"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Filemon
Fm.1:1 1. Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, também nosso colaborador,

Paulo. Geralmente, Paulo começa suas epístolas com uma referência a suas credenciais divinas como apóstolo. No entanto, pelo fato de esta epístola não se destinar principalmente a ser lida em público, mas ser enviada especificamente a um velho amigo, a autoridade apostólica de Paulo não precisava ser enfatizada.

Prisioneiro de Cristo Jesus. A situação de Paulo como “prisioneiro” estava em contraste com a lembrança de Filemom sobre Paulo como o evangelista zeloso, o viajante incansável e o administrador indomável. Filemom sabia que a desgraça e o sofrimento de Paulo eram resultado do testemunho fiel de Cristo, a quem ambos serviam. Embora Filemom estivesse comprometido com a mesma servidão a Cristo, pelo menos, desfrutava liberdade física. Aqui, Paulo toca o compassivo coração de Filemom. Quanto orgulho pessoal estava Filemom disposto a sacrificar como companheiro de um “prisioneiro de Jesus Cristo”? Paulo escreve a um amigo querido com traços ousados e nítidos, com a liberdade de dois cristãos consagrados.

Nosso irmão (TB). Uma referência à fraternidade de todos os cristãos, à qual Paulo, Timóteo, Filemom e Onésimo pertenciam. Paulo confia no espírito fraternal, na busca de uma recepção gentil a um escravo fugitivo. Com o passar do tempo, esse espírito acabaria por destruir a própria instituição da escravidão.

Timóteo. Filemom pode ter se familiarizado com Timóteo durante a associação deste com Paulo, em Éfeso (ver At.19:22). Um forte vínculo de amizade pode ter se desenvolvido entre Filemom e Timóteo; assim, a menção do nome de Timóteo indica sua preocupação com a delicada relação entre Filemom e Onésimo, bem como sua concordância com Paulo em tudo o que este escreveu.

Ao amado. Filemom teria dificuldade em ignorar o conselho dado com tanta sinceridade e carinho fraternal. Raramente, a afeição genuína é expressa com tanta franqueza, especialmente entre homens. Paulo exemplifica os muitos traços mais bondosos, bem como as qualidades mais firmes que os cristãos sinceros devem manter.

Filemom. Nada se sabe sobre Filemom, a não ser o que é revelado nesta epístola. Aparentemente, ele vivia em Colossos, porque Onésimo era de Colossos (ver com. de Cl.4:9), como era Arquipo (ver Cl.4:17). Filemom era um converso de Paulo (ver Fm.1:19) e pessoa de consideráveis bens e posição social (ver v. Fm.1:2). Consequentemente, sua atitude acerca de Onésimo influenciaria grandemente sua família e o grupo de cristãos, entre os quais ele trabalhava, bem como toda a sua comunidade.

Colaborador. Talvez Filemom houvesse trabalhado com Timóteo e Paulo na evangelização de Éfeso e das proximidades (At.19:26). No entanto, Paulo podia estar se referindo simplesmente ao trabalho de Filemom no desenvolvimento da igreja de Colossos. Paulo sabia que a liderança de Filemom era confiável e digna de elogios.

Fm.1:2 2. e à irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa,

Amada (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “irmã” (ARA), isto é, aquela que é irmã na comunhão cristã. Paulo atribui a Áfia a condição de igualdade a si mesmo e a Filemom. A valorização da mulher é uma das grandes contribuições do cristianismo para a humanidade, sendo este um dos muitos exemplos no NT em que a dignidade feminina é enfatizada. Na maioria das sociedades pagãs, a mulher é limitada a um tipo de servidão, mas o cristianismo a emancipou dessa condição e lhe concedeu uma posição de igualdade social e espiritual com o marido. A enobrecedora cooperação em lares cristãos, e mesmo de muitos não cristãos, pode ser atribuída aos ensinamentos inspirados de Jesus Cristo.

Arquipo. Tendo em vista a estreita ligação em que Arquipo é mencionado em relação a Filemom e Áfia, ele pode ter sido seu filho. Paulo elogiou Arquipo, seu “companheiro de lutas”, por sua corajosa liderança cristã. Talvez ele tenha dirigido os assuntos da igreja de Colossos durante a ausência de Epafras, o líder regular (Cl.4:17).

