Jo.16:13). |
Jo.18:1 | 1. Tendo Jesus dito estas palavras, saiu juntamente com seus discípulos para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim; e aí entrou com eles. Saiu. [Jesus no Getsêmani, Jo.18:1-11 = Mt.26:47-56 = Mc.14:43-50 = Lc.22:47-53. Comentário principal: Mt]. Jesus e os discípulos tinham deixado a sala superior antes disso (ver com. de Jo.14:31) e, nesse momento, estavam percorrendo o caminho até o jardim do Getsêmani (sobre a localização do jardim, ver com. de Mt.26:30). Cedrom. Como também é conhecido no AT (2Sm.15:23; 1Rs.2:37). Este é um vale contínuo, de norte a sul, a leste de Jerusalém (ver o mapa, p. 327). Jardim. Em outros textos, é identificado como Getsêmani (Mt.26:36; Mc.14:32). João não menciona a oração no jardim, citada pelos outros evangelhos. |
Jo.18:2 | 2. E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos. Judas. Sobre o caráter de Judas, ver com. de Mc.3:19. |
Jo.18:3 | 3. Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas. Escolta. Do gr. speira, “uma corte, a décima parte de uma legião”. Os soldados, provavelmente, foram fornecidos pela fortaleza romana de Antonia (sobre a presença de soldados romanos na comitiva, ver com. de Mt.26:47). Principais sacerdotes e [...] fariseus. Os dois grupos estavam unidos em oposição a Jesus (ver com. de Jo.11:47). Lanternas, tochas. Apenas João menciona isto. Já era tarde da noite (ver com. de Mt.26:57). |
Jo.18:4 | 4. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? Adiantou-Se. Sua hora havia chegado. Ele saiu sem medo ao encontro do traidor. A quem buscais? Jesus estava no controle completo da situação. Ele toma a ofensiva e questiona os opositores. |
Jo.18:5 | 5. Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava também com eles. Jesus, o Nazareno. Ver com. de Mt.2:23. O título é aplicado com frequência a Jesus (Mt.26:71; Mc.10:47; Mc.16:6; Lc.4:34; Lc.18:37; Lc.24:19; Jo.19:19). Sou Eu. Este “sou Eu” está sem o objeto no grego e pode ter sido usado intencionalmente com suas implicações mais profundas, como em Jo.8:58 (ver o com. ali). |
Jo.18:6 | 6. Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra. Cairam por terra. Este incidente não é mencionado pelos demais evangelhos. O recuo e a queda da multidão sugerem uma manifestação da divindade. O milagre deu mais provas para a turba assassina da divindade dAquele a quem eles procuravam prender. A relutância foi momentânea, pois, logo mais, eles executaram seus planos (v. Jo.18:12). |
Jo.18:7 | 7. Jesus, de novo, lhes perguntou: A quem buscais? Responderam: A Jesus, o Nazareno. Jesus, de novo, lhes perguntou. Jesus ainda estava no comando. Esse deve ser o momento em que Judas se adianta e Lhe dá o beijo traidor (ver com. de Mt.26:49), o qual, entretanto, João não menciona. |
Jo.18:8 | 8. Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou eu; se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes Deixai ir estes. O pedido revela a preocupação de Jesus com os discípulos. Pouco tempo depois, “deixando-O, todos fugiram” (Mc.14:50). |
Jo.18:9 | 9. para se cumprir a palavra que dissera: Não perdi nenhum dos que me deste. Que dissera. A referência é à previsão feita por Jesus, em Jo.17:12. |
Jo.18:10 | 10. Então, Simão Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita; e o nome do servo era Malco. Que tinha espada (ARC). Ver com. de Mt.26:51. |
Jo.18:11 | 11. Mas Jesus disse a Pedro: Mete a espada na bainha; não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu? Não beberei [...]? Esta expressão é enfática no grego. A referência é ao cálice que Jesus, pouco tempo antes, declarara-Se disposto a beber (Mt.26:42). |
Jo.18:12 | 12. Assim, a escolta, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus, manietaram-no Escolta. [Jesus perante Anás, Jo.18:12-14, 19-24. Ver mapa, p. 222; gráfico, p. 230]. Do gr. speira (ver com. do v. Jo.18:3). Comandante. Do gr. chiliarchos, literalmente, “um capitão de mil”, também é um termo técnico para oficial comandante de uma corte (ver com. do v. Jo.18:3). Manietaram-No. Provavelmente por amarrar as mãos atrás das costas. A submissão voluntária de Jesus é evidente em toda a narrativa. Jesus não morreu porque não foi capaz de evitar; Ele não sofreu porque não tinha como escapar. Todos os soldados da guarnição romana não poderiam ter tocado um fio de cabelo de Sua cabeça sem a permissão divina. |
Jo.18:13 | 13. e o conduziram primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano. Anás. Ver com. de Lc.3:2; cf. com. de Mt.26:57. Caifás. Ver com. de Lc.3:2; Mt.26:57. Naquele ano. Ver com. de Jo.11:49. |
Jo.18:14 | 14. Ora, Caifás era quem havia declarado aos judeus ser conveniente morrer um homem pelo povo. Tinha aconselhado (ARC). Ver com. de Jo.11:49-52. |
Jo.18:15 | 15. Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. Sendo este discípulo conhecido do sumo sacerdote, entrou para o pátio deste com Jesus. Simão Pedro. [Pedro nega a Jesus, Jo.18:15-18, 25-27 = Mt.26:69-75 = Mc.14:66-72 = Lc.22:55-62]. Ver com. de Mt.26:58. Outro discípulo. Ou seja, João, filho de Zebedeu, o autor do evangelho. Ele não se identifica pelo nome, como em Jo.13:23. Conhecido. Do gr. gnostos. Não é possível definir o grau de familiaridade ou associação através desta palavra. Pátio. Do gr. aule (ver com. de Mt.26:58). |
Jo.18:16 | 16. Pedro, porém, ficou de fora, junto à porta. Saindo, pois, o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, falou com a encarregada da porta e levou a Pedro para dentro. Pedro, porém, ficou de fora. Ver com. de Mt.26:69. |
Jo.18:17 | 17. Então, a criada, encarregada da porta, perguntou a Pedro: Não és tu também um dos discípulos deste homem? Não sou, respondeu ele. Não sou. Ver com. de Mt.26:70. |
Jo.18:18 | 18. Ora, os servos e os guardas estavam ali, tendo acendido um braseiro, por causa do frio, e aquentavam-se. Pedro estava no meio deles, aquentando-se também. Tendo acendido um braseiro. Jerusalém estava a uma altitude de 800 metros, e as manhãs de primavera eram frias (comparar com Mc.14:54; Lc.22:55). |
Jo.18:19 | 19. Então, o sumo sacerdote interrogou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Dos Seus discípulos. [Anás interroga a Jesus, Jo.18:19-24]. As perguntas de Anás diziam respeito às condições de Jesus para o discipulado e, indiretamente, à posição assumida por Jesus. Eles queriam provas para acusá-Lo de sedição. Doutrina. Isto é, “ensino” (ver com. de Jo.7:16). |
Jo.18:20 | 20. Declarou-lhe Jesus: Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto. Abertamente (ARC). Ou, “publicamente”. Jesus respondeu apenas à segunda parte da questão (v. Jo.18:19). Sinagogas. Ver Mt.4:23; Jo.6:59. Ver p. 44, 45. Templo. Ver Jo.7:14; Jo.7:28; Jo.8:20; Jo.10:23. Nada disse em oculto. Jesus pregou publicamente, mas ensinou também em particular, e um exemplo disso é sua conversa com Nicodemos (Jo.3). Aqui, Ele nega a acusação implícita de planejar uma sedição secretamente. Sua resposta foi uma censura aos meios desonestos pelos quais os judeus tentavam incriminá-Lo. |
Jo.18:21 | 21. Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que lhes falei; bem sabem eles o que eu disse. Por que Me interrogas? Parece haver aqui um apelo à lei jurídica judaica. Segundo a interpretação de Maimônides, um erudito judeu do século 12 d.C., a lei não infligia a pena de morte a um pecador por sua própria confissão. Alguns questionam se esse princípio estava em vigor no tempo de Jesus. O princípio parece implícito na Mishnah e pode ser que já era válido anteriormente (ver DTN, 715). Do ponto de vista legal, Jesus apelava por Seus direitos e solicitava ao tribunal que verificasse as evidências apropriadas, o que expunha a injustiça deles. |
Jo.18:22 | 22. Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que falas ao sumo sacerdote? Deu uma bofetada em Jesus. Provavelmente um tapa no rosto, como sugere o texto grego. |
Jo.18:23 | 23. Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres? Testemunho. Uma resposta digna que contesta a ação e elucida como Jesus, interpretou a prescrição de Mt.5:39. |
