"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Genêsis
Gn.1:1 1. No princípio, criou Deus os céus e a terra.

No princípio. Estas palavras lembram o fato de que tudo que é humano tem um princípio. Somente Aquele que está entronizado como Senhor soberano do tempo não tem princípio nem fim. Assim, as palavras iniciais da Bíblia traçam um decidido contraste entre tudo o que é humano, fugaz e finito, e aquilo que é divino, eterno e infinito. Ao sugerir as limitações humanas, estas palavras apontam para Aquele que é sempre o mesmo e cujos anos não têm fim (Hb.1:10-12; Sl.90:2; Sl.90:10). A mente humana finita não pode pensar no “princípio” sem pensar em Deus, pois Ele “é o princípio” (Cl.1:18; Jo.1:1-3). A sabedoria e todas as outras coisas boas têm seu princípio com Ele (Sl.111:10; Tg.1:17). Assim, a vida e todos os planos de quem deseja um dia se assemelhar novamente ao Criador devem ter um novo começo nEle (Gn.1:26-27; Jo.3:5; 1Jo.3:1-3).

É privilégio do cristão desfrutar a plena certeza de que “Aquele que começou boa obra” em nós “há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp.1:6). Ele é “o Autor e Consumador da fé” (Hb.12:2). Não se pode esquecer o sublime fato implícito nestas palavras: “No princípio [...] Deus.” Esse primeiro verso das Escrituras Sagradas enfoca nitidamente um dos antigos conflitos entre os cristãos que creem na Bíblia, de um lado, e os céticos, ateus e vários tipos de materialistas, do outro. Os últimos, que buscam de diversas formas e em variadas situações explicar um universo sem Deus, defendem que a matéria/energia é eterna. Se isso fosse verdade, que a matéria tivesse o poder de evoluir, primeiro para as formas mais simples de vida, e depois para as mais complexas, até chegar ao ser humano, então Deus na verdade seria desnecessário. Gênesis 1:1 afirma que Deus é antes de tudo o mais e que Ele é a única causa de toda a criação. Esse verso é o fundamento de todo pensamento correto com respeito ao mundo material. Aqui é apresentada a impressiva verdade de que "na formação de nosso mundo, Deus não dependeu de matéria preexistente” (T8, 258).

O panteísmo, a antiga heresia que despoja a Deus de Sua personalidade ao difundi-Lo por todo o universo, tornando-o sinônimo da totalidade da criação, também é negado e refutado por Gênesis 1:1. Não há base para a idéia do panteísmo, quando se crê que Deus vivia imperturbável e supremo antes que houvesse uma criação e, assim, é distinto e está acima daquilo que criou. Nenhuma declaração poderia ser mais apropriada como introdução para as Escrituras Sagradas. Ela apresenta ao leitor um Ser Onipotente, que possui personalidade, vontade e propósito, e que, pelo fato de existir antes de tudo o mais e, portanto, não depender de nada, exerceu Sua vontade divina e “criou [...] os céus e a Terra”. Não se deve permitir que questões secundárias sobre o mistério da criação divina, seja a respeito do tempo ou do método envolvido, obscureçam o fato de que a linha divisória entre a verdadeira e a falsa crença sobre Deus e a origem da Terra é a aceitação ou rejeição da declaração feita nesse verso. Uma advertência deve ser feita. Durante longos séculos os teólogos têm especulado sobre a palavra “princípio”, esperando descobrir mais a respeito dos caminhos de Deus do que a sabedoria infinita achou apropriado revelar. (Ver a Nota Adicional no final deste capítulo sobre o falso conceito da criação conhecido como teoria da ruína e restauração).

Toda especulação é ociosa. Nada se sabe sobre o método da criação além da concisa declaração de Moisés: “Disse Deus”, “e assim se fez”, que é a misteriosa e majestosa nota dominante no hino da criação. Estabelecer como a base de raciocínio que Deus deve ter feito desta ou daquela forma ao criar o mundo, pois do contrário as leis da natureza teriam sido violadas, é escurecer os desígnios de Deus com palavras sem conhecimento. Além disso, essa atitude abre espaço para o ceticismo que sempre insiste no fato de o registro mosaico não ter credibilidade porque supostamente viola as leis da natureza. Por que colocar a sabedoria humana acima do que está escrito? Na verdade, pouco se tem a ganhar na especulação sobre quando foi trazida à existência a matéria que compõe o planeta. Com respeito ao aspecto temporal da criação da Terra e de tudo o que nela há, o Gênesis faz duas declarações: (1) “No princípio, criou Deus os céus e a Terra” (v. 1); e (2) “Havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera” (Gn.2:2).

Outras passagens relacionadas ao assunto não acrescentam nada ao que é declarado nesses dois textos com respeito ao tempo envolvido na criação. A pergunta: Quando Deus criou “os céus e a Terra”? só se pode responder: “No princípio.” E à pergunta: Quando Deus completou Sua obra? só há uma resposta: “No dia sétimo” (2:2), “porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou” (Ex.20:11). Essas observações quanto ao relato da criação são feitas, não na tentativa de encerrar a discussão, mas como uma confissão de que há pouca possibilidade de se falar de forma segura além daquilo que é claramente revelado. Muitas coisas estão alicerçadas no relato da criação - na verdade, todo o edifício das Escrituras -, e isso deve levar o prudente pesquisador da Bíblia a submeter suas declarações às explícitas palavras do livro sagrado. Quando o vasto campo da especulação propicia vaguear por áreas desconhecidas de tempo e espaço, o melhor a fazer é enfrentar a situação com a simples resposta: "Está escrito.” Sempre há segurança dentro dos limites protetores das aspas de uma citação da Escritura.

Criou Deus. O verbo “criar” vem do hebraico bara, que na forma aqui usada descreve uma atividade de Deus, nunca do ser humano. Deus cria “o vento”' (Am.4:13), “um coração puro” (Sl.51:10) e "novos céus e nova Terra” (Is.65:17). As palavras hebraicas traduzidas como “fazer’’ (‘asah), “formar” (yat-sar) e outras, que são frequentemente (mas não exclusivamente) usadas em conexão com a atividade humana, subentendem matéria preexistente. Esses três verbos são usados para descrever a criação do homem. As primeiríssimas palavras da Bíblia apontam para o fato de que a criação traz a marca da atividade do próprio Deus. A página inicial do livro sagrado apresenta ao leitor um Deus a quem todas as coisas animadas e inanimadas devem sua própria existência (Hb.11:3). A “Terra” mencionada aqui evidentemente não é a porção seca que só foi separada das águas no terceiro dia, mas todo o planeta.

Gn.1:2 2. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.

Sem forma e vazia. Mais precisamente, “desolada e vazia”, tohu wabohu. Isso significa um estado de caos e vazio, mas sem indicar que a Terra já tinha sido perfeita e depois se tornou caótica ou desolada. Quando as palavras tohu wabohu aparecem juntas em outros textos, como Is.34:11 e Je.4:23, parecem ter sido extraídas deste texto, mas a palavra tohu é frequentemente empregada sozinha com o sentido de não existência ou nada (Is.40:17; Is.40:23; Is.49:4). Jó.26:7 demonstra o sentido correto dessa palavra. A segunda parte do verso declara que Deus “faz pairar a Terra sobre o nada”, e a primeira metade contém a frase paralela: "Ele estende o norte sobre tohu [o vazio]”. Esse texto de Jó mostra claramente o significado de tohu em Gênesis 1:2, em que o vocábulo e seu sinônimo bohu indicam que a Terra era sem forma e sem vida. Seus elementos estavam todos misturados, completamente desorganizados e inanimados.

Havia trevas sobre a face do abismo. A palavra “abismo”, proveniente de uma raiz que significa “rugir”, “bramir”, é frequentemente aplicada às águas que rugem, às ondas que bramam, ou à inundação, e, portanto, às profundezas do mar (Sl.42:7; Ex.15:5; Dt.8:7; Jó.28:14; Jó.38:16). “Abismo” (tehom) é uma palavra antiga, e aqui é usada como um nome próprio. Os babilônios, que conservaram por muitos séculos uma vaga memória da verdadeira história da criação, personificaram a palavra e em sua mitologia a aplicaram a uma divindade, Tiamat, de cujo cadáver criam que a Terra fora criada. O relato bíblico mostra que originalmente não havia luz na Terra e que a matéria na superfície estava em estado fluido, porque nesse verso a frase “a face do abismo” está em paralelo com “as águas”, ou “a face das águas” (ARC).

O Espírito de Deus pairava. “Espírito”, ruach. Em harmonia com o uso bíblico, o Espírito de Deus é o Espírito Santo, a terceira pessoa da Divindade. Desse ponto em diante, ao longo de toda a Escritura, o Espírito de Deus tem o papel de agente divino em todos os atos criadores, quer na Terra, na natureza, na igreja, na nova vida ou no novo homem (ver com. do verso Gn.1:26 sobre a relação de Cristo para com a criação). O verbo traduzido como “pairava’’ é merachefeth, que não pode ser corretamente traduzido como “pairar”, embora tenha esse significado no siríaco, um dialeto aramaico pós-bíblico. A palavra ocorre apenas duas vezes em outras partes do AT. Aparece em Je.23:9, em que tem o significado de “tremer”, enquanto que em Dt.32:11 é usada para descrever o ato da águia de voejar sobre os filhotes.

A águia não paira absortamente sobre os filhotes, mas voa sobre eles de maneira vigilante e protetora. A obra do Espírito de Deus deve ter alguma ligação com a atividade que estava para se iniciar: criar ordem a partir do caos. O Espírito de Deus já estava presente, pronto para agir logo que a ordem fosse dada. Essa é precisamente a obra que o Espírito Santo sempre tem feito. Esse agente divino sempre esteve presente para auxiliar na obra de criação e de redenção, para reprovar e fortalecer almas desobedientes, para confortar os tristes e para apresentar as orações do crente de forma aceitável a Deus.

Gn.1:3 3. Disse Deus: Haja luz; e houve luz.

Disse Deus. O relato de cada um dos seis dias da criação se inicia com essa declaração. “Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl.33:9), declara o salmista; e o apóstolo diz que, pela fé, entendemos que “foi o universo formado pela palavra de Deus” (Hb.11:3). Alguns têm se ofendido com a frase “disse Deus”, por achar que ela torna Deus demasiado semelhante a um ser humano. Mas como o escritor inspirado poderia ter transmitido a mentes finitas o ato da criação realizado pelo Deus infinito, a não ser usando termos que o ser humano mortal pudesse compreender? O fato de as declarações divinas estarem associadas repetidas vezes com atividades executadas por Deus (Gn.1:7; Gn.1:16; Gn.1:21; Gn.1:27) indica convincentemente que está sendo expressa, em linguagem humana, uma revelação do poder criador de Deus.

Haja luz. Sem luz não poderia haver vida, e quando o Criador começou a obra de produzir ordem a partir do caos e introduzir várias formas de vida vegetal e animal na Terra, era essencial que houvesse luz. A luz é uma forma visível de energia, que, por sua ação sobre as plantas, transforma elementos e compostos inorgânicos em alimento para o ser humano e para os animais. Ela controla muitos outros processos naturais necessários à vida. A luz é um símbolo da presença divina. Como a luz física é essencial à vida física, a luz divina é necessária para que os seres racionais tenham vida espiritual e moral. “Deus é luz” (1Jo.1:5); e, àqueles em cujo coração está em processo a obra que os recria à semelhança divina, Ele vem novamente hoje, ordenando que fujam das sombras do pecado, da incerteza e do desânimo, ao dizer: "Haja luz.”

Gn.1:4 4. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.

E viu Deus. Esta expressão, repetida seis vezes (Gn.1:10; Gn.1:12; Gn.1:18; Gn.1:21; Gn.1:25; Gn.1:31), transmite em linguagem humana uma atividade de Deus - a avaliação de cada ato particular da criação como algo que cumpre totalmente o plano e a vontade do Criador. Como o ser humano que contempla e examina o produto de seus esforços e declara que cumpre seus planos e propósitos, Deus também declara, após cada ato criador, que o produto de Sua atuação está perfeitamente de acordo com Seu plano.

E fez separação entre a luz e as trevas. No princípio existiam somente trevas na Terra disforme. Uma mudança ocorreu com a entrada da luz. Desde então, as trevas e a luz existem lado a lado, mas separadas uma da outra.

Gn.1:5 5. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.

Chamou Deus à luz Dia. Nomes são dados à luz e às trevas. Dar nome era um importante ato na Antiguidade. Os nomes tinham significado e eram cuidadosamente escolhidos. Deus, mais tarde, comissionou Adão a dar nomes aos animais. Ele algumas vezes mudou o nome de Seus servos para fazer com que o nome estivesse de acordo com a experiência de vida ou o caráter da pessoa. Também instruiu os pais terrenos de Seu Filho quanto ao nome que deviam dar ao Salvador. Na semana da criação, Deus deu nomes até a coisas inanimadas que são produto de Seu poder criador.

Houve tarde e manhã, o primeiro dia. Literalmente, “foi tarde, foi manhã, dia um”. Assim se encerra a misteriosa descrição do momentoso dia que foi o primeiro da semana da criação. Já foram dadas muitas explicações diferentes para esta declaração. Ela indica claramente a duração de cada uma das sete etapas da semana da criação e é repetida mais cinco vezes neste capítulo (Gn.1:8; Gn.1:13; Gn.1:19; Gn.1:23; Gn.1:31). Alguns já cogitaram que cada ato criador durou uma noite, do entardecer até a manhã; e outros, que cada dia começava com a manhã, embora o relato inspirado diga claramente que a tarde precedia a manhã. Muitos eruditos têm interpretado essa expressão como um longo e indefinido período de tempo, crendo que algumas das atividades divinas dos dias seguintes, como a criação das plantas e dos animais, não poderiam ter sido realizadas dentro de um dia literal. Eles pensam ter uma justificativa para essa interpretação nas palavras de Pedro: “para o Senhor, um dia é como mil anos” (2Pe.3:8).

Que esse texto não pode ser usado para se averiguar a extensão dos dias da criação fica óbvio, quando se lê o restante do verso: “e mil anos, como um dia”. O contexto das palavras de Pedro deixa claro que ele enfatiza a independência de Deus em relação ao tempo. O Criador pode fazer em um dia a obra de mil anos, e um período de mil anos, que é um longo tempo para os que esperam que os juízos de Deus se cumpram, pode ser considerado por Ele como apenas um dia. O Salmo 90:4 transmite a mesma idéia. A declaração literal: “Foi tarde [com as horas sucessivas da noite], e foi manhã [com as horas sucessivas do dia], dia um" é claramente a descrição de um dia astronômico, isto é, um dia com a duração de 24 horas. E o equivalente da composição hebraica de época posterior encontrada em Dn.8:14: “tarde-manhâ”, que a KJV traduz como “dias” (significando aqui dias proféticos), e também da palavra grega empregada por Paulo, nuchthemeron, traduzida como “uma noite e um dia” (2Co.11:25).

Assim, os hebreus, que nunca tiveram dúvidas quanto ao significado dessa expressão, começavam o dia com o pôr do sol e o terminavam com o pôr do sol seguinte (Lv.23:32; Dt.16:6). Além disso, a linguagem do quarto mandamento não deixa dúvidas quanto ao fato de a tarde e a manhã do relato da criação serem as etapas que compõem um dia na Terra. O mandamento, reportando-se em palavras inequívocas à semana da criação, declara: “Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou” (Ex.20:11). A tenacidade com que muitos comentaristas se apegam à idéia de que os dias da criação foram longos períodos de tempo, e mesmo milhares de anos, em grande parte encontra explicação no fato de que eles tentam fazer com que o relato da criação se harmonize com a teoria da evolução. Geólogos e biólogos têm ensinado as pessoas a crerem que a história primitiva da Terra abrange milhões de anos, nos quais as formações geológicas foram vagarosamente tomando forma e as espécies vivas, evoluindo.

Ao longo de suas páginas, a Bíblia contradiz a teoria da evolução. A crença numa criação divina e instantânea como resultado de palavras pronunciadas por Deus se encontra em completa oposição à teoria defendida pela maioria dos cientistas e por muitos teólogos modernos, de que o mundo, com tudo o que há nele, veio à existência por meio de um vagaroso processo de evolução que durou eras incalculáveis. Outra razão pela qual muitos comentaristas declaram que os dias da criação foram longos períodos de tempo é a rejeição do sábado. Um famoso comentário assim expressa essa idéia: “A duração do sétimo dia necessariamente determina a extensão dos outros seis. [...]

O repouso sabático de Deus é compreendido pelos melhores intérpretes da Escritura como tendo se estendido do final da criação até este momento; portanto, a consistência exige que os seis dias anteriores sejam considerados, não como tendo duração curta, mas indefinida” (Pulpit Commentary). Esse tipo de raciocínio é circular. Devido ao fato de o sábado do sétimo dia, tão claramente definido nas Sagradas Escrituras como um dia de descanso que se repete semanalmente, ser rejeitado como tal, declara-se que o sétimo dia da semana da criação dura até o presente. Com base nessa explicação não bíblica, a duração de todos os outros dias da criação também é expandida. A coerente interpretação da Bíblia não concorda com esse tipo de raciocínio. As Escrituras falam claramente de sete dias de criação (Ex.20:11), e não de períodos de duração indefinida. Portanto, somos compelidos a declarar enfaticamente que o primeiro dia da criação, indicado pela expressão hebraica “foi tarde, foi manhã, dia um ", consistiu de um dia de 24 horas.

Gn.1:6 6. E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas.

Firmamento. Ou “expansão”. A obra do segundo dia da criação consistiu na formação do firmamento. A grande massa das “águas” primitivas foi dividida em duas expansões separadas. As “águas sobre o firmamento” (v. 7) geralmente são consideradas pelos comentaristas como sendo vapor d’água. As condições climáticas da Terra originalmente perfeita eram diferentes das de hoje.
Explorações realizadas no extremo norte do planeta provaram que luxuriantes florestas tropicais já cobriram essas áreas que agora estão sepultadas sob neve e geleiras. Geralmente se admite que durante a história primitiva da Terra prevaleciam condições climáticas agradáveis. Eram desconhecidos os extremos de frio e calor que podem tornar a vida desagradável na maioria das regiões do mundo e até, em algumas delas, quase impossível.
Gn.1:7 7. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez.

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Gn.1:8 8. E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.

E chamou Deus ao firmamento Céus. O resultado do poder criador de Deus no segundo dia da semana da criação recebeu um nome, assim como havia ocorrido com a luz no primeiro dia. No hebraico, assim como na tradução moderna, a palavra “céus” é o nome dado tanto à habitação de Deus quanto ao firmamento. Neste verso o termo “céus” se refere aos céus atmosféricos que aparecem, aos olhos humanos, como uma cúpula ou abóbada que cobre a Terra.
Não é possível existir a vida sem ar. Tanto as plantas como os animais necessitam dele. Sem a atmosfera, a Terra seria destituída de vida, como a Lua; seria tremendamente quente na parte que fica exposta ao Sol e extremamente fria nas outras regiões. Nenhuma planta brotaria em parte alguma e nenhuma criatura poderia existir durante um só momento. Somos gratos pela atmosfera que é um dom de Deus?
Gn.1:9 9. Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez.

Ajuntem-se as águas. O terceiro ato criador, realizado durante a primeira parte do terceiro dia, foi a separação entre água e terra seca. O salmista descreve esse evento em termos pitorescos e poéticos: “As águas ficaram acima das montanhas; à Tua repreensão, fugiram, à voz do Teu trovão, bateram em retirada. Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado. Puseste às águas divisa que não ultrapassarão” (Sl.104:6-9). O ajuntamento das águas implica que, dali em diante, elas deviam estar reunidas “num só lugar” e, por si mesmas, confinadas dentro dos limites de um local, de forma a permitir que o solo terrestre ficasse exposto. Ver o surgimento das colinas por cima da água que havia coberto tão completamente a superfície da Terra deve ter sido um grandioso espetáculo para um observador celestial. No local outrora coberto apenas por água até onde os olhos podiam alcançar, surgiram de repente grandes áreas de terra, dando ao planeta uma aparência inteiramente nova.
Gn.1:10 10. À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom.

E viu Deus que isso era bom. Os olhos de Deus repousaram, então, com prazer e satisfação, sobre a obra terminada do terceiro dia da criação. “Era bom.” Aquela primeira porção seca dificilmente teria, para nós, parecido algo bom. Era um mundo formado por vales, colinas e planícies sem verdor, que haviam emergido de sob as águas. Em parte alguma havia sequer uma haste de grama ou um líquen agarrado a alguma coisa. Contudo, isso pareceu bom ao Criador, pois Ele o via em relação ao propósito para o qual o havia feito e como um passo preparatório adequado para as novas maravilhas que iria introduzir.
Gn.1:11 11. E disse: Produza a terra relva, ervas que deem semente e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez.

Produza a terra. Após a terra seca ter sido separada da água, outra ordem divina foi dada no terceiro dia: a vegetação foi chamada à existência. Alguns têm considerado o primeiro dos três termos empregados na ordem divina como sendo um termo geral para as plantas, que abrangeria o segundo e o terceiro termos. Contudo, é preferível considerar que os três se refiram a classes distintas de vegetais.

Relva. Hebraico deshé, “ser verde”, “crescer verde”, “brotar”. Esta palavra designa brotos verdes e ervas tenras – os vários tipos de plantas que servem de alimento para os animais. “Relva” é provavelmente usada aqui como sinônimo de “erva”, ‘eseb, quando essa última aparece sem a expressão qualificadora “que dê semente” (ver Gn.1:30; Sl.23:2).

Ervas que deem semente. “Erva”, ‘eseb, é a vegetação mais madura, na qual a semente é a característica mais notável, e que constitui um dos dois tipos de alimento planejados por Deus para consumo pelos seres humanos (Gn.1:29).

Arvores frutíferas. Três características das árvores frutíferas são aqui mencionadas: (1) a produção de frutos, (2) a inclusão da semente dentro dos frutos e (3) a produção desses frutos “sobre” a terra, ou acima da terra. Estas árvores deveriam proporcionar ao ser humano outra fonte de alimento (Gn.1:29).

Gn.1:12 12. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.

A terra, pois, produziu. A vegetação do terceiro dia brotou do solo. Isso não significa que o poder para produzir plantas vivas estava no solo. A idéia de geração espontânea é tão alheia às Escrituras como o é à ciência.

Segundo a sua espécie. Esta expressão ocorre dez vezes no primeiro capítulo do Gênesis, e mais de 30 vezes nos livros de Moisés, especialmente em Gn.1; Gn.6; Gn.7, em Lv.11 e em Dt.14. A referência é a espécies de animais e plantas, não a seu comportamento reprodutivo. É, contudo, um fato da natureza que as coisas vivas produzem descendentes que se assemelham a seus progenitores. As variações dentro de certos limites é possível, mas esses limites estão longe de permitir o surgimento de espécies distintamente novas de plantas e animais (ver Gn.6:20; Gn.7:14; Lv.11:14-16; Lv.11:29; Dt.14:13-15).

Gn.1:13 13. Houve tarde e manhã, o terceiro dia.

Ver com. do Gn.1:5.
Gn.1:14 14. Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.

Haja luzeiros. A palavra “luzeiros”, me’oroth, não é a mesma que “luz”, ‘or, dos v. Gn.1:3 e Gn.1:4. Significa fontes de luz, portadores de luz, luminares. A expressão que os descreve como estando localizados no firmamento, ou na expansão dos céus, é usada porque é lá que os habitantes da Terra os veem.

Para fazerem separação entre o dia e a noite. A fim de regularem e continuarem, daquele momento em diante, a diferenciação entre a luz e as trevas — uma diferenciação que já existia desde que Deus ordenara a existência da luz no primeiro dia.

Para sinais. Esses corpos celestes assinalaram atos especiais do favor ou do desfavor de Deus, como nos tempos de Josué (Js.10:12-13) Ezequias (2Rs.20:11) e no dia da crucifixão (Mt.27:45). Estrelas cadentes serviram como um dos sinais da segunda vinda de Cristo (Mt.24:29).
Alguns têm pensado, equivocadamente, que os corpos celestes têm também o propósito de determinar o destino individual das pessoas. Astrólogos têm recorrido ao v. 14 para justificar sua prática. Contudo, a Bíblia condena tão vigorosamente qualquer forma de adivinhação e leitura da sorte, que deve ser enfaticamente rechaçada a idéia de que Deus designou o sol, a lua e as estrelas para servirem de guia aos astrólogos na predição do destino e dos negócios humanos. Jeremias advertiu os hebreus a que não tivessem receio dos sinais do céu, diante dos quais os pagãos tolamente tremiam de terror (Je.10:2). Isaías ridicularizou ironicamente os astrólogos, os que fitam os astros e os adivinhos, em cujo conselho é tolice e impiedade confiar (Is.47:13-14). Embora a superstição de ler o destino nas estrelas nunca tenha criado raízes entre os antigos israelitas, em geral, eles não tiveram suficiente força moral para resistir ao exemplo do culto aos astros praticado por seus vizinhos pagãos (Je.19:13; Ez.8:16; Sf.1:5).

Para estações. As festas anuais e outros períodos definidos seriam regulados pelo movimento dos corpos celestes (Sl.104:19; Zc.8:19). Além disso, esses corpos têm uma definida influência periódica sobre a agricultura, a navegação e outras ocupações humanas, bem como sobre o curso da vida animal e vegetal, como no caso, por exemplo, da época de acasalamento dos animais e da migração dos pássaros (Je.8:7).

Para dias e anos. Os dias e anos são fixados pelo movimento da Terra em relação ao Sol, o qual, em conjunção com o movimento da Lua, tem proporcionado em todas as épocas a base para os calendários — lunar, solar, ou uma combinação de ambos.

Gn.1:15 15. E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez.

Para luzeiros. Não para introduzirem a luz pela primeira vez neste mundo, pois Deus ordenou a existência da luz no primeiro dia, mas a fim de servirem como instrumentos permanentes para a distribuição da luz neste planeta.
Gn.1:16 16. Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas.

E fez também as estrelas. A palavra “fez” foi acrescentada. Quanto à origem das estrelas, dois pontos de vista principais têm sido apresentados: (1) As estrelas foram trazidas à existência durante a semana da criação, juntamente com o Sol e a Lua. (2) As “estrelas”, embora já criadas anteriormente, são aqui mencionadas de passagem por Moisés, uma vez que ele está discutindo os luminares dos céus. O primeiro ponto de vista exige a conclusão de que antes da semana da criação o vasto universo era apenas um vácuo. Essa conclusão parece indefensável. Contudo, acerca dessa, como de muitas outras declarações complexas da Bíblia sobre os misteriosos atos de Deus, não se deve ter pressa em apresentar opiniões dogmáticas. Não é bom esquecer que a verdade primária que Moisés procurou apresentar com respeito à origem do Sol, da Lua e das estrelas é que todos eles são resultado do poder criador de Deus. Aqui encontramos uma refutação adicional do antigo, mas recorrente ensinamento da eternidade da matéria.
Gn.1:17 17. E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra.

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Gn.1:18 18. Para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.

Era bom. Diferentemente da Terra atual, que mudou muito como consequência da entrada do pecado, os corpos celestes não sofreram com os resultados da transgressão humana e refletem o poder do Criador. É um fato universalmente reconhecido que as leis físicas do universo são fielmente observáveis por todos os corpos celestes. Os astrônomos e navegadores estão seguros de que, no mundo astronômico, não ocorrem desvios das regras estabelecidas. Sabem que os corpos celestes não os desapontarão e que são dignos de confiança por causa de sua contínua obediência às leis estabelecidas para eles.
Gn.1:19 19. Houve tarde e manhã, o quarto dia.

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Gn.1:20 20. Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus.

Povoem-se as águas. Ocorre aqui o povoamento da água e do ar pela criação de seres aquáticos e alados. O original pode ser traduzido como: “Produzam as águas abundantemente seres viventes que se movem”, expressando mais claramente em nossa língua a frase hebraica que significa, literalmente: “Enxameiem-se as águas de enxames.” O verbo traduzido como “povoar” é também usado com o significado de “multiplicar abundantemente”. O termo se aplica não apenas a peixes, mas a todos os animais aquáticos, do maior ao menor, e também aos répteis.

Seres viventes. O original desta frase, nefesh hayyah, faz uma clara distinção entre os animais e a vegetação criada dois dias antes. É verdade que as plantas têm vida como os animais e apresentam certas funções que se assemelham às dos animais, mas permanece o fato de que existe uma diferença marcante entre os mundos vegetal e animal. Os animais possuem órgãos que lhes permitem, em maior ou menor grau, tomar decisões, mover-se em busca de alimento e sentir dor, alegria ou tristeza. Podem, portanto, ser chamados de criaturas, uma palavra que não se aplica a plantas. Esse deve ser o sentido da tão discutida palavra heb. nefesh neste verso, corretamente traduzida como ‘‘criatura” (KJV) e “seres” (ARA), um termo que atribui uma forma mais elevada de vida ao animal que à planta, que não é uma nefesh. Os tradutores dessas versões entenderam corretamente que o termo não pode significar “alma” (ARC) nesta passagem, e o traduziram de uma forma que transmite corretamente a ideia do autor inspirado.

Aves. As águas deviam produzir os animais aquáticos, mas não as aves, como sugere o texto da KJV. Gn.2:19 declara que “todas as aves dos céus” foram formadas por Deus “da terra”. A correta tradução do texto hebraico nesta passagem, “e voem as aves sobre a terra”, como o faz a ARA, elimina essa aparente dificuldade. A palavra “aves”, literalmente “seres alados”, inclui tanto aves domésticas quanto selvagens.

Gn.1:21 21. Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.

Criou, pois, Deus, os grandes animais marinhos. Pela segunda vez a palavra “criou”, bara´, é usada no capítulo 1 para indicar a introdução de algo totalmente novo: a criação de animais. Ao executar Sua palavra, Deus criou os grandes animais marinhos, tanninim. A tradução “baleias” (ARC e KJV) tem escopo limitado. A palavra tem diferentes significados, como “serpente” (Ex.7:9-10; Ex.7:12), e “dragão” (Is.51:9; Ez.29:3, ARC), mas deve significar “monstro marinho” nesta passagem, como no Sl.148:7.

Que rastejam. O verbo ramas é aplicado especialmente aos animais que rastejam (Gn.9:2), tanto terrestres (Gn.7:14) quanto aquáticos (Sl.69:34), embora aqui se aplique claramente a criaturas aquáticas.

Segundo as suas espécies. Como no caso das plantas criadas no terceiro dia, é feita a declaração de que tanto os peixes quanto as aves foram criados “segundo as suas espécies”, indicando explicitamente que as diferentes espécies de animais foram estabelecidas na criação e não por meio de um processo de desenvolvimento, como afirmam os evolucionistas (ver com. Gn.1:12).
O porquê de as aves e os peixes terem sido criados no mesmo dia não é explicado por qualquer suposta similaridade entre o ar e a água, como achavam Lutero, Calvino e outros. Não é declarado, também, que apenas um único par de cada espécie foi criado; ao contrário, as palavras “povoem-se as águas de enxames de seres viventes” parecem indicar que os animais foram criados não apenas numa rica variedade de espécies, mas também em grande número de exemplares. O fato de que foi criado apenas um ser humano no princípio não justifica de forma alguma a conclusão de que os animais também foram criados em número de apenas um.

E viu Deus que isso era bom. A Terra deve ter parecido muito agradável ao Criador quando Ele a contemplou no final do quinto dia. Não só colinas verdejantes, correntes cristalinas e lagos azuis, mas criaturas vivas, movendo-se, nadando e voando, deram a este mundo, pela primeira vez, a qualidade de vida que não possuíra antes. Mas, então, ali estavam criaturas que podiam entoar louvores ao Criador, que revelavam certa medida de inteligência ao saberem encontrar o tipo certo de alimento (Mt.6:26), ao construírem ninhos como abrigos (Mt.8:20) e ao conhecerem a época de suas migrações (Je.8:7).
As obras de Deus realizadas nos dias anteriores foram verdadeiramente perfeitas, mas então a natureza recebeu um ornamento especial no quinto dia. Sem a vegetação criada no terceiro dia, o mundo teria uma aparência pouco atraente e seria ainda mais destituído de atratividade e alegria se os milhares de seres vivos que o povoam estivessem ausentes. Cada uma dessas criaturas, grande ou pequena, ensina uma lição quanto à obra do grande Deus, a quem, como o autor e preservador da vida, os seres humanos devem adoração. E essas criaturas devem despertar no ser humano forte respeito pela vida, a qual não podemos criar, mas que devemos cuidadosamente proteger, e não destruir.

Gn.1:22 22. E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves.

E Deus os abençoou. A obra do quinto dia não só foi declarada boa pelo Criador, mas recebeu uma bênção, que não foi dada nem às obras inanimadas nem às plantas. Essa bênção, mais voltada para a propagação e am-pliação - "Sede fecundos, multiplicai-vos” - se tornou uma fórmula padrão para abençoar (ver Gn.35:11; Gn.48:4).
Gn.1:23 23. Houve tarde e manhã, o quinto dia.

Sem comentário para este versículo
Gn.1:24 24. Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez.

Seres viventes. Da mesma forma que o terceiro dia, o sexto é distinguido por um duplo ato criativo: a criação dos animais terrestres e a do ser humano. Depois de o mar e o ar ficarem cheios de seres vivos, nefesh hayyah (ver Gn.1:20), a palavra de Deus foi dirigida à terra, para que produzisse seres vivos conforme as suas espécies. Estes se dividem em três classes:

Animais domésticos. De behemah, derivado da raiz baham, “ser mudo”, significando “animal mudo”. A palavra geralmente designa os quadrúpedes domésticos maiores (ver Gn.47:18; Ex.13:12), mas ocasionalmente se refere aos animais terrestres maiores como um todo (Pv.30:30; Ec.3:19).

Répteis. De remes, que denota os animais menores que se movem sem pés ou com pés que são pouco perceptíveis, como os vermes, insetos e répteis. A referência aqui é aos remes terrestres, uma vez que os remes aquáticos foram criados no dia anterior.

Animais selváti-cos. De chayetho ’erets. Esse termo hebraico antigo e incomum denota os animais selvagens, que são livres e vagueantes.

Gn.1:25 25. E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.

E fez Deus os animais selváticos. A ordem da criação dos seres vivos neste verso difere da ordem dada no Gn.1:24, já que o último grupo do verso anterior é o primeiro mencionado aqui. Essa é uma disposição bem conhecida no idioma hebraico, chamada “paralelismo inverso” (ver Gn.10:1-2; Gn.10:6; Gn.1:21; Pv.14:16-17).

Segundo a sua espécie. A declaração se refere às três classes de seres vivos, cada uma das quais tem suas diferentes espécies. Estas palavras inspiradas contradizem a teoria da evolução, a qual declara que as formas mais elevadas de vida se desenvolveram das inferiores, e sugere ainda ser possível produzir matéria viva a partir da terra inanimada. Ao passo que estudos científicos confirmam a declaração bíblica de que todos os organismos vivos são feitos da terra, pois não contêm nenhum elemento além dos que a terra possui, os cientistas nunca conseguiram produzir, a partir da matéria inanimada, uma única célula capaz de viver e reproduzir sua espécie.

E viu Deus que isso era bom. O breve relato da criação de todos os animais terrestres se encerra com a usual palavra de aprovação, e o autor logo passa ao relato da criação do homem, que culmina a obra da criação.

Gn.1:26 26. Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.

Façamos o homem. O relato sagrado proclama, logo ao início, a preeminência do homem sobre todas as outras criaturas da Terra. A terceira pessoa do plural era quase unanimemente considerada pelos teólogos da igreja primitiva como um indicativo das três pessoas da Divindade. A expressão “façamos” requer a presença de pelo menos duas pessoas conferenciando entre si. As declarações de que o homem devia ser feito à “nossa” imagem e de que ele foi feito à imagem “de Deus” levam à conclusão de que os que estão dialogando devem ser membros da mesma Divindade. Essa verdade, subentendida no AT em várias passagens, como essa que está em questão e outras (Gn.3:22; Gn.11:7; Dn.7:9-10; Dn.7:13-14), é plena e claramente revelada no NT, onde se diz em termos inequívocos que Cristo, a segunda pessoa da Divindade, chamado Deus pelo próprio Pai (Hb.1:8), esteve associado a Seu Pai na obra da criação. Textos como Jo.1:1-3; Jo.1:14; 1Co.8:6; Cl.1:16-17; Hb.1:2 nos ensinam não só que Deus o Pai criou todas as coisas por meio de Seu Filho, mas também que toda vida é preservada por Cristo.

Embora a plena luz dessa verdade só tenha brilhado sobre as passagens do AT após as revelações do NT, e ainda que a compreensão clara das diferentes pessoas da Divindade não pudesse ser alcançada só pelas passagens do AT, a evidência inicial da existência de Cristo no tempo da criação como colaborador de Seu Pai já estava presente na primeira página da Bíblia. Esses textos não oferecem dificuldades para aqueles que creem na inspiração do AT bem como do NT, tendo em vista o fato de que uma parte explica a outra e que ambas se encaixam harmoniosamente como pedras de um belo mosaico. Não só Gn.1:26-27 contêm um vislumbre da atividade de Cristo como a segunda pessoa da Divindade nessa obra da criação, mas Gn.1:2 menciona o Espírito Santo como colaborador na mesma obra. Temos, portanto, justificativa para declarar que a primeira evidência da Divindade se encontra na primeira página da Bíblia. E esse mistério foi sendo colocado numa luz mais clara à medida que os diversos autores bíblicos foram movidos para revelar mais plenamente essa verdade.

A palavra “homem”, no hebraico, é 'adam, o próprio vocábulo que Deus empregou ao dar nome ao pai da raça humana (Gn.5:2). O significado dessa palavra tem sido explicado de diversas formas. Ela deve descrever a cor do primeiro homem (de 'adam, “ser vermelho”) ou sua aparência (de uma raiz arábica que significa “brilhar”, tornando Adão “aquele que brilha”), ou sua natureza à imagem de Deus (de dam, “semelhança”), ou ainda — o que é mais provável — pode descrever sua origem, o solo (de 'adamah, “aquele que é do solo”).

À nossa imagem. “O homem deveria ter a imagem de Deus, tanto na aparência exterior como no caráter” (PP, 45). Essa imagem era especialmente evidente em termos de sua natureza espiritual. Ele se tornou uma “alma vivente”, ou seja, um ser vivo dotado de livre-arbítrio, uma personalidade autoconsciente.
Essa natureza refletia a santidade divina do Criador até que o pecado empalideceu tal semelhança. E somente através de Cristo, o resplendor da glória de Deus e “a expressão exata do Seu ser” (Hb.1:3), que a natureza humana é novamente transformada à imagem de Deus (Cl.3:10; Ef.4:24).

Tenha ele domínio. A relação do ser humano para com o restante da criação devia ser de soberania. O uso do plural “eles” (KJV) no hebraico mostra que Deus planejava, desde o princípio, criar mais de uma pessoa. Ao transferir para Adão o poder de governar “sobre toda a Terra”, Deus planejava tornar o homem Seu representante ou vice-rei neste planeta. O fato de os animais selváticos não serem mencionados tem sido interpretado por alguns comentaristas como indício de que os animais que hoje são selvagens não estavam sujeitos a Adão. Essa opinião é insustentável. As plantas também estão faltando na enumeração das obras criadas que estavam sob a sujeição a Adão, embora ninguém negue que o homem governe sobre a vegetação até hoje e que as plantas devem ter sido incluídas na frase “toda a Terra”. Esta frase, na verdade, cobre tudo na Terra que não é mencionado por nome, inclusive “os animais do campo” (Sl.8:6-8). Contudo, Deus limitou a supremacia humana a esta Terra, não transferindo para Adão o domínio sobre os corpos celestes.

Gn.1:27 27. Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Criou Deus, pois, o homem. A realização do propósito divino é expressa numa forma de poesia comum a todos os livros poéticos da Bíblia hebraica, em que a ideia expressa na primeira parte de uma estrofe é repetida com ligeira variação de palavras, mas não de significado, numa segunda ou mesmo numa terceira parte da estrofe, como neste verso: “Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Moisés deu outras amostras de sua habilidade poética (ver Ex.15; Dt.32; Dt.33; Sl.90) e foi o primeiro de todos os escritores inspirados a contar poeticamente as maravilhosas obras de Deus. Quando atingiu, em seu relato, o ponto em que conta a criação do homem, a coroa da obra de Deus nesta Terra, ele deixou o estilo comum de narrativa e empregou linguagem poética.

À Sua imagem. Digno de nota é o uso do singular “Sua”. O plural do Gn.1:26 revela que a Divindade possui pluralidade na unidade, enquanto que o Gn.1:27 enfatiza que a pluralidade de Deus não nega Sua unidade.

Homem e mulher. Um novo elemento é introduzido na informação dada sobre a criação do homem ao se mencionar a diferença de sexos. As duas palavras, “homem” e “mulher”, são traduções de adjetivos hebraicos que indicam os dois sexos. A bênção da fertilidade pronunciada sobre os animais (Gn.1:22) subentende que eles também devem ter sido criados com diferenças sexuais, mas este fato não é mencionado. Provavelmente existia uma razão especial para se mencionar isso em conexão com a criação do homem. Essa razão talvez venha do fato de que apenas no ser humano a dualidade de sexos encontra expressão na instituição do santo matrimônio. Este verso nos prepara para a revelação concernente ao plano de Deus para a criação da família, que é apresentado em Gn.2.

Gn.1:28 28. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.

E Deus os abençoou. As bênçãos de Deus conferidas às criaturas viventes no dia anterior foram repetidas no final do sexto dia com adições especiais apropriadas ao ser humano. Deus “os” abençoou, não “o” abençoou, indicando que a criação de Eva deve ter ocorrido antes do término do sexto dia e que as bênçãos e responsabilidades conferidas sobre eles deviam ser partilhadas por ambos de igual maneira.

E lhes disse. Existe uma diferença digna de nota entre as introduções das bênçãos dos v. Gn.1:22 e Gn.1:28. A bênção para os animais foi pronunciada com respeito a eles: “E Deus os abençoou, dizendo”, enquanto que a bênção para a raça humana foi dita a eles. Como seres inteligentes, eram capazes de ouvir a Deus e receber comunicações. Este verso contém a primeira revelação de Deus ao homem.

Sede fecundos. A bênção do Criador dizia respeito primeiramente à propagação e perpetuação da espécie; ela nunca foi rescindida por Deus e essa é a fonte de centenas de milhões de seres humanos que agora ocupam todos os continentes deste mundo. Vários comentaristas entenderam que a comissão divina indica que a reprodução dos seres humanos não devia continuar interminavelmente, mas devia cessar quando a Terra estivesse cheia de pessoas e de animais. A palavra traduzida como “enchei” não apoia a falsa doutrina de que em algum tempo remoto do passado este mundo foi despovoado e que Gn.1 constitui o relato de sua restauração. A expressão heb. traduzida como “enchei novamente a Terra” (KJV) é corretamente traduzida como “enchei a Terra” (ARA e ARC). Ver nota no final do capítulo.

Sujeitai-a. Deus também deu instruções sobre o dever e o destino do homem em governar as obras da criação terrestre, uma comissão expressa quase nas mesmas palavras que as usadas no diálogo divino registrado no Gn.1:26. A única diferença é a frase adicional “sujeitai-a”, que concede ao homem o direito de utilizar os vastos recursos da Terra para suprir suas necessidades, através de atividades agrícolas e de mineração, pesquisas geográficas, descobertas científicas e invenções mecânicas.

Gn.1:29 29. E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.

Todas as ervas. A seguir se faz provisão para o sustento do recém-nomeado senhor e de seus súditos. Sabe-se, pelo relato divino, que o homem devia se alimentar tanto dos produtos do campo como das árvores, ou, em outras palavras, de cereais, castanhas e frutas; os animais deviam comer “toda erva verde”, ou seja, verduras e grama. As palavras usadas nessa regra revelam que não era a vontade de Deus que o homem matasse animais para alimento, ou que os animais devessem ser predadores uns dos outros. Consequentemente, a destruição violenta e muitas vezes dolorosa da vida por parte do ser humano e dos animais é resultado da entrada do pecado no mundo.

Foi somente após o dilúvio que Deus deu ao homem permissão para comer a carne de animais (ver Gn.9:3). Até as lendas pagãs antigas falam de uma idade áurea de inocência, quando o homem se abstinha de matar animais (Ovídio, Metamorfosis, I.103-106). O fato de nenhum animal de qualquer tipo comer carne, no princípio, pode ser inferido dos anúncios proféticos de Is.11:6-9 e Is.65:25 sobre as condições da nova Terra, onde a cessação do pecado e a completa transformação do mundo no reino de Deus serão acompanhadas pelo fim da matança de qualquer das criaturas de Deus. O claro ensino das Escrituras de que a morte entrou no mundo pelo pecado mostra que a intenção original de Deus era que nem o homem nem os animais tirassem a vida para se alimentar. Todos os argumentos baseados na premissa de que é necessário matar animais para impedir seu aumento excessivo são de valor duvidoso.

É fútil especular sobre o que teria acontecido a este mundo se os animais e os seres humanos continuassem se multiplicando livremente para sempre. Deus certamente tinha traçado Seus planos para lidar com as mudanças de condição que fossem surgindo. Esses planos não nos foram revelados, porque o pecado entrou no mundo antes que surgisse a necessidade de impedir uma reprodução excessiva (ver Gn.1:28).

Gn.1:30 30. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.

Sem comentário para este versículo
Gn.1:31 31. Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

E eis que era muito bom. A criação do ser humano e sua investidura como governante da Terra concluíram a criação de todas as coisas terrestres. De acordo com o relato, Deus havia frequentemente repassado Sua obra e declarado-a boa (Gn.1:4; Gn.1:10; Gn.1:12; Gn.1:18; Gn.1:21; Gn.1:25). O exame feito no final do sexto dia abrangeu todas as obras completadas nos dias anteriores, “e eis que era muito bom ”. Tudo estava perfeito em sua categoria; todas as criaturas atingiam o ideal designado pelo Criador e estavam capacitadas a cumprir o propósito para o qual haviam sido criadas. A aplicação do termo “bom” a tudo o que Deus havia feito e a repetição da palavra acompanhada pela expressão enfática “muito”, no final da criação, sendo o ser humano sua coroa e glória, indica que nada imperfeito havia saído das mãos de Deus. Esta expressão de admiração exclui inteiramente a possibilidade de qualquer imperfeição na criação ter sido responsável pela fraqueza demonstrada por Adão e Eva diante da tentação.

Nota Adicional a Gênesis 1
O verso de abertura de Gênesis 1 tem sido assunto de muita discussão nos círculos teológicos ao longo de toda a era cristã. Alguns têm defendido que o verso se refere a uma criação deste mundo físico e de toda a vida que há nele num momento de tempo muito anterior aos sete dias da semana da criação.
Esse ponto de vista é conhecido como a teoria da ruína e restauração. Tem sido defendido durante séculos por teólogos especuladores que veem na expressão hebraica tohu wabohu, “sem forma e vazia” (Gn.1:2), a ideia de que um intervalo de tempo — bem longo, na verdade — separa o Gn.1:1 do Gn.1:2. É atribuído a tohu wabohu o significado de “a Terra veio a ficar sem forma e vazia”. Com base nessa interpretação do texto é que se constrói o ponto de vista de que o mundo foi criado perfeito em algum momento do remoto passado (Gn.1:1), mas que um terrível cataclismo destruiu todo vestígio de vida sobre ele e reduziu sua superfície a uma condição que poderia ser descrita como “sem forma e vazia”.

Muitos que defendem esse ponto de vista acreditam que houve repetidas criações, cada uma seguida por um cataclismo global. Finalmente, após incontáveis eras, Deus começou uma vez mais a tirar ordem do caos e a encher a Terra de vida, como é registrado em Gn.1:2-31.
Mais de um século atrás vários teólogos protestantes passaram a defender fortemente esse conceito, achando ter encontrado nele um meio de harmonizar o relato mosaico da criação com a ideia que estava sendo promovida por alguns cientistas, de que a Terra havia passado por longas eras de mudança geológica. Esse conceito é popular entre certos fundamentalistas. Segundo esse ensino, os estratos de rocha que compõem grande parte da superfície terrestre foram depositados no decurso dos supostos cataclismos e os fósseis sepultados nesses estratos são supostamente os resquícios da vida que existia na Terra antes desse tempo. Outros acham nessa teoria um argumento para apoiar a ideia de que, quando Deus realizou Sua obra criadora registrada em Gn.1:2-31, dependeu de matéria preexistente.

Assim, limitam Seu poder, minimizando ou até negando o fato de que Ele trouxe a matéria à existência e de que “o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb.11:3). Vários aspectos dessa teoria se refletem em muitas traduções bíblicas modernas. O conceito da “restituição” deve ser rejeitado em sua totalidade, porque: (1) As palavras hebraicas tohu wabohu não trazem a ideia de ser deixado em ruínas, mas descrevem um estado desorganizado e sem vida da matéria. A interpretação dada a essas palavras é, portanto, totalmente injustificável. (2) A Bíblia ensina claramente que as obras da criação de Deus foram “concluídas desde a fundação do mundo” (Hb.4:3). (3) Esse conceito implica a perigosa doutrina de que as tentativas divinas anteriores de efetuar a criação, muito particularmente a do homem, foram imperfeitas e sem sucesso, por causa da operação de forças sobre as quais Deus tinha apenas controle limitado.

(4) Seguindo até sua conclusão lógica, esse conceito na verdade nega a inspiração e a autoridade das Escrituras como um todo, limitando o Criador ao uso de matéria preexistente na obra da semana da criação e sujeitando-O às leis da natureza. (5) A ideia de sucessivas criações e catástrofes que tenham ocorrido antes dos eventos da semana da criação não conta com evidência válida, quer na ciência, quer na Palavra inspirada. É especulação. E (6) Pode-se acrescentar ainda que a origem e o desenvolvimento desse ponto de vista estão comprometidos por especulações filosóficas pagãs de várias seitas heréticas e são influenciados por conceitos racionalistas do naturalismo e do evolucionismo.

Gn.2:1 1. Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército.

Foram acabados. Os primeiros três versos do segundo capítulo e a metade do Gn.2:4 são, na verdade, uma continuação ininterrupta da narrativa da criação iniciada no primeiro capítulo. O verso Gn.2:1, em solene retrospecto, liga a obra dos seis dias anteriores ao descanso do sábado que veio em seguida. "Havendo Deus terminado [...] a Sua obra”, não deixou nada inconcluso (ver Hb.4:3). A palavra “exército”, tsaba’, denota todas as coisas criadas.
Gn.2:2 2. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.

No dia sétimo. Têm sido feitas várias tentativas para resolver a aparente dificuldade entre os v. 1 e 2, um declarando que a obra de Deus foi completada no sexto dia, e o outro, que foi no sétimo. A LXX e as versões samaritana e siríaca escolheram a maneira mais fácil de resolver o problema, substituindo a palavra “sétimo” do texto hebraico, onde é usada pela primeira vez, pela palavra “sexto”. Alguns comentaristas concordam com essa mudança e acham que a palavra “sétimo” do texto hebraico é erro de algum copista. Ao fazer isso, porém, transgridem uma de suas próprias regras básicas de crítica textual, a de que, entre duas possíveis variantes, a mais difícil é geralmente a original. “Terminado” traduz o hebraico yekal. Alguns eruditos, a partir de Calvino, têm traduzido essa frase como: “E no dia sétimo Deus havia terminado Sua obra, que fizera”, o que é gramaticalmente possível. Outra interpretação considera que a semana da criação foi terminada somente após a instituição do sábado. O término consistiu, negativamente, na cessação da obra da criação, e, positivamente, na bênção e santificação do sétimo dia. A cessação, em si mesma, constituiu uma parte do término da obra.

Descansou. O verbo “descansou”, shabath, significa, literalmente, “cessar” um trabalho ou atividade (ver Gn.8:22; Jó.32:1). Como um artífice humano completa sua obra quando a deixa no ponto ideal e assim cessa de trabalhar na mesma, num sentido infinitamente maior Deus completou a criação do mundo, cessando de produzir qualquer coisa nova, e então “descansou”. Deus não descansou porque precisa disso (ver Is.40:28). O descanso de Deus não foi resultado nem de exaustão nem de fadiga, mas uma cessação de Sua ocupação prévia.

Pelo fato de não aparecer a frase esperada “Houve tarde e manhã, o sétimo dia”, alguns expositores bíblicos têm afirmado que o período de descanso não continuou apenas por 24 horas, como os dias precedentes, mas que começou no sexto dia da criação e continuaria até hoje. O verso, porém, refuta essa ideia. Este não é o único texto bíblico que impressiona o leitor com o fato de que o descanso de Deus ocorreu durante o sétimo dia, pois o próprio decálogo diz claramente que Deus, havendo trabalhado seis dias, descansou no sétimo dia da semana da criação (Ex.20:11).
Os seis dias da criação, de acordo com as palavras do texto, eram dias terrestres de duração comum. Na ausência de uma clara luz que indique o contrário, deve-se compreender o sétimo dia da mesma forma; e mais ainda porque, em todas as passagens onde ele é mencionado como sendo o dia de descanso na Terra, é considerado como um dia comum (Ex.20:11; Ex.31:17).

Gn.2:3 3. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

E abençoou Deus o dia sétimo. É acrescentada uma explicação do significado e importância deste dia de repouso. O relato sagrado relaciona intimamente o sábado semanal com a obra criadora de Deus e com Seu repouso no sétimo dia, da mesma forma que o faz o quarto mandamento. A bênção sobre o sétimo dia subentendia que, dessa forma, ele era declarado objeto especial do favor divino e um dia que traria bênçãos a Suas criaturas.

E o santificou. O ato de santificação consistiu numa declaração de que o dia foi santo, ou separado para propósitos santos. Como posteriormente o monte Sinai foi santificado (Ex.19:23) ou temporariamente investido de santidade como residência de Deus, e Arão e seus filhos foram santificados ou consagrados ao ofício sacerdotal (Ex.29:44), e o ano do jubileu era santificado ou devotado ao propósito religioso (Lv.25:10), assim também o sétimo dia foi santificado, e como tal proclamado dia santo. O ato de abençoar o sétimo dia e declará-lo santo foi feito em favor da raça humana, pela qual o sábado foi instituído. O sábado semanal do sétimo dia tem sido frequentemente considerado uma instituição para a dispensação judaica, mas o relato inspirado declara que ele foi instituído mais de dois milênios antes do nascimento do primeiro israelita (um descendente de Jacó, ou Israel). Há, além disso, a palavra do próprio Jesus, ao declarar: “O sábado foi feito por causa do homem” (Mc.2:27), indicando claramente que esta instituição não foi estabelecida apenas para os judeus, mas para toda a humanidade.

Porque nele descansou. Deus não poderia ter razão mais elevada para ordenar o descanso no sétimo dia do que o fato de que, ao assim fazê-lo, o homem pudesse desfrutar a oportunidade de refletir sobre o amor e a bondade de seu Criador, e tornar-se semelhante a Ele. Como Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo, assim deve o homem laborar durante seis dias e repousar no sétimo. O sábado semanal é uma instituição divina dada pelo Deus criador ao ser humano, e sua observância é exigida por Deus, o legislador. Para o homem, portanto, o reter para si esse tempo sagrado, em parte ou na sua totalidade, é ser culpado de desobedecer a Deus e furtá-Lo, já que Ele é o proprietário original das faculdades do homem e de seu tempo. Como uma instituição estabelecida por Deus, o sábado requer honra e consideração. A negligência em fazer isso é considerada por Deus como pecado.

O sábado requer a abstenção do trabalho físico comum e a devoção da mente e do coração às coisas santas. Os israelitas foram admoestados a usá-lo para santas convocações (Lv.23:3). Os evangelhos atestam que ele foi usado dessa forma por Cristo e pelos apóstolos (Lc.4:16; At.17:2; At.18:4) e que deveria continuar a ser observado pelos cristãos após a conclusão do ministério terrestre de Cristo (Mt.24:20).
O fato de que o sábado continuará a ser celebrado na nova Terra como dia de adoração (Is.66:23) é uma clara indicação de que Deus nunca planejou ter sua observância transferida para outro dia. O sábado semanal é o memorial da criação e, a cada semana, lembra ao ser humano o poder criador de Deus e do quanto ele deve ao misericordioso Criador e Sustentador. A rejeição do sábado é uma rejeição ao Criador e abre as portas para todo tipo de falsas teorias. “[O sábado é] uma testemunha constante de Sua existência e lembrança de Sua grandeza, sabedoria e amor. Houvesse o sábado sempre sido observado de maneira sagrada, e nunca poderia ter havido um ateu ou idólatra" (PP, 336).

Gn.2:4 4. Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o Senhor Deus os criou.

Esta é a gênese. A palavra “gênese”, toledoth, é geralmente usada em referência à história familiar de uma pessoa, isto é, ao nascimento de seus filhos (ver Gn.5:1; Gn.6:9; Gn.11:10). Aqui ocorre o único caso em que essa palavra é usada para algo que não seja relacionamentos humanos, isto é, para “os céus e a Terra”, uma frase que faz lembrar os versículos Gn.1:1 e Gn.2:1. Um comentarista sugere que “gênese” se refere adequadamente à “história ou relato de sua produção”. A Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica) diz, com referência a essa palavra: “O processo de criação dos céus e da Terra é visto em Gn.2:4 como uma história genealógica” (vrb. “Generation”). “Cada dia foi chamado uma origem ou geração, porque nele Deus gerou ou produziu alguma nova porção de Sua obra” (PP, 112).

Quando foram criados. Assim se encerra a narrativa da criação que começou com Gn.1:1. Estas palavras têm sido interpretadas de várias formas. São a tradução de behibare’am, expressão que não deve ser traduzida como “depois que foram criados”, como às vezes ocorre. Uma vez que seu significado literal é “em sua criação ”, a frase toda é melhor traduzida desta forma: “Esta é a história da origem dos céus e da Terra, quando foram criados.”

Quando o Senhor Deus os criou. Estas palavras introduzem o relato de Gn.2. Muitos comentaristas tendem a considerar Gn.2:4-3:24 como um segundo relato da criação, diferente, que se originou de outra fonte, num tempo posterior ao relato de Gn.1:1-2:4. Com respeito a essa teoria insustentável, ver a Introdução ao Gênesis. Um estudo do conteúdo deixa claro que o capítulo 2 não pode, de forma alguma, ser considerado outra versão da narrativa da criação feita no capítulo anterior. Seu propósito é colocar Adão e Eva em seu lar no jardim do Éden, e o autor do capítulo faz isso proporcionando informações adicionais, muitas das quais não pertencem à história da criação como tal.

Ele descreve o Éden após ter sido criado. Sem essas informações, não só o relato desta Terra em seu estado edênico seria incompleto, mas os eventos de Gênesis 3 — a queda — dificilmente seriam compreensíveis. Gênesis 2 traz detalhes adicionais sobre a criação do homem, uma descrição de seu lar edênico, o teste de sua lealdade a Deus, ou de seu direito moral ao lar que recebera, o teste de sua inteligência ou qualificação mental para governar as obras criadas por Deus e as circunstâncias que cercaram o estabelecimento de seu primeiro lar.

Gn.2:5 5. Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.

Nenhuma planta. Os versos Gn.2:4-6 antecipam a criação do homem (Gn.2:7), ao descrever brevemente a aparência da superfície da Terra, particularmente com respeito à vegetação, pouco antes do momento em que ele foi trazido à existência no sexto dia da semana da criação. Ali estava o paraíso perfeito, onde só faltava alguém “para lavrar o solo”. Toda a natureza, vibrante de expectativa, aguarda o aparecimento de seu rei, assim como os membros de uma orquestra sinfônica, com os instrumentos todos afinados, aguardam a chegada do regente.
Gn.2:6 6. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.

Uma neblina. A palavra heb. traduzida por “neblina”, ’ed, tem um significado um pouco duvidoso porque, fora desta passagem, ela só ocorre em Jó.36:27. Eruditos a têm comparado com a palavra assíria edû, “enchente”, e aplicado esse significado às duas passagens bíblicas em que ela ocorre. Mas a palavra “enchente” não se encaixa no contexto de nenhum desses dois versos, enquanto que a palavra “neblina” ou “vapor” se enquadra bem em ambos os casos. Versões antigas a traduziram como “fonte”, o que revela que não a compreenderam. A improbabilidade de que uma fonte pudesse ter regado a vasta terra mostra claramente que “fonte” não pode ser a tradução correta de ’ed. “Neblina” parece ser a melhor tradução e, neste caso, podemos pensar em “neblina” como sinônimo de “orvalho” (PP, 97).

O fato de as pessoas do tempo de Noé zombarem da ideia de que chuva vinda do céu pudesse trazer destruição à Terra, no dilúvio, e de Noé ser elogiado por crer em “acontecimentos que ainda não se viam” (Hb.11:7) indica que a chuva era desconhecida para os antediluvianos (ver PP, 96-97). Somente com os olhos da fé Noé podia visualizar água caindo do céu e afogando todos os seres vivos que não buscassem refúgio na arca. Uma vez que o arco-íris foi instituído após o dilúvio (Gn.9:13-16), e parece não ter existido antes disso, é coerente a declaração de que a chuva era desconhecida antes desse evento.

Gn.2:7 7. Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.

E formou o Senhor Deus o homem. São apresentados aqui importantes detalhes adicionais sobre a criação de Adão. Permite-se, por assim dizer, sondar a oficina de Deus e ver Sua mão realizando o misterioso ato da criação. A palavra “formar”, yatsar, subentende o ato de moldar e modelar de uma forma que corresponda, em configuração e aparência, ao plano divino. A palavra é usada ao descrever a atividade do oleiro (Is.29:16; Is.49:5), do artífice que fabrica ídolos (Is.44:9; Hc.2:18) e de Deus, que forma várias coisas, entre elas, a luz (Is.45:7), o olho humano (Sl.94:9), o coração (Sl.33:15) e as estações (Sl.74:17).

Do pó da terra. O fato de o homem ser composto por materiais derivados do solo, elementos da terra, é confirmado pela ciência. A decomposição do corpo humano após a morte dá testemunho disso. Os elementos principais que compõem o corpo humano são oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio. Muitos outros existem em proporções menores. Quão verdadeiro é o fato de que o homem foi feito “do pó da terra” e também que ele voltará à terra, de que foi formado (Ec.12:7).

O fôlego de vida. “Fôlego”, neshamah. Vindo da Fonte de toda vida, o princípio vital entrou no corpo inanimado de Adão. É dito: que o meio pelo qual a centelha de vida foi transferida para seu corpo foi o “sopro” de Deus. A mesma ideia aparece em Jó.33:4: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.” Ao ser comunicado ao homem, o “fôlego” é equivalente à sua vida; é à própria vida em si (Is.2:22). Na morte “nenhum fôlego” resta nele (ver 1Rs.17:17, ARC). Esse “fôlego de vida” no homem não difere em nada do “fôlego de vida” nos animais, pois todos recebem sua vida de Deus (Gn.7:21-22; Ec.3:19). Portanto, ele não pode ser a mente ou a inteligência.

Alma vivente. Quando o divino “fôlego”(neshamah) de vida foi infundido na escultura inanimada do homem, este se tornou uma “alma” (nefesh) vivente. A palavra nefesh tem vários sentidos: (1) hálito, respiração (Jó.41:21), (2) vida (1Rs.17:21, NVI; 2Sm.18:13), (3) coração, como sede das afeições (Gn.34:3; Ct.1:7, KJV), (4) ser vivo (Gn.12:5; Gn.36:6; Lv.4:2; ARC) e (5) para enfatizar os pronomes pessoais (Sl.3:2, ARC; 1Sm.18:1). Note que a nefesh é feita por Deus (Je.38:16), pode morrer (Jz.16:30), ser morta (Nm.31:19), ser devorada (metaforicamente, Ez.22:25), ser resgatada (Sl.34:22) e ser refrigerada (Sl.19:7). Nada disso se aplica ao espírito, ruach, o que indica claramente a grande diferença entre os dois termos. É óbvio, diante disso, que a tradução “alma” para a palavra nefesh em Gn.2:7 não é apropriada, especialmente quando se tem em vista a expressão comumente usada “alma imortal ”. Embora popular, esse conceito é alheio à Bíblia. A passagem pode corretamente ser traduzida da seguinte forma: “O homem se tornou um ser vivente” (NVI). Quando “alma’’ é considerada sinônimo de “ser’’, alcança-se o significado bíblico de nefesh presente nesta passagem.

Gn.2:8 8. E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.

E plantou o Senhor Deus um jardim. A localização do Éden é desconhecida. O dilúvio alterou de tal forma as características físicas da Terra, que se tornou impossível a identificação atual de locais existentes antes dessa catástrofe. Comumente nos referimos a esse jardim como “paraíso”, uma palavra de origem persa que significa “parque”. A palavra heb. para “paraíso”, pardes, ocorre algumas vezes no AT (Ne.2:8; Ec.2:5; Ct.4:13), mas em referência a árvores e não como um nome para o jardim do Éden. A palavra “paraíso”, do grego paradeisos, foi originalmente aplicada ao lar de nossos primeiros pais pelos tradutores da LXX.
Gn.2:9 9. Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal.

Toda sorte de árvores. No preparo da maravilhosa morada do homem, foi dada atenção à ornamentação bem como à utilidade. Foi-lhe providenciada toda espécie de vegetação que atendesse às necessidades e ao prazer. Flores, árvores e arbustos gratificavam-lhe os sentidos com fragrância, deleitavam-lhe os olhos com bela forma e cores encantadoras, e agradavam-lhe ao paladar com deliciosos frutos. O Éden passou a representar, para sempre, o mais elevado conceito que o homem pode ter de excelência terrena.

E também a árvore da vida. A sequência em que aparecem estas palavras, como se fossem apenas um adendo, parece estranha num idioma moderno. Isso tem levado eruditos da Alta Crítica a afirmar que a última metade do v. 9 é uma adição posterior, ou então uma corruptela do original. Mas essa disposição de palavras, que parece incomum quando traduzida para nossa língua, é comum no hebraico e não proporciona a menor desculpa para se duvidar da originalidade do texto. Por exemplo, Gn.12:17 diz, literalmente: “O Senhor puniu faraó e a sua casa com grandes pragas.” Há outros exemplos da mesma estrutura frasal, embora não tão evidente em nossas versões (ver Gn.28:14; Nm.13:23; Dt.7:14).

Ao comerem da árvore da vida, Adão e Eva deviam ter a oportunidade de expressar sua fé em Deus como o mantenedor da vida, assim como, por guardar o sábado, demonstravam fé no Criador e lealdade a Ele. Para esse fim Deus havia dotado a árvore de uma virtude sobrenatural. Sendo que seu fruto era um antídoto contra a morte e suas folhas conservavam a vida e a imortalidade, os homens continuariam vivos somente enquanto comessem dela (T8, 288; PP, 60).

Uma das árvores era chamada, literalmente, de a árvore “da vida”, hahayyim. O fato de essa palavra estar na forma plural é explicado uma vez que se reconhece a mesma como um plural de abstração, e o artigo definido indica que essa árvore tinha algo a ver com “a” vida como tal, isto é, aquela vida que seria obtida ou preservada com o uso de seu fruto. Contudo, uma vez que as outras árvores do jardim eram “boas para alimento”, também se destinavam a preservar a vida. Se uma árvore é distinguida das outras pelo nome extraordinário de “árvore da vida”, seu fruto deve ter o propósito de suster a vida de maneira diferente das outras árvores, sendo ela superior. A declaração de que o comer do fruto dessa árvore propiciaria ao homem viver “eternamente” (Gn.3:22) mostra que essa árvore era superior às outras árvores úteis do jardim.

O nome da segunda árvore era “árvore do conhecimento do bem e do mal ”. O artigo definido “o” antes da palavra “conhecimento” significa que a árvore não podia fornecer todo e qualquer tipo de conhecimento, mas apenas certo tipo: o triste conhecimento do “mal”, em contraste com o “bem”. O nome dessas árvores é importante. Em ambos os casos a palavra “árvore” está ligada a termos abstratos: vida e conhecimento. Isso não abre espaço para se declarar que essas duas árvores não existiam, mas, ao contrário, dá a elas implicações espirituais. Embora a arca da aliança fosse uma peça real do mobiliário do templo, ela também recebeu um nome que tinha importância religiosa. O sangue da expiação derramado por nós pelo Salvador também era uma substância real. As duas árvores, semelhantemente, devem ser consideradas como árvores reais que tinham propósitos significativos a cumprir, sendo que esses propósitos físicos e morais eram indicados pelo nome das árvores.

Gn.2:10 10. E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços.

Um rio. Muitos eruditos têm feito grande esforço em tentar esclarecer os versos Gn.2:10-14, mas, provavelmente, nunca seja encontrada uma explicação satisfatória, porque a superfície da Terra após o dilúvio tem pouca semelhança com o que era antes. Uma catástrofe de tal magnitude capaz de fazer surgir elevadas cadeias de montanhas e formar vastas áreas oceânicas dificilmente teria deixado intactos acidentes geográficos menores como rios. Portanto, não se pode ter esperanças de identificar locais antediluvianos pelos acidentes geográficos atuais da Terra, a menos que a inspiração o faça para nós (ver PP, 105-108).
Gn.2:11 11. O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro.

Pisom. O nome do primeiro rio, Pisom, é desconhecido em qualquer fonte extrabíblica, e mesmo na própria Bíblia esse nome não é mencionado em nenhuma outra parte. As opiniões de eruditos que identificam esse rio com o Indo ou o Ganges na Índia, com o Nilo no Egito, ou com rios da Anatólia, são infundadas.

Havilá, onde há ouro. Em outras passagens onde o mesmo nome próprio aparece, a referência é a tempos pós-diluvianos. Portanto, essas passagens não têm utilidade para localizar a Havilá de Gn.2:11.

Gn.2:12 12. O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix.

Bdélio. Segundo Plínio, o bdélio era a resina transparente e odorífera de uma árvore nativa da Arábia, da Índia, da Pérsia e de Babilônia. Mas não se sabe se esse era o mesmo bdélio da época antediluviana.

A pedra de ônix. Esta deve ser uma pedra preciosa ou semipreciosa, provavelmente de cor vermelha. As versões antigas variam as traduções entre ônix, sardônio, sárdio e berilo; portanto, não há certeza de que a tradução “ônix” seja a correta.

Gn.2:13 13. O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe.

Giom. Com respeito aos v. 13 e 14, ver o com. do v. Gn.2:10.
Gn.2:14 14. O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates.

Sem comentário para este versículo.
Gn.2:15 15. Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.

Para o cultivar e o guardar. Havendo preparado uma habitação para o homem que criara, Deus o colocou nesse lar-jardim com a ordem definida de “o cultivar e o guardar”. Essa ordem indica que a perfeição com que a criação saiu das mãos de Deus não exclui a necessidade de cultivo, isto é, de trabalho humano. O ser humano tinha de usar as faculdades físicas e mentais para preservar o jardim no mesmo estado perfeito em que o havia recebido. O fato de o trabalho físico ser um aspecto agradável da vida na nova Terra (Is.65:21-23) indica que o trabalho não tinha o propósito de ser uma maldição.

A comissão dada a Adão de “guardar” o jardim talvez seja uma sugestão de que havia perigos que ameaçavam roubar-lhe esse jardim se ele não ficasse vigilante. O verbo “guardar”, shamar, significa “proteger”, “vigiar”, “preservar”, “observar” e “segurar firmemente”. É certamente ilógico pensar que a Adão fora solicitado guardar o jardim contra ataques de animais selvagens, como alguns comentaristas têm interpretado. Não existia nenhuma inimizade na Terra antes da queda, quer entre os próprios animais, quer entre homem e animal. O medo e a inimizade são resultados do pecado. Outro perigo bem real, no entanto, ameaçava arrebatar do homem o governo da Terra e a posse do jardim. Por outro lado, “guardar” o jardim pode simplesmente ser sinônimo de “cultivá-lo”.

Temos a certeza de que Deus não faz nada que afete o ser humano sem primeiro informá-lo sobre Suas intenções (Am 3:7). Se Deus, que faz apenas o que é benéfico para o homem, julga necessário nos informar de Seus propósitos, certamente Ele manteve Adão informado sobre o perigo que ameaçava a Terra (PP, 36, 52, 53).

Gn.2:16 16. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente,

De toda árvore do jardim. O mandamento relacionado nestes versos pressupõe que o homem compreendia a linguagem falada por Deus e a distinção entre “comerás” e “não comerás”. A ordem começa positivamente, dando permissão para que comesse livremente de todas as árvores do jardim — com exceção de uma. O direito de livremente desfrutar todas as outras árvores é ressaltado pela expressão idiomática intensiva “comendo, comerás”, ‘akol to’kel. Até na proibição divina há um aspecto positivo.
Gn.2:17 17. mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

Da árvore do conhecimento do bem e do mal. O que fora dito antes torna mais precisa a limitação dessa liberdade. O homem não devia comer especificamente da árvore que tinha o nome de “árvore do conhecimento do bem e do mal” (ver com. do v. Gn.2:9). É fútil especular sobre que tipo de fruto essa árvore produzia, uma vez que isso não foi revelado. A própria presença dessa árvore no jardim revelava que o homem era um agente moral livre. O serviço do homem não era forçado; ele podia obedecer ou desobedecer. A decisão era dele.

O fruto em si era inofensivo (Ed, 25), mas a explícita ordem de Deus para que Adão e Eva não o comessem distinguia essa árvore como o ponto de teste de lealdade e obediência. Como seres morais, eles tinham a lei de Deus escrita em sua consciência. Mas, a fim de esclarecer os princípios dessa lei, aplicando-a a uma situação específica, e assim fazer um teste justo da lealdade ao Criador, foi dada uma ordem ao homem. Deus era o verdadeiro proprietário de todas as coisas, até das que haviam sido confiadas aos cuidados de Adão. Isso dava a Deus o direito de reservar qualquer parte da criação para Si próprio. Não teria sido ilógico que Ele reservasse para Si uma grande porção da Terra e que permitisse a Adão o uso de apenas uma pequena parte dela. Mas não: o homem podia usar livremente tudo o que estava no jardim - exceto uma árvore. Evidentemente não havia nenhum outro propósito no ato de se abster de comer do fruto da árvore, a não ser o de dar uma prova clara de lealdade a Deus.

No dia em que dela comeres. A proibição estava acompanhada de uma severa pena pela transgressão: ou seja, a morte. Alguns pensam que as palavras usadas para descrever a penalidade exigiam sua execução no mesmo dia em que a ordem fosse violada. Estes veem uma séria discrepância entre o anúncio da penalidade e seu cumprimento. Contudo, o pronunciamento divino “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”, ou, literalmente, “morrendo, morrerás”, significa que no dia da transgressão a sentença seria pronunciada. O homem passaria do status de imortalidade condicional para o de mortalidade incondicional.

Assim como antes da queda Adão podia ter certeza da imortalidade, que lhe era garantida pela árvore da vida, após essa catástrofe, sua mortalidade era igualmente certa. Isto é o que implica a linguagem usada, mais do que a morte física imediata. Deus exigiu que o homem fizesse uma escolha de princípios. Ele devia aceitar a vontade de Deus e sujeitar-se a ela, com a confiança de que, em resultado disso, tudo lhe iria bem, ou devia, por sua própria escolha, cortar sua conexão com Deus e se tornar, supostamente, independente dEle. Mas a separação da fonte da vida só podia trazer, inevitavelmente, a morte. Os mesmos princípios ainda são válidos. A punição e a morte são os resultados certos da livre escolha, por parte do homem, de se colocar em rebelião contra Deus.

Gn.2:18 18. Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.

Uma auxiliadora que lhe seja idônea. Isto é, apropriada a suas necessidades; para complementá-lo. Os animais haviam sido criados em enxames ou em grupos, mas o homem, como indivíduo isolado. Contudo, não era propósito de Deus que ele ficasse sozinho por muito tempo. A solidão seria prejudicial ao bem-estar humano. Deus, portanto, fez-lhe uma companheira.
Gn.2:19 19. Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles.

Todos os animais do campo. A ideia, expressa por alguns expositores bíblicos, de que Deus fez várias tentativas infrutíferas de proporcionar uma companhia para o homem mediante a criação de vários animais, provém de uma compreensão equivocada do propósito desta parte da narrativa. Moisés está registrando não o momento, mas simplesmente o fato, da criação dos animais. O verbo hebraico é corretamente traduzido como “havendo [...] formado”, e se refere, assim, aos atos de criação anteriores, realizados no quinto e sexto dias. A primeira parte do verso, portanto, é dada como um prefácio do que vem imediatamente a seguir.

Trouxe-os ao homem. Adão devia estudar esses animais e se envolver na importante tarefa de lhes dar nomes apropriados, exercício este que requeria compreensão dos mesmos e de seus hábitos. Isso o qualificaria ou, talvez, demonstraria que ele estava qualificado para governá-los. Ao mesmo tempo, ele perceberia a vida familiar que desfrutavam e, assim, sua própria falta de uma companhia. Reconhecendo também que Deus o havia criado infinitamente mais elevado que os animais, perceberia que não era possível escolher essa companhia dentre eles. Para que a formação da mulher preenchesse totalmente o propósito do Criador, Adão precisava sentir sua própria incompletude e sua necessidade de companhia — em outras palavras, que não era bom que ele permanecesse só.

Gn.2:20 20. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.

Deu nome o homem a todos os animais domésticos. É evidente que o homem foi criado com a faculdade da fala. Essa habilidade Adão empregou para expressar as observações feitas em seu estudo dos animais. Dessa forma, ele teve seu primeiro contato com as ciências naturais e, ao dar nome aos animais, começou a dominá-los. Talvez os animais domésticos sejam mencionados antes porque, em suas futuras relações, deviam ficar mais próximos do homem do que os selvagens. As aves, que o homem admira e das quais algumas espécies lhe seriam muito úteis, recebem o segundo lugar na enumeração. E impossível descobrir quais eram esses nomes, pois não se sabe que idioma Adão e o mundo antediluviano falavam.

Não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. O estudo que Adão fez da criação animal lhe proporcionou considerável conhecimento, mas não satisfez seu anseio pela companhia de outro ser que fosse igual a ele. Este fato indica a participação igual que a mulher devia desfrutar com o homem. Nenhuma companhia verdadeira pôde ser encontrada para Adão entre as criaturas que lhe eram inferiores.

Gn.2:21 21. Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne.

Pesado sono. Deus, planejando criar a companheira de Adão a partir de seu corpo, fez com que ele caísse num sono profundo que pode ser comparado à inconsciência sob um anestésico. E de fato foi uma cirurgia que Deus realizou em Adão, tirando uma de suas costelas e fechando o lugar com carne. A palavra heb. tsela’, que em outras partes da Bíblia significa “lado”, “folha de porta”, “ala” (de um edifício) e “painel” (de um revestimento de parede), tem aqui o sentido de “costela”. Essa tradução tradicional, que foi trazida para as Bíblias modernas através da LXX e da Vulgata, teve sua exatidão confirmada em épocas recentes por registros cuneiformes. Na língua assíria, que estava intimamente relacionada ao hebraico, a palavra para costela era sêlu.
Gn.2:22 22. E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe.

Transformou-a numa mulher. Moisés tinha um hábil domínio da língua hebraica e sabia como usá-la para impressionar seus leitores. Para descrever a atividade criadora de Deus, ele empregou na narrativa do capítulo 1 os verbos “criar” (Gn.1:27), “lazer” (Gn.1:26) e “formar” (Gn.2:7). Agora ele acrescenta a esses termos mais ou menos sinônimos o verbo “construir” (aqui traduzido como “transformar em”). Cada um desses verbos tem sua própria e distinta nuança de significado. A costela de Adão constituiu o material básico do qual sua companheira foi “construída”. A mulher foi formada para ter uma unidade inseparável e um companheirismo por toda a vida com o homem, e o modo de sua criação devia lançar o alicerce para a ordenança moral do matrimônio. Ela devia “estar a seu lado como igual e ser amada e protegida por ele” (PP, 46). O matrimônio é um tipo [símbolo] do companheirismo de amor e vida que existe entre o Senhor e Sua igreja (Ef.5:31-32).

E lha trouxe. O próprio Deus solenizou o primeiro casamento. Após criar a mulher, Ele a levou até Adão, que, àquela altura, já devia ter despertado de seu profundo sono. Como Adão era o “filho de Deus” (Lc.3:38), assim Eva podia ser, com propriedade, chamada de a filha de Deus; e como seu Pai, Deus a levou a Adão e a apresentou a ele. A aliança do matrimônio, portanto, é apropriadamente chamada de a aliança de Deus (Pv.2:17), um nome que subentende que Ele é o autor dessa sagrada instituição.

Gn.2:23 23. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.

Esta, afinal, é osso dos meus ossos. Adão, reconhecendo nela a companheira desejada, recebeu-a alegremente como noiva e expressou sua alegria numa exclamação poética. As palavras “esta, afinal” refletem sua agradável surpresa quando viu na mulher a realização do desejo de seu coração. O fato de ele haver repetido três vezes o pronome “esta” (no hebraico), aponta vividamente para aquela sobre quem, com feliz assombro, seus olhos então repousam com a intensa emoção do primeiro amor. Instintivamente, ou como resultado de Deus lhe haver contado o fato, reconheceu nela parte de seu próprio ser. Ele a devia amar daí em diante como a seu próprio corpo, pois, amando-a, estaria amando a si mesmo. O apóstolo Paulo enfatiza essa verdade (Ef.5:28).

Chamar-se-á varoa. O nome que Adão deu a sua recém-criada companheira refletia o modo como Deus a criara. A palavra heb. ’ishah, “mulher”, é formada pela palavra ‘ish, “homem”, com a terminação feminina. A palavra inglesa “woman” (do anglo-saxão “wife-man”) está relacionada à palavra “man” da mesma forma. O mesmo ocorre em várias outras línguas.

Gn.2:24 24. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.

Deixa o homem pai e mãe. As palavras deste verso não podem ser consideradas como um anúncio profético feito por Adão, mas sim como as palavras do próprio Deus. Elas são parte da declaração feita por Deus na cerimônia de casamento (ver Mt.19:4-5; MDC, 99). Estas palavras expressam a mais profunda unidade física e espiritual de um homem e uma mulher, e exaltam a monogamia diante do mundo como a forma de casamento ordenada por Deus. Gênesis 2:24 não recomenda um abandono do dever filial e do respeito para com o pai e a mãe, mas se refere primariamente ao fato de que a esposa de um homem deve estar em primeiro lugar em suas afeições e de que seu primeiro dever é para com ela. Seu amor a ela deve exceder, mas certamente não substituir, o apropriado amor aos pais.

Tornando-se os dois uma só carne. A unidade entre marido e mulher é expressa em palavras inequívocas, pois existe entre ambos uma unidade de corpos, uma comunidade de interesses e uma reciprocidade de afeições. É significativo o fato de que Cristo usa exatamente esta passagem em Sua forte condenação ao divórcio (Mt.19:5).

Gn.2:25 25. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.

Estavam nus. Adão e Eva não tinham necessidade nenhuma de roupas materiais, pois ao seu redor o Criador havia colocado um manto de luz, um manto simbólico de Seu próprio caráter justo, que era perfeitamente refletido neles. Quando a imagem moral do Criador novamente se refletir em Seus filhos e filhas terrenos, Ele voltará para reclamá-los como Seus (ver Ap.7:9; Ap.19:8; PJ, 69, 310). Esse manto branco de inocência é a veste com a qual os salvos da Terra estarão trajados quando adentrarem os portões do paraíso.
Gn.3:1 1. Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?

A serpente. Com a serpente, surge na narrativa uma nova figura que exercerá tremenda influência na história subsequente do mundo. Moisés passa da descrição das condições perfeitas do paraíso para a história da queda, devido à qual a Terra foi transformada de um mundo de felicidade, amor e perfeição, para um mundo de tristeza, ódio e maldade. Moisés não descreve como foi o período feliz no Éden, o tempo passado em completa ventura, no estudo da natureza, no cultivo do jardim, como Deus havia ordenado, e na comunhão diária com o Criador nas horas frescas do entardecer (Gn.3:8).

Mais sagaz que todos os animais selváticos. A serpente é apresentada como uma criatura mais sagaz que os outros animais. A palavra “sagaz”, ‘arum, é algumas vezes usada na Bíblia para indicar uma desfavorável tendência de caráter (Jó.5:12; Jó.15:5), com a conotação de ser “astuto” ou “ardiloso”, mas geralmente é empregada no sentido favorável de ser prudente (ver Pv.12:16; Pv.12:23; Pv.13:16; Pv.14:8; Pv.14:15; Pv.14:18; Pv.22:3; Pv.27:12). Este último sentido, o favorável, parece preferível aqui, porque a serpente era um dos seres que Deus havia declarado como sendo “bom” e até “muito bom” (Gn.1:25; Gn.1:31).

O caráter malévolo das serpentes de hoje é resultado da queda e da subsequente maldição, e não uma característica desse animal ao ser criado.
Dificilmente precisaria ser refutada a objeção de que a serpente não era um animal verdadeiro, mas um ser sobrenatural, em vista da declaração explícita de que ela era, de fato, um animal. Contudo, a Bíblia toda deixa bem claro que o responsável pela queda do homem não foi a serpente em si, mas Satanás (ver Jo.8:44; 2Co.11:3; 2Co.11:14; Rm.16:20). Contudo, em sentido figurativo, Satanás é ocasionalmente chamado de “serpente”, porque a usou como médium em sua campanha para enganar o homem (ver Ap.12:9; Ap.20:2).

A queda de Lúcifer, que havia sido o primeiro entre os anjos do Céu (Is.14:12-13; Ez.28:13-15), obviamente precedeu a queda do homem (ver PP, 35, 36). Deus conversava diariamente com o homem no jardim, e não o havia deixado na ignorância sobre os eventos ocorridos no Céu. O Criador o havia colocado a par da apostasia de Satanás e de outros anjos, a respeito de cuja chegada Adão precisava estar alerta. Talvez Adão e Eva esperassem ver Satanás aparecer como um anjo e se sentissem preparados para enfrentá-lo como tal e rejeitar suas tentações. Mas, em vez disso, ele falou a Eva através de uma serpente, tomando-a de surpresa. Isso, porém, de maneira alguma desculpa o pecado de Eva, embora seja verdade que ela foi enganada (ver 1Tm.2:14; 2Co.11:3).

A prova de nossos primeiros pais foi permitida como um teste de lealdade e amor. Esse teste era essencial para o desenvolvimento espiritual e a formação do caráter. Se tivessem saído do teste incólumes, o resultado teria sido felicidade eterna. Uma vez que Deus não permitiria serem tentados acima de sua capacidade para resistir (1Co.10:13), não deixou que Satanás se aproximasse deles numa forma semelhante à dEle, nem em qualquer outro lugar a não ser nessa árvore (SP1, 34). Satanás, portanto, surgiu na forma de uma criatura, não só inferior a Deus, mas bem inferior ao próprio homem. De modo que Adão e Eva, ao permitirem que Satanás os persuadisse a transgredir o mandamento de Deus, por meio de um mero animal, ficaram duplamente sem desculpa.

Disse à mulher. Usando a serpente como médium, Satanás achou um momento em que pôde se dirigir à mulher sozinha. Sempre é mais fácil persuadir uma pessoa a fazer algo errado quando ela está longe de um ambiente protetor. Tivesse Eva permanecido junto ao marido, sua presença teria sido uma proteção para ela, e a história sem dúvida teria tido uma sequência diferente.

É assim que Deus disse. Satanás se dirigiu à mulher com uma pergunta que parecia inocente, mas era cheia de astúcia. Tem sido debatido se a pergunta deve ser traduzida como: (1) “Não comereis de toda árvore do jardim?”, com o significado de: “Há algumas árvores no jardim das quais vocês não podem comer?”, ou (2) “Não comereis de nenhuma árvore do jardim”. O hebraico permite ambas as traduções e carrega, portanto, certa ambiguidade. Satanás planejou que suas palavras fossem indefinidas e ambíguas. Seu propósito era óbvio. Ele desejava semear dúvidas no coração da mulher quanto à verdadeira fraseologia, o exato significado do mandamento divino e, especialmente, com respeito à lógica e à justiça de um mandamento desse tipo.

Gn.3:2 2. Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,

Do fruto das árvores do jardim podemos comer. Eva evidentemente compreendeu a pergunta no segundo sentido já discutido, e, em vez de voltar as costas e correr para o marido, mostrou sinais de vacilação e dúvida e uma disposição para discutir o assunto um pouco mais com a serpente. Deus declarara; “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Eva mudou assim as palavras: “para que não morrais”. Em lugar da plena certeza da pena de morte que resultaria da transgressão do mandamento, a mulher declarou que a morte poderia resultar de tal ato.

A expressão “para que não”, que traduz pen, subentende um íntimo medo repentino diante da ideia de brincar com algo que pode se demonstrar fatal, oculto sob uma suposta atitude cética em relação à ideia de que tal coisa pudesse de fato ocorrer. A dúvida e a hesitação expressas na linguagem de Eva, que reflete a da serpente, fazem com que o motivo para a obediência seja predominantemente o medo da morte, em vez de um amor natural pelo bondoso Criador. Outro sintoma de que dúvidas estavam se despertando quanto à absoluta justiça da ordem de Deus é o fato de que Eva não mencionou o nome da árvore, que ela certamente conhecia. Falando dessa árvore em termos gerais de localização, como estando “no meio do jardim”, ela a colocou quase na mesma categoria das outras árvores do lar edênico.

Gn.3:3 3. mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.

Sem comentário para este versículo.
Gn.3:4 4. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.

É certo que não morrereis. Se a primeira pergunta de Satanás tinha a intenção de levantar dúvidas, como o era de fato, a declaração que ele pronunciou em seguida trazia a aparência enganosa de uma afirmação cheia de autoridade. Mas nela a verdade estava astuciosamente misturada com a mentira. Esta asserção contradizia a explícita ordem divina com a máxima ênfase que se pode empregar no hebraico. A expressão pode ser traduzida como: “Com certeza, não morrereis!” Satanás desafiou a veracidade da palavra de Deus com uma mentira escancarada, razão pela qual Cristo estava certo ao chamá-lo de o “pai da mentira” (Jo.8:44).
Gn.3:5 5. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.

No dia [...] se vos abrirão os olhos. Satanás prosseguiu, dando uma razão plausível para a proibição de Deus. Ele acusou a Deus de: (1) Invejar a felicidade de Suas criaturas. Satanás disse, na verdade: “Acredite, não foi por medo de vocês morrerem ao comer do fruto que a árvore foi proibida, mas por medo de vocês se tornarem rivais de seu próprio Senhor”. (2) Mentir. Satanás acusou a Deus de mentir quando disse que a morte resultaria do ato de comer do fruto. As exigências de Deus foram colocadas sob a luz mais hedionda e repreensível. Misturando a verdade com a mentira, Satanás tentou confundir a mente de Eva, a fim de tornar difícil que ela distinguisse entre as palavras de Deus e as dele. A expressão “no dia em que dele comerdes” soava de maneira semelhante ao que Deus havia falado (Gn.2:17), e o mesmo ocorria com a frase “sabendo o bem e o mal”. A promessa “se vos abrirão os olhos” sugeria uma então presente limitação de visão que podia ser removida seguindo-se o conselho da serpente.

Como Deus. A BJ traz “como deuses”. A palavra heb. é ‘elohim, que contudo é traduzida como “Deus” nos versos Gn.3:1; Gn.3:3; Gn.3:5. Os tradutores da BJ aqui seguiram a LXX e a Vulgata. A tradução correta é “como Deus”. Isso revela mais distintamente a natureza blasfema das palavras de Satanás (ver Is.14:12-14) e a plena gravidade de seu engano.

Gn.3:6 6. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.

Vendo a mulher. Depois de terem sido despertadas na mulher a dúvida e a incredulidade com respeito à palavra de Deus, a árvore lhe pareceu muito diferente. Três vezes é feita a menção de quão atrativa ela era: agradava ao paladar, aos olhos e ao anseio por mais sabedoria. O olhar para a árvore dessa forma, com o desejo de participar de seu fruto, foi uma concessão ao estímulo de Satanás. Em sua mente ela já era culpada de transgredir o mandamento divino: “Não cobiçarás” (Ex.20:17). O ato de tomar o fruto e comer dele foi apenas o resultado natural de haver se colocado no caminho da transgressão.

Tomou-lhe do fruto. Havendo cobiçado aquilo a que não tinha direito, a mulher prosseguiu, transgredindo um mandamento após outro. A seguir ela roubou o que era propriedade de Deus, violando o oitavo mandamento (Ex.20:15). Comendo do fruto proibido e dando-o ao marido, transgrediu também o sexto mandamento (Ex.20:13). Então, quebrou o primeiro mandamento (Ex.20:3) porque colocou Satanás acima de Deus em sua consideração e obedeceu a ele em vez de ao Criador.

E deu também ao marido. Observando que não havia morrido imediatamente — o que parecia confirmar a definida afirmação do sedutor: “Não morrereis” Eva experimentou uma enganosa sensação de enlevo. Desejou que o marido também partilhasse dessa sensação. Esta é a primeira vez que o relato sagrado chama Adão de seu “marido”. Mas, em vez de ser para ele uma “auxiliadora [...] idônea”, ela se tornou o instrumento de sua destruição. A frase “com ela” (ARC), no hebraico, não implica que Adão estivesse junto a Eva o tempo todo, permanecendo calado diante da cena da tentação (como fica subentendido na tradução da BJ: “Deu-o também ao seu marido, que com ela estava”). Em vez disso, ela lhe deu do fruto quando se encontrou com ele novamente, para que ele pudesse comer “com ela” e, assim, partilhar dos supostos benefícios do fruto.

E ele comeu. Antes de Adão comer, deve ter havido um diálogo entre ele e a esposa. Devia ele seguir a esposa em seu caminho de pecado e desobediência, ou renunciar a ela, confiando que Deus de alguma forma restauraria sua felicidade destruída? Não enganou Adão o fato de que ela não morrera e de que nenhum dano aparente lhe havia acontecido em consequência de comer do fruto. “E Adão não foi iludido, mas a mulher” (1Tm.2:14). Porém, o poder de persuasão da esposa, aliado a seu próprio amor por ela, induziu-o a partilhar das consequências de sua queda, quaisquer que fossem elas. Em vez de esperar até que tivesse a oportunidade de discutir o trágico assunto com Deus, Adão decidiu tomar o destino em suas próprias mãos. A queda de Adão é a mais trágica, porque ele não duvidou de Deus, nem foi enganado como Eva; agiu sob a segura expectativa de que a terrível ameaça de Deus se concretizaria.

Por mais deplorável que fosse a transgressão, cheia de possíveis infortúnios para a família humana, a escolha de Eva não envolvia necessariamente a raça na penalidade dessa transgressão. Não foi a escolha de Eva, mas a deliberada escolha de Adão, na plena compreensão de uma ordem expressa de Deus, que tornou o pecado e a morte a sorte inevitável da humanidade. Eva foi enganada, mas o mesmo não ocorreu com Adão (ver Rm.5:12; Rm.5:14; 1Co.15:21; 1Tm.2:14; 2Co.11:3). Se Adão tivesse permanecido leal a Deus, apesar da deslealdade de Eva, a sabedoria divina teria resolvido o dilema e evitado o desastre para a raça humana (PP, 56).

Gn.3:7 7. Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.

Abriram-se, então, os olhos de ambos. Que ironia há nessas palavras, que registram o cumprimento da ambígua promessa de Satanás! Abriram-se os olhos de seu intelecto e compreenderam que não mais eram inocentes. E também se abriram os olhos físicos e viram que estavam nus.

Fizeram cintas para si. Sentindo-se envergonhados na presença um do outro, procuraram escapar da vergonha da nudez. As cintas de folhas de figueira eram um pobre substituto para as brilhantes vestes de inocência que haviam perdido. A consciência estava trabalhando. O fato de que esse sentimento de vergonha não tinha raiz na sensualidade, mas na consciência de culpa diante de Deus se evidencia pelo ato de se esconderem dEle.
A única inscrição antiga que mostra alguma semelhança com a história da queda do homem, da forma como é contada na Bíblia, é um poema bilíngue em sumério e acádio que diz: “A donzela comeu do que era proibido, a donzela, a mãe do pecado, praticou o mal, a mãe do pecado teve uma experiência dolorosa” (A. Jeremias, Das Alte Testament im Lichte des Alten Orients [Leipzig, 1930], 99).

Gn.3:8 8. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.

A voz do Senhor. As visitas periódicas de Deus perto do final do dia sempre haviam sido ocasiões de deleite para o casal. Mas o som da aproximação de Deus foi então um sinal de alarme. Ambos sentiram que, de forma alguma, não ousavam querer encontrar o Criador. A razão para o medo não estava na humildade nem na modéstia, mas num profundo senso de culpa.
Gn.3:9 9. E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?

Onde estás? Adão, que sempre havia recebido com alegria a aproximação divina, estava então escondido. Não podia, contudo, fugir de Deus, que o chamou não porque ignorasse seu esconderijo, mas para levá-lo à confissão. Adão procurou ocultar o pecado por trás das consequências deste e sua desobediência, por trás de seu senso de vergonha, declarando a Deus que havia se escondido devido ao embaraço da nudez. A consciência dos efeitos do pecado era mais aguçada que o senso de pecado em si.
Gn.3:10 10. Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.

Sem comentário para este versículo.
Gn.3:11 11. Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?

Sem comentário para este versículo.
Gn.3:12 12. Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.

A mulher que me deste. Deus fez uma pergunta que revelava Seu conhecimento da transgressão de Adão e que tinha o objetivo de despertar nele a convicção do pecado. A resposta de Adão para explicar seu embaraço foi uma desculpa tortuosa e evasiva que acabou sendo uma acusação contra Deus. A que ponto o caráter de Adão havia mudado no curto intervalo de tempo desde que enveredara pelo caminho da desobediência! O homem que havia amado tanto a esposa que intencionalmente violara o mandamento de Deus para não se separar dela, agora fala da esposa com fria e insensível antipatia, como “a mulher que me deste”. Suas palavras se assemelham às dos filhos de Jacó, que falaram ao pai sobre José como “teu filho” (Gn.37:32; Lc.15:30). Um dos amargos frutos do pecado é que o coração se torna duro, “sem afeição natural” (Rm.1:31). A insinuação de Adão de que a culpa era de Deus, por sua triste situação de estar ligado a uma criatura tão fraca e tentadora, chegou ao máximo da ingratidão.
Gn.3:13 13. Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

A serpente me enganou. A mulher também tinha uma resposta pronta, culpando a serpente por enganá-la. Nem Adão nem a esposa negaram os fatos, mas cada um deles procurou escapar da culpa, colocando-a em outra pessoa ou criatura. Nenhum dos dois deu evidências de arrependimento. Existe, porém, uma diferença notável entre a confissão de um e de outro. A mulher alegou que havia sido enganada; Adão admitiu tacitamente que seu ato havia sido deliberado, com pleno conhecimento das consequências.
Gn.3:14 14. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida.

Maldita és. A maldição do pecado repousa não somente sobre a serpente, mas sobre toda a criação animal, embora ela devesse suportar uma maldição maior. Tendo sido outrora a mais inteligente e bela das criaturas, a serpente foi então privada das asas e condenada, daí por diante, a rastejar no pó.
Não se deve supor que, por isso, brutos irracionais se tornaram objeto da ira de um Deus vingativo. Essa maldição foi para benefício de Adão, como um meio de impressioná-lo com as consequências de longo alcance do pecado. Deve ter trazido intenso sofrimento ao próprio coração o fato de contemplar essas criaturas, de quem devia ter sido o protetor, suportando os resultados de seu pecado (PP, 68). Sobre a serpente, que havia se convertido para sempre em símbolo do pecado, a maldição caiu mais pesadamente — não tanto para que ela pudesse sofrer, mas para que pudesse também ser para o homem um símbolo dos resultados do pecado. Não é de admirar que a maioria dos seres humanos sinta repulsa e medo em presença de uma serpente.

Comerás pó. O fato de as serpentes realmente não comerem pó tem levado comentaristas da Alta Crítica a declararem que os povos antigos tinham a ideia equivocada de que esse animal, que rasteja sobre o ventre e vive até em desertos onde é difícil encontrar algum tipo de comida, se alimentava de pó. Essa concepção errônea teria influenciado o autor do Gênesis, dizem eles, a formular a maldição pronunciada sobre a serpente de forma a colocá-la de acordo com essa ideia difundida. Eruditos conservadores têm tentado, quase que sem sucesso, mostrar que a serpente come um pouco de pó ao se alimentar. Mas, o mesmo não ocorre com muitos animais que tiram seu alimento do solo? Esse problema desaparece quando consideramos “comerás pó” como uma frase figurativa. Ela era usada nesse sentido pelos povos antigos, como o revelam literatura e cartas recentemente descobertas. O mito pagão da descida de Ishtar ao mundo subterrâneo diz, a respeito das pessoas amaldiçoadas, que “pó é seu quinhão e barro sua comida”. Entre as maldições pronunciadas sobre inimigos é repetido, vez após vez, o desejo de que eles venham a comer pó. No antigo hino de batalha galês “Marcha dos Homens de Harlech”, é lançada sobre os inimigos a zombaria: “Eles lamberão terra.” À luz disso, a expressão “comerás pó todos os dias da tua vida” simplesmente significa “serás a mais amaldiçoada de todas as criaturas”.

Gn.3:15 15. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

Porei inimizade. Aqui o Senhor deixa de se dirigir à serpente literal que falou com Eva e passa a pronunciar juízo sobre a “antiga serpente”, o diabo. Este juízo, expresso em linguagem profética, sempre foi compreendido pela igreja cristã como uma predição da vinda do Libertador. Embora essa interpretação esteja inquestionavelmente correta, pode ser salientado que a profecia também é literalmente verdadeira — há uma inimizade mortal entre a serpente e o homem, onde quer que se encontrem.

Entre a tua descendência e o seu descendente. Faz-se referência aqui ao conflito milenar entre a “descendência” ou os seguidores de Satanás (Jo.8:44; At.13:10; 1Jo.3:10) e o descendente da mulher. O Senhor Jesus Cristo é designado, por preeminência, como “o descendente” (Ap.12:1-5; Gl.3:16; Gl.3:19). Ele que veio para “destruir as obras do diabo” (Hb.2:14; 1Jo.3:8).

Este te ferirá a cabeça. “Ferir”, shuf. Esta palavra significa “esmagar” ou “ficar à espreita para atacar”. É evidente que esmagar a cabeça é bem mais grave do que ferir o calcanhar. É importante notar que, embora a inimizade predita seja entre o descendente da mulher e a descendência da serpente, é a cabeça da serpente que deveria ser esmagada, não sua descendência. Em retaliação, a serpente conseguiria apenas ferir o calcanhar do descendente da mulher.

O “descendente” está no singular, indicando, não que uma multidão de descendentes da mulher em conjunto se empenhariam em esmagar a cabeça da serpente, mas, sim, que um único indivíduo realizaria isso. Essas observações mostram claramente que nesse pronunciamento está condensado o relato do grande conflito entre Cristo e Satanás, uma batalha que começou no Céu (Ap.12:7-9), continuou na Terra, onde Cristo novamente o derrotou (Hb.2:14), e que terminará finalmente com a destruição de Satanás no fim do milênio (Ap.20:10). Cristo não saiu ileso dessa batalha. As marcas dos cravos em Suas mãos e pés e a cicatriz em Seu lado serão eternas lembranças da feroz luta na qual a serpente feriu o descendente da mulher (Jo.20:25; Zc.13:6; PE, 53).

Esse anúncio deve ter levado grande conforto aos dois transgressores desanimados que se encontravam diante de Deus, de cujos preceitos eles haviam se apartado. Adão, que foi vice-rei de Deus na Terra enquanto permaneceu leal, havia cedido a autoridade a Satanás, ao transferir sua lealdade a Deus para a serpente. O fato de que Satanás compreendia seus usurpados direitos sobre a Terra, obtidos ao ganhar a submissão de Adão, fica claro através da declaração feita a Cristo no monte da tentação (Lc.4:5-6). Adão começou a perceber a extensão de sua perda quando, de governante deste mundo, passou a ser um escravo de Satanás. Contudo, antes de ouvir o pronunciamento da sentença, o bálsamo da esperança foi aplicado à sua alma despedaçada. Para a mulher, a quem havia culpado por sua queda, ele agora devia se voltar em busca de livramento — na espera pelo descendente prometido, em quem haveria poder para vencer o arqui-inimigo de Deus e do homem.

Quão bondoso foi Deus! A justiça divina exigia que o pecado recebesse a penalidade, mas a misericórdia divina já havia encontrado uma forma de redimir a raça humana caída: pelo sacrifício voluntário do Filho de Deus (1Pe.1:19-20; Ef.3:11; 2Tm.1:9; Ap.13:8). Deus instituiu o ritual de sacrifícios a fim de proporcionar ao homem um auxílio visual para que compreendesse o preço a ser pago para se fazer expiação pelo pecado. O inocente cordeiro teve de dar seu sangue vital pelo do homem, e sua pele cobriu a nudez do pecador. Assim, o homem poderia sempre se lembrar de que o Filho de Deus teria de dar Sua vida para expiar a transgressão e que Sua justiça, unicamente, seria suficiente para cobri-lo. Não se sabe quão claramente Adão compreendeu o plano da salvação. No entanto, foi-lhe revelado o suficiente para ter certeza de que o pecado não duraria para sempre, de que o Redentor nasceria da descendência da mulher e de que o domínio perdido seria recuperado e a felicidade do Éden, restaurada. Do princípio ao fim, o evangelho da salvação é o tema central da Bíblia.

Gn.3:16 16. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.

Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez. A frase, que, no original, diz “teus sofrimentos e tua gravidez” geralmente é considerada uma forma literária na qual duas frases semelhantes expressam uma única ideia. Assim, a tradução é “os sofrimentos da tua gravidez”. No princípio, havia sido ordenado aos seres humanos: “Sede fecundos, multiplicai-vos” (Gn.1:28). Repetidas gestações, portanto, se destinavam a ser uma bênção, não um sofrimento. Mas a entrada do pecado significou que, daí por diante, a gravidez seria acompanhada de dor.

Em meio de dores. De fato, as dores do parto deveriam ser tão intensas que, na Bíblia, simbolizam a mais severa angústia física e mental (ver Mq.4:9-10; 1Ts.5:3; Jo.16:21; Ap.12:2).

O teu desejo será para o teu marido.A palavra heb. shug, “desejo”, significa “correr atrás de, ter ardente anseio por algo”, indicando o mais forte desejo possível. Embora governada pelo homem e torturada pelas dores do parto, a mulher ainda sentiria intenso desejo pelo marido. Os comentaristas se dividem quanto a se isso faz parte do castigo. Parece razoável concluir que esse “desejo” foi dado para aliviar as tristezas da feminilidade e unir ainda mais o coração do marido e da esposa.

Ele te governará. A mulher havia rompido seu relacionamento com o homem, o qual fora estabelecido por Deus. Em vez de ser uma auxiliadora “idônea”, ela havia se tornado sua tentadora. Portanto, seu status de igualdade com o homem foi afetado; ele devia governá-la como seu senhor e amo. As Escrituras descrevem a mulher como sendo “possuída” pelo homem. Entre a maioria dos povos não cristãos a mulher tem estado sujeita, ao longo dos séculos, à degradação e, quase, à escravidão. Entre os hebreus, contudo, a condição da mulher era de distinta subordinação, mas não de opressão ou escravidão. O cristianismo colocou a mulher na mesma plataforma que o homem no que diz respeito às bênçãos do evangelho (Gl.3:28). Embora o marido seja descrito como a cabeça do lar, os princípios cristãos devem levar o homem e sua esposa a uma experiência de verdadeira parceria, em que um seja tão devotado à felicidade e bem-estar do outro que nunca nenhum dos dois queira “governar” sobre o outro (ver Cl.3:18-19).

Gn.3:17 17. E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.

Visto que atendeste. Pela primeira vez no texto hebraico o nome “Adão” é usado como nome próprio, sem o artigo. Isso não fica evidente na ARC, em que ha’adam (Gn.2:19; Gn.2:23; Gn.3:8-9) é traduzido como o nome de uma pessoa, apesar de o artigo, em cada uma dessas passagens, indicar que a palavra é usada no sentido de “o homem” (como aparece na ARA).
Antes de pronunciar a sentença, Deus explicou por que ela era necessária e adequada. Adão havia agido de acordo com os persuasivos argumentos de Eva, colocando a palavra dela acima da de Deus. Dessa forma, ele havia deixado sua suprema afeição e lealdade a Deus e, portanto, perdido o direito às bênçãos da vida, e até à própria vida. Havendo exaltado sua vontade acima da vontade de Deus, Adão precisava aprender que a independência de Deus não significa uma esfera mais exaltada de existência, mas separação da Fonte da vida. A morte, portanto, lhe mostraria a falta de valor de sua própria natureza.

Maldita é a terra. Deve ser notado, novamente, que Deus não amaldiçoou Adão nem sua esposa. As maldições foram pronunciadas somente sobre a serpente e a terra. Mas Deus disse a Adão: “Maldita é a terra por tua causa”.

Com dor comerás dela (ARC). A mesma palavra usada para expressar os sofrimentos da mulher associados ao parto é agora usada para informar Adão das dificuldades que ele encontraria ao tirar, a duras penas, o sustento da terra amaldiçoada. Enquanto ele vivesse não haveria esperança de alívio dessa condição. A expressão “durante os dias de tua vida” é a primeira indicação de que a morte certamente viria, embora esse evento fosse adiado por certo tempo.

Gn.3:18 18. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.

Cardos e abrolhos. Antes da queda, somente plantas que fossem úteis para alimento ou belas ao olhar cresciam da terra; agora ela devia produzir também “cardos e abrolhos” (T6, 186). O trabalho adicional necessário para o cultivo do solo aumentaria a miséria da existência do homem. Ele devia aprender por amarga experiência que a vida independente de Deus pode, na melhor das hipóteses, ser apenas uma vida de tristeza e aflição.

A erva. Ver com. de Gn.1:11; Gn.1:29. A punição divina estipulava também uma mudança parcial na alimentação. Evidentemente se deve concluir que a quantidade e qualidade dos cereais, castanhas e frutas originalmente dados ao homem foram, como resultado da maldição, reduzidos a tal ponto que ele precisaria buscar uma porção da alimentação diária nas ervas. Essa mudança também pode ter ocorrido, em parte, devido à perda de certos elementos que eram obtidos da árvore da vida, à mudança no clima e talvez, principalmente, à sentença de ter de trabalhar arduamente para obter sustento.

Gn.3:19 19. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.

No suor do rosto. Neste versículo é vividamente expressa a árdua labuta que devia tornar ainda mais difícil a vida do ser humano. Isso se refere especificamente ao agricultor, que para sobreviver precisa arrancar da terra o alimento para si e a família, mas se aplica igualmente a todas as outras vocações. Desde a queda de Adão, os empreendimentos humanos só podem ser realizados mediante trabalho árduo. Contudo, é preciso reconhecer que essa punição foi, na verdade, para os seres pecadores, uma bênção disfarçada. Quando uma pessoa trabalha, ela tem muito menos probabilidade de pecar do que quando passa os dias na ociosidade. O trabalho e o esforço desenvolvem o caráter e ensinam a humildade e a cooperação com Deus. Essa é uma das razões pelas quais a igreja cristã geralmente tem encontrado seus mais leais adeptos e defensores na classe trabalhadora. O trabalho, mesmo árduo, não deve ser desprezado, pois “há bênção nele”.

Até que tornes à terra. O Senhor informou Adão que a sepultura era seu destino certo. Ele compreendeu, assim, que o plano da redenção (Gn.3:15) não impediria a perda da vida presente, mas oferecia a certeza de uma nova vida. Com a mudança na natureza de Adão — de imortalidade condicional para mortalidade — começou o cumprimento da terrível predição: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás.” A menos que, em misericórdia, fosse concedido um tempo de graça para o homem, a morte teria ocorrido instantaneamente. A justiça divina exigia a vida; a misericórdia divina concedeu uma oportunidade para restaurar essa vida.

Gn.3:20 20. E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos.

E deu o homem o nome de Eva a sua mulher. Este verso não é uma interpolação fora de ordem no contexto na história da queda e suas consequências, como alguns comentaristas afirmam. Ele mostra que Adão creu na promessa relativa ao descendente da mulher e manifestou essa fé no nome que deu à sua esposa.
Eva, hawwah, significa “vida”, e é aqui traduzida como zoe pela LXX. É uma antiga forma semítica, encontrada também em antigas inscrições fenícias, mas que já havia deixado de ser usada na língua hebraica no tempo em que a Bíblia foi escrita. Tem-se sugerido que isso indica que Adão falava uma antiga língua semita. Se Moisés tivesse usado um equivalente hebraico de seu tempo, teria escrito o nome da mulher como hayyah em vez de hawwah. Mas, ao grafar o nome numa forma arcaica incomum, ele mostra que seu conhecimento remonta ao distante passado. Em Gênesis 4:1, hawwah foi imperfeitamente transliterado como Eua pela LXX, e daí vem a forma “Eva” em nossa língua.

Por ser a mãe. Adão deu, em fé, o nome “aquela que vive” à sua esposa, vendo nela a “mãe de todos os viventes” (ARC) numa hora em que sua sentença de morte acabara de ser pronunciada. Ele também olhava para além da sepultura e via no descendente prometido à esposa Aquele que devolveria a ele e a seus descendentes a imortalidade que haviam perdido. Em vez de chamá-la, em desânimo e desespero — como se poderia esperar naquelas circunstâncias — de “a mãe de todos os condenados à morte”, ele fixou os olhos, pela fé, em seu Juiz e, antes mesmo que ela desse à luz seu primogênito, chamou-a, com esperança, de “aquela que vive”. A fé de fato foi para ele “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb.11:1).

Gn.3:21 21. Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu.

Vestimenta de peles. Antes de expulsar Adão e Eva do jardim, Deus lhes forneceu roupas mais duráveis, adequadas ao difícil trabalho que se encontrava à frente, e que servissem de proteção contra os extremos de frio e calor que se seguiram à queda (PP, 61). As peles também eram uma constante lembrança de sua inocência perdida, da morte como salário do pecado e do prometido Cordeiro de Deus, que por Sua própria morte vicária tiraria os pecados do mundo. Aquele que havia sido comissionado como protetor dos animais infelizmente se viu tirando a vida de um deles. Eles precisavam morrer para que ele pudesse viver.

O ritual dos sacrifícios, embora não seja especificamente mencionado aqui, foi instituído nessa ocasião (PP, 68; cf. DTN, 28). A história dos sacrifícios de Caim e Abel relatada no capítulo seguinte mostra que os primeiros filhos de Adão e Eva estavam bem familiarizados com esse ritual. Se Deus não tivesse comunicado regulamentos definidos quanto aos sacrifícios, Sua aprovação à oferta de Abel e desaprovação à de Caim teria sido arbitrária. O fato de Caim não acusar a Deus de parcialidade evidencia que tanto ele quanto o irmão sabiam o que era requerido. A universalidade dos sacrifícios de animais nos tempos antigos indica uma origem comum dessa prática.

Gn.3:22 22. Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.

Como um de nós. O homem se havia inteirado de sua punição e do plano da redenção, e lhe haviam sido fornecidas roupas. Pela desobediência havia aprendido a diferença entre o bem e o mal, ao passo que Deus havia planejado que ele obtivesse esse conhecimento mediante cooperação voluntária com a vontade divina. A promessa de Satanás de que eles se tornariam “como Deus” se cumpriu apenas no fato de que começaram a sentir os resultados do pecado.

Estenda a mão. Era então necessário impedir que o homem continuasse a participar do fruto da árvore da vida, a fim de que não se tornasse um pecador imortal (PP, 60). Por meio do pecado o homem havia caído sob o poder da morte. Assim, o fruto que conservava a imortalidade dali em diante só poderia lhe causar dano. A imortalidade experimentada num estado de pecado e, portanto, numa desventura infindável, não era a vida que Deus planejara para o ser humano. Negar o acesso a essa árvore doadora de vida foi um ato da misericórdia divina que Adão talvez não tenha apreciado plenamente naquele momento, mas pelo qual será grato no mundo por vir. Ali ele participará para sempre da árvore da vida (Ap.22:2; Ap.22:14). Ao participar dos emblemas do sacrifício de Cristo, o crente tem o privilégio de comer, pela fé, do fruto dessa árvore hoje, e de vislumbrar confiantemente o momento em que poderá apanhar e comer desse fruto, com todos os remidos, no paraíso de Deus (T8, 288).

Gn.3:23 23. O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado.

Sem comentário para este versículo.
Gn.3:24 24. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.

Expulso o homem. Ao mandar Adão embora do Éden para ganhar o sustento com o suor do rosto, Deus tomou o que deve ter sido para Ele, bem como para Adão, uma triste atitude. Mesmo após ter sido limpa a área onde se encontravam as primeiras florestas, sempre haveria uma luta perpétua contra ervas daninhas, insetos e animais selvagens.

Querubins. A origem do substantivo “querubim” não é clara, mas a palavra heb. está provavelmente relacionada ao vocábulo assírio karâbu, “abençoar” ou “orar”. A Bíblia representa os querubins como pertencentes à classe de seres chamados de anjos, especialmente aqueles que estão próximos a Deus e a Seu trono (Ez.9:3; Ez.10:4; Sl.99:1). Por essa razão representações de querubins deviam estar sobre a arca e nas cortinas do tabernáculo (Ex.25:18; Ex.26:1; Ex.26:31) e foram mais tarde gravadas nas paredes e portas do templo (1Rs.6:29; 1Rs.6:32; 1Rs.6:35).

Uma reminiscência de seres celestiais guardando o caminho para a árvore da vida talvez esteja conservada no antigo épico mesopotâmico de Gilgamesh, personagem que saiu em busca da “planta da vida”, ou imortalidade. O épico fala a respeito do local onde a “planta da vida” devia ser encontrada, onde “guardam seu portão homens-escorpiões, cujo terror é tremendo, e o contemplá-los é morte; sua incrível glória derruba montanhas”. Os palácios assírios eram guardados por grandes colossos alados chamados kâribu, que eram metade touros e metade homens, talvez uma corrupção pagã do relato dos guardiões do paraíso nomeados por Deus. Nos templos egípcios são encontradas numerosas representações de querubins, criaturas semelhantes a seres humanos, com suas asas estendidas protetoramente sobre os sacrários dos deuses.

O refulgir de uma espada. A luz sempre foi um símbolo da presença divina. Como tal, o shekinah, a glória de Deus, aparecia entre os dois querubins, um de cada lado do propiciatório que cobria a arca da aliança no santo dos santos (ver Ex.25:22; Is.37:16; DTN, 464; PP, 349; GC, 24). A frase “uma espada inflamada” (ARC ) é uma tradução inexata do hebraico, que diz, literalmente, “o refulgir de uma espada” (ARA). Não havia uma espada literal guardando o portão do paraíso. O que havia era o que parecia ser o cintilante reflexo de luz de uma espada “que se revolvia” em todas as direções com grande rapidez — setas de luz refulgentes que irradiavam de um centro intensamente brilhante. A forma do verbo heb. mithhappeketh, traduzido como “que se revolvia”, significa “que se virava em todas as direções”. Essa forma verbal é usada exclusivamente para expressar ação intensiva e reflexiva, e nesse caso requer a conclusão de que a “espada” parecia se mover sozinha. Essa luz viva e radiante não era nada senão a glória do shekinah, a manifestação da presença divina. Diante dela, durante séculos, os que eram leais a Deus se reuniam para adorá-Lo (PP, 62, 83, 84).

Gn.4:1 1. Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor.

Adquiri um varão com o auxílio do Senhor. O hebraico diz, literalmente: “Adquiri um varão, o Senhor”. Quando Eva segurou seu primogênito nos braços, provavelmente se lembrou da promessa divina (Gn 3:15) e, acariciando a esperança de que ele fosse o Libertador prometido, deu-lhe o nome de Qayin, “adquirido” (DTN, 31). Pobre esperança! Seu ávido anseio pelo rápido cumprimento da promessa do evangelho estava destinado a doloroso desapontamento. Mal sabia ela que aquela criança se tornaria o primeiro assassino do mundo.
Gn.4:2 2. Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador.

Abel, seu irmão. A ausência da expressão usual “e ela concebeu” e o uso da fraseologia peculiar “depois, deu à luz”, que, literalmente, diz “ela continuou dando à luz”, sugerem para alguns comentaristas que Abel era irmão gêmeo de Caim. Talvez isto seja verdade, mas não está necessariamente indicado no texto. O nome de Abel significa “vaidade” ou “insignificância”. Reflete o fato de que as esperanças da mãe já haviam sido desapontadas no filho mais velho, ou que Abel personificou para ela as misérias da vida humana. Neste capítulo, Abel é sete vezes chamado irmão de Caim, o que parece enfatizar a hediondez do pecado de Caim.

Pastor de ovelhas. Não há razão para encontrar nas profissões escolhidas pelos dois filhos uma indicação de diferença no caráter moral, embora essas escolhas provavelmente tenham sido determinadas pelos talentos e gostos de cada um.

Gn.4:3 3. Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor.

No fim de uns tempos. Literalmente, “ao fim de dias”. Isto denota o transcurso de um período de tempo indefinido, mas considerável, e pode indicar a estação da colheita. Concluir que esse período significa o fim de uma semana ou de um ano, como tem sido feito por alguns comentaristas, dificilmente parece justificável neste caso. Pois, não há uma razão particular para que um desses períodos não fosse mencionado. Contudo, a palavra yamim, “dias”, é usada em vários exemplos em que o contexto deixa claro que se quer dizer um ano. Em tais casos ela tem sido traduzida como “ano” (ver Ex.13:10; Nm.9:22, ARC; 1Sm.2:19; 1Sm.27:7; 2Cr.21:19).

Uma oferta ao Senhor. “Oferta”, minchah. Essa palavra heb. é usada nas leis levíticas para as ofertas de gratidão, que não envolviam sangue e que consistiam de farinha e azeite, ou farinha preparada com incenso (Lv.2:1; Lv.2:4; Lv.2:14; Lv.2:15). Aqui, contudo, a palavra tem um significado mais amplo e inclui tanto as ofertas de manjares como os sacrifícios animais, uma vez que é usada para designar não só a oferta sem sangue de Caim mas também o sacrifício de Abel (ver Gn.4:4). Não é declarado que Caim ou Abel tenha construído um altar para suas ofertas, mas obviamente devem tê-lo feito (ver PP, 71). No caso seguinte em que a oferta de sacrifícios é relatada na Bíblia, seu altar é mencionado (Gn.8:20). O sistema de ofertas sacrificais havia sido introduzido por Deus na ocasião em que o homem foi expulso do jardim (PP, 68, 71).