Igreja. Do gr. ekklesia. Ver com. de Mt.18:17.

Tua casa. Alguns creem que isto se refira especificamente aos trabalhadores e a outros membros da família de Filemom. Outros, porém, creem que Paulo se refere a uma congregação cristã, que se reunia para o culto nessa casa. Os primeiros cristãos se reuniam em casas particulares para os cultos religiosos, o que é amplamente atestado no NT. São exemplos disso a casa de Maria, em Jerusalém (At.12:12), a casa de Priscila e Áquila, em Roma (Rm.16:3-5) e em Éfeso (1Co.16:19), e a casa de Ninfa, em Laodiceia (Cl.4:15).

Nas grandes cidades, vários cultos da igreja eram realizados simultaneamente em casas. Paulo sabia que toda a igreja estaria interessada no retorno de Onésimo. Esta epístola foi, sem dúvida, lida para todos ouvirem, pois todos provavelmente precisariam de seus conselhos para ajudá-los a receber Onésimo, como era o dever cristão deles. O fato de a casa de Filemom ser de tamanho suficiente para acomodar uma congregação para o culto sugere que ele era um homem de posses e influência social.

Fm.1:3 3. graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Graça. Sobre uma saudação idêntica, ver com. de Rm.1:7.

Fm.1:4 4. Dou graças ao meu Deus, lembrando-me, sempre, de ti nas minhas orações,

Sempre. Está conectado com “dou graças ao meu Deus”.

Minhas orações. Compartilhar com Deus as alegrias e tristezas da vida, como se faz de amigo para amigo, é o melhor da oração. Mais uma vez, Paulo lembra a Filemom o profundo respeito e a gratidão que sentia em relação a este. Delicadamente, Paulo prepara o caminho para que Filemom conceda a Onésimo uma bondosa recepção. Há muito encorajamento na certeza de que um amigo querido e respeitado ora por nós, que esse amigo tem plena confiança em nossa integridade e em nosso julgamento santificado (ver v. Fm.1:5-7). Essa é a garantia que Paulo dá a Filemom.

Fm.1:5 5. estando ciente do teu amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e todos os santos,

Estando ciente. Ou seja, pelas informações levadas por Epafras ou por Onésimo (Cl.1:7-8; Cl.4:12-13).

Amor. Do gr. agape (ver com. de 1Co.13:1). O amor de Filemom não era mero sentimentalismo. Sua devoção era consistentemente expressa por meio de ações, tanto para com Deus quanto para com os semelhantes. Paulo crê que Filemom manifestará o mesmo amor cristão e fidelidade na recepção a Onésimo.

Fé. Amor e fé são qualidades que os cristãos genuínos exercem para com Deus e os semelhantes.

Santos. Do gr. hagioi (ver com. de Rm.1:7).

Fm.1:6 6. para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo.

Comunhão. Do gr. koinonia, “comunhão”, “participação conjunta”. Além de agradecer a Deus o auxílio e encorajamento de Filemom, Paulo também ora para que este seja constante em reconhecer todas as oportunidades de manifestar seu amor cristão e sua fidelidade.

Conhecimento. Do gr. epignosis (ver com. de Ef.1:17).

Todo bem. Filemom era conhecido por sua magnanimidade e bondade. Paulo ora para que, em nenhuma ocasião, ele deixe de manifestar o amor e fé cristãos (v. Fm.1:5). Para com todos, em todas as oportunidades, o cristão genuíno manifestará as graças de amor e fé. Com o tato originado do amor genuíno, Paulo arrazoa, não só com Filemom, mas com toda a congregação de Colossos, que leria esta carta. Não só Onésimo, mas todos os escravos cristãos em Colossos deviam manifestar amor e fé.

Em vós (ARC). Ou, “entre nós”, isto é, todos aqueles, incluindo os escravos, que eram membros da igreja de Colossos e em qualquer outro lugar.

Fm.1:7 7. Pois, irmão, tive grande alegria e conforto no teu amor, porquanto o coração dos santos tem sido reanimado por teu intermédio.

