"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Filipenses
Fp.1:1 1. Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos,

Paulo. A identificação é simples. Quando escreveu a outras igrejas, o apóstolo sentiu a necessidade de declarar sua autoridade (ver 1Co.1:1; 2Co.1:1; Gl.1:1; Ef.1:1). Aqui, no entanto, não havia necessidade, porque a igreja de Filipos aceitava suas credenciais. Esta é uma carta de amor, de gratidão e elogio. Embora contenha palavras de advertência e exortação, não foi escrita para resolver problemas como os que se ergueram em outras igrejas.

Timóteo. Ver com. de At.16:1. O jovem evangelista esteve com Paulo em Filipos (At.16:11-12), portanto, era conhecido dos primeiros conversos. A última visita (At.20:1-5) permitiu-lhe familiarizar-se com os membros que subsequentemente se uniram à igreja. Exceto esta saudação, não há outra indicação de que Timóteo fosse coautor da epístola. O fato de Paulo falar em primeira pessoa, a partir de Fp.1:3, sugere que ele é o único autor.

Servos. Do gr. douloi (ver com. de Rm.1:1). Alguns sugerem que, ao aplicar este termo a si mesmo, Paulo podia ter em mente a prática grega frequente de se libertar um escravo ao comprá-lo para um dos deuses. Uma transação de negócio fictícia era arranjada, e o escravo deveria pagar ao tesouro do templo seu preço de compra, dinheiro que ele teria poupado. O proprietário e o escravo iam juntos ao templo. O senhor recebia o preço de compra, e o escravo era supostamente vendido para o deus. Assim, o escravo se tornava propriedade particular daquele deus. Contudo, para fins práticos, ele estava livre. Paulo se considerava propriedade de Cristo, comprado por preço (1Co.6:20; 1Co.7:23), “libertado” (Rm.6:18). Sabia que não pertencia a si mesmo (1Co.6:20), pois fora comprado por Cristo, que o amava e por ele dera a vida (Gl.2:20). Essa compra não era ilusória, mas uma realidade viva. O corpo e a mente do apóstolo tinham sido redimidos da escravidão do pecado e de Satanás, da sujeição ao orgulho e do preconceito, da escravidão das obras da lei e da carne. Ele estava sob pleno controle do Mestre (ver com. de Rm.7:14-25).

Santos. Do gr. hagioi (ver com. de Rm.1:7). A epístola é endereçada a todos os membros da igreja em Filipos. Paulo não queria que ninguém fosse esquecido.

Em Cristo Jesus. Ver com. de Rm.8:1; 1Co.1:2; Ef.1:1.

Bispos. Do gr. episkopoi (ver com. de At.20:28).

Diáconos. Do gr. diakonoi (ver com. de Mc.9:35), palavra que significa “servos”, não quanto a posição social, mas a atividade. É empregada, às vezes, em relação a um ministro do evangelho (1Co.3:5; 2Co.3:6; Ef.3:7). O reconhecimento de Paulo a estes obreiros da igreja os prestigiaria à vista da congregação. Não há indicação de que o bispo exercesse autoridade sobre muitas congregações como ocorreu na história posterior da igreja. Ao contrário, havia vários bispos no grupo local em Filipos (ver vol. 6, p. 11).

Fp.1:2 2. graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Graça. Sobre esta saudação, ver com. de Rm.1:7. Nas epístolas pastorais (1Tm; 2Tm; Tt), é acrescentada a palavra “misericórdia”.

Deus, nosso Pai. Ver com. de Mt.6:9.

Fp.1:3 3. Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós,

Dou graças ao meu Deus. Ver com. de Rm.1:8.

Tudo que recordo. Isto é, sempre que Paulo pensava nos crentes filipenses, as qualidades deles o levavam a agradecer a Deus a existência de cristãos tão exemplares. Essa lembrança era contínua e resultava em ação de graças.

Fp.1:4 4. fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,

Sempre. Era grande a alegria de Paulo pelas qualidades de seus conversos.

Alegria. Paulo louva o caráter cristão dos filipenses. A experiência deles levava alegria, não perplexidade ao apóstolo. Esse não era o caso com outras igrejas (ver 1Co.3:1-3; Gl.4:19).

Orações. Do gr. deesis, “busca”, “pedido” ou “súplica”, palavra originada de deomai, “pedir”, “implorar”. A mesma palavra (deesis) é traduzida mais adiante neste versículo como “súplicas”.

Fp.1:5 5. pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora.

Cooperação. Do gr. koinonia (ver com. de At.2:42; Rm.15:26). Embora a palavra koinonia seja utilizada no sentido de cooperação, também indica “fazer doações voluntárias aos pobres”. É usada assim neste versículo possivelmente devido às generosas contribuições dos filipenses ao bem-estar de Paulo (ver Fp.4:10; Fp.4:15-16). Havia um relacionamento positivo entre eles, desde o primeiro dia da pregação do evangelho até a composição da epístola. Pensar nessa boa relação era motivo de alegria para o apóstolo, principalmente quando estava preso.

No evangelho. A crença em Cristo era a razão do relacionamento pessoal; e, mais que isso, o companheirismo deles era salutar ao evangelho. Nada une mais as pessoas do que a crença comum no evangelho e o ato de compartilhar alegrias e desafios da vida cristã. Esse relacionamento resultou em esforços unidos para incluir outros no círculo. Esses esforços aproximam ainda mais os crentes entre si.

Fp.1:6 6. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.

Plenamente certo. Ver com. de Hb.3:6.

Aquele que começou. Isto é, Deus. O apóstolo espera que seus conversos lembrem que Deus é o autor da salvação deles (cf. Fp.2:13; Hb.12:2; Hb.13:20-21).

Boa obra. Isto é, a obra de salvação.

Completá-la. Do gr. epiteleo, “finalizar”, “aperfeiçoar”. O Senhor é obreiro perfeito que completa toda obra em que coloca as mãos, se o lado humano assim Lhe permite. Além disso, o produto de tal conclusão é sempre perfeito. Deus não Se cansa de fazer o bem. Ele havia levado os filipenses ao relacionamento do evangelho, mas esta é uma obra que não é completada com um único ato, mas gradualmente. A confiança no constante interesse e na direção de Deus é a ideia central dos escritos de Paulo, e ele deseja transmitir essa mesma certeza aos filipenses.

Dia de Cristo Jesus. Sinônimo da expressão “dia do Senhor” (ver com. de At.2:20; Fp.1:10; Fp.2:16). A obra de aperfeiçoamento continuará até que Cristo venha para receber os Seus. Nada menos que um crescimento espiritual contínuo pode preparar alguém para saudar a Cristo quando Ele vier pela segunda vez.

Fp.1:7 7. Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo.

É justo. Isto é, moralmente certo, baseado nos procedimentos de Deus (v. Fp.1:6) e nas qualidades dos filipenses.

Pense. Preferivelmente, “prestar atenção” ou “sentir”, sugerindo o estado mental de Paulo.

Assim. Isto é, a certeza da salvação dos filipenses.

De todos vós. Preferivelmente, “em favor de todos vós”. Paulo não pensava de forma desconexa; ele estava tão interessado no bem-estar de seus conversos que pensava em termos da real situação deles.

No coração. O apóstolo cita seu amor e o lugar dos crentes em seu coração, como justificativa das elevadas esperanças em relação a eles. Ele os mantinha no coração porque não podia estar com eles pessoalmente. Paulo guardava no coração seus benfeitores e colaboradores. Quem não mantém os irmãos no coração logo desejará expulsá-los do pensamento.

Nas minhas algemas. Referência ao aprisionamento em Roma (ver p. 121, 122).

Defesa. Do gr. apologia, “defesa verbal”, “discursar em defesa”.

Confirmação. Do gr. bebaiosis, “estabelecimento”; da palavra bebaioo, “firmar”, “estabelecer” ou “confirmar”.

Participantes da graça comigo. Literalmente, “colaboradores na graça comigo”. Os filipenses eram colaboradores com o apóstolo na graça de Deus. Essa graça os fazia participantes, por assim dizer, de seu aprisionamento, por meio da simpática assistência e pela duradoura perseguição que suportavam, semelhante à do apóstolo. Tudo isso era por causa do evangelho: defendê-lo contra os oponentes e confirmá-lo entre os crentes.

Fp.1:8 8. Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.

Minha testemunha é Deus. Paulo apela a Deus para confirmar o amor pelos filipenses e para que possa vê-los. Já que a saudade está oculta no coração, apenas Deus pode testificá-la.

Terna. Ou, “entranhável” (ARC). Ver com. de Je.4:19. Nos tempos antigos, as entranhas eram consideradas o centro da afeição, simpatia e compaixão, como hoje se considera o coração.

De Cristo Jesus. Alusão à simpatia, ternura e amor do Redentor. Paulo considerava os crentes filipenses com afeição semelhante à que o Senhor Jesus tinha por eles. Essa foi a expressão mais afetuosa que encontrou para expressar seu vínculo com eles. Aqui se indica a unidade que deve existir na igreja: os membros estimam de coração uns aos outros; amam uns aos outros com forte afeição e terna simpatia como do próprio Cristo; possuem um dever comum; oram e agradecem uns pelos outros; e encontram no amor mútuo testemunha e promessa do amor e propósito de Deus.

Fp.1:9 9. E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção,

Esta oração. Os v. 9 a 11 apresentam as orações de Paulo pelo contínuo crescimento espiritual dos filipenses.

Amor. Do gr. agape (ver com. de Mt.5:43-44; 1Co.13:1).

Aumente mais e mais. O amor deles já era elevado, e Paulo desejava que crescesse ainda mais. O apóstolo queria que o amor dos filipenses por Deus e pelas pessoas fluísse como uma nascente abundante, estendendo-se a todos os canais do serviço cristão (cf. 1Ts.3:12).

Conhecimento. Do gr. epignosis, “pleno conhecimento” (ver com. de Rm.3:20). Paulo se refere ao conhecimento experimental, a compreensão pessoal das verdades salvíficas do evangelho, exibidas numa vida piedosa (ver com. de Jo.17:3; Ef.1:17; Ef.4:13).

Percepção. Do gr. aisthesis, “discernimento”, “experiência”. A palavra se aplica aos órgãos dos sentidos. Neste versículo, tem implicações morais e significa a visão que reconhece uma verdade como os olhos reconhecem um objeto (cf. Hb.5:14). A palavra aesthesis, neste versículo, difere da palavra epignosis; indica não princípios gerais e impessoais, mas a escolha de princípios corretos.

Fp.1:10 10. para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo,

Aprovardes. Do gr. dokimazo (ver com. de Rm.2:18), que indica aprovação após exame e prova. Neste versículo, o apóstolo revela o propósito que espera ser alcançado pelo crescimento dos filipenses no amor (Fp.1:9), no sentido de que eles avaliem e retenham as coisas excelentes.

Coisas excelentes. Do gr. ta diapheronta, “as coisas que diferem”, isto é, que são superiores. Em todas as escolhas, Paulo deseja que os filipenses escolham sempre o melhor.

Sinceros. Do gr. eilikrines, possivelmente derivada de heile ou hele, “sol”, e krino, “julgar”. Sendo visto na luz solar, o cristão é achado “puro” ou “imaculado”.

Inculpáveis. Do gr. aproskopoi, literalmente, “não golpeado”, “intacto”, “sem culpa”. A pureza interior resulta em inocência exterior e prepara a pessoa para o dia da vinda de Cristo. Por seus conselhos, Paulo pretendia guiar seus amigos no preparo para o dia quando todo caráter será revelado. Para lembrá-los disso, ele repete a expressão do v. Fp.1:6, omitindo a palavra “Jesus” (cf. com. de 1Ts.5:23).

Fp.1:11 11. cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.

Fruto de justiça. O padrão de Jesus para testar o caráter é: “Pelos seus frutos os conhecereis” (ver com. de Mt.7:15-20). Deus espera mais que simples inocência; Ele procura bons frutos. A justiça não é apenas ausência de pecado, mas a presença do justo caráter de Cristo na vida do crente (ver com. de Mt.5:6; Mt.5:20). Os filipenses deveriam ser cheios dos frutos da justiça em cada aspecto da vida.

Mediante Jesus Cristo. Paulo se apressa em lembrar aos filipenses que qualquer justiça ou boa obra deles seria apenas por meio de Jesus Cristo (cf. com. de Jo.15:1-5; Rm.4:5). O crescimento do caráter depende da ligação com Cristo.

Para a glória. A honra de Deus é exaltada pela vida santa de Seus filhos (ver com. de Jo.15:8; 1Co.10:31; Ef.1:12; 1Pe.2:12).

Fp.1:12 12. Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho;

Cientificar-vos. Esta frase, comum em cartas gregas, pode ser traduzida literalmente como: “desejo que vocês saibam”. Neste versículo, Paulo introduz um tópico diferente: o aprisionamento e sua relação com a pregação do evangelho.

As coisas que me aconteceram. Ou, “pertinentes a mim”. Paulo se refere a assuntos pessoais. A declaração sugere que os filipenses expressaram ansiedade a respeito de uma mudança nas circunstâncias que envolviam o apóstolo, tanto pessoais quanto evangelísticas.

Coisas que me aconteceram. Paulo assegura aos filipenses que seu confinamento tem resultado em bênçãos, em vez de prejuízos. Os filipenses deviam compreender que, pela providência de Deus, as provas estavam sendo utilizadas para fazer a pregação do evangelho avançar. Como ocorre com frequência, a ira das pessoas termina por produzir glória para Deus (ver com. de SI.76:10).

Antes. Esta palavra indica que os filipenses temiam o pior.

Fp.1:13 13. de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais;

Minhas cadeias, em Cristo. Ou, “minhas cadeias têm se tornado conhecidas em Cristo”. É evidente que Paulo foi aprisionado não por crime, mas por causa do testemunho a respeito de Cristo.

De toda a guarda pretoriana. Do gr. en holo to praitorio, literalmente, “em todo o pretório”. Há uma variedade de opiniões quanto a esta frase: (1) “pretório” se refere ao quartel em que os guardas pretorianos ficavam alojados; (2) “pretório” se refere à residência do governador (ver com. de Mt.27:27); (3) a expressão en holo to praitorio deveria ser traduzida como “entre todos os pretórios”, e que a palavra “pretórios” se refere às autoridades judiciais responsáveis pela provação de Paulo; e (4) a expressão en holo to praitorio deveria ser traduzida como “entre toda a [guarda] pretoriana”, referindo-se aos soldados que guardavam Paulo (ver com. de At.28:16). O último ponto de vista parece mais razoável e se harmoniza com o contexto. Os soldados pretorianos, em suas tarefas de guardar Paulo, poderiam entender que ele estava preso só por causa da fé e do zelo pelo evangelho. Já que esses soldados eram mudados com frequência, pode-se dizer que toda a guarda soube a verdade a respeito de Paulo.

De todos os demais. Isto é, não apenas entre a guarda pretoriana, mas entre outras pessoas que entravam em contato com o apóstolo. Dessa forma, embora Paulo estivesse confinado, o testemunho de sua vida cristã se difundia.

Fp.1:14 14. e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.

A maioria dos irmãos. Isto é, a maioria dos cristãos em Roma.

Estimulados. Ou, “tendo confiança”. Aqui está um fato adicional favorável ao evangelho. A maioria dos irmãos estava mais ousada em resultado do confinamento de Paulo. O fato de que um grande campeão da verdade estivesse aprisionado pode tê-los estimulado a fazer mais pela causa pela qual ele sofria. Eles também podem ter sido despertados por alguma corrente de sentimento popular para com o cristianismo, levantada depois que o aprisionamento de Paulo se tornou conhecido. Outros podem ter sido encorajados na fé pelo convívio com o apóstolo. Assim, de um modo ou de outro, a prisão de Paulo provocou uma proclamação mais destemida da Palavra por outros crentes (ver com. de At.25:12).

No Senhor. Estas palavras podem estar ligadas a “irmãos” ou a “estimulados”.

Fp.1:15 15. Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade;

Alguns. Esta palavra introduz outra linha de pensamento. Estes não devem estar incluídos na “maioria” (v. Fp.1:14).

Proclamam a Cristo. Paulo se refere a duas classes que proclamavam o nome do Salvador: (1) os que o faziam por ciúmes de Paulo; e (2) os que proclamavam pelos motivos corretos. Em ambos os casos, Cristo estava sendo pregado. É improvável que a primeira categoria fosse de judaizantes, que não são mencionados assim por Paulo (ver vol. 6, p. 18, 38-41).

Inveja e porfia. Ou, “inveja e rivalidade”. O apóstolo não menciona a causa da rivalidade. Mesmo em Roma devia haver um partido que tinha ciúmes da influência de Paulo; e, supostamente, sua prisão seria uma boa oportunidade para diminuir a influência de Paulo e fortalecer a posição deles. Paulo estava aprisionado, e eles tinham acesso ao povo. Com pretextos aparentemente plausíveis, era fácil insinuar que Paulo tinha alvos ambiciosos e exercia influência inadequada. Os opositores podiam até concordar com Paulo na doutrina, mas procuravam prejudicá-lo com inimizade. Como esses homens professavam pregar a Cristo, era difícil discernir os motivos deles. Se era um grupo de judeus que mantinham as doutrinas essenciais do evangelho, mas que ao mesmo tempo eram implacáveis com Paulo por causa dos gentios, então tal partido poderia tentar pregar a Cristo e ainda nutrir contra o apóstolo os maus sentimentos que ele lhes atribuía.

Boa vontade. Alguns aumentaram a atividade evangelística em consideração ao apóstolo. Esses irmãos tinham estima especial por Paulo devido ao importante papel que ele desempenhava na evangelização do mundo. Possivelmente, aumentaram sua participação porque a atividade de Paulo diminuiu. Tal boa vontade é o espírito que deveria ser comum à irmandade do ministério cristão. Quando um obreiro é posto de lado, outros devem seguir adiante e continuar a obra.

Fp.1:16 16. estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho;

Estes. Na ACF, os v. 16 e 17 estão invertidos. Mas evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a ordem mantida pela ARA, de forma que o pensamento de Paulo da segunda metade do v. Fp.1:15 prossiga ao falar daqueles que pregam Cristo “de boa vontade”.

Estou incumbido. Ou, “estou destinado”, “estou designado”.

Defesa. Do gr. apologia (ver com. do v. Fp.1:7). Paulo se via como um advogado, designado a defender o evangelho de Cristo dos ataques dos inimigos. Quando suas atividades foram restringidas, assistentes leais se empenharam para continuar sua obra a fim de que o evangelho não ficasse sem defensores.

Fp.1:17 17. aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias.

Discórdia. Ou, “insubordinação”, “partidarismo”, “disputas”.

Insinceramente. Ou, “não puramente”, sem motivos ou intenções puras. De fato, eles pregam a Cristo, mas com o propósito de prejudicar Paulo.

Julgando suscitar tribulação. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “pensando causar aflição”. Eles esperavam que a pregação contenciosa aumentasse as provações que surgiram com o aprisionamento de Paulo.

Fp.1:18 18. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.

Todavia. O apóstolo continua a afirmar o único resultado significativo dos modos de proclamar a Cristo.

Que importa? Paulo encara a situação provocada pelos dois tipos de pregação e corajosamente questiona: “O que significa tudo isso”?

Pretexto. Do gr. prophasis, “motivo alegado falsamente”, “pretexto”; originado de prophaino, “demonstrar”, ou de prophemi, “falar”. As duas derivações dão o sentido de uma retidão moral que elimina um motivo oculto, neste caso, a zelosa pregação de Cristo realizada com a intenção de prejudicar Paulo.

