"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > 2Coríntios
2Co.1:1 1. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia,

Apóstolo. Do gr. apostolos (ver com. de Mc.3:14; At.1:2). Paulo recebeu sua missão diretamente de Jesus Cristo (At.26:16-17; Gl.1:11-12). Ele era um embaixador de Cristo (2Co.5:20). Na maior parte de suas epístolas, Paulo se identifica como um apóstolo, sua autoridade é igual à dos doze apóstolos, todos eles viram o Senhor e foram instruídos pessoalmente por Ele (ver com. de 1Co.9:1).

De Cristo Jesus. Isto é, enviado por Jesus Cristo e, assim, Seu porta-voz.

Vontade de Deus. Os falsos apóstolos que perturbavam a igreja de Corinto agiam por vontade própria. Paulo se tornou apóstolo por um ato da vontade divina (cf. Rm.1:1; 1Co.1:1). Era imperativo que os coríntios reconhecessem essa diferença e aceitassem Paulo pelo que ele era: um representante de Deus. Durante várias décadas, houve um influente grupo de cristãos judeus que exigia que os gentios conversos ao cristianismo se tornassem prosélitos do judaísmo e observassem as exigências da lei ritual. Esses judeus negavam a validade da decisão do concílio de Jerusalém de que os conversos gentios estavam eximidos desses ritos (At.15:19-20; At.15:28-29). Ao mesmo tempo, esse partido judaizante foi bem-sucedido em colocar as igrejas da Galácia contra Paulo (Cl.3:1; Cl.5:1-7), bem como as igrejas da província da Ásia (2Tm.1:15). Os judaizantes desprezavam Paulo e, uma vez que ele não esteve associado a Cristo pessoalmente como os doze apóstolos, eles o apresentavam como um apóstolo de segunda categoria. A tendência na igreja era dividir os apóstolos em dois grupos, os que estiveram e os que não estiveram com Cristo. Os que estiveram com Jesus em carne eram tidos em mais estima.

O irmão Timóteo. Em nenhuma parte Timóteo é chamado de apóstolo. Ele ainda era um jovem, embora fosse companheiro de Paulo por quase 15 anos (ver com. de At.16:1-3; cf. AA, 184). Paulo também se refere a Timóteo como seu “cooperador” (Rm.16:21). Talvez ainda fosse considerado um aprendiz. Ele já era bem conhecido da igreja de Corinto (1Co.16:10; 2Co.1:19). Os nomes de Paulo e Timóteo estão unidos nas saudações de outras cinco epístolas (Fp.1:1; Cl.1:1; 1Ts.1:1; 2Ts.1:1; Fm.1). Paulo o chama de “filho na fé” (1Tm.1:2; 2Tm.1:2; ver com. de 1Co.4:17; 1Co.16:10).

Igreja. Do gr. ekklesia (ver com. de Mt.18:17). Paulo chama a igreja de Corinto de “a igreja de Deus”, significando que foi estabelecida pela vontade de Deus, assim como Paulo foi ordenado apóstolo “pela vontade de Deus”. A cidade de Corinto era ilustre devido a sua cultura, riqueza e perversidade (ver p. 724). Num dos lugares mais perversos no mundo romano, Deus estabeleceu Sua igreja.

Todos os santos. Havia, naquela época, um considerável corpo de crentes na Acaia (ver mapa, p. 19). A igreja de Cencreia é mencionada especificamente (Rm.16:1). Sem dúvida, havia outras. O termo hagioi, “santos” (ver com. de Rm.1:7), foi usado desde o início para designar fiéis cristãos (ver At.9:13) como separados do mundo, para Deus. O povo de Deus é chamado de “fiéis” (1Tm.4:12), devido à fé em Cristo; “discípulos” (At.11:26) porque aprendem dEle; “servos” (Ef.6:6) porque obedecem às Suas ordens; “filhos” (1Jo.3:10; cf. v. 1Jo.3:1) porque foram adotados na família de Deus; e “santos” (1Co.1:2) porque a vida deles é dedicada a Ele.

Acaia. Os romanos dividiram a Grécia em duas províncias senatoriais: Acaia e Macedônia (cf. At.19:21). Corinto era a capital da Acaia, que incluía as regiões da Ática e do Peloponeso. Na cidade também se encontrava a residência do procônsul romano ou governador (ver mapa, p. 19). A inclusão na saudação “a todos os santos em toda a Acaia”, além dos que estavam em Corinto indica que, até certo ponto, eles também necessitavam do conselho enviado à igreja de Corinto. Os coríntios deveriam transmitir as saudações e a mensagem do apóstolo às demais igrejas.

2Co.1:2 2. graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Graça [...] e paz. Ver com. de Rm.1:7. Esta é a saudação de Paulo em todas as epístolas pastorais, à qual ele acrescenta a palavra “misericórdia”. “Graça” (charis; ver com. de Jo.1:14) era uma saudação comum entre os gregos, e expressava o desejo de que a pessoa a quem era dirigida experimentasse alegria e prosperidade. Como saudação cristã, “graça” expressava o desejo de que aquele a quem era pronunciada conhecesse a plenitude da bênção e do poder divino. No uso comum do cristão, as palavras gregas normalmente assumem novos significados (ver vol. 5, p. 92, 93). “Paz”, a saudação comum dos judeus, desejava ao destinatário todas as bênçãos materiais e espirituais (ver com. de Is.26:3; Mt.5:9; Lc.1:79; Lc.2:14; Jo.14:27). Talvez com a saudação “graça [...] e paz” Paulo quisesse expressar seu desejo de amizade com os coríntios de origem judaica e gentílica. A igreja cristã une judeus e gregos. A “graça” de Deus justifica os pecadores arrependidos (Rm.3:24; Tt.2:11); Sua “paz” guarda o coração e a mente firmes em Cristo (Fp.4:7).

Nosso Pai. Ver com. de Mt.6:9.

Senhor Jesus Cristo. Ver com. de Mt.1:1; Jo.1:38.

2Co.1:3 3. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação!

Bendito seja o Deus. Do gr. eulogetos (ver com. de Mt.5:3). Paulo inicia com uma atribuição de louvor a Deus (sobre o verbo “bendizer” em relação a Deus, ver com. do SI.63:4).

E Pai. A importância que Cristo atribuiu ao nome “Pai” aplicado a Deus, é vista em Seus ensinos e ministério terrestres. Esse nome reflete o espírito do sermão da montanha; é a palavra principal da oração do Senhor; é a base da fraternidade cristã e o estímulo para perdoar os ofensores. A percepção da onipresença de Deus como Seu Pai acompanhou Jesus por toda a vida (ver com. de Lc.2:49). Depois de Sua ressurreição, Ele falou de “Meu Pai e vosso Pai” (Jo.20:17). As pessoas, algumas vezes, sentem dificuldade para compreender a onipresença, a onipotência e a onisciência do Deus infinito. No entanto, todos conseguem percebê-Lo e apreciá-Lo como Pai amoroso, que deu Seu único Filho para viver e morrer por uma raça de pecadores (Jo.3:16; ver Jesus é ver e conhecer o Pai, Jo.14:9; Jo.17:3).

Pai de misericórdias. Esta expressão ocorre apenas neste versículo, no NT. Deus é o Pai misericordioso, a fonte de onde fluem as dádivas, o originador de todas as dádivas. A misericórdia indica algo mais que benevolência. Deus é bom para todos, mas é misericordioso aos afligidos pelo pecado e necessitados de perdão. As misericórdias são a revelação do caráter de Deus e brotam de Seu coração (ver com. de Rm.12:1).

Consolação. Do gr. paraklesis (ver com. de Mt.5:4). É por meio do Espírito Santo, o Consolador (ver com. de Jo.14:16), que Deus Se aproxima do ser humano para ministrar às suas necessidades espirituais e materiais. A palavra paraklesis é característica desta epístola. Ocorre 11 vezes como substantivo e 18 vezes na forma verbal.

2Co.1:4 4. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus.

Conforta. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4). Isto é, por meio da atuação do Espírito Santo (ver com. de 2Co.1:3). O grego indica que este “conforto” é contínuo, sem interrupção.

Tribulação. Do gr. thlipsis, “opressão”, “pressão”, “aflição”, “angústia”, “situação desesperadora”. O “conforto” que vem do Senhor capacitou o apóstolo a ter atitude serena diante da angústia (2Co.4:8-11; 2Co.11:30).

Consolar. Aqueles que têm experimentado tribulação e tristeza e encontraram o “consolo” que vem de Deus conseguem simpatizar com outros em situação semelhante e apontar-lhes o Pai celeste.

A consolação. Neste termo está embutido mais do que o simples consolo na tristeza ou tribulação. Inclui tudo o que o Pai celestial pode fazer por Seus filhos terrenos (ver com. de Mt.5:4). Para o cristão, a tribulação desempenha papel importante no aperfeiçoamento do caráter (cf. Hb.2:10). Por si só, o sofrimento e a tribulação não têm poder de tornar os seres humanos semelhantes a Cristo. Na verdade, eles tornam as pessoas sombrias e amargas. No entanto, Deus santifica a tribulação, e aqueles que encontram nEle graça e força para suportá-la, solucionam um dos maiores problemas da vida (cf. Hb.2:10). A experiência e o exemplo do próprio Paulo atestam isso (ver com. de 2Co.4:8-11; 2Co.12:7-10). É muito mais difícil crer em Deus em meio à luxúria, ao conforto material e facilidade. Na providência divina, a tribulação e a tristeza podem nos aproximar dEle. Portanto, não se deve louvá-Lo pela tribulação, fazendo dela um trampolim para o reino de Deus (At.14:22; Rm.5:3; Tg.1:2-3).

2Co.1:5 5. Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo.

Os sofrimentos de Cristo. A expressão pode significar sofrimentos suportados por amor a Cristo ou os sofrimentos de Cristo compartilhados por Seus seguidores. A construção grega “de Cristo” permite o segundo significado, que levanta a pergunta: Em que sentido os sofrimentos de Cristo devem ser abundantes em nós? Cristo indagou aos discípulos: “Podeis vós beber o cálice que Eu estou para beber?” (Mt.20:22). Pedro fala de sermos “coparticipantes dos sofrimentos de Cristo” (1Pe.4:13). É privilégio dos cristãos conhecer “a comunhão dos Seus sofrimentos” (Fp.3:10), “levando sempre no corpo o morrer de Jesus” (2Co.4:10). De acordo com a primeira interpretação, “os sofrimentos de Cristo” são as aflições suportadas por amor dEle. Como os sofrimentos de Cristo foram ocasionados por oposição, contenda, perseguição, prova e escassez, assim serão os de Seus discípulos. O valor do sofrimento não depende tanto das circunstâncias que o motivam, mas da atitude do sofredor (cf. 1Co.13:3). Disposição para sofrer não é, em si mesma, evidência de cristianismo. Milhares que passaram por provas e sofrimentos, sem reclamar, não eram filhos de Deus. É o relacionamento com Cristo que enobrece e santifica o sofrimento (ver 1Pe.2:20-21).

Consolação. Do gr. paraklesis (ver com. do v. 2Co.1:3).

Transborda. Ver com. de Ef.3:20. Em todas as angústias, Paulo estava satisfeito com o “consolo” provido pelo Céu.

2Co.1:6 6. Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação; se somos confortados, é também para o vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando vós com paciência os mesmos sofrimentos que nós também padecemos.

Somos atribulados. As aflições de Paulo, com o conforto divino que lhe sobreveio, eram em favor daqueles que foram ganhos por ele para Cristo. Mais ainda, as aflições serviram, como uma oportunidade para exercer perseverança, o que os novos conversos poderiam imitar. Além disso, as aflições de Paulo o qualificaram a consolar e a aconselhar outros que passariam por experiências semelhantes.

O qual se torna eficaz. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a tradução desta oração no final do versículo, aplicando-a ao conforto que Paulo experimentava, assim como às suas aflições. As aflições e consolos experimentados pelos líderes da igreja geralmente se mostram de grande valor ao povo que eles servem. O exemplo determinado e paciente dos primeiros encoraja os últimos (ver Fp.1:13-14). A perseverança paciente na aflição promove a salvação e a santificação (Rm.5:3-5; Rm.8:28).

Confortados. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4; 2Co.1:3-4).

2Co.1:7 7. A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que, como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação.

Nossa esperança a respeito de vós. A confiança de Paulo a respeito deles se baseava em sua experiência pessoal. Assim como obtivera conforto de Deus em tempos de prova, ele sabia que outros também podiam ser confortados em situações semelhantes. Esse é o privilégio de todos os que compartilham a comunhão dos sofrimentos de Cristo.

Como sois participantes. Nos v. 2Co.1:4-6, Paulo se refere à experiência pessoal. O conforto que menciona pode ser percebido só quando se experimenta a aflição. Os coríntios foram submetidos a sofrimentos semelhantes, em alguns aspectos, aos suportados por Paulo. Essas aflições eram frequentes nas primeiras igrejas, e serviram para unir os verdadeiros crentes numa comunhão de sofrimento e consolo. Os cristãos esperavam suportar a perseguição por amor a Cristo (cf. Jo.16:33). A perseverança cristã não é um estado emocional que as pessoas alcançam por si mesmas. É o produto da graça e do amor divinos, operando na vida de homens e mulheres consagrados. A perseverança cristã é uma esperança baseada em evidências passadas do poder Salvador de Deus e do “conforto” em tempos de provação. A experiência de confiar em Deus nessas ocasiões provê um firme fundamento para a perseverança em ocasiões futuras (cf. 1Pe.5:10).

2Co.1:8 8. Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida.

A tribulação. De uma declaração de princípios gerais sobre tribulação (v. 2Co.1:3-7), Paulo se volta para uma provação específica pela qual passara havia pouco tempo na Ásia. Os eruditos sugeriram várias experiências que Paulo poderia ter em mente: 1. O tumulto levantado por Demétrio, em Efeso (At.19:22-41). Argumenta-se que Paulo dificilmente teria se desesperado por sua vida durante esse tumulto, uma vez que foram seus amigos que o persuadiram a não se apresentar em público no teatro, temendo que ele fosse despedaçado. Além disso, Paulo correu riscos mortais, como em Listra, onde foi apedrejado e abandonado para morrer (At.14:19-20). Dessa forma, a experiência em Éfeso dificilmente parece explicar a extrema angústia expressa neste versículo. O apedrejamento em Listra foi considerado por alguns como o incidente ao qual Paulo se refere. 2. Alguma doença mortal. Esta proposta não parece ser justificada pelo contexto. 3. A conspiração dos judeus para tirar a vida de Paulo enquanto ele deixava Corinto. Em consequência disso ele mudou seus planos (At.20:3; 1Co.16:9).

4. A angústia de Paulo por causa da situação da igreja de Corinto, especialmente desde a segunda visita, que tanto o afligiu (ver p. 903, 904), e sua ansiedade pela recepção da carta anterior. Paulo reservou as expressões mais fortes para angústia mental e não para sofrimento físico. Também foi dada atenção ao alívio que Paulo sentiu com as notícias de mudança nos assuntos em Corinto (2Co.7:6-7; 2Co.7:13). Embora a expressão “desesperarmos até da própria vida” possa parecer forte para angústia mental, aqueles que a experimentaram testificam que as circunstâncias podem provocar um estresse tamanho que pareça impossível continuar a viver, a menos que se encontre uma solução. De todas as considerações, a última parece ser a mais plausível (cf. AA, 323-325).

Acima das nossas forças. Paulo não salienta o sofrimento em si, mas sua intensidade. Seu propósito é duplo: (1) expressar interesse pessoal nos crentes de Corinto e (2) encorajá-los a permanecer firmes.

2Co.1:9 9. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos;

Sentença. Literalmente, “resposta”. Paulo cria que Deus queria que ele entregasse sua vida em breve. Eles tinham como encontrar em si mesmos a “resposta” à morte, isto é, a resposta interior que deram à pergunta sobre o destino deles era que morreriam. O tempo do verbo grego indica que a viva recordação da experiência de morte ainda parecia real enquanto Paulo escrevia.

Não confiemos em nós. A experiência pela qual Paulo passara o havia marcado com essa lição. A mesma verdade era evidente para ele, enquanto orava para a remoção do “espinho na carne” (2Co.12:7-10). Paulo aprendeu a depender do “conforto” que encontrava em Deus (ver com. de 2Co.1:4). Todas as pessoas têm uma forte tendência a confiar em si mesmas, tendência que é mais difícil de ser vencida. Foram necessários “a sentença de morte” e “um espinho na carne” antes que Paulo a superasse. As experiências de Israel no caminho do Egito para Canaã foram designadas a ensinar-lhe essa lição fundamental. Deus geralmente permite que Seu povo experimente terríveis dificuldades para perceber sua insuficiência e ser induzido a confiar e esperar na suficiência dEle.

As provações são um requisito à experiência cristã (At.14:22). É fundamental para a salvação do ser humano que aprenda a depender de Cristo. A confiança em Deus é um fator essencial na vida cristã diária. Geralmente é na fornalha ardente que as pessoas aprendem a caminhar lado a lado com o Filho de Deus (ver Dn.3:25). Apenas aqueles que têm “fome e sede” das coisas de Deus serão “fartos” (ver com. de Mt.5:6). O senso de necessidade é pré-requisito para receber os dons celestiais (ver vol. 5, p. 205, 206; ver com. de Mc.1:44; Lc.7:41).

Ressuscita os mortos. Ver 1Co.15:12-23; 1Co.15:51-55; 1Ts.4:16-17.

2Co.1:10 10. o qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos esperado que ainda continuará a livrar-nos,

Tão grande morte. Ou, “tão terrível morte”. O verbo “livrar”, utilizado três vezes, é a palavra-chave, aqui. O livramento passou a ter significado especial para Paulo (ver 2Co.11:23-28), o que justifica sua ênfase quando fala disso.

Continuará a livrar-nos. Talvez o perigo ao qual Paulo aludiu no v. 2Co.1:8 ainda não chegara plenamente. Talvez Paulo tenha percebido que, no ministério do evangelho, um perigo poderia ser seguido por outro. O livramento passado havia provido “fé” e confiança para esperar livramento futuro. O senso de segurança do cristão cresce com a confiança nas promessas de Deus e nas experiências pessoais em que essas promessas ocorreram.

2Co.1:11 11. ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam dadas graças a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio de muitos.

Ajudando-nos. Por meio da oração, os crentes coríntios seriam coobreiros de Paulo em seu ministério. O apóstolo cria no valor de sua oração intercessória (Rm.1:9; Ef.1:16; Fp.1:4), bem como na dos outros (Rm.15:30; 1Ts.5:25; 2Ts.3:1). Paulo tinha em alta consideração as orações unidas do povo de Deus.

Por muitos. Literalmente, “muitos rostos”. Talvez Paulo pensasse em muitas pessoas cujos rostos foram erguidos a Deus em seu favor. O espírito de oração e gratidão é espelhado no rosto. Olhando para as aflições e provações pelas quais passou, ele percebeu que uma mão divina o livrou da morte, mas vê também um mar de rostos erguidos intercedendo por ele diante do trono da graça. Paulo convida os membros da família da fé para se unirem em oração pelos líderes nomeados por Deus para atender suas necessidades espirituais. A posição desses líderes é em geral muito perigosa. As responsabilidades são grandes, e os problemas são muitos. A preservação física e espiritual deles é uma questão de grande preocupação para a igreja. É igualmente importante que os ministros sintam o companheirismo amoroso de seu rebanho. Isso é o que levou Paulo a expressar seu anelo pelas orações daqueles pelos quais ele trabalhava. Se Paulo não estava sozinho na oração por auxílio divino, então ele também não poderia se alegrar sozinho. O apóstolo ansiava que compartilhassem as bênçãos que lhe sobrevieram.

Benefício. Isto é, a bênção concedida em resposta às orações unidas. Paulo se refere ao seu livramento de perigo mortal (v. 2Co.1:8).

2Co.1:12 12. Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo e mais especialmente para convosco.

Nossa consciência. Paulo começa a discutir suas interações recentes com a igreja de Corinto. Ele reclama seu direito de receber a oração intercessória deles (v. 2Co.1:11) e declara que não perdeu essa reivindicação por sua conduta passada ou atual. Sua consciência o inocenta completamente, à qual ele se refere com frequência (ver At.23:1; At.24:16; Rm.9:1). Alguns dos coríntios o acusaram com intenções questionáveis e falsas a respeito da mudança de planos com relação a sua visita anunciada à cidade deles (ver 2Co.1:15). No entanto, sua consciência estava livre de ofensa diante de Deus, dos gentios e, em especial, diante dos coríntios.

Com santidade. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante. A atitude de Paulo resultava de uma entrega irrestrita a Deus.

Sabedoria humana. Ver com. de Rm.7:24; 2Co.10:2; cf. com. de 1Co.9:27. Paulo vivia e trabalhava numa atmosfera espiritual, não influenciado pelas considerações que motivam as pessoas. “Sabedoria humana” é a sabedoria do ser humano não regenerado, que não está sob a influência do Espírito de Deus. A sabedoria humana pode parecer profunda, mas com frequência engana.

Temos vivido. Do gr. anastrepho, literalmente, “converter”, “conduzir [a si mesmo]”, “viver”. Traduzida de várias maneiras, a palavra anastrepho ocorre nesse sentido em outras passagens (ver Ef.2:3; 1Tm.3:15; Hb.13:18; 1Pe.1:17; 2Pe.2:18). A forma substantiva, anastrophE, significa “modo de viver”, “comportamento”, “conduta” (ver Gl.1:13; Ef.4:22; Tg.3:13; 2Pe.3:11).

Nada como uma consciência limpa mantém firme uma pessoa que passa por diversos sofrimentos. O sofrimento é intensificado por uma consciência que afirma repetidamente que a pessoa trouxe o mal sobre si mesma, que apenas está colhendo o que plantou (ver 1Pe.2:12; 1Pe.2:19-20). Foi a “boa consciência” que sustentou Paulo em toda a sua provação, primeiramente em Jerusalém (At.23:1) e, depois, em Cesareia (2Co.24:16). A grandeza da estatura moral é alcançada apenas quando “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm.8:16). A convicção da clara aceitação diante de Deus e a perseverança em Sua vista é a única base permanente para a alegria duradoura.

Para convosco. Paulo deu ampla oportunidade aos coríntios para perceberem a graça de Deus agindo em sua própria vida.

2Co.1:13 13. Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis; e espero que o compreendereis de todo,

Porque [...] vos escrevemos. Paulo expressou sua sinceridade e pureza de intenções. Isto, ele diz, pode ser encontrado nas cartas, a atual e as duas anteriores que são conhecidas (ver p. 903, 904).

Ledes [...] compreendeis. Do gr. anaginosko [...] epiginosko, um jogo de palavras. A palavra anaginosko denota a leitura silenciosa ou oral, e a palavra epiginosko refere-se à compreensão do que se lê. Não há sentido oculto no significado das palavras, nem ambiguidade que permita Paulo pensar em uma coisa e escrever outra. Os coríntios o acusaram de duplicidade, ao dizer uma coisa significando outra. Paulo declarou que tudo o que lhes escreveu não tem outro sentido senão o que as palavras significam. O relato levado por Tito indicava que muitos dos crentes coríntios o compreenderam corretamente. Eles não estavam interpretando mal seus motivos. Paulo esperava que os coríntios nunca tivessem oportunidade de pensar outra coisa.

2Co.1:14 14. como também já em parte nos compreendestes, que somos a vossa glória, como igualmente sois a nossa no Dia de Jesus, nosso Senhor.

Em parte. Isto pode se aplicar tanto a Paulo como aos coríntios. Pode significar que todos tiveram uma compreensão parcial de Paulo ou que só alguns dos coríntios o compreendeu em tudo.

Compreendeste. Isto é, entenderam (ver com. do v. 2Co.1:13). Alguns coríntios compreenderam Paulo, outros, não.

Somos a vossa glória. Alguns em Corinto sentiam um orgulho sagrado em relação a Paulo e seus colaboradores. É um bom presságio para a igreja quando ministro e membros manifestam confiança mútua e motivos recíprocos para se alegrarem.

Como igualmente. No último dia, os conversos de Paulo serão sua “coroa de alegria” (ver 1Ts.2:19-20; Fp.2:16; Hb.12:2). A alegria dos ministros e dos crentes será completa naquele dia quando Cristo Se manifestar para reunir os remidos em Seu reino. Se todos mantivessem aquele dia em mente, ressentimento, hostilidade e mal-entendidos nunca ocorreriam. Muito amor cristão e boa vontade seriam manifestados se todos olhassem para aquele dia de alegria mútua na presença de Deus.

2Co.1:15 15. Com esta confiança, resolvi ir, primeiro, encontrar-me convosco, para que tivésseis um segundo benefício;

Com esta confiança. Isto é, a confiança deles na integridade e sinceridade de Paulo (ver v. 2Co.1:12-14).

Resolvi ir. A princípio, Paulo planejou viajar de Éfeso para Corinto, via marítima, e dali para a Macedônia, voltar a Corinto e ir para Jerusalém. Desta forma, ele pretendia honrá-los com duas visitas na mesma viagem, ao passo que os macedônios receberiam uma visita. Isso significava sair do caminho para passar esse tempo extra com a igreja de Corinto. Ele desistiu da visita dupla a Corinto, por causa da razão apresentada no v. 2Co.1:23.

Primeiro. Evidências textuais favorecem (ct. p. xvi) o posicionamento desta palavra junto a “resolvi”, e não a “ir”. Compreendido desta forma, Paulo quer dizer que pretendia visitar Corinto antes de ir à Macedônia.

Segundo. Não está claro se Paulo pensava na visita original a Corinto como o primeiro “benefício”, e esta dupla visita como o segundo benefício, ou se aqui ele pensa no itinerário cancelado, com a primeira e a segunda visitas.

Benefício. Do gr. charis, “graça” ou “favor”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante chara, “alegria” ou “deleite”. Paulo informou os coríntios da mudança de planos (1Co.16:5-6), e seus oponentes em Corinto aproveitaram a oportunidade para acusá-lo de hesitação e leviandade (2Co.1:17). Eles utilizaram esse pretexto frágil devido à má vontade pessoal para com Paulo e o desejo de desacreditá-lo.

2Co.1:16 16. e, por vosso intermédio, passar à Macedônia, e da Macedônia voltar a encontrar-me convosco, e ser encaminhado por vós para a Judeia.

Encaminhado. Do gr. propempo, “enviar”, “acompanhar”, “escoltar”. A palavra propempo é traduzida de vários modos (ver At.15:3; At.20:38; At.21:5; Rm.15:24; 1Co.16:6; 1Co.16:11). Paulo esperava representantes da igreja de Corinto para acompanhá-lo, pelo menos parte do caminho, quando deixasse Corinto e fosse a Jerusalém. Seria uma manifestação adicional do amor e respeito deles por um apóstolo de Cristo e pai espiritual deles. Alguns membros da delegação de Corinto percorreriam todo o trajeto até Jerusalém, para transportar a coleta recebida daquele local (ver At.24:17; 1Co.16:1-4).

2Co.1:17 17. Ora, determinando isto, terei, porventura, agido com leviandade? Ou, ao deliberar, acaso delibero segundo a carne, de sorte que haja em mim, simultaneamente, o sim e o não?

Leviandade. Do gr. elaphria, “ligeireza [de mente],” “instabilidade”, “inconstância”. Quando Paulo fez a promessa, a princípio, (v. 2Co.1:15) pretendia cumpri-la. A mudança de planos não era consequência de inconstância de sua parte, mas para o bem deles (ver 2Co.1:23; 2Co.2:1-4). Paulo passa a explicar sua mudança de planos contra as acusações de seus oponentes. Ao que parece, foi relatado em Corinto que ele não chegaria mais diretamente de Efeso. Além disso, ele ainda não havia se explicado pessoalmente. Os oponentes aproveitaram a situação para acusá-lo de não manter a palavra e de não ser confiável.

Segundo a carne. Seria possível que as decisões de Paulo fossem obtidas com base em interesse egoísta? Ele estabelecia seus planos como faziam os homens do mundo? Paulo não alterava seus planos de modo deliberado, quando se tornava evidente que seu interesse pessoal seria mais bem servido desse modo.

O sim e o não? Paulo realmente planejava não visitar Corinto enquanto anunciava que o faria? Ele queria dizer “não” quando falava “sim”? Ou será que ele era tão indeciso que conseguia dizer sim e não ao mesmo tempo? Seria verdade que ninguém poderia depender dele ou saber o que esperar dele? Paulo nega. A visita dupla projetada foi evitada, não por inconstância de sua parte, mas pela falta de fé deles e pelo desejo de Paulo de não lidar duramente com eles (ver com. de Mt.5:37; Tg.5:12).

2Co.1:18 18. Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não é sim e não.

Como Deus é fiel. Paulo convida Deus a testemunhar a verdade de sua declaração. O ponto em debate é o cumprimento das promessas. Sendo representante de Deus, como Paulo apresentaria a imutabilidade de Deus e Suas promessas e, ao mesmo tempo, falaria e agiria de modo diferente? Assim como Deus é fiel, Paulo foi fiel em lidar com eles. Alguém cuja pregação estabelece o pleno cumprimento das promessas de Deus não praticará a duplicidade.

Nossa palavra para convosco. Possivelmente a promessa de Paulo de visitá-los.

2Co.1:19 19. Porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, que foi, por nosso intermédio, anunciado entre vós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas sempre nele houve o sim.

Filho de Deus. Ver com. de Lc.1:35.

Anunciado entre vós. Ver At.18:1-18.

Silvano e Timóteo. Ver com. de At.18:5.

NEle houve o sim. A mensagem do evangelho é positiva e inequívoca. Não envolve incertezas.

2Co.1:20 20. Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio.

Quantas são as promessas. As promessas de Deus são confiáveis.

Têm nEle o sim. Isto é, por meio de Cristo. Todas as promessas de Deus se encarnaram nEle, e cumpriram-se nEle. Cristo é a evidência da confiabilidade de todas as promessas divinas feitas aos antepassados (ver At.3:20-21; Rm.15:8). A fé cristã é uma certeza absoluta.

Amém. Isto é, verdade, fidelidade, certeza (ver com. de Mt.5:18; Jo.1:51). A palavra repete a ideia expressa no “sim” (ver com. de 2Co.1:17-18). Não é um título (ver Ap.3:14). Por que o grego interpreta literalmente, “o amém”, sugere-se que Paulo se refira à palavra “amém” proferida pelos cristãos, afirmando as eternas verdades da fé cristã.

Glória de Deus. Em todos os labores, Paulo procurou apenas honrar a Deus e fazer Seu reino avançar (ver com. de Rm.3:24).

Por nosso intermédio. Por meio de Cristo, as promessas se mostraram confiáveis. Por meio de Seu povo, elas se revelam eficazes. Por meio da vida e ministério de Paulo, em especial, o nome de Deus foi glorificado, e Paulo não poderia fazer promessas caprichosas enquanto engajado na proclamação das promessas tão seguras como as que Deus confirmou por meio de Cristo. À medida que os cristãos seguem seu Mestre, também se tornam constantes e resolutos, em obediência a Deus e em devoção a Sua causa. A experiência cristã nunca torna as pessoas instáveis. Algumas vezes, Paulo alterou seus planos, porém, com inabalável lealdade ao princípio e ao dever, como lhe fora revelado.

2Co.1:21 21. Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus,

Aquele que nos confirma. Foi Deus quem confirmou Paulo e os coríntios como cristãos. Paulo era mensageiro de Deus para confirmá-los. Alguém indeciso e inconstante (de que acusavam Paulo) conseguiria confirmar outras pessoas? No entanto, nenhum crédito é dado a Paulo, porque é Deus quem confirmou a Paulo e aos coríntios.

E nos ungiu. Do gr. chrio, a forma verbal da palavra traduzida como Cristo (ver com. de Mt.1:1). Num sentido, todos os cristãos são ungidos, ou consagrados a Deus, pelo derramamento do Espírito Santo na época da conversão e do batismo. É provável que Paulo se refira a sua consagração especial ao ministério do evangelho, mas o contexto parece indicar que se refira à unção geral dos verdadeiros crentes. A unção do Espírito Santo qualificou e habilitou aqueles que, como Paulo, foram ungidos para o cumprimento efetivo de sua obra.

2Co.1:22 22. que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.

Selou. Do gr. sphragizo, “marcar com um selo”, “selar”, “autenticar”, “confirmar”. O selo é utilizado para confirmar a autenticidade de um documento sobre o qual é colocado. O “selo” que Deus põe sobre homens e mulheres os distingue como filhos e filhas, como confirmados por Cristo e dedicados a Seu serviço (v. 2Co.1:21; ver com. de Ez.9:4; Jo.6:27; Ef.1:13; Ef.4:30; Ap.7:2-3; Ap.14:1).

Penhor. Do gr. arrabon, “penhor”, “pagamento inicial”, relacionado à palavra heb. ‘erabon, “penhor” (Gn.38:17-20). Esta palavra era de uso comum entre os comerciantes cananeus e fenícios. A palavra arrabon é encontrada nos papiros, para valor de dinheiro pago por um boi, por terra, por uma esposa, etc. A palavra também é usada para anel de noivado. O penhor constituía um pagamento inicial, uma garantia de que a soma completa seria paga, como prometido. Assim, ratificava o negócio. O penhor deveria ser o pagamento do mesmo tipo que era estipulado para a quantia total, e era considerado como parte integral dele. No caso de a transação não ser concluída pelo comprador, o dinheiro era confiscado pelo vendedor. Paulo utiliza a imagem do penhor para ilustrar o dom do Espírito Santo aos crentes, como primeira prestação, uma segurança da completa herança na vida futura (ver Ef.1:13-14; Rm.8:16).

É privilégio do cristão receber a firme convicção da aceitação de Deus como filho adotado na conversão, e preservá-la por toda a vida (ver com. de 1Jo.3:1), aceitar o dom da vida eterna (ver com. de Jo.3:16) e experimentar a transformação do caráter possibilitada pela habitação do Espírito Santo (ver com. de Rm.8:1-4; Rm.12:2; Jo.16:7-11). No entanto, a alegria que vem quando a vontade humana está sintonizada com a divina (ver com. de SI.40:8), quando o coração aspira à estatura da perfeição em Cristo Jesus (ver com. de Mt.5:48; Ef.4:13; Ef.4:15; 2Pe.3:18) e quando há uma caminhada diária com o Salvador, é o “penhor” de uma alegria eterna na nova Terra. Paulo desfrutava de uma experiência como esta, assim como os crentes coríntios convertidos (2Co.1:21). Portanto, a acusação de que ele foi dirigido por motivos egoístas na mudança de seus planos (v. 2Co.1:23; 2Co.1:15-17) era inválida.

Um “penhor” é muito mais que uma garantia. O que é dado como garantia difere em tipo do que permanece como garantia. Além disso, a garantia retorna quando a obrigação que ele representa é atendida. Em contraste, um “penhor” é parte da obrigação em si. O “penhor do Espírito” pode ser considerado equivalente ás “primícias do Espírito” (Rm.8:23), que é uma amostra do que será a colheita no fim do mundo. O sinal é dado quando houver alguma demora em completar a transação. Filhos e filhas de Deus são herdeiros de todas as bênçãos do Céu assim que entram no relacionamento de aliança com Ele (Rm.8:17; Ef.1:3-12; 1Jo.3:1-2); e a “primícia do Espírito” é dada a eles como penhor desse direito. De certo modo, já vivem no Céu (Ef.2:5-6; Fp.3:20). Os verdadeiros filhos de Deus, que possuem esta “primícia do Espírito”, não estão em situação de incerteza quanto a se Deus os aceitou em Cristo, e se possuem, em prontidão, a herança eterna (ver com. de Jo.3:16; 1Jo.3:2; 1Jo.5:11).

No entanto, o pagamento integral (a admissão ao Céu) é adiado para dar tempo ao desenvolvimento do caráter, para que os filhos estejam preparados para o Céu. O título ou direito do cristão ao reino do Céu representa a justificação pela fé na justiça imputada de Cristo; a aptidão para o reino é conseguida por meio de uma vida que se apropria da justiça comunicada de Cristo e a aplica aos problemas diários da vida cristã (DTN, 300; MJ, 35). Como o Espírito Santo transmite graça e poder para vencer o pecado, o cristão experimenta um “penhor” da vitória e do triunfo completos que serão seus na admissão ao Céu. Comunhão com Cristo e uns com os outros é uma antecipação da comunhão dos seres celestiais. Apenas aqueles que receberam o “penhor do Espírito” conhecem o que é e que alegria traz (1Co.2:11; 1Co.2:15). O conhecimento das coisas espirituais vem apenas por experiência. Para aqueles a quem falta esse conhecimento espiritual, o Céu é menos real.

2Co.1:23 23. Eu, porém, por minha vida, tomo a Deus por testemunha de que, para vos poupar, não tornei ainda a Corinto;

Deus por testemunha. Depois de vindicar seu recente rumo de ação (v. 2Co.1:16-22), Paulo então (2Co.1:23-2:4) apresenta o motivo para sua mudança de planos para visitar Corinto e delimita sua esperança de vida eterna na veracidade da declaração que está prestes a fazer em relação ao motivo da recente mudança de planos (ver com. de 2Co.1:17).

Para vos poupar. A mudança de planos foi feita em consideração pelos sentimentos e pelo bem deles. Era algo pelo que tinham boa razão para ser gratos. Se Paulo tivesse mantido o plano original, teria ido a eles com uma vara (1Co.4:21). Esse adiamento possibilitou que permanecesse três meses em Corinto em paz e harmonia e sem que precisasse disciplinar, o que teria sido necessário.

2Co.1:24 24. não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela fé, já estais firmados.

Domínio sobre a vossa fé. A expressão “para vos poupar” (v. 2Co.1:23) pode ter sido mal compreendida pelos coríntios como um esforço da parte de Paulo para dominar sobre eles. Paulo desejava que eles não tivessem desculpa para imaginar que ele aspirava estar no lugar de Deus em relação a eles. Nenhuma pessoa, nem mesmo o apóstolo Paulo, tem o direito de exercer autoridade sobre a consciência individual. Agir assim seria usurpar autoridade divina. Como é impressionante a humildade de Paulo, em contraste com a arrogância dos líderes posteriores da igreja que, em nome dos apóstolos, usurparam a jurisdição divina sobre a consciência e a espiritualidade das pessoas (ver Nota Adicional a Daniel 7; ver com. de Dn.7:28). Ao administrar os negócios da igreja hoje, ou ao aconselhar os membros da igreja, os líderes devem sempre tomar cuidado ao se interpor entre a consciência e Deus. Cada pessoa é responsável perante Deus por sua consciência e pelas ações.

Cooperadores de vossa alegria. Isso foi feito por Paulo como amigo, não como mestre.

Pela fé, já estais firmados. A maioria dos coríntios permaneceu firme na fé, a despeito dos ventos de doutrina e insatisfação que sopraram sobre a igreja como uma tempestade e abalaram seus alicerces.

2Co.2:1 1. Isto deliberei por mim mesmo: não voltar a encontrar-me convosco em tristeza.

Voltar. Não está claro a partir do grego se esta palavra deveria estar ligada ao substantivo “tristeza” ou ao verbo “encontrar”. A última parte do v. 1 diz, literalmente, “novamente não em tristeza irei a vocês”. Se “voltar’’ estiver junto a “tristeza”, o significado seria: “Eu não farei uma segunda visita triste a vocês.” De acordo com esta interpretação, Paulo já havia feito uma visita triste à igreja de Corinto desde a primeira visita de At.18:1-18. Se “voltar” estiver junto a “encontrar”, o significado seria: “Eu não farei que minha segunda visita a vocês seja triste.” De acordo com esta interpretação, Paulo não esteve em Corinto desde a primeira visita. A favor do ponto de vista de duas visitas anteriores, a segunda delas possivelmente foi realizada “em tristeza” (2Co.12:14; 2Co.13:1). No entanto, a construção grega dessas passagens não é conclusiva. A favor de uma visita anterior, pode-se notar que Lucas e Paulo não mencionam nem aludem a uma segunda visita anterior. Não houve nada doloroso, no sentido pretendido neste versículo, acerca da visita de At.18:1-18. Há fortes indícios de que não houve interrupção no ministério em Éfeso (o único período em que uma segunda visita poderia ter ocorrido), para uma viagem a Corinto (At.19:8; At.19:10; At.20:31). Caso a visita tivesse ocorrido, seria lógico esperar ao menos uma breve e clara menção dela em Atos ou Coríntios. Em 2Co.1:19, Paulo comenta sobre a primeira visita a Corinto como se não tivesse estado ali desde aquela época. No v. 2Co.1:15, ele afirma que estava “inclinado” a fazer a visita, mas parece ter postergado, como “um segundo benefício”. Em 2Co.2:1-4, Paulo continua a explicação, iniciada em 2Co.1:15, de sua decisão de não viajar de Éfeso para Corinto. Os coríntios podem ter imaginado que Paulo tentava dominá-los (ver com. de 2Co.1:24), enquanto ele estava sofrendo pelos pecados e pela frieza deles. Seu único pensamento era em prol do bem-estar dos coríntios como indivíduos e como igreja.

Tristeza. Do gr. lupe, “tristeza”, “dor”, “sofrimento”.

2Co.2:2 2. Porque, se eu vos entristeço, quem me alegrará, senão aquele que está entristecido por mim mesmo?

Se eu vos entristeço. Do gr. lupeo, “deixar triste”, “causar sofrimento”. Paulo estava entristecido pelas maldades desenfreadas na igreja, e a carta anterior de reprovação entristeceu os membros sinceros da igreja, bem como enfureceu outros (cf. 2Co.10:9-10). Em tais circunstâncias, uma segunda visita teria sido dolorosa tanto a Paulo como aos coríntios. Essa situação agravaria a tristeza para todos os envolvidos. No entanto, se a carta alcançasse o resultado esperado, outra visita demonstraria alegria recíproca.

2Co.2:3 3. E isto escrevi para que, quando for, não tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-me, confiando em todos vós de que a minha alegria é também a vossa.

Escrevi. Paulo provavelmente se refere a 1 Coríntios, ou à carta mencionada no v. 1Co.5:9. Os argumentos de que o contexto imediato a este versículo (2Co.2:3-4) e o de 2Co.7:8-12 excluem a possibilidade de referência a 1 Coríntios não são convincentes (ver p. 903, 904; 1Co.3-6).

Isso mesmo (ARC). Do gr. touto auto, que também poderia ser traduzido como “por esta mesma razão”. Paulo escreveu a carta anterior de censura e admoestação, na esperança de que resultasse em reforma (ver com. do v. 2Co.2:2).

Deveriam alegrar-me. A suprema alegria de Paulo era ver que homens e mulheres experimentavam o novo nascimento e o crescimento em Cristo. A felicidade de Paulo dependia do estado da saúde espiritual dos coríntios. Paulo não ficaria feliz enquanto os coríntios estivessem fracos ou desanimados. A obra do ministro do evangelho é compartilhar alegria, não tristeza. Cristo desejava que Sua alegria fosse refletida no coração e na vida de Seus discípulos (Jo.17:13).

Em todos vós. Paulo acreditava que as razões que levaram alegria a ele também levariam aos coríntios.

2Co.2:4 4. Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida.

Angústias. Do gr. sunoche, “aflição”, “angústia”, literalmente, “manter juntos”, isto é, em tensão. O pensamento é que o coração parece estar sob muita pressão e que a pressão produz dor.

Escrevi. Ver com. do v. 2Co.2:3.

Muitas lágrimas. Paulo aplicou severa reprovação e disciplina, não com ira, mas com tristeza. Cristo chorou devido ao anelo que mantinha por Seu povo (Mt.23:37-38). A reprovação que deveria reconquistar o errante nunca deveria ser feita em aspereza ou com atitude dominadora, mas com ternura e compaixão. Paulo dispunha de coragem ilimitada diante do perigo, da perseguição e da morte, mas ele chorou quando forçado a censurar seu irmão em Cristo (ver At.20:31; Fp.3:18). O sucesso ao lidar com pecadores não é alcançado com denúncia severa, ridicularização ou sarcasmo, ou por tornar os pecados públicos. O que estas armas agressivas não conseguem realizar pode ser alcançado por meio da preocupação afetuosa, com “muitas lágrimas”. O infeliz espetáculo de um membro da igreja caindo em pecado desperta angústia e aflição na mente do verdadeiro seguidor de Cristo. A preocupação bondosa e o amor cristão unem a igreja e previnem diferenças de opinião a respeito dos que foram disciplinados. O ministério necessita de homens que não atenuarão ou desculparão o pecado, nem evitem reprovar o mal (cf. Ez.9:4). Esses são homens que, enquanto lidam com o mal na igreja, são constrangidos pelo amor de Cristo (2Co.5:14). Num sentido especial, são reparadores de “brechas” e restauradores de “veredas para que o país se torne habitável” (Is.58:12; Hb.13:7; Hb.13:17).

Passar por alto o pecado nunca é uma demonstração de amor. Algumas vezes, o amor precisa ser severo. O amor na igreja não significa a exibição de piedade e longanimidade para com os membros obstinados à custa da integridade da igreja ou da segurança de outros membros. Considerar amor como algo sempre necessariamente brando é identificá-lo com fraqueza, falta de iniciativa, de vigor e de coragem. O amor do ministro por seu povo significa mais que um sentimento de terna emoção, significa também uma atitude contínua de preocupação pelo bem-estar, alegria pelo crescimento espiritual, tristeza pelos pecados, liderança forte e coragem firme e inabalável quando o inimigo das almas tentar espalhar o rebanho. Paulo, como ministro do evangelho eterno, estava preparado para passar por qualquer sofrimento, até o sacrifício da própria vida, pela salvação de outros. Nada há de fraco ou efeminado sobre seu amor. Jesus e Paulo não revestiram o amor com sentimentalismo doentio. Os dois revelaram a capacidade para realizações difíceis e nobres, e força para vencer o mal em qualquer forma que se apresentasse para atacar a igreja (ver com. de Mt.5:43-44).

Conhecêsseis o amor. O propósito de Paulo ao escrever não era causar tristeza, mas expressar, se possível, o ardente amor que o guiava em todas as relações com eles (ver com. de 2Co.5:14). Se conseguissem perceber, primeiramente, que tudo que ele disse tinha sido em nome do amor, aproveitariam mais a mensagem.

2Co.2:5 5. Ora, se alguém causou tristeza, não o fez apenas a mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo que em parte a todos vós;

Causou tristeza. Há divergência quanto a Paulo se referir, neste versículo, à pessoa incestuosa de 1Co.5:1 ou ao líder da oposição. As razões apontadas para as duas situações são inconclusivas. No entanto, não havendo referência específica nas Escrituras ao líder opositor, como há para a pessoa incestuosa, este Comentário aceita que Paulo se refere ao último. Desde a primeira epístola, parece que esse caso de imoralidade foi o problema mais grave na igreja de Corinto. A situação foi agravada pela aberta tolerância ao transgressor e pela recusa obstinada, por um tempo, de lidar eficazmente com a situação. Essa passagem (2Co.2:5-11) revela que a igreja já havia cumprido as instruções de Paulo e desligado o transgressor do rol de membros. O processo o levou ao arrependimento genuíno. Neste versículo, Paulo aconselha sua restauração e reintegração à igreja.

O método de Paulo para lidar com o membro errante provê um exemplo recomendável aos casos semelhantes atuais. A firmeza e a severidade de Paulo para com o homem enquanto permanecia obstinado, deu lugar a muita ternura quando ele se arrependeu. Paulo, então, procurou mitigar o fardo de culpa e condenação do homem contrito e restaurá-lo ao favor de seus irmãos. Nem uma vez ele menciona o nome do homem, e fala dele como “o mesmo” (v. 2Co.2:7). Não há desnecessária repetição dos pecados do homem para ferir seus sentimentos. Hoje, o nome dele é conhecido apenas por Deus. Este é o espírito e o método de Cristo para lidar com casos como este (ver Jo.8:10-11; ver com. de Mt.18:1-35). Quão diferente daqueles que divulgariam os nomes dos transgressores e os esmagariam com dor e desonra desnecessárias! Onde houver arrependimento genuíno, o caso pode ser encerrado, sem referência adicional ao incidente e com aceitação incondicional da pessoa perdoada.

Não o fez apenas a mim. Não se deve envolver quaisquer motivos pessoais nas rígidas medidas recomendadas por Paulo. Sua tristeza devia-se à angústia e à confusão que sobrevieram à igreja.

Demasiadamente. Do gr. epibareo, “colocar um fardo sobre”. Após o caso ter sido decidido, Paulo evitou ferir o transgressor, por dar a entender que ampliou a ofensa.

Em parte. A última parte do versículo pode ser traduzida como: “Mas até certo ponto digo a todos vocês, para que eu não seja muito severo [com o transgressor arrependido].” A ofensa não era tanto contra Paulo, mas contra toda a igreja de Corinto.

2Co.2:6 6. basta-lhe a punição pela maioria.

Basta-lhe. O objetivo da disciplina na igreja foi alcançado; o transgressor se arrependeu e aquele era o momento de reintegrá-lo à confiança e ao companheirismo de seus irmãos. A disciplina cristã é uma obra de amor, não de represália. Seu objetivo não é a represália, mas a restauração. A disciplina deve respeitar os mandamentos de Deus e manter a ordem da igreja. A disciplina deve salvaguardar os demais membros e proteger o bom nome da igreja, mas também deve, sempre que possível, levar os pecadores ao arrependimento. A disciplina deve servir como uma advertência aos transgressores em potencial e restringir a repetição da ofensa.

Punição. Ou, “penalidade”, indicando um julgamento merecido.

Pela maioria. Isto é, da maioria. A igreja havia cumprido a recomendação de Paulo, mas a decisão não tinha sido unânime. A minoria discordante incluía alguns que tendiam a ser negligentes quanto à moral pessoal, membros da facção judaizante, e alguns que se ressentiram da interferência de Paulo no caso, desafiavam sua autoridade ou eram contrários a uma penalidade tão severa. Disciplina terapêutica, em contraste com a disciplina punitiva, requer paciência e compreensão. Nesse caso, ela se torna responsabilidade de toda a igreja (ver 1Co.12:20-27). Paulo poderia ter tomado a oposição da minoria dissidente como afronta pessoal e ter respondido a essa má interpretação e crítica num espírito de amargura e vingança, no entanto, não agiu desta forma.

2Co.2:7 7. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza.

Pelo contrário. Feita a incisão e alcançado o objetivo, o cirurgião sutura a ferida e tenta restaurar a saúde do paciente. O transgressor em Corinto foi privado do relacionamento cristão com a maioria dos membros da igreja. No entanto, após ter se arrependido, qualquer disciplina adicional seria vingativa e punitiva e o desencorajaria a ser leal a sua nova resolução.

Confortá-lo. Perdão não era suficiente. A igreja deveria receber o irmão de volta, assim como Deus recebe ao pecador penitente. A transgressão deveria ser perdoada e esquecida. É dever da igreja tratar com bondade todo aquele que verdadeiramente se arrepende (ver com. de Lc.15:7; Ef.4:32).

Consumido. Ou, “submerso”, como se estivesse se afogando. A tristeza excessiva ou calamidade geralmente é comparada a uma inundação (ver SI.69:1; Sl.124:2-5; Is.8:7-8). Normalmente, dizemos que estamos sobrecarregados de dor ou sufocados pela tristeza. Paulo estava preocupado com a salvação do homem arrependido. Não deve haver demonstração de rejeição contínua ou desdém da parte dos membros da igreja, para que a dor excessiva o esmague e o conduza de volta ao pecado.

2Co.2:8 8. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor.

Confirmeis. Do gr. kuroo, “ratificar”, “confirmar”, “reafirmar” (cf. Gl.3:15). Este termo jurídico era utilizado para validar um acordo. Neste versículo, significa ratificar ou confirmar, por meio de decreto ou voto da igreja (ver com. de Mt.18:18). Atuando como uma corporação, a igreja deveria revogar a ação anterior e restaurar o homem à comunhão. A disciplina foi administrada por meio de uma ação formal por parte da igreja; a restauração à comunhão deveria ser pública e oficial. O homem deveria ter plena certeza do apoio de seus irmãos na igreja. Desta forma, não poderia se levantar nenhum questionamento quanto à validade de sua reintegração.

2Co.2:9 9. E foi por isso também que vos escrevi, para ter prova de que, em tudo, sois obedientes.

Que vos escreví. Ver com. do v. 2Co.2:3.

Ter prova. Outro motivo para a instrução de Paulo a respeito do transgressor da igreja na epístola anterior era o desejo de verificar a obediência e lealdade deles. Os fatos confirmaram a lealdade deles. Os coríntios corresponderam à análise ao lidar fielmente com o pecado na igreja. Esta análise, no entanto, não se referia tanto a obediência à autoridade de Paulo, mas à de Cristo. Eles se submeteram a Paulo como apóstolo, um representante direto de Jesus Cristo, e como alguém a quem o Senhor disse: “Quem vos der ouvidos, ouve-Me a Mim” (Lc.10:16).