Tivemos (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “tive” (ARA). Paulo amplia o motivo de sua gratidão (v. Fm.1:4). Quando chegou a ele o relatório da fidelidade de Filemom (v. Fm.1:5), as horas cansativas que o apóstolo gastou na pregação do evangelho em Colossos e a Filemom, em particular (v. Fm.1:19), foram amplamente recompensadas.

Alegria e conforto. Na prisão, provavelmente, Paulo tinha refletido com prazer na hospitalidade de Filemom. Lembranças agradáveis traziam “alegria e conforto” a sua mente.

Coração. Literalmente, “as vísceras abdominais”. Antigamente, os órgãos abdominais eram considerados a sede das emoções.

Irmão (ARC). Um simples toque de carinho, mas quem é que pode medir seu valor quando dito com sinceridade? Filemom nunca havia decepcionado Paulo. No caso de Onésimo, Paulo não tinha dúvidas de que Filemom continuaria a ser digno de sua confiança.

Fm.1:8 8. Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém,

Pois bem. Ou seja, com base no esplêndido registro de “amor e fé” genuínos por parte de Filemom (v. Fm.1:4-7), Paulo sabia que seu conselho sobre Onésimo seria graciosamente atendido. Filemom entendia e praticava o amor cristão inteligente e, por este motivo, Paulo apela apenas nesse nível. Essa suposição é um verdadeiro elogio a Filemom, expressão sincera de apreço por seu testemunho cristão. Nem todos os cristãos estão dispostos a receber orientação de outros, mesmo quando ela é transmitida por aqueles que possuem ampla formação e experiência.

Liberdade. Do gr. parresia (ver com. de At.4:13).

Para te ordenar. Do gr. epitasso, “dar ordens”, “comandar”. A posição de Paulo como apóstolo e como pai de Filemom, na fé (v. Fm.1:19), pressupõe a autoridade com que ele poderia ter ordenado que Filemom aceitasse Onésimo como irmão em Cristo. Não havia nenhuma dúvida na mente de Paulo de que Filemom teria respondido a toda orientação que lhe fosse dada por um apóstolo de elevada autoridade. Mas Paulo conhecia uma forma melhor (ver com. do v. Fm.1:9). Não se pode conceder maior elogio a qualquer pessoa do que a franca admissão de que ela vive acima e além de meras regras e regulamentos, que sua vida pessoal é guiada pelo relacionamento e compromisso pessoal com Jesus Cristo e pelos princípios cristãos.

O que convém. Ou, “o teu dever”, isto é, como verdadeiro cristão.

Fm.1:9 9. prefiro, todavia, solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até prisioneiro de Cristo Jesus;

Solicitar. Ou, “apelar”. A prova do amor de Paulo, tanto para com Onésimo como para com Filemom, é repetidamente vista em toda esta epístola. Não como alguém superior, mas como igual, Paulo apelou a Filemom para que ajudasse a mudar a condição de Onésimo como um escravo cristão arrependido. Paulo estava confiante de que Filemom apreciaria essa abordagem graciosa para a resolução do problema mútuo.

Amor. Como um talentoso líder, Paulo não deu ordens. Ao apresentar a necessidade e o objetivo a ser alcançado, ele sempre apelou pelos motivos nobres a que um cristão genuíno iria responder. Desafiados à resposta mais nobre, os colaboradores de Paulo poriam todas as forças em ação para satisfazer as expectativas do apóstolo. Assim, Filemom teve a oportunidade de servir, em vez de ter apenas a ocasião para responder a um pedido.

Paulo, o velho. A idade exata de Paulo no momento não pode ser determinada. Cerca de 28 anos haviam se passado desde o apedrejamento de Estêvão, quando ele foi chamado de neanias, “um jovem” (ver com. de At.7:58). Assim, Paulo devia estar por volta dos cinquenta anos ou no início dos sessenta, quando esta carta foi escrita (sobre a data de Filemom, ver vol. 6, p. 93). Por causa de sua vida árdua, o apóstolo estava desgastado e cansado, mas não tão cansado a ponto de negligenciar questões de amizade pessoal. Alguns preferem encontrar o sentido de “embaixador” em vez de “velho”, porque acham que Paulo aqui se compara a um “embaixador em cadeias” (Ef.6:20). No entanto, a variante “representante” (ver NTLH) não é convincente do ponto de vista linguístico nem contextual.

