"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Tito
Tt.1:1 1. Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade,

Paulo. Ver com. de Rm.1:1.

Servo. Ou, “escravo”. Embora as introduções às epístolas de Paulo geralmente sigam um padrão semelhante, a saudação usada aqui é única. Normalmente, Paulo se autodenomina “servo de Jesus Cristo” (ver com. de Rm.1:1; Fp.1:1).

Apóstolo. Ver com. de Rm.1:1; 1Tm.1:1. Apesar de servo, sem propriedade e independência, Paulo era embaixador do Rei dos reis, com todos os privilégios que acompanham essa atribuição.

Jesus Cristo. Sobre os nomes Jesus e Cristo, ver com. de Mt.1:1. Paulo sabe que Jesus Cristo é Deus e que possui os atributos de Deus (ver com. de Cl.2:9; 1Tm.1:1; 2Tm.4:1). A autoridade de Jesus Cristo, que pessoalmente comissionou Paulo ao apostolado (ver com. de Cl.1:11-12), é a autoridade suprema do Deus eterno. Paulo recebeu do Altíssimo a função de embaixador, seu mandado lhe foi dado no caminho de Damasco (At.9:15; At.22:14-15; At.26:16-17; Cl.1:1). A extensão dessa saudação é incomum, mas proposital. Tito estava trabalhando em um campo novo e difícil, frequentemente, sua autoridade podia ser desafiada. A fim de evitar mal-entendido e constrangimento, Paulo afirma suas próprias credenciais divinas e a validade da comissão a Tito, eliminando possíveis dúvidas sobre a autoridade de Tito. Creta era um novo campo missionário. Paulo deve ter trabalhado ali por um breve período, e sua partida precoce pode ter gerado algum mal-entendido. Assim, muita coisa dependia da compreensão adequada da posição e autoridade de Tito e de Paulo, sob cuja direção Tito trabalhava. A introdução esclarece a posição de Paulo. Se alguém rejeitasse Tito e seus conselhos, também estaria rejeitando a autoridade de Paulo. O respeito que os cretenses tinham por Paulo devia ser concedido a seu representante.

Para promover a fé. Há diferentes opiniões quanto a esta frase, se afirma a finalidade do apostolado de Paulo ou o padrão pelo qual ele foi escolhido. Neste último caso, indicaria que Paulo foi escolhido em conformidade com a fé, ou seja, a revelação da verdade, ou que sua pregação estava de acordo com essa revelação da verdade ou com a doutrina cristã. Se a frase expressava o objetivo dos trabalhos de Paulo, isso significa que ele se considerava um instrumento no plano de Deus para levar a fé ao coração das pessoas. Portanto, o pensamento seria: “o objeto do meu apostolado é conduzir os escolhidos de Deus à fé que salva”. O propósito da introdução de Paulo é conquistar, tanto para si como para Tito, a aprovação e a confiança dos cristãos cretenses. Assim, ele enfatiza que o conteúdo da carta e todo o ministério de Tito estão em harmonia com a fé cristã, como os cretenses já entendiam. A missão de Tito, como representante de Paulo, era segundo a vontade de Cristo e com a revelação da verdade que eles já possuíam.

Eleitos. Do gr. eklektoi, “os escolhidos” (ver com. de Rm.8:33). Paulo compara aqui a igreja cristã com o antigo Israel, que fora escolhido por Deus para levar ao mundo a mensagem de salvação (ver Is.43:20; Is.45:4; Is.65:9; sobre Israel como o povo eleito, ver vol. 4, p. 12-25). As responsabilidades antes atribuídas a Israel pertencem à igreja (ver com. de 1Pe.2:9-10).

Pleno conhecimento. Do gr. epignosis (ver com. de Ef.1:17). Paulo se refere não só à compreensão intelectual, mas a um conhecimento experimental do evangelho. Com base na fé, o conhecimento é construído e fortalecido (comparar com 1Tm.2:4; 2Tm.2:25; 2Tm.3:7; Hb.10:26).

Piedade. A “fé” cristã, ou ensino, é designada a promover uma vida religiosa, não apenas novas teorias (ver com. de 1Tm.2:2; 1Tm.4:7-8; 1Tm.6:3; 1Tm.6:5-6; 2Tm.3:5; 2Pe.1:3).

Tt.1:2 2. na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos

Vida eterna. Do gr. zoe aionios (ver com. de Jo.3:16; ver com. de Jo.1:4; sobre aionios, “eterna”, ver com. de Mt.25:41). A vida eterna é a meta do ministério de Paulo e o objetivo do verdadeiro cristão, que constrói sua vida sobre os princípios da verdade (Tt.1:1).

Não pode mentir. Ver com. de 2Co.1:20; 2Tm.2:13. A revelação cristã é tão confiável quanto a natureza imutável de Deus.

Antes dos tempos eternos. Ver com. de Rm.16:25; 2Tm.1:9.

Tt.1:3 3. e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador,

Em tempos devidos. Ou, “no momento adequado”, “na hora certa” (cf. 1Tm.6:15). As promessas de Deus sempre existiram, mas os cretenses ficaram cientes delas fazia pouco tempo, de acordo com o desígnio de Deus para a proclamação de Sua mensagem.

Palavra. Ou seja, a mensagem divina de salvação.

Pregação. Do gr. kerugma, “proclamação feita por um arauto” (ver com. de 1Co.1:21).

Confiada. Ou, “depositada em confiança” (ver com. de 1Tm.1:11). Paulo não hesitou em se referir à sua pregação como o veículo pelo qual a Palavra de Deus devia se manifestar publicamente. Com convicção, o apóstolo proclamou o evangelho como a revelação dos propósitos mais profundos de Deus. Tremenda responsabilidade repousa sobre aquele a quem Deus comissiona como Seu porta-voz, para que se torne um elo vivo entre a suficiência de Deus e as necessidades humanas. Como embaixador de Deus, ou “apóstolo” (Tt.1:1), ele não pregava a própria mensagem, mas a mensagem dAquele a quem representava. Assim, o verdadeiro ministro, como Paulo, prega a verdade como é em Jesus Cristo.

Mandato. Ver com. de Rm.16:26; 1Tm.1:1. A atribuição de Paulo para pregar não foi resultado de qualquer plano particular, mas a vontade e o propósito de Deus colocaram sobre ele essa responsabilidade de forma tão clara que ele dizia: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co.9:16).

Deus, nosso Salvador. Ver com. de 1Tm.1:1.

Tt.1:4 4. a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.

Tito. Ele não é mencionado no livro de Atos. Alguns fatos a respeito de Tito podem ser reunidos a partir de referências incidentais nas epístolas paulinas. Ele era um cristão gentio (Gl.2:3), possivelmente, um converso de Paulo (Tt 1:4). É mencionado pela primeira vez como companheiro de Paulo na viagem de Antioquia para o concílio de Jerusalém (Gl.2:1-3; At.14:26-28; At.15:1-4), motivo pelo qual se conjectura, às vezes, que ele era nativo de Antioquia. Mais tarde, ele se associou a Paulo durante parte da terceira viagem missionária do apóstolo (2Co.2:13; 2Co.7:6; 2Co.7:13). A epístola a Tito informa que ele foi deixado em Creta para colocar certas coisas em ordem e liderar as igrejas ali (Tt.1:5). O trabalho em Creta foi apenas temporário, pois foi solicitado a Tito que se unisse a Paulo em Nicópolis (Tt.3:12). Paulo diz que Tito foi para a Dalmácia (2Tm.4:10).

Verdadeiro filho. Paulo dirigiu palavras similares a Timóteo (1Tm.1:2). A legitimidade da posição de Tito como líder da igreja se baseava na direção espiritual que ele recebera do próprio Paulo. Tito estava plenamente autorizado a exercer suas funções como líder da igreja em Creta.

