Capítulo e Verso | Comentário Adventista > Atos |
At.1:1 | 1. Primeiro, Urn indicativo de que esta obra é a segunda de uma série. O evangelho de Lucas certa mente é o “primeiro livro” (ver vol. 5, p. 727).Teófilo. Ver com. de Le 1:3.Todas. O evangelho de Lucas é uni relato completo de “tudo desde sua origem" (Lc 1:3). Lucas registra os fatos principais, não todos os detalhes (ver p. 100). Pode-se identificar isso mediante a comparação com o evangelho de João, que contém material omitido por Lucas. Mas João também omite outros eventos (ver Jo 20:30; 21:25).Nas Escrituras, a palavra “todas’’ (ou “muito") costuma ser usada num sentido geral (ver Mt 2:3; 3:5; At 2:5; 12:11; Rm 11:26; Cl 1:6; ífm 1:16, ARC; Tg 1:2).Começou. Do gr. archonun, "começar". E um verbo característico do evangelho de Lucas, no qual ocorre cerca de 30 vezes. Sua ocorrência em Atos provê uma evidência espontânea de que o liv ro 1 oi escrito por Lucas.Lm Atos, Cristo leva adiante a obra do evangelho, iniciada por Ele próprio, medianle o trabalho do Espírito Santo com a igreja.Á fazer e a ensinar. Jesus loi "poderoso em obras e palavras’ (Lc 24:19). Os leitos mencionados são os milagres (At 10:38). As palavras e as obras de Cristo tinham poder e "autoridade ' (ver com. de Lc 4:32), O autor sugei e que essas duas atividades também serão encontradas no livro que ele está prestes a i >CÍC\CI . |
At.1:2 | 2. Até ao dia. Isto é, no 40° dia após a re.s.-Miiveieào O cr \. 3,.Haver ciado mandamentos. Ou, "tendo mandado’, com referência especifica a comissão e\angclica deixada pelo Senhor \e>’ Ml 28:18-20).Por intermédio cio Espirito Santo.! h* i expressão pode ter o sentido de que o I .spnvo Santo guiaria os discípulos em toda a \u\iade n <>! ('In i\tiumi\, vol. 1, p. 329).Portanto, embora não se possa provar que a paia\ ra kjhjswIos iosse usada no período do NT para se relenr aos mensageiros judeus em lados ã diaspora, as evidências sugerem que sim e que o uso específico desse termo pela igreja cristã apostólica derivou de um costume semelhante entre os judeus.Que escolhera. Ver Mc 3:13-19.Foi elevado. A forma passiva do verbo, usada aqui, nos v. 9 e 11 e em Lucas 24:51 subentende que a ascensão de Jesus foi uma manifestação do poder do Pai. |
At.1:3 | 3. Padecido. Ou, “sofrido”.A estes [...] Se apresentou vivo. Ver Nota Adicional a Mateus 28.Provas incontestáveis. Do gr. tekmeria, “provas” confirmadas, em contraste com as que são apenas prováveis ou circunstanciais. Essas “provas infalíveis” foram as aparições de Cristo após a ressurreição, não os milagres que os discípulos viram Jesus realizar (At 2:22).Elas confirmavam o supremo milagre da ressurreição. As provas eram: o fato de Ele ter comido e bebido com os discípulos (Lc 24:41 - 43; Jo 21:4-13); Seu corpo real em que eles puderam tocar (Mt 28:5-9; Jo 20:27); as repetidas aparições visíveis a até 500 pessoas de uma vez (Mt 28:7, 10, 16, 17; Lc 24:36-48; Jo 20:19-29; ICo 15:6); e as instruções sobre a natureza e as doutrinas do reino (Lc 24:25- 27, 44-47; Jo 20:17, 21-23; 21:15-17; At 1:8). A certeza da ressurreição conferiu poder ã mensagem dos apóstolos (At 2:32, 36, 37; 3:15; 4:10; 5:28, 30-33) e constituiu a base do magnífico raciocínio de Paulo sobre a certeza da ressurreição corpórea dos salvos (ver ICo 15:3-23).Durante quarenta dias. Literal mente, “ao longo de” 40 dias. Jesus não permaneceu com eles o tempo todo, mas Se manifestou repetidas vezes durante o período que se seguiu à ressurreição (ver Nota Adicional a Mateus 28). Não há conflito entre esses 40 dias e o relato bem mais abreviado de Lucas no evangelho (ver Lc 24).Coisas, Nesta passagem, a expressão inclui: a interpretação correta das profecias messiânicas (Lc 24:27, 44, 45); a extensão da missão da igreja a todo o mundo e a admissão dos salvos no reino por meio do batismo (Mt 28:19); a promessa de poder sobrenatural e proteção divina (Mc 16:15-18); e a promessa da presença perpétua de Cristo na igreja (Mt 28:20; ver com. de Mt 4:17; 5:3). |
At.1:4 | 4. Comendo com eles. Do gr. simalizõ, literalmente, “salgar com”, portanto, “comer com” ou “reunir-se”, “juntar-se em assembléia”. Trata-se de possível referência a um encontro na Galileia (Mt 28:16-18) para a última reunião, na qual os discípulos viram Jesus ascender ao céu, evento que só é mencionado em Atos 1:6.Não se ausentassem de Jerusalém. Eles deveriam retornar para a capital, o lugar onde Cristo ministrara tantas vezes e onde sofrerá, fora sepultado e ressuscitarados mortos. Ali, os discípulos receberíam poder e deveríam começar a testemunhar (AA, 31, 32).Esperassem. Comparar com Lc 24:49. A tarefa diante dos discípulos não poder ia ser realizada apenas por meios humanos. Eles deveríam esperar o tempo designado, no lugar designado, Jerusalém, local de grande perigo e desafio. Os discípulos deveríam esperam, não sair para pescar como Pedro e outros tinham feito pouco antes (Jo 21:3). Era preciso esperar com anseio pelo poder de Deus; buscar a condição adequada para recebê-lo; e manter oração fervorosa e unidade a fim de ver o cumprimento da promessa.A promessa do Pai. Isto é, referente ao dom do Espírito Santo (ver jo 14:16; 16:7-13).De Mim. A promessa foi proferida por Jesus, mas seu cumprimento seria realizado tanto pelo Pai quanto pelo Filho (ver Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7-15). |
At.1:5 | 5. João, na verdade, batizou. Isto é, João Batista (ver Mt 3:1-11).Com o Espírito Santo. Esse batismo fora prometido por João Batista (ver Mt 3:11). A promessa (At 1:4) era de um batismo não com água (ver com. de Mt 3:1 1), mas, sim, com o Espírito, "não muito depois destes dias" nos quais a promessa fora feita. Isso seria no Pentecostes. |
At.1:6 | 6. Reunidos. Isto é, em Jerusalém, em obediência à vontade do Senhor (v. 4) e em concordância uns com os outros. O próprio Jesus estava com eles, embora nenhuma aparição inesperada e sobrenatural seja mencionada. Este foi o último encontro dos discípulos com o Senhor, pois era o dia da ascensão (Mc 16:19; Lc 24:50, 51; ICo 15:7).Perguntaram. A forma grega sugere que cies perguntaram várias vezes.Será este o tempo em que restaures? Ou, “restaurarás neste tempo?” Os discípulos ainda não compreendiam a natureza do reino de Cristo. Ele não havia prometido o tipo de restauração que esperavam(ver com. de Lc 4:19). Achavam que Jesus "havia de redimir a Israel" (Lc 24:21), isto é, dos romanos. Pedro e os outros discípulos experimentaram uma redenção diferente no Pentecostes (At 2:37-39). A ascensão e a experiência pentecostal que se seguiu proporcionaram entendimento renovado, e eles finalmente reconheceram a natureza espiritual do reino de Deus.Os judeus eram cheios de esperança messiânica. Nos Salmos de Salomão, obra apócrifa anterior à era cristã (ver vol. 5, p. 77), essa ideia é expressa repet idas vezes. Esta oração é um exemplo típico: "Olha, ó Senhor, e levanta sobre eles Teu rei, o filho de Davi, na hora que Te agradares, ó Deus, para que Ele reine sobre Israel, leu servo. E cinge-0 de força, para que esmitíce governantes injustos e purifique Jerusalém das nações que (lhe) pisoteiam à destruição. [...] Ele purificará Jerusalém, tornando-a santa como outrora, para que as nações venham dos confins da Terra e vejam lua glória, trazendo como dádivas seus filhos que caíram, e vejam a glória do Senhor, com a qual Deus a glorificou" (Salmos de Salomão 17:23-35, citado em R. H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha, vol. 2, p. 649, 650). Pensamentos como esses podem ter levado os discípulos a imaginar que houvesse chegado o momento da consolidação do domínio prometido e os induzido a fazer a pergunta.Israel. Nem os discípulos haviam compreendido o conceito do reino espiritual de todas as nações (Mt 8:11, 12), formado pelo verdadeiro Israel, dos circuncisos de coração (Rm 2:28, 29). Eles não entendiam que, quando rejeitou Jesus, a nação judaica se separou da raiz do verdadeiro Israel, da qual os conversos cristãos, tanto judeus quanto gentios, não seriam separados (ver Rm I i). Fica claro que eles ainda esperavam que o reino messiânico de Davi fosse fundado na nação de Judá (ver vol. 4, p. 13-23).O fato de os discípulos usarem o termo ‘Israel” para se referir a “Judá” não é um problema. É verdade que o termo “Israel”, muitas vezes, faz alusão às tribos do norte, distinguindo-as de Judá. Com frequência, porém, também se aplica às 12 tribos e mesmo a Judá em particular, bem como ao povo escolhido de Deus sem designação tribal (ver com. de Is 9:8). O contexto deve apontar qual é o sentido em cada caso. Logo, não é surpreendente encontrar no NT uma aplicação consistente do termo “Israel” à nação judaica. Embora a maioria dos judeus da época fosse da tribo de judá, havia entre eles descendentes diretos e legítimos de todas as tribos de Israel (iCr 9:3; 2Cr 15:9; 34:9; Ne 7:73).Os judeus dos dias de Cristo eram herdeiros da antiga teocracia que fora governada pela dinastia davídica, escolhida por Deus, a qual era centrada na adoração no templo, também prescrita por Deus e baseada na 2 aliança nacional entre o Senhor e Seu povo escolhido. Paulo chamou seus conterrâneos judeus de “israelitas”, a quem, segundo a carne, pertenciam “as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne” (Rm 9:4, 5; cf. v. 3; ver também Rm 3:1, 2; 11:1).Portanto, os discípulos tinham motivos para crer que as profecias e promessas dadas ao antigo Israel pertenciam aos judeus, os sucessores da dinastia davídica, não ao “Israel” das dez tribos que se separou da casa de Davi. As dez tribos se isolaram de Judá, do templo e do verdadeiro culto a Deus, logo, da aliança nacional. Além da herança real de Judá, muitos descendentes das tribos do norte que desejavam permanecer fiéis a Aahvveh se uniram ao reino do sul, desde a época da divisão liderada por Jeroboão (2Cr 11:13-16; 15:9; cf. 2Cr 16:1). Iodos esses fatores explicam o uso repetido do termo “Israel” tanto para o reino de judá quanto, depois do cativeiro,para a comunidade judaica reconstituída na província de Judá, a quem pertenciam todos aqueles que retornaram do exílio, independentemente de sua tribo (ver Ed 2:70; 3:1; 4:3; 7:7, 13; 8:29; 9:1; 10:5; Ne 1:6; 9:1, 2; 10:39; 11:3, 20; Ez 14:1, 22; 17:2, 12; 37:15- 19; Dn 1:3; Zc 8:13; Ml 1:1).Além disso, a nação judaica dos dias de Jesus representava as outras tribos de Israel não sé) em população (ver Lc 2:36), mas também em território (vol. 5, p. 33, 34). Foi chamada de “Israel” por João Batista (jo 1:31), Simeão (Lc 2:32, 34), pelo próprio Jesus (Mt 8:10; Lc 7:9; jo 3:10), pelos discípulos e por outros na judeia (Mt 2:20-22; 9:33; Lc 24:21; At 1:6; 2:22; 3:12; 4:8, 27; 5:31; 21:28), por Gamaliel (At 5:35), Lucas (Lc 1:80) e Paulo (At 13:16, 17, 23, 24; Rm 9:4, 6, 31; 11:1; lCo 10:18; 2Co 11:22; Fp 3:5).Portanto, o reino messiânico profetizado para Israel ainda era buscado por esses discípulos com o objetivo de restaurar a soberania nacional judaica. Na verdade, o reino do Messias tería pertencido aos judeus, caso eles não tivessem abdicado dele ao rejeitar o Filho de Davi, pois Ele veio oferecendo um reino de justiça universal, em vez de uma conquista judaica. A rejeição da nação como povo escolhido, posição condicional desde o princípio (Êx 19:5, 6; Jr 18:6-10; Mt 8:11, 12; 21:33-45), era muito recente para que os discípulos a compreendessem. Eles sabiam bem que o antigo reino do norte havia se separado do verdadeiro Israel da aliança, com exceção dos membros individuais que optaram por se unir ao povo escolhido. O que ainda não percebiam é que, de maneira semelhante, a nação judaica, depois de rejeitar o domínio do Filho de Davi, deixara de ser o povo escolhido, embora judeus individuais pudessem ser admitidos no rebanho do verdadeiro Israel, a igreja de Cristo (ver vol. 4, p. 12-25), em quem não há distinção de raça, nacionalidade ou posição (Cl 3:28, 29; Cl 3:11). |
At.1:7 | 7. Respondeu-lhes. Cristo não deu uma resposta direta à pergunta dos discípulos. Em vez disso, direcionou a atenção deles à obra a sua frente.Tempos ou épocas. Do gr. chronoi ê kairoi. Chronoi se refere ao “tempo” cronológico, num sentido simples e geral, ao passo que kairoi alude a momentos específicos, de clímax, com êníase naquilo que está acontecendo. Portanto, ao falar em “tempos”, Jesus parece se referir ao longo decorrer das eras, e a menção a “épocas” alude aos eventos culminantes que acontecerão no fim das eras (ver com. de Mt 24:3). E como se Cristo estivesse dizendo: “Não lhes cabe saber a data ou a maneira precisa da fundação do reino.” Ao viver como homem entre os homens, Jesus não sabia o dia nem a hora de Sua vinda (ver com. de Mt 24:36). Aqui há uma delicada repreensão aos que não estão prontos para receber todo o conhecimento (Jo 16:12), mas que sabem o suficiente para cumprir a ordem do Senhor (Mt 28:19, 20) e para serem guiados por sinais e pelo Espírito (Mt 24:32, 33; Mc 16:17, 18; Jo 16:13).Reservou pela Sua exclusiva autoridade. Ou, “fixou por Sua própria autoridade”. A palavra grega para “autoridade” (cxousia) é diferente de “poder” no v. 8 (dyna- nlis; ver com. de jo 1:12). Deus não é servo do tempo, mas, sim, o Senhor dele. O conhecimento de Deus transcende o tempo, pois Ele é onisciente, sabe todas as coisas (SI 139:1-6; Pv 15:3; Hb 4:13). A presciência é prova de Sua divindade (Is 46:9, 10). Ele compartilha o que quer com aqueles que O servem (Dt 29:29; SI 25:14; Jo 15:15; 16:25). |
At.1:8 | 8. Poder. Do gr. dynamis, "força”, “habilidade”, “poder” (ver com. de Jo 1:12). Nesta passagem, Lucas se refere ao “poder” sobrenatural recebido por aqueles que têm o Espírito Santo (ver com. de Lc 1:35; 24:49). Este poder é para testemunhar, pois vem de dentro, proclama o evangelho e leva outros a Deus. Por meio dos discípulos, cheios destepoder, Jesus continuaria a obra que havia começado na Terra e até coisas “maiores” seriam feitas (jo 14:12). O testemunho dado pelo Espírito seria uma marca distintiva da igreja cristã.Testemunhas, Do gr. martures, aqueles que confirmam ou podem confirmar o que viram, ouviram ou conheceram por qualquer outro meio. A palavra é usada 13 vezes em Atos. Os apóstolos, em seu papel de “testemunhas”, sabiam que Cristo era o Messias da profecia e o Redentor da humanidade. Também podiam testemunhar da promessa de Seu retorno. Ao atuar como testemunhas, os discípulos foram o primeiro e mais importante elo de evidência visível entre o mundo e o Senhor crucificado e ressurreto. Por meio do testemunho deies, todos poderíam crer (ver com. de jo 1:12). João escreveu: “o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros" (IJo 1:3). Os cristãos de todos os tempos recebem chamado semelhante para testemunhar das obras e dos ensinos de Jesus, do propósito de Deus ao salvar o mundo por mero de Seu filho e da eficácia do evangelho. E impossível dar um testemunho mais convincente do que esse. Sem experiência pessoal, não pode haver verdadeiro testemunho cristão. A ousada declaração de Pedro após a cura do aleijado (At 4:10) é um excelente exemplo de testemunho nos tempos apostólicos.Em Jerusalém. Era plano divino que o povo escolhido tivesse a primeira oportunidade de se beneficiar do ministério dos apóstolos (ver com. de Lc 14:21-24). Durante esse breve período, milhares de judeus creram (ver At 2:41, 47; 4:4, 32, 33; 5:14; 6:1, 7; Ellen G. White, Material Suplementar sobre At 2:1, 4, 14, 41). Quando os judeus rejeitaram tal privilégio e apedrejaram Estêvão (At 7), as boas-novas foram levadas para mais longe.Samaria. Os samaritanos eram uma etnia mista, sempre em inimizade com osjudeus (ver com. de Jo 4:9; sobre o ministério pessoal de Jesus ao povo de Samaria, ver com. de Lc 10:1, 33; 17:16; Jo 4:39-42). Após o apedrejamento de Estêvão, eles foram visitados primeiro pelo diácono Filipe (At 6:5; 8:5), depois por Pedro e João, que foram ajudar Filipe (At 8:14). Houve uma boa colheita em Samaria.Confins. Os discípulos deveríam ir “por todo o mundo” (Mc 16:15), “a todas as nações" (Mt 24:14). A obra mundial começou com representantes do evangelho que pregaram aos judeus na Fenícia, em Chipre, na Antioquia siríaca (At 8:4; 11:19) e por Saulo de Tarso na Síria e Cilícia (At 9:15, 30; 11:25; G1 1:21, 23). Então o trabalho foi ampliado por meio das viagens m issionárias de Paulo (At 13-28). O apóstolo foi inspirado a declarar que, em seus dias, o evangelho “foi pregado a toda criatura debaixo do céu” (Cl 1:23; cf. Tt 2:11). Em contraste com a ordem de Cristo quando enviou os doze pela primeira vez (ver com. de Mt 10:5, 6), esta obra deveria ser universal, não nacional. E o início da obra mundial que Lucas narra em Atos. O livro não é uma miscelânea da biografia dos apóstolos, nem de certos apóstolos, muito menos exclusivamente a respeito deles, mas, sim, a narrativa do que foi feito por todos os cristãos ao proclamar o evangelho “até aos confins da terra”. Quando esta obra for finalmente concluída, Cristo virá (Mt 24:14).Neste versículo, Lucas faz uma síntese do livro de Atos: a proclamação do evangelho a Jerusalém e Judeia (At 1-7), Samaria (At 8—10) e, por fim, aos confins da terra (At 11-28). |
At.1:9 | 9. Ditas estas palavras. Ver com. de Lc 24:50.Elevado. Nesta passagem, a ascensão é relatada como um simples fato histórico. Depois disso, não é mais mencionada no NT, mas implicitamente aceita como uma verdade essencial do cristianismo. Ela forapredita por Jesus (Jo 6:62). O evento é relatado cie novo por Pedro (At 3:21), e Paulo faz referência ao mesmo mais tarde (lTm 3:16).A ascensão foi o clímax apropriado para o ministério de Cristo na Terra. O Salvador desceu do Céu para salvar o ser humano (Jo 3:13, 16). Quando Sua obra terrena foi terminada, planejou voltar para Seu lar celestial (Jo 14:2), a fim de fazer mediação entre Deus e os seres humanos (lTm 2:5; Hb 7:25; 8:1, 2,A vista deles. Nenhum fiel vira o Salvador ressuscitar dos mortos, mas os onze discípulos e a mãe de Jesus (PE, 191) tive-<* ram a oportunidade de vê-Lo subir ao céu. Por isso, tornaram-se testemunhas confiáveis da realidade da ascensão.Uma nuvem. Esta nuvem era uma hoste celestial (ver DTN, 831). De igual modo, o retorno de Cristo será “sobre as nuvens” (Mt 24:30; 26:64; Ap 1:7). Hostes de anjos acompanharão o Senhor quando Ele vier em glória (Mt 25:31). Ele "virá do modo como o vistes subir” (At 1:11).Encobriu dos seus olhos. Literal mente, “longe de seus olhos”. |
At.1:10 | 10. Com os olhos fitos. Literalmente, “estavam olhando para”, com o rosto voltado para cima.Enquanto Jesus subia. Jesus ascendeu de maneira gradual. Não foi uma desaparição súbita como em Emaús (Lc 24:31).Dois varões. Acerca da identidade destes anjos, ver com. de Lc 1:19. Embora sejam chamados de “varões”, por terem se manifestado em forma humana, eram anjos (DTN, 831, 832). Também dois anjos “vestidos de branco” saudaram Alaria, na tumba (Jo 20:12, 13). Um deles é chamado de “jovem” (Mc 16:5).Vestidos de branco. No evangelho, Lucas descreve os anjos que anunciaram a ressurreição como “dois varões com vestes resplandecentes” (Lc 24:4; ver também At 10:30; cf. At 11:13).Eis que [...] se puseram ao lado. Ou,estavam ao lado”; eles já estavam ali quando os discípulos perceberam sua presença. |
At.1:11 | 11. Varões galileus. Literalmente, “homens, galileus”. Todos os discípulos, com a possível exceção de Judas (ver com. de Mc 3:19) eram nativos da Galileia e se distin- guiam por seu sotaque galileu (cf. Mt 26:73; ver com. de At 4:13). Mas os anjos conheciam esses homens sem referência a sua forma de falar, assim como conhecem os outros seres humanos (cf. At 10:3-6).Por que estais olhando [...]? Absortos em seus pensamentos, os discípulos pareciam incapazes de desviar o olhar do lugar de onde o amado Mestre havia desaparecido de vista. Os dois anjos quebraram o encanto deles: “Este que ascendeu ao céu é o Filho de Deus; Ele lhes contou Seus planos: virá mais uma vez, então 'por que estais olhando?”' Jesus lhes deixou uma obra a fazer, em preparação para Seu retorno. "Por que buscais entre os mortos ao que vive?” (Lc 24:5). Em certo sentido, os cristãos sempre devem olhar para o céu (ver Fp 3:20).Esse Jesus. O Cristo a quem os discípulos haviam conhecido durante os três anos e meio anteriores. Embora Ele tenha ressuscitado dos mortos e ascendido ao céu como o Filho de Deus, ainda conservou a natureza humana (ver DTN, 23-25).Virá. A segunda vinda de Cristo está ligada à ressurreição e à ascensão. Trata-se de um evento prometido que se encontra vinculado a incidentes históricos. As Escrituras revelam Cristo como o criador (Cl 1:16; Hb 1:2; ver com. de Jo 1:1-3); Cristo encarnado (Fp 2:7; Hb 2:14, 15; ver com. de Jo 1:14); Cristo crucificado (At 17:3; ICo 15:3, 4; ver com. de Mt 27:31-56; Jo 19:17-37); Cristo ressurreto (Rm 1:3, 4; ICo 15:3-22; ver com. de Mt 28:1-15; Jo 20:1-18); e Cristo como o rei vindouro (Mt 24:30; Ap 11:15; 19:11- 16; ver com. de Mt 25:31). Essas revelações, que não podemos ousar omitir, formam umaapresentação unificada do Filho de Deus em sucessivas fases de Sua grande obra de salvação aos seres humanos para Seu reino. Em todas essas fases, ele é “esse Jesus”; “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre”(Hb 13:8).Do modo como. Esta promessa significa que Seu retorno deve ser: pessoal - “esse Jesus” (ver DTN, 832); visível — “como o vistes subir”; nas nuvens - ''uma nuvem o encobriu”; e certo — “virá”. A promessa tranquila, mas solene dos conselheiros angelicais confere certeza à doutrina da segunda vinda de Cristo, garantida pela realidade da ascensão. Ou é tudo verdade: o evento e a promessa, ou nada o é. Sem o segundo advento, toda a obra anterior no plano da salvação seria tão vã quanto semear e cultivar a plantação, mas deixar de colher. |
At.1:12 | 12. Então, voltaram. Os discípulos se afastaram da cruz com profunda tristeza e grande frustração. Após cada uma das aparições do Mestre ressurreto, foram deixados em perplexa esperança. Porém, depois de ver o Senhor ser elevado ao céu, eles voltaram com alegria, certos de que Ele viria outra vez.Para Jerusalém. Em obediência à ordem do v. 4.Olival. O local da ascensão, o monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém na direção de Betânia, na metade do caminho para essa vila (ver com. de Mt 21:1). Betânia ficava a 15 estádios (do gr. stadia, ver vol. 5, p. 38), ou seja, cerca de 3 km, de distância de Jerusalém (Jo 11:18). Lucas explica que, depois do último encontro com os discípulos em Jerusalém, Jesus “os levou para Betânia” (Lc 24:50), possivelmente por se tratar de um ambiente familiar que Ele muito amava. De lá, uma curta caminhada de volta pelo “monte chamado Olival” os levaria de novo a Jerusalém.Jornada de um sábado. Expressão que só ocorre nesta passagem das Escrituras, referindo-se à distância de Jerusalém aomonte das Oliveiras (ver com. de Êx 16:29; ver vol. 5, p. 38). Josefo mede esta distância como cinco ou seis stadia, ou estádios (Antiguidades, xx.8.6; Guerra dos judeus, v.2.3 [70]), cerca de um quilômetro. A Mishnah concorda com esses números, pois define o “limite do sábado” como 2 mil côvados. Ela diz: “Se um homem que tem permissão de fazê-lo vai além do limite do sábado e depois descobre que o ato [que ele tinha a intenção de fazer] já fora realizado, tem o direito de se mover por 2 mil côvados em qualquer direção. Se ele ficar dentro do limite do sábado, será considerado como se não tivesse saído. Todos aqueles que saírem para salvar vidas podem voltar para o lugar original” ÇErubin, 4.3, ed. Soncino, Talmude, p. 306).Havia maneiras de superar a inconveniência causada por tal “limite”. “Se um homem em jornada [a caminho de casa] for tomado pelo crepúsculo, e souber de uma árvore ou de um muro e disser; ‘Que minha base no sábado seja sob ti', tal declaração não tem nenhum valor. Se, contudo, disser: ‘Que minha base no sábado seja em sua raiz’, ele poderá caminhar do lugar onde está até a raiz nu ma distância de 2 mil côvados e da raiz até sua casa mais 2 mil côvados. Portanto, poderá andar 4 mil côvados depois do pôr do sol. Se não souber de nenhuma árvore ou um muro [...] e disser: ‘Que minha posição atual seja minha base no sábado’, sua posição lhe dá o direito de andar 2 mil côvados para qualquer direção [...] Os sábios, porém, legislaram: as distâncias devem ser quadradas, no formado de um quadrilátero perfeito, mas que ele possa ganhar a área das extremidades” (Mishnah 'Erubin, 4.7, 8; ed. Soncino, Talmude, p. 343, 344).“Os sábios não criaram a lei para acrescentar restrições, mas, sim, para diminuí- las'' (ibid, 5.5, ed. Soncino, Talmude, p. 411).Acredita-se que a origem da medida de 2 mil côvados se encontre na tradição deque a distância da tenda mais afastada no arraial dos israelitas no deserto até a tenda do encontro, ou o tabernáculo (cf. Nm 35:5), era o máximo que um hebreu poderia andar sem que se pudesse dizer que ele saiu “do seu lugar no sétimo dia” (Ex 16:29). O mais provável é que tenha sido a distância especificada por Josué para ser mantida entre o povo e os levitas que transportavam a arca na travessia do Jordão (Js 3:4).Crisóstomo (Homilia 111, Atos 1:12) supôs que a ascensão deve ter ocorrido no sábado, para justificar a menção à “jornada de um sábado”. Tal conclusão não se faz necessária. Provavelmente a ascensão ocorreu numa quinta-feira (ver Nota Adicional a Mateus 28). |
At.1:13 | 13. O cenáculo. Não no templo (Lc 24:53), onde os discípulos continuavam a cultuar (cf. At 3:1), mas no cenáculo de uma casa particular, sob um telhado plano, onde podiam ficar reclusos (ver com. de Mt 26:18; Mc 14:15; Lc 24:33; Jo 20:19).Pedro. Ver a lista dos apóstolos, no com. de Mt 10:2-5; Mc 3:13-19. |
At.1:14 | 14. Perseveravam unânimes. Ou, aqui e em Atos 2:46, “perseveravam com uma só mente ’, isso estava em contraste com o espírito competitivo demonstrado na última Ceia (Lc 22:24). Esse período de espera foi marcado por alegria e solenidade. Este foi o início da unanimidade que proporcionou resultados tão dinâmicos dias depois (At 2:1, 41).Em oração. Do gr. te proseuchê. Há pelo menos duas interpretações possíveis para o termo: “em oração” ou “no lugar de oração”, sentido que ocorre em Atos 16:16. Alguns sugerem que os discípulos não permaneceram no cenáculo o tempo todo, mas que iam à sinagoga de vez em quando, e que tais visitas são mencionadas em Lucas 24:53 como: “estavam sempre no templo”.E súplicas (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão destas palavras (como na ARA). Permanece, porém,a realidade de que os discípulos ficaram unidos em oração. Durante os dias que antecederam o Pentecostes, 120 pessoas (v. 15) clamavam pelo cumprimento da promessa da vinda do Espírito, o Consolador (Jo 14:16), com poder (At 1:8), “não muito depois destes dias” (v. 5; ver A A, 36, 37).O texto contém uma fórmula excelente para uma oração eficaz: (1) o pedido: eles oraram; (2) a perseverança: eles continuaram em oração; (3) a unanimidade: eles oraram em comum acordo (ver com. de Mt 18:19, 20; Lc 18:1-8).Com as mulheres. Ou, “com mulheres”, que pode se referir às esposas dos que estavam reunidos. O fato de “Maria, mãe de Jesus", que não era esposa de nenhum dos homens presentes, ser mencionada separadamente apoia essa ideia. No entanto, a interpretação costumeira é de que “as mulheres” faz alusão àquelas que assistiam Cristo, como Maria Madalena, Joana, Susana “e muitas outras” (ver Nota Adicional a Lucas 7; ver com de Lc 8:2, 3).Maria. Esta referência à mãe de Jesus é esclarecedora. Seu relacionamento único com o Senhor assunto ao céu justifica o fato de ser destacada e receber menção especial, mas ela não é alvo de nenhuma pree- minência indevida. Nesta última aparição nas Escrituras, ela faz parte de um grupo unido, formado por pessoas que “persevera- ram unânimes em oração”. As lendas relativas a sua vida e posição após a morte não têm base bíblica, nem factual.Os irmãos dEíe. Eram Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13:55; ver com de Mt 12:46; Mc 6:3). Eles haviam permanecido indiferentes a Jesus (Jo 7:5; DTN, 450, 451) e não são mencionados entre os que se reuniram em volta da cruz (Jo 19:25-27). Mas as cenas finais da vida terrena de Cristo os levaram à conversão e então faziam parte dos fiéis. Nada mais se ouve sobre Simão e José, mas é provável que Tiago seja aquele que setransformou num líder da igreja (ver com. de At 12:17; ver At 15:13; ICo 15:7; Cl 1:19; vol. 5, p. 58, 59). Muitos acreditam também que ele seja o autor da epístola de Tiago (ver Introdução à epístola de Tiago, no vol. 7). Judas pode ser o mesmo que escreveu a breve epístola com esse nome (ver com. de Mc 6:3; ver Introdução à epístola de Judas, no vol. 7). |
At.1:15 | 15. Naqueles dias. Entre a ascensão e o Pentecostes. A ascensão ocorreu 40 dias após a ressurreição (v. 4). Passaram-se, portanto, dez dias até o Pentecostes, o 50° cfia da Festa das Semanas (ver com. de Lv 23:16; At 2:1; ver vol. 5, p. 230).Pedro. Sobre o chamado dele, sua posição e seu caráter, ver com. de Mc 3:14-16. As lições que ele havia aprendido com Jesus (Lc 22:32; Jo 21:15-17; ver DTN, 812, 815) começaram a dar bons frutos. Seus dons naturais foram santificados por meio da conversão, e sua liderança emergiu na igreja. Mas não há nada de ditatorial em suas orientações. Ele estimulou seus irmãos a agirem de comum acordo, e as decisões que se seguiram foram tomadas por todo o grupo, não por um só homem. Pedro assumiu um papel proeminente na igreja apostólica. Seu sermão no Pentecostes é o único que foi registrado (At 2:14-40). Outros sermões que proferiu também foram considerados dignos de menção especial (At 3:12-26; 4:8-12; 10:34-43). Junto com João, ele realizou a primeira cura registrada em Atos (3:1- II), e seu poder para curar recebe destaque (At 5:15; 9:32-41). Ele desempenhou aparte principal na repreensão a Ananias e Safira (At 5:3-11). Fica claro que exercia posição de liderança na igreja apostólica, mas desaparece do registro de Lucas após Atos 15:7, quando a atenção passa a se concentrar em Paulo (sobre a suposta supremacia de Pedro, ver com. de Mt 14:28; 16:16-19).Irmãos. Neste caso, os “irmãos” não se restringem apenas aos irmãos de Cristo, como no v. 14, pois havia cerca de 120 pessoaspresentes na ocasião. Fica claro que a ocasião era um encontro formal, convocado para a eleição do 12° apóstolo, que assumiría o lugar de judas Iscariotes.Assembléia. Literalmente, “multidão de nomes”, isto é, grupo de pessoas.Cento e vinte. A palavra “umas” indica que este número é aproximado, mas o grupo era grande o suficiente para formar uma base sólida para a incipiente igreja em Jerusalém. Este total não inclui a soma de todos os que creram, pois “mais de quinhentos irmãos” viram Cristo depois da ressurreição (iCo 15:6). |
At.1:16 | 16. Irmãos. Literalmente, “homens, irmãos”. Alguns sugerem que talvez Pedro estivesse se dirigindo aos homens do grupo e somente eles teriam participado da eleição do 12° apóstolo.Convinha. Não que os eventos tenham sido dirigidos para se adequar à Escritura, mas, que a Escritura, inspirada pelo Espírito Santo, previra os acontecimentos. Mateus faz uso semelhante de citações do AT (ver com. de Mt 1:22).A Escritura. Citada no v. 20. Observe que, desde o princípio, a igreja apostólica apelou para o AT e sua autoridade.Espírito Santo. Nesta passagem, Pedro revela a convicção dos discípulos acerca da inspiração dos salmos de Davi. Eles criam que Davi falava (ou escrevia) como porta-voz do Espírito. Esse ensino está de acordo com 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:21.Judas. Note como o apóstolo usa as Escrituras. Ele identifica seu cumprimento após o evento e, com ousadia, o aplica a um indivíduo, Judas, embora Davi não mencione o traidor pelo nome.Oue foi o guia. Literalmente, “tornou- se um guia” (ver com. de Mt 26:3, 14, 47). Aquele que fora ordenado para levar pessoas a Cristo a fim de que se salvassem escolheu levar pessoas a Cristo para prender o Salvador. Há comedi mento na descriçãode Judas. A despeito do horror que Pedro e os apóstolos deveríam sentir, não há recri- minações. Ele deixa o julgamento do traidor nas mãos de Deus. |
At.1:17 | 17. Contado entre nós. Considerado parte do grupo de apóstolos (Mt 10:4; Mc 3:19; Lc 6:16). Não há registro de seu chamado para ser discípulo; ele se ofereceu para ser incluído entre os doze (ver DTN, 293, 294).Teve. Ou, “obteve como porção”’ ou “recebeu por atribuição divina”, enfatizando sua aceitação como discípulo por Cristo.Parte. Do gr. klêros, “porção”, “porção atribuída” ou “divisão”. E deste termo que se origina a palavra “clero”.Ministério. Do gr. diakonia, “serviço”, “ministério”, que, mais tarde, passou a significar “diaconato”. Os obreiros da igreja apostólica sentiam a responsabilidade de ministrar (diakonia) o evangelho (At 12:25; 20:24; iCo 16:15; Cl 4:17; 2Tm 4:5). |
