"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Judas
Jd.1:1 1. Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo,

Judas. Sobre a identidade do escritor, ver p. 775.

Servo de Jesus Cristo. Ou, “escravo de Jesus Cristo” (ver com. de Rm.1:1). Se Judas e Tiago eram irmãos do Senhor (ver p. 775), então, ambos mostram grande sutileza em suas epístolas, abstendo-se de mencionar esta relação, preferindo reconhecer a divindade de seu Mestre e proclamar sua submissão total, como Seus servos obedientes (cf. com. de Tg.1:1). Judas não reivindica a pretensão de ser um apóstolo (ver com. de At.1:2; Rm.1:1).

Chamados. A evidência textual favorece (cf. p. xvi) a variante de “amados”. A última parte do versículo, diz, literalmente, “àqueles que por Deus Pai são amados e por Jesus Cristo são guardados, aos chamados”. A fraseologia é difícil, mas o signílicado é claro. O escritor se dirige àqueles que foram chamados (cf. em Rm.1:6-7), que são profundamente amados pelo Pai e estão sendo guardados por Jesus para a herança que Deus preparou (cf. 2Pe.2:9).

Jd.1:2 2. a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados.

Misericórdia. Esta forma de saudação não ocorre em nenhuma outra parte no NT, mas há saudações de certo modo semelhantes em 1Pe.1:2 (comparar com a forma comum de Paulo saudar, na maioria de suas cartas, cf. Rm.1:7; 2Co.1:2). Judas, como Pedro, deseja que seus leitores obtenham suprimentos crescentes dos dons celestiais (cf. com. de 2Pe.1:2).

Jd.1:3 3. Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.

Amados. Esta é uma forma comum de abordagem nas epístolas gerais (cf. 1Pe.4:12; 2Pe.3:1; 1Jo.3:2).

Diligência. Do gr. spoude (ver com. de Rm.12:8; Rm.12:11; 2Pe.1:5). Judas partilha com os leitores a situação real quando ele veio a escrever a carta.

Comum salvação. A evidência textual favorece (cf. p. xvi) a variante de “nossa comum salvação”, isto é, a salvação que temos em comum. Foi a intenção original de Judas escrever uma carta pastoral em geral, mas parece que a notícia que chegou a ele sobre as atividades de “homens ímpios” (v. Jd.1:4) levou-o a abandonar seu projeto, em favor de um ataque vigoroso contra os desordeiros e de uma exortação séria aos crentes.

Foi que me senti obrigado. Literalmente, “senti que era necessário”, o que implica uma urgência repentina que levou Judas a mudar de plano e o impediu de preparar sua planejada epístola de modo negligente.

Exortando-vos. Do gr. parakaleo (ver com. de Mt.5:4).

Batalhardes. Do gr. epagonizomai, uma forma enfática do verbo agonizomai (ver com. de Lc.13:24).

Pela fé. Ou, o corpo completo das doutrinas cristãs (ver com. de At.6:7; Rm.1:5).

Uma vez foi entregue. Ou, “entregue de uma vez por todas” (sobre “entregue”, ver com. de 2Pe.2:21).

Santos. Ver com. de Rm.1:7. Judas queria que seus leitores se apegassem à forma original da doutrina cristã, conforme havia sido entregue à igreja por Jesus e apóstolos.

Jd.1:4 4. Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

Certos indivíduos. Comparar com 2Pe.2:1, em que Pedro fala de um grupo similar de homens cuja vinda estava ainda no futuro. Judas declara que, na época em que escreveu a epístola, esses enganadores já estavam perturbando a igreja (ver com. de Jd.1:18).

Introduziram com dissimulação. Do gr. pareisduo, “entrar secretamente”, “infiltrar-se furtivamente”. Os falsos mestres não eram honestos. Por ensinarem doutrinas subversivas, eles se esforçavam na dissimulação e entravam na igreja sem revelar seu verdadeiro caráter.

Antecipadamente pronunciados. Do gr. prographo, literalmente, “escrever antecipadamente”. Judas quer dizer que a condenação dos mestres enganosos já havia sido pronunciada, não no sentido de predestinação, mas como um julgamento fundamentado no conhecimento de suas atividades nocivas. A frase “desde muito” pode se referir às palavras de Enoque, como citado nos v. Jd.1:14-15, ou, “desde muito” (palai) pode ser interpretado em um sentido mais imediato (em Mc.15:44, a referência poderia ser a 2Pe.2:8; ver p. 775, 776).

Condenação. Do gr. krima, “sentença”, “condenação” (ver com. de Rm.2:2). Judas não identifica o tipo de condenação. Caso a sua carta tenha sido escrita depois de 2 Pedro (p. 775, 776), ele poderia ter as palavras de Pedro em mente, deixando a explicação para ele (ver com. de 2Pe.2:3; 2Pe.2:9).