Fé comum. Ou seja, comum tanto para gentios como Tito quanto para hebreus como Paulo. O cristianismo unifica as pessoas sem distinção de raça, cor, posição social ou gênero. Todos são feitos um em Jesus Cristo (cf. Cl.3:28; comparar com 1Tm.1:2).

Graça. Ver com. de Rm.1:7.

Misericórdia (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a exclusão desta palavra.

Paz. Ver com. de Rm.1:7; 1Co.1:3.

Deus Pai. Ver com. de Rm.1:7.

Salvador. Ver Tt.1:3; Tt.2:10-14; Tt.3:4-7. A ênfase de Paulo sobre o papel de Jesus Cristo como salvador da humanidade antecipa o tema principal da epístola: os cristãos devem revelar o poder salvador de Deus.

Tt.1:5 5. Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:

Por esta causa. Paulo reafirma aqui sua instrução original a Tito, sem dúvida, para benefício da igreja de Creta. Faltam informações sobre a saída antecipada de Paulo de Creta. Talvez a pressão dos deveres em outras áreas o tenha feito partir antes do tempo, ou ele pode simplesmente ter tido confiança na capacidade de Tito de conduzir o trabalho ali. Tito havia demonstrado desenvoltura e habilidades administrativas em missões anteriores (ver 2Co.2:12-13; 2Co.7:5-6; 2Co.8:16-17; 2Co.8:23). Nenhuma menção é registrada no livro de Atos quanto à visita de Paulo a Creta. Por esse motivo, alguns têm sugerido que essa viagem ocorreu após sua primeira prisão em Roma (ver vol. 6, p. 95).

Creta. Ver p. 377.

Pusesses em ordem. Tito deveria completar o trabalho de organizar a igreja em Creta. Talvez pelo fato de que os cretenses podem ter pensado que nenhuma organização adicional seria necessária após a partida de Paulo, Tito precisava dessa autorização especial, a fim de desenvolver uma organização eficaz. Toda reorganização requer tempo e atenção, a fim de operar de forma eficiente, e cada líder sabe que os novos planos devem ser expostos de forma gradual e com tato.

Coisas restantes. Ou, “em falta”, ou seja, as coisas que ainda precisavam ser feitas.

Constituísses. Ou, “nomeasses”.

Presbíteros. Do gr. presbuteroi (ver vol. 6, p. 12, 25; ver com. de At.11:30). A nomeação de presbíteros incluía a cerimônia de ordenação (ver 1Tm.4:14; 1Tm.5:22; 2Tm.1:6).

Em cada cidade. Ou, “de cidade em cidade”. Aparentemente, o evangelho teve grande progresso em Creta.

Prescrevi. Do gr. diatasso, “dirigir”, “mandar”. Paulo se refere à instrução anterior dada a Tito sobre a administração da igreja em Creta.

Tt.1:6 6. alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.

Alguém. Aqui, Paulo começa a enumerar as qualificações dos presbuteroi, ou anciãos, isso se assemelha a sua instrução a Timóteo (ver com. de 1Tm.3:1-7).

Irrepreensível. Ver com. de 1Tm.3:10.

Marido de uma só mulher. Ver com. de 1Tm.3:2.

Filhos crentes. Ou seja, filhos que sejam cristãos e que, por seu comportamento, demonstrem lealdade aos princípios cristãos. Os filhos desleais aos princípios são uma grande desvantagem para qualquer líder da igreja. O fracasso do ministro ou ancião da igreja local em orientar sua própria casa pode desencaminhar a muitos, dentro e fora da igreja. Alguém incapaz de educar os próprios filhos, a ponto de não terem restrição e disciplina própria revela falta de capacidade de governar os outros. Assim, ele fica incapacitado a assumir a responsabilidade como líder da igreja. Isso lembra a história de Eli e seus dois filhos (ver com. de 1Sm.2:27; 1Sm.3:11). Ellen G. White diz: “Não posso imaginar que qualquer homem, por maior que seja sua habilidade e utilidade, esteja servindo a Deus ou ao mundo, dedicando seu tempo a outras ocupações, com negligência dos próprios filhos” (OC, 232).

Dissolução. Do gr. asotia, “dissipação” “incorrigibilidade” (comparar com Ef.5:18).

Insubordinados. Do gr. anupotaktos, “rebeldes”, “indisciplinados” (comparar com 1Tm.1:9).

Tt.1:7 7. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância;

Bispo. Do gr. episkopos, “supervisor” (ver At.11:30; At.20:28; 1Tm.3:1).

Irrepreensível. Ver com. de 1Tm.3:10.

Despenseiro. Ver com. de 1Co.4:1.

Arrogante. Ou, “orgulhoso”.

Não irascível. Ou, “não inclinado à ira”. Em qualquer organização, secular ou eclesiástica, há momentos em que as ideias se chocam e surgem mal-entendidos. A eficiência de uma igreja sob a tensão de opiniões divergentes depende da influência estabilizadora de um líder com domínio próprio, cuja disciplina inspire paciência e compreensão.

Não dado ao vinho. Ver com. de 1Tm.3:3.

Nem violento. Ver com. de 1Tm.3:3.

Cobiçoso de torpe ganância. Ver com. de 1Tm.3:8.

Tt.1:8 8. antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,

Hospitaleiro. Ver com. de 1Tm.3:2.

Amigo do bem. Ou, “bondoso”.

Sóbrio. Ou, “de mente sã” (ver com. de 1Tm.3:2).

Justo. Do gr. dikaios, “correto” (ver com. de Mt.1:19).

Piedoso. Do gr. hosios, “puro” (ver com. de At.2:27).

Domínio de sí. Esta é uma pedra angular apropriada às qualidades positivas a serem exercidas. Pelo fato de uma boa qualidade poder ser prejudicada pelo excesso, o domínio próprio em todas as coisas é um requisito para a bem-sucedida liderança da igreja.

Tt.1:9 9. apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.

Apegado. Ou, “agarrando-se”.

Palavra. Ou seja, o evangelho.

Fiel. Ou, “confiável”, “certa”.

Poder. Além de um registro moral intocável, a vocação para o ministério exige capacidade intelectual elevada. Antes da ordenação, o ministro em potencial deve manifestar capacidade tanto em compreender como em comunicar a verdade. Um conhecimento profundo das Escrituras, de preferência nas Línguas originais, deve ser o primeiro objetivo do ministro. De outro modo, ele pode ignorantemente desvirtuar seu verdadeiro significado (ver OE, 105). Deus nunca envia o Espírito Santo para abençoar a ignorância (OE, 105, 106). A disciplina mental amplia a eficiência do obreiro cristão. O ministério exige mais de seus servidores do que outras profissões e carreiras, e a necessidade de aprender nunca cessa. Na verdade, o ministério é mais que uma profissão, é uma vocação, um chamado divino. Muitas vezes, o avanço da causa de Deus é dificultado por homens que tentam testemunhar por Ele com erudição inferior e hábitos mentais indisciplinados. A atuação do Espírito Santo leva o ministro a buscar o aperfeiçoamento das habilidades em todos os sentidos possíveis. Com humildade oriunda da visão honesta de si mesmo, o ministro genuíno percebe as próprias deficiências e a imensa tarefa diante dele.

Assim, ele não é dominado, mas desafiado, pelas possibilidades que o confrontam, e busca, com oração e diligência, aperfeiçoar os talentos emprestados a ele por Deus. Mesmo em meio à pressão dos muitos deveres, ele deve manter um adequado senso de valores e prioridades. Não se pode permitir que deveres urgentes se tornem uma desculpa para a negligência no cultivo das faculdades mentais e espirituais. “Todos devem sentir que sobre si repousa a obrigação de atingir as alturas da grandeza intelectual” (OE, 279). Só o ministro aperfeiçoado na verdade bíblica e verdadeiramente dedicado pode honrar e glorificar o Senhor (comparar com 1Tm.3:2; 1Tm.4:16).