At.1:18 | 18. Este homem adquiriu. Os v. 18 e 19 podem ser uma explicação de Lucas inserida no discurso de Pedro; dificilmente o apóstolo precisaria dar detalhes sobre a morte de Judas para os 120 presentes. Não é preciso entender, com estas palavras, que Lucas acreditava que Judas havia comprado um “campo com o preço da iniquidade” antes de sua morte. Com o dinheiro, o traidor comprou o campo, e seu sepultamento foi feito a li como retribuição por sua iniquidade. O registro de Mateus é explícito: quando viu que Jesus fora condenado à morte de cruz e não Se esforçava para Se salvar, Judas sentiu remorso. Devolveu as 30 moedas de prata aos sacerdotes com quem fizera a barganha e foi se enforcar. Com o dinheiro, os principais dos sacerdotes compraram o canrpo do oleiro, onde os resíduos da olaria eram jogados e lá sepultaram Judas. Por causa disso, ou porque seu dinheiro representava o preço de sangue inocente, o lugar foi chamado de “campo com o preço da iniquidade' (ver com.de Mt 27:3-10; ver DTN, 722). A diferença entre os relatos de Mateus e Lucas é retórica, não factual: tudo que Judas recebeu como recompensa foi um sepultamento desonroso numa terra estéril.Precipitando-se, rompeu-se pelomeio. Há evidências de que as palavras assim traduzidas podem ser interpretadas com o sentindo de "inchando-se”. Contudo, elas são insuficientes para recomendar tal tradução, judas, o discípulo de Jesus que alimentava grandes ambições, buscou alcançar poder terreno ao se identificar com o reino que pensava Jesus fundaria no mundo. Sua morte terrível revela os resultados trágicos desse tipo de ambição. Em vez de chegar às alturas a que aspirara, ele acabou "precipitando-se”, e pereceu. |
At.1:19 | 19. Chegou ao conhecimento de todos. Quando o relato da traição de judas e de seu suicídio se espalhou, é provável que tenha influenciado o povo de Jerusalém a assumir uma postura favorável a Cristo, pois as pessoas perceberam que Jesus fora vítima de uma conspiração dos sacerdotes e da traição de um discípulo. Além disso, as cenas da cruciíixão foram testemunhadas por multidões (Lc 23:27, 35; jo 19:19, 20; DTN, 741, 775-777). Aqueles que ressuscitaram das sepulturas após o grande terremoto apareceram a muitos (Mt 27:52, 53; DTN, 786). O sacrifício de Cristo pelos pecadores não aconteceu em segredo nem ficou escondido (At 26:26).Sua própria língua. Literalmente, "seu próprio dialeto [dialektos]”. Isto sugere que o aramaico não era a língua de Lucas e que ele não era judeu.Era chamado. Alguns sugerem que o uso do verbo “era chamado” fornece uma evidência espontânea de que Lucas escreveu Atos antes da destruição de Jerusalém, em 70 d.G., pois, depois disso, nomes de lugares l igados a eventos foram esquecidos, com exceção dos mais significativos.Aceldama. Uma transfiteração para o grego do aramaico chaqel denm\ “campo de sangue”. A tradição o associa a Hakk ed-Dumm, no lado sul do vale de Hinom, ao sul de Jerusalém (ver com. de Mt 5:22). O campo comprado com 30 moedas de prata era usado para enterrar estrangeiros que não tinham parentes, nem amigos para sepultá- los (Mt 27:6-10; cf. Zc 11:12, 13). |
At.1:20 | 20. Está escrito. A conexão com o v. 17 deve ser observada e mantida. Depois da explicação nos v. 18 e 19, Pedro cita o Salmo 69:25 (da LXX, com algumas alterações) e o Salmo 109:8 (também da LXX). O Salmo 69 inclui imprecações sobre os inimigos de Davi, mas também contém declarações proféticas pertinentes ao Messias, nos v, 7 a 21. O v. 25 é, em primeiro plano, uma maldição sobre os inimigos de Davi e, em sentido amplo, sobre os inimigos do Messias, aplicando-se, portanto, a judas. O Salmo 109 também é imprecatório, usando termos ainda mais fortes que o anterior. (3 v. 8 é uma súplica para que o inimigo em questão tenha vida curta e seja demovido de suas responsabilidades (ver com. de SI 69; 109).Judas e seus terríveis atos são paralelos ao que o salmo relata, e seu merecido destino corresponde ao dos inimigos descritos nestas passagens. Este é um tipo de exegese usado com frequência no NT para interpretar o AT e fazer aplicação de suas passagens (cf. IPe L10, 11; cf. com. de Dt 18:15). ’Neste caso, Pedro toma uma citação e a aplica ao campo que Judas comprou (ver com. do v. 18), prevendo que ele não seria habitado.Encargo. Esta tradução é preferível a “bispado” (ARC; ver p. 1.1, 26). Do gr. episkopê, “supervisão”, “responsabilidade ”, “ofício”. Os bispos eram os oficiais da igreja da Inglaterra em 1611, quando foi feita a KJV, que deve ter influenciado tradutores da ARC e AC 1 . E compreensível que os tradutores anglicanos tenham lido esse significado napalavra grega que significa “supervisão” ou ''superintendência’’, usando um termo com forte conotação eclesiástica (sobre o significado das palavras presbyteros, “presbítero”, e episkopos, "bispo ’, no NT, ver p. 11, 26).Os apóstolos usaram Salmos 109:8 como fonte de autoridade para a eleição de outro para assumir o lugar que judas deixara. |
At.1:21 | 21. E necessário. Do gr. dei (cf. v. 16). Pedro considerou que o número original de discípulos deveria ser mantido. Sem dúvida, os apóstolos tinham o conceito de que o número 12 expressava totalidade, seguindo o exemplo das doze tribos de Israel. Aliás, eles haviam recebido a promessa de doze tronos para governar as tribos (Alt 19:28), promessa que lembra as doze estrelas na coroa da igreja (Ap 12:1) e os doze fundamentos da muralha da nova Jerusalém, com o nome dos doze apóstolos neles (Ap 21:14). Jesus havia ordenado ao ministério um grupo de doze, e um deles havia se perdido. Pedro raciocinou: é necessário o número completo para dar testemunho de todos os aspectos da vida e das obras do Senhor; uma tarefa poderosa se encontrava à frente deles, e a quota total de testemunhas era necessária para cumpri-la.O número 12 foi alterado com o martírio de Tiago por volta de 44 d.C. (At 12:2), mas não há registro da nomeação de um sucessor.Dos homens. Parece que vários dentre os cristãos tinham as qualificações necessárias para suceder judas, embora apenas um tenha sido escolhido.Que nos acompanharam. Pedro descreve as qualificações desejáveis no candidato. Ele deveria ter acompanhado os discípulos ao longo do ministério terreno do Senhor, desde os dias de João até a ascensão de Cristo.Andou. ’!ermo hebraico que se refere às atividades diárias, como as que Jesus partilhou com os discípulos. |
At.1:22 | 22. Começando. Comparar com''princípio'' (Mc 1:1).Batismo de João. Pode se referir à época em que joão pregava ou ao dia específico do batismo de Jesus.Um destes se tome. Do gr. ginomai. Para alguns, a expressão “seja ordenado”, da KJV, reflete os princípios de administração da igreja defendidos pelos tradutores dessa versão. Alas esse pressuposto não é necessário, pois os doze haviam sido ordenados pelo Mestre (ver com. de Mc 3:14; ver DTN, 296) e seria adequado que o eleito fosse separado para o ministério de maneira semelhante.Testemunha. Ver com. do v. 8. A ênfase repousa sobre o testemunho do falo histórico da ressurreição (ver com. de Le 24:48). |
At.1:23 | 23. Propuseram. E provável que se refira a todo o grupo de 120, embora o contexto imediato dos v. 21 e 22 pareça limitar- se apenas aos onze apóstolos.Propuseram dois. Do gr. estesan duo; estas palavras podem ser traduzidas por "colocaram dois em f rente” ou “dois se levantaram”. No sentido anterior, esta passagem significa que José e Matias foram indicados pelos discípulos como os candidatos sobre os quais seriam lançadas as sortes. Caso o verbo seja compreendido no último sentido, indicaria que Pedro mencionou as qualificações necessárias para o homem que substituiría judas e perguntou se havia alguém assim entre os presentes; então, José e Matias se levantaram.José. Nome judaico comum (ver com. de Gn 30:24).Barsabás. Do gr. barsabas, uma translite- ração do aramaico, talvez barshabba, que significa “filho do sábado”, ou seja, alguém que nasceu no dia de sábado, ou bar sabei, “f ilho de idosos”. Alguns tentam identificar este Barsabás com Barnabé, o levita de Chipre, que se tornou companheiro missionário de Paulo (At 4:36; 9:27; 11:22, 24), mas não há base bíblica para isso. É possível que fosse irmão do Judas Barsabás mencionado em Atos 15:22.Justo. Sobrenome latino. Nos tempos romanos, muitos judeus assumiram nomes assim.Matias. Talvez seja uma forma abreviada de Matatias, que vem do heb. Mattithyah, “presente de Yahweh”. Ele não é mencionado de novo, com exceção do v. 26, e não há tradição confiável sobre sua carreira. Eusébio (História Eclesiástica, 1.12.3; iii.25.6) o inclui entre os setenta e menciona um evangelho apócrifo atribuído a ele. Diz-se que foi martirizado na Etiópia ou na judeia (ver p. 24). |
At.1:24 | 24. Orando. Esta deve ter sido uma oração tremenda, brotando de uma fé simples e insistente. Em todos os grandes momentos da igreja apostólica, a oração era o recurso buscado de maneira espontânea. Não se tratava de mero hábito, embora o hábito seja bom; nem de ritual, pois o culto da igreja ainda não havia se formalizado, mas, sim, de uma escolha natural fiara os apóstolos, pois o hábito de falar com o Senhor por meio da oração era semelhante a conversar com Jesus face a face enquanto na Terra. A experiência da igreja deve ser sempre assim, tanto no passado quanto agora.Senhor. Uma vez que Cristo havia instruído os discípulos a dirigir seus pedidos ao Pai em nome de Jesus, presume-se que a palavra “Senhor”, neste caso, se refira ao Pai.Conheces o coração. Comparar com ISm 16:7; Sl 139:1-4; Jo 2:25.Revela-nos. Os 120 usaram seu melhor discernimento ao destacar o nome de Barsabás e de Matias. Então, pediram ao Senhor que fizesse a escolha final. |
At.1:25 | 25. Vaga. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “lugar”.Ministério e apostolado. Os apóstolos tinham muita consciência da dignidade espiritual de seu chamado (ver com. do v. 17).Judas se transviou. Ou, “virou para o lado”, "transgrediu”.O seu próprio lugar. A súplica era para que o Senhor escolhesse alguém para substituir aquele que optara pela apostasia e que encontrara “o seu próprio lugar” no desastre e na morte. Esse lugar pertencera a Judas por escolha pessoal. Os acontecimentos provaram o que Senhor já previra (Jo 6:70, 71; 13:2, 21, 26): que o lugar entre os doze não pertencia adequadamente a Judas. |
At.1:26 | 26. E os lançaram em sortes. Isto pode significar que: o grupo lançou sortes em favor dos dois homens ou que os próprios candidatos lançaram sortes. Qualquer que tenha sido o método, o resultado foi a eleição de Matias. Os judeus estavam bem familiarizados com o lançamento de sorte como o método padrão para tomar decisões no AT. Isso ocorria na escolha dos bodes para as significativas cerimônias do Dia da Expiação (Lv 16:5-10); na solução de casos criminais dos quais não se tinha certeza sobre o culpado (js 7:14, 18; ISm 14:41, 42); na escolha de exércitos para a batalha (Jz 20:8-10); e na nomeação a um ofício elevado (ISm 10:19-21). Também foi usado na designação das cidades para os sacerdotes e levitas (lCr 6:54-65) e na distribuição da terra às tribos em Canaã (Nm 26:55; Js 18:10) e no retorno do exílio (Ne 10:34; 11:1; este método é visto também em lCr 24-26). Acreditava-se que o Senhor tinha a palavra final quando se lançavam sortes (Pv 16:33). Os soldados lançaram sortes no Calvário para decidir quem ficaria com as vestes sem costura do Senhor (Mt 27:35; ver com. de Jo 19:23, 24). Mas a escolha de Matias por sortes é o único exemplo registrado desta prática pelos cristãos no NT (sobre a cautela para se recorrer a esse método, ver com. de js 7:14; Pv 16:33).Pelo que conta o relato, a proposta de Pedro de lançar sortes foi aceita sem obje- ções ou discussão. Parece que, depois do Pentecostes, a orientação direta do EspíritoSanto tornou desnecessário o lançamento de sortes (At 5:3; 11:15-18; 13:2; 16:6-9). Um exemplo do uso de sortes na igreja pós- apostólica Foi a seleção de um bispo no terceiro cânon do Concilio de Barcelona, na Espanha, no ano 599 d.C.Vindo a sorte recair. Do gr. sugkatapsêphizomai, de sun, “com’', kata, “baixo”, e psêphos, "seixo”, referindo-se ao antigo método de escolher uma pessoa colocando uma pedra dentro de uma urna. A palavra pode ser traduzida por “votar” ou “inserir”.Com os onze. Aos olhos humanos, Matias havia aceitado uma posição humilde, a de líder em um grupo insignificante de pessoas simples que logo seriam perseguidas. No entanto, para os cristãos, a posição que Matias assumiu tinha possibilidades imensuráveis para o futuro. Não há motivo para se negar a Matias a dignidade de substituto no corpo apostólico. Quanto ao fato de as Escrituras não dizerem nada a respeito de sua obra posterior, deve-se lembrar que também não há menção ao trabalho de André, Filipe (o Filipe de At 9 era diácono), Tomé,Bartolomeu, Mateus, Tiago filho de Alfeu, Si mão Zelote e Judas Tadeu.Não se registra que os discípulos tenham imposto as mãos sobre Matias (cf. At 6:6; 13:3). A igreja acreditava que o Espírito Santo havia demonstrado Sua aprovação por meio das sortes lançadas. Nesta escolha de Alatias, há evidências significativas da organização da igreja: (1) reunião oficial dos crentes; (2) discussão de um assunto importante para a administração da igreja; e (3) decisão e execução. A igreja foi organizada e esperou pelo poder divino.Alguns sentem o desejo de nomear Paulo como o 12° apóstolo. Mas, embora tenha se denominado apóstolo várias vezes (Rm 1:1; ICo 1:1; 2Co 1:1), Paulo nunca afirmou ser um dos doze, nem é chamado assim em passagem alguma. Na verdade, ele conhecia e enfatizava a distinção nesse ponto (ICo 15:5, 8). Deixou claro que não recebeu dos doze o conhecimento do evangelho (G1 1:11, 12, 15-19). Ele seguia um programa separado do deles (Rm 15:20, 21). Ellen White afirma que Paulo assumiu o lugar de Estêvão (ver PE, 199; AA, 102).Tl, 41; T2, 194Capítulo 2I Cheios do Espírito Santo, os apóstolos falam em línguas; alguns admiram; outros zombam. 14 Pedro explica que o dom divino se manifesta neles por que Jesus ressuscitou, ascendeu ao Céu e cumpre a promessa do Espírito.tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. |
At.2:1 | 1. Cumprir-se. Literalmente, "estava se cumprindo” ou “enchendo-se”. Parece que a palav ra loi escolhida para indicar que o dia havia chegado. Talvez que fosse o início da manhã.Día. As autoridades rahínicas permitiam um dia para a celebração do Pentecostcs aos judeus da Palestina. Já os judeus da diáspora recebiam dois dias para a festa.Pentecostcs. Lm gr. pentêkostês, do adjetivo que significa “quinquagésimo”, uma referência aos cinquenta dias entre oinício da Festa dos Pães Asrnos e a Lesta das Primícias (Festa das Semanas ou Penle- costes). (3 primeiro liso desta palavra grega para a Festa das Semanas hebraica ocorre em Tobias 2:1 (escrito por volta de 200 a.C.) e em 2 Macabcus 12:32 (e, 120 a.C.), mostrando que o termo já era empregado pelos judeus muitos anos antes da era cristã (sobre o Pentecostcs e sua posição no calendário judaico, ver com. de I \ 2 3:16; Lv 23:16; ct. vol. I, p. 764; vol. 2, p. 89-92; vol. 5, gráfico 10, p. 230). Segue-se uma breve síntesedos latos relevantes e sua relação com o derramamento do Espírito Santo nessa ocasião.O dia de Pentecostes dependia da data da Páscoa. A Páscoa era celebrada em 14 de nisã. O dia 15 marcava o início da Festa dos Pães Asmos e, no dia 16, um feixe das pri- mícias (da colheita de cevada) era movido perante o Senhor (Lv 23:5-11). A partir do dia 16, contavam-se sete semanas e um dia, 50 dias, fazendo um cálculo inclusivo, para a Festa das Priinicias (da colheita do trigo), também conhecida como Festa das Semanas, por causa das sete semanas que se passavam (Lv 23:15, 16). Essa festa passou a ser chamada de Pentecostes.No ano da crucifixão, 16 de nisã caiu num domingo (ver Nota Adicional 1 a Mateus 26). Por isso, o Pentecostes, 50 dias inclusivos depois (sete semanas e um dia), também caiu num domingo do mesmo ano. No entanto, não há base bíblica para se considerar o domingo como dia santo por esse motivo (ver com. de Mt 28:1).De todas as festas do ano judaico, o Pentecostes era a que mais atraía peregrinos de terras distantes. Os perigos de se viajar por terra e mar, no início da primavera e no final do outono (ver At 27:9), impediam as pessoas de se dirigirem de terras distantes em grande número para a Páscoa ou para a Festa dos Tabernáculos. Mas a época do Pentecostes era favorável. Portanto, nenhuma outra celebração teria representantes de tantas nações em Jerusalém. Não haver ia outra ocasião em que o dom do Espírito produziría efeitos tão diretos, imediatos e abrangentes. Além disso, a natureza das ofertas, era sua maioria pacíficas e de consagração, conferiam uma atmosfera alegre ao dia. Até mesmo o pão era fermentado, indicando um novo espírito de libertação e comunhão entre os celebrantes, que se regozijavam juntos. O Pentecostes se parecia com um festival de colheita. Inclusive Paulo, que pouco se interessava por esse tipo de observância(Rm 14:5), demonstrava entusiasmo para celebrar o Pentecostes em Jerusalém, a despeito cie suas viagens missionárias na Ásia e na Grécia (At 18:21; 20:16).Cada aspecto da antiga Festa das Semanas apresentava um significado simbólico que a transformava num tipo da obra que estava prestes a se cumprir. Assim como na Festa das Primícias, era apropriado que fosse a ocasião para a primeira colheita dos campos que “já branquejavam para a ceifa” (Jo 4:35; ver Ex 23:16). Nesta festa, os israelitas se lembravam de que haviam sido escravos no Egito e podiam sentir mais uma vez a liberdade que o êxodo lhes concedera do trabalho servil (Dt 16:9-12; Lv 23:31). Portanto, era o momento adequado para o derramamento do Espírito de Deus, uma vez que “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3:17). Esse Espírito guiaria a igreja pela verdade, a qual liberta todo aquele que a recebe (jo 8:32).E interessante relembrar que os rabinos, os quais fizeram o computo do intervalo entre a primeira Páscoa e a entrega da lei no Sinai, concluíram que Deus falou a lei ao povo (Ex 20:1) no dia que mais tarde passou a ser observado como o Pentecostes. Por meio dessa tradição, acredita-se que a festa adquiriu um caráter comemorativo.O Pentecostes era um dia grandioso na experiência israelita, um tipo apropriado para o dia mais grandioso ainda no qual o Espírito de Deus foi disponibilizado a todos aqueles que se prepararam para recebê-Lo.Estavam. Provavelmente os 120 e outros que se uniram a eles.Todos. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a variante "juntos”. O autor afirma que “eles estavam todos juntos”.Fica claro que existia união entre os crentes. O ciúme revelado na falha em curar o rapaz possesso pelo demônio (Mc 9:14-29; DTN, 427, 429-431), na luta pela posição mais elevada (Lc 22:24) e na recusa em lavaros pés uns dos outros (ct. Jo 13:3-17; DTN, 643, 644) se dissipara do coração deles com a agonia da crucifixão, a glória do Cristo res- surreto e a majestade da ascensão. O Mestre ressuscitara no dia da oferta do feixe movido de cevada, as Primícsas, das quais era o antí- tipo. Durante um período de 40 dias, permaneceram em contato com Ele, ainda na terra. Outros dez dias se passaram até chegar o dia de Pentecostes, enquanto aguardavam a promessa do Pai. O que a promessa traria? Os dez dias de expectativa foram repletos de oração perseverante e em unanimidade (Aí 1:14; A A, 36, 37). A mesma unidade deve caracterizar o povo de Deus sempre que este aspira a lima experiência especial com o Senhor, ou espera uma manifestação de Seu poder. Tudo que interfira na unidade dos crentes deve ser removido, para não obstruir o caminho do Espírito, que faz a obra de Deus em Seu povo.No mesmo lugar. Talvez fosse o mesmo cenáculo no qual se realizou a última Ceia (Lc 22:11-14). Também é possível que consistisse no mesmo ambiente no qual os discípulos se abrigaram após a crucifixão e para o qual retornaram depois da ascensão (ver com. de At 1:13). Alguns defendem a possibilidade de os discípulos estarem se reunindo em um dos cômodos do templo, que Josefo chama de oikoi, "casas” (Antiguidades, viii.3.2 [65, 66]), os quais podiam ser usados por amigos ou membros de uma associação em ocasiões de festa. Mas parece improvável que os discípulos arriscassem ser vistos juntos num lugar tão público quanto a área do templo. |
At.2:2 | 2. De repente. Sem aviso, inesperadamente. Os 120 não faziam a menor ideia de como o Consolador viria.Do céu. Literalmente, “de fora do céu”, o lugar de onde o Espírito Santo desceu sobre Jesus em Seu batismo (Mt 3:16; Lc 3:21, 22).Um som. Do gr. êchos, "som” ou “barulho”, de onde provém a palavra “eco”. É usadapor Lucas no evangelho (Lc 21:25) para se referir ao “bramído” do mar e das ondas, e pelo autor de Hebreus (l íb 12:19) para falar do “clangor” de uma trombeta do Sinai.Um vento impetuoso. Literalmente, “um vento violento sendo soprado adiante”. Note que não era um vento de fato, rnas “como de” ou "semelhante a” um vento. A impressão sensorial causada sobre os que passaram pela experiência era como se fosse um vento. A palavra traduzida por "vento” (pnoê) é usada no NT somente aqui e em Atos 17:25 ("respiração”). Ela é usada neste mesmo sentido na LXX. E possível que Lucas tenha escolhido pnoê para descrever o “fôlego” sobrenatural que os discípulos estavam prestes a vivenciar e que deve tê-los feito recordar a sensação que experimentaram quando o Senhor "soprou sobre eles” e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22). Mais uma vez, sentiram o impacto da “respiração” divina, que inspira reverência.Encheu. O verbo não tem sujeito, e o contexto não deixa claro a quem se refere. Pode ser tanto ao “som” quanto ao “vento’'. Contudo, muitos comentaristas defendem que a referência seja ao “vento”, ou, ao Espírito Santo (cf. Jo 3:8).Tocla a casa. Ou, "a casa inteira”, isto é, o “mesmo lugar” do v. 1. O som e o vento têm a capacidade de preencher rapidamente cada canto e orifício de uma construção. O mesmo ocorreu com a vinda do Espírito, que encheu o lugar onde os cristãos estavam reunidos.Estavam assentados. No início cio dia (ver v. 15), possivelmente aguardando a hora cie oração. |
At.2:3 | 3. Apareceram. Literal mente, “apareceram para eles”. Os crentes haviam acabado de receber uma sugestão audível da vinda do Espírito (v. 2) e então tiveram uma evidência visível de Sua chegada.Distribuídas entre eles, línguas. O texto grego transmite a ideia de um corpoPüt-O' . '<¦/.wcosr' _/ Bósíoío umérioM A H A/ h G R QtsA A L E D O /Tt ^riloniCi • m "T* rvAmum°A/ro"perqamox , A» [(atira,,¦A .Sardes V, 0 bese,Coimiu •//'° M-rU4s < vv'C -• ' 'o' ® "'® ^ntioqu«d r,r 1 e " ,Ria Hvndos ?, OUcama^o Fl,, .Dmbn «rais0 M t^pa.ta - í.ifi ^ ' ,0-;, ;* í ;ci \ ^'a'; ;¦ A‘ r- ' A 'AnuLo FataefA Adanuoquk»- CO r; • ;bortynaM A R G n A N D íS^iamiru'''i H ! c p i E 'ofOjVr QTO ÀuillS• 8?Mlb VlibmSidom,»o «Dama-aJeru^aiemApAiCO(Dispersão dos judeus, primeiro século d.C.): Maior concentração da população judaica) 250 500 750 1000 kmr rsi ap7 ) rAr \rr,o.¦ Nisibis°p,p É R• CtasitonteSeleudc) • a«„. .... o1 Babilônia \ v ^\ Nehardea? \Aiexanana - Maiean» ' - ~ov'- il ’• ui ali A' AR Á B I /\G l H0 i\ . Ede fogo inicial que se dividiu em muitas línguas menores, as quais pairaram sobre cada membro do grupo. A imagem das “línguas” é apropriada quando se leva em conta o dom da oratória que o Espírito derramou sobre os cristãos.Fogo. Não eram chamas reais, mas, sim, "como de fogo’’, isto é, "semelhantes ao fogo” (cf. "como de um vento impetuoso”, v. 2). Com frequência ao longo das Escrituras, a divindade é relacionada ao togo (cf. Ex 3:2; Dt 5:4; SI 50:3; Ml 3:2), sem dúvida por causa do efeito poderoso, glorioso e purificador das chamas. João Batista prometeu que Cristo batizaria "com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3:11).Pousou. Há duas interpretações possíveis para esta frase. O sujeito oculto de "pousou" pode se referir a cada uma das línguas individuais ou ao Espírito Santo, no v. 4. O verbo grego traduzido por "pousar” sugere uma acomodação sobre algo, e o tempo verbal indica uma ação momentânea, não contínua. Embora as línguas de togo tenham permanecido por pouco tempo sobre os crentes, seus efeitos duraram por toda a vida dos cristãos fiéis que receberam o Espírito. |
At.2:4 | 4. Todos ficaram cheios. Este é o cumprimento da "promessa do Pai” (ver com. de At 1:4, 5) e o resultado dos dez dias de espera em oração. Os discípulos foram instruídos a orar, pedindo o Espírito (Lc 11:13). Na noite seguinte à ressurreição, Cristo "soprou sobre eles” e declarou: "Recebei o Espírito Santo’’ (Jo 20:22). Preenchendo o mais profundo do ser e despertando cada faculdade de ação intensa, o Espírito prometido veio sobre eles. A partir de então, ingressaram na experiência dos profetas, pensando e falando, com o dom de línguas, palavras que não vinham deles mesmos (cf. 2Pe 1:21).Não se deve pensar que o derramamento do Espírito se limitou aos apóstolos. As palavras e o contexto levam o leitor a crer que todos os reunidos, inclusive as mulheres,participaram do recebimento do dom do Espírito Santo. Se não fosse o caso, dificilmente Pedro poderia ter citado a aplicação da profecia de Joel como o fez em seu discurso (At 2:16-18).Espírito Santo. O AT tem muitas referências claras ao Espírito de Deus (entre elas, Nm 24:2; jz 6:34; iSm 16:13; 2Sm 23:2; 2Cr 24:20; SI 51:11; Is 48:16; Ez 11:5; J1 2:28, 29). Mas nenhuma manifestação do Espírito no AT pode se comparar à que sobreveio aos discípulos no Pentecostes, considerando a identificação inequívoca do Agente, a plenitude do derramamento e os resultados que se seguiram. E por isso que esse fato costuma ser considerado o nascimento da igreja. Os grandes episódios da vida terrena de Jesus, incluindo nascimento, batismo e recebimento do Espírito Santo, criicifixão, ressurreição e ascensão, tiveram suprema importância e centralidade no desenvolvimento do plano da salvação. Mas o derramamento do Espírito no dia do Pentecostes confirmou a aceitação celestial do grande sacrifício de Cristo e Sua entronização com o Pai (ver AA, 38, 39). Por meio desse derramamento, a igreja recebeu poder para fazer por Cristo algo que nunca se tentara realizar antes: a pregação das boas-novas de salvação a todas as nações.Não se tratou de um mero “mover” do Espírito. Também não foi apenas o "fôlego" do Espírito. Os discípulos foram preenchidos pelo Espírito Santo, que tomou posse completa deles. A partir de então, a igreja passou a ser um instrumento do Espírito. Nada no registro posterior sugere que as pessoas que receberam o Espírito naquele dia memorável tenham perdido Seu poder depois. As gerações seguintes de cristãos, cada vez mais alheias à experiência do Pentecostes, passaram a ficar cada vez menos receptivas a esse dom divino, e o resultado foi a apostasia.Passaram. Este fato marca o início imediato do efeito da descida do Espírito sobreos discípulos. Não houve espera, nem período de aprendizagem; eles "passaram a falar” imediatamente.Outras línguas. Ou, "línguas diferentes’’, ou seja, línguas diferentes de sua língua materna. A palavra grega traduzida por "línguas” {glõssai) aqui e no v. 11 se refere, primeiramente, ao órgão da laia, mas com frequência é usada para se referir ao idioma.A habilidade de falar em línguas estrangeiras foi um dom concedido aos discípulos com o propósito especial de levar a mensagem do evangelho a todo o mundo. Peregrinos dos quatro cantos da Terra (ver com. dos v. 9-11) se reuniram em Jerusalém para a Festa de Pentecostes. Por serem judeus da diáspora (ver mapa, p. 124; vol, 5, p. 46-49), é possível que entendessem hebraico o suficiente para participar dos cultos no templo, mas não conseguissem lidar com o aramaico que os discípulos falavam no dia a dia. Por causa deles e por aqueles que receberíam a mensagem por seu intermédio, o Espírito Santo capacitou os discípulos a proclamar o evangelho com fluência na língua materna dos peregrinos. Foi um grande milagre, que cumpriu uma das últimas promessas de Jesus (ver com. de Mc 16:17). O evento sobrenatural facilitou a ceifa de uma grande colheita naquele dia (At 2:41) e teve efeitos mais amplos nos anos seguintes (ver com. de At 10:45, 46; lCo 14).O registro não afirma que o dom de línguas foi permanente, mas é importante lembrar que o Espírito podia repetir quando desejasse aquilo que já fora realizado uma vez (cf. AA, 40).Segundo o Espírito. Além de dar o dom de línguas aos discípulos, o Espírito também lhes concedeu a mensagem. Eles falaram sob orientação direta do Espírito.Concedia. A forma verbal grega sugere que "continuava a conceder”, no sentido de o Espírito conceder as palavras a cada um dos oradores à medida que surgia a necessidade. É possível que os discípulos tenhamse dirigido a cada um dos diferentes grupos linguísticos e, depois, Pedro tenha proferido seu sermão para toda a multidão, resumindo a mensagem dos colegas (v. 14-36).Falassem. Do gr. apophtheggomai, "anunciar”. Na L.XX, esta palavra é usada para se referir à profecia (ICr 25:1; Ez 13:19; Zc 10:2). Neste caso, é empregada para transmitir a ideia de um discurso claro, elevado e vigoroso, o qual levou à conversão de 3 mil pessoas em um só dia (sobre o Pentecostes e a "chuva temporã”, ver com. de Jl 2:23). |
At.2:5 | 5. Habitando em Jerusalém. A pergunta costumeira é por que os estrangeiros mencionados nos v. 9 a 11 foram considerados "habitantes” de Jerusalém. Os judeus mencionados aqui podem ter ido à cidade de seus antepassados para uma permanência prolongada, talvez a negócios; ou talvez, como Paulo, a fim de estudar (At 22:3); ou, eram pessoas aposentadas. Em contrapartida, também é possível compreender que esta "habitação” fosse temporária, sobretudo ao se considerar que alguns são chamados de "os que habitam na Mesopotâmia” (At 2:9, ARC) e outros, de “forasteiros romanos” (v. 10, ARC).Piedosos. Esta palavra é usada para se referir a Simeão (Lc 2:25). Seu significado primário é de introspecção, da disposição de lidar com as coisas sagradas com zelo, devoção e reverência. Isso significa que pode incluir tanto prosélitos quanto judeus de nascença. A expressão "de todas as nações debaixo do céu” torna necessária essa inclusão. A palavra ocorre novamente em Atos 8:2.De todas as nações. Herodes Agripa II, no famoso discurso que fez duas gerações depois para tentar impedir os judeus de se rebelarem contra os romanos, declarou: “Não há povo no mundo que não contenha uma porção de nossa raça” (Josefo, Guerra dos Judeus, ii.16.4 [399]); e Tiago dirigiu toda sua carta "às doze tribos que se encontramna diáspora” (Tg 1:1). Esta diáspora dos judeus ocorreu por causa dos grandes cativeiros que sofreram: (1) as dez tribos nas mãos da Assíria e da Média, em 722 a.C. (2Rs 17:6); (2) a tribo de Judá diante de Babilônia, em três deportações separadas, começando em 605 (ver com. de 2Cr 36:1-21; Jr 52:1-30; Dn 1:1-7); e (3) o grande número de pessoas levadas para o Egito pelo mace- dônio Ptolomeu Sóter (Josefo, Antiguidades, xii.1.1 [6, 7]). Além dos judeus que estavam dispersos nos exílios, milhares foram atraídos para todos os cantos do mundo em busca de atividades comerciais. |
At.2:6 | 6. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz. Ou, “quando este barulho ocorreu”. A palavra grega para “barulho” ou “som”, phõnê, muitas vezes é traduzida por “voz”. Em João 3:8, é usada para falar da “voz” do vento, que ilustra os movimentos do Espírito. Aqui a palavra tem dois significados possíveis: “um som, como de um vento impetuoso” (At 2:2); ou o som criado pelo discurso simultâneo dos discípulos (v. 4). Uma vez que fhõnê está no singular, é mais provável que se refira ao som divino, que pode muito bem ter sido ouvido fora da casa onde os cristãos estavam, embora também seja possível que faça alusão às muitas vozes do v. 4.A multidão. As pessoas que se encontravam em Jerusalém, incluindo visitantes de terras estrangeiras.Que se possuiu de perplexidade. Do gr. sugchunõ, “derramar juntos”. A pala- \ ra é peculiar a Atos, em que é usada cinco vezes. A melhor tradução para ela é "confusos” ou “espantados”. Naturalmente, a multidão ficou surpresa ao chegar ao lugar de onde viera o barulho e ouvir os oradores falando em tantas línguas diferentes.Cada um os ouvia falar. Uma questão corrente é se o dom recaiu sobre os apóstolos, dando-lhes poder para falar em outras línguas, ou sobre os ouvintes, concedendo-lhes entendimento do que os apóstolos diziam.Embora Paulo reconheça mais tarde a existência do dom de interpretação de línguas (ver ICo 12:30; 14:13, 27), parece bem claro que o dom do Pentecostes foi derramado sobre os apóstolos, pois foram eles que receberam o Espírito (At 2:3, 4; ver AA, 40; DTN, 821).Língua. Do gr. dialektos (ver com. de At 1:19). A lista que se segue (At 2:9-11) se refere a grupos linguísticos. E provável que cada orador tenha falado num idioma diferente, de acordo com o grupo ao qual se dirigiu. Dessa maneira, diversas nacionalidades foram atendidas ao mesmo tempo. |