2Co.2:10 10. A quem perdoais alguma coisa, também eu perdoo; porque, de fato, o que tenho perdoado (se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz na presença de Cristo;

A quem perdoais. Porque a igreja de Corinto deu prova cabal de lealdade ao princípio, Paulo se une aos membros no sugerido voto de confiança. Ele reconhece a autoridade da igreja, sob Cristo, para lidar com seus problemas (ver Mt.16:19; Mt.18:17-18; Jo.20:23). Cristo delegou autoridade à igreja como uma corporação, agindo sob a direção e presidência do Espírito Santo. Vários eruditos observaram que este foi o único caso específico no registro neotestamentário do exercício da autoridade eclesiástica para reter e transferir pecados, e que, neste caso, foi exercido por Paulo, e não por Pedro. Este poder foi dado por Cristo aos apóstolos coletivamente e como representantes da igreja cristã (ver Jo.20:23).

Presença de Cristo. Ou, “diante de Cristo”. Não há base para se concluir que o apóstolo ou a igreja tinham poder para livrar o homem da responsabilidade pelos seus pecados diante de Deus. Esta é prerrogativa única de Deus (ver Mc.2:7-11). Se o homem se arrependeu sinceramente, Deus, de acordo com Sua promessa, já o havia perdoado (Je.31:34; 1Jo.1:9). O voto de Paulo para perdoar era apenas o reconhecimento humano de que Deus já o havia perdoado (ver com. de Mt.16:19). Deus autorizou Seus representantes na Terra a garantir o perdão celestial a cada pessoa arrependida.

2Co.2:11 11. para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.

Para que Satanás. Paulo instruiu os coríntios a entregar o pecador “a Satanás” (1Co.5:4-5), tendo em vista a salvação dele. No entanto, se a igreja falhasse em perdoar e restaurar o pecador arrependido, Satanás ainda obteria vantagem. Ele obtém vantagem não apenas em levar o povo a pecar, mas também em nosso fracasso para perdoá-lo quando se arrepende.

Desígnios. Satanás constantemente busca ferir e destruir a salvação das pessoas. Seus desígnios são dirigidos principalmente contra a igreja e os que desejam seguir a Cristo. Algumas vezes, ele consegue perverter até os melhores e mais puros planos e esforços das pessoas e até da igreja. Onde a salvação dos outros é desconsiderada, os corações serão amargurados ou levados ao desespero, e a irritação e a divisão ferirão a igreja. Os desígnios de Satanás são realizados num zelo equivocado e precipitado dos membros da igreja, por meio de pretensões rígidas e severas de perfeição, por meio de um espírito censurador e crítico, por indiferença quanto ao destino do ser humano, ao dizimar a hortelã, o endro e o cominho e omitir os assuntos mais importantes da lei: justiça, misericórdia e fé (Mt.23:23). Dessa forma, o caráter de Deus é difamado e mal compreendido, Sua causa é desonrada e a posição da igreja é seriamente prejudicada. O cristão não lida simplesmente com um erro de julgamento e conduta de um irmão transgressor, mas com um inimigo pessoal (ver com. de Mt.4:1). O próprio demônio foi quem tentou o Senhor no deserto (Mt.4:1-11). Paulo foi esbofeteado por um “mensageiro de Satanás” (2Co.12:7) e sabia, por experiência, o tipo de adversário que teria de enfrentar. Ele reconheceu o demônio pelo que ele é. Sua clara percepção espiritual rompeu o disfarce usado por Satanás, e ele o venceu com a espada do Espírito, a Palavra de Deus (Ef.6:16-17; 1Jo.2:14). A vitória sobre o adversário ocorre ao se seguir o conselho: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef.6:11; ver GC, 516).

2Co.2:12 12. Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu no Senhor,

Cheguei a Trôade. Os v. 12 e 13 revelam a profunda afeição pessoal de Paulo pelos crentes coríntios e seu inabalável interesse no bem-estar deles. Paulo enviou Tito a Corinto para trabalhar pela restauração da harmonia e para ter umr elatório completo das condições e do modo como os coríntios receberam sua carta de reprovação (cf. AA, 323). Parece que eles concordaram em se encontrar em Trôade, mas Tito foi impedido de cumprir o compromisso. A ansiedade oprimia Paulo ao imaginar que seus piores temores sobre a igreja de Corinto se tornaram realidade. Essa estrutura mental o impossibilitou de trabalhar efetivamente em Trôade (com relação à cidade de Trôade e a visita anterior de Paulo a esse local, ver com. de At.16:8-11). Paulo visitou Trôade novamente quando retornou de Corinto, a caminho de Jerusalém (At.20:6-12) e também após sua libertação do primeiro aprisionamento em Roma (ver com. de 2Tm.4:13).

Evangelho de Cristo. Isto é, o evangelho que provém de Cristo. Ao sair de Éfeso, Paulo pretendia dedicar algum tempo à obra evangelístíca em Trôade.

Uma porta. Houve uma resposta rápida à pregação de Paulo em Trôade. A imagem de uma porta para representar oportunidade ocorre também em outras passagens (1Co.16:9; ver com. de Ap.3:8). A providência divina abriu muitas portas para Paulo, inclusive a porta de escape da morte (ver 2Co.1:8-10). Paulo viu a mão de Deus na claridade e na escuridão, no sol e na chuva. Ele até viu a mão de Deus transformando o “espinho” em sua “carne” para um bom propósito (2Co.12:7). O cristão deve estar sempre alerta à providência de Deus em seu caminho, vigiando intensamente, esperando com paciência, obedecendo de imediato e se alegrando em gratidão.

2Co.2:13 13. não tive, contudo, tranquilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia.

Não tive [...] tranquilidade. A ansiedade de Paulo perdurou até que finalmente encontrou Tito na Macedônia. A ansiedade era tamanha, que ele não conseguiu permanecer em Trôade, ainda que as perspectivas fossem favoráveis. Este versículo evidencia o intenso interesse pessoal de Paulo em seus conversos. Não há outro relato de Paulo se afastando de uma “porta aberta”. O obreiro de Deus mais bem-sucedido nem sempre está acima de fortes emoções que o abalam e o impedem de continuar a obra por um período. Enquanto a crise confrontou a obra de Cristo em Corinto, Paulo não teve tranquilidade nem concentrou seus talentos em outras atividades.

Para a Macedônia. A Macedônia ficava no caminho para Corinto, e Paulo esperava encontrar Tito antes que chegasse a Trôade.

2Co.2:14 14. Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.

Graças, porém, a Deus. A ansiedade irreprimível deu lugar à exuberante alegria quando Paulo chegou à Macedônia e encontrou Tito. Paulo começou uma longa exposição sobre os motivos e o poder espiritual do ministro do evangelho, como exemplificados em sua vida. Este é o tema de sua carta até 2Co.7:4. É possível que nenhuma passagem das Escrituras retrate a experiência interior de um verdadeiro embaixador de Cristo de modo tão sincero e comovente (ver 2Co.5:20).

Conduz em triunfo. Do gr. thriambeuo, “triunfar”, isto é, celebrar um triunfo ou conduzir a um processo de triunfo, sentido em que Paulo utiliza este verbo em Cl.2:15 e que sempre é empregado nos papiros. O triunfo não é de Paulo e seus colaboradores. Como cativos do Senhor Jesus Cristo, Paulo e seus colaboradores são conduzidos por Ele em procissão triunfal ao atravessar o mundo proclamando o evangelho, exemplos vivos de Seu triunfo sobre os poderes das trevas (Cl.2:15). A palavra thriambeuo está relacionada a thriambos, um hino cantado em ligação a procissões que celebravam grandes vitórias militares. O famoso triunfo romano foi conferido pelo senado romano a generais bem-sucedidos, em celebração a uma notável campanha ou vitória militar. Um general vitorioso era recebido pelos oficiais do governo nos portões da cidade imperial, onde iniciava a marcha triunfal. Primeiramente, vinham os senadores, precedidos de um grupo de magistrados. Depois vinham trompetistas, anunciando a aproximação do vencedor.

A seguir, acompanhava um longo comboio de carroças carregadas com os despojos da guerra. Artigos valiosos, raros ou belíssimos eram expostos para admiração. Havia também touros e bois brancos destinados ao sacrifício. Em vários locais, os portadores de incenso moviam seus incensários, perfumando o ar. Leões, tigres, elefantes e outros estranhos animais das terras conquistadas eram exibidos na procissão. Depois disso, vinham os reis cativos, os príncipes ou generais e um longo séquito de cativos de hierarquia menor, amarrados e acorrentados. A seguir, vinha o grande conquistador, numa esplêndida carruagem. Uma coroa de louro ou de ouro era posta em sua cabeça. Numa das mãos ele tinha um ramo de louro, o emblema da vitória, e na outra mão sua lança ou bastão de autoridade. Seguiam-no em marcha muitos dos que lutaram sob suas ordens: oficiais, infantaria montada, cada um erguendo uma lança adornada com ramos de louro. A procissão passava pelas ruas lotadas, através do Arco do Triunfo até a colina Capitolina (ver mapa, p. 504). Ali a procissão era interrompida e alguns dos cativos eram executados a sangue frio ou atirados na prisão para aguardar a morte no Coliseu.

Outros, considerados dignos de perdão, eram libertados. Sacrifícios de animais eram oferecidos aos deuses romanos, e a festa triunfal começava. Paulo vislumbra Cristo como um grande conquistador, levando os conquistados numa procissão triunfal. Paulo, seus colaboradores e todos os que foram conquistados para Cristo por eles são cativos no grande triunfo de Deus. Paulo não se refere a si como o comandante triunfante do exército de Deus, mas confere a Deus toda a glória. Para Paulo, ser levado em triunfo como um troféu da graça divina se harmoniza com sua habitual atitude e seus sentimentos (ver 1Co.4:9-10; 2Co.4:10; 2Co.11:23; Cl.1:24). Neste versículo, ele enfatiza a utilização eficaz de si mesmo como um evangelista.

Deus conduz Paulo e seus colaboradores em triunfo. Em toda parte, o evangelho obtinha vitórias semelhantes às da igreja de Corinto. Todos os cristãos verdadeiros são propriedade de Deus (ver Rm.6:16), troféus da vitoriosa campanha do Redentor contra o pecado. Observar Paulo, um cativo acorrentado à carruagem de Cristo, era como ver o que Cristo faria pelos seres humanos desprezíveis. Deus o estava conduzindo por várias regiões, como um exemplo de Seu poder conquistador e Sua incomparável graça. A principal vitória é sobre o pecado, por meio do poder de Cristo. Quem conquista os inimigos espirituais e morais alcança um triunfo muito maior do que o do conquistador de um exército adversário (cf. Pv.16:32).

Era todo lugar. Isto é, passava por Paulo. Menos de 35 anos depois da crucifixão, o evangelho foi pregado em todo o mundo mediterrâneo (ver At.19:10; At.19:26-27; Rm.1:8; Rm.15:18-19).

A fragrância. Isto é, a fragrância espalhada pelos portadores de incenso ao longo da procissão. Nuvens de incenso se erguiam dos altares à beira do caminho e eram sopradas dos incensários e dos templos abertos. Toda a cidade estava repleta com a fumaça dos sacrifícios e a fragrância de flores e incenso. Paulo pensa em si como um portador de incenso na procissão triunfal de Cristo.

Conhecimento. No grego, esta palavra está justaposta a “fragrância”. Dessa forma, o conhecimento de Cristo se torna a fragrância preferida de Paulo. Por meio do ministério de Paulo e de seus colaboradores, por meio da justiça de Cristo manifesta na vida de Seus seguidores, essa fragrância espiritual é manifestada em cada lugar, na igreja de Corinto e em toda a Acaia.

2Co.2:15 15. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem.

Bom perfume. O termo euodia é originado de duas palavras que significam “bom” e “perfume”. A palavra euodia é aplicada a pessoas ou coisas agradáveis a Deus (ver Ef.5:2; Fp.4:18). Na LXX, a palavra é usada com relação ao incenso do tabernáculo (ver Ex.29:18; Lv.1:9; Lv.2:2). Paulo ainda pensa no aroma de incenso nas ruas de Roma durante um triunfo, mas a imagem muda levemente. Em 2Co.2:14, o odor representa o conhecimento de Deus, propagado por meio dos representantes humanos. No v. 2Co.2:15, Paulo e seus colegas de ministério constituem o odor de Cristo. Cristo é o principal meio de Deus propagar o conhecimento espiritual; Paulo e seus colegas de ministério são o meio secundário. Eles se tornaram um com Cristo, que vive neles (Cl.2:20) e manifesta a fragrância das coisas espirituais por meio deles.

São salvos. Literalmente, “estão sendo salvos”. Os que estão sendo salvos, são salvos pela graça de Cristo; os que estão perdidos são responsáveis pela perda de sua salvação. Retornando a imagem do triunfo romano, alguns que marchavam na procissão estavam a caminho da execução, outros, a caminho da libertação ou do triunfo. Os dois grupos inalavam o perfume enquanto marchavam. A um grupo, o perfume era uma lembrança de morte, para o outro, sinal de vida. Assim ocorre com o evangelho. Para os que o aceitam, torna-se a garantia de um futuro feliz, mas para aqueles que o rejeitam, torna-se uma advertência de morte. A pregação do evangelho nunca deixa uma pessoa na mesma situação em que a encontra. A pregação do evangelho conduz a pessoa à vida eterna ou a endurece para que rejeite a vida (ver com. do v. 2Co.2:16). O evangelho subjuga ou endurece, aliena ou reconcilia. O evangelho não muda, é sempre “o poder de Deus para a salvação” (Rm.1:16), mas aqueles que o rejeitam serão condenados por ele (ver com. de Mt.7:21-27; Mc.16:16; Jo.3:17-21). Aquele que veio a ser a pedra angular da vida das pessoas se tornou “uma pedra de tropeço” para os que O rejeitaram (1Pe.2:8).

2Co.2:16 16. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?

Para estes. Cristo é vida ou morte para as pessoas conforme elas O aceitam ou rejeitam. Isso é inevitável, porque Ele é a única fonte de vida. Uma vez confrontada pela verdade como ela é em Cristo, nenhuma pessoa pode evitar tomar uma decisão. Esse contraste entre o efeito salvífico pretendido pelo evangelho e o efeito oposto de condenação é frequentemente mencionado no NT (ver Jo.3:19; Jo.15:22; 1Co.1:18; 1Co.1:23-24). O sol, que transmite vida à árvore plantada em bom solo, a decompõe e destrói se for arrancada e exposta na superfície da terra. A luz solar derrete a cera, mas endurece a argila. A diferença está nas substâncias. Assim é com o coração humano, alguns são derretidos, outros são endurecidos, dependendo da resposta individual ao evangelho.

Quem, porém, é suficiente [...]? A pergunta é retórica. Paulo sente a solenidade da responsabilidade que repousa sobre ele para a salvação das pessoas. Este senso de responsabilidade foi um fator que contribuiu para o seu sucesso. Foi isso que o fez se sentir tão preocupado com a situação em Corinto (ver com. do v. 2Co.2:13). O sentimento de preocupação surgiu de um profundo senso da importância da tarefa e do valor das pessoas. O ministro que verdadeiramente acredita nas verdades da Palavra de Deus, principalmente naquelas que se relacionam com a proximidade do tempo do fim, não pode ser indiferente em relação aos homens e mulheres perdidos. O ministro do evangelho é responsável pelo modo como vive, pelo que prega e pela fidelidade em apresentar a mensagem. A responsabilidade de ser um embaixador de Deus supera a de qualquer outro chamado. Apenas quando o embaixador de Cristo for um exemplo vivo da mensagem que proclama, e quando viver em ininterrupto contato com Aquele a quem representa, poderá esperar ser “suficiente para estas coisas”.

2Co.2:17 17. Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.

Tantos outros. Literalmente, “a muitos”, isto é, aqueles que se opunham a Paulo. Uma grande quantidade de membros da igreja em Corinto concluiu que os “tantos outros” não deveriam estar errados. Para eles, a única questão importante era: Qual é o lado popular?

Mercadejando. Literalmente, “vendedores”, “mascates”, “mercenários”, “negociantes”. A palavra assim traduzida sempre é usada no sentido pouco lisonjeiro. Foi utilizada, por exemplo, para o distribuidor de vinho, ou vinicultor, que adulterava o vinho, adicionando água ou outra mistura inferior, para lucrar mais. Também era usada no sentido intelectual. Platão assim se referia aos filósofos que, segundo seu modo de pensar, adulteravam a verdadeira filosofia. Paulo fala então daqueles que adulteram ou lidam enganosamente com a Palavra de Deus. Os “tantos outros” em Corinto eram como taberneiros desonestos e vendedores de vinho, distribuindo um evangelho corrompido com teorias humanas e tradições. A igreja apóstata faz com que os habitantes da terra se embriaguem com vinho da fornicação dela, isto é, o vinho das doutrinas falsas, adulteradas (Ap.17:2). Os falsos mestres estão satisfeitos com a falsificação, com um substituto barato, com obediência superficial, em tentar alcançar a justiça pelas obras. Vendem a Palavra para lucro pessoal, a um baixo preço de sacrifício pessoal por parte do comprador.

Os métodos e ensinos desses mercenários da religião são mencionados nas Escrituras (Is.50:11; 2Co.10:12-13; 2Co.11:13-15; 2Tm.4:3; 2Pe.2:1-18). O ser humano corrompe a Palavra de Deus quando a considera principalmente como um meio de ganhar a vida, quando atenua a bondade ou a severidade de seus requisitos, quando diminui as altas exigências que ela faz aos cristãos, ou quando prega a si mesmo, a sua habilidade ou aprendizado. Assim, transforma a Palavra num ministro para ele, ao invés de ser ministro da Palavra.

Com sinceridade. O ministro do evangelho bem-sucedido está consciente que Deus o enviou, que Deus o vê e que o espírito de Cristo habita em seu interior. O verdadeiro pregador está livre de todo egoísmo, de toda duplicidade e hipocrisia, de todos os motivos sórdidos, de toda ânsia por popularidade e fama. Ele prega a Palavra, com Cristo no centro da pregação.

2Co.3:1 1. Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós?

Recomendar-nos a nós mesmos. Em 2Co.2:17, Paulo contrasta a si mesmo e seus colaboradores com os falsos líderes que foram a Corinto e ali corromperam a Palavra de Deus. Havia uma forte possibilidade de que a clara afirmação de Paulo pudesse ser mal compreendida e provocasse críticas. Paulo estaria se recomendando? Ele estaria se vangloriando e se exaltando, bem como a seus colaboradores? Ele não mencionava a si mesmo em termos elogiosos deliberadamente (1Co.2:6; 1Co.3:10; 1Co.4:1; 1Co.9:15)? Talvez os falsos mestres tenham se apresentado aos crentes coríntios por meio de cartas de recomendação da igreja de Jerusalém, o que fazia crer que eles estavam realmente em situação regular e contavam com o apoio dos apóstolos. Dessa forma, as credenciais deles aparentavam ser melhores que as de Paulo (cf. At.13:1-3; Gl.2:7; Gl.2:9; ver com. de 2Co.5:12).

Recomendação. Literalmente, “estar juntos”, significando que o portador da carta estava em situação regular com o escritor da carta. Essa carta tinha a intenção de identificar trabalhadores viajando numa região na qual não eram conhecidos pessoalmente, e assim, proteger as igrejas contra falsos mestres. As cartas de apresentação são mencionadas frequentemente (At.18:27; Cl.4:10). No entanto, havia epístolas espúrias, assim como falsos apóstolos. As cartas de recomendação que alguns apresentaram em Corinto foram aceitas como autênticas. Paulo não levava cartas que o identificavam como um cristão missionário, e os críticos em Corinto o desacreditavam como um apóstolo e questionavam sua autoridade.

2Co.3:2 2. Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens,

Nossa carta. Aqui, Paulo usa a palavra “carta” figuradamente. Ele não tinha necessidade de cartas de apresentação literais, porque seus conversos eram uma prova suficiente de seu apostolado. Também não necessitava de documentos escritos para estabelecer sua autoridade apostólica. A metáfora de uma carta escrita significa que os crentes coríntios possuíam a palavra e a lei de Deus escritas no coração e que eram cartas vivas escritas no coração de Paulo. A primeira evidenciava que eles eram verdadeiros cristãos, e a segunda, que Paulo era um verdadeiro apóstolo. Eles eram o “selo” do seu “apostolado” (1Co.9:2).

Nosso coração. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “vosso coração”.

2Co.3:3 3. estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.

Estando já manifestos. Literalmente, “feito conhecido”, “revelado”. O mundo necessita de cristãos mais legíveis. A linguagem de uma vida cristã é destinada para toda a humanidade. Apenas dessa forma, as pessoas conseguem compreender o que o cristianismo e suas grandes verdades significam, e aprender a amar e obedecer à lei de Deus.

Carta de Cristo. Cada crente e cada igreja deveria ser uma carta de Cristo ao mundo. O autor da carta é Cristo. O material em que a escrita é feita é o coração de cada crente, no qual está escrita a lei de Deus, uma transcrição de Seu caráter. O escritor, neste caso, foi Paulo. Cristo escreveu os dez mandamentos com Seu dedo em tábuas de pedra (Ex.24:12; Ex.31:18; Dt.9:10-11; cf. PP, 366). Ele inspirou homens a escrever a Bíblia (2Tm.3:16; 2Pe.1:20-21), portanto, também é Seu autor. Se desejarem, as pessoas conseguirão encontrar Cristo na lei, nas Escrituras e naqueles que creem nEle.

Produzida pelo nosso ministério. Cristo utilizou Paulo como Seu escritor, ou amanuense. Paulo não produziu ou ditou a carta escrita no coração de seus conversos, mas foi o instrumento de Deus na escrita dessa carta viva. Fiéis ministros da Palavra, na igreja atual, representam os escritores de Deus a esta geração.

Não com tinta. As cartas antigas normalmente eram escritas em papiros, com uma pena de cana e um pigmento negro para tingir (ver 2Jo.12). Sem dúvida, as cartas de Paulo às igrejas foram assim escritas. Mas, quando se trata de escrever nas tábuas do coração humano, isto é, da mente, é exigido um meio mais duradouro, o Espírito do Deus vivo. Onde o Espírito Santo atua na vida, a lei e a verdade de Deus são manifestadas em justiça, obediência e santificação. A obediência a toda a vontade de Deus se torna espontânea. A escrita à qual Paulo se refere aqui afeta não apenas o intelecto, mas a vontade e as afeições (SI.1:2; Sl.119:16).

Os adversários do apóstolo, os judaizantes, não escreveram tal carta no coração dos crentes coríntios, como o fez Paulo. O ministério deles estava limitado à letra da lei. Estavam preocupados quase que exclusivamente com as formas externas; seu espírito nunca foi gravado no coração deles. O que o legalismo judeu não conseguia realizar, devido à falta de fé da parte daqueles que o praticavam (Hb.4:2), o evangelho, então, estava realizando (Rm.8:3-4). Uma adesão literal à letra do judaísmo não transfere os princípios da verdade para o coração das pessoas. A prática religiosa judaica continuava formal e mecânica, faltava o espírito.

Tábuas de pedra. Ou, “barras de pedra”. Paulo contrasta as duas tábuas de pedra sobre as quais Deus escreveu os dez mandamentos no Sinai com as tábuas carnais do coração. Não havia nada errado em ter a lei de Deus inscrita sobre tábuas de pedra, mas se fosse escrita apenas ali e não fosse transferida para as tábuas no coração humano, permaneceria, para propósitos práticos, como uma letra morta. A verdade possui força ativa e viva apenas quando é aplicada aos problemas da vida. Neste versículo, Paulo antecipa sua discussão da nova aliança nos v. 2Co.3:6-11. A experiência da nova aliança é mencionada em várias passagens das Escrituras (ver Je.31:31-33; Ez.11:19-20; Ez.36:26-27; Hb.8:8-10).

Apenas Deus tem poder para alcançar o coração e escrever ali a Sua lei. É mais fácil para Ele escrever Sua lei em tábuas de pedra, porque elas não têm vontade para resistir. Uma vez que a lei é escrita no coração, deixa de ser uma letra morta. O papel e a pedra são transitórios. Não ocorre assim com a lei escrita no coração e na vida. Moisés desceu do Sinai carregando duas tábuas de pedra, evidência visível de que esteve com Deus e saiu do monte como porta-voz apontado por Deus. Apesar das credenciais de Paulo não serem do tipo tangível, não eram menos reais, porque a mesma lei divina tinha sido inscrita pelo Espírito Santo em seu coração e no de seus conversos. Paulo não precisava de outras credenciais. Sua vida e a vida daqueles a quem ele levou a Cristo constituíam evidência suficiente de que sua comissão vinha de Deus.

2Co.3:4 4. E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus;

Tal confiança. Os críticos de Paulo, tomando suas palavras de modo literal, interpretaram sua confiança e suficiência como orgulho e autorecomendação. Na verdade, a confiança de Paulo resultava de sua consciência de estar sob a constante guia e influência de Cristo (cf. 2Co.5:14). Portanto, toda honra e todo louvor pertenciam a Cristo, não a ele. A autoconfiança vã e tola é um vício, mas a confiança em Deus é uma grande virtude cristã (1Co.13:13; Gl.5:22-23). A primeira credita a si todo o sucesso no ministério, a segunda o credita a Deus.

2Co.3:5 5. não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,

Por nós mesmos. Paulo nega qualquer crédito pelo sucesso de seu ministério.

Capazes. Do gr. hikanos, “suficiente”, “bastante”. A forma substantiva da palavra é traduzida como “suficiência” mais adiante no v. 5, e a forma verbal, como “habilitou”, no v. 6. Paulo cumpriu sua missão apontada por Deus com o melhor de sua habilidade e não hesitou em expressar a certeza de que seu ministério tinha sido um sucesso. No entanto, todo o crédito por ser um instrumento eficaz pertence a Deus.

Pensar alguma coisa. Isto é, chegar a uma conclusão a respeito de seu ministério. Embora a valorização de sua obra pudesse ser insuficiente, ninguém podia negar que seus labores foram frutíferos para o reino de Deus. Os princípios do reino foram inscritos no coração e na vida de seus conversos.

2Co.3:6 6. o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

Habilitou. Nos v. 6 a 18, Paulo estabelece a superioridade do “ministério do Espírito” (v. 2Co.3:8), o qual ele representa, sobre “o ministério da morte”, o sistema judaico, então obsoleto, representado pelos oponentes judaizantes. Ele traça esse contraste ao comparar a “glória” da nova aliança com a do período mosaico, bem como ao expor os oponentes judaizantes como representantes da letra da lei e não do espírito dela. Ele designa o sacerdócio judaico como um ministério “da letra”, em contraste com o dos ministros cristãos, como um ministério “do espírito”. Um ministério “da letra” da lei administrava um sistema de normas e regulamentos. Seu objetivo era assegurar conformidade às exigências externas. No entanto. Deus havia feito de Paulo um ministro “do espírito” de toda a vontade revelada de Deus. Ele foi educado de acordo com a rígida letra da lei (At.22:3; Fp.3:4-6), mas o espírito da vida em Cristo Jesus o livrou daquele sistema rígido (Rm.8:2). Ele renunciou o ministério “da letra” pelo “do espírito” (Rm.8:1-2; 2Co.5:17).

Um tipo de ministério é suficiente para salvar as pessoas do pecado e torná-las filhas de Deus, o outro não (Ef.3:7). Um possui o Espírito Santo, o outro não. O ministério “do espírito” é capaz de convencer do pecado, o outro não (Jo.16:8-9; Jo.16:13; Ef.3:7; 1Tm.1:11-16). O ministério “da letra”, as formas de religião, e o ministério “do espírito” (ver com. de Jo.4:23-24) não necessitam ser mutuamente exclusivos (ver com. de Mc.2:21-22; Mc.7:6-9). No entanto, o ministério “da letra” vem a ser, na prática atual, uma perversão do verdadeiro evangelho que tem sido revelado a Moisés e a todos os profetas (DTN, 29, 30, 35, 36).

Nova aliança. Literalmente, “nova aliança” (ver com. de Mt.26:28). Paulo contrasta a nova aliança com a antiga, uma identificada com o espírito e a outra com a letra. Sob a antiga aliança, a reverência judaica pela simples “letra” da lei praticamente se tornou em idolatria. Ela sufocou o “espírito”. Os judeus escolheram viver sob o domínio da “letra” da lei. A obediência deles à lei, ao ritual e às cerimônias prescritas era formal e externa. A devoção e a obediência do cristão não serão caracterizadas por qualquer método mecânico, por regras e exigências elaboradas, mas pela presença e o poder do Espírito de Deus.

Não da letra. O contraste entre a “letra” e o “espírito” na Escritura é peculiar ao apóstolo Paulo (ver com. de Rm.2:27-29; Rm.7:6). Um é externo, o outro, interno, judeus e cristãos correm perigo de salientar a “letra” com a exclusão do “espírito”. O AT, assim como o NT, constitui uma revelação inspirada pelo Espírito Santo (2Tm.3:15-17). Deus pretendia que o judaísmo tivesse tanto a “letra” como o “espírito” - um registro da vontade revelada de Deus e algumas formas prescritas, traduzidas numa experiência viva (ver com. de Jo.4:23-24). O mesmo é verdadeiro com relação ao cristianismo. Crenças formais, teologia teórica e as formas de adoração não têm poder para salvar do pecado. Tendo vindo de Deus, a “letra” da lei, como registrada nos escritos de Moisés, era boa. No entanto, Deus pretendia que a “letra”, o registro escrito da lei, fosse apenas um meio para o fim mais elevado de estabelecer o “espírito” da lei no coração dos judeus.

No entanto, como um todo, os israelitas falharam em traduzir a “letra” da lei no “espírito” da lei, isto é, numa experiência religiosa viva de salvação pessoal do pecado pela fé na expiação que seria proporcionada pelo Messias. A observância apenas literal da lei “mata”. Apenas o “espírito” da lei pode dar “vida”, seja ao judeu ou ao cristão. A prática do cristianismo pode facilmente degenerar para uma mera “forma de piedade” sem “o poder” (2Tm.3:5), porque a “letra” do cristianismo “mata” aqueles que confiam nela para salvação. Nos dias de Paulo, o judaísmo tinha perdido havia muito tempo o “espírito” da verdadeira religião, e suas observâncias religiosas consistiam apenas da “letra”. Como um sistema, ele perdeu o poder de transmitir vida aos seus adeptos (ver com. de Mc.2:21-22; Jo.1:17). Por outro lado, o cristianismo ainda era jovem e vigoroso, embora nos séculos posteriores ele também se degeneraria (ver Nota Adicional a Daniel 7; Dn.7:28).

Quando Paulo escreveu, o judaísmo era identificado com a “letra”, e o cristianismo era identificado com o “espírito”, até onde estava livre da influência dos judaizantes. A crença de que Paulo, neste versículo, deprecia e anula o AT e o decálogo é sem fundamento. Escrevendo a cristãos gentios, Paulo várias vezes afirma a força do AT e do decálogo para os cristãos (ver com. de Rm.8:1-4; 2Tm.3:15-17; cf. com. de Mt.5:17-19). Cristo e os apóstolos não tinham outras Escrituras, além do AT (ver com. de Jo.5:39). Os fiéis cujos nomes são lembrados em Hb.11, junto com milhares de crentes nos tempos do AT, experimentaram a obra vivificante do Espírito Santo, assim como outros fizeram nos tempos do NT. Cada igreja e cada crença possui sua “letra” bem como seu “espírito”. O evangelho de Jesus Cristo possui sua “letra” e seu “espírito”. Sem o poder vivificante do Espírito Santo, o evangelho em qualquer igreja inevitavelmente se torna uma letra morta. Milhares de professos cristãos estão satisfeitos com a “letra” e permanecem sem vida espiritual. O que Deus exige não é apenas ação correta, mas ação correta como produto e evidência de um vivo relacionamento com Deus e uma justa condição moral e espiritual.

Reduzir a vida e a adoração cristã à observância de um sistema de regras, em vez de torná-la uma questão de dependência do Deus vivo, é depender do serviço e ministério da “letra”. Os atos formais e as cerimônias da religião, quer para judeus ou cristãos, são apenas meios para se atingir um fim. Se tratados como fins em si mesmos, eles imediatamente se tornam um impedimento à verdadeira experiência religiosa. O mesmo é verdade quanto à lei de Deus, o decálogo. A observância formal de seus preceitos, na tentativa de obter a salvação é fútil. Apenas quando a obediência segue como resultado natural do amor a Deus e ao próximo é de algum valor aos olhos de Deus (ver com. de Mt.19:16-30). No sermão da montanha, o Senhor salientou o princípio de que a obediência à “letra” sem o “espírito” de obediência é insuficiente para satisfazer Seu padrão de justiça (ver com. de Mt.5:17-22). Ao contrário do que pensam alguns expoentes atuais das Escrituras, o “espírito” da lei não anula sua “letra”. Por exemplo, Jesus ordenou que Seus seguidores, com base no sexto mandamento, não estejam “irados” com seus irmãos (Mt.5:22), no entanto, Ele não concedeu permissão para violar a letra do mandamento em tirar a vida do seu irmão. O “espírito” do sexto mandamento não substitui sua “letra” e tende a “engrandecê-la” (ver com. de Is.42:21); o mesmo pode ser dito de cada preceito do decálogo, inclusive o quarto mandamento (ver com. de Is.58:13; Mc.2:28).

A letra mata. A “letra” era boa, no entanto, não possuía poder para resgatar o pecador da sentença de morte. Na verdade, a letra o condenava à morte. Como originalmente dada por Deus, a lei foi dada para promover vida (Rm.7:10-11) e, assim, se diz que é “santa, justa e boa” (v. Rm.7:12). A vida veio com a obediência, e a morte, com a desobediência. A lei, assim, condena o pecador à morte, porque a “alma que pecar, essa morrerá” (Ez.18:4; Ez.18:20). “O salário do pecado é a morte” (Rm.6:23), mas o evangelho foi designado para perdoá-lo e conceder-lhe vida (2Co.8:1-3). A lei sentencia o transgressor à morte, mas o evangelho o redime e o faz viver novamente (SI.51).

Vívifica. Literalmente, “tornar vivo”. O ministério do “Espírito” transmite poder sobrenatural. A sentença de morte imposta pela lei é substituída pelo dom da vida em Cristo (1Jo.5:11-12). Quando trazido à consciência de uma pessoa convertida, o padrão da justiça de Deus se torna a ocasião de obediência e vida. No entanto, quando a lei de Deus é trazida à consciência de uma pessoa não regenerada, ela a condena à morte.

2Co.3:7 7. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente,

Ministério da morte. Isto é, o sistema religioso judaico, que se perverteu tanto, que estava sem vida e não conseguia transmitir virtude aos que o praticavam. No v. 2Co.3:9, Paulo o chama de “o ministério da condenação”. Os v. 7 a 18 estão baseados na experiência de Moisés (Ex.34:29-35). Neste versículo, Paulo demonstra a glória superior do ministério do “Espírito”, pois seu propósito é refutar os oponentes em Corinto, os judaizantes (ver com. de 2Co.11:22), cujo ministério provinha da “letra” e não do “espírito”.

Gravado com letras. Literalmente, “gravado por escrito”, enfatizando a ideia de que a escrita foi planejada para ser duradoura e ter força permanente. É uma referência clara às duas tábuas de pedra nas quais os dez mandamentos foram escritos (Ex.31:18; ver as palavras de Cristo em Mt.4:4; Mt.4:7; Mt.4:10: “Está escrito”, significando, “permanece escrito”). Paulo, neste versículo, se refere à segunda inscrição da lei em tábuas de pedra (Ex.34:1-7; Ex.34:28-35).

Face de Moisés. Ver com. de Ex.34:29-35.

Glória. Ver com. de Rm.3:23. A glória que permanece é contrastada com a que desvanece, a mais gloriosa, com a menos gloriosa, a nova com a antiga (2Co.3:7-18). Nos dois casos, a “glória” se refere à glória da presença de Cristo. Na nova há uma completa revelação da glória de Deus na pessoa e presença de Cristo, que veio a este mundo para ser visto pelos homens (ver com. de Jo.1:14), cuja glória permanece para sempre (ver Hb.7). No ministério mosaico, Cristo era visto apenas nos tipos providos pela lei cerimonial, mas a glória refletida era de Cristo. O Redentor estava escondido atrás de um véu de tipos, símbolos, ritos e cerimônias, mas esse véu desvaneceu na vinda do grande antítipo (ver Hb.10:19-20).

Desvanecente. Alguns leitores superficiais concluíram a partir desta declaração que a lei de Deus “desvaneceria”. O versículo afirma, no entanto, que era a “glória” transitória refletida na face de Moisés que “desvaneceria”. Aquela “glória” desapareceu em poucas horas, ou dias, no máximo, mas a lei de Deus, “gravada com letras em pedras”, permaneceu em vigor. O ministério de Moisés e o sistema judaico passariam, mas não a lei de Deus (ver com. de Mt.5:17-18). A glória não estava sobre as tábuas de pedra, e não desvaneceu delas. A glória transitória na face de Moisés resultava de seu relacionamento com Deus no Sinai. Essa glória testificava àqueles que a viam que Moisés havia estado na presença divina, e erguia um testemunho silencioso de sua missão como representante de Deus e a obrigação do povo em obedecer aos preceitos da lei. Aquela glória foi dada para comprovar a origem divina da lei e, assim, sua vigência obrigatória. Como o rosto de Moisés refletia a glória de Deus, assim a lei cerimonial e os serviços do santuário terrestre refletiam a presença de Cristo.

Deus pretendia que as pessoas nos tempos do AT apreendessem e experimentassem a presença salvífica de Cristo na glória refletida do sistema típico. No entanto, com a vinda de Cristo, as pessoas tiveram o privilégio de observar a glória do antítipo (ver com. de Jo.1:14), e não mais precisavam da glória refletida, menor, que correspondia ao tipo. Nos tempos do AT, os pecadores encontravam salvação pela fé em Cristo, aquele que viria; ocorre o mesmo nos tempos do cristianismo. É por essa razão que Paulo fala da administração desses ritos e cerimônias como um “ministério da morte”. Judeus que falharam em ver Cristo no sistema sacrifical morreriam em seus pecados. Por si só, aquele sistema nunca salvou ninguém de colher o salário do pecado, a morte. E já que a maioria dos judeus dos tempos de Paulo, inclusive os judaizantes que importunavam a igreja em Corinto, consideravam aqueles sacrifícios essenciais à salvação, Paulo apropriadamente caracterizou todo o sistema como um “ministério da morte”.

Tornara-se um sistema sem vida. Judeus e gentios, de modo idêntico, devem encontrar vida em Cristo, porque apenas nEle há salvação (At.4:12). Cristo foi o salvador de Israel em todo o período do AT, tão verdadeiramente como Ele é nosso salvador hoje (ver Ellen G. White, Material Suplementar de sobre At.15:11). O fato de a nação judaica não ver a Cristo e crer nEle como tipificado pelo sistema cerimonial marca todo o curso de sua história, do Sinai ao calvário. Assim, a expressão “ministério da morte” caracteriza todo o período da experiência judaica, embora houvesse notáveis exceções. A cegueira de Israel finalmente levou a nação a rejeitar Jesus como o Messias e a crucificar seu Redentor. Paulo declara que, com a vinda da glória maior, revelada em Cristo, e o consequente desvanecimento da glória refletida do sistema típico, não deve haver desculpa adicional para permanecer sob tal sistema. A vinda de Cristo e a plenitude do Espírito Santo amplamente forneceram um ministério que comunicaria vida.

2Co.3:8 8. como não será de maior glória o ministério do Espírito!

Ministério do Espírito. O ministério da salvação, que comunica vida, é designado como (1) “o ministério da reconciliação” (2Co.5:18), isto é, um ministério pelo qual as pessoas são reconciliadas com Deus; (2) “o ministério do Espírito” (2Co.3:8); (3) “o ministério da palavra” (At.6:4); e (4) “o ministério da justiça” (2Co.3:9), isto é, um ministério pelo qual as pessoas aprendem como se tornar justas (ver com. de Rm.8:3-4). O raciocínio vem do menor para o maior. Esta passagem apresenta uma série de contrastes: a letra e o espírito, a glória que desvanece e a glória que permanece, condenação e justiça, Moisés e Cristo. O último, em cada exemplo, é infinitamente superior ao anterior (ver Hb.3:1-6).

2Co.3:9 9. Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça.

Ministério da condenação. Isto é, o “ministério da morte” (ver com. do v. 2Co.3:7). O “ministério da justiça” superou o “ministério da condenação” em glória, na medida em que o sangue de Jesus Cristo superou o sangue de touros e bodes como um meio de expiar o pecado. A diferença entre os dois é infinita.

2Co.3:10 10. Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobre-excelente glória.

Não resplandece. Não no sentido absoluto, mas num sentido comparativo. A glória do ministério centrado no sistema sacrifical foi grande, mas quando comparada à de Cristo, parecia nada. Assim, o primeiro ministério perdeu sua glória. Ela foi completamente eclipsada. O brilho da lua e das estrelas desvanece quando o sol resplandece. Assim ocorre com Cristo, o Sol da Justiça. A glória transcendente da encarnação, vida, do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo, e de Sua revelação do amor e do caráter de Deus, Sua santidade, justiça, bondade e misericórdia, tornaram o sistema sacrifical, adaptado ao seu tempo, completamente inadequado.

2Co.3:11 11. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente.

Desvanecia. Paulo vê o desvanecer da glória da face de Moisés como uma ilustração da transitoriedade do sistema mosaico, da transitoriedade do “ministério da condenação”. O ministério apostólico põe fim ao ministério de Moisés porque este já tinha cumprido seu propósito. Um molde perde sua utilidade quando a roupa para a qual ele preparou o caminho foi concluída. Os judaizantes mantiveram seus olhos focados nas “figuras das coisas que se acham nos céus” depois que Cristo retornou ao Céu para administrar as “próprias coisas celestiais” (Hb.9:23). Paulo procurou desviar a atenção das pessoas da “letra” de uma administração que não tinha poder para comunicar vida, para o “espírito” de alguém que poderia fazê-lo. O sistema judaico tinha se tornado inútil como um guia para a salvação, e realmente perigoso, pois então tendia a desviar a atenção das pessoas de Cristo, embora seu propósito original fosse conduzir pessoas a Ele.

Em acréscimo ao fato de que o sistema judaico se tornara obsoleto, também era verdade que, mesmo quando o sistema era válido, os judeus haviam pervertido em grande parte o plano original de Deus. Essa situação tornou o sistema duplamente obsoleto e condenável (cf. Mt.23:38; DTN, 577). Com a vinda de Cristo, não restou qualquer desculpa para perpetuar o antigo ministério, o qual os oponentes judaizantes de Paulo procuravam manter (ver Rm.9:30-33).

Multo mais. Como a glória do sol faz as estrelas desaparecerem, assim o ministro do “espírito” supera e substitui o ministério da “letra”.

2Co.3:12 12. Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar.

Tendo, pois. Nos v. 2Co.3:7-11, Paulo contrastou os ministérios apostólico e mosaico. Então, ele apresenta os resultados diversificados dos dois tipos de ministério, como visto nos judeus (v. 2Co.3:13-16) e nos cristãos (v. 2Co.3:17-18). Os judeus permaneceram cegos e duros de coração. Para os cristãos, o ministério do “Espírito” proporcionou liberdade e transformação do caráter.

Tal esperança. Isto é, na glória incomparável e na eficácia do ministério do “Espírito” (cf. Tt.2:13).

Ousadia. Literalmente, “abertura”, “franqueza”, “ousadia”. A mesma palavra grega é traduzida como “intrepidez” (At.4:13). A palavra comunica a ideia de franqueza, sinceridade e coragem. Os judeus temiam olhar para o esplendor divino no rosto de Moisés e estremeceram na manifestação da glória divina no Sinai. Moisés era o porta-voz de Deus, mas foi necessário velar a glória divina em seu rosto, que confirmava seu ministério. Em contrapartida, não havia nada sobre o ministério glorioso de Paulo que necessitasse ser ocultado. Ele proclamaria sem reserva as verdades do evangelho.

2Co.3:13 13. E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia.

Não somos como Moisés. Ver Ex.34:29-35. Paulo usa o incidente do véu para ilustrar a cegueira espiritual (2Co.3:14-16). De acordo com Paulo, a glória desvanecente representava os tipos e cerimônias que teriam fim com a vinda do grande antítipo, o Senhor Jesus Cristo. Por causa do “véu”, Paulo diz, os israelitas eram incapazes de ver o desvanecer daquela glória transitória, ou de compreender seu significado. Eles ingenuamente criam que os tipos e cerimônias deveriam ser permanentes. Os judeus viam os tipos e cerimônias como um fim em si mesmos. Não entendiam que o sistema típico era de natureza temporária e provisória, que prenunciava a glória de Cristo, que estava para vir. Moisés não escondeu deliberadamente a verdade nem tentou enganar os israelitas. Ele profetizou a respeito do Messias e aguardava o período glorioso de Sua vinda (ver Dt.18:15). O véu simbolizava a descrença dos judeus (ver Hb.3:18-19; Hb.4:1-2; cf. PP, 329, 330) e a recusa deles em enxergar Cristo no ministério sacrifical.

2Co.3:14 14. Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido.

Embotados. Do gr. poroo, “aumentar a insensibilidade”, “tornar embotado”, “perder a faculdade de compreensão”. A palavra poroo é traduzida por “endurecido” em Mc.6:52; Mc.8:17. A causa dessa condição espiritual era a descrença persistente.

Até ao dia de hoje. Paulo foi comissionado como um ministro da nova aliança, mas seu ministério pelos judeus de seus dias não foi mais eficaz que o de Moisés no tempo dele. Seria porque Paulo ministrou a eles apenas a “letra”? Não! Foi porque o mesmo “véu” ainda repousava sobre o coração e a mente deles. A solução para eles era remover o “véu”, e não que Paulo mudasse seu ministério do “espírito” para o ministério da “letra”, como exigiam seus críticos.

O mesmo véu. Isto é, a mesma incapacidade espiritual para reconhecer as grandes verdades e o objetivo espiritual da administração mosaica. Cerca de 1.500 anos depois do Sinai, os judeus ainda estavam com a compreensão embotada. A natureza da descrença judaica nos dias de Paulo era idêntica à do tempo de Moisés.

Antiga aliança. Não se refere ao que conhecemos como o Antigo Testamento, porque ainda não havia o Novo Testamento (sobre a designação comum do NT para o AT, ver com. de Lc.24:44). Paulo se refere ao Pentateuco, ou à porção dele em que os termos da disposição da aliança são declarados. Em vez de estar sobre o rosto de Moisés, o véu então estava sobre o livro que ele escreveu. Independentemente da palavra escrita ou falada de Moisés, a mente e o coração do povo ainda estavam cegados.

Os judeus não anularam a lei. Eles a liam regularmente e honravam a Moisés. No entanto, não criam nele, porque se tivessem crido em Moisés, também teriam acreditado em Cristo (Jo.5:46-47). Para eles, a glória de Moisés consistia na “letra” da lei e nas formas externas e cerimônias prescritas. A natureza e a obra do Messias permaneciam um mistério para eles.

Em Cristo, é removido. Apenas a revelação de Cristo nas profecias do AT e nas formas e cerimônias prescritas por elas serviria para erguer o “véu” da interpretação daquelas passagens das Escrituras. No entanto, os judeus recusaram reconhecer a Cristo como o Messias, e o véu permaneceu onde estava.

2Co.3:15 15. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.

Mas até hoje. Aproximadamente 1.500 anos depois da época de Moisés e cerca de 30 anos depois da morte de Cristo.

Quando é lido Moisés. Os primeiros cinco livros da Bíblia foram escritos por Moisés e se tornaram conhecidos como “a lei de Moisés”. Esses livros eram lidos regularmente nas sinagogas (At.15:5; At.15:21; ver vol. 5, p. 83-85).

Sobre o coração. Não tanto sobre o intelecto como sobre a vontade. Eles poderiam ter crido, mas recusaram crer (ver com. de Os.4:6). Por toda sua história como nação, os judeus estiveram deliberadamente cegos. Eles viram nos escritos de Moisés apenas aquilo em que eles desejavam crer (ver vol. 4, p. 19, 20). Estavam plenamente persuadidos da incomparável excelência da “letra” da lei mosaica, mas fecharam os olhos ao seu “espírito”. Os serviços do santuário e os sacrifícios apontavam ao Cordeiro de Deus e a Sua obra mediadora. Salmos como o Sl.22; Sl.24; Sl.110 apontam a alguém maior que Davi. As profecias de Isaías deveriam levá-los a compreender que o Messias deveria sofrer antes de reinar. De fato, procuraram o Messias, mas como um salvador de inimigos estrangeiros, não do pecado (ver com. de Lc.4:19). E hoje, o mesmo véu da incredulidade intencional muitas vezes esconde a verdade dos seres humanos. Precisamos nos aproximar das Escrituras com a mente aberta, prontos a renunciar opiniões preconcebidas e reconhecer e aceitar a verdade, seja qual for.

2Co.3:16 16. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.

Quando [...] alguém deles. O grego também pode ser traduzido como “quando lhe”. A palavra “deles” poderia se referir a “coração” do v. 15, e “lhe” para o indivíduo judeu que ouvia a leitura da lei de Moisés na sinagoga. O obstáculo à visão espiritual repousa no próprio indivíduo, não em Deus. Paulo não ensina que toda a nação de Israel será salva em massa (ver Rm.9:6-8; ver com. de 2Co.11:26).

Converte. Do gr. epistrepho, “girar ao redor”, “retornar”, neste versículo, como ocorre frequentemente no NT (ver Mt.13:15; Lc.22:32; At.3:19), “estar convertido”. Quando verdadeiramente convertidos, os seres humanos discernirão que tanto o AT quanto o NT dão testemunho de Cristo (Lc.24:27; Jo.5:39; Jo.15:26-27; Jo.16:13-14), No entanto, da mesma forma que os descrentes judeus dos tempos do NT, alguns cristãos atuais, com a compreensão velada, veem no AT nada mais que um sistema de ritos e cerimônias.

O véu. Assim como Moisés removia o véu quando entrava novamente na presença de Yahweh (Ex.34:34), a cegueira espiritual e a descrença serão removidas da mente e do coração daqueles que são verdadeiramente convertidos. Quando os judeus, conduzidos pelo Espírito, passaram a crer em Cristo, o véu, que tinha obscurecido a visão deles da aliança eterna, e que tinha, assim, pervertido seu ser, foi removido. Eles estavam, então, capacitados a entender o verdadeiro significado do sistema judaico e a perceber que Cristo, pessoalmente e em Sua obra, constituía o coração do sistema sacrifical e de toda a lei de Moisés. Apenas quando as pessoas encontram a Cristo nas Escrituras, seja no AT ou no NT, elas interpretam sua mensagem corretamente. Apenas quando as pessoas se comprometerem em plena obediência à vontade de Deus estarão preparadas para compreender Sua Palavra e interpretá-la corretamente (ver com. de Mt.7:21-27).

2Co.3:17 17. Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

O Espírito. Paulo não identifica neste versículo, a segunda pessoa da Trindade com a terceira, mas se refere à unidade de propósito e operação. Tal identificação não é pretendida, o que se evidencia na frase seguinte: “o Espírito do Senhor”. No NT, o Espírito Santo é designado tanto como Espírito de Deus quanto como Espírito de Cristo (Rm.8:9). Paulo, neste versículo, quer dizer que: (1) a habitação de Cristo é efetivada e é equivalente à habitação do Espírito (Jo.14:16-20; Gl.2:20); (2) o Espírito ministra a sabedoria, a verdade e a justiça de Cristo (Jo.16:10-14); (3) o Espírito atua como agente de Cristo em levar adiante a obra da redenção e em torná-la vital e eficaz (Jo.7:37-39); e (4) a comunhão com Cristo é a comunhão com o Espírito (Jo.14:17-18).