Reto ensino. Ou, “sã doutrina” (ver com. de 1Tm.1:10). O ministro hábil na Palavra de Deus pode falar com a autoridade da sã doutrina. Ele usa as passagens das Escrituras no contexto do significado original, pretendido pelos escritores bíblicos guiados pelo Espírito Santo.

Convencer. Do gr. elegcho, “corrigir”, com provas adequadas (ver com. de Jo.8:46; 1Tm.5:20). Argumentos solidamente construídos e capazes de passar pelo escrutínio detido de mentes perspicazes podem condenar e silenciar adequadamente os que se opõem à sã doutrina.

Que o contradizem. Ou seja, “os que se opõem” à doutrina (NVI).

Tt.1:10 10. Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão.

Porque. Paulo apresenta os motivos para os altos padrões morais e intelectuais que devem reger a seleção dos líderes da igreja. A igreja de Creta devia ter um número acima da média de falsos mestres, o que acentuava algumas fraquezas básicas dos habitantes de Creta (ver com. do v. Tt.1:12).

Insubordinados. Ver com. do v. Tt.1:6. Os membros nominais da igreja que se recusavam a cooperar eram facciosos e insubordinados.

Palradores frívolos. Comparar com 1Tm.1:6.

Enganadores. Comparar com 2Pe.2:3; 2Pe.2:18-19.

Da circuncisão. Ou seja, de origem judaica, talvez semelhantes aos corrompidos “mestres da lei” (ver com. de 1Tm.1:7), que defendiam a necessidade da circuncisão e outros ritos e cerimônias da lei mosaica (ver vol. 6, p. 1030).

Tt.1:11 11. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância.

Fazê-los calar. Não se deveria dar oportunidade pública aos “palradores frívolos e enganadores” (v. Tt.1:10). O ancião alerta tem o dever de proteger sua congregação de confusão (comparar com 1Tm.1:4).

Pervertendo. Ver com. de 2Tm.2:18.

Casas inteiras. Comparar com 2Tm.3:6.

Torpe ganância. Comparar com 1Tm.3:8. A qualificação rigorosa aqui estabelecida, exigindo presbíteros e diáconos (ver com. de 1Tm.3:8; Tt.1:7) financeiramente irrepreensíveis, é melhor entendida no contexto dos dias de Paulo. Provavelmente, muitos pretensos mestres usavam seu ofício na igreja para obter ganhos particulares, adaptando os ensinos para agradar os ricos.

Tt.1:12 12. Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos.

Um seu profeta. Ou seja, um profeta cretense, provavelmente Epimenides, que viveu em Cnossos, no 6º século a.C. Paulo usou recurso semelhante no Areópago (ver com. de At.17:28). Em vez de afirmar sua opinião, Paulo sabiamente cita não um inimigo dos cretenses, mas um de seus próprios respeitados porta-vozes.

Mentirosos. Esta parte do poema de Epimenides também foi citada por Calímaco (6º século a.C.), em seu hino a Zeus. No mundo antigo, o verbo “cretanizar” significava mentir ou enganar como um cretense. Esse traço ofensivo de Creta era evidente nos mestres religiosos perversos e nos membros “insubordinados” de várias congregações (v. Tt.1:10).

Feras. O poeta aqui observa a arrogância indisciplinada de seus compatriotas, a mesma falta de responsabilidade moral observada por Paulo.

Ventres preguiçosos. Ou, “glutões preguiçosos”. Os cretenses estavam mais dispostos a cuidar de si mesmos do que trabalhar para o bem comum (cf. Fp.3:19).

Tt.1:13 13. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé

Tal testemunho é exato. Paulo aqui subscreve o julgamento severo que o poeta cretense havia feito de Creta. O que tinha sido escrito sobre os cretenses 600 anos antes ainda era verdadeiro. Essa falta de integridade moral que permeava grande parte da população de Creta representava um grande perigo para as jovens igrejas da ilha.

Repreende. Do gr. elegcho (ver com. do v. Tt.1:9).

Severamente. Assim como o bisturi do cirurgião corta o tecido doente, em benefício da preservação da saúde, as palavras e a disciplina de Tito e dos anciãos cretenses deveriam cortar o que expunha o bem-estar da igreja ao perigo.

Sadios. Ver 1Tm.6:3; 2Tm.4:3; Tt.1:9; ver com. de 1Tm.1:10; 2Tm.1:13.

Tt.1:14 14. e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade.

Fábulas judaicas. Ver com. de 1Tm.1:4. Tito e Timóteo enfrentavam problemas semelhantes (ver com. de 1Tm.1:4-7). A prática judaica de interpretar o AT pelo método alegórico obscurecia a verdade e gerava especulações e conflitos (ver com. de 1Tm.1:4; 1Tm.6:4-5). Esse método agradava o coração, mas deixava a mente estéril. As fábulas judaicas davam origem a contendas (2Tm.2:14) e não mantinham o poder regenerador do Espírito Santo.

Mandamentos de homens. Ver Mt.15:9. A igreja cristã sempre enfrentou o problema de ensinos falsos que se apresentam como verdades. Cada ensino da igreja deve ser capaz de suportar a prova. Satanás sempre faz mais danos ao avanço da verdade, trabalhando dentro da igreja do que atacando-a de fora.

Tt.1:15 15. Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas.

Todas as coisas. Ver com. de 1Co.6:12. Aqui, Paulo trata da pureza ritual judaica. Ele distingue os que tentavam compensar a falta de pureza moral, por meio de purificações cerimoniais, daqueles que sabiam que rituais não eram essenciais ao desenvolvimento da vida espiritual. Paulo não quer dizer que o cristão está livre para se envolver em práticas condenadas em outras passagens das Escrituras, nem que as proibições morais e dietéticas bíblicas não se aplicam aos cristãos (comparar com os ensinos de Cristo, em Mc.7:19; ver com. de Rm.14:20).

Os puros. Ou seja, os puros de coração (ver com. de Tt.5:8), aqueles que entendem a justificação pela fé e estão cientes dos perigos do sistema judaico de rituais, cerimônias e fábulas (Tt.1:14).

Para os impuros. Ou seja, os não convertidos e que não conhecem a paz da justificação pela fé. Eles são os “incrédulos”, que se recusam a obedecer ao evangelho, os contraditórios (v. Tt.1:9).

Mente. Ou seja, sua maneira de pensar, sua atitude (comparar com Rm.7:23; Ef.4:23; Fp.4:7; 2Tm.3:8). Os “impuros e descrentes” têm a mente governada pelos desejos não santificados (sobre o efeito da conversão sobre a mente, ver com. de Rm.12:2; cf. com. de Fp.4:8).

Consciência. O discernimento do certo e do errado fica entorpecido quando a pessoa se entrega a desejos não santificados. Sob essas circunstâncias, a consciência não pode funcionar de forma eficaz. Como uma bússola defeituosa, ela deixa de ser um guia preciso e confiável.

Tt.1:16 16. No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.

Professam. Cristãos judaízantes, judeus ortodoxos ou ambos. Por causa da ênfase nas especulações intelectuais, os mestres não convertidos afirmavam conhecer a Deus até mais do que os cristãos. No entanto, o comportamento deles revelava seu verdadeiro mestre. Eles não cumpriam as ordens de Deus.

Negam por suas obras. Ver com. de Mt.7:21-27.

São abomináveis. A pretensa fé dos mestres religiosos corrompidos e dos membros da igreja “insubordinados” (v. Tt.1:10) constituía uma ofensa aos olhos de Deus. Seria melhor que tais pessoas nunca tivessem ouvido falar do cristianismo (ver com. de Lc.12:47).