Cristo [...] está sendo pregado. Paulo era um otimista. Ele preferia que as pessoas amassem e pregassem a Cristo. Mas, em vez de Cristo não ser pregado, ele preferia que aqueles que não O amavam verdadeiramente mesmo assim proclamassem Seu nome. Um cristianismo pregado imperfeitamente ainda seria progresso sobre o paganismo. E qual o resultado dessa pregação? Cristo seria anunciado, e Sua história, contada. Embora os motivos dos pregadores fossem questionáveis, o resultado poderia ser vitória para o evangelho.

Com isto me regozijo. Paulo revela sua natureza perdoadora. Ele não se aborreceria com os oponentes, mas se regozijava no bem que Deus extraía do mal, muito embora o bem fosse produzido por seus adversários. Para ele, a pregação de Cristo era o mais importante.

Sempre me regozijarei. O regozijo de Paulo não era apenas momentâneo. Ele continuaria a se regozijar nos pregadores opositores assim como se alegraria na pregação daqueles que a faziam de boa vontade.

Fp.1:19 19. Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação,

Isto. As circunstâncias de Paulo e as atitudes dos crentes.

Redundará em libertação. Isto pode ser uma referência ao livramento antecipado de Paulo da prisão ou à redenção final. O apóstolo podia ter as duas experiências em mente, mas o v. Fp.1:20 sugere que sua maior preocupação era a salvação espiritual e não a libertação da prisão. Ele cria que todas as experiências do povo de Deus são divinamente planejadas como uma disciplina para amadurecer o caráter e preparar para a vida eterna (AA, 524). A oposição dos inimigos estimulava Paulo a uma atividade mais intensa e sincera e, assim, promovia seu bem-estar espiritual. A aflição, em si, não tem poder santificador. Pode amargar, endurecer e amortecer a alma. Por outro lado, pode se transformar num instrumento para repreender, intensificar e purificar a experiência espiritual do cristão (ver Hb.12:7-11). A salvação é afetada pelo modo como avaliamos os benefícios potenciais da aflição. Quando se resiste e se luta contra o método de educação e contra o professor, a aflição precisará ser prolongada ou outro sofrimento precisará ser enviado em seu lugar. O cristão deve orar a fim de aprender as lições espirituais rapidamente e progredir no desenvolvimento espiritual.

Vossa súplica. A primeira de duas instrumentalidades que, cooperando com as circunstâncias imediatas de Paulo, auxiliavam em sua salvação. O Espírito de Cristo é a segunda instrumentalidade. O apóstolo atribuiu grande valor às orações intercessoras de seus amigos (ver Rm.15:30-31; 2Co.1:11; Fm.1:22). Neste versículo, ele diz saber que os filipenses já estão orando por ele, assim como ele ora por eles (Fp.1:4). Há determinadas responsabilidades das quais podemos ser desobrigados, mas não da oração intercessora. Os líderes do povo de Deus bem como os membros da igreja precisam das orações uns dos outros, especialmente nos tempos de dificuldade.

Provisão. Do gr. epichoregia, “suportar”, “ajudar”. Paulo estava certo dos resultados salvíficos da atuação do Espírito de Jesus, junto com as orações de amigos.

Espírito de Jesus Cristo. Esta expressão não ocorre em outro texto do NT, embora a forma “Espírito de Cristo” (Rm.8:9; 1Pe.1:11) e “Espírito de Seu Filho” sim (Gl.4:6). As palavras podem se referir à disposição que motivava Jesus, a qual, operando em Paulo, contribuiria para sua salvação. Mas a interpretação aceita em geral é que se trata de uma referência direta ao Espírito Santo (cf. com. de Rm.8:9). As provações de Paulo e as orações dos crentes não serviriam a um propósito útil a menos que o Espírito de Cristo atuasse neles.

Fp.1:20 20. segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.

Ardente expectativa. Do gr. apokaradokia (ver com. de Rm.8:19). O desejo de Paulo era de que nada o levasse a falhar em glorificar a Cristo.

Esperança. Uma atitude interior, complementar à “ardente expectativa” que seria algo revelado mais exteriormente.

Serei envergonhado. Isto é, pelas falhas em sua própria vida ou por ser rejeitado por Cristo (cf. Lc.9:26). Ele não está ansioso quanto a esses fatos, mas, confiante no sucesso, expressa o desejo de que não ocorram.

Ousadia. Do gr. parresia, “discurso ousado”, “coragem”, “confiança”, “destemor”. A prisão não deteve o zelo do apóstolo, que planejava continuar proclamando corajosamente a Cristo e a salvação. Paulo nunca hesitava em proclamar a mensagem (cf. At.4:20) e não desejava que temor ou desânimo interferisse em seu testemunho.

Como sempre. A consciência de Paulo estava limpa. Ele podia olhar para trás e ver uma carreira consistente de testemunho destemido, e olhar adiante para manter a mesma situação no futuro.

Engrandecido. Engrandecer a Deus é celebrar Sua grandeza já existente. O cristão não pode engrandecer a Cristo se a grandeza já pertence a Ele, mas pode engrandecer o Senhor aos olhos dos outros (ver com. de Lc.1:46).

No meu corpo. A forma normal seria “em mim”, mas, já que Paulo corria risco de morte, ele via o corpo como instrumento por meio do qual Cristo seria glorificado.

Quer pela vida, quer pela morte. Se ele permanecesse vivo, Cristo seria glorificado por seu testemunho e atividade. Caso morresse, a glorificação viria por meio de sua morte pelo Mestre. Na vida, os cristãos engrandecem a Cristo por meio da conversão, da santificação, dos labores dedicados à Sua causa, da alegre persistência nas provações e dos resultados que o serviço deles produz. Na morte, o verdadeiro filho de Deus engrandece a Cristo ao se erguer acima do temor com que a maioria das pessoas enfrenta a morte, ao confiar no Senhor para cuidar de seu futuro e ao continuar a testemunhar por meio da influência que sua vida piedosa e morte corajosa exercem nos outros.

Fp.1:21 21. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.

Para mim. Paulo enfatiza sua percepção pessoal, que difere da maioria das pessoas, que egoistamente se prendem à vida e temem a morte.

Viver. O verbo grego está no infinitivo e se refere ao viver diário e contínuo.

Cristo. Isto é, a vida de Paulo era abrangida e demarcada por Jesus. Seu pensamento estava completamente absorto no Salvador. Os planos, as esperanças e aspirações centravam-se em Cristo. Cada pensamento era levado em sujeição a Ele (2Co.10:5). Logo, seus pensamentos não eram egoístas ou terrenos; estavam sob o controle do Mestre (ver com. de Rm.6:11; Rm.14:7-8; 2Co.5:15; Gl.2:20; Fp.3:7-11; Cl.3:3).

Morrer. O tempo verbal grego utilizado neste versículo contrasta o ato contínuo de viver com o momento da morte.

Lucro. Esta afirmação não é compatível com meros sentimentos humanos. A morte sempre envolve perda. Para o santo, envolve a perda dos prazeres puros da vida, de laços fraternais felizes e de meios e oportunidades de trabalhar para Cristo. No entanto, a afirmação de Paulo não é a de um pessimista que diz: “A vida não é digna de ser vivida.” Não é de alguém que está esgotado, que já não pode desfrutar a vida. Nem é de um santo homem que se cansou do trabalho exaustivo e anseia que as provas e perseguições cessem. Paulo não era desagradável, taciturno ou cínico. Ele era um sujeito simpático e participava das atividades próprias da vida cristã. No entanto, esta declaração trata com um tema mais alto que suas perspectivas pessoais. O apóstolo está preocupado em glorificar a Cristo. Se o Senhor achava melhor que ele testemunhasse por meio da vida e do ministério, certamente ele o faria. No entanto, a morte de um justo também pode ser uma afirmação poderosa da eficácia do evangelho da graça.

O contraste entre a morte dele e a de alguém que morre sem esperança seria tão marcante que sua influência seria positiva para o reino de Cristo. Os corações são tocados e abrandados pela confiança de alguém cuja esperança está em Deus, mesmo em face da morte. Uma interpretação adicional também é digna de consideração. O cristão não tem nada valioso para perder diante da morte, mas tem muito a ganhar. Ele perderá tentação, provação, labuta e tristeza, e ganhará, na ressurreição, a imortalidade.

Fp.1:22 22. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher.

Se o viver. A construção deste versículo tem deixado os comentaristas perplexos. Três interpretações possíveis, dependendo das variantes de tradução, merecem consideração: (1) A segunda parte do versículo é uma explicação da primeira, enquanto que a terceira serve como conclusão. É como se Paulo dissesse: “Entretanto, se o viver na carne for frutífero para mim durante toda a dura labuta, então eu não sei dizer qual estado devo escolher, vida ou morte.” (2) A segunda parte do versículo já é a conclusão: “Entretanto, se o viver na carne for meu destino atual, então minha labuta será frutífera, e assim, o que devo escolher não sei dizer.” (3) O “se” é interrogativo e propõe uma pergunta: “Mas, e se meu contínuo viver na carne se provar frutífero? Então não sei dizer o que escolherei.” O versículo deve ser considerado em seu contexto e se relaciona a Cristo sendo glorificado. Paulo está perplexo por não saber se melhor glorificará a Cristo na vida ou na morte. Ele vê que uma continuação da vida tem toda probabilidade de ser frutífera, o que lhe agrada. No entanto, a morte também teria suas compensações. Se o futuro lhe reservaria vida ou morte não o preocupava tanto, desde que beneficiasse os filipenses.

Na carne. Literalmente, “em carne”. Paulo se refere à existência física.

Fruto para o meu trabalho. Isto é, fruto resultante das adversidades.

Já não sei. O texto grego também pode ser traduzido como “não declaro”, no sentido de ser incapaz de dizer.

O que hei de escolher. O cristão, na mesma situação de Paulo, muitas vezes não sabe se escolhe a vida ou a morte. No entanto, Deus, que conhece o fim desde o princípio, conduz os fiéis de modo a fazer a escolha como se pudessem ver as coisas como Ele vê.

Fp.1:23 23. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.

Ora. Ou, “mas”. Paulo explica o dilema em que se encontra.

De um e outro lado. O dilema de Paulo surge de duas possibilidades que o confortam: continuar a viver ou depor a vida.

Estou constrangido. Do gr. sunecho (ver com. de 2Co.5:14), literalmente, “estou unido” ou “estou confinado”. A condição de Paulo pode ser comparada à de um viajante que não pode virar para a direita nem para a esquerda, por causa de restrições.

Tendo o desejo. Literalmente, “tendo o desejo”, isto é, meu desejo é.

De partir. Do gr. analuo, “desatar”, “desfazer”, usado para desancorar um navio ou terminar um acampamento. Podemos pensar em Paulo cortando os laços que o ligavam a este mundo ou levantando o acampamento antes de partir para a vida por vir. Ele emprega linguagem semelhante em 2Tm.4:6, em que a palavra para “partir” é analusis, “uma libertação” ou “desfazer”.

Estar com Cristo. Paulo não está fazendo uma exposição doutrinária do que ocorre na morte. Ele explica o “desejo” de deixar a atual existência atribulada e estar com Cristo, sem referência a um lapso de tempo que pudesse ocorrer entre esses dois eventos. Com toda força de sua natureza, ele ansiava viver com Aquele a quem tinha servido fielmente. Sua esperança estava centrada num companheirismo pessoal com Jesus por toda a vida por vir. Os cristãos de todos os tempos tiveram esse mesmo anseio, sem necessariamente esperar ser de imediato conduzidos à presença do Salvador quando os olhos fecharam na morte. As palavras de Paulo devem ser entendidas à luz de outras declarações relacionadas, em que o apóstolo claramente se refere à morte como um sono (ver com. de 1Co.15:51; 1Ts.4:13-15; ver também com. de Mc.5:39; Jo.11:11). Uma vez que não existe consciência na morte e, portanto, não há percepção do lapso do tempo, a manhã da ressurreição parecerá, aos que se foram, como ocorrendo no momento seguinte à morte.

O que é incomparavelmente melhor. No texto grego, há uma multiplicação de termos comparativos, segundo o modo de Paulo se expressar (cf. Rm.8:37; 2Co.7:13; Ef.3:20). Se a morte deveria prendê-lo, Paulo esperava descansar na sepultura até a segunda vinda do Senhor e, então, ser ressuscitado para receber a imortalidade e estar para sempre com Cristo (1Co.15:51-55; 1Ts.4:13-18).

Fp.1:24 24. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne.

É mais necessário. A antítese de “incomparavelmente melhor” (v. Fp.1:23). Paulo reconhece a necessidade de os filipenses superarem os desejos pessoais. A igreja precisava de sua orientação pessoal e da inspiração de sua vida dedicada. Esta necessidade era o fator decisivo no pensamento do apóstolo.

Na carne. Isto é, preso à vida terrena, carnal.

Fp.1:25 25. E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé,

Convencido disto. Ou seja, convencido da necessidade de presença contínua.

Estou certo. À luz do contexto, isto não poderia ser interpretado em nenhum sentido profético, como se Paulo previsse uma extensão de sua vida pessoal, mas apenas uma expressão de convicção pessoal.

Ficarei. Convencido da necessidade que os filipenses tinham dele, Paulo expressa confiança de que o Senhor permitirá que ele viva e continue a fazer a obra que lhe foi designada. Essa expectativa foi satisfeita. Quando Paulo compareceu diante de Nero, foi declarado inocente e libertado (ver vol. 6, p. 89; AA, 486, 487). Ele trabalhou novamente entre as igrejas por um breve período, possivelmente visitou Filipos. Depois, foi aprisionado mais uma vez e, mais tarde, executado.

Progresso. Esta palavra pode ser ligada a “fé”, e a frase soaria como: “progresso de vossa fé”.

Gozo da fé. Fé progressiva traz alegria.

Fp.1:26 26. a fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo, convosco.

Quanto a mim. Ou, “em mim”. Paulo era o principal representante da igreja e o motivo da alegria deles.

Gloriardes. Do gr. kauchema, “gabar”, “objeto de vanglória”. A palavra denota aquele de quem se gloria, o motivo para gloriar, não o ato de se gloriar.

Em Cristo Jesus. Esta expressão define a razão para o aumento da alegria deles: a ligação dos filipenses com Cristo e não simplesmente a associação deles a Paulo.

Presença. Do gr. parousia (ver com. de Mt.24:3). O apóstolo cria que sua libertação e subsequente visita aos filipenses traria genuína alegria a seus amigos.

Fp.1:27 27. Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica;

Somente (ARC). Neste versículo, tem início a subseção da epístola. Paulo aguardava ansiosamente se reunir com os filipenses, quando os exortaria oralmente. Enquanto isso, ele os aconselhava por escrito.

Vivei. Do gr. politeuo, “ser um cidadão” ou “comportar-se como um cidadão”, palavra originada de polites, “cidadão” (cf. com. de Fp.3:20; politeuo ocorre também em At.23:1). Uma tradução livre de toda a frase seria: “Conduzam-se como cidadãos do reino de Cristo.” Essa linguagem era muito apropriada, pois o próprio Paulo era um cidadão romano e escrevia de Roma. Sua presença ali resultou de ter exercido seus direitos de cidadania ao apelar a César (At.25:11-12). O apóstolo estava escrevendo para uma cidade com muitos cidadãos romanos; a metrópole de Filipos era colônia romana (ver com. de At.16:12), e ali ele se declarou um romano (At.16:37). Dessa forma, a figura de linguagem era natural. Como cidadãos do país celestial, os filipenses deveriam se comportar com dignidade. A prática cristã deve ser coerente com a profissão de fé. Sob a influência do evangelho de Cristo deve ser verdadeira e fiel, pacífica e amorosa, graciosa e humilde. A vida do cristão deve ser reta, esteja um superior humano presente ou ausente.

Ou. O apóstolo não é dogmático em seus planos. Embora tenha expressado seus desejos e intenções (ver v. Fp.1:22; Fp.1:26), ele deixou o caminho aberto para sua presença ou ausência em Filipos, como Deus dirigisse.

Ouça. Onde quer que estivesse, Paulo se esforçava por receber notícias das muitas igrejas que tinha estabelecido. O amor pelos conversos não era uma emoção passageira.

Estais firmes. Do gr. steko, “suster”, “permanecer firme” (ver uso de steko, em 1Co.16:13; Cl.5:1; Fp.4:1; 1Ts.3:8; 2Ts.2:15). Possivelmente, essa era uma metáfora militar e pode ser considerada como seguindo naturalmente o pensamento de cidadania, uma vez que Filipos era uma colônia militar. Como um exército, a igreja deve ter uma conduta inabalável contra os assaltos de todos os inimigos. Deve estar preparada para todo tipo de ataque. Deve estar alerta a movimentos enganosos e falsas instruções. Não deve haver dissensão entre seus membros, ou a posição deles será enfraquecida (ver Ef.6:13; AA, 11).

Em um só espírito. Isto é, com uma única disposição (cf. com. de Mt.26:41; Lc.1:80; Lc.2:40), consequentemente, com unidade de propósito. Essa harmonia, que deve ser buscada com sinceridade, é dom do Espírito Santo (cf. com. de Ef.4:3-4), embora Ele não seja mencionado diretamente. Entretanto, nada indica mais a presença do Espírito Santo entre o povo de Deus do que a unidade de espírito, pensamento e ação. Especialmente nestes últimos dias, deve-se fortalecer a unidade da igreja.

Alma. Do gr. psuche (ver com. de Mt.10:28), referindo-se aqui ao intelecto. A frase “com uma só alma” deveria ser conectada a “lutando”, e não a “estais firmes”.

Lutando juntos. Do gr. sunatheleo, dos radicais sun, “com”, e athleo, “lutar [em jogos públicos]”, do qual se origina a palavra “atleta”. Neste versículo, Paulo encoraja os crentes a disputar ou lutar juntos para fazer a fé avançar, despertada pela pregação do evangelho. O trabalho coeso promoveria a união na comunidade cristã. As advertências de Paulo sugerem que a igreja de Filipos corria risco de divisões, apesar de ainda não haver problemas sérios.

Fp.1:28 28. e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus.

Intimidados. Do gr. pturo, “assustar”, “aterrorizar”. O cristão não se intimida, pois sabe que seu tempo está nas mãos divinas e que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (ver com. de Rm.8:28).

Adversários. Os inimigos do bem são inimigos de Deus. Uma pessoa boa, tendo Deus a seu lado, não precisa temer o número nem a ferocidade dos inimigos.

O que. Isto é, a resoluta coragem do cristão.

Para eles. Os adversários.

Prova evidente. Do gr. endeixis, “manifestação”, “prova”.

Perdição. Do gr. apoleia, “destruição”, termo contrastado com “salvação”, na frase seguinte. Embora os adversários não admitam nem percebam, o fato de a igreja ter coragem evidencia a certeza da destruição futura de seus inimigos. A coragem indica que os cristãos são sustentados por um poder sobrenatural e que os oponentes serão levados a julgamento para prestar contas. O castigo dos ímpios e a consolação dos justos são previstos na relação do cristão com os adversários.

Salvação. A resistência e segurança do cristão diante de oposição ou perseguição mostram a maneira de Deus Se revelar a nós. Essa resistência serve como promessa da plena salvação que Ele provê.

Da parte de Deus. Isto é, a “prova evidente” ou prova da destruição dos adversários e da salvação do fiel por parte de Deus.