At.2:7 | 7. Atônitos e se admiravam. A palavra grega traduzida por “atônitos” significa literalmente “estar fora de si” e se refere ao deslumbramento que deixou de olhos arregalados os que ouviam o milagre das línguas (ver Mc 3:21: “está fora de si”). A palavra grega para “se admiravam” traz a ideia de continuidade, “estavam se maravilhando”, pois a admiração aumentava cada vez mais, enquanto ouviam.Galileus. Esta descrição dos mensageiros do evangelho pode se referir, primeiramente, aos apóstolos, uma vez que todos eles eram da Galileia (ver com. de Mc 3:14), se Matias também fosse dessa mesma província. De modo geral, o mesmo também podia se aplicar aos 120, uma vez que, sem dúvida, muitos deles eram da Galileia.O termo “galileus” pode ter sido usado em tom de zombaria, pois os habitantes da Galileia não eram cultos (ver com. de Mt 2:22; 4:15; 26:73; ver DTN, 232). Portanto, era ainda mais surpreendente encontrar homens da Galileia falando línguas estrangeiras com fluência. |
At.2:8 | 8. Como os ouvimos falar, cada um. Trata-se de uma declaração composta, na qual o escritor reúne diversos comentários dos representantes de várias das nacionalidades presentes. A fala dos ouvintes surpresos destaca tanto um antegozo quantouma promessa da propagação do evangelho a todo o mundo, a despeito da variedade de línguas.Nossa própria língua materna. Muitos dos presentes, embora de religião judaica, haviam nascido em outras terras e cresceram falando o idioma de sua região natal. A lista (v. 9-1.1) revela que o autor era um historiador capacitado, que havia pesquisado as nações representadas na ocasião. Mais tarde, ele mesmo participou de pelo menos um Pentecostes (At 21:15) e conhecia o tipo de multidão que se reunia nessa época festiva. Lucas observa uma sequência ao mencionar as nações, como se estivesse fazendo um mapa aéreo mental do império romano. Com a Palestina no centro, ele se voltou primeiramente para o leste, depois passou para o norte, o oeste e o sul. Assim se justifica a referência a “todas as nações debaixo do céu”. De modo geral, parece que os judeus da diáspora (ver vol. 5, p. 46-48; jo 7:35; At 6:1) se dividiam em quatro classes. Essas classes, bem como alguns de seus subgrupos, a que Lucas se refere, são: (1) os da Babilônia e de outras regiões orientais: partos, medos, elamitas; naturais da Mesopotâmia; (2) os da Síria e da Ásia Menor: judeia, Capadócia, Ponto, Ásia, Frigia, Paniília; (3) os do norte da África: Egito, partes da Líbia em torno de Cirene; e (4) os de Roma: romanos ou forasteiros de Roma. Portanto, ao que tudo indica, a lista foi apresentada seguindo um esquema conhecido (sobre a posição geográfica dos vários povos citados aqui, ver p. 124; vol. 1, p. 263; vol. 5. p. 230. |
At.2:9 | 9. Partos. A lista começa no leste, com o grande reino parto, estagnado na época, assim como nos dias de Crasso, general romano derrotado um século antes, o principal inimigo do governo romano. Ele ficava ao sul do mar Cáspio, do Tigre até o Indo. Seus habitantes falavam o persa, assim como devia ser o caso dos medos.Medos. A terra dos medos ficava a sudoeste do mar Cáspio, a leste da região da Assíria. Foi para a Média que algumas das dez tribos foram levadas cativas (2Rs 17:6; ver com. de Gn 10:2; Dn 2:39).Elamitas. Este povo vivia num reino que fazia fronteira com a Pártia a leste, a Média a norte e Babilônia a oeste. O golfo Pérsico ficava ao sul (ver com. de Gn 10:22; Et 1:2; Dn 8:2). Os habitantes de Elão são chamados de “persas” na LXX, mas a língua ela mita era diferente do persa.Naturais da Mesopotâmia. A Mesopotâmia ficava “entre os rios”, isto é, entre o Tigre e o Eufrates (ver com. de Gn 24:10). Os "naturais” de lá pertenciam a vários grupos linguísticos que falavam variações do aramaico (ver vol. 1, p. 6; ver com. de Dn 2:4).Judeia. Alguns estudiosos da Bíblia ficam intrigados ao ver que Lucas inclui a judeia na lista, em vez de deixá-la subentendida. Outros supõem que deve ser um erro e, em seu lugar, deveria figurar a índia ou a Idumeia. Mas seria natural o gentio Lucas mencionar a Judeia, o ponto focal de sua história. A presença da região torna sua lista mais completa. “Judeia” também pode ser interpretada num sentido mais amplo, incluindo toda a Palestina.Capadócia. Ao movimentar seu registro de leste para oeste, Lucas menciona em seguida a província a noroeste da Mesopotâmia. A Capadócia fica na parte oriental da Turquia moderna, fazendo fronteira com a Armênia a leste, com o Mar Morto e a província de Ponto ao norte, a Galácia a oeste e a Cilícia, a terra de Paulo (At 21:39), ao sul. Não se sabe qual era a língua falada ali. Talvez fosse semelhante à “língua licaônica” (At 14:11).Ponto. Esta região ficava no litoral sul do Mar Morto, ao norte da Capadócia. Assim como seu vizinho, encontrava-se sob administração romana. Não se sabe qual era a língua nativa deste local.Ásia. Não se trata da Ásia moderna, mas, sim, de uma província romana localizada na extremidade ocidental da Ásia Menor, englobando grande parte do oeste da atual Turquia. Efeso era sua principal cidade. O Espírito Santo impediu que Paulo fosse para essa região em sua segunda viagem missionária. Com frequência, era chamada de Jônia e sua população era grega. As sete cartas de Apocalipse 2 e 3 se dirigem a cidades da província da Ásia. Embora o grego fosse compreendido pela maioria das pessoas nessa região e nas áreas vizinhas, sem dúvida, o povo comum usava idiomas locais. |
At.2:10 | 10. Da Frigia, da Panfília. Dois pequenos distritos a sudeste da ‘Ásia” romana.Egito. Por mais de um milênio e meio, houve um elo entre o Egito e os hebreus. A família de Jacó permaneceu ali, houve a escravização das tribos hebraicas e as invasões posteriores do Egito à Palestina (ver com. de 1 Rs 14:25). Havia um forte partido favorável ao Egito na judeia, no tempo de Jeremias, e muitos, inclusive o profeta, foram levados para lá enquanto a Judeia caía nas mãos dos babilônios (Jr 42:13—43:7). Milhares de judeus foram levados para o Egito por Ptolomeu. Outros foram para lá durante as lutas dos macabeus contra os reis selêucidas. Os judeus formavam cerca de um terço da população de Alexandria na época de Lucas e eram governados por um etnarca próprio (Josefo, Antiguidades, xiv.7.2 f 117]). A região era helenizada, mas o idioma local era o copta, variação do egípcio antigo, escrito, em sua maior parte, com o alfabeto grego e modificado por influências demóti- cas (escrita egípcia simplificada).Líbia. Nome usado antigamente para se referir a toda a África conhecida, com a possível exceção do Egito. Entende-se que se referia ao mesmo território da Líbia moderna, e Cirene seria sua principal cidade no litoral mediterrâneo. A cultura deles era bastante helenista, mas possuía uma grande colôniajudaica, resultante de uma deportação da Palestina na época de Ptolomeu 1 (Josefo, Contra Ápion, ii.4 [44]). Simão, que carregou a cruz de Cristo (Mt 27:32), era de Cirene. De lá partiram homens de mentalidade missionária a fim de evangelizar a Antioquia da Síria, os quais foram tão bem-sucedidos que precisaram contar com a ajuda de Barnabé e Saulo de Tarso (At 11:19-26: ver com. de Gn 10:13).Romanos que aqui residem. Do gr. ef idêmoimles rhõmaioi, “romanos em curta permanência”. Em geral, rhõmaioi significa "cidadãos romanos”, em vez de "habitantes de Roma”. A expressão "romanos que aqui residem” poderia se referir a judeus que viviam temporariamente em Roma ou a judeus romanos habitando em Jerusalém por um período. Havia tantos judeus em Roma que, quando Varo sancionou o envio de representantes oficiais a Augusto, os 50 embaixadores foram acompanhados por mais de 8 mil de seus conterrâneos residentes na cidade (Josefo, Antiguidades, xvii 11.1). Os judeus haviam sido banidos da Itália por Tibério, em 19 d.C. Esse edito deve ter levado milhares a procurar asilo, e seria natural que vários voltassem para a Palestina. Tibério revogou o edito, porém muitos judeus romanos podem ter permanecido em Jerusalém (ver vol. 5, p. 52-54). |
At.2:11 | 11. Tanto judeus como prosélitos. As palavras podem se aplicar a toda a Lista anterior ou serem lidas como uma nota, dando ênfase aos prosélitos romanos naquela multidão cosmopolita.É natural que o gentio Lucas (ver vol. 5, p. 728), escrevendo a Teófilo, também gentio (ver com de Lc 1:3), mencionasse os visitantes da capita] do império romano (sobre prosélitos, ver com. de Mt 23:15).Cretenses e arábios. Parece que os dois nomes foram acrescentados à lista anterior. Este fato destaca a genuinidade do relato de Lucas, como se estivesse relatando aquiloque testemunhas oculares lhe contaram de maneira informal. A ilha de Creta, ao sul da Grécia, tinha grande população judia. A Arábia, na fronteira com a Palestina, era o lar de milhares de judeus.Um estudo dos povos mencionados nos v. 9 a 11 revela que muitos dos nomes esperados estão faltando e alguns dos menos expressivos são incluídos. Esta é uma evidência ainda maior de que Lucas não inventou a lista, mas a recebeu daqueles que haviam testemunhado o milagre no Pentecostes. Contudo, ela não deve ser considerada um inventário exato de todos que estavam em Jerusalém. Em vez disso, trata- se de uma tentativa de descrever a natureza cosmopolita do grupo a quem os discípulos falaram e as muitas línguas diferentes utilizadas.As grandezas. Ou, “a majestade”. O termo abrange as providências divinas manifestas por meio da vida e obra de Jesus. |
At.2:12 | 12. Atônitos. Ver com. do v. 7.Perplexos. Do gr. diaporeõ. Lucas é oúnico escritor do NT a usar esta palavra.Que quer isto dizer? Os ouvintes estavam aturdidos com o fenômeno e discutiam sobre seu significado com os ânimos exaltados. |
At.2:13 | 13. Outros. Do gr. heteroi, “outros de tipo diferente”, não cdloi, “outros do mesmo tipo ". Isso sugere uma ciasse diferente de interlocutores em relação à mencionada nos v. 5 a 12. Talvez estes heteroi fossem habitantes nativos cie Jerusalém ou da Palestina, que não compreendiam nenhum dos idiomas talados pelos discípulos. E provável que tivessem sido influenciados pelas calúnias espalhadas contra Cristo. Os judeus haviam atribuído alguns dos milagres do Senhor ao poder do maioral dos demônios (Lc 11:15), e Festo declarou que Paulo era louco (At 26:24). Os sacerdotes zombaram de Cristo na cruz (Mt 27:41-43) e eram capazes de instigar rumores vis para explicar omilagre das línguas, a fim de não perder seu domínio sobre o povo (ver AA, 40).Embriagados. Do gr. gleukos, “vinho doce”, uma vez que o Pentecostes ocorreu em junho, época de uvas frescas, as quais amadureceriam em agosto. A menção parece ser a uma bebida alcoólica. Os zomhadores sugerem que havia um elemento causador da empolgação na maneira e no dom dos discípulos. De fato, o estranho seria se eles falassem de maneira tranquila ou casual. O vasto poder de Deus estava sobre eles, e o tema da pregação era de importância extraordinária. |
At.2:14 | 14. Pedro. Uma mudança significativa se operou no apóstolo durante as poucas semanas desde que negara Jesus. Ele havia se convertido. Sua mente se abriu para as instruções do Senhor e ele conseguiu entender as Escrituras (Lc 24:45). Recebeu discernimento e poder do Espírito Santo. Como resultado, destacou-se como um santificado líder dos crentes. Em vez de incerteza, havia então convicção, em vez de medo, ousadia; em vez de palavras impensadas, como nos evangelhos, um discurso detalhado e refletido. As profecias sobre Cristo são apresentadas com método e clareza. Esta é uma prova espontânea de genuinidade do livro. Um inventor de histórias dificilmente ousaria revelar tanta mudança de caráter como Lucas mostra em Pedro.Com os onze. Pedro não falou de maneira isolada. Ele se levantou como representante de seus irmãos. Eles se dirigiram a diferentes grupos nacionais, mas Pedro discursou à multidão e encerrou esta grande reunião evangelística. A expressão “os onze’" revela que Matias foi incluído entre os apóstolos e assumiu rapidamente suas responsabilidades.Erguendo a voz. Embora esta expressão seja encontrada na LXX e no grego clássico, também se trata de um hebraísmo (Gn 21:16; 27:38), sugerindo um levantar da voz, um discurso em alta voz. Isto eranecessário para que a grande multidão pudesse ouvir Pedro.Advertiu-os. Do gr. apophtheggomai, "anunciar” (ver com. do v. 4). Esta palavra indica que Pedro falava sob o dom do Espírito. O apóstolo não estava apenas “dizendo", mas "anunciando” aquilo que o Espírito lhe concedera.Varões judeus. Esta parte do v. 14 diz, literalmente: “Homens, judeus e habitantes de Jerusalém”. Parece que Pedro se dirigiu primeiramente aos judeus da região (ver v. 13), em vez de aos judeus dos v. 5 a 11, que faziam parte da diáspora.Habitantes de Jerusalém. Esta expressão também pode ser compreendida no sentido local, como uma referência àqueles cujo lar ficava na capital. No entanto, as palavras de Pedro alcançaram toda a assembléia, e o v. 22 deixa claro que o apóstolo acabou se dirigindo ao grupo inteiro.Tomai conhecimento. Literalmente, "dai ouvidos a”. Trata-se de um hebraísmo. Talvez indique que Pedro estivesse falando em aramaico. As opiniões sobre o assunto se dividem, uma vez que muitos hebraís- raos são transpostos para o grego da LXX, e as citações das Escrituras são extraídas da LXX. |
At.2:15 | 15. Estes homens não estão embriagados. Pedro apela para o bom-senso dos ouvintes. Seria provável que os discípulos estivessem bêbados na manhã da Festa de Pentecostes, após uma noite gasta em devoção, quando todos os judeus decentes estavam jejuando? A embriaguez pertencia à noite (iTs 5:7). Era uma marca de grosseria extrema: homens "que se levantam pela manhã e seguem a bebedice e continuam até alta noite, até que o vinho os esquenta” (Is 5:11; ch Ec 10:16, 17). Com base na prática tradicional indicada em Êxodo 16:8, os judeus comiam pão pela manhã e carne à noite; e nenhum judeu de bons hábitos tomava vinho cedo.Como vindes pensando. O apóstolo lida de maneira diplomática com a infundada acusação de embriaguez, presumindo que as pessoas tivessem cometido um erro, em vez de terem feito uma acusação maliciosa.Terceira hora. Isto é, por volta das nove da manhã. A terceira hora era o momento da oração matinal (sobre a contagem do tempo no NT, ver vol. 5, p. 38; ver com. de iVlt 27:45). |
At.2:16 | 16. O que ocorre. Pedro não faz umaabordagem tímida; mas, com ousadia, identifica o ocorrido como o cumprimento de uma profecia. Tem condições de fazer isso, pois foi instruído pelo Senhor e falava inspirado pelo Espírito. Sob essa dupla orientação, começa sua primeira exposição pública da vida e das obras do Messias desde Sua ascensão. Os versículos que se seguem testificam das habilidades recém-adquiridas do apóstolo.Joel. Pedro não se aprofunda na controvérsia sobre Jesus. Primeiramente, ele usa passagens do AT, nas quais todos acreditavam, a fim de sancionar o fenômeno testemunhado. Isso lhes chamou a atenção e os ajudou a aceitar o raciocínio do apóstolo, preparando-os para as referências posteriores a Cristo. Alguns acreditam que a profecia de Joel era um dos mais antigos livros proféticos da Bíblia (ver vol. 4, p. 7). Usando o tema do "Dia do Senhor”, joel conclama Israel ao arrependimento e promete o derramamento do Espírito numa ocasião futura, identificada apenas como “depois” (ver com. de J] 2:28-32; ver vol. 4, p. 1035). A expectativa desse derramamento do Espírito Santo era forte entre os fiéis do AT (ver com. de At 2:3). Os v. 17 a 21 citam Joel 2:28 a 32, seguindo de perto a LXX. |
At.2:17 | 17. Acontecerá. A inferência é que o futuro citado em joel se lazia presente. Os ouvintes presenciavam o cumprimento da profecia.Nos últimos dias. Ver com. de J1 2:28; cf. com. de Is 2:2.Diz o Senhor. Esta expressão não ocorre em joel. Trata-se de uma inserção feita por Pedro como recurso retórico, identificando o Doador da promessa.Do meu Espírito. Ver com. de At 3:19.Sobre toda a carne. Isto é, sobre todas as pessoas, provendo a frágil humanidade de habilidade divina. O dom não se concentra sobre os judeus, nem sobre nenhuma classe ou sexo, embora a mentalidade de Pedro, sem dúvida, o limitasse ao próprio povo nessa ocasião.Profetizarão. A aplicação que Pedro faz da profecia de Joel à experiência do Pentecostes parece ligar o dom de profecia ao dom de línguas (ver com. de J1 2:28). A profecia também declara que tanto homens quanto mulheres recebiam o dom. Lucas registra o cumprimento dessa promessa (At 9:10 a 16; 11:27, 28; 13:1-3; 16:6, 7; 18:9, 10; 21:9-11; 22:17, 18; 27:10, 22-25; ver também com. de Lc 2:36). Os dons do Espírito sempre se revelaram na atuação dos bem-sucedidos servos de Deus, sobretudo em momentos cruciais.Vossos jovens. A experiência mostra, vez após vez, que durante a juventude as pessoas têm tanto os ideais quanto a energia para olhar para o futuro e tentar aquilo que parece impossível. A maioria dos discípulos de Jesus era jovem, talvez todos eles. Quase todos os movimentos religiosos, além de muitas iniciativas políticas e cívicas, foram iniciados por jovens.Terão visões. Sobre “visões” e “sonhos”, ver com. de Nm 12:6; iSm 3:1. Os jovens ter iam visões dadas pelo Espírito com estímulos e instruções para o presente e o futuro.Sonharão. Isto é, revelações recebidas no sono, em contraste com as “visões ”, que se referem a revelações visuais em geral.Vossos velhos. Em Joel, eles são citados antes dos “jovens”. |
At.2:18 | 18. Meus servos. A passagem da qual é extraída a citação (JI 2:29) diz simplesmente “servos” ou “escravos”, tanto no hebraico quanto na LXX. Afirma que o Espírito de Deus não se limita aos poderosos e de alta posição, mas é concedido a homens e mulheres de todos os níveis sociais (ver com. de J1 2:28). Entretanto, no presente contexto, Pedro parece fazer uma aplicação ampliada dessas palavras. No v. 17, ele fala de “vossos filhos”, “vossas filhas”, “vossos jovens”, “vossos velhos”. Então, no início do v. 18, ele faz uma mudança sutil em relação ao AT. A tradução literal de sua declaração seria: “e verdadeiramente sobre Meus servos e sobre Minhas servas”. O acréscimo das palavras “verdadeiramente” e “meus” ao texto do AT parece sugerir que Pedro não considera os "servos” e as “servas” como outra categoria daqueles que receberíam o Espírito, mas, sim, uma síntese de todos os já mencionados. Vossos filhos, jovens, velhos e vossas filhas, aliás, todo o Israel (ver com. do v. 17), seriam “Meus servos” e '‘Minhas servas”, verdadeiros servos de Deus.Do Meu Espírito. Ver com. de At 3:19.Naqueles dias. Isto é, “nos últimos dias” (v. 17).Profetizarão. Ver com. do v. 17. Estas palavras não ocorrem no texto correspondente (JI 2:29). |
At.2:19 | 19. Mostrarei. Literalmente, “darei”.Prodígios. Do gr. terata, “portentos”,“milagres” (ver vol. 5, p. 204).No céu. Na mente de Pedro, a aplicação imediata desta profecia podería ser ao dom do Espírito vindo do céu. Mas a citação também é significativa para os últimos dias (ver com. do v. 20).Sinais. Do gr. semeia, “sinais”, “prodígios”. Esta palavra ou seu equivalente não ocorre no hebraico, nem na LXX de Joel, mas costuma ser usada junto com terata no NT, e sempre no plural (Jo 4:48; At 4:30; Rm 15:19).Na terra. Isto pode fazer referência imediata a falar em outras línguas, mas, como mostram as expressões seguintes, seu significado real pertence aos últimos dias. As expressões “em cima’’ e “embaixo” não estão em joel; foram palavras acrescentadas por Pedro para aguçar o contraste entre “céu" e "terra .Sangue. “Sangue”, “fogo”' e "fumaça”, os terríveis resultados da guerra.Vapor. Este termo segue a LXX. O hebraico de Joel traz "pilares” ou “colunas”. |
At.2:20 | 20. O sol. Ver com. de jl 2:10; Mt 24:29, sobre o cumprimento específico dos sinais mencionados neste versículo.Antes. Indicação que as maravilhas e os sinais precedem o “Dia do Senhor” e não fazem parte dele.Glorioso. Do gr. epiphanês, “manifesto”, “ilustre” ou “glorioso”. No entanto, o hebraico de Joel 2:31 significa, literalmente, “terrível”, " brilhante”, "glorioso”.Dia do Senhor. Ver com. de Is 13:6; Jl 1:15; 2:1. O dia seria terrível para os inimigos de Deus (Jl 2:1, 2; Am 5:18-20; Ap 6:15-17), mas um dia de vitória para os que aceitam o chamado do Senhor (Is 25:9; Jl 2:32). |
At.2:21 | 21. Todo aquele. Em primeiro lutar, a expressão se aplica aos ouvintes de Pedro, mas, em sentido mais amplo, abrange toda a humanidade e destaca a universalidade do apelo do evangelho.Invocar o nome do Senhor. Esta era uma expressão hebraica comum ligada àqueles que adoravam a Deus (ver Gn 12:8; ver com. de Gn 4:26). Tanto Lucas quanto Paulo a usavam (At 7:59; 9:14; 22:16; Rm 10:12; lCo 1:2). Em Atos, também é empregada no sentido de apelar de um tribunal inferior para um superior (At 11; 12; 21; 25).A oração de fé resulta num espírito de confiança tranquila em meio aos terrores do dia do Senhor. Também é verdade que todo que, a qualquer momento, invocar onome do Senhor com sinceridade encontrará o caminho da salvação (At 4:12).Pedro chega à grande conclusão que pretendia: de que Jesus é Senhor e Cristo (At 2:36). Ele toma uma profecia do AT que trata de Yahweh (ver vol. 1, p. 150, 151) e a aplica a Jesus. O título Kurios, "Senhor”, usado na LXX para Yahweh, é atribuído ao Mestre entronizado no Céu. Trata-se de um passo ousado. Mostra como a convicção acerca da divindade de Cristo era a pedra fundamental para o pensamento e a doutrina de Pedro.A palavra “nome” ocorre tantas vezes em conexão com o Senhor no livro de Atos que constitui um tema. Para os discípulos, o nome do Senhor se torna um símbolo do caráter glorioso e do poder ilimitado de Cristo, com quem eles andaram na Palestina.Será salvo. A expressão tem aplicação dupla: salvo do pecado e do juízo divino sobre a Terra. Quanto aos juízos, os cristãos do primeiro século obedeceram ao conselho de Jesus (Mt 24:15-20) e foram salvos da destruição de Jerusalém pelos romanos (Eusébío, História Eclesiástica, iii.5.3; ver com. de Mt 24:16). No fim dos tempos, os cristãos verdadeiros, seguindo os conselhos do Senhor, serão salvos das catástrofes finais. Contudo, a principal aplicação das palavras deste versículo é a salvação do pecado. |
At.2:22 | 22. Varões israelitas. Literalmente, “homens, israelitas”. O termo "israelitas” deixa subentendido o relacionamento de aliança (ver com. de Gn 32:28).Atendei a estas palavras. Esta expressão marca uma divisão nos argumentos de Pedro. Após apresentar o contexto profético, introduz seu tema principal: a divindade de Jesus.Jesus, o Nazareno. A primeira parte do título afixado à cruz (cf. Jo 19:19). Sete semanas depois, o nome foi usado para apresentar Jesus, que Pedro demonstra ser “Senhore Cristo" (At 2:36). O uso deste nome dificilmente seria casual.Varão. Pedro começa seu raciocínio com o Jesus humano, o homem que vivera e andara entre as pessoas, de forma pública e aberta, provando, por Sua vida e obra, ser tudo aquilo que o apóstolo então atribuía a Ele.Aprovado por Deus. Isto é, reconhecido por Ele.Diante de vós. Ou, “a vós”.Milagres, prodígios e sinais. Em vezde "milagres”, o original diz, literalmente, “poderes" ou "obras poderosas”. A expressão “prodígios e sinais” pode ser uma retomada das palavras de Joel citadas no v. 19. Os três termos são sinônimos que expressam aspectos diferentes do mesmo fato, em vez de urna classificação meticulosa dos feitos de Cristo.Deus realizou. Pedro postula a autoridade de Deus e Sua aprovação dos milagres de Jesus.Vós mesmos. Dificilmente o público poderia questionar as declarações de Pedro, pois sabia que eram verdadeiras e baseadas em fatos ocorridos no meio deles. |
At.2:23 | 23. Este. Literalmente, “este aqui”, isto é, Jesus de Nazaré (v. 22).Entregue. Ou seja, traído por Judas. Para dar a abertura a Satanás em demonstrar os males de seu governo, Deus permite que coisas contrárias a Seu propósito aconteçam. Contudo, em Sua sabedoria divina, Ele faz tudo contribuir para Sua glória.Determinado desígnio. Pedro desenvolveu tanto seu discernimento espiritual que pôde ver a operação do propósito de Deus, em harmonia com Sua presciência, nos trágicos eventos ligados à morte de Cristo (cf. At 1:16; ver com. de Is 53:10; cf. Lc 22:22).Vós O matastes. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Por mãos de iníquos. Literalmente, “por mãos de [homens] sem lei”.Crucificando-O. Literalmente, “atando-0 [à cruz] O matastes”. Pedro inclui seus ouvintes entre os culpados pela morte do Mestre. E uma acusação terrível, considerando sua conclusão (v. 36). |
At.2:24 | 24. Ao qual, porém, Deus ressuscitou. E provável que um relato da ressurreição de Jesus tenha chegado ao povo, mas depois, tenha sido contrariado pela história falsa (Mt 28:11-15). Mas este foi o primeiro testemunho público do acontecimento, feito por um dos seguidores de Jesus.Grilhões. Literalmente, “dores do trabalho de parto”. A palavra para “grilhões” é a mesma traduzida por “dores” em Mateus 24:8.Não era possível. A convicção de Pedro repousa, em parte, nas palavras da profecia citada nos v. 25 a 28, a qual prevê o triunfo do Messias sobre a morte. Mas também há outros motivos: Cristo jamais pecou (Jo 8:46; lPe 2:22; ver com. de Mt 4:1-11; ver Nota Adiciona] a João 1); e o Doador da vida não poderia ser detido pela morte (Jo 5:26; 10:17, 18). |
At.2:25 | 25. A respeito dEle. Sem esta explicação, o Salmo 16 poderia expressar apenas a esperança no livramento de Davi em relação a seus inimigos. A realidade da ressurreição deu novo significado às profecias, que não fora sugerido antes, mas, sem o qual ficariam incompletas.Diante de Mim via. Também pode ser traduzido por; “vi na Minha frente”.O Senhor. Deus Pai.A Minha direita. A referência pode ser a uma cena de batalha, na qual um soldado, em pé à direita de um amigo, o protege de ura ataque. Também pode representar um advogado ao lado do cliente. A citação enfatiza o apoio infalível que o Pai dá ao Filho. |
At.2:26 | 26. Por isso, se alegrou. A união com Deus é a fonte de felicidade.Minha língua. Ver com. de SI 16:9.Minha própria carne, isto é, “Meu corpo”.Repousará. Literal me n te, “iará taber- náculo” ou “habitará como em um taberná- culo" (ver com. de 2Pe 1:13, 14). A forma hebraica do Salmo 16 fala da segurança de Davi nesta vida, mas Pedro aplica as palavras do salmista à ressurreição. |
At.2:27 | 27. Alma. Ver com. de SI 16:10; Mt 10:28.Morte. Do gr. hadês, “sepultura” (vercom. de SI 16:10; Mt 11:23). A morte de Cristo foi real, mas a ressurreição provou Sua vitória sobre ela, uma morte que Jesus experimentou por todos os pecadores (Hb 2:9).Santo. Do gr. hosios, “puro”, “pio”, “santo”. Esta palavra sugere piedade pessoal e de espiritualidade (Hb 7:26; Ap 15:4). Portanto, é diferente de hagios, que se refere à consagração ou dedicação (ver Mc 1:24; ver Nota Adicional ao Salmo 36).Corrupção. No texto citado aqui, a palavra hebraica éshachaih, “poço”, isto é. “sepultura” (ver com. de SI 16:10). Sem dúvida, Lucas seguiu a LXX de Salmo 16:10, versão que traz “corrupção”. |
At.2:28 | 28. Caminhos da vida. A expressão está de acordo com a LXX, numa tradução do hebraico bem livre (ver com. de SI 16:11).Alegria. Do gr. euphrosunê, “bom ânimo”, “satisfação”, “alegria”.Na Tua presença. /V presença de Deus é fonte de satisfação e alegria. |
At.2:29 | 29. Irmãos. Literalmente, "homens, irmãos”. Pedro continua a falar de maneira persuasiva.Seja-me permitido dizer-vos claramente. Ou, “é-me permitido falar com liberdade”. Aqueles com quem o apóstolo falava não podiam contradizer os fatos relacionados à morte e ao sepultamento de Davi. A profecia que ele acabara de citar deveria, portanto, ter outra aplicação.Patriarca. Palavra usada em seu sentido primário, de fundador de uma famíliaou dinastia. No NT, também se aplica aos doze filhos de Jacó (At 7:8) e a Abraão (Hb 7:4).Túmulo. O rei Davi foi sepultado em Jerusalém, “na Cidade de Davi” (ver com. de lRs 2:10; 3:1). |
At.2:30 | 30. Sendo, pois, profeta. Caracterização incomum do rei Davi, mas justificada porque o Salmo 16 vai além da experiência pessoa] do monarca, assumindo uma dimensão messiânica.Deus lhe havia jurado. Ver com. de 2Sm 7:12-14, 16. O juramento é sugerido no Salmo 132:11, citado por Pedro.Segundo a carne (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão das palavras “segundo a carne, levantaria o Cristo”. Deste modo, a passagem d iria: “Deus fez consigo mesmo um juramento de colocar sobre Seu trono um fruto de Seu ventre.” Esta seria uma versão mais próxima do Salmo 132:11. |
At.2:31 | 31. Prevendo isto. A expressão atribui visão profética a Davi, mas não significa que ele compreendesse que a profecia se referia à ressurreição do Messias (ver lPe 1:11).Morte. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “Ele não foi deixado no hades", em vez de “Sua alma não foi deixada no inferno” (sobre “morte” e “corrupção", ver com. do v. 27; a respeito da alma, ver com. de SI 16:10; Mt 10:28). |
At.2:32 | 32. Este Jesus. Jesus de Nazaré, o crucificado dos v. 22 e 23.Deus ressuscitou. Cristo ressuscitou ao chamado de Deus Pai, que enviou anjos para convidar o Filho a sair da sepultura (Mt 28:2-6; Rm 8:11; DTN, 785).Testemunhas. Ver com. de At 1:8, 22. |
At.2:33 | 33. Exaltado. Ver com. de jo 1:1-3, 14; ver Nota Adicional a João 1.À destra. Ou, “à mão direita”. Esta era uma posição de honra (ver Mt 20:21; 25:33) e é retratada como a que foi assumida por Cristo em Sua glorificação (Mt 26:64; Hb 1:3; cf. At 2:34).Promessa do Espírito Santo. Ver com. de Jo 14:16, 26; 15:26.Agora (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. |
At.2:34 | 34. Não subiu. O raciocínio de Pedro é claro. Davi morreu e foi sepultado (ver com. do v. 29). Portanto, a declaração do Salmo 16:10, “não deixarás a Minha alma na morte’' (ver com. de At 2:27) não poderia se referir a ele. Esta é uma evidência clara de que Pedro acreditava que o ser humano não ascendia ao Céu por ocasião da morte (cf. JTs 4:14-17; ver com. de 2Sm 12:23; 22:6; Jó 7:9).Ele mesmo declara. Pedro cita o Salmo 110:1. Este salmo é o mais citado no NT (ver Mt 22:44; iCo 15:25; Hb 1:13; 5:6; 7:17, 21; 10:13). Era um salmo considerado messiânico pelos judeus e jesus também o interpretou assim (Mt 22:41-46; ver com. de SI 110:1).O Senhor. Título referente aqui a Deus Pai (ver com. de SI 110:1).Meu Senhor. Aqui, o título se refere a Cristo (ver com. de SI 110:1).Assenta-Te. Estas palavras sugerem o reconhecimento de que Cristo ocupa uma posição única (ver Ef 1:20; cf. Fp 2:10, 11). |
At.2:35 | 35. Os Teus inimigos. Cristo é o vencedor no grande conflito contra Satanás e suas hostes. No triunfo definitivo sobre o mal, “o último inimigo a ser destruído é a morte” (ICo 15:26).Estrado dos Teus pés. O rei assentado em poder em um trono seguro colocava os pés num estrado (ver com. de SI 99:5), Colocar um inimigo no lugar infame do estrado era um sinal de triunfo completo (ver com. de js 10:24). Um dia, Cristo eliminará cada um de Seus inimigos, e Seu reino será estabelecido na glória eterna (Ap 11:15). Na época do triunfo, o Filho entregará o reino universal ao Pai (ICo 15:24-28). |
At.2:36 | 36. Casa de Israel. Pedro tinha a intenção de que suas palavras se espalhassemalém do círculo imediato de ouvintes para “toda a casa de Israel”. Contudo, sua visão até aqui ainda era limitada à nação judaica, como ocorria com os outros discípulos. Isso fica evidente na experiência de Pedro com Cornélio (ver At 10:9-16; 11:1-18).Este Jesus. Ou, “este mesmo jesus” (cf. v. 22, 23).Vós crucificastes. O pronome “vós” (humels), que não é normal mente usado no grego, enfatiza o contraste entre a forma com que os judeus trataram jesus e o reconhecimento que Ele recebera do Pai. No grego, a palavra “crucificastes” vem no fim da frase e faz uma conclusão bastante solene. Pedro atribui o crime aos judeus. Sem hesitar, lança a culpa e abre caminho para o resultado apresentado no v. 37.Senhor e Cristo. A palavra “Senhor” reflete o pensamento do salmo citado no v. 34. A palavra "Cristo” implica que Jesus é o Messias (ver com. de SI 2:2; Mt 1:1). A ordem original das palavras tem uma força que a língua portuguesa não consegue comunicar: "Tanto Senhor quanto Cristo fizera Deus este Jesus.’’ |
