"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > Colossenses
Cl.1:1 1. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo,

Paulo, apóstolo. Sobre a forma da introdução e o significado dos termos, ver com. de Rm.1:1; cf. com. de At.1:2. Paulo se proclama apóstolo para enfatizar que é embaixador do Senhor.

Vontade de Deus. Ver com. de Ef.1:1.

Timóteo. Ver com. de At.16:1. Paulo inclui Timóteo na saudação apostólica em outras epístolas (2Co.1:1; Fp.1:1; 1Ts.1:1; 2Ts.1:1; Fm.1:1).

Cl.1:2 2. aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.

Santos. Do gr. hagioi (ver com. de Rm.1:7).

Fiéis irmãos. Esta frase está em aposição a “santos”. Paulo elogia os membros da igreja em Colossos por sua fidelidade, lealdade e constância.

Em Cristo. Ver com. de Ef.1:1.

Colossos. Cidade na Frígia 177 km a leste do porto de Éfeso. Na época de Paulo, a Frigia foi anexada à província romana da Ásia. Colossos estava situada às margens do rio Lico, a cerca de 21 km de Hierápolis e a 16 km de Laodiceia. Nos séculos anteriores, Colossos havia ocupado uma posição de considerável importância. O exército de Xerxes, o Persa, a atravessou a caminho de atacar a Grécia. Xenofonte a chama “uma cidade habitada, próspera e grande” (Anabasis i.2.6; Loeb ed., vol. 2, p. 253). No entanto, nos tempos do NT, a população foi reduzida a pequenas proporções (sobre a origem da igreja, ver p. 183).

Graça [...] e paz. Ver com. de Rm.1:7; Rm.3:24.

Deus, nosso Pai. Ver com. de Rm.1:7.

Senhor Jesus Cristo (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras, que evidentement foram acrescentadas da passagem paralela (Ef.1:2).

Cl.1:3 3. Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,

Damos sempre graças. Ver com. de Ef.1:16. O motivo desta gratidão é afirmado em Cl.1:4-5.

Deus, Pai. Ou, “Deus, e também o Pai”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da conjunção “e”.

Senhor Jesus Cristo. Ver com. de Ef.1:17.

Cl.1:4 4. desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos;

Ouvimos. Notícias sobre as condições da igreja em Colossos foram trazidas por Epafras (v. Cl.1:7-8).

Fé. Não é simples confiança e crença em Cristo como pessoa; é completa subordinação à vontade de Deus e inquestionável dependência de Seu plano. É a aceitação humana do caminho de Deus.

Em Cristo Jesus. Paulo retrata Cristo como a esfera em que o cristão vive, do mesmo modo que o ar é o meio em que seu corpo existe. Aquele que está “em Cristo” é limitado e circunscrito pelos princípios e leis do Salvador; vive por eles e neles. Jesus é a fonte e a proteção da vida. A verdadeira fé atua dentro desse círculo, que abrange todo aquele que apresenta Jesus como o Cristo de Deus (ver Ef.1:15; 1Tm.3:13; 2Tm.1:13; 2Tm.3:15).

Amor. Do gr. agape (ver com. de 1Co.13:1). Agindo pelo princípio do amor a Deus e aos irmãos, todos os cristãos se integrarão. Esta atitude resulta em afeição por todos os santos. Fé genuína para com Deus não pode produzir nada menos do que isso. Paulo está cheio de alegria pelo desenvolvimento da experiência cristã dos crentes colossenses.

Cl.1:5 5. por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho,

Esperança. Ver com. de Rm.8:24; Rm.12:12. Paulo chega à última das três virtudes cristãs. Fé e amor não apenas recebem da esperança seu poder impulsionador, mas têm a esperança como meta. Os colossenses ouviram a história da redenção, e a esperança nasceu no coração deles. Essa esperança era a força condutora em todas as experiências cristãs e na própria filosofia da vida. Assim, a esperança precede a fé. Pelo fato de Deus já ter concebido o plano da salvação é que a esperança se tornou possível para o ser humano caído.

Nos céus. O cristão aguarda uma “herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus” para ele (1Pe.1:4; Fp.3:21). A esperança na realização final do propósito de Deus para um universo harmonioso, sem pecado, foi o solo frutífero em que brotou a fé e o amor que os crentes colossenses manifestavam.

Da qual antes ouvistes. Paulo relembrou aos crentes a alegria e o entusiasmo na época em que a mensagem do evangelho os alcançara. O apóstolo desejava que os colossenses contrastassem a fé que tinham e a alegria que lhes inundava o ser com as angustiantes dúvidas e tendências que resultavam das mensagens apresentadas pelos falsos mestres (cf. Cl.1:23; Cl.2:6-8; Cl.2:16-23).

Palavra da verdade. Isto é, a mensagem que contém a verdade, as boas-novas de toda a vontade revelada de Deus (ver com. de Jo.8:32). A verdade é a revelação da mente de Deus e lida com realidades definitivas e eternas.

Do evangelho. Ver com. de Mc.1:1. Estas palavras podem ser compreendidas como em aposição a “da verdade”. Está intimamente ligada à frase seguinte.

Cl.1:6 6. que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade;

Que chegou até vós. No grego, a palavra “que” se refere apenas a “evangelho” (ver v. Cl.1:23).

Em todo o mundo. Ver com. do v. Cl.1:23.

Produzindo fruto e crescendo. Evidências textuais confirmam (cf. p. xvi) a adição das palavras “e crescendo”. Uma árvore produz fruto porque está viva e florescendo. Assim, também o cristão produz continuamente o fruto do Espírito (Gl.5:22-23), porque a vida de Cristo é um princípio vital que atua nele (ver Mc.4:20; Mc.4:28; Rm.7:4-5; Fp.4:17). A força da expressão de Paulo é: aonde quer que o evangelho for pregado, produzirá fruto constantemente.

Entre vós. Paulo se volta da verdade geral, de que o evangelho invariavelmente produz fruto onde é proclamado, para o fato particular de que esta situação ocorre em Colossos. Esta igreja está unida ao propósito universal de Deus para a redenção humana.

O dia. Sobre o modo pelo qual o evangelho chegou a Colossos, ver p. 173.

Entendestes. Do gr. epiginosko, “reconhecer”, “conhecer plenamente”, “conhecer por experiência”. A forma verbal deveria ser traduzida como “veio a pleno conhecimento”. Esse pleno conhecimento ocorre apenas por meio da experiência, portanto, apenas com aqueles que aceitam a graça de Cristo. O verdadeiro conhecimento de Deus é inseparável de Sua graça.

Graça. Ver com. de Rm.3:24.

Na verdade. Isto é, genuinamente. Paulo faz contrastes sutis com os falsos ensinos que está prestes a mencionar.

Cl.1:7 7. segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo,

Epafras. Talvez a pessoa que levou a mensagem de salvação a Colossos (ver p. 173). Neste versículo, Paulo o chama de “nosso amado conservo”. Escrevendo a Filemom, o apóstolo fala de Epafras como “prisioneiro comigo” (Fm.1:23). Evidentemente, Epafras era natural de Colossos (Cl.4:12). Conjectura-se que ele deve ter conhecido o evangelho em Éfeso, então se consagrou ao serviço de Deus e se tornou missionário entre seu povo.

Quanto a vós outros. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre esta e a variante “quanto a nós”. Os pronomes traduzidos como “nós” e “vós” são parecidos no grego (humon e hemon) e facilmente confundíveis. As duas traduções são possíveis neste contexto.

Fiel. Neste versículo, Paulo apoia as mensagens e os esforços de Epafras.

Ministro. Do gr. diakonos (ver com. de Ef.6:21).

Cl.1:8 8. o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito.

O qual também nos relatou. Epafras levou notícias a Paulo acerca da condição da igreja em Colossos.

No Espírito. Literalmente, “em espírito [ou “Espírito”].” Não está claro se Paulo se refere ao Espírito Santo ou ao espírito humano. O verdadeiro amor é produto da presença do Espírito Santo na vida, mas Paulo pode enfatizar aqui a resposta pronta e amorosa às condições da vida, que cada cristão deveria manifestar.

Cl.1:9 9. Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;

Por esta razão. Isto é, em vista do que foi dito nos v. Cl.1:4-8, Paulo relembra a fé dos crentes colossenses, a genuinidade do amor deles pelos irmãos e a contínua esperança na recompensa celestial. Tudo isso alegrara o coração do apóstolo. O motivo imediato de alegria é a boa notícia que Epafras havia trazido de Colossos. Seu informe entusiasta aqueceu o coração do idoso Paulo.

O dia em que o ouvimos. A chegada de Epafras foi um dia memorável para Paulo. Desde então, ele data sua intensificada devoção e gratidão.

Não cessamos de orar. Paulo já tinha chamado a atenção para suas orações em prol dos crentes colossenses (ver v. Cl.1:3). O relato de Colossos trazido por Epafras o capacitou a orar com maior alegria e reflexão. A frase “não cessamos de orar” significa que Paulo habitualmente orava pelos cristãos colossenses. Em momento algum se pode dizer que havia cessado de orar por eles.

Pedir. Paulo era grato e ao mesmo tempo solícito. Não satisfeito com o progresso que os crentes colossenses já tinham alcançado, ansiava que fosse feito maior avanço.

Conhecimento. Do gr. epignosis, “conhecimento pleno, preciso” (ver com. de Rm.3:20; Ef.1:17; cf. com. de Cl.1:6).

Sua vontade. Especificamente, um conhecimento da vontade de Deus a respeito da conduta deles (ver v. Cl.1:10), uma compreensão plena do amplo propósito de Deus. Para alguém que possui tal conhecimento, cada detalhe da vida, com seus problemas e mistérios inexplicáveis, ganha novo significado. O cristão percebe que Deus tem um plano para ele, e seu objetivo é cumprir o propósito divino.

Sabedoria. Do gr. sophia (ver com. de Lc.2:52). A sabedoria está na habilidade de aplicar os fatos do conhecimento às situações da vida. Infelizmente, nem sempre aquele que tem conhecimento também é sábio. Por esse motivo, Paulo ora para que os crentes em Colossos sejam providos com sabedoria celeste.

Entendimento. O entendimento dado pelo Espírito permite que o cristão julgue entre o certo e o errado. As tentações e armadilhas do adversário são reconhecidas pela pessoa que é iluminada pelo Espírito Santo. E, se a vontade estiver completamente submetida a Deus e absorta nas coisas de valor eterno, o cristão escolherá fazer apenas aquilo que Deus gostaria que ele fizesse.

Espiritual. O adjetivo se aplica ao substantivo anterior, “sabedoria”, e também a “entendimento”.

Cl.1:10 10. a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus;

Viverdes. Do gr. peripateo, “andar ao redor” (ver com. de Ef.2:2). O propósito do conhecimento experimental das verdades celestiais, do entendimento e da sabedoria espiritual sobre o certo e o errado no relacionamento com o propósito de Deus é produzir um andar ou modo de vida, isto é, tornar-se filho de Deus.

Para o Seu inteiro agrado. O padrão da conduta cristã é a vontade de Deus; o propósito é que O agrademos em todos os nossos dias. Fomos criados para Seu prazer. Fomos redimidos para que Seu desígnio original fosse completado. O pecado O desagrada. Falando do relacionamento com o Pai celestial, Jesus declarou: “Eu faço sempre o que Lhe agrada” (Jo.8:29).

Frutificando. A produção de frutos de uma árvore é resultado da vida interna. O fruto comprova a existência de vida. A produção de fruto não capacita a árvore a viver; a árvore dá frutos porque está viva. O apóstolo ilustra o resultado da presença viva de Cristo no coração. Uma caminhada cristã resultante dessa união entre o divino e o humano não tem outro resultado a não ser a produção de frutos (ver Gl.5:22-23; 2Pe.1:8).

Em toda boa obra. Neste versículo, é enfatizado o caráter cristão completo, em todos os sentidos. Cristo não deseja seguidores desanimados nem desequilibrados. O desenvolvimento humano harmônico é o ideal que Ele coloca diante de nós (ver Ef.4:13; 1Ts.5:23).

Crescendo. Deve haver um aprofundamento gradual do discernimento e do conhecimento espiritual, paralelamente ao avanço no testemunho por meio de palavras e atos. A apreensão da verdade é progressiva. O seguidor de Cristo deveria conseguir olhar para trás e ver que avançou; assim, também deve seguir adiante para ver que há novas alturas a galgar.

Conhecimento. Do gr. epignosis (ver com. do v. Cl.1:9).

Cl.1:11 11. sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,

Fortalecidos com todo o poder. Ver Ef.1:19. O poder divino capacita o ser humano a enfrentar todos os problemas da vida diária que se ergam dos relacionamentos interpessoais ou do conflito direto com agentes satânicos. Paulo desejava que os crentes colossenses recebessem esse fortalecimento interior por meio da constante presença do Espírito Santo, que se mostraria em poderosas obras pelo Senhor. Conforme o aumento da necessidade, eles receberiam força adequada para satisfazê-la.

Segundo a força da Sua glória. Literalmente, “de acordo com o poder de Sua glória”. O padrão ou norma por meio do qual este dom celeste é concedido à humanidade é o poder e a capacidade de Deus, não a necessidade humana (sobre o significado de “glória”, ver com. de Rm.3:23).

Perseverança. Do gr. hupomone (ver com. de Rm.2:7).

Longanimidade. Do gr. makrothumia (ver com. de Cl.3:12; cf. com. de 1Co.13:4; 2Co.6:6). Quando o poder de Deus opera no ser, o domínio próprio e a tolerância controlam as paixões. O filho de Deus observa seu Senhor e Mestre realizando pacientemente Seus desígnios e também aprende a ser perseverante. Assim, cresce em seu coração a resistência, a constância para enfrentar obstáculos e a paz até mesmo diante da morte. A perseverança é o oposto de depressão de espírito ou covardia, ao passo que a longanimidade ao enfrentar dificuldades é o oposto de ira ou vingança. A perseverança está intimamente unida à esperança (ver 1Ts.1:3), e a longanimidade em face das dificuldades está geralmente ligada à misericórdia (ver Ex.34:6).

Com alegria. Ver com. de Rm.14:17.

Cl.1:12 12. dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz.

Dando graças. Um coração agradecido é a marca de alguém cuja ênfase positiva diária está na direção de grata conformidade com a vontade do grande Doador (cf. Ef.5:4; Fp.4:6; Cl.2:7; Cl.3:17; Cl.4:2; ver com. de Ef.5:20). A falta de grata apreciação está na raiz da rebelião e da anarquia (Rm.1:21). A ação de graças sincera é um pré-requisito diário para o crescimento na vida cristã. Esta ação de graças não consiste apenas no reconhecimento de que Deus concede recompensas repetidas diariamente; é também uma atribuição de adoração da honra devida ao Seu santo nome e magnífico poder.

Ao Pai. Os v. 12 e 13 representam o Pai como Aquele que inaugurou o plano da salvação. Ele é Quem deu Seu único Filho.

Que vos fez. Literalmente, “tornou-nos suficientes”, isto é, nos qualificou. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre as variantes “nos” e “vos”. “Nos” é confirmado no v. Cl.1:13. Esta qualificação ou aptidão não é conquistada pelo ser humano. É concedida àqueles que, pela fé, aceitam o Senhor Jesus Cristo (ver com. de Ef.2:8).

A parte que vos cabe da herança. Literalmente, “por uma porção de terra” (ver com. de Rm.8:17).

Santos. Ver com. de Rm.1:7.

Luz. Neste versículo, a palavra contrasta com “trevas” (v. Cl.1:13). A expressão “na luz” é equivalente a “o reino do Filho do Seu amor” (v. Cl.1:13; ver com. de Jo.1:5; 1Jo.1:5).

Cl.1:13 13. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor,

Libertou. Do gr. rhuomai, “remover”, “resgatar”. Esta é a palavra utilizada por Paulo em Rm.7:24 no angustiado clamor: “Quem me livrará do corpo desta morte?” O “Libertador” que virá de Sião (Rm.11:26) é ho rhuomenos, “o resgatador”. Na passagem atual, o Pai é apresentado como Aquele que resgata as pessoas da escravidão a Satanás.

Império. Do gr. exousia, “autoridade”. Do reino do mal onde o príncipe das trevas preside como tirano impiedoso, o Conquistador Divino resgatou Seus santos. Não mais estão sujeitos à autoridade usurpada.

Trevas. Observe o contraste com “herança [...] na luz” (v. Cl.1:12). O filho de Deus é transferido da autoridade do príncipe das trevas para o reino da luz.

Transportou. Do gr. methistemi, “transportar”, “remover” (ver o uso da palavra em Lc.16:4; At.13:22; At.19:26 e a forma relacionada em 1Co.13:2). Josefo utiliza a palavra ao comentar a transferência dos israelitas para o reino da Assíria na época da invasão de Tiglate-Pileser III (Antiguidades ix. 11.1 [235]).

Reino. Isto é, o reino da graça (ver com. de Mt.4:17; Mt.5:3).

Do Filho do Seu amor. Significa, talvez, que o Filho é o objeto do amor de Deus (cf. com. de Mt.3:17; Ef.1:6).

Cl.1:14 14. no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.

Temos a redenção. Este versículo está em paralelo em grande parte com Ef.1:7 (ver com. ali). Por meio da morte expiatória de Cristo, os seres humanos obtêm a redenção (ver com. de Rm.3:24).

Pelo Seu sangue (ARC). Evidências textuais confirmam (cf. p. xvi) a omissão desta frase. No entanto, a frase é demonstrada na passagem paralela (Ef.1:7; ver com. ali; ver Problems in Bible Translation, p. 223).

Remissão. Do gr. aphesis, “libertar”, “perdão” (ver com. de Lc.3:3). Assim, Paulo termina a introdução desta epístola (v. 1-14). Ele agradeceu a Deus pelo que ouviu acerca do progresso dos cristãos colossenses. Solicitou auxílio celeste para crescerem em verdadeiro conhecimento da vontade divina. Essas petições se erguiam, constantemente do coração do apóstolo, especialmente desde que recebeu um relato direto a respeito dos crentes colossenses. Paulo os relembra dos privilégios de terem sido trasladados para o reino de luz e que alegria poderia ser deles, já que tinham sido emancipados do poder das trevas.

Cl.1:15 15. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;

Este é. Tendo concluído o prólogo, (v. 1-14), o apóstolo introduz o tema principal, uma discussão da pessoa e posição de Cristo.

Imagem. Do gr. eikon, “similitude”, “semelhança” (ver Cl.3:10, em que Paulo declara que o cristão é renovado “segundo a imagem [eikon] dAquele que o criou”). A imagem do imperador romano nas moedas antigas era chamada de eikon (Mt.22:20).

Deus invisível. “Ninguém jamais viu a Deus”, mas Jesus, “a imagem do Deus invisível”, veio revelá-Lo aos homens (ver com. de Jo.1:18).

Primogênito. Do gr. prototokos (ver com. de Rm.8:29). A palavra prototokos é utilizada: para Cristo como o primogênito de Maria (Mt.1:25; Lc.2:7); ao primogênito egípcio que pereceu nas pragas (Hb.11:28); para descrever os membros da “igreja do primogênito” (Hb.12:23). Nas referências restantes (Rm.8:29; Cl.1:15; Cl.1:18; Hb.1:6; Ap.1:5) prototokos é aplicada a Cristo. Tem ocorrido muita discussão no decorrer dos séculos quanto ao significado de prototokos em Cl.1:15. Os pais da igreja aplicavam a expressão a Cristo como o eterno Filho de Deus. Os arianos utilizavam este versículo para demonstrar que o próprio Cristo era um ser criado. Tal interpretação, embora possível no que se refere à gramática da passagem, é desmentida em outras partes da Bíblia (ver com. da nota adicional de João 1; Jo.1:51). A passagem pode ser compreendida de modo harmônico com o ensino geral da Escritura, o que está de acordo com os princípios de exegese das Escrituras. Em Hb.1:6, prototokos claramente se refere a encarnação, e alguns tentaram fazer a mesma aplicação em Cl.1:15.

Outros creem que, em Colossenses, Paulo se refere à ressurreição (ver com. de At.13:33). No entanto, nenhuma interpretação preenche o contexto, pois Cristo é representado aqui como Criador (cf. Cl.1:16) e anterior à criação (cf. com. de Jo.1:1-3; Jo.1:14). Parece melhor considerar prototokos como expressão figurada descrevendo Jesus Cristo como primeiro na classificação, imagem extraída da dignidade e função mantidos pelo primogênito na família humana ou, mais precisamente, o primogênito na família real. A posição de Cristo é única, autoritativa e absoluta. A Ele foram confiadas todas as prerrogativas e a autoridade no Céu e na Terra. Paulo enfatiza a posição de Cristo porque está procurando se opor aos argumentos dos falsos mestres, que declaravam que Cristo foi criado e que negavam Sua supremacia.

Criação. Do gr. ktisis, “o ato de criar”, “uma coisa criada”, “uma criatura”. O contexto parece favorável à tradução “toda criatura”. Cristo é apresentado acima de toda coisa criada (ver com. de Ap.3:14).

Cl.1:16 16. pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.

Pois, nEle. Do gr. hoti en auto, literalmente, “porque nEle”, este versículo não denota ação, já que isto será expresso mais adiante pela expressão di’ autou, “por meio dEle”. A expressão en auto ressalta que Cristo é o centro, a fonte, a esfera em que a criação foi originada.

Foram criadas todas as coisas. Literalmente, “todas as coisas foram criadas” (sobre Cristo como Criador, ver com. de Jo.1:3). O exercício do poder criativo era prova da divindade de Cristo.

Céus [...] terra. Esta expressão parece incluir todo o universo. Todas as coisas, materiais ou imateriais, são designadas por esta expressão composta.

Invisíveis. Referência a seres e poderes espirituais.

Tronos [...] soberanias. Ver com. de Rm.8:38; Ef.1:21. Estes termos foram utilizados pelos falsos mestres em Colossos para descrever a classificação para as ordens angélicas. Esses mestres hereges classificavam Cristo num nível dessas ordens. Paulo confrontou a doutrina diretamente, declarando que, se houvesse tais ordens, Cristo as teria criado e, consequentemente, Ele era muito superior aos anjos quanto à posição.

Foi criado. A forma verbal assim traduzida é diferente da forma traduzida como “criada” no início do versículo. Aqui, as palavras significam “permanece criado”, com ênfase nos efeitos da criação, enquanto a palavra anterior se refere à criação apenas como um ato específico que ocorreu em algum ponto da história.

Por meio dEle. Do gr. di’ autuo. A frase expressa ação (ver com. de Jo.1:3).

Para Ele. Cristo é o objetivo para o qual toda a criação se move para justificação e existência. Ele é “o início e o fim, o primeiro e o último” (Ap.22:13).

Cl.1:17 17. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

Ele. Enfático no grego, significando: “Ele mesmo”. Cristo é contrastado com os seres criados.

É. Do gr. esti, uma forma do verbo eimi, “ser”, expressando, como o verbo en em Jo.1:1, continuidade de existência (ver comentário ali). “Ele é” pode ser comparado à expressão “Eu sou” (ver com. de Jo.6:20; Jo.8:58).

Antes. Tanto em tempo quanto em posição. Quando a mente divaga em direção ao passado, na eternidade, não há ponto em que Cristo não existia (ver com. de Jo.1:1; ver nota adicional do com. de João 1; Jo.1:51).

NEle. Cristo é a esfera dentro da qual todas as coisas se compõem.

Subsiste. Do gr. sunistemi, literalmente, “permanecer junto”, “manter unido” ou “colar”. A forma verbal no grego enfatiza uma organização original e uma manutenção permanente da organização. O poder que une as vastas órbitas do universo no rumo designado com exatidão matemática é o mesmo que une as partículas de átomo em suas órbitas pré-determinadas. Por meio do poder de Cristo, todas as coisas se aderem. Ele não apenas as trouxe à existência, como as mantém a cada instante.

Cl.1:18 18. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia,

Ele é. Do gr. autos estin, “Ele mesmo é”, a mesma frase que inicia o v. Cl.1:17 (ver com. ali).

Cabeça do corpo. Assim como a cabeça provê ao corpo o poder de planejar, governar, decidir, e todas as atividades do corpo são continuamente dependentes do funcionamento dela, Cristo é a cabeça do corpo espiritual. Essa ilustração é frequente nos escritos de Paulo (ver com. de 1Co.12:12).

Igreja. Do gr. ekklesia; ver com. de Mt.18:17.

Princípio. Esta expressão pode ser entendida de modo passivo, demonstrando a prioridade de Cristo quanto a tempo e posição e, de modo ativo, no sentido de Cristo ser o originador (cf. com. de Ap.1:8). Alguns entendem a expressão como aplicada especialmente para o que vem a seguir, declarando que Cristo é o “princípio” daqueles que se erguerão dentre os mortos. Paulo O chama também de “primícias dos que dormem” (ver com. de 1Co.15:20; 1Co.15:23). Moisés e Lázaro foram ressuscitados num período anterior ao que Cristo Se ergueu da tumba, mas foi unicamente em virtude de Sua ressurreição que esses homens voltaram á vida. Aqui, Jesus é apresentado diante dos crentes como possuindo não apenas primazia e prioridade no tempo, mas também precedência em poder e prestígio. Uma vez que Ele existe antes de todas as coisas, não pode ser uma emanação ou pertencer a uma ordem menor, secundária da criação. A declaração de Paulo confronta os argumentos dos falsos mestres em Colossos.

Primogênito. Do gr. prototokos (ver com. do v. Cl.1:15).

De entre os mortos. Tendo sido um deles, como indica o grego (cf. com. de Ap.1:18).

Em todas as coisas. Já que no contexto imediato a prioridade de Cristo tem a ver com a igreja, Sua posição com relação a “todas as coisas” também tem a ver com a igreja (ver Cl.3:11; Ef.1:23). No entanto, a declaração também é verdadeira com respeito a Sua posição de soberania e prioridade relativa a todo o universo.

Ter a primazia. Literalmente, “ele deve manter a primeira posição”. Cristo foi “declarado o Filho de Deus com poder [...] por meio da ressurreição dos mortos” (Rm.1:4; Fp.2:9).

Cl.1:19 19. porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude

Aprouve a Deus. Os comentaristas estão divididos quanto a se foram acrescentadas corretamente ou se a expressão “toda a plenitude” seria o sujeito da sentença, o que gramaticalmente é possível. De acordo com a última construção, o versículo seria traduzido: “Durante toda a plenitude foi prazeroso habitar nEle” (cf. RSV). O Pai parece ser o sujeito do v. Cl.1:20, assim, não é artificial tê-lo como sujeito indicado do v. 19 também. A passagem também faz sentido quando a expressão “toda plenitude” é o sujeito da frase. As duas traduções satisfazem o contexto.

Residisse. Do gr. katoikeo, “ter uma moradia permanente e estabelecida” (cf. Cl.2:9). Os falsos mestres defendiam que a Divindade residiu em Jesus apenas parcial e temporariamente. Paulo orienta os colossenses neste ponto. Jesus não possui apenas a plenitude do propósito e poder divinos como prerrogativa permanente, Ele também expressa em plenitude os traços da personalidade divina (Ef.1:23; Ef.3:19; Ef.4:13; Cl.2:9). Quando o Salvador andou entre os homens, Ele era expressão da glória do Pai, a imagem visível de Sua pessoa (Cl.1:15). Em Cristo é compreendida a perfeita expressão da Divindade completa e eternamente. Esta expressão da Divindade alcançou plena manifestação apenas quando o sacrifício do Salvador ocorreu, porque o aspecto sacrificial da perfeição divina não foi visto antes de Sua morte.

Plenitude. Do gr. pleroma, “plenitude”, “completo”, “o que tem sido completado”, “complemento”. A palavra pleroma foi utilizada no grego secular para designar o pleno complemento de uma tripulação de navio ou de reservas de tropas. Também descreve uma população que está alcançando o ponto de saturação, indica a quantia total necessária para completar uma transação financeira e designa os materiais necessários para se concluir um edifício. No NT, geralmente, tem o sentido de integridade (ver Mc.2:21; Mc.6:43; Rm.13:10; 1Co.10:26; Gl.4:4; Ef.1:10; Ef.1:23). Parece que os falsos mestres em Colossos, como os gnósticos posteriormente, sustentavam que algumas funções da Divindade como a mediação e determinados poderes da criação, residiam em anjos ou ordens menores de seres criados. Paulo diz aos perversores da verdade que a totalidade de cada função da Divindade reside em Cristo. Dessa forma, Ele é Senhor de todas as coisas criadas. Essa plenitude residia em Cristo desde o princípio.

Cl.1:20 20. e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.

Havendo feito a paz. A paz é necessária porque a entrada do pecado no universo trouxe consigo a alienação. A tradução literal a seguir reflete a ordem no grego: “E por meio dEle reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tendo feito paz por meio do sangue de Sua cruz, por meio dEle, quer as coisas sobre a terra ou as coisas nos céus”. A frase: “por meio dEle reconciliasse” deve estar conectada com o v. Cl.1:19 (como a ARA). Os falsos mestres defendiam que a paz era trazida por meio da mediação dos anjos.

Sangue da Sua cruz. Sobre o significado do sangue de Cristo no plano da salvação, ver com. de Rm.3:25. A cruz de Cristo é o auge no plano da salvação. Foi o assunto do qual Paulo se gloriou (Gl.6:14). Será a ciência e a canção dos redimidos pelas eras eternas (GC, 651).

Por meio dele. Esta frase ocorre duas vezes neste versículo, na primeira ocasião, na posição enfática no grego. Jesus é o agente por meio do qual a reconciliação é consumada.

Reconciliasse. Do gr. apokatalasso, uma forma intensificada da palavra comum que Paulo utiliza para reconciliação, katalasso (ver com. de Rm.5:10).

Todas as coisas. Tem havido muita discussão quanto a se esta expressão inclui seres irracionais e inanimados. Em que sentido eles precisariam de reconciliação? A discussão do apóstolo pode ser em relação aos efeitos de longo alcance do pecado e da redenção, não apenas sobre seres inteligentes, mas também sobre os seres irracionais e inanimados (cf. com. de Rm.8:19).

Sobre a terra. A transgressão de Adão teve repercussões em toda a Terra. A degeneração se estendeu desde o ser humano, a gloriosa obra-prima do Criador, até a planta, o inseto, a vida marinha e a terra inanimada. O ato redentivo de Cristo restaurará finalmente a perfeição e a harmonia da natureza.

Nos céus. Alguns comentaristas sustentam que, embora apenas um terço dos anjos se rebelou contra o governo de Deus e foi expulso do Céu, o restante da hoste angélica não compreendeu completamente a malignidade do pecado ou seus resultados catastróficos até que Cristo morreu na cruz. Depois desse evento, os seres celestiais perceberam como nunca antes que os caminhos de Deus são verdadeiros e justos e que o programa de Satanás conduz à morte. Assim, todas as coisas, materiais e espirituais, celestiais e terrenas, serão levadas a um estado de perfeita harmonia por meio da cruz e tudo que ela representa. O tempo e o desenrolar dos propósitos de Deus por meio de Cristo exporão Satanás e os que simpatizam com ele, e a justiça de Deus será vista na aniquilação deles. O plano da redenção cumprirá seu propósito mais amplo e profundo: a vindicação do caráter de Deus diante do universo (ver PP, 68).

Cl.1:21 21. E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas,

E a vós. Paulo faz aplicações pessoais aos irmãos colossenses acerca das doutrinas que discute. Ele argumentou que todo o mundo depende do sangue de Cristo para reconciliação (ver com. do v. Cl.1:19). O apóstolo diz aos colossenses que eles podem entrar nesse glorioso estado de harmonia e alegria apenas por essa mesma estrada. Sua declaração indica um alerta para não aceitar os pontos de vista dos falsos mestres que sugerem outros meios de reconciliação, tais como o ministério dos anjos e outros espíritos (cf. Cl.2:8; Cl.2:18-19). Há apenas um meio de salvação (At.4:12).

Outrora, éreis estranhos. Ou, “outrora alienados”. Esta lamentável condição ainda existiria para os crentes colossenses não fosse o ministério de Cristo em favor deles. Na cruz do Calvário, uma expiação foi preparada para o pecado que causou a alienação. A atitude de hostilidade do pecador foi mudada, e Deus aceitou o pecador.

Inimigos. Os colossenses, antes da conversão, não estavam apenas separados de Deus, ignorantes de Seus propósitos para a humanidade e indiferentes à Sua lei; eles também eram abertamente hostis a Ele.

No entendimento. A mente é a faculdade central, diretiva de um ser racional (ver Ef.4:18). Paulo lembra aos colossenses que todo pensamento deles esteve num estado de separação e hostilidade para com Deus. Toda atitude decisiva, criativa da mente era contra Deus ou de indiferença para com Ele. Os colossenses estavam numa condição irremediável e perdida, dependendo de alguma influência celeste para levá-los a um estado no qual pudessem ser salvos.

Pelas vossas obras malignas. Ou, “em [a esfera de] as obras más”. Como pensa a pessoa, assim age (cf. Pv.23:7). É impossível à mente ímpia fazer outra coisa que não seja produzir obras ímpias. Assim era com os colossenses, as ações da vida evidenciavam o estado mental. Antes da conversão, o relato de vida dava prova irrefutável da alienação de Deus e da inimizade com Ele.

Cl.1:22 22. agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis,

Agora, porém. Não obstante a condição de alienação dos colossenses, Deus agiu. Seu ministério reconciliador se torna efetivo no momento em que as pessoas O aceitam.

Reconciliou. Ver com. de Rm.5:10; Cl.1:20. Cristo tomou os crentes colossenses pela mão e os apresentou ao Pai, não como servos ou inimigos, mas como amigos (Jo.15:14-16). A cruz do Calvário baniu a hostilidade, mudou o fluxo da mente e os transformou à semelhança de Cristo.

Corpo da Sua carne. Alguns creem que Paulo combate uma heresia que se moveu furtivamente para dentro da igreja cristã; ou seja, que Cristo não tinha um corpo humano. De acordo com essa heresia, o corpo humano é essencialmente pecaminoso e, portanto, não teria sido parte do Filho de Deus. Um passo importante na reconciliação do ser humano com Deus foi a encarnação. A divindade foi vestida com a humanidade. Jesus tomou posse da humanidade caída que uma vez mais poderia estar unida ao trono de Deus. Ele tomou parte da carne e do sangue, para que pudesse livrar a humanidade da escravidão do pecado. Cristo, em Seu corpo carnal, alcançou a vitória da reconciliação (ver 1Pe.2:24; ver vol. 5, p. 1013-1015; vol. 6, p. 44).

Mediante a Sua morte. Ou, “por meio da morte”. O salário do pecado é a morte (Rm.6:23). Todos pecaram (Rm.3:23). Ninguém consegue escapar da morte. Cristo, ao assumir a sorte da humanidade, propôs pagar a penalidade pelo pecado da humanidade. Morreu por todo ser humano. Esse fato foi prefigurado por cada verdadeiro sacrifício desde o dia em que Adão ofereceu a primeira vítima sob a ordem de Deus. A morte sacrificial, vicária, apontava adiante, para a expiação por meio do sangue de Cristo. Todas as cerimônias de sacrifício e mediação prefiguravam a reconciliação final com Deus. A morte era a base de tudo.

Para apresentar-vos. Quando a reconciliação foi alcançada, aqueles que estavam alienados de Deus e em hostilidade com Ele foram apresentados diante do universo como troféus da cruz (ver 2Co.4:14; Ef.5:27; Cl.1:28).

Perante Ele. Todas as pessoas passarão diante do olhar perscrutador de Deus. O Juiz de toda a terra verá tudo. Nesta vida, as pessoas podem zombar, Satanás ainda pode encontrar faltas, mas a questão mais importante é: o que Deus vê e pensa (ver 2Co.5:10; Ef.1:4). A estima divina é tudo o que conta.

Santos, inculpáveis. Do gr. hagioi kai amomoi (ver com. de Ef.1:4).

Irrepreensíveis. Do gr. anegkletoi, “irrepreensíveis”, “incensuráveis” (ver a utilização da palavra em 1Co.1:8). Anegkletoi vai além na ilustração da perfeição. Enfatiza que não deve haver possibilidade de acusá-los, pois o propósito de Deus é apresentá-los perfeitos diante do universo. O acusador dos irmãos será silenciado enquanto o Senhor o repreende e salienta que os santos estarão vestidos com a justiça de Cristo (Zc.3:1-5; Ap.12:10-11).

Cl.1:23 23. se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro.

Se é que permaneceis. Os colossenses tinham ouvido a palavra da vida. Eles aceitaram a fé e foram reconciliados pelo sangue de Cristo. Eles eram “santos e fiéis irmãos” (v. Cl.1:2). No entanto, todos os esforços seriam fúteis se deixassem de “continuar”. O apóstolo ressalta a necessidade dos colossenses de continuar e permanecer na confiança no evangelho.

Na fé. Ver v. Cl.1:4. O que foi iniciado pela fé na experiência dos crentes colossenses deve ser continuado, também, por meio da fé.

Alicerçados. Do gr. themelioo, “colocar uma fundação”, “fundar”. A casa espiritual deveria ter a fundação fixada sobre a sólida Rocha, que é Cristo, não sobre a areia, como a casa do tolo na parábola de Cristo (ver Lc.6:49; 1Co.10:4).

Firmes. Do gr. hedraioi, “firme”, “inalterável”. O crente cristão deve estar firmemente fixado na fundação. Paulo alerta os colossenses contra recuar da posição tomada por eles quando ouviram o evangelho pela primeira vez.

Não vos deixando afastar. Este é o ponto de vista negativo do que já foi dito. “Não se permita”, diz Paulo, “ser demovido pelas artes filosóficas dos falsos mestres ou pelas seduções do pecado”. O tempo verbal que ele utiliza sugere o pensamento: “Não ser continuamente mudado” de uma posição para outra (cf. 1Co.15:58).

Esperança do evangelho. Isto é, a esperança que o evangelho proporciona. Ele já a tinha interiorizado esta esperança (ver com. do v. Cl.1:5), que é a força motora do plano da salvação. É trazida à luz pela mensagem do evangelho e pertence ao evangelho. Quando a esperança for finalmente alcançada no reino de Deus, os propósitos do plano da salvação serão cumpridos.

Ouvistes. Ver com. do v. Cl.1:5.

Pregado a toda criatura. A ênfase da passagem está no fato de que o evangelho que os colossenses tinham ouvido era o mesmo que foi pregado em todas as partes onde o evangelho havia penetrado. Paulo não quer dizer que o evangelho tinha alcançado todos os lugares, no sentido absoluto. Isso é evidente a partir das declarações a respeito do avanço do evangelho. Escrevendo aos romanos poucos anos antes, Paulo, resumindo o avanço do evangelho, disse: “Desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm.15:19). Nessa época, planejou visitar Roma e dali levar o evangelho para a Espanha (Rm.15:24). Seu aprisionamento interferiu de modo que os planos não se concretizaram. Em vez de ir a Roma como um livre arauto do evangelho, ele foi algemado. Estando prisioneiro, não poderia visitar a Espanha. Não é provável que qualquer atividade significativa tivesse sido iniciada ali. Além disso, não há evidência de que nessa data o evangelho tivesse penetrado nas regiões bárbaras ao norte do então mundo civilizado.

Do qual eu, Paulo. O apóstolo abruptamente se insere na linha de argumentação, do mesmo modo que tinha introduzido os crentes colossenses no v. Cl.1:21.

Eu [...] me tornei. Ver Ef.3:7. Paulo se refere à comissão divina para pregar o evangelho. Deus estava utilizando o apóstolo para a realização de tarefas eternas (ver Ef.3:8; 1Tm.1:11-16; Cl.1:11-17). Uma mão divina o dirigiu no plano geral para a salvação humana. Quando os colossenses compararam Paulo com os falsos mestres, puderam refletir nos propósitos eternos de Deus e perceber que aquele que escrevia para eles era parte de um grande plano para aproximá-los da salvação. A mensagem de Paulo vinha com autorização divina. A fé dos crentes deveria ser fortalecida, e a constância, aumentada por meio desse pensamento.

Ministro. Do gr. diakonos (ver com. de Mc.9:35; ver a utilização da palavra em Mt.20:26; Rm.13:4; Ef.6:21; 1Tm.4:6).

Cl.1:24 24. Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;

Agora, me regozijo. Literalmente, “agora me alegro”. Paulo irrompe em ação de graças porque a causa de Deus está avançando (ver At.16:25; Rm.5:3; 2Co.11:16-33; Fp.2:17).

Sofrimentos por vós. Ver Ef.3:1. Paulo se alegrava em suportar perseguição por amor a Cristo, se por meio dessa experiência a fé dos cristãos fosse ampliada.

Preencho. Do gr. antanapleroo, “preencher", “preencher vicariamente”. No NT, a palavra ocorre apenas neste versículo.

O que resta. Literalmente, “as coisas que faltam”, isto é, o que está faltando. A tribulação e a aflição são o destino do cristão (ver At.14:22; Fp.1:29; 2Co.1:5; 2Co.4:10; 1Ts.3:3). Paulo pensa nos sofrimentos que será chamado a enfrentar. Está feliz por poder suportar aflições por causa de Cristo.

Aflições de Cristo. Isto é, as aflições por Cristo. A frase não deve ser entendida como descrevendo os sofrimentos que Cristo enfrentou, porque, então, indicaria que faltou algo nos sofrimentos de Cristo. A palavra traduzida como “aflições” não é utilizada em nenhum outro lugar para os sofrimentos de Cristo.

Na minha carne. Isto é, os sofrimentos pessoais de Paulo.

A favor do Seu corpo. Isto é, a favor do corpo de Cristo - Sua igreja (cf. Ef.1:22-23).

Cl.1:25 25. da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus:

Da qual me tornei ministro. Ver com. do v. Cl.1:23.

Dispensação. Do gr. oikonomia, “acordo, arranjo, tratado”, “administração” (ver com. de Ef.1:10; Ef.3:2). A grande regra que regia Paulo era o propósito e o plano de Deus. O apóstolo declarou que, na providência de Deus, foi designado como administrador.

Pleno cumprimento à palavra de Deus. O propósito da administração de Paulo é pregar a Palavra de Deus. É este o objetivo do apóstolo: pregar o máximo que puder.

Cl.1:26 26. o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos;

Mistério. Do gr. musterion (ver com. de Rm.11:25).

Oculto dos séculos. Ver Rm.16:25; Ef.3:3; Ef.3:5; Ef.3:9. As bênçãos plenas da era evangélica foram vagamente apreendidas pelos patriarcas e pelas gerações seguintes.

Todavia, se manifestou. Ver com. de 1Co.2:9-10; Ef.3:5.

Cl.1:27 27. aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;

Deus quis dar a conhecer. Literalmente, “Deus desejava fazer conhecido”. Era plano de Deus que Seu povo se aprofundasse nos mistérios do conhecimento divino com o auxílio do Espírito Santo. Por sua vez, quando recebessem essa revelação, Deus lhes transformaria a disposição para que o resultado fosse um caráter santo.

Riqueza da glória. Ver com. de Rm.9:23; Ef.1:7; Ef.1:18; Ef.2:7; Ef.3:8; Ef.3:16.

Gentios. O ensino de que o glorioso mistério deveria também abranger os gentios foi recebido como um choque pelos judeus. Deus não faz acepção de pessoas (At.10:34); Sua misericórdia se estende a todos os que O aceitam. O apóstolo enfatiza a universalidade do alcance do plano da salvação.

Cristo em vós. A presença de Jesus fazendo morada no coração é a manifestação do mistério eterno (ver com. de Gl.2:20; Ef.1:1).

Esperança da glória. Ver v. Cl.1:5. Ao inaugurar o plano da salvação, Deus colocou diante da humanidade caída a esperança de restauração à presença divina. A encarnação de Cristo aproximou a percepção desta esperança. A habitação de Cristo no coração evidencia que o poder da graça trabalha para transformar o caráter. Com isso, torna real a esperança de glorificação. O cristão vive no reino da graça hoje, o que lhe assegura que um dia habitará com Cristo no reino de glória (ver Rm.8:18; 1Tm.1:1).

Cl.1:28 28. o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo;

O qual nós anunciamos. O pronome “nós” é enfático no grego. Paulo contrasta a si mesmo e seus colaboradores com os falsos mestres.

Advertindo. Do gr. noutheteo, “pôr na mente”, “admoestar”, “alertar” (cf. com. de Ef.6:4).

Ensinando. Além de alertar, Paulo também instrui. Assim deveria ocorrer com toda pregação.

Todo homem. A repetição tripla destas palavras enfatiza a universalidade do evangelho. Não há exclusividade nos ensinos de Paulo, como havia no ensino dos falsos mestres. Todas as classes da sociedade devem ser alcançadas com o evangelho da salvação.

Em toda a sabedoria. Alguns comentaristas entendem esta expressão como declarando o modo do ensino de Paulo (cf. Ef.1:8; Cl.4:5); outros, que o livro de estudo para este ministério de ensino é todo o campo da sabedoria. O primeiro parece mais harmonioso com o grego.

A fim de que apresentemos. Ver com. do v. Cl.1:22. O apóstolo se identifica com a obra de salvar e declara o objetivo de seu ministério.

Perfeito. Do gr. teleios (ver com. de Mt.5:48). A perfeição que Paulo menciona em suas epístolas é esclarecida em Fp.3:12-15 (ver com. ali).

Em Cristo. Esta é a expressão-chave da epístola aos Efésios (ver com. de Ef.1:1). Também é frequente nas outras epístolas de Paulo. Cristo é a esfera da perfeição do santo.

Cl.1:29 29. para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim.

Para isso. Isto é, com a intenção de apresentar “cada homem” (v. Cl.1:28) perfeito em Cristo.

Afadigo. Do gr. kopiao, “trabalhar com esforço”, “labutar a ponto de exaustão” (ver a utilização da palavra em 1Co.15:10; Gl.4:11; Fp.2:16).

Esforçando-me. Do gr. agonizo, “competir com determinação” (ver com. de Lc.13:24). A palavra sugere o extremo esforço feito pelo competidor na arena de atletismo.

Eficácia. Do gr. energeia, “poder operante”, distinto de dunamis, que denota poder potencial (ver a utilização de energeia em Ef.1:19; Ef.3:7; Ef.4:16; Fp.3:21).

Opera. Do gr. energeo, “estar a trabalho”, “operar”, “ser efetivo”. Paulo percebeu que a performance do dever exigia esforço determinado e que os resultados seriam efetivos para o bem apenas enquanto o esforço individual fosse combinado com o poder de Deus energizando cada faculdade do agente humano.

Eficientemente. Literalmente, “em poder”. Paulo podia testemunhar do poder do Salvador porque este mesmo operou fortemente na vida dele.

Cl.2:1 1. Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face;

Gostaria, pois, que soubésseis. Ou, “desejo que saibam” (ver 1Co.11:3; sobre a expressão “não quero que sejais ignorantes”, ver 1Ts.4:13; Rm.11:25; 1Co.10:1.

Luta. Do gr. agon, “competição”, “esforço”, “teste”, neste caso, “ansiedade”, “solicitude” mental (sobre o verbo paralelo, ver com. de Cl.1:29). Paulo desejava que os colossenses soubessem de sua ansiedade, lágrimas derramadas e a agonizante luta travada contra o poder do adversário. Os crentes de Colossos tiveram pouca percepção das horas que Paulo despendeu intercedendo por eles.

Laodicenses. A cidade de Laodiceia estava situada a 16 km de Colossos. O estado desta igreja era semelhante ao dos crentes de Colossos e, por esse motivo, Paulo a incluiu em suas devoções.

Não me viram. A partir da linguagem empregada neste versículo, muitos comentaristas chegaram à conclusão de que Paulo não foi o fundador da igreja de Colossos e que nunca a visitou. Os comentaristas creem que o relato das ações de Paulo em Atos são imprecisos quanto a ele ter visitado alguma parte do vale do Lico, onde estava situada Colossos. Eles não creem que as referências à Frigia necessariamente indiquem uma visita ao vale do Lico, porque a Frigia cobria uma região ampla e vagamente demarcada. Considera-se que o território se encontra a norte e leste do vale de Lico. Na primeira viagem missionária, Paulo possivelmente não passou nem a 250 km perto de Colossos. Na segunda e terceira viagens missionárias, o apóstolo não precisou se aproximar da região de Colossos. Deixando a Galácia ao norte e a leste, teria viajado para Éfeso, pela estrada romana até Sardes. Esse percurso teria mantido Paulo ao norte do vale de Lico. Além disso, nessas viagens, Paulo se limitava a visitar novamente as igrejas que já havia estabelecido, e não há alusão de que Colosso fosse uma delas naquela época. Assim, o livro de Atos torna a questão da visita de Paulo a Colossos muito improvável.

Outros sustentam que Cl.2:1 não indica necessariamente que Paulo já tinha visitado Colossos. Eles afirmam que é altamente improvável que nas duas visitas à Frigia (ver At.16:6; At.18:23) Paulo pudesse ter se esquecido completamente de Colossos. Também afirmam que, na epístola aos Colossenses, o apóstolo mantém íntima ligação com muitos membros da igreja, então, ele possivelmente esteve ali. Os estudiosos interpretam Cl.2:1 desta forma: “Estou muito ansioso, não apenas por vocês, mas também por aqueles que nunca me viram”. Com essa interpretação, os colossenses são colocados em um grupo e contrastados com outro ao qual Paulo nunca vira face a face. Considerações adicionais lançam luz sobre essa questão. Na carta aos Colossenses, o apóstolo se expressa como se nunca tivesse visitado aquela cidade. Paulo se descreve como ouvindo sobre a fé que eles tinham em Cristo e sobre o amor deles pelos santos (Cl.1:4).

Recorda o tempo quando foi encorajado pelo conhecimento da profissão de fé cristã e zelo pelos princípios do evangelho (v. Cl.1:9; Cl.1:6). Paulo teve ampla oportunidade de mencionar os contatos pessoais com os crentes colossenses, mas nunca agiu assim. O apóstolo relata que foram ensinados nos princípios do evangelho por outro, e também menciona sua pregação pessoal. No entanto, não é apenas uma vez que Paulo une as duas ideias, embora as duas declarações estejam lado a lado (cf. Cl.1:5-8; Cl.1:21-23; Cl.1:25; Cl.1:28-29; Cl.2:5-6). Tivesse Paulo visitado Colossos e trabalhado na cidade, seria de se esperar uma referência na epístola a algum incidente ligado à visita. No entanto, a epístola de Colossenses não contém uma única alusão. Apesar de o argumento do silêncio não poder ser considerado conclusivo, muitos comentaristas concordam que é improvável que Paulo tenha sido o fundador da igreja em Colossos. Embora haja menos certeza a respeito da possibilidade de uma visita ali, isso também parece improvável.

Cl.2:2 2. para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,

Coração. Neste caso, significando o centro das emoções e do intelecto. Paulo desejava que a toda a personalidade fosse satisfeita com paz e segurança duradoura (cf. com. de Ef.6:22).

Confortado. Do gr. parakaleo, “confortar”, “exortar”, “torcer”, “encorajar”.

Vinculado juntamente. Do gr. sumbibazo, “ajuntar”, “unir”. Paulo desejava que eles mantivessem a unidade e a estabilidade em amorosa consideração uns pelos outros e por Deus (ver Ef.4:16; Cl.2:19).

Riqueza da forte convicção. Ou, “riqueza da firme persuasão” (ver 1Ts.1:5; Hb.6:11; Hb.10:22). Ao aprender as profundas verdades do ensinamento de Deus, a confiança dos crentes é firmada. Quando os cristãos verdadeiramente conhecem os caminhos do Senhor, só resta confiar. E essa confiança está baseada no entendimento.

Entendimento. Do gr. epignosis, “conhecimento preciso”, “pleno conhecimento” (ver Ef.1:17).

Mistério. Do gr. musterion (ver com. de Rm.11:25).

E Pai (ACF). As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre uma quantidade de variantes para o restante deste versículo, mas favorece o ponto de vista de que “Cristo” está em aposição a “o mistério de Deus” (cf. Cl.1:26-27), interpretando como “mistério de Deus, Cristo” (ARA). Este mistério a respeito de Cristo abrange Sua encarnação e ministério pessoal (1Tm.3:16). Também inclui o propósito da encarnação em possibilitar a todos que crerem, inclusive os gentios, tornarem-se membros do corpo de Cristo místico, Sua igreja (Rm.11:25; Ef.3:4-6). A proclamação dessas boas-novas ao mundo, que todos têm uma oportunidade de salvação por meio do exercício de fé pessoal num Salvador que morreu por todos, é necessária para tornar esse mistério conhecido (Ef.6:19).

Cl.2:3 3. em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.

Todos os tesouros. Jesus é a fonte da qual se originam todas as riquezas. Para os que O recebem Ele oferta a verdade em sua plenitude. Outros mestres atribuíram vislumbres de conhecimento parciais e obscuros, mas, em Cristo, a Palavra viva, reside o conhecimento essencial (ver PJ, 104-114).

Da sabedoria e do conhecimento. Cristo é a casa do tesouro da divina sabedoria e conhecimento (ver 1Co.1:22; 1Co.1:24; Ef.3:9-11). Aqueles que recebem Jesus vão à fonte de tudo que precisam para a vida presente e a vindoura.

Estão ocultos. Ou, “são armazenados longe”. Em Cristo, em Seu ofício e função, em Sua pessoa e ministério, no fato de que Ele é tanto Filho de Deus quanto Filho do Homem, estão inseridos os detalhes do mistério de Deus. Ele é a fonte, pois é a casa do tesouro das bênçãos de Deus. Paulo desejava erguer a mente dos cristãos colossenses acima e além de meras ideias humanas acerca do Filho de Deus, para lhes mostrar as virtudes e verdades eternas reveladas nEle. Em Cristo, são descobertos todos os propósitos que Deus Se propõe revelar como bênção para a humanidade. Porque, então, os cristãos deveriam dar ouvidos às especulações humanas (ver com. do v. Cl.2:4)?

Cl.2:4 4. Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes.

Assim digo. Paulo apresenta a razão para o que declarou nos v. Cl.2:1-3. Não há engano acerca da natureza vital desse tema e da grave responsabilidade em negligenciar obter um pleno conhecimento do mistério de Deus, que é Cristo (ver com. do v. Cl.2:2; Cl.1:27).

Ninguém vos engane. Paulo passa a lidar com a aplicação prática da mensagem. A possibilidade de ser enganado sempre está presente. O cristão deve tomar cuidado com a sutileza que procura atraí-lo para longe do estreito caminho da verdade.

Raciocínios falazes. Literalmente, “discurso persuasivo” (cf. Rm.16:18; 1Co.2:4). Estes raciocínios encontram abrigo na mente dos ingênuos. Os argumentos bajuladores e ideias sutis podem fazer a guarda do cristão baixar. No entanto, em tal raciocínio repousa o erro. Paulo alerta os crentes a testar os argumentos e as afirmações dos falsos mestres (cf. Cl.2:8).

Cl.2:5 5. Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo.

Ausente quanto ao corpo. O apóstolo queria que os crentes sentissem sua consideração pessoal por eles, embora não estivesse presente.

Em espírito, estou convosco. O corpo de Paulo está confinado na distante Roma, mas seu coração circunda os conversos que ama. Sua mente busca soluções para os problemas. Sua alma é erguida ao Pai celeste, em ação de graças e intercessão. Dessa forma, o apóstolo desenha um contraste entre aqueles que os seduziam com argumentação falaciosa e o pai espiritual que, se necessário, daria a vida por eles. Os falsos mestres tinham motivos ocultos; Paulo era completamente altruísta.

Alegrando-me e verificando. Epafras levou notícias a Paulo acerca da fidelidade contínua dos crentes colossenses (Cl.1:7-8). Em Roma, com a imaginação, o apóstolo via os membros na distante Colossos como se empreendessem a tarefa de viver e testemunhar por Jesus.

Ordem. Do gr. taxis, “arranjo”. Este é um termo militar comum. Sugere organização, firmeza e tropas bem organizadas para a batalha (cf. a utilização em 1Co.14:40; Hb.5:6). Paulo observou muitos desfiles militares e viu centuriões à frente de companhias perfeitamente disciplinadas. É dessa forma que a igreja de Colossos deve agir contra o pecado.

Firmeza. Epafras fez uma boa obra. A igreja de Colossos era uma comunidade espiritual compacta, que avançava confiante para enfrentar um inimigo comum. A batalha ocorreu na esfera da fé deles nas coisas de Cristo. Paulo sugeriu que os colossenses continuassem nesse estado abençoado e feliz.

Cl.2:6 6. Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele,

Como recebestes. “Como” se refere ao modo pelo qual eles receberam a mensagem da salvação pregada por Epafras (Cl.1:7). Enquanto o apóstolo se regozija com eles na medida da fidelidade que já têm (Cl.2:5), admoesta-os a perseverar com bondade e firmeza.

Cristo Jesus, o Senhor. Estes três títulos do Messias reúnem a plenitude de Sua posição e funções. Sua missão como Salvador é personificada no nome “Jesus” (Mt.1:21). “Cristo” sugere o ofício messiânico, e “Senhor” (ver com. de 1Co.12:3), Sua identificação com o Yahweh do AT, pelo menos em alguns exemplos.

Andai. Do gr. peripateo, “conduzir-se” (ver com. de Ef.2:2). Paulo encoraja os crentes a persistir em conduzirem-se a si mesmos e os negócios dentro da esfera marcada pela confiança em Jesus, fazendo apenas o que Ele faria e interessando-se exclusivamente por coisas que O agradariam.

Cl.2:7 7. nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças.

NEle. Paulo reuniu três metáforas diferentes. Os crentes devem andar, estar radicados e edificados como um poderoso templo para o Senhor. Todas essas atividades devem ocorrer “nEle”. Jesus Cristo é o padrão segundo o qual os colossenses devem andar; Ele é a raiz de onde devem extrair a seiva e a nutrição; Ele é a Rocha viva, a Fundação firme sobre a qual judeus e gentios igualmente edificam. Ele é “suficientemente grande para todos, e forte o bastante para sustentar o peso e o fardo de todo o mundo” (AA, 175).

Radicados. A forma da palavra grega sugere fixidez com estabilidade continuada.

Edificados. Na experiência dos crentes colossenses, a fundação do edifício espiritual era o próprio Jesus (cf. com. de 1Co.3:11).

Confirmados. Do gr. bebaioo, “confirmar”, “estabelecer”. A forma verbal grega demonstra que Paulo enfatiza um processo contínuo de fortalecimento. Os colossenses deveriam se consolidar diariamente.

Tal como fostes instruídos. A eficiência de Epafras como “ministro de Cristo” (Cl.1:7) é novamente enfatizada neste versículo. Epafras instruiu os colossenses corretamente. Eles aprenderam em quem crer e como viver com Ele para alcançar justiça e vida eterna.

Crescendo. Ou, “estar crescendo continuamente”. A palavra sugere um estado de “transbordamento”. É possível crescermos continuamente porque os recursos celestes são muito superiores às nossas maiores necessidades. Sendo que o suprimento é ilimitado, os cristãos podem se apropriar de tudo o que precisarem. O Cristo onipotente nos dará “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef.3:20).

Nela (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra e também da variante “nele”, com referência a Cristo.

Em ações de graças. O progresso na vida cristã é possível apenas quando o crente se aproxima de Deus com coração agradecido. Como alguém pode ter sentimento diferente de gratidão quando abraçado pelos ilimitados recursos da Onipotência? Sendo que Cristo é tudo em todos, o que as pessoas têm a temer? O segredo da verdadeira felicidade é a dependência habitual de Cristo. A ação de graças é fruto dessa dependência.

Cl.2:8 8. Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;

Cuidado. Há um grave perigo confrontando os crentes colossenses. Neste versículo, Paulo chama a atenção deles e, numa advertência solene, recomenda que enfrentem o perigo. O astuto inimigo tentava tirar-lhes os benefícios que conquistaram. Ele tentava roubar deles as vantagens espirituais e levá-los como presa, conduzindo-os à destruição como iludidos cativos do erro.

Enredar. Do gr. sulagogeo, “remover forçadamente como pilhagem”, “roubar”. O saque pode significar duas coisas: a remoção das bênçãos e privilégios que os crentes apreciam, ou a escravização dos crentes por Satanás.

Filosofia e vãs sutilezas. Isto é, filosofia e também vã sutileza ou filosofia que é vã sutileza. O apóstolo não condena a filosofia em si, nem denuncia os filósofos. Ele alerta contra a filosofia alardeada pelos falsos mestres em Colossos, a qual era vazia e vã, promovida pelo engano. O contexto sugere que essa filosofia tinha relação com as observâncias cerimoniais, as crenças humanas, tradições, hábitos e pontos de vista materialistas, todos distantes do evangelho de Deus. Esse tipo de filosofia também se compunha de especulação pouco proveitosa em questões imaturas, uma demonstração vazia de argumentos enganosos desprovidos de fatos. Seria uma filosofia que detalhava questões difíceis com teorias plausíveis que tendem a enganar os devotos e a negar a pregação do evangelho de Deus. O centro dessa filosofia é a exaltação humana, enquanto Deus é completamente excluído ou ignorado (ver T1, 297). O cristão deveria ser advertido e preparado contra aqueles que ensinam isso. Seu fim é morte eterna.

Tradição. Do gr. paradosis (ver com. de Mc.7:3). As tradições são os modelos habituais de crenças e comportamento humano, transmitidos de uma geração a outra. As tradições podem ser boas ou más. Paulo alerta contra aqueles que são hereges, que têm fonte humana e não divina (ver Gl.1:14). Paulo utiliza a palavra num bom sentido em 2Ts.2:15; 2Ts.3:6.

Rudimentos. Do gr. stoicheia, “elementos” (ver com. de Gl.4:3). Na linguagem da filosofia, a palavra stoicheia assumiu o sentido técnico de questão elementar. Mitologicamente, os elementos eram representados por vários espíritos, assim, stoicheia também pode ser aplicada aos próprios espíritos. Nos escritos não bíblicos stoicheia também é aplicada a espíritos maus, a estrelas e a divindades estelares. Parece que houve uma seita stoicheia bem desenvolvida em Colossos, que por sua propaganda estava invadindo a comunidade cristã local. Não se sabe qual foi a exata extensão de sua infiltração. Para alertar, Paulo utiliza a terminologia da seita.

Segundo Cristo. Literalmente, “segundo Cristo”. A norma sempre deve estar de acordo com Cristo, que é colocado em oposição a toda filosofia enganosa. Os argumentos dos falsos mestres deveriam ser comparados com as doutrinas do Mestre. Cristo, o Criador e Sustentador, é o parâmetro de todo conhecimento.

Cl.2:9 9. porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.

NEle, habita. Ver com. de Cl.1:19. Em Cristo habita toda a natureza e os atributos de Deus. Todos os direitos e poderes da Divindade residem continuamente nEle. A plenitude de Deus é revelada em Cristo.

Corporalmente. Referência ao corpo glorificado de Cristo (Fp.3:21) no qual Ele ascendeu ao Céu (cf. DTN, 832). A plenitude da Divindade reside nEle corporalmente. Esta afirmação rebatia as falsas filosofias que ganhavam aceitação em Colossos (ver p. 184).

Plenitude. Do gr. pleroma (ver com. de Ef.1:23; Cl.1:19). A abrangente extensão deste termo é ilimitada em tempo, espaço e poder. Tudo o que Deus é, cada qualidade de Divindade (dignidade, autoridade, excelência, poder para criar e adaptar o mundo, a energia para sustentar e guiar o universo, o amor ao redimir a humanidade, o planejamento para proporcionar cada necessidade em favor de cada uma de Suas criaturas) repousa em Cristo.

Divindade. Do gr. theotes, “Deidade”, “a natureza de Deus”; (comparar com theiotes, “a natureza de Deus”; ver com. de Rm.1:20).

Cl.2:10 10. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade.

NEle, estais aperfeiçoados. Literalmente, “ter sido feito pleno nEle” (cf. Ef.3:19; Ef.5:18). Na esfera de Cristo, as pessoas não apenas podem ver sua meta de perfeição como também recebem poder para alcançá-la. Ao aceitarmos sua sabedoria nos tornamos sábios. Por meio da comunhão diária com Ele, a semelhança do Divino se torna uma realidade na alma humana. Não há nada nesta vida ou na eternidade que as pessoas não possam receber por meio da união espiritual com Cristo. Podemos nos tornar completos nEle.

Principado e potestade. Ver com. de Rm.8:38; Ef.1:21; Cl.1:16. Paulo novamente enfatiza que Cristo é a cabeça de todo poder e autoridade. Seu poder soberano é a fonte da vida. O apóstolo quer dizer que, ao Cristo habitar em nós, a mesma autoridade vitoriosa e poder criador nos prepararão para vencer.

Cl.2:11 11. Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo,

Fostes circuncidados. Talvez alguns dos falsos mestres argumentavam que a circuncisão e os detalhes da lei cerimonial devem ser colocados em prática antes de ter acesso a Cristo (cf. Gl.6:15). Alguns deles alegavam superioridade devido ao estado pessoal de circuncisão.

Não por intermédio de mãos. Embora o rito da circuncisão fosse realizado com mãos, seu significado e valor repousavam no significado intrínseco. Esse rito foi designado como um sinal externo de um estado de fé e graça. Por meio dele, Abraão indicou sua crença de que não era ele, mas Deus, que tinha vida e podia dar vida aos outros. Esse sinal peculiar deveria distinguir todos os homens do antigo Israel. O sinal apontava à completa devoção a Yahweh e à obediência a todas as exigências dEle. Uma ilustração do seu verdadeiro significado é encontrada na história de Israel. Na época da rebelião de Israel em Cades, o povo rejeitou a Deus que, por sua vez, os rejeitou por um tempo. Já que tinham se provado infiéis à Sua aliança, foram proibidos de receber o sinal da aliança. Durante 38 anos, a circuncisão foi proibida (ver PP, 406). Quando finalmente o povo de Israel atravessou o Jordão, crédulo e obediente, desejou entrar outra vez em pleno relacionamento de aliança com Deus; então o rito foi mais uma vez realizado sob ordem de Deus (ver Js.5:2-9). A verdadeira circuncisão é uma questão de coração (ver Dt.10:16). A circuncisão que os cristãos colossenses tinham recebido não era externa, na carne. Era uma mudança interior, no coração e na vida, tipificada pelo batismo (ver com. de Cl.2:12).

Despojamento do corpo. Ver com. de Rm.6:6; Ef.4:22.

Dos pecados (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras.

Da carne. Isto é, a natureza carnal (ver Rm.7:14-25; Rm.8:1-13).

Circuncisão de Cristo. Isto é, a circuncisão que Cristo efetua, não a que realizaram nEle. A verdadeira circuncisão espiritual, a remoção e sepultamento das más tendências é alcançada por meio da atuação do próprio Cristo. Unicamente Seu poder pode remover a antiga vida e criar um novo homem. Da cerimônia da circuncisão, Paulo extrai uma lição espiritual para o cristão.

Cl.2:12 12. tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

Sepultados, juntamente com Ele. A morte precede o sepultamento. Cristo entregou a vida antes de ser sepultado no túmulo novo de José. Antes de o cristão ser sepultado com Cristo, deve ter entregado a vida. Todas as ambições, inspirações e anseios das paixões carnais devem ser submetidos ao Mestre. No que se refere à parte do cristão, a antiga natureza deve morrer. O batismo é o sinal da renúncia pessoal, da morte do antigo homem e do sepultamento nas águas (ver com. de Rm.6:3-4).

Fostes ressuscitados. Batismo não significa apenas separação pela morte e sepultamento da natureza pecaminosa, mas também nascimento de uma nova criatura em Cristo Jesus (ver com. de Rm.6:4).

Fé no poder de Deus. Isto é, fé na operação de Deus.

Que O ressuscitou dentre os mortos. Ver Ef.1:19-20. O mesmo poder que ergueu Jesus dentre os mortos opera uma transformação no crente.

Cl.2:13 13. E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos;

E [...] vos deu vida juntamente com Ele. Ver com. de Ef.2:5. Assim como o Pai ressuscitou Jesus Cristo, todos os crentes podem ser ressuscitados como novas criaturas. Esta afirmação descreve o mistério do novo nascimento. O poder divino removeu Jesus da tumba e O conduziu à vida eterna. No reino do coração e da mente humana o mesmo poder divino, trabalhando por meio da vontade humana submissa, eleva o ser humano às maravilhas da nova vida vitoriosa.

Mortos pelas vossas transgressões. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre omitir ou conservar a preposição “pelas”. Se for omitida, a frase pode ser traduzida como “em vossas transgressões”, bem como “pelas vossas transgressões”. A expressão pode ser entendida de duas formas: (1) Paulo descreve a antiga condição espiritual dos crentes colossenses. O coração, a mente e o corpo deles estavam mortos ou insensíveis a todas as coisas espirituais (cf. com. de Ef.2:1; Ef.2:5). (2) Os crentes estão mortos para os apelos e a influência das propensões pecaminosas (cf. com. de Rm.6:2). Esse pensamento é uma extensão do que Paulo declarou no versículo anterior. Os colossenses, tendo rejeitado os caminhos pecaminosos ao aceitar Cristo no coração e tendo testemunhado esta mudança ao ser batizados, são considerados como mortos para os pecados. Pela fé, pagaram a penalidade da morte por meio de Cristo.

Incircuncisão da vossa carne. Esta expressão revela que os destinatários de Paulo e de quem ele fala, os gentios, têm a verdadeira circuncisão (v. Cl.2:11). Esse fato também descreve o estado normal de toda a humanidade. Todos nascem separados da aliança da graça (Ef.2:12). As duas ideias “mortos em seus pecados” e “incircuncisão da carne” abrangem o que o ser humano merecia por causa do exercício da escolha errada ou da deliberada rebelião contra Deus e o estado natural de condenação em que nasceu. Por meio de Jesus Cristo, tendências ao pecado, cultivadas e hereditárias, são superadas.

Perdoando. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante “havendo nos perdoado”. O perdão de Deus precede a vida.

Delitos. Do gr. paraptomata, literalmente “caindo ao lado” (ver com. de Mt.6:14). A palavra pode ser utilizada para descrever uma flecha caindo ao lado de um alvo ou um soldado caindo das fileiras de seu grupo em marcha. As pessoas têm perdido de vista seus ideais. Para a humanidade caída, o perdão dos pecados inclui restauração da posição e dos privilégios perdidos.

Cl.2:14 14. tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz;

Cancelado. Do gr. exaleipho, “remover”, “eliminar”. A palavra é utilizada no grego clássico para remover um escrito. A forma em que a palavra ocorre neste versículo deveria ser traduzida como “tendo apagado”.

Escrito. Do gr. cheirographon, “um documento escrito à mão”. No NT, a palavra ocorre apenas aqui. Em outras ocasiões, a palavra normalmente é utilizada para documentos escritos à mão, com caráter legal, assim como um contrato assinado pelo devedor (ver Fm.1:19). O “cancelamento” desse tipo de certificado de endividamento era executado apenas quando o débito fosse pago, e as condições da nota, plenamente satisfeitas. Esse procedimento geralmente era feito colocando um “X” sobre o manuscrito, como demonstrado pelos papiros. Além disso, a tinta solúvel em água sobre o papiro poderia ser lavada ou esfregada, e um novo texto era escrito no local. Alguns comentaristas sustentam que o apóstolo está dizendo à igreja colossense que a regeneração dela por meio do poder de ressurreição de Deus, a restauração à imagem dEle, seria realizada pela eliminação ou cancelamento, da parte de Deus, da dívida que deveriam saldar. Outros veem uma referência mais geral à lei mosaica, especialmente como interpretada pelos judeus. O último ponto de vista parece mais harmônico com o contexto seguinte. A similaridade com a linguagem de Ef.2:15 e a natureza paralela dessas duas epístolas sugere fortemente que o “escrito de ordenanças” é o mesmo que a “lei dos mandamentos na forma de ordenanças” (ver com. de Ef.2:15).

Contra nós. Como demonstrado gramaticalmente pelo grego, o que é “contra nós” e “contrário a nós” é o “escrito”. Alguns entenderam a expressão como referência à nota de dívida que é contra nós, tanto judeus quanto gentios; outros, como referência ao sistema jurídico judaico (sobre o modo em que a última indicação era contrária tanto a judeus quanto a gentios, ver com. de At.15:10; Ef.2:15).

Ordenanças. Do gr. dogmata, “decretos”, “estatutos”. Refere-se às várias leis e decretos do sistema jurídico judaico encravados na cruz (ver com. de Ef.2:15).

Removeu-o. Isto é, o “escrito”. “O fim da lei é Cristo, para justiça” (ver com. de Rm.10:4). Com a vinda de Cristo, as pessoas não estão mais sob um tutor (ver com. de Gl.3:25; Ef.2:15).

Encravando-o na cruz. A cruz marca a transição de uma economia (a judaica) para outra (a cristã). Esta mesma ideia é expressa em Ef.2:16, em que a reconciliação é representada como ocorrendo na cruz.

Cl.2:15 15. e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.

Despojando. Do gr. apekduomai, literalmente “despir alguém”. Neste versículo, talvez, “despir a armadura”, “despojar”. Tem havido muita discussão quanto ao sujeito da ação. Alguns creem que é o Pai, porque Ele é o sujeito da expressão “deu vida” (v. Cl.2:13). Outros creem que a passagem é mais adequadamente aplicada a Cristo. Gramaticalmente, não há como determinar se a questão deve ser estabelecida com base no significado da passagem.

Os principados e as potestades. Estes termos podem se referir a governantes terrenos (Lc.12:11; Tt.3:1) ou a seres sobrenaturais (ver com. de Ef.6:12). À luz do falso ensino em Colossos, pode haver neste versículo uma referência aos supostos poderes angélicos e divindades elementares (ver p. 174; ver com. de Cl.2:8). Na verdade, Cristo triunfou num sentido especial sobre Satanás e seus anjos. A morte de Cristo na cruz resultou no banimento de Satanás das simpatias do mundo celestial (ver com. de Ap.12:9). Por todo o ministério de Jesus, Satanás estava pronto para tentar e provocar a Cristo. A vida de Cristo era uma contínua série de conflitos, mas em cada confronto Jesus saiu vitorioso. Cada esforço por parte de Satanás para destruí-Lo apenas expôs ainda mais as obras do enganador. A vida vitoriosa de Cristo, culminando no Calvário, significou a ruína do demônio. O disfarce de Satanás foi removido. Seus métodos de atuação foram expostos diante dos anjos e de todo o universo. Satanás revelou seu caráter (ver DTN, 123, 761). Por meio da cruz, Jesus Cristo despojou os principados e poderes das trevas tanto do manto de posição e autoridade, como príncipes deste mundo, e também lhes tirou a impenetrável armadura com a qual lutavam contra o bem. Dessa forma, parece preferível considerar Jesus como o sujeito da ação apresentada na expressão “despojando”.

Publicamente os expôs. A morte cruel de Cristo no Calvário expôs Satanás e suas legiões diante do universo quanto ao que são: assassinos e espíritos malignos.

Triunfando. Do gr. thriambeuo (ver com. de 2Co.2:14).

Na cruz. Ou, “nEle”. O grego pode ser entendido dos dois modos, referindo-se ao “escrito” ou à “cruz” (v. Cl.2:14). O pronome “ele” se refere a Cristo, se o Pai é considerado como o sujeito da ação expressa no versículo.

Cl.2:16 16. Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados,

Pois. Isto é, em vista de que o sistema jurídico judaico estava no fim, e com ele, o sistema cerimonial (ver com. de Ef.2:15).

Julgue. Isto aponta aos falsos mestres que, entre outras coisas, insistiam na vigência do sistema cerimonial judaico (ver p. 184).

Comida e bebida. Estas palavras se referem às ofertas de alimento e bebida apresentadas pelos israelitas em conformidade com o sistema sacrificial, codificado na lei cerimonial. Alguns concluíram erroneamente que a afirmação de Paulo indica a abolição da proibição de ingerir alimentos declarados impuros (ver Lv.11). Este não é o significado pretendido pelo apóstolo, o que é evidenciado nas observações seguintes:(1) A comida e bebida são declaradas sombras de Cristo (Cl.2:17); isto é, apontam para o sacrifício e o ministério de Cristo. As ofertas de comida e bebida cerimoniais pertencem claramente a esta categoria, o que não ocorre com a proibição quanto a alimentos impuros. (2) A proibição para não comer determinados alimentos antecede a lei cerimonial (ver com. de Gn.7:2). Por isso, certos animais devem ser considerados impuros por razões diferentes dos motivos cerimoniais. A indulgência com o apetite ao comer alimentos impuros frustra os perfeitos desígnios do Criador (ver PP, 308; T2, 70). O apóstolo não está permitindo que os cristãos colossenses comam e bebam o que quiserem, indiferentes às críticas. Paulo afirma que os cristãos não estão mais obrigados a praticar as exigências da lei cerimonial. As ofertas de comida e bebida têm seu cumprimento em Cristo.

Dia de festa. As ordenanças cerimoniais contêm mandamentos para a observância de vários dias santos: a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, o Pentecoste, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos (ver Lv.23).

Lua nova. O primeiro dia de cada mês ou dia de lua nova (ver Nm.10:10; Nm.28:11; 1Sm.20:5; Is.66:23).

Sábados. Do gr. sabbata. Esta expressão pode representar o plural genuíno do gr. sabbaton ou uma transliteração do aramaico shabbata’, na forma singular. Por isso sabbata, embora gramaticalmente plural, geralmente denota o singular (Mt.28:1). As duas formas podem ser adotadas neste versículo, pois a interpretação da passagem não depende da tradução ser “dias de sábado” ou “um sábado”. O tipo de sábado em consideração é mostrado pela frase “tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir” (Cl.2:17). O sábado semanal é memorial de um evento no início da história terrestre (Gn.2:2-3; Ex.20:8-11; PP, 48). Por isso, os “dias de sábado” que Paulo declara serem sombras apontando a Cristo não podem se referir ao sábado semanal designado pelo quarto mandamento, mas indicam os demais dias cerimoniais que se cumprem em Cristo e Seu reino (ver Lv.23:6-8; Lv.23:15-16; Lv.23:21; Lv.23:24-25; Lv.23:27-28; Lv.23:37-38).

Cl.2:17 17. porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.

Tem sido sombra. Esta frase é a chave para a compreensão do v. Cl.2:16. Todos os itens que o apóstolo lista no v. Cl.2:16 são “sombras ou tipos”, simbolizando a realidade que é Cristo. Uma sombra não tem substância; tem aparência de algo substancial (ver Hb.8:5; Hb.10:1). As cerimônias judaicas eram sombras lançadas pelas realidades celestiais. A vida, o ministério e o reino de Cristo são a realidade. A descrição desta realidade na lei cerimonial era apenas uma sombra. Albert Barnes, comentarista presbiteriano, bem observou: “Não há evidência nesta passagem de que ele (Paulo) teria ensinado que não era obrigatório observar todo tempo santo, porque não há o menor motivo para crer que ele quis ensinar que um dos dez mandamentos cessara de ser obrigatório à humanidade. [...] Ele mirava os muitos dias que foram observados pelos hebreus como festivais, parte integrante da lei típica e cerimonial e não como a lei moral, ou os dez mandamentos. Nenhuma parte da lei moral, nenhum dos dez mandamentos poderia ser mencionado como uma sombra das boas coisas porvir. Estes mandamentos são, da natureza da lei moral, de aplicação universal e perpétua.

O corpo é de Cristo. Em contraste com a sombra, Jesus é a plenitude da realidade. É para Ele que todo tipo aponta e nEle cada símbolo atinge a plenitude. Ao encontrá-Lo, os cristãos viram as costas aos esboços incompletos, típicos, caminhando, então, na plenitude da presença divina. Nestes versículos, Paulo destruiu completamente a argumentação dos falsos mestres, tornando-a irrelevante. Os falsos mestres defendiam o retorno às exigências cerimoniais. O apóstolo lida com tais argumentos, declarando que as sombras cumpriram sua função quando Cristo, a realidade, chegou. Em toda essa argumentação, Paulo de modo algum minimiza as reivindicações do decálogo ou do sábado do sétimo dia. A lei moral é eterna e perfeita (ver com. de Rm.14:1; Ef.2:15).

Cl.2:18 18. Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal,

Arbitro contra vós outros. Do gr. katabrabeuo, “prestar julgamento adverso contra”, “decidir contra”, “condenar”. Há uma possível referência à figura de um árbitro desqualificando um candidato, já que o vocábulo brabeus quer dizer “árbitro”. O apóstolo se move para outra fonte perigosa enfrentada pelos crentes colossenses. Aborda os problemas peculiares que resultaram dos falsos ensinos defendidos entre eles (ver p. 184).

Pretextando humildade. Humildade artificial praticada para agregar mérito, humilhação voluntária resultante em ascetismo desnecessário e indigno, estes são os resultados do orgulho. São levados a cabo para obter mérito por meio de esforço humano, pessoal. Na prática, os falsos mestres negavam a justiça de Cristo, não dando espaço para a sua operação no coração por meio da fé (ver T1, 297).

Culto dos anjos. Os falsos mestres aceitaram a guia dos anjos, aos quais consideravam emanações inferiores de Deus. Eles insistiam na fraqueza e inferioridade humana e na distância do grande e eterno Deus. Esse ponto de vista era uma extensão da humildade voluntária que defendiam. Se o corpo humano é completamente sem valor, não pode se aproximar de Deus e precisa de intermediários. Assim, os anjos eram adorados como seres superiores aos seres humanos, num sentido, extensões da divindade. Paulo adverte os colossenses contra essa filosofia, que é oposta ao ensino de Cristo. Citando Dt.6:13, Jesus declarou: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto” (Mt.4:10). Os anjos impediram a adoração a si mesmos (ver Ap.22:9).

Baseando-se. Do gr. embateuo, literalmente, “pisar sobre”, “apoiar-se sobre”; também “entrar em”, como para invadir um território; figurativamente, “investigar”, “intrometer-se”. O vocábulo embateuo foi utilizado como termo técnico na terminologia das religiões de mistério, como demonstrado em várias inscrições da Ásia Menor datadas por volta do segundo século d.C. O termo era comum nos lábios dos falsos mestres e pode ter sido utilizado para a iniciação nos mistérios do culto; neste caso, o sentido deveria ser “iniciar”.

Visões. Se o verbo “iniciar” for adotado para o vocábulo embateuo, a palavra poderia ser traduzida: “os quais têm sido vistos enquanto iniciados”.

Enfatuado. Indicação de um estado de glorificação e satisfação próprias.

Mente carnal. Isto é, uma mente controlada pela carne, em contraste com uma mente controlada pelo Espírito (cf. Rm.8:1-13).

Cl.2:19 19. e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem-vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus.

Cabeça. Isto é, Cristo (cf. com. de Ef.4:15-16). A base da filosofia ensinada pelos falsos mestres em Colossos era uma negação de Cristo.

Suprido. Do gr. epichoregeo, “suprir”, “prover”, “apoiar”. A frase pode ser traduzida como: “todo o corpo, apoiado e entrelaçado em meio a juntas e ligamentos”.

Bem vinculado. Ver Ef.4:16; Cl.2:2. A forma verbal grega indica continuidade, um processo em andamento.

Juntas e ligamentos. Como os membros do corpo físico estão unidos por juntas e tendões, todos fazendo parte do corpo, assim também os membros da igreja cristã, o corpo místico de Cristo, deveriam estar unidos. O corpo místico recebe força e é mantido unido pela união pessoal com o próprio Senhor Jesus. Nada, nem mesmo a classe angelical, deveria estar entre nós e nosso Senhor.

Crescimento que procede de Deus. A força misteriosa que propicia crescimento é o poder do próprio Deus. Sem esse poderoso princípio vital, o crescimento seria impossível. O caráter harmonioso se desenvolve apenas com o poder divino unido ao esforço humano. Essa é a conclusão prática da justiça pela fé.

Cl.2:20 20. Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças:

Se morrestes com Cristo. Ver com. de Rm.6:5-8.

Rudimentos do mundo. Paulo utiliza a expressão com referência especial à filosofia dos falsos mestres em Colossos (ver com. do v. Cl.2:8). De modo geral, os “rudimentos do mundo” podem ser entendidos como coisas elementares sobre as quais o mundo depende para subsistir, o ABC de sua estrutura. O “mundo” é colocado em contraste com o Céu e representa a época em que vivemos, com seus impulsos e interesses. Uma pessoa que está viva para o mundo e vive segundo o modo do mundo e sua filosofia está morta para as coisas de Deus. O oposto é igualmente verdadeiro: Aquele que está “morto com Cristo” e agora vive pelos princípios do reino do Céu, ignorou para sempre os básicos rudimentos deste mundo e está vivo para Deus.

Por que, como se vivêsseis. Em resumo, Paulo pergunta aos colossenses: “Por que, tendo abandonado a falsa filosofia, as ambições e os fundamentos deste mundo pela morte com Cristo, vocês estão vivendo como se ainda estivessem ligados a essas coisas?”

A ordenanças. Literalmente, “vocês continuam se submetendo aos decretos?” Como por exemplo, as obsoletas ordenanças do judaísmo (ver com. do v. Cl.2:16). Pode haver também uma referência a restrições ascéticas e decretos originados em seitas. A falsa filosofia em Colossos continha elementos judaicos e pagãos (ver p. 174). Paulo afirma: “Já que vocês não são obrigados a seguir estas ordenanças, porque ainda estão preocupados com elas?”

Cl.2:21 21. não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro,

Não manuseies isto. Ou, “não mexa”. O ritual mosaico era repleto de proibições contra tocar leprosos, pessoas impuras, cadáveres e outras coisas (Lv.12-15; Nm.19:11-22). A lição ensinada por essas proibições era que o verdadeiro seguidor de Deus se manteria limpo e puro de toda contaminação moral e física para que pudesse glorificá-Lo. Os falsos mestres acrescentavam outros tabus.

Não proves. Refere-se a várias restrições dietéticas amplamente utilizadas (ver v. Cl.2:8), como as mencionadas em 1Tm.4:3-5 (sobre a evidência de que Paulo não remove a restrição da utilização de alimentos higienicamente impuros, ver com. do v. Cl.2:16). Os falsos mestres em Colossos encorajavam muitos tabus em questão de alimentação.

Não toques. Ou, “não mexa”. O verbo grego é praticamente sinônimo do verbo traduzido como “manusear” neste versículo. Alguns comentaristas sugerem que o primeiro deveria ser traduzido como “tocar”, e o último, como “manusear”. Refere-se aos vários tabus que os falsos mestres encorajavam os cristãos colossenses a manter, alguns de origem judaica e outros extraídos das filosofias orientais.

Cl.2:22 22. segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem.

Todas estas coisas [...] se destroem. Isto é, todas as coisas proibidas terminarão. Elas são de natureza temporária e sem duração espiritual ou valor moral.

Dos homens. Os decretos e tabus dos falsos mestres, embora até certo ponto semelhantes às exigências do sistema cerimonial judaico, eram requerimentos humanos. Deus não os impôs sobre a humanidade. A morte de Cristo pôs fim à lei cerimonial, e Deus nunca exigiu o que estava fora disso.

Cl.2:23 23. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.

Aparência de sabedoria. Paulo alerta sobre o engano e a ilusão das aparências.

Culto de si mesmo. Ou, “religião independente”. A base de todo esforço puramente humano em cerimônias é o “culto de si mesmo”. O ser humano confia em si mesmo; reverencia os esforços pessoais que propõe para obter o favor de Deus. Na vigilância à qual se impõe, nas torturas espirituais auto-infligidas, nos rituais autodesignados na forma de adoração planejada pelo ser humano, sua vontade pessoal e proeza são os fatores exaltados. Em contraste, a filosofia cristã situa a vontade humana numa posição completamente diferente. A vontade humana deveria ser utilizada apenas e constantemente para fazer escolhas ao lado de Cristo. Cristo será, então, superior na alma humana e o ser humano não exercitará mais a vontade de modo independente (ver com. de Gl.2:20). Sua oração diária de consagração será a mesma oração do Salvador: “Não se faça a Minha vontade, e sim a Tua” (Lc.22:42).

Falsa humildade. Ou, “posição inferior”. Paulo se refere à falsa humildade tal como ostentada pelos fariseus e ascetas que eram culpados do orgulho do exibicionismo. Tais pessoas eram excessivamente orgulhosas de sua humildade, comprovando que não tinham a qualidade genuína. Assim ocorria com os mestres hereges em Colossos.

E de rigor ascético. Literalmente, “não indulgente”. Os extremistas religiosos de Colossos viam o corpo como pecaminoso. A severidade deles para com o corpo era extrema e desarmônica com o ensino cristão de que o corpo é o “santuário do Espírito Santo” (1Co.6:19) e contrária à instrução de apresentar o corpo como sacrifício vivo (ver com. de Rm.12:1).

Valor. Do gr. time, “preço”, “valor”, “honra”. A tradução “valor” é adotada na interpretação dada a seguir.

Contra. Do gr. pros, que em alguns contextos significa “contra”, como neste versículo (cf. Ef.6:11-12).

Sensualidade. Literalmente “indulgência excessiva da carne”. A última parte deste versículo tem sido declarada a mais difícil de toda a epístola. Pode-se apenas conjecturar quanto ao seu significado. Uma interpretação comum é que a execução de todas estas leis e especulações humanas não tem valor contra a indulgência excessiva da carne. A única solução é uma completa submissão do coração a Cristo e a morte da vontade para os apelos do mundo.

Cl.3:1 1. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.

Se. Não há indicação de dúvida no grego. A frase introduzida neste versículo tem força argumentativa condicional. A condição é assumida como sendo verdade.

Ressuscitados juntamente com Cristo. As palavras de Paulo podem ser parafraseadas: “Uma vez que vocês foram ressuscitados com Cristo.” A palavra “portanto” nos conduz de volta a Cl.2.20, e também aos v. Cl.2:12-13. Paulo ressalta a gloriosa posição e os privilégios que o crente tem em seu Salvador. O débil propósito de uma religião legalista ou mecânica, cheia de rotinas e tabus, em contraste com a vitalidade do cristianismo, é desnecessário e fútil.

Buscai. Isto é, formar o hábito de buscar, como indica o grego (cf. Mt.6:33).

As coisas. O ímpeto da vontade, vitalizado pelo poder de Jesus, deveria ser dirigido às coisas celestiais. Os objetivos e esforços humanos, apartados dos rudimentos do mundo, deveriam estar centralizados nas realidades celestiais.

Lá do alto. Em contraste com os “rudimentos do mundo” (Cl.2.20).

Assentado. Esta palavra sugere a hipótese de um ofício permanente (cf. Mc.14:62). O trono de Cristo está estabelecido nos céus.

Direita de Deus. Esta é a posição de autoridade e honra (ver com. de At.2:33; Rm.8:34). Descreve figuradamente a união de Cristo com o Pai no governo do universo (ver com. de Fp.2:5-8; Ef.1:20).

Cl.3:2 2. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra;

Pensai. Literalmente, “pense continuamente em” ou “preste atenção continuamente a”.

Coisas lá do alto. Isto é, coisas no Céu (cf. com. do v. Cl.3:1). Onde está o tesouro, ali estará o coração (Mt.6:21).

Da terra. Esta expressão contrasta com “céu”, indicada em “do alto”. Considerando que as coisas celestes pertencem a Cristo e à vida eterna, as coisas terrestres se relacionam ao programa estabelecido por Satanás em rebelião contra Deus, e o cristão deve se afastar das coisas terrestres, porque elas não são sua meta.

Cl.3:3 3. porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

Porque morrestes. Isto é, simbolicamente, no batismo (ver com. de Rm.6:2-4). A morte precede a nova vida. Há uma clara distinção entre a natureza regenerada e a não regenerada. Essa morte espiritual à qual Paulo se refere resulta da completa submissão da vontade humana a Deus, por meio da fé em Cristo.

Oculta juntamente com Cristo. A forma verbal grega indica que a ação de esconder foi completa e os efeitos perduram até o presente. A vida ainda está escondida. A vida referida neste versículo é a que o crente recebe quando aceita a Cristo. Jesus declarou: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (Jo.3:36). Ela é sua agora e será traduzida em gloriosa imortalidade na segunda vinda de Cristo (ver com. de Jo.8:51).

Cl.3:4 4. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.

Cristo, que é a nossa vida. Ver com. de Jo.1:4. Jesus não é apenas o autor da vida cristã e o objetivo final dos esforços humanos; Ele também é a fonte diária de força e orientação para os filhos e filhas de Deus e a garantia da vida futura imortal. A vida do cristão é inseparável de Cristo.

Manifestar. Do gr. phaneroõ, “tornar visível". Quando utilizada para a segunda vinda de Cristo, a palavra phaneroo enfatiza que Jesus, agora oculto da vista mortal, será revelado à humanidade em Seu advento (cf. Ap.1:7; 1Pe.5:4; 1Jo.3:2).

Manifestados [...] em glória. A palavra phaneroo é utilizada neste versículo também para os santos, que se manifestarão em “glória”, com corpo “para ser igual ao corpo da Sua glória” (Fp.3:21). “Quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele” (1Jo.3:2). A oração de Cristo será, então, cumprida: “A Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste” (Jo.17:24). Aqueles que são membros do reino da graça de Cristo na terra serão cidadãos do reino de glória.

Cl.3:5 5. Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria;

Fazei [...] morrer. Literalmente, “executado” (ver com. de Rm.8:13; Gl.5:24).

Pois. Isto é, em vista do que o apóstolo declarou (v. Cl.3:2-4).

Vossa natureza terrena. Isto é, os órgãos e faculdades físicas, neste versículo compreendidos como pertencentes ao velho homem, como indicado pela frase “que estão sobre a terra”. O velho homem, com os membros empregados como instrumentos de injustiça, deve morrer.

Prostituição. Do gr. porneia, um termo geral para todos os tipos de relações sexuais ilícitas (cf. Ef.5:3).

Impureza. Ou, “corrupção moral”.

Paixão lasciva. Do gr. pathos, “paixão”, “desejo apaixonado”, utilizado no mal sentido no NT. Em Rm.1:26 pathos é utilizado com atimia, “desonra”, na expressão “paixões infames”.

Desejo. Do gr. epithumia, “desejo” (ver com. de Rm.7:7).

Avareza. Do gr. pleonexia, “desejo de ter mais” (ver Rm.1:29; 2Co.9:5; Ef.4:19; Ef.5:3). A avareza é um vício antissocial, pois se reflete na cobiça ou ganância daquilo que é direito ou possessão alheia.

Que é idolatria. Colocar outra coisa no coração no lugar de Deus é idolatria (cf. com. de Gl.5:20).

Cl.3:6 6. por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência].

A ira de Deus. Ver com. de Rm.1:18.

Filhos da desobediência. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre preservar e omitir a frase “nos filhos da desobediência” (sobre esta expressão, ver com. de Ef.2:2).

Cl.3:7 7. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas.

Andastes. Do gr. peripateo, “conduzir-se” (ver com. de Ef.2:2; Ef.2:10).

Noutro tempo. Ou, “antigamente”.

Cl.3:8 8. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.

Agora, porém. Contraste com “noutro tempo” (v. Cl.3:7).

Despojai-vos. Do gr. apotithemi, “despojar de si mesmo”, como de uma roupa (At.7:58); metaforicamente, “postergar”, “pôr de lado” (cf. com. de Rm.13:12). O verbo é um imperativo no grego. Paulo ordena que os colossenses, de uma vez por todas, numa ação da vontade, removam de si tudo o que menciona a seguir.

Ira. Do gr. orge, palavra utilizada no v. Cl.3:6 para a “ira de Deus” (ver com. de Rm.2:8; cf. com. de Ef.4:26; Ef.4:31).

Indignação. Do gr. thumos (ver com. de Rm.2:8).

Maldade. Do gr. kakia (ver com. de Rm.1:29).

Maledicência. Do gr. blasphemia, “calúnia”, “linguagem difamatória”, direcionada contra pessoas ou Deus (ver Mc.2:7; Mc.7:22; cf. com. de Ap.13:1).

Linguagem obscena. Do gr. aischrologia, “linguagem indecente”. Este é o único uso da palavra no NT. Sugere linguagem obscena e abusiva (ver com. de Ef.4:29).

Do vosso falar. Quem utiliza “linguagem obscena” revela a impureza de sua alma (ver Mt.15:11-18). Do contrário, quem refreia a língua e não ofende com as palavras “é perfeito varão” (Tg.3:2). O cristão deve vigiar seus lábios (SI.141:3).

Cl.3:9 9. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos

Não mintais. Ver com. de Ef.4:25.

Despistes. Do gr. apekduomai (ver com. de Cl.2:15).

Velho homem. Ver com. de Rm.6:6; Ef.4:22; cf. com. de Jo.3:3; Jo.3:5.

Seus feitos. Práticas como as enumeradas nos v. Cl.3:5; Cl.3:8-9.

Cl.3:10 10. e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;

E vos revestistes. O processo inverso de tirar vestimentas.

Novo homem. Ver com. de Ef.4:24; cf. DTN, 176; T9, 20, 23.

Que se refaz. Melhor, “que está sendo renovado”, a forma grega da palavra indica um processo contínuo. A palavra traduzida como “renovada” enfatiza novidade em qualidade. A imagem se refere ao desenvolvimento gradual no pleno conhecimento de Deus. O crescimento é o produto e a evidência na vida natural e na espiritual. O poder do Doador da vida é o único meio de se manter o crescimento.

Conhecimento. Do gr. epignosis, “pleno, completo e conhecimento cabal” (ver Cl.1:9-10; Cl.2:2). Este conhecimento é a percepção e compreensão experimental dos princípios celestes e é o propósito da renovação espiritual.

Segundo a imagem. Isto é, de acordo com a imagem (ver com. de Rm.8:29).

Daquele que o criou. Isto é, que criou o novo homem. Assim como Cristo é a expressa imagem de Seu Pai (Hb.1:3) o cristão deve crescer “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (ver com. de Ef.4:13).

Cl.3:11 11. no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos.

Grego nem judeu. Na nova ordem da vida do cristão todas as distinções nacionais são removidas (ver com. de Rm.10:12; Gl.3:28; cf. com. de Rm.1:6). Paulo repete essa verdade em todas as epístolas.

Circuncisão nem incircuncisão. Ver com. de Rm.2:25-29; Gl.5:6.

Bárbaro. Ver com. de At.28:2; Rm.1:14.

Cita. Sinônimo para selvagens ou bárbaros.

Escravo, livre. Ou, “escravo, nem livre”. O apóstolo se refere a distinções sociais. Paulo declara que, na esfera de Cristo e no processo de permitir que a energia criativa de Deus forme uma nova criatura, nenhuma barreira deve existir, nem nacional, religiosa, racial nem social. “A vida de Cristo estabeleceu uma religião em que não há castas, uma religião pela qual judeus e gentios, livres e escravos estão unidos em irmandade, são iguais diante de Deus” (T9, 191).

Cristo é tudo em todos. Jesus Cristo é descrito como o alvo da realização final. Ele é “a plenitude dAquele que a tudo enche” (Ef.1:23). Já que Seu caráter está em Seu povo, como pode haver distinção entre eles? Não deve haver rivalidade ou inimizade entre os membros do corpo de Cristo. Jesus é a herança comum de todos os santos, a meta e o ideal deles quanto ao caráter. Cristo também é o meio pelo qual esta irmandade de vitoriosos é alcançada.

Cl.3:12 12. Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.

Revesti-vos, pois. Sendo assim, Paulo ressalta a necessidade de ação voluntária, em que os cristãos tomam sobre si a semelhança de Cristo e Seu caráter (ver com. do v. Cl.3:10).

Eleitos de Deus. Estes são os súditos do reino celeste. Todos os que aceitaram Cristo são os eleitos de Deus, independentemente de distinções nacionais, religiosas, étnicas e sociais. Eles são o sal da terra, a luz do mundo (ver TM, 422; ver com. de Rm.8:33; cf. PP, 207, 208).

Santos. Aqueles que foram reservados, separados do mundo e que são devotos ao serviço de Deus (ver com. de Rm.1:7). Santidade é a manifestação de uma vida em perfeita conformidade com Deus. “Como Deus é santo em Sua esfera, assim deve o homem caído, mediante fé em Cristo, ser santo na sua” (AA, 559).

Amados. Isto é, amados de Deus.

Temos afetos. Do gr. splagchna, “as partes internas”, metaforicamente, o centro das emoções.

Misericórdia. Do gr. oiktirmoi, “as mais ternas compaixões” (ver com. de Rm.12:1). Um coração compassivo é característica distintiva do verdadeiro cristianismo.

Bondade. Do gr. chrestotes, “bondade”, “amabilidade”, “excelência” (ver Rm.3:12; Gl.5:22; Ef.2:7). Esta palavra expressa amor em ação (1Co.13:4). Descreve mansidão, cortesia, consideração bondosa tanto em disposição quanto em ação para com as necessidades do próximo.

Humildade. Do gr. tapeinophrosune (ver com. de At.20:19; Ef.4:2; ver o verdadeiro uso da palavra em Fp.2:3; 1Pe.5:5). Em Cl.2:18; Cl.2:23, o vocábulo descreve falsa humildade. O filho de Deus “deveria trabalhar constantemente em prol de humildade e de um espírito manso e quieto que são de grande valor aos olhos de Deus” (T2, 288).

Mansidão. Mansidão é ausência de justificação pessoal, o oposto de convencimento. É uma equanimidade suave e bondosa. Nosso Salvador, durante os momentos de provação mais dolorosa, foi o perfeito exemplo da verdadeira mansidão (ver DTN, 734). O verdadeiro cristão deve se esforçar para imitar este modelo na vida diária (ver DTN, 354; ver com. de Mt.5:5; Gl.5:23).

Longanimidade. Do gr. makrothumia, “paciência”, “perseverança” (ver a utilização do verbo relacionado, makrothumeo, em 1Co.13:4; Tg.5:7). O vocábulo makrothumia descreve extrema contenção, demorada recusa da alma a se render a qualquer paixão, principalmente a raiva (ver com. de 2Co.6:6; Cl.1:11).

Cl.3:13 13. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós;

Suportai-vos uns aos outros. Ou, “tolerando uns aos outros”.

Perdoai-vos mutuamente. No relacionamento entre cristãos não deve ser habitual apenas a longanimidade ou domínio próprio em palavras ou ações, mas também deve ser normal desconsiderar interiormente as faltas, os erros ou a fraqueza dos outros. Isso é perdão verdadeiro (cf. Mc.11:25; Ef.4:32).

Motivo de queixa. Do gr. momphe, “queixa”, “motivo para reclamação”, “culpa”. Esta palavra não é utilizada em nenhuma outra parte no NT.

Senhor. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre esta e a variante “Cristo" (ARC). O grande padrão do perdão humano é o perdão divino para com a família humana (cf. Ef.4:32; MDC, 113, 114; T5, 170).

Cl.3:14 14. acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.

Amor. Do gr. agape (ver com. de Mt.5:43; 1Co.13:1). O amor deveria unir todas as demais qualidades. Não importa quão alta seja a profissão de um cristão nominal; se seu ser não está repleto de amor por Deus e pelo próximo, ele não é um verdadeiro discípulo de Cristo (ver com. de 1Co.13:1-3).

Vínculo. Do gr. sundesmos, “que une”, “um vínculo”. No Cl.2:19, o vocábulo sundesmos é utilizado para os ligamentos do corpo. O amor une perfeitamente as qualidades do cristão como indivíduo com os vários membros do corpo místico de Cristo.

Perfeição. Ou, “maturidade”. Cada um em sua própria esfera deve alcançar o mais alto desenvolvimento. “Primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga” (Mc.4:28). Assim como Deus é perfeito em sua esfera, o cristão deve ser na sua (ver Mt.5:48; PJ, 65; AA, 531).

Cl.3:15 15. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.

A paz de Deus (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “a paz de Cristo” (ARA). A paz de Cristo é descrita neste versículo não como uma virtude estática, mas como um poder ativo. Capacita o ser humano a viver em tranquilidade, serenidade e confiança em meio às circunstâncias mais difíceis da vida. Cristo, a fonte da paz, se torna o capitão da alma e serenamente pilota a embarcação da vida até um porto seguro (ver Jo.14:27; Ef.2:14; Fp.4:7).

Árbitro. Do gr. brabeuo, literalmente “ser o árbitro”, portanto, “outorgar o prêmio”, “pronunciar decisões”, “arbitrar” (o substantivo associado, brabeion, “prêmio”, ocorre em 1Co.9:24; Fp.3:14). Do coração procedem as decisões e a astúcia que afetam não apenas o indivíduo, mas também a igreja e a sociedade. Paulo propõe aos colossenses que entronizem a paz que procede de Cristo como o “árbitro” da vida deles.

Fostes chamados. Esta paz de Cristo desfrutada pelos verdadeiros crentes é parte essencial do propósito de Deus por meio do evangelho. É impossível imaginar um cristão em guerra com Deus e com os irmãos.

Em um só corpo. O corpo místico de Cristo é o grupo organizado de crentes que têm como meta o estabelecimento dos propósitos divinos (ver Ef.1:22-23; Ef.2:16; Ef.4:4). Já que todos os verdadeiros cristãos são parte do corpo de Cristo, não pode haver desacordos sem ferir cada membro, adoecendo, assim, todo o corpo. Deus deseja que todos cooperem, unidos em amor e serviço.

Sede agradecidos. Ser agradecido é um dever cristão. A gratidão a Deus pode ser assemelhada ao solo em que floresce a tenra planta da paz (ver Fp.4:6-7). A gratidão é o reconhecimento de que Deus é o doador de todo dom perfeito e que é o guia do cristão em cada passo da jornada da vida. Já que Deus realiza todas as coisas juntas para o bem daqueles que O amam (ver com. de Rm.8:28) e que nada está oculto à visão dAquele com quem temos de lidar, o que temer? O cristão que ergue sua voz hoje em louvor, um dia se unirá ao coro de aleluia dos redimidos e dos anjos não caídos.

Cl.3:16 16. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.

Habite [...] em vós. Ou, “faça morada em vós”.

Ricamente. Esta palavra enfatiza a abundância que enriquece a alma. A história do evangelho nos lábios, nos corações, guiando os pensamentos e ações, enriqueceria os colossenses com coisas do reino celeste.

A palavra de Cristo. Esta expressão pode ser compreendida como a mensagem que procede de Cristo ou o evangelho que trata a respeito dEle (com as expressões “palavra do Senhor”, 2Ts.3:1; “Minha palavra”, Jo.5:24).

Instruí-vos. Este é o partilhar do conhecimento. Paciente e sistematicamente, iniciando com o simples e progredindo para o profundo. Quem tem a palavra de Cristo habitando no coração deve ensinar seus princípios a outros, exemplificando-a sempre com a própria vida (ver com. de 1Co.12:28; Ef.4:11).

Aconselhai-vos. Do gr. noutheteo (ver com. de Cl.1:28).

Em toda a sabedoria. Esta expressão pode ser conectada com a expressão anterior, como na ARC: “ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros”.

A Deus. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) esta variante, em vez de “ao Senhor”. O apóstolo reuniu neste versículo a plenitude do ministério daquele cujo coração é enriquecido pela duradoura presença da palavra de Cristo. Por palavra e canção, o cristão ensina, admoesta os irmãos, ora e exalta a Deus.

Salmos. Do gr. psalmoi, um dos salmos do AT ou um hino de louvor cantado para acompanhar instrumentos de corda. A palavra relacionada, psallo, geralmente significa tocar um instrumento (ver 1Sm.16:16, LXX) embora possa significar simplesmente “cantar louvores”.

Hinos. Do gr. humnoi, do qual se origina a palavra “hinos”. Por hinos, o apóstolo pode ter se referido a canções tipicamente cristãs.

Cânticos espirituais. Isto é, canções sagradas.

Gratidão. Do gr. charis (ver com. de Rm.3:24). Muitos eruditos pensam que o sentido “gratidão” se aplica aqui. Outros creem ser uma referência à graça divina (ver com. de Ef.5:20).

Em vosso coração. A melodia dos lábios deve preencher primeiramente o ser. Só então será eficaz para mobilizar os outros. Quando o coração sente o significado do que está sendo cantado, a voz retratará as qualidades interiores.

Cl.3:17 17. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.

Seja em palavra, seja em ação. Estes são dois grandes modos de expressão da vida e conduta humanas. Nada indigno de Cristo será feito nem dito por Seus filhos.

Em nome. Isto é, no espírito e caráter daquele que realmente serve a Cristo e com relação a Cristo. O cristão sempre deve ter em mente que diariamente está edificando o caráter para a eternidade. Deve se colocar sob o controle de Deus constantemente; resguardar-se em tudo o que diz e faz; ter em mente que na vida “a religião não é meramente uma influência entre outras; deve ser uma influência que domine todas as demais” (CPPE, 489).

Dando por Ele graças. O louvor deve acompanhar tudo o que o cristão pensa e faz (cf. Ef.5:4; Ef.5:20; 1Ts.5:18). O apóstolo enfatiza a necessidade de expressar gratidão a Deus (ver Cl.1:12; Cl.2:7; Cl.3:15; Cl.4:2).

A Deus Pai. Melhor, “mesmo o Pai”. O objeto do louvor do cristão é Deus, que é seu Pai. Jesus é o agente por meio de quem oferecemos nossa gratidão ao Pai.

Cl.3:18 18. Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor.

Esposas, sede submissas. Ver com. de Ef.5:22.

Próprio. Evidências textuais confirmam (cf. p. xvi) a omissão desta palavra, possivelmente originada no texto paralelo de Ef.5:22.

Convém. Ou, “próprio”, “adequado”.

No Senhor. Ver com. de Ef.1:4.

Cl.3:19 19. Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura.

Amai vossa esposa. Ver com. de Ef.5:25.

Cl.3:20 20. Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor.

Filhos, [...] obedecei a vossos pais. Ver com. de Ef.6:1.

Em tudo. Esta expressão não deve ser interpretada como incluindo qualquer exigência contrária à vontade de Deus. Uma ordem que implique pecado não é obrigatória para o filho. Paulo se dirigia a famílias cristãs, assim, não havia necessidade de qualificação.

Diante do Senhor. Evidências textuais confirmam (cf. p. xvi) a variante “no Senhor”, em paralelo com o v. Cl.3:18. A esfera de obediência é o Senhor, e o objetivo supremo é agradá-Lo. O filho só agrada a Deus enquanto obedece às regras de seus pais.

Cl.3:21 21. Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.

Irriteis. Do gr. erethizo, “provocar”, no bom sentido, como em 2Co.9:2, ou no mau sentido, como neste versículo. Repreender e reclamar, encontrar faltas e censurar continuamente incita os sentimentos dos filhos à repugnância contra todas as formas de disciplina.

Desanimados. Do gr. athumoo, “perder a coragem”, “estar desencorajado ou desesperançado”. No NT, a palavra ocorre apenas aqui. Sob provocação contínua, o jovem desanima de tentar vencer as fraquezas e desiste da vida cristã. Os objetivos dos pais estão corretos, mas o lamentável método de tentar alcançar a perfeição nos filhos produz resultado desastroso (ver Ef.6:4).

Cl.3:22 22. Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor.

Servos, obedecei. Ver com. de Ef.6:5.

Servindo apenas sob vigilância. A razão do serviço não é apenas satisfazer um padrão humano, de trabalhar enquanto o supervisor está olhando e se esforçar o mínimo possível. Esse tipo de servo pensa apenas em agradar ao mestre humano, mas tal motivo é indigno para cristãos (ver com. de Ef.6:6).

Singeleza. Do gr. haplotes, “simplicidade”, “sinceridade” (ver com. de Rm.12:8). Singeleza é o exato oposto de servir apenas sob vigilância. Quem procura apenas agradar o mestre, e somente enquanto está sendo observado, e que noutros momentos não faz nada, é um hipócrita (ver com. de Ef.6:5).

Temendo ao Senhor. Ou, “reverenciando a Deus”. Ele é o mestre principal. Seus princípios impelem os cristãos por onde quer que andem a agir reconhecendo que o Senhor é o único a quem devem prestar contas.

Cl.3:23 23. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens,

De todo o coração. Literalmente, “fora de [sua] alma” (ver com. de Ef.6:6; Dt.6:5; Mc.12:30).

Para o Senhor. Ver com. de Ef.6:7.

Cl.3:24 24. cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;

Recebereis. Ver com. de Ef.6:8.

Recompensa da herança. Isto é, a recompensa que é a herança. Como não há diferença no que se refere ao reino de Deus entre o escravo e o livre (ver com. do v. Cl.3:11), Paulo amplia essa ideia, declarando que o escravo também tem a recompensa da herança.

Porque (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra.

Estais servindo. Com a omissão de “porque”, esta expressão pode ser traduzida como um imperativo: “Sirva tu”. As duas traduções são adequadas ao contexto. É verdade que escravos recebem ordens dos mestres terrenos, mas o padrão deles para o serviço e quanto ao propósito final deve ser agradar a Cristo, no Céu.

Cl.3:25 25. pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas.

Aquele que faz injustiça. Alguns compreendem esta expressão como uma aplicação ao escravo que não presta serviço completo; outros, ao mestre que maltrata o escravo; um terceiro grupo considera a declaração como geral. Contra o ponto de vista de que a advertência se relaciona ao escravo, deve-se notar que a afirmação: “Não há acepção de pessoas” é geralmente aplicada a alguém num posto superior. Uma comparação com Ef.6:9 sugere que o segundo ponto de vista está correto.

Receberá. Do gr. komizo, “receber [salário]”, “receber [uma recompensa]” (ver o uso da palavra em 2Co.5:10). Paulo se refere ao juízo final, quando o mestre opressor e o escravo infiel receberão a recompensa pela conduta injusta.

Não há acepção de pessoas. Literalmente, “não recebendo do rosto” (ver com. de Ef.6:9; Rm.2:11).

Cl.4:1 1. Senhores, tratai os servos com justiça e com equidade, certos de que também vós tendes Senhor no céu.

Senhores. Ver com. de Ef.6:9.

Tratai. Do gr. parecho, “ofertar”, “oferecer”, “suprir”, neste versículo, uma forma que indicaria “da sua parte”.

Servos. Do gr. douloi (ver com. de Rm.1:1; Ef.6:9).

Com justiça. O mestre não deve agir por mero capricho. Como ser humano, o escravo tem direitos inalienáveis que devem ser respeitados, e as necessidades básicas devem ser satisfeitas.

Equidade. Do gr. isotes, “equidade”, “integridade”, “tratamento imparcial” (ver Lv.25:39-43; Dt.15:12-14; ver com. de Gl.3:28; Ef.6:9).

Também vós tendes Senhor. O senhor é mordomo de Cristo. A riqueza e a habilidade de gerenciar os negócios foram-lhe dadas pelo seu Senhor celeste. Essa filosofia é uma extensão da regra de ouro no relacionamento entre o senhor e seus escravos. Paulo declara, em outras palavras: “Trate seus escravos como desejaria que o Senhor celestial tratasse você” (ver Mt.23:8; Ef.6:9).

Cl.4:2 2. Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.

Perseverai. Do gr. proskartereo (ver com. de Rm.12:12; ver com. de Ef.6:18; Os.5:17).

Vigiando. A admoestação do apóstolo enfatiza a necessidade de vigilância no ato de orar. Devemos manter a atenção constantemente para que o adversário não nos distraia, bem como para que não percamos a atitude de vigilância e enfraqueçamos.

Com ações de graças. Ou, “em ação de graças” (ver com. de Ef.6:18; ver com. de 1Ts.5:18). Oração e vigilância sempre deveriam estar no cenário da gratidão a Deus. Embora necessitemos diariamente de auxílio e orientação, temos muito pelo que ser agradecidos.

Cl.4:3 3. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado;

Suplicai [...] por nós. Ver com. de Ef.6:19. Na carta aos Colossenses Paulo inclui seus colaboradores no pedido por oração intercessória.

Porta à palavra. Literalmente “porta da palavra”, isto é, uma porta para a palavra, uma porta para a pregação (ver a imagem de uma porta em At.14:27; 3Co.16:9; 2Co.2:12). As oportunidades de pregar o evangelho são consideradas como portas completamente abertas para o pregador passar através delas com as boas-novas. Paulo desejava ser libertado porque a pregação do evangelho estava oculta por causa de seu cativeiro. Ele sabia que apenas Deus poderia realizar esse livramento, assim, queria que os crentes colossenses “importunassem” o Céu, a fim de que o Senhor interviesse. A oração intercessória uniria os colossenses nos grandes interesses do evangelho e os incitaria a ser mais ativos.

Mistério de Cristo. Ver com. de Rm.11:25; Ef.3:3-6. O mistério de Cristo é o que Ele revelou. Os abrangentes propósitos de Deus são desconhecidos à humanidade quando separados da revelação de Cristo.

Algemado. Paulo estava algemado devido à pregação do mistério de Cristo. O aprisionamento em Jerusalém foi resultado direto da hostilidade dos judeus para com a mensagem que ele pregava.

Cl.4:4 4. para que eu o manifeste, como devo fazer.

Para que eu o manifeste. Ou, “o revele”, isto é, o mistério. A grande ambição de todo pregador é revelar a verdade do evangelho.

Como devo fazer. Ou, “como é necessário que eu fale”. Deus pretendia que Paulo pregasse o evangelho sem obstáculo nas regiões próximas e distantes. As algemas impediam a realização dessa incumbência (ver 1Ts.2:18).

Cl.4:5 5. Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades.

Portai-vos. Do gr. peripateo, “conduzir-se” (ver com. Ef.2:2). Esta expressão inclui o modo de viver do cristão, inclusive todos os relacionamentos tanto com Deus quanto com as pessoas.

Sabedoria. Isto é, sabedoria cristã prática (cf. com. de Pv.1:2-3).

Para com os que são de fora. Isto é, os não cristãos (ver 1Co.5:12; 1Ts.4:12). A ambição do verdadeiro discípulo deveria ser fazer discípulos dentre “os que são de fora”. O modo mais significativo de realizar esse empreendimento é por meio do exemplo de uma vida cristã virtuosa. Contra isso não há argumento.

Aproveitai as oportunidades. Literalmente, “procurando o tempo oportuno” (ver com. de Ef.5:16).

Cl.4:6 6. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.

Palavra. As palavras andam de mãos dadas com o estilo de vida cristão. Especialmente no que se refere ao contato com quem “é de fora” (v. Cl.4:5). O modo como as palavras são ditas e o tom de voz causam boa ou má impressão. Portanto, o discurso e a conversação devem ser bem guardados.

Agradável. Do gr. charis (ver com. de Rm.3:24). Neste versículo, a palavra pode ser definida como “boas maneiras”, “agradável”. Quando Jesus falava, as pessoas presentes na sinagoga de Sua cidade natal ficavam impressionadas com as “graciosas palavras” (literalmente “palavras de graça”, Lc.4:22) que saíam de Seus lábios. As palavras do cristão devem conduzir poder e influência celeste.

Temperada com sal. O sal torna o alimento palatável. Neste versículo, refere-se ao que torna o discurso atrativo, estimulante e agradável aos ouvidos. O oposto seria um discurso monótono, insípido ou inverídico (ver com. de Mt.12:36). Quando o cristão abre a boca devem abundar palavras edificantes, agradáveis e de auxílio ao próximo.

Responder a cada um. A responsabilidade de todos os cristãos é estar “preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança” que há neles (ver com. de 1Pe.3:15). O testemunho pessoal é parte essencial da vida cristã. Para testemunhar com eficácia, é essencial que nossas palavras sejam da natureza aqui descrita.

Cl.4:7 7. Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, e fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos informará.

Quanto à minha situação. Ou, “as coisas que me aconteceram” (cf. Fp.1:12). Paulo cria que os colossenses estariam interessados nos detalhes a respeito de seu aprisionamento.

Tíquico. Ver com. de Ef.6:21.

Conservo. Um título de honra porque coloca Tíquico em equivalência a Paulo. Este item referente a Tíquico não é mencionado em Ef.6:21.

No Senhor. O ministério de Tíquico foi exercido no programa e influência de Cristo. A vontade do Mestre era o elemento envolvente que unia todos os servos. Tíquico era feliz por estar unido ao Mestre, pelo companheirismo com Seus servos e por cumprir as ordens do Senhor.

Cl.4:8 8. Eu vo-lo envio com o expresso propósito de vos dar conhecimento da nossa situação e de alentar o vosso coração.

Eu vo-lo envio. Ver Ef.6:22. Tíquico era o portador da epístola de Paulo aos Colossenses e da mensagem pessoal de Paulo.

De vos dar conhecimento da nossa situação. As evidências textuais estão divididas (cf. p. xvi) entre as expressões “para vos dar conhecimento da nossa situação” e “para que saibais como estamos” (RSV). Isso concorda com o que Paulo afirmou no v. Cl.4:7 e com a declaração paralela em Ef.6:21. Tíquico explicaria aos membros sobre a situação de Paulo, os encorajaria a continuar na caminhada cristã e talvez conseguiria auxílio financeiro para sustentar Paulo na prisão.

Alentar o vosso coração. Ver com. de Ef.6:22.

Cl.4:9 9. Em sua companhia, vos envio Onésimo, o fiel e amado irmão, que é do vosso meio. Eles vos farão saber tudo o que por aqui ocorre.

Onésimo. Um escravo fugitivo de Colossos que se converteu em Roma por meio do trabalho de Paulo (ver com. de Fp.10).

Fiel e amado. No passado, Onésimo havia sido infiel e não era confiável. Então, sua vida foi completamente mudada.

Vosso meio. Onésimo era de Colossos. Como cristão, passou a pertencer à irmandade (ver com. de Gl.3:28; Fm.1:10-12).

Eles vos farão saber. Paulo confia a Onésimo e a Tíquico a mensagem que deveria ser entregue oficialmente, mostrando que Paulo confiava plenamente em sua conversão e integridade.

Cl.4:10 10. Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o),

Aristarco. Companheiro de Paulo em Tessalônica (At.27:2), compartilhou com o apóstolo as experiências ligadas ao tumulto em Éfeso (At.19:29). Quando a delegação apostólica viajou de Corinto para Jerusalém, Aristarco possivelmente levou a oferta de Tessalônica para a igreja central na Palestina (At.20:4). Ele também acompanhou Paulo em pelo menos parte do caminho de Jerusalém para Roma, na viagem do apóstolo como prisioneiro (At.27:2). Em Fm.1:24, ele é incluído entre os “cooperadores” de Paulo.

Prisioneiro comigo. Alguns imaginaram que Aristarco decidiu voluntariamente compartilhar os desconfortos do encarceramento de Paulo para cuidar das necessidades dele, prática alegada por alguns como permitida pelos romanos.

Primo. Do gr. anepsios, “primo”. A variante “filho da irmã” reflete a versão da Vulgata Latina, consobrinus, que significa especificamente “filho da irmã”, mas também um parente em algum grau. Ou os tradutores podem ter concluído que o vocábulo anepsios significava o mesmo que “sobrinho”, palavra derivada de anepsios, por meio da palavra latina nepos. As diferenças de opinião acerca de João Marcos haviam causado separação entre Paulo e Barnabé (At.15:36-40). Depois da separação, Barnabé, primo de Marcos, tomou o rapaz sob seus cuidados. “Sob a bênção de Deus e a sábia orientação de Barnabé, ele se tornou um valoroso obreiro” (AA, 170). Com alegria, Paulo reconheceu a grande chance e aceitou a Marcos como um de seus colaboradores (Fm.1:24; 2Tm.4:11).

Cl.4:11 11. e Jesus, conhecido por Justo, os quais são os únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles têm sido o meu lenitivo.

Jesus [...] Justo. Esta é a única menção deste nome na Bíblia, embora o nome Justo apareça em outras duas ocasiões (At.1:23; At.18:7).

Da circuncisão. Isto é, judeus. Neste versículo, o termo se refere a cristãos judeus. Somente os três homens mencionados são colaboradores e um conforto para Paulo.

Cl.4:12 12. Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus.

Epafras [...] é dentre vós. Epafras era nativo de Colossos, havia trabalhado ali e possivelmente também em Laodiceia e Hierápolis. Era informante de Paulo a respeito da situação de sua igreja natal (cf. Cl.1:7-8). Permaneceu em Roma mais tempo do que o planejado a princípio, a fim de auxiliar Paulo no ministério. Epafras se uniu a Paulo no envio de saudações.

Esforça sobremaneira. Literalmente, “sofrer grande angústia ou se esforçar de modo contínuo” (cf. Cl.1:29). Ao permanecer em Roma, Epafras não esqueceu os crentes da igreja natal e se esforçou a favor deles, isto é, em oração de intercessão.

Perfeitos e plenamente convictos. Ou, “maduros e completos”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “maduros e plenamente convictos”. É considerado perfeito pelo Céu o cristão que, pela graça, alcançou a meta de cada estágio de seu crescente conhecimento e experiência (ver com. de Mt.5:48).

Em toda a vontade de Deus. Ver com. de Cl.1:9. Isto compreende todo o projeto de Cristo para a salvação de Seu povo.

Cl.4:13 13. E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós, pelos de Laodiceia e pelos de Hierápolis.

Dele dou testemunho. Ou, “estou testemunhando a respeito dele”.

Muito se preocupa. Do gr. zelos, “grande concorrência”, “ardor ao se esforçar por algo”; também “ciúme”, “indignação”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante portos, “laborar”, “aflição”.

Laodiceia [...] Hierápolis. Estas duas cidades, uma de cada lado do rio Licos, a poucos quilômetros de distância uma da outra, tinham igrejas fundadas quase na mesma época que a igreja de Colossos, e Epafras serviu em todas elas (a respeito de Laodiceia, ver p. 84, 85; ver com. de Ap.3:14).

Cl.4:14 14. Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também Demas.

Lucas. Sobre a vida de Lucas, ver vol. 5, p. 727, 728; cf. com. de At.16:10. A companhia de Lucas era sempre uma fonte de força e conforto.

Demas. Mencionado apenas nesta ocasião, em 2Tm.4:10 e em Fm.1:24. Demas permaneceu leal aqui, no entanto, mais tarde, a situação mudou. Durante o segundo aprisionamento, Paulo lamentou: “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou” (2Tm.4:10).

Cl.4:15 15. Saudai os irmãos de Laodiceia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa.

Laodiceia. Ver com. do v. Cl.4:13. Havia companheirismo entre os crentes das três cidades situadas nas proximidades do vale de Lico.

Ninfa. Nada mais se sabe sobre esta pessoa. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante do nome também como feminino. Há também alguma evidência textual para a variante “em sua casa”. A pessoa em questão era muito zelosa da causa de Deus, fornecendo a comodidade de seu lar como local de reunião para os crentes da pequena igreja de Laodiceia.

Cl.4:16 16. E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodiceia, lede-a igualmente perante vós.

Providenciais por que seja também lida. Este era um costume generalizado entre os cristãos primitivos. A história indica que os escritos do NT foram copiados, recopiados e tinham circulação ampla.

E a dos de Laodiceia. Isto não quer dizer que a epístola foi escrita “de Laodiceia”, mas que, tendo sido escrita para Laodiceia, deveria ser levada para Colossos, partindo “de Laodiceia”. Assim, era considerada “de Laodiceia” para a igreja de Colossos. Quanto à identidade desta epístola, nada se sabe em definitivo. Muitos sustentam a teoria de que a carta aos Efésios é a mencionada aqui. Paulo escreveu aos efésios aproximadamente na mesma época em que escreveu aos colossenses, talvez até no mesmo dia. As duas epístolas foram confiadas ao mesmo mensageiro, Tíquico (cf. Ef.6:21; Cl.4:7). No entanto, é apenas conjectura (sobre o problema da autoria de Efésios, ver vol. 6, p. 1101, 1102).

Cl.4:17 17. Também dizei a Arquipo: atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires.

Arquipo. Ele é mencionado apenas aqui e em Fm.1:2, em que seu nome ocorre próximo aos nomes de Filemom e Áfia, considerada pelos comentaristas como a esposa de Filemom. Possivelmente, Arquipo era filho deles, o que coincide com a declaração de Paulo neste versículo. Na carta a Filemom, Paulo chama Arquipo de “companheiro de lutas” e menciona a igreja na casa de Filemom, onde Arquipo pode ter sido um dirigente. Como Ninfa, Filemom abriu sua casa como local de reunião aos irmãos, e Arquipo se associou a ele no ministério, ocupando-se com algum cargo.

Ministério. Do gr. diakonia (ver com. de Rm.12:7). A palavra poderia se referir ao ofício de diácono (Ver Rm.12:7). Sugere serviço (At.12:25) e inclui as funções de pastor, ou ancião. Arquipo é advertido a prestar atenção e se esforçar ao máximo em suas tarefas.

Recebeste no Senhor. Paulo lembra Arquipo de que o serviço foi confiado a ele pelo Senhor. Como ocorria com o sacerdote no AT, assim também com o ministro do evangelho: “Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus” (Hb.5:4).

Cumprires. Isto é, realizar suas várias responsabilidades.

Cl.4:18 18. A saudação é de próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.

A saudação é de [...] Paulo. Neste ponto, Paulo tomou a pena da mão de seu amanuense e escreveu o cumprimento final (ver com. de 1Co.16:21; Gl.6:11). A expressão mostra sua afeição e acrescenta um toque final de genuinidade e autoridade pessoal a sua epístola.

Lembrai-vos das minhas algemas. Paulo mencionou-as para suscitar a simpatia e compreensão dos colossenses. Eles deveriam perceber que Paulo, apesar de algemado na prisão, ainda se preocupava com eles. Os colossenses sentiriam, uma vez mais, a afeição do apóstolo e a intercessão a favor deles.

A graça seja convosco. Ver 1Tm.6:21; 2Tm.4:22; sobre o sentido da saudação, ver com. de Rm.1:7.

Amém (ARC)! Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. O pós-escrito do v. 18 (KJV) não ocorre no manuscrito antigo. Não era parte do relato inspirado original.