Os versos seguintes deixam claro que Caim sabia estar procedendo de forma errada ao levar o tipo de oferta oferecida a Deus. Ele fora ensinado de que o sangue do Filho de Deus expiaria seus pecados. Seguindo a regra divinamente instituída de sacrificar um cordeiro por seus pecados, ele mostraria lealdade a Deus, que havia ordenado o sistema sacrifical, e expressaria fé no plano da redenção (Hb.11:4). A prevalência universal de sacrifícios entre os povos antigos atesta que sua origem está num preceito divino e não numa invenção humana (ver DTN, 28).

O que tornou a oferta de Caim inaceitável a Deus? A contragosto, Caim reconhecia parcialmente as reinvidicações de Deus sobre ele. Mas um espírito secreto de ressentimento e rebelião o levou a cumprir os reclamos divinos da forma que ele mesmo escolheu, em vez de seguir precisamente o plano estabelecido por Deus. Aparentemente ele obedeceu, mas a maneira em que o fez revelava um espírito desafiador. Caim pretendia se justificar por suas próprias obras, ganhar a salvação por seus méritos. Ele se recusou a reconhecer que era pecador e que precisava de um Salvador. Apresentou uma oferta que não expressava nenhum arrependimento pelo pecado — uma oferta sem sangue.

E “sem derramamento de sangue não há remissão”, pois “é o sangue que fará expiação pela alma” (Hb.9:22; Lv.17:11, ARC; PP, 71, 72).
Caim reconhecia a existência de Deus e Seu poder para dar ou reter bênçãos terrestres. Achando vantajoso estar bem com a Divindade, Caim considerou conveniente aplacar e desviar a ira divina por meio de uma oferta, embora ela fosse feita a contragosto. Ele não compreendeu que a atenção parcial e formal das exigências explícitas de Deus não podia obter Seu favor e substituir a verdadeira obediência e contrição do coração. Examinar bem o coração pode evitar que, como Caim, ofereçamos a Deus dons inúteis e inaceitáveis.

Gn.4:4 4. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta;

Das primícias do seu rebanho. A palavra “primícias” indica que Abel levou dos primogênitos de seu rebanho (ver Ex.13:12). As ordenanças sobre sacrifícios apresentadas por Moisés exigiam a aspersão do sangue dos primogênitos dos animais sobre o altar e a queima de sua gordura (Nm.18:17). A oferta de Abel foi uma demonstração de fé (Hb.11:4). A oferta de Caim, em contraste, foi uma tentativa de obter a salvação pelas obras. No caso de Abel, a fé no plano da salvação e no sacrifício expiatório de Cristo se revelou numa obediência sem reservas.

Agradou-Se. Sha’ah, “considerar favoravelmente”. Embora não seja revelada a maneira como Deus aceitou a oferta de Abel, ela consistiu na aparição de um fogo celestial para consumir o sacrifício, como ocorreu muitas vezes em épocas posteriores (ver Lv.9:24; Jz.6:21; 1Rs.18:38; 1Cr.21:26; 2Cr.7:1; PP, 71). A aceitação do sacrifício de Abel por parte de Deus indicava a aceitação de sua pessoa. De fato, na narrativa, a menção de que Abel foi aceito precede a menção de que sua oferta foi aceita. Isso é uma indicação de que Deus não está tanto interessado no sacrifício quanto na pessoa que o apresenta.

Gn.4:5 5. ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante.

Ao passo que de Caim e de sua oferta. Caim notou a ausência de qualquer sinal visível do agrado de Deus e da aceitação da oferta. O resultado foi uma ira ardente e profunda. A frase hebraica usada aqui pode ser traduzida literalmente como: “Isso ardeu em Caim sobremaneira.” Ele foi tomado por um intenso ressentimento contra seu irmão e contra Deus. Aparentemente não houve nenhuma tristeza pelo pecado, nenhum espírito de exame próprio, nenhuma oração por luz e perdão. O comportamento de Caim é típico de um pecador obstinado e impenitente cujo coração não se comove diante da correção e da reprovação, mas se torna ainda mais duro e rebelde. Caim não fez nenhuma tentativa de esconder sentimentos de desapontamento, insatisfação e ira. Sua face demonstrava seu ressentimento.
Gn.4:6 6. Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante?

Por que andas irado? Fica aqui evidente, como nos v. Gn.4:14 e Gn.4:16, que Deus não deixou de ter contato pessoal com o ser humano quando o expulsou do jardim. A rejeição da oferta de Caim não significava necessariamente a rejeição do próprio Caim. Em misericórdia e paciência, Deus estava pronto a lhe dar outra chance. Embora tivesse manifestado claramente Seu desprazer ao rejeitar a oferta, Deus apareceu ao pecador e arrazoou com ele, na tentativa de persuadi-lo de que sua conduta estava errada e de que sua ira era injusta. Deus falou com Caim como alguém fala a um filho teimoso, para lhe mostrar o que estava à espreita, como um animal selvagem diante da porta do coração. A pergunta “Por que?” tinha o objetivo de levar Caim a reconhecer que sua ira era infundada. Devia haver uma razão válida para a rejeição da oferta, e ele devia descobrir qual era essa razão e eliminá-la.
Gn.4:7 7. Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.

Se procederes bem. Este verso apresenta certas dificuldades linguísticas que levaram alguns comentaristas a pensar que um erro de copista modificou o texto hebraico. O fato de os tradutores da LXX acharem seu significado obscuro, já na época deles, fica evidente pela tradução confusa que fizeram. Os rabinos tentaram explicar o texto, dizendo que a oferta de Caim foi rejeitada porque ele não seguiu precisamente as regras do ritual, mais tarde escritas em Levítico. Mas o contraste óbvio entre os resultados de “procederes bem” e de “procederes mal” torna impossível essa explicação. A primeira frase diz, literalmente: “Não há erguimento se procederes bem?” O que seria erguido? O fardo da culpa ou o semblante?

A expressão “levantar o rosto”, no sentido de “estar alegre ou inocente" é comum no hebraico (Jó.11:15; Jó.22:26; 2Sm.2:22; ARC), e provavelmente aparece aqui de forma abreviada como um complemento da declaração anterior de que o semblante de Caim estava descaído (Gn.4:6). Deus desejava que Caim compreendesse que, se ele se corrigisse e passasse a viver de acordo com os preceitos divinos, não haveria mais razão para o Senhor mostrar desprazer nem para Caim manter o semblante desapontado e irado. Contudo, se Caim não mudasse, mas continuasse no caminho do mal, o pecado o dominaria. A frase “o pecado jaz à porta” (como um animal selvagem) é provavelmente um provérbio (ver 1Pe.5:8).

Pecado. Alguns têm sugerido que a palavra heb. aqui traduzida como “pecado”, chatta’th, deveria ser traduzida como “oferta pelo pecado”, como ocorre em quase metade das passagens em que ela aparece no AT (ver por ex. Ex.30:10; Lv.4:32; Nm.7:16; Nm.7:22; Os.4:8; Hb.9:28; 2Co.5:21). Deus estaria então dizendo a Caim: “Se estivesses inocente, tua oferta [sem sangue] seria aceitável como oferta de gratidão, não seria? E quando pecas não há uma oferta pelo pecado sempre à mão?” Mas deve ser salientado que há uma dificuldade em se traduzir chatta’th como “oferta pelo pecado”. Chatta’th é feminino, enquanto que o particípio robets, “jaz”, é masculino.

Esse deveria ser feminino para concordar com chatta’th, seu sujeito. Essa diferença sugere que Moisés estava personificando o “pecado’’ como um animal selvagem que está de tocaia junto à porta, e assim deliberadamente escolheu fazer robets concordar com o animal selvagem de sua figura de linguagem, cujo gênero é masculino, em vez de com o sujeito, em seu sentido literal de “pecado” ou “oferta pelo pecado”.

E para ti será o seu desejo (ARC). O pronome “seu” não pode se referir a Abel no sentido de ele ter “desejo” por seu irmão mais velho como Eva teria para com o marido (ver Gn.3:16), ou seja, em aceitar sua supremacia. Essa explicação pareceria discordar do contexto e dos princípios divinos. Se o pecado é personificado como um animal selvagem que está à espreita, é apropriado continuar a comparação: o desejo do animal, então, seria para apanhar Caim, mas Caim precisava dominá-lo. A ARA traduziu mais corretamente, “o seu desejo será contra ti”.

Gn.4:8 8. Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou.

Disse Caim a Abel. O assunto da conversa de Caim com seu irmão não é declarado. A ARA, seguindo a Versão Samaritana e a LXX, acrescentou as palavras: “Vamos ao campo.” Esta frase parece ser um acréscimo de copista, embora o contexto torne possível que ela estivesse no originai. É improvável que Caim tenha contado a Abel o que Deus acabara de lhe dizer, mas talvez tenha tentado discutir com o irmão, acusando a Deus de injustiça em Seu trato para com ele.

Estando eles no campo. As obras de Caim “eram más, e as de seu irmão, justas” (1Jo.3:12). Foi por isso que Caim matou seu irmão. A inimizade entre o bem e o mal, predita por Deus antes da expulsão do jardim, era vista então pela primeira vez em sua forma mais horrível. Duas vezes neste verso as palavras “seu irmão” são acrescentadas ao nome de Abel para mostrar claramente quão horrível era o pecado de Caim. Nele, a descendência da mulher já havia se tornado a descendência da serpente. O crime de Caim revelou a verdadeira natureza de Satanás como “homicida desde o princípio” (Jo.8:44). Ali já havia brotado o contraste de duas “descendências” distintas dentro da raça humana, um contraste que tem se estendido ao longo de toda a história da humanidade.

Gn.4:9 9. Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?

Onde está Abel, teu irmão? Assim como ocorreu com Adão e Eva, Deus, então, foi atrás de Caim para pôr a transgressão na devida luz, a fim de despertar arrependimento em sua consciência culpada e criar nele um novo coração. Como Deus havia se dirigido aos pais de Caim com uma pergunta, fez o mesmo com ele. Os resultados, contudo, foram bem diferentes; Caim ousadamente negou sua culpa. A desobediência havia levado ao homicídio ao qual ele acrescentava a mentira e o desafio, pensando cegamente que poderia ocultar de Deus o seu crime.

Gn.4:10 10. E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim.

Que fizeste? Sendo que a abordagem indireta e com tato não surtiu efeito, Deus prosseguiu, acusando Caim de seu crime. A pergunta “Que fizeste?” evidenciava um perfeito conhecimento dos fatos.

A voz do sangue de teu irmão. O trêmulo homicida percebeu que o Deus que tudo vê e tudo sabe via sua alma desnuda. Como podia Aquele que nota a queda de um pardal, que é o Autor da vida, ficar surdo ao silencioso clamor do primeiro mártir (ver Sl.116:15)? O sangue é vida, e como tal é precioso para o grande Doador da vida (Gn.9:4). Contra toda a desumanidade do homem para com o homem, em todas as eras, o clamor de Abel ascende a Deus (Hb.11:4). Abel encontrou a morte na mão de um parente chegado. Da mesma forma, Jesus, vindo à Terra como parente chegado da raça humana, foi rejeitado e entregue à morte por Seus irmãos.

Gn.4:11 11. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão.

Es agora, pois, maldito. Uma maldição divina já havia sido pronunciada sobre a serpente e a terra (Gn.3:14; Gn.3:17); agora, pela primeira vez, ela cai sobre o homem. A frase hebraica traduzida como “és [...] maldito por sobre a terra” pode, de forma igualmente correta, ser traduzida como um comparativo: “és mais maldito que a terra”. Alguns comentaristas têm interpretado esta passagem como indicando que Caim foi banido para uma região menos fértil. O contexto (Gn.4:12; Gn.4:14) parece favorecer essa explicação, ou talvez a ideia de que, pelo fato de Caim ter usado mal os frutos da terra, Deus não mais permitiria que ele ganhasse o sustento cultivando o solo. Alguém que é errante pela Terra (Gn.4:14; Gn.4:16), seja um pastor de ovelhas ou um nômade, não pode ser um agricultor bem-sucedido.

Gn.4:12 12. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra.

Não te dará ele [o solo] a sua força. Caim estava condenado a vaguear perpetuamente a fim de conseguir alimento para si, para a família e os animais. Havendo sido compelida a beber sangue inocente, a terra se rebelou, por assim dizer, contra o assassino. E quando ele a lavrasse, ela não daria sua força. Caim teria pouca recompensa de seu trabalho. Da mesma forma, posteriormente, é dito que a terra de Canaã “vomitou” os cananitas por causa de suas abominações (Lv.18:28).

Gn.4:13 13. Então, disse Caim ao Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo.

Já não posso suportá-lo. A sentença divina transformou a truculência de Caim em desespero. Embora Caim merecesse a pena de morte, um Deus misericordioso e paciente lhe deu mais uma oportunidade de arrependimento e conversão. Mas, em vez de se arrepender, Caim reclamou da punição como sendo mais severa do que merecia. Nenhuma palavra de tristeza saiu de seus lábios, nem mesmo um reconhecimento de culpa ou de vergonha; nada, a não ser a triste resignação de um criminoso que percebe ser impotente para escapar da penalidade que merece.

Gn.4:14 14. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará.

Eis que hoje me lanças. Caim sabia que estaria barrado, não só das bênçãos da terra, mas também, pela própria escolha, de todo contato com Deus.

Quem comigo se encontrar. Caim se viu sem esperança de continuar vivo, com medo de que a maldição de Deus implicasse a retirada da restrição divina de sobre aqueles que buscassem vingar o sangue de Abel. Uma consciência culpada o advertia de que ele merecia morrer e que, daí em diante, sua própria vida estava em perigo. Mas a pena de morte, que lhe cabia, foi trocada pelo exílio perpétuo. Em vez de ficar preso, ele devia ficar excluído de toda associação normal e feliz com outras pessoas, e, por sua própria escolha, excluído de Deus. Aquele que havia tirado a vida de seu irmão via nas outras pessoas seus executores em potencial.

Gn.4:15 15. O Senhor, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse.

Assim. Não é inteiramente claro a que ideia antecedente esta palavra se refere. Seguindo a LXX, a Siríaca e a Vulgata, a NVI a traduz como: “Não será assim.” Em outras palavras, à declaração de Caim “Quem comigo se encontrar me matará”, Deus teria respondido “Não será assim”.

Sete vezes. Isto subentende uma penalidade severíssima para qualquer pessoa que assassinasse Caim (ver Lv.26:18; Lv.26:21; Lv.26:24; Lv.26:28; Sl.79:12; Pv.6:31). Proteção especial lhe foi concedida, em harmonia com o princípio: “A Mim Me pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm.12:19). O joio precisa crescer junto com o trigo; é preciso permitir que os frutos do pecado alcancem a maturidade para que o caráter de sua semente possa ser manifesto. A vida de Caim e de seus descendentes devia ser uma demonstração do que o pecado faz nos seres racionais (PP, 78).

Um sinal. Alguns comentaristas veem nesse sinal uma marca exterior ligada à pessoa de Caim, enquanto outros creem que ele recebeu um sinal de Deus como uma garantia divina de que nada colocaria em perigo sua vida. O que quer que seja, não era um sinal do perdão de Deus, mas apenas uma proteção temporal.

Gn.4:16 16. Retirou-se Caim da presença do Senhor e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.

Retirou-se Caim. Ele não sentiu remorso nem arrependimento, mas apenas o pesado fardo do desagrado de Deus. Deixou a presença divina, provavelmente para nunca mais voltar, e começou sua vida de vagueações na terra de Node, a oriente do Éden. Essa terra antediluviana, cujo nome significa “vagueação”, “fuga” ou “exílio”, tornou-se o lar dos ímpios descendentes de Caim.

Gn.4:17 17. E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho.

E coabitou Caim com sua mulher. A repentina menção da mulher de Caim não deve criar problema. Gn.5:4 declara que Adão “teve filhos e filhas” além dos três filhos cujos nomes são mencionados. Os primeiros habitantes da Terra não tinham outra escolha exceto se casarem com seus irmãos e irmãs a fim de cumprirem a ordem divina: “Sede fecundos, multiplicai-vos” (ver At.17:26). O fato de que esse costume permaneceu por longo tempo é visto no casamento de Abraão com sua meia-irmã Sara. Tais casamentos foram mais tarde proibidos (Gn.1:28; Lv.18:6-17).

Ela concebeu e deu à luz a Enoque. O fato de Deus não impedir que o desobediente e réprobo Caim tivesse descendentes é outra evidência de Seu caráter misericordioso (Sl.145:9; Mt.5:45). O nome “Enoque” pode significar “dedicação” ou “consagração”; pode também significar “iniciação”. Talvez o nome que Caim deu a seu filho indicasse sua intenção de começar a viver da forma que lhe agradava. Lutero achava que a mãe pode ter escolhido o nome “Enoque ”, expressando a esperança de que a criança fosse um prenúncio de felicidade para seu entristecido lar.

Caim edificou uma cidade. Literalmente, “ele começou a construir”. A cidade, provavelmente, não passou de uma tentativa de erigir um acampamento fortificado para sua família como um lugar de habitação mais ou menos permanente. Isso sugere que Caim talvez não tenha tido muita confiança na garantia de proteção dada por Deus. É possível, também, que sua tentativa de fundar uma cidade tenha sido ditada por um desejo de desafiar a maldição que o condenava a uma vida errante. É digno de nota que a primeira “cidade” do mundo tenha sido fundada pelo primeiro assassino, um indivíduo perversamente impenitente cuja vida, completa e irremediavelmente dedicada ao mal, foi vivida em desafio a Deus.

Foi alterado, assim, o plano de Deus de que o homem vivesse em meio à natureza, contemplando nela o poder do Criador. Muitos males atuais são resultado direto do agrupamento antinatural de seres humanos em grandes cidades, onde os piores instintos predominam e vícios de todos os tipos florescem.

E lhe chamou. Ao colocar na cidade o nome de seu filho Enoque, “dedicação” ou “iniciação”, Caim aparentemente a consagrou à realização de suas ambições pecaminosas.

Gn.4:18 18. A Enoque nasceu-lhe Irade; Irade gerou a Meujael, Meujael, a Metusael, e Metusael, a Lameque.

A Enoque nasceu-lhe Irade. Das gerações seguintes, só se mencionam os nomes. Esses se assemelham aos dos descendentes de Sete, como Irade e Jarede, Meujael e Maalalel, Metusael e Matusalém, Caim e Cainã, mas os nomes de Enoque e Lameque ocorrem em ambas as famílias. Eruditos da Alta Crítica têm considerado isso como prova de que as duas listas genealógicas são simplesmente formas diferentes de uma única lenda original. Contudo, a semelhança dos nomes não implica que as pessoas eram as mesmas. O nome Corá aparece nas famílias de Levi (Ex.6:24) e de Esaú (Gn.36:5), e Enoque é o nome não só do filho de Caim e de um dos piedosos descendentes de Sete, mas também do filho mais velho de Rúben (Gn.46:9) e de um filho de Midiã (Gn.25:4). O caráter de Enoque, filho de Caim, está em contraste tão acentuado com o do Enoque da linhagem de Sete, que é impossível identificar os dois como uma só pessoa.

Quanto aos outros pares de nomes, a semelhança é apenas superficial. Os nomes em hebraico, como em sua tradução, não são idênticos na grafia nem no significado. Irade tem sido traduzido como “homem da cidade”, ou “ornamento de uma cidade” e Jarede, como “descida”. Meujael pode significar “ferido por Deus” ou “destruído por Deus”; e Maalalel como “louvor a Deus”. Metusael tem o significado de “homem de Deus” ou “homem de oração” e Matusalém, de “homem de crescimento”. O significado de Lameque é desconhecido.

Gn.4:19 19 Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá.

Lameque tomou para si duas esposas. Lameque foi o primeiro a perverter o casamento, tal como este fora estabelecido por Deus, transformando-o na concupiscência dos olhos e da carne, sem ter sequer o pretexto de que a primeira esposa não tivesse tido filhos. A poligamia foi um novo mal que ficou arraigado durante longos séculos. Os nomes das esposas de Lameque sugerem atração sensual: Ada significa “adorno” e Zilá significa “sombra” ou “tilintar”.

Gn.4:20 20. Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado.

Ada deu à luz a Jabal. Os nomes dos filhos de Ada não ocorrem em nenhuma outra parte da Bíblia. O significado deles não está claro. Jabal pode significar “rebento”, “líder” ou “corrente d’água”; Jubal, um “som alegre” ou um “canal”. Esses nomes podem indicar suas habilidades peculiares. O primeiro foi um típico pastor nômade. Tendo o significado literal de “possessão”, a palavra “rebanho” significa a riqueza dos nômades, que consistia de ovelhas e outros animais domesticados.

Gn.4:21 21. O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta.

De todos os que tocam harpa e flauta. “Harpa”, kinnor. Tendo sido o primeiro instrumento musical do mundo, a “harpa” é mencionada 47 vezes no AT (ver Sl.33:2). A palavra kinnor é traduzida na ARA e na ARC como “harpa”, embora na verdade seja uma lira. Muitas figuras antigas desse instrumento originárias do Egito, Palestina e Mesopotâmia nos dão uma ideia clara de como era a kinnor. Essas figuras mostram que o instrumento consistia de uma tábua de ressonância ao longo da qual havia cordas estendidas. Nos instrumentos mais antigos as cordas eram paralelas, mas em modelos posteriores elas eram divergentes, estendendo-se para fora.

Embora o segundo instrumento mencionado em Gn.4:21 seja flauta, sua origem não é tão certa como a da lira. Alguns o interpretam como gaita de foles e até órgão (ARC). Qualquer que seja a explicação correta do nome, os eruditos modernos concordam que o instrumento era uma flauta. Esse instrumento ainda é tocado pelos pastores em todo o Oriente Próximo.

Gn.4:22 22. Zilá, por sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá.

Tubalcaim. Embora “Tubal” apareça frequentemente como um nome próprio no AT (Gn.10:2; Is.66:19; Ez.27:13), seu significado é obscuro. A palavra “caim” pode ter sido acrescentada posteriormente, talvez para identificá-lo como um cainita.

Artífice de todo instrumento cortante. A palavra heb. traduzida como “artífice” significa, literalmente, “martelador”, “afiador” ou “forjador”, e se refere ao trabalho com bronze e ferro na Antiguidade, que era mais um processo de martelar do que de fundir. Há dúvidas quanto ao fato de o ferro ter sido conhecido em tempos tão antigos quanto o Gênesis indica. Contudo, descobertas feitas no Egito e na Mesopotâmia mostraram que objetos de ferro já eram feitos nos mais remotos períodos históricos dos quais temos registro.

Os primeiros objetos de ferro eram meteóricos; sua elevada porcentagem de níquel exclui a possibilidade de serem de origem terrestre. Os objetos feitos de ferro meteórico devem ter sido produzidos por martelamento e não por fundição, o que confirma o relato bíblico. Embora o homem primitivo não dispusesse de bronze e ferro em grandes quantidades, não há razão para duvidar da declaração bíblica de que os antediluvianos sabiam usar esses metais. Objetos de cobre, bronze e ferro (ornamentos, ferramentas, armas, vasilhas, etc.) oriundos de civilizações bem antigas têm sido encontrados em número crescente.

Naamá. Não se sabe por que a irmã de Tubalcaim é especificamente mencionada. A tradição judaica a identifica como a esposa de Noé. Seu nome, que significa “a bela” ou “a agradável” reflete a mente mundana dos cainitas, que olhavam para a beleza, e não para o caráter, como o principal atrativo das mulheres.

Gn.4:23 23. E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou.

Matei um homem. As palavras de Lameque, em forma hebraica poética, têm sido apropriadamente chamadas de o “Cântico de Lameque”. Tanto quanto se saiba, esse “cântico” constitui a primeira composição poética do mundo. E difícil saber o significado exato de suas palavras um pouco enigmáticas. Orígenes escreveu dois livros sobre o “cântico” e depois declarou que ele não podia ser explicado. As palavras hebraicas empregadas permitem a explicação de que Lameque havia matado um ou dois homens por ferimentos que eles lhe haviam infligido, com a implicação de que ele estaria pronto a cometer tais atos novamente se houvesse necessidade. Contudo, sua ameaça de vingança é ambígua e dá lugar a mais de uma interpretação.

Gn.4:24 24. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete.

Sem comentário para este versículo.

Gn.4:25 25. Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.

Sete. Depois de relatar o desenvolvimento da ímpia família de Caim, o autor volta a Adão e Eva e repassa brevemente a história daqueles que foram leais a Deus. Pouco após a morte de Abel nasceu um terceiro filho, a quem sua mãe deu o nome de Sete, Sheth, o “nomeado”, a “compensação” ou o “substituto”, em lugar de Abel. Eva, tendo visto que seu filho piedoso estava morto e reconhecendo que as palavras de Deus com respeito ao descendente prometido não podiam encontrar cumprimento no amaldiçoado Caim, expressou sua fé de que o Libertador prometido viria através de Sete. Sua fé foi recompensada, pois os descendentes de Sete obedeceram ao Senhor.

Gn.4:26 26. A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do Senhor.

Enos. Em seu tempo, iniciou-se um culto mais formal. As pessoas, é claro, haviam invocado o Senhor antes do nascimento de Enos, mas à medida que o tempo passava surgiu uma distinção mais evidente entre aqueles que adoravam ao Senhor e aqueles que O desafiavam. A expressão “invocar o nome do Senhor” é usada frequentemente no AT (Sl.79:6; Sl.116:17; Je.10:25; Sf.3:9) para indicar adoração pública, como ocorre aqui.

Gn.5:1 1. Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez;

Este é o livro. Um período de cerca de 1.500 anos é coberto na lista de gerações apresentada neste capítulo. São dados, no entanto, só os nomes dos principais patriarcas, sua idade por ocasião no nascimento do filho primogênito e sua idade total. Num esquema repetitivo, eles são descritos nascendo, chegando à varonilidade, casando-se, gerando filhos e então morrendo. Eles são lembrados pela posteridade só por seus nomes. Somente dois, Enoque e Noé, superam os outros em excelência e piedade. Enoque foi o primeiro pecador, salvo pela graça, a ser honrado com a trasladação; Noé foi o único chefe de família a sobreviver ao dilúvio.

Este capítulo contém um registro familiar semelhante a outros incorporados a diferentes lugares da narrativa do AT. A expressão “livro da genealogia de” é um termo técnico para uma lista genealógica (ver Mt.1:1). A palavra “livro”, sefer, é usada no AT para se referir a um rolo completo (Je.36:2; Je.36:8) ou a uma única folha de um rolo (Dt.24:1).

Gn.5:2 2. homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados.

E lhes chamou pelo nome de Adão. A dignidade de os primeiros pais serem criados à semelhança divina, sua distinção de sexo e a bênção que receberam de Deus são descritas de maneira breve. A única informação nova é o nome que lhes foi dado por Deus — “homem”, 'adam. A partir deste texto fica claro que o nome Adão era originalmente genérico, incluindo tanto o homem quanto a mulher, e que ele era equivalente à palavra “humanidade”.

Gn.5:3 3. Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete.

À sua semelhança. Embora Sete não fosse o filho primogênito de Adão, era aquele através de quem a linhagem piedosa se perpetuaria. O que sucedeu a Adão depois da queda está resumido em três curtos versos que servem como padrão para as biografias subsequentes.

Gn.5:4 4. Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:5 5. Os dias todos da vida de Adão foram novecentos e trinta anos; e morreu.

Os dias todos da vida de Adão. A notável longevidade da raça antediluviana tem sido alvo de muita crítica. Alguns têm declarado que esses números são produto de uma era mítica ou resultado de uma transmissão falha do texto. Outros têm sugerido que eles não se referem a indivíduos, mas a dinastias, ou que não foram anos, mas períodos mais curtos, talvez meses. Essas considerações devem ser rejeitadas por atentarem contra a interpretação literal do texto e contra sua origem inspirada.

É preciso ver esses números como históricos. A longevidade da raça antediluviana pode ser atribuída às seguintes causas: (1) vitalidade original com a qual a humanidade foi dotada na criação, (2) piedade e inteligência superiores, (3) efeito residual do fruto da árvore da vida, (4) qualidade superior dos alimentos disponíveis, e (5) graça divina em postergar a execução da penalidade do pecado. Adão viveu para ver oito gerações sucessivas alcançarem a maturidade. Uma vez que sua vida abarcou mais da metade do tempo que decorreu até o dilúvio, é claro que muitos puderam ouvir de seus próprios lábios a história da criação, do Éden, da queda e do plano da redenção, tal como este lhe havia sido revelado.

E morreu. Com estas sombrias palavras termina a curta biografia de Adão. A monótona repetição desta declaração no final de cada biografia — exceto a de Enoque — afirma o domínio da morte (Rm.5:12). Revela que a sentença de morte não foi uma vã ameaça. A morte é uma lembrança persistente da natureza e dos resultados da desobediência. A biografia dos patriarcas subsequentes segue o padrão da história da vida de Adão e não requer uma explicação individual (ver com. de Gn.4:17-18) para uma explicação sobre alguns nomes).

Gn.5:6 6. Sete viveu cento e cinco anos e gerou a Enos.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:7 7. Depois que gerou a Enos, viveu Sete oitocentos e sete anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:8 8. Todos os dias de Sete foram novecentos e doze anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:9 9. Enos viveu noventa anos e gerou a Cainã.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:10 10. Depois que gerou a Cainã, viveu Enos oitocentos e quinze anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:11 11. Todos os dias de Enos foram novecentos e cinco anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:12 12. Cainã viveu setenta anos e gerou a Maalalel.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:13 13. Depois que gerou a Maalalel, viveu Cainã oitocentos e quarenta anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:14 14. Todos os dias de Cainã foram novecentos e dez anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:15 15. Maalalel viveu sessenta e cinco anos e gerou a Jarede.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:16 16. Depois que gerou a Jarede, viveu Maalalel oitocentos e trinta anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:17 17. Todos os dias de Maalalel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:18 18. Jarede viveu cento e sessenta e dois anos e gerou a Enoque.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:19 19. Depois que gerou a Enoque, viveu Jarede oitocentos anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:20 20. Todos os dias de Jarede foram novecentos e sessenta e dois anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:21 21. Enoque viveu sessenta e cinco anos e gerou a Metusalém.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:22 22. Andou Enoque com Deus; e, depois que gerou a Metusalém, viveu trezentos anos; e teve filhos e filhas.

Andou Enoque com Deus. A vida excepcional de Enoque exigiu atenção incomum. Duas vezes é declarado que ele “andou [...] com Deus”. Esta expressão também é usada para Noé (Gn6:9) e é encontrada em outras passagens, com palavras semelhantes (ver Gn.17:1; Dt.13:4; Sl.116:9; Mq.6:8; Ef.5:1-2). Retrata uma vida de piedade singularmente elevada, não meramente a constante percepção da presença divina ou mesmo o contínuo esforço para uma santa obediência, mas a conservação da mais íntima relação com Deus. A vida de Enoque evidentemente estava em plena harmonia com a vontade divina.

Depois que gerou a Metusalém. A declaração de que Enoque “andou [...] com Deus” depois do nascimento de Metusalém não significa que ele havia sido uma pessoa ímpia antes, e que só nesse momento experimentara a conversão. Ele pertencia à linhagem fiel e, sem dúvida, havia servido a Deus lealmente durante os primeiros 65 anos de sua vida. Porém, com a chegada desse filho, ele compreendeu, por experiência própria, a profundidade do amor de um pai e a confiança de uma criança indefesa. Como nunca antes, ele foi atraído para Deus, o Pai celestial, e eventualmente se qualificou para a trasladação. Sua caminhada com Deus consistiu não apenas na contemplação de Deus, mas também no ministério ativo em favor do próximo. Ele ansiava pela vinda de Cristo em glória, advertindo fervorosa e solenemente os pecadores ao redor sobre o terrível destino que aguardava os ímpios (Jd.1:14-15).

Trezentos anos. A constante fidelidade de Enoque, manifesta ao longo de um período de 300 anos, deve encorajar cristãos que acham difícil “andar com Deus” mesmo por um dia.

E teve filhos e filhas. Segundo o relato inspirado, Enoque gerou filhos e filhas durante sua vida de excepcional piedade. Aqui está uma evidência inegável de que o estado do matrimônio está de acordo com a mais estrita vida de santidade.

Gn.5:23 23.Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:24 24. Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si.

E já não era, porque Deus o tomou para Si. O evento mais significativo da era antediluviana, um evento que encheu os fiéis de esperança e alegria, a trasladação de Enoque, é relatado por Moisés nestas poucas e simples palavras. Enoque foi trasladado “para não ver a morte” (Hb.11:5). Esse significado está implícito na palavra laqach, “Ele [Deus] tomou”, uma palavra nunca usada para denotar a morte. O moderno uso cristão da expressão como um eufemismo para a morte não tem autoridade bíblica. A palavra é usada, contudo, em conexão com a trasladação de Elias (2Rs.2:3; 2Rs.2:5; 2Rs.2:9-10). A LXX a traduz como “pois Deus o trasladou”, uma expressão da qual Hb.11:5 se apropriou literalmente.

Tanto quanto se saiba, Enoque foi o único crente antediluviano a não ver a morte. Como modelo de virtude, Enoque, “o sétimo depois de Adão”, está em distinto contraste com a sétima geração da linhagem cainita, Lameque, que acrescentou o crime de homicídio ao vício da poligamia (Jd.1:14; Gn.4:16-19). A partida de Enoque foi presenciada por alguns, tanto justos como ímpios (ver PP, 88). Sua trasladação foi planejada por Deus, não só para recompensar a piedade, mas para demonstrar a certeza do livramento do pecado e da morte prometido por Deus. A lembrança desse evento notável sobreviveu na tradição judaica (ver Eclesiástico 44:16), no registro cristão (Hb.11:5; Jd.1:14) e até em fábulas pagãs. O apócrifo livro de Enoque descreve o patriarca exortando seu filho e todos os seus contemporâneos, advertindo-os do juízo vindouro. A obra judaica Livro dos Jubileus diz que ele foi levado ao paraíso, onde escreveu o juízo de todos os homens. Lendas árabes o apresentam como o inventor da escrita e da aritmética. Sua partida deve ter exercido grande impressão sobre os contemporâneos, a julgar pela extensão em que sua história foi divulgada entre as gerações posteriores. A vida exemplar de Enoque, com seu glorioso clímax, ainda testifica da possibilidade de viver num mundo ímpio sem pertencer a ele.

Gn.5:25 25. Metusalém viveu cento e oitenta e sete anos e gerou a Lameque.

Metusalém. A curta vida terrena de Enoque, de apenas 365 anos, foi seguida pela de seu filho Metusalém, que viveu 969 anos e chegou até o ano do dilúvio. O significado de seu nome é incerto. Os comentaristas o têm explicado de várias maneiras: “homem de armas militares”, “homem que envia” ou “homem de crescimento”. O significado do nome de seu filho Lameque é ainda mais obscuro.

Gn.5:26 26. Depois que gerou a Lameque, viveu Metusalém setecentos e oitenta e dois anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:27 27. Todos os dias de Metusalém foram novecentos e sessenta e nove anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:28 28. Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho;

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:29 29. pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou.

Noé. Na esperança de que seu primogênito fosse o descendente prometido, o redentor cuja vinda os fiéis esperavam ansiosamente, Lameque o chamou de Noé, “descanso ”, dizendo: “Este nos consolará.” O nome “Noé” (nuah, “descansar”) e a palavra “consolar” vêm de uma raiz comum que significa “suspirar”, “respirar”, “descansar” e “deitar”. Lameque foi um homem piedoso que seguiu o caminho de seu exemplar avô Enoque e de seu longevo pai Metusalém.

Dos nossos trabalhos. Lameque aparentemente sentiu o fardo do cultivo do solo que Deus havia amaldiçoado e, em fé, ansiava pelo tempo em que a miséria e a corrupção existentes cessariam e o mundo seria redimido da maldição. Sua esperança de que isso pudesse se concretizar em seu filho não se cumpriu, pelo menos da maneira em que esperava. Contudo, Noé estava destinado a proclamar uma ousada advertência contra o mal e a desempenhar um importante papel ao tornar-se o progenitor de todos os que já viveram desde o seu tempo.

Gn.5:30 30. Depois que gerou a Noé, viveu Lameque quinhentos e noventa e cinco anos; e teve filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:31 31. Todos os dias de Lameque foram setecentos e setenta e sete anos; e morreu.

Sem comentário para este versículo.

Gn.5:32 32. Era Noé da idade de quinhentos anos e gerou a Sem, Cam e Jafé.

Era Noé da idade de quinhentos anos. Em hebraico esta expressão diz, literalmente: “Noé era um filho de 500 anos”, significando que ele estava no ano 500 de sua vida. “Filho de um ano’’ significa, estritamente falando, dentro do primeiro ano de vida (Ex.12:5). Esse fato, um ponto importante na linguagem cronológica hebraica, torna-se ainda mais claro a partir de uma comparação entre os versos Gn.7:6 e Gn.7:11. Embora ambos os versos falem do princípio do dilúvio, um deles declara que Noé tinha 600 anos de idade e o outro diz que o evento ocorreu no ano 600 da vida de Noé. Consequentemente, o primeiro verso, “Noé era um filho de 600 anos”, significa que ele estava no ano 600, e não no 601, como naturalmente se pensa.

Nenhum dos patriarcas anteriores esperou tantos anos antes do nascimento de seus descendentes como Noé; passou-se meio milênio antes de seu lar ser abençoado pela chegada de um filho (ver p. 183). Essa lista genealógica é interrompida com Noé, mencionando-se apenas o nascimento de seus filhos. A menção dos três filhos sugere a importância deles no repovoamento da Terra após o dilúvio.

Gerou a Sem, Cam e Jafé. Em relação a isso, outro princípio da genealogia hebraica precisa ser explicado. Pela sequência dos nomes dos filhos de Noé, aqui e em outras passagens, pode-se ter a impressão de que Sem era o mais velho e Jafé o mais novo dos três filhos. Pode-se notar que isso está incorreto a partir de uma comparação deste texto com outros. Os filhos de Noé não eram trigêmeos (ver Gn.9:24; Gn.10:21). De acordo com Gênesis 9:24, Cam era o mais novo dos irmãos. Gênesis 10:21, além disso, se refere a Sem ou a Jafé como “o mais velho” dos dois, pois a construção gramatical hebraica ambígua não deixa claro qual dos dois era o mais velho.

Gn.11:10 diz que Sem tinha 100 anos de idade dois anos depois do dilúvio, quando seu pai teria cerca de 602 anos; a idade de Noé por ocasião do nascimento de Sem era, então, de 502 anos — e não 500, como se poderia inferir a partir de Gn.5:32. Mas um dos três, o mais velho, nasceu no ano 500 da vida de Noé (Gn.5:32). Esses textos levam à conclusão de que, na verdade, Jafé foi o filho mais velho de Noé, tendo nascido quando seu pai estava com 500 anos, e que Sem e Cam se seguiram, nessa ordem. Em vez da tradução de Gênesis 10:21, das versões em português, que colocam Sem como o filho mais velho, a tradução da KJV seria, portanto, a correta: ‘‘A Sem, que foi pai de todos os filhos de Héber e irmão de Jafé, o mais velho, também lhe nasceram filhos.” A última parte de Gênesis Gn.5:32, portanto, seria traduzida de maneira mais exata da seguinte forma: ”E gerou a Jafé, Sem e Cam.”

Sem é mencionado como o primeiro dos três filhos por causa de sua importância como o progenitor da linhagem patriarcal pós-diluviana, da qual viria o escolhido povo de Deus, bem como o descendente prometido. Cam é mencionado a seguir como o antepassado das raças com quem os leitores do AT, do tempo de Moisés em diante, tinham muito mais contato do que com os descendentes de Jafé, que habitaram regiões mais distantes. O mesmo princípio é repetido no caso de Abraão, em que ele, o mais novo dos filhos de Terra, é mencionado primeiramente (Gn.11:27) por causa de sua importância para as pessoas para quem o relato foi escrito.

Reduzindo as idades de Jarede, Metusalém e Lameque, por ocasião do nascimento de seus filhos primogênitos, o Pentateuco Samaritano deixa apenas 1.307 anos entre a criação e o dilúvio, em vez dos 1.656 contados no texto hebraico e nas traduções para o português baseadas nele. Mas a LXX, em contraste, apresenta um período bem mais longo antes do dilúvio. Ela faz isso atribuindo a alguns dos patriarcas, por ocasião do nascimento do filho mais velho, uma idade 100 anos a mais do que aquela informada no texto hebraico. Portanto, a LXX chega a um total de 2.242 ou 2.262 anos (os vários manuscritos mostram uma discrepância entre 167 anos e 187 anos para Metusalém, por ocasião do nascimento de Lameque).

Josefo, que dá números praticamente idênticos aos da LXX, presumivelmente os derivou dessa versão, que tinha ampla circulação em seus dias. Segundo ele, a idade de Metusalém era de 187 anos quando Lameque nasceu. Contudo, esse número derivado da LXX (187 anos) deve ser considerado uma correção de um dado anterior de 167 anos. Isso pode ser facilmente explicado (ver p. 159). Muitos leitores não estão cientes dessas diferenças nas listas antigas, porque praticamente todas as versões protestantes são baseadas no texto hebraico. É interessante observar que, assim como a lista de Gênesis 5 registra dez longevas gerações antes do dilúvio, da mesma forma, as antigas tradições mesopotâmicas também apontam para precisamente dez gerações anteriores ao dilúvio e para a longevidade da raça durante essa época. A lista babilônica inicia com a observação de que “a soberania desceu do Céu” e colocou Alulim, que significa “homem”, como o progenitor da raça humana (cf. heb. 'adam, “homem”). Não há nenhuma outra semelhança entre as duas listas, no entanto, seja nos nomes ou nos períodos de tempo.

Gn.6:1 1. Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas,

E aconteceu que (ARC). Esta expressão não implica que as condições aqui descritas tenham surgido após os eventos registrados nos capítulos anteriores. O autor está simplesmente indicando a condição da sociedade nos dias de Noé, quando dez gerações de crescente corrupção chegaram a um clímax.

Como se foram multiplicando os homens. A raça humana cresceu rapidamente, não só em impiedade, mas em número. Entre os muitos perigos para os que temiam a Deus estavam as belas filhas dos descrentes. Mulheres passaram a ser desposadas, não por causa de sua virtude, mas pela beleza, e a consequência foi que a impiedade e a maldade fizeram grandes avanços entre os descendentes de Sete.

Gn.6:2 2. vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram.

Os filhos de Deus. Esta frase tem sido interpretada de várias maneiras. Os antigos comentaristas judeus, os pais da igreja e muitos expositores modernos interpretam esses “filhos” como sendo anjos, comparando-os com os ‘‘filhos de Deus” de Jó.1:6; Jó.2:1; Jó.38:7. Esse ponto de vista deve ser rejeitado porque a punição que logo sobreviria era pelos pecados dos seres humanos (ver Gn.6:3) e não dos anjos. Além disso, anjos não se casam (Mt.22:30). Os “filhos de Deus” eram os descendentes de Sete, e as “filhas dos homens” eram ímpias cainitas (PP, 81). Mais tarde, Deus falou a Israel de Seu “primogênito” (Ex.4:22), e Moisés chamou o povo de Israel de “filhos [...] do Senhor, vosso Deus”’ (Dt.14:1).

Tomaram para si mulheres. Essas alianças profanas entre setitas e cainitas foram responsáveis pelo rápido aumento da impiedade entre os primeiros. Deus sempre advertiu Seus seguidores a não se casarem com descrentes, por causa do grande perigo a que eles se expõem e ante o qual geralmente sucumbem (Dt.7:3-4; Js.23:12-13; Ed.9:2; Ne.13:25; 2Co.6:14-15). Mas os setitas não deram ouvidos às advertências que por certo receberam. Guiados pela sedução dos sentidos, não se contentaram com as belas filhas da linhagem piedosa, e, frequentemente, preferiram noivas cainitas. Além disso, a prevalência da poligamia é sugerida pela expressão plural: “tomaram [...] esposas”.

Gn.6:3 3. Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.

O Meu Espírito não agirá para sempre. O fato de esta declaração vir imediatamente após a referência aos casamentos não santificados sugere que o desagrado de Deus se manifestou especialmente em relação a essa prática. Cativos de suas paixões, eles já não estavam sujeitos ao Espírito de Deus. A palavra heb. traduzida como “agir” significa “governar” e “julgar”. Isso indica que o Espírito Santo só podia continuar atuando pouco tempo mais, e então seria retirado dos não regenerados e impenitentes seres humanos. Até mesmo a longanimidade de Deus tem Limite. Pedro se refere à obra do Espírito no coração dos antediluvianos, dizendo que o Espírito de Cristo pregou a esses prisioneiros de Satanás (1Pe.3:18-20).

Pois este é carnal. Esta expressão também pode ser traduzida como “em seus desvios, o homem é carnal”, de shagag, “vaguear”, “desviar-se”. Ao seguirem as paixões carnais, diz Deus, os homens se entregaram aos desejos da carne, a ponto de não mais responderem ao controle do Espírito Santo. A insensibilidade à influência divina era completa; portanto, o Espírito de Deus deveria ser retirado. É inútil “agir” ou “contender” (ARC) para restringi-los ou melhorá-los.

Seus dias. Esta predição divina não significa que o tempo de vida do homem seria dali por diante restrito a 120 anos. (Compare as idades dos homens após o dilúvio.) Significa, em vez disso, que a paciência de Deus chegaria ao limite e que o tempo de graça se encerraria dentro do período especificado. Até então a misericórdia divina perduraria. Cristo comparou o trato de Deus com os antediluvianos à Sua obra pela raça humana no final dos tempos (Mt.24:37-39). Sob circunstâncias similares, pode-se esperar que Deus aja de maneira semelhante. Contudo, as tentativas de determinar o tempo da volta de Cristo com base nisso são inválidas. Vive-se hoje em tempo emprestado, e sabe-se que a destruição logo ocorrerá (ver 2Pe.3:3-7). É sabido também que o Espírito de Deus não agirá para sempre nos seres humanos que não dão ouvidos às Suas advertências e não se preparam para esse grande evento.

Gn.6:4 4. Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.

Havia gigantes na Terra. Esses “gigantes”, nefilim, não eram produto de casamentos mistos, como alguns sugerem. A LXX traduz nefilim como gigantes, palavra grega da qual deriva a palavra “gigante”. Em Nm.13:33 os israelitas relataram que se sentiram como meros gafanhotos ao avistarem os nefilim, “gigantes”. Não há razão para crer que essa palavra heb. possa vir da raiz nafal, e que os nefilim eram pessoas “violentas” ou terroristas, em vez de “gigantes”’ físicos. Uma vez que nessa época toda a raça humana era de grande estatura, pode ser que a palavra designe o caráter, em vez da estatura. Os antediluvianos geralmente possuíam grande força física e mental. Dotados de inteligência e habilidade, eles devotaram persistentemente suas capacidades físicas e intelectuais à gratificação do próprio orgulho e das paixões, e à opressão do próximo (PP, 80, 84, 90).

Gn.6:5 5. Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;

Deus (KJV). Para ser coerente, a KJV deveria grafar “Senhor” (ARA), em vez de “Deus”, como no texto hebraico, que usa a palavra Yahweh. Pode ser que os tradutores da KJV foram influenciados pelo texto da LXX, que grafa o “Senhor Deus”.

A maldade do homem se havia multiplicado. A linguagem humana não poderia apresentar um quadro mais vivido da depravação. Não restava mais nenhum bem no homem; ele estava totalmente corrompido. “Todo desígnio do seu coração” era mau. A palavra “imaginação”, de yeser, significa “plano” ou “formação”, e é derivada do verbo heb. yatsar, “moldar”, “formar”. Portanto, “desígnio” se refere a pensamentos maus como produto de um coração mau.

Cristo disse: “Do coração procedem maus desígnios”, e afirmou que estes, por sua vez, produzem “homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt.15:19). O coração era popularmente considerado o centro das faculdades intelectuais mais elevadas: a consciência e a vontade. Um “coração” contaminado mais cedo ou mais tarde infecta a vida toda.

Continuamente. Literalmente, “todos os dias” ou “o dia todo”. Assim culmina a triste descrição da impiedade antediluviana. Se isso não descreve uma depravação total, de que outro modo se poderia expressá-la? Aqui se encontra o mal supremo no coração, nos “desígnios” ou pensamentos e nas ações. Com muito poucas exceções, não havia nada senão mal; não temporariamente, mas sempre; não no caso de apenas alguns indivíduos, mas na sociedade como um todo. Isso ocorre quando os homens “deliberadamente [se] esquecem” da palavra de Deus (2Pe.3:5).

Gn.6:6 6. então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração.

Então, Se arrependeu o Senhor. A força das palavras “Se arrependeu o Senhor” pode ser deduzida pela declaração explicativa “Lhe pesou no coração”. Isso mostra que o arrependimento de Deus não pressupõe falta de presciência ou qualquer variação de natureza e propósito. Neste sentido Deus nunca Se arrepende de nada (1Sm.15:29). O “arrependimento” de Deus é uma expressão que se refere à dor do amor divino ocasionada pela pecaminosidade do ser humano. Ressalta que Deus, em harmonia com Sua imutabilidade, assume uma mudança de posição em resposta a uma mudança ocorrida na criação. A menção à dor divina em face da condição depravada do homem é uma tocante indicação de que Deus não o odiou. O pecado enche o coração divino de profunda dor e piedade. Desperta todo o insondável oceano de simpatia pelos pecadores da qual o amor infinito é capaz. Contudo, Deus Se move também para uma retribuição judicial (ver Je.18:6-10; PP, 630).

Gn.6:7 7. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito.

Farei desaparecer da face da Terra o homem. A expressão hebraica traduzida como “destruirei” (ARC) significa, literalmente, “varrerei”, “apagarei” ou “farei desaparecer” (ver Ex.32:32-33; Is.43:25). Nesta passagem, ela é apropriada para descrever a extinção da raça humana em geral por um dilúvio devastador.

Gn.6:8 8. Porém Noé achou graça diante do Senhor.

Noé achou graça. Nestas palavras a misericórdia é vista em meio à ira. Por elas. Deus assegurou a preservação e a restauração da humanidade. A palavra “graça” ocorre aqui pela primeira vez na Bíblia, e, claramente, tem o mesmo significado que nas referências do NT, em que se descreve o misericordioso, imerecido favor de Deus exercido para com os indignos pecadores. A profundidade com que Deus ama os seres humanos, mesmo em seu estado caído, pode ser observada de várias formas.

Ele lhes deu um evangelho de misericórdia, na promessa do descendente da mulher; um ministério de misericórdia, suscitando e mantendo uma sucessão de pessoas piedosas para lhes pregar o evangelho e os advertir contra os caminhos do pecado; um Espírito de misericórdia para agir neles e apelar a eles; uma providência de misericórdia, concedendo-lhes um longo período de graça; uma concessão adicional de misericórdia, no prazo de 120 anos antes da execução da sentença; e finalmente um exemplo de misericórdia, salvando os justos quando todos os outros foram destruídos. Essa manifestação de graça e misericórdia é fonte de certeza e esperança para os que vivem no fim do tempo, uma época que o próprio Cristo comparou aos dias de Noé (ver Mt.24:37-39). Seus leais seguidores podem estar certos de que Deus os aceita como aceitou a Noé, e de que, da mesma forma, também os preservará em meio à maldade destes dias e garantirá sua segurança no juízo vindouro.

Gn.6:9 9. Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus.

Noé era homem justo. Um novo subtítulo introduz a história de Noé e do dilúvio. O autor apresenta primeiramente as razões pelas quais Noé achou graça aos olhos de Deus e foi poupado durante a destruição posterior. Não foi algum tipo de capricho divino que o tornou objeto da graça, mas uma vida que estava em harmonia com a vontade do Senhor. Noé é caracterizado por três expressões, e cada uma delas o contrasta com seus contemporâneos. Ele era um “homem justo”. A palavra “justo” não implica inocência imaculada, mas retidão, honestidade e virtude. Ele não é meramente chamado “justo”, mas um “homem justo”. Viver em retidão no tempo de Noé exigia assumir uma atitude destemida e firme contra más influências, tentações sutis e vil zombaria. Noé não era destituído de discernimento ou força de vontade, mas um homem de convicções fortes e de ideais e ações retas.

Íntegro entre os seus contemporâneos. O segundo atributo aponta para Noé como alguém “irrepreensível em sua geração” (RSV). Isso não significa que vivia num estado de impecabilidade, mas de integridade moral. Refere-se não apenas à vida piedosa de Noé, mas também à constância de sua religião em meio à atmosfera carregada de iniquidade na qual vivia. Ele vinha de uma linhagem pura, e nesse sentido também era diferente de seus contemporâneos, muitos dos quais eram descendentes de casamentos promíscuos entre justos e ímpios.

Noé andava com Deus. Finalmente, a vida de Noé se assemelhava à de seu piedoso ancestral Enoque (ver Gn.5:22; Gn.5:24), que fora trasladado para a glória eterna 69 anos antes do nascimento de Noé. Durante sua própria infância, quando a trasladação de Enoque estava vivida na memória dessa geração, Noé deve ter ouvido falar muito da vida desse homem. Mas o fato de Noé ser assim descrito não implica que houvesse alcançado justiça por esforços próprios. Como todos os verdadeiros filhos de Deus, ele foi salvo pela fé (ver Hb.11:7).

Gn.6:10 10. Gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé.

Gerou três filhos. Ver com. de Gn 5:32.

Gn.6:11 11. A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.

A terra estava corrompida. A condição pecaminosa dos antediluvianos é descrita como tendo corrompido toda a Terra. Outros textos aplicam o termo “corrupção” à idolatria, o pecado de perverter e depravar a adoração a Deus (Ex.32:7; Dt.32:5; Jz.2:19; 2Cr.27:2, ARC). Eles praticavam o mal publicamente, flagrantemente, como o implica a expressão “à vista de Deus”.

Gn.6:12 12. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra.

Viu Deus a terra. A situação se tornou objeto da investigação especial de Deus. Assim, o juízo que viria não era um ato arbitrário e intempestivo da divindade. Essa investigação revelou que já não havia distinção entre os cainitas, que desafiavam a Deus, e os setitas, que antes temiam a Deus. Com poucas exceções, “todo ser vivente” havia se corrompido.

Gn.6:13 13. Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra.

Resolvi dar cabo de toda carne. Deus concluiu que o pecado não podia ser reprimido por outro meio senão a aniquilação da raça (com exceção de uma única família). Então anunciou Seu plano a Noé. Os avisos anteriores da intenção divina de destruir a Terra (v. Gn.6:3; Gn.6:7) são, presumivelmente, o registro de palavras que Deus pronunciou num concilio celestial, e não a ouvidos humanos. Então, foi feita uma comunicação diretamente a Noé. Isso, provavelmente, ocorreu 120 anos antes do dilúvio, como é sugerido no v. Gn.6:3. Deus decidiu dar às pessoas a oportunidade de corrigir seus maus caminhos se assim o desejassem, e portanto comissionou Noé, “pregador da justiça” (2Pe.2:5), a dar essa mensagem de advertência. Isso foi, em si mesmo, uma manifestação de misericórdia, baseada no princípio divino de não agir antes de as pessoas terem sido avisadas do que as espera, caso continuem no pecado (Am.3:7).

A terra está cheia da violência. As palavras introdutórias devem ter sido chocantes para Noé, mas a razão para a fatídica decisão divina viria a seguir. Em vez de estar cheia de pessoas que procuravam viver de acordo com a vontade de Deus, a terra estava “cheia da violência dos homens”.

Eis que os farei perecer juntamente com a terra. Deus não anunciou a intenção de destruir o homem “na” terra ou “da” superfície da terra, mas “juntamente com” ela. Embora a terra, como tal, não possa sofrer uma destruição penal, deve ser participante da destruição do homem, porque, sendo lugar de sua habitação e cenário de seus atos criminosos, ela é uma com ele. Isso não significa, é claro, a aniquilação do planeta, mas a completa desolação de sua superfície.

Gn.6:14 14. Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora.

Faze uma arca. Era preciso tomar providências para salvar Noé e sua família, por isso a ordem para construir a embarcação. A palavra heb. traduzida por “arca” vem de um termo egípcio que designa grandes embarcações marítimas usadas para o transporte de obeliscos e também barcos processionais que carregavam estátuas ao longo do Nilo.

Tábuas de cipreste. A palavra heb. gofer vem do antigo vocábulo sumeriano giparu, uma árvore não identificada com segurança. Os antigos egípcios construíam grandes barcos de cedro, e, portanto, os comentaristas têm sugerido que a madeira gofer talvez fosse procedente de árvores coníferas como cedro ou cipreste. Por serem resinosas, essas árvores eram ideais para tal. Ellen G. White declara que a madeira que Noé usou era cipreste (PP, 95).

Nela farás compartimentos. A arca devia ser dividida em repartições, literalmente “ninhos”, a serem usados pelos animais; e devia ser calafetada por dentro e por fora. A palavra traduzida como “betume” é de origem babilônica e designa tanto o piche quanto o betume. Desde os tempos antigos esses materiais eram encontrados na Mesopotâmia e usados para calafetar embarcações (ver com. de Gn.2:12).

Gn.6:15 15. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento; de cinquenta, a largura; e a altura, de trinta.

Deste modo. A embarcação devia ser construída exatamente de acordo com as instruções divinas. As dimensões, dadas a Noé, mostram que o tamanho era extraordinário. Sem as detalhadas instruções divinas, Noé, um homem sem experiência prévia em construção de barcos ou em navegação, jamais poderia tê-la construído. A maior embarcação antiga conhecida era um navio egípcio que tinha 130 côvados de comprimento por 40 de largura. A arca de Noé tinha quase três vezes esse comprimento. Se a referência é ao côvado de 52 cm (cf. Dt.3:11), o comprimento da arca teria sido 157 m, a largura 26 m, e a altura 16 m. Geralmente se pressupõe que a arca tinha a forma de um baú ou uma caixa, em vez da forma de um navio, mas isso não é declarado em parte alguma do texto sagrado. Devido à falta de informações precisas quanto à forma da embarcação, parece improdutivo tentar calcular a capacidade cúbica exata da arca de Noé. Fica claro, no entanto, pela descrição dada, que se tratava de um barco de dimensões formidáveis, com amplo espaço para os animais a serem abrigados em seu interior e para a armazenagem de alimento para todos durante um ano.

Gn.6:16 16. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro.

Uma abertura. Algumas palavras hebraicas e a construção gramatical empregada neste verso dificultam saber com certeza o que Moisés quis dizer. A palavra traduzida como “abertura”, tsohar, pode significar “luz”, “abertura para a luz” ou “teto”. A tradução “teto”, como na NVI, parece ter evidências mais claras do que a tradução “abertura”. O fato de Noé não poder ver a superfície da Terra até que o tsohar fosse aberto (ver Gn.8:6) parece favorecer esse ponto de vista. Qualquer que seja o significado, o fato é que havia entrada de luz pela parte de cima da arca (ver PP, 95).

De um côvado. É difícil interpretar esta sentença. Se a palavra tsohar significa uma “abertura para a luz”, a sentença pode se referir a um tipo de treliça de um côvado de altura que estava em volta da parte superior da arca, para deixar a luz entrar. Se tsohar significa “teto”, pode ter praticamente o mesmo significado, ou seja, que havia um côvado entre o teto e a borda superior das paredes.

Gn.6:17 17. Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá.

Porque estou para derramar. No texto hebraico o pronome “eu” é enfático, e isso é um claro indicativo de que a catástrofe que estava para vir era uma visitação divina e não uma ocorrência natural. A KJV traduz: “Eu, Eu mesmo.”

Águas em dilúvio. A palavra “dilúvio”, mavul, é usada ao longo de todo o AT apenas para o dilúvio de Noé, com a possível exceção de Sl.29:10. Mavul pode ser derivado de uma raiz assíria que significa “destruir”. A construção hebraica da frase “águas em dilúvio” permitiria a tradução: “uma destruição, [a saber] águas”. Esta passagem é a primeira insinuação sobre o meio de destruição que seria usado.

Gn.6:18 18. Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos.

Estabelecerei a Minha aliança. O primeiro acordo registrado entre Deus e Noé (ver com. de Gn.15:9-17 sobre o procedimento na efetivação de uma aliança). Ao fazer uma aliança com Noé, Deus fortaleceu a confiança desse homem justo na certeza do cuidado divino. Independentemente do que ocorresse, Noé sabia que ele e sua família seriam salvos.

E teus filhos. Essas promessas incluíam até os filhos de Noé que ainda não haviam nascido e as esposas deles, porque nessa ocasião Noé ainda não tinha filhos, embora já estivesse com 480 anos de idade (ver com. de Gn.5:32). Nenhum dos ancestrais de Noé havia esperado tanto tempo por uma descendência, e talvez ele já tivesse abandonado a esperança de ser abençoado com filhos. Em muitas ocasiões Deus preparou Seus agentes escolhidos para os tempos de crise, guiando-os através de longos períodos de desapontamento, para que aprendessem a ter paciência e a confiar nEle.

Essa mesma experiência sobreveio aos pais de Isaque, Samuel e João Batista. A ordem para construir a arca, portanto, incluía a certeza indireta de que, ao preservar a vida, a linhagem de Noé não seria extinta. O nascimento de seus filhos seria então, para o patriarca, um sinal de que o dilúvio prometido era igualmente certo. Ele prosseguiu em fé, crendo em “acontecimentos que ainda não se viam” (Hb.11:7).

Gn.6:19 19. De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo.

De tudo o que vive. A vida animal, bem como a humana, devia ser preservada através da fé do patriarca. Os comentaristas têm visto uma contradição entre a ordem de levar “dois de cada espécie” e a ordem dada mais tarde de tomar sete pares de algumas espécies (Gn.7:2). A primeira ordem tinha o objetivo de informar Noé quanto às medidas a serem tomadas para salvar o mundo animal da aniquilação completa. Um par de cada espécie seria o básico para a reprodução. Isso era o que Deus tinha em vista naquela ocasião.

Gn.6:20 20. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo as suas espécies, de todo réptil da terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida.

Sem comentário para este versículo.

Gn.6:21 21. Leva contigo de tudo o que se come, ajunta-o contigo; ser-te-á para alimento, a ti e a eles.

Alimento. Teriam de ser armazenados alimentos para a família de Noé e forragem para os animais em quantidade suficiente para mais de um ano. Isso tinha de ser armazenado na arca. Era necessário o talento de um sábio organizador para realizar toda a obra de maneira eficiente. Noé tinha de ser não apenas um construtor de navios e um pregador, mas também um bom agricultor e controlador de estoque.

Gn.6:22 22. Assim fez Noé, consoante a tudo o que Deus lhe ordenara.

Assim fez Noé. O relato das instruções dadas a Noé se encerra com a observação de que ele fez tudo o que Deus lhe pediu. Ele não mostrou qualquer hesitação em obedecer a Deus. Seu relacionamento com parentes que haviam se tornado como os amaldiçoados cainitas em nada o influenciou. A educação obtida de pais e avós piedosos o havia preparado para exercer irrestrita fé em Deus e obediência sem reservas a Suas instruções. Este curto verso abrange 120 anos de serviço fiel. Alguns dos que creram na mensagem de Noé, como seu avô Metusalém, morreram antes que o terrível evento ocorresse. Ele viveu a mensagem que pregava, e aqueles que melhor o conheceram, seus próprios familiares, não puderam evitar sua santa influência. Seus filhos não apenas creram no que ele pregava, mas participaram ativamente dos preparativos para o evento predito antes que nascessem. A experiência de Noé apresenta um nobre exemplo para os cristãos que sabem estar vivendo no tempo do fim e que estão se preparando para a trasladação. Seu maior trabalho para Deus deve ser feito no lar.

Gn.7:1 1. Disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração.

Entra. Por 120 anos Deus manteve Sua longanimidade (1Pe.3:20), e durante esse tempo Noé, por sua vida e obra, ‘‘condenou o mundo” (Hb.11:7). Mas os seres humanos, em seu descuido e indiferença, aproximavam-se rapidamente de seu fim. Ao salvar uma família e destruir todas as outras, Deus não estava sendo arbitrário. Somente Noé havia se qualificado para estar no novo mundo que surgiria após a purificação da Terra pela água.

Gn.7:2 2. De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea.

De todo animal limpo. A instrução para que Noé levasse na arca mais animais limpos do que imundos pressupõe que Noé sabia distinguir entre as duas classes. Fica claro que essa distinção não se originou com Moisés. Ela remonta a tempos anteriores, quando Deus deu as instruções relativas aos sacrifícios — nos quais só deviam ser usados animais limpos (ver Gn.8:20). Há muito tempo o número de animais limpos a serem levados na arca tem sido tema de controvérsia entre tradutores e comentaristas bíblicos. O texto hebraico, que diz literalmente ‘‘Tomarás para ti sete, um macho com sua fêmea”, pode ser entendido como “sete pares” ou ‘‘sete de cada tipo” de animal. A LXX e a Vulgata, assim como muitos eruditos antigos e modernos, favorecem a tradução “sete pares”, enquanto alguns pais da igreja, os reformadores e ainda alguns eruditos de diferentes épocas são favoráveis à tradução “sete indivíduos”.

Qualquer que seja o sentido exato, está claro que deviam ser abrigados na arca mais animais limpos do que imundos. Sabendo da necessidade de alimentação de emergência após o dilúvio destruir toda a vegetação, Deus admitiu que o homem precisaria, temporariamente, ingerir carne de animais limpos. Além disso, eles seriam necessários para os sacrifícios. Por essas razões, Deus tomou providências para que fossem preservados animais limpos suficientes, a fim de evitar sua extinção. A razão pela qual, em suas primeiras diretrizes a Noé (Gn.6:19), Deus não tenha feito distinção entre animais limpos e imundos pode ser explicada pelo fato de que, naquele momento, 120 anos antes do dilúvio, instruções tão detalhadas não eram necessárias (ver com. Do Gn.7:9).

Gn.7:3 3. Também das aves dos céus, sete pares: macho e fêmea; para se conservar a semente sobre a face da terra.

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:4 4. Porque, daqui a sete dias, farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites; e da superfície da terra exterminarei todos os seres que fiz.

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:5 5. E tudo fez Noé, segundo o Senhor lhe ordenara.

E tudo fez Noé, segundo o Senhor lhe ordenara. Assim como Noé havia cumprido todas as ordens de Deus durante os 120 anos anteriores (ver Gn.6:22), ele agiu de maneira semelhante durante os últimos momentos antes do dilúvio. Ele deve ter sofrido muito ao ver as multidões, com quem havia vivido durante seis séculos, marchando indiferente e descuidadamente para a destruição. Sabendo que todos morreriam ao fim de uma semana, e vendo-os a participar de orgias como se nada fosse acontecer (Mt.24:37-39), ele deve ter redobrado seus esforços finais para adverti-los e convidá-los a entrar na arca com ele. Mas tudo foi em vão.

Gn.7:6 6. Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando as águas do dilúvio inundaram a terra.

Tinha Noé seiscentos anos de idade. Ver com. de Gn.5:32.

Gn.7:7 7. Por causa das águas do dilúvio, entrou Noé na arca, ele com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos.

Entrou Noé. Comparando-se os v. 7 e Gn.7:10, fica óbvio que Noé não esperou até o último dia antes do dilúvio para entrar na arca. Impulsionados pelo medo e impelidos pela fé, Noé e sua família não perderam tempo em obedecer à ordem para entrar na embarcação de refúgio. Pedro diz que apenas oito pessoas foram salvas do dilúvio (1Pe.3:20); portanto, é óbvio que Noé e seus três filhos tinham apenas uma esposa cada um. A poligamia, comum entre os cainitas, ainda não era praticada pelos filhos de Deus.

Gn.7:8 8. Dos animais limpos, e dos animais imundos, e das aves, e de todo réptil sobre a terra,

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:9 9. entraram para Noé, na arca, de dois em dois, macho e fêmea, como Deus lhe ordenara.

Entraram [...] de dois em dois. Em obediência a um misterioso impulso, animais de todas as espécies entraram na arca. Nada menos que o poder divino poderia ter orquestrado essa entrada ordenada e pontual. Que vívida advertência deve ter sido essa para os ímpios que a testemunharam! Ali estavam animais domésticos e selvagens, animais rastejantes e aves, todos se dirigindo para a arca, aparentemente por sua própria vontade. Que contraste: mudos irracionais obedientes ao Criador, e seres humanos inteligentes se recusando a dar ouvidos a Seu misericordioso chamado de advertência! Se havia algo capaz de causar uma impressão nos pecadores, isso deveria tê-lo feito; mas eles haviam endurecido o coração por tanto tempo que mesmo esse milagre não os impressionou.

Gn.7:10 10. E aconteceu que, depois de sete dias, vieram sobre a terra as águas do dilúvio.

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:11 11. No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram,

No ano seiscentos. Essa é a primeira de muitas declarações cronológicas exatas do AT. A declaração precisa dá o dia, mês e ano exatos do dilúvio; e se encontra em agudo contraste com relatos lendários de antigos povos pagãos sobre a atividade de seus deuses com relação a este mundo.

As fontes do grande abismo. A Terra, que nunca antes havia recebido chuva (ver com. de Gn.2:6), foi repentinamente inundada por imenso volume de água. Iniciou-se uma chuva pesada e incessante. Simultaneamente, a crosta terrestre se rompeu, e massas de água subterrâneas jorraram, causando estragos e inundando a terra outrora seca.

Gn.7:12 12. e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:13 13. Nesse mesmo dia entraram na arca Noé, seus filhos Sem, Cam e Jafé, sua mulher e as mulheres de seus filhos;

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:14 14. eles, e todos os animais segundo as suas espécies, todo gado segundo as suas espécies, todos os répteis que rastejam sobre a terra segundo as suas espécies, todas as aves segundo as suas espécies, todos os pássaros e tudo o que tem asa.

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:15 15. De toda carne, em que havia fôlego de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca;

Sem comentário para este versículo.

Gn.7:16 16. eram macho e fêmea os que entraram de toda carne, como Deus lhe havia ordenado; e o Senhor fechou a porta após ele.

E o Senhor fechou a porta após ele. Esta declaração enfatiza a natureza miraculosa dos eventos ocorridos durante a semana imediatamente anterior ao dilúvio. Esse ato divino significou também que o tempo de graça para a raça caída havia chegado ao fim. Como nos dias de Noé, a porta da misericórdia se fechou um pouco antes do dia da visitação de Deus, assim também nos últimos dias o povo de Deus deve ser advertido: “Fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te” (Is.26:20-21; Mt.24:37-39; 2Pe.3:6-7).

Gn.7:17 17. Durou o dilúvio quarenta dias sobre a terra; cresceram as águas e levantaram a arca de sobre a terra.

Cresceram as águas. A tremenda extensão e intensidade do dilúvio é expressa de forma clara por uma vívida série de verbos e advérbios: as águas “cresceram” (v. 17), “predominaram” e “cresceram sobremodo” (Gn.7:18), “prevaleceram [...] excessivamente” (Gn.7:19) e até “prevaleceram” quinze côvados (cerca de 8 m) acima das montanhas (Gn.7:20). A descrição é direta, majestosa e vívida. Um imensurável volume de água cobriu toda a Terra. A extensão universal do dilúvio dificilmente poderia ter sido expressa em palavras mais fortes. Essa descrição torna impossível o ponto de vista de alguns, de que o dilúvio foi um acontecimento local ocorrido no vale da Mesopotâmia. Os depósitos sedimentares descobertos por arqueólogos em Ur dos caldeus, por exemplo, não podem ser uma explicação para o que é descrito em Gênesis sobre o dilúvio (PP, 107, 108).

Em toda parte, sobre a superfície da Terra, encontram-se restos fósseis de plantas e animais, obviamente depositados pela água. Esses depósitos se estendem, em certos locais, a profundidades de até cinco quilômetros, mas a profundidade média é de pouco mais de 800 metros. A distribuição universal desses restos fósseis e a profundidade em que estão enterrados testificam inequivocamente tanto da extensão global quando da grande violência do dilúvio. A universalidade dessa catástrofe é também atestada pelas lendas do dilúvio preservadas entre povos de quase todas as etnias sobre a face da Terra. Desses relatos, o mais completo é o dos antigos babilônios que se estabeleceram muito próximo ao local onde a arca repousou após o dilúvio e de onde a raça humana novamente começou a se espalhar.

O épico de Gilgamés traz muitas semelhanças irrefutáveis com o relato de Gênesis, mas difere dele o suficiente para demonstrar que é uma versão alterada da mesma história. Uma comparação dos dois relatos apresenta impressionantes evidências da inspiração da narrativa do Gênesis. Embora no v. 17 (ARA) haja apenas uma referência ao fato de a arca ser elevada, o texto hebraico usa duas expressões, como traz a ARC: “E cresceram as águas e levantaram a arca, e ela se elevou sobre a terra.”

O fato de que ela “vogava” seguramente “sobre as águas” (Gn.7:18) transmite a certeza da capacidade de Deus para salvar aqueles que nEle confiam e a Ele obedecem. Os próprios elementos desencadeados para destruir os ímpios levaram em segurança a fiel família de Noé. A Deus nunca faltam recursos para salvar. Ao mesmo tempo, é de Sua vontade que o homem exerça plenamente a inteligência e a força concedidas por Ele. Deus preservou miraculosamente a arca, mas ordenou que Noé a construísse.

Gn.7:18 18. Predominaram as águas e cresceram sobremodo na terra; a arca, porém, vogava sobre as águas.

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Gn.7:19 19. Prevaleceram as águas excessivamente sobre a terra e cobriram todos os altos montes que havia debaixo do céu.

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Gn.7:20 20. Quinze côvados acima deles prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos.

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Gn.7:21 21. Pereceu toda carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de animais domésticos e animais selváticos, e de todos os enxames de criaturas que povoam a terra, e todo homem.

Pereceu toda carne. Os pronomes “toda”, “todo(s)” e “tudo” são usados seis vezes nos v. Gn.7:21-23 e são acompanhados de uma detalhada lista das diferentes formas de vida: “aves”, “animais domésticos”, “animais selváticos”, “enxames de criaturas que povoam a terra”, e o “homem”.

Gn.7:22 22. Tudo o que tinha fôlego de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu.

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Gn.7:23 23. Assim, foram exterminados todos os seres que havia sobre a face da terra; o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus foram extintos da terra; ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca.

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Gn.7:24 24. E as águas durante cento e cinquenta dias predominaram sobre a terra.

Predominaram sobre a terra. Os 150 dias incluem os 40 dias dos v. Gn.7:4; Gn.7:12; Gn.7:17 e devem, portanto, ser contados a partir do início desse período. Isso pode ser dito por meio dos v. Gn.7:11 e Gn.8:4, em que se diz que a arca repousou sobre as montanhas do Ararate no 17° dia do 7° mês, exatamente cinco meses após o início da chuva. A contagem é em termos de meses de 30 dias.

Gn.8:1 1. Lembrou-se Deus de Noé e de todos os animais selváticos e de todos os animais domésticos que com ele estavam na arca; Deus fez soprar um vento sobre a terra, e baixaram as águas.

Lembrou-Se Deus de Noé. Este verso não implica que Deus houvesse esquecido Noé durante um tempo. Esta é uma expressão que indica divina solicitude e graça. Uma indicação comovente da ternura de Deus para com Suas criaturas se encontra na declaração de que Deus também Se lembrou de todas as outras criaturas viventes. Ele diz que, embora cinco pardais sejam vendidos por dois asses, “nenhum deles está em esquecimento diante de Deus” (Lc.12:6-7; Mt.10:29-31; Mt.6:26); também Se lembrará de Seus filhos fiéis, que valem “bem mais” do que “muitos pardais”.

Gn.8:2 2. Fecharam-se as fontes do abismo e também as comportas dos céus, e a copiosa chuva dos céus se deteve.

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Gn.8:3 3. As águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra e minguaram ao cabo de cento e cinquenta dias.

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Gn.8:4 4. No dia dezessete do sétimo mês, a arca repousou sobre as montanhas de Ararate.

Ararate. Todos os expositores bíblicos concordam que a referência aqui é à região montanhosa da Armênia, embora não se saiba exatamente qual a parte das montanhas do Ararate. Nada tem sido comprovado sobre a descoberta de restos da arca de Noé. A localização tradicional, o moderno monte Ararate, tem dois picos, um com 5.137 m, outro com 3.896 m de altura. Entre os persas esses picos gêmeos são conhecidos como Koh-i-nuh, “a montanha de Noé”. Este seria um lugar ideal para a arca repousar enquanto as águas baixavam. A partir dele, os sobreviventes do dilúvio podiam se espalhar por todas as terras (ver com. de Gn.7:24).

Gn.8:5 5. E as águas foram minguando até ao décimo mês, em cujo primeiro dia apareceram os cimos dos montes.

As águas foram minguando. As águas baixaram gradualmente por dois meses e meio após a arca ter repousado sobre as montanhas do Ararate.

Gn.8:6 6. Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca

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Gn.8:7 7. e soltou um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas de sobre a terra.

Soltou um corvo. Quarenta dias após o aparecimento do cimo dos montes, Noé ficou ansioso para saber até onde as águas tinham secado e se podia sair da arca com segurança. À medida que as águas baixavam, a arca já havia encontrado segurança das tempestades num local abrigado no alto das montanhas. Dessa posição era difícil confirmar em que extensão o nível das águas havia diminuído nos vales mais baixos. Portanto, foi enviado um corvo, para que Noé pudesse observar, a partir do comportamento do pássaro, algo sobre a condição da Terra. Não conseguindo achar lugar para pousar, o corvo voava pela superfície das águas e voltava de tempos em tempos para a arca (PP, 105).

Gn.8:8 8. Depois, soltou uma pomba para ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra;

Soltou uma pomba. Embora não seja declarado quanto tempo Noé esperou antes de fazer outra tentativa, a expressão “esperou ainda outros sete dias” (Gn.8:10) indica que o primeiro período de espera tinha tido a mesma duração. Uma semana mais tarde a pomba permaneceu fora o dia todo, mas voltou à noite com uma folha de oliveira, aparentemente de uma árvore que havia sobrevivido ao dilúvio. Em hebraico a expressão “nova”, literalmente “colhida fresca”, indica claramente que a folha não tinha sido achada flutuando na superfície da água. Noé reconheceu a folha de oliveira como evidência de que a terra estava quase seca e que ele logo poderia sair da arca. Uma semana mais tarde a pomba já não voltou mais, o que foi uma evidência de que as condições eram suficientemente normais para que ela permanecesse fora da arca.

Gn.8:9 9. mas a pomba, não achando onde pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca.

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Gn.8:10 10. Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba fora da arca.

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Gn.8:11 11. À tarde, ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra.

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Gn.8:12 12. Então, esperou ainda mais sete dias e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou a ele.

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Gn.8:13 13. Sucedeu que, no primeiro dia do primeiro mês, do ano seiscentos e um, as águas se secaram de sobre a terra. Então, Noé removeu a cobertura da arca e olhou, e eis que o solo estava enxuto.

A cobertura da arca. Há indicação de que houve um período adicional de espera após o qual Noé achou que era hora de investigar por si mesmo. Uma vez que pouca coisa se podia ver pelas aberturas da treliça que ficava abaixo do teto da arca, ele removeu uma parte do teto. A palavra “cobertura”, mikseh, é usada no AT para designar o teto do tabernáculo (Ex.26:14) e também as capas que cobriam os móveis do santuário enquanto estavam sendo transportados (Nm.4:10-12). Uma vez que essas coberturas eram feitas de pele, é possível que a cobertura da arca de Noé também o fosse (ver com. de Gn.6:16).

Gn.8:14 14. E, aos vinte e sete dias do segundo mês, a terra estava seca.

Do segundo mês. Para Noé, o solo pareceu suficientemente seco, mas Deus havia fechado a porta da arca, e Noé esperou a instrução divina sobre quando deveria sair dela. No total, ele esperou mais 57 dias antes que as águas tivessem secado completamente e Deus pudesse dar-lhe a permissão. Transcorreu um período de exatamente cinco meses do início do dilúvio até o tempo em que a arca repousou sobre as montanhas do Ararate (Gn.7:11; Gn.8:4). Isso é também dado como 150 dias (Gn.7:24), indicando assim que os cinco meses continham 30 dias cada um. É incerto, contudo, se o ano, no tempo de Noé, era lunar ou solar, e se começava na primavera ou no outono.

A arca é prova da bondade de Deus e da fé obediente de Noé. A arca foi um refúgio em tempo de perigo, um lar para os desabrigados e um templo onde a família de Noé adorava a Deus. Conduziu-os em segurança do velho mundo para o novo, de um ambiente de vício e pecado para uma Terra purificada do pecado. A arca era o lugar de salvação apontado por Deus, e fora dela não havia segurança. E como foi nos dias de Noé, assim será quando a presente era chegar a um abrupto fim por ocasião da vinda do Filho do homem (ver Mt.24:37). Aqueles que desejam ser salvos precisam se valer da provisão que Deus fez para a salvação.

Gn.8:15 15. Então, disse Deus a Noé:

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Gn.8:16 16. Sai da arca, e, contigo, tua mulher, e teus filhos, e as mulheres de teus filhos.

Sai. Noé havia aprendido a confiar em Deus e a esperar pacientemente durante os 120 anos de pregação e construção da arca. Esse longo período de labor ativo foi seguido por mais de um ano na arca. Durante as primeiras semanas e meses ele havia experimentado incessante chuva, uma turbulenta tempestade e tremendas convulsões da Terra, que pareciam estar prestes a destruir a frágil embarcação. Mais tarde, quando a arca repousou sobre as montanhas do Ararate, começou um tedioso tempo de espera, que durou mais de sete meses. Noé pode ter pensado algumas vezes que Deus tivesse esquecido a solitária arca e seus ocupantes no topo daquela montanha. Ele, no entanto, teve as duas virtudes gêmeas: fé e paciência. Com que alegria Noé deve ter ouvido uma vez mais a voz de Deus ordenando que saísse da arca.

Gn.8:17 17. Os animais que estão contigo, de toda carne, tanto aves como gado, e todo réptil que rasteja sobre a terra, faze sair a todos, para que povoem a terra, sejam fecundos e nela se multipliquem.

E povoem abundantemente a Terra (ARC). Esta declaração tem sido considerada por alguns comentaristas como uma indicação de que Deus havia restringido a capacidade reprodutora dos animais durante o ano que eles permaneceram nas apinhadas repartições da arca. Então, a bênção original sobre os animais, para que se multiplicassem e enchessem a Terra (Gn.1:22) foi repetida.

Gn.8:18 18. Saiu, pois, Noé, com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos.

Saiu, pois, Noé. Quando um anjo desceu do Céu e abriu a porta que havia sido fechada um ano antes de maneira semelhante, Noé e sua família saíram. Os animais seguiram Noé, saindo da arca de forma ordenada, cada um segundo a sua espécie. Esse instinto de se associar com outros de sua própria espécie é geralmente característico do mundo animal.

Gn.8:19 19. E também saíram da arca todos os animais, todos os répteis, todas as aves e tudo o que se move sobre a terra, segundo as suas famílias.

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Gn.8:20 20. Levantou Noé um altar ao Senhor e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar.

Levantou Noé um altar. O primeiro ato de Noé ao sair da arca foi adorar a Deus. Os sacrifícios oferecidos por Noé não eram apenas uma expressão de gratidão por haver sido preservado, mas também um testemunho de sua fé no Salvador — que era tipificado pelos sacrifícios de animais. Na oferta “de animais limpos e de aves limpas”, Noé deu evidências tanto de gratidão quanto de generosidade. Embora esta passagem seja a primeira na Bíblia a mencionar a construção de um altar, não é evidência de que os altares não eram usados antes do dilúvio. A palavra “holocaustos”, ‘oloth, não é a mesma usada para descrever o sacrifício de Abel. É derivada de um verbo que significa “levantar” e sugere, não a elevação da oferta sobre o altar, mas a ascensão ao Céu da fumaça da oferta queimada (ver Jz.13:20; Jz.20:40; Je.48:15; Am.4:10).

Gn.8:21 21. E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz.

E o Senhor aspirou o suave cheiro. A satisfação de Deus com a conduta de Noé e a aceitação da oferta são apresentadas em linguagem bastante humana. A resposta divina à adoração de Noé foi uma decisão de que a Terra não seria destruída por outro dilúvio. Essa promessa só foi comunicada um pouco mais tarde (ver Gn.9:8-17). As palavras “Não tornarei a amaldiçoar a terra” não removeram a maldição original (Gn.3:17). Referem-se simplesmente ao fato de que não sobreviria novamente à raça humana uma catástrofe universal como o dilúvio. Enchentes localizadas não estavam incluídas nessa promessa.

O desígnio íntimo do homem. Alguns comentaristas veem uma contradição entre este verso e o trecho de Gn.6:5-7. Deus havia trazido o dilúvio porque “era continuamente mau todo desígnio” do coração do ser humano e, aqui, exatamente pela mesma razão, Ele promete nunca mais enviar outro dilúvio. O que ocorre deve ser que, no primeiro caso, “desígnio” se refere a um padrão fixo de pensamento que se traduz em ação (Gn.6:5), e que aqui se refere às tendências inerentes ao homem. Provavelmente está correta a variante marginal da KJV, que diz “embora seja continuamente mau”, em vez de “porque é continuamente mau”.

Gn.8:22 22. Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.

Enquanto durar a Terra. As ocupações comuns do ser humano, relacionadas às estações do ano, haviam sido completa e universalmente interrompidas pelo dilúvio. Deus então assegurou a Noé que não só nunca mais haveria outro dilúvio, mas também que não ocorreria nenhuma outra interrupção semelhante do ciclo das estações. As estações haviam sido ordenadas na criação (Gn.1:14) e deviam continuar a ocorrer.

O relato mais notável do dilúvio fora da Bíblia ocorre no antigo épico de Gilgamés, escrito pelos babilônios. Embora a seção do épico que trata do dilúvio exiba muitas semelhanças com o relato do Gênesis, há diferenças entre os dois relatos que evidenciam a inspiração e exatidão do relato bíblico. O politeísmo e outras ideias religiosas pagãs dão ao épico de Gilgamés um tom distintamente pagão. Embora histórias semelhantes à do dilúvio persistam em diferentes culturas, é natural que o relato babilônico seja um pouco mais acurado que outros, devido à proximidade entre Babilônia e as montanhas do Ararate.

Gn.9:1 1. Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra.

Abençoou Deus a Noé e a seus filhos. Noé e sua família receberam uma bênção que era semelhante à que foi pronunciada sobre Adão e Eva após a criação (Gn.1:28). Como Adão tinha sido o progenitor de toda a raça humana, Noé se tornou o progenitor de todos os seres humanos após o dilúvio. A bênção consistiu, em ambos os casos, de uma comissão divina para que eles fossem “fecundos” e enchessem a Terra. Uma parte da bênção anterior, porém, não foi incluída nessa nova bênção: a ordem “sujeitai-a”, referindo-se à Terra. Essa omissão sem dúvida implica que, por causa do pecado, o domínio do mundo atribuído ao homem na criação tinha sido perdido. O pecado havia perturbado o relacionamento original entre seres humanos e animais, e estes foram liberados da sujeição ao homem, até certo ponto pelo menos.

Gn.9:2 2. Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues.

Pavor e medo de vós. Com suas consequências, o pecado havia rompido o elo de sujeição voluntária dos animais à vontade humana. Daí por diante, só pela força poderia o homem dominá-los, através daquele “medo” que Deus então instilou na criação animal. A natureza havia se tornado hostil ao ser humano. O medo que todos os animais terrestres, alados e aquáticos deviam ter não excluiria sua rebelião ocasional contra o domínio humano. Por vezes, eles iriam se levantar e destruir o homem.

Na verdade, Deus ocasionalmente os usou para executar a justiça divina (ver Ex.8:6; Ex.8:17; Ex.8:24; 2Rs.2:24). Contudo, a condição normal das criaturas inferiores seria a de um medo instintivo, que faz com que elas evitem as pessoas, em vez de buscar sua presença. É fato que os animais recuam onde quer que a natureza humana avance. Até os ferozes animais selvagens, a menos que provocados, em geral evitam o ser humano, fogem em vez de atacá-lo.

Nas vossas mãos serão entregues. Este pronunciamento divino encontrou cumprimento na domesticação de certos animais de cuja ajuda o ser humano necessita, na domação de animais selvagens pelo poder superior da vontade humana e na bem-sucedida redução das criaturas nocivas à impotência através da inventividade e engenhosidade humana.

Gn.9:3 3. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.

Ser-vos-á para alimento. Isso não significa que as pessoas tenham começado a ingerir carne pela primeira vez nessa ocasião, mas que pela primeira vez Deus as autorizou, ou melhor, permitiu fazer o que o dilúvio havia tornado uma necessidade. Os ímpios antediluvianos eram carnívoros (CS, 109). Mas a vontade original do Criador não era que as criaturas se consumissem uma à outra. Ele havia dado ao ser humano os vegetais como alimento (Gn.1:29). Com a destruição temporária de toda a vida vegetal durante o dilúvio e a exaustão dos suprimentos alimentícios colocados na arca, surgiu uma emergência que levou Deus a permitir a ingestão de alimentos cárneos. Além disso, a alimentação carnívora encurtaria a vida pecaminosa dos homens (CRA, 373).

Essa permissão não implicava o consumo irrestrito e ilimitado de todo tipo de animal. A frase “tudo que se move e vive” claramente exclui o consumo de cadáveres de animais mortos por si mesmos ou mortos por outros animais, o que a lei mosaica especificamente proibiu mais tarde (Ex.22:31; Lv.22:8). O fato de não ser apresentada aqui a distinção entre animais limpos e imundos, no que diz respeito à alimentação, não significa que Noé a desconhecesse. Que Noé estava familiarizado com essa distinção fica claro pela ordem prévia de levar na arca mais animais limpos do que imundos (Gn.7:2) e por ele oferecer apenas animais limpos em holocausto (Gn.8:20).

Essa distinção deve ter sido tão perfeitamente conhecida pelos primeiros seres humanos, não sendo necessário Deus chamar a atenção de Noé para a mesma. Somente depois de ela haver-se perdido no decorrer dos séculos em que o homem viveu afastado de Deus é que foram dadas novas orientações por escrito sobre os animais limpos e imundos (Lv.11; Dt.14:3-21). A imutabilidade do caráter de Deus (Tg.1:17) exclui a possibilidade de se interpretar essa passagem como permissão para se sacrificar e comer todo tipo de animal. Animais imundos para um propósito não podiam ser limpos para outro.

Como vos dei a erva verde. Isto indica que era nova a permissão para o consumo de alimentos cárneos juntamente com as verduras e frutas originalmente destinadas para a alimentação. A razão pela qual Deus permitiu complementar a dieta vegetariana com carne foi não só a ausência temporária de vegetais como resultado do dilúvio, mas, provavelmente, também o fato de a superfície da Terra haver mudado tão completamente e diminuído sua fertilidade que, em algumas terras, como no extremo norte do planeta, o solo não produziria suficientes alimentos vegetais para sustentar a humanidade.

Gn.9:4 4. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.

Carne, porém, com sua vida. A proibição se aplica ao consumo de carne com sangue, quer de animais vivos, como foi o costume bárbaro de algumas tribos pagãs no passado, quer de animais abatidos cujo sangue não tivesse sido devidamente drenado. Esta proibição era, entre outras coisas, uma salvaguarda contra a crueldade e uma lembrança dos sacrifícios de animais, nos quais o sangue, como portador da vida, era considerado sagrado. Deus previu que o homem, presa vulnerável de crenças supersticiosas, pensaria que ao participar do fluido vital dos animais teria sua própria capacidade vital fortalecida ou prolongada. Por essas e, provavelmente, outras razões agora não bem claras, o consumo de carne com sangue foi irrevogavelmente proibido.

Os apóstolos consideraram essa proibição como ainda válida na era cristã. Chamaram especialmente a atenção dos crentes gentios para a mesma, pelo fato de que, antes da conversão, esses novos crentes estavam acostumados a comer carne com sangue (At.15:20; At.15:29).“Vida”, nefesh (ver com. de Gn.2:7). Traduzir essa palavra como “alma”, neste caso, como alguns têm feito (por exemplo, a BJ), obscurece seu verdadeiro significado (ver Lv.17:11). O sangue é fundamental para a vida. Se a circulação do sangue para qualquer parte do corpo for interrompida, essa parte morre. Uma perda completa de sangue inevitavelmente acarreta a morte. Uma vez que isso é um fato, a palavra heb. nefesh, estando paralela a “sangue” nessa passagem, deve ser traduzida como “vida”, e assim o faz a ARA e a ARC.

Gn.9:5 5. Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim, da mão do próximo de cada um requererei a vida do homem.

O vosso sangue, o sangue da vossa vida. O dois pronomes possessivos (“vosso” ) enfatizam o valor da vida humana, nefesh, aos olhos divinos. Deus pessoalmente Se preocuparia em vingar o derramamento de sangue, como é subentendido pelas palavras “requererei”, literalmente, “procurarei” com o propósito de punir.

De todo animal o requererei. A vida humana foi protegida contra os animais, bem como contra outros seres humanos, por uma solene proclamação da santidade dessa vida. O estatuto de que um animal que matasse um ser humano devia ser destruído foi posteriormente incorporado ao código mosaico (Ex.21:28-32). Essa ordem não foi dada para punir o animal assassino, que não está sujeito à lei moral e, portanto, não pode pecar, mas para a segurança das pessoas.

Da mão do homem. Esta advertência é dirigida contra o suicídio e o homicídio. Deus requer que a pessoa que tira a própria vida, bem como aquela que tira a vida do próximo, preste conta desse ato. O mandamento “Não matarás” é tão amplo em suas implicações que todo tipo de encurtamento da vida é proibido. O homem não pode dar a vida e, portanto, não tem o direito de tirá-la, a menos que solicitado a fazer isso por ordem divina. Ninguém que esteja em plena posse das faculdades mentais e morais, e que, portanto, seja responsável por seus atos, pode escapar da retribuição de Deus — nem mesmo o que atenta contra si mesmo. Na ressurreição, todo indivíduo terá de comparecer diante do tribunal de Deus para receber sua recompensa (Rm.14:10; 2Co.5:10).

Gn.9:6 6. Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.

Se alguém derramar o sangue do homem. Deus vingaria ou puniria todo assassinato; não, porém, diretamente, como o fez no caso de Caim, mas indiretamente, colocando na mão do ser humano o poder judicial. A palavra “derramar” subentende homicídio intencional (doloso) e não acidental (culposo), para o qual a lei tinha outras disposições diferentes das que são mencionadas aqui (Nm.35:11). A injunção divina confere poder judicial ao governo temporal e coloca a espada em sua mão. Deus tomou o cuidado de erigir uma barreira contra a supremacia do mal e, assim, lançou o fundamento para um desenvolvimento civil ordenado da humanidade.

Gn.9:7 7. Mas sede fecundos e multiplicai-vos; povoai a terra e multiplicai-vos nela.

Ver com. do Gn.9:1.

Gn.9:8 8. Disse também Deus a Noé e a seus filhos:

Sem comentário para este versículo.

Gn.9:9 9. Eis que estabeleço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência,

Estabeleço a Minha aliança. Para dar a Noé e a seus filhos uma firme certeza da próspera continuação da raça humana, Deus estabeleceu uma aliança com eles e com seus descendentes e a confirmou com um sinal visível. As provisões da aliança tinham em vista toda a posteridade subsequente, e, além da família humana, toda a criação animal.

Gn.9:10 10. e com todos os seres viventes que estão convosco: tanto as aves, os animais domésticos e os animais selváticos que saíram da arca como todos os animais da terra.

Que saíram da arca. Esta passagem não implica, como alguns expositores defendem, que certos animais sobreviveram ao dilúvio sem terem entrado na arca, e que, portanto, teria havido apenas uma inundação parcial da Terra. Uma vez que este ponto de vista contradiz claras declarações de que os animais alados e terrestres que não encontraram refúgio na arca foram destruídos (Gn.6:17; Gn.7:4; Gn.7:21-23), é preciso que se encontre outra explicação. A preposição “até”, na tradução da ARC: “desde todos que saíram da arca, até todo animal da terra”, seria melhor traduzida como “de” ou “com respeito a” (ver Gn.20:13: “a meu respeito”, ARA ou “de mim”, ARC). A NVI, seguindo a LXX, traduz a frase da seguinte forma: “todos os que saíram da arca com vocês, todos os seres vivos da terra.” Também seguem essa tradução a BLH e a BJ.

Gn.9:11 11. Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra.

Não será mais destruída toda carne. Esta “aliança” continha apenas uma especificação e assumiu a forma de uma promessa divina. Regiões poderiam ser devastadas e animais e homens, varridos às centenas ou aos milhares, mas não mais haveria uma destruição completa da Terra por inundação. Contudo, essa promessa não implica que Deus Se comprometeu a nunca mais destruir o mundo por outro meio que não a água. Seu plano anunciado de pôr um fim a toda impiedade no final da história deste mundo por um grande fogo destruidor (2Pe.3:7; 2Pe.3:10-11; Ap.20:9) de forma alguma contradiz a promessa.

Gn.9:12 12. Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações:

Este é o sinal. Deus julgou necessário este sinal a fim de despertar fé em Suas promessas, e é um exemplo da condescendência divina para com a fraqueza humana. O homem busca sinais (Mt.24:3; 1Co.1:22), e Deus, em Sua misericórdia e bondade, os fornece, dentro de certos limites, embora deseje que Seus seguidores conservem a fé mesmo quando não houver sinal nenhum para guiá-los e que creiam mesmo sem haver evidências visíveis (Jo.20:29).

Gn.9:13 13. porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra.

Porei nas nuvens o Meu arco. O estabelecimento do arco-íris como um sinal da aliança, de acordo com a promessa de que nunca mais haveria outro dilúvio, pressupõe que ele apareceu naquela ocasião, pela primeira vez, nas nuvens. Esse é um indício adicional de que nunca havia chovido antes do dilúvio. O arco-íris é produzido pela refração e reflexão da luz solar através das redondas gotas de chuva sobre as quais os raios incidem.

Gn.9:14 14. Sucederá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o arco,

Sem comentário para este versículo.

Gn.9:15 15. então, me lembrarei da minha aliança, firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne.

Então, Me lembrarei da Minha aliança. O arco-íris, um fenômeno físico natural, era um símbolo apropriado da promessa de Deus de nunca mais destruir a Terra por uma inundação. Uma vez que as condições climáticas da Terra seriam bem diferentes após o dilúvio, e que, na maioria dos lugares do mundo, a chuva tomaria o lugar do antigo orvalho que molhava o solo, era necessário algo para aquietar os temores humanos cada vez que a chuva começasse a cair. A mente espiritual pode ver, nos fenômenos naturais, revelações que Deus faz de Si mesmo (ver Rm.1:20). Assim, o arco-íris é uma evidência, para o crente, de que a chuva trará bênçãos, e não destruição universal.

Em visão, o apóstolo João viu um arco-íris circundando o trono de Deus (Ap.4:3). As pessoas olham para o sinal afim de se lembrarem da promessa divina, mas o próprio Deus o contempla para recordar e cumprir a promessa. No arco, a fé e a confiança humanas se encontram com a fidelidade e a imutabilidade de Deus. Os raios de luz que emanam do Sol da Justiça (Ml.4:2), vistos pelos olhos da fé através do prisma das experiências da vida, revelam a beleza do caráter justo de Jesus Cristo. A eterna aliança entre o Pai e o Filho (Zc.6:13) assegura a todo humilde e fiel filho e filha de Deus o privilégio de contemplar Jesus, que é totalmente desejável, e, ao contemplá-Lo, de ser transformado à Sua semelhança.

Gn.9:16 16. O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra.

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Gn.9:17 17. Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra.

Este é o sinal. A aliança entre Deus e Noé concluiu os eventos ligados à maior catástrofe que o mundo já experimentou. A Terra, uma vez bela e perfeita, apresentava então, até onde alcançava a vista, uma imagem de completa desolação. Os seres humanos haviam recebido uma lição sobre os terríveis resultados do pecado. Os mundos não caídos viram o fim terrível a que se chega ao seguir as propostas de Satanás. Devia haver um novo começo. Uma vez que somente os membros fiéis e obedientes haviam sobrevivido ao dilúvio, havia razões para se esperar que o futuro apresentasse um quadro mais feliz do que o passado. Depois de haverem sido salvos, pela graça de Deus, do maior cataclismo imaginável, era de se esperar que os descendentes de Noé aplicassem para as gerações futuras as lições aprendidas do dilúvio.

Gn.9:18 18. Os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cam e Jafé; Cam é o pai de Canaã.

Os filhos de Noé. Seus três filhos, mencionados em passagens anteriores (Gn.5:32; Gn.6:10; Gn.7:13), são novamente referidos como cabeças das nações que surgiriam na família humana. Seus nomes são explicados na relação da lista genealógica de Gn.10.

Cam é o pai de Canaã. Canaã, o filho de Cam, é mencionado aqui numa alusão antecipada aos acontecimentos que virão a seguir. Além disso, deve ter sido propósito de Moisés dirigir a atenção dos hebreus de seu tempo para o desagradável acontecimento descrito nos versos seguintes, a fim de que compreendessem por que os cananeus, que eles logo conheceriam, eram tão profundamente degradados e moralmente corruptos. A raiz da depravação se encontrava em seu primitivo ancestral Cam, “o pai de Canaã ”.

Gn.9:19 19. São eles os três filhos de Noé; e deles se povoou toda a terra.

Deles se povoou toda a terra. Esta passagem declara, em palavras concisas, mas inequívocas, que todos os habitantes posteriores do globo terrestre foram descendentes dos filhos de Noé. Mesmo que não se possa traçar a origem de toda nação e tribo aos cabeças de família enumerados no capítulo seguinte, este texto declara enfaticamente que toda a Terra foi povoada pelos descendentes de Noé. O ponto de vista de que certas etnias escaparam ao dilúvio por habitarem em regiões remotas do mundo, e de que não tinham nenhuma relação direta com os filhos de Noé, não tem respaldo bíblico.

Gn.9:20 20. Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha.

E começou Noé a ser lavrador da terra (ARC). O texto heb. não implica que Noé não havia sido lavrador antes do dilúvio, mas que ele começou a nova fase como, literalmente, um “homem da terra”. Embora Noé tivesse recebido licença para matar animais e ingerir sua carne, ele julgou necessário começar a arar o solo imediatamente para dele obter alimento.

Passou a plantar uma vinha. A declaração não significa que Noé plantou apenas uma vinha e nada mais. A vinha é mencionada para explicar os eventos seguintes, mas não exclui o fato de ele lavrar a terra para outros propósitos. A Armênia, o local em que a arca repousou, era, na Antiguidade, conhecida como uma região de vinhas, como testifica o soldado-historiador grego Xenofonte. O cultivo de vinhas era comum em todo o antigo Oriente Próximo e remonta aos tempos mais distantes. Noé não errou ao plantar uma vinha. A videira é uma das nobres plantas que Deus criou. Cristo a usou para ilustrar Seu relacionamento com a igreja (Jo.15) e honrou seu fruto, bebendo dele na última noite de Seu ministério terreno (Mt.26:27-29). O suco de uva, não fermentado, é altamente benéfico ao corpo humano.

Gn.9:21 21. Bebendo do vinho, embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda.

Vinho. Heb. yayin, o suco da uva. Na maioria das ocorrências desta palavra na Bíblia, se não em todas, o contexto indica uma bebida fermentada, e, portanto, inebriante. Como resultado do uso dessa bebida, Noé “embriagou-se”. Uma vez que a embriaguez havia sido um dos pecados da era antediluviana, deve-se presumir que Noé estivesse familiarizado com os males decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas.

O registro do pecado de Noé mostra a imparcialidade da Bíblia, que registra tanto as virtudes dos grandes servos de Deus como suas faltas. A idade e as vitórias espirituais anteriores não são garantia contra a derrota na hora da tentação. Quem pensaria que um homem que andara com Deus por séculos e que resistira às tentações de multidões, cairia sozinho? Um momento de descuido pode macular a mais pura vida e desfazer grande parte do bem que se faz no decorrer de anos.

E se pôs nu. “O vinho é escarnecedor” (Pv.20:1) e pode enganar as pessoas mais sábias, se não estiverem vigilantes. A embriaguez deforma e degrada o templo do Espírito Santo, que somos nós; enfraquece os princípios morais e, assim, expõe a pessoa a inúmeros males. Tira o controle tanto das faculdades físicas quanto mentais. A intemperança de Noé levou vergonha a um respeitável idoso e sujeitou alguém que era sábio e bom ao escárnio e à zombaria.

Gn.9:22 22. Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos.

Vendo a nudez do pai. O fato de Cam ser novamente chamado o pai de Canaã parece indicar que tanto pai quanto filho tinham inclinações profanas semelhantes, que se revelaram não só no incidente aqui descrito, mas também posteriormente nas práticas religiosas de toda uma nação. Além do mais, mostra que o evento ocorreu algum tempo após o dilúvio, quando Canaã, o quarto filho de Cam (Gn.10:6), já havia nascido. O pecado de Cam não foi uma transgressão involuntária. Talvez ele tenha visto acidentalmente a condição vergonhosa do pai, mas, em vez de ficar cheio de tristeza pela insensatez do pai, ele se alegrou com o que viu e se deleitou em divulgá-lo.

Gn.9:23 23. Então, Sem e Jafé tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem.

Sem e Jafé tomaram uma capa. Os dois irmãos mais velhos de Cam não participaram dos sentimentos perversos do mais novo. Adão também havia tido dois filhos bem disciplinados, Abel e Sete, e um filho do pecado, Caim. Embora todos houvessem recebido o mesmo amor paterno e a mesma educação, o pecado se manifestou muito mais marcadamente em um que nos outros. Agora o mesmo espírito de depravação irrompe em um dos filhos de Noé, enquanto que os filhos mais velhos, criados no mesmo lar e sob as mesmas condições que Cam, mostram admirável espírito de decência e domínio próprio. Como as más tendências do criminoso Caim foram perpetuadas em seus descendentes, a natureza degradada de Cam também continuou se revelando em sua descendência.

Gn.9:24 24. Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço

Despertando Noé. Quando Noé recuperou a consciência e a razão, ficou sabendo do que tinha acontecido durante seu sono, provavelmente perguntando porque razão aquela veste o estava cobrindo. Seu “filho mais moço”, literalmente, “seu filho, o pequeno”, se refere a Cam (ver com. de Gn.5:32).

Gn.9:25 25. e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos.

Maldito seja Canaã. O fato de a maldição ser pronunciada sobre Canaã, o quarto filho de Cam, em vez de sobre o próprio perpetrador do mal, tem sido considerado por muitos comentaristas como evidência de que, na verdade, Canaã tinha sido o culpado, e não Cam, e de que o Gn.9:24 se refere a ele como o membro mais novo da família de Noé. Orígenes, um dos pais da igreja, menciona a tradição de que Canaã foi quem primeiro viu a vergonha do avô e contou a seu pai. Não é impossível que Canaã tenha participado da má ação do pai.

A maldição de Noé não parece ter sido pronunciada por ressentimento, mas como uma profecia. A profecia não prende Canaã em particular ou os filhos de Cam em geral às cadeias de um destino de ferro. É simplesmente uma predição do que Deus viu de antemão e o anunciou através de Noé. É presumível que Canaã já estivesse andando nos pecados do pai, e esses pecados se tornaram um traço tão forte no caráter dos descendentes de Canaã que Deus mais tarde ordenou sua destruição.

Seja servo dos servos. Sem subjugou Jafé, e Jafé subjugou Sem, mas Cam nunca subjugou nenhum dos dois.

Gn.9:26 26. E ajuntou: Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo.

Bendito seja o Senhor, Deus de Sem. Em contraste com a maldição, a bênção sobre Sem e Jafé é introduzida novamente com a expressão “e disse” (ARC; “e ajuntou”, ARA). Após a declaração de cada bênção vem o anúncio da servidão de Canaã, como um pequeno refrão. Em vez de desejar o bem a Sem, Noé louva o Deus de Sem, ou seja, Yahweh, como fez Moisés no caso de Gade (Dt.33:20). Tendo a Yahweh como seu Deus, Sem seria um recebedor e herdeiro de todas as bênçãos da salvação que Yahweh confere a Seus fiéis.

Gn.9:27 27. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.

Engrandeça Deus a Jafé. Mediante um jogo de palavras com o nome de Jafé, Noé resume sua bênção para esse filho na palavra “engrandeça”, pathah. Com isso, o patriarca indicou a notável disseminação e prosperidade das nações jafetitas.

Habite ele nas tendas de Sem. O pronome pessoal “ele” não se refere a Deus, embora alguns comentaristas o tenham assim entendido, mas a Jafé. O significado do pronunciamento pode ter sido duplo, uma vez que os descendentes de Jafé, com o decorrer do tempo, acabaram tomando muitas das terras semitas e habitaram nelas, e porque os jafetitas chegariam a participar das bênçãos de salvação dos semitas. Quando o evangelho foi pregado em grego, uma língua jafetita, o povo de Israel, que era descendente de Sem, embora subjugado por Roma, descendente de Jafé, tornou-se o vencedor espiritual dos jafetitas, e assim, figuradamente, recebeu-os em suas tendas.

Todos os que forem salvos são parte do Israel espiritual e entrarão na cidade santa pelas portas, trazendo o nome das 12 tribos de Israel (Gl.3:29; Ap.21:12). Profecias como essa não determinam o destino de indivíduos dentro do grupo mencionado, seja para a salvação ou para a perdição. A cananeia Raabe e o jebuseu Araúna foram recebidos na comunhão do povo escolhido de Deus, e a mulher cananeia foi ajudada pelo Senhor por causa de sua fé (Mt.1:5; 2Sm.24:18; Mt.15:22-28). No entanto, alguns ais foram pronunciados sobre os endurecidos fariseus e escribas, e Israel foi rejeitado como nação por causa da incredulidade (Mt.23:13; Rm.11:17-20).

Gn.9:28 28. Noé, passado o dilúvio, viveu ainda trezentos e cinquenta anos.

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Gn.9:29 29. Todos os dias de Noé foram novecentos e cinquenta anos; e morreu.

Todos os dias de Noé. A história de Noé termina com uma bem conhecida fórmula do Gn.5, sugerindo que os relatos contidos nos Gn.6 a Gn.9 pertencem à história de Noé. Embora Noé fosse um homem justo e andasse com Deus, não atingiu a estatura espiritual de seu bisavô Enoque. Depois de testemunhar o crescimento e a expansão de uma nova geração, e de ter visto quão rapidamente esta seguiu as ímpias inclinações do coração, Noé morreu.

Gn.10:1 1. São estas as gerações dos filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé; e nasceram-lhes filhos depois do dilúvio.

São estas as gerações. A autenticidade de Gênesis 10 tem sido desafiada pelos críticos da Bíblia, que qualificam o capítulo como documento de data posterior baseado em informações falsas ou como pura invenção. Diversas descobertas, porém, atestam sua validade. Sem Gn.10 o conhecimento sobre a origem das diferentes etnias e sobre a inter-relação entre elas seria bem escasso. Esse capítulo confirma as palavras de Paulo em Atenas, de que Deus “de um só fez toda a raça humana” (At.17:26).

Dos filhos de Noé. A expressão “São estas as gerações” aparece frequentemente em Gênesis (Gn.6:9, ARC;Gn.11:10; Gn.25:12; Gn.25:19), geralmente como introdução a informações genealógicas. Os filhos de Noé não são alistados de acordo com a idade, mas de acordo com sua importância em relação aos hebreus (ver com. de Gn.5:32). Os três filhos nasceram antes do dilúvio. Sem significa “nome” ou “fama”; Cam, “calor”; e Jafé, “beleza” ou “expansão”. O último significado é preferível para o nome de Jafé, em vista da bênção pronunciada sobre ele pelo pai (ver Gn.9:27). Os nomes provavelmente refletem os sentimentos de Noé por ocasião do nascimento de cada filho. O nascimento de Sem assegurou “fama” a Noé; havia um lugar particularmente “caloroso” em seu coração para Cam; e em Jafé ele viu o crescimento de sua família. Os nomes também sugerem presciência profética.

Sem ficou famoso como progenitor de Abraão e, assim, do Messias; a natureza de Cam era ardente, indômita e sensual; os descendentes de Jafé se dispersaram por vários continentes. Mas o espírito de inspiração não se revelou só nos nomes que Noé deu aos filhos; refletiu-se, também, nas bênçãos e na maldição pronunciadas sobre eles (ver Gn.9:25-27). O nome de Cam aparece com frequência hoje em dia entre os judeus, sob a forma Chaim.

Nasceram-lhes filhos. A marcante bênção de Deus sobre os sobreviventes do dilúvio resultou na rápida multiplicação da raça humana (ver Gn.9:1; Gn.10:32). A sequência em que é examinado o nome de cada filho de Noé está em harmonia com um recurso literário hebraico conhecido como “paralelismo invertido”. Depois de dar o nome deles na ordem costumeira: “Sem, Cam e Jafé”, Moisés alista primeiro os descendentes de Jafé e por último os de Sem. Outro exemplo desse recurso ocorre em Mt.25:2-4 (ARC).

Gn.10:2 2. Os filhos de Jafé são: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras.

Os filhos de Jafé são: Gomer. Gomer foi o ancestral de um povo conhecido em inscrições assírias como gamir ou gimirrai. Eles são os cimérios da antiga literatura grega e pertencem à família de nações indo-europeias. Segundo o autor grego Homero, os cimérios viviam no norte da Europa. Apareceram nas províncias do norte do império assírio no tempo de Sargão II, durante o 8º século a.C. Invadiram a antiga Armênia, mas foram expulsos para o oeste pelos assírios. Uma antiga carta assíria comenta que nenhum de seus intérpretes conhecia a língua do povo de Gomer.

Os cimérios, por sua vez, derrotaram os reinos da Frígia e Lídia, na Ásia Menor, mas foram gradualmente absorvidos pelos povos da Anatólia. Poetas da época falam do terror inspirado no coração dos homens pelos cimérios. Em testemunho de seu poder, uma grande parte da Anatólia teve outrora o nome de Gomer. Os antigos falavam do “Bósforo cimério (ou cimeriano)”, e os armênios ainda chamam parte de seu país de Gamir. Pensa-se que a Crimeia traga o nome deles até hoje.

Magogue. A identificação deste nome é complexa. Em Ez.38 e Ez.39, um rei de Magogue chamado Gogue aparece como um cruel inimigo do povo de Deus. Dele pode ter vindo a bárbara tribo de gagaia, mencionada numa carta de um rei babilônico do século 15 a.C. para um faraó egípcio. Presume-se que essa tribo tenha vivido em alguma parte ao norte do Mar Negro, provavelmente nas proximidades dos descendentes de Gomer, irmão de Magogue.

Madai. Os medos, descendentes de Madai, aparecem pela primeira vez em inscrições assírias do 9º século a.C. como um povo que vivia no elevado planalto iraniano, ao leste da Assíria. Após desempenhar um papel irrelevante na história do mundo antigo, eles surgem repentinamente no 7º século a.C. como uma poderosa nação sob o rei Ciáxares, que, em união com os babilônios, vencem o império assírio. Quando os dois aliados dividiram o império fragmentado, os medos receberam as províncias do norte até o rio Hális, na Ásia Menor, e governavam seu vasto domínio a partir de Ecbátana, a Acmetá mencionada na Bíblia (ver Ed.6:2). O filho de Ciáxares, chamado Astíages, foi derrotado e deposto pelo governante persa Ciro, que consolidou os reinos da Média e da Pérsia e depois venceu Babilônia. Assim, pela primeira vez na história, a supremacia caiu nas mãos de uma etnia indo-europeia.

Javã. Os gregos, ou jônicos, descendiam de Javã. Os jônicos primitivos são pela primeira vez mencionados em registros heteus como os habitantes da costa ocidental da Ásia Menor. Isso foi na metade do segundo milênio a.C., por volta da época em que Moisés escreveu o Gênesis. Nas inscrições assírias eles são chamados jamnai.

Tubal. Os tibarênios de Heródoto e os tabaleanos de fontes cuneiformes assírias devem ser identificados com os descendentes de Tubal. Tubal é mencionado em inscrições do século 12 a.C. como aliado de Muski (Meseque) e Kaski numa tentativa de conquistar o norte da Mesopotâmia. Salmanasar III se refere a Tabal como um país, pela primeira vez, no 9º século a.C., enquanto que inscrições de um século mais tarde localizam os tabaleanos como habitantes da cadeia montanhosa do Antitauro na parte sul da Capadócia. Foram mais tarde repelidos para a Armênia, onde autores gregos do período clássico tiveram contato com eles.

Meseque. Provavelmente ancestral dos moschoi mencionados pelos escritores clássicos gregos e dos mushku das inscrições assírias. Essas inscrições apresentam Tabal e mushku como aliados, da mesma forma que Ez.38. Os mushku aparecem na parte norte da Mesopotâmia pela primeira vez durante o reinado de Tiglate-Pileser I, cerca de 1100 a.C. Um pouco mais tarde, se estabeleceram na Frígia e, a partir de então, sob seu rei Mita, fizeram guerra contra Sargão II , no 8º século a.C. Em sua luta contra os assírios, o último rei de Carquemis tentou em vão obter ajuda de Mita, rei de Meseque. Após dominarem a Anatólia por algum tempo, os mushku a perderam, primeiro para os cimérios, e depois para os lídios.

Tiras. Provavelmente o ancestral dos tursenoi. Esse povo, cujo nome é derivado de Tiras, vivia na costa oeste da Ásia Menor, onde eram conhecidos como piratas. Provavelmente relacionados aos tirsenos italianos, são mencionados em inscrições egípcias do final do século 13 a.C. com o nome de turusha. Eles desempenharam papel relevante entre os povos costeiros migratórios do período pré-helênico.

Gn.10:3 3. Os filhos de Gomer são: Asquenaz, Rifate e Togarma.

Os filhos de Gomer são: Asquenaz. Primeiro filho de Gomer, filho de Jafé, Asquenaz foi ancestral dos ashkuza, o povo indo-europeu que vivia a sudeste do lago Urmia no tempo de Esar-Hadom, no 7º século a.C. O lago Ascaniano da Frígia tem o nome derivado desse povo. Esar-Hadom deu sua filha como esposa a Bartatua, rei dos ashkuza, depois de lhe ser assegurado por seu deus-sol que Bartatua permaneceria leal à Assíria. Assim, os ashkuza uniram forças com os assírios contra os cimérios e os medos. Madyes, filho de Bartatua, tentou inutilmente ajudar os assírios quando Nínive foi sitiada pelos medos e babilônios. Com a queda da Assíria, os ashkuza ficaram sujeitos aos medos. Juntamente com os reinos indo-europeus de Ararate, Mini e Média, eles são evocados por Jeremias como destruidores de Babilônia (Je.51:27).

Rifate. Por causa de seu relacionamento com Gomer, Asquenaz e Togarma, Rifate foi provavelmente o progenitor de outra tribo indo-europeia da Capadócia. Seu nome, contudo, não tem sido encontrado em inscrições antigas. Josefo identifica seus descendentes com os paflagônios, que viveram a oeste do baixo Hális na Ásia Menor, e cuja capital era Sinope.

Togarma. Ancestral dos tegarma ou tegarama, mencionados nos registros heteus do século 14 a.C. Eles são os tilgarimmu das inscrições assírias, que os localizam no norte dos montes Tauro. Senaqueribe, filho de Sargão, os menciona como os chilakki, que viviam no Hális, na Ásia Menor. Esses dois reis assírios afirmam ter conquistado o território desse povo. Ezequiel declara que cavalos e mulos da terra deles eram levados para os mercados da Fenícia (Ez.27:14). Togarma aparece em Ez.38:6 entre os aliados de Magogue. Os armênios traçam sua genealogia a Haik, o filho de Torgom, e, portanto, parecem ser descendentes de Togarma.

Gn.10:4 4. Os de Javã são: Elisá, Társis, Quitim e Dodanim.

Os de Javã são: Elisá. Tiro importava tecido púrpura das “ilhas de Elisá” (Ez.27:7), provavelmente as ilhas da Sicília e Sardenha. Parece provável que os descendentes do filho de Javã, Elisá, devam ser procurados nessa região. Sabe-se que Sicília e Sardenha foram colonizadas pelos gregos; por isso, os habitantes dessas ilhas eram os “filhos” da Grécia continental, assim como Elisá era o filho de Javã, progenitor dos gregos. A similaridade do nome Elisá com a região grega chamada Élide ou Élis e com o nome pelo qual os gregos chamam seu país, “Hellas”, parece ligar, originalmente, Elisá à Grécia continental.

Társis. Este nome aparece frequentemente na Bíblia. Segundo Is.66:19 e Sl.72:10, Társis era uma terra “remota”. Tinha boas relações comerciais com Tiro, que de lá importava prata, ferro, estanho e chumbo (Ez.27:12). Jonas pretendia fugir para Társis quando o Senhor o enviou a Nínive (Jn.1:3). Provavelmente era a remota colônia fenícia localizada no distrito minerador do sul da Espanha, a Tartessus, mencionada pelos gregos e romanos, na área do médio e baixo rio Baetis (hoje Guadalquivir). “Társis”, que significa “fundição” ou “refinaria”, foi provavelmente o nome de diferentes locais com os quais os fenícios e, por vezes, os hebreus comercializaram metais em “navios de Társis” (Sl.48:7; ver com. de 1Rs.10:22).

Quitim. Muitos comentaristas têm identificado Quitim com Chipre porque a capital de Chipre era chamada Kition. Isso concordaria com Is.23:1 e Is.23:12, que fala de Quitim como se não estivesse muito longe de Tiro e de Sidom. Em Je.2:10 e Dn.11:30, o nome Quitim denota os gregos em geral. Mas seu sentido primitivo, conforme o uso em Isaías, parece ser mais restrito. Portanto, é seguro identificar Quitim com Chipre ou com outras ilhas situadas nas proximidades da Grécia.

Dodanim. Se esta grafia estiver correta, a referência deve ser aos dardânios, que viviam ao longo da costa noroeste da Ásia Menor. A LXX, contudo, traz Rodioi. A lista paralela de 1Cr.1:7 traz Rodanim no hebraico, que os tradutores da ARC mudaram para Dodanim a fim de concordar com a grafia hebraica de Gn.10:4 (isso não acontece na ARA). As letras dalet (d) e resh (r) no hebraico são tão semelhantes que um escriba pode facilmente ter confundido o r com d nesse verso. Se a grafia original do nome era de fato Rodanim, provavelmente a referência é aos gregos da ilha de Rodes.