At.2:37 | 37. Ouvindo. Deus ordenou que a pregação de Sua Palavra fosse um dos meios mais eficazes de despertar convicção e fé no ser humano (ver Rm 10:17; ICo 1:21).Compungiu-se-Ihes. Do gr. katanusso- mai, “penetrar” e, metaforicamente, “causar dor mental”. Neste caso, trata-se da tristeza interior profunda que deve acompanhar o arrependimento verdadeiro (2Co 7:9-11).Apóstolos. Eles deviam estar por perto, apoiando Pedro em seu ministério dinâmico.Que faremos [...]'? O clamor de corações contritos (cf. At 16:30; 22:10).Irmãos. O próprio termo que os discípulos usavam uns com os outros (At 1:16) e que Pedro empregou para se dirigir à multidão (v. 29). O sermão inspirado pelo Espírito levou o povo a simpatizar com os apóstolos. |
At.2:38 | 38. Arrependei-vos. Foi esta mensagem que Cristo ordenou (Lc 24:47; sobre a importância desta palavra, ver com. de \lt 3:2; 4:17).Cada um de vós. Pedro não abre exceção para o batismo. Embora não seja um ato de salvação, trata-se do sinal exterior da morte da velha vida e do início da nova. Todos devem passar por ele.Seja batizado. Ver com. de Mt 3:6; Mc 16:16. Este ato deveria ser parte integral do ministério dos apóstolos (Mt 28:19).Em nome. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante e "com o nome", isto é, com a confissão do nome de Jesus. Essa interpretação seria adequada ao contexto, que chama Jesus de "Senhor e Cristo" (v. 36).A pergunta que pode surgir é: por que, neste texto e em Atos 10:48 e 19:5, somente o nome cie Jesus é mencionado em conexão com o batismo, em vez de se citar o batismo tríplice de Mateus 28:19? Varias explicações já foram dadas. A solução mais satisfatória parece ser que Lucas não está registrando uma fórmula batismal lixa, mas, sim, a exortação de Pedro àqueles que estavam dispostos a confessar que Jesus é o Cristo. Das três pessoas da trindade, o batismo aponta especificamente para Cristo. Portanto, é lógico que, às vezes, se taça referência ao batismo por meio desse único nome. Tal prática é encontrada no início da literatura cristã, tanto do NT quanto em obras posteriores. A Didaquê, ou Ensino dos Doze Apóstolos (7; 9), usa tanto os nomes da trindade quanto apenas o nome de Cristo em conexão com o batismo. Esta atitude inicial é demonstrada por Ambrósio (m. 397 d.C.), o qual declarou o seguinte a respeito da fórmula batismal: "Aquele que diz um significa toda a trindade. Se você diz Cristo, designou também Deus Pai, de quem o Filho foi ungido, o próprio Filho, o que foi ungido, e o Espírito Santo, que realizou a unção” (De Sf inlu Sancto, i.3;ecl. J. P. Migne, Patrologia Latina, vol. 16, col. 743). Os ouvintes de Pedro já criam em Deus Pai. Portanto, o teste para eles era se aceitariam que Jesus era o Messias.Como o Mestre instruira, o batismo deveria ser leito "no nome ", em conexão vital com a pessoa de Jesus Cristo. Somente após aceitá-Lo o converso podia ser batizado. Os discípulos haviam acabado de experimentar o dona do Espírito Santo e estavam aptos para reconhecer o sentido da profecia de João Batista, de que Cristo os batizaria “com o Espírito Santo e com fogo’’ (Mt 3:11). A união espiritual entre o crente e seu Senhor, que se torna real mediante o Espírito, é sinalizada no rito do batismo.Pecados. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a tradução “os vossos pecados”. Isso personaliza o perdão (ver com. de Mt 1:21; 3:6; 26:28; Lc 3:3).O dom do Espírito Santo. Estas palavras podem ser compreendidas como a identificação do dom, lidas com a seguinte interpretação: “o dom que é o Espírito Santo”. O gr. dõrea, “presente”, é um termo geral e diferente de charisma, palavra que se aplica de maneira mais específica aos dons do Espírito (ICo 12:4). O apóstolo promete a presença do Espírito de Deus, que seria um bem pessoal para cada crente. Nesta passagem, sua preocupação não é com o derramamento de poderes miraculosos.Neste versículo, estes são os passos na experiência de se tornar cristão: (1) arrependimento, (2) batismo, (3) remissão de pecados e (4) recebimento do Espírito Santo. |
At.2:39 | 39. Para vós outros. As próprias pessoas que haviam participado da crucil ixão do Senhor. Seus filhos também estavam livres para se beneficiar da promessa (cf. Mt 27:25).Promessa. Ver com. de At 1:4.Longe. Os judeus da diáspora (ver vol. 5, p. 47-49), a quem o apóstolo escre\cu pos- tcriormente (lPe 1:1, 2), e, talve/, também às nações pagãs no meio das quais os judeusdispersos viviam (cl. Ef 2:13, 17). Por inspiração, Pedro pôde prever a entrada de gentios na igreja (ver Mt 28:19).O Senhor, nosso Deus. Deus Pai, a quem os judeus professavam servir.Chamai*. Ou, “possa chamar a Ele". O chamado de Deus se estende a todos. Cada um tem a oportunidade de se salvar. No sentido de convite, os chamados são muitos; os escolhidos são aqueles que atendem ao chamado (ver com. de Mt 22:14); esses são os chamados no sentido definitivo (ver com. de Rm 8:28-30). |
At.2:40 | 40. Muitas outras palavras. Lucas resume o restante do discurso de Pedro, citando apenas seu apelo final (ver com. cie jo 21:25)/Deu testemunho e exortava-os. Ou,“protestou e continuou exortando".Salvai-vos. Literalmente, "sejais salvos". Os seres humanos não são capazes de se salvar; só podem aceitar ou rejeitar as provisões divinas.Perversa. Ou, "tortuosos" (como em Le 8:5; Fp 2:15; comparar com Dt 32:5). |
At.2:41 | 41. De bom grado (ARC). Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras.Acréscimo. Em relação àqueles que já confessavam a Cristo (ver com. de At 1:15).Três mil. Por causa deste número elevado, alguns concluem que o batismo foi feito por derramamento ou aspersão de água, não por imersão. Não é necessário fazer essa pressuposição (ver com. de Mt 3:6). Havia reservas de água adequadas tanto dentro de Jerusalém quanto perto da cidade para o batismo de grande número de pessoas, como os tanques de Betesda (ver com. de Jo 5:2) e Siloé (ver com. de Jo 9:7), além dos tanques de Salomão. Além disso, não é necessário pensar que a administração do rito se limitou aos doze. Os capítulos seguintes mostram que muitos dos conversos pertenciam ao grupo de judeus helenistaspresentes na festa (At 6:1) e poucos deles, ou mesmo nenhum, pertenciam à classe dominante local (At 4:1). Alguns dos novos cristãos voltaram às suas cidades e podem ter sido os fundadores desconhecidos de igrejas cm lugares como Damasco, Alexandria ou até Roma.Pessoas. Do gr. psuchai, “almas') como em At 2:43; 8:23; Rm 13:1; ver eom. de Mt 10:28. |
At.2:42 | 42. Perseveravam. Do gr. proskartereõ, “perseverar j “dar constante atenção a”. O termo aponta para além do dia de Pentecostes e inclui a conduta dos cristãos nos dias subsequentes (ver com. de At 3:1).Doutrina, isto é, “ensino". Os cristãos recém-batizados haviam ouvido o sermão de Pedro, e grupos separados se beneficiaram da mensagem proferida em várias línguas. Nos dias seguintes, a primeira instrução seria complementada por outras a respeito de Cristo. Todas essas instruções podem ser incluídas no termo “ensino". E difícil acreditar que os apóstolos já tivessem formulado algo semelhante a um "credo".Comunhão. Do gr. koinõma. Na maioria das vezes, esta palavra é traduzida desta forma (iCo 1:9; 10:16; Fp 8:10; 2Co 13:14). O termo também se refere a contribuições de caridade (Rm 15:26; 2Co 9:13; Hb 13:16). Parece claro que aqui a palavra taça alusão à fraternidade desenvolvida entre os apóstolos e os conversos.Partir do pão. E provável que a expressão inclua tanto a Ceia do Senhor (ver ICo 10:16) quanto refeições normais feitas em comunidade (ver p. 31, 32; At 2:44, 46).A expressão "partir do pão”, ou semelhante, ocorre em referência a refeições que não celebravam a Ceia do Senhor (como em Mt 14:19; 15:36; Mc 8:6, 19; Lc 24:30, 85) “Partir do pão” era uma expressão idiomática judaica comum que significa “comei Às vezes, seu uso está ligado à Ceia do Senhor (Mt 26:26; Mc 14:22; Lc 22:19;lCo 10:16; 11:24). Em outras ocasiões, ambas as opções podem ser indicadas (At 2:42, 46; 20:7, 11). O fato de o vinho não ser mencionado junto com o pão não exclui a possibilidade de se tratar da Ceia do Senhor. Embora o contexto não justifique uma conclusão dogmática, deve-se notar que a expressão 'partir do pão” ocorre numa série que relata atividades religiosas. O v. 41 fala de cristãos aceitando a ‘‘palavra”, sendo “batizados” e acrescentados à igreja. Portanto, é razoável concluir que o “partir do pão” mencionado nesta passagem também tenha significado religioso específico (ver com. de At 20:7; lCo 11:20, 21).Orações. Ver com. de At 1:14. Aqui se encontram quatro elementos básicos na vivência da nova sociedade cristã: (1) os crentes cresciam no conhecimento da verdade por intermédio do ensino dos apóstolos; (2) eles tinham consciência de sua comunhão com Cristo e uns com os outros em atos de adoração conjunta, bondade e benevolência mutuas; (3) participavam do "partir do pão”, que provavelmente inclui a Ceia do Senhor; (4) tinham o hábito de orar, em particular e em público. |
At.2:43 | 43. Cada alma. O temor reverente deve ter sobrevindo tanto aos crentes quanto aos descrentes. Durante os dois meses anteriores, Jerusalém havia passado por tempos difíceis. Ocorrera o clímax da obra de Jesus, com a atenção pública voltada para Ele. Cristo fora crucificado e ressuscitara dos mortos. Os discípulos proclamaram com ousadia Sua ressurreição e ascensão. Então, ocorreram os eventos marcantes do dia de Pentecostes. O derramamento do Espírito foi apresentado como prova da aceitação de Jesus no Céu. O impacto da comunidade cristã sobre os descrentes havia resultado na conversão e no batismo de milhares. Havia diversos motivos para temor reverente no coração do povo de Jerusalém.Havia. Ou, “continuava a haver”.Temor. Isto é, deferência reverente.Muitos prodígios e sinais. Este era mais um motivo de temor e deslumbramento. O Espírito Se manifestou, dando aos apóstolos grande poder não só para pregar, mas também para operar maravilhas, assim como Jesus havia prometido (ver com. de Mc 16:14-18).Eram feitos. Ou, “continuavam a ser feitos”. |
At.2:44 | 44. Juntos. O termo pode se referir tanto à reunião física dos cristãos quanto à união de espírito.Tudo em comum. Ter coisas em comum não era algo inusitado na vida dos judeus da época. Os visitantes que iam a Jerusalém para as festas anuais costumavam ser recebidos pelos amigos na cidade. No entanto, fica claro que a declaração de Lucas sugere algo mais. Os cristãos fizeram uma reviravolta e uma nova economia cristã foi estabelecida. No entanto, isso não significa a instituição de um socialismo cristão. E provável que se tratasse de uma continuação e ampliação da “bolsa” comum de (oão 12:6 e 13:29. Os novos conversos estariam mais dispostos a compartilhar suas posses materiais por causa do amor recém-clescoberto por Cristo e de uns pelos outros, além da ansiosa expectativa pelo breve retorno do Senhor (At 1:11). A partilha não era compulsória (At 5:4). Tratava-se do cumprimento literal das palavras de Cristo (Lc 12:33) e de um ato natural numa sociedade fundada com base na lei da simpatia e da negação do eu, não na lei do interesse próprio e da competição.Não há evidências de que este estilo de vida tenha continuado por muito tempo na igreja, embora a benevolência tosse, sem dúvida, demonstrada a cada oportunidade. Ao mesmo tempo, porém, a igreja aprendeu a discernir o uso de seus recursos (2Ts 3:10; lTm 5:8, 16). A igreja de Jerusalém se tornou cada vez mais dependente da generosidadedas igrejas gentílicas (ver At 11:29). Todavia, não é certo pensar que a igreja de Jerusalém começou a passar necessidade por causa de sua benevolência nos anos anteriores. O problema se originou da grave perseguição e fome que sofreu (ver com. de At 11:27-30; Rm 15:26; iCo 16:1-3). |
At.2:45 | 45. Vendiam. Ou, "estavam vendendo”, "costumavam vender”. As vendas ocorriam em ocasiões de aflição, que exigiam recursos rápidos para ajudar quem passava necessidades.Propriedades. Do gr. ktêmata, “posses”, no sentido de propriedade fixa, como terrenos.Bens. Do gr. huparxeis, “posses”, no sentido de propriedade móvel, bens pessoais.Distribuindo. Isto é, “dividindo”, “compartilhando”. Eles distribuíam o dinheiro obtido com a venda de suas posses.Entre todos. Isto é, entre os cristãos.A medida que alguém tinha necessidade. As palavras sugerem discernimento criterioso. A ajuda dependia do grau de necessidade. Eles também se preparavam para prestar auxílio sistemático (ver com. de At 6:1-6). |
At.2:46 | 46. Diariamente perseveravam. Os novos cristãos eram constantes em sua devoção pública.Unânimes. Comparar com At 1:14.No templo. Talvez se esperasse que os seguidores do Crucificado evitariam o templo. Mas eles 1 requentavam o local desde antes do dia de Pentecostes (Lc 24:53). O templo se tornara mais precioso para eles do que nos dias antes de conhecerem o Senhor. Por meio dEle, aprenderam a conhecer o Deus do templo, l ambem pode parecer estranho que eles tivessem permissão para cultuar e ensinar ali. De fato, mais tarde, foram proibidos de fazê-lo. Mas deve-se lembrar que o átrio do templo era aberto a todos os israelitas que não perturbavam a paz do local. Parte dessa aceitação pode se dever ao lato de que no Sinédrio havia pessoas como Nicodemos,José de Arimateia e Gamaliel, que estavam no limite da fé. Também é possível que a igreja tenha obtido certa popularidade por seu estilo de vida santificado e pela liberalidade nas ofertas. Os discípulos não consideravam sua religião uma ruptura com o judaísmo, mas, sim, o seu cumprimento. Portanto, os cristãos adoravam com seus irmãos de sangue judaico (At 3:1) não só por hábito e vontade, mas também na esperança de vê-los aceitar o evangelho (ver com. de At 3:1).Partiam pão. Ver com. do v. 42.De casa em casa. Ou, “em casa”. Os cristãos adoravam no templo, mas as características particulares da vida em comunidade, como o partir do pão e a partilha do alimento, eram notados nas casas.Tomavam as suas refeições. Fica claro que o partir do pão estava intimamente ligado à vida diária dos cristãos (ver com. de At 2:42; iCo 11:20-22).Com alegria. Do gr. agalliasis, “exulta- ção”, “alegria extrema”. Eles se regozijavam pelo privilégio de serem cristãos.Singeleza. Do gr. aphelotês, literal mente, “livre de pedras”, numa referência a um solo liso. Nesse caso, porém, se refere ã simplicidade de caráter, benevolência desinteressada e generosidade. Essas emoções transpareciam de maneira natural nos primeiros cristãos. |
At.2:47 | 47. Louvando a Deus. Expressão usada com frequência por Lucas (cf. Lc 2:13, 20; 19:37; At 3:8, 9). A alegria pela nova fé os levava a louvar ao Pai. (9 verdadeiro filho de Deus sempre encontra motivos para louvar ao Senhor.Simpatia. Jesus era popular; então, a igreja desfrutava um favor semelhante, possivelmente, por louvar a Deus e demonstrar generosidade.Acrescentava-lhes. Ou, "estava acrescentando”, “continuava acrescentando”, com o sentido de continuidade além do dia de Pentecostes. A idéia é fortalecida pelo uso da expressão “dia a dia ”.Senhor. A igreja reconhecia que o grande número de conversões à fé se devia ao Senhor, não a seus membros.A igreja (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Os que iam sendo salvos. Do gr. hoi sõzomenoi. A tradução ‘'aqueles que se haviam de salvar” (ARC) provavelmente reflete, de maneira inconsciente, a crença teológica dos tradutores, mas não encontra apoio no texto grego.] - DTN, 827; Ed, 95; MCH, 58; MS, 201;PJ, 120; T8, 15, 21, 26 41-47- BS, 271 43 - Ev, 35 46 - AA, 45Capítulo 3 |
At.3:1 | 1. E (ACF). Do gr. de, palavra que sugere uma conexão lógica com a seção anterior, não um elemento temporal. Não se registra qual foi o intervalo entre este evento e o dia de Pentecostes. Presume-se que Atos 2:42 a 47 sumarize um progresso gradual, sem nenhum incidente marcante e que possa abranger um período de vários meses. !£ interessante notar que Lucas dá bastante ênfase a informações cronológicas em seu evangelho (Lc 3:1; 6:1), mas não em Atos. O Espírito Santo, que guiou a escrita, pode ter levado o autor a estabelecer diferentes prioridades quanto a questões cronológicas.Pedro e João. Esta dupla de apóstolos faz uma conexão interessante entre a narrativa dos evangelhos e a de .Atos. Eles eram duas pessoas bem próximas. Haviam sido companheiros de pesca no mar da Galileia (ver Lc 5:10). Pedro, João e Tiago desfrutaram uma amizade confidente com o Senhor (ver Mc 5:37; 9:2; 13:3; 14:33). Pedro e João foram enviados para preparar a Páscoa que Jesus queria celebrar com os discípulos (Lc 22:8). Na noite do julgamento de Cristo, João, conhecido na casa do sumo sacerdote, levou Pedro consigo [rara dentro do palácio do sumo sacerdote (Jo 18:15, 16).Numa ocasião posterior, os dois foram enviados para ajudar Filipe em sua missão em Samaria (At 8:14), Ao lado de Tiago, eles aprovaram a obra de Paulo e Barnabé entre os gentios (G1 2:9). Portanto, o lato de estarem juntos nesta ocasião reflete a amizade entre os dois apóstolos.Subiam. Ou, "estavam subindo". O incidente prestes a ser relatado ocorreu quando os dois apóstolos estavam a caminho do templo para adorar.Ao templo. Do gr. hieron, que inclui não só o santuário, mas também o átrio e todo o complexo de construções ligadas ao templo (ver com. de Mt 4:5). Os apóstolos “estavam sempre no templo, louvando a Deus" (Lc 24:53; ver At 2:46). Os judeus convertidos ao cristianismo não tinham igrejas físicas onde se reunir e ainda não haviam percebido que os cultos no templo não tinham mais relevância espiritual para os cristãos.Oração da hora nona. Por volta das três da tarde (ver com. de At 2:15; ver vol. 5, p. 38). Fsta era a hora do sacrifício da tarde (ver Josefo, Antiguidades, xiv.4.3 165]). Era conhecida como hora de oração e hora do incenso (ver Lc 1:9, 10). Os sacrifícios da manhã e da tarde eram oferecidos com incenso nas horas terceira e nona do dia (por volta das 9h e 15h). Nesses horários, os l iéis iam orar no átrio do templo. A oração ao meio-dia parecia ser costumeira, pelo menos para alguns (ver SI 55:17; ver com. de Dn 6:10; At 10:9). Sabe-se que, no 2° século cl.C., uma terceira oração diária ocorria mais ou menos na hora do pôr do sol e é possível que já fosse um hábito antes disso. A prática de orar três vezes por dia ocorre na igreja cristã desde, no mínimo, o 2° século, costume que deve ter sido aprendido diretamente das sinagogas judaicas (Diclaquê 8). No início do 3° século parece que as três horas de oração eram observadas por muitos cristãos (ver Clemente de Alexandria, Miscelânea, vii.7). |
At.3:2 | 2. Era levado. Ou, “estava sendo levado”, “costumava ser levado”. O texto grego abre espaço para se compreender que o coxo estava sendo levado para o local onde pedia esmolas, quando abordou ou apóstolos, ou que já se encontrava assentado lá quando Pedro e João passavam. Naquela época, não havia hospitais, nem albergues. Portanto, para receber ajuda, o aleijado tinha de ser colocado num lugar onde pessoas de boa vontade pudessem ver sua condição (ver Mc 10:46; Lc 16:20; 18:35). Supunha-se que a multidão que se dirigia ao templo estaria inclinada a ajudar pelo sentimento religioso do momento.De nascença. O registro cuidadoso da duração do sofrimento do homem é uma característica de Lucas (ver At 9:33; 14:8). O coxo tinha cerca de 40 anos de idade quando foi curado (ver com. de At 4:22).Chamada Formosa. Não há nenhuma outra menção a uma porta com esse nome na Bíblia, nem na literatura judaica. A opinião dos eruditos se divide. Alguns defendem que seja a porta de Susã, no muro mais externo do lado leste da área do templo; outros defendem que se trata da porta de Nicanor, que levava do pátio dos gentios ao das mulheres. Alguns acham que a segunda porta ficava entre o átrio das mulheres e o dos homens. A definição se a porta Formosa fazia parte do muro externo do templo ou se ficava entre os átrios, em grande parte, depende da rota que os apóstolos teriam feito na presente narrativa. Lucas registra que eles passaram pela porta, curaram o homem, entraram no templo e, aparentemente, depois de fazer suas orações, encontraram uma multidão atraída pelo milagre no pórtico de Salomão. Parece que o pórtico ficava dentro do muro externo oriental (ver com. do v. 11); portanto, é possível que a porta Formosa ficasse mais para fora e que fosse a de Susã. Caso se tratasse de uma porta interna entre os átrios, os apóstolos precisariam passar por ela de novo a fimde chegar ao pórtico de Salomão. Contudo, parece difícil justificar o fato de Pedro e joão chegarem por essa porta, uma vez que ela vinha do monte das Oliveiras. Não seria a direção mais previsível de chegada para eles, pois estavam morando na cidade. Enn comparação com as outras portas que davam acesso da cidade ao templo, essa devia ser pouco usada e seria um local menos provável para um mendigo escolher se assentar e pedir esmolas. Por causa dessas dificuldades claras, muitos eruditos preferem supor que os apóstolos tenham passado de novo pela porta Formosa antes de encontrar a multidão no pórtico de Salomão. Assim, identificam que a porta Formosa é a de Nicanor, provavelmente localizada entre o pátio dos gentios e o das mulheres, josefo a descreve da seguinte forma: “Uma, a de fora do santuário, era teita de bronze de Corinto e seu valor em muito excedia as recobertas por prata e adornadas de ouro." Acerca da mesma porta, a Mishnah afirma: “ Iodas as portas originais foram trocadas por portas de ouro, com exceção da porta dc Nicanor, pois um milagre nela se operara; alguns dizem, porém, que era porque seu cobre resplandecia [como ouro]" (Mishnah Midcloth, 2.3; ed. Soncino, Talmude, p. 7, 8). Reunindo todas as evidências, parece provável que a porta Formosa seja a de Nicanor.Para pedir esmola. Sem dúvida, os arredores do templo, assim como nas mesquitas atuais e em algumas das grandes catedrais da Europa, ficavam cheios de cegos, coxos, deformados e mendigos de todos os tipos. |
At.3:3 | 3. Iam entrar no templo. Como os apóstolos estavam prestes a entrar no templo, a fim de adorar, o coxo concluiu que eram homens piedosos, de quem ele pode- ria esperar uma esmola.Dessem uma esmola. Em sua necessidade, o coxo era incapaz de ver além das carências e dos meios visíveis. Até mesmoo ser humano mais devoto, que o paralítico demonstrou ser depois de curado (v. 8), pode falhar em reconhecer os recursos divinos por causa de suas necessidades t ísicas imediatas. Pedro e joão não apresentavam evidências externas de serem veículos do poder de Deus. Em contrapartida, esse coxo, testemunha diária da movimentação do templo e talvez até mesmo um participante de suas fofocas, dificilmente desconhecería os acontecimentos instigantes que acompanharam a então recente crucifixão e a ressurreição de Jesus. |
At.3:4 | 4. Fitando-o. Ou, “depois de olhar para ele” (ver com. de At 1:10; Lc 4:20).Olha para nós. Pedro não pretendia que o coxo considerasse que eles tinham poder em si mesmos para curá-lo (ver v. 6). Mas tentaram concentrar neles a atenção do homem a fim de direcioná-la a Cristo. |
At.3:5 | 5. Esperando. A esperança do paralítico não ia além da satisfação temporária de uma necessidade física que o dinheiro seria capaz de suprir. |
At.3:6 | 6. Nem prata nem ouro. Os relatos de Atos 2:45 e 5:2 mostram que os apóstolos eram os administradores dos recursos entregues à liderança da igreja pela generosidade da comunidade cristã. Pode-se entender que Pedro e João não tivessem recursos próprios. No entanto, por que não deram dinheiro da tesouraria da igreja ao necessitado? Eles não tinham nenhum desses Lindos consigo no momento, ou, por algum motivo, sentiram que esse dinheiro deveria ser reservado para o benefício dos membros da comunidade cristã. Mas eles tinham mais do que dinheiro; tinham uma dádiva que a igreja, em sua riqueza posterior, não demonstrou possuir. Há um relato marcante sobre Tomás de Aquino, que foi chamado pelo papa Inocêncio IV quando este tinha uma grande soma de dinheiro diante de si. O papa lhe teria dito; “Veja, Tomás, a igreja agora não precisa mais dizer como a igreja dopassado, ‘não possuo nem prata nem ouro’. L verdade, respondeu ele. Mas tampouco pode dizer, como Pedro ao coxo: ‘Levanta-te e anda.’O que tenho. Lucas já havia se referido aos “prodígios e sinais” realizados pelos apóstolos antes desta ocasião (At 2:43); portanto, é possível que este não tenha sido o primeiro milagre de Pedro desde o Pentecostes. No relato, ele fala com convicção. Diante deste incidente, todo cristão deve se perguntar: o que tenho para dar? Não se pode dar o que não foi recebido, nem fazê-lo com egoísmo. Só pode dar de Cristo quem O tem. Ouem tem a Cristo, sabe disso e mal pode esperar para compartilhar depressa seu precioso dom com outras pessoas.Em nome. O nome de Jesus Cristo, o Salvador ungido, contém a descrição da personalidade e do caráter de seu portador divino. A invocação reverente de Seu nome resultou numa demonstração de poder. O reconhecimento e a invocação do poder deste nome é frequente ao longo do livro de Atos (ver At 4:10, 12; 9:14; 16:18; 19:5, 13; 22:16). A confiança plena com que Pedro invocou o nome de Jesus no ato de cura é uma expressão de fé na promessa do Mestre (Mc 16:18; ver com. de At 3:16).Jesus Cristo, o Nazareno. Provavelmente. este não era um nome novo para o coxo. No passado, um cego recebera a visão junto ao tanque de Siloé (Jo 9:7, 8). Talvez a cura do paralítico em Betesda (Jo 5:2-9) também fosse do conhecimento desse sofredor de enfermidade semelhante.Nazaré era um local de péssima reputação (ver jo 1:46). De acordo com o relato de João, o nome de Nazaré foi colocado na inscrição da cruz (Jo 19:19). O lato de Jesus, além de ser Galileu (Jo 7:40-42), ser de Nazaré, era uma pedra de tropeço para os judeus. Deve ter sido um grande teste de fé para o coxo responder ao chamado de Pedro. Poucas semanas antes, Aquele quelevava este nome fora envergonhado e morto na cruz, como alguém que havia enganado o povo. Mas a declaração do nome com fé abriu caminho para a operação do poder de Deus. “Tão depressa seja o nome de Jesus mencionado com amor e ternura, anjos de Deus se aproximam para abrandar e subjugar o coração” (CE, 112).Anda! As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “levanta-te e anda!”. Este homem nunca havia andado, ou, no máximo, o fazia mancando muito, pois era coxo de nascença (v. 2). A ordem de Ped ro ao coxo deveria ser obedecida pelo poder de Deus, sem levar em conta sua condição. À obediência pela fé significaria saúde. |
At.3:7 | 7. E [...] o levantou. O gesto de Pedro foi um auxílio à fé iniciante do coxo. Era um apoio ao homem para a transição, do último momento de desamparo para o primeiro instante da fé de que um milagre havia se realizado em sua vida. Os filhos de Deus devem fazer como Pedro: “Fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes” (Is 35:3).Tornozelos. Lucas era médico (Cl 4:14). Trata-se, portanto, de um escritor com experiência médica para descrever com precisão o que aconteceu com o coxo.Firmaram. Ou, “foram feitos firmes”. Os tendões e músculos frágeis e débeis se tornaram fortes e ativos. |
At.3:8 | 8. De um salto se pôs em pé. Quando o poder veio ao homem, ele deu um salto e conseguiu ficarem pé pela primeira vez. Ele andou passo a passo, alternando os passos com pulos de alegria.No templo. Este homem deve ter desejado, ao longo dos anos, ter a liberdade física de entrar no templo e adorar como as pessoas normais o faziam. Quando pôde, não perdeu tempo. Por ser a hora de oração, os átrios do templo estavam repletos de adoradores. Como a multidão deve ter se deslumbrado ao vê-lo andando, “saltando e louvando a Deus”. |
At.3:9 | 9. Viu-o todo o povo. O milagre não foi operado na obscuridade. Eram várias as testemunhas. Entre elas, devia haver muitas que conheciam a condição do coxo havia anos. As autoridades judaicas admitiram o fato entre si (At 4:16).O relato detalhado de Lucas desperta convicção. Sem dúvida, baseou-se em testemunhas oculares a quem entrevistou, e foi autenticado pelo Espírito. Deus cria e recria, e é capaz de fazê-lo a qualquer momento. |
At.3:10 | 10. Reconheceram. As pessoas reconheceram que o homem era mesmo coxo, não um simulante. Viram que estava curado. Puderam vê-lo entrar no templo, saltando e alegrando-se por sua saúde e louvando a Deus.Porta Formosa. Ver com. do v. 2. |
At.3:11 | 11. Apegaedo-se ele a Pedro e a João. Há evidências textuais (cf. p. xvi) para a variante: “Ouando Pedro e João se afastaram, ele foi junto, apegando-se a eles; e os que estavam atônitos se encontravam no pórtico com o nome de Salomão.’ Esta tradução ajuda a resolver o problema da localização da porta Formosa e, embora provavelmente não seja original, parece uma evidência inicial em favor de sua identificação com a porta de Nicanor (ver com. do v. 2).Atônito. Foi no pórtico de Salomão, poucos meses antes, na Festa da Dedicação (Jo 10:22, 23), que Jesus havia pregado ao povo sobre as obras de Deus. A lembrança do que Ele dissera deve ter permanecido na mente dos dois discípulos. As pessoas reclamaram porque Jesus não dissera abertamente se era o Cristo (Jo 10:24-26), e se prepararam para apedrejá-Lo quando afirmou ser um com o Pai (jo 10:30-33). Neste evento de Atos, ouviram Jesus ser proclamado “santo” e “justo”, "autor da vida”, o próprio Cristo, o Messias da profecia (At 3:14, 15, 18).Pórtico. Do gr. stoa, “pórtico”, "abóbada”. Não há menção a um pórtico “chamado de Salomão” no relato original da construção do primeiro templo. Josefo o localizano lado oriental do complexo do templo (Antiguidades, xx.9.7). Ele diz que se distin- guia por duas fileiras de colunas com cerca de 10,6 m de altura (Guerra dos judeus, v.5.2 [190]). E provável que tenha recebido o nome de “Salomão” por ter características da construção mais antiga dos dias de Zorobabel. Quando Herodes Agripa I terminava a obra de seu avô, o povo tentou convencê-lo a demolir o pórtico e reconstruí-lo, mas ele se recusou a fazê-lo. |
At.3:12 | 12. Por que vos maravilhais [...]? Esta pergunta é semelhante à feita pelo anjo: “por que estais olhando?" (At 1:11). Em ambos os contextos, a ideia é que as testemunhas do milagre não deveriam estar tão maravilhadas com o evento como demonstravam.Por que fitais os olhos em nós [...]? Literalmente, “a nós por que olliais? (ver com. de At 1.T0). O crédito pelo milagre não deveria ser dado a homens comuns como Pedro e João, mas ao poder divino.Piedade. Ou, “devoção”. As palavras de Pedro trazem à lembrança a teoria popular de que se uma pessoa for devota o suficiente, Deus a ouvirá e grandes resultados se seguirão (ver Jo 9:31). Nesta ocasião, o apóstolo rejeita tal ideia. Nenhuma pureza própria beneficiaria Pedro; somente o poder de Deu:, manifesto no nome de Jesus de Nazaré era capaz de fazer a obra. |
At.3:13 | 13. O Deus de Abraão. Aqui encontramos um eco do ensino e das palavras do Senhor (ver Mt 22:32), embora a expressão venha do AT (Ex 3:6, 15). Ao afirmar que Jesus era Filho do Deus de Abraão, Pedro garantiu a seus ouvintes judeus que não estava pregando um Deus novo, mas, sim, ligando Jesus ao Deus de seus antepassados.Servo. Do gr. pais, que pode significar tanto "filho” quanto “servo". A palavra é usada na LXX com este segundo sentido, nos últimos capítulos de Isaías. Na verdade, este texto lembra bastante Isaías 52:13.No NT, pais é usado para se referir a Cristo (Mt 12:18; At 3:26; 4:27, 30). Estas passagens sugerem que Mateus e Lucas compreendiam que a figura do Servo sofredor em Isaias se aplicava a Cristo (ver com. de is 41:8).A quem vós traístes. Ou, “entregastes'’. Pedro é Iraneo e ousado ao colocar a culpa pela morte de Jesus sobre os judeus, como os apóstolos passaram a fazer desta ocasião em diante.Negastes. Ver jo 19:15.Decidido. Pi latos havia tomado a decisão correta de liberar Jesus, considerando-O inocente (Jo 19:4). Mas os judeus, para sua culpa e vergonha, o convenceram a condenar Cristo à morte. |
At.3:14 | 14. O Santo. Este é um nome surpreendente. E provável que não fosse novo para os ouvintes de Pedro, pois ocorre na literatura judaica intertestamentária (ver com. de Jo 6:69). Os demônios o usaram para se dirigir a Cristo (Mc 1:24). Em Seu julgamento, Jesus foi considerado inocente de todas as acusações (Mc 15:10; Lc 23:4). Tanto Pilatos quanto sua esposa deram testemunho da inocência de Jesus (Mt 27:19, 24), assim como o ladrão arrependido (Lc 23:41) e o centu- rião (v. 47; ver com. de At 2:27).Justo. Ou, “reto” (ver IPe 3:18; ljo 2:1; ver com. de At 7:52).Pedistes [...] um homicida, isto é, Barrabás (ver Mc 15:7; Lc 23:19). |