Reprovados. Do gr. adokimos, “não foram aprovados no teste”, “sem valor (ver com. de 2Tm.3:8). Como resultado da hipocrisia e do egoísmo, tais pessoas eram inúteis para qualquer trabalho nobre. Aparentemente, muitos dos irmãos em Creta buscavam esses mestres para ouvir a doutrina e aprender a prática cristã. Paulo não tinha escolha a não ser falar francamente tanto sobre os mestres como sobre seus seguidores.

Tt.2:1 1. Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.

Fala. O texto grego contrasta o conteúdo e a forma do ensino de Tito com o dos falsos mestres em Creta (ver com. de Tt.1:10-16). Paulo descreve a tarefa tripla de Tito: (1) organizar a igreja e familiarizar os irmãos de Creta com essa organização (Tt.1:5-8), (2) refutar os “palradores frívolos e enganadores” (Tt.1:10) que ensinavam doutrinas falsas e arruinavam a moral da igreja (Tt.1:9-16) e (3) comunicar a verdade do evangelho com clareza e precisão.

A sã doutrina. Ver com. de Tt.1:9.

Tt.2:2 2. Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância.

Homens idosos. Do gr. presbutai, “homens mais velhos”. Comparar com 1Tm.5:1; ver com. de At.11:30.

Temperantes. Do gr. nephalioi, “abstêmios de vinho” (ver com. de 1Tm.3:2-3).

Respeitáveis. Do gr. semnoi, “digno de honra”, “dignos” (ver 1Tm.3:8).

Sensatos. Do gr. sophron, “prudentes”, “equilibrados” (ver com. de 1Tm.3:2). Os mais velhos na igreja devem ser respeitados por seus sábios conselhos. Quando alguém é disciplinado por Deus, isso não deve ser considerado levianamente.

Sadios na fé. Ver com. de Tt.1:13.

Amor. Ou, “caridade” (ver com. de 1Co.13:1).

Constância. Do gr. hupomone, “fortaleza”, “resistência” (ver com. de Rm.5:3), qualidades que sempre devem ser mantidas. Com o passar dos anos, as pessoas podem se cansar, e sua fé pode ser afetada por superstições e tradições; o amor pode se enfraquecer e se tornar mero sentimento, e a paciência pode decair em apática condescendência. Mas a vida de Paulo era uma ilustração da glória do ideal aqui estabelecido, um padrão de esplendor da vida na fé.

Tt.2:3 3. Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem,

Mulheres idosas. Comparar com 1Tm.5:2. O cristianismo elevou o status da feminilidade a uma posição até então desconhecida. No entanto, essa nova condição exigia um compromisso correspondente das mulheres cristãs. Elas deviam cumprir o propósito original de Deus como baluartes de ternura e devoção. Deviam definir o padrão de pureza e devoção para o lar e os filhos, tanto para os seus próprios quanto para os vizinhos pagãos (ver Tt.2:4).

Como convém a santas (ARC). Ou, “pessoas envolvidas no serviço sagrado”; literalmente, “sacerdotisas”.

Não caluniadoras. Ver com. de 2Tm.3:3.

Não escravizadas. Ou, “que não permanecem escravizadas”.

Muito vinho. Ver com. de 1Tm.3:8. A igreja de Creta era recém-criada; por isso as mulheres idosas tinham, na maior parte da vida, praticado os padrões e hábitos de uma sociedade pagã. O consumo de vinho é uma prática comum no Oriente Médio. Depois de uma longa vida dessa prática, a escravidão ao vinho seria a regra, não a exceção.

Mestras do bem. Em contraste com a fofoca, calúnia, ou “as fábulas antigas” (1Tm.4:7).

Tt.2:4 4. a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos,

Instruírem. Do gr. sophronizo, “fazer com que tenham mente sã”, isto é, treinar para a maturidade emocional (ver com. do v. Tt.2:5).

As jovens. As virtudes da feminilidade são mais bem transmitidas de uma geração a outra por mulheres emocionalmente maduras, que aprenderam bem as lições de autodisciplina e piedade pessoal. É trágico quando mulheres jovens assumem as funções de esposa e mãe sem ter sido devidamente ensinadas, por preceito e exemplo, quanto às responsabilidades da feminilidade cristã.

Marido. A esposa de mente sã percebe que a harmonia e a força da casa dependem de seu papel como parceira do marido, e não como concorrente.

Filhos. Paulo enfatiza a lei básica da segurança da família e do desenvolvimento emocional. A contribuição de uma mãe amorosa, oferecida aos filhos em crescimento de forma consistente e desinteressada, não pode ser suprida de outra forma. Os filhos não devem ser considerados como barreiras para a felicidade dos adultos nem como seres que desenvolvem automaticamente virtudes nobres e respeitáveis.

Tt.2:5 5. a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada.

Sensatas. Do gr. sophron, “prudentes”, “com domínio próprio”, “de mente sã”. A ênfase frequente de Paulo em sophron e seus derivados, nas cartas a Timóteo e a Tito (1Tm.2:9; 1Tm.2:15; 1Tm.3:2; 2Tm.1:7; Tt.1:8; Tt.2:2; Tt.2:4-6; Tt.2:12), reflete seu intento de resolver um grande problema na organização da igreja e no desenvolvimento do caráter. O domínio próprio demonstra vitória sobre o egoísmo. As aspirações pessoais devem ser subordinadas ao bem-estar da família e do próximo, e as decepções devem ser enfrentadas com coragem e dinamismo.

Boas. A descrição de Paulo de uma mulher cristã se compara com o retrato clássico da mãe e esposa honrada (ver Pv.31:10-31).

Donas de casa. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “trabalhadoras do lar”. As mães que passam grande parte do tempo fora de casa, por vezes, negligenciam as responsabilidades familiares. A permissão para que os filhos saiam sem a supervisão dos pais, ou que sejam postos sob a orientação de uma auxiliar doméstica não cumpre a instrução divina dada aqui.

Sujeitas. Ver com. de Ef.5:22; 1Tm.2:11.

Difamada. Os cristãos carregam o nome de Deus e professam representá-Lo. Por esse motivo, Paulo recomenda cuidadosa revisão dos hábitos diários pelos quais o poder da religião é julgado. Assim como os pagãos, muitos cristãos escolhem observar rituais elaborados em vez de viver fielmente para Deus dia a dia. O desempenho fiel das tarefas diárias constitui a primeira responsabilidade da mulher cristã. Não há deveres na igreja, por mais bem executados, que compensem a falta de cuidado adequado da criança ou a imaturidade emocional. Se os descrentes observarem que as mulheres cristãs não são mais autocontroladas e responsáveis do que as outras mulheres, o cristianismo sofrerá grande perda. Tendo em vista a compreensão mais elevada que o cristianismo tem do papel da mulher no lar e na igreja, o mundo examinará cuidadosamente os resultados dessa profissão. Paulo queria estabelecer a igreja sobre princípios corretos, ciente de que a moral e a espiritualidade do lar e da comunidade, em grande parte, são determinadas pelas mulheres.

Tt.2:6 6. Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos.

Aos moços. Ou seja, em contraste com “homens idosos” (v. Tt.2:2).

Criteriosos. Ver com. dos v. Tt.2:4-5. Talvez Tito, sendo jovem, fosse mais bem-sucedido no aconselhamento aos de sua idade.

Tt.2:7 7. Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência,

Em tudo (ARC). Ver com. de 1Tm.4:12. O genuíno cristianismo afeta todas as atividades em que as pessoas podem se envolver, tendo os pensamentos cativos à vontade de Deus (2Co.10:5).

Ensino. Ou, “doutrina”; comparar com 2Tm.3:10.

