"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > Efésios |
Ef.1:1 | 1. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, Paulo. Ver com. de Rm.1:1. Apóstolo. Do gr. apostolos (ver com. de At.1:2). Cristo Jesus. Sobre esse título, ver com. de Mt.1:1. Vontade de Deus. Comparar com 1Co.1:1; 2Co.1:1; Cl.1:1; 2Tm.1:1; ver com. de 1Co.1:1. Paulo não estava tentando aumentar sua autoridade pessoal, mas expressar um claro sentido de vocação e obrigação (cf. 2Co.8:5). Seu chamado procedia diretamente de Deus (ver com. de Gl.1:15-16). A firme convicção dele a este respeito era o segredo de seu poderoso ministério, de sua vida cristã consagrada e fonte de sua coragem e fé em meio ao sofrimento. Santos. Do gr. hagioi, literalmente, “santos” (ver com. de Rm.1:7; 1Co.1:2). A palavra grega denota separação de tudo que é comum. Em Éfeso. As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre a manutenção e a omissão desta expressão (ver p. 1101; vol. 5, p. 170). Se esta frase for omitida, a última parte deste versículo pode ser traduzida como: “para os santos, aqueles que também são fiéis em Cristo Jesus”. Fiéis. Do gr. pistoi, “fiéis”, “crentes”. Em Cristo Jesus. Esta frase, ou qualquer uma de suas fórmulas similares (“em Cristo”, “nEle”, “em quem”, “no Senhor”, “no Amado”) pode ser considerada as expressões-chave desta epístola. Elas ocorrem com frequência e designam Jesus Cristo como a esfera ou o meio em que o crente vive e atua. Enfatizam a estreita unidade entre o cristão e o Senhor. Tudo o que o cristão faz tem relação com seu Senhor. |
Ef.1:2 | 2. graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Graça [...] e paz. Sobre esta saudação, ver com. de Rm.1:7. Deus [...] Jesus Cristo. Ao indicar o Pai e o Filho como a fonte das bênçãos, Paulo enfatiza a igualdade entre ambos (cf. com. de Rm.1:7). |
Ef.1:3 | 3. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, Bendito o Deus. Esta expressão de louvor, às vezes chamada de “porta de entrada do louvor”, inicia uma das passagens mais sublimes das Escrituras. Os v. 3 a 14 focalizam o curso da revelação da graça divina e estabelecem as promessas do amor redentor de Deus e os gloriosos privilégios da igreja. Estes versículos esboçam o plano da salvação. Abençoado. Do gr. eulogeo, “louvar”, “abençoar”, forma verbal relacionada com o adjetivo eulogetos. Toda sorte de bênção espiritual. Literalmente, “cada bênção espiritual”. Bênção espiritual é aquela pertencente ao Espírito ou que é dada por Ele. Nas regiões celestiais. Do gr. en tois epouraniois, “nos [lugares] celestiais”. Esta frase é peculiar a Efésios, sendo usada cinco vezes na epístola (Ef.1:3; Ef.1:20; Ef.2:6; Ef.3:10; Ef.6:12). Nesta última, a frase é traduzida como “nas regiões celestes”. No entanto, a palavra traduzida como “celestes” ocorre em outros textos (Jo.3:12; 1Co.15:48; Fp.2:10) Em Ef.1:20, a expressão en tois epouraniois parece ser usada como sinônimo de Céu, porque é o lugar em que Cristo está assentado à direita do Pai. Este parece ser seu significado também em Ef.2:6. Se os crentes foram ressuscitados juntamente com Cristo e estão “em Cristo Jesus”, e Cristo está à mão direita de Deus no Céu, então eles estão assentados com Ele no Céu. Em Ef.3:10, en tois epouraniois descreve o lugar da morada dos poderes angelicais, dos anjos bons; e, em Ef.6:12, dos anjos maus. Em Efésios 1:3, a frase parece qualificar “bênção espiritual”, designando o Céu como sua origem. Em Cristo. Ver com. do v. Ef.1:1. |
Ef.1:4 | 4. assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor Assim como. Os v. 4 a 6 têm sido utilizados em algumas ocasiões como evidência em favor da doutrina de que alguns são eleitos para a salvação, e outros, para a perdição, sem que os indivíduos envolvidos possam fazer qualquer coisa para mudar isso. Na verdade, a passagem fala de certas pessoas escolhidas antes da fundação do mundo e predestinadas, ou ordenadas, para ser adotadas como filhos. Mas não diz nada de alguém ter sido escolhido para se perder. Além disso, os escolhidos são designados como “nós”', ou seja, os cristãos, aqueles que aceitaram pela fé o Senhor Jesus Cristo. Quando se traçou o plano da salvação antes da fundação do mundo, decidiu-se que aqueles que aceitassem as disposições do plano seriam restaurados à filiação. O desejo de Deus era que todos aceitassem o plano e fossem salvos (1Tm.2:4; 2Pe.3:9; sobre o tema da predestinação, ver com. de Rm.8:29). Assim como nos escolheu. O comentário sobre Gênesis 1:3 da Midrash Rabah (ed. Soncino, p. 6), diz que Deus escolheu Israel antes da criação. Paulo expressa aqui uma ideia semelhante com relação à igreja, o Israel espiritual. É uma eleição geral, não individual. NEle. É em Cristo que a escolha pode ser feita, pois toda a vida espiritual está centrada nEle. Aqueles que vão a Cristo são escolhidos para ser salvos, assim como alguém que se junta a um coral é escolhido para cantar. Por esta razão, não há uma escolha arbitrária. Deus tem o propósito de salvar todos os que pela fé aceitam a Cristo como seu Redentor. Antes da fundação. O plano de salvação foi estabelecido antes da criação do mundo. Foi quando Deus Se propôs a salvar aqueles que aceitassem Seu plano (cf. com. de Ap.13:8). Santos. Do gr. hagioi (ver com. de Rm.1:7; cf. AA, 51). Ser santo é refletir a imagem divina, pois Deus é santo (1Pe.1:16). O objetivo do plano de salvação é restaurar a imagem divina no ser humano (ver Ed, 125). Irrepreensíveis. Do gr. amomoi, “sem mácula”, “impecáveis”. Em Ef.5:27; Ap.14:5, a palavra é traduzida como “sem mácula”. Na LXX, amomos traduz o heb. tamim, que significa “sem mácula”. A palavra tamim era usada no contexto do sistema de sacrifícios para descrever as vítimas que deveriam ser sem defeito nem mancha (Lv.1:3). Amomos é utilizado no NT para descrever o sacrifício perfeito de Cristo (Hb.9:14; 1Pe.1:19). Em amor. Esta frase pode ser conectada ao v. 4, como na ARC ou com o v. Ef.1:5, de modo a indicar “em amor nos predestinou”. As versões Antiga Latina e Siríaca Peshitta a ligam ao v. Ef.1:5. Por outro lado, a Vulgata e alguns dos unciais posteriores a ligam ao v. 4. Os antigos manuscritos gregos não servem para determinar a divisão exata das ideias ou frases, porque não têm sinais de pontuação nem separação de palavras ou, na melhor das hipóteses, têm apenas o tipo mais rudimentar. A frase “em amor” tem sentido teológico conectado a qualquer verso. Todo ato divino parte do atributo básico do caráter de Deus, o amor (sobre agape, ver com. de Mt.5:43-44; 1Co.13:1). |
Ef.1:5 | 5. nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, Predestinou. Do gr. proorizo (ver com. de Rm.8:29; cf. com de Ef.1:4). Adoção de filhos. Do gr. huiothesia, literalmente, “ato de colocar como filho” (ver com. de Rm.8:15). Por meio de Jesus Cristo. Ele é o agente no plano de salvação, mediador entre Deus e a humanidade (1Tm.2:5). Longe de ser um Deus irado que exige apaziguamento, o Pai atua para alcançar Seu propósito por meio de Cristo: a salvação da humanidade (comparar com Gl.4:3-5). Beneplácito. Do gr. eudokia, “boa vontade”. Frases como “beneplácito de Sua vontade”, que combinam dois termos abstratos sinônimos, são características do estilo de Efésios. Foi da vontade de Deus elaborar e pôr em funcionamento o plano da salvação, pelo qual todos os que têm fé em Jesus Cristo são adotados como filhos na família de Deus (Jo.3:16; Ap.22:17). |
Ef.1:6 | 6. para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, Para louvor. Como resultado da revelação da graça de Deus na adoção, o universo obteve uma concepção verdadeira do caráter e dos propósitos de Deus e responde com expressões de louvor. Um dos propósitos do plano da salvação é vindicar o caráter de Deus perante o universo (ver Ef.3:10-11; PP, 68; cf. DTN, 625, 626). Glória de Sua graça. A abundância e plenitude da graça de Deus é um tema de destaque nesta epístola e é apresentado como o motivo principal de confiança e esperança (sobre graça, ver com. de Rm.3:24). Concedeu gratuitamente. Do gr. charitoo, “dotar de graça”, “tornar gracioso”. Aqui, obviamente se aplica o primeiro significado. A ideia é de graça concedida gratuitamente, pela qual fomos enriquecidos ou ornamentados. Aquele que entregou Seu Filho à morte ignominiosa também proporciona outras riquezas (Rm.8:32). A misericórdia, o favor e a boa disposição de Deus para conosco permitem um relacionamento com Ele que não seria possível de outra forma. Deus não pode ser comprado nem subornado ou seduzido; o que Ele faz é o resultado da própria boa vontade por Seu propósito. No Amado. Outra forma da expressão-chave desta epístola (ver com. do v. Ef.1:1). A designação do Filho como o Amado é apropriada neste contexto. Os crentes são atraídos a Deus pelo Amado e, como resultado, podem ser chamados de filhos amados (Ef.5:1). Deus ama aqueles que recebem Sua graça da mesma maneira como ama seu Filho. |
Ef.1:7 | 7. no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, No qual. A redenção se efetua por algo mais do que um tipo de cooperação com Cristo, ou uma simples união espiritual com Deus. Cristo é a “esfera viva” da redenção; em Sua pessoa tem lugar esta grande obra. Ele é ao mesmo tempo o arquiteto, o construtor-mestre e a pedra angular da redenção. Ele é o pastor e também a porta do aprisco (Jo.10:1-14). Redenção. Do gr. apolutrosis, “recompra”, “resgate”, “libertação” (ver com. de Rm.3:24). Pelo Seu sangue. A vida está no sangue (Lv.17:11). O sangue derramado de Cristo representa a vida que foi vertida para redimir a humanidade. Remissão dos pecados. Redenção é a libertação de um cativeiro sob o qual as pessoas se colocaram por transgredir a vontade divina, libertação obtida a um custo infinito. O derramamento de Seu sangue foi “para remissão dos pecados” (ver com. de Mt.26:28). Riqueza da Sua graça. Comparar com “riquezas da Sua bondade” (Rm.2:4), “riqueza da Sua glória” (Ef.3:16), “Sua riqueza em glória” (Fp.4:19) e “riqueza da glória” (Cl.1:27). |
Ef.1:8 | 8. que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, Abundantemente sobre nós. Ou, “derramou sobre nós” (NVI), ou “com tanta fartura” (NTLH). As riquezas da graça de Deus não somente suprem todas as necessidades, mas transbordam em dons adicionais. Toda a criação testemunha a mão generosa pela qual o Criador dotou Suas obras. Quem suplica a graça divina descobre que Ele não é menos generoso com os dons espirituais. Em toda a sabedoria e prudência. Esta frase pode ser ligada tanto à anterior quanto à seguinte. Se for considerada parte do v. 8, refere-se à esfera na qual a graça de Deus é derramada sobre nós; assim, “sabedoria” e “prudência” são dons que Ele concede ao ser humano. Se a frase for considerada como a primeira parte do v. Ef.1:9, ela se refere às qualidades de Deus. Ambas as interpretações são possíveis, porque nos manuscritos antigos não há sinais de pontuação nem divisão das palavras. |
Ef.1:9 | 9. desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, Mistério. Do gr. mysterion (ver com. de Rm.11:25). O momento era propício para revelar o mistério da vontade de Deus. Por muito tempo, o mundo tinha sido preparado para essa hora, e o apóstolo Paulo fora honrado em ser um dos portadores de um segredo “oculto dos séculos e das gerações” (Cl.1:26; Ef.3:3). A superabundância da graça de Deus tinha sido um mistério até sua proclamação na vida e morte de Cristo, e sua extensão e aplicação aos gentios só então começava a ser conhecida. Este é o motivo principal desta epístola de Paulo. Alguns afirmam que Paulo usa aqui três palavras das religiões pagãs de mistério: “mistério”, “conhecimento” e “sabedoria”. No entanto, o uso dessas palavras e dos conceitos que representam não se limita a essas religiões. Seus equivalentes em hebraico são encontrados nos manuscritos do Mar Morto, refletindo conceitos judaicos. Como o apóstolo Paulo conhecia bem o AT e o considerava como revelação divina, é bem possível que houvesse tomado esses antigos conceitos e os acomodara de acordo com a ideia sublime que o cristianismo tem acerca de Deus. Beneplácito. Ver com. do v. Ef.1:5. Essa revelação partiu do gracioso propósito de Deus. A entrada do pecado no mundo não foi um dilema para Deus, nem fez com que Ele, de má vontade, pusesse em marcha a sublime, ainda que angustiante, obra da redenção. Ele não precisou ser obrigado nem convencido por circunstâncias externas. Deus fez com prazer Sua obra pela humanidade. Não é uma imagem adequada ou reverente do caráter de Deus apresentá-Lo como alguém que cedeu relutantemente à persuasão da humanidade ou de Cristo antes de Se dispor a perdoar o pecado ou vir em auxílio de Suas criaturas feridas. Em Si mesmo (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam que “Si” refere-se a “Cristo” (cf. ARA). |
Ef.1:10 | 10. de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; Convergir NEle. Do gr. anakephalaioo, “resumir”, “unificar”, “reunir ". A palavra ocorre no NT só aqui e em Rm.13:9, em que se apresenta um resumo da lei. Este é o propósito divino: a restauração da unidade perdida. Precisa, necessariamente, ser “em Cristo” (ARC), porque Ele é o centro de todas as coisas. Todas as coisas foram feitas por Ele; Ele sustenta o universo pelo poder da Sua palavra; Ele é o centro da igreja e sua suprema esperança. A vida cristã não é uma marcha solitária para o reino de Deus. O cristão é membro de uma comunidade, o corpo de Cristo, a igreja. A unidade do universo de Deus foi rompida pelo pecado. O mistério da vontade de Deus se refere ao plano de restaurar essa unidade quando a ocasião fosse propícia, restauração que se faria mediante Cristo. Esse mistério chegará à culminação no final do grande conflito, quando todas as coisas no Céu e na Terra serão reunidas em Cristo, e o caráter da divindade for justificado. Dispensação. Do gr. oikonomia, “administração”, isto é, o ofício de um administrador, “arranjo”, “plano”. Paulo parece referir-se ao plano da salvação, que finalmente conduziria à unidade aqui descrita. Plenitude dos tempos. O plural sugere uma sucessão de períodos ou épocas (cf. com. de 1Co.10:11). Esta expressão parece abranger toda a era do evangelho. Assim como há tempo apropriado para a semeadura e a colheita, também há momentos propícios para a atividade divina em relação com a redenção da humanidade. Algumas coisas podem ser realizadas em uma época e não em outra, porque Deus trata com seres morais livres a quem nunca força a cumprir Seus propósitos. Ao longo dos séculos, houve sucessivos desdobramentos dos planos de Deus, estágios de desenvolvimento que conduzem à consumação final, quando se alcançará a unidade universal. O apóstolo amplia este tema no decorrer de sua epístola. |
Ef.1:11 | 11. nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, Feitos herança. Ou, “fomos escolhidos [por sorteio]”. Todos os crentes já estão na posse da herança mediante a promessa. A herança do cristão lhe vem como direito pela adoção mencionada no v. Ef.1:5. Essa herança está em Cristo, que o comprou com Seu sangue. Predestinados. Ou, “marcados de antemão” (ver com. dos v. Ef.1:4-5). O apóstolo menciona mais uma vez a predestinação, provavelmente com o propósito de relembrar que a herança não se obtém por acidente ou casualidade. Está em harmonia com o propósito predeterminado de Deus. Conselho da Sua vontade. É tranquilizador saber que Deus trabalha de acordo com Sua vontade e não de acordo com o desejo humano, pois este é inconstante e imprevisível. As pessoas desafiam ou questionam os atos de Deus e atribuem a Ele a mesma mutabilidade própria do gênero humano, esquecendo-se de que, cada ato divino está respaldado pela perfeição pelo Seu amor infinito. O Altíssimo não atua sob pressão ou necessidade, pois possui sabedoria e amor infinitos e vontade soberana. |
Ef.1:12 | 12. a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; Louvor da Sua glória. Comparar com o com. do v. Ef.1:6. Os que de antemão esperamos em Cristo. Literalmente, “que ainda esperam em Cristo”. Estas palavras têm aplicação especial aos cristãos judeus, que, por intermédio de seus pais, foram os primeiros a participar da herança, pois, desde o tempo de Abraão, os judeus haviam aguardado o Messias. Eles eram altamente privilegiados por poder viver e trabalhar “para louvor da Sua glória”, assim como os cristãos, que detêm hoje a verdade do evangelho, também se constituem em mordomos de Sua graça em relação ao mundo. A esperança cristã é mais do que simplesmente um desejo para o futuro, pois se baseia nas promessas de Deus em Cristo. As Escrituras falam da “plena certeza da esperança” (Hb.6:11), “uma viva esperança” (1Pe.1:3), a esperança que “não confunde” (Rm.5:5) e do “Deus da esperança” (Rm.15:13). Há, no ser humano, um impulso profundamente enraizado, implantado pelo próprio Deus, que o persuade a buscar um final feliz para os trágicos acontecimentos da vida. Os judeus conversos ao cristianismo foram os primeiros a ter o privilégio de colocar sua esperança em Cristo. Paulo menciona seus parentes Andrônico e Júnias que chegaram a ser cristãos antes dele (Rm.16:7). O apóstolo sempre lamentou os anos mal gastos em sua juventude. Felizes são aqueles que vão a Cristo desde seus primeiros anos e se comprometem com Ele por toda a vida, em vez de oferecer somente o resto de uma vida desperdiçada. A esperança é como uma corda lançada a alguém que se afoga. Que insensatez seria debater as intenções de quem joga a corda ou questionar seu propósito! Aquele que perece se apega à “bendita esperança” e descobre que esta o sustenta e o conduz a Cristo, que lhe oferece vida eterna. |
Ef.1:13 | 13. em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; A palavra da verdade. Esta expressão é definida aqui como o “evangelho da vossa salvação” (cf. Rm.1:16). Somos instados a prestar atenção a esta palavra (Mc.4:24), a fim de recebê-la com humildade (Tg.1:21) e fé (Hb.4:2), pois é o meio para alcançar a vida eterna. Segundo esse conceito, “verdade” é muito mais do que uma coleção de afirmações, o que não traria em si a salvação. A verdade deve finalmente nos conduzir Àquele que é “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo.14:6). Crido. Esta palavra foi acrescentada. Outras interpretações são sugeridas: (1) que o pensamento se liga à primeira parte do v. Ef.1:11, e que “obtivestes uma herança” deve ser acrescentado, indicando: “em quem também vós obtivestes uma herança”; (2) que deve ser acrescentada a forma verbal “sois”, levando a: “em quem também vós sois”; (3) que o pensamento estaria à frente, com “fostes selados”, perto do final do versículo, caso em que nenhuma palavra pode ser acrescentada, e a passagem diria: “Em quem também vós [...] fostes selados” (ver ARA). Contra o acréscimo do termo “crido”, afirma-se que a expressão no v. Ef.1:12 deve ser: “de antemão esperamos” (uma só palavra no grego), e que essa ideia não se enquadra no v. 13. Todo impulso nobre no pensamento de qualquer pessoa, cristã ou gentia, brota daquela única fonte. De fato, a influência do Espírito Santo é necessária para a recepção efetiva da verdade (1Co.2:12-15). Assim como a semente que caiu em solo pouco fértil, a palavra, escrita ou falada, não tem poder para mudar a vida, a não ser que esteja acompanhada pela Palavra Viva. Selados. Do gr. sphragizo (ver com. de 2Co.1:22; cf. com. de Jo.6:27). A mudança na vida do crente se produz de forma ordenada: primeiramente ele ouve, em seguida, crê e, finalmente, é selado como com uma impressão ou carimbo. Espírito Santo da promessa. O Espírito é chamado assim porque foi prometido desde os tempos antigos (ls.32:15; Ez.36:26; Jl.2:28) e, também, pelo próprio Cristo (Jo.14:16-17). É o Espírito da promessa que sela ou identifica aqueles que Lhe pertencem (2Tm.2:19) e os protege até o dia da redenção (Ef.4:30). Ele é identificado aqui como o agente do selamento. Os que são selados recebem o testemunho espiritual interno de que são filhos de Deus (1Jo.5:10). O Espírito Santo assegura que as promessas de Deus são verdadeiras, e é essa convicção que, em grande parte, distingue os crentes dos incrédulos. O selo é colocado sobre todos os que optam por se tornar santos. |
Ef.1:14 | 14. o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória. Penhor. Do gr. arrabon (ver com. de 2Co.1:22). A ideia geral desta passagem é que o Espírito Santo foi prometido na Palavra de Deus; e, quando os crentes aceitam esta Palavra, recebem o Espírito Santo e são selados. Este selamento é uma garantia adicional do cumprimento final de todas as promessas de Deus para a humanidade. O filho de Deus tem o privilégio de provar das alegrias celestiais ainda nesta vida, pois, se não fosse assim, poderia questionar a autenticidade de sua experiência. Ele pode ter certeza da ressurreição do corpo, da volta do Senhor, do dom da imortalidade e de todas as realidades eternas. A promessa é certa, visto que é garantida pelo próprio Deus, mediante o Espírito Santo. Resgate. Ver com. do v. Ef.1:7. A redenção aqui é considerada como futura, embora o crente já tenha sido salvo em virtude de haver aceitado a Cristo. No entanto, continua aguardando a total libertação do pecado e de suas consequências, pois ainda há uma glória a ser revelada. Sua propriedade. Do gr. peripoiesis, “aquisição”, “obtenção”, “tomada de posse". A palavra peripoiesis é traduzida pela expressão “propriedade exclusiva” (1Pe.2:9), na frase “povo de propriedade exclusiva de Deus”, literalmente, “povo adquirido”, ou “povo de propriedade [de Deus]”. Alguns comentaristas aplicam a frase de Paulo aos santos como propriedade de Deus, outros, à herança que os santos adquirem (ver com. de Ef.1:18). A última posição parece ser a exigida pelo contexto. Os santos aguardam ansiosamente a posse futura da qual o Espírito Santo é o penhor. Louvor da Sua glória. Ver com. do v. Ef.1:6. A notável introdução de Efésios termina com esta nota de louvor. O pensamento de Paulo abrange desde “antes da fundação do mundo” até o “resgate da Sua propriedade”. Ele vê a Cristo como o centro de tudo. Tudo é “nEle”. Paulo não apresenta esta ideia como uma abstração teológica, mas de preocupação prática. Ele não tece uma filosofia nem escreve um tratado sobre o problema da predestinação e do livre-arbítrio. Ele considera que Cristo resolve cada problema intelectual e moral que as pessoas tenham que enfrentar. |
Ef.1:15 | 15. Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, Por isso, também eu. Devido às bênçãos descritas nos v. Ef.1:1-14, o apóstolo profere uma oração de louvor e ação de graças. Ouvido. Durante sua prisão, Paulo recebia mensagens das igrejas que havia fundado, das quais algumas o alegravam e outras o entristeciam. A fé dos efésios era uma fonte de grande encorajamento para ele. Amor para com todos. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão da palavra “amor”. Entretanto, a palavra é necessária para dar sentido à frase. Em outros textos, Paulo une fé a amor (1Co.13:13; 1Ts.1:3), pois são esses que distinguem todos os verdadeiros cristãos. Amor para com os santos é resultado natural da fé em Cristo. É impossível amar a Deus sem amar os santos (1Jo.4:20) e, de fato, até os que não são santos. O amor que Paulo recomenda é amplo, inclui a todos os santos, mesmo aqueles a quem é mais difícil amar, devido a seus hábitos e temperamento. |
Ef.1:16 | 16. não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, Dar graças. Ver Rm.1:8; 1Co.1:4; Fp.1:3; Cl.1:3; 1Ts.1:2; 2Ts.1:3; 2Tm.1:3; Fm.1:4-5. O espírito de gratidão de Paulo era incessante. A frequência das expressões de ações de graças do apóstolo é uma indicação da natureza alegre e radiante de seu espírito, sem a qual ele nunca poderia ter suportado seus sofrimentos. Infelizmente, as notas de alegria e ação de graças faltam em muitas vidas cristãs. O remédio pode ser encontrado em compartilhar experiências positivas da vida cristã. Fazendo menção. Um estudo das orações de Paulo revela que suas petições eram em grande parte em favor das igrejas e de determinadas pessoas (cf. Rm.1:9; Fp.1:4). |