Onde está o Espírito. O ministério do Espírito significa liberdade do ministério da letra, que por si só, significa escravidão. “Andar no Espírito” é desfrutar liberdade cristã (ver Gl.5:13-16; Jo.6:63). Por si só, o ministério da “letra” gravado em tábuas de pedra não tem poder para converter pecadores e conceder liberdade. Somente o Filho é quem pode “libertar” (Jo.8:36). A liberdade do Espírito é uma nova vida que sempre se expressa de forma natural e espontânea pela simples razão de que, quando um ser humano nasce de novo, seu desejo supremo é que a vontade de Deus se cumpra nele. A lei de Deus escrita no coração (ver com. de 2Co.3:3) o liberta de todas as formas de compulsão externa. Ele escolhe fazer o que é certo, não porque a “letra” da lei o proíba de fazer o que é errado, mas porque o “espírito” da lei, gravado em seu coração, o conduz a escolher o que é certo. A habitação do Espírito controla a vontade e as afeições, para que ele deseje o que é correto e esteja livre para seguir a verdade como ela é em Jesus. Ele consente que a lei é boa e, “no tocante ao homem interior”, se deleita nela (Rm.7:22; SI.1:2). A liberdade em Cristo não significa licença para fazer o que agrada o ser humano, a menos que este se agrade em obedecer a Cristo em todas as coisas. Deve haver controle. Quanto menor for o controle interno, maior deve ser a imposição exterior. A pessoa renovada em Cristo Jesus pode confiar com plena liberdade, porque não abusará dessa confiança por motivos egoístas.

2Co.3:18 18. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.

Com o rosto desvendado. Diferentemente do israelita, que ainda possui um véu sobre a mente e o coração que o impede de ver a glória do Senhor, o cristão tem o privilégio de contemplar a plenitude daquela glória. No Sinai, Moisés só recebeu a revelação de Deus com o rosto descoberto. Agora, todos podem se aproximar de Deus, como Moisés o fez e manter comunhão íntima com Ele (cf. Hb.4:16).

Contemplando, como por espelho. Do gr. katoptrizo, “refletir” ou “contemplar um reflexo”. Alguns tradutores e comentaristas favorecem a primeira definição, e outros, a segunda. O contexto favorece a segunda, porque ser “transformado” à semelhança de Cristo é o resultado de “contemplá-Lo”, não de refleti-Lo. Também é verdade que nossa vida é como um espelho, recebendo luz de Cristo e refletindo-a a outros. Assim como o rosto de Moisés refletia a glória de Deus no Sinai, nossa vida deve sempre refletir a glória do Senhor que brilha no rosto do Salvador para um mundo perdido.

Somos transformados. Literalmente, “estamos sendo transformados”. O plano da redenção tem como objetivo restaurar a imagem de Deus no ser humano (Rm.8:29; 1Jo.3:2), uma transformação que ocorre ao contemplar a Cristo (Rm.12:2; Gl.4:19). A contemplação da imagem de Cristo atua sobre a natureza espiritual e moral como a presença de Deus fez efeito sobre o rosto de Moisés. O cristão mais humilde que constantemente olha a Cristo como seu redentor, refletirá em sua vida algo da glória de Cristo. Se ele continuar a agir dessa maneira, fielmente, continuará “de glória em glória” em sua experiência cristã pessoal (ver 2Pe.1:5-7).

De glória em glória. Esta transformação é progressiva. Ela avança de um estágio de glória a outro. Nossa assimilação espiritual de Cristo ocorre por meio de Sua glória e resulta num reflexo de glória semelhante à dEle.

Como pelo Senhor, o Espírito. A transformação espiritual que procede de Cristo ocorre apenas por meio da operação do Espírito Santo que, tendo acesso ao coração, renova, consagra, glorifica a natureza e a transforma na semelhança da perfeita vida de Cristo.

2Co.4:1 1. Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

Este ministério. Isto é, o ministério da “nova aliança”, pelo qual as pessoas são libertadas da escravidão da “letra” da lei (ver com. de 2Co.3:6; 2Co.3:17) e têm seus princípios gravados no coração (v. 2Co.3:3). Este ministério do “Espírito” (v. 2Co.3:6) e da “justiça” pela fé (v. 2Co.3:9), da “nova aliança” (v. 2Co.3:6), e da verdadeira “liberdade” (v. 2Co.3:17) restaura o crente à semelhança de Cristo. Ele ampara seus adeptos e embaixadores em meio a toda provação e sofrimento, sendo que até os infortúnios contribuem para a glória de Deus.

Desfalecemos. Do gr. egkakeo, “estar fatigado”, “perder a coragem”, “perder o ânimo”. Paulo tinha confiança suprema na integridade e no valor de sua mensagem, e Deus abençoou seu ministério. Ele era indigno, foi um perseguidor e um blasfemo. Considerava-se o “principal” de todos os pecadores (1Tm.1:15), mas “recebeu misericórdia”. Paulo devia à graça de Deus sua ordenação como ministro do evangelho (1Co.7:25; 1Co.15:9-10; Gl.1:15-16; 1Tm.1:12-16). Nada subjuga o orgulho, a presunção e a confiança própria como uma honesta retrospectiva. A conversão e comissão de Paulo ao ministério do evangelho se deviam ao favor divino (1Tm.1:13-14).

2Co.4:2 2. pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.

Rejeitamos. Literalmente, “renunciamos [uma vez por todas]”. Na conversão, Paulo renunciou a toda prática inconsistente com sua fé recém-encontrada e, ao receber a comissão como um ministro do evangelho, renunciou aos métodos questionáveis que seus oponentes se sentiam livres para utilizar.

Vergonhosas. Do gr. aischune, “vergonhosas [coisas]”. O ministério cristão exige transparência na vida e no caráter. Quando as pessoas começam a suspeitar que há coisas na vida do líder que não subsistem ao escrutínio, sua obra terminou. A primeira exigência de um verdadeiro ministro é que ele renuncie a todas as coisas que possam envergonhar a causa de Deus. A verdadeira religião é um caminho de luz, nunca de trevas (ver Rm.13:12; 1Co.4:5; Ef.5:8; 1Jo.1:5), pois diz respeito não apenas ao ato, mas ao motivo que o induz.

Não andando com astúcia. Isto é, não praticando o engano. Paulo desejava ser o que aparentava (cf. Lc.20:23). Seus oponentes lançariam mão de qualquer engano para alcançar seus objetivos.

Antes, nos recomendamos. Os oponentes em Corinto rotularam Paulo como um falso apóstolo (ver com. de 2Co.3:1). Por isso, ele passa a defender seu apostolado, mencionando certos aspectos de sua vida e de seu ministério que o recomendam como um apóstolo genuíno.

Consciência. Paulo atribuía a cada pessoa a capacidade de julgamento moral e de um conhecimento inato da lei moral (ver Rm.2:13-15; sobre a importância que Paulo atribuiu à consciência limpa, ver com. de At.23:1). A “manifestação” de Paulo acerca da verdade apelava não apenas ao intelecto humano, mas também à consciência (cf. Jo.8:9; Rm.2:15).

Nem adulterando. Paulo proclamava toda a verdade, sem adulterá-la. A adulteração da Palavra de Deus consiste na pregação de opiniões pessoais como se tivessem a sanção das Escrituras, na descontextualização e na substituição de um “assim diz o Senhor” por tradições humanas. Isso ocorre tamhém na distorção do significado das Escrituras com o fim de desculpar o pecado, na interpretação de seus ensinos literais de forma mística ou simbólica para invalidar sua força e na mistura de erro e verdade (ver 2Co.11:3; 2Co.12:16; Ef.4:14; 1Ts.2:3-4).

Na presença de Deus. O Senhor conhecia a integridade do coração de Paulo, e ele, por assim dizer, convida Deus a testemunhar a verdade do que escreve.

Manifestação. A palavra “manifestar” ocorre várias vezes na carta (2Co.2:14; 2Co.3:3; 2Co.4:10; 2Co.5:11; 2Co.11:6). Representa o oposto da dissimulação e da astúcia. Tudo o que a verdade exige é sua declaração clara e simples. Não se deve permitir que nada, no ministério ou no professo cristão, obscureça essa manifestação franca.

2Co.4:3 3. Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto,

Está encoberto. Ou, “está velado”, ou “permanece velado”. Paulo alude ao “véu” de 2Co.3:13-16. Nos dias de Paulo, a situação era a mesma do tempo de Moisés, pois a verdade ainda permanecia encoberta para muitos. Essa situação não se devia à falta de clareza, mas à disposição das mentes e dos corações.

Os que se perdem. Literalmente, “estão sendo perdidos”. Paulo tem em mente a minoria em Corinto que persiste em seguir os falsos apóstolos. Eles ainda podem se arrepender, mas, se o evangelho lhes permanecesse oculto, eles continuariam numa condição perdida. Para eles, a salvação só será possível quando o “véu” for removido (ver Mt.18:11; Lc.15:4; Lc.15:6; Lc.15:24; Lc.15:31-32; Lc.19:10). O ser humano não consegue se prover com luz, mas pode se colocar na escuridão, quando fecha os olhos para a luz. A luz do sol está velada para o cego. Paulo fala daqueles que recusaram a luz do evangelho por causa da escuridão interior pela qual eram responsáveis (ver com. de Os.4:6).

Algumas condições podem ocultar o poder salvífico do evangelho. Na igreja de Corinto, por exemplo, espírito partidário, rivalidade, disputa, imoralidade, orgulho e egoísmo na vida de alguns, acabaram por ocultar o evangelho deles próprios. O evangelho aberto deve ser recebido por mentes e corações abertos (Jo.8:47; 1Jo.4:6). A indiferença às coisas espirituais e a preocupação com as coisas não espirituais também fecham o véu (ver Lc.21:34; ver com. de Mt.6:24-34). As ocupações terrenas legítimas podem absorver uma pessoa até que não tenha tempo nem deseje a luz celestial. As pessoas não rejeitam a verdade por causa da falta de evidência. Na verdade, elas creem em mil coisas com pouca evidência. As pessoas rejeitam a verdade porque esta os condena; a verdade reprova os pecados delas e lhes perturba a consciência.

2Co.4:4 4. nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.

Deus deste século. Isto é, Satanás. Paulo explica por que o evangelho está oculto para muitas pessoas. Satanás é um ser pessoal (ver com. de Mt.4:1), e é imperativo que o reconheçamos quando ele vem em qualquer forma ou por qualquer meio. O título “deus deste século” alude à tentativa de Satanás para usurpar a soberania de Deus sobre este mundo. O diabo reivindica ser o deus deste mundo (Mt.4:8-9; 1Jo.5:19). Ele tem sido o governante invisível de muitos dos reinos e impérios da terra. Ele é chamado “o deus deste século” porque seu propósito é assegurar o controle total deste mundo e de seus habitantes. Ele é “o deus deste século” porque o mundo está, em grande parte, sob seu controle. Ele governa no coração da maioria dos habitantes da Terra (cf. Ef.2:1-2).

O mundo obedece a seus ditames, entrega-se às suas tentações, participa de seus caminhos ímpios e abominações. Ele é o autor e instigador de todo o pecado, e sua verdadeira personificação. Diz-se que pecadores obstinados são entregues a Satanás (1Co.5:5; 1Tm.1:20). Ele é o “deus deste século” por causa de seu controle, mesmo que limitado, das forças da natureza, dos elementos da terra, do mar e do céu. Falar de Satanás como o “deus deste mundo” não significa que Deus tenha abdicado da soberania sobre o mundo. O poder e o controle de Satanás estão limitados. Ele exerce poder sob permissão de um Deus onisciente, e apenas enquanto for necessário para a destruição efetiva e eterna do pecado (1Co.15:24-28; Ap.12:12).

Entendimento. Do gr. noemata, “faculdades perceptivas”. A batalha entre Cristo e Satanás é pela mente do ser humano (Rm.7:23; Rm.7:25; Rm.12:2; 2Co.3:14; 2Co.11:3; Fp.2:5; Fp.4:7-8). A principal obra de Satanás é cegar ou obscurecer a mente das pessoas. Ele as afasta do estudo da Palavra de Deus, ao transtornar os poderes da mente por meio dos excessos físicos e mentais. Ocupa a mente com coisas da vida e apela ao orgulho e à exaltação pessoal.

Incrédulos. A responsabilidade pela cegueira espiritual repousa não apenas em Satanás, mas também sobre aqueles que escolhem “não crer”. Eles foram levados para a luz da verdade de Deus, ainda que as reações mentais e espirituais sejam cegas e negativas. As grandes doutrinas fundamentais da fé cristã parecem não ter valor para eles. No entanto, eles são responsáveis, porque têm se afastado conscientemente da verdade. Possuem olhos, mas não veem (ls.6:9; Mt.13:14-15; Jo.12:40; Rm.11:8-10). Não viram beleza no Servo do Senhor, para que O desejassem (Is.53:2).

Resplandeça. Neste versículo, Paulo se refere à luz do conhecimento salvífico do evangelho que brilha na mente humana.

Luz. Do gr. photismos, “esclarecimento”, “iluminação”, palavra originada de um verbo que significa “dar luz”, “iluminar” (ver phos, a palavra usual para “luz”, no com. de Jo.1:7; Jo.1:9). A palavra photismos é utilizada neste versículo a respeito do evangelho, que iluminará toda mente sincera e aberta. Muitos, porém, permanecem cegos, mesmo quando a plena luz do evangelho brilha em sua mente obscurecida. São como pessoas numa sala escura que deliberadamente ficam fora do alcance da luz. Impedem a luz do evangelho de levá-las ao zênite da vida (ver Pv.4:18). A questão se relaciona a luz e trevas. O máximo que Satanás pode fazer é cegar a mente das pessoas. Ele não pode obscurecer a luz do evangelho; mas pode envolver a mente humana em trevas. Ele pode fazer com que o véu cubra-lhes os olhos, mesmo que o evangelho ilumine outros ao redor deles.

O reino de Satanás é de trevas (ver Is.60:2; Mt.8:12; Lc.22:53; 2Pe.2:4; Jd.6; Ap.16:10) e, por esse motivo, o maligno odeia a luz do evangelho. Ele anseia que a luz de algum substituto do evangelho brilhe, a luz do conhecimento, da cultura, da moralidade, da educação, da riqueza e da sabedoria humana. No entanto, todos os seus esforços se voltam contra a disseminação da luz do evangelho, a única que pode salvar (At.4:12). O evangelho é o único meio pelo qual os métodos e enganos diabólicos podem ser expostos, e pelos quais as pessoas conseguem enxergar o caminho das trevas para a luz (ver com. de Jo.1:4-5; Jo.1:9; Jo.1:14).

Imagem. Do gr. eikon, “imagem”, “figura”, “semelhança”. Esta palavra é usada na LXX (Gn.1:26; 1Co.11:7; Cl.1:15; Cl.3:10; Hb.10:1). Cristo é a expressa imagem do Pai, e o caráter, os atributos e a perfeição dos dois são os mesmos. Deus, o Pai, é como Jesus (Jo.12:45; Jo.14:9; Fp.2:6). Adão e Eva foram criados originalmente naquela imagem, e este é o objetivo do plano da salvação para restaurar aquela imagem na humanidade.

2Co.4:5 5. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus.

Pregamos. Paulo tinha sido acusado de ser egocêntrico em sua pregação, mas ele repudiou categoricamente a acusação. As pessoas pregam a si mesmas quando são motivadas por interesse pessoal, quando buscam o aplauso, ou ambicionam exibir seus talentos, quando proclamam suas opiniões e as tradições e ensinos de homens, em contradição à Palavra de Deus, quando são motivadas a pregar por ganho, para sustento pessoal ou por prestígio e popularidade.

Cristo Jesus como Senhor. Ver com. de Mt.1:1; Jo.1:38. Pregar a Cristo significa pregar o evangelho eterno.

Servos. Do gr. douloi, “cativos”, “escravos”. Em outras passagens, Paulo fala de si mesmo como um servo de Cristo (Rm.1:1; Fp.1:1; Mt.20:28) e, como tal, ele não tem direito de se assenhorear da herança de Deus.

2Co.4:6 6. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.

Que disse: Das trevas resplandecerá a luz. Deus trouxe a luz à existência com uma simples ordem (ver com. de Gn.1:3; SI.33:6; Sl.33:9). As primeiras palavras registradas de Deus trouxeram luz onde havia apenas trevas (Gn.1:2). Deus não criou apenas a luz natural, Ele enviou Seu Filho para ser “a luz do mundo” (Jo.8:12). Toda luz física, intelectual, moral e espiritual se originam no Pai da luz (Tg.1:17). Ele Se cobre “de luz como de um manto” (SI.104:2). A própria natureza de Deus é luminosa (Tg.1:17; Jo.1:4-5; ver com. de Jo.1:4-5; Jo.1:9; Jo.1:14).

Resplandeceu. Do gr. lampo, “brilhar”. Aquele que criou o sol para iluminar as trevas primitivas deste mundo também fornece a luz da verdade para iluminar as mentes entenebrecidas (SI.119:105). Assim como a Palavra de Deus trouxe luz a um mundo escuro, a Palavra viva, como anunciada na Palavra escrita, ordena que a luz celestial brilhe nas mentes obscurecidas. Está além do poder, habilidade e sabedoria humanas produzir tal luz. A forma do verbo no grego sugere que Paulo pode se referir aqui à experiência pessoal no passado, sua própria conversão. Paulo, então, contemplou Cristo em Sua forma glorificada, e a luz do rosto de Cristo brilhou sobre ele. Mais tarde, as escamas caíram de seus olhos e de sua mente (At.9:3-18). Pela primeira vez, Cristo lhe apareceu como realmente era, Salvador e Senhor, e Paulo se tornou um novo homem. A escuridão de seu ser foi dissipada (At.9:17-18; At.26:16-18).

Para iluminação. De acordo com a construção grega desta passagem, o propósito de Deus em brilhar no coração humano é comunicar luz, o propósito da luz é familiarizá-lo com o conhecimento da glória divina, e o propósito do conhecimento da glória divina é salvá-lo.

Na face. A mesma glória refletida no rosto de Moisés havia sido então vista no rosto de Cristo (ver com. de Mt.17:2; Lc.2:48; Jo.1:14; 2Pe.1:17-18). Cristo é a completa revelação da glória de Seu Pai, a encarnação de toda a excelência divina. Todas as outras revelações foram parciais e imperfeitas. No rosto de Jesus Cristo, as pessoas podiam ver a luz de Deus pura, perfeita e plena. Paulo reconhecia a glória de Deus na criação e na lei, mas então ele percebia a perfeita exibição da divina glória no rosto e na pessoa de Jesus Cristo. Foi isso que conquistou seu coração e sua devoção permanentes. Apenas em Jesus Cristo e por meio dEle é que a pessoa se torna colaboradora da natureza divina e, assim, da glória divina.

2Co.4:7 7. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.

Este tesouro. Isto é, “o conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (v. 2Co.4:6). Nos v. 2Co.4:7-18, Paulo destaca o modo como esse conhecimento lhe concedeu poder para suportar, como um “escravo” de Deus, as dificuldades quase insuperáveis que o confrontaram no ministério. Salvo esse conhecimento e poder, o frágil recipiente humano se destruiria (ver v. 2Co.4:1).

Vasos de barro. Do gr. ostrakinoi, originalmente, receptáculos vazios feitos de concha ou argila cozida. Esses utensílios eram delicados, frágeis e humildes, de pouca utilidade e ínfimo valor. Assim é o vaso humano em contraste com o eterno tesouro de Deus. É plano de Deus tornar esse débil vaso no recipiente que acolherá o maior dos tesouros. O ministro e o crente são declarados como jarros terrenos com o supremo propósito de guardar o grande tesouro de Deus. Talvez Paulo pensasse na antiga prática de estocar tesouros em grandes jarros para proteção. O ser humano é o cofre que contém a jóia da justiça de Cristo, imputada e transmitida a cada crente (ver com. de Mt.13:45-46). Por si mesmo, o ser humano está num estado de pobreza abjeta. Ele permanecerá nesse estado até que seja enriquecido pelo tesouro celestial. Todos os que são redimidos por Cristo possuem esse tesouro, alguns mais que outros, de acordo com a recepção pessoal por meio da fé. Para os que atravessam o deserto, a água é de supremo valor. Para aqueles que vivem nas trevas, a luz é de supremo valor. Para aqueles que enfrentam a morte, a vida é de elevada estima. Para o ser humano mortal, o tesouro do evangelho é tudo isso, água viva, a luz do mundo e vida eterna.

De Deus. Os seres humanos se inclinam a utilizar recipientes valiosos para armazenar seus tesouros. No entanto, na elaboração de Seu plano, Deus geralmente escolhe as pessoas mais humildes para que não tomem o crédito para si (1Co.1:28-29). Não contribui para o bem do ser humano que ele receba crédito por se salvar ou a seus semelhantes. Não há maior obstáculo à vida do ministro ou do crente que o orgulho. A importância não está nos recipientes, mas no conteúdo; isso ocorre com o ministro e sua mensagem. Deus poderia ter comissionado anjos para fazer a obra que entregou a frágeis humanos, no entanto, ao fazer isso, Ele trabalha de tal modo a evidenciar que a obra da redenção é de Deus, não dos seres humanos. O vaso ou instrumento não possui valor em si mesmo (cf. 2Tm.2:19-20); somente a presença e o poder divinos determinam o valor do recipiente. A propagação do evangelho sempre é prejudicada quando pessoas obscurecem a obra de Deus ao enfatizar a eloquência, habilidade ou a sabedoria humana.

2Co.4:8 8. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;

Em tudo somos atribulados. Os v. 2Co.4:8-10 contêm quatro pares de contrastes. Por um lado, ilustram a fragilidade do vaso de barro e, por outro, a excelência do poder de Deus a despeito dessa fragilidade (ver com. de 2Co.1:4). Todo cristão, principalmente o ministro cristão, encontra-se em meio à grande batalha milenar entre Cristo e Satanás (Ef.6:10-17; Ap.12:7-12; Ap.12:17). Consequentemente, não consegue escapar das provações e tribulações (Jo.16:33; At.14:22; Ap.7:14). O êxito que acompanha os esforços do frágil instrumento humano em meio à tribulação e angústia denota a presença do poder divino (Rm.8:35-39). Consequentemente, ninguém pode se gloriar, “senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Cl.6:14). A revelação mais clara e eficaz de Cristo é feita por meio de homens e mulheres que triunfam pela graça de Deus.

Porém, não angustiados. O dinamismo do espírito indomável de Paulo inspirou milhares de embaixadores de Cristo a serem leais, bravos e corajosos em meio a uma série de dificuldades: incerteza, desapontamento, perseguição e morte. As circunstâncias não determinam o clima da vida cristã, que as suporta porque vê o Senhor invisível, e é sustentada pela luz da graça divina (ver Hb.11:27).

Perplexos. Do gr. aporeo, “ter dúvidas”. Paulo frequentemente esteve em situações nas quais não havia saída, sob o ponto de vista humano. No entanto, ele aprendeu, sob tais circunstâncias, a confiar em Deus e aguardar.

Desanimados. Do gr. exaporeo, “estar desanimado”, “estar perdido [não saber o que fazer]”. No entanto, a despeito das circunstâncias, Paulo tinha aprendido, por experiência, a confiar em Deus para uma solução.

2Co.4:9 9. perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;

Perseguidos. Ver com. de Mt.5:10-12; Mt.10:17-23; Jo.15:20. A cada contraste subsequente se revela com mais amplidão a intensidade do sofrimento e do risco pessoal. Paulo fala de ser cercado, perseguido, capturado e derrubado por forças hostis. Não parecia haver modo de escape, e a morte era inevitável.

Não desamparados. Por todas as provações, Paulo e seus coobreiros experimentaram o cumprimento da promessa de Cristo de estar com eles, mesmo diante da morte, e de prover um modo de escapar (ver 1Co.10:13; 2Ts.1:4; Hb.2:18; Hb.13:5). Para os cristãos em tempo de provações e perseguição, algumas verdades divinas são claras. Por maiores que sejam as provações enfrentadas, elas não são insuportáveis (Dt.33:25; SI.46:1). Nenhum cristão necessita ficar desencorajado. Mesmo quando despojado de tudo que possui valor terreno, seu maior tesouro permanece seguro, além do alcance de seres humanos e demônios (2Co.4:16; SI.23:3). Devidamente tolerados, todos os sofrimentos e provações que assediam a vida do cristão servem apenas para conduzi-lo em íntimo relacionamento com Cristo em Seus sofrimentos (Fp.3:10). Paulo, talvez, sofreu mais por amor a Cristo que qualquer outro cristão. Portanto, ele compreendia mais do que qualquer um o que significava sofrer com Jesus. De todos os escritores do NT, nenhum outro escreve tanto sobre a cruz e o morrer com Cristo.

Com Paulo, até mesmo perseguição, provação, sacrifício e a própria vida tornam-se experiências pelas quais se gloriar, devido à comunhão íntima que o ligava a Cristo em Seus sofrimentos. Os seguidores de Cristo devem atingir a maturidade por meio do sofrimento. Os sofrimentos de Cristo fornecem um contexto sombrio, por assim dizer, no qual Sua perfeição de caráter resplandeceu (Hb.2:10). Toda a Sua vida foi uma experiência de morte para o eu. Nada tendia a revelar mais claramente Seu amor e o de Seu Pai pelos pecadores. De modo semelhante, para os cristãos, as provações, os sofrimentos e desapontamentos da vida cristã fornecem o contexto para a beleza da paciência divina, a fragrância de um caráter semelhante ao de Cristo, submissão à vontade de Deus e firme confiança em Sua orientação. Assim, a luz de Deus é refletida no semblante do cristão. O viver cristão sempre será recebido com hostilidade e ódio por parte dos seguidores do príncipe das trevas. No entanto, não é plano de Deus que o cristão se glorie no sofrimento para benefício próprio, para atrair hostilidade e oposição, de modo a chamar a atenção para a coragem e o sacrifício pessoal.

Abatidos. Do gr. kataballo, “derrubar” [ao chão], “prostrar-se”, como um homem derrotado em combate pessoal.

Não destruídos. Repetidas vezes pode ter parecido que Paulo estava não apenas “abatido”, mas também “destruído”. Ele admite ter estado “abatido” várias vezes, no entanto, declara que nunca foi “destruído”.

2Co.4:10 10. levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.

Levando sempre no corpo. Em várias partes do corpo de Paulo havia muitas cicatrizes que testemunhavam silenciosamente de seus sofrimentos por Cristo.

O morrer. Literalmente, “a morte”. Para Paulo, este era um morrer diário, perpétuo, por sua constante exposição à morte (Rm.8:36; 1Co.15:31; 2Tm.2:11). Com essa figura de linguagem, Paulo expressa seu íntimo relacionamento com Cristo nos sofrimentos que ele era constantemente chamado a suportar. Isso constituiu um testemunho vital ao mundo a respeito do poder do evangelho. Os judaizantes, que escapavam da perseguição por pregar um evangelho de acordo com a lei, sem vida, não conseguiam oferecer tal evidência (ver Cl.6:12).

Também a Sua vida. Como as cicatrizes testificavam da proximidade que Paulo tinha chegado da morte, o fato de que ele ainda vivia testemunhava com eloquência do poder de Cristo para livrar as pessoas do pecado e transformá-las à Sua imagem (ver Cl.2:20).

2Co.4:11 11. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.

Que vivemos. Paulo amplia e confirma o que já declarou no v. 2Co.4:10. Para o embaixador do evangelho, naqueles dias, a vida e a morte nunca estavam muito distantes.

Sempre. No grego, esta palavra está na forma enfática. Paulo vivia próximo à morte (ver com. de 1Co.15:29).

Para que também a vida. Embora definitivamente entregue à morte, o missionário cristão vive, pois Cristo comunica Sua vida àquele que é essencialmente mortal e corruptível (Jo.3:36; Jo.14:6; 1Jo.5:11-12).

2Co.4:12 12. De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida.

Opera a morte. Paulo avança mais um passo no contraste entre a vida e a morte. Enquanto a morte sempre é uma possibilidade real para o mensageiro do evangelho, seu objetivo é levar vida aos condenados à morte por causa do pecado, Neste versículo, o termo “vida” é usado no mais elevado sentido espiritual. Embora os conversos de Paulo tenham experimentado pouco ou nada de um conflito entre vida e morte, comparando-se ao conflito de Paulo, ainda assim Deus usou Paulo para ministrar vida a eles. De um humilde vaso de barro (a vida de Paulo) procedeu o poder de Cristo para transmitir nova vida aos coríntios.

2Co.4:13 13. Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está escrito: Eu cri; por isso, é que falei. Também nós cremos; por isso, também falamos,

Espírito da fé. Uma fé como a que foi expressa na citação do AT (cf. SI.116:10). Paulo escreve com convicção e na esperança de que os coríntios atenderão ao seu conselho.

Está escrito. Citação do Salmo SI.116:10. Tanto Paulo como Davi experimentaram a bondade e o amor de Deus e estavam convictos disso. Ambos experimentaram provação, sofrimento e livramento, e falaram com convicção. A proximidade da morte não é um impedimento para a alegre expressão de uma fé viva. A vida de todos os grandes homens e mulheres da Bíblia reluz com esse espírito de triunfo, esse clima de dinamismo e esplendor. Eles expressaram alegre gratidão a Deus, mesmo em meio a perdas e perseguição. A vida de todos os cristãos que têm experimentado o amor de Deus se torna uma evidência desse amor e poder. É natural e fácil para a língua expressar o que a mente conhece e o que o coração sente. A pessoa que fala sobre o que não crê é hipócrita, ao passo que a pessoa que não fala do que crê é covarde.

2Co.4:14 14. sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco.

Ressuscitou o Senhor. Como Paulo já havia explicado aos coríntios (ver 1Co.15:13-23) que a ressurreição de Jesus permaneceu como garantia absoluta da ressurreição de todos os justos.

Também nos ressuscitará. A esperança que Paulo alimentava na ressurreição o capacitava a enfrentar a morte com calma e coragem. Ele já experimentara a ressurreição espiritual com Cristo (Rm.6:4), e esta é a certeza do triunfo futuro sobre a morte. Ele estava convicto acerca da vida eterna (Rm.8:11; 1Co.15:12-22; 2Tm.4:8).

Com Jesus. Paulo se refere à ressurreição do Senhor. Ele reconhece que sua própria ressurreição é certa. Jesus foi ressuscitado como o primeiro de uma raça redimida (Ap.1:5), que incluiria todos os conversos dos apóstolos (1Co.15:20). Além disto, Cristo trará os mortos à vida no último dia (Jo.5:25-29).

E nos apresentará. Talvez o maior momento de alegria para aqueles que triunfam com Cristo será sua apresentação diante de Deus, o Pai. Paulo antecipa com orgulho a apresentação de seus conversos a Cristo (2Co.11:2). As Escrituras se referem várias vezes a cristãos apresentados, ou que apenas estão presentes diante de Deus. Eles comparecem diante de Cristo em Seu tribunal, para vindicação e justificação (Rm.14:10-12; 2Co.5:10). Eles serão apresentados diante de Deus na Ceia das bodas do Cordeiro, como a noiva do Cordeiro (Ap.19:7-9), e habitarão em Sua presença (Ap.21:3). Deve-se notar, nesta passagem, que a linguagem parece sugerir que Paulo esperava morrer antes do retorno do Senhor e participar da ressurreição.

2Co.4:15 15. Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus.

Todas as coisas. Isto é, tudo o que Paulo sofreu como embaixador de Cristo (v. 2Co.4:7-12; ver 1Co.3:22-23; 2Tm.2:10).

Graça. Referência à graça de Deus que possibilita a salvação e a redenção do pecador (Jo.1:14; Jo.1:16-17; At.20:24; At.20:32; Rm.4:16; Rm.5:20).

Ações de graças. Paulo antevê uma ampliação da glória concedida a Deus, porque quanto mais pessoas ele leva a Cristo por meio de seu ministério, maior glória deverá ser atribuída ao santo nome de Deus (cf. 2Co.9:11-12). Como a chuva faz brotar os frutos da terra, da mesma forma a abundante graça de Deus conduz os seres humanos a responder com gratidão (cf. Ef.2:6-8). Essa resposta surge como o reconhecimento espontâneo da bondade, misericórdia, do amor e poder de Deus. Render gratidão e louvor a Deus indica a restauração do relacionamento entre Deus e o ser humano, e este é o principal objetivo do evangelho.

2Co.4:16 16. Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.

Por isso. A perspectiva de alegria e glória futura é o que motivava Paulo a enfrentar com tranquilidade e paciência as provações e tribulações que fizeram parte de seu ministério (cf. Hb.12:2). Os embaixadores do evangelho suportam as vicissitudes desta terra, porque vivem diariamente “como quem vê Aquele que é invisível” (Hb.11:27). Eles confiam tanto na glória do futuro que todas as experiências desta vida inspiram esperança, alegria e fidelidade.

Homem exterior. Isto é, o corpo, a parte visível do ser humano, que se deteriora com o desgaste da vida. O “homem interior”, por outro lado, denota o ser humano regenerado, a natureza espiritual, que foi e continua sendo renovada diariamente pelo Espírito de Deus (Rm.7:22; Ef.3:16; Ef.4:24; Cl.3:9-10; 1Pe.3:4). O processo de renovação avança constantemente e o mantém unido a Deus. Paulo se refere constantemente a essa renovação (Rm.12:2; Ef.4:23; Tt.3:5). Um aspecto da obra do Espírito Santo é a renovação do crente com novos suprimentos de vida espiritual, energia, coragem e fé. A obra regeneradora diária do Espírito é que produz a restauração completa da imagem de Deus na vida humana.

Dessa forma, embora o homem exterior envelheça e enfraqueça com o passar dos anos, o homem interior continua a crescer em graça enquanto houver vida. Paulo conseguia olhar com calma para as provações da vida, o decorrer do tempo, o avançar da idade, a dor, o sofrimento e a própria morte. Ao mesmo tempo, o Espírito Santo lhe dava a certeza da imortalidade, um dom a ser recebido no dia da ressurreição (2Tm.4:8). Cada cristão necessita dessa renovação diária para que sua experiência pessoal com Deus não se torne indiferente e formal. A renovação espiritual conduz a uma nova luz proveniente da Palavra de Deus, novas experiências da graça, para compartilhar a purificação do coração e da mente. Em contraste, a pessoa não regenerada sofre com a ansiedade sobre coisas que pertencem ao homem exterior: o que comer, o que vestir e com o que se divertir (ver com. de Mt.6:24-34).

2Co.4:17 17. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação,

Leve. Este versículo, com os superlativos paradoxais, é uma das passagens mais enfáticas de todos os escritos de Paulo. Aqui o apóstolo contrasta as coisas do presente com as coisas do porvir.

Momentânea. Do gr. parautika, “momentâneo”, “imediato”. Comparado à eternidade, um momento é nada. Em vista da eternidade, o cristão bem pode se dar ao luxo de suportar qualquer aflição pelo breve espaço de um momento. Poucas pessoas sofreram tanto por Cristo como Paulo (2Co.11:23-30). A aflição o perseguia em cada lugar por onde ele passava, diariamente. Consideradas por si sós, as aflições de Paulo eram realmente pesadas. No entanto, quando comparadas às alegrias da eternidade e à glória futura, eram momentâneas (ver Rm.8:18; Fp.1:29; Hb.2:9-10).

Glória. Do gr. doxa (ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23).

Acima de toda comparação. Paulo acha as palavras “eterno peso de glória” inadequadas para expressar o contraste que ele verifica entre as aflições temporais e a bem-aventurança da eternidade. Ele ainda acrescenta outro superlativo (cf. 1Jo.3:1), um idiomatismo grego cunhado, talvez, por ele mesmo (ver outras expressões superlativas utilizadas por Paulo em Rm.7:13; 1Co.12:31; 2Co.1:8; Gl.1:13). A aflição contribui com a glória eterna para purificar e elevar o caráter (SI.94:12; Is.48:10; Hb.12:5-11; Tg.1:2-4; Tg.1:12; 1Pe.1:7). A aflição cultiva a confiança e a dependência de Deus (SI.34:19; Is.63:9; Os.5:15; Jn.2:2). A aflição exerce uma influência subjugante sobre o coração e a mente. A aflição prostra o orgulho, subjuga o eu e geralmente possui o sentido de levar a vontade do crente à mais completa harmonia com a vontade de Deus. A aflição testa a fé do crente e a genuinidade de sua profissão como cristão (Jó.23:10; SI.66:10). A aflição permite o exercício e o aperfeiçoamento da fé, que é fortalecida pela experiência. A aflição auxilia o crente a enxergar as coisas na verdadeira perspectiva e a colocar as primeiras coisas em primeiro lugar. Portanto, a aflição gera nos cristãos uma idoneidade pela glória. Quando os objetivos mundanos são removidos por meio da disciplina do sofrimento, o cristão acha mais fácil colocar sua afeição nas coisas celestiais (Cl.3:1-2; 2Tm.4:5). A aflição comprova a falência da sabedoria humana ao colocar o crente em posições difíceis, nas quais seu desamparo e a necessidade de Deus se tornam evidentes (SI.107:39). A aflição santifica os relacionamentos. Nada contribui mais para compreender nossos companheiros e possuir um sentimento de bondade para com eles do que a tristeza, a provação e o sofrimento.

2Co.4:18 18. não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.

Não atentando. Paulo explica como é possível ver as aflições desta vida na verdadeira perspectiva e, como consequência, momentâneas. Seu olhar se fixa nas glórias do reino eterno (cf. Hb.12:2). O que se torna objeto de atenção da mente determina como alguém suportará a provação, quer com esperança e paciência ou com insatisfação e amargura. O primeiro surge da contemplação das coisas invisíveis do mundo eterno (Fp.4:8), as realidades espirituais de Cristo; a última surge de olhar coisas visíveis, transitórias como riqueza, prazer e fama (ver com. de Mt.6:24-34). Ao fixar a mente sobre o caráter e a vida de Cristo, tornamo-nos como Ele (cf. Hb.11:10; Hb.11:26-27; Hb.11:39-40; 1Pe.1:11).

2Co.5:1 1. Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.

Sabemos. Isto é, pela fé, não pela experiência. A palavra “porque” torna o cap. 5 uma continuação do tema do cap. 4. Neste versículo, Paulo explica que o motivo para a esperança declarada no cap. 4 é a certeza da ressurreição na segunda vinda de Cristo. A ressurreição é o acesso para o mundo eterno e o objetivo do sincero desejo de Paulo. Jesus expressou a mesma certeza acerca das verdades que Ele ensinou (Jo.3:11; Jo.4:22).

A nossa casa terrestre. Literalmente, “nossa tenda terrestre”. Com relação à sua “casa terrestre” Paulo também fala de estar “ausente do Senhor” enquanto ele está “no corpo” (v. 2Co.5:6), e gemendo até que sua “casa terrestre” seja “desfeita” (v.1) e ele se apodere de sua “habitação celestial” (v. 2Co.5:2). A comparação do corpo humano a uma tenda era natural ao fabricante de tendas (At.18:3). A tenda e o corpo são parecidos em vários aspectos: os materiais dos quais os dois são feitos provém da terra, os dois são temporários em natureza, e ambos são facilmente destruídos. A tenda é um local de habitação transitório e pode ser desmontada e transferida a qualquer tempo. Literalmente, de acordo com Jo.1:14, Cristo “habitou em tendas” entre nós quando Ele assumiu um corpo humano na encarnação (ver com. de Jo.1:14). De modo semelhante, Pedro compara o corpo humano a uma tenda ou “tabernáculo” (2Pe.1:13-14).

Temos. A certeza de Paulo na abençoada esperança da ressurreição (1Co.15:20) é tão consistente que ele fala de sua futura “casa” como uma posse atual. Seus olhos estão fixos nas coisas que, até agora, “não são vistas” (2Co.4:18). Sua “casa” celestial não é menos real para ele que sua casa terrena. Os heróis da fé mencionados em Hb.11:1 semelhantemente aceitaram as promessas de Deus e tomaram decisões sobre elas como se fossem realidades presentes. Paulo possui o título e o direito à sua “casa” celestial e não hesita em reivindicá-la.

Da parte de Deus um edifício. Paulo também fala do seu “edifício de Deus” como uma “habitação celestial” (v. 2Co.5:2), “não feita com mãos”, mas “eterna” (v.1). Ele fala desse apoderar daquela casa como estando “revestido” dela (v. 2Co.5:2) e estando “ausente do corpo” quando ele está “presente com o Senhor” (v. 2Co.5:8). Alguns identificaram esse “edifício” com as mansões de Jo.14:2. No entanto, se a referência é às mansões celestiais, então a casa terrestre também deveria se referir às casas terrestres literais. No entanto, não era isso o que o escritor tinha em mente. Muitos expositores bíblicos concordam que Paulo se refere, neste versículo, ao “corpo espiritual” dado ao crente no momento da ressurreição (ver com. 1Co.15:35-54). Ele fala de sua “casa terrena” como uma “tenda”, e de sua “casa” celestial como um “edifício”. Um é o local de habitação temporária, o outro, de habitação permanente. O corpo dos santos ressuscitados se assemelhará ao do Senhor ressuscitado (Lc.24:36-43; Fp.3:21).

2Co.5:2 2. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial;

Gememos. A vida futura era tão real para Paulo que ele olhava ansiosamente para o tempo quando trocaria esta vida pela outra. Paulo sabia que um corpo glorioso o aguardava e gemia com ardente anseio para se apoderar dele (Rm.7:24; Rm.8:23-25).

Sermos revestidos. Do gr. ependuo, “colocar sobre”. Paulo combina as imagens de uma tenda ou casa e a da vestimenta. Sua confiança absoluta na ressurreição e nas promessas de Deus faz a vida futura parecer incomparavelmente preferível a esta vida. Paulo teria ficado feliz em trocar o corpo mortal pelo futuro corpo imortal sem experimentar a morte, que ele descreve como sendo “encontrados [...] nus” (v. 2Co.5:3). Aqueles que “dormem em Jesus” e aqueles que estiverem vivos receberão os corpos imortais ao mesmo tempo, no dia da ressurreição (1Ts.4:14-17; 1Co.15:51-54; 2Tm.4:6-8). Paulo preferia a trasladação sem ver a morte.

Celestial. Ver com. do v. 2Co.5:1.

2Co.5:3 3. se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus.

Encontrados vestidos. Isto é, tanto com o corpo mortal e terrestre, como com o corpo imortal e celestial.

Nus. Isto é, sem uma “casa terrestre” (v. 2Co.5:1) nem uma “casa [...] no céu” (v. 2Co.5:2, NTLH). Se possível, Paulo escolheria ser trasladado sem ver a morte. Ele gostaria de se unir ao grupo seleto de Enoque e Elias, trasladados ao Céu sem ver a morte (Gn.5:24; 2Rs.2:11). Caso houvesse esse estado intermediário, em que ele não teria um corpo terrestre nem um corpo celestial, haveria a perspectiva de um estado de êxtase desencarnado na presença de Deus, e Paulo não teria desejado ansiosamente evitá-lo (2Co.5:2-4). Se tal estado de êxtase fosse possível, por que o apóstolo desejaria ser oprimido com outro corpo, mesmo que fosse um corpo celestial? (ver com. do v. 2Co.5:4).

2Co.5:4 4. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.

Gememos. Ver com. de 2Co.5:2; cf. Rm.8:20-23.

Angustiados. Paulo está consciente da fragilidade da tenda mortal, que cedo ou tarde deve ser desfeita (ver 2Co.4:7-12). Ele anseia ser libertado de todas as fraquezas e sofrimentos desta vida. A então recente experiência em Éfeso e a ansiedade pela igreja de Corinto tinham sido quase além da resistência humana (ver com. dos 2Co.1:8-9; 2Co.2:13; 2Co.11:23-28).

Despidos. Isto é, sem um corpo mortal nem um corpo imortal.

Absorvido pela vida. Fica evidente, no v. 4, que a mortalidade não é trocada pela imortalidade, até que uma seja “revestida” com a “habitação celestial” (v. 2Co.5:2). Paulo, neste versículo, não apoia o ensino não escriturístico de que, na morte, quando alguém está “despido”, entra num estado de existência imortal (ver com. de 1Co.15:51-54; 1Ts.4:15-17; 2Tm.4:6-8).

2Co.5:5 5. Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito.

Preparou. Do gr. katergazomai, “efetuar”, “cumprir”, “alcançar” ou “preparar”. A obra do evangelho é qualificar pessoas para receber “vida” (ver Ef.2:10; 1Pe.5:10).

Para isto. Isto é, a mudança da mortalidade para a imortalidade. O cristão genuíno é a pessoa mais feliz do mundo, porém a menos satisfeita com ele. Ele é como um turista satisfeito com a pousada, mas desejando seguir em direção ao lar. Seu anseio é pelas realidades eternas, não pelas coisas transitórias da Terra. A mente carnal está satisfeita com o que os olhos conseguem ver; a mente do cristão, com coisas invisíveis (ver 2Co.4:18). O desejo sincero por justiça e pelo mundo eterno, em vez das coisas irrelevantes deste mundo, é evidência de genuína conversão e maturidade cristãs (ver com. de Mt.5:48).

Penhor. Ver com. de 2Co.1:22.

2Co.5:6 6. Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor;

Sempre bom ânimo. Não havia a menor dúvida na mente de Paulo quanto a ressurreição (ver com. do v. 2Co.5:14).

No corpo. Ou, a “casa terrestre” (ver com. do v. 2Co.5:1).

Ausentes do Senhor. Isto é, não em Sua presença imediata, nem ainda “revestido” com a “habitação celestial” (v. 2Co.5:2), incapaz de vê-Lo “face a face” (1Co.13:12; 3Jo.14; ver com. do v. 2Co.5:8).

2Co.5:7 7. visto que andamos por fé e não pelo que vemos.

Andamos. Isto é, vivemos, como cristãos nesta vida (Rm.6:4; Rm.8:1; Rm.8:4; Rm.13:13; 1Co.7:17; Gl.5:16; Ef.2:2; Ef.2:10).

Por fé. A confiança de Paulo na ressurreição (v. 2Co.5:6; 2Co.5:8) baseia-se na fé (ver com. de 2Co.4:18). Nesta vida, o apóstolo caminha pela fé, como na vida por vir ele caminhará pelo que vê.

Vemos. Do gr. eidos, “aparência externa”, “forma”, “molde”. A palavra eidos se refere a uma coisa que é vista, não à capacidade de ver (cf. Lc.9:29, “aparência”; Jo.5:37). Cremos no Senhor sem tê-Lo visto. Até o momento em que O veremos face a face, nosso modo de viver, como cristãos, repousa na crença no invisível. Há dois mundos, o visível e o invisível, que seriam apenas um, não fosse pela entrada do pecado. A pessoa caminha pelo que vê, quando é influenciada pelas coisas materiais da época, mas caminha pela fé quando é influenciada pelas coisas eternas. As decisões e a conduta do ser humano não regenerado são determinadas pelas aparências externas. No entanto, o cristão possui convicção tão firme a respeito das realidades do mundo eterno que pensa e age pela fé, à luz das coisas visíveis, apenas pelos olhos da fé (ver com. de Mt.6:24-34; 2Co.4:18). Os que caminham pelo que veem, em vez de caminhar pela fé, expressam dúvida a respeito das realidades invisíveis e das promessas de Deus. Pela fé, o reino de Deus se torna uma realidade viva no presente. A fé vem pelo “ouvir”, e o “ouvir pela palavra de Deus” (ver com. de Rm.10:17, ARC; ver com. de Hb.11:1; Hb.11:6; Hb.11:13; Hb.11:27; Hb.11:39).

2Co.5:8 8. Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.

Deixar o corpo. Isto é, da vida no mundo atual.

Habitar com o Senhor. Partindo de uma leitura superficial dos v. 6 a 8, alguns têm concluído que, na morte, a alma imediatamente passa a “habitar com o Senhor” e que Paulo, desejando estar com Ele (v. 2Co.5:2), saudava a morte. No entanto, nos v. 2Co.5:3-4, Paulo descreve a morte como um estado de nudez. Ele espera, como se fosse possível, evitar esse estado intermediário e deseja ser “revestido” com a “habitação celestial”. Em outras palavras, espera ser trasladado sem ver a morte (ver com. dos v. 2Co.5:2-4). Em outras passagens (ver com. de 1Co.15:51-54; 1Ts.4:15-17; 2Tm.4:6-8), Paulo deixa claro que as pessoas não são “revestidas” com imortalidade individualmente na morte, mas simultaneamente à ressurreição do justos. Em 2Co.5:2-4, Paulo já tinha declarado que a “vida”, no sentido claro de vida imortal, ocorre quando alguém é “revestido” com sua “casa celestial” na ressurreição (ver com. do v. 2Co.5:4), e não no “nu” ou “despido” estado da morte. No v. 8, ele expressa o desejo de “deixar o corpo” e “habitar com o Senhor”.

Fica evidente, no entanto, que “deixar o corpo” não significa estar desencarnado (“nu” ou “despido”), porque, nos v. 2Co.5:2-4, ele afirmou que não desejava esse estado intermediário e o evitaria, se possível. Ter “vida” (v. 2Co.5:4) e “habitar com o Senhor” (v. 2Co.5:8), portanto, exige posse da “habitação celestial” (v. 2Co.5:2). Um exame minucioso das declarações de Paulo exclui qualquer possibilidade de um estado intermediário entre a morte e a ressurreição, em que as pessoas partem como espíritos desencarnados (“nus” ou “despidos”), para “habitar com o Senhor” (ver Rm.8:22-23; ver com. de Fp.1:21-23). A Bíblia declara que a morte é um sono do qual os crentes serão despertados na primeira ressurreição (Jo.11:11-14; Jo.11:25-26; 1Co.15:20; 1Co.15:51-54; 1Ts.4:14-17; 1Ts.5:10). Só então, os santos vivos e os ressuscitados estarão com o Senhor (ver com. de 1Ts.4:16-18). Nenhum grupo precederá o outro (cf. Hb.11:39-40).

2Co.5:9 9. É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.

Por isso. Isto é, em vista da confiança de Paulo na ressurreição e na vida futura (v. 2Co.5:6-8).

Esforçamos. Do gr. philotimeomai, “ser impulsionado por amor da honra”, “esforçar-se sinceramente para” (cf. Rm.15:20; 1Ts.4:11). O motivo que sempre impulsionou Paulo a seguir em frente, a despeito das provações que se abateram sobre ele (cf. 2Co.4:7-18), era a gloriosa perspectiva da ressurreição, ou da trasladação sem morte, tanto para si como para seus conversos. Paulo procurava arduamente ser “aceito” quando ele estivesse diante do “tribunal de Cristo” (2Co.5:10). Ele não trabalhava para conquistar méritos diante de Deus, nem para expiar seus pecados, nem para acrescentar algo ao dom da justiça de Cristo, mas para cooperar com Cristo na tarefa de salvar seus companheiros (1Co.15:9-10; Cl.1:29). Paulo trabalhou, também, para tornar tudo em sua vida num reflexo de Cristo, porque sabia que isso seria agradável e aceitável à vista do Senhor. A diferença entre o crente sincero e o hipócrita é que um busca a aprovação de Deus e o outro busca a aprovação do ser humano.

Aquele que decide não viver para si mesmo, mas para Cristo, não gastará tempo na comodidade e no ócio, ou perseguindo prazeres mundanos (Gl.1:10). Diz-se que nos tempos antigos um refinador de ouro olhava fixamente ao metal fundido em seu crisol, até que conseguisse ver seu rosto espelhado nele, então constatava que era puro. Assim ocorre com Cristo, que procura Seu reflexo em nós (cf. Jó.23:10). É nosso privilégio ser como Cristo, de quem se diz que “não Se agradou a Si mesmo” (Rm.15:3; Hb.11:5). Há diferença entre fazer o certo apenas porque é certo e porque Deus o exige, e fazer o certo pela alegria de fazer por amor a Cristo. Louvável como possa ser fazer o certo devido ao senso de dever, muito melhor é o fazer de um coração transbordante de amor pelo Mestre. O amor de Cristo constrangeu Paulo a viver como ele viveu (2Co.5:14). O peso da obediência aos mandamentos de Deus se torna leve quando é motivado por amor (ver com. de Mt.11:28-30; Rm.8:1-4). O sincero desejo de agradar a Cristo capacita o cristão a discernir, com exatidão, entre o que é mau e o que é bom (ver com. de Rm.8:5-8).

Quer presentes, quer ausentes. Ver com. do v. 2Co.5:6-8.

Para Lhe sermos agradáveis. A grande preocupação não era se Paulo viveria, ou se os seus labores terrestres terminariam. Sua preocupação era apenas que sua vida fosse de tal modo que recebesse a aprovação de Deus (ver 2Tm.4:6-8; ver com. de Mt.25:21; Lc.19:17).

2Co.5:10 10. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.

Porque. A conjunção “porque” liga este versículo com o que está antes. A expectativa do chamado a permanecer diante de Deus no dia do grande julgamento era uma das razões de Paulo para procurar ser aceitável diante de Deus. Fiel e abnegadamente ele propôs cumprir a verdade entregue a ele como embaixador de Cristo. Aqueles para quem a solenidade daquele dia é uma realidade sempre serão diligentes e sérios em dar a Deus o primeiro lugar e agradá-Lo no viver diário. O juízo final é necessário para a vindicação do caráter e justiça de Deus (SI.51:4; Rm.2:5; Rm.3:26). No estado terreno atual, os melhores dos seres humanos são geralmente mais afligidos, enquanto os piores deles conseguem prosperar (SI.37:35-39; Ap.6:9-11). O caráter de Deus exige que, no final, tudo terminará bem para os que fizeram o bem, e mal, para os que fizeram o mal. Esse estado de coisas não existe agora, mas haverá um dia em que os erros de hoje serão acertados. Isso também é necessário para que Cristo triunfe sobre o príncipe das trevas e seus seguidores (Is.45:23; Rm.14:10-11; Fp.2:10; GC, 666-671), e que Cristo tome para Si o que comprou com Seu sangue (Hb.2:11-13; Jo.14:1-3).