Mostra. Tanto os cristãos da ilha de Creta como seus vizinhos pagãos esperariam que o pastor exemplificasse fielmente os princípios do cristianismo. Com toda probabilidade, Tito fora criado em um lar pagão, possivelmente, na lasciva e perversa cidade de Antioquia. Ele havia sido atraído para o serviço do Mestre na juventude e fora testado na fornalha da provação e da dificuldade. Aqui, Paulo lembra a Tito que sua mais eficaz inspiração para os crentes de Creta dependeria do exemplo de domínio próprio e disciplina.

Integridade. Ou, “incorruptibilidade”; comparar com v. Tt.2:1.

Reverência. Do gr. semnotes, “comportamento digno” (ver com. de 1Tm.2:2).

Sinceridade (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra.

Tt.2:8 8. linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito.

Sadia. Ou, “saudável”, qualidade enfatizada nesta epístola (Tt.1:9; Tt.1:13; Tt.2:1-2; Tt.2:8). Por causa do pecado, a natureza humana está doente, mas o evangelho é a prescrição do Céu para remover a causa da enfermidade e restaurar homens e mulheres à saúde mental, física e espiritual. Os falsos ensinos, como panaceias dos charlatões médicos, não curam a doença e, muitas vezes, a agravam. Paulo lembra a Tito que seus adversários observariam de perto sua vida e suas palavras, a fim de ter algo contra ele. No entanto, se Tito tivesse o cuidado de falar com precisão, em espírito de oração, seus oponentes seriam envergonhados. Ficariam sem base para as críticas que esperariam poder fazer.

Adversário. Nem os “palradores frívolos e enganadores” (Tt.1:10), de dentro da igreja, nem os pagãos deveriam ter razão para a crítica.

Tt.2:9 9. Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de satisfação; não sejam respondões,

Servos. Ou, “escravos” (ver com. de Jo.8:34).

Motivo de satisfação. A conversão de escravos ao cristianismo não deveria torná-los trabalhadores menos aplicados, senão mudar a desobediência mal-humorada em alegria e utilidade (sobre o conselho de Paulo a respeito de escravos cristãos, ver com. de Ef.6:5-9; Cl.3:22-4:1; 1Tm.6:1-2).

Tt.2:10 10. não furtem; pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador.

Furtem. Ou, “façam apropriação indébita”, “desviem”. Frequentemente, os escravos eram empregados em funções além do lar ou da fazenda. A alguns eram confiados empreendimentos comerciais e recebiam considerável liberdade. Isso lhes dava oportunidade de serem desonestos. Às vezes, obtinham educação nobre como artistas ou médicos e, com essa formação, trabalhavam para seus senhores. Nos dias de Paulo, um escravo tinha oportunidades para enganar seu senhor. O roubo ou desfalque da propriedade do senhor era tão comum em Creta que frequentemente os servos eram chamados de ladrões. Os escravos cristãos deveriam ser superiores em lealdade e honestidade.

Toda a fidelidade. Os escravos cristãos deveriam ser confiáveis no serviço aos senhores terrenos.

Ornarem. Ver com. de 1Tm.2:9. Paulo afirma que unicamente a vida cristã pode recomendar o evangelho ao mundo. Não novos métodos, mas pessoas nascidas de novo constituem o plano de Deus para o avanço do evangelho (ver com. de 1Tm.4:16; 2Pe.3:12).

Doutrina de Deus. Provavelmente, “doutrina sobre Deus”, a fonte de toda a esperança cristã (ver v. Tt.2:11-15).

Tt.2:11 11. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens,

Graça. Do gr. charis (ver com. de Jo.1:14; Rm.1:7; Rm.3:24; 1Co.1:3). Somente pela graça de Deus podem os homens idosos (Tt.2:2), as mulheres idosas (v. Tt.2:3), as moças (v. Tt.2:4-5), os rapazes (v. Tt.2:6), Tito (v. Tt.2:7-8) e os escravos (v. Tt.2:9-10) assumir as responsabilidades de sua posição particular na vida. A nota triunfante do conselho de Paulo é que homens e mulheres encontram a vitória sobre o pecado, a ponto de a vida de Cristo, revelada em carne e sangue, poder ser replicada em cada crente motivado pelo Espírito Santo. Todos os mandamentos de Deus são acompanhados por Sua graça, que capacita o crente a cumprir os propósitos divinos (ver com. de 2Co.12:9; Hb.13:9).

Manifestou. A graça, isto é, o abundante amor salvífico de Deus, manifesto aos pecadores, sempre esteve disponível a todos (ver com. de SI.51:1-17; ver Nota Adicional ao Salmo 36; Sl.36:12). Contudo, o plano de Deus de salvar a humanidade se tornou mais evidente na vida de Jesus.

Todos os homens. Comparar com Jo.1:9; Jo.3:17; 1Tm.2:4; 2Pe.3:9. A todos são oferecidas oportunidades suficientes para a salvação, mas a obstinada recusa de muitos em aceitar a graça de Deus resulta em morte eterna. Para esses, o propósito de Deus é frustrado, e o dom da salvação, negligenciado. Os cristãos devem representar corretamente os princípios da fé a fim de que os descrentes sejam atraídos para o cristianismo.

Tt.2:12 12. educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente,

Educando. Do gr. paideuo, “educar”, dar orientação, frequentemente usado para descrever o processo de educação de um filho. A graça salvadora não só ajuda as pessoas a eliminar as práticas pecaminosas, mas leva a cultivar hábitos novos e dignos. Essa instrução diária de Deus pode ser descrita como o processo de santificação (ver com. de Rm.6:19; 1Ts.4:3).

Renegadas. Ou, “renunciadas”.

Paixões mundanas. Ou, “os desejos”, que nada mais elevado aspiram que os prazeres deste mundo (comparar com 1Jo.2:15-16).

Presente século. Ver com. de 1Tm.6:17.

Sensata. Do gr. sophronos, “prudentemente” (ver com. do v. Tt.2:5). O cristão reconhece suas responsabilidades sociais e os deveres espirituais como filho de Deus. A graça confere poder suficiente para que as pessoas possam cultivar verdadeiro domínio próprio (ver com. de Ef.4:13).

Piedosamente. Do gr. eusebos (ver com. de 2Tm.3:12).

Tt.2:13 13. aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus,

Aguardando. Do gr. prosdechomai, “esperando”, “aceitando”. Paulo acrescenta um segundo incentivo ao apelar aos membros da igreja de Creta para que vivam como representantes de Jesus Cristo. Além de viver de forma superior na Terra, o cristão é recompensado com o dom incomensurável da vida eterna. Assim, a vida diária deve estar em harmonia com o anseio pelo breve retorno de Jesus. Simeão foi recompensado por sua fiel “espera” (prosdechomai) ao ver o menino Jesus (ver com. de Lc.2:25). Do mesmo modo, um grande grupo de cristãos terá a maior alegria ao testemunhar a glória da segunda vinda de Cristo.

Bendita esperança. A esperança do retorno de Cristo tem sido o grande incentivo da fé cristã por dois milênios. Ela anima o crente e robustece a coragem, em meio às vicissitudes da vida. Os momentos sombrios de desânimo, desilusão ou tristeza são gloriosamente compensados pela esperança cristã do segundo advento.

Manifestação da glória. Ou, “aparecimento da glória” (sobre epiphaneia, “manifestação visível”, ver com. de 1Tm.6:14). A frase “bendita esperança” está em paralelo ao “glorioso aparecimento”, ou “manifestação da glória”, isto é, a manifestação de Cristo constitui a bem-aventurada esperança. A tradução “manifestação da glória” sugere a revelação dos atributos divinos de Cristo quando retornar a este mundo como Rei dos reis, rodeado pelo esplendor da glória de miríades de anjos celestiais.

Nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus. Comparar com 2Ts.2:8; 1Tm.6:14; 2Tm.4:1; 2Tm.4:8. O texto grego desta expressão é ambíguo, portanto, há incerteza quanto a Paulo estar falando tanto do Pai como do Filho, ou apenas do Filho. Muitos comentaristas preferem considerar que a expressão se refere apenas a Cristo. Nenhuma dificuldade é encontrada nessa interpretação, pois Paulo atribui as prerrogativas da divindade a Jesus (ver com. de Rm.1:7; Fp.2:6; Cl.2:9; 1Tm.1:1; sobre a divindade de Cristo, ver vol. 5, p. 1013; comparar com 2Pe.1:1). O contexto de Paulo é a vinda de Cristo no segundo advento, como o próprio Senhor prometeu (ver com. de Jo.14:1-3). Devido aos dois fatos aqui revelados: que Jesus Cristo é Deus e que Seu retorno a este mundo constitui o grande clímax da história, este versículo tem sido uma fonte de conforto para os cristãos de todos os tempos.

Tt.2:14 14. o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.

A Si mesmo Se deu. Aqui, Paulo descreve a obra do Filho de Deus no cumprimento do ofício de “Salvador” (v. Tt.2:13). A função de Cristo como salvador e mediador pela humanidade perdida não Lhe foi imposta pela vontade arbitrária do Pai. Cristo “a Si mesmo Se deu” como sacrifício voluntário por Sua criação rebelde (ver com. de Jo.10:17-18; At.3:15). Na pessoa de Jesus, Deus Pai revelou Seu amor. Embora Seus filhos e filhas sofram as consequências da transgressão moral e física, Deus manifestou Seu amor ao partilhar com a humanidade a dor do pecado. O dom de Cristo elimina todas as dúvidas sobre o supremo amor de Deus para com os pecadores. Desde o início do pecado, Deus tem experimentado a dor de ver Seus filhos perdidos. A vida de Cristo na Terra é o motivo do louvor dos remidos por toda a eternidade. Os anjos ficam em silêncio de espanto de que a única obrigação do ser humano consista em aceitar esse incomparável amor do Salvador e em voltar à família de Deus.

Remir. Do gr. lutroo, “libertar”, “resgatar”; sobre o substantivo relacionado lutron, ver com. Mt.20:28; comparar com SI.130:8. O plano de Deus é restaurar na humanidade perdida a imagem original com que foi criada. O pecado não será esquecido, mas erradicado. O processo de santificação consiste na ação da graça de Deus sobre a vontade humana totalmente dedicada, de modo que todos os vestígios do pecado sejam removidos da vida (ver com. de Rm.3:24; Rm.5:1; Rm.6:19). A libertação das pessoas do poder sedutor do pecado para que desenvolvam hábitos de justiça exige nada menos que o poder restaurador de Deus. Por causa dos hábitos pecaminosos profundamente gravados na vida, o ser humano não tem outro recurso a não ser apossar-se da mão salvadora de Deus em busca da completa libertação. No entanto, embora os mundos respondam instantaneamente às instruções de Deus, o ser humano, o auge de toda a criação, muitas vezes limita o poder e os projetos de Deus na vida, por sua própria vontade rebelde.

Iniquidade. Do gr. anomia, “ilegalidade”.

Purificar. Ver com. de 1Jo.1:7; 1Jo.1:9; 1Jo.3:3. Nenhum ritual ou cerimônia judaica é suficiente para salvar (cf. At.15:9). O resultado do resgate do ser humano do pecado, pela graça de Deus, é uma vida limpa de todo pensamento e ação pecaminosos.

Exclusivamente Seu. Do gr. periousios, “escolhido”, isto é, por Deus para Si mesmo. A igreja é o novo de Israel como agente especial de Deus para o testemunho do evangelho (ver com. de 1Pe.2:9). A missão, os privilégios e responsabilidades do Israel literal foram transferidos para o Israel espiritual (ver vol. 4, p. 21-23).

Zeloso. Enquanto aguarda o segundo advento, a igreja deve cumprir a missão, designada no passado à nação judaica, de revelar os princípios do governo de Deus por palavras e atos.

Tt.2:15 15. Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze.

Dize. Aqui, Paulo revela três métodos de ensinar e liderar as congregações cristãs. Alguns membros da igreja estão ansiosos para ouvir. Outros precisam de insistência adicional e conselhos mais diretos. Outros, ainda, por várias razões, precisam de forte advertência e provas incontestáveis.

Autoridade. Em última análise, a autoridade do ministro não se baseia no ofício, mas na missão divina e na integridade de seu ministério.

Despreze. Tito devia apresentar seus ensinos de maneira tão convincente que seus ouvintes não pudessem ignorar o que ele pregava nem perder a confiança por achar seus argumentos destituídos de lógica.

Tt.3:1 1. Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra,

Lembra-lhes. Cada nova geração e cada novo membro recebido na igreja precisa ouvir sobre as responsabilidades cívicas do cristão. Tendo em vista que o mérito do evangelho é medido pelo valor de seus adeptos, a igreja deve se erguer diante do mundo como um corpo de homens e mulheres nobres. Nunca deve negligenciar a oportunidade de aliviar as necessidades da comunidade e de cooperar em todos os sentidos para apoiar o cumprimento da lei. Até aqui, o conselho do apóstolo se referia às relações e funções dentro da família da igreja. Então, ele se volta para o mundo, a comunidade secular.

Sujeitem. Este conselho era necessário em Creta, especialmente. A ilha estava sob o domínio romano havia mais de um século, e o povo se afligia sob a dominação estrangeira, como também os judeus. O conselho de Paulo sobre a lealdade ao governo era o mais apropriado (sobre a relação entre os cristãos e o governo, ver com. de Rm.13:1-7).

Aos que governam, às autoridades. Ou, “principados e potestades” (ARC). Estes incluem todos os níveis da administração civil, desde as autoridades locais até o imperador de Roma.

Sejam obedientes. Os cristãos devem ser conhecidos por sua lealdade às autoridades civis em assuntos como arrecadação de impostos e projetos comunitários. A negligência nas responsabilidades cívicas traz censura desnecessária à igreja. A paz e a ordem são parte da mensagem cristã. A deslealdade e sedição não recomendam o cristianismo. O conselho de Paulo evidencia sua nobreza de caráter. Sua experiência com o governo romano não era positiva. Paulo fora preso, acorrentado, detido, espancado e ameaçado porque as autoridades romanas tinham ouvido relatos maliciosos inventados por seus implacáveis inimigos judeus.

Boa obra. O cristão deve ser reconhecido como um cidadão patriótico, que apoia o programa governamental destinado a aliviar as dificuldades e estabelecer a equidade. Ao mesmo tempo, a consciência cristã é recomendada a se abster de toda atividade governamental que negue os direitos básicos a qualquer ser humano ou que incentive práticas malignas.

Tt.3:2 2. não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens.

Difamem. Ou, “blasfemem”. Por piores que sejam alguns de seus concidadãos, ou por mais injustos que pareçam alguns dos magistrados, o cristão não deve demonstrar mau humor nem usar linguagem rude.

Não sejam altercadores. Literalmente, “não combatentes”. Os cristãos genuínos não provocam brigas (ver com. de Hb.12:14).

Cordatos. Do gr. epieikes (ver com. de Tg.3:17).

Cortesia. Do gr. praotes, “humildade”, “consideração” (ver com. de Mt.5:5). Este é o sentimento que move os cristãos a serem “mansos”. Uma vez que Creta era a encruzilhada e ponto de comércio para o Mediterrâneo, muitas vezes, ela era o espaço para irados mal-entendidos entre comerciantes e visitantes de diferentes países. Em vista disso, Paulo recomenda os mais elevados padrões de conduta nesse que era um dos ambientes mais difíceis do mundo. Por causa das tensões correntes, o testemunho cristão brilharia ainda mais gloriosamente.