Prisioneiro de Cristo Jesus. Ver com. do v. Fm.1:1.

Fm.1:10 10. sim, solicito-te em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas.

Onésimo. Ou seja, “útil”. A delicadeza de Paulo na introdução do problema particular de Onésimo é revelada no grego, em que o nome de Onésimo é reservado até o fim da frase. Literalmente, o versículo diz: “Rogo-te por meu próprio filho, que gerei nestas algemas, Onésimo.” Filemom é gentilmente conduzido para a câmara interior do coração de Paulo e, portanto, induzido a considerar Onésimo de forma semelhante ao apóstolo. Sem a inclusão de uma declaração do terno relacionamento do próprio Paulo com Onésimo, Filemom se lembraria apenas de toda a anterior má conduta, desobediência e possível avareza manifestadas por Onésimo no passado (v. Fm.1:11). Aqui Paulo usa um forte pronome possessivo que amplia os ternos laços existentes entre ele e Onésimo. Ele escreve, literalmente: “meu próprio filho”. Portanto, Paulo apelou ao coração de Filemom antes que os olhos deste chegassem ao nome de seu antigo escravo.

Por causa da alta consideração de Filemom para com Paulo, ele estaria ansioso para prestar toda ajuda possível a fim de agradá-lo. O que o apóstolo estimasse, Filemom consideraria com atenção. Filemom notaria o paralelo entre a sua experiência (v. Fm.1:19) e a de Onésimo: ambos eram “filhos” de Paulo, sua descendência espiritual. Paulo muitas vezes chamava seus conversos de “filhos amados” (ver com. de 1Co.4:14-15; 1Co.4:17; 1Tm.1:2; 1Tm.1:18).

Gerei entre algemas. Não há indicação de como Paulo se familiarizou com Onésimo, nem indicação sobre como e por que Onésimo havia chegado até Paulo. Na obra misteriosa da Providência, eles foram reunidos. Paulo, que não perdia a oportunidade de servir, e Onésimo, que corajosamente respondeu.

Fm.1:11 11. Ele, antes, te foi inútil; atualmente, porém, é útil, a ti e a mim.

Inútil. Ou, “não proveitoso”. Não é certo se Paulo se refere a indolência ou mesmo a roubo, enquanto Onésimo trabalhava para Filemom, ou à ausência de Onésimo da casa de Filemom, tornando-se assim “inútil” a seu senhor. As duas hipóteses podem estar corretas.

Atualmente. Ou seja, desde que Onésimo conheceu Paulo e se converteu. Paulo dá a entender que se Onésimo não tivesse fugido, provavelmente, ele não seria então um cristão. Uma ligeira sugestão de censura pode ser destinada a Filemom. Como um cristão, ele poderia ter feito para Onésimo o trabalho que Paulo havia realizado. Onésimo teve de fugir de seu senhor terreno para encontrar o apóstolo Paulo, em Roma, antes de encontrar seu verdadeiro Senhor e Mestre. Assim, Paulo desfaz uma possível objeção de Filemom. Onésimo havia sido inútil a Filemom, mas, então, estava voltando a seu proprietário como um homem novo e útil. Filemom, bem como Onésimo, lucrariam com uma recepção graciosa, porque o antigo escravo prestaria serviço muito melhor do que anteriormente.

A mim. Paulo se liga aos interesses e ao futuro de Onésimo. Consequentemente, o que Filemom fizesse a Onésimo, ele faria para Paulo.

Fm.1:12 12. Eu to envio de volta em pessoa, quero dizer, o meu próprio coração.

Eu to envio. Ou, “estou enviando”. Onésimo deveria acompanhar a carta. Não há nenhuma evidência de que Paulo houvesse compelido, ou até mesmo pedido, que Onésimo voltasse. Além disso, Paulo não tinha poder para enviar Onésimo de volta a Filemom, nem teria como garantir que Onésimo chegasse a Colossos. No entanto, ele tinha plena confiança na integridade de Onésimo. Ambos sabiam que o dever cristão de Onésimo era voltar a Filemom, embora sua ausência privasse Paulo de seu gracioso serviço. Paulo liberou Onésimo de servi-lo para que ele pudesse servir a Filemom.