Compareçamos. Do gr. phaneroo, “tornar manifesto”, “tornar visível”, “tornar conhecido”, “mostrar abertamente”, “tornar público”. Esta palavra ocorre nove vezes em 2 Coríntios. Naquele grande dia, as pessoas não apenas comparecerão ao tribunal da justiça, mas também será revelado o tipo de pessoas que elas são. Seus segredos serão desnudados (Ec.12:14; Rm.2:16; 1Co.4:5). Todos terão um julgamento justo (cf. Jd.1:15). Nenhuma pessoa será julgada estando ausente ou por procuração (Rm.14:12; Tg.2:12-13).

Tribunal. Do gr. bema, “uma plataforma elevada”, de onde era conduzido um julgamento romano formal. Cristo será o juiz final Mt.11:27; Jo.5:22-27; At.17:31; 1Pe.4:5); Ele é apto para a tarefa; Ele é o criador do mundo e seu redentor. O fato de que o Salvador será nosso juiz é um pensamento solene. Ele tomou sobre Si a natureza daqueles que virão diante de Seu tribunal de justiça (Fp.2:6-8), aqueles cujo destino Ele decidirá. Ele suportou todas as tentações às quais eles foram sujeitos (Hb.2:14-17; Hb.4:15). Ele se colocou no lugar do ser humano. Em Cristo, a sabedoria divina é combinada com a experiência humana. Sua compreensão e discernimento são infinitos (Hb.4:13). Em Cristo, a justiça de Deus está unida com a de um homem perfeito. No papel de “Juiz de todos”, Deus, o Pai está unido a Cristo (Hb.12:23-24) e é visto por João, o revelador, sobre “um grande trono branco” no final dos mil anos (Ap.20:11-12).

Receba. Do gr. komizo, “receber como uma recompensa”, “cuidar de”, “arrebatar”. Boas ou más, as obras dos seres humanos são registradas no Céu (Ec.12:13-14; Ef.6:8; Cl.3:25; 1Tm.6:19).

Segundo. As obras dos seres humanos serão comparadas com o grande padrão de conduta, a lei de Deus (Ec.12:13-14; Rm.2:12-13; Tg.1:25; Tg.2:10-12). No juízo final, não haverá um padrão de justiça vago; desta forma, não haverá chance de escapar a uma justa recompensa por meio de um tardio apelo à misericórdia divina (Gl.6:7; Ap.22:12).

Por meio do corpo. Isto é, em sua vida (ver com. do v. 2Co.5:6). Obviamente, a provação está limitada à existência do ser humano neste mundo e termina com a dissolução do corpo (v. 2Co.5:1).

2Co.5:11 11. E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que também a vossa consciência nos reconheça.

Temor. Do gr. phobos, em outras passagens no NT, sempre é traduzido como “temor”. Este temor é algo muito diferente do terror que os pecadores perdidos um dia experimentarão. O temor de Deus é o princípio da sabedoria (SI.111:10; Pv.9:10). O temor é sinônimo de profunda reverência, como a que Isaías sentiu quando esteve na presença de Deus (Is.6:5), e está baseado na compreensão do caráter, majestade e grandeza de Deus, bem como da indignidade pessoal. O temor é a origem e o principal motivo da verdadeira piedade. O temor evita a presunção (ver Pv.26:12) e é um impedimento para o pecado (2Cr.19:7; Jó.1:1; Jó.1:8; Jó.28:28; Pv.8:13; At.5:5). Esse temor liberta de todos os demais temores (Pv.14:26-27; Pv.19:23). Aquele que permanece no temor de Deus fica livre de toda ansiedade. O temor do Senhor é adoração reverente e respeito por um amoroso Pai celestial (SI.103:11; SI.111:10; ver com. de SI.19:9).

Persuadimos os homens. Ver com. do v. 2Co.5:20.

Somos cabalmente conhecidos. O que somos é conhecido para Deus, e, como indica o grego, tem sido conhecido para Ele durante todo o tempo. Deus tinha plena consciência do alto propósito de Paulo em agradá-Lo acima de tudo, e Paulo confiava que os crentes coríntios também estavam convencidos disto. Alguns, senão muitos deles, foram tentados a duvidar da boa fé do apóstolo e ele apelou ao bom juízo deles, ansiando que eles reconhecessem o fato. Seu verdadeiro caráter como embaixador de Cristo (v. 2Co.5:20) seria, então, evidente a todos eles.

2Co.5:12 12. Não nos recomendamos novamente a vós outros; pelo contrário, damo-vos ensejo de vos gloriardes por nossa causa, para que tenhais o que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração.

Não nos recomendamos. No decorrer das duas epístolas aos coríntios, Paulo defendeu e valorizou seu ministério, não para se exaltar, mas para ganhar a confiança dos coríntios em sua mensagem e nele próprio, como mensageiro de Deus. Sua pregação entre eles tinha sido poderosa (1Co.2:4; 1Co.15:1-2). Ele foi o pai espiritual (1Co.4:15) e o líder deles nas coisas espirituais (1Co.11:1). Seu ministério tinha sido baseado no “espírito”, não na “letra”; de transformação interna, não de aparência externa (2Co.3:6). A base de recomendação foi a transparência e a pureza da verdade proclamada (2Co.4:1-2), assim como o sacrifício e o sofrimento que Paulo suportou continuamente por amor à verdade (2Co.4:8-10; 2Co.11:21-30). Os coríntios poderiam interpretar todas essas coisas como vanglória. Sem dúvida, muitos já haviam interpretado essas declarações dessa forma nas epístolas anteriores de Paulo, o que se deduz da utilização da palavra “novamente” neste versículo (cf. 2Co.3:1). Então, Paulo declara que, em tudo o que escreveu, não se vangloriava. Seu propósito era responder aos comentários depreciativos daqueles que estavam menosprezando seu ministério.

Ensejo. Do gr. aphorme, “base de operações”, “ponto de partida”, “incentivo”. Paulo apresenta o propósito que o impeliu a defender seu ministério. Os coríntios estavam engajados em batalha espiritual com inimigos do evangelho que buscavam posições de liderança na igreja e que tentavam se promover desacreditando a Paulo. Eles chegaram com credenciais em forma de cartas de recomendação, supostamente dos irmãos da Judeia. Eles representavam Paulo como um arrivista que se autorrecomendava, e eles, como investidos de autoridade pelos apóstolos (ver com. de 2Co.3:1). Como se não bastasse, esses inimigos do evangelho reivindicavam ser líderes e “ministros” (2Co.11:22-23). Paulo se refere a eles como “falsos apóstolos” e “obreiros fraudulentos” (2Co.11:13). Um número considerável de crentes coríntios tinha sido enganado por esses homens, que conspiraram para assumir a liderança da igreja de Corinto. Paulo declara que o único objetivo ao defender seu ministério é proporcionar correta informação à igreja e respostas adequadas para silenciar os falsos apóstolos.

Gloriam. Isto é, orgulhar-se de alguém ou alguma coisa (ver com. de 2Co.1:14, em que o substantivo cognato é traduzido como “glória”).

Aparência. Literalmente, “face”, “semblante”. Esses apóstolos autoproclamados não eram o que pretendiam e aparentavam ser. Eles podiam ter “cartas de recomendação”, mas não possuíam o testemunho interior do Espírito (ver com. de 2Co.3:1-3; sobre aqueles cujo julgamento se baseava na aparência externa, ver com. de 1Sm.16:7). Esses falsos líderes causaram melhor impressão que Paulo (ver 2Co.10:10). Alguns coríntios foram induzidos a zombar dos supostos defeitos físicos de Paulo: a fragilidade corporal e a visão deficiente (2Co.10:1; 2Co.10:7; 2Co.10:12; 2Co.12:8-10; Gl.4:13-15; ver Ellen G. White, Material Suplementar de sobre 2Co.12:7-9). Paulo admitiu ser “rude” e falto no falar (2Co.11:6). A reivindicação dos falsos apóstolos de uma autoridade ministerial superior estava baseada numa íntima associação com os apóstolos mais antigos e na rigorosa adesão à “letra” da ortodoxia hebraica (ver com. de 2Co.3:1-3). A vanglória deles se baseava meramente em valores externos. Pareciam estar alheios às altas qualidades espirituais das quais Paulo se vangloriava, se é que havia algum motivo para vangloria (cf. Gl.6:14).

2Co.5:13 13. Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós outros.

Enlouquecemos. Do gr. existemi, “rejeitar uma situação”, consequentemente, “estar fora de si” ou “estar insano”. A palavra também pode ser definida como “estar surpreso”, “estar maravilhado”. O contexto exige a primeira definição. Os oponentes de Paulo o acusavam de estar transtornado mentalmente, talvez baseando a acusação na conversão miraculosa, nas visões (2Co.12:1-4; Gl.1:12), no ardente zelo por Deus, por atrair o martírio (2Co.12:10), e pelo caráter revolucionário de seu ensino. Anos mais tarde, Festo tez a mesma acusação (At.26:24) que os amigos de Jesus fizeram contra Ele (ver com. de Mc.3:21; Mt.12:24).

É para Deus. Os aspectos da vida e do ministério de Paulo aos quais os inimigos apontavam como sintomas de transtorno mental eram, na verdade, evidências de sua devoção ao Senhor.

Juízo. Ou, “ter mente sã”, do gr. sophroneo; o oposto de estar “fora de” si. Ações que refletiam espírito sóbrio e moderado visavam ao bem-estar de seus conversos. Paulo não se importava com as acusações. E se os inimigos o consideravam insano? Ele tinha apenas um objetivo em vista: a honra e a glória de Deus, assim como a salvação de seus companheiros.

É para vós outros. Sempre esquecido de si mesmo, como evidenciavam seus incessantes labores e frequentes sofrimentos, Paulo vivia pelos outros.

2Co.5:14 14. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram.

Amor. Do gr. agape (ver com. de Mt.5:43-44; 1Co.13:1).

De Cristo. Paulo se refere ao amor de Cristo por ele e não a seu amor por Cristo (ver Rm.5:5; Rm.8:35; Rm.8:39; 2Co.13:14; Ef.3:19; cf. T4, 457; T7, 139; OE, 293). Embora apenas o amor de Cristo seja um adequado poder controlador na vida, é verdade que nosso amor por Ele também é vital. No entanto, o amor de Cristo por nós sempre é o fator dominante, pois “amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo.4:19; Jo.3:16).

Constrange. Do gr. synecho, “unir”, “apegar”, “exortar”, “impelir”, “controlar”. Quem escolhe ser guiado pelo amor de Cristo não se desvia do caminho do dever, quer para a direita ou para a esquerda; mas, como Paulo, avança na obra do Senhor, destemidamente e com sinceridade (ver At.20:24; 2Co.4:7-11). O amor de Cristo mantém o crente a salvo no caminho estreito (ver com. de Mt.7:13-14).

Julgando nós isto. Ou, “temos decidido”, “estamos convencidos”. A declaração de consagração de Paulo nos v. 14 e 15 é uma expressão da decisão que lhe ocorreu na conversão (ver At.9:6; At.26:19). Desde então, a grande verdade da expiação de Cristo foi o fator motivador e controlador em sua vida.

Logo. Do gr. ei [...] ara. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão da palavra ei, o que torna correta a tradução de palavra ara por “logo”, “portanto”, “consequentemente”.

Um morreu por todos. Não se coloca em questão a verdade que Ele morreu em lugar do pecador, como um “se” poderia indicar (ver com. de Is.53:4; Mt.20:28). Ao Se colocar no lugar de Adão (1Co.15:22; 1Co.15:45) Cristo Se tornou o líder da raça humana e morreu na cruz como seu representante. Em certo sentido, quando Ele morreu, toda a raça humana morreu com Ele. Como Ele representava todas as pessoas, Sua morte representou a morte de todos (1Pe.3:18; 1Jo.2:2; 1Jo.4:10; ver com. de Rm.5:12; Rm.5:18-19). Nele todas as pessoas morrem; Ele pagou, na íntegra, as exigências da lei (Jo.3:16; Rm.6:23). Sua morte foi suficiente para pagar a penalidade por todos os pecados.

No entanto, esse fato não significa salvação universal, porque cada pecador, individualmente, deve aceitar a expiação proporcionada pelo Salvador para torná-la eficaz em seu próprio caso (ver com. de Jo.1:9-12; Jo.3:16-19). Por outro lado, não há base escriturística para limitar a palavra “todos” a uma suposta minoria eleita, excluindo o restante da humanidade do acesso à graça salvífica da cruz e, consequentemente, predestinada à perdição (ver com. de Jo.3:16-21; Ef.1:4-6). A morte de Cristo não proporcionou apenas uma expiação para o pecado, livrando os pecadores da segunda morte (ver Ap.20:5; Ap.20:14), ela também possibilitou a morte dos pecadores para uma natureza depravada e degenerada e o novo nascimento para andar em novidade de vida (ver com. de Rm.6:3-4; Gl.2:19-20; Fp.3:10; Cl.3:3).

2Co.5:15 15. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

Os que vivem. Paulo prossegue, ampliando a importância da morte de Cristo (ver com. do v. 2Co.5:14). Ele aborda a experiência dos que foram “batizados na Sua morte” (Rm.6:3) e ressuscitaram para andar “em novidade de vida” (Rm.6:4; Ef.2:5-7). Juridicamente, o débito do pecado está cancelado, e eles estão justificados diante de Deus. Espiritualmente, são capacitados pela graça divina a viver uma vida aceitável a Deus hoje e na eternidade. A ênfase, neste versículo, é na completa reorientação da vida focada no eu para concentrá-la em Deus. A nova vida dá testemunho do poder transformador do Espírito Santo. As afeições mais calorosas e as melhores energias são dadas a Cristo, tanto nas pequenas como nas grandes coisas da vida. A vida produz os frutos do Espírito (Gl.5:22-23) e reflete o deleite da alma em fazer a vontade de Deus (Sl.1:2; Sl.119:97). O amor a Deus e aos semelhantes se torna o motivo dominante da vida, e a glória de Deus é o objetivo de todo pensamento e ação. Tal vida se torna cada vez mais sensível ao pecado, mais consciente da própria necessidade e mais disposta a depender da graça de Cristo.

2Co.5:16 16. Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo.

Conhecemos. Isto é, formamos uma opinião. No grego, a palavra “nós” é enfática. Paulo se contrasta com outros, possivelmente seus oponentes na igreja de Corinto, que enfatizavam a “letra” da lei e supervalorizavam as aparências (ver com. de 2Co.3:1-3; 2Co.4:18).

Segundo a carne. Paulo recusa avaliar as pessoas com base na aparência. Considerações como nacionalidade, linhagem, educação, cultura, riqueza e aprovação humana não são critérios pelos quais ele se propõe a julgar a humanidade (1Co.1:26; 2Co.1:17). É a “nova criatura” que conta (2Co.5:17). Paulo estima as pessoas sob o ponto de vista de Cristo, segundo o caráter e a atitude delas para com as coisas espirituais (ver Mt.5:19; Mt.7:20-27; Mt.12:46-50). Esse novo padrão para avaliar as pessoas é outro resultado da morte e da gloriosa ressurreição de Cristo. O cristão maduro vê cada pessoa como um pecador a ser salvo e restaurado à imagem de Deus e, desta forma, torna-se um candidato ao reino celestial. A aparência tem pouco valor, mas o coração muito (ver com. de 1Sm.16:7; 2Co.4:18). Sob esse ponto de vista, uma pessoa com grandes riquezas, pode ser extremamente pobre e outra, com muito conhecimento, pode ser ignorante (ver com. de Mt.6:19-34; 1Co.1:21-23; Cl.2:8).

Conhecemos Cristo. Antes da conversão, Paulo olhava a Cristo de um ponto de vista puramente humano, como um nazareno desprezado, um homem de nascimento humilde e sem educação formal, um necessitado e um impostor que havia sido rejeitado e crucificado. Ao longo dos séculos, milhares de pessoas com mente carnal têm cometido o mesmo engano. O nosso tempo está repleto de avaliações humanistas acerca de Cristo. Homens de saber discorrem sobre Ele como um mestre influente, filósofos O consideram como um oráculo da verdade e da sabedoria, sociólogos acreditam nEle como um poderoso reformador social, psicólogos O avaliam como um notável estudioso da natureza humana e teólogos O declaram como o principal dentre os fundadores do amplo mundo religioso. No entanto, para essas pessoas, Jesus é, no máximo, o maior, o mais sábio e o melhor dos grandes homens da história.

O universo acadêmico tem empregado esforço diligente para recriar o contexto histórico e cultural do Jesus humano, no entanto, tem negligenciado procurar arduamente por uma profunda apreciação da divindade de Seu papel como Salvador dos homens que estão em pecado. Ler a Bíblia como se leem outros livros é ver em Cristo nada mais que um homem como os demais. É possível conviver com os incidentes da vida de Jesus, formar um elevado conceito acerca dEle e construir um belo sistema de ética a partir de Seus ensinos e, ainda assim, deixar escapar as verdades mais importantes do evangelho. Carne e sangue não discernem nEle o divino-humano Filho de Deus e do homem (Mt.16:17). Apenas a percepção espiritual capacita a discernir as coisas espirituais (1Co.2:14). O ser humano que é novamente criado em Cristo (2Co.5:17) não minimiza o Cristo histórico; vai além desse conceito acerca dEle para exaltar esse humilde personagem como Senhor e Deus. Age dessa forma porque sua mente está iluminada pelo Espírito. “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1Co.12:3).

Já agora. Isto é, da época de sua conversão, quando seu ponto de vista foi mudado. Antes daquela época, ele via a Cristo e aos outros homens através dos estreitos olhos do judaísmo. Saulo não tinha visto “beleza” em Cristo que o levasse a “desejar” o Salvador (Is.53:2). O resultado inevitável tinha sido ódio por Jesus como o Messias e por Seus seguidores (At.8:3; At.9:1).

Não O conhecemos. Isto é, conforme o ponto de vista não regenerado que ele tinha antes da conversão. Paulo passou a conhecer por experiência pessoal, não apenas por ouvir dizer. Os oponentes de Paulo em Corinto reivindicavam mais autoridade e privilégio com base na associação com os apóstolos de Jerusalém e, talvez, até com Jesus. No entanto, a ênfase do conhecimento de Cristo “segundo a carne” leva as pessoas a exagerar a importância daquelas coisas sobre Ele que eram físicas e temporais, e a subordinar ou ignorar as mais elevadas verdades espirituais explícitas e implícitas na vida e nos ensinos dEle.

2Co.5:17 17. E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.

Em Cristo. Definição recorrente a de Paulo quanto ao que é ser um cristão. Quando se tornou cristão, Paulo foi batizado “em Cristo” (Rm.6:3), e a nova vida, a partir de então, é centrada em Cristo (Jo.15:3-7). Ele está unido a Cristo e sujeito a Sua vida, poder, influência e palavra. Toda a vida de Paulo se move numa esfera nova e espiritual. Não há exceção. Apenas “em Cristo” um pecador pode ser aceito por Deus (Fp.3:9) e amparado para viver uma nova vida (Jo.15:4-5; Gl.2:20). As alegrias e tristezas, os triunfos e os sofrimentos da vida estão todos “em Cristo” (Rm.14:17; Fp.3:9-10). Até a morte é roubada de seu aguilhão, porque os que “morrem no Senhor” são abençoados (Ap.14:13). O cristianismo eleva toda experiência e deveres humanos a um novo relacionamento designado pela expressão “em Cristo”.

Criatura. Do gr. ktisis, “criação”, “coisa criada”, “criatura”. Para uma pessoa ser constrangida pelo amor de Cristo a viver não mais para si e sim para Deus, a julgar as pessoas não mais pela aparência e sim pelo espírito, a conhecer Cristo segundo o espírito e não segundo a carne, essa pessoa deve passar pelo novo nascimento. Transformar um pecador perdido numa “nova criatura” exige a mesma energia criativa que gerou a vida (Jo.3:3; Jo.3:5; Rm.6:5-6; Ef.2:10; Cl.3:9-10). É um fenômeno sobrenatural, estranho à experiência humana normal; só possível a Deus. Essa nova natureza não é produto de virtude moral tida por alguns como inerente ao ser humano, e necessitando apenas de crescimento e expressão. Há milhares de pessoas com moralidade reconhecida que não professam ser cristãs, e que não são “novas” criaturas. A nova natureza não é meramente o produto de um desejo, ou mesmo de uma resolução de fazer o que é certo (Rm.7:15-18), de concordância mental com determinadas doutrinas, da troca de uma série de opiniões ou sentimentos por outros, ou mesmo de tristeza pelo pecado.

É resultado da presença de um elemento sobrenatural introduzido no ser humano, que resulta na morte para o pecado e em nascer de novo. Portanto, somos criados novamente à semelhança de Cristo, adotados como filhos e filhas de Deus e colocados num novo rumo (ver Ez.36:26-27; Jo.1:12-13; Jo.3:3-7; Jo.5:24; Ef.1:19; Ef.2:1; Ef.2:10; Ef.4:24; Tt.3:5; Tg.1:18). Assim, somos feitos participantes da natureza divina e a posse da vida eterna é concedida a nós (2Pe.1:4; 1Jo.5:11-12). O novo crente não nasce um cristão maduro, plenamente desenvolvido. Antes, ele passa pela inexperiência espiritual e a imaturidade da infância. No entanto, como filho de Deus, ele tem o privilégio e a oportunidade de crescer até a plena estatura de Cristo (ver com. de Mt.5:48; Ef.4:14-16; 2Pe.3:18).

Fizeram novas. Ver com. de Rm.6:4-6.

2Co.5:18 18. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação,

Tudo. Isto é, todas as “novas” coisas do v. 2Co.5:17, em particular, e assim também o novo ministério (2Co.3:6; 2Co.4:1) e o novo discernimento de caráter (2Co.5:16). Deus é a fonte de todas elas.

Reconciliação. Do gr. katallage, “trocar”, “reconciliação”, “restauração ao favor”. Em Rm.5:11, a mesma palavra é traduzida como “reconciliação” (ver com. ali). No NT, a palavra denota retorno ao favor divino (ver Rm.5:1; Rm.5:10; Cl.1:20). A ideia de reconciliação com Deus indica que, no passado, Deus e o ser humano desfrutavam um estado de companheirismo. Também indica que, hoje, há um estado de separação (Rm.8:7) e que Deus tomou a iniciativa de pôr fim a essa situação. Assim, o ser humano pode desfrutar novamente o companheirismo com Ele. A reconciliação não envolve mudança por parte de Deus, pois Ele nunca muda (Ml.3:6; Tg.1:17; Hb.13:8). Deus não precisa ser reconciliado com o ser humano; mas este precisa ser reconciliado com Ele (ver 2Co.5:18-20; Ef.2:16; Cl.1:20-21).

Nunca houve inimizade da parte de Deus. Às vezes, as pessoas percebem Deus como um juiz severo, irado com os pecadores, difícil de ser aplacado, impiedoso, pronto a condenar. Essa caracterização O deturpa e é uma afronta. Cristo não necessitava ir à cruz para acalmar a Deus, mas agiu dessa forma como demonstração de Seu amor. Deus não exigiu a morte de Seu Filho, mas O entregou com um coração cheio de amor infinito (Jo.3:16; 1Jo.4:9; ver com. de Rm.3:25). Por outro lado, Deus não pode anular Sua lei e impedir as consequências que seguem a violação, sem negar Seu próprio caráter, do qual a lei é uma expressão. Deus sempre odiou o pecado. Ele não pode, imparcialmente, tratar o bem e o mal da mesma forma. A expiação não modifica a lei, e sim a inimizade que resultou desta violação. A reconciliação remove a inimizade por meio do cumprimento das exigências da lei.

2Co.5:19 19. a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.

Deus estava em Cristo. Uma tradução mais clara do grego desta primeira frase seria: “Deus estava reconciliando o mundo consigo em Cristo [ou ‘por meio de Cristo’]”. As pessoas precisam compreender que, embora tenha sido o Filho quem morreu na cruz, Ele morreu como “o Cordeiro de Deus” (Jo.1:29).

Reconciliando consigo o mundo. A entrada do pecado colocou os seres humanos em inimizade com Deus, e o propósito de Cristo em vir ao mundo foi reconquistar a afeição e a lealdade dos seres humanos para com Deus.

Não imputando. Ou, “não considerando”, “não contando”. As transgressões são registradas, imputadas sobre quem as cometeu, mas a misericórdia e a justiça divinas encontraram um modo de tratar com os transgressores como se não fossem culpados. O pecado é um débito (Mt.6:12) para o qual o pecador deve prestar contas algum dia (Mt.25:19). No entanto, a vontade de Deus não imputa pecado aos que foram reconciliados com Ele por meio de Cristo (Sl.32:2).

Transgressões. Ver com. de Mt.6:14.

E nos confiou. Aqui está mais uma prova do amor de Deus e de Sua disposição para perdoar. A mensagem de reconciliação foi depositada, por assim dizer, na mente e no coração de todos os que a aceitaram, para ser entregue a outros.

Palavra. Ver com. de Jo.1:1.

2Co.5:20 20. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.

Somos embaixadores. Do gr. presbeuo, literalmente, “ser mais velho”, “ser um ancião”, ou “ser embaixador”. Essa palavra caracteriza o embaixador como alguém distinto pela dignidade e experiência e, portanto, revestido de autoridade. Os embaixadores em nome de Cristo alcançaram esse posto em virtude da ligação anterior com Ele e com a Sua causa (ver com. de At.14:23). São diferenciados pela fidelidade (1Co.4:1-2; 1Tm.1:12), pelo zelo, pela compreensão pessoal, pela experiência com as grandes verdades do evangelho e pela diligência no estudo, na oração, na conquista de almas e em edificar a igreja. Não há maior dignidade ou honra que ser um embaixador em nome de Cristo e do reino celestial.

Como se Deus. O embaixador em nome de Cristo é quem proclama “a palavra de reconciliação” (v. 2Co.5:19). Deus fala aos seres humanos por meio de Seus embaixadores, mesmo que tenha reconciliado o mundo consigo por meio de Cristo (sobre o interesse de Deus nos pecadores, ver Is.1:18; Je.44:4; Ez.33:11; Os.11:8).

Em nome de Cristo. Literalmente, “por Cristo”, ou seja, em favor de Cristo. O embaixador cristão de modo algum é um substituto de Cristo, é apenas aquele por meio de quem a reconciliação é efetuada. Ele não é, de modo algum, mediador sacerdotal, porque há “um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm.2:5). A reconciliação já foi preparada em Cristo. O ministro é apenas o agente por meio de quem “a palavra de reconciliação” (2Co.5:19) é proclamada a outros. Ele não é o criador ou distribuidor da reconciliação. O ministro dirige homens e mulheres à presença de Deus, na qual experimentam a reconciliação por si mesmos. A tarefa do ministro é fornecer às pessoas o que Deus preparou, a reconciliação em Cristo. Sendo assim, cada crente se aproxima diretamente de Deus (Rm.5:1; Ef.2:13; Ef.2:16-18; Ef.3:12; Hb.4:14-16).

Que vos reconcilieis. Deus é o autor e aquele que oferece a reconciliação. Os seres humanos são os receptores. Os seres humanos não podem se reconciliar com Deus por meio da lamentação pelos pecados do passado, por realizar serviço penoso ou por praticar determinadas cerimônias. Eles recebem a reconciliação pelo arrependimento dos pecados e pela aceitação do dom da misericórdia divina.

2Co.5:21 21. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.

Não conheceu pecado. É um mistério insondável o fato de que Jesus viria a este mundo como ser humano e “em todas as coisas” seria “tentado [...), à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb.4:15). Ele nunca cometeu pecado em palavras, pensamentos ou atos. Ao longo da vida, manteve-Se afastado do pecado, em todos os sentidos. Viveu uma vida santa, imaculada e pura, consciente de estar em harmonia com a vontade do Pai (Jo.8:46; Jo.14:30; Jo.15:10; Hb.7:26; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51; ver com. de Lc.2:52). Cristo, o imaculado, tomou a humanidade pecadora em Seu coração amoroso e experimentou as tentações que nos assediam, sem ser vencido por elas no menor grau. Ele “identificou-Se com os pecadores” (DTN, 111). Quando, sobre a cruz, chegou a hora para a qual viera ao mundo (Jo.8:20; Jo.12:23; Jo.12:27; Jo.13:1; Jo.17:1; Jo.18:37), foi “oferecido [...] para tirar os pecados de muitos” (Hb.9:28) e se tornou o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo.1:29). A culpa dos pecados do mundo foi-Lhe imputada como se fosse Sua (Is.53:3-6; 1Pe.2:22-24). “Com malfeitores foi contado” (Mc.15:28). Cristo Se identificou com o pecado; tomou-o sobre Si num sentido real e sentiu o horror da separação de Deus.

Ele O fez pecado. Isto é, Deus O tratou como se fosse um pecador, o que Ele não era (ver DTN, 25). As verdades declaradas no v. 21 estão entre as mais profundas e significativas em toda a Bíblia. Este versículo resume o plano da salvação, declarando a absoluta impecabilidade de Cristo, a natureza vicária de Seu sacrifício e a libertação do pecado ao ser humano por meio dEle (ver com. de Jo.3:16).

Justiça de Deus. Ver com. de Rm.5:19. Como nossos pecados foram imputados a Cristo, como se fossem Seus, assim também Sua justiça é imputada a nós, como se fosse nossa.

2Co.6:1 1. E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus

Cooperadores com Ele. O princípio da cooperação é vital ao desempenho espiritual pessoal e ao sucesso no serviço cristão. Deus não dispensa o auxílio humano (DTN, 535). A capacidade humana para o bem depende da medida de sua cooperação com o divino (Jo.5:19; Jo.5:30; DTN, 297). Os ministros cristãos e os colaboradores não devem tentar trabalhar por sua própria força ou sabedoria, e Deus não os deixa entregues a si mesmos, à sua própria sorte, ou a seus próprios recursos. Essa cooperação entre Cristo e Seus embaixadores deve ser íntima e contínua para que sejam “habilitados a realizar os feitos da Onipotência’’ (DTN, 827). Cristo é mais que um observador; é um companheiro ativo em tudo o que eles fizerem (Fp.2:12-13; Hb.1:14).

Recebais. Do gr. dechomai, neste versículo, “receber favoravelmente”, “aprovar”, “aceitar”. É possível concordar mentalmente com a graça de Deus e não ser beneficiado por ela. Cristo ilustrou essa verdade com as sementes que caíram em solo rochoso e entre espinhos (ver com. de Mt.13:5-7). Embora os coríntios tenham respondido às primeiras exortações de Paulo e tenham se reconciliado com Deus, isso não bastava. A obra da salvação deles, individualmente, ainda não estava completa. A vida cristã apenas se inicia quando os seres humanos são reconciliados com Deus e entram num novo relacionamento com Ele. É verdade que, no momento da reconciliação, eles estão numa situação segura. Permanecem justificados pela graça de Deus. No entanto, o evangelho de Cristo inclui muito mais que o perdão dos pecados passados; prevê também a transformação do caráter, cuja meta é uma vida em que o pecado não mais tome parte (ver com. de Rm.6:5-16; 2Co.1:22; 2Co.3:18). O recebimento inicial da graça de Deus, que justifica, deve ser seguido de um contínuo recebimento de graça, que produz santificação.

Em vão. Isto é, sem ter servido a qualquer propósito útil (Is.55:10-11). O importante é a maneira como o ser humano recebe a graça, e como continua a recebê-la (ver com. de Mt.13:23; At.2:41). A graça de Deus é recebida em vão: 1. Quando é negligenciada. A negligência persistente pode ensurdecer o coração para não ouvir a voz de Deus. Um mapa tem pouca utilidade para uma pessoa que avança no percurso sem estudá-lo e sem seguir suas instruções. 2. Quando é pervertida ao usá-la como uma capa para o pecado (Rm.6:1; Rm.6:15). O argumento antibíblico de que a graça de Deus anula Sua lei (ver com. de Rm.3:31) é promovido por alguns como uma desculpa para fazer o que lhes agrada, em vez de obedecer a Deus (ver Hb.10:29). 3. Quando é adulterada com ideias e métodos humanos. O ser humano recebe a graça de Deus em vão quando busca ganhar mérito diante de Deus, por meio de um legalismo meticuloso (Rm.6:14-15; Gl.2:21; Gl.5:4; Ef.2:8-9). 4. Quando é recebida apenas pelo intelecto e não é levada para a vida. Isto é, quando não purifica o coração nem leva à plena e pronta obediência à Palavra de Deus. Entendimento sem aplicação é como estudar química alimentar e não se alimentar direito (Mt.7:20-24). Se não há avanço para além do primeiro passo da justificação, a graça de Deus foi recebida em vão. Não serve a propósito algum. Algumas vezes, é necessário ativar um motor para iniciar o funcionamento, mas essa ativação não é um fim em si mesma. Da mesma forma, Deus concede graça para justificar o pecador arrependido, apenas para colocá-lo numa situação em que possa receber graça continuamente para viver acima do pecado. Justificação pela graça é o início da vida cristã.

Graça. Ver com. de Rm.3:24.

2Co.6:2 2. (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação);

Eu te ouvi. Este versículo é um comentário parentético sobre o recebimento da graça divina (v. 2Co.6:1). Faz um apelo urgente aos seres humanos para buscar reconciliação com Deus, a fim de que não recebam a graça de Deus em vão. A citação é originada da LXX, de Is.49:8 (ver com. ali). Isaías aguarda com expectativa o “dia da salvação” como o tempo do Messias. Paulo reconhece que a profecia foi cumprida em Cristo. A primeira vinda de Cristo inaugurou uma era favorável à salvação (ver DTN, 37). Enquanto Cristo interceder pelos pecadores, o “dia da salvação” continuará.

Socorri. Isto é, auxiliei.

Dia da salvação. Isto é, o tempo durante o qual se prolonga a luz da graça (ver Jo.12:35). Por fim, o dia da misericórdia findará e, quando isto acontecer, não haverá segunda chance para aqueles que têm desdenhado a graça de Deus. Os seres humanos procrastinam com frequência porque pensam que o dia da salvação perdurará indefinidamente, que as questões materiais são de primeira importância, que o prazer deve ser perseguido e que será mais fácil se arrepender amanhã do que hoje. Eles esquecem que o único tempo que a humanidade tem para salvação e vitória sobre o pecado é o momento atual e que a vitória postergada se torna em derrota. A demora é insensata e perigosa. A vida pode ser encurtada; a deterioração da mente e do corpo pode dificultar ou impossibilitar a atenção às coisas espirituais. O coração pode ser fatalmente endurecido e perder-se o desejo pela salvação; o Espírito Santo pode parar de interceder. A procrastinação é, em última análise, equivalente à rejeição.

Tempo sobremodo oportuno. Isto é, um tempo quando os pecadores arrependidos serão recebidos (ver com. de Is.49:8).

2Co.6:3 3. não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado.

Escândalo. Literalmente, “uma ocasião para tropeço”. Paulo aspira a conduzir seu ministério (cf. v. 2Co.6:1) de modo que ninguém tenha desculpas para rejeitar a graça de Deus. Portanto, é imperativo que sua vida esteja em plena harmonia com o evangelho que prega. Nos v. 3 a 10, Paulo alista evidências de que sua vida está em harmonia com sua mensagem. Ele não deu motivo para que os coríntios o censurassem como um ministro.

Ministério. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “nosso ministério”. Neste versículo, Paulo fala de seu próprio serviço como um embaixador de Cristo. Ele sofre, trabalha, estuda e ministra a palavra para não dar qualquer motivo para escândalo (1Co.8:13; 1Co.10:32-33; Fp.2:15; 1Ts.2:10; 1Ts.5:22; Mt.10:16). Ainda assim, houve vários em Corinto que se escandalizaram. Seria, talvez, impossível pregar e agir de modo que ninguém se escandalizasse. Para alguns, até mesmo a verdade e a santidade escandalizavam. As pessoas que ouviam Jesus se escandalizavam dEle (Jo.6:60-61; Jo.6:66). Para outros, qualquer advertência contra o pecado ou o erro escandalizava.

No entanto, para os verdadeiros cristãos, o embaixador do evangelho não escandalizará ao repreendê-los por manifestações de orgulho, irreverência, indiferença, hábitos ou práticas questionáveis, grosseria ou vulgaridade. Tanto quanto possível, o ministro do evangelho deve ter “paz com todos os homens” (Rm.12:18), contudo, Jesus e Paulo despertaram inimizade por onde passaram. Jesus afirmou “não vim trazer paz, mas espada” (Mt.10:34), e alertou que os “inimigos do homem serão os da sua própria casa” (v. Mt.10:36). Nenhum cristão teve mais inimigos que Cristo, e Seus discípulos foram acusados de ter “transtornado o mundo” (At.17:6). Em todas as épocas, os servos de Deus têm se deparado com conflitos inevitáveis. A virtude cristã e o padrão de justiça de Deus normalmente se interpõem no caminho dos prazeres pecaminosos das pessoas, e os ímpios são inclinados a acusar como perturbadores aqueles que proferem uma advertência contra seus maus caminhos. Nenhum ministro pode esperar pregar a mensagem fielmente sem escandalizar pessoas cujas vidas se demonstram erradas.

2Co.6:4 4. Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias,

Recomendando-nos. Paulo novamente retoma o problema da recomendação, ao qual se refere frequentemente nesta carta (2Co.3:1-3; 2Co.4:2; 2Co.5:12; 2Co.10:12-13; 2Co.10:17-18). Ele tem procurado fazer uma distinção clara entre o tipo correto de recomendação e o que é falso. Em 2Co.6:3-10 Paulo recomenda seu próprio ministério, apontando sua conduta pessoal e sua vida de trabalho e sofrimento por Cristo. A verdadeira recomendação consiste em obras, não em palavras.

Paciência. Do gr. hupomone, “firmeza”, “constância”, “tolerância”, “espera paciente” (Lc.8:15; Lc.21:19).

Aflições. Do gr. thlipsis, “opressão”, “angústia”, “severidade”, literalmente, “pressionar”, “pressões” (2Co.1:4; 2Co.1:8; 2Co.2:4; 2Co.4:17).

Privações. Do gr. anagkai, “calamidades”, literalmente, “pressionar firme”.

Angústias. Do gr. stenochoriai, “terríveis calamidades”, “aflições extremas”, literalmente, “espaços estreitos”. Esta palavra representa uma situação de necessidade extrema e urgente, em que alguém é encurralado, por assim dizer, sem conseguir se movimentar. Paulo se refere à extrema dificuldade e a situações impossíveis como as que os israelitas enfrentaram no Mar Vermelho (Ex.14:1-12).

2Co.6:5 5. nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,

Açoites. Ou, “golpes”, “espancamentos” (ver com. de Mt.10:17; 2Co.11:24-25).

Tumultos. Do gr. akatastasiai, “desordens”, “perturbações”, “confusão”. A mesma palavra é traduzida como “revoluções” (Lc.21:9). Paulo e seus companheiros eram frequentemente objeto desses “tumultos”) e normalmente eram acusados de iniciá-los. Sob tais circunstâncias, os apóstolos estavam em extremo perigo. Experiências dessa natureza ocorreram em várias localidades: Antioquia, na Pisídia (At.13:50), Listra (At.14:8-19), Tessalônica (At.17:5), Corinto (At.18:12), Éfeso (At.19:23-41) e Jerusalém (At.21:28-31; At.23:7-10).

Trabalhos. Possivelmente, uma referência à labuta de Paulo na fabricação de tendas e os labores que faziam parte de seu ministério (1Co.3:8; 1Co.4:12; 1Co.15:58; 1Ts.2:9; 2Ts.3:8).

Vigílias. Ou, “insônias” (At.16:24-25; At.20:7; At.20:31).

Jejuns. Possivelmente, inclui tanto a abstinência voluntária de alimento (At.9:9; At.13:2; At.14:23) quanto a fome que resultava de pobreza ou de outras circunstâncias (2Co.11:9; 2Co.11:27; Fp.4:10-12).

2Co.6:6 6. na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido,

Pureza. Até este ponto, Paulo alistou as dificuldades presentes em seu ministério (2Co.4:8-11; 2Co.11:23-27). Então, ele apresenta essas qualidades espirituais e morais positivas que caracterizam a vida do ministro cristão, em especial, e validam sua comissão como embaixador de Cristo. Esses traços positivos o capacitam a enfrentar os insultos, a perseguição e a privação que as circunstâncias lhe impõem. Pela graça de Deus, essas experiências amadurecem, enobrecem e refinam o caráter. Aqui, Paulo se refere tanto aos motivos puros como à conduta pura, para a pureza da mente e do corpo. A pureza é o principal requisito de um ministério irrepreensível (2Co.11:2; 1Ts.2:10; 1Pe.3:2; 1Jo.3:3; ver com. de Mt.5:8).

Saber. Isto é, do reino celestial, inclusive todo o âmbito da verdade divina revelada na Bíblia. A verdadeira religião não prospera num regime de ignorância. Uma das mais solenes tarefas incumbidas a cada cristão é obter um claro e abrangente discernimento do evangelho, como apresentado no Livro de Deus (ver com. de Lc.1:77; Lc.11:52; 1Co.1:5).

Longanimidade. Do gr. makrothumia, “paciência”, “perseverança”, “firmeza”, “tolerância”. A natureza da longanimidade capacita o ministro a ser paciente com as faltas, falhas e apatia verificadas algumas vezes nos futuros conversos e, com frequência, naqueles que se opõem à verdade.

Bondade. Do gr. chrestotes, “bondade moral”, “integridade”, “amabilidade” (ver com. de Rm.3:12). O conhecimento, por si só, leva ao orgulho e à intolerância (1Co.8:1-3). Muitos professos cristãos que afirmam conhecer a verdade acham difícil defender a fé, se não for por meio de argumentos impetuosos. Não conseguem falar da verdade sem se irar com aqueles que discordam dela. O ministro cristão, principalmente, precisa vigiar diante dessa tendência anticristã. Especialmente, em meio à perseguição, sob falsa acusação ou quando seus conversos parecem não gostar dele como deveriam, o ministro deve vigiar atentamente seu espírito.

No Espírito Santo. O Espírito é o agente no cultivo de todas essas virtudes (Gl.5:22-23). É possível exibir esses traços em certo grau, superficialmente, independente do Espírito Santo, mas nunca em sua plenitude.

Amor. Do gr. agape (ver com. de Mt.5:43-44). A característica culminante do ministro do evangelho é este principal fruto do Espírito (ver com. de 1Co.13; sobre a expressão “amor não fingido”, ver com. de Rm.12:9). Sem essa qualidade, o embaixador de Cristo se torna rígido, autocomplacente e censurador. Pureza e poder são inalcançáveis sem amor.

2Co.6:7 7. na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas;

Verdade. Ver com. de Jo.1:14; Jo.8:32. Nenhuma exigência adicional é feita ao ministro senão a proclamação da verdade sem diminuição ou acréscimo. Ser a personificação da verdade, na vida, na palavra e nas obras constitui o teste final da autenticidade. O Senhor é o Deus da verdade (SI.31:5; Je.10:10), e a verdade é eterna como Ele é eterno (SI.100:5; Sl.146:6). Cristo encarnado foi a revelação da verdade completa e perfeita (Jo.14:6). A verdade deve ser buscada diligentemente e transformada num meio de regeneração (Tg.1:18), de santificação (Jo.17:17) e num modelo para conduta diária (3Jo.1:3-4). A verdade é de pouco valor quando recebida apenas como um conceito intelectual (Jo.3:21; 1Jo.1:6), porque a sincera aceitação da verdade significa completa obediência a toda a vontade de Deus revelada. Possuir e praticar a verdade são marcas de um verdadeiro cristão (ver com. de Mt.7:21-27).

Poder. Do gr. dynamis, “força”, “habilidade”, “poder inerente”. A verdade e o poder se complementam. A verdade de Deus sem Seu poder não tem valor prático. O poder, sem a verdade, conduz à opressão. Verdade e poder são provenientes de Deus, e ambos devem estar sob o controle do amor (ver com. de 2Co.5:14). A única autoridade válida para a crença religiosa é a verdade como apresentada na Palavra de Deus, aplicada à vida pelo poder de Deus e mantida sob o controle de Seu amor.

Armas da justiça. Paulo utiliza a imagem da guerra para descrever a vida cristã (Ef.6:11-17). Ser revestido com a armadura de Cristo é ser revestido com Sua justiça.

2Co.6:8 8. por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros;

Por honra e por desonra. Os v. 8 a 10 apresentam uma série de paralelos contrastantes (2Co.4:8-10). Quase todas essas experiências sobrevieram a Paulo em conexão com a recente crise na igreja de Corinto. Sua reação a essas novas circunstâncias o recomenda como ministro do evangelho. Ele permaneceu paciente e corajoso, e o bem sempre surgiu como consequência. Por um lado, ele foi honrado pelos homens (Gl.4:14); por outro, desonrado e desacreditado (1Co.4:11-13). No entanto, sempre respondia no espírito de Cristo e em harmonia com Seus mandamentos (Mt.5:38-42; Lc.6:22; Lc.10:16; Cl.1:10). Os falsos apóstolos de Corinto falavam mal dele. Ainda havia alguns que desprezavam a pregação e o ministério de Paulo e o declaravam um impostor (2Co.2:17; 2Co.4:2; ver com. de 2Co.11:22). Para Paulo, essa situação apenas possibilitava uma oportunidade para se associar a Cristo em Seus sofrimentos (Fp.3:10; Mt.5:11; 1Pe.4:14). Paulo e seus companheiros não provocaram desprazer ao demonstrar ressentimento ou exaltação própria.

2Co.6:9 9. como desconhecidos e, entretanto, bem-conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos;

Como desconhecidos. Paulo se refere a sua criticada falta de credenciais (2Co.3:2). Em contraste, os judaizantes (ver com. de 2Co.11:22) se consideravam pessoas de destaque. Do mesmo modo, o mundo não conheceu o Senhor (Jo.1:10). Até Seus irmãos não O reconheceram. Seus concidadãos O conheciam apenas como “o filho do carpinteiro” (Mt.13:55). A cegueira espiritual escondeu o Jesus real das vistas de Sua geração. Assim ocorre com os cristãos em todas as eras (Jo.16:33; 1Jo.3:1; 1Jo.3:13). O mundo consagra grandeza e poder com base em linhagem, riqueza, grandeza intelectual e posição, no entanto, grandeza baseada em santidade e humildade recebe pouco reconhecimento. Os cristãos devem estar preparados para calúnias, compreensão errônea, desprezo e perseguição porque a vida, a experiência, os princípios, as ambições e as esperanças deles não têm sentido para o homem natural (1Co.2:14).

Bem conhecidos. Isto é, reconhecidos e respeitados por pessoas sinceras.

Como se estivéssemos morrendo. Sob o ponto de vista secular, Paulo talvez estivesse a ponto de morrer. No entanto, sob o ponto de vista espiritual, ele tinha posse da vida eterna (1Jo.5:11-12). Seus sofrimentos se afiguravam à obscurecida visão dos oponentes como evidência de castigo e desprazer de Deus. Mas, na visão espiritual, Paulo desfrutava do companheirismo com Cristo em seus sofrimentos (Fp.3:10) e distinguia evidências do grande amor de Deus por ele (1Co.11:32; Hb.12:6; Ap.3:19).

Castigados. Ou, “punidos” (ver com. de 2Co.4:9).

2Co.6:10 10. entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.

Entristecidos. Paulo parece ter motivos suficientes para muita melancolia. Para ele, no entanto, tristeza e alegria não são alternativas mutuamente excludentes, porque ele sabe como estar agradecido em meio à tribulação. Ele se alegra na orientação providencial de Deus, mesmo quando tem motivo para tristeza. Essa atitude reflete a mente de Cristo (Rm.12:12; Fp.4:4; Fp.4:11; Hb.2:10-18). O cristianismo não apenas sustenta o crente nos momentos de provação, mas transmite o espírito de alegre triunfo e preenche a mente com segurança e esperança (Is.61:3). O espírito de triunfo de Paulo é talvez mais bem apresentado na epístola aos Filipenses, cuja palavra chave é “regozijar”. Quando escreveu essa epístola, Paulo estava preso, desamparado, sozinho e corria risco de execução imediata. O verdadeiro cristão pode sempre se regozijar numa boa consciência, numa mente nobre e pura, no favor divino e na salvação de seus semelhantes (Hb.12:2). Paulo aprendeu a estar contente, não importava o que fosse chamado a enfrentar (Fp.4:11). Uma vida de contentamento e alegria é o patrimônio inalienável do cristão. Ser libertado do poder do pecado e das mãos de Satanás, ser “mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm.8:37), ser salvo “totalmente” (Hb.7:25), tudo isso é motivo suficiente para uma vida de alegria e felicidade.

Pobres. Isto é, “pobres de espírito” (ver com. de Mt.5:3). Do ponto de vista secular, Paulo, na verdade, era pobre. Mas, do ponto de vista espiritual, ele era rico. Ele sofreu a perda de todas as coisas (1Co.4:11; Fp.3:7-8; Fp.4:12). Geralmente tem sido a escolha e condição dos cristãos permanecer pobres em coisas materiais. Os crentes em Jerusalém renunciaram voluntariamente a riqueza terrena (At.2:44-45; At.3:6; At.5:1-3). A vida não pode ser estimada pelas aparências. No que diz respeito ao reino de Deus, as coisas não são o que parecem. As pessoas se tornam verdadeiramente ricas, não por guardar, mas por doar (ver com. de Pv.11:24). Elas se enriquecem com as inescrutáveis riquezas de Cristo (Is.55:1-2; At.20:35; 2Co.8:9; Ef.3:8; 1Tm.6:18) e ao outorgar bênçãos celestiais aos outros (Is.58:6-14).

Possuindo tudo. Em Cristo, o crente se torna herdeiro e possuidor de todas as coisas (Mt.5:5; Mt.16:25; Mt.19:29; Mc.10:28-30; Rm.8:17; 1Co.3:21-23; Ap.3:21). O evangelho enriquece pessoas com nobres pensamentos, propósitos elevados, esperanças, comunhão divina, pureza de coração, equilíbrio e com a capacidade de desfrutar tudo que Deus fez (ver com. de Mt.6:24-34).

2Co.6:11 11. Para vós outros, ó coríntios, abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nosso coração.

Ó coríntios. Apenas neste versículo, nas duas cartas, Paulo se dirige aos coríntios especificamente. Paulo apela que retribuam seu amor e o tratem como ele os trata.

Abrem-se os nossos lábios. Paulo não retém nada dos coríntios. Ele diz o que tinha para falar, para que eles conheçam os fatos.

Nosso coração. Em todas as relações com eles, em suas exortações e reprovações, diante dos problemas e da crítica, Paulo falava ousadamente da abundância de seu coração. Em nenhum momento até então, Paulo evitou expressar seus pensamentos e sentimentos íntimos aos coríntios. Durante todo o tempo ele falou abertamente e sem reservas; não reteve nada (Mt.12:34; Rm.10:10). Seu coração sempre esteve repleto de amor por eles e, mesmo naquele momento, o apóstolo ansiava pela resposta afetuosa deles. Paulo recebeu todas as críticas no espírito de Cristo, com grandeza de coração.

2Co.6:12 12. Não tendes limites em nós; mas estais limitados em vossos próprios afetos.

Limites. Ou, “restritos”, “confinados num lugar estreito”, “compactado”. O amor de Paulo por eles de modo algum estava restringido. Se houve uma falta de compreensão empática, não foi da parte de Paulo. Os coríntios não tinham um lugar estreito no coração do apóstolo, mas alguns deles tinham um espaço restrito para ele em suas afeições.

Afetos. Ou, entranhas (KJV). Isto é, o coração, os pulmões, o fígado, o intestino grosso; etc. Essa parte do corpo era considerada pelos antigos como o centro das afeições (Fp.1:8; Fp.2:1). Qualquer coisa desagradável e indesejável que tenha ocorrido nas relações entre Paulo e os coríntios, não era guardada no coração de Paulo nem de seus companheiros.

2Co.6:13 13. Ora, como justa retribuição (falo-vos como a filhos), dilatai-vos também vós.