Jo.18:24 | 24. Então, Anás o enviou, manietado, à presença de Caifás, o sumo sacerdote. Manietado. O texto grego sugere que as cordas originais (v. Jo.18:12) haviam sido removidas para a audiência perante Anás (ver com. de Mt.26:57), e que foram novamente colocadas sobre Ele quando O levaram a Caifás. Caifás. Ver Nota Adicional 2 a Mateus 26; Mt.26:75. |
Jo.18:25 | 25. Lá estava Simão Pedro, aquentando-se. Perguntaram-lhe, pois: És tu, porventura, um dos discípulos dele? Ele negou e disse: Não sou. Lá estava Simão Pedro. [De novo, Pedro nega a Jesus, Jo.18:25-27. Comentário principal: Mt]. Pedro também se assentou com o grupo ao redor do fogo (Mt.26:69). Perguntaram-lhe. O porta-voz é identificado em Mt.26:71 como uma mulher. |
Jo.18:26 | 26. Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha decepado a orelha, perguntou: Não te vi eu no jardim com ele? Parente daquele a quem. O terceiro inquiridor é assim identificado somente por João (sobre a negação de Pedro, ver com. de Mt.26:69-75). |
Jo.18:27 | 27. De novo, Pedro o negou, e, no mesmo instante, cantou o galo. Sem comentário para este versículo. |
Jo.18:28 | 28. Depois, levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer a Páscoa. Pretório. [Jesus perante Pilatos, Jo.18:28-40 = Mt.27:1-2 = Mc.15:1 = Lc.23:1. Comentário principal: Lc e Jo. Ver mapa, p. 222; gráficos, p. 230, 231]. Do gr. praitorion (ver com. de Mt.27:27). Cedo. Do gr. proi, um termo geral para início da manhã. Em Mc.13:35, proi é usado, tecnicamente, para indicar a quarta vigília da noite, que se estendia das três às seis horas da manhã. O julgamento começou, provavelmente, às seis horas (ver Nota Adicional 2 a Mateus 26; Mt.26:75). Não se contaminarem. João fala da Páscoa como um evento ainda por ocorrer. Há importantes questões sobre o tempo da Páscoa, no ano da morte de Jesus (ver as Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75). |
Jo.18:29 | 29. Então, Pilatos saiu para lhes falar e lhes disse: Que acusação trazeis contra este homem? Saiu. Visto que os membros do Sinédrio não entrariam (v. Jo.18:28). Que acusação [...]? Pilatos pergunta sobre a acusação formal, seguindo o procedimento legal apropriado. |
Jo.18:30 | 30. Responderam-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos. Malfeitor. Do gr. kakopoios, literalmente, “um malfeitor”. A palavra ocorre novamente só em 1Pe.2:12; 1Pe.2:14; 1Pe.3:16 (ARC); e 1Pe.4:15, em cada caso, é traduzida como “malfeitor”. Em Lc.23:32-33; Lc.23:39, “malfeitor” vem de kakourgos, “aquele que comete delitos graves”. Entregaríamos. Eles não tinham qualquer acusação formal que pudesse ser apoiada por testemunhas. Esperavam que Pilatos aceitasse o veredito do Sinédrio e condenasse Jesus sem um inquérito formal acerca da acusação. |
Jo.18:31 | 31. Replicou-lhes, pois, Pilatos: Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus: A nós não nos é lícito matar ninguém Tomai-O. Pilatos apanha os judeus em suas palavras. Eles tinham sugerido que o julgamento feito por eles deveria ser suficiente. Matar. Acredita-se que o direito de executar a pena de morte teria sido tirado dos tribunais judaicos no tempo em que a Judeia se tornou uma província, em 6 d.C., ou logo depois. Segundo Josefo, “o território de Arquelau já fora reduzido a uma província, e Copônio, um romano da ordem dos cavaleiros, foi enviado como procurador, encarregado por Augusto, com plenos poderes, incluindo a imposição da pena de morte”. Em outras questões, os tribunais tinham jurisdição plena. No que diz respeito à pena capital, eles poderiam aprovar a sentença, mas era necessária a ratificação do procurador romano. Essa cláusula nem sempre foi seguida, o que se torna evidente em casos como o assassinato de Estêvão (At.7) e de Tiago, irmão de João (At.12:2), pelo menos conforme relatado por Josefo. Uma nota da perda do poder judicial dos tribunais judaicos é encontrada no Talmude de Jerusalém, que afirma: “Quarenta anos antes da destruição do templo, a jurisdição criminal foi tirada dos israelitas”. O elemento de tempo nesta declaração é informado incorretamente, mas, por outro lado, a declaração, sem dúvida, tem uma base histórica. |
Jo.18:32 | 32. para que se cumprisse a palavra de Jesus, significando o modo por que havia de morrer. O modo por que havia de morrer. Jesus havia predito a morte por crucifixão (ver com. de Jo.12:32). Se tivesse morrido pelas mãos dos judeus, sem dúvida, teria sido morto por apedrejamento. Pelo menos em duas ocasiões, os judeus tentaram apedrejá-Lo, por blasfêmia (Jo.8:59; Jo.10:31-33). A Mishnah cita o apedrejamento como pena por blasfêmia (ver com. de Jo.8:7). |
Jo.18:33 | 33. Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? És Tu o rei [...]? Esta foi a segunda vez que Pilatos fez esta pergunta (ver Mt.27:11; ver com. ali; cf. DTN, 726, 727). |
Jo.18:34 | 34. Respondeu Jesus: Vem de ti mesmo esta pergunta ou to disseram outros a meu respeito? Vem de ti mesmo [...]? Isto é, “você está realmente interessado em aprender a verdade?” (cf. DTN, 726, 727). |
Jo.18:35 | 35. Replicou Pilatos: Porventura, sou judeu? A tua própria gente e os principais sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste? Sou judeu? O orgulho impediu Pilatos de confessar qualquer interesse sincero em saber sobre a missão de Jesus. |
Jo.18:36 | 36. Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Deste mundo. Sobre a natureza do reino de Cristo, ver com. de Mt.3:2-3; Mt.4:17; Mt.5:2; Mc.3:14. Lutariam (ARC). Reinos terrenos são estabelecidos pela força das armas, mas o reino de Jesus não era terreno. Jesus negou a acusação de sedição apresentada contra Ele pelos judeus. |
Jo.18:37 | 37. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Tu és rei? A construção desta pergunta em grego mostra que se esperava uma resposta positiva. Para isso nasci. O propósito da encarnação foi o estabelecimento do reino de graça preparatório para o reino da glória (ver com. do v. Jo.18:36). Testemunho da verdade. Ver com. de Jo.8:32. O arquienganador, por séculos de escuridão e falsidade, havia deturpado a verdade sobre Deus, a humanidade e a salvação. Ouve a Minha voz. As ovelhas ouvem a voz do pastor (Jo.10:3; Jo.10:16). |
Jo.18:38 | 38. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. Que é a verdade? Pilatos ficou impressionado com as palavras de Jesus e teria ouvido mais ensinamentos. No entanto, a multidão do lado de fora clamava por uma decisão, e Pilatos não esperou por uma resposta. Assim, ele deixou passar uma oportunidade áurea. Como Félix, ele esperava um momento mais favorável (At.24:25). Se, mais tarde, alguém falou a ele sobre o Céu, foi negligenciado como nesta oportunidade. Pilatos morreu alguns anos mais tarde, como um suicida (ver com. de Mt.27:24). Crime algum. Pilatos se convenceu da inocência de Jesus e deveria ter determinado a liberação dEle imediatamente. |
Jo.18:39 | 39. É costume entre vós que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus? Rei dos judeus. Comparar com Mc.15:9. O comparecimento de Jesus perante Herodes (cf. Lc.23:6-12) ocorreu nesta ocasião do julgamento perante Pilatos. Uma comparação entre os relatos de Lucas e João torna isso evidente. |
Jo.18:40 | 40. Então, gritaram todos, novamente: Não este, mas Barrabás! Ora, Barrabás era salteador. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:1 | 1. Então, por isso, Pilatos tomou a Jesus e mandou açoitá-lo. Açoitá-Lo. [Jesus entregue aos soldados, Jo.19:1-16 = Mt.27:15-31 = Mc.15:6-19 = Lc.23:13-25. Comentário principal: Mt e Jo]. O cap. 19 continua a narrativa iniciada em Jo.18:33. Esta foi a primeira seção de açoites. Jesus foi açoitado novamente em conexão com a sentença de crucifixão (ver com. de Mt.27:26). O objetivo da primeira seção de açoites era tentar despertar a compaixão da multidão sedenta de sangue (ver DTN, 735). |
Jo.19:2 | 2. Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:3 | 3. Chegavam-se a ele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:4 | 4. Outra vez saiu Pilatos e lhes disse: Eis que eu vo-lo apresento, para que saibais que eu não acho nele crime algum. Não acho nEIe crime algum. Comparar com Jo.18:38; Jo.19:6; 1Pe.2:21-22. Com estas palavras, Pilatos revelou sua fraqueza. Se Jesus era inocente, Pilatos não deveria ter permitido que Ele fosse açoitado. Uma violação da consciência levou a outra, até que Pilatos renunciou a cada partícula de justiça. |