Homens ímpios. Do gr. asebeis, forma plural de asebes (ver com. de Rm.4:5). Pedro aplica o termo aos antediluvianos (2Pe.2:5).

Libertinagem. Do gr. aselgeia (ver com. de 2Pe.2:2). A descrição de Judas do caráter e da obra dos falsos mestres é semelhante à dada por Pedro. Eles perverteram as palavras das Escrituras para favorecer seus propósitos imorais (cf. com. de 2Pe.2:2).

Que transformam. Do gr. metatithemi, “transferir”, “mudar” (cf. com. de Gl.1:6).

Graça. Do gr. charis (ver com. de Rm.3:24).

E negam a Deus, único dominador (ARC). A evidência textual favorece (cf. p. xvi) a omissão da palavra “Deus”. A frase completa pode então ser traduzida: “negando o único Senhor [despotes], ou seja, nosso Senhor [kurios] Jesus Cristo”. Dos demais escritores do NT somente Pedro aplica despotes, “mestre”, diretamente, a Cristo (ver com. de 2Pe.2:1).

Jd.1:5 5. Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez por todas, que o Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não creram;

Lembrar-vos. Não precisamos assumir, a partir destas palavras, que seus leitores tinham se esquecido dos fatos de que Judas está prestes a lembrá-los. O escritor retoma fatos conhecidos como parte de sua defesa vigorosa da fé (sobre uma fraseologia semelhante, ver 2Pe.1:12-13; 2Pe.3:1).

Embora já estejais cientes. A evidência textual favorece (cf. p. xvi) a variante “embora saibais todas as coisas de uma vez por todas”, confirmando a interpretação acima de “lembrar-vos”.

O Senhor. Ou, Cristo, que tirou Israel do Egito (ver com. de Ex.23:20; 1Co.10:4).

Depois. Literalmente, “pela segunda vez”, isto é, o evento seguinte foi a destruição dos incrédulos mencionada no v. Jd.1:4 (Nm.14:26-39).

Jd.1:6 6. e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia;

Anjos. Ver a passagem correspondente (2Pe.2:4). Judas entra em maiores detalhes do que Pedro, neste caso.

Estado original. Do gr. arche, geralmente traduzida como “princípio” (Jo.1:1). Paulo usa frequentemente arche e sua forma plural archai para descrever os principados (ver com. de Rm.8:38; Ef.1:21; Ef.6:12). Arche ocorre também uma vez traduzida como “regra” (ver com. de 1Co.15:24). Em Judas, a palavra se refere claramente à posição original desfrutada pelos anjos, a qual eles perderam quando seguiram Lúcifer e foram expulsos do Céu (ver com. de Is.14:12; Ez.28:16-18; Ap.12:7-9).

Movidos de ganância. Do gr. ekcheo, “precipitar”, aqui implicando que os mestres, de forma imprudente, imitaram o pecado de Balaão.

Erro de Balaão. Pedro diz que os falsos mestres se “extraviaram” (planao), seguindo o caminho de Balaão, enquanto Judas diz que eles se precipitaram no “erro” (plane) de Balaão. Com apenas uma ligeira variação na língua, os dois escritores transmitem pensamentos semelhantes (sobre a analogia entre Balaão e os falsos mestres, ver com. de 2Pe.2:15).

Revolta. Do gr. antilogia, “contradição”, portanto, “oposição”, ou, neste exemplo, “rebelião”.

Corá. Corá, Datã e Abirão se rebelaram contra a autoridade divinamente ordenada de Moisés e despertaram uma revolta no acampamento de Israel. Judas diz que os falsos mestres se rebelaram de modo semelhante contra a autoridade. Como resultado, perecerão tão certo como Corá e seus companheiros pereceram por causa do seu pecado (ver com. de Nm.16:1-35).

Abandonaram. Do gr. apoleipo, “deixaram”.

Guardado. Ou, “mantido” (cf. com. de 2Pe.2:4; 2Pe.2:9).

Algemas eternas. Uma expressão que raramente difere de 2Pe.2:4 (ver com. ali), em que a evidência textual confirma a variante “abismos da escuridão”. As “correntes” ou “amarras” são eternas no sentido de que os anjos rebeldes não podem escapar delas.

Juízo. Do gr. krisis (ver com. de 2Pe.2:4).

Grande Dia. Ou, o dia do julgamento (ver com. de 2Pe.2:4; 2Pe.2:9).

Jd.1:7 7. como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição.

Sodoma e Gomorra. Ver 2Pe.2:6; Gn.19:23-28. Judas omite a referência a Noé e aos antediluvianos e não faz qualquer menção a Ló (2Pe.2:5; 2Pe.2:7-8).

E as cidades circunvizinhas. Ou, as cidades vizinhas, Admá e Zeboim (Dt.29:23), não mencionadas por Pedro.