Ef.1:17 | 17. para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, O Deus. O fato de Deus Pai ser descrito como “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo” não significa subordinação do Filho ao Pai (ver com. de Jo.14:28). Ao orar a Deus, nos identificamos com nosso Irmão mais velho, embora compreendamos apenas parcialmente o significado desse relacionamento. Pai da glória. Comparar com At.7:2. A expressão pode se referir à glória que pertence ao Pai como uma qualidade própria (ver com. de Rm.3:23). É sugerido no v. Ef.1:18, que o crente que tem o Pai da glória tem também a herança da glória. Assim como o Pai glorificou o Filho com a glória que tinha com Ele antes da fundação do mundo (Jo.17:24), o Altíssimo glorificará os que vão a Ele por meio de Cristo (2Co.3:18). Espírito. Ou, “um espírito”. A expressão pode se referir à iluminação que o Espírito Santo concede ao cristão que busca o conhecimento de Deus (cf. Lc.12:12; Jo.14:26; 1Co.2:9-10). Sabedoria. Do gr. sophia (ver com. de Lc.2:52), correspondendo ao heb. chokmah (ver com. de Pv.1:2). Revelação. Paulo não deve estar se referindo aqui a uma comunicação direta de Deus com o ser humano, mas à capacidade de entender o que Deus revela. É necessário mais do que a razão para se chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus. Deve haver iluminação divina, visão espiritual, dada diretamente por Deus. Conhecimento. Do gr. epignosis, “pleno conhecimento”, ou “conhecimento preciso”. Não se trata apenas de reconhecer a Deus, mas de conhecê-Lo perfeitamente. Esse conhecimento é recebido por aquele que está disposto a aceitar a revelação que Deus faz de Si mesmo. Não se trata de conhecimento teórico ou de mero assentimento intelectual, mas de conhecimento experimental que vem àqueles cujas faculdades espirituais são vivificadas e se tornam sensíveis à verdade espiritual. Esse conhecimento é progressivo. Deus revela, a cada dia, novos aspectos de Seu caráter que comovem a pessoa e a inspiram a um viver santo. DEle. Isto é, de Deus, como mostrado nos v. Ef.1:18-20. |
Ef.1:18 | 18. iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos Olhos do vosso entendimento (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “olhos do vosso coração” (ARA). Esta frase marcante não ocorre em nenhum outro texto do NT. Por “coração”, os hebreus representavam a sede dos pensamentos, da vontade e das emoções (ver com. de Rm.1:21). Este parece ser o sentido que Paulo dá à expressão aqui. “Olhos” representam percepção, e olhos iluminados, consciência espiritual e compreensão moral. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram” é o que veem os olhos espiritualmente perceptivos (ver com. de 1Co.2:9-10). Tem lugar uma nova e profunda compreensão que afeta o mais íntimo da personalidade. Não é uma nova faculdade ou dom, é uma nova visão ou perspectiva. Para saberdes. O apóstolo enumera três itens de conhecimento que vêm àqueles cujos olhos são iluminados (v. 18, 19). Esperança. Ver com. de Rm.5:2-5; Rm.8:24. Alguns comentaristas acreditam que, nesta passagem, Paulo se refere não ao que se espera, mas ao princípio da esperança que é inspirado na vida do crente pelo chamado divino. Possuir essa esperança é ter algo precioso. Como os efésios ainda não compreendiam o pleno sentido de sua vocação, Paulo estava ansioso de que eles vissem que a esperança cristã se baseia nos eventos da redenção: “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl.1:27). Eles tinham recebido o perdão dos pecados, eram filhos de Deus, mas ainda assim sua visão era limitada. Paulo queria que tivessem a esperança que lhes abriria horizontes jamais sonhados. A esperança é uma combinação de fé e certeza, mas que espera pela plenitude no futuro. O crente deve saber que, se é chamado por Deus, por meio do Espírito, experimentará em todos os aspectos de sua vida a bem-aventurada esperança. Alguns comentaristas afirmam que, por “esperança”, Paulo se refere ao propósito final do chamado divino: as alturas da realização espiritual à qual Ele chama Seus santos e a glorificação futura quando os santos serão restaurados ao estado original de perfeição. Chamamento. Ver com. de Rm.8:30. Herança. Este termo tem sido entendido como se referindo tanto aos santos como herança de Deus quanto aos privilégios que os santos desfrutam como herdeiros de Deus. Em outras passagens fala-se dos redimidos como tesouro, riqueza ou herança de Deus (Ex.19:5). Eles são Seus pela criação e pela redenção. Foram “comprados por preço” (1Co.6:20) e, consequentemente, Ele tem prazer em sua herança. Vista como o privilégio dos santos, a herança é gloriosa e rica, pois “o vencedor herdará estas coisas” (Ap.21:7). As riquezas da graça de Deus, de Seu amor, poder, misericórdia e reino são compartilhadas com Seus filhos fiéis (cf. Fp.4:19). |
Ef.1:19 | 19. e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; Poder. Além do conhecimento da “esperança” e das “riquezas” (v. Ef.1:18), o apóstolo ora pelo conhecimento pessoal do poder de Deus na vida. Ao experimentar a conversão e a santificação, a natureza fraca é reavivada e transformada pela energia divina. O fato de se manter “a esperança do Seu chamamento” (v. Ef.1:18) seria algo torturante e insatisfatório, não fosse pelo poder que a acompanha. Os que cremos. A fé é o canal que possibilita a operação do poder divino (ver com. de Rm.4:3-5). Segundo a eficácia. A característica permanente do poder de Deus consiste no que é exercido ou realizado em Cristo (v. Ef.1:20). Poder. Do gr. kratos, “força”, “vigor”. No sentido de “poder”, esta palavra é usada no NT apenas em relação a Deus e Sua palavra. O grande poder de Deus se manifesta na transformação do pecador em um santo. Essa mudança notável não é produzida pela psicologia, educação ou realização de boas obras; é um ato da graça e do poder divinos. |
Ef.1:20 | 20. o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, Exerceu [...] em Cristo. Ver com. do v. Ef.1:19. Ressuscitando-O. É maravilhoso que o mesmo poder que realizou a ressurreição de Cristo opera no coração dos crentes. O poder divino atuou sobre o corpo morto de Cristo e opera novamente sobre os que estão “mortos nos (...] delitos e pecados” (Ef.2:1; Rm.8:11; 2Co.4:14). Cristo ressuscitou com um corpo glorificado e assumiu a autoridade à direita de Deus. Sua ressurreição é uma segurança da ressurreição dos santos (Rm.4:25; 1Co.15:20-22), e Sua exaltação, a garantia da exaltação final que os santos terão (cf. Ef.1:18). Direita. A mão direita é a posição de autoridade. A ideia de que Cristo compartilha Sua autoridade com o Pai está exposta em outras passagens (ver Jo.1:1; Jo.17:5; At.7:55; Ap.3:21). Lugares celestiais. Ver com. do v. Ef.1:3. |
Ef.1:21 | 21. acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. Todo principado [...] e domínio. Geralmente se entende que esta enumeração se refere aos poderes angelicais (cf. com. de Ef.6:12; Rm.8:38), tanto bons como maus. Cristo é superior a todos os poderes celestiais e terrestres. Ele é o Senhor soberano, com autoridade suprema e universal (ver com. de Rm.8:38; 1Co.15:24; Ef.3:10; Ef.6:12; Cl.1:16). Paulo sempre quer deixar claro que Cristo não deve ser considerado como uma divindade subordinada, um conceito que podia ser facilmente aceito, tendo em vista a crescente influência da heresia gnóstica. Ele utiliza termos frequentes nos ensinamentos judaicos daquela época (ver Enoque 61:10) e estabelece a verdade de que Cristo está acima de todos os outros seres, não importa qual seja Sua hierarquia suposta ou real. Todo nome. Estas palavras abrangem tudo e é usada para levar a enumeração precedente a um clímax. Não há nome que possa ser comparado ao de Cristo, pois não existe nenhum ser que possa comparar-se a Ele. Século. Do gr. aion, “idade”, “era” (ver com. de Mt.13:39). “Presente século” significa a presente ordem, tanto nos céus como na Terra, e o mundo “por vir”, como a idade futura do universo. Como resultado de Sua humilhação e exaltação, Cristo será reconhecido universalmente como supremo, não só nesta era presente, mas também na vindoura. |
Ef.1:22 | 22. E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, Debaixo dos pés. Ver com. de 1Co.15:24-28. Cabeça sobre todas as coisas. Esta relação inclui mais do que governar. Ser “cabeça”, no sentido que se dá nesta epístola, inclui as ideias de união vital e relacionamento (Ef.4:15-16; Cl.2:19). A cabeça é o centro ativo de todas as funções do corpo. Assim Paulo destaca a ideia de unidade, bem ilustrada pela relação vital entre a cabeça e o corpo. Igreja. Do gr. ekklesia (ver com. de Mt.18:17). |
Ef.1:23 | 23. a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. Seu corpo. Cristo, a cabeça, é a sede de toda a autoridade da igreja. A analogia entre a igreja e o corpo humano é muito própria. Assim como o corpo é um e a igreja é uma só, ambos são compostos de vários membros e cada um deles tem características e funções particulares. Embora exista uma grande diversidade de dons, isso não é impedimento para a associação e cooperação harmoniosas. Na realidade, apenas quando os membros atuam em estreita relação podem desempenhar as funções próprias de cada um. Plenitude. Do gr. pleroma, “número completo”, “toda a extensão”, “todo o conteúdo”, também “complemento”. Esta palavra se refere em sentido passivo ao que é preenchido, ou à condição de plenitude de algo, uma vez que está cheio (cf. com. de Cl.1:19). Paulo vê a igreja como o corpo de Cristo preenchido com a plenitude de Deus (Ef.3:19). Cristo derramou Suas qualidades e Sua plenitude sobre a igreja, enchendo-a de vida santa e abundante. Em Colossenses, Paulo destaca a divindade de Cristo, a cabeça; em Efésios, os privilégios do corpo. Enche. Ver com. de Ef.4:10. |
Ef.2:1 | 1. Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, Deu [...] vida. Esta expressão só ocorre no original grego do v. Ef.2:5. A construção é de difícil compreensão, a menos que o verbo seja acrescentado antes (sobre “dar vida”, ver com. do v. Ef.2:5). Mortos. O ser humano sofre algo mais do que desajustes sociais ou incômodos complexos. O seu estado é de morte espiritual. A situação de degradação humana é parecida com a morte física. Na morte, falta o princípio da vida, essencial ao crescimento e à disposição, e esta é precisamente a condição dos espiritualmente mortos (Ef.5:14; Jo.6:53; 1Jo.3:14; 1Jo.5:12; Ap.3:1). Delitos e pecados. Literalmente, “os delitos e os pecados”. A força dos artigos fica clara quando é acrescentada a seguinte sentença sem pontuação: “nos quais...” Provavelmente, os dois termos são usados cumulativamente para ressaltar os distintos aspectos do pecado. |
Ef.2:2 | 2. nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; Andastes. Do gr. peripateo, literalmente, “andar por aí”, metaforicamente, “viver”, “passar a vida”. Na maioria das ocorrências do NT, principalmente por Paulo e por João, a palavra tem o sentido metafórico de “conduta de vida” (comparar com o heb. halak, no com. de Gn.5:22; sobre o sentido de “viver”, nesta epístola, comparar com Ef.2:10; Ef.4:1; Ef.5:8; Ef.5:15). Em contraste com a caminhada do ímpio em seus “delitos e pecados”, está a “caminhada” do regenerado em “boas obras” (Ef.2:10). Outrora. Ou seja, antes da conversão. Curso. Do gr. aion, literalmente, “época” (ver com. de Mt.13:39). Aion não só expressa “tempo”, mas também pode denotar o tipo de vida característica do mundo: desunião e separação de Deus. Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de Mt.4:8). Às vezes, kosmos é usado quase como sinônimo de aion (comparar 1Co.3:19 com 1Co.2:6). A diferença é que aion é um período de tempo, do ponto de vista de suas características, enquanto que kosmos é o mundo em determinado período. O príncipe. Isto é, o diabo. Jesus o chama de príncipe deste mundo (Jo.12:31). Os racionalistas creem que Satanás seja apenas uma figura mitológica. O diabo está muito desejoso de que as pessoas creiam que ele não existe. Porém, as Escrituras o apresentam claramente como um ser real (ver com. de Mt.4:3). Do ar. Provavelmente, significando os céus atmosféricos. A expressão pode destacar o fato de que os seres demoníacos são invisíveis e habitam o ar que rodeia o planeta. Filhos da desobediência. Ou seja, pessoas desobedientes. Esta classe nasce da desobediência, é desobediente pela própria natureza e está sujeita à condenação (Ef.5:6). O homem natural se encontra em estado de rebelião e oposição a Deus e Sua vontade (SI.68:6; Is.1:2; Is.63:10). |
Ef.2:3 | 3. entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Também todos nós. Depois de se dirigir aos gentios, nos v. Ef.2:1-2, Paulo compara a situação deles com a dos judeus e reconhece que tanto ele como seus compatriotas pertenciam à classe dos “filhos da desobediência” (cf. Rm.2:1; Rm.3:20). A queda colocou todos no mesmo nível (Rm.3:9; Rm.3:23; Gl.3:22). Andamos. Do gr. anastrepho, literalmente, “andar para lá e para cá”, portanto, “conduzir-se”. Anastrepho não se refere à fala, exceto quando a fala é um aspecto do comportamento da pessoa. Inclinações da nossa carne. Os impulsos da natureza inferior (ver com. de Rm.7:5; Rm.8:4-7). Fazendo a vontade. Ou seja, fazendo a vontade da mente não regenerada. O pecado se encontra profundamente arraigado na natureza humana, tanto os pecados próprios da natureza carnal, como as fantasias descontroladas da mente. Filhos da ira. Ou seja, filhos dignos de ira, ou pessoas que merecem ira (sobre a ira de Deus, ver com. de Rm.1:18). O pecado de Adão levou seus descendentes a se tornarem “filhos da ira” (ver com. de Rm.5:12) e “vasos da ira” (ver com. de Rm.9:22). |
Ef.2:4 | 4. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, Mas Deus. Os v. Ef.2:2-3 apresentam um quadro sombrio do que parece uma inevitável desgraça; a seguir, Paulo apresenta a solução. Rico em misericórdia. Deus não é apenas misericordioso, Ele é rico em misericórdia para com todos os que O invocam (cf. Rm.10:12), não porque sejam dignos dEIe, mas porque Deus tem prazer na misericórdia (Tt.3:5; 1Pe.1:3). Grande amor. O amor de Deus é algo mais do que compaixão; leva à ação beneficente e é imutável. Deus nos amou, “sendo nós ainda pecadores” (ver com. de Rm.5:8), e nunca deixará de nos amar. Foi esse amor que motivou Sua obra de salvação (Jo.3:16). O amor é um atributo primordial de Seu caráter (1Jo.4:8), o qual encontra a expressão máxima na pessoa de Cristo. Deus tem misericórdia de nós porque somos pecadores e nos ama porque somos Suas criaturas. Sua grande obra em favor da humanidade não foi apenas um ato de benevolência ou condescendência caridosa, mas um ato de afeto e amor (sobre agape, ver com. de Mt.5:43; 1Co.13:1). |
Ef.2:5 | 5. e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, Mortos em nossos delitos. Esta frase está conectada ao versículo anterior, “nos amou”, destacando assim o grande amor de Deus por nós “sendo nós ainda pecadores” (ver com. de Rm.5:8). Deu vida. Do gr. suzoopoieo, “tornar vivo juntamente” (ver com. do v. Ef.2:1). Esta palavra é usada no NT somente aqui e em Cl.2:13. Ela e sua forma abreviada zoopoieo, “vivificar”, são usadas 14 vezes no NT e se referem ao processo de transformação pelo qual se passa da morte para a nova vida. Assim como Cristo foi vivificado dentre os mortos, o ser humano também é vivificado da morte espiritual. O propósito divino é levar as pessoas a uma nova esfera, a uma nova relação, regida por novos princípios. Juntamente com Cristo. Os crentes foram crucificados com Ele, morrem com Ele, ressuscitam com Ele, vivem com Ele, reinam com Ele, são coerdeiros com Ele, sofrem com Ele e compartilham de Sua glória (cf. Rm.6:3-8; Rm.8:17; Gl.2:20). A salvação se alcança não por meio de instrução ou normas morais, mas porque o crente recebe pela fé a vida renovadora que flui de Cristo. Pela graça sois salvos. Ver com. do v. Ef.2:8. O coração do apóstolo está cheio do tema da salvação pela graça e, portanto, ele inclui aqui este pensamento parentético, a fim de destacar o maravilhoso ato de Deus. A forma verbal indica um ato do passado cujos resultados continuam no presente. Há três aspectos da salvação: passado, presente e futuro (ver com. de Rm.8:24). |
Ef.2:6 | 6. e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; Ressuscitou. Comparar com Rm.6:5; Fp.3:10. Somos ressuscitados pelo poder vivificante da graça de Deus, para viver uma nova vida em Cristo Jesus. Assentar. Cristo está no Céu, assentado à direita de Deus (Ef.1:20; Cl.3:1), e nós, ao aceitá-Lo como nosso representante, também podemos estar lá, em sentido espiritual, partilhando de Seu trono. Lugares celestiais. Ver com. de Ef.1:3. Aqueles que vão a Cristo, assentado à direita de Deus, podem viver na atmosfera do Céu enquanto estão aqui na Terra. Os crentes pertencem ao mundo celestial, porque a entrada de Cristo nas cortes celestiais é uma garantia da entrada de todos os que aceitam a salvação. A vida espiritual na Terra se torna, então, uma antecipação e um antegozo da celestial. Cristo está conosco pelo Espírito Santo (Mt.28:20) e nos considera como se já habitássemos com Ele. Em Cristo Jesus. Esta é a frase-chave da passagem, e está em contraste com a frase “mortos em nossos delitos” (ver com. do v. Ef.2:5). |
Ef.2:7 | 7. para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Mostrar. Ou, “exibir”. Este versículo apresenta um dos misericordiosos propósitos da obra da graça. Séculos vindouros. Ou, “nos próximos aeons”, eras da eternidade. Paulo concebe a eternidade como uma interminável sucessão de períodos, não como algo atemporal. Suprema riqueza. A duração de uma única vida ou de uma era não é suficiente para revelar todas as riquezas da graça de Deus; é necessária a eternidade. Ao longo dos séculos sem fim, a existência das hostes dos redimidos exibirá “a suprema riqueza da Sua graça” (cf. com. de Ef.1:6). Bondade. Cristo foi o meio específico pelo qual Deus demonstrou Sua bondade para com a humanidade. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co.5:19). |
Ef.2:8 | 8. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; Pela graça [...] mediante a fé. É a graça da parte de Deus e a fé da parte dos seres humanos. A fé aceita o dom de Deus. Somos salvos quando confiamos em Cristo e nos entregamos a Ele. A fé não é a causa da salvação, mas apenas o meio (ver com. de Rm.4:3; sobre a graça, ver com. de Rm.3:24; sobre fé e salvação, ver com. de Rm.4:3). Não vem de vós. Isto é, a salvação não se alcança pelo esforço humano. Dom de Deus. A salvação é um dom gratuito, obtido sem dinheiro e sem preço (ver Is.55:1; Jo.4:14; 2Co.9:15; 1Jo.5:11). |
Ef.2:9 | 9. não de obras, para que ninguém se glorie. Não de obras. Ver com. de Gl.2:16; cf. com. de Rm.4:4. As obras não são a causa, mas o efeito da salvação (ver com. de Rm.3:31). Glorie. Ninguém jamais poderá se vangloriar dizendo: “eu alcancei a salvação”. Um dos propósitos do plano da salvação é mostrar nos séculos da eternidade as riquezas da graça de Deus (Ef.1:7). Portanto, não há nenhum motivo para jactância da parte dos seres humanos. |
Ef.2:10 | 10. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Feitura dEle. Do gr. poiema, “aquilo que é feito ou executado”, uma “obra”, “a criatura”. A palavra portuguesa “poema” é derivada de poiema. O termo se refere à nova criação espiritual que Deus efetua no ser humano. Somos refeitos por Ele com o propósito de praticar “boas obras”. Criados em Cristo Jesus. O ser humano não pode produzir boas obras por si mesmo. É necessário antes ser recriado espiritualmente por Cristo para que possa produzir as boas obras, as quais fará de acordo com a vontade de Deus. O privilégio e o dever de testemunhar mediante boas obras se torna possível devido à mudança que Cristo efetua nos propósitos, afeições e vontade (Mt.5:14-16). De antemão preparou. Antes da criação, estava previsto que os salvos pela graça praticariam boas obras como um testemunho da salvação pela graça. Essa sequência: salvação e, em seguida boas obras, foi escrita no código espiritual pelo qual o ser humano deveria viver. Andássemos nelas. Sobre “andar” no NT, ver com. do v. Ef.2:2. Este andar contrasta com o descrito no v. Ef.2:2. Caminhar ou andar em boas obras deve ser uma prática habitual e espontânea, não imposta; uma expressão natural da nova vida do crente. Se a pessoa não caminhar em boas obras, deve-se duvidar se recebeu a graça. O Arquiteto do universo é também o edificador da vida espiritual, cuja atividade tem um propósito eterno (Ef.1:4). Deus não só proporciona a oportunidade para a prática das boas obras, mas também os meios para sua realização (Jo.15:16; 2Tm.2:21). |
Ef.2:11 | 11. Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, Portanto, lembrai-vos. É bom que o cristão se recorde de sua antiga condição. Era surpreendente para judeus e gentios descobrir que ambos haviam entrado para a nova relação de aliança com o Messias pelos mesmos meios, ainda que os judeus tivessem a vantagem de ter sido os primeiros a receber a Palavra de Deus (Rm.3:1-2). Gentios na carne. Uma referência ao estado de incircuncisão. Incircuncisão [...] circuncisos. Termos distintos denotando gentios e judeus (ver com. de Rm.2:25-29; Gl.5:6). |
Ef.2:12 | 12. naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Sem Cristo. Ou, “longe de Cristo” (BJ), separados dEle. Paulo não condena os gentios, apenas diz que, como estavam desconectados do Messias, careciam da fonte do poder regenerador. “Sem Cristo” é a antítese trágica da expressão-tema repetida muitas vezes: “em Cristo” (ver com. de Ef.1:1). Separados da comunidade. Literalmente, “tendo sido alienados” (cf. Ef.2:19; Cl.1:21). Estranhos. Deus fez aliança com Abraão e seus descendentes (Gn.12:3; Gn.22:18). Eles deveriam tornar disponíveis aos gentios os privilégios da aliança e convidá-los a participar do culto do verdadeiro Deus (ver vol. 4, p. 14-17). Os judeus não cumpriram o plano de Deus e, como consequência, os gentios permaneceram “separados” e “estranhos”. Assim, antes de Cristo vir, o conhecimento das “alianças da promessa” estava confinado quase exclusivamente ao povo judeu. Não tendo esperança. Os gentios não tinham esperança no Messias, portanto, não havia esperança para as bênçãos que fluem dEle. Nas catacumbas de Roma, a palavra “esperança” é encontrada comumente nas inscrições cristãs, porém nunca se encontra sobre um túmulo pagão. Sem Deus. Do gr. atheoi, da qual deriva a palavra “ateu”. No entanto, a palavra grega, neste contexto, talvez signifique apenas “desconhecimento de Deus”. Esta é a condição de miséria e perdição. Os gentios não eram ateus no sentido de não crerem nos deuses, pois tinham muitos. Eles estavam sem o conhecimento do verdadeiro Deus, cujos atributos são santidade, amor, justiça e misericórdia. |
Ef.2:13 | 13. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Mas, agora. Outro contraste de Paulo para dar ênfase (v. Ef.2:4). Longe [...] aproximados. Com o chamado da igreja cristã (ver vol. 4, p. 21), o evangelho foi pregado aos gentios (ver com. de Rm.11:12), muitos deles responderam positivamente e, assim, foram “aproximados”. Pelo sangue. Pelo sangue de Cristo, os crentes são reconciliados (Rm.5:10; 2Co.5:19), redimidos (Cl.1:14), justificados (Rm.5:9) e purificados (1Jo.1:7). O sangue de Cristo vindica o nome de Deus e é a prova de Seu amor (sobre o sangue de Jesus e a salvação, ver com. de Rm.3:25). É dito que Augustus M. Toplady, autor do hino “Rocha Eterna” (HASD, n° 195), se converteu ao ouvir um sermão sobre Ef.2:13, pregado por um trabalhador em um celeiro. |
Ef.2:14 | 14. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, Ele é a nossa paz. O pronome “ele” é enfático no grego. Cristo não é apenas o pacificador; Ele mesmo é a paz, o vínculo de união e de paz. NEle todas as divisões da humanidade devem ser abolidas. No AT, a paz é associada ao Messias (Is.9:6; Mq.5:5). Por ser o vínculo entre judeus e gentios diante de Deus, Cristo efetuou a paz entre eles. De ambos fez um. Assim, já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre (Gl.3:28). Parede da separação. Literalmente, “parede divisória do muro”, ou “o muro que os separava” (BJ). A imagem pode ter sido tomada da barreira que no templo separava o átrio dos gentios do pátio dos judeus (ver vol. 5, p. 54). Além desse limite, nenhum gentio se atrevia a passar (ver imagem, p. 488). |