Jo.19:5 | 5. Saiu, pois, Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: Eis o homem! Eis o homem! O objetivo de Pilatos com esta exclamação era estimular a compaixão. Ali estava Jesus diante deles em vestes reais escarnecedoras, com uma coroa de espinhos, sangrando e pálido pelos então recentes sofrimentos, mas com uma postura real. Pilatos achava que as exigências dos líderes judeus seriam satisfeitas. Mas ele estava enganado. O motivo exato por que Pilatos escolheu usar o termo “homem” não se pode saber. Sem saber, ele proferiu uma grande verdade. O que estava diante dele, a Palavra eterna (ver com. de Jo.1:1), tornou-Se homem (ver com. de Jo.1:14). Ele era, na verdade, o Filho do Homem (ver com. de Mt.1:1; Mc.2:10), mas também o Filho de Deus (ver com. de Lc.1:35). A encarnação e a morte dEle conquistaram para o ser humano a salvação eterna. |
Jo.19:6 | 6. Ao verem-no, os principais sacerdotes e os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum. Tomai-O. As palavras acrescentadas “e crucificai-O” mostram que Pilatos não estava devolvendo a questão ao Sinédrio, pois a crucifixão era uma forma de pena capital romana. Se os judeus houvessem infligido a pena de morte, teria sido por apedrejamento (ver com. de Jo.18:32). Pilatos deve ter falado com fúria e sarcasmo: “Se vocês querem crucifixão, vocês [enfático no grego] devem executar a sentença, eu não encontrei nenhuma culpa nEle.” Não acho nEle crime algum. Esta foi a terceira vez que Pilatos mencionou o fato (ver Jo.18:38; Jo.19:4). |
Jo.19:7 | 7. Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Segundo a nossa lei (ARC). Ver com. de Jo.18:32; cf. Lv.24:16. |
Jo.19:8 | 8. Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado ficou, Ainda mais atemorizado. A carta da esposa de Pilatos informando sobre seu sonho (Mt.27:19) foi o primeiro motivo de temor. A insinuação de que Jesus era um ser sobrenatural encheu-o de mau pressentimento. |
Jo.19:9 | 9. e, tornando a entrar no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Pretório. Ver com. de Mt.27:2. Donde és Tu? O temor induziu Pilatos a investigar mais sobre a origem de Jesus. Ele não estava interessado em localidade; ele já tinha essa informação (Lc.23:6-7). Mas um medo misterioso o perturbava ao pensar que, diante dele, estava um ser divino. Não lhe deu resposta. Comparar com o silêncio perante Caifás (Mt.26:63) e perante Herodes (Lc.23:9). Pilatos tivera sua oportunidade de conhecer a verdade (ver com. de Jo.18:38). Nenhuma iluminação posterior seria aproveitada. Jesus sabia quando falar e quando manter silêncio. |
Jo.19:10 | 10. Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Não me respondes? Pilatos ficou ofendido com o que poderia ser considerado um desacato ao tribunal. Autoridade. Do gr. exousia, “poder”. |
Jo.19:11 | 11. Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem. Não te fosse dada. Ver com. de Dn.4:17; Rm.13:1. Quem Me entregou. Este não era Judas (Jo.6:71; Jo.12:4; Jo.13:2; Jo.18:2), pois Judas não entregara Jesus às autoridades romanas. A acusação é contra Caifás, como sumo sacerdote e maior representante oficial dos judeus (cf. Jo.18:35). Maior pecado. Caifás exercia a autoridade delegada e, ao mesmo tempo, era um adorador de Deus, de quem recebera autoridade, e um intérprete da lei divina para as pessoas. Sua culpa, portanto, era maior. Ele também pecou contra a Luz maior. Jesus havia dado repetidas evidências de Sua divindade, mas os líderes tinham endurecido o coração contra todos os raios de luz. O fato de Caifás ter “maior pecado” não significa que Pilatos estava sem culpa. O governador romano teve sua parcela de responsabilidade. Ele poderia ter se recusado a entregar Jesus. O Salvador teria morrido, mas a culpa não repousaria sobre ele. |
Jo.19:12 | 12. A partir deste momento, Pilatos procurava soltá-lo, mas os judeus clamavam: Se soltas a este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é contra César! Procurava soltá-Lo. A resposta de Jesus (v. Jo.19:11) aumentou os temores de Pilatos. O governador endurecido ficou profundamente impressionado com as palavras e a conduta de Cristo. Amigo de César. Isto é, um leal defensor de César. Os judeus, finalmente, apresentaram um argumento que, evidentemente, foi bem-sucedido. A resposta deles era uma ameaça, pois se o imperador soubesse que Pilatos tentara proteger um pretendente ao título de rei, a posição do governador estaria em perigo. O temor pela própria segurança levou Pilatos a se esquecer do temor religioso com que havia considerado o prisioneiro. A resposta dos líderes era visivelmente hipócrita. Esses acusadores eram amigos de César? De todos os povos, nenhum era mais intolerável do que os judeus contra o jugo romano, e eles ainda tinham a hipocrisia de simular zelosa honra a César, a quem odiavam. |
Jo.19:13 | 13. Ouvindo Pilatos estas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, no hebraico Gabatá. Trouxe Jesus. Isto é, do pretório, para o qual Pilatos havia conduzido Jesus para uma entrevista privada (v. Jo.19:9). Os líderes judeus não entrariam no pretório para não se contaminarem e serem impedidos de celebrar a Páscoa (Jo.18:28). Tribunal. Talvez uma cadeira improvisada do lado de fora, visto que os judeus não entrariam na sala de julgamento. Pavimento. Do gr. lithostroton, significando um pavimento de mosaico, provavelmente de mármore. Gabatá. Palavra de origem incerta. Alguns a derivam do aramaico geba, “ser alto”, portanto, visualizam um lugar elevado. A localização devia ser logo ao lado do pretório (sobre o local deste, ver com. de Mt.27:2). |
Jo.19:14 | 14. E era a parasceve pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Paresceve pascal. Do gr. paraskeue tou pascha. Esta frase é equivalente ao heb. ereb happesach, “véspera da Páscoa”, um termo comum na literatura rabínica que designa o 14 de nisã. A expressão indica a “véspera” do sábado, designação judaica para o dia da preparação. O equivalente grego é paraskeue (Mc.15:42; Lc.23:54), que ainda é o nome para a sexta-feira no grego atual. No ano da crucifixão, o paraskeue para a Páscoa coincidiu com o paraskeue, ou “preparação”, para o sábado (Jo.19:31; Jo.19:42). Assim, aparentemente, João designa o dia da crucifixão como o 14 de nisã. Os que defendem que a crucifixão ocorreu no dia 15 de nisã explicam que “preparação da Páscoa” significa a sexta-feira da semana da Páscoa. Esse uso não é encontrado em outra passagem. Para o dia antes do sábado, João usa paraskeue em outros textos (v. Jo.19:31; Jo.19:42; ver Nota Adicional 1 a Mateus 26, sobre o dia da crucifixão; Mt.26:75). A referência do Talmude para a morte de Jesus diz: “Na véspera da Páscoa, Yeshu [Jesus] foi crucificado. [...] Como nada foi apresentado em Seu favor, Ele foi crucificado na véspera da Páscoa”. Hora sexta. Tempo, provavelmente romano, isto é, cerca de seis horas da manhã. O evangelho de João foi escrito perto do fim do primeiro século e, principalmente, para os fiéis gentios (ver com. de Jo.1:38). Aqui, ele fala do tempo em termos familiares a eles (ver com. de Mt.27:45). Em outra parte, ele parece contar as horas a partir do nascer de sol, em vez de meia-noite (ver Jo.4:6; Jo.4:52; Jo.11:9). Eis aqui o vosso rei. Uma ironia contra os judeus. |
Jo.19:15 | 15. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Não temos rei, senão César! Estas palavras foram inconsequentes, pois os judeus não estavam prontos para abandonar a esperança messiânica ou formalmente repudiar a Deus como seu rei (ver Jz.8:23; 1Sm.8:7; 1Sm.12:12). Esse subterfúgio refletia a ansiedade de se livrar de Jesus. No entanto, por esta declaração, eles se retiraram da relação de aliança com Deus e deixaram de ser Seu povo escolhido (ver DTN, 737, 738). |
Jo.19:16 | 16. Então, Pilatos o entregou para ser crucificado. Entregou. João não menciona o incidente da lavagem das mãos (Mt.27:24). A questão não era mais com os judeus, mas com as autoridades romanas responsáveis pela execução da sentença de crucifixão. |
Jo.19:17 | 17. Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, Carregando a Sua cruz. [A crucifixão, Jo.19:17-22 = Mt.27:33-44 = Mc.15:22-32 = Lc.23:33-43. Comentário principal: Mt e Jo; ver mapa, p. 222; gráficos, p. 229, 230]. Sobre os incidentes no caminho do Calvário, ver Lc.23:26-32. |
Jo.19:18 | 18. onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Crucificaram. Ver com. de Mt.27:33-35. |
Jo.19:19 | 19. Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz; o que estava escrito era: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:20 | 20. Muitos judeus leram este título, porque o lugar em que Jesus fora crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:21 | 21. Os principais sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse: Sou o rei dos judeus. Não escrevas. Apenas João registra este protesto (sobre as implicações, ver com. de Mt.27:37). |
Jo.19:22 | 22. Respondeu Pilatos: O que escrevi escrevi. O que escrevi escrevi. Pilatos se irritou com os judeus e resolveu não atendê-los mais. Por causa da pressão deles, contra a advertência de sua mulher e contra seu próprio julgamento, ele condenara um inocente. Ele mostrou que podia ser firme, se quisesse. |
Jo.19:23 | 23. Os soldados, pois, quando crucificaram Jesus, tomaram-lhe as vestes e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e pegaram também a túnica. A túnica, porém, era sem costura, toda tecida de alto a baixo. Fizeram quatro partes. [Os soldados deitam sortes, Jo.19:23-27]. A veste se tornou propriedade dos carrascos. Apenas João menciona o número de soldados. A seguinte divisão tem sido sugerida: a cobertura, as sandálias, o cinto, e o talit, veste exterior com franjas (Robertson). Não se sabe o que foi feito com as roupas dos ladrões crucificados. Túnica. Do gr. chiton, uma peça de roupa interna (ver com. de Mt.5:40). Sem costura. Esta peça do vestuário pode ter sido tecida de forma semelhante à do sacerdote, que Josefo descreve como segue: “Mas esta túnica não é composta de duas partes, costurada na altura dos ombros e dos lados: é um longo pano tecido, com uma fenda para o pescoço”. |
Jo.19:24 | 24. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela para ver a quem caberá - para se cumprir a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. Assim, pois, o fizeram os soldados. Para se cumprir a Escritura. A passagem pode ser interpretada como: “assim, a Escritura foi cumprida” (ver com. de Mt.1:22; Jo.9:3; cf. com. de Jo.11:4; Jo.12:38). Repartiram. A citação é do Sl.22:18. |
Jo.19:25 | 25. E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. A mãe de Jesus. João não menciona o nome dela em seu evangelho. Em seu sofrimento mental e na dor física, Jesus não Se esqueceu de Sua mãe. Ele a viu ali, ao pé da cruz. Conhecia bem a sua angústia e a confiou aos cuidados de João. E a irmã dela. Não está claro se, neste versículo, João menciona três ou quatro mulheres. É possível que as expressões “irmã dela” e “Maria, mulher de Clopas” estejam em justaposição. Clopas, provavelmente, seja o de Lc.24:18 (ver com. ali). A exata identificação delas não tem sido possível. Maria Madalena. Ver Nota Adicional a Lucas 7; Lc.7:50. |
Jo.19:26 | 26. Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. O discípulo amado. Ver com. de Jo.13:23. Mulher. Sobre esta forma de tratamento, ver com. de Jo.2:4. Eis aí o teu filho. A relação entre João e Jesus era mais íntima do que entre Jesus e os outros discípulos (ver p. 983, 984), e João poderia, portanto, exercer as funções de um filho mais fielmente do que os demais. O fato de Jesus confiar Sua mãe ao cuidado de um discípulo é tido como evidência de que José já não vivia, e alguns consideram como indicação de que Maria não teve outros filhos, pelo menos em condição social ou econômica para cuidar dela. Os irmãos mais velhos de Jesus, filhos de José de um casamento anterior (ver com. de Mt.12:46), nesse momento, não acreditavam nEle, e Jesus pode ter considerado que a atitude deles para com ela seria crítica e insensível, como o fora para com Ele (ver com. de Jo.7:3-5). |
Jo.19:27 | 27. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:28 | 28. Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Já estava consumado. [A morte de Jesus, Jo.19:28-30 = Mt.27:45-56 = Mc.15:33-41 = Lc.23:44-49]. Comparar com At.13:29. Para se cumprir. Ver Sl.69:20-21. |
Jo.19:29 | 29. Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca. Vinagre. Esta foi a segunda bebida oferecida a Jesus (ver com. de Mt.27:34; Mt.27:48). |
Jo.19:30 | 30. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. Está consumado! Jesus havia completado o trabalho que o Pai Lhe confiara (Jo.4:34). Cada etapa do plano da redenção, estabelecido antes da fundação do mundo, havia sido concluída dentro do cronograma (ver com. de Lc.2:49). Satanás fracassara em suas tentativas de arruinar o plano. A vitória de Cristo assegurou a salvação do ser humano (ver DTN, 758-764). |
Jo.19:31 | 31. Então, os judeus, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação, pois era grande o dia daquele sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Preparação. [Um soldado abre o lado de Jesus com uma lança, Jo.19:31-37]. Do gr. paraskeue (ver com. do v. Jo.19:14). Não ficassem os corpos na cruz. Corpos não poderiam permanecer sobre um “madeiro” durante a noite; deveriam ser sepultados no mesmo dia (ver Dt.21:22-23). O dia seguinte, sendo sábado, tornaria ainda mais imperativo o cumprimento da ordenança. Grande o dia. Este sábado era um “grande dia” porque era também o primeiro dia dos pães asmos (Lv.23:6; ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75). O uso do termo “grande dia” não pode ser demonstrado a partir da literatura judaica contemporânea. Os que defendem que Jesus foi crucificado em 15 de nisã afirmam que aquele foi um dia especial porque o sábado semanal coincidiu com o dia de mover as primícias (Lv.23:9-14). No entanto, Jesus ressussitou no dia em que as primícias foram oferecidas, em exato cumprimento dos tipos (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26; Mt.26:75; cf. DTN, 785, 786). Quebrassem as pernas. Isto é, para apressar a morte. |
Jo.19:32 | 32. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele tinham sido crucificados Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:33 | 33. chegando-se, porém, a Jesus, como vissem que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Já estava morto. Foi incomum a morte vir logo depois da crucifixão. Algumas vítimas permaneciam vivas por vários dias. Orígenes, que viveu no tempo em que a crucifixão ainda era praticada, menciona que a maioria das vítimas vivia durante a noite e durante o dia seguinte. |
Jo.19:34 | 34. Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Sangue e água. Várias explicações têm sido dadas para este fenômeno. Em 1847, W. Stroud (Physical Cause of the Death of Christ) propôs que o sangue e a água eram evidências de que Jesus morreu de ruptura física do coração. Essa teoria carece de comprovação. É evidente que o coração de Jesus foi partido e que Ele morreu como resultado da terrível pressão do peso dos pecados do mundo (ver DTN, 772), mas qualquer diagnóstico físico a partir dos escassos detalhes da narrativa do evangelho é incerto. O fluxo de sangue e água foi notável, visto que o sangue não flui normalmente de um cadáver. João chama atenção para o fluxo e, solenemente, o testifica (v. Jo.19:34-35). Tem-se sugerido que ele menciona o fato a fim de demonstrar a verdadeira humanidade de Jesus, para, assim, combater a heresia docética de seus dias, que afirmava que Jesus encarnou apenas na aparência. Os pais da igreja deram uma interpretação alegórica a esta passagem. |
Jo.19:35 | 35. Aquele que isto viu testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho; e ele sabe que diz a verdade, para que também vós creiais. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:36 | 36. E isto aconteceu para se cumprir a Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado. Nenhum dos seus ossos será quebrado. Ver com. de Ex.12:46. |
Jo.19:37 | 37. E outra vez diz a Escritura: Eles verão aquele a quem traspassaram. A quem traspassaram. Ver com. de Zc.12:10. |