Como justa retribuição. Paulo considera os crentes coríntios como filhos espirituais (1Co.4:14-15) e, como pai espiritual, ele derramou sobre eles a plenitude do amor paternal. Em contrapartida, o apóstolo anseia o amor dos coríntios. Os coríntios não alargarão o coração o bastante para abrir espaço para Paulo? Fazer isso solucionaria todos os problemas e removeria todos os maus sentimentos entre eles (Gl.4:12; 1Ts.2:11).

2Co.6:14 14. Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?

Não vos ponhais. Literalmente, “não se tornem”. De 2 Coríntios 6:14 a 7:1 há um extenso parêntese, como ocorre frequentemente nos escritos de Paulo. Este trecho da carta consiste de uma advertência contra qualquer tipo de associação com descrentes que possa colocar os cristãos em situações nas quais seja difícil ou impossível evitar fazer concessões espirituais. Essa proibição inclui o relacionamento conjugal (ver com. de 2Co.7:1), mas não se restringe a ele. A advertência desta passagem parentética foi sugerida à mente de Paulo por seu conselho de não ter coração estreito e exclusivista (2Co.6:12-13). Se assim for, seu propósito não era dar razão aos coríntios para concluir que deveriam ser de coração grande para entrar em íntima associação com descrentes. O fato de o v. 14 se iniciar com a expressão “não vos ponhais” indica que Paulo estava pensando principalmente no futuro, não no passado.

Jugo desigual. Do gr. heterozugeo, “jugo em parceria desigual”. O prefixo hetero, neste versículo, denota pessoas de uma condição diferente (cf. com. de Mt.6:24). Uma vez que Paulo se dirige aos membros da igreja de Corinto como cristãos, as outras pessoas mencionadas não seriam cristãs. O princípio declarado aqui é semelhante ao de outras passagens (Ex.34:16; Dt.7:1-3; Lv.19:19; Dt.22:10; Fp.4:3). A diferença em ideais e conduta entre cristãos e não cristãos é tão grande que, ao entrar em qualquer relacionamento (casamento ou negócios), os cristãos são confrontados com situações em que têm de abandonar princípios ou enfrentar dificuldades. Entrar em tal união é desobedecer a Deus e negociar com o diabo. A separação do pecado e dos pecadores é apresentada em todas as Escrituras (Lv.20:24; Nm.6:3; Hb.7:26). Nenhum outro princípio tem sido mais rigorosamente ordenado por Deus. Por toda a história do povo de Deus, a violação desse princípio tem, inevitavelmente, resultado em desastre espiritual.

Com os incrédulos. Para os que não aceitam Cristo como salvador, nem Seus ensinos, como padrão de crença e conduta, os ideais, princípios e a prática do cristianismo são loucura (1Co.1:18). Em razão de sua perspectiva da vida, os descrentes normalmente acham difícil tolerar um padrão de conduta que tende a restringir seu modo de viver, ou que indique que seus conceitos e práticas são maus ou inferiores. Paulo não proíbe toda a associação com descrentes, mas apenas a associação que teria a tendência de diminuir o amor do cristão por Deus, adulterar a pureza de sua perspectiva de vida ou levá-lo a se desviar de seu padrão de conduta. Os cristãos não devem se esquivar de seus parentes e amigos, mas se associar com eles como exemplos vivos do cristianismo posto em prática e, assim, ganhá-los para Cristo (1Co.5:9-10; 1Co.7:12; 1Co.10:27). A questão decisiva é: O cristão escolhe se associar com o descrente por causa da inclinação para os caminhos do mundo ou por causa de um sincero desejo de ser uma bênção ao descrente e conquistá-lo para Cristo?

Uma segunda questão, não de menor importância para o próprio cristão é: Que influência prevalecerá, a de Cristo ou a do maligno? Quando se trata de um relacionamento de vinculação como o casamento, o cristão que verdadeiramente ama o Senhor de modo algum se unirá a um descrente, mesmo na piedosa ou louvável esperança de conquistá-lo para Cristo. Quase sem exceção, o desapontamento é o resultado de uma ação contrária ao sábio conselho apresentado pelo apóstolo neste versículo. Aqueles que escolherem prestar atenção a esse conselho poderão esperar, de modo especial, desfrutar o favor divino e descobrirão que Deus tem algo reservado para eles, que ultrapassa, em muito, quaisquer planos humanos.

Que sociedade [...]? Por meio de uma série de cinco perguntas retóricas (v. 14-16), Paulo contrasta a irreconciliável e mutuamente exclusiva oposição entre o jugo de Cristo e o do mundo. Toda união em que o caráter, as crenças e os interesses do cristão perdem algo de sua distinção e integridade é proibida. O cristão não pode se dar ao luxo de entrar em uma ligação que exija concessões. A linha demarcatória está claramente definida entre (1) justiça e injustiça, (2) luz e trevas, (3) Cristo e Satanás, (4) fé e infidelidade, (5) o templo de Deus e o templo dos ídolos.

2Co.6:15 15. Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?

Harmonia. Do gr. symphonesis, “harmonia”, “concordância” (sobre a palavra relacionada, symphonia, ver com. de Lc.15:25). Entre Cristo e Satanás há desacordo total.

Maligno. Do gr. belial, transliteração do heb. beliya’al, “o imprestável” (ver com. de Dt.13:13; Jz.19:22; 1Sm.2:12). No entanto, evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante beliar. A variante belial ocorre apenas em poucos manuscritos posteriores e entrou na KJV, pela Vulgata latina. Neste versículo, a palavra é uma personificação para Satanás, representando a inutilidade e o vazio das coisas por meio das quais ele tenta atrair e seduzir as pessoas ao pecado. A palavra também é utilizada para os seguidores de Satanás (Dt.15:9; 1Sm.25:25; 1Sm.30:22; SI.41:8). Cristo e Belial são líderes oponentes no grande conflito entre a justiça e a injustiça (Ap.12:7-9; Ap.20:7-9). O pecado não é abstrato. Por trás de tudo o que é verdadeiro, santo e justo estão as forças sobrenaturais do universo, conduzidas por Cristo. Por trás de tudo o que é mau e desprezível estão as forças sobrenaturais das trevas, conduzidas por Satanás.

Todo o mundo está alinhado atrás de um ou outro líder (1Pe.5:8-9; Ap.12:11). A escolha humana entre esses dois governantes deve ser clara e decidida. Cristo é o príncipe da luz (Jo.1:9; Jo.8:12). Seus seguidores são chamados de filhos da luz (Mt.5:14; Jo.12:36; Ef.5:8). Eles caminham na luz e o destino deles é a cidade de luz, na qual não há trevas (Jo.12:35-36; 1Ts.5:4-5; 1Jo.1:5-7; Ap.22:5). Satanás é o príncipe das trevas (Cl.1:13). Seus seguidores são os filhos das trevas (Jo.3:19; Ef.5:11). Eles caminham nas trevas, e seu destino é a escuridão eterna (Mt.22:13; Mt.25:30; 2Pe.2:17; 1Jo.1:6; Jd.1:13).

2Co.6:16 16. Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

Ligação. Ou, “concordar”, “consentir” (Lc.23:51). Não pode haver aliança entre Cristo e Satanás, entre o verdadeiro Deus e os falsos deuses, entre o cristianismo e o paganismo. Paulo declara que uma aliança entre crentes e descrentes é igualmente inconcebível.

Nós somos santuário. Ver com. de 1Co.3:16-17; 1Co.6:19-20.

Habitarei. Citando Lv.26:11-12, Paulo traça uma analogia entre o templo judeu e a igreja cristã. O templo de Jerusalém, construído para a glória de Yahweh, foi honrado pela glória de Sua presença no shekinah; foi Seu local de habitação (1Rs.6:12-13; Ex.25:8; Ex.29:43-45; Hb.8:1-2). A igreja é composta daqueles que nasceram em Cristo (Hb.3:6; Hb.12:23). Eles constituem o corpo de Cristo (Cl.1:24), que é a cabeça (Ef.1:22). Ele planejou habitar neles como habitou no templo de Jerusalém (1Co.3:16-17; 1Co.6:19-20). No entanto, como Ele pode habitar neles se estavam em “ligação” com os ídolos?

Serei o seu Deus. Esta fórmula, “serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo”, ocorre frequentemente em todo o AT e constitui uma declaração do relacionamento de aliança que Deus tinha com Israel na antiguidade (ver com. de Os.1:9-10) e que planeja ter com Seu povo.

2Co.6:17 17. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei,

Por isso, retirai-vos. Neste versículo, Paulo combina várias passagens do AT (Is.52:11-12; Je.51:6; Je.51:45). A referência histórica é a retirada dos israelitas cativos da antiga Babilônia, que Paulo menciona neste versículo como uma ilustração da separação do povo de Deus do mundo e da Babilônia espiritual (ver com. de Ap.18:4). Após retornarem do cativeiro, os judeus foram encarregados de não levar qualquer coisa que tivesse relação com a idolatria pagã. De modo semelhante, o Israel espiritual é ordenado a “não tocar nas coisas impuras” (ver com. de Is.52:11-12).

2Co.6:18 18. serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.

Pai. O versículo se baseia em outras ideias mosaicas coletadas de diferentes passagens do AT (2Sm.7:8; 2Sm.7:14; Is.43:6; Je.31:9; 2Co.6:18; ver com. de Mt.6:9).

Filhos e filhas. O direito especial de se tornar filhas e filhos adotados de Deus é o supremo privilégio que Ele concede aos que são nascidos do Espírito (ver com. de Jo.1:12-13; Jo.3:3; Jo.3:5; 1Jo.3:1-2). Deus, neste versículo, promete desempenhar o papel de um pai para aqueles que se tornaram Seus filhos, ser o provedor, o protetor, o conselheiro, o guia e o libertador. Embora os seres humanos se tornem filhos de Deus por adoção, o mesmo processo também é mencionado quanto ao novo nascimento (Jo.1:12-13; Jo.3:3; Jo.3:5). Em consequência da fé dos crentes em Cristo, a operação sobrenatural do Espírito de Deus gera nova vida espiritual, que torna o ser humano um filho de Deus. Esse relacionamento Pai-filho é tão real e vital como o relacionamento humano utilizado para ilustrá-lo. Na vida de Jesus como o Filho de Deus, temos um perfeito exemplo do relacionamento que é nosso privilégio ter como filhos do Pai celestial (ver com. de Lc.2:49; Jo.1:14; Jo.4:34; Jo.8:29). A chave para esse relacionamento é o amor, e seu resultado é confiança e obediência. A qualidade essencial da paternidade é a autoridade amorosa, como a qualidade essencial da filiação é confiança e obediência. Sem essas qualidades não pode existir um verdadeiro relacionamento entre pai e filho (Rm.8:9-10; 2Co.7:1; 1Jo.1:1-7). Deus planejou que fosse uma realidade na vida de cada cristão.

Todo-Poderoso. Titulação divina utilizada também neste versículo e frequentemente no livro de Apocalipse (Ap.1:8). O título enfatiza a certeza e a grandeza da promessa de 2Co.6:17-18 (comparar com o equivalente hebraico, ver vol. 1, p. 149). Em 2Co.7:1, conclui-se o raciocínio iniciado em 2Co.6:14 (ver com. ali).

2Co.7:1 1. Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

Ó amados. As pessoas devem refletir o caráter amoroso de Deus nas relações com outros filhos da família da fé. A verdadeira religião sempre estimula a ternura.

Tais promessas. Isto é, as promessas de 2Co.6:17-18 (2Pe.1:4). Em 2 Coríntios 7:1, Paulo conclui o raciocínio iniciado em 2Co.6:14. Por causa dessas grandes promessas, os coríntios poderiam se empenhar pela perfeição de caráter. Esses gloriosos privilégios foram perdidos quando a profanação e a impureza tiveram permissão para entrar na vida, porque tais coisas desqualificam os seres humanos para serem filhos de Deus. Para entrar em vivo relacionamento com Deus, os crentes devem experimentar o contínuo poder purificador de Deus e o contínuo crescimento no caráter cristão. Comunhão com o mundo pertence apenas aos que estão afastados de Deus.

Purifiquemo-nos. As pessoas são incapazes de se purificar, pois não há poder inerente ao ser humano para eliminar o pecado (Rm.7:22-24). O crente pode ser santificado apenas ao permitir que Deus trabalhe nele e por meio dele (Fp.2:12-13; 1Pe.1:22). O cristão deve utilizar os meios apontados por Deus para a purificação. Deus desperta a vontade para que as pessoas a exerçam. A armadura de Cristo está disponível para todos os cristãos, no entanto, eles têm a responsabilidade de vesti-la (Ef.6:10-11). O poder e a graça de Deus são ineficazes em alguém que tem vontade e mente passiva. Deus está com aquele que combate “o bom combate da fé”, e lhe concederá vitória (1Tm.6:12; ver com. de Rm.8:37).

Impureza. Ou, “poluição”, “contaminação”, “corrupção”. Quando essa advertência se aplica à carne, refere-se a todos os tipos de pecado que exigem as várias avenidas da carne para sua missão. Quando se aplica ao espírito, refere-se aos pecados da mente, tais como pensamentos maus, orgulho e ambição (ver com. de Mc.7:15; Mc.7:23; 2Co.10:4-5).

Aperfeiçoando. Do gr. epiteleo, “levar à consumação”, “conduzir a um objetivo”. Paulo, neste versículo, se refere ao atual crescimento, que, ao final, atingirá seu objetivo.

Santidade. Ver com. de Mt.5:48; 2Pe.3:18. A santificação é obra de toda a vida, algo que não é realizado por qualquer ato individual ou em determinado momento nesta vida. São indicados dois estágios da vida cristã. O primeiro deles é a justificação, ou a purificação e o revestimento do novo ser “criado em [...] santidade” (Ef.4:24, ARC). O segundo estágio é a santificação, ou o desenvolvimento contínuo do novo ser até a perfeição. O primeiro estágio apenas Deus pode produzir, com o consentimento individual, arrependimento e aceitação. No segundo estágio, Deus e o crente cooperam durante toda a vida (Fp.3:12-14). A justificação é o acesso para a santidade e inclui remissão do pecado, reconciliação e regeneração. A pessoa deve ser corrigida antes de seguir em frente. Na justificação, a principal exigência do crente é a fé (Rm.3:20; Rm.3:28). Essa experiência ocorre no limiar da vida cristã e deve ser repetida em caso de reincidência no erro. No momento em que o ser humano se torna participante da natureza divina (2Pe.1:4) e a vida espiritual é implantada nele (Rm.6:4), é obrigado a trabalhar em ativa cooperação com Deus.

O cristão deve cooperar com Deus, recorrendo aos recursos divinos de graça e poder, estudo da Bíblia e meditação, oração pessoal, adoração pública e pessoal e exercício espiritual por meio do serviço ao próximo. O corpo está unido ao espírito na obra de santificação (1Co.1:8; Cl.1:28; 1Ts.5:23; ver com. de Rm.3:28; Rm.4:3; Rm.4:8). A cooperação com Deus na obra de santificação exige aceitação do padrão divino de santidade. O padrão original é a natureza e o caráter de Deus (Ex.15:11; Is.6:3; Mt.5:48; 1Pe.1:15; Ap.4:8). Deus nos deu Sua santa lei, que é uma transcrição de Seu caráter (SI.19:7-10; Rm.7:12) e um modelo a ser desenvolvido por nós. Como a vida é avaliada diariamente por esse padrão divino, a graça e o poder divinos transformam o caráter humano para se parecer com o de Deus (ver com. de 2Co.3:18). Dessa maneira, a imagem do Criador, maculada quando o ser humano pecou, é restaurada (Gn.1:26-27; 2Co.3:18). A conquista de um caráter cristão é uma busca permanente. Quando a provação se aproximar, apenas o cristão que consciente e consistentemente aspira a santidade continuará “a santificar-se” (Ap.22:11-12). Muitos professos cristãos passam longe da santidade e da verdadeira santificação, pois ignoram o padrão de santidade de Deus. Estão satisfeitos com uma obediência medíocre e indiferente, e aspiram apenas a forma de piedade, sem seu poder (ver com. de Mt.7:21-27; 2Tm.3:5). A santidade à qual Paulo se refere ocorre apenas por meio de contato vital, espiritual com Deus. Esse contato ocorre pela comunhão com Deus, pelo estudo de Sua Palavra (Jo.17:17; 1Pe.1:22) e pela mediação do Espírito Santo (Rm.8:26; 2Ts.2:13).

Temor do Senhor. Ver com. de SI.19:9. A verdadeira santificação ocorre na vida do crente consciente da presença de Deus. Uma santa reverência a Deus é essencial para a perfeição da santidade. A percepção da presença divina conduz à verdadeira reverência. Quando os olhos da fé contemplam a Deus, cultiva-se um intenso ódio ao pecado e um sincero desejo pela justiça. Temer ao Senhor significa viver cada momento sob os olhos paternais de um Deus santo. O temor do Senhor é a base da adoração, da obediência e do serviço santo.

2Co.7:2 2. Acolhei-nos em vosso coração; a ninguém tratamos com injustiça, a ninguém corrompemos, a ninguém exploramos.

Acolhei-nos. Isto é, “abrir espaço para nós em seus corações”. Seguindo o longo parêntese de 2Co.6:14-7:1, Paulo dá sequência ao pensamento de 2Co.6:11-13. O apóstolo apela aos coríntios para recebê-lo como seu pai e líder espiritual (ver 1Co.4:15-16). Ele declara sua profunda afeição num fervoroso apelo para que respondam com bondade. Sua atitude é de amor genuíno, não de condenação.

A ninguém. No grego, esta expressão está com ênfase. Ninguém da igreja de Corinto ou de outro lugar tinha feito acusações como as que os falsos líderes lançaram contra Paulo. Contudo, o apóstolo se conduziu de tal modo que sua integridade é inquestionável.

Tratamos com injustiça. Paulo tem em mente a crítica feita contra ele por causa de seu modo de lidar com determinados problemas. Alguns dos membros reprovaram suas instruções a respeito do transgressor moral (1Co.5:1-5) e o responsabilizaram por prejudicá-lo. Para eles, parecia severo tratar um membro da igreja como Paulo tinha ordenado. No entanto, mesmo nesse caso, ele agiu por amor pela igreja. Na verdade, seu amor foi o que impossibilitou o silêncio (Pv.27:6).

Corrompemos. Do gr. phtheiro, “corromper”, “depravar”, também traduzido como “destruir” (1Co.3:17). A palavra é usada tanto para a doutrina quanto para a moral corrupta (2Co.11:3; Jd.1:10; Ap.19:2).

Exploramos. Talvez os oponentes tenham acusado Paulo de negligência em relação à grande coleta que solicitou em favor dos pobres em todas as igrejas de Jerusalém (1Co.16:1-3; 2Co.8:1-6; 2Co.8:10-14; 2Co.8:20-24). A recusa de alguns dos coríntios em abrir o coração a Paulo e aceitá-lo estava em evidente contraste com a livre associação deles com os falsos apóstolos. Se eles sentiam afeto por pessoas que praticavam o erro, a corrupção e a fraude, por que não deveriam sentir afeto por alguém que não havia feito nenhuma dessas coisas'?

2Co.7:3 3. Não falo para vos condenar; porque já vos tenho dito que estais em nosso coração para, juntos, morrermos e vivermos.

Não falo. Paulo parece ter sido mal compreendido sobre a declaração do v. 2Co.7:2. Ele temia que os coríntios interpretassem a sugestão de que não o recebessem, e a negação das acusações feitas contra ele como repreendendo-os e condenando-os. Paulo nega tal intenção. Eles o trataram com ingratidão, suspeita e falsas acusações. Ainda assim, o apóstolo não os repreendeu nem condenou.

Já vos tenho dito. A declaração do v. 2Co.7:2 está em harmonia com as afirmações anteriores de amor por eles (2Co.1:6; 2Co.2:4; 2Co.3:2; 2Co.6:11-13). O tempo verbal no grego indica a consistência do que ele tinha dito anteriormente e o que dizia naquele momento. Seus sentimentos e opinião sobre o tema não mudaram. Paulo nunca sentiu pena de si mesmo por causa dos maus-tratos que recebera. Sua reação sempre foi caracterizada pelo amor (2Co.4:10-15; Ef.3:13; Fp.1:7).

Morrermos e vivermos. Paulo está pronto a morrer com os coríntios e pelos coríntios. Ele os ama tão profundamente que não consegue viver sem eles e sua afeição recíproca (ver a atitude e o pedido de Moisés por Israel, Ex.32:30-32). O relato da igreja de Corinto, com seus problemas e vícios, dificilmente revela uma igreja desejável e amável. Naturalmente falando, os coríntios não eram dignos do amor e da devoção que Paulo lhes devotava. Outras igrejas eram mais merecedoras que a de Corinto, mas, apesar disso, Paulo os amava (2Co.12:15). A sequência de palavras, “morrermos” antes de “vivermos”, pode indicar uma referência à morte que ocorre com todos os crentes quando vão a Cristo e a nova vida na qual ressuscitam para caminhar com Ele (2Co.4:11; 2Co.4:6-9). Essa experiência deveria ser suficiente para unir o coração e a vida deles numa devoção eterna de uns para com os outros (ver com. de Mt.5:43-44).

2Co.7:4 4. Mui grande é a minha franqueza para convosco, e muito me glorio por vossa causa; sinto-me grandemente confortado e transbordante de júbilo em toda a nossa tribulação.

Franqueza. Do gr. parresia (ver com. de 2Co.3:12, em que a palavra parresia é traduzida como “ousadia”). A palavra se refere à confiança interior e à expressão verbal (Ef.3:12; 1Tm.3:13; Hb.3:6; Hb.10:35; 1Jo.2:28; 1Jo.3:21; 1Jo.4:17; 1Jo.5:14). O orgulho que Paulo sentia pelos coríntios reflete essa confiança interior. Em 2Co.7:4-16, Paulo reafirma sua alegria, originada no bom relato dado por Tito (ver com. de 2Co.2:13). Anteriormente, os coríntios deram todo o indício de rejeitar seu conselho e instrução, principalmente no caso do transgressor moral. A igreja ficou dividida e o ressentimento para com Paulo prevaleceu em muitos corações. Essa situação lançou uma sombra sobre seu espírito. A intensidade da linguagem reflete a profundidade dos sentimentos de Paulo pelos coríntios. Ao receber notícias de que estavam fazendo a coisa certa, Paulo ficou radiante. Por outro lado, as notícias de que estavam fazendo a coisa errada ocasionavam a ele grande angústia mental. Com a chegada de Tito, a preocupação e a ansiedade que sentiu foram removidas. Paulo conseguiu falar-lhes francamente, com um coração transbordante de alegria.

Transbordante de júbilo. Literalmente, “cheio de alegria”. Esta alegria é a antítese do desespero anterior (2Co.1:8). Paulo, então, confiava nos coríntios, orgulhava-se deles, era confortado por eles e também estava cheio de alegria transbordante. Foi grande seu alívio na mudança de atitude da maioria dos coríntios. A aflição de Paulo acerca do bem-estar espiritual da igreja de Corinto é a característica de um verdadeiro ministro. Não há maior pressão sobre a mente ou coração do que a experimentada por aqueles que velam pela salvação das pessoas. Por outro lado, não há maior alegria que a originada em uma resposta incondicional aos apelos feitos para encorajar condutas e escolhas corretas (2Jo.1:4; 3Jo.1:3-4). Ao longo de seu ministério, o embaixador de Cristo deve advertir, repreender, aconselhar, apontar o pecado e avisar sobre o juízo, bem como confortar e inspirar.

2Co.7:5 5. Porque, chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro.

À Macedônia. Ver 2Co.2:12-13.

Fomos atribulados. Paulo retoma a narrativa da qual ele se desviou desde 2Co.2:13. Nenhuma igreja fundada por Paulo deu-lhe tantos motivos para aflição e sofrimento como a de Corinto. Muito desse sofrimento foi devido aos falsos apóstolos (ver com. de 2Co.11:22), que tinham seguido Paulo até Corinto e deliberadamente começaram a destruir sua obra, desacreditar seu apostolado e ridicularizar seu evangelho e sua pessoa (2Co.10:10-12). Eles criticavam seu caráter e o acusavam de mau uso do dinheiro, de covardia e falsidade e de usurpação de autoridade. Também tentaram impor certas exigências rituais aos conversos gentios, em contradição à posição da igreja (At.15:1-5; At.15:19-24; Gl.2:1-8).

Além disso, os membros de Corinto estavam divididos em quatro facções (1Co.1:10-12). Um dos membros era culpado da mais vil imoralidade (1Co.5:1-5), e a igreja falhou em lidar com ele. Alguns eram culpados de mover ação judicial contra seus irmãos nas cortes pagãs (1Co.6:1-8). Alguns degradaram a Ceia do Senhor e eram culpados de profanar esse serviço sagrado (1Co.11:20-30). Alguns manifestaram um falso zelo pelos dons espirituais (1Co.14:1-2; 1Co.14:39-40). A despeito de tudo isso, Paulo não desejava renunciar sua reivindicação de ser o pai espiritual deles. Ele tinha fundado a igreja de Corinto na segunda viagem missionária (At.18:1-11) e, desde então, trabalhou intensamente por ela, por meio de cartas e de representantes.

Lutas por fora. Ver 2Co.11:23-28; 2Co.4:8-10.

Temores por dentro. Isto é, incerteza quanto a resolução das crises. Isso não significa que Paulo estivesse abatido pelo temor (2Co.4:8-10).

2Co.7:6 6. Porém Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito;

Deus, que conforta. Paulo suportou perigos físicos e perseguições (2Co.4:8-12; 2Co.6:4-10; 2Co.11:24-27), mas sempre considerou essas coisas como um privilégio (Rm.8:18; Rm.8:35-39). Não foram essas coisas que esmagaram o espírito de Paulo, mas os sofrimentos por seus filhos na fé. A capacidade de amar profundamente os coríntios possibilitou-lhe sofrer intensamente por eles.

A chegada de Tito. Ver com. de 2Co.2:13.

2Co.7:7 7. e não somente com a sua chegada, mas também pelo conforto que recebeu de vós, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo.

Com a sua chegada. O retorno de Tito aliviou Paulo do temor pela segurança pessoal de Tito. A viagem geralmente era repleta de perigos.

Conforto que recebeu. Tito compartilhava da preocupação de Paulo a respeito da situação de Corinto, e sua alegria tinha um forte significado para Paulo.

Vossa saudade. Isto é, de uma visita de Paulo, quando os coríntios poderiam demonstrar amor ao apóstolo pessoalmente, expressando-se em palavras e obras (comparar com Rm.1:11; Fp.1:8; 1Ts.3:6; 2Tm.1:4).

Pranto. Quando os coríntios perceberam o sofrimento e a tristeza que haviam causado a Paulo, lamentaram e se arrependeram.

Zelo por mim. A referência não é tanto ao zelo em seguir as instruções de Paulo como em unir-se a Paulo na controvérsia.

Aumentando, assim, meu regozijo. Paulo se encheu de alegria ao saber como os coríntios receberam sua carta prontamente, como receberam Tito de forma calorosa, como logo realizaram suas instruções e como estavam preocupados com ele. Constantemente ele fala de ser confortado e consolado (2Co.1:4; 2Co.7:6-7; 2Co.7:13). Três coisas em particular revelaram o efeito favorável da carta e da visita de Tito. Em cada uma destas três frases destacadas o pronome é enfático, indicando aos coríntios que eles forneceram o conforto e a alegria aos quais Paulo se refere.

2Co.7:8 8. Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido (vejo que aquela carta vos contristou por breve tempo),

Contristado. Do gr. lupeo, “entristecer”, “causar dor” (2Co.7:2). A primeira carta à qual Paulo se refere, foi de repreensão severa pelas maldades que prevaleciam e eram toleradas em Corinto, e evidentemente cumpriu seu propósito (ver com. dos v. 2Co.7:7, 2Co.7:11).

A carta. Isto é, 1 Coríntios (ver p. 903,904).

Arrependo. Do gr. metamelomai, “lamentar”. Depois de enviar a carta anterior, Paulo questionou a sabedoria em escrevê-la, pois não sabia se tinha feito a coisa certa, se tinha se expressado da melhor forma, se as palavras refletiam o espírito adequado e se seria mal compreendido. Paulo sentiu a ansiedade que a maioria das pessoas sentiria nas mesmas circunstâncias. Ele não tinha errado, mas não sabia se a carta alcançaria seu objetivo. Uma ruptura entre Paulo e os coríntios parecia inevitável. Havia a possibilidade de eles repudiarem sua autoridade apostólica e liderança espiritual. O efeito sobre outras igrejas por parte de uma igreja tão importante como a de Corinto seria desastroso. A causa de Deus entre os gentios estava em jogo.

Aquela carta. Ou, 1 Coríntios (ver p. 903, 904).

2Co.7:9 9. agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis.

Agora, me alegro. Infligir dor aos coríntios ou causar-lhes sofrimento era motivo de lamento para Paulo, no entanto, ele encontrou conforto no pensamento de que a dor e o sofrimento eram temporários. Além disso, essa situação conduziu ao arrependimento genuíno por parte da maioria. A hesitação em impor a mínima angústia sobre os outros, com exceção de haver absoluta necessidade, é uma característica do verdadeiro ministro. Aqueles cuja responsabilidade é ferir ou magoar o rebanho ou os pastores do rebanho com palavras ásperas e atitude hostil revelam o caráter de lobos.

Arrependimento. Do gr. metanoia, literalmente, “uma mudança de mente”. A palavra traduzida como “arrependo” (metamelomai), no v. 2Co.7:8, significa apenas lamento. Em Mt.27:3, a palavra significa arrependimento falso, superficial ou remorso. Significa refletir sobre o nosso pecado com um forte senso de arrependimento, mas sem qualquer sentimento abrandado ou a real mudança de atitude que caracteriza o verdadeiro penitente. Por outro lado, metanoia, a palavra utilizada neste versículo, denota específicamente uma mudança de mente e indica que a mudança é para melhor e produz bons resultados (Mt.12:41; Mc.1:15; Lc.11:32; At.3:19; At.26:20; Hb.12:17; Ap.2:5). Uma reforma da vida é um teste infinitamente mais decisivo do valor do arrependimento do que a profunda dor. A reforma da vida era o assunto mais importante da pregação de João Batista, de Cristo e dos apóstolos (Mt.3:2; Mt.3:8; Mt.3:11; Mt.4:17; Mc.2:17; At.5:31; Rm.2:4; 2Tm.2:25). O verdadeiro arrependimento leva os anjos a cantarem alegremente (Lc.15:7; ver com. de 2Co.7:10).

Segundo Deus. Ver com. do v. 2Co.7:10.

Nenhum dano sofrêsseis. Do gr. zemioo, “sofrer danos”, “receber prejuízo”, “passar por perda”. Grande benefício sobreveio à igreja ao aceitar e agir de acordo com o conselho apresentado na carta anterior de Paulo; estaria sujeita à perda apenas se rejeitasse os conselhos. Estar contristados “segundo Deus” trouxe benefícios aos coríntios; a “tristeza do mundo” (v. 2Co.7:10) teria resultado em perda.

2Co.7:10 10. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.

Tristeza segundo Deus. Isto é, do modo prescrito por Deus ou aceitável a Deus. Não é a tristeza por ser descoberto ou a antecipação de ser punido. É a genuína tristeza, arrependimento, separação do pecado e determinação para resistir, a partir dali, pela graça de Deus, à tentação que conduziu ao pecado (ver com. de Mt.5:3; 1Jo.1:9). Constrangimento ocasionado pela exposição, temor da possibilidade de exposição, orgulho ferido ou mesmo profundo lamento sobre o ocorrido, nada disso é “tristeza segundo Deus”. Na “tristeza segundo Deus” há reconhecimento e admissão de que se ofendeu a Deus e ao semelhante. Há também um esforço para corrigir o erro e uma reorientação da vida com o propósito de evitar a repetição dos mesmos erros. Todo esse processo é possível apenas em virtude da graça de Cristo operando na mente e na vida por meio do Espírito Santo. A verdadeira tristeza pelo pecado resulta do reconhecimento da responsabilidade individual para com Deus. Talvez o maior exemplo da diferença entre a verdadeira e a falsa tristeza pelo pecado seja o contraste entre Pedro e Judas durante o julgamento de Jesus. Os dois sentiram profundo remorso, mas um deles sentiu verdadeira tristeza pelo pecado, que o conduziu a uma nova vida em Cristo. O outro sentiu apenas tristeza pelas consequências, que o conduziu ao desespero e ao suicídio.

Arrependimento [...] pesar. Do gr. metanoia [...] metamelomai (ver com. do v. 2Co.7:9). A utilização destas duas palavras para arrependimento em uma sentença as distingue claramente. A tradução “um arrependimento [...] que a ninguém traz pesar” reflete precisamente o significado.

Tristeza do mundo. A tristeza do mundo consiste no pesar pelas consequências do pecado, e não pelo pecado em si, e pelo descrédito perante o mundo e os amigos mundanos (1Sm.15:30). A tristeza do mundo toca apenas a superfície do problema. Ela não vai além do próprio ser humano e seus sentimentos. Conduz ao futuro pesar e à profunda angústia. Enche a mente com descontentamento, o coração, com ressentimento, desgosto, amargura e encurta a vida. Uma pessoa que se arrepende verdadeiramente nunca lamentará por ter-se arrependido. A “tristeza do mundo” geralmente traz mais miséria ao incitar as pessoas a outras loucuras. A tristeza do mundo conduz à ruína e à morte (Gn.4:12; 1Sm.31:3-6; 2Sm.17:23; Mt.27:3-5).

2Co.7:11 11. Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto.

Fostes contristados. Os “frutos dignos de arrependimento” (Mt.3:8) produzidos pelos coríntios constituíam prova de que estavam arrependidos. Explicando o relato de Tito sobre a tristeza deles, Paulo os elogia por sete aspectos específicos do arrependimento. Esses sete aspectos expressam uma mudança completa de atitude.

Cuidado. Do gr. spoude, “pressa”, “seriedade”, “diligência”. Considerando que os coríntios até então relutaram em agir decisivamente, eles então se esforçavam para lidar com o pecado e corrigir os erros. Os que se arrependeram verdadeiramente procederiam com o devido cuidado, diligência e vigilância. Tem sido sugerido que os seis itens seguintes estão pareados, o primeiro par se referindo à atitude da igreja de Corinto para com eles mesmos, o segundo par, quanto a atitude deles para com Paulo, e o terceiro par, a atitude deles para com o transgressor moral de 1Co.5:1-5.

Que. A repetição desta palavra enfatiza cada ponto a seguir.

Defesa. Do gr. apologia, “uma defesa verbal” (At.25:16; Fp.1:7; Fp.1:17; 2Tm.4:16). A expressão “de si mesmos” foi acrescentada pelos tradutores. Os coríntios estavam ansiosos para que se soubesse que eles desaprovavam sua atitude anterior. Eles percebiam que a tolerância e até a defesa do transgressor os envolvera em sua culpa.

Indignação. Possivelmente com eles mesmos por causa da atitude anterior com respeito ao imoral e com relação a alguns que ainda o apoiavam. Uma característica do verdadeiro arrependimento é a justa indignação com relação ao pecado. Ódio intenso pela injustiça é seguido por forte apego à justiça. No entanto, a genuína indignação de justiça contra o pecado é sempre acompanhada por um amor igualmente forte pelo transgressor.

Temor. Talvez os coríntios temessem que Paulo não acreditasse que o arrependimento deles era genuíno e que ele continuaria a ter uma atitude severa em relação a eles (1Co.4:21; 2Co.13:1).

Saudades. Possivelmente da restauração de um espírito de companheirismo e mútua compreensão com Paulo.

Zelo. Isto é, em tratar com o transgressor imoral como Paulo recomendou (1Co.5:1-5). Até aqui eles tinham manifestado pouca preocupação com a questão, dando a impressão de que eles não a consideravam grave.

Vindita! Ou, “punição”, isto é, do transgressor imoral (ver 2Co.2:6-7; 2Co.7:12).

Inocentes neste assunto. Paulo aceitou sem questionar a mudança de coração em Corinto, como relatada por Tito, e aprovou o modo de agir da igreja ao lidar com o transgressor.

2Co.7:12 12. Portanto, embora vos tenha escrito, não foi por causa do que fez o mal, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que a vossa solicitude a nosso favor fosse manifesta entre vós, diante de Deus.

Escrito. Ver com. de 2Co.2:3.

Não foi por causa. Ao redigir a carta anterior, Paulo demonstrou grande preocupação pelo bom nome da igreja. Ele temia que os pagãos vissem o cristianismo com desprezo e que os judaizantes chamassem a atenção desse desavergonhado caso de incesto como resultado de seu ministério. Mas a igreja lidara com firmeza com o transgressor e ele se arrependera. Assim, o bom nome da igreja fora protegido, e a preocupação de Paulo se voltou para o bem-estar espiritual das pessoas envolvidas (2Co.2:6-8).

Do que fez o mal. Isto é, o transgressor imoral de 1Co.5:1-5.

Do que sofreu o agravo. Possivelmente, o esposo da mulher envolvida.

Vossa solicitude a nosso favor. Quando Paulo escreveu a carta anterior, a principal inquietação era pela igreja como um todo, por seu bem-estar e pela reputação entre os descrentes. A pureza entre os cristãos primitivos era uma característica que os distinguia dos pagãos. A imoralidade não era considerada má pelos pagãos, chegava até a fazer parte do culto. Paulo esperava que as igrejas dessem um testemunho positivo do fato de que viviam acima de tais práticas. O testemunho vivo da igreja está relacionado à pureza de seus membros.

2Co.7:13 13. Foi por isso que nos sentimos confortados. E, acima desta nossa consolação, muito mais nos alegramos pelo contentamento de Tito, cujo espírito foi recreado por todos vós.

Por isso nos sentimos confortados. Isto é, como resultado da “tristeza segundo Deus” experimentada pelos coríntios (v. 2Co.7:11-12).

Nossa consolação. Como o v. 2Co.7:11 esclarece, os coríntios passaram a estar numa situação de “consolo”.

Muito mais. O texto grego é mais enfático. Paulo estava feliz com o relato factual da condição espiritual que prevalecia na igreja de Corinto, e estava satisfeito com o entusiasmo de Tito, que estivera em Corinto pessoalmente. Paulo enviou Tito sob uma nuvem de apreensão e ansiedade esmagadora. A ameaçadora notícia que recebeu deu-lhe motivos para preocupação. No entanto, os coríntios receberam Tito com muito carinho, como que para convencê-lo da genuinidade de seu arrependimento e da firme lealdade a Paulo. A alegria de Tito transbordou para o coração do idoso apóstolo (ver também com. do v. 2Co.7:14).

Recreado. Literalmente, “preparou repouso”, ou “deu repouso” (ver a mesma palavra utilizada em Mt.11:28; Mc.6:31; Ap.14:13).

Por todos vós. Talvez uma razão adicional para a alegria esteja indicada pelo grande número, quase “todos”, que se provou penitente e leal. Uma minoria reagiu desfavoravelmente (2Co.10:2),

2Co.7:14 14. Porque, se nalguma coisa me gloriei de vós para com ele, não fiquei envergonhado; pelo contrário, como, em tudo, vos falamos com verdade, também a nossa exaltação na presença de Tito se verificou ser verdadeira.

Se [...] me gloriei. Todas as boas coisas que Paulo disse anteriormente a Tito sobre os coríntios provavam ser verdadeiras, como confirmado pelo grande entusiasmo de Tito ao contar seu relato. Paulo não tinha necessidade de temer que suas antigas esperanças fossem prematuras. Os coríntios foram além das expectativas do apóstolo. Paulo falou a verdade quando os reprovou por faltas graves, mas também falou a verdade quando enumerou suas boas qualidades. Tudo o que ele disse foi então vindicado.

2Co.7:15 15. E o seu entranhável afeto cresce mais e mais para convosco, lembrando-se da obediência de todos vós, de como o recebestes com temor e tremor.

Entranhável afeto. Literalmente, “entranhas” (ver Fp.1:8; Fm.1:12; 1Jo.3:17; ver com. de 2Co.6:12). Neste versículo, Paulo se refere à terna afeição de Tito pelos coríntios. A então recente visita fez com que ele os amasse ainda mais. Neste laço de companheirismo, Paulo vê o selo da reconciliação entre ele e os crentes coríntios (ver 2Co.7:16).

Temor e tremor. Ver com. do v. 2Co.7:11. Esta é outra frase recorrente de Paulo (Ef.6:5; Fp.2:12). Tito foi recebido não com hostilidade ou rejeição, como se pressentia, mas com pleno respeito. Os coríntios o aceitaram como um mensageiro enviado por Deus. Também evidenciaram o sincero desejo de agradá-lo e sentiram santo temor de não estarem à altura do que se esperava deles. A tristeza segundo Deus rompe o orgulho.

2Co.7:16 16. Alegro-me porque, em tudo, posso confiar em vós.

Confiar em vós. Ou, “coragem acerca de vós”. Este versículo é considerado por muitas autoridades como uma transição ou elo entre o que Paulo escreveu nos capítulos anteriores e o que vem a seguir. Essas palavras descartam todos os erros e mal-entendidos do passado e expressam verdadeira reconciliação. Ao mesmo tempo, oferecem uma introdução adequada ao assunto da grande coleta para os cristãos pobres da Judeia, que Paulo promove entre as igrejas gentílicas.

2Co.8:1 1. Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia;

Irmãos. Os cap. 8 e 9 constituem uma nova seção, que trata da coleta para os pobres na Judeia (ver com. de 1Co.16:1). A palavra “irmãos” é a nota tônica desta seção. O amor fraternal entre os cristãos é a verdadeira motivação para doar e compartilhar. Em 2 Coríntios 8:1 a 5, Paulo chama a atenção dos coríntios para o exemplo de generosidade apresentado pela igreja da Macedônia, da qual Paulo escreve esta carta. Paulo informou os coríntios anteriormente sobre a questão da ajuda aos cristãos da Judeia e seu plano a respeito da grande coleta (1Co.16:1-4; Gl.2:9-10). Quando Paulo introduziu a proposta a princípio, cerca de um ano antes (2Co.8:10), eles manifestaram grande zelo, do qual Paulo mais tarde se gabou para outros (2Co.9:3-4). No entanto, o zelo deles declinou, e quando Paulo escreveu esta carta eles estavam atrasados quanto ao cumprimento das promessas feitas (2Co.9:4-5). Essa situação possivelmente se deveu ao período de declínio espiritual, mas eles se arrependeram. A conversão dos coríntios era genuína, e Paulo entendeu que eles estavam ansiosos para demonstrar amor de modo prático. Uma característica de conversão genuína é a disposição em fazer sacrifícios pessoais por aqueles que estão em necessidade.

Graça de Deus. A liberalidade das igrejas macedônicas foi exercida a despeito da “profunda pobreza” dessas comunidades (v. 2Co.8:2), e isso testifica da “graça de Deus” operando no coração delas. Paulo relaciona essa generosidade à verdadeira fonte e salienta aos coríntios que a graça divina é que inspira a generosidade, a doação e o sacrifício. Diz-se que os cristãos são mordomos “da multiforme graça de Deus” (1Pe.4:10). Além disso, pela graça de Deus, os cristãos são mordomos das coisas que possuem. A disposição em doar é uma atitude divinamente inspirada, e assim, uma evidência especial da graça divina. Um espírito liberal busca se manifestar espontaneamente em atos de benevolência. Não requer encorajamento.

Igrejas da Macedônia. Paulo exaltou estas igrejas como dignas de emulação. Todas foram fundadas por ele: Filipos, Tessalônica, Bereia e talvez outras mais. A igreja de Filipos era notável por sua generosidade. Foi a única igreja que contribuiu para suprir as necessidades de Paulo (2Co.11:9; Fp.4:10-11; Fp.4:14-18). Ele não recebeu apoio financeiro da igreja de Jerusalém nem da igreja de Antioquia (1Co.9:4-7; 1Co.9:14-15). A igreja de Bereia também possuía um caráter nobre e elevado (At.17:10-12). As contribuições liberais vieram da Macedônia e da Acaia (Rm.15:26).

2Co.8:2 2. porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.

Prova. Ou, “teste”. A palavra é usada especialmente para testes de qualidade de metais. Os cristãos macedônios sofreram mais que a aflição comum. Ainda assim, a fé e a experiência deles se provaram genuínas. Eles sofreram por causa da perseguição (At.17:5-9; 1Ts.1:6-8; 1Ts.2:14; 1Ts.3:3-5; 2Ts.1:4-6). Um dos grandes testes de uma experiência cristã triunfante é encontrar alegria, paz e amor em meio à aflição (Mt.5:11-12; Rm.5:3; Rm.12:12; 1Pe.2:20-21).

Abundância de alegria. A perseguição e a pobreza tendem a reprimir o espírito e a prática da liberalidade. No entanto, a abundância de alegria combinada com pobreza é representada como inspirando generosidade. Tal era o espírito da igreja apostólica (At.4:32-37). A profunda pobreza deles superabundou. Figuradamente falando, a pobreza dos macedônios era tal que eles tinham que raspar o fundo de um barril que estava quase vazio. A despeito da completa destituição de bens, eles transbordavam em auxílio aos que estavam em necessidade. A medida do louvor de Paulo aos cristãos macedônios não era à real quantidade doada, embora fosse considerável. O espírito que impelia a doação era o que Paulo destacava como digno de emulação (ver com. de Mc.12:41-44). A pobreza extrema da Macedônia na época devia-se a vários fatores. Três guerras desolaram a área: a primeira delas, entre Júlio César e Pompeu, a segunda, entre os triúnviros, Brutus e Cássio, seguindo o assassinato de César, e a terceira, entre Otaviano e Antônio (ver vol. 5, p. 13, 14, 22-25). A situação dos macedônios era tão desesperadora que eles pediram redução de impostos ao imperador Tibério. Além disso, a maioria dos cristãos vinha das classes sociais mais baixas.

Generosidade. Do gr. haplotes, “simplicidade [de coração]”, “sinceridade”, “livre de pretensão” (2Co.11:3; Ef.6:5; Cl.3:22). Neste versículo, denota-se a boa disposição de mente e coração que se manifesta em grande liberalidade. Refere-se não tanto ao que doaram, mas à atitude do coração, que é a base de toda verdadeira doação e que resulta em abnegação espontânea pelo bem-estar dos outros.

2Co.8:3 3. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários,

Na medida de suas posses. No texto grego, os v. 3 a 6 constituem uma sentença, que explica melhor o tipo de liberalidade mencionada nos v. 2Co.8:1-2. Os macedônios doaram além da capacidade e dos meios. A tendência deles não era doar pouco, mas muito. Doavam espontaneamente, sem serem encorajados ou mesmo lembrados, como parecia ocorrer com os coríntios. Era suficiente que os macedônios soubessem da necessidade existente. Eles solicitaram o privilégio de poder compartilhar no ministério aos santos pobres de Jerusalém. O espírito deles exibia completa dedicação e abnegação para a obra do Senhor.

2Co.8:4 4. pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos.

Pedindo. Do gr. paraklesis (ver com. de Mt.5:4).

A graça de participarem. Os macedônios consideravam a necessidade dos irmãos em Jerusalém como se fosse sua. Para os crentes que viviam na Macedônia, pertencer à grande família cristã significava ter uma causa comum com os companheiros cristãos em sacrifício, em compartilhar pobreza e auxiliar os outros. Até onde podiam e mais além, estavam prontos a ter todas as coisas, mesmo a pobreza, em comum (ver At.2:44; At.4:32). Os recursos espirituais, morais, sociais e materiais estavam disponíveis aos outros, prontos para ser utilizados numa causa comum. Na verdade, eles consideravam um favor ser-lhes permitido agir dessa forma.

2Co.8:5 5. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus;

Como nós esperávamos. Melhor, eles excederam as expectativas de Paulo. Consideraram a coleta não como dever, mas como privilégio. Tomaram a causa para si.

Deram-se. A doação dos macedônios vinha de corações gratos e devotos. Eles doavam a si mesmos, e as doações automaticamente os seguiam. Eles doavam a si mesmos nas doações (Pv.23:26). O cristão que doa o coração a Deus nada quer de volta. O exemplo dos macedônios para os coríntios e para os cristãos de todos os tempos ilustra a grande verdade de que “a doação sem o doador é desprovida”. Aquele que se doa sem reservas não hesitará em também doar suas posses.

Vontade de Deus. Os macedônios permitiram que Deus lhes dirigisse a vida, e que a vontade de Deus fosse a deles. Era evidência de conversão completa.

2Co.8:6 6. o que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós.

Recomendar. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4). Tito era grego (Gl.2:1; Gl.2:3) e um dos amigos mais confiáveis de Paulo (Tt.1:4). Paulo enviou Tito para lidar com o difícil problema dos coríntios, e sua missão teve êxito além das expectativas (ver com. de 2Co.7:13). Tito conquistou a confiança dos crentes coríntios e iniciou a coleta entre eles pelos pobres na Judeia. O plano era que ele retornasse a Corinto com essa carta e para completar a coleta (ver 2Co.9:5; 2Co.12:18).

Como começou. Isto é, Tito colocou em ação o plano que estava em andamento em Corinto.

Esta graça. Isto é, a coleta, que refletia a graça de Deus operando no coração dos doadores (ver com. dos v. 2Co.8:1-2).

2Co.8:7 7. Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça.

Em tudo. Uma experiência cristã simétrica é um harmonioso desenvolvimento da vida e do serviço, das graças interiores e de sua expressão externa. Qualquer aspecto da vida cristã cultivado à custa de outros aspectos pode se tornar um defeito (ver 1Co.1:5). Os coríntios se distinguiam de tantos modos que seria inconsistente negligenciar a graça da caridade.

Superabundância. Nos v. 7 a 15, Paulo orienta a respeito da coleta em Corinto. Ele apela ao princípio de que a vida cristã é abundante (Jo.10:10).

Nesta graça. Isto é, a coleta (ver com. dos v. 2Co.8:1-2).

2Co.8:8 8. Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor;

Não [...] na forma de mandamento. Ver 1Co.7:6; 1Co.7:12; 1Co.7:25. A coleta deveria ser concluída por livre escolha, não por uma exigência de Paulo. Uma ordem expressaria dúvida acerca da boa vontade deles em consentir inspirados pelo amor, e teria anulado o princípio de que apenas as ofertas voluntárias seriam aceitáveis a Deus (ver com. de Mc.12:41-44).

Diligência de outros. Isto é, a prontidão dos crentes macedônios, apesar da comparativa pobreza em responder ao apelo para auxiliar os necessitados em Jerusalém.

Para provar. O nobre exemplo dos macedônios se tornou um teste divino para os coríntios. Paulo não apelou ao orgulho, à vaidade, ao sentimento egoísta ou ao espírito de rivalidade e competição para forçar os coríntios a fazer algo que os motivos mais dignos não os levariam a fazer. A emulação da vida nobre nunca é um apelo à rivalidade, mas testa a profundidade e genuinidade do amor e devoção da pessoa. Esse princípio elevado de comparação provê um meio valioso de disciplina espiritual.

Sinceridade do vosso amor. Ver com. de 2Co.7:11; 2Co.7:16. Paulo não duvidava da sinceridade dos coríntios, mas sabia que a coleta proveria a oportunidade ideal para revelar essa genuinidade.

2Co.8:9 9. pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.

Conheceis. Paulo declarou-lhes a graça de Cristo, e os coríntios a conheciam por experiência, como o grego evidencia, não apenas como um dogma. Eles provaram da graça, e sabiam que o Senhor é gracioso. Na verdade, eles mesmos constituíam evidência viva da graça, que deve controlar o coração e a vontade. A graça nunca é eficaz enquanto permanecer apenas como um conceito intelectual. Além disso, nenhuma verdade divina é conhecida meramente pela compreensão intelectual (ver Mt.16:17; Jo.6:45; Jo.16:14; 1Co.2:4; 1Co.12:3). A Palavra de Deus é verdadeira àquele que é ensinado e convencido pelo Espírito. As riquezas que recebemos por meio da pobreza de Cristo comunicam a iluminação espiritual da vida.

Graça. Ver com. de Rm.3:24. Os supremos atos de Cristo, Sua encarnação e crucifixão, são atribuídos à graça apenas neste versículo, em Rm.5:15; Gl.1:6. Esses atos constituíram as supremas manifestações do amor e da condescendência divina. Neste versículo, Paulo contrasta o supremo sacrifício de Cristo e os incomparavelmente pequenos atos de caridade.

Senhor Jesus Cristo. Ver com. de Mt.1:1; Jo.1:38.

Que [...] Se fez pobre. Do gr. ptocheuo, “ser [extremamente] pobre”, “ser um mendigo” (sobre a palavra ptochos, o substantivo relacionado, ver com. de Mc.12:42). O tempo verbal utilizado neste versículo salienta a ação de se tornar “pobre”, a encarnação. Cristo Se esvaziou tão plenamente que nada reteve das riquezas que Lhe pertenciam. Ele tomou sobre Si a natureza humana e Se sujeitou às limitações da humanidade. Ele Se tornou pobre a ponto de não fazer nada de Si mesmo (Jo.5:19-20; ver vol. 5, p. 1013, 1014).