Gn.10:5 5. Estes repartiram entre si as ilhas das nações nas suas terras, cada qual segundo a sua língua, segundo as suas famílias, em suas nações.

As ilhas das nações. Os descendentes de Javã, ou seja, as diversas tribos gregas mencionadas no verso anterior — o povo da Grécia e das ilhas adjacentes a ela: Sicília, Sardenha, Espanha e Chipre — saíram para se estabelecer nas ilhas e regiões costeiras do Mediterrâneo. Este verso indica que os nomes dados designam somente os principais grupos tribais. Aparentemente, novas ramificações já haviam ocorrido na época de Moisés. Quando o Gênesis foi escrito, as populações das partes central e ocidental do Mediterrâneo estavam subdivididas em muitos grupos diferentes, provavelmente, todos eles descendentes de Javã, o quarto filho de Jafé.

Gn.10:6 6. Os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.

Os filhos de Cam: Cuxe. O povo hebreu estava mais intimamente associado com os descendentes de Cam do que com os de Jafé. Cuxe, ou Kush, era a antiga Etiópia, que nos tempos clássicos era chamada Núbia. Não era a Abissínia, mas incluía uma parte do Egito e outra do Sudão, estendendo-se da primeira catarata do Nilo, em Assuã, até Cartum, ao sul. Nas inscrições egípcias, essa terra é chamada Kash, e, em textos cuneiformes assírios, Kusu. Cuxe, contudo, incluía não apenas a Núbia, na África, mas também a parte ocidental da Arábia, que margeia o Mar Vermelho. Sabe-se que alguns dos filhos de Cuxe se estabeleceram ali. Pensa-se que Zerá, o cuxita de 2Cr.14:9, e os habitantes de Cuxe, mencionados em Is.45:14 (traduzidos respectivamente como etíope e Etiópia na ARA), sejam habitantes da Arábia ocidental. Por volta do tempo de Ezequias, Judá esteve em contato com a região africana de Cuxe, ou seja a Etiópia, que é mencionada frequentemente em livros posteriores do AT (ver 2Rs.19:9; Et.1:1; Et.8:9; Sl.68:31; etc.).

Mizraim. Os egípcios descenderam do segundo filho de Cam. A origem do nome hebraico Mizraim é obscura. Embora esta palavra seja, nos idiomas assírio, babilônio, árabe e turco, quase a mesma que no hebraico, nunca se encontrou um nome nativo semelhante em inscrições egípcias. Os egípcios chamavam seu país de a “Terra Negra” para designar a faixa de solo fértil que margeia o Nilo de ambos os lados em contraste com a “Terra Vermelha” do deserto, ou de as “Duas Terras”, o que refletia uma divisão histórica anterior do país em dois reinos. É assunto de controvérsia entre os eruditos se a palavra Mizraim, que tem a terminação dual hebraica, pode ou não ser um reflexo da expressão “Duas Terras”. Os egiptólogos modernos usam o substantivo Misr e o adjetivo Misri ao referir-se ao Egito.

Pute. Pute tem sido tradicionalmente identificado como o progenitor dos líbios. Essa tradição remonta ao tempo da LXX, que traduziu Phut, como “Líbia”. A identificação provavelmente esteja errada. Antigas inscrições egípcias mencionam uma terra africana de nome Punt, identificada como Putsa nos textos babilônicos, à qual, desde tempos remotos, o Egito enviava expedições para obter árvores de mirra, peles de leopardo, ébano, marfim e outros produtos exóticos. Portanto, o Punt, provavelmente, correspondia à costa africana da Somália e da Eritreia, e ao Pute desta passagem.

Canaã. Inscrições hieroglíficas e cuneiformes do segundo milênio a.C. localizam Canaã como a região que se limita com o Mediterrâneo a oeste, o Líbano ao norte e o Egito ao sul. É, além disso, um nome coletivo para as populações autóctones da Palestina, da Fenícia e das cidades-estado heteias do norte da Síria. Os fenícios e os cartagineses (descendentes dos fenícios que colonizaram a região litorânea do norte da África) referiam-se a si mesmos, em suas moedas, como cananeus, até os tempos de Roma (ver Gn.10:15). Embora Canaã fosse o filho de Cam, a língua cananeia era semita — como é claramente revelado pela escrita dos cananeus. Parece que eles aceitaram a língua semita num estágio muito precoce de sua história. Isso parece ter acontecido com os egípcios também, pois seu idioma é fortemente semita.

Na verdade, os antigos egípcios, cuja procedência camita os eruditos não questionam, assimilaram tantos elementos semitas em sua linguagem que alguns eruditos até classificaram os antigos egípcios como semitas. A proximidade geográfica dos cananeus com as nações semitas do Oriente Médio pode ter sido responsável por sua aceitação do idioma semita. A cultura, a língua e a escrita babilônicas foram adotadas por quase todos os povos que viviam entre o Eufrates e o Egito, como o indicam as Cartas de Amarna do século 14 a.C. (sobre as Cartas de Amarna, ver p. 86). O fato de o idioma falado por um povo nem sempre ser um indicativo claro da etnia à qual ele pertence é evidenciado por muitos exemplos antigos e modernos. A conquista árabe de toda a região do Mediterrâneo tornou o árabe a língua falada e escrita de populações semitas e não semitas, desde a costa do Atlântico até o rio Indo.

Gn.10:7 7. Os filhos de Cuxe: Sebá, Havilá, Sabtá, Raamá e Sabtecá; e os filhos de Raamá: Sabá e Dedã.

Os filhos de Cuxe: Sebá. Josefo, o historiador judeu, identifica Sebá com o reino núbio de Meroe, uma terra africana situada entre os rios Nilo Azul e Atbara. Esse ponto de vista pode ter sido correto no tempo de Josefo, uma vez que os etíopes, naquela época, já haviam migrado do sul da Arábia para a África. Contudo, Sebá era uma tribo que, pelo menos originalmente, estava situada na parte sul da Arábia. No Sl.72:10, as nações mais longínquas do tempo de Salomão são retratadas prestando-lhe homenagens — Sebá no extremo sul, Társis a oeste e Sabá a leste. Em Is.43:3, Sebá é descrito como se estivesse muito próximo de Cuxe (traduzido como “Etiópia” na ARA e na ARC). Is.45:14 enfatiza a grande estatura desse povo.

Havilá. Este nome não é mencionado em parte alguma, a não ser na Bíblia. Várias declarações bíblicas indicam que era uma tribo árabe situada não muito longe da Palestina. Gn.25:18 situa a fronteira oriental de Edom em Havilá, que foi também o limite oriental da campanha de Saul contra os amalequitas (ver 1Sm.15:7). Sobre a região antediluviana de Havilá (ver com. de Gn.2:11).

Sabtá. Alguns comentaristas têm identificado o território de Sabtá com Sabota, a capital do país de Hadramaute, no sul da Arábia. Outros o identificam com a cidade de Saphtha, no golfo Pérsico, mencionada por Ptolomeu. Não tem sido possível identificá-lo de maneira definida.

Raamá. Uma vez que as tribos árabes de Sabá e Dedã estavam originalmente localizadas no sudoeste da Arábia, é provável que o povo de Raamá vivesse na mesma região. Ez.27:22 menciona Raamá junto com Sabá como sendo povos que comercializavam incenso, pedras preciosas e ouro nos mercados de Tiro. É provável que Raamá seja a tribo dos ramanitas, identificada pelo geógrafo romano Estrabão no sudoeste da Arábia. Eles também são mencionados numa famosa inscrição árabe que louva a divindade local por salvar os mineus dos ataques de Sabá e Haulan no caminho de Ma’in para Raamá.

Sabtecá. Nada mais se sabe deste filho ou de seus descendentes. Alguns têm procurado identificar seu território como sendo Samudake, no golfo Pérsico. Isso é muito duvidoso, porque todos os árabes cuxitas parece terem se estabelecido na parte oeste da Arábia.

Sabá. Os sabeus, descendentes de Sabá, são bem conhecidos, tanto na Bíblia como em outras fontes. Nos tempos do AT, Sabá aparece como uma rica nação mercantilista. Em geral se acredita que foi a rainha desse povo que fez uma visita a Salomão. Mais tarde os sabeus se tornaram a nação mais importante do sul da Arábia, no país hoje chamado Iêmen. Um abundante número de inscrições, muitas não publicadas, dá testemunho da religião, da história e do alto nível da cultura desse povo. Através da construção de grandes represas e de um extenso sistema de irrigação, os sabeus aumentaram grandemente a fertilidade e a riqueza de seu país, ao ponto de ele se tornar conhecido nos tempos clássicos como Arabia Felix, “Arábia Feliz”. A negligência e, por fim, a destruição dessas represas trouxe o gradual eclipse da nação sabeia.

Este neto de Cuxe se tornou o ancestral de uma tribo do sul da Arábia, da qual nada mais se sabe. Essa tribo não deve ser confundida com a que foi descendente de um neto de Abraão pela linhagem de Quetura e que vivia na fronteira sul de Edom, no noroeste da Arábia (Gn.25:3; 1Cr.1:32; Is.21:13; Je.25:23; Je.49:8; Ez.25:13; Ez.27:15; Ez.27:20; Ez.38:13).

Gn.10:8 8. Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra.

Cuxe gerou a Ninrode. Embora o nome de Ninrode ainda não tenha sido encontrado em registros babilônicos, os árabes até hoje ligam alguns sítios antigos ao nome dele. Birs-Nimrud, por exemplo, é o nome que eles dão às ruínas de Borsipa; e Nimrud, às ruínas de Calá. Esses nomes devem repousar sobre tradições muito antigas, e não podem ser atribuídos somente à influência do Alcorão. No que se refere às evidências arqueológicas atuais, os mais antigos habitantes da Mesopotâmia não foram semitas, mas sumérios. Pouco se sabe da origem dos sumérios. O fato de Ninrode, um camita, fundar as primeiras cidades-estado da Mesopotâmia, sugere que possivelmente os sumérios fossem camitas.

Poderoso. Esta expressão denota uma pessoa famosa por atos ousados e audaciosos. Também pode incluir a conotação de “tirano”.

Gn.10:9 9. Foi valente caçador diante do Senhor; daí dizer-se: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor.

Diante do Senhor. A LXX traduz esta frase como “contra o Senhor”. Embora o caçador Ninrode agisse em desafio a Deus, seus poderosos atos o tornaram famoso entre seus contemporâneos e também em futuras gerações. Lendas babilônicas sobre Gilgamés, que aparecem frequentemente em relevos e em selos cilindros babilônicos, e também em documentos literários, talvez se refiram a Ninrode. Gilgamés geralmente é retratado matando leões e outros animais selvagens apenas com suas mãos. O fato de Ninrode ser um camita pode ser a razão de os babilônios, descendentes de Sem, atribuírem famosos feitos dele a um de seus próprios caçadores; e propositalmente esqueceram seu nome.

Gn.10:10 10. O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar.

O princípio do seu reino. Isto pode significar seu primeiro reino ou o princípio de sua soberania. Ninrode aparece na lista das nações como o autor do imperialismo. Sob sua liderança a sociedade passou da forma patriarcal para a monárquica. Ele é o primeiro homem mencionado na Bíblia como chefe de um reino.

Babel. O primeiro reino de Ninrode foi Babilônia. Por terem a ideia de que sua cidade era um reflexo terreno da habitação celestial de seu deus, os babilônios deram-Ihe o nome de Bab-ilu, “o portão de deus” (ver com. de Gn.11:9). As lendas babilônicas identificam a fundação da cidade com a criação do mundo. Tendo sem dúvida isso em mente, Sargão, um primitivo rei semita da Mesopotâmia, levou “terra sagrada’’ de Babilônia para fundar outra cidade que tivesse o mesmo modelo. Mesmo no período posterior da supremacia assíria, Babilônia não perdeu sua importância como o centro da cultura mesopotâmica. Sua maior fama e glória, contudo, vieram no tempo de Nabucodonosor, que fez dela a primeira metrópole do mundo. Após sua destruição pelo rei persa Xerxes, Babilônia ficou parcialmente em ruínas (ver com. de Is.13:19).

Ereque. Refere-se à Uruk babilônica, e à moderna Warka. Escavações recentes provam que esta é uma das cidades mais antigas ainda em existência. Dela vieram os mais antigos documentos escritos já descobertos. Uruk era conhecida pelos babilônios como a região onde os poderosos feitos de Gilgamés foram realizados, um fato que parece apoiar a sugestão de que as lendas de Gilgamés eram reminiscências das antigas proezas de Ninrode.

Acade. Foi a sede dos antigos reis Sargão e Naram-Sin (p. 113). As ruínas desta cidade nunca foram localizadas, mas devem estar nas vizinhanças de Babilônia. A antiga população semita da baixa Mesopotâmia veio a ser chamada de acadiana, e hoje se faz referência coletivamente às línguas babilônica e assíria pelo mesmo termo.

Calné. Embora Calné ainda não tenha sido identificada com segurança, provavelmente era a mesma cidade que Nippur, a atual Niffer. Uma grande porcentagem dos textos sumérios conhecidos foi encontrada nesse sítio. A cidade era chamada pelos sumérios de Enlil-ki, “a cidade de [o deus] Enlil”. Os babilônios inverteram a sequência dos dois elementos desse nome e se referiam à cidade, em suas inscrições mais antigas, como Ki-Enlil, e mais tarde como Ki-Illina. Pode ter vindo daí o nome heb. “Calné”. Próxima a Babilônia, Nippur era a cidade mais sagrada da baixa Mesopotâmia e ostentava importantes templos. Desde os tempos mais remotos até o período persa, a cidade foi um centro de cultura e de extenso comércio.

Sinar. As cidades já mencionadas ficavam na terra de Sinar, o termo que o AT geralmente usava para Babilônia, e que compreendia tanto Sumer, no sul, como Acade, no norte (ver Gn.11:2; Gn.14:1; Gn.14:9; Js.7:21, heb. “uma capa de Sinar”; Is.11:11; Zc.5:11; Dn.1:2). O nome é ainda obscuro. Antigamente se achava que derivasse da palavra Sumer, a antiga Suméria, que ficava no extremo sul da Mesopotâmia. É mais provável, porém, que tenha vindo da palavra Shanhara mencionada em certos textos cuneiformes, uma terra cuja localização exata ainda não foi determinada. Alguns textos parecem indicar que Shanhara era no norte da Mesopotâmia, e não no sul. Embora haja certeza de que Sinar é Babilônia, a origem do termo ainda não é clara.

Gn.10:11 11. Daquela terra saiu ele para a Assíria e edificou Nínive, Reobote-Ir e Calá.

Daquela terra saiu ele para a Assíria. Embora a tradução da BJ seja possível (“Dessa terra saiu Assur”), a construção da frase no hebraico favorece a tradução da ARA, que conserva Ninrode como o sujeito. Em Miqueias 5:6, a Assíria é chamada “a terra de Ninrode”. A mudança de Ninrode para a Assíria e a renovação de sua atividade de construção naquele local constituíram uma expansão de seu império para o norte. O que faltava à Assíria em tamanho geográfico, ela compensou em poder político num momento posterior de sua história.

Nínive. Durante séculos Nínive foi famosa como capital da Assíria. Os próprios assírios a chamavam Ninua, aparentemente dedicando-a à deusa babílônica Nina. Isso aponta para Babilônia como o lar anterior de Ninrode e concorda com a informação bíblica de que ele, o primeiro rei de Babilônia, foi também o fundador de Nínive. Escavações têm demonstrado que Nínive era uma das cidades mais antigas da alta Mesopotâmia. Localizada na interseção de concorridas rotas de comércio internacionais, Nínive logo se tornou um importante centro comercial.

Mudou de dominadores repetidas vezes durante o segundo milênio a.C., pertencendo sucessivamente aos babilônios, heteus e mitânios, antes de passar para o controle assírio no século 14 a.C. Mais tarde, como capital do império assírio, foi cuidadosamente fortificada e embelezada com magníficos palácios e templos. Em 612 a.C. a cidade foi destruída pelos medos e babilônios e, desde então, permanece em ruínas. Em sua famosa biblioteca, estabelecida por Assurbanipal, foram encontrados milhares de tabletes de barro cozido que contêm documentos e cartas históricas, religiosas e comerciais de valor inestimável. Essa descoberta, mais do que todas as outras, enriqueceu o conhecimento da Assíria e da Babilônia antigas.

Reobote-Ir. Literalmente, os “lugares amplos” ou “ruas da cidade”. Este nome provavelmente designa Rêbit-Ninâ, um subúrbio de Nínive mencionado em certos textos cuneiformes. Sua localização exata, contudo, ainda é incerta. Alguns estudiosos acham que ela ficava a nordeste de Nínive; outros, que ficava do outro lado do Tigre, no sítio da moderna Mosul, no Iraque.

Calá. Esta é a antiga cidade assíria de Kalhu, que fica na confluência dos rios Grande Zab e Tigre, cerca de 32 km ao sul de Nínive. Seu nome atual, Nimrud, perpetua a memória de seu fundador. Magníficos palácios foram o orgulho dessa cidade, que serviu intermitentemente como capital do império assírio. Em suas extensas ruínas foram preservados imensos monumentos de pedra e alguns dos mais lindos exemplares da escultura assíria. Foi encontrado em um de seus palácios o obelisco negro de Salmanasar III, no qual aparece a mais antiga representação pictórica de um rei israelita com alguns hebreus. A inscrição no obelisco registra o pagamento de tributo por parte do rei Jeú de Israel, em 841 a.C.

Gn.10:12 12. E, entre Nínive e Calá, a grande cidade de Resém.

Resém. A Bíblia coloca Resém entre Nínive e Calá, mas seu sítio exato ainda não foi descoberto.

Gn.10:13 13. Mizraim gerou a Ludim, a Anamim, a Leabim, a Naftuim,

Mizraim gerou a Ludim. Moisés passa então para os descendentes do segundo filho de Cam, Mizraim, cujo nome foi mais tarde dado ao Egito. Alguns comentaristas presumem que o erro de um escriba foi responsável por uma suposta mudança de Lubim (os líbios) para Ludim (os lídios). Mas o nome aparece em diferentes livros da Bíblia (1Cr.1:11; Is.66:19; Je.46:9; Ez.27:10; Ez.30:5) portanto, é impróprio considerar que houvesse o mesmo erro em todas as passagens onde ocorre a palavra Ludim, ou Lude. Em algumas dessas passagens são mencionados tanto os ludim como os lubim como sendo povos distintos e separados. Além disso, a LXX traduz Ludim como “lídios”. Isso torna plausível uma identificação com os lídios da Ásia Menor, que devem ter migrado do norte da África para a Anatólia numa época remota de sua história.

Eles se fixaram na planície de Sardes, no oeste da Ásia Menor, antes da metade do segundo milênio a.C. e gradualmente se espalharam por metade da região, até o grande rio Hális. Durante a supremacia heteia, a Lídia esteve sujeita a eles, mas novamente se tornou um reino forte e independente após o colapso do império heteu no 13º século a.C. Ciro conquistou a Lídia no 6º século a.C. e a incorporou ao império persa. Contudo, sua antiga capital, Sardes, continuou sendo uma cidade importante por muitos séculos. Ainda era uma metrópole florescente no princípio da era cristã, quando João escreveu sua carta para a igreja ali (Ap.3:1-6). Se, porém, os ludim da Bíblia não são os históricos lídios, eles devem ter vivido em alguma parte do norte da África, nas proximidades da maioria dos outros descendentes de Mizraim. Se assim for, não é possível identificar os ludim, pois eles não são mencionados em nenhum registro antigo, a não ser a Bíblia.

Anamim. Talvez os anamim tenham vivido no grande oásis do Egito, chamado Kenemet (o som k é frequentemente representado no hebraico pela consoante ‘ayin, com que se inicia o nome ‘Anamim). Mas, em 1920, o arqueólogo William F. Albright, a partir do vocábulo assírio Anami, fez uma identificação diferente: Cirene.

Leabim. Presumivelmente seriam os líbios (chamados nas inscrições egípcias Rbw, provavelmente pronunciado Lebu). Registros bem antigos afirmam que eles representam as tribos que faziam fronteira com o Egito, a noroeste. Por fim acabaram ocupando a maior parte do norte da África. Aparentemente na Bíblia são também chamados “lubim” (ver 2Cr.12:3; 2Cr.16:8; Dn.11:43; Na.3:9). A identificação dos leabim com os líbios constituiria um argumento adicional contra o ponto de vista já discutido de que ludim seria um erro de escrita para lubim.

Naftuim. A identidade deste povo é incerta. Talvez a melhor sugestão seja a de que o termo se refira aos egípcios do Delta do Nilo. Em inscrições egípcias este povo era chamado Na-patúh, que pode ser o mesmo que os Naftuim da Bíblia.

Gn.10:14 14. a Patrusim, a Casluim (donde saíram os filisteus) e a Caftorim.

Patrusim. Os patrusim eram provavelmente os habitantes do alto Egito. Em Is.11:11, Patros é mencionado entre Cuxe (Etiópia) e Mizraim (o Egito). O nome Pathros é a versão hebraica do vocábulo egípcio Pa-ta-res, encontrado nas inscrições assírias como Paturisi, e que significa “a terra do sul”. Ez.29:14 fala de Patros como o lar original dos egípcios. Isso concorda com a antiga tradição deles de que o primeiro rei, Menes, que unificou a nação, veio da antiga cidade de Tinis, no alto Egito.

Casluim. Ainda não identificados. Não é certo que sejam os habitantes da área que faz fronteira com o Mediterrâneo a oeste do Egito.

Filisteus. Como Am.9:7 declara que os filisteus saíram de Caftor, a maioria dos comentaristas acha que a palavra “Caftorim” deveria ser colocada antes da frase “donde saíram os filisteus”. Uma vez que Caslu e Cáftor eram filhos do mesmo pai, algumas das tribos filisteias podem ter se originado de Caslu, e outras, de seu irmão Caftor. Os filisteus que entraram na Palestina, vindos de Creta através da Ásia Menor e da Síria, talvez procedessem originalmente do norte da África. Como habitantes da região costeira do sul da Palestina, desempenharam um importante papel na história dos hebreus. Os filisteus são frequentemente mencionados, não só na Bíblia, mas também nos registros egípcios como Prst (provavelmente pronunciado Puresati). Relevos egípcios retratam suas feições, roupas e o modo de viajar e lutar, o que complementa as informações bíblicas sobre eles. São também mencionados em inscrições cuneiformes sob o nome Palastu. Os gregos chamavam a terra da Filístia de Palaistinê, e aplicavam esse nome ao país todo, que desde então tem sido conhecido como Palestina (ver Is.14:29, onde Peleshet é traduzido como “Palestina”, na KJV).

Caftorim. Este povo é mencionado em outros textos (ver Dt.2:23; Je.47:4; Am.9:7). Inscrições egípcias do segundo milênio a.C. aplicam definidamente o nome keftiu aos primeiros habitantes de Creta, e também, em sentido mais amplo, aos povos da área costeira da Ásia Menor e da Grécia. Esse uso de keftiu sugere Creta e a migração de seus habitantes para as regiões costeiras vizinhas, que incluiriam a Síria e a Palestina. Os filisteus eram remanescentes desses chamados “povos do mar”.

Gn.10:15 15. Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete,

Canaã. Por alguma razão desconhecida, Moisés omite a enumeração dos descendentes do terceiro filho de Cam, Pute, e passa para Canaã, o mais novo dos quatro irmãos. A terra de Canaã estava estrategicamente localizada na importante “ponte” entre a Ásia e a África, entre as duas grandes culturas da Antiguidade que floresceram às margens de rios: a Mesopotâmia e o Egito. A Canaã bíblica era a Palestina a oeste do Jordão, estendendo-se ao norte até as regiões hoje conhecidas como Líbano e Síria.

Sidom, seu primogênito. O porto marítimo de Sidom, conhecido como “a grande Sidom” na época da conquista dos hebreus (Js.11:8), e que aparece em hieróglifos egípcios e em textos cuneiformes mesopotâmicos, era a mais poderosa das cidades-estado fenícias dos tempos antigos. Muitos fenícios na época se autodesignavam sidônios, mesmo quando em realidade eram habitantes de cidades vizinhas. Os sidônios ocuparam Chipre e fundaram colônias na Cilícia e na Cária, na Ásia Menor, em várias ilhas gregas, em Creta e nas regiões costeiras do Mar Negro. A liderança entre as cidades da Fenícia passou de Sidom para a cidade-irmã Tiro, em cerca de 1.100 a.C. Os fenícios tiveram relações amigáveis com Davi e Salomão e também com o reino do norte, Israel, mas exerceram uma influência religiosa maléfica sobre os últimos. Esar-Hadom afirmou ter conquistado a parte insular de Tiro, mas Nabucodonosor, depois de capturar a parte continental da cidade, não conseguiu tomar a parte insular após um cerco de 13 anos. Como resultado, Sidom uma vez mais desempenhou um papel importante durante o período persa, embora tenha sido completamente destruída por Artaxerxes III, em 351 a.C. Tiro teve a mesma sorte, alguns anos mais tarde, quando Alexandre a tomou em 332 a.C., encerrando a longa e gloriosa história das cidades-estado fenícias.

Hete. Ancestral dos heteus, chamados Kheta pelos egípcios e Hatti nos textos cuneiformes. Com sua capital na parte central da Ásia Menor, os heteus se tornaram um forte império no século 17 a.C. Ganharam o controle sobre grande parte da Ásia Menor e da Síria, e, ao se estenderem para o sul, entraram em conflito com o Egito. Esse império heteu centralizado foi, mais tarde, destruído pelos “povos do mar” e dissolvido em muitas cidades-estado sírias. Os assírios chamavam a Síria de o país dos heteus. Os textos heteus, escritos tanto na forma cuneiforme como na forma hieroglífica de uma língua indo-europeia, proveram ricas informações sobre a história, as leis e a cultura dessa nação. Provavelmente, porém, os descendentes de Hete foram os “proto-heteus", de período anterior, cuja língua era chamada hattili (ver p. 115, 116).

Gn.10:16 16. e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus,

Jebuseus. Este povo, que habitava Jerusalém na época pré-israelita, parece ter sido apenas uma tribo pequena e sem importância, uma vez que nunca é mencionado fora da Bíblia e seu território é limitado a Jerusalém nos registros do AT (ver Gn.15:21; Nm.13:29; Jz.19:10-11; etc.). Salomão tornou os restantes dos jebuseus servos da coroa (1Rs.9:20).

Amorreus. Eles foram um poderoso grupo de povos localizados desde a fronteira do Egito até Babilônia durante a era patriarcal. Foram os fundadores da 1º dinastia de Babilônia, da qual Hamurábi, o grande legislador babilônico, foi o rei mais famoso. As evidências disponíveis mostram que eles se infiltraram na Mesopotâmia, Síria e na Palestina no princípio do segundo milênio a.C. e substituíram as classes governantes existentes nessas nações. Entretanto, na época em que os hebreus invadiram o país, só foram encontrados alguns remanescentes dos outrora poderosos amorreus (Nm.21:21).

Girgaseus. Mencionados apenas na Bíblia, este povo era uma tribo cananeia autóctone da Palestina (Js.24:11).

Gn.10:17 17. aos heveus, aos arqueus, aos sineus,

Heveus. Embora mencionados 25 vezes no AT, os heveus eram uma tribo cananeia obscura. Alguns afirmam que o nome heveus devia ser “horeus” (hurrianos), como aparece duas vezes na LXX, com a mudança de apenas uma letra no hebraico (ver p. 116; e com. de Gn.36:20).

Arqueus. Este povo habitava o porto marítimo fenício de Irkata, situado cerca de 25 km a nordeste de Trípoli, nos sopés das colinas do Líbano. O faraó Tutmés III conquistou toda a região durante o século 15 a.C. Ela permaneceu como possessão egípcia durante pelo menos cem anos, como o indicam as Cartas de Amarna do século 14 a.C. O rei Tiglate-Pileser III, da Assíria, menciona a cidade como uma das que lhe pagavam tributos no 8º século a.C.

Sineus. Este povo viveu na cidade de Siannu e arredores e é mencionado por Tiglate-Pileser III, juntamente com outros vassalos tributários fenícios, no 8º século a.C. Sua exata localização é desconhecida.

Gn.10:18 18. aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus.

Arvadeus. Os arvadeus habitavam a antiga cidade de Arvade, construída numa ilha da costa norte da Fenícia. A cidade é mencionada repetidamente em registros antigos de Babilônia, Palestina e Egito. Inscrições de cerca de 1.100 a.C. dizem que Tiglate-Pileser I viajou com os navios de Arvade para caçar baleias. A menção de baleias no mar Mediterrâneo durante o segundo milênio a.C. é significativa em relação à história de Jonas e à referência a grandes monstros do mar no Sl.104:26. Ez.27:8; Ez.27:11 menciona os arvadeus como marinheiros e bravos guerreiros.

Zemareus. Também um povo fenício. Simirra ocorre em documentos assírios, palestinos e egípcios como uma rica cidade de mercadores. Os faraós egípcios Tutmés III e Seti I conquistaram a cidade para o Egito nos séculos 15 e 14 a.C., mas, durante o período da supremacia assíria, Simirra, como outras cidades fenícias, se tornou tributária de Tiglate-Pileser III e de seus sucessores.

Hamateus. Hamate foi uma cidade famosa na Antiguidade, situada junto ao principal rio da Síria, o Orontes. É mencionada em documentos egípcios e assírios. Tiglate-Pileser III a subjugou, mas ela logo reconquistou a independência e se uniu a outros inimigos da Assíria numa longa, mas infrutífera luta contra esse império.

Gn.10:19 19. E o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.

O limite dos cananeus. Não são dados todos os limites do território dos cananeus. Só as cidades fronteiriças ao sul e ao leste são mencionadas (para uma discussão ampla sobre a localização geográfica dessas cidades, ver com. de Gn.14:3). Embora as fronteiras do oeste e do norte não sejam especificamente mencionadas, pode-se presumir com segurança que o deserto árabe, a oeste, e a cidade síria de Hamate, no Orontes (ver Gn.10:18), ao norte, marcavam a área cananeia. Os cananeus estavam espalhados por toda a costa fenícia e palestina.

Gn.10:20 20. São estes os filhos de Cam, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.

Sem comentário para este versículo.

Gn.10:21 21. A Sem, que foi pai de todos os filhos de Héber e irmão mais velho de Jafé, também lhe nasceram filhos.

Os filhos de Héber. Após enumerar os descendentes de Jafé e Cam, Moisés menciona os de Sem. Sua primeira declaração diz respeito aos hebreus, que, como descendentes de Héber (Gn.11:16-26), eram semitas. Diversas descobertas tornam evidente que os habiru mencionados em inscrições babilônicas, assírias, heteias, sírias, cananeias e egípcias se encontravam entre todas essas nações durante o segundo milênio a.C., e que eles estavam claramente relacionados com os hebreus. Há razões para presumir que os habiru fossem descendentes de Héber, como os hebreus; fontes antigas também ocasionalmente se referem aos hebreus como habiru. Mas é certo que nem todos os habiru mencionados em documentos extrabíblicos eram hebreus. A dispersão excepcionalmente ampla dos habiru por muitos países do mundo antigo pode ter levado Moisés a fazer a declaração incomum de que Sem era o “pai de todos os filhos de Héber”.

Irmão mais velho de Jafé. Em heb., esta frase permite uma tradução que faz de Jafé o irmão mais velho de Sem, como na KJV, ou que faz de Sem o “irmão mais velho de Jafé”, como na ARA. No entanto, a KJV é que está correta (ver com. de Gn.5:32).

Gn.10:22 22. Os filhos de Sem são: Elão, Assur, Arfaxade, Lude e Arã.

Os filhos de Sem são: Elão. Este verso leva o leitor ao lar dos semitas: a Mesopotâmia e o leste da Arábia. Elão era a região que fazia fronteira com o baixo Tigre a oeste e a Média a nordeste. A antiga capital de Elão, Susa, a Susã bíblica (Dn.8:2), tornou-se posteriormente uma das capitais do império persa (ver, por exemplo, Et.1:2). Escavações em Susa trouxeram à luz numerosos documentos escritos em caracteres cuneiformes que permitem reconstruir a história e a religião dessa cidade. Os descendentes de Elão, semitas, se estabeleceram muito cedo naquela área, mas evidentemente se mesclaram com outros povos, pois sua língua, que é conhecida através de registros cuneiformes, não era semita, mas pertencia ao grupo de idiomas asiático-armênios. A relação dos elamitas posteriores com outras nações conhecidas, porém, é obscura.

Assur. A Assíria ocupava a parte central do vale do Tigre, estendendo-se ao norte até as montanhas da Armênia e a leste até o planalto da Média. O nome do filho de Sem, Assur, foi transferido para o principal deus dos assírios, para a mais antiga capital do país, a cidade de Assur, hoje Calah-Shergat, e para a própria nação. A Assíria é mencionada em registros históricos desde o princípio do segundo milênio a.C. até sua destruição pelos medos e babilônios, na última parte do 7º século a.C. Durante seu período mais poderoso, a Assíria foi o flagelo das nações. Sua crueldade para com os inimigos conquistados nunca foi sobrepujada. O reino de Israel foi destruído pelos assírios, e o próprio reino do sul, Judá, escapou por pouco.

Arfaxade. Identificado por alguns comentaristas com Arrapha, a região entre a Média e a Assíria, muito provavelmente ela corresponda ao antigo país de Arrapachitis, entre os lagos Urmia e Van. Esse provavelmente derivou seu nome de Arfaxade (heb. Arpachshad).

Lude. Um povo diferente dos ludim mencionados no verso Gn.10:13. Lude pode ser identificado com o país de Lubdi, que aparece em antigos registros como uma região que ficava entre o alto Eufrates e o Tigre.

Arã. Ancestral dos arameus. No princípio do segundo milênio a.C. este povo ocupava a parte noroeste da Mesopotâmia, mas posteriormente se espalhou pelo sul. Os arameus, no norte, nunca foram unidos como nação, mas eram divididos em várias pequenas tribos e cidades-estados. O mais forte dos estados arameus, Damasco, foi finalmente conquistado por Tiglate-Pileser III, em 732 a.C. Esse evento marcou o fim da história política dos arameus, mas não o término de sua influência cultural sobre as nações circunvizinhas. Eles se espalharam extensamente entre os povos antigos e lhes transmitiram sua língua e escrita. Como resultado disso, a língua aramaica se tornou, em pouco tempo, um veículo universal de comunicação desde a fronteira da Índia, a leste, até o mar Egeu, a oeste, e desde o Cáucaso, ao norte, até a Etiópia, ao sul. Durante séculos o aramaico continuou sendo a língua mais largamente utilizada no antigo Oriente Próximo e era a língua comum dos judeus nos dias de Jesus. Os caldeus, descendentes dos arameus ou intimamente relacionados a eles, eram uma tribo do sul de Babilônia; viviam numa área vizinha a “Ur dos caldeus”, lutaram contra os assírios, ocuparam o trono de Babilônia várias vezes no 8º século a.C., e, mais tarde, fundaram a grande dinastia neobabilônica de Nabucodonosor II, que foi o conquistador de Jerusalém.

Gn.10:23 23. Os filhos de Arã: Uz, Hul, Geter e Más.

Os filhos de Arã: Uz. Uz foi o nome não só do filho mais velho de Arã, mas também do primeiro filho de Naor (Gn.22:21) e de um neto de Seir, o ancestral dos horeus. Portanto, é difícil limitar Uz a uma região bem definida. Pela mesma razão, não é possível determinar a localização de Jó como habitante da terra de Uz (Jó.1:1), nem identificar Sasi, o príncipe de Uz, mencionado pelo rei assírio Salmanasar III. Nada se sabe sobre as tribos aramaicas de Hul, Geter e Más.

Gn.10:24 24. Arfaxade gerou a Salá; Salá gerou a Héber.

Arfaxade gerou a Salá. Ainda que a linhagem de Arfaxade até Abraão seja considerada mais detalhadamente no cap. Gn.11, Moisés diz pouco sobre ela aqui. Ele cita, porém, suas primeiras gerações, para mostrar a descendência dos árabes joctanitas, que eram primos dos hebreus através de seu ancestral comum, Héber.

Héber. Acerca da possível ligação de Héber com os habiru das fontes extrabíblicas, ver com. do v. Gn.10:21.

Gn.10:25 25. A Héber nasceram dois filhos: um teve por nome Pelegue, porquanto em seus dias se repartiu a terra; e o nome de seu irmão foi Joctã.

Pelegue. Peleg significa “divisão”. Foi o filho primogênito de Héber e um dos ancestrais de Abraão. Embora o texto fale literalmente de uma divisão da “terra”, é mais provável que a palavra “terra” signifique seus habitantes, como em Gn.9:19 e Gn.11:1. Moisés provavelmente esteja antecipando os eventos do capítulo seguinte: a confusão de línguas e a resultante dispersão dos povos. Devem ser entendidas da mesma forma suas observações feitas em Gn.10:5; Gn.10:20; e Gn.10:31 sobre a diversidade de línguas. Se a confusão de línguas ocorreu por volta da época do nascimento de Pelegue, podemos facilmente entender por que ele recebeu o nome de Pelegue, “divisão ”. “Em seus dias se repartiu a terra.”

Joctã. O irmão de Pelegue, Joctã, foi o ancestral de um importante grupo, os árabes joctanitas. A descendência dos árabes ocidentais, ou cuxitas, é dada no v. Gn.10:7, enquanto que a genealogia dos árabes descendentes de Abraão é dada em capítulos posteriores de Gênesis. Um terceiro grupo de árabes aqui descrito parece ter se estabelecido na parte central, leste e sudeste da Arábia. Sabe-se bem menos sobre eles do que sobre os outros dois grupos árabes.

Gn.10:26 26. Joctã gerou a Almodá, a Selefe, a Hazar-Mavé, a Jerá,

A Almodá, a Selefe. O nome Almodá não foi encontrado em fontes extra-bíblicas; portanto, não é possível fazer uma identificação além das breves informações desse texto. Talvez Selefe tenha sido um povo árabe, os salapenoi mencionados por Ptolomeu.

Hazar-Mavé. Este é o ancestral fundador de Hadramaute das inscrições do sul da Arábia, mencionado como um país rico em incenso, mirra e aloés. Sua antiga população se devotava à adoração da deusa-lua Sin e de seu mensageiro Hol. Nada se sabe sobre a tribo árabe de Jerá.

Gn.10:27 27. a Hadorão, a Uzal, a Dicla,

Hadorão. A tribo dos adramitas, do sul da Arábia. Talvez Uzal tenha sido no Iêmen. Dicla ainda é um termo não identificado.

Gn.10:28 28. a Obal, a Abimael, a Sabá,

Sabá. Como já foi mencionado na explicação sobre os sabeus cuxitas do sul da Arábia (ver com. v. Gn.10:7), os sabeus joctanitas são provavelmente um povo do mesmo nome que viveu no norte da Arábia. Eles são mencionados em inscrições de Tiglate-Pileser III e Sargão II (8º século a.C.), como aliados dos aribi. Nada se sabe sobre Obal e Abimael.

Gn.10:29 29. a Ofir, a Havilá e a Jobabe; todos estes foram filhos de Joctã.

Ofir. Designa tanto um povo quanto um país. Embora frequentemente mencionado no AT, sua localização exata ainda é desconhecida. Uma vez que os navios de Salomão levaram três anos para fazer uma viagem do porto de Ezion-Geber, no Mar Vermelho, até lá (1Rs.9:28; 1Rs.10:11; 1Rs.10:22; etc.), Ofir deve ter sido um país muito distante. Os eruditos o têm identificado com a região sudeste da Arábia, com uma faixa na costa oriental do golfo Pérsico, chamada de Apir pelos elamitas, ou com a Índia. Os produtos importados de Ofir (ouro, prata, marfim, macacos e pavões) podem favorecer uma identificação com a Índia, em vez de com a Arábia.

Se Ofir era na Índia, é difícil explicar por que todos os outros descendentes identificáveis de Joctã migraram na direção do leste, para o subcontinente da Índia, depois de o Gênesis ter sido escrito, uma vez que Moisés coloca todos os descendentes de Joctã dentro de limites geográficos definidos (ver v. Gn.10:30). De acordo com outra explicação, o Ofir da lista das nações era na Arábia, enquanto que o das expedições de Salomão era na Índia. As mais recentes evidências disponíveis, porém, baseadas em inscrições egípcias, parecem identificar Ofir com o Punt, que se supõe ser a região da Somália, na África Oriental.

A Havilá e a Jobabe. Estes dois territórios não foram identificados.

Gn.10:30 30. E habitaram desde Messa, indo para Sefar, montanha do Oriente.

Habitaram. Os lugares mencionados não podem ser identificados com certeza. Messa talvez seja Messene, na extremidade noroeste do golfo Pérsico, e Sefar talvez seja a cidade de Saprapha mencionada por Ptolomeu e Plínio, hoje Dofar, na costa sudeste da Arábia. Uma alta montanha que fica na vizinhança imediata de Dofar, que corresponde à “montanha do Oriente” mencionada na Bíblia parece favorecer essa identificação.

Gn.10:31 31. São estes os filhos de Sem, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.

Os filhos de Sem. A enumeração dos descendentes de Sem é concluída com palavras semelhantes às usadas em relação a Jafé e Cam nos v. Gn.10:5 e Gn.10:20. Não há dúvida de que os nomes dados nessa lista das nações se referem primariamente a tribos e povos e só indiretamente a indivíduos.

Gn.10:32 32. São estas as famílias dos filhos de Noé, segundo as suas gerações, nas suas nações; e destes foram disseminadas as nações na terra, depois do dilúvio.

São estas as famílias. A discussão detalhada dos nomes, sua identificação e outras informações sobre as nações mencionadas, indicam que a lista das nações apresentada na Bíblia é um documento antigo e confiável. Muitos dos nomes ocorrem em fontes extrabíblicas da primeira metade do segundo milênio a.C. e em algumas fontes de época tão remota quanto o ano 2.000 a.C., ou até de data anterior. Uma vez que os registros antigos são fragmentários, algumas nações aparecem apenas em registros de data comparativamente tardia. Os medos, por exemplo, não são mencionados em documentos seculares anteriores ao 9º século a.C. Isso não significa que as referidas nações não existissem em tempos anteriores, mas, sim, que não foram encontrados registros produzidos por elas ou referentes a elas.

Algumas, como os árabes joctanitas, talvez tenham tido pouco contato com as nações das quais existem registros. Pode-se esperar que a contínua descoberta de fontes históricas antigas lance mais luz sobre Gênesis 10. A lista das nações proclama a unidade da raça humana, declarando que todos descenderam de uma fonte comum. Por mais diversificadas que sejam hoje em sua localização geográfica, aparência física ou em peculiaridades nacionais, todas podem traçar sua origem a Noé e seus três filhos. Essa lista recusa as teorias que delineiam a humanidade a diferentes progenitores originais. A lista, além disso, constitui uma evidência que apoia o relato da ocorrência da dispersão das etnias, devido à confusão das línguas descrita no capítulo seguinte. Tanto Moisés (Dt.32:8) como Paulo (At.17:26) afirmam que a distribuição do território foi feita por Deus.

Gn.11:1 1. Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar.

Apenas uma linguagem. Literalmente, “um só lábio e um só tipo de palavras”, indicando não só uma única língua entendida por todos, mas também a ausência de diferenças de dialeto. A pronúncia e o vocabulário eram os mesmos entre todas as pessoas. A unidade de linguagem caminha com a unidade de descendência, e uma linguagem comum promove a unidade de pensamento e ação. Pesquisas modernas baseadas em comparação gramatical demonstraram conclusivamente que todos os idiomas conhecidos estão relacionados entre si e que provêm de uma única linguagem original, mas não há como saber se algum dos idiomas conhecidos se assemelha àquela linguagem original.

É possível, e até provável, que uma das línguas semitas, como o hebraico ou o aramaico, seja semelhante à linguagem falada antes da confusão das línguas. Os nomes pessoais do período precedente à confusão das línguas, na medida em que podem ser interpretados, somente fazem sentido se considerados como originalmente semíticos. O registro que contém esses nomes, o livro de Gênesis, foi escrito em hebraico, uma língua semita, por um autor semita e para leitores semitas. Também é possível, embora improvável, que Moisés tenha traduzido esses nomes, de uma língua original desconhecida por seus leitores, para nomes hebraicos que teriam um significado para eles.

Gn.11:2 2. Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali.

Partindo eles. Como é indicado pelo verbo “partir”, que literalmente significa “arrancar”, como, por exemplo, as estacas de uma tenda, os homens viveram uma vida nômade durante algum tempo após o dilúvio. A região montanhosa do Ararate não era adaptada a empreendimentos agrícolas. Além disso, os que abandonaram a Deus ficavam incomodados com o silencioso testemunho daqueles que eram leais a Ele. Consequentemente, ocorreu uma separação entre os maus e os bons, e os que desafiavam a Deus saíram das montanhas (PP, 118).

Do Oriente. A tradução “do Oriente”, para a palavra miqqedem, é enganosa. A mesma expressão hebraica é traduzida “na direção do Oriente” em Gn.2:8, e “Oriente” em Gn.13:11. Para chegar até a terra de Sinar, Babilônia, a partir das montanhas do Ararate, a viagem teria necessariamente que ser em direção ao sudeste, não “do oriente” em direção ao ocidente.

Deram com uma planície. Isto é, um terreno amplo e aberto. Na Antiguidade, o sul da planície mesopotâmica, frequentemente chamada de “Sinar” na Bíblia (ver com. de Gn.10:10), era uma região bem irrigada e fértil. A mais antiga civilização conhecida, os sumérios, floresceu ali. A arqueologia tem mostrado que essa terra foi densamente povoada nos mais remotos tempos históricos. Esse fato está em harmonia com o Gênesis como o local onde houve a primeira tentativa de alguém se estabelecer permanentemente. Escavações mostraram, além disso, que a mais antiga população da baixa Mesopotâmia tinha uma cultura elevada. Os sumérios inventaram a arte de escrever em tabletes de argila, construíam casas bem erigidas e eram peritos na produção de jóias, ferramentas e utensílios domésticos.

Gn.11:3 3. E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa.

Façamos tijolos. A planície de Babilônia, de formação aluvial, era destituída de pedras de qualquer tipo, mas tinha um amplo suprimento de argila para a fabricação de tijolos. Em consequência disso, a baixa Mesopotâmia sempre foi uma terra de edifícios de tijolos, em contraste com a Assíria, onde as pedras são abundantes. A maioria dos tijolos, tanto em tempos antigos como nos modernos, eram secos ao sol, mas os tijolos para os edifícios públicos eram cozidos no fogo para se tornarem mais duráveis. Esse processo era empregado pelos mais antigos colonizadores da Mesopotâmia, como a Bíblia e a arqueologia o testificam.

Os tijolos serviram-lhes de pedra. Ao escrever para os hebreus do Egito, uma terra de majestosos monumentos de pedra e edifícios públicos, Moisés explica que em Babilônia eram usados tijolos por causa da falta de pedras. Esse detalhe, como muitos outros, atesta a exatidão histórica e geográfica da narrativa do Gênesis.

E o betume, de argamassa. Este é outro detalhe exato sobre os métodos de construção babilônicos. Na Mesopotâmia há uma abundância de petróleo e produtos correlatos, e existiam poços de betume nas vizinhanças de Babilônia, bem como em outras partes do país. Por terem descoberto a qualidade durável do betume, os antigos construtores babilônicos o usavam largamente no erguimento de edifícios. O betume une os tijolos a tal ponto que é difícil ficar um tijolo inteiro quando o edifício é demolido. Na verdade, é quase impossível separar tijolos de ruínas antigas em cuja construção foi usado o betume.

Gn.11:4 4. Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.

Edifiquemos para nós uma cidade. Caim havia construído a primeira cidade (Gn.4:17), talvez numa tentativa de evitar a vida nômade que Deus lhe havia imposto. O plano original de Deus requeria que as pessoas se espalhassem pela face da Terra para cultivar o solo (ver Gn.1:28). A construção de cidades representava uma oposição a esse plano. A concentração de seres humanos sempre encorajou a ociosidade, imoralidade e outros vícios. As cidades sempre foram berços de crime, pois em tal ambiente Satanás encontra menos resistência a seus ataques do que em comunidades menores onde as pessoas vivem em mais contato com a natureza. Deus havia dito a Noé que repovoasse ou enchesse a Terra (Gn.9:1). Contudo, temendo perigos desconhecidos ou imaginários, os homens desejaram construir uma cidade, na esperança de encontrar segurança nas obras de suas próprias mãos. Ignoraram que a verdadeira segurança vem somente pela confiança e obediência a Deus. Os descendentes de Noé, que experimentaram rápido crescimento, devem ter se afastado muito cedo da adoração ao verdadeiro Deus. Temendo que seus maus caminhos trouxessem novas catástrofes, buscaram proteção.

Uma torre. Isto daria aos habitantes da cidade o desejado sentimento de segurança. Tal fortaleza os protegeria contra ataques e, segundo criam, os habilitaria a escapar de outro dilúvio — que, segundo a promessa de Deus, nunca mais ocorreria. O dilúvio havia coberto as mais altas montanhas do mundo antediluviano, mas não chegara “até aos céus”. Se, portanto, pudesse ser erigida uma estrutura mais alta que as montanhas, arrazoaram os homens, eles estariam seguros contra qualquer coisa que Deus fizesse. Escavações arqueológicas revelam que os primeiros habitantes da baixa Mesopotâmia erigiram muitos templos em forma de torre, dedicados à adoração de várias divindades idolátricas.

Tornemos célebre o nosso nome. A torre de Babel devia ser um monumento à grande sabedoria e habilidade de seus construtores. Para tornar célebre o seu nome, ou adquirir reputação, as pessoas se dispõem a enfrentar dificuldades, perigos e privações. O desejo pela fama aparentemente foi um dos motivos da construção da torre, e o orgulho pela edificação de tal estrutura tenderia, por sua vez, a conservar a unidade na realização de outros planos contrários à vontade de Deus. Segundo o propósito divino, os seres humanos deviam estar unidos através do elo da verdadeira religião. Quando a idolatria e o politeísmo quebraram esse elo espiritual interior, eles perderam não só a unidade de religião, mas também o espírito de fraternidade. Um projeto como essa torre, com o objetivo de preservar por meios exteriores a unidade interior perdida, jamais seria bem-sucedido. Obviamente só os que haviam abandonado a Deus tomaram parte nessas atividades.

Gn.11:5 5. Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam;

Desceu o Senhor. Esta descida não foi semelhante à do Sinai, onde o Senhor revelou Sua presença através de um símbolo visível (ver Ex.19:20; Ex.34:5; Nm.11:25). É simplesmente uma descrição, em linguagem humana, do fato de que os atos humanos nunca estão escondidos de Deus. Quando os homens quiseram construir algo que chegasse até o céu e exaltar a si mesmos, Deus desceu para investigar e frustrar os planos ímpios.

Edificavam. A forma do verbo heb., no perfeito, que é aqui traduzida como “edificavam”, implica que a construção estava progredindo rapidamente rumo ao término. A expressão “filhos dos homens”, literalmente “filhos do homem”, é tão geral em sua abrangência que sugere a participação de todos no projeto, ou pelo menos da maioria dos que não mais serviam a Deus.

Gn.11:6 6. e o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer.

Isto é apenas o começo. A torre de Babel representava dúvida em relação à palavra de Deus e desafio à Sua vontade. Foi concebida como um monumento à apostasia e como uma fortaleza de rebelião contra Ele. Esse era apenas o primeiro passo de um plano mestre do mal para controlar o mundo. Era necessária ação rápida e decisiva para advertir as pessoas sobre o desagrado de Deus e frustrar as ímpias estratégias. Para que os seres humanos tenham certeza de que Deus não é arbitrário em Seu trato e de que não age por impulso, Ele é representado discutindo o assunto consigo mesmo. A razão para essa intervenção é positivamente declarada. Se não fosse o poder restritivo de Deus exercido de tempos em tempos ao longo da história, os maus desígnios humanos alcançariam sucesso e a sociedade se tornaria inteiramente corrupta. A relativa ordem que existe na sociedade se deve ao poder restritivo de Deus, que definidamente limita o poder de Satanás (ver Jó.1:12; Jó.2:6; Ap.7:1).

Gn.11:7 7. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro.

Desçamos. O uso do verbo na primeira pessoa do plural indica a participação de pelo menos duas pessoas da Trindade (ver Gn.1:26).

Confundamos ali a sua linguagem. Deus não desejava destruir novamente o ser humano. A impiedade ainda não havia atingido os limites a que chegara antes do dilúvio, e Deus decidiu tratar com a situação antes que chegasse novamente a esse ponto. Confundindo a linguagem e forçando as pessoas a se separarem, Deus planejou impedir uma futura ação unida. Cada um dos grupos poderia ainda seguir um mau curso, mas a divisão da sociedade em diversos grupos evitaria uma oposição a Deus de forma conjunta. Repetidas vezes, desde a dispersão dos povos em Babel, homens ambiciosos têm procurado, sem sucesso, infringir o decreto divino de separação. Líderes brilhantes têm conseguido, às vezes, forçar as nações a se unirem artificialmente. Mas, com o estabelecimento do glorioso reino de Deus, as nações dos salvos serão verdadeiramente unidas e falarão uma única língua.

Para que um não entenda a linguagem de outro. Não é que nenhuma pessoa pudesse entender outra, pois isso tornaria impossível a vida em sociedade. Deveria haver vários grupos tribais, cada um deles com sua própria língua. Essa é a origem da grande variedade de línguas e dialetos no mundo, que ultrapassam seis mil. A divisão das línguas, embora seja um obstáculo às estratégias humanas de cooperação política e econômica, não deveria ser um obstáculo ao triunfo da causa de Deus. O dom de línguas no Pentecostes seria um meio de superar essa dificuldade (ver At.2:5-12). As diferenças nacionais não impedem a unidade de fé e ação por parte dos filhos de Deus nem o avanço de Seu propósito eterno.

A Palavra de Deus tem sido colocada à disposição das nações em sua própria língua, e irmãos da mesma fé, embora separados por diferenças linguísticas e étnicas, estão unidos no amor a Jesus e na devoção à verdade. A fraternidade da fé os une mais fortemente do que a posse de uma mesma língua o poderia fazer. Na unidade da igreja o mundo deve ver evidências convincentes da pureza e do poder de sua mensagem (ver Jo.17:21).

Gn.11:8 8. Destarte, o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade.

O Senhor os dispersou dali. O que os homens não estiveram dispostos a fazer voluntariamente e sob circunstâncias favoráveis eram agora compelidos a fazer por necessidade. A incapacidade de compreender a língua uns dos outros levou a mal-entendidos, desconfiança e divisão. Os que podiam entender-se uns aos outros formaram uma comunidade própria. Este verso indica que os construtores de Babel se dispersaram por toda parte. Como resultado, logo em seguida, representantes da família humana podiam ser encontrados na maioria das regiões do mundo.

Evidências procedentes de diversas regiões testificam da presença de seres humanos ali em um período de tempo comparativamente curto depois do dilúvio. Descobertas arqueológicas apontam para o vale da Mesopotâmia como o primeiro local a desenvolver uma civilização distinta. Civilizações semelhantes surgiram logo depois, no Egito, na Palestina, Síria, Anatólia, Índia, China e outras regiões. Todas as evidências disponíveis apoiam a enigmática declaração das Escrituras Sagradas de que “o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra”.

Cessaram de edificar. A torre que devia se estender até o céu nunca foi completada. Contudo, a Bíblia e a história deixam evidente que a população local subsequentemente completou a obra de edificação da cidade.

Gn.11:9 9. Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela.

Babel. Por um jogo de palavras, o hebraico liga o nome da cidade, Babel, com o verbo heb. balal, “confundir”. No entanto, derivar o nome de sua cidade de uma palavra hebraica teria sido um estranho procedimento para os babilônios. Textos babilônicos antigos interpretam Bab-ilu ou Bab-ilanu como “porta dos deuses” ou “portão dos deuses”. É possível, contudo, que esse significado fosse secundário, e que o nome viesse originalmente do verbo babilônico babalu, que significa “espalhar” ou “desaparecer”. Pode ser que os babilônios não tivessem orgulho de um nome que os lembrava do inglório clímax de planos anteriores para a cidade, e assim inventaram uma explicação que fazia com que ele parecesse ser um composto das palavras bab, “porta”, e ilu, “deus” (ver com. de Gn.10:10).

Muitos comentaristas explicam a história da construção da torre e da subsequente confusão de línguas como pura lenda ou como um tosco exagero de alguma tragédia que tenha ocorrido durante a construção da histórica torre-templo de Babilônia, chamada zigurate. Contrariamente ao que declararam muitas obras populares sobre arqueologia bíblica, os arqueólogos não encontraram evidências de existência da torre de Babel. O tablete K3657 do Museu Britânico, que está muito fragmentado, tem sido citado com frequência como um documento que se refere à história da construção da torre de Babel e à confusão das línguas, mas na verdade ele não faz qualquer referência a esse evento, como o demonstraram os estudos subsequentes e uma melhor compreensão desse texto.

Quem acredita só nas histórias bíblicas apoiadas por evidências externas se recusará a crer na história de Gênesis 11. Contudo, aquele que acredita que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus aceita esta narrativa, juntamente com todas as outras narrativas bíblicas, como autêntica. A paixão dos povos mesopotâmicos pela construção de altas torres não cessou com a primeira tentativa frustrada de erigir uma que “chegue até os céus”. Ao longo de toda a Antiguidade, eles continuaram construindo torres-templos ou zigurates. Ainda existem várias dessas em ruínas. A melhor preservada está em Ur, a terra natal de Abraão.

A exata localização da torre original é desconhecida. Provavelmente a subsequente torre-templo de Babilônia a tenha substituído. Uma antiga tradição judaica, provavelmente baseada por equívoco numa ruína do 7º século, localizava a torre de Babel em Borsippa, uma cidade 14 km a sudoeste de Babilônia. Uma imponente ruína de 47,5 m de altura é tudo o que resta da antiga torre de Borsippa que outrora consistia de sete estágios, no topo dos quais se encontrava um templo. Inscrições feitas por Nabucodonosor, descobertas sob os alicerces do edifício, declaram que ele completou a construção dessa torre, que havia sido começada por um rei anterior.

O historiador judeu Josefo atribui a torre a Ninrode, uma tradição que foi perpetuada pela população local no nome que deram a ela: Birs-Nimrud. Como todos os edifícios babilônicos, essa torre foi construída de tijolos e betume, e as ruínas mostram as marcas de numerosas descargas de relâmpagos que a atingiram no passado. A ação do calor fundiu os tijolos superiores e o piche numa sólida massa. Há séculos, viajantes têm descrito os efeitos do fogo celeste sobre a torre, geralmente com referência aos eventos descritos em Gênesis 11. Não se deve esquecer, porém, que a torre de Borsippa só foi construída no 7º século a.C. por Assurbanipal e Nabucodonosor. Qualquer que tenha sido a localização da primeira torre de Babel, todos os vestígios da estrutura original já desapareceram.

É mais provável que a antiga torre de Babel ficasse no sítio da torre-templo da cidade de Babilônia, que antes ficava na área do templo de Marduque, na margem oriental do Eufrates. Tradições babilônicas afirmavam que seu alicerce havia sido lançado em tempos muito remotos. Vários reis restauraram a torre durante o curso de sua história, e o último a fazê-lo foi Nabucodonosor. Essa torre é descrita em detalhes pelo historiador grego Heródoto, e também por um texto cuneiforme babilônico, como tendo sete lances e uma altura total de 76 m. O rei persa Xerxes a destruiu completamente, juntamente com a cidade de Babilônia, em 478 a.C. Planejando reconstruir a torre, Alexandre o Grande mandou tirar o entulho, mas morreu antes de concluir seu plano.

Não resta absolutamente nada da mais alta e famosa torre-templo da antiga Mesopotâmia, exceto as pedras do alicerce e os degraus mais baixos de sua velha escadaria. O fato de que desde o tempo de Xerxes já não se podia ver nada dessa torre, enquanto que a que ficava na vizinha Borsippa permanecia de pé, talvez seja a razão pela qual tanto judeus quanto cristãos ligaram a história de Gênesis 11 às ruínas de Borsippa.

Gn.11:10 10. São estas as gerações de Sem. Ora, ele era da idade de cem anos quando gerou a Arfaxade, dois anos depois do dilúvio;

As gerações de Sem. Este é o título usual para uma genealogia (ver Gn.5:1; Gn.6:9; Gn.10:1). Moisés volta à linhagem de Sem, cuja discussão foi interrompida pelo relato da confusão das línguas. Os v. 10-26, porém, não são uma continuação da lista das nações do cap. 10; apresentam a genealogia da linhagem patriarcal de Sem a Abraão. O cap. 10 apresenta a relação étnica das várias tribos e nações e sua descendência comum a partir de Noé, enquanto que Gênesis 11:10-26 apresenta a descendência exata do povo escolhido de Deus ao longo das muitas gerações intermediárias. Essa é uma continuação da lista de gerações de Adão a Noé, dada no cap. 5. Os primeiros quatro descendentes de Sem, já enumerados na parte semita da lista das nações, são aqui repetidos para mostrar a descendência direta dos filhos de Tera por meio de Pelegue.

Ele era da idade de cem anos. Esta declaração mostra que Sem era dois anos mais novo que Jafé (ver com. de Gn.5:32). A lista, sem dúvida, apresenta nomes pessoais, não tribais, pois dá a idade exata de cada pessoa por ocasião do nascimento do filho por meio de quem a linhagem continua, e a extensão de sua vida depois disso. Embora nomes como Arfaxade e Héber também sejam tribais, como é o caso em Gn.10:21-22, isso não contradiz o fato de que as pessoas ali mencionadas eram reais.

Gn.11:11 11. e, depois que gerou a Arfaxade, viveu Sem quinhentos anos; e gerou filhos e filhas.

Depois que gerou a Arfaxade.Uma vez que a fórmula usada por Moisés nos v. 10 e 11 é um modelo para os breves esboços biográficos que vêm a seguir, não é necessário comentar detalhadamente os v. 12-26. Uma notável diferença entre a fórmula usada aqui e a do cap. 5 é a omissão da idade total de cada pessoa mencionada no cap. 11. Porém, não se perde nada com isso, porque em cada caso a idade total pode ser facilmente computada somando-se os anos da idade da pessoa por ocasião do nascimento de seu filho com os anos restantes de sua vida. É desconhecida a razão por que Moisés fez essa diferença entre o estilo das duas listas.

Gn.11:12 12. Viveu Arfaxade trinta e cinco anos e gerou a Salá;

Arfaxade. Antes do dilúvio, a idade média de paternidade era de 117 anos (a mais baixa, 65, e a mais alta, 187 anos). Mas, a partir de então, diminuiu para 30-35 anos, alcançando extensões incomuns somente nos casos de Tera e Abraão (ver com. de Gn.10:22). A mesma diminuição é vista na idade total das pessoas após o dilúvio. Embora o próprio Noé tenha alcançado a idade ante-diluviana de 950 anos, a idade de Sem foi de 600 anos apenas e a de seu filho Arfaxade, de 438 anos. O processo continuou em gerações subsequentes, de forma que Naor, o avô de Abraão, chegou só a 148 anos.

Essa média de vida grandemente abreviada pode ser devida, em parte, a mudanças climáticas. Ainda mais importante foi a mudança no regime alimentar, do vegetarianismo para um regime que incluía carne (PP, 107; CRA, 391). A cada nova geração, a raça humana se afastava mais e mais da vigorosa herança física de Adão e dos revigorantes efeitos do fruto da árvore da vida.

Gn.11:13 13. e, depois que gerou a Salá, viveu Arfaxade quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

Salá. “Aquele que é enviado.” Este é um nome semita, usado também entre os colonizadores fenícios de Cartago, no norte da África.

Gn.11:14 14. Viveu Salá trinta anos e gerou a Héber;

Héber. “Aquele que atravessa.” Uma vez que os descendentes de Héber cruzariam o Eufrates e migrariam na direção da Síria e da Palestina, esse nome pode indicar discernimento profético por parte de seus pais (ver com. de Gn.10:21).

Gn.11:15 15. e, depois que gerou a Héber, viveu Salá quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:16 16. Viveu Héber trinta e quatro anos e gerou a Pelegue;

Pelegue. Significa “divisão” (ver com. de Gn.10:25).

Gn.11:17 17. e, depois que gerou a Pelegue, viveu Héber quatrocentos e trinta anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:18 18. Viveu Pelegue trinta anos e gerou a Reú;

Reú. Significa “amigo” ou “amizade”. Possivelmente seja uma abreviação de Reuel, “amigo de Deus”; é o nome de vários personagens bíblicos (Gn.36:4; Ex.2:18; Nm.2:14).

Gn.11:19 19. e, depois que gerou a Reú, viveu Pelegue duzentos e nove anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:20 20. Viveu Reú trinta e dois anos e gerou a Serugue;

Serugue. Pode significar “o que está entrelaçado”, “o que está emaranhado” ou “ramo de videira”. Não há certeza sobre que significado deve ser aplicado ao nome.

Gn.11:21 21. e, depois que gerou a Serugue, viveu Reú duzentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:22 22. Viveu Serugue trinta anos e gerou a Naor;

Naor. “O que resfolega.” Talvez houvesse algum tipo de impedimento em sua fala.

Gn.11:23 23. e, depois que gerou a Naor, viveu Serugue duzentos anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:24 24. Viveu Naor vinte e nove anos e gerou a Tera;

Tera. Não tem significado no hebraico, mas na língua ugarítica, que pertence à mesma família de idiomas, significa “noivo”.

Gn.11:25 25. e, depois que gerou a Tera, viveu Naor cento e dezenove anos; e gerou filhos e filhas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.11:26 26. Viveu Tera setenta anos e gerou a Abrão, a Naor e a Harã.

Viveu Tera setenta anos. Este texto parece indicar que Abraão, Naor e Harã eram trigêmeos, nascidos quando seu pai Tera tinha 70 anos. No entanto, esse não é o caso, pois: (1) Tera morreu em Harã com a idade de 205 anos (Gn.11:32). (2) Abraão partiu para Canaã com a idade de 75 anos (Gn.12:4). (3) O chamado para Abraão sair de Harã se deu após a morte de seu pai, como é declarado em At.7:4. Assim, Abraão não podia ter mais de 75 anos por ocasião da morte de seu pai, e Tera tinha pelo menos 130 anos quando Abraão nasceu. Portanto, Gn.11:26 indica que Tera começou a gerar filhos quando tinha 70 anos. Sendo o mais jovem dos três filhos, Abraão é mencionado primeiro por causa de sua importância como ancestral dos hebreus.

Embora não seja certo qual dos outros dois filhos de Tera (Naor ou Harã) era o mais velho, o fato de Naor se casar com a filha de Harã (Gn.11:29) pode indicar que Harã era o mais velho (cf. com. de Gn.5:32).

Abrão. “Pai de elevação” ou “pai exaltado”, apontando para sua honrada posição como ancestral do povo escolhido de Deus. Seu nome foi mais tarde mudado por Deus para Abraão (Gn.17:5). Esse nome aparece em registros egípcios como o de um governante amorreu de uma cidade palestina na mesma época em que Abraão viveu. Aparece também num documento cuneiforme contemporâneo, de Babilônia, mostrando que não era um nome incomum.

Naor. Este filho de Tera recebeu o nome do avô.

Harã. Nome sem significado no hebraico. É semelhante a Haran, a cidade onde Tera se estabeleceu. O nome da cidade, que está relacionado a uma raiz assíria que significa “estrada”, pode indicar sua localização de ambos os lados de uma das principais rotas de comércio entre a Mesopotâmia e o Mediterrâneo. Como ocorre com a cronologia antediluviana, o Pentateuco Samaritano e a LXX atribuem aos patriarcas que viveram desde o dilúvio até o nascimento de Abraão uma vida consideravelmente mais longa do que diz o texto hebraico e versões contemporâneas, baseadas neste (ver com. de Gn.5:32).

Enquanto a ARA fala de 352 anos entre o dilúvio e o nascimento de Abraão, a LXX fala de 1.132 ou 1.232 anos (conforme a variante adotada; ver p. 158). Contudo, a inserção de Cainã entre Arfaxade e Salá, na LXX, talvez seja justificável. Nisso a LXX é confirmada por Lucas, que também alista Cainã nessa posição (Lc.3:35-36). Apesar da aparente desarmonia entre Moisés (em 1Cr.1:24), por um lado, e Lucas e a LXX, por outro, não há uma dificuldade real. As Escrituras contêm muitos e notáveis exemplos de omissão de nomes nas listas genealógicas. Ao traçar sua própria linhagem até Aarão, Esdras, por exemplo, omite pelo menos seis nomes (ver Ed.7:1-5; cf. 1Cr.6:3-15). Séculos depois, a genealogia de Jesus, em Mateus, omite quatro reis de Judá e possivelmente outros ancestrais do Senhor (ver com. de Mt.1:8; Mt.1:17).

Portanto, a possível omissão, por parte de Moisés, do nome de Cainã na lista de Gn.11:10-26, não deve ser considerada uma incorreção, mas um exemplo de uma prática comum entre os escritores hebreus. Seja como for, a lista dada por Moisés deve ser considerada no mínimo razoavelmente completa. Ellen White menciona (PP, 125) uma “linha ininterrupta” de homens justos — de Adão a Sem — que transmitiram o conhecimento de Deus herdado por Abraão. Alguns consideram que isso implica o fato de Abraão ter sido instruído pessoalmente por Sem. Se for assim, então, Abraão teria nascido alguns anos antes da morte de Sem, que é datada de 500 anos depois do dilúvio. Essa conclusão, baseada na citação anterior, infere que o texto confirma a cronologia hebraica do período, em oposição tanto à cronologia samaritana como à da LXX.

Subentende ainda que ela torna impossível qualquer número considerável de omissões da lista genealógica de Moisés. Até que haja informações mais definidas, deve-se considerar a cronologia dos acontecimentos anteriores ao nascimento de Abraão como sendo aproximada. A partir da chegada do patriarca Abraão, há um fundamento mais sólido sobre o qual se pode construir uma cronologia.

Gn.11:27 27. São estas as gerações de Tera. Tera gerou a Abrão, a Naor e a Harã; e Harã gerou a Ló.

Tera. Até este ponto Moisés narrou a história de toda a humanidade. A partir de então, o relato foca quase exclusivamente a história de uma única família: o povo escolhido de Deus. Durante todo o restante do AT, em geral, é dada atenção só a outras nações na medida em que elas entram em contato com o povo de Deus.

Harã gerou a Ló. Ló, “o oculto”, é apresentado por causa do papel que irá desempenhar como companheiro de Abraão na terra de Canaã e como ancestral dos moabitas e amonitas.

Gn.11:28 28. Morreu Harã na terra de seu nascimento, em Ur dos caldeus, estando Tera, seu pai, ainda vivo.

Morreu Harã [...] estando Tera, seu pai, ainda vivo. Literalmente, “na face de seu pai”, significando “enquanto seu pai ainda era vivo” ou “na presença de seu pai”. Esta é a primeira menção (não necessariamente o primeiro caso) da morte de um filho antes da morte do pai.

Ur dos caldeus. Como demonstram documentos literários e escavações arqueológicas, a cidade natal de Harã teve uma longa e gloriosa história. As ruínas de Ur são conhecidas há muito tempo pelo nome moderno de Tell el-Muqayyar e estão situadas a meia distância entre Bagdá e o golfo Pérsico. Entre 1922 e 1934, uma expedição conjunta entre Inglaterra e Estados Unidos fez o que foi uma das mais frutíferas de todas as escavações mesopotâmicas. As tumbas reais de uma dinastia antiga revelaram seu fabuloso depósito de tesouros.

As bem preservadas ruínas de casas, templos e de uma torre-templo forneceram rico material que permite aos pesquisadores reconstruir a diversificada história dessa cidade que desempenhou papel tão importante desde os primórdios da história até o tempo do império persa. No início do segundo milênio a.C., quando Abraão morava ali, a cidade exibia uma cultura excepcionalmente elevada. As casas eram bem construídas e geralmente tinham dois andares. Os cômodos do andar térreo eram agrupados em torno de um pátio central, e uma escada levava ao segundo andar. A cidade tinha um eficiente sistema de esgotos, melhor do que o existente em algumas cidades daquela região atualmente. Nas escolas de Ur se ensinavam leitura, escrita, aritmética e geografia, como evidenciam muitos exercícios escolares recuperados.

No AT, essa cidade é geralmente chamada de “Ur dos caldeus”, expressão ainda não encontrada em textos cuneiformes da Mesopotâmia. Nestes, ela é simplesmente chamada de “Ur”. Sabe-se, porém, que a região de Ur foi mais tarde habitada por tribos caldeias aramaicas, e talvez elas já tivessem chegado lá havia tempo (ver com. de Gn.10:22). Essas tribos estiveram intimamente relacionadas com a família de Tera, e ambos eram descendentes de Arfaxade. A recordação desse relacionamento era mantida pela referência ao lar original da família como Ur na Caldeia ou “Ur dos caldeus'’.

O avançado nível cultural de Ur, no tempo de Abraão, silencia os que estigmatizam Abraão como um nômade ignorante. Sua juventude foi passada numa cidade altamente aculturada e sofisticada, e ele era filho de cidadãos abastados e, sem dúvida, era um homem culto. Abraão também devia ser familiarizado com a vida religiosa de Ur, que, como as escavações demonstraram, era politeísta. Josué declara que Tera, o pai de Abraão, havia servido a outros deuses em Ur (Js.24:2). Presume-se que os outros filhos de Tera também o fizeram, pois Raquel, a esposa de Jacó, roubou ídolos de seu pai Labão que era neto do irmão de Abraão, Naor (Gn.31:19). É um milagre Abraão ter sido preservado das influências pagãs que o cercavam.

Gn.11:29 29. Abrão e Naor tomaram para si mulheres; a de Abrão chamava-se Sarai, a de Naor, Milca, filha de Harã, que foi pai de Milca e de Iscá.

Abrão e Naor tomaram para si mulheres. A esposa de Naor, chamada Milca, era filha de seu irmão Harã, e, portanto, sua sobrinha. Sarai, a esposa de Abraão, era sua meia-irmã, sendo filha de Tera com outra esposa que não a mãe de Abraão (ver Gn.20:12). O casamento com uma meia-irmã e com outros parentes próximos foi mais tarde proibido pelo código civil mosaico, embora aparentemente ainda fosse permitido no tempo de Abraão (verLv.18:6; Lv.18:9; Lv.18:14).

Iscá. Não fica claro por que Iscá, outra filha de Harã, é mencionada aqui. Seguindo uma antiga tradição judaica, alguns comentaristas têm visto esse nome como outro nome de Sara, a esposa de Abraão. Outros acham que ela era a esposa de Ló. Não há base factual para essas suposições.

Gn.11:30 30. Sarai era estéril, não tinha filhos.

Sarai era estéril. Esta declaração parece indicar um contraste com Milca, a cunhada de Sara (ver Gn.24:24), e prefigura a importância da esterilidade de Sara no teste de fé de Abraão.

Gn.11:31 31. Tomou Tera a Abrão, seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai, sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã; foram até Harã, onde ficaram.

Saiu com eles. As Escrituras deixam claro que foi a Abraão que Deus Se revelou em Ur dos caldeus, e não a Tera, como se poderia inferir desta passagem (PP, 127). Estêvão disse a seus ouvintes que Abraão havia saído da “Mesopotâmia, antes de habitar em Harã”, em resposta a uma explícita ordem de Deus dada a ele pessoalmente (At.7:2-3). Posteriormente, Deus lembrou a Abraão que o havia tirado de Ur dos caldeus (Gn.15:7), não de Harã (ver também Ne.9:7). Conclui-se que o chamado de Abraão ocorreu em dois estágios. O primeiro chamado, quando ele vivia em Ur, era para deixar sua tribo ancestral. O segundo, em Harã, era para que abandonasse os parentes imediatos, até mesmo a casa do pai (ver Gn.12:1).

Quando o primeiro chamado chegou a Abraão, ele obedeceu imediatamente e saiu do antigo ambiente para encontrar um novo lar na terra que Deus prometera lhe dar. Ele devia ter considerável influência sobre o pai Tera, o irmão Naor e o sobrinho Ló, porque todos eles escolheram acompanhá-lo. Naor não é mencionado como um dos que saíram de Ur, com Tera e Abraão, nesse tempo. Mas ele deve ter saído pouco depois (ver Gn.24:10). Embora o chamado tenha sido para Abraão, ele ainda vivia sob o teto do pai e esperava que o pai tomasse a mesma iniciativa caso estivesse disposto a fazê-lo. Tera evidentemente aceitou o chamado, e, como cabeça da casa, tomou a frente com relação à mudança. O costume oriental requereria que Tera recebesse o crédito por agir como cabeça da casa. Seria impróprio dizer que Abraão levou consigo seu pai Tera.

Para ir à terra de Canaã. Isto indica que, desde o princípio, o destino era Canaã. Havia duas rotas possíveis de viagem a partir de Ur, no sul da Mesopotâmia, até Canaã. Uma rota atravessava diretamente o grande deserto da Arábia, mas era impossível que uma caravana de rebanhos de ovelhas e gado e muitos servos cruzasse esse território. A outra rota subia o Eufrates, atravessava o estreito deserto do norte da Síria, e depois o vale do Orontes em direção ao sul, até Canaã. Este era obviamente o caminho pelo qual eles precisavam viajar.

Foram até Harã. Harã está situada às margens do rio Balikh, no norte da Mesopotâmia, a meio caminho entre Ur e Canaã. Não é dada a razão para essa interrupção da jornada, mas ela pode ter sido ocasionada pela atratividade da região, ou, mais provavelmente, pela idade avançada e a fragilidade de Tera. Para a maior parte da família, Harã se tornou um lugar permanente de habitação, o que pode indicar que a atratividade da região tenha levado à decisão de parar ali. Os vales do Balikh e do Chabur têm férteis pastagens. É possível que toda a região fosse esparsamente povoada, e que parecesse oferecer possibilidades de aumento da riqueza da família antes de prosseguirem para Canaã. Qualquer que fosse a razão, Tera e sua família se acamparam num lugar que chamaram de Harã, talvez em honra a seu filho e irmão que havia morrido em Ur.

Devido a uma ligeira diferença de ortografia, no hebraico, entre o nome do filho de Tera, chamado Harã, e o nome da cidade de Harã, a relação entre os dois é incerta. As evidências de que os teraítas criaram fortes raízes em seu novo lar podem ser vistas no fato de vários nomes de seus familiares ficarem associados a cidades da região por séculos e, em alguns casos, por milênios. Harã, que foi uma importante cidade durante o segundo e primeiro milênios a.C., pode ter recebido seu nome em honra de Harã, como foi sugerido acima. A memória de Pelegue permaneceu no nome da cidade Paliga, na desembocadura do rio Chabur.

Naor deu seu nome à cidade de Naor (Gn.24:10, mais tarde chamada Til-Nahiri, perto de Harã). O nome de Serugue é refletido na cidade vizinha, Sarugi, e o sítio Til-sha-turahi, às margens do rio Balikh, talvez tenha perpetuado o nome de Tera. Esses nomes de lugares são clara evidência de que a família de Tera ocupou essa região em tempos antigos.

Gn.11:32 32. E, havendo Tera vivido duzentos e cinco anos ao todo, morreu em Harã.

Tera [...] morreu em Harã. Não há indicação de quanto tempo Tera viveu em Harã. Em vista da proverbial prontidão de Abraão em obedecer a Deus, parece provável que ele tenha permanecido em Harã muitos anos, sabendo que o Senhor desejava que ele fosse para Canaã, se não fosse a idade ou enfermidade de seu pai. É mais provável que Tera tenha se detido durante um período no rio Balikh para recuperar as forças, e não que a atratividade da região o tenha levado a se esquecer de seu objetivo. A piedade filial, sob tais circunstâncias, teria mantido Abraão cuidando solicitamente do pai. Todos teriam, assim, permanecido em Harã com a expectativa de reiniciar a viagem após a recuperação de Tera. Quando ele morreu, Abraão e Ló prosseguiram com seu plano original.

Outros membros da família, no entanto, ficaram encantados com a fertilidade da região e não quiseram partir. Como Moisés séculos mais tarde, Tera não conseguiu entrar na terra da promessa. Isso nos faz lembrar da condição de peregrinos, pelo fato de muitos dos fiéis de Deus morrerem a caminho da Canaã celestial. A seriedade da morte de Tera, porém, não foi nada em comparação com a decisão de Naor de permanecer em Harã. Ele e sua família voluntariamente se separaram das promessas de Deus ao se recusarem a acompanhar Abraão até a terra prometida. Em resultado disso, eles e seus descendentes finalmente desapareceram do palco da história, enquanto que Abraão e sua posteridade permanecem por milênios como recipientes do favor especial de Deus e como canais de Sua bênção para o mundo.

Gn.12:1 1. Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;

Sai. A partir deste ponto, Abraão é o herói da narrativa de Gênesis. Esta é a primeira revelação divina a Abraão que é registrada, embora se saiba, através de At.7:2, que Deus lhe havia aparecido pelo menos uma vez antes disso. A palavra de Yahweh começa com uma ordem, continua com uma promessa e termina com uma bênção. Esses três aspectos significativos caracterizam todas as manifestações de Deus ao ser humano. As promessas divinas são cumpridas, e Suas bênçãos, recebidas apenas quando Suas ordens são seguidas. As pessoas, em geral, desejam receber as bênçãos de Deus e participar das promessas sem obedecer às exigências. O chamado de Deus exigiu que Abraão rompesse completamente com o passado.

Ele não só teve de sair da terra dos dois rios (a Mesopotâmia), onde estavam situadas tanto Ur quanto Harã, mas também teve de renunciar aos laços familiares e até à casa de seu pai, para nunca mais voltar às pessoas de seu próprio sangue. Foi um severo teste. Harã e Ur pertenciam à mesma civilização e tinham os mesmos padrões de vida. Tudo isso mudaria imediatamente quando ele saísse da terra dos dois rios e passasse à Síria e à Palestina. Em vez de férteis pastagens, ele encontraria uma terra cheia de florestas e montanhas. Em vez de viver entre povos de sua mesma origem e altamente civilizados, ele estaria jornadeando entre tribos com valores inferiores e com uma religião degradada. Certamente não deve ter sido fácil para Abraão cortar os laços com sua terra natal, onde havia passado toda a vida e possuía muitas ternas associações. Um jovem pode deixar seu país de origem sem pesares, mas para um homem de 75 anos essa decisão é dura.

A terra que te mostrarei. Gn.11:31 indica que o destino original de Abraão tinha sido Canaã. Obviamente, Deus deve ter especificado Canaã como a terra em cuja direção ele devia se dirigir. Nessa ocasião (Gn.12:1), Canaã não é mencionada, mas fica claro que Abraão sabia que Canaã era o lugar para onde Deus queria que ele fosse. O patriarca partiu com a terra de Canaã em mente (Gn.12:5). A declaração de Hb.11:8 de que Abraão “partiu sem saber aonde ia” aparentemente se refere ao fato de que dali em diante ele não teria mais um lugar certo de habitação, mas devia ser um peregrino e estrangeiro (ver Hb.11:9; T4, 523). A partir de então, Deus o guiaria a cada dia, e ele nunca saberia com antecedência o que o futuro lhe iria trazer.

Gn.12:2 2. de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!

De ti farei uma grande nação. É anunciada uma compensação a Abraão por deixar para trás família e terra natal. Sem dúvida, Abraão deve ter ficado a cogitar como a promessa seria cumprida, já que não tinha filhos e não era mais jovem. Deus não estaria dizendo que os servos de Abraão, os pastores e supervisores de seus rebanhos constituiriam a nação prometida. Como Abraão entendeu a palavra “grande”? Implicaria força numérica? Influência? Ou grandezas espirituais? Somente os olhos da fé, fixos nas promessas de Deus, podiam penetrar o futuro e contemplar coisas que os olhos naturais não podiam ver.

E te abençoarei. Esta promessa incluía tanto bênçãos temporais como espirituais, particularmente as últimas. Paulo claramente inclui a justificação pela fé entre as bênçãos que repousavam sobre Abraão (Gl.3:8).

E te engrandecerei o nome. A verdadeira grandeza resultaria da obediência às ordens de Deus e da cooperação com o propósito divino. Os construtores de Babel pensavam que engrandeceriam seu nome ao desafiar a Deus. Contudo, o nome de nenhum deles sobreviveu. Abraão, por outro lado, devia simplesmente seguir por onde Deus o guiasse para obter fama. O nome Abraão é comum como nome próprio até hoje, e incontáveis milhões de judeus, muçulmanos e cristãos já o aclamaram no passado e ainda o consideram hoje como seu ancestral espiritual.

Gn.12:3 3. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.

Abençoarei. Essa certeza era a mais elevada promessa do favor divino a Abraão. Deus consideraria como dirigidos a Ele próprio os insultos e malefícios feitos a Seu eleito, e prometeu trabalhar ao lado dele e tratar os amigos e inimigos dele como Seus próprios. Abraão foi “amigo de Deus” (Tg.2:23).

Todas as famílias da Terra. A palavra heb. aqui traduzida por “terra”, ‘adamah, significa essencialmente “solo”. Estão incluídas nela todas as nações de todas as épocas. É o solo que foi amaldiçoado após a queda (Gn.3:17), o mesmo solo do qual o homem havia originalmente sido criado. Essa maldição ocorrera por causa da infidelidade de um homem (Rm.5:12), e agora todas as famílias do “solo” deviam receber bênção através da obediência de uma pessoa achada fiel. Como descendência espiritual do patriarca, os cristãos hoje partilham da mesma bênção comunicada a Abraão (Gl.3:8; Gl.3:29). A bênção garantida a ele finalmente uniria famílias divididas sobre a Terra e transformaria a terrível maldição, pronunciada sobre o solo por causa do pecado, numa bênção para todos. Todas as outras promessas feitas aos patriarcas e a Israel esclareciam ou ampliavam a promessa de salvação oferecida a toda a raça humana na primeira promessa feita a Abraão.

Gn.12:4 4. Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã.

Partiu, pois, Abrão. Abraão alegremente seguiu o chamado do Senhor, sem argumentar e sem impor condições sob as quais obedeceria. Ele simplesmente “partiu”.

Ló foi com ele. De todos os parentes de Abraão, somente Ló e sua família estiveram dispostos a prosseguir até a terra prometida. Pedro se refere a ele como “o justo Ló” ou um homem “justo’’ (2Pe.2:7-8). Seu desejo de obedecer a Deus como o fazia seu tio o tornou disposto, na época pelo menos, a partilhar das dificuldades da jornada e das incertezas de um futuro pela fé.

Setenta e cinco anos. O fato de ser dada a idade de Abraão indica que sua partida para Canaã marcou o início de uma nova e importante era. Ele já estava avançado em anos quando foi chamado a se adaptar à vida num novo país, ao seu clima e aos costumes de um povo estrangeiro.

Gn.12:5 5. Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram.

Todos os bens que haviam adquirido. A riqueza de Abraão e de Ló consistia principalmente de grandes rebanhos de gado e ovelhas. Abraão era próspero (Gn.13:2), mas sua prosperidade de forma alguma demonstrou ser um empecilho à sua vida religiosa. Embora seja verdade que a riqueza em geral dificulta a seus possuidores qualificarem-se para o reino de Deus, não é de maneira alguma uma desvantagem fatal (ver Mt.19:23-26). Quando uma pessoa de posses se considera mordomo de Deus e usa sua riqueza para a honra de Deus e o avanço de Seu reino, a riqueza é uma bênção e não uma maldição.

As pessoas. Heb. nefesh. A ARC usa a palavra “almas”, enquanto que a ARA usa “pessoas”. Incluídos nesse grupo estavam alguns conversos ao Deus verdadeiro (PP, 127). Esses conversos se associaram à família de Abraão e se tornaram seus empregados. Abraão e Ló empregavam pastores (Gn.13:7). O fato de Abraão conseguir posteriormente resgatar Ló com a ajuda de 318 empregados armados e treinados (ver Gn.14:14) esclarece ainda mais que essas “pessoas” eram os membros de sua casa (ver com. de Gn.14:14).

Para a terra de Canaã. A terra de Canaã inclui não só a Palestina, mas também a Fenícia e o sul da Síria (ver com. de Gn.10:19). Inscrições egípcias e do norte da Síria provenientes do segundo milênio a.C. usam o termo “Canaã” nesse sentido. Uma vez que Abraão devia se estabelecer na parte sul de Canaã – Siquém, Hebrom e Gerar –, ele deve ter feito, a partir de Harã, uma viagem de cerca de 720 km. Considerando que características topográficas deixam poucas possibilidades alternativas, sua rota de viagem pode ser traçada de maneira quase exata. Deixando a região de Harã, a grande caravana deve ter se dirigido vagarosamente em direção ao sul, ao longo do rio Balikh, até alcançar o Eufrates e o seguiu, rio acima, por uns 100 km. A partir desse ponto era preciso atravessar 130 km de deserto a fim de alcançar o rio Orontes, no norte da Síria. O grande oásis de Aleppo fica a meio caminho entre o Eufrates e o Orontes, e foi provavelmente usado por Abraão em sua viagem para que pessoas e animais cansados pudessem descansar e aliviar a sede. Chegando ao Orontes, ele provavelmente o seguiu corrente acima para o sul, conduzindo a grande caravana através da planície síria, hoje chamada Beqa, que fica entre as cordilheiras do Líbano e do Antilíbano. Passando pela bacia hidrográfica do rio Orontes, no norte, e pela do rio Litani (Leontes), no sul, o último foi seguido até a caravana chegar ao terreno irregular e montanhoso da Galileia.

Gn.12:6 6. Atravessou Abrão a terra até Siquém, até ao carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra.

Atravessou Abrão a terra. A Palestina tinha muitas florestas naquele tempo. Suas estradas são descritas, em antigos documentos egípcios, como um pesadelo para os viajantes. O progresso da caravana deve ter sido vagaroso, em vista do grande número de gente e de animais que acompanhavam o patriarca. A viagem foi provavelmente interrompida por frequentes pausas para descanso. Havendo atravessado a Galileia, os itinerantes chegaram à planície de Esdraelom, onde já havia várias cidades cananeias poderosas, como Megido e Taanaque. Cruzaram então a Cordilheira do Carmelo e entraram no montanhoso território que mais tarde pertenceria a Efraim, e ali fizeram sua primeira parada prolongada.

Isso foi feito, provavelmente, porque o Senhor disse a Abraão (Gn.12:7) que ele havia alcançado o fim de sua jornada, e estava então na terra prometida.

Siquém. Situada na entrada oriental para um estreito vale flanqueado pelos montes Ebal e Gerizim, esta cidade ocupava um lugar estrategicamente importante. É hoje um sítio deserto, chamado Balatah, próximo a Nablus. Escavações e evidências documentais provam que Siquém era uma cidade florescente e fortificada no início do segundo milênio a.C., quando Abraão acampou em suas imediações. Uma das primeiras expedições militares egípcias à Palestina, das quais foi preservado um registro claro, foi dirigida exatamente contra Siquém. A esteia de um guerreiro egípcio que serviu sob o rei Sem-Usert III (1878- 1840 a.C.), da 12º dinastia, descreve uma campanha contra Sekemem, o nome egípcio para Siquém, e relata que os asiáticos nativos foram derrotados. Quando Abraão entrou em Canaã, o Egito exercia grande influência sobre os vizinhos cananeus.

Embora o Egito na verdade não exercesse controle político sobre Canaã, esta era economicamente dependente do Egito, que possuía representantes reais nas principais cidades cananeias. Esses funcionários do governo egípcio guardavam os interesses econômicos de seu país e desempenhavam o papel de conselheiros para os governantes cananeus locais. Essa era a situação política que Abraão encontrou em Canaã.

O carvalho de Moré. Heb. 'elon, literalmente, “uma grande árvore”. A palavra é presumivelmente usada aqui em sentido genérico e coletivo e pode ou não se referir a uma árvore em particular. Tem sido sugerido que ela significa um bosque de carvalhos. Esse ponto de vista é apoiado por uma referência posterior que Moisés faz à mesma localidade usando a forma plural de 'elon, “árvores”, o que indica claramente que Moré possuía mais de uma árvore desse tipo (Dt.11:30). O bosque em si não foi identificado, mas devia ser nas vizinhanças imediatas de Siquém, como este texto e Dt.11:29-30 o indicam.

Moré significa “ensinador”. Os antigos tradutores judeus da LXX verteram a palavra com o vocábulo grego hupselen, “exaltado”. Comentaristas têm tentado explicar o nome Moré como uma indicação de que Abraão compreendeu que devia ser “ensinado” por Deus naquele lugar ou de que o bosque pertencia a um ensinador famoso.

Os cananeus. Se Abraão esperava ser conduzido a uma terra despovoada cujas pastagens ele não teria de partilhar com outros, estava enganado. Talvez por essa razão seja acrescentada a declaração: “Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra.” Vendo-se como um estrangeiro entre um povo estranho, Abraão não podia considerar a terra como sua e realmente tomar posse dela (ver Hb.11:9; Hb.11:13). Ele podia fazer isso somente pela fé.

Gn.12:7 7. Apareceu o Senhor a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao Senhor, que lhe aparecera.

O Senhor apareceu. Esta é a terceira revelação divina a Abraão que foi registrada; a primeira foi em Canaã. Seu propósito era confortá-lo e inspirá-lo novamente com confiança e coragem. Após uma jornada longa e árdua, Abraão chegou à terra prometida a ele e à sua posteridade, e a encontrou ocupada pelos cananeus. Uma mensagem que confirmasse as promessas feitas em Ur e Harã traria a certeza de que a posse da terra viria no tempo de Deus e a Seu modo.

A tua descendência. A mensagem inteira consiste somente de cinco palavras no hebraico e de seis na ARA. Embora esta seja uma das mais curtas revelações divinas, no entanto, foi de grande importância para Abraão, então um estrangeiro num país distante. Sua brevidade não era de maneira alguma proporcional a sua importância e valor. Era preciso fé para acreditar que os cananeus, em cidades altamente fortificadas, seriam desapossados e que a terra seria dada a um homem idoso e sem filhos. O cumprimento aparentemente improvável da promessa a tornava um grande teste para a fé do patriarca.

Um altar. O terreno santificado pela presença de Deus foi dedicado por Abraão como um local de adoração. O altar erigido e os sacrifícios oferecidos testemunhavam do Deus do Céu e protestavam silenciosamente contra a idolatria ao redor. Assim, Abraão testemunhou publicamente de sua lealdade ao verdadeiro Deus. Como chefe de uma grande família, ele sentia responsabilidade também para com os servos no sentido de inculcar-lhes o conhecimento perfeito do Deus a quem servia (Gn.18:19). O sacrifício testificava da crença de Abraão na morte do Filho de Deus como expiação pelo pecado.

Gn.12:8 8. Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou a sua tenda, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente; ali edificou um altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor.

Betel. Ante a necessidade de pastagens, Abraão se mudou das vizinhanças de Siquém para o leste de Betei, cerca de 30 km para o sul. Ele armou sua tenda no cume de uma das colinas entre as cidades de Betel e Ai. A cidade é aqui mencionada pelo nome que teria posteriormente. No tempo de Abraão ela ainda se chamava Luz (ver Gn.28:19). Essa cidade cananeia, hoje chamada Beitin, fica cerca de 15 km ao norte de Jerusalém. Ela desempenhou importante papel na vida de Jacó (Gn.28:19; Gn.35:1) e foi uma das primeiras cidades de Canaã conquistadas por Josué. Durante o período do reino dividido, um dos dois locais de culto idólatra em Israel ficava situado ali (1Rs.12:28-29). Os eruditos têm identificado a atual Et-Tell com Ai por causa da similaridade de nomes. Ai é o substantivo hebraico que significa “ruína”, e tell é a palavra árabe para um lugar em ruínas. Essa identificação é, no entanto, questionável.

Edificou um altar. Abraão erguia um altar onde quer que armasse sua tenda (ver Gn.12:7; Gn.13:18) e realizava um culto público para os membros da família e para os pagãos residentes nas proximidades. Embora o culto fosse provavelmente simples e consistisse apenas da oração, da oferta de um sacrifício animal e, sem dúvida, de um apelo evangelístico, o grande número de servos que Abraão havia levado ao conhecimento de Yahweh devia fazer dessas ocasiões eventos impressivos (ver Gn.14:14; Gn.18:19). Muitos mantêm sua fé em segredo, temerosos de confessá-la, mas isso não ocorria com Abraão. Onde quer que fosse, ele confessava Aquele em quem confiava e a quem obedecia. Seus altares, que pontilhavam os campos da Palestina, tornaram-se memoriais do único Deus verdadeiro.

Os cananeus, cuja medida da iniquidade ainda não estava completa (Gn.15:16-20), foram assim familiarizados com o Criador do universo, e pelo preceito e exemplo de Abraão foram chamados a abandonar seus ídolos e a adorá-Lo. Como o primeiro missionário do mundo enviado a terras estrangeiras, Abraão viajou incansavelmente pela Palestina e pregou sobre Deus em todos os lugares onde armou sua tenda. Isaque e Jacó também foram chamados por Deus a viver naquela terra. Embora eles nem sempre tenham sido brilhantes exemplos da verdade, os cananeus não podiam deixar de notar a diferença entre seu próprio estilo de vida e o dos hebreus. Quando chegasse a hora de seu julgamento, não poderiam negar que Deus lhes havia proporcionado todas as oportunidades de aprender sobre Ele.

Gn.12:9 9. Depois, seguiu Abrão dali, indo sempre para o Neguebe.

Indo sempre para o Neguebe. Betel ainda não seria o lar permanente de Abraão. Ele prosseguiu em direção ao “sul ” (ARC), heb. Negeb, nome que a região conserva até hoje. O Neguebe era e ainda é um território semiárido que fica ao sul e sudoeste das montanhas e que, posteriormente, passou a pertencer a Judá. Desde tempos antigos, sua principal cidade é Berseba, situada na encruzilhada de várias rotas de caravanas. Possivelmente, Abraão tenha achado que as áreas montanhosas de Canaã, já ocupadas pelos cananeus, não podiam fornecer pasto suficiente para seus rebanhos e os de Ló. Com sua população esparsa e pastagens amplas, o Neguebe lhe pareceu local mais adequado.

Gn.12:10 10. Havia fome naquela terra; desceu, pois, Abrão ao Egito, para aí ficar, porquanto era grande a fome na terra.

Havia fome. Abraão atravessava a terra prometida quando uma severa fome o compeliu a deixá-la. Embora naturalmente fértil, Canaã era sujeita a episódios de seca, especialmente nos anos em que as chuvas de novembro e dezembro, das quais a região dependia, faltavam ou eram escassas (Gn.26:1; Gn.41:56; 1Rs.17:1; Ag.1:10-11). A ocorrência dessa fome exatamente na ocasião em que Abraão entrou na terra foi uma prova adicional à sua fé. Isso lhe ensinaria lições de submissão, fé e paciência. Ele devia compreender que, mesmo na terra prometida, o alimento e as bênçãos vêm somente do Senhor.

Desceu, pois, Abrão ao Egito. Já que estava no sul de Canaã, Abraão achou natural ir ao Egito, o país da fartura, para encontrar sustento. Embora o próprio Egito ocasionalmente sofresse com a fome quando o Nilo não transbordava, era conhecido entre os países vizinhos como um porto de refúgio em tempos de necessidade. Antigos registros egípcios mencionam repetidamente o fato de que os asiáticos entravam no país para alimentar seus rebanhos famintos. Às vezes, esses visitantes permaneciam no país e se tornavam uma ameaça para a população nativa.

Amenemhat I (1991-1962 a.C.), primeiro rei da 12º dinastia, fortificou sua fronteira oriental com o propósito declarado de “não permitir que os asiáticos desçam ao Egito para mendigarem água, segundo [seu] modo costumeiro, a fim de dar de beber a seu gado”. Um documento posterior, o relatório de um oficial de fronteira da época dos juízes hebreus, menciona que beduínos de Edom haviam recebido permissão para entrar no Egito a fim de preservar a própria vida e a de seu gado. O registro mais famoso de uma visita de asiáticos ao Egito, na época de Abraão, é uma pintura na tumba de um nobre, feita durante o reinado de Sen-Usert II (1897-1879 a.C.). Ela ilustra a chegada de 37 beduínos semitas que tinham ido para comercializar cosméticos com os egípcios. Mostra suas feições, vestes coloridas, suas armas e seus instrumentos musicais.

Esse documento incomum contribui grandemente para a compreensão da época de Abraão. Nenhum artista moderno, ao fazer ilustrações sobre a era patriarcal, pode deixar de examinar essa pintura contemporânea do tempo de Abraão. Essa evidência documental sobre a entrada de asiáticos no Egito para propósitos comerciais ou para comprar comida, em tempos de escassez, torna fácil visualizar a descida de Abraão ao vale do Nilo a fim de preservar a vida de seus rebanhos (ver p. 138).

Gn.12:11 11. Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência;

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Gn.12:12 12. os egípcios, quando te virem, vão dizer: É a mulher dele e me matarão, deixando-te com vida.

É a mulher dele. Abraão descobriria, no Egito, que a astúcia humana é inútil e que o livramento do medo e da perplexidade só vem do Senhor (Sl.105:14-15). Ao se aproximar do Egito, Abraão temeu por sua vida devido à beleza de Sara, sua esposa. Uma vez que era sua meia-irmã, ele se sentiu justificado em pedir a ela que se passasse por sua irmã (ver Gn.20:12). A conduta dos cananeus, vista mais tarde no caso dos homens de Sodoma (Gn.19:4-11), evidencia que sua ansiedade era razoável. Sua experiência no Egito mostra de maneira clara que, do ponto de vista humano, seus temores tinham fundamento. Mas a precaução que ele tomou não brotou da fé.

Como podia esperar conservar Sara como sua esposa quando ela própria negaria que fosse casada? De que maneira ele poderia protegê-la mais eficientemente como sua irmã do que como sua esposa? Seu plano acabou lhe trazendo exatamente o que temia e esperava evitar, embora, como suposto irmão de Sara, ele tenha sido bem tratado pelo faraó e tenha recebido escravos e cabeças de gado como demonstração do agrado e da amizade do rei (ver com. de Gn.20:13-16).

Gn.12:13 13. Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me conservem a vida.

Sem comentário para este versículo.

Gn.12:14 14. Tendo Abrão entrado no Egito, viram os egípcios que a mulher era sobremaneira formosa.

Era sobremaneira formosa. Com 65 anos, como Sara podia ser tão atraente quanto este incidente sugere? Deve-se lembrar que no tempo de Abraão a média de vida era o dobro do que é hoje. Portanto, Sara, que morreu com 127 anos (Gn.23:1), estava ainda na meia-idade. Sabe-se que os faraós apreciavam a pele mais clara das mulheres estrangeiras e que procuravam moças líbias, heteias, mesopotâmicas e palestinas para o harém real.

Gn.12:15 15. Viram-na os príncipes de Faraó e gabaram-na junto dele; e a mulher foi levada para a casa de Faraó.

A casa de Faraó. A palavra “faraó”, um termo egípcio que literalmente significa “casa grande”, não era originalmente o título do rei, mas um termo que denotava o palácio. Na 18º dinastia, durante a qual Moisés escreveu o livro de Gênesis, tornou-se um termo respeitoso para designar o rei. Da mesma forma, o sultão era chamado de “sublime porta” e, às vezes, se faz referência ao presidente dos Estados Unidos de maneira impessoal e indireta como “a Casa Branca”. Mais tarde, o nome próprio do rei foi acrescentado ao título, e o exemplo mais antigo desse uso na Bíblia ocorre no 10º século a.C. (ver 2Rs.23:29, “faraó-Neco”).

Gn.12:16 16. Este, por causa dela, tratou bem a Abrão, o qual veio a ter ovelhas, bois, jumentos, escravos e escravas, jumentas e camelos.

Veio a ter ovelhas. Dos animais domésticos aqui mencionados, apenas o camelo ainda era incomum na época. Não era, porém, inteiramente desconhecido, como o demonstram várias pequenas figuras de camelos carregados, encontradas em tumbas do terceiro e segundo milênios a.C. O cavalo ainda não havia sido introduzido no Egito, e não é mencionado. A arqueologia aponta para os hicsos asiáticos, que governaram o Egito por mais de um século, como aqueles que introduziram os cavalos e as carroças. A menção que Moisés faz de cavalos no tempo de José e não no tempo de Abraão evidencia que o conhecimento que tinha do Egito era acurado.

Gn.12:17 17. Porém o Senhor puniu Faraó e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão.

O Senhor puniu Faraó [...] com grandes pragas. A dificuldade do homem é a oportunidade de Deus. Embora Abraão tivesse falhado para com Deus, Deus interveio em seu favor. Não se pode determinar qual foi a natureza dessas pragas, mas obviamente o objetivo era proteger Sara da desonra e convencer o faraó de que devia devolvê-la a Abraão. Talvez a própria Sara tenha revelado sua verdadeira condição de casada, ou Deus tenha falado diretamente ao faraó, como o fez posteriormente com Abimeleque (ver Gn.20:3). Essa experiência devia ter ensinado Abraão a confiar em Deus e não em suas próprias manobras. Parece estranho, contudo, que ele, pouco tempo depois, repetisse o mesmo erro, e ainda mais estranho que seu filho Isaque tentasse o mesmo artifício (ver Gn.20:2; Gn.26:7).

O fato de Deus ter salvo Seus servos de circunstâncias que eles próprios criaram é uma evidência de misericórdia e amor. É possível que, às vezes, aqueles que professam fé em Deus ajam de maneira indigna de seu chamado, mas Ele frequentemente ensina seus oponentes a respeitá-los. O Senhor continua sendo fiel para com Seus filhos mesmo nos momentos de infidelidade deles (ver 2Tm.2:13). Contudo, agir deliberadamente na expectativa de que Deus nos salvará dos resultados adversos é presunção. Foi a uma tentação dessa natureza que Cristo respondeu: “Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt.4:7).

Gn.12:18 18. Chamou, pois, Faraó a Abrão e lhe disse: Que é isso que me fizeste? Por que não me disseste que era ela tua mulher?

Chamou, pois, Faraó a Abrão.As palavras de reprovação de faraó implicam que ele não teria tomado Sara para si se soubesse que ela era esposa de outro homem. As intenções dele eram irrepreensíveis; seus arranjos para torná-la sua esposa foram inteiramente legítimos. Sara havia sido levada para a corte em preparo para o casamento, mas ainda não havia se unido ao rei. E, por sua vez, Abraão havia aceitado o dote costumeiro e outros presentes como sinal do favor do rei.

Gn.12:19 19. E me disseste ser tua irmã? Por isso, a tomei para ser minha mulher. Agora, pois, eis a tua mulher, toma-a e vai-te.

Toma-a, e vai-te. Reconhecendo que as pragas vieram sobre ele por causa do desagrado de Deus, o monarca não ousou tratar mal a Abraão. Ao contrário, porém, ele procurou mitigar a ira de Deus proporcionando-lhe um salvo-conduto para sair do país. A benignidade do faraó e a misericórdia de Deus humilharam Abraão, e em silêncio ele reconheceu sua culpa. Que desonra sobrevem à causa de Deus quando Seus representantes, como resultado de procedimentos irrefletidos e vergonhosos, trazem sobre si mesmos merecida reprovação de homens do mundo!

Gn.12:20 20. E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e acompanharam-no, a ele, a sua mulher e a tudo que possuía.

Sem comentário para este versículo.

Gn.13:1 1. Saiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe, ele e sua mulher e tudo o que tinha, e Ló com ele.

Saiu, pois, Abrão do Egito. Foi pela misericórdia de Deus que Abraão voltou em segurança do Egito com sua esposa, a família e os bens. A menção de que Ló voltou com Abraão prepara o leitor para o relato a seguir, que fala das relações entre Ló e o tio. O destino imediato deles foi a parte sul da Palestina, o Neguebe, que se estende de Cades-Barneia, ao sul, até a área ao norte de Berseba, sua principal cidade (ver Gn.12:9).

Gn.13:2 2. Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro.

Era Abrão muito rico. A palavra traduzida como “rico” significa literalmente “pesado” e é usada no sentido de se estar “carregado” de posses, já sendo rico antes de ir para o Egito, Abraão voltou com seus bens grandemente aumentados devido à generosidade do faraó. Pela primeira vez a Bíblia menciona prata e ouro como metais preciosos, e o fato de que a posse deles tornava alguém rico. Talvez Abraão possuísse prata quando saiu da Mesopotâmia, uma terra rica desse metal; mas o ouro ele provavelmente obteve no Egito, o país mais rico da Antiguidade em minas de ouro.

Em cerca da metade do segundo milênio a.C., os governantes asiáticos pediam ouro em quase todas as cartas que escreviam aos faraós. Era crença geral que “o ouro era tão abundante no Egito como as pedras”. Os túmulos de alguns reis fenícios da cidade de Biblos, descobertos na década de 1920, continham muitos presentes preciosos dados por reis egípcios do 19º e 18º séculos a.C. É possível que estivessem incluídos belos vasos, caixas, ornamentos e outros objetos de luxo no presente que Abraão recebeu do faraó.

Gn.13:3 3. Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro estivera a sua tenda, entre Betel e Ai,

Até Betel. Atravessando o Neguebe, Abraão voltou por onde havia passado até chegar às proximidades de Betel, onde havia acampado anteriormente. A palavra aqui traduzida por “jornadas” significa "estações” ou locais onde ele armou sua tenda. Isso não indica uma viagem direta e contínua desde o Egito, passando pelo Neguebe e indo até Betel, mas uma jornada feita em etapas graduais, de uma pastagem a outra, na direção geral de Betel (ver Gn.12:8).

Gn.13:4 4. até ao lugar do altar, que outrora tinha feito; e aí Abrão invocou o nome do Senhor.

Até ao lugar do altar. Moisés salienta que Abraão voltou a um local onde já havia realizado um culto público. Betel lhe era querida devido à sagrada lembrança da comunhão que desfrutara com o Senhor. Possivelmente, ele esperasse encontrar ouvidos atentos e corações abertos entre as pessoas do local, que deviam se lembrar de sua passagem anterior por ali. O local de cada acampamento de Abraão era marcado por um altar no qual nômades cananeus aprendiam sobre o Deus verdadeiro e ao qual, depois de Abraão ter ido embora, voltavam para adorar esse Deus (PP, 128). Um importante ponto a se considerar na escolha de um lar é “o lugar do altar”.

Gn.13:5 5. Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas.

Sem comentário para este versículo.

Gn.13:6 6. E a terra não podia sustentá-los, para que habitassem juntos, porque eram muitos os seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro.

Eram muitos os seus bens. A prosperidade do tio se estendeu ao sobrinho. Ló, o único membro da família de Tera que obedeceu à ordem de Deus para ir a Canaã, participou da bênção prometida a Abraão. Uma vez que a terra já estava ocupada pelos cananeus e as montanhas de Canaã eram cheias de florestas, como mostram registros antigos, havia poucas pastagens permanentes para os grandes rebanhos de gado e ovelhas dos recém-chegados.

Gn.13:7 7. Houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló.

Contenda. A escassez de pastagens disponíveis e, às vezes, também de água resultou em contenda entre os pastores de Abraão e os de Ló. Cada um dos grupos, naturalmente, desejava ver as posses de seu senhor prosperarem.

Os cananeus e os ferezeus. Os ferezeus são mencionados junto com os cananeus em outras passagens (ver Gn.34:30; Jz.1:4-5) e são frequentemente enumerados com as várias outras tribos que ocupavam Canaã nos tempos patriarcais (Gn.15:19-21; Ex.3:8; Ex.3:17; Ex.23:23). Muitos comentaristas acham que os ferezeus eram habitantes de aldeias (heb. perazi, “os habitantes da área aberta”, Et.9:19), em contraste com os cananeus que moravam em cidades muradas. A relação dos ferezeus com outras nações da Palestina é incerta, uma vez que eles não aparecem na lista das nações de Gn.10 nem em fontes extrabíblicas.

Gn.13:8 8. Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados.

Não haja contenda. As discussões dos pastores provavelmente se refletiram na atitude e conduta de Ló. Ansioso para evitar discórdia e inimizade entre si mesmo e o sobrinho, Abraão propôs a separação de seus rebanhos como solução para a dificuldade. Em vista do fato de Ló ser mais novo e de toda a terra ter sido prometida a Abraão, seu trato com Ló reflete um espírito verdadeiramente generoso. A nobreza de alma revelada nessa ocasião aparece em nítido contraste com a fraqueza de caráter que ele havia acabado de demonstrar no Egito. Abraão mostrou ser um homem de paz.

Somos parentes chegados. Literalmente, “irmãos” (ARC). Abraão reconheceu a perniciosa influência que o ódio e a contenda entre ele e Ló teriam sobre as nações que os rodeavam. Nada teria frustrado tão eficientemente o plano de Deus para evangelizar as nações de Canaã como a contínua discórdia entre as duas famílias. Embora Abraão fosse o mais velho dos dois, não se aproveitou da idade e posição para reivindicar preferência. Sua referência a si mesmo e a Ló como “irmãos” (ARC, NVI, BJ) tinha o objetivo de assegurar a seu sobrinho a igualdade de posição e tratamento. Procurou afastar qualquer dúvida que Ló pudesse ter quanto à honestidade das intenções de seu tio.

Gn.13:9 9. Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.

Não está diante de ti toda a terra? Embora houvesse sido nomeado herdeiro de toda a terra, Abraão manifestou verdadeira humildade ao subordinar seus próprios interesses aos de Ló e, assim, permitir que ele ficasse com a área que quisesse da terra. Abraão renunciou a seus próprios direitos em favor da paz e, ao fazê-lo, conquistou o mais elevado respeito. Mostrou generosidade de espírito, nobreza de pensamentos, caráter digno de imitação.

Fazer diferente do que ele fez teria sido seguir os princípios egoístas que em geral governam as pessoas em seu trato umas com as outras. Mas um ser humano espiritual vive de acordo com princípios mais elevados e olha para as riquezas eternas, que estão muito além das vantagens temporais. Abraão fez isto e derrotou o propósito que Satanás tinha de criar discórdia e contenda entre ele e o sobrinho.

Gn.13:10 10. Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem-regada (antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra), como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, como quem vai para Zoar.

Toda a campina do Jordão. Sendo menos nobre que o tio, Ló começou imediatamente a se aproveitar da oferta. Visualizou mentalmente a terra até onde a conhecia. Ele notara que a planície do Jordão, chamada em tempos antigos de Kikkar, hoje el-Ghor, era bem irrigada. Como um cidadão da Mesopotâmia, onde rios e canais conferiam grande fertilidade ao solo, Ló não podia ter deixado de comparar sua terra anterior com o território montanhoso e aparentemente menos fértil para onde tinha vindo. Abraão o havia induzido a ir para Canaã, ele pode ter pensado, e, portanto, deveria fazer com que ele estivesse confortavelmente instalado.

O oeste da Palestina não possui quaisquer rios dignos de menção. O único rio importante é o Jordão, e a maioria de seus afluentes provém do leste. Com sua nascente nas montanhas Antilíbano, o Jordão atravessa o lago Huleh, na alta Galileia, que fica cerca de 2 m acima do nível do mar. Caindo então rapidamente de altitude, ele entra no mar da Galileia, que fica cerca de 15 km ao sul do lago Huleh e 200 m abaixo do nível do mar. Saindo do mar da Galileia, o Jordão corre para o Mar Morto numa distância que, em linha reta, seria de 100 km. Mas, nesse trajeto, ele serpenteia por cerca de 300 km, entrando no Mar Morto numa altitude de cerca de 400 m abaixo do nível do mar.

Por estar profundamente cravado entre as montanhas do oeste da Palestina e o planalto da Transjordânia, todo o vale do Jordão tem um clima tropical durante o ano, com fertilidade correspondente.

Sodoma e Gomorra. Pela primeira vez as duas ímpias cidades de Sodoma e Gomorra são vinculadas ao destino de Ló. Essas cidades parecem ter estado situadas ao sul do Mar Morto, que no tempo de Abraão era muito menor que hoje (ver Gn.14:3 [NTLH] e Gn.19:24-25). Portanto, o vale em que essas cidades estavam localizadas está provavelmente incluído por Moisés na expressão “a campina do Jordão ”, que é chamada no Gn.13:12 simplesmente de “campina”.

Como o jardim do Senhor. O fértil vale do Jordão, com sua vegetação tropical, parecia comparável ao que Moisés havia ouvido falar do paraíso perdido, e ao fértil Delta do Nilo, pelo qual Ló e Abraão haviam passado havia pouco.

Gn.13:11 11. Então, Ló escolheu para si toda a campina do Jordão e partiu para o Oriente; separaram-se um do outro.

Ló escolheu. Encantado pela beleza e fertilidade, e desatento a outras considerações, Ló escolheu o vale do Jordão como seu futuro local de habitação. Impelido pelo egoísmo e guiado apenas por suas próprias inclinações e pela perspectiva de vantagem temporal, ele tomou a fatídica decisão de sua vida. Essa decisão o levou a uma série de experiências infelizes que colocaram em perigo sua vida e a família. Deixando Abraão em Betel, Ló e sua família partiram em direção ao leste.

Gn.13:12 12. Habitou Abrão na terra de Canaã; e Ló, nas cidades da campina e ia armando as suas tendas até Sodoma.

Ia armando as suas tendas até Sodoma. Desejoso de se estabelecer na vizinhança imediata das cidades situadas no vale do Jordão, de cuja riqueza ele esperava partilhar, Ló se colocou em nítido contraste com seu tio, que permaneceu um peregrino por toda a vida (ver Hb.11:9). A experiência de Ló é uma lição para o cristão tentado a trocar a felicidade eterna por vínculos terrenos e ganhos temporais. Primeiro ele “viu” e depois “escolheu”. Deixando o vale do Jordão, ao norte do Mar Morto, ele armou sua tenda em direção a Sodoma e depois acabou se mudando para dentro da cidade (verGn.14:12; Gn.19:1). Embora ele próprio fosse justo, sua fatídica decisão significou a perda de quase tudo que lhe era caro (PP, 168).

Gn.13:13 13. Ora, os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o Senhor.

Os homens de Sodoma. Está claro que os homens que Ló escolheu como vizinhos já eram ímpios quando ele foi morar entre eles. Em geral, há mais depravação entre pessoas situadas em terras mais férteis e que desfrutam as vantagens de uma civilização avançada. Tal é a ingratidão da natureza humana que, onde os dons divinos são mais abundantes, as pessoas se esquecem dEle primeiro (verOs.4:7; Os.10:1). Constitui um dos perigos morais da prosperidade o fato de que os seres humanos se tornam tão satisfeitos com as coisas deste mundo que não sintam necessidade de Deus.

Gn.13:14 14. Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente;

Ergue os olhos. Esta é a quarta ocasião em que Deus Se dirige diretamente ao patriarca. Cada uma dessas ocasiões marcou um ponto crucial em sua vida. Evidentemente aprovando a separação entre Ló e o patriarca, Deus ordenou a Abraão que novamente examinasse a terra porque toda ela um dia pertenceria a ele e sua posteridade. A ordem divina “Ergue os olhos” deve ter feito Abraão se lembrar de Ló, que pouco tempo antes “levantou [...] os olhos e viu toda a campina do Jordão” (v. 10). Embora Ló houvesse escolhido a porção que parecia ser a melhor, foi dito a Abraão que, no devido tempo, a totalidade dessa terra pertenceria a seus descendentes.

Gn.13:15 15. porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre.

Para sempre. A promessa de Deus é imutável. Assim como a semente de Abraão devia existir diante de Deus para sempre, da mesma forma Canaã devia ser sua terra para sempre. Esta promessa, originalmente feita com respeito aos descendentes literais de Abraão, por sua vez, é garantida à sua verdadeira posteridade espiritual, a família da fé (ver Gl.3:29). Portanto, ela não impedia que os descendentes descrentes fossem expulsos da terra de Canaã.

Gn.13:16 16. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência.

Como o pó da terra. Esta é uma repetição da promessa anterior de que Abraão seria o pai de “uma grande nação” (Gn.12:2). A promessa é expressa em vívidas imagens orientais, ora comparando a descendência de Abraão ao pó da terra, ora às incontáveis estrelas do céu (Gn.15:5).

Gn.13:17 17. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei.

Sem comentário para este versículo.

Gn.13:18 18. E Abrão, mudando as suas tendas, foi habitar nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e levantou ali um altar ao Senhor.

Nos carvalhais de Manre. Obedecendo às ordens de Deus, Abraão partiu mais uma vez. Sendo que ele creu na palavra de Deus literalmente, essa viagem o levou gradualmente por todo o comprimento e a largura da terra. Abraão finalmente armou sua tenda num bosque próximo a Hebrom. A palavra heb. 'elone, aqui usada no plural, indica a presença de várias árvores grandes (ver com. de Gn.12:6). Esse bosque pertencia a um chefe amorreu, Manre, que mais tarde se tornou amigo e aliado de Abraão (Gn.14:13; Gn.14:24).

Hebrom. A cidade de Hebrom está 35 km ao sul de Jerusalém, no caminho para Berseba. É uma cidade antiga, construída sete anos antes de Zoã (Tânis), no Egito (Nm.13:22). Uma vez que a data da fundação de Tânis é desconhecida, essa declaração cronológica do livro de Números infelizmente tem pouco efeito. O nome Hebrom passou a ser usado num período posterior. No tempo dos patriarcas ela era conhecida como Quiriate-Arba ou a cidade de Arba (ver Gn.23:2; Js.14:15). Esse é um dos muitos exemplos em que os escritores bíblicos preferiram usar nomes contemporâneos a fim de tornar a história mais inteligível para seus leitores.

Um altar ao Senhor. Como o fizera anteriormente em Siquém (Gn.12:7) e Betel (Gn.12:8), Abraão novamente ergueu um altar. Cada memorial ao verdadeiro Deus expressava gratidão por Suas misericórdias e lealdade a Seus princípios. O fato de que os vizinhos amorreus e heteus de Abraão viessem a se tornar seus amigos (Gn.14:13; Gn.14:24; Gn.23:7-17) pode ter ocorrido devido a sua benéfica influência sobre eles.

Além disso, é possível que eles apreciassem, pelo menos em parte, o fato de que a bênção de Deus repousava sobre ele, e achassem que poderiam ser participantes da mesma (ver Gn.12:3). Deve ter sido despertada no coração deles a convicção de que o Deus que Abraão adorava e servia era de fato o Deus verdadeiro, criador dos céus e da Terra. O testemunho de Abraão por preceito e exemplo certamente não ficou sem resultados (PP, 128).