Todos os homens. O amor cristão e o respeito se estendem tanto aos ignorantes como aos cultos, tanto aos sensualistas como aos providos de autocontrole. Só Cristo representa plenamente esse amor.

Tt.3:3 3. Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.

Outrora. Ou, “antigamente”, “no passado”. Antes da conversão, os membros da igreja também eram pagãos, mas deviam ser tolerantes para com os erros dos pagãos. Além disso, como cristãos, capacitados pela graça de Deus (Tt.2:11), eles não deveriam voltar a seu antigo padrão moral, exibido pelos vizinhos pagãos, pois assim eles negariam o poder de Deus.

Néscios. Ou, “pouco inteligentes”, sugerindo falta de compreensão sobre o que é moral e espiritualmente correto (cf. Rm.1:21; Ef.4:18).

Desobedientes. Ver com. de Rm.11:30-32.

Desgarrados. Ou, “desviados”, por causa da mente indisciplinada, cativada por todo capricho ou fantasia que apele aos sentidos. Tendo como único critério da vida a própria vontade, e não a de Deus, o pagão é escravo de hábitos debilitantes, vítima dos prazeres entorpecentes do mundo. Muitas vezes, sob o pretexto de cultura, beleza e requinte, homens e mulheres não convertidos servem ao reino do mal, dando vazão às forças do egoísmo, do orgulho e da decadência moral. Só um redirecionamento da mente, convertida pela graça de Deus, pode expor a tolice da satisfação sensual e do orgulho mundano. Quando a mente é iluminada pelo Espírito Santo, a obediência ao modo de vida de Deus será o principal desejo, e as antigas “paixões” e os “prazeres” mundanos serão revelados como loucura. Aqui, Paulo lembra aos membros da igreja de Creta a obra da graça de Deus realizada na vida deles.

Toda sorte. Ou, “diferentes”, “diversas”.

Paixões. Do gr. epithumiai (ver com. de Rm.7:7).

Prazeres. Sem Deus, eles ainda seriam ignorantes, amantes dos prazeres.

Malícia e inveja. Ver com. de 1Co.5:8. Hostilidade e inveja são comuns entre os que vivem para o prazer mundano.

Odiosos. O ódio é o oposto do amor (ver com. de Mt.5:43-44).

Tt.3:4 4. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos,

Quando, porém. Quando a pessoa recebe Deus em sua vida, um novo poder começa a operar, contrário às antigas forças dos maus desejos.

Benignidade. Do gr. chrestotes (ver com. de Rm.2:4).

Deus, nosso Salvador. Ou, “nosso Deus Salvador” (ver Tt.1:3; Tt.2:10; ver com. de 1Tm.1:1). Nesta epístola, Paulo atribui o termo “Salvador” tanto a Deus Pai (Tt.1:3; Tt.2:10; Tt.3:4) como a Jesus (Tt.1:4; Tt.2:13; Tt.3:6). Quando Jesus Se manifestou (ver com. de Tt.2:11), Ele revelou a preocupação conjunta da Divindade pela salvação dos seres humanos (ver com. de 2Co.5:18-19).

Amor para com todos. Do gr. philanthropos, “amor pela humanidade”, usado no grego clássico para a bondade de um homem para com outro, a graciosidade de um soberano a um súdito, a simpatia para com os que enfrentam problemas e para a bondade dos que resgatam cativos, pagando o preço por sua libertação. Tanto chrestotes como philanthropos são facetas do amor de Deus (agape, ver com. de 1Co.13:1). Toda virtude ética na vida do cristão é apenas resultado do amor de Deus.

Tt.3:5 5. não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,

Obras. O ser humano é justificado diante de Deus com base na misericórdia, não por causa de qualquer obra de sua parte (ver com. de Rm.4:2; Rm.4:6; Rm.9:32; Gl.2:16; Gl.3:5; Gl.3:10; Ef.2:9). O impulso geral de toda pessoa não convertida consiste em egoísmo; portanto, ninguém jamais viveu à altura dos padrões da justiça de Deus (ver com. de Rm.3:23). O único recurso do ser humano é a fidelidade do amor e da misericórdia de Deus.

Misericórdia. Como um traço do amor divino (v. Tt.3:4), a misericórdia é aqui um equivalente da graça, provavelmente para enfatizar a condição miserável da humanidade. A piedade de Deus para com a condição humana é base da certeza da salvação.

Lavar. Do gr. loutron (ver com. de Ef.5:26), ou seja, uma “purificação” espiritual que liberta a pessoa das más tendências (Tt.3:3).

Regenerador. Ou, “renascimento”. Tendo em vista que, entregue a si mesmo, o ser humano é vil e está perdido, e sendo que os ritos e purificações cerimoniais judaicos não poderiam mudar a natureza pecaminosa, a única opção é aceitar a solução de Deus para o problema do pecado, o que leva a uma completa reforma da vida (ver com. de Tt.2:14). Deus propõe não só perdoar, mas restaurar os seres humanos a uma vida sem pecado. Esse processo de transformação de homens e mulheres pecaminosos em testemunhas do modo de vida de Deus é a santificação (ver com. de Rm.6:19). A santificação é parte do programa divino para erradicar o pecado. Aqui, o “lavar regenerador” é o passo inicial do programa da santificação. Alguns creem que Paulo aqui se refere ao batismo. No entanto, o batismo não é um meio de regeneração, nem é a base para a salvação. Embora o batismo seja exigido de todos os conversos (ver Mt.28:19), ele apenas simboliza a purificação interior ou “regeneração” já operada por Deus (ver com. de Mt.3:6; Rm.6:4). O batismo é um testemunho público do que Deus já tem feito na purificação das más tendências do pecador (ver com. de Tt.3:3).

Renovador. Comparar com Rm.12:2.

Do Espírito Santo. Ou, “pelo Espírito Santo”, que fortalece e santifica diariamente a pessoa convertida. Sendo que o Espírito Santo não age sem o consentimento humano, o progresso espiritual depende do comprometimento diário do cristão com o modo de vida de Deus. Portanto, o processo de santificação requer uma parceria entre Deus e o crente. Depois que a pessoa escolhe o caminho de Deus, o Espírito Santo restaura sua vontade enfraquecida a fim de que tenha poder para cumprir a vontade de Deus. “Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa operação da terceira pessoa da Trindade, a qual viria, não com energia modificada, mas na plenitude do divino poder” (DTN, 671).

Tt.3:6 6. que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,

Ele. Isto é, “Deus, nosso Salvador” (v. Tt.3:4).

Derramou. Uma referência ao Pentecostes (ver At.2:18), como uma referência para a experiência pessoal do cristão genuinamente convertido. A promessa de Cristo sobre a descida do Espírito Santo (ver com. de Jo.14:16-17; Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:7-14) foi plenamente cumprida na vida dos primeiros cristãos. Na vida deles, exibiu-se o poder transformador do Espírito.

Cristo, nosso Salvador. Ver com. de Tt.2:13.

Tt.3:7 7. a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.

A fim de que. Ou, “de modo que”, como resultado do “lavar regenerador” (v. Tt.3:5).

Justificados. Literalmente, “tendo sido justificados”, com base na rendição do pecador à vontade de Deus. O Espírito regenera apenas aqueles a quem Cristo justificou; Ele não força a vontade de ninguém (ver com. de Rm.3:24).

Sua (ARC). Do gr. ekeinos, isto é, pela graça de “Deus, nosso Salvador” (v. Tt.3:4).

Graça. Ver com. de Rm.3:24.

Herdeiros. Enquanto mantém sua posição como um filho de Deus, o cristão tem a alegria de partilhar com Cristo a recompensa dos redimidos (ver com. de Rm.8:17). Se negar a filiação a Deus e recusar representar os princípios divinos, já não é herdeiro da herança eterna.