Torna a recebê-lo (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras.

Meu próprio coração. Ou, “minhas entranhas” (ACF). Ver com. do v. Fm.1:7. Em pensamento, Paulo acompanha o escravo no seu retorno. Ao receber Onésimo, Filemom não estaria apenas acolhendo um escravo convertido, mas também gratificando o coração magnânimo do próprio Paulo.

Fm.1:13 13. Eu queria conservá-lo comigo mesmo para, em teu lugar, me servir nas algemas que carrego por causa do evangelho;

Eu queria. Do gr. boulomai, “desejaria”, “estaria disposto a”. Paulo poderia, pessoalmente, desejar que o “útil” Onésimo permanecesse em Roma como seu assistente pessoal. Para um obreiro envelhecido, desgastado por anos de serviço extraordinário, a atenção pessoal de um amigo dedicado não poderia ser quantificada em dinheiro nem igualada de qualquer outra forma. No entanto, apesar de Paulo perder o benefício da assistência de Onésimo, ele seria recompensado com a reconciliação bem-sucedida de seus dois amigos. Assim, Paulo não permitiria que necessidades pessoais interferissem no objetivo mais importante de um triunfo espiritual, nem se aproveitaria dos direitos de Filemom, proprietário legal de Onésimo.

Em teu lugar. O apóstolo sugere diplomaticamente que Filemom considerasse que um serviço pessoal prestado a Paulo seria uma das mais altas honras da vida, e que, se pudesse, o próprio Filemom haveria de cuidar de Paulo, assim como Onésimo tinha feito. Dessa maneira, Filemom não só se alegraria com o serviço gratificante prestado por Onésimo, como também seria grato por Onésimo prestar esse serviço em seu lugar.

Por causa do evangelho. Comparar com os v. Fm.1:1; Fm.1:10. Outro gentil lembrete de que, embora ambos servissem ao mesmo Senhor, Paulo estava sofrendo as agruras de uma masmorra romana enquanto Filemom desfrutava os benefícios da liberdade, juntamente com as bênçãos do ministério sacrificial de Paulo. Por seu delicado sentimento de compaixão (v. Fm.1:5-7), Filemom rapidamente perceberia sua responsabilidade para com o amigo reverenciado.

Fm.1:14 14. nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento, para que a tua bondade não venha a ser como que por obrigação, mas de livre vontade.

Não quis. Do gr. thelo, “pretender”, “ter em mente”. Para o apóstolo, o respeito de Filemom valia mais até mesmo do que o conforto físico dos serviços prestados por Onésimo. O propósito do apóstolo em expressar seus desejos pessoais a respeito de Onésimo não se destinava a inspirar simpatia por parte de Filemom, de modo que ele lhe devolvesse Onésimo. Isso era indigno ao apóstolo. Ao contrário, ele se expressou assim com a intenção de ressaltar o alto valor que atribuía ao caráter e serviço de Onésimo.

Consentimento. Ou, “conhecimento”, “intenção”. Embora Paulo pudesse ter plena certeza da aprovação de Filemom, ele não tomaria nada como certo, respeitando sempre o sagrado direito de livre-arbítrio de cada um. O apóstolo sabia que a verdadeira amizade é construída apenas pelas livres e voluntárias expressões de bondade. Portanto, com grande cortesia e consideração, Paulo insistiu em que Filemom deveria tomar todas as decisões acerca de Onésimo.

Tua bondade. Ou seja, a vantagem que representaria para o apóstolo o fato de Filemom deixar para ele a decisão de manter Onésimo como seu assistente pessoal.

Por obrigação. Aparentemente, Paulo se sentiria satisfeito de que, caso Onésimo fosse mantido em Roma, Filemom não se opusesse. Mas o apóstolo não arranjaria uma situação na qual a permissão de Filemom parecesse resultado de compulsão.

Fm.1:15 15. Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre,

Acredito. Apesar de Paulo não afirmar que a fuga de Onésimo fora providencial, ele deixa isso sugerido.