Gn.14:1 1. Sucedeu naquele tempo que Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim,

Sucedeu. A compreensão dos eruditos a respeito deste capítulo é dividida. Alguns o aceitam como documento antigo fidedigno baseado em fatos históricos. Outros o consideram história inventada por algum escritor judeu de época tardia com o propósito de glorificar o patriarca Abraão. Contudo, algumas descobertas têm demonstrado que o contexto, a linguagem e os nomes próprios se encaixam exatamente no início do segundo milênio a.C., o que fortalece substancialmente a posição dos que creem na historicidade do relato. Ainda não é possível, contudo, identificar qualquer dos reis ali nomeados com pessoas mencionadas em fontes extrabíblicas, uma vez que pouco se sabe da história política desse período.

Anrafel, rei de Sinar. Este rei tem sido costumeiramente identificado com Hamurábi, o sexto e maior rei da 1º dinastia de Babilônia. Toda vez que Sinar é mencionada no relato do AT, é usada como uma designação para Babilônia (ver com. de Gn 10:10), um fato que parece sugerir que Anrafel era um rei de Babilônia. Contudo, também é possível ver nesta Sinar a Shanhara das fontes cuneiformes, que ficava na parte noroeste da Mesopotâmia. Além disso, parece cronologicamente impossível identificar Hamurábi com Anrafel.

Embora alguns eruditos defendam a datação mais antiga para o reinado de Hamurábi, o ponto de vista mais recente é o de que ele tenha governado no 18º ou 17º século a.C., o que o colocaria mais de 100 anos depois de Abraão. A identificação linguística de Anrafel com Hamurábi também não é isenta de dificuldades. Desde 1930, houve mais três reis chamados Hamurábi que viveram no mesmo período: um de Ugarit, outro de Aleppo e um terceiro de uma cidade não identificada. Portanto, ainda não se pode fazer uma identificação definitiva.

Arioque, rei de Elasar. O nome Arriwuk (Arioque) é atestado em textos cuneiformes, como o do filho do rei Zimrilim, da cidade mesopotâmica de Mari, no século 18 a.C. Embora não seja a mesma pessoa que o rei de Elasar, a ocorrência do nome Arioque em registros do período pós-abraâmico indica que a história tem uma correspondência adequada com a época. É tentador identificar Elasar com a cidade de Larsa, na baixa Mesopotâmia. A tentativa de fazer essa identificação já ocorreu muitas vezes no passado, mas faltam evidências definitivas que a comprovem.

Quedorlaomer, rei de Elão. Um bom nome elamita que significa “servo de [a deusa] Lagamar”. O nome de vários reis elamitas começa com a palavra kudur, “servo”, como Kudur-Mabuk, Kudur-Nachunte e Kudur-Ellil. A segunda parte de Quedorlaomer é a transliteração hebraica do nome da deusa elamita Lagamar. Contudo, ainda não se conhece nenhum rei com o nome de Kudur-Lagamar mencionado em fontes extrabíblicas.

Tidal, rei de Goim. Vários reis heteus tiveram esse nome, na forma de Tudhalia, mas é incerto se este rei em particular aparece em qualquer registro fora da Bíblia. Embora seja impossível identificar com certeza os quatro reis, a ocorrência de seus nomes no período em que Abraão viveu mostra claramente que o relato de Gênesis 14 é histórico.

Gn.14:2 2. fizeram guerra contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Bela (esta é Zoar).

Bera, rei de Sodoma. Há menos razão para se esperar em documentos extra- bíblicos o nome de reis de cidades que ficavam no vale do Jordão do que o de reis das grandes nações daquela época. Os quatro nomes dados, contudo, são palestinos e podem ser explicados como tais. Em árabe, Bera significaria “vencedor”; Birsa, “homem longo”; Sinabe, “[o deus-lua] Sin é pai”; e Semeber, “poderoso em fama”.

Gn.14:3 3. Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar Salgado).

Vale de Sidim. De acordo com este texto o vale de Sidim deve ser identificado com a totalidade ou com parte do que mais tarde veio a ser conhecido como o “mar salgado” ou Mar Morto. Os dois terços da parte norte do atual Mar Morto são muito profundos (150-350 m) e já deviam existir no tempo de Abraão. A parte sul é rasa, e sua profundidade em nenhuma parte excede 4,5 m. Árvores submersas mostram que essa parte do Mar Morto era terra seca em época comparativamente recente.

Portanto, é razoável localizar o “Vale de Sidirn” na parte sul do Mar Morto, que foi se tornando submersa com o decorrer do tempo, à medida que as águas do mar subiam. O nível do mar vinha subindo gradualmente, até que a irrigação diminuiu o caudal do Jordão e, portanto, a quantidade de água que chegava ao Mar Morto. Uma vez que várias correntes de água fluem para a parte sul do mar numa região que ainda é muito fértil, é razoável presumir que todo o vale que agora forma a parte sul do Mar Morto foi outrora uma planície excepcionalmente fértil que a Bíblia compara com o paraíso e com o vale do Nilo (Gn.13:10). É presumível, portanto, que nessa região estivessem situadas as cidades de Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim.

Gn.14:4 4. Doze anos serviram a Quedorlaomer, porém no décimo terceiro se rebelaram.

Doze anos serviram a Quedorlaomer. Quedorlaomer era líder da coalizão de reis. Vê-se que Elão era uma grande potência mesopotâmica no tempo de Abraão. Em aliança com outros governantes asiáticos, talvez Elão tenha empreendido essa campanha no ocidente a fim de reabrir sua rota de caravanas até o Mar Morto. Uma vez que a parte ocidental da Palestina estava sob influência egípcia, seria natural que potências asiáticas buscassem o controle de suas rotas de comércio. Fica evidente pelos versos seguintes que outras nações haviam sido tributárias de Quedorlaomer além das cinco cidades-estado de Sidim. Possivelmente a tributação fosse pesada e quando os vários povos conseguiam se recuperar um pouco da campanha anterior rebelavam-se e deixavam de enviar tributos anualmente para a Mesopotâmia.

Gn.14:5 5. Ao décimo quarto ano, veio Quedorlaomer e os reis que estavam com ele e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim,

Ao décimo quarto ano. A revolta acarretou uma expedição punitiva através da qual se esperava que a situação anterior fosse restabelecida. Não é necessário presumir que todos os governantes mencionados no v. Gn.14:1 estivessem pessoalmente presentes na campanha. Os antigos governantes orientais sempre falam como se tivessem dirigido e vencido sozinhos todas as batalhas.

Refains. A primeira batalha ocorreu em Basã, na cidade de Asterote-Carnaim, a moderna Sheikh Sa´ad, cerca de 35 km a leste do mar da Galileia. Os refains são frequentemente mencionados nos primeiros livros da Bíblia como um dos povos antigos que viviam principalmente na Transjordânia (cf. Dt.2:11; Dt.3:11; Dt.3:13).

Zuzins. Nem este povo nem o local é mencionado em outra parte da Bíblia; portanto, eles não podem ser identificados, a menos que fossem os zanzumins de Dt.2:20, que foram mais tarde substituídos pelos amonitas.

Emins. O povo que habitava a leste do Mar Morto antes dos moabitas e que foi desapossado por estes era chamado de os “emins" (Dt.2:10-11). Savé-Quiriataim significa a “planície de Quiriataim”, e esta última palavra se refere ao nome de uma cidade que ficava junto a um afluente ao norte do rio Arnom e que mais tarde foi designada para a tribo de Rúbem (Js.13:15; Js.13:19).

Gn.14:6 6. e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã, que está junto ao deserto.

Aos horeus. Prosseguindo rumo ao sul, as forças vitoriosas derrotaram os horeus (ou hurritas), que viviam na região montanhosa ao sul do Mar Morto, mais tarde conquistada pelos edomitas (Dt.2:22). Eles perseguiram os povos derrotados até o deserto de Parã, que ficava localizado na parte norte da península do Sinai.

Gn.14:7 7. De volta passaram em En-Mispate (que é Cades) e feriram toda a terra dos amalequitas e dos amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar.

En-Mispate (que é Cades). Esta passagem menciona pela primeira vez um oásis no deserto que desempenharia importante papel na história dos israelitas durante seus 40 anos de vagueações. Seu nome completo era Cades-Barneia (ver Nm.32:8). O nome anterior, En-Mispate, significa “fonte de julgamento”.

Dos amalequitas e dos amorreus. Os amalequitas, tribos do deserto que vagueavam nas regiões do sul da Palestina, foram a meta seguinte das forças vitoriosas, como também o foram os amorreus que viviam a oeste do Mar Morto. Hazazom-Tamar é identificada com En-Gedi (2Cr.20:2).

Gn.14:8 8. Então, saíram os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Bela (esta é Zoar) e se ordenaram e levantaram batalha contra eles no vale de Sidim,

Os reis. O encontro seguinte ocorreu a sudeste de En-Gedi, no vale que é hoje coberto pela parte sul do Mar Morto (ver com. do v. Gn.14:3). As cinco cidades-estado uniram forças e lutaram contra os exércitos dos quatro reis do nordeste.

Gn.14:9 9. contra Quedorlaomer, rei de Elão, contra Tidal, rei de Goim, contra Anrafel, rei de Sinar, contra Arioque, rei de Elasar: quatro reis contra cinco.

Sem comentário para este versículo.

Gn.14:10 10. Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram; alguns caíram neles, e os restantes fugiram para um monte.

Poços de betume. Este campo de batalha aparentemente tinha sido escolhido pelos cinco reis locais para que pudessem se beneficiar de seu conhecimento das peculiaridades geográficas da região. Poços de betume abertos são característicos da Mesopotâmia, mas não se encontram em parte alguma da Palestina ou da Transjordânia atualmente. Na parte sul do Mar Morto, porém, consideráveis quantidades de betume ainda sobem à superfície e ficam flutuando na água, o que é uma prova adicional de que o “vale de Sidim” é hoje coberto pelas águas do Mar Morto.

A erupção de betume, que já era um fenômeno no tempo dos autores clássicos, como o testificam Josefo, Estrabão, Diodoro e Tácito, deu ao Mar Morto o nome de lago Asfaltite.

Os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram. Sua última tentativa de resistir às forças vitoriosas das grandes potências falhou como haviam falhado todas as anteriores, e os reis fugiram. A frase “e caíram ali” (ARC) não pode significar que todos os reis foram mortos, porque o v. Gn.14:17 mostra que pelo menos o rei de Sodoma sobreviveu à batalha. Ela simplesmente denota a completa derrota deles. Há a interpretação de que alguns caíram nos poços de betume (ver ARA, NVI, NTLH e BJ).

Gn.14:11 11. Tomaram, pois, todos os bens de Sodoma e de Gomorra e todo o seu mantimento e se foram.

Sem comentário para este versículo.

Gn.14:12 12. Apossaram-se também de Ló, filho do irmão de Abrão, que morava em Sodoma, e dos seus bens e partiram.

Apossaram-se também de Ló. As cidades derrotadas foram saqueadas e os habitantes que sobreviveram foram levados cativos. Entre eles estava Ló, com sua família e todas as posses (ver v. Gn.14:16). Esta passagem antecipa os tristes resultados da escolha de Ló (Gn.13:12-13).

Gn.14:13 13. Porém veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; este habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, os quais eram aliados de Abrão.

Contou a Abrão, o hebreu. Um fugitivo, provavelmente um dos servos de Ló, chegou à residência de Abraão, perto de Hebrom, com um relatório do ocorrido. Aqui pela primeira vez Abraão é chamado “o hebreu”, o que o designa como um descendente de Héber. Os descendentes de Héber podiam ser encontrados em todo o antigo Oriente no segundo milênio a.C., e eram chamados habiru em inscrições cuneiformes e ‘apiru em textos egípcios. Como descendente de Héber, Abraão talvez fosse conhecido entre os amorreus e cananeus da Palestina como “o hebreu”.

Aliados de Abrão. Os três irmãos amorreus mencionados neste texto, como aliados de Abraão, eram provavelmente chefes tribais. Abraão havia feito com eles um pacto de mútua colaboração, como se pode ver pela designação que eles recebem aqui, que literalmente diz “homens da aliança de Abraão”, e pelo fato de que eles ajudaram Abraão em sua expedição para resgatar Ló.

Gn.14:14 14. Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã.

Homens dos mais capazes. Abraão é o único patriarca a aparecer no papel de líder militar. Ele não perdeu tempo em fazer preparativos para resgatar o sobrinho; em vez disso, partiu imediatamente com seus próprios homens e com os de seus amigos amorreus (Gn.14:24). A palavra heb. aqui traduzida como “homens dos mais capazes” não ocorre em nenhuma outra parte da Bíblia, mas é identificada numa carta escrita da cidade de Taanaque, no século 15 a.C., como uma palavra cananeia que significa “servos assalariados”. Nascidos na casa de Abraão, seus 318 homens “dos mais capazes” eram dignos de confiança. Isso sugere que Abraão tinha mais de 318 servos do sexo masculino, caso os servos que ele obteve durante sua recente viagem ao Egito (Gn.12:16; Gn.16:1) não estivessem incluídos nesse número (ver PP, 141).

Não se sabe quantos seguidores e servos dos três amigos de Abraão o seguiram em sua missão de resgate, mas eles provavelmente constituíram um acréscimo considerável ao seu exército. A ideia de que as forças de Abraão podiam derrotar um inimigo tão poderoso tem sido muitas vezes alvo de crítica. A história registra, porém, muitos exemplos de grandes exércitos que foram derrotados por forças menores. Além disso, os exércitos antigos eram pequenos frente aos padrões modernos. Na batalha de Megido, no século 15 a.C., Tutmés III matou 83 inimigos e levou 340 cativos, e considerou isso uma grande vitória. As Cartas de Amarna, do século 14 a.C., falam de forças armadas de 40 a 50 homens, e às vezes de apenas 10 a 20 homens, com as quais reis palestinos conseguiam defender suas cidades.

(Para mais detalhes sobre as Cartas de Amarna, ver p. 85, 86.) Esses documentos ampliaram muito o conhecimento da Palestina do século 14 a.C.

E os perseguiu até Dã. Este último nome é aqui substituído, como em exemplos similares já mencionados, pelo nome mais antigo Lesém (ver Js.19:47, e também o com. de Gn.47:11). A cidade de Lesém ficava no sopé do monte Hermon, cerca de 16 km ao norte do lago Huleh, e passou a constituir posteriormente a fronteira do extremo norte de Israel. A expressão “desde Dã até Berseba” designava os limites de Canaã (ver 2Sm.17:11). O exército vitorioso dos reis mesopotâmicos já estava bem adiantado em sua marcha de retorno ao lar, e Abraão teve de atravessar toda a Palestina para alcançá-lo.

Gn.14:15 15. E, repartidos contra eles de noite, ele e os seus homens, feriu-os e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.Feriu-os. Num falso senso de segurança, o invicto exército mesopotâmico havia relaxado a vigilância. Ao aproximar-se do inimigo, Abraão dividiu suas forças em vários grupos e os surpreendeu num ataque noturno. Quando os invasores do exército de Abraão se lançaram sobre o acampamento do inimigo, vindos de várias direções, houve tanta confusão que o poderoso exército mesopotâmico fugiu, deixando para trás todos os despojos e os cativos.

E os perseguiu até Hobá. Hobá não tem sido definitivamente identificada, mas Damasco fica cerca de 65 km a nordeste de Dã. Abraão perseguiu os inimigos em fuga por uma distância suficiente para impedir que reagrupassem suas forças e voltassem para atacá-lo. Sua vitória foi completa.

Gn.14:16 16. Trouxe de novo todos os bens, e também a Ló, seu sobrinho, os bens dele, e ainda as mulheres, e o povo.

Trouxe de novo todos os bens. Embora aparentemente possuísse gênio militar, Abraão certamente não saiu em perseguição aos exércitos profissionais dos reis vencedores sem primeiro se colocar sob a direção e proteção de Deus. Sua fé destemida e seu espírito abnegado foram amplamente recompensados. Paulo pode ter incluído Abraão quando falou de heróis da fé que “puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb.11:34).

Gn.14:17 17. Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei.

O rei de Sodoma. Bera, que havia escapado da batalha no vale de Sidim, recebeu notícias da vitória de Abraão e foi encontrá-lo por ocasião de sua volta. O encontro se deu num vale antigamente conhecido como Savé, mas posteriormente como “o vale do rei”. Esse parece ser “o vale do rei” (2Sm.18:18) e, neste caso, provavelmente possa ser identificado como o vale de Cedrom (PP, 703), mais tarde chamado o vale de Josafá. Esse vale fica ao pé do monte Sião, onde posteriormente foi construído o palácio de Davi.

Gn.14:18 18. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo;

Melquisedeque. O sacerdote-rei de Salém se uniu ao rei de Sodoma para dar as boas-vindas a Abraão. Nos dias de Abraão, Jerusalém era conhecida como Salém, ou Shalem, “paz” ou “segurança” (ver Sl.76:2). A cidade de Jerusalém é mencionada pela primeira vez em registros egípcios do século 19 a.C., e era então governada por reis amorreus. Jerusalém significa ‘‘cidade de paz’’ e Melquisedeque, “meu rei é justo” ou “Rei de justiça”, como o nome é interpretado em Hb.7:2. Enquanto que o rei de Sodoma veio encontrar Abraão com o propósito de obter a libertação de seus súditos (Gn.14:21), Melquisedeque veio para abençoar o comandante vitorioso.

Pão e vinho. Estes eram os principais produtos de Canaã. O propósito do encontro de Melquisedeque com Abraão, trazendo pão e vinho, tem sido objeto de especulação. Alguns têm pensado que isso foi apresentado a Abraão e seus soldados como um pequeno lanche; outros consideram o “pão e vinho’’ como simbólicos da transferência do solo de Canaã para o patriarca. Muito provavelmente fossem apenas um sinal de gratidão a Abraão por ter devolvido a paz, a liberdade e a prosperidade àquela terra.

Era sacerdote. A ocorrência do termo “sacerdote”, aqui usado pela primeira vez, implica a existência de uma forma regularmente constituída de adoração sacrifical.

Deus Altíssimo. Heb. ‘El-‘Elyon. Este nome para Deus ocorre apenas aqui e no Gn.14:22. A primeira parte da palavra, ’El, da mesma raiz que ‘Elohim, significa “o Forte”. Ela é raras vezes aplicada a Deus sem algum atributo qualificativo, como em ‘El-Shaddai, “Deus Todo-Poderoso”, ou ‘Eloe-Yisra’el, “Deus de Israel”. O segundo termo, ‘Elyon, que ocorre frequentemente no AT (Nm.24:16; Dt.32:8; 2Sm.22:14), descreve Deus como “o Altíssimo”, “o Exaltado” ou “o Supremo”.

É surpreendente encontrar entre os ímpios cananeus e amorreus do tempo de Abraão um governante local que não só era fiel ao verdadeiro Deus, mas também atuava no ofício sacerdotal (cf. Ex.2:16). Isso mostra que Deus ainda possuía alguns fiéis naquela terra. Embora em minoria, os verdadeiros servos de Deus de maneira alguma haviam sumido da face da Terra. Deus nunca ficou sem fiéis testemunhas, por mais escuro que fosse o período, ou por mais ímpias que fossem as pessoas que vivessem nele. Os comentaristas bíblicos têm especulado muito sobre a pessoa de Melquisedeque, um sacerdote-rei que aparece de repente na narrativa bíblica e depois desaparece novamente na obscuridade da história antiga.

Essas especulações são infrutíferas. “Melquisedeque não era Cristo” (EGW, RH, 18/02/1890), mas sua obra prefigurava a obra de Cristo (Sl.110:4; Hb.6:20; Hb.7:21; DTN, 578). Sua inesperada aparição o torna, em certo sentido, uma figura atemporal, e torna seu sacerdócio um tipo do sacerdócio de Jesus Cristo.

Gn.14:19 19. abençoou ele a Abrão e disse:Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra;

Abençoou ele Abrão. Ao pronunciar a bênção do “Deus Altíssimo” sobre Abraão, Melquisedeque age no papel de um verdadeiro sacerdote (ver com. do Gn.14:20). A bênção em si está expressa em linguagem poética e consiste de dois paralelismos.

Gn.14:20 20. e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos.E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.

De tudo lhe deu Abrão o dízimo. O nome “Abrão’’ foi acrescentado aqui pelos tradutores. O fato de que foi Abraão, e não Melquisedeque, quem deu o dízimo é claramente dito em Hb.7:4. O dar o dízimo dos despojos tirados do inimigo foi um reconhecimento do divino sacerdócio de Melquisedeque, e prova que Abraão estava bem familiarizado com a sagrada instituição do dízimo. Esta é a primeira menção do dízimo, que é repetidamente reconhecido tanto no AT quanto no NT como um requisito divino (ver Gn.28:22; Lv.27:30-33; Nm.18:21-28; Ne.13:12; Mt.23:23; Hb.7:8). O fato de Abraão dar o dízimo mostra claramente que essa instituição não foi um recurso posterior e temporário que devia sustentar o sistema sacrifical, mas uma prática divinamente instituída desde os tempos mais remotos.

Devolvendo a Deus um décimo de sua renda, o crente reconhece que Deus é o dono de todas as suas propriedades. Abraão, de quem Deus testificou que havia guardado Seus mandamentos, estatutos e leis (Gn.26:5), cumpria conscienciosamente todos os seus deveres religiosos. Um deles foi devolver a Deus um décimo de sua renda. Nesse ato, o pai dos fiéis legou um exemplo para todos os que desejam servir a Deus e participar da bênção divina. Como nos dias do passado, ainda são válidas as promessas de Deus pela fidelidade nos dízimos (ver Ml.3:10). Deus ainda está pronto a cumprir Suas promessas e a abençoar ricamente aqueles que, como Abraão, devolverem a Ele o dízimo fiel de sua renda.

Gn.14:21 21. Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo.O rei de Sodoma. Embora houvesse chegado primeiro (Gn.14:17), o rei de Sodoma parece ter cedido a preferência ao personagem mais ilustre, Melquisedeque, e parece ter assistido ao encontro entre ele e Abraão. Agora ele se adianta com seu pedido pela libertação de seus súditos, que, segundo as antigas regras de guerra, haviam se tornado propriedade de Abraão e de seus aliados.
Gn.14:22 22. Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra,

Levanto a mão. Abraão fez essa declaração com a mão levantada, que era uma forma comum de prestar juramento (ver Dt.32:40; Ez.20:5-6; Dn.12:7; Ap.10:5-6). Ao fazer isso, ele invocou o mesmo “Deus Altíssimo” em cujo nome Melquisedeque o havia abençoado, indicando assim que o Deus de Melquisedeque, o possuidor dos céus e da terra, era também seu Deus (ver Gn.14:19).

Gn.14:23 23. e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão;

Nada tomarei. Abraão, tão generoso ao lidar com seu sobrinho (Gn.13:8-9), exibiu o mesmo espírito para com o rei de uma ímpia cidade. Devolveu não apenas todos os homens, mulheres e crianças que havia resgatado, mas também todo o despojo de guerra que estava em suas mãos. Embora não se recusasse a aceitar presentes de monarcas pagãos (Gn.12:16), o patriarca, em marcante contraste com Ló, não podia consentir em partilhar da riqueza dos ímpios sodomitas. A única coisa que Abraão não podia devolver era a parte dos despojos que seus empregados haviam usado como alimento e aquilo que pertencia a seus aliados. Quando recusou para si os despojos oferecidos pelo rei de Sodoma, Abraão demonstrou uma esperança mais elevada do que a que motiva os filhos deste mundo.

Ele estava pronto a abrir mão de seus próprios direitos, sem impedir que os outros exigissem os deles. Permitiu que seus homens tomassem o necessário para seu sustento e que seus aliados recebessem sua parte. O que iriam receber era o que lhes pertencia por direito. Abraão, porém, de sua parte, não se importava com essas coisas. Ele estava focado num plano mais elevado e olhava para “uma pátria superior, isto é, celestial” (Hb.11:16). Portanto, ele era capaz de desprezar os bens terrenos. Embora estivesse no mundo, suas esperanças e desejos não eram do mundo. Os filhos da fé são distinguidos por certa grandeza de mente e propósito que os capacita a viver acima do mundo.

Gn.14:24 24. nada quero para mim, senão o que os rapazes comeram e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; estes que tomem o seu quinhão.

Sem comentário para este versículo.