A vida eterna. Ver com. de Tt.1:2.

Tt.3:8 8. Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.

Fiel. Ou, “confiável” (cf. 1Tm.1:15; 1Tm.3:1; 1Tm.4:9; 2Tm.2:11). Paulo se refere às declarações anteriores a respeito da graça salvadora de Deus (Tt.3:4-7).

Estas coisas. O simples mas satisfatório relato do incomparável amor de Deus desperta admiração e coragem cada vez que é repetido. O cristão sincero experimenta constante amadurecimento do caráter, e a lembrança do justificador e santificador amor de Deus provê paz e encorajamento. O entendimento do plano da salvação, exposto por Paulo (v. Tt.3:4-7), nunca se esgotará nesta vida. O estudo da verdade e da natureza de Deus revela tesouros novos constantemente. Essas novas descobertas estimulam o crente a apressar a restauração da imagem de Deus.

Os que têm crido. O texto grego sugere a frase adicional: “e ainda creem”. O alimentar-se diariamente do pão da vida mantém o espírito de fervor. As Escrituras sugerem que os que se satisfazem apenas com os ensinos elementares do evangelho logo deixam de ser fiéis a Deus. A vida deles fica estagnada porque a mente está adormecida. Por causa da lentidão “de seus ouvidos”, com o tempo, essas pessoas se tornam despreparadas para o avanço da operação do Espírito (ver com. de Hb.5:11-6:1).

Boas obras. Ver com. de Gl.5:22-23.

Proveitosas aos homens. Ou seja, as atividades cristãs esboçadas por Paulo nesta epístola. Os “palradores frívolos e enganadores” (Tt.1:10), que se esforçavam para desviar a igreja cretense, usavam seus ensinos para favorecer os impulsos naturais dos membros da igreja, procurando obter vantagem financeira (v. Tt.3:11). Paulo, no entanto, estava interessado na transformação do caráter deles (ver com. de Tt.2:1-10). O evangelho pregado por Paulo havia perturbado os cretenses, como tinha acontecido em outros lugares. Mas foi esse mesmo distúrbio que levou as pessoas a se examinarem e a se apegarem à misericórdia e à graça purificadora e restauradora de Deus (ver com. de Tt.2:14; Tt.3:5).

Tt.3:9 9. Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis.

Discussões insensatas. Ou seja, as disputas verbais sem sentido sobre os regulamentos mosaicos (ver com. de 1Tm.1:4; 1Tm.6:4; 2Tm.2:23).

Genealogias. Ver com. de 1Tm.1:4.

Debates. Especialmente os promovidos pelos corrompidos mestres da lei (ver com. de 1Tm.1:7; Tt.1:10; Tt.1:14) que pervertiam o estudo das Escrituras em discussões estranhas e infrutíferas. Essas especulações não levavam ao aperfeiçoamento do caráter nem eram propícias à comunhão cristã.

Não têm utilidade. Por causa de sua formação inicial nos raciocínios fantasiosos da tradição judaica, Paulo resistia a toda tendência a práticas semelhantes dentro da igreja cristã. O apóstolo conhecia o efeito dos ensinos das tradições judaicas e desejava que o cristianismo se desviasse dos mesmos.

Fúteis. Do gr. mataios, “inúteis”, “sem nenhum propósito” (ver com. de 1Co.15:17).

Tt.3:10 10. Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez,

Evita. Do gr. paraiteomai, “obter pela súplica”, “recusar” (ver com. de 1Tm.4:7; 1Tm.5:11). Paulo não recomenda necessariamente a remoção do faccioso por causa de suas opiniões pessoais, a menos que ele as imponha em oposição à autoridade da igreja devidamente constituída, ou que sejam acompanhadas de infrações morais (cf. Rm.16:17; ver com. de 2Ts.3:14).

Faccioso. Do gr. hairetikos, “herético” (sobre hairesis, ver com. de At.5:17). A primeira frase deste versículo poderia ser: “Evita uma pessoa facciosa.” Paulo descreve o método de lidar com pessoas que promovem confusão e contenda (ver v. Tt.3:9). O faccioso mantém opiniões contrárias ao evangelho. Se essas opiniões forem toleradas, o cisma se estabelece e os membros da igreja, antigos e novos, ficam debilitados na fé. É dever do presbítero que preside aconselhar, com bondade, o faccioso. Se não houver resposta favorável, o passo seguinte é um segundo pedido de cooperação, expresso claramente. O objetivo dessas duas entrevistas é restaurar o membro faccioso. Deve ser dada ao dissidente evidência suficiente, de modo que seus pontos de vista errados sejam expostos de forma razoável e conclusiva (ver com. de Tt.1:9; Tt.1:13; Tt.2:15). Cada líder deve se lembrar de que o padrão da sã doutrina não é a opinião pessoal, mas a Palavra de Deus. Qualquer decisão sobre visões heréticas deve se basear em clara evidência bíblica.

Tt.3:11 11. pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.

Pervertida. Ou, “corrompida”, ou seja, afastada da intenção, bem como da forma do verdadeiro ensino.

Pecando. A pessoa facciosa não só conhecia a verdade e, por um tempo, a rejeitou em troca de ensinos contraditórios, mas também rejeitou as admoestações fraternas dos líderes da igreja.

Por si mesma está condenada. Ou seja, sua própria consciência a condena.

Tt.3:12 12. Quando te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te a vir até Nicópolis ao meu encontro. Estou resolvido a passar o inverno ali.

Ártemas. Um assistente fiel de quem nada mais é conhecido.

Tíquico. Ver com. de 2Tm.4:12. Tíquico ou Ártemas substituiria Tito em Creta, quando este partisse para Nicópolis. Isso permitiria a Tito preparar-se para seu trabalho de inverno com Paulo.

Nicópolis. Literalmente, “cidade da vitória”. Provavelmente, a cidade da província de Épiro, fundada por Augusto depois da bem-sucedida batalha de Áccio.

Resolvido. Ou, “decidido”.

Passar o inverno. Ver vol. 6, p. 95.

Tt.3:13 13. Encaminha com diligência Zenas, o intérprete da lei, e Apolo, a fim de que não lhes falte coisa alguma.

Encaminha. Do gr. propempo, “enviar para frente”, isto é, depois de prover as coisas essenciais da viagem.

Com diligência. Ou, “sinceramente”; deve ser ligado a “encaminha”. Zenas e Apolo deveriam estar bem equipados para a viagem prevista.

Zenas, o intérprete. Não há mais informação na Bíblia sobre esse colega de trabalho de Paulo. Não se sabe se era um especialista na lei mosaica ou na lei romana. Segundo a tradição, mais tarde, ele se tornou bispo de Dióspolis.

Apolo. Ver com. de 1Co.1:12.

Tt.3:14 14. Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos.

Aos nossos. Ou seja, os cristãos de Creta.

Distinguir-se. Ver com. do v. Tt.3:8.

Necessitados. Ou, “aquilo que se requer”. A visita de Zenas e Apolo seria uma excelente oportunidade para a igreja de Creta manifestar hospitalidade cristã, embora os visitantes fossem estranhos.

Tt.3:15 15. Todos os que se acham comigo te saúdam; saúda quantos nos amam na fé. A graça seja com todos vós.

Comigo. Paulo se refere aos companheiros de viagem.

Quantos nos amam. Ou seja, outros cristãos.

Todos vós. Paulo pretendia que Tito lesse a carta diante de toda a igreja.

Amém. Ver com. de Mt.5:18. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a exclusão desta palavra. O posfácio seguinte ao v. 15 (KJV) não ocorre em nenhum manuscrito inicial. Evidentemente, não fazia parte do registro original inspirado.