Fp.1:29 29. Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele,

Concedida. Do gr. charizomai, “doar prontamente”, “conceder privilégio” (ver com. de Lc.7:21). A fé cristã santifica o sofrimento suportado por amor da justiça (ver com. de Mt.5:10-12). Neste versículo, a submissão de Cristo ao sofrimento é apresentada como um dom que o cristão pode se orgulhar em receber (cf. com. de Fp.3:10; 2Tm.2:11-12; DTN, 225). O sofrimento que tão frequentemente parece ser a sorte do cristão é aproveitado por Deus para aperfeiçoar o caráter e preparar o fiel para a glória futura (ver com. de Rm.8:17).

Padecerdes. Cristãos fiéis, desde os tempos apostólicos, têm sido gratos por sofrer pelo Mestre (At.5:41; 1Pe.3:14; 1Pe.4:12-14). Aqueles que enfrentarão as provações dos últimos dias devem ter o mesmo sistema de valores. Ainda que severas, as provas de Pedro e de seus companheiros eram pequenas se comparadas àquelas do último grande tempo de angústia. Somente alguém plenamente persuadido de que sofrer por amor a Cristo é a mais elevada honra cristã poderá perseverar em tempos quando a fúria de Satanás for liberada.

Por Cristo. Esta frase deveria estar ligada diretamente a “padecerdes”. O cristão não padece por conta própria, mas como representante de seu Mestre. O opróbrio lançado sobre Jesus recai sobre o cristão; no entanto, a glória que pertence a Cristo é compartilhada com o cristão (Rm.8:17).

Crerdes. Ou, “ter fé”; sobre a importância da fé na experiência cristã, ver com. de Rm.4:3; Jo.3:16.

Fp.1:30 30. pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.

Tendes. Este termo deveria estar ligado à expressão “vos foi concedida a graça de padecerdes” (v. Fp.1:29). Os filipenses já estavam compartilhando a oportunidade de padecer por Cristo.

Combate. Do gr. agon, “uma competição”, expressão utilizada para competições atléticas ou entre gladiadores (ver 1Tm.6:12; 2Tm.4:7; Hb.12:1). Aqui se refere a conflitos com o inimigo. Os filipenses estavam enfrentando perseguições semelhantes às que sobrevieram a Paulo. Na época da primeira visita a Filipos, o apóstolo foi açoitado e aprisionado (ver At.16:22-23). O incidente impressionou muito a Paulo, que o mencionou quando escreveu aos tessalonicenses (1Ts.2:2). Os amigos em Filipos certamente também se lembravam de como Paulo sofreu naquela cidade. Além disso, conheciam bem o sofrimento de Paulo em Roma, e Epafrodíto logo os atualizaria sobre isso. O apóstolo mostra que a luta deles era semelhante à que ele suportava com êxito. O que Paulo suportou, na força de Cristo, os filipenses também suportariam.

Fp.2:1 1. Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias,

Se há. Não há divisão de capítulo no pensamento de Paulo, que continua aqui o tema iniciado no cap. 1, particularmente no v. Fp.1:27, em que apela ao senso de cidadania cristã dos conversos. Paulo amplia o tópico e se concentra no desenvolvimento da unidade e da humildade cristã. Dessa forma, ele revela a intensidade de sua preocupação com os filipenses e expõe a altura e a profundidade de sua compreensão da natureza do sacrifício de Cristo, os elevados padrões que ele estimava para seus filhos espirituais, a opinião de colaboradores fiéis e a submersão pessoal e completa nos interesses do evangelho. Este capítulo deve ser estudado cuidadosamente como uma unidade, à luz da análise anterior. Embora a igreja de Filipos desse alegria ao coração do apóstolo (ver com. de Fp.1:3-4), a unidade dela devia estar em perigo. A dissensão parecia introduzida em suas fileiras, e Paulo se preocupou a ponto de gastar grande parte da carta exortando os filipenses a lutar por unidade completa (cf. Fp.1:15-18; Fp.1:27; Fp.2:2-4; Fp.2:14; Fp.3:2; Fp.4:2). A espiritualidade deles pode ser avaliada com base no fato de Paulo não basear o apelo à lealdade pessoal a ele como pai espiritual, mas ao amor dos filipenses por Cristo como redentor. O uso da conjunção condicional “se”, duas vezes, neste versículo, não indica dúvida quanto à veracidade das proposições de Paulo. A construção grega demonstra que Paulo supõe que sejam verdadeiras as coisas que menciona.

Exortação. Do gr. paraklesis, “encorajamento”, “conforto” (ver com. de At.9:31; Rm.12:8; Rm.15:4). A tradução “encorajamento” parece se adaptar melhor ao contexto.

Em Cristo. A base do apelo do apóstolo era a experiência dos filipenses em Cristo, estímulo que resulta de um estudo e imitação de Seu modelo de vida (cf. 1Co.12:12; 1Co.12:27; Ef.4:15-16).

Consolação. Do gr. paramuthion, sinônimo de paraklesis, “exortação”.

De amor. Paulo talvez quisesse dizer: “se o seu amor por Cristo possui algum poder encorajador sobre sua mente”.

Comunhão. Do gr. koinonia (ver com. de Fp.1:5), neste versículo, “parceria”.

Do Espírito. Estas palavras estão em paralelo com a “exortação em Cristo” e apelam à costumeira submissão dos filipenses ao controle do Espírito Santo.

Entranhados. Do gr. splagchna (ver com. de Fp.1:8).

Misericórdias. Do gr. oiktirmoi, “compaixão”. Ao utilizar o plural, Paulo pode estar chamando a atenção a atos individuais de compaixão que provam a presença de afeição genuína.

Fp.2:2 2. completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.

Completai a minha alegria. O apóstolo já estava alegre (Fp.1:4), esperando apenas que a alegria chegasse a ser plena (cf. Jo.3:29; Jo.15:11; Jo.17:13). Os filipenses deveriam agir de acordo com a expectativa de Paulo, atendendo a seu apelo e perseverando nas virtudes para as quais ele os exortava.

Penseis a mesma coisa. Ou, “ser da mesma opinião” (cf. com. de Fp.1:7). O tipo de concordância que ele está ordenando é definido nas duas frases seguintes.

Mesmo amor. Amor mútuo produz reciprocidade de pensamento e ação unida (cf. Jo.13:35; Cl.1:4; 1Ts.3:12; 2Ts.1:3).

Unidos. Do gr. sumpsuchoi, “harmonioso”, “pacífico”, “unido”, derivado dos radicais sun, “com”, “junto a”, e psuche, “alma”.

Mesmo sentimento. Literalmente, “pensando uma única coisa”. Paulo afirma a necessidade de os crentes demonstrarem que aqueles que estão em harmonia com Deus vivem em harmonia uns com os outros. Poucas coisas contradizem mais a fé do que a incapacidade dos cristãos de viver e trabalhar em harmonia uns com os outros. Quando aceitamos a Cristo, nos tornamos membros de Seu corpo. Para funcionar bem, o corpo precisa de completa unidade (cf. com. de 1Co.12:12-27). A obra de Deus prosperará se o povo de Deus viver e trabalhar em unidade (ver TM, 489; T1, 113, 114; T8, 183, 239-243).

Fp.2:3 3. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.

Partidarismo. Do gr. eritheia, “egoísmo”, “ambição egoísta”, “oposição”.

Vanglória. Do gr. kenodoxia, “orgulho vazio”, “falsa autoestima”, “convencimento”, do radical kenos, “vazio”, e doxa, “opinião”. Nenhum bem permanente será realizado pelo trabalho de uma pessoa como o descrito neste versículo por Paulo. Não se deve fazer planos nem estabelecer alvos que sejam instigados por ambição egoísta ou pelo desejo de sobrepujar os outros. Nada, nem mesmo por um fim que seja bom em si mesmo, é agradável a Deus se instigado por esses motivos.

Humildade. Do gr. tapeinophrosune, “modéstia”, dos radicais tapeinos, “humilde”, “manso”, e phroneo, “pensar”; portanto, indica ter uma opinião humilde sobre si. A palavra tapeinophrosune é utilizada num sentido depreciativo por escritores seculares. Paulo a emprega em relação à humildade erroneamente direcionada (Cl.2:18; Cl.2:23). No entanto, a palavra também assume o sentido especial cristão de “humildade” de mente (At.20:19; Ef.4:2; Cl.3:12). O cristianismo tem dado à humildade um novo conceito, como uma das características de caráter mais atrativas. Quem é verdadeiramente humilde não está ciente de sua humildade, mas estima a si mesmo de forma correta em sua relação a Deus e ao plano da salvação.

Considerando. Do gr. hegeomai, “julgar”, indicando ponderação dos fatos.

Superiores. Literalmente, “estar acima”, “sobressair” (ver com. de Rm.12:10). A humildade se volta para a excelência do outro e o julga a partir desse ponto de vista. A pessoa humilde é consciente dos próprios defeitos, mas não tem a mesma visão acerca dos erros dos outros. É natural que a pessoa cônscia de suas falhas não deseje encontrá-las nos outros. Ela também espera que tenham o mais puro coração. Isso a leva a pensar que os outros merecem mais respeito do que ela mesma. A pessoa piedosa é humilde e deseja que outros sejam preferidos em posição e honra. Isso não a torna cega aos defeitos alheios quando estes se manifestam, mas a faz modesta e discreta mesmo diante desse fato. Esse padrão cristão reprova o amor excessivo a posição e cargos e desperta contentamento em qualquer lugar ou função em que a providência de Deus determine estar (cf. com. de Fp.4:11-12).

Fp.2:4 4. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.

Vista. Do gr. skopeo, “observar atentamente” (ver com. de Rm.16:17).

Propriamente seu. Paulo encoraja os cristãos para que não sejam egoístas nem permitam que a atenção deles seja absorvida com preocupações pessoais. Ele ordena os filipenses a demonstrar zelo pela felicidade de todo o grupo e a ser altruístas em prol do bem-estar dos outros. Ninguém tem liberdade para viver apenas para si, ignorando as necessidades dos outros.

Também. Paulo esperava que os cristãos dessem a devida atenção às questões pessoais e também às necessidades dos outros.

O que é dos outros. Isto não recomenda interferência imprópria nas questões alheias (ver 2Ts.3:11; 1Tm.5:13; 1Pe.4:15). No entanto, o bem-estar dos outros não deve ser ignorado. O conselho de Paulo deveria remover o individualismo e despertar o interesse pela felicidade dos irmãos. Os cristãos têm responsabilidade particular em relação ao bem-estar espiritual alheio. Tentar conduzir ao Salvador uma pessoa espiritualmente cega não é maior intrometimento do que alertar alguém em noite escura sobre um perigoso precipício à frente ou acordar um vizinho para dizer que sua casa está em chamas. Se a pessoa não está ciente do retorno do Senhor, não é interferência imprópria contar-lhe da brevidade desse evento. É do interesse da pessoa e é dever do amigo ensiná-la ou lembrá-la dessas coisas. O mundo depende da igreja para informá-lo acerca da vida por vir, e todo aquele que ama a Cristo ama o próximo a ponto de esclarecer-lhe sobre a necessidade de preparo para o breve retorno de Cristo.

Fp.2:5 5. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

Tende em vós o mesmo sentimento. Literalmente, “tende o mesmo pensamento”, ou “tende esta mente”. Nos v. Fp.2:1-4, o apóstolo apresentou a necessidade de unidade e humildade; aqui ele salienta a completa provisão para a necessidade. A expressão original “em vós” tem o sentido de “entre vós”.

Cristo Jesus. Ver com. de Mt.1:1. A ordem comum dos nomes é “Jesus Cristo”, no entanto, geralmente Paulo utiliza esta ordem, especialmente nesta epístola (Fp.3:3; Fp.3:8; Fp.3:12; Fp.3:14; Fp.4:7; Fp.4:19; Fp.4:21). É provável que ele deseje enfatizar o elemento divino (Cristo) em relação ao humano (Jesus), na natureza divino-humana do Salvador. Para ele, toda vida espiritual está centrada em Cristo; e, quando desejou recomendar aos filipenses lições de unidade e humildade, não encontrou melhor argumento do que apresentar, em esboço, a trajetória do Mestre como exemplo supremo das virtudes que tem em mente. No sublime relato que segue (Fp.2:6-8), Paulo não lida com teologia, no sentido acadêmico. Ele utiliza a compreensão inspirada que tem da obra redentora de Cristo a fim de ilustrar seu ensino e estimular os conversos a imitar o Salvador. Cristo deixou um estado de glória indescritível, tomou sobre Si a mais humilde forma, a humanidade, e realizou o menor dos ofícios, para que os seres humanos pudessem ser salvos. Os cristãos devem moldar a vida de acordo com esse grande exemplo.

Fp.2:6 6. pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;

Subsistindo. Do gr. huparcho, que geralmente tem o sentido de “ser” (Lc.9:48; Lc.16:14; Rm.4:19; 1Co.7:26). Originalmente, a palavra huparcho significava “começar” ou “dar início”; no entanto, mais tarde tomou o significado especial de “estar em existência”, sem necessariamente demandar um início (cf. At.16:20; At.17:28; Gl.2:14; ver vol. 5, p. 988- 990, 1013).

Forma. Do gr. morphe, que indica aqui todas as características e os atributos essenciais de Deus. Nesse sentido, o termo morphe se refere ao modo pelo qual as qualidades eternas e as características de Deus se manifestaram. Independentemente da forma que essa manifestação assumiu, foi por meio de Cristo, que já existia como Deus. Esta situação coloca Cristo em igualdade com o Pai e muito acima de qualquer outro poder. A ênfase de Paulo tem o objetivo de retratar vividamente a profundidade da humilhação voluntária de Cristo.

Julgou. Do gr. hegeomai; ver com. do v. Fp.2:3. O apóstolo falou do estado de Cristo: igualdade com Deus. Então, ele se volta para os pensamentos de Cristo a fim de dar uma compreensão de Sua mente e, assim, capacitar os filipenses a imitá-la. O raciocínio de Paulo é coeso. Em uma sentença, ele mostra que a mente de Cristo, consciente da igualdade com Deus, decidiu renunciar à glória associada àquele exaltado estado para realizar o propósito compassivo de salvar a humanidade perdida.

Usurpação. Do gr. harpagmos, “pilhagem”, “roubo”, “algo para ser agarrado”, “algo para ser segurado”, “um prêmio”. O termo se origina no radical harpazo, “agarrar”, “reivindicar ansiosamente para si” ou “afastar”. O contexto favorece a tradução “algo para ser agarrado”.

Ser igual. Isto é, continuar a existir em igualdade com Deus. A frase estabelece a posição de Cristo em relação a Deus. O Filho é colocado lado a lado com o Pai (ver vol. 5, p. 988-990, 1013; ver com. de Cl.2:9). No entanto, Paulo declara esta posição apenas para mostrar a disposição de Cristo em renunciá-la em favor da salvação dos seres humanos.

Fp.2:7 7. antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,

A Si mesmo Se esvaziou. Este esvaziamento foi voluntário (ver com. de Jo.10:17-18). Não era possível a Cristo manter todas as características da Divindade e ainda efetuar a encarnação. Paulo detalha este esvaziamento nos v. 7 e 8 (ver vol. 5, p. 1014).

Assumindo. Literalmente, “tomando” ou “tendo tomado”. A construção grega mostra que as frases seguintes definem a expressão “Se esvaziou”.

Forma de servo. Paulo contrasta a “forma de Deus” com a “forma de servo” e enfatiza a diferença entre os dois estados. A mesma palavra (morphe) é utilizada para “forma”, aqui e no v. Fp.2:6, para “forma de Deus”. A palavra para “servo” (doulos) normalmente é utilizada para “escravo” (ver com. de Rm.1:1). Assim, o apóstolo afirma que Cristo Se esvaziou e tomou os atributos básicos de um escravo. Uma característica externa do escravo é prestar obediência inquestionável. Como ser humano, o Filho decidiu obedecer ao Pai (cf. com. de Hb.5:8). Não se apegou à soberania divina, mas ao serviço, que se tornou a atitude predominante de Sua vida (Mt.20:28). Toda a vida de Cristo foi subordinada à vontade do Pai, assim como a nossa vida deve ser. A vida de Cristo se tornou o simples cumprimento da vontade de Deus (MDC, 14, 15; DTN, 208). Está além da compreensão humana como tudo isso pôde ser realizado; faz parte do grande “mistério da piedade” (ver 1Tm.3:16). No entanto, vê-se claramente quão pequeno é qualquer sacrifício humano comparado ao sacrifício do Mestre. Permaneceremos firmes em nossa frágil reputação, inferiores a Cristo como somos, e acharemos difícil ou impossível render nosso querer à vontade de Deus? Quando compartilhamos o verdadeiro espírito de Cristo, quando Ele habita em nós e vivemos a vida do Filho de Deus, o objetivo da admoestação de Paulo se cumpre em nós. Seremos, então, como Cristo.

Tornando-Se. Em contraste com “ser” ou existir na forma de Deus (v. Fp.2:6).

Semelhança. “Convinha que, em todas as coisas, Se tornasse semelhante aos irmãos” (Hb.2:17). Ele era plenamente humano e também divino. Quando as pessoas olham para o Filho encarnado, veem Aquele que é semelhante a elas (ver vol. 5, p. 993-995, 1012-1015). A crença na divindade de Cristo não deve enfraquecer, assim como a crença em Sua plena humanidade. Se Cristo não fosse plenamente homem, caso Sua divindade no mínimo grau alterasse Sua humanidade, então Ele deixaria de ser exemplo e substituto.

Homens. Talvez a forma plural seja utilizada para enfatizar que Jesus deveria representar toda a raça humana e não apenas um indivíduo.

Reconhecido. Isto é, as pessoas O perceberam na forma humana.

Figura. Do gr. schema, que enfatiza o modo exterior ou forma. Em toda a aparência externa, Cristo era um homem e assim foi considerado por aqueles com quem conviveu (cf. Is.53:2-3; Mt.13:55).

Humana. Outra frase cuidadosa para indicar que Jesus de Nazaré era mais do que aparentava ser. Ele parecia ser humano e tinha forma humana, mas era mais que humano: era o Deus-homem.

Fp.2:8 8. a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Humilhou. Do gr. tapeinoo, “degradar”, relacionada ao termo tapeinophrosune (ver com. do v. Fp.2:3). Isto não é o mesmo que “Se esvaziou” (v. Fp.2:7), mas é parte do esvaziamento e mostra uma das formas em que o autoesvaziamento se manifestou. A última forma desta humilhação voluntária está revelada no restante do versículo.

Tomando-Se. Isto indica que o ato supremo da humilhação pessoal consistia na submissão voluntária de Cristo à morte.

Obediente. Isto é, a Deus (ver com. de Rm.5:18-19; Hb.5:8).

Até a morte. A obediência de Jesus foi prestada a ponto de entregar a vida. Na verdade, já era humilhação para Deus tornar-se homem; e então, sendo homem, sofrer a vergonhosa morte de cruz. Como Isaque se submeteu de boa vontade a seu pai, quando soube que era a vítima a ser deposta sobre o altar, assim Cristo, que poderia ter voltado atrás na cruz, voluntariamente Se submeteu a morrer pelos seres humanos pecadores. A obediência de Cristo era da mesma natureza que a nossa deve ser. Foi na condição da “carne” (Rm.8:3) que Cristo obedeceu. Ele foi homem, sujeito aos mesmos desejos que nós. Foi tentado por Satanás, mas venceu o demônio pelo poder do Espírito Santo, do mesmo modo como devemos fazer. Jesus não exerceu em Seu próprio favor nenhum poder que nós não possamos empregar (ver com. de Hb.4:15; ver DTN, 119, 729, 734).