Gn.15:1 1. A palavra do Senhor. Esta nova revelação de Deus difere das anteriores, tanto na forma quanto na substância, e constitui outro ponto crucial distinto na vida de Abraão. A notável frase “a palavra do Senhor [Yahweh]”, que depois se torna tão comum nas Escrituras (Êx 9:20; Nm 3:16, KjV; Dt 34:5; lSm 3:1; Jr 1:4, 11; etc.), é usadaaqui pela primeira vez. A frase está insepara- velmente ligada à obra dos profetas e é muito apropriada para esta revelação divina feita a Abraão (ver Gn 15:4, 5, 13-16, 18-21), especialmente porque o próprio Deus Se refere a Abraão como um profeta (20:7).Numa visão. Embora esta não seja a primeira visão registrada na Bíblia, a palavra'Visão” é usada aqui pela primeira vez. As revelações de Deus ocorreram de maneiras diversas, quer tenham sido dadas a patriarcas, profetas, evangelistas ou apóstolos: (1) Pela manifestação pessoal da segunda pessoa da Divindade, que mais tarde Se encarnou para a salvação da humanidade, como em Deuteronômio 34:10.(2) Por uma voz audível, às vezes acompanhada pela aparição de símbolos, como no batismo de Jesus, em Mateus 3:16 e 17.(3) Pelo ministério de anjos que apareceram como seres humanos e realizaram milagres para dar crédito a sua missão, como ocorreu com a mãe de Sansão, em Juizes 13:3-7. (4) Pela poderosa atuação do Espírito de Deus sobre a mente, comunicando urna clara concepção e forte persuasão da veracidade das coisas percebidas, como no caso de Paulo, em Atos 20:23. (5) Por sonhos, como na experiência de Jacó, em Gênesis 28:11-15. E (6) por visões ocorridas durante o dia ou à noite, como no caso discutido aqui ou no de Balaão, em Números 24:4 e 16. As últimas duas formas foram as mais comuns usadas por Deus para comunicar Sua vontade. Isso está em harmonia com o pronunciamento divino: “Se entre vós há profeta, Eu, o Senhor, em visão a ele, Me faço conhecer ou falo com ele em sonhos” (Nm 12:6).Não temas. Estas tranquiiizadoras palavras tinham o objetivo de acalmar a mente de Abraão. Os reis mesopotâmicos podiam voltar para se vingar da derrota ou os cana- neus pagãos, enciumados pelo crescente poder de Abraão, podiam atacá-lo. Deus, no entanto, prometeu ser seu "escudo”, o símbolo de proteção em batalha na Antiguidade (ver SI 3:3), e seu "galardão” (ARC). Abraão havia experimentado as duas coisas durante a expedição militar anterior, pois Deus o havia protegido na batalha e o havia recompensado com a vitória. Ele precisava crer que Deus continuaria a fazer por ele o que havia feito no passado.
Gn.15:2 2. Contínuo sem filhos. O receio de Abraão não era tanto de possíveis represálias militares, mas do fato de ainda estar sem um herdeiro. Sua mente passou dos problemas imediatos para a promessa divina que o havia levado originalmente a Canaã. Como poderia se concretizar a promessa de Deus de ele ser o ancestral de uma grande nação, se ainda estava sem filhos? A combinação “Senhor Deus”, Adhonai Yahweh, ocorre aqui pela primeira vez. Reconhecendo em Deus seu Senhor, governante e monarca, Abraão se dirige a Ele como Adhonai, “meu Senhor”, e acrescenta a isso o nome pessoal de Deus, Yahweh.O herdeiro de minha casa. Registros mesopotâmicos, particularmente da cidade de Nuzi nos tempos patriarcais, lançaram luz sobre esta passagem que até então era obscura. Esses registros mostram que casais abastados, mas sem filhos, podiam adotar um de seus escravos para se tornar herdeiro de toda a sua propriedade e também para cuidar deles na velhice. Os direitos e deveres ligados à adoção eram escritos, selados e então assinados por várias testemunhas, bem como por ambas as partes do acordo. Abraão temia não lhe restar nenhuma outra alternativa a não ser seguir a prática comum da época e adotar seu servo de maior confiança, o damasceno Eliézer, como seu filho e herdeiro legal. Essa ideia é expressa primeiramente na frase hebraica traduzida como “o herdeiro de minha casa”, literalmente “o filho da posse de minha casa”. O mesmo pensamento é claramente repetido nas palavras: “um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (v. 3). Todos os anseios, sofrimentos e desapontamentos da vida de Abraão são expressos nesse lamento, de que seu herdeiro seria não alguém nascido dele, mas alguém simplesmente nascido em sua casa. Eliézer, nascido e criado como um dos servos de Abraão, no temor do Senhor, era não só um escravo de confiança, mas um dignoseguidor do fiel patriarca. Era um '‘homem de piedade, experiência e juízo são” (PP, 172).
Gn.15:3 Sem comentário para este versículo
Gn.15:4 Sem comentário para este versículo
Gn.15:5 5. Olha para os céus. Isso mostra que a visão foi dada a Abraão à noite. .Ainda em visão, o patriarca foi conduzido para fora e lhe foi ordenado que levantasse os olhos para o céu estrelado e contasse - se pudesse - suas miríades de estrelas cintilantes, para saber o número de seus descendentes.
Gn.15:6 6. Ele creu no Senhor. Paulo usou este texto como a base sobre a qual erigiu a doutrina da justificação pela fé (Rm 4:3; G! 3:6). Embora a possibilidade de Abraão ter filhos houvesse diminuído desde a primeira promessa de Deus, uma vez que a idade aumentara, ele não hesitou em aceitar a afirmação de Deus de que isso ocorre- ria. A forma verbal hebraica, traduzida como “ele creu”, heemin, vem da mesma raiz que a palavra ‘amém”, com a qual enfatizamos nosso desejo de que Deus ouça e atenda nossas orações. Esse verbo expressa completa confiança no poder e nas promessas de Deus. xA forma particular do verbo empregada expressa, além disso, que essa não foi apenas a experiência histórica de Abraão naquele momento, mas também um traço permanente de seu caráter. Ele continuou crendo.A fé de Abraão e sua confiança infantil em Deus não o tornaram “justo”; antes, “isso lhe foi -imputado para justiça” pelo Senhor. Pela primeira vez na Bíblia, esses importantes conceitos, fé e justificação, são colocados juntos. E óbvio que Abraão não tinha “justiça” até que esta lhe foi creditada por Deus. E, se ele não possuía nenhuma justiça, ninguém jamais possuiu. Abraão era um pecador e precisava de redenção, como todos os outros seres humanos. Mas, quando a justiça lhe foi imputada, a misericórdia e a graça também lhe foram estendidas, efetuando o perdão de seus pecados e trazendo as recompensas da justiça divina. Aqui pela primeira vez é apresentada a plena importância da fé.Também é mencionada pela primeira vez a justiça imputada. Deste ponto em diante, os dois conceitos fundamentais correm ao longo das Escrituras Sagradas até serem abordados de maneira exaustiva e magistral, pelo apóstolo Paulo (ver Rm 4).
Gn.15:7 7. Eu sou o Senhor. Entre os v. 6 e. 7 deve ter havido um intervalo de duração indeterminada. A nova revelação ocorre durante o dia, aparentemente próxima ao final do mesmo (v. 12 e 17), enquanto que a visão anterior havia sido dada durante a noite (v. 5). Talvez isso tenha acontecido no dia seguinte, mas é possível ter ocorrido mais posteriormente. As circunstâncias iniciais da nova revelação não são descritas.Para dar-te por herança esta terra. Pela terceira vez Deus assegura a Abraão que ele possuirá toda a terra de Canaã (ver Gn 12:7; 13:14, 15). Mas a condição dele não havia mudado em nada desde que entrara em Canaã. De tempos em tempos Deus repetia a promessa, e Abraão a aceitava sem jamais divisar qualquer sinal visível de seu cumprimento. Ainda estava errante, sem filhos e sem lar como quando chegara da Mesopotâmia. Era natural que surgissem perguntas em sua mente.
Gn.15:8 8. Como saberei? Esta solicitação de um sinal pode ser comparada aos pedidos de Gideão (Jz 6:17, 36-40) e de Ezequias (2Rs 20:8). A pergunta de Abraão não era um sintoma de descrença ou dúvida, mas a expressão de um sincero desejo de ver as promessas de Deus cumpridas. Posteriormente, Zacarias, de maneira incrédula, pediu um sinal (Lc 1:18, 20). Maria fez uma pergunta semelhante ao anjo, mas com fé, ansiando humildemente mais certeza (Lc 1:34, 35). Deus, que vê o coração e responde de acordo com o que vê, reconheceu o direito do fiel Abraão de buscar plena certeza para a fé.
Gn.15:9 9. Toma-Me uma novilha. Deus con- descendeu em entrar numa solene aliança com Abraão de acordo com a prática daspessoas na Antiguidade. A expressão “fazer” uma aliança (v.18), literalmente “cortar” uma aliança, foi derivada da prática aqui descrita. Os animais que Abraão recebeu ordens de usar eram precisamente os que mais tarde foram prescritos por Moisés como próprios para o sacrifício (ver Ex 29:15; Nm 15:27; 19:2; Dt 21:3; Lv 1:14). A exigência de os quadrúpedes serem “de três anos” especifica animais maduros.
Gn.15:10 10. Partiu-os pelo meio. Cada um dos três animais foi morto e partido, e as duas metades foram colocadas uma de frente para a outra, com um espaço entre ambas. As aves foram mortas, mas não partidas. Provavelmente uma foi colocada de um lado e a outra do lado oposto. Os que estavam entrando em aliança deviam passar entre as duas metades, simbolicamente se comprometendo a uma obediência perpétua às provisões solenemente combinadas. A vida dos animais era a garantia da vida dos que participavam da aliança. Essa prática permaneceu em vigor por muitos séculos, pois era executada na época de jeremias (Jr 34:18, 19).
Gn.15:11 11. Aves de rapina desciam. Naturalmente esta foi uma ocorrência real e não meramente uma visão ou sonho. A realidade do cumprimento das ordens divinas por parte de Abraão é demonstrada no fato de ele ter de enxotar as aves de rapina que tentavam se alimentar da carne dos animais. Se não forem impedidos de fazê-lo, abutres e outros animais, nas terras do Oriente, começam a consumir os animais caídos imediatamente após sua morte, geralmente deixando os ossos limpos em minutos. Abraão reverentemente andou entre as partes cortadas do sacrifício, segundo o costume, contudo não houve qualquer evidência visível de que Deus, de Sua parte, aceitava as obrigações da aliança. Isto devia ocorrer mais tarde (v. 17). Mas, até então, Abraão achou que era seu dever proteger os corpos de serem despedaçados e devorados (PP, 137).
Gn.15:12 12. Profundo sono. Nao é dito se o sono de Abraão era resultado natural de cansaço pelo trabalho do dia ou um sono induzido por Deus. A palavra heb. traduzida como “profundo sono” também é usada em Gênesis 2:21 para o estado inconsciente que Deus fez cair sobre Adão quando criou Eva. Em 1 Samuel 26:12, é dito que este mesmo “profundo sono’' era “da parte do Senhor”. O uso desta palavra em particular, junta mente com o fato de Deus aparecer a Abraão enquanto ele dormia, parece apoiar a ideia de que o sono foi induzido sobrenaturalmente.Cerradas trevas. Não é dado o significado deste horror que sobreveio a Abraão. Talvez tenha sido designado por Deus para impressioná-lo com a aflição que sua posteridade devia sofrer.
Gn.15:13 13. Sabe, com certeza. Este sonho - ou pode ter sido uma visão - esclareceu para Abraão as promessas que lhe haviam sido anteriormente feitas. Informações adicionais agora reveladas deixaram claro que não podia ser esperada a posse imediata de Canaã. Mas a certeza das promessas é declarada na linguagem mais forte possível no hebraico. A frase pode ser traduzida, literalmente: “Sabendo, saberás.” Talvez Abraão tivesse cogitado muitas vezes quanto tempo mais teria de permanecer como estrangeiro na terra da promessa e como iria experimentar o cumprimento das promessas de Deus. Essa revelação não deixou qualquer incerteza quanto ao fato de que ele permanecería como um peregrino por toda a vida, e o mesmo ocorrería com seus descendentes, ainda não nascidos, durante qualro gerações. A terra por onde iriam peregrinar não é mencionada na visão, mas o cumprimento deixou claro que a referência era tanto a Canaã quanto ao Egito. Uma vez que Canaã era economicamente dependente do Egito nos dias de Abraão e Isaque, e também politicamente dependente durante o domínio dos reis hicsos na época de Jacó e José, não é estranhoencontrar ambos os territórios incluídos na palavra singular “terra”.Será reduzida à escravidão. Quão estranho deve ter parecido a Abraão que seus descendentes, sobre quem havia promessas tão grandiosas, devessem servir àqueles entre os quais iriam peregrinar. Essa profecia foi cumprida no devido tempo. Jacó, seu neto, se tornou um servo de Labão durante 20 anos (Gn 31:41). José, seu bisneto, foi ate vendido como escravo, e mais tarde aprisionado (ver 39:1; 40:4). Finalmente, todos os descendentes de Israel se tornaram escravos no Egito (Êx 1:13, 14).Será afligida. A peregri nação de Israel devería incluir não só servidão mas também aflição - isto é, perseguição. A sequência de pronomes no original pode parecer ambígua para o leitor moderno, mas não o é para os que estão familiarizados com o hebraico: “E Ele disse a Abraão: 'Sabe por certo que tua semente será estrangeira numa terra que não é deles, e eles os servirão; e eles os afligirão por quatrocentos anos” (tradução da KJV). Segundo a regra do paralelismo invertido, de que a segunda parte de um par vem em primeiro lugar quando o paralelismo é mencionado pela segunda vez, o pronome "eles” na expressão ‘eles os afligirão” se refere às pessoas a quem os descendentes de Abraão iriam servir (ver com. de Gn 10:1, 2).O cumprimento dessa profecia pode ser verificado em praticamente todas as gerações por quatro séculos. O filho de Abraão, ísaque, foi perseguido por Ismael (G1 4:29; cf. Gn 21:9). Para salvar sua vida, Jacó fugiu de Esaú (Gn 27:41-43) e, mais tarde, de Labão (Gn 31:2, 21, 29). José foi vendido por seus próprios irmãos como escravo e, em seguida, injustamente lançado na prisão (37:28; 39:20). Por fim, os filhos de Israel foram duramente afligidos pelos egípcios após a morte de José (Ex 1:8, 12).Quatrocentos anos. As perguntas que requerem resposta são: (1) Este tempo é otempo de aflição, de peregrinação ou ambos? (2) Como esses 400 anos estão relacionados aos 430 de Êxodo 12:40 e 41 e Gálatas 3:16 e 17? A primeira pergunta depende da solução da segunda.A declaração de Êxodo 12:40, de que “o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos”, parece i ndicar que os hebreus real mente passaram 430 anos ali, desde a entrada de Jacó até o êxodo. No entanto, que este não pode ser o significado fica evidente a partir de Gálatas 3:16 e 17, onde se declara que a lei foi promulgada no Sinai 430 anos após a aliança entre Deus e Abraão. Se Paulo se refere à primeira promessa feita a Abraão, em Elarã (Gn 12:1-3), os 430 anos começaram quando Abraão estava com 75 anos de idade (12:4). Os 400 anos de aflição começariam, então, 30 anos mais tarde, quando Abraão estava com 105 anos e seu filho ísaque com cinco (21:5). Essa seria mais ou menos a época em que Ismael, que “nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito [Ísaque]” (G1 4:29; Gn 21:9-11).O tempo exato desde o chamado de Abraão até a entrada de Jacó no Egito foi de 215 anos (ver Gn 21:5; 25:26; 47:9), restando 215 anos (dos 430) como o tempo real que os hebreus passaram nesse país. Por esta razão, os 430 anos de Êxodo 12:40 precisam incluir tanto a peregri nação em Canaã como a no Egito, do chamado de Abraão até o êxodo. A LXX traduz Êxodo 12:40 da seguinte forma: “E a peregrinação dos filhos de Israel, enquanto peregrinavam na terra do Egito e na terra de Canaã, foi de quatrocentos e trinta anos.” Como já foi mencionado, a terra de Canaã era tão dependente cio Egito durante o período patriarcal que os reis egípcios na verdade a consideravam como propriedade egípcia e se referiam a ela como tal. Durante a 18a dinastia, cujos reis controlaram tanto a Palestina como a Síria, Moiséspodería apropriadamente incluir Canaã no termo “Egito” que é usado em Êxodo 12:40.
Gn.15:14 14. A gente. Sem revelar o nome da nação à qual se refere, a profecia aponta para o tempo das pragas que sobrevieram ao Egito (ver 1 \ 6:6).Sairão com grandes riquezas. Esta promessa foi notavelmente cumprida no miraculoso livramento dos hebreus de seu cativeiro e na imensa riqueza que levaram consigo (Êx 12:36).
Gn.15:15 15. Irás para os teus pais. A maioria dos comentaristas explica esta passagem como se ela implicasse a imortalidade da alma e sua existência desencarnada em algum lugar próprio para almas de pessoas mortas. Essa interpretação, contudo, ignora uma figura de linguagem comum no hebraico, além de impor um sentido literal a palavras figurativas. Ir para seus pais (Gn 15:15), ser reunido ao seu povo (25:8, 17) ou congregado aos seus pais (Jz 2:10) e descansar com seus pais (2Rs 10:35) são eufemismos hebraicos comuns que significam simplesmente “morrer”. Concluir a partir dessas expressões a imortalidade da alma à parte do corpo é presumir ser verdadeiro aquilo que as Escrituras, em outros trechos, negam especificamente (ver, por exemplo, SI 146:4; Ec 9:5, 6; etc.). Abraão finalmente morreu, e não receberá a promessa até que os heróis de todas as épocas sejam recompensados por sua fé (ver Hb 11:10, 13, 39, 40; iTs 4:16, 17; Mt 16:27; Cl 3:3, 4).Serás sepultado. Isto enfatiza o ponto de vista já expresso, de que não foi prometido a Abraão que sua alma alçaria voo para o Céu ou para qualquer outro lugar. Ele seria sepultado como seus ancestrais o haviam sido. Eles estavam repousando na sepultura; Abraão se uniria a eles ali. Contudo, Deus o confortou com a certeza de uma velhice pacífica. Abraão viveu até os 175 anos (Gn 25:7, 8).
Gn.15:16 16. Na quarta geração. Os comentaristas que aplicam os 400 anos do v. 13 ao tempo real que os hebreus passaram no Egito encontram uma grande dificuldade aqui. Precisam pressupor que as quatro gerações se estenderam até exatamente 100 anos cada uma. Isto é contrário às evidências disponíveis. Contudo, já que os 400 anos do v. 13 devem se referir ao tempo que vai desde Abraão até o êxodo (ver com. do v. 13), e já que o tempo real da permanência de Israel no Egito foi de apenas cerca de 215 anos, não existe nenhuma discrepância entre esta predição e seu cumprimento. Calebe pertenceu à quarta geração desde Judá (lCr 2:3-5, 18) e Moisés, à quarta geração a partir de Levi (Êx 6:16-20). As tentativas de se determinar a extensão de uma “geração” com base em Gênesis 15:13 e 16 são infrutíferas, e os resultados certamente serão enganosos. Qualquer que seja a duração de cada "geração”, o fato é que uma delas entrou no Egito, duas habitaram ali e uma quarta saiu do país.Da iniquidade dos amorreus. Havia duas razões fundamentais para a aparente demora no cumprimento da promessa divina. Em primeiro lugar, levaria tempo para os descendentes de Abraão se multiplicarem a ponto de serem capazes de tomar a terra. Em segundo lugar, o amor e a justiça divina reclamavam para os amorreus um prolongamento de seu tempo de graça - para que eles ou outras pessoas não acusassem a Deus de injustiça e parcialidade quando chegasse o tempo para que fossem destruídos e sua terra fosse tomada. Em outras palavras, os hebreus não estavam prontos para possuir a terra, e Deus não estava pronto para clesa- possar os amorreus.Há um grau de iniquidade fixado, que as nações não podem ultrapassar sem incorrer nos juízos de Deus. A profundidade da depravação e degeneração moral à qual os povos de Canaã haviam chegado na épocade Moisés é revelada pela literatura mitológica desses povos, descoberta há algum tempo. Ela descreve seus deuses como seres cruéis e sanguinários, que se matavam e se enganavam uns aos outros, e cuja imoralidade era inimaginável. Como os antedilu- vianos e os homens de Sodoma, os homens de Canaã, como seus deuses, eram controlados pelas mais vis paixões. São descritos sacrificando seus filhos, adorando serpentes e praticando rituais imorais em seus templos. Os santuários abrigavam prostitutos profissionais de ambos os sexos. Os amor- reus, os mais poderosos dentre várias tribos cananeias, representam aqui todos os habitantes de Canaã (ver Js 24:15; Jz 6:10; etc.)
Gn.15:17 17. Uma tocha de fogo. A fase final da revelação divina tinha o objetivo de impressionar Abraão com a certeza das promessas de Deus. Um “fogareiro fumegante” e uma “tocha de fogo”, símbolos da presença divina, passaram entre as partes dos animais cortados ao meio, como o próprio Abraão havia feito mais cedo, durante o dia. Que isto não foi meramente uma visão fica evidente no fato de que os animais foram total mente consumidos (PP, 137). Por este sinal visível Deus confirmou Sua aliança com Abraão que, assim, pela primeira vez, contemplou o símbolo sagrado da presença divina.
Gn.15:18 18. Esta terra. Deus aqui reafirma Sua promessa sobre a posse da terra de Canaã. Pela primeira vez os limites geográficos precisos da terra prometida são indicados. Parapropósitos práticos, esses limites se concretizaram durante os reinados de Davi e Salomão (ver lRs 4:21; 2Cr 9:26).
Gn.15:19 19. O queneu. As dez tribos mencionadas não incluem todos os cananeus. O número talvez seja simbólico de universalidade. Os queneus ficavam nas partes montanhosas cio sudoeste da Palestina, perto dos amalequitas (Nm 24:20, 21; ISm 15:6; etc.). Sua origem é incerta. Em algum momento podem ter-se misturado por meio de casamentos com os midianitas, pois Hobabe, cunhado de Moisés, é chamado queneu (Jz 1:16; 4:11) e também midianita (Nm 10:29). Pode ser, também, que tenham sido uma subfamília dos midianitas.O quenezeu. Ainda não identificado. Alguns acham que esse povo fosse descendente do neto de Esaú, Quenaz (Gn 36:15). Se assim for, sua menção aqui como uma tribo teria necessariamente de ser profética, pois Esaú, neto de Abraão, ainda não tinha nascido. Esta sugestão não parece aceitável.O cadmoneu. Não mencionado em nenhuma outra parte. Sua origem não pode ser determinada. Seu nome, que significa “orientais”, aponta para as regiões orientais de Canaã como seu local de habitação.
Gn.15:20 20. O heteu. Ver com. de Gn 10:15.O ferezeu. Ver com. de Gn 13:7.Os refains. Ver com. de Gn 14:5.
Gn.15:21 21. O amorreu. Para este e outros grupos tribais mencionados no v. 21, ver com. de Gn 10:15, 16.Capítulo 16
Gn.16:1 1. Uma serva. Apesar de todas as promessas de Deus, permanecia o fato de que Abraão ainda estava sem filhos dez anos após a primeira promessa feita a ele (v. 3). Então, aparece em cena Agar, uma egípcia, serva de Sara. Uma vez que os egípcios eram uma nação poderosa no tempo de Abraão, é singular encontrar uma serva egípcia num lar hebreu. Agar provavelmente era a atendente pessoal dada a Sara quando ela foi levada ao faraó (ver Gn 12:15, 16). O fato de que elaainda se encontrava na casa de Abraão sugere que faraó não havia tomado de volta os presentes que dera a Abraão.Agar. Este não é um nome egípcio. O nome original dela não é dado. O nome Agar, que significa “fuga” em árabe, talvez lhe tenha sido dado após ela ter fugido de sua senhora.
Gn.16:2 2. Toma, pois, a minha serva. Concluindo, com falta de fé, que não havia esperança de ter filhos, Sara decidiu seguira prática de seu país natal a tini de prover um herdeiro para a família. Os códigos legais da Mesopotâmia reconheciam a prática através da qual uma esposa sem filhos podia dar uma de suas escravas ao marido e obter filhos por meio dela, e determinavam precisamente os direitos de tais descendentes. Havia necessidade de regulamentos especialmente no caso de uma primeira esposa que concebesse depois de a serva ter tido filhos, ou quando uma serva se tornasse arrogante após ter sido honrada por dar à luz um herdeiro (ver Código de Hamurábi, seções 144- 146, 170, 171). ^Abrão anuiu. A lé pode ser genuína e mesmo assim se demonstrar fraca em momentos de pressão e perplexidade. Uma fé vigorosa se apegará à promessa e somente a ela, confiando inteiramente que Deus irá cumpri-la. Essa foi a fé de Abraão, exceto no caso de três ou quatro breves ocasiões, no decorrer de uma vida longa e cheia de acontecimentos. Deus não precisava dos artifícios de Abraão para a realização da promessa. Ele requeria apenas a fé e a obediência. Ao concordar com a sugestão impensada de Sara, Abraão seguiu os passos de Adão. Em ambos o casos, o resultado foi sofrimento e desapontamento, e a bênção esperada se demonstrou uma maldição. Ao dar ouvidos à errônea sugestão de Sara, Abraão criou dificuldades para si mesmo, as quais tiveram consequências de longo alcance. Surgiram problemas e sofrimentos domésticos, além de ódio entre a posterior descendência de ambas as esposas. Até hoje, cie forma amarga, os representantes modernos dos descendentes de Sara e de Agar (judeus e árabes) têm brigado pela posse da chamada “terra santa”.
Gn.16:3 3. Dez anos. A fé de Abraão e de Sara, que havia permanecido constante por dez anos, agora sucumbiu. Este comentário é introduzido provavelmente para explicar a impaciência deles ante a demora da chegada de um herdeiro. Abraão não compreendeuque a demora tinha sido designada por Deus para testar sua fé e desenvolver seu caráter.
Gn.16:4 4. Foi sua senhora por ela desprezada. A esterilidade entre os hebreus sempre foi considerada uma desonra e urna vergonha (Gn 30:1, 23; Lv 20:20; ver com. de Lc 1:25) enquanto a fecundidade era considerada um sinal especial do favor divino (ver Gn 21:6; 24:60; Ex 23:26; etc.). O fato de a serva egípcia, honrada pela admissão à categoria de esposa (v. 3), ter se esquecido do privilégio dessa posição e se tornado insolente era precisamente o comportamento que se poderia esperar. Ela não quis concordar com o plano de sua senhora; por cjue seu filho devia se passar por filho de Sara? Assim, a escrava que havia servido Sara tão fielmente ao longo dos anos e que foi considerada qualificada para se tornar esposa de Abraão, começou a desprezar aquela a quem até então havia honrado. Nos lares que sofrem interferência no status matrimonial aprovado por Deus prevalecem a tristeza, o ciúme e uma amarga rivalidade. O lar de Abraão não foi exceção, e a harmonia de tempos anteriores se transformou em discórdia.
Gn.16:5 5. Seja sobre ti a afronta. Sara usa uma linguagem que mostra grande irritação, indicando que se arrependeu de sua decisão anterior e que queria culpar o marido pelo ato praticado e pelas amargas consequências. Ela até faz um irreverente uso do nome de Yahvveh, invocando Seu juízo sobre Abraão.
Gn.16:6 6. Procede segundo melhor te parecer. A seção 146 do antigo código meso- potâmico de Hamurábi diz que “se mais tarde essa escrava reivindicar igualdade com sua senhora porque teve filhos, sua senhora não poderá vendê-la; poderá colocar sobre ela uma marca indicando que é escrava e considerá-la como um dos escravos". Essa lei permitia a humilhação de uma escrava-concubina arrogante, mas também impunha certas restrições sobre sua proprietária. Abraão, que fora nascido e criadona Mesopotâmia, certamente estava familiarizado com as leis e os costumes de sua terra natal e, portanto, concordou com a lei, que permitia a esposa humilhar Agar, mas não vendê-la. A disposição conciliatória de Abraão também fica evidente pela permissão que deu a Sara. Ele suprimiu seus próprios sentimentos a fim de restaurar a harmonia ao lar perturbado. Por outro lado, mostrou fraqueza ao ceder ao propósito apaixonado de Sara de infligir uma punição injustificável à mãe de seu futuro filho.Sarai humilhou-a. Quando Sara a rebaixou novamente ao status de escrava, como o permitia a lei civil da época, e até recorreu à punição física, como o implica o termo heb. "afligiu-a” (ARC), Agar fugiu da casa de Abraão. Se a escrava estava legalmente em falta por fugir, sua senhora certamente também merecia censura.
Gn.16:7 7. O anjo do Senhor. Embora comentaristas mais conservadores reconheçam aqui uma referência à segunda pessoa da Divindade, não está claro que Ele tenha aparecido aqui em pessoa. Os anjos frequentemente eram usados para transmitir mensagens divinas aos homens, e pode ser que Agar tenha entendido que este "anjo do Senhor” fosse o próprio Yahvveh (v. 13), ou então que fosse simplesmente um representante de Yahvveh. Ellen G. White fala dele simplesmente como "um anjo” (PP, 145, 152). Deus mesmo apareceu repetidamente a Abraão (At 7:2; Gn 12:1; 13:14; 15:1; 17:1; 18:1; 21:12). Somente uma vez um anjo foi comissionado a falar com ele (Gn 22:11, 15). O relato aqui se assemelha muito ao da visita do anjo, mas difere grandemente daqueles nos quais o próprio Deus apareceu.No caminho de Sur. Agar estava a caminho de seu país natal, o Egito, e já havia quase alcançado a fronteira egípcia (ver Gn 25:18; ISm 15:7). A expressão “junto à fonte” implica urna fonte determinada e bem conhecida.
Gn.16:8 Sem comentário para este versículo
Gn.16:9 9. Humilha-te. O verbo heb. traduzido por "humilha-te” é outra forma do verbo encontrado no v. 6. Contudo, Agar devia voltar e se submeter mansamente a Sara, não importando quão severamente Sara pudesse tratá-la.Deus não condescendeu com a severidade de Sara em relação a Agar. Ele pune aqueles que fazem mau uso da autoridade, mas raramente confia esse dever àqueles que estão sofrendo sob um tratamento severo e injusto. A mansidão é um traço de caráter que Deus procura em Seus filhos (ver El 6:5; Cl 3:22; IPe 2:18-23).
Gn.16:10 10. Multiplicarei sobremodo a tua descendência. Deus reconheceu as circunstancias difíceis em que Agar se achava, pelas quais ela não era pri mariamente a responsável. Agar honrava o verdadeiro Deus, e Ele não a abandonaria em sua dificuldade. A promessa que Ele fez a ela ali, uma escrava, é sem paralelo. Essa promessa a consolou grandemente. Embora Ismael não devesse ser o filho do plano divino, ele partilharia, porém, da promessa feita a Abraão. Deus havia prometido multiplicar a descendência de Abraão, sem limitar isso àqueles que fossem descendentes de Sara. Portanto, Ele cumpriria a promessa à risca, mas reservaria a bênção espiritual para o descendente que era originalmente o objeto da promessa, ou seja, Isaque (ver G1 4:23-30; Rm 9:7, 8).
Gn.16:11 11. Ismael. Esta é a primeira vez que Deus dá nome a uma criança ainda não nascida (ver Gn 17:19; Lc 1:13, 31). Assim, Ele manifestou a Agar Seu interesse nela e em sua descendência. O nome da criança, Ismael, “Deus ouvirá”, devia fazê-la se lembrar da misericordiosa intervenção de Deus, e devia fazer Ismael se lembrar de que ele era objeto da graciosa providência de Deus.
Gn.16:12 12. Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem. Literalmente, “ele será um homem do tipo de um jumento selvagem”, ou “ele será um potro de homem” (Bj).Esta figura de linguagem que se refere ao jumento selvagem, um animal indomável que vagueia no deserto por onde deseja, ilustra adequadamente o amor à liberdade característico do beduíno, que viaja intrepidamente sem se importar com as privações, deleitando-se com a beleza variada da natureza e desprezando a vida na cidade. Uma descrição poética do jumento selvagem aparece em Jó 39:5-8.A sua mão será contra todos. Uma descrição precisa dos árabes, muitos dos quais reivindicam Ismael como seu pai. Poderosas nações já tentaram conquistar a Arábia e sujeitá-la à sua vontade, mas nenhuma teve sucesso permanente. Os árabes mantiveram sua independência, e Deus os tem preservado como um monumento perene de Seu cuidado providencial. Eles continuam sendo, ainda hoje, um argumento incontestável da veracidade desta predição divina.
Gn.16:13 13. Tu és Deus que vê. Esta experiência convenceu Agar de que Deus havia falado com ela. Crendo, aparentemente, que a morte devia sobrevir àquele que vê a Deus (Êx 20:19; 33:20), ela ficou admirada de tê-Lo visto e continuar viva. Portanto, ela O chamou de o ''Deus que vê”, pois Elenão apenas a tinha visto e vindo até ela em sua aflição, mas havia permitido também que ela O visse e vivesse.
Gn.16:14 14. Beer-Laai-Roi. Dali por diante, o poço ficou conhecido por um nome que significava "poço dAquele que vive e me vê”. Durante gerações os árabes que se refrescaram nesse poço se lembraram de que Deus ali Se revelou à sua ancestral.Entre Cades e Berede. A localização do poço, mencionada também em Gênesis 24:62 e 25:11, se perdeu. Além do fato de que Berede também é desconhecida, tudo que pode ser dito é que o poço devia estar localizado a oeste de Cades, na parte sudoeste de Canaã, no caminho para o Egito. Alguns eruditos o têm identificado como sendo o poço Ain Kadesh, que os árabes chamam de Moilahi Hagar.
Gn.16:15 15. Agar deu à luz um filho a Abrão. Em harmonia com a ordem divina dada a Agar, Abraão deu ao filho o nome de Ismael. Durante 13 anos Abraão parece ter permanecido sob a ilusão de que Ismael era o descendente prometido. Quando o patriarca estava com 99 anos, a vontade de Deus lhe foi mais claramente revelada (ver Gn 17:1, 18, 19).Capítulo 17presença e sê perfeito.
Gn.16:16 Sem comentário para este versículo
Gn.17:1 1. Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos. Treze anos haviam se passado desde o nascimento de Ismael (Gn 16:16), antes de Deus Se revelar novamente a Abraão. Durante os últimos 11anos Deus lhe havia aparecido pelo menos quatro vezes (ver 12:1, 7; 13:14; 15:1). A longa demora de Deus para aparecer novamente a Abraão provavelmente não foi sem propósito. Seu objetivo talvez tenhasido uma penalidade corretiva para a impaciência de Abraão em. não esperar que Deus realizasse as coisas em Seu próprio tempo e de Seu modo.Eu sou o Deus Todo-Poderoso. Este nome de Deus, 'El-Shaddai, se encontra apenas nos livros de Gênesis e Jó: seis vezes no primeiro e 31 vezes no último. Este é um dos muitos indicativos de que o autor de ambos os livros foi a mesma pessoa. A origem e o significado da palavra Shaddai são incertos, mas a tradução “Todo-Poderoso” é provavelmente a que mais se aproxima do significado correto (Is 13:6; J1 1:15). Este nome foi bem escolhido em vista da nova promessa que Deus estava para fazer a Abraão. Vinte e quatro anos haviam se passado desde sua entrada na terra de Canaã (ver Gn 12:4). Durante os primeiros dez anos, Deus havia repetidamente prometido a Abraão um filho, até que ele tomou as coisas em suas próprias mãos, coabitou com Agar e gerou Ismael. Desde o nascimento de Ismael não há registro do recebimento de nenhuma outra revelação divina, e Abraão parece ter pensado que Ismael era o cumprimento das promessas de Deus (ver v. 17, 18). Estando agora pronto para renovar Sua promessa a Abraão, Deus o encontrou um pouco cético. Por esta razão Deus Se apresentou como ‘‘o Deus Todo-Poderoso”, para quem nada, por mais difícil que parecesse aos homens, seria impossível.Anda na Minha presença. O original heb. diz: “Anda diante de Mim” (KJV). Durante 13 anos Abraão não havia andado inteiramente “diante de” Deus; daí a ordem para que o fizesse. Abraão devia andar como se estivesse na presença do próprio Deus, cônscio da inspeção divina e atento à Sua aprovação - não atrás d Ele, como se estivesse concentrado em suas próprias falhas e desejoso de evitar ser observado. Há uma nítida diferença entre a expressão usada para designar esta ordem e a que foi usada para designara vida de Enoque (Gn 5:24) e a de Noé (6:9). Foi dito, com respeito a estes dois patriarcas, que eles andaram “com Deus”, enquanto que a solicitação a Abraão é que ande “diante” de Deus. Isto sugere um grau menos completo de companheirismo, e talvez implique o desagrado de Deus pela falta de fé de Abraão no caso de Agar.Sê perfeito. Assim como a justiça recebida em fé (justificação) era necessária para o estabelecimento da aliança, um andar irrepreensível diante de Deus (santificação) era necessário para sua continuidade. Talvez esta exortação sugerisse que a vida passada de Abraão não tinha sido inteiramente irrepreensível. Deus desejava que Abraão compreendesse que a realização completa da promessa divina exigia que ele estivesse à altura do exaltado padrão divino de pureza e santidade (ver Mt 5:8, 48). Abraão foi chamado a uma experiência mais elevada do que havia conhecido até então.
Gn.17:2 2. Uma aliança. Isto não implica uma nova aliança, mas que a aliança estabelecida cerca de 14 anos antes (Gn 15) estava para se cumprir.
Gn.17:3 3. Prostrou-se Abraão, rosto emterra. Abraão, que durante os muitos anos de silêncio talvez tenha cogitado se Deus iria Se revelar novamente, prostrou-se em reverente admiração. Esta atitude de adoração era comum em tempos antigos, e era também urna postura que demonstrava respeito por seres humanos (ver Gn 17:17; 24:52; Nm 16:22; Mc 14:35).
Gn.17:4 4. Quanto a Mim. Deus Se refere a Si mesmo no princípio da frase a título de ênfase. A expressão é equivalente a dizer: “No que diz respeito a Mim” ou “de Minha parte” continuo disposto a cumprir a aliança de muitos anos atrás.Pai de numerosas nações. Esta pre- dição devia ter um duplo cumprimento. Em primeiro lugar, apontava para as numerosas tribos que traçariam sua descendênciaa partir de Abraão. Os árabes ismaelitas, os midianitas e outras tribos árabes provenientes de Quetura (ver Gn 25:1-4) e os edomitas, bem como os israelitas, eram todos descendentes de Abraão. Num sentido mais amplo, contudo, esta promessa apontava para os inúmeros descendentes espirituais que reivindicariam Abraão como pai (G1 3:29).
Gn.17:5 5. Abraão. Abraão foi o primeiro de vários homens cujo nome foi mudado por Deus. Os nomes eram muito mais importantes para os antigos do que o são para nós. Todos os nomes semitas têm um significado e geralmente consistem de uma frase ou sentença que expressa um desejo ou talvez gratidão, por parte do progenitor. Em vista da importância que as próprias pessoas atribuíam aos nomes, Deus mudou o nome de certos homens para lazer com que este se harmonizasse com a experiência deles no passado ou no futuro. Abrão, que significa “pai exaltado”, não aparece desta forma em outras partes da Bíblia, mas é encontrado sob a forma Abirão, que significa “meu pai é exaltado” (ver Nm 16:1; lRs 16:34). Em vista da explicação dada neste verso, é improvável que o nome Abraão seja apenas uma forma estendida de Abrão, como alguns comentaristas defendem. Contudo, com nosso conhecimento atual das várias línguas semitas que existiam naquela época, não é fácil explicar o nome Abraão. O melhor ainda é recorrer à palavra árabe ruhctm, como o têm feito várias gerações de expositores bíblicos. A palavra ruham significa “grande número” e talvez tenha existido no hebraico antigo, embora não ocorra na literatura hebraica disponível hoje em dia. Em harmonia com isso, o nome Abraão seria traduzido "pai de um grande número”, o que concorda com a explicação que Deus deu ao patriarca após mudar seu nome: “Por pai de numerosas nações te constituí”.
Gn.17:6 Sem comentário para este versículo
Gn.17:7 7. Estabelecerei a Minha aliança. Os termos e benefícios desta aliança se referemnão apenas a Abraão como indivíduo, mas também a todos os seus descendentes, tanto literais quanto espirituais. A promessa aqui feita a Abraão se refere especificamente a Cristo (G1 3:16; At 2:30); e através dEle, segundo Paulo, todos os cristãos partilham dela (G1 3:29; At 16:31). Uma compreensão correta dos termos dessa aliança muito fará para manter um relacionamento correto entre Deus e o crente moderno.Aliança perpétua. A palavra traduzida como “perpétua” não indica, de forma alguma, um período sem fim (ver com. de Ex 21:6). “Perpétuo”, conforme o uso bíblico, geralmente denota circunstâncias ou condições que devem persistir enquanto o objeto ao qual elas se aplicam possa, em virtude de sua natureza inerente, ser afetado por elas. Isso fica claro a partir de expressões como o desejo de que o rei viva “para sempre”' (lRs 1:31; Ne 2:3; etc.), que simplesmente manifesta os votos de que o rei desfrute longa vida. Uma vez que todos os seguidores de Cristo — os descendentes espirituais de Abraão - são herdeiros das gloriosas promessas da aliança (G1 3:7, 27-29), a “afiança perpétua” precisa continuar em vigor enquanto estiver em andamento o plano da salvação. Assim, as provisões da aliança de Deus com Abraão continuam válidas ao longo de todas as gerações.Para ser o teu Deus. Esta promessa abrange todas as bênçãos da salvação e é uma indicação clara do caráter espiritual da aliança abraâmica. Deus Se dá a Si mesmo àquele que entra no relacionamento da aliança e, ao fazê-lo, confere a este indivíduo todos os privilégios, as alegrias e a gloriosa esperança que advêm do parentesco com Deus. Aquele que desta forma se torna um filho ou filha de Deus não pode desejar nada mais para se tornar feliz, quer nesta vida ou na futura. E como se Deus tivesse dito a Abraão: “Tudo o que sou e tenho e tudo o que posso fazer, serei e farei para vocêe sua descendência. Todos os Meus inesgotáveis recursos serão empregados para sua proteção, seu consolo e sua salvação” (ver Rm 8:32). Benditos são, de fato, todos aqueles cujo Deus é Yahvveh (SI 144:15). Sob os termos da aliança perpétua, Deus e o crente se entregam um ao outro sem reservas.
Gn.17:8 8. Toda a terra de Canaã. As amplas promessas de natureza espiritual foi acrescentada uma vez mais a certeza de que toda a terra de Canaã devia pertencer a Abraão e à sua posteridade. Esta promessa fora feita repetidas vezes no passado (ver Gn 12:7; 13:15; 15:7, 18-21). Nesta ocasião lhe foi dito que a promessa permanecería em vigor para sempre, o que significava que seus descendentes literais deviam possuir a terra enquanto cumprissem as condições da aliança, e que seus filhos fiéis, tanto literais quanto espirituais, iriam finalmente herdar a Canaã celestial para todo o sempre.
Gn.17:9 Sem comentário para este versículo
Gn.17:10 10. Todo macho entre vós. No heb. esta frase é imperativa. Literalmente, diz: ‘'Circuncidai entre vós todo macho.” E introduzido aqui o rito da circuncisão como uma obrigação relacionada à aliança. Ele devia ser um sinal da aliança com o Israel literal, assim como o batismo o é para o Israel espiritual (ver Gn 17:11; Cl 2:11, 12; Tt 3:5; iPe 3:21). O primeiro se relaciona com o nascimento físico; o último está relacionado ao renascimento espiritual.
Gn.17:11 11. Circimcidareis. Desde os tempos antigos têm sido feitas várias sugestões para explicar este rito. O filósofo alexandrino Filo, um judeu, acreditava que isso fora ordenado por Deus meramente para promover a limpeza física; outros viam nele um protesto contra certos ritos idolátricos praticados pelos egípcios e outras nações pagãs. Calvino acreditava que o rito significasse um abandono cia impureza da carne e, portanto, do pecado em geral. Os pontos seguintes, contudo, podem ser notados com referência à importância da circuncisão. Ela se destinava:(1) a fazer distinção entre os descendentes de Abraão e os gentios (Ef 2:11), (2) a perpetuar a memória da aliança de Yahweh (Gn 17:1!), (3) a promover o cultivo da pureza moral (Dt 10:16), (4) a representar a justiça pela fé (Rm 4:11), (5) a simbolizar a circuncisão do coração (Rm 2:29), e (6) a prefigurar o rito cristão do batismo (Cl 2:11, 12).Os hebreus não eram exclusivos na Antiguidade com respeito à prática da circuncisão. Há registros desse costume, por exemplo, entre os egípcios pri mitivos e entre vários povos semitas.A circuncisão tem sido praticada de diferentes formas e realizada em pessoas de várias idades e classes. Sobreviveu até os tempos modernos entre algumas tribos africanas, entre os árabes e outros povos muçulmanos, e entre grupos esparsos como os habitantes de ilhas do Pacífico.Será isso por sinal. Deus estabeleceu sinais e memoriais de vários eventos significativos. O sábado foi instituído como um memorial da criação; a circuncisão, como sinal da aliança abraâmica; o batismo, como memorial da morte e ressurreição de Cristo; e a Ceia do Senhor, como memorial de Seu sacrifício vicário. Sinais exteriores podem ensinar verdades espirituais, tornando-se assim canais apontados por Deus para abençoar espiritualmente os praticantes. Assim, podem servir como lembretes perpét uos da graça de Deus e de nosso próprio dever e r e s p on s abi 1 i d a d e.
Gn.17:12 12. Todo macho. Foram dadas a Abraão instruções específicas sobre quem devia participar do rito da circuncisão e sobre quando ele devia ser administrado. Esses regulamentos foram mais tarde incorporados à lei de Moisés (Lv 12:3; Lc 2:21). Nenhuma pessoa do sexo masculino na sociedade israelita, quer fosse livre ou escravo, estava isenta dele. A circuncisão, o sinal da aliança de Deus com Abraão, se tornou um sinal para Israel de que eles eram o povo de Deus; e, portanto,todo israelita do sexo masculino recebia esse sinal. Com a rejeição do Israel literal como povo escolhido de Deus, a circuncisão deixou de ter significado como rito religioso (At 15:5, 10, 19, 20, 24, 28, 29; G! 2:3-5; 5:2-6; Rim 2:28, 29).
Gn.17:13 Sem comentário para este versículo
Gn.17:14 14. Será eliminada. Este juízo é repetido na legislação mosaica no caso de várias infrações de suas cláusulas (ver Ex 12:15, 19; Lv 17:4, 10; Nm 15:30; 19:13). A experiência pessoal de Moisés indica a solene importância que Deus atribuía à realização desse rito (Ex 4:24-26). Não é declarado explicitamente se a sentença devia ser executada pelas mãos da congregação, dos magistrados civis ou do próprio Deus. O fato de que a expulsão da pessoa dentre o povo era em certos casos seguida pela pena de morte (ver Ex 31:14) não prova que a pena capital acompanhava invariavelmente essa sentença (ver Êx 12:19; Lv 7:20, 21; Nm 19:13). Como quer que isso acontecesse, um hebreu incircun- ciso, criança ou adulto, perdería sua posição social, política e religiosa como hebreu (ver com. de Ex 12:15).
Gn.17:15 15. Sara. Esta é a primeira vez em que a esposa de Abraão, Sara, foi mencionada por nome em uma comunicação divina. Não existe nenhuma grande diferença entre os dois nomes: Sarai e Sara. Sarai, que significa “minha princesa”, se tornou simplesmente Sara, "uma princesa”. Outrora ela tinha sido a princesa de Abraão, mas daí em diante devia ser reconhecida como a princesa e progenitora de toda uma nação. Pertencería não só a Abraão, mas a todos os seus descendentes.
Gn.17:16 16. Dela te darei um filho. Após os muitos anos de espera, foram dadas a Abraão instruções definidas no sentido de que o descendente prometido seria filho de Sara e não o filho de Agar (ver G1 4:22-31).Reis de povos procederão dela. Isto se relere primariamente a Davi e seus sucessores no trono de Judá, mas inclui também acasa real de Edom. Deus assegura a Abraão que, apesar da perversidade dos homens, que tantas vezes em sua pressa O atrapalham, Seu propósito prevalecerá (ver Is 46:10, 11; 55:10, 11).
Gn.17:17 17. Então, se prostrou Abraão, rosto em terra. O fato de Abraão se prostrar uma vez mais com o rosto em terra indica que ele havia se levantado desde que se prostrara no início desta revelação (ver v. 3).E se riu. Os comentaristas variam em sua opinião quanto a se a risada de Abraão foi uma expressão de alegria ou de dúvida. Embora seja mais agradável concordar com os que advogam a primeira posição (com base em Rm 4:19 e 20), o contexto parece favorecer a última. A declaração de Paulo em Romanos se aplicaria, então, à condição mental de Abraão após ser convencido da realidade da promessa. As perguntas feitas por Abraão, provavelmente no coração em vez de na forma audível, “A um homem de cem anos há de nascer um filho"?” e “Dará à luz Sara com seus noventa anos?’ não deixam a impressão de terem sido pronunciadas com alegria. Parecem expressar duvida. Talvez o riso de Abraão também refletisse seu embaraço ao descobrir que a promessa divina com relação a Sara ignorava os planos que ele tinha para Ismael (ver Gn 17:18). Aqueles que acham difícil pensar que houvesse dúvida no coração de Abraão, o grande herói da fé, devem considerar os eventos registrados em Gênesis 12:11-13 e 16:2-4. Além disso, o riso de Sara (18:12-15), que mostra que ela ainda duvidava, mesmo depois de Abraão ter crido (ver 21:6-9; também com. de Gn 17:19).
Gn.17:18 18. Tomara que viva Ismael diante de Ti. Este rogo sugere que desde o nascimento de Ismael, Abraão havia se apegado tenazmente à esperança de que esse filho podería ser o herdeiro prometido. Cego para a possibilidade de Sara, em sua idade avançada, dar-lhe um filho, Abraão intercede emfavor de Ismael. Abraão ficaria contente em aceitar o filho que ele próprio arranjara, até mesmo em lugar do que nasceria de Sara. Além do mais, isso o pouparia do embaraço de renunciar ao plano que ele próprio anunciara publicamente de que Ismael seria seu herdeiro (ver PP, 146).
Gn.17:19 19. E lhe chamarás Isaque. “De fato”, inquestionavelmente Sara se tornaria mãe; não havia razão para duvidar disso. O nome que Deus escolheu para o prometido filho de Sara, Isaque, significa “ele ri”. Isso pode ter sido uma referência ao riso de Abraão, a recordação perdurável de um momento de fraqueza e dúvida. E mais provável, porém, que reflita a alegria que Abraão experimentaria com o nascimento do filho da promessa. Ele poderia rir agora em dúvida, mas de fato se regozijaria então, quando a fé encontrasse a realidade (ver Gn 21:6, 7; Is 54:1; G14:27). Tanto o nome de Isaque quanto o de Ismael foram escolhidos antes do nascimento, e o nome de Abraão e Sara foram mudados por causa de uma nova experiência que os aguardava.
Gn.17:20 20. Quanto a Ismael. Deus reassegurou a Abraão que as promessas especiais feitas a Isaque não anulariam as que haviam sido feitas à mãe de Ismael junto ao poço no deserto (Gn 16:10). O nome dos 12 filhos de Ismael são dados em Gênesis 25:12-16. Como os 12 filhos de Jacó, cada um deles se tornou pai de uma tribo (ver com. de Gn 25:13-16).
Gn.17:21 21. Com Isaque. Repetindo a declaração do v. 19, Deus assegurou a Abraão que Isaque, não Ismael, devia ser o filho da aliança. Embora Ismael devesse partilhar,de maneira geral, das bênçãos prometidas a Abraão, a descendência de Isaque se tornaria suficientemente numerosa para possuir a terra de Canaã. Especificamente, a aliança, com todas as suas bênçãos materiais e espirituais, era para o filho de Sara, Isaque, e para sua posteridade. A história posterior dos dois filhos justifica plenamente a escolha que Deus fez de um e a rejeição do outro. Embora Agar tivesse vindo a crer no Deus verdadeiro, a influência de sua educação egípcia anterior se demonstrou decisiva na vida de Ismael e seus filhos, pois os descendentes dele se tornaram pagãos.Neste mesmo tempo. Um limite de tempo é agora anexado à promessa de um filho. Não poderia mais haver lugar para incerteza. Após esperar quase 25 anos desde a primeira promessa e de ter demonstrado tanto fé quanto dúvida no passado, Abraão ficou sabendo que o tempo de espera devia logo terminar.
Gn.17:22 22. Deus Se retirou dele, elevando- -Se. Esta declaração indica que a revelação de Deus havia sido uma revelação visível. Não temos ideia da forma em que Abraão viu a Deus.
Gn.17:23 23. Tomou, pois, Abraão a seu filho Ismael. Obedecendo a Deus, Abraão cir- cuncidou todos os membros do sexo masculino em sua grande família, inclusive Ismael. Pelo fato de Ismael estar com 13 anos quando foi circuncidado (v. 25), os árabes até hoje adiam esse rito até um período muito posterior ao dos judeus, geralmente da idade de cinco a 13 anos, e muitas vezes não antes dos 13 anos.Capítulo 18pelos homens dali.Seniior: Não o farei se Eu encontrar ali trinta.
Gn.17:24 Sem comentário para este versículo
Gn.17:25 Sem comentário para este versículo
Gn.17:26 Sem comentário para este versículo
Gn.17:27 Sem comentário para este versículo
Gn.18:1 1. Apareceu o Senhor a Abraão. Istodeve ter ocorrido apenas pouco tempo após a experiência do cap. 17, uma vez que ambos os eventos ocorreram aproximadamente um ano antes do nascimento de Isaque (ver Gn 17:21; 18:10, 14; sobre os “carvalhais de Manre”, ver com. de Gn 13:18).Ao longo de toda a narrativa do capítulo 18, deve se notar que enquanto Moisés consistentemente se refere ao divino visitante de Abraão como “Senhor”, Yahweh, Abraão sempre se dirige a Ele como “Senhor”, Adhonai (ver com. do v. 3).No maior calor do dia. Esta expressão provavelmente designa o horário do meio- -dia (ver ISm 11:11); e “pela viração do dia” (Gn 3:8), literalmente “à brisa do dia” (BJ), refere-se ao final da tarde ou início da noite. O termo hebraico usual para meio-dia é tso- horayim (Gn 43:16), uma forma dual que significa, literalmente, a hora da luz “dupla”, isto é, da “máxima” luz. Uma expressão poética se refere ao meio-dia como, literalmente, “a altura do dia” ou “dia perfeito” (Pv 4:18), porque o sol alcança então o zêníte. Fala-se do “sol alto do meio-dia”. Nesta ocasião, Abraão talvez já tivesse almoçado e estaria descansando, pois quando os visitantes chegaram foi necessário iniciar os preparativos para a refeição deles.
Gn.18:2 2. Três homens de pé em frente dele.Assim começa o relato da sexta apariçãodo Senhor a Abraão (ver com. de Gn 17:1). Alguns expositores interpretam os três “homens” como as três pessoas da Divindade. Esse ponto de vista parece infundado, uma vez que dois dos três são mencionados como anjos (Gn 19:1, 15; Hb 13:2) e como homens (Gn 19:10, 12, 16). Parece melhor, portanto, ver nos três “homens” o Senhor e dois anjos.Vendo-os. Abraão ainda não estava ciente da identidade deles. Ele via apenas três forasteiros cansados da viagem que procuravam descanso e comida. Com verdadeira cortesia oriental, ele foi correndo ao encontro deles para oferecer a hospedagem de sua casa, curvando-se, em harmonia com o costume oriental. Essa forma de saudação não indica, de maneira alguma, que Abraão havia reconhecido Yahweh como um dos três. Ele fez o mesmo na presença de seus vizinhos heteus (Gn 23:7, 12). Da mesma forma, Jacó se curvou diante de Esaú (33:3), José diante de seu pai (48:12), Salomão diante de sua mãe (1 Rs 2:19) e os filhos dos profetas diante de Eliseu (2Rs 2:15).
Gn.18:3 3. Senhor meu. O fato de Abraão ter dirigido seu convite a um dos viajantes tem sido interpretado por alguns expositores como um indicativo de que ele já havia reconhecido Yahweh como um deles. E provável que um dos três sobrepujasse os outros em aparência ou que um deles tenha se adiantado como porta-voz do grupo, e comoresultado Abraão tenha dirigido a palavra a este. Deve-se notar, ainda, que a palavra heb. aqui traduzida como “Senhor” não é Yahweh, o nome sagrado, mas adhonai, equivalente a “senhor”, uma forma respeitosa de saudação.Se acho mercê. Esta expressão era frequentemente usada por uma pessoa ao falar com outra de posição superior ou ao falar com alguém a quem desejasse honrar de maneira especial. Não implica que Abraão tivesse reconhecido que um dos homens era Deus. Labão se dirigiu desta forma a Jacó (Gn 30:27), Jacó a Esaú (32:5; 33:8, 10, 15), Siquém a Jacó (34:11), os egípcios a José (47:25) e Jacó a José (47:29). Muitos outros exemplos mostram que essa era uma çG fórmula comum.Não passes. Com típico encanto e hospitalidade orientais, Abraão convidou os forasteiros a fazer uma pausa longa o suficiente para restaurarem as forças. Abraão, aparentemente, era uma daquelas pessoas que “sem o saber hospedaram anjos” (Hb 13:2). Esta experiência mostra que Abraão habitualmente praticava a hospitalidade para com estranhos. Embora essas pessoas fossem a princípio inteiramente desconhecidas para ele, sua saudação foi tão respeitosa como se um mensageiro houvesse de antemão anunciado a identidade deles e sua intenção de lhe fazer uma visita. Aqueles sempre prontos a mostrar bondade aos estranhos e viajantes podem inesperadamente ser favorecidos com a presença de hóspedes com o poder de conferir bênçãos especiais (ver Lc 24:29).
Gn.18:4 4. Lavai os pés. Abraão primeiro mencionou água para lavar os pés dos cansados viajantes, um aspecto necessário da hospitalidade em alguns países orientais até hoje. Enquanto descansavam debaixo de uma árvore, ele lhes prepararia uma refeição. Depois disso poderiam partir em paz e continuar a viagem.
Gn.18:5 Sem comentário para este versículo
Gn.18:6 6. Amassa depressa. Como um xeque beduíno da atualidade, Abraão instruiu aesposa a tomar três “medidas”, seim (cerca de 22 litros), de flor de farinha e fazer pães. Os pães eram assados sobre pedras quentes. A “manteiga” era leite coalhado, considerado um manjar em muitas terras orientais ainda hoje. O menu mencionado neste verso e nos dois seguintes constituía uma refeição farta que satisfaria os convidados. Abraão lhes deu o melhor.
Gn.18:7 Sem comentário para este versículo
Gn.18:8 8. E eles comeram. Os visitantes celestiais de Abraão na verdade comeram a comida que ele lhes havia preparado, como Cristo em Sua forma ressurreta e glorihcada o fez para provar a realidade de Sua ressurreição (Lc 24:36-43). A aceitação da hospitalidade de Abraão por parte de Cristo e dos anjos talvez tivesse o objetivo de provar a Abraão que a visita deles a sua tenda, em Manre, não era um sonho ou visão, mas uma experiência real.
Gn.18:9 9. Sara, tua mulher, onde está?Abraão permaneceu de pé (v. 8) e os serviu enquanto comiam. Depois de comerem, perguntaram por Sara. Tal pergunta decididamente destoava do costume oriental; estranhos não deviam saber nem usar o nome da esposa de alguém. O fato de conhecerem o nome dela provavelmente sugeriu a Abraão que seus convidados eram mais do que seres humanos, e a pergunta implica que a visita deles tinha a ver com ela. A conversa que se seguiu tornou clara a identidade deles e, através da promessa então repetida, Abraão certamente reconheceu Aquele que já lhe havia aparecido cinco vezes. Esta foi a primeira ocasião em que Sara testemunhou pessoalmente uma das manifestações divinas feitas ao marido. Abraão já conhecia e cria (Rm 4:19, 20). Por esses fatos, e pelo que é dito em Gênesis 18:9-15, parece que essa visita tinha o objetivo de preparar Sara para a suprema experiência de sua vida - o nascimento do primeiro e único filho.
Gn.18:10 10. Daqui a um ano. A expressão também traduzida como “de acordo com otempo da vida” (KJV) ou “por este tempo da vida” (ARC) pode indicar “um ano”, como Romanos 9:9 deixa implícito e como é traduzido pela LXX (e pela ARA), ou talvez se refira ao período normal da gravidez, nove meses. Em qualquer dos dois casos. Sara devia dar à luz um filho dentro desse prazo.Sara o estava escutando. Sara estava em pé atrás das cortinas da tenda, como é o costume das mulheres árabes desde a Antiguidade. Proibidas de estar livremente na presença dos homens, inclusive de hóspedes do sexo masculino, especialmente se fossem estranhos, mas intensamente interessadas em suas conversas, as mulheres dos beduínos, tanto hoje como naquela época, geralmente ficam próximas à entrada da tenda, mas sem se deixar ver. Embora elas próprias não possam ser vistas, geralmente ouvem tudo o que é falado pelos visitantes e os observam atentamente. Com intensa fascinação e arrebatada atenção ela deve ter escutado o anúncio de que teria um filho.
Gn.18:11 11. Abraão e Sara eram já velhos. Como ocorreu com Abraão na revelação anterior, Sara não conseguia acreditar agora que a promessa feita iria se concretizar. Durante 25 anos ela havia ouvido sua reiteração, mas a demora tinha sido tanta que era impossível continuar crendo e, por sua vez, cada uma das visões de Abraão havia aparentemente falhado. Como resultado da revelação anterior (Gn 17), a dúvida de Abraão havia se transformado em fé e, nesta ocasião, não há evidências de que ele haja duvidado, conforme Paulo categoricamente observa (ver Rm 4:19, 20).
Gn.18:12 12. Riu-se, pois, Sara. Na ocasião da «i> revelação divina anterior, Abraão havia rido(ver com. de Gn 17:17). Agora foi Sara que riu, provavelmente expressando amargura diante de sua sorte e incredulidade de que as circunstâncias um dia mudassem. Por um riso parcialmente sarcástico e parcialmente anelante, ela expressou o pensamento:“Isso é bom demais para ser verdade!” (ver Ez 12:22-28).O meu senhor. Em contraste com as óbvias faltas de Sara, sua respeitosa submissão a Abraão é digna de elogio. Mesmo ao falar consigo mesma, ela se referiu a ele como “meu senhor”, pelo que o NT a louva como exemplo de virtude cristã própria de uma esposa (lPe 3:6).
Gn.18:13 Sem comentário para este versículo
Gn.18:14 14. Há coisa demasiadamente difícil? O véu do anonimato foi então totalmente removido e o que falava Se identificou claramente como o Senhor. E interessante notar que embora esta aparição divina talvez tenha ocorrido mais para benefício de Sara do que de Abraão, uma vez que ele já conhecia e cria, o Senhor só Se dirigiu a Sara diretamente após ela haver falado com Ele primeiro. Em vez de falar com Sara, Ele perguntou a Abraão se alguma coisa poderia ser demasiadamente difícil para o Senhor. Foi primariamente para corrigir a incredulidade de Sara e para fortalecer sua fé que Deus falou dessa maneira. Onde falham a sabedoria e a força humanas e onde a natureza debilitada não consegue agir, ali Deus ainda tem pleno controle e faz com que as coisas aconteçam segundo os conselhos de Sua própria vontade. Na verdade, Ele muitas vezes permite que as circunstâncias cheguem a um impasse para que a impotência humana possa aparecer em marcante contraste com Sua onipotência.
Gn.18:15 15. Sara, receosa, o negou. A negação de Sara mostra que seu riso e suas palavras no v. 12 dificilmente poderiam ter sido ouvidos, e que ela achava que nenhum dos dois o tivesse sido. Agora ela falou diretamente aos visitantes, de detrás das cortinas da tenda ou após ter saído ao ar livre. O medo de ofender os convidados ou de que seus sentimentos secretos fossem revelados a levou à negação. A súbita consciência de ter sido descoberta a levou a um momento de confusão, do qual ela tentou escapar pela rota da mentira.E certo que riste. De maneira sucinta e direta, semelhante àquela em que Se havia dirigido aos primeiros culpados no Éden, Deus solene e inequivocamente declarou que a negação dela era falsa. O silêncio subsequente de Sara é evidência de que ela reconheceu sua falta, enquanto que o fato de mais tarde haver concebido Isaque implica que ela se arrependeu e foi perdoada.
Gn.18:16 16. Tendo-se levantado dali aqueles homens. Descansados e refeitos, os três visitantes celestiais estavam prontos para continuar a jornada. O destino deles é então mencionado pela primeira vez. Se Sodoma e as cidades vizinhas estavam no vale que hoje forma a parte sul do Mar Morto (ver com. de Gn 14:3), eles estavam a cerca de 40 km de Hebrom - um dia de viagem. Uma vez que os convidados de Abraão haviam chegado ao meio-dia e sem dúvida passaram várias horas com ele, a partida deles provavelmente ocorreu no fim da tarde.Abraão ia com eles. Em harmonia com um antigo costume de amizade que continuou durante os tempos do NT (Rm 15:24; lCo 16:11; At 20:38; 3Jo 6), Abraão acompanhou os convidados ao longo de uma curta distância. Nas terras orientais ainda é costume, por ocasião da partida de convidados, ir com eles parte do caminho, e a distância percorrida indica o grau de respeito e honra que o anfitrião deseja mostrar-lhes. Uma antiga tradição afirma que Abraão foi até Cafar-Barucha, um local montanhoso que fica aproximadamente 7 ou 8 km a leste- -nordeste de Hebrom, de onde se pode avistar o Mar Morto. Deste ponto, possivelmente Abraão e seus convidados tenham contemplado as prósperas cidades da planície.
Gn.18:17 17. Ocultarei a Abraão? Abraão é chamado nas Escrituras de o amigo de Deus (2Cr 20:7; Is 41:8). Uma vez que ele desfrutava do favor e companheirismo divinos nesse nível, Deus achou apropriado dar- -Ihe um conhecimento mais claro de Suasobras e de Seus planos. Da mesma forma, Ele confiou mensagens aos profetas, a respeito de quem Ele diz estar em Seu conselho ou “segredo” (Jr 23:18-22; Am 3:7). O Senhor falou dessa forma particularmente com referência a atos de juízo sobre a Terra.
Gn.18:18 18. Uma grande e poderosa nação. Referindo-se às primeiras promessas feitas a Abraão (Gn 12:2), Deus explica por que é adequado e apropriado informá-lo sobre o juízo por vir às cidades da planície. Pelo menos teoricamente, toda a terra pertencia a Abraão. Se Deus, o participante superior da aliança, propôs tomar medidas que afetavam certa parte dela, Abraão como o participante menor que se demonstrara confiável, devia ser informado disso. Era essencial, na verdade, que Abraão entendesse e aprovasse a medida a ser tomada, uma vez que ela afetaria Ló e seus familiares, alguns dos quais em breve perderiam a vida como resultado disso.
Gn.18:19 19. Porque Eu o escolhí. Abraão era digno de confiança; ele não trairia a Deus. Que grande elogio ao idoso patriarca! O inteligente cumprimento da tarefa que lhe havia sido designada por Deus requeria que ele tivesse conhecimento dos propósitos divinos. A posteridade de Abraão também precisava compreendê-los para que não tivesse o mesmo destino de Sodoma e Gomorra. Seria seu dever transmitir às então futuras gerações o que ele sabia sobre o trato de Deus com a raça humana, e as leis morais e cerimoniais de Deus também eram parte da sagrada herança que ele devia legar às gerações vindouras. Abraão não só orava com sua família e diante dela, mas também intercedia por ela como sacerdote, um procedimento seguido por outros patriarcas e santos do passado (ver Jó 1:5). Como profeta, ele instruía sua família tanto na teoria quanto na prática da religião, com ênfase nas virtudes aplicadas. Não só ensinava essas coisas à família, mas também instruía a praticá-las. Como um benevolente marido, pai e supervisor, dava positivaorientação à vida social e religiosa de sua vasta casa.Deus podia confiar em Abraão, pois ele iria ordenar sua família, não por métodos ditatoriais, mas por claro preceito e consistente exemplo. Ao se educar filhos, todo olhar, ato e palavra têm seu efeito. Em muitos lares, há pouca educação por instrução ou exemplo. Os pais são considerados responsáveis pelo sagrado legado dos filhos e, portanto, devem combinar firmeza com amor, como Abraão o fez. Essa tarefa de educar as crianças no caminho em que devem andar não pode ser delegada a outro, mesmo que seja um tutor ou professor, sem grave perigo de perda. Não se deve esperar que a influência de professores piedosos substitua a educação doméstica, mas que a complete. Cada uma delas tem seu lugar e está incompleta sem a ajuda da outra para reforçá-la.
Gn.18:20 20. O clamor de Sodoma e Gomorra. Isto se refere à grande impiedade que prevalecia nas cidades da planície (ver Gn 13:13). O limite da paciência e longanimidade de Deus havia então sido atingido. Embora os caminhos dos habitantes da planície fossem maus havia muito tempo, Deus lhes deu um período de graça durante o qual não deixou de enviar-lhes Suas testemunhas. A vida justa de Ló lhes proporcionou ura exemplo de como deviam viver, mas isso não teve influência sobre eles (ver 2Pe 2:7, 8). Sua convivência anterior com Abraão os havia colocado em contato com o verdadeiro Deus (ver Gn 14:22). Mas fora tudo em vão. A impiedade, que havia “se agravado” ou, literalmente, estava 'muito pesada”, clamava aos céus por punição. Há evidências de que o mundo de hoje já quase alcançou as mesmas condições (ver Lc 17:28-32; T5, 208).
Gn.18:21 21. Descerei e verei. Isto não implica que Deus não estivesse completamente informado quanto ao que se passava em Sodoma (ver Gn 13:13). Como no caso da construção da torre de Babel (ver 11:5), Deussalvaguardou o conceito humano sobre a justiça divina, deixando claro a Abraão que a decisão de destruir Sodoma não era arbitrária, mas baseada na necessidade. Portanto, não existe nenhuma discrepância entre o anúncio de Deus de que iria investigar Sodoma pessoalmente e a certeza do juízo já subentendida no v. 17.
Gn.18:22 22. Abraão permaneceu ainda. Dois dos visitantes celestiais nesse momento deixaram Abraão e desceram para a planície (ver Gn 19:1). O Senhor, contudo, ainda ficou para conversar com ele.
Gn.18:23 23. Aproximando-se a ele. Esta expressão parece indicar mais do que uma mera aproximação física da pessoa do Senhor.A palavra heb. traduzida como “aproximando- -se” é, às vezes, usada para indicar o volver da mente e do coração para Deus em contrição e adoração (Êx 30:20; Is 29:13; Jr 30:21).A mesma ideia é expressa de maneira semelhante no NT (ver Hb 4:16; 10:22; Tg 4:8).Destruirás [...] ? Esta preocupação pessoal com os outros é um dos sublimes traços do caráter de Abraão. Sua intercessão em favor deles é uma das várias situações semelhantes registradas nas Escrituras em relação a outros personagens bíblicos (ver Êx 32:11-32; Jó 42:10; Ez 14:14; Dn 9:3-19; : Lc 23:34; At 7:60). Abraão foi movido não apenas por sua preocupação com Ló, mas, ainda mais, por um profundo senso de compaixão para com os habitantes de Sodoma, muitos dos quais ele havia conhecido pessoalmente quando os resgatou das mãos dos reis mesopotâmicos. Abraão deve ter tido razão para crer que alguns dos habitantes da planície haviam sido favoravelmente influenciados por seu ministério anterior em favor deles. Embora Ló obviamente não tenha sido esquecido, seu nome não foi mencionado.A compaixão de Abraão provavelmente foi aumentada e intensificada pela recordação de sua própria necessidade da graça perdoa- dora de Deus em ocasiões anteriores.A pergunta pressupõe que Deus, de acordo com a resolução de Gênesis 18:17, havia explicado para o patriarca Sua intenção de destruir as cidades da planície. O objetivo de Abraão não era simplesmente a preservação de alguns remanescentes piedosos que pudessem ser encontrados entre as cidades condenadas, mas um período adicional de oportunidade para toda a população. Compreendendo, porém, que estava decidido que as ricas, mas ímpias cidades da planície seriam destruídas, Abraão passou, com ousada humildade, a perguntar se o Senhor havia levado em conta o destino dos justos na destruição geral dos ímpios. Aqui o apelo de Abraão foi pela graciosa misericórdia de Deus.
Gn.18:24 Sem comentário para este versículo
Gn.18:25 25. Não fará justiça o Juiz? Somente Deus é o Juiz de todos os homens. Dirigindo-se assim a Ele, Abraão dá evidências de saber que Aquele que estava diante dele era o Ser supremo. Agora ele apelava, não pela graça e o perdão de Deus, mas por Sua absoluta equidade judicial. Este princípio havia sido demonstrado por Deus em Sua extensão da oportunidade aos amorreus por mais 400 anos porque não se havia enchido ainda a medida da sua iniquidade (Gn 15:16). Ouando Deus consentiu em poupar Sodoma se apenas dez justos pudessem ser achados dentro de seus portões, Ele seguiu o mesmo princípio.
Gn.18:26 26. Pouparei. Deus aceitou a estipula- ção proposta por Abraão, não como um ato de justiça, mas como um exercício de misericórdia. A justiça requeria a preservação do justo, mas somente a misericórdia poderia poupar o ímpio. Presumivelmente, também, a presença de um grupo de 50 justos oferecería esperança para a conversão de outros. Deus aceitou o raciocínio de Abraão e Se mostrou disposto a conceder misericórdia aos que não a mereciam, por amor dos “cinquenta justos”.
Gn.18:27 27. Pó e cinza. Nesta expressão, afar wdefer, Abraão usa duas palavras hebraicas com som semelhante e significado parecido.Estas palavras revelam a profunda humilhação de alma que ele sentiu na presença de Deus. Ele percebeu bem sua origem humilde e o fato de que estava destinado a voltar à substância da qual havia sido formado (ver Gn 3:7, 19).
Gn.18:28 28. Na hipótese. O patriarca apresentou seu caso com hábil tato oriental. Sua primeira estimativa hipotética do número de sodomitas piedosos foi propositalmente alta o suficiente para conseguir uma resposta favorável. Compreendendo, porém, que esse número provavelmente era muito alto, ele novamente mostrou rara diplomacia. Em vez de suplicar pela segurança da cidade com base em 45 pessoas justas, ele protestou contra a ideia de que ela pudesse ser destruída por uma diferença de apenas cinco. Encorajado pela contínua resposta graciosa de Deus, ele foi ficando mais ousado e gradualmente diminuindo o número de pessoas justas que, em sua opinião, deveríam ser suficientes para salvar a cidade.Abraão não solicitou que a cidade fosse poupada de maneira incondicional, mas que fosse preservada sob certas condições. Seria temerário especular quanto ao que teria acontecido se ele tivesse continuado e reduzido o número para menos de dez. Talvez Abraão tenha se sentido seguro em deixar o número nesse patamar. Além de Ló, sua esposa e as duas filhas que ele tinha em casa, não havia também as filhas casadas de Ló e os familiares delas (ver Gn 19:14, 15)? Tendo começado com um número que lhe pareceu propício para conseguir uma resposta favorável, é provável que Abraão original- mente tencionasse diminuí-lo enquanto houvesse esperança de conseguir tal resposta. E a misericórdia divina aceitou a intercessão de Abraão sem hesitação.
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Gn.18:33 33. Abraão voltou. Todo aquele que ama a Deus amará também seu próximo, e se sacrificará, se necessário, para promover- -lhe o bem-estar. Não podemos impedir oshomens de pecar contra Deus, mas podemos interceder por eles e insistir com eles. Deus Se agrada de tal intercessão, porque ela reflete Seu próprio grande coração de amor. Quanto pode, por sua eficácia, a súplica do justo! Quando Abraão se aproximou de Deusem amor e fé, intercedendo humildemente pelos pecadores, Deus Se aproximou dele em misericórdia, graciosamente atendendo a cada solicitação. A mesma experiência aguarda aqueles, hoje em dia, que seguem nas pegadas do pai dos fiéis.Capítulo 19I Ló hospeda dois anjos. 4 Os ímpios sodomitas são feridos de cegueira. 12 Ló é enviado a um lugar seguro nas montanhas. 18 Ele obtém permissão de ir para Zoar. 24 Sodoma e Gomorra são destruídas. 26 A esposa de Ló se converte numa estátua de sal. 30 Ló vai morar numa caverna. 31 A origem incestuosade Moabe e Amom.e tuas filhas, todos quantos tens na cidade, la/e -os sair deste lugar;e o que nascia na terra.
Gn.19:1 1. Os dois anjos. O artigo definido “os” indica que eram os mesmos dois anjos que haviam visitado Abraão mais cedo naquela tarde (ver Gn 18:22). Embora não seja declarado que a chegada deles a Sodoma tenha ocorrido no mesmo dia em que saíram do lar de Abraão, isso fica implícito aqui e no v. 27. A distância de Hebrom a Sodoma era de pelo menos 40 km ao longo de um território montanhoso, e a viagem levaria pelo menos sete ou oito horas. Uma vez que os anjos saíram da casa de Abraão estando a tarde bem avançada, não poderíam ter chegado a Sodoma antes do cair da noite, usando os meios comuns de viagem.A cuja entrada estava Ló assentado. Ló, que primeiro foi armando suas tendas V ató Sodoma (Gn 13:12), havia nesse meio tempo construído para si uma casa dentro de seus muros. Nas antigas cidades do Oriente a vida pública estava centralizada no portão da cidade. Ali havia mercados (2Rs 7:1; Ne 13:19) e ali se assentavam tribunais (Dt 21:19; 22:15; 25:7; Js 20:4; Rt 4:1; etc.). Davi se assentou à porta da cidade para se mostrar ao povo (2Sm 19:8); os acontecimentos do dia eram discutidos nesse lugar (SI 69:12; Pv 31:31), onde também eram feitos os anúncios públicos (Pv 1:21; 8:3). Não é dito por que Ló estava assentado à porta da cidade. O certo é que ele estava atento a viajantes a quem pudesse mostrar hospitalidade e proteger dos sodomitas. A explicação de que ele havia sido promovido ao cargo e à dignidade de juiz, embora não seja necessariamente uma conclusão a ser tirada de Gênesis 19:9, não é realmente improvável, particularmente em vista de sua relação com Abraão, que outrora havia salvo a cidade toda da escravidão.Este, quando os viu, levantou-se.Reconhecendo que os homens eram forasteiros, Ló, como seu tio Abraão, imediatamente lhes ofereceu hospitalidade em sua própria casa. Ele não só os saudou como Abraão haviafeito, mas sua oferta foi expressa em palavras semelhantes às do tio (ver Gn 18:2-5).
Gn.19:2 2. Passaremos a noite na praça.Os anjos haviam aceitado imediatamente a oferta de Abraão, mas pareciam relutantes em aceitar a de Ló. Estavam testando sua sinceridade, provando se seu convite era meramente uma formalidade vazia ou se constituía o sincero desejo do coração. Registros antigos revelam que os viajantes muitas vezes passavam a noite ao ar livre (ver Gn 28:11). Exceto pelos homens de Sodoma, provavelmente não teria sido muito difícil fazer isso ali, uma vez que as cidades da planície possuíam um clima semi- tropical. A consideração de Ló pelos outros se demonstrou o meio de sua própria salvação; ele manifestou um espírito que estava em marcante contraste com o dos homens de Sodoma (ver Mt 25:34-40).
Gn.19:3 3. Instou-lhes muito. Sabendo que Ló era um homem justo, mas não estando dispostos naquele momento a revelar a própria identidade, os anjos consentiram em se hospedar sob seu teto. Muitos séculos depois, da mesma forma, Cristo ocultou Sua identidade no caminho para Emaús, mas finalmente cedeu ao rogo dos dois discípulos (Lc 24:28-30).
Gn.19:4 4. Todo o povo. Esta frase provavelmente significa uma grande afluência de homens que representavam, de maneira geral, todos os grupos sociais (PP, 159).
Gn.19:5 5. Onde estão os homens? A impiedade dos homens de Sodoma foi claramente demonstrada por seus atos naquela ocasião (ver Gn 13:13; 18:21). A notícia da chegada de dois estranhos havia se espalhado rapidamente. Os homens da cidade se reuniram em volta da casa de Ló, pretendendo violar o direito oriental de hospitalidade a fim de satisfazer desejos antinaturais. Quanto ao significado de “conhecer”, ver Gênesis 4:1. O termo é usado aqui em referência à prática imoral abominável que Paulo descreveem Romanos 1:27, conhecida como sodo- mia. Segundo evidências arqueológicas, esse pecado, punível com a morte sob a lei mosaica (Lv 18:22, 29), era disseminado entre os cananeus. A ênfase de Moisés de que tanto jovens quanto idosos estavam à porta da casa de Ló mostra claramente como era justificável que Deus trouxesse destruição sobre essas cidades (ver Gn 6:5, 11).
Gn.19:6 Sem comentário para este versículo
Gn.19:7 7. Que não façais mal. Ló saiu da casa, tendo o cuidado de trancar a porta atrás de si para evitar que a multidão entrasse. Ele fez uma fervorosa tentativa de dissuadir seus concidadãos das más intenções que nutriam.
Gn.19:8 8. Tenho duas filhas. Vendo que nada que dissesse poderia fazê-los mudar de ideia, ele fez uma proposta extrema para salvar seus visitantes da desonra. A crença no solene dever da hospitalidade, tão altamente estimada entre as nações orientais, explica sua decisão, embora não a justifi- que. Aquele que acolhesse um estranho sob seu cuidado e proteção tinha o dever de defendê-lo, mesmo à custa da própria vida. Em alguns países do Oriente Médio, o dever da hospitalidade é ainda hoje considerado sob essa luz. Talvez só para uma mente oriental é que a obrigação de um anfitrião para com seus convidados poderia justificar ou pelo menos desculpar a conduta de Ló nessa ocasião. A pureza de suas duas filhas numa cidade como Sodoma é evidência do grande cuidado com que Ló as havia criado e prova que a oferta não foi feita de maneira leviana. A preocupação natural dos orientais em proteger seus parentes do sexo feminino foi demonstrada em uma ocasião pelos filhos de Jacó (ver Gn 34). O fato de que uma proposta tão temerária chegasse a ser feita prova que Ló havia exaurido todosi» os meios concebíveis para evitar o mal, e que estava fora de si. Ele conhecia muito bem a impiedade de seus concidadãos (2Pe 2:7, 8).
Gn.19:9 9. E pretende ser juiz? A tentativa de Ló para frustrar as más intenções dossodomitas só serviu para enraivecê-los. Eles não queriam que ninguém lhes dissesse o que deviam fazer, especialmente um estrangeiro. Se Ló tinha sido nomeado juiz, como alguns sugerem (ver v. 1), os sodomitas acharam que já havia passado da hora de se livrarem dele. Pela linguagem que usaram, parece que ele, como juiz ou cidadão comum, já os havia admoestado a mudar seus maus caminhos. Portanto, em sua ira cega, ameaçaram tratar Ló de maneira mais terrível ainda do que haviam planejado fazer com seus convidados, caso ele os tentasse impedir por mais tempo. Foi apenas o poder repressor de Deus, talvez juntamente com a hesitação momentânea deles em lançar mão de um homem cujo exemplo justo havia despertado um débil sentimento de respeito em sua mente degradada, que impediu a turba de despedaçá-lo ali mesmo.
Gn.19:10 Sem comentário para este versículo
Gn.19:11 11. Cegueira. Deus permitiu que Ló tentasse mudar os ímpios planos dos sodomitas a fim de que ele pudesse ser impressionado com a profundidade da depravação deles. Quando seus extremos esforços se demonstraram inúteis, os visitantes celestiais intervieram para proteger a Ló e a si mesmos do perigo. A palavra heb. traduzida por “cegueira” é usada apenas uma vez mais no AT (ver 2Rs 6:18-20). Em ambos os casos denota uma forma sobrenatural de cegueira. Talvez ela não tenha sido total e pode ter envolvido apenas uma perda temporária da visão nítida, mas confundia a mente. O fato de que eles “se cansaram à procura da porta” implica tanto confusão mental quanto visual. Se tivessem sido feridos de cegueira total, no sentido usual da palavra, é improvável que teriam persistido em seus maus propósitos.
Gn.19:12 12. Tens aqui alguém mais? A essa altura Ló já devia ter percebido a natureza sobrenatural dos visitantes. Era hora de lhe contarem o propósito de sua missão, e eles o informaram, na linguagem mais clara possível, sobre a iminente destruição da cidade.Embora pareça que os filhos casados de Ló adotaram o estilo de vida do povo de Sodoma, os anjos estavam dispostos a salvá-los por amor a Ló, caso eles estivessem dispostos a sair da cidade. Uma vez que eram participantes dos pecados de Sodoma, nada, a não ser sua própria escolha, tornaria sua destruição inevitável.
Gn.19:13 Sem comentário para este versículo
Gn.19:14 14. Saiu Ló. O fato de filhos e filhas não serem mencionados novamente não prova que Ló tivesse apenas genros nem que esses chamados genros eram jovens comprometidos com as duas filhas que ainda moravam em casa. Ló acreditou nos anjos e fez o máximo esforço para persuadir seus filhos a buscar a segurança saindo da cidade, mas eles só ridicularizaram a ideia de que Deus iria destruí-la.
Gn.19:15 15. Levanta-te. Aparentemente Ló havia advertido os filhos durante a noite, e quando o sol estava para sair os mensageiros celestiais instaram com ele para que fugisse sem demora com a esposa e as duas filhas. A frase “que aqui se encontram” implica que Ló tinha outros filhos que não estavam “aqui” e que não estavam dispostos a partir.
Gn.19:16 16. Como, porém, se demorasse. Ló e sua esposa acreditaram, mas acharam difícil deixar para trás todas as suas posses. Em momentânea confusão e perplexidade, Ló se demorou, indeciso quanto ao que devia levar consigo ao fugir. Não manifestando nenhuma preocupação com as posses de Ló, os anjos puxaram, portanto, os quatro para fora à força, “sendo-lhe o Senhor misericordioso”. Tal é a fraqueza da natureza humana que mesmo um homem bom pode ser tão atraído pelo mundo que não consiga se desvencilhar dele. Ele é como aquele que caminha numa tempestade de neve e que, sentindo um entorpecimento fatal subir por seus membros gelados, é tentado a entregar-se ao que sabe ser o sono da morte. Ele precisa que alguém o desperte e que o inste a ir para um lugar seguro.
Gn.19:17 17. Livra-te, salva a tua vida. Aquele diante de quem Abraão havia intercedido no dia anterior agora Se une aos anjos, fora dos muros da cidade, e acrescenta à advertência deles uma urgência imperativa. A necessidade de o próprio Cristo Se unir aos anjos no apelo para que Ló saísse sugere que ele e a esposa ainda estavam hesitantes em deixar tudo para trás. Não poderia a destruição ser adiada até que ele tivesse oportunidade de remover suas posses? Se tivessem tempo, v poderiam até persuadir outros a acompanhá- -los. Por que tanta pressa? Contudo, Cristo aparece e ordena: “Livra-te, salva a tua vida” (PP, 160; cf. Gn 18:21, 32; 19:22).Não olhes para trás. Uma vez que mal havia tempo suficiente para escapar do fogo que logo desceria, não se poderia permitir mais demora alguma. Se fosse atendido o pedido de Ló por um tempo adicional, ele acharia cada vez mais difícil, à medida que passassem os dias, separar-se da fortuna que acumulara durante toda a vida. Talvez até decidisse ficar. Sua única segurança estava num rompimento imediato e completo com as coisas que ligavam seu coração a Sodoma. O mesmo ocorre hoje com os servos de Deus.Foge para o monte. A planície, que outrora fora tão atrativa por sua beleza e fertilidade, havia se tornado o lugar mais perigoso da Terra e precisava ser abandonado. Quão fatal fora a decisão de Ló de tornar esse local seu lugar de habitação (ver Gn 13:11)1 Ele agora devia encontrar refúgio nas colinas (ver SI 121:1). Ali, entre as rochas e fendas das montanhas, estaria a salvo do lago de fogo em que a bela planície logo se transformaria.
Gn.19:18 18. Assim não, Senhor meu! Em vez de cooperar alegremente com o plano de Deus para a preservação de sua vida, Ló abusou da grande misericórdia de Deus. Referindo-se à suposta impossibilidade de escapar para as montanhas, rogou permissão para se refugiar na pequena cidade vizinha de Bela (Gn 14:2), mais tarde chamadaZoar, ‘‘pequena”. Ló ainda estava relutante em deixar a comodidade e o luxo da vida na cidade em troca do que lhe parecia uma existência precária e incerta.
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Gn.19:22 22. Zoar. Pode-se inferir do fato de Ló ter de fugir novamente para uma caverna (v. 30) que Zoar também foi destruída posteriormente. A maior parte das autoridades no assunto tem como certo que a cidade de Zoar jaz sob o Mar Morto. Se assim for, talvez seja num local próximo à cidade mais tarde chamada “Zoara” por Eusébio e localizada no canto sudoeste do Mar Morto segundo um mapa em mosaico de Medeba (hoje Madeba), do 6o século d.C.
Gn.19:23 Sem comentário para este versículo
Gn.19:24 24. Enxofre e fogo. O juízo anunciado pelos anjos veio de forma repentina e inesperada (ver Lc 17:28, 29). Embora apenas Sodoma e Gomorra sejam mencionadas aqui, é claro que as outras cidades da planície, Admá e Zeboim, também foram destruídas (ver Dt 29:23; Os 11:8; Jd 7). Somente a pequena cidade de Bela, ou Zoar, foi poupada, e isso por pouco tempo (ver Gn 19:30; PP, 167).A frase “enxofre e fogo” é um idiomatismo comum no hebraico para “enxofre ardente”. Os milagres pelos quais Deus, de tempos em tempos, interveio nos processos rotineiros da natureza geralmente consistem no uso inco- mum de forças e elementos naturais já existentes. Ainda hoje a região sul do Mar Morto é rica em betume (ver com. de Gn 14:3, 10). Ainda escapam gases inflamáveis das fendas das rochas naquela área. O betume que sobe à superfície na parte sul do Mar Morto deu a ele, nos tempos clássicos, o nome de lago Asfaltite. Grandes massas de asfalto que flutuam na superfície são frequentemente de tamanho suficiente para suportar o peso de várias pessoas. Betume, enxofre e outros materiais combustíveis têm sido extraídos e exportados dessa região durante anos. Os árabes das vizinhanças usam o betume como proteção contra pragas em hortas epara propósitos medicinais. Qualquer que tenha sido o meio empregado para incendiar as cidades, o holocausto foi sem dúvida miraculoso, pois a destruição veio no tempo preciso assinalado por Deus.Durante séculos, a paisagem crestada dessa região permaneceu como um mudo testemunho da grande catástrofe que transformou sua fértil planície numa cena de completa desolação. Moisés se referiu a ela como um exemplo do que a terra de Israel se tornaria como resultado de desobediência (Dt 29:21-24). Os autores clássicos descrevem eloquentemente a região do sul do Mar Morto como uma terra queimada, de terreno acidentado, rochas chamuscadas e solo composto de cinzas. Mencionam também sítios com ruínas de cidades antigas (Diodoro, II.48.7-9; Estrabão, Geografia, xvi.2.42-44; Josefo, Guerras, iv.8.4; Tácito, Histórias, v.6.7). Nos tempos bíblicos, o que hoje constitui o braço sul do Alar Morto era terra seca. Em décadas mais recentes, o nível do mar, que não tem deságue, foi subindo e cobriu a maior parte da região. Arvores mortas ainda sobressaem nessa zona do mar como uma floresta fantasma.Alguns estudiosos têm tentado identificar as cidades condenadas com ruínas descobertas em Teleilat el-Ghassul, na praia norte do Mar Aíorto. O peso das evidências, porém, aponta para a extremidade sul do mar como a localização da grande catástrofe. Esse terrível evento continua vivo nas tradições da região até hoje. Ele se reflete, por exemplo, no nome árabe do Alar Morto, Bahr Lut, “Lago de Ló", e na cadeia montanhosa que faz fronteira com a praia sudoeste do lago, Jebel Usdum, “Alonte Sodoma”.
Gn.19:25 25. Subverteu aquelas cidades. Esta expressão sugere um terremoto, mas é também usada para descrever cidades destruídas pela ação de inimigos de maneira tão completa que são deixadas como Sodoma e Gomorra (ver 2Sm 10:3; Is 13:19). Ao longode todo o AT repetidas referências são feitas a essa catástrofe (Dt 29:23; Is 1:9; Jr 49:18; 50:40; Am 4:11; etc.). Elas servem como exemplo do juízo final por fogo sobre todos os ímpios (2Pe 2:6; Jd 7).
Gn.19:26 26. E a mulher de Ló olhou para trás. Os anjos haviam levado as quatro pessoas para fora da cidade condenada e lhes haviam dado instruções explícitas quanto ao que fazer e ao que não fazer se quisessem salvar a vida. Mas simplesmente escapar da cidade não era suficiente; era necessário continuar obedecendo às instruções. A mulher de Ló olhou de volta para a cidade, onde estavam sua casa, suas posses e alguns de seus filhos. Nesse momento se recusou a deixá-los. Seu coração empedernido tornou a lembrança dessa mulher uma advertência perpétua para aqueles que gostariam de ser salvos, mas se contentam com meias medidas, que parecem abandonar o mundo, mas ainda estão com o coração nele. Por não perseverarem até o fim, não podem ser salvos (ver Mt 24:13; Fp 1:6). Fazemos bem em não nos esquecer da solene admoestação de nosso Senhor: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (Lc 17:32). Mais firmeza da parte de Ló em dar ouvidos à ordem do anjo teria significado a salvação de sua esposa (PP, 160, 161). Os anjos a haviam forçado a sair da cidade, mas não podiam salvá-la contra sua vontade. Ela era por natureza uma pessoa irreligiosa, provavelmente uma nativa de Canaã (PP, 174). Preferiu morrer a deixar Sodoma. Lamenta-se sua sorte, apesar do benefício de seu exemplo.Estátua de sal. Não se sabe por quanto tempo a pilastra de sal que continha seu corpo permaneceu visível. Em alguns locais a praia sudoeste do Mar Morto apresenta formações de rochas de sal, algumas das quais se assemelham a figuras humanas. Os viajantes têm chamado uma ou outra delas de “a mulher de Ló”. Mas tentar identificar qualquer delas dessa forma seria tolice.
Gn.19:27 27. De madrugada. Ansioso para saber o resultado de sua intercessão no dia anterior, Abraão voltou ao local a nordeste de Hebrom onde ele e o Senhor haviam se despedido. Quão grande deve ter sido seu desapontamento quando viu toda a planície em chamas e sua fumaça subindo para o céu.
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Gn.19:29 29. Lembrou-se Deus de Abraão. Não sendo possível salvar as cidades pelas quais Abraão havia intercedido, o Senhor, não obstante, recompensou sua oração inter- cessória poupando os que estavam dispostos a sair dali. Por amor a Abraão, como é aqui declarado, a salvação foi oferecida à família de Ló.
Gn.19:30 30. Subiu Ló de Zoar. Dominado pelo pânico, Ló rapidamente saiu de Zoar, com medo de que ela também partilhasse do destino de suas quatro cidades-irmãs (PP, 167).
Gn.19:31 Sem comentário para este versículo
Gn.19:32 Sem comentário para este versículo
Gn.19:33 Sem comentário para este versículo
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Gn.19:35 Sem comentário para este versículo
Gn.19:36 36. Conceberam do próprio pai. Neste ato as filhas de Ló revelaram a má influência de Sodoma. Haviam crescido num lugar onde abundavam a embriaguez e todas as formas de imoralidade; consequentemente, seu juízo estava embotado, e sua consciência, insensibilizada. Ló tinha conseguido proteger as filhas de se tornarem vítimas dos sodomitas (ver v. 8), mas não tinha tido tanto sucesso em fixar-lhes no coração os princípios do que é certo. Elas são mais dignas de pena que de censura, pois o próprio Ló participou do pecado delas. Ele foi responsável pelas circunstâncias que as levaram ao pecado e também foi responsável por ter bebido o vinho que elas colocaram diante dele (ver com. de Gn 9:21). O preço que Ló pagou por alguns anos em Sodoma foi a perda de toda a família. Os vis e idólatras moabitas e amonitas foram sua única posteridade.
Gn.19:37 37. Moabe. Ancestral dos moabitas. Seu nome provavelmente significa “do meu pai”, como a LXN o traduz. Embora fossem primos dos israelitas, os moabitas sempre foram seus inimigos. Habitaram originalmenteo território entre Arnom e Zerede, a leste do ' Mar Morto. Da época de Davi à de Acabe, foram temporariamente tributários de seus vizinhos ocidentais, mas reconquistaram a independência sob o comando de seu rei Mesa (2Rs 3:4, 5), que estendeu seu território em direção ao norte.
Gn.19:38 38. Ben-Ami. O nome do ancestral dos amonitas provavelmente significa “filho do meu povo”. Com isto sua mãe expressou o fato de que o pai e a mãe dele pertenciam à mesma família. O filho dela era,em realidade, seu próprio meio-irmão, e os ancestrais dele eram os dela também. Os amonitas se tornaram nômades e viveram na parte leste da região que fica entre o jaboque e o Arnom. O nome de sua fortaleza, Rabate- Amom, é perpetuado no nome de Amã, a atual capital do reino da Jordânia.A história de Ló e sua família é trágica. Sua lembrança ficou para sempre maculada. Seu pecado foi perdoado, mas o mal dos anos devotados ao prazer e ao lucro se prolongou por muitas gerações depois dele (PP, 168).Capítulo 20I Abraão peregrina em Gerar, 2 nega sua esposa, e a perde. 3 Abimeleque é repreendido por causa dela num sonho. 9 Ele censura Abraão, 14 devolve Sara, 16 e a reprova. 17 Ele é curado pela oração de Abraão.Com sinceridade de coração e na minha inocência, foi que eu fiz isso.farás: em todo lugar em que entrarmos, dirás a meu respeito: Ele é meu irmão.
Gn.20:1 1. Partindo Abraão dali. Não é dada nenhuma razão para a partida de Abraão do bosque de Manre, perto de Hebrom (Gn 13:18; 14:13; 18:1) para a região do sul, o Neguebe (ver com. de Gn 13:1). E provável que Deus tenba dirigido os passos dele para lá a fim de prosseguir sua vida peregrina ou para que fosse uma testemunha aos habitantes daquela região. E possível também que seus rebanhos tenham requerido novas pastagens, ou que mudanças políticas tenham perturbado a paz e segurança do país. Enquanto os aliados anteriores de Abraão em Hebrom — Manre, Escol e Aner - eram amorreus (ver Gn 14:13), aparentemente eram os heteus que estavam no controle da região alguns anos mais tarde (ver Gn 23:3). Os críticos têm declarado que era impossível os heteus já haverem c hegado ao sul da Palestina no século 19 a.C., mas descobertas recentes comprovam que esse era o caso. Talvez alguns deles tenham chegado a Hebrom e expulsado os amorreus. Se este for o caso, é possível que Abraão tenha se mudado para o Neguebe a fim de evitar as condições instáveis do período de transição. Qualquer que seja o motivo de sua ida aosul, o fato é que ele ficou ali por cerca de 20 anos.Cades e Sur. Cades-Barneia ficava cerca de 130 km a sudoeste de Hebrom, e Sur ficava a oeste de Cades, não muito distante do Egito (ver Gn 16:7). O verbo “habitou” parece indicar que Abraão passou algum tempo nessa região, uma permanência que deve ter despertado sagradas recordações no coração de Agar (ver Gn 16:7-14).Gerar. Uma vez que o sul do Neguebe era uma região semidesértica, talvez suas pastagens, com o tempo, tenham se demonstrado inadequadas. Essa área, que tinha apenas alguns oásis, foi mais tarde chamada de “deserto de Zim”. Voltando-se novamente em direção ao norte, Abraão habitou temporariamente em Gerar, que ficava num vale muito fértil ao sul de Gaza. Enormes silos de cereais do período persa descobertos no grande outeiro de Gerar mostram que a cidade era então o centro de uma área produtora de grãos. E possível que ela tenha sido igualmente importante em tempos anteriores, embora não haja evidências que comprovem isso.
Gn.20:2 2. Ela é minha irmã. Embora Abraão tenha vivido em paz e segurança em todos osSaindo de Manre (acima à direita), Abraão seguiu (I) o curso normal da corrente en-Nahar, que flui desde Hebrom até Gerar, cerca de 95 km. Depois, pastoreando no deserto em direção a Sur, Abraão teve de se dirigir para o norte (2), em busca de pasto e água. Ele se tornou amigo de Abimeleque em Gerar e permaneceu “muito tempo’’ ali [Gnlugares onde anteriormente armara sua tenda na terra de Canaã, parece ter desconfiado do rei de Gerar, um príncipe filisteu (ver com. de Gn 21:32). E paradoxal encontrar alguém que havia derrotado as forças expedicionárias combinadas de quatro potências mesopotâmicas de repente se acovardando com medo mortal diante do príncipe de uma única cidade. E ainda mais intrigante ver Abraão, um modelo de fé, reverter abruptamente ao próprio estratagema que lhe havia trazido tanto embaraço e ansiedade no Egito (ver Gn 12:10-20). Após as muitas evidências do poder e da proteção de Deus que ele havia testemunhado, outro terrível fracasso de fé como esse é de fato estranho. Cerca de 20 anos haviam se passado desde o erro anterior, e pode ser que o tempo tivesse apagado a impressão deixada na época.Abimeleque. O nome Abimeleque, “meu pai, o rei”, pode em realidade ter sido um título filisteu como o do faraó, no Egito, em vez de ser um nome próprio. O rei de Gerar no tempo de Isaque era chamado Abimeleque (Gn 26:8), e também o rei Aquis, de Gate, no tempo de Davi (ISm 21:10; cf. SI 34, título). Parece que o governante de Gerar levava para v seu harém todas as mulheres solteiras dentro do território que agradassem seus caprichos. Parece ainda mais estranho do que fora 25 anos antes, que Sara, com a idade de 90 anos, ainda fosse tão atraente para ser desejada por um príncipe palestino. 1 certo que ainda lhe restavam quase 40 anos de vida. Também pode ser que a intenção de Abimeleque com esse casamento fosse selar uma aliança entre ele e Abraão. Ele aparentemente achou que a presença de Abraão lhe fosse benéfica (ver Gn 20:15).
Gn.20:3 3. Em sonhos. Os sonhos eram o meio usual de Deus Se revelar aos pagãos, como o fez no caso do faraó (Gn 41:1) e de Nabucodonosor (Dn 4:5). Aos patriarcas e profetas, Deus dava visões, embora às vezes também lhes falasse em sonhos.Vais ser punido de morte. Literalmente, “estás à morte”. Abimeleque contraiu a doença que havia caído sobre sua casa (ver v. 17).
Gn.20:4 4. Não a havia possuído. Abimeleque foi impedido de desonrar Sara por causa da doença peculiar que o atingiu, acerca da qual pouco é revelado. Esta declaração foi feita para evitar a possibilidade de que Isaque, que logo nasceria, pudesse ser considerado filho de Abimeleque, em vez de filho de Abraão.Senhor, matarás? Nos tempos antigos, os sonhos eram considerados de origem divina e, portanto, Abimeleque acreditou que aquele que lhe aparecera era um ser divino. A autoridade com que falava o que se dirigia a ele era obviamente superior até à dele como rei.
Gn.20:5 Sem comentário para este versículo
Gn.20:6 6. Com sinceridade de coração.Abimeleque havia, inadvertidamente, feito um mal a um embaixador do Rei celestial. Parece que esse governante pagão deve ter sido um homem de princípios, pois sua consciência obviamente estava limpa na questão. Esse fato indica que os filisteus nesta época não eram, de maneira alguma, como os homens degenerados de Sodoma. Talvez o mesmo pudesse também ser dito quanto a outros povos de Canaã. Não se havia ainda enchido “a medida da iniquidade” deles (Gn 15:16).
Gn.20:7 7. Ele é profeta. Esta é a primeira ocorrência do termo “profeta”, nabi. A palavra deriva da raiz naba, que significa “proclamar”, “gritar”, "declarar”. Da forma como é usada na Bíblia, portanto, a palavra “profeta”, nabi’, descreve alguém que proclama mensagens divinas. Estas podem estar relacionadas ao passado, presente ou futuro e podem consistir de descrição, exortação, instrução, consolação ou predição. O termo transmite ainda a ideia de ser um intermediário. A palavra “profeta” vem do grego projetes, uma combinação da preposição pro, “por” ou “em lugar de”, como verbo femi, “falar”. Ele fala por alguém. Pode falar ao homem em nome de Deus ou vice-versa. O v. 7 parece deixar claro que se fala de Abraão como profeta nesse último sentido; ele devia orar a Deus em favor de Abimeleque.O fato de o termo nabi’ ser usado aqui pela primeira vez não invalida a crença de que o Espírito de profecia era vigente desde o princípio (Gn 9:25-27; At 3:21; Jd 14, 15). Da mesma forma, é inválida a afirmação de que o uso desse termo nos livros de Moisés prove que estes só podem ser posteriores ao tempo de Samuel, antes do qual um profeta era chamado “vidente” (ISm 9:9). Da maneira usada por Moisés, o termo geralmente se aplica a alguém que recebe revelações divinas. Durante o período dos juizes, o termo “vidente”, roeh, parece ter entrado em uso e ter ficado em voga até o tempo de Samuel, quando então o termo mais antigo acabou substituindo-o novamente.Intercederá por ti. O valor da oração intercessora é enfaticamente declarado em Tiago 5.16. A promessa a Abimeleque de quem ele reconquistaria a saúde por meio da oração de Abraão apoia o princípio de que um justo pode se tornar o canal através de que a bênção divina pode fluir para outros (ver At 9:17, 18). E propósito de Deus conduzir aqueles que são suscetíveis à verdade a Seus representantes humanos.
Gn.20:8 8. Abimeleque [...] chamou todos os seus servos. A palavra heb. aqui traduzida como “servos” inclui oficiais de todas as categorias. Eles também estavam vitalmente preocupados com a situação e, sem dúvida, estavam esperando que o rei desse uma solução ao problema.
Gn.20:9 9. Chamou Abimeleque a Abraão.A repreensão anterior feita pelo faraó (Gn 12:18, 19) era ainda mais justificada agora. As palavras de censura de Abimeleque devem ter sido muito humilhantes. Aquele que recebera a incumbência de representar,por preceito e exemplo, o verdadeiro Deus ao < povo de Canaã, agora recebia merecidamente a reprovação de um de seus governantes pagãos. Sua conduta havia não só maculado a felicidade de seu próprio lar, mas havia também trazido sofrimento para o povo de cuja hospitalidade ele desfrutava.
Gn.20:10 Sem comentário para este versículo
Gn.20:11 Sem comentário para este versículo
Gn.20:12 12. É também minha irmã. Abraão defendeu sua conduta com base na pressuposição de que, não havendo “temor de Deus” em Gerar, sua vida estava em perigo (ver Gn 12:4-13). Além disso, ele justificou o subterfúgio com a desculpa de que Sara era de fato sua “irmã” - sua meia-irmã - além de ser sua esposa. Ele procurou fazer parecer que não houvesse se desviado da estrita verdade. Mas o fato de ter deixado de contar toda a verdade fez dele um enganador. (Sobre o casamento entre irmãos e irmãs, ver com. de Gn 4:17.)
Gn.20:13 13. Em todo lugar. Esta não foi a primeira vez que Abraão fez Sara se passar por sua irmã. Parece que esta havia sido sua prática usual, mas até então o Egito havia sido o único lugar onde o ardil causara problemas. Os anos em que obtivera êxito em empregar a mesma mentira, desde a amarga experiência com o faraó, levaram Abraão a se esquecer da estrita lição de honestidade deixada pelo episódio (ver Ec 8:11). Talvez a forma comparativamente fácil com que Deus o havia salvo de sua séria dificuldade também tendia a torná-lo menos cauteloso.A vida reclusa das mulheres, típica do Oriente, tornava relativamente fácil que Abraão continuasse com essa prática. Como passavam grande parte de seu tempo nas tendas, ocultas aos olhares curiosos, poucos homens chegavam sequer a vê-las (ver Gn 18:9). O contato de Abimeleque com Sara deve ter sido acidental, talvez num momento de descuido em que ela estava fora de casa, por exemplo, tirando água de um poço público (ver Gn 34:1-4). Como quer que seja, o tempo para o nascimentodo descendente prometido estava se aproximando rapidamente (ver Gn 21:1), e Satanás tirou vantagem da fraqueza de Abraão para tentar frustrar o plano divino (ver com. de Gn 12:12-20; cf. Ap 12:1-4).
Gn.20:14 14. Abimeleque tomou ovelhas. Os presentes de Abimeleque foram semelhantes aos do faraó (Gn 12:16), mas dados com intenção diferente. O faraó presenteou-o “por causa dela” (Sara), como um dote, enquanto que Abimeleque teve o objetivo de evitar o desagrado de Abraão pelo agravo que havia sofrido.
Gn.20:15 15. A minha terra está diante de ti.Esta oferta aparentemente generosa é precisamente o oposto do pedido do faraó sob circunstâncias semelhantes (ver Gn 12:19, 20). Abimeleque procurou tornar claro para Abraão que não tinha tido más intenções e que desejava viver em bons termos com este rico príncipe da Mesopotâmia. Tendo conhecimento de como Abraão resgatara os homens de Sodoma alguns anos antes, Abimeleque também por essa razão pode ter temido uma represália por seu ato.
Gn.20:16 16. Mil siclos de prata. Embora as palavras “moedas” e “siclos” não estejam no texto hebraico, sem dúvida a última é o complemento correto da palavra “mil”. O dinheiro cunhado não existia antes da época do império persa. Os metais preciosos eram moldados em forma de tijolos e avaliados segundo o seu peso. Uma vez que o peso do siclo variava grandemente em diferentes lugares e em diferentes épocas, é difícil avaliar seu valor monetário atual. Uma peça de um siclo encontrada nas ruínas de Tell Beit Mirsim, na Palestina, pesa 11,4 g, uma encontrada em Ugarit, na Síria, pesa 9,5 g, enquanto que os siclos egípcio e babilônico variam de 8,8 a 9,8 g. Se adotarmos o peso de 11,4 g para um “siclo de prata”, mil siclos pesariam 11,4 kg. Uma vez que o poder de compra do dinheiro era muito maior naquela época do que hoje, essa cifra deveria ser aumentadaconsideravelmente para representar o verdadeiro valor do presente. Abimeleque provavelmente usou a expressão “teu irmão” ironicamente, como se estivesse dizendo: “esse teu ‘irmão’.”Será isto compensação. A KJV, seguindo o original, diz: “Eis que ele é para ti como uma cobertura dos olhos.” O significado da declaração hebraica é obscuro. Se for literal, a “cobertura” seria um véu para a proteção da face; se for figurativo, seria um presente com o objetivo de fazer uma compensação. O pronome hebraico traduzido como “ele” na KJV, indicando Abraão, pode também se referir ao presente. Se a palavra se refere a Abraão, Abimeleque queria dizer que ele estava devolvendo Sara à proteção de Abraão, ou que Abraão devia cuidar melhor dela no futuro. Se, por outro lado, se refere ao presente, Abimeleque estaria dizendo: “Por favor, aceite meu presente como evidência de sua inocência e também como sinal de meu desejo de fazer-lhe justiça.” Três detalhes do contexto implicam que esta expressão se refere ao presente e não a Abraão: (1) Abimeleque desejava a amizade de Abraão (ver com. do v. 15); (2) o presente é o centro da atenção na declaração precedente; e (3) a “cobertura” devia constituir evidência para as pessoas que acompanhavam Sara e para todos os outros, de que o erro havia sido reparado e o caso, encerrado.Por tudo quanto se deu contigo. A KJV diz: “para todos os que estão contigo”. Talvez isto se refira às atendentes de Sara, que poderiam estar com ela por ocasião do incidente. E “perante todos” talvez se refira a outros membros da grande família de Abraão, ou talvez inclua a todos os que pudessem ficar sabendo do ocorrido, isto sugere, adicionalmente, que a “cobertura” podia ter o objetivo pelo menos em parte de manter a dignidade dela diante dos outros membros de sua casa, uma consideração muito importante entre os orientais.Estás justificada. A KJV diz: “Assim [‘e’, ARC] ela foi advertida.” Esta expressão no hebraico apresenta dois problemas: (1) Algumas versões antigas omitem a palavra “assim” (heb. “e”) e combinam esta expressão com a frase precedente: “e perante todos”. (2) E incerto se o original hebraico diz “ela” ou “você”. A pontuação vocálica que faz a diferença entre os dois pronomes foi acrescentada pelos massoretas, vários séculos depois de Cristo. Se os massoretas estavam corretos, então Sara foi “advertida” por Abimeleque por ser primariamente a culpada pela situação lamentável. Se, contudo, os massoretas fizeram a escolha errada, como indicam algumas versões antigas, e se a frase precedente “e perante todos” deve ser ligada a “ela foi advertida”, as duas juntas seriam traduzidas da seguinte maneira: “E em todos os aspectos estás justificada” ou “perante todos estás justificada”, comoo faz a ARA. Essa tradução estaria mais de acordo com o contexto. A palavra traduzida como “árbitro” em jó 9:33 vem da mesma raiz da palavra aqui traduzida como “advertida” ou “justificada”.
Gn.20:17 17. Sarou Deus Abimeleque. Se a restituição não tivesse sido feita, o resultado teria sido a morte (ver v. 3, 7). A palavra heb. traduzida como “servas” se refere a servas do harém real. Uma palavra diferente é empregada no v. 14 para descrever as “servas” incluídas no presente do rei a Abraão.
Gn.20:18 18. Tornado estéreis. Do ponto de vista oriental, de que ter hlhos era considerado talvez como a maior de todas as bênçãos, não poderia haver calamidade maior do que a esterilidade. Não ter filhos era um opró- brio (Gn 30:23; Lc 1:25; etc.). Além disso, se as esposas da família de Abimeleque não tivessem mais filhos, a família acabaria por se extinguir.Capítulo 21tua serva; atende a Sara em tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência.
Gn.21:1 1. Visitou o Senhor a Sara. Este ato da graça divina é chamado de “visita” do Senhor. O verbo aqui traduzido como “visitar”, quando usado com relação a uma “visita’' do Senhor, pode se referir à Sua vinda em juízo para punir os homens (Is 24:21; Jr 9:25; Os 9:9; etc.) ou, como aqui, para favorecê-los (Gn 50:24; Rt 1:6; iSm 2:21).O nascimento de Isaque foi contrário ao curso normal da natureza (G1 4:23; Hb 11:11). De tempos em tempos, no trato de. Deus com o povo escolhido, Ele deuevidências miraculosas de Seu divino poder e liderança a fim de lhes inspirar a confiança (ver Jo 15:11). Esses milagres alcançaram o clímax no grande milagre de todos os tem- pos - a encarnação, a vida perfeita, a morte vicária, a gloriosa ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo (lTm 3:16).
Gn.21:2 2. No tempo determinado. Como muitas das promessas de Deus, esta foi cumprida precisamente no tempo determinado (ver Gn 17:21; 18:10, 14). A vinda do dilúvio, o livramento do povo de Israel do Egito,o nascimento do Messias, juntamente com vários eventos preditos por Daniel e João, ocorreram como cumprimento de profecias que envolviam tempo (Gn 6:3; Ex 12:41; Dn 9:25; G1 4:4). Das repetidas promessas feitas a Abraão sobre o nascimento de um filho, somente aquelas imediatamente anteriores ao evento fizeram menção específica sobre o tempo em que isso ocorrería. A princípio Abraão foi informado apenas de que teria um filho. Mais tarde lhe foi dito que Sara daria à luz esse filho e, somente no final, foi-lhe dito quando o filho nasceria.
Gn.21:3 3. Isaque. Deus já havia escolhido um nome para a criança (Gn 17:19). O nome de Isaque, que significa “ele ri”, devia ser uma lembrança perpétua da feliz ocasião em que a fé se tornou realidade (ver Gn 17:17; 18:12; 21:6; Sl 126:2). O nascimento de Samuel e o de João Batista, ambos em circunstâncias semelhantes, também trouxeram grande alegria (ISm 2:1; Lc 1:58).
Gn.21:4 4. Abraão circuncidou a seu filho. Um ano antes, Abraão e Ismael, juntamente com todos os membros do sexo masculino de sua casa, tinham sido circuncidados. O sinal da aliança foi então conferido a Isaque, o filho da aliança (ver com. de Gn 17:10-14, 23).
Gn.21:5 5. Tinha Abraão cem anos. Exatamente 25 anos haviam se passado desde a primeira promessa de um filho (Gn 12:1-4). Não está claro se Isaque nasceu em Gerar ou Berseba (ver Gn 20:15; 21:31).
Gn.21:6 6. Deus me deu motivo de riso. O riso de Sara um ano antes havia refletido cinismo e incredulidade, mas agora seu riso era de alegria. Era agora recompensada a perseverança de Abraão e Sara durante o que lhes pareceu longos e negros anos de desapontamento e demora. Para eles, o nascimento de Isaque significava o raiar de um novo dia (ver Sl 30:5). Esse evento foi o “penhor” ou sinal de que a promessa em sua inteireza - a vinda do Messias, o evangelho a todas as nações e o lar eterno - se realizaria(Gn 22:18; G1 3:16; Hb 11:9, 10). Os escritores bíblicos fazem repetidas referências a esse alegre evento (ver Is 51:2, 3; 54:1; Gl 4:22-28). Como Sara, a “Jerusalém lá de cima”, a “nossa mãe”, se regozija quando hoje nascem filhos da fé (Is 66:10; Lc 15:10).
Gn.21:7 Sem comentário para este versículo
Gn.21:8 8. E foi desmamado. Entre os orientais o desmame ocorria mais tarde do que ocorre no Ocidente. De acordo com 2 Macabeus 7:27, as mães judaicas amamentavam os filhos por três anos (ver também 2Cr 31:16). Samuel parece ter sido levado ao santuário logo após ser desmamado, quando já podia ministrar diante do Senhor (ISm 1:22-28). E costume oriental comemorar o desmame da criança por uma festa ritual, quando se espera que ele participe de uma refeição de alimento sólido pela primeira vez. Isso marca o final da primeira infância.
Gn.21:9 9. Caçoava. Alguns comentaristas traduzem a palavra heb. metsacheq, “caçoava”, como “brincava com” e concluem que a declaração de Sara no verso seguinte foi resultado de ciúmes. Julgam que ela não conseguia suportar o pensamento de que Ismael participasse da herança de Abraão. Outros explicam esta passagem à luz da explanação de Paulo de que Ismael foi expulso da casa de seu pai por perseguir Isaque (Gl 4:29, 30).O verbo metsacheq, “caçoava”, vem da mesma raiz que “isaque”, ou seja, do verbo “rir”. Usado aqui na forma intensiva, contudo, o verbo expressa algo mais do que simplesmente dar risadas - significa ridicularizar. Ló pareceu a seus genros como alguém que “gracejava com eles” ou brincava com o bom senso deles; ele parecia estar caçoando deles (Gn 19:14). A mesma palavra é usada para José, a quem a esposa de Potifar acusou de ter vindo “para insultar- nos”, ou “para escarnecer de nós” (ARC), isto é, para divertir-se às custas da generosidade do marido dela para com ele (Gn 39:14- 17). A orgia dos israelitas diante do bezerro de ouro também é descrita pelo mesmoverbo (Êx 32:6), traduzido como “divertir- se", “folgar ’ (ARC) ou, inapropriadamente, como “brincar" (KJV). Os filisteus chamaram Sansão, já cego, à sua presença, “para que nos divirta” (jz 16:25). O único caso em que a palavra é usada em sentido favorável descreve Isaque “acariciando” Rebeca (Gn 26:8). Portanto, segundo a maioria dos exemplos em que a forma intensiva deste verbo é usada, > Ismael “caçoava” de Isaque ou o provocava com gracejos.Ismael era 14 anos mais velho que Isaque e, portanto, tinha 17 anos quando Isaque foi desmamado (ver Gn 16:3; 21:5). Sem dúvida, ele sempre havia considerado a si mesmo como o filho mais velho e herdeiro de Abraão. O nascimento de Isaque, contudo, e a festa por ocasião de seu desmame, tornaram claro que o filho de Sara tomaria seu lugar e, como resultado disso, seu ciúme foi despertado. Não é de admirar que Ismael caçoasse de Isaque por ser o mais novo e, portanto, não ter os direitos e privilégios da primogenitura.
Gn.21:10 10. Rejeita essa escrava. As palavras de Sara, que refletem ciúme e desprezo, dificilmente seriam apropriadas para quem justamente havia sugerido o casamento de Agar com Abraão (Gn 16:2, 3). Sara se referiu a Agar como uma escrava e a Ismael como o filho de uma escrava. E claro que Sara tinha o direito de exigir que o status de seu próprio filho fosse legalmente esclarecido a fim de que não surgisse nenhuma dúvida após a morte de Abraão. Portanto, solicitou ao marido que mandasse Agar embora e deserdasse Ismael.
Gn.21:11 11. Penoso aos olhos de Abraão. Para Sara, Agar e Ismael eram intrusos: ela, uma egípcia de casta inferior e escrava estrangeira; ele, um jovem mestiço que sempre causaria problemas. Abraão, naturalmente, não compartilhava desses sentimentos. Não questionava as prerrogativas de Isaque como herdeiro prometido, mas Ismael também era seu filho.Durante anos havia crido que ele era o herdeiro. Ismael era sua própria carne e seu sangue, e Abraão amava esse rapaz que havia sido seu único filho por 14 anos. Parecia-lhe impossível atender o desejo de Sara.
Gn.21:12 12. Atende a Sara. Do ponto de vista humano, parece estranho que Deus aprovasse o pedido egoísta de Sara. Embora Deus estivesse pronto a abençoar Ismael (ver Gn 16:10; 21:13) e não censurasse diretamente Abraão por causa de Agar, Ele nunca havia reconhecido tal casamento. Para Deus, ela sempre fora a “serva”, nunca a esposa. O incessante caçoar por parte de Ismael (ver com. do v. 9) tornou evidente que ele continuaria a perturbar a paz e a harmonia do lar durante toda a vida de Abraão e, que após a morte deste, provavelmente iria reivindicar seu direito de primogenitura à força. Estava então claro que Ismael não podería mais permanecer naquele lar sem colocar em perigo o plano de Deus para Isaque. Abraão não havia buscado o conselho de Deus ao tomar Agar, e esse ato impensado tornou necessária a expulsão de um filho a quem ele ternamente amava. Ao mesmo tempo, Deus confortou Abraão com a certeza de que Ismael, como seu descendente, também partilharia da promessa feita a ele, no sentido de que se tornaria uma grande nação.
Gn.21:13 Sem comentário para este versículo
Gn.21:14 14. Pão e um odre de água. A palavra “pão” no heb. é um termo coletivo para todos os tipos de alimento. No “odre”, feito de pele de cabra, provavelmente cabia água suficiente para durar de um poço até o outro. Na fuga anterior, Agar parece ter se dirigido para sua terra natal no Egito (Gn 16:7) e talvez pretendesse fazer o mesmo desta vez. A natureza generosa de Abraão e seu amor por Ismael certamente o levaram a fazer provisões adequadas para a viagem. A emergência posterior parece ter surgido porque eles se perderam e ficaram vagueando pelo deserto até a água acabar. Isso fica subentendido pela expressão “andando errante”, umverbo heb. que expressa a ideia de vaguear, andar sem rumo, extraviar-se (ver SI 119:176; Is 53:6). Não era propósito de Deus que Agar e Ismael voltassem para o Egito, pois Sua promessa concernente ao rapaz não podería se cumprir lá. O fato de se perderem no deserto foi aparentemente uma providência de Deus para ele (ver At 17:26).Deu-lhe o menino. A expressão “deu- lhe” foi acrescentada. A KJV, seguindo o original, diz: “Pô-los às costas de Agar, e o menino, e a despediu”. A frase pode sugerir que Agar tivesse de carregar não só a comida e a água, mas também Ismael. No entanto, o fato de Ismael então estar com cerca de 17 anos (ver com. de Gn 21:8, 9) deixa claro que Agar não poderia carregá-lo. Portanto, o texto deve significar que Abraão colocou parte das provisões às costas de Agar e parte às costas de Ismael.A expulsão de um de seus filhos deve ter significado um intenso sofrimento para Abraão (ver v. 11). Alas, consciente de sua própria responsabilidade pela situação criada, resignou-se à vontade revelada de Deus quanto ao assunto. O destino de .Agar e Ismael parece extremamente severo, mas eles haviam tornado isso inevitável por sua atitude para com Isaque. Se tivessem sido dispostos a aceitar um papel subordinado, talvez tivessem permanecido no lar de Abraão até Ismael ficar adulto. Com frequência uma conduta mal calculada implica não só a perda de bênçãos que é nosso privilégio desfrutar, mas também sofrimento desnecessário (ver Jr 5:25).Pelo deserto de Berseba. Sendo a principal cidade da parte norte do Neguebe, o território semiárido que fica ao sul de Canaã, Berseba era o centro de várias rotas de caravanas que iam da Transjordânia à costa, e da Palestina ao Egito. O deserto ficava ao sul da cidade.
Gn.21:15 15. Colocou ela o menino. Como visto anteriormente, Ismael não era maisuma criança, mas um rapaz. A palavra traduzida por “menino” é às vezes traduzida como “rapaz” ou “jovem” (ver Gn 4:23; lRs 12:10). A expressão “lançou” (ARC), embora aparentemente sugira um tratamento rude, pode ser entendida da mesma forma que em Mateus 15:30, onde o original também diz que os doentes eram lançados ou “largados” aos pés de Jesus para ser curados. Isso indica apenas que eram deixados sob Seu solícito cuidado. Agar deixou Ismael à sombra da árvore, o que era o único meio disponível para aliviar a dor do rapaz. Ao traduzir o hebraico “lançou” para o grego, a LXX usa a mesma palavra usada em Alateus. Embora sem esperanças de que Ismael continuasse vivo, a mãe tomou o cuidado de que pelo menos ele pudesse estar à sombra ao exalar o último suspiro; isso era tudo o que ela podia fazer por ele.
Gn.21:16 16. Foi sentar-se defronte. O fato de Agar se afastar de Ismael sugere que a sede o fazia delirar. Sua presença imediata só aumentaria seu sofrimento, sem aliviar o do filho.
Gn.21:17 17. Deus, porém, ouviu a voz domenino. A palavra heb. traduzida por “voz” pode significar palavras audíveis ou não, pronunciadas em oração ou desespero, ou pode se referir apenas a seus gemidos e respiração ofegante. A mesma palavra hebraica também é usada para descrever o barulho de um trovão, o farfalhar de folhas, o balido de cordeiros e o sonido de uma trombeta (ver Êx 20:18; ISm 15:14; 2Sm 5:24). Seja como for, Deus o ouviu e enviou Seu anjo a Agar com palavras de encorajamento e um remédio para a dor do rapaz.
Gn.21:18 Sem comentário para este versículo
Gn.21:19 19. Abrindo-lhe Deus os olhos.A atenção de Agar foi dirigida a um poço nas imediações, que estivera lá o tempo todo. O poder divino não produziu água, mas visão clara. Os poços do deserto, na Palestina, eram buracos no solo artificial mente alargados, onde se empoçava a água de fontesnaturais e cuja abertura era ocultada por pedras a fim de impedir que animais perdidos caíssem neles. Agar simplesmente não sabia da existência desse poço em particular até que providencialmente sua atenção foi dirigida a ele.
Gn.21:20 20. E se tornou flecheiro. Sob o contínuo cuidado de Deus, Ismael cresceu e se tornou caçador, atividade com a qual sustentou a si mesmo e à mãe.
Gn.21:21 21. No deserto de Parã. Esta região desértica fica entre o golfo de Áqaba e o golfo de Suez, ao sul de Cades-Barneia. Embora Agar provavelmente tenha visitado outra vez sua terra natal à procura de uma esposa para o filho, ela voltou para a região desértica do sul de Canaã. O próprio Deus provavelmente a dirigiu para o deserto de Parã a fim de que, ali, Ismael pudesse ficar livre da corrupção do Egito. A parte norte dessa região, além disso, estava incluída na terra prometida a Abraão. Talvez tenha sido com isso em mente que Agar escolheu fazer dali o lar deles.
Gn.21:22 22. Por esse tempo. Isto pode se referir aos eventos do capítulo anterior, à expulsão de Agar e Ismael ou ao casamento do rapaz.Deus é contigo. Havendo testemunhado a bênção do Céu sobre Abraão, primeiramente em Gerar e depois em Berseba, Abimeleque considerou vantajoso fazer uma aliança com ele: uma associação mais íntima com um homem tão próspero poderia beneficiá-lo também. A princípio, Abimeleque se considerara superior a Abraão, mas agora reconhecia que Abraão era infinitamente superior. Por isso, Abimeleque e o comandante de seu exército, Ficol, foram a Berseba a fim de fazer uma aliança com Abraão. Ficol pode ser um nome hebraico e seu significado seria “a boca de todos”, ou seja, aquele que, como comandante, dava ordens ao exército de Abimeleque; ou um nome filísteu de derivação desconhecida.O fato de Deus estar com alguém não permanece por muito tempo sem ser notadopor outros. A evidente bênção de Deus sobre Seus leais representantes produz respeito por eles na mente daqueles que lhes observam. Ao redor do mais humilde cristão existe uma atmosfera de dignidade e poder.
Gn.21:23 Sem comentário para este versículo
Gn.21:24 Sem comentário para este versículo
Gn.21:25 25. Abraão repreendeu a Abimeleque. Antes de concluir o tratado proposto, contudo, Abraão protestou contra a injusta apropriação de um de seus poços pelos homens de Abimeleque. Embora isso não seja especificamente declarado, o poço foi devolvido, nessa oportunidade, a Abraão (v. 28-30).
Gn.21:26 Sem comentário para este versículo
Gn.21:27 27. Fizeram ambos uma aliança. Onde quer que fosse, Abraão seguia a boa política de viver em paz com seus vizinhos (ver Jr 29:7; Rm 12:18). Havia formado uma liga com chefes amorreus - Manre, Aner e Escol - em Hebrom (Gn 14:13). Havia colocado o rei de Sodoma sob obrigação para com ele por sua generosidade (Gn 14:23). Agora estava pronto a fazer um tratado de amizade com um rei filisteu. As ovelhas e vacas aqui mencionadas provavelmente não foram um presente para Abimeleque, mas animais necessários para a conclusão cerimonial da aliança (ver com. de Gn 15:9-17). O verbo aqui traduzido como “fizeram” é o mesmo de 15:18, e significa, literalmente, “cortar”. Refere-se à divisão ao meio dos animais da aliança, entre cujas metades os participantes deviam passar. Esse costume comum entre povos semitas era praticado até nos dias de Jeremias (Jr 34:18, 19). Abraão e Abimeleque devem tê-lo seguido nesta ocasião.
Gn.21:28 28. Sete cordeiras. As cordeiras não foram usadas para a ratificação da aliança. Foram um presente amigável ou um pagamento pelo poço, que, embora cavado por Abraão, aparentemente estava no território de Abimeleque. A aceitação das cordeiras por parte de Abimeleque devia ser um “testemunho” (v. 30) dos direitos de Abraão sobre o poço em questão.
Gn.21:29 Sem comentário para este versículo
Gn.21:30 Sem comentário para este versículo
Gn.21:31 31. Berseba. Como recordação do pacto de amizade, Abraão chamou ao lugar Berseba,que significa “poço de juramento” ou o “poço de sete”. Não se sabe se o número sete estava incluído na antiga cerimônia de aliança. No hebraico antigo, as palavras “sete” e “juramento”, pelo menos na escrita consonantal, eram idênticas. O fato de Abraão dar “sete” cordeiras a Abimeleque como testemunho de seu juramento pode indicar que a palavra “sete”, shebd, tinha alguma ligação com o ato de jurar, shabd. Contudo, uma vez que essa é a única ocasião na Bíblia em que aparece um presente de sete animais como confirmação de um juramento, não se pode ter certeza da validade dessa sugestão.Antigamente, Berseba era a cidade que marcava o extremo sul da terra de Canaã. A expressão “desde Dã até Berseba” (Jz 20:1; 2Sm 24:2; etc.) ou “desde Berseba até Dã” (iCr 21:2) representava todo o país. Berseba tem sido habitada sem interrupção desde os dias de Abraão e conserva seu nome antigo até hoje. Pertence ao Estado de Israel e cresceu muito em poucas décadas, passando de uma população de cerca de 84 mil habitantes, em 1972, para 186 mil, em 2010.
Gn.21:32 32. As terras dos filisteus. A declaração de que Abimeleque e Ficol “voltaram para as terras dos filisteus” após firmar pacto com Abraão, em Berseba, implica que a área ao redor desta cidade ficava fora dos limites reconhecidos da Filístia. Ao mesmo tempo, ela provavelmente estava sob o controle do príncipe de Gerar, no tempo de Abraão; do contrário, seria improvável que tivesse surgido a questão sobre a propriedade do poço.Esta é a primeira menção bíblica às “terras dos filisteus”. A maioria dos comentaristas modernos veem nessa declaração um erro histórico cometido por um autor de época posterior e afirmam que os filisteus só entraram na Palestina no final do século 13 a.C., muito depois do tempo de Abraão. Contudo, não há razão para duvidar da presença dos filisteus na Palestina durante o período patriarcal. Eles são mencionadosem documentos de Ugarit, cidade costeira do norte da Síria, antes do século 15 a.C. O fato de fontes egípcias mencionarem os filisteus pela primeira vez cerca do ano 1200 a.C. não é prova de que não estivessem estabelecidos na Palestina antes dessa época. Pode indicar apenas que não desempenhavam papel importante como o fizeram mais tarde, no tempo de Ramsés III, quando eles e outros “povos do mar” eram tão numerosos que, durante certo tempo, chegaram a ameaçar invadir o Egito (ver Êx 13:17).
Gn.21:33 33. Plantou Abraão tamargueiras. A palavra “bosque” (ARC), que lembra as práticas cultuais idolátricas da Palestina (Dt 16:21; Jz 6:26; etc.), parece dar a ideia de que Abraão plantou um bosque sagrado semelhante, o qual dedicou ao Deus verdadeiro. A tradução “bosque” para eshel, porém, é errônea. A palavra eshel, encontrada em formas semelhantes na língua árabe do sul, no egípcio, assírio e aramaico, denota uma variedade de tamargueira, arbusto oriundo de regiões semiáridas como o Neguebe. Tem crescimento lento, mas vida longa. Abraão provavelmente plantou essa árvore em particular com o propósito único de servir como memorial da transação referente ao poço. Árvores comemorativas ainda são frequentemente plantadas.Invocou ali o nome do Senhor.Como em outros locais, Abraão realizou um culto público (ver Gn 12:7, 8; 13:4, 18). O objeto de sua adoração era o “Deus Eterno”, literalmente, “o Deus da eternidade”, em contraste com as divindades pagãs, que são apenas criações daqueles que as adoram (Os 8:6). Abraão adorava a eterna Testemunha dos tratados, a eterna Fonte das bênçãos que o acompanhavam ao longo de sua vida, e o Pai imortal que nunca desaponta Seus filhos.
Gn.21:34 34. Morador na terra dos filisteus. Isto parece contradizer a implicação do v. 32 de que Berseba não pertenciaà terra da Filístia. Aparentemente, (1) a Filístia não tinha fronteiras fixas no lado do deserto e talvez Abimeleque a tenha reclamado como pertencente ao seu território, ou(2) Berseba estava situada na fronteira com a Filístia e Abraão deve ter muitas vezes colocado seus rebanhos nas pastagens que ficavam do outro lado da fronteira.Capítulo 22Senhor, porquanto fizeste isso e não Me negaste o teu único filho,
Gn.22:1 1. Depois dessas coisas. Cerca de 17 anos tranquilos foram passados em silêncio. Isaque era então um homem de 20 anos (ver com. de Gn 21:14; PP, 147). Fazia também 17 anos que Abraão tinha recebido sua última mensagem divina registrada. De repente, veio outra revelação, propondo o maior teste que poderia sobrevir a um ser humano.Tentou Deus a Abraão (ARC). A palavra heb. nissah, “tentar”, foi vertida de várias formas: (1) Quando um homem testa ou prova outro. A rainha de Sabá veio a Salomão para “prová-lo com perguntas difíceis”, que tinham o objetivo de revelar se sua sabedoria era mesmo tão grande quanto tinha a fama de ser (lRs 10:1). (2) Quando Deus experimenta, testa ou prova um homem (Ex 16:4; Dt 8:2, 16; 13:3; 2Cr 32:31). (3) Quando um homem coloca Deus à prova tentando obrigá-Lo a agir de acordo com suas próprias propostas. Isto é presunção, que é diferente de fé (Ex 17:2, 7; Nm 14:22; ls 7:12). Uma vez que a palavra “tentar” é hoje usada, de maneira geral, para expressar má intenção, a palavra “testar” ou a expressão “pôr à prova”, como na ARA, é preferível. Deus nunca “tenta” homem algum (Tg 1:13).Eis-me aqui. Esta visão ocorreu à noite (PP, 147) e foi a oitava ocasião em que Deus falou com Abraão (At 7:2; Gn 12:1; 13:14; 15:1; 17:1; 18:1; 21:12). As experiências prévias haviam ensinado Abraão a reconhecer a voz de Deus imediatamente, e ele estava pronto a responder. Esta breve conversaintrodutória consiste apenas de duas palavras no hebraico e, neste particular, difere de semelhantes ocasiões passadas.
Gn.22:2 2. Toma teu filho. Se essas palavras foram ditas vagarosamente, como é provável, Abraão deve ter sentido, em seguida, orgulho, medo e espanto. A repetição foi calculada por Deus para despertar a afeição paterna e preparar Abraão para a severa prova que logo sobreviria. Ao chamar Isaque de o “único filho” de Abraão, Deus deixara implícito que somente ele era considerado um herdeiro legítimo da promessa. Isso contrasta com a expressão de Gênesis 21:12 e 13, onde Deus chama Ismael de o “filho da serva”.À terra de Moriá. O nome Moriá aparece apenas duas vezes na Bíblia: aqui e em 2Cr 3:1. De acordo com esta última passagem, Salomão construiu seu templo no monte Moriá, ao norte da cidade de Davi e a leste do vale de Cedrom. A terra de Moriá, portanto, deve ter sido o território montanhoso que ficava ao redor de Jerusalém. O nome parece ter sido pouco comum.Oferece-o. O sacrifício de seres humanos, particularmente de crianças, era comum nos tempos antigos. Tanto a Bíblia quanto a arqueologia afirmam que os cananeus praticavam ritos dessa natureza. Portanto, a idéia de alguém sacrificar seu primogênito para uma divindade não era estranha para Abraão. Embora Deus tenha explicitamente proibido esses sacrifícios (Lv 18:21), não é certo seisso estava claro para Abraão. Na verdade, somente com base na pressuposição de que ele não conhecia a proibição a esse respeito é que podemos explicar o fato de não haver protestado contra a ordem de Deus para que oferecesse o filho.
Gn.22:3 3. De madrugada. Abraão parece que tinha o hábito de se levantar cedo (ver Gn 19:27; 21:14). Ele era um homem de ação e, diante do que Deus havia falado, seu único pensamento foi a obediência imediata. De qualquer forma, como poderia ele dormir tendo na mente o peso dessa mensagem'? Não confiando em si mesmo se ousasse se demorar mais e temendo também a possível oposição e interferência de Sara, ele decidiu partir imediatamente para o monte designado.No supremo teste de uma vida longa e ativa, Abraão obedeceu sem fazer uma única pergunta, sem oferecer uma única objeção e sem buscar conselho humano. Em questões que envolvem princípios, o cristão maduro só pede uma clara percepção do dever. Sua cooperação brota de um coração transbordante de amor e devoção. Ele vive como que na própria presença de Deus, sem que considerações humanas diminuam sua percepção da verdade e do dever. Contudo, nessa ocasião grande luta deve ter ocorrido no coração do “amigo de Deus”. Não quanto a se obedecería, mas quanto à confirmação divina de que seus sentidos e sua razão não o estavam enganando.Tendo preparado o seu jumento. A série de declarações tensas neste verso reflete admiravelmente a calma deliberação e o destemido heroísmo com que o patriarca prosseguiu na execução da ordem divina. Sua calma voz e as mãos firmes não traíram as emoções íntimas de um coração partido e sangrando. Tudo o que era necessário para a longa viagem foi rapidamente preparado de maneira sóbria. Não houve nenhum vestígio dos momentos de fraqueza do passado. Como um nobre herói da fé, tendo seu treinamento completado, Abraão respondeuimediatamente quando chamado a enfrentar a suprema prova. Esse foi o clímax de sua experiência espiritual. Ele serenamente se elevou a uma altura nunca igualada por outro mortal e se qualificou para a honra de ser chamado “o pai dos fiéis”.
Gn.22:4 4. Ao terceiro dia. Dois dias de viagem levaram os viajantes - Abraão, Isaque e dois servos - à terra de Moriá. Duas noites insones haviam sido passadas em oração. Levantando-se cedo na manhã do terceiro dia, Abraão contemplou o sinal divinamente apontado: uma nuvem de glória, indicando o monte no qual o sacrifício devia ser feito (PP, 151).
Gn.22:5 5. Esperai aqui, O solene dever que Abraão estava para realizar lhe pareceu sagrado demais para ser presenciado por outros olhos e ouvidos humanos. Ninguém poderia entender, a não ser Deus. Durante dois dias ele havia ocultado seus pensamentos e emoções. Isaque devia ser o primeiro a saber e o único a partilhar com ele esse momento de emoção e tristeza.Eu e o rapaz. Cada um dos três verbos da sequência a seguir está na primeira pessoa do plural. A tradução não reflete a fé profética implícita no hebraico. Literalmente, Abraão disse aos dois servos: “Eu e o rapaz - nós iremos até lá, nós adoraremos e nós voltaremos.” Embora não compreendesse o propósito de Deus, ele acreditava que Deus ressuscitaria Isaque dos mortos (Hb 11:19). Deus não havia feito uma promessa irrestrita de que Isaque seria seu herdeiro (Gn 21:12)? Abraão não esperava ser poupado do terrível ato de matar o próprio filho, mas cria que Isaque lhe seria devolvido. Dessa forma, falou em fé quando disse: “Voltaremos.” Apenas pela fé era possível não esperar voltar sozinho e, então, relatar aos homens que com as próprias mãos tirara a vida do filho e o oferecera a Deus (ver PP, 151, 152). E evidente a elevada estatura espiritual, não só na obediência inabalável, mas também na resoluta fé nas infalíveis promessas de Deus.Abraão morava em Berseba, perto de Abimeleque. Acredita-se que ele viajou para o monte Moriá pela rota através de Sefelá em vez de ir pelas montanhas de Judá, de onde ele tinha anteriormente saído, porque esse caminho mais lácil, era cercado pelas planícies dos filistcus, com quem ele tinha boas relações.
Gn.22:6 6. Caminhavam. Pai e filho começaram a subida em silêncio: Abraão, meditando e orando, e Isaque, ponderando a reticência incomum do pai com respeito à natureza e ao propósito da viagem. Quando os dois se viram a sós, a solidão estimulou Isaque a expressar sua perplexidade com respeito à ausência de um cordeiro.
Gn.22:7 7. Meu pai! Esta expressão carinhosa deve ter lacerado o coração de Abraão. Ao ser usada por Isaque, um jovem bem-educado de uma nobre família semita, esta forma de se dirigir ao pai significava seu desejo de fazer uma pergunta. Nenhum filho bem-educado ousaria fazer perguntas ou declarações na presença dos pais sem primeiro receber permissão para fazê-lo. Abraão deu essa permissão ao responder: “Eis-me aqui, meu filho!”Onde está o cordeiro? Esta pergunta direta somente expressava inocente admiração. Nada na narrativa sugere que Isaque fazia mínima ideia de que devia tomar o lugar do cordeiro que estava faltando. Sua pergunta foi feita com toda a simplicidade, sem suspeitas ou indevida curiosidade.
Gn.22:8 8. Deus proverá. A resposta de Abraão constitui um pronunciamento profético feito do cume da fé heróica ao qual sua alma havia se elevado. Por inspiração, essa resposta apontava tanto para o carneiro do v. 13 como para o Cordeiro de Deus, embora naquele momento ele não pudesse divisar nenhum dos dois. Exceto pela convicção de que estava fazendo a vontade de Deus e de que seu “único filho” lhe seria devolvido, a agonia de Abraão diante da ideia de se separar de Isaque teria sido insuportável. Apesar disso, a pergunta do rapaz deve ter partido o coração do pai. Será que Isaque compreenderia?
Gn.22:9 9. Edificou Abraão um altar. Ao chegar ao local onde séculos mais tarde estaria o templo, pai e filho ergueram um altar. Salém, a cidade de Melquisedeque, ficava a curta distância ao sul. Alas um pouco maisadiante, a noroeste, ficava a colina mais tarde conhecida como Gólgota.Amarrou Isaque. Quando tudo estava pronto e não restava mais nada exceto a colocação do sacrifício sobre o altar, Abraão, tremendo, contou a Isaque tudo o que Deus lhe havia revelado e, provavelmente, acrescentou a isso sua própria fé na devolução da vida a Isaque. E difícil imaginar o misto de sentimentos que encheu o coração do rapaz - espanto, terror, submissão e, finalmente, fé e confiança. Se essa era a vontade de Deus, ele consideraria uma honra dar sua vida em sacrifício. Sendo um jovem de 20 anos de idade, ele poderia facilmente ter resistido; em vez disso, encorajou seu pai nos momentos finais que precediam o clímax. O fato de Isaque compreender de seu pai a fé e de partilhar dela foi um nobre tributo à cuidadosa educação que recebera ao longo de sua infância e juventude. Isaque se tornou, assim, um tipo apropriado do Filho de Deus, que Se rendeu à vontade de Seu Pai (Alt 26:39). Em ambos os casos o pai entregou seu único filho.
Gn.22:10 10. Tomou o cutelo. Tendo colocado a vítima amarrada sobre a lenha, Abraão estava pronto para o último ato - imolar o filho e colocar fogo na pilha de lenha. Como um tipo do perfeito Cordeiro de Deus, Isaque não ofereceu resistência e não expressou nenhuma queixa (ver Is 53:7).
Gn.22:11 11. Bradou o Anjo do Senhor. Ao passo que no passado Deus havia falado diretamente a Abraão, agora enviou Seu anjo (ver At 7:2; Gn 12:1; 13:14; 15:1; 17:1; 18:1; 21:12; PP, 152).
Gn.22:12 12. Não estendas a mão. O patriarca havia demonstrado amplamente sua fé e obediência e havia satisfeito plenamente os requisitos de Deus. O Senhor não desejava a morte de Isaque; na verdade, Ele não estava interessado em qualquer sacrifício dessa natureza. Alas sempre desejou a obediência voluntária de Seus servos (ISm 15:22; Os 6:6).Até onde podiam ir a vontade e o propósito do pai e do filho, o sacrifício estava completo. Deu s considerou a devoção do coração deles como um dom muito mais aceitável a Seus olhos e recebeu a vontade em lugar do ato (Hb 11:17). A voz celestial também testifica da rejeição de sacrifícios humanos por parte de Deus (ver Dt 12:31; 2Rs 17:17; 2Cr28:3;Jr 19:5; Ez 16:20, 21). São sem base as asserções dos críticos da Bíblia no sentido de que os hebreus, como parte de sua ordem de culto regular, praticavam o rito de sacrifícios humanos, tão comum entre os cananeus e outros povos da Antiguidade. E verdade que em períodos de apostasia os judeus praticaram esse rito, mas isso foi em violação direta ao mandamento de Deus (ver SI 106:37, 38; Is 57:5; etc.).
Gn.22:13 13. Tomou Abraão o carneiro. Descobrindo o carneiro e aceitando-o como sinal adicional da providência divina, Abraão não precisou aguardar instruções de Deus quanto ao que fazer. Ali estava o cordeiro que Abraão dissera Deus proveria (v. 8). A lenha, o fogo e o cutelo não haviam sido levados inutilmente, nem o altar havia sido erigido em vão.
Gn.22:14 14. O Senhor Proverá. Lembrando-se agora de suas próprias palavras proféticas ditas a Isaque, Abraão deu ao local o nome cie Yahweh-jireh, “O Senhor proverá”. Esse nome, acrescenta Moisés, deu origem ao provérbio: “No monte do Senhor se proverá.” O significado do provérbio é obscuro. Obviamente evocava a expressão de fé de Abraão de que, no monte divinamente assinalado, o próprio Deus proveria um meio de salvação. Esse provérbio constituía uma expressão da esperança messiânica, quer seu significado fosse inteiramente claro para quem o citava ou não. Nesse local sagrado, no santo dos santos do templo de Salomão, habitou a glória de Deus, o sheki- nah. Também próximo desse monte ocorreu a rejeição e o sacrifício do Cordeiro de Deus pelos líderes judeus.
Gn.22:15 15. O Anjo do Senhor. Após o carneiro ser oferecido, o anjo falou novamente. Antes da experiência registrada no capítulo 22, Deus havia Se comunicado com Abraão sete vezes (ver com. do v. 1). Esta é a última revelação divina registrada, feita a Abraão. Deus aceitou sua lealdade e obediência e reafirmou as promessas feitas tantas vezes no passado.
Gn.22:16 16. Jurei, por Mim mesmo. O propósito de um juramento é confirmar o que foi declarado. As pessoas invocam a Deus para que seja testemunha de sua integridade. Uma vez que não há ninguém superior a Deus (Hb 6:13), Ele jura por Si mesmo (ver Is 45:23; Jr 22:5; 49:13; etc.). Ao Se comprometer assim, por amor ao homem, Deus segue um costume com o qual os homens estão familiarizados, a fim de convencê-los da confiabilidade de Suas promessas.
Gn.22:17 17. Possuirá a cidade dos seus inimigos. Entre as promessas dadas a Abraão, somente aqui se faz referência aos “inimigos” sobre quem sua descendência devia triunfar. Isso é provavelmente uma predi- ção de que seus descendentes seriam vitoriosos sobre os inimigos na futura conquista de Canaã. Pode incluir também o triunfo da verdade sobre os sistemas religiosos pagãos, isto é, a conversão dos pagãos através do esforço missionário dos filhos espirituais de Abraão.
Gn.22:18 Sem comentário para este versículo
Gn.22:19 Sem comentário para este versículo
Gn.22:20 20. Foi dada notícia a Abraão. Ummensageiro não identificado foi a Berseba com notícias sobre Naor, o irmão de Abraão que havia ficado em Harã. Essas notícias consistiam em uma breve lista genealógica dos descendentes de Naor. Ela é incluída aqui para mostrar a linhagem de Rebeca, que logo se tornaria a esposa de Isaque.Milca. Esta filha de Harã, que havia se casado com seu tio Naor (Gn 11:29), tivera oito filhos, mencionados nos versos seguintes. Isso não implica que Milca só havia pouco começara a ter filhos (ver com. deGn 11:30), mas que muitos anos haviam se passado desde que Abraão recebera notícias da família de Naor pela última vez.
Gn.22:21 21. Uz, o primogênito. Este nome aparece também na lista dos filhos de Arã (Gn 10:23), mas são duas pessoas diferentes.Buz, seu irmão. Juntamente com Dedã e Temã, Buz é mencionado como uma tribo árabe (jr 25:23). Eliú era um “buzita” (Jó 32:2, 6). A terra de Bâzu, nas inscrições assírias de Esar-Hadom, parece ter sido a área habitada por essa tribo. Não se tem certeza de que a tribo de Buz descendia do filho de Naor.Quemuel. Não é mencionado em nenhuma outra parte da Bíblia. El ouve, contudo, um chefe efraimita com este nome na época do Êxodo e também um levita no tempo de Davi (Nm 34:24).Pai de Arã. Este neto de Naor não é o ancestral dos arameus (ver com. de Gn 10:22). Contudo, talvez seu nome tenha sido dado em homenagem a Arã, filho de Sem.
Gn.22:22 Sem comentário para este versículo
Gn.22:23 23. Betuel gerou a Rebeca. Nada se sabe dos outros filhos de Naor; somente sobre Betuel, o filho mais novo. Betuel é importante por ser o pai de Labão e de Rebeca (ver Gn 24:15, 24, 47, 50; 25:20; 28:2, 5). O nome Betuel, literalmente, “habitação de Deus”, pode indicar que ele era um homem piedoso. A omissão do nome de Labão nesta lista sugere que ele ainda não era nascido.
Gn.22:24 24. Taás e Maaca. Exceto por seu nome, nada mais se sabe sobre Teba e Gaã. Talvez Taás tenha dado seu nome à região «s de Tachsi, no Líbano, que é mencionada nas Cartas de Amarna, e Maaca talvez tenha dado seu nome a uma região ao pé do monte Hermon (ver 2Sm 10:6, 8; lCr 19:7; etc.).O fato de cada um dos três descendentes de Tera — Naor, Ismael e Jacó - terem 12 filhos tem sido visto por eruditos da Alta Crítica como uma simetria fabricada artificialmente. Esses eruditos, no entanto, não explicam por que homens importantes como Abraão e Isaque não tiveram também 12 filhos.Capítulo 23
Gn.23:1 1. Tendo Sara vivido. Como a mãe de todos os crentes (Is 51:2; lPe 3:6), Sara é a única mulher cuja idade por ocasião de sua morte é mencionada na Bíblia. Isaque tinha 37 anos quando ela morreu (Gn 17:1, 17; 21:5).
Gn.23:2 2. Quiriate-Arba. Abraão havia se mudado novamente para seu antigo lugar de habitação, perto de Hebrom (Gn 13:18; 18:1). Depois de viver por quase 40 anos na terra dos filisteus (20:1; 21:31-34; 22:19), ele voltava então à terra de Canaã propriamente dita, fato que Moisés menciona de forma específica. Quiriate-Arba (Js 14:15; 15:13; 21:11), que significa “cidade de Arba”, recebeu o nome de um dos gigantes anaquins,que aparentemente a fundou. O nome Hebrom foi dado à cidade posteriormente.Lamentar Sara. Aparentemente esse foi o único rito de sepultamento observado por Abraão. Isto provavelmente se refere a um lamento formal: o sentar-se no chão e chorar na presença do morto. O lamento fúnebre mais tarde se transformou num elaborado ritual que incluía cerimônias como o rasgar as vestes, raspar a cabeça, usar pano de saco e cobrir a cabeça com pó e cinzas (2Sm 3:31; Jó 1:20; 2:12).
Gn.23:3 3. Falou aos filhos de Hete. Os habitantes da região são aqui chamados de os filhos de Hete ou os heteus (v. 10). Durante o primeiro período da residência de Abraão,quem possuía Hebrom eram os amorreus (ver com. de Gn 20:1). A objeção de eruditos da Alta Crítica à presença dos heteus no sul da Palestina numa época tão remota não é apoiada por achados arqueológicos de décadas recentes.Na verdade, é à luz das leis heteias que alguns detalhes ligados a essa história podem ser explicados (ver v. 11, 17; e M. R. Lehmann, em Bulletin of the American Schools of Oriental Research, fevereiro de 1953, 129:15-18).
Gn.23:4 4. Sou estrangeiro. A abordagem cortês de Abraão para com os heteus, o “povo da terra’’, é notável (v. 7, 12, 13). Ele admitiu francamente sua posição como um peregrino e não reivindicou nada da terra como sua por direito (ver Hb 11:13). Deus lhe havia prometido todo o território de Canaã. Com centenas de servos ele derrotara a força expedicionária aliada da Mesopotâmia (Gn 14). Os próprios heteus o reconheceram como um “príncipe poderoso’’ (Gn 23:6, KJV). Contudo, humildemente, Abraão não apresentou uma exigência a seus vizinhos; solicitou permissão para adquirir a posse de um terreno, não por direito, mas como um favor e por um preço.Sepultura. Esta é a primeira sepultura mencionada na Bíblia. A cremação era praticada por muitas nações pagãs da Antiguidade, mas os hebreus preferiam o sepultamento. O desejo de alguém de ser enterrado em sua própria terra é comum a pessoas de todas as eras, raças e níveis culturais.
Gn.23:5 Sem comentário para este versículo
Gn.23:6 6. Tu és príncipe de Deus. Os heteus responderam amavelmente ao pedido de Abraão, correspondendo à cortesia deste. Recusando a avaliação que ele mesmo fizera de sua condição como “estrangeiro” (v. 4), eles o reconheceram como um “príncipe poderoso” (KJV; cf. NTLH, “chefe poderoso”). A expressão usada é literalmente “príncipe de Deus’, mas este é um idiomatismo hebraico bem conhecido que pode legitimamente sertraduzido como “príncipe poderoso” (KJV). No heb., semelhantemente, o Salmo 36:6 traz, literalmente, “montanhas de Deus”, e o Salmo 80:10, “cedros de Deus”, que a KJV verte como “grandes montanhas” e “grandes cedros”. Ao referir-se a Abraão como um “príncipe poderoso”, os heteus o reconheciam como um homem favorecido por Deus.Nenhum de nós te vedará. Eles aprovaram cordialmente o pedido de Abraão. No início, eles lhe ofereceram seus próprios locais de sepultura - um gesto verdadeiramente cortês.
Gn.23:7 7. Então, se levantou Abraão. A cortesia oriental, o tato e o processo de barganha são óbvios nos arranjos entre Abraão e os filhos de Hete. Abraão expressou sua apreciação inclinando-se, um gesto de gratidão comum no Oriente. Ao não encontrar nenhuma oposição à sua sugestão um tanto vaga, Abraão em seguida fez uma proposta concreta.
Gn.23:8 8. Intercedei por mim. Em típica maneira oriental, Abraão não fez sua petição ao próprio Efrom, mas solicitou aos anciãos da cidade que usassem sua influência para conseguir a propriedade desejada. Eles deviam ser seus intermediários na condução do trâmite. Esse procedimento resultaria na conclusão do acordo com mais rapidez e também evitaria mal-entendidos que de outra forma poderíam surgir. O bom nome de toda a comunidade asseguraria um trato justo e protegeria de críticas tanto Abraão quanto Efrom.
Gn.23:9 9. Macpela. Este nome tem sido explicado de várias formas. Alguns o têm interpretado como nome próprio; outros, como sendo descritivo de alguma peculiaridade da caverna. Vem da raiz kafal, “dobrar”, sugerindo que pode ter sido uma caverna dupla ou uma caverna com duas entradas. A primeira interpretação parece preferível . Nessa caverna foram depositados, sucessivamente, os restos mortais de Sara, Abraão,Isaque, Rebeca, Lia e Jacó (Gn 25:9; 49:31; 50:13). Faltou somente Raquel, da grande família patriarcal (35:19). Macpela tem sido identificada com duas cavernas, uma sobre a outra, que se encontram sob uma mesquita muçulmana numa ladeira próxima a Hebrom. O acesso a ela, proibido durante séculos, teve uma exceção em 1882 para o futuro rei George V, da Inglaterra, e seu irmão. Desde a Primeira Guerra Mundial, vários cristãos têm tido a oportunidade de visitar a caverna superior, que contém marcos de pedra os quais trazem os nomes de Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Rebeca e Lia. Tem-se como certo que essas lascas marcam o lugar real das tumbas na caverna inferior, que é cavada na rocha. Não se pode determinar se essa antiga tradição realmente corresponde aos fatos, até que seja permitido um estudo científico na caverna inferior.
Gn.23:10 Sem comentário para este versículo
Gn.23:11 11. Dou-te o campo. Todas essas transações eram feitas à porta das cidades (ver Gn 34:20; Rt 4:1). Falou Efrom, obviamente alguém da nobreza que estava presente e que então é mencionado por nome. Ele ofereceu a Abraão o campo que continha uma caverna, supostamente como um presente. Essa oferta segue um bom costume oriental que se tem mantido vivo em alguns lugares até hoje. Todo mundo sabia, é claro, que a oferta não devia ser levada a sério. Efrom não estava disposto a vender a caverna sem o campo.A razão para o desejo que Efrom tinha de vender a propriedade toda e não simplesmente parte dela está nas leis heteias (número 46 e 47), que permitem uma liberação do tributo feudal apenas se a propriedade toda for vendida, mas não se o dono se dispuser dela em partes. Portanto, se Abraão tivesse comprado apenas a caverna, o fardo de impostos de Efrom não teria sido aliviado, enquanto que a eventual compra da propriedade toda transferiría as obrigações feudais de Efrom para Abraão, o comprador.
Gn.23:12 Sem comentário para este versículo
Gn.23:13 13. Darei o preço. Reconhecendo na resposta de Efrom sua disposição de deixá-lo ter a caverna se comprasse o campo onde ela estava localizada, Abraão se inclinou novamente em gratidão. Ele, é claro, recusou-se a aceitar a propriedade de Efrom como presente, mas perguntou seu preço, declarando seu desejo de pagar por ela.
Gn.23:14 Sem comentário para este versículo
Gn.23:15 15. Quatrocentos siclos. Cerca de 4,5 kg de prata (ver com. de Gn 20:16). Efrom declarou então seu preço, dando a entender que aquilo era uma bagatela para um homem rico como Abraão. Embora o preço pareça razoável em termos de valores modernos, no tempo de Abraão deve ter parecido exorbitante. Os registros babilônicos revelam que campos comuns eram vendidos naquela época por quatro siclos por acre, e as terras mais férteis a 40 siclos por acre. Segundo o padrão babilônico, Abraão teria podido comprar um campo de 100 acres por essa soma de dinheiro. Embora não se saiba o tamanho do campo de Efrom, Moisés parece deixar a impressão de que Efrom tirou vantagem da situação difícil de Abraão para seu próprio proveito. Do contrário, Efrom não teria oferecido a Abraão, além da caverna, o campo (ver com. do v. 11).
Gn.23:16 16. Pesou-lhe a prata. Desejando evitar quaisquer sentimentos de inimizade, Abraão, como um semita à mercê dos heteus, pagou sem questionar, em vez de barganhar o preço. Naquele tempo, como hoje, esse procedimento era comum em todo o Oriente, e Efrom sem dúvida esperava que Abraão fizesse isso. Como um “príncipe poderoso”, um rico chefe nômade, Abraão deve ter achado que barganhar seria algo que rebaixaria sua dignidade ou talvez tenha escolhido deii- beradamente evitar adquirir a reputação de negociante astuto. Ele pagou tudo à vista, segundo os padrões comerciais costumeiros, como o indica a frase “moeda corrente entre os mercadores”.
Gn.23:17 17. O campo. São ciadas aqui algumas cláusulas do contrato, sem dúvida mais detalhadas no próprio documento de compra que foi lavrado. Muitos contratos contemporâneos semelhantes, procedentes do antigo lar de Abraão, Ur, e de outros locais da Mesopotâmia, apresentam um quadro claro da forma desses contratos. O título de propriedade de Abraão, sem dúvida, continha uma descrição exata do imóvel e de sua localização, além de mencionar as árvores e outras coisas que faziam parte dele, incluindo nesse caso a caverna. Se, por exemplo, as árvores não fossem especihca- mente incluídas, Efrom poderia reivindicar como sua a colheita delas a cada ano. Esse é mais um detalhe interessante que prova que os heteus estavam envolvidos na transação, uma vez que a menção do número exato de árvores na venda de cada imóvel é uma característica própria dos documentos comerciais heteus.
Gn.23:18 Sem comentário para este versículo
Gn.23:19 19. Sepultou Abraão a Sara. A caverna ficava localizada perto de Manre, onde Abraão havia morado antes do nascimento de Isaque. À vista do bosque que tinha sido o lar deles por tantos anos, onde haviam partilhado alegrias e tristezas, desapontamentos e esperanças, Abraão colocou sua amada esposa para descansar.Fronteiro a Manre. A expressão hebraica aqui traduzida como “fronteiro”, às vezes, deve ser entendida como “a leste de”. Ao dar instruções para se chegar a algum lugar, um hebreu geralmente falava como se ele mesmo estivesse de frente para o leste (ver Zc 14:8; jl 2:20; Dt 11:24). Manre não era outro nome para Hebrom, mas simplesmente outro local que ficava naquelas vizinhanças (ver Gn 13:18).Na terra de Canaã. Esta frase tem o objetivo de enfatizar, como no v. 2, que Sara encontrou seu último lugar de descanso numa terra que pertencia a Abraão, na prometida Canaã.Capítulo 24entre os quais habito;disse: Não comerei enquanto não expuser o propósito a que venho. Labão respondeu-lhe: Dize.e as pulseiras nas mãos.É o meu senhor, respondeu. Então, tomou ela o véu e se cobriu.
Gn.23:20 Sem comentário para este versículo
Gn.24:1 1. Era Abraão já idoso. Os eventos narrados neste capítulo ocorreram três anos após a morte de Sara (Gn 23:1), uma vez que Sara estava com 90 anos quando Isaque nasceu, e Isaque estava com 40 na época de seu casamento com Rebeca (25:20). Abraão estava com cerca de 140 anos de idade na ocasião (17:17).
Gn.24:2 2. Seu mais antigo servo. O servo de mais confiança na casa de Abraão era Eliézer (PP, 172, 173). Meio século antes, Abraão fizera uma tentativa de escolhê-lo como seu potencial herdeiro (Gn 15:2). Ele é então convocado por Abraão para uma missão importantíssima.Põe a mão por baixo da minha coxa. Esta antiga cerimônia que acompanhava um juramento solene é mencionada de novo só em Gênesis 47:29. Em ambos os casos as circunstâncias sugerem uma promessa que deve ser fielmente cumprida após a morte daquele a quem esta foi feita, isto é, para com sua posteridade. A morte de um não liberaria o outro do juramento. As explicações sobre esse costume variam entre os comentaristas, fiem sido considerado que, como a fonte da posteridade (ver Gn 35:11; 46:26; Êx 1:5), a palavra '“coxa” ou '‘lombos” (mesma palavra no heb.) aponta para os futuros descendentes de Abraão, em particular para Cristo, o Descendente prometido. Se assim for, o juramento, por assim dizer, foi feito em nome dAquele que viria. Outros intérpretes têm considerado que a coxa é símbolo de senhorioou autoridade, e o colocar a mão embaixo dela é um juramento de lealdade a um superior.
Gn.24:3 3. Tomarás esposa. Embora Abraão ainda viveria outros 35 anos (cf. Gn 25:7, 20), ele parece ter se sentido bastante enfraquecido nessa época (v. I). A autoridade dada a Eliézer na escolha de uma esposa implica uma notável submissão por parte de isaque, que já estava com 40 anos de idade. Nos tempos antigos, como no Oriente hoje em dia, os pais escolhiam os cônjuges para os filhos e faziam os arranjos para o casamento. Isso de forma alguma implicava que os desejos dos próprios jovens eram ignorados (ver v. 58, 67; PP, 171). A longa demora no planejamento do casamento de Isaque provavelmente se deveu ao desejo de Abraão de evitar tomar para ele esposa cana- neia, e também ao fato de que até então ele não tinha achado conveniente procurar uma que fosse de Harã (ver v. 3-6). A morte de Sara talvez tenha acrescentado um senso de urgência ao assunto.Dos cananeus. Cônscio da crescente licenciosidade e idolatria dos cananeus, e de sua iminente destruição, Abraão desejava preservar a pureza da descendência prometida. Sua própria experiência com Agar bem como as experiências de Ló e Ismael haviam lhe ensinado o perigo de alianças com pessoas de formação pagã (PP, 174). Além disso, Deus já havia proibido os casamentos mistos com os cananeus, proibição que mais tarde foi incorporada à legislação mosaica (Êx 34:16; Dt 7:3).
Gn.24:4 4. À minha parentela. Não em Urdos caldeus, mas em Harã, ambas na Mesopotâmia. Embora não estivessem inteiramente livres da idolatria, os parentes de Abraão ali preservavam em algum grau o conhecimento e a adoração do verdadeiro Deus (ver Gn 31:19; Js 24:2; PP, 171). Portanto, uma nora de entre eles parecia muito preferível a uma que viesse dentre os cananeus.
Gn.24:5 Sem comentário para este versículo
Gn.24:6 6. Não faças voltar para lá meu filho. Abraão solenemente encarregou Eliézer de não permitir que Isaque fosse para a Mesopotâmia. Ele sentia que nem ele nem o filho estavam na liberdade de voltar para lá, nem mesmo para uma visita. Isso, associado a sua idade avançada (v. 1), provavelmente o influenciou a não ir pessoalmente conseguir uma esposa para o filho.
Gn.24:7 7. Enviará o Seu anjo. Essa terna expressão de confiança na direção divina revela a permanente convicção de Abraão de que ele e seus assuntos estavam sob a direção e proteção de Deus. A mesma certeza da direção divina dada a Eliézer foi mais tarde prometida ao povo de Israel (Ex 23:20) e à igreja cristã (Hb 1:14).
Gn.24:8 8. Ficarás desobrigado. Em vista da natureza sagrada e obrigatória de seu juramento, Eliézer sentiu justificável preocupação quanto a sua responsabilidade no caso de nenhuma mulher querer vir com ele para Canaã. Abraão assegurou-lhe que, uma vez que Deus havia dirigido as coisas até ali, Eliézer podia contar que Deus não o abandonaria. Ele podia partir confiante na conclusão bem-sucedida de sua missão. Mas, se por alguma razão, ocorresse o contrário, elei» podia se considerar livre de qualquer outra obrigação com respeito ao juramento, exceto quanto ao fato de que sob nenhuma circunstância devia ser permitido que Isaque fosse para Mesopotâmia procurar esposa. Abraão sem dúvida temia que Isaque pudesse ser tentado a permanecer na Mesopotâmia e, assim, frustrar o propósito divino.
Gn.24:9 Sem comentário para este versículo
Gn.24:10 10. Dez dos camelos. Sobre o uso de camelos domesticados no tempo de Abraão, ver com. de Gênesis 12:16. Abraão deixou todo o planejamento e a execução dessa missão ao encargo de seu servo de confiança, Eliézer. A declaração de que Eliézer levou “consigo de todos os bens dele [Abraão]” mostra que era um homem de experiência e bom senso. Ele estava com Abraão havia mais de meio século (ver Gn 15:2; 16:3).Rumo da Mesopotâmia. O termo hebraico aqui traduzido como Mesopotâmia é Arant—naharayim, literalmente, “Arã dos dois rios”. Esta terra, onde floresceu o reino de Mitani no tempo de Moisés, era chamada Naharina pelos egípcios. Fica no norte da Mesopotâmia, entre os rios Eufrates superior e Chabur.A cidade de Naor. Até cerca de 1930, pensava-se que este era apenas outro nome da cidade de Harã (ver Gn 27:43; 28:10). Contudo, tabuletas cuneiformes do século 18 a.C. trazidas à luz em Mari, uma cidade amorreía na região do Eufrates central, menciona Til-Nahiri, “a cidade de Naor”, como uma cidade da região de Harã. Portanto, “a cidade de Naor” não era a própria Harã, mas um povoado distinto, fundado por Naor, que recebeu seu nome (ver com. de Gn 11:31).
Gn.24:11 11. Hora em que as moças saem. Nada é dito sobre a viagem em si, que deve ter durado muitos dias, e Moisés continua a narrativa quando Eliézer chega ao seu destino. A caravana de dez camelos chegara ao poço que ficava fora da cidade de Naor, e os animais haviam se deitado a fim de descansar e aguardar que lhes fosse dado de beber. Desde a remota Antiguidade, era costume oriental que as mulheres tirassem água e a levassem para casa, em cântaros ou odres (Ex 2:16; ISm 9:11). Eliézer considerou essa ocasião uma boa oportunidade para observar as jovens da cidade candidatas a casamento, e decidir com respeito a uma esposa adequada para o filho de seu senhor.
Gn.24:12 12. Ó Senhor, Deus. Havendo sido criado na religião de seu senhor, e sendo, ele próprio, um firme crente no verdadeiro Deus, Eliézer silenciosamente orou por sabedoria, direção e sucesso. Esse servo de oração é um exemplo encorajador dos frutos do cuidado de Abraão pelas pessoas de sua casa (Gn 18:19). Essa oração, que é a primeira registrada na Bíblia, expressa fé infantil. Eliézer estava ciente da grande responsabilidade de voltar com uma mulher que trouxesse bênção e não maldição à casa de seu senhor, e que fosse uma apoiadora idônea para seu marido, e não alguém que contribuísse para sua ruína. Portanto, pediu um sinal que o guiasse em sua escolha. Uma vez que não era tarefa fácil tirar água suficiente para dez camelos sedentos, a condição proposta significava um verdadeiro teste de caráter. Eliézer desejava estar seguro de que a mulher que levaria até Abraão fosse naturalmente amável, pronta a ajudar e capaz de trabalhar.
Gn.24:13 Sem comentário para este versículo
Gn.24:14 Sem comentário para este versículo
Gn.24:15 15. Saiu Rebeca. Não por acidente, mas por providência divina, sua oração foi atendida antes de ter sido terminada. Essa não foi a única ocasião em que a resposta de Deus chegou tão prontamente (Dn 9:23; Is 65:24). Ele está sempre pronto a ouvir uma oração sincera pronunciada com fé. O significado do nome de Rebeca é obscuro (quanto a sua linhagem, ver com. de Gn 22:23).Trazendo um cântaro ao ombro. E hábito entre alguns povos orientais levar cântaros de água na cabeça, mas as mulheres palestinas e sírias os levam nos ombros.
Gn.24:16 16. Mui formosa. Moisés descreve Rebeca para seus leitores imediatamente após o aparecimento dela na narrativa. Como Sara (Gn 12:11) e Raquel (29:17), Rebeca era muito atraente. Sua virgindade é também enfatizada por repetição. Esta era verdadeiramente uma virtude importante para aquela que se tornaria a mãe de toda uma nação.Desceu à fonte. O poço era uma fonte natural, como o indica a palavra heb. ayin.As fontes geralmente se encontravam num wadi, o leito seco de uma corrente de águas sazonal, enquanto que as cidades eram construídas sobre pequenas colinas. Portanto, as pessoas necessariamente tinham de “descer” à fonte onde buscavam água.
Gn.24:17 Sem comentário para este versículo
Gn.24:18 Sem comentário para este versículo
Gn.24:19 19. Agua também para os teus camelos. Rebeca, a quem havia sido solicitado apenas um gole de água para um cansado viajante, imediatamente manifestou sua disposição amável. Seu oferecimento de tirar água para os camelos foi voluntário e não obedecia a ura costume. Demonstrava um genuíno desejo de ajudar a quem precisasse. Não se deve esquecer, contudo, que sua ama- bilidade foi utilizada na providência de Deus como evidência de que Ele a havia escolhido para ser a esposa de ísaque. O oferecimento feito por ela só poderia ser a resposta plena à oração de Eliézer se viesse como um reflexo natural de seu caráter.
Gn.24:20 Sem comentário para este versículo
Gn.24:21 21. O bomem a observava. Eliézer ficou tão fascinado pela prestimosidade natural de Rebeca que a deixou tirar água para seus dez camelos sem nem mesmo oferecer- -se para ajudar (ver Gn 29:10; Êx 2:17). Ele ficou surpreso pela precisão e rapidez com que a Providência havia atendido sua prece por direção. Hesitou momentaneamente; seria mesmo verdade? Da mesma forma, os discípulos custaram a acreditar quando Pedro, após ter sido libertado da prisão por um anjo, apareceu repentinamente diante deles. Embora estivessem orando pela segurança dele, foi-lhes difícil aceitar a resposta à oração quando ela veio (At 12:12-17).
Gn.24:22 22. Um pendente de ouro. Deve-se notar que este presente não era o dote de Rebeca, mas um sinal de gratidão da parte de Eliézer. Embora suspeitasse que ela se tornaria a esposa de ísaque, Eliézer ainda nem tinha conhecimento de seu nome, muito menos de sua relação familiar com Abraão. A palavra traduzida como “pendente” vem do heb. nezem, um anel para o nariz. Desde tempos antigos as mulheresbeduínas têm usado anéis nasais, na cartilagem de uma das laterais ou na parede central do nariz (ver Is 3:21; Ez 16:11, 12). Entre os bedu- ínos o anel nasal ainda é o anel de noivado costumeiro. O anel de ouro provavelmente pesava cerca de 6 g e os dois braceletes de ouro, entre 110 e 140 g. O valor somado das joias seria cerca de 10 mil dólares. Não é de admirar que Labão ficasse surpreso (v. 30)!
Gn.24:23 Sem comentário para este versículo
Gn.24:24 Sem comentário para este versículo
Gn.24:25 25. Lugar para passar a noite. Eliézer estava convencido de que a jovem que conhecera em circunstâncias tão surpreendentes era a escolhida por Deus para acompanhá-lo de volta a Canaã. A hospitalidade parece ter sido a prática comum no lar de Rebeca; do contrário, ela não teria se sentido na liberdade de convidar um estranho para ficar com eles.
Gn.24:26 26. Então, se inclinou. O fiel servo de Abraão não só orava por ajuda, mas também expressava gratidão ao recebê-la. Ele deu a Deus a glória pelo sucesso de sua missão. Eliézer é um exemplo notável do valor da religião familiar. Abraão nunca havia considerado sua religião meramente como costume particular, mas a havia vivido e ensinado (Gn 18:19), tornando os membros de sua vasta família participantes nos requisitos e privilégios da aliança divina (17:23). Eles haviam sido levados a crer no verdadeiro Deus e a imitar o exemplo de fidelidade de Abraão. As duas orações de Eliézer no poço da cidade de Naor evidenciam o valor do testemunho no lar.
Gn.24:27 Sem comentário para este versículo
Gn.24:28 28. Da casa de sua mãe. Várias explicações têm sido dadas para o fato de Rebeca ter ido para a 'casa de sua mãe” e não para a de seu pai: (1) Sua mãe era a cabeça da família. Isso não pode ser correto porque os homens da família decidiram o assunto (v. 31, 50-59). (2) O pai dela, Betuel, já havia morrido, e a pessoa com esse nome no v. 50 era um irmão mais novo. (3) Em muitos países orientais as mulheres têm residências separadas, e Rebeca naturalmente foi ali primeiro para contar suaexperiência. (4) A expressão “casa de sua mãe” na verdade significa “casa de sua avó”, segundo um costume semita comum pelo qual uma avó pode ser chamada de mãe. Uma vez que a avó de Rebeca, Milca, é mencionada repetidamente (v. 15, 24, 47), enquanto que a mãe não é mencionada nem uma vez, é possível que a última já tivesse morrido. Assim, talvez Rebeca residisse com a avó Milca, que, sendo viúva, tinha uma residência separada. A terceira sugestão parece ser a melhor explicação.
Gn.24:29 29. Labão. O “loiro”; provavelmente o irmão mais novo de Rebeca (ver com. de Gn 22:23). Seu caráter um tanto inglório, que se evidenciou posteriormente no trato com Jacó, se reflete no fato de que, ao ver os valiosos presentes que a irmã recebera, saiu correndo imediatamente ao encontro de Eliézer.
Gn.24:30 Sem comentário para este versículo
Gn.24:31 31. Bendito do Senhor. Embora fosse um idólatra (Gn 31:30), Labão também conhecia e praticava a adoração a Yahweli (PP, 171). O relato contado por Rebeca de seu encontro providencial com Eliézer, no poço, sem dúvida fez os irmãos se lembrarem da migração de Abraão para Canaã por decisão divina e das notícias sobre seu sucesso ali.
Gn.24:32 Sem comentário para este versículo
Gn.24:33 33. Não comerei. A cortesia oriental normalmente adiaria a transação de negócios até depois da refeição (ver LIomero, Odisséia, iii.69). Eliézer, contudo, considerava a incumbência tão urgente que não podia fazer pausa nem para comer, enquanto o assunto continuasse a pesar em seu coração e seu resultado permanecesse incerto. Sua manifesta diligência testifica que a confiança que Abraão depositava nele era plenamente justificada.
Gn.24:34 Sem comentário para este versículo
Gn.24:35 Sem comentário para este versículo
Gn.24:36 Sem comentário para este versículo
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Gn.24:38 Sem comentário para este versículo
Gn.24:39 Sem comentário para este versículo
Gn.24:40 Sem comentário para este versículo
Gn.24:41 Sem comentário para este versículo
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Gn.24:43 Sem comentário para este versículo
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Gn.24:48 Sem comentário para este versículo
Gn.24:49 49. Fazei-mo saber. Após repetir a história da prosperidade de seu senhor, do nascimento de Isaque, do juramento de procurar esposa para Isaque entre os parentes de seu senhor e da maneira providencial com que ele havia sido conduzido ao lar de Rebeca, Eliézer insistiu fervorosamente numa decisão imediata.Para sua viagem de 800 km, saindo dc Berseba, Eliézer pode Ler tomado a rota dc Sur (via Hebrom, Jerusalém c jerico), conectando com a Estrada Real. na Transjordânia; ou a que vai pela planície de Sarom para Megido, então para Damasco, atravessa o Antilíbano e desce o Orontes para Hamate, passa o Alepo e, então, segue para o leste até a junção dos rios Balik e Eufrates, e daí para o norte até o lar de Rebeca, na vizinhança de lí a rã.
Gn.24:50 50. Isto procede do Senhor. Em harmonia com o costume do Oriente, Labão e Betuel precisavam aprovar a proposta de casamento de Rebeca com Isaque. Uma vez que o Senhor já havia decidido o assunto, contudo, eles não tinham outra alternativa senão cooperar. No que lhes dizia respeito, a decisão de Yahweh não precisava ser mais discutida, e Eliézer estava livre para levar Rebeca para Canaã.
Gn.24:51 Sem comentário para este versículo
Gn.24:52 52. Prostrou-se em terra diante do Senhor. Esta é a terceira oração de Eliézer durante sua breve estada na cidade de Naor (ver v. 12, 26). Cada acontecimento da vida parecia ser para ele um motivo de oração - para pedir direção ou para agradecer. Pode se confiar num homem que confia em Deus. Todo crente será melhor sucedido se, como Eliézer, reconhecer a mão de Deus em tudo que faz.
Gn.24:53 Sem comentário para este versículo
Gn.24:54 54. Permiti que eu volte. Eliézer estava impaciente para completar a missão e assim relatar o sucesso a Abraão, para que a demora não causasse preocupações a seu senhor. Como se poderia esperar, os parentes de Rebeca ficaram perturbados com a idéia de uma separação tão repentina. Eles queriam tempo adequado para se prepararem para a partida da moça e poder fazer uma despedida apropriada. Segundo o costume orienta] isso sem dúvida incluiría vários dias de banquetes e festejos.
Gn.24:55 Sem comentário para este versículo
Gn.24:56 56. Não me detenhais. A insistência de Eliézer e a consideração que tinham por Rebeca levaram Labão a deixar a decisão com ela. Estaria ela disposta a se privar do prazer de alguns dias a mais no lar de sua infância, a fim de agradar o futuro marido e o futuro sogro? Sua resposta pronta e voluntária reflete maturidade de opinião, um espírito abnegado e reconhecimento de que dali em diante seu desejo devia ser para seu marido.
Gn.24:57 Sem comentário para este versículo
Gn.24:58 Sem comentário para este versículo
Gn.24:59 Sem comentário para este versículo
Gn.24:60 60. Sê tu a mãe. A família de Rebeca invocou sobre ela as bênçãos prometidaspor Deus a Abraão. Uma numerosa posteridade ainda é considerada pelos orientais como a maior das bênçãos, e este foi o principal desejo deles para a moça. Quanto ao anelo expresso de que sua descendência possuísse a porta de seus inimigos, ver com. de Gênesis 22:17.
Gn.24:61 Sem comentário para este versículo
Gn.24:62 62. Isaque vinha de caminho.Assim como ocorreu com a viagem de ida à Mesopotâmia, nada é dito sobre a viagem de volta para Canaã. Moisés passa imediatamente para a cena do recebimento de Rebeca em seu futuro lar. O evento ocorreu no poço que Agar havia batizado de Laai-Roi (Gn 16:14), no Neguebe, ao sul de Berseba (ver com. de Gn 12:9). Desde a morte de Sara, que havia ocorrido em Hebrom (23:2), Abraão aparentemente havia, mais uma vez, mudado seu local de habitação.
Gn.24:63 63. Saíra Isaque a meditar. O significado exato da palavra heb. suach, traduzida como “meditar” ou “orar” (ARC) é incerto. A idéia de meditação se encontra nas mais antigas versões não semitas deste texto, a LX.X e a Vulgata. As mais antigas versões semitas, o Pentateuco Samaritano e o Targum de Onkelos, traduzem a palavra como “orar”. Esta última tradução foi adotada pelo grande gramático judeu Kimchi, na Idade Média, por Lutero e outros expositores. O fato de Rebeca se tornar um consolo para Isaque enquanto ele ainda estava de luto pela morte da mãe (v. 67) levou alguns comentaristas a explicar o significado da palavra suach como sendo "lamentar”. Uma vez que o significado preciso da palavra é incerto, parece melhor aceitar as traduções adotadas pelas mais antigas versões disponíveis. E possível que Isaque estivesse meditando sobre um retorno seguro para Eliézer com sua futura noiva, ou orando por isso. E certo que ele estava aguardando o iminente retorno deles da Mesopotâmia. Sua futura felicidade dependería em grande medidado tipo de esposa que Eliézer trouxesse consigo. Seria de fato apropriado que ísaque se ajoelhasse e orasse pela bênção de Deus sobre seu novo lar. Maridos e esposas cuja união se dá em resposta à oração se tornam uma grande bênção um para o outro.
Gn.24:64 Sem comentário para este versículo
Gn.24:65 65. Tomou ela o véu. Rebeca estava aguardando ansiosamente para saudar ísaque, mas o costume de seu país não permitia que o noivo visse a face da noiva até o casamento ter sido concluído (ver Gn 29:23, 25). Além disso, sua modéstia foi revelada ainda de outra forma. Para encontrar seu futuro marido pela primeira vez, ela escolheu descer do camelo.
Gn.24:66 66. Contou a ísaque. Embora nada seja dito sobre Abraão, ele sem dúvida recebeu a nora da maneira mais amável, invocando muitas bênçãos sobre ela. O relato de como Eliézer encontrou Rebeca deve ter- -Ihe proporcionado muita satisfação. E fácil pensar que essa ocasião foi solenizada porAbraão num culto de ação de graças.
Gn.24:67 67. Até a tenda de Sara, mãe dele.Talvez nesse mesmo dia ou no dia seguinte ísaque tenha levado Rebeca para a tenda de sua mãe. Vazia por três anos, ela então se tornou a residência de Rebeca e suas servas. Isso implica que Rebeca assumiu o importante papel de Sara no lar de Abraão. A cerimônia de casamento de ísaque provavelmente consistiu de uma declaração simples, diante de testemunhas, de sua intenção de tomar Rebeca como sua esposa (cf. Rt 4:10-13).Ele a amou. ísaque tinha todas as razões para amar Rebeca. Ela não só era muito bela (v. 16), mas tinha uma disposição amável, alegre e delicada. Ela deve ter sido, falando de maneira geral, um modelo de virtude feminina (ver Pv 31:10-31; IPe 3:1-6; Tt 2:3-5). A cuidadosa educação de ísaque e seu espírito submisso já foram mencionados (ver com. de Gn 22:9). O lar deles deve ter sido muito feliz.Capítulo 25
Gn.25:1 1. Desposou Abraão outra mulher.Embora a solidão de Abraão após a morte de Sara o houvesse tornado consciente desua própria idade avançada (ver com. de Gn 24:1), ele ainda desfrutava notável força física e mental e viveu mais 38 anos após ofalecimento dela. O casamento de Isaque pode ter deixado Abraão ainda mais solitário do que antes e o levado a tomar outra esposa para tornar felizes seus últimos dias. O fato de essa nova esposa, Ouetura (que significa “incenso”), ser chamada de concubina, como Agar (v. 6), não implica que ele houvesse se casado com ela enquanto Sara ainda era viva, embora isto não seja impossível. O contexto, no entanto, transmite a impressão de que o casamento de Abraão com Quetura ocorreu após a morte de Sara.
Gn.25:2 2. Ela lhe deu à luz. Abraão estava com 137 anos de idade por ocasião da morte de Sara e com 140 por ocasião do casamento de Isaque. Aquele que abençoou o idoso patriarca com um filho aos cem anos de idade, agora lhe concedeu a alegria de ter outros filhos e filhas. Nada poderia tornar o ocaso da vida mais brilhante para o coração de um oriental do que estar circundado por uma família numerosa e feliz. Com uma única exceção, os filhos de Abraão por meio de Ouetura, até onde podem ser identificados, se estabeleceram na Arábia. Como Ismael, eles migraram para o sul e para o leste do Neguebe.Zinrã. Possivelmente significa “antílope” e talvez possa ser identificado com a cidade árabe de Zabram, entre Meca e Medina.Jocsã, Medã, Midiã. Embora nada se saiba sobre os primeiros dois filhos, a não ser seus nomes, a tribo de Midiã aparece com frequência tanto na Bíblia quanto em inscrições antigas. Essa tribo se estabeleceu no norte da península do Sinai e no noroeste da Arábia, do outro lado do golfo de Aqaba. Mais tarde, Moisés achou refúgio entre eles, na casa de Jetro, que adorava o verdadeiro Deus (Êx 2:15; 3:1; 18:1-6). Durante o tempo dos juizes, os midianitas atacaram repetidamente o povo de Israel (Jz 6 a 8).Isbaque e Suá. Isbaque pode ser identificado com o povo de Jasbuqu, mencionadoem inscrições cuneiformes. Suá parece ter sido o ancestral de uma tribo à qual pertencia Bildade, um dos amigos de Jó (Jó 2:11; 8:1; etc.). Se isso está correto, a tribo de Suá se estabeleceu no norte da Mesopotâmia, em vez de na Arábia, com os outros filhos de Ouetura. Os textos cuneiformes mencionam uma terra Súchu, ao sul de Carquemis, no Eu f rates.
Gn.25:3 3. Seba e a Dedã. Os descendentes de Jocsã, ou seja, Seba e Dedã, não podem ser identificados com as tribos do sul da Arábia que têm o mesmo nome e que são mencionadas em Gênesis 10:7, como procedentes de Cam. E inconcebível que Moisés tivesse atribuído a origem dessas tribos ao camita Cuxe, em uma passagem, e ao semita Abraão, em outra. A identificação deles é incerta.Assurim. Esta tribo é mencionada numa inscrição mineana do noroeste da Arábia. Das outras duas tribos de Dedã, os povos de Letusim e de Leumim, nada se sabe.
Gn.25:4 4. Os filhos de Midiã. Efá, filho de Midiã, aparentemente deu seu nome à tribo árabe que aparece em inscrições cuneiformes com o nome de Chajapâ. Os outros filhos ainda não foram identificados.
Gn.25:5 Sem comentário para este versículo
Gn.25:6 6. Enviando-os. Próximo ao fim de sua vida, Abraão nomeou Isaque como seu herdeiro (ver Gn 15:4) e legou a ele a maior parte de suas propriedades. Aos filhos de Agar e Quetura ele deu presentes. Em vista da grande riqueza de Abraão e de suas centenas de servos (ver Gn 13:2; 14:14), ele tinha condição de dar a cada um desses sete filhos vários servos e uma parte de seus rebanhos sem diminuir perceptivelmente a herança de Isaque. E presumível que cada filho tenha recebido o suficiente para começar bem a vida. O envio desses outros filhos “para a terra oriental” enquanto ele ainda era vivo foi uma precaução contra contendas depois de sua morte, particularmente com respeito ao direito de Isaque à terra de Canaã.
Gn.25:7 Sem comentário para este versículo
Gn.25:8 8. Expirou. Embora a KJV traga “rendeu o espírito”, o hebraico diz, literalmente, “expirou” (verv. 17; 35:29).Reunido ao seu povo. Ver com. de Gn 15:15.
Gn.25:9 9. Sepultaram-no Isaque e Ismael.Como o principal herdeiro de Abraão, Isaque é mencionado em primeiro lugar. O fato de Ismael, o meio-írmão mais velho de Isaque, participar do sepultamento do pai evidencia uma reconciliação entre eles (ver também Gn 35:29). Os filhos de Quetura não são mencionados, pois talvez seu distante local de habitação tenha tornado impossível que chegassem a tempo para o funeral em Hebrom.
Gn.25:10 Sem comentário para este versículo
Gn.25:11 11. Isaque habitava junto a Beer- Laai-Roi. Deus honrou Isaque como o herdeiro de Abraão e repetiu para ele as promessas e bênçãos outorgadas ao pai. Durante algum tempo após a morte de Abraão, Isaque continuou a residir em Laai-Roi, onde se passaram os últimos anos de seu pai e onde ele encontrou Rebeca pela primeira vez (Gn 24:62). Já havia transcorrido 35 anos desde esse memorável evento de sua vida, e seus filhos, Jacó e Esaú, estavam com 15 anos de idade (ver v. 26).
Gn.25:12 12. As gerações de Ismael. Aqui se inicia uma nova seção, em que Moisés faz uma breve descrição da família e do destino do filho mais velho de Abraão antes de prosseguir com seu tema principal, a linhagem de Isaque.
Gn.25:13 13. Os filhos de Ismael, pelos seus nomes. O v. 16 deixa claro que os filhos de Ismael deram seus nomes a divisões tribais e a localidades geográficas. Alguns são mencionados novamente na Bíblia ou são encontrados como nomes de localidades no norte da Arábia. Os seguintes podem ser identificados:Nebaiote; depois, Quedar. Estes também são mencionados juntos em Isaías 60:7. O nome de Quedar, sozinho, aparece em diversas passagens bíblicas (Is 21:16;Ez 27:21), identificando sua posteridade como uma tribo árabe.Abdeel. Mencionado apenas mais uma vez (lCr 1:29). Talvez seja Idibi-il, mencionado em inscrições cuneiformes do rei assírio Tiglate-Pileser III, como uma tribo situada perto da fronteira com o Egito.
Gn.25:14 14. Misma. Identificado com a tribo árabe Isamme, das inscrições do rei assírio Assurbanípal.Dumá. Provavelmente um oásis do norte da Arábia mencionado repetidamente em textos antigos. Seu nome moderno é El Djouf.Massá. Tem sido identificado com uma tribo do norte da Arábia chamada Masu, em inscrições cuneiformes da Mesopotâmia.
Gn.25:15 15. Hadade. Embora a KJV traga Hadar, os melhores manuscritos hebraicos trazem Hadad, forma que aparece nas inscrições cuneiformes como Chudadu. No hebraico, as letras equivalentes a “r” e “d” são muito semelhantes, e facilmente podem ser confundidas.Tema. E mencionado também em Jó 6:19 (Temá); Isaías 21:14; e Jeremias 25:23. Deu origem à moderna cidade de Teima, no noroeste da Arábia. Nos tempos antigos ela foi um importante centro de comércio e se tornou, por alguns anos, a residência do rei babi- lônico Nabonido, pai de Belsazar.Jetur, Nafis. Encontrados em 1 Crônicas 5:19 lutando contra as tribos transjordânicas de Gade, Manassés e Rúben. E provável que o nome Itureia, mencionado em Lucas 3:1 como uma região ao sul do monte Hermom, seja derivado de Jetur.
Gn.25:16 16. Acampamentos. Embora a palavra seja traduzida como “castelos” (ARC, KJV), o hebraico significa, literalmente, “acampamentos”.
Gn.25:17 17. Da vida de Ismael. A longa vida de Ismael, sem dúvida, deveu-se ao vigor herdado de seu pai Abraão. Sobre as expressões “expirou” (ARC, omitida na ARA) e “foireunido ao seu povo”, ver respectivamente o com. do v. 8 e de Gn 15:15.
Gn.25:18 18. Desde Havilá até Sur. A localização de Havilá é incerta (ver com. de Gn 2:11). Por essa razão não se pode determinar a extensão do domínio ismaelita na direção leste da Arábia. Sua fronteira a oeste era Sur (Gn 16:7; 20:1), que não fica longe da terra do Egito.Como quem vai para a Assíria. Isto não significa que o domínio ismaelita chegava até a Assíria, na Mesopotâmia, mas que se estendia para o norte indo naquela direção. Os ismaelitas, portanto, chegavam até a fronteira com o Egito a oeste e até Havilá a sudeste e se estendiam para o norte até certo ponto, avançando pelo deserto da Arábia.Ele se estabeleceu fronteiro a todos os seus irmãos. O verbo nafal, “cair”, que na KJV é traduzido como “morreu”, também pode significar “acampar-se”, como no caso de um exército (Jz 7:12, 13), e “dividir”, como no caso de uma herança (SI 78:55). Assim, a expressão “Ele morreu na presença de todos os seus irmãos” (KJV) deve ser traduzida em harmonia com a predição de Gênesis 16:12: "Ele habitará fronteiro a todos os seus irmãos.”
Gn.25:19 19. As gerações de Isaque. Moisés volta ao principal tema de sua narrativa, a história do povo escolhido. Alguns dos acontecimentos descritos nos versos subsequentes ocorreram durante a vida de Abraão. Uma vez que Abraão viveu até os 175 anos (Gn 25:7) e estava com 100 quando Isaque nasceu (21:5), ele devia estar com 160 anos por ocasião do nascimento de Esaú e Jacó (25:26), os quais, portanto, estavam com 15 anos quando morreu o avô. A morte de Ismael, com a idade de 137 anos (v. 17), ocorreu muito mais tarde, quando Jacó e Esaú estavam com 63 anos de idade. Ismael era 14 anos mais velho que Isaque (16:16) e, portanto, estava com 74 anos quando nasceram os dois filhos deIsaque. Mesmo estando cronologicamente fora de lugar, a nova seção ocupa um lugar lógico na narrativa porque é propósito de Moisés apresentar a história de Esaú e Jacó sem interrupções.
Gn.25:20 20. O arameu. A KJV traz “sírio”, mas a tradução correta é “arameu”, de acordo com o hebraico. Betuel, um dos netos de Tera (Gn 22:20-23), era, como Abraão, descendente de Sem através de seu filho Arfaxade (11:10-27), e não através de seu filho Arã, que foi o ancestral dos arameus (ver com. de Gn 10:22). Ele é chamado “arameu” aqui meramente porque a família de Tera havia se estabelecido em território arameu e foi gradualmente absorvida por esse povo. Moisés se refere tanto a Betuel quanto a Labão como arameus.Padã-Arã. A localização de Padã-Arã não é clara. A palavra ocorre apenas em Gênesis (28:2, 5-7; 31:18, etc.) e tem sido explicada como se designasse uma região que constituía parte de ’Aram-naharayim (ver com. de Gn 24:10). Pode também se referir a Harã, uma vez que Padan e Haran têm significados semelhantes na língua assíria.
Gn.25:21 21. Isaque orou ao Senhor. Como seu pai, Isaque aprenderia que os filhos da promessa não seriam simplesmente fruto da operação da natureza, mas também seriam, evidentemente, um dom da graça. Quando Isaque e Rebeca já eram casados havia 19 anos (v. 20, 26) e ainda continuavam sem filhos, Isaque fez do assunto objeto de oração. Ele escolheu confiar nas misericórdias de Deus em vez de confiar em seus próprios estratagemas, como Abraão havia feito (Gn 16:3). Sua confiança em Deus não foi exercida em vão, e ele também não teve de esperar muito tempo antes que sua fé se transformasse em realidade.
Gn.25:22 22. Os filhos lutavam. Rebeca ficou apreensiva tanto por sua própria segurança quanto pela das crianças. Perplexa, ela foi ao Senhor em busca de uma explicação.Apesar do que dizem alguns comentaristas, isso não implica necessariamente o uso e, muito menos, a necessidade de um intermediário. Alguns sugerem que ela buscou a intermediação de Melquisedeque, de Abraão e de Isaque. Mas, o mais provável é que ela simplesmente foi ao Senhor em oração. Por que parecería estranho que ela conversasse com Deus pessoalmente'? Ele não faz acepção de pessoas.
Gn.25:23 23. Duas nações. Um anjo revelou a Rebeca um pouco do futuro dos dois filhos que nasceriam (PP, 177). Parece que já estavam lutando pela supremacia. A predição do anjo se cumpriu na história posterior dos descendentes de Esaú e de Jacó, edo- mitas e israelitas, respectivamente. Essas duas nações irmãs sempre foram inimigas, e Israel geralmente se demonstrava a mais forte. Davi subjugou os edomitas (2Sm 8:14; IRs 11:16), e o rei Amazias mais tarde os derrotou (2Rs 14:7; 2Cr 25:11, 12). O rei hasmoneu João Hircano 1 finalmente pôs fim à independência deles no ano 126 a.C., quando os forçou a aceitar o rito da circuncisão e a lei de Moisés e a submeter-se a um governante judeu. O conhecimento que Deus tinha do caráter, respectivamente, de Esaú e de Jacó, bem como Sua presciência do futuro de cada um deles, tornaram possível Sua escolha de Jacó como o herdeiro do direito de primogenitura e como o progeni- tor de Cristo, mesmo antes do nascimento dos bebês (Rm 8:29; 9:10-13).
Gn.25:24 Sem comentário para este versículo
Gn.25:25 25. Ruivo. Eleb. admoni, provavelmente a raiz da qual foi derivado o nome Edom (ver também v. 30). A mesma palavra heb. é usada para descrever a aparência de Davi (lSm 16:12; 17:42). Ela é semelhante em significado à palavra latina Rufus, nome atribuído a dois homens do NT (Mc 15:21; Rm 16:13). O excessivo crescimento dos cabelos de Esaú, conhecido na medicina como hiper- tricose, que já podia ser notado por ocasião de seu nascimento, tornou-se posteriormentea característica mais significativa de sua aparência física.Por isso, lhe chamaram Esaú. Os pais concordaram que este nome era apropriado. O contexto levou alguns eruditos a sugerirem sua derivação de uma raiz desconhecida que significasse “estar coberto de cabelo’. Seu significado, contudo, não pode ser determinado com base nas informações disponíveis.
Gn.25:26 26. Por isso, lhe chamaram Jacó. A palavra heb. para “calcanhar'’, 'aqeh, está relacionada ao verbo aqab, “pegar pelo calcanhar”, figurativamente “enganar”. O nome pessoal de Jacó, que significa “ele agarra o calcanhar” ou “ele engana”, portanto, foi muito apropriado. Não apenas lembrava o incidente ocorrido em seu nascimento, mas era profético com relação a seu caráter e destino. Sobre a idade de Isaque na época do nascimento dos dois filhos, ver com. dos v. 19-21.
Gn.25:27 27. Esaú saiu perito caçador. A medida que os dois meninos cresciam, tornava-se evidente uma grande diferença de caráter. Esaú mostrava uma disposição rude, caprichosa e se divertia com a vida selvagem e aventureira do campo e das matas (ver Gn 27:3).Jacó, porém, homem pacato. A palavra heb. tam, aqui traduzida como “pacato”, sugere uma personalidade amigável, piedosa e polida. Os deveres e responsabilidades da tranquila vida familiar, que eram tão monótonos e irritantes para Esaú, eram naturais para Jacó, “homem pacato, [que] habitava em tendas”. Enquanto Esaú nunca superou a inquietude física e emocional próprias da adolescência, Jacó desenvolveu a estabilidade de caráter e a sensatez que acompanham a maturidade.
Gn.25:28 28. Isaque amava a Esaú. A cega parcialidade de Isaque por seu primogênito, sem levar em conta as qualificações de caráter do filho para a liderança familiar, trouxe divisão à família. Como resultado, afrontas, miséria e injustiça marcaram a relação entre os doisirmãos e seus descendentes durante séculos. A preferência de Isaque por Esaú parece ter se baseado, pelo menos em parte, em sua paixão pela carne de caça. A dimensão em que o patriarca deixou seu amor e seu senso de justiça e piedade serem controlados por seu apetite é surpreendente e desapontadora. Além disso, sua experiência se tornou uma advertência. Mostrar preferência a um filho sobre o outro inevitavelmente gera ciúmes, divisão, amargura e inimizade.
Gn.25:29 29. Um cozinhado. A diferença de caráter entre os dois irmãos logo ficou evidente numa situação singular que se tornou um ponto crucial na vida de ambos. Jacó havia feito um cozinhado de lentilhas (v. 34). As lentilhas vermelhas são, até hoje, um alimento favorito na Palestina, onde são preparadas com alho, cebola, arroz e óleo de oliva. Ocasionalmente também é acrescentada carne.
Gn.25:30 30. Que me deixes comer. O verbo traduzido por ‘comer” ocorre apenas nesta passagem e significa “comer com gula” ou “devorar”.Daí chamar-se Edom. De adom, “vermelho”. Não há discrepância em atribuir este nome tanto a sua aparência avermelhada (v. 25) como à cor das lentilhas. O nome era, assim, duplamente apropriado. Os árabes ainda gostam de dar sobrenomes como este a pessoas famosas. Os edomitas são mencionados mais frequentemente que os israelitas em inscrições egípcias e assírias. Em egípcio, o nome Edom aparece como Idivm e em textos cuneiformes como Udúmu.
Gn.25:31 31. Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Jacó conhecia a profecia do anjo quanto a si mesmo e seu irmão, feita antes do nascimento de ambos (ver v. 23; PP, 178). Agora tirou vantagem do que lhe pareceu ser uma oportunidade justa, embora incomum. Sob a legislação mosaica, os privilégios do primogênito eram: (1) sucessão à autoridade oficial do pai,(2) a herança de uma porção dupla da propriedade do pai, e (3) o privilégio de se tornar o sacerdote da família (ver Ex 22:29; Nm 8:14-17; Dt 21:17). Para a descendência de Abraão, o direito de primogenitura também implicava: (1) sucessão à promessa da Canaã terrestre e outras bênçãos da aliança, e (2) a honra de ser um dos progenitores do Descendente prometido.A proposta de Jacó foi inescrupulosa e desprezível. Revelou também espírito de impaciência, falta de confiança na providência soberana de Deus, semelhante à que foi manifesta por Abraão no casamento com Agar (Gn 16:3). As condições de venda impostas por Jacó eram exorbitantes, egoístas e indignas. A teoria de que os fins justificam os meios não tem a aprovação do Céu (ver Mt 4:3, 4; DTN, 121, 122). Deus não podia aprovar o ato, mas o usou para o eventual cumprimento de Seu propósito.
Gn.25:32 32. A ponto de morrer. Esta tradução deixa a impressão de que Esaú queria dizer: “Morrerei de fome se não obter comida imediatamente. Nesse caso, meu direito de primogenitura não me será de nenhum proveito. Portanto, me é melhor obter comida e continuar vivendo sem o direito de primogenitura do que morrer agora de posse dele.” Muitos comentaristas têm seguido essa linha de raciocínio. Outra explicação sugere que a expressão significa: “Mais cedo ou mais tarde vou morrer, de qualquer forma, e então não importará se possuo o direito de primogenitura ou não.” A última interpretação parece mais plausível à luz das palavras do v. 34, de que ele “desprezou [...] o seu direito de primogenitura”. Sendo indiferente às bênçãos que deviam ser suas, Esaú as considerou levianamente e, portanto, tornou-se indigno delas (PP, 181).
Gn.25:33 33. Jura-me. A conduta de jacó nesta transação é difícil de ser defendida. Sua atitude e suas palavras revelam premedi- tação (PP, 179). E um erro perigoso e, àsvezes, fatal adiantar-se à Providência e ir além dela, pois ela, no devido tempo e sem estratagemas humanos, realizará o propósito divino.
Gn.25:34 34. Desprezou Esaú o seu direito de primogenitura. Para Esaú, a única coisa de valor era a satisfação momentânea do apetite; as futuras bênçãos espirituais pareciam remotas e irreais. Nisso ele se demonstrou um “profano”, isto é, irreligioso (FIb 12:16), insensível às coisas espirituais. Não se importava com nada, exceto a gratificação de seus desejos sen- soríais. Como os animais irracionais, ele baseou suas decisões apenas em considerações sensoriais do momento. A extensão em que uma pessoa se dispõe a sacrificar os desejos presentes pelo bem futuro é uma medida adequada de sua maturidadeemocional e espiritual. Nessa base, apenas o cristão pode se tornar plenamente maduro, pois somente ele está pronto e disposto a abandonar tudo o que esta vida tem a oferecer para que possa ser considerado digno da vida por vir (ver 2Co 4:17, 18; Fp 3:7-15; At 20:24; Lc 20:34, 35; Hb 11:10). A maneira trivial com que Esaú vendeu seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas demonstrou sua inadequação para se tornar herdeiro das graciosas promessas de Deus. Embora a conduta de Jacó não possa ser aprovada, a de Esaú merece a mais severa condenação. Jacó se arrependeu e foi perdoado; Esaú estava além do perdão porque seu arrependimento consistiu apenas de tristeza pelos resultados do ato precipitado e não pelo ato em si (Hb 12:16, 17; PP, 181).Capítulo 26estrelas dos céus e lhe darei todas estas terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra;dizia ele consigo, os homens do lugar não me matem por amor de Rebeca, porque era formosa de aparência.
Gn.26:1 1. Sobrevindo fome. Uma fome semelhante à que ocorreu no tempo de Abraão (ver Gn 12:10). A região mais fértil de Gerar não era afetada pela estiagem como a região semiá- rida do Neguebe. (Sobre a presença de blisteus em Canaã nessa época, ver com. de Gênesis 21:32.) Não se sabe se Abimeleque e Ficol (Gn 26:26) eram as mesmas pessoas já mencionadas (20:2 e 21:22) ou se eram simplesmente títulos que significavam, respectivamente, “rei" e “comandante do exército”, embora a hipótese mais provável seja a última (ver com. de Gn 20:2; 21:22).
Gn.26:2 2. Apareceu-lhe o Senhor. Esta foi a primeira revelação divina concedida a Isaque que se encontra registrada. Várias promessas feitas anteriormente a Abraão foram então repetidas a ele (ver Gn 12:3; 15:5; 22:17, 18).
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Gn.26:5 5. Abraão obedeceu. A obediência do pai é aqui dada como a razão para as bênçãos que viriam sobre o filho. É também uma promessa implícita de que uma conduta semelhante da parte de Isaque traria resultados semelhantes. Tiago explica que a fé de Abraão, corretamente elogiada por Paulo (Rm 4:1-5), foi aperfeiçoada pela obediência (Tg 2:21-23). A confiança não é completa sem a obediência, nem a obediência, sem a confiança.Minha palavra. Cada vez que Deus falava, Abraão sempre obedecia sem demora (Gn 12:1-4; 22:1-3).Meus preceitos. O termo “preceitos” se refere às instruções dadas por Deus (iSm 13:13; lRs 13:21), por um pai (Pv 4:1, 4; 6:20), por um rei (lRs 2:43; 2Rs 18:36) ou por um professor (Pv 2:1; 7:1, 2). Um desses preceitos, o de andar com perfeição diante de Deus, havia sido dado a Abraão quando ele estava com 99 anos (Gn 17:1).Meus estatutos. Isto se refere às leis divinas, tanto cerimoniais (Ex 13:10; Nra 9:14; etc.) quanto morais (Dt 4:5, 8, 14; 6:24; etc.).Minhas leis. Instruções éticas bem como preceitos cerimoniais e espirituais (Jó 22:22; Is 8:16, 20).Este verso inclui a maioria das palavras hebraicas que se referem às leis ou mandamentos divinos. Abraão os observava diligentemente, quer viessem diretamente de Deus, quer tivessem sido transmitidos pelas gerações anteriores. Ele propôs implicitamente em seu coração obedecer a Deus; quando falhava, ele se aproximava de Deus tendo o sacrifício da contrição sobre o altar da fé (ver Hb 7:25; 8:1-4). Saiu de sua terra natal, ofereceu seu filho, realizou o rito da circuncisão e devolveu o dízimo. O mesmo certamente deve ter se aplicado aos aspectos da lei de Deus que não são especificamente mencionados em conexão com a história de sua vida. O próprio testemunho de Deus, dado aqui, torna certo, por exemplo, que Abraão era fiel na observância do sábado, como o era em outros assuntos, como a devolução do dízimo.
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Gn.26:7 7. E minha irmã. Como Abraão havia declarado que sua esposa era sua irmã (Gn 12:11-13; 20:2, 11), Isaque fez o mesmo; mas a maneira como Deus protegeu Rebeca foi diferente daquela em que Sara foi preservada. Ninguém chegou sequer a tocá-la. Esta experiência e outra (Gn 25:28) são os únicos casos registrados, na vida de Isaque, em que houve um desvio da estrita retidão. Talvez, envergonhado de sua própria conduta, Abraão não tenha advertido Isaque, relatando seus próprios lapsos nesse aspecto. O mais provável, porém, é que Abraão tenha contado a Isaque o que houve; mas, como acontece tantas vezes, Isaque teve de aprender a lição por si mesmo, através de uma amarga experiência. Geralmente, os pecados dos pais são perpetuados nos filhos. Mas as fraquezas hereditárias nunca deixam os filhos livres de responsabilidade pessoal por seus próprios erros (ver Ez 18:20).
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Gn.26:12 12. Cento por um. Embora os patriarcas vivessem, de maneira geral, uma vida seminômade, seus hábitos diferiam consideravelmente dos hábitos dos modernos bedu- ínos. Estes últimos não aram a terra nem possuem grandes rebanhos de gado e ovelhas, como era o caso dos patriarcas. Embora o vale de Gerar seja excepcionalmente fértil, um aumento de 100 por um na colheita de grãos representa talvez o máximo para a Palestina, onde o normal era de 30 a 50 por um, na época de Cristo (ver Mt 13:23). A bênção especial de Deus repousava sobre ísaque.
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Gn.26:15 15. Todos os poços. A crescente riqueza e a influência de ísaque despertaram a inveja dos filisteus, que procuraram prejudicá-lo. Os poços que os filisteus inutilizaram, o rei de Gerar havia solenemente garantido a Abraão para sempre (ver Gn 21:25-32). O acesso a poços é algo muito importante na parte sul da Palestina, que é desértica, e, sem eles, os que cuidam de rebanhos precisam procurar pastagens novas.
Gn.26:16 Sem comentário para este versículo
Gn.26:17 17. ísaque saiu dali. Como era apropriado a um servo de Deus, ísaque não contendeu; mudou seu acampamento para o leste da cidade, embora ainda estivesse no mesmo vale do qual Gerar tomava o nome.
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Gn.26:22 22. Partindo dali. Sendo amante da paz, ísaque não queria se envolver em problemas por causa dos poços que seus homens cavavam, então se mudava cada vez que seus direitos eram contestados. O terceiro poço novo parece ter sido cavado suficientemente longe dos hlisteus para que eles o deixassem em paz ali, e por essa razão ele é chamado Reobote, “espaços amplos ’. Essa fonte tem sido identificada com a atual er-Ruchebeh, que fica 32 km a sudoeste de Berseba, no Wadi Ruchebeh, que mantém até hoje o nome que recebeu de ísaque.
Gn.26:23 23. Dali subiu. Por uma razão desconhecida, ísaque se mudou mais para o norte depois de certo tempo e se estabeleceu em Berseba, onde Abraão já havia morado(Gn 21:33; 22:19). Ali Yahweh apareceu a ísaque à noite e renovou a promessa da aliança.
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Gn.26:26 26. Abimeleque. Por ocasião do tratado anterior, ísaque estava com cerca de três anos de idade (Gn 21:8, 22; ver também o com. de Gn 21:8). O segundo tratado foi feito aproximadamente 97 anos mais tarde (25:26; 26:34). E provável, portanto, que o Abimeleque de Gênesis 26:26 não seja a mesma pessoa mencionada em 21:22. Quando os caminhos de uma pessoa são agradáveis a Deus, até seus inimigos estarão em paz com ela (Pv 16:7). O novo rei de Gerar então propôs um tratado que na verdade era uma renovação do tratado original entre Abraão e o rei anterior de Gerar. Apesar da injustiça que ísaque havia sofrido nas mãos deles, ficou feliz, como um amante da paz, em fazer um novo pacto de amizade com Abimeleque. Pode-se imaginar como ísaque se sentiu quando Abimeleque descaradamente se gabou de sua própria justiça e honestidade no passado. Quando servos de Abimeleque arruinaram vários dos poços de ísaque e roubaram pelo menos dois deles, não houve violência devido apenas à pacífica retirada de ísaque. Embora ísaque não pudesse se esquecer dessas amargas experiências, não as mencionou. Ele tinha bom coração e espírito magnânimo. Embora isso não seja mencionado aqui, é presumível que animais tenham sido sacrificados e as cerimônias usuais tenham sido observadas (ver com. de Gn 21:27).
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Gn.26:33 33. Chamou-lhe Seba. Os servos de ísaque o informaram sobre o sucesso que tiveram em abrir um novo poço naquele mesmo dia, e ele deu a esse poço o nome de Seba, que significa “juramento”, em comemoração ao tratado com Abimeleque. A declaração “por isso, Berseba é o nome daquela cidade” não desacredita o fato de que Abraão já tinha dado exatamente esse nome ao local (Gn 21:31). Houve então uma razão adicional para manter o nome dado ao lugar havia um século. Da mesma forma como o tratadoentre Abimeleque e Isaque foi apenas uma renovação do tratado anterior, o nome Seba dado por Isaque ao novo poço foi uma reafirmação do nome já existente, Berseba.
Gn.26:34 34. Tendo Esaú quarenta anos de idade. Às dificuldades de Isaque com os filis- teus somou-se então uma aflição doméstica que lhe causaria profunda e duradoura tristeza. Esaú, que já havia demonstrado indiferença para com princípios religiosos, não viu razão para se aconselhar com os pais com respeito à escolha de uma esposa ou para fazer arranjos e conseguir uma entre seus parentes na Mesopotâmia. Quando estava com 40 anos de idade e seu pai com 100 (Gn 25:26), Esaú se casou simultaneamente, ou quase simultaneamente, com duas mulheres heteias. Ao fazê-lo, desafiou abertamente os princípios da orientação paterna, da proibição quanto ao casamento com pagãos e da monogamia.Os nomes das esposas de Esaú, bem como os dos pais delas, são semitas. Judite significa “a que é elogiada”, Beeri significa ‘meu poço”, Basemate significa “fragrância” e Elon, “o forte”. Esses nomes sugerem que as duas famílias heteias envolvidas deviam estar vivendo em Canaã já havia algum tempo e que haviam adotado a língua dos cananeus. Sobre a presença dos heteus no sul da Palestina nesse período remoto, ver com. de Gênesis 20:1.
Gn.26:35 35. Ambas se tornaram amargura de espírito. Essas duas mulheres, como o hebraico claramente o indica, se tornaram, literalmente, “amargura de espírito” para os pais de Esaú. Seus caminhos maus e perversos, sua religião idólatra e sua disposição frívola e profana trouxeram sofrimento a Isaque e Rebeca. Este mundo triste não conhece dor maior do que a trazida aos pais pelos próprios filhos.Capítulo 27para que eu coma e te abençoe diante do Senhor, antes que eu morra.Esaú. E o abençoou.que me será dado fazer-te agora, meu filho?mandou chamar a Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: Eis que Esaú, teu irmão, se consola a teu respeito, resolvendo matar-te,
Gn.27:1 1. Tendo-se envelhecido Isaque.Pelas considerações a seguir, Isaque devia estar com 137 anos quando ocorreu o incidente narrado neste capítulo. Esaú já havia se casado (v. 46) e isto se deu quando Isaque estava com 100 anos (ver Gn 26:34; 25:26). Mas, como se verá, os eventos registrados aqui devem ter ocorrido numa época muito posterior a essa. Jacó estava com 130 anos quando desceu ao Egito (47:9) e seu filho José, com 39. Isso fica claro pelo fato de que o último estava com 30 anos de idade quando entrou para o serviço do faraó (41:46) e pelo fato de que desde essa época haviam- -se passado sete anos de fartura e dois de fome (41:54; 45:6). Esses nove anos devem ser acrescentados aos 30, o que deixa José com 39 anos de idade. Logo, Jacó estava com 91 anos quando José nasceu. Isso havia ocorrido ao final dos 14 anos de serviço que Jacó havia prestado na casa de Labão (29:18, 27; 30:25). Portanto, Jacó estava com 77 anos quando fugiu para Harã. Uma vez que a fuga de Jacó provavelmente aconteceu logo após os eventos deste capítulo, e uma vez que seu pai Isaque estava com 60 anos deidade quando Jacó nasceu (25:26), a idade de Isaque em Gênesis 27 deve ter sido de cerca de 137 anos. Isaque viveu outros 43 anos até a avançada idade de 180 anos (35:28).
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Gn.27:4 4. Para que eu coma e te abençoe. Uma vez que seu meio-irmão Ismael, 14 anos mais velho (Gn 16:16; 21:5), havia morrido com a idade de 137 anos (Gn 25:17), as debilidades decorrentes da idade avançada podem ter sugerido a ideia de que sua própria morte estava próxima. Sem considerar as instruções de Deus quanto aos dois filhos antes do nascimento destes, e sem levar em conta o fato de Esaú ter trocado seu direito de primogenitura e ter se casado com mulheres cananeias, Isaque aparentemente persistiu em sua preferência por Esaú. Sendo que essa preferência era fortalecida por seu gosto pela caça (25:28), era natural que ele solicitasse carne de caça para comemorar a ocasião.
Gn.27:5 5. Rebeca esteve escutando. Quemotivos a impeliram a agir desta forma? Parecia-lhe que a escolha de Jacó por parte de Deus estava para ser frustrada. A intenção de Isaque era clara e era contrária àrevelada vontade de Deus. Aparentemente ela concluiu que nem a lógica nem argumentos o fariam mudar de ideia. Achando que Deus precisava urgentemente de seu auxílio, Rebeca tomou o assunto nas próprias mãos. Ela recorreu a um erro na esperança de consertar outro. Para ela, a crise parecia real e urgente. Isaque, supondo que estava em seu leito de morte, havia decidido transferir o direito de primogenitura para Esaú. Ao enviar Esaú ao campo para caçar, ele havia iniciado o processo de transferência que, quando completado, seria irrevogável. O que ela devia fazer? Estava em seu poder evitar o que parecia ser ura erro irremediável. Aquela era sua última chance de agir e, se ela a deixasse escapar, não haveria mais esperanças. Parecia impossível para ela abster-se de agir, quando estava em seu poder remediar a situação, e simplesmente confiar que Deus resolvería as coisas a Seu próprio modo e em Seu próprio tempo. Usando este processo de racionalização, ela procurou se convencer de que era justificado qualquer meio para assegurar o hm desejado. Não estaria ela ajudando Deus a realizar o propósito que Ele havia expressado tão claramente? E se para fazer isso ela pecasse, Deus não teria a obrigação de perdoá-la? Quando os homens decidem seguir um procedimento que não está de acordo com a mais estrita norma de justiça, seu tolo coração se obscurece. O branco parece preto e o errado parece certo. E toda vez que o que Deus claramente disse ser errado parece ser certo, é porque o poder hipnótico do tentador se consumou (Gn 3:6; Rm 1:21, 22; Is 5:20; Mq 3:2).
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Gn.27:12 12. Trarei sobre mim maldição.Rebeca silenciou o medo de Jacó de que a maldição do pai pudesse ser pronunciada sobre ele caso seu engano fosse descoberto; ela tomaria a maldição sobre si mesma. Ela estava tão decidida a alcançar seu objetivo quanto Isaque a alcançar odele. Determinada a conseguir o que parecia de supremo valor e que estava a ponto de lhe escapar das mãos, ela calcularia o custo depois — não naquela hora. No momento, só uma coisa importava. Estava tão segura do sucesso de seu estratagema que não temia a possibilidade de uma maldição.
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Gn.27:14 14. Ele foi. Jacó concordou com o plano da mãe e foi buscar os cabritos. Estes não eram da variedade europeia comum, cuja pele seria completamente inadequada para tal tipo de engano. Eram cabritos orientais, cujo pelo negro e sedoso era às vezes usado como substituto para o cabelo humano.A objeção de Jacó deixa claro que ele não estava tão preocupado com o fato de ser errado, mas com o risco de ser descoberto. A natureza humana degenerada se preocupa menos com o pecado do que com seus resultados. Somente o Espírito de Cristo pode comunicar ao ser humano um coração contrito, arrependido e intrépido para fazer o que é certo e disposto a confiar em Deus quanto aos resultados desse modo de agir (ver 2Co 7:10; Mq 6:8). Durante anos Jacó havia planejado como obter a cobiçada bênção, e agora ela estava para lhe escapar das mãos, mas bastou um pouco de persuasão por parte de Rebeca para transformar sua hesitação em ativa cooperação. Seus próprios desejos não santificados o tornaram uma vítima fácil das ciladas do tentador.
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Gn.27:19 19. Sou Esaú. A tarefa de convencer o pai não era fácil, e o sucesso não era garantido. Havendo anunciado sua chegada, Jacó foi confrontado com várias perguntas embaraçosas. Foi necessária uma mentira após a outra para a realização de seu objetivo. Ele disse que era Esaú e que a carne de cabrito era carne de caça; além disso, atribuiu sua rápida volta à suposta bênção de Deus.
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Gn.27:24 24. Es meu filho Esaú mesmo? O sentido do tato de Isaque devia estar seriamente afetado por sua debilidade ou pela idade. Por outro lado, sua audição era maisaguçada, e o fez suspeitar da voz de Jacó. Mas o cheiro do campo e da floresta que estava nas vestes de Esaú (v. 15) parecia confirmar o toque das mãos cabeludas do filho. Finalmente, o fragrante aroma da “saborosa comida” (v. 9) despertou seu apetite, e ele varreu da mente os receios. Não enxergava; mas deixou que o toque, o paladar e o olfato prevalecessem sobre a audição. O erro original que havia conduzido a este engano era do próprio Isaque. Além disso, ele delibera- damente havia levado avante seu plano de investir Esaú do direito de primogenitura em face de uma ordem divina em contrário; e, portanto, Deus permitiu que ele fosse enganado (ver lSm 28:6; lRs 14:1-6; At 5:1-11).
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Gn.27:27 27. E o abençoou. A bênção em si, como todos os pronunciamentos desse tipo (ver Gn 49; Dt 33), está em estilo poético hebraico, que consiste de cláusulas paralelas cuja dicção e gramática são peculiares à poesia. O cheiro do campo e da floresta nas vestes que Jacó usava sugeriu à mente do patriarca um quadro da futura prosperidade do filho. Isaque parecia vê-lo de posse da terra prometida e desfrutando plenamente das bênçãos associadas a ela. E feita menção especial do “orvalho do céu” porque nos países orientais, onde há tão pouca chuva, o orvalho é indispensável ao crescimento dos frutos da terra. Ele é frequentemente mencionado como uma fonte de bênção (Dt 33:13, 28; Os 14:5; Zc 8:12).
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Gn.27:29 29. Sirvam-te povos, jacó devia ser pre- eminente, não apenas sobre seus irmãos (no sentido mais amplo de todos os seus parentes), mas também sobre povos estrangeiros. Esta bênção abrange o conceito do domínio universal, que de fato era o plano original de Deus para Israel (ver Dt 4:6; 28:10; 2Cr 9:22, 23; SI 126:3; Zc 2:11; 8:22, 23; 14:16; PJ, 289, 290).
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Gn.27:32 32. Quem és tu? Jacó mal havia recebido a bênção e saído da presença do pai quando Esaú voltou. O choque deve tersido esmagador sobre Isaque. Mas, aparentemente, ele viu no incidente a intervenção da Providência e concluiu que qualquer outra tentativa de sua parte de agir contrariamente à vontade de Deus seria inútil. Ele sabia que não podia fazer isso; portanto, nem retiraria a bênção de Jacó nem procuraria lançar uma maldição sobre ele. Isaque deve ter percebido sua própria responsabilidade na triste situação. Por que colocaria a cu lpa em Jacó? Como Esaú havia agido independentemente dos pais na escolha de esposas, Isaque havia agido independentemente de Deus na tentativa de escolher seu herdeiro. Como Balaão, Isaque se viu impotente para desviar a bênção de Deus daquele que estava destinado a recebê-la (ver Nm 22:35; 23:8, 11, 12).
Gn.27:33 Sem comentário para este versículo
Gn.27:34 Sem comentário para este versículo
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Gn.27:36 36. Não é com razão que se chama ele Jacó? Quanto ao significado do nome de Jacó, ver com. de Gênesis 25:26. Esaú reclamou amargamente que Jacó já o havia enganado duas vezes. E verdade que ele, Esaú, havia vendido seu direito de primogenitura a Jacó; e reconheceu sua loucura tarde demais. Ele via então o que realmente era o ato de Jacó ao tirar vantagem dele: um roubo.
Gn.27:37 Sem comentário para este versículo
Gn.27:38 38. Uma única bênção, meu pai? E verdade que Deus tem ilimitadas bênçãos e está pronto a concedê-las liberalmente. Se Esaú tivesse compreendido que seu caráter defeituoso o desqualificava para receber a bênção, e que esta podia ser sua apenas por meio de uma mudança de atitude, as bênçãos de Deus a Abraão e Isaque poderiam ter sido dele também (ver jr 18:7-12). Mas não foi com isso em mente que Esaú falou. Ele cobiçou a bênção sem qualquer intenção de aceitar as obrigações que a acompanhavam. Como o filho mais velho na parábola do pródigo, invejosamente ele se opunha à concessão de privilégios ao irmão mais novo ( Lc 15:29).Levantando Esaú a voz, chorou. Em resposta à súplica adicional de Esaú: “Não reservaste, pois, bênção nenhuma para mim?” Isaque repetiu, em essência, a bênçãopronunciada sobre Jacó e disse a Esaú que não podia fazer nada mais por ele. Quando até seu pai, seu melhor amigo, pareceu se voltar contra ele, Esaú finalmente acordou para a terrível percepção de que Deus o havia rejeitado completamente. Suas lágrimas expressavam tristeza pela perda, mas não pela conduta que havia tornado essa perda inevitável. Suas lágrimas eram ineficazes porque ele já não era mais capaz de arrepender-se verdadeiramente (ver Hb 12:17). Como um abismo intransponível, seu caráter imperfeito se colocava entre ele e a percepção daquilo que agora lhe parecia ser de incomparável valor (ver jr 8:20; Lc 16:26; PJ, 271).
Gn.27:39 39. Então, lhe respondeu Isaque, seu pai. Comovido pelo desesperado lamento de seu amado filho Esaú, Isaque atendeu a seu apaixonado pedido. Uma vez mais Isaque falou, talvez por inspiração, desta vez sobre a futura sorte de Esaú. Esse pronunciamento, contudo, não é chamado uma ‘‘bênção”. Na verdade, foi uma maldição modificada.Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação. A tradução “Eis que a tua habitação será nas gorduras da terra e no orvalho dos altos céus” (ACF; ver KJV) é gramaticalmente possível. Segundo essa tradução, a “bênção” de Esaú parece ser, substancialmente, uma repetição da bênção temporal dada a Jacó. Mas há certas variações importantes, como a omissão da frase “fartura de trigo e de mosto” e do nome de Deus.Contudo, a preposição min (“de”) também significa “longe de”. O significado das palavras de Isaque, então, seria: Tua habitação será longe da gordura [exuberância] da terra, e longe do orvalho do céu. Isso indica que, em contraste com a terra de Canaã, o lar dos edomitas seria uma região infértil. A tradução da ARA está não só de acordo com a construção hebraica, mas é decididamente mais apropriada ao contexto e aos latos históricos: (1) E uma descrição adequada das características tristes e desérticasda Idumeia, o lar dos descendentes de Esaú. (2) Concorda com a declaração de Isaque de que todas as bênçãos já haviam sido concedidas a Jacó e evita fazê-lo contradizer- -se (v. 33, 37). Por fim, (3) explica o jogo de palavras feito com os termos “exuberância” e “orvalho”, que aqui descrevem uma condição que é precisamente o oposto do que se declara ser a sorte de Jacó (v. 28). E verdade que essa interpretação trata a preposição min, do v. 39, de maneira diferente da do v. 28. A fraseologia diferente dos dois versos, contudo, sugere que no v. 39 Isaque está fazendo um inteligente jogo de palavras. O fato de Isaque não mencionar aqui o nome de Deus pode indicar que este pronunciamento foi feito por sua própria autoridade e não por inspiração, como o que foi dirigido a Jacó.
Gn.27:40 40. Viverás da tua espada. O modo de vida e a ocupação dos edomitas eram bem adaptados ao seu país. Esta predição encontrou cumprimento na disposição feroz e guerreira dos edomitas, que ganhavam o sustento caçando e controlando pela força as rotas de comércio.Servirás a teu irmão. A promessa a Esaú abrangia uma luta perpétua e não totalmente inútil para libertar-se de Jacó. Isso foi uma repetição da predição divina feita antes do nascimento deles (Gn 25:23). A história dos filhos de Edom, em grande parte, confirma a servidão deles a Israel, a revolta para se libertarem e a reconquista por parte de Israel. Após um longo período inicial de independência, os edomitas foram derrotados por Saul (ISm 14:47) e mais tarde subjugados por Davi (2Sm 8:14). Apesar de uma tentativa de revolta no período de Salomão (IRs 11:14-22), eles permaneceram sujeitos ao reino de judá até o tempo de Jorão, quando se rebelaram (2Rs 8:20-22). Depois, foram subjugados novamente por Amazias (2Rs 14:7-10; 2Cr 25:11-14) e permaneceram em sujeição nos reinados de Uziase Jotão (2Rs 14:22; 2Cr 26:2). O controle de Elate, na entrada do golfo de Áqaba, equivaleu ao controle de todo o Edom. Foi só no reino de Acaz que os edomitas sacudiram permanentemente o jugo dos reis de Judá (2Rs 16:6; 2Cr 28:16, 17). Por fim, contudo, foram completamente vencidos por joão Hircano, em cerca de 126 a.C., compelidos a aceitar a circuncisão e absorvidos pelo estado judeu (Josefo, Antiguidades, xiii.9.1; xv.7.9). Num período ainda posterior, através de Antípater e Herodes, uma dinastia idumeia governou a Judeia, com a anuência de Roma.As predições de Isaque quanto a seus dois filhos cumpriram-se, assim, de maneira exata (Hb 11:20). A bênção sobre cada filho constituiu uma profecia. Embora Isaque estivesse sendo enganado quando falou sobre Jacó, o que ele disse não deixou de ser inspirado, e Jacó permaneceu abençoado (Gn 27:33). O fato de isso ter ocorrido não indica a aprovação divina sobre o ato de engano, pois Deus não depende de artifícios para realizar Sua vontade. Deus não ordenou o engano - agiu apesar dele. A bênção veio a Jacó, não por causa do engano, mas a despeito disso.Tanto os pais como os filhos agiram errado, e cada um, a seu próprio modo, sofreu como resultado disso. Os perpetradores do engano ficaram separados imediatamente e para sempre. Rebeca foi obrigada a enviar seu amado filho da casa do pai para uma terra estranha, para nunca mais voltar a vê-lo. Por causa de seu pecado contra o irmão e o pai, Jacó sofreu 20 anos de exílio, durante os quais ele próprio foi repetidamente enganado e desapontado. Além disso, saiu de casa total mente desprovido de bens. Isaque, através do sucesso do estratagema de Jacó, foi castigado por persistir em sua preferência por Esaú apesar da revelada vontade de Yahweh. Seria separado do filho que havia relegado e ter ia sempre diante de si o exemplo ímpio do filho que havia amadotão cegamente. Por seu desprezo de Deus e das coisas religiosas, Esaú perdeu para sempre os privilégios da liderança da família, que cabiam ao primogênito. E através de todas as contramarchas dos planos e paixões humanas, foi realizado o propósito de Deus.
Gn.27:41 41. Os dias de luto. O desespero de Esaú logo se transformou em ódio mortal contra o irmão. Mas, por respeito ao pai, decidiu poupá-lo da tristeza e vergonha do fratri- cídio tencionado. Pensando que a doença do pai terminaria numa rápida morte, adiou o 4 assassinato que havia planejado. E claro que ele não podia saber que o pai se recuperaria e viver ia outros 43 anos.
Gn.27:42 Sem comentário para este versículo
Gn.27:43 43. Retira-te para a casa de Labão. Talvez, em termos gerais, Esaú fosse popular entre os servos de Isaque. Havia outros que sabiam de seu plano. Quando Rebeca foi informada por um desses sobre a intenção de Esaú, aconselhou Jacó a partir, num exílio voluntário, por 'alguns dias”, pensando que a disposição vacilante de Esaú traria uma mudança de coração. Além disso, pela fuga Jacó estaria admitindo tacitamente seu erro e deixaria Esaú, aparentemente, de posse da propriedade do pai por ocasião do falecimento supostamente iminente deste.
Gn.27:44 Sem comentário para este versículo
Gn.27:45 45. Por que hei de eu perder? Se Esaú matasse Jacó, então o parente mais próximo deste estaria obrigado, pelo costume, a matar Esaú. Talvez Esaú arrazoasse que sua própria popularidade pessoal no acampamento o protegeria de tal eventualidade, particularmente após a morte do pai.
Gn.27:46 46. Aborrecida estou. A fim de obter o consentimento de Isaque para seu plano sem ferir o coração do idoso, por lhe falar sobre as intenções assassinas de Esaú, ela baseou sua proposta numa razão inteiramente diferente, mas legítima. Isaque consentiu prontamente, pois ele, como Rebeca, estava sofrendo com as esposas de Esaú (Gn 26:35).Capítulo 28I Isaque abençoa Jacó e o envia a Padã-Arã. 6 Esaú se casa com Maalate, filha de Ismael. 10 A visão da escada de Jacó. 18 A pedra de Betei.casa de meu pai, então, o Senhor será o meu Deus;
Gn.28:1 1. ísaque chamou a Jacó. Concordando com a proposta de Rebeca, ísaque tomou a iniciativa de mandar Jacó para Padã-Arã (ver com. de Gn 25:20). Quer soubesse ou não da trama de Esaú, ísaque percebeu que seria sábio que Jacó e Esaú ficassem separados até que a tensão em casa diminuísse.
Gn.28:2 Sem comentário para este versículo
Gn.28:3 Sem comentário para este versículo
Gn.28:4 4. A bênção de Abraão. A linhagem oficial da família deveria ser perpetuada através de Jacó. Consequentemente, as bênçãos repetidamente prometidas a Abraão foram então transferidas para Jacó (ver Gn 17:2-8; 22:16-18). Ele saiu de casa com o fardo da culpa, mas também com a bênção do pai.
Gn.28:5 5. O arameu. A KJV traz “o sírio”. Ver com. de Gn 25:20. Moisés deliberadamente coloca o nome de Jacó antes do de Esaú, uma vez que Jacó agora está de posse não só do direito de primogenitura, mas também da bênção de Abraão.
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Gn.28:9 9. Foi Esaú à casa de Ismael. Através da bênção dada a Jacó por ísaque e da instrução que lhe foi dada de tomar uma esposa dentre os parentes da família na Mesopotâmia, Esaú percebeu o profundo desagrado que seus pais sentiam em relação a suas esposas heteias. Sem dúvida com a intenção de agradar os pais, Esaú foi buscar uma esposa que pertencesse à família de seu avô Abraão, como Jacó foi instruído a fazer com relação à família de seu tio materno, Labão. Maalate ou Basemate (Gn 36.3), que ele tomou por esposa, era aparentada com ísaque da mesma forma que a esposa de Jacó, Raquel, era aparentada com sua mãe Rebeca. Esaú se casou com a sobrinha de seu pai; Jacó, com a sobrinha de sua mãe. Como diz o original, “foi-se Esaú a Ismael”(ARC) significa “foi Esaú à casa de Ismael”, porque Ismael havia morrido fazia 14 anos (ver com. de Gn 25:19; 27:1).
Gn.28:10 10. Partiu Jacó de Berseba. Jacó partiu em obediência ao desejo da mãe e à ordem do pai (ver Pv 1:8). Embora já tivesse 77 anos (ver com. de Gn 27:1), ele ainda respeitava os pais e se submetia à autoridade deles. Seu exemplo filial pode ser imitado por todo filho digno, sempre que essa conduta não esteja em conflito com a lealdade a Deus (Pv 6:20; Ml 1:6; Ef 6:1-3).E seguiu para Harã. O destino de Jacó era a famosa cidade às margens do rio Balikh, no norte da Mesopotâmia. Esta era a região onde Tera havia se estabelecido após sua migração de Ur (Gn 11:31). Por ocasião da visita de Eliézer, quase um século antes (PP, 188), a família de Betuel, incluindo Labão, estava morando na “cidade de Naor”, que não ficava longe de Harã (ver com. de Gn 24:10). Isto indica uma mudança da cidade de Naor para Harã depois de Rebeca ter deixado o lar paterno. O conselho de Rebeca a Jacó para que ele fosse diretamente para a cidade de Harã e não para Naor (Gn 27:43) mostra que, em Berseba, já se tinha notícias de que a família de Labão havia se mudado.
Gn.28:11 11. A certo lugar. No final do segundo dia, Jacó chegou às vizinhanças da cidade de Luz (v. 19), cerca de 80 km ao norte de Berseba. Ele escolheu não passar a noite dentro da cidade, por medo dos cananeus. O ódio por eles, sugerido por Josefo como a razão pela qual Jacó não entrou na cidade, provavelmente tem menos importância (.Antiguidades, i.19.1).Seu travesseiro. Literalmente, “a região de sua cabeça” ou “o lugar onde está a cabeça”. Jacó, portanto, tomou uma pedra e colocou-a “debaixo da cabeça” ou “como um apoio para a cabeça”. Um “travesseiro”, no sentido que damos à palavra, parece ter sido desconhecido para os antigos. Em muitas terras orientais as pessoas usavam e ainda usam um apoio feito de madeira, argila, pedra ou metal. Muitos exemplares antigos desses apoios foram preservados no Egito. Uma vez que todos eles eram feitos de material duro, era desnecessário um viajante carregar um travesseiro consigo. Uma pedra lisa serviria para esse fim. Portanto, não foi difícil Jacó dormir com a cabeça apoiada numa pedra. A pedra é mencionada aqui como antecipação para seu uso posterior na narrativa (v. 22).
Gn.28:12 12. E sonhou. Enquanto Jacó estava ali deitado, cansado, solitário e triste, seu coração se ergueu em oração a Deus (PP, 183). Este foi o contexto prévio de seu sonho. Somente depois de dois longos dias, durante os quais ele teve a oportunidade de refletir em seu comportamento e perceber seu próprio desamparo, foi que Deus lhe apareceu. Na providência divina, a demora é muitas vezes o meio para purificar a alma e levar uma pessoa a se lançar sem reservas sobre a misericórdia e a graça de Deus (ver DTN, 200, 380-382). A escada era símbolo visível da comunhão real e ininterrupta entre Deus, no Céu, e Seu povo, na Terra. Os anjos sobem para apresentar as necessidades humanas perante Deus e descem com promessas de divino auxílio e proteção. A escada parecia ter sua base na Terra, onde Jacó estava deitado, sozinho e desamparado. Em cima, no Céu, Se encontrava Yahweh. Apresentando-Se a Jacó como o Deus de seus pais, não só lhe confirmou todas as promessas feitas àqueles — a posse de Canaã, uma descendência numerosa e bênção a todos os homens (ver Gn 12:2, 3; 13:14- 17; 15:5, 7, 16; 17:2-6, 8, 16; 18:18; 22:17, 18; 26:3, 4, 24) — mas lhe garantiu proteção naviagem e retorno seguro à sua terra. Uma vez que o cumprimento dessa promessa para Jacó ainda estava muito distante, Deus acrescentou a firme certeza: “Porque te não desampararei, até cumprir Eu aquilo que te hei referido” (v. 15).
Gn.28:13 Sem comentário para este versículo
Gn.28:14 Sem comentário para este versículo
Gn.28:15 Sem comentário para este versículo
Gn.28:16 16. O Senhor está neste lugar. Esta declaração não evidencia, como alguns comentaristas sugerem, que Jacó tinha a concepção de que Deus aparecia só em certos lugares sagrados e de que ele havia, por acaso, encontrado um desses lugares. O que ela expressa é a surpresa e alegria de Jacó por haver descoberto que, ao passo que se imaginara sozinho, estava em realidade na própria companhia de Deus. A declaração foi, em certo sentido, uma autoacusação. Ele admitiu que fora a falta de fé que ocasionara seus pensamentos de desânimo. Foi quando se sentiu mais abandonado que ele descobriu Deus mais próximo e mais real do que nunca.
Gn.28:17 17. Quão temível é este lugar! Aqueles a quem é concedido o privilégio de uma revelação de Deus experimentam no coração um senso de profundo respeito e reverência. Sobreveio a Isaías uma convicção de culpa tão intensa que ele temeu por sua vida (Is 6:5). Experiência semelhante levou então a Jacó uma aguda percepção de sua indignidade e condição pecaminosa. Mas, apesar de seu repentino temor, ele sabia que o lugar era “a casa de Deus”, Beth-’Elohim, uma casa de paz e segurança.
Gn.28:18 18. Tomou a pedra. A pedra que fora seu travesseiro se tornou um monumento para comemorar a revelação que recebera de Deus. Derramou óleo sobre ela para consagrá-la como um memorial à misericórdia ali revelada (ver Êx 30:25-30). Esta “coluna” não serviu, de maneira alguma, como objeto de adoração. A adoração de colunas de fato existia entre os cananeus, mas era severamente proibida por Deus (ver Lv 26:1; Dt 16:22). Mais tarde, contudo, os israelitas violaram essa proibição divina e erigiram colunas como objetosde culto (ver lRs 14:23; 2Rs 18:4; 23:14; 2Cr 14:3; 31:1; Os 10:1, 2; Mq 5:13). Isso, porém, não significa que toda coluna erigida tivesse esse significado, como o demonstram os exemplos a seguir. Jacó erigiu outra coluna para firmar seu trato com Labão (Gn 31:45), e ainda uma outra serviu para marcar a sepultura de Raquel (35:20). Absalão mais tarde erigiu í» uma para perpetuar sua memória (2Sm 18:18).
Gn.28:19 19. Betei. Por tradução, “Casa de Deus”. Este nome foi posteriormente aplicado à cidade próxima, que nessa época era conhecida como Luz. O fato de o nome Betei ser primeiro aplicado somente ao lugar onde ficava o memorial de jacó, e não a Luz, fica claro a partir de Josué 16:2, onde os dois locais são claramente diferenciados. Outras passagens, contudo, citam Betei como o nome posterior da antiga cidade de Luz (ver Gn 35:6; js 18:13; jz 1:23). Essa mudança de nome só foi feita quando os israelitas ocuparam a cidade. Ela conserva o nome até hoje em sua forma árabe, Beitin.
Gn.28:20 20. Fez também Jacó um voto. Este é o primeiro voto registrado. Ao fazer um voto, a pessoa se compromete a cumprir certas coisas de forma específica. Uma vez que o cumprimento do voto de jacó dependia do poder de Deus, e pelo fato de ter sido feito a Deus, o voto tomou a forma de uma oração. Ele não foi feito com espírito mercenário, mas em gratidão, humildade e confiança.Se Deus. Esta expressão não implica que houvesse dúvidas na mente de Jacó quanto a se Deus cumpriría Suas promessas, ou que jacó estivesse impondo condições a Deus. Ele acreditou na palavra do Senhor, já que Deus havia graciosamente prometido estar com ele e abençoá-lo, ele, por sua vez. Lhe seria fiel (ver PP, 187, 188). Com profunda apreciação, os pensamentos de Jacó se voltaram para maneiras tangíveis através das quais ele poderia expressar sua devoção.E me der pão para comer. Jacó não havia hesitado em usar os meios maisdesprezíveis no esforço de garantir para si a parte maior da herança. Agora, no entanto, humildemente não pede nada mais que proteção, alimento, vestuário e retorno pacífico à casa de seu pai. Ele estaria contente em ter apenas as necessidades básicas satisfeitas. Seu desejo de riqueza, luxo, honra e poder tinha se perdido. Que lição de humildade e quão completamente Jacó a havia aprendido!
Gn.28:21 21. Então. Ele havia pensado em Deus como o Deus de seus pais. E claro que já fazia muito tempo que aceitara Yahweh como seu Deus. No passado ele havia dependido, em grande parte, da segurança da casa do pai. Mas, agora as circunstâncias tornavam necessária uma confiança pessoal e real em Deus de que não lhe faltaria o que, até então, ele tivera sem apreciar o valor. Não era uma questão de ir a Deus pela primeira vez, mas de passar a ter com Ele comunhão pessoal, madura e inteligente.Desse momento em diante Jacó deu evidências de lealdade a Deus. Rendeu-se ao controle divino e prestou a Deus a homenagem de um coração agradecido e amoroso. Ele fez um grande progresso durante os 20 anos entre Betei e Peniel. A graça reinava dentro dele, mas também havia conflito. Suas tendências para o mal permaneciam ativas e, por vezes, ele cedia rapidamente a elas. No entanto, os princípios corretos passaram consistentemente a ganhar o controle de sua vida, e ele voltou para Canaã com uma confiança madura em Deus. Sob a paciente disciplina aplicada por Deus, Jacó foi crescendo continuamente em fé até que, na grande crise de sua vida em Maanaim e Peniel, ele emergiu como “um príncipe para com Deus”.
Gn.28:22 22. E a pedra. Jacó declarou sua intenção de erigir naquele local um altar para a celebração do culto divino. Executou esse plano vários anos depois de retornar em segurança à terra de seu nascimento (ver Gn 35:1, 15).O dízimo. Abraão e Jacó compreendiam e praticavamadevoluçãododízimo (verGn 14:20).As palavras de Jacó implicam que este não havia sido seu hábito no passado. Talvez ele tivesse pouca coisa que lhe pertencesse de fato. Mas, pode ser que seu espírito ganancioso o havia levado a ser descuidado em dar o dízimo. Seja como for, ele fez o voto de, a partir dali, devolver fielmente a décima parte, não para ganhar o favor do Céu, mas em humilde e grato reconhecimento do perdão e do favor divino. Ele tornou sua promessa enfática, dizendo: “Certamente eu Te darei”, literalmente: “Dando, darei.” Em outras palavras, ele permaneceria sempre nessa prática. A julgar por sua futura vida de fidelidade e devoção a Deus, não há razão para se duvidar de que o voto tenha sido fiel mente cumprido. O fato de Deus abençoar a Jacó tão abundantemente nos anos posteriores é uma evidência de que ele foi fiel nesse aspecto (ver Ml 3:8-11). Aquele que por 77 anos provavelmente nãofora um fiel dizimista saiu de Canaã como um pobre fugitivo, sem nada, exceto um cajado na mão. Voltou, porém, 20 anos depois com muito gado, rebanhos, servos e grande família.Todo crente pode aprender uma lição vital com a experiência de Jacó. Em tempo « de crise e calamidade, deve considerar se as bênçãos celestiais não foram retidas devido à infidelidade na devolução do dízimo (ver Ag 1:6-11). A experiência de Jacó testifica que nunca é tarde demais para um novo começo nessa direção; naturalmente, não como um meio de obter o favor de Deus, mas como um sinal de amor e devoção a Ele. As bênçãos do Céu podem então descer sobre o crente sincero, como ocorreu no caso de Jacó. O grande objetivo de todo o trato de Deus com o ser humano é o desenvolvimento de um caráter que reflita o de seu Criador.Capítulo 29povo do Oriente. daquele poço davam de beber aos rebanhos; e
Gn.29:1 1. Pôs-se Jacó a caminho. Literalmente, “Jacó levantou seus pés e foi”. Isto implica ânimo e reflete o estado de espírito promovido pela experiência do dia anterior. Assim fortalecido em espírito, Jacó prosseguiu em sua jornada para a “terra do povo do Oriente”, que nesse caso se refere à alta Mesopotâmia, a leste do rio Eufrates. O termo também incluía a parte superior do Deserto da Arábia. Na Bíblia os povos “do Oriente” são os que moram na Mesopotâmia ou no deserto que fica em sua vizinhança imediata. Parece que os hebreus se contentavam com expressões aproximadas de direção. “Oriente” poderia significar qualquer direção entre o nordeste e o sudeste.
Gn.29:2 2. Um poço. Após uma viagem de cerca de 700 km, que requerería cerca de três semanas, Jacó chegou às proximidades de Harã (v. 4). A observação de que a pedra que tapava a boca do poço era grande não significa que era necessária a força unida de todos os pastores para removê-la, pois Jacó fez isso sozinho (v. 10). Antes, sugere um acordo entre os pastores de levarem juntos seus rebanhos para dar-lhes de beber. A cena junto ao poço está tão plenamente em harmonia com os costumes do Oriente, tanto antigos quanto modernos, que a semelhança desta narrativa com a descrita em Gênesis 24:11 não é de forma alguma estranha. Além disso, este poço era construído de maneira diferente daquele onde Eliézer encontrou Rebeca. Nesse, a água era tirada imediatamente de um poço aberto e despejada em cochos já dispostos para o gado, como na maioria dos poços do Oriente hoje em dia. Ao passo que, neste caso, o poço era fechadocom uma pedra e não se faz menção alguma da necessidade de jarros e cochos.
Gn.29:3 Sem comentário para este versículo
Gn.29:4 4. Donde sois? A pergunta de Jacó implica que o poço não se situava na vizinhança imediata de Harã. Ao saber que eles eram de Harã, Jacó perguntou sobre “Labão, filho [descendente] de Naor”. Labão na verdade era neto de Naor (Gn 24:15, 29). Os pastores, cujas respostas até então haviam sido breves, uma vez que Jacó era um estranho, falaram da iminente chegada de Raquel. O nome Raquel significa “ovelha”.
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Gn.29:8 Sem comentário para este versículo
Gn.29:9 9. Chegou Raquel. Aparentemente não era costume que as moças fossem mantidas em casa até a época próxima ao casamento. Nem tampouco era ofensivo à dignidade das moças de famílias ricas a atividade de buscar água no poço, como Rebeca fazia; ou cuidar de ovelhas, como Raquel estava fazendo nesse caso. O trabalho honesto, longe de ser descrédito, é honra, tanto para nobres quanto para humildes. Cada filho e filha deve aprender que o trabalho não é humilhante, mas que é um privilégio ajudar nas necessidades da família.
Gn.29:10 Sem comentário para este versículo
Gn.29:11 11. Jacó beijou a Raquel. O fato de Raquel não considerar a conduta de Jacó como uma liberdade indevida sugere que ele já lhe havia revelado sua identidade. As primeiras palavras do v. 12 também poderiam ser traduzidas como: “Jacó havia contado a Raquel”, tradução permitida pela construção hebraica.
Gn.29:12 12. Parente de seu pai. A ARC, seguindo o original, traz “irmão de seu pai”. Como Ló é chamado irmão de Abraão, embora na realidade fosse seu sobrinho (Gn 13:8; 14:14, 16), Jacó refere-se a si mesmocomo irmão de Labão. Aparentemente, em casos nos quais a exatidão não era importante, a palavra “irmão” era empregada para indicar um parente próximo.
Gn.29:13 13. Contou Jacó a Labão. Agora Labão reage à chegada de um parente próximo da mesma forma que por ocasião da chegada de Eliézer, 97 anos antes (Gn 24:30, 31). A mesma cordialidade e hospitalidade são evidenciadas. “Todas estas coisas” (ARC) provavelmente se refere ao que sua mãe o havia instruído a dizer para atestar seu parentesco e sobre a causa e os objetivos de sua saída do lar paterno. Se não tivesse contado a verdade, como ele poderia ter explicado sua evidente pobreza? Por que, sendo filho de pais ricos, chegaria a Harã a pé e sem presentes nem servos? Bem diferente havia sido, tanto tempo atrás, a chegada do servo de Abraão.
Gn.29:14 Sem comentário para este versículo
Gn.29:15 15. Qual será o teu salário? Depois de ficar como hóspede na casa do tio por um mês (v. 14), durante o qual ele parece ter-se demonstrado útil, Labão reconheceu em Jacó um valioso assistente. Tendo uma disposição obviamente cobiçosa, Labão decidiu explorar a habilidade e diligência de Jacó para sua própria vantagem. Mas, para que Jacó não discernisse seus motivos, Labão cuidadosamente ocultou seu egoísmo sob a aparência de justiça e bondade. Para evitar todas as possíveis reivindicações por parte do sobrinho, propôs pagar-lhe o que pagaria a um servo comum.
Gn.29:16 Sem comentário para este versículo
Gn.29:17 17. Lia tinha os olhos baços. A palavra heb. rak, traduzida como “tenros” (ARC), geralmente tem sido entendida como se significasse “fracos” ou “baços”. Desde que a LXX empregou essa tradução, muitos comentaristas e tradutores a têm seguido. A palavra rak também significa “delicados” e “meigos” (NTLH e NVI), “ternos” (BJ) e “lisonjeiros”. Assim, pode ser que os olhos dela tinham uma aparência precisamente oposta à da tradução adotada pelos comentaristas mencionados. Contudo, o fato de jacó não ser atraído por Lia tende a indicar um contrasteentre as duas irmãs, o que não se evidencia com a segunda opção de tradução. Talvez os olhos de Lia, bem como sua personalidade, não tivessem o brilho e o vivido calor que o orienta] admira.
Gn.29:18 18. Sete anos te servirei por [...] Raquel. Jacó, profundamente apaixonado por Raquel, se dispôs imediatamente a fazer um acordo com o tio. A proposta de Jacó se baseava parcialmente no fato de não estar em condições de pagar o dote usual, e parcialmente no reconhecimento de que a situação em sua casa tornaria necessária uma estada bastante prolongada com Labão. O assentimento de Labão só pode ser explicado com base na cobiça, que foi se tornando mais aparente à medida que o tempo passava.
Gn.29:19 Sem comentário para este versículo
Gn.29:20 20. Pelo muito que a amava. Jacó deu evidências de sua devotada afeição por Raquel, não só por sua disposição de trabalhar sete anos por ela, mas, ainda mais, pelo espírito com que trabalhou para seu avarento tio. Por muitos que fossem os dias que deviam se passar antes que Raquel se tornasse sua esposa, transformaram-se em dias felizes por causa de seu amor por ela. As palavras usadas por Moisés para expressar a profundidade do amor de jacó indicam afetividade e terna devoção.
Gn.29:21 21. Dá-me minha mulher. E um comentário interessante a respeito de Labão o fato de Jacó ter de lembrá-lo de que os v sete anos já haviam terminado. Foi preparada uma grande festa de casamento, provavelmente com duração de uma semana (v. 27), segundo o costume. A forma com que Labão enganou a Jacó foi possível por causa do costume de colocar um véu na noiva e trazê-la até o noivo “à noite”. Embora as moças geralmente tivessem pouca influência na escolha do marido, o consentimento de Lia era necessário para que o plano vil tivesse êxito. Ela própria devia amar Jacó para ter concordado e cooperado com o plano de prejudicar tanto a irmã quanto o futuro marido,casando-se com alguém que não a queria nem a amava. A duplicidade de Labão resultou numa perpétua rivalidade entre as duas irmãs (ver Gn 30:14-16).
Gn.29:22 Sem comentário para este versículo
Gn.29:23 Sem comentário para este versículo
Gn.29:24 24. Zilpa. Labão seguiu um costume oriental (ver Gn 24:59) quando deu sua serva Zilpa para a filha como assistente pessoal. O significado de seu nome pode ser “nariz curto”.
Gn.29:25 25. Que é isso? Na manhã seguinte Jacó, o grande enganador, viu-se, ao acordar, vítima de um engano. A justiça inexorável lhe havia retribuído em dobro por seu comportamento dúplice. Em defesa própria, Labão citou uma exigência imaginária de um costume social local. Se esse realmente era o costume em Harã, como o era em outros países da Antiguidade, Labão devia tê-lo revelado a Jacó quando este se propôs trabalhar por Raquel. O voto de Jacó a Deus em Betei, contudo, e seu anseio por Raquel o levaram a ficar com Labão em vez de repudiar o casamento, como poderia ter feito.
Gn.29:26 Sem comentário para este versículo
Gn.29:27 27. Decorrida a semana desta. As festas de casamento geralmente duravam uma semana (ver Jz 14:12), e Jacó também teria Raquel ao final das festividades matrimoniais de Lia (Gn 29:28-30). Labão sem dúvida estava ansioso para preservar seu bom nome mantendo a fraude oculta do público, já que todos os homens da cidade estavam presentes à celebração (ver v. 22). Seu comportamento revela apenas um motivo mesquinho após o outro. Embora desse pouco valor às afeições e à felicidade da filha, tinha grande apreciação pelas qualidades de Jacó como pastor. Forçado pela necessidade, Jacó concordou com a proposta. Assim, Labão recebeu 14 anos de serviço em vez de sete e, ao mesmo tempo, livrou-se do encargo de sustentar Lia que, de outra forma, talvez tivesse dificuldade para encontrar um casamento.
Gn.29:28 28. Labão lhe deu por mulher Raquel.Fica claro que Jacó não serviu outros seteanos antes de Raquel se tornar sua esposa. Isso ocorreu no final da semana de festejos de Lia. O ato de bigamia de Jacó não deve ser julgado por uma disposição posterior da lei mosaica que proibia o casamento com duas irmãs simultaneamente (Lv 18:18, ARC e NVI). Ao mesmo tempo, o duplo casamento de Jacó não pode ser justificado com base no argumento de que a bênção de Deus acabou fazendo disso o meio de multiplicar os descendentes do patriarca e, assim, cumprir a promessa divina. Deus simplesmente atuou a despeito dos erros humanos; esses erros não conseguiram frustrar o propósito divino (ver SI 76:10). A bigamia ocasionada pela fraude de Labão e pela afeição de Jacó trouxe atrito e pesar ao lar de ambos. Nessa escola de aflição, Jacó aprendeu que “o caminho do infiel é áspero” (Pv 13:15, NVI). O ciúme e a miséria que acompanharam esse casamento são um comentário sobre a injunção específica de Moisés contra o casamento de um homem com duas irmãs ao mesmo tempo (Lv 18:18, ARC e NVI).Bila. Como ocorreu com Lia, uma serva também foi dada a Raquel. O significado de seu nome pode ter sido “terror”, mas não há certeza sobre isso.
Gn.29:29 Sem comentário para este versículo
Gn.29:30 30. Jacó amava mais. Lia, cúmplice da cruel fraude de Labão, não conseguiu ganhar as afeições do marido. O resultado foi um lar onde prevaleceram a inveja, o ciúme e a contenda. Durante anos Jacó havia trabalhado e esperado pacientemente pelo dia em que teria um lar feliz com sua amada Raquel, somente para se ver sobrecarregado com duas esposas que viviam brigando (ver Gn 30:1, 2, 8, 15). Bem diferentes foram os primeiros anos de vida matrimonial de seu pai ísaque, sobre cujo lar não repousou a sombra da poligamia, com suas negativas consequências (24:67). A triste experiência de Jacó mostra a sabedoria de Abraão ao proibir o regresso de ísaque à Alesopotâmia (24:6).
Gn.29:31 31. Lia era desprezada. Tomados em conjunto, os v. 20, 30, 31 e 34 esclarecem melhor o significado da palavra aqui traduzida como “desprezada” ou “odiada” (KJV). Na verdade, o termo indica apenas um grau de amor menos intenso. O regis-? tro das relações de Jacó com Lia prova que ele não a “odiava” no sentido da palavra hoje em dia. Ele simplesmente sentia e demonstrava menos afeição por ela do que pela irmã. A declaração “Amei a Jacó, mas aborreci [‘odiei’, KJV] a Esaú” (Ml 1:2, 3; Rm 9:13) deve ser entendida da mesma forma. Deus sentiu e manifestou um grau maior de afeição por Jacó e sua posteridade do que por Esaú e seus descendentes. Deus escolheu o primeiro para ser Seu canal especial de bênçãos para o mundo, de preferência ao outro, não arbitrariamente, mas por causa do caráter (ver Dt 7:6-8).Fê-la fecunda. Como havia visitado Sara (Gn 21:1) e ouvido as súplicas feitas por Rebeca (Gn 25:21), Yahweh Se interpôs então em favor de Lia. Ao abençoar Lia com filhos, enquanto permitia que Raquel permanecesse estéril por certo tempo, Deus buscou estimular o amor por Lia no coração de Jacó. Assim, certo equilíbrio foi estabelecido, pois, enquanto que Jacó amava Raquel pelo que ela significava pessoalmente para ele, foi levado também a apreciar Lia.
Gn.29:32 32. Rúben. Cada um dos filhos de Jacó recebeu um nome cujo significado refletia os pensamentos e as emoções da mãe por ocasião do nascimento. De uma forma ou outra, todos os nomes refletem a rivalidade das duas irmãs. Cada nome tem um som relacionado a certas palavras-chave usadas na declaração feita pela mãe na ocasião. Assim, a primeira sílaba de Rúben, que significa “Veja, um filho”, vem de raah, “ver”, que é usado na declaração dela: “O Senhor atendeu à [viu] minha aflição.” Para Lia, seu primeiro filho foi evidência da compaixão de Yahweh, e ela tinha razões para esperar queesse filho fosse o meio pelo qual ela podería ganhar a afeição de Jacó. Na primeira manifestação de alegria materna, expressou a confiança de que o coração de Jacó agora se voltaria para ela.
Gn.29:33 33. Simeão. Parece que o nascimento de Rúben não preencheu totalmente as expectativas de Lia com respeito a Jacó. A seu segundo filho, nascido aproximadamente um ano depois, ela deu o nome de Simeão, “ouvindo”. Talvez, afinal, Deus havia ouvido o quanto ela era desprezada.
Gn.29:34 34. Levi. O terceiro dos filhos de Lia, todos nascidos em rápida sucessão, recebeu o nome de Levi, “união”, na esperança de que desta vez o marido verdadeiramente se tornaria unido a ela. Num harém oriental, a mulher mais honrada é a mãe da criança do sexo masculino destinada a se tornar o herdeiro. Lia não conseguia entender por que Jacó não transferia suas afeições de sua estéril irmã Raquel para ela.
Gn.29:35 35. Judá. O nascimento do quarto filho de Lia fez com que ela exclamasse: “Esta vez louvarei o Senhor”, como se ela soubesse por intuição que ele seria o ancestral dos reis de Israel e do Messias. Assim, chamou-o Judá, “o louvado”. A alegria de Lia estava completa.Cessou de dar à luz. Isto é, temporariamente. Jacó então, mesmo involuntariamente, não podia deixar de apreciar Lia como a mãe de quatro filhos, muito embora não a amasse tanto como esposa. Para que Lia não ficasse exultante demais com sua boa sorte ou se esquecesse de que era Deus que a havia abençoado, e para que Raquel não ficasse excessivamente desanimada, Deus novamente interveio. Talvez um certo equilíbrio de afeição tivesse sido alcançado.Lia deve ter sido uma mulher piedosa, esposa devotada e uma mãe fiel. De acordo com o relato bíblico, ela mencionou o nome de Yahweh em conexão com o nascimento de três de seus primeiros quatro filhos. Embora viesse de uma família idólatra, eladeve ter aceitado a religião do marido e se tornado uma sincera crente em Deus. Em contraste, a conversão de Raquel parece a princípio ter realizado pouco mais que uma mudança superficial. Conquanto externamente ela também tivesse aceitado a religião do marido, seu coração permanecia ligado aos velhos ídolos familiares ou, talvez, ela os tenha levado na tentativa de garantir aherança familiar (Gn 31:19). Em várias ocasiões a conduta dela está em nítido contraste com a de Lia, e parece refletir um espírito mais egoísta (ver 30:1-3, 8, 15). Não há dúvida de que a excelência de caráter de Lia, bem como sua sinceridade e piedade, acabaram ocasionando uma mudança na atitude de jacó em relação a ela (ver 31:4, 14; 49:31).Capítulo 30pois eu te aluguei pelas mandrágoras de meu filho. E jacó, naquela noite, coabitou com ela.os negros entre os cordeiros, e o que é malhado e salpicado entre as cabras; será isto o meu salário.Saindo dc Bcrseba, passando por Bete], Jacó provavelmente cruzou o Jordão e seguiu a Estrada Real para Damasco, Hamate, Alepo e Harã. Depois de 14 anos, ele fez uma jornada de três dias, fugindo de Labão. Voltando para casa após 20 anos, clc foi alcançado por Labão próximo a Maanaim, onde teve uma visão que o preparou para a prova em Peniel na noite anterior ao seu encontro com Esaú. De Peniel, jacó foi para Siquém, e Esaú retornou para casa cm Hcbrom.
Gn.30:1 1. Dá-me filhos. O sucesso de Lia como mãe despertou o ciúme de Raquel a tal ponto que ela não pôde mais suportar. Ora, a inveja é “a podridão dos ossos” (Pv 14:30), e Muro como a sepultura [é] o ciúme” (Ct 8:6). Embora desfrutasse de um quinhão maior da afeição do esposo, Raquel não podia estar contente enquanto a irmã a ultrapassava naquilo que era, para um oriental, o mais importante de todos os deveres de esposa — a maternidade. Sara já estava casada havia pelo menos 25 anos quando Isaque nasceu. Rebeca havia esperado em vão durante 20 anos por um hlho quando ela e Isaque se voltaram para Deus em oração. Alas a espera em face da competição havia deixado Raquel impaciente de ciúmes relativamente pouco tempo após o casamento, e em amargura de espírito ela censurou a Jacó.
Gn.30:2 2. Estou eu em lugar de Deus? O colérico desagrado de Jacó foi natural- mente despertado pelas palavras impróprias de sua esposa favorita. Ele se recusou a levar a culpa por uma situação que só Deus podia mudar. Raquel sabia muito bem que só Deus podia remover a esterilidade (v. 6), mas parece que momentaneamente não enxergava isso devido ao ciúme que tinha de Lia. A resposta de jacó também manifestou falta de espiritualidade. Por que ele não sugeriu à sua desapontada e amargurada esposa que buscasse ajuda na oração, como seus pais haviam feito antes de ele próprio nascer? Em vez de fazer isso, concordou com uma proposta que não passava de um recurso pecaminoso.
Gn.30:3 3. Eis aqui Bila, minha serva. A proposta de Raquel, que jacó aceitou e executou, era tão pecaminosa quanto a de Sara (Gn 16:2), mas sem a desculpa de Sara, uma vez que não havia então nenhum problema relacionado a um herdeiro para Jacó. E, se de fato existisse tal razão, isso não justihcaria o ato, que mesmo no caso de Abraão havia sido tão claramente condenado.Eu traga filhos ao meu colo por meio dela. Algumas versões trazem: “Que ela dê à luz sobre meus joelhos” (BJ; ver KJV). Esta declaração tem sido considerada por muitos comentaristas como um idiomatismo hebraico que expressa adoção (ver Gn 50:23). E possível que a expressão tenha se originado num antigo costume oriental de que, por ocasião do nascimento de uma criança que seria adotada, a pessoa que iria adotá-la a recebia como sua. Raquel provavelmente tinha um desses costumes em mente e planejava receber o bebê desde o nascimento como sendo seu.
Gn.30:4 4. Jacó a possuiu. O relaxamento de Jacó no casamento começou com a poligamia e terminou com o concubinato. Embora Deus tenha feito com que essa circunstância acabasse contribuindo para o desenvolvimento da descendência de Israel, nem por isso colocou Sua aprovação sobre tal costume.
Gn.30:5 Sem comentário para este versículo
Gn.30:6 6. Dã. Raquel, que havia considerado sua esterilidade uma injustiça em vista da fecundidade de Lia, considerou o nascimento de Dã uma vindicação divina de sua conduta. Ela expressou claramente esta convicção quando disse: “Deus me julgou” ou “me fez justiça’, razão pela qual ela o chamou Dã, “juiz”. Sua declaração, “e também me ouviu a voz”, significa que ela havia orado sobre o assunto ou que considerava o nascimento de Dã como a resposta de Deus a suas amargas queixas (v. 1).
Gn.30:7 Sem comentário para este versículo
Gn.30:8 8. Naftali. Após o nascimento de Dã, Jacó passou a considerar Bila como uma de suas esposas legítimas ou seguiu mais urna vez a sugestão de Raquel de lhe conseguir outro filho através da serva. Por ocasião do nascimento do segundo filho de Bila, que Raquel considerou seu por adoção, ela declarou: “com grandes lutas tenho competido”, ou literalmente, “com lutas de Deus ['Elohim], tenho lutado com minha irmã e também venci” (ARC). Portanto, ela o chamou Naftali, “minha luta”.GÊiNESIS 30:18
Gn.30:9 9. Vendo Lia. Acostumada a ter um filho por ano, Lia ficou impaciente quando lhe pareceu que não concebería mais. O fato de Raquel ter obtido filhos através de sua serva não havia perturbado Lia enquanto havia a possibilidade de ela ter seus próprios filhos, mas ela se tornou então vítima da inveja, como antes havia acontecido com a irmã. O meio empregado por Raquel para conservar o favor de Jacó deixou Lia com ciúmes, e o ciúme a levou ao emprego do mesmo método de Raquel. Contudo, Lia parece ter estado consciente de que seguia uma artimanha de seu próprio coração, uma vez que não fez qualquer referência a Deus em suas declarações por ocasião do nascimento dos dois filhos de Zilpa.Quanto a Jacó, é surpreendente ver a facilidade com que ele consentiu em levar avante as sugestões tortuosas de suas esposas a fim de lhes aumentar a prole. Se ele pensava ter alguma desculpa quando tomou Bi Ia para satisfazer sua amada Raquel, que não tinha filhos próprios, com que desculpa acalmou a consciência com respeito à proposta de Lia, que já tinha quatro filhos!3 Havendo enveredado pelo caminho do erro, ele parece não ter visto quão objetável era sua conduta nem ter pensado nas possíveis consequências. Por outro lado, é preciso admitir que, ao fazê- -lo, ele seguiu um costume comum em seus dias. Pelo código de leis de Hamurábi e outros documentos cuneiformes, sabe-se que essa prática era legal e socialmente aceitável, particularmente quando a esterilidade impedia que a pessoa tivesse filhos. A existência desse costume é provavelmente a principal razão pela qual Abraão e Jacó não viram nenhum problema em tomar suas servas como concubinas.
Gn.30:10 Sem comentário para este versículo
Gn.30:11 11. Gade. A tradução da ARC para a exclamação de Lia por ocasião do nascimento do filho de Zilpa: “Vem urna turba”, baseia-se na tradição judaica do períodopós-bíblico. Na verdade, a expressão significa “afortunada”, como o reflete a tradução da LXX, Vulgata e ARA. Assim, Lia chamou Gade ao filho de Zilpa, isto é, “boa sorte”.
Gn.30:12 Sem comentário para este versículo
Gn.30:13 13. Aser. O segundo filho de Zilpa recebeu o nome de Aser, “o feliz”, ou “o que traz felicidade”. Ela disse, literalmente: “Para minha felicidade, pois as filhas me chamarão feliz”, isto é, por ser a mãe de muitos filhos. Nas declarações que havia feito por ocasião do nascimento dos três primeiros filhos, Lia havia reconhecido a Yahweh (Gn 29:32, 33, 35). Agora, com relação aos que nasceram de sua serva, ela parece não pensar em Deus. Eles foram o resultado bem-sucedido e bem- -vindo de um estratagema astuto.
Gn.30:14 14. Mandrágoras. Na alta Mesopotâ- mia, a colheita do trigo ocorre em maio e junho. A mandrágora é uma erva da família da beladona cujos botões são brancos e avermelhados. Seu fruto amarelado e odorífero tem mais ou menos o tamanho e a forma de uma pequena maçã. Hoje em dia, como na Antiguidade, as pessoas do antigo Oriente Próximo consideram que o fruto promove a fertilidade. As mulheres no Oriente ainda preparam uma bebida à base de mandrágoras que se acreditava estimular o desejo sexual e ajudar na concepção.
Gn.30:15 15. Achas pouco? Raquel, aparentemente, desejou as mandrágoras como meio de remover sua esterilidade. Lia ficou indignada ante a idéia de dividir algo que podería aumentar a probabilidade de a irmã ter ainda mais do amor de Jacó do que já possuía. E Raquel, talvez em contraste com Lia, parece que tinha mais fé em mandrágoras do que no poder de Deus. Com o tempo, porém, ela aprendeu a confiar em Deus em vez de nas mandrágoras (ver Gn 30:22; SI 127:3).
Gn.30:16 Sem comentário para este versículo
Gn.30:17 Sem comentário para este versículo
Gn.30:18 18. Issacar. “Ouviu Deus a Lia” (v. 17) para mostrar que a vida vem, não de meios naturais como mandrágoras, mas de Deus, o Autor da vida. Lia achou que via no nascimento de seu quinto filho uma recompensapor haver dado sua serva ao marido, aparentemente considerando o ato que havia brotado do ciúme como uma evidência de abnegação. O nome Issacar contém a ideia de “recompensa”, mas não se sabe ao certo se significa “há uma recompensa” ou, de acordo com uma tradição rabíníca, “ele traz uma recompensa”. Deve-se notar que foi Lia, não Moisés, que viu no nascimento de Issacar uma “recompensa'' por um ato pecaminoso.
Gn.30:19 Sem comentário para este versículo
Gn.30:20 20. Zebulom. Ao dar a seu sexto filho o nome de Zebulom, “habitação”, Lia expressou sua esperança de que então Jacó a preferida, em lugar da irmã estéril. Ela desejava ocupar o primeiro lugar em suas afeições, desejando que ele “habitasse” com ela na honrada relação de primeira esposa.
Gn.30:21 21. Diná. O nome significa “vindicação”. Ela não foi a única filha de Jacó (Gn 37:35; 46:7) e provavelmente seja mencionada aqui como antecedente do relato de seu infortúnio, em Gênesis 34. A palavra “depois” indica que havia se passado algum tempo desde o nascimento de Zebulom. Diná era a única filha de jacó quando ele voltou a Canaã (ver com. de Gn 34:1).
Gn.30:22 22. Lembrou-se Deus de Raquel.Parece que Raquel, por fim, acabou levando seu problema ao Senhor em oração. Sua petição foi ouvida, e a fé obteve o que a impaciência e a incredulidade haviam impedido até então.
Gn.30:23 23. O meu vexame. No antigo Oriente uma mulher estéril não era objeto de pena, mas de desprezo, e a falta de filhos era considerada vergonha e maldição. Isso explica por que mulheres como Rebeca, Raquel e Ana sofreram tão intensamente por não terem filhos. Entre os judeus, a esterilidade era considerada justificativa para o divórcio, a poligamia e o concubinato.
Gn.30:24 24. José. Que significa “ele tira”, o que seria uma alusão à remoção do vexame de Raquel, ou “ele acrescentará”, em antecipação a outro filho que ela esperava queDeus acrescentasse a este primeiro. A remoção do vexame também implicava a segunda possibilidade.
Gn.30:25 25. Tendo Raquel dado à luz. Por ocasião do nascimento de José, Jacó buscou a permissão de Labão para voltar a Canaã. Segundo os versos 25-28, parece que José nasceu no final do 14° ano de serviço que Jacó prestava a Labão, sete anos após o casamento (ver Gn 29:21-28). Não é inteiramente claro se os 11 filhos que então Jacó possuía haviam todos nascido durante os sete anos decorridos entre o casamento e o final desses 14 anos de serviço a Labão, ou se alguns deles nasceram durante os seis anos restantes dos 20 que ele passou ali (31:38).A ordem em que os filhos de Jacó são alistados não representa necessariamente a ordem cronológica precisa de nascimento, mas parece basear-se no parentesco materno deles. Moisés alista em cinco grupos: quatro para Lia, depois dois para Bila, dois para Zilpa, dois filhos e uma filha novamente para Lia e um para Raquel. Não há sequer duas listas dos filhos de Jacó registradas no AT que os dê precisamente na mesma ordem (ver Gn 46:8-25; 49:3-27; Êx 1:1-4; Nm 1:5- 15; lCr 2:1, 2; etc.) e, portanto, é impossível descobrir qualquer padrão consistente de sequência nos nascimentos.Parece muito estranho que 11 filhos e uma filha (Gn 29:32 a 30:24) tivessem nascido durante os primeiros sete anos de vida matrimonial de jacó, e nenhum durante os seis anos restantes que ele serviu a Labão. Se, contudo, este for o caso, então Lia teve sete filhos em sete anos, com um intervalo distinto de tempo durante o qual ela não teve nenhum filho (29:35; 30:9). Se, durante esse intervalo, os quatro filhos de Bila e Zilpa nasceram em sequência, sete anos obviamente teria sido um tempo curto demais. Exceto pelo fato de seis filhos de Lia serem separados em dois grupos, se poderia pensar que a ordem de Moisés aqui baseou-seestritamente no parentesco materno. Uma vez que obviamente esse não é o caso, parece que os cinco grupos estão dispostos na ordem de nascimento do primeiro filho de cada grupo e que, provavelmente, há alguma sobreposição entre quaisquer dois grupos consecutivos. Esta sugestão parece se ajustar melhor ao contexto e aos fatos conhecidos. Consequentemente, o nascimento de Dã precedería o de todos os filhos alistados depois dele, mas não necessariamente o de Judá. O mesmo, em princípio, seria válido para Gade, Issacar e José. Uma sobreposição muito próxima como esta tornaria possível o nascimento dos 11 filhos dentro de um período de sete anos. Contudo, mesmo que o princípio da sobreposição seja aceito, não há razão para exigir que todos os 11 tenham nascido durante esses sete anos; alguns podem ter nascido durante os seis anos finais da permanência de Jacó com Labão. A última possibilidade, na verdade, parece mais provável, pois, mesmo admitindo-se a possibilidade de sobreposição durante os sete anos, a sucessão em que os nascimentos precisariam então ter ocorrido seria rápida demais, mesmo de acordo com os padrões orientais.
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Gn.30:28 28. Fixa o teu salário. Uma vez que o segundo período de sete anos terminou mais ou menos na época do nascimento de José, jacó solicitou a permissão de Labão para voltar a Canaã (v. 25). Labão, contudo, não estava disposto a perder um homem tão valioso, mas não tinha achado um estratagema pelo qual pudesse retê-lo por mais tempo. O fato de ele convidar Jacó a fixar um salário não o impediu de mudá-lo dez vezes durante os seis anos (Gn 31:7). Por trás de Labão estava o maligno, tentando frustrar o plano de Deus por impedir, se possível, a volta de Jacó à terra da promessa.
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Gn.30:31 31. Se me fizeres isto. Quando Labão repetiu sua oferta, demonstrando sua seriedade ao fazê-la, Jacó propôs os termos em que ele estaria disposto a ficar. Sua proposta foibaseada no fato de que no Oriente Próximo as cabras, em regra geral, eram pretas ou de cor marrom escura e raramente brancas ou malhadas de branco, e as ovelhas eram na maior parte brancas e raramente pretas ou malhadas. Uma vez que a proposta de Jacó envolvia apenas uma pequena parte dos rebanhos de Labão, ele depressa aceitou o plano (v. 34). Jacó propôs, ainda, começar a separá-las “hoje”, para que Labão pudesse ver exatamente quais seriam os prováveis resultados.A continuação da narrativa mostra que mais coisas estavam envolvidas no acordo entre Jacó e Labão. Moisés teria mencionado apenas o princípio básico do acordo e assim omitido o fato de que a separação devia se repetir a intervalos regulares, ou então esse ponto não seria mencionado no início, mas considerado óbvio por ambas as partes. De qualquer forma, Jacó procedeu dessa maneira e nem mesmo Labão, apesar de suas frequentes alterações no contrato, parece ter tido objeção a isso (Gn 31:7, 8, 41).
Gn.30:32 Sem comentário para este versículo
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Gn.30:34 34. Conforme a tua palavra. Labão alegremente aceitou a proposta, mas não deixou Jacó fazer a seleção (v. 34-36). Ele próprio a fez, provavelmente para se certificar de que fosse feita de acordo com sua interpretação do acordo. Deu então as ovelhas e cabras que não eram de cor pura para serem apascentadas por seus próprios filhos (aqui mencionados pela primeira vez), e deixou Jacó tomando conta apenas dos animais do rebanho que tinham cor pura. Finalmente, Labão “pôs a distância de três dias de jornada entre si e Jacó”, isto é, entre o rebanho a ser apascentado por ele mesmo através de seus filhos e o rebanho a ser apascentado por Jacó, a fim de impedir o cruzamento entre os dois rebanhos.
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Gn.30:37 37. Tomou, então, Jacó varas. A narrativa dos v. 37-40 parece, à primeira vista, contradizer as conhecidas leis da genética e, às vezes, é citada como prova de que a Bíblia é anticientífica. No entanto, um estudocuidadoso do contexto e uma comparação da narrativa com fatos conhecidos relacionados às leis da genética revelam o que aconteceu e vindicam, de maneira notável, a inspiração das Escrituras. Para uma discussão detalhada e científica do assunto, ver Frank Lewis Marsh, Estudos sobre Criacionismo [Santo André: CPB, 1952], 338-345.Pensando em salvaguardar seus próprios interesses na barganha proposta por Jacó, Labão imediatamente separou os rebanhos (v. 36), o que indica que Labão também sabia algo acerca das leis da hereditariedade. Ele colocou todas as ovelhas, cabras e reses que não eram de cor pura sob os cuidados de seus próprios filhos, pretendendo assim removê- las do alcance de Jacó e, dessa forma, evitar a possibilidade de misturar essas características novamente ao que, visivelmente pelo menos, era um rebanho puro. O que Labão não sabia é que alguns dos animais que & aparentemente eram de raça pura tinham a possibilidade de portar características recessivas de cor que podiam ser transmitidas à sua prole. Labão achava que havia levado a melhor sobre Jacó com o astucioso estratagema de separar os rebanhos.Jacó, por sua vez, estava sem dúvida contando com o cruzamento seletivo, concernente ao qual ele devia saber pelo menos tanto quanto Labão. Este procedimento teria sido inteiramente legítimo segundo uma estrita interpretação do contrato. A distinção que Jacó fez entre animais fortes e fracos (v. 41) é evidência de que a observação lhe havia ensinado algo sobre as leis da hereditariedade. Uma vez que Labão havia separado todos os animais que não tinham cor pura, Jacó provavelmente ficou sem saber o que fazer, pois é evidente que, como o tio, ele não sabia nada a respeito da transmissão de características recessivas. Confiando em sua própria suposta astúcia e na aplicação da antiga e ainda popular superstição de que os descendentes podem ser marcados deuma forma correspondente por aquilo que a mãe vê e pelos temores que experimenta durante o período pré-natal, Jacó colocou em execução o procedimento explicado nesses versos. Diz Marsh:Produzir marcas na prole da maneira com que Jacó achou que estava fazendo nos rebanhos de Labão é completamente impossível. [...] Na placenta e no cordão umbilical, que constituem a única conexão entre a mãe e o feto, não há nervos. [...] Assim, não existe absolutamente nenhum mecanismo pelo qual a mãe possa marcar sua prole da maneira como Jacó pensava estar produzindo as marcas (Estudos sobre Criacionismo, 339, 340, itálicos no original).Outra dificuldade aparente se acha no fato de que o método de Jacó parece ter-se demonstrado eminentemente bem-sucedido (Gn 30:43; 31:7-9). Contudo, para que Jacó não desse crédito à sua própria engenhosi- dade e à superstição, Deus lhe revelou em sonho como as características recessivas de cor malhada eram transmitidas através de progenitores aparentemente de cor pura para sua prole (Gn 31:10-12). O que o anjo disse a Jacó num sonho só podia se aplicar aos rebanhos que estavam sob os cuidados de Jacó, pois todos os animais que não eram de cor pura tinham previamente sido removidos por Labão (30:35, 36). À operação desta lei da genética, Deus acrescentou Sua bênção especial, pois as características recessivas normalmente não apareceríam de maneira tão marcante como é indicado no v. 43. Ao fazê-lo, talvez Ele tenha utilizado princípios da genética que atualmente só são compreendidos de maneira imperfeita.Essa revelação de uma lei da genética que só foi descoberta e compreendida pelos cientistas há algumas décadas atesta a exatidão científica e a inspiração divinadas Escrituras. O professor Marsh encerra a discussão do assunto dizendo:As Escrituras ensinam que essas marcas entre os rebanhos domésticos são resultado de fatores hereditários em ambos os pais que atuam segundo os princípios de Mendel, e que eles não se devem, a impressões recebidas pela mãe. Uma leitura imparcial da passagem mostra, assim, que esse incidente contido nas Escrituras, que é tão frequentemente citado como prova de que a Bíblia é um livro de fábulas, na verdade é uma das importantes razões para se crer que ela é, de fato, uma obra inspirada (Estudos sobre Criacionisrno, 345, itálicos no original).Incidentemente, pode ser observado que a palavra heb. traduzida como “aveleira'’, na ARA, deveria ser traduzida como “amendoeira” (como na NTLH e na NVI), e que a palavra traduzida como “castanheiro” (ARC) deveria ser traduzida como “plátano” (como em todas as outras versões). O plátano do Oriente pertence à família do bordo.
Gn.30:38 Sem comentário para este versículo
Gn.30:39 Sem comentário para este versículo
Gn.30:40 Sem comentário para este versículo
Gn.30:41 41. As ovelhas fortes. Os rabis da Antiguidade entendiam o significado desta passagem como se Jacó praticasse seu truque apenas durante o período de reprodução na primavera, uma vez que os antigos consideravam os animais concebidos na primavera e nascidos no outono mais fortes do que os concebidos no outono e nascidos na primavera. Os comentaristas modernos se inclinam, porém, a aplicá-la aos cordeiros nascidos mais cedo ou mais tarde dentro do mesmo período, uma vez que os cordeirosnascidos no início da primavera são mais valiosos do que os nascidos mais tarde nesse período. Segundo essa opinião, Jacó não fez seus experimentos com a segu nda remessa de animais, porque sabia que seriam mais fracos, mas com a primeira, que era mais forte. Qualquer que seja o método que Jacó tenha usado, ele o fez para fortalecer e aumentar seus próprios rebanhos, obviamente à revelia de enfraquecer e diminuir os de Labão.
Gn.30:42 Sem comentário para este versículo
Gn.30:43 43. E o homem se tornou mais e mais rico. As relações de Jacó com Labão constituem uma história em que a astúcia e a habilidade lutam contra a avareza e a desonestidade. A astúcia, que aplica ura conhecimento superior, é muitas vezes a arma dos fracos contra os fortes. Pessoas cobiçosas e traiçoeiras, mas destituídas de sabedoria, muitas vezes são sobrepujadas por outras de caminhos igualmente tortuosos, porém mais astuciosos. A justiça estava do lado de Jacó. Ele estava simplesmente tirando vantagem de sua nova posição para compensar a desvantagem sob a qual havia trabalhado por 14 anos. Contudo, não usou de estrita honestidade e integridade. Faltavam-lhe a franqueza e a simplicidade de caráter que as pessoas esperam encontrar num justo. O plano de Jacó certamente foi muito bem-sucedido, mas não é um plano que se esperaria que um servo de Yahweh seguisse. Jacó errou, além disso, em confiar mais em sua própria engenhosidade para assegurar a bênção divina que lhe fora prometida, do que no poder e na providência de Deus. Porém, por sua vez, ele atribuiu seu sucesso ao poder de Deus (Gn 31:9).Capítulo 31pão; comeram pão e passaram a noite na montanha.
Gn.31:1 1. Os comentários dos filhos deLabão. A alegação dos filhos de Labão era obviamente exagerada, uma vez que Labão ainda possuía rebanhos quando jacó partiu (v. 19). Os filhos de Labão insinuaram que Jacó havia conseguido sua riqueza pela fraude, embora não o acusassem abertamente desse crime. Não podiam provar que ele havia violado cláusula alguma do acordo que firmara com o pai deles, embora afirmassem que isso havia ocorrido.
Gn.31:2 2. O rosto de Labão. O que Jacó conseguiu ouvir foi confirmado pelo que observou na atitude de Labão. Como resultado de que nada que Labão fizesse parecia impedir em grau mínimo o rápido aumento da riqueza de Jacó, até a aparência de amizade que havia caracterizado o relacionamento de ambos no passado havia então se transformado em aberto antagonismo. Na providência de Deus, a atitude de Labão se tornou o meio de provocar o regresso de Jacó a sua terra natal. A convicção de Jacó de que havia chegado o momento de voltar à terra de seus pais foi confirmada por uma mensagem direta de Deus.
Gn.31:3 Sem comentário para este versículo
Gn.31:4 4. Mandou vir Raquel e Lia. Estando a alguma distância de casa com os rebanhos, Jacó mandou chamar suas esposas ao campo para que o planejamento da fuga fosse mantido em sigilo. Se o planejamento tivesse sido feito em casa, membros da família de Labão poderiam ouvir a conversa e informá-lo a tempo de ele voltar e impedir a partida. Apesar de todas as precauções, Labão ficou sabendo das notícias ao terceiro dia (v. 19, 22). Parece que houve alguma mudança na supervisão dos rebanhos, pois jacó estava então apascentandoos seus próprios (ver Gn 30:35, 36) ou, pelo menos, tinha acesso a eles. Provavelmente tenha sido a ausência de Labão para a tosquia de suas próprias ovelhas que tornou possível a fuga de Jacó com toda a sua propriedade, um evento que obviamente teria sido impossível de outra forma (v. 1, 29). Talvez jacó estivesse simultaneamente tos- quiando suas ovelhas e tenha mandado buscar as esposas com todos os pertences a fim de erigir tendas no local, sob o pretexto de que elas participariam das festas que geralmente eram dadas em tais ocasiões. Assim ele preparou o caminho para sua partida sem levantar suspeitas antecipadamente.
Gn.31:5 Sem comentário para este versículo
Gn.31:6 Sem comentário para este versículo
Gn.31:7 7. Mudou o salário. Talvez o número “dez” não tenha significado literal. E possível que tenha sido usado apenas como um número redondo para indicar mudanças frequentes, da mesma forma que se usa hoje a expressão “dezenas de vezes” (cf. Dn 1:20). Labão aparentemente fez repetidas tentativas de limitar o acordo original, mudando suas cláusulas. O fato de jacó deixar de mencionar seu próprio estratagema e de atribuir à bênção de Deus tudo o que havia conseguido pela astúcia implica a consciência de que os meios empregados não eram comple- tamente eficazes.
Gn.31:8 Sem comentário para este versículo
Gn.31:9 9. Deus tomou. Talvez Jacó achasse que, se não fosse da vontade de Deus abençoá-lo, seus próprios esforços não teriam tido sucesso. Portanto, e não sem razão, ele achou que era certo atribuir o aumento de sua riqueza ao benevolente cu idado de Deus. E certo que ele achava que seus próprios artifícios e a bênção de Deus não eram mutuamente exclusivos.
Gn.31:10 Sem comentário para este versículo
Gn.31:11 11. Disse em sonho. Não é certo se o sonho veio separadamente da breve revelação do v. 3, ou se é um relato mais completo dessa comunicação divina. Alguns comentaristas sugerem que ele ocorreu no início do último período de serviço de Jacó, que durou seis anos. Outros acham que foi apenas um sonho comum que Jacó associou àquele que tinha recebido em Betei e então contou a fim de impressionar suas esposas. Este ponto de vista é insustentável, devido à exatidão biológica das informações reveladas nele, as quais eram contrárias às próprias crenças supersticiosas de Jacó (ver com. de Gn 30:37-42).
Gn.31:12 Sem comentário para este versículo
Gn.31:13 Sem comentário para este versículo
Gn.31:14 14. Responderam Raquel e Lia. O fato de as duas irmãs estarem em perfeito acordo em relação à conduta do pai, apesar de seus ciúmes mútuos, é clara evidência da validade das queixas. A desumana crueldade e a cobiça insaciável de Labão eram obviamente tão pronunciadas que mesmo as próprias filhas acabaram se levantando em protesto. Elas reclamaram que, apesar de serem filhas livres e legítimas, nenhuma herança lhes havia sido dada e que haviam sido vendidas como escravas. Aparentemente, toda a propriedade de Labão havia sido transferida para os filhos, pois as filhas não haviam recebido nada dela.
Gn.31:15 Sem comentário para este versículo
Gn.31:16 16. Toda a riqueza. Raquel e Lia reconheceram a mão de Deus na notável prosperidade do marido. Por mais lamentável que fosse a alienação entre elas e o pai, a severidade e mesquinhez dele tornou tal reação compreensível, se não inevitável. Por outro lado, elas se sentiam ligadas ao marido, o pai de seus filhos, numa união íntima e terna. A vida e o destino delas estavam agora completamente identificados com os dele. Pela primeira vez as duas irmãs são apresentadas como estando de comum acordo. O fato de Raquel ter então recentemente se tornado mãe pode ter diminuído a tensão e o ciúmeque havia existido entre elas durante os primeiros anos de sua vida matrimonial.
Gn.31:17 Sem comentário para este versículo
Gn.31:18 Sem comentário para este versículo
Gn.31:19 19. Tendo ido Labão fazer a tosquia das ovelhas. A tradução “tendo ido” é preferível a “foi” (KJV), pois Labão provavelmente tinha saído de casa antes de Jacó chamar suas esposas ao campo, e não depois de terem tomado a decisão de fugir de Harã. O fato de Raquel ter conseguido roubar os ídolos do pai sugere que Labão estava fora de casa quando ela saiu. Jacó sabia que o sogro ficaria vários dias ocupado com a tosquia das ovelhas e com as festividades comumente associadas a isso (ver lSm 25:4, 11; 2Sm 13:23), para as quais os amigos eram frequentemente convidados. Não se sabe ao certo se Jacó não fora convidado ou se recusara o convite de Labão, devido à dissensão entre eles. Mas isso proporcionou uma excelente oportunidade de escapar sem interferência.Raquel furtou. Os “ídolos”, ter afim (ver Jz 17:5; 18:14; etc.), eram geralmente estátuas humanas pequenas (v. 34), mas por vezes maiores, frequentemente feitas de madeira (lSm 19:13-16). Escavações no Oriente Médio revelaram grande número dessas estatuetas, feitas de madeira, argila e metais preciosos. Algumas representam divindades masculinas, mas a maioria é representação de divindades femininas e tem de 5 a 7,5 cm de largura. Eram usadas como deuses domésticos ou levadas junto ao corpo como amuletos protetores. Uma vez que a maioria delas representa deusas nuas cujas características sexuais são acentuadas, provavelmente se pensava que promovessem a fertilidade. Esta pode ser a razão pela qual Raquel tinha apego especial às mesmas. Textos cuneiformes de Nuzi, na Mesopotâmia, revelam que os ídolos domésticos eram herdados por filhos adotivos somente quando os filhos verdadeiros não estavam presentes por ocasião da morte do pai. Se um homem tinha filhos, seus deuses não podiam ir para as filhas. Raquel, portanto, não tinhadireito aos ídolos domésticos do pai, como Jacó francamente admitiu (Gn 31:32). Documentos encontrados em Nuzi indicam que, na era patriarcal, a posse dos ídolos do lar, como os que Labão tinha, garantia ao possuidor o título às propriedades de seu pai (ANET, 219, 220). Esta era provavelmente a principal razão por que Labão estava tão ansioso para reavê-los (ver v. 30, 33-35).
Gn.31:20 20. Jacó logrou. Literalmente, ele “enganou o coração de Labão, o arameu”. Sobre a expressão “o sírio” (KJV) com o sentido de “o arameu”, ver com. de Gênesis 25:20.
Gn.31:21 21. Passou o Eufrates. O original diz “passou o rio” (ARC). Isto se refere ao Eufrates, que era preeminentemente o rio dos tempos bíblicos (lRs 4:21; Ed 4:10, 16). Não se sabe como Jacó conseguiu cruzar o Eufrates com seus rebanhos, particularmente na época da primavera (Gn 31:21). Há, é claro, vaus em vários locais ao longo do rio nessa área. O destino imediato de Jacó, Gileade, era a região montanhosa ao sul do rio Yarmuk. Gileade é mencionada em vista do fato de que Labão o alcançou ali. O nome Gileade foi dado ao local nessa ocasião (v. 47), sendo desconhecido o nome anterior.
Gn.31:22 Sem comentário para este versículo
Gn.31:23 23. Saiu-lhe no encalço. Uma vez queLabão recebeu a notícia dois ou três dias depois da fuga de Jacó (v. 22) e o alcançou após uma perseguição de sete dias, parece que os dois se encontraram nove ou dez dias após a partida de Jacó das vizinhanças de Harã. As montanhas de Gileade ficam a quase 450 km de Harã, distância que se pode percorrer em camelos rápidos dentro de sete dias, o tempo necessário para Labão. Mas, seria impossível que os rebanhos fossem conduzidos ao longo dessa distância nesse tempo, uma vez que conseguiríam percorrer não mais de 15 ou 16 quilômetros por dia. Aparentemente Labão não partiu em perseguição aos fugitivos ímediatamente após receber a notícia da fuga. Ele sabia que Jacósó poderia fazer lento progresso na caminhada (Gn 33:13, 14) e que, portanto, não precisava se apressar. Uma vez que Raquel havia levado os ídolos domésticos do pai, ela deve ter saído de Harã, onde era a casa dele (Gn 29:4, 5). O fato de Labão saber que os ídolos tinham sido roubados sugere que ele voltou para casa antes de sair em perseguição a Jacó. Talvez tenha terminado a tosq uia das ovelhas, concluído as festividades que a acompanhavam e feito arranjos para que alguém cuidasse dos rebanhos abandonados por Jacó antes de partir de Harã. O tempo decorrido entre a recepção da notícia da fuga de Jacó e sua partida pode facilmente ter sido de 30 dias ou mais.
Gn.31:24 24. Veio Deus a Labão. De maneira completamente inesperada, Deus cumpriu a promessa dada a Jacó 20 anos antes (Gn 28:15, 20, 21). E algo incomum que Deus tenha Se revelado a um idólatra, em sonho. Labão tinha se familiarizado com a religião de Abraão através de seu avô Naor, de Eliézer, servo de Abraão (24:31, 50) e, mais recentemente, através de sua longa associação com o próprio sobrinho. Assim, ele reconheceu que era o verdadeiro Deus quem falava no sonho recebido uma noite antes de alcançar Jacó (v. 29).Nem bem nem mal. Esta expressão, literalmente “de bem para mal”, é proverbial (Gn 24:50; 2Sm 13:22). Labão não devia compelir Jacó a voltar, quer pela força, quer fazendo propostas atrativas.
Gn.31:25 Sem comentário para este versículo
Gn.31:26 Sem comentário para este versículo
Gn.31:27 27. Por que fugiste [...] ? Ao alcançar Jacó, Labão assumiu o papel de um pai amável, mas grandemente magoado e profundamente ferido. Será que jacó não percebeu quão facilmente Labão poderia obrigá-lo a voltar para Harã? Unicamente à intervenção do Deus de seus pais na noite anterior é que Jacó devia o fato de Labão estar conversando com ele, em vez de tratá-lo como ele supostamente merecia. Mas, por que o ardente anseio de Jacó de voltar para seupai o deveria levar a roubar os deuses de seu sogro? Essa era a única queixa legítima de Labão - uma seta aguda que tinha o objetivo de atingir certeiramente o alvo e ferir. Salientando que os ídolos eram inúteis, talvez jacó tivesse insistido com o sogro para que se desfizesse deles e para que aceitasse a verdadeira religião. E, nesse momento, o que parecia é que ele próprio havia adquirido tanta confiança nos deuses da família de Labão que não estava disposto a partir de Harã sem eles. Ou será que Labão temeu que Jacó estivesse assim tentando se apossar do restante de sua propriedade? (Ver com. do v. 19).
Gn.31:28 Sem comentário para este versículo
Gn.31:29 Sem comentário para este versículo
Gn.31:30 Sem comentário para este versículo
Gn.31:31 Sem comentário para este versículo
Gn.31:32 32. Não viva aquele. Para justificar sua partida secreta e apressada, Jacó alegou medo, numa confissão sincera e direta. No que dizia respeito à acusação de roubo, Jacó voluntariamente se submeteu às disposições da lei mesopotâmica. Essa previa a pena de morte para certos tipos de roubo, incluindo o de objetos sagrados (Código de Hamurábi, seção 6).Diante de nossos irmãos. Esta era uma referência aos parentes de Labão (v. 23), que se tornaram irmãos de Jacó por seu casamento com Lia e Raquel.
Gn.31:33 33. Na tenda [...] das duas servas. Esta passagem fornece um interessante vislumbre do costume da época, segundo o qual não só marido e esposa tinham, cada um, sua tenda, mas cada esposa e concubina possuía uma tenda separada.
Gn.31:34 34. Na sela de um camelo. A julgar pelas correspondentes atuais, a sela feminina aqui mencionada devia ser feita de vime e se assemelhar a um cesto. Possuía um tapete no assoalho e era protegida contra o vento, a chuva e o sol por meio de um dossel e de cortinas. A luz entrava por aberturas laterais. Ao encobrir seu roubo através de astúcia e engano, Raquel se demonstrou uma verdadeira filha de Labão. Pouca impressão em seu caráter havia feito a religião de seu marido.Mas é verdade que ele próprio também não era nenhum modelo de virtude.
Gn.31:35 35. Por não poder eu levantar-me.O costume e a cortesia orientais exigiam que os filhos de todas as idades e posições se levantassem na presença dos pais (Lv 19:32; IRs 2:19). A desculpa de Raquel, portanto, dificilmente seria apropriada.Com as regras das mulheres. Uma paráfrase para a menstruação (cf. Gn 18:11), que posteriormente, sob a legislação mosaica, implicava impureza cerimonial (Lv 15:19). Que este estatuto já existia antes da lei mosaica, pelo menos entre os arameus, pode ser inferido desta passagem. Labão não exigiu que Raquel ficasse de pé a fim de que pudesse vasculhar a sela do camelo provavelmente devido ao medo de contaminação.Não achou os ídolos do lar. Três vezes repetida, esta frase enfatiza a minuciosidade da busca de Labão e o sucesso de Raquel em esconder os objetos roubados.
Gn.31:36 36. Então, se irou Jacó. Labão sabia que os ídolos de sua família haviam desaparecido quando Jacó partiu; isso ele foi categórico em afirmar. Apesar do sonho da noite anterior, é possível que ele ainda estivesse planejando colocar Jacó na defensiva. O último havia concordado voluntariamente em entregar a Labão qualquer pessoa que se verificasse culpada (v. 32). Talvez Labão esperasse colocar sobre ele, direta ou indiretamente, a responsabilidade pelo ato, e assim insistiu na questão, para ver se ainda podia conseguir sua volta. Parece que Labão estava ciente de que, se Jacó tivesse culpa, a mão protetora de Deus seria afastada dele. Tendo caído inteiramente por terra as acusações de Labão, Jacó, não mais na defensiva, passou agora a pressionar Labão, que por sua vez ficou manso e submisso. Seu serviço para Labão estava acima de qualquer crítica, um fato que nem mesmo Labão ousaria negar (v. 43).
Gn.31:37 Sem comentário para este versículo
Gn.31:38 Sem comentário para este versículo
Gn.31:39 39. Da minha mão. Jacó tinha base legal para fazer uma queixa contra Labão,pelo fato de este lhe haver cobrado a perda de animais devido a ataques de feras e de ladrões. Essa prática era contrária às antigas leis da Mesopotâmia, pois, como mostra o Código de Hamurábi (seção 267), um pastor só devia repor as perdas incorridas devido a sua própria negligência.
Gn.31:40 Sem comentário para este versículo
Gn.31:41 Sem comentário para este versículo
Gn.31:42 42. O Temor de Isaque. Parece estranho que Jacó tenha mencionado esta expressão além de 'o Deus de Abraão”, já que ambas aparentemente se referem ao mesmo Ser. Isso pode se dever ao fato de a experiência religiosa de Abraão não ser tão real para ele como a de seu pai Isaque. Fazia muito tempo que Abraão havia morrido, enquanto que Isaque ainda estava vivo e praticava "o temor” de Deus. Parece que a palavra “temor” é usada como nome alternativo para Yahweh e que deva ser mesmo traduzida como “Temor” (com inicial maiuscula). O uso desta expressão aqui e no v. 53 sugere a profunda impressão feita sobre Jacó pela devoção com que Isaque praticava sua religião.E te repreendeu ontem à noite. Jacó salientou que, pela advertência dada a Labão em sonho na noite anterior, Deus já havia pronunciado a sentença sobre a questão entre eles. Embora não tenha dito isso, talvez Jacó tenha visto na intervenção em seu favor a aprovação de Deus para tudo o que havia feito a fim de aumentar suas posses. Talvez tenha arrazoado que, se ele havia apenas usado astúcia contra astúcia e engano contra engano, Labão não tinha o direito de puni-lo ou esperar compensação. A conduta de Jacó talvez ache um atenuante no cruel tratamento que lhe foi dispensado pelo sogro, mas o fato de Deus o proteger contra a vingança não vindica seu procedimento (Pv 20:22; Rm 12:17; lTs 5:15).
Gn.31:43 43. Os filhos. Labão tacitamente reconheceu a veracidade das palavras de Jacó e admitiu que não tinha motivo para queixa. Não podia fazer nada a não ser aceitar asituação e a inevitável separação que esta acarretava. Contudo, seu espírito altivo se manifestou uma vez mais quando pretendeu ter direito a todas as posses de Jacó. Nenhuma palavra de reconhecimento ou apreciação saiu dos lábios de Labão pelos - 20 anos de trabalho diligente prestados por Jacó. Em vez disso, assumiu o papel de um benfeitor nobre e generoso, que nunca pensaria em tratar seus próprios familiares com algo menos que a magnanimidade.
Gn.31:44 44. Façamos aliança. Com isso em mente, Labão propôs um tratado formal de amizade. Isto pode ter sido provocado também pelo medo de que Jacó pudesse buscar a reconciliação com Esaú e depois voltar para se vingar (v. 52). Não é certo presumir, como o fazem alguns comentaristas, que o v. 44 esteja incompleto em sua forma atual e que o sujeito do verbo “sirva” seja o memorial proposto ou o próprio Deus, cuja presença era tida como certa. A forma verbal “sirva” pode muito bem se referir à “aliança”, talvez feita — como é comum na Mesopotâmia — na forma de uma tabuleta cuneiforme, selada e assinada por ambas as partes e pelos respectivos parentes.
Gn.31:45 45. Por coluna. Jacó demonstrou seu assentimento à proposta de Labão começando imediatamente a erigir uma pedra memorial semelhante à de Betei (Gn 28:18). Ambos os grupos se uniram, também, em juntar pedras para ser usadas como uma mesa para a refeição que comemoraria a aliança.
Gn.31:46 Sem comentário para este versículo
Gn.31:47 47. Jacó, porém, lhe chamou Gaíeede. Ambos os nomes, um aramaico e o outro hebraico, têm praticamente o mesmo significado: um “montão por testemunha”.O fato de as mais antigas inscrições extra- bíblicas conhecidas, escritas em aramaico, não remontarem à época de Jacó, mas a um período posterior, não prova que o aramaico não existia no século 17 a.C. A mais antiga evidência extrabíblica da existência dessa língua consiste em certas palavrasaramaicas encontradas em tabuletas da antiga Ugarit, na Síria, escritas em cunei- forme alfabético e datadas do século 15 a.C. A Bíblia, portanto, contém as mais antigas palavras aramaicas documentadas de que se tem notícia. Cada um dos dois homens deu a esse memorial um nome em sua própria língua, sendo que ambos os nomes tinham significado idêntico. Uma vez que a região mais tarde veio a pertencer a Israel, o nome hebraico Gileade (Galeede) foi aplicado a ela. Isso inclui não apenas as vizinhanças do monte Gileade em si, mas todas as terras montanhosas a leste do Jordão, entre os rios Yarmuk e Jaboque.
Gn.31:48 Sem comentário para este versículo
Gn.31:49 49. Mispa. O local também recebeu outro nome, Mispa, que significa “torre de vigia”. Tornou-se, pouco depois, o local de uma cidade que derivava seu nome do “montão por testemunha” erigido por Labão e seus parentes (Jz 10:17; 11:11, 29, 34). Esta cidade, em determinada época, foi a residência do juiz Jefté (Jz 11:34).Vigie o Senhor. O fato de Labão invocar Yahweh, o Vigia celestial, para proteger suas filhas, não prova que ele aceitou a Yahweh como o representante de seus direitos. Com seu conceito tribal de divindade, Labão estava disposto a reconhecer o poder do Deus de Jacó, pelo menos em Canaã, se não em Harã. O que mais poderia ele fazer, especialmente depois do sonho da noite anterior? Talvez, também, tenha dito isso com o pensamento de que somente Yahweh poderia controlar a consciência de Jacó.
Gn.31:50 50. Se maltratares. Apesar de sua disposição egoísta, o instinto paterno de Labão o tornou zeloso quanto ao bem-estar das filhas e solícito quanto a seu futuro. Isso parece um pouco estranho à luz da conduta do próprio Labão (v. 15); ele mesmo havia sido a causa da poligamia de Jacó. Mas isso, por assim dizer, estava em família. E se Jacó tomasse outras esposas, a afeição e a herança que tocaria a suas filhas e aos filhos delasseria, assim, diminuída. Labão continuou sendo possessivo até o fim.
Gn.31:51 51. Este montão. Se um dos dois no futuro pensasse em se vingar do outro, este monumento seria um lembrete do pacto de amizade de ambos. Como nessa ocasião as intenções hostis haviam sido vencidas, assim, no futuro, a recordação do evento devia impedir qualquer possível expedição punitiva. Do ponto de vista de Labão, ele estava fazendo um elevado sacrifício em permitir que Jacó escapasse ileso, pois a crescente riqueza e o poder de Jacó, juntamente com uma possível reconciliação com Esaú, tornavam qualquer perspectiva futura de vencer Jacó realmente pequena. Parece que Labão estava ansioso por impressionar Jacó com seu próprio espírito magnânimo.
Gn.31:52 Sem comentário para este versículo
Gn.31:53 53. O Deus do pai deles. Sabe-se, através de Josué 24:2 e da existência de ídolos na casa de Labão (Gn 31:30, 35), que os parentes de Abraão na Mesopotâmia adoravam outros deuses. Isso parece indicar que “o Deus de Naor” não podia ser Yahweh. Mas também se sabe que Naor e os demais parentes, junto com sua idolatria, “acalentavam o conhecimento e o culto do verdadeiro Deus” (PP, 172). O verbo “julgar” está no plural (“julguem”, ARC), em aparente apoio ao ponto de vista de que Labão estava falando de dois deuses distintos. Contudo, a LXX, a Peshitta [versão siríaca] e a Vulgata [versão latina] traduzem “julgue”, no singular, reconhecendo o Deus de Abraão e o Deus de Naor como um só. Pode ser que Labão estava procurando promover a unidade entre ele próprio e Jacó, já que a separação era inevitável, ao chamar a atenção para o fato de que os avós de ambos, Abraão e Naor, e o bisavô de ambos, Tera, adoravam o mesmo Deus.Pelo Temor de Isaque. Ver com. do v. 42. Talvez Moisés tenha acrescentado essa expressão para deixar claro que Jacó “jurou” por Yahweh e não por qualquer dos deuses de Naor.
Gn.31:54 54. Ofereceu Jacó um sacrifício. Pode ser que somente Jacó participou dos ritos sacrificais que considerava essenciais para a ratificação da aliança. Labão foi apenas um observador, mas tomou parte novamente no banquete cerimonial que Jacó preparou.
Gn.31:55 55. Beijou seus filhos e suas filhas. Não é sugerido que Labão beijou Jacó ao se despedir, como havia feito ao encontrá-lo pela primeira vez (Gn 29:13). Embora Labão e Jacó tenham se separado reconciliadosum com o outro e não como inimigos, eles não eram exatamente os melhores amigos.E os abençoou. Labão, cujo lado melhor parece ter prevalecido como resultado da aliança, do banquete ou da perspectiva de se separar das filhas, expressou seus sentimentos numa bênção de despedida sobre eles. Assim Labão desaparece da narrativa bíblica e, com isso, cessa todo o contato entre a família de Canaã e os parentes da Mesopotâmia.Capítulo 32caminho para se encontrar contigo, e quatrocentos homens com ele.porque eu o temo, para que não venha ele matar-me e as mães com os filhos.
Gn.32:1 Sem comentário para este versículo
Gn.32:2 2. Maanaim. Esta palavra significa “duplo acampamento” ou “dupla hoste”, em referência a dois grupos de anjos, um que ia adiante dele e o outro que o seguia. A aparição deles deve ter feito Jacó se lembrar da visão da escada em Betei, em sua fuga de Canaã. Naquela ocasião, os anjos que subiam e desciam haviam representado para ele a proteção e o auxílio divinos que o acompanhariam em sua viagem e durante a peregrinação numa terra estrangeira. Agora a hoste angélica novamente trouxe a certezada ajuda divina, desta vez em antecipação de seu temido encontro com Esaú, e também como uma renovação da promessa de conduzi-lo de volta em segurança para sua terra natal. Uma vez que Jacó viu os anjos enquanto viajava, eles não podem ter-lhe aparecido num sonho. A maneira da revelação, contudo, não está clara.Uma importante cidade foi mais tarde fundada perto do local onde os anjos lhe apareceram (Js 13:26, 30; 21:38; 2Sm 2:8, 12, 29). Alguns a têm identificado com a atualMachnã, que fica cerca de 20 km a noroeste de Djerash, a antiga Gerasa.
Gn.32:3 Sem comentário para este versículo
Gn.32:4 4. Meu senhor Esaú. De Maanaim, Jacó enviou mensageiros a seu irmão Esaú. Após a fuga de Jacó de Berseba, Esaú parece ter se mudado temporariamente para o sudeste, para a terra de Seir, ou Edom, cujos habitantes originais, os horeus, ele desapos- sou mais tarde. Os mensageiros deviam traçar uma clara distinção entre “meu senhor Esaú” e “teu servo Jacó”. A tarefa deles era apaziguar Esaú, principalmente pela ênfase na humildade de Jacó — que era uma tácita admissão de seu erro - e no fato de que Jacó desistia de toda pretensão à herança. Ao salientar que estava voltando com grandes riquezas, Jacó não estava se gabando, mas deixando claro para Esaú que não retornara com o desejo de participar do patrimônio. Uma vez que reconhecera o erro, Jacó compreendia que devia dar o primeiro passo rumo à reconciliação. Com isso em mente, acrescentou à sua mensagem uma expressão de esperança de que Esaú o perdoaria e o aceitaria amigavelmente.
Gn.32:5 Sem comentário para este versículo
Gn.32:6 6. Ele vem de caminho para se encontrar contigo. O fato de Esaú estar acompanhado de 400 homens armados evidencia que havia se tornado um poderoso comandante. Talvez já tivesse começado a viver da espada (Gn 27:40).Se a inimizade de Esaú para com seu irmão havia se abrandado durante os anos, parece que ele nunca mencionou o fato para os pais, e o resultado foi que Rebeca não tinha conseguido cumprir a promessa de mandar buscar Jacó (Gn 27:45). A incerteza quanto ao que estava na mente do irmão e a ansiedade ocasionada pela notícia dos mensageiros alarmaram Jacó extremamente. A razão de Esaú para encontrar Jacó com um grupo armado era, primeiro, impressionar o irmão com o devido respeito para com sua condição de superioridade; segundo, garantir um entendimento satisfatório; e terceiro, usar a força,se necessário, para salvaguardar seus próprios interesses. Em outras palavras, ele estava preparado para qualquer eventualidade.
Gn.32:7 7. Dividiu em dois bandos o povo. Temendo o pior, Jacó dividiu a grande família e os numerosos rebanhos em dois grupos. E fácil censurar Jacó pela falta de fé e confiança em Deus. Contudo, seu cuidadoso comportamento, em face de circunstâncias tão adversas, é uma demonstração de bom senso. Completamente indefeso, ele não queria dar aparência de força.
Gn.32:8 Sem comentário para este versículo
Gn.32:9 9. Deus de meu pai Abraão. Notável por sua simplicidade e energia, esta oração modelo expressa o essencial numa petição desse tipo: (1) verdadeira humildade, (2) reconhecimento da misericórdia de Deus,(3) súplica por proteção do perigo iminente,(4) a repetição das promessas, e (5) apreciação pelas providências passadas.
Gn.32:10 10. Atravessei este Jordão. Parece que Jacó estava próximo do local onde havia cruzado o Jordão em sua fuga, 20 anos antes. Ele aceita o surpreendente contraste entre a anterior pobreza e a atual prosperidade, como sinal da bênção de Deus e do cumprimento da promessa feita em Betei. Naquela época, ele havia feito a travessia de mãos vazias, somente com a bênção de seu pai e a promessa de Deus. Vinte anos depois, estava voltando para a terra natal com uma grande família e muitas posses. Qualquer um dos “dois bandos" (v. 7) teria sido suficiente para torná-lo um homem próspero.
Gn.32:11 11. As mães com os filhos. Literalmente, “a mãe sobre os filhos”. O quadro é de uma mãe que se lança sobre os filhos para protegê-los, com o próprio corpo, de alguém que pode matá-los. Jacó sabia que, se provocado, seu irmão não hesitaria em matá-los todos. Ele temia pelo pior.
Gn.32:12 12. Como a areia. Este era o sentido, embora não as palavras exatas, da promessa de Betei (Gn 28:14), que havia comparado o número dos descendentes de Jacó como o póda terra. Antes disso, a descendência prometida de Abraão havia sido comparada ao pó da terra (Gn 13:16), às estrelas do céu (Gn 15:5) e à areia do mar (Gn 22:17).
Gn.32:13 13. Tendo passado ali aquela noite. Embora confiando que o Senhor o protegeria, Jacó não negligenciou nenhum recurso de reconciliação com o irmão. Após armar v o acampamento para a noite, no local onde havia recebido a notícia da aproximação de Esaú, ele preparou um respeitável presente que consistia de mais de 550 cabeças de ovelhas e gado. Eles foram enviados em vários rebanhos para encontrar Esaú, como um “presente” de seu “servo” Jacó. A classificação dos animais escolhidos era típica das posses usuais de um nômade (ver Jó 1:3; 42:12). A proporção entre machos e fêmeas provavelmente se baseava no que a experiência havia demonstrado ser o desejável para propósitos de procriação.
Gn.32:14 Sem comentário para este versículo
Gn.32:15 Sem comentário para este versículo
Gn.32:16 16. Cada rebanho à parte. A divisão do presente apaziguador de jacó em vários rebanhos separados, que se seguiam um após outro em intervalos, objetivava ter um efeito cumulativo e, portanto, ser mais impressivo. Cada rebanho era, por si só, um presente valioso.
Gn.32:17 Sem comentário para este versículo
Gn.32:18 Sem comentário para este versículo
Gn.32:19 Sem comentário para este versículo
Gn.32:20 Sem comentário para este versículo
Gn.32:21 Sem comentário para este versículo
Gn.32:22 Sem comentário para este versículo
Gn.32:23 23. Fê-los passar o ribeiro. Mais cedo, naquele mesmo dia, Jacó havia enviado seu presente a Esaú. Ao aproximar-se a noite, ele fez cruzar o Jaboque tudo o que tinha, tanto seus familiares como as propriedades, pois desejava passar a noite sozinho em oração. O Jaboque, hoje chamado Nahr ez-Zerqa, “o rio azul”, é um dos afluentes orientais do Jordão na direção leste. Passando por um profundo cânion, ele deságua no rio maior cerca de 40 km ao norte do Mar Morto.
Gn.32:24 24. Ficando ele só. Jacó havia permanecido na margem norte do rio para estar sozinho a fim de buscar a Deus em oração. Naquela conjuntura, sua costumeira astúcia para nada servia. Somente Deus podia atenuar a ira de Esaú e salvar jacó e a família.Lutava com ele um homem. Pode-se inferir que o antagonista de Jacó não era um ser humano, nem um anjo comum pelo fato de Jacó falar dele como sendo Deus (v. 30). O profeta Oseias também se refere a Ele como Deus e como um Anjo (Os 12:3, 4). Esse visitante celestial não era outro senão Cristo (PP, 197). Uma aparição assim de Cristo, em forma humana, não é estranha nem única (Gn 18:1). (Sobre o “tempo de angústia para Jacó”, ver com. de Jr 30:7).
Gn.32:25 25. Na articulação da coxa. O oponente desconhecido usou apenas a força de um ser humano em sua luta com Jacó. Pensando ter sido abordado por um inimigo mortal, Jacó lutou como o faria para salvar a própria vida. Mas, à medida que se aproximava a aurora, um único toque de força mais que humana foi suficiente para aleijar Jacó, e ele se deu conta de que seu antagonista era mais que humano.
Gn.32:26 26. Deixa-me ir. O Anjo procurou se retirar antes do nascer do dia, mas não deu a razão por que desejava fazê-lo. Comentaristas têm sugerido um desejo de Sua parte de evitar que outros testemunhassem a cena ou talvez de impedir que Jacó O visse.Não te deixarei ir. O toque que o deixou manco e a voz divina haviam convencido Jacó de que Aquele com quem lutara durante horas era um mensageiro do Céu. Depois de haver buscado desesperadamente por horas a ajuda divina, Jacó sentiu que não podia se dar ao luxo de deixá-Lo ir sem primeiro receber a certeza do perdão e da proteção de que ansiava. Pediu isso inteiramente como uma dádiva, compreendendo que não tinha nada para oferecer a Deus em troca. Não propôs nenhuma barganha; sua situação desesperadora foi o único argumento. A ajuda de que ele precisava podia vir somente de Deus. Pela primeira vez na vida, ele sabia que seus próprios recursos eram insuficientes. Desde que nascera, pegando o irmão pelo calcanhar até os últimos anos emHarã, quando havia enganado seu tio Labão (Os 12:3, 4), Jacó procurara a solução para os problemas da vida por métodos questionáveis maquinados por ele próprio. Agora era um homem transformado. Conquanto no passado houvesse confiado em sua própria sabedoria e força, agora aprendera a confiar inteiramente em Deus.
Gn.32:27 Sem comentário para este versículo
Gn.32:28 28. Já não te chamarás. A grande transformação espiritual ocorrida em Jacó foi então simbolizada pela mudança de nome que indicava a natureza de seu novo relacionamento com Deus. Os nomes de Abraão e Sara haviam, semelhantemente, sido mudados (ver Gn 17:5, 15), e desse momento em diante as Escrituras sempre os chamam pelo novo nome. No entanto, na história subsequente de Jacó, o nome antigo e o novo são usados mais ou menos indistintamente. O novo nome de Jacó, Israel, se tornou o nome da nação que dele procedeu. Para ele, a mudança de nome, como a mudança de caráter, foi muito mais significativa que a dos avós. Ela representou sua transformação, de um “enganador dos homens” para um “vencedor de Deus”. O novo nome, visivelmente um sinal de vitória física, devia ser um perpétuo lembrete da completa renovação espiritual ocorrida.Jacó. Para o significado do nome de Jacó como “o que agarra o calcanhar” ou “enganador”, ver com. de Gênesis 25:26.E sim Israel. Uma combinação de yisra[h], “ele luta” ou “ele governa”, de sarah, “lutar” ou “governar”, e 'El, “Deus”. Sem a interpretação acompanhante dada pelo próprio Deus, o nome poderia ser traduzido “Deus luta” ou “Deus governa”. O significado pretendido e explicado por Deus, porém, é “ele luta com Deus”, “ele prevalece com Deus” ou “ele governa com Deus”.O honroso nome Israel devia, daí em diante, ser um memorial dessa noite de luta. Ao ser aplicado aos descendentes de Jacó, implicava a transformação de caráter que Deus procurava neles e o papel a elesdestinado de governar com Deus. O nome foi transferido primeiro para os descendentes literais e, mais tarde, para a posteridade espiritual, que também deviam ser vencedores como ele o foi (Jo 1:47; Rm 9:6).Lutaste com Deus e com os homens. “Lutaste”, do heb. saritha, e também de sarah. Isso obviamente se refere à luta noturna com Deus e às prolongadas lutas com Esaú e Labão. De todas essas, ele final mente saiu vitorioso. Isso era particularmente verdadeiro com respeito à experiência da noite anterior, da qual emergiu um novo homem, vitorioso sobre o engano, a desonestidade e a confiança própria. Jacó era então um homem mudado (ver ISm 10:6, 9).
Gn.32:29 29. Como te chamas. Talvez a consciência de ter encontrado o Senhor e falado com Ele face a face tenha assustado Jacó ou despertado uma euforia pessoal tão grande que ofuscara a lição mais importante que ele devia aprender dessa experiência. A bênção de despedida do Anjo era o bastante.
Gn.32:30 30. Peniel. Como Jacó dera o nome Betei ao lugar onde vira a Deus num sonho (Gn 28:19) e Maanaim ao local onde uma hoste de anjos lhe aparecera no caminho (Gn 32:2), ele assinalou então o lugar de seu encontro pessoal com Deus por meio de um nome que significava a “face de Deus ”. O fato de ver a Deus face a face e continuar vivo era verdadeiramente um milagre (ver Ex 33:20; Jz 6:22; 13:22; Is 6:5).A minha vida foi salva. Isto é, “estou preservado e serei preservado”. Estas palavras ecoam a nova fé que jacó encontrara. Ele tinha a certeza de que, o que quer que lhe acontecesse, contanto que fosse da vontade de Deus, uma mão divina o preservaria de todo mal. Até as coisas que pareciam ser contra ele no momento em que ocorreram, demonstraram ser providenciais (Gn 42:36). Peniel foi o ponto decisivo na vida de Jacó.
Gn.32:31 31. Peniel. Alguns expositores sugerem que “Penuel” (KJV) era o nome original ciolugar, e que Jacó o havia mudado pela alteração de uma vogal para Peniel. E mais provável, porém, que Penuel seja uma forma antiga da mesma palavra. O nome aparece novamente em Juizes 8:8, 9, 17 e em 1 Reis 12:25, e também numa lista egípcia de nomes de cidades palestinas. Sua exata localização não foi definitivamente determinada. Alguns estudiosos a têm identificado com Tulul edh-Dhahab, no Jaboque, 11 km a leste do Jordão. Outros a buscam um pouco mais adiante para o leste.Manquejava. Como Paulo, que séculos mais tarde trazia um “espinho” na carne (2Co 12:7), Jacó saiu da cena que constituiu a suprema experiência de sua vida levando um memorial do conflito e da vitória dali. Embora fisicamente manco, provavelmente para o resto da vida, mas com o espírito liberto, Jacó desfrutou as mais ricas bênçãos de Deus. Toda luta deixa cicatrizes. Como Jacó, todo crente fiel, ao passar por sua própria experiência de Peniel, pode esperar ter uma lembrança da intensa luta contra o eu, com as tendências herdadas e as más inclinações. Até nosso Senhor Jesus Cristo leva as marcas do feroz conflito pelo qual passou quando esteve na Terra, e continuará a tê-las por toda a eternidade. Nossas marcas desaparecerão e serão esquecidas (2Co 4:17; Is 65:17). Ao passo que nossas cicatrizes são resultado da luta contra o eu, as marcas dos cravos nas mãos de Cristo sobrevieram através do conflito enfrentado com os poderes das trevas, em nosso favor.
Gn.32:32 32. O nervo do quadril. O significado da palavra heb. é desconhecido. A tradução da KJV e da ARC (“nervo encolhido”) se baseia na palavra enarkesen, usada pela LXX, que significa “tornou-se fraco”, “tornou-se entorpecido” ou “foi deslocado”. A palavra deve ser traduzida como “quadril”, e a frase diria “o nervo do quadril”. Os judeus ortodoxos se abstêm de comer essa porção de qualquer animal usado como alimento, mas não se sabe como essa parte da anatomia de Jacó veio a ser identificada como o “nervo” que “se contraiu”. Embora ela não seja mencionada em outra parte do AT, o Talmude judaico definitivamente considera esse costume como uma lei cuja violação deve ser punida com açoites (Tratado Chulin, Mishnah, 7). Os judeus nos tempos antigos não distinguiam de maneira clara o que a palavra “nervo” significava exatamente, mas hoje se entende que ela se aplica ao tendão interior e ao nervo do quadril dos animais abatidos para servir de alimento.A narrativa dos v. 24-32 contém três pontos de interesse especial para todo judeu. Ela explica por que ele é chamado um israelita e liga seu nome a um distante ancestral que lutou com Deus para poder obter esse nome. Ela aponta com interesse para uma aldeia que de outra forma seria insignificante: Peniel, onde o evento ocorreu. E, finalmente, ela explica a origem do costume de não comer o nervo mencionado e de considerá-lo com respeito.Capítulo 33p- daste de mim.
Gn.33:1 1. Repartiu os filhos (ARC). A razão para esta medida não está clara. Jacó colocou Raquel e José atrás, por razões de segurança, ou para apresentar a esposa e o filho favoritos a Esaú por último. Também pode ser que o costume social prescrevesse um arranjo desse tipo. A divisão prévia da caravana em dois acampamentos (Gn 32:7, 8) pode ter sido considerada desnecessária e abandonada após a experiência de Jacó na noite anterior (ver com. de Gn 32:30). Ou pode ser que “o povo” mencionado em Gênesis 32:7 e 8 fosse os servos e pastores, não as esposas e os filhos, a quem ele conservou consigo. Assim, pode ser que a família imediata estivesse junto a um dos dois grupos, ou então separada dos dois.
Gn.33:2 Sem comentário para este versículo
Gn.33:3 3. Prostrou-se. Este costume oriental é atestado nas Cartas de Amarna, do século 14 a.C., nas quais príncipes palestinos escreveram para um rei egípcio que eles se prostraram aos pés do faraó "sete vezes”, ou “sete vezes e outras sete vezes”, ou possivelmente “sete vezes sete vezes”. O ato de inclinar-se sete vezes diante de um superior parece ter sido considerado sinal de perfeita humildade e irrestrita submissão. Com esta manifestação de deferência, Jacó esperava ganhar o coração do irmão. Isso representava a desistência completa de qualquer reivindicação a privilégios especiais conseguidos anteriormente de maneira desleal.
Gn.33:4 4. Esaú [...] abraçou-o. Ao ver seu irmão gêmeo, Esaú foi tomado por sentimentos naturais de afeto fraternal. Mesmo que ainda houvesse rancor em seu coração, este foi vencido pela humildade de Jacó. Compreendendo que não tinha nada a temer de Jacó, Esaú deu vazão irrestrita às emoções naturais do coração.
Gn.33:5 5. Viu as mulheres e os meninos. Durante o silencioso abraço dos irmãos havia tanto separados, as quatro esposas e os 12 filhos de Jacó haviam se aproximado.
Gn.33:6 Sem comentário para este versículo
Gn.33:7 Sem comentário para este versículo
Gn.33:8 8. Com todos esses bandos. Embora ele soubesse bem o propósito dos vários bandos (Gn 32:18), Esaú perguntou sobre os mesmos. Com óbvia cortesia oriental, ele se recusou a aceitá-los até que foi insistentemente persuadido a fazê-lo. A “vida errante” que se adequava tão bem à sua natureza lhe havia proporcionado tal riqueza e poder que suas posses terrenas sem dúvida se igualavam às de Jacó. Esaú foi amigável com Jacó, mas nada em seu proceder se compara à humildade demonstrada pelo irmão. Jacó se dirigiu a Esaú como “meu senhor”, enquanto que Esaú se dirigiu a ele como “meu irmão”.
Gn.33:9 Sem comentário para este versículo
Gn.33:10 10. Vi o teu rosto. A amigável saudação de Esaú fazia recordar a promessa divina então recentemente feita a Jacó, e no rosto de Esaú ele podia ler seu misericordioso cumprimento. Essas palavras de Jacó refletem a profunda gratidão pela óbvia Presença que o acompanhou no caminho (ver Gn 32:30). Feliz é a pessoa que reconhece a Providência a seu lado dia a dia (Jó 33:26; SI 11:7).
Gn.33:11 11. O meu presente. Literalmente, diz “a minha bênção” (ARC). Estas palavras foram bem escolhidas e soaram poderosas. Poderiam ser uma alusão à bênção que < Jacó havia tomado de Esaú, 20 anos antes? Era muito importante para Jacó que Esaú aceitasse o presente, pois ao fazê-lo, Esaú, segundo o costume da época, expressaria aceitação daquilo que o presente representava - as desculpas de Jacó. No Oriente, um presente recebido por um superior garante a quem o dá a amizade e o auxílio de quem o recebe. Se o presente for rejeitado, ele tem tudo a temer.
Gn.33:12 12. Partamos. Esaú pressupôs que jacó prosseguiria imediatamente até Hebrom (Gn 35:27), onde morava o pai deles, Isaque, e se propôs a acompanhá-lo no caminho. Contudo, jacó cortesmente declinou da oferta e também da escolta posteriormente sugerida.A última era desnecessária; a primeira significaria uma marcha intoleravelmente lenta para Esaú. Esta recusa não brotou de qualquer sentimento de desconfiança; as razões dadas não eram meros pretextos. Ele não precisava de uma escolta militar, pois sabia que era defendido pelos exércitos de Deus e não podia viajar tão rápido quanto Esaú desejaria. Além do mais, ficaria livre para acampar onde escolhesse e permanecer ali até estar pronto para seguir viagem. Dessa forma, desfrutaria plena liberdade de ação.
Gn.33:13 Sem comentário para este versículo
Gn.33:14 14. Até chegar. Não que jacó pretendesse ir diretamente para Seir, mas como uma expressão de seu desejo de ver Esaú novamente e de manter amigável relação com ele. Certamente esta não foi uma mentira proposital para se ver livre de Esaú. O destino de Jacó não era a terra de Seir, mas Canaã, provavelmente Hebrom, onde seu pai Isaque vivia na época. Portanto, talvez ele tenha pensado em fazer uma visita a Esaú, mas não é claro se chegou a fazê-la. A outra vez em que os irmãos se encontraram como amigos foi no funeral do pai (Gn 35:29).
Gn.33:15 Sem comentário para este versículo
Gn.33:16 Sem comentário para este versículo
Gn.33:17 17. Sucote. Isto é, “cabanas” ou “chou- panas” feitas de varetas entrelaçadas. Sucote, no vale do Jordão (Js 13:27), foi mais tarde dada à tribo de Gade. Foi experimentalmente identificada com a colina Deiralla, perto da desembocadura do rio Jaboque.Não se sabe quanto tempo Jacó permaneceu em Sucote. O fato de ele construir uma “casa”, o que nenhum dos patriarcas anteriores parece ter feito, sugere que deve ter morado ali por vários anos. Também não é clara a razão disso. As boas pastagens e a população esparsa podem tê-lo influenciado nessa decisão. Comissionado por Deus a voltar à terra de seus pais (Gn 31:3), Jacó provavelmente visitou seu idoso pai na primeira oportunidade. Nessa ocasião, pode ter visitado o irmão em Seir, como havia prometido.
Gn.33:18 18. Chegou Jacó são e salvo. A versão ACF diz: “E chegou Jacó salvo a Salém, cidade de Siquém.” Ao considerar shalem o nome de um lugar, essa versão segue a LXX, a Vulgata e outras versões posteriores. A palavra é, contudo, um advérbio que significa “em paz” ou “em segurança”, e é equivalente à frase “em paz” (ver Gn 28:21), à qual parece ser uma alusão. O que havia solicitado ao fazer o voto em Betei, 20 anos antes, Jacó recebia então (PP, 204). Ele havia voltado à sua terra natal.Cidade de Siquém. Se shalem for tomado como o nome de um lugar, então Siquém se referiria à pessoa do v. 19 e 34:2, o filho de Hamor, o heveu. Mas, se shalem significa “são e salvo”, a frase deve ser traduzida como: “Chegou Jacó são e salvo [em segurança] à cidade de Siquém” (cf. ARA e outras). Não se deve presumir que a cidade de Siquém tenha recebido seu nome de Siquém, filho de Hamor, uma vez que ela já existia como cidade no tempo de Abraão (Gn 12:6). Uma inscrição egípcia descreve uma campanha militar contra a cidade no século 19 a.C. Assim, é mais provável que Siquém, filho de Hamor, tenha recebido o nome da cidade.
Gn.33:19 19. Siquém. Hamor é aqui mencionado como o pai de Siquém em antecipação aos eventos subsequentes que envolvem a ambos. Foi na “parte do campo” comprado dos sique- mitas que Jacó cavou o poço onde ocorreu o memorável diálogo entre Jesus e a mulher samaritana (Jo 4:6).Cem peças de dinheiro. A qesitah é uma unidade monetária só mencionada novamente em Josué 24:32 e Jó 42:11. Aparentemente, ela caiu em desuso logo após a conquista de Canaã pelos israelitas, pois não é mencionada nos livros bíblicos posteriores. Alguns comentaristas sugerem que ela teria o valor de dez siclos, mas isso é apenas suposição. Seu valor é desconhecido.Com essa compra, Jacó demonstrou sua fé na promessa de que Canaã seria seu lar.Apropriadamente, essa parte de terra ficou, mais tarde, para os descendentes de seu filho favorito, José, cujos ossos foram enterrados ali (Js 24:32). Segundo a tradição, essa região ficava na planície que se estende a partir da abertura sudeste do vale de Siquém. Ali, ainda hoje, há sinalizações que indicam o poço de Jacó (Jo 4:6) e a tumba de José, um pouco mais ao norte. Essa última estrutura é de origem muçulmana, bem como as tradições relativas à mesma.
Gn.33:20 20. Um altar. Como seu avô Abraão, Jacó erigiu ali seu primeiro altar ao entrar na terra de Canaã (Gn 12:7). Foi provavelmentecom aquele antigo altar em mente que Jacó escolheu esse lugar.Deus, o Deus de Israel. “El-elohe- Israel” (NVI). Tem sido sugerido que este nome significa “[dedicado] ao Deus de Israel”, considerando-se as duas primeiras letras do hebraico como sendo a preposição ’al, “para”. Desde tempos antigos, porém, ele tem sido interpretado como “O [poderoso] Deus, [é] o Deus de Israel”. Isso distingui- ria o altar como um memorial à misericórdia do Senhor e à Sua mão prosperadora que haviam feito Jacó retornar em segurança à terra de seus pais após mais de 20 anos.Capítulo 34í ignomínia.em habitar conosco, tornando-nos um só povo, se todo macho entre nós se círcuncidar, como eles são circuncidados.
Gn.34:1 1. Diná. Esta era, até então, a única filha de Jacó (PP, 204). Não devia ter mais de cinco ou seis anos de idade quando a família partiu de Harã, uma vez que nasceu depois do sexto filho de Lia (Gn 30:21). É possível que tivesse atingido a idade de 14 ou 15 anos quando ocorreu o infeliz evento descrito neste capítulo. E evidente, portanto, que haviam se passado cerca de oito anos ou mais desde o retorno de Jacó a Canaã (vercom. de Gn 33:17). Se os eventos narrados nos capítulos 34 a 37 são apresentados em ordem cronológica, como parece ser o caso, Diná não devia ter muito mais de 15 anos na época, porque José, que tinha mais ou menos a mesma idade de Diná (Gn 30:21-24), estava apenas com 17 anos quando foi vendido pelos irmãos como escravo (Gn 37:2). O fato de ela sair desacompanhada parece indicar que, em casa, ainda era considerada uma criança.As filhas da terra. O historiador judeu Josefo menciona uma antiga tradição segundo a qual os siquemitas estavam ocupados em festividades (Antiguidades, i.21.1), e Diná desejava se unir às moças de Siquém em suas diversões. A linguagem sugere uma visita amistosa, e é até possível que Diná tivesse o hábito de se associar às moças de Siquém.Há sempre risco na associação frívola com descrentes. Diná estava curiosa para conhecer os hábitos e costumes das pessoas da vizinhança. Isso a levou a uma intimidade despreocupada com as moças vizinhas, o que terminou em desgraça. O perigo, para ela, se deu pela busca de liberdade em relação ao controle e à supervisão paterna, e por desconsiderar a admoestação de permanecer separada dos idólatras e de seus maus hábitos. “As más companhias corrompem os bons costumes” (ICo 15:33, NVI). Os habitantes de Canaã eram para a família de Jacó o que o mundo atual é para o cristão. O que é chamado de “conhecer o mundo” pode, em muitos casos, se demonstrar um flerte com a morte. A familiaridade com o pecado entorpece os sentidos e aumenta o perigo da tentação.
Gn.34:2 2. Siquém, filho do heveu Hamor.Os heveus eram uma tribo cananeia (ver Gn 10:17). Pelo que se sabe da moral dos cana- neus, a conduta de Siquém não foi de forma alguma algo fora do comum, e Diná pagou o preço por sua independência imprudente ao se associar com jovens incrédulos.
Gn.34:3 3. Falou-lhe ao coração. Isto é, procurou consolá-la diante do acontecido e conquistar suas afeições. Embora Diná tivesse ido à cidade sozinha, não parece ter consentido com tudo o que aconteceu aii. Estava agora na casa de Siquém, onde foi encontrada quando Simeão e Levi saquearam a cidade alguns dias mais tarde (v. 26).
Gn.34:4 Sem comentário para este versículo
Gn.34:5 5. Soube Jacó. As informações sobre a experiência de Diná devem ter chegado até seu pai indiretamente, uma vez queela própria permanecia na casa de Siquém (v. 26).Calou-se. O silêncio de Jacó se deveu provavelmente a um misto de tristeza, cautela e perplexidade. Ele havia aprendido a ser prudente, em vez de agir por impulso. A seriedade da situação certamente afetava os interesses de toda a família, e requeria discussão e decisão em conjunto. Recusar a proposta de casamento seria incorrer na inimizade dos siquemitas; aceitá-la seria uma franca violação do princípio da não associação com os pagãos (ver Gn 24:3, 6; 26:35). Contudo, Diná estava com Siquém, e como se poderia conseguir seu retorno? Se Jacó tivesse previsto o trágico procedimento que alguns de seus filhos seguiríam ao saber do ocorrido, provavelmente teria tomado o assunto em suas próprias mãos e agido imediatamente. Considerando-se o que ocorreu, contudo, ele fez melhor em governar seu espírito do que seus filhos em tomar a cidade (Pv 16:32).
Gn.34:6 Sem comentário para este versículo
Gn.34:7 7. Indignaram-se. Literalmente, “se fizeram furiosos”. A segunda expressão, “e muito se iraram”, diz, literal mente: “se lhes ardeu grandemente”. A ira apaixonada deles era incontrolável (cf. ISm 15:11; 2Sm 19:43). A maneira como se sentiram pode ser compreendida pelo fato de os árabes modernos se sentirem mais desonrados pela violação de uma irmã do que pela infidelidade da esposa. Um homem, dizem eles, pode se divorciar da esposa e assim ela não lhe pertencerá mais; uma irmã ou filha, contudo, continua sempre sendo irmã ou filha.Era, portanto, apropriado que sentissem dor e natural que ficassem indignados. Sua própria honra estava ligada à honra da irmã. Eles, porém, não se preocuparam tanto com o pecado cometido contra Deus como com a vergonha trazida sobre a família. Nessa atitude para com o caso estava a origem do grande erro deles ao tratar com o mal (Gn 49:7).Praticara um desatino. É a mesma expressão traduzida em outras passagens como “fazer loucura”. Esta se tornou uma frase-padrão para crimes que envolviam a honra, especialmente os relacionados aos pecados da carne (Dt 22:21; jz 20:10; 2Sm 13:2, 12; etc.), mas também a outros (Js 7:15).Em Israel. O nome Israel é aqui aplicado pela primeira vez à casa de Jacó. Mais tarde, ele se tornou a designação usual para a nação. Alguns comentaristas salientam que os filhos de Jacó só foram chamados como Israel ou israelitas muito tempo depois; por isso, acham que a frase “em Israel” deve ser traduzida como “contra Israel”. Isso é gramaticalmente possível e implicaria que o caso era um crime contra Jacó, que havia se tornado Israel, “um príncipe de Deus”.
Gn.34:8 8. Disse-lhes Hamor. Hamor, o pai de Siquém, fora pedir a Jacó sua filha (v. 6), mas, como os filhos de Jacó chegaram a casa ao mesmo tempo (v. 7), falou com eles também. O pai e os irmãos de uma donzela eram considerados seus guardiões legais (ver Gn 24:50).
Gn.34:9 9. Aparentai-vos conosco. A ausência de qualquer desculpa pelo ato de Siquém em desonrar Diná não é uma indicação de que ela consentiu, mas sim dos baixos padrões morais do príncipe cananeu. Ele não viu na conduta nada particularmente de errado, pelo menos já que seu filho estava disposto a se casar com a moça que havia desonrado.
Gn.34:10 10. Habitareis conosco. Hamor propôs uma política de troca de casamentos entre a família de Jacó e os siquemitas. Ele estava pronto, também, a fazer concessões quanto ao arrendamento de terras para que os recém-chegados pudessem morar, transitar e negociar livremente na região. Várias ofertas amigáveis foram feitas tanto pelo pai como um político, em favor da troca de casamentos entre as famílias em geral, quanto pelo filho como pretendente, para que pudesse obter a moça.Para suas mentes pagãs, uma política exclusivista a esse respeito era inconcebível. Com um espírito incrédulo, eles procuraram derri- bar o que consideravam uma atitude estreita. Os incentivos oferecidos eram os que apelariam a eles próprios sob circunstâncias semelhantes, e, demasiadas vezes, essas propostas atraem o professo povo de Deus e o leva a abandonar seus escrúpulos sagrados.
Gn.34:11 Sem comentário para este versículo
Gn.34:12 Sem comentário para este versículo
Gn.34:13 13. Os filhos de Jacó. Por mais atrativas que fossem as ofertas do príncipe de Siquém, todas foram recusadas pelos filhos de Jacó, que então tomaram a iniciativa de discutir a proposta de casamento da irmã (ver Gn 24:50). Aceitar a proposta seria violar os princípios sagrados do chamado deles como família e sacrificar as promessas de Deus pelo ganho mundano.
Gn.34:14 Sem comentário para este versículo
Gn.34:15 15. Sob uma única condição permitiremos. E claro que a rejeição da proposta de Hamor estava correta, mas é igualmente indiscutível que o procedimento foi errado. Ao maquinarem um assassinato sob o manto protetor de escrúpulos religiosos, os filhos de Jacó se tornaram culpados de hipocrisia e crueldade. A hipocrisia consistiu em professar aceitar a proposta de Hamor quando não tinham intenção alguma de fazê-lo, e isso sob a condição de que os siquemitas aceitassem o selo da sagrada aliança de Deus. Eles sabiam que, se os siquemitas se submetessem à circuncisão, o fariam como mera formalidade. E, finalmente, a proposta deles foi planejada num espírito de vingança cruel.Posteriormente, a submissão ao rito da circuncisão por parte de um não judeu passou a ser considerada como um indicativo da aceitação da fé judaica e da inclusão no vínculo da aliança, isto é, o rito convertia legalmente um gentio num judeu (ver At 15:5; G1 6:12). Se a aceitação do sinal da aliança por parte dos siquemitas tivesse significado a conversão ao Deus verdadeiro, então todas as objeções à troca de casamentos teriam sem dúvida desaparecido.
Gn.34:16 Sem comentário para este versículo
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Gn.34:18 Sem comentário para este versículo
Gn.34:19 Sem comentário para este versículo
Gn.34:20 20. Aos homens da cidade. A condição proposta pelos filhos de Jacó pai'eceu razoável aos dois solicitantes, e eles se dispuseram a submeter-se imediatamente a ela. Primeiramente, contudo, foram ao portão de Siquém, o local de reunião pública, para expor o assunto diante dos homens da cidade. A vivida descrição da riqueza de Jacó e de sua família, bem como das vantagens que poderiam ter caso se unissem a eles, produziu pronta adesão ao plano. De maneira geral, pode-se contar como certo que o povo comum irá seguir as sugestões de líderes populares e decididos. Isso se demonstrou verdadeiro quando jeroboão inaugurou a adoração dos bezerros de ouro em Dã e Betei. Na verdade, ao longo de toda a história de Israel as pessoas se inclinaram a seguir a liderança do rei. Da mesma forma, quando Crispo, o principal da sinagoga, creu, muitos coríntios também se converteram ao cristianismo (At 18:8).
Gn.34:21 Sem comentário para este versículo
Gn.34:22 22. Somente, porém, consentirão os homens. Hamor ressaltou as considerações que na verdade eram secundárias, enquanto que o ponto principal, a circuncisão, foi mencionado apenas de passagem como uma condição trivial à qual não podia haver objeção razoável. A perspectiva de ganho material é sempre uma avenida eficaz de acesso a pessoas de mentalidade mundana. Qualquer manobra que tenha a possibilidade de aumentar a própria riqueza parece desejável (ver Is 56:11). Os homens de Siquém pensaram estar fazendo um acordo vantajoso, e estar ganhando muito em troca de algo sem valor ou importância.
Gn.34:23 Sem comentário para este versículo
Gn.34:24 Sem comentário para este versículo
Gn.34:25 25. Ao terceiro dia. Geralmente no terceiro dia aparecem inflamação e febre após intervenção cirúrgica. Enquanto os siquemi- tas estavam assim indefesos, dois dos irmãos mais velhos de Diná iniciaram a obra sanguinária de vingança. Este massacre cruel demonstra como um pecado leva a outro, como chamas de fogo se espalhando nummatagal seco (Is 9:18). A dissipação levou à desonra, e a desonra, à vingança e ao assassinato (ver Tg 1:15). A desgraça trazida sobre uma família transformou em viúvas e órfãos as mulheres e crianças de toda uma cidade, índiretamente, esta narrativa testifica da confiabilidade de Moisés como historiador. Embora ele próprio fosse um levita, não deixa de mostrar o caráter de seu progenitor.
Gn.34:26 26. Tomaram a Diná. Talvez Diná tivesse sido detida por Siquém contra sua própria vontade. Por outro lado, suas propostas apaixonadas podem tê-la levado a permanecer voluntariamente com ele. Libertar Diná de seu captor certamente era algo honroso, mas os meios pelos quais isso foi realizado eram extremamente repreensíveis. Como seus ancestrais em ambos os lados da família, os filhos de jacó manifestaram uma estranha mistura de zelo religioso e paixão carnal, de fé sublime e astúcia repugnante.
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Gn.34:28 Sem comentário para este versículo
Gn.34:29 Sem comentário para este versículo
Gn.34:30 30. Vós me afligistes. Jacó fez uma severa repreensão pelo ato impulsivo, enfatizando as consequências do crime para si e para a família. A ênfase nesse aspecto do assunto foi calculada para impressionar os filhos com os resultados práticos da ação impensada. Suas últimas palavras referentes a Simeão e Levi (Gn 49:5-7) são evidência de quão profundamente Jacó aborreceu o que fizeram. Seu medo de represálias não era de forma alguma infundado, e somente a misericórdia de Deus impediu o mal que poderia ter sobrevindo a ele e à sua casa (Gn 35:5, 6). Simeão e Levi perderam, como Rúben, o direito de primogenitura que de outra forma poderiam ter desfrutado. Mais uma vez o caráter distorcido se colocou entre os indivíduos e as possibilidades que poderiam ter se concretizado.
Gn.34:31 31. Abusaria ele de nossa irmã? Mas os filhos de jacó não viam as coisas como seu pai. Para eles, a represália parecia plenamente justificada. Não só vindica- ram a si mesmos, mas deixaram implícitoque o pai se preocupava menos com a filha do que eles haviam se preocupado com ela como irmã. A palavra “prostituta”, zanah, que significa prostituição em troca de dinheiro, é aqui usada pela primeira vez na Bíblia. Esta passagem mostra que a prostituição já existia na Palestina e que era considerada uma profissão desonrosa.Esta narrativa constitui um capítulo obscuro na história dos patriarcas. Ela ensina que uma causa justa para ira não é desculpa para atos impensados. A paciênciasob injustiça tem a aprovação divina (lPe 2:19, 20; 3:17), pois a vingança e a retribuição pertencem somente a Deus (Rm 12:19). Só Ele tem a sabedoria para ministrá-la com justiça e temperá-la com misericórdia. Sob certas circunstâncias, a ira pode ser plenamente justificada, mas deve ser dirigida contra o pecado e não contra o pecador. Já foi declarado que a única ira sem pecado é a ira contra o pecado (Ef 4:26). A ira contra o próximo desqualifica a pessoa irada de exercer juízo imparcial (ver Mt 7:1, 2).Capítulo 35
Gn.35:1 1. Sobe a Betei. Jacó temia que o traiçoeiro massacre dos siquemitas feito por Simeão e Levi levasse à represália por parte de outras tribos cananeias vizinhas. O idoso patriarca parece ter refletido sobre o horrível ato e suas esperadas consequências, sem saber o que fazer ou para onde se voltar. Em sua perplexidade, Deus apareceu uma vez mais e o instruiu quanto a como proceder para proteger sua família. Jacó deve ter se sentido feliz com a certeza de que o mesmo braço divino que o havia escudado contra a ira de Labão e a inimizade de Esaú continuaria a protegê-lo e preservá-lo.
Gn.35:2 2. Lançai fora os deuses estranhos. A perspectiva de se encontrar com Deus em Betei levou a uma obra mais completa de reforma. Havia muito a ser feito antes que Jacó e sua família estivessem prontos parase encontrar com o Senhor (ver Am 4:12; ljo 3:3). Por consideração às esposas, Jacó havia tolerado a presença de ídolos nas tendas delas. Esses deuses estranhos provavelmente incluíam os ídolos que Raquel havia roubado do pai (Gn 31:19), as imagens pertencentes a seus servos e outras que podem ter vindo parar nas mãos de seus filhos com os despojos de Siquém.Purificai-vos e mudai as vossas vestes. Uma vez que as ordens dadas por Jacó aos membros de sua casa se assemelham com aquelas dadas mais tarde no Sinai (Êx 19:10), parece que Jacó agiu com base em instruções específicas de Deus ou com base num procedimento que havia aprendido com o pai. A purificação exterior do corpo e a troca de roupas simbolizavam a purificação moral e espiritual da mente e do coração (ver Is 64:6; 61:10).Não se deve entrar no serviço de Deus sem o devido preparo (ver Lc 14:28).
Gn.35:3 3. Levantemo-nos. jacó havia achado tão agradável e satisfatória sua residência nas vizinhanças de Siquém que havia protelado o cumprimento dos votos feitos a Deus, em Betei (Gn 28:20-22). A situação resultante do horrível crime de seus filhos o havia tornado novamente cônscio da necessidade de comunhão mais íntima com Deus e de obediência cuidadosa à vontade divina. A mudança para Betei foi planejada para que ele se lembrasse de sua vida passada e para que, juntamente com sua família, se aproximasse mais de Deus.Que me respondeu. Esta é uma clara alusão a uma oração atendida. Se a referência aqui é à experiência em Betei, jacó deve ter orado naquela noite antes de dormir. Caso seja à experiência no jaboque, a oração está registrada em Gênesis 32:9-12. Os patriarcas evidentemente estavam familiarizados com o poder da oração e provavelmente a praticavam em horários fixos, com a plena confiança de que Deus ouve e atende às petições de Seus servos fiéis (ver Gn 24:12, 26, 52, 63).
Gn.35:4 4. E as argolas que lhes pendiam das orelhas. Não só os ídolos, mas também todas as joias foram entregues a Jacó para serem removidas de casa. Essas coisas seriam uma barreira que os impediría de serem aceitos por Deus em Betei. Não está claro se os brincos em forma de argola eram simples ornamentos ou se eram amuletos, como alguns comentaristas acreditam. O procedimento mais sábio para todo filho de Deus é seguir o exemplo das esposas e servas de Jacó e eliminar todo ornamento desse tipo (lTm 2:9; lPe 3:3).A obediência dos membros da casa de jacó ao executarem suas instruções é louvável. Aparentemente eles consideraram necessária a remoção dos deuses estranhos e de todos os adornos de vaidade a fim de queDeus fosse adorado com sinceridade. Mais tarde foi dada uma lei explícita impondo à nação de Israel a proibição de ter outros deuses além de Yahweh.Jacó os escondeu debaixo do carvalho. A eliminação completa de imagens e adornos foi um procedimento sábio; do contrário, estes poderiam novamente ter se tornado uma fonte de tentação. Para qualquer pessoa que ama o Senhor, a única conduta sábia é separar-se completamente das tentações persistentes. E melhor que todo objeto moderno de idolatria, incluindo adornos usados para a glória do eu em vez de para a glória de Deus, não seja preservado nem como recordação. Num momento inesperado, a tentação de usá-los novamente pode se tornar irresistível.Não fica claro se o carvalho sob o qual Abraão um dia armou sua tenda (Gn 12:6), aquele sob cuja sombra Josué mais tarde erigiu uma pedra (Js 24:26), o carvalho dos adi- vinhadores (jz 9:37) e o carvalho memorial perto de Siquém (Jz 9:6) são todos a mesma árvore, aquela sob a qual Jacó enterrou os ídolos e os brincos em forma de argola. Não é improvável, porém, que esses textos de fato se refiram à mesma árvore, a qual deve ter sido um marco.
Gn.35:5 Sem comentário para este versículo
Gn.35:6 Sem comentário para este versículo
Gn.35:7 7. El-Betel. A cidade cananeia que ficava ali perto, e que daí em diante ficou conhecida entre os hebreus como Betei, chamava-se então Luz (ver com. de Gn 28:19). A forma como o nome aparece aqui sempre representou problema para tradutores e comentaristas. Alguns têm traduzido a passagem como: “E pôs naquele lugar o nome de ‘O Deus de Betei’” (NTLH). Outros têm sugerido que o primeiro “EI”, Deus, não estava no texto original e que representa erro de copista. O fato de não estar presente na LXX, na Vulgata e na Peshitta favorece essa possibilidade. Contudo, em vista do nome de El-elohe- Israel, dado ao altar erigido em Siquém (Gn 33:20, NVÍ), não parece estranho queJacó tenha dado ao local do altar próximo a Luz o nome “O Deus de Betei ”. Talvez com isso ele quisesse dizer: “[Dedicado a] o Deus de Betei”, isto é, Aquele que lhe havia aparecido ali em sua fuga para Harã. Ao chamar Jacó para sair de Padã-Harã, Deus havia Se identificado a Jacó como “o Deus de Betei” (Gn 31:13). E bastante provável, portanto, que Jacó tenha dedicado o altar com isso em mente, em memória do fato de então haver chegado ao lugar ao qual Deus Se referira ao ordenar que ele retornasse.
Gn.35:8 8. Débora. Que significa “abelha” (ver Gn 24:59). Ela devia estar em idade avançada. Jacó nascera 20 anos após o casamento de sua mãe, e agora ele estava com mais de 100 anos. Uma vez que Débora havia saído de Padã-Harã com Rebeca, é possível que estivesse então com 150 anos de idade. Contudo, isso não era algo extraordinário no tempo de Abraão, Isaque e Jacó, que morreram com idades, respectivamente, de 175, 180 e 147 anos.O fato de Débora haver se tornado membro da casa de Jacó pode ser explicado supondo-se que Rebeca a havia enviado a Harã, ou que ela havia deixado a casa de Isaque após a morte de Rebeca.
Gn.35:9 9. Outra vez lhe apareceu Deus. Esta foi uma manifestação visível, em contraste com a manifestação audível de Siquém (v. 1). A expressão “outra vez”, com a cláusula adicional, “vindo Jacó de Padã-Harã”, implica uma revelação anterior. Isso pode ser uma referência à primeira aparição de Deus a Jacó em Betei, num sonho. Nesse caso, a expressão “outra vez” enfatiza o fato de Jacó receber duas manifestações divinas em Betei: uma em sua viagem para Padã- Harã e outra quando voltou ao mesmo lugar. O apoio para esse ponto de vista está no fato de os v. 11 e 12 repetirem a bênção dada pela primeira vez a Jacó no sonho em Betei (Gn 28:13, 14). Também é possível que a aparição de Deus a ele em Peniel seja consideradapor Moisés como a primeira das duas, o que caracterizaria duas revelações visíveis de Deus desde sua volta de Padã-Harã. A menção da mudança do nome de Jacó para Israel em ambas as ocasiões favorece esse último ponto de vista.
Gn.35:10 10. E lhe chamou Israel. Na aparição anterior em Betei, Deus havia prometido a Jacó a proteção divina durante o exílio e um retorno seguro para casa, particularmente em vista do chamado para suceder Isaque como progenitor do povo escolhido e do Messias. Deus cumprira essa promessa, e Jacó, portanto, renovou o voto de fidelidade a Deus. Por Sua vez, Deus confirmou a ele o nome Israel, já conferido em Peniel (Gn 32:28), e com isso a promessa de descendência numerosa e da posse da terra de Canaã. Em forma e substância, essa promessa se assemelha mais à que foi feita a Abraão (Gn 17:6, 8) do que à que foi dada anteriormente a Jacó em Betei (Gn 28:13, 14). Próximo ao fim de sua vida, Jacó se referiu a essa segunda manifestação de Deus em Betei (Gn 48:3, 4), que o profeta Oseias menciona em conexão com a experiência em Peniel (Os 12:4).
Gn.35:11 Sem comentário para este versículo
Gn.35:12 Sem comentário para este versículo
Gn.35:13 13. E Deus Se retirou dele, elevando-Se.Estas palavras sugerem claramente que a experiência em Betei não foi visão nem forte impressão mental da presença divina, mas uma manifestação real de Deus.
Gn.35:14 14. Jacó erigiu uma coluna. Jacó perpetuou a memória dessa aparição divina erigindo uma pedra memorial. A “coluna” erigida 25 ou 30 anos antes provavelmente já havia ruído e desaparecido. O erguimento de colunas parece ter sido uma prática favorita de Jacó (Gn 28:18; 31:45; 35:20). Sobre cada “coluna” dedicada a Deus, ele derramava uma libação de vinho ou óleo de oliva para ungi-la, ou ambos. Segundo a lei de Moisés, a libação consistia da quarta parte de um him de vinho, que equivalia a cerca de um litro (Êx 29:40).E lhe deitou óleo. Como na ocasião anterior (Gn 28:18), Jacó consagrou esta pedra ungindo-a com óleo e confirmou o nome Betei (v. 15).
Gn.35:15 Sem comentário para este versículo
Gn.35:16 16. Partiram de Betei. Não se sabe quanto tempo Jacó permaneceu em Betei antes de continuar a viagem rumo ao sul. A partida de Betei não foi em desobediência à ordem de “habitar” ali (v. 1), uma vez que essa palavra não denota necessariamente uma habitação permanente (ver Gn 27:44; Lv 14:8; lSm 20:19; etc.). Ele devia permanecer ali pelo menos o suficiente para erigir o altar e cumprir seu voto. Depois de havê-lo feito, Jacó prosseguiu para Manre, onde seu pai habitava na época.Pequena distância. Efrata era outro nome para Belém (v. 19), que ficava situada cerca de 25 km ao sul de Betei. E incerto o significado exato da frase hebraica kibrath- -haares, “pequena distância”, literalmente “um kibrah de terra”. Kibrah vem de kabar, que significa “ser grande”, “ser muito”, “ser longo”. Pensa-se, contudo, que um kibrah era originalmente uma medida definida de distância, usada pelos hebreus, cujo valor é desconhecido. A LXX e a Vulgata deixam claro que, na época de sua tradução, o significado da frase já havia se perdido. Com base no significado da raiz kabar; a tradução da NVI, “quando ainda estavam a certa distância de Efrata”, pode estar mais próxima do original que a da ARA.
Gn.35:17 Sem comentário para este versículo
Gn.35:18 18. Benoni. O nascimento de Benjamim marcou o cumprimento do desejo expresso por Raquel, quando deu nome a José, de que Deus lhe desse outro filho (ver com. de Gn 30:24). Quando estava morrendo no parto, deu a seu filho o nome de Benoni, “filho da minha dor” ou “filho do meu infortúnio”. Naquelas circunstâncias, sob o ponto de vista dela, era um nome muito apropriado.Benjamim. Literal mente, “filho da mão direita”. Yaniin, “direita”, tem a conotação de felicidade e prosperidade e, no árabe,também de boa sorte. Sendo um verdadeiro otimista, Jacó achou que seu filho mais novo devia ter um nome que expressasse coragem e esperança, um nome que sempre o faria lembrar a alegria que lhe veio ao coração por ocasião do nascimento de seu 12° filho, em vez da tristeza pela perda de Raquel. Uma coisa compensava, em parte, a perda da outra.Ao sair-lhe a alma. Não tem fundamento bíblico a ideia de que Moisés fala aqui de alguma parte imaterial, mas consciente, de Raquel que presumivelmente “voava” ao paraíso no momento de sua morte. Ler esse significado no texto o colocaria em desarmonia com muitas outras declarações específicas das Escrituras que ensinam claramente o fato de que a consciência cessa completamente na morte (ver SI 146:4; Ec 9:5, 6, 10; etc.). Um dos significados primários da palavra nefesh, “alma”, é “vida”, termo usado 119 vezes para traduzi-la (Gn 9:4, 5; Jó 2:4, 6; etc.), ou “sopro”, como foi vertida em Jó 41:21 (NVI). Gênesis 9:5 fala sobre “o sangue da vossa vida [nefesh]”, o que deixa claro que a nefesh tem sangue, e que o sangue é essencial para sua existência. Portanto, a nefesh não poderia ser uma entidade imaterial. Em Gênesis 1:20 e 30, é dito que a criação animal tem nefesh, “vida”. Então, o fato de possuir uma nefesh não dá à pessoa nada mais do que aquilo que todas as formas de vida animal possuem. Certamente ninguém desejaria afirmar que na morte as “almas” das amebas, moluscos e símios vão voando para o Céu. Na verdade, em Eclesiastes 3:19, é especificamente declarado que tanto os animais quanto o homem têm o mesmo “fôlego”, ruach, e que na morte o mesmo acontece a ambos. Segundo o Salmo 146:4 duas coisas acontecem a um indivíduo quando morre:(1) Seu “fôlego”, ruach, sai do corpo.(2) “Perecem todos os seus desígnios.”O texto considerado é uma simples declaração do fato de Raquel, em seus últimosmomentos de consciência e em seu último suspiro, dar ao filho o nome de Benoni.Morreu Raquel. Ela havia clamado ao marido: '‘Dá-me filhos, senão morrerei” (Gn 30:1). Ambas as coisas vieram de uma só vez.
Gn.35:19 19. Efrata, que é Belém. Efrata (Gn 48:7) era o nome original da cidade mais tarde chamada Belém. Ocasionalmente ambos os nomes eram usados juntos, como em Miqueias 5:2. 'Efratha era um nome derivado de afar, uma raiz que significa “ser leve”, “ser rápido”, “ser fértil”. ’Efratha significaria, assim, “fertilidade” e, aplicada à região de Belém, implicaria a fertilidade de seu solo. Belém significa “a casa do pão”. Assim, os dois nomes têm um significado estreitamente relacionado, pois numa terra de “fertilidade” seria natural encontrar abundância de “pão” na “casa”. E possível que esses dois nomes, Efrata e Belém, estejam relacionados a dois membros de antigas famílias hebraicas que se estabeleceram nas vizinhanças de Hebrom e Belém. Calebe, da tribo de Judá, se casou com Efrata, e um de seus descendentes na quarta geração recebeu o nome de Belém (ver lCr 2:19, 51, 54).
Gn.35:20 20. A sepultura de Raquel. A “coluna” de pedra que Jacó erigiu sobre a sepultura de Raquel continuou sendo um marco famosos» por séculos. Ainda estava de pé nos tempos de Moisés e de Samuel (ISm 10:2). A capela Kubbet Rachil, “a sepultura de Raquel”, que fica a curta distância ao norte de Belém, talvez esteja localizada sobre a verdadeira sepultura de Raquel, ou muito perto dela. O edifício atual, construído pelos muçulmanos há apenas quatro séculos, marca o lugar tradicional geralmente aceito por muçulmanos, cristãos e judeus.
Gn.35:21 21. Torre de Eder. Continuando rumo ao sul, Jacó se deteve um pouco além de Migdal ‘Eder, que significa “torre do rebanho”. As torres de vigia eram comumente erigidas para a conveniência dos pastores de ovelhas ao guardarem seus rebanhos epara proteção contra inimigos que se aproximavam (2Rs 18:8; 2Cr 26:10; 27:4). O local desta torre em particular é incerto.
Gn.35:22 22. Foi Rúben. Uma vez que Bila era a esposa do pai de Rúben, este foi um ato de incesto. Sob a lei mosaica ele era punível com a morte (Lv 18:8), e era grandemente condenado mesmo pelos pagãos (lCo 5:1). Embora Bila talvez não tenha sido inteiramente inocente, Rúben certamente foi culpado de um lapso moral hediondo.Israel o soube. Após estas palavras, o texto hebraico tem uma lacuna que levou os rabis judeus da Antiguidade a comentar: “Há um hiato no verso.” A LXX preenche a lacuna acrescentando: “e isso pareceu mal aos seus olhos”. Essas palavras são inadequadas para representar a mistura de vergonha, tristeza, indignação e horror da qual Jacó ficou possuído diante do comportamento ímpio de seu filho mais velho. Este último golpe foi ainda mais amargo e devastador que a morte de Raquel ou a violação de Diná. O silêncio de Jacó pode ser interpretado como o silêncio da resignação piedosa. Mas, quando chegou o momento de pronunciar uma bênção sobre os filhos, o moribundo Jacó sentiu que Rúben, por seu crime, havia perdido o direito de primogenitura: a posição de liderança temporal e espiritual na família (Gn 49:4; lCr 5:1). A primeira foi dada a Judá e a segunda, a Levi.Os filhos de Israel. Posteriormente chamados de os doze patriarcas (At 7:8), os filhos de jacó se tornaram cabeças de famílias ou tribos numerosas, e as pessoas que descenderam deles são chamadas de as doze tribos (At 26:7; Tg 1:1). Na Antiguidade, o número 12 frequentemente tinha o significado de plenitude. Doze príncipes vieram de Ismael (Gn 25:16). Doze espias examinaram a terra de Canaã. Nosso Senhor escolheu 12 apóstolos. Embora houvesse às vezes mais de 12 ou menos de 12 tribos funcionando, as Escrituras geralmente reconhecem 12,omitindo o nome, ora de uma, ora de outra, como pode ser observado em d iferentes ocasiões (ver Dt 33; Ez 48; Ap 7; etc.).
Gn.35:23 23. Filhos de Lia. Os filhos são aqui mencionados de acordo com suas respectivas mães, não na ordem de seu nascimento. Os filhos de Lia aparecem primeiro, já que ela foi a primeira a dar à luz (Gn 29:32- 35; 30:18-20); em seguida vêm os filhos de Raquel (Gn 30:22-24; 35:18), os filhos de Bila, a serva de Raquel (Gn 30:4-8), e os de Zilpa (Gn 30:9-13).
Gn.35:24 Sem comentário para este versículo
Gn.35:25 Sem comentário para este versículo
Gn.35:26 26. Que lhe nasceram em Padã-Arã. Todos, exceto Benjamim, nasceram lá. Em estilo resumido, Moisés considera o intervalo de tempo entre a partida de Jacó da casa paterna e seu retorno para lá como sua peregrinação “em Padã-Harã”.
Gn.35:27 27. A Isaque, seu pai. A chegada de Jacó a Manre constituiu o retorno formal à casa do pai, onde ele então passou a morar como herdeiro de Isaque. Manre ficava nas imediações de Llebrom, anteriormente Quiriate-Arba (ver Gn 13:18; 23:2). Isaque viveu 23 anos depois que Jacó partiu de Harã.
Gn.35:28 28. Os dias de Isaque. Jacó estava com 120 anos por ocasião da morte de seu pai (Gn 25:26). Dez anos depois, com a idade de 130 anos, encontrava-se diante do faraó (Gn 47:9). Nessa ocasião, José já estava como governador do Egito havia nove anos (Gn 45:11). Portanto, Jacó estava com 121 anos quando José foi promovido, com a idade de 30 anos (Gn 41:46), e com 108 quando José foi vendido com a idadede 17 anos (Gn 37:2). Logo, Isaque estava com 168 anos de idade quando José foi vendido como escravo. Uma vez que esse trágico evento ocorreu enquanto Jacó estava morando em Llebrom com seu idoso pai (Gn 37:14), Isaque testemunhou a dor de Jacó e ainda viveu 12 anos após esse evento.
Gn.35:29 29. Expirou Isaque. A KJV traz: “Isaque rendeu o espírito.” Uma tradução melhor do heb. seria: “Isaque deu o último suspiro” (RSV; ver com. de Gn 25:8). Há consenso de que a morte de Isaque é mencionada aqui fora da ordem cronológica, uma vez que vários dos eventos narrados nos capítulos subsequentes, particularmente nos capítulos 37 e 38, devem ter acontecido enquanto ele ainda vivia (ver com. do v. 28). Seu obituário é inserido antes do momento real de sua morte para evitar interromper a história de José. A morte de Isaque aparentemente ocorreu perto do final dos três anos de prisão de José.Esaú e Jacó [...] o sepultaram. Esaú e Jacó estavam então plenamente reconciliados havia cerca de 23 anos. Não é estranho, portanto, encontrar Esaú unindo-se a Jacó na cerimônia de despedida de seu honrado pai. Em circunstâncias semelhantes, Isaque e Ismael estiveram juntos no sepul- tamento de Abraão (Gn 25:9). Isaque foi piedoso e humildemente submisso a Deus, e foi amigável e generoso para com o próximo. Seu caráter, em comparação com o de seu filho Jacó, parece ser mais nobre.Após a traição de Simeão e Levi em Siquém, Jacó foi forçado a se mudar. Partindo para o sul (1), ele erigiu um altar em Betei; (2) então, provavelmente para evitar os hostis jebuseus em Jerusalém, ele foi para Eírata (mais tarde conhecida como Belém). Depois, continuou sua jornada (3) para Hebrom (cerca de 80 km ao sul de Siquém), para onde Esaú e Isaque havia pouco tinham se mudado saindo de Berseba, enquanto jacó estava cm I Iara.Capítulo 36o príncipe Naate, o príncipe Zerá, o príncipe Samá, o príncipe Mizá; são estes os príncipes que nasceram a Reuel na terra de Edom; são os filhos de Basemate, mulher de Esaú. 4o príncipe Lotã, o príncipe Sobal, o príncipe Zibeão, o príncipe Aná,
Gn.36:1 1. Os descendentes de Esaú. Este capítulo consiste essencialmente de várias listas de nomes que tratam dos descendentes de Esaú e de Seir, o horeu, cujas famílias se uniram por casamento. O primeiro verso é o título dado por Moisés à coleção das listas como um todo.
Gn.36:2 2. Esaú tomou por mulheres.Os nomes das três mulheres de Esaú dados aqui diferem daqueles da lista anterior (Gn 26:34; 28:9). Em um dos casos, o nome do pai e a nacionalidade também variam.Gn 26:34Gn 36:2Judite, filha de Beeri, heteuOolibama, filha de Aná, filho de Zibeão, heveuBasemate, filha de Elom, heteuAda, filha de Elom, heteuGn 28:9 /Gn 36:3Maalate, filha de Ismael, irmã de NebaioteBasemate, filha de Ismael, irmã de NebaioteAs diferenças entre as duas listas são facilmente explicadas. Primeiro, em harmonia com um antigo costume oriental, ainda seguido pelos árabes, uma pessoa pode ser conhecida por diferentes sobrenomes em sucessivos períodos de sua vida, sendo que cada nome está baseado em algum importante evento ou experiência. Abrão, por exemplo, se tornou Abraão, Sarai se tornou Sara, Jacó se tornou Israele Esaú se tornou Edom (Gn 17:5, 15; 35:10; 25:30). Geralmente as mulheres recebiam novos nomes no casamento, um costume que explicaria as diferenças nos nomes de duas das esposas de Esaú. Além disso, no ,« caso de Judite e Oolibama, são diferentes o nome da esposa assim como o nome do pai e sua nacionalidade. Como regra geral, esposas sem filhos não são mencionadas em listas genealógicas. Portanto, pode-seinferir que Judite morreu sem filhos e que Esaú se casou, em seu lugar, com uma mulher heveia (cf. Gn 34:2). Oolibama significa “tenda do lugar alto”; Aná, “respondendo”; e Ada, “ornamento”. O nome Zibeão pode estar relacionado à palavra heb. para hiena; mas, como ele era heveu, é possível que seu nome não fosse semita. Para o significado dos outros nomes, ver as referências correspondentes.
Gn.36:3 Sem comentário para este versículo
Gn.36:4 4. A Ada de Esaú lhe nasceu. Esaú teve cinco filhos (ver ICr 1:35), em Canaã, de suas três mulheres mencionadas em Gênesis 36:2 e 3. Os nomes são distintamente semitas e revelam, em parte, que Esaú ainda se apegava em algum grau à religião de seus pais. Elifaz, que foi o nome também de um dos amigos de Jó (Jó 2:11), pode significar “força de Deus”. Reuel, que significa “amigo de Deus”, também foi um dos nomes do sogro de Moisés (Ex 2:18). O significado de Jeús, embora um pouco obscuro, pode ser “aquele que Yahweh apressa”. O mesmo nome foi dado mais tarde pelo rei Roboão a um de seus filhos (2Cr 11:19). Jalão pode significar “aquele que Yahweh esconde” ou “ele ascende”. Corá significa “calvície”. Um levita com esse nome se tornou o pai de uma famosa família de cantores (ver SI 42-49, títulos).
Gn.36:5 Sem comentário para este versículo
Gn.36:6 6. Levou Esaú suas mulheres. Após subjugar os horeus e ocupar seu território, a terra de Seir, Esaú levou sua família e fez dali seu lar permanente (ver Dt 2:12, 22). Parece que ele fez isso voluntariamente, talvez por sugestão de Isaque, uma vez que já estava estabelecido ali, ou pelo menos estava subjugando a região, quando Jacó retornou (Gn 32:3; 33:14-16). Talvez Isaq ue tivesse planejado que Esaú herdasse sua propriedade, e que Jacó herdasse a posse da terra prometida, como um arranjo para trazer Jacó de volta de Harã. Depois de Jacó e Esaú terem resolvido suas diferenças perto do rio Jaboque, esse arranjo pode ter sido mutuamente satisfatório.E se foi para outra terra. E Esaú “se foi para a terra” (KJV). Embora pareça um pouco incomum a frase “para o país” ou “para a terra”, sem uma explicação quanto a que terra a passagem se refira, pode ser que o nome “Seir” ou “Edom” (cf. Gn 36:16) tenha se perdido do texto. Por isso, algumas versões dizem: “para a terra de Seir’’ (BJ). Por outro lado, a frase que vem em seguida expressa o que Moisés tencionava dizer. Unindo-se as duas frases, se teria: “para uma terra longe de seu irmão Jacó”.
Gn.36:7 Sem comentário para este versículo
Gn.36:8 Sem comentário para este versículo
Gn.36:9 9. A descendência de Esaú. Por meio de seus filhos e netos, mencionados nos v. 10-14, Esaú se tornou o pai da nação edo- mita, cuja sede era a região montanhosa de Seir. No caso de Ada e Basemate, que tiveram apenas um filho cada, as tribos foram fundadas, não pelos filhos, mas pelos netos; porém, no caso de (Oolibama, seus três filhos foram considerados os fundadores.
Gn.36:10 Sem comentário para este versículo
Gn.36:11 11. Temã. Este nome mais tarde foi dado a uma localidade na Idumeia (Jr 49:20), à qual pertencia um dos amigos de Jó ( Jó 2:11).Omar, Zefô, Gaetã e Quenaz. Nada se sabe sobre esses netos de Esaú por parle de Ada.
Gn.36:12 12. Timna. Esta era irmã de Lotã, o horeu (v. 22); portanto, fica claro que a família de Esaú se uniu por casamento com os horeus. Isso pode ter dado aos filhos de Esaú um pretexto para se apropriarem do território dos horeus e expulsar seus antigos habitantes (Dt 2:12).Araaleque. Ancestral dos amalequi- tas, que atacaram os israelitas em Horebe depois que estes saíram do Egito (Ex 17:8- 16). A menção da “terra dos amalequitas” em Gênesis 14:7 não implica necessariamente a existência deles no tempo de Abraão e pode se referir simplesmente à região habitada por eles quando o livro de Gênesis foi escrito. A expressão usada por Balaão, “o primeiro das nações” (Nm 24:20), não representa Amaleque como a tribo mais antiga,mas simplesmente como a primeira tribo pagã a atacar Israel, ou talvez como a mais forte ou a mais guerreira das tribos do deserto. Se tivesse havido um Amaleque — e amalequi- tas — antes de Edom, em vista de seu importante papel de oposição a Israel no tempo de Moisés, seria razoável esperar que se desse a genealogia deles, como se faz com todas as outras tribos de semelhante importância para Israel.Num tempo bem remoto, os amalequi- tas se separaram das outras tribos de Edom e formaram um povo independente, cujo território se localizava no Neguebe, nas proximidades de Cades (Gn 14:7; Nm 13:29; 14:43, 45). Sendo, porém, uma tribo nômade, eles foram se deslocando pela porção norte da Arábia Pétrea, de Havilá até Sur, na fronteira com o Egito (ISm 15:3, 7; 27:8). Um ramo da tribo chegou até o centro de Canaã, de forma que uma cadeia de colinas no território que mais tarde se tornou herança de Efraim levava o nome de “região montanhosa dos amalequitas” (Jz 12:15; 5:14). Parece também que os estabelecidos na Arábia se separaram, no decurso do tempo, em vários ramos, pois as hordas amalequitas por vezes se uniram aos midianitas e aos “povos do Oriente” (jz 6:3; 7:12) e outras vezes aos amonitas (Jz 3:13) para invadir a terra de Israel. Foram derrotados em várias ocasiões por Saul (ISm 14:48; 15:2-9) e por Davi (ISm 27:8; 30:1-20; 2Sm 8:12) e, hnalmente, exterminados por Ezequias (lCr 4:42, 43).
Gn.36:13 13. Naate, Zerá, Samá e Mizá. Nada se sabe quanto a esses netos de Esaú.
Gn.36:14 Sem comentário para este versículo
Gn.36:15 15. Os príncipes. A palavra heb. alluf, que significa “príncipe” ou “chefe”, foi aparentemente o título assumido pelos líderes tribais edomitas e horeus. Uma vez que a palavra correlata elef significa “mil”, alguns eruditos têm considerado aluf como um título militar que significa “capitão de mil” (ver lCr 13:1). No hebraico pós-exílico, o termo passou a ser aplicado a chefes ougovernantes judeus (Zc 9:7; 12:5). Os nomes desses “príncipes” não são primariamente nomes de lugares, como alguns comentaristas sugerem; são os três filhos e dez netos de Esaú já mencionados em Gênesis 36:9-14. Em ambas as listas (v. 9-14 e 15-19), Corá aparece como filho de Esaú (v. 14 e 18). Na segunda lista (v. 16), Corá aparece também como neto de Esaú (filho de Elifaz), mas isso não ocorre na primeira lista (v. 11). Exceto isso, as duas listas são semelhantes. O nome de Corá não se encontra no v. 15 do Pentateuco Samaritano, que teve uma existência separada após o exílio babi- lônico, mas aparece na LXX, produzida no terceiro século a.C. O fato de Corá não estar alistado como um dos netos de Esaú em 1 Crônicas 1:36, mas como um filho (v. 35), confirma a exatidão da primeira lista de Gênesis 36. Pode, portanto, ter ocorrido erro de algum copista no texto hebraico de Gênesis 36:16.
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Gn.36:20 20. Os filhos de Seir. Os habitantes originais da terra, os horeus, não moravam em cavernas, como alguns comentaristas mais antigos sugeriram. Até algum tempo se pensava que a palavra traduzida como “horeu” era derivada de hor, “caverna” ou “buraco”. Assim, horeu significaria “homem da caverna”. Mais tarde, porém, foi descoberta a nação dos horeus, conhecidos não só dos escritores bíblicos, mas também dos escribas egípcios (charu), heteus (charri) e mesopotâmicos (
Gn.36:21 Sem comentário para este versículo
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Gn.36:23 Sem comentário para este versículo
Gn.36:24 24. O Aná que achou as fontes termais. Moisés pressupõe que o evento aqui registrado fosse bem conhecido. Hoje, contudo, não se sabe nada mais a respeito da história contada neste verso. O significado da palavra yemin é incerto. A tradução “mulas” (KJV) segue uma antiga tradição judaica. Jerônimo, contudo, traduziu-a na Vulgata como “fontes termais”, e alguns comentaristas concordam que Moisés aqui se refere à descoberta de fontes termais sulfurosas. Três dessas fontes são conhecidas na região: uma no Wadi Zerqa Mdin, outra no Wadi el-Ahsa, a sudeste do Mar Morto, e uma terceira no Wadi Hamad, entre Kerak e o Mar Morto.
Gn.36:25 Sem comentário para este versículo
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Gn.36:29 29. Os príncipes. A lista repete os nomes dos filhos de Seir, já mencionados nos v. 20 e 21. Sobre o título “príncipes”, ver com. do v. 15.
Gn.36:30 Sem comentário para este versículo
Gn.36:31 31. Antes que houvesse rei. Esta referência a reis de Israel tem sido apontada como evidência de autoria pós-mosaica, ou pelo menos de uma interpolação posterior extraída de 1 Crônicas 1:43. Essa conclusão não é natural. Deve-se lembrar que reis foram prometidos a Jacó, como Moisés sabia (Gn 35:11). A promessa não havia se cumprido no tempo de Moisés, ao passo que a casa de Esaú já havia alcançado um alto grau de organização política. Portanto, é coerente que Moisés, em cuja época oito reis já haviam reinado sobre Edom, faça esta observação.A dificuldade de se encontrar espaço para sete “príncipes”, todos eles netos de Esaú(v. 15-19), oito reis (v. 32-39) e 11 “príncipes” adicionais (v. 40-43) durante o tempo entre Esaú e Moisés, desaparece quando se considera que os reis e príncipes foram contemporâneos uns dos outros. Isso acha apoio numa comparação de Êxodo 15:15 com Números 20:14. Na última passagem, Moisés negociou com um rei de Edom a permissão para passar através de seu território. Na primeira, é mencionado que os “príncipes” de Edom ficaram perturbados por causa da miraculosa passagem de Israel pelo Mar Vermelho. Além disso, não é natural presumir que os 11 “príncipes” dos v. 40-43 reinaram consecutivamente. Uma vez que é declarado que eram príncipes “segundo as suas habitações na terra da sua possessão” (v. 43), todos ou pelo menos vários deles podem ter vivido em diferentes lugares ao mesmo tempo. Portanto, só é preciso encontrar espaço para oito reis sucessivos entre Esaú e Moisés, um período de mais de 200 anos. Isso permitiria uma média de 25 anos para cada um, em comparação com a média de dez anos para os reis de Israel e 17 para os de Judá.Fica evidente que a monarquia edomita não era hereditária, já que em nenhum dos casos um filho sucedeu o pai. Era, em vez disso, eletiva, e os reis talvez fossem escolhidos pelos “príncipes”. Essa situação seria semelhante à do sacro império romano-ger- mânico, em que cada imperador era escolhido pelos príncipes e eleitores do reino. Dos oito reis mencionados por nome, nenhum é conhecido por meio de outras fontes. Embora alguns dos nomes, como Hadade (lRs 11:14), ocorram novamente mais tarde, nenhum se refere aos indivíduos mencionados aqui. Algumas das cidades mencionadas em conexão com os reis podem ser identificadas, como se vê a seguir:
Gn.36:32 Sem comentário para este versículo
Gn.36:33 33. Bozra. Uma cidade famosa que parece ter sido a capital edomita durante um período considerável (ver Is 34:6; 63:1;jr 49:13, 22; Am 1:12). Ficava no sítio da atual aldeia El Buseira, localizada cerca de 40 km a sudeste do Mar Morto.
Gn.36:34 Sem comentário para este versículo
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Gn.36:37 37. Reobote. Alguns eruditos têm identificado esta cidade com Reobote-Ir, na Assíria (Gn 10:11), o que pode não estar correto. Outros a têm localizado em outra região do Eufrates, já que geralmente a Bíblia denomina o Eufrates de “o rio”. Se este for o caso, porém, então o rei edomita Saul deve ter sido um estrangeiro. E mais provável que Reobote tenha sido a cidade Robotha, da Idumeia, cuja localização é incerta, ou Er Ruheibeh, que fica 37 km ao sudoeste de Berseba, num vale próximo a El ‘Artsh. No último caso,“o rio” se referiria ao riacho junto ao qual a cidade está localizada.
Gn.36:38 Sem comentário para este versículo
Gn.36:39 39. Hadar. Este último dos oito reis de Edom, mencionados por Moisés, provavelmente foi aquele a quem o patriarca se dirigiu em busca de permissão para passar por seu território (Nm 20:14). O fato de serem dados o nome da esposa de Hadar e o nome da mãe e da avó desta sugere que Moisés estava muito bem familiarizado com ele. Em contraste com a morte dos outros sete reis, a de Hadar, registrada em 1 Crônicas 1:51, não é mencionada aqui. Isso constitui evidência adicional de que ele ainda estava vivo na época em que Moisés escreveu o Gênesis.
Gn.36:40 40. Os nomes. Não são de localidades, como alguns têm sugerido, mas de indivíduos, talvez chefes locais contemporâneos de Hadar no tempo de Moisés.Capítulo 37mais que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente.realmente? E com isso tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos e de suas palavras.despiram-no da túnica, a túnica talar de mangas compridas que trazia.
Gn.36:41 Sem comentário para este versículo
Gn.36:42 Sem comentário para este versículo
Gn.36:43 Sem comentário para este versículo
Gn.37:1 1. Habitou Jacó na terra. Esta declaração dá início ao período posterior à morte de Isaque. Jacó era então herdeiro das bênçãos e promessas que acompanhavam a sucessão patriarcal.
Gn.37:2 2. A história de Jacó. Aqui se abre uma nova seção (ver Gn 5:1; 6:9; etc.). Embora somente o nome de Jacó seja mencionado neste título, fica claramente subentendida a história de sua família, como mostra o capítulo seguinte. Durante a vida de Jacó, quaisquer experiências que sobrevieram aos membros de sua família são consideradas parte de seu registro familiar.Tendo José dezessete anos. Os eventos descritos a seguir ocorreram cerca de 11 anos depois de Jacó ter retornado de Harã, quando estava com a idade de 108 anos (ver Gn 30:25; e com. de Gn 27:1).Os filhos de Bila. José estava mais intimamente associado aos filhos de Bila e Zilpa, mais próximos dele em idade e talvez menos altivos do que os filhos de Lia. Pode ser que Bila, que fora a serva de Raquel, tenha cuidado de José após a morte de sua mãe.Más notícias deles. José relatava o que havia observado pessoalmente, ou repetia o que havia ouvido falar sobre os irmãos. Isto marca o início do amargo ódio que estes passaram a sentir por ele. José era movido por altos ideais, e sua consciência sensível se rebelava contra os atos ímpios dos irmãos. Ele contava essas coisas a Jacó, sem dúvida com a intenção de que a influência do pai pudesse levá-los a mudar o comportamento, para que o nome da família não fosse desonrado como o havia sido no massacre dos siquemitas.
Gn.37:3 3. Israel amava mais a José. Jacó encontrava particular satisfação na companhia de José, cuja bondade e cujos ideais o tornavam bem diferente dos irmãos. Uma vez que Jacó tinha 91 anos quando José nasceu, e Benjamim só nasceu vários anos mais tarde, ele considerava José o '‘filho da sua velhice'’.Uma túnica talar de mangas compridas. O tratamento preferencial que Jacó dispensava a José alcançou um clímax na veste ou túnica especial que fez para ele. O significado da palavra passim (“talar") é incerto. Ela é usada também em 2 Samuel 13:18 e 19 para descrever a veste de Tamar, filha do rei Davi. A expressão “tingida de várias cores”, usada na LXX, na Vulgata e na Peshitta, formou a base para a tradução encontrada em algumas Bíblias, como ARC e AGE. Uma pintura na parede da tumba de um nobre, localizada em Beni Hasan, no Egito, que data do tempo de Abraão, ilustra um grupo de homens, mulheres e crianças, todos asiáticos, dos quais alguns usavam nada além de uma tanga de duas cores, e alguns, túnicas que iam até o joelho, mas deixavam descoberto um dos ombros. Algumas dessas túnicas eram de material branco, simples, enquanto outras tinham desenhos azuis e vermelhos. A veste do chefe era especialmente colorida, e é distin- guida das outras por um belo desenho entre- tecido na trama. Talvez a túnica que Jacó deu a José se assemelhasse a essa. Como foi salientado aqui, contudo, a palavra passim é de origem incerta. Se, como parece provável, ela for o plural de pas, “extremidade”, se referiria às mãos e aos pés. Em Daniel 5:5 e 24 (ARC), pas é traduzida como “parte”: “O rei via a parte da mão que estava escrevendo.” Consequentemente, a túnica de José teria mangas longas e chegaria até os pés (como indica a ARA e a NVI). Uma veste assim não seria apropriada para uso durante o trabalho e, além disso, era o tipo de roupa usada por filhos de linhagem nobre. A construção gramatical hebraica sugere a ideia de que Jacó não só fez uma túnica assim para José, mas que “costumava fazer” esse tipo de túnica para ele. Qualquer que seja o caso, essa túnica despertou a suspeita de que Jacó tencionasse passar por alto seus filhos mais velhos e conceder o direito deprimogenitura a José. Em vista disso, todos os irmãos o odiavam (PP, 209).
Gn.37:4 4. Odiaram-no. A preferência de Jacó por José era natural, uma vez que via nele não apenas o filho de sua amada Raquel, mas também uma excelência de caráter que estava em nítido contraste com a vida vergonhosa de alguns dos outros filhos. Muitos pais, na mesma posição de Jacó, atraídos mais para um filho, pelo menos se esforçam para disfarçar a preferência, que no íntimo provavelmente creem ser justificada. Mas, com sua parcialidade indevida e óbvia, Jacó tornou evidente sua preferência pelo filho de Raquel ao presenteá-lo com uma veste cara e principesca. Como era de se esperar, essa demonstração de estima foi desagradável para os outros filhos e, não fosse pelo caráter fundamentalmente sólido de José, podería ter sido prejudicial até para ele próprio.
Gn.37:5 5. Teve José um sonho. A túnica implicava a intenção de Jacó de tornar o filho mais velho de Raquel seu herdeiro. O sonho de José então foi considerado uma expressão de suas próprias intenções no assunto. Eles o odiaram, não apenas por causa do sonho, mas também pela audácia ao contá-lo (v. 8). Embora não se declare que os sonhos de José provinham de Deus (Gn 20:3-7; 28:12-15), a história subsequente de sua vida praticamente demonstra que este era o caso, e que esses sonhos não eram o reflexo de qualquer ambição pessoal de sua parte. O sonho de José mostra que Jacó não limitou seus empreendimentos à criação de gado e de ovelhas, mas que também se dedicava à agricultura, como seu pai Isaque havia feito antes dele (Gn 26:12). Essa atividade ficara implícita na bênção paterna pronunciada por Isaque (Gn 27:28).
Gn.37:6 Sem comentário para este versículo
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Gn.37:9 9. Outro sonho. Se o primeiro sonho de José apontava apenas para sua supremacia sobre os irmãos, o segundo a estendeu a toda a família. O fato de José relatar o último sonho aos irmãos, depois de ver comohaviam reagido ao primeiro, revela imaturidade de discernimento. O sonho só intensificaria a inveja e o ódio deles. José, contudo, parece ter sentido certa satisfação ao contar os sonhos e observar a inveja e ira dos irmãos. Jacó, que estava presente nessa ocasião, repreendeu-o com severidade, parcialmente por surpresa, e parcialmente para negar qualquer conivência de sua parte. Embora Jacó desaprovasse a narrativa do sonho, não deixou de se impressionar pela maneira com que refletia seus próprios pensamentos.Alguns têm questionado a origem divina do segundo sonho, uma vez que ele parece ter tido apenas cumprimento parcial. Nem Raquel nem Lia viveram para ver José governando o Egito (Gn 35:19; 49:31). E suficiente, porém, mencionar que nem mesmo Jacó considerou todos os detalhes do sonho literalmente, uma vez que a mãe de José já havia morrido naquela época (v. 10). Jacó aparentemente compreendeu o sonho como uma representação da supremacia de José em sentido geral.
Gn.37:10 Sem comentário para este versículo
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Gn.37:12 12. Foram os irmãos. Os filhos de Jacó faziam migrações anuais bastante longas de uma pastagem a outra, como frequentemente é necessário ainda hoje. Siquém fica cerca de 95 km ao norte de Hebrom, e Dotã, outros 25 km a noroeste de Siquém.O uso de pastagens localizadas ao norte implica que a estação era o verão ou princípio do outono. A estação seca começava em abril e durava até outubro (ver v. 24).A razão para pastorear os rebanhos em Siquém pode ter sido o fato de a família de Jacó possuir propriedades ali, adquiridas por a compra (Gn 33:19) e talvez parcialmente por conquista (Gn 34:27). Parece que os filhos de Jacó nada temiam quanto à população vizinha (Gn 35:5), que nunca havia se vingado deles pelo massacre dos siquemitas.
Gn.37:13 13. Enviar-te-ei a eles. Jacó aparentemente não sabia o quanto os filhos odiavam José, fato que faziam de tudo para esconder dele.Isso fica evidente não só por Jacó ter enviado José sozinho para visitá-los, mas também por sua reação diante da história do desaparecimento dele. Jacó não suspeitou nem por um momento da manobra deles. A preocupação dele com os filhos se devia, provavelmente, não só à longa ausência dos mesmos, mas também ao receio de que os compatriotas dos siquemitas tivessem se vingado do massacre ou os tivesse atrapalhado no pastoreio dos rebanhos.
Gn.37:14 Sem comentário para este versículo
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Gn.37:17 17. Vamos a Dotã. Localizada cerca de 20 km ao norte de Samaria, na direção de Esdraelom, Dotã estava situada numa grande rota de caravanas que ia do norte até o Egito. Ficava numa planície retangular que continha uma das melhores áreas de pastagem de Canaã e, portanto, foi bem escolhida pelos filhos de Jacó. Ainda conserva seu antigo nome, Dotan. No tempo de Eliseu, foi o cenário de um grande milagre (ver 2Rs 6:13-19).
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Gn.37:20 20. Matemo-lo. Para homens que haviam matado todos os habitantes do sexo masculino de uma cidade, o assassinato de uma só pessoa dificilmente pareceria um pecado grave. O ódio havia se desenvolvido no coração deles a ponto de estarem prontos a matar o próprio irmão a sangue frio. Estavam longe de casa e das influências refreadoras. A “cisterna” na qual pretendiam lançar o corpo era um dos tanques para reter a água da chuva, comuns na Palestina. A história que se propuseram a contar ao pai era inteiramente plausível, pois a Palestina era uma terra selvagem durante o segundo milênio a.C., e leões, ursos e outros animais circulavam livremente por ali (ver Jz 14:5; lSm 17:34).
Gn.37:21 21. Rúben, ouvindo isso. Embora o próprio Rúben estivesse longe de ser perfeito (ver Gn 35:22), seu coração não era tão duro como o deles. Como filho mais velho, ele sentia responsabilidade especial pelo irmão mais novo, e decidiu, se possível, salvá-lo.Os assassinos em potencial se contentaram, no momento, em seguir a sugestão de Rúben. Embora fosse fraco e vacilante (Gn 49:4), Rúben parece ter sido o único dos irmãos de José em quem ainda restava algum afeto natural. Embora não tivesse coragem para resistir abertamente à vontade mais forte deles, pelo menos fez uma tímida tentativa de salvar a vida de José. O plano de Rúben foi elogiável até certo ponto, mas fracassou por causa da falta de determinação e vigilância.
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Gn.37:24 24. E [...] o lançaram na cisterna. Acrescentando insulto à injúria, despiram José e o atiraram numa cisterna seca que ficava ali perto. Cisternas eram frequentemente usadas para esse fim (ver Jr 38:6). A ideia de que José sofreria morte terrível por inanição aparentemente lhes satisfez o espírito vingativo, e não deram a mínima atenção a seus comoventes apelos (Gn 42:21, 22).
Gn.37:25 25. Sentando-se para comer. Com um sentimento secreto de satisfação, se não de deleite, e com grande indiferença, os cruéis irmãos se sentaram para comer.Uma caravana de ismaelitas. A palavra traduzida por “companhia” (ARC) significa um grupo de viajantes, especialmente de mercadores e, portanto, pode ser apropriadamente traduzida como “caravana”. Os árabes, descendentes de Ismael, ocupavam as regiões desérticas da Arábia a leste do Egito e, indo para o norte, na direção da Assíria. Registros bíblicos e seculares revelam que os árabes realizavam comércio intenso com o Egito. Não é de admirar que alguns dos descendentes de Ismael já fossem um povo dedicado ao comércio, pois havia se passado 180 anos desde o nascimento de Ismael, e sua família sem dúvida havia crescido rapidamente.De Gileade. Uma vez que Dotã ficava numa importante rota comercial, era natural que passassem caravanas por ali. A rota de Gileade, na Transjordânia, cruzava o Jordão nas proximidades da cidade deBete-Seã, na extremidade oriental do vale de Esdraelom, seguia então pelo vale até a cidade de Jenin, depois virava para o sul a fim de atravessar a cordilheira do Carmelo. Passando pela planície de Dotã, continuava rumo ao sul, pelo caminho de Er Ramle e Gaza, em direção ao Egito.Arômatas. Alguns interpretam o signifi- ^ cado da palavra assim traduzida como sendo goma de tragacanto, obtida de arbustos do gênero astragalus. Também tem sido identificada como sendo os brotos secos de cor vermelha da planta naqawa ou a resina do cistus. Qualquer que seja a origem das “arômatas”, ou da goma, esta era provavelmente usada ou como ingrediente de incenso ou cosmético.Bálsamo. A palavra heb. provavelmente se refere à goma de mástique e à terebintina.Mirra. O significado da palavra traduzida por “mirra” é incerto. Geralmente se entende que se refere ao ládano, goma aromática exsudada pelas folhas da esteva, ou ao que hoje é conhecido como mirra. Outros acham que seja a casca resinosa do mástique.
Gn.37:26 26. Disse Judá. Judá viu no aparecimento da caravana ismaelita um meio para se livrar permanentemente de José sem tirar sua vida. Isso o eliminaria eficazmente da competição pelo direito de primogenitura. Os irmãos raciocinaram, sem dúvida, que José havia feito pouco para aumentar a fortuna da família, e não viam nenhuma razão para ele herdar a riqueza que as mãos deles haviam produzido. A proposta de Judá foi bem acolhida pelos irmãos, que, após refletirem no impulso original de matar José, se achavam um pouco relutantes de pôr as mãos sobre ele.
Gn.37:27 Sem comentário para este versículo
Gn.37:28 28. Mercadores. Os mercadores são chamados “ismaelitas” nos v. 25, 27 e 28, e “midianitas” nos v. 28 e 36. Isso tem sido explicado pressupondo-se que os dois grupos estavam representados nesta caravana, ou que os dois nomes fossem usados como sinônimos na linguagem comum. Em qualquercaso, está envolvida apenas uma caravana na transação (ver PP, 211).Vinte siclos de prata. O preço pago por José, 20 siclos de prata, foi bem menor do que o preço normal de um escravo, que, segundo Exodo 21:32, parecia ser de 30 siclos. Com toda a probabilidade esse era o preço de revenda que os ismaelitas esperavam receber por José, no Egito. Naturalmente, pagariam menos por ele. Vinte siclos seriam aproximadamente 228 g de prata (ver com. de Gn 20:16).A venda de José foi uma violação flagrante do princípio de que ninguém tem o direito de sujeitar outra pessoa à escravidão involuntária (cf. Lv 25:39-43). Ela demonstra claramente a amplitude da perversão moral que havia ocorrido no coração dos irmãos de José. Os que venderam José demonstraram, assim, que haviam perdido completamente todo o afeto natural. A venda de José como escravo é o primeiro exemplo registrado na Bíblia de uma transação dessa natureza.Os traficantes de escravos imitam, mas raramente superam a crueldade demonstrada pelos irmãos de José, pois não foi um ser humano qualquer que venderam, mas o próprio irmão. Contudo, a Providência divina transformou em bem o mau desígnio desses homens endurecidos. A chegada da caravana nesse momento preciso foi o meio apontado pelo Céu para salvar José do plano maligno de seus irmãos; e a salvação de sua vida se tornou, por sua vez, o meio pelo qual a vida deles veio a ser salva mais tarde (Gn 45:4, 5).Embora José não pudesse saber disso naquele momento, a Providência estava dirigindo seus passos, apesar de as ações de seus irmãos terem sido contra a vontade de Deus. Frequentemente as estradas mais escuras da vida conduzem aos futuros mais brilhantes. Devemos estar dispostos a ir aonde quer que Deus nos conduza (ver Rm 8:28, 35-39).
Gn.37:29 29. Tendo Rúben voltado. A transação toda ocorreu na ausência de Rúben esem seu conhecimento. Depois de persuadir os irmãos a lançar José vivo numa cisterna, ele havia saído antes de José chegar, para que não discernissem sua intenção de o devolver ao pai (PP, 211). O rasgar as vestes era um antigo costume para expressar dor e tristeza (ver Gn 37:34; 44:13; 2Sm 13:31; 2Rs 18:37; Jó 1:20).
Gn.37:30 30. Não está lá o menino. O impotente clamor de Rúben revelou sua intenção secreta de salvar José. Agora ele não sabia como, sendo o mais velho, daria conta a Jacó do desaparecimento de José.As intenções de Rúben eram elogiáveis e seu plano, bem traçado; contudo, ele fracassou. Acabou, porém, chegando o dia em que os irmãos de Rúben foram forçados a ouvir sua vivida repreensão por esse horrendo ato (Gn 42:22). José seria livrado, mas não por Rúben. A escória devia ser eliminada de sua vida mediante o sofrimento (cf. Hb 2:10) para que ele pudesse desfrutar a honra para a qual o Céu o havia escolhido. Na providência de Deus, a cruz muitas vezes precisa preceder a coroa, e a aflição precisa se tornar a sorte de alguns para que muitos possam ser beneficiados e para que o propósito de Deus possa finalmente prevalecer.
Gn.37:31 31. Tomaram a túnica de José. Embora Rúben estivesse fora de si devido à dor e perplexidade, seus irmãos cruéis e implacáveis não tiveram dificuldade nenhuma para elaborar um plano. Aparentemente, contudo, não possuíam a descarada ousadia necessária para executar pessoalmente o plano nem a coragem para testemunhar a primeira reação de dor do pai. Portanto, fizeram arranjos para que outra pessoa levasse a túnica ensanguentada para Jacó em Hebrom, provavelmente um escravo, que não soubesse nada além do que lhe fora dito sobre o assunto, e assim não revelasse o obscuro segredo deles.
Gn.37:32 Sem comentário para este versículo
Gn.37:33 33. Despedaçado. Os filhos de Jacó não só sujaram a túnica de sangue, mas sem dúvida também a rasgaram em tiras paratornar a evidência do infortúnio de José mais vivida, e sua história, mais convincente. De maneira eloquente, a túnica rasgada daria mudo testemunho do destino que presumivelmente coubera ao jovem. O objeto que outrora simbolizara o imprudente favoritismo de Jacó para com José então passou a representar a ruína, tanto do pai quanto do filho.
Gn.37:34 34. Lamentou o filho. Convencido da morte de José pela inegável evidência apresentada, Jacó entrou num período de luto, segundo o costume dos tempos antigos. Depois de rasgar as vestes comuns, ele se vestiu de pano de saco, a veste usual dos enlutados (2Sm 3:31; Ne 9:1; Et 4:1). Este era um tecido rústico feito de crina ou pelo grosso, do qual eram feitos também os sacos de cereais. Em Gênesis 42:25, a mesma palavra é traduzida como “saco”. Em casos de extrema angústia mental, o “pano de saco’’ era usado junto à pele (lRs 21:27).
Gn.37:35 35. Levantaram-se [...] para o consolarem. Como Jacó continuou chorando por José por mais tempo que o normal, e sua intensa dor parecia não ter alívio, seus filhos ficaram preocupados. Os insensíveis criminosos se tornaram ternos consoladores, buscando mitigar a dor que haviam cruelmente provocado ao pai.Jacó tinha outras filhas além de Diná, a menos que a referência aqui seja às noras (cf. Rt 1:11, 12). Uma vez que os termos hebraicos das relações familiares muitas vezes são usados em sentido mais geral do que ocorre hoje em dia, frequentemente não há certeza quanto ao que significam as palavras “pai”, “filho” e “filha”. Gênesis 46:7, contudo, parece deixar claro que essas eram realmente as "filhas” de Jacó.Até a sepultura. Sheol. Esta palavra é peculiar ao hebraico. Não existe em nenhuma das línguas semitas correlatas, e sua origem é desconhecida. E invariavelmente usada para designar o lugar para onde vão os mortos.
Gn.37:36 36. Os midianitas venderam José.Sobre o uso indistinto dos termos “midianitas” e “ismaelitas” aqui e nos v. 25, 27 e 28, ver com. do v. 28.Potifar. Este nome, embora reconhecido há muito tempo por egiptólogos como um bom nome pessoal egípcio, só foi encontrado em monumentos na década de 1930, onde aparece, em egípcio, como P'a- di-p’a-Re. Significa “aquele que [o deus] Re‘ deu”, e é comparável aos nomes pessoais hebraicos ’Elnathan, “Deus deu”, e Yonathan, “Yahweh deu”.Oficial de Faraó. A palavra heb. traduzida como “oficial” é saris, que significa em primeiro lugar “eunuco”. Os governantes orientais faziam uso de eunucos em várias posições importantes, especialmente como oficiaisencarregados do harém real. O fato de Potifar ser casado tem sido tomado como evidência de que saris significa mais do que a palavra “eunuco” implica no sentido estrito do termo. Isso pode ser verdade, mas não foi comprovado, uma vez que até os eunucos podiam ser casados.Quanto ao título “faraó”, ver com. de Gn 12:15.Comandante da guarda. A palavra traduzida como “guarda” vem do hebraico tsabbahim. No singular ela significa “açougueiro” ou “cozinheiro”, e se aplica àquele que abate, cozinha e serve o alimento (ver ISm 9:23, 24). Aqui, no plural, refere-se a executores. Potifar, o “capitão”, era provavelmente o chefe dos executores, ou talvez da guarda pessoal do faraó.Capítulo 38para não dar descendência a seu irmão.
Gn.38:1 1. Aconteceu. Este capítulo dá a origem das três principais famílias de judá, a futura tribo real de Israel. Mostra também que os filhos de Jacó, esquecendo-se da sagrada vocação de sua raça, estavam em perigo de perecer nos pecados de Canaã. Se Deus, em Sua misericórdia, não Se tivesse interposto para promover a remoção de toda a casa dejacó para o Egito, a nação escolhida poderia ter sucumbido à influência corruptora dos costumes cananeus. Assim, Gênesis 38 é parte da fase inicial da história de Israel.A palavra “aconteceu” tem sido considerada por muitos comentaristas como uma referência à história da venda de José registrada no capítulo anterior. O termo, contudo,é tão geral que não pode ser limitado a um evento em particular; é mais provável que se refira a todo o período da história de Jacó na Palestina. As considerações cronológicas quase tornam necessário colocar esta narrativa no tempo em que José ainda estava na casa de seu pai.Sendo o quarto filho de Lia, Judá certamente não era mais do que uns três anos mais velho que José, o que o colocaria com cerca de 20 anos de idade na época em que José foi vendido (ver Gn 37:2; e com. de Gn 30:24). Entre a venda de José como escravo e a migração de Jacó para o Egito se passaram 22 anos (cf. Gn 41:16; 45:6), de forma que (udá estava com cerca de 42 anos de idade quando a família se mudou para o Egito. Nessa ocasião, ele não só tinha três filhos (Gn 38), mas aparentemente já era avô, como Gênesis 46:12 deixa implícito. Se assim for, seus filhos Er, Onã e Selá devem ter nascido antes de José ser vendido, uma vez que eles próprios já haviam alcançado a idade de se casar quando ocorreram os eventos relacionados a Tamar, e Perez (filho de Ta mar) já tinha dois filhos quando a família se mudou para o Egito. Essas observações levam a concluir que alguns filhos de Jacó se casaram bem jovens. Judá não devia ter mais de 14 anos de idade por ocasião do nascimento de seu filho mais velho, Er. Por sua vez, Er não tinha mais do que 13 anos quando se casou com Tamar. O nascimento dos filhos gêmeos de Judá com sua nora Tamar deve ter ocorrido dentro do prazo de dois anos após a morte de Er. Perez não devia ter mais que 14 anos quando nasceram Hezrom e Hamul (aparentemente também gêmeos), antes da partida para o Egito. Casamentos precoces não são incomuns em certas partes do Oriente ainda hoje. No caso da família de Jacó, talvez representem uma influência cananeia. Essas considerações tornam provável que Judá já fosse casado e pai por ocasião da venda de José,e que parte dos acontecimentos narrados neste capítulo já havia ocorrido.Um adulamita. Adulão fica cerca de 20 km a sudoeste de Belém, num sítio hoje chamado Tell esh-Sheikh Madhkür, e aproximadamente a mesma distância a noroeste de Hebrom, onde Jacó morava na época. Por alguma razão desconhecida, Judá visitou Adulão quando ainda era jovem. Talvez enquanto apascentava os rebanhos do pai naquelas vizinhanças, ele tenha conhecido o adulamita e passado algum tempo com ele. Judá não se separou permanentemente da casa paterna; isso fica evidente no fato de ele estar com os irmãos quando José foi vendido (Gn 37:26), e também quando a fome os forçou a ir comprar cereais no Egito (Gn 43:3).
Gn.38:2 Sem comentário para este versículo
Gn.38:3 Sem comentário para este versículo
Gn.38:4 Sem comentário para este versículo
Gn.38:5 5. Ela estava em Quezibe. O nome do local é mencionado para que os descendentes de Selá soubessem onde seu antepassado nasceu. Quezibe, ou Aczibe (Js 15:44; Mq 1:14), provavelmente deve ser identificada com o moderno sítio Tell el-Beidã, que fica a sudoeste de Adulão.
Gn.38:6 6. Tamar. Provavelmente uma mulher cananeia, mas de linhagem desconhecida.
Gn.38:7 Sem comentário para este versículo
Gn.38:8 8. Disse Judá a Onã. Segundo o costume, Onã, sendo cunhado de Tamar, devia se casar com a viúva sem filhos de seu falecido irmão e suscitar descendência para ele. Onã, contudo, relutava em aceitar as responsabilidades que isso envolvia, uma vez que o filho primogênito não seria seu, mas perpetuaria a família do falecido e receberia sua herança. A conduta de Onã demonstrou falta de afeto natural pelo irmão e cobiça pelas posses e herança daquele. Pior ainda, sua conduta era uma ofensa contra a divina instituição do matrimônio. Este triste comentário mostra a condição a que desceram os filhos de Jacó.O costume do casamento levirato (do latim levir, 'cunhado”), mencionado aqui pela primeira vez na Bíblia, também existiaem formas variadas entre outras nações da Antiguidade, como os heteus. Foi incorporado à legislação mosaica, com a provisão de que o cunhado pudesse se recusar a cumprir esse dever. Essa recusa, porém, era considerada vergonhosa, como o demonstra a cerimônia a ser realizada nesse caso (Dt 25:5-10). Rute 4:5-8 registra um exemplo dessa recusa.
Gn.38:9 Sem comentário para este versículo
Gn.38:10 Sem comentário para este versículo
Gn.38:11 11. Permanece viúva. A morte repentina dos dois filhos mais velhos, tão pouco tempo depois do casamento deles com Tamar, fez Judá hesitar em lhe dar o terceiro filho como marido. Em harmonia com uma superstição encontrada no livro apócrifo de Tobias (3:7-10), ele deve ter pensado que ela própria ou o casamento com ela tivesse ocasionado a morte de Er e Onã. Portanto, enviou-a de volta à casa do pai, com a promessa de lhe dar o filho mais novo assim que estivesse crescido. O fato de Judá nunca pretender cumprir a promessa fica evidente na desculpa de que Selá poderia morrer “também [...] como seus irmãos”.Ouando Selá atingiu a idade de se casar, e não lhe sendo dado, Tamar decidiu conseguir um filho através do próprio Judá. isso estava em harmonia com os costumes pre- valecentes entre os heteus e assírios. As leis dos heteus e dos assírios continham a provisão de que o dever do casamento levirato devia ser cumprido pelo pai do falecido se não houvesse irmãos disponíveis.
Gn.38:12 12. Subiu aos tosquiadores de suas ovelhas. Judá havia ficado viuvo. Enquanto havia festividades ligadas à tosquia das ovelhas (ver iSm 25:2-11; 2Sm 13:23), ele não podia estar presente até que passasse o período costumeiro de luto. E mencionado que seu amigo El ira o acompanhou, devido à parte que este desempenharia nos acontecimentos a seguir (v. 20).Timna. Este lugar ficava situado nas montanhas de Judá, como o indica a palavra "subiu”, e foi mais tarde dado à tribo de Judá (Js 15:57). O sítio, conhecido hoje comoTibnah, fica cerca de 6 km a nordeste de Adulão.
Gn.38:13 Sem comentário para este versículo
Gn.38:14 14. A entrada de Enaim. Tanto a KJV quanto a ARC não reconhecem a expressão hebraica traduzida por “Enaim” como o nome de uma cidade, por isso se diz que a mulher “sentou-se num lugar aberto” (KJV) ou à “entrada das duas fontes” (ARC). No entanto, a tradução deve ser “à entrada de Enaim”. Enaim devia estar situada junto à estrada entre Adulão e Timna, mas ainda não foi identificada. E provavelmente a Enã de Josué 15:34, mencionada ali como estando próxima a Adulão.
Gn.38:15 Sem comentário para este versículo
Gn.38:16 Sem comentário para este versículo
Gn.38:17 Sem comentário para este versículo
Gn.38:18 18. O teu selo, o teu cordão. O "seio” de Judá era provavelmente um selo cilíndrico, carregado ao pescoço por um cordão. Como a literatura da época deixa claro, o selo era um objeto de considerável valor, uma vez que nenhuma transação comercial poderia ser feita sem ele. Talvez o cajado fosse ornamentado, como era próprio do filho de um rico criador de gado. Cajados asiáticos com cabeças humanas entalhadas no cabo estão na lista de despojos tomados pelo rei egípcio Tutmés III, no século 15 a.C., e foram encontrados também na tumba de Tutancâmon, do século 14 a.C.
Gn.38:19 Sem comentário para este versículo
Gn.38:20 Sem comentário para este versículo
Gn.38:21 21. A prostituta cultuai. A palavra heb. aqui é diferente da do v. 15, zanah, uma mulher imoral. “Prostituta cultuai” vem de qedeshah, “a consagrada” ou “a devotada”. O culto religioso cananeu, como o da Grécia, fazia provisão para grande número de prostitutos e prostitutas cultuais. Essa profissão era respeitável entre os cananeus e, portanto, ao perguntar pela prostituta a quem devia entregar o cabrito, ldira usou o termo mais respeitável.
Gn.38:22 Sem comentário para este versículo
Gn.38:23 23. Que ela o guarde para si. Achando que havia feito sua parte, Judá preferiu deixar seu penhor com a moça desconhecida a se expor ao ridículo e continuar a procura, embora o penhor sem duvida tivesse mais valor que o cabrito.
Gn.38:24 24. Para que seja queimada, judá deu essa ordem em virtude de sua autoridade como cabeça da família. Além disso, essa lhe pareceu uma boa oportunidade de se livrar da obrigação de arranjar para ela um marido. Tamar era considerada a noiva de Selá, e como tal devia ser punida por quebra da castidade. A lei mosaica previa o apedrejamento sob tais circunstâncias (Dt 22:20-24). Somente era prescrito que a pessoa fosse queimada no caso de ser filha de sacerdote, ou de certas formas de incesto (Lv 21:9; 20:14). A sentença de Judá, portanto, foi mais severa do que seria requerido pela lei israelita posterior. Não se pode determinar se ele agiu de acordo com o costume da época ou com base em algo diferente. O Código de Hamurábi menciona dois cri- mes pelos quais a pessoa devia ser queimada. A seção 110 do código declara que uma pessoa “devotada'’ (ver com. de Gn 38:21) que abrisse urna taberna ou entrasse numa para beber deveria ser queimada viva, e a seção 25 estabelece que um ladrão deveria ser lançado dentro da casa da qual havia tentado roubar algo e devia ser queimado com ela.
Gn.38:25 25. Mandou ela dizer a seu sogro. Ao pronunciar sentença contra Tamar, Judá havia, sem o saber, condenado a si mesmo. Seu pecado, contudo, consistiu não só em ter dado lugar à lascívia, mas também em quebrar a promessa a Tamar (v. 11). Isso o tornou pessoal mente respon sável pela fraude que ela praticara. Seu primeiro erro fora o de se casar com uma mulher cananeia, em aberta violação aos princípios (cf. Gn 24:3; 28:1; 34:14). Além disso, ele certamente conhecia a maldade de seus filhos; mas, emvez de reconhecer a mão de Deus na morte repentina dos mesmos, colocou a culpa em Tamar e decidiu mantê-la como uma viuva sem filhos para sempre.
Gn.38:26 26. Mais justa é ela do que eu. Havia pouca coisa que judá pudesse fazer, exceto admitir a culpa. Novamente, como na conspiração contra José, ele revelou um espírito de decência e sinceridade por baixo da conduta às vezes vergonhosa. Sua franca confissão, a maneira como posteriormente tratou Tamar, seu êxito em criar os filhos nascidos dela, e o fato de um deles ser honrado com um lugar na linhagem ancestral de Cristo - tudo aponta elaramente para uma reforma de sua parte. Um caráter mais excelente do que o de seus irmãos mais velhos o qualificou para a liderança da família, e qualificou sua posteridade para a liderança em Israel (ver Gn 49:3, 4, 8-10).
Gn.38:27 Sem comentário para este versículo
Gn.38:28 Sem comentário para este versículo
Gn.38:29 29. Perez. O nome dos filhos de Tamar refletiu o interessante episódio do nascimento deles. Ouando os gêmeos nasceram na ordem inversa da que apareceram pela primeira vez, a parteira censurou o segundo, como se estivesse dizendo: “Então você conseguiu uma brecha para sair!’’ (NVf), talvez com o sentido de: “Realmente você soube passar à frente.” A partir dessas palavras da parteira, o menino recebeu o nome de Perez, “rompimento”. Embora a parteira não o considerasse o primogênito, ele é daí por diante sempre colocado à frente de Zera nas listas genealógicas (Gn 46:12; Nm 26:20; etc.). Tornou-se o ancestral do rei Davi (Rt 4:18- 22) e, através dele, do Messias (Mt 1:3-16).
Gn.38:30 30. Zera. O gêmeo com o fio vermelho no pulso recebeu o nome de Zera, “ascensão”.Capítulo 39para atender aos negócios; e ninguém dos de casa se achava presente.
Gn.39:1 "1. Levado ao Egito. Uma vez que Moisés designa os reis do Egito apenas pelo título geral de ""faraó” (ver com. de Gn 12:15), é difícil correlacionar as declarações bíblicas relativas à história egípcia com datas e eventos conhecidos da história secular.Entre os eruditos bíblicos que creem na historicidade de José, há concordância geral de que as atividades dele no Egito ocorreram durante a primeira metade do segundo milênio a.C. Muitos acreditam que ele ocupou cargos durante o governo de um dos reis hicsos.Durante o governo dos ilustres reis da famosa 12a dinastia (1991 a cerca de 1780 a.C.), flor esceram a arte, a arquitetura e a literatura egípcias. A economia nacional era sólida. O Egito exercia forte influência na Ásia Ocidental, ao norte, e na Núbia, ao sul, e possuía um extenso comércio com vários países. As duas dinastias posteriores foram fracas e perderam espaço diante dos exércitos asiáticos que avançavam, cujos líderes se autodenominavam Heqa-cha ’sut, “governan- tes de outros países”. A transliteração grega desse título é traduzida como “hicsos”. Josefo explica que o significado do nome é “reis- -pastores"", mas isso é duvidoso. O nome dos vários governantes hicsos indica que a maioria deles era semita, embora alguns tivessem nomes indo-europeus. Alguns desses reis conseguiram estender seu poder sobre a maior parte do Egito, enquanto outros tiveram de tolerar governantes locais em várias partes do país.Desde os tempos da Grécia, os governantes hicsos têm sido divididos tradicionalmente em duas dinastias: a décima quinta e a décima sexta, que governaram o país de cerca de 1730 a.C. a 1580 a.C. a partir de sua capital — Avaris, no Delta do Nilo. Durante a última parte desse período os governantes egípcios locais de Tebas estenderam sua influência sobre todo o Egito, empurrando os hicsos para o norte. Finalmenteconquistaram Avaris e expulsaram os hicsos do país. Os últimos resistiram por mais três anos na fortaleza de Sharuhen, no sul da Palestina, mas foram novamente derrotados e finalmente fugiram para o norte e desapareceram. Terminou assim o segundo período intermediário, da 13a à 17a dinastia, que durou 200 anos. Os governantes nativos do Egito que guerrearam para se libertar dos hicsos, Kamés e Sekenenré, pertenceram à 17a dinastia. Seus sucessores, os poderosos reis da 18a dinastia, fundaram o império, ou novo reino, durante o qual ocorreu o Exodo.Os hicsos asiáticos eram intensamente odiados pelos egípcios, os quais, quando retornaram ao poder, destruíram todos os monumentos e registros hicsos, o que resultou no fato de pouco se saber a respeito deles. Tudo o que resta são os nomes dos reis, poucas observações sarcásticas sobre eles e breves episódios da guerra de libertação. As evidências para se colocar José no período dos hicsos são, resumidamente, as seguintes:
1. A cronologia bíblica. Se retrocedermos até o êxodo a partir do 4° ano de Salomão (lRs 6:1) — localizado pela cronologia dos reis com base na data geralmente aceita de 853 a.C. para a morte de Acabe - e, a partir do êxodo, retrocedermos mais 215 anos até a entrada de José no Egito (ver p. 164, 166), quando ele estava com 39 anos de idade (ver com. de Gn 27:1), isso colocará José próximo à metade do período dos hicsos. 2. Os cavalos e as carruagens íoram introduzidos no Egito pelos hicsos, e eram desconhecidos no país antes da invasão por parte deles (Gn 41:43; 46:29; 47:17). Uma vez que cavalos e carruagens são repetidamente mencionados na narrativa de José (Gn 41:43; 46:29; 47:17), as atividades deste no Egito não podem ter ocorrido antes do tempo da dominação dos hicsos. 3. A declaração de que Potifar, o capitão da guarda pessoal do faraó, era “um egípcio” (Gn 39:1) só teria sentido numa época emque fosse exceção encontrar egípcios natos em altos postos. 4. E mais provável que um semita como José chegasse ao posto de primeiro ministro no período dos reis hicsos, dos quais a maioria era semita, do que no período de um monarca nativo do Egito. 5. Avaris, a residência dos reis hicsos, ficava na seção nordeste do Delta do Nilo, próxima à terra de Gósen. Esse fato está em harmonia com inferências, na narrativa de José, de que a capital não ficava longe do local onde Jacó e seus filhos se estabeleceram (Gn 45:10). Há uma distância de apenas cerca de 40 km entre Avaris e Gósen. 6. A declaração de que se levantou um novo rei que não conhecera José (Ex 1:8) é melhor explicada, presumindo-se que seja uma referência a um faraó da 17a ou 18a dinastia, que havia expulsado os hicsos e, natural mente, odiava a todos que haviam recebido favores deles. 7. O silêncio de todos os registros egípcios com respeito a José é significativo uma vez que José tivesse vivido no tempo da dominação dos hicsos, já que os registros destes foram sistematicamente destruídos. 8. Os registros egípcios do período anterior aos hicsos mostram a existência de empreendimentos privados e de propriedade particular de terras e rebanhos. Tudo isso mudou durante o tempo do segundo período intermediário, quando os egípcios nativos reconquistaram o poder, a terra e o gado, com exceção do que pertencia aos sacerdotes; e tudo era considerado propriedade da coroa. A explicação para essa mudança se encontra em Gênesis 47:18-26.Os argumentos que parecem se opor à localização do período de atuação de José como primeiro ministro no tempo dos hicsos serão analisados nos comentários a seguir.Egípcio. Retomando a narrativa de José, que havia sido interrompida pela inserção do incidente envolvendo Judá e Tamar, Moisésrepete, em essência, o que havia declarado em Gênesis 37:36. O único acréscimo importante é a declaração de que Potifar era um egípcio. Isso parece sugerir que José chegou ao Egito num tempo em que era incomum encontrar um egípcio em posição governamental de responsabilidade. "
Gn.39:2 2. O Senhor era com José. Embora José se achasse numa terra estranha, rebaixado da posição de filho favorito num lar rico ao status social de um escravo, Yahweh estava ao seu lado para abençoar e prosperar as obras de suas mãos. E propósito de Deus que homens do mundo aprendam a respeito dEie através da diligência, do cuidado e energia manifestos por Seus fiéis servos na Terra. A confiança de Potifar em José aumentava à medida que ele observava as bênçãos do Deus de José sobre suas propriedades em casa e no campo, e a consequência foi que ele acabou deixando com José a administração de todos os seus negócios pessoais.Obviamente, José era atento, diligente e consciencioso na realização de seus deveres domésticos, além de ser fiel e devotado aos interesses de seu senhor. O êxito raramente advém ao negligente, ao preguiçoso ou à pessoa sem princípios. Embora estivesse côns- cio de que Deus o estava observando (v. 9; Gn 45:5), deve ter sido uma fonte de satisfação para José o saber que seu fiel serviço era apreciado por seu senhor terreno.
Gn.39:3 Sem comentário para este versículo
Gn.39:4 Sem comentário para este versículo
Gn.39:5 Sem comentário para este versículo
Gn.39:6 6. Formoso de porte e de aparência. Literalmente, “bonito de estatura e de aparência”, ou “atraente e de boa aparência” (NVI). isso José deve ter herdado de sua mãe, Raquel, a respeito de quem são usadas as mesmas palavras no hebraico (ver Gn 29:17; PP, 209). O fato é, sem dúvida, mencionado aqui como antecipação do episódio relatado a seguir, ao qual ele constitui uma introdução.
Gn.39:7 7. A mulher de seu senhor. Nesse momento de crise, a integridade pessoal de José se destaca em nítido contraste com ade seus irmãos. O que Rúben (Gn 35:22) ou.Judá (Gn 38:16) leríam feito nas mesmas circunstâncias? Não é de admirar que jacó tenha favorecido a José, e que Potifar tenha sentido confiança nele. Essa confiança reforçou o propósito de José de ser fiel a Deus, e tornou os elevados ideais de honra e integridade pessoal ainda mais desejáveis para ele.
Gn.39:8 Sem comentário para este versículo
Gn.39:9 Sem comentário para este versículo
Gn.39:10 10. Falando ela. a José todos os dias. O caráter de José permaneceu firme sob ataque persistente. Sabiamente, ele se recusou até a ficar na companhia dela. Ao fazê-lo, José revelou sinceridade, sabedoria e determinação de continuar no caminho do que é direito. Ouanto mais forte a tentação, mais resoluto se tornou em resistir a ela.
Gn.39:11 Sem comentário para este versículo
Gn.39:12 12. Pelas vestes. Não se sabe ao certo que tipo de veste José usava. A palavra heb. beged é um termo geral para vestuário e pode significar até um cobertor. A maioria dos comentaristas acha que ela fosse uma túnica longa presa pelos ombros. Contudo, nos relevos e pinturas egípcias da Antiguidade, os homens raramente aparecem em vestes longas. A vestimenta padrão de um homem, do rei ao escravo, era uma tanga. No caso da realeza, esta era de material fino, criteriosamente limpa e engomada. Para todos os outros homens, era de menor valor, e a qualidade era determinada pela posição social. Os supervisores eram ocasionalmente distinguidos com um pedaço de tecido branco que descia dos ombros e era enrolado em volta do corpo. Talvez tenha sido isso que a esposa de Potifar tirou de José enquanto ele fugia da casa.Parece sempre ser uma fraqueza da natureza humana o ato de colocar a culpa em outros pelas próprias faltas. Foi assim comAdão e í .va no jardim do Éden (Gn 3:12, 13). Isso é apenas um reflexo do espírito do "acusador de nossos irmãos” (Ap 12:10), que procura se justificar caluniando os que servem ao Senhor (Zc 3:1). Seu propósito final é, logicamente, provar que Deus é injusto no trato com os seres criados (ver Jó 1:8-11; 2:1-5). Pressupõe-se que a ênfase nos defeitos dos outros, sejam eles reais ou imaginários, faça com que a pessoa que os apresenta pareça, por contraste, melhor.Este hebreu. Isto é, um descendente de Héber (ver Gn 10:21; 14:13). Geralmente era assim que os descendentes de Jacó se referiam a si mesmos como um povo, e que outros se referiam a eles (ver Gn 39:17; 40:15; 41:12; 43:32; Êx 1:15, 16, 1.9; 2:6; etc.). Originalmente, um “judeu” era um descendente de judá, mas após o cativeiro o termo perdeu sua estrita aplicação tribal.Para insultar-nos. Em Gênesis 26:8, é usada a mesma expressão hebraica, que ali é traduzida como "acariciando”. Parece que aqui, como no caso de Isaque e Rebeca, o termo se refira à conduta apropriada apenas entre marido e esposa (ver também o com. de Gn 21:9).
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Gn.39:14 Sem comentário para este versículo
Gn.39:15 15. Deixou as vestes. A esposa de Potifar teve o cuidado de não declarar que José havia deixado as vestes em suas mãos, uma vez que isso teria revelado sua duplicidade.
Gn.39:16 Sem comentário para este versículo
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Gn.39:19 Sem comentário para este versículo
Gn.39:20 20. E o lançou no cárcere. Ao repetir a história ao marido, a esposa de Potifar indiretamente o culpou pela suposta afronta, ao referir-se a José como “o servo hebreu, que nos trouxeste” (v. 17). O ato de confinar José com os presos políticos pode ser considerado de extrema leniência por parte de Potifar em vista da punição geralmente infligida pelo crime do qual ele fora acusado. Em épocas posteriores, o castigo para tentativa de adultério era mil golpes na sola dos pés, e para o estupro de mulher livre era ainda mais severo (Diodoro, i.78). A leniência de Potifar sem dúvida reflete suaconfiança na integridade de José e, em contraste, seu pouco respeito pelo relato do episódio contado pela esposa. O castigo de José, no entanto, parece a princípio ter sido severo, pois ele sofreu mais coisas do que a narrativa de Gênesis deixa implícito. Segundo o Salmo 105:18, seus “pés” foram apertados ‘‘com grilhões” e ele foi posto ‘‘em ferros”.Há um papiro egípcio, hoje no Museu Britânico, que relata certa “história dos dois irmãos” que se assemelha superficialmente à história de José e da esposa de Potifar. Muitos eruditos consideram que seja o original da história experimentada por José. No entanto, embora as duas sejam semelhantes em alguns aspectos, as diferenças excedem as semelhanças. Além disso, a história egípcia tem um contexto mitológico e foi escrita pelo menos 250 anos depois do livro de Gênesis.
Gn.39:21 21. O Senhor, porém, era com José.A mesma Providência que havia acompanhado José na casa de Potifar continuou com ele na prisão e lhe proveu conforto em sua nova aflição. Moisés atribui à ajuda de Deus a rápida mercê que ele encontrou aos olhos do carcereiro. O tédio de seu confi- namento deve ter sido mitigado consideravelmente pela crescente confiança que o carcereiro depositara nele, uma vez que a bênção do Senhor acompanhava tudo que era confiado a seus cuidados. Embora José tivesse sido tratado injustamente, ele fazia o melhor possível nas circunstâncias em que se encontrava. Desempenhando os deveres com espírito alegre, cortês e compassivo, ele obteve a confiança da pessoa que estava em posição de autoridade e, ao mesmo tempo, preparou o caminho para sua própria posterior libertação.Capítulo 40José, para que os servisse; e por algum tempo estiveram na prisão.e me faças sair desta casa;
Gn.39:22 Sem comentário para este versículo
Gn.39:23 Sem comentário para este versículo
Gn.40:1 1. O mordomo. Literalmente, “o copei ro”, um importante oficial da corte. Ele era responsável por provar pessoalmente tudo o que rei bebia, como garantia de que estivesse livre de veneno e de outros ingredientes nocivos.O padeiro. O funcionário que supervisionava (v. 2) o preparo da comida do rei e era responsável pela pureza de tudo o que chegava à mesa real.Ofenderam, Aparentemente algum incidente havia levado o faraó a suspeitar que esses dois altos oficiais, ou ambos, estivessem envolvidos numa tentativa de envenená-lo. O fato de um deles ser mais tarde restaurado ao posto, e de o outro ser executado, indica que uma investigação havia convencido o rei da inocência do primeiro e da culpa do último.O Papiro Judicial de Turim oferece um paralelo bem interessante à história do copeiro e do padeiro que haviam perdido o favor real. Ele contém o registro do julgamento de vários altos funcionários acusados de conspiração contra a vida de Ramsés 111, e data de cerca de 1164 a.C. Infelizmente o papiro não está completo e não se sabe os meios empregados pelos conspiradores para atentar contra a vida do rei; também não é sabido se a conspiração foi bem-sucedida ou não. As partes preservadas do documento, contudo, fornecem informações sobre como se lidava com esses casos no antigo Egito. Os acusados nesse julgamento eram vários copeiros, escribas e outros altos oficiais. Alguns foram sentenciados à execução, outros foram condenados, mas autorizadosa tirar a própria vida, alguns foram punidos tendo o nariz e as orelhas cortados, e um deles foi apenas repreendido e não recebeu punição. Vários funcionários judiciais também foram acusados de envolver-se em bebedeiras com alguns dos acusados durante o período de investigação.
Gn.40:2 Sem comentário para este versículo
Gn.40:3 3. E mandou detê-los. Esses dois altos funcionários foram entregues à custódia do comandante da guarda pessoal do rei. Esse oficial era Potifar, o senhor e dono de José, de acordo com Gênesis 37:36 e 39:1. Potifar os colocou na mesma prisão estatal em que José estava detido e, uma vez que o caso deles ainda estava sob investigação e eles eram altos funcionários do governo, encarregou José de servi-los e agir como atendente deles.
Gn.40:4 4. E por algum tempo estiveram na prisão. Literalmente, “e estiveram em custódia por dias”. Esta expressão é indefinida e não oferece pista quanto ao tempo que os homens passaram na prisão antes de o caso ser decidido e antes que ocorressem os eventos registrados nos versos seguintes.
Gn.40:5 5. Sonharam. A notável semelhança dos sonhos convenceu os dois homens de que os sonhos estavam relacionados, de alguma forma, ao destino deles, mas eles não sabiam exatamente corno. Cônscios, sem dúvida, de que o caso poderia ser decidido a qualquer momento, e estando privados, na prisão, de intérpretes profissionais de sonhos, obviamente eles estavam ansiosos na manhã seguinte, quando José entrou em seu aposento.
Gn.40:6 Sem comentário para este versículo
Gn.40:7 Sem comentário para este versículo
Gn.40:8 8. Porventura, não pertencem a Deus as interpretações? Pensando nos dois sonhos que ele próprio tivera e percebendo que Deus estava com ele, José procurou ajudar aqueles desanimados homens em sua perplexidade. Esse desejo de ajudar outros se demonstrou, mais tarde, a chave para sua própria libertação do cárcere. Ao suportar os próprios imerecidos infortúnios com positiva resignação e admirável fortaleza,José, por sua natureza afável, foi levado a se compadecer de outros desafortunados que não possuíam a força interior que o sustinha. Não foi por curiosidade, mas com sincero desejo de ajudar os que estavam em necessidade, que José ofereceu aos dois homens sua assistência. Ao mesmo tempo, dirigiu-os a Deus, sua própria fonte de força e consolo.
Gn.40:9 9. Havia uma videira perante mim. Assim foram sem dúvida representados os deveres do copeiro real. Concluir daí que o faraó tomava apenas suco de uva não fermentado, porém, é algo sem fundamento. O cultivo de videiras e a produção e uso de vinho pelos egípcios são atestados por antigos registros egípcios, apesar das declarações em contrário feitas por Eleródoto (ii.77) e Plutarco (De ísis et Osiris, 6).
Gn.40:10 Sem comentário para este versículo
Gn.40:11 Sem comentário para este versículo
Gn.40:12 Sem comentário para este versículo
Gn.40:13 13. Faraó te reabilitará. Literalmente, o “faraó levantará a tua cabeça” (ARC). Esta expressão, também encontrada em 2 Reis 25:27, significa libertação do cárcere e restauração à responsabilidade e à honra. O fato de ela também poder ter significado negativo fica evidente no v. 19 (ARC).
Gn.40:14 14. Lembra-te de mim. José rogou que seu caso fosse levado ao faraó. Ele havia sido raptado da terra dos hebreus (ver Gn 39:14), razão pela qual estava então no Egito, e havia sido aprisionado, embora fosse inocente de qualquer crime. Se José viveu no Egito durante o reinado dos hicsos, como as evidências parecem indicar, o copeiro provavelmente não era egípcio. Portanto, José teria mais razão para esperar a ajuda dele do que se fosse um egípcio. Se o rei ordenasse que o caso de José fosse investigado, isso envolveria < seu senhor, que era um egípcio nato (Gn 39:1).
Gn.40:15 15. Nesta masmorra. Aqui, um termo desdenhoso para a prisão. A ARC e a AGP trazem “cova”. Nos tempos antigos, as covas, cisternas e fossas, quando vazias, eram usadas para o encarceramento de criminosos (ver Jr 38:6; Zc 9:11). O fato de a palavra “masmorra” (cárcere subterrâneo) ser aqui umsinônimo para a prisão fica evidente a partir de Gênesis 40:14, onde o lugar do confina- mento de José é chamado de “casa”.
Gn.40:16 16. Três cestos de pão alvo. Encorajado pela interpretação favorável do sonho do copeiro, o padeiro-chefe contou o seu. O quadro descrito pelo padeiro também é totalmente egípcio. Relevos, pinturas murais e estatuetas encontradas em antigas tumbas egípcias mostram que coisas como cestos e vasos de cerâmica eram muitas vezes carregados na cabeça. Como em toda parte no Oriente, aves de rapina naturalmente tentariam apanhar algo do cesto mais alto. O padeiro salientou a semelhança de seu sonho com o do copeiro através das palavras: “Eu também." A semelhança não se restringia apenas aos números nos dois sonhos - três ramos de videira e três cestos de pão — mas também se evidenciava no fato de que o que estava sendo representado nesses sonhos eram seus deveres oficiais na corte.
Gn.40:17 Sem comentário para este versículo
Gn.40:18 Sem comentário para este versículo
Gn.40:19 19. Faraó te tirará fora a cabeça. A expressão “levantará a tua cabeça” foi usada no v. 13 (ARC) em sentido favorável. Contudo, a expressão adicional "fora” significava seu sentido desfavorável. Deve-se referir à execução por decapitação, após a qual o corpo do culpado seria exibido num poste como advertência a outros conspiradores em potencial. Os registros egípcios testificam da prática da pena capital por decapitação, após a qual os corpos eram às vezes exibidoscomo meio de dissuadir outros de cometerem o mesmo crime. Por outro lado, a execução por enforcamento ou estrangulamento não é atestada em registros antigos.
Gn.40:20 20. No terceiro dia. O cumprimento das predições de José provou que os sonhos tinham origem divina e que ele possuía o dom da interpretação (ver Jr 28:9). Faraó “levantou a cabeça” de cada um dos prisioneiros, mas de maneira muito diferente (v. 13, 19).
Gn.40:21 Sem comentário para este versículo
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Gn.40:23 23. Dele se esqueceu. O copeiro aparentemente prometeu a José que falaria em seu favor (Gn 41:9). Ouando as semanas e os meses que se seguiram não mostraram qualquer evidência da gratidão do copeiro, José provavelmente começou a se perguntar se gastaria a vida toda na prisão. Ao mesmo tempo, contudo, o cumprimento dos sonhos dos oficiais da corte pode tê-lo encorajado a crer que de alguma forma seus próprios sonhos viriam a se realizar (Gn 37:5-9). Mas, no momento, a ingratidão do copeiro deve ter sido uma experiência dolorosa para José, provavelmente um golpe tão cruel e severo como os outros que ele já havia recebido. Essa experiência é uma lembrança, ao reverso, do valor de se expressar apreço pela bondade e ajuda de outros. Esse copeiro- -chefe estava condenado à desonra por seu comportamento. Ouantas vezes uma alta posição deixa as pessoas orgulhosas demais para prestarem atenção a seus humildes amigos do passado!Capítulo 41quem o interprete. Ouvi dizer, porém, a teu respeito que, quando ouves um sonho, podes interpretá-lo.
Gn.41:1 1. De pé junto ao Nilo. A palavra traduzida na ARC como “rio”, yeor, é usada na Bíblia apenas para o Nilo, com exceção de Daniel 12:5-7, em que é empregada para oTigre. É tomada do termo egípcio 'ini. Essa palavra era 'itrii antes do tempo de Moisés, mas com a 18a dinastia tornou-se ‘iru. Uma vez que a palavra heb. é derivada dessa formaposterior, alguns veem isso como evidência de que o Gênesis foi escrito posteriormente a essa dinastia, que começou em 1580 a.C.
Gn.41:2 2. Pastavam no carriçal. A palavra heb. achu, traduzida como “carriçal”, também é tomada do egípcio. Derivada do termo egípcio ’ichi, significa “junco” (NVI) ou “grama”. E usada apenas em Gênesis 41:2 e 18 e em jó 8:11, e constitui um dos argumentos a favor da atribuição de ambos os livros, Gênesis e Jó, ao mesmo autor.
Gn.41:3 3. Outras sete vacas. As sete vacas mal alimentadas eram inigualáveis em feiura (Gn 41:19). Mais do que isso, eram magras, literalmente, “magras em carne”.
Gn.41:4 Sem comentário para este versículo
Gn.41:5 Sem comentário para este versículo
Gn.41:6 6. Vento oriental. Este vento oriental, que sopra do Deserto Árabe, é extremamente quente, cresta as colheitas e abrasa a terra. Os árabes fazem diferença entre dois tipos de vento oriental: (1) o chamsin, que pode soprar por até 50 dias na primavera, e (2) o samum, que ocorre em ocasiões irregulares. Embora perdure geralmente pouco tempo, por vezes apenas algumas horas, o samum tem as características de uma severa tempestade e pode ser destrutivo em seus efeitos sobre pessoas, animais e plantas.
Gn.41:7 7. Fora isto um sonho. Os sonhos pareciam reais. Somente quando acordou, o faraó percebeu que havia estado sonhando. Embora tivesse havido dois sonhos distintos, eles foram considerados como um só (v. 8, 15, 25, 32) por causa da similaridade e devido ao fato óbvio de que se referiam ao mesmo evento. A mensagem essencial foi repetida para ênfase (v. 32).
Gn.41:8 8. Magos. Fora do Pentateuco esta palavra, que vem de chartsimimim, é usada apenas em Daniel 1:20 e 2:2. E derivada de uma palavra egípcia que significa “pronunciar um encantamento mágico’’ ou “pronunciar um nome em magia”. Designa os sacerdotes como mestres da magia. Esses homens se ocupavam das artes e ciências sagradas dos egípcios, dos escritos hieroglíficos, da astronomia e astrologia, da interpretação de sonhos, dapredição de eventos, de mágicas e conjurações, e eram guardiões das artes ocultas. Em suma, eram os sábios da nação. Uma vez que o Nilo, de onde subiram tanto as vacas magras como as gordas, era considerado pelos egípcios como a fonte de toda vida e fertilidade, os sábios ficaram perplexos quanto ao significado dos sonhos e não conseguiam pensar numa interpretação que pudesse ser satisfatória para o rei. Diferentemente de Nabucodonosor, numa ocasião posterior, o faraó se lembrava de seus sonhos, mas os sábios do Egito não tiveram mais sucesso que os de Babilônia, apesar dessa óbvia vantagem (Dn 2:4, 7). O fato de não serem capazes de explicar os sonhos do faraó, que estavam revestidos de linguagem simbólica da época, foi sem dúvida tão surpreendente para eles como para o rei; mas “as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (ICo 2:10, 11), e aqueles a quem o Espírito de Deus as revela. A sabedoria de Deus sobrepuja a do mundo e, portanto, a confunde.
Gn.41:9 Sem comentário para este versículo
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Gn.41:13 Sem comentário para este versículo
Gn.41:14 14. Ele se barbeou. Figuras e relevos do Egito antigo mostram asiáticos usando longos cabelos e barba, enquanto que os egípcios rapavam os pelos. A história egípcia de Sinué fornece um interessante paralelo a esse episódio da vida de José, evento este que por sua vez se demonstra completamente egípcio. Na história, um cortesão que viveu cerca de 300 anos antes do tempo de José narra seu retorno à corte do faraó após um longo período de exílio em Canaã. Ele diz: “Barbearam-me, e meu cabelo foi penteado. [...] Fui vestido de linho fino e ungido com óleo escolhido.”
Gn.41:15 Sem comentário para este versículo
Gn.41:16 16. Não está isso em mim. Com toda a modéstia, José dirigiu a atenção do faraó não para si mesmo, mas para o Deus do Céu, como havia feito dois anos antes com os dois prisioneiros (Gn 40:8).Resposta favorável. O costume da corte exigia que se desse uma interpretação favorável aos sonhos do rei. José já havia vivido tempo suficiente no Egito, e se associadopor tempo suficiente com altos oficiais, para conhecer bem a forma usual cie conversação a ser usada na presença do rei.
Gn.41:17 17. Meu sonho. Os dois sonhos são relatados essencialmente nas mesmas palavras nos v. 1-7. Contudo, Moisés evita a monotonia ao acrescentar algumas palavras em determinados lugares e usar sinônimos em outros.
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Gn.41:25 25. Deus manifestou a Faraó. José declarou antes de tudo que os dois sonhos tinham o mesmo significado, e apontou para seu autor, Deus, que desta forma procurava advertir o faraó e seus súditos a respeito de eventos futuros. O número sete, que desempenhou papel tão importante nos sonhos, indicava dois períodos de sete anos cada. As vacas gordas e as espigas boas representavam sete anos de colheita abundante; as mirradas, sete anos estéreis. Os últimos sucederiam os primeiros e viriam sobre toda a terra do Egito, de forma que os anos de fome não deixariam nenhum vestígio dos sete anos frutíferos. José acrescentou que a repetição do sonho tinha o objetivo de enfatizar a certeza dos eventos indicados e a urgência de se tomarem medidas para enfrentar a situação. A confiança de José em sua interpretação, que alcançava 14 anos à frente, em contraste com a perplexidade dos sábios egípcios, não deixou de impressionar o rei.
Gn.41:26 Sem comentário para este versículo
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Gn.41:33 33. Escolha [...] um homem. José acrescentou a sua interpretação o conselho de que o faraó devia nomear alguém sobre todo o país como ministro da alimentação, bem como uma equipe de funcionários para executar suas instruções. Ele aconselhou também que durante os sete anos de abundância uma quinta parte da colheita fosse exigida como imposto e armazenada em todo o território.
Gn.41:34 34. A quinta parte. O fato de que apenas um quinto da colheita devia ser recolhido cada ano implica que mesmo nos anos de fome a terra iria produzir algo. A fertilidade do Egito sempre dependeu da inundação anual da terra pelo Nilo, uma vez que a chuva é pratícamente desconhecida.Antes da construção da represa de Assuã e de barragens para regular a inundação ao longo do Nilo, no século 19, foram construídos diques para controlar uma elevação normal do nível do rio. Isso significava 7,5 ou oito metros acima do nível baixo do rio na estação seca em Assuã. Se a inundação chegasse a mais de 8 m, os diques eram varridos; se chegasse a mais de nove metros, aldeias eram destruídas e vidas se perdiam. Por outro lado, uma inundação de apenas sete metros não traria água a campos que ficassem a 3,2 km de distância do rio, e resultaria em seca parcial. Plínio escreveu a respeito da inundação do Nilo: “A altura normal [da inundação] é de 16 côvados [c. 8 m], Quando as águas ficam abaixo desse nível, não inundam o solo todo; quando ficam acima, levam muito tempo para retroceder. No primeiro caso, o solo não fica saturado; no segundo, as águas permanecem durante tanto tempo no solo que passa o tempo da semeadura. A administração toma conhecimento de ambos os casos. A uma altura de apenas 12 côvados [c. 6 m], a consequência é a fome. Mesmo com 13 côvados [c. 6,5 m] ainda há fome; 14 côvados [c. 7 m] produzem um regozijo geral; 15 [c. 7,5 m], perfeita segurança; e 16, todas as comodidades da vida” (Natural History, v. 10).O Egito produzia mais cereais nos anos normais do que era necessário para o consumo doméstico. Por isso, era capaz de exportar grandes quantidades, e o recolhimento de 20% da colheita nos anos de fartura não representaria nenhuma dificuldade. Ao mesmo tempo, isso armazenaria um enorme volume de grãos. Não seria sábio exigir uma quantidade muito grande, pois assim se perderíam a boa vontade e a cooperação dos fazendeiros e proprietários de terras. Se as colheitas fossem abundantes, eles poderiam pagar facilmente o aumento nos impostos sem considerá-lo opressivo.
Gn.41:35 Sem comentário para este versículo
Gn.41:36 Sem comentário para este versículo
Gn.41:37 Sem comentário para este versículo
Gn.41:38 38. Homem como este, em quem há o Espírito de Deus? O conselho pareceutão sensato e agradável ao faraó e seus conselheiros que o rei propôs a nomeação de josé como ministro da alimentação e lhe concedeu poderes de emergência. Se este faraó era um hicso semita, como é provável, sua avaliação de José como um homem “em quem há o Espírito de Deus [’Elohim\” pode ser facilmente entendida. Porém, não está claro em que sentido o faraó compreendia a palavra 'Elohim, o plural de 'Eloah. Ela é usada pelos escritores bíblicos para designar tanto o verdadeiro Deus como as divindades pagãs. Não é certo se o rei se referia ao 'Elohim de José (v. 16, 25, 28, 32) como um Deus ou a várias de suas próprias divindades, embora José tenha usado o verbo na forma singular para descrever as atividades de Deus. Uma vez que certamente era um idólatra e polite- ísta, o faraó pode ter achado que José estivesse falando de “deuses” e, nesse caso, a declaração do rei seria traduzida da seguinte forma: "um homem em quem há o espírito dos deuses”.
Gn.41:39 Sem comentário para este versículo
Gn.41:40 40. Obedecerá. A expressão hebraica traduzida como “obedecerá” ou “se governará" (ARC) recebeu várias explicações dos comentaristas, até que se propôs que talvez uma expressão egípcia tenha sido a base do texto. Nesse caso, a declaração d iria, literalmente: "De acordo com a tua palavra [ou boca] todo o meu povo beijará.” No egípcio coloquial, porém, “beijar” também significa “comer”. Os primeiros leitores de Moisés, todos crescidos no Egito, certamente teriam entendido o significado da frase. Se era isso que estava dizendo, o fato constituiria evidência adicional de que Moisés, um homem educado no Egito, escreveu o livro de Gênesis. Se, por outro lado, a expressão é hebraica, a palavra traduzida como “se governará”, proveniente de uma raiz que significa “ser leal a”, “estar sujeito a”, deveria ser traduzida como “obedecerá”.
Gn.41:41 41. Vês que te faço autoridade. Depois de considerar por algum tempo a nomeação,o rei anunciou a decisão de elevar José ao cargo mais destacado abaixo da coroa e procedeu à cerimônia inaugural. Primeiro houve uma proclamação real, declarando José vice- -rei sobre todo o Egito.
Gn.41:42 42. Tirou Faraó o seu anel de sinete. Diversos relevos nas tumbas cie altos oficiais egípcios ilustram seu empossamento no cargo. Essas figuras estão em plena harmonia com o curto relato da posse de José. Elas mostram o rei, geralmente em pé junto à “janela da aparição” de seu palácio, entregando a insígnia de dignidade. O anel de sinete dado a José certamente continha uma pedra em forma de escaravelho com o nome do rei gravado sobre ela, e era usada para afixar o selo real aos documentos.Roupas de linho fino. Foram-lhe dadas roupas de linho fino como as usadas pelo rei e pelos sacerdotes. A história egípcia de Sinué (ver com. do v. 14) também menciona o “linho fino” em que o herói da história estava vestido por ocasião de seu retorno à corte egípcia.Colar de ouro. As figuras que representam a cerimônia de posse dos altos oficiais mostram em geral um colar cie ouro colocado ao pescoço do oficial. Alguns desses colares foram preservados e podem ser encontrados em museus. São belas obras de arte, feitas de ouro e contas de pedras semipreciosas. Pendendo do colar, na parte dianteira, encontra-se uma inscrição que traz os nomes e os títulos do rei.
Gn.41:43 43. Segundo carro. Esta declaração é apropriada para o tempo dos hicsos, que introduziram no Egito o cavalo e a carruagem (ver com. de Gn 39:1).Inclinai-vos! Este era o grito dos arautos que precediam a carruagem de José quando ele percorria o país em marchas oficiais. O termo heb. 'abrek, “dobrar o joelho”, é a transliteração de uma frase egípcia que tem sido interpretada de várias formas. A explicação mais plausível, dada inicialmente peloegiptólogo Heinrich Karl Brugsch, vê por trás dela o verbo egípcio berek, ''louvar” ou "prestar homenagem”. Portanto, o heb. abrek seria uma tradução fiel do imperativo egípcio i'a berek, “Louvem!” ou "Prestem homenagem!” O outro significado sugerido, “terno pai”, ccr- tamente está incorreto.
Gn.41:44 Sem comentário para este versículo
Gn.41:45 45. Zafenate-Paneia. Há muito tempo se reconhecia que o nome dado pelo faraó a José era egípcio, mas não se sabia seu significado. Contudo, o nome foi descoberto numa inscrição de época posterior, o período bubástida (9° século a.C.), e em egípcio era escrito Djed-pa-netjer-iiif-ankh, que significa “o deus fala para que ele possa viver”.Asenate. José recebeu não apenas um nome egípcio, mas também uma esposa egípcia, uma mulher procedente de uma das mais eminentes famílias sacerdotais. O faraó aparentemente procurou aumentar a honra e reputação de José por meio desse casamento, como se evidencia no fato de alguns dos próprios reis tomarem esposas de famílias sacerdotais.Asenate significa "pertencente a [a deusa] Neith”. O nome de seu pai é idêntico ao do antigo senhor de José (ver com. de Gn 37:36), embora exista uma ligeira diferença na trans-durante muitos séculos, até que o culto a Amon, e mais tarde a Amon-Rá, de Tebas, sobrepujou o culto ao sol, de Heliópolis, no 15° século e daí por diante. A posição social de José foi tremendamente fortalecida por seu casamento com a filha de urna das primeiras famílias do Egito.O casamento de José com uma mulher egípcia não enfraqueceu sua lealdade ao Deus de seus pais. Seus filhos, Efraim e Manassés, foram criados na religião hebraica, uma vez que se tornaram cabeças de duas tribos de Israel, e nesse aspecto alcançaram igualdade com seus tios, os irmãos de José. A forte lealdade de José ao seu Deus pode até ter sido o meio de converter sua esposa egípcia. Além disso, não se deve esquecer que a mão de Deus, pela qual ele havia sido tão exaltado após profunda humilhação, também o preservou, em sua elevada posição de honra, de mergulhar no paganismo do Egito.Que mudança Deus havia trazido à vicia de José! As algemas foram trocadas por uma corrente de ouro, os trapos de prisioneiro por linho fino, a cela por uma carruagem, e a prisão por um palácio. O escravo de Potifar havia se tornado seu senhor, e o barulho das correntes havia sido trocado pela exclamação: “Inclinai-vos!” A humildade precede a honra; a escravidão e o sofrimento se tornaram degraus para a autoridade. O fiel servo de Deus foi recompensado por sua lealdade e paciência.
Gn.41:46 46. Da idade de trinta anos. Uma vez que estava com 17 anos quando foi vendido para o Egito (Gn 37:2), e então tinha 30, José passara 13 anos em escravidão.
Gn.41:47 47. A terra produziu. A predição de José se cumpriu de maneira precisa. O cereal cresceu “a mãos cheias” (ARC) ou “abundantemente”, e José recolheu 20% dele em celeiros espalhados por toda a terra. A quantidade de cereais que entrava nos armazéns reais era tão grande que logo ultrapassou a capacidade de registrá-los. Talvez tenha havido anecessidade de mais escribas, bem como de mais coletores de impostos.
Gn.41:48 Sem comentário para este versículo
Gn.41:49 Sem comentário para este versículo
Gn.41:50 50. Dois filhos. José deu aos dois filhos que lhe nasceram nomes que expressavam a generosa providência de Deus.
Gn.41:51 51. Manasses. Literalmente, “que faz esquecer". José deu esse nome a seu primogênito em gratidão pelo fato de Deus tê-lo feito esquecer sua antiga condição de escravo e a intensa saudade da casa de seu pai. Ele estava grato porque Deus lhe havia provido um lar, embora estivesse em exílio. As misérias passadas não mais podiam amargurar sua atual condição feliz, pois a adversidade havia se transformado em prosperidade.Tem surgido a pergunta: Por que José, depois de alcançar uma posição tão exaltada, não se comunicou imediatamente com o pai? Será que havia realmente esquecido o afeto paterno e não sentia necessidade de fazer com que o idoso homem soubesse que ele ainda estava vivo? O fato de ele, na verdade, não haver deixado de se importar com a família fica claro não só pelo terno encontro que teve com os irmãos e o pai, que logo será descrito, mas também pela declaração que fez por ocasião do nascimento de Efraim, na qual caracterizava o Egito como a terra de sua aflição. O fato de não ter imediatamente declarado seu parentesco e enviado uma mensagem para sua casa em Canaã pode ser atribuído à hesitação de revelar ao pai a maldade que os irmãos haviam cometido, ou talvez a um impulso divino que o advertiu de que o tempo para isso ainda não havia chegado. Qualquer que seja o caso, a conduta de José nesse assunto não revela nada inconsistente com a piedade que tão notavelmente permeava sua vida. Se Deus escolhera colocá-lo no Egito, ele permanecería ali.
Gn.41:52 52. Efraim. Isto é, “dupla frutificação". Este nome expressava a gratidão de José pelo fato de Deus ter dado a ele, um escravo fadado à servidão perpétua, uma famíliafeliz e dois filhos. O nome reflete um coração cheio de alegria e gratidão.
Gn.41:53 Sem comentário para este versículo
Gn.41:54 54. Havia fome em todas as terras.Como José havia predito, os sete anos de fartura foram seguidos por sete anos de fome, que afetaram não só o Egito mas também os países vizinhos. As condições de fome no Egito são provocadas quando o Nilo deixa de transbordar para as margens (ver com. do v. 34), e isto, por sua vez, se deve à falta de chuva nas montanhas da Abissínia.
Gn.41:55 Sem comentário para este versículo
Gn.41:56 56. Abriu José todos os celeiros. Depois de os egípcios haverem consumido seus próprios estoques de alimento se voltaram para o rei, lembrando-se, sem dúvida, do imposto especial sobre os cereais que estivera em vigor por sete anos sucessivos. Ele os enviou a José, o ministro da alimentação, que abriu os celeiros para os egípcios nativos e para os estrangeiros que vinham ao Egito em busca de comida. Vários registros hieroglíficos encontrados no Egito mencionam condições de fome. Nesses registros certos altos oficiais afirmam ter aliviado a miséria dos pobres e famintos durante os tempos de escassez, proclamando nas inscrições de suas tumbas: “Dei pão ao faminto, água ao sedento, roupas ao nu e um barco para quem não o possuía." Um oficial da 12a dinastia (séc. 20 a.C.) afirmou: “Quando vieram anos de fome arei todos os campos do distrito de Orix, [...] mantendo vivo o seu povo e fornecendo alimento a eles, para que não houvesse ali famintos."A sabedoria de José como administrador tornou-se então aparente a todos. Se alguém havia nutrido dúvidas quanto a sua política de armazenar tremendas quantidades de cereal ano após ano, ninguém questionava agora a prudência de tal política. O que o faraó, um governante estrangeiro, teria feito com uma população faminta? Como poderia ter evitado a derrocada de sua própria dinastia, se não fosse o planejamento antecipado de José? Esse jovem hebreu, um ex-escravo doméstico,= havia se tornado o salvador do trono, de todo o Egito, e também das nações vizinhas.Vendia. Não foi sem motivo que José não distribuiu gratuitamente o cereal armazenado para as multidões que pereciam. As pessoas certamente haviam sido advertidas da calamidade iminente, e poderíam, com cuidado e economia, ter guardado um pouco para os dias de escassez. Uma vez que as pessoas tinham de pagar pelo cereal, eramestimuladas a exercer a moderação c a evitar o desperdício do precioso suprimento de comida, que precisava durar por sete longos anos. Esse plano também permitiu que José socorresse as populações famintas de outros países. O fato de o cereal ser vendido de volta às pessoas deixa claro que o recolhimento havia sido feito como uma forma de taxação, e não como um serviço público prestado pelo rei.Capítulo 42quem vendia a todos os povos da terra; e os irmãos de José vieram e se prostraram rosto em terra, perante ele.somos homens honestos; os teus servos não são espiões.
Gn.41:57 Sem comentário para este versículo
Gn.42:1 Sem comentário para este versículo
Gn.42:2 2. Descei até lá. À medida que a seca ficava mais e mais severa, e tanto homens quanto animais sofriam, jacó tomou a decisão de buscar cereal no Egito para evitar que sua família morresse de fome. Ele não decidiu, como Abraão (Gn 12:10) e Lsaque (Gn 26:2), mudar-se para o Egito com a família, talvez porque também no Egito havia fome, como em Canaã.
Gn.42:3 3. Desceram dez dos irmãos. Foram todos os dez ao Egito, por motivo de segurança ou porque o cereal era distribuído aos chefes de família. Seu número possivelmente os capacitaria a conseguir mais cereal e certamente os habilitaria a voltar para Canaã com maior quantidade deste. Além disso, as condições de fome criavam o risco de a caravana ser assaltada e os víveres, saqueados.
Gn.42:4 4. Benjamim. O rapaz não foi deixado em casa pelo fato de ser muito jovem, pois nesse tempo já tinha mais de 20 anos, mas porque, como o único filho de Raquel que restava, tinha tomado o lugar de José como objeto da terna afeição de jacó.
Gn.42:5 5. Entre os que iam. Os irmãos de José formavam parte de uma caravana de cana- neus ou simplesmente chegaram junto com outros que foram ao Egito pela mesma razão.
Gn.42:6 6. Governador. De shalHts, que por sua \ ez é derivado da raiz shalats, “governar ’. O termo é usado para designar alguém investido de autoridade ilimitada. A palavra é conhecida também no aramaico e no árabe; está por trás do título sultão, e talvez por trás do nome pessoal Salatis, que, segundo Mâneto, pertencia ao primeiro rei hicso. Contudo, Mâneto pode ter confundido a palavra, que significa “governante”, com um nome próprio. Esse termo mostra claramente que José era mais do que um simples ministro da alimentação. Como o segu ndo homem no país, ele era o verdadeiro governante do Egito: o primeiro-ministro.
Gn.42:7 7. Reconheceu-os. José reconheceu seus irmãos imediatamente, mas eles, quenão o viam havia mais de 20 anos, não o reconheceram (v. 8). Ele não só estava mais velho então, mas também fora “egipcianizado”: usava trajes egípcios e tinha o rosto barbeado, em vez de usar barba como os semitas. Além disso, falava uma língua estrangeira e, visualmente, era um grande senhor. A ideia de associar José àquele poderoso homem teria parecido absurda (ver Gn 45:3).E lhes falou asperamente. O fato de José falar “coisas duras para eles”, como o texto diz literalmente, não foi devido a um sentimento de vingança, mas para averiguar sua atual maneira de pensar, particularmente com relação a ele e a Benjamim, cuja ausência havia certamente chamado sua atenção e talvez despertado suas suspeitas.
Gn.42:8 Sem comentário para este versículo
Gn.42:9 9. Vós sois espiões. As “coisas duras” que José falou a seus irmãos foram então reveladas. O Egito sempre havia nutrido suspeitas em relação aos vizinhos orientais, que atacavam o país e então desapareciam ao voltar para suas moradas no deserto, e que também se infiltravam no território e até assumiram o governo de partes do país. Essas incursões, durante o primeiro período intermediário, anterior à 12a dinastia, haviam levado o rei Amenemhat I a construir, nas fronteiras entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho, fortificações chamadas de “O Muro do Príncipe”, a fim cie manter os cananeus fora do Egito. Os hicsos, que chegaram posteriormente, vindos do leste, tinham então obtido a supremacia no país, e estavam alerta para que outros não fizessem com eles o que haviam feito com os egípcios. Portanto, era natural que José examinasse cuidadosamente todos os que vinham do leste e fizesse esforços para detectar pessoas indesejáveis ou espiões confirmados. Uma vez que a fome prevalecente nos países vizinhos trazia grande número de estrangeiros ao Egito com o objetivo de comprar cereais, mais cuidado tinha de ser exercido para eliminar aqueles cuja presença pudesse colocar em risco a segurança do país.
Gn.42:10 10. Não, senhor meu. Se os irmãos de José ficaram ofendidos com as acusações feitas contra eles, o medo os fez engolir o orgulho, e eles asseguraram completa inocência. Uma vez que a afirmação de honestidade não impressionou o senhor egípcio, eles começaram a dar mais detalhes sobre sua família. Com isso, procuravam provar sua inocência, já que todos eles pertenciam a uma mesma família, que dificilmente pode- ria fazer um ataque hostil a todo um reino, não havia razão real para se suspeitar que fossem espiões. José devolveu o desafio: se aquilo era verdade, que eles o provassem trazendo o irmão mais novo que faltava.
Gn.42:11 Sem comentário para este versículo
Gn.42:12 Sem comentário para este versículo
Gn.42:13 Sem comentário para este versículo
Gn.42:14 Sem comentário para este versículo
Gn.42:15 Sem comentário para este versículo
Gn.42:16 Sem comentário para este versículo
Gn.42:17 17. Em prisão três dias. José havia solenemente ordenado aos irmãos (v. 16) que enviassem, um dentre eles a Canaã para buscar Benjamim. A evidente relutância deles em fazê-lo, sabendo que Jacó não consentiría, levou José a mandá-los todos para a prisão por três dias. Isso fora feito em consequência da indisposição deles em concordar com a proposta, mas na verdade José queria testá-los uin pouco mais. Ele havia sofrido na prisão por aproximadamente três anos devido ao tratamento desumano de seus irmãos, mas infligiu-lhes um confinamento de apenas três dias.
Gn.42:18 18. Fazei o seguinte e vivereis. No terceiro dia José modificou sua atitude severa, e a explicação que deu para isso, de que temia 'a Deus”, deve ser entendida de forma geral, e não como uma referência a Yahweh, já que supostamente vinha de um governante egípcio. Em vez de aprisionar os nove, ele conservaria na prisão apenas um, e permitida que os outros voltassem para buscar Benjamim e levar comida às famílias sofredoras. O retorno deles com Benjamim garantiría a libertação do que ficasse encarcerado. Se, por outro lado, a história contada não fosse verdadeira, eles morreríam de fome, e o que permanecera no Egito seria executado como espião.
Gn.42:19 Sem comentário para este versículo
Gn.42:20 Sem comentário para este versículo
Gn.42:21 21. Na verdade, somos culpados. Quando perceberam que o governante egípcio não iria puni-los ou matá-los por mera suspeita, mas os julgaria com justiça, sua consciência começou a lhes falar. Quão diferentemente haviam agido para com José! O governante de todo o Egito teve compaixão da família deles, que passava fome em Canaã, ao passo que eles tinham decidido deixar o irmão na cisterna para morrer de inanição. Enquanto esses e outros pensamentos similares lhes passavam pela mente, foram levados a um reconhecimento da culpa. Seu próprio infortúnio os fez recordar a angústia do irmão. Rúben os lembrou de como os havia advertido inutilmente para não pecarem contra o jovem, e naquele momento estavam recebendo a justa recompensa por sua insensibilidade para com ele (v. 22), Assim, acusavam-se mutuamente na presença de José, sem saber que ele entendia cada palavra do que diziam.
Gn.42:22 Sem comentário para este versículo
Gn.42:23 Sem comentário para este versículo
Gn.42:24 24. Tomou a Simeão dentre eles.Passando por alto a Rúben, que comparativamente não tinha culpa, José escolheu Simeão, o principal instigador do cruel tratamento que ele recebera (PP, 226). A insensibilidade de Simeão havia se manifestado em outras ocasiões também, como quando ele e Levi massacraram os siquemitas. Enquanto Simeão era algemado diante dos olhos de seus irmãos, eles forçosamente se lembraram do que haviam feito a José, o qual talvez esperasse que a compaixão por Simeão os estimulasse a voltar mais rapidamente com Benjamim.
Gn.42:25 25. Os sacos. A primeira palavra traduzida como “sacos”, keli, significa “vasilhas”’ ou "receptáculos”, e talvez significasse um cesto ou outro recipiente. A segunda palavra para “saco”, no qual o dinheiro foi colocado, é uma transliteração do hebraico saq, que foi incorporada às línguas europeias através do grego sakos e do latim saccus. Além desses termos, é usada outra antiga palavra para "saco”, a heb. ‘anitahath. Ela é empregada na Bíbliaapenas em conexão com esta história, e deve ter sido um sinônimo de saq, pois ambas as palavras são usadas indistintamente (v. 27, 28; Gn 43:12; etc.).José não devolveu o dinheiro deles com más intenções, mas porque não podia aceitar dinheiro de seu pai e de seus irmãos para comprar alimento. Mesmo que pensasse na possibilidade de os irmãos ficarem alarmados ao encontrar o dinheiro, não viu razão para lhes poupar essa ansiedade. Isso ajudaria a abrandar ainda mais o duro coração deles após as amargas experiências dos dias precedentes.
Gn.42:26 Sem comentário para este versículo
Gn.42:27 27. Abrindo um deles o saco de cereal. A palavra traduzida por “venda” (ARC) é mais adequadamente vertida como “estalagem” (ARA). A descoberta desse dinheiro por parte de um deles trouxe consternação a todos. Seria isso um prenuncio de outros infortúnios a sobrevirem? No Egito eles já haviam sido equivocadamente considerados espiões; será que agora seriam acusados de roubo? O fato de os irmãos considerarem esse caso, que não sabiam explicar, como uma punição divina, evidencia seu efeito salutar sobre eles. Em sua consternação e alarme, eles se esqueceram de examinar os outros sacos.
Gn.42:28 Sem comentário para este versículo
Gn.42:29 29. E vieram para Jacó. Chegando ao lar, eles relataram as dramáticas experiências, inclusive a detenção de Simeão. Ao abrir os recipientes e encontrar todo o dinheiro, ficaram ainda mais alarmados. O motivo pelo qual só um descobriu o dinheiro na estrada e os outros só ao chegar a casa pode ter siclo por que só em um saco ele estava próximo à abertura e nos outros, próximo ao fundo ou no fundo. Também pode ter sido colocado na bolsa de ração para animais de um deles, e nos sacos de mantimentos dos outros.
Gn.42:30 Sem comentário para este versículo
Gn.42:31 Sem comentário para este versículo
Gn.42:32 Sem comentário para este versículo
Gn.42:33 Sem comentário para este versículo
Gn.42:34 Sem comentário para este versículo
Gn.42:35 Sem comentário para este versículo
Gn.42:36 36. Tendes-me privado de filhos. Ao ouvir a triste história e ver o mau sinal do dinheiro devolvido, pensando ter perdidoum segundo filho, jacó irrompeu num amargo lamento, acusando os filhos de serem responsáveis pela perda de José e de Simeão. Agora, estavam decididos a levar Benjamim também. Jacó não fora justo o suficiente com os filhos, uma vez que não sabia que eram culpados do desaparecimento de José e, é claro, que não tiveram culpa direta no aprisionamento de Simeão. Contudo, eles devem ter visto o lamento de jacó como merecida repreensão. Sabiam que havia mais justiça em suas palavras do que ele próprio tinha conhecimento. Certamente haviam privado seu pai de José e achavam também que o aprisionamento de Simeão era uma justa paga por seu cruel ato. Como podiam agora assumir a responsabilidade de levar Benjamim para o Egito, sendo que não havia certeza de que ele voltaria em segurança? Estavam numa situação difícil, mas a única outra opção era morrer de fome. Para conseguir libertar Simeão e salvá-lo cia morte certa, e para conseguir sobreviver à fome, junto com as respectivas famílias, eles tinham que voltar ao Egito.
Gn.42:37 37. Rúben disse. O oferecimento de Rúben representou um supremo sacrifício de sua parte. Foi uma oferta sincera, mas irrefletida. Rúben era o mais velho, embora certamente não o mais sábio dos filhos de jacó, e uma vez mais se mostrou compassivo. Jacó, porém, recusou a oferta; ele tinha pouca confiança na capacidade deles de garantir o retorno seguro de Benjamim. As mãos deles não estavam limpas. Eles lhe causaram muitos momentos de ansiedade no passado. Rúben cometera um grave pecado, Simeão e Levi assassinaram a população de uma cidade e a família de Judá era tão má que dois de seus filhos morreram jovens por causa da impiedade. Como Deus podería dar êxito a Benjamim na companhia desses homens? Ilido em que se envolviam terminava em desapontamento ou desastre.Capítulo 43nos sacos para o mantimento e levai de presente a esse homem: um pouco de bálsamo e um pouco de mel, arômatas e mirra, nozes de pistá- cia e amêndoas;nosso pai vive ainda; e abaixaram a cabeça e prostraram-se.
Gn.42:38 Sem comentário para este versículo
Gn.43:1 Sem comentário para este versículo
Gn.43:2 2. Voltai. Quando o cereal trazido do Egito foi todo consumido e a tome persistia devido à contínua seca, Jacó pediu aos filhos que voltassem ao Egito para buscar “um pouco de mantimento". Não foram os filhos que tomaram a iniciativa; eles sabiam que seria inútil voltar sem Benjamim, mas também sabiam que era aparentemente impossível fazer o pai mudar de ideia. Judá, tornando-se o porta-voz dos outros, disse com firmeza que eles não iriam a menos que Benjamim fosse com eles, uma vez que o governante egípcio havia declarado solenemente que não veriam sua face sem o irmão mais novo. Judá, o quarto filho de Jacó, foi o porta-voz dessa vez porque Rúben, o filho mais velho, já havia sido recusado, Sirneão estava numa prisão egípcia e Levi provavelmente havia perdido a confiança do paidevido a sua traição contra os siquemitas (Gn 34).
Gn.43:3 Sem comentário para este versículo
Gn.43:4 Sem comentário para este versículo
Gn.43:5 Sem comentário para este versículo
Gn.43:6 6. Por que me fizestes esse mal? Respondendo à pergunta reprovadora do pai sobre por que haviam informado o vice-rei egípcio a respeito de Benjamim, eles disseram, em defesa própria, que não tinham deixado escapar essa informação por descuido. Como poderiam ter sabido que uma pergunta daquelas se tornaria mais tarde uma fonte de problemas? Embora as perguntas de José sobre a família deles não apareçam na narrativa precedente (Gn 42:13, 22), fica evidente que essa informação havia sido dada em resposta a uma pergunta direta. Ao suplicar a José em favor de Benjamim, mais tarde, Judá o lembrou de que tinha feito precisamente essa pergunta (Gn 44:19).
Gn.43:7 Sem comentário para este versículo
Gn.43:8 Sem comentário para este versículo
Gn.43:9 9. Eu serei responsável. juclá repetiu então a condição exigida para que eles fossem recebidos novamente no Egito, insinuando que a única outra alternativa era morrer de fome. Ele aceitaria pessoalmente a responsabilidade de garantir que Benjamim voltasse em segurança. O que mais ele, ou qualquer um deles, pocleria fazer? A nobreza de caráter, tão evidente na linguagem de Judá, é ilustrada mais tarde em seu apelo emocionado diante de josé (Gn 44:18-34). Uma grande mudança deve ter ocorrido em seu caráter desde os incidentes registrados em Gênesis 37 e 38.
Gn.43:10 Sem comentário para este versículo
Gn.43:11 11. Se é tal. Após o eloquente apelo de Juclá, cuja lógica era irrefutável, Jacó se submeteu ao inevitável. Agora que aceitara a ida de Benjamim, ele passou a fazer tudo que pudesse contribuir para o êxito da viagem. O presente que ele sugeriu era dos melhores produtos da região, os quais deviam ser altamente valorizados no Egito (ver com. de Gn 37:25).Um pouco de mel. Oue isso provavelmente não era ‘'mel” de abelhas fica evidente no fato de o mel ser um artigo abundante no Egito. Uma pequena quantidade de mel de abelhas da Palestina não teria sido considerada um presente respeitável, nem mesmo pelo doador. É mais provável que fosse mel de uvas, preparado fervendo-se suco de uva ou vinho novo até reduzir a quantidade à metade ou a um terço do volume original. Os gregos chamavam isso de hepsema, “a substância fervida”. O mel de uvas ainda hoje é importado da região de Hebrom, na Palestina, pelo Egito.Nozes de pistácia. Este fruto, a castanha oval da Pistacia vera, é mencionado na Bíblia apenas nesta passagem. O pistache é uma castanha oleosa considerada rara iguaria pelos orientais.Amêndoas. A amendoeira é chamada shaqed, “o vigia”, do verboshaqad, “estar acordado", “estar desperto”, “vigiar”. E a primeirade todas as árvores a florescer na primavera. Embora crescesse na Síria e na Palestina, esta árvore parece que era desconhecida no antigo Egito.
Gn.43:12 12. Dinheiro em dobro. Uma vez que a quantia paga pelo primeiro lote de cereais fora devolvida, Jacó aconselhou os filhos a levar dinheiro em dobro para pagar o cereal adquirido anteriormente, bem como o que seria comprado. Embora Jacó temesse que a devolução do dinheiro pudesse ser falsamente interpretada no Egito (Gn 42:35), expressou esperança de que isso tivesse sido feito por engano.
Gn.43:13 Sem comentário para este versículo
Gn.43:14 14. Se eu perder os filhos. O idoso patriarca abençoou os dez filhos antes da partida deles e expressou a confiança de que Deus lhes daria misericórdia diante do governador do Egito. A palavra traduzida como “misericórdia” significa, literalmente, “entranhas”, e se refere ao abdômen, que antigamente era considerado a sede das afeições e emoções. Embora jacó tivesse fé na proteção divina, logo na declaração seguinte ele revela incerteza quanto a Deus abençoar seus filhos pecadores. Eles eram imprevisíveis e podiam arranjar problemas mesmo onde não havia razões para tal. Num espírito de resignação, ele se submeteu à vontade divina, qualquer que fosse ela.
Gn.43:15 Sem comentário para este versículo
Gn.43:16 16. Vendo José a Benjamim. Uma vez que josé os havia acusado de espiões, não havia maneira de comprar o cereal desejado diretamente com um oficial subalterno, sem passar por ele. José provavelmente havia dado ordens para que fossem trazidos a ele pessoal mente logo que voltassem ao Egito. Qualquer que tenha sido o procedimento exigido dos estrangeiros, especialmente dos filhos de José, os dez irmãos logo se acharam uma vez mais na presença do temido governador. Vendo os homens, José deu ordens para que tossem levados a sua residência particular e que lhes fosse preparada uma refeição (literalmente, “abater um abate”).Relevos egípcios revelam que carne de vaca e de ganso constituía a ração normal dos ricos no Egito e que consideráveis quantidades de carne eram servidas às refeições quando havia visitantes.
Gn.43:17 Sem comentário para este versículo
Gn.43:18 18. Os homens tiveram medo. Osirmãos de José ficaram mais alarmados do que antes ao descobrir que seriam levados à casa de José. Talvez não tivessem entendido a ordena de José, que havia sido dada em egípcio, e quando chegaram a sua residência oficial e lhes foi ordenado que entrassem, esperaram ser colocados em escravidão sob a acusação de roubo. Num esforço para evitar o que temiam, aproximaram-se do mordomo que estava à porta, explicando como haviam encontrado o dinheiro em seus sacos e dizendo-se preparados para devolvê-lo. Não há necessidade de pressupor uma discrepância entre o relato da ocorrência feito em Gênesis 42:27 e 28 e sua repetição aqui. E possível que todos tivessem aberto os sacos na “estalagem”, mas que apenas um tivesse descoberto o dinheiro naquele momento. É inconcebível que o grupo todo tivesse levado apenas dez sacos de cereal para alimentar animais e a família por um período de meses.
Gn.43:19 Sem comentário para este versículo
Gn.43:20 Sem comentário para este versículo
Gn.43:21 Sem comentário para este versículo
Gn.43:22 Sem comentário para este versículo
Gn.43:23 23. O vosso dinheiro me chegou a mim. O mordomo, aparentemente a par dos planos de José, acalmou-os com a certeza de que o dinheiro chegara até ele, e que a rea- parição do dinheiro deles devia ser explicada como um ato de Deus. Como para banir- -ihes todos os temores, trouxe Simeão até eles e, com verdadeira cortesia oriental, tratou-os como convidados, dando-lhes água para lavarem os pés e ração para alimentar os animais de carga.
Gn.43:24 Sem comentário para este versículo
Gn.43:25 Sem comentário para este versículo
Gn.43:26 26. Chegando José a casa. José talvez estivesse ocupado quando seus irmãos chegaram, e não pôde dar-lhes atenção. Ou, como é mais provável, seus planos já estavam traçados e ele não desejava vê-los até o tempo programado. Quando José chegou,entregaram-lhe o presente com o mais respeitoso gesto de reverência, cumprindo, sem o perceber, os sonhos de José que haviam incitado seu intenso ódio por ele.
Gn.43:27 Sem comentário para este versículo
Gn.43:28 Sem comentário para este versículo
Gn.43:29 29. Viu a Benjamim, seu irmão. Ouando seus olhos repousaram sobre Benjamim, que era seu irmão também por parte de mãe, José cumpriu a formalidade de indagar sobre sua identidade - tinham os homens cie lato cumprido as condições exigidas?
Gn.43:30 30. Porque se movera no seu íntimo. Esta foi a segunda vez em que José foi dominado pela emoção; a primeira foi quando seus irmãos falavam entre si sobre sua crueldade para com ele (Gn 42:21). Agora foi a presença de seu próprio irmão, que ele não via havia 22 longos anos, que despertou suas emoções. Então, “suas entranhas se comoveram’’ (BJ). A expressão “se comoveram” diz, literalmente, “estavam se aquecendo”, isto é, devido à intensidade de seu amor (ver com. do v. 14). Uma vez que desejava testar a atitude dos irmãos com relação a Benjamim, ainda não estava pronto para se dar a conhecer, e se retirou apressadamente, com receio de não ser capaz de prosseguir com o plano até o fim. Durante a refeição, quando o esperado era conversar livremente, José teria uma excelente oportunidade para observar a atitude deles. Recompondo-se, lavou o rosto, voltou para onde estavam os irmãos e ordenou que a refeição fosse servida.
Gn.43:31 Sem comentário para este versículo
Gn.43:32 32. Servíram-lhe a ele à parte. Foi preparada uma mesa para ele, uma para seus irmãos e uma para os egípcios que comiam com ele. José ficou numa mesa separada por causa de sua alta posição ou porque a comitiva egípcia não comería com ele por ser um asiático, nem com seus irmãos, pelo mesmo motivo. Os antigos egípcios sempre eram rigorosos no assunto de associação com estrangeiros. Consideravam-se a classe mais elevada de seres humanos. Autodenominavam-se “pessoas”, enquanto que os outros erammais ou menos bárbaros, criaturas intermediárias entre des e o mundo animal. A aversão aos estrangeiros se revelava notavelmente no contexto da alimentação. Os hebreus, por exemplo, abatiam e comiam animais considerados pelos egípcios como sagrados. Segundo o relato de Heródoto (ii.41), nenhum egípcio usaria a faca, o garfo ou a panela de um grego, nem comeria carne de um animal limpo cortada com a faca de um grego.
Gn.43:33 33. Os homens se maravilhavam entre si. Descobrindo que seus lugares à mesa foram ordenados de acordo com a idade de cada uni, eles olharam uns para os outros com espanto, convencidos de que esse augusto dignitário havia sido avisado de maneira sobrenatural sobre a idade deles.
Gn.43:34 34. Cinco vezes. Para honrá-los, foram servidas a eles porções especiais da mesa de José. Para mostrar honra especial a Benjamim, José lhe deu porções especiais cinco vezes maiores do que as servidas aos outros. Benjamim era o convidado de honra. O costume de mostrar respeito a hóspedes distintos dando-lhes porções maiores e melhores aparece em outros registros antigos (ver ISm 9:23, 24; Homero, Ilíada, vii.321; viii.162; Heródoto, vi.57). José procurou testar seus irmãos para descobrir o verdadeiro sentimento deles para com Benjamim e, assim, para consigo mesmo. Desejava ver se invejavam e odiavam o irmão mais novo por causa de sua origem materna, como haviam anteriormente invejado a ele próprio.Capítulo 44Procedestes mal no que fizestes.
Gn.44:1 Sem comentário para este versículo
Gn.44:2 2. O meu copo de prata pô-lo-ás. Este foi o teste final e decisivo de josé antes de revelar-se aos irmãos. O objetivo era criar uma situação pela qual ele legitimamente pudesse reter Benjamim no Egito, a fim de que os irmãos tivessem uma desculpa para voltar a Canaã sem o filho favorito do pai.Com isso, José sabería indubitavelmente que tipo de homens eles eram agora. Eles deveríam aceitar a decisão de conservar Benjamim no Egito e voltar ao pai com a mensagem dolorosa de que ele devia se conformar com a perda do filho que ainda restava de sua amada Raquel, ou fariam tudo oque estivesse ao alcance para impedir esse infortúnio.
Gn.44:3 Sem comentário para este versículo
Gn.44:4 Sem comentário para este versículo
Gn.44:5 5. Por meio do qual faz as suas adivinhações. O copo era um artigo valioso. Não era um copo comum, mas, supostamente, um copo capaz de detectar qualquer substância venenosa colocada nele. Esses copos também eram usados para a prática da magia. A palavra traduzida por “adivinhações” significa “sussurrar”, “murmurar” ou “profetizar”. Os escritores clássicos falam da prática oriental de colocar água num copo e olhar dentro dele para ver representações de acontecimentos futuros (Jâmblico, De mysteriis, iii. 14). Outro costume descrito pelos antigos consistia em colocar água num copo e acrescentar peças de ouro e prata ou pedras preciosas, e depois observar e interpretar a imagem que se formava na água (Plínio, Natural History, xxxvii.73; Estrabão, Geography, xvi.2.39). O fato de ser ordenado ao mordomo que mencionasse a prática da magia para os irmãos não implica que o próprio José houvesse realmente adotado o procedimento supersticioso. Como ocorreu anteríormente (Gn 43:33), José desejava que eles acreditassem que podia ler seus pensamentos. Isto deveria amendrontá- -los e levá-los a abandonar todo fingimento.Por causa da sabedoria de José, os egípcios provavelmente lhe atribuíram a prática da magia. Não havia ele acertadamente predito os anos de fartura e de fome e preparado o Egito para a emergência? Por certo, ele era superior aos melhores “magos” (Gn 41:8) e, portanto, devia possuir poder superior (ver Ex 8:19). Talvez sua fama como um sábio houvesse se espalhado por toda parte, mesmo para terras estrangeiras, cie forma que seria adequado perguntar aos supostos ladrões do copo se eles não estavam cientes disso (Gn 44:15).
Gn.44:6 Sem comentário para este versículo
Gn.44:7 Sem comentário para este versículo
Gn.44:8 Sem comentário para este versículo
Gn.44:9 9. Morra. Cônscios de completa inocência, os irmãos não hesitaram em pronunciar sobre si mesmos a mais severa penalidade caso o objeto desaparecido fosse encontradoem seu poder. As palavras impensadas foram imprudentes, particularmente após a experiência de encontrar o dinheiro misteriosamente colocado nos sacos de cereal. Era de se esperar que estivessem suspeitosos e, consequentemente, mais cautelosos. Contudo, a franca amizade com que foram recebidos e hospedados em sua segunda visita ao Egito, tanto por parte do próprio vice-rei como de seus subordinados, havia dissipado todas as dúvidas concernentes às intenções de José.
Gn.44:10 10. Seja conforme. Professando exaltado senso de equidade e justiça, o mordomo se recusou a pensar em punir o inocente com o culpado, ou mesmo a punir o culpado com o rigor sugerido por eles. Quando outros falam impensadamente, não se deve tirar vantagem da imprudência. Qualquer pessoa pode, às vezes, fazer compromissos irre- fletidos capazes de produzir prejuízos, não fosse a clemência imerecida.
Gn.44:11 Sem comentário para este versículo
Gn.44:12 12. O mordomo os examinou. A busca sistemática do mordomo deve tê-los lembrado da surpresa no dia anterior ao verem seus lugares ordenados de acordo com a idade. Eles também devem ter ficado tensos, pois o objeto perdido só foi encontrado no último momento da procura. Um após outro, os homens se viram inocentados. Pela expressão facial e talvez até mesmo por palavras, devem ter expressado triunfo em vista da crescente evidência em favor da inocência alegada. No entanto, ao final, o objeto perdido foi encontrado no saco de cereal de Benjamim. Com angústia e alarme diante dessa nova calamidade, eles rasgaram as roupas (ver com. de Gn 37:34), carregaram novamente os jumentos e voltaram para a cidade.
Gn.44:13 13. Tornaram à cidade. Agora seria evidenciado o sentimento deles, no íntimo, em relação ao favorito de seu pai, que fora tão honrado pelo grande homem do Egito. Iriam entregá-lo, como fizeram com José, e levar o idoso pai à sepultura com tristeza, ou estariam dispostos a renunciar à próprialiberdade e à vida para que ele pudesse voltar em segurança para o pai?
Gn.44:14 14. Prostraram-se em terra diante dele. Com Judá à frente, os homens chegaram à casa de José, onde todos se prostraram diante dele, suplicando por misericórdia. Foram preservados vários relevos egípcios antigos que ilustram situações similares. Um deles mostra solicitantes cananeus diante do general Haremhab, no século 14 a.C. Alguns deles estão estirados no chão, com os braços estendidos e a cabeça levantada de maneira suplicante ante o alto oficial. Outros estão ajoelhados ou inclinados, todos eles com os braços erguidos, para impressionar o general com a urgência do pedido. No caso dos que se prostraram diante de Haremhab, o pedido era a permissão para se estabelecerem no Egito, uma vez que foram expulsos da terra natal.
Gn.44:15 15. Não sabíeís? José falou duramente, o que deve ter feito com que se lembrassem da recepção que tiveram em sua primeira visita ao Egito. Sobre o fato de José não ser praticante de magia, ver com. do v. 5.
Gn.44:16 16. Disse Judá. Como líder da segunda missão ao Egito (Gn 43:8), Judá deu um passo à frente como porta-voz. Não fez nenhuma tentativa de se justificar ou de justificar os irmãos, nem de se livrar ou de livrá-los das suspeitas, mas reconheceu livremente que eram culpados. Ele se referia, sem dúvida, ao crime cometido contra seu irmão José, um crime que lhes atormentava a consciência desde que fora cometido (Gn 42:21, 22). Aos observadores egípcios, particularmente o mordomo, as palavras de Judá significavam o reconhecimento da culpa, e isto sem dúvida espantou os egípcios, uma vez que sabiam serem os homens na verdade inocentes. José deve ter sentido a angústia de alma deles e percebido que consideravam merecida a punição a ser infligida. Em resposta ao oferecimento de Judá de que todos permanecessem como escravos no Egito, para onde haviam vendido o irmão como escravo,José declarou que sua sentença seria leve e justa. Apenas o culpado seria seu escravo; os outros poderiam voltar a seu pai a salvo sem serem molestados.
Gn.44:17 Sem comentário para este versículo
Gn.44:18 18. Judá se aproximou. Os 17 versos restantes do capítulo repetem o discurso de Judá em favor de seu irmão Benjamim. Esse discurso tem sido chamado, com justiça, uma das obras-primas da composição literária hebraica, um dos mais finos exemplares de eloquência natural do mundo.Tu és como o próprio Faraó. O discurso de Judá começou com um pedido para ser ouvido com misericórdia. Estava falando com alguém que era igual ao faraó, com autoridade para condenar ou perdoar. Visto que o monarca do Egito era considerado um deus, o modelo de toda a perfeição, a mais alta honra que poderia ser conferida a uma pessoa era compará-la ao monarca.
Gn.44:19 19. Meu senhor perguntou a seus servos. Antes de qualquer coisa, Judá relatou como Benjamim veio a ser envolvido no problema. José perguntara sobre os assuntos da família, e eles o informaram veraz- mente sobre o irmão mais novo, que ainda estava em casa. José insistira que eles não se aventurassem a voltar ao Egito sem o irmão, como prova de que este realmente existia e de que as afirmações deles eram verdadeiras. Embora algumas frases deste relato narrem coisas além do curto relato de Gênesis 42, Judá deve ter relatado a conversa original com exatidão, a fim de evitar quaisquer declarações inverídicas ou exageradas.
Gn.44:20 Sem comentário para este versículo
Gn.44:21 Sem comentário para este versículo
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Gn.44:24 Sem comentário para este versículo
Gn.44:25 25. Disse nosso pai. Após ter lembrado José em termos corteses, mas diretos, de que suas exigências eram a causa da presença de Benjamim no Egito, ele prosseguiu, retratando em palavras ternas e eficazes o amor do idoso pai pelo filho de sua velhice e de sua dor quando lhe informaram que não poderiam voltar ao Egito sem Benjamim. Ele relatou a intensa ansiedade com a qual, após severa luta, o pai havia finalmente permitidoque ele viajasse. Enfatizou o solene fato de que fariam descer as cãs de seu pai com pesar à sepultura (ver Gn 37:35; 42:38) caso voltassem sem o jovem.
Gn.44:26 Sem comentário para este versículo
Gn.44:27 27. Sabeis que minha mulher. Esta observação, feita aqui pela primeira vez, implica que Jacó considerava mais a Raquel como sua verdadeira esposa do que Lia, Bila ou Zilpa (ver Gn 46:19). Ela sempre fora a esposa amada.
Gn.44:28 28. Certamente foi despedaçado.Jacó quis dizer aqui que José, se estivesse vivo, certamente teria podido voltar ou mandar notícias. Não o havendo visto nunca mais desde o terrível dia de sua partida de Elebrom, Jacó só podia concluir que seus temores eram plenamente justificados
Gn.44:29 Sem comentário para este versículo
Gn.44:30 Sem comentário para este versículo
Gn.44:31 Sem comentário para este versículo
Gn.44:32 Sem comentário para este versículo
Gn.44:33 33. Em lugar do moço. O sacrifício próprio de Judá é certamente digno de elogio. A submissão voluntária à escravidão em favor de um irmão que desfrutava um grau mais elevado de afeto paterno, a fim de poupar seu idoso pai de mais uma tristeza e angústia, não pode ser superestimado. A abnegada magnanimidade de Judá nunca foi superada e raramente, igualada. Judá emerge aqui como um homem verdadeiramente convertido, um digno ancestral do Descendente prometido e alguém digno de dar seu nome ao povo escolhido de Deus.José não podia mais duvidar de que uma completa mudança ocorrera nos irmãos e em Judá, particularmente, desde o dia em que este havia insistido tão eloquentemente na venda dele como escravo. A tática de José havia se demonstrado bem-sucedida. Ele estava agora convencido de que a atitude dos irmãos era correta e de que a conversão era genuína. Não havia mais necessidade de testá- -los e, portanto, ele estava pronto para revelar sua identidade.Capítulo 45p senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito.] ] Aí te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome; para que não te empobreças, tu e tua casa e tudo o que tens.tornai à terra de Canaã,
Gn.44:34 Sem comentário para este versículo
Gn.45:1 1. Não se podendo conter. O apelo de Judá não deixou de impressionar José. Seu discurso havia mostrado a mais terna afeição pelo idoso pai, o mais devotado amor e fidelidade fraternais ao único filho que restava de Raquel, e havia dado ampla evidência da mudança de coração que havia ocorrido em todos eles. Reconhecendo isso, José não pôde mais se conter. Desejando estar a sóscom os irmãos para lhes revelar sua identidade, e sentindo que não conseguiria segurar as lágrimas, ordenou a todos os atendentes que deixassem o aposento.
Gn.45:2 2. E levantou a voz em choro. Isso foi ouvido pela comitiva de José e informado ao faraó. Não é necessário supor que a casa de José fosse tão próxima ao palácio do rei que sua voz foi ouvida pelos que lá residiam.
Gn.45:3 3. Eu sou José. O efeito desse anúncio é mais fácil de imaginar do que de descrever. Até então os irmãos de José o haviam conhecido como Zafenate-Paneia, um homem que lhes falava por meio de intérpretes (Gn 42:23). Então, esse augusto governante do Egito de repente lhes fala em sua própria língua. A voz e a semelhança do irmão há tanto tempo 'perdido” lhes vieram à mente ao som do nome familiar e os encheu de espanto e apreensão.Vive ainda meu pai? Talvez José, ao ver o alarme no rosto deles, tenha sido impeis lido a fazer essa pergunta de maneira tão abrupta. Agora não mais se refere a Jacó como “o ancião de quem me falastes” (Gn 43:27), mas como seu amado e reverenciado pai. José não só havia sido informado anteriormente de que ele ainda estava vivo (Gn 43:27, 28), mas acabara de ouvir isso (Gn 44:34). Seu coração ansiava ouvir mais a respeito do pai.Ficaram atemorizados. Esta nova guinada dos acontecimentos foi demais para eles; os homens ficaram sem fala. Estavam aterrorizados, não só por causa da grandeza de José, mas pela recordação do crime praticado contra ele. Até então, estiveram conscientes apenas da retribuição divina por seu ato, e não temiam punição humana, uma vez que o crime não era conhecido por ninguém fora de seu pequeno círculo. Agora, contudo, encontravam-se na presença daquele a quem tanto haviam prejudicado. Não é de admirar que tremessem de medo, achando que agora havia chegado a hora do acerto de contas pelos atos de Dota.
Gn.45:4 Sem comentário para este versículo
Gn.45:5 5. Não vos entristeçais. Instintivamente tremeram diante da presença de José, em face da assustadora verdade de que o poderoso governador do Egito era o irmão deles. Ele lhes assegurou, nas palavras mais amáveis, que não tinha qualquer intenção de se vingar deles. José não pôde deixar de aludir ao crime cometido por eles no passado, mas isso foi feito num espírito de bondade e perdão.Deus me enviou. A grandeza de alma de José é claramente refletida aqui. A mão de Deus era evidente na estranha experiência que havia feito dele, antes, um filho favorito, a se tornar um escravo, depois um prisioneiro e, por fim, o governador do Egito. Ele podería com justiça ter repreendido os irmãos, mas, em vez disso, manifestou simpatia e consideração.
Gn.45:6 6. Não haverá lavoura nem colheita. A palavra inglesa “earing”, usada pela KJV em lugar de “lavoura”, não se refere ao ato de colher as espigas de cereal. Significa, literalmente, “aradura”, do anglo-saxão erian, provavelmente emprestado do latim aro, “arar”. Esse é também o significado da palavra heb. aí empregada. Em alguns países, não haveria plantio nem colheita, devido à falta de chuva; no Egito, isso ocorria devido a uma deficiência notável no transbordamento do Nilo (ver com. de Gn 41:34). O fato de José falar de não haver semeadura nem colheita, num sentido geral e não absoluto, fica evidente a partir de Gênesis 47:19, onde se declara que os egípcios vinham a José para comprar sementes. E provável que mesmo durante essa fome eles semeassem em parte do solo, particularmente nas margens do rio, de onde uma safra, ainda que pequena, poderia ser colhida.
Gn.45:7 7. Para conservar. José repetiu sua afirmação anterior, de que fora Deus quem o enviara ao Egito para um propósito definido. Ele aqui falou profeticamente, dizendo que Deus o havia levado ao Egito para preservar, através dele, a família destinada a se tornar o povo escolhido de Deus, livrando-a da morte pela fome.
Gn.45:8 8. Por pai de Faraó. José lhes falou sobre sua autoridade, dando a Deus a honra por sua nomeação para a alta função que ocupava. Usou três expressões para descrever seu cargo, das quais a primeira foi “pai do faraó”. Alguns comentaristas viram nessas palavras um título egípcio específico, que éclaramente atestado para altos dignitários da 18a dinastia. Alas essa interpretação é questionável, uma vez que o título era usado por homens que exerciam deveres sacerdotais, e não há a mínima evidência de que José exercesse esses deveres. Provavelmente é melhor explicar a palavra como uma expressão hebraica, uma vez que José estava falando a seus irmãos hebreus como um hebreu, e não como um egípcio. Talvez tenha desejado dizer que era um conselheiro de confiança do rei e alguém que apoiava a dinastia (ver Is 22:21; Jó 29:16).Senhor de toda a sua casa. O segundo termo já havia sido usado pelo próprio rei, por ocasião da nomeação de José (Gn 41:40). Ele indica que José estava no comando da casa real.Governador em toda a terra do Egito. A terceira designação, também conferida pelo faraó, certamente não era nova para os irmãos de José, que tinham ouvido falar de sua autoridade e a haviam experimentado. Eles já sabiam que o poder de José não era limitado à distribuição de alimentos ou ao trato com os estrangeiros, mas que na verdade ele era o vice-rei do Egito (ver Gn 42:30).
Gn.45:9 Sem comentário para este versículo
Gn.45:10 10. Na terra de Gósen. Embora o nome Gósen ainda não tenha sido encontrado fora da Bíblia, há uma concordância geral de que a referência seja à área que circunda o Wadi Tmnilat, na parte oriental do Delta do Nilo. E um vale de cerca de 65 km de comprimento, cujo rio, geralmente seco exceto na estação chuvosa, liga o Nilo com o lago Tirnsah. Essa foi uma das áreas mais ricas do Egito nos tempos antigos e continua sendo nos tempos modernos.Perto de mim. Avaris, a capital dos hic- sos, hcava a apenas cerca de 30 a 50 km de Gósen e, portanto, mais perto do que qualquer outra capital em toda a história do Egito. Este é um dos muitos argumentos que apoiam o ponto de vista de que José foi governador do Egito no tempo dos hicsos.
Gn.45:11 Sem comentário para este versículo
Gn.45:12 12. Vedes por vós mesmos. Embora José já estivesse falando por muito tempo, seus irmãos estavam tão aturdidos que, para convencê-los da realidade de tudo aquilo, José foi obrigado a salientar que eles podiam ver por si mesmos que ele dizia a verdade. Só quando José abraçou os irmãos e os beijou é que o encanto foi quebrado. Agora eles recuperaram o controle sobre suas emoções e foram capazes de conversar com ele. Quando ele se revelou como um amoroso irmão e não um juiz ofendido e, com seus beijos e lágrimas, lhes deu a certeza do completo perdão, uma verdade que palavras não poderíam expressar, só então eles ousaram falar.
Gn.45:13 Sem comentário para este versículo
Gn.45:14 Sem comentário para este versículo
Gn.45:15 Sem comentário para este versículo
Gn.45:16 16. Isto foi agradável a Faraó. O relatório da chegada dos irmãos de José logo chegou aos ouvidos do rei. Isso causou impressão tão favorável nele e nos cortesãos que o rei ficou feliz em confirmar o convite de José a seus irmãos para que fossem, com o pai e as famílias, para o Egito. Embora José tivesse a autoridade de convidar sua família, aparentemente achou que era correto e apropriado buscar e receber a aprovação pessoal do faraó, para que sua conduta em serviço não fosse questionada. Ninguém podia dizer que José havia, de qualquer forma, tirado vantagem pessoal do poder e autoridade a ele confiados. E evidente também que a capacidade administrativa de José, já demonstrada durante nove anos, havia agradado tanto ao rei e a outros estadistas egípcios que eles tiveram prazer em que os parentes de José morassem no Egito. Para o faraó, foi uma oportunidade de mostrar sua gratidão.
Gn.45:17 Sem comentário para este versículo
Gn.45:18 Sem comentário para este versículo
Gn.45:19 19. Levai da terra do Egito carros. Os hicsos introduziram no Egito os primeiros cavalos e as primeiras carruagens, os quais antes eram desconhecidos no vale do Nilo. Desde então, veículos leves de duas rodas passaram a ser usados pelos egípcios, especialmente na guerra, mas também para transporte fora do país. Dentro do país, todo o transporte de pessoas e mercadorias eraefetuado por barcos no Nilo, e as carruagens eram pouco usadas.
Gn.45:20 20. Não vos preocupeis com coisa alguma dos vossos haveres. José havia pedido aos irmãos que fossem para o Egito com todas as coisas. O faraó, em contraste, manifestou sua boa vontade convidando-os a deixar para trás toda a mobília doméstica e a aceitar as riquezas do Egito como sinal de sua gratidão pelo que José havia feito pelo país que adotara.
Gn.45:21 Sem comentário para este versículo
Gn.45:22 22. Vestes festivais. Segundo as instruções do faraó, José não apenas enviou carros e alimento para a viagem, mas também deu presentes a seus irmãos. A frase ‘mudas de vestes” (ARC) provavelmente seja melhor traduzida como “vestes festivais”, isto é, roupas para serem usadas em ocasiões especiais. Assim, na chegada ao Egito eles não estariam indevidamente trajados. Lima vez que se menciona de maneira especial que Benjamim recebeu cinco dessas “vestes”, é provável que os outros tenham recebido, cada um, menos de cinco, embora certamente mais de uma. Os 300 siclos de prata dados a Benjamim, como o irmão favorito de José, teriam o peso de aproximadamente 3,5 kg.
Gn.45:23 Sem comentário para este versículo
Gn.45:24 24. Não contendais. Literalmente, “não vos comovais” ou “não vos perturbeis”, isto é, com emoções violentas, particularmente a ira. Geralmente se entende que isso significa uma admoestação para que não brigassem, especialmente com respeito à responsabilidade de cada um no rumo que os acontecimentos haviam tomado. Esse conselho dá evidências do profundo discernimento que José tinha da natureza humana. Ele já havia ouvido Rúben censurar severamente seus irmãos (Gn 42:22). Era natural suporque Rúben e outros poderíam repetir essas coisas, e de maneira ainda mais veemente, quando estivessem sozinhos. Rúben podería argumentar quão diferente o resultado teria sido se eles tivessem aceitado seu conselho. Depois disso cada um podería acrescentar seus próprios comentários, e o resultado podería ser uma séria discussão. A prosperidade inesperada que lhes sobreveio poderia < também servir para despertar antigos sentimentos de inimizade, particularmente com respeito a Benjamim. Tudo isso era agora inibido pelo sensato e oportuno conselho de José.
Gn.45:25 Sem comentário para este versículo
Gn.45:26 26. Não lhes deu crédito. Quando chegaram a casa em Elebrom, trazendo a notícia de que José não só estava vivo, mas era governador do Egito, o choque foi tão grande que o coração de Jacó quase parou. Antes, quando eles chegaram com a notícia da suposta morte de José, Jacó havia prontamente acreditado naquela mentira. Agora que vieram dizendo a verdade, Jacó não podia acreditar. Somente os caros presentes e as carruagens egípcias finalmente o convenceram da veracidade da história que contavam.
Gn.45:27 Sem comentário para este versículo
Gn.45:28 28. E disse Israel. A mudança de nome aqui é significativa. Em espírito, Jacó se elevou uma vez mais à estatura de “príncipe” de Deus. A compreensão de que seu filho havia tanto tempo perdido ainda estava vivo e a antecipação do iminente encontro com ele revigoraram o idoso patriarca. Sua vitalidade reviveu, como fica evidente pela decisão imediata de descer ao Egito. O fato de ver a José novamente seria uma rica compensação por todos os longos anos de tristeza e angústia, e uma coroação de alegria para sua vida.Capítulo 46e Malquiel.
Gn.46:1 1. Veio a Berseba. O acampamento de Jacó provavelmente, durante muitos anos, foi em Hebrom (Gn 35:27; 37:14), onde seu pai Isaque foi enterrado, juntamente com outros membros da família. Este foi o local da partida para o Egito. Enquanto estava a caminho, Jacó parou em Berseba, na fronteira meridional de Canaã, onde Abraão (21:33) e Isaque (26:25) haviam erigido altares a Yahweh. Quando Jacó passou por esse local sagrado, provavelmente vendo as ruínas do altar de seu pai, parou para oferecer sacrifícios a Deus, que o havia conduzido de maneira tão misericordiosa. Esses sacrifícios eram provavelmente ofertas de gratidão pelas boas notícias referentes a José. Jacó também pode ter desejado consultar a Deus com respeito à viagem para o Egito, que talvez lhe ocasionara maus presságios devido às cenas de aflição reveladas a Abraão (15:13). O certo é que aqui Jacó se entregou, com sua família, ao cuidado de Deus.
Gn.46:2 2. Falou Deus a Israel. Esta aparentemente foi a primeira visão concedida a Jacó depois de muitos anos. Várias das revelações anteriores haviam ocorrido à noite, principalmente na forma de sonhos (Gn 28:12; 31:11; 32:30). Esta não foi um sonho (o que teria acontecido durante o sono), mas uma visão.Jacó! Jacó! Talvez Deus o tenha chamado de Jacó, em vez de Israel, para lembrá- lo do que ele havia sido, pois via seu próprio caráter anterior refletido no de seus filhos.Outrora ele havia enganado o pai e trapaceado o irmão; agora seus próprios filhos o haviam enganado com respeito a José por 22 anos, antes de a verdade vir à tona. Muitas vezes ele, sem dúvida, desejou ver traços mais nobres em seus filhos, o que o fez pensar no caráter dissoluto que ele próprio cultivara por tantos anos.
Gn.46:3 3. Não temas. Esta admoestação revela que Jacó receava estar cometendo um erro ao ir para o Egito. Ansiava ver José, o filho havia tanto perdido; mas também se lembrava das consequências da viagem de Abraão ao Egito (Gn 12:14-20), e de que Deus havia proibido Isaque de ir para ali durante uma situação de fome (26:2). Houve uma séria dúvida na mente do patriarca quanto à viagem ser ou não aprovada por Deus. Então, Deus expressou aprovação à viagem e lhe deu promessas tranquilizadoras. Como no passado, ao partir para Padã-Arã, e agora ao partir para o Egito, Jacó recebeu a certeza de que Deus era com ele, de que a divina promessa quanto à sua posteridade ainda era válida, e de que a mudança para o Egito não significava o abandono permanente da terra da promessa.
Gn.46:4 4. E te farei tornar a subir. Esta promessa foi cumprida para Jacó num sentido pessoal, quando seu corpo voltou para Canaã a fim de ser sepultado, mas cumpriu-se também no êxodo, quando os descendentes de Jacó deixaram o Egito, cerca de 215 anos mais tarde.Havia três rotas para o Egito saindo da Palestina: (A) a Estrada Real que atravessa a Transjordânia até o golfo de Áqaba, então cruza a rota do deserto para o golfo de Suez e vai até o Egito; (B) a rota costeira saindo da Galileia, que passa por Megido, a Planície de Sarom e a Filístia; e (C) a rota de Sur via Hebrom e Berseba. Os filhos de Jacó naturalmente usariam a rota de Sur (1). Se a capital do Egito no tempo de José era Iztowe (2), durante a 20a dinastia (de acordo com a cronologia longa), ou Avaris (3) durante o período dos hicsos (de acordo com a data de I 500 a.C. para o êxodo), então a viagem desde Hebrom era de 300 a 400 km (sobre a data do êxodo, ver p. 167-175).
Gn.46:5 Sem comentário para este versículo
Gn.46:6 6. Toda a sua descendência. Fortalecido e encorajado pelas promessas divinas qne lhe foram reasseguradas na visão noturna, jacó foi para o Egito, acompanhado de seus filhos e netos.Muitos comentaristas já chamaram a atenção para uma pintura num túmulo em Beni Hassan, no Egito, que seria paralela à migração de Jacó para aquele país. Essa pintura, já descrita em conexão com a viagem anterior de Abraão ao Egito (ver com. de Gn 12:10), ilustra a chegada de semitas ao vale do Nilo no século 19 a.C., no tempo da 12a dinastia. Isso teria sido pelo menos dois séculos antes da viagem de Jacó ao Egito e, portanto, a figura não pode ser considerada uma ilustração contemporânea do evento discutido aqui. No entanto, ela é importante para uma compreensão da migração de Jacó, porque mostra homens e mulheres semitas com seus pertences carregados em asnos e seus filhos colocados em cestos de vime presos ao lombo de animais. Mostra as vestes coloridas e o estilo das roupas, sapatos, armas, e até mesmo de um instrumento musical, a lira (ver p. 138).
Gn.46:7 Sem comentário para este versículo
Gn.46:8 8. Filhos de Israel. É a primeira ocorrência desta expressão. A extensão da família de Jacó, que se transformaria numa grande nação, é aqui mencionada em evidente referência ao cumprimento da promessa divina com a qual ele foi para o Egito. A lista dos nomes inclui não apenas os “filhos de Israel” no sentido mais estrito, mas também o próprio patriarca e José com seus dois filhos, que nasceram antes da chegada de Jacó ao Egito.
Gn.46:9 9. Os filhos de Rúben. Dos quatro filhos de Rúben, os dois últimos mencionados deviam ser apenas bebês nos braços da mãe, já que Rúben tinha só dois filhos por ocasião de seu primeiro retorno do Egito (Gn 42:37). Este é o significado de seus nomes: Enoque (BJ, “Henoc”, umavariante de Enoque), nome também do filho primogênito de Caim (Gn 4:17) e do patriarca Enoque (Gn 5:19), significa “dedicado”; Palu, “separado”; Hezrom, “área cercada”, “delimitação”; e Carmi, “viticultor” ou “minha vinha”.
Gn.46:10 10. Os filhos de Simeão. Jemuel significa “dia de Deus”; Jamim, “mão direita”; Oade, “unido”; Jaquim, “Ele [Deus] estabelece”; Zoar, “brancura” ou “brilho”; e Saul, “pedido”, “solicitado”.Uma mulher cananeia. A referência a um dos filhos de Simeão como “filho de uma mulher cananeia” implica que o tomar mulheres dentre os cananeus não era costume dos filhos de Jacó. Geralmente estas eram escolhidas dentre os parentes paternos na Mesopotâmia: a família de Ismael, os filhos de Quetura ou os de Esaú. Só Simeão e Judá (Gn 38:2) parecem ter tido esposas cananeias.
Gn.46:11 11. Os filhos de Levi. Gérson significa “expulsão” ou “extorsão”; Coate, “assembléia”; e Merari, “amargo”.
Gn.46:12 12. Os filhos de Judá. Sobre o significado dos nomes de Perez e Zera, ver com. de Gênesis 38:29 e 30. Er e Onã, que morreram na terra de Canaã, não são contados, mas Perez já tinha dois filhos: fiezrom, que significa “delimitação” (ver com. do v. 9), e Hamul, “alguém que recebeu misericórdia”.
Gn.46:13 13. Os filhos de Issacar. Tola significa “verme” ou “escarlate”, e Puva, “boca”. Jó, que parece ser uma forma abreviada de Jasube (Nm 26:24; lCr 7:1), significa “virar- -se”, e Sinrom, “sentinela”.
Gn.46:14 14. Os filhos de Zebulom. Serede significa “medo”; Elom, “carvalho”; e Jaleel, “espera por Deus”.
Gn.46:15 15. Diná. Aparentemente ela ainda era solteira desde seu infortúnio em Siquém. E, portanto, mencionada como membro independente da família de Jacó.Trinta e três. Este número é atingidoexcluindo-se Er e Onã e incluindo-se ]acó e Diná, o que é provavelmente o caso, ou incluindo-se Er e Onã e excluindo-se Jacó e Diná. Os seis filhos de Lia, 23 netos (que eram vivos), dois bisnetos (filhos de Perez) e uma filha somam 32 pessoas, ou, com Jacó, 33.
Gn.46:16 16. Os filhos de Gade. Zifiom significa “expectativa”; Hagi, “festivo”; Suni, “quieto”; Ezbom, “trabalhador”; Eri, “vigilante”; Arodi, “corcunda”; e Areli, “leão de Deus”.
Gn.46:17 17. Os filhos de Aser. O significado de Imna é incerto. Isvá e Isvi têm o mesmo sentido: “ele é igual”; e Berias significa “presente”. O nome da irmã deles, Sera, significa “abundância”. Héber significa “amigo” ou “companheiro”; e Malquiel, “rei de Deus”.Seria inconcebível que, dentre os netos de Jacó, dos quais 51 do sexo masculino são mencionados por nome, só tivesse nascido uma menina, a filha de Aser. Ela deve ter sido mencionada porque, como Diná (v. 15), permaneceu solteira. Não havia passado a pertencer a outra família, como as outras filhas e netas de Jacó, que haviam ido, cada uma com seu marido, para a casa destes.
Gn.46:18 18. Dezesseis pessoas. Os dois filhos de Zilpa, seus 11 netos, uma neta e dois bisnetos somam 16 pessoas.
Gn.46:19 Sem comentário para este versículo
Gn.46:20 20. Manassés e Efraím. Ver com. de Gênesis 41:50-52.
Gn.46:21 21. Os filhos de Benjamim. Belá significa “devorador”, e Bequer, “camelo jovem”; o significado de Asbel, Gera, Mupim e Arde é incerto. Naamã significa “aquilo que é agradável”; Eí, “meu irmão”; Rôs, “cabeça”; e Hupim, “coberturas”.Na lista genealógica de Benjamim (Nm 26:40), Naamã e Arde são dados como filhos de Belá, isto é, netos de Benjamim. Uma explicação razoável é que os dois filhos de Benjamim, Naamã e Arde, morreram sem descendentes, e que Belá deu a seus filhos o nome de seus dois irmãos falecidos. Desta forma, não só receberíam o nome dos tios, mas também a posição deles na tribo, e se tornariam cabeças de famílias. Os nomes de Bequer, Gera e Rôs, da mesma forma, talvez tenham sido omitidos da lista de Números 26 pela razão de terem morrido cedo, sem deixar descendência.
Gn.46:22 22. Ao todo catorze pessoas. Ou seja, os dois filhos de Raquel e seus 12 netos.
Gn.46:23 23. Os filhos de Dã (AA). Só é mencionado um filho de Dã. A forma plural “filhos” (AA e KJ V) é usada como frase-padrão, quer fosse mencionado um ou mais. Outro exemplo deste costume é o v. 15, onde é usado o termo “filhas”, embora seja mencionada apenas Diná. O significado do nome de Husim é incerto.
Gn.46:24 24. Os filhos de Naftali. Jazeel significa “distribuído por Deus”, mas Guni não tem um significado certo. Jezer significa “imagem” ou “moldura”, e Silém, “recompensa”.
Gn.46:25 25. Ao todo sete pessoas. Os dois filhos de Bila e seus cinco netos.
Gn.46:26 26. Todos. Este número inclui apenas descendentes de Jacó que estavam vivos quando migraram para o Egito, mas não inclui as esposas dos filhos nem as filhas casadas, junto com suas respectivas famílias (se é que estas se mudaram para o Egito, já que haviam se tornado membros de outras tribos). O número 66 é constituído de:Os 1 1 filhos de Jacó e uma filha solteiraOs (ilhós de úúhení )s filhos di- Simeãoí )s lilhos de 3 .evi! ........... j 3Os três filhos e dois netos de Judáf 5Os filhos de !ssiii;.ir 4í )s üllios iii- /.i l)iiloin ¦>Os íilhiis di-(iiiilr ~ _í 3s i|ll;ili'() íiüios, nm;i lilh;i i'dois nrtos ili- \sitO filho di- I).'i ií )s lillios dc \;ilt;iii _ 4Os filhos tlt- Benjamim 10Total I 66
Gn.46:27 27. Setenta. Moisés acrescenta Jacó, José e seus dois filhos aos 66 descendentes de Jacó, perfazendo um total de 70 pessoas da família que se estabeleceu no Egito. O total que Estêvão dá, de 75 (At 7:14) em vez de 70, provavelmente se deve ao fato de ele ser um judeu de fala grega que usou a versão grega do AT, muitas vezes citada no NT (ver com. de At 6:1). Essa versão inclui cinco outros descendentes (posteriores) de José (ver v. 20, 27, LXX).
Gn.46:28 28. Enviou Judá adiante de si. A lista da casa de Jacó é seguida por um relato da chegada ao Egito. Judá, havendo demonstrado notáveis qualidades de liderança na viagem anterior ao Egito, foi naturalmente escolhido para representar o idoso patriarca e anunciar sua chegada. Também foi ele que obteve de José as instruções necessárias quanto ao local em que se estabeleceríam, e depois voltou para guiar a caravana até Gósen (ver com. de Gn 45:10). O fato de Judá ter realizado essa tarefa sugere que ele já havia sido escolhido por Jacó como herdeiro do direito de primogenitura. Benjamim, embora muito amado, ainda era jovem e inexperiente, e, como as circunstâncias posteriores o demonstraram, não possuía qualidades de liderança. Benjamim era apenas um “lobo”, mas Judá era um “leão” (Gn 49:9, 27).
Gn.46:29 29. Lançou-se-lhe ao pescoço.A expressão “apresentou-se”, geralmente usada apenas para aparições de Deus, sugere aqui a glória com que José foi paraencontrar-se com o pai. Esse encontro foi um clímax na vida de ambos. Não se pode descrever, mas apenas imaginar, quão ansiosamente haviam desejado ver um ao outro. O grande amor mútuo, transbordando na alegria do coração, foi extravasado em lágrimas que não podiam ser contidas. Eram lágrimas de alegria, vindas após muitas lágrimas de amargura derramadas durante a longa separação.
Gn.46:30 30. Já posso morrer. Não que Jacó desejasse morrer, mas que estava então plenamente satisfeito. Havendo visto José com seus próprios olhos e sabendo que a realização do filho amado estava assegurada, ele sentiu que sua vida não lhe podia oferecer alegria maior. O último anseio terreno de seu coração fora completamente satisfeito, e ele estava pronto para depor a vida onde e quando Deus achasse melhor.
Gn.46:31 Sem comentário para este versículo
Gn.46:32 Sem comentário para este versículo
Gn.46:33 33. Quando [...] Faraó vos chamar. Uma das primeiras coisas que José se propôs a fazer, após dar as boas-vindas aos parentes chegados ao Egito, foi apresentar seu pai e seus irmãos ao rei. Talvez o faraó quisesse nomear alguns deles como funcionários, achando que pudessem ser tão úteis como José. No entanto, ciente das atrações da vida na corte e do caráter de seus irmãos, José temeu que pudessem sucumbir à tentação e perder de vista o futuro plano de Deus. Por isso, ele enfatizou que deviam declarar, se lhes fosse perguntado, que sua ocupação era a de pastores de ovelhas, deixando assim implícito que não eram qualificados para a vida na corte.
Gn.46:34 34. Na terra de Gósen. Esta era a região oriental do Delta, uma área admiravelmente adequada para rebanhos de ovelhas e gado. Embora próximos da capital (Gn 45:10), ficariam isolados dos egípcios. Isso lhes permitiría ter sua própria vida, continuar com sua cultura e servir ao seu Deus sem ofensa a outros. Além disso, eles estariam comparativamente perto de Canaã e poderiam partir facilmente em qualquer momento de emergência. José revelou, assim, discernimento quanto ao destino de seu povo, compreendendo que chegaria o tempo em que teriam de partir.Todo pastor de rebanho é abomi- nação. Provavelmente essas não são palavras de José, mas de Moisés, o historiador,colocadas para explicar o conselho e a atitude de José. Se os irmãos anunciassem o desejo de continuar sua ocupação como pastores, o rei muito provavelmente consentiría que se estabelecessem na região de Gósen, que os isolaria do vale do Nilo e da maioria dos egípcios. A avaliação de Moisés quanto à atitude dos egípcios para com os pastores foi corroborada mais tarde por escritores gregos (Heródoto, ii.47, 164) e por Josefo (Antiguidades, ii.7.5), e antes disso por representações pictóricas em pinturas e relevos. Os pastores eram frequentemente representados como criaturas miseráveis, sujas e sem se barbear, nuas, quase mortas de fome e, muitas vezes, com deficiências ou deformações físicas.Capítulo 47de Canaã; agora, pois, te rogamos permitas habitem os teus servos na terra de Gósen.
Gn.47:1 Sem comentário para este versículo
Gn.47:2 2. E tomou cinco dos seus irmãos.Havendo informado previamente ao faraó acerca da chegada de seus parentes a Gósen, José apresentou cinco de seus irmãos ao rei. A expressão hebraica traduzida corretamente como ‘parte de seus irmãos” (ARC e ACF) foi mal interpretada por alguns comentaristas no passado, que lhe deram sentidos indevidos. Este é simplesmente um idiomatismo hebraico que significa “dentre o número total de seus irmãos”.
Gn.47:3 Sem comentário para este versículo
Gn.47:4 Sem comentário para este versículo
Gn.47:5 Sem comentário para este versículo
Gn.47:6 6. A terra do Egito está perante ti.Eles haviam vindo para peregrinar na terra (não para se estabelecer definitivamente ali) porque não havia pasto para seus rebanhos na terra de Canaã, devido à seca. O rei, então, autorizou José a dar a seu pai e aos irmãos uma habitação na melhor parte do país, a terra de Gósen.
Gn.47:7 7. Trouxe José a Jacó. Depois de a permissão real já ter sido dada para que se estabelecessem na região de Gósen, José apresentou seu pai ao faraó. Alguns sugerem que a entrevista concedida aos irmãos de José foi de natureza oficial, enquanto que a audiência de Jacó com o monarca foi de caráter privativo. Talvez o rei tenha solicitado a oportunidade de conhecer o pai de seu primeiro-ministro.Jacó abençoou a Faraó. Jacó não estendeu ao faraó a saudação costumeiramente usada para os reis, como “O rei, vive eternamente!” (2Sm 16:16; lRs 1:25; Dn 2:4; etc.). Cônscio de sua própria dignidade como profeta de Yahweh, Jacó pronunciou sobre ele uma bênção celestial.
Gn.47:8 Sem comentário para este versículo
Gn.47:9 9. Os dias dos anos das minhas peregrinações. Jacó se referiu a sua própria vida e à de seu pai como uma peregrinação. Eles não haviam entrado na verdadeira posse de Canaã, mas haviam sido obrigados a vaguear de um lugar para outro na terra que lhes fora prometida em herança, sem se estabelecerem permanentemente e sem terem um lar. Esta peregrinação era, aomesmo tempo, uma representação figurativa da inconsistência e fadiga da vida terrena, na qual o ser humano não chega àquele verdadeiro repouso para o qual foi criado e pelo qual sua alma continuamente anseia (ver Hb 4:8, 9). Paulo, portanto, podia corretamente considerar as palavras de Jacó como uma declaração do anseio dos patriarcas pelo eterno descanso na Canaã celestial (Hb 11:13-16).Cento e trinta anos. José estava com 30 anos de idade por ocasião de sua nomeação para o cargo (Gn 41:46), e desde esse tempo haviam se passado os sete anos de fartura (Gn 41:47-49) e dois anos de fome (Gn 45:6). Ele havia então atingido a idade de 39 anos, e seu pai estava com 130 anos.É evidente, a partir desses números, que José nasceu quando seu pai estava com 91 aíj anos. Uma vez que seu nascimento ocorreu no final dos 14 anos de residência de jacó em Padã-Arã (Gn 30:25), a idade do patriarca por ocasião de sua chegada ali deve ter sido 77 anos.Poucos e maus. Foi correta a avaliação que Jacó fez de sua vida, em comparação com a vida de seus pais. Abraão havia vivido até os 175 anos, e Isaque, até os 180. Nenhum dos dois teve vida tão incerta, cheia de ansiedade e perigo, de tribulação e angústia, como Jacó. Desde sua fuga para Harã até a mudança para o Egito, sua vida não havia passado de uma longa sucessão de problemas (Gn 42:36).
Gn.47:10 Sem comentário para este versículo
Gn.47:11 11. Na terra de Ramessés. Entre os eruditos da Alta Crítica, prevalecem dois pontos de vista quanto a esta declaração. Segundo alguns, ela constitui forte evidência de outra tradição quanto ao estabelecimento dos israelitas no Egito, visto que até então a terra estava sendo chamada de Gósen (v. 1, 6). Outros têm concluído que ela indica que a época em que os filhos de Israel estiveram no Egito foi a dos faraós ramessidas. O primeiro Ramséscomeçou a reinar em 1320 a.C. O argumento inicial é inaceitável porque Moisés foi o único autor do Gênesis, e o livro é uma narrativa histórica, não uma coleção de tradições. O segundo argumento também não pode ser aceito, pois traria confusão a esta seção da narrativa do AT. Portanto, deve-se presumir que o termo ‘‘terra de Ramessés” foi um nome posterior ao nome mais antigo, “terra de Gósen”, e que, consequentemente, representa o esforço de algum copista para identificar “Gósen” para seus leitores. Pelo mesmo procedimento pode-se dizer hoje que Nova York foi fundada pelos holandeses, embora a cidade, quando eles a fundaram, fosse chamada de Nova Amsterdã. Essa declaração, seria considerada não só correta, mas até desejável, pois o nome Nova Amsterdã não teria qualquer significado para leitores modernos.
Gn.47:12 12. Segundo o número de seusfilhos. Literalmente, “segundo a boca dos pequeninos”. A expressão provavelmente significa “em proporção ao tamanho de suas famílias”. Alguns comentaristas, porém, acham que se refira ao fato de José fornecer alimento para seus parentes como um pai o faria para os filhos, e outros acham que significa que todos foram alimentados, do maior ao menor. Os benefícios que José estava em posição de conferir à família se tornam mais evidentes pela descrição da aflição em que os habitantes do Egito e de Canaã foram mergulhados com a continuação da fome por mais cinco anos.O. Desfalecia. Este verso apresenta uma grande revolução social imposta ao Egito pela rigorosa necessidade advinda da fome, que então já havia reduzido toda a nação a um estado de completa miséria.
Gn.47:13 Sem comentário para este versículo
Gn.47:14 Sem comentário para este versículo
Gn.47:15 Sem comentário para este versículo
Gn.47:16 16. Trazei o vosso gado. Os animais que assim se tornaram propriedade do faraó provavelmente ficaram aos cuidadosde seus antigos proprietários. Esses termos, portanto, não eram tão severos como pode parecer. Um povo faminto não podería esperar nenhum lucro de gado e de rebanhos moribundos. Naquele momento deviam receber ração para seus animais e, provavelmente, obter com eles um lucro parcial, a julgar pelo que aconteceu à terra e à produção desta no ano seguinte (ver v. 23, 24).
Gn.47:17 17. Em troca de cavalos. A existência de cavalos no Egito prova que a narrativa de José não pode ser datada de um período anterior aos hicsos, uma vez que o cavalo era desconhecido ali até que os hicsos o introduziram (ver com. de Gn 41:43).Aquele ano. Não há certeza sobre a qual dos sete anos de fome a passagem se refere. Alguns comentaristas acham que a distribuição de semente aos agricultores no ano seguinte (v. 23) indica que esse foi o sétimo ano de fome, e que, consequentemente, o ano em que o gado foi trocado por comida foi o sexto. Contudo, é provável que tenha sido efetuada alguma plantação durante os anos de fome nos campos que margeavam o Nilo, o que faria com que a menção de sementes nos v. 23 e 24 não tivesse valor como evidência de que aquele fosse o sétimo ano. E provável, porém, que o ano mencionado no v. 17 tenha ocorrido na última parte do período de fome.
Gn.47:18 18. No ano próximo. Isto é, o segundo ano após ter terminado o dinheiro deles, não o segundo ano de fome.
Gn.47:19 19. Compra-nos a nós e a nossa terra.Compreendendo que sua sorte como escravos do faraó seria preferível à de cidadãos livres, mas sem comida, os egípcios consideraram esta solução vantajosa, tanto para eles como para o rei. Um estômago cheio era a perspectiva mais agradável.Embora nenhum registro extrabíblico daquela época tenha sobrevivido paracorroborar o relato das Escrituras sobre a fome, permanece o fato de que os reis do Egito ficaram como possuidores únicos de todas as propriedades não sacerdotais após a expulsão dos hicsos, uma situação que não existia antes da chegada destes. Antes de os hicsos invadirem o Egito, uma grande proporção da terra estava em posse do povo e se encontrava nas mãos de grandes e pequenos proprietários. Não existe registro sobre as condições durante o período dos hicsos. Mas, quando esse período terminou e os monumentos começaram mais uma vez a lançar luz sobre a situação existente, verihcou-se que todas as terras e praticamente todas as outras propriedades do Egito haviam se tornado monopólio da coroa e do sacerdócio. A melhor explicação para essa mudança radical na estrutura social da nação é o relato bíblico das medidas administrativas de José durante os sete anos de fome.
Gn.47:20 Sem comentário para este versículo
Gn.47:21 21. Ele o escravizou: Ou, “e, quanto ao povo, fê-lo passar às cidades” (ARC e a ACF). Esta última declaração é uma tradução correta do texto hebraico segundo o conhecemos hoje. Indica que José distribuiu ou organizou a população do país segundo as cidades em que o cereal estava armazenado, colocando as pessoas nas cidades ou em sua vizinhança imediata. Contudo, talvez a LXX e a Vulgata reflitam o original de maneira mais precisa: “Ele o escravizou” (interpretação seguida pela ARA). O texto hebraico provavelmente por trás dessas traduções deve representar apenas a troca de duas letras hebraicas muito semelhantes, as equivalentes ao d e ao r, e o acréscimo de outra letra, b. Sendo assim, é possível que a LXX e a Vulgata reflitam mais de perto o texto originai. A tradução que elas apresentam certamente parece mais adequada ao contexto.
Gn.47:22 22. A terra dos sacerdotes. Os sacerdotes formavam um segmento influente epoderoso da sociedade egípcia. Nenhum faraó jamais conseguiu quebrar permanentemente o poder deles, e bem poucos se atreveram a despertar-lhes o ódio ou mesmo a perder seu favor. Mais da metade de toda a riqueza do Egito estava nas mãos dos sacerdotes. Eles foram isentos de impostos ao longo de toda a história do Egito antigo. Nem mesmo os reis hicsos lutaram abertamente contra o sacerdócio, embora em geral não adorassem os deuses nacionais. José, que pessoalmente não simpatizava com os sacerdotes egípcios, foi sábio o suficiente para não interferir nos privilégios sacerdotais, estabelecidos havia muito tempo e que lhes garantiam o sustento às expensas do dinheiro público.
Gn.47:23 Sem comentário para este versículo
Gn.47:24 24. Dareis o quinto. O imposto de 20%, recolhido durante os sete anos de fartura como medida excepcional, não pareceu um fardo excessivo por causa da tremenda quantidade de produção. Desde então, essa porcentagem devia ser perpetuada como uma taxa de impostos regular, uma vez que todas as terras haviam se tornado propriedade da coroa.
Gn.47:25 25. A vida nos tens dado! Este reconhecimento por parte do povo mostra que o novo regulamento não foi considerado duro ou injusto. Constitui uma refutação adequada à frequente acusação de que José despojou os egípcios de suas liberdades e reduziu um povo livre à escravidão. Os donos de escravos geralmente não se contentam com uma taxa de 20% da renda bruta de suas propriedades. Exceto pelo imposto, a posse da terra por parte da coroa era mais nominal que real. De qualquer forma, o imposto não era considerado exorbitante pelo próprio povo. Os egípcios estavam gratos por permanecer vivos e por poder conservar o uso de seus animais, casas e terras, muito embora estes estivessem sob o senhorio nominal do faraó,
Gn.47:26 Sem comentário para este versículo
Gn.47:27 27. Muito se multiplicaram. Umavez que a família de Jacó vivia numa região fértil e era amplamente abastecida por José (v. 12), não é de admirar que tenha desfrutado um período de prosperidade sem precedentes. O resultado não foi apenas um acúmulo de riquezas, mas também um rápido aumento numérico. Assim começou o cumprimento da promessa feita por Deus a Jacó em Berseba (Gn 46:3).
Gn.47:28 28. Dezessete anos. Nesses versos e nos capítulos seguintes são descritos os últimos dias do patriarca Jacó. Ele viveu 77 anos em Canaã, 20 em Padã-Arã, mais 33 em Canaã, e finalmente 17 no Egito - ao todo, 147 anos.
Gn.47:29 29. A mão debaixo da minha coxa.Com respeito a este antigo costume, ver com. de Gênesis 24:2.
Gn.47:30 30. E me enterrarás. Embora o pedido de Jacó se devesse, em parte, a um profundo apego à terra onde seus ancestrais estavam sepultados, foi principalmente inspirado pela nítida fé de que Canaã era a verdadeira herança de Israel. Ele sabia que seus descendentes acabariam voltando à terra dapromessa como seu lar permanente e que o Egito lhes oferecia apenas um refúgio temporário para um momento de necessidade.
Gn.47:31 31. Sobre a cabeceira da cama. Esta é uma tradução correta do texto hebraico conforme vocalizado pelos eruditos judeus, os mas- soretas, no 7o século de nossa era. Os tradutores judeus da LXX, no 3o século a.C., porém, que se basearam num texto hebraico que não continha vogais, consideraram que a palavra mth, vocalizada pelos massoretas como mitah, “cama”, fosse matah, “cajado”. Consequentemente, traduziram a passagem da forma que foi seguida pela NVI: “Israel curvou-se apoiado em seu bordão.” O ato de se inclinar sobre o bordão para reverenciar a Deus seria tão adequado à idade e enfermidade de Jacó quanto o de inclinar a cabeça sobre a cabeceira da cama; e Hebreus 11:21 reflete a versão da LXX sobre Gênesis 47:31. Diante disso, a última forma é provavelmente mais próxima do original do que a vocalização do texto hebraico existente e, portanto, preferível. Qualquer que fosse a posição exata do patriarca, foi uma postura de devoção, na qual ele derramou a alma em grata adoração a Deus.Capítulo 48P 12 E José, tirando-os dentre os joelhos deseu pai, inclinou-se à terra diante da sua face.
Gn.48:1 1. Teu pai está enfermo. Não muito tempo depois da visita de José, em que Jacó fez recomendações sobre seu sepultamento, José foi informado sobre a enfermidade final do pai. José foi imediatamente até ele com seus dois filhos, Manassés e Efraim, que tinham entre 19 e 25 anos de idade (ver v. 5; Gn 47:28; 41:50; 45:6).
Gn.48:2 2. Israel. A mudança de nome de Jacó para Israel é significativa aqui, como foi em Gênesis 45:27 e 28. Jacó, o guerreiro enfraquecido pela idade, reuniu suas últimas forças para uma tarefa que realizaria como Israel, o detentor das graciosas promessas de Deus.
Gn.48:3 3. O Deus Todo-Poderoso me apareceu. A título de introdução do que viria a seguir, Jacó relatou experiências de tempos passados, particularmente a aparição divina em Luz, ou Betei, após seu retorno de Padã-Arã (ver Gn 35:9-15). O uso do nome sagrado, “Deus Todo-Poderoso”, o relato da aparição e a sequência das diferentes promessas relatadas por Jacó mostram que ele não se referia ao sonho que teve no caminho para Harã, mas à visão posterior ocorrida no mesmo local, após sua volta para Canaã.
Gn.48:4 Sem comentário para este versículo
Gn.48:5 5. Efraim e Manassés. Jacó interpretou que a promessa de Deus em Betei o capacitava a adotar os filhos de José e a lhes dar o mesmo status de seus próprios filhos. Uma vez que Deus prometera a multiplicação de seus descendentes e a terra de Canaã, Jacó se sentiu justificado em conceder a Efraim e a Manassés parte na herança prometida que fosse igual à de seus próprios filhos. Assim, “José” teria uma porção dupla.
Gn.48:6 6. Que gerarás depois deles. Este privilégio devia ser restrito aos dois primeiros filhos de José. Não são mencionados outros filhos de José na Bíblia, mas caso tenhahavido outros, os descendentes deles foram mais tarde incluídos nas tribos de Efraim e Manassés, como Jacó predisse. A adoção de seus dois filhos mais velhos colocou José na posição de primogênito, no que diz respeito à herança.
Gn.48:7 7. Morreu [...] Raquel. A mãe de José, que morrera tão cedo, foi também honrada, postumamente, na adoção dos dois filhos mais velhos de José. Isso explica a alusão feita por Jacó a sua amada Raquel. Suas palavras parecem manifestar um desejo não expresso de que ela tivesse vivido para ver seu filho primogênito exaltado sobre o maior império do mundo na época, e, portanto, em posição de tornar-se um salvador para a casa de seu pai. «jí
Gn.48:8 8. Quem são estes? A visão debilitada do patriarca (ver v. 10) foi provavelmente a razão pela qual não reconheceu os netos mais cedo. O fato de a princípio ele não estar ciente da presença deles mostra que a adoção foi motivada, não pela contemplação dos jovens, mas pela inspiração interior do Espírito de Deus.
Gn.48:9 Sem comentário para este versículo
Gn.48:10 10. Os olhos de Israel. O enfraquecido patriarca, quase cego, talvez não visse Efraim e Manassés havia alguns anos, de forma que não os reconheceu nessa ocasião.
Gn.48:11 Sem comentário para este versículo
Gn.48:12 Sem comentário para este versículo
Gn.48:13 13. Tomou José a ambos. José, que havia se prostrado diante do pai, seja por reverência filial, seja por perceber que seu pai estava falando sob inspiração divina, tirou então os filhos de entre os joelhos de Israel, que estava sentado, abraçando os dois jovens entre os joelhos. José tomou Efraim, o mais novo, com sua mão direita, e Manassés, o mais velho, com sua mão esquerda, de forma que Efraim ficou à esquerda de Jacó e Manassés, à direita.
Gn.48:14 14. Estendeu a mão direita. Este é o primeiro relato bíblico da imposição de mãoscomo um símbolo de bênção. Embora não seja essencial para a transmissão da bênção, o ato é apropriado como símbolo do fato invisível. Por isso, tornou-se o modo reconhecido de transmitir poderes ou dons espirituais. Este procedimento foi empregado no período do AT para a dedicação de Josué (Nm 27:18, 23; Dt 34:9), e no tempo da igreja do NT para a ordenação de oficiais (At 6:6; 8:17; lTm 4:14; 2Tm 1:6) e na realização de muitos milagres (Mc 6:5; 8:23, 25; At 9:17; 19:6; 28:8).
Gn.48:15 15. E abençoou a José. Pela imposição de mãos, Jacó transferiu para José, através de seus filhos, a bênção de Deus que invocava sobre eles.
Gn.48:16 16. O Anjo. Colocado aqui em igualdade com Deus, “o Anjo” não pode ser um ente criado, mas deve ser o “Anjo de Deus”, o que significa que Deus Se manifestara na forma de um anjo (ver Ex 32:34; Is 63:9; lCo 10:4). Para a revelação mais plenamente desenvolvida dos escritores do NT, Ele é o Verbo, o Pastor e o Redentor, Jesus Cristo. Tanto Jacó quanto Jó (Jó 19:21) revelam familiaridade com este Ser divino, que os livrou tanto da enfermidade temporal quanto da espiritual e que completaria Sua obra de livramento ao libertá-los do poder da sepultura. O Redentor que Jacó e Jó aguardavam, e de quem Moisés e os profetas testificaram, era Jesus Cristo (lCo 10:4; G1 3:13; Tt 2:14; lPe 1:18).O meu nome. Com isto, Jacó queria dizer que Efraim e Manassés deviam ser contados como seus filhos. Assim se tornariam, em sentido especial, recebedores das bênçãos prometidas a Abraão, Isaque e Jacó.
Gn.48:17 Sem comentário para este versículo
Gn.48:18 18. Não assim, meu pai. Assegurando a José que Manassés, o mais velho dos dois, também se tornaria uma grande nação, Jacó declarou enfaticamente, porém, que Efraim se tornaria maior, uma “multidão de nações”, ou mais literalmente uma “plenitude de nações”. Essa bênção começoua ser cumprida a partir do tempo dos juizes, quando a tribo de Efraim tinha aumentado tanto em tamanho e poder que assumiu a liderança entre as dez tribos do norte, e seu nome adquiriu importância igual ao nome Israel (ver Is 7:2; Os 4:17; 13:1; etc.).No tempo de Moisés, contudo, Manassés tinha 20 mil pessoas a mais que Efraim (Nm 26:34, 37). A história subsequente mostra que essa promessa proveio de Deus e que a bênção de Jacó não foi meramente o desejo piedoso de um avô moribundo, mas a real concessão de uma bênção que tinha força e significado proféticos definidos.
Gn.48:19 Sem comentário para este versículo
Gn.48:20 Sem comentário para este versículo
Gn.48:21 Sem comentário para este versículo
Gn.48:22 22. Dou-te, de mais que a teus irmãos, um declive montanhoso. A palavra traduzida como “pedaço de terra” (ARC), shekem, é a mesma palavra que designa a cidade de Siquém, em cuja vizinhança Jacó havia comprado um terreno (Gn 33:18, 19) e cuja população os dois filhos de Jacó haviam massacrado. A palavra shekem significa “ombro” ou “região montanhosa”. Uma vez que José foi mais tarde sepultado em Siquém (Js 24:32), e no tempo de Cristo havia uma área perto de Sicar, ou Siquém, que ainda era considerada como a terra que Jacó prometera a seu filho José (Jo 4:5), é muito provável que esta declaração de Jacó, pela qual ele presenteou uma porção de terra a José, fosse um jogo de palavras. O terreno que Jacó possuía era em Siquém, e talvez fosse uma região montanhosa ou tivesse a aparência de um ombro, razão pela qual Jacó a vq chamou de shekem, um “ombro” ou “região montanhosa”. O significado “pedaço de terra” (ARC) para shekem não possui outros exemplos que o atestem, e é baseado inteiramente nas versões antigas. Shekem pode ser apropriadamente traduzido “declive montanhoso” (ARA).Com a minha espada e com o meu arco. Este é o único lugar em que é feita referência a atos guerreiros de Jacó.Os outros textos que se referem à porção deterra que Jacó deu a José falam dele como havendo sido comprado (Gn 33:18, 19; Js 24:32). Uma vez que esses textos devem se referir à mesma região que Jacó diz ter sido conquistada com espada e arco, pode ser que a propriedade de Jacó lhe tenha sido tomada pelos amorreus depois que ele saiu da região de Siquém (Gn 35:4, 5). Embora o “terror de Deus” os tenha impedido de atacarJacó e de vingar o massacre dos siquemitas, eles parecem ter tomado a propriedade de Jacó, de forma que o patriarca foi forçado, algum tempo mais tarde, a reconquistá-la pela força das armas. Essa explicação parece mais razoável do que a de comentaristas que veem nas palavras de Jacó uma profecia referente à futura conquista da Palestina no tempo de Josué.Capítulo 49de teu pai se inclinarão a ti.? das tribos de Israel.eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos.
Gn.49:1 1. Chamou Jacó a seus filhos. Jacó revelou então aos 12 filhos o legado espiritual que lhes deixava. Solenemente os exortou a ouvir as coisas que iria dizer. Isaque, em virtude da presciência divina, em sua bênção (Gn 27) esboçara profeticamente para Jacó e Esaú a história futura da família de cada um. Da mesma forma Jacó, num delineio amplo, descreveu o futuro de toda a nação, representada pelos 12 filhos. Embora o caráter de seus filhos constituísse o ponto de partida das profecias que fez sobre eles, o Espírito de Deus revelou ao patriarca moribundo o futuro de sua posteridade, de forma que ele discerniu no caráter dos filhos a história futura das tribos que deles descenderíam. Com infalível discernimento profético,ele designou a posição e importância de cada um dentro da nação.Nos dias vindouros. Literalmente, “no fim dos dias”. Isto não se refere ao fim da história deste mundo, como no caso de alguns outros pronunciamentos proféticos, nem se aplica apenas à era messiânica, no final da história judaica. Aqui, significa simplesmente “no futuro”.
Gn.49:2 Sem comentário para este versículo
Gn.49:3 3. Rúben. Jacó dirigiu a primeira profecia a seu filho primogênito, e a revestiu de linguagem poética, como o fez com todos os outros pronunciamentos subsequentes. A poesia hebraica consiste de uma repetição rítmica de pensamentos, não de sons ou sílabas. Disposta em forma de poesia, a bênção sobre Rúben seria:Rúben,Meu 'primogênito, tu, meu vigor E as primícias da minha força; Preeminente em dignidade,E preeminente em poder.Impetuoso como a água, não terás a preferência,Pois subiste ao leito de teu pai,E profanaste a minha cama ([à qual] ele subiu).
Gn.49:4 4. Impetuoso como a água. Rúben é caracterizado por uma tripla designação: (1) sua posição na família como o primogênito de Jacó, (2) sua relação para com Jacó como representante de seu vigor e do princípio de sua força, e (3) a preeminência natural que lhe pertencia como o filho mais velho. Contudo, as vantagens que normalmente caberíam a Rúben como o primogênito lhe seriam tiradas por causa da debilidade de seu caráter. A palavra traduzida como “impetuoso", literalmente, “um transbordamento pela fervura" da água, subentende, figura- tivamente, o deixar-se levar pelas emoções. Outra forma da mesma palavra-raiz (Jz 9:4; Sf 3:4) expressa frivolidade e leviandade. Jacó descreveu assim a fraqueza moral do caráter de Rúben, devido à qual ele perdeu os privilégios da primogenitura. Embora, especificamente, seu crime consistisse em cometer fornicação com Bifa, concubina de seu pai (Gn 35:22), sua história posterior dá evidências de uma instabilidade de caráter intrínseca. Essa fraqueza básica o desqualificou para ser líder, pois a liderança frequentemente exige firmeza e determinação. Enquanto Jacó se lembrava desse ato hediondo e o mencionava em sua profecia, virou-se com indignação e, ao repetir a ideia, mudou a forma de tratamento da segunda para a terceira pessoa.Não serás o mais excelente. Pela remoção dos direitos de primogenitura, Rúben perdeu a liderança de Israel. Sua tribo nuncaalcançou uma posição de influência na nação (ver Dt 33:6). Nenhum personagem importante emergiu dos descendentes de Rúben — nenhum juiz, nenhum rei, nenhum profeta. A liderança foi transferida para Judá, e a porção dupla para José (lCr 5:1, 2).
Gn.49:5 5. Simeão e Levi. Eles eram irmãos, não apenas no sentido carnal, mas também em seus pensamentos e atos (ver Gn 34:25).Suas espadas. O significado da palavra traduzida como “espadas” é incerto. Outras traduções sugeridas para esta palavra heb. incerta são “maquinações", “associação” (entre duas pessoas) e “ira”. Fica claro, contudo, que Jacó tinha em mente a crueldade gratuita deles ao massacrarem traiçoeiramente a população de Siquém (Gn 34:25-29), um crime que Jacó nunca aprovou.
Gn.49:6 6. Mataram homens. No original, “um homem”. Aqui, a palavra “homem” é um termo coletivo, e o significado é plural, “homens”. A forma singular é usada indiscriminadamente ao longo de todo o AT, tanto para o singular como para o plural.Jarretaram touros. Literalmente, “jar- retaram um boi”. O singular “boi” representa o plural praticamente desusado, “bois” (encontrado na Bíblia apenas uma vez, em Os 12:11), e é o correspondente de “homem” no primeiro verso do paralelismo. Jarretar um animal é deixá-lo inválido, cortando-lhe os tendões (ver Js 11:6, 9; 2Sm 8:4). Em Gênesis 34:28, é simplesmente dito que o gado dos siquemitas foi levado, não que foi aleijado. Contudo, uma vez que os filhos de Jacó estavam mais preocupados com a vingança do que com os despojos, provavelmente também mutilaram alguns dos animais. Jacó menciona apenas o último fato porque era isso que mostrava de maneira óbvia a brutalidade deles. Esse traço de caráter os desqualificou para a liderança.
Gn.49:7 7. Dividi-los-ei. Uma vez que os irmãos haviam cometido o crime em associação umcom o outro, a posteridade deles devia ser dividida ou espalhada em Canaã. Não constituiríam tribos independentes. O cumprimento desta predição era evidente na época em que Israel voltou para Canaã. Quando Moisés contou Israel pela segunda vez, Simeão havia se tornado a mais fraca de todas as tribos (Nm 26:14), e, na bênção de Moisés, a tribo de Simeão foi inteiramente omitida. Não foi designado para essa tribo um território separado como herança, mas apenas certo número de cidades dentro das fronteiras de Judá (Js 19:1-9). Já que as famílias de Simeão, de maneira geral, tiveram pouco crescimento (lCr 4:24, 27), a maior parte delas foi absorvida pela tribo de Judá. Outras migraram, em duas levas, para áreas que ficavam além das fronteiras da terra prometida (lCr 4:38-43).Em vez de uma herança territorial, Levi recebeu 48 cidades espalhadas pelas outras tribos (Js 21:1-42). O espalhamento de Levi em Israel, contudo, transformou-se numa bênção para todos, através da escolha da tribo para o sacerdócio. Embora Jacó tenha retirado os direitos de primogenitura de Rúben e pronunciado uma maldição pelo crime de Simeão e Levi, não deserdou nenhum deles. A história posterior de Levi é uma ilustração de como uma maldição pode se cumprir e mesmo assim resul- ; tar em bênção para os envolvidos. No Sinai, os descendentes de Levi se colocaram sozinhos em defesa do que era certo quando todos os demais caíram (Ex 32:26) e, portanto, foram nomeados, como tribo, para a liderança religiosa. Embora não tenha sido mudada a maldição de Jacó, de que eles não receberíam herança, seu cumprimento trouxe bênção, tanto a eles quanto a seus irmãos (Nm 18:20).
Gn.49:8 8. Judá. O quarto filho de Jacó foi o primeiro a receber uma bênção plena e sem restrições, que lhe conferia supremacia e poder. Embora isso não tenha sido expressamentedeclarado por Jacó, Judá recebeu o direito de liderança reservado ao primogênito, que foi perdido por Rúben devido a sua instabilidade emocional, e por Simeão e Levi devido à crueldade.Teus irmãos te louvarão. De acordo com Gênesis 29:35, o nome Judá significa “aquele que é louvado (elogiado) ’. Por meio de um jogo de palavras, algo muito apreciado pelos orientais, Jacó assegurou a Judá o elogio de seus irmãos. Judá havia demonstrado caráter nobre. Mesmo na hora escura, quando os irmãos de José planejavam matá-lo, Judá propôs uma solução que salvou a vida de José (Gn 37:26, 27). A excelência de seu caráter foi manifestada, além disso, quando ofereceu a própria vida como garantia pela de Benjamim e também quando pleiteou com José em favor de Benjamim, para salvá- -lo da escravidão (Gn 43:9, 10; 44:16-34). Isso tinha ficado evidente mesmo antes, em sua conduta para com Tamar (Gn 38:26), embora originalmente Judá pareça ter sido uma pessoa bastante descontrolada e inconsequente (ver com. de Gn 38:7-26). Sua própria força de caráter, adquirida por renhidas vitórias contra as tendências naturais, refletiu-se na força da tribo que recebeu seu nome.Os filhos de teu pai. Depois de profetizar que Judá colocaria os inimigos em fuga e os subjugaria, Jacó afirmou que os irmãos de Judá também lhe prestariam homenagem. E interessante notar que não só os filhos de sua mãe fariam isso (ver Gn 27:29; Jz 8:19), isto é, as tribos descendentes de Lia, mas “os filhos de teu pai ”, ou seja, todas as tribos de Israel. Isto se cumpriu quando Davi foi coroado rei sobre todo o Israel (2Sm 5:1, 2).
Gn.49:9 9. Judá é leãozinho. Por uma ousada figura de linguagem, Judá é comparado a um leão jovem que cresce até à plena força e ferocidade de um leão maduro (ver Ap 5:5). Vagando pelas florestas à procura da caça e, voltando à sua toca na montanha depois dedevorar a presa, ele se deita intrépido, em sinal de majestade e desafio a qualquer criatura que ouse perturbá-lo. Muitos comentaristas têm entendido que a palavra heb. traduzida como “leão velho” (ARC) significa “leoa” (ARA) e têm visto nela um sentido mais profundo. Contudo, a palavra labi’ significa apenas “leão” e é um sinônimo comum para a palavra aryeh, “leão”, usada duas vezes neste mesmo versículo.
Gn.49:10 10. O cetro. O cetro é um símbolo de autoridade real. Em sua forma mais primitiva, era um longo cajado que o rei tinha na mão quando falava em assembléias públicas, mas que descansava entre seus joelhos quando assentado no trono. Esses cetros são ilustrados em relevos egípcios antigos. Judá deveria continuar como líder entre as tribos até o tempo da vinda do Messias.Até que venha Siló. Não é convincente a explicação de Siló como o nome de um lugar nem a interpretação como “descanso”. Contudo, a maioria dos comentaristas acredita que Siló é um nome pessoal e que a pessoa mencionada é o Messias. Esse ponto de vista, expresso há muito tempo por eruditos judeus e cristãos, está correto (ver DTN, 52). Quanto ao significado exato da palavra Siló, porém, não há acordo entre os intérpretes. Tem sido explicado como “descendência”, “aquele que é enviado para outro lugar”, “aquele a quem pertence [o cetro do reino]” e “aquele que dá descanso”. A última interpretação da palavra Siló, como “aquele que dá descanso”, é a mais favorecida pelos comentaristas e é endossada por Ellen G. White (DTN, 52). Siló, portanto, é o Messias, que na profecia de jacó devia assumir as prerrogativas reais de Judá como líder de Israel e a quem todas as nações se congregariam ou obedeceríam.
Gn.49:11 11. Ele amarrará o seu jumentinho.A referência ao fato de o Messias montar um jumento se cumpriu na entrada triunfal de Jesus (Mt 21:7). Essa referência o designacomo um precursor da paz e como um nobre, uma vez que os jumentos não eram usados para a guerra, mas serviam como animais de montaria para pessoas de hierarquia superior (Jz 1:14; 10:4; 12:14). A vinha de Judá seria tão forte que jumentos poderíam ser amarrados a ela, e tão frutífera que seu suco poder ia lavar as vestes. O vinho e o leite de Judá seriam tão vitalizantes e revigoradores que conferiríam um brilho radiante aos olhos e uma brancura vistosa aos dentes. Este, é claro, é um quadro da prosperidade de Judá em linguagem figurativa.
Gn.49:12 Sem comentário para este versículo
Gn.49:13 13. Zebulom. O território dado à tribo de Zebulom, no tempo de Josué, pode ser reconstituído por meio das fronteiras e cidades mencionadas em Josué 19:10-16. Naquela ocasião, não chegava ao Mediterrâneo nem tocava diretamente em Sidom. Ficava entre o mar da Galileia e o Mediterrâneo, próximo a ambos, mas separado do primeiro por Naftali, e do último, por Aser. Porém, é possível que esta profecia tenha se cumprido mais tarde. O cumprimento notável de todos os pronunciamentos proféticos de Jacó que pode ser verificado exclui a possibilidade de este aqui ter ficado sem se cumprir, embora a Bíblia não mencione nada a respeito.
Gn.49:14 14. Issacai*. A comparação de Issacar a um jumento de ossos e constituição fortes, bem adaptado ao carregamento de cargas, apontava para o fato de que esta tribo se contentaria com bens materiais, devotando-se à agricultura, e não lutaria pelo poder político, indicava também que os descendentes de Issacar seriam homens fortes e receberíam uma herança agradável. Isso se cumpriu na alocação da baixa Galileia a esta tribo, um território que incluía a atrativa e frutífera planície de Jezreel, Embora a tribo tenha uma vez adquirido renome, junto com Zebulom, por bravura heróica no tempo dos juizes (Jz 5:14, 15, 18), geralmente se contentava com sua sorte, em qualquer circunstância.Raras vezes, ela vai à frente com valentia para e lutar pelo direito ou por liberdades ameaçadas. Issacar, talvez por esta razão, foi o último a ser mencionado dentre os filhos de Lia, embora não fosse o último cronologicamente falando.
Gn.49:15 Sem comentário para este versículo
Gn.49:16 16. Dã. Por meio de um jogo de palavras com seu nome, o primogênito da serva de Raquel, Bila, é descrito como alguém que devia ocupar lugar de importância e realizar deveres elevados no futuro estado de Israel. Isto se cumpriu parcialmente no tempo final dos juizes, quando Sansão, um danita, julgou Israel por 20 anos (ver Jz 13:2).Serpente junto ao caminho. Esta declaração descreve o caráter da tribo. Isto se tornou evidente na expedição de parte dos danitas a Laís, no norte de Canaã (ver Jz 18), e também nas aventuras de Sansão, que, com a astúcia de uma serpente, vencia os mais fortes inimigos. Uma vez que a tribo de Dã parece ter sido a primeira a introduzir a adoração de ídolos em Israel (jz 18), e uma vez que o caráter de Dã não qualifica alguém para a Canaã celestial, somente seu nome, dentre as 12 tribos, é omitido da enumeração feita em Apocalipse 7.
Gn.49:17 Sem comentário para este versículo
Gn.49:18 18. Espero. Esta oração foi feita por jacó não só em seu próprio favor, mas expressava a confiança de que seus descendentes também receberíam a ajuda de Deus, como ele próprio havia recebido. E interessante imaginar o patriarca moribundo nesse momento tenso de sua vida. Embora a maior parte de suas palavras pareçam ter sido ditas por inspiração, esta oração, evidentemente, expressa seus próprios sentimentos naturais. O súbito alívio de uma tensão ou um súbito acidente pode revelar o nível espiritual em que alguém se encontra. Dos lábios de um virá uma maldição; dos de outro, alguma expressão vazia e sem sentido; e dos lábios de um terceiro pode brotar uma oração. Muitas vezes é injusto julgar alguém por palavrasditas num momento inesperado, mas Jacó passaria nesse teste. Os anos de enganador ficaram no passado havia tempo; desde então, ele pertencia ao grupo dos escolhidos de Deus.
Gn.49:19 19. Gade. Esta passagem poética, onde ocorrem as palavras traduzidas como ''guerrilha” e “acometerá”, ambas provenientes da mesma raiz, podería ser melhor traduzida da seguinte forma: “Uma força de ataque o atacará, mas ele atacará o calcanhar.” A linguagem parece se referir a ataques que a tribo de Gade teria de suportar com paciência, mas que conseguíria repelir. Embora a história conhecida das 12 tribos não forneça um cumprimento específico para esta profecia, o relato dado em 1 Crônicas 5:18-22 41 mostra que os gaditas demonstraram, onde fosse necessário, a bravura que lhes foi prometida pelo pai. Os gaditas que passaram para Davi são descritos como leões, e sua rapidez se assemelha à de uma gazela (iCr 12:8-15), comparação que prova terem sido uma tribo valente.
Gn.49:20 20. Aser. Isto se refere ao solo frutífero que devia ser a futura habitação de Aser. Em cumprimento desta predição, Aser recebeu como herança as terras baixas do Carmelo, junto ao Mediterrâneo, até o território de Tiro. Essa é uma das partes mais férteis de Canaã, onde há abundância de trigo e azeite, com os quais Salomão sustentava a casa do rei Hirão (lRs 5:11).
Gn.49:21 21. Naftali. O significado do nome e a alusão ao que ocorrería são obscuros, e pouco se sabe da história da tribo de Naftali. Em associação com Zebulom, sob a liderança de Baraque, a tribo obteve grande vitória sobre o rei cananeu Jabim, que a profetiza Débora comemorou em sua célebre canção (ver Jz 4, 5).Ele profere palavras formosas. Esta deve ser uma alusão ao dom da eloquência e do cântico manifestados nessa tribo do norte, embora não tenham sobrevividoregistros históricos sobre tal atividade na tribo de Naftali.
Gn.49:22 22. José. Ao passo que as bênçãos de Jacó referentes aos quatro blhos das concubinas foram breves, e suas profecias em parte tão obscuras quanto a história posterior das tribos que descenderam desses homens, há uma grande diferença na bênção ao filho primogênito da amada Raquel. Então, o coração do patriarca se dilatou em grato amor e, com palavras e figuras mais expressivas, ele suplicou uma bênção ilimitada para José.
Gn.49:23 23. Os flecheiros. Da símile da árvore frutífera, Jacó passou então à da guerra, descrevendo a vitória da tribo de José sobre todos os inimigos. Esta é uma ilustração do presente profético, que fala de eventos futuros como se já estivessem em processo de cumprimento. As palavras não se referem a quaisquer feitos guerreiros de José no Egito, são porém uma alusão, em termos não diretamente ofensivos aos irmãos, mas entendidos por todos eles, à perseguição que ele havia sofrido nas mãos deles, bem como durante seus anos de escravidão e aprisionamento.
Gn.49:24 24. Poderoso de Jacó. Se a última frase é parentética, como aparece na ARC, ela pode significar que desde o tempo da exaltação de José ele se tornou o pastor e a pedra de Israel, ou que de Deus, o Poderoso de Jacó, José recebeu forças para se tornar como tal. Nessa capacidade, ele serviu, então, como um tipo do Bom Pastor, que é a Rocha e que seria o fundamento da igreja. Se, contudo, a frase “o pastor, a pedra de Israel” é coordenada com a frase precedente (conforme aparece na ARA), então ela se aplica ao próprio Deus. Nesse caso, é expressa a ideia de que as mãos de Jacó foram tornadas fortes por Aquele que é o Pastor e a Pedra de Israel (ver Dt 32:4). O texto hebraico permite a segunda interpretação, que parece preferível à primeira.
Gn.49:25 Sem comentário para este versículo
Gn.49:26 26. As bênçãos de teu pai. As bênçãos que o patriarca implorou para José deviam exceder as dádivas que os pais de Jacó lhe haviam transmitido. José é mencionado, literalmente, como o separado, o nazir (cf. ARC e ACF; “distinguido”, ARA). José, recebe esta designação tanto aqui como em Deuteronômio 33:16, devido à preservação de sua virtude e piedade no Egito pagão.
Gn.49:27 27. Benjamim. O caráter guerreiro que o pai moribundo atribuiu a seu filho mais novo foi mais tarde manifestado por seus descendentes. Foi visto na guerra que sua tribo travou contra todas as tribos, guerra que se deveu à própria maldade deles em Gibeá (Jz 20, 21), e foi visto também em outras ocasiões (Jz 5:14). Os benjamitas foram destacados arqueiros e atiradores com a funda (Jz 20:16; lCr 8:40; 12:2; 2Cr 14:8; 17:17). Também da tribo de Benjamim vieram o heroico juiz Eúde (Jz 3:15), o rei Saul e seu valente e cortês filho Jônatas (ISm 11, 13; 2Sm 1:19-27).
Gn.49:28 28. As doze tribos. Jacó abençoou as futuras tribos na pessoa de seus 12 filhos. Ninguém foi excluído, e mesmo Rúben, Simeão e Levi, embora humilhados devido a sérias falhas pessoais, receberam, cada um, sua parte nas bênçãos prometidas.
Gn.49:29 29. Eu me reúno ao meu povo. Vercom. de Gn 15:15. «Sepultai-me. José já havia prometido ao pai, sob juramento, que cumpriría seu desejo. Jacó o menciona uma vez mais, na presença de todos os filhos, como um convite para que participem do rito do sepultamento.
Gn.49:30 Sem comentário para este versículo
Gn.49:31 Sem comentário para este versículo
Gn.49:32 Sem comentário para este versículo
Gn.49:33 33. Recolheu os pés na cama. Jacó então se deitou, pois estava sentado ereto enquanto abençoava os filhos, e morreu em paz. Quanto aos eufemismos poéticos para a morte, ver com. de Gênesis 15:15 e 25:8.A idade de Jacó por ocasião de sua morte era de 147 anos (ver Gn 47:28).Capítulo 50I O luto porjacó. 4 José obtém permissão do faraó para ir sepultá-lo. 7 O funeral. 15 José conforta os irmãos, que lhe suplicam perdão. 22 Sua idade. 23 Ele vê até a terceira geração de seus f ilhos. 24 Profetiza aos irmãos acerca do retorno do povo de Israel a Canaã. 25 Obtém um juramento de seus irmãos com respeito aos seus ossos. 26 Morre e é colocado num caixão no Egito.] Então, José se lançou sobre o rosto de seu pai, e chorou sobre ele, e o beijou.f? a transgressão dos servos do Deus de teu pai. José chorou enquanto lhe falavam.pai; e viveu cento e dez anos.
Gn.50:1 1. José se lançou sobre o rosto de seu pai. José sem dúvida havia fechado os olhos de seu amado pai, como Deus prometera (Gn 46:4). O fato de só a dor de José ser descrita nesta passagem não implica que os outros filhos não sentiram a perda do pai. Talvez a dor deles tenha sido mais contida que a de José, uma vez que o coração deste filho parece ter sido mais suscetível a emoções ternas. A dor de José representa a dor de todos, e pode-se presumir que a tristeza dos irmãos foi tão real quanto a dele.
Gn.50:2 2. Embalsamaram a Israel. O antigo método egípcio de embalsamamento foi descrito tanto por Eleródoto (ii.86) quanto por Diodoro (i.91). A exatidão da descrição feita por eles já foi confirmada, de maneira geral, por antigos documentos egípcios e por um exame das próprias múmias em si. O processo era caro. Primeiro, o cérebro era extraído através das narinas com uma peça de metal torcido, e o crânio era então totalmente limpo de quaisquer vestígios que restassem, através da lavagem com substâncias químicas. Por uma abertura no lado esquerdo, feita com uma faca afiada, as vísceras eram removidas e colocadas em jarras separadas, as chamadas jarras canópicas.O abdômem esvaziado era purificado com vinho de palma e uma infusão de ervas aromáticas, e depois enchido com várias especiarias. Depois de a abertura ter sido costurada, o corpo, com o enchimento, era submergido por muitos dias (até 70) numa solução de natrão. Depois era lavado, envolto numa mortalha de linho, untado com resina e finalmente pintado para ficar semelhante às feições naturais do falecido.
Gn.50:3 3. Quarenta dias. Sabe-se, por documentos egípcios, que a extensão do período variava desde a morte até o sepultamento. Num caso, o embalsamamento levou 16 dias, o processo de bandagem, 35 dias, e o sepultamento, mais 70, dando um total de 121 dias. Em outro caso, o embalsamamento levou 66 dias, os preparativos para o sepultamento, 4 dias, e o sepultamento em si, 26 dias, ou seja, 96 dias ao todo. Em outra parte é dito que o embalsamamento durou 70 ou 80 dias, e o sepultamento, 10 meses (ver Ernest A. W. Budge, The Mummry [Senate, 1995]). O tempo envolvido dependia da riqueza da família do falecido e do período da história egípcia. Jacó, por ser o pai do primeiro-ministro, recebeu os melhores cuidados da época. Seu embalsamamento durou 40 dias, e ospreparativos para o sepultamento, outros 70 dias. Esse tempo foi proclamado como um período oficial de luto.
Gn.50:4 4. A casa de Faraó. Tem sido objeto de conjectura entre os comentaristas a razão por que José, no final do período de luto, não foi até o faraó em pessoa, mas fez seu pedido por outros membros da corte. Seus motivos para esse procedimento aparentemente estranho são desconhecidos, mas pode ter sido algo normal em sua época. Alguns têm sugerido que José fez isso em reconhecimento aos membros da corte e para cultivar um bom relacionamento com eles. Talvez os homens através de quem José se dirigiu ao rei fossem sacerdotes e, como tais, estivessem diretamente relacionados ao sepultamento dos mortos. E possível que José, tendo permitido que sua barba e seu cabelo crescessem, devido aos costumes referentes ao luto, não pudesse entrar na presença do rei sem primeiro barbear-se. Não há base para sugestão de que a autoridade de José estivera restrita apenas ao período da fome, ou de que havia subido ao trono outro faraó menos receptivo a José. Os egípcios ficaram de luto pela morte de Jacó, e isso não teria ocorrido se a popularidade de José tivesse diminuído. Outra possibilidade é que o procedimento de José tenha se devido apenas à tendência oriental de tratar de importantes negócios pessoais através da mediação de alguém.
Gn.50:5 5. No meu sepulcro. A afirmação de Jacó de ter cavado a sepultura na qual seu avô Abraão fora enterrado tem sido criticada como uma contradição dos fatos apresentados em Gênesis 23. Contudo, não é necessário presumir que Jacó aqui atribuiu a si mesmo o que na verdade havia sido feito por Abraão. Pode ser que Jacó tenha ampliado a caverna original de Macpela a fim de que houvesse lugar para outros corpos, ou que houvesse preparado nela um nicho especial que pretendia ocupar. Ou ainda a expressão simplesmentefosse a maneira de José informar ao faraó que o sepultamento não ocorrería no Egito, mas em Canaã, e que, portanto, ele solicitava permissão para ir até lá.
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Gn.50:7 7. José subiu. Depois de a permissão do rei ter sido concedida, o corpo foi levado para Canaã, acompanhado de grande séquito. Com José, subiram os principais oficiais da corte, juntamente com todos os membros da família. Como uma escolta durante todo o percurso ao longo do deserto e até a estrangeira terra de Canaã, um grande grupo de carruagens e cavaleiros provavelmente os acompanhou. A grandiosa comitiva de oficiais egípcios pode ser explicada, em parte, pela estima com que José era tido no Egito, e em parte, pelo gosto que os egípcios tinham por cortejos fúnebres.
Gn.50:8 Sem comentário para este versículo
Gn.50:9 Sem comentário para este versículo
Gn.50:10 10. À eira de Atade. A eira era uma grande área aberta onde os bois pisavam o cereal, e muito conveniente para a acomodação de grande grupo de pessoas como o que acompanhou José. Atade era o nome do proprietário ou, já que atsad é a palavra heb. para frângula, talvez ali fosse uma área onde essa planta crescesse abundantemente.Além do Jordão. O cortejo não tomou a rota mais curta, por Gaza, atravessando a terra dos filisteus, nem passou por Berseba, mas deu a volta pelo Alar Vermelho. As razões para esse longo desvio são desconhecidas, mas podem ter sido políticas. Muito pouco se sabe sobre as relações gerais entre o Egito e a Palestina durante o período dos bicsos, e um estado de insegurança no sul da Palestina pode ter sido responsável pela rota fora do comum que José tomou para chegar a Hebrom.Fizeram ali grande e intensa lamentação. Relevos esculpidos e pinturas murais em antigas tumbas egípcias revelam que os egípcios eram muito efusivos e veementes em suas lamentações públicas pelos mortos. Rasgavam suas vestes, batiam no peito, lançavam terra e lama na cabeça e cantavamhinos fúnebres ao som de um pandeiro do qual haviam sido removidas as soalhas metálicas (equivalente, portanto, a um tamborim).
Gn.50:11 11. E por isso se chamou. Quando a procissão fez uma parada de sete dias na eira de Atade (v. 10), para uma demonstração especial de luto, os habitantes das vizinhanças ficaram impressionados pelo modo como os egípcios lamentavam o pai de um de seus dignitários. Esse evento incomum foi a razão por que os cananeus daquela região deram ao local o nome de Abel-Mizraim, o '‘prado dos egípcios”. Este nome é um jogo de palavras com os termos “lamentação”, ebel, e “prado”, ‘abei, pois ambos têm as mesmas consoantes.
Gn.50:12 Sem comentário para este versículo
Gn.50:13 Sem comentário para este versículo
Gn.50:14 14. Voltou José. Não havia chegado ainda o tempo para que os descendentes de jacó se estabelecessem permanentemente em Canaã. Eles deviam primeiramente tornar-se “uma grande nação” (Gn 46:3).
Gn.50:15 Sem comentário para este versículo
Gn.50:16 16. Teu pai ordenou. Após a morte de lacó, os irmãos de José ficaram atemorizados, com receio de que ele pudesse se vingar deles por sua crueldade. Acharam que o terno amor de José pelo idoso pai podería tê-lo impedido de se vingar enquanto este ainda vivia. Literalmente, “deram ordens a José”, o que significa que enviaram um dentre eles, possivelmente Benjamim, para apelar a José que honrasse o desejo expresso pelo pai deles antes de sua morte e para implorar perdão. Não há razão para considerar que eles mencionaram o desejo do pai como um mero fingimento. O fato de não ser feita nenhuma referência ao pecado deles por Jacó em suas bênçãos prova que ele, como pai, havia perdoado o pecado dos filhos, em vistado fato de a graça de Deus ter transformado o crime no meio de salvar a família.
Gn.50:17 17. José chorou. Uma vez que os irmãos não compareceram pessoalmente diante de José, talvez fosse melhor traduzir a frase da seguinte forma: “José chorou ao ouvir o recado que mandaram.” Ele ficou sentido por serem capazes de abrigar, sequer por um único momento, um conceito tão falho de seu amor.
Gn.50:18 18. Vieram também seus irmãos.Com a certeza de que José não tinha qualquer intenção de se vingar, ousaram ir ao seu encontro pessoalmente, oferecendo- -se como seus escravos. Mas qualquer ideia de vingança estava longe da mente de José. O espírito de sua vida interior era permeado de perdão. Embora familiarizado, por experiência própria, com a traição humana, ele nunca havia abrigado qualquer pensamento de amargura ou ódio. Apressou-se a assegurar aos irmãos que não tinham nada a temer de sua parte e que podiam confiar inteiramente nele.
Gn.50:19 Sem comentário para este versículo
Gn.50:20 Sem comentário para este versículo
Gn.50:21 Sem comentário para este versículo
Gn.50:22 22. Viveu cento e dez anos. Uma vezque José nascera quando seu pai tinha 91 anos (ver com. de Gn 27:1; 47:9), estava com 56 por ocasião da morte do pai; assim ele viveu mais 54 anos depois disso.
Gn.50:23 23. Viu José os filhos de Efraim. Não há certeza quanto se a referência é aos netos ou bisnetos de Efraim. No segundo mandamento do decálogo, a expressão “terceira e quarta geração” (Ex 20:5; Dt 5:9) aparentemente inclui os pais e significa os netos e bisnetos. Ela é usada no mesmo sentido em Números 14:18. Contudo, em Êxodo 34:7, onde é dada a seguinte sequência: pais, filhos, filhos dos filhos, terceira e quarta geração, as duas últimas gerações obviamente se referem a bisnetos e trinetos. Já que, às vezes, o pai é incluído no número de gerações mencionadas, e, às vezes, é excluído delas, não se sabe ao certo qual o significado no caso de José. Ao mesmo tempo, é perfeitamente claro queMoisés desejava mostrar que José viveu para ver o princípio do cumprimento da bênção de seu pai. Não há dificuldade prática no fato de José ter visto os bisnetos de Efraim. Uma vez que seus dois filhos nasceram antes que ele completasse 37 anos (Gn 41:50), talvez já tivesse netos quando estava com 56 ou 60 anos, e bisnetos 20 anos depois, com a idade de 80. Assim, podem ter-lhe nascido trine- tos quando ele estava aproximadamente com 100 anos de idade.Também os filhos de Maquir. Nocaso dos filhos de Manassés, Moisés é mais claro e declara especificamente que José viu seus bisnetos.José tomou sobre seus joelhos.Literalmente, “nasceram sobre os joelhos de José” (ver com. de Gn 30:3).Eu morro. À medida que José via a morte se aproximar, expressou a seus irmãos a firme crença no cumprimento da promessa divina (ver Gn 46:4, 5; 15:16). Fez com que jurassem que, quando Deus os conduzisse à terra prometida,sepultariam seus ossos ali. Esse desejo foi cumprido. Quando ele morreu, foi embal- samado, como seu pai (ver com. dos v. 2, 3), e colocado num caixão. Seu corpo provavelmente jazeu por algum tempo numa tumba previamente preparada, segundo o costume egípcio, e permaneceu no Egito até o êxodo. Nessa ocaião, os israelitas, cumprindo o desejo de José, levaram seus restos mortais para Canaã e os enterraram em Siquém, no terreno que Jacó havia comprado e dado a seu filho José (Gn 33:19; 48:22; Js 24:32).Com este ato de fé por parte do moribundo José, termina a história do período patriarcal. Seu caixão, ou túmulo, tornou-se para os israelitas que peregrinavam no Egito um constante lembrete das promessas divinas de que a permanente morada deles seria a terra de Canaã e não o Egito. Era uma exortação contínua para que volvessem os olhos do Egito para Canaã e para que esperassem com paciência e fé o cumprimento da promessa que Deus fizera a seus pais.
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