At.3:15 | 15. Autor da vida. Do gr. archêgos lês zõês (cf. Hb 12:2; em Hb 2:10, archêgos também é traduzido por "Autor”). Cristo é o originador da vida. “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (DTN, 530). O “Autor da vida” e “Autor da salvação” (Hb 2:10) é, consequentemente, aquele de quem f luem a vida e a salvação. Claramente, Jesus é anunciado como o autor da vicia. Ele mesmo fez essa declaração enfática (ver Jo 3:14, 15; 5:26, 40; 6:48, 51). Os judeus haviam escolhido manter vivo u m assassino,um ceifador de vidas, e pediram a morte do Autor e Doador da vida.Deus ressuscitou. O fato de o Pai ressuscitar Cristo dos mortos é declarado repetidas vezes no NT (At 2:24; Rm 6:4; 8:11). Ao mesmo tempo, Jesus declarou que Ele próprio tinha poder para entregar Sua vida e reavê-la (Jo 10:18). Essas duas declarações referentes à ressurreição não são contraditórias. Embora Cristo tivesse vida em Si mesmo, quando Se tornou o Filho encarnado, ‘assumindo a forma de servo” (Fp 2:7), nada podia “fazer de Si mesmo” (jo 5:19). Jesus exercia Seu poder divino somente sob a ordem do Pai. Logo, conquanto seja verdade que “o Salvador saiu do sepulcro pela vicia que havia em Si mesmo” (DTN, 785), Ele o fez atendendo ao chamado do Pai.Do que. Isto é, “de quem”. Pedro declara mais uma vez o fato central de que os apóstolos sabiam do que estavam feriando. El.es conheceram o Senhor, viram-No morrer e também O contemplaram ressurreto. |
At.3:16 | 16. Em o nome. Diversas vezes no NT e, especialmente, em Atos, o nome de Jesus é declarado como o meio para se operarem milagres e conquistar a salvação (At 3:6; 4:10,'" 12, 17, 18; 16:18; Mc 9:38; Lc 10:17). O uso da palavra "nome" neste sentido deve ser compreendido à luz da rica conotação que ela tem no NT (ver com. de At 2:21).Os eruditos destacam que, nos tempos antigos, acreditava-se que certos nomes tinham santidade e eficácia particular. Por isso, os judeus do período pós-exílico mantinham o nome divino Yahvveh em segredo, só conhecido pelo sumo sacerdote, de tal modo que sua verdadeira pronúncia acabou se perdendo. Também se cria que a declaração de certos nomes tinha poder específico para operar milagres. Josefo relata ter visto um homem chamado Eleazar expulsar demônios ao pronunciar o nome de Salomão (Antiguidades, viii.2.5 [46-491). Os sete filhos de Ceva, em Efeso, tentaramrealizar o mesmo, usando o nome de Jesus (At 19:13, 14). Eles achavam que havia poder mágico no mero uso do nome. Sem dúvida, muitos dos que observavam os milagres operados pelos discípulos de Jesus em nome dEle pensavam que a eficácia dos milagres repousava meramente no uso de um nome mágico (ver vo 1. I, p. 148-151).No entanto, é inquestionável que os discípulos, ao operar milagres, não proferiam o nome de Cristo com a ideia de que o poder mágico se encontrava em pronunciá-lo. No AT, a palavra heb. shem, "nome”, é usada, às vezes, no sentido de "caráter" (ver Jr 14:7, 21) e pode ser quase um sinônimo da pessoa em si (ver SI 18:49). Essa ligação entre nome e caráter é ilustrada pela riqueza de nomes no AT que apontam para o caráter de quem o possuía ou para a expectativa dos pais quanto à personalidade de seus filhos. Esta mesma ideia de "caráter” deve ser o significado da palavra "nome" na obra apócrifa de Enoque (48:7), que afirma o seguinte sobre o Filho do Homem: "Pois em Seu nome eles [os justos] são salvos.”Outro desdobramento desta ideia é visto nos tempos do AT, quando a palavra grega para "nome” (onoma) pode assumir o sentido de "pessoa". Num papiro egípcio de 13 d.C., ocorre a expressão "do nome escrito abaixo", que tem o sentido claro de "da pessoa que assinou abaixo” (sobre um uso semelhante, ver At 1:15; Ap 3:4; 11:18).fu do isso indica que o uso do nome de Jesus para operar milhares e proclamar a salvação significava uma declaração, por parte dos apóstolos, de que a cura e o poder de salvar eram realizados em conexão vital com a pessoa e o caráter de Jesus Cristo. Ao dizer, nesta passagem, que "esse mesmo nome fortaleceu a este homem", Pedro afirmava que fora o próprio Cristo quem havia operado o milagre, não um encantamento mágico proferido mecanicamente sobre o coxo. O poder de Cristo está disponível atodos, mas precisa ser aceito por meio de uma fé viva nEle.Vedes e reconheceis. Não havia enigma nesta situação, nem possibilidade de truque. Não houve a substituição do coxo por um homem são a fim de fingir que o paralítico fora curado. Todos sabiam que o indivíduo fora coxo e, então, o viam curado.Por meio de Jesus. Ver 1 Pe 1:21. Tanto a fé do agente da cura, Pedro, como a exercida pelo beneficiário da cura, o coxo, estavam apoiadas no poder de Cristo. Pedro era um comunicador do poder de Deus pela fé; e o homem recebeu pela mesma té a cura de seu corpo. A própria té que restaura é um dom (Rm 12:3; ICo 12:9).Saúde perfeita. Ou, "plenitude”. |
At.3:17 | 17. Por ignorância. A ignorância é perigosa tanto no âmbito espiritual quanto em outros contextos. As pessoas podem pecar por ignorância, como neste exemplo, mas a ignorância não justifica o pecado. Nem mesmo no governo humano a ignorância da lei desculpa o transgressor. E necessário se arrepender dos pecados cometidos por ignorância com tanta sinceridade como dos demais. Culpa maior recai sobre aqueles que são ignorantes por permitirem que o preconceito e as emoções os impeçam de discernir as coisas de que a razão e a consciência dão testemunho (comparar com Lc 23:34). |
At.3:18 | 18. Assim, cumpriu. Estas palavras marcam o clímax do raciocínio de Pedro e a base de seu apelo ao arrependimento. A força de sua lógica repousava no fato de pregar sobre profecias que já haviam se cumprido.Profetas, Ver Lc 24:25-27. Pedro destaca que os profetas do AT predisseram a obra de Cristo, como o faz em Atos 1:16 e 2:23. O propósito de toda a Bíblia é anunciar o plano da salvação da humanidade por intermédio da morte redentora de Cristo. Desde a primeira promessa do evangelho (Gn 3:15), há um fio contínuo de testemunho ao longode todo o AT que aponta para a expiação viçaria mediante Jesus Cristo. Textos do AT : com significado messiânico podem ser lidos em: Salmo 22:18 (ver Mt 27:35); Daniel 9:26; Zacarias 11:13 (ver Mt 27:9, 10); e lsaías 53.Cristo havia de padecer. Não há conhecimento de que os judeus já tivessem aplicado a profecia de lsaías sobre o servo sofredor ao Messias. A doutrina de um Messias sofredor divergia da perspectiva predominante entre os judeus na era apostólica e era mal compreendida até mesmo pelos discípulos de Cristo antes da ressurreição. O próprio Pedro protestou quando Cristo talou aos doze acerca dos sofrimentos que enfrentaria e recebeu uma repreensão severa por sua relutância em aceitar tal situação (Mt 16:21-23). Esta passagem revela uma mudança surpreendente na compreensão de Pedro. Ele afirma que os sofrimento de Cristo estavam de acordo com o plano divino. Sem dúvida, esta iluminação chegava aos apóstolos por meio dos ensinos de Jesus após a ressurreição (ver Lc 24:44-48) e pela iluminação do Espírito Santo, no Pentecostes. Posteriormente, Pedro demonstrou mais uma vez o entendimento dessa doutrina fundamental ao escrever sobre o Salvador que levou os pecados da humanidade (lPe 2:23, 24). |
At.3:19 | 19. Arrependei-vos. Do gr. metanoeõ, "mudar de .idéia” e, no sentido espiritual, "arrepender-se" (ver com. de Alt 3:2). Este chamado ao arrependimento é o clímax lógico da dura reprimenda de Pedro a seus contestadores. Não havia motivo para a repreensão caso ela não tivesse o objetivo de causar arrependimento. O mesmo se dá com toda a pregação do evangelho.Convertei-vos. Do gr. epistrephõ, "virar". Na LXX, esta palavra costuma ser usada para traduzir o heb. shitv, "retornar”, palavra que muitas \e/es tem o sentido espiritual de voltar para Deus (\er com. de Ez 18:30). Epistrephõ é uma palavra peculiarmente apropriadapara a mudança que ocorre quando a pessoa aceita a Cristo como salvador e senhor. Lucas a emprega repetidamente neste sentido (ver At 9:35; 11:21; 26:20). A conversão é a base para uma experiência cristã genuína. É diferente do novo nascimento (jo 3:3, 5), por ser o ato humano de se afastar da antiga vicia de pecado, ao passo que o novo nascimento, ou regeneração, é a obra do Espírito Santo agindo sobre a pessoa no momento que ela realiza esse afastamento. Nenhuma etapa da experiência pode se tornar realidade sem o Espírito Santo. .Mas o Espírito só realiza Sua obra quando o ser humano está disposto a permitir que Deus assuma o controle de sua vida (ver Ap 3:20).Cancelados. Ou, "limpos". Varias vezes, nas Escrituras, o perdão dos pecados é retratado como uma limpeza (ver |o 13:10; Ap 1:5; ver com. de Ap 22:14). A imagem subjacente às palavras aqui é a de uma acusação pela lista de pecado dos penitentes, a qual é cancelada pelo amor perdoador do Pai (ver Is 43:25; Cl 2:14; ver com. de Alt 1:21; 3:6; 26:28; Lc 3:3).O resultado imediato aos que aceitaram o convite de Pedro ao arrependimento foi o perdão dos pecados. Neste sentido, pode-se considerar que o cancelamento dos pecados ocorreu imediatamente. Contudo, em seu sentido final, o apagar definitivo dos pecados ocorrerá logo antes do segundo advento de Cristo, em conexão com o encerramento de Sua obra como sumo sacerdote. A culpa por pecados específicos é cancelada quando eles são confessados c perdoados. Então, eles são riscados do registro no dia do ju ízo (cf. Ez 3:20; 18:24; 33:13; CC, 485). |
At.3:20 | 20. A fim de que. Do gr. hopõs an. Lexicógrafos e gramáticos são unânimes em afirmar que hopõs an revela propósito, não tempo (como na KJV). tlopõs, com ou sem o an ocorre 56 vezes no NT. E traduzido por “como” (Alt 22:15; Lc 24:20), “de sorte que” (Lc 16:26) e "porque” (At 20:16).Mas a tradução mais frequente é “para que” ou outra expressão de propósito (At 8:15; 9:12, 17, 24; Rm 3:4).A conversão em relação ao pecado tem poder para acelerar o cumprimento dos propósitos do Senhor e, consequentemente, apressar a vinda de Seu reino em plenitude.Pedro sugere uma sequência temporal na experiência da conversão. Ele chamou os ouvintes a se arrependerem e se converterem. Tais atos, segundo ele, seriam sucedidos por: (1) o cancelamento dos pecados,(2) a chegada de “tempos de refrigério” e(3) o glorioso advento de Jesus Cristo.Em qualquer discussão da sequência de tempo nas palavras de Pedro é importante manter dois pontos em mente: (1) Assim como os outros discípulos, Pedro não conhecia “tempos ou épocas” (At 1:7; cf. Jo 21:20- 23). Ele tinha uma visão limitada do futuro e esperava o breve retorno do Senhor (ver Nota Ad icional a Romanos 13). (2) Por iluminação divina, Pedro reconheceu que certas profecias sobre os “últimos clias” estavam se cumprindo em sua época. Na verdade, a iluminação do Espírito pode tê-lo capacitado a enxergar apenas esse cumprimento imediato e limitado, embora tal ideia não seja fundamental para esta discussão. Por exemplo, no dia de Pentecostes, ele citou a profecia de Joel de que “nos últimos dias" Deus derramaria Seu Espírito sobre toda carne e afirmou que ela estava se cumprindo (At 2:14-18). De fato, houve um cumprimento limitado da profecia de derramamento de poder divino. Conforme já explicado, também é verdade que, em certo sentido da palavra, os pecados dos conversos tenham sido cancelados, pois eles foram cobertos pelo sangue salvador de Jesus Cristo.Mas na perspectiva do desenrolar dos planos de Deus, sobretudo no cumprimento das profecias, pode-se perceber que os “últimos dias”, em seu sentido mais literal e completo, são o tempo presente,quando os servos de Deus, com toda propriedade, podem aguardar o retorno de Cristo. De igual modo, pode-se reconhecer que o grande derramamento do Espírito, nos “tempos de refrigério”, pertencem mais especificamente à presente época, no contexto da chuva serôdia (ver com. de jl 2:23). Com a mesma propriedade, pode-se considerar o cancelamento dos pecados como um evento do presente, em vista da expia- ção em andamento no Céu. Por que separá- lo por completo dos outros dois eventos que Pedro mencionou? Aliás, quando se estuda o tempo do apagamento dos pecados no contexto da obra de Cristo no santuário celestial (ver com. de Dn 8:14), descobre-se que o verdadeiro cancelamento ocorre nos últimos dias, pouco antes da vinda de Cristo (ver PP, 357, 358; GC, 421, 422; ver com. de Ez 18:24). O elo entre os três acontecimentos fica evidente na tradução feita pela ARA (At 3:19, 20).Portanto, está claro que a declaração de Pedro (v. 19, 20), quando analisada como um todo, contém um elemento temporal definido. Sob a inspiração divina, além de sua compreensão finita, ele fala de forma concisa de dois grandes eventos dos últimos dias:(1) o derramamento do Espírito de Deus e(2) o cancelamento definitivo dos pecados dos justos. Ambos estão ligados a um terceiro evento, o clímax de tudo: o segundo advento de Cristo.Da presença. Literalmente, “da face”. O “refrigério” vem diretamente do trono de Deus.Envie. O tema dominante dos autores do NT é o retorno de Cristo (ver com. do v. 19).Já vos foi designado. Esta leitura é atestada por evidências textuais (cf. p. xvi). Na mente de Deus, o plano da redenção Ioi definido desde a eternidade (ver Mi 25:34; Ef 1:4; Ap 13:8) e foi executado mesmo em face da resistência de Satanás e de homens pecadores. Resta aos envolvidos no planocumprir suas condições por meio da obediência (cf. Lc 22:42; Hb 10:7). |
At.3:21 | 21. O céu receba. Os discípulos haviam testemunhado a ascensão de Cristo (At 1:9, 10) e sabiam que Ele deveria permanecer no Céu até o segundo advento. Jesus disse aos discípulos que era necessário deixá-los (Jo 14:1-6), mas eles só compreenderam isso quando O viram subir. Então, entenderam que deveríam aguardar Sua volta.Restauração. Cristo morreu para ser o redentor do mundo. Portanto, a restauração prometida se tornou possível por meio de Sua crucifixão.Nesta ocasião, Pedro expressa o embrião de uma ide ia que ele desenvolve de maneira mais direta em 2 Pedro 3:7 a 13, em que “novo céu’’ e “nova terra” representam a restauração do ser humano. Por causa da queda, o pecado destruiu a beleza e a perfeição da criação original, a qual será recriada à sua beleza edênica (ver com. de Is 65:17-25; \iq 4:8).Pedro não ensina, neste texto, como pensam alguns, que todas as pessoas serão salvas. As Escrituras não fazem essa promessa. Em vez disso, a Bíblia expressa a ideia de um estado final no qual a justiça, não o pecado, terá domínio sobre o mundo redimido e recriado. Por meio de Pedro, Deus aponta um objetivo supremamente digno para a experiência cristã, que resulta do verdadeiro arrependimento e da conversão. Ele oferece esperança ainda mais ampla em possibilidades de crescimento em sabedoria e santidade no mundo por vir do que a cristandade muitas vezes está disposta a enfatizar.De que Deus falou. Pode-se compreender que esta sentença se refere aos “tempos de refrigério”, isto é, ao ato divino de restauração previsto profeticamente; ou a “todas as coisas”, as quais apontam para a realidade do cumprimento das promessas divinas por intermédio dos profetas. Esta é umaafirmação clara de que as palavras dos profetas são mensagens de Deus, e que Ele falou mediante os profetas (ver 2Pe 1:21).Todos (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão desta palavra.Desde a antiguidade. Estas palavras abrangem as muitas promessas imutáveis dos profetas que despertaram a esperança do povo de Deus ao longo das eras. Zacarias viu o cumprimento de tais promessas com o nascimento de seu filho João (Lc 1:70). O plano de salvação foi definido desde antes da “fundação do mundo” (Ap 13:8). |
At.3:22 | 22. Disse, na verdade, Moisés. A linhagem de profetas verdadeiros sugeridos aqui e no v. 24 revela a expectativa da vinda de um grande profeta que superaria a todos os outros, conforme ilustra a pergunta feita a João Batista: "Es tu o profeta?" (Jo 1:21). Nenhum dos líderes depois de Moisés fora “semelhante” a ele (ver Dt 18:15). Sua obra marcou o início de uma nova época, a manifestação da glória de Deus por meio de uma teocracia, com a lei e o sistema de adoração divinamente ordenados. A vinda de Jesus inaugurou outra nova época, na qual Seu reino foi estabelecido no “novo” coração das pessoas (ver Jr 31:31-34; Hb 8:8-12).Aos pais (ACF). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Semelhante a mim. Moisés citou a promessa do Senhor a ele de que o profeta que viria seria semelhante a ele (Dt 18:18). Mas o paralelo não é de identidade, porque Moisés não era o Filho unigênito de Deus nem o Cordeiro que passou pelo sofrimento vicá- rio. Jesus é as duas coisas.A Ele ouvireis. Isto é, a Ele obedecereis (ver com. de Jo 6:60).Tudo quanto vos disser. Aqui Pedro faz uma pequena mudança na citação de Deuteronômio 18:18 para transformá-la numa ordem aos ouvintes. |
At.3:23 | 23. Alma. Do gr. psychê (ver com. de Mt 10:28; cf. At 2:41).Será exterminada. A passagem cio AT (Dt 18:19) que Pedro cita de forma livre diz: “disso lhe pedirei contas”. As palavras que Pedro usa em substituição ecoam a expressão familiar do AT: “esse homem será eliminado do seu povo” (ver Lv 17:4, 9; cf. Êx 12:15, 19). |
At.3:24 | 24. A começar com Samuel. O profeta é citado aqui provavelmente porque, com ele, os profetas de Jsrael aparecem em grupo pela primeira vez, sobretudo em sua conexão com as escolas de profetas. No 3° século d.C., Juclá Hanasi, o compilador da Mishnah, se releriu a Samuel como o "mestre dos profetas" (ver Strack e Bíllerbeck, Kommentar zuni Nenen Testament, vol. 2, p. 627). Pode ser que essa fosse uma opinião difundida nos dias de Pedro.Estes dias. Não fica claro se Pedro está se referindo aos “tempos de refrigério” (v. 21) ou à época em que ele e seus ouvintes viviam. Aliás, é possível que ele tenha unido os dois, acreditando que os eventos testemunhados dariam início às cenas finais (cf. At 2:17). |
At.3:25 | 25. Os filhos dos profetas. Os profetas foram enviados especialmente aos israelitas (ver Rm 3:2).Da aliança. Aqui Pedro relaciona a aliança abraâmica (Gn 12:3) com a aliança de salvação, assim como Paulo o faz (Gl 3:8). A despeito da luz espiritual e dos privilégios que os judeus desfrutavam, eles falharam em reconhecer que Jesus era o Messias. Em todas as eras, sobretudo na atual, aqueles que receberam privilégios espirituais podem incorrer na mesma falha.Na tua descendência. Referindo-se a Gênesis 12:3, Paulo afirma que Cristo é o descendente, e todos os fiéis em Cristo são herdeiros de Abraão (Gl 3:16, 29). O usoda passagem por Pedro não é tão explícito, mas, ao citá-la, ele faz uma clara referência a Cristo. |
At.3:26 | 26. Servo. Do gr. pais (ver com. do v. 13).Jesus (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra.Primeiramente a vós outros. Esta primazia dos judeus em relação ao evangelho é digna de nota. Pedro ainda não conhecia as condições da pregação do evangelho aos gentios, mas indica que a mensagem deveria ser pregada primeiramente aos judeus. A mesma sequência foi usada por Paulo: “primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16; cf. At 2:9, 10). Ele a seguia com tanta frequência em sua pregação do evangelho que acabou se transformando numa fórmula (At 13:46; ver At 9:19, 20; 14:1; 17:1-3; comparar com o vol. 4, p. 16, 17).Para vos abençoar. A bênção mencionada aqui sucede a ressurreição e envolve o poder de Cristo que capacita o ser humano a deixar o pecado e seguir a nova vida que se encontra nEIe. Esta nova vida do cristão se torna possível por causa da ressurreição (ver Ef 2:4-6; Cl 2:12, 13).Cada um se aparte. O verbo grego deste texto, apostrepkõ, assim como o análogo epistrephõ, é usado com frequência na LXX para traduzir o heb. shuv (ver com. do v. 19). O sentido desta passagem é dúbio. Pode-se dizer que Jesus aparta os seres humanos da iniquidade ou que Ele os abençoa quando se afastam do mal. Em certo sentido, ambos são verdadeiros. As bênçãos da salvação só podem ser recebidas mediante o poder restaurador do Espírito Santo. Segue-se o necessário afastamento do pecado, com arrependimento e conversão.PE, 71, 86, 271; PP, 858; Tl, 183, 619; 14. 40; T8, 108; T9, 155,216, 268 19, 20 - GC, 485, 612Capítulo 4Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em Seu nome é que este está curado perante vós. |
At.4:1 | 1. Falavam eles ainda. Nesta época e mesmo depois, as atividades dos apóstolos interessavam profundamente às hostis autoridades judaicas. A notícia da cura do coxo deve ter se espalhado com rapidez pela cidade e, pela primeira vez desde a crucifi- xão, os líderes do Sinédrio que condenaram o Senhor, entraram em contato novamente com o cristianismo. Poucas semanas haviam se passado desde a crucifixão. Na época, esses líderes judeus se sentiram vitoriosos por conseguirem se livrar de Jesus sobo argumento da segurança da nação, como Caifás aconselhara (Jo 11:49, 50). Eles sabiam que o túmulo de Jesus fora encontrado vazio. Mas, negando-se a crer na ressurreição, procuraram espalhar a notícia de que os discípulos haviam roubado o corpo de Cristo (Mt 28:13-15). Não se sabe se alguns dos líderes judeus estavam presentes durante a experiência do dia de Pentecostes; mas, sem dúvida, eles ouviram o que se passou e ficaram sabendo do crescimento da nova igreja. Então dois dos principais porta-vozescristãos foram encontrados ensinando dentro dos recintos do templo.Sobrevieram. Isto é, para prendê-los.Sacerdotes. A classe dos sacerdotes era responsável pelos cultos e ritos do templo (ver iCr 24:1-19). Naturalmente, foram os primeiros a se ofender porque a multidão testemunhou maravilhada a cura do coxo.Capitão. Possivelmente se tratava de um dos mesmos oficiais presentes na prisão de Jesus (ver Lc 22:52). O AT menciona um oficial cujo título era “príncipe da casa de Deus” (lCr 9:11; 2Cr 31:13; Ne 11:11). O livro de 2 Macabeus 3:4 menciona que um benja- mita era "governador do templo”. Lucas fala várias vezes do "capitão” do templo (Lc 22:52; At 5:24, 26), e Josefo também se refere a esse oficial (Guerra dos Judeus, ii.17.2 [409]; Antiguidades, xx.9.3). Fica evidente que o oficial mencionado por Josefo é o mesmo ao qual Lucas se refere. E possível que também seja o mesmo citado no AT e em 2 Macabeus. Lm escritos judaicos posteriores, são mencionados vários oficiais que poderíam corresponder ao “capitão do templo” desta passagem. Um deles seria o ’ish har habayith, o "oficial do monte do templo” (Mishnah Middoth, 1.2, ed. Soncino, Talmude, p. 1). Este homem não fazia parte da classe militar, mas fazia a supervisão da guarda dos sacerdotes e levitas que tomavam conta do templo, especialmente durante a noite. Em seu papel de inspetor, realizava rondas noturnas, visitando todos os portões e despertando quem estivesse dormindo. Parece que o átrio exterior, a área na qual Pedro acabara de fazer seu discurso, era de responsabilidade particular deste homem. Outro oficial que tem mais probabilidade de ser identificado com o "capitão” nesta passagem era o segan hakohanim, o "chefe dos sacerdotes”. Ele era o segundo na hierarquia, após o sumo sacerdote, ajudando-o em suas funções oficiais. Tinha responsabilidade geral pelos cultos e ritos no templo e pela manutenção da ordem em todos os seus recintos.Saduceus. Vervol. 5, p. 40, 41. Os sadu- ceus não são mencionados com frequência no evangelho. Em Atos 23:8, são retratados dizendo "não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito”. Foi quando a doutrina da ressurreição e da vida futura passou a ser enfatizada por Jesus e pelos apóstolos que os saduceus surgiram como oponentes, como em Mateus 22:23 a 33 e nesta ocasião.Ao descobrirem que os discípulos estavam pregando a ressurreição, os saduceus reagiram assim como fizeram com o próprio Senhor e se transformaram em perseguidores da igreja. No NT, não há registro de nenhum saduceu aceitando o evangelho, já entre os fariseus, alguns professaram crer (ver At 15:5; cf. 23:6). |
At.4:2 | 2. Ressentidos. Ou, “incomodando-se”, "agitando-se”. Este verbo é usado para descrever o sentimento de Paulo quando uma jovem ia gritando depois dele em Filipos (At 16:18). Os líderes se incomodaram não só porque os discípulos estavam pregando a ressurreição, tão rejeitada pelos principais sacerdotes, que eram saduceus, mas também por acharem que eles não eram preparados ou autorizados a ensinar, assim como acontecera com Jesus (Jo 7:14, 15). Não é incomum que homens com autoridade eclesiástica contestem o ministério daqueles que não foram por eles comissionados. Quem exerce poder facilmente fantasia que só ele é capaz de instruir outros a falar.Por ensinarem eles. Sem dúvida, uma das objeções das autoridades contra os apóstolos era que se tratavam de “homens iletrados e incultos” (v. 13). portanto, inaptos para ensinar o povo.Anunciarem, em Jesus, a ressurreição. Os apóstolos pregavam a doutrina da ressurreição "em Jesus”, isto é, falando de Sua ressurreição, a qual servia de prova da ressurreição geral dos mortos, doutrina que os saduceus rejeitavam (ver At 23:8). Mais tarde, Paulo enfatizou que a ressurreição deCristo era a garantia de que todos os justos vão ressuscitar (iCo 15:16-23; Fp 3:10, 11). |
At.4:3 | 3. Ao cárcere. Ou, "em custódia’’. Esta experiência introduz a primeira perseguição dos apóstolos.Tarde. E importante recordar que a história da cura do coxo começou às três da tarde (ver com. de At 3:1). Após a cura desse homem, Pedro fez seu discurso e, em seguida, ele e João foram presos. Já era ''tarde ', ou seja, era torno da hora do pôr do sol, a décima segunda. Como era proibido aos judeus emitir sentença judicial à noite, e o dia se encerrava na décima segunda hora, era tarde demais para uma audiência (ver Nota Adicional 2 a Mateus 26). Os rabinos colocaram essa restrição aos julgamentos noturnos por causa de Jeremias 21:12: "O casa de Davi, assim diz o Senhor: Julgai pela manhã justamente.'’ Eles aplicavam essa orientação até mesmo a deliberações relacionadas à declaração da festa de lua nova (Mishnah Rosh Hashanah, 3.1, ed. Soncino, 1’al mude, p. 113). |
At.4:4 | 4. Porém. Os novos cristãos não se deixaram deter pela prisão dos apóstolos.Aceitaram. Creram em Jesus, a quem Pedro havia anunciado como o profeta predito por Moisés. Cada indivíduo que creu passou a fazer parte do crescente grupo de conversos que aderiu à igreja.Homens. Do gr. anêr, "homem”, em contraste com mulher. Só os homens eram contados (ver com. de Mt 14:21).Subindo [...] a quase cinco mil. Ou, "tornaram-se cerca de cinco mil”. Lucas devia estar dizendo que este era o número total de discípulos, não só os que se converteram no dia da cura do coxo. Três mil haviam se convertido no Pentecostes e, desde essa ocasião, outros eram acrescentados à igreja dia após dia (At 2:47). |
At.4:5 | 5. No dia seguinte. Esta foi a primeira oportunidade para os líderes judeus fazerem uma investigação judicial (ver com. do v. 3),Reuniram-se. Com certeza, foi convocada urna reunião, como em Mateus 26:3 e 4, a fim de analisar qual atitude tomar diante da nova crise. E claro que o encontro incluiría fariseus e saduceus, mas os saduceus controlavam o Sinédrio nessa época.Autoridades. Esta é uma provável referência aos “sacerdotes” ou sumo sacerdotes mencionados no v. 1.Anciãos. Sem dúvida, o grupo aqui mencionado era conhecido em hebraico como zeqenim. Eles representavam a parte leiga do Sinédrio, em contraste com os escribas e sacerdotes.Escribas. O terceiro grupo que formava o Sinédrio era composto por escribas, juristas profissionais e intérpretes da lei reconhecidos (ver vol. 5, p. 43, 44). E compreensível que eles se ressentissem do ensino apresentado por homens sem qualificação (ci. Mt 7:29). |
At.4:6 | 6. Anás. Este homem (chamado de Ananus, por josefo), filho de Sete, se tornou sumo sacerdote, pelo ano 6 cl.C., por nomeação do governador roma no Ou i ri no (Cirênio) e foi deposto por volta de 14 cl.C. (josefo, Antiguidades, xviii.2.1, 2). Cristo foi levado primeiramente a Anás (Jo 18:13) e depois para o sumo sacerdote da época, Caifás. Isso significa que, embora não fosse mais sumo sacerdote, Anás ocupava posição de elevada influência sobre os judeus. Essa situação se torna ainda mais compreensível quando se sabe que Caifás era genro de Anás. Hoje é quase impossível precisar as l unções exatas de ambos. Pode ser que fosse costume os que haviam exercido o ofício de sumo sacerdotes continuarem a ter o título mesmo depois de deixar de ministrar. Na época da morte de Anás, cinco de seus filhos já hav iam sido sumo sacerdotes (ibid., xx.9.1). No entanto, sua velhice foi obscurecida pelas atrocidades cometidas no templo por insurgentes durante a guerra de 66 a 73 d.C. (ver Josefo, Guerra dos Judeus, iv.3.78 [151-157]).Caifás. Ele foi nomeado por volta de 18 ou 19 d.C. e deposto em 86 d.C. E retratado nos evangelhos como um político e pragmático (Jo 18:14).João. Pode ser Joanã (isto é, joão) ben Zakkai, líder judeu que chegou ao topo de sua influência 40 anos depois da destruição do templo, em 70 d.C. Depois da guerra judaico-romana, ele foi o fundador e presidente do Concilio de Jâmnia (ver vol. 5, p. 65). No entanto, essa identificação é incerta. Outra possibilidade, sugerida por um antigo manuscrito que traz “Jonatã” é que este homem fosse um dos filhos de Anás, que se tornou sumo sacerdote por curto período depois de Caifás e mais uma vez nos dias de Félix (c, 52-60 d.C.).Alexandre. Não é possível fazer uma identificação precisa de quem foi este homem.Linhagem do sumo sacerdote. O Tal- mude (Pesahim, 57,a, ed. Soncino, Talmude, p. 285) menciona várias famílias proeminentes das quais costumavam se originar os sumos sacerdotes. Caifás, o sumo sacerdote da época, tinha vários parentes que ocupavam cargos elevados. E provável que vários desses homens estivessem presentes no julgamento de Pedro e João, registrado aqui (ver com. de \It 2:4). |
At.4:7 | 7. Perante eles. O Sinédrio se assentava num semicírculo (ver Mishnah Scmhedrin, 4.8, ed. Soncino, Talmude, p. 230). Pedro e João deviam estar no centro.Com que poder [...]? Do gr. en poia dynamei, "com que tipo de poder?” A palavra dynamh, "poder", usada aqui é empregada com frequência para se reierir aos milagres de Cristo e costuma ser traduzida por “milagres" (ver IVlt 11:20; Lc 19:37; em Mc 6:14, "forças miraculosas”). Os líderes admitiam que o coxo fora curado por uma manifestação de poder; era algo óbvio demais para se negar (ver com. de At 4:16). Mas a pergunta lançava a suspeita de que o milagrefora resultado de poder do mal, uma sugestão semelhante à acusação lançada sobre Jesus (ver Lc 11:15; cf. Jo 8:48).Em nome de quem [...]? Ou, “em que tipo de nome?” Ver com. de At 3:16. Sem dúvida, os judeus sabiam que Pedro e joão haviam curado o coxo em nome de Jesus. Para eles, Jesus era um criminoso crucificado pouco tempo antes. |
At.4:8 | 8. Pedro. Algumas semanas antes, Pedro tremera diante dos servos e soldados no pátio da casa do sumo sacerdote e negara o Senhor. Mas, desde então, o Espírito de Deus descera sobre ele e o transformara “em outro homem” (ver com. de 1 Sm 10:6; cf. Ml 10:19, 20). Mas, então, em pé diante do tribuna] mais importante dos judeus, ele fala de maneira respeitosa, mas com intrepidez. Em lágrimas, Pedro se arrependeu de ter negado o Senhor (Lc 22:54-62). Uma das evidências do arrependimento verdadeiro é buscar reparar o mal resultante da ofensa. Pedro havia desonrado o Mestre e Sua causa na presença dos judeus. Então, na mesma cidade, na presença das mesmas pessoas que condenaram Jesus, ele dá testemunho de sua missão divina em relação ao Salvador a quem negara no passado. Nesta ocasião, ele demonstrou a validade de sua admoestação posterior: “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (lPe 3:1 5).Autoridades do povo. Esta saudação pode ser comparada a uma muito lamiliar feita por Paulo: “Varões, irmãos” (At 23:1,6). Sem dúvida, Paulo conhecia pessoalmente vários membros da corte e ficava mais à vontade diante deles (ver com. de At 9:1). O cristão deve demonstrar respeito pelas autoridades (Mt 22:21; Rm 13:7; lPe 2:13-17).Anciãos. As evidências textuais se divi dem (cf. p. xvi) entre esta e a variante "anciãos de Israel’'' (ver com. do v. 5). |
At.4:9 | 9. Interrogados. Do gr. cmcikrinõ. Com frequência, esta palavra tem o sentido técnicode interrogação judicial (Lc 23:14). Só é usada no NT por Paulo e Lucas (At 12:19; 24:8; iCo 2:14, 15; 4:3, 4).Benefício. Esta passagem pode ser lida como: “um ato de bondade realizado em prol de um homem incapaz”. Nenhum dos substantivos vem com artigo. Pedro enfatizou o “benefício” inquestionável que o Senhor havia operado por meio dele e de joão. Ao fazer isso, deixou clara a irracionalidade do julgamento que os dois enfrentavam. Suas palavras podem significar que ele previa a possibilidade de que outra acusação fosse feita contra ele, por causa de seu sermão (At 3:12-26), como no caso de Estêvão, o qual foi acusado de blasfêmia ‘contra o lugar santo [o templo] e contra a lei" (At 6:13).Um homem. As palavras escolhidas sugerem que o homem curado também estava presente perante o Sinédrio (ver v. 14).Foi curado. Do gr. sõzõ, “salvar” física ou espiritualmente (ver Mc 10:52; Lc 7:50). |
At.4:10 | 10. Todo o povo. Pedro queria que todas as pessoas soubessem do testemunho que ele estava prestes a dar aos líderes e ao povo (ver At 2:14).Em nome. Ver com. de At 3:16.A quem vós crucificastes. Há uma ousadia surpreendente nesta declaração. Pedro não hesita em declarar que, embora Pilatos tenha dado a sentença formal, foram eles, os homens que o interrogavam, é que haviam crucificado Jesus. Ele não se intimidou em confessar que o Nazareno era o Messias. Pedro proclama que Cristo ressuscitara dos mortos e continuava a curar assim como no período que passou na Terra. |
At.4:11 | 11. Pedra. Este versículo é uma citação livre do Salmo 118:22. Alguns dos membros do Sinédrio, a quem Pedro se dirigia, haviam ouvido Cristo mencionar estas palavras e aplicá-las aos judeus céticos (Alt 21:42-44). Em sua cegueira, eles haviam pensado que poderíam desprezar o desafio e a advertência de Cristo. Embora fossem, por chamado, osconstrutores da igreja de Israel (ver com. de At 7:38), rejeitaram a pedra que Deus escolhera para ser a fundamental (ver Ef 2:20). Este mesmo pensamento é o tom dominante de uma das epístolas de Pedro, de que a igreja é construída por pedras vivas sobre o alicerce de Jesus Cristo, "a principal pedra, angular” (lPe 2:6-8). |
At.4:12 | 12. Não há salvação. Pedro anuncia que a cura física do coxo é um indicativo exterior do poder de Jesus para a salvação que o paralítico também recebera. As testemunhas oculares deveriam concluir, com base no resultado produzido pela ordem “anda!”, que o mesmo poder era capaz de proporcionar a bênção maior da salvação espiritual (ver Alt 9:5). A salvação a que Pedro se referiu era justamente aquilo que as autoridades professavam buscar. A confissão de que Cristo é o único Salvador está em conformidade absoluta com o que o próprio Jesus declarou (ver Jo 3:16; 14:6).Nenhum outro nome. Ver com. de At 3:16. Pedro havia aprendido a ligar ao nome a personalidade e o poder de quem tinha o nome. Para quem o conhecia e aceitava, o nome de Jesus Cristo era a ú nica fonte de livramento e salvação.Sejamos salvos. Cristo é o único caminho de salvação (ver Jo 14:6; 17:3). O plano da salvação oferecido em Cristo (I) glorifica a Deus como soberano moral, (2) exalta a lei divina como a regra de Seu governo, (3) identifica a origem da salvação na revelação divina e (4) atende, por meio da expiação vicária, às necessidades dos pecadores, que, de outra maneira, recairíam na condenação divina. Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade (ITm 2:5). |
At.4:13 | 13. Ao verem. O texto grego sugere “considerar”, além de “contemplar”.Intrepidez. Em grego, parresia vem das palavras pcm, "tudo", e rhêsis, “fala"; portanto, o termo significa “liberdade de expressão” e, portanto, “intrepidez”. A palavra sugereliberdade e preparo para falar, algo que não se esperaria de alguém sem instrução de oratória. A par rês ia fora uma característica dos ensinos de Cristo, que eram expostos “claramente” (Mc 8:32). Desta ocasião em diante, também passariam a ser uma marca distintiva da obra dos apóstolos, como no caso de Pedro, aqui, e de Paulo (ver At 28:31; 2Co 7:4). A parrêsia também foi uma característica de joão na confiança que demonstrou ao se achegar a Deus (ljo 4:17; 5:14).Pedro e João. O autor não relata João falando, mas, sem dúvida, por seu porte e influência, ele também revelou coragem.Iletrados. Do gr. agrammatos, ou seja, sem instrução formal no que se refere às letras e tradições dos judeus. Os escribas, por sua vez, eram conhecidos comogrammateis, "homens let rados”. Os líderes judeus, ao perceberem que Pedro e João não haviam sido educados para ser escribas, naturalmente concluíram que eles não eram qualificados para ser mestres religiosos.Incultos. Em gr. idiõtês, de idios, “próprio”. Neste caso, a palavra se refere a uma pessoa comum, em contraste com quem ocupava uma posição oficial. Os discípulos não tinham título reconhecido de mestres. Não tinham um ofício ou chamado particular, e a sociedade exigia isso. A palavra idiõtês tem um curioso emprego posterior. O latim reproduziu o termo com alterações mínimas na grafia, idiota, que passou às línguas europeias modernas descrevendo ignorância e incapacidade. Daí vem a palavra “idiota”. No uso feito por Lucas, não significa que Pedro e João eram homens desprovidos de intelecto, mas, sim, que não eram pessoas públicas. E por isso que os membros do Sinédrio se sentiram ultrajados quando os apóstolos tentaram realizar a obra de mestres.Reconheceram. Ou, "começaram a perceber”. Pedro já havia deixado claro para o Sinédrio que seu poder vinha de Jesus de Nazaré. Então, ao buscar uma explicaçãopara a intrepidez dos apóstolos em ensinar a despeito de não possuírem educação formal, os líderes reconheceram que a forma de Pedro falar era a mesma de Jesus. Não só o poder para curar, mas também a mensagem e a forma de apresentá-la derivavam de Cristo. Para o Sinédrio, era como se Jesus estivesse vivo diante de seus olhos, na pessoa dos discípulos. Assim deve ser com todos os que seguem a Jesus. A convicção e o poder do cristão que fala em nome do Mestre vêm do tempo gasto com Cristo em oração, meditação e companheirismo em todas as atividades da vida. A comunhão com o Senhor traz privilégio inestimável, poder transformador e grande responsabilidade no serviço cristão. |
At.4:14 | 14. Nada tinham que dizer. Literalmente, “nada tinham que dizer para seu benefício”. Era impossível refutar as evidências. Os líderes judeus não poderíam acusá-los de engano, como tentaram fazer em relação à ressurreição de Cristo, pois o homem curado se encontrava diante deles (ver v. 16). A julgar pelos acontecimentos posteriores, é provável que houvesse homens naquele grupo que acreditavam que Deus operava por meio dos apóstolos. Pouco depois desse evento, Gamaliel sugeriu essa possibilidade (ver At 5:34-39). E possível que também houvesse outros, embora silenciosos, que temessem ser “achados lutando contra Deus” (At 5:39; cf. v. 40). |
At.4:15 | 15. Sinédrio. Os dois discípulos, e talvez também o coxo, foram tirados do recinto enquanto os membros do Sinédrio deliberavam sobre o que fariam. |
At.4:16 | 16. Que faremos [...]7 Esta questão nunca deveria ser debatida. O Sinédrio estava reunido como um tribunal de justiça e o veredito deveria ser favorável ou contrário ao acusado, segundo as evidências do caso. O coxo fora curado. Eles viram. Os dois homens que foram os instrumentos humanos para a cura estavam diante deles, aguardando a decisão. Os membroscio Sinédrio abandonaram seu ofício legal e começaram a debater o rumo a seguir, com base no que fosse mais prático. Esse modo de proceder era característico de Caifás (ver Jo 11:49, 50).Manifesto a todos. Uma vez que o coxo do templo era tão conhecido, os apóstolos só poderíam ser considerados merecedores de castigo por dois motivos: (1) se o milagre losse uma farsa, mas ninguém no Sinédrio defendia isso; ou (2) se o milagre houvesse sido realizado com algum tipo de magia ou de outra forma ilegal (Dt 13:1-5). A pergunta dos judeus: “Com que poder [...] fizestes isto?", pode sugerir a segunda acusação. Desde o início (At 3:13), porém, Pedro atribuiu o que ocorreu ao “Deus de Abraão, de Isaque e de Jaeó", insistindo que Deus, por intermédio de Jesus Cristo, curara o homem. Consequentemente, nenhuma acusação podia ser feita contra eles?Sinal. Do gr. sêmeion, “sinal” e, por extensão, "milagre” (ver vol. 5, p. 204-206; ver com. de Is 7:14). As autoridades judaicas admitiram que um sinal extraordinário havia acontecido.Não o podemos negar. A estrutura da declaração sugere não só o desejo de negar, mas também a admissão da lalta de qualquer poder de faze-lo. Eles tinham as evidências, mas se recusaram a seguir a conclusão lógica e aceitar o Cristo que demonstrara poder, dal recusa é pior do que nunca ter ouvido a verdade. |
At.4:17 | 17. Divulgação. Os líderes temiam que a história do milagre se espalhasse pela cidade e pelo país, resultando na aceitação generalizada de Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus. Esta seria a consequência lógica e, sem dúvida, muitos foram conduzidos à fé em Cristo dessa maneira.Neste nome. Ou, “sobre este nome”, "com base neste nome” (ver com. de At 3:16). Os discípulos não deveriam mais pregar sobre Jesus, nem com Sua autoridade. |
At.4:18 | 18. Chamando-os. Pedro e João foram convocados à sala de reunião para ouvir o resultado da deliberação.Absolutamente não falassem. O nome de Jesus não podia nem passar por seus lábios.Em o nome. Ver com. do v. 17. |
At.4:19 | 19. Pedro e João. Os dois apóstolos expressaram a determinação de anunciar a mensagem da vida, morte e ressurreição de Cristo. E possível que cada um tenha sido determinado separadamente pelo Sinédrio a desistir de Cristo e, então, tenham se confessado determinados a continuar, a despeito da advertência. Uma firmeza semelhante a esta pode ser encontrada na experiência dos judeus fiéis em 2 Macabeus 7:30.Julgai. Diante de evidência tão inequívoca de inocência, os apóstolos desafiaram os líderes judeus a reconhecerem os fatos. A libertação de Pedro e João sem castigo indicava o reconhecimento do Sinédrio de que eles não tinham culpa.Se é justo. Este texto sugere um princípio importante. Declara-se o direito de consciência de resistir a autoridades humanas quando estas entram em conflito com a autoridade divina. O apelo dos apóstolos, “julgai”, mostra que eles consideravam tal direito axiomático. Todavia, na prática, costuma surgir uma dificuldade para discernir se a pessoa que afirma ter autoridade divina real mente a tem. Em casos como este, em que a questão é o testemunho de fatos, o indivíduo que acredita ter sido chamado por Deus para declará-los não deve mascarar a verdade nem se houver a possibilidade de ofender outras pessoas.Numa disputa com autoridades civis, a pessoa com convicção religiosa deve aceitar o desafio de provar que suas convicções se originam da autoridade divina. Caso deseje sustentar seu argumento, precisa convencer os ouvintes de que suas convicções são sensatas. Pedro e João sabiam que tinhama autoridade do Espírito Santo, já demonstrada por meio de milagres e conversões. Tinham convicção absoluta da verdade, provada na pregação e em seus resultados. Nesta situação, eles não podiam consentir em obedecer aos homens em vez de a Deus (ver At 5:29). Os apóstolos haviam recebido a ordena de pregar o Cristo que lhes concedera poder. Nenhuma outra consideração seria válida nessas circunstâncias (ver AA, 68, 69).Sempre que se enfrenta a escolha entre a honesta convicção sobre a vontade de Deus e ordens humanas, a única opção coerente é seguir o que se sabe ser a vontade divina. Caso tente servir a dois senhores, a pessoa não conseguirá satisfazer a nenhum e venderá a alma. Mas se reconhecer firmemente o chamado de Deus à completa lealdade, ninguém poderá chamá-lo de desonesto, e sua salvação estará segura. |
At.4:20 | 20. Nós não podemos deixar de falar. O texto grego enfatiza o pronome “nós”. Eles eram apóstolos de Jesus que haviam recebido a ordem expressa de testemunhar dEle (Mt 28:19, 20; At 1:8).Vímos e ouvímos. O testemunho dos apóstolos se baseava em experiência pessoal com Jesus. Vários anos depois, nas epístolas, Pedro e João enfatizaram a importância de terem sido testemunhas oculares das verdades que ensinavam (2Pe 1:16-18; IJo 1:1-3). Para os cristãos, a experiência pessoal com a presença de Cristo nesta vida é urna das evidências mais convincentes da realidade prática da verdade cristã. |
At.4:21 | 21. Ameaçando-os mais ainda. Miais do que isto o Sinédrio não ousou fazei', pois todos sabiam que o coxo fora curado e que nenhuma acusação digna de castigo podería se manter contra os apóstolos. Uma vez que o homem curado era conhecido de todos, não poderíam afirmar que a história era falsa. E por se tratar de um alo de bondade, não poderíam ser castigados, nem ter iam oslíderes justificativa para puni-los, por afirmarem que a cura fora feita em nome de Jesus.Como os castigar. Sem dúvida, alguns dos líderes judeus tinham inclinação favorável aos apóstolos (ver com. do v. 14). Mesmo assim, porém, o sentimento geral era de decepção, por não conseguirem um pretexto para castigá-los sem enraivecer o povo. Mais uma vez, o pragmatismo parece ter sido um fator importante na decisão (ver Jo 11:49, 50).Glorificavam a Deus. Ou, “estavam glorificando a Deus”, retratando a reação imediata do povo ao milagre. O discurso de Pedro no templo deixara claro qual era a fonte de poder para a cura do homem (At 3:12-16). |
At.4:22 | 22. Mais de quarenta anos. A comparação com Atos 3:2 mostra que o homem fora coxo durante todo esse tempo. A invalidez por tantos anos tornava o milagre ainda mais surpreendente. Várias vezes, Lucas registra a duração de uma doença ou def iciência curada milagrosamente (ver Lc 8:42, 43; 13:11; At 9:33; 14:8). Deve-se dizer que essas alusões se atribuem ao fato de o autor ser médico (Cl 4:14), embora esta prática fosse comum entre escritores leigos em medicina ao narrar curas (Mc 5:25; 9:21; jo 5:5; 9:1). E provável que os autores do NT mencionassem tais informações com o objetivo principal de mostrar a magnitude do milagre.Operara essa cura milagrosa. Ou, “esse sinal \sênieion\ de cura aconteceu” (sobre o sentido de sêmeion, aqui traduzido por “milagrosa', ver com. do v. 16). |
At.4:23 | 23. Os irmãos. Do gr, hoi idioi, “os seus’'. Autores judeus que escreviam em grego usavam esta expressão para se referir a soldados do mesmo exército e a conterrâneos. Paulo a emprega para falar de parentes (ver iTm 5:8; cf. At 24:23), uso também confirmado pelos papiros. João usa os termos para falar dos discípulos de Jesus (Jo 13:1). Nesta passagem, “os seus” com certeza se refere aos irmãos de fé dos apóstolos. Eles não tinhamum local de reunião lixo (ver At 1:13; 2:1). A medida que a igreja crescia, eles se reuniam diariamente no templo e na casa uns dos outros (At 2:46; 12:12). Portanto, não era difícil para Pedro e João encontrar os outros apóstolos em grupos.Contaram quantas coisas. O relato foi leito para a glória cie Deus, não dos apóstolos que contaram a história (ver At 15:3, 4).Sacerdotes e os anciãos. Ver com. do v. 1. |
At.4:24 | 24. Levantaram a voz. Depois de ouvir o relato dos apóstolos, os cristãos reunidos ergueram a voz em louvor e adoração ao Deus que interviera de maneira tão marcante. As expressões que se seguem sugerem um cântico de louvor, diferente da fala comum. E provável que eles tenham cantado um hino, liderado por Pedro, enquanto os outros diziam “Amém" ou repetiam frase após frase. Dificilmente a comunidade cristã já teria composto e memorizado este hino para lazer parte de sua liturgia. Esta passagem tem o primeiro registro do louvor em comunidade na história do cristianismo.Senhor. Do gr. despotês, senhor em oposição a servo. Esta palavra é usada seis vezes para se referir ao Senhor no NT. Duas delas se encontram nos escritos de Pedro e João (2Pe 2:1; Ap 6:10), que lideraram o ato presente de adoração e louvor.O Deus (ACF). Evidências textuais apoiam (cf, p. xvi) a omissão destas palavras. Contudo, o pensamento da passagem permanece o mesmo. O fato de Deus ser o criador é o motivo para louvor e obediência por parte de Seus filhos (ver Is 44:23-27; Hb 1:1-5).O céu, a terra, o mar. Assim como em muitos salmos, esta declaração de louvor começa dando glória a Deus por ser o criador. |
At.4:25 | 25. Por boca. Os primeiros manuscritos desta passagem apresentam um texto grego difícil que parece ter sofrido adulteração. Os manuscritos posteriores contêm uma série de variantes que parecem ser tentativas dosescribas de consertar o texto. O texto mais antigo a que se tem acesso pode ser traduzido da seguinte forma: “Que por meio da boca de nosso pai Davi, Teu servo, disse"; ou talvez “Que por meio de nosso pai Davi, Teu servo, a boca do Espírito Santo disse".Enfureceram. A citação dos v. 25 e 26 vem do Salmo 2:1 e 2. Sem dúvida, a aplicação primária desta passagem era a alguma revolta contra um rei de Israel. Durante o reinado de Davi, existe menção a conflitos com sírios, moabitas, amoni- tas e outros que se envolveram em revoltas vãs (2Sm 8). Neste caso, o salmo é apresentado como um paralelo da luta dos líderes judeus contra o Senhor da igreja. Uma aplicação judaica antiga de Salmo 2:1, que deve datar no mínimo do 2o século cl.C., interpreta os “gentios" como Gogue c Magogue que, segundo o pensamento judaico, se oporiam ao Messias quando Ele viesse (Abodah Zarah, 3.b, ed. Soncino, Talmude, p. 8, 9). Se tal aplicação do texto já fosse difundida no tempo dos apóstolos, como é possível, fica claro porque o Salmo 2.4 foi aplicado por eles àqueles que já se opunham ao Messias. |
At.4:26 | 26. Os reis. Neste caso, os romanos (ver com. do v. 27).Ungido. Do gr. Christos, cujo significado é “|pj ungido”. A LXX usa esta palavra para traduzir o heb. mashiach, “|oj ungido", que se aplicava, no AT, aos reis (SI 18:50; ls 45:1), aos sacerdotes (Lv 4:3) e ao Salvador vindouro. Por isso, Ele ficou conhecido pela forma lusa da palavra, Messias. Aqueles que seguem a Jesus reconhecem que Ele é este Salvador, chamando-O, portanto, de Christos, “Cristo'. Uma vez que esta passagem é uma citação da LXX, a melhor tradução para Christos em seu sentido no AT é “ungido”.Em sua aplicação primária no Salmo 2:2, mashiach certamente se refere ao rei de Israel. Mas o fato de a palavra também ser usada para se referir ao Messias transforma essapassagem num texto notável para os apóstolos aplicarem a Cristo. A aplicação consciente é revelada por Atos 4:27, em que Jesus é aquele "ao qual ungiste . |
At.4:27 | 27. Verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade. Essa afirmação seria natural, pois o apóstolo aplica aqui a linguagem do sal mista aos eventos que antecedem a cruciiixão.Servo. Do gr. pais, palavra que pode significar tanto “filho” quanto "servo” (ver com. de At 3:13). O termo é o mesmo usado para se referir a Davi no v. 25, com o sentido inquestionável de "servo”. Portanto, o mais provável é que seja servo aqui também. Esse significado lembra o Servo do Senhor de Isaías 52:13.Herodes. Os dois governantes civis perante os quais Jesus foi julgado, o rei Herodes e o governador Pilatos, são mencionados como exemplos dos “reis" e “autoridades" do v. 26 (de Si 2:2; sobre Herodes Agripa, ver vol. 5, p. 51,52). Lucas, o autor deste relato, também é o único dos evangelistas a registrar o papel desempenhado por Herodes no julgamento de Jesus (Lc 23:7-15).Pôncio Pilatos. Sobre este governador romano, ver vol. 5, p. 55.Gentios. Sem dúvida, o termo se refere aos romanos que partilhavam com os judeus a culpa pelo crime de cruciiixão.Gente de Israel. A sequência Herodes, Pôncio Pilatos, gentios, Israel, completa um paralelismo com a sequência anterior de gentios, povos, reis e autoridades (v. 25, 26). Trata-se de um paralelismo invertido, forma poética característica do hebraico (ver vol. 3,p. 8-12). |
At.4:28 | 28. Tudo o que a tua mão. Os apóstolos citaram o Salmo 2 e o aplicaram à cruci- fixão de Cristo. Então eles afirmaram que, mesmo no pecado que cometeram contra o Pilho de Deus, judeus e romanos ajudaram a cumprir o propósito divino para Jesus em Sua obra de salvação. A vontade divina semanifesta no governo do mundo e na salvação das pessoas. Jsso não elimina o livre- arbítrio do ser humano. A história, sobretudo a história sacra, dá testemunho de que a vontade de cada pessoa é livre e todo indivíduo permanece firme ou cai por causa do papel que resolve desempenhar no desenrolar do plano da salvação (ver com. de Dn 4:17).Aquele que se entrega a Deus trabalha para cumprir a vontade divina. Quem não se entrega, acaba trabalhando contra um Deus que, a despeito da desobediência humana, realiza Sua vontade de forma definitiva. Pessoas rebeldes, perversas e desobedientes são controladas pelas mãos do Senhor. “Pois até a ira humana há de louvade” (SI 76:10). |
At.4:29 | 29. Senhor, olha. O contexto revela que a oração da igreja se dirige a Deus Pai. Diante das ameaças dos líderes judeus, os apóstolos não desanimaram, mas se aproximaram ainda mais do Deus que poderia ajudá-los em qualquer perigo que enfrentassem. Em última instância, as ameaças dos judeus eram direcionadas contra o Senhor (ver com. de At 9:4, 5).Servos. Do gr. douíoi, “escravos”.Intrepidez. Do gr. parrêsia (ver com. do v. 13). Os apóstolos haviam demonstrado “intrepidez” ao falar com o Sinédrio (v. 13). Então, em oração, revelam consciência de sua fraqueza natural e pedem mais o dom de coragem (ver Lc 21:15). Eles sabiam que necessitavam disso, tanto para si quanto para a igreja.Anunciem [...] a Tua palavra. Não é suficiente um cristão viver de maneira piedosa, em testemunho do poder de Cristo. A doutrina da salvação em Jesus também deve ser propagada (ver Rm 10:13-17). |
At.4:30 | 30. Enquanto estendes. Era Deus quem realizava as obras poderosas como o milagre que acontecera havia pouco. Nicodemos, membro do Sinédrio, disse que ninguém seria capaz de realizar tais obras “se Deus não estiver com ele” (Jo 3:2).Sinais e prodígios. Sobre estas palavras, ver vo!. 5, p. 204; ver com. de At 4:16; 2Co 12:12.Por intermédio do nome. Ver com. de At 3:16.Servo. Ver com. de At 3:13; 4:27. |
At.4:31 | 31. Orado. Atividade recorrente na igreja (ver At 1:14, 24; 2:42; 6:4).Tremeu o lugar. Ao se levar em conta outras manifestações da presença do Espírito de Deus, pode-se concluir que este tremor não foi um terremoto, mas um evento sobrenatural. Foi uma renovação da maravilha ocorrida no dia de Pentecostes. Vias, ao que tudo indica, sem a aparição de línguas de togo. Dessa maneira, os cristãos confirmaram que o Deus de toda a natureza a quem clamavam (v. 24) estava no meio deles. Considerando sua necessidade direta, o Senhor lhes deu uma resposta imediata como prova de que ouvira suas orações.Todos ficaram cheios. Ver com. de At 2:4. Assim como no dia de Pentecostes, os discípulos foram mais uma vez preenchidos com o poder do Espírito. Isto lhes deu certeza de que podiam falar com intrepidez as palavras que toram comissionados a proclamar. O fato de terem recebido o Espírito no Pentecostes não significa que não pudessem receber mais unção em tempos de necessidade. Aliás, o primeiro derramamento do Espírito os preparou para essas etapas posteriores. O mesmo ocorre na vida cristã: a vida que começa no Espírito, com o batismo, depende de comunhão constante e renovação dos suprimentos da graça para prosseguir.Com intrepidez, anunciavam. Dotados com a intrepidez concedida pelo poder do Espírito, pela qual oraram, os apóstolos passaram a proclamar o evangelho sempre e onde quer que tinham oportunidade, desprezando toda ameaça. |
At.4:32 | 32. Era um o coração. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam o acréscimo: “E nãohavia discriminação de nenhum tipo entre eles”. Assim como em pares semelhantes, ‘coração” e “alma” se sobrepõem em sentido e devem ser compreendidos como expressão da total idade de caráter, em vez de elementos distintos. A unidade de coração no pensamento hebraico indicava acordo total (ver Jr 32:39; cf. lCr 12:38). Não eram só Pedro, João e os outros apóstolos que viviam em comum acordo, mas toda a multidão dos que criam.Ninguém considerava exclusivamente sua. Cada indivíduo sentia que suas posses lhes foram confiadas por Deus e delas deveríam dispor quando necessário. Isso só pode ser resultado do amor profundo uns pelos outros, predito por Cristo como uma marca de Seus discípulos (Jo 13:35). Os idealistas que se propuseram a retratar uma sociedade perfeita na teoria, como Platão em A República e Sir Thomas More em Utopia, estabeleceram como condição para essa comunidade perleita uma comunhão de bens semelhante à praticada pela igreja apostólica. Para ser bem-sucedida, a comunidade exige perfeição de seus participantes. Sem dúvida, a expectativa que os cristãos tinham em relação ao breve retorno do Senhor, bem como a unidade de pensamentos e sentimentos, os levavam a compartilhar os bens materiais. Contudo, como mostra o caso de Ananias (ver At 5:4), ninguém tinha a obrigação de fazê-lo.Tudo, porém, lhes era comum. Esta afirmação é paralela a Atos 2:44, assim como os v. 32 a 35 deste capítulo retomam o que é registrado em Atos 2:43 a 45. E provável que Lucas tenha feito essa retomada a fim de criar um contexto para a história da liberalidade de Barnabé (v. 36, 37) e do egoísmo de Ananias (At 5:1-11). Lucas sugere que essa comunidade de bens é uma expressão ideal da igualdade e fraternidade manifestas na igreja primitiva. Os direitos de propriedade eram suspensos voluntariamente pela conduta espontâneados membros da comunidade cristã, sob o regime da lei do amor. A benevolência era livre e completa, sem esperança de recompensas materiais. Eles não se consideravam donos das coisas para si, mas, sim, mordomos para o bem dos outros. |
At.4:33 | 33. Com grande podei*. O testemunho dos apóstolos não era apresentado na forma que eles próprios possuíam, mas num poder que jamais poderíam criar dentro de si. O Espírito divino, doador de energia, estava neles.Davam. Do gr. apodidõmi, “entregar [o que é devido| ". A forma do verbo usada aqui pode ser compreendida com o sentido de que os apóstolos "continuavam a entregar'’ o testemunho que já haviam compartilhado no Pentecostes e no templo. Eles sentiam uma compulsão interna de testemunhar. Haviam presenciado as obras maravilhosas de Jesus e O viram morrer. Contemplaram aquilo que não criam ser possível acontecer: o Senhor ressuscitar dos mortos. Esse grande milagre era o clímax da pregação apostólica. Eles tinham condições de contar a história do Senhor ressuscitado na condição de testemunhas oculares, e o laziam “com grande poder ’.Graça. l )o gr. charis (ver com. de Rm 3:24). Cdiaris pode ser compreendido, nesta passagem, com o sentido de favor (el. Le 2:52), indicando que o favor do povo em relação aos cristãos continuava a predominar. No entanto, levando em conta o contexto, que enfatiza o dom espiritual do poder que receberam, provavelmente seja melhor compreender chitrís no sentido mais técnico de graça divina (cí. Ee 2:40). |
At.4:34 | 34. Necessitado. O texto grego parece conectar este versículo ao anterior, por meio da conjunção gar, "pois ”. Gar sugere a relação íntima existente entre a liberalidade dos cristãos e a graça que desfrutavam (ver com. do v. 33).Os que possuíam terras. Alguns dos novos cristãos eram pessoas de posses.O caráter genuíno do amor fraternal se manifestava no sacrifício da própria riqueza para benefício dos irmãos em situação menos privilegiada.Vendendo-as, traziam. As formas verbais usadas aqui sugerem que isto era algo que acontecia diversas vezes, pois os cristãos, uns após os outros, abriam mão de suas posses para o bem comum da igreja. Seus motivos para fazê-lo eram o amor e os impulsos da benevolência. Embora Lucas não mencione, é possível que os cristãos também estivessem impressionados pelas advertências do Senhor quanto a guerras e tribulações futuras (Mt 24:5-12) e, por isso, quanto ao fato de que os bens terrenos são instáveis. As terras e propriedades na Palestina perderam o valor quando os problemas profetizados por Cristo se tornaram realidade. Jeremias havia demonstrado fé na restauração futura de seu povo à Palestina, por meio da compra de um campo em Anatote (Jr 32:6-15); já os cristãos fizeram o contrário, vendendo suas propriedades como prova de fé na certeza da mensagem de que testemunhavam. |
At.4:35 | 35. Depositavam. O ato de depositar o valor da venda aos pés dos discípulos indica que ciavam aos apóstolos pleno controle sobre o dinheiro (ver Sl 8:6). Cícero usa a mesma figura de linguagem quando laia de presentes depositados "aos pés do pretor' (Pro Flcicco, xxvii.68). Parece que as palavras refletem o costume de depositar presentes ou ofertas aos pés dos reis, sacerdotes ou mestres, em vez de lhes entregar nas mãos.A medida que alguém tinha necessidade. Com certeza, vários dos cristãos não passavam necessidades e se sustentavam sozinhos. Os beneficiários eram os incapazes de ganhar uma renda por enfermidade ou, quem sabe, perda de emprego por causa da mudança de fé. Pessoas que aceitaram a Cristo foram ameaçadas de excomunhão (ver Jo 9:22), além de viuvez ou dificuldadesde adaptação dos recém-chegados à cidade que ainda não haviam conseguido se estabelecer. Também é possível que houvesse aqueles a quem os apóstolos achavam justo dar uma renda por seu envolvimento na propagação da fé, embora Lucas não faça menção específica disso. Este era um ministério de apoio a necessidades físicas bem planejado, que sempre dá crédito à igreja quando bem conduzido (ver iTm 5:5-16, 21). |
At.4:36 | 36. Barnabé. Esta é a primeira referência a Barnabé, o homem que viajaria com Paulo na primeira jornada missionária. Lucas interpreta que o nome Barnabé significa em gr. liiiios paraklêseõs, que pode ser traduzido por "filho da consolação” ou "filho da exortação”. Os eruditos não chegaram a um consenso sobre que palavras hebraicas ou aramaicas representam este nome. E possível que fossem bar nebiiah, "filho da profecia”. De todo modo, seu sobrenome sugere que Barnabé se caracterizava pelo dom da exortação (ver At 11:23). Não se sabe quando ele se tornou cristão. Lima vez que era levita, é possível que estivesse participando do serviço no templo e tenha ouvido o Senhor ou os apóstolos pregando a!i. Era parente de João Marcos (Cl 4:10), que habitava em Jerusalém (At 12:12). Uma tradição registrada por Clemente de Alexandria (Miscelânea, ii.20) alista Barnabé como um dos setenta enviados por Jesus (Lc 10:1; ver também com. de At 9:27).Há uma epístola preservada com o nome de Barnabé, que os escritores cristãos Clemente de Alexandria e Orígenes, do 3° século d.C., acreditavam ter sido composta por este apóstolo. Entretanto, o conteúdo dacarta mostra que isso não é verdade. Ela é formada principalmente por interpretações alegóricas e antissemitas de narrativas do AT. Posiciona-se contra o sábado e é favorável à observância do "oitavo dia”, o domingo. Provavelmente foi escrita na metade do 2o século d.C., por um autor desconhecido.Chipre. A ilha conserva o mesmo nome e se localiza na parte oriental do mar Mediterrâneo. Havia judeus habitando ali no mínimo desde o período macabeu (1 Macabeus 15:23). Os mestres cristãos fugiram de Jerusalém para lá por causa da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão (At 11:19). Em sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé visitaram Chipre, provavelmente a pedido do segundo. |
At.4:37 | 37. Campo. No início da instituição política hebraica, os levitas não tinham propriedade privada. Eles habitavam em cidades e terras em comum e eram sustentados pelos dízimos do povo (Nm 18:20, 21). Mas o caso de Jeremias (jr 32:7-12) demonstra que nada impedia que um sacerdote ou levita adquirisse terras por compra ou herança. Além disso, Barnabé pode ter se tornado dono de uma propriedade por meio do casamento. Não se sabe onde ficava o campo que ele vendeu. Maria, tia de Barnabé, também tinha uma propriedade e, embora não tenha vendido sua casa, ela a disponibilizava para uso da comunidade cristã (At 12:12).Barnabé também devia trabalhar para se sustentar, assim como Paulo (ICo 9:6). Ele pode ter sido escolhido como exemplo de liberalidade do grupo dos primeiros cristãos por causa de algo fora do comum no tipo de presente ou na natureza do sacrifício que fez.PE, 194; PJ, 130; Tl, 132; T2, 343; T4, 378,Ed, 95; Ev, 698Capítulo 5i Anemias e Safira morrem. 2 Os apóstolos operam milagres e 14 a fé se espalha. 17 Eles são presos, mas 19 um anjo os liberta e ordena que preguem o evangelho. 21 Eles pregam no templo e 29 perante o Sinédrio. 33 Correm risco de morte, mas Gamaliel aconselha que o Sinédrio os deixe viver. 40 Eles são açoitados, mas dão glórias a Deus.[ Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Saíira, vendeu uma propriedade,porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão. |
At.5:1 | 1. Entretanto. Há um forte contraste entre a generosidade bondosa de Barnabé (At 4:36, 37) e a avareza de Ananias e Safira (At 5:M l).Certo homem. Somente um narrador fiel à verdade contaria a história de Ananias e Safira nesse momento. Mas, assim como Judas foz parte do grupo de doze discípulos, em meio à igreja primitiva, por mais pura e zelosa que fosse, havia dois que preferiram a mesquinhez à generosidade e a hipocrisia à honestidade. Contudo, a história é contada com calma, de maneira imparcial, e o leitor é conduzido por uma série de fatos francos.Ananias. O nome significa “Yahvveh é gracioso”. Era um nome comum, o mesmo do homem que se aproximou amistosamente de Saulo de4 arso quando este havia acabado de se converter (At 23:2; 24:1). Corresponde ao hebraico I lananias (Jr 28:1; Dn 1:6, 7).Safira. Este nome provavelmente venha do aramaico sliappira, "bela ”, embora alguns o derivem do gr. sappheiros, "safira ’.Propriedade. Ver com. de At 2:45. Isto é, terras (ver At 5:3). |
At.5:2 | 2. Sua mulher. Fica claro que Saí ira foi uma cúmplice voluntária. O pecado do casal foi planejado.Reteve. Do gr. nospliizõ. Na forma usada aqui, tem o sentido de "separou para si”. Em Tilo 2:10, o verbo é traduzido por “furtem", Na LXX, o termo é empregado para se referir ao pecado de Acã (Js 7:1). A mera retenção de parte do preço da venda não seria, em si, um pecado. Na verdade, Ananias não tinha obrigação de dar nada. Ele havia declarado a disposição de doar, mas não era obrigado a dar nenhum valor fixo. O dinheiro era dele e podia dar todo ou apenas parte. Mas ele doou uma parte e agiu como se fosse tudo. Nisso consistiu o engano, que era uma mentira premeditada.A aprovação de Lucas, ao contar a história do sacrifício pessoal de Barnabé, deve ter refletido a aprovação da igreja. Ao quetudo indica, Ananias pensou que podería receber a mesma aprovação, mas com menos sacrifício. O desejo de agradar foi forte o bastante para conquistar uma vitória pessoal sobre a ganância. Mas a ganância foi ainda mais forte para triunfar sobre a honestidade. O impulso de vender veio do Espírito de Deus; o impulso de Ficar com parte do preço era maligno. Era urna tentativa de servir a Deus e a mamom ao mesmo tempo. Em alguns aspectos, este pecado foi como o de Geazi (ver com. de 2Rs 5:20-27). No entanto, ao analisá-lo no contexto dos milagres no Pentecostes e do progresso extraordinário da igreja sob a orientação do Espírito, trata-se de um ato ainda mais abominável, que foi punido com um castigo severo. |
At.5:3 | 3. Pedro. O porta-voz da igreja.Por que [...]”? Se Ananias quisesse, poderia ter resistido à tentação. Caso houvesse resistido, o tentador teria fugido dele (4g 4:7).Encheu Satanás teu coração. Pedro atribuiu o mal a sua verdadeira fonte. Seu conhecimento sobre o que Ananias e Safira estavam fazendo vinha do dom de discernimento (iCo 2:14; 12:10). Num triste contraste, Ananias abrira o coração a Satanás até sua mente ficar repleta de pensamentos de cobiça e engano.Espirito Santo. O Espírito fora dado para guiar os cristãos em toda a verdade (jo 16:13), mas Ananias tentou, em vão, enganar o Espírito da verdade (ver com. de Jo 14:17, 26; 16:13). |
At.5:4 | 4. Conservando-o. Ananias não foi pressionado a vender a terra. Em todos os momentos, Ananias era livre para agir como quisesse. Talvez a parte retida não fosse grande; ele poderia ter ficado com muito mais, caso houvesse agido com honestidade, Mas a tentativa de ganhar a reputação de generoso sem a realidade do sacrifício o tornou culpado de sacrilégio.Assentaste no coração este desígnio. Literalmente, “colocaste este ato”. Isto subentende um plano bem articulado da parte de Ananias. Não foi algo a que ele cedeu numa tentação súbita, mas a aceitação de um plano que, longe de ser correto, acabou se transformando num ato de maldade. Satanás entrou em seu coração para montar o esquema e não havia saído de lá.Mentiste [...] a Deus. Isto não significa que Ananias não mentira a seres humanos, mas que sua ofensa repousava primariamente em pensar que poderia enganar a Deus. Todos os pecados são, em essência, contra Deus, embora também afetem gravemente as pessoas. Davi reconheceu isso ao dizer: "Pequei contra Ti, contra Ti somente” (SI 51:4), Ananias havia ignorado a Deus ou pensava que podia enganá-Lo, assim como esperava enganar os irmãos. De qualquer modo, pecou contra Deus, e Pedro foi correto ao fazei' esta avaliação.O liso da palavra '‘Deus’’ esclarece o ensino bíblico referente ao Espírito Santo. Em Atos 5:3, o pecado de Ananias é identificado como uma mentira “ao Espírito Santo” e, neste versículo, "a Deus”. Isto sugere a unidade existente entre o Espírito e o Pai, e serve para advertir os cristãos do caráter abominável da falsidade religiosa (ver com. de Mt 12:31). |
At.5:5 | 5. Expirou. Do gr. ekpsucho’, termo encontrado na literatura médica. A morte não foi uma coincidência. Houve uma conexão entre a denúncia do pecado feita por Pedro e a morte do pecador. Qualquer dúvida que restar a esse respeito se dissipa quando se leva em conta a morte de Safira (v, 7-10), que foi prevista por Pedro depois de expor o engano. O caso se compara ao julgamento de Nadabe e Abiú (Lv 10:2) e de Acã (js 7:20-26; ver com. de 2Cr 22:8; comparar com Mt 27:50).Foi um julgamento terrível, mas não deve causar espanto. Ananias e Safira eram membros da igreja apostólica. Eles haviamdesfrutado proximidade com Deus. Sem dúvida, experimentaram alguns dos dons celestiais da salvação. Talvez tenham recebido dons do Espírito. Mas cometeram um ato de sacrilégio, influenciados por um espírito falso. Se a situação não fosse tratada de maneira enérgica e visível no início da vida da igreja, tais atos de engano poderíam minar o trabalho dos apóstolos. Deus agiu a fim de salvar a igreja de maiores perigos, “Quando alguém vai a uma convenção ou a um culto religioso e canta com fervor 'tudo meu está no altar’ quando isso não é verdade, está cometendo o pecado de Ananias e Safira” (G. Campbell Morgan).Grande temor. Muitas vezes, Lucas associa os milagres com o temor no coração dos que o presenciaram (ver Lc 1:12, 65; 5:26; 7:16; 8:37; At 2:43; 19:17). Evidentemente, porém, nesta situação foi mais do que o temor reverente (At 2:43). No grande grupo, é bem provável que houvesse outras pessoas desonestas, sobre quem recaiu uma espécie de terror. O restante deve ter sentido reverência mais profunda por Deus, que assim vindicou Sua justiça. O temor foi imediato. Espalhou-se entre os crentes antes mesmo de Safira ficar sabendo da morte do marido. Esse tipo de temor deve deter aqueles que não são totalmente sinceros ao professar o cristianismo.Isto (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. |
At.5:6 | 6. Moços. Literalmente, “homens mais novos”.Cobriram-lhe o corpo. Ou, “o enrolaram”, provavelmente no manto que ele vestia no momento. Havia o costume de enrolar o corpo em panos e, em seguida, fazer o sepultamento fora da cidade. Para os judeus, o contato com cadáver resultava em impureza cerimonial (ver com. de Nm 19:11). isto, junto com o desejo de evitar o alto custo dos métodos de embalsama- mento, exigia enterro rápido.Sepultaram. Conforme se percebe no enterro de Lázaro (ver com. de Jo 11:38) e de Jesus (ver com. de Mt 27:60), os mortos eram depositados em cavernas ou túmulos, as quais eram fechadas por grandes pedras. Portanto, o sepultamento de Ananias não levaria muito tempo (sobre os ritos funerais dos judeus, ver com. de At 8:2). |
At.5:7 | 7. Três horas depois. Literalmente, “um intervalo de cerca de três horas”, talvez até a hora seguinte de oração. Foi tempo suficiente para cuidar do corpo de Ananias, mas a notícia ainda não havia chegado a Safira.Entrou. No lugar onde morrera Ananias. |
At.5:8 | 8. Dirigindo-se a ela. A pergunta de Pedro não foi uma armadilha direcionada à eonspiradora, mas uma oportunidade para Safira demonstrar arrependimento. Ela podia ter impedido a transgressão do marido, mas não o fez. Então teve a chance de limpar sua consciência e confessar. Ela havia perdido a oportunidade anterior e falhou mais uma vez.Dize-me. A pergunta direta de Pedro deveria ter advertido Safira de que o esquema fora descoberto, mas ela manteve a mentira. Respondeu sem hesitar: “Sim, por tanto.” E possível que Pedro tenha mencionado o valor que Ananias levara. |
At.5:9 | 9. Entrastes em acordo. A ofensa era abominável, por ser premeditada.Tentar o Espírito. Ou, “testar”, para saber se o Espírito Santo discernia mesmo os segredos do coração humano. E provável que a expressão "Espírito do Senhor” seja usada neste sentido no AT, como o Espírito de Yahweh (cf. 2Rs 2:16; Is 61:1). A combinação é rara no NT, só ocorre aqui e em 2 Coríntios 3:17.Também te levarão. Pedro não falou como juiz, mas como profeta. O Espírito Santo já havia condenado o casal. Nesse caso, o juízo vindouro é predito e o anúncio ocorre logo antes da execução. O domde discernimento de Pedro revelou que os jovens cujos passos ele ouvia retornar do sepultamento de Ananias logo teriam outra tarefa da mesma natureza. |
At.5:10 | 10. No mesmo instante. A morte de Safira foi tão imediata quanto a do marido.Expirou. Ver com. do v. 5.Acharam-na morta. Em cumprimento da profecia de Pedro.Sepultaram-na. Não houve cerimônia funeral na ocasião desta tragédia dupla, a despeito dos cuidados dispensados aos mortos em outras ocasiões (cf. Lc 23:55, 56). |
At.5:11 | 11. Grande temor. Ver com. do v. 5.Toda a igreja. Com exceção da varia nteduvidosa em Atos 2:47 (ARC), esta é a primeira ocorrência da expressão “igreja” em Atos. O uso do termo indica um desenvolvimento na organização (ver com. de Mt 18:17). A morte chocante de Ananias e Safira daria novo significado à comunidade e a seus líderes.Todos quantos ouviram. Estes eram de fora da igreja, mas ouviram do poder exercido entre seus membros. |
At.5:12 | 12. Sinais e prodígios. Ver com. de Mc 16:17, 18; Jo 14:12; At 2:22. A igreja apostólica nasceu no contexto de atos milagrosos, assim como o ministério de Cristo. A tragédia de Ananias e Safira foi sucedida por milagres de cura e bênçãos.Feitos. Ou, “estavam sendo realizados”, vez após vez, em diversas ocasiões.Pelas mãos. E possível que esta fosse a única forma de expressar a ação em hebraico (cf. Êx 35:29; Lv 8:36). No NT, as mãos de Cristo são frequentemente mencionadas como o instrumento dos milagres (ver Mc 6:2, 5; Lc 4:40). A promessa aos seguidores de Cristo foi: “Se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados” (Mc 16:18). Portanto, a expressão aqui pode ser literal, embora Atos 5:15 mostre que as pessoas acreditavam ser possível operar curas sem o uso das mãos dos apóstolos.De comum acordo. Ver com. de At 1:14; 4:24. Lucas demonstra satisfação em enfatizar a união dos discípulos. Uma vez que o pórtico de Salomão é mencionado, esta descrição pode se referir às reuniões realizadas pelos apóstolos nas horas costumeiras de oração, por volta das 9 e das 15 horas.Pórtico de Salomão. Ver com. de Jo 10:23; At 3:2, 11. Este era o local preferido para os mestres se reunirem com os ouvintes. Contudo, não há evidências de que os cristãos tenham transformado o pórtico num ponto de encontro regular de adoração exclusiva (cf. At 3:11). |
At.5:13 | 13. Mas. Destacando o contraste entre os cristãos do v. 12 e os que não criam, no v. 13.Dos restantes. Os comentaristas já sugeriram diversas explicações para esta passagem. O aparente contraste com ‘o povo” na última parte do versículo sugere que a referência pode ser à classe dominante.Ninguém ousava. O medo de ter o mesmo destino de Ananias e Safira deteve aqueles que não estavam dispostos a seguir a Cristo de todo o coração.Ajuntar-se. Do gr. kollaõ, “colar”, “fixar firmemente” (comparar com At 9:26).Porém. Ou seja, por outro lado, enfatizando a reação favorável do “povo”.Tributava grande admiração. A tradução mais exata seria “estimava [isto é, os apóstolos] grandemente”. |
At.5:14 | 14. Crescia. As conversões ocorriam quase todos os dias.Tanto homens como mulheres.A menção específica a mulheres sugere que grande número delas se unia à igreja. Lucas dá proeminência às mulheres em suas narrativas (ver com. de Lc 8:2). Ele também menciona mulheres sofrendo a perseguição que começou após a morte de Estêvão (At 8:3).Ao Senhor. No texto grego, estas palavras podem estar ligadas a “continuava a seradicionado” ou a “crentes”, resultando em “crentes no Senhor”. |
At.5:15 | 15. A ponto de. Dá continuidade à primeira parte do v. 12. As frases que vêm entre essas duas partes são um parêntese.Levarem os enfermos. Comparar com Mc 1:32-34. Não era suficiente os discípulos curarem em lugares públicos e nas casas; os parentes dos enfermos os levavam para as ruas, para serem atendidos mais rapidamente. Toda a obra de cura era realizada da maneira mais pública possível. A notícia da atuação dos apóstolos e dos cristãos se espalhou não só por Jerusalém, mas também pelas cidades vizinhas (At 5:16), e a adesão à fé era grande.Sua sombra. Somente Pedro é mencionado aqui e talvez ele tenha feito a maior parte das curas. No v. 12, porém, todos os apóstolos são reconhecidos por sua participação na realização dos milagres. As pessoas curadas tinham fé no Senhor, a quem os apóstolos representavam, não em Pedro e nos demais. |
At.5:16 | 16. Jerusalém. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão da preposição “a”. Os habitantes das cidades vizinhas levavam seus enfermos, mas isso não significa que os carregavam até Jerusalém. Este versículo abrange um período longo, durante o qual os apóstolos visitaram muitas “cidades vizinhas a Jerusalém”.Atormentados. O verbo grego assim traduzido só é encontrado nesta passagem e em Lucas 6:18 em todo o NT, mas é usado com frequência nas obras de escritores médicos gregos. Portanto, trata-se de uma palavra que se esperaria do vocabulário de Lucas.Espíritos imundos. Ver com. de Mt 12:43, 44. Cristo deu poder aos discípulos para expulsar espíritos malignos (ver Mt 10:1). Os setenta já haviam exercido esse poder (Lc 10:17) e, sem dúvida, os doze realizaram milagres semelhantes. Mas então, com o pleno poder do Espírito, eles faziam asobras maiores que Jesus prometera (Jo 14:12; Mc 16:17).Todos eram curados. Comparar com Alt. 8:16; 12:15; DTN, 241. O ministério médico de Cristo provocou resultados semelhantes. Famílias e comunidades inteiras ficavam livres das enfermidades. A fama da igreja e de seus líderes se espalhava por toda parte. |
At.5:17 | 17. Porém. Esta adversativa contrasta as multidões que se aproximavam dos discípulos em busca de cura com o sumo sacerdote se preparando para submeter os crentes a uma segunda perseguição.Sumo sacerdote. Anás (ver com. de At 4:6).Os que estavam com ele. Talvez seja uma expressão mais abrangente do que a usada em Atos 4:6, “todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote” (ver com. de At 4:6). A oposição tivera tempo para reunir mais forças.Seita. Do gr. hairesis, “escolha”, portanto, "opinião” e, por extensão, “partido” ou "facção”. A palavra passou para a língua portuguesa com o sentido de “heresia”, mas originalmente não possuía esse sentido negativo atribuído pelas autoridades eclesiásticas. Em Atos 15:5; 26:5, hairesis é aplicada aos fariseus de maneira não pejorativa. Em Atos 24:5; 28:22, o termo é usado para caracterizar os nazarenos (cristãos) de forma depreciativa.Dos saduceus. Ver com. de At 4:1.Inveja. Do gr. zelos, “zelo”, e, no sentido negativo, como aqui, “ciúmes” ou “inveja”. Qualquer um desses significados pode se aplicar neste caso. Ocorreu uma forte demonstração de sentimento partidário. Havia ansiedade quanto àquilo que os seguidores do Nazareno poderíam fazer. Tanto fariseus quanto saduceus suspeitavam do mesmo. Eles se ressentiam de os apóstolos sem instrução ousarem ensinar ao povo. Alas os saduceus sentiam um antagonismo maior porque os apóstolos ensinavam a existênciade uma vida futura, crença que eles rejeitavam. O fato de os fariseus concordarem com os apóstolos nesse aspecto não agradava os saduceus (vervol. 5, p. 39-41). |
At.5:18 | 18. Prenderam. Os saduceus em posição de autoridade se inflamaram e prenderam os apóstolos, possivelmente os doze. Isso deixa claro que, embora Lucas tenha mencionado somente os discursos de Pedro, com pequenas notas sobre o ministério de João, os outros apóstolos também estavam ativos de maneira pública.A prisão pública. Do gr. en têrêsei dêmosia, que pode ser traduzido também por “na prisão publicamente”. O uso rabí- nico da palavra dêmosia para se referir a “prisão” favorece a segunda tradução. |
At.5:19 | 19. Mas. Enfatizando o contraste com o v. 18. As autoridades prenderam os apóstolos, e o anjo os libertou. Era um protesto divino contra as ações dos saduceus, os quais ensinavam “não haver ressurreição, nem anjo” (At 23:8).De noite. Ou, “durante a noite”.Anjo. Lucas registra o que considera ser um acontecimento sobrenatural. Os que rejeitam essa perspectiva, mas, mesmo assim, mantém a historicidade da narrativa, sugerem que o “anjo” era um discípulo zeloso e cheio de coragem; e os apóstolos, por sua vez, na escuridão da noite e na empolgação por terem sido libertados, teriam atribuído o resgate a um anjo. Alas não há como explicar as palavras de Lucas de outra forma que não um livramento milagroso. O auxílio humano de Gamaliel é registrado abertamente mais adiante, sem reservas (v. 34-39). Nesta ocasião, porém, a ajuda é descrita como de origem sobrenatural. Embora os discípulos tenham sido presos novamente poucas horas depois (v. 26), Deus demonstrou Seu poder, os apóstolos sentiram o conforto da intervenção celestial e os saduceus puderam saber que estavam lutando contra poderes sobrenaturais. Sem dúvida, os anjos são “espíritos!? ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1:14).Abriu as portas do cárcere. As portas da prisão firmemente trancadas não eram problema para os anjos de Deus. Os apóstolos foram tirados diante dos olhos dos carcereiros, sob o disfarce de trevas profundas ou porque os olhos dos guardas foram cegados (cf. At 2:6, 7). As portas continuaram trancadas, deixando tudo como antes da chegada do anjo (cf. At 5:23).Conduzindo-os para fora. Comparar com At 12:10. |
At.5:20 | 20. Apresentando-vos. Eles deveriam se apresentar de forma pública e ousada, e o templo era o mais público de todos. Ali eles haviam sido presos pela primeira vez (At 3:1, 11; 4:1-3).As palavras desta Vida. Em referência à vida que os apóstolos proclamavam: a vida em Cristo. Esta vida começa no mundo presente e continua até a eternidade (cf. Jo 17:3). Esse ensino era inaceitável para os saduceus, uma vez que não criam na vida por vir (ver vol, 5, p. 41). |
At.5:21 | 21. Tendo ouvido. A obediência dos apóstolos é imediata.Ao romper do dia. Ou, “por volta do amanhecer”. A Mishnah afirma que os sacrifícios começavam a ser oferecidos no templo assim que havia luz no céu matinal (Yoma, 3.1, ecl. Soncino, Talmude, p. 131; Tamid, 3.2, ed. Soncino, Talmude, p. 18).Ensinavam. Era isto que os saduceus do Sinédrio haviam proibido os apóstolos de fazer (At 4:17, 18). Eles estavam enfurecidos porque galileus não instruídos ensinavam sem autorização e porque falavam sobre a ressurreição, que haviam testemunhado Jesus Cristo, o crucificado, ressuscitar dos mortos. Mas os apóstolos tinham recebido ordens divinas. A igreja tem a missão de apresentar o evangelho de Cristo ao mundo doente por causa do pecado. Nunca deve negligenciar essa tarefa.Chegando, porém, o sumo sacerdote. Isto é, à câmara do Sinédrio, para decidir o que fazer com os apóstolos presos. As autoridades ainda não sabiam da libertação misteriosa.Os que. Ver com. do v. 17.Sinédrio. Ver vol. 5, p. 54. O caso diante deles era tão importante que não pouparam esforços para reunir o maior número possível de membros. A presença de Gamaliel revela que não foram chamados apenas os saduceus para o encontro, mas também fariseus e outros (ver v. 34).Senado. Do gr. gerousia, o nome da assembléia de anciãos de Esparta. A palavra era usada para se referir ao Sinédrio em Jerusalém (ver vol. 5, p. 54). Tratava-se de um grupo oficial de anciãos, qualificados pela idade e experiência para dar conselhos em ocasiões especiais. E possível que tenha ocorrido uma reunião semelhante de “todos os anciãos”, em Atos 22:5.Cárcere. Do gr. desmõtêrion, “lugar onde são mantidos homens atados”. Esta palavra é diferente da usada no v. 18, e sugere que os apóstolos foram amarrados depois de serem presos. |
At.5:22 | 22. Guardas. Do gr. hwpêretai, literalmente, “remadores da parte inferior” de um grande barco a remo; posteriormente, passou a significar “servos” e, depois, “oficiais” que serviam ao Sinédrio (ver com. de Lc 4:20; At 4:1).Não os acharam. Não havia nenhuma evidência externa da fuga dos apóstolos da prisão (ver com. dos v. 19, 23). |
At.5:23 | 23. Achamos o cárcere fechado. Seo anjo destrancou as portas, ele as trancou novamente depois de libertar os apóstolos. Os guardas nos portões não pareciam estar cientes de que os prisioneiros haviam escapado. Isso pode ser comparado com a libertação de Pedro (At 12:6-10), mas se contrasta com o drama da experiência de Paulo e Silas, em Filipos (At 16:25-30). |
At.5:24 | 24. Sumo sacerdote (ACF). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Capitão. Ver com. de Lc 22:4; At 4:1.Principais sacerdotes. Provável referência aos chefes dos 24 turnos de sacerdotes. Não devem ser confundidos com o sumo sacerdote.Estas informações. Na verdade, ‘‘estas palavras”, em referência ao relatório prestado pela polícia.Perplexos. Não foi sem motivo que se sentiram assim. Os esforços repressores dos líderes judeus falharam; um milagre havia libertado as vítimas, e os cristãos ganhavam espaço. |
At.5:25 | 25. Alguém chegou. Neste momento, a manhã já devia estar findando. O Sinédrio fora reunido, mas ainda não sabia do paradeiro dos apóstolos, até que a notícia das atividades dos apóstolos se espalhou.Recolhestes no cárcere. As palavras soaram quase como um escárnio aos líderes judeus: "vocês os colocaram na prisão, unas eles estão ocupados no templo fazendo justamente aquilo que vocês os proibiram de lazer em qualquer lugar”.Estão. A frase diz literalmente, “no templo de pé e ensinando”, numa referência à ordem do anjo (v. 20). Eles agiam como quem sabe a obra que deve fazer, um trabalho que sofrerá interferência temporária, mas que foi retomado tão logo quanto possível. O ensino ao povo era a ofensa que encolerizava os saduceus. Se os apóstolos estivessem apenas cultuando, mantendo para si a nova fé, não seriam incomodados. Mas eles receberam uma ordem e se sentiam impelidos a cumpri-la. Era seu dever propagar a té. Sofrer perseguição por partilhar a fé é melhor do que ter a consciência culpada por escondê-la “debaixo do alqueire” (Mt 5:15). |
At.5:26 | 26. O capitão e os guardas. Ver com. de At 4:1; 5:22.Sem violência. Os apóstolos deram exemplo de submissão sem resistência, mesmo tendo a seu favor o sentimento popular, que facilmente poderia dar origem a um tumulto. Os milagres operados e a idéia de vida em comum ajudaram a conquistar apoio popular à fé. Mas eles seguiram o exemplo do Mestre na atitude de não resistir. Ao se apresentarem pacificamente diante do Sinédrio, tiveram uma melhor oportunidade para proclamar o evangelho a ouvidos que, de outro modo, jamais o escutariam.Temiam [...] pelo povo. Comparar com Mt 21:26, 46. Havia muitas evidências do favor do povo pelos crentes nesta ocasião.Apedrejados. O povo devia estar tão pronto a apedrejar os oficiais quanto os sacerdotes, a apedrejar os discípulos. |
At.5:27 | 27. O sumo sacerdote interrogou-os. Conforme mostra o relato, o Sinédrio evitou falar sobre a libertação dos apóstolos. As autoridades não acreditavam na intervenção sobrenatural ou evitaram se referir a ela. Tal atitude não surpreende, uma vez que já haviam se recusado a crer num milagre ainda maior: a ressurreição do Crucificado. |
At.5:28 | 28. Expressamente vos ordenamos. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante: “nós vos ordenamos com uma ordem”. Estas palavras ecoam uma expressão comum no hebraico e sugere que Lucas tenha feito uma tradução literal de uma pergunta proferida originalmente em ara- maico. A ordem fora dada apenas a Pedro e João (At 4:18), mas todos os apóstolos ficaram sabendo dela. Eles declararam que não a cumpriríam e continuaram a pregar com ousadia (At 4:19, 20, 31). Prestavam obediência a uma autoridade mais elevada: seu Senhor (Mt 28:19, 20; At 1:8).Não ensinásseis nesse nome. Comparar com At 3:16; 4:17. Esta era a maior ofensa dos apóstolos. Os judeus haviam ordenado que o nome de Jesus nem fosse mencionado. Era o nome dAquele a quem sabiamter crucificado, que agora proclamavam estar vivo e cujos seguidores operavam obras extraordinárias que não podiam ser negadas. Este nome e as atividades ligadas a ele eram o ponto de ataque dos saduceus.Enchestes Jerusalém. Este foi um testemunho inconsciente dos próprios inimigos de que os apóstolos haviam trabalhado fielmente e obtido êxito no cumprimento da primeira parte da ordem de Cristo (cf. At 1:8), ao proclamarem o evangelho em Jerusalém.Doutrina. Ou, "ensino”, a mesma palavra traduzida por “doutrina" em Mateus 7:28. Mas o “ensino” estava assumindo rapidamente o status de doutrina em seu sentido atual, conforme ilustra 1 Timóteo 4:16.Quereis. Isto não era verdade. Pedro queria a salvação deles, não sua condenação.O sangue desse homem. Eles evitavam mencionar o nome de Jesus. Talvez fosse por escárnio, pois desprezavam o Galileu crucificado, ou por culpa, pois sabiam que eram responsáveis por Sua morte, ou ainda por medo, 2 pois percebiam como o Nome era poderoso. Sem hesitar, em ocasiões anteriores, Pedro os acusara de crucificar Jesus (At 2:36; 3:13-15; 4:10), tornando o escárnio vazio e o medo, justificado. Se a causa cristã fosse justa, os juizes sacerdotes, ao definir a pena dos apóstolos, se colocariam na posição de culpados. Em seus ouvidos, devia ecoar o terrível clamor que proferiram na sala de julgamento de Pilatos: “Caia sobre nós o Seu sangue e sobre nossos filhos!” (Alt 27:25). Eles já haviam feito cair “o sangue desse homem’' sobre si. |
At.5:29 | 29. Pedro e os demais apóstolos.Literalmente, “Pedro e os apóstolos”. Estas palavras não significam que Pedro fora excluído do grupo de apóstolos, nem que era superiora eles. Sem dúvida, fora o mais ativo nas cenas anteriores e, por isso, seu nome e sua personalidade se destacam naturalmente na narrativa.Importa obedecer a Deus. Ou, “devemos”, com o sentido de compulsão moral (cf. At 1:16). Esta é uma declaração ainda mais clara do argumento já usado por Pedro e João (At 4:19), de que não tinham outra escolha a não ser obedecer a Deus, a despeito das consequências. Eles receberam a ordem de Jesus na grande comissão e o desafio de serem testemunhas dEle (At 1:8). Mais tarde, foi-lhes dada a ordem explícita do anjo (At 5:20). Cristo defendeu o princípio de que tanto Deus quanto César devem ser obedecidos. Era necessário prestar obediência a César no que lhe era devido, e a Deus, no que Lhe diz respeito (Alt 22:21). Mas é impossível o cristão servir a dois senhores (Alt 6:24; Lc 16:13). Uma vez que somente um dos senhores receberá lealdade suprema, deve-se escolher Deus. Pedro deixa esse princípio básico muito claro. Assim como os líderes do Sinédrio se recusaram a mencionar o nome de Jesus, Pedro não cita o nome deles ao proferir o princípio. Ele simplesmente diz “homens", mesmo que fossem homens de autoridade, como aqueles perante quem se estava. O apóstolo considera que os membros do Sinédrio haviam sido agentes de Deus no passado, mas que perderam de vista o senso do dever.Lutero declarou na Dieta de Worms: “Minha consciência é cativa da palavra de Deus, não sou capaz, nem estou disposto a me retratar, pois não é seguro, nem correto agir contra a própria consciência. Que Deus me ajude! Amém” (citado por E. G. Schwiebert, Luther and His Times, p. 505). São palavras que ilustram um princípio nobre e revelam uma elevada experiência a ser imitada. |
At.5:30 | 30. O Deus de nossos pais. Os apóstolos não se desligaram de Israel. Eles serviam ao mesmo Deus que o Sinédrio afirmava servir (cf. At 3:13).Ressuscitou. Há duas interpretações possíveis para esta palavra. Elas podemse referir ao dom divino da encarnação de Cristo (ef. At 3:22) ou ao ato divino de ressuscitar Jesus dos mortos (cf. At 10:40; 13:37). As duas interpretações são admissíveis.Vós matastes. No grego, "vós” é enfático, contrastando a ação dos líderes com o que o Senhor fez. A palavra “matastes” insinua que a culpa pela crucifixâo sobre os judeus era tal como se eles mesmos tivessem realizado o ato.Pendurando-O. A expressão diz literalmente: “vós O matastes, tendo pendurado sobre um madeiro '. A expressão descreve o modo de execução romano, não o judaico. Estas palavras são encontradas na LXX, em Deuteronômio 21:23, em que são usadas num sentido mais amplo, incluindo formas de punição como enforcamento ou ernpa- lamento. Contudo, os judeus só enforcavam quem já estava morto (Dt 21:22, 23; Js 10:26). A expressão “pendurando-o num madeiro”, usada mais uma vez por Pedro (At 10:39), não ocorre outra vez no NT, Entretanto, ao descrever a expiação vicá- ria (I Pe 2:24), o apóstolo usa a palavra “madeiro” para se referir à cruz: “carregando Ele mesmo em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (ver com. de At 16:24; cf. Cl 3:13).Todav ia, o pecador que busca a Deus sabe que a culpa não pode ser atribuída somente aos judeus nem aos romanos, mas a todos cujos pecados mataram o Senhor. Cristo, que nunca pecou, tornou-Se pecado por nós, a fim de que recebéssemos a justiça divina por Seu intermédio numa troca repleta de graça, de valor incalculável (2Co 5:21). |
At.5:31 | 31. Com a Sua destra. Ou, “a Sua destra" (ver com. de At 2:33). Destra é uma figura bíblica comum de autoridade e poder (cf. Ex 15:6).Exaltou. Do gr. hupsoõ, palavra usada em João 3:14 e 12:32, no sentido de “levantar". Em Ei li penses 2:9 e em I saias 52:13 tem o sentido de “exaltar”. Pedro mencionou asduas definições (cf. At 2:33) e passou a tratar da segunda.Príncipe. Ver com. de At 3:15. O título de soberania está intimamente ligado ao título que promete salvação. Cristo deseja ser Senhor dos seres humanos para poder salvá-los. Só podemos ter Jesus como salvador se Ele governar sobre nós. Quando Cristo nos governa, também nos salva. Os dois ofícios são inseparáveis.Salvador. Sobre este título, ver com. de Mt 1:21.Conceder [...J o arrependimento. Há unidade básica entre o ensino dos apóstolos e o de João Batista e de Jesus (ver com. de Mt 3:2; 4:17). O registro do ensino apostólico apresenta uma revelação mais completa de como o perdão foi providenciado: por meio da morte vicária do Salvador,Remissão de pecados. Ou, “retirada dos pecados” (ver com. de At 2:38). O arrependimento é um prelúdio necessário ao perdão. O perdão é um presente dado em conjunto pelo Pai e pelo Filho (ver com. de Mc 2:7-11). Um Deus justo e reto não pode aceitar um pecador em Sua presença, a menos que, pela fé, este reconheça que Jesus carregou seus pecados (1 Pe 2:24) e o aceite como Salvador pessoal (Rm 3:23-26). Por meio da obra de Cristo como portador dos pecados, os arrependidos são remidos, ou resgatados (ver com. de Jo 1:29), e podem comparecer justificados a Sua vista. |
At.5:32 | 32. Testemunhas. Evidências textuais (cf. p. xví) apoiam o acréscimo de “nele" ou “dele” (ver com. de At 1:8). A expressão "destes fatos” se refere às grandes verdades da salvação: a vida, morte e ressurreição de Jesus, conforme mencionadas em Atos 5:30 e 31.Bem assim o Espírito Santo. Evidências textuais favorecem (cf. p, xví) a omissão de "bem assim”. Enquanto esteve na lerra, Cristo declarou: "o Espírito da verdade |...j dará testemunho de Mim" (fo 15:26; vercom. de Jo 16:13, 14). O Espírito Santo fez isso pelos apóstolos levando-os a se '‘lembrar de tudo” (Jo 14:26) e lhes dando iluminação para entender como a experiência de Jesus neste mundo cumprira as profecias. O Espírito Santo também testemunhou de Cristo por meio do poder que os apóstolos receberam desde Seu derramamento no Pente- costes. O Espírito também deu testemunho interior aos crentes sobre a ressurreição (ver com. de At 4:33).Deus outorgou. Os apóstolos compreendiam que o Espírito provém do Pai (ver com. de Jo 14:26; 15:26; At 1:4).Aos que Lhe obedecem. Não só osapóstolos, mas todos os que pela fé seguem as orientações divinas e obedecem a Deus. A obediência é o fruto de um relacionamento correto com Deus. Os anjos obedecem a Deus (Sl 103:20, 21) em amor, não numa formalidade legal e fria (MDC, 70). Os seres humanos também devem obedecer em amor (Sl 103:17, 18; Ec 12:13; Jo 14:1 5). A obediência é melhor do que qualquer sacrifício (lSm 15:22). A verdade (Rm 2:8), a doutrina correta (Rm 6:17) e o evangelho (243 1:8; IPe 4:17) devem ser obedecidos. A salvação eterna, oferecida pela graçae. recebida pela fé (Ef 2:5, 8), se evidencia numa vida em harmonia com a vontade de Deus (Hb 5:9; comparar com At 5:29). O amor a Deus e ao próximo se revela no cumprimento dos santos mandamentos do Senhor (1)o 5:3). |
At.5:33 | 33. Enfureceram. Do gr. diapriõ, “cortar em pedaços", isto é, ficaram furiosos, como em Atos 7:54, única outra ocorrência da palavra. A fúria das autoridades era um testemunho eloquente da veracidade das ousadas declarações dos apóstolos.Queriam. As evidências textuais se dividem (cí. p. xvi) entre esta e a variante “aconselharam-se”. Já responsáveis pela morte de Jesus, os líderes queriam tirar a vida de Seus doze principais seguidores.Matá-los. Queriam condenar os apóstolos à morte por desobedecerem ao Siné- drio e acusarem as autoridades da morte de Cristo. |
At.5:34 | 34. Mas. Ver com. do v. 13.Fariseu. Em contraste com o partido do sumo sacerdote, que era saduceu (v. 17). Os dois grupos religiosos eram opostos.Gamaliel. Nome derivado do heb. Gamliel, “Deus é minha recompensa". Gamaliel era neto do famoso Hillel Ler vol. 5, p. 84) e também um mestre reno- mado, além de fariseu proeminente. O legado de Hillel parece ter caído sobre seus ombros e ele foi líder cie seu partido de cerca de 25 a 50 d.C. Não há evidência conclusiva de que ele era um dos quatro presidentes do grande Sinédrio de Jerusalém, uma vez que o ofício supremo sempre era ocupado pelo sumo sacerdote antes de 70 d.C. (ver v. 27). Mas não restam dúvidas de que era um homem influente e muito respeitado pelos judeus. Foi o primeiro a receber o título de “raboni”, o que revela como seus conterrâneos o estimavam. A tradição judaica o retrata como o fariseu ideal, um representante digno da escola de Hillel, mais tolerante e menos legalista do que a corrente oposta de Shammai, Paulo teve o privilégio de estudar com ele (At 22:3). E possível identificar a influência do mestre no desenvolvimento de seu aluno famoso. Este Gamaliel era conhecido como Haz- Zaqen, “o mais velho”, para diferenciá-lo de seu neto, “o mais novo”, que despontou por volta de 90 d.C.Mestre. Ou, professor.Homens. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e variante “apóstolos” (ARC). A primeira estaria mais de acordo com as palavras exatas de Gamaliel. O experiente fariseu quis retirá-los da câmara de audiência para que de e os colegas debatessem livremente sobre o que deveríam fazer. A prática de deliberar na ausênciados acusados devia ser comum (cf. At 4:15). O relato do que aconteceu enquanto os apóstolos estavam do lado de fora pode ter chegado até Lucas por um membro do Sinédrio, como Nicodemos (AA, 104, 105), ou por inspiração divina direta. |
At.5:35 | 35. Israelitas. Forma persuasiva e Familiar de chamar, usada para se dirigir a iguais (cf. At 2:22) e que se contrasta com a abordagem de Pedro ao mesmo grupo (At 4:8).Atentai bem. Ou, “tomai cuidado”. Não para advertir quanto ao perigo iminente, mas para indicar a necessidade de pensar antes de se tomar uma decisão. Jesus usou a mesma fórmula (Mt 6:1; 7:15; 10:17) bem como Paulo (lTm 1:4; 4:13; Tt 1:14). |
At.5:36 | 36. Teudas. Possível abreviação do nome gr. Theodorus, “presente de Deus”. A única referência extrabíblica a um homem com este nome vem de Josefo. Ele fala de uma insurreição liderada por Teudas, que, afirmando ser profeta, persuadiu “grande parte do povo” a segui-lo. Ele prometeu dividir o Jordão e abrir passagem livre. O procurador Cúspio Fado (44 ou 45 d.C.) logo reprimiu o levante, capturou e executou seu líder, mandando a cabeça do revolucionário para Jerusalém {Antiguidades, xx.5.1).De acordo com Gamaliel, citado por Lucas, Teudas apareceu antes de Judas da Galileia (v. 37), o qual se rebelou “nos dias do reeenseamento”, ou seja, em 6 ou 7 d.C. Portanto, não é possível considerar que Lucas e Josefo se refiram ao mesmo evento. Poucos eruditos atribuem o erro a Josefo atualmente, e não há motivo válido para acusar Lucas de ter cometido um erro factual. Citando Gamaliel, o autor de Atos menciona que “quatrocentos homens” seguiram a Teudas, enquanto josefo afirma que “grande parte do povo” seguiu o falso profeta. Alguns veem nisso uma sugestão de que os dois escritores se referem a eventos diferentes. |
At.5:37 | 37. Depois desse. Ou seja, depois do rebelde Teudas.Judas, o galileu. Este rebelde existiu e é chamado por josefo (Antiguidades, xviii.1.1) de “gaulonita”, isto é, da região a leste da Galileia. Mas em outros textos (ibid., xx.5.2; Guerra dos judeus, ii.8.1 [118]) ele é chamado de "galileu”; portanto, não há conflito entre Lucas e Josefo nesse ponto. Foi séria a insurreição de Judas, cujo objetivo era alcançar independência completa para Israel em relação a Roma. O movimento proibiu o pagamento de impostos a César. Quaisquer armas podiam ser usadas na causa da liberdade. A guerra era caracterizada como religiosa. Judas e seus seguidores eram fariseus. Embora o movimento tenha sido derrotado, e seu líder, morto, deu origem a uma seita ou um partido, o dos zelotes (ver vol. 5, p. 42, 43).Recenseamento. Ver com. de Lc 2:1. Não se trata do mesmo mencionado em Lucas 2:2. A revolta de Judas ocorreu cerca de sete anos depois (Josefo, Antiguidades, xviii.1.1; cf. vol. 5, p. 238). Judas declarou que o recenseamento era o início da escravidão e conclamou toda nação a proclamar sua liberdade.Muitos. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre “muito povo”, “muitas pessoas” e simplesmente “pessoas”.Pereceu. Josefo não registrou o destino de judas e seu partido, mas é possível que Gamaliel soubesse e fosse alguém qualificado para dar os detalhes preservados neste versículo. |
At.5:38 | 38. Daí de mão. Literalmente, “fiquem de fora ’. O argumento de Gamaliel era lógico. A resistência ao movimento dos apóstolos era desnecessária ou inútil. Se era desnecessária, por que desperdiçar energia? Se inútil, por que correr o risco?Perecerá. Ou, “será derrubado”. Isto também serve para enfatizar a repetição do verbo no v. 39. |
At.5:39 | 39. De Deus. O conselho rabínico de Gama liei deixou em aberto a possibilidade de que a obra dos apóstolos tivesse origem divina.Lutando contra Deus. Do gr. theoma- choi, ‘'lutadores de Deus”.Concordaram. E provável que os sadu- ceus preferissem uma abordagem mais enérgica, mas havia muitos fariseus no Sinédrio, e foi adotada a posição equilibrada recomendada por Gamaliel. |
At.5:40 | 40. Chamando os apóstolos. Ou seja, de volta à sala de julgamento.Açoitaram-nos. Provavelmente, eom 39 chibatadas (ver com. de Dt 25:1-3; 2Co 11:24), uma dolorosa provação. Fica claro que o Sinédrio considerava os apóstolos merecedores de punição, por haverem desobedecido a ordem registrada em Atos 4:18, por perturbarem a paz pregando no templo (At 5:25) ou por terem fugido da prisão; ou mesmo por todos esses motivos juntos. Esta parece ter sido a primeira prova de sofrimento físico que a igreja suportou.Ordenando-lhes que não falassem. A mesma proibição de Atos 4:18, com o acréscimo dos açoites, para enfatizá-la.Em o nome. Ver com. de At 2:38; 3:6, 16; 4:12. Os líderes judeus estavam aprendendo a temer o poder que acompanha o nome de Cristo. |
At.5:41 | 41. Eles se retiraram. Não de volta à prisão, mas para a liberdade.Regozijando-se. Demonstrando, assim, o espírito da última bem-aventurança (Mt 5:11,12). Em contradição com as emoções comuns, eles se alegraram por sofrer; na verdade, sentiram-se honrados em sofrer pela causa de Cristo. Este espírito animou incontáveis mártires que os sucederam. Os doze não estavam despreparados para esse tipo de tratamento. Eles devem ter se lembrado da advertência do Mestre, em Mateus 10:17 a 20.Esse Nome. Ou, “o nome" (ver com. de At 4:12). |
At.5:42 | 42. Todos os dias. Ou, "cada dia”.No templo. Havia ousadia na atitude dos apóstolos. Eles voltaram para o local onde haviam sido presos duas vezes (At 3:11; 4:3; 5:26).De casa em casa. Do gr. kat oikon, “casa por casa”, “em casa”, “em particular”. Esta é uma provável referência às reuniões cristãs que ocorriam nas residências.Não cessavam. Eles não precisavam ser lembrados da missão de testemunhar.De ensinar e de pregar. Ou, “ensinando e pregando”, com ênfase na continuidade. A palavra para “pregar” significa, literalmente, “evangelizar” (ver Aí 8:4, 12, 25; Rm 10:15).Jesus Cristo. Eles ensinavam e prega vam que o Messias viera na pessoa de Jesus de Nazaré. Este era o conteúdo constante da mensagem da igreja apostólica.Capítulo 6 |
At.6:1 | 1. Ora. Ou, “mas", pois o versículo se contrasta com Atos 5:42.Naqueles dias. Isto é, nos dias relatados em Atos 5:42. Lucas é notável pela transição dos fatos históricos que apresenta. Ele mostrou o crescimento da igreja pelo poderdo Espírito Santo e a adesão de novos crentes. Contou como funcionava a organização da igreja de maneira comunitária, pelo menos por um período. (3 cap. 6 revela algumas das dificuldades que surgiram desse modelo, mas acaba funcionando como umaintrodução à experiência de Estêvão, a qual, por sua vez, introduz a conversão de Saulo de Tarso e suas atividades missionárias subsequentes. A narrativa é claramente histórica. O relato de Atos 6 está intimamente ligado ao de Atos 5:14, mas o intervalo entre os dois eventos é incerto.Multiplicando-se. A frase podería ser traduzida por “quando os discípulos estavam aumentando em número”, isto é, com acréscimos quase diários. Isso naturalmente traria novos problemas. Era simples cuidar das necessidades da família apostólica usando a bolsa que Judas levava. No entanto, era mais complexo, embora não impossível, cuidar do primeiro grupo de cristãos desde o Pentecostes. Mas o número de membros aumentara tanto que o cuidado aos carentes começou a tomar todo o tempo dos apóstolos, que acabavam deixando de lado os deveres mais elevados.Discípulos. Esta é a primeira vez que o termo é usado para se referir aos cristãos em Atos. Os discípulos de Cristo se transformaram nos apóstolos, então a palavra “discípulos” passou a se referir a todos os crentes.Murmuração. Não era mera reclamação, mas um protesto suficiente para despertar preocupações. O relato não culpa os apóstolos, pois eles não o mereciam. O crescimento repentino do número de membros esgotara os recursos deles e criara a dificuldade.Helenistas. Do gr. hellênistai, isto é, judeus de língua grega, “judeus de fala grega” (NV1). O uso no NT faz uma distinção cuidadosa entre eles e os hellênes, pessoas de origem grega (Jo 12:20). Os helenistas eram judeus da diáspora (ver vol. 5, p. 47, 48; ver com. de Jo 7:35; At 2:8), que, além de falar o grego, haviam absorvido em parte a cultura grega. Também podiam ser provenientes de regiões onde o grego era o idioma nativo e, por isso, não soubessem falar o hebraico ou aramaico; motivo pelo qual participavam dos cultos em sinagogas própriasem Jerusalém, em vez de assistir às reuniões em hebraico. Podiam ainda ser prosélitos que falavam o grego. De todo modo, eram conversos vindos do judaísmo, uma vez que, até aquele momento, o evangelho ainda não fora pregado aos gentios. Muitos conversos do Pentecostes deviam pertencer a este grupo, como Barnabé (At 4:36) e outros cujos nomes são mencionados na narrativa (At 6:5).Os judeus helenistas liam o AT na versão LXX, a mais citada no NT. Em geral, eram mais zelosos do que muitos dos judeus locais. Sacrificavam-se muito para adorar nos lugares sagrados de Jerusalém, ao passo que o templo havia se tornado comum para os judeus da Palestina (cf. At 21:27, 28). A tradição rabínica judaica tomou providências para que o shema, a confissão de Yahweh em hebraico (Dt 6:4), pudesse ser proferido em grego helenista (ver vol. 5, p. 45).Hebreus. Estes eram os judeus que, ao contrário dos helenistas, haviam nascido na Palestina, moravam ali e falavam a língua (aramaica) que o NT chama de hebraico (ver At 22:2; ver vol. 1, p. 5, 6).As viúvas deles, isto é, dos helenistas. Como os judeus da Palestina formavam a maior parte da igreja apostólica, os necessitados dentre os helenistas podem ter sido ignorados sem nenhuma má intenção, por causa das diferenças de língua e costumes. O cuidado às viúvas recebe destaque nas Escrituras (ver com. de Êx 22:22; Dt 14:29; Is 1:17; Lc 18:3). A referência aqui pode ser a todos os pobres e a pessoas dependentes. E óbvio que a economia comunitária da igreja requeria uma supervisão organizada do fundo comum que fora criado (At 4:32). Mais tarde, a igreja criou regras para o auxílio às viúvas (lTm 5:3-16).Distribuição. Do gr. diakonia, “serviço”, “ministério”, "socorro” (At 11:29). A palavra está ligada a diakonos, “ministra- dor” ou “diácono”. A ajuda prestada era diária. Por causa das necessidades prementese talvez por falta de espaço para armazenamento, era necessário distribuir o auxílio todos os dias e possivelmente de vários pontos da cidade. Devia haver um fluxo constante de doações chegando e sendo entregues. A demanda estava tomando todo o tempo dos apóstolos. Mas não há indícios de que eles fossem culpados de favoritismo ou negligência, nem há ressentimento em relação aos mesmos. |
At.6:2 | 2. Os doze. Matias era o 12° apóstolo (ver com. de At 1:24-26).Convocaram a comunidade. Quando ouviram as reclamações e se deram conta da seriedade do caso, os apóstolos não pararam para se desculpar. Em vez disso, agiram prontamente. Podem ter se lembrado do precedente demonstrado por Moisés (Ex 18:25) e, a exemplo dele, resolveram delegar a autoridade. A convocação da “comunidade dos discípulos’’ não significa que todos os cristãos que habitavam em Jerusalém e região foram chamados, mas que houve uma reunião e, os que puderam, compareceram. Nela, os apóstolos apresentaram o problema e seu plano. Os recursos cuja distribuição deu origem a reclamações foram fruto da contribuição de muitos; portanto, nada mais justo de que fossem consultados. Desse procedimento em uma ocasião importante surgiu naturalmente a forma representativa de administração da igreja (AA, 96).Razoável. Do gr. areston, “agradável", no sentido de que não era adequado os apóstolos despenderem tanto tempo com questões materiais e administrativas.Abandonemos. Do gr. kataleipo. A palavra grega é enfática e sugere que tempo excessivo dos apóstolos estava sendo consumido.A palavra. Os doze reconheciam sua principal responsabilidade: ministrar a palavra de Deus por meio da pregação e do ensino.Servir às mesas. Nas sinagogas, três homens eram escolhidos para cuidar dos pobres. |
At.6:3 | 3. Escolhei. Os doze deram a responsabilidade da escolha aos cristãos, que deviam encontrar pessoas para a tarefa.Sete homens. Era razoável que os apóstolos pensassem no número sete. Havia uma reverência pelo número entre os judeus. Posteriormente, sete foi o número de pessoas convocadas para administrar as questões públicas nas cidades judaicas (Megillah, 26a ed. Soncino, Talmude, p. 157). Mas é possível que só fossem necessários sete homens na ocasião.Os escolhidos não são chamados de “diáconos” no NT. Quando mencionados de novo, são denominados como os “sete” (At 21:8), quase como se fossem um corpo distinto. Mas eles deram origem à classe dos “diáconos” (AA, 89, 90), e suas funções são análogas às dos diáconos posteriormente descritos por Paulo (ver iTm 3:8-13). Em algumas igrejas, como em Roma, o número de diáconos foi fixado em sete (Eusébio, História Eclesiástica, vi.43.11). No concilio de Neocesareia (314 d.C.; Cânon 14), decidiu-se por sete diáconos em cada localidade. Muitos comentaristas pensam que os sete homens foram escolhidos para corresponder aos “presbíteros” mencionados em Atos 11:30 e 14:23 (ver p. 11; AA, 89, 90).De boa reputação. Literalmente, “comprovados” ou “com bom testemunho sobre eles”, isto é, bem falados entre os irmãos (cf. iTm 5:10). A palavra é traduzida por “tendo bom testemunho” (At 10:22). A situação só melhoraria se homens de caráter impecável fossem chamados para a tarefa de distribuição igualitária. Deveríam ser honestos, eficientes e aceitos pelo povo. Havia uma lista das qualificações necessárias para diáconos e presbíteros ou bispos (ver lTm 3:1- 14; Tt 1:5-11).Cheios do Espírito. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “cheios de espírito”. Contudo, o v. 5 declara que um dossete, Estêvão, era cheio do Espírito Santo; por isso, pode-se considerar que esta primeira expressão também se refere ao Espírito Santo. Era muito importante que, para a primeira expansão da organização da igreja além do apostolado, fossem escolhidos homens idôneos. Além de boa reputação, esperava-se que fossem cheios do Espírito Santo. Fica óbvio que os apóstolos consideravam a obra do Espírito mais abrangente do que o dom de profecia e de línguas.Sabedoria. Além de atender às necessidades espirituais dos pobres, os sete deveríam demonstrar prudência, discrição, economia e sabedoria. Paulo classificou a sabedoria como um dom do Espírito (ICo 12:8). Tiago destacou que ela é um presente de Deus (Tg 1:5) e que deve ser acompanhada de boa conduta ou “condigno proceder” (Tg 3:13), Em Atos, além deste versículo, a palavra “sabedoria” só é usada para se referir a Estêvão (At 6:10) ou por ele mesmo em seu discurso (At 7:10, 22). O mártir também é dito ser um “homem cheio de fé” (At 6:5).Aos quais encarregaremos. Literalmente, "a quem nós colocaremos como responsáveis”. Os apóstolos estavam dispostos a nomear homens escolhidos pelos “irmãos”, dal atitude promovia confiança mútua entre os líderes e o povo. |
At.6:4 | 4. Quanto a nós. Em contraste com os sete.Consagraremos. Ou, “perseveraremos”. A mesma palavra é usada para descrever a conduta fervorosa dos primeiros cristãos (cf. At 1:14; 2:42, 46).A oração. Esses homens piedosos, com a lembrança da vida de oração de Cristo, colocavam a necessidade de orar em primeiro lugar. Mas é importante lembrar que a oração abrange tanto os cultos públicos na igreja quanto a devoção particular.Ministério. Do gr. diakonia, a mesma palavra usada no v. 1. Os sete deveríam ministrar bênçãos materiais enquanto osdoze ministrariam os benefícios espirituais da Palavra de Deus. Eles fariam isso por meio da pregação e de diversas formas de ensino. Isso explica o significado da frase: “não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus” (v. 2). |
At.6:5 | 5. Agradou. Com certeza, não tinha havido intenção de privar ou negligenciar ninguém. O reconhecimento do problema e a aceitação da solução proposta levaram a um regozijo geral.Elegeram. Ver com. do v. 3. Os nomes dos escolhidos são helênicos e é possível que fossem de origem grega (ver com. do v. 1). No entanto, muitos judeus tinham nomes gregos, mesmo entre os apóstolos, como André e Filipe (ver com. de Mc 3:18). Além disso, não há evidências de que os sete limitaram seu ministério aos cristãos helenistas. Só ouvimos sobre o trabalho posterior de Estêvão e Filipe.Estêvão. Do gr. Stephanos, “coroa”, "grinalda”, “louros da vitória”. Não era um nome incomum e ocorre em inscrições antigas.A tradição conta que Estêvão e Filipe fizeram parte dos setenta que foram enviados a cada cidade e vila para anunciar a chegada do Messias (Lc 10:1-11). Talvez Samaria tenha sido o cenário do ministério de ambos (ver com. de Lc 10:1). E provável que os judeus helenistas fossem mais bem recebidos em Samaria do que os judeus palestinos. Este pode ter sido o motivo do envio de Filipe para evangelizar os samari- tanos (At 8:5).Filipe. Do gr. Philippos, “amante de cavalos” (ver com. de Mc 3:18). Este também era o nome de um dos doze e de dois filhos de Herodes, o Grande. Era comum na classe dominante da Macedônia nos séculos anteriores. Nada se sabe sobre a história anterior. Existe apenas a tradição de que ele fez parte dos setenta. Paulo o visitou em Cesareia (At 21:8) e é provável que já fosse líder da igreja ali havia muito tempo. O fatode Filipe ter quatro filhas crescidas na época da visita de Paulo sugere que já era casado quando foi escolhido diácono.PrócorOj Nicanor, Timão, Pármenas.Nada se sabe a respeito destes quatro, nem há informações que permitam conjecturas.Nicolau. Do gr. Nikolaos, “mestre do povo ’. Trata-se do primeiro cristão não judeu cujo nome está registrado.Prosélito. Sem dúvida, Nicolau era um “prosélito piedoso”, que aceitara completamente o judaísmo. Por isso, tinha uma boa base da religião judaica (ver vol, 5, p. 49, 50; sobre a tradição de que este Nicolau foi o fundador da seita dos nicolaítas, ver p. 44; ver com. de Ap 2:15).Antioquia. Esta cidade síria, com seus muitos judeus, tinha fortes vínculos com a Palestina. Herodes, o Grande, construíra uma colunata ao longo de toda a rua principal. O fato de Nicolau ser de Antioquia é sugestivo, uma vez que foi a 1 i que os cristãos receberam este nome pela primeira vez (At 11:26). Mais tarde, a cidade se tornou a sede do início da obra missionária da igreja (ver com. de At 11:19). |
At.6:6 | 6. Apresentaram-nos» Provavelmente para exame, instrução e, é claro, ordenação.Orando. O texto grego deixa claro que foram os apóstolos que oraram antes de impor as mãos sobre os sete eleitos. A igreja não dava nenhum grande passo sem antes orar (ver com. de At 1:14, 24; 2:42).Impuseram as mãos. Esta é a primeira menção ao ato no NT. No AT, porém, o gesto já era usado na pronunciação de bênçãos (ver com. de Gn 48:13, 14), na consagração dos sacerdotes (ver com. de Nm 8:10) e na dedicação de Josué à liderança (ver com. de Nm 27:18, 23). Portanto, a importância deste ato não era desconhecida dos judeus fiéis. Para os cristãos, ainda havia o fato de que o Mestre tinha o hábito de curar os enfermos, impondo as mãos sobre eles (Mc 6:5; Lc 4:40; 13:13; cf. Mc 16:18).Ele também abençoou as crianças de maneira semelhante (Mt 19:15). Logo, os apóstolos tinham bons precedentes para abençoar e dedicar os sete por meio da imposição de mãos. Eles continuaram a usar esse método em situações semelhantes (ver At 8:17; 13:3; 19:6). Na igreja apostólica, havia a imposição de mãos sobre os homens ordenados ao ministério (lTm 4:14; 5:22; 2Tm 1:6). Hebreus 6:2 sugere que a prática se cristalizou num procedimento aceito pelas normas da igreja. O gesto simbolizava a íntima conexão espiritual entre o Senhor e a pessoa sobre quem as mãos eram impostas |
At.6:7 | 7. Crescia. Ou, “continuava crescendo”, indicando aumento gradativo e contínuo. A declaração subentende mais do que o crescimento numérico mencionado na sentença seguinte. Era a palavra de Deus que crescia; isso se refere aos ensinos de Cristo anunciados pelos apóstolos. O relato subsequente revela que os sete eram ativos também na pregação. O trabalho dos diáconos, sobretudo de Estêvão, marca a expansão e o desenvolvimento da proclamação cristã (ver At 6:8; 8:5).O número dos discípulos. O crescimento da igreja era extraordinário: "havendo um acréscimo [...] de quase três mil pessoas” (At 2:41); “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:47); “muitos |...| aceitaram (...] quase cinco mil” (4:4). O número de membros da igreja “em Jerusalém, se multiplicava”.Muitíssimos sacerdotes. O fato apresentado aqui é significativo. Segundo informações disponíveis, nenhum dos seguidores imediatos de Cristo eram sacerdotes e não há nenhum sacerdote mencionado entre os primeiros conversos. O esperado seria que a fala direta dos apóstolos e diáconos despertasse amarga inimizade de todos os sacerdotes. E, sem dúvida, vários deles se tornaram hostis. Mas sob o poder do Espírito Santo,a pregação atraiu “muitíssimos sacerdotes” para Cristo.Obedeciam. Ou, “continuavam a ser obedientes”, sugerindo um fluxo contínuo de sacerdotes convertidos (sobre a necessidade de obedecer, ver com. de At 5:32).Fé. A opinião se divide quanto à interpretação correta da expressão “obedeciam à fé”. Uma compreensão objetiva defende que “fé” se refere ao conjunto das doutrinas cristãs que os sacerdotes aceitaram e segundo as quais passaram a viver (cf. At 13:8; 14:22; 16:5; G1 1:23). No entanto, muitos comentaristas acreditam que, neste texto, “fé” tem sentido subjetivo e que Lucas esteja falando de sacerdotes demonstrando fé em Jesus Cristo. Essa interpretação está em harmonia com o uso geral no NT (cf. At 24:24; Rm 1:5; 16:26; Cl 3:2). Esse tipo de fé aceita a doutrina cristã, pois esta capacita os crentes a demonstrar uma fé inteligente em Jesus (comparar com Rm 1:5). |
At.6:8 | 8. Cheio de graça e poder. O v. 5 complementa que Estêvão era “cheio de fé”. A “graça” não é apenas um atributo divino (ver com. de Jo 1:14, 16). Graça e beleza de espírito deveríam acompanhar a proclamação da mensagem evangélica (cf. Lc 4:22). O “poder” era a realização de milagres. Estêvão devia ter a mesma plenitude de dons do Espírito que os doze.Prodígios e grandes sinais. Ou, “maravilhas e sinais”’ (ver com. de At 2:19). Estes milagres demonstravam o poder que enchia Estêvão. Não há como saber quanto tempo se passou entre a ordenação de Estêvão ao diaconato e seu martírio, mas não deve ter demorado muito. |
At.6:9 | 9. Levantaram-se. Ver com. de At 5:17.Sinagoga. Ver vol. 5, p. 44, 45. Era possível fundar uma sinagoga com dez adultos. Numa época posterior, havia 12 sinagogas em l iheríades, e a tradição superestima que havia 480 na cidade de Jerusalém.Por mais que não seja confiável, esse número aponta para o grande número existente na capital.Libertos. Esta passagem é ambígua em relação à origem dos judeus que faziam parte da “sinagoga [...] dos Libertos”. O texto pode ser traduzido como: “a sinagoga chamada ‘dos Libertos e dos cireneus e dos alexandrinos”. Isso pode sugerir que havia apenas uma sinagoga na qual alguns adoradores eram homens libertos, alguns de Cirene e outros de Alexandria. Contudo, essa tradução também sugere que a sinagoga era formada apenas por libertos, enquanto os outros eram grupos de judeus não organizados como sinagogas, mas classificados conforme sua origem, Se uma dessas duas interpretações estiver correta, é possível que os libertos fossem os filhos dos judeus levados cativos da Palestina para Roma por Pompeu, em 63 a.C. e que depois foram libertos (libertini).Contudo, é possível traduzir a passagem de outra forma: “a sinagoga chamada ‘dos Libertos’, tanto cireneus quanto alexandrinos”. Esta alternativa identifica a origem dos libertos que compunham a sinagoga: eles eram de Cirene e Alexandria, duas localidades onde havia grande população de judeus.Evidências arqueológicas indicam que havia pelo menos uma sinagoga em Jerusalém, antes de 70 d.C. que era usada pelos judeus helenistas. Foi descoberta uma inscrição grega na cidade falando da construção de uma sinagoga por certo Teódoto, para ser usada pelos judeus da diáspora. A inscrição diz: "Teódoto, [filho de] Vcneto, sacerdote e chefe da sinagoga, filho de um chefe de sinagoga e neto cie um chefe de sinagoga, construiu a sinagoga para a leitura da Lei e para o ensino dos mandamentos, e o quarto de hóspedes, os cômodos e o suprimento de água para alojar aqueles de terras estrangeiras que tiverem necessidades, cuja [sinagoga] seuspais e os anciãos e os simônidas fundaram” (ver Adolf Deissmann, Lightfrom theAncient East, p. 439-441).Embora não se possa provar, é possível que essa sinagoga fosse a “dos libertos”, mencionada neste versículo. Sendo isso verdade ou não, a inscrição confirma a existência de uma sinagoga helenista em Jerusalém, como aquela cujos membros entraram em conflito com Estêvão.Cireneus. Havia uma grande população judaica em Cirene, no litoral norte da África, entre o Egito e Cartago. Josefo (.Antiguidades, xiv.7.2 [115]) cita Estrabão, o clássico geógrafo, dizendo que havia quatro classes de cidadãos no estado de Cirene, e os judeus eram urna delas. Os judeus cireneus se destacavam pelos presentes generosos que enviavam ao templo de Jerusalém. Eles também apelaram a César Augusto por proteção contra as irregularidades nos impostos, cometidas por governadores da província que tentavam interceptar suas doações (ibid., xvi.6.5). Simão cireneu, que carregou a cruz de Cristo, devia ser um desses judeus (ver com. de Mt 27:32). Havia judeus cireneus no Pentecostes (At 2:10) e eles são mencionados pregando o evangelho aos gentios em Antioquia da Síria(At 11:20).Alexandrinos. E provável que, depois de Jerusalém e talvez de Roma, Alexandria fosse a cidade do império com mais judeus e na qual eles exerciam mais inf luência (ver vol. 5, p. 47). A população judaica da cidade na época dos apóstolos é estimada em 100 mil. Eles tinham uma região própria, a qual ocupava um dos cinco distritos que formavam Alexandria. Eram governados por um etnarca próprio (Josefo, Antiguidades, xiv.7.2 [117]), como se fossem uma república autônoma. Os governantes romanos os reconheciam como cidadãos (ibid., 10.1 [188]). boi em Alexandria que se realizou a tradução do AT para o grego, a LXX (vervol. 1, p. 15). O filósofo e escritor judeu Filo viveu ali durante o primeiro século da era cristã. A cidade também era a terra natal de Apoio (At 18:24).Cilícia. Esta região estava na extremidade sudeste da Ásia Menor e era a terra natal de Paulo. Uma de suas principais cidades era Tarso. Ali viviam muitos judeus, descendentes de 2 mil famílias que Antíoco, o Grande, levara para a Ásia Menor (josefo, Antiguidades, xii.3.4 [149, 150]), a fim de garantir a lealdade da província a ele e talvez para auxiliar em sua defesa. Atos 7:58 a 60 deixa claro que Saulo de Tarso morava em Jerusalém nesta época e era um dos que discutiam com Estêvão. Sem dúvida, os fortes argumentos do mártir despertaram amarga oposição em Saulo, embora devam ter atraído o futuro apóstolo (AA, 101).Ásia. No NT, esta palavra se refere à província romana localizada no que hoje se conhece como Ásia Menor. Inclui regiões antes conhecidas como Lídia e jônia. Efeso era sua cidade principal. Havia judeus da Àsia presentes no Pentecostes (At 2:9). Mais tarde, eles demonstraram seu zelo na defesa da santidade do templo (At 21:27).Discutiam. Literalmente, “procuravam juntos”, “questionavam”, “disputavam”. A discussão foi iniciada pelos judeus da diáspora. Eram homens que haviam ido a Jerusalém com forte espírito de devoção, pois, quanto mais distantes estavam do centro de sua devoção, mais zelosos eram. Devia haver algo nos ensinos de Estêvão que os levavam a pensar que ele estava diminuindo a importância espiritual do templo de Jerusalém (ver com. de At 6:13; 7:1). Aqueles que o questionavam, por virem das sinagogas, eram bem instruídos para discutir questões teológicas com os cristãos. |
At.6:10 | 10. Não podiam resistir. Literal mente, “não eram fortes para permanecer contra”. Esta experiência cumpriu a promessa de Cristo a Seus seguidores (Lc 21:15).Sabedoria. Comparar com o v. 3. Nos evangelhos, a sabedoria é atribuída ao Senhor (Mt 13:54; Lc 2:41, 52), e Mateus fala da “sabedoria de Salomão” (Mt 12:42). Mas Estêvão foi o primeiro mestre da nova comunidade a ser destacado por sua sabedoria. Considerando que Lucas é um escritor cuidadoso, isso sugere que Estêvão possuía uma clara visão da verdade e a habilidade para revelar verdades não percebidas até então.Espírito. A referência aqui é ao poder com que Estêvão falava. João Batista ministrava “no espírito e poder de Elias” (Lc 1:17). |
At.6:11 | 11. Subornaram. Do gr. hupoballõ, “colocar em baixo”. As vezes, esta palavra era usada para o ato de empregar, instigar ou instruir um agente secreto. Pode ser lida como “secretamente instigaram” (RSV).Blasfêmias. Ver com. de Mt 12:31. A acusação é ainda mais explícita em Atos 6:13. Eoi baseada numa distorção da verdade, assim como acontecera com Jesus. Cristo foi acusado de blasfêmia (ver com. de Mt 26:65) porque se intitulava "Filho de Deus’, fazendo-se igual a Deus (Mt 26:63, 64; Jo 5:18), e supostamente ameaçou “destruir o santuário” (Mt 26:61). As acusações foram criadas com base em palavras que Jesus de fato havia falado. E possível que Estêvão tivesse dito coisas que pareciam dar motivo para as denúncias. Ele pode ter ensinado que havia cessado a necessidade do templo (cf. At 7:48), assim como Jesus sugeriu em seu diálogo com a mulher sama- ritana (Jo 4:21). Essas verdades ameaçavam os fundamentos do judaísmo e naturalmente despertariam forte oposição. Diante de um ensino como esse, sadueeus e fariseus se uniríam na oposição. O castigo por blasfêmia era a morte por apedrejamento (Lv 24:16).Moisés. Isto é, os sistemas que Moisés instituiu, registrados no Pentateuco. Observe que Moisés é mencionado antes de Deus.Os legalistas estavam mais preocupados com suas cerimônias do que com Deus. |
At.6:12 | 12. Sublevaram. Literalmente, “provocaram comoção”. Por meio das acusações falsas, agitaram o povo que testemunhara os milagres de Estêvão (cf. v. 8).Anciãos. O povo já havia sido inflamado contra os apóstolos (At 4:5-7) e não precisaria de muito incentivo para se voltar contra Estêvão.Investindo. De maneira súbita e inesperada, assim como os escribas e fariseus investiram contra Jesus no templo (Lc 20:1).Arrebataram. Ou, “pegaram”.Sinédrio. Assim como no caso de Jesus, a audiência perante o Sinédrio antecedeu um fim violento (At 7:57). A experiência do martírio de Estêvão é paralela à do Mestre. |
At.6:13 | 13. Testemunhasfalsas.Vercom.dov. 11.Este homem. Palavras proferidas com desprezo, em tom de zombaria.Falar contra. Aversão ARC diz: “proferir palavras blasfemas”, mas evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão da variante “blasfemas”.O lugar santo. Isto é, o templo e suas redondezas imediatas (ver com. de At 3:1).A lei. Estêvão deve ter insistido, assim como Jesus (Mt 5:17-19) e como o fez Paulo mais tarde (At 24:14-16; 25:8), que o cristianismo não introduzia nenhuma mudança nos princípios morais básicos da Lei a que os judeus se apegavam. No entanto, foi claro ao anunciar que o sacrifício do Cordeiro de Deus significava o fim do sistