"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Eclesiastes
Ec.1:1 1. Palavra do Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém:

Palavra. Assim começa o verso que dá o título deste livro. Outros três livros bíblicos iniciam de modo semelhante: Neemias, Jeremias e Amós. O termo hebraico traduzido como “palavra” também significa “notícia”, “relatório”, “mensagem”, “história” ou “encargo”.

Pregador. Do heb. Qoheleth, termo que se origina do verbo qahal, “reunir”, “ajuntar” (para exemplos do uso de qahal, ver 2Cr.20:26; Et.9:2; Et.9:16; Et.9:18). O substantivo cognato traduzido como “assembléia”, “congregação” ou “companhia” ocorre 122 vezes no AT. Alguns escritores judeus têm explicado que Qoheleth significa “alguém que reúne uma congregação e expõe o ensino”. Outros o apresentam corno “Pregador” porque é dito que Salomão proferia esses discursos diante de uma congregação. Isto é similar à raiz arábica diversas vezes traduzida como “grande colecionador” e “sincero investigador” (ver PR, 85; ver também a introdução a Eclesiastes).

Filho de Davi. Ou seja, Salomão. Quem seria mais qualificado que ele para expor as profundas verdades registradas neste livro? Deus o dotou com uma capacidade genial (1Rs.3:9-13), mas ele desperdiçou sua herança numa busca frenética pela felicidade.

Rei de Jerusalém. Esta frase se refere ao Pregador, não ao rei Davi. Na ocasião do discurso, o “Pregador” governava como “rei”. Sem dúvida, esta expressão é uma referência direta ao rei Salomão, apesar de seu nome não ocorrer no livro. Outras expressões que indicam que se trata de Salomão são as referências à sua sabedoria e a ele como autor de vários provérbios (ver Ec.1:12-13; Ec.1:16; Ec.2:15; Ec.12:9; 1Rs.3:12; 1Rs.4:32). A cidade de Jerusalém, a capital da nação gloriosamente situada, não era apenas o local da residência real, mas, acima de tudo, a sede que Deus escolhera para estar entre Seu povo. Ali a religião e a sabedoria divina deveriam ter o mais alto grau de pureza e excelência. O governante dessa cidade deveria ter sido o agente ideal, receptivo à orientação de Deus e submisso a Sua vontade, para irradiar a sabedoria divina a um povo receptivo.

Ec.1:2 2. Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.

Vaidade de vaidades. Do heb. habel habalim. Estas palavras expressam o assunto do livro e são o tema do prefácio. Hebel, “vaidade”, ocorre 37 vezes em Eclesiastes e somente 33 vezes em todo o restante do AT. Seu significado original é “sopro” ou “vapor”. É usado para se referir aos “ídolos” como coisas vãs e sem valor, e também para seu culto (2Rs.17:15; Je.2:5; Je.10:8). Alguns afirmam que em Eclesiastes não há nenhuma referência contra a idolatria, ainda que a palavra-chave do livro seja geralmente usada para ídolos e a adoração a eles.

O Pregador diz que é “vaidade” qualquer coisa que o ser humano busque em lugar de Deus e da obediência a Ele. Habel habalim é um superlativo equivalente a expressões enfáticas como “céu dos céus” (1Rs.8:27) e “cântico dos cânticos” (Ct.1:1). Por meio desta forma enfática, literalmente, “sopro dos sopros”, Salomão destaca o final inútil e insatisfatório da vida e do esforço humanos, a menos que sejam direcionados para Deus.

Diz. Literalmente, “disse”. O hebraico geralmente emprega o verbo no passado cujo equivalente em português requer o presente. A expressão “disse o Pregador” é uma lembrança de que Salomão é o orador e, portanto, o autor.

Tudo é vaidade. Esta expressão pode ser traduzida como “a soma total é vaidade”, significando que o mundo, incluindo a vida, não é mais do que apenas um sopro, sem oferecer qualquer promessa de esperança.

Ec.1:3 3. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?

Proveito. Do beb. yithron. Esta palavra ocorre outras nove vezes neste livro (Ec.2:11; Ec.2:13; Ec.3:9; Ec.5:9; Ec.5:16; Ec.7:12; Ec.10:10-11) e é traduzida de várias formas: “mais excelente”, “excelente”, “lucrativo”, “melhor”. Yithron vem de um verbo que significa “permanecer sobre”, e o substantivo derivado dele contém a ideia de “sobra” e, então, “excesso”, “abundância” e, no hebraico, “superioridade”, “vantagem”. O ser humano se esforça continuamente, sem, contudo, obter um resultado permanente. É possível que a metáfora utilizada por Salomão neste texto se refira ao mundo dos negócios com suas atividades incessantes, cujo propósito é obter lucro material (ver com. de Ec.2:11).

No entanto, com frequência, uma pessoa dedica a vida à construção de algo que seu sucessor derrubará. A inutilidade e a insegurança caracterizam todo o esforço humano. A interrogação “que?” solicita uma resposta negativa enfática. Pode ser comparada com as palavras de Mt.16:26, em que, literalmente, o Mestre pergunta: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” A resposta antecipada pelo Pregador é: “Nada”.

Homem. A palavra hebraica é o termo genérico para “ser humano”. O ciclo da vida humana se repete em cada nova geração.

Trabalho. Tradução de uma palavra hebraica que significa “labuta”, “dificuldade” ou “maldade”. Neste verso, o termo é aplicado à soma dos esforços de uma pessoa durante toda a vida.

Com que se afadiga. Esta expressão se refere a todas as formas de atividade realizadas sob a luz do Sol.

Debaixo do sol. Equivalente à frase “debaixo do céu” (Ec.1:13; Ec.2:3; Ec.3:1). Ocorre cerca de 30 vezes em Eclesiastes.

Ec.1:4 4. Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre.

Geração. Do heb. dor, “período”, “época”, “geração”, procede de um verbo que significa “amontoar”, “empilhar”. O sentido original era “mover-se em círculos” depois passou a ser “habitar em barracas” como referência à instabilidade da vida nômade. A palavra sugere a ideia de instabilidade. Abarca conceitos como tipo, qualidade, condição, como na frase “geração deformada” (Dt.32:5), com referência a pessoas que amaldiçoam com facilidade (Pv.30:11) e com aqueles que são implacáveis (Pv.30:14).

Vai e [...] vem. No hebraico, “vai e vem” são particípios simples que salientam mudanças contínuas, incessantes (ver Jó.10:20-22; Sl.39:13).

Permanece. Do heb. ’amad, palavra com o sentido comum de “ficar”. Transmite a ideia de continuidade e durabilidade. O contraste que Salomão apresenta neste verso é, em parte, extraído da aparente estabilidade das montanhas, do incessante fluir dos rios e da ininterrupta sucessão de dia e noite.

Para sempre. A palavra hebraica aqui traduzida deriva de uma raiz verbal cujo sentido preciso não é conhecido. O advérbio “sempre” é a tradução de um substantivo hebraico masculino e, como seu equivalente grego, é utilizado de várias formas. Pode se referir a “antiguidade”, “tempos passados”, “longa duração”, “existência contínua”. Pode significar “indefinido”, “futuro sem fim”, “eternidade ”, etc. Como o equivalente grego, se compreende melhor em cada caso em harmonia com a natureza do tema em que é utilizado (ver com. de Ex.12:14; Ex.21:6).

Ec.1:5 5. Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo.

Apressa-se (ACF). Do heb. sha’af, “ir atrás”, “agarrar ansiosamente”, “estar ansioso”. A imagem é de um cavalo de porte, farejando o ar ansiosamente para entrar em uma corrida (ver Je.2:24, como um exemplo desta imagem, e Sl.119:131, para uma aplicação à vida espiritual).

Levanta-se. Do heb. zarah, no particípio, que enfatiza atividade contínua ou repetida.

Ec.1:6 6. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos.

O vento. Do heb. ruach, “vento”, uma palavra que sempre indica atividade. É utilizada várias vezes em ligação às atividades de Deus na condução do plano da salvação.

Faz o seu giro. Uma imagem de incessante atividade e repetição. “Norte” e “sul” são mencionados em contraste com o “leste” e o “oeste” do v. Ec.1:5, locais de nascimento e ocaso do sol.

Volve-se, e revolve-se. No original hebraico deste verso, as palavras derivadas da raiz “girar” e “rodear” são empregadas quatro vezes para destacar a ideia de atividade e repetição incessantes. A palavra também é utilizada para descrever a marcha do exército de Josué ao redor de Jericó (Js.6:3; Js.6:15) e as voltas dos israelitas ao rodear a montanha de Seir por vários dias (Dt.2:1; Dt.2:3). Salomão não estava se queixando dos incessantes ciclos da natureza, mas via neles um paralelo aos ciclos da vida humana (Ec.1:4).

A vida do ser humano, de geração a geração, é uma simples questão de repetição, sem nenhum objetivo sublime em vista? Não deveria haver um ponto culminante para a existência da humanidade? Deus não tem um propósito eterno que suplantará esta sequência aparentemente interminável de atividade do gênero humano? A exatidão científica da descrição que aqui se dá ao movimento das massas de ar sobre a superfície da Terra é inigualável na literatura antiga e revela um conhecimento das leis da natureza muito superior ao que tinham as pessoas do passado.

Ec.1:7 7. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr.

Todos os rios. Como um terceiro exemplo do interminável ciclo da natureza, Salomão apresenta o ciclo da água. Embora as forças naturais forneçam um quadro de repetição, sua atividade e suas funções foram designadas por Deus em harmonia com Sua vontade. No entanto, na maioria dos casos, a atividade humana não foi designada por Deus e não tende ao fim satisfatório que Ele tinha em mente ao criar o ser humano. A humanidade tem buscado continuamente novos caminhos para a felicidade e satisfação, mas só atingirá seu objetivo quando estiver em paz com seu Criador (ver Mt.11:28-30).

Ec.1:8 8. Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir.

Coisas. Do heb. debarim, traduzido como “palavras” no v. Ec.1:1. Aqui tem o sentido de “coisas”. No NT, o termo grego rhema, “palavra” ou “coisa”, tem o mesmo significado duplo que a palavra hebraica utiliza neste verso.

Canseiras. A palavra hebraica traduzida aqui é um adjetivo do verbo “labutar” e está relacionada a uma raiz arábica que significa “ter dor”, “sofrer”. A aparente esterilidade da atividade humana e os desapontamentos que a acompanham são os pontos enfatizados aqui.

Ninguém as pode exprimir. A palavra traduzida como “homem” não é o termo genérico do v. Ec.1:3, mas se refere a “homem” como distinto de mulher. O verbo traduzido como “exprimir” é raiz de “palavras”, no v. Ec.1:1, e de “coisas”, no v. 8. No hebraico, o verbo “exprimir” se refere a “todas as coisas”.

Não se fartam. A experiência exterior não pode satisfazer os desejos do coração. As coisas, isto é, as bênçãos materiais, não satisfazem a pessoa pensante. Aproximar-se verdadeiramente de Deus não é algo que se concretiza apenas pelos órgãos dos sentidos, pelos quais conhecemos Sua palavra e a revelação como um todo. Mais do que isso, é necessária uma experiência interior. “Deus é espírito” (Jo.4:24), portanto, o ser humano deve se aproximar dEle de maneira espiritual. Assim, as coisas que sensibilizam os sentidos físicos não proporcionam necessariamente bem estar duradouro a menos que alcancem a mente e o coração, com os quais se ouve a voz de Deus.

Ec.1:9 9. O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol.

O que foi. Esta é a interpretação literal da frase: “O que foi é o que há de ser.” É uma referência ao imutável ciclo da natureza, repetido em obediência às leis ordenadas por Deus. A LXX e a Vulgata traduzem incorretamente esta frase e a seguinte como sentenças interrogativas.

Nada há, pois, novo. Não há variação no contínuo ciclo da natureza. Tendo testemunhado um ciclo, o ser humano já viu a todos. Cada um se mistura com o outro de modo tão imperceptível que não se nota diferença entre eles. Os ciclos parecem não ter outro propósito a não ser a perpetuação.

Ec.1:10 10. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós.

Há alguma coisa [...]? O autor contesta uma objeção implícita em suas declarações no v. Ec.1:9 com o desafio de mencionar alguma coisa “nova”.

Já foi. O que parece novo tem suas raízes no passado. O contexto evidencia que as observações de Salomão nos v. Ec.1:9 e 10 se aplicam aos vários fenômenos naturais e também ao ciclo da vida humana.

Nos séculos. A palavra ’olam, traduzida como “séculos passados” na ARC, é a mesma traduzida como “para sempre” no v. Ec.1:4 (ver com. de Ex.12:14; Ex.21:6).

Ec.1:11 11. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas.

Já não há lembrança. O que parece ser novo surge apenas por que o ser humano esqueceu o passado. De modo semelhante, algumas coisas da presente geração serão esquecidas pela seguinte. Isto bem se aplica à fama. Uma pessoa preeminente hoje, aparentemente tão necessária, será substituída e esquecida amanhã. “Que proveito tem o homem” (v. Ec.1:3).

Coisas que precederam. “Coisas” é uma palavra acrescentada. Visto que o adjetivo precedente é plural masculino, deveria ser entendido como se referindo a pessoas. Deste modo, não somente todas as “coisas” (v. Ec.1:10) são esquecidas, mas também todas as pessoas.

Coisas posteriores. Outra vez, “coisas” é uma palavra acrescentada e o adjetivo hebraico traduzido como “posteriores” é plural masculino. A ideia é de gerações humanas. A fama desta geração é esquecida pela seguinte. Salomão conclui o prólogo de seu livro com um comentário sobre a transitoriedade da fama. Isto é salientado pela palavra “depois”, literalmente, “no futuro”.

Ec.1:12 12. Eu, o Pregador, venho sendo rei de Israel, em Jerusalém.

Venho sendo rei. O hebraico não sugere que o orador já não é rei. O passado do verbo hebraico é com frequência melhor traduzido para o português como presente perfeito (ver com. do v. Ec.1:2). O “Pregador” foi Salomão porque somente com Davi e Salomão é que Jerusalém foi a capital na qual um rei governava “sobre Israel”, e o orador é “o filho de Davi” (v. Ec.1:1).

Ec.1:13 13. Apliquei o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens, para nele os afligir.

Apliquei o coração. Esta frase ou sua equivalente ocorre com frequência no livro (Ec.1:17; Ec.7:25; Ec.8:9; Ec.8:16) e em outros lugares da Bíblia. Entre os hebreus, o coração era considerado como a sede dos sentimentos e da inteligência. Assim, “apliquei o coração” seria o mesmo que “apliquei minha mente” (ver 1Cr.22:19; Jó.7:17). Salomão cultivou a mente com diligência; ele se entregou ao estudo da história natural, filosofia, poesia e de outros conhecimentos proveitosos.

Esquadrinhar. Do heb. darash, uma palavra de sentido amplo, que abrange ideias como “procurar”, “expor um significado”, “discutir”, “praticar”, “buscar com diligência e estudo” (ver Gn.25:22; Ex.18:15; Dt.19:18; 2Cr.14:7; Sl.119:10; Am.5:14).

Informar. No sentido de “explorar”, “espiar”. Verbo utilizado para se referir ao reconhecimento da terra de Canaã pelos espias (Nm.13:16-17; Nm.13:25; Nm.13:32). A palavra se aplica à investigação feita por pioneiros em busca de conhecimento. “Esquadrinhar” e “informar”, juntas, sugerem ir à raiz de um assunto e explorá-lo sob todos os aspectos.

Com sabedoria. Literalmente, “a sabedoria”, talvez com relação à sabedoria que Salomão adquiriu no decorrer da vida, graças à boa vontade de Deus, pelo estudo pessoal e pela observação. A palavra hebraica é utilizada para competências e habilidades em diversas áreas.

De tudo quanto sucede debaixo do céu. Esta frase, neste texto se refere principalmente a atividades humanas.

Este enfadonho trabalho. Literalmente, “esta aflição maligna” ou “esta aflição”.

Para nela os exercitar (ARC). Deus implantou no coração da humanidade a necessidade de estudo e investigação. Esta é uma tarefa árdua, que requer esforço da mente e do corpo.

Ec.1:14 14. Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento.

Atentei. A palavra hebraica geralmente significa mais do que olhar apenas a forma e aparência exterior. É uma aguda percepção. O substantivo derivado significa “visão”, ou seja, uma revelação. Aqui, denota a aguda observação de Salomão, baseada em seu estudo dos fatos envolvidos.

Obras. Ou seja, projetos e atividades humanas, muitos dos quais se mostram sem valor ou benefício.

Aflição de espírito (ARC). A palavra traduzida como “aflição” (ARC) pode derivar da raiz “alimentar”, “pastorear”. “Espírito” é tradução de um vocábulo que também significa “vento”. Assim, a expressão pode ser traduzida como “correr atrás do vento” (ARA) ou “apascentar o vento”, como em Os.12:1: “Efraim apascenta o vento e persegue o vento leste todo o dia.” Apesar da tradução, esta figura de linguagem enfatiza o caráter insuficiente de muitos dos esforços e estudos humanos. A mesma figura se repete em Is.44:20: “Tal homem se apascenta de cinza.”

Ec.1:15 15. Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular.

Torto. Esta expressão deriva de uma raiz que significa “dobrar”, “torcer”. Não se refere tanto a algo que é inerentemente torto, mas àquilo que foi levado a ficar assim. Observe que as palavras precedentes, “aquilo que é”, foram acrescentadas. São as “obras” das pessoas (v. Ec.1:14) que ficaram “tortas”.

Endireitar. De uma palavra hebraica cuja raiz significa “arranjar”, “corrigir”, “pôr em ordem”. A ênfase está sobre a inabilidade humana para lidar na sua própria força com as situações que se apresentam constantemente.

Não se pode calcular. A perda é tão grande que nem se pode fazer um cálculo aproximado da deficiência e muito menos começar a supri-la. A palavra traduzida como “calcular” também pode ser interpretada como “atribuir”, “nomear”.

Ec.1:16 16. Disse comigo: eis que me engrandeci e sobrepujei em sabedoria a todos os que antes de mim existiram em Jerusalém; com efeito, o meu coração tem tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento.

Disse comigo. Uma afirmação hebraica enfática que implica meditação pessoal, em oposição a falar coisas sobre outras pessoas.

Eis que me engrandeci. Literalmente, “Eu fiz com que se tornasse”, referindo-se à disciplina de suas capacidades para trabalhar e estudar e o crescimento resultante em conhecimento e sabedoria.

Sobrepujei em sabedoria. Ou, “alcancei”, “atingi” a sabedoria.

Em Jerusalém. A tradução mais exata seria “sobre Jerusalém”, ou seja, “sobre” os sábios e governantes da cidade anteriores a Salomão.

Larga experiência da sabedoria. A forma verbal hebraica traduzida como “contemplei” é a mesma que ocorre como “atentei”, “vi muito” [aguçada percepção],“de sabedoria e conhecimento” (v. Ec.1:14). A LXX interpreta “sabedoria” com uma palavra que denota valores éticos e morais, e, “conhecimento”, por uma palavra que significa o lado especulativo do esforço mental.

Ec.1:17 17. Apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a saber o que é loucura e o que é estultícia; e vim a saber que também isto é correr atrás do vento.

Loucura. Esta palavra procede de uma raiz que quer dizer “colocar ao contrário”. Sugere que a sabedoria nem sempre orientou Salomão com relação aos assuntos que ele investigou.

Aflição de espírito (ARC). Ver com. do v. Ec.1:14.

Ec.1:18 18. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza.

Enfado. A palavra assim traduzida é de uma raiz que significa “ser afligido”, “ser provocado”. Estudo excessivo leva a insônia, nervos desgastados e a outros problemas de saúde. No entanto, não se deve concluir que Salomão endossava a ideia de que a ignorância é felicidade (ver Pv.4:7).

Tristeza. Literalmente, “dor” física e mental. Se alguém deseja a sabedoria, deve investigar a fundo (ver Pv.2:4). Pesquisa constante e intensa cobra seu preço das forças e da saúde. Também é verdadeiro que elevado conhecimento não é sinal de caráter. A justiça de Cristo, recebida pela fé, abre as portas do reino celestial, o que o conhecimento por si só não pode alcançar.

Ec.2:1 1. Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade.

Disse comigo. Aqui a parte racional da mente de Salomão fala com a parte que representa o desejo físico e a satisfação. Este solilóquio é equivalente a uma ação da vontade (comparar com a experiência do homem rico de Lc.12:17-19, ao falar consigo mesmo).

Eu te provarei. Ou seja, “fazer um teste” ou “experimentar” para descobrir os resultados de determinado modo de agir.

Alegria. Ou, “prazer”. A palavra hebraica tem significado amplo: “felicidade”, “prazer”, “júbilo”, todas elas denotando satisfação física. Aqui, seu uso está limitado às emoções e apetites despertados ao participar dos prazeres terrenos, embora em outros lugares a palavra possa denotar alegria e felicidade religiosas.

Goza, pois, a felicidade. Literalmente, “pareça bem”, isto é, “aproveite bem as boas coisas da vida”. Um moderno idiomatismo equivalente seria “divirta-se”. Salomão se propôs sorver os prazeres que o mundo oferece até se saciar, na busca de satisfação duradoura.

Ec.2:2 2. Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?

Do riso. Do beb. sechoq. A palavra também significa “divertimento” (Pv.10:23) e “escárnio” (Lm.3:14). A forma verbal pode significar “jogar” (2Sm.2:14, ARC). A escolha dos prazeres dos sentidos e do divertimento como um meio da felicidade na vida representa um grande passo no caminho descendente (ver PR, 76).

Loucura. Do heb. “sem sentido”, “néscio” (comparar com a palavra hebraica similar em Ec.1:17).

Alegria. A palavra hebraica é utilizada para o regozijo altivo e sensual e para os prazeres lícitos comuns.

De que serve? Literalmente, “O que isto faz?” Qual o efeito? Traz que resultado? (comparar com a oportuna pergunta de Paulo em Rm.6:21).

Ec.2:3 3. Resolvi no meu coração dar-me ao vinho, regendo-me, contudo, pela sabedoria, e entregar-me à loucura, até ver o que melhor seria que fizessem os filhos dos homens debaixo do céu, durante os poucos dias da sua vida.

Dar-me ao vinho. Ou melhor, “refrescar meu corpo com vinho”. A palavra traduzida como “dar” significa, literalmente, “puxar” (ver Dt.21:3; Sl.28:3; Os.11:4). “A mim mesmo”, do heb. besari, literalmente, “minha carne”, ou seja, a natureza física, o corpo. “Vinho”, do heb. yayin (ver com. de Gn.9:21; Nm.28:7). Esta palavra é utilizada para descrever a libação no serviço do santuário e nos ritos pagãos (Ex.29:40; Lv.23:13; Nm.15:5; Nm.15:7; Nm.15:10; Nm.28:14). Salomão está dizendo: “Eu arrastei [ou estimulei) meu corpo com bebida intoxicante”, como se o corpo fosse um veículo puxado por um cavalo usado como símbolo do vinho.

Regendo-me [...] pela sabedoria. Literalmente, “guiar”. O mesmo verbo é traduzido como “conduzir” ou “levar” (Dt.4:27; Dt.28:37; Sl.48:14; Sl.78:52; Is.49:10). De acordo com a metáfora implícita, Salomão pretendia que o bom senso lhe permitisse satisfazer o apetite e a paixão com moderação. Em outras palavras, ao iniciar a experiência (ver com. do v. Ec.2:1), ele se propôs a não ser tão imprudente, nem se exceder. Essa, naturalmente, é a intenção da maioria das pessoas que cedem aos prazeres sensuais. Porém, a ideia de que é possível utilizar moderadamente as coisas erradas, é um engano fatal.

Loucura. Talvez, neste caso, signifique “o que pode levar ao pecado” sem ser algo pecaminoso em si mesmo. Parece que Salomão procurou estas experiências para tirar o máximo proveito delas, visando aprender pela experiência o que a satisfação tinha a lhe oferecer, porém, sem permitir que ela o dominasse.

Até ver. Aqui Salomão declara explicitamente seu propósito. Ninguém o obrigou a se portar de forma tão arriscada e insensata. Deus não podia elogiá-lo por essa conduta.

Homens. Do heb. ’adam, o termo genérico que inclui homens e mulheres (ver com. de Gn.1:26; Gn.3:17; Nm.24:3).

Poucos dias. Ou, “registro”, da raiz safar, “recontar”, “contar”, “relatar”, “mensurar”. O substantivo sefer, “livro”, é da mesma raiz.

Ec.2:4 4. Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas.

Empreendi grandes obras. Literalmente, “engrandeci minhas obras”, referindo- se ao tamanho e esplendor dos edifícios que ele construiu. Esta foi uma forma mais louvável de indulgência do que a dos v. Ec.2:1-3 (ver 1Rs.7:1; 1Rs.9:1).

Edifiquei para mim casas. Ver 1Rs.7:1-12; 1Rs.9:15-19. Salomão se envolveu em amplas construções.

Vinhas. Comparar com Ct.8:11. A condição econômica do povo comum nos dias de Salomão é sugerida em 1Rs.4:25: “cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira”.

Ec.2:5 5. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie.

Jardins. Literalmente, “cercos”, do verbo “encerrar”, “cercar”. Devido ao fato de cabras, asnos e outros animais no Oriente Médio pastarem sem restrições, é impossível ter um jardim sem uma cerca forte e bem conservada.

Pomares. Do heb. pardes, procedente do persa pairi-daêza, que designou os vastos jardins botânicos e zoológicos dos reis persas (ver com. de Gn.2:8). Um pardes era um parque ou área real preservada e cercada. A palavra portuguesa “paraíso” é uma transliteração da forma grega da palavra paradeisos (pardes ocorre em Ne.2:8 como “matas” e, em Ct.4:13, como “pomar”; ver com. de Gn.2:8).

Árvores. Salomão se entregou a um extenso programa de horticultura, especializando-se não somente em “jardins”, que eram chamados de parques, mas também em “pomares”. Ele tinha um jardim real no lado montanhoso ao sul de Jerusalém (2Rs.25:4), uma plantação de vinhas em Bete-Haquerém, “a casa do vinho”, geralmente identificada com ’Ain Kârim, 6,4 km a oeste de Jerusalém, e, depois, identificada com Ramoth Rahel, 4,1 km ao sul de Jerusalém (Je.6:1) e outra plantação de vinhas em Baal-Hamon (Ct.8:11).

Ec.2:6 6. Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores.

Açudes. As chuvas da Palestina não fornecem água suficiente (ver vol. 2, p. 94; ver com. de Gn.12:10). A irrigação já era necessária nos tempos antigos, quando os agricultores escavavam cisternas e reservatórios. O “açude do rei” (Ne.2:14) é chamado por Josefo de “açude de Salomão” (Guerra dos Judeus, v.4.2). O chamado “açude de Salomão” possivelmente data da época dos romanos; o maior foi de aproximadamente 182,9 m de comprimento, 63,1 m de largura e 15,2 m de profundidade. Esses açudes estavam a, aproximadamente, 4,8 km a sudeste de Belém. Salomão também pode ter construído tanques de piscicultura, nos quais criava diversas espécies de peixes (Ct.7:4).

Ec.2:7 7. Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém.

Servos e servas. Uma grande comitiva de servos e trabalhadores seria necessária para manter os vastos projetos de Salomão. A rainha de Sabá ficou admirada com a quantidade de empregados nas suas obras (1Rs.10:5). Ele utilizou escravos não hebreus (1Rs.9:21; 2Cr.8:8) bem como um grande número de servos hebreus submetidos a um tipo de escravidão mais branda (ver com. de Ex.21:2; Ex.21:20; Dt.15:12; Dt.15:15).

Servos nascidos em casa. Literalmente, “filhos da casa foram [nascidos] a mim”. Estes filhos foram um acréscimo aos que ele “adquiriu” de outra maneira. Escravos que foram comprados ou capturados tiveram filhos (sobre a quantidade de servos de Salomão, ver 1Rs.4:21-27; 1Rs.10:25-26).

Bois e ovelhas. O impressionante tamanho dos rebanhos de Salomão pode se deduzir pelo número de sacrifícios oferecidos na dedicação do templo (1Rs.8:63). Em acréscimo aos sacrifícios oferecidos, uma grande quantidade de alimento era necessária para abastecer o exército de servos e escravos que o rei empregava (ver 1Rs.4:22-23; 1Cr.27:29-31).

Ec.2:8 8. Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres.

Prata e ouro. Salomão teve riqueza de metais preciosos e utensílios de prata e ouro (ver 1Rs.9:28; 1Rs.10:14-27; 2Cr.1:15; 2Cr.9:20-27). O tributo que o rei da Assíria impôs a Ezequias foi pago, em parte, com o tesouro do rei (2Rs.18:14-16). Ezequias também exibiu sua riqueza acumulada aos representantes do monarca de Babilônia (2Rs.20:13).

Tesouros. Literalmente, “possessões”. Talvez esta expressão se refira aos tributos e impostos de vários tipos que Salomão cobrava. A palavra traduzida como “propriedade peculiar” também é aplicada por Deus a Seu povo (Ex.19:5; Sl.135:4; Dt.7:6; Dt.14:2; Dt.26:18; Ml.3:17, “joias”, KJV).

E de províncias. O artigo definido sugere que esta frase deveria ser entendida como “e suas províncias”. Se assim for, ela se refere ao tributo cobrado dos governantes vassalos e seu povo (ver 1Rs.4:21; 1Rs.4:24; 1Rs.10:15).

Provi-me. Literalmente, “fiz para mim mesmo”. Aqui o verbo pode ser entendido como significando “adquiri”, “nomeei” ou “instituí”. Em Gn.12:5 ele é traduzido por “acresceram”.

Cantores. Salomão deve ter feito muitas festas e recebido visitantes de vários países. Isso requeria grande grupo de artistas profissionais (ver 2Sm.19:35; Am.6:5).

Mulheres e mulheres. Do heb. shiddah weshiddoth, literalmente, “uma concubina e concubinas”; geralmente se pensava que significasse “muitas concubinas”. A etimologia de shiddah é incerta, mas talvez derive do verbo “despojar”, aplicado à tomada de mulheres de povos derrotados. Também poderia provir de um verbo equivalente ao arábico “umedecer”, a partir do qual os hebreus originaram a palavra para os seios femininos. A LXX sugere “copeiros e copeiras”. Talvez Salomão estivesse dizendo: “Provi-me [...] dos deleites dos filhos dos homens, uma esposa [literalmente, “um seio”] e esposas [literalmente, “seios”]”. De acordo com esta explicação shiddah weshiddoth seria comparável a racham rachamathayim, “uma ou duas moças”, literalmente, “um ou dois ventres” (Jz.5:30).

De toda sorte (ARC). Estas palavras foram acrescentadas pelos tradutores.

Ec.2:9 9. Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viveram antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.

Engrandeci-me. Com satisfação Salomão reflete sobre a grandeza de seu reino com espírito semelhante ao de Nabucodonosor quando se jactava de sua glória: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?” (Dn.4:30). Aqui Salomão menciona com orgulho e satisfação o fato de haver sobrepujado a todos os seus antecessores, até mesmo seu pai, em riqueza e sabedoria.

Perseverou também comigo a minha sabedoria. Literalmente, “minha sabedoria estava comigo”. A expressão pode significar que a sua sabedoria se manteve com ele no sentido de ajudá-lo a adquirir todas as suas posses e também guardá-lo de praticar excessos (ver com. do v. Ec.2:3). Os comentaristas judeus sugerem os dois conceitos. Em meio à loucura, Salomão se considerava sábio, como uma pessoa embriagada se considera sóbria.

Ec.2:10 10. Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas.

Desejaram. Do heb. sha’al, que significa literalmente, “pediu”, “solicitou”. O nome popular hebreu Sha’ul, “Saul”, literalmente, “solicitou”, é desta raiz (ver com. de 1Sm.9:2). Salomão admite que foi aos extremos e que havia experimentado de quase tudo (ver 1Jo.2:15-17).

Alegria [...] alegrava. Do heb. simchah [...] sameach, o substantivo derivado do verbo. As duas palavras podem se referir praticamente a todo tipo de emoção prazerosa, quer na experiência religiosa, em um prazer legítimo, no trabalho ou em dissipação e devassidão. Salomão afirma que provou de tudo que ele pesquisou e empreendeu.

Recompensa. Ou seja, “porção”, quer em saque, despojo, alimento, propriedade ou um estilo de vida. No Sl.50:18, a palavra é traduzida como “associas”, referindo-se à camaradagem com “adúlteros”. Salomão se refere ao modo de viver que adotara em sua procura pela felicidade.

Ec.2:11 11. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.

Considerei. Literalmente, “me virei” para observar atentamente. A palavra hebraica significa mais que simplesmente “olhar casualmente”. O substantivo desta raiz, que quer dizer “face”, contém a ideia de examinar atentamente. Além disso, no hebraico, o pronome enfático é usado como se Salomão tivesse dito: “Eu mesmo avaliei.”

Correr atrás do vento. Banquetes, festividades, música e prazer sensual não fornecem satisfação duradoura. De acordo com Jo.4:24, literalmente, “Deus é espírito” e não “um espírito” no sentido de ser um espírito entre muitos, mas essencial e absolutamente espírito. O ser humano deve se aproximar de Deus mediante seu próprio espírito. Somente neste tipo de união o ser humano pode encontrar perfeita satisfação e contentamento. Salomão observou que todos os prazeres do mundo eram como o “vento”, “sopro” ou “correr atrás do vento” (ver com. de Ec.1:14).

Proveito. Ver com. de Ec.1:3. “Proveito” é uma palavra importante na filosofia de Eclesiastes, livro em que ocorre 10 vezes. Não ocorre em nenhuma outra passagem do AT. Salomão provou cada experiência, empreendimento e prazer ao qual se entregou, em busca do “proveito” que pudesse obter. O sentido literal da raiz hebraica de “proveito” é “excedente” ou “balanço”. Há a sugestão de que esta palavra tenha sido utilizada nas relações comerciais judaicas.

Debaixo do sol. Esta expressão ocorre 29 vezes em Eclesiastes, com referência à esfera da atividade humana. Há expressões similares em vários idiomas.

Ec.2:12 12. Então, passei a considerar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia. Que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram.

Passei a considerar. Ver com. do v. Ec.2:11. Salomão havia experimentado e tomado nota das alegrias materiais da vida. Então, ele começou a examinar a sabedoria e a tolice de forma realista.

Que fará [...]? Uma tradução literal desta frase seria: “Para que o ser humano virá depois do rei?” Talvez signifique que o rei tenha perguntado qual seria a utilidade de uma pessoa inferior a ele tentar realizar os vários experimentos que ele desenvolveu. Ele, como rei, tinha todos os recursos à sua disposição; além disso, ele superava seus súditos em sabedoria.

Já fizeram. A pessoa inferior que viria “depois do rei” dificilmente poderia esperar fazer mais do que Salomão já tinha realizado. Ele havia comprovado o vazio e a futilidade dos prazeres deste mundo, portanto, o assunto podia ser considerado resolvido.

Ec.2:13 13. Então, vi que a sabedoria é mais proveitosa do que a estultícia, quanto a luz traz mais proveito do que as trevas.

Vi. No original, o pronome é enfático. Ele que duvidava, que não estava satisfeito sem comprovar cada questão pessoalmente, por fim, “viu”.

A sabedoria é mais proveitosa que a estultícia. Literalmente, “há proveito da sabedoria sobre a tolice”. Salomão estava convencido de que vale a pena adquirir a verdadeira sabedoria.

Luz traz mais proveito do que as trevas. Literalmente, “o proveito da luz sobre as trevas”. Nesta figura de linguagem se compara “a luz” com o desenvolvimento espiritual e mental e “as trevas”, com a depravação moral e mental. O apóstolo Paulo utilizou a mesma metáfora (ver Ef.5:8; 1Ts.5:5). O caminho dos justos é comparado à luz (Sl.37:6; Sl.119:105; Is.51:4) e o caminho dos ímpios, com as trevas (Jó.37:19; Pv.4:19). O apóstolo João apresentou a Jesus Cristo como a luz do céu que brilha nas trevas deste mundo (Jo.1:4-5).

Ec.2:14 14. Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o estulto anda em trevas; contudo, entendi que o mesmo lhes sucede a ambos.

Olhos. Os olhos de uma pessoa sábia estão onde Deus planeja que eles estejam: olhando sempre para frente a fim de evitar tropeços (comparar com as palavras de Jesus em Jo.11:9; em Ef.1:18 há outra aplicação espiritual).

O estulto. O sábio vê para onde vai e toma o rumo mais direto. O néscio tateia nas incertezas e tropeça. Uma metáfora similar se encontra em Pv.17:24 (ACF): “Os olhos do tolo vagam pelas extremidades da terra.”

Entendi. Expressão enfática. Literalmente, “entendi também eu, eu mesmo”, o que sugere que Salomão considerou imperativo louvar a sabedoria.

O mesmo lhes sucede. Literalmente, “um evento que acontece” (ver Sl.49:10; Sl.90:3-5). Em última análise, a morte surpreende tanto ao sábio como ao tolo.

Ec.2:15 15. Pelo que disse eu comigo: como acontece ao estulto, assim me sucede a mim; por que, pois, busquei eu mais a sabedoria? Então, disse a mim mesmo que também isso era vaidade.

Como acontece. O sábio e o tolo morrem. À primeira vista, parece não haver diferença.

Por que [...]? Qual o proveito em um fatigante programa de estudos, ao longo de uma noite? Uma pessoa que se esforça arduamente na vida para fazer frente a dificuldades e superá-las, ao morrer, está tão morta como o simplório, que apenas existiu.

Também isso era vaidade. Salomão raciocinava que a ambição e o esforço para progredir na vida não têm valor, são um mero e fugaz alento. Na verdade, à parte de Deus, não há resposta para os enigmas da vida. A verdadeira finalidade da existência somente se encontra quando o ser humano cresce em sabedoria divina e organiza sua vida em harmonia com a vontade de Deus (ver Mt.6:33).

Ec.2:16 16. Pois, tanto do sábio como do estulto, a memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto!

A memória não durará para sempre. Tanto o tolo quanto o sábio são rapidamente esquecidos por seus semelhantes. Esta afirmação é verdadeira no que se refere a este mundo, mas uma pessoa que organiza sua vida de acordo com a sabedoria divina é lembrada para sempre (Sl.112:6; Pv.10:7) e pode se alegrar com confiança porque seu nome está escrito no Céu (Lc.10:20; Fp.4:3).

Esquecimento. O mundo esquece, mas Deus Se lembra (ver Ml.3:16-17; Jo.14:1-3).

Da mesma sorte. A última parte do v. 16 deveria ser entendida como “a pessoa sábia morre como a pessoa tola!” Em hebraico e em português o advérbio “como” pode ser utilizado como uma exclamação ou interrogação.

Ec.2:17 17. Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento.

Aborreci. O hebraico não indica um sentimento de aversão ou hostilidade, mas de repulsa, desgosto, cansaço ou antipatia. A raiz etimológica significa “feiura” ou “deformidade”, tanto no sentido físico como no temperamento ou disposição. O mesmo verbo ocorre em Ml.1:3 em que Deus diz que “aborreceu a Esaú”. Deus olhou para Esaú com desapontamento e desgosto, não com ódio no sentido comum da palavra. Apesar de odiar o pecado, Deus ama o pecador. Na última parte deste verso, Salomão clarifica seu sentido: “A obra que se faz debaixo do sol me foi penosa.” Todas as tentativas de Salomão estavam longe de lhe proporcionar a satisfação que ele esperava, e só o pensar nelas aumentava seu descontentamento.

Pois me foi penosa. Literalmente, “o mal sobre mim” (ver Jó.3:24-26; Jó.7:14-16).

Correr atrás do vento. Ver Os.12:1; com. de Ec.1:14; Ec.2:11.

Ec.2:18 18. Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim.

Todo o meu trabalho. Um pensamento angustiava a Salomão: todas as grandes construções que ele erigira e os outros projetos que realizara seriam desfrutados por outra pessoa (ver com. do v. Ec.2:19).

Ec.2:19 19. E quem pode dizer se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas fadigas e sabedoria debaixo do sol; também isto é vaidade.

Quem pode dizer [...]? Salomão com frequência utiliza o verbo “saber” para expressar dúvida. Aqui ele está angustiado porque não sabe se aqueles que herdarão suas obras as apreciarão e serão dignos delas. Eles podem continuar seus trabalhos ou se desfazer deles. O que o enlouquecia é que ele tinha pouco controle sobre a questão. Alguns creem que a preocupação de Salomão se devia ao caráter de Roboão, seu sucessor.

Domínio. O termo hebraico sugere completo poder sobre pessoas ou coisas. É angustiante pensar que os frutos do trabalho de toda uma vida podem ser desperdiçados pelo seu sucessor (ver Jó.27:16-17; Sl.39:6; Pv.23:5; Is.65:22; Lc.12:20).

Ec.2:20 20. Então, me empenhei por que o coração se desesperasse de todo trabalho com que me afadigara debaixo do sol.

Então, me empenhei. Seria melhor “me virei” para seguir em uma direção diferente, oposta. A expressão sugere uma completa mudança na perspectiva de Salomão e em suas atividades, como resultado de examinar as obras de sua vida.

Desesperasse. Contrariando à vontade, Salomão se resignou às conclusões as quais chegou (ver 1Sm.27:1; Jó.6:26).

Ec.2:21 21. Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo, deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou; também isto é vaidade e grande mal.

Destreza. A palavra traduzida aqui como “destreza” não é encontrada em nenhum outro livro da Bíblia e é originada na raiz “apropriado”, “adequado”, “correto”, e pode também ser traduzida como “aptidão” e “habilidade natural”. Assim, o pensamento de Salomão era: mesmo que uma pessoa tenha sido habilidosa e bem-sucedida, ela ainda deixa os frutos de seu trabalho a alguém que não contribuiu na sua edificação e que, portanto, é incapaz de valorizá-los.

Deixará. Literalmente, “dar”, no sentido de “tomar a seu encargo”.

Porção. Ou seja, sua herança: uma parte de terra, propriedade ou saque.

Ec.2:22 22. Pois que tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol?

Que tem o homem [...]? Qual o resultado permanente ou fruto a ser apreciado? A resposta esperada é: nada. O ganho não parece compensar em absoluto o trabalho realizado.

Ec.2:23 23. Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade.

Dias. Em contraste com “noite”. As horas de trabalho foram plenas de atividade, e a “noite”, para examinar as labutas do dia. Salomão parece não ter compreendido completamente as bênçãos da disciplina do esforço, tristeza e desapontamento (ver Jó.35:10; Rm.8:35; 2Co.12:9; Hb.12:11; Ap.3:19).

Ec.2:24 24. Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus,

Comer, beber. Salomão apresenta suas conclusões baseadas nas experiências vividas. Ele sente que o ganho final é nulo, portanto, por que não comer e beber e se alegrar com as coisas que a vida oferece? Fazer que a sua alma goze o bem. Literalmente, “mostre o bem a sua alma”. A palavra “alma” se refere aqui ao desejo ou aos apetites de uma pessoa (ver Pv.10:3; Pv.13:25; Pv.27:7; ver com. de Gn.2:7; Gn.9:5; Dt.6:5). A afirmação pode significar usufruir de seu trabalho e também obter satisfação ao realizar os planos e propósitos pessoais.

Da mão de Deus. É da vontade de Deus que o ser humano não apenas desfrute os frutos de seu trabalho, mas que também encontre prazer em realizar suas tarefas. Esta expressão também sugere que Salomão reconhecia o soberano poder de Deus, e o desenlace feliz que Ele reserva para Seus filhos a despeito de sofrimentos e desapontamentos.

Ec.2:25 25. pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?

Quem pode alegrar-se? Seria melhor “quem experimentará mais do que eu?” Salomão pode estar falando do trabalho de toda a sua vida e de sua habilidade para apreciar os frutos de seu trabalho mais do qualquer outra pessoa. Talvez seja Deus quem fale (ver v. Ec.2:24), então a tradução do v. 25 poderia ser: “Quem comerá e quem terá [melhor] experiência separada dEle?” O sentido da expressão é que somente Deus está por trás da vida de todos os seres humanos e que nada pode acontecer longe dEle.

Ec.2:26 26. Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.

Porque Deus dá. A palavra “porque” une os v. 25 e 26, que estão ligados ao v. 24. Salomão confessa a onipotência e a vigilância onipresente de Deus, que não abandona o ser humano.

Ao pecador. O transgressor, aquele que rejeita e resiste à vontade de Deus. Literalmente, “aquele que erra o alvo”.

Ajunte. O pecador desperdiça a vida em trabalhos que não o levam ao reino eterno. Tudo o que ele acumula é apenas para esta vida. Ele labuta para ajuntar riquezas e as acumula, mas não com um propósito eterno (ver Mt.13:12; Mt.25:28; Lc.12:20).

Aquele que agrada a Deus. A ideia de que o fruto do trabalho do ímpio deve ser dado ao justo é encontrada em Jó.27:16-17; Pv.13:22; Pv.28:8.

Correr atrás do vento. Ver com. de Ec.1:14. A ênfase está no fato fundamental de que Deus dispõe como Lhe apraz.

Ec.3:1 1. Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:

Tempo determinado. Da raiz que significa “determinar”, “decretar”. Portanto, não se trata de um tempo conveniente, mas determinado. Deus ordenou certos tempos ou estações para os variados fenômenos naturais (ver Lm.3:37; Tg.4:15).

Tempo. De uma palavra hebraica comum para “tempo”, que geralmente significa o início de um período de tempo.

Propósito. De uma palavra hebraica cuja raiz significa “deleitar-se em”, “ter prazer em”. O substantivo basicamente significa “aquilo em que alguém se deleita”, seja uma profissão ou um passatempo. Este mesmo substantivo é traduzido como “contentamento” (Is.58:3), “deleite” (v. Ec.3:13, ARC) e “prazer” (Ml.1:10; Sl.1:2; Sl.16:3).

Ec.3:2 2. há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;

Nascer. Alguns consideram a forma verbal como ativa e a traduzem como “um tempo para trazer à luz”. No entanto, muitos eruditos defendem que o verbo deveria ser entendido na forma intransitiva e preferem a tradução “nascer”.

Morrer. Nascimento e morte são, naturalmente, os dois eventos mais importantes na vida de uma pessoa. O ser humano não tem controle sobre o tempo de “entrar” no mundo e, sob circunstâncias comuns, pouco pode fazer quanto ao tempo de sua “saída”.

Plantar. Esta expressão corresponde àquela que a precede: “plantar” equivale a “trazer à luz”, e “arrancar” equivale a “morrer”. A primeira se relaciona à vida humana e a segunda, com a vida vegetal.

Arrancar. Literalmente, “arrancar pela raiz”. Chega um tempo quando mesmo as melhores árvores frutíferas devem ser cortadas.

Ec.3:3 3. tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;

Matar. Os comentaristas divergem se Salomão se refere aqui a guerras ou a outras circunstâncias. É possível que ele tivesse em mente a execução de criminosos e as medidas para a proteção de comunidades ameaçadas. Ou talvez estivesse pensando em um animal doméstico muito ferido e se, ante a impossibilidade de curá-lo, seria mais misericordioso sacrificar a criatura ou deixá-lo sofrer.

Derribar. Há um tempo quando as construções devem ser demolidas e substituídas por outras mais convenientes em seu lugar. Este tem sido um hábito no Oriente Médio por milhares de anos. Eles utilizam as ruínas de uma civilização como materiais de construção para as novas edificações. Salomão talvez se refira aos seus próprios grandes projetos de construção.

Ec.3:4 4. tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;

Chorar. Às vezes, é melhor expressar as emoções do que reprimi-las. Israel chorou amargamente no exílio (Sl.137:1). Virá o dia quando o povo de Deus rirá (Sl.52:1-6).

Prantear. É um termo específico para se referir às ruidosas lamentações públicas e expressões de luto manifestadas pelos povos orientais (ver 2Sm.3:31; Je.4:8; Je.9:17-22; Je.49:3).

Saltar de alegria. Ou, “dançar” (NVI). Nos tempos antigos, especialmente no Oriente, a dança era uma parte importante das cerimônias religiosas e festivas (ver 2Sm.6:14; 2Sm.6:16; 1Cr.15:29; Mt.11:17; ver com. de Ex.15:20; Ex.32:19).

Ec.3:5 5. tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;

Espalhar pedras. Referência à remoção das pedras que estavam no campo impedindo o cultivo, e a utilização delas para construir cercas entre as propriedades ou muros de contenção para os campos e vinhas (ver Is.5:2; Is.5:5).

Abraçar. Talvez um eufemismo para a relação conjugal (ver Pv.5:20), ou uma expressão simbólica para a ociosidade (ver Ec.4:5, em que “o tolo cruza os braços”).

Ec.3:6 6. tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora;

Buscar. Um termo hebraico comum para procurar.

Perder. Talvez o melhor seria “desistir quando perder”, que equilibraria com a expressão “buscar”. É provável que se faça referência aqui a um animal extraviado do rebanho ou manada. Uma busca intensa leva a reações desagradáveis de famílias vizinhas ou pode se provar inútil.

Deitar fora. Comparar os textos a seguir como ilustração desta expressão: 2Rs.7:15; Pv.11:24-25; Jn.1:5; Mt.16:25; At.27:18-19; At.27:38.

Ec.3:7 7. tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;

Rasgar. Comparar com Gn.37:29; 2Sm.1:11; 1Rs.11:11 (ARC); 2Cr.23:13; Jó.1:20; Jó.2:12.

Estar calado. Há circunstâncias em que o “silêncio é ouro” (ver Lv.10:3).

Ec.3:8 8. tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.

Amar. Comparar com Mt.5:43-44.

De guerra. Talvez uma ilustração sobre a verdade desta afirmação é que a batalha do grande dia do Senhor, ainda por vir (Ap.16:15-17), será seguida pela paz eterna (Ap.21-22).

Ec.3:9 9. Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se afadiga?

Que proveito [...]? Ver com. de Ec.1:3. A pergunta de Salomão indica uma resposta negativa. Por que o ser humano se esforçaria para melhorar sua condição social quando ele é impedido a cada passo? Ele deve aprender que Aquele que coloca testes ao longo do caminho da vida é um pai amoroso, que disciplina Seus filhos terrenos para o bem eterno deles (ver Hb.12:11; Ap.3:19-21).

Ec.3:10 10. Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens, para com ele os afligir.

Trabalho. Ver com. de Ec.1:13. A severa disciplina da vida, necessária ao que busca a imortalidade (ver Rm.2:6-7) está sob as mãos de um Pai amoroso e onipotente. O ser humano está livre para escolher seu próprio modo de vida, desenvolver seu próprio caráter e decidir seu próprio destino eterno. As dificuldades reais da vida podem ser enfrentadas com sucesso somente sob a liderança de Deus.

Ec.3:11 11. Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.

Formoso. Comparar com o relato da obra de Deus na criação (ver Gn.1:31). Tudo era “bom”, bonito e esteticamente agradável. Perfeito para o uso prático e encantador aos olhos e tato. Isto era verdade não somente a respeito de algumas coisas, mas de todas as coisas.

Também. Esta palavra sugere um ponto adicional que o autor não queria que o leitor esquecesse.

Pôs. Literalmente, “dado”. O significado a ser enfatizado é a bondade de Deus para suprir as necessidades do ser humano.

Eternidade. Do heb. ’olam, de uma raiz que significa “esconder”, “obscuro” (ver com. de Ex.12:14; Ex.21:6). A tradução de ’olam como “mundo” (ARC) é mais incomum. Ocorre frequentemente como “eternidade”, “duradouro”, “continuidade”. No pensamento humano está implantada uma preocupação profunda com o futuro. Esta consciência do infinito no tempo e no espaço desperta insatisfação com a natureza transitória das coisas desta vida (ver com. do v. Ec.3:14).

No coração. Ou seja, nos pensamentos dele. É desígnio de Deus que o ser humano compreenda que o mundo material não constitui a essência de sua existência. Ele está unido a dois mundos: fisicamente a este mundo, porém mental, espiritual e psicologicamente ao mundo eterno. Apesar da consciência obscurecida pelo pecado, o homem ainda parece ter percepção de que deveria continuar a viver para além dos estreitos limites desta vida insatisfatória.

Sem que este possa descobrir. O intelecto humano por si só não pode perscrutar as complexas maravilhas criadas por Deus ou os mistérios da eternidade que Deus não quis revelar. Este fato deveria levar o ser humano a buscar íntima união com o Deus de toda a criação.

Ec.3:12 12. Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada;

Sem comentário para este versículo.

Ec.3:13 13. e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.

Também. Ver com. do v. Ec.3:11.

Comer, beber. Uma vida asceta é contrária à vontade de Deus, pois Ele deu à humanidade muitas coisas boas para que desfrutasse delas com alegria e moderação.

Ec.3:14 14. Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante dele.

Eternamente. Da mesma palavra hebraica traduzida como “mundo” e “eternidade” no v. Ec.3:11 (ver com. do v. Ec.3:11). Aqui Salomão afirma a imutabilidade da vontade divina que atua nos assuntos humanos (ver Sl.33:11; Is.46:10).

Homens temam. Não um temor humilhante (ver com. de Dt.4:10; Dt.6:5), mas reverente, baseado numa clara compreensão dos atributos divinos (Sl.40:3; Sl.64:9) e na forma pela qual a vontade divina opera nas atividades humanas (ver Is.45:18; Ml.3:6; Ap.15:3-4).

Ec.3:15 15. O que é já foi, e o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou.

O que é já foi. Este verso indica a plenitude e permanência das obras de Deus. Em certo sentido, com Ele não há passado nem futuro. A eternidade está sempre presente (ver Ap.1:8).

Deus pede conta (ARC). Literalmente, “Deus busca”.

O que passou. Literalmente, “o procurado”, de radaf, “prosseguir”, “afugentar”, “perseguir” (Js.8:16; Je.29:18). A ideia aqui pode ser que todas as coisas do passado estão abertas diante de Deus como se fossem atuais. Ele projeta Seu pensamento no passado tão facilmente como pensa em termos de presente ou futuro. Se este for o significado, “o perseguido” se referiria aos ciclos das épocas passadas, personificadas como se elas perseguissem umas às outras.

Ec.3:16 16. Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça, maldade ainda.

No lugar do juízo. Ou, “o lugar de justiça”, isto é, o lugar dedicado à administração da justiça. Suborno e corrupção permitiram que a impiedade reinasse nos átrios sagrados da dispensação da justiça.

Maldade. Da mesma palavra hebraica traduzida como “impiedade”. Nas duas ocorrências se prefere a palavra “impiedade”. Por meio da palavra “justiça”, Salomão designa a pessoa do juiz, que deveria ser a encarnação ou a personificação do proceder justo. Assim, a primeira expressão indica o lugar e a segunda, a pessoa que ocupa aquele lugar com autoridade.

Ec.3:17 17. Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra.

Deus julgará. O verbo hebraico “julgar” aplicado a Deus, expressa o conceito de que Ele é não somente o árbitro que decidirá os casos dos justos e dos ímpios, mas também quem executará a penalidade.

Todo propósito. Ver com. do v. Ec.3:1. A mesma palavra hebraica é traduzida como “prazer”, “agradar” (Ec.5:4; Ec.12:1; Is.44:28; Ml.1:10) e como “deleitosa” (Ml.3:12).

Obra. Ver com. de Ec.1:14.

Ec.3:18 18. Disse ainda comigo: é por causa dos filhos dos homens, para que Deus os prove, e eles vejam que são em si mesmos como os animais.

Por causa. Comparar com “a ordem [maneira]” (Sl.110:4). Uma tradução melhor da frase completa seria “a respeito dos filhos dos homens”.

Prove. Literalmente, “purificar” (ver Is.52:11; Dn.11:35; Dn.12:10), “selecionar”, “testar”, “provar”. Salomão expressou o desejo de que Deus testasse as pessoas como uma medida disciplinar, a fim de purificá-las e limpá-las (ver Jó.5:17; Jó.23:10; e também com. de Ec.3:19).

E eles vejam. Há esperança para as pessoas que reconhecem sua condição impura e pecaminosa.

Animais. Geralmente traduzida como “gado”. Vem da raiz “ser mudo” e se relaciona com uma palavra árabe que quer dizer: “ser impedido de falar”, “ter a língua presa”.

Ec.3:19 19. Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade.

Sucede. Esta palavra ocorre três vezes neste verso. Em todas as ocorrências a palavra deriva de um termo hebraico que significa “chance”, “destino”, “fortuna”. Deriva do verbo “encontrar”, “satisfazer”, “acontecer”. Em Rt.2:3 a forma substantiva tem sido traduzida como “casualidade”; em 1Sm.6:9, como “casual”; em 1Sm.20:26, como “aconteceu alguma coisa”; e em Ec.9:2-3, como “sucede”.

Morre. Este fenômeno inescrutável da morte acontece a todos os seres viventes, sejam humanos ou animais. O salmista diz que “o homem não permanece em sua ostentação; é, antes, como os animais, que perecem” (Sl.49:12). Na questão de estar sujeito à morte, o ser humano não é superior aos animais.

Fôlego. Do heb. ruach. Quando o sopro de vida se vai, morre a criatura vivente, seja humano ou animal (ver com. do v. Ec.3:21).

Nenhuma vantagem. Todas as criaturas viventes, sem distinção, morrem quando cessa o fôlego. As consequências físicas da morte são as mesmas. As aparências externas não sugerem superioridade para o ser humano. Mas, por meio da fé na Palavra inspirada, cremos que Deus os redimirá do poder da sepultura (1Co.15:51-58).

Ec.3:20 20. Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão.

Mesmo lugar. Ou seja, a sepultura (ver Jó.7:9-10).

Pó. Ver Gn.2:7; Gn.3:19; Dn.12:2.

Ec.3:21 21. Quem sabe se o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima e o dos animais para baixo, para a terra?

Quem sabe [...]? “Quem sabe se o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima?” Sem sabedoria divina ninguém “sabe”. O destino do corpo é conhecido: ele retorna ao pó, por meio de um processo de desintegração, mas a sabedoria humana não pode assegurar o que acontece ao “espírito” ou “fôlego”, exceto que “retornará a Deus” (ver com. de Ec.12:7).

Fôlego. Do heb. ruach, “fôlego”, como traduzido no v. Ec.3:19. O princípio de vida não pertence ao reino físico, o reino da carne, porque é de Deus e volta para Ele (Ec.12:7). No v. Ec.3:21, ruach é traduzido como “fôlego”. Note que tanto o ser humano quanto o animal possuem um ruach e que o ruach do ser humano é “o mesmo” do animal. Se o ruach ou “fôlego” do ser humano se torna uma entidade consciente desencarnada na morte, o mesmo deveria acontecer com o ruach dos animais. Mas a Bíblia em nenhum lugar afirma que, na morte, um “espírito” consciente, continue a viver fora do corpo.

E nenhum cristão faz tal afirmação com relação aos animais. No v. Ec.3:21, Salomão incredulamente pergunta quem sabe e pode provar que o ruach do ser humano sobe enquanto que o dos animais desce. Salomão desconhecia esse processo e duvidava que alguém o soubesse. É importante distinguir entre o uso de ruach para denotar o sopro literal (ver Jó.9:18; Jó.19:17) e seu uso figurado para se referir ao princípio de vida (ver Gn.6:17; Gn.7:22), como neste verso. O uso figurado de ruach no sentido de “vida” é similar ao uso figurado de “sangue” (ver com. de Gn.4:10; Gn.9:4).

Ec.3:22 22. Pelo que vi não haver coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua recompensa; quem o fará voltar para ver o que será depois dele?

Alegrar-se [...] nas suas obras. Ou seja, encontrar contentamento e satisfação no que esta vida tem a oferecer. Esta é a perspectiva normal de uma pessoa cuja fé não está firmemente baseada nas coisas eternas. O que será depois dele? O que jaz além da sepultura escapa ao alcance do conhecimento humano. De modo semelhante, está além do poder humano ressuscitar uma pessoa. Só Deus pode fazer isso (ver 1Ts.4:14-18). Há cristãos que, como os saduceus da Antiguidade, não creem na ressurreição futura. Porém, Deus é o Deus dos vivos (ver Mt.22:23-32) e os “filhos de Deus” (1Jo.3:1-2) viverão novamente. Jesus Cristo tem assegurado a vida eterna além do túmulo (1Co.15:16-22; 2Tm.1:10).

Ec.4:1 1. Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos.

Vi ainda. Uma expressão hebraica equivalente a “reconsiderei” ou “revi” (RSV).

Opressões. Do heb. ’ashuqim, de uma raiz que significa “oprimir”, “ser injusto com”, “extorquir”. Está relacionada a uma palavra árabe que significa “rudeza” ou “injustiça”. Salomão se refere aos padecimentos dos fracos e pobres através da história (ver Jó.35:9; Am.3:9; 1Sm.12:4).

Lágrimas. As lágrimas do oprimido movem o coração de Deus (Sl.39:12; Sl.56:9; Is.38:5), porém, as do hipócrita O ofendem (Ml.2:13).

Violência. A palavra hebraica é usada para força física como a de Sansão (Jz.16:5-6; Jz.16:15), mas, também, no sentido mais amplo de habilidade e eficiência em qualquer direção (Pv.24:5). Aqui ele ilustra as cruéis transações de homens fortes com relação aos fracos e indefesos.

Consolasse. Do verbo “consolar”, “confortar”. O coração aflito anseia por palavras de consolo de alguém que o compreenda, e sua angústia se aprofunda quando ninguém o conforta (ver Sl.69:20; Lm.1:2).

Ec.4:2 2. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem;

Tenho por mais felizes. Ou, “congratulei”, “felicitei”.

Mais do que os que ainda vivem.Comparar com Jó.3:13 e as palavras de Cristo referentes a Judas (Mt.26:24). Em certas más circunstâncias, e a partir de determinados pontos de vista, poderia ser melhor estar morto do que continuar a viver. É deste ponto de vista que Salomão escreve. Ele representa um estado de espírito despertado pelas desigualdades e maldades que resultaram de milhares de anos de pecado. Hoje, mais do que no passado, homens e mulheres sentem a futilidade da vida.

Ec.4:3 3. porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.

Mais [...] feliz. Mediante a fé em Deus e firme confiança no Salvador (Mt.11:28) se enfrenta melhor o pessimismo, que procede do diabo (comparar com a calma confiança de Paulo, em Rm.5:1).

Ec.4:4 4. Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.

Trabalho. Literalmente, “problema”, “esforço”, “labuta”.

Toda destreza. Literalmente, “toda destreza do trabalho”. A expressão também pode significar “trabalho bem-sucedido” ou “trabalho lucrativo”.

Inveja. A rivalidade desperta inveja e amargura à medida que se intensifica a competição. O princípio aqui apresentado se aplica a condições de trabalho, rivalidade nos negócios, questões internacionais e relacionamentos pessoais.

Correr atrás do vento. Uma figura de linguagem que descreve a futilidade do sucesso mundano como garantia de felicidade.

Ec.4:5 5. O tolo cruza os braços e come a própria carne, dizendo:

Cruza os braços. Literalmente, “o abraçador de suas mãos”, uma expressão hebraica para a ociosidade (ver Pv.6:10; Pv.24:33).

Come a própria carne. Comentaristas judeus usam a palavra “carne” no sentido de alimento em lugar de “carne” no sentido de carnal e sugerem o quadro de uma pessoa impassível sentando-se para as refeições, preocupando-se exclusivamente com os prazeres da vida. Eles citam Ex.16:8 e Is.22:13 em apoio a esta interpretação. Possivelmente, uma explicação mais razoável para esta expressão seja que o tolo preguiçoso e sua família terminam em extrema pobreza.

Ec.4:6 6. Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento.

Punhado de descanso. Literalmente, “completar a mão com serenidade”. O hebraico indica uma mão em concha. Sem dúvida, “serenidade” aqui se refere à paz mental. A palavra ocorre como “descanso” (Ec.6:5), significando bem-estar, e como “silêncio” (Ec.9:17), significando mansidão (ver Is.30:15).

Cheias de trabalho. Atividade intensa, uma agitação nervosa no empenho de realizar muito cada dia a fim de obter a recompensa máxima. Uma vida plena e feliz não depende de abundância de coisas desta vida.

Ec.4:7 7. Então, considerei outra vaidade debaixo do sol,

Considerei outra vaidade. Salomão se refere a outro fenômeno da vida: a avareza.

Ec.4:8 8. isto é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? Também isto é vaidade e enfadonho trabalho.

Um homem sem ninguém. A descrição é de uma pessoa solitária, sem amigos ou pessoas próximas. Ele não tem parentes nem herdeiros para sucedê-lo ou levar adiante os seus labores.

Não tem filho nem irmã. Um quadro patético de solidão, com pouco incentivo para estimular alguém em seus esforços. Trabalhar para prover as necessidades de pessoas amadas é uma tarefa nobre e traz satisfação. A responsabilidade pelas pessoas amadas é um modo eficaz para o desenvolvimento do caráter. Sem tais incentivos, a pessoa se torna egocêntrica e as fontes de bondade dentro dela se secam.

Não cessa de trabalhar. “Cessar” provém da raiz verbal “cortar”. Este homem solitário, sem responsabilidade por outras pessoas, continua a trabalhar e a acumular com um zelo digno de propósitos mais elevados.

Não se fartam de riquezas. Quanto mais se acumula, mais se deseja. A aquisição de riqueza se torna uma obsessão para o avarento (ver Pv.27:20). Poucas pessoas estão contentes com sua sorte.

Nego à minha alma. Ou seja, “nego a mim mesmo” (ver com. de Sl.16:10 para este uso de nefesh). A pessoa avarenta nunca se questiona por que trabalha incessantemente. Está cega pela cobiça e, por isso, se devota a acumular riqueza, sem encontrar contentamento. É uma virtude cristã ser laborioso, porém, plenamente satisfeito sob a mão de Deus (Rm.12:11; Ef.4:28; 1Tm.6:8; Hb.13:5). A indolência é reprovável em um cristão (Pv.12:24; Ec.10:18).

Enfadonho trabalho. Seria melhor “um mau negócio” ou “uma tarefa detestável”.

Ec.4:9 9. Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.

Melhor é serem dois. Dois trabalhadores empenhados em esforço cooperativo podem com frequência alcançar mais do que o dobro do salário de uma única pessoa. A palavra traduzida como “paga” é o termo hebraico comum para salários. É utilizada para servos (Gn.30:28; Gn.30:32-33), soldados (Ez.29:18-19) e aluguel de animais (Zc.8:10).

Ec.4:10 10. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante.

Caírem. O verbo hebraico pode se aplicar a uma queda física, à morte, a cair em poder de outrem ou ao fracasso em um empreendimento. O último significado é preferível aqui, pois se refere às más circunstâncias que podem sobrevir a uma pessoa e ao socorro que pode lhe prestar seu companheiro. As condições de viagem nos tempos antigos eram repletas de perigos devido aos precários meios de transporte e aos ladrões. Dois poderiam fazer uma viagem em segurança quando um sozinho poderia falhar. A cooperação é muito valiosa e o isolamento geralmente é perigoso (comparar com o envio dos discípulos em Lc.10:1). Companheirismo e alegria mútua num empreendimento bem feito são bênçãos dignas de serem vividas (At.13:2; At.14:27).

Ec.4:11 11. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?

Se dois dormirem juntos. O v. 10 trata de auxílio e apoio na dificuldade; o v. 11, de conforto. Neste verso, Salomão se refere ao calor do dia seguido pelo frio da noite e a pobreza de uma pessoa comum, cuja única roupa de cama com frequência consistia somente de sua vestimenta externa (ver Ex.22:26-27).

Ec.4:12 12. Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.

Se alguém quiser prevalecer. Aqui são enfatizadas as bênçãos da ajuda e da proteção. A mesma verdade se expressa no aforismo: “a união faz a força”.

Cordão de três dobras. Separadamente, três pedaços de corda podem se romper com facilidade, mas quando trançado em uma corda, é muito difícil rompê-las. Alguns comentaristas têm exagerado ao tentar explicar este verso. Eles pretendem ver aqui uma alusão à Trindade; citam incidentes como o amor e companheirismo entre Lázaro e suas irmãs Marta e Maria; e também a Cristo, quando escolheu três discípulos para acompanhá-Lo ao Jardim do Getsêmani. Tais exegeses fantasiosas devem ser evitadas.

Ec.4:13 13. Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar,

Jovem. É a tradução preferível da palavra hebraica. Foi traduzida como “menino” em referência a José quando tinha 17 anos de idade (Gn.37:30) e como “jovens” em vários lugares (1Rs.12:8; 1Rs.12:10; 1Rs.12:14; 2Cr.10:8; 2Cr.10:10; 2Cr.10:14).

E insensato. Seria melhor “mas insensato”.

Não se deixa admoestar. A palavra assim traduzida provém da raiz cujo significado é “avisar”, “esclarecer”, “aconselhar”, “alertar”. Ao atingir a idade avançada o rei se tornou teimoso em seu proceder. Obstinado, rejeitou todo conselho e se tornou um perigo para si mesmo, seu povo e seu reino.

Ec.4:14 14. ainda que aquele saia do cárcere para reinar ou nasça pobre no reino deste.

Saia do cárcere. Literalmente, “da casa dos prisioneiros”. Talvez figuradamente, em meio a circunstâncias probantes. O significado é que um jovem pode vencer as desvantagens que enfrenta e, se for sábio e dócil para o ensino, se tornará um sucesso na vida. Ele poderá até mesmo ocupar os postos mais elevados da nação (ver 1Rs.11:26-28).

Pobre. Um rei imprudente, que não se preocupa com o bem-estar de seus súditos pode ser deposto, passar por grandes dificuldades e talvez perder a vida.

Ec.4:15 15. Vi todos os viventes que andam debaixo do sol com o jovem sucessor, que ficará em lugar do rei.

Vi. Uma expressão de transição.

O jovem sucessor. Este verso pode se referir ao entusiasmo que acompanha a ascensão do novo governante ao ocupar o lugar do que foi deposto.

Ec.4:16 16. Era sem conta todo o povo que ele dominava; tampouco os que virão depois se hão de regozijar nele. Na verdade, que também isto é vaidade e correr atrás do vento.

Era sem conta. Continua a descrição do entusiasmo da multidão mencionada no v. 15. Isto é confirmado pelo hebraico da frase seguinte, que é melhor entendido como: “todos aqueles sobre os quais foi governante”.

O povo que ele dominava. Literalmente, “todos eles diante de quem ele era”, significando “sobre quem ele governou”. O hebraico fala de “ir adiante” no sentido de liderança (1Sm.18:16; 2Cr.1:10).

Tampouco [...] se hão de regozijar nele. A aclamação pública de hoje pode se transformar em condenação pública amanhã. José, no Egito, ilustra a inconstância da recompensa do mundo (Ex.1:8).

Ec.5:1 1. Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.

Guarda o pé. Nas versões hebraicas da Bíblia, na LXX e na Vulgata, este é o v. Ec.4:17. “Guarda o pé” equivale à expressão coloquial “olhe por onde anda” e é usada aqui em sentido figurado (comparar com Gn.17:1; Sl.119:101).

Casa de Deus. O antigo tabernáculo era chamado “a casa de Yahweh” (1Sm.1:7; 2Sm.12:20). O mesmo título foi utilizado, mais tarde, para o templo de Jerusalém (ver 1Rs.3:1).

Sacrifícios de tolos. Os “tolos” mencionados aqui “fazem o mal” quando entram na “casa de Deus” porque não guardam seus “pés” e não estão “dispostos a ouvir”. Eles ignoram Aquele em cuja presença estão (v. 2), seus pensamentos se concentram em coisas terrenas e, como resultado, suas palavras são imprudentes, precipitadas e demasiadas. Os que vão à igreja, inconscientes da presença de Deus, que continuamente pensam e conversam sobre assuntos triviais, são aqui classificados pelos sábios como “tolos”. A adoração deles é externa e formal.

Fazem mal. Ignorantes dos requerimentos espirituais, eles não rendem culto a Deus com sinceridade e inteligência (ver Jo.4:24). Pecam em sua ignorância voluntária e, como resultado, Deus não aceita seu culto nem suas ofertas.

Ec.5:2 2. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.

Precipites. Ou, “apressado”, (como a mesma palavra é traduzida em Ec.7:9; Ec.8:3). Palavras apressadas, descuidadas e precipitadas, seja em conversação, petição ou oração, são perigosas. A língua deve ser dominada da mesma forma que o cavalo. Observe o aviso de Cristo com relação à oração (Mt.6:7).

Diante de Deus. Deus deve ser tratado com respeito reverente (ver 1Rs.8:43). Não se pode aproximar-se dEle como se aproxima de seres humanos.

Poucas as tuas palavras. Comparar com os apelos dos sacerdotes de Baal (1Rs.18:26). Deus conhece nossas necessidades. É desnecessário um excesso de palavras que descrevam detalhes ínfimos de nossas necessidades (Mt.6:7-8; Lc.18:9-14).

Ec.5:3 3. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias.

Sonhos. Do heb. chalom, uma palavra utilizada para vários tipos de sonhos, inclusive os sonhos de profetas falsos e verdadeiros. Possivelmente, refira-se ao confuso estado mental das pessoas mundanas, aprisionadas numa multiplicidade de cuidados, e que não experimentam paz em Deus.

Palavras néscias. O sentido é que os sonhos testificam o excesso de trabalho e a tensão nervosa. Assim, palavras demasiadas revelam como são tolos aqueles que as pronunciam.

Ec.5:4 4. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.

A Deus fizeres algum voto. Ver Dt.23:21; Sl.50:14; Pv.20:25.

Não Se agrada de tolos. O hebraico diz, literalmente, “não há prazer nos tolos”. Em outras palavras, segundo Salomão, nem Deus, nem os seres humanos se comprazem em uma pessoa irreflexiva que promete muito, mas cumpre pouco (ver o relato sobre Ananias e Safira, em At.5:1-10).

Ec.5:5 5. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras.

Não votes. Uma pessoa pode ser impressionada a prometer uma oferta para a obra de Deus por causa de alguma bênção recebida. Tal promessa deve ser cumprida.

Ec.5:6 6. Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos?

A tua boca te faça culpado. A primeira frase do v. 6 traduz literalmente: “Não permita que tua boca traga pecado sobre tua carne.” Falhar em cumprir um voto é um pecado de omissão.

Mensageiro de Deus. A LXX e a Peshitta (versão Siríaca) interpretam como “Deus”. Tem-se sugerido que o termo “mensageiro”, algumas vezes, pode ter sido utilizado para se referir a Deus, a fim de evitar o uso do nome sagrado. O judaísmo tem se destacado por haver criado várias expressões sinônimas para o nome divino.

Iraria Deus. Sobre a “ira” de Deus, ver com. de Jz.2:20; 2Rs.13:3; 2Rs.17:11. Por que uma pessoa incorreria desnecessariamente no desprazer de Deus?

Ec.5:7 7. Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu, porém, teme a Deus.

Teme a Deus. Um temor piedoso deveria ser a força condutora da vida (ver Ec.7:18; Ec.8:12; Ec.12:13; Hc.2:20; ver também com. de Dt.4:10; Dt.6:2).

Ec.5:8 8. Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram.

Província. Tradução de uma palavra aramaica que significa “província” de um império (ver Et.1:1; Dn.8:2).

Opressão. É comum a exploração por meio de governantes corrompidos. Sistemas políticos raramente beneficiam os pobres. O próprio Salomão era culpado de oprimir os pobres a fim de executar seus grandiosos planos (1Rs.12:4).

Não te maravilhes. Ou seja, não se surpreenda com a existência da opressão nem se perturbe com ela. Era de se esperar.

Alto. Possivelmente, uma referência aos vários graus de oficiais no sistema de governo oriental. Cada um deles devia averiguar e informar acerca dos seus subalternos. Deus, no entanto, observa até mesmo os mais engrandecidos de todos (ver Sl.33:13-15; Sl.50:21; Sf.1:12).

Ec.5:9 9. O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo.

O proveito da terra. O significado hebraico do v. 9 é obscuro. Talvez uma tradução mais clara da primeira parte do verso seria: “Há proveito da terra para todos [os que trabalham honestamente].”

O rei. Uzias, rei de Judá, dedicou-se ativamente à agricultura (2Cr.26:10). O governante de um país agrícola geralmente está mais próximo de seu povo, porque ele se relaciona com seus súditos sem que haja oficiais gananciosos entre ele e seus governados.

Ec.5:10 10. Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade.

Ama o dinheiro. A vida devotada à aquisição de riquezas raramente é satisfeita com o que é acumulado. Salomão talvez pensasse na multidão de pequenos e altos funcionários do governo oriental, cada um ansioso para forrar sua própria casa.

Abundância. O avarento, não importa quanto aumentem suas posses, ele as julga insuficientes e deseja mais.

Ec.5:11 11. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos?

Também se multiplicam. O hebraico diz: “os comedores são aumentados”. Com o aumento da riqueza, o rico amplia seu círculo de relações. Ele é convidado a se divertir profusamente. Assessores, servos e dependentes se multiplicam e parentes pedem ajuda financeira.

Que mais proveito [...]? Ou, “qual a vantagem?” Não há lugar para a riqueza além desta vida. O acúmulo, investimento e a proteção da riqueza podem ser a causa de grande ansiedade e levar ao colapso nervoso. Os ricos deste mundo não dispõem de passaporte para a imortalidade.

Verem. A pessoa rica, afinal, percebe que não pode levar a riqueza consigo na morte (Jó.1:21; Lc.12:19-20). Não deveria se orgulhar de sua habilidade em acumular dinheiro, nem deveria exibi-lo, mas usá-lo para a glória de Deus (1Tm.6:10; 1Tm.6:17-19).

Ec.5:12 12. Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.

Trabalhador. Denota especificamente um lavrador do solo. Esta palavra também é utilizada para servos em geral e para aqueles que servem a Deus. Um dia de trabalho físico é uma preparação excelente para uma boa noite de repouso.

Não o deixa dormir. A responsabilidade de cuidar das riquezas geralmente acarreta problemas e rouba o descanso da pessoa, a ponto de prejudicar a saúde e ocasionar um colapso nervoso.

Ec.5:13 13. Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano.

Grave mal. Ou seja, um grave erro.

As riquezas que seus donos guardam. Este erro consiste em acumular a riqueza em vez de utilizá-la. A posse de recursos obriga a empregá-los para o bem comum (ver Mt.19:20-21; comparar com o conselho de Paulo em 1Tm.6:9-10).

Para o próprio dano. Perda de sono devido à ansiedade sobre o investimento e a vigilância sobre a riqueza aflige com frequência o seu possuidor (ver v. Ec.5:12). Alguns criminosos os consideram como um meio apropriado de exploração. Ficam também preocupados em pensar que seus herdeiros esbanjarão os frutos de seus árduos labores. Porém, o caráter do possuidor é que sofre mais pelo acúmulo de riquezas (ver Pv.11:24; Lc.12:16-21).

Ec.5:14 14. E, se tais riquezas se perdem por qualquer má aventura, ao filho que gerou nada lhe fica na mão.

Má aventura. Melhor seria “uma aventura ruim” (RSV), ou seja, um mau investimento, “mau negócio” (NVI) que resulta em séria perda. A especulação imprudente pode acabar com as economias de toda uma vida do dia para a noite. É essencial o cuidado constante para que o negociante mantenha o capital e obtenha lucro.

Gerou. “Tem gerado” é mais próximo do hebraico. O filho é considerado aqui como o herdeiro em potencial dos bens do pai.

Nada lhe fica na mão. Se o pronome “lhe” se refere ao pai, significa que no tempo de morrer ele se dá conta de que não tem nada para deixar a seu filho. Se “lhe” se refere ao filho, então, quer dizer que após a morte do pai e depois de feitos os devidos acertos, o filho nada recebe da herança com que havia sonhado. A primeira sugestão é preferível à segunda.

Ec.5:15 15. Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá levar consigo.

Nu. Comparar com as afirmações de Jó (Jó.1:21) e de Davi (Sl.49:16-17). Essas observações lembram o que Deus disse a Adão (Gn.3:19).

Nada poderá levar consigo. Somente a “riqueza” espiritual que a pessoa tiver acumulado na vida é que poderá ser levada para além do túmulo (ver Jo.3:36; Ap.22:14). O caráter é o único tesouro que se pode levar deste mundo para o mundo futuro (PJ, 332). Portanto, o cristão deve se esforçar para depositar suas riquezas no Céu (ver Lc.12:33-34).

Ec.5:16 16. Também isto é grave mal: precisamente como veio, assim ele vai; e que proveito lhe vem de haver trabalhado para o vento?

Também isto. Em todas as épocas as pessoas se angustiam com a aparente futilidade da vida. O escritor pergunta: “De que adianta trabalhar incansavelmente durante toda a vida se, por ocasião da morte, perderá os frutos do esforço?”

Que proveito [...]? A resposta implícita é: nenhum.

Trabalhado para o vento. Esta é uma figura que denota absoluta futilidade (ver Jó.15:2; Pv.11:29). O vento é insubstancial, invisível e não pode ser agarrado e segurado. Assim são os bens deste mundo.

Ec.5:17 17. Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito enfado, com enfermidades e indignação.

Nas trevas, comeu. Uma metáfora que descreve o fato de que uma pessoa que vive exclusivamente para acumular riquezas materiais nunca alcança a satisfação que espera. Contrasta com a perspectiva de alguém cuja esperança está nas coisas eternas (Mq.7:8), que suporta os desconfortos materiais do presente mundo com vistas a realidades que são vistas apenas com os olhos da fé (Hb.11:27).

Muito enfado. A LXX traduz: “com muito enfado, com enfermidades e indignação”. Esta é uma análise mais ampla do que sucede a quem “comeu nas trevas”.

Ec.5:18 18. Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção.

Eu vi. Nos v. Ec.5:12-17, Salomão demonstrou claramente a loucura de acumular bens para benefício próprio. Então, a partir do cenário de sua própria experiência, ele observa que a riqueza tem valor somente quando é empregada para suprir as necessidades e alegrias da vida.

Bela. Ou seja, “conveniente” ou “apropriado”.

Que Deus lhe deu. A verdadeira felicidade e paz mental unicamente se alcançam por meio do correto relacionamento com Deus e da percepção de que Sua mão está sobre todos para o bem deles (ver Rm.8:28). Portanto, a aceitação serena da própria sorte é o caminho para o contentamento e a felicidade. Esse também é o conselho de Paulo (1Tm.6:7-8).

Ec.5:19 19. Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.

Comer. Aqui é utilizado no sentido figurado de empregar as “riquezas e bens” em lugar de acumulá-los (ver v. Ec.5:13).

Dom de Deus. A habilidade de adquirir riquezas vem de Deus (Dt.8:18; Tg.1:16-17). Todas as faculdades que o ser humano possui são dons de Deus. Tudo que se adquiriu em virtude destas habilidades deve ser motivo de gratidão a Deus.

Ec.5:20 20. Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida, porquanto Deus lhe enche o coração de alegria.

Não se lembrará muito. A pessoa que vive em harmonia com Deus não passará por nenhuma vicissitude para a qual Ele não tenha uma solução (Mt.6:34). Seu futuro é certo e sua vida será tranquila.

Deus lhe enche. Ou, “responde” (ARC). A raiz verbal traduzida aqui como “enche” também tem o sentido de “testificar de [algo]”.

Ec.6:1 1. Há um mal que vi debaixo do sol e que pesa sobre os homens:

Pesa sobre os homens. Literalmente, “é muito sobre os seres humanos”. Salomão afirma o que testemunhou pessoalmente.

Ec.6:2 2. o homem a quem Deus conferiu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma; antes, o estranho o come; também isto é vaidade e grave aflição.

Deus conferiu. Deus é o criador e senhor do universo. Tudo o que há de bom no mundo deve ser creditado a Ele.

Riquezas, bens e honra. Davi reconhecia a Deus como a fonte destas bênçãos (1Cr.29:12). A “honra” referida neste verso é a da glória e do esplendor materiais, como os que Deus concedeu a Salomão (1Rs.3:13; 2Cr.1:11-12).

Alma. Ou seja, o próprio ser humano (ver Ec.2:24; Ec.4:8).

Coma. Utilizado aqui no sentido figurado de “alegrar”, “ter prazer em” (comparar com Is.3:10; Je.15:16).

O estranho. Literalmente, “um homem, um estrangeiro”. A mesma palavra é traduzida como “estrangeiro” (Dt.14:21) e “estranho” (Dt.15:3). Neste verso, a ênfase está sobre um homem que não terá herdeiro nascido de si para executar sua obra e perpetuar seu nome (comparar com a experiência de Abraão em Gn.15:2).

Grave aflição. Também traduzida como “dores”, em Is.53:3-4; Je.6:7; Je.10:19.

Ec.6:3 3. Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele;

Cem filhos. A palavra traduzida como “filhos” não consta no texto hebraico, mas está implícita. Ter muitos filhos era a esperança de todo judeu, pois eram considerados como uma rica bênção recebida do Senhor (Gn.24:60; Sl.127:3-5). O número apresentado foi arredondado e equivale a “muitos” (Gn.26:12; 2Sm.24:3; Pv.17:10). No entanto, compare o tamanho da família de Roboão (2Cr.11:21) com a de Acabe (2Rs.10:1).

Viver muitos anos. A morte prematura era vista como uma maldição e a longevidade, considerada uma bênção desejável (Ex.20:12; Dt.11:9; Dt.11:21; Sl.90:10).

Não tiver sepultura. Este é o ponto culminante de todos os males que podem sobrevir a uma pessoa. Não ser sepultado adequadamente era considerado como extremamente desonroso. Comparar com a ameaça de Davi a Golias (1Sm.17:46) e com a experiência de Jeoaquim (Je.22:18-19). Como os pagãos ao redor, os hebreus davam grande importância ao sepultamento com honra (ver Is.14:19-20; Je.16:4-5).

Aborto. Uma criança que nasceu morta, que nunca viveu (ver Jó.3:16; Sl.58:8). Um filho natimorto não desfruta os prazeres da vida, porém não sofre com as dores e os desapontamentos.

Ec.6:4 4. pois debalde vem o aborto e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome;

Debalde vem o aborto. Aquele que nasce morto vem ao mundo sem nenhum propósito.

Trevas. O filho natimorto é imediatamente eliminado, sem ritos funerários nem cerimônias para lhe prestar honra, para guardá-lo na lembrança. Ele permanece sem nome, sem registro. Uma criança pode, eventualmente, alcançar glória, honra e fama, mas uma criança que nasce morta nunca emerge do silêncio e da obscuridade.

Ec.6:5 5. não viu o sol, nada conhece. Todavia, tem mais descanso do que o outro,

Não viu o sol. Uma figura de linguagem em que o sol representa todas as experiências e os prazeres da vida (ver Jó.3:16; Sl.58:18).

Mais descanso. O descanso é um ideal no Oriente, que tem encontrado expressão em conceitos como o nirvana, o estado ideal futuro conforme ensina a religião budista e o desejo hindu de reabsorção do grande Atman que a tudo envolve. A experiência de um feto que morre é cinicamente considerada aqui como mais desejável que as vicissitudes que constituem uma parte normal da existência humana.

Ec.6:6 6. ainda que aquele vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Porventura, não vão todos para o mesmo lugar?

Duas vezes mil anos. Ou, 2 mil anos. Se uma pessoa rica vivesse duas vezes o que viveu Matusalém (ver Gn.5:27), mas obtivesse pouco ou nenhum prazer verdadeiro da vida, a longevidade seria de pouco proveito para ela. Sem saúde e felicidade, estender os anos é pouco vantajoso.

Não gozasse o bem. É melhor não ter nascido do que perder o supremo bem que Deus deseja para cada um de Seus filhos. A vida só vale a pena ser vivida se este supremo bem for compreendido.

Mesmo lugar. Os antigos judeus criam que todos os seres humanos, bons ou maus, iriam para um único lugar: a sepultura (Ec.3:20; ver com. de Pv.15:11). A sepultura recebe todos os que morrem. Salomão diz que o natimorto deveria ser felicitado uma vez que chega ao she’ol sem passar por uma vida de tristezas, doenças e desapontamentos.

Ec.6:7 7. Todo trabalho do homem é para a sua boca; e, contudo, nunca se satisfaz o seu apetite.

Boca. Uma metáfora para a indulgência com os prazeres dos sentidos (Sl.128:2; Pv.16:26; Ec.2:24; Ec.3:13).

Apetite. Do heb. nefesh. A mesma palavra ocorre no v. Ec.6:3 como “alma” e no v. Ec.6:9 como “desejo”. A referência aqui é ao aspecto mais sensual do ser (ver Jó.12:11; Pv.16:26; Is.29:8). O sábio observa que a vida é gasta em contínuo trabalho a fim de satisfazer às exigências de um apetite insaciável, porém sem alcançar o bem supremo.

Ec.6:8 8. Pois que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Ou o pobre que sabe andar perante os vivos?

Que vantagem tem o sábio [...]? Ou, “Que mais tem o sábio”? (ARC). Do heb. yother, que significa “superioridade”, “vantagem”, “proveito”. Como o tolo, o sábio se esforça para satisfazer os desejos do apetite.

Ou o pobre [...]? Um contraste similar ao da primeira frase: “Qual a vantagem do pobre, que sabe andar diante dos vivos, sobre o tolo que não sabe?” O pobre tem aprendido com a pobreza e as circunstâncias adversas a fazer o melhor com o que ele tem. O tolo, sem pensar em nada além dos seus desejos e apetites, constantemente se agita e se esforça para obter mais do que já tem. No entanto, o pobre e o tolo são semelhantes no sentido que nenhum deles consegue tudo o que gostaria de ter.

Ec.6:9 9. Melhor é a vista dos olhos do que o andar ocioso da cobiça; também isto é vaidade e correr atrás do vento.

Vista dos olhos. É melhor estar contente com o que se tem em mãos do que estar sempre desejando o que não tem. Os olhos do tolo estão nos confins da terra.

Andar ocioso. Desejar intensamente aquilo que está além do alcance induz, com frequência, a crimes e violência.

Ec.6:10 10. A tudo quanto há de vir já se lhe deu o nome, e sabe-se o que é o homem, e que não pode contender com quem é mais forte do que ele.

Já se lhe deu o nome. Outro modo de se dizer o que está expresso em Ec.1:9: “Nada há, pois, novo debaixo do sol.”

É o homem. Não importa de quem se trate, é um ser humano como os outros. A palavra hebraica utilizada aqui para “homem” é ’adam, que descreve um ser humano tomado do pó, ’adamah (ver com. de Gn.1:26; Nm.24:3). As pessoas mais eminentes são mortais, destinadas a voltar ao pó (Ec.12:7).

Contender com quem. Provavelmente, com Deus (ver Jó.33:12; Is.45:9; Rm.9:20). Comentaristas judeus preferem a tradução “mais forte do que” (ARC), fazendo com que o pronome se refira à morte. A tradução da ARA é preferível.

Ec.6:11 11. É certo que há muitas coisas que só aumentam a vaidade, mas que aproveita isto ao homem?

Coisas. De preferência, “palavras”, o sentido básico da palavra hebraica traduzida neste verso. As pessoas são propensas a falar e reclamar, mas a superabundância de palavras não melhora nenhuma situação. É mais vantajoso que a pessoa aprenda a confiar no seu Criador (Is.45:11-18; At.17:24-31).

Que aproveita isto ao homem? Literalmente, “qual a vantagem para o homem?” Muitas palavras e vãs especulações contribuem pouco para a solução dos problemas da vida.

Ec.6:12 12. Pois quem sabe o que é bom para o homem durante os poucos dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem pode declarar ao homem o que será depois dele debaixo do sol?

O que é bom. Ou seja, as coisas na vida pelas quais vale a pena viver. Como o ser humano não pode descobrir por si mesmo o bem fundamental da vida, ele deve reconhecer a futilidade de reclamar e discutir com Deus. Esta pergunta antecipa uma resposta negativa.

Sombra. O ser humano é comparado a uma sombra passageira, presente por um breve momento e depois se vai (ver 1Cr.29:15; Jó.8:9; Sl.102:11; Sl.144:4; Tg.4:14).

O que será. As pessoas não podem revelar o futuro. Sua vida é apenas um momento entre duas eternidades. As coisas terrenas são transitórias; as coisas invisíveis são eternas e estão nas mãos de Deus (ver 2Co.4:17-18).

Ec.7:1 1. Melhor é a boa fama do que o unguento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento.

A boa fama. Comparar com Pv.22:1. Uma boa reputação, baseada no caráter, é um bem precioso. “Aquele que arrebata o meu bom nome; Rouba de mim o que não o enriquece; E me faz pobre.” Uma das recompensas que será outorgada aos salvos será o “novo nome” prometido a todos os que vencerem o mundo (Ap.2:17).

Unguento precioso. A palavra vertida como “precioso” é a mesma traduzida como “boa” – “a boa fama”. A palavra traduzida como “unguento” é vertida como “óleo” (Gn.28:18; Gn.35:14; Ex.25:6; Ex.29:2); e, novamente, como “unguento” (Pv.27:9; Pv.27:16; Ec.9:8; Ec.10:1; Ct.1:3). O óleo perfumado era muito valorizado no Oriente, onde não havia sabão (ver Rt.3:3; 2Sm.12:20). No hebraico são similares os sons das palavras “fama”, shem, e “óleo” ou “perfume”, shemen.

O dia da morte. É evidente o paralelo da segunda parte da frase com a primeira, quando se compreende que a pessoa que vive honradamente e obtém uma boa reputação não precisa temer a morte. Ao nascer, a vida estava toda pela frente e ela não sabia nada de suas armadilhas, desapontamentos, tristezas e frustrações. Um navio zarpa e deixa o porto, com pouca indicação dos perigos que podem ser encontrados na viagem. Porém, ao entrar no porto, na conclusão de uma travessia segura do oceano, é recebido com alegria e saudações de boas-vindas.

Dia do nascimento. O seu nascimento é o início de breves “setenta anos” de vida (Sl.90:9-10), mas a morte pode ser o prelúdio de uma eternidade na nova terra (Lc.20:36; 1Co.15:51-55): de descanso (Ap.14:13), de satisfação suprema (Ap.7:16) e de glória eterna em contraste com as aflições do presente (2Co.4:17).

Ec.7:2 2. Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.

Luto. Entre os judeus, o período de luto era de sete dias (Gn.50:10), com carpideiras para confortar os aflitos (Mc.5:38; Jo.11:19; Jo.11:31).

Banquete. Festas de casamento também duravam sete dias (Gn.29:27) e, como o período de luto, eram compartilhadas por outros (Rm.12:15; Gl.6:2).

Todos os homens. Literalmente, “cada homem”. É sensato ter em mente que virá o dia quando cada ser humano deverá se encontrar com seu Criador, e não deve se esquecer do preparo diário para este solene momento.

Ec.7:3 3. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.

Mágoa. A frivolidade não fortalece o caráter. Há uma máxima grega que diz: “Sofrer é aprender” (ver Hb.2:10; Hb.12:1-11).

O coração. A dor é muitas vezes uma bênção disfarçada, que amolece o coração. O fogo da aflição purifica os motivos e cria a capacidade de simpatizar com os outros.

Ec.7:4 4. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria.

Dos sábios. A mente do sábio se volta para as coisas soberanas da vida e ele aprende a apreciar suas lições morais e espirituais. Por outro lado, o tolo é atraído para o lado mais leve da vida e busca satisfação em divertimentos, inconsciente da vida futura.

Ec.7:5 5. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir a canção do insensato.

A repreensão. O v. 5 desenvolve ainda mais o pensamento do v. 4. A “repreensão” de Yahweh é a proteção de Seu povo.

Canção do insensato. Refere-se às músicas irreverentes e pouco edificantes dos lugares de diversão (ver Am.6:5) bem como ao conselho que se pode esperar dos tolos.

Ec.7:6 6. Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade.

O crepitar. Com frequência falta bom combustível no Oriente, por isso galhos e folhas secas são colhidos para cozer o alimento e aquecer as casas. Palha, espinhos e galhos secos queimam com rapidez e fazem muito ruído, mas não oferecem um aquecimento contínuo que é necessário para preparar a refeição ou aquecer o cômodo de uma casa (ver Sl.58:9; Sl.118:12; Is.9:18).

A risada. A risada do tolo é despertada com facilidade, é barulhenta e sem sentido (ver Jó.20:5). Alguns entendem isto como uma referência ao aplauso a um tolo, que carece de valor porque não está respaldado por um sentido de responsabilidade.

Ec.7:7 7. Verdadeiramente, a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração.

Opressão. A mesma palavra hebraica também é traduzida como “extorsão” (Ez.22:12). A referência é ao uso egoísta de oportunidade e habilidade para defraudar outros a fim de enriquecer a si mesmo.

Endoidecer. Ou seja, desmoralizar. Se uma pessoa sábia cair no pecaminoso hábito da opressão e extorsão, um dia será desmoralizada e desprezada.

O suborno. Aceitar suborno perverte o julgamento e o torna ineficaz (ver Ex.23:8; Dt.16:19; Pv.15:27). O “coração” é um símbolo de entendimento e da natureza moral (Os.4:11).

Ec.7:8 8. Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; melhor é o paciente do que o arrogante.

Das coisas. Na língua original, esta expressão tem o sentido mais comum de “palavra” ou “comentário”. Raramente se pode ver antecipadamente o efeito de uma palavra ou comentário.

Paciente. A raiz da palavra traduzida como “paciente” quer dizer “ser longo”. Desta forma, uma pessoa “paciente” de espírito é, literalmente, “longa” de espírito. Está em contraste com a expressão “o de ânimo precipitado” (Pv.14:29). De modo semelhante, o NT apresenta “esperar com paciência” (Hb.6:15) e “sede vós também pacientes” (Tg.5:8), que querem dizer, literalmente, “seja longo de alma”.

Arrogante. Literalmente, “elevado” ou “exaltado de espírito” (ver Sl.138:6; Is.5:15; Is.10:33; Je.13:1-15).

Ec.7:9 9. Não te apresses em irar-te, porque a ira se abriga no íntimo dos insensatos.

Apresses. Ou, “inquietes”, “desanimes”, “perturbe[-se]”. As emoções devem ser mantidas sob controle (ver Tg.1:19).

Irar-te. Ver Ef.4:26; Ef.4:31; Tt.1:7.

Abriga. Palavras e ações que resultam da ira geralmente infligem grande dano, são difíceis de esquecer e são guardadas contra quem as emitiu por muitos anos (ver Pv.14:33).

Ec.7:10 10. Jamais digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é sábio perguntar assim.

Dias passados. A pessoa com espírito indisciplinado sente que o presente é mais difícil que o passado e se torna impertinente e petulante. Também é fácil para os idosos tomar tal atitude, esquecendo-se dos problemas passados e, talvez, de suas próprias falhas. No deserto, os filhos de Israel olhavam para sua antiga vida no Egito. Jó apresentou fraqueza semelhante (Jó.29:2; comparar com a atitude do idoso descrita em Ed.3:12; Ag.2:3; Sl.77:5-9).

Ec.7:11 11. Boa é a sabedoria, havendo herança, e de proveito, para os que veem o sol.

Boa é a sabedoria. Alguns entendem com isso que a sabedoria é o melhor tipo de herança. Outros entendem que a herança é uma bênção dupla se for usada da melhor forma, com sabedoria.

Ec.7:12 12. A sabedoria protege como protege o dinheiro; mas o proveito da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor.

Protege. A primeira parte do verso diz, literalmente: “Na sombra está a sabedoria, na sombra está a prata.” A sabedoria e o dinheiro proporcionam abrigo e auxílio, apesar de não serem do mesmo tipo. A pessoa rica e sábia tem uma segurança dupla. A “sombra” é uma figura comum, tirada do abrigo contra o perigo (Sl.17:8; Sl.91:1; Is.32:2). As riquezas, às vezes, salvam vidas (Pv.13:8) e a sabedoria pode libertar uma cidade (Ec.9:15). A riqueza não pode comprar a salvação eterna (Sl.49:6-7) ou dar paz mental genuína (Lc.12:15). A verdadeira sabedoria pode levar a pessoa a um relacionamento sadio com Deus (Sl.111:10; Jó.28:28). Em Tg.3:17, encontra-se uma inspirada figura de linguagem sobre a verdadeira sabedoria.

Excelência da sabedoria (ARC). A palavra traduzida como “excelência” é utilizada 12 vezes neste livro. Com relação à superioridade do conhecimento frente ao dinheiro, “proveito” (ARA) é a interpretação preferível.

Dá vida. Melhor seria: “preserva a vida”. A sabedoria pode salvar a vida de uma pessoa do perigo, enquanto as riquezas podem causar a morte de uma pessoa rica. A sabedoria pode guardar uma pessoa dos excessos do apetite que encurtam a vida; as riquezas possibilitam a excessiva indulgência do apetite e se tornam, assim, um meio de levar a pessoa a adoecer e, eventualmente, morrer. Porém, o texto sugere algo mais que a vida física. A sabedoria, no mais elevado sentido, leva à prática da verdadeira piedade (Pv.3:13-18; Pv.8:35). É no âmbito do espírito que é trabalhada a verdadeira preservação da vida e que conduz à imortalidade (Jo.5:21; Jo.6:63).

Ec.7:13 13. Atenta para as obras de Deus, pois quem poderá endireitar o que ele torceu?

Atenta. Literalmente, “veja”.

As obras de Deus. Ou seja, o modo pelo qual a providência nos conduz na vida (ver Jó.9:12; Jó.11:10; Jó.12:14).

Torceu. Uma referência às várias experiências da vida, como aflições, dificuldades, provações e sofrimentos. Abraão carregou sua “cruz” (Gn.15:2-3), e assim também Ana (1Sm.1:5-6) e Paulo (2Co.12:7). A pessoa deve reconhecer a mão de Deus em tudo e prosseguir na fé (Rm.11:36; 2Co.4:18; Hb.2:10), nunca questionando a sabedoria ou a bondade de Deus (Jó.9:12; Jó.11:10; Jó.12:14).

Ec.7:14 14. No dia da prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considera em que Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.

Goza do bem. Literalmente, “esteja em boas condições”. Quando as coisas vão bem, a pessoa deve se mostrar alegre e agradecida (comparar com a experiência do povo de Deus nos dias de Ester; ver Et.8:16-17).

No dia da adversidade, considera. Literalmente, “no dia do mal, veja”. Mesmo que as coisas não saiam como o esperado, não se deve reclamar nem se preocupar. É pecado duvidar de Deus e ficar desanimado.

Fez. Deus faz as coisas com equilíbrio. A prosperidade segue a adversidade. Não é bom que a pessoa viva completamente livre de cuidados e provas (ver Jó.1:21; Jó.2:10). As pessoas devem considerar cuidadosamente os acontecimentos da vida diária (Pv.4:26). A verdadeira felicidade não consiste na posse de coisas materiais (Lc.12:15; Mt.6:33-34).

Nada [...] depois dele. O ser humano não pode prever seu futuro, nem pode controlar todas as circunstâncias em que se envolverá. É privilégio dele confiar em Deus e se submeter à Sua vontade, certo de que em Suas mãos tudo resultará em bem (Rm.8:28; Gn.42:36).

Ec.7:15 15. Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há perverso que prolonga os seus dias na sua perversidade.

Tudo isto. Literalmente, “o todo”.

Minha vaidade. Ou seja, meus dias passageiros (ver Ec.1:2).

Perece. Os hebreus criam que Deus abençoaria o justo com vida longa (Ex.20:12; Dt.4:40; Pv.3:1-2; Pv.3:13-16; Pv.4:10; Sl.91:16). O NT apresenta outro aspecto da vida do justo (Mt.5:10-12; Jo.17:15; 2Tm.3:12).

Prolonga. Jó fez a mesma queixa (Jó.12:6; Jó.21:7; Sl.37:7). O justo Abel morreu jovem enquanto que o perverso Caim viveu até a velhice. Esta aparente reversão do que deveria ser a ordem das coisas tem inquietado a mente dos justos ao longo da história. O pensamento hebraico normalmente espera que o ímpio seja cortado nos primeiros anos de vida (Sl.37:9-10; Sl.55:23; Sl.58:3-9). O ajuste final será na segunda vinda de Cristo (Mt.16:27; Ap.20:12-15).

Ec.7:16 16. Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?

Demasiadamente justo. Uma repreensão ao legalismo com sua confiança em formas e expressões externas. A verdadeira religião é um relacionamento pessoal com o santo Deus (Lv.19:2; Ef.3:14) e o salvador Jesus Cristo (Ef.3:17-19).

Exageradamente sábio. Salomão falou sobre o valor da sabedoria e, então, passa a alertar contra uma atitude que leva a pessoa a questionar a direção de Deus. O apóstolo Paulo faz a mesma advertência (ver Rm.9:20-23).

Destruirias. A forma hebraica do verbo é reflexiva, enfatizando que a conduta decide o destino. O fariseu da parábola é um exemplo de alguém que, em justiça própria e sabedoria humana, destruiu a si mesmo (Lc.18:9-14).

Ec.7:17 17. Não sejas demasiadamente perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo?

Demasiadamente perverso. Não rejeite toda a restrição. Há um ponto em que o Espírito Santo não pode mais levar ao arrependimento sincero. Deve-se tomar cuidado para não ignorar ou subestimar a Deus (Sl.10:11; Ml.1:2; Ml.1:6; Ml.2:17; Ml.3:8; Ml.3:13).

Louco. A pessoa que peca deliberadamente engana a si mesma com a crença de que Deus ignora o que ela faz. Por isso, pode se tornar tão obcecada com determinado plano de ação que, em sua cegueira espiritual, pensa que não existe Deus (Sl.14:1).

Fora do teu tempo. Os excessos dos ímpios geralmente resultam em morte prematura, como aconteceu com os antediluvianos (Jó.22:16) e os ímpios dos últimos dias (Sl.55:23; Pv.10:27).

Ec.7:18 18. Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão; pois quem teme a Deus de tudo isto sai ileso.

Retenhas isto. Uma advertência para evitar ações excessivas ou precipitadas. Moderação é uma boa regra na vida; geralmente os extremos são perigosos.

Teme a Deus. A capacidade de atravessar a vida alcançando seus verdadeiros objetivos é possível somente no temor do Senhor (Ne.5:9; Jó.28:28; Sl.111:10; Is.33:6).

Ec.7:19 19. A sabedoria fortalece ao sábio, mais do que dez poderosos que haja na cidade.

A sabedoria fortalece. Aquele que é verdadeiramente sábio obtém suas vitórias na vida por meio da sabedoria que vem de cima. O verbo hebraico traduzido neste verso como “fortalece” ocorre também como “prevalecer” ou “prevaleceu” (Jz.3:10; Jz.6:2; Sl.9:19; Pv.24:5).

Dez poderosos. Literalmente, “dez governantes”. A mesma palavra hebraica é traduzida como “governador” (Gn.42:6; Ec.10:5; Dn.5:29, do aramaico).

Na cidade. A comparação é feita com o antigo conselho local dos anciãos, que julgava todos os assuntos. O mesmo tipo de conselho foi perpetuado na vida do povo hindu, chamado de panch ou “cinco”, com relação aos cinco anciãos selecionados para aplicar as regras da vida em comunidade na aldeia.

Ec.7:20 20. Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.

Não há homem justo. Melhor seria: “Com relação ao ser humano, não há ninguém justo.” Mesmo os filhos de Deus, às vezes, cometem graves erros, como fizeram Abraão e Davi, mas a graça de Cristo lhes dará a vitória (ver 1Jo.3:6; 1Jo.5:4).

Não peque. Ver 1Rs.8:46; Pv.20:9; Rm.3:23; 1Jo.1:8.

Ec.7:21 21. Não apliques o coração a todas as palavras que se dizem, para que não venhas a ouvir o teu servo a amaldiçoar-te,

Palavras que se dizem. Ou seja, o que os outros falam sobre alguém. Ficar preocupado com o que as outras pessoas pensam não é propício ao sucesso.

Servo a amaldiçoar-te. A familiaridade geralmente gera desprezo. O cristão deveria estar mais preocupado com a opinião de Deus do que com a opinião de outras pessoas (1Co.4:3-4).

Ec.7:22 22. pois tu sabes que muitas vezes tu mesmo tens amaldiçoado a outros.

Amaldiçoado. Literalmente, “ser frívolo”, “ser fútil” e daí “desprezar”, “desonrar”. O sentido deste verso é “falar depreciativamente”, “falar com desprezo”.

Ec.7:23 23. Tudo isto experimentei pela sabedoria; e disse: tornar-me-ei sábio, mas a sabedoria estava longe de mim.

Longe de mim. Comparar com Jó.28:12-28.

Ec.7:24 24. O que está longe e mui profundo, quem o achará?

Mui profundo. Comparar com Jó.11:7-9; Rm.11:33.

Ec.7:25 25. Apliquei-me a conhecer, e a investigar, e a buscar a sabedoria e meu juízo de tudo, e a conhecer que a perversidade é insensatez e a insensatez, loucura.

Apliquei-me a conhecer. Literalmente, “Eu, até mesmo meu coração, me virei para conhecer”. Esta é uma forma enfática de o autor declarar sua sinceridade em buscar a sabedoria.

Juízo. A palavra hebraica traduzida neste verso também ocorre como “conferir” (Ec.7:27) e como “projetos” (Ec.9:10). A forma feminina da palavra é traduzida como “máquinas” (2Cr.26:15) e como “astúcias” (Ec.7:29).

Ec.7:26 26. Achei coisa mais amarga do que a morte: a mulher cujo coração são redes e laços e cujas mãos são grilhões; quem for bom diante de Deus fugirá dela, mas o pecador virá a ser seu prisioneiro.

A mulher. Ver Pv.7:5-23.

Grilhões. A palavra traduzida como “grilhões” é usada em outras passagens como os “tendões” usados por Dalila para amarrar a Sansão (Jz.16:8). As “armadilhas”, “redes” e os “grilhões” ilustram a mulher sem escrúpulos (ver Pv.5:22; Pv.22:14, NTLH).

Agradar a Deus (TB). Literalmente, “ser bom diante de Deus”.

Ec.7:27 27. Eis o que achei, diz o Pregador, conferindo uma coisa com outra, para a respeito delas formar o meu juízo,

Uma coisa com outra. Literalmente, “um a um” (comparar com Je.5:1-5).

Ec.7:28 28. juízo que ainda procuro e não o achei: entre mil homens achei um como esperava, mas entre tantas mulheres não achei nem sequer uma.

Mil. Geralmente utilizado como número redondo (ver Ex.20:6; Ex.34:7; Sl.105:8). Salomão quer dizer que a pessoa perfeita é rara.

Mulheres. Salomão pensava ser mais difícil encontrar mulheres perfeitas do que homens perfeitos. Isso reflete um pouco da experiência com suas mais de mil esposas e concubinas, muitas delas pagãs e todas ciumentas e briguentas (como é comum neste tipo de relacionamento), o que lhe acarretou problemas infinitos. Ele parece culpar as mulheres e não a si mesmo por seus casamentos múltiplos (ver Gn.3:12).

Ec.7:29 29. Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.

Reto. Do verbo “ser direito”, “ser correto”. A referência é à retidão moral.

Astúcias. Esta mesma palavra é interpretada em 2Cr.26:15 como “máquinas”, ou seja, artefatos ou máquinas bélicas como a catapulta que lança pedras. A raiz do verbo quer dizer “pensar”, “inventar”, “imaginar” (ver Am.6:5). O ser humano caiu de sua posição original de retidão moral e se habituou a inventar coisas que, apesar de não serem más em si mesmas, são empregadas para levar o mundo para a transgressão.

Ec.8:1 1. Quem é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz reluzir o seu rosto, e muda-se a dureza da sua face.

Quem é como o sábio? Muitas versões antigas traduzem como “quem, então, é sábio?”

O sábio. Salomão afirma que a sabedoria é superior a todas as outras posses.

E quem sabe [...]? A pessoa verdadeiramente sábia saberá como interpretar as experiências da vida. Daniel é um nobre exemplo (Dn.5:10-29). Os apóstolos Paulo (1Co.2:15) e João (1Jo.2:27) enfatizam a mesma verdade. A forma aramaica da palavra traduzida como “interpretação” é encontrada 31 vezes no livro de Daniel.

Reluzir o seu rosto. A sabedoria e a serenidade interior são refletidas no rosto de quem é verdadeiramente sábio (ver Jó.29:24; Nm.6:25; Sl.4:6).

Muda-se. A graça de Deus transformando o coração será refletida no rosto por uma expressão de alegria serena.

Dureza. Do heb. ’oz, frequentemente traduzido como “força”. Neste verso, a palavra significa “rigidez”, numa descrição de um rosto sem ternura, cultura e finas virtudes.

Ec.8:2 2. Eu te digo: observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu juramento feito a Deus.

Eu te digo. Os tradutores forneceram três palavras. Muitas versões antigas traduzem “guardar os mandamentos do rei” como um imperativo: “Guarde os mandamentos do rei”, que parece estar em mais harmonia com o contexto e a estrutura da sentença.

Mandamento. Literalmente, “boca” e, figurativamente, ordens verbais e escritas, de uso comum no AT (Ex.17:1; Ex.38:21; Nm.3:39; Nm.10:13).

Juramento feito a Deus. O rei era considerado como o ungido de Deus, apontado por Ele para governar. O “juramento” se refere à obediência ao rei e era pronunciado em nome de Deus (ver 2Cr.36:13; Ez.17:13-19; comparar com os ensinos de Paulo com relação à consciência, em Rm.13:5).

Ec.8:3 3. Não te apresses em deixar a presença dele, nem te obstines em coisa má, porque ele faz o que bem entende.

Apresses em deixar. Literalmente, “não te apresses a sair de sua presença”. O rei era todo-poderoso; portanto, não se devia retirar a fidelidade a ele apressadamente, nem abandonar seu serviço. O absoluto poder do monarca com frequência fazia com que ele fosse ditatorial e irrazoável, e seus servos deveriam permanecer calmos e tranquilos.

O que bem entende. O servo do rei pode estar com a razão, mas o poder do rei é supremo. É sábio não se opor a ele desnecessariamente.

Ec.8:4 4. Porque a palavra do rei tem autoridade suprema; e quem lhe dirá: Que fazes?

Que fazes? A mesma expressão é utilizada com relação a Deus em Jó.9:12; Is.45:9; Jó.34:18; Dn.4:32.

Ec.8:5 5. Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo.

Mandamento. Ver com. do v. Ec.8:2. Este termo é normalmente utilizado para os mandamentos de Deus, enquanto, no v. Ec.8:2, provém da palavra hebraica para “boca” (ver com. do v. Ec.8:2).

Não experimenta nenhum mal. Literalmente, “não deve conhecer [ou seja, nenhuma experiência de] coisas más”. Submissão inteligente às leis do país e à lei de Deus é requisito para a paz e segurança no presente e na vida por vir (ver GC, 584, 585).

O tempo e o modo. O “coração” do sábio, ou seja, sua mente, discerne o tempo certo para falar e para ficar em silêncio. O sábio conhece métodos e procedimentos corretos e os segue. Ele reconhece as oportunidades e se apodera delas quando surgem.

Ec.8:6 6. Porque para todo propósito há tempo e modo; porquanto é grande o mal que pesa sobre o homem.

Propósito. A raiz verbal da palavra hebraica traduzida neste verso significa “se deleitar em” e é usada mais de 60 vezes. O substantivo significa “deleite”, “desejo” e “prazer” e é empregado em mais de 40 ocorrências. O sentido aqui é que há tempo e procedimento adequados para tudo que é desejável.

Mal. Todo empreendimento requer planejamento cuidadoso e métodos apropriados para que não fracasse e, consequentemente, traga problemas em vez de bênçãos.

Ec.8:7 7. Porque este não sabe o que há de suceder; e, como há de ser, ninguém há que lho declare.

Como há de ser. Esta é uma das fraquezas do ser humano e o motivo de grande parte de sua ansiedade, que ele não consegue prever o que pode lhe acontecer nem quando acontecerá (ver Is.47:13).

Ec.8:8 8. Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega.

Reter o espírito (ARC). A vida pode ser ceifada a qualquer momento (Jó.21:17-18; Jó.34:14-15).

Tréguas. Ou, “exceção”. Assim como os mercenários não conseguiam uma licença para se ausentar de suas funções durante o tempo de combate, assim também ninguém pode evitar a morte quando ela chega.

Ec.8:9 9. Tudo isto vi quando me apliquei a toda obra que se faz debaixo do sol; há tempo em que um homem tem domínio sobre outro homem, para arruiná-lo.

Tudo isto vi. Salomão teve várias experiências na vida e aprendeu muito por meio de observação.

Arruiná-lo. Algumas pessoas “ferem” seus semelhantes e outras ferem a si mesmas. Em última análise, quem fere seu vizinho destrói a si mesmo.

Ec.8:10 10. Assim também vi os perversos receberem sepultura e entrarem no repouso, ao passo que os que frequentavam o lugar santo foram esquecidos na cidade onde fizeram o bem; também isto é vaidade.

Vi. Ver Jó.21:30-32. Alguns ímpios são enterrados com grandes honras (2Cr.16:13-14; Je.22:18-19).

Lugar santo. Ou seja, o santuário (ver Lv.7:6). Algumas pessoas não convertidas e perversas frequentam a igreja conforme as exigências exteriores da religião e, ao morrer, celebra-se um caro funeral na igreja. Em muitos casos, esta é uma realidade da realeza.

Esquecidos. Muitas versões e manuscritos hebraicos antigos interpretam como “louvaram”, que está em mais conformidade com o contexto.

A cidade. Possivelmente, Jerusalém.

Assim tinham procedido (ARC). Ou seja, onde governaram para arruinar outras pessoas (v. Ec.8:9), viveram na impiedade e desfrutaram o “louvor” de seus subordinados. Após a morte, o nome foi esquecido.

Ec.8:11 11. Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal.

Logo. A mesma ideia equivocada mantida pelos ímpios, de que eles não prestarão contas de seus atos, ocorre em outras passagens bíblicas (ver Sl.10:6; Sl.50:21; Is.26:10; 2Pe.3:4).

Sentença. Do heb. pithgam, “edital”, “decreto” (Et.1:20), de uma antiga raiz persa. Ocorre no aramaico em Esdras e Daniel como “resposta”, “carta”, “palavra” e “assunto”. O sentido é de julgamento divino.

Inteiramente disposto. Comparar com o Sl.73:8-11 e com as palavras de Cristo a respeito do coração humano (Mt.15:17-20).

Ec.8:12 12. Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus.

Cem vezes. Com frequência o pecador age errado e parece escapar, pagando qualquer penalidade por suas transgressões (ver Pv.17:10).

Prolonguem. “Dias” é uma palavra acrescentada. Alguns se ressentem devido ao aparente atraso no julgamento dos ímpios (Ml.2:17). No entanto, o julgamento divino ocorrerá no tempo devido (ver Is.3:11; Mt.16:27; Ap.20:11-15).

Que bem sucede. Tudo irá bem, afinal, para os que temem a Deus (Sl.37:11; Is.3:10; Ml.3:16).

Ec.8:13 13. Mas o perverso não irá bem, nem prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme diante de Deus.

Não irá bem. Comparar com Jó.20:4-9; Jó.22:15-16.

Sombra. Ver Sl.102:11; Sl.109:23; Sl.144:4.

Ec.8:14 14. Ainda há outra vaidade sobre a terra: justos a quem sucede segundo as obras dos perversos, e perversos a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade.

Vaidade. Apesar da convicção de Salomão afirmada nos v. Ec.8:12-13, ele ainda assim se sente angustiado por causa de certos paradoxos desconcertantes.

Justos. O termo hebraico sugere pessoas que praticam a justiça. Jó enfrentou o mesmo problema (Jó.9:22; Ec.9:2-3; Ez.21:3-4).

Perversos. Comparar com Jó.21:7; Sl.73:3; Je.12:1. Não se deve permitir que as desigualdades da vida enfraqueçam a fé no modo como Deus procede. Na eternidade todas as desigualdades serão corrigidas.

Ec.8:15 15. Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol.

Alegria. Ou seja, viver por prazer. Isto sugere o eclipse da fé de Salomão por causa de um ponto de vista materialista.

Comer. As atividades listadas aqui não são más em si mesmas. Deus concedeu ao ser humano a liberdade para comer, beber e se alegrar com as boas coisas que a vida tem a oferecer. O que Salomão quer dizer é que o autocontrole e a negação do apetite aparentemente não lhe trouxeram recompensa, então ele chegou a pensar que seria melhor viver para satisfazer os sentidos e extrair o máximo possível das coisas materiais da vida.

Alegrar-se. Do heb. samah, “estar contente”, “rejubilar”.

Acompanhará. Salomão continua a descrever os sentimentos que o oprimiam.

Ec.8:16 16. Aplicando-me a conhecer a sabedoria e a ver o trabalho que há sobre a terra – pois nem de dia nem de noite vê o homem sono nos seus olhos,

Coração (ARC). Ou seja, “mente”.

Trabalho. A mesma palavra hebraica é traduzida como “enfadonho trabalho” (Ec.1:13; Ec.2:23; Ec.2:26; Ec.3:10; Ec.4:8; Ec.5:14) e novamente como “muita ocupação” (Ec.5:3, ARC). Salomão se refere ao ciclo de árduo trabalho humano.

Sono. As pessoas trabalham por longas horas, mas o trabalho foi designado como uma bênção (ver com. de Gn.3:19). Com muita frequência a humanidade caída falha na utilização sábia do tempo de lazer. O trabalho árduo do ser humano é disciplinar e edificar o caráter. Entretanto, o descanso é salutar após um dia de trabalho árduo (Pv.3:21-24; Je.31:23-26).

Ec.8:17 17. então, contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda que diga o sábio que a virá a conhecer, nem por isso a poderá achar.

A obra de Deus. Ou seja, o propósito eterno de Deus e Suas relações com o ser humano (ver Rm.11:33-36; Jó.11:7-8).

Sábio. É privilégio do ser humano estudar as obras criadas por Deus e Sua Palavra revelada, mas ele deve tomar cuidado para não se tornar “sábio aos seus próprios olhos” (Pv.26:5) e achar que consegue compreender as profundezas da Divindade (ver Jó.11:7). A correta atitude do ser humano para com Deus é revelada na imagem que o apóstolo João faz dos redimidos (Ap.15:3-4).

Ec.9:1 1. Deveras me apliquei a todas estas coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus; e, se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro.

Apliquei. Salomão exercitou a mente na tentativa de solucionar o problema.

Todas estas coisas. Ou seja, a questão da adversidade do justo e da prosperidade do ímpio.

Os justos. As obras de uma pessoa declaram o que ela é. Pelos frutos serão conhecidos (Mt.7:15-20).

Nas mãos de Deus. A vontade de Deus é suprema. A mão é uma figura de poder e autoridade (Dt.33:3; Is.62:3).

Se é amor ou se é ódio. É difícil saber qual a intenção por trás das várias experiências da vida. Na maioria das vezes, estas experiências ilustram uma questão de causa e efeito (ver Gl.6:7). Às vezes Deus pode decidir por realizar algo que, em Sua sabedoria, Ele sabe ser o melhor. Por meio da providência de Deus todas as experiências podem se tornar uma oportunidade para desenvolver o caráter.

Tudo lhe está oculto. A razão humana, sozinha, não pode penetrar as vicissitudes da vida nem a natureza dos planos de Deus para a vida ou para o futuro. Várias versões antigas tomam literalmente a primeira palavra hebraica do v. Ec.9:2, hakkol, “tudo”, como a última palavra do v. 1, e a interpretam como hebel, “vaidade”.

No texto hebraico consonantal, isto representa uma mudança de apenas uma letra, o b por um k, que são muito semelhantes (ver Guia de Transliteração, na p. xxi), ambas podem facilmente ser confundidas. De acordo com a interpretação destas versões, “tudo o que está diante deles é vaidade” (RSV; ver com. do v. Ec.9:2).

Ec.9:2 2. Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.

Tudo. Para a grande maioria, as mesmas experiências sobrevêm a todas as pessoas. A natureza abençoa a todos (Mt.5:45). Chuva e sol, tormenta e tranquilidade sobrevêm a bons e maus de igual modo (Jó.9:22).

O mesmo sucede. Esta expressão também foi traduzida como “casualidade” (Rt.2:3), “casual” (1Sm.6:9) e como “aconteceu-lhe alguma coisa” (1Sm.20:26).

Justo. Ou seja, moralmente reto.

Ao bom. Todas as versões antigas com exceção dos Targuns acrescentam “e dos maus”, que parece necessário para completar o paralelo.

Ao puro. Possivelmente, uma referência à purificação cerimonial.

Ao que sacrifica. Ou seja, à pessoa que é meticulosa em cumprir as exigências rituais exteriores da vida religiosa.

Ao bom. No sentido mais amplo e abrangente.

Ao que jura. Ver com. de Lv.19:12; ver também Dt.6:13; Sl.63:11; Is.65:16. A pessoa que teme um juramento legal geralmente é alguém que não tem intenção de cumprir sua obrigação e cuja consciência faz com que tenha medo de “jurar” (ver Nm.5:19-22). Comparar também com o ensino de Cristo (Mt.5:33-37) e do apóstolo Tiago (Tg.5:12).

Ec.9:3 3. Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.

Este é o mal. Salomão ainda não aceitava o fato de que os bons e os maus morrem.

Cheio de maldade. Todo pecado é desprovido de razão e bom senso. Não parece razoável que a maioria prefira os prazeres desta vida à eternidade na nova terra.

Rumo aos mortos. Literalmente, “depois disto, para os que estão mortos” (ver Jó.30:23; Is.14:9; Is.38:18; Ez.32:18).

Ec.9:4 4. Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um cão vivo do que um leão morto.

Esperança. Esta enfática palavra hebraica traduzida como “esperança” também é apresentada como “confiança” (2Rs.18:19; Is.36:4). A raiz verbal tem o sentido de “confiar” (ver Sl.25:2; Sl.26:1; Sl.28:7).

Um cão vivo. O cão é descrito na Bíblia como o mais desprezado de todos os animais (Ex.22:31; 1Sm.17:43; Pv.26:11; 2Pe.2:22) e ainda é considerado assim nos países orientais. O cachorro é um símbolo de impiedade cruel (Sl.22:16; Sl.59:2; Sl.59:6; Sl.59:14; Is.56:10-11; Ap.22:14-15).

Um leão morto. O leão é demonstrado como símbolo de majestade e poder (Pv.30:30) e, portanto, de Deus e de Cristo (Ap.5:5; Os.13:4-7).

Ec.9:5 5. Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento.

Os vivos sabem. Eles conseguem planejar e fazer preparativos para a morte, pois sabem que devem enfrentá-la.

Os mortos não sabem coisa nenhuma. Ver Sl.88:10-12; Sl.115:17.

Recompensa. Não é uma referência à recompensa eterna, quer seja da morte para os ímpios (Ap.20:11-15) ou da imortalidade para os justos (ver Ap.21:1-4; Mt.16:27; 1Co.15:51-54). Salomão está falando aqui sobre usufruir os frutos do trabalho nesta vida.

Sua memória. Ou seja, a lembrança deles na mente dos vivos e não a própria memória dos mortos. Isto é claro por causa do sentido da palavra zeker, “lembrança”, “memorial” e de seu uso no AT. Isto se refere, sem exceção, à “lembrança” de pessoas ou eventos, e nunca à capacidade de memória (Jó.18:17; Sl.31:12; Sl.112:6).

Esquecimento. Ou seja, “perdido”.

Ec.9:6 6. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.

Amor. Amor, ódio e inveja são emoções dominantes na vida, mas desaparecem na morte.

Para eles já pereceram. No hebraico este verbo está no singular, porque é dada atenção individual a cada sentimento.

Parte. Quando a pessoa está viva tem uma parte a desempenhar e pode desfrutar a recompensa de seus labores. Mas, com a morte, suas funções terminam. Jó (Jó.14:10-14), o salmista (Sl.30:9) e o profeta Isaías (Is.38:10) expressam esta mesma verdade.

Ec.9:7 7. Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras.

Vai. Salomão aconselha que se aproveite o melhor da vida e que as pessoas não fiquem remoendo, de braços cruzados, as aparentes desigualdades e futilidades da vida.

Come [...] o teu pão. Pão e vinho são utilizados figurativamente como representação de todas as necessidades e os prazeres da vida (ver Gn.14:18; Dt.33:28).

Tuas obras. Deus concede abundância de bênçãos nesta vida e é Sua vontade que as pessoas as desfrutem. Porém, chegará o dia em que será feita a distinção entre o justo e o ímpio (Ml.3:18) com base na forma como utilizaram essas bênçãos: se para fins egoístas ou para ministrar às necessidades de seus semelhantes (Mt.25:31-46).

Ec.9:8 8. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça.

As tuas vestes. Vestes brancas eram usadas em ocasiões festivas e eram consideradas como símbolo de alegria. Os anjos apareciam vestidos de branco (Mc.16:5; Jo.20:12) e João viu os santos imortais também vestidos de branco (Ap.6:11; Ap.7:9; Ap.19:8), simbolizando sua pureza de caráter e sua alegria.

O óleo. Era um costume oriental aplicar óleo na cabeça para refrescar o corpo e perfumá-lo (ver Sl.23:5; Am.6:6). Não ungir a cabeça era considerado sinal de luto ou jejum (2Sm.14:2; Mt.6:17). O óleo também é símbolo das ricas bênçãos de Deus (Sl.92:10; Sl.104:15; Is.61:3).

Ec.9:9 9. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol.

Goza a vida. Esta parte da oração diz, literalmente, para “ver a vida com a mulher que tu amas”. O casamento foi ordenado para trazer alegria suprema, e o lar deveria ser o Céu na Terra (ver Pv.5:18-19; Pv.18:22).

Tua porção. Ou seja, para que um homem tenha um casamento feliz. Era desígnio de Deus que o ser humano tivesse uma vida feliz e a consciência tranquila. O ser humano deve aproveitar plenamente os privilégios e responsabilidades que a vida lhe dá.

Ec.9:10 10. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.

Tudo quanto. A pessoa sábia se esforça para desempenhar as incumbências que a vida lhe dá, pois, após a morte, não haverá chance de compensar as oportunidades negligenciadas nesta vida (Jo.9:4; Gl.6:10).

No além. Do heb. she’ol, o figurado domínio dos mortos (ver com. de 2Sm.12:23; Pv.15:11). Esta é a única menção de she’ol em Eclesiastes. É evidente que Salomão cria num estado de inconsciência no she’ol (ver com. de Ec.3:19-21).

Para onde tu vais. A morte é a sorte de todas as pessoas, porque “em Adão, todos morrem” (1Co.15:22; ver com. de Ec.3:19-21).

Ec.9:11 11. Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso.

Ligeiros. Ao contrário dos seres humanos, Deus não depende de qualidades físicas e força mental (1Sm.14:6; 1Sm.17:47). De modo semelhante, entre as pessoas, as qualidades exteriores, que parecem dar vantagem a uns sobre outros, não são as mais importantes.

Do tempo e do acaso. Há um tempo apropriado, o momento certo para executar determinada tarefa. Quando se deixa escapar o tempo oportuno, os esforços fracassam total ou parcialmente em realizar o que se poderia fazer, independentemente do zelo tardio com o qual se desempenhe a tarefa.

Ec.9:12 12. Pois o homem não sabe a sua hora. Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai de repente sobre eles.

O homem. O artigo definido enfatiza o relacionamento de cada indivíduo com a problemática da morte.

A sua hora. Possivelmente, uma referência à morte (ver Ec.7:17), embora possa também se referir a qualquer infortúnio.

O laço. Uma imagem que representa um desastre súbito (Sl.91:3; Sl.124:7; Pv.1:17; Pv.6:5; Os.7:12).

Ec.9:13 13. Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que foi para mim grande.

Que foi para mim grande. Ou seja, fez uma profunda impressão.

Ec.9:14 14. Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; veio contra ela um grande rei, sitiou-a e levantou contra ela grandes baluartes.

Uma pequena cidade. O tamanho do local era insignificante, por isso seus poucos defensores conseguiram deter os agressores por pouco tempo.

Um grande rei. Comentaristas especulam por muito tempo com relação a que cidade Salomão se referia. Não há base para determinar que cidade estaria na mente do escritor nem qual seria o “grande rei”. Isto pode ter sido uma alusão velada a algum evento histórico.

Ec.9:15 15. Encontrou-se nela um homem pobre, porém sábio, que a livrou pela sua sabedoria; contudo, ninguém se lembrou mais daquele pobre.

Encontrou-se. Literalmente, “ele encontrou”, possivelmente uma referência ao governador da cidade.

Homem pobre, porém sábio. Literalmente, “um homem, um pobre, um sábio”.

Livrou. Em 2Sm.20:13-22, é descrito um evento semelhante, no qual uma cidade foi salva por uma sábia mulher.

Ninguém se lembrou. Quando a crise passou, o libertador foi ignorado e esquecido (comparar com a experiência de José em Gn.40:23). A aclamação pública é volúvel e não confiável. Este pobre homem sábio mergulhou novamente na obscuridade.

Ec.9:16 16. Então, disse eu: melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.

Melhor é a sabedoria. Ver Ec.7:19. A palavra traduzida como “força” é frequentemente usada para a força de um guerreiro (ver Je.9:23, em que também é apresentada como “força”).

Desprezada. A sabedoria do pobre homem não foi rejeitada no sentido de ser ignorada, mas ele próprio foi desprezado e deixado de lado depois de ter prestado seu serviço.

Suas palavras. Ele demonstrou bom senso, mas conselhos extras, talvez indesejáveis, não foram aceitos.

Ec.9:17 17. As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa entre tolos.

Silêncio. Ver Is.30:15.

Governa entre tolos. Num momento de empolgação, o demagogo pode ser seguido, para grande perda da nação.

Ec.9:18 18. Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitas coisas boas.

Armas de guerra. O mundo precisa de sabedoria divina mais do que de um arsenal de bombas.

Destrói. Uma pessoa pode trazer grande perda para a nação (Js.7:1; Js.7:4).

Ec.10:1 1. Qual a mosca morta faz o unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um pouco de estultícia.

Mosca morta. Literalmente, “moscas da morte” ou seja, moscas prestes a morrer. As regiões orientais são particularmente afetadas por pestes de moscas e de outros insetos. Se, ao morrer, as moscas caíssem dentro de um perfume e se decompusessem ali, o perfume se estragaria.

Perfumador. Literalmente, “misturador”.

Exalar mau cheiro. Literalmente, “cheirar mal”, “borbulhar”.

Um pouco de estultícia. A última parte do verso, literalmente, diz: “um pouco de loucura é mais pesada que a sabedoria e a honra”. Um único ato de loucura pode arruinar uma boa reputação. Uma vida discreta pode terminar em ruína em resultado de um único ato insensato.

Ec.10:2 2. O coração do sábio se inclina para o lado direito, mas o do estulto, para o da esquerda.

O coração do sábio. Literalmente, a afirmação diz: “O coração [mente] do sábio [está] à sua direita.” O lado direito era considerado o lado do favor, da honra e do sucesso (ver Sl.16:8; Sl.16:11; Sl.110:5; Mt.25:31-34; ver com. de Gn.35:18; Lc.1:11).

Para o da esquerda. O lado esquerdo era considerado o do mal e do infortúnio. Hoje, alguns países orientais consideram a mão esquerda como impura. A figura de linguagem deste verso ensina que os pensamentos e planos da pessoa insensata são fracos, inviáveis, não pensados e levam ao desapontamento e ao infortúnio.

Ec.10:3 3. Quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o entendimento; e, assim, a todos mostra que é estulto.

Vai pelo caminho. Isto é, quando ele lida com seus negócios, misturando-se com outras pessoas.

Falta-lhe o entendimento. Ele manifesta falta de informações e de bom senso.

A todos mostra. Sua falta de juízo, mostrada em palavras e atos, proclamam-no como tolo, e ele, por sua vez, acha que os outros são tolos.

Ec.10:4 4. Levantando-se contra ti a indignação do governador, não deixes o teu lugar, porque o ânimo sereno acalma grandes ofensores.

Espírito (ARC). Do heb. ruach, “sopro” (ver com. de Nm.5:14). Aqui a referência é ao temperamento ou disposição mental (a ARA diz “indignação”). A palavra também pode ser traduzida como “ira” (Jz.8:3).

Não deixes o teu lugar. Não desista de seu posto de dever. Uma ação precipitada, feita em espírito de retaliação, reflete instabilidade emocional e falta de bom senso. Além disso, a pessoa que age assim geralmente é afetada negativamente. É melhor suportar o descontentamento temporário do superior.

Ânimo sereno acalma. Melhor seria “a mansidão põe de lado”, isto é, previne grandes explosões de raiva do governante.

Ec.10:5 5. Ainda há um mal que vi debaixo do sol, erro que procede do governador:

Erro. Um administrador insensato, autocrático e despótico é propenso a errar no julgamento. Quanto mais poder ele tem, mais amplos são os lamentáveis resultados destes erros. Quando, sem escrúpulos, um príncipe se cerca de favoritos, cujo propósito único é lisonjeá-lo, seus erros de conduta e de julgamento são multiplicados.

Ec.10:6 6. o tolo posto em grandes alturas, mas os ricos assentados em lugar baixo.

Grandes alturas. Na história do mundo, algumas vezes, a estultícia dos tolos é exaltada como sabedoria e é seguida pela nação, que ruma ao desastre.

Lugar baixo. Pessoas que por nascimento e posição social são líderes naturais, prontos a servir seu país motivados pela lealdade, com frequência são ignorados e deixadas de lado.

Ec.10:7 7. Vi servos a cavalo e príncipes andando a pé como servos sobre a terra.

Servos a cavalo. Na época de Salomão, somente os privilegiados montavam cavalos ou mulas (2Sm.18:9; 1Rs.1:38; 2Cr.25:28; Et.6:8; Je.17:25); homens em posição social inferior montavam jumentos. Na história antiga de Israel, reis e príncipes montavam jumentos ou mulas (Jz.5:10; Jz.10:4; 1Rs.1:33).

Príncipes andando a pé. Isto é, homens de alto nível sendo tratados indignamente.

Ec.10:8 8. Quem abre uma cova nela cairá, e quem rompe um muro, mordê-lo-á uma cobra.

Abre uma cova. Ver Sl.7:15; Sl.57:6; Pv.26:27. A afirmação pode se referir a uma pessoa que conspira contra o governo ou alguém que planeja o mal contra o companheiro.

Um muro. Ver Nm.22:24; Ed.9:9; Is.5:5; Ez.42:7; Os.2:6; Mq.7:11.

Uma cobra. Nos países orientais, fendas nos ásperos muros construídos sem argamassa eram excelentes esconderijos para cobras e escorpiões (ver Am.5:19).

Ec.10:9 9. Quem arranca pedras será maltratado por elas, e o que racha lenha expõe-se ao perigo.

Arranca. O verbo hebraico na forma usada neste verso significa “abrir pedreira” ou “cortar”, isto é, tirar uma pedra talhada para fora do muro da pedreira. Era grande o perigo neste trabalho feito com métodos primitivos. Em 1Rs.5:17, a palavra “trouxessem” é do mesmo verbo. Com base em Dt.19:14, alguns comentaristas se referem a esta expressão como a remoção de pedras das fronteiras.

Racha lenha. Ver Dt.19:5. Este é um paralelo à afirmação anterior com relação a quem tira pedras da pedreira. Talvez Salomão não esteja falando em cortar lenha, o que não é perigoso, mas em derrubar árvores.

Ec.10:10 10. Se o ferro está embotado, e não se lhe afia o corte, é preciso redobrar a força; mas a sabedoria resolve com bom êxito.

Ferro. Isto é, a cabeça de um machado (ver 2Rs.6:5).

Afia. Literalmente, “mover rapidamente”, como se faz ao afiar a lâmina de um machado. Esta palavra hebraica também é traduzida como “estremeciam” (Je.4:24).

A sabedoria é excelente (ARC). Preparação adequada para qualquer empreendimento resulta em uma melhor obra, realizada com menos esforço. Preparação hábil, muitas vezes, faz a diferença entre o sucesso e o fracasso. O cristão deve procurar fazer uso das melhores ferramentas de habilidade espiritual para a tarefa da construção do caráter. Esforço, somente, é insuficiente; deve haver conhecimento e zelo (ver Rm.10:2).

Ec.10:11 11. Se a cobra morder antes de estar encantada, não há vantagem no encantador.

Antes de estar encantada. O sentido é que, se uma cobra morde o encantador antes de ser encantada, não há nenhum mérito em sua habilidade como encantador.

Não há vantagem no encantador. Literalmente, “não há vantagem ao proprietário da língua”. O “encantador” fazia seu trabalho produzindo assobios sibilantes.

Ec.10:12 12. Nas palavras do sábio há favor, mas ao tolo os seus lábios devoram.

Favor. Isto é, aceitável aos ouvintes (ver Sl.45:2; Pv.22:11; Lc.4:22). Palavras encantadoras sempre são agradáveis.

Devoram. Isto é, a causa de sua própria ruína, de envergonhá-lo (ver Pv.10:8; Pv.10:21; Pv.18:7; Pv.29:9).

Ec.10:13 13. As primeiras palavras da boca do tolo são estultícia, e as últimas, loucura perversa.

Estultícia. O tolo abre a boca e fala tolices, sem pensar (ver Pv.15:2; Pv.17:12; Is.32:6).

As últimas. Ao terminar de falar, o tolo fez declarações absurdas.

Ec.10:14 14. O estulto multiplica as palavras, ainda que o homem não sabe o que sucederá; e quem lhe manifestará o que será depois dele?

Multiplica. Ele tagarela sobre tudo, sem conhecer os assuntos (ver 1Tm.1:7).

O homem. Isto é, aquele que ouve o discurso do tolo. É difícil entender o que o tolo diz e o que ele quer dizer. Quanto mais tola for uma pessoa, mais ela estará inclinada a fazer afirmações dogmáticas com relação aos mais profundos mistérios.

Ec.10:15 15. O trabalho do tolo o fatiga, pois nem sabe ir à cidade.

O trabalho do tolo o fatiga. Isto é, o tolo se cansa.

Nem sabe. O tolo é tão néscio que, se for enviado à cidade com uma missão, se sentará à beira da estrada, esquecerá a missão e se verá perdido (ver Pv.10:26; Pv.26:6; Ec.4:5). A estrada para a cidade era claramente marcada, de modo que somente um tolo poderia se perder (ver Is.35:8).

Ec.10:16 16. Ai de ti, ó terra cujo rei é criança e cujos príncipes se banqueteiam já de manhã.

Rei. Literalmente, “moço”. A juventude é enfatizada, pois é uma idade marcada, com frequência, por falta de reflexão e bom senso (ver Is.3:4).

Banqueteiam já de manhã. Estes “príncipes” gastam o tempo em festas e libertinagem, em vez de nas tarefas do Estado (ver Is.5:11; Je.21:12).

Ec.10:17 17. Ditosa, tu, ó terra cujo rei é filho de nobres e cujos príncipes se sentam à mesa a seu tempo para refazerem as forças e não para bebedice.

Nobres. Pessoas de boa família e criação, supostamente de excelente caráter e conduta. A palavra pode ser traduzida como “homens livres” ou “nobres”.

Se sentam à mesa a seu tempo. No tempo oportuno, quando as tarefas do dia foram realizadas.

Refazerem as forças. De acordo com as necessidades físicas, e não para ceder ao apetite ou exercer uma atividade social.

Bebedice. A sensualidade tende à deterioração física e moral. As pessoas em alta posição devem definir um padrão de conduta elevado para si mesmas e devem ser um exemplo para os outros.

Ec.10:18 18. Pela muita preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa.

Preguiça. A forma dupla da palavra hebraica enfatiza intensidade. A raiz do vocábulo é encontrada em outras passagens (Pv.6:6; Pv.10:26; Pv.20:4; Pv.24:30; Pv.26:13).

Goteja. Literalmente, “vazamentos”. Os terraços das casas orientais necessitam de atenção constante. As goteiras são comuns (ver Pv.19:13; Pv.27:15). Da mesma forma, a negligência da pessoa responsável leva um país à ruína.

Ec.10:19 19. O festim faz-se para rir, o vinho alegra a vida, e o dinheiro atende a tudo.

O festim. Literalmente, “pão” ou “alimento”.

Alegra. Literalmente, “torna a vida feliz” (ver Sl.104:15).

Dinheiro. O dinheiro proverá para seu proprietário quase tudo de natureza material.

Ec.10:20 20. Nem no teu pensamento amaldiçoes o rei, nem tampouco no mais interior do teu quarto, o rico; porque as aves dos céus poderiam levar a tua voz, e o que tem asas daria notícia das tuas palavras.

Nem no teu pensamento amaldiçoes. Uma advertência para cuidar do pensamento e da expressão. É perigoso fazer declarações fortes sobre outras pessoas, especialmente contra as que possuem autoridade (ver Ex.22:28).

As aves. Uma expressão proverbial encontrada em vários idiomas, variando somente na forma.

E o que tem asas. Literalmente, “o proprietário das asas”.

Ec.11:1 1. Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.

Lança. Do heb. shalah, “enviar”.

O teu pão. A interpretação tradicional é de exercitar a caridade ou bondade para com os outros porque a recompensa virá algum dia. Outra interpretação possível seria ter sábias iniciativas comerciais de vários tipos.

Sobre as águas. Literalmente, “sobre a superfície das águas”.

Depois [...] o acharás. Comparar com Lc.16:9. Qualquer que seja o sentido de “pão”, a lição é que se deve agir com espírito de liberalidade, sem esperar retorno imediato.

Ec.11:2 2. Reparte com sete e ainda com oito, porque não sabes que mal sobrevirá à terra.

Reparte. Talvez um aviso para diversificar as atividades comerciais em lugar de confiná-las a uma única área, para investir capital em diversos empreendimentos comerciais. Eticamente, sugere benevolência a todos quantos seja possível. Os dois números sete e oito, usados juntos, sugerem um número indefinido, com uma tendência ao maior (para exemplos desta enumeração, ver Jó.33:14; Sl.62:11; Pv.30:15; Pv.30:18; Pv.30:21; Is.17:6; Mq.5:5).

Mal. Ninguém pode dizer que calamidade sobrevirá: inundação, terremoto, guerra ou recessão nos negócios.

Ec.11:3 3. Estando as nuvens cheias, derramam aguaceiro sobre a terra; caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que cair, aí ficará.

Estando as nuvens. A declaração pode ser interpretada desta forma: “Se as nuvens estiverem cheias, elas derramarão chuva sobre a terra.” A natureza funciona de acordo com a lei. De modo semelhante, há leis na esfera moral.

Caindo a árvore. Uma pessoa não pode determinar a direção em que a árvore cairá numa tempestade de vento. Deve aprender a preparar-se para a tempestade o melhor possível e submeter-se a ela, ao invés de tentar controlá-la. Interpretações fantasiosas tornam este verso num comentário sobre a morte e o destino humano.

Aí ficará. Seja qual for a adversidade, não se deve desistir, mas aceitar as coisas como estão e seguir em frente, corajosamente. Alguns eventos estão fora do alcance do ser humano. A vida tem muitos imprevistos que não devem se tornar em ocasiões de desalento e perda da determinação.

Ec.11:4 4. Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.

Quem somente observa. Se uma pessoa se torna excessivamente preocupada com as condições do tempo e exige as condições ideais para começar a trabalhar, sua agricultura sofrerá. Nem sempre se pode esperar por um dia perfeito ou por condições perfeitas antes de se aventurar. Alguns riscos devem ser corridos.

Ec.11:5 5. Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.

Vento. A mesma palavra interpretada como “vento” no v. Ec.11:4.

Os ossos. O crescimento e desenvolvimento da estrutura óssea no feto são maravilhosos (Jó.10:8-11; Sl.139:13-17).

Obras de Deus. Ver com. de Ec.7:13.

Ec.11:6 6. Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas.

Pela manhã. Os hebreus foram um povo agrícola, e as ilustrações do trabalho no campo devem ser entendidas como representantes das atividades em geral.

Não repouses. O fato de não se conhecer o futuro não justifica a indolência. Os resultados não surgem por acidente. É preciso preparo diligente e minucioso antes e depois.

Prosperará. Da mesma raiz da palavra traduzida como “reta”, em Et.8:5.

Ambas. A incerteza deve ser um incentivo a um esforço adicional, não à inatividade. Esforço e experimentação constantes são um prelúdio ao sucesso.

Ec.11:7 7. Doce é a luz, e agradável aos olhos, ver o sol.

Doce é a luz. Somente na luz é possível apreciar as belezas do mundo natural ou viajar com segurança. Seguindo o conselho dado no v. Ec.11:6, pode-se perceber uma experiência mais completa e satisfatória na vida.

Agradável. Viver é bom. Conseguir dar conta das tarefas diárias é prazeroso a qualquer pessoa normal. O sol é usado figurativamente para o cuidado protetor de Deus (ver Sl.84:11; Ml.4:2).

Ec.11:8 8. Ainda que o homem viva muitos anos, regozije-se em todos eles; contudo, deve lembrar-se de que há dias de trevas, porque serão muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.

Regozije-se em todos eles. A conjunção “e” (ARC) não ocorre no hebraico. A vida é muito breve, e o curto espaço de tempo do ser humano deve ser aproveitado.

Dias de trevas. As experiências adversas da vida devem ser lembradas por seu valor disciplinar. Libertação do perigo e perda devem ser devidamente apreciados. Alguns comentaristas aplicam a expressão “trevas” à sepultura, citando os v. Sl.88:12; Sl.143:3; Jó.10:21-22.

Ec.11:9 9. Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas.

Alegra-te. A boa disposição e uma atitude alegre diante da vida são louváveis. Há alegrias que fazem a vida valer a pena. O conselho de Salomão não é um convite ao excesso, mas para apreciar as bênçãos da vida.

Mocidade. A primeira ocorrência desta palavra no v. 9, do heb. yalduth, se refere à mocidade; a segunda, do heb. bachur, à adolescência. A primeira palavra ocorre novamente no Sl.110:3 e a segunda palavra, em Ec.12:1.

Teu coração. Todos os desejos e necessidades legítimos devem ser atendidos, mas a libertinagem e o abuso devem ser evitados.

Juízo (ARC). Não se pode evitar o encontro com o Juiz. Não será de proveito algum fingir que não haverá juízo, porque Deus não reterá Sua mão (ver Ml.3:5; Ap.20:11-15).

Ec.11:10 10. Afasta, pois, do teu coração o desgosto e remove da tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade.

Desgosto. Melhor seria “provocador” ou “provocação” (ver Dt.32:19; 1Rs.15:30; 1Rs.21:22; Ez.20:28), “ira” ou “cólera” (Dt.32:27; Sl.85:4; Pv.12:16; Ec.7:9), ou “dor” (Sl.10:14). A forma verbal da palavra é traduzida com frequência como “provocar a ira”.

Dor. Aquilo que fere o corpo, sobretudo, uma referência aos excessos morais que resultam em degeneração física (ver 1Co.6:18-19; 2Co.7:1).

Juventude. Da mesma palavra hebraica traduzida como “mocidade” na primeira parte do v. Ec.11:9.

Primavera da vida. Do heb. shacharuth, termo utilizado desta forma somente neste verso. Pode ser de uma raiz que significa “negrura” (ver Ct.5:11). O sentido de shacharuth é incerto, mas parece se referir à juventude, enquanto os cabelos são negros. Alguns acham que shacharuth pode ser derivado de shachan, “[a luz avermelhada que precede] o amanhecer”. Portanto, shacharuth seria aqui o “amanhecer [da vida]”.

Vaidade. A adolescência e a juventude passam rapidamente.

Ec.12:1 1. Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;

Lembra-te. Literalmente, “se lembre” ou “também lembre”, ligando o cap. 12 a Ec.11:9.

Criador. No hebraico é usado o particípio do verbo “criar”, como em Gn.1:1. Isto aponta para Deus como o autor e criador do universo. No hebraico, esta palavra está no plural como a palavra “Deus” em Gn.1:1 (ver com. de Gn.1:1; Gn.1:26-27).

Mocidade. Ver com. de Ec.11:9. No início da puberdade, a pessoa está em pleno vigor e é nesta fase que as forças vitais devem ser dedicadas a Deus e utilizadas para Sua glória.

Maus dias. Isto é, da fraqueza e velhice contrastando com os vigorosos e otimistas dias da juventude. A velhice traz enfermidade e debilidades, e seus dias são “maus” no sentido de estarem sobrecarregados de desgosto e aflição.

Não tenho neles prazer. A palavra traduzida como “prazer” é colocada no final da sentença para enfatizá-la. Quando os desejos, incentivos e esperanças da juventude passam, há, então, pouco entusiasmo na vida (comparar com a experiência de Barzilai, em 2Sm.19:34; 2Sm.19:37).

Ec.12:2 2. antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro;

Antes. As imagens altamente figuradas dos v. 2 a 6 têm sido interpretadas de várias maneiras. Diversos comentaristas, tanto judeus como cristãos, explicaram esta sequência como uma descrição do esgotamento das faculdades físicas no ocaso da vida, e viram as imagens específicas como uma referência a detalhes anatômicos do corpo. Com excelente habilidade literária Salomão descreve a velhice e a morte, como especificamente declaradas nos v. 1, 5 e 7. O sentido da alegoria como um todo é claro: “lembrar-se” do Criador antes que a velhice chegue, e dedicar a vida às atividades adequadas a este conceito de dever e destino.

Este é o tema de todo o livro. Salomão, felizmente, “lembrou-se” de seu Criador quase no final de uma longa vida dedicada a se esquecer de Deus e seguir a loucura, que ele descreveu tão vividamente por todo o livro. Olhando para trás, para os anos desperdiçados, Salomão encoraja a outros que evitem os desapontamentos que teve na vida enquanto em vão buscava a felicidade. Quando se trata da interpretação de detalhes da alegoria é bom usar de cautela, pois as Escrituras não fornecem uma explicação clara dos símbolos utilizados. Qualquer interpretação reflete apenas uma opinião pessoal. O com. dos v. 2 a 6 é sugestivo.

O sol. O desvanecer dos luminares do céu são utilizados aqui para ilustrar os “maus dias” do v. 1, a chegada da velhice. Alguns comentaristas aplicam à deterioração da visão. Comentaristas judeus foram a extremos quanto à aplicação dos detalhes fazendo com que o “sol” representasse a testa; a “luz”, o nariz; a lua, a “alma”; e as estrelas, as “bochechas”.

Tornem a vir as nuvens. Os comentaristas judeus entendem que o significado deste verso é que a visão é enfraquecida pelo choro em tempos de angústia. É preferível tomar esta imagem como um quadro geral da velhice e o decorrente embotamento das faculdades naturais.

Ec.12:3 3. no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas;

Guardas da casa. Esta imagem é usada no sentido amplo da decadência do corpo. Alguns comentaristas judeus aplicam a expressão ao ventre e às costelas; outros aplicam às mãos e aos braços.

Curvarem. Melhor seria: “se tornariam tortos” (ver Ec.1:15; Ec.7:13, em que a mesma palavra hebraica é usada).

Homens outrora fortes. Literalmente, “homens de força” ou “homens de eficiência”. A aplicação usual é a pernas e coxas. Outros imaginam os joelhos e os pés ou a coluna vertebral.

Cessarem os teus moedores. A palavra “moedores” é feminina e se refere às mulheres que fazem a moagem (ver Ex.11:5; Mt.24:41). Alguns comentaristas veem aqui uma referência aos dentes (ver Je.25:10).

Poucos. Os “poucos” moedores, talvez os poucos dentes gastos e deteriorados, trabalham pouco e não conseguem fornecer a “farinha” necessária ao sustento da vida.

Os que olham (ARC). Uma forma feminina se referindo às mulheres do lar oriental que não aparecem muito em público e geralmente olham através da janela de sua moradia (ver com. de Gn.18:10; ver também Jz.5:28; 2Sm.6:16).

Escurecerem. Uma figura que transfere o quadro das mulheres olhando para fora através das treliças da janela, para uma gradual diminuição da visão (ver Gn.27:1; Dt.34:7).

Ec.12:4 4. e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem;

Portas. No hebraico esta palavra está na forma dual e se refere a duas folhas de uma porta. Os comentaristas judeus atribuem esta figura aos poros do corpo ou aos lábios.

À voz das aves. É frequentemente considerada uma figura para a insônia na velhice, como de uma pessoa idosa sendo despertada pelo chilrear de um pássaro no alvorecer.

Filhas da música. Os órgãos da fala e do canto, as cordas vocais. Talvez uma referência à voz trêmula e fraca de uma pessoa idosa.

Ec.12:5 5. como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça;

Temeres. O idoso geralmente dá cada passo com mais cuidado. Ele também teme uma estrada pública. Seus ossos são frágeis e se quebram com facilidade numa queda ou noutro acidente, e a recuperação é demorada. Além disso, a respiração breve e o corpo pesado fazem com que subir uma elevação seja um exercício vigoroso.

Floresce. Isto é, “florescência”. A amendoeira era a primeira árvore da Palestina a florescer. A figura aqui tem sido aplicada aos cabelos grisalhos da velhice ou à calvície. A grande quantidade de flores brancas da amendoeira deve ter feito Salomão se lembrar da cabeça grisalha de um idoso.

O gafanhoto. Talvez um símbolo de pequenez ou insignificância (ver Nm.13:33; Is.40:22). Com frequência, as pessoas idosas sentem que as coisas mais triviais são grandes fardos.

Perecer o apetite. Literalmente, “o grão de alcaparra se tornar ineficaz”. Alguns criam que o grão de alcaparra possuía uma qualidade afrodisíaca (ver com. de Gn.30:14). O “apetite”, neste verso, é um eufemismo para “desejo sexual”.

Vais à casa eterna. Comparar com Jó.20:21; Lc.16:9.

Pranteadores. Ver 2Sm.3:31; Je.22:10; Je.22:18.

Ec.12:6 6. antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço,

Antes que se rompa. Ou, “ser despedaçado”. A imagem deste verso pode ser de uma grande lâmpada pendurada num fio de prata rompido. A corda se rompe, e a lâmpada cai ao chão. A primeira parte do v. 6 significa, literalmente: “Até quando o fio de prata não romper.”

O fio de prata. O “fio” é um grande e forte cabo ou corda (ver tradução da mesma palavra em 2Sm.17:13; 1Rs.20:32). A prata pode ser uma representação do que a pessoa valoriza que, neste verso, refere-se à própria vida, o maior tesouro. Tem-se aplicado o “fio de prata” e o “copo de ouro” à medula espinhal e ao cérebro, sem uma clara base bíblica, partindo-se de um ponto de vista literário que, possivelmente, Salomão tivesse em mente quando escreveu (ver com. de Ec.12:2).

Ao poço. Por séculos as mulheres orientais foram ao poço do vilarejo com vasos de cerâmica (ver Gn.24:14-15; Jo.4:7; Jo.4:28). A figura, neste verso, é de um cântaro de barro feito em pedaços (ver Lv.6:28; Lv.15:12). No poço do vilarejo oriental, geralmente, havia uma roda ou forquilha de madeira. Cada morador trazia sua corda e jarro. O uso constante e as condições climáticas causavam o colapso e a desintegração do poço. Neste verso, a fonte ou poço ilustra a vida (ver Sl.36:9; Jo.4:10; Jo.7:37). Todas as diferentes imagens do v. 6 representam a morte.

Ec.12:7 7. e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

Então (NTLH). Isto é, o dia da morte (ver v. Ec.12:1; Ec.12:5-6).

O pó. Isto é, a parte física do ser humano (ver Gn.2:7).

Como o era. A parte física do ser humano se deteriora e volta aos elementos que a originaram. É dito que, na morte, o ser humano “dorme no pó” (Jó.7:21; Jó.17:16; Jó.20:11; Jó.21:26). Na ressurreição, os que “dormiram” no pó da terra viverão novamente (ver Dn.12:2; Jo.11:11-13; Jo.11:23-26; 1Ts.4:13-17).

O espírito. Do heb. ruach, “espírito”, “vento”, “sopro” (ver com. de Nm.5:14). A palavra ruach refere-se 84 vezes ao “Espírito” de Deus (Jz.15:14; 1Sm.10:10). É traduzida na ARA 121 vezes como “espírito” no sentido de mente, sentimentos, vitalidade, fôlego de vida, impulso (Gn.45:27; Nm.5:30; Jz.9:23; 1Sm.1:15; Sl.146:4); 107 vezes como “vento” ou “ventos” (Gn.8:1; Sl.104:4); 13 vezes como “sopro”, “hálito”, “assoprar” (Jó.4:9; Jó.7:7; Jó.19:17); 12 vezes como “aspirar”, “cheirar”, “respirar” (Gn.8:21; Lv.26:31); dez vezes como “fôlego” ou “fôlego de vida” de homens ou animais (Gn.6:17; Ec.3:19; Ec.3:21); sete vezes como “ânimo” e “alento” (Js.2:11; Jz.15:19); e duas vezes como “respiração” (Sl.104:29; Is.30:28). Há também as traduções “vida”, “mente”, “ar”, “ira”, “furor”, “bufo” e “resfolgar das narinas”. Em nenhuma das 394 ocorrências da palavra no AT ruach denota uma entidade inteligente que exista separada do corpo físico, e deve estar claro que tal conceito não está baseado nos ensinos das Escrituras (ver também com. de Gn.2:7; Gn.35:18; Nm.5:14; Ec.3:19-21; cf. com. de Nm.5:2; Nm.9:6). O que retorna a Deus é o princípio de vida que foi concedido por Deus para as pessoas e os animais (ver com. de Ec.3:19-21, em que ruach é traduzido como “fôlego”).

Ec.12:8 8. Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade.

Vaidade. Ver com. de Ec.1:2.

Ec.12:9 9. O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.

O Pregador. Ver com. de Ec.1:1.

Conhecimento. No hebraico, a ordem das palavras enfatiza o “conhecimento”. “O povo” para o qual Salomão escreveu era de uma classe culta.

Compôs. Ver 1Rs.4:32.

Ec.12:10 10. Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever com retidão palavras de verdade.

Palavras agradáveis. Literalmente, “palavras de deleite”. O autor se esforçou para dar ao tratado o brilho literário que o recomendaria àqueles para quem foi especialmente escrito: os que se consideravam sábios nas coisas deste mundo.

Retidão. A tentativa de conseguir uma forma literária agradável não o levou a comprometer a verdade.

Ec.12:11 11. As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem-fixados as sentenças coligidas, dadas pelo único Pastor.

Aguilhões. Usado para picar, para estimular à ação, para obter resultados. Ser aguilhoado pode ser doloroso, mas aguilhoar, frequentemente, assegura resultados que não seriam alcançados de outra forma (ver Hb.12:11).

Pregos bem fixados. Pregos ou estacas bem fixados são difíceis de serem removidos (ver Is.22:23). Pontos bem feitos, ideias cuidadosamente ensinadas permanecem na mente e não são perdidas facilmente. A palavra traduzida como “bem fixados” tem o sentido comum de “plantar” e, figurativamente, “estabelecer”.

Mestres das congregações (ARC). Literalmente, “senhores de coleções”. A palavra traduzida como “congregações” vem de ’asaf, “reunir”, “ajuntar” (ver Ex.3:16; Ex.23:10; Rt.2:7; Jl.2:16). Apesar de ser usada com mais frequência para reunião de pessoas, ’asaf pode denotar qualquer ajuntamento ou coleção, e o contexto deve determinar a natureza do ajuntamento. No paralelismo poético do v. 11 a expressão hebraica traduzida como “mestres das congregações” é paralela a “palavras do sábio”.

Para preservar o sentido do paralelismo, é necessário entender a segunda parte como se referindo a “coleção” ou “antologia” de frases sábias e não a pessoas. A palavra traduzida como “mestres” é utilizada idiomaticamente neste verso para denotar superioridade de qualidade e organização.

A frase inteira poderia ser traduzida como “uma coleção magistral [de provérbios de sabedoria]” ou, simplesmente, “uma antologia seleta”; e o segundo elemento do paralelismo poético poderia ser “como pregos bem fixados são as antologias seletas do pastor”. “O Pregador” assim se refere ao conselho que deu: como um aguilhão às pessoas que foram estimuladas a seguir um sábio rumo de ação, e como prego bem fixado, para que o conselho não fosse esquecido.

Ec.12:12 12. Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.

Atenta. Ou, “adverte”.

Não há limite para fazer livros. Salomão poderia estar pensando em livros que não foram feitos com a finalidade de transmitir sabedoria prática, mas para glorificar seus autores ou aqueles sobre quem foram escritos. Quão pouco do que foi escrito é realmente digno de ser lido! Sem dúvida, Salomão leu todos os “livros” que encontrou, possivelmente até a extensa literatura cananita (ver vol. 1, p. 103-109, vol. 2, p. 19, 26; ver também com. de Jz.1:11) e a literatura de sabedoria do Egito, já famosa em sua época (ver 1Rs.4:30).

Muito estudar. Estudar somente pelo prazer ou como um fim em si mesmo, como fez Salomão durante grande parte de sua vida, se mostrou inútil. Não era prático e, por isso, era “vaidade”. Somente quando o estudo se torna um meio para alcançar um fim maior do que ele mesmo é que pode evitar que se torne um “cansaço da carne”.

Quando o Autor de toda a verdade é reconhecido como o “princípio da sabedoria” (Sl.111:10) e o estudo se torna um meio de alcançar Seus pensamentos, a fim de que a vida se conforme com o propósito divino, então o estudo se torna um prazer edificante. As especulações filosóficas dos escritores pagãos não contribuem em nada com o pensamento cristão (ver CPPE, 444).

Ec.12:13 13. De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.

Teme a Deus. Ver com. de Dt.4:10; Dt.6:2; Lc.1:50; ver também Ap.14:6-7.

Mandamentos. Ver Sl.78:1-7. Do heb. mitswah, uma palavra comum para todas as exigências de Deus, incluindo-se a lei moral. Mitswah e torah, “lei” (ver com. de Nm.19:14) são usadas como sinônimas para fins práticos.

Porque isto é o dever de todo homem. A palavra “isto” obviamente se refere à declaração anterior sobre temer a Deus e guardar Seus mandamentos. As palavras “dever de” não estão no hebraico, e a palavra traduzida como “todo” está ligada à palavra para “homem”. A mesma construção, “todo homem” é vista em Ec.3:13; Ec.5:19 (TB). Neste verso, Salomão considera o reconhecimento a Deus e a obediência às Suas sábias exigências como o supremo objetivo da vida.

Paulo declara a mesma verdade (At.17:24-31; Rm.1:20-23; comparar com Tg.2:10-12). É dever e destino do ser humano obedecer a Deus para que encontre felicidade suprema. Qualquer que seja seu quinhão, na prosperidade ou na adversidade, seu dever contínuo é prestar obediência amorosa a seu Criador.

Ec.12:14 14. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.

Obras. Ou, “ações”. Palavras e atos serão julgados (Mt.12:36-37). No entanto, Deus requer mais: o ser humano deve ser obediente também em seus pensamentos (ver 2Co.10:5; ver com. de Mt.5:22; Mt.5:28).

Até as que estão escondidas. As pessoas podem achar que escondem suas palavras e ações de outras pessoas, mas “todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos dAquele a quem temos que prestar contas” (Hb.4:13). Até mesmo os pensamentos estão sujeitos ao Seu escrutínio (1Sm.16:7; Sl.7:9; Je.17:10; At.1:24; Hb.4:12). Deus lê os motivos secretos do coração. Ele sabe quanto da luz da verdade penetrou nas trevas do coração e nos responsabilizará por todo raio de luz (ver Rm.2:16; 1Co.4:5).

No grande dia do juízo final, os que fizeram a vontade de Deus entrarão no reino (Mt.7:21-27). Professar fidelidade a Deus e, ao mesmo tempo, desobedecer apenas a uma de Suas sábias e amorosas exigências é negar a realidade dessa fidelidade (ver Jo.15:10; 1Jo.2:3-6). Fazer menos do que isso é adorar a Deus em vão (ver Mc.7:7-9), porque naquele grande dia todas as pessoas serão recompensadas “conforme as suas obras” (Mt.16:27; Ap.22:12).