Havendo se entregado à prostituição. Uma palavra grega, usada somente aqui no NT e que implica uma entrega completa à libertinagem sexual.

Outra carne. Ou, “contaminam a carne”, aparentemente, uma referência ao pecado de sodomia praticado pelos habitantes das cidades da planície (ver com. de Gn.19:5).

São postas. Do gr. prokeimai, “colocar diante de”, “por à vista”. O pecado e o destino das cidades da planície já haviam sido apresentados como uma advertência dos resultados terríveis aos que rejeitam o caminho da justiça. O Mar Morto, não natural, com a sua total ausência de vida e as qualidades estranhas de suas águas, serve para enfatizar a natureza dos salários pagos pelo pecado (cf. Tg.1:15).

Para exemplo. O “fogo eterno” que acabará por destruir todos os ímpios é comparado com o “fogo eterno” que destruiu Sodoma e Gomorra. Como esse fogo foi eterno em seus efeitos, assim será o fogo eterno.

Sofrendo. Do gr. hupecho, literalmente, “manter sob”, portanto, “submeter”. O uso que Judas faz do tempo presente implica que as cidades destruídas ainda estão sofrendo sua punição. Sua punição é o seu estado de completa destruição. Portanto, sua punição continua.

Fogo eterno. Ver com. de Mt.25:41. Alguns comentaristas têm adotado a seguinte interpretação das palavras de Judas: “define-se aqui um exemplo do fogo eterno, castigo de sofrimento”, mas essa tradução não se harmoniza com 2Pe.2:6 e é um esforço desnecessário para evitar o problema relacionado com uma compreensão correta do “fogo eterno”. O fogo que aniquilou as cidades de Sodoma e Gomorra concluiu seu trabalho. Quando tudo o que poderia ser queimado o havia sido, o fogo se apagou. Aquele fogo já há muito deixou de queimar, mas seu efeito irá continuar por toda a eternidade. É neste sentido que essas cidades sofreram “a punição do fogo eterno”.

Punição. Do gr. dike, “penalidade”, “castigo”.

Jd.1:8 8. Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores.

Da mesma sorte. Ou, “de modo semelhante”, enfatizando que, apesar do terrível exemplo dos sodomitas, os falsos mestres persistiam de maneira semelhante.

Sonhadores alucinados. Literalmente, “estes que vivem sonhando”, ou seja, os falsos mestres. A referência ao sonho pode ser à atitude de profeta e às atividades dos falsos mestres.

Contaminam a carne. Comparar com a frase “seguindo a carne” (2Pe.2:10).

Rejeitam o governo. Comparar com 2Pe.2:10. Judas usa uma palavra diferente para “difamar” (atheteo, “anular”, “rejeitar”), mas a mesma palavra, kuriotes, para “governo”.

Difamam as autoridades superiores. Ver com. de 2Pe.2:10.

Jd.1:9 9. Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!

Arcanjo. Do gr. archaggelos (ver com. de 1Ts.4:16). Anjos são seres criados; Cristo é o seu Criador (ver Cl.1:16-17). Cristo é o verdadeiro Deus (ver vol. 5, p. 1013; ver com. de Jo.1:1-3), e os anjos devem adorá-Lo (ver com. de Hb.1:3-8; Hb.1:13-14).

Miguel. Este Comentário apoia o ponto de vista de que “Miguel” é um dos nomes de Cristo (ver com. de Dn.10:13; 1Ts.4:16; Ap.12:7), não como o anjo-chefe, mas como o governante dos anjos.

Quando contendia. Pedro não se refere ao incidente que Judas menciona aqui (cf. com. de 2Pe.2:11), mas fala de um modo geral da conduta reverente dos anjos na presença do Senhor. Judas é mais específico e cita um exemplo mais crucial no encontro pessoal entre Miguel e o diabo.

Diabo. Do gr. diabolos (ver com. de Mt.4:1; Ef.4:27).

Corpo de Moisés. Além do relato de Judas, a única referência bíblica ao sepultamento de Moisés está em Dt.34:5-6, em que há registro de que o Senhor sepultou Seu servo fiel e que o local de seu túmulo é desconhecido aos homens. Judas, então, revela que o corpo foi objeto de disputa entre Cristo e Satanás. O fato de Moisés ter aparecido com Elias no monte da transfiguração leva à conclusão de que o Senhor triunfou na disputa com o diabo e ressuscitou Moisés de sua sepultura, fazendo dele a primeira pessoa conhecida a provar o poder vivificador de Cristo (ver com. de Dt.34:6; Mt.17:3; ver PP, 478, 479).