Morte de cruz. A ênfase não está apenas no fato de que Cristo morreu, mas no tipo de morte. Foi uma morte que envolveu vergonha e sofrimento intensos. A crucifixão era reservada a escravos, a não romanos e aos criminosos mais vis. Era uma morte sobre a qual a lei de Moisés pronunciava uma maldição (Dt.21:23; Gl.3:13), e até os gentios a consideravam o mais ofensivo e cruel de todos os castigos. A mensagem do Cristo crucificado era um escândalo para os judeus e loucura para os gregos (1Co.1:23). A mente de Paulo pode ter sido atraída pelo contraste entre sua posição pessoal e a de Jesus. O apóstolo estava aprisionado, no entanto, legalmente não podia sofrer a degradação de morrer numa cruz porque um cidadão romano não podia ser torturado (ver Cícero, Against Verres, i.5.13). Como cidadãos de uma colônia romana, os filipenses também não podiam ser crucificados. A cruz, o ponto mais baixo na auto-humilhação de Cristo, produziria profundo efeito sobre os leitores de Paulo e os impressionaria com a força do exemplo que o Salvador lhes deixara. Paulo sabia que se aqueles a quem escrevia compreendessem o sacrifício expiatório feito por eles, não haveria lugar para o egoísmo (cf. AA, 332, 333).

Fp.2:9 9. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome,

Pelo que. Ou, “sobre qualquer consideração”, “em consequência de”. Não que Cristo tenha recebido recompensa por Sua humilhação, mas que, no plano divino, a exaltação segue naturalmente a humilhação (Mt.23:12; Lc.14:11; Lc.18:14). A experiência de Cristo demonstra a veracidade de Suas palavras.

Também Deus. Para estimular a humildade em seus leitores, Paulo se concentrou no papel de Cristo na redenção. Aqui, o apóstolo introduz o Pai na imagem.

Exaltou sobremaneira. Do gr. huperupsoo, “exaltar a mais alta posição e poder”, “elevar à majestade suprema”; dos radicais huper, “sobre”, “acima” ou “além”, e hupsoo, “erguer nas alturas” ou “exaltar”. Devido ao esvaziamento pessoal de Cristo (v. Fp.2:7), Deus pôde erguê-Lo a uma posição ainda mais gloriosa do que a que Ele desfrutava antes da encarnação. O Filho era glorioso antes, mas a humilhação voluntária foi acrescentada à glória que Ele tinha com o Pai antes que o mundo existisse (Jo.17:5). Como Deus-homem, Ele viveu vida perfeita, venceu o adversário e obteve a salvação para a humanidade. Esses triunfos somam inestimável peso de glória eterna ao Filho de Deus. Paulo utiliza um tempo verbal no passado para indicar que a exaltação já tinha ocorrido. No mais pleno sentido, ocorreu na ascensão, quando o Salvador retornou às cortes celestiais e recebeu a devida adoração (cf. DTN, 834; ver vol. 5, p. 1015).

Deu. Do gr. charizomai (ver com. de Fp.1:29). O Pai, como governador supremo, tem o direito de conferir honra ao Filho que tão fielmente cumpriu o planejamento feito em conjunto pela Divindade.

O nome. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante. As opiniões se dividem quanto à identidade deste “nome”. Alguns defendem que se refere a “dignidade” ou “glória” e não a um título específico, apoiando a opinião em referências do AT para se louvar o nome de Deus (SI.29:2; Sl.34:3; Sl.54:6). Outros creem que Paulo utiliza “o nome” no sentido hebraico como se referindo ao inefável nome que os judeus reverentemente não pronunciavam, Yahweh (ver vol. 1, p. 148-151), conhecido na LXX e no NT como Kurios, “Senhor”, e introduzido por Paulo em Fp.2:11. Outros tomam o nome como sendo “Jesus”, baseados no v. Fp.2:10, crendo que esse amado nome (ver com. de Mt.1:1) ganhou honra e significado desconhecidos antes da ascensão. Ainda outra interpretação vê em “o nome” uma referência à combinação divino-humana expressada por “Jesus Cristo” e utilizada pelo apóstolo (Fp.2:11; ver com de Mt.1:1). É impossível dogmatizar sobre a identificação do nome.

Acima de todo nome. Ver com. de At.4:12; Ef.1:21; Hb.1:3-4. A Cristo não se pode conferir maior título ou posição. Ele é reconhecido como Senhor de todos (cf. Ap.17:14; Ap.19:16).

Fp.2:10 10. para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,

Ao nome. Ou, “no nome” (cf. com. de At.3:16).

De Jesus. Talvez se referindo ao nome introduzido no v. Fp.2:9.

Todo joelho. Neste versículo, Paulo utiliza ideias de Is.45:23, aplicando-as à última adoração universal ao Salvador (cf. com. de Rm.14:11). Estas palavras ainda não se cumpriram, mas é uma segurança de que virá o tempo quando toda criatura reconhecerá a supremacia de Cristo (cf. Ap.5:11-14). Isto ocorrerá apenas quando o grande conflito terminar e todos, incluindo Satanás e seus seguidores, se ajoelharem aos pés de Jesus e admitirem que os caminhos de Deus são justos (GC, 666-670).

Nos céus. Ou, “de pessoas celestiais”.

Na terra. Ou, “pessoas terrestres”. Esta frase e a anterior (“nos céus”) podem se referir a todas as coisas criadas ou a todos os seres inteligentes nas esferas mencionadas. A abordagem de Paulo acerca da criação (Rm.8:19-22) é apresentada em favor do primeiro ponto de vista. Também são mencionadas passagens do AT em que toda a natureza é representada como louvando a Deus (SI.65:13; Sl.148). A favor do segundo ponto de vista está o uso que Paulo faz das palavras “joelho” e “língua” (Fp.2:10-11) que, ao menos tomado figuradamente, referem-se a seres animados (ver com. de Ap.5:13).

Debaixo da terra. Os conjuntos “no céu”, “na terra” e “debaixo da terra” estão baseados num idiomatismo hebraico que denota toda a criação (ver com. de Ex.20:4). “Debaixo da terra” pode se referir ao reino figurado dos mortos (ver com. de Is.14:9-10; Is.14:15-16).

Fp.2:11 11. e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

Confesse. Do gr. exomologeo, “professar abertamente” (Ap.3:5), “confessar de coração” (Mt.3:6) ou “agradecer” (Mt.11:25). O primeiro sentido parece mais aplicável. No entanto, os demais sentidos também estão envolvidos na confissão final da soberania de Cristo.

Jesus Cristo é Senhor. Novamente o apóstolo utiliza o nome duplo que abrange a natureza humana e divina do Redentor e declara que Ele, que deixou o Céu para tomar sobre Si a forma de servo, será finalmente declarado Senhor (sobre Jesus Cristo como Senhor, ver com. de At.2:36; Rm.10:9; 1Co.8:6; 1Co.12:3). Uma clara compreensão do senhorio de Cristo pode elevar o grau de confiança do cristão.

Para glória de Deus Pai. Esta frase está ligada à expressão “toda língua confessará” (v. 11), isto é, a confissão universal que Jesus Cristo é Senhor traz glória a Deus. No entanto, pode-se ver nestas palavras uma referência à devoção de toda a vida do Salvador. Ele viveu para a glória de Deus, para que toda a criação dê ao Pai a glória devida ao Seu nome (ver com. de Jo.12:28; Jo.13:31; Jo.17:1; 1Co.15:24; 1Co.15:28). Seus seguidores deveriam viver para a mesma finalidade. Este versículo leva ao clímax da breve apresentação dos princípios relacionados à humildade e exaltação. Na primeira parte (v. Fp.2:1-4), ele adverte que não deve haver exaltação própria ou briga entre os filipenses. Assim (v. Fp.2:5-8), Cristo é estabelecido como modelo de humildade. Na última parte (v. Fp.2:9-11), demonstra que o humilde Jesus foi exaltado à maior glória que tinha deixado de lado na encarnação. O apóstolo espera que seus leitores aprendam que Deus pode exaltar apenas quem humildemente O têm servido aqui na terra. Já que o servo não é maior do que seu Senhor (Jo.13:16), nosso serviço deve ser empreendido num espírito semelhante ao de Cristo.

Fp.2:12 12. Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;

Assim, pois. Os v. 12 a 16 estão intimamente ligados aos anteriores (v. Fp.2:5-11). O apóstolo extrai outras lições do exemplo de Cristo, além da humildade.

Amados meus. Esta linguagem carinhosa não é exagero da parte de Paulo. O amor genuíno pelos conversos é refletido em todas as suas epístolas (cf. Rm.12:19; 1Co.4:14).

Obedecestes. Isto provê o ponto de ligação com os v. Fp.2:5-11. Uma das manifestações da humildade de Cristo foi a obediência (v. Fp.2:8). Os filipenses tinham sido obedientes. No entanto, Paulo desejava que eles absorvessem ainda mais do espírito do Mestre, e esperava que o exemplo de Cristo os encorajasse a uma obediência ainda mais fiel.

Não só na minha presença. De acordo com o grego, esta frase se refere não apenas a “obedecestes”, mas também a “desenvolvei”. O apóstolo deseja que os crentes sejam espiritualmente diligentes não só quando sua presença pessoal os inspira, mas com mais diligência quando ele está ausente.

Desenvolvei. Do gr. katergazomai, usado aqui no sentido de “conduzir a uma conclusão” (ver com. de Rm.5:3). Isso não endossa a ideia de salvação pelas obras. Somos salvos pela graça, por meio da fé (ver com. de Rm.3:20-22; Rm.3:24; Rm.3:28; Ef.2:8). No entanto, a graça conduz a boas obras (ver com. de Rm.6:11-16). Desta forma, as obras são a consumação da graça que efetua nossa salvação (Rm.6:18; 2Co.6:1). Muitos são atraídos ao cristianismo, mas não estão dispostos a preencher as condições pelas quais a recompensa do cristão pode ser alcançada. Se pudessem obter a salvação sem esforço, estariam mais que felizes em receber tudo o que o Senhor poderia lhes dar. No entanto, as Escrituras ensinam que cada pessoa deve cooperar com a vontade e o poder de Deus. Devemos nos esforçar para entrar (Lc.13:24), nos despir do velho homem (Cl.3:9), nos desembaraçar de todo peso, “correr com perseverança” (Hb.12:1), resistir ao diabo (Tg.4:7) e “perseverar até o fim” (Mt.24:13). A salvação não é pelas obras, mas deve ser desenvolvida. Ela decorre apenas da mediação de Cristo, mas é vivida por cooperação pessoal. Por mais que reconheçamos nossa profunda dependência dos méritos, da obra e do poder de Cristo, também devemos estar cientes de nossa obrigação pessoal de viver diariamente, pela graça de Deus, uma vida coerente com os princípios divinos (ver AA, 482; ver com. de Rm.3:31).

Vossa salvação. Paulo não estava presente para auxiliar os filipenses; eles tiveram de cuidar das próprias necessidades espirituais. A salvação é questão individual. Nenhum amigo humano, nenhum pastor, nem mesmo um apóstolo pode desenvolvê-la por outro. “Embora Noé, Daniel e Jó, estivessem no meio dela [na terra], [...] não salvariam nem a seu filho nem a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida” (Ez.14:20).

Temor e tremor. Ver 1Co.2:3; 2Co.7:15; Ef.6:5. Paulo não defende um temor servil, mas uma autodesconfiança saudável. O cristão deve temer que sua vontade não esteja continuamente submetida a Cristo ou que os traços carnais de caráter controlem a vida. Ele deve temer confiar em sua própria força, soltar a mão de Cristo ou tentar trilhar o caminho sozinho (PJ, 161). Tal temor conduz à vigilância contra a tentação (1Pe.1:17; 1Pe.5:8), à humildade (Rm.11:20) e ao cuidado para não cair (1Co.10:12).

Fp.2:13 13. porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.

Deus. O apóstolo se protege contra a má compreensão, ao explicar que Deus é soberano na obra da salvação.

É quem. Toda a frase se traduz literalmente como: “Deus é quem está trabalhando” ou “energizando”, com a ênfase colocada em “Deus”.

Efetua. Do gr. energeo, “produzir poder”, indicando que a operação é eficaz. Não é a mesma palavra utilizada para “desenvolver” (katergazomai, v. Fp.2:12; ver com. ali). A palavra portuguesa “energia” é originada de energeo, termo frequentemente aplicado à obra de Deus na vida cristã (1Co.12:6; 1Co.12:11; Gl.2:8; Ef.1:11; Ef.1:20). Neste versículo, o apóstolo enfatiza que o poder para a salvação vem de Deus, e que este poder opera em nós para alcançar o propósito divino.

Tanto o querer como o realizar. Deus provê tanto o estímulo para a determinação inicial na aceitação da salvação quanto o poder para efetivar a decisão. Isso não significa que somos entidades completamente passivas, sujeitas apenas à ação de Deus, mas que Ele provê o estímulo que desperta em nós o desejo de ser salvos, nos capacita a tomar a decisão de alcançar a salvação e nos supre com a energia para efetivar a decisão para que a salvação seja realizada em nossa vida. Assim, a redenção é figurada como uma obra cooperativa entre Deus e o ser humano, em que Deus fornece todos os poderes necessários ao ser humano.

Sua boa vontade. Do gr. eudokia; ver com. de Rm.10:1. Deus anseia pela salvação do ser humano e tem feito tudo o que pode e deve para possibilitar isso. A “boa vontade” de Deus é que as pessoas sejam salvas. Ninguém deseja mais a nossa redenção do que o Pai.

Fp.2:14 14. Fazei tudo sem murmurações nem contendas,

Fazei tudo. Paulo aplica seu ensino aos aspectos práticos da vida. Em vista do desejo de Deus pela salvação, os filipenses podem caminhar rumo ao desenvolvimento da salvação deles num espírito alegre e confiante, sabendo que Deus proverá a força necessária.

Murmurações. Do gr. goggusmoi, palavra que imita os ruídos produzidos por um resmungão (ver com. de At.6:1). Esta palavra é utilizada na LXX para as reclamações de Israel no deserto. O apóstolo parecia ter em mente os israelitas porque, no v. Fp.2:15, ele cita Moisés (ver com. de Dt.32:5). O verbo gogguzo, “murmurar”, é comum no NT (Mt.20:11; Lc.5:30; Jo.6:41; Jo.6:43; Jo.6:61).

Contendas. Do gr. dialogismoi; ver com. de Rm.1:21. A murmuração conduz à discussão. Os filipenses foram encorajados a não reclamar contra o modo como Deus os conduzia e a não questionar os métodos divinos. Deus estava operando a salvação deles. A obediência deve ser alegre e voluntária, ou não será aceitável. O espírito paciente e resignado de Cristo em meio a perseguição ou em resposta às ordens superiores mostra a disposição de se submeter à mais elevada disciplina que viesse do Senhor.

Fp.2:15 15. para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,

Para que vos torneis. Ou, “que possa se tornar”, isto é, eles se tornariam irrepreensíveis no processo de desenvolver a salvação pessoal sem murmúrios e contendas.

Irrepreensíveis. Isto é, livres de censura da parte de Deus e dos seres humanos.

Sinceros. Do gr. akeraioi; ver com. de Rm.16:19. A palavra descreve a condição interior do coração do cristão, complementando “irrepreensíveis”, que se refere ao julgamento que o cristão faz dos outros.

Filhos. Do gr. tekna, “filhos”, contrastando com huioi, palavra comum para “filhos” (ver com. de Rm.8:14). Há uma alusão a Dt.32:5, em que Moisés se refere aos filhos de Israel como sendo “geração perversa e deformada”.

Inculpáveis. Do gr. amemtoi, “irrepreensíveis”. Paulo deseja que seus conversos possuam reputação irrepreensível, sabendo que a reputação de Deus no mundo depende parcialmente da reputação de Seus filhos.

Geração. Do gr. genea, indicando a soma total de pessoas que vivem numa mesma época (cf. com. de Mt.23:36).

Pervertida e corrupta. Ver com. de Mt.17:37; At.2:40.

Luzeiros. Do gr. phosteres, “luminares”, palavra utilizada na LXX para os corpos celestes (Gn.1:14; Gn.1:16). Muito embora o crescimento dos cristãos filipenses não estivesse completo, a vida deles deveria iluminar o escuro mundo em que viviam (ver com. de Mt.5:14). As palavras de Paulo são apropriadas para a última geração, que viverá num tempo quando a escuridão será intensa (PJ, 414). Os filhos de Deus devem se levantar e brilhar (ver com. de Is.60:1-2).

Fp.2:16 16. preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.

Preservando. São possíveis duas interpretações deste verbo. A primeira toma a expressão “preservando” como extensão do versículo anterior e vê a figura da igreja em manter a palavra da vida como se segura uma tocha para iluminar a escuridão. Quando demonstra o que a Palavra tem realizado em sua vida, o cristão a expõe com clareza e simplicidade como o caminho de vida e de luz. Cristo é a vida (ver Jo.1:4; Jo.6:48; Jo.14:6) e a luz (ver Jo.8:12; Jo.9:5; Jo.12:46), bem como a fonte de ambas. Seus seguidores também são luzes, mas luzes derivadas (ver com. de Mt.5:14). A essência do evangelho é a luz (Ef.5:8). Como o pensamento é expresso em palavras, assim a luz é expressa na vida. O cristão pode levar a palavra de vida ao não cristão, mas não pode obrigá-lo a aceitá-la. Cada um deve aceitá-la por si mesmo. Não se pode incorporar a palavra por outra pessoa, assim como não se pode alimentar e se fortalecer por outra pessoa. Não importa quem apresenta a mensagem da vida, ela é o poder de Deus ministrado por meio da palavra que transforma. O verbo grego traduzido como “preservando” também pode ter o sentido de “agarrando”, o que igualmente é adequado neste versículo. A igreja brilhará apenas enquanto se agarrar à palavra que vivifica.

Palavra da vida. Esta expressão só ocorre aqui, nos escritos de Paulo (no entanto, ver com. de Jo.6:68; At.5:20; 1Jo.1:1). A palavra da vida é a mensagem do evangelho. Conhecer o Pai e o Filho é o caminho da vida eterna (Jo.17:3). Primeiro, conhecemos a Deus por meio da Palavra (Rm.10:13-17; Jo.6:63) e, dessa forma, temos acesso á vida que advém somente dEle. Vida espiritual existe e é mantida pelo poder da Palavra. Os cristãos devem viver “de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4; DTN, 390, 391).

Para que [...] eu me glorie. Do gr. eis kauchema emoi, literalmente, “para um motivo de glória para mim” (sobre o termo kauchema, ver com. de Fp.1:26). Paulo desejava ter motivos para se alegrar na vida consistente de seus amigos filipenses (cf. com. de 1Ts.2:19-20).

Dia de Cristo. A frase é peculiar a esta epístola. A expressão comum é “dia do Senhor” (ver com. de Fp.1:6). Paulo era ciente de que o grande objetivo da vida cristã será alcançado no dia do retorno de Cristo a este mundo. Ele sabia que qualquer alegria ou glória presente poderia, por causa da fragilidade humana, mostrar-se falsa naquele dia. Se ele pudesse se gloriar nos resultados de seus labores no dia de Cristo, ele sabia que sua glória seria permanente. Paulo reconhecia aquele dia como o dia quando toda obra humana será julgada (ver 1Co.3:12-13; 1Co.4:3-5; 2Co.1:14).