Ef.2:15 | 15. aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, Aboliu. Do gr. katargeo, “cancelar”, “tornar nula e sem efeito”. Este verbo é utilizado em referência à figueira infrutífera que “ocupava inutilmente” (katargeo) a terra (Lc.13:7) e também para a incredulidade que “torna nula” a fidelidade de Deus (ver com. de Rm.3:3). Na Sua carne. Ou seja, no sacrifício de Seu corpo na cruz. A inimizade (ARC). Este termo pode ser considerado como estando em paralelo a “parede de separação” e a “lei [...] de ordenanças”. O texto grego parece favorecer a primeira possibilidade, embora a última não seja impossível e poderia ser preferida devido ao contexto. Ambas as ideias não são incompatíveis. Cristo eliminou a inimizade ao abolir a “lei dos mandamentos na forma de ordenanças”. Lei dos mandamentos. Geralmente, considera-se que se refere à lei cerimonial. É verdade que a lei cerimonial chegou ao fim na cruz, mas se deve lembrar que o sistema cerimonial, como Deus o deu, não se destinava a criar a inimizade que Paulo descreve nesta passagem. Foram a interpretação que os judeus lhe acrescentaram, as adições que lhe fizeram e as atitudes exclusivistas e hostis que adotaram, como resultado, que se tornaram a base da hostilidade. Os regulamentos adicionais, juntamente com as interpretações envolvidas, serviram para modificar a força e a função dos mandamentos originais ou então para anulá-los. Qualquer gentio que desejasse participar da “comunidade de Israel” (v. Ef.2:12) era confrontado com um sistema intrincado de requisitos legais. É fácil compreender então porque o sistema se tornara pouco atrativo para o gentio, assim como o Deus que ele acreditava ser também o seu autor não lhe trazia nenhum apelo. O sistema judaico, portanto, era como uma barreira intransponível, um muro, que impedia que os gentios aceitassem a adoração do verdadeiro Deus. Os judeus odiavam e detestavam seus vizinhos gentios, e estes, por sua vez, odiavam e desprezavam seus vizinhos judeus. Deus confiara aos judeus Seus oráculos (Rm.3:2). Eles estavam no mundo como representantes oficiais da religião verdadeira. Até a fundação da igreja cristã, nenhum outro povo havia a quem Deus pudesse direcionar os candidatos à salvação. Ao se referir aos escribas e fariseus que “se assentaram” na “cadeira de Moisés”, o próprio Jesus aconselhou ao povo: “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem” (Mt.23:2-3). Quando os judeus rejeitaram a Cristo, sua condição como representantes oficiais da religião verdadeira foi-lhes tirada e dada à igreja cristã (ver com. de Mt.21:43). Após a crucifixão, não era mais necessário que o Filho de Deus Se engajasse no ritual do judaísmo (ver com. de Gl.2:16). No início, a distinção entre o cristianismo e o judaísmo não era compreendida claramente. Muitos judeus convertidos criam que o cristianismo era simplesmente o judaísmo ao qual tinha sido adicionada a crença em Jesus como Messias. Alegavam que os gentios deveriam ser circuncidados e se conformar com o sistema legal judaico, além de aceitar a Jesus Cristo. O concílio de Jerusalém foi convocado para resolver a questão (At.15) e decidiu contra as pretensões judaicas. No entanto, nem todos pareciam dispostos a aceitar as decisões do concílio. Desenvolveu-se um partido forte que continuava a insistir em que os gentios deveriam aceitar o judaísmo, juntamente com o cristianismo. Um grupo de fanáticos desse partido perturbou as igrejas da Galácia, o que fez com que o apóstolo Paulo escrevesse a epístola aos Gálatas, na qual ele declara que o sistema do judaísmo se tornara obsoleto. Essa mesma transição do judaísmo para o cristianismo é o tema de Paulo neste versículo. O judaísmo, com seu sistema intrincado de mandamentos e decretos, perdera sua eficácia. Ao aceitar a Cristo e tendo sido removida essa barreira, os gentios, que estavam “longe”, foram “aproximados”. Porém, o término do sistema cerimonial judaico não significou a revogação de todas as leis que Deus havia dado aos judeus. A lei cerimonial, que apontava para Cristo, naturalmente, chegou ao fim quando Cristo cumpriu seus tipos. A lei civil judaica já havia se tornado sem efeito em grande parte com a perda da soberania nacional. Mas os preceitos morais, que são uma transcrição do caráter de Deus, são tão eternos quanto o é o próprio Senhor, e não podem ser revogados. Em todos os seus ensinos sobre o fim do sistema legal judaico, Paulo enfatizou que a lei moral não foi revogada (ver com. de Rm.3:31). Falando do fim da circuncisão, Paulo teve o cuidado de acrescentar, “mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus” (ver com. de 1Co.7:19; ver também com. de Gl.2:16). Consistia (ARC). Esta palavra foi acrescentada, mas a sentença pode ser traduzida como: “lei dos mandamentos, consistindo em decretos [ou expressa em decretos]”. Ordenanças. Do gr. dogmata, “decretos”, “mandamentos”, “decretos-leis”. A palavra é usada para o decreto da parte de César Augusto, “para que todo o mundo se alistasse” (Lc.2:1, ARC) e para os decretos de César em geral (At.17:7). Em At.16:4, dogmata descreve os decretos do concílio de Jerusalém. Aqui, dogmata descreve os decretos da lei judaica. Para que [...] criasse. Do gr. ktizo, “criar”. Ver v. Ef.2:10. Dos dois. Literalmente, “um dos dois”, isto é, judeus e gentios. Um novo homem. Isto significa mais do que a harmonia estabelecida entre eles. O adjetivo gr. kainos, usado aqui, significa novo em qualidade e não em tempo. Trata-se de uma nova pessoa, de qualidade diferente de qualquer dos dois elementos que a compõem (cf. com. de Ef.4:24). Fazendo a paz. Estas palavras explicam a frase: “Ele é a nossa paz”, do v. Ef.2:14. |
Ef.2:16 | 16. e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. Reconciliasse. Do gr. apokatalasso, forma intensificada de katalasso (ver com. de Rm.5:10). Em um só corpo. Ou seja, o “novo homem” (do v. Ef.2:15) e o “corpo” (de Ef.1:23). Com esta figura o apóstolo se refere à igreja, o corpo, do qual Cristo é a cabeça (Ef.1:22). Por intermédio da cruz. Esta é a única vez em que se menciona a cruz nesta epístola. Ela é apresentada como o meio de reconciliação e o lugar em que a inimizade foi destruída. A cruz é a grande niveladora e o denominador comum de todas as pessoas, porque Cristo morreu por todos, e fora dEle não há outro meio de salvação. Destruindo [...] a inimizade. No sentido de que a morte de Cristo levou ao fim a hostilidade (cf. com. de Cl.1.20). Discórdia na família, conflitos partidários, animosidade nacional, ciúmes denominacionais, tensões e conflitos pessoais, tudo isso se resolve quando os seres humanos se tornam filhos e filhas de Deus e, assim, “um em Cristo”. Por ela. Ou, “nela”. |
Ef.2:17 | 17. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; Vindo. Isto provavelmente se refere à vinda de Cristo por intermédio do Espírito depois da ascensão. Por meio do Espírito, o evangelho da paz foi proclamado tanto a gentios como a judeus. Evangelizou paz. A pregação do evangelho sempre produz paz e boa vontade para com os semelhantes (ver “Ele é a nossa paz”, no com. do v. Ef.2:14). Ele não é apenas a garantia de paz, Ele é a paz. Longe [...] perto. Ver com. do v. Ef.2:13. Provavelmente uma alusão a Is.57:19. Os judeus necessitavam da reconciliação tanto quanto os gentios, pois, embora eles tivessem o conhecimento de Deus, foram separados dEle por suas tradições e seus pecados (Is.59:2; Gl.1:14; Gl.4:9; 1Pe.1:18). O rasgar do véu do templo com a morte de Cristo (Mt.27:51) não só significa que o tipo havia encontrado o antítipo e, assim, o sistema cerimonial havia chegado ao fim, mas também simboliza que a parede divisória entre judeus e gentios fora derrubada (ver PE, 209; comparar com Rm.3:30). |
Ef.2:18 | 18. porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Acesso. Do gr. prosagoge, “aproximação”, “passagem” (ver com. de Rm.5:2). Jesus disse de Si mesmo: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por Mim, será salvo” (Jo.10:9). O verdadeiro objetivo de toda religião é encontrar acesso a Deus. As três pessoas da Divindade são apresentadas neste versículo. Ao Pai. Esta expressão era rica em significado para os que estiveram “longe”. Para os gentios, cansados de suas divindades e em busca do “Deus desconhecido” (At.17:23), a ideia de um Pai amoroso tinha um forte apelo. Em um Espírito. Ou, “em um só Espírito”. Não há um Espírito para os judeus e outro para os gentios. |
Ef.2:19 | 19. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, Estrangeiros e peregrinos. Comparar com o v. Ef.2:12. Os estrangeiros (xenoi) eram os de fora, mas os peregrinos (paroikoi) eram semiforasteiros, moradores que não tinham direitos de cidadania como os israelitas (ver At.7:6; At.7:29). Concidadãos. Os gentios que aceitavam a Cristo tinham direito a todos os privilégios de cidadania na nova comunidade (cf. v. Ef.2:12) da igreja cristã. Santos. Ver com. de Ef.1:1. Estes agora incluem tanto judeus como cristãos gentios, formando o “corpo” de Cristo (Ef.1:23; Ef.2:16). Da família. Ou seja, membros da família, ou parentes. Eles têm os privilégios de proteção, sustento e comunhão (cf. Cl.6:10). Deus é ao mesmo tempo rei dos cidadãos e pai da família. Eles já não são forasteiros ou hóspedes, mas residentes permanentes (Ef.3:15). |
Ef.2:20 | 20. edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; Fundamento. A figura literária muda, na forma característica de Paulo, das pessoas na casa para a estrutura em si. A figura difere da utilizada em 1Co.3:11, em que Cristo é apresentado como o fundamento. Apóstolos e profetas. Estas plavras podem ser consideradas como em paralelo a “fundamento”. De maneira que a frase seria então “o fundamento, que são os apóstolos e profetas”. Alguns limitam o termo “profetas” aqui aos profetas do NT (Ef.3:5; Ef.4:11; 1Co.12:10). Outros acreditam que a referência seja aos profetas do AT, visto que eles realmente lançaram os fundamentos da obra do Messias. Os profetas a quem Deus revelou as riquezas da Sua graça e os apóstolos, os evangelistas especiais dessa graça, constituem o fundamento. Outros cristãos compõem a estrutura do edifício. Esta passagem não diz que a igreja seria fundada sobre um apóstolo, Pedro, mas sobre todos eles, sendo Cristo a pedra angular. A pedra angular. Esta expressão é encontrada apenas aqui e em 1Pe.2:6, em que a construção é descrita como sendo feita de pedras vivas. Para o propósito da figura, a base é considerada aquilo que mantém o edifício unido. Cristo une as várias partes da casa espiritual, dando-lhe forma e unidade. A metáfora é elaborada a partir do Sl.118:22 e foi aplicada por Cristo a Si mesmo (Mt.21:42). |
Ef.2:21 | 21. no qual todo o edifício, bem-ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, No qual. Isto é, em Jesus Cristo. Esta expressão, a frase-chave da epístola (ver com. de Ef.1:1), expressa uma experiência espiritual real, assim como a frase “no Senhor”, no final do versículo. O crescimento cristão ocorre por estarmos “nEle”. Bem ajustado. Do gr. sunarmologeo, ou, “ajustar adequadamente”. A palavra é traduzida como “bem ajustado e consolidado” (Ef.4:16, única outra ocorrência no NT). A igreja não é uma pilha de pedras amontoadas por acaso, mas tem forma e coerência. Cada pedra tem seu lugar próprio. A estabilidade da estrutura depende de cuidadoso planejamento. Cresce. À medida que novos membros são recebidos na igreja. Santuário dedicado. Ou, “santuário consagrado”. Assim como o santuário era considerado o lugar da presença e manifestação de Deus, a igreja do Senhor é o templo em que Ele habita. Tudo que é tocado pela mão e pela presença de Deus é sagrado, de modo que Seu santuário, ou “templo sagrado”, é o lugar onde Ele está. |
Ef.2:22 | 22. no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. Também vós. Ou seja, os gentios. Observe o contraste entre a experiência aqui descrita e a experiência anterior, “mortos em ofensas e pecados” (v. Ef.2:1, ARC). Sendo edificados. Ou, “sendo construídos em conjunto”, indicando um processo contínuo, quando novos acréscimos são feitos à igreja. |
Ef.3:1 | 1. Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, Por esta causa. Evidentemente, esta frase se refere à declaração imediatamente anterior, quanto aos gentios que não são mais estrangeiros e peregrinos, mas formam parte da edificação do templo do Senhor, bem como, de maneira geral, estão incluídos em todo o propósito de Deus. Assim, Paulo chama discretamente a atenção deles para a salvação em Cristo (ver TM, 391). Eu, Paulo. Comparar com 2Co.10:1; Gl.5:2; Cl.1:23-24; Fm.1:19. A ênfase se deve, sem dúvida, às declarações seguintes a respeito da grande comissão dada ao apóstolo. Ele mesmo está surpreso de que devesse ser instrumento de Deus em dar a conhecer a grande obra redentora, que ele descreveu nos primeiros capítulos. Prisioneiro. Quanto à prisão de Paulo nesta ocasião, ver p. 15 e 16. Paulo se referiu muitas vezes a sua prisão; três vezes nesta epístola (cf. Ef.4:1; Ef.6:20). É melhor estar na prisão por uma boa causa do que estar livre sem cumprir o dever nem estar à altura dos privilégios recebidos. De Cristo Jesus. Ou seja, um prisioneiro que pertence a Cristo, ou prisioneiro por amor de Cristo. Por amor de vós, gentios. Paulo estava na prisão por causa de seus trabalhos em favor dos gentios (At.21:28), particularmente por afirmar que eles eram igualmente herdeiros das promessas. Foi assim que ele passou a sofrer o ódio de seus compatriotas. Sua visão da graça superava qualquer barreira nacional. |
Ef.3:2 | 2. se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; Se é que tendes ouvido. Aqui começa uma digressão que se estende talvez até o v. Ef.3:14, em que as palavras “por esta causa” (v. Ef.3:1) são repetidas para retomar a linha original de pensamento. Nesta digressão, Paulo trata de dois assuntos relacionados: a revelação do mistério oculto de que os gentios são coerdeiros e de seu próprio chamado especial para o apostolado a fim de lhes dar a conhecer esse mistério. A incerteza expressa na sentença “se é que tendes ouvido” tem sido apresentada como evidência de que a carta não foi endereçada aos Efésios. Afirma-se que Paulo não falaria assim a um grupo entre o qual ele havia trabalhado por três anos. Várias explicações têm sido oferecidas: (1) que a declaração é uma referência delicadamente irônica por uma coisa que não é duvidosa; (2) que a carta foi destinada não só aos efésios, mas às igrejas da Ásia em geral; (3) que, considerando que cerca de cinco anos se passaram desde que Paulo visitou Éfeso, a composição da igreja havia mudado tanto que Paulo escolheu falar com menos intimidade. Ele presumia que os novos membros tinham ouvido o que ele dissera aos membros mais antigos (sobre esta questão, ver p. 1101). Dispensação. Ver com. de Ef.1:10. A ideia essencial da palavra é a mordomia (Ef.3:2; Cl.1:25). Graça. Ver com. de Rm.3:24. Paulo exalta seu ofício e se humilha como instrumento, ou mordomo. Quando o Mestre nos coloca em Sua obra, Ele nos honra. Para vós outros. Ou seja, para os gentios (ver At.9:15; At.22:21). Sua carreira e vida de trabalho consistiam em total dedicação ao serviço de outros (At.26:17-18; Rm.1:5). |
Ef.3:3 | 3. pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; Segundo uma revelação. Ver com. de Gl.1:11-12; cf. AA, 386. Paulo tinha um profundo senso de sua vocação. Ele era apóstolo, mas não alguém seguindo as próprias aspirações. Ele foi instruído, comissionado e iluminado; e essa revelação explica seu profundo conhecimento dos mistérios do evangelho. Mistério. Do gr. mysterion (ver com. de Rm.11:25; cf. com. de Ef.1:9). Conforme escrevi há pouco. Provavelmente, a referência não seja a uma epístola anterior, mas ao que Paulo já havia escrito nesta epístola (Ef.1:9-13; Ef.2:11). Poderia ser dito, “como escrevi acima”. No entanto, alguns argumentam que ele estava se referindo a uma carta anterior. |
Ef.3:4 | 4. pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, Compreender. Ou, “perceber”, “compreender com o intelecto”. Discernimento. Ou, “critério”, “entendimento”. Paulo não enaltece a própria inteligência, mas o fato de que Deus lhe havia concedido certo conhecimento que podia ser comprovado pelos leitores espiritualmente capacitados. Ele assegura aos leitores que está plenamente informado acerca dos assuntos sobre os quais escreve e, por isso, é digno de confiança. Toda testemunha de Deus também pode sentir essa mesma convicção de que sua mensagem é verdadeira e válida. Mistério. Do gr. mysterion (ver com. de Rm.11:25; cf. com. de Ef.1:9). |
Ef.3:5 | 5. o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, Outras gerações. Cada geração teve sua revelação, mas nunca com o grau e a forma que têm as gerações desde o tempo de Cristo. Em certo sentido, a revelação foi progressiva; por um lado, para servir ao melhor interesse de cada geração; limitada, por outro, à ignorância voluntária das pessoas, até que a plena revelação surgisse na pessoa de Jesus Cristo. Filhos dos homens. Isto é, a humanidade em geral, todos os seres humanos. É a tradução de uma expressão idiomática hebraica comum. Agora, foi revelado. O mistério só pode ser conhecido quando Deus o revela. O Senhor não estava tentando mantê-lo em segredo. Ele desejava torná-lo conhecido (sobre este significado de “mistério”, ver com. de Rm.11:25). Santos apóstolos e profetas. Comparar com Ef.2:20. O uso do termo “santo” aqui é sugestivo. Alguns críticos têm questionado o uso que Paulo faz da palavra, no que diz respeito aos apóstolos, dos quais ele era um, mas os crentes também são chamados de santos (Dt.7:6; Mc.6:20; Cl.1:22; Hb.3:1). No Espírito. Ver com. de 2Pe.1:21. |
Ef.3:6 | 6. a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; Coerdeiros. Comparar com Rm.8:17; Gl.3:29; Gl.4:7; Hb.11:9. Nenhuma das bênçãos da salvação devia ser negada aos gentios. Assim se cumpriria a promessa feita a Abraão de que nele seriam “benditas todas as famílias da Terra” (Gn.12:2-3). A história dos judeus mostra claramente que eles não compreenderam que o plano da salvação abrangia também os gentios, assim como não entenderam a universalidade do evangelho. Por isso, os gentios permaneceram em relativa ignorância. No entanto, em todo o AT, há indicações que Deus pretendia revelar Sua glória a todos os povos (Gn.18:18; SI.22:27; ver vol. 4, p. 13-17). Mesmo corpo. Ver Ef.2:16. O propósito declarado de Deus em Cristo é reunir em um só corpo aqueles que durante séculos haviam sido separados por temores e animosidades. Todas as diferenças históricas de etnia, nação e status social devem ser eliminadas, não pela unificação política, mas pelo irresistível poder do amor e pela lealdade de todo ser humano à pessoa de Cristo. Todos os esforços dignos, mas infrutíferos, das pessoas a fim de harmonizar suas diferenças, inevitavelmente falham porque não são dirigidos de acordo com os princípios básicos do reino de Deus: respeito e amor mútuos. Paulo anunciou isto a judeus e gentios igualmente. Coparticipantes. Literalmente, “participantes comuns”. A palavra assim traduzida ocorre somente aqui e em Ef.5:7. Em Cristo Jesus. A frase-chave (ver com. de Ef.1:1). Todas as preciosas promessas de Deus a Israel e, então, também aos gentios, foram cumpridas em Cristo (2Co.1:20). A frase “em Cristo Jesus por meio do evangelho” refere-se não só à “promessa”, mas também aos “coerdeiros” e “coparticipantes”. Por meio do evangelho. Comparar com a declaração: “pelo evangelho, vos gerei” (1Co.4:15; Rm.10:8-15; Rm.16:25-26). O evangelho são as boas-novas de que as pessoas não precisam se perder, mas que para sua eterna salvação podem se unir a Cristo para formar um só corpo. |
Ef.3:7 | 7. do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder. Ministro. Do gr. diakonos (ver com. de Mc.9:35). A palavra sugere atividade, subordinação e serviço. Graça. Neste contexto, o dom específico para o cumprimento do ministério e do apostolado (ver com. de Rm.3:24). Paulo sempre foi grato pelo privilégio de ter sido chamado. Operante. Comparar com Ef.1:19. O trabalho intenso de Paulo era resultado de um poder que lhe havia sido dado. O dom da graça divina foi acompanhado por uma energia divina. |
Ef.3:8 | 8. A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo O menor de todos os santos. Comparar com 1Co.15:9-10; 2Co.11:30; 1Tm.1:12-16. O reconhecimento da graça e do favor de Deus sempre despertava humildade na mente de Paulo. Ele nunca esqueceu que perseguira os santos. Essa lembrança renovava nele constantemente o apreço pela grandeza de sua vocação em contraste com a indignidade de sua pessoa. Paulo parecia estar sempre maravilhado de que Deus tomasse alguém tão imperfeito como ele, que tinha sido rebelde, para fazer dele um ministro de Sua graça. Ele não se sentia apenas como o menor dos profetas e apóstolos, mas também menor do que qualquer dos santos. Aqueles que estão mais na graça divina serão também os mais humildes. Só assim estarão devidamente equipados para servir. No entanto, os sentimentos de Paulo decorrentes das reflexões sobre sua vida passada devem ser entendidos em conexão com sua afirmação de que tinha vivido “diante de Deus com toda a boa consciência” (At.23:1) e com a exortação aos conversos para que fossem seus “seguidores” (literalmente, “imitadores”; 1Co.4:16; 1Co.11:1; Fp.3:17). A humildade não é uma qualidade negativa; pelo contrário, está em harmonia com o conhecimento da vitória pessoal sobre o pecado e com o crescimento na graça. Insondáveis riquezas. Comparar com Jó.5:9; Jó.9:10; Jó.11:7; Rm.11:33. Só podemos ver as bênçãos espirituais de Deus em parte, pois “vemos como em espelho, obscuramente” (1Co.13:12). A plenitude de Cristo não pode ser esgotada, pois Ele não só possui insondáveis riquezas, mas Ele mesmo é a riqueza. Essas riquezas são insondáveis não porque estão ocultas ou distantes, mas porque são superabundantes. Ele é rico em graça, para com os gentios, em amor e em atividade redentora, para com os pecadores. Isto significa que em Cristo se encontra a resposta a todo e qualquer problema humano. Os recursos divinos são inesgotáveis. Não é de admirar que Paulo, com esse conceito e convicção, haja declarado: “Decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co.2:2). |
Ef.3:9 | 9. e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, Manifestar. Literalmente, “iluminar ou esclarecer a todos”. O evangelho traz à tona os mistérios que estavam ocultos (v. Ef.3:1-5). Pelo evangelho, toda a família humana, gentios e judeus, devem conhecer os propósitos de Deus. Qualquer igreja ou pregação que não cumpra esse objetivo fracassa em sua missão. Pelo evangelho, podeis ter “iluminados os olhos do vosso entendimento” Ef.1:18 (ARC). Dispensação. Significando “planejamento”, “administração” ou “mordomia” (ver com. de Ef.1:10; Ef.3:2). A igreja, como administradora dos mistérios divinos, deve divulgar a sabedoria de Deus. O plano oculto é para ser manifesto. Desde os séculos. Literalmente, “desde todos os tempos”. O plano da redenção foi estabelecido antes da fundação do mundo (ver com. de Ef.1:4). O desenrolar histórico do plano foi uma expressão da bondade eterna de Deus. Em Deus. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “por Deus”. Criou todas as coisas. Provavelmente, Paulo acrescenta este pensamento do poder criativo para impressionar seus leitores com a grandeza do tema. No evangelho, criação e recriação estão unidas, e as duas são realizadas no Filho e por meio dEle (ver Jo.1:3; Cl.1:20; Hb.1:2). O Deus que criou todas as coisas é igualmente poderoso para cumprir Seus propósitos na redenção. Por meio de Jesus Cristo (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão desta frase. No entanto, esta verdade está clara em outras passagens (Jo.1:3; Cl.1:20). |