Não se atreveu. Do gr. tolmao, “ousar”, “presumir”, “fazer algo por conta própria”. Não estava de acordo com o caráter divino caluniar alguém, nem mesmo o diabo, e Cristo não Se atreveria a fazer qualquer coisa contrária à Sua própria natureza e ao caráter perfeito de Deus. Cristo não traria contra ele [o diabo] um “juízo infamatório” como acusação de mentira ou roubo. Satanás é o grande “acusador” (Ap.12:10), o grande caluniador (ver com. de Zc.3:1-2), e Cristo jamais usaria as mesmas armas de guerra do diabo.

Juízo infamatório. Literalmente, “juízo de maldição”.

O Senhor te repreenda. Comparar com Zc.3:2, em que o Senhor repreende o diabo. Não pode haver condenação mais forte do que ser repreendido pelo Senhor (comparar com o com. de 2Pe.2:11). Clemente de Alexandria, Orígenes e Dídimo afirmam que Judas 9 é uma citação de uma passagem da obra pseudoepígrafa A Ascensão de Moisés (ver vol. 5, p. 76, 77). Esse trabalho foi preservado apenas na forma fragmentária, e as porções existentes não contêm a passagem em questão. No entanto, os estudiosos estão geralmente de acordo de que não há nenhuma razão para duvidar da afirmação desses primeiros pais da igreja. A afirmação de que Judas cita A Ascensão de Moisés não nos obriga a aceitar a obra como inspirada. Se Judas a citou, ele estava simplesmente fazendo uso de certos elementos reais contidos nela (cf. com. do v. Jd.1:14).

Jd.1:10 10. Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem.

Estes. Ou, os falsos mestres. O versículo inteiro corresponde estritamente à passagem paralela de 2Pe.2:12 (ver com. ali).

Jd.1:11 11. Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá.

Ai deles! Comparar com o com. de Mt.11:21; Ap.8:13. A exclamação de Judas aponta para as consequências que, são certas para aqueles que escolherem o caminho dos falsos mestres.

Prosseguiram. Judas era capaz de basear seu julgamento na conduta passada dos falsos mestres, pois eles já tinham seguido o caminho de outros homens ímpios.

Caim. Judas já havia citado os exemplos de incredulidade de Israel (v. Jd.1:5), dos anjos rebeldes (v. Jd.1:6) e de Sodoma e Gomorra (v. Jd.1:7). Ele acrescenta, então, Caim, Balaão e Coré (Corá) à lista, em um total de seis exemplos da classe a que pertencem os falsos mestres. O nome de Caim sugere imediatamente o crime de homicídio. Sem dúvida, é o crime de assassinato hediondo de Caim que Judas tem em mente, para as obras dos enganadores que resultaram em morte espiritual.

Movidos de ganância. Do gr. ekcheo, “precipitar”, aqui implicando que os mestres, de forma imprudente, imitaram o pecado de Balaão.

Erro de Balaão. Pedro diz que os falsos mestres se “extraviaram” (planao), seguindo o caminho de Balaão, enquanto Judas diz que eles se precipitaram no “erro” (plane) de Balaão. Com apenas uma ligeira variação na língua, os dois escritores transmitem pensamentos semelhantes (sobre a analogia entre Balaão e os falsos mestres, ver com. de 2Pe.2:15).

Revolta. Do gr. antilogia, “contradição”, portanto, “oposição”, ou, neste exemplo, “rebelião”.

Corá. Corá, Datã e Abirão se rebelaram contra a autoridade divinamente ordenada de Moisés e despertaram uma revolta no acampamento de Israel. Judas diz que os falsos mestres se rebelaram de modo semelhante contra a autoridade. Como resultado, perecerão tão certo como Corá e seus companheiros pereceram por causa do seu pecado (ver com. de Nm.16:1-35).

Jd.1:12 12. Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas;

Manchas (ARC). Ou, “recifes”, uma metáfora que descreve aqueles que causam naufrágio para os outros.

Festas de caridade. Ou, festas de amizade (cf. com. de 2Pe.2:13).

Banqueteando-se. Literalmente, “apascentando a si mesmos”, ou seja, de forma egoísta cuidando dos próprios interesses à custa dos outros. Eles perseguem seus objetivos sem medo, isto é, sem o temor de Deus, de uma forma descarada. Neste versículo, Judas usa três palavras gregas que começam com o prefixo “a”, cujo significado é “sem”: aphobos, “sem medo”; anudroi, “sem água”; e akarpa, “sem fruto”.

Nuvens. Judas dá sequência à lista de metáforas que começou quando ele chamou os mestres de “manchas em vossas festas” (ARC). Ele acrescenta outras quatro comparações: “nuvens”, “árvores”, “ondas” e “estrelas”. Ao dizer que são “nuvens [...] sem água” implica que eles não mais cumpririam a promessa de chuva espiritual assim como as nuvens que deixam de regar a terra sedenta. Nesse sentido, são fraudulentos, desapontando aqueles que deles esperam renovação espiritual.

Impelidas. Ou, “levadas”, nuvens que passam sem derramar chuva.

Árvores. Era a época da estação em que se esperava o fruto, mas os falsos mestres “não davam frutos” (cf. com. de 2Pe.1:8).

Duplamente mortas. As “árvores” não eram apenas infrutíferas, mas foram arrancadas pelas raízes. Da mesma forma, os falsos mestres, assim representados anteriormente, estavam mortos no pecado e então retornavam ao seu antigo estado espiritual.

Desarraigadas. Mesmo uma árvore viva não poderia sobreviver a esse tratamento. Os falsos mestres perderam a sua ligação com Cristo. Eles não estavam “arraigados e alicerçados em amor” (Ef.3:17), mas alicerçavam suas vidas no egoísmo.

Jd.1:13 13. ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre.

Ondas bravias. Ou, “ondas indomáveis”, referindo-se às paixões desgovernadas dos mestres apóstatas.

Que espumam. Como o mar junta sua escória na crista das ondas, os mestres exibiam suas paixões vergonhosas para todos verem. A palavra “vergonhosas” se refere, literalmente, a todos os hábitos condenáveis praticados pelos falsos mestres.

Estrelas errantes. As estrelas fixas são valiosas como auxílio à navegação, mas meteoros ou estrelas cadentes não servem a nenhum propósito útil, não dando luz constante, nem orientação; portanto, esses falsos mestres, brilhantes como podiam parecer, não ajudavam ninguém a progredir em direção ao seu destino celestial.

Para sempre. A frase traduzida assim ocorre também em 2Pe.2:17 (ver com. ali). Como meteoros que riscam o céu escuro e, em seguida, mergulham na escuridão, para sempre ocultos dos olhos mortais, os mestres sedutores, depois de uma explosão de publicidade, desaparecem de vista.

Jd.1:14 14. Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades,

Também profetizou Enoque. A referência de Judas a Enoque e à sua citação da profecia feita pelo patriarca tem provocado muita discussão. Os comentaristas estão de acordo, de modo geral, que o livro pseudoepígrafo chamado 1 Enoque circulou entre os judeus até meados do primeiro século a.C. (ver vol. 5, p. 74-76). Em 1 Enoque 1:9, obra não canônica, declara-se o seguinte: “Vede! Ele vem com milhares de Seus santos para executar juízo sobre todos, e para destruir todos os ímpios e para condenar toda a carne das obras de sua impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que os ímpios pecadores proferiram contra Ele” (R. H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament, vol. 2, p. 189). Acredita-se, de modo geral, que Judas citou essa obra não canônica, embora alguns defendam o contrário. Se Judas citou 1 Enoque o fez porque o Espírito Santo o guiou a isso.

O sétimo depois de Adão. Em 1 Enoque 60:8, o patriarca é também referido como sendo a sétima geração de Adão. A genealogia é dada em Gn.5:4-20, na qual a seguinte descendência é traçada: Adão, Sete, Enos, Cainã, Maalalel, Jarede e Enoque. Isso faz com que Enoque seja o sétimo na linha, incluindo-se Adão, de acordo com um antigo método bem estabelecido chamado de “contagem inclusiva” (ver vol. 2, p. 119-121). Na terminologia atual, ele seria chamado de a sexta geração de Adão.

Eis que veio o Senhor. Literalmente, “veio [o] Senhor”, o passado é usado por causa da certeza do cumprimento da profecia. Depois de Pedro descrever os falsos mestres e predizer seu destino, ele dedica a maior parte do terceiro capítulo (2Pe.3) a uma discussão sobre a volta do Senhor. Judas se contenta com uma breve referência que consiste inteiramente de uma citação da profecia de Enoque (Jd 14, 15), possivelmente porque ele queria manter sua carta (cf. com. do v. Jd.1:3) dentro de breves limites. Ambos, Pedro e Judas, veem a vinda do Senhor em relação aos mestres ímpios, com Judas pondo mais ênfase no julgamento dos enganadores.

Santas. Literalmente, “santas”. Não se sabe se Judas aqui se refere às grandes hostes de santos anjos que acompanharão Cristo quando Ele voltar à Terra (cf. com. de Dn.7:10; Mt.25:31; 1Ts.3:13) ou aos redimidos no fim dos mil anos (ver com. de Ap.20:4-9).

Miríades. Literalmente, “em suas santas miríades”, ou no meio de Suas santas miríades. A palavra traduzida “dez milhares” (muriades) dá origem a nossa palavra “miríades” (ver com. de Lc.12:1).

Jd.1:15 15. para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.

Juízo. Do gr. krisis (ver com. de 2Pe.2:4). Cristo vem para pronunciar juízo sobre todos os homens, alguns dos quais serão salvos, e outros, perdidos (cf. com. de Jo.3:17; Jo.5:22; Jo.5:27).

Para fazer convictos. Ver com. de Jo.8:46; Jo.16:8.

Todos os ímpios. Literalmente, “todos os ímpios”. Sobre os “ímpios” (asebeis), ver com. do v. Jd.1:4. O uso da palavra “ímpios” duas vezes neste versículo enfatiza a natureza depravada dos falsos mestres no v. Jd.1:4 e aponta para a certeza da sua punição.

Palavras insolentes. Ou, “coisas difíceis”. Os pecadores já disseram muitas coisas duras a respeito de Deus e de Cristo, como meio de procurar desculpa para o próprio pecado e diminuir a sabedoria e a justiça do Senhor. No julgamento final, tais acusações serão cobradas e respondidas.

Jd.1:16 16. Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros.

Os tais. Judas retorna à sua discussão sobre os falsos mestres (cf. v. Jd.1:12; 2Pe.2:17), implicando que eles estão incluídos entre os “ímpios”, referidos nesta epístola.

Murmuradores. Do gr. goggustai, “murmuradores”, de gogguzo, uma palavra onomatopaica (pronuncia-se “gongduzo”), “resmungar”, “reclamar” (comparar com o com. de 1Pe.4:9).

Descontentes. Ou seja, aqueles que estão insatisfeitos com a sua sorte e que, consequentemente, murmuram contra Deus.

Andando segundo. Ver com. de 2Pe.3:3.

Grandes arrogâncias. Do gr. huperogka (ver com. de 2Pe.2:18).

São aduladores dos outros. Literalmente, “bajuladores”, isto é, lisonjeavam as pessoas, ao contrário da ética cristã (cf. com. de Tg.2:1). Os falsos mestres eram moralmente dissolutos e não tinham escrúpulos em empregar a lisonja em vantagem própria. Não se pode confiar nesses homens, e Judas teve o cuidado de alertar seus leitores sobre seus embustes.

Jd.1:17 17. Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,

Porém, amados. Literalmente, “mas vós, amados”, com ênfase em “vós”, para distinguir os cristãos fiéis dos murmuradores egoístas.

Lembrai-vos. O esquecimento do que os apóstolos tinham dito tornaria os crentes suscetíveis aos ensinamentos sedutores do inimigo e prepararia o caminho para a apostasia.

Anteriormente proferidas. Embora a referência possa ser principalmente à palavra falada, não exclui o que estava escrito. A maior parte dos escritos dos apóstolos era também propagada oralmente.

Apóstolos. Provavelmente, incluindo Paulo e seus principais associados (ver com. de At.1:2; 1Ts.2:6). Os apóstolos, por sua vez, apelavam para a instrução de seu Senhor e para os escritos do AT, em apoio às suas declarações (cf. com. de 2Pe.3:2).

Jd.1:18 18. os quais vos diziam: No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões.

Os quais vos diziam. Não se sabe se Judas, aqui, faz alusão a 2Pe.3:3 ou a alguma outra fonte inspirada. Alguns defendem que tanto Judas quanto Pedro citam alguma profecia mais antiga e, portanto, bem conhecida. Outros veem as palavras de Judas como uma citação quase literal de 2Pe.3:3. Antecipando essas razões em apoio a esse ponto de vista: (1) Judas declara que está relembrando seus leitores “as palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. Jd.1:17). (2) Em seguida, ele cita uma profecia que só é encontrada em 2Pe.3:3. (3) Pedro, por outro lado, referindo-se tanto ao AT quanto à instrução do NT (ver com. de 2Pe.3:2), não afirma estar citando outra fonte, mas entrega uma declaração de si mesmo que é confiável, pois se baseia na instrução inspirada do passado e está em harmonia com ela (ver com. do v. Jd.1:3).

Alguns consideram isso como evidência para a prioridade de 2 Pedro (ver PP, 701, 702). No entanto, isso pode ser, conforme Judas lembra seus leitores da previsão apostólica, que nos últimos dias surgiriam escarnecedores, os quais, declara ele (v. Jd.1:4), já tinham se infiltrado inesperadamente na igreja. João, de modo semelhante, lembra àqueles a quem escreveu sobre o aviso que tinha sido dado sobre o anticristo, e acrescenta: “Agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora” (1Jo.2:18; 1Jo.4:3, ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14). Diferenças verbais entre Judas 18 e o versículo correspondente em 2 Pedro serão observadas no comentário que se segue, mas o sentido é idêntico nas duas passagens (ver com. de 2Pe.3:3).

No último tempo. Pedro diz, “nos últimos dias” (2Pe.3:3).

Haverá. Pedro diz, “virão” (2Pe.3:3).

Escarnecedores. Pedro também usa “escarnecedores” (2Pe.3:3).

Andando. Este verbo também ocorre em 2Pe.3:3.

Segundo suas ímpias paixões. Ou. “segundo as próprias paixões”, ou guiados por paixões que surgem a partir de suas práticas irreligiosas. Pedro fala apenas de suas próprias concupiscências e não faz referência à fonte de sua natureza.

Jd.1:19 19. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.

São estes. O grupo é o mesmo citado no v. Jd.1:16.

Que promovem divisões. Ou, “causam divisões”, ou, aqueles que causam facções na igreja para conseguir seus objetivos. Aquele que abriga ambições ímpias tem pouco espaço para a realização de seus projetos em uma igreja unida. Assim, ele procura oportunidades para promover divisões entre os membros. A verdadeira vida espiritual é anulada quando as facções entram (cf. 1Co.1:10-13).

Sensuais. Do gr. psuchikoi (ver com. de 1Co.15:44; Tg.3:15). Psuchikoi está em aposição à expressão “que não têm o Espírito”, ou seja, pessoas não espirituais.

O Espírito. Literalmente, “Espírito”. É possível interpretar as palavras de Judas como “não tendo vida espiritual”, considerando o pensamento anterior sobre a natureza não espiritual dos falsos mestres. Entretanto, a referência ao Espírito Santo, no v. Jd.1:20, torna provável que Judas tivesse o Espírito Santo em mente aqui também. É verdade que causadores de divisões na igreja e que são destituídos de espiritualidade não serão possuídos pelo Espírito Santo.

Jd.1:20 20. Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo,

Vós, porém, amados. Como na tradução literal do v. Jd.1:17 (ver com. ali), com a ênfase presente no verdadeiro crente em contraste com o promotor egoísta de divisões nas igrejas.

Edificando-vos. Judas advertiu seus leitores a fortalecer sua fé como uma defesa contra os enganadores, que eram tão ativos na destruição da própria vida espiritual quanto na dos outros (sobre a expressão “edificar”, ver com. de At.9:31; At.20:32, cf. com. de 1Pe.2:5).

Na vossa fé santíssima. Ou, “fé mais sagrada”, isto é, a fé cristã, tudo o que a igreja ensina a respeito de Cristo. Paulo fala de construir sobre o fundamento dos apóstolos, profetas e Jesus Cristo (Ef.2:20), e é provável que Judas tenha um pensamento semelhante. A fé pessoal dos leitores em Jesus Cristo dificilmente seria descrita como “santíssima”.

Orando no Espírito Santo. Ou seja, orando de acordo com as orientações do Espírito Santo e com o auxílio do Espírito (cf. com. de At.9:31; Ef.6:18; sobre o valor espiritual da oração, ver com. de Lc.18:1).

Jd.1:21 21. guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.

Guardai-vos. Embora os cristãos sejam “guardados pelo poder de Deus” (1Pe.1:5; cf. com. de Jo.17:11), eles também têm de se guardar de todo o mal e permanecer na esfera das boas influências (cf. com. de 1Tm.5:22; Tg.1:27; 1Jo.5:18; 1Jo.5:21).

No amor de Deus. Ou, na esfera do amor de Deus pelo homem. Aqueles que se retiram do amor protetor de Deus, assim como os falsos mestres, não podem esperar ser guardados do mal (sobre o amor de Deus, ver com. de Rm.5:5; 1Co.13:1).

Esperando. Do gr. prosdechomai, “aguardar” (cf. com. de Tt.2:13; comparar com o com. de 2Pe.3:12).

A misericórdia do nosso Senhor. A Escritura geralmente fala da misericórdia de Deus (cf. com. de Ef.2:4; 1Pe.1:3), mas Cristo, sendo da mesma natureza que o Pai, não é menos misericordioso. Este atributo, do qual depende o nosso futuro, vai encontrar o apogeu de seu cumprimento na segunda vinda, quando o Senhor voltar para resgatar os que aceitaram a vida eterna provida por Sua misericórdia. O cristão, portanto, espera ansiosamente por este cumprimento.

Jd.1:22 22. E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida;

Compadecei-vos. Evidência textual pode ser citada (cf. p. xvi) em favor da variante “alguma repreensão”. Aceitando a variante sugerida a seguir, em vez da expressão “fazer a diferença”, poderíamos aqui ler “alguma repreensão” , ou “persuadir de algum modo”.

Jd.1:23 23. salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.

Salvai-os. O texto aqui também é incerto (cf. com. do v. Jd.1:22), mas é claro que Judas exorta seus leitores a se dedicar em favor dos outros. Além disso, devem estar sob o constante estímulo que vem de uma percepção do destino que aguarda os perdidos e a partir de um reconhecimento da própria insuficiência, em vista da magnitude da tarefa que está diante deles.

Arrebatando-os. Do gr. harpazo (ver com. de Fp.2:6).

Fogo. A figura é possivelmente sugerida pela própria referência anterior de Judas ao fogo em conexão com o destino de Sodoma e Gomorra (v. Jd.1:7) e com a de Corá e seu grupo (v. Jd.1:11; cf. Nm.16:45). Uma imagem semelhante é usada em Am.4:11 e em Zc.5:2.

Detestando. Isso expressa a aversão que o cristão sente pela contaminação causada pelo pecado, mesmo enquanto ele carinhosamente cuida das vítimas do pecado.

Roupa. Do gr. chiton, a roupa íntima usada junto à pele (ver com. de Mt.5:40) é uma das mais suscetíveis a se contaminar por doenças contagiosas.

Contaminada pela carne. Judas pode ter a lepra em mente, uma doença comumente considerada típica do pecado (cf. DTN, 266), ou ele pode se referir à “carne” como típica dos desejos pecaminosos do homem (cf. com. de Rm.6:19; Rm.8:5-5). Sua figura aponta para a aversão que o homem convertido sente por todas as manifestações de pecado.

Jd.1:24 24. Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,

Ora. Ao concluir sua carta, Judas deixa os faIsos mestres e seus protótipos e direciona a atenção dos seus leitores para a glória inefável do Senhor. Essa doxologia se aproxima bastante da de Rm.16:25-27 (ver com. ali).

Aquele que é poderoso. As mesmas palavras gregas são traduzidas “aquele que é poderoso em Rm.16:25 (ver com. ali e em Ef.3:20).

Para vos guardar. Um quadro vívido do constante cuidado de Deus por Seus filhos.

Dos tropeços. Aquele que aceita a proteção de Deus pode viver acima do pecado (cf. com. de 1Jo.3:6; 1Jo.3:9).

Apresentar. O clímax da proteção de Deus virá quando o crente se apresentar sem medo na presença divina, no dia do julgamento (cf. com. de 1Jo.2:28). Pela graça capacitadora de Cristo, o cristão pode viver uma fé confiante no poder de Deus que o impedirá de cair em pecado e permitirá que ele finalmente permaneça sem mancha ou vergonha na presença divina.

Imaculados. Do gr. amomoi (ver com. de Ef.1:4).

Exultação. Ou seja, uma alegria tamanha, que as palavras humanas não podem expressar. A mente falha em qualquer tentativa de descrever a alegria que vai encher o coração do crente, quando ele finalmente estiver diante do trono de Deus.

Diante da Sua glória. O teste final de impecabilidade e a capacidade de estar diante de Deus que habita “em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu” (1Tm.6:16). É o propósito do evangelho preparar homens para esta experiência (Cl.1:22; sobre “glória” [doxa], ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23).

Jd.1:25 25. ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!

Ao único Deus. A evidência textual favorece (cf. p. xvi.) esta variante, em detrimento de “único Deus sábio (KJV). Assim, a ênfase recai sobre a unicidade de Deus (ver com. de Jo.5:44; Rm.16:27; 1Tm.1:17).

Nosso Salvador. A evidência textual favorece (cf. p. xvi) a inclusão das palavras “por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” depois das palavras “nosso Salvador (ver ARA; cf. Rm.16:27; sobre o título de “Salvador”, aplicado ao Pai, ver com. de Lc.1:47; 1Tm.1:1; 1Tm.4:10).

Glória. Em total assombro diante da infinita grandeza e bondade de Deus, Judas atribui toda “glória e majestade” a Ele (sobre “glória” [doxa], ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23).

Majestade. Do gr. megalosune (ver com. de Hb.1:3).

Império. Do gr. kratos, também traduzido como “poder” (ARC; ver com. de Ef.1:19).

Soberania. Do gr. exousia, “autoridade” (ver com. de Mt.10:1; Mc.2:10).

Por todos os séculos. A evidência textual atesta (cf. p. xvi) a inclusão das palavras “antes de todas as eras” ou “antes de todos os tempos (pro pantos tou aionos) antes da frase “agora, e por todos os séculos”. Judas atesta, assim, a preexistência e a eternidade de Jesus Cristo, pelas quais o Pai recebeu, está recebendo e receberá a atribuição de glória, majestade, domínio e poder. A missão do Salvador foi sempre glorificar o Pai (Jo.17:1-5), e Ele continuará este trabalho por toda a eternidade.

Amém! Do gr. amen (ver com. de Mt.5:18). Pelo uso da palavra aqui, Judas pode concordar com a atribuição de tal louvor a Deus, ou pode expressar seu desejo para que seus leitores se guardem de cair em pecado que, por sua vez, também pode se unir ao do hino de louvor ao Pai. É provável que o escritor pretenda que o “Amém” se aplique a ambos os sentidos. Sua carta, breve como é, certamente deve ter trazido estabilidade espiritual para a vida de quem a estudou.