Ser afastado. Literalmente, “ser separado”. Esta parece ser outra sugestão de que Deus tivera parte na saída de Onésimo para longe de Filemom. A fuga de Onésimo não é minimizada por Paulo. Ela é colocada na perspectiva mais ampla de seu novo relacionamento tanto com Deus como com Filemom.

Temporariamente. Seja qual for o tempo decorrido desde que Onésimo fugiu da casa de Filemom, foi apenas um momento em comparação com o tempo que Filemom poderia desfrutar o serviço dele no futuro.

Para sempre. Do gr. aionios, literalmente, “época duradoura”, isto é, perpetuamente, mas dentro de limites (ver com. de Mt.25:41). Onésimo seria um fiel servo e companheiro cristão de Filemom, enquanto ambos vivessem.

Fm.1:16 16. não como escravo; antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim e, com maior razão, de ti, quer na carne, quer no Senhor.

Não como escravo. Ou, “não mais”. Antes, muito acima de escravo. Paulo está sugerindo que Filemom deveria aceitar Onésimo como um irmão cristão cuja vida, como a dele, estava comprometida com o Senhor Jesus Cristo. Pois, muito mais do que o serviço de um escravo pagão, Onésimo prestaria a Filemom devoção, como o próprio Paulo havia recebido.

Irmão caríssimo. O amor que Paulo havia desenvolvido por Onésimo naquele breve período sugere a rica comunhão que aguardava Filemom, o qual iria se associar a Onésimo por muito mais tempo. Onésimo havia saído como um escravo renegado, mas retornaria como um “útil” (v. Fm.1:11) irmão cristão, o que era uma demonstração da graça de Deus. Para o apóstolo, a experiência de Onésimo ilustra o poder de Deus ao extrair o bem do mal. A despeito das falhas e dos fracassos humanos, o Senhor pode cumprir Seus benditos propósitos para com aqueles que O servem. A indolência e covardia de Onésimo, que o levara a Roma, também o havia levado a Paulo e, consequentemente, a Jesus Cristo. Ele voltava, então, a Filemom como um homem transformado. A separação temporária havia resultado em um vínculo eterno de companheirismo. Não seria difícil para Filemom perceber a mão de Deus nas experiências de seu antigo escravo. Assim, Filemom consideraria um privilégio pessoal cooperar com a vontade de Deus para com Onésimo.

Na carne. Ou seja, como um servo consciente que retribuiria amplamente a confiança que Filemom depositaria nele. Antes de Onésimo partir de Roma, Paulo desfrutava a bênção de seu ministério “na carne”; doravante, só Filemom seria beneficiado dessa forma.

No Senhor. Independentemente do antigo relacionamento de Onésimo com Filemom, ele deveria ser considerado um amado irmão em Cristo e verdadeiramente um candidato ao reino de Deus, assim como seu senhor. Dessa forma, a alegria da esperança cristã seria mútua.

Fm.1:17 17. Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo.

Se. O texto grego sugere que Paulo não tinha dúvida acerca da genuína e calorosa comunhão cristã entre ele e Filemom. Por isso, a frase pode ser parafraseada como: “desde que você me considere um sócio”.

Recebe-o, como se fosse a mim mesmo. Depois de um preâmbulo longo e cuidadosamente redigido, Paulo faz este pedido definitivo, o clímax da epístola. Mesmo ao fazer a petição, retardada por tato e graciosidade, Paulo apela para um motivo muito real e terno em Filemom: a amizade pessoal. Do ponto de vista de seus direitos legais, Filemom poderia reagir de outra forma, independentemente do que Paulo sugeria. Mas Paulo se ergue acima da mera justiça e apoia seu caso no vértice do amor. Devido ao inquestionável respeito de Filemom para com o julgamento de Paulo e sua gratidão pelo amor do apóstolo, Onésimo seria recebido com base na estima de Paulo para com ele. Para alguém como Filemom, isso seria suficiente.

Fm.1:18 18. E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta.