Não corrí em vão. A expressão recorda os estádios e ilustra os infatigáveis esforços de Paulo nas atividades evangelísticas (cf. 1Co.9:24; Hb.12:1). “Em vão” significa “sem resultado” (cf. 2Co.6:1; Gl.2:2; 1Ts.3:5). O senso de responsabilidade do apóstolo por seus conversos era forte. Seu anseio era de que permanecessem fiéis (AA, 206, 207). Ele não estava contente em ter trabalhado; desejava ver o fruto eterno de seu labor.

Esforcei. Do gr. kopiao, “trabalhar com esforço fatigante”, do substantivo kopos, “labor exaustivo”. Paulo descreve seus labores evangelísticos (cf. 1Co.15:10; Cl.1:29; 1Ts.2:19).

Fp.2:17 17. Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo.

Oferecido. Do gr. spendo, “fazer uma libação”, “derramar uma oferta de manjares” (ver com. de Nm.15:4-9; 2Tm.4:6; Nm.28:7). Paulo considera sua vida como uma oferta de manjares, derramada como sacrifício a Deus, assim como a fé dos filipenses. Ele estava disposto a dar a própria vida para acompanhar o fiel testemunho dos filipenses, se isso contribuísse para o avanço do evangelho. O apóstolo dos gentios estava imbuído do mais elevado grau de amor cristão (Jo.15:13). Mas ele não cria haver qualquer virtude particular em dar sua vida, exceto se isso encorajasse os filipenses a um autossacrifício adicional, ou se levasse outros a conhecer a fé que ele mantinha tão tenazmente.

Sacrifício. Do gr. thusia, o “sacrifício” em si, não o ato de sacrificar. Neste exemplo, a referência é à fé dos filipenses que, como sacerdotes cristãos (ver 1Pe.2:9), apresentam-na ao Senhor.

Serviço. Do gr. leitourgia, no NT um “serviço público religioso” (ver com. de Lc.1:23).

Alegro-me e [...] me congratulo. Paulo se uniria aos filipenses na alegria mesmo se o labor por outros o levasse a perder a vida (ver com. de Rm.8:18).

Fp.2:18 18. Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo.

Pela mesma razão. Isto é, do mesmo modo, os filipenses seriam gratos a Paulo. Em vez de ficar entristecido diante da perspectiva de dar a vida, o apóstolo teria seus amigos compartilhando com ele a alegria de render a vida em benefício do evangelho. Esta epístola enfatiza a alegria, não apenas como um privilégio, mas como um dever, que decorre da fé e demonstra a força desta.

Fp.2:19 19. Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a fim de que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa situação.

Porém. Início de uma nova linha de pensamento (v. 19-24). Paulo fala de sua intenção de enviar Timóteo aos filipenses como seu representante.

No Senhor Jesus. A mente do cristão é controlada pelo Senhor: seu amor, esperança e trabalho, tudo se centraliza no Senhor (cf. com. de Rm.9:1; Fp.1:8; Fp.2:24; Fp.2:29; Fp.3:1).

Timóteo. Ver com. de At.16:1-3; Fp.2:20. Paulo encorajou os filipenses: “Desenvolvei vossa salvação” (v. Fp.2:12), em vez de depender de mestres humanos. Por outro lado, ele pretendia dar-lhes todo o auxílio que pudesse, enviando Timóteo.

Sinta animado. Ou, “de bom coração”, “de boa coragem”. Paulo havia expressado preocupação acerca dos filipenses (Fp.1:27-30), mas não tinha dúvidas quanto à fidelidade deles. Parecia confiante no bom relato que Timóteo traria quando regressasse a ele (sobre o zelo de Paulo pelos coríntios e tessalonicenses, ver 2Co.2:13; 2Co.7:6-7; 1Ts.3:1-9).

Tendo conhecimento. Ou, “quando eu descobrir”. O apóstolo não se sentiria plenamente satisfeito até receber o relato de Timóteo. Até então, ele estaria ansioso acerca dos filipenses.

Vossa situação. Literalmente, “as coisas concernentes a vocês”.

Fp.2:20 20. Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses;

Igual sentimento. Literalmente, “de alma igual” (cf. Dt.13:6). Paulo quer dizer que não havia ninguém como ele mesmo, a exemplo de Timóteo, que era um segundo Paulo. Já que não podia ver a condição da igreja pessoalmente, o melhor seria um relato das condições de Filipos, dado por Timóteo. Timóteo era filho de Paulo, na fé (1Tm.1:2), e reconhecia esse relacionamento espiritual e se conduzia de acordo com isso (1Co.16:10; Fp.2:22). Do pai espiritual, o jovem herdou os interesses e as afeições. Dessa forma, ninguém poderia estar melhor qualificado para a tarefa em questão do que o jovem que naturalmente tinha genuíno interesse pelo bem-estar dos filhos espirituais de Paulo os quais eram, portanto, seus irmãos e irmãs na fé. Há escassez de pessoas com a mesma mente do apóstolo, pessoas zelosas e abnegadas. No entanto, é de pessoas assim que o Senhor Jesus precisa. Timóteo tinha os mesmos sentimentos de Paulo porque ambos tinham a mente de Cristo. Esse é o único fator que capacita os líderes a guiar a igreja de Deus, especialmente nos últimos dias. A igreja é o supremo objeto do amor e cuidado de Deus, e aqueles que têm os mesmos sentimentos do Senhor terão o mesmo zelo e solicitude para com os membros do corpo de Cristo.

Cuide. Do gr. merimnao, “estar ansioso” (ver com. de Mt.6:25). Paulo não fala no cuidado casual.

Fp.2:21 21. pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus.

Todos. Literalmente, “o todo”, isto é, o grupo de cristãos ao redor de Paulo.

Buscam o que é seu próprio. Em vista do louvor aos filipenses (Fp.1:3-5), a Timóteo (Fp.2:19-22) e a Epafrodito (v. Fp.2:25-30), é surpreendente ver esta acusação da parte de Paulo. Muitos dos que estavam com ele (Fp.4:21) parece que não compartilhavam de seu espírito abnegado. Fica sugerido que esses recuaram da perigosa jornada a Filipos e que Paulo teve de chamar Timóteo, o qual ele gostaria que permanecesse a seu lado. Epafrodito (Fp.2:25-30) e Lucas possivelmente não estavam presentes porque ambos eram abnegados.

O que é de Cristo Jesus. Com esta expressão, Paulo se refere a questões concernentes ao reino de Cristo, Sua glória e a salvação dos crentes. Ele contrasta os devotados aos interesses da igreja com quem cuidava principalmente dos interesses pessoais. Paulo e Timóteo eram dedicados a uma causa comum: a salvação dos filhos errantes de Deus. No entanto, lamentavelmente ele registra que nem todos pensavam dessa forma.

Fp.2:22 22. E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai.

Conheceis. Parece ter havido frequente relacionamento entre os filipenses e o jovem evangelista Timóteo. Ele estava com Paulo na fundação da igreja (ver com. de At.16:1; At.16:13; At.17:14). É possível que tenha visitado Filipos pelo menos duas vezes durante a terceira viagem missionária (ver At.19:22; At.20:3-6). Paulo o escolheu, então, para outra visita.

Provado. Os filipenses sabiam como o caráter de Timóteo fora provado e estavam cientes da ligação dele com Paulo e de sua fidelidade ao evangelho.

Como filho ao pai. Paulo estava para falar da fiel assistência pessoal de Timóteo a ele. Mas em típica humildade, ele fala de Timóteo e de si mesmo como coobreiros no serviço do evangelho. Se julgássemos o caráter de Timóteo a partir das orientações dadas por Paulo (ver com. de 1Tm.4:12), veríamos que Timóteo era gentil e amoroso, não impositivo. Paulo pode ter sentido a necessidade de uma recomendação simpática para seu amigo (cf. com. de 1Co.16:10).

Fp.2:23 23. Este, com efeito, é quem espero enviar, tão logo tenha eu visto a minha situação.

Este, com efeito. Paulo retorna ao pensamento anterior, de enviar Timóteo como seu mensageiro (v. Fp.2:19).

Logo. Do gr. exautes, “instantaneamente”, “imediatamente”.

Tenha eu visto. Já que Paulo planejava adiar a partida de Timóteo até ver como as coisas ficariam, é provável que algo ocorreria em breve, relacionado a seu aprisionamento. Como ele esperava visitar Filipos em breve (v. Fp.2:24), havia expectativa de libertação e, nesse caso, Timóteo levaria as boas-novas aos crentes macedônios.

Fp.2:24 24. E estou persuadido no Senhor de que também eu mesmo, brevemente, irei.

Persuadido. Do gr. peitho, “estar confiante”, palavra diferente da traduzida como “animado”, no v. Fp.2:19, Paulo esperava e tinha confiança, sendo que os dois estados mentais estavam centralizados “no Senhor” (ver com. do v. Fp.2:19). O apóstolo considerava possível que o Senhor logo interferiria por sua libertação.

Fp.2:25 25. Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro e vosso auxiliar nas minhas necessidades;

Julguei. Ou, “considerei”, em vista do possível atraso no envio de Timóteo. Com o emprego do tempo verbal no passado, parece que Paulo já havia enviado Epafrodito a Filipos, e que esta carta seguiria após sua partida. No entanto, os verbos “julgar” (v. 25) e “mandar” (v. Fp.2:28) representam o aoristo grego epistolar, utilizado quando o escritor se coloca na posição de leitor e faz suas declarações a partir desse ponto de vista. Quando a epístola alcançasse o destino, a ação representada pelos verbos estaria no passado. Portanto, Paulo usa o verbo no passado embora o evento esteja no futuro no momento da escrita. Assim, pode-se dizer que Epafrodito ainda não havia saído para Filipos e que seria o portador desta epístola aos crentes (ver AA, 479).

Todavia. Os v. 25 a 30 tratam de Epafrodito, outro amigo de Paulo e alguém bem conhecido da congregação filipense. Epafrodito levara uma doação da igreja para Paulo e o servia durante a estada com o apóstolo. Seu retorno foi adiado devido a uma enfermidade.

Epafrodito. Nome grego e latim comum, significando “agradável”, “fascinante”, “cativante”, originado no nome da deusa grega Aphrodite. O nome ocorre apenas nesta epístola. Alguns identificam o homem mencionado aqui com o Epafras de Cl.1:7; Cl.4:12; Fm.1:23. Apesar de Epafras ser apenas uma forma contraída do nome mais extenso, é improvável que se refira à mesma pessoa. Epafrodito era de Filipos, na Maceclônia, ao passo que Epafras era ministro em Colosso, na Ásia Menor, e possivelmente natural daquela região.

Meu irmão. O qualificativo “meu” refere-se aos três substantivos: “irmão”, “cooperador” e “companheiro”. O primeiro o designa como parceiro de Paulo na fé, o segundo, como parceiro de trabalho, e o terceiro, como compartilhador de seus conflitos e perigos. A partir da descrição de Paulo, é evidente que Epafrodito se uniu à obra missionária a exemplo de Paulo. Por estar livre, podia agir de um modo impossível para Paulo. Ele pode ter corrido perigo, por isso mereceria a descrição de “soldado” (cf. 1Tm.1:18; 2Tm.2:3-4).

Vosso. Este qualificativo contrasta com o anterior (“meu”) e destaca o relacionamento duplo de Epafrodito, com Paulo e com os filipenses.

Mensageiro. Do gr. apostolos (ver com. de Rm.1:1). Epafrodito originalmente tinha sido enviado de Filipos com o objetivo de levar doações a Paulo (ver com. de Fp.4:18).

Vosso auxiliar. Do gr. leitourgos (ver com. de Rm.13:6).

Fp.2:26 26. visto que ele tinha saudade de todos vós e estava angustiado porque ouvistes que adoeceu.

Visto que. Este versículo apresenta o motivo da decisão de Paulo enviar Epafrodito a Filipos: o fiel irmão desejava retornar para casa a fim de eliminar a ansiedade acerca de sua saúde.

Angustiado. Do gr. ademoneo. Tem-se sugerido duas derivações da palavra: (1) de a, “longe de”, e demos, “povo” ou “lar”, então “longe do lar”, e uma tradução livre do verbo seria “estar saudoso”; (2) de ademon, “preocupado”, então “estar estressado”. No segundo sentido, ademoneo é utilizado para descrever o estado mental do Salvador no Getsêmani e é traduzido como “angustiar-se muito” (Mt.26:37; Mc.14:33). No caso de Epafrodito, a ansiedade não era sobre si mesmo, mas sobre a tristeza de seus amigos em Filipos. Ele sabia que ouviram de sua enfermidade e, possivelmente, criam que já havia morrido.

Porque. Paulo elogia seu mensageiro ao salientar a afeição de Epafrodito por todos os filipenses.

Fp.2:27 27. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza.

Com efeito. A última frase do v. Fp.2:26 atenua o caso, e Paulo conta aos leitores a gravidade da doença de seu amigo.

Mortalmente. Não há indicação da causa ou natureza da enfermidade.

Deus, porém, Se compadeceu. Não há sugestão de cura miraculosa e instantânea, embora antes Paulo tenha realizado muitas curas (ver com. de At.19:11-12; At.28:8-9). O dom da cura divina não foi exercido em todas as ocasiões, mesmo quando o agente da cura teria desejado utilizar o dom, que vem de Deus e é exercido sob Seu controle e direção (cf. com. de 1Co.12:9).

Tristeza sobre tristeza. Talvez Paulo pense no aprisionamento como uma tristeza. Caso Epafrodito, que foi ministrar-lhe em suas algemas, morresse, a tristeza de Paulo aumentaria.

Fp.2:28 28. Por isso, tanto mais me apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza.

Mandá-lo. Ver com. do v. Fp.2:25.

Novamente. A construção grega favorece a conexão do advérbio com “alegreis”, mais adiante na sentença, em vez de “vendo”.

Para que [...] vos alegreis. A alegria dos filipenses tinha sido diminuída pelas notícias da enfermidade do representante deles, mas então poderiam recuperá-la. A alegria deles reduzia a tristeza de Paulo, porque, enquanto permanecia cativo, ele era aliviado da ansiedade por Epafrodito e pela igreja de Filipos.

Menos tristeza. Na alegria dos filipenses em ver novamente Epafrodito, Paulo encontraria conforto e alegria.

Fp.2:29 29. Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a alegria, e honrai sempre a homens como esse;

Recebei-o, pois. Paulo enviou Epafrodito para que os crentes pudessem se alegrar novamente (v. Fp.2:28). Assim, ele os admoesta a garantir o cumprimento de seu propósito.

No Senhor. Ver com. de Fp.2:19; Rm.16:2. Paulo pede que os filipenses vejam Epafrodito como um presente de Deus, como um servo do Senhor, restaurado a eles por meio da misericórdia de Deus.

Honrai. Esta recomendação é valida acerca do tratamento adequado aos de caráter nobre. É dever cristão respeitar as pessoas virtuosas e honrar aqueles que têm sido fiéis na obra do Senhor. Alguns têm visto no v. 29 uma sugestão de desarmonia anterior entre os filipenses e Epafrodito. Se esse for ocaso, Paulo então desejava que todos os mal-entendidos fossem removidos.

Fp.2:30 30. visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo.

Obra de Cristo. A recepção e a honra exigidas a Epafrodito estão baseadas em sua obra, porque isso foi o que produziu nele severa enfermidade. Esta obra consistia no ministério pessoal às necessidades de Paulo e não ao evangelismo direto. Aos olhos de Deus, a maneira como o serviço é realizado significa mais que o tipo de serviço (T6, 439).

Dispôs a dar a própria vida. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “tendo arriscado”. A expressão dá uma ideia dos perigos aos quais Epafrodito se expôs ao auxiliar o apóstolo.

Para suprir a vossa carência. A frase não indica crítica aos filipenses, mas louvor. Paulo reconhece que a distância impediu os crentes de prestar todo o auxílio que a bondade deles recomendaria, e aceita o ministério de Epafrodito como sendo deles. Fica sugerido que a enfermidade de Epafrodito fosse consequência de esforço excessivo e não de perseguição. Talvez ele tenha ficado doente em resultado da jornada longa e arriscada.

Socorro. Do gr. leitourgia (ver com. do v. Fp.2:17). Novamente está sugerindo que a doação dos filipenses, por meio de Epafrodito, tinha significado religioso, já que o que deram a Paulo foi aceito como se fosse oferecido a Cristo (cf. Mt.25:35-40).

Fp.3:1 1. Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas.

Quanto ao mais. Do gr. to loipon, literalmente, “o que resta”; também pode significar “finalmente” ou “além disso” (ver 2Co.13:11; Ef.6:10; 1Ts.4:1; 2Ts.3:1). Alguns sugerem que Paulo estava prestes a terminar a carta quando a atenção foi dirigida a outro assunto, que ele introduz em Fp.3:2. Outros consideram que o apóstolo está terminando um tópico e abrindo outro e que o final real da epístola ocorre naturalmente em Fp.4:20-23.

Alegrai-vos no Senhor. Esta é a nota tônica de toda a epístola (ver p. 122, 123). Os filipenses são ordenados a viver na alegria cuja fonte é o Senhor e que se obtém apenas em companheirismo com Ele (cf. Fp.4:4).

Desgosta. Do gr. okneros, “cansativo”, “apático”, “negligente”, utilizado aqui no sentido de não causar relutância. Nada que fosse para o bem de seus amigos seria um fardo a Paulo. Podia parecer que a imensidão de cuidados e provações em Roma prenderia sua atenção, mas os problemas pessoais não desviariam sua mente das necessidades dos outros.

Segurança. As admoestações paulinas eram para a segurança dos filipenses, que estavam expostos a perigos.

As mesmas coisas. Alguns comentaristas veem nestas palavras uma referência a cartas anteriores escritas por Paulo aos filipenses. Outros preferem limitar a referência a tópicos já levantados nesta epístola, tais como dissensões (Fp.1:27-30), que então ele menciona especificamente (Fp.3:2; Fp.3:18-19).

Fp.3:2 2. Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!

Acautelai-vos dos cães. Literalmente, “tenham cuidado com os cães”. O artigo definido indica um grupo definido de pessoas. A tripla repetição de “acautelai-vos” tem a intenção de enfatizar. Em cada caso, parece que Paulo se refere às mesmas pessoas. A descrição tripla cobre diferentes aspectos das mesmas atividades dos oponentes. No Oriente, em geral os cães não possuíam donos e perambulavam pelas ruas e campos. São considerados impuros pela lei levítica (cf. com. de Lv.11:2-7), e chamar alguém de cão era uma forte expressão de ofensa (1Sm.17:43; 2Rs.8:13). Para os judeus, os pagãos eram como cães (ver com. de Mt.7:6; Mt.15:26), e os gentios não demoravam em devolver o adjetivo. O termo descrevia os desavergonhados, indecentes, malignos, murmuradores, insatisfeitos e contenciosos. Paulo se refere a um partido bem conhecido de professos cristãos, os judaizantes (ver vol. 6, p. 16-21; cf. com. de Fp.1:16). Embora Paulo não descreva os judaizantes detalhadamente, muitas características podem ser inferidas quando ele descreve as qualidades positivas opostas (Fp.3:3-11).

Maus obreiros. Ou seja, os judaizantes, “obreiros fraudulentos” (2Co.11:13).

Circuncisão. Do gr. katatome, “mutilação”. Um termo depreciativo para os judaizantes, que exigiam que os gentios fossem circuncidados e se tornassem judeus a fim de serem cristãos. A circuncisão seria prejudicial, por submeter os gentios ao obsoleto sistema do judaísmo (Gl.5:3), ou sem sentido, portanto, uma mutilação. A advertência é dirigida aos gentios, pois os judeus não precisavam dela.