Jo.19:38 | 38. Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi José de Arimatéia e retirou o corpo de Jesus. José de Arimateia. [O sepultamento de Jesus, Jo.19:38-42 = Mt.27:57-61 = Mc.15:42-47 = Lc.23:50-56. Comentário principal: Mt e Mc]. Os quatro evangelhos descrevem o papel de José no enterro de Jesus. Apenas João menciona que, secretamente, ele era um discípulo. |
Jo.19:39 | 39. E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés. Nicodemos. Ver com. de Jo.3:1. Cem libras. Do gr. litra, cerca de 330 g (ver com. de Jo.12:3). “Cem libras”, portanto, seriam cerca de 33 kg. Esta grande quantidade foi, sem dúvida, adquirida a um custo considerável. Mirra. Ver com. de Mt.2:11. Aloés. Uma resina aromática da árvore Aquilaria agallocha. O produto é mencionado no NT somente aqui (ver no AT, Nm.24:6; Sl.45:8; Ct.4:14). |
Jo.19:40 | 40. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro. Sem comentário para este versículo. |
Jo.19:41 | 41. No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Jardim. Apenas João menciona isto. |
Jo.19:42 | 42. Ali, pois, por causa da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus. Preparação. Do gr. paraskeue (ver com. do v. Jo.19:14). |
Jo.20:1 | 1. No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida. Primeiro dia da semana. [A ressurreição de Jesus, Jo.20:1-10 = Mt.28:1-10 = Mc.16:1-8 = Lc.24:1-12. Comentário principal: Mt e Jo; ver mapa p. 223; gráficos p. 229-231]. Sobre a sequência de eventos do cap. 20, ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20. |
Jo.20:2 | 2. Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram. A quem Jesus amava. Ver com. de Jo.13:23. |
Jo.20:3 | 3. Saiu, pois, Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro. Foram ao sepulcro. O incidente relatado nos v. Jo.20:3-10 reflete bem o diferente temperamento de Pedro e João. O discípulo amado era tranquilo, reservado e de sentimentos profundos (ver com. de Mc.3:17). Pedro era impulsivo, entusiasta e precipitado (ver com. de Mc.3:16). Após receberem a notícia de Maria, cada um deles reagiu de maneira característica. |
Jo.20:4 | 4. Ambos corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro Sem comentário para este versículo. |
Jo.20:5 | 5. e, abaixando-se, viu os lençóis de linho; todavia, não entrou. Sem comentário para este versículo. |
Jo.20:6 | 6. Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis, Sem comentário para este versículo. |
Jo.20:7 | 7. e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte. Lenço. Do gr. soudarion (ver com. de Jo.11:44). O fato de os lençóis estarem ali cuidadosamente dobrados mostra que não se tratava de um roubo na tumba. Os ladrões não se dariam ao trabalho de dobrar os lençóis que envolviam o corpo de Jesus. |
Jo.20:8 | 8. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. Creu. Isto é, ele creu que Jesus tinha ressuscitado. Sem dúvida, João se lembrou da predição de Jesus sobre a ressurreição. Pedro talvez fosse mais cético, embora Lucas relate que Pedro “retirou-se para casa, maravilhado do que havia acontecido” (Lc.24:12). |
Jo.20:9 | 9. Pois ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele dentre os mortos. Ainda não tinham compreendido. Eles não entenderam que o AT previa a ressurreição. Estavam como os discípulos no caminho de Emaús, a quem Jesus repreendeu com as palavras: “O néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lc.24:25-27). No AT, há uma clara predição da ressurreição (ver Sl.16:10; At.2:24-28). |
Jo.20:10 | 10. E voltaram os discípulos outra vez para casa. E voltaram [...] para casa. Talvez a mãe de Jesus já estivesse na casa de João, e o discípulo “a quem Jesus amava” (v. Jo.20:2) compartilharia a notícia com ela. |
Jo.20:11 | 11. Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se, e olhou para dentro do túmulo, Maria, entretanto, permanecia. [Jesus aparece a Maria Madalena, Jo.20:11-18 = Mc.16:9-11]. Maria Madalena havia seguido Pedro e João ao túmulo, porém, com menos pressa. Estava afligida pela dor. Os olhos cheios de lágrimas e a condição emocional a impediram de reconhecer os visitantes celestiais, com novas que amenizariam seu sofrimento. |
Jo.20:12 | 12. e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés. Vestidos de branco. Os anjos geralmente são descritos com este tipo de vestidura (Mt.28:3; Lc.24:4; At.1:10). |
Jo.20:13 | 13. Então, eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Ela lhes respondeu: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Mulher. Ver Jo.2:4. Não sei onde. Aparentemente, ela não reconheceu que se tratava de anjos, “enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.1:14). Não se menciona quem ela imaginou serem os que estavam sentados no túmulo de Jesus. E, sem esperar resposta, ela se voltou para trás. |
Jo.20:14 | 14. Tendo dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. Não reconheceu. Os olhos de Maria a impediam de reconhecer o Senhor, como os dos discípulos no caminho de Emaús (Lc.24:16). Provavelmente as lágrimas não lhe permitiam ver claramente. Era Jesus. Esta foi a primeira aparição após a ressurreição (Mc.16:9). |
Jo.20:15 | 15. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Por que choras? A mesma pergunta feita pelos anjos (v. Jo.20:13). Estas são as primeiras palavras do Salvador ressuscitado. Se tu O tiraste. O pronome é enfático no grego. Maria não abrigava nenhuma esperança da ressurreição. Sua única preocupação era recuperar o corpo do Senhor. Ela poderia sepultá-Lo no túmulo em que seu irmão tinha estado e que Jesus dali o chamara (Jo.11:1; Jo.11:38Lc.7:50). |
Jo.20:16 | 16. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Raboni (que quer dizer Mestre)! Maria. Evidentemente, Jesus pronunciou o nome dela num tom familiar. Ela foi tomada de intensa emoção ao compreender que o Senhor estava vivo. Disse. Evidências textuais atestam a adição da frase “em hebraico” (ARA; cf. p. 136). Raboni. Do gr. Rhabbouni, uma transliteração do aramaico rabbuni, que significa, literalmente, “meu grande”, e que era usado como uma forma de tratamento para os mestres. O termo equivale a “rabi” (ver com. Mt.23:7; Jo.1:38). Mestre. Do gr. didaskalos, “aquele que ensina”. “Raboni”, provavelmente, tenha sido a forma habitual de Maria saudar a Jesus (ver Jo.11:28). |
Jo.20:17 | 17. Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Não me detenhas. O grego pode ser interpretado com o significado de “pare de me tocar” (o que implicaria que Maria estivesse abraçando Seus pés) ou “interrompa o intento de abraçar”. Este último deve ser o significado aqui. A objeção não indica que fosse errado ou pecaminoso o contato físico com o corpo ressuscitado. Há uma urgência na expressão. Jesus não queria ser detido para receber a homenagem de Maria. Ele desejava primeiro ascender ao Pai a fim de obter a certeza de que Seu sacrifício fora aceito (ver DTN, 790). Depois da ascensão temporária, Jesus permitiu, sem protesto, o que pedira a Maria para adiar (ver Mt.28:9). Meus irmãos. Isto é, os discípulos. Meu Pai e vosso Pai. Não “nosso Pai”, talvez com o propósito de mostrar que existem algumas diferenças importantes entre o relacionamento de Cristo com o Pai e o nosso. “Pai” e “Deus” são utilizados aqui como sinônimos. |
Jo.20:18 | 18. Então, saiu Maria Madalena anunciando aos discípulos: Vi o Senhor! E contava que ele lhe dissera estas coisas. Anunciando aos discípulos. Maria passou imediatamente a fazer o que lhe fora dito. No entanto, os discípulos persistiram na incredulidade (Mc.16:11; Lc.24:11). |
Jo.20:19 | 19. Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! Ao cair da tarde. [Jesus aparece aos discípulos, Jo.20:19-23 = Lc.24:36-43; Comentário principal: Lc e Jo; ver mapa, p. 223; gráfico, p. 230]. O encontro ocorreu depois que os dois discípulos retornaram de Emaús, tarde da noite (ver com. de Lc.24:33). Primeiro dia da semana. Isto é, de acordo com o computo romano, em que o início do dia era à meia-noite. De acordo com o computo judaico, que considerava o início do dia ao pôr do sol, a reunião teve lugar no segundo dia da semana. Com medo dos judeus. Esta frase pode ter relação com “trancadas as portas da casa” ou com “onde estavam os discípulos”. A construção do texto grego e o contexto favorecem a primeira possibilidade. O lugar da reunião era o mesmo cenáculo onde eles tinham comemorado a Páscoa (ver Lc.24:33). Parece improvável que os discípulos se ocultassem em lugar tão conhecido. No entanto, ter as portas trancadas para se proteger dos inimigos é perfeitamente compreensível (cf. DTN, 802). A seguinte tradução ilustra essa relação entre as frases: “os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus” (BJ). |
Jo.20:20 | 20. E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. Sem comentário para este versículo. |
Jo.20:21 | 21. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. Sem comentário para este versículo. |
Jo.20:22 | 22. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Recebei o Espírito Santo. Este foi um cumprimento preliminar e parcial da promessa de Jo.14:16-18; e Jo.16:7-15. O derramamento pleno ocorreu cerca de 50 dias depois, no Pentecostes (At.2). |
Jo.20:23 | 23. Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos. Se de alguns perdoardes os pecados. Jesus fala aqui aos discípulos como representantes de Sua igreja na Terra, a quem Ele confiou a responsabilidade de cuidar dos interesses e das necessidades espirituais das pessoas. Jesus já havia explicado a eles amplamente como tratar os membros errantes: primeiro pessoalmente (ver com. de Mt.18:1-15; Mt.18:21-35) e, depois, com a autoridade da igreja (ver com. dos v. Mt.18:16-20). Após a ressurreição, Ele reitera as instruções dadas na ocasião anterior. A igreja deve trabalhar fielmente para a restauração de seus membros errantes, incentivando-os a se arrepender e se converter dos maus caminhos. Quando há evidência de que a pessoa está em paz com Deus, a igreja deve aceitar o arrependimento como genuíno e liberar o errante das acusações feitas contra ele, ou seja, “remir” os seus “pecados”, e recebê-lo de volta à comunhão plena. Tal remissão de pecados é ratificada no Céu. Na verdade, Deus já aceitou e perdoou ao arrependido (ver com. de Lc.15:1-7). As Escrituras ensinam explicitamente, no entanto, que o arrependimento do pecado e a confissão devem se dirigir ao trono da graça, no Céu (ver At.20:21; 1Jo.1:9), e que a libertação do pecado só vem pelos méritos de Cristo e de Sua mediação pessoal (1Jo.2:1). Deus nunca delegou essa prerrogativa aos falíveis mortais, pois eles próprios se encontram frequentemente necessitados da misericórdia e da graça de Deus, ainda que sejam os líderes designados da igreja (ver DTN, 805, 806; ver com. de Mt.16:19). São retidos. Quando falta evidência de um arrependimento genuíno, as acusações contra um membro errante são “retidas”. O Céu reconhecerá a decisão da igreja, pois ninguém pode estar em paz com Deus se está em conflito com os semelhantes. A pessoa que despreza o conselho de representantes designados por Deus não pode esperar desfrutar o favor divino. Este era um princípio operante na primeira igreja (At.5:1-11). |
Jo.20:24 | 24. Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Tomé. [A incredulidade de Tomé, Jo.20:24-25. Ver mapa, p. 223; gráfico, p. 230]. Ver com. de Jo.11:25, cf. com. de Mc.3:18. |
Jo.20:25 | 25. Disseram-lhe, então, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei. Vimos o Senhor. Comparar com a mensagem de Maria (v. Jo.20:18). Se eu não vir. Deus sempre oferece evidências suficientes para fundamentar a fé, e os que estão dispostos a aceitá-las sempre encontram o caminho da salvação. Ao mesmo tempo, Deus não obriga ninguém a crer contra a própria vontade, pois assim os privaria do direito de usar o livre-arbítrio. Se todas as pessoas fossem como Tomé, as gerações posteriores nunca poderiam chegar ao conhecimento do Salvador. Na verdade, ninguém, exceto as poucas centenas de pessoas que viram o Senhor ressuscitado com os próprios olhos, teria acreditado. Porém, a todos os que O recebem pela fé e acreditam em Seu nome (ver com. de Jo.1:12) o Céu reserva uma bênção especial: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo.20:29). De modo algum acreditarei. Esta expressão é mais enfática no grego. |
Jo.20:26 | 26. Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles. Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! Passados oito dias. [Jesus aparece novamente aos discípulos, Jo.20:26-28]. Isto é, “oito dias”, segundo a contagem inclusiva, ou seja, no domingo seguinte (ver p. 247; Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20). A nova reunião, de acordo com o computo judaico, ocorreu uma semana mais tarde, talvez à noite outra vez (ver com. do v. Jo.20:19; sobre o sistema de computo do tempo, ver p. 246-248). Alguns atribuem significado especial ao fato de este segundo encontro com os discípulos ter ocorrido no primeiro dia da semana. Insistem que este foi o início da comemoração do dia da ressurreição, ocasião para a santificação e consagração do domingo como dia de culto e adoração. Certamente, se este tivesse sido o objetivo, seria esperada alguma menção a isso. Porém, não há nenhum indício de tal propósito. Por outro lado, a narrativa dá uma razão válida para que a reunião se realizasse: Tomé, o discípulo cético, estava presente, e Jesus queria fortalecer sua fé. Portas trancadas. Provavelmente por medo dos judeus, como na ocasião anterior (ver com. do v. Jo.20:19). Paz seja convosco! A saudação é a mesma da ocasião anterior (v. Jo.20:19). |
Jo.20:27 | 27. E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. Põe aqui o dedo. O Senhor sabia o que Tomé pensava e, assim que chegou, dirigiu Sua atenção ao discípulo. Jesus lhe ofereceu a prova exata que ele esperava, embora fosse irrazoável (ver v. Jo.20:25). Não se menciona que Tomé tenha aceitado o oferecimento de Jesus. O fato de o Senhor ter lido as dúvidas de seu coração com tanta precisão foi para ele prova convincente da ressurreição. |
Jo.20:28 | 28. Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu! Senhor meu. Do gr. ho Kurios mou. Tomé usa o título com o significado mais elevado (ver com. de Jo.13:13). Na LXX, o título kurios é a tradução do heb. Yahweh, o nome divino (ver vol. 1, p. 149-151). Por sua confissão, Tomé relacionou quem estava diante dele com o Yahweh do AT. Esta confissão se tornou, mais tarde, uma fórmula padrão de fé (ver 1Co.12:3). Deus meu. Do gr. ho Theos mou. Na LXX, Theos é a tradução do heb. Elohim, o título divino de “Deus”. No NT, Theos geralmente é usado para o Pai (Rm.1:7; 1Co.1:3), mas aqui, como em Jo.1:1 (ver com. ali), a palavra atribui a divindade a Cristo. Embora Tomé ainda não entendesse muitas coisas sobre o relacionamento das pessoas da Divindade, sua confissão foi mais profunda e abarcante em suas implicações do que as feitas anteriormente por outros dos discípulos (ver, por exemplo, Mt.16:16). |
Jo.20:29 | 29. Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. Porque Me viste. Aparentemente Tomé não chegou a tocar as marcas dos pregos e a cicatriz deixada pelo golpe de lança (v. Jo.20:27). Mas ele queria pelo menos comprovar com os olhos. Ele não estava disposto a acreditar unicamente pelo testemunho dos outros. Jesus repreendeu sua falta de fé e louvou aqueles que estavam dispostos a acreditar, sem a comprovação dos sentidos. Bem-aventurados. Do gr. makarioi (ver com. de Mt.5:3). |
Jo.20:30 | 30. Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Sinais. [Epílogo do evangelho de João; O objetivo deste evangelho, Jo.20:30-31; Jo.21:24-25]. Do gr. semeia (ver p. 204, 205). “Muitos”, neste versículo, pode se referir a “outros sinais”, com os quais o leitor já estava familiarizado por meio de relatos da vida de Cristo já em circulação. |
Jo.20:31 | 31. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. Estes, porém, foram registrados. João resume o propósito do que escreveu e o plano que seguiu em sua seleção do material. Não era seu objetivo apresentar uma história completa ou mesmo uma biografia detalhada de Jesus. Escolheu os “sinais” que formavam o fundamento de seu tema e o propósito pelo qual escreveu. Jesus é o Cristo. Jesus foi o nome de Cristo em Sua humanidade (ver com. de Mt.1:21). Foi Seu nome pessoal, o nome pelo qual Ele era conhecido por Seus contemporâneos. Para muitos, esse nome só identificava o filho do carpinteiro. O propósito de João era demonstrar que o Jesus que as pessoas conheciam era realmente o Messias. “Cristo” significa “Messias” (ver com. de Mt.1:1). Filho de Deus. Ver com. de Lc.1:35. Vida. Do gr. zoe (ver com. de Jo.1:4; Jo.8:51; Jo.10:10); ver Jo.6:47; ver com. de Jo.3:16. |
Jo.21:1 | 1. Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e foi assim que ele se manifestou: Depois disto. [Jesus aparece a sete discípulos, Jo.21:1-14]. Isto é, entre a segunda manifestação no cenáculo (Jo.20:26-29) e a manifestação em uma montanha na Galileia (Mt.28:16-20). Isso fica evidente pelo fato de o incidente ser descrito como “a terceira vez que Jesus Se manifestava aos discípulos” (Jo.21:14; ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20). Mar de Tiberíades. Ver com. de Jo.6:1. |
Jo.21:2 | 2. estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu e mais dois dos seus discípulos. Simão Pedro. Ver com. de Mc.3:16. Tomé. Ver com. de Mc.3:18. Dídimo. Ver com. de Jo.11:16. Natanael. Ver com. de Mc.3:18; Jo.1:45. Caná da Galileia. Ver com. de Jo.2:1. Filhos de Zebedeu. Ou seja, Tiago e João, que só aqui são assim chamados por João (Mt.4:21; Mc.10:35). |
Jo.21:3 | 3. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe os outros: Também nós vamos contigo. Saíram, e entraram no barco, e, naquela noite, nada apanharam. Vou pescar. A pesca tinha sido o ofício de Pedro antes de se converter em discípulo de Jesus (ver Mt.4:18-20). Tiago e João também eram pescadores (Mt.4:21). O objetivo da sugestão foi, sem dúvida, para reabastecer seus escassos recursos. Os discípulos não estavam abandonando sua vocação mais elevada. Eles tinham ido para a Galileia para se encontrar com o Mestre (ver com. de Mt.28:16; DTN, 809, 810). Naquela noite. Por causa das águas claras, a noite era o momento apropriado para a pesca no lago (ver com. de Lc.5:5). Nada apanharam. Como em uma ocasião anterior (ver com. de Lc.5:5). |
Jo.21:4 | 4. Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia; todavia, os discípulos não reconheceram que era ele. Não reconheceram que era Ele. Talvez os olhos deles estivessem “fechados” como os dos discípulos no caminho de Emaús (Lc.24:16). É provável que houvesse pouca luz. Maria também, não tinha reconhecido Jesus quando Ele Se manifestou pela primeira vez (Jo.20:14-16). |
Jo.21:5 | 5. Perguntou-lhes Jesus: Filhos, tendes aí alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não. Filhos. Os evangelhos registram somente essa ocasião em que Jesus Se dirige assim aos discípulos. João usa esta forma em sua primeira epístola (1Jo.2:13; 1Jo.2:18). O título aqui pode ser equivalente a “rapazes” e era aplicado a soldados. De qualquer maneira, a forma de falar não identificou a Pessoa que falava. Sem dúvida, os discípulos, pensaram tratar-se de um estranho. Alguma coisa de comer. Do gr. prosphagion, o que se come além de pão, como carne, peixe, ovos, legumes (cf. com. de Jo.6:9). O pão era o principal artigo de alimentação do judeu. Como a pergunta é dirigida a pescadores, é bem provável que prosphagion se refira a pescado. A forma da pergunta em grego indica que se espera uma resposta negativa. |
Jo.21:6 | 6. Então, lhes disse: Lançai a rede à direita do barco e achareis. Assim fizeram e já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes. À direita do barco. Este era o lado em que Jesus Se encontrava na praia e, ao lhes mandar lançar a rede deste lado, Ele pretendia ensinar a lição de fé e de cooperação com o poder divino (ver DTN, 811). Grande [...] quantidade de peixes. Este milagre faria os discípulos recordar do milagre anterior, quando deixaram tudo para seguir o Mestre (ver com. de Lc.5:11). |
Jo.21:7 | 7. Aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo que era o Senhor, cingiu-se com sua veste, porque se havia despido, e lançou-se ao mar A quem Jesus amava. Sobre esta designação, ver com. de Jo.13:23. João foi o primeiro a reconhecer o Mestre, bem como o primeiro a acreditar na ressurreição (Jo.20:8). Simão Pedro. O Pedro impulsivo, fervoroso e afetuoso respondeu da sua forma característica. Cingiu-se com sua veste. Do gr. ependutes, uma peça de vestuário exterior. Despido. Do gr. gumnos, que pode descrever uma pessoa despida e também se referir à remoção de uma peça exterior do vestuário, como deve ter ocorrido nessa ocasião. Sem dúvida, Pedro desejava estar apropriadamente vestido para saudar o Mestre. Lançou-se ao mar. A água não devia ser profunda. O registro nada menciona acerca de caminhar sobre a água. |
Jo.21:8 | 8. mas os outros discípulos vieram no barquinho puxando a rede com os peixes; porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados. Barquinho. Do gr. ploiarion, literalmente, “bote”, “barquinho”, “barca”. No v. Jo.21:3, a palavra para “navio” é ploion. Devido ao uso de ploiarion, no v. Jo.21:8, alguns chegam à conclusão de que a embarcação maior fora abandonada, devido à pouca profundidade da água, e que eles usaram um barco menor para arrastar a rede até a margem. No entanto, é possível que ploion e ploiarion tenham sido utilizados como sinônimos (Jo.6:17; Jo.6:19; Jo.6:21-22; Jo.6:24), o que indica que se tratava de apenas um barco envolvido. Duzentos côvados. Aproximadamente 100 metros. |
Jo.21:9 | 9. Ao saltarem em terra, viram ali umas brasas e, em cima, peixes; e havia também pão. Brasas. Comparar com Jo.18:18. Peixes. Do gr. opsarion (ver com. de Jo.6:9; comparar com prosphagion; ver com. de Jo.21:5). Jesus previu o cansaço e a fome dos pescadores desapontados. Os discípulos não perguntaram sobre os alimentos e o fogo. |
Jo.21:10 | 10. Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que acabastes de apanhar. Trazei alguns dos peixes. Para complementar o alimento que estava sobre as brasas. |
Jo.21:11 | 11. Simão Pedro entrou no barco e arrastou a rede para a terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes; e, não obstante serem tantos, a rede não se rompeu. Simão Pedro entrou no barco. Pedro respondeu com sua impulsividade característica. Cento e cinquenta e três. O número indica que os peixes foram realmente contados. Alguns sugerem interpretações místicas e fantasiosas quanto a este número. Por exemplo, que o “três” representa a Trindade. Essas interpretações são irrelevantes. |
Jo.21:12 | 12. Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Porque sabiam que era o Senhor. Vinde, comei. Do gr. aristao, neste caso, “tomar o desjejum”. Nenhum [...] ousava perguntar-Lhe. Os discípulos comeram em silêncio e reverência. Muitos pensamentos passaram pela mente deles, mas não ousavam se expressar. |
Jo.21:13 | 13. Veio Jesus, tomou o pão, e lhes deu, e, de igual modo, o peixe. Tomou o pão. Jesus é o bondoso doador de comida. Evidências textuais (cf. p. 136) favorecem o acréscimo de “e, tendo dado graças, deu aos discípulos”. Mesmo sem esse suporte textual, presume-se que se fez uma oração de agradecimento. |
Jo.21:14 | 14. E já era esta a terceira vez que Jesus se manifestava aos discípulos, depois de ressuscitado dentre os mortos. Terceira vez. João enumera apenas as manifestações aos discípulos, não às mulheres (Mt.28:9; Jo.20:14-17). As enumeradas são: aos discípulos no cenáculo à noite, no dia da ressurreição (Jo.20:19); aos discípulos, no mesmo cenáculo, uma semana depois (Jo.20:26); e aos discípulos, junto ao mar da Galileia (ver Nota Adicional a Mateus 28; Mt.28:20). |
Jo.21:15 | 15. Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Depois de terem comido. [Pedro é interrogado, Jo.21:15-23]. Ou, “ao terminarem o desjejum” (ver com. do v. Jo.21:12). Amas-Me. Do gr. agapao. Em sua resposta a Jesus, Pedro usa outro verbo para “amar”, phileo. Estas duas palavras, às vezes, têm significados distintos. Agapao se refere a uma forma mais elevada de amor, um amor regido por princípios e não por emoções; phileo está relacionado ao amor espontâneo, emocional (sobre estas duas palavras, ver com. de Mt.5:43; Jo.11:3). Não há consenso quanto a se as palavras têm aqui um significado diferente ou se são usadas como sinônimos (como ocorre em Jo.14:23; Jo.16:27). Jesus usou a palavra agapao nas duas primeiras perguntas, e Pedro respondeu com phileo. Na terceira vez, Jesus usou phileo, e Pedro respondeu, como anteriormente, com phileo. Não há certeza se houve intenção de distinguir as duas palavras; mas, se houve, a seguinte interpretação é possível: Jesus perguntou a Pedro duas vezes se ele O amava com a forma mais elevada de amor (agapao). Pedro, no entanto, admitiu ter um sentimento de amizade comum: “Tu sabes que eu Te amo [phileo]”. Na terceira vez, Jesus usou a palavra que Pedro tinha empregado e lhe perguntou se ele realmente O amava como a um amigo (phileo), o que o apóstolo já havia admitido duas vezes. É evidente que para Pedro havia uma dúvida implícita na terceira pergunta. De acordo com essa interpretação, ele ficou triste, não porque a mesma pergunta tenha sido feita três vezes, mas porque, na terceira vez, Jesus mudou sua pergunta e aparentemente colocou em dúvida a sinceridade das respostas de Pedro. As três perguntas de Jesus, possivelmente, estavam relacionadas às três negações de Pedro. Três vezes o apóstolo tinha negado ao Senhor. Assim, lhe foi dada a oportunidade confessá-Lo três vezes. Mais do que estes outros? Gramaticalmente, “estes” pode se referir tanto aos outros discípulos como ao barco e aos equipamentos de pesca. No entanto, uma vez que essas coisas não tenham sido mencionadas no contexto imediato, é preferível considerar que a referência seja aos discípulos (DTN, 751, 752). Tu sabes. A resposta de Pedro é humilde. Toda a sua arrogância tinha desaparecido. Apascenta os Meus cordeiros. Os cordeiros representavam os novos na fé. Mais tarde, Pedro comparou os anciãos da igreja a pastores e aqueles sob sua responsabilidade a um rebanho que eles deveriam alimentar (1Pe.5:1-4). Ministros de Deus são pastores que servem sob a liderança do supremo Pastor. |
Jo.21:16 | 16. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela segunda vez. A pergunta se repete, mas sem a adição de “mais do que estes” (ver v. Jo.21:15). O amor de Pedro é diretamente desafiado. Ele dá a mesma resposta humilde. Pastoreia. Do gr. poimaino, “pastorear”, o que, é claro, inclui a alimentação. No v. Jo.21:15, a palavra para “alimentar” é bosko, “para alimentar [como um pastor]”. As duas palavras foram usadas como sinônimos. A responsabilidade de Pedro como pastor foi depois enfatizada e até mesmo ampliada. Se a expressão “cordeiros” se aplicava aos novos na fé, “ovelhas” era uma referência a todo o rebanho. Apesar de sua queda, Pedro não foi deposto de seu ministério como “pescador” de homens (Lc.5:10). |
Jo.21:17 | 17. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. Pela terceira vez. Na terceira pergunta, ao referir-Se ao verbo “amar”, Jesus usou uma palavra diferente da que empregou nas duas primeiras. Não se pode afirmar que havia a intenção de fazer distinção de significado (ver com. do v. Jo.21:15). Pedro entristeceu-se. Ver com. do v. Jo.21:15. Pedro sabia que dera motivos para os outros duvidarem de seu amor pelo Mestre. As repetidas perguntas lhe recordaram vividamente as vezes em que negou ao Mestre; por isso, ele se entristeceu. Senhor, Tu sabes todas as coisas. Na terceira vez, Pedro omitiu o “sim” (ver v. Jo.21:15-16). Recorreu ao olho que tudo vê e que lia os segredos mais íntimos de sua vida. Apascenta as Minhas ovelhas. Jesus repete a ordem (cf. v. Jo.21:15-16). Pedro havia demonstrado que estava de fato arrependido. Seu coração enternecido estava pleno de amor. Então o rebanho poderia ser confiado a ele. |
Jo.21:18 | 18. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Em verdade. Ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51. Estenderás as mãos. Uma evidente referência à crucifixão (ver v. Jo.21:19). Segundo a tradição, que deve ser verdadeira, Pedro morreu crucificado, de cabeça para baixo, pois considerou honra imerecida para quem tinha negado o Senhor o ser crucificado da mesma forma (ver AA, 537, 538). |
Jo.21:19 | 19. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me. Para significar. Comparar com Jo.12:33. Glorificar a Deus. Isto é, ao morrer como mártir, testificaria do poder do cristianismo (cf. 1Pe.4:16). Segue-Me. Há um reflexo desta ordem em 1Pe.2:21. |
Jo.21:20 | 20. Então, Pedro, voltando-se, viu que também o ia seguindo o discípulo a quem Jesus amava, o qual na ceia se reclinara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o traidor? Voltando-se. Este versículo sugere que Jesus havia chamado Pedro à parte e falara com ele em particular sobre a natureza de sua morte, talvez enquanto caminhavam ao longo da margem do lago. João provavelmente os seguia a certa distância. Sobre o peito de Jesus. Ver com. de Jo.13:23. |
Jo.21:21 | 21. Vendo-o, pois, Pedro perguntou a Jesus: E quanto a este? E quanto a este? Pedro havia recebido uma revelação notável a respeito de seu próprio futuro e devia ter ficado satisfeito com o que o Senhor considerou conveniente revelar-lhe. Mas o apóstolo estava curioso para saber o que o futuro reservava a João. Jesus aproveitou a oportunidade para impressionar a Pedro com a lição de colocar em primeiro lugar o que é mais importante. |
Jo.21:22 | 22. Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me. Se Eu quero. Esta frase de Cristo expressa uma suposição, o que fica claro no v. Jo.21:23. Alguns, de forma equivocada, interpretaram como uma declaração afirmativa. Jesus simplesmente disse: “Suponhamos que Eu queira que ele permaneça; isso não deveria ser um motivo de preocupação para você, Pedro.” A resposta foi uma reprovação. Ele não deveria se preocupar acerca do futuro dos colegas. Devia seguir ao Senhor e manter os olhos em Jesus. A preocupação demasiada com os outros poderia induzir o apóstolo a cair. |
Jo.21:23 | 23. Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Aquele discípulo não morreria. Muitos consideraram como uma profecia o que Jesus usou apenas como uma suposição (ver com. do v. Jo.21:22). Acreditavam que a vinda de Jesus estava muito próxima (At.1:6-7). |
Jo.21:24 | 24. Este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. O discípulo. [Epílogo do evangelho de João; O testemunho de João, Jo.21:24-25]. Ver com. de Jo.20:30. O “discípulo a quem Jesus amava” (Jo.21:20) se identifica como o autor do evangelho (ver p. 983). Os v. 24 e 25 formam o clímax apropriado para todo o evangelho (ver com. de Jo.20:30). Destas coisas. Referência à narrativa deste capítulo e também a todo o evangelho. Sabemos. Não se sabe a quem esta forma plural do verbo se refere. Provavelmente os anciãos de Éfeso (ver p. 983, 984) quisessem afirmar que o que tinha sido escrito era, de fato, a verdade. Circulavam narrativas espúrias e obras de autores inescrupulosos, e João desejava que se conhecesse a verdade acerca dos fatos. |
Jo.21:25 | 25. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos. Muitas outras coisas. Neste último versículo, João prorrompe em uma declaração emocionada acerca das muitas coisas notáveis que o Mestre tinha dito e feito. Ele escreveu seu evangelho com certos propósitos espirituais, relatou os acontecimentos e registrou as coisas que contribuíram para esses propósitos (ver p. 983, 984). Os escritores dos outros evangelhos fizeram o mesmo. Consequentemente, muitas ações e realizações de Jesus ficaram sem registro. Nem no mundo inteiro caberiam. Esta linguagem é hiperbólica, mas serve para enfatizar a imensa quantidade de palavras e obras de Jesus. Uma hipérbole semelhante, da mesma época em que João escreveu, é proveniente do rabi Jochanan ben Zakkai. Registra-se que ele teria dito: “Se o céu inteiro fosse pergaminho e todas as árvores canas de escrever, e tinta todo o mar, isso não seria suficiente para consignar por escrito a sabedoria que eu aprendi com meus mestres”. Essa figura literária judaica, desde então, tem sido popularizada no hino “Sublime amor”, de Frederick Martin Lehman (Hinário Adventista, n° 31). Ao comentar estas palavras finais de João, João Calvino observa: “Se o evangelista, ao contemplar a grandeza da majestade de Cristo, exclama com espanto, que nem mesmo o mundo inteiro poderia conter um relato completo dele, deveríamos assombrar-nos por isso?” |