Se. Paulo enfatiza a dívida de Onésimo diante de Filemom. No entanto, a frase condicional concede a Filemom o privilégio de julgar se, naquelas circunstâncias, Onésimo realmente lhe devia alguma coisa. Onésimo tinha roubado de Filemom antes de fugir e, como cristão, seria de esperar que ele fizesse completa restituição. Alguns sugerem que tal perda seriam os serviços que poderiam ser financeiramente avaliados, pois Filemom tivera que colocar outro trabalhador no lugar de Onésimo. Paulo faz uma sugestão velada de que Filemom deveria cancelar a dívida financeira de Onésimo por causa da dívida de Filemom para com Paulo. Esse procedimento entraria em contradição com os elevados princípios éticos com que Paulo orientava sua conduta.

Minha conta. Paulo desejava que nada impedisse a recepção de Onésimo sem reservas, quando chegasse a Colossos. Assim, ele assumiria pessoalmente a dívida contraída pelo escravo fugitivo, como um pai cobre as dívidas de seu filho (v. Fm.1:11). Essa visão e esse amor que cobre as falhas de um pecador arrependido reflete a glória da ação de Cristo pela humanidade que reconhece sua dívida para com Deus. Assim como Paulo, Cristo não era responsável pelas dívidas dos seres humanos. No entanto, Ele Se colocou em seu lugar, cobrindo a dívida com Seus próprios méritos, de modo que o pecador arrependido fosse justificado diante de toda a criação.

Assim como Paulo, Cristo Se dispôs a pagar o débito dos pecadores, para que fossem recebidos como se não tivessem cometido erro algum. Portanto, quando o servo arrependido voltasse, Filemom não deveria considerar Onésimo e sua dívida, mas Paulo e sua promessa de reembolso. Poderia haver linguagem mais graciosa e comovente do que esta?

Fm.1:19 19. Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: Eu pagarei — para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo.

De próprio punho. Muito provavelmente, Paulo escreveu a carta inteira sem ajuda (cf. com. de Gl.6:7).

Eu pagarei. Esta é a nota promissória de Paulo, removendo o último obstáculo que poderia retardar ou dificultar a plena aceitação de Filemom por parte de Onésimo.

Deves. Paulo gentilmente lembra a Filemom de sua dupla dívida perante o apóstolo. Filemom estava em dívida com Paulo porque Onésimo era um servo “útil” (v. Fm.1:11) e valia muito mais do que antes, “quer na carne, quer no Senhor” (v. Fm.1:16). Além disso, Filemom tinha dívida com Paulo pela alegria e paz do evangelho, que recebera por meio de seu ministério. O apóstolo não quer que nada impeça uma reconciliação bem-sucedida de senhor e escravo. Paulo evangelizara a ambos, e essa dívida nenhum dinheiro podia pagar. Assim, Filemom consideraria que sua dívida seria maior do que a de Paulo.

Fm.1:20 20. Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício. Reanima-me o coração em Cristo.

Sim. Do gr. nai, uma partícula de confirmação (cf. Mt.15:27; Rm.3:29; Ap.14:13) que antecipa uma resposta afirmativa ao pedido registrado no v. Fm.1:17.

Receba de ti. Do gr. oninemi, “receber lucro”, “ter alegria”; de onde deriva o nome “Onésimo” (ver com. do v. Fm.1:10). Esta situação delicada é preenchida com benefícios para todos os envolvidos. Cada parte (Paulo, Onésimo e Filemom) obteria inestimável proveito pessoal pela recepção cordial de Onésimo em Colossos. Paulo não deseja nenhum lucro material, apenas a alegria de ver dois de seus conversos unidos pelo vínculo da comunhão cristã. O que motiva Paulo não é o egoísmo, mas o desejo amoroso de ver uma demonstração de nobreza cristã entre seus conversos.

Reanima-me o coração. Ver com. dos v. Fm.1:7; Fm.1:12. A maior alegria do ministro consiste na manifestação dos princípios cristãos entre seus conversos.

Em Cristo. Isto é, de maneira que o Senhor aprovaria.

Fm.1:21 21. Certo, como estou, da tua obediência, eu te escrevo, sabendo que farás mais do que estou pedindo.

Obediência. Não no sentido de submissão a uma ordem direta de Paulo, porque nenhuma ordem foi dada (ver com. do v. Fm.1:9). Ao contrário, Paulo estava confiante de que Filemom cumpriria o elevado dever cristão. A oportunidade de exercitar o amor perdoador de Cristo novamente confrontava Filemom. Com base nas experiências anteriores (ver com. dos v. Fm.1:5-7), Paulo não tinha dúvida sobre a resposta de Filemom.

Farás mais do que estou pedindo. Alguns acreditam que Paulo sugere aqui a alforria, ou libertação, de Onésimo. Sem dúvida, ele esperava que este fosse o caso (ver AA, 457). Ele estava confiante de que Filemom estenderia uma recepção sem reservas a Onésimo, e a extensão dessa recepção seria medida apenas por seu espírito magnânimo. O NT não ataca diretamente a prática da escravidão, mas delineia princípios que acabariam sendo fatais a essa instituição. Tendo em vista a estrutura social do império romano, o procedimento de Paulo dificilmente poderia ser melhor. Ele proclamou os princípios da liberdade cristã em tudo e levou a humanidade a reconhecer a desumanidade da escravidão. Assim, ele realizou o plano de Deus para resolver o problema dos escravos pelo processo mais lento de crescimento e iluminação, e não atacando diretamente essa prática (ver com. de 1Co.7:20-24; Ef.6:5).

Fm.1:22 22. E, ao mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que, por vossas orações, vos serei restituído.

Ao mesmo tempo. Isto é, quando Filemom recebesse Onésimo calorosamente.

Pousada. Paulo expressa, de forma discreta, sua confiança irrestrita no bom senso de Filemom quanto a Onésimo. Apenas verdadeiros amigos, unidos em respeito mútuo, escreveriam tão francamente a respeito de acomodações, como Paulo faz aqui. Filemom não daria nenhuma ocasião para o apóstolo perder a fé em sua integridade. Aparentemente, Paulo tinha razão para esperar uma libertação antecipada da prisão. A tradição afirma que, logo após a escrita desta carta, Paulo cumpriu sua promessa de visitar Colossos (cf. Fp.2:24; ver vol. 6, p. 16).

Espero. Ou, “confio”.

Por vossas orações. Paulo menciona as orações feitas por sua libertação, provavelmente por toda a igreja na casa de Filemom (v. Fm.1:2), bem como a intercessão de toda a cristandade.

Serei restituído. Profundamente consciente de sua missão apostólica, Paulo sente a importância de sua presença nas igrejas. No entanto, com humildade, ele confessa que unicamente a intercessão dessas igrejas garantiria sua libertação.

Fm.1:23 23. Saúdam-te Epafras, prisioneiro comigo, em Cristo Jesus,

Epafras. Talvez o fundador e líder das igrejas em Colossos, Laodiceia e Hierápolis (ver Cl.1:7; Cl.4:12-13).

Prisioneiro comigo. Ver com. de Rm.16:7. Preso, assim como Paulo (ver Fm.1:1; Fm.1:9; Fm.1:13), pois pregava o cristianismo.

Fm.1:24 24. Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.

Marcos. Presumivelmente, João Marcos, filho de Maria (ver At.12:12) e autor do segundo evangelho. O jovem fora companheiro de Paulo em sua primeira viagem missionária (ver com. de At.13:13; At.15:37; Cl.4:10; 2Tm.4:11).

Aristarco. Ver com. de At.19:29; At.27:2; Cl.4:10.

Demas. Apesar de ser companheiro de Paulo durante sua prisão (Cl.4:14), mais tarde, ele o desapontou e, aparentemente, apostatou (ver com. de 2Tm.4:10).

Lucas. O médico é mencionado pela primeira vez como companheiro de Paulo na viagem para a Macedônia (ver com. de At.16:10). Ele deve ter ficado em Filipos por sete anos, até a volta de Paulo (ver com. de At.20:5-6). Os registros indicam que ele pode ter permanecido com Paulo até a execução (ver At.21:15; At.27:2; 2Tm.4:11).

Fm.1:25 25. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito.

A graça do Senhor. Ver com. de GI.6:18. O posfácio que segue o v. 25 (KJV) não está em nenhum manuscrito antigo e não fazia parte da carta que Paulo escreveu.