Fp.3:3 3. Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.

Nós. Enfático no grego. O apóstolo contrasta a si mesmo e os filipenses com os judaizantes.

Circuncisão. Isto é, os circuncidados. A frase pode ser resumida como: “somos os circuncidados que são cristãos”; ele está se dirigindo aos gentios (ver com. do v. Fp.3:2). Assim, o apóstolo queria dizer: “Tomem cuidado com os que desejam circuncidar vocês. Porque somos [fomos constituídos] os circuncidados - nós que somos cristãos, que adoramos a Deus em Espírito e não confiamos na carne.” Isso concorda com as demais declarações de Paulo, de que a circuncisão é espiritual, não carnal; é do coração, pela eliminação do pecado, e está disponível aos gentios em Cristo (Rm.2:25-29; Cl.2:11; Cl.2:13). Os gentios salvos pela graça, apesar de chamados incircuncisos, não são mais “separados da comunidade de Israel”, mas cidadãos (Ef.2:8-13; Ef.2:19; sobre a relação de cristãos gentios com o Israel da aliança, ver vol. 4, p. 21-23).

Adoramos. Do gr. latreuo, “servir”, utilizado especificamente para o culto prestado a Deus (ver Mt.4:10; ver com. de Rm.1:25).

A Deus. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “que adoramos pelo Espírito de Deus” (NVI).

No Espirito. Ver com. de Jo.4:23-24. Quem pertence à verdadeira circuncisão presta adoração espiritual a Deus e não se satisfaz com ordenanças e tradições humanas. Os cristãos, diz Paulo, têm a circuncisão e a adoração verdadeira.

Gloriamos. Do gr. kauchaomai, “orgulhar”, “gloriar” (ver com. de Rm.5:2).

Não confiamos. Isto é, não têm confiado.

Na carne. Os judaizantes, contra quem Paulo adverte, tinham grande confiança na linhagem e nas coisas que faziam como esforço para obter a salvação. Ele considera a carne em conflito com tudo que é espiritual (sobre a frase “na carne”, ver Fp.3:4-6; ver com. de 2Co.11:18; Gl.6:13-14).

Fp.3:4 4. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais:

Eu poderia. Ou, “eu também tenho”, isto é, além da confiança em Cristo, ele tinha vantagens desejadas pelos judaizantes. Mas Paulo sabia que suas vantagens não tinham valor com respeito à salvação. Quando Deus escolheu Paulo como Sua testemunha especial de que, para a salvação, não há valor em privilégios herdados, Ele tomou alguém que não apenas tinha tudo de que um israelita pudesse se orgulhar, mas alguém que fora consciente e orgulhoso de sua herança. Nesse cenário, o testemunho de Paulo toma força. Ele confessou que nenhuma vantagem quanto a nascimento ou educação traria paz ou asseguraria o favor de Deus.

Fp.3:5 5. circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu,

Circuncidado ao oitavo dia. Paulo não era um prosélito, circuncidado quando adulto, mas um judeu por nascimento que passou pelo rito da aliança na época prescrita (ver com. de Gn.17:11-12; Lv.12:3; Lc.2:21).

Da linhagem de Israel. Um descendente de Jacó.

Tribo de Benjamim. Paulo era da tribo que deu a Israel o primeiro rei (1Sm.9:1-2), a única que foi fiel a Judá na divisão do reino (1Rs.12:21) e que detinha o posto de honra no exército (Jz.5:14; Os.5:8). O nome Saulo, possivelmente se originava do rei Saul, um benjamita.

Hebreu de Hebreus. Isto é, um hebreu descendente de hebreus. Talvez ele queira indicar que não havia mistura de estrangeiros entre seus ancestrais. Ele devia ser um judeu de fala hebraica (sobre o termo “hebreu”, ver com. de At.6:1; sobre os ancestrais de Paulo, ver vol. 6, p. 204-206).

Quanto a. Esta expressão bem como “a respeito” e “segundo” (v. 6, ARC) são variantes de tradução da mesma palavra gr. kata, “quanto a” ou “em referência a”.

A lei. Não há artigo no grego, mas Paulo tem em mente a lei mosaica (ver com. de Rm.2:12). Adesão estrita ao código inteiro era uma marca distintiva do fariseu fiel (vol. 5, p. 39-41).

Fariseu. Paulo não tivera controle sobre ter nascido na tribo de Benjamim, nem de seus parentes serem hebreus, nem de ter tido uma educação hebraica. No entanto, ele enumera então suas decisões pessoais. Escolheu ser fariseu (ver com. de At.22:3; At.23:6). Certamente nenhum dos judaizantes era mais firme no legalismo do que o apóstolo tinha sido antes de Cristo encontrá-lo na estrada de Damasco (ver com. de 2Co.11:22; Gl.1:14).

Fp.3:6 6. quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.

Zelo. Do gr. zelos (ver com. de Jo.2:17; Rm.10:2). Paulo não foi apenas fariseu, mas um fariseu enérgico e entusiástico. Vigorosamente carregou os princípios de sua seita, pensando que prestava serviço a Deus ao perseguir os que considerava hereges (ver com. de At.8:1; At.8:3; At.9:1; At.22:4; At.26:10-11).

Justiça. Ver com. de Mt.5:6; Mt.5:20; Lc.1:6; cf. com. de Fp.3:9.

Na lei. Esta frase define a “justiça” à qual Paulo se refere (ver com. de Rm.10:3-4). Ele chama de “justiça, que procede da lei” (Fp.3:9), a “justiça própria”, e a contrasta com “a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (ver com. de GI.2:21; Gl.3:21).

Irrepreensível. Isto é, aos olhos dos seguidores, em resultado da rígida observância da lei. Paulo não negligenciava o dever que cria ser prescrito pela lei. Ele levava uma vida honrada, e ninguém o podia acusar de ser um violador da lei. Antes da conversão Paulo pode ter sido um jovem de comportamento exemplar, livre de viciosas indulgências em que os jovens geralmente caem. Apesar disso, ele menciona a si mesmo como “principal” dos pecadores (1Tm.1:15) e como indigno “de ser chamado apóstolo” (1Co.15:9). No entanto, ele nunca fez a mínima insinuação de que sua vida anterior era manchada com rudes pecados. Então, ele encontrou a Cristo e aprendeu a futilidade dos esforços pessoais para obter a salvação.

Fp.3:7 7. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.

Mas. Paulo enfatiza o contraste entre a situação anterior e a posição que aceitou ao se tornar cristão.

O que [...] era lucro. Isto é, as vantagens naturais e adquiridas (v. Fp.3:5-6), consideradas como lucro. Paulo nunca minimizou o valor do passado, mas se gloriou nele e contou-o como ganho ou lucro, de um ponto de vista humano. A palavra grega para “lucro” (kerde) é plural, e pode ser traduzida como “ganhos”.

Considerei. Do gr. hegeomai (ver com. de Fp.2:3). Há um paralelo entre as renúncias de Cristo (Fp.2:7) e de Paulo.

Perda. Do gr. zemia, “dano”, “perda”, o que é considerado no “lado de débito do livro-caixa” (Robertson). A palavra para “perda” está no singular, enquanto a palavra para “lucro” está no plural. Os vários ganhos terrenos são todos contados como perda na avaliação de Cristo.

Por causa de Cristo. Em relação a Cristo e à fé, Paulo considerava todos os “ganhos” naturais como sem valor. Em certa medida, todos os cristãos são chamados a fazer renúncias semelhantes. Felizes são aqueles que podem agir com alegria e sinceridade como Paulo.

Fp.3:8 8. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo

Sim, deveras. Literalmente “não, deveras, portanto”. Paulo pensou não ter tido palavras enfáticas o bastante para expressar a intensidade de suas convicções. O v. 8 é uma expansão do v. Fp.3:7.

Considero. Este verbo se origina da mesma palavra grega utilizada no v. 7, mas no tempo presente para mostrar que Paulo continua a considerar seus “ganhos” anteriores como “perdas”.

Tudo. No v. 7, ele diz que considerava as coisas mencionadas anteriormente como perda. Neste versículo, vai além e declara que todas as coisas são consideradas como perda. Ele está pronto a renunciar não apenas as coisas que especificou, mas tudo que se pudesse imaginar. Se toda riqueza e honra concebível eram dele, alegremente as repudiaria para ter a Cristo.

Por causa. Ou, “por amor de”, “por motivo de”, “por causa de”. Tudo o mais parecia insignificante diante do valor de conhecer a Cristo pessoalmente.

Sublimidade. Literalmente, “excepcionalidade”. Paulo percebeu que o conhecimento pessoal de Cristo sobressaía em valor a todas as outras realizações (ver com. de Jo.17:3).

Meu Senhor. Há uma afeição calorosa na expressão “Cristo Jesus meu Senhor”. Isso aponta a comunhão pessoal entre o apóstolo e o Salvador. Outros títulos dados a Jesus nesta epístola ocorrem com a seguinte frequência: Cristo (18 vezes), Jesus Cristo (9), Cristo Jesus (8), Senhor Jesus Cristo (3), Senhor Jesus (1), Jesus (1) e Salvador (1); além de várias referências a “Senhor”.

Perdi. Do gr. zêmioo, “causar dano a”, “punir”, utilizado neste versículo no sentido de “perder”, “desistir”. O modo verbal grego aponta para o passado, ao tempo da conversão de Paulo quando, por seguir a Cristo, perdeu todas as vantagens herdadas.

Considero. Isto é, continua a considerar, embora a perda tenha ocorrido no passado.

Refugo. Do gr. skubala, “lixo”. A palavra é utilizada tanto para alimentos não aproveitados pelos seres humanos e animais, como para o alimento atirado fora da mesa, sentido mais apropriado aqui. Os judaizantes se julgavam como convivas sentados à mesa do Pai e descreviam os cristãos gentios como cães vorazmente se agarrando ao alimento rejeitado que caía da mesa. No entanto, aqui Paulo reverteu a imagem. Os verdadeiros cristãos estão desfrutando o banquete, e os judaizantes são os cães (v. Fp.3:2), que devoravam os privilégios do nascimento hebreu e da educação, que Paulo renunciou voluntariamente.

Ganhar. Do gr. kerdaino, relacionado ao substantivo kerdos, “ganho”, que ocorre na forma plural no v. Fp.3:7. Paulo ansiava ter a Cristo para que Ele, por sua vez, o guiasse completamente. A intensidade do desejo é refletida na tripla repetição da palavra “perda” (v. Fp.3:7-8). Ser vencedor em Cristo representa o maior “ganho”.

Fp.3:9 9. e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;

Ser achado. Ou, “ser descoberto”. Alguns veem na frase uma referência ao último dia, no entanto, o contexto (v. Fp.3:10) favorece a vida presente.

Nele. Isto é, em união com Cristo (ver com. de Jo.15:4-9; 2Co.5:17; Gl.2:20).

Justiça própria. Ver com. do v. Fp.3:6. Estritamente falando, não há justiça pessoal (ver com. de Rm.3:12; Rm.10:3). Paulo utiliza a frase para descrever sua moralidade.

Que procede da lei. Ou, que é baseada no cumprimento da lei. Paulo estabelece a inutilidade de tal “justiça”. Nenhuma observância da lei pode purificar o coração da corrupção do pecado ou conceder poder para resistir a ele. A verdadeira observância da lei pode resultar apenas da transformação da mente pela graça divina (ver com. de Rm.3:31).

Mediante a fé em Cristo. Ver com. de Rm.3:22; sobre a dependência da justiça em relação à fé em Jesus Cristo, ver com. de Rm.3:21-26.

De Deus. Isto explica a fonte de justiça, que é proveniente de Deus (ver com. de Rm.1:17).

Baseada na fé. Literalmente, “sobre a fé”, que descansa na fé. As pessoas podem receber a justiça que vem de Deus apenas ao exercer fé em Jesus, por meio de quem Deus tem provido Sua justiça.

Fp.3:10 10. para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;

Conhecer. Esta palavra está ligada ao v. Fp.3:8, que mostra que o maior ganho é o conhecimento pessoal de Cristo. Para ter esse conhecimento Paulo abandonou todas as coisas. Ele sabia que o único modo de obtê-lo era pela união com Deus, por meio de Cristo (v. Fp.3:9).

Poder da Sua ressurreição. Paulo não estava simplesmente querendo se familiarizar com o poder que efetuou a ressurreição de Cristo; ele ansiava tal poder operando nele também. Para que esse anseio se cumprisse, Paulo teria que viver uma vida como a de Cristo. Por isso, o apóstolo expressa o desejo de ter o mesmo poder que Cristo teve em dominar o pecado. A demonstração decisiva desse poder ocorrerá na ressurreição de Paulo (ver com. de Rm.4:25; Rm.6:4-11). O mesmo poder que ergueu Jesus dentre os mortos será necessário para ressuscitar o pecador e recriá-lo à imagem divina.

Comunhão. Do gr. koinonia (ver com. de At.2:42; Rm.15:26; Fp.1:5), neste versículo, utilizado no sentido de “parceria”.

Sofrimentos. Aquele que está unido a Cristo (v. Fp.3:9) e experimenta a operação do poder de Sua ressurreição inevitavelmente compartilha os sofrimentos de Cristo (ver com. de Mt.10:17-24; Mt.20:22-23; 2Co.1:5; Cl.1:24; 1Pe.4:13). Essa experiência não é no sentido teórico ou ético, embora estejam envolvidos; é real e prática (cf. 2Tm.3:12). Quem vive a vida de Cristo sofre alguns dos opróbrios pelos quais Cristo passou (Jo.15:18-21; Jo.17:14). Paulo tinha plena consciência disso (ver com. de At.9:16) e não retrocedeu diante da perspectiva. Em vez disso, via os opróbrios como oportunidade de mais união com o Salvador. Um registro parcial dos sofrimentos do apóstolo (2Co.11:23-27) revela a extensão em que ele compartilhou as dores e tristezas do Mestre.

Conformando-se. O apóstolo desejava ser como o Mestre em todas as coisas, mesmo na morte. Esta conformação foi cumprida de dois modos: (1) Pela vida diária de Paulo. Ele compartilhou a mansidão, a submissão, o amor, a devoção de Cristo e Sua angústia pelo pecado. Em conformidade com o espírito de Cristo, Paulo podia dizer: “dia após dia, morro!” (1Co.15:31) e “estou crucificado com Cristo” (Gl.2:20). A abnegação de Paulo e sua vida de sacrifício são um poderoso testemunho da eficácia da morte do Salvador (ver com. de 2Co.4:10). (2) Pela disposição de Paulo em morrer, se necessário, e, finalmente, por sua morte. O martírio não era uma possibilidade remota para Paulo. Durante muitos anos, ele esteve perto da morte e não se desviou dela (ver At.20:22-24).

Fp.3:11 11. para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Para, de algum modo. Estas palavras contém um elemento de dúvida. Sempre há a possibilidade de uma deserção da fé (1Co.10:12; Gl.3:3; Gl.5:4), e Paulo reconhece humildemente que está exposto ao mesmo perigo (cf. com. de 1Co.9:27). Mas suas palavras deixam clara sua fé na ressurreição final dos justos.

Alcançar. Do gr. katantao, “vir a”, “chegar a” (ver At.16:1; At.27:12; Ef.4:13).

Ressurreição dentre os mortos. Paulo antecipa o compartilhamento na ressurreição dos justos (ver 1Ts.4:13-18; 1Co.15:51-57; ver com. de Ap.20:5-6), mas não minimiza os esforços exigidos da parte do Senhor e dele mesmo, para possibilitar essa realização.

Fp.3:12 12. Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.

Não que. Cf. Fp.4:11; Fp.4:17.

Recebido. Do gr. lambano, “receber”, “obter”; é utilizado para o ato de se alcançar um prêmio (1Co.9:24). Paulo se refere a toda sua experiência cristã até então e reconhece que não cumprira plenamente os objetivos almejados (Fp.3:9-10). Ele pretendia, assim, corrigir o orgulho espiritual que parece ter perturbado a unidade dos filipenses (Fp.2:2-4).

Tenha já obtido a perfeição. Ou, “já tem sido aperfeiçoado”. Paulo inclui aqui sua experiência passada e nega que, até a condição presente, tivesse alcançado o estágio de perfeição planejado por Deus, o qual ele também desejava. O apóstolo ainda está no processo de desenvolver a salvação pessoal (ver com. de Fp.2:12).

Prossigo. Ou, “estou perseguindo”. Talvez Paulo se refira à corrida do v. Fp.3:14.

Para. Esta palavra expressa propósito ou objetivo, em vez de dúvida.

Conquistar. Do gr. katalambano, “receber”, “obter” (ver com. de Jo.1:5; Rm.9:30). No grego, katalambano é precedido do advérbio kai, “também”, o que indica que Paulo pretendia não apenas perseguir, mas também obter.

Aquilo para o que. Uma referência ao propósito que Cristo tinha em mente na conversão de Paulo (At.9:15-16; At.26:16-18).

Fui conquistado. Ou, “fui recebido”, isto é, na época da conversão. Paulo sabia que Cristo o tinha recebido com um propósito, e o apóstolo estava determinado a cumprir esse desígnio, apegando-se àquilo para o que Cristo o tinha chamado. É dever do cristão seguir em frente na corrida cristã, porque este é o propósito para o qual Cristo o chamou. Deus tomou, por exemplo, a Saul, filho de Quis, e ao jovem rico, mas eles não prosseguiram para alcançar o objetivo para o qual foram chamados.

Fp.3:13 13. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,

Irmãos. Paulo usa esta forma de tratamento para prender a atenção dos leitores. O apóstolo revisa os temas tratados nos versículos anteriores.

Julgo. Do gr. logizomai, “pensar”, “considerar” (ver com. de Rm.3:28), geralmente usado em ligação com o raciocínio. Paulo enfatiza a avaliação de seu estado espiritual em relação ao padrão divino mantido diante dele.

Havê-lo alcançado. Ver com. do v. Fp.3:12.

Mas uma coisa faço. Literalmente, “uma coisa”, que é definida nas frases seguintes. A única intenção era cumprir o propósito do Senhor ao chamá-lo. Paulo não tinha objetivos divididos. Não procurou por riqueza, honra, salvação nem por coroa. Da singeleza de propósito, vinha a profunda espiritualidade e o sucesso no ministério.

Esquecendo. Isto é, desconsiderando intencionalmente.

Das coisas. Paulo sabia que as vitórias passadas, por mais gloriosas que fossem, não eram suficientes para garantir segurança presente ou futura.

Avançando. Do gr. epekteino, “esticar em direção a”, uma ilustração das competições em que o corredor se empenha rumo à meta com o corpo encurvado para frente e as mãos e os pés estirados. A figura retrata vívidamente a dedicação de Paulo rumo ao alvo indicado por Cristo. Nesse tipo de dedicação não há tempo para olhares curiosos ou arrependidos ao passado.

As que diante de mim estão. Paulo não enumera as coisas que tem em mente, mas ficam sugeridas e, no v. Fp.3:14, elas são incluídas. Para o corredor numa prova, o único objetivo digno de atenção é a vitória, e assim ocorria com Paulo na corrida espiritual. Ele fixou os olhos na meta da vida eterna e na herança no mundo porvir. Uma clara visão dessa meta estimula a fidelidade e alegria cristã na corrida que está adiante (Hb.12:1-2).

Fp.3:14 14. prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.