Sendo rico. Uma alusão à pré-existência de Cristo (ver Jo.17:5; ver com. de Fp.2:6-7; ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Como Ele era criador e rei, o universo era Seu (Jo.1:1-2; Cl.1:15-17), no entanto, Sua vida terrestre foi de extrema pobreza (Mt.8:20). Suas riquezas consistiam da natureza e dos atributos da divindade, de milhões de mundos, da adoração e lealdade de multidões de anjos.

Para que [...] vos tornásseis ricos. Com a entrada do pecado, a humanidade perdeu o lar, o domínio, o caráter e a própria vida. Por natureza, passa a vida buscando falsas riquezas (ver com. de Is.55:2; Jo.6:27). A eterna pobreza aguarda os que não armazenaram para si tesouro no Céu (ver com. de Mt.19:21; Lc.12:21). Cristo veio para libertar os seres humanos da pobreza que resulta de buscar as falsas riquezas (ver T3, 401). Em Cristo e por meio de Cristo as pessoas conseguem discernir o verdadeiro valor das coisas, e recebem o privilégio de se tornarem “ricas” nEle, pois herdam todas as coisas (Mt.6:20; Rm.8:17; Rm.8:32; 1Co.1:5; Ef.1:3-5; Ef.1:10-11; Ef.1:18-19; Ef.2:6-7; ver com. de Mt.6:33).

2Co.8:10 10. E nisto dou minha opinião; pois a vós outros, que, desde o ano passado, principiastes não só a prática, mas também o querer, convém isto.

Minha opinião. Paulo afirma, não na “forma de mandamento” (ver com. do v. 2Co.8:8). Ele sabia que uma expressão do julgamento sensato teria muito mais peso com os coríntios do que uma ordem contundente. A igreja já havia se comprometido a ofertar e necessitava apenas de encorajamento para reviver e realizar as boas intenções. Uma ordem estava completamente fora de lugar.

Pois a vós outros. O conselho de Paulo era que os coríntios não deveriam procrastinar mais para completar o que iniciaram no ano anterior. Era desejável que não agissem dessa forma, para seu próprio bem. Procrastinar seria danoso à experiência cristã e os conduziria abertamente à crítica. Um voto a Deus não pode ser repudiado sem envolver a integridade cristã (Ec.5:4-5).

Desde o ano passado. Aproximadamente um ano havia decorrido desde que os crentes coríntios empreenderam uma sincera tentativa para levantar fundos para a igreja de Jerusalém (2Co.9:2). Esse nobre projeto foi interrompido pela disputa e rixa ocasionadas pelos falsos apóstolos. Sendo que a maioria havia reafirmado lealdade a Paulo, o projeto podia ser retomado (ver com. de 2Co.11:22).

2Co.8:11 11. Completai, agora, a obra começada, para que, assim como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses.

Completai. Isto é, concluir o que eles já haviam prometido fazer.

Prontidão no querer. Uma mente disposta torna o pouco aceitável, no entanto, fazer menos do que se é capaz de fazer é uma negação da boa vontade. Uma vontade generosa é boa, mas isolada, não é suficiente. A vontade deve ser incorporada às obras, para que nossos melhores desejos e energias prestem solidez e força ao caráter. É bom estimar a caridade, no entanto, o ideal deve encontrar expressão prática. Fé e amor, como ideais, nunca alimentarão o faminto ou vestirão o nu (Tg.2:14-20). “Prontidão” é uma disposição espontânea e uma atitude mental para servir a Deus e ao semelhante. Não há necessidade de ser encorajado ou direcionado pela importunação dos outros.

2Co.8:12 12. Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem.

Boa vontade. É a boa vontade que determina a aceitabilidade do dom diante de Deus. Com Deus, a pergunta sempre é: Quanto o seu coração doa? Se o coração não doa nada, o que as mãos podem oferecer não tem valor diante de Deus. O Senhor não precisa de nosso cuidado nem de nosso dinheiro, e não é beneficiado com isso. Uma pessoa pode ter pouco ou nada para doar, no entanto, um coração disposto é o que santifica o dom. Os melhores esforços podem falhar, devido a circunstâncias além do controle, ou os desejos de trabalhar para Deus podem continuar impraticáveis, por falta de oportunidade. No entanto, tal necessidade não o leva a permanecer condenado diante do Céu (ver com. de Mt.20:1-16; Mt.25:14-46). Não é a quantidade de talentos que uma pessoa possui, mas a devoção e a fidelidade com os quais ela os aprimora é que vale para Deus.

2Co.8:13 13. Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade,

E vós, sobrecarga. Paulo não pretendia que os coríntios carregassem mais que a parte deles, o que privaria as demais igrejas da necessidade de fazer a delas.

2Co.8:14 14. suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade,

Haja igualdade. Paulo não se refere aqui à igualdade de propriedades ou bens, mas à proporcionalidade dos esforços. Na condição de prosperidade material, os coríntios tinham condições de fazer muito mais que os macedônios, na situação de escassez (ver com. dos v. 2Co.8:1-5).

A falta daqueles. Chegaria o tempo em que os coríntios estariam em necessidade, e outros teriam que assumir uma grande parte do fardo. As Escrituras reconhecem o direito da propriedade privada e de que todas as contribuições sejam voluntárias, mas também condena o egoísmo e a cruel negligência dos pobres e necessitados. Se um cristão doa uma grande soma, isso não dispensa os demais da obrigação de contribuir com o que puderem. Os que possuem menos bens terrenos não devem se isentar de fazer sua parte proporcional em auxiliar os outros (Ef.4:28; 2Ts.3:12).

2Co.8:15 15. como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve falta.

Muito colheu. Para ilustrar o princípio da proporcionalidade apresentado no v. 2Co.8:14, Paulo alude à colheita do maná no deserto (Ex.16:17-18). Independentemente da quantidade colhida, cada pessoa tinha o suficiente para suas necessidades. O mesmo princípio deve operar na igreja cristã, não por uma intervenção miraculosa, mas por meio do exercício do espírito do amor pelos irmãos. É a vontade de Deus que cada um tenha uma porção das coisas materiais adequada às suas necessidades. Também é a vontade de Deus que aqueles que, devido à habilidade e oportunidade, colhem mais desses bens, não desfrutem egoistamente sua superabundância, mas compartilhem com os necessitados (ver com. de Lc.12:13-34). Eles são mordomos, não proprietários, dos benefícios terrestres que acumularam, e devem utilizá-los para o bem de seus companheiros (SI.112:9; Mt.25:14-46). Assim, os males que resultam da superabundante riqueza e pobreza podem ser evitados.

2Co.8:16 16. Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de vós;

Graças a Deus. Paulo inicia outra seção de sua carta. Nos v. 2Co.8:1-15, ele expõe aos coríntios o nobre exemplo dos macedônios e enuncia os verdadeiros princípios da benevolência cristã. Ele continua a delinear os detalhes práticos a serem seguidos para terminar a coleta.

Pôs. Literalmente, “dá”, isto é, doa continuamente. Não há perigo de o zelo de Tito diminuir.

A mesma solicitude. Em primeiro lugar, Paulo elogia a Tito para a igreja de Corinto, expressando gratidão pelo fato de que Tito também está dedicado à coleta. Eles podem contar com a dedicação integral de Tito para a realização da tarefa em questão. O impulso à iniciativa abnegada pelo bem-estar prático e espiritual da humanidade é preeminentemente cristão. A obra de caridade e filantropia no mundo é essencialmente cristã em sua origem e espírito. Tal espírito não se origina no coração humano, porque é naturalmente egoísta. Esse espírito é parte da grande obra da igreja para ajudar as pessoas a pararem de se concentrar em si mesmas e inspirá-las a ter uma preocupação genuína pelo bem-estar das demais. Os cristãos podem ser gratos a Deus pela igreja, que inspira seus membros a contribuir para suprir as necessidades de outros membros e também a ministrar às necessidades deles (Mt.20:26; Mt.20:28). Tito oferece aos coríntios um verdadeiro favor, ao estimulá-los às obras generosas. Em vez de tentar evitar apelos para doar para a salvação e o bem-estar dos demais, os cristãos deveriam agradecer a Deus essas oportunidades.

2Co.8:17 17. porque atendeu ao nosso apelo e, mostrando-se mais cuidadoso, partiu voluntariamente para vós outros.

Atendeu ao nosso apelo. Tito respondeu de bom grado ao apelo de Paulo para ir a Corinto, na esperança de restaurar a igreja ao estado de paz e unidade anterior.

Mais cuidadoso. Ou, “dedicado”. As palavras de Paulo expressam sentido duplo. Embora a oferta tenha sido iniciada por Paulo, Tito estava de acordo com esse projeto e se preocupava com o sucesso dele. O encorajamento não era exclusivamente de Paulo. Tito já se dispusera a ir nessa missão a Corinto.

Partiu. Paulo narra a partida iminente para Corinto, como se ele já tivesse partido, do ponto de vista dos coríntios que estariam lendo a carta. Esse modo de expressão grego característico indica que Tito foi o portador da segunda epístola.

2Co.8:18 18. E, com ele, enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas.

Enviamos. Isto é, foi enviado (ver com. do v. 2Co.8:17).

O irmão. Paulo confiou a obra da coleta em Acaia a três homens, Tito e outros dois, cujos nomes não são apresentados. Os três contavam com a confiança das igrejas. Esse arranjo foi planejado para facilitar a coleta e para proteger a todos com relação à coleta, contra a suspeita de apropriação de fundos coletados para uso pessoal. Em vista de que uma minoria em Corinto ainda se opunha a Paulo, era melhor que ele não coletasse fundos pessoalmente. Uma soma considerável foi coletada, e um relatório completo foi devolvido às igrejas, mencionando a quantidade doada e a entrega em Jerusalém (ver v. 2Co.8:20-21). Paulo sabia que seus oponentes encontrariam falhas nele, caso pudessem achá-las. O ministro do evangelho é aconselhado a ser criterioso com relação ao dinheiro (1Tm.3:3; 1Pe.5:2).

Cujo zelo. Este irmão se provou um obreiro eficaz “no evangelho” e deveria ser respeitado como um digno colaborador de Paulo e de Tito.

2Co.8:19 19. E não só isto, mas foi também eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade;

Eleito. Do gr. cheirotoneo (ver com. de At.14:23). Embora a palavra signifique, literalmente, “estender a mão”, e assim, “eleger”, o uso deixa incerto o modo em que esse companheiro de Tito foi apontado.

Para ser nosso companheiro. Isto é, na viagem para Jerusalém, com Paulo e os outros, a fim de entregar aos irmãos os fundos coletados na Macedônia e na Grécia.

Graça. Como nos v. 2Co.8:4-7, a palavra se refere à iniciativa caridosa de auxiliar os pobres em Jerusalém, o que era uma expressão da graça de Deus (v. 2Co.8:1).

Para a glória. A coleta proposta para os santos em Jerusalém levaria as pessoas a glorificar a Deus. Quem vivia em Jerusalém louvou a Deus porque o evangelho conduziu os gentios a ter interesse prático na condição de necessidade deles, e os gentios encontraram alegria ao ministrar às necessidades de seus companheiros cristãos.

Nossa boa vontade. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante “nossa prontidão de mente” ou “nosso zelo”. Além do bem que sobreviria aos santos pobres em Jerusalém e às igrejas gentílicas em que faziam provisão para as necessidades deles, o projeto também demonstraria aos cristãos gentios na Judeia que Paulo não os havia esquecido. O projeto ligou o coração de judeus e gentios e os uniu em companheirismo. Isso ajudou a destruir “a parede de separação que estava no meio” (Ef.2:14) e que os distanciava.

2Co.8:20 20. evitando, assim, que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós;

Evitando, assim. Ou, “tomando precauções sobre isso”. Paulo tentou evitar qualquer justificativa para a acusação de que ele estava obtendo benefício pessoal do projeto. Estrita honestidade pode nem sempre ser suficiente nas questões financeiras, nas quais o mínimo descuido pode se tornar ocasião de crítica. O ministro cristão, especialmente, deve exercer cuidado escrupuloso ao lidar com questões financeiras (1Tm.3:3; 1Pe.5:2).

Acuse. Ou, “reprove”, indicando que alguém poderia acusar Paulo de não ter sido honesto com os fundos.

Generosa. Ou, “liberalidade”. A coleta tinha toda aparência de se revelar bem-sucedida, levando em consideração o que Paulo antecipou da comparativamente próspera igreja de Corinto. Os coríntios eram popularmente considerados um povo rico, como refletido no provérbio antigo: “Nem a todos é dado chegar a Corinto.”

2Co.8:21 21. pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens.

Honestamente. Isto é, bom, admirável ou bonito, indicando o que é honorável. Neste versículo, denota a conduta de alguém que tem a excelência do amor e desfruta de uma boa reputação diante dos outros, alguém que é tido em alta estima por sua admirável conduta. Os cristãos não são chamados apenas para ser santos, honestos e puros, mas “também na vista dos homens” devem ser reconhecidos como possuindo a beleza da santidade, honestidade e pureza. O verdadeiro cristão deve exemplificar diante de Deus e dos homens um belo e atrativo modo de vida (Rm.12:17; Fp.4:8; 1Pe.2:12). Este versículo é uma citação da tradução da LXX de Pv.3:4.

2Co.8:22 22. Com eles, enviamos nosso irmão cujo zelo, em muitas ocasiões e de muitos modos, temos experimentado; agora, porém, se mostra ainda mais zeloso pela muita confiança em vós.

Nosso irmão. Não é possível identificar esse companheiro de Tito como a pessoa do v. 2Co.8:18. No entanto, alguns têm sugerido Tíquico, que era membro da delegação que acompanhou Paulo a Jerusalém com a contribuição (At.20:4). Paulo se refere a Tíquico como um “irmão amado e fiel ministro” (Ef.6:21; Cl.4:7). Paulo considerava Tíquico como um de seus mensageiros mais confiáveis e, mais tarde, o enviou em várias missões importantes (2Tm.4:12; Tt.3:12).

2Co.8:23 23. Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros das igrejas e glória de Cristo.

Tito. Neste versículo, Paulo elogia os três homens escolhidos para dirigir a obra da coleta como homens diligentes em quem ele podia confiar. Paulo os investiu com plena autoridade, para que nenhuma das facções de Corinto se dispusesse a questionar os motivos deles. Os homens estavam aprovados e deviam ser aceitos. Tito é mencionado em primeiro lugar como presidente do grupo e representante pessoal de Paulo. Tito, mais tarde, desempenhou um posto importante de liderança na igreja (Tt.1:1-5; Tt.2:15).

Mensageiros. Literalmente, “apóstolos” ou “pessoas enviadas [numa missão]”. Esta designação os investiu com autoridade equivalente à do próprio Paulo (2Co.1:1), no que diz respeito à coleta. Isto não necessariamente conferia a eles o título permanente ou o ofício de apóstolo.

Glória de Cristo. Os três mensageiros de Paulo deveriam ser tratados com o máximo respeito como representantes pessoais de Cristo. A comissão deles redundará para a glória de Cristo. Paulo não poderia ter dado maior recomendação a esses homens.

2Co.8:24 24. Manifestai, pois, perante as igrejas, a prova do vosso amor e da nossa exultação a vosso respeito na presença destes homens.

Manifestai. Paulo desafia os coríntios a estar à altura da responsabilidade para apresentar um exemplo digno de emulação pelos cristãos de outros lugares. A atitude que tivessem, assim como a contribuição e o tratamento dado a esses delegados, inevitavelmente se tornariam conhecidos das outras igrejas. Os coríntios eram uma exibição pública nessa questão da coleta. A honra deles como igreja estava em jogo. A única resposta adequada da parte deles seria de sincera cooperação com os mensageiros de Cristo e de generosidade para com os cristãos pobres na Judeia. Cada igreja é representante do reino de Deus e, assim, um espetáculo a anjos e seres humanos (1Co.4:9). Nenhum assunto deste reino foi confiado com os dons ou bênçãos de Deus apenas para uso pessoal, embora seja verdade que a experiência com Cristo ou as bênçãos materiais provêm da providência divina.

2Co.9:1 1. Ora, quanto à assistência a favor dos santos, é desnecessário escrever-vos,

Assistência. Neste versículo, ainda se referindo à oferta.

É desnecessário. A linha de pensamento iniciada em 2Co.8:1 continua ininterrupta. No cap. 9, Paulo acrescenta a exortação concernente à coleta para os pobres em Jerusalém. Para que os coríntios não pensassem que Paulo insistia desnecessariamente no assunto, ele explica o motivo porque escreve amplamente a esse respeito. Os planos deles no ano anterior foram interrompidos pela dissenção e o espírito partidário que se ergueram entre os membros em Corinto. Entretanto, a fim de encorajar as igrejas da Macedônia a responder de um modo similar, Paulo salientou a prontidão original dos coríntios em participar no projeto. A menos que os crentes em Corinto completassem a coleta sem demora adicional, pareceria aos macedônios que a vanglória de Paulo acerca dos coríntios era infundada. Este versículo é uma forma sutil e cortês de expressar confiança na prontidão para continuar a coleta e de inspirá-los a fazer o mesmo, vindicando a confiança de Paulo neles (1Ts.4:9).

2Co.9:2 2. porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio junto aos macedônios, dizendo que a Acaia está preparada desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado a muitíssimos.

Presteza. Paulo destaca o melhor da igreja de Corinto, certo de que os membros pensam corretamente a respeito do assunto. Como líder cristão sábio, ele presta atenção a cada sinal favorável, na esperança de fortalecer o que prometia sucesso. O sábio ministro do evangelho estimula, de modo semelhante, o melhor das pessoas, quer como indivíduos, quer como grupo.

Da qual me glorio. Ver com. do v. 2Co.9:1.

Acaia. Na época romana, o sul da Grécia constituía a província da Acaia, da qual Corinto era a capital. Já havia várias igrejas cristãs nessa região, sendo Corinto a principal delas. Havia também uma igreja em Cencreia, um dos portos de Corinto (ver Rm.16:1; ver mapa, p. 19).

Vosso zelo. Paulo expressa plena segurança na igreja de Corinto quanto à parte dela na oferta e se gloria desta igreja como se fosse fato consumado. Os coríntios não poderiam voltar atrás, sem se envergonhar e negar todas as boas coisas que Paulo havia dito a respeito deles. O apelo a um bom exemplo algumas vezes dá resultado quando outros métodos falham. Muitos não creem que possam doar, até que outros demonstrem generosidade em circunstâncias semelhantes.

2Co.9:3 3. Contudo, enviei os irmãos, para que o nosso louvor a vosso respeito, neste particular, não se desminta, a fim de que, como venho dizendo, estivésseis preparados,

Enviei. Isto é, estou enviando (ver com. de 2Co.8:17).

Os irmãos. Isto é, Tito e outros dois, não mencionados por nome (ver com. de 2Co.8:16-24).

Nosso louvor. Ver com. do v. 2Co.9:1.

2Co.9:4 4. para que, caso alguns macedônios forem comigo e vos encontrem desapercebidos, não fiquemos nós envergonhados (para não dizer, vós) quanto a esta confiança.

Macedônios. Na época em que esta carta foi escrita, Paulo estava a caminho de Corinto. Dentro de poucas semanas, ele veria os coríntios face a face e passaria o inverno com eles (At.20:1-3). Evidentemente, já havia sido planejado que crentes macedônios o acompanhariam. Habitualmente, os crentes o acompanhavam de uma cidade a outra (At.17:14-15; Rm.15:24; 1Co.16:6; ver com. de 2Co.1:16). Se os coríntios ainda não estivessem prontos quando os representantes macedônios chegassem, a ocasião seria embaraçosa para todos, para Paulo, para os macedônios e para os próprios coríntios. Paulo fez de tudo para garantir o sucesso dos coríntios. Organizou e planejou cuidadosamente a coleta. O apóstolo salientou o zelo e interesse dos coríntios para encorajar os macedônios. Então, Paulo lhes enviou instruções adicionais, por carta. E, finalmente, Paulo enviou três representantes a fim de auxiliar os coríntios para conduzir o projeto até a conclusão. Após tantos esforços, o fracasso significaria vergonha e humilhação.

Para não dizer, vós. Isto é, não dizer vocês mesmos.

Confiança. A base para a glória de Paulo estaria plenamente despedaçada, caso os coríntios estivessem despreparados quando ele chegasse.

2Co.9:5 5. Portanto, julguei conveniente recomendar aos irmãos que me precedessem entre vós e preparassem de antemão a vossa dádiva já anunciada, para que esteja pronta como expressão de generosidade e não de avareza.

Conveniente. Esta palavra está com ênfase no texto grego.

Antemão. Paulo enfatiza a importância de completar a coleta antes de sua chegada. Ele temia que houvesse procrastinação. Com este versículo, ele conduziu sua diplomática, sábia e firme pressão a um clímax. Não é apenas dinheiro o que está em jogo, ou as necessidades dos pobres. É o espírito e o caráter dos coríntios, a maturidade cristã deles. A verdadeira doação é um ato da alma, desperta o melhor da natureza humana, tende a crucificar a carne e o desejo egoísta, limpa e purifica o doador dos motivos indignos. A verdadeira doação é um dos principais caminhos para a felicidade e para a saúde mental. Toda doação feita com vistas à glória de Deus e à felicidade dos outros resultará em bênçãos ao doador.

Avareza. Isto é, um desejo ganancioso de possuir mais coisas. Paulo advertiu os coríntios contra o doar alguma pequena quantia de má vontade, simplesmente para impressionar e obter vantagem (ver com. de Lc.12:15).

2Co.9:6 6. E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará.

Aquele que semeia. Na Bíblia, a imagem de semear e colher é bem conhecida. A relação entre semear e colher é natural e justa. Essa imagem está em plena harmonia com os princípios do governo de Deus (Pv.11:24-25; Pv.19:17; Pv.22:9; Gl.6:7-10). Um bom agricultor não semeia de forma relutante ou parcimoniosa, mas com alegria e abundância, conhecendo o relacionamento entre semeadura e colheita.

Fartura. A palavra revela a natureza elevada e divina da liberalidade cristã. A doação do cristão não é um sacrifício, mas o preparo para uma colheita. O “dom inefável” de Deus (v. 2Co.9:15) levou imensuráveis bênçãos à humanidade e alegria a Cristo, porque Ele viu o resultado de Sua obra e ficou satisfeito (Is.53:11). No plano da salvação, Deus demonstrou o modo de semear e garantiu a colheita. As pessoas devem decidir se colherão as bênçãos que Deus lhes tem destinado.

2Co.9:7 7. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.

Proposto no coração. Isto denota uma decisão bem pensada. A benevolência cristã desenvolve escolha deliberada. Uma considerável quantia é doada no impulso do momento, sem o pensamento cuidadoso que acrescenta à doação o coração do doador (ver com. de 2Co.8:5). Não é assim com o grande dom do amor de Deus (Jo.3:16; Ef.3:11). Unicamente o que vem de um espontâneo desejo do coração é aceitável a Deus (Mt.6:2-4).

Não com tristeza. Ou seja, não com relutância. Doar algo que entristece o doador não é uma doação verdadeira. Tal doação é entregue sem o doador, pois está acompanhada pelo pesar da pessoa manifestado na perda de posses terrestres. Em momento algum, o cristão considera a experiência de doação dolorosa. Uma pessoa que doa nesse espírito não colhe benefícios do ato. Por outro lado, o doador alegre é melhor, mais feliz e mais semelhante a Cristo. Um doador relutante pode também não doar de modo algum, porque seu espírito e caráter são completamente opostos ao espírito de Cristo, que livremente nos concedeu todas as coisas (Rm.8:32).

Por necessidade. Isto é, sendo exigida a doação. Pode se referir à pressão de grupo que impele a pessoa a doar para reter sua posição diante do grupo, à urgente exortação e incômodo pessoal para participar nos projetos da igreja, ou ao impulso de doar para compensar a falha em cumprir a tarefa em outros sentidos.

Deus ama. Esta declaração é quase uma citação literal da LXX de Pv.22:9. A suprema qualidade do caráter de Deus é amor (1Jo.4:7-8). A suprema honra que pode ser prestada a Deus por Suas criaturas é o reflexo deste amor na vida delas. Esta é a forma mais eficaz de proclamar Deus ao mundo.

Alegria. Isto é, imediata e espontânea. De todos os deveres cristãos, nenhum deve ser cumprido com mais alegria que doar, principalmente aos projetos designados ao avanço do reino de Deus na Terra. O espírito de liberalidade é o espírito de Cristo; o espírito de egoísmo é do mundo e de Satanás. O caráter do cristão é doar; o caráter do mundano é ganhar.

2Co.9:8 8. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra,

Fazer-vos abundar em toda graça. Os v. 8 a 11 apresentam a capacidade e a prontidão de Deus para suster as pessoas com a suficiência de todas as coisas, a fim de que possam, por sua vez, partilhar com seus companheiros. Há uma ênfase na noção de plenitude, por meio das palavras “toda”, “tudo”, “sempre”, que ocorrem quatro vezes no v. 8 (gr. pas, pantote), para expressar a abundância dos recursos divinos. É a natureza de Deus conceder dons espirituais e recursos infinitos. A cada cristão, todos os recursos divinos estão disponíveis para avançar a causa de Seu reino (ver Ml.3:10-11; 1Co.3:21-23; Ef.3:20). Por meio da superabundante graça provida por Deus, “tudo é possível” (Mt.19:26).

Suficiência. Do gr. autarkeia, “uma perfeita condição de vida em que nenhum auxílio ou apoio se faz necessário”, “contente” (Fp.4:11) ou “contentamento” (1Tm.6:6). O uso cristão da palavra denota piedade e contentamento, liberdade de dependência de seres humanos em resultado dos superabundantes recursos que vêm de Deus. Aqueles que agem por esse espírito liberal sempre estão adequadamente qualificados para fazer o bem (ver DTN, 827).

2Co.9:9 9. como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.

Está escrito. Uma citação exata da LXX do Sl.112:9. A expressão “está escrito” é a fórmula comum do NT para introduzir uma citação da Escritura. A pessoa justa é caracterizada pela sensibilidade às necessidades dos companheiros.

Distribuiu. Ou, “espalhou” (Mt.12:30). O doador liberal distribui aos pobres, como o semeador espalha sementes.

Pobres. Do gr. penes (ver com. de Mc.12:42), significando que é tão pobre que precisa trabalhar o dia todo para satisfazer as necessidades do dia seguinte.

Justiça. Neste versículo, a palavra denota especificamente a doação de esmolas (ver com. de Mt.6:1). A liberalidade cristã é uma evidência prática de justiça.

Permanece para sempre. Os efeitos são permanentes, e Deus nunca os esquecerá. A influência perdura de geração em geração (ver com. de Mt.26:13).

2Co.9:10 10. Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça,

Dá semente. Paulo novamente cita a LXX (Is.55:10), utilizando uma analogia entre a agricultura e o mundo espiritual. Assim como Deus precisa de agricultores que semeiem abundantemente, assim Ele fará com as pessoas que semeiam sementes de caridade e benevolência. A lei da semeadura e da colheita no mundo natural também é verdadeira para a utilização humana das posses terrenas. Aqueles que são generosos colherão com mais abundância das generosidades de Deus, embora não necessariamente em espécie (ver com. de Mt.19:29). Deus fornece a semente, ordena as estações e envia o sol e a chuva. Ele faz o mesmo com as sementes de generosidade semeadas no coração das pessoas (Os.10:12).

2Co.9:11 11. enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus.

Enriquecendo-vos. No plano de Deus, o enriquecimento com bens e bênçãos materiais tem o propósito de fazer o bem aos outros. No desígnio de Deus para a distribuição das posses terrenas, não há provisão para autoindulgência, autogratificação, autossatisfação ou para a exaltação própria.

Generosidade. Ver com. de 2Co.8:9.

Graças. Os cristãos rendem graças a Deus pelo reconhecimento das bênçãos diárias e do privilégio de compartilhar com outros em necessidade (ver com. de 2Co.1:11; 2Co.4:15). A gratidão e o louvor a Deus são características do povo de Deus. A gratidão é uma resposta natural do verdadeiro crente. Uma fé viva sempre encontra expressão em palavras e obras. O verdadeiro cristianismo vai além das crenças intelectuais para a prática aplicação dos princípios aos problemas da vida diária.

2Co.9:12 12. Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus,

Serviço. Do gr. leitourgia (ver com. de Lc.1:23), de onde se originou a palavra “liturgia”. No grego clássico, a palavra designa alguém que presta serviço público para o estado ou que mantém um cargo público às próprias custas. Na LXX, a palavra se refere aos serviços dos sacerdotes no santuário judaico (Nm.4:24; 1Cr.26:30). No NT, a palavra geralmente denota o serviço de Cristo e Seus representantes na Terra (Lc.1:23; Hb.8:6; Hb.9:21). Neste versículo, refere-se especificamente à doação dos coríntios para o alívio dos pobres em Jerusalém. A caridade cristã tem dois aspectos: em relação a Deus e ao próximo.

Assistência. Ou, “ministração” (ver com. do v. 2Co.9:1).

Supre. Literalmente, “encher por meio de acréscimo”, neste versículo, ao suprir as necessidades do pobre.

A necessidade dos santos. As necessidades dos pobres em Jerusalém.

Redunda. Ou, “transborda”. Isto expressa o aspecto da doação deles para com Deus, que resultaria em louvor e gratidão a Deus, da parte dos recebedores e da parte de outros cristãos que aprenderiam com sua generosidade. A doação é feita a Deus bem como aos seres humanos (Mt.25:40).

2Co.9:13 13. visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos,

Prova. Do gr. dokime, “tributação”, “prova”. A palavra dokime é traduzida como “tributação” (2Co.8:2), “prova” (2Co.13:3), “aprovado” (Rm.14:18; Rm.16:10) e como “experiência” (Rm.5:4). Os verdadeiros resultados e as últimas consequências da liberalidade dos coríntios seriam vistos, não no auxílio e nos benefícios prestados aos necessitados em Jerusalém, mas na glória que deram a Deus em resultado disso. Parte essencial do evangelho eterno é reconhecer e honrar a Deus (Ap.14:6-7). Deus planeja demonstrar, por meio de Seu povo, Seu poder e graça de tal forma que exalte Seu nome. A liberalidade dos coríntios glorificou a Deus ao proporcionar uma ocasião para provar sua sinceridade.

Ministração. Ou, “serviço”, isto é, aos pobres em Jerusalém.

Obediência da vossa confissão. As palavras seriam confirmadas pelas obras. Judeus conversos ao cristianismo suspeitavam que a conversão de gentios à fé, a menos que primeiramente aceitassem o judaísmo, não era genuína. Uma doação generosa das igrejas gentílicas aos irmãos judeus forneceria a última evidência tangível da lealdade e do propósito sincero das igrejas gentílicas. A adesão ao cristianismo seria provada mais que mera profissão sem prática. Apenas quando a religião conduz a pessoa a ter um interesse prático na felicidade e bem-estar de seus companheiros é que ela é digna de algo. Um professo amor por Deus, que não é refletido em serviço pelos outros é uma falsificação (ver com. de Mt.25:31-46; 1Jo.3:14; 1Jo.4:20-21). Os cristãos da atualidade farão bem em medir a si mesmos por esse padrão.

Liberalidade com que contribuís. Ou, “contribuição sincera”. A coleta proposta demonstraria que os coríntios tinham um espírito de verdadeiro companheirismo com os irmãos judeus. Paulo esperava provar que judeus e gentios eram um em Cristo. A obra do verdadeiro cristianismo é unir as pessoas no companheirismo do evangelho (Jo.17:9-11; Jo.17:20-23).

2Co.9:14 14. enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós.

Oram eles a vosso favor. Paulo reflete sobre a oração que ascenderia a Deus pelos santos em Jerusalém, quando recebessem a contribuição.

Com grande afeto. Ou, “ansiar por”. Um importante subproduto do serviço cristão é o espírito de oração e amor. Com os não cristãos, a atenção geralmente se centraliza na doação, no entanto, para os cristãos, ela se concentra sobre o doador. Orar pelos outros sem amor e anseio não é muito mais que palavra e forma. Amor sem oração é superficial e pode nem mesmo ser amor verdadeiro (ver com. de Mt.5:43-44). No entanto, a oração motivada pelo amor aperfeiçoa os dois e conduz à transformação do caráter. O coração dos judeus cristãos estaria unido ao dos irmãos gentios, em companheirismo profundo e verdadeiro.

2Co.9:15 15. Graças a Deus pelo seu dom inefável!

Inefável. Literalmente, “que não pode ser descrito plenamente”. Não pode haver plena exposição do dom do amor divino. Essa atribuição de louvor a Deus fornece um clímax adequado à seção que lida com a coleta de doações para os santos em Jerusalém. Eruditos não estão de acordo quanto ao significado da palavra “dom”, para Paulo. Alguns creem que Paulo se refere à coleta proposta. No entanto, a linguagem utilizada neste versículo parece muito forte para esse tipo de dom. Nesta seção, Paulo não salientou o aspecto material da doação deles, mas a doação como resultado da graça divina. O dom divino, pelo qual as pessoas são salvas, santificadas e motivadas ao serviço cristão em prol do semelhante está além da capacidade humana para compreendê-lo plenamente. Cristo é descrito nas Escrituras geralmente como o supremo dom de Deus aos seres humanos (Jo.3:16; Gl.1:4; Tt.2:14). O tema da redenção é inesgotável e insondável, além da compreensão finita. Independentemente de quanto as pessoas estudem para sondá-lo, nunca descobrirão toda sua beleza ou esgotarão seus recursos (ver com. de Jo.3:16). A gratidão a Deus prepara o caminho para a obediência a Sua vontade e para a recepção do poder para se envolver em serviço abnegado. Aquele que está repleto de gratidão a Deus buscará cumprir todas as Suas exigências, não porque é forçado, mas porque escolheu fazer dessa forma. A gratidão a Deus é a base de uma experiência cristã eficaz. Até que a pessoa seja submersa pela gratidão a Deus, por Seu dom “inefável”, a religião não alcança as profundezas da alma humana e do seu exterior em serviço altruísta pelos semelhantes.

2Co.10:1 1. E eu mesmo, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde; mas, quando ausente, ousado para convosco,

Rogo. Do gr. parakaleo, “rogar”, “admoestar”, “exortar”. Este capítulo inicia a terceira e última seção da carta. Nos cap. 1 a 7, Paulo insiste no poder e na glória do ministério apostólico; nos cap. 8 e 9, trata da coleta para os pobres em Jerusalém; nos cap. 10 a 13, Paulo discorre sobre seu apostolado. Neste versículo, Paulo vindica sua autoridade apostólica e a contrasta com a de seus oponentes, os “falsos apóstolos” (2Co.11:13) que perturbavam a igreja em Corinto (ver com. do v. 2Co.11:22). Nos primeiros nove capítulos, Paulo se dirige à maioria da igreja, a qual cooperava com ele. Há apenas uma referência passageira aos falsos líderes e a alguns que foram influenciados por eles (2Co.2:17; 2Co.3:1; 2Co.5:12). Neste versículo, Paulo alerta os coríntios contra os “falsos apóstolos” entre eles. Paulo tinha plena consciência da influência nefasta deles na igreja, e Tito lhe deu um relato adicional da obra destrutiva deles. Para a maioria, Paulo tinha apenas palavras afetuosas, de exortação e de reconciliação. No entanto, a despeito disso, os judaizantes (ver com. de 2Co.11:22) não tinham sido convencidos. Escrevendo à igreja de Corinto próximo ao final do século, Clemente de Roma encontrou os mesmos elementos antagônicos em ação. Apesar disso, a reprovação de Paulo acerca desse grupo insubordinado parece ter libertado a igreja da dissenção, pelo menos por um tempo. O firme procedimento com a situação não deixou dúvidas na mente dos crentes coríntios quanto à autoridade apostólica de Paulo. Os últimos capítulos de 2 Coríntios são ricos em conselhos para os que têm de enfrentar indivíduos discordantes. Uma compreensão da natureza da mudança nesta altura da carta é essencial para uma correta interpretação do que vem a seguir. A primeira pessoa do plural, “nós”, dá lugar à primeira do singular, “eu”. As primeiras palavras no grego são intensamente pessoais e enfáticas: “E eu mesmo, Paulo” (Gl.5:2; Ef.3:1; Fp.19). O apóstolo apresenta todo o peso de sua autoridade e personalidade contra os falsos líderes, os judaizantes (ver com. de 2Co.11:22). Eles o acusaram de covardia e timidez (2Co.10:1-2), discurso desprezível (2Co.11:6), inteligência e juízo duvidosos (v. 2Co.11:16-19). No entanto, eram falsos guias, com ensinos errôneos e “outro evangelho” (v. 2Co.11:4, ARC). Eram insolentes (v. 2Co.11:20-21), impertinentes (2Co.10:15) e desejosos de se impor sobre a congregação (2Co.11:20). Enfim, o tempo de acerto de contas havia chegado. Eles teriam que lidar com Paulo pessoalmente. Nestes capítulos, o tom geral é de indignação e de intensa reprovação. Em alguns pontos, ele argumenta quase que apologeticamente, com severidade. Em nenhum outro escrito de Paulo existe algo comparável, em espírito e método, ao que ocorre nos cap. 2Co.10-13.

Mansidão. Do gr. praotes, “suavidade”, “brandura”, “mansidão” (sobre a palavra relacionada praus, ver com. de Mt.5:5).

Benignidade. Do gr. epieikeia, “brandura”, “gentileza”, “imparcialidade”. Talvez “benignidade” expresse melhor a mudança gradual transmitida pela palavra epieikeia, mas com o acréscimo de ideias de equidade e imparcialidade sugeridas por amor sincero e devoção. Paulo prefere imitar o espírito manso e gentil de Cristo na conduta interpessoal, e não se agrada da severidade. No entanto, até sua severidade é marcada pela humildade. Nos v. 2Co.10:1-6, Paulo implora aos coríntios para não o obrigarem a utilizar medidas e palavras rígidas. Tais armas raramente são as mais eficazes, e sua utilização pode ser justificada apenas quando a suavidade e a mansidão falham. Paulo estava a caminho de Corinto, e logo confrontaria seus oponentes face a face. Se eles queriam dura disciplina, Paulo estava preparado para ministrá-la. O apelo definitivo, de tom severo, evitaria (assim ele esperava) a necessidade de palavras ainda mais duras quando os encontrasse pessoalmente. Os oponentes de Paulo eram arrogantes, obstinados e orgulhosos. Interpretaram erroneamente sua mansidão como fraqueza, sua gentileza como covardia. Estavam além do alcance de apelos conciliatórios e de exortação amável, como nos cap. 1 a 7. O único modo de atingir a autossuficiência deles era por meio de reprovação, denúncia e exposição, encontradas nos cap. 10 a 13. Quem tolera uma ideia envaidecida de seu próprio valor normalmente não é impressionado pelas virtudes da mansidão. Eles ainda desdenham dos que têm finas qualidades de humildade e gentileza. Para eles, posição e liderança mantidas por dominar os outros era a marca do êxito. Paulo explicou que, embora tenha optado por se dirigir a eles com brandura, a atitude deles o obrigava a utilizar medidas severas.

Humilde. Do gr. tapeinos, neste versículo, num sentido pouco lisonjeiro. Paulo alude às provocações de seus oponentes (2Co.10:10; 2Co.12:5; 2Co.12:7). Eles o ridicularizaram, insinuando que Paulo era fraco e covarde. Além disso, indagavam: ele não receou, durante todo o tempo, ir a Corinto? Ele não teria atrasado a ida porque temia enfrentá-los? Ele não compensou essa timidez por meio de cartas severas?

Ousado. Do gr.

tharreo, “ser corajoso”, “ser esperançoso”, “ser ousado” (ver v. 2Co.10:10).

2Co.10:2 2. sim, eu vos rogo que não tenha de ser ousado, quando presente, servindo-me daquela firmeza com que penso devo tratar alguns que nos julgam como se andássemos em disposições de mundano proceder.

Rogo. Do gr. deomai, “pedir”, “implorar”. A palavra deomai expressa mais urgência que a palavra parakaleo (2Co.10:1; Mt.9:38; Lc.8:28; Lc.9:40; At.21:39; 2Co.5:20; ver com. de 2Co.10:1). Paulo deseja ser poupado da necessidade de uma mostra decisiva de sua autoridade, que os embaraçaria e humilharia. Paulo roga para que não chegasse a tal ponto. É característica do espírito de amor evitar infligir dor ou humilhação. Esforço paciente, sincero e discreto de fazer as coisas certas no espírito do companheirismo cristão é sempre preferível à demonstração pública de autoridade e administração de disciplina.

Ousado. Isto é, em lidar com os problemas de Corinto. Neste versículo, Paulo não faz uma ostentação vã. Ousadia diante do perigo era algo comum para Paulo (ver com. de 2Co.4:8-10; 2Co.11:23-27). Se fosse preciso, a minoria obstinada de Corinto teria a oportunidade de ver esse lado de Paulo, outrora de caráter humilde, paciente e manso. Ele não teria receio de ninguém, nem hesitação para agir. Lidaria com eles ousadamente (2Co.11:21), a menos que uma mudança na atitude deles tornasse desnecessário que agisse dessa forma. A decisão era dos judaizantes. Paulo estava preparado para confrontar seus críticos e lidar com eles de modo eficaz.

Como se andássemos. Ou, “como se agíssemos”.

Mundano proceder. Referência à pessoa não regenerada, ao aspecto carnal, natural e mundano da pessoa não influenciada pelo Espírito Santo (ver com. de Rm.7:24; 1Co.9:27). Os impulsos naturais são chamados “a concupiscência da carne” (1Jo.2:16). As pessoas que são guiadas pelo Espírito não satisfazem “a concupiscência da carne” (Gl.5:16; Ef.2:3; 2Pe.2:18). A Bíblia fala de “sabedoria carnal” (2Co.1:12, ARC). Diz-se que as pessoas carnais “cogitam das coisas da carne” (Rm.8:5; Cl.2:18). “Não habita bem nenhum” na “carne” (Rm.7:18), porque está em “inimizade contra Deus” (Rm.8:7). Os inimigos de Paulo em Corinto o acusavam de ser motivado por objetivos egoístas (2Co.1:17). Faz parte do caráter de tais pessoas julgar os motivos e condutas dos outros pelos delas mesmas. No entanto, quando confrontadas por alguém com a coragem e ousadia santificada de Paulo, refugiam-se numa falsa submissão. Recuam para sua pequenez.

2Co.10:3 3. Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne.

Andando na carne. Isto é, vive neste mundo como um ser humano.

Militamos segundo a carne. Apesar de viver entre pessoas que recorrem a métodos mundanos, Paulo não condescende com tais métodos (ver Jo.17:11; Jo.17:14). A pessoa convertida possui uma natureza nova e diferente e é motivada pelo amor de Cristo e do Espírito de Deus, em harmonia com os ideais divinos (Jo.3:3; Jo.3:5; Rm.8:5-14; 1Co.2:12-16; 2Co.5:14). Ela obtém a vitória sobre o mundo, a carne e o Maligno (ver 1Jo.2:14-16). Com a experiência da regeneração e do novo nascimento, há uma hostilidade ativa e inveterada e uma guerra entre a carne e o espírito (Rm.8:3-14; Cl.5:16-23). Os dois não podem ser unidos. A carne nunca se tornará espiritual. Nela “não habita bem nenhum” (Rm.7:18). O cristão ainda está no mundo, mas sua natureza espiritual predomina sobre a natureza carnal e inferior (ver Rm.1:18-2:4). Paulo luta a boa batalha da fé com armas espirituais, não com as armas do mundo (Ef.6:12-20). Paulo compreende a verdadeira natureza da situação em Corinto e não hesitaria em utilizar essas armas, caso fosse necessário.

2Co.10:4 4. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas

Armas da nossa milícia. Ver com. de Ef.6:10-20; 1Tm.1:18; 2Tm.2:3-5; 2Tm.4:7. As armas do mundo são riqueza, talento, aprendizado, prestígio, posição, influência, razão, perversão da verdade, força e projetos humanos. Os inimigos de Paulo em Corinto lutavam com essas armas (ver com. de 2Co.3:1). No entanto, Paulo recusou lutar nessa armadura ou com essas armas, pois os princípios do Céu não permitem a utilização de tais métodos (Jo.18:36). Se a salvação de almas e a extensão do reino de Cristo dependessem de poder, intelecto e talento humanos, o cristianismo seria uma religião puramente humana. No entanto, as qualidades espirituais nunca devem ser impostas.

Poderosas em Deus. As armas do cristão são fabricadas no arsenal celestial e estão disponíveis por meio do ministério dos anjos (2Co.1:12; Ef.6:10-20; cf. DTN, 827). Incluem a verdade como apresentada na Palavra de Deus (Hb.4:12) e o poder partilhado por Cristo e pelo Espírito Santo (1Co.2:4). Deus convoca as pessoas para o conflito, equipa-as para a batalha e lhes assegura a vitória. Ele supre o ser humano com todo o poder (2Co.2:14).

Destruir. Ou, “demolir”. Nenhuma fortaleza de planejamento humano pode resistir às armas do Céu.

Fortalezas. Ou, “castelos”. Paulo relata o reino de Satanás como sendo defendido por várias fortificações. É obra do cristão e da igreja cercar o inimigo, destruir suas defesas e afugentá-lo para campo aberto. Paulo pensa nas cidadelas do coração humano, nas malignas fortificações da mente, nos hábitos consolidados do pecado e do eu. A batalha é da verdade contra o erro, do conhecimento de Deus contra a ignorância e superstição, da verdadeira adoração contra todas as formas de idolatria, da liberdade em Cristo contra a escravidão do pecado, da santidade contra a impiedade, da justiça contra a injustiça. Do controle de Cristo contra o de Satanás. A linguagem figurada dos v. 4 e 5 pode ter sido sugerida à mente de Paulo pelos piratas que infestavam a costa marítima nas proximidades de Tarso antes de ser expulsos dos mares pelas galés romanas, uma geração antes de seu nascimento. Esses saqueadores do mar atacavam de várias cavernas ocultas na costa, invadiam navios que comercializavam nos portos próximos e então se retiravam com o espólio. Finalmente, o general romano Pompeu conduziu uma campanha contra eles, na qual destruiu mais de 100 “fortalezas” piratas e fez mais de 10 mil prisioneiros.

Sofismas. Do gr. logismous, “raciocínios”, “pensamentos” (ver Rm.2:3; Rm.2:15). Paulo se refere às teorias humanas em contraste com a verdade revelada. Não há nada mais autodestrutivo que o raciocínio especulativo de pessoas envaidecidas que têm ousada confiança na sabedoria pessoal e nada além de desprezo para com Deus e Sua Palavra. Paulo propõe assaltar as cidadelas do mal.

2Co.10:5 5. e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo,

Toda altivez. Isto é, cada muro e torre desafiadora. Neste versículo, Paulo compara as especulações orgulhosas a fortalezas sobre as montanhas. A rebeldia ao Deus do Céu sempre tem sido a marca das forças do mal e da rebelião (Is.14:13-15; Dn.7:25; Dn.8:11; Dn.11:36; 2Ts.2:4; Ap.13:5-8). Individualmente, as pessoas levantam sua fortaleza particular da qual resistem ao poder de Deus. A mais resistente fortaleza para o mal é um modo de vida que se declara cristão e, na realidade, vai contra os princípios cristãos.

O conhecimento de Deus. A exaltação da sabedoria humana está em oposição ao conhecimento espiritual e superior que Deus transmite (Jo.17:8; At.17:23; 1Co.1:24; 1Co.2:10; Cl.1:9). O deus do filósofo é criado pelo processo do pensamento individual. O Deus do cristão é o Deus da revelação divina. Um é subjetivo, o outro é objetivo. Se aceitas, as humildes verdades do evangelho tais como a pecaminosidade humana e a expiação da justiça de Cristo, lançam fora a vã confiança própria, o conceito intelectual, o orgulho da sabedoria mundana e todas as pretensões humanas.

Levando cativo. Ou, “subjugando”, “trazendo sob controle”.

Pensamento. Do gr. noema, traduzido como “mente” (2Co.11:3; Fp.4:7); “desígnios” (2Co.2:11), entre outras traduções. A referência, aqui, pode ser à teologia dos falsos apóstolos (2Co.11:13), originada na mente de Satanás.

Obediência de Cristo. Sem a obediência nascida do amor não pode haver uma experiência cristã genuína (ver com. de Mt.7:21-27). Cristo não deixou o ser humano em dúvida quanto à natureza da verdadeira obediência (ver Jo.14:15; Jo.14:21; Jo.14:23-24; Jo.15:10; Jo.17:6; Jo.17:17). Todos os cristãos genuínos se submeterão de bom grado à autoridade amorosa de Cristo. Render-se à autoridade, especialmente à de Cristo e Sua Palavra, é repugnante a mentes e corações orgulhosos. A principal razão pela qual o evangelho não progrede mais no mundo e na vida das pessoas é a indisposição para tornar Cristo verdadeiramente Senhor da vida, e aceitar a autoridade de toda a palavra de Deus.

2Co.10:6 6. e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.

Punir. Paulo está pronto a exercer a autoridade apostólica para disciplinar e punir o grupo rebelde na igreja de Corinto. Até então ele se conteve porque a questão ainda não estava clara e muitos poderiam ser levados a tomar uma decisão errada. Naquele momento, porém, o assunto estava claro, e a maioria havia tomado posição ao lado de Paulo contra a minoria resistente. Antes, alguns deles poderiam ter simpatizado com os rebeldes, possivelmente estando ao lado deles contra Paulo. O que esses poucos rebeldes interpretaram como covardia e timidez era apenas paciência, que Paulo exercia na esperança de que outros pudessem ser convencidos. Ele evitaria ser severo para com aqueles que foram desviados pelos ensinamentos e métodos enganosos, que não conseguiram ver as questões claramente e que poderiam ser ganhos para o lado correto. Paulo já havia escrito duas, talvez três cartas a eles, explicando pacientemente as questões (ver p. 903, 904).

Uma vez completa a vossa submissão. Paulo está preparado para uma atitude drástica. É o alerta final. Não é dito que forma de punição ele pretende infligir aos poucos que exerceram influência tão forte e dolorosa. Possivelmente, Paulo administraria uma advertência pública e, se todos os demais meios falhassem, ele os expulsaria da igreja (1Co.5:5; 1Tm.5:20). Se alguém ainda estivesse indeciso, seria levado à decisão.

2Co.10:7 7. Observai o que está evidente. Se alguém confia em si que é de Cristo, pense outra vez consigo mesmo que, assim como ele é de Cristo, também nós o somos.

Observai. No texto grego, a frase pode ser traduzida como uma pergunta, como um imperativo ou como uma afirmação. Como pergunta, seria de desaprovação: os coríntios julgam com base na aparência? Como imperativo, exigiria que abrissem os olhos ao óbvio. Como afirmação, seria uma acusação de que alguns dos coríntios ainda valorizavam as aparências. Independentemente de qual tenha sido a intenção de Paulo, a declaração indica que os coríntios não examinaram as acusações apresentadas contra Paulo. As conclusões dos coríntios foram emocionais, em vez de lógicas, e baseadas em aparência (ver com. de 2Co.5:12). Os julgamentos superficiais são comuns porque poucas pessoas estão dispostas a reservar o julgamento até que tenham oportunidade de examinar todas as evidências.

Se alguém. Paulo parece se referir a alguns dos líderes da oposição ou a alguém que era sincero, mas estava com os pensamentos confusos. O contexto parece favorecer a primeira opção (ver o termo “alguns” do v. 2Co.10:2, 2Co.11:4; 2Co.11:20).

Que é de Cristo. Isto é, reivindica ser um representante de Cristo devidamente designado.

Também nós o somos. Paulo se refere a sua própria comissão como apóstolo. Neste capítulo e nos seguintes, ele faz diversas referências a suas qualificações como embaixador de Cristo. Sua autoridade é igual à dos doze apóstolos (2Co.11:5; 2Co.12:11-12). Ele foi chamado e comissionado pelo Senhor (At.9:3-9; At.22:17-21; 1Co.15:8; 2Co.10:14-18). Experimentou companheirismo com Cristo em Seus sofrimentos (2Co.11:23-33). Além disso, recebeu visões e revelações diretamente de Cristo (2Co.12:1-6).

2Co.10:8 8. Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa, não me envergonharei,

Gloriar. Do gr. kauchaomai, “orgulhar”. Paulo utiliza a palavra 21 vezes na epístola. Os falsos líderes em Corinto se envolveram em ostentação egoísta (ver com. de 2Co.5:12). Chegou a vez de Paulo se orgulhar, mas ele o faz com relutância, com moderação e com o único propósito de confirmar sua autoridade como um apóstolo de Cristo, para benefício dos que ainda estivessem confusos sobre a questão. Neste quesito não há grande diferença entre Paulo e os falsos líderes. Eles se gloriavam numa autoridade que era, na realidade, de origem humana e egoísta em suas intenções. Paulo se orgulhava de uma autoridade divinamente conferida e exercida para a edificação da igreja. Sendo que sua autoridade era de Deus, os coríntios deveriam reconhecê-la e respeitá-la. O resultado seria a edificação da igreja de Corinto, a derrota dos elementos desagregadores e a vindicação de Paulo como um apóstolo de Jesus Cristo.

Edificação. Literalmente, “tornar maior”. A utilização que Paulo faz desta palavra indica a imagem do cristão como um templo no qual Deus habita (1Co.3:9-17; 2Co.6:16; Ef.2:20-22; 1Pe.2:4-5). A autoridade do evangelho tem o propósito de edificar, não de destruir. O alvo dos falsos líderes em Corinto era exaltar ou edificar a eles mesmos, e o efeito dividiria e destruiria a igreja. Paulo fundou a igreja de Corinto e seu exercício de autoridade, mesmo na disciplina severa, foi designado para edificar.

Não me envergonharei. Os falsos apóstolos em Corinto se propuseram a envergonhar Paulo, ao ridicularizá-lo como apóstolo e ao diminuir o evangelho dele. Paulo declara que seu propósito em se gloriar de sua “autoridade” como apóstolo é em defesa de seu apostolado e de seu evangelho. Ele não tem motivos ocultos.

2Co.10:9 9. para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por meio de cartas.

Intimidar-vos. Ou, “amedrontá-los”. Os inimigos em Corinto atribuíram tal motivação a Paulo, mas ele nega que seu propósito seja subjugar os crentes.

Cartas. Paulo já havia escrito pelo menos duas cartas aos coríntios, possivelmente mais (ver com. de 2Co.2:3-4; cf. p. 903-904). Utilizando o plural, “cartas”, Paulo inclui a carta perdida mencionada em 1Co.5:9.

2Co.10:10 10. As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra, desprezível.

Graves e fortes. Paulo cita as palavras dos críticos. Até mesmo seus inimigos admitiram que ele escrevia bem, e o tempo confirmou a opinião deles. Mal sabiam que as cartas de Paulo eram inspiradas e que constituiriam uma grande parte do que se tornaria o Novo Testamento, a base da teologia cristã. Em suas cartas abundam irresistíveis argumentos para a fé. Estão repletas do poder do Espírito Santo manifestado na severa reprovação, na mansidão e no amor cristão, na exaltação de Cristo como redentor, nos apelos aos homens e mulheres perdidos para que aceitem o caminho para a salvação, na inspiração para o companheirismo com Cristo e no testemunho da conversão pessoal e da experiência cristã.

Presença. Do gr. parousia (ver com. de Mt.24:3). Esta é a única referência no NT à aparência pessoal de algum dos apóstolos (1Co.2:3-4; 2Co.12:7-10; Gl.4:13-14). Os escritores antes do 4º século declararam que Paulo era de estatura baixa, curvado, possivelmente devido aos constantes castigos físicos (2Co.11:24-25), calvo e tinha as coxas tortas, no entanto, era cheio de graça e tinha olhos cativantes de amor, nobreza e zelo por Cristo (ver Atos de Paulo e Tecla 1:7). Outros escritores antigos confirmam essa descrição, mas é apenas uma tradição. Em 2Co.10:1, Paulo reafirma que sua aparência pessoal não impressionava. O nível ao qual seus oponentes em Corinto se rebaixaram para ridicularizar sua fraqueza física, e talvez uma leve deformidade, revela o caráter desprezível deles.

Desprezível. Esta acusação parece ter sido um exagero ofensivo, se não uma completa calúnia. Paulo era um excelente orador (At.14:12; 2Co.24:1-21). É verdade que, depois da experiência em Atenas, Paulo evitou a retórica e a oratória que deleitava os gregos (ver 1Co.2:2). Ele recusou utilizar esses meios para atrair pessoas a Cristo. Nada deve ser permitido que possa diminuir a clareza e a força do evangelho (1Co.2:4-5).

2Co.10:11 11. Considere o tal isto: que o que somos na palavra por cartas, estando ausentes, tal seremos em atos, quando presentes.

O tal. Ver com. dos v. 2Co.10:2; 2Co.10:7. Paulo se dirige à pessoa ou pessoas principalmente para responsabilizá-las pelo problema. Sua declaração não é tanto uma ameaça do que faria quando chegasse a Corinto, mas uma refutação das acusações de que ele agia de uma forma quando está ausente e de outra, quando presente. Parece que as declarações severas e lógicas de Paulo nos cap. 10 a 12 convenceram seus oponentes de que suas mentiras o deixaram numa posição insustentável. Era totalmente ilógico pensar que um homem, como descreviam Paulo, ergueria igreja após igreja como a de Corinto. Aonde Paulo ia, deixava após si multidões de judeus e gentios conquistados para a fé cristã como evidência do poder do evangelho pregado por ele.

2Co.10:12 12. Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez.

Não ousamos. Nos v. 12 a 18, Paulo exalta sua obra como ministro do evangelho. Nesta epístola, ele defende continuamente sua integridade como apóstolo (2Co.3:1; 2Co.4:2; 2Co.5:12; 2Co.12:11). Então, ele contrasta sutilmente o convencimento e vangloria de seus oponentes com sua circunspecta obra enquanto esteve em Corinto. Ele reverte a situação criada por seus oponentes com um inteligente jogo entre as palavras egkrino e sugkrino. Paulo se refere à acusação de covardia. Se os oponentes querem dizer que lhe falta coragem para se impor e ser um líder no sentido popular, Paulo aceita a acusação prontamente. Além do mais, ele não se importa nem ousa buscar o aplauso das pessoas. O atrevimento que os oponentes demonstraram não o agradou. No entanto, há um tipo de coragem que não falta (2Co.11:21-30), a coragem de imprimir o evangelho em novas regiões e a coragem de sofrer por Cristo (2Co.10:15-16). Paulo se mede a si e a sua obra de acordo com a vontade e o padrão de Deus (Rm.12:3; Ef.4:7). Para os gálatas, Paulo declarou que não ousava se gloriar exceto na “cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl.6:14).

Classificar-nos. Do gr. egkrino, “contar entre”, “julgar digno de ser admitido a” um círculo seleto.

Ou comparar-nos. Do gr. sugkrino, “comparar” ou “medir”. Paulo não se aventuraria a competir com esses mestres da bajulação do eu; porque nesse sentido eles o ultrapassam em muito.

Louvam a si mesmos. Os coríntios faladores eram membros, aparentemente, do que pode ser chamado de uma sociedade de admiração mútua. Cada pessoa se eleva em seu próprio padrão de excelência e louva outros membros da sociedade para propagar os interesses pessoais e das pessoas que pertencem ao seu grupo. Elevando as próprias virtudes como um padrão de comparação, elas se tornam seu próprio ideal. O louvor pessoal é a pior forma de autoengano. A arrogância cega as pessoas quanto a um objetivo padrão de excelência pelo qual possam fazer avaliação imparcial de si mesmas e, como resultado, estão sempre perseguindo a si mesmas num ciclo vicioso. Tornam-se cegas ao padrão divino, cegas a seu próprio orgulho, às excelentes qualidades dos que se opõem a elas, e mesmo até à necessidade pessoal de salvação. Esse modo de avaliação pessoal, começando e terminando no eu, carece de discernimento ou mesmo de um interesse pessoal esclarecido. Viver por esse padrão é contrário à mente e ao espírito de Cristo (Fp.2:5-11).

Revelam insensatez. É o auge do orgulho para um pecador se considerar perfeito ou quase perfeito (Rm.7:18; 1Jo.1:10). Um senso da própria imperfeição é a primeira exigência do Céu a todos que serão aceitos como filhos e filhas de Deus (ver com. de Mt.5:3).

2Co.10:13 13. Nós, porém, não nos gloriaremos sem medida, mas respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou e que se estende até vós.

Sem medida. Ou, “além da medida”, isto é, o limite do certo e a de quando dado por Deus. Os oponentes de Paulo não têm outro padrão de medida além do deles mesmos. Não têm como se erguer além da iniciativa própria. A palavra “nós” é enfática no grego e salienta a grande diferença entre Paulo e seus colaboradores, de um lado, e os judaizantes autorrecomendados, por outro. Paulo reconhece um limite fixo à sua autoridade, esfera de atividade e vigor de conduta (ver Gl.2:7-9). Ele não ousa avançar ou ultrapassar o limite. A esfera de trabalho especial de Paulo era entre os gentios (At.26:17-18; Gl.2:7-9). Ele iniciou em Antioquia e alcançou as fronteiras mais longínquas do mundo gentio. Na época em que escreveu, Corinto delimitava a extensão mais distante de sua obra. Os falsos apóstolos em Corinto reconheceram não haver limites para as atividades deles.

A presença e a presunção de autoridade deles era suficiente para condená-los. Os falsos apóstolos perseguiram Paulo de Jerusalém para a Antioquia, para a Galácia e então para Corinto, tentando desfazer sua obra, reivindicando crédito pelo que ele havia feito e se gloriando como se as realizações de Paulo fossem deles. Paulo tinha pleno direito à lealdade dos coríntios; esses falsos apóstolos, não. Deus o designou para a obra em Corinto (At.18:8-10). Deus não enviou os falsos apóstolos a Corinto, e havia apenas outra fonte da qual teriam recebido essa comissão (2Co.11:3), se é que a receberam. O apóstolo não toma crédito para si pelo sucesso de outras pessoas.

2Co.10:14 14. Porque não ultrapassamos os nossos limites como se não devêssemos chegar até vós, posto que já chegamos até vós com o evangelho de Cristo;

Nossos limites. Isto é, “nós não ultrapassamos os limites de nossa esfera de trabalho designada”.

Não devéssemos chegar até vós. Isto é, como se Corinto estivesse além do território designado a Paulo. A Macedônia e a Grécia estavam dentro de sua esfera de ação designada (At.16:9-10). Portanto, foi por nomeação divina que Paulo pregou primeiramente o evangelho em Corinto. Ao se oporem a Paulo, os falsos líderes em Corinto se provaram usurpadores, sem comissão, sem autoridade, sem credenciais válidas. O único instrumento deles consistia nas exigências pessoais arrogantes.

2Co.10:15 15. não nos gloriando fora de medida nos trabalhos alheios e tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entre vós, dentro da nossa esfera de ação,

Não nos gloriando. Ver com. do v. 2Co.10:8.

Fora de medida. Ver com. do v. 2Co.10:13. A prioridade de Paulo sempre foi plantar o evangelho em solo virgem, fazer a obra pioneira (Rm.15:20) e, por esta razão ele não corria o risco de se gloriar da obra de outras pessoas.

Vossa fé. A condição espiritual melhorada dos crentes coríntios deu motivos para Paulo crer que a igreja naquela cidade logo se tornaria um bastião da fé e um centro a partir do qual novos triunfos do evangelho seriam alcançados. A maturidade da fé deles possibilitaria a extensão de seus trabalhos nos campos distantes. Até então, ele havia sido impossibilitado (em parte pela difícil situação em Corinto) de seguir em frente para um novo território. Há muitas razões para crer que sua esperança de abrir novas áreas ao evangelho foi concretizada (Rm.15:22-28). Conforme a fé dos coríntios aumentava, a reputação de Paulo como apóstolo era engrandecida. A maturidade espiritual dos coríntios seria para o apóstolo como uma coroa de glória, assim como um professor é honrado pelas realizações de seus alunos (ver com. de 2Co.3:1-3). Uma evidência de maturidade na igreja é que ela não necessita de tanto cuidado como um bebê espiritual (1Co.3:1-3). Infelizmente, hoje, como nos tempos apostólicos, algumas igrejas restringem o trabalho do pastor ao exigir atenção contínua para atividades que poderiam realizar, se fossem maduras. Igrejas que não são espirituais não apoiam por muito tempo uma obra missionária saudável.

Engrandecidos entre vós. Paulo procurava inspirar as igrejas com seu zelo missionário. Ele iniciava a obra nas grandes cidades e deixava a essas igrejas localizadas estrategicamente a responsabilidade de evangelizar o distrito ao qual pertenciam. Esse método de evangelismo se provou eficiente, pois muitas das grandes igrejas centrais originavam outras igrejas dentro de seus distritos. Da igreja de Laodiceia, por exemplo, diz-se que foram fundadas outras 16 igrejas na circunvizinhança. É privilégio de cada igreja enviar seus membros ao campo missionário, por Cristo.

2Co.10:16 16. a fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.

Além das vossas fronteiras. A única indicação das regiões que Paulo tinha em mente está em Rm.15:19-24: Ilírico, Itália e Espanha. Fica evidente que já havia cristãos em Roma e que a igreja existia ali (Rm.1:7-13), sem o benefício dos trabalhos apostólicos.

Campo alheio. Isto é, a região de trabalho pertencente a alguém mais. Em circunstância alguma Paulo violou o território alheio, tomando crédito pelos trabalhos de outros, como faziam os falsos apóstolos em Corinto.

2Co.10:17 17. Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.

Glorie-se no Senhor. Em vez de se vangloriar. O v. 17 é uma citação de Je.9:24 (ver com. ali). O crédito pelo sucesso, seja na experiência cristã pessoal ou no ministério em prol dos outros, pertence a Deus. Atribuir a si mesmo honra pelo sucesso é desonrar a Deus, por desviar a atenção das pessoas de Deus e concentrá-la no instrumento humano, exaltando a pessoa acima de Deus (ver SI.115:1; 1Co.1:31; 1Co.10:12; 1Co.15:10; 2Co.12:5; Gl.2:20; Gl.6:14; ver com. de 1Co.1:31). Aqueles que se tornam satisfeitos consigo mesmos estão longe do ideal cristão (Fp.3:12-14). Os que mantêm constante relacionamento com Cristo nunca têm uma opinião exaltada de si mesmos (ver CC, 64).

2Co.10:18 18. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva.

O Senhor louva. Alcançar uma posição de liderança desperta a tentação de aceitar a aclamação humana e de se orgulhar de conquistas pessoais. O próximo passo é o desejo de exercer autoridade arbitrária sobre os outros. Para o cristão, no entanto, a única aprovação desejável é a divina (ver Rm.2:29; 1Co.3:13-14; 1Co.4:1-6). Receberão a aprovação de Deus apenas os que suportam esse teste e triunfam sobre a presunção, o orgulho e a exaltação própria. O autoelogio dos falsos apóstolos de Corinto, que, na verdade, não tiveram sucesso, deixou claro que eles não tinham a aprovação de Deus (sobre o critério pelo qual Deus recompensa o serviço, ver com. de Mt.20:1-16).

2Co.11:1 1. Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois.

Quisera eu me suportásseis. Nos cap. 11 e 12, Paulo vindica sua autoridade apostólica para se contrapor às táticas de seus oponentes, gloriando-se de sua fraqueza e do poder de Deus. A ostentação de seus oponentes enfatizava a fraqueza e as inadequações de Paulo, imaginadas ou reais, em contraste com a suposta capacidade deles como apóstolos (ver com. de 2Co.10:10). Paulo prefere não condescender até mesmo com humilde glorificação de suas fraquezas, a qual ele está prestes a expressar, e solicita a atenção complacente dos coríntios.

Minha loucura. Certas expressões ocorrem repetidamente nos cap. 11 e 12: (1) “suportar” e “sofrer” (as duas palavras são originadas de anecho; 2Co.11:1; 2Co.11:4; 2Co.11:19-20), e (2) “loucura” e “insensato” (2Co.11:1; 2Co.11:16-17; 2Co.11:19; 2Co.12:6; 2Co.12:11). Os críticos de Paulo fizeram parecer que o apóstolo era um insensato, então, como “insensato”, ele se gloria de suas “fraquezas” (2Co.11:30). Paulo também fala, apologeticamente de sua glória como “loucura”. Gloriar-se como os críticos de Paulo faziam era, para ele, a mais grave loucura, uma glória que ele considerava incompatível com sua humildade, dignidade e responsabilidade apostólicas. Tal glória era oposta ao espírito de Cristo (Fp.2:5-8). Paulo se sentia ridículo em ser colocado numa posição na qual (ver com. de 2Co.10:8; 2Co.10:13-18; 2Co.12:10-11), para defender sua autoridade apostólica, parecia necessário fazer o que seria considerado autoglorificação (2Co.11:16).

Nesse contexto, Paulo chama atenção para: 1. Seu apostolado: o título, ministério e autoridade, que em nada era inferior ao dos “excelentes apóstolos” (v. 2Co.11:5). 2. Sua pregação sem apoio material: por sua vez, os oponentes do apóstolo literalmente furtavam os crentes (2Co.11:7-10; 2Co.11:19-20; 2Co.12:13-18). 3. Sua ascensão hebraica (2Co.11:22). 4. Seu trabalho abundante (2Co.11:23). 5. Seus sofrimentos, provações e perseguições por amor de Cristo (2Co.11:23-33). 6. Suas visões e revelações (2Co.12:1-5). 7. Seu “espinho na carne” (2Co.12:7-10). Se é lícito se gloriar, Paulo tem muito do que se orgulhar. Em comparação, o que seus inimigos tinham para se gloriar? Quando Paulo se gloria, ele expõe a futilidade das reinvindicações pretensiosas deles. Ao falar de si mesmo e de seus trabalhos, ele pretende ajudá-los a perceber e apreciar o que realizou entre os coríntios, para que os coríntios não fossem levados pelos falsos apóstolos a desprezá-lo, bem como a sua mensagem, destruindo assim o fruto de seus labores.

Suportai-me. Paulo está confiante de que a maioria dos crentes o compreenderá e o “suportará”. Paulo confia neles. Os coríntios interpretarão suas palavras com amor, com um espírito que não pensa mal. Seus inimigos, por outro lado, não pensariam assim. É privilégio do obreiro cristão desfrutar a plena confiança de seus amigos e conversos, além de conseguir compartilhar com eles suas preocupações.

2Co.11:2 2. Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.

Zelo. Do gr. zeloo, “queimar com zelo”. Utilizado no bom sentido, significa entusiasmar-se na busca do bem, estar cheio de ardor. Neste versículo, Paulo teme que os coríntios não sejam seduzidos e corrompidos pelos falsos apóstolos. No sentido negativo, zeloo denota rivalidade. No bom sentido, refere-se a Deus, como tendo ciúmes de Seu povo. Deus não tolera nenhum rival.

Zelo de Deus. O Senhor aprecia o amor de Seu povo e sente profundamente qualquer diminuição da afeição por Ele por parte dos crentes (ver Ez.18:31; Ez.33:11; Ex.20:5; Ex.34:14; Dt.4:24; Js.24:19; Zc.8:2). Por um período, os coríntios transferiram as afeições de Paulo para um rival. A preocupação de Paulo não é um zelo humano e mesquinho, mas um zelo como o de Deus.

Para vos apresentar. O clímax do ritual do casamento na Antiguidade ocorria quando o noivo tomava a noiva e a levava para seu lar, para a festa de casamento. Como amigo do noivo, Paulo reflete sobre a alegria que terá quando apresentar os coríntios a Cristo em Sua volta. Será um dia de alegria quando a noiva olhar para o rosto de Cristo e contemplar Sua glória (1Co.13:12; 1Pe.1:7-8; 1Jo.3:2). O Noivo, então, olhará para a noiva, adornada com as puras vestes de justiça, e, satisfeito (Is.53:11; Zc.3:17), a conduzirá para a casa de Seu Pai (Jo.14:1-3).

Como virgem. Isto é, dar em casamento, ou em noivado. Nos tempos antigos um intermediário era contratado para fazer os arranjos para o noivado de um filho ou filha (ver Mt.25:1-13; 1Co.7:36-38; ver com. de Gn.24). Para propósitos práticos, o noivado tinha valor como o próprio casamento. Neste versículo, Paulo era o intermediário entre Cristo e a igreja. A noiva escolhida permanecia em casa com os pais ou era confiada ao cuidado e proteção de amigos de confiança do noivo, até que o esposo escolhido viesse buscá-la. Normalmente, havia um tempo entre o noivado e o casamento. Mas, durante esse tempo, toda a comunicação entre o futuro esposo e a noiva era realizada por meio de um amigo de confiança (ver Jo.3:29). Também era sua responsabilidade ensinar e preparar a noiva para o dia em que o esposo se apresentasse.

A responsabilidade do amigo era considerada sagrada. A infidelidade por parte da noiva escolhida era algumas vezes punível com morte. Neste versículo, Cristo é noivo, a igreja de Corinto é a noiva escolhida e Paulo é o “amigo” do noivo. Foi Paulo quem intermediou o noivado dos crentes coríntios com Cristo (Rm.7:1-6), e ele estava ansioso para que a igreja de Corinto permanecesse pura e sem mácula. O casamento é empregado na Escritura como uma ilustração do relacionamento entre Cristo e Seu povo (Is.54:5; Is.62:5; Je.3; Ez.16:8-63; Os.2:18-20; Ef.5:25-32). Ao sumo sacerdote, que tipificava Cristo, era permitido casar apenas com uma virgem pura (Lv.21:10-14). A expectativa da igreja é encontrar Cristo face a face.

2Co.11:3 3. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

Enganou. Paulo temia que os falsos apóstolos, emissários de Satanás, seduzissem os coríntios como a serpente seduziu Eva. Nos dois exemplos, Satanás planejou a trama maligna (Gn.3:1-11; Jo.8:44; 1Jo.3:8). Pelo fato de a serpente ter sido o instrumento que Satanás usou para a queda de Adão e Eva, as Escrituras se referem a Satanás como a “serpente” (Ap.12:9; Ap.20:2). A teologia de Paulo está baseada na premissa de que a queda do ser humano foi um evento histórico (ver com. de Rm.5:12-19).

Astúcia. Ou, “malícia”, “astúcia”. O engano é a mercadoria de Satanás (Jo.8:44; Ap.20:8); sem isso ele não teria sucesso.

Mente. Do gr. noemata, “pensamentos” (ver com. de 2Co.10:5). O objeto particular do ataque de Satanás é a mente humana (Jo.12:40; ver com. de 2Co.10:4-5). Em Corinto, a corrupção da mente dos crentes ocorreu por meio da atuação dos falsos mestres. Satanás corrompe a mente ao desviar e cauterizar a consciência. Sua obra é oposta à do evangelho, que é de purificar a consciência. Satanás realiza sua obra nefasta ao cegar as pessoas à verdade, ao endurecer e enganar o coração e ao escravizar a razão e as paixões. Ele leva homens e mulheres a duvidar do amor de Deus e busca privá-los do poder para escolher o que é certo. Satanás ocupa a mente com tudo que diminuirá o tempo e o desejo por Cristo, Sua justiça e Seu reino (Lc.21:34-36). Ele busca instilar em toda mente hostilidade e rebelião contra Deus (Rm.8:7; Tg.4:4).

Corrompida. Ou, “depravada”. Em Ap.19:2, a palavra “corrompia” é utilizada figuradamente para impureza marital. Nos tempos bíblicos, a infidelidade após o noivado era considerada quase de modo equivalente ao adultério após o casamento (ver com. de Mt.1:18-19). Espiritualmente, como intermediário entre a noiva e o noivo celestial, o guardião e protetor da noiva escoIhida deveria prestar contas sobre a igreja de Corinto, e não se atrevia a descuidar de seu dever. Ele a vigiava com “zelo de Deus” (2Co.11:2) e considerava esses falsos líderes como aspirantes rivais à mão e ao coração da virgem.

Simplicidade. Ou, “sinceridade”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) o acréscimo das palavras “e pureza”. Paulo fala neste versículo de fé pessoal e devoção a Cristo (Tg.1:8). Ele insiste na virtude da fidelidade a Cristo. A atitude de se apartar “da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2Co.11:3) contraria o ensino de que uma pessoa não pode cair da graça e que “uma vez salva”, a pessoa está “salva para sempre” (ver com. de Jo.3:18-21; Gl.5:4). Até Lúcifer, criado perfeito em beleza e caráter, caiu de sua pureza e obediência originais. Paulo reconhece a possibilidade de dissolver o casamento dos crentes com Cristo, por meio do poder corruptor de Satanás. Quando isso ocorre, a união entre Cristo e Sua “noiva” é desfeita. As instruções de Deus a Adão e Eva no jardim do Éden foram simples. Ele não deixou dúvidas quanto ao que requeria deles e o que ocorreria caso desobedecessem. Deus lhes deu uma clara razão para não comer o fruto proibido; Satanás ofereceu várias razões plausíveis para desobedecerem a Deus.

A definição e interpretação de Deus para o pecado é simples (Mt.5:21-22; Mt.5:27-28; 1Jo.3:4), assim como o convite para ir a Cristo (Is.55:1; Ap.22:17). É claro o caminho da verdade e da justiça, ao passo que é enganoso o caminho das trevas e do erro (Jo.3:19-21). As afirmações de Deus são simples e claras; Suas promessas são transparentes (2Co.7:1). O amor real é simples e verdadeiro, enquanto o coração dividido é confuso. O caminho da justiça e da vida é estreito e apertado, em contraste com o largo e tortuoso caminho de pecado e morte (Mt.7:13-14).

2Co.11:4 4. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.

Outro. Do gr. allos, “outro” da mesma espécie (ver com. de Mt.6:24). Os judaizantes não pregavam um Jesus e um evangelho diferentes (At.15:1; At.15:5); eles professavam crer no mesmo Cristo. Havia, no entanto, um partido dos judaizantes cujo credo realmente constituía o que Paulo designa como outro evangelho (Gl.1:8). Esses judeus enganados criam que Jesus era o Messias, mas também que as pessoas deveriam guardar a lei cerimonial para serem salvas. O evangelho de Paulo, no entanto, consistia da simples e verdadeira fé em Jesus como pleno salvador do pecado, que a lei cerimonial não era mais obrigatória e que a obediência à lei moral automaticamente segue a justificação, e não é a base para ela (ver com. de Rm.3:24; Rm.3:31; Rm.8:1-4). Paulo parece escrever com ironia, pacientemente repreendendo os coríntios por terem sido ludibriados pelos intrusos.

Se, de fato, encontraram um Jesus e um evangelho melhor, aceitem-nos! Por outro lado, Paulo pode estar afirmando, factualmente, o que eles tinham feito. Em nossos dias há uma grande diferença entre o Cristo de Paulo e dos evangelhos, e o Cristo de muitos cristãos. Os últimos admiram e elogiam Jesus por Sua nobre vida, mas O privam da divindade e do poder de expiar vicariamente (2Pe.2:1; 1Jo.4:1-3).

Outro espírito (ARC). Neste versículo, a palavra para “outro” é heteros, “outro [de um tipo diferente]” (ver com. de Mt.6:24). Crer em outro Jesus resultaria em outro evangelho e outro espírito. O verdadeiro espírito de Cristo é concedido a homens e mulheres, por meio do Espírito Santo (Rm.8:14-15; Gl.5:22-23). O falso espírito, de temor, advém de um conceito errado de Deus, que O faz parecer um amo duro. O espírito de Cristo é o espírito da verdadeira liberdade (2Co.3:17-18), ao passo que o dos oponentes de Paulo e do “evangelho” deles é um espírito da escravidão (Gl.3:1-5; Gl.4:1-9; ver com. de 2Co.3:6). Eles cultivam um espírito de justiça própria, em oposição ao espírito de gratidão pela justiça que vem pela fé em Cristo (Rm.3:25-26).

Outro evangelho (ARC). Neste versículo, a palavra para “outro” é heteros, “outro [de uma espécie diferente]” (ver com. de Mt.6:24).

Tolerais. Ou, “ouvis”.

2Co.11:5 5. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos.

Em nada. Isto é, nem um pouco.

Excelentes (ARC). Ou, “preeminente”, “superlativo”, literalmente, “excessivo”. É provável que não seja uma referência aos doze, mas aos falsos apóstolos que estavam perturbando a igreja de Corinto, cujas atividades são mencionadas nos v. 2Co.11:3-4. O termo grego tende a expressar desaprovação e talvez ironia. Paulo sempre fala dos doze com grande respeito (1Co.15:8-10; Gl.2:8-10). Neste versículo, ele inicia a ostentação à qual se referiu no v. 2Co.11:1, comparando-se com esses autodenominados apóstolos (ver com. do v. 2Co.11:1).

2Co.11:6 6. E, embora seja falto no falar, não o sou no conhecimento; mas, em tudo e por todos os modos, vos temos feito conhecer isto.

Falto. Do gr. idiotes, “não educado”, “iletrado”, “não habilitado” (At.4:13). No grego clássico, a palavra idiotes denota uma falta de habilidade em qualquer arte ou profissão. Em 1Co.14:16; 1Co.14:23-24, a palavra se refere a pessoas sem o dom de línguas. Embora Paulo se refira neste versículo a si mesmo como um orador desqualificado (1Co.1:17; 1Co.2:1; 1Co.2:4), ele era um orador (At.14:12; At.22:1-21; At.24:10-21; At.26:2-29). Corinto e Atenas eram os principais centros de aprendizado e onde se faziam grandes discursos, e os coríntios estavam acostumados a isso. Esse fato explica, em parte, a apreciação que tinham por Apolo (At.18:24-28). É provável que Paulo não tenha sido treinado na arte grega do discurso clássico, por isso não declarou ser eloquente. Além disso, depender da eloquência tenderia a exaltar o orador em vez da mensagem.

Não o sou no conhecimento. Paulo afirma possuir algo mais importante que a oratória. Ele conhecia a mente e a vontade de Cristo e tinha uma compreensão das verdades espirituais necessárias à salvação (1Co.2:4-16; Gl.1:12; Gl.1:16; Ef.3:3-4; Ef.3:18-19). Ele conheceu a Cristo, o que equivale à vida eterna. Essa verdade transcende todos os demais conhecimentos (Jo.17:3; 1Jo.2:29; 1Jo.3:5; 1Jo.3:18; 1Jo.3:24; 1Jo.4:2; 1Jo.5:18-20).

Feito conhecer. Ou, “evidenciou”, “elucidou”.

2Co.11:7 7. Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?

Cometi [...] algum pecado? Nos v. 7 a 11, Paulo aborda o problema apresentado pelos críticos em relação ao seu ministério autônomo aos coríntios. Paulo havia escrito sobre esse assunto na primeira carta, apresentando os princípios envolvidos (1Co.9:4-18). Em harmonia com os princípios já afirmados nas Escrituras por Cristo, ele tinha declarado seu pleno direito ao apoio ministerial, do mesmo modo como os demais apóstolos o recebiam (Mt.10:7-10; Lc.10:7-8). No entanto, Paulo voluntariamente renunciou a esse direito, para deixar claro que não estava contaminado com motivos mercenários (At.20:33; 2Ts.3:8-9). Seus inimigos, no entanto, utilizaram essa demonstração de altruísmo para impugnar seus motivos; usaram como evidência o fato de Paulo saber que não merecia apoio e admitir que não era um apóstolo genuíno. Além disso, eles o consideravam inconsistente ao aceitar apoio dos crentes na Macedônia (2Co.11:9; Fp.4:10).

Talvez ele tivesse motivos ocultos, e este aparente altruísmo com relação aos coríntios era parte de um esquema para tirar vantagem deles. Paulo se preocupava se tinha agido errado nas atitudes que tomou em Corinto, porque o íntimo relacionamento que desfrutava com os crentes em Filipos não acontecia em Corinto. Ele trabalhava como construtor de tendas para pagar suas despesas como embaixador de Cristo (At.18:3; At.20:33-35; 1Ts.2:9). Não é sábio um obreiro de Cristo colocar-se sob obrigação com qualquer membro da igreja, a fim de receber recursos desse membro para uso pessoal. O ministério do evangelho é desonrado se é feito o meio para ganho pessoal (1Tm.3:3). A boa-nova da salvação é um dom gratuito de Deus ao ser humano (Is.55:1-2).

2Co.11:8 8. Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir,

Despojei. Ou, “espoliei”. Comparada às pobres igrejas da Macedônia, a igreja de Corinto era relativamente próspera (ver com. de 2Co.8:1). Este versículo é uma nítida reprovação aos coríntios.

Salário. Do gr. opsonion, “pagamento [de um soldado]”, ou “compensação”, frequentemente, porções fixadas não em dinheiro (ver com. de Lc.3:14; Rm.6:23; 1Co.9:7). Paulo não afirma que tomou algo da igreja de Filipos de modo desonesto. As doações que havia recebido foram feitas voluntariamente e representavam um sacrifício real por parte dos doadores. Essas doações possibilitaram que ele devotasse mais de seu tempo a Corinto, para estabelecer a igreja ali. De certo modo, os coríntios foram beneficiados pelos macedônios; a pregação do evangelho nada custou aos coríntios, pois Paulo era sustentado por outras pessoas (ver 2Co.11:9).

2Co.11:9 9. e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.

Privações. Isto é, carecia ou estava em necessidade (ver com. de Lc.15:14). Durante seu ministério em Corinto Paulo exauriu seus recursos, e faltavam os meios suficientes para suprir até suas necessidades mais básicas, enquanto ministrava a uma igreja próspera. A indiferença deles revelava um alto grau de negligência, para não dizer egoísmo, e era indesculpável. Contudo, mesmo assim, Paulo não deu indicações aos coríntios de suas necessidades. A situação foi remediada, não pelos crentes coríntios, como era de se esperar, mas pela chegada oportuna dos irmãos da Macedônia com uma doação adicional (ver Fp.4:10). Os irmãos mencionados podem ter sido Silas e Timóteo (At.18:5).

Pesado. Do gr. katanarkao, “ser pesado”. Outra forma da palavra grega fornece o nome de um peixe parasita que se adere a outras criaturas para garantir seu alimento. Como resultado, o hospedeiro perde vitalidade. Paulo não foi um parasita, vivendo à custa dos coríntios. Ele não os sobrecarregou financeiramente ou de outra forma. Seu ministério não os reduziu a uma situação de perda de vitalidade, quer espiritual ou economicamente. Pelo contrário, ele os inspirou, distribuiu vida, revigorou.

2Co.11:10 10. A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia.

A verdade de Cristo. Paulo insiste na confiabilidade de sua declaração (ver com. de Rm.9:1; 2Co.1:18). A presença de Cristo em sua vida removia a possibilidade de que ele distorcesse os fatos (ver Rm.8:9-11; 1Co.2:16; 2Co.13:3; Gl.2:20).

Tirada. Ou, “ser silenciada”, literalmente, “ser confinada”. Paulo estava tão seguro da sabedoria do plano de independência financeira, que declarava ser melhor morrer do que cair na má fama de ganhar dinheiro daqueles a quem ministrava (1Co.9:15). Isso revela o quanto ele era sensível a esse respeito.

Regiões da Acaia. Referência à região da Grécia propriamente dita. Sua insistência era se conformar ao princípio de independência financeira em seu ministério era especialmente necessária nessa região. Seus inimigos em Corinto o teriam feito parecer um parasita, caso Paulo tivesse agido de outro modo. Não havia perigo de tal acusação vinda de Macedônia, onde havia um espírito de profundo companheirismo entre Paulo e seus conversos. No entanto, a situação em Corinto era diferente.

2Co.11:11 11. Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe.

Por que razão? Nos v. 11 e 12, Paulo explica porque esteve indisposto a aceitar apoio da igreja de Corinto. A declaração do v. 11 indica que alguns coríntios estavam enciumados por causa da preferência que Paulo aparentava demonstrar pelos macedônios ao receber doações deles, e concluíram que ele se importava mais com os filipenses do que com eles. No entanto, Paulo nega não possuir emoções ou estar distante dos coríntios. Na verdade, ele frequentemente expressou seu amor por eles e apelou pela retribuição desse amor (1Co.4:21; 1Co.4:13; 2Co.2:4; 2Co.6:11-13; 2Co.8:7-8; 2Co.12:15). Em suas cartas e em seu ministério aos coríntios, ele já havia manifestado profunda afeição.

2Co.11:12 12. Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam.

Ocasião. Do gr. aphorme, um termo militar que denota principalmente uma “base de operações”. Refere-se à base ou ao motivo em que uma ação se fundamenta (ver Rm.7:8; Rm.7:11; Gl.5:13; 1Tm.5:14). Se Paulo tivesse aceitado dinheiro dos coríntios, seus inimigos teriam apontado o fato como outra “ocasião” para condená-lo. Por assim dizer, eles fizeram da sua não aceitação do apoio dos coríntios um pretexto para questionar seu apostolado (ver com. de 2Co.11:7). Paulo era confrontado com as alternativas de: (1) renunciar seu direito a apoio como um apóstolo (Lc.10:7), com o risco de parecer, por um lado, negar seu apostolado (ver com. de Mt.17:24-27) e, por outro lado, demonstrar falta de amor pelos coríntios (ver com. de 2Co.11:11); ou (2) aceitar o apoio e parecer estar em busca de ganho pessoal. Ele corria o risco da primeira alternativa, que considerava um mal menor, para evitar a última.

Serem considerados iguais a nós. Parece que os falsos apóstolos aceitavam apoio material dos coríntios (1Co.9:7-13; 2Co.11:20) e se justificavam com base nas supostas prerrogativas apostólicas. Eles negavam esse privilégio a Paulo. Embora fosse falsa a justificativa de os falsos apóstolos terem prestado serviço altruísta, eles ainda se gloriavam disso. No entanto, se realmente desejavam se orgulhar, afirma Paulo, deveriam seguir sua política de sustento próprio.

2Co.11:13 13. Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo.

Falsos apóstolos. Eram, nominalmente, judeus cristãos (v. 2Co.11:22) e alegavam ser apóstolos de Cristo. Eles se uniram à igreja cristã (At.15:1-2; At.15:5; Gl.2:4-5; Fp.3:2-3), no entanto eram impostores, meros pretendentes que haviam usurpado a autoridade, os direitos, ofícios e privilégios dos verdadeiros apóstolos de Cristo. Na ausência de credenciais genuínas (ver com. de 2Co.3:3), recorreram a disfarce e subterfúgio.

Transformando-se. Do gr. metaschematizo, “mudar a aparência de”, geralmente enfatizando, como neste versículo, a aparência de mudança em contraste com uma transformação genuína (ver com. de Mt.17:2).

2Co.11:14 14. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.

Satanás. Ver com. de Mt.4:1; ver também Nota Adicional a Marcos 1; Mc.1:45.

Transforma. Ver com. do v. 2Co.11:13. A luz é um dos supremos atributos de Deus e de Seus santos anjos (Mt.28:2-3; 1Tm.6:16; 1Jo.1:5; Ap.21:23-24). Quando e onde Deus ou Seus anjos aparecem, eles lançam luz e dispersam as trevas (At.26:18; Cl.1:13). As trevas, ao contrário, representam o mal e seu autor, Satanás (Lc.22:53; 2Co.6:14; Ef.6:12; ver com. de Jo.1:4-9). Desde o início, Satanás tem se disfarçado melhor para seduzir as pessoas a fim de afastá-las de Cristo.

Luz. Anteriormente, Satanás foi um anjo de luz. Seu nome era Lúcifer, que significa “filho da alva” (Is.14:12-14; Ez.28:13-19). A rebelião contra Deus o transformou em um anjo das trevas, e os anjos que tomaram partido com ele aceitaram morar no reino das trevas (2Pe.2:4; Jd.1:6).

2Co.11:15 15. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.

Seus próprios ministros. O argumento é do maior para o menor. Como Satanás engana, assim também agem seus representantes. Aos olhos de Deus não há nada mais abominável do que aparentes ministros de Cristo cooperarem com agentes de Satanás. Estes só podem ser conhecidos pelos frutos (Mt.7:16-20; Mt.12:33-37).

E o fim deles. É necessário que todos os hipócritas, impostores e enganadores sejam finalmente desmascarados para a plena revelação do caráter e justiça de Deus diante de todo o universo. Naquele dia, todas as pessoas, justas e ímpias, salvas e perdidas proclamarão que Deus é justo (Ap.15:4).

2Co.11:16 16. Outra vez digo: ninguém me considere insensato; todavia, se o pensais, recebei-me como insensato, para que também me glorie um pouco.

Ninguém me considere insensato. Com um forte protesto aos coríntios, aos seus inimigos e a si mesmo, Paulo indica que não é pequena insensatez se envolver em “ostentação” (ver com. do v. 2Co.11:1). Isso é repugnante para Paulo, o que comprova que ele não é um tolo. Cristo também se referiu às Suas boas obras em confirmação de Suas exigências (Jo.10:32; Jo.10:37-38; Jo.15:24). Paulo sentia que, por mais que pessoalmente não gostasse de se “gloriar”, como a defesa de seu ministério pode ser chamada, ele devia agir assim para enfrentar as falsas acusações dos falsos apóstolos em Corinto.

Recebei-me. Isto é, “ouçam-me”.

2Co.11:17 17. O que falo, não o falo segundo o Senhor, e sim como por loucura, nesta confiança de gloriar-me.

Não o falo segundo o Senhor. Como em outras ocasiões (1Co.7:6; 1Co.7:12; 1Co.7:25; 2Co.8:8), Paulo nega que o que está prestes a dizer seja por ordem divina. Ele fala apenas em defesa própria. Caso ele não tivesse deixado claro esse ponto, ele poderia parecer ter justificado a jactância de seus inimigos. A razão de Paulo para se gloriar seria claramente compreendida. De um ponto de vista exterior, talvez a autodefesa de Paulo pode parecer tola, o que ele mesmo reconhece (ver com. de 2Co.11:1; 2Co.11:16). No entanto, do ponto de vista de seus motivos, está plenamente justificado em agir assim.

2Co.11:18 18. E, posto que muitos se gloriam segundo a carne, também eu me gloriarei.

Muitos se gloriam. “Muitos” na igreja de Corinto foram impressionados pela glória “segundo a carne”, isto é, pela ênfase em linhagem, classe social, reputação e vantagens exteriores semelhantes. Eles agiram assim por motivos egoístas; mas os motivos de Paulo eram dignos.

Segundo a carne. Isto é, segundo as coisas que apelam ao ser humano materialista.

Também eu me gloriarei. Ver com. de 2Co.10:8.

2Co.11:19 19. Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos.

Sensatos. Paulo fala com ironia e seriedade ao mesmo tempo.

Tolerais os insensatos. Ele fala ironicamente. Os coríntios tinham uma opinião exaltada da própria sabedoria e discernimento mental. Eles não apenas toleravam como também aceitavam a autoridade de insensatos, nos supostos méritos da jactância deles. Consequentemente, não achariam difícil aceitar a jactância de Paulo. De acordo com seus padrões, Paulo tinha muito para se gloriar.

2Co.11:20 20. Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto.

Quem vos escravize. Paulo expõe e condena os métodos arrogantes dos pseudoapóstolos em Corinto. Tito havia relatado a Paulo sobre a dura e tirânica autoridade exercida por esses falsos líderes. Esse fato contrastava nitidamente com o tratamento de Paulo aos coríntios, marcado por amor e bondade. Cinco expressões são utilizadas para descrever a natureza e obra desses falsos apóstolos. Os falsos apóstolos escravizavam aqueles que os aceitavam (Mt.23:4; Gl.2:4; Gl.4:9; Gl.5:1; Gl.5:13; 1Pe.5:2-3). Em vez de levar liberdade, os falsos ensinos e as doutrinas escravizavam as pessoas mental e espiritualmente. A verdade liberta as pessoas (Jo.8:32; Jo.8:36). A obra dos falsos mestres e líderes religiosos era de se assenhorear da igreja, ao controlar a mente e o coração. A obra dos verdadeiros líderes é conduzir pessoas a Cristo e não a si mesmas.

Quem vos devore. Ver com. de Mt.23:14. Os falsos apóstolos trabalhavam por dinheiro e ganho mundano. Tosquiavam as ovelhas, em vez de alimentá-las. Eram inspirados e motivados por cobiça, “devoravam” os coríntios. Eram mercenários.

Quem vos detenha. Isto é, “quem vos pegue" ou “quem vos tire vantagens”. Os falsos líderes eram mentirosos e tinham enganado os coríntios. Sábios como eram (v. 2Co.11:19), os coríntios foram ingênuos.

Quem se exalte. Uma característica desses falsos apóstolos era assumir grande autoridade. Por meio da ostentação e de discursos pomposos atribuíam a si o senhorio sobre a igreja.

Quem vos esbofeteie. Esta expressão ilustra a profundidade da desgraça à qual os coríntios foram sujeitados. Tal ação é exemplificada na Bíblia como um sinal de extremo desprezo (1Rs.22:24; Ne.13:25; Is.58:4; Mt.5:39; Tt.1:7). Tanto Cristo quanto Paulo sabiam o que era experimentar essa forma de tratamento (Lc.22:64; At.23:2; 1Tm.3:3). Não poderia ser apresentado maior insulto a uma pessoa. Agindo assim, mesmo que figuradamente, esses homens se demonstraram falsos líderes e apóstolos. Não tinham senso do valor da salvação das pessoas, nem mesmo respeito pelos direitos dos outros.

2Co.11:21 21. Ingloriamente o confesso, como se fôramos fracos. Mas, naquilo em que qualquer tem ousadia (com insensatez o afirmo), também eu a tenho.

Envergonhado (ARC). Literalmente, “segundo a desonra” ou “por meio da desonra”. Não está claro se Paulo fala de sua própria desonra ou da de seus oponentes. A “repreensão” está ligada de algum modo com a exibição do que era considerado como fraqueza. Alguns exegetas bíblicos creem que Paulo afirma que, se ele houvesse errado em ser muito humilde e paciente com os coríntios, então procuraria demonstrar sua preeminência em termos de linhagem, posição e sofrimentos. Os que defendem esse ponto de vista salientam a utilização do tempo verbal grego aoristo em muitos manuscritos, em vez do tempo verbal perfeito. Isso indicaria algum evento singular no passado, alguma manifestação de fraqueza durante uma visita anterior à igreja de Corinto. O próprio Paulo menciona tais ocasiões (2Co.2:1; 2Co.10:10; 2Co.12:7-10; 2Co.12:21; Gl.4:13-15). Paulo não era o tipo de pessoa que evitava reconhecer as próprias limitações. Gloriar-se não era natural para ele. No entanto, se sua paciência deve ser interpretada como fraqueza, ele demonstraria que “também pode ser ousado”. Outros exegetas bíblicos interpretam a declaração de Paulo, neste versículo, como irônica. Comparados aos oponentes tirânicos (v. 2Co.11:20), Paulo e seus colaboradores pareciam “fracos”. “Sou fraco” - ele pode ter-se imaginado dizendo - “porque não tive oportunidade de demonstrar minha autoridade.”

2Co.11:22 22. São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São da descendência de Abraão? Também eu.

Hebreus. Este versículo identifica os oponentes de Paulo na igreja de Corinto como judeus. No decorrer da história, os judeus passaram a crer em sua superioridade como raça e como povo escolhido de Deus (Dt.7:6; Am.3:2; Jo.8:33-39). As três designações utilizadas neste versículo são sinônimas. Aqui, Paulo refuta a alegação de que seus oponentes tinham vantagem sobre ele nesse quesito (ver At.22:3; Fp.3:3-5; sobre a origem do termo “hebreu”, ver com. de Gn.10:21). A utilização do termo “hebreus” neste versículo sugere a antiguidade da origem deles como povo, enquanto distintos de outras nações. Originalmente, distinguiam-se dos descendentes de Eber (Gn.11:16) como uma raça. Após o cativeiro, o termo passou também a se referir à linguagem aramaica, a linguagem comum da Palestina nos dias de Paulo (ver vol. 1, p. 1, 5, 6).

Embora nascido no exterior, Paulo aprendeu aramaico, e isso refletia seu respeito e adesão às tradições hebraicas. Os judeus helenísticos da diáspora normalmente falavam grego e utilizavam a tradução grega do AT, a LXX. Devido a Paulo ter nascido fora da Palestina, em Tarso, capital da Cilícia, e por falar grego, os oponentes, judeus palestinos, o classificaram como um helenista, e desta forma, menos leal ao judaísmo do que supostamente eles seriam. A diferença entre o judeu cristão e o adepto comum do judaísmo dos tempos do NT também deve ser observada. Os oponentes de Paulo pertenciam à igreja cristã e procuravam posições de liderança. Consideravam-se superiores aos conversos gentios e insistiam em preservar essa distinção. Paulo, no entanto, não reconhecia diferença entre judeus e gentios com relação à salvação nem diante de Deus (Rm.1:14; Rm.2:25-29; Rm.3:29-30; Rm.10:12; Gl.3:28-29; Gl.5:6; Ef.2:14; Cl.3:11).

O conflito entre Paulo e esses falsos apóstolos cristãos judeus em Corinto era apenas parte de um conflito maior que se ergueu na igreja cristã apostólica em diferentes épocas e lugares (ver At.10:28; At.15:1-2; At.15:5; Gl.2:1-9; Gl.2:11-14). Era mais difícil até mesmo para os conversos judeus consentirem com a abolição da “parede de separação que estava no meio” (Ef.2:14) e se livrarem de algum sentimento de hostilidade para com os gentios, pelo fato de não terem nascido judeus. Essa atitude, desenvolvida pelos judeus em grande parte ao longo dos séculos desde o cativeiro era uma perversão do propósito de Deus para Seu povo escolhido (ver Jo.10:16; Ef.2:14-15; vol. 4, p. 19, 20). Era muito difícil, até para os discípulos, libertar a mente das duras algemas desse pensamento estreito e intolerante (At.10:9-17; At.10:28; At.11:1-18; Gl.2:12).

Quando Paulo escreveu a epístola hoje conhecida como 1 Coríntios, a igreja de Corinto era perturbada por várias facções (ver com. de 1Co.1:12). Na época em que a segunda epístola foi escrita, poucas semanas ou meses mais tarde (ver p. 903, 904), a maioria dos membros da igreja estava reconciliada com o apóstolo (ver 2Co.7:5-15; ver com. dos v. 2Co.7:13; 2Co.7:15). Mesmo assim, alguns falsos apóstolos persistiam em trabalhar contra ele (ver 2Co.10:2). A essa minoria é que o apóstolo dirige a severa repreensão na segunda epístola, principalmente nos cap. 10 a 13. Embora Paulo esclareça que essa minoria era composta de judeus (2Co.11:22), não os identifica como pertencentes à facção judaizante da igreja cristã, nem discute seus ensinos heréticos. Dado esse silêncio, alguns têm inferido que não eram judaizantes. No entanto, o consenso é que essa oposição era de natureza judaizante. Seus líderes eram cristãos judeus que alegavam ser judeus melhores e mais leais ao judaísmo do que Paulo (2Co.10:7; 2Co.11:22).

Também alegavam ser “apóstolos de Cristo” (v. 2Co.11:13) e “ministros de Cristo” (v. 2Co.11:23). Também negavam que Paulo fosse um verdadeiro apóstolo (2Co.11:15; 2Co.12:11-12), ou representante de Cristo (2Co.11:23). Na verdade, eram “falsos apóstolos” (v. 2Co.11:13) e “ministros” (v. 2Co.11:15). Essas características são típicas da facção judaizante da igreja apostólica, mas de nenhum outro grupo definido da época de Paulo, sendo razoável entender que eram judaizantes (sobre o partido judaizante na igreja cristã primitiva, ver p. 19; sobre a tentativa de subversão das igrejas da Galácia por essa facção na época, ver p. 1030, 1031). Negar a superioridade dos judeus, aos olhos de Deus, não implica negar a superioridade da revelação divina concedida a eles (Rm.3:1-2; Rm.9:1-5). Em contraste com os conversos gentios, o judeu tinha sido ensinado desde a infância sobre a adoração ao único Deus e no conhecimento das Escrituras. Geralmente, o núcleo dos cristãos em cada comunidade procedia da sinagoga judaica, porque Paulo começava sua pregação do evangelho na sinagoga local.

Os judeus naturalmente se sentiam com direito a consideração especial e privilégios na igreja cristã e se consideravam mais aptos para a liderança. Comparativamente, a maturidade religiosa deles lhes daria uma vantagem sobre a imaturidade religiosa dos gentios. No entanto, a atitude e o abuso de autoridade, em várias ocasiões, resultaram numa religião de justiça própria, abominável a Deus e aos seres humanos (Lc.18:10-14).

Israelitas. Sobre o termo “Israel”, ver com. de Gn.32:28. “Israel” designa os hebreus como os eleitos de Deus e faz distinção entre os da linhagem escolhida de Abraão e seus muitos descendentes (Gn.21:12; Rm.9:10-13; Gl.4:22-31). No papel de povo escolhido de Deus, os israelitas tinham desfrutado bênçãos e privilégios especiais (Rm.9:4-5; vol. 4, p. 14-16). Este nome ocorre apenas três vezes em outras partes do NT (Jo.1:47; Rm.9:4; Rm.11:1).

Descendência de Abraão. Este era considerado o título mais honrado dos três. Ser um verdadeiro filho de Abraão significava ser aceito no relacionamento de aliança com Deus (Gn.17:7; Gl.4:22-26), experimentar justiça pela fé (Rm.4; Gl.3:6-9; Gl.3:14-16), pertencer à nação pela qual o Messias viera (Gl.3:16) e herdar as exaltadas promessas dadas a ele como pai da nação hebraica (Gl.3:14-18). No entanto, os judeus não distinguiam entre ter o sangue de Abraão nas veias e ter a fé de Abraão no coração e na mente (Gn.21:10; Mt.3:9; Jo.8:33-53; Rm.2:28-29; Gl.3:28-29). Os oponentes de Paulo possuíam apenas as qualificações físicas, e isso não justificava alegação de superioridade na igreja cristã (Gl.5:2-6).

2Co.11:23 23. São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.

São ministros [...]? Professando ser judeus conversos, alegavam ser porta-vozes de Cristo. Paulo negava essa afirmação (v. 2Co.11:13-15). Como judeu, Paulo era igual a eles. No entanto, quanto ao relacionamento com Cristo (que é o teste fundamental em qualquer tempo, ver 1Jo.4:2-3), Paulo afirmava ser melhor do que os falsos apóstolos, o que se confirma pela própria autoavaliação deles. Como evidência, Paulo salienta as obras que de longe ultrapassam as deles, quanto a abnegação, a extensão e os resultados. Eles procuravam usurpar os frutos das obras de Paulo (2Co.10:15-16).

Fora de mim. Literalmente, “alguém destituído de compreensão”, “alguém fora de si”, “alguém insano”. A palavra grega é mais forte do que a utilizada nos v. 2Co.11:16; 2Co.11:19. Neste versículo, Paulo fala ironicamente, empregando os tolos métodos de seus oponentes. Isso também expressa seu desgosto pessoal em ter de recorrer a esse tipo de atitude. Ele não pode continuar a se gloriar sem expressar sua desaprovação pessoal a isso.

Em trabalhos, muito mais. Paulo tinha se esforçado para levar o evangelho aos gentios. O que os judaizantes fizeram?

Em prisões. A Bíblia não registra quantas vezes Paulo foi aprisionado (At.16:23). Clemente de Roma observa que Paulo foi aprisionado sete vezes (A Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios, 5).

Açoites. Uma experiência comum para Paulo (At.16:22-23).

Morte. Isto é, as muitas ocasiões em que ele esteve face a face com a morte e a impressão de que não sobreviveria (At.14:19; Rm.8:36; 1Co.15:31; 2Co.4:11; ver com. de 1Co.15:29).

2Co.11:24 24. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;

Quarentena de açoites. Ver com. de Mt.10:17. A referência neste versículo é ao modo de castigo estipulado pela lei judaica (Josefo, Antiguidades, iv.8.21 [238]; ver com. de Dt.25:1-3). Não há outro registro desses castigos infligidos a Paulo. Eram administrados nas sinagogas (ver vol. 5, p. 44; ver com. de Mt.10:17). Paulo tinha sido responsável pelo açoite de muitos cristãos (At.22:19). Cristo foi açoitado duas vezes (ver com. de Mt.27:26).

2Co.11:25 25. fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar;

Fustigado com varas. Uma forma de castigo romano. Governar com “cetro de ferro” denotava extrema severidade (Ap.2:27). As varas eram os pequenos bastões, a insígnia oficial dos funcionários romanos ou magistrados. A única ocasião registrada de um açoite desse tipo ocorreu em Filipos (At.16:22-23). Em Jerusalém, ele requereu imunidade, por ser um cidadão romano (At.22:24-25). As perseguições e os sofrimentos enumerados por Paulo (2Co.11:23-27) ocorreram entre os incidentes registrados nos cap. At.9 e At.19 de Atos. O pior estava por vir. Essa narração dá uma ideia do que Paulo quis dizer em compartilhar com Cristo “a comunhão de Seus sofrimentos” (Fp.3:10). E quanto do perigoso viver de Paulo por Cristo está escondido dos olhos!

Apedrejado. Referência ao apedrejamento em Listra (At.14:19-20).

Naufrágio. São registradas cinco viagens marítimas em Atos, no entanto, nada se diz de naufrágio anterior ao de At.27. O naufrágio a caminho de Roma ocorreu após esta epístola ter sido escrita (At.27:41-44).

2Co.11:26 26. em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;

Em jornadas, muitas vezes. Paulo parece ter estado constantemente ocupado, semeando o evangelho. Ele se confirmou verdadeiro e devoto ministro de Cristo, pela contínua exposição pessoal aos perigos. Quão diferente de seus oponentes judaizantes!

Rios. Havia poucas pontes ao longo da maioria das estradas e atalhos pelos quais Paulo viajava. Ele teria que atravessar os rios. Muito do que conhecemos como Ásia Menor, Grécia e Macedônia é uma região montanhosa, e, em várias destas montanhas em que não havia pontes, as correntes constituíam um obstáculo perigoso.

Salteadores. Todos os caminhos, com exceção talvez das estradas romanas, estavam infestados de ladrões. Um exemplo é encontrado na parábola do bom samaritano (Lc.10:30). A Cilícia, seu país natal, e a região ao redor estavam infestadas de piratas e salteadores. Poucos anos antes de Cristo, Roma foi compelida a enviar uma expedição contra eles, sob a liderança de Pompeu.

Entre patrícios. Os maiores inimigos de Paulo estavam dentre os que pertenciam ao seu próprio povo. Em praticamente todas as principais cidades nas quais Paulo trabalhou, a oposição mais violenta partiu dos judeus. Foi o caso em Damasco (At.9:23; 2Co.11:32), Antioquia da Pisídia (At.13:50-51), Icônio (At.14:2-5), Listra (At.14:19-20), Tessalônica (At.17:5-9), Bereia (At.17:13-14), Corinto (At.18:12-17) e em Jerusalém (At.21:27-31).

Gentios. Isto é, os gentios, como em Filipos (At.16:19-24) e em Éfeso (At.19:23-30).

Na cidade. Como, por exemplo, em Filipos (At.16:19-40), em Corinto (At.18:12-17) e havia pouco em Éfeso (At.19:23-41).

Deserto. Como, por exemplo, as regiões escassamente povoadas da Galácia e as áreas desertas da Cilícia, Macedônia e Ilírico.

No mar. Ver com. do v. 2Co.11:25.

Falsos irmãos. Os judaizantes (cristãos judeus) eram os inimigos mais implacáveis de Paulo. Constituíam o maior e mais frustrante perigo dentre todos os que enfrentou (Fp.3:18).

2Co.11:27 27. em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.

Em fadigas. As duas primeiras palavras se referem especificamente ao exigente trabalho físico no qual Paulo precisava se envolver (1Ts.2:9; 2Ts.3:8). Trabalhar em tempo integral na pregação do evangelho, como Paulo fazia, somado ao tempo e energia gastos para ganhar o sustento estava além do que poderia ser considerado normal para qualquer um. Ele deve ter com frequência sacrificado o sono para ter tempo para a pregação (At.20:31) e para suas devoções pessoais (1Ts.3:10). Paulo estava um pouco além da metade dos 20 anos de ministério público registrado, e os dez anos mais difíceis, de sofrimento e perseguição, ainda estavam por vir. Paulo registra neste versículo apenas uma pequena parte do que suportou por amor a Cristo.

Vigílias. Ou, “insônia”, devida à fadiga extrema, à preocupação com o bem-estar das igrejas ou no trabalho de construtor de tendas.

Fome [...] jejuns. O contexto indica que Paulo tinha em mente algum tipo de sofrimento imposto a ele pelas circunstâncias. Essa situação dificilmente seria legítima com relação às festas cerimoniais dos judeus, ou em relação ao jejum voluntário. Quanto à “fome” Paulo talvez tenha se referido a uma dieta inadequada; sobre “jejuns”, a ocasiões nas quais não tinha nada para comer.

Frio e nudez. Paulo, às vezes, pode ter necessitado de roupas adequadas às regiões montanhosas da parte central da Ásia Menor, ou tenha sido roubado.

2Co.11:28 28. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas.

Exteriores. Literalmente, “em acréscimo”, isto é, em acréscimo aos pesados deveres ligados ao ministério ou, possivelmente outras provações somadas às mencionadas nos v. 2Co.11:23-27. Todas essas provações são incidentais no trabalho pelas igrejas.

Preocupação. Do gr. merimna, “ansiedade”, “preocupação” (com. de Mt.6:25). Neste versículo, Paulo se refere aos problemas que constantemente se ergueram e pareciam ocupar muito tempo como, por exemplo, a escrita das epístolas, o aconselhamento pessoal às pessoas sobrecarregadas pelo pecado, as respostas às questões doutrinárias que requeriam esclarecimento, as frequentes reuniões com os líderes das igrejas e os constantes esforços para fortalecer as igrejas e seus membros.

2Co.11:29 29. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?

Quem enfraquece [...]? Paulo procurava ser “tudo para com todos” (1Co.9:22). O verdadeiro cristão não fará exposição de força superior para impressionar os fracos. A pessoa consciente de sua fraqueza busca conselho daqueles que não apenas possuem força, mas que sabem como utilizá-la com ternura e compreensão. Sabendo quanto foi perdoado, percebendo a fraqueza pessoal, Paulo sabia como perdoar e ser paciente com as fraquezas alheias. Ele conseguia compartilhar com empatia temores e fracassos, provações e fraquezas de outras pessoas. Sua força espiritual incomum era expressa em sua gentileza incomum. Nada tende a ser tão desencorajador como uma atitude fria, severa, dogmática frente a dificuldade dos outros.

Quem se escandaliza? Literalmente, “quem é pego”, isto é, no pecado ou desencorajamento (ver com. de Mt.5:29).

Não me inflame. Ou, “não me indigne”.

2Co.11:30 30. Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.

Tenho de gloriar-me. Paulo é diferente de seus oponentes, que se exaltavam à custa dos demais.

Fraqueza. Não de caráter, mas que resultava de seus incessantes labores, os sofrimentos dos v. 2Co.11:23-28 (2Co.12:9).

2Co.11:31 31. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto.

Deus e Pai. Não dois seres, apenas um: Deus, o Pai. Paulo solenemente se coloca, por assim dizer, sob juramento.

Eternamente bendito. Ver com. de Rm.9:5.

Não minto. Este juramento solene é único nos escritos de Paulo. Em outras ocasiões, ele fez afirmações fortes (Rm.1:9; Gl.1:20; 1Ts.2:5), mas nenhuma delas se compara a esta em força, solenidade, expressão e apelo. Aqui Paulo pode se referir ao texto precedente (o propósito de restringir sua glória às “fraquezas”), ou ao que segue (ao incidente em Damasco ou com respeito às revelações divinas). Talvez ele se refira a ambos, ao que precede e ao que segue. Paulo percebeu que alguns duvidariam da sinceridade de suas declarações.

2Co.11:32 32. Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender;

Governador. Do gr. ethnarches, literalmente, “governante do povo”.

Aretas. Registros históricos revelam que a Síria, incluindo Damasco, tinha sido uma província romana desde aproximadamente 64 a.C., antes de estar sujeita aos nabateus. Não se sabe como Aretas IV, um rei independente de Nabateia, que reinou de 9 a.C. a 39 d.C. (ver, do vol. 5, mapa, p. 26, 51, 52), estaria no controle de Damasco na época à qual Paulo se refere. É possível que o imperador tenha designado a cidade a Aretas na época para assegurar amizade, ou por outras razões políticas desconhecidas. Aretas dificilmente a teria tomado à força dos romanos (ver com. de At.9:24; sobre a relevância da informação do v. 32 para a cronologia da vida de Paulo, ver p. 85).

Para me prender. Isto é, por influência dos judeus (At.9:23-25; ver com. de 2Co.11:26).

2Co.11:33 33. mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.

Por uma janela. Ver Js.2:15; 1Sm.19:11-12. A casa ficava em cima do muro e tinha uma pequena janela ou abertura para fora.

Cesto. Do gr. sargane, uma corda trançada, um cesto feito de corda trançada (ver com. de At.9:24-25).

2Co.12:1 1. Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do Senhor.

Se é necessário que me glorie. Novamente Paulo expressa relutância em se envolver no que muitos considerariam uma ostentação (ver com. de 2Co.10:8). No entanto, as circunstâncias tornaram necessário que ele agisse dessa forma para vindicar seu apostolado e sua mensagem. Falhar em clarificar a questão seria equivalente a negar o apostolado e desonrar o evangelho e Cristo, cujo servo ele alegava ser. É impróprio e desvantajoso para um cristão se orgulhar, já que tudo o que ele é e tem vem da graça de Deus. A ostentação exalta o ego e conduz à tentação. O testemunho do cristão nunca é sobre si, mas sobre Cristo.

Ainda que não convém. Ou, “não é vantajoso”. A defesa de Paulo de seu ministério, iniciada em 2Co.10:1, continua sem interrupção. Até aqui ele chamou a atenção para as experiências pessoais como ministro, para sua vida, conduta e seus sofrimentos por amor a Cristo. Então, ele se volta para o que talvez seja a maior evidência: sua comunicação direta e pessoal com o Senhor ressurreto, Jesus Cristo, e experiências sobrenaturais que transcendem qualquer coisa experimentada por seus oponentes.

Visões. Do gr. optasiai, “visões”. Enquanto Paulo fala de experiências sobrenaturais, ele também revela um espírito de humildade e dependência de Deus. Não há exaltação própria.

Revelações. Do gr. apokalypseis, “[atos de] manifestação”, destacando o método de revelação. Na Bíblia, referem-se a coisas que não podem ser descobertas pelos poderes naturais da mente, de outra forma, permaneceriam desconhecidas (ver Jó.11:7; Jo.1:18; Rm.11:33; 1Tm.6:16), pois o pecado nos separou de Deus. No entanto, por meio de Cristo, foi diminuída a distância entre o ser humano e Deus, e o Criador pode novamente Se comunicar com Suas criaturas. Paulo recebia comunicação pessoal direta de Deus constantemente (At.9:4-6; At.16:9; At.18:9; At.22:17-18; At.23:11; At.27:23; Gl.2:2). A frase “do Senhor” indica a fonte do que Paulo via. Tal visão pode ser vista pelos olhos da mente mesmo se o receptor estiver dormindo.

2Co.12:2 2. Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)

Conheço um homem. É evidente que Paulo fala de si devido a: (1) esta referência às visões estar no meio de um relato de eventos ligados a seu ministério e vida pessoal; (2) no v. 2Co.12:7, ele designar essas visões e revelações como feitas diretamente a ele; e (3) usar a terceira pessoa para evitar a aparência de ostentação. João, por conta da modéstia e humildade cristãs, de modo semelhante evitou se identificar (Jo.13:23-24; Jo.19:26; Jo.21:20).

Há catorze anos. Cerca de 20 anos antes, Paulo encontrara Cristo na estrada de Damasco (At.9:1-7). A data desta epístola é cerca de 57 d.C. Catorze anos antes seria a época aproximada em que Barnabé levou Paulo a Antioquia (At.11:25-26; sobre uma cronologia a respeito da vida e do ministério de Paulo, ver p. 85-90).

Terceiro céu. Ou, “paraíso” (v. 2Co.12:4; ver com. Lc.23:43). O primeiro “céu” da Escritura é a atmosfera, o segundo céu refere-se ao espaço onde as estrelas estão, e o terceiro céu, à morada de Deus e dos seres celestiais. Paulo foi “arrebatado” à presença de Deus.

Se no corpo. Em visão há completa ausência de sensibilidade às imediações terrestres. A percepção das coisas vistas e ouvidas em visão e, às vezes, a participação nas cenas apresentadas, são reais à consciência como as experiências normais ou sensoriais da vida.

2Co.12:3 3. e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)

Sei que o tal homem. Possivelmente, uma repetição para enfatizar.

2Co.12:4 4. foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.

Paraíso. Ver com. de Lc.23:43.

Inefáveis. Do gr. arrheta, “não dito”, “não mencionado”, “indescritível”.

Não é lícito. Literalmente, “não é permitido” ou “não é possível”. Paulo tinha sido instruído a não revelar o que viu e ouviu, ou a linguagem humana era inadequada para descrevê-lo (ver 1Co.3:2).

2Co.12:5 5. De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas.

Gloriarei. Isto é, ostentar. Paulo tinha todo direito, humanamente falando, de se orgulhar de ser notavelmente honrado por Deus, de ter acesso especial e direto à presença divina. Ele poderia utilizar isso como base para alegar honra especial e autoridade, mas não agiu dessa forma. Escolheu se manter afastado.

De mim mesmo. Embora a experiência assinalava Paulo como receptor de honra especial de Deus, ele percebeu que esta não era creditada a ele pessoalmente (ver 1Tm.1:15) e recusava levar qualquer crédito.

Minhas fraquezas. Ver com. do v. 2Co.12:9.

2Co.12:6 6. Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve.

Pois, se eu vier. Paulo poderia estar inclinado a dizer mais a respeito das revelações sobrenaturais que recebeu. Do ponto de vista humano, ele tinha toda razão para se “gloriar” numa honra tão incomum, no entanto, sábia e humildemente se reprimiu. A única razão para mencionar a experiência é responder as acusações dos oponentes. Paulo apela, apenas, a sua vida pessoal e ao caráter, com os quais eles estavam bem familiarizados. Isto seria evidência suficiente de seu apostolado, se eles estivessem dispostos a considerar.

2Co.12:7 7. E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.

Não me ensoberbecesse. Uma afirmação que Paulo repete, para enfatizar, no final do versículo. Deus considerou adequado proteger Paulo de si mesmo.

Espinho. Do gr. skolops, “uma peça de madeira indicada”, “um piquete”, “uma estaca afiada”. Os papiros também utilizam a palavra para se referir ao estilhaço ou lasca deixada sob a pele e impossível de ser removido. A palavra geralmente utilizada no NT para “espinho” é akantha (Mt.13:22; Mt.27:29).

Na carne. A enfermidade era física, não era mental nem espiritual. Era algo evidente, que lhe causava considerável constrangimento bem como desconforto e inconveniência. Era uma aflição que afetava os olhos (GI.4:13-15; ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre 2Co.12:7-9).

Mensageiro de Satanás. Ou, “um anjo de Satanás”. A aflição vinha de Satanás, com permissão de Deus. Do mesmo modo ocorreu com Jó (Jó.1:6-12; Jó.2:7; Lc.13:16). É da natureza e obra de Satanás infligir sofrimento físico e doença.

Para me esbofetear. Literalmente, “golpear com o punho” e, desta forma, “tratar com violência” (ver a mesma palavra em Mt.26:67; 1Co.4:11; 1Pe.2:20). O propósito de Satanás era angustiar Paulo e impedir sua obra. O propósito de Cristo em permitir a aflição era proteger Paulo do orgulho.

A fim de que. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da última frase deste versículo.

2Co.12:8 8. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.

Três vezes. Em três ocasiões Paulo implorou que Deus removesse sua aflição. No entanto, quando a resposta foi clara ele a aceitou como a vontade de Deus. Cristo orou três vezes pela remoção do cálice que teria de sorver, e então o aceitou como a vontade de Deus (Mt.26:39-44).

Pedi. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4).

2Co.12:9 9. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.

Ele me disse. A forma do verbo no grego denota a finalidade da resposta de Deus.Graça. Do gr. charis (ver com. de Rm.3:24).

Basta. No grego, esta palavra está na forma enfática. A prece não libertou o apóstolo da aflição, mas lhe proporcionou graça para suportá-la. Paulo apelou para a libertação da enfermidade, pois cria que ela era um obstáculo a seu ministério. Cristo mais que supriu sua necessidade com uma provisão abundante de graça. Deus nunca prometeu alterar as circunstâncias ou livrar as pessoas dos problemas. Para Ele, enfermidades físicas e circunstâncias desfavoráveis são questões de preocupação secundária. A força interior para suportar é, de longe, mais manifestação da graça divina do que dominar as dificuldades internas da vida. Externamente, uma pessoa pode estar despedaçada, exausta, esgotada e quase enfraquecida; no entanto, internamente, tem o privilégio de desfrutar perfeita paz, em Cristo (ver com. de Is.26:3-4).

Gloriarei nas fraquezas. É sinal de triunfo aceitar as próprias limitações sem ressentimento. Regozijar sobre o que se odeia e se deseja ser removido é o auge da entrega. Cristo também estremeceu diante da indignidade, vergonha e do ridículo os quais foi chamado a suportar em Sua provação. Tal resignação à vontade de Deus significa completa renúncia do eu (1Co.2:3-5).

Repouse. Ou, “permaneça”, “habite”. Neste versículo Paulo fala do poder de Cristo, descendo sobre ele, trabalhando dentro dele, auxiliando-o e fortalecendo-o.

2Co.12:10 10. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

Sinto prazer. Agradava o Senhor, logo, agradaria também a Paulo. Deus sabe mais, e Paulo estava satisfeito.

Necessidades. Ou, “sofrimento”, “dificuldade”, “apuro”.

Então, é que sou forte. O paradoxo cristão é que ocasiões de fraqueza podem ser transformadas em situações de força. A derrota sempre pode ser transformada em vitória. A verdadeira força de caráter surge da fraqueza, que, desconfiando do eu, é entregue à vontade de Deus. Uma pessoa forte em sua própria força tende a ser independente em vez de confiar em Deus, e geralmente não percebe a necessidade da graça divina. Os grandes heróis bíblicos aprenderam a mesma lição: homens como Noé, Abraão, Moisés, Elias e Daniel. Apenas aqueles cuja fraqueza e insegurança têm sido submersas na vontade de Deus sabem o que é possuir verdadeiro poder.

2Co.12:11 11. Tenho-me tornado insensato; a isto me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou.

Insensato. Ver com. de 2Co.11:16.

Em gloriar-me (ARC). Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão desta frase.

A isto me constrangestes. A tendência dos cristãos coríntios era crer nas afirmações difamadoras dos falsos apóstolos, que obrigaram Paulo a falar assertivamente como fez nos cap. 10 a 12.

Louvado por vós. Em vez de estarem tão prontos a crer nos falsos apóstolos, os coríntios deveriam ter se reunido em defesa do verdadeiro.

Mais excelentes apóstolos (ARC). Ver com. de 2Co.11:5. Em qualquer comparação com os orgulhosos, autoproclamados apóstolos de Corinto, Paulo era, no mínimo, igual.

Ainda que nada sou. Em comparação o seu Senhor, Paulo era uma nulidade, como suas enfermidades testificavam. Ele sabia que as marcas de seu apostolado eram evidências do poder de Deus em sua vida. Deixado a si mesmo, ele teria desistido de lutar contra as dificuldades.

2Co.12:12 12. Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos.

Credenciais do apostolado. Estas credenciais consistiam de seu ministério altruísta (2Co.11:7-12), sua perseverança diante de obstáculos enormes (v. 2Co.11:23-27), suas visões e revelações (2Co.12:1-6) e seu triunfo sobre a aflição pessoal (v. 2Co.12:7-10). Acima de tudo, a experiência cristã dos conversos de Paulo testificava da genuinidade de seu apostolado (1Co.9:2; 2Co.3:2).

Com toda a persistência. Os milagres de Paulo foram realizados sem publicidade, para que as pessoas pudessem reconhecer que o poder era de Deus.

Sinais. Do gr. semeia, “milagres” (ver vol. 5, p, 204, 205). Na igreja apostólica, os milagres eram considerados como uma das principais credenciais do apostolado genuíno (At.5:12; At.15:12; Rm.15:18-19; 1Co.2:4-5; Gl.2:8; Hb.2:4).

Prodígios. Do gr. terata (ver vol. 5, p. 204).

Poderes miraculosos. Do gr. dynameis (ver vol. 5, p. 204).

2Co.12:13 13. Porque, em que tendes vós sido inferiores às demais igrejas, senão neste fato de não vos ter sido pesado? Perdoai-me esta injustiça.

Sido inferiores. Os coríntios tinham desfrutado as vantagens e os benefícios que um verdadeiro apóstolo de Cristo poderia lhes dar: ensino, pregação, milagres, cartas e auxílio na organização; tudo isso, sem cobrança. Em todas essas coisas seus críticos eram carentes. Eles sobressaíam a Paulo apenas em ter tomado dinheiro dos coríntios e terem se gloriado de sua proeza. Aquele que detinha maior direito em se gloriar e receber compensação material recusou se gloriar ou exigir compensação financeira.

2Co.12:14 14. Eis que, pela terceira vez, estou pronto a ir ter convosco e não vos serei pesado; pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos.

Pela terceira vez. A primeira visita de Paulo a Corinto está registrada em At.18:1. Não há registro de outra visita intermediária entre esta e a que o apóstolo esperava fazer num futuro próximo. Gramaticalmente, é possível entender “a terceira vez” como se aplicando tanto a sua prontidão em ir ou ao ato de ir. Aqueles que defendem o primeiro ponto de vista sugerem que a segunda visita nunca se materializou e que, embora esta fosse a terceira vez em que ele planejou visitar Corinto, na verdade, foi apenas a segunda visita. Em vista de tudo isso, a primeira visita, quando ele fundou a igreja, foi alegre e bem-sucedida. Aqueles que preferem o último ponto de vista encontram uma segunda visita antes da escrita de 2 Coríntios repetidamente indicada nesta epístola, uma experiência breve, dolorosa e humilhante que Paulo esperava não ser repetida quando retornasse (ver com. de 2Co.2:1; 2Co.12:21). A única vez para essa visita teria sido durante os três anos em que ele se dedicou a erguer a igreja de Éfeso. Se tal visita ocorreu, foi ocasionada pela recusa da igreja de Corinto em seguir as instruções nas epístolas anteriores (ver p. 903, 904; ver com. de 2Co.13:1).

Não vos serei pesado. Isto é, financeiramente. Paulo continuaria a política de autossustento.

Mas procuro a vós. A preocupação pelos coríntios era o que motivava Paulo, não as posses deles. Ao contrário, os falsos apóstolos pareciam ter tido mais interesse nas posses. O interesse de Paulo se concentrava exclusivamente em ajudar os coríntios a garantir a posse dos tesouros celestiais e a tirar os olhos das quinquilharias terrenas (ver com. de Mt.6:19-34; Jo.6:27). Paulo não poderia extrair qualquer coisa deles por meio de apoio material, até que tivesse certeza de ter alcançado seu coração. O mesmo ocorre com Deus, que sempre toma a iniciativa (SI.27:8; Jo.4:23; Rm.5:8).

Os pais, para os filhos. Paulo defende sua posição com base na analogia. Seu relacionamento com os coríntios era de um pai espiritual com os filhos na fé (1Co.4:14-15). Eles ainda eram cristãos imaturos, “crianças em Cristo” (1Co.3:1-2). Paulo não ensina que os filhos não devem sustentar seus pais; o quinto mandamento indica que os filhos devem cuidar deles. No entanto, durante a infância e juventude, a responsabilidade primária é necessariamente dos pais.

2Co.12:15 15. Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?

Gastarei e me deixarei gastar. Literalmente, “gastar e ser completamente exaurido”, isto é, esgotar os recursos. No texto grego, o segundo verbo é bem mais forte que o primeiro. Paulo lhes daria tudo que possuía, inclusive sua pessoa.

Em prol da vossa alma. Literalmente, “por vossa alma”. A maior preocupação de Paulo não era o bem-estar físico dos coríntios. O apóstolo está pensando na “comida [...] que subsiste para a vida eterna” (Jo.6:27), alimento para a mente e para a alma. O custo desse tipo de alimento em tempo, energia, planejamento e sacrifício é bem maior do que o do alimento físico. Para alimentar a vida espiritual com frequência é necessário grande sacrifício. Exige dedicação irrestrita a Deus de tudo o que a pessoa é e tem, bem como no serviço ao semelhante (Fp.2:17).

Serei menos amado? Frequentemente a legitimidade do amor não é valorizada. Se Paulo tivesse feito menos por eles, talvez o tivessem apreciado mais (ver 2Co.11:7).

2Co.12:16 16. Pois seja assim, eu não vos fui pesado; porém, sendo astuto, vos prendi com dolo.

Sendo astuto. Nos v. 16 a 19, Paulo nega ter obtido algum ganho deles, abertamente ou de modo astuto ou traiçoeiro. Ele supõe que os inimigos tenham dito: “Admitimos que Paulo não tomou dinheiro de vocês diretamente. Mas ele não fez isso indiretamente quando enviou Tito para reunir fundos para a grande coleta [2Co.8-9]? Como vocês sabem se ele não está beneficiando a si mesmo e aos seus companheiros com esse fundo?”

Prendi. Como um caçador apanha a caça. Os comentaristas geralmente defendem que Paulo aqui cita o que seus inimigos estavam dizendo.

Dolo. Ou, “fraude”, “engano”, literalmente, “laço” (2Co.4:2; 2Co.11:3).

2Co.12:17 17. Porventura, vos explorei por intermédio de algum daqueles que vos enviei?

Porventura, vos explorei [...]? Paulo desafiou seus oponentes a mostrar alguma evidência de que ele tirou vantagem dos coríntios diretamente ou por meio de seus colaboradores. Muitos colaboradores trabalharam com ele em Corinto; ou, quando ele trabalhava em outro lugar, tinham sido enviados a Corinto como portadores de epístolas ou como seus representantes pessoais (At.18:1-5; 1Co.16:15-18; 2Co.1:19; 2Co.7:6; 2Co.12:18).

2Co.12:18 18. Roguei a Tito e enviei com ele outro irmão; porventura, Tito vos explorou? Acaso, não temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?

Roguei. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4).

Tito. Paulo estava na Macedônia, viajando em direção a Corinto; e tinha recepcionado Tito ao retornar de Corinto (ver com. de 2Co.7:5-7). Tito tinha sido enviado a Corinto para reconquistar a confiança da congregação descontente e retornou com um relatório otimista. Não havia evidência de que ele ou o irmão desconhecido que foi com ele tivesse tirado vantagem dos coríntios. Tito seguia o exemplo de Paulo e se sustentava durante a estada em Corinto. Seu digno exemplo quando primeiramente trabalhou ali com Paulo ganhou o respeito, a afeição e completa confiança dos coríntios (2Co.7:7; 2Co.7:13-15; 2Co.8:6). O registro de sua missão foi de sucesso. Obviamente, nenhum dos coríntios acusaria Tito de ter lucrado à custa deles.

2Co.12:19 19. Há muito, pensais que nos estamos desculpando convosco. Falamos em Cristo perante Deus, e tudo, ó amados, para vossa edificação.

Há muito. Isto é, por toda a seção em que Paulo defende seu ministério.

Desculpando. Ou, “justificando”, “defendendo”. A palavra é normalmente utilizada no NT como um termo legal para a defesa feita pelo acusado em tribunal (ver Lc.21:14; At.19:33; At.24:10; At.26:1; ver com. de At.24:10). Como Paulo estava se gloriando (2Co.10:1-12:13), e a tentativa de se defender é geralmente interpretada como evidência de culpa e fraqueza, o apóstolo anteviu que alguns poderiam ter essa impressão errônea dele. Alguns coríntios pensavam que o objetivo de Paulo era apenas recuperar a estima e a afeição deles.

Falamos [...] perante Deus. A defesa de Paulo não era apenas para esclarecer diferenças, mas para aliviar sua responsabilidade para com Deus, como um embaixador de Cristo. Ele estava moralmente obrigado a fazer tudo para recuperar os coríntios do rumo errado em que estavam (1Co.2:15; 1Co.4:3). Os coríntios deveriam ter a atitude correta para com Paulo, a fim de estarem livres dos falsos apóstolos.

Para vossa edificação. Ao fazer sua defesa, Paulo não pensa em qualquer vantagem a ser alcançada, mas apenas no bem-estar espiritual dos coríntios. Tudo é por amor a eles.

2Co.12:20 20. Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos.

Temo. Paulo não exerce sua autoridade apostólica como um príncipe em relação à igreja, mas fala de modo paternal, alistando os pecados que distraíam e dividiam a igreja de Corinto.Contendas. Ou, “competições”, “rixas”, “brigas” (1Co.1:11; 1Co.3:3; 1Tm.6:4).

Invejas. Ou, “ciúmes”, “rivalidades” (At.17:5; 1Co.3:3; Tg.3:14; Tg.3:16).

Iras. Ou, “[demonstração de] ira” (Lc.4:28; At.19:28).

Porfias. A buscar de supremacia, a manifestação de espírito partidário e insubordinado e intrigas por cargos estão especificadas aqui (Fp.2:3; Tg.3:14; Tg.3:16).

Detrações. Ou, “difamação”, “calúnia”, “maledicência” (Tg.4:11; 1Pe.2:1).

Intrigas. Ou, “calúnia às ocultas”, “fofoca”. No grego clássico e na LXX, a palavra assim traduzida denota o murmúrio mágico de um encantador de serpentes (Ec.10:11).

Orgulho. Ou, “arrogância”, “desdém”. Este era um dos pecados proeminentes de alguns coríntios (1Co.4:6; 1Co.4:18-19; 1Co.5:2; 2Co.8:1; 2Co.13:4).Tumultos. Ou, “instabilidade”, “desordem”, “confusão” (1Co.14:33; 2Co.6:5; Tg.3:16).

2Co.12:21 21. Receio que, indo outra vez, o meu Deus me humilhe no meio de vós, e eu venha a chorar por muitos que, outrora, pecaram e não se arrependeram da impureza, prostituição e lascívia que cometeram.

Indo outra vez. Paulo teme uma repetição da vergonha e humilhação da visita anterior (ver com. do v. 2Co.12:14), muito embora a maioria dos membros estivesse arrependida do modo como procedia (ver com. de 2Co.2:1).

Humilhe. Do gr. tapeinoo, “abater”, “abaixar”, “degradar”. A mesma palavra é traduzida como “abatidos” (2Co.7:6) e “humildemente” (2Co.11:7). Paulo aceitava como vindas de Deus até mesmo as experiências vergonhosas da vida, no sentido de que Ele permitia que acontecessem. Não há experiência mais humilhante para o ministro cristão do que descobrir seus conversos praticando certos pecados (ver 2Co.12:20). Paulo considerava seus conversos como a “coroa em que exultamos” (1Ts.2:19; 2Co.1:14).

Chorar. Ou, “prantear”, “lamentar”. Paulo chorava por aqueles que morreram espiritualmente. Assistir ao pecado triunfar na vida dos professos crentes sempre causa intenso sofrimento e dor ao ministro do evangelho (Mt.23:37-39).

Muitos. Aqui temos um indício da amplitude das más práticas na igreja de Corinto.

Outrora, pecaram. Literalmente, “pecaram antes”. Essa situação se refere não ao modo de vida antes da conversão, mas a partir dela. O grego indica que as más práticas do v. 21 continuavam descontroladas durante um período considerável, sem indicação de verdadeiro arrependimento. Os coríntios eram transgressores antigos. Embora membros da igreja cristã, persistiam nas práticas depravadas, comuns na época pagã de Corinto (ver p. 723).

Impureza. Utilizada neste versículo no sentido geral de vida devassa, licenciosa, como era comum em Corinto (Rm.1:24; Gl.5:19; Ef.4:19).

Prostituição. Ou, “imoralidade”, vício acariciado entre os pagãos (1Co.5:1; 1Co.6:13; 1Co.6:18; 1Co.7:2).

Lascívia. Ou, “desejo desenfreado”, “excesso”, “licenciosidade”, expressões de paixão descaradas e insolentes (Rm.13:13; Gl.5:19; 2Pe.2:7; 2Pe.2:18).

2Co.13:1 1. Esta é a terceira vez que vou ter convosco. Por boca de duas ou três testemunhas, toda questão será decidida.

A terceira vez. Ver com. de 2Co.2:1; 2Co.12:14.

Duas ou três testemunhas. Este capítulo constitui a última mensagem escrita de Paulo aos coríntios. Um estado crítico de declínio espiritual ainda prevalecia em parte da igreja (2Co.12:20-21), pelo qual as epístolas anteriores (ver com. de 2Co.2:3), uma possível segunda visita de Paulo (ver com. de 2Co.12:14) e a obra de Tito (2Co.2:13; 2Co.7:6; 2Co.7:13-14; 2Co.12:18) parecem ter realizado pouco ou nada para reverter. Paulo adverte os membros a respeito desse grupo voluntarioso (2Co.13:1-4). Resta apenas uma alternativa: lidar com eles firme e severamente no poder e autoridade de Cristo.

Na expectativa de seu procedimento pretendido ao discipliná- los, Paulo cita uma reconhecida lei judaica (Nm.35:30; Dt.17:6; Dt.19:15), a qual Cristo referendou (Mt.18:16). Numa visita anterior, Paulo tinha tratado esse grupo rebelde com leniência e evitou tomar medidas decisivas contra ele. O grupo interpretou essa atitude como fraqueza, até mesmo como covardia da parte de Paulo. O apóstolo se referiu àquela visita como uma experiência humilhante (2Co.2:1; 2Co.2:4; 2Co.12:21). A minoria insubordinada constantemente pedia prova de sua autoridade apostólica (ver com. de 2Co.2:1; 2Co.12:14).

2Co.13:2 2. Já o disse anteriormente e torno a dizer, como fiz quando estive presente pela segunda vez; mas, agora, estando ausente, o digo aos que, outrora, pecaram e a todos os mais que, se outra vez for, não os pouparei,

Já o disse anteriormente. Isto é, nas epístolas anteriores (ver com. de 2Co.2:3; 1Co.4:13-19). Na visita anterior, ele fez o mesmo verbalmente (ver com. de 2Co.12:14). Eles foram advertidos por um considerável período de tempo.

Torno a dizer. Paulo os adverte novamente, com a proximidade da visita.

Outrora, pecaram. Ver com. de 2Co.12:21.

E a todos os mais. Paulo dirige esta advertência à igreja como um todo, para que ninguém diretamente envolvido fosse simpático aos acusados. O castigo incluía expulsão (1Co.5:5; 1Tm.1:20). A morte de Ananias e Safira (At.5:1-11) e a cegueira de Elimas (At.13:8-11) foram exemplos do exercício de autoridade apostólica acompanhada de atos divinos de castigo. Talvez Paulo tenha avisado sobre a possibilidade de uma demonstração miraculosa semelhante em Corinto.

Não os pouparei. Eles tiveram chance de se arrepender. Caso se mantivessem obstinados, seriam sujeitos à mais rígida disciplina da igreja.

2Co.13:3 3. posto que buscais prova de que, em mim, Cristo fala, o qual não é fraco para convosco; antes, é poderoso em vós.

Buscais prova. Os inimigos de Paulo haviam desafiado o apóstolo a desempenhar o que escolheram considerar como ameaças. Quando os membros desse grupo mercenário olhavam para Paulo, viam nada mais do que julgavam ser um ser humano fraco e desprezível (ver com. de 2Co.10:10; 2Co.10:12). Recusavam aceitá-lo como embaixador de Cristo (2Co.5:20). Paulo prontamente admitiu que, do ponto de vista humano, ele era “fraco” (2Co.11:21; 2Co.11:29). Apesar disso, insistiu que sua força estava na “demonstração do Espírito e de poder” (1Co.2:4; 2Co.12:10).

Em mim. Paulo tinha sido poderoso em verdade, em doutrina, em livrar pessoas do pecado, em levar-lhes regeneração espiritual e em realizar milagres (2Co.12:12), para que houvesse entre os próprios coríntios cartas vivas para Cristo (2Co.3:3). A evidência de seu apostolado era irrefutável a todos os que a examinassem francamente (ver com. de 2Co.12:11-12). Tiveram evidência abundante de que Cristo falara por meio de Paulo. No entanto, mercenários não são impressionados por esse tipo de evidência (1Co.2:14-16). Na verdade, os inimigos de Paulo acusam Cristo, não Paulo.

2Co.13:4 4. Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus.

Crucificado em fraqueza. Paulo encontra consolo no pensamento de que ninguém deveria parecer mais fraco e indefeso que Cristo enquanto pendia na cruz em vergonha e agonia. Contudo, Cristo vive e é exaltado (Fp.2:6-9). Todos os que seguem a Cristo podem esperar partilhar não apenas Sua humilhação, mas também Sua força, que é “aperfeiçoada” na fraqueza (2Co.12:9; Rm.6:3-6).

Vive. Os rebeldes coríntios teriam que lidar com o Cristo vivo “pelo poder de Deus”, não apenas com um Paulo “fraco”, como pensavam.

Nós [...] somos fracos. Paulo admite sua fraqueza, mas se gloria no poder de Cristo que opera nele e por meio dele (ver 2Co.11:30; 2Co.12:9-10), a despeito de sua fraqueza.

Pelo poder de Deus. Os coríntios testemunharam deste poder e o experimentaram. Não podiam negá-lo.

2Co.13:5 5. Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.

Examinai-vos. Começando com o v. 5, Paulo desvia a atenção de si rnesmo e desafia os coríntios a olhar para eles mesmos criticamente. Eles seriam cristãos genuínos? Cada seguidor de Cristo pode examinar a vida pessoal diariamente. Se fôssemos mais autocríticos, criticaríamos menos os outros.

A vós mesmos. No grego, esta palavra está na forma enfática, como se Paulo dissesse: “Vocês devem se examinar.” A segunda frase seria traduzida de modo semelhante: “Vocês devem provar a vocês mesmos.” Muitos dos coríntios estavam mais prontos a julgar os outros do que a si mesmos (ver 1Co.11:31-32; Gl.6:4). Antes de serem competentes em julgar os outros, as pessoas devem se provar. Deveriamos estar dispostos a aplicar a nós mesmos o teste que aplicamos aos outros (ver com. de Mt.7:1-5). A trave deve ser removida de nossos olhos. As pessoas geralmente se inclinam a ter uma visão muito favorável de si mesmas, de seu caráter e importância. Restringem a avaliação pessoal, a fim de que não descubram que não são tudo o que imaginam. Poucos conseguem suportar verem-se como realmente são. A visão geralmente é muito perturbadora para seu ego. Sem o recurso do amor divino e do perdão essas revelações pessoais podem conduzir as pessoas a perturbações mentais e até ao suicídio. Em vez de se encararem como realmente são, focalizam as faltas alheias. Agindo assim, perdem de vista as faltas pessoais e se convencem de que são bem melhores do que os outros (ver com. de 2Co.10:12; sobre os passos que apropriadamente podem seguir o autoexame, ver com. de 2Co.7:9-11).

Na fé. Não no sentido doutrinário, mas prático. Paulo se refere a uma profunda convicção com respeito ao relacionamento pessoal com Deus; confiança e fervor santo nascem da fé em Cristo como Senhor e Salvador. Muitos cristãos nominais pensam que é suficiente testarem a si mesmos em questões secundárias, tais como ser membros de uma igreja, frequentá-la, ser fiéis nos dízimos e ofertas e na observância do sábado. Esses aspectos não devem ser negligenciados, mas existem questões mais significativas (ver com. de Mq.6:8; Mt.19:16-22; Mt.23:23), como a graça de Cristo, a absoluta lealdade a toda a vontade revelada de Deus, a sinceridade de motivos e um interesse altruísta nos semelhantes, assim como no serviço por eles.

Provai-vos. Do gr. dokimazo, “testar”, “escrutar”. Esta palavra é bem mais forte que “examinar”. Dokimazo é utilizada para se referir à depuração de ouro (Jó.23:10; 1Pe.1:7).

Jesus Cristo está em vós? Isto é, vivendo os princípios da vida perfeita de Cristo na vida pessoal (ver com. de Rm.8:3-4; Gl.2:20).

Reprovados. Do gr. adokimoi, literalmente, “reprovar em teste”. Reprovar no teste era evidência de que Cristo não estava neles e que não eram cristãos genuínos.

2Co.13:6 6. Mas espero reconheçais que não somos reprovados.

Não somos reprovados. Paulo sinceramente espera passar no teste do apostolado aos olhos dos coríntios.

2Co.13:7 7. Estamos orando a Deus para que não façais mal algum, não para que, simplesmente, pareçamos aprovados, mas para que façais o bem, embora sejamos tidos como reprovados.

Estamos orando. Não há muitos exemplos, mesmo na Bíblia, de um cristianismo altruísta e de amor pelos outros como o que Paulo demonstra (Ex.32:31-32; Lc.23:34; At.7:59-60; Rm.9:3). Ele apresenta a evidência de seu apostolado e está confiante de que os coríntios crerão que ele passou no teste (ver com. de 2Co.12:11-12). Em amor, conhecimento, paciência, serviço, ministério e nos frutos do Espírito, Paulo permanece vindicado. A autoridade e o poder de Cristo têm sido manifestos por meio dele.

Pareçamos aprovados. O motivo de Paulo ao apelar aos coríntios para não fazer o mal não era para que ele fosse aprovado como apóstolo genuíno (1Co.9:2), mas que eles mesmos fossem aprovados no teste e provassem ser verdadeiros cristãos.

Embora sejamos tidos como reprovados. Mesmo que eles não vissem em Paulo a evidência de apostolado genuíno, ele esperava que evidenciassem ser cristãos genuínos. Paulo estava disposto a ser considerado um fracassado, se isso os ajudasse a ser bem-sucedidos.

2Co.13:8 8. Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade.

A verdade. Isto é, a verdade como em Cristo Jesus, a verdade da salvação como apresentada na Palavra de Deus (Jo.1:14; Jo.1:17; Jo.8:32; GI.2:5; Gl.2:14). A verdade eterna permanece inalterada independentemente do que as pessoas façam. Os inimigos da verdade sempre falharam. Se os coríntios fossem dedicados à verdade não teriam nada a temer, pois ela os tornaria invencíveis. Quando as pessoas se colocam ao lado da verdade, Deus aceita a responsabilidade pela segurança delas e por seu triunfo eterno.

2Co.13:9 9. Porque nos regozijamos quando nós estamos fracos e vós, fortes; e isto é o que pedimos: o vosso aperfeiçoamento.

Porque nos regozijamos. Nos v. 2Co.13:7-10, Paulo encoraja a igreja de Corinto a seguir rumo à completa restauração. Essa é sua esperança e a ênfase de suas epístolas a eles.

Quando nós estamos fracos. Paulo ficaria feliz em parecer fraco na aplicação de poder disciplinador, se eles fossem fortes nas graças do Espírito (ver com. do v. 2Co.13:6) e refletissem o caráter de Cristo.

Aperfeiçoamento. Ou, “solidez”, “completude”. Paulo anseia ver seus conversos alcançarem a maturidade cristã, com os dons, talentos, faculdades, tendências e apetites devidamente ajustados. Ele deseja que a igreja seja reunida em amor, cada membro do corpo funcionando adequadamente sob o controle da habitação do Espírito (1Co.12:12-31).

2Co.13:10 10. Portanto, escrevo estas coisas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação e não para destruir.

Para que. Ver com. de 2Co.10:2; 2Co.13:2.

Que o Senhor me conferiu para edificação. O propósito da autoridade do evangelho é a edificação da igreja, o aperfeiçoamento dos santos (Jo.3:17; Jo.20:21-23). Por mais necessário que seja o exercício desse poder em favor da disciplina, ele é inevitavelmente a segunda melhor opção. Não seria agradável a Paulo expulsar um membro da igreja, portanto, ele agiria com severidade apenas como último recurso. Desde a entrada do pecado, Satanás e os pecadores têm estado em rebelião contra a suprema autoridade de Deus. O intuito de Paulo é levar as pessoas em cativeiro a Cristo (ver 2Co.10:5). Isso não pode ser feito por meio da força, mas pela implantação da mente de Cristo.

2Co.13:11 11. Quanto ao mais, irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco.

Quanto ao mais, irmãos. As últimas palavras de Paulo incluem uma despedida afetuosa, uma advertência final (v. 11), uma saudação de despedida (v. 12) e uma bênção. A exortação de encerramento ordena quatro graças cristãs para resguardar os coríntios contra os males que os cercam.

Adeus! Literalmente, “regozijar”, “estar contente ”, “passar bem” (Fp.3:1; Fp.4:4).

Aperfeiçoai-vos. Literalmente, “recuperai-vos”, “colocai-vos em ordem”, “ajustai-vos”. Tudo o que esteve fora de lugar deve ser restaurado (ver com. de Mt.5:48).

Consolai-vos. Do gr. parakaleo, “admoestai-vos”, “exortai-vos” (ver com. de Mt.5:4). A forma verbal e substantiva desta palavra ocorre 28 vezes no livro. Os coríntios deveriam se encorajar e fortalecer mutuamente a fazer o bem. Nesse caso, não teriam tempo para se devorarem uns aos outros.

Sede do mesmo parecer. Frase característica de Paulo (Rm.12:16; Rm.15:6; Fp.2:2; Fp.3:16; Fp.4:2). A unidade cristã foi o objeto da última oração de Cristo por Seus discípulos (Jo.17:11; Jo.17:21-23). A suprema necessidade da igreja de Corinto era a “unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef.4:2-7).

Vivei em paz. Ou, “vivei em harmonia”. A paz é um dos maiores legados que Cristo transmitiu a Sua igreja (Jo.14:27; Jo.16:33; Jo.20:21; Jo.20:26; At.10:36). Sempre foi parte essencial do evangelho cristão e um teste de experiência cristã (Rm.5:1; Rm.10:15; Rm.14:17; Rm.14:19; 1Co.14:33; Ef.2:14). À altura de sua capacidade, o cristão deve viver em “paz com todos os homens” (Rm.12:18). Se a paz exterior não é possível devido a fatores além do controle do cristão, ele ainda pode desfrutar paz no coração. “Bem-aventurados os pacificadores” (ver com. de Mt.5:9).

Deus de amor. Ver com. de 1Jo.4:8.

Paz. Ver com. de Rm.15:33.

2Co.13:12 12. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todos os santos vos saúdam.

Com ósculo santo. Nos tempos da Antiguidade, e em várias partes do mundo hoje, esta é uma forma cordial de saudação. Era um beijo dado na bochecha, na testa, nas mãos ou mesmo nos pés, mas nunca nos lábios. Assim, homens saudavam homens e mulheres saudavam mulheres. O costume se originou nos tempos do AT (Gn.29:13). Expressava afeição (Gn.27:26-27; 1Sm.20:41), reconciliação (Gn.45:15), despedida (Rt.1:9; Rt.1:14; 1Rs.19:20) e homenagem (1Sm.10:1). Segundo Justino Mártir, o ósculo santo era normalmente utilizado em ligação à observância da Ceia do Senhor (Primeira Apologia, 65). Entrou em uso geral pelos cristãos apostólicos como um símbolo de paz, boa vontade e reconciliação (Rm.16:16; 1Co.16:20; 1Ts.5:26).

Os santos. Ver com. de At.9:13; Rm.1:7. Os cristãos são denominados assim no NT porque foram chamados a viver vida santa. Paulo faz referência especial aos cristãos da Macedônia, onde ele se encontrava no momento da escrita.

2Co.13:13 13. A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.

Graça. Ver com. de Rm.3:24; 2Co.1:2. Este versículo é único porque, em todo o NT, ocorre apenas aqui em sua forma completa que seria conhecida como a bênção apostólica. Desde os tempos antigos, tornou-se parte da liturgia da igreja. A bênção também era pronunciada em batismos e no encerramento das reuniões cristãs. Junto com Mt.28:19 este versículo fornece a síntese mais completa e explícita da doutrina da Trindade (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). A ordem dos nomes da Divindade apresentada neste versículo difere da ordem apresentada em Mateus. Geralmente, nas epístolas de Paulo, o nome do Pai precede o do Filho (Rm.1:7; 1Co.1:3; 2Co.1:2). Aqui, a ordem está invertida. A fórmula de despedida do AT, a bênção araônica, também era de natureza tripla (Nm.6:24-26). O teste da verdadeira experiência cristã é companheirismo e comunhão com Deus por meio do Espírito Santo. Logo após enviar esta carta, Paulo fez outra visita a Corinto e passou três meses ali (At.20:1-3), tempo durante o qual escreveu as epístolas aos Romanos e aos Gálatas. Essa atitude sugere que os crentes coríntios aceitaram sua segunda epístola e agiram em harmonia com o conselho dado. Na epístola aos Romanos, Paulo indica que teve bondosa recepção em Corinto (Rm.16:23). Além disso, a coleta em Corinto para os pobres em Jerusalém foi bem-sucedida (Rm.15:26-28). Os registros da igreja apostólica não fornecem informação adicional a respeito da igreja de Corinto até o final do século, quando Clemente de Roma endereçou uma carta a eles. O pós-escrito (ver KJV) que segue ao v. 14 não ocorre em manuscritos anteriores ao 8º século. Este foi o último acréscimo editorial, e não faz parte do registro inspirado original.