Ef.3:10 | 10. para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, Pela igreja. Ou, “por intermédio da igreja”. A igreja foi concebida para ser uma demonstração viva da sabedoria de Deus, assim como um paciente recuperado é um testemunho da habilidade do médico. Na verdade, pode-se dizer que a igreja não é tanto uma agente do poder e da sabedoria de Deus quanto é uma prova ou evidência disso. A igreja executa melhor sua missão quando utiliza os dons de todos os seus membros. Multiforme sabedoria. Especialmente manifesta na obra da redenção. A sabedoria de Deus também é demonstrada nas variadas formas do mundo físico, na complexidade da mente humana e nos inúmeros métodos que Ele usa para alcançar as pessoas e efetuar a salvação. A extensão total dessa sabedoria será compreendida quando o plano da salvação for concluído. Principados e potestades. Ver com. de Ef.1:21. O objetivo universal da redenção inclui a vindicação do nome e do caráter de Deus, que foi desafiado por Satanás e questionado por anjos (cf. com. de Ef.1:6). Este é o maior espetáculo que os seres celestiais podem contemplar (cf. 1Co.4:9). Ao longo da história da salvação, de seu vantajoso ponto de vista, os seres celestiais observam a interação das forças e dos eventos que culminam na redenção. Nos lugares celestiais. Ver com. de Ef.1:3. |
Ef.3:11 | 11. segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, Eterno propósito. Literalmente, “o propósito de todos os tempos”. Tanto as Escrituras como a experiência humana falam da execução de um propósito divino. Deus não criou o mundo em vão e, embora, por um tempo, Seus planos sejam afetados, eles finalmente haverão de triunfar. Cristo Jesus, nosso Senhor. Ver Ef.1:10; Ef.1:22-23. Paulo relembra a seus leitores que o Jesus histórico que eles reconheceram como Senhor era o Cristo do propósito eterno de Deus para realizar a salvação da humanidade e vindicar Seu caráter divino. A unidade do propósito de Deus requer completa submissão da vontade do crente ao Senhor e Mestre. Tal unidade é semelhante à que um regente musical espera dos diferentes instrumentos de sua orquestra. A igreja que não se pode integrar em unidade e devoção comum ao Senhor enfrenta derrota e rejeição inevitáveis. O raciocínio de Paulo é (1) que a vontade de Deus foi revelada a nós, (2) que essa vontade está se cumprindo e (3) que resultará na restauração da harmonia no universo de Deus, que foi interrompida pelo pecado. |
Ef.3:12 | 12. pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele. Ousadia. Do gr. parresia, “liberdade de expressão” (ver com. de At.4:13). Acesso. Ver com. de Ef.2:18. No princípio, Adão tinha livre acesso a Deus, mas, quando perdeu esse privilégio, ele se escondeu entre as árvores do jardim, porque não mais podia olhar a Deus com franqueza e consciência limpa. O efeito da redenção é restaurar ao ser humano um novo e franco acesso a Deus, sem medo nem restrições, e sem a necessidade de quaisquer intermediários, como sacerdotes, santos ou rituais. As bênçãos de Deus estão ao alcance direto daquele que, com confiança, se aproxima dEle mediante os méritos de Cristo. Mediante a fé nEle. Primeiro o crente se aproxima de Deus pela fé e continua, pela fé, a viver para o que foi chamado. Só se pode ir a Deus com ousadia e segurança quando se aceita a Cristo como mediador. Ele foi o único a transpor o abismo que separou a humanidade de Deus, desde a entrada do pecado (Is.59:1-2). |
Ef.3:13 | 13. Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória. Portanto. Os gentios passaram a pertencer ao corpo de Cristo, e o propósito eterno está sendo cumprido, pois há livre acesso a Deus. Uma vez que essas coisas grandes e maravilhosas ocorreram, Paulo faz um pedido delicado a seus leitores: que eles não fiquem aflitos pelos sofrimentos que ele enfrenta por lhes haver levado as bênçãos do evangelho. Desfaleçais. Do gr. egkakeo, “fiqueis cansados”, “desanimeis”. Paulo pode dizer: “peço [a Deus] que não desfaleça”, ou “peço [que vós] não desfaleçais”. O último sentido se encaixa melhor no contexto e no estilo de Paulo. Na prisão, o apóstolo estava ansioso de que seu rebanho não se sentisse perturbado por ele estar encarcerado. Ele estava preocupado, não tanto com seu próprio bem, mas com o deles. Eles podiam pensar que o que ele havia pregado tinha em si pouco poder de salvar; que o Deus em quem Paulo confiava estava desinteressado no destino de Seu servo; e que eles poderiam em breve enfrentar provações semelhantes, como, aliás, aconteceria. Este é um exemplo comovente da solicitude do apóstolo para com seus filhos na fé. Paulo sabia que a tribulação é uma prova severa. O sofrimento suportado corajosamente é duplamente glorioso quando tanto os que o contemplam quanto os que sofrem adquirem virtude como resultado. Vossa glória. Como um bom pastor, Paulo se identificava com seu rebanho. Se ele encontrava glória na tribulação, eles iriam compartilhar com ele. Ele estava sofrendo devido ao seu exaltado ofício como apóstolo e embaixador de Deus, e os efésios eram fruto desse apostolado. Portanto, eles tinham o privilégio de refletir essa glória. Quando uma parte do corpo de Cristo tem dor, todo o corpo sofre em simpatia. |
Ef.3:14 | 14. Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, Por esta causa. Ver com. do v. Ef.3:1. O pensamento foi interrompido no primeiro versículo e é retomado aqui, depois de um extenso parêntese. Ponho de joelhos. Sobre a postura de joelhos em oração, ver Lc.22:41; At.7:60; At.20:36; At.21:5; Rm.14:11; Fp.2:10. |
Ef.3:15 | 15. de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, Toda família. Há discussão sobre se esta frase deveria ser traduzida como “toda a família”, ou “cada família”. A expressão grega pode ser traduzida de ambas as formas, embora, normalmente, como ocorre aqui, seja traduzida como “cada” e não “toda”. No entanto, existe uma série de exceções em que a expressão, como usada aqui, favorece “toda” ou “todo” (Mt.3:15; Mt.28:18; At.1:21). Uma exceção é Ef.2:21, em que a mesma expressão é traduzida como “todo o edifício”, ou “toda a estrutura” (RSV; já em Ef.3:15, a RSV traduz “cada família”). Como o texto grego, aqui, não é definitivo, o contexto deve definir a questão. Paulo parece falar da unidade e conceber os seres no Céu e os santos sobre a Terra como uma grande família. Se for adotada a tradução “cada família”, ficaria sugerida a existência de várias famílias no Céu, o que não se verifica nas Escrituras. Portanto, parece melhor adotar a versão “toda a família”, que transmite melhor o sentido de unidade e integridade da comunidade de Deus, o Pai de todos, tema ao qual o apóstolo frequentemente se refere. |
Ef.3:16 | 16. para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; Riquezas da Sua glória. Comparar com Ef.1:18. Este é o padrão pelo qual Deus concede Suas bênçãos à humanidade; por isso são ilimitados os recursos disponíveis aos filhos de Deus. Os seres humanos avaliam todas as coisas por sua própria fraqueza e insignificância; Deus, por Suas ilimitadas riquezas e glória. Paulo não está satisfeito de que seus conversos se tornem cristãos meramente nominais. Deseja que recebam as graças com abundância, para que possam sondar as profundezas e escalar as alturas da vida espiritual e assim participar das gloriosas riquezas do reino de Deus. Fortalecidos com poder. O poder que fortalece é de Deus, o qual é transmitido pela operação do Espírito Santo. O mesmo poder que converte as pessoas deve continuar nelas para que haja crescimento cristão. É aqui que muitos cristãos fracassam, pois não reconhecem que a perseverança espiritual necessita da graça de Deus assim como foi necessária na conversão inicial. A força física aumenta por meio da alimentação, a vida intelectual com o estudo, e a vida espiritual é sustentada pelo poder e pela presença do Espírito Santo. No homem interior. O texto grego sugere a ideia de que o poder de Deus entra no ser humano e ali permanece. O poder espiritual não é inerente à natureza humana. O ser humano não possui nada com que contribuir para a salvação; nada de que possa se vangloriar. |
Ef.3:17 | 17. e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, Habite. Do gr. katoikeO, “morar”, “estar em casa”, “residir”, “permanecer”. A ideia de permanência é acrescentada à do fortalecimento (v. Ef.3:16). Cristo não é um visitante ocasional, mas permanece no coração do cristão, para proporcionar poder que ilumina e purifica (cf. Jo.14:23; Ap.3:20). Pela fé. É a fé que abre o coração a Cristo. Fé é confiança total em Deus e em Suas promessas; é um princípio que continuamente sustenta a vida do ser humano (ver com. de Rm.4:3). Arraigados e alicerçados. Estas duas diferentes imagens são usadas com frequência por Paulo e outros escritores bíblicos (SI.1:3; Je.17:8; Cl.1:23; Cl.2:7). Muitas vezes Paulo combina metáforas para reforçar o significado de sua mensagem (1Co.3:9). Em amor. No texto grego, estas palavras estão no começo da frase para dar ênfase. Por esta razão, pode-se entender que se relacionam com a primeira parte do v. Ef.3:17, dizendo literalmente: “Que Cristo habite pela fé no vosso coração em amor”. Ou podem ser unidas com as palavras “arraigados e alicerçados”, como sugere “arraigados e alicerçados em amor”. O amor “arraigado” penetra profundamente no ser, envolvendo todas as faculdades da mente, enquanto o amor que está “alicerçado” é o firme fundamento sobre o qual ocorrem todas as nossas relações. Não há nenhum argumento contra esse tipo de amor, pois não há nada maior (1Co.13). O amor deriva diretamente da experiência de possuir Cristo no interior, e se torna a raiz e o alicerce da unidade entre Deus e o ser humano, e entre o ser humano e seu semelhante. |
Ef.3:18 | 18. a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade Poderdes. O que deve ser conhecido está além da compreensão humana; portanto, Paulo ora para que seus ouvintes recebam um poder capacitador especial que os habilite a adquirir esse conhecimento. Compreender. Literalmente, “apanhardes”, figuradamente, “perceberdes”. Todos os santos. Ver com. de Ef.1:1. Certas atividades espirituais ocorrem apenas no coração do cristão, enquanto outras, como, neste caso, a compreensão do amor de Cristo, pertencem à comunidade de Deus. Essa possessão em comum é a que une os crentes uns aos outros. Largura. Paulo não declara a que se aplicam as dimensões mencionadas neste versículo. Os comentaristas têm dado várias explicações. Talvez a mais simples seja que Paulo interrompe a frase como se estivesse oprimido pela magnitude do tema que contempla. Ele fica profundamente comovido ao contemplar o mistério da habitação de Cristo, o amor de Deus, a unidade do corpo de Cristo ou, especificamente, o amor de Cristo (v. Ef.1:19). É como se, em uma noite estrelada, o espectador olhasse em todas as direções para o ilimitado universo de Deus, absorto em contemplação. |
Ef.3:19 | 19. e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. O amor de Cristo. Uma referência ao amor de Cristo por nós e não ao nosso amor por Cristo. Que excede todo entendimento. O amor de Cristo ultrapassa todo o conhecimento humano, porque é livre, infinito, inesgotável e sempre apresenta novas possibilidades de experiências. Ele é a fonte da própria experiência crescente de amor (1Jo.4:19). Os seres humanos nem chegaram a tocar com as pontas dos dedos o poder vivificante que existe em experimentar plenamente o amor de Cristo. Plenitude de Deus. Ver com. de Ef.1:23. Esta é a gloriosa consumação da obra da habitação de Cristo no crente. A igreja, como um vaso, deve ficar cheia até transbordar com a graça divina, de modo que cada um dos membros que compõem o corpo de Cristo exponha ou reflita algo da “plenitude de Deus”. Paulo apresenta uma sublime visão da natureza humana e de suas possibilidades de crescimento na graça. A humanidade foi criada à imagem de Deus, recebeu a imagem de Deus e obteve recursos de desenvolvimento e o elevado privilégio de se tornar participante da “natureza divina” (2Pe.1:4). As bênçãos de Deus não são oferecidas com mesquinhez. Elas conduzem a uma crescente compreensão da mente divina, que preenche plenamente com poder espiritual os lugares vazios no íntimo do ser. Visto ser em Cristo que a plenitude de Deus é encontrada (Cl.2:9), a “plenitude” divina chega ao ser humano mediante o Cristo que vive e atua no coração (cf. Ef.3:17). |
Ef.3:20 | 20. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, Aquele. Toda a questão que Paulo apresenta até aqui, nesta epístola, se resume nesta magnífica doxologia (v. 20, 21). O louvor a Deus surge espontaneamente do coração convertido. Há muitas doxologias nas Escrituras (Rm.16:25-27; 1Tm.6:15-16; Ap.1:6), cada uma com um motivo específico. Nesta, o apóstolo está absorvido com a sensação do indescritível poder de Deus e de Seu amor ilimitado pela humanidade. Poderoso. Paulo enfatiza frequentemente a capacidade divina de realizar o que pretende (Rm.4:21; Rm.11:23; 2Co.9:8). Ele vê isso como um grande incentivo para os santos cansados, a fim de que estejam seguros de que o fundamento de sua fé não é frágil nem defeituoso. Infinitamente mais. Do gr. huperekperissou, “inteiramente acima de todos os limites”. Paulo gosta de palavras compostas. Aqui, ele destaca uma superabundância e transbordamento, que está acima e além da plenitude (cf. 1Ts.3:10; 1Ts.5:13). Essa abundância se manifesta particularmente no momento da mais profunda necessidade (cf. Rm.5:20), e o crente só precisa se apoderar dela. Pedimos. Ou, “pedir para nós mesmos”. Toda expressão se refere, sem dúvida, a graças espirituais, “a plenitude de Deus” (v. Ef.3:19). Paulo dá ênfase à ideia da superabundância da graça e dadivosidade de Deus. Os recursos do poder espiritual à nossa disposição estão além do pensamento mais ousado. Não os exploramos como poderiamos (ver a admoestação do Senhor, no com. de Mt.7:7). Poder. Ver com. de Ef.3:16; Ef.1:19-20; Cl.1:29. |
Ef.3:21 | 21. a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! A glória. O crédito, o reconhecimento e a honra pela obra redentora da graça pertencem unicamente a Deus. Não há lugar nem ao menos para a suposição de que possa existir virtude ou glória por parte da igreja ou de seus membros. Na igreja e em Cristo Jesus. Os motivos para louvar a Deus são encontrados na igreja, porque lá a glória é refletida; e em Cristo, porque Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Para todo o sempre. Literalmente, “a todas as gerações de todos os tempos”, isto é, por toda a eternidade. Amém. Ver com. de Mt.5:18. Assim termina a oração do apóstolo e a primeira parte da epístola. A incrível glória e majestade incluída nas promessas de Deus a Seus filhos errantes, mas esperançosos, é um tema que excede a capacidade de expressão da linguagem humana. Ela deixa o coração exaltado, o espírito apurado e concede viva esperança da vinda do reino de Deus em sua plenitude. |
Ef.4:1 | 1. Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, Rogo-vos, pois. Com este versículo começa o que pode ser denominado de seção prática da epístola, embora o apóstolo Paulo não considerasse a doutrina e a prática como aspectos separados da fé. A teoria e sua aplicação estão entretecidas na apresentação que Paulo faz do grande tema da unidade dos crentes. Porém, nesta seção são dadas exortações especiais sobre os deveres e privilégios cristãos, devido à graça recebida e às responsabilidades mútuas entre os irmãos. A ênfase aqui é colocada mais nos efeitos do que nas causas da vida espiritual. Prisioneiro. Ver com. de Ef.3:1. Andeis de modo digno. Ver com. de Ef.2:2; Ef.2:10; Ef.5:8; Ef.5:15; Cl.1:10. É impossível ser plenamente digno da vocação, mas pode-se andar continuamente sob a direção de Deus. O Senhor não chama o crente porque este é digno; a dignidade vem depois do chamado. Ninguém jamais seria chamado por Deus, se dependesse da dignidade. Quando o filho pródigo reconheceu que era indigno de ser chamado filho de seu pai, expressou a convicção de todos os pecadores arrependidos (Lc.15:19). Os efésios, que eram estrangeiros e peregrinos, mas que já estavam unidos em um só corpo com o povo anteriormente escolhido por Deus, e haviam recebido as promessas, são exortados a apresentar evidências visíveis dessa mudança que é fruto da bondade divina. Caminhar pela senda cristã significa mais do que simples preocupação com diferentes atos externos de conduta; depende da atitude e condição interna, que dá origem à motivação às ações. |
Ef.4:2 | 2. com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, Humildade. Do gr. tapeinophrosune, “humildade de espírito” (ver com. de At.20:19). A ideia de “humildade” não era tida em alta estima entre os não cristãos. Nos escritos seculares, tapeinophrosune e as palavras relacionadas significavam degradação ou envilecimento de espírito, mas o cristianismo elevou esta palavra para significar humildade altruísta. O Mestre descreveu a Si mesmo, em relação ao jugo que Seus seguidores deveriam assumir, como “manso e humilde de coração” (Mt.11:29). A ordem para andar com toda a humildade é difícil para o coração não convertido, pois contraria todos os impulsos naturais do espírito humano. Mansidão. Do gr. praotes (ver Gl.5:23; cf. com. de Mt.5:5, em que é usado o adjetivo relacionado praus). Aquele que é manso aceita as injúrias feitas pelos outros contra si e se submete às dificuldades da vida com resignação cristã. Esta qualidade é essencial à unidade da igreja; sem ela rapidamente ocorre divisão. Como a mansidão é a negação da agressividade, mesmo sob provocação, não pode existir sem humildade. Longanimidade. Do gr. makrothumia (ver com. de Rm.2:4; Gl.5:22). A paciência sob quaisquer condições e por todas as razões é a essência da longanimidade. É uma qualidade divina, que Deus tem demonstrado ao longo de milhares de anos de pecaminosa rebelião de anjos e homens. Ela é produzida no ser humano como fruto do Espírito. Trata-se de uma palavra frequentemente usada para descrever a paciência divina (Rm.2:4; 1Tm.1:16; 2Pe.3:15). Suportando-vos. Do gr. apecho, “sustentar”. Em amor. A paciência somente se manifesta em um coração que ama. |
Ef.4:3 | 3. esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; Esforçando-vos. Ou, “esforçando-vos sinceramente”. Unidade do Espírito. Paulo considera que já existe essa condição de unidade, proporcionada pelo Espírito e, em consequência, insta que seja mantida mediante o exercício das virtudes enumeradas por ele. Em seguida, o apóstolo apresenta sete elementos que produzem a unidade, cujo “vínculo” ou “atadura” é a paz. |
Ef.4:4 | 4. há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; Somente um corpo. Ver com. de Ef.1:23; Ef.2:15-16. A palavra “um” (“uma”, “numa”) é repetida sete vezes nos v. 4 a 6. O tema do apóstolo nestes versículos é a unidade. Há muitos membros, mas um só corpo (ver com. de 1Co.12:12-14). O cristão não é um peregrino solitário; pertence a um organismo vivo, a família de Deus. Essa unidade substitui a pátria, o clube e até a família humana como supremo objeto de afeição. Um Espírito. Este é o mesmo Espírito a que se refere o v. Ef.4:3, o poder enaltecido como regenerador diante de Nicodemos (Jo.3:5). Todos os dons, frutos e graças da vida cristã, provêm do Espírito que habita na vida dos crentes e, por extensão, na igreja. O Espírito dissipa as divisões, as desarmonias íntimas que convertem a vida de muitos em verdadeiros campos de batalha. A desunião é um indício certo da ausência do Espírito Santo. Uma só esperança (ARC). A esperança brotou com o chamado de Deus aos corações humanos: a esperança da salvação e da manifestação do Senhor (Tt.2:13). É a esperança da consumação final do reino que oferece uma base firme para a paz, alegria, coragem e bom ânimo. O Espírito vivífica essa esperança (cf. Ef.1:13-14) que, por sua vez, une os crentes e se torna, de fato, uma “viva esperança” (1Pe.1:3). Essa esperança conduz à transformação da vida, pois “a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esta esperança” (1Jo.3:3). Da vossa vocação. Ou seja, pertencente a vossa vocação, e unido a ela. O chamado divino produz esperança. |
Ef.4:5 | 5. há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Senhor. Ver com. de 1Co.8:6. Este é o objeto supremo de lealdade. Aqueles que se submetem plena e fielmente ao mesmo Senhor não entram em inimizade uns com os outros. Deus é Senhor pela criação e pela recriação, e toda autoridade se fundamenta nEle. Entrega total a Ele é um requisito, porém essa entrega pode ser a maior alegria do cristão. “Sabemos que O temos conhecido por isto: se guardamos os Seus mandamentos” (1Jo.2:3). Uma só fé. Paulo parece referir-se à fé em Cristo como Salvador pessoal, e não à fé como um sistema de crenças (cf. com. de Rm.1:5). Há apenas um meio de salvação: a fé (ver com. de Gl.2:16). Os judeus e gentios entram no “corpo” (Ef.4:4 pelo mesmo caminho (Rm.3:29-30). Um só batismo. O batismo por imersão simboliza a morte e a ressurreição. Além disso, significa purificação e separação e é uma demonstração pública de união com o corpo de Cristo. Portanto, aqueles que passam a pertencer à igreja visível crescem juntos na semelhança da morte e ressurreição de Cristo (Rm.6:3-5). |
Ef.4:6 | 6. um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. Um só Deus e Pai de todos. Ver com. de 1Co.8:6. O Pai comum é a fonte de toda a unidade. A maior verdade que se pode descobrir é que Deus é um Pai em quem se pode confiar, um verdadeiro amigo. As pessoas têm clamado sempre por alguém a quem se dirigir em meio a um mundo hostil. Sobre todos. Deus reina soberano sobre Sua criação. Por meio de todos. Deus é onipresente (ver com. do SI.139). Em todos vós (KJV). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão do pronome, mas também pode ser citada a variante “nós”. A omissão de qualquer pronome coloca a frase em paralelo com as duas frases anteriores e não contradiz a intenção de Paulo. É o caso da ARA, com a expressão “em todos”. |
Ef.4:7 | 7. E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. A cada um. Há ordem e desígnio na distribuição de responsabilidades e talentos a cada pessoa (cf. Rm.12:6). Cada dom contribui com sua característica particular para a unidade da igreja. Não há espaço para orgulho por parte daqueles que têm muitos dons, porque mais se espera deles. Tampouco há lugar para ciúmes por parte daqueles que receberam talentos menores, pois são responsáveis por desenvolver apenas o que têm recebido (ver PJ, 327; MJ, 309; T2. 245; T9, 37). Ef.4:7-13 descreve a diversidade de dons dentro da igreja. Paulo explora mais o tema em 1Co.12. Isso pode ser comparado com o ensino de Jesus na parábola dos talentos (Mt.25:14-30). Há uma variação não só nos dons sobrenaturais que Deus concede às pessoas para fins e ocasiões especiais, mas também nas capacidades espirituais comuns de diferentes pessoas. |
Ef.4:8 | 8. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Por isso, diz. Ou, “ele diz”; uma citação do SI.68:18 (ver com. ali; ver também Introdução ao Sl.68). Subiu. Paulo aplica as palavras do salmista à ascensão de Cristo. Destaca que a ascensão do Salvador é a garantia de Seu poder para dar às pessoas os dons do Espírito (cf. 1Co.15:12-22). Levou cativo o cativeiro. Ou seja, “levou em cativeiro um grande número de prisioneiros”. No Salmo, provavelmente, a referência seja aos inimigos cativos do rei de Israel. Aqui, pode se referir aos prisioneiros da morte que foram ressuscitados quando Cristo ressuscitou (Mt.27:51-53; cf. PE, 184, 189, 190; DTN, 786). A cadeia da morte havia sido rompida, e os cativos de Satanás foram libertados pelo poder de Cristo. Concedeu. O hebraico e a LXX do Sl.68:18 dizem “recebeste”. Paulo, sob a inspiração do Espírito, adapta a declaração do salmista à obra de Cristo na distribuição de dons espirituais feita após Sua entrada triunfal no Céu. |