Prossigo. Do gr. dioko, “perseguir”. Paulo mantém os olhos fixos na meta e visualiza seu objetivo. Ele sabe que aquele que deseja ganhar deve manter a meta e o prêmio claramente em mente. O competidor não deve desviar o olhar por causa de aplauso ou insulto, não deve relaxar nem tropeçar, não deve parar, mas seguir adiante continuamente até que a meta seja alcançada.

Alvo. Do gr. skopos, “uma marca [em que o olho fixa]”, “uma meta”; relacionado ao verbo skopeo, “espiar”, “perscrutar”, “olhar a distância” (ver com. de Fp.2:4). A palavra skopos é utilizada apenas neste versículo no NT. Na LXX, é utilizada para uma marca de arqueiro (Jó.16:12; Lm.3:12).

Prêmio. Do gr. brabeion, “uma recompensa para vitoriosos nos jogos públicos”, portanto, “um prêmio”. Nas corridas terrenas haveria apenas um ganhador (1Co.9:24), mas na corrida cristã todos têm oportunidade da vitória e de receber o prêmio.

Soberana vocação. Literalmente, “chamado de cima”, isto é, um chamado para o Céu originado no Céu. Este chamado não apenas chegou a Paulo na conversão, mas constantemente soava aos seus ouvidos. Deus nunca cessa de chamar o cristão.

Em Cristo Jesus. O chamado é feito por Deus na vida e pessoa de Seu Filho. O exemplo de Jesus constitui um estímulo contínuo ao crente (Hb.12:1-2).

Fp.3:15 15. Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.

Pois. O apóstolo se volta então de uma exclusiva consideração de sua carreira cristã para, com cuidado, aplicar as lições à vida dos filipenses, incluindo-se na exortação.

Perfeitos. Do gr. teleioi, “maduros”, “crescimento pleno” (ver com. de Mt.5:48), em contraste com nepioi, “menino” (ver 1Co.13:11; Ef.4:13-14; Hb.5:13-14). Refere-se à maturidade no pensamento cristão. O conceito aqui expressado não conflita com a declaração de Fp.3:12, em que Paulo nega que tenha alcançado o último estágio da perfeição. Neste versículo, ele emprega “perfeito” num sentido relativo (ver com. de Mt.5:48).

Tenhamos este sentimento. Literalmente, “pensar assim” ou “ter esta mente”. O apóstolo chama todos os crentes maduros a ter a mesma atitude que ele tem em relação ao crescimento cristão. Paulo admoesta a continuar progredindo com o propósito de ganhar o prêmio.

Porventura, pensais doutro modo. Isto é, o ponto de vista deles, especialmente a respeito da questão da perfeição, não coincidia com o de Paulo. O apóstolo não estava demandando conformidade completa a seu modo particular de pensar. Ele levava em conta diferentes pontos de vista, crendo que o Senhor instruiria os crentes sinceros.

Esclarecerá. Do gr. apokalupto, “descobrir”, “liberar o que estava velado”. Se algum cristão maduro não visse a necessidade de desconsiderar o passado e acelerar rumo à perfeição, Paulo estava certo de que Deus lhe revelaria a necessidade. Quando avançamos sinceramente na corrida cristã, Deus revela os eventuais erros de doutrina ou prática (Jo.16:13; Ef.1:17).

Fp.3:16 16. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.

Alcançamos. Paulo está dizendo: “Descubra o que contribuiu ao desenvolvimento cristão no passado e siga o mesmo plano no futuro”. O método de consecução do cristão não muda. Infelizmente, há muitos que, com rápidos progressos, iniciam a caminhada cristã, mas se cansam e não continuam com a mesma graça do início da jornada. Eles se tornam dependentes da experiência passada, em vez de fazer novos avanços e apreciar novas vitórias. A satisfação com conquistas passadas leva ao descuido. As conquistas de ontem não bastam para hoje. O cristão deve avançar continuamente.

Segundo a mesma regra (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão de: “segundo a mesma regra, e, sintamos o mesmo”. O trecho original pode ser traduzido como: “deixe-nos andar no mesmo caminho”, isto é, deixe-nos continuar no caminho para cima. Isso faz parte da amorosa advertência e admoestação que, se aceita, teria prevenido erros que causaram desordens na igreja filipense.

Fp.3:17 17. Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.

Sede imitadores. Literalmente, “sejam juntos meus imitadores”. Paulo aconselha os conversos acerca de atitudes mentais adequadas e apresenta sua vida pessoal como um exemplo do que eles podem imitar. O apóstolo sabia que tinha seguido a vontade de Deus ao se desviar do passado e prosseguir para as coisas que ainda estavam adiante dele. Ele sabia que era certo continuar avançando com zelo e não abandonar os meios de crescimento que tinham contribuído tanto para a vida cristã. Portanto, Paulo se sentia livre para encorajar seus amigos filipenses a seguir seu exemplo. Não estava tentando tirar a atenção deles de Cristo e voltá-la para si mesmo, mas levá-los a Cristo por meio de sua experiência cristã (cf. 1Co.4:16; 1Ts.1:6).

Observai. Do gr. skopeo (ver com. de Fp.2:4).

Os que andam. Embora seja verdade que Cristo é o único cujo exemplo pode ser seguido em todas as coisas, as experiências dos outros podem nos servir como encorajamento ou impedimento. Na igreja havia os que se esforçavam para viver do modo como Paulo tinha descrito, renunciando toda confiança na carne e mirando o prêmio celestial. A exortação, neste versículo, é para observar com vistas a imitar aqueles que assim viviam. Essa imitação inspira e não envolve adoração (cf. Jo.8:39). Os exemplos de homens e mulheres fiéis inspiram a uma caminhada mais íntima com Deus (cf. 1Co.4:16; Ed, 146).

Modelo. Do gr. tupos (ver com. de Rm.5:14), de que se origina a palavra “tipo”.

Nós. Isto é, Paulo, Timóteo, Epafrodito e outros obreiros cristãos conhecidos pelos filipenses.

Fp.3:18 18. Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.

Muitos andam. Neste versículo e no Fp.3:17, “andar” é utilizado num sentido figurado, com referência a conduta. Os “muitos” cuja conduta é descrita neste versículo e no v. Fp.3:19 têm sido identificados como os judaizantes (ver com. do v. Fp.3:2), que se diziam cristãos, mas mantinham as antigas práticas judaicas (cf. Rm.16:17-18), e os apóstatas, a cuja influência os crentes estavam expostos.

Repetidas vezes, eu vos dizia. Durante a primeira visita de Paulo a Filipos (At.16:12) ou possíveis visitas posteriores, ou por meio de cartas escritas pelo apóstolo.

Chorando. Esta expressão de profunda emoção indica que a preocupação de Paulo era com os cristãos apóstatas e não com os pagãos depravados. Seu amor pelas pessoas que se voltavam às mesmas práticas religiosas o levou às lágrimas (cf. Lc.19:41).

Inimigos da cruz. Se estas pessoas fossem inimigas declaradas da cruz ou se negassem que Cristo morreu para fazer expiação pelo pecado, não seriam perigosas para a igreja. No entanto, elas professavam ser seguidoras do Salvador, enquanto sua vida demonstrava que eram estranhas ao poder do evangelho. A mente estava nas coisas terrenas (v. Fp.3:19) e “a amizade do mundo é inimiga de Deus” (Tg.4:4). Uma vida imoral é inimizade para com a cruz, porque Cristo morreu para nos fazer santos.

Fp.3:19 19. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.

O destino deles. Isto é, toda tendência desses “inimigos da cruz” se dirigia para sua destruição final.

Perdição. Do gr. apoleia (ver com. de Jo.17:12), geralmente utilizado para perda da vida eterna.

O deus deles é o ventre. Isto é, os apetites carnais dominam a vida deles. Essas pessoas se orgulhavam da liberdade e a pervertiam em licenciosidade (cf. Rm.16:18; 2Pe.2:12-13; 2Pe.2:19). Viviam, não para a glória de Deus (1Co.10:31), mas para autoindulgência e gratificação pessoal.

Infâmia. A liberdade jactanciosa terminou sendo a fonte de infâmia.

Preocupam com as coisas terrenas. Eles pensam ou consideram as coisas terrenas e não as espirituais. Esta é uma das características dos inimigos da cruz. Prazer, ganho e honra têm prendido a atenção de muitos, impedindo o crescimento espiritual e levando-os a serem inimigos da cruz de Cristo.

Fp.3:20 20. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,

Pois. Paulo contrasta a verdadeira mente do cristão com a dos mundanos mencionados nos v. Fp.3:18-19.

Pátria. Do gr. politeuma, “nação”, “cidadania” (cf. com. de Fp.1:27).

Está. Paulo enfatiza que a cidadania do cristão já é celestial, embora ele ainda viva na terra (cf. Ef.2:19; Cl.3:3; 1Jo.3:2).

Céus. O cristão precisa se conscientizar de que é cidadão do Céu. A conexão com o país o torna leal. Onde quer que more, deve se conduzir de modo a honrar o bom nome de seu país. Manter em mente o tipo de vida que se espera viver no Céu nos guia na vida terrena. A pureza, humildade, gentileza e o amor que esperamos experimentar na vida por vir podem ser demonstrados aqui embaixo. Nossas ações revelam se somos cidadãos do Céu. Nosso relacionamento com outros tornará o Céu atrativo a eles.

De onde. Isto é, do Céu.

Aguardamos. Do gr. apekdechomai (ver com. de Rm.8:19), que expressa ávida expectação. A palavra geralmente é utilizada em conexão com a bendita esperança do retomo de Cristo (cf. Rm.8:19; Rm.8:23; Rm.8:25; Gl.5:5; Hb.9:28). Aqueles que ansiosamente aguardam Sua vinda desejam se preparar para o evento (cf. com. de 1Jo.1:3). Eles sabem que as ocupações terrenas são de pouca importância, já que as coisas desta terra em breve passarão. Eles vivem, acima do mundo, desejando constantemente o aparecimento do Senhor.

O Salvador. Literalmente, “um salvador”.

Senhor Jesus Cristo. Ver com. de Fp.2:5.

Fp.3:21 21. o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.

Transformará. Do gr. metaschematizo, “mudar a forma de”, “transformar” (ver com. de 1Co.4:6; 2Co.11:13-15), palavra originada de meta, “depois”, e schema, “forma” (ver com. de Fp.2:8). Metaschematizo indica que haverá uma mudança radical no corpo dos redimidos, embora a identidade original será preservada (ver com. de 1Co.15:35-50).

Nosso corpo de humilhação. Literalmente, “o corpo de nossa humilhação”, assim descrito em contraste com o glorioso corpo que os santos possuirão no mundo vindouro.

Para ser igual. Ou, “que venha a ter a mesma forma que o outro”, “conformar-se”. No v. Fp.3:10, Paulo mostra que a vida do cristão deve ser semelhante à de Cristo. O apóstolo indica que o corpo também será finalmente conformado ao de Cristo.

Corpo da Sua glória. Isto é, o corpo de Cristo, após a glorificação, ao qual se pode comparar o “corpo espiritual” dos santos ressurretos (ver com. de Lc.24:39; 1Co.15:42-49; ver com. de Jo.20:17; Jo.20:25; Jo.20:27; DTN, 829). Os redimidos não possuirão apenas o caráter de Cristo, mas também serão revestidos em corpo imortal semelhante ao de Jesus desde a ressurreição (ver com. de 1Co.15:51-53). Essa transformação completa a obra redentora em que o coração de Paulo estava posto. O cristão deve viver plenamente à semelhança de seu Mestre.

Eficácia. A garantia da eficácia de Cristo em transformar nosso modesto corpo à semelhança de Seu corpo glorificado reside em Seu poder sobre toda a criação.

Poder. Do gr. energeia, “energia”, neste versículo, poder sobrenatural (cf. com. de Fp.2:13).

Subordinar. Do gr. hupotasso (ver com. de 1Co.15:27).

Todas as coisas. Ver com. de 1Co.15:27-28. A transformação dos corpos e caracteres humanos é apenas uma manifestação do poder soberano de Cristo. Sua obra total abrange a sujeição de todas as fases da criação ao governo divino.

Fp.4:1 1. Portanto, meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor.

Portanto. Não há uma separação entre Fp.3:21 e este versículo, pois a divisão de capítulos é posterior. O apóstolo extrai uma conclusão exortatória do Fp.3:20-21 e adverte os filipenses a se manterem firmes na fé.

Meus irmãos, amados. O apóstolo busca as palavras mais adequadas para expressar seu amor pelos filipenses. Ele expressa sua afeição especialmente pela palavra “amados”. Paulo fala do anseio de vê-los, repetindo os sentimentos de Fp.1:8.

Alegria. Os crentes filipenses eram o objetivo ou a causa da alegria do apóstolo. Ele utiliza as mesmas palavras para falar dos tessalonicenses (1Ts.2:19).

Coroa. Do gr. stephanos, “uma grinalda da vitória”, não um diadema real (ver com. de Mt.27:29; Ap.12:13). Os filipenses eram a coroa de vitória de Paulo, mostrando que o apóstolo não tinha corrido em vão (Fp.2:16).

Permanecei. Do gr. steko (ver com. de Fp.1:27). Em vista da gloriosa perspectiva visualizada no Fp.3:20-21, Paulo encoraja os filipenses à perseverança. Ele os declara dignos da cidadania celestial.

No Senhor. Expressão favorita de Paulo, que a utiliza cerca de 40 vezes (Rm.16:2; Rm.16:8; Rm.16:11-13; Rm.16:22; sobre a frase equivalente “em Cristo Jesus”, ver com. de Rm.8:1).

Fp.4:2 2. Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor.

Rogo. Do gr. parakaleo, “exortar” (ver com. de Mt.5:4). A palavra é repetida para mostrar que Paulo exorta a cada uma das duas separadamente e pode indicar que ambas erraram. No entanto, não distingue quem está certa ou errada no caso. Quando membros da igreja divergem entre si, cada um deve tomar a iniciativa de se reconciliar sem esperar pelo outro (ver com. de Mt.18:15).

Evódia. Nome que significa “jornada próspera”. Tanto Evódia quanto Síntique são nomes gregos femininos (sobre as mulheres na igreja macedônia, ver com. de At.16:13; At.17:4; At.17:12).

Síntique. Do gr. Suntuche, originado de suntungchano, “encontrar com”, significando, talvez, “trato agradável”.

Pensem concordemente. Devia haver diferença de opinião entre Evódia e Síntique, mas não se sabe o motivo. Não devia ser um grande problema que preocupasse a igreja como um todo. No entanto, mesmo um pequeno problema se torna perturbador numa comunidade pacífica e organizada. Assim, Paulo aplica a advertência dada anteriormente na carta (ver com. de Fp.2:2). Novamente é introduzida a frase “no Senhor”. Se cada um for semelhante a Cristo, ambos estarão em harmonia. União espiritual com Cristo é o remédio para a enfermidade da igreja.

Fp.4:3 3. A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida.

E (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “sim”.

Fiel companheiro de jugo. Do gr. gnesios suzugos, literalmente, “genuíno colaborador”. Alguns comentaristas tomam isto como uma referência anônima a um dos auxiliares de Paulo e tentam identificar esse ajudante. Outros veem a palavra suzugos como um nome próprio masculino, que transliteram como Syzygus. Creem que Paulo está fazendo um jogo com o significado do nome e dizendo: “Syzygus, corretamente chamado [gnesios] companheiro de jugo”. Esta última interpretação recebe apoio bíblico e da literatura clássica, pois esses jogos com nomes próprios são comuns (cf. Onesíforo, 2Tm.1:16; Onésimo, Fm.1:10).

Peço. Do gr. erotao, “pedir”, “inquirir”, geralmente utilizado no NT com o sentido de “rogar” (cf. Mt.15:23; Mc.7:26; Lc.7:3).

Auxilies. Literalmente, “manter unido”, isto é, assistir. Paulo desejava que ele auxiliasse as mulheres a se reconciliar.

Esforçaram. Do gr. sunathleo (ver com. de Fp.1:27). A palavra ilustra o vigoroso auxílio prestado a Paulo por essas fiéis mulheres que então estavam em desacordo. Poucas coisas prejudicam mais a causa cristã que disputas entre os crentes.

Clemente. Do gr. Klemes, que significa “atencioso”. Não há apoio razoável para identificar esta pessoa com o famoso Clemente, bispo de Roma (c. 90-99 d.C.). Este Clemente parece ter sido um ativo e humilde membro da igreja filipense. A construção grega favorece a ligação dele com “aquelas mulheres” que ajudaram Paulo, e não o torna parceiro do “companheiro de jugo” na obra de pacificação.

Cooperadores. Ou, “companheiros no labor” (cf. Fp.2:25). Os filipenses eram bons obreiros missionários, e alguns foram bons colegas de Paulo na obra evangelística.

Livro da Vida. Antigamente, as cidades livres tinham um livro em forma de rolo que continha o nome de todos os que tinham direito à cidadania (cf. com. de Is.4:3; Ez.13:9). Neste versículo, o apóstolo se refere ao registro celestial em que é escrito o nome dos cidadãos do Céu (ver com. de Ex.32:32; Dn.7:10; Dn.12:1; Lc.10:20; Ap.3:5). Neste livro, está o nome dos outros companheiros de Paulo, não mencionados individualmente na epístola.

Fp.4:4 4. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.

Alegrai-vos. Ver com. de Fp.3:1. Paulo não se cansa de repetir que a alegria é um dos santos privilégios do cristão.

Sempre. O Senhor é sempre o mesmo (ver com. de Ml.3:6; Hb.13:8; Tg.1:17). O amor, a consideração e o poder de Deus são os mesmos nos tempos de aflição e de prosperidade. A habilidade de Cristo em dar paz ao coração não depende de circunstâncias externas; assim, a pessoa que está centralizada nEle se alegra constantemente.

Outra vez digo. O apóstolo repete a exortação, como para evitar as objeções sobre a impossibilidade de se alegrar em meio a circunstâncias desfavoráveis.

Fp.4:5 5. Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.

Moderação. Do gr. epieikes, “dócil”, “gentil”, “amável”. Aqui o termo é utilizado como substantivo, significando “docilidade”, “mansidão”, “amabilidade”, portanto, “domínio próprio”, o oposto de contenda e egoísmo. A palavra relacionada, epieikeia, é traduzida como “mansidão” (2Co.10:1).

De todos os homens. O domínio próprio cristão deve ser visto não apenas por companheiros como também por não crentes.

Perto está o Senhor. Ou, “o Senhor está próximo”. A expressão pode ser comparada a Maran-atha (ver com. de 1Co.16:22). O pensamento da proximidade do Senhor parece ter sido um lema cristão e incluía a busca de Sua constante presença na vida diária, bem como a perspectiva do segundo advento (ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14).

Fp.4:6 6. Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.

Andeis ansiosos. O gr. merimnao, “estar ansioso” (ver com. de Mt.6:25). A admoestação de Paulo proíbe a ansiedade doentia que é inevitável para os que são dependentes de si mesmos em meio às dificuldades. É possível negar essa ansiedade ou levá-la diante de Deus, “lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe.5:7). O pensamento da proximidade da vinda do Senhor deve nos ajudar a ficar livres de ansiedade sobre as coisas terrenas e a ser tolerantes nos relacionamentos interpessoais (ver com. de Mt.6:33-34; 1Pe.5:7).

Coisa alguma. Isto nega qualquer desculpa para a ansiedade por causa de descrença. Não há nada que se relacione à paz do cristão que seja tão pequeno que Deus não o perceba, assim como não há nada grande demais para Ele não resolver. Deus sabe o que precisamos e deseja que tenhamos tudo que for para nosso bem. Então, por que estar sobrecarregado com cuidados que podem ser postos nEle?

Porém. O apóstolo mostra que o cristão não precisa estar preocupado com os negócios desta vida. Pela oração, ele pode discutir suas necessidades com Deus.

Tudo. Este é um contraste positivo a “coisa alguma” da frase anterior.

Petições. Não levamos nossas petições a Deus simplesmente para informá-Lo de nossas necessidades. Ele as conhece antes de pedirmos (ver com. de Mt.6:8; ver GC, 525).

Pela oração e pela súplica. As duas palavras “oração” e “súplica” ocorrem juntas outras vezes (Ef.6:18; 1Tm.2:1; 1Tm.5:5). A palavra “oração” parece ter um sentido geral, e “súplica” deve se referir a oração por algo específico (ver com. de Fp.1:4).

Ações de graças. Este é um acompanhamento necessário à oração e nunca deve estar ausente na devoção diária. Dar graças ajuda a lembrar das misericórdias passadas e prepara para receber bênçãos futuras. O próprio Paulo estabelece um exemplo de constante gratidão (ver com. de Fp.1:3).

Fp.4:7 7. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.

Paz de Deus. Significando a paz que vem de Deus ou a paz que Deus concede. Isto não é o mesmo que ter paz com Deus (Rm.5:1), mas resulta dessa experiência. Paulo deixa claro que esta paz é dada ao que mantém uma vida plena de oração (Fp.4:6). Pode não ser possível ao cristão sempre estar em paz com todas as pessoas (Hb.12:14; ver com. de Rm.12:18), mas falhar em alcançar essa condição não deve interferir no recebimento da paz de Deus no coração. Esta paz está fundada na fé em Deus e no conhecimento pessoal de Sua bondade. Flui de um senso de Sua constante presença e produz confiança e amor puro (ver com. de Jo.14:27; Rm.1:7; Rm.5:1; Cl.3:15; 2Ts.3:16).

Excede. Do gr. huperecho, “exceder”, “ser superior”, “sobressair”.

Entendimento. Do gr. nous termo de vários matizes de significado: (1) “faculdade de compreensão”, “entendimento”, “mente”; (2) “razão”; (3) “poder de julgamento”; e (4) “modo de pensar”, portanto, “pensamentos”, “sentimentos”. No NT, nous ocorre 24 vezes e é traduzido como “mente” 16 vezes e como “entendimento” cinco vezes. Neste versículo, o sentido que Paulo apresenta pode ser: (1) a paz de Deus que excede toda razão humana na habilidade de superar a ansiedade; ou (2) a paz de Deus supera a imaginação. O segundo sentido parece o mais provável, já que reflete o hábito de Paulo de tentar arrebatar com a excelência de seu tópico e de usar superlativos na tentativa de expressar o que está além da expressão humana (cf. Ef.3:20). Unicamente os que conhecem a paz de Deus por experiência podem compreender satisfatoriamente seu significado.

Guardará. A paz de Deus, como uma sentinela, ronda o coração e a mente para guardar as afeições e os pensamentos contra a ansiedade.

Coração. O NT utiliza a palavra “coração” para descrever o centro dos pensamentos, desejos, sentimentos e paixão (ver com. de Mt.5:8; Mt.5:28; Mt.12:34; Rm.1:21).

Mente. Do gr. noemata, “pensamentos”, “propósitos”, tais como procedem do coração.

Em Cristo Jesus. A expressão significa que a paz de Deus guarda o crente em união com Cristo, ou que aqueles que estão “em Cristo Jesus” são guardados pela paz de Deus (sobre o uso paulino da expressão “em Cristo”, ver Fp.1:1; Fp.2:1; ver com. de Rm.8:1).

Fp.4:8 8. Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

Finalmente. Ver com. de Fp.3:1. Neste versículo, Paulo resume seu conselho à igreja de Filipos.

Verdadeiro. Isto não deve ser limitado a veracidade. O conceito escriturístico de verdade é derivado da compreensão da natureza de Deus e de Cristo, que são a fonte de tudo o que é verdadeiro. Sendo assim, “tudo o que é verdadeiro” se refere a tudo o que é moral e espiritualmente sensato, tudo o que é compatível com aliança com Aquele que é “a verdade” (Jo.14:6).

Respeitável. Do gr. semna, “reverendo”, “venerável”, isto é, digno de veneração ou respeito.

Justo. Do gr. dikaia, singular dikaios (ver com. de Mt.1:19), geralmente traduzido como “justo”, no sentido de coisas puras, modestas, inocentes, irrepreensíveis e acima de reprovação.

Puro. Embora a pureza sexual esteja incluída neste termo, isso não esgota todo o seu significado, já que outras formas de pureza devem estar na mente do cristão. Por exemplo, ele deve estimar pureza de ambição, desejo e motivo (ver com. de Mt.5:8).

Amável. Isto é, amigável, prazeroso.

De boa fama. Do gr. euphema, literalmente, “bem sensato”, isto é, respeitável, louvável, coisas que harmonizam com os ideais cristãos.

Se alguma. Ver com. de Fp.2:1. Paulo inclui todas as qualidades desejáveis possíveis, de modo que nenhuma virtude seja omitida.

Virtude. Do gr. arete, palavra com ampla variedade de sentidos, mas que, neste versículo, se refere à “excelência moral”.

Louvor. Do gr. epainos, “aprovação”, “louvor”.

Vosso pensamento. Do gr. logizomai (ver com. de Fp.3:13). Paulo recomenda apreciar todas essas virtudes e deixá-las desempenhar uma função ativa na vida. Se vivermos corretamente, vamos pensar corretamente. O desenvolvimento do caráter cristão exige o pensar correto. Portanto, Paulo delineia um construtivo programa de atividade mental. Em vez de pensar sobre diferenças com o próximo ou estar ansioso sobre necessidades diárias, devemos exercitar a mente em virtudes cristãs.

Fp.4:9 9. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.

O que. Paulo se volta para a prática e menciona a vida pessoal dos filipenses, em quem as virtudes do v. Fp.4:8 eram exemplificadas enquanto vivia entre eles.

Aprendestes. Esta palavra unida a “recebestes” se refere ao que os crentes obtiveram da instrução formal de Paulo.

E ouvistes, e vistes. Tão importante quanto o ensino formal é a vida do mestre. Paulo percebeu isso e, pela graça de Deus, conseguiu viver para confiantemente indicar a seus leitores seu exemplo pessoal.

Praticai. Do gr. prasso, “exercitar”. O apóstolo desejava estimular seus conversos no exercício real das virtudes que recomendou.

Deus da paz. Isto é, o Deus que é autor e doador da paz. Deus habita com aqueles que têm pensamentos e vida santos (ver com. de Fp.4:7; Rm.15:33).

Fp.4:10 10. Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade.

Alegrei-me. Ou, “alegro-me”, se Paulo estiver utilizando aqui o aoristo epistolar (ver com. de Fp.2:25). O apóstolo praticava os preceitos que encorajava a igreja a seguir (Fp.4:4); ele se alegra, como ordena aos filipenses que se alegrem.

A meu favor o vosso cuidado. Paulo tinha em mente o plano atencioso por meio do qual os filipenses procuraram suavizar as provações dele, primeiro, quando estava em Corinto (v. Fp.4:15) e, então, em Roma (Fp.2:25; Fp.4:18).

Renovastes. Do gr. anathallo, “disparar em tamanho”, “brotar novamente”, palavra utilizada para uma árvore em que crescem novos brotos depois do inverno. A ideia é de atividade renovada após inatividade. De modo algum, Paulo está acusando seus amigos de negligência, pois reconhece que eles não puderam ajudá-lo antes.

Cuidado. Ou, “atenção”. Paulo reconhece que embora as circunstâncias não permitissem que a igreja prestasse auxílio prático, os membros desejaram continuamente melhorar sua condição.

Faltava oportunidade. Os obstáculos não são especificados, mas parece ter sido temporariamente impossível aos filipenses enviar doações ao apóstolo.

Fp.4:11 11. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Pobreza. Do gr. husteresis (ver com. de Mc.12:44). A primeira parte deste versículo ilustra a mentalidade de Paulo. Embora estivesse aprisionado, ele não usaria suas privações para despertar simpatia.

Aprendi. Paulo aprendeu a lição algum tempo antes e continuou a praticá-la desde então. A instrução pode ter ocorrido na conversão porque as reações subsequentes sob variadas circunstâncias indicam que ele cria que tudo que lhe sobrevinha era por permissão de Deus (ver com. de Rm.8:28; 1Co.10:13; 2Co.12:7-9).

Contente. Do gr. autarkes, “suficiente para si”, “independente de circunstâncias externas”. Paulo era autossuficiente por meio do poder da nova vida em Cristo, porque não era ele quem lidava com as circunstâncias, mas Cristo que vivia nele (ver com. de Cl.2:20; Fp.4:13; 2Tm.1:12).

Em toda e qualquer situação. Ou, “em que coisas [circunstâncias]”. Paulo não limita as condições sob as quais deve estar contente. Não há contradição entre esse pensamento e o de passar por uma experiência espiritual mais elevada (Fp.3:12-14). Se pudéssemos contemplar o futuro com os olhos de Deus, veríamos a vantagem de sermos conduzidos nos caminhos determinados por Deus (DTN, 224, 225).

Fp.4:12 12. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;

Humilhado. Ou, “condição desfavorável”. Paulo fala de necessidades físicas, não de deficiências espirituais.

Ser honrado. A disposição de Paulo era tão estável que não se afetava pelas circunstâncias.

Em todas as circunstâncias. Literalmente, “em todas as coisas”.

Instruído (ARC). Do gr. mueo, “iniciado nos mistérios”; indicava a instrução de uma pessoa nos ritos secretos das chamadas religiões de mistério (ver vol. 6, p. 78, 79). A palavra pode ser traduzida como “aprendi o segredo de” (NTLH).

Fartura. Do gr. chortazo, “alimentar”, palavra utilizada para a engorda de animais e para a satisfação da fome humana.

Fome. Ver com. de 2Co.11:27.

Escassez. Do gr. hustereo, “carecer” (ver com. de Rm.3:23).

Fp.4:13 13. tudo posso naquele que me fortalece.

Tudo posso. Do gr. ischuo, “ter poder”, “ser capaz”.

Naquele. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão do nome “Cristo” (NTLH), mas ele está implícito na linguagem de Paulo.

Que me fortalece. Paulo reconhecia Cristo como a fonte de todo seu poder, assim, não há elemento de jactância neste versículo. Tudo que necessitava ser feito poderia ser feito pela força dada por Cristo. Quando as ordens divinas são fielmente seguidas, o Senhor Se responsabiliza pelo sucesso da obra empreendida pelo cristão (PJ, 333, 363; T8, 16). Em Cristo, há força para cumprir o dever, poder para resistir à tentação e paciência para sofrer sem reclamar. Há graça para o crescimento diário, coragem para as múltiplas batalhas e energia para o serviço fiel.

Fp.4:14 14. Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.

Fizestes bem. Embora Paulo não reclamasse de sua sorte e pudesse seguir em frente sem as doações dos filipenses, o apóstolo os elogia pelo generoso interesse nele. Paulo não foi ingrato, mas reconheceu que as dádivas deles foram uma bênção para ele bem como para eles.

Associando-vos. Do gr. sugkoinoneo, “compartilhar com”, “ter amizade com”; originado de sun, “com”, koinoneo, “tornar-se compartilhador” (ver com. de Rm.12:13). Paulo valorizava a simpatia e o companheirismo dos amigos em Filipos mais do que as doações que enviavam. Para ele, as doações eram preciosas como prova de amor.

Fp.4:15 15. E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros;

No início. Esta é uma referência à época em que Paulo ministrou pela primeira vez em Filipos (At.16:12-40).

Quando parti. Isto é, quando Paulo saiu apressadamente de Bereia (ver com. de At.17:13-14).

Nenhuma igreja se associou. Ver com. do v. Fp.4:14. Paulo normalmente se abstinha de caridade, preferindo ganhar a própria subsistência (ver com. de At.18:3; At.20:34; 1Co.4:12). No entanto, em Corinto, ele consentiu em receber doações dos irmãos macedônios (2Co.11:9). Sua fala à igreja de Tessalônica (1Ts.2:9; 2Ts.3:8) exclui qualquer ideia de que parte da contribuição pudesse ter sido de Tessalônica. Nesta epístola, as doações são mencionadas como provenientes da igreja de Filipos. Parece evidente que o apóstolo tinha os amigos de Filipos em estima especial.

Dar e receber. Os filipenses doaram, e Paulo recebeu.

Fp.4:16 16. porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades.

Até para Tessalônica. Paulo relembra que os filipenses o ajudaram mesmo antes de ter sido forçado a fugir da Macedônia. O auxílio deles começou a fluir pouco depois que ele deixou Filipos, enquanto ainda estava na cidade vizinha, Tessalônica.

Não somente uma vez, mas duas. A generosidade deles não era transitória porque continuaram a enviar auxílio ao amado apóstolo.

Para as minhas necessidades. Ou, “em relação à minha necessidade”.

Fp.4:17 17. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito.

Eu procure. Literalmente, “estou à procura”. Paulo não estava solicitando mais doações, nem desprezando a bondade demonstrada pelos filipenses. Preocupava-se com as questões mais elevadas, as espirituais.

Fruto. Literalmente, “o fruto”. Paulo desejava ansiosamente ver os filipenses crescendo na graça cristã e produzindo ainda mais frutos do Espírito.

Crédito. Paulo vê as boas obras dos cristãos acumulando para enriquecer a vida presente deles, e tornando-se notáveis para memória no juízo quando revelarão a qualidade da vida terrena que tiveram.

Fp.4:18 18. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.

Recebi. O verbo grego pode ser traduzido como: “recebi tudo” (ver com. de Mt.6:2).

Abundância. Ver com. do v. Fp.4:12.

Estou suprido. Ou, “estou cheio”. O pensamento de Paulo está voltado para aqueles cuja bondade tornou esta declaração verdadeira.

Epafrodito. Ver com. de Fp.2:25.

Aroma suave. No AT, expressões semelhantes foram utilizadas para descrever os sacrifícios aceitáveis oferecidos ao Senhor (ver Gn.8:21; Lv.1:9; Lv.1:13; Lv.1:17). Da mesma forma, Paulo considera as doações recebidas de Filipos (ver com. de Ef.5:2).

Sacrifício. Ver com. de Fp.2:17. Aqui, “sacrifício” descreve as doações feitas por meio de Epafrodito. Esses donativos eram uma oferta voluntária em grato amor a Deus e às pessoas (cf. Hb.13:16). Fazer o bem aos outros com um coração amoroso é elevar a Deus um sacrifício aceitável.

Aceitável. Do gr. euarestos, palavra traduzida como “aceitável” (Rm.12:1).

Fp.4:19 19. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.

Meu Deus. Paulo aceitou a oferta como sendo feita não a ele, mas a Deus, de quem era ministro. Deus aceita as ofertas como se fossem feitas a Si. Ele diz: “Vocês supriram minhas necessidades; Ele suprirá cada uma das suas.” Seja necessidade espiritual ou temporal, Deus não retém nenhuma coisa boa do justo (ver SI.84:11). Para Noé e sua família, foi provido escape do dilúvio (Gn.7:1). Israel foi preservado durante os 40 anos de peregrinação no deserto (Dt.29:5).

Suprir. Literalmente, “satisfazer”, isto é, Deus supre plenamente qualquer necessidade do cristão fiel. No exílio, Elias foi sustentado por corvos (1Rs.17:6). A vida dos três jovens foi preservada na fornalha ardente (Dn.3:27). Os anjos de Deus são espíritos ministradores para suprir as necessidades dos que serão herdeiros da salvação (Hb.1:14). Nos últimos dias, imediatamente antes da vinda de Cristo, quando as condições forem severas, o pão e a água do povo de Deus serão certos (ver com. de Is.33:16). Ninguém que serve ao Senhor precisa temer que Ele o deixe sem cuidado. Aqueles que buscam primeiramente o reino de Deus são supridos com todas as coisas necessárias (ver com. de Mt.6:33).

Sua riqueza. Esta riqueza é ilimitada (SI.24:1; Sl.50:10-12; Ag.2:8), e, desta abundância, Deus compensaria os filipenses pelo que doaram a Paulo.

Em glória. Alguns relacionam esta frase com “riquezas”, como riquezas que são estocadas “em glória”, no Céu. Outros ligam “suprirá” e “em glória” e entendem que a recompensa será dada na eternidade. Este segundo ponto de vista tende a restringir a obra de Deus, ao passo que o Senhor pode suprir a necessidade do cristão nesta vida e na vindoura.

Em Cristo Jesus. Ou, “em ligação pessoal com Cristo Jesus”. Toda bondade de Deus é dada aos seres humanos por meio de Cristo e é desfrutada por aqueles que estão ligados ao Salvador (ver com. de 2Co.1:20; Ef.2:4-7).

Fp.4:20 20. Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Nosso Deus e Pai. Ou, “Deus que também é nosso Pai”. No v. Fp.4:19, Paulo falou de “meu Deus”, mas agora ele inclui os filipenses na grande família e os encoraja a participar da doxologia.

Glória. Sobre o significado de “glória”, ver com. de Rm.3:23; sobre a doxologia, ver com. de Rm.3:23; Gl.1:5).

Pelos séculos dos séculos. Ver com. de Ap.14:11.

Fp.4:21 21. Saudai cada um dos santos em Cristo Jesus. Os irmãos que se acham comigo vos saúdam.

Saudai. Do gr. aspazomai (ver com. de Rm.16:3; 1Ts.5:26).

Cada um dos santos. Isto é, cada santo individualmente, porque Paulo desejava cumprimentar todos os cristãos filipenses (sobre “santo”, ver com. de Rm.1:6).

Em Cristo Jesus. Esta frase pode ser conectada a “saudai” (cf. Rm.16:22; 1Co.16:19) ou a “santo”, como em Fp.1:1.

Irmãos [...] vos saúdam. Paulo chama os que estavam com ele de “irmãos”, embora não tivesse ninguém da mesma disposição mental que ele, exceto Timóteo (Fp.2:20-21). O nome de alguns daqueles que estavam com o apóstolo numa época ou noutra, durante seu aprisionamento, pode ser visto nas cartas aos Colossenses (Cl.4:10-15) e a Filemom (v. Fm.1:23-24). Não se sabe quantos deles estavam com Paulo nesta época.

Fp.4:22 22. Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César.

Todos os santos. Esta é uma referência geral aos membros da igreja em Roma, distinguindo-os de “os irmãos” (v. Fp.4:21).

Casa de César. A palavra “casa” (oikia) aqui significa a equipe doméstica do cortejo do imperador (cf. com. de Fp.1:13). Na época de Nero, governo durante o qual Paulo foi aprisionado (ver vol. 6, p. 70-72), a quantidade de servos domésticos era imensa. Este versículo comprova que alguns dos servos, escravos ou livres, eram cristãos (AA, 463) e estavam ansiosos por enviar saudações aos filipenses. O fato de alguns dos servos de Nero terem se tornado cristãos mostra que o evangelho pode frutificar mesmo nos locais mais improváveis e sob as circunstâncias mais desencorajadoras (AA, 465, 466).

Fp.4:23 23. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito.

A graça do Senhor Jesus. Ver com. de Gl.6:18.

Com vós todos (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “com vosso espírito” (cf. Gl.6:18, ARA).

Amém (ARC). Do gr. amen (ver com. de Mt.5:18). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. O pós-escrito (KJV) seguinte ao v. 23 não fazia parte do manuscrito original.