Ef.4:9 | 9. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Subiu [...] havia descido. A ascensão de Cristo implica Sua descida anterior (cf. Jo.3:13). O Filho de Deus não apenas desceu à Terra, mas viveu as profundezas da experiência humana, tornando, assim, ainda mais gloriosa Sua ascensão ao trono da glória. Antes. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre omitir e manter esta palavra. Regiões inferiores da terra. Pode-se entender este enunciado como se referindo à própria Terra, no qual “Terra” está ligada a “regiões inferiores”, ou a “inferno” (hades, ver com. de Mt.11:23), para onde se diz ter ido a alma de Cristo ao morrer (At.2:31; ver. vol. 5, p. 1014). Esta última interpretação requer que a passagem seja referente à morte e ao sepultamento de Cristo. Foi a humilhação de Cristo que O levou à exaltação (Fp.2:5-11). Por meio dessa experiência, Ele Se tornou um sumo sacerdote compreensivo e eficaz, familiarizado com todas as vicissitudes da vida humana (Hb.2:14-18; Hb.7:25-27), inclusive com a morte. |
Ef.4:10 | 10. Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. O mesmo. A descida foi profunda, mas a subida foi mais que a profundeza poderia sugerir (cf. Ef.1:10; Ef.1:20-23). Acima de todos os céus. Talvez uma expressão figurativa para a altura da exaltação. Os judeus falavam de sete céus, e o próprio Paulo se refere ao terceiro céu (2Co.12:2). Encher todas as coisas. Alguns sustentam que o apóstolo aqui esteja falando da onipresença de Cristo. Como homem, Cristo havia aceitado as limitações próprias da humanidade, mas, depois da ressurreição, estava em condições de conceder dons e derramar graça em glória e poder ilimitados. Ele é a Luz do mundo, o Sol da Justiça, que alcança com Seus raios vivificantes até os lugares mais escuros. Outros defendem que o apóstolo fala de Cristo como alguém que preenche todas as coisas, no sentido de que Ele é a cabeça do corpo, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef.1:23). Todas as bênçãos conhecidas pela humanidade nascem dEle. |
Ef.4:11 | 11. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, Ele mesmo concedeu. Em grego, a palavra “Ele” é enfática, significando “ele mesmo”, aquele que acaba de ser descrito. Apóstolos. Ver com. de At.1:2; 1Co.12:28. Paulo não diz que certos dons foram dados às pessoas para que elas se tornem apóstolos, mas que aqueles que receberam o dom foram entregues à igreja. A igreja recebia em seu ministério pessoas devidamente capacitadas para suas funções (comparar com Rm.12:6-8). Profetas. Ver com. de Gn.20:7; Mt.11:9; 1Co.12:10. Os profetas eram expositores e intérpretes da vontade de Deus, que lhes foi dada a conhecer por meios sobrenaturais. Eles são mencionados juntamente com apóstolos (ver Ef.2:20; Ef.3:5). A ideia de predição não é essencial ao significado da palavra, e o elemento preditivo é encontrado em todas as declarações proféticas (At.15:32; 1Co.14:3). O dom profético foi indispensável para a fundação da igreja nos tempos do NT e é o guia designado para a igreja remanescente (Ap.19:10). Evangelistas. Do gr. euaggelistai, “pregadores do evangelho”, relacionados ao verbo euaggelizo (ver com. de At.8:4). Aparentemente, os euaggelistai não estavam circunscritos a uma localidade, mas davam seu testemunho em diferentes lugares. Provavelmente, não exerciam a plena autoridade dos apóstolos (At.21:8; 2Tm.4:5). O ministério dos evangelistas parece ter sido dirigido principalmente aos pagãos, enquanto os pastores e mestres serviam às congregações cristãs. Pode-se perguntar por que Paulo não menciona neste contexto o trabalho de bispos, diáconos e outros. Aparentemente, ele se refere àqueles que se notabilizavam por ter recebido os dons do Espírito Santo com o propósito de ensinar, mais do que de administrar; no entanto, isto não implica superioridade ou inferioridade. Os diversos ministérios não se excluem entre si. Pastores e mestres. A estrutura desta frase em grego sugere que Paulo pretende falar de duas fases de uma mesma função. Qualquer ministério efetivo é um ministério de ensino. A função pastoral do ministério é apresentada em Jo.21:16; At.20:28-29; 1Pe.5:2-3; e a missão pedagógica, em At.13:1; Rm.12:7; 1Tm.3:2, entre outras passagens. O próprio Mestre foi o grande pastor-professor, que pastoreava e ensinava o rebanho. |
Ef.4:12 | 12. com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, Com vistas. Ou, “tendo em vista”. Aperfeiçoamento. Do gr. katartismos, “equipar”, “aperfeiçoar”. O verbo katartizO é usado em Mt.4:21 para o conserto de redes e, em Gl.6:1, para se referir à restauração daqueles achados em falta (comparar com 1Co.1:10). Os dons tinham o propósito de “remendar” os santos e uni-los. Como o contexto sugere, o “aperfeiçoamento” envolve um ministério organizado e um governo eclesiástico. Desempenho do seu serviço. Ou, “obra de ministrar”, “obra de servir”, que inclui todos os tipos de ministério e serviço dentro da igreja. Os que dirigem a igreja não devem se assenhorear do rebanho, mas proceder como servos. Este é o objetivo imediato do dom. Edificação. Ou, “construção”. A igreja deve ser edificada tanto em caráter espiritual como em crescimento numérico. |
Ef.4:13 | 13. até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, Até. Os cargos da igreja serão necessários e continuarão até que o reino de Deus seja estabelecido. Cheguemos. Ou, “venhamos”, “atinjamos”. Unidade. Esta palavra está relacionada tanto à fé como ao conhecimento; isto é, a unidade de fé em Cristo e a unidade do conhecimento a respeito de Deus. A fé deve sempre estar associada ao conhecimento. Conhecimento. Do gr. epignosis, “conhecimento” espiritual desenvolvido (ver com. de Ef.1:17). Perfeita varonilidade. Ou, “o homem maduro”. Isto se refere não tanto ao indivíduo quanto à igreja, que deve chegar ao estado de unidade, integridade e maturidade orgânica, em contraste com a imaturidade infantil sugerida no v. Ef.4:14. Alcançar a semelhança com Cristo deve ser a meta tanto do indivíduo como da igreja (Rm.8:29). A recusa em crescer é um pecado maior do que a própria imaturidade; é resultado de envaidecimento e de ideais mesquinhos. Estatura. Do gr. helikia, “idade”, “tempo de vida”, “estatura”. Aqui, destaca a ideia de maturidade (comparar com Lc.2:52; Lc.12:25). Plenitude de Cristo. Ver com. de Ef.1:23; Ef.3:19; Jo.1:14; Jo.1:16. Unicamente Cristo tem a plena estatura e é o homem completo, o homem perfeito. Somos exortados a participar dessa natureza. Todas as funções da igreja e as graças do Espírito são dadas com esse propósito. |
Ef.4:14 | 14. para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Meninos. Do gr. nepioi, “crianças”. A palavra é traduzida frequentemente por “pequeninos” (Mt.11:25; Lc.10:21). No sentido figurado, refere-se mais às características do que à idade em si (cf. 1Co.3:1; 1Co.13:11; Gl.4:1; Gl.4:3; Hb.5:13). Somos instados a nos tornar como “criancinhas”, paidia (Mt.18:2-4), na humildade e confiabilidade, mas não na impulsividade e imaturidade. O objetivo da concessão dos dons é que os filhos de Deus cresçam em maturidade espiritual. É lamentável uma pessoa de idade madura e desenvolvimento físico e mental ainda infantil. Agitados de um lado para outro. Literalmente, “atirados pelas ondas”. A falta de firmeza, muitas vezes associada à juventude, não deve ser a característica do crente, mas a paciência, a resistência e a estabilidade (cf. Tg.1:6; Hb.13:9). Os que sempre buscam algo novo e são atraídos por ideias sensacionalistas, colocam uma base frágil para a vida da igreja. Da mesma forma, a especulação teológica e filosófica além dos limites legítimos produz instabilidade de crença e de caráter. Vento de doutrina. Paulo não menospreza a doutrina ou a teologia, como uma expressão sistematizada de conhecimentos a respeito de Deus, mas adverte contra a indecisão, incerteza e imprecisão que, com frequência, acompanham a reflexão teológica. Sem dúvida, ele também se refere à especulação ociosa que geralmente marca os debates religiosos. Os dois extremos são elementos perturbadores da vida da igreja. Artimanha. Literalmente, “jogo de dados”. Os “ventos de doutrina" são projetados para enganar, como quando um jogador ingênuo é vítima da astúcia de um trapaceiro. Não é apenas uma questão de acaso, pois os dados estão viciados; o que parece ser ensino de Cristo, em realidade não o é. Em sua exortação final aos anciãos de Éfeso, em Mileto, Paulo advertiu que “lobos cruéis” entrariam no meio deles (At.20:29) e, aparentemente, o tempo havia chegado. A integridade no ensino da verdade é tão essencial quanto a honestidade em sua prática. Astúcia. Do gr. panourgia, “artifício”, “desonestidade”, “falsidade” (ver Lc.20:23; 1Co.3:19). Induzem ao erro. Literalmente, “para [ou com vistas a] a astúcia de enganar”. O objetivo final é o engano. |
Ef.4:15 | 15. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, Seguindo a verdade. A ideia básica do termo grego é ser veraz, dizer a verdade, seguir a verdade e não as doutrinas enganosas contra as quais Paulo alerta. O espírito simples de sinceridade e veracidade é uma proteção efetiva contra os enganosos ventos de doutrina (ver Jo.3:21; Jo.8:44; Jo.18:37; 1Jo.1:8; 2Jo.1:4. Em amor. O amor e a verdade são inseparáveis. A verdade deve ser exata nas ideias e amável no modo como se expressa (cf. Gl.4:16). No entanto, o amor não equivale a transigir com o pecado ou desculpá-lo. Nenhum apóstolo foi mais específico do que Paulo ao denunciar os malfeitores; porém, o amor inundava seu coração enquanto apresentava a verdade. O amor era precisamente o que o obrigava a expor a verdade (cf. Ef.3:17-19). A cabeça. Assim como a árvore estende suas raízes para baixo no solo em busca de nutrição e umidade, assim também o filho de Deus busca diariamente em Cristo sua força e sustento para o crescimento espiritual. A união com Cristo é, ao mesmo tempo, causa e resultado do crescimento. Ele é a cabeça de todo crente e também da igreja (1Co.11:3). |
Ef.4:16 | 16. de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. Bem ajustado. Comparar com Ef.2:21. O crescimento em Cristo assegura que a vitalidade do Salvador fluirá dEle para todos os membros do corpo, que estão intimamente relacionados entre si. É assim que pessoas de dons muito diferentes poderão trabalhar juntas. Consolidado. Uma cooperação contínua e mútua entre cada um dos membros assegura solidez e fortaleza. A estrutura complexa cresce ao estar em relação com o suprimento da graça que provém da cabeça. Cooperação. Do gr. energeia, “poder operante”, “operação”. “Energia” deriva de energeia. Cada parte tem uma função essencial a desempenhar. Cada membro é uma pessoa em ação. Cada parte. A ideia essencial é de unidade e crescimento coordenados por meio da direta relação com a cabeça (cf. Cl.2:19). Efetua seu próprio aumento. A origem do crescimento é a cabeça; porém, cada parte ou membro tem uma obra a realizar para que possa crescer. O crescimento tem dois aspectos: o aumento numérico da igreja e o desenvolvimento individual dos dons espirituais. Edificação. Ver com. do v. Ef.4:12. |
Ef.4:17 | 17. Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, No Senhor testifico. As exortações a seguir devem ser entendidas à luz da ideia já exposta de Cristo como cabeça da igreja e fonte do poder para o viver correto. Paulo não expressa aqui apenas uma opinião pessoal. Ele está bem convencido do que vai dizer (ver afirmações semelhantes, em At.20:26; Rm.1:9; 2Co.1:23; Gl.5:3; Fp.1:8; 1Ts.2:5). Andeis. Ver com. de Ef.2:2; Ef.2:10. Outros gentios. Literalmente, “os restantes gentios”. No entanto, evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão de “outros”. O apóstolo exorta os crentes a ser diferentes dos gentios. Os próprios efésios haviam sido anteriormente gentios, mas passaram a pertencer ao “Israel de Deus” (Cl.6:16). Vaidade. Do gr. mataiotes (ver com. de Rm.8:20). A ideia não é de presunção, mas de objetivos frívolos e vazios. O gentio sem Cristo vagueia sem objetivo, sem esperança, e descuidadamente. Em Rm.1:21-32, Paulo traça um quadro da completa depravação, quando a pessoa se entrega às imaginações “vãs” (mataios). Essa degeneração ocorre na sede do governo da natureza humana, a mente, de modo que as faculdades racionais se rendem à imaginação desorientada. Essa vaidade não somente carece de valor, mas é também degradante. |
Ef.4:18 | 18. obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, Obscurecidos de entendimento. O apóstolo se refere à cegueira intelectual. A “obscuridade” nas Escrituras, com frequência, simboliza trevas espirituais (Jo.3:19; At.26:18; Cl.1:13; 1Ts.5:4-5; 1Jo.1:5-6). A mente natural tem sido corrompida pelo pecado não somente em sua percepção moral como também em suas faculdades racionais, portanto está incapacitada para compreender a verdade espiritual. A razão por si só é ineficaz para captar as verdades espirituais necessárias ao relacionamento pessoal com Deus que produz salvação. Alheios. Ver com. de Ef.2:12; Cl.1:21. Esta palavra e o vocábulo grego do qual ela é traduzida sugerem uma união anterior. O ser humano, que no passado mantinha comunhão com seu Criador, separou-se da vida de Deus, isto é, da vida que provém dEle (1Jo.5:11). Separação da vida de Deus significa morte espiritual: perda da vida eterna. Ignorância. A ignorância deles não era o resultado da incapacidade intelectual, mas da falta moral pela qual eles poderiam ser responsabilizados. O desconhecimento da vontade de Deus não é desculpa quando se teve a oportunidade de conhecê-la. Deus não passa por alto a ignorância culposa (cf. At.17:30). Dureza. Do gr. porosis, “endurecimento”, “embotamento”. A ideia principal é a de indiferença e insensibilidade espiritual (cf. Rm.11:25). Paulo descreve como ocorre esse endurecimento (ver Rm.1:21). Ambas as passagens permitem deduzir que as pessoas atraíram tal consequência sobre si mesmas. |
Ef.4:19 | 19. os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza. Os quais [...] se entregaram. Significa uma submissão voluntária. Há uma grande diferença entre a condição daquele que cai nas astutas ciladas do diabo e daquele que deliberadamente se entrega à autoridade do maligno (comparar com Rm.1:24, em que se diz que “Deus entregou [...] à imundícia”). Porém, Deus só desiste de alguém depois que o pecador escolhe deliberadamente andar no caminho do mal, nunca antes desta escolha. As alturas mais elevadas para o bem ou as profundezas para o mal se alcançam pelo poder da vontade, conforme se incline em uma ou outra direção. Dissolução. Do gr. aselgeia (ver com. de Rm.13:13). Esta palavra indica uma entrega completa e irresponsável à luxúria. A natureza humana, abandonada a si própria, é a mesma que sempre foi. Avidez. Do gr. pleonexia, “desejo de ter mais”, “cobiça”. No NT, pleonexia é associada à impureza (cf. Ef.5:3; Ef.5:5; Cl.3:5). |
Ef.4:20 | 20. Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, Aprendestes a Cristo. Aqui se apresenta um contraste com a vida do pagão. Não há outra ocorrência desta expressão no NT; “conhecer a Cristo” é uma expressão mais comum (2Co.5:16; Fp.3:10; 1Jo.4:7). “Aprender a Cristo” não é simplesmente aprender alguma coisa sobre Ele, é familiarizar-se com Seu ministério e obra de sacerdote, profeta, rei, advogado e mediador, e incorporar à vida cotidiana os benefícios de Sua obra expiatória. Quando o próprio Jesus disse: “Aprendei de Mim” (Mt.11:29), estava Se apresentando como exemplo, não como o grande mestre, mas como o objeto único de nossa fé e de conhecimento. |
Ef.4:21 | 21. se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, Se é que. Ou, “admitindo”. A construção sintática grega apresenta a condição como verdadeira. Além disso, a ênfase está sobre o pronome “Ele”. Os efésios O haviam ouvido como as ovelhas ouvem a voz de seu pastor, portanto, estavam moralmente obrigados a obedecê-Lo. Por Ele. Ou, “nEle”. Ou seja, eles receberam o conhecimento acerca de Cristo pela união vital com Ele. Verdade. Ver com. de Jo.8:32. Jesus declarou ser a verdade (Jo.14:6). Toda a verdade estava encarnada na pessoa de Jesus. O que relaciona o ser humano com a verdade do Salvador não é a especulação filosófica ou teológica sobre Ele, mas a relação pessoal com o Redentor e a recepção de Sua graça. Jesus. O uso deste nome isoladamente é raro nas epístolas, sendo a expressão usual “Jesus Cristo”, “Senhor Jesus” ou “Cristo Jesus”. Quando o nome pessoal ocorre sozinho, o objetivo é destacar o Jesus histórico, encarnado, crucificado, ressuscitado e elevado ao Céu. Ele foi a revelação de Deus, portanto, o portador vivo de toda a verdade. O cristianismo permanece em pé ou se desmorona, dependendo da atitude que adote ante a historicidade desses acontecimentos. Paulo faz tudo girar em torno da ideia de que, em determinado ponto no tempo, Deus entrou de maneira singular na experiência da humanidade na pessoa de Jesus, verdadeiro homem. |
Ef.4:22 | 22. no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, Trato. Do gr. anastrophe, “forma de vida”, “conduta”, “comportamento”; correlacionado ao verbo anastrepho (ver com. de Ef.2:3). O antigo modo de vida foi descrito em Ef.4:17-19. A natureza pecaminosa é despida de uma vez por todas, para nunca mais ser vestida, pois a pessoa estará revestida da nova natureza (ver com. do v. Ef.4:24). O manto da justiça substitui os trapos da justiça própria. O velho homem. Ver com. de Rm.6:6; Cl.3:9. Esta expressão parece significar mais do que simplesmente antigos atos ou hábitos; inclui a própria mente e a natureza humana, de onde se originam os atos. O velho eu morre (Rm.6:6) e não deve reviver. Que se corrompe. Literalmente, “é corrompido”, ou “corrompe a si mesmo”. A palavra indica continuidade ou corrupção progressiva na condição do “velho homem”. O pecado é um fator que desintegra a vida, um câncer que cresce no corpo espiritual. Concupiscências do engano. Literalmente, “anseios do engano”. A frase está em contraste com a “verdade” (v. Ef.4:21). Se as pessoas percebessem a escravidão e corrupção que o pecado lhes traz, este lhes pareceria terrível como é na realidade. No entanto, seu verdadeiro caráter permanece oculto até que escravize suas vítimas. Os desejos da carne são enganosos porque prometem felicidade, mas causam tristeza; prometem liberdade, mas escravizam; prometem que o pecador ficará imune aos resultados da transgressão, só para trazer destruição. |
Ef.4:23 | 23. e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, E vos renoveis. O pecado é um intruso, um destruidor da pureza original do ser humano. Apesar dos séculos de degradação, as pessoas ainda mostram traços da criação original de Deus. Por meio da obra do Espírito Santo no novo nascimento e na santificação, “o velho homem” (v. Ef.4:22) pode ser criado de novo à semelhança de Cristo. Existe em cada pessoa e, por extensão, em toda família humana, um profundo vazio que só pode ser preenchido peia influência restauradora do Senhor Jesus Cristo. Espírito do vosso entendimento. A mudança de opinião não é apenas superficial ou um novo conceito doutrinário. Ela afeta a natureza da mente e os princípios que a governam. |
Ef.4:24 | 24. e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Revistais. Do gr. kainos, “novo [em qualidade]”. O revestimento da nova natureza, ou da nova “pessoa” não é algo que podemos fazer por nós mesmos, não é simplesmente uma pessoa renovada. Deus é o poder ativo na recriação, porém essa mudança não se realiza sem o consentimento e a cooperação do ser humano (MDC, 142). Segundo Deus. Literalmente, “de acordo com Deus”. Deus é o ideal, segundo o qual o novo ser é modelado (Mt.5:48) e, uma vez que o “novo homem” é, na realidade, um retorno ao estado original do ser humano, isso significa a restauração da imagem de Deus na vida (Gn.1:27; Ed, 125; cf. Cl.3:10). Procedente. Ver com. de Ef.2:10; cf, com. de 2Co.5:17. Justiça. Do gr. dikaiosune (ver com. de Mt.5:6). Santidade. Do gr. hosiotes, “piedade”, “santidade”. No NT, a palavra só ocorre mais uma vez (Lc.1:75; sobre o adjetivo hosios, “piedoso”, “santo”, ver com. de At.2:27; At.13:34). |
Ef.4:25 | 25. Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. Mentira. Do gr. pseudos, “falsidade”, “inverdade”, “mentira”. O engano causa a corrupção da personalidade do enganador, muitas vezes prejudicando-o mais do que ao enganado. Os que são seguidores dAquele que é a verdade fazem qualquer coisa para manter a máxima integridade em tudo. Na vida do cristão, não há lugar para se tirar vantagem do outro em uma transação comercial, nem para distorcer informações, nem propagar falsas impressões por insinuação, nem fazer promessas sem a intenção de cumpri-las, nem divulgar boatos e fofocas. Fale [...] a verdade. Uma citação de Zc.8:16. Falar a verdade é para o cristão mais que um hábito; é parte de sua natureza. Membros uns dos outros. A mentira tende a destruir a unidade da irmandade; o engano opõe um membro ao outro (cf. 1Co.12:15). Não pode haver verdadeira união entre as pessoas a não ser na base da absoluta confiança (cf. Zc.8:16). |
Ef.4:26 | 26. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, Irai-vos. Uma citação da LXX do SI.4:4 (v. 5, LXX). Os comentaristas divergem se o hebraico do SI.4:4 deveria ser traduzido como está na NTLH ou TB (“tremem de medo”), ou como na LXX, que é como está a citação de Paulo. No grego, os dois verbos “irai-vos” e “não pequeis” estão no imperativo. Várias sugestões têm sido dadas na tentativa de evitar a implicação de uma ordem para se irar, mas nenhuma delas é satisfatória. A solução mais simples parece ser a de considerar a ira nesta passagem como uma justa indignação. Um cristão que não se indigna contra as injustiças e a iniquidade pode ser também insensível a algumas situações que deveriam preocupá-lo. O papel mais importante de uma justa indignação é estimular as pessoas em sua batalha contra o pecado. Jesus não ficou irado por qualquer afronta pessoal, mas pelos desafios hipócritas a Deus e pelas injustiças cometidas contra seres humanos (ver Mc.3:5). A ira é justificável quando se dirige contra a conduta errada, porém sem animosidade contra o malfeitor. Ser capaz de separar esses dois elementos é uma conquista cristã. Não pequeis. O texto grego indica que se trata de uma ordem. Esta advertência é feita para evitar que a ira justificável produza reações de ressentimento pessoal, vingança e perda de domínio próprio. Alguém comentou que “às vezes, fazemos bem em demonstrar ira, mas temos confundido essas vezes”. Não se ponha o sol. Aqui está uma salvaguarda contra o abuso da indignação. Embora deva sempre haver indignação contra o pecado, o ressentimento acalentado é destrutivo. Uma prova justa da verdadeira natureza da indignação consiste em comprovar se é possível orar pela pessoa cujo ato errado causou a ira. Ira. Ou, “indignação”, “exasperação”, o senso maligno de ressentimento pessoal em que até mesmo a ira justificada pode se transformar. |
Ef.4:27 | 27. nem deis lugar ao diabo. Lugar. Ou seja, espaço ou oportunidade (comparar com Rm.12:19). Diabo. Do gr. diabolos, “acusador” (ver com. de Mt.4:1). Paulo somente utiliza a palavra diabolos em suas últimas epístolas (1Tm.3:6-7; 1Tm.3:11; 2Tm.2:26; 2Tm.3:3; Tt.2:3), enquanto, nas primeiras, o termo que emprega comumente é Satanás (Rm.16:20; 1Co.5:5; 1Ts.2:18; 2Ts.2:9; 1Tm.1:20; 1Tm.5:15). A ira a que se refere no v. Ef.4:26 dá oportunidade para que o diabo faça os membros do corpo de Cristo se indispor uns contra os outros. Por isso, a advertência de não dar oportunidade ao diabo em levar avante suas tentações. |
Ef.4:28 | 28. Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado. Não furte mais. Paulo fala em geral a conversos procedentes do paganismo. Além do ato direto de se apoderar da propriedade alheia, existem muitas formas em que podemos ser culpados deste pecado, como, por exemplo, por meio de uma transação comercial desonesta. Portanto, a ordem de Paulo pode se aplicar também aos professos cristãos. O roubo tem muitos disfarces; porém, sempre é uma violação do mandamento fundamental de amar ao próximo. Trabalhe. Pode-se debater se o roubo é causa ou consequência do ócio, mas, certamente, o trabalho é o remédio. Paulo não se limita a proibir o mal. Se é verdade que “a natureza tem horror ao vácuo”, é igualmente verdade que os hábitos abandonados devem ser substituídos (cf. Mt.12:43-45). O ócio e o roubo tendem a andar juntos, assim como o trabalho e a honestidade. Trabalhe com as próprias mãos. O próprio Paulo deu o exemplo de trabalho manual (At.20:34), imitando seu Mestre, que trabalhava com as mãos na bancada de carpinteiro. O trabalho honrado, físico ou mental, é essencial à felicidade. Nenhum cristão deve ser sustentado por outros, se for capaz de se manter. Há um valor terapêutico no trabalho, e a instrução paulina é correta e verdadeira (cf. Rm.12:11). Tenha com que acudir. Existe outra razão para essa exortação de trabalhar. Muitos não podem se sustentar devido à idade avançada ou a incapacídades por outra razão. Isso dá a oportunidade de demonstrar a unidade, que é o tema da epístola. É um privilégio cristão dar aos necessitados, os quais poderiam perecer sem essa ajuda. O cristão não deve ganhar dinheiro somente pelo dinheiro em si. Os frutos do trabalho honesto devem ser recebidos e repartidos no espírito da mordomia cristã. O crente trabalha a fim de poder ajudar a outros, depois de haver cumprido seu dever para com a sociedade e de sustentar a si mesmo. Assim, ele vive em contraste com o ladrão. |
Ef.4:29 | 29. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. Torpe. Do gr. sapros, “podre”, “impróprio para o uso”, “sem valor”. Em Mt.7:17, sapros descreve uma árvore má e, em Mt.13:48, se aplica a peixes não apropriados para a alimentação e que eram lançados fora. A linguagem impura demonstra que o coração é corrupto: “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt.12:34, ARC). Palavrões, brincadeiras e canções obscenas, e até mesmo a conversa fútil e insípida, não têm lugar na vida do cristão; pois são indícios de espírito não regenerado. A que for boa. Não é suficiente que o cristão se abstenha da linguagem obscena. Suas palavras devem cumprir um propósito útil. Jesus advertiu contra o uso de palavras ociosas ou sem propósito útil (Mt.12:36). Boa para edificação. Ou, “boa para a edificação conforme a necessidade” (TB). O modo de falar do cristão não precisa ser severo ou grave para que seja edificante, construtivo e que leve as pessoas a ficar melhores do que antes de ouvir suas palavras. No v. Ef.4:28, orienta-se que o trabalho do cristão deve ser pelo benefício dos outros, e aqui se ensina que suas palavras devem ser para o bem de seus semelhantes. Não é só a fala indecente que corrompe, mas também a palavra egoísta, mal-intencionada, crítica ou de cluplo sentido. Novamente o apóstolo parece ter em mente o tema central de sua epístola: a unidade. Aquilo que não edifica degrada e, por conseguinte, deve ser descartado (comparar com 1Ts.5:11-14). Graça. Do gr. charis, que aqui pode significar “benefício” (cf. com. de Rm.3:24). |
Ef.4:30 | 30. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Entristeçais. Do gr. lupeo, “causar dor”, “afligir”, “ofender”. Este imperativo grego pode ser traduzido como “pare de ofender”. A personalidade do Espírito Santo é aqui claramente definida, pois apenas pessoas podem ser entristecidas (sobre a maneira pela qual o Espírito Santo pode ser entristecido, ver com. de Mt.12:31). Selados. Em Ef.1:12-13, os crentes são descritos como sendo selados no “Espírito Santo” (ver com. de Ef.1:13; 2Co.1:22; sobre o selo, ver com. de Ap.7:2). A recepção do Espírito Santo na conversão é a autenticação divina de que o crente é aceito, de que a aprovação do Céu repousa sobre sua eleição e vida cristã. Para. Ou, “com vistas a”. Espera-se que o crente persevere e que seja glorificado. Isso só ocorrerá se ele conservar “firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (Hb.3:6, ARC). O ato de selamento não garante a salvação para sempre, pois é possível pecar contra o Espírito Santo e, assim, perder o direito à redenção (ver com. de Mt.12:31; cf. com. de Hb.6:4-6). O pecado imperdoável é a culminação de uma série de atos que entristecem o Espírito Santo. Portanto, é importante não cometer nem um só ato dessa natureza. Redenção. Ver com. de Ef.1:14. |
Ef.4:31 | 31. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Amargura. Do gr. pikria. No sentido metafórico, pode se referir ao temperamento, caráter ou disposição. Uma pessoa amargurada está em permanente estado de antagonismo contra seus semelhantes, impedindo, assim, a unidade (cf. At.8:23; Rm.3:14). Uma lista de pecados semelhantes é dada em Cl.3:8. Cólera, e ira. Do gr. thumos kai orge. Thumos denota um estado mental momentâneo de fúria e excitação; orge, uma condição permanente de ressentimento e hostilidade (cf. com. de Rm.2:8). Gritaria. Do gr. krauge, “clamor”, “briga em voz alta”. A discussão entre os fariseus e saduceus sobre a doutrina da ressurreição foi um krauge (At.23:9). Blasfêmia. Do gr. blasphemia, “difamação”, “afronta”. A gritaria logo se transforma em calúnia no esforço para arruinar a reputação dos outros. Todos os males mencionados nesta passagem tendem a perturbar a unidade do corpo de crentes, pois criam barreiras entre os que deveriam sentir-se mutuamente atraídos à união, em virtude da cidadania celestial que têm em comum. Malícia. Do gr. kakia (ver com. de Rm.1:29). Alguns percebem uma ordem natural na lista de males apresentada por Paulo: a amargura logo se torna cólera apaixonada e explosiva; a cólera se transforma em ira persistente; a ira conduz a gritaria vulgar; e a gritaria sempre está acompanhada de injúrias ou difamações. Tudo isso nasce de uma malignidade satânica presente no coração humano. Portanto, devem ser eliminadas, pois fazem parte das obras da carne (Gl.5:19-21). |
Ef.4:32 | 32. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou. Benignos. Do gr. chrestoi, “gentis”, “graciosos”. A benignidade ou simples gentileza (chrestotes) é uma das características positivas mais profundas em favor do cristianismo; é um fruto do Espírito (Gl.5:22). Ela é o oposto da malícia de Ef.4:31. A conversão transforma a malícia em benignidade. Compassivos. Do gr. eusplagchnos, literalmente, “de fortes entranhas”, “misericordioso”. A palavra é traduzida como “compassivos” (1Pe.3:8). Pode ser comparado com “afetos de misericórdia” (Cl.3:12), que equivale a considerar com ternura as fraquezas e necessidades dos outros. A indiferença insensível ao sofrimento é incompatível com o espírito cristão (cf. Lc.6:36; Fp.2:4; 1Pe.3:8). Perdoando. A bondade e a ternura são de pouco proveito, a menos que se expressem no espírito de perdão. A bondade pode ser meramente uma espécie de cortesia ou polidez, se não estiver disposta a dar o passo do perdão. O espírito de perdão é mais do que um ideal ou mesmo uma virtude, é uma decidida atitude do coração e da mente. O Senhor Jesus é o único modelo que devemos seguir (Mt.6:12; Lc.6:36). O perdão foi comprado a um preço infinito, porém, não custa nada ao pecador, exceto o sacrifício do orgulho pessoal de perdoar os outros. O perdão deve ser medido em relação ao perdão divino (cf. Mt.18:32-33), um fato que se torna tanto mais surpreendente quanto mais se medita nele. Deus, em Cristo. A frase-chave da epístola (ver com. de Ef.1:1). |
Ef.5:1 | 1. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; Imitadores. Do ar. mimetai, “imitadores”. Este versículo é uma continuação e ampliação de Ef.4:32. O apóstolo vem insistindo que o exemplo de Deus seja seguido, especialmente em relação ao espírito de perdão. Deus é o modelo e o ideal que se deve imitar, neste caso, com especial referência ao espírito perdoador que se deve manifestar. O crente fiel pode, pela graça de Deus, aprender a perdoar, como Deus perdoou. Filhos amados. Saber que Deus nos ama proporciona força e capacidade para imitá-Lo (1Jo.4:19). A consciência da paternidade divina produz o amor fraternal (1Jo.4:11). Aqueles que com sinceridade chamam a Deus de “Pai" devem considerar a seus semelhantes como irmãos e irmãs. |
Ef.5:2 | 2. e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Andai em amor. Ou, “continuai a andar em amor”, “tomai o hábito de falar em amor”. Devemos viver em uma atmosfera de amor (sobre agape, ver com. de 1Co.13:1). Também Cristo nos amou. Evidências textuais (cf p. xvi) apoiam a variante “Vos” o mesmo ocorre em Ef.4:32. Entregou a Si mesmo. Cristo demonstrou Seu amor ao entregar-Se a Si mesmo. Nós não podemos fazer menos. (o amor de Cristo foi tão grande que Ele voluntariamente Se ofereceu em sacrifício. Um dos propósitos da encarnação foi precisamente manifestar o amor de Deus, pois “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co.5:19). “Ninguém tem maior amor do que este” (Jo.15:13). Como oferta e sacrifício. Os serviços do santuário prefiguravam o ministério e o sacrifício de Cristo. O ato voluntário por meio do qual Cristo Se entregou como sacrifício estava prefigurado no ritual cerimonial do antigo Israel. Alguns têm sugerido que se deve distinguir entre as palavras “oferta” e “sacrifício”, porque a primeira denota uma oferta sem sangue e a segunda pressupõe a morte da vítima. As palavras gregas que traduzem “oferta” e “sacrifício” não sugerem essa distinção. Paulo deve ter tomado a frase emprestada do Sl.40:6. Em aroma suave. Literalmente, “odor de um cheiro doce”. Deus, o Pai, Se agradou com a oferta de Cristo, bem como com o espírito com o qual foi feita; porém, não significa que o sacrifício de Cristo fosse necessário para “aplacar a ira” de Deus (ver com. de Rm.5:10; sobre a figura de “cheiro suave”, ver com. de 2Co.2:15; Fp.4:18). |
Ef.5:3 | 3. Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; Mas. Paulo utiliza fortes contrastes para realçar o efeito de sua mensagem. Neste contexto, ele contrasta “cheiro suave” com o sacrifício de Cristo (v. Ef.5:2). Impudicícia. Do gr. porneia, termo geral para relações sexuais ilícitas de todos os tipos (ver com. de 1Co.6:18). Impurezas. Prostituição e impureza são frequentemente mencionadas juntas (como em 2Co.12:21; Gl.5:19; Cl.3:5). O apóstolo passou da consideração do amor santo para a do amor não santificado, a fim de mostrar como os sentimentos mais sagrados podem ser corrompidos. Cobiça. Do gr. pleonexia, “o desejo de ter mais”. A associação deste pecado com a fornicação e a impureza é significativa (cf. 1Co.5:11; Ef.5:5; Cl.3:5). A cobiça é o desejo de ter mais, uma característica de todo pecado sensual. A avareza e a concupiscência se classificam, entre os pecados mais grosseiros e devem ser repudiados por todos os que têm o nome de cristãos. Muitos cristãos estão dispostos a colocar o pecado da avareza no mesmo nível da fornicação. A ganância é um pecado mortal que, muitas vezes, passa despercebido nos círculos mais respeitáveis; muitas vezes, oculta-se sob termos como “competição” e “sucesso”. Nem sequer se nomeiem. Os pecados a que se refere são tão terríveis que sequer são apropriados para discussão entre os santos. Devem unicamente ser nomeados como propósito de reprovação; porém é desnecessário discuti-los, pois não devem existir entre os santos. Santos. Do gr. hagioi, “santos” (ver com. de Rm.1:7). |
Ef.5:4 | 4. nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças. Conversação torpe. Do gr. aischrotes, “conduta revoltante, vergonhosa”, provavelmente incluindo conversação imunda e obscena. Este vocábulo ocorre somente aqui no NT e, além de significar a forma indecente de falar, inclui também a maneira de se comportar. Palavras vãs. Conversação insípida, tola e sem edificação ou proveito. Toda palavra ociosa será levada a juízo (Mt.12:36), pois esse tipo de conversação tola envolve mais do que meras palavras vazias. Chocarrices. Do gr. eutrapelia, palavra composta por duas raízes que significam “bem” (adv.) e “transformar”, portanto, “perspicácia”. Porém, aqui, é usada no sentido negativo de palhaçada, irreverência ou leviandade. O apóstolo não fala contra as brincadeiras de humor inocente, mas a brincadeira grosseira e vil. Inconvenientes. Ou seja. não apropriadas ou indecentes. Ações de graças. O espírito de gratidão e alegria é o melhor antídoto contra o indecoroso espírito de frivolidade (cf. Tg.5:13). |
Ef.5:5 | 5. Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Sabei [...] isto. Expressão enfática para destacar que, mesmo que qualquer outra coisa possa ser duvidosa, esta é certa. É um apelo à consciência. Incontinente. Do gr. pornos, “devasso”, aquele que pratica porneia (ver com. do v. Ef.5:3). Nenhuma pessoa de caráter licencioso é apta para o reino (Ap.22:15). Impuro. Ou, “pessoa impura” (v. ).Avarento. Ver com. do v. Ef.5:3. A avareza é definida como idolatria (Cl.3:5) e é digna da mesma condenação. Idólatra. O avarento deifica o objeto de sua cobiça. A idolatria é uma das obras da carne (Gl.5:19-21). Tem herança. Ver com. de 1Co.6:9. De Cristo e de Deus. A divindade de Cristo está implícita pela associação de Seu nome ao nome de Deus (cf. com. de Rm.9:5). O texto grego também pode ser traduzido como “de Cristo, que é Deus”. |
Ef.5:6 | 6. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Palavras vãs. Literalmente, “palavras vazias”; por exemplo, palavras que sugerem que os pecados mencionados (v. Ef.5:3-5) não impedirão a entrada no reino. As heresias já ameaçavam a igreja nascente. Paulo adverte contra a maneira enganosa como os falsos mestres se introduziam na comunidade cristã (sobre os enganos que dividem a igreja, ver Rm.16:18; 1Co.3:18; 2Co.11:3; Cl.2:8; 2Ts.2:3-4). Ira de Deus. Ver com. de Rm.1:18. Filhos da desobediência. Ver com. de Ef.2:2. |
Ef.5:7 | 7. Portanto, não sejais participantes com eles. Participantes. Literalmente, “coparticipantes”, isto é, que participam com eles em seus pecados. |
Ef.5:8 | 8. Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz Outrora. Do gr. pote, “uma vez” ou “antigamente”. Trevas. Comparar com Rm.2:19; 1Jo.2:11. Antes, eles estavam submersos nas trevas e praticavam as abominações das trevas (cf. Ef.2:11-12; Ef.4:18). Luz. A ideia parece ser de que eles não somente “estavam na luz”, mas que eram luz, em virtude de sua união com Cristo, que é a luz. Andai. Ou seja, conduzi sua vida (ver com. de Ef.2:2). Filhos da luz. A extraordinária pureza da vida dos primeiros cristãos, em contraste com a vida dos pagãos ao seu redor, foi reconhecida, um pouco a contragosto, por homens como Plínio, que comentou sobre eles ao escrever a Trajano (Letters, x.96; ed. Loeb, vol. 2, p. 401-405; comparar com Jo.12:36; 1Ts.5:5; Tg.1:17). |
Ef.5:9 | 9. (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), Fruto do Espírito (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “fruto da luz” (ARA). O fruto do Espírito é também o fruto da luz. “Fruto” significa resultado ou consequência. As trevas impedem que haja fruto e crescimento: a luz é fundamental para ambos. Bondade. Do gr. agathosune; ver com. de Gl.5:22. Justiça. Do gr. dikaiosune, aqui, o princípio da retidão; ver com. de Mt.5:6. Verdade. Do gr. aletheia, aqui provavelmente denota sinceridade em todas as suas formas, em palavra, pensamento e ação. A bondade, a retidão e a verdade resumem completamente o preceito e o dever de todos. |
Ef.5:10 | 10. provando sempre o que é agradável ao Senhor. Provando. Do gr. dokimazo; ver com. de Rm.2:18. O cristão deve testar continuamente o que é bom, certo e verdadeiro a fim de descobrir o que é agradável a Deus (Rm.12:2). A vontade de Deus, revelada em Sua Palavra é a pedra de toque pela qual deve ser feito esse teste e aprovação. “O que Jesus faria?” torna-se uma pergunta importante e contínua na mente do cristão. Agradável. Cf. Cl.1:10. |
Ef.5:11 | 11. E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. E não sejais cúmplices. Os cristãos não só não deviam participar das obras infrutíferas das trevas, mas não deviam tolerá-las nem simpatizar com elas. Infrutíferas. Ou seja, no que se refere à produção de bons frutos (comparar com Cl.5:19-21, sobre as “obras da carne”). Reprovai-as. Do gr. elegcho, “refutar”, “condenar”, “expor”. Comparar com o uso da palavra em Lc.3:19; Jo.3:20; Jo.8:9; Jo.16:8. Pela palavra e pela vida, os cristãos devem ser perante o mundo uma contínua repreensão ao mal. Não é suficiente “não ter comunhão” com as obras do mal; o cristão deve repreendê-las. O cristão não pode ser neutro, observador passivo diante da iniquidade; pelo contrário deve ser ativo em expor e denunciar o pecado. A simpatia com aqueles que sofrem não deve degenerar em indiferença descontraída ou tolerância sentimental; caso contrário, será difícil demonstrar que não temos “nenhuma comunhão” com as obras das trevas. |
Ef.5:12 | 12. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Vergonha. A delicadeza e o refinamento do cristão não permitem nem discutir certos temas, muito menos praticá-los. Normalmente, é suficiente nomear os males sem descrevê-los em detalhes. É recomendável certo grau de franqueza, mas pouco se pode dizer a favor da surpreendente crueldade com a qual, muitas vezes, o pecado é discutido em nossa cultura eticamente politizada. Paulo nomeou e denunciou os vícios vergonhosos (v. Ef.5:3-5), mas não os descreveu em detalhes, de modo a apelar à imaginação sensual. Em oculto. Paulo pode se referir aqui a alguns dos “mistérios” celebrados pelos pagãos, acompanhados por cerimônias de iniciação lascivas e obscenas. Ou pode se referir apenas às práticas licenciosas às quais se entregam secretamente os débeis e corruptos. |
Ef.5:13 | 13. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz. Reprovadas. Do gr. elegcho; ver com. do v. Ef.5:11. As coisas escondidas e obscuras na vida de uma pessoa são expostas sob os brilhantes raios da luz espiritual. Quando Cristo dirigiu os raios da verdade sobre a hipocrisia de Seu tempo, a farsa foi vista tal como realmente era. Quando os atos praticados nas trevas são vistos nas trevas, seus contornos são obscurecidos, sua verdadeira natureza não é revelada (ver com. de Jo.3:20). Manifestas. Os pecados secretos mencionados no v. Ef.5:12 são expostos pelo brilho da luz da verdade sobre a vida. “A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, [...] é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb.4:12). É uma lente que concentra a luz da verdade sobre a consciência. |
Ef.5:14 | 14. Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. Pelo que. Ou seja, em relação ao que foi dito acerca de dissipar as trevas por meio da luz. Desperta. Esta citação não se encontra no AT. Alguns veem nela uma possível alusão a Is.26:19 e Is.60:1. Outros sugerem como provável fonte alguns dos primeiros hinos cristãos desconhecidos por nós. Evidentemente, já existiam naquele tempo, como hoje, aqueles que dormiam espiritualmente. A exortação para despertar é frequente nas Escrituras (Rm.13:11-14; 1Co.15:34; 1Ts.5:6; 1Ts.5:8; 1Pe.1:13). Os mortos. Ou seja, os que estão submersos no sono da morte espiritual. Cristo te iluminará. Ou, “brilhará sobre ti”. Aquele que se volta a Cristo tem a segurança dos restauradores raios de luz que provêm do “Sol da justiça” (Ml.4:2). O apelo é para que os impenitentes despertem de sua letargia e, assim, deem a Cristo a oportunidade de realizar a obra salvadora em seu coração. |
Ef.5:15 | 15. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, Prudentemente. Do gr. akribos, “exatamente”, “diligentemente”, “cuidadosamente”. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante e: “Prestai diligente atenção em como andais.” O crente é instado a seguir um curso disciplinado de ação. Ele deve fazer de tudo para resistir às tentações. Néscios. Literalmente, “imprudentes”, “faltos de sabedoria”. |
Ef.5:16 | 16. remindo o tempo, porque os dias são maus. Remindo o tempo. Literalmente, “comprando para vós todo o tempo oportuno”, isto é, aproveitando ao máximo cada oportunidade (Cl.4:5). É obrigação e privilégio de todo cristão aproveitar cada momento do tempo para grandes e nobres propósitos. Remir o tempo é mais do que simplesmente se abster da ociosidade ou de atividades frívolas. A pessoa não é boa apenas porque não é má. Assim como Jesus, o crente também precisa “tratar” dos negócios do Pai (Lc.2:49), buscando ativamente as oportunidades para fazer o bem (Gl.6:10), mesmo aos inimigos (Mt.5:44). Na parábola do administrador infiel, Jesus destacou a diligência e sabedoria dos comerciantes do mundo ao fazer seus negócios, como um exemplo para os filhos da luz (ver com. de Lc.16:1-12). Dias são maus. A necessidade de aproveitar cada oportunidade que se apresenta é evidente, quando se considera que a vida está continuamente exposta a todo tipo de males, não só o mal moral prevalecente, mas problemas de saúde, perseguições e sofrimento psíquico, que privam o cristão de oportunidades para servir (cf. Ec.12:1; Am.5:13). |
Ef.5:17 | 17. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. Por esta razão. Ou seja, tendo em vista o argumento que ele acaba de comentar a respeito de trevas, luz, tempo e dias maus. Insensatos. Do gr. aphrones, “sem sentido”, “tolos” (ver Lc.11:40; Lc.12:20; 1Co.15:36). O cristão que não usa as faculdades e a inteligência dadas por Deus para saber qual é a vontade divina para si comete pecado. Compreender. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorece a variante “entendei vós”. Não se pode viver sabiamente sem entendimento. “O conhecimento do Santo é a prudência” (Pv.9:10). Vontade do Senhor. Conhecer a vontade do Senhor deve ser o objetivo supremo do cristão (ver com. de Jo.7:17). A mente transformada não somente possui a capacidade de entender a vontade de Deus, como também uma intuição divinamente implantada pela qual pode comprovar “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.12:2). |
Ef.5:18 | 18. E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, Não vos embriagueis com vinho. Paulo estava falando das trevas e da loucura das pessoas insensatas, e poucas coisas existem mais tolas do que a embriaguez. Esse mal é condenado nas Escrituras (Pv.20:1; Lc.21:34; 1Co.5:11; Gl.5:21; 1Tm.3:3). Paulo deve ter pensado na embriaguez não apenas como a satisfação do apetite, mas também como um mal social que glorifica o desperdício, a excitação emocional em detrimento do bom-senso e a busca imprudente por prazer. Tudo o que enfraquece a razão significa deterioração espiritual e inaptidão para o reino de Deus. Dissolução. Do gr. asotia, “descontrole”, “devassidão”; ver Tt.1:6; 1Pe.4:4; Lc.15:13, em que ocorre o advérbio asotos. Devassidão, folia, abandono e excessos de todo tipo seguem a condescendência com o vinho. Do Espírito. Ou, “do [vosso] espírito”, que pode ser considerado como referência ao espírito humano. A emoção da embriaguez se opõe à alegria e animação do espírito. A busca de um estimulante terreno é substituída pelo entusiasmo espiritual do espírito humano, sob a influência do poder do Espírito Santo. Embora seja verdade que a sobriedade acompanha o trabalho do Espírito Santo, no entanto, o efeito da presença do Espírito Santo é visto no testemunho entusiasta da fé. A manifestação do Espírito, nas palavras e nos atos dos discípulos, no dia de Pentecostes, foi zombeteiramente comparada à embriaguez (At.2:13). |
Ef.5:19 | 19. falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, Falando entre vós. Pode ser uma sugestão de entoar antífonas ou cânticos responsivos, ou simplesmente uma referência ao benefício mútuo a ser adquirido pela adoração em conjunto. Plínio diz, ao se referir aos primeiros cristãos e sua adoração: “Eles tinham o hábito de se reunir em determinados dias fixos, antes do amanhecer, e cantavam em versos alternados um hino a Cristo, como se fosse a um deus” (Cartas, x.96; ed. Loeb, vol. 2, p. 403). Uma das primeiras manifestações da plenitude do Espírito é a alegria na comunhão dos crentes e em atos de adoração coletiva. Salmos, [...] hinos, e cânticos espirituais. A distinção entre esses três tipos de louvor pode ser a seguinte: Em geral, “salmos” eram os salmos do AT, cantados com acompanhamento instrumental; “hinos” eram louvores a Deus, compostos pelos crentes e cantados por todo o grupo, e os “cânticos espirituais”, ou odes, eram de natureza mais geral e meditativa, com ou sem acompanhamento (ver Mt.26:30; At.4:24-30; 1Co.14:26; Tg.5:13; cf. com. de Cl.3:16). O louvor é parte essencial do culto. Fazendo melodia (KJV). Do gr. psallo, “tocar um instrumento de cordas”, “cantar um hino”. Portanto, esta palavra pode se referir à música instrumental ou ao cântico em geral. Como os “cânticos” já foram mencionados, alguns pensam que, aqui, psallo se refere à primeira opção; outros pensam que, no NT, a palavra significa apenas “cantar”. De coração. O louvor deve brotar do coração e não ser apenas uma exibição. A música sempre foi usada como auxílio para a adoração, e o cristianismo a elevou e consagrou. No culto religioso, o cântico deve ser direcionado a Deus; de outra forma, é pouco mais que uma exibição de si mesmo. Esse perigo levou Calvino e Knox a falar de forma depreciativa sobre a música instrumental. A música não é um fim em si mesma, mas, assim como a oração, é um meio para aproximação de Deus. De fato, a oração pode se expressar de várias formas, como palavras, meditação e música. |
Ef.5:20 | 20. dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Dando sempre graças. “Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e da mente do que um espírito de gratidão e louvor” (CBV, 251). O espírito de louvor é um antídoto contra o mal e o desânimo. Quando tudo está ruim, o cristão está bem e é mais alegre. O espírito de gratidão prevalece na alegria ou na tristeza, na vitória ou na derrota, pois é um atributo que sustenta o caráter cristão permanentemente (ver Cl.3:17; 1Ts.5:18). Tudo. Tanto as coisas desagradáveis como as agradáveis (Jó.2:10; Rm.8:28). Não há virtude especial em ser grato apenas pelas bênçãos recebidas nem em amar unicamente os amigos (Mt.5:46). É mais difícil conviver com as dificuldades, bem como com os inimigos. Deus e Pai. Ou, “Deus, o Pai”. Em nome de. Deus é o destinatário das ações de graças, mas essas são oferecidas em nome de Jesus Cristo. O Pai tem direito à gratidão, pois é nosso Pai (Rm.8:14-17; Gl.4:4-6). Ele demonstrou Sua paternidade ao dar Seu Filho; portanto, a oração e as ações de graças são oferecidas em nome do Filho. Visto que, por meio de Cristo, tudo o que o Pai tem para dar foi disponibilizado à humanidade, podemos nos aproximar de Deus com plena confiança (Jo.14:13; Jo.15:16; Jo.16:23-24). |
Ef.5:21 | 21. sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Sujeitando-vos. Este princípio de conduta geral pode estar relacionado com o que o precedeu, mas conduz naturalmente ao pensamento da passagem seguinte, na qual é dada a aplicação específica. Submissão, humildade e sujeição são características essenciais ao cristão. O eu deve ser sujeitado diante de Deus e dos semelhantes. Muitas vezes, as exigências que fazemos aos outros, mesmo dos nossos direitos, são contrárias ao espírito do ministério amoroso, que é o espírito do evangelho (Jo.13:15-16; Gl.5:15). Além da submissão aos superiores em idade e autoridade, e do respeito por aqueles que consideramos iguais, há também a submissão ou consideração cristã aos que se encontram em posição de inferioridade. Essa submissão se revela em consideração, caridade e respeito à pessoa de todos os filhos de Deus. Por meio dessa declaração geral de princípios, o apóstolo prepara o caminho para a instrução detalhada que está prestes a apresentar. Paulo propõe três áreas nas quais o espírito de submissão deve encontrar plena expressão para que as relações envolvidas se cumpram conforme o espírito cristão: as relações entre marido e mulher, entre pais e filhos e entre senhores e servos. Temor de Cristo. Isto é, reverência por Cristo. |
Ef.5:22 | 22. As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; As mulheres sejam submissas. Pauto atribui às mulheres uma posição de submissão em relação ao marido (cf. 1Pe.3:1-6). A ética dos relacionamentos cristãos dentro da família é clara, quando se entende que diferença e submissão de nenhuma maneira implicam em inferioridade. A submissão aconselhada à mulher é do tipo que só pode ser dada entre iguais, não uma obediência servil, mas uma submissão voluntária nos aspectos em que o homem foi qualificado pelo Criador para ser a cabeça (cf. Gn.3:16). Toda comunidade deve ter um líder para permanecer de forma organizada. Mesmo nesta era de liberdade, em que se insiste na igualdade entre homens e mulheres, o homem que não assume a liderança de sua família em amor é considerado, de certa forma, com desprezo por homens bem como por mulheres. Este princípio de submissão é permanente, mas sua aplicação específica pode variar ao longo do tempo, conforme os costumes e a consciência social (comparar com 1Co.11:3; 1Co.11:7-9; Cl.3:18; 1Tm.2:11-12; Tt.2:5). Próprio marido. Isto é dito, não por contraste com o marido de outras mulheres, mas para enfatizar a relação sagrada de posse sobre a qual a submissão se fundamenta. Como ao Senhor. Comparar com Cl.3:18. A esposa deve considerar sua relação com o marido uma reflexão ou ilustração de sua relação com Cristo. |
Ef.5:23 | 23. porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. O cabeça. Esta frase, que se apresenta duas vezes neste versículo, não tem artigo definido no grego, para enfatizar a qualidade de liderança. Paulo faz a mesma afirmação em 1Co.11:3. Ao mesmo tempo, ele diz que, diante de Deus, não há “nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher” (Gl.3:28). A distinção de sexo, classe ou etnia não é encontrada entre os que estão “em Cristo”; no entanto, em virtude de suas diferentes qualidades, cada sexo, classe ou etnia pode fazer sua contribuição peculiar à sociedade. A liderança do marido consiste em cuidar da esposa com capacidade e responsabilidade, assim como Cristo cuida da igreja. Do corpo. Ou seja, a igreja. Assim como Cristo é o “salvador do corpo”, a igreja, assim também o marido deve ser o protetor e mantenedor da esposa e da família. Nenhuma polêmica sobre inferioridade ou liderança surge em uma família em que o marido mostra a mesma solicitude pelo bem-estar da esposa que Cristo mostra por Sua igreja. |
Ef.5:24 | 24. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido. A igreja está sujeita. O que caracteriza a sujeição da igreja a Cristo é boa vontade, confiança, fé e amor. O serviço prestado com amor é uma das mais agradáveis experiências. Como cabeça da igreja, Cristo diz: “Meu fardo é leve” (Mt.11:30). Em tudo. Isto é, em tudo que está em harmonia com a mente de Deus, pois não pode existir nenhuma outra lealdade que se interponha entre o indivíduo e Deus. |
Ef.5:25 | 25. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, Amai vossa mulher. A resposta adequada do marido à submissão da esposa não é por meio de ordens, mas pelo amor. Isso transforma em sociedade aquilo que, de outra forma, seria uma ditadura. O marido amoroso nunca profere ordens rudes. Seu amor se expressa de maneiras distintas, uma delas é por meio de palavras de compreensão e carinho. Além disso, o marido provê o sustento material da esposa (1Tm.5:8), faz todo o possível para assegurar sua felicidade (1Co.7:33) e lhe dá todas as honras (1Pe.3:7; sobre o tipo de amor aqui requerido, agapan, ver com. de Mt.5:43). A Si mesmo Se entregou. A prova suprema do amor é se ele está preparado para abrir mão da felicidade a fim de que a outra pessoa a tenha. Neste aspecto, o marido deve imitar a Cristo, deixando de lado os prazeres e o conforto pessoal em favor da felicidade da esposa, permanecendo ao lado dela na hora da enfermidade. Cristo deu a Si mesmo para a igreja porque ela estava em profunda necessidade. Ele fez isso para salvá-la. Da mesma forma, o marido dá a si mesmo pela salvação da esposa, ministrando a suas necessidades espirituais, e ela às dele, em espírito de amor mútuo. |
Ef.5:26 | 26. para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, Para que a santificasse, tendo-a purificado. Cristo remove as vestes sujas e oferece, em lugar delas, o manto de Sua perfeita justiça (ver com. de Mt.22:11). Lavagem. Do gr. loutron, “banho”, “lugar de banho” ou “ato de banhar”. Além deste versículo, a palavra ocorre no NT somente em Tt.3:5, em que se encontra a expressão “lavar regenerador”. Visto que o contexto é o do casamento, provavelmente, há uma referência ao antigo costume do banho de purificação da noiva antes das bodas. Ou a referência pode ser ao batismo. Nos dois casos, a ideia é que Cristo purifica a igreja. Cristo deu a Si mesmo pela igreja para que se torne igreja pura e, assim, permaneça com Ele para sempre. Pela. Ou, “em”, significando “por meio de”. Palavra. Do gr. rhema, “declaração”, “dizer”, “declaração” (ver uso do termo em Rm.10:8; Rm.10:17; 2Co.13:1; Hb.1:3). Muitos comentaristas veem aqui uma referência à fórmula usada em conexão com o rito do batismo (cf. Mt.28:19). Outros veem uma referência à expressão de fé do novo converso (Rm.10:8-10). Outros ainda aplicam rhema ao evangelho ou à palavra da fé pregada antes do batismo. |
Ef.5:27 | 27. para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Apresentar. Do gr. paristemi, “colocar ao lado de”, “apresentar” (comparar com o uso da palavra em 2Co.4:14; Cl.1:22; Cl.1:28; Jd.1:24). Cristo apresenta a igreja, a noiva, a Si mesmo. Cristo veio para salvar Sua noiva. Mais tarde, como noivo, Ele a recebe no glorioso lar que preparou (cf. Jo.14:2-3). Gloriosa. Do gr. endoxos, “em honra”, “em esplendor”. O Sl.45:10-14 apresenta uma comparação sugestiva. A relação entre Cristo e a igreja acentua o esplendor e a beleza da relação conjugal, como Paulo a concebe. A união de Cristo com a igreja é tão real como a união de um homem com uma mulher. Mácula, nem ruga. Esta condição se concretizará apenas quando Cristo voltar. O joio e o trigo vão crescer juntos até a colheita (Mt.13:30). Em seguida, o joio será removido, e a igreja será pura. Santa. Do gr. hagios (ver com. de Rm.1:7). Talvez o apóstolo tenha ido além da comparação com o casamento em sua discussão sobre a condição final que a igreja deve atingir. |
Ef.5:28 | 28. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Assim. Paulo fez uma breve digressão para falar da igreja gloríficada, e então, retorna para seu tema e destaca o elemento principal, em que o casamento terreno é semelhante à união de Cristo com a igreja, no amor abnegado e infalível. “Assim” refere-se à descrição do amor de Cristo nos v. Ef.5:25-27. Como ao próprio corpo. Esta recomendação é feita não porque o amor-próprio seja o ideal maior, mas porque marido e esposa são um só corpo, uma só carne (cf. Gn.2:24; Ef.5:31). Assim como o homem protege o próprio corpo de perigo e desconforto, da mesma forma, ele deve dar à esposa a mesma consideração. Paulo enfatiza aqui que a unidade essencial deve prevalecer. Ama a si mesmo. É assim porque seus interesses são os mesmos, seus ideais correspondem, seus objetivos espirituais são alinhados. Quando o esposo promove o bem-estar da esposa, promove o próprio bem-estar, não só porque estão intimamente ligados, mas porque ela lhe dá a felicidade que ele lhe proporciona. Bondade gera bondade. |
Ef.5:29 | 29. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; Ninguém jamais. Paulo apresenta uma verdade geral. É preciso ser uma pessoa mentalmente desequilibrada para odiar a própria carne. Alimenta. Do gr. ektrepho, “alimentar”, “educar”. Em Ef.6:4, a palavra é usada para a educação dos filhos. Às vezes, fala-se de um bom marido como sendo “um bom provedor” para a família. Cuida. Do gr. thalpo, principalmente “aquecer”, portanto, “sustentar”, “amar”. Além desta passagem, a palavra só ocorre no NT em 1Ts.2:7, em que Paulo afirma que se importa com os tessalonicenses “como a ama que cria seus filhos” (ARC). |
Ef.5:30 | 30. porque somos membros do seu corpo. Membros. Do gr. mele, “membros” ou “partes [do corpo]” (ver com. de 1Co.12:12; Rm.12:4-5; 1Co.6:15; Ef.4:25). Há uma íntima união entre Cristo e Seu corpo. Carne, [...] ossos (KJV). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão destas duas últimas palavras. A expressão sugere a declaração de Gn.2:23: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne”, palavras com as quais Adão descreveu a proximidade do relacionamento entre ele e Eva. Estas palavras, quando incluídas, são empregadas em sentido figurado. Assim como a vida que sustenta a videira flui para os ramos e se torna a fonte de sua vida (Jo.15:1-8), assim também o crente recebe de Cristo toda a sua vida espiritual e suas graças. Ele não pode fazer nada de si mesmo, e morreria espiritual e fisicamente, caso se separasse de seu Senhor. |
Ef.5:31 | 31. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Eis por que. Uma citação de Gn.2:24 (ver com. de Gn.2:24; Mt.19:5). Uma só carne. Homem e mulher são partes complementares que, unidas, formam um ser único e perfeito. Qualquer consideração séria desse pensamento deveria impedir a maneira frívola com que muitos casamentos são contraídos, às vezes, já com a intenção de divórcio, caso se não “dê certo”. O propósito de Deus é que o casamento seja uma associação vitalícia, e qualquer sociedade que trate com leviandade essa instituição tem dentro de si as sementes de sua própria destruição. A família é uma parte fundamental da sociedade, portanto não pode ser desconsiderada. Cristo também deseja que Sua união com Seu povo seja eterna (Jo.10:28-29). |
Ef.5:32 | 32. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. Grande é este mistério. Sobre “mistério”, ver com. de Rm.11:25. No NT, a palavra sugere algo que estava escondido, particularmente uma verdade espiritual, mas que, então, é revelada. Paulo diz que o mistério revelado, da união entre marido e mulher, é de fato uma grande e profunda verdade, mas ele a aplica à união entre Cristo e a igreja. O matrimônio pode ser entendido; porém, a união espiritual de Cristo com o cristão, mesmo sendo uma verdade revelada, ainda está além de nossa total compreensão; ainda “vemos como em espelho, obscuramente” (1Co.13:12). |
Ef.5:33 | 33. Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido. Não obstante. Paulo retoma o assunto que vinha considerando nos v. Ef.5:21-29. Após a digressão sobre o amor que Cristo mostrou pela igreja, o apóstolo se volta para aquilo que todos devem entender: o dever mútuo entre marido e mulher. Logo passa a fazer uma aplicação prática pessoal e individual da verdade que discutiu. Cada um. Paulo enfatiza a ideia de responsabilidade e privilégio individual. Ame a própria esposa. Ver com. do v. Ef.5:28. Respeite. Do gr. phobeo, literalmente, “temer”, “respeitar”. Paulo não sugere um temor servil, o que estaria em desacordo com o conselho que acaba de oferecer. Essa honra e o respeito recomendados de modo algum eliminam o amor por parte da esposa. Significa que a ordem natural de Deus para a família não deve ser subvertida e que a função especial de liderança que Deus colocou sobre o marido deve ser considerada (ver com. do v. Ef.5:23). Onde há amor e respeito mútuos, não surgirão questões a respeito de domínio ou desconhecimento dos deveres e privilégios dos cônjuges. |
Ef.6:1 | 1. Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Filhos. O apóstolo faz uma transição natural de maridos e esposas para filhos (ver Cl.3:20). Obedecei. Isto é mais forte do que a palavra “sujeitai-vos”, que é usada para expressar a relação da mulher para com o marido (Ef.5:22), e indica uma relação diferente. Em toda a Escritura, a desobediência aos pais é tratada como um dos piores males (cf. Rm.1:30; 2Tm.3:2). A obediência por parte dos filhos é razoável e justa. O bebê, ao nascer, é o mais indefeso de todos os seres e, durante anos, depende completamente do amor e ternura dos pais. Não pode haver vida em uma família sem a obediência dos filhos, pois a criança não é competente para julgar o motivo de certas formas de ação. Ainda mais importante, a criança desobediente aos pais certamente será desobediente a Deus, pois não conhece as disciplinas e restrições essenciais ao crescimento cristão. A palavra “obediência” não soa agradável aos ouvidos modernos, mas os que se ressentem dela como uma “imposição” devem assumir sua parcela de culpa pelo alarmante aumento da delinquência juvenil nos últimos tempos. No Senhor. Esta frase se refere a “obedecer”, e não a “pais”. Estabelece que os filhos, dentro de seu entendimento espiritual, devem obedecer por princípio e não por necessidade. “Obedecer no Senhor” é oferecer o tipo de obediência proveniente de se estar “em Cristo” (ver com. de Ef.1:1). Também pode indicar as limitações inerentes a todas as ordens humanas, mesmo aquelas que os pais dão aos filhos. As solicitações dos pais devem estar em harmonia com a vontade de Deus (At.5:29). Os pais devem se sentir responsáveis por qualquer desvio moral em que a criança possa incorrer. Eles devem respeitar a consciência em formação da criança, pois, só assim, a obediência pode ser “no Senhor”. Justo. Esta é a razão principal que se dá para que haja obediência, porém, é suficiente. A obediência é apropriada, pois Deus a ordena, os pais têm esse direito e é para o bem dos filhos. Paulo diz que obedecer “é grato diante do Senhor” (Cl.3:20). Nas relações humanas, a lei é tão essencial quanto no mundo natural. De outra forma, haveria anarquia e caos. As tristes histórias de famílias nas quais os pais não exercem o devido controle demonstram que a obediência aos pais é justa quando é exigida de acordo com a lei de Deus. |
Ef.6:2 | 2. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), Honra. Ver com. de Ex.20:12. A honra referida aqui não é uma relação sentimental, mas obediência real. Um comentário divino sobre este princípio é dado em Mt.15:4-8. A honra pode ser considerada a atitude da qual brota a obediência, e deve-se observar que essa honra é devida tanto ao pai como à mãe. Um não deve ser colocado antes do outro em estima. A honra que corresponde aos pais pode ser demonstrada de diversas maneiras. Inclui as pequenas atenções que os jovens devem ter para com os idosos, a confiança na palavra e no julgamento dos pais e a lealdade ao nome e integridade da família. Primeiro mandamento. Obedecer aos pais não é apenas natural, mas é também a vontade de Deus. É o primeiro mandamento do decálogo ao qual está especificamente ligada uma promessa; na verdade, é o único nesse sentido. A promessa feita no segundo mandamento (Ex.20:6) é de natureza geral e aplicável à observância de todos os mandamentos, mas uma bênção especial é prometida aos que obedecem a seus pais. |
Ef.6:3 | 3. para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. Para que te vá bem. O quinto mandamento, na forma registrada em Dt.5:16, pode fornecer a base para esta afirmação, embora Paulo não cite literalmente a promessa. Os filhos são mais felizes quando aprendem a obedecer aos pais, e todos são mais felizes quando aprendem a obedecer a Deus. Sejas de longa vida. O quinto mandamento tem as palavras “para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá”, com evidente aplicação à chegada de Israel à terra de Canaã. Paulo apresenta aqui a promessa em um sentido mais geral, para todo ser humano. A vida é um dom de Deus (At.17:25), e uma existência longa é uma bênção. Quem recebe a bênção de Deus nesta Terra, tem a promessa da vida eterna. Uma vida familiar saudável, em que existe obediência, tende ao bem-estar da sociedade e das nações. A obediência aos pais cristãos significa sobriedade, diligência, domínio próprio e todas as outras virtudes que trazem a saúde física e espiritual. Paulo apresenta uma lei natural e, ao mesmo tempo, anuncia as bênçãos especiais de Deus para os obedientes. Em um lar cristão não serão encontrados os vícios que encurtam a vida. |
Ef.6:4 | 4. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor. Pais. O termo pode ser usado genericamente para incluir pais e mães. No entanto, a primeira responsabilidade para a disciplina geralmente recai sobre o pai e, além disso, os pais com frequência precisam seguir esse conselho mais do que as mães. Às vezes, as mães tendem a ser indulgentes, e os pais, à severidade. Não provoqueis. Este conselho negativo é essencial para que a necessária obediência dos filhos se apoie em uma base moral. A passagem paralela de Colossenses dá o motivo para esta exortação: “Para que não fiquem desanimados” (Cl.3:21). A presente condição de baixa autoridade paterna, por vezes, se origina de posturas injustas e irritantes, até mesmo brutais cometidas pelos pais sobre os filhos, especialmente os indesejáveis. Muitas vezes, os filhos são considerados “perturbadores da paz” do lar, um aborrecimento. Outra causa comum de ressentimentos entre os filhos são as exigências caprichosas e incoerentes de alguns pais. Até mesmo obediência exterior é obtida por meios violentos, à custa da honra e do respeito. Criai-os. Do gr. ektrepho; ver com. de Ef.5:29. Disciplina. Do gr. paideia, “instrução”, “castigo”. Paideia é usada em Hb.12:5-11 para descrever a “correção [...] do Senhor”, que “produz fruto pacífico” (ver o uso do verbo paideuo, em 1Co.11:32; 2Co.6:9). A correção, instrução e disciplina do Senhor são manifestações de Seu amor (Ap.3:19), e o mesmo deve ser no caso dos pais. Admoestação. Do gr. nouthesia, “colocar na mente”. Esta palavra implica instrução ou disciplina que se transmite por meio da palavra, em forma de advertência. Além deste versículo, nouthesia ocorre no NT apenas em 1Co.10:11; Tt.3:10. O verbo relacionado é noutheteo (ver Rm.15:14; Cl.1:28; 2Ts.3:15). Há um lugar para a admoestação em qualquer sistema educativo, e pode ser utilizada com vários propósitos. A admoestação ou conselho incentiva a criança quando está correta e avisa quando procede de forma errada. Tem sido seriamente sugerido por alguns educadores que a criança deve ser deixada para formar suas próprias ideias e convicções religiosas, uma vez que é injusto impor a religião a ela quando está despreparada para pensar por si mesma. Este raciocínio é enganoso, pois é impossível a uma criança crescer sem nenhum tipo de convicção religiosa. Se os pais ou responsáveis não instruírem seus filhos na verdade, alguém vai instruí-los no erro. Não há neutralidade nessa questão. Do Senhor. Se os filhos crescerem no temor do Senhor, a “disciplina e admoestação” dadas pelos pais devem provir do Senhor e ter Sua aprovação. Os pais ocupam o lugar de Deus perante os filhos, por certo tempo; é uma responsabilidade demasiado séria para eles. |
Ef.6:5 | 5. Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, Servos. Do gr. douloi, “escravos”, “servos” (ver com. de Rm.1:1). Paulo utiliza este vocábulo com frequência para descrever sua relação com Cristo e também para dar orientação a respeito da escravidão e servidão que existiam em todo o mundo romano (ver 1Co.7:21-22; Cl.3:22-25; 1Tm.6:1-2; 1Pe.2:18-25). A escravidão era praticada antigamente não só pelos pagãos, mas também pelos cristãos da igreja cristã primitiva. As Escrituras não condenam especificamente essa prática antinatural, mas tanto no AT como no NT são enunciados princípios que, com o tempo, tenderiam a erradicá-la (ver com. de Dt.14:26; 1Co.7:20-24; Fm.1). Obedecei. Ao seguir as instruções de Paulo em suas relações com seus senhores, os muitos escravos cristãos que havia no império chegaram a influir poderosamente sobre a classe dirigente formada por proprietários de escravos. De modo que, à sua maneira, esses escravos constituíram um corpo missionário cujo poder se fez sentir por toda a sociedade. O fato de que escravos e senhores se tornaram verdadeiros irmãos, implicava que uma revolução social e religiosa inevitavelmente estava a caminho. Segundo a carne. Esta frase, que também ocorre em Cl.3:22, diferencia a servidão física aos senhores da lealdade espiritual a Cristo. A escravidão humana pode aprisionar o corpo, mas nunca pode subjugar o espírito. Paulo de forma incidental declara as limitações da escravidão humana, que era capaz de exigir o serviço do corpo, porém, não podia comandar o espírito. Temor e tremor. Esta é uma expressão típica de Paulo (1Co.2:3; 2Co.7:15; Fp.2:12), que significa grande cuidado e dedicação ao dever. É utilizada quando uma solene responsabilidade diante de Deus é ordenada. Neste caso, trata-se da preocupação dos servos em suprir cada necessidade de seus senhores. O cristianismo não os eximia de suas obrigações para com seus donos legais; eles deviam ter um senso ainda mais profundo do dever. Sinceridade. Do gr. haplotes; ver com. de Rm.12:8. O único objetivo devia ser o de agradar a Cristo no exercício do dever para com o senhor do escravo. A “duplicidade” de coração significaria procurar agradar exteriormente, evitando o serviço adequado sempre que possível. Um escravo podia ser tentado a racionalizar que, visto que sua servidão era injusta, seria mais que apropriado conquistar seus direitos por meio de subterfúgios, se necessário. Fazer o que é certo porque é certo é um dos sublimes princípios do cristianismo. Como a Cristo. Os servos deviam considerar o serviço de seus senhores como parte de seu serviço a Cristo. |
Ef.6:6 | 6. não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; Servindo à vista. A palavra grega assim traduzida ocorre só mais uma vez (Cl.3:22, traduzida por “vigilância”). É perfeitamente compreensível que os escravos fossem particularmente suscetíveis à tentação de ser servos à vista de seus mestres, ou seja, o serviço prestado apenas quando o empregador ou patrão estava observando. Independentemente da causa, esse serviço corrompe o caráter do trabalhador. Por esta razão foi dada esta ordem para ser fiel e íntegro (2Cr.16:9). Para agradar a homens. Em oposição a agradar a Cristo (ver Gl.1:10; 1Ts.2:3-4). Um senhor terrestre pode até ficar satisfeito com o serviço à vista, porque não o reconhece pelo que é, mas o cristão também trabalha para Aquele que vê os motivos do coração. Não é errado querer agradar as pessoas; de fato, é um dever cristão esforçar-se por fazê-lo, mas agradar aos homens a todo custo, muitas vezes utilizando meios como lisonja e engano, não é digno de qualquer pessoa digna, seja ou não cristã. Servos de Cristo. Ou, “escravos de Cristo” (ver com. de Rm.1:1). Vontade de Deus. Quando se faz a vontade de Deus, as tarefas mais humildes são honrosas, desde que sejam feitas “de todo o coração” (Cl.3:23). |
Ef.6:7 | 7. servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens, Boa vontade. Isso pode incluir uma qualidade de serviço maior do que “singeleza de coração” (Cl.3:22). O servo que tem um interesse sincero pelo bem-estar de seu senhor e de seus negócios já escapou do peso de seu fardo e se aproxima da condição de homem livre. Na verdade, o escravo, quando é chamado para o serviço do Senhor, “é liberto do Senhor” (ver com. de 1Co.7:22). Princípios como esses, incorporados ao evangelho de Cristo, acabaram destruindo a escravidão e, antes disso, deram alívio aos escravos cristãos ao longo dos séculos. Havendo boa vontade, quase qualquer barreira que separa os seres humanos pode ser quebrada. Ao Senhor. A convicção de estar sob a direção de Deus e saber que o Senhor aceita nossos esforços é um dos mais poderosos recursos para uma vida feliz. Os mártires enfrentavam a fogueira com essa confiança, e os escravos suportavam pacientemente seus graves erros por causa dela. No entanto, a coragem dos mártires e a paciência dos escravos não diminuíam a culpa dos perseguidores e dos senhores. Eles deverão responder a Deus por seus erros. |
Ef.6:8 | 8. certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre. Certos. O escravo pode ter a certeza de que sua vida e seus atos são observados pela Providência, e que as recompensas que sobrevêm a outros também serão suas. As grandes promessas de ordem espiritual são para todos os crentes. Se fizer alguma coisa. As coisas boas que proporcionam recompensa são resultado da “boa vontade” e da consagração do escravo (ver Cl.3:25, em que a mesma verdade se expressa de forma negativa). Receberá. Comparar com Mt.25:21. As Escrituras estão cheias de promessas de recompensa (Mt.5:12; Mt.16:27; Lc.6:35; Rm.2:6-10; Hb.10:35; Ap.22:12). Quer servo, quer livre. Comparar com 1Co.12:13; Gl.3:28; Cl.3:11. A graça de Deus não reconhece distinção alguma, porque “Deus não faz acepção de pessoas” (At.10:34), nem Seus juízos são parciais (SI.98:9). O consolo para o escravo não provém tanto de que todos sejam igualmente servos de Deus, mas de que todos receberão igualmente as recompensas do reino. |
Ef.6:9 | 9. E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus e que para com ele não há acepção de pessoas. Senhores. Aqui fica indicado que havia senhores de escravos na igreja cristã, homens convertidos, que viviam de acordo com sua medida de conhecimento espiritual e tinham um senso de responsabilidade cristã. Um desses, sem dúvida, foi Filemom (ver com. de Fm.1). Ao se referir aos deveres dos senhores, Paulo não os condena por terem escravos. Da mesma forma como fez ao se referir aos escravos, ele estabelece princípios que, no devido tempo, colocariam um fim ao mal da escravidão (ver com. de Dt.14:26). De igual modo procedei. Esta é a versão de Paulo para a regra de ouro. Os senhores devem ter o mesmo espírito para com os servos que se aconselhou aos servos terem para com os senhores, e nenhum senhor jamais poderia se queixar de que o conselho de Paulo aos servos encorajasse a rebelião. O apóstolo insistia em que os servos agissem conscientemente e com fidelidade, sabendo que os olhos de Deus estavam sobre eles; os senhores deveriam fazer o mesmo. O interesse dos servos seria primordial na mente dos senhores e, tratando-os corretamente, estes estariam também servindo a Deus (cf. com. de Cl.4:1). Embora Paulo se refira principalmente à escravidão, todos os seus conselhos podem também se aplicar, a sociedade atual, às relações entre empregador e empregado. Deixando as ameaças. Os hebreus haviam recebido instrução sobre o tratamento para com os servos (Lv.25:39-43; Dt.15:12-14; Je.34:14), e ainda mais se espera dos cristãos, que têm uma revelação mais completa de Deus em Cristo acerca das relações humanas. Ameaçar implica atemorizar e usar de violência, enquanto o que procede de acordo com o evangelho, segue o caminho do amor. O ato de ameaçar é geralmente o início da crueldade e deve ser eliminado. É um enorme desafio para qualquer administrador exercer autoridade em amor, em vez de pelo poder e pela força. Isso não significa que ele não deve esperar o serviço justo, mas suas advertências e disciplina devem ser exercidas com domínio próprio e caridade cristã. O respeito à personalidade dos outros é uma das primeiras evidências de conversão verdadeira. Senhor, tanto deles como vosso. Senhores e escravos, apesar da diferença social, devem lealdade a um mesmo Senhor. Esse fato deveria influenciar os senhores no trato com os servos, porque certamente qualquer injustiça seria punida, e todos os que têm um mesmo Senhor são conservos. Acepção de pessoas. Do gr. prosopolepsia, literalmente, “parcialidade” (ver com. de Rm.2:11; Cl.3:25). Deus não é influenciado por fatores externos, como hierarquia ou posição social. |
Ef.6:10 | 10. Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Quanto ao mais. Ou, “quanto aos demais”, ou “em relação ao restante” (Fp.3:1; Fp.4:8; 2Ts.3:1). Paulo está para concluir sua epístola. Ele indicou a base teológica e espiritual para a unidade de todos, e deu instruções sobre o resultado prático dessa unidade nas relações da igreja, da família e da sociedade. Então, ele se dispõe a responder à pergunta que surge naturalmente quanto à possibilidade de se viver de acordo com essa convicção e como se podem alcançar essas virtudes. Meus irmãos. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão destas palavras. No Senhor. Esta expressão-tema ocorre de várias formas cerca de 30 vezes na epístola (ver com. de Ef.1:1). Este é o segredo da vitória. Se não permanecermos nEle, nossa força se debilitará (Jo.15:4-7); porém, Sua graça nos basta (2Co.12:9). Poder. O apóstolo imagina vastos exércitos do mal, preparados para esmagar a igreja. O confronto é desigual, com todas as vantagens do lado do inimigo, a não ser que a igreja busque, por meio da fé, os recursos da Onipotência. |
Ef.6:11 | 11. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; Revesti-vos. Paulo usa frequentemente a figura de “revestir-se” (Rm.13:12; Rm.13:14; 1Co.15:53-54; 2Co.5:3; Gl.3:27; Cl.3:10; 1Ts.5:8). Aqui, refere-se a colocar a armadura que protege o cristão. Toda a armadura. Do gr. panoplia, “armadura completa”. No NT, esta palavra é usada apenas no v. 13 e em Lc.11:22. Um paralelo com o pensamento de Paulo é encontrado em Is.59:16-17 Alguns sugerem que essa passagem de Isaías pode ter sido a fonte de sua figura de linguagem. Outros apontam para seu conhecimento da armadura do soldado romano, porque Paulo esteve acorrentado a um deles por anos. A armadura é de Deus, porque Ele é o único que fornece cada equipamento em particular (Ef.6:14-17). O cristão é convidado a se revestir dela e lutar bravamente na batalha. Aquele que fez a armadura garante sua eficácia. Poderdes. Em qualquer armadura, a não ser a divina, não seríamos capazes de “ficar firmes”. Ciladas. Do gr. methodeiai, “ardis”, “enganos”. Do diabo. Do gr. diabolos (ver com. de Ef.4:27). Se o conflito fosse apenas com seres humanos, a necessidade da armadura não seria tão evidente, mas é preciso enfrentar as artimanhas e astúcias do diabo. As tentações que Cristo sofreu revelam as sutilezas dos métodos do diabo, sempre dirigidos para os pontos mais frágeis da pessoa (Mt.4:1-11; 2Co.2:11; Ef.2:2; Ef.4:27; 1Pe.2:11; 1Pe.5:8). É muito mais fácil lidar com a hostilidade aberta do que com a fraude. A armadura de Deus é planejada para defender contra os ataques cheios de astúcia que, de outra maneira, destruiríam o guerreiro cristão. |
Ef.6:12 | 12. porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Sangue e carne. Sequência oposta em relação a Mt.16:17; 1Co.15:50; Gl.1:16. Paulo não quis dizer que os cristãos não encontram inimigos entre os seres humanos, pois a igreja sempre sofreu nas mãos de homens maus. Ele se refere a esses espíritos e poderes superiores aos seres humanos em inteligência, bem como em astúcia maligna, as forças satânicas dispostas em rebelião aberta contra Deus e contra Seus filhos. O conflito entre Cristo e Satanás não é de dimensões locais ou terrenas; é de dimensão cósmica, abrangendo todo o universo de Deus. Principados [...] potestades. Ver com. de Rm.8:38; Ef.1:21; Ef.3:10; Cl.2:15. Dominadores deste mundo. Literalmente, “governantes do mundo das trevas deste século”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “governantes mundiais desta escuridão” (ver com. de Rm.8:38). É evidente que Paulo se refere aos espíritos malignos, que exercem certo grau de autoridade sobre o mundo (ver sobre o “príncipe deste mundo”, em Jo.12:31; Jo.14:30; Jo.16:11). A natureza pessoal do diabo também era evidente para o autor do Apocalipse (Ap.2:10; Ap.12:10). Forças espirituais do mal. Ou, “forças espirituais da maldade”. Nas regiões celestes. Ver com. de Ef.1:3. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. |
Ef.6:13 | 13. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Portanto. Isto é, devido à natureza do conflito descrito no v. Ef.6:12. Tomai. Toda a armadura de Deus está disponível, e Paulo aconselha todo cristão a usá-la. Assim como um exército deve estar equipado antes de entrar em campo, o cristão também deve estar preparado com todas as defesas espirituais antes de entrar em batalha contra o diabo, pois, do contrário, será derrotado. Toda a armadura. Ver com. do v. Ef.6:11. Um soldado protegido só com a metade da armadura pode pagar muito caro por seu descuido e temeridade. Ele sai com uma falsa sensação de segurança, e o inimigo vai procurar suas partes desprotegidas. O cristão é vulnerável em muitos pontos e, muitas vezes, a característica que ele considera a mais forte, sob a tentação, pode ser a mais fraca. Assim como uma corrente não é mais forte do que seu elo mais fraco, o cristão não é mais forte que seu traço de caráter mais fraco. Tendo em vista a variedade de inimigos que devem ser enfrentados e as várias fraquezas da carne, unicamente a armadura espiritual completa será suficiente. Dia mau. Alguns têm aplicado isso ao último grande conflito da igreja contra as forças do mal. O artigo definido sustenta essa ideia. Outros aplicam o termo “dia mau” em âmbito mais geral, a qualquer dia em que a batalha seja intensa. Depois de terdes vencido tudo. Provavelmente se refere a ter feito todos os preparativos para enfrentar o conflito. Alguns aplicam este texto ao fato de o cristão ter feito seu melhor durante a batalha. A confiança em Deus nunca retira de alguém o privilégio de exercer ao máximo seus próprios poderes dados por Deus. Embora seja verdade que a batalha nunca será vencida sem a armadura e o poder de Deus, também não será vencida sem a cooperação do humano com o divino (ver MDC, 142). Permanecer. O cristão, depois de ter feito seu melhor pela graça de Deus, pode sentir-se seguro. |
Ef.6:14 | 14. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Estai, pois. A ordem em que as peças da armadura são dadas é, provavelmente, a mesma que o soldado romano seguia quando as colocava; portanto, há uma sequência lógica de ideias. A metáfora é uma magnífica culminação desta passagem paulina. Cingindo-vos. O cinto sobre os lombos conservava junto ao corpo do soldado as roupas que, de outra forma, poderiam prejudicar seus movimentos. Verdade. Isto é, a verdade abstrata, como indica a ausência do artigo em grego. A verdade de que se fala aqui é mais do que a honestidade pessoal, é a verdade de Deus, conforme é abrigada no coração, apropriada e posta em prática (ver 1Co.5:8; 2Co.7:14; 2Co.11:10; Fp.1:18; Ef.5:9). A hipocrisia dos fariseus foi o que motivou a condenação de Jesus sobre eles (Mt.23). Se a verdade e a integridade, tanto intelectual como moral, não prevalecerem na religião, onde prevalecerão? Couraça. Comparar com Is.59:17; 1Ts.5:8. Assim como a couraça cobre o coração do soldado, a justiça preserva a vida do crente e protege os “órgãos vitais” da vida espiritual. Justiça. Alguns aplicam isso à justiça de Cristo, que cobre o servo de Deus, e outros, à lealdade pessoal do cristão aos princípios. Ambas são essenciais para a guerra bem-sucedida, e Paulo, provavelmente, tinha ambas em mente (sobre justiça, ver com. de Rm.1:17). |
Ef.6:15 | 15. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; Calçai os pés. As pernas do soldado romano eram cobertas por grevas (espécie de caneleiras) e calçavam sandálias. Isso era necessário para que seus movimentos em solo acidentado não fossem impedidos. Para que ele fosse capaz de resistir ao ataque, precisava estar calçado apropriadamente. Preparação. A figura que Paulo emprega sugere que as sandálias serviam para o soldado se manter firme, e não tanto para correr. Portanto, o quadro que se apresenta é diferente do encontrado em Is.52:7. Evangelho da paz. Em Is.52:7 e Rm.10:15, os “pés” e a proclamação do “evangelho da paz” estão intimamente ligados, o que sugere ação, a proclamação da mensagem de boas-novas. Neste versículo, no entanto, a ideia parece ser de firmeza na luta cristã. Assim, neste caso, não se refere tanto ao evangelho a ser proclamado, mas ao evangelho que encontra abrigo no coração do cristão. É um pensamento belo e encorajador que, em meio a um conflito espiritual, o guerreiro pode se manter firme na paz. Ele tem paz com Deus (Rm.5:1). Essencialmente, o evangelho é a boa notícia de que as pessoas não precisam morrer, e essa é uma mensagem bem-vinda para o guerreiro que enfrenta inimigos implacáveis. Ele está firme no conhecimento do Cristo encarnado, crucificado, ressuscitado e glorificado, que é o coração do evangelho e o motivo para a paz. |
Ef.6:16 | 16. embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Sobretudo (ARC). Ou, “além de tudo”. Evidências textuais se dividem (cf. p.xvi) entre esta variante e “em tudo”. O escudo. O escudo romano era uma grande peça alongada de madeira coberta de couro. Suas medidas aproximadas eram de 1,2 m por 75 cm, o suficiente para cobrir o corpo. Fé. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo.5:4). Essa é a fé ativa, como o escudo que é erguido para deter os dardos inflamados, mas também é passiva, na medida em que confia em Deus por livramento. Sob o impacto da tentação de qualquer tipo, é a fé que restaura a confiança e permite que o crente continue a batalha. Além disso, “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11:6). Apagar. A fé detém as flechas da tentação, antes que se tornem pecado. As tentações e todos os ataques do inimigo precisam ser enfrentados antes que atinjam as partes vulneráveis do corpo espiritual. Dardos inflamados. Na antiguidade, às vezes, as flechas continham materiais combustíveis, como estopa e breu, acesas na ponta do dardo, a fim de atear fogo a tudo o que elas atingissem. Essa é uma imagem apropriada para descrever as fortes tentações que sobrevêm ao servo de Deus. Elas podem tomar a forma de medo, desânimo, impaciência, pensamentos impuros, inveja, ira ou qualquer outro vício. Mas a fé em Deus, erguida como um escudo, as apanha, apaga a chama e as lança inofensivas ao chão. Do Maligno. Ou seja, o maligno ou o mal, o diabo, o líder dos exércitos agressores. |
Ef.6:17 | 17. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; Capacete. A cabeça precisa de proteção especial por ser uma parte sumamente vital, a sede da vontade e da inteligência. Salvação. Em 1Ts.5:8, o capacete é chamado de “esperança da salvação”. A salvação abrange o passado, o presente e o futuro (ver com. de Rm.8:24). Espada do Espírito. As outras partes da armadura são apenas defensivas, mas esta é tanto defensiva como ofensiva. Palavra. Do gr. rhema, indicando algo pronunciado ou falado (ver com. de Ef.5:26). A expressão “palavra de Deus” não deve ser limitada às palavras das Escrituras que existiam na época. Quando esta epístola foi escrita, as Escrituras do NT estavam sendo produzidas. É com a espada do Espírito, a Palavra de Deus, que o cristão abre seu caminho através de todas as circunstâncias. |
Ef.6:18 | 18. com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos Com toda oração. Literalmente, “orando em cada época”, ou “em todas as ocasiões” (ver 1Ts.5:17). A oração não é outra arma, mas é o espírito ou a maneira em que toda a armadura deve ser usada e a batalha, travada. Aqui, Paulo estimula seus leitores a fazer da oração um estado mental contínuo, uma atitude de permanente comunhão com Deus (cf. Lc.18:1; Fp.4:6; Hb.4:16). Oração e súplica. Estas duas palavras também ocorrem juntas em 1Tm.2:1; 1Tm.5:5; Fp.4:6, em que são acrescentadas à oração ações de graças e súplica. A gratidão e a intercessão são dois elementos essenciais na oração eficaz. No Espirito. Ver com. de Rm.8:26-27. Mesmo que se tenha a melhor das intenções, muitas vezes, as orações revelam o entendimento limitado, preconceitos ocultos e a ignorância acerca do que é melhor. São poucos os que podem olhar para trás e não dar graças a Deus por ter o Espírito Santo examinado suas orações, anotado as intenções e as apresentado a Deus de forma que Ele pudesse atendê-las. Quantas vezes o tempo revela a completa insensatez de algumas orações. Não raro, o cristão é grato por nunca haver recebido algumas coisas que pediu. Vigiando. Ver com. de Mt.24:42; Mt.26:41. Perseverança. A perseverança na oração não tem o propósito de mudar a vontade de Deus mediante a persistência, como a criança que após persistentes rogos, finalmente, consegue o que quer de um pai relutante. A perseverança na oração indica claramente, por parte do suplicante, um estado de espírito que dá a Deus a oportunidade de fazer coisas que, de outra forma, não poderia fazer por ele com segurança (ver com. de Lc.18:1-8). Por todos os santos. Literalmente, “a respeito de todos os santos”. Os santos precisam ser apoiados (ver com. de Ef.1:1). É impossível estar em Cristo sem compartilhar os sofrimentos comuns dos santos e sustentá-los com orações (ver 1Pe.5:9). O idoso apóstolo, possivelmente preso em Roma, pensava com mais urgência na comunhão dos santos, tendo em vista o pedido prestes a fazer (Ef.6:19). |
Ef.6:19 | 19. e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, Por mim. Literalmente, “em favor de mim”. Esta tocante referência, feita pelo valente guerreiro, por sua própria necessidade, revela sua humildade e dependência de outros por compreensão e apoio. O apóstolo expressava com frequência sua profunda necessidade de que orassem por ele (Rm.15:30; 2Co.1:11; Fp.1:19; Cl.4:3). Palavra. Do gr. logos, literalmente, “palavra”, “mensagem” (ver Mt.10:19-20; Jo.1:1; 1Co.12:8). Dada. Como os outros, Paulo dependia de um dom celestial (ver com. de 1Co.12:8). Abrir da minha boca. Ver com. de Ef.3:12. Jesus abriu “a boca” e com grande autoridade anunciou os princípios de Seu reino (Mt.5:2, ARC), e Paulo queria um poder semelhante. Ele precisava de ousadia, porque sua mensagem era desprezada por uns e odiada por outros. Mistério. Esta é a sexta vez em que esta expressão surge na epístola (Ef.1:9; Ef.3:3-4; Ef.3:9; Ef.5:32; ver com. de Ef.1:9). Paulo se refere à graça de Deus, que em outro tempo foi desconhecida pelos gentios, e que passou a ser revelada a eles (ver 1Tm.3:16). |
Ef.6:20 | 20. pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo. Pelo qual. Isto é, em nome do qual. Sou embaixador. Do gr. presbeuo; ver com. de 2Co.5:20. Em cadeias. A referência é ao costume de encadear um prisioneiro por seu pulso direito ao pulso esquerdo de um soldado. Sob certas condições, os presos eram autorizados a encontrar alojamento para si fora da prisão. Pedro dormia entre dois soldados, algemado a ambos (At.12:6), e Paulo foi submetido a situação semelhante (At.21:33). Ousado para falar. Ver com. do v. Ef.6:19. |
Ef.6:21 | 21. E, para que saibais também a meu respeito e o que faço, de tudo vos informará Tíquico, o irmão amado e fiel ministro do Senhor. A meu respeito. Paulo supunha que os leitores desta epístola estavam interessados em saber mais sobre as condições de seu encarceramento (cf. Cl.4:7). Tíquico. Também mencionado em At.20:4; Cl.4:7; 2Tm.4:12; Tt.3:12. Era oriundo da província da Ásia (At.20:4) e, provavelmente, era efésio. O apóstolo parece ter colocado grande confiança nele, atribuindo-lhe as tarefas mais importantes. Devia haver profunda afeição entre eles, sendo Tíquico um “fiel ministro” durante os últimos e difíceis, porém, gloriosos dias do apóstolo. Durante seu segundo encarceramento, Paulo enviou novamente Tíquico a Éfeso (2Tm.4:12). Ministro. Do gr. diakonos, “garçom”, “servo” ou “diácono”. Este termo provavelmente não seja usado aqui no sentido técnico como diácono (ver com. de Ef.3:7; Mc.9:35). |
Ef.6:22 | 22. Foi para isso que eu vo-lo enviei, para que saibais a nosso respeito, e ele console o vosso coração. Enviei. Ver p. 1102; cf. com. de Cl.4:8. A nosso respeito. No v. Ef.6:21, Paulo se refere a suas circunstâncias; aqui, ele inclui seus companheiros cristãos em Roma. Console. Paulo sabia o quanto seus leitores estavam preocupados com seu bem-estar e desejava aliviá-los de toda preocupação desnecessária, bem como mostrar-lhes como um cristão pode suportar os sofrimentos com alegria. |
Ef.6:23 | 23. Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. Paz. Nesta bênção de despedida, o apóstolo recorda as palavras de sua oração inicial (ver com. de Ef.1:2). Irmãos. Ou seja, a comunidade de crentes reunidos no “corpo de Cristo” (Ef.4:12). Amor com fé. Este é o amor em seu sentido mais amplo, unido à fé. Ambos se originam em Deus. É o Espírito Santo que infunde amor ao coração do cristão (Rm.5:5). Deus, o Pai [...] Jesus Cristo. Ver com. de Ef.1:2; 2Tm.1:2; Tt.1:4. |
Ef.6:24 | 24. A graça seja com todos os que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo. Graça. A assinatura característica de Paulo (ver 2Co.13:14; Gl.6:18). Sinceramente. Literalmente, “em incorruptibilidade” (cf. 1Co.15:42). Em suas palavras finais, Paulo dirige a atenção dos leitores às realidades eternas. Amém (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão desta palavra. No entanto, ela está em sintonia com a mentalidade tanto do escritor como do leitor. O posfácio após o v. 24 não ocorre em nenhum manuscrito mais antigo e não fazia parte do texto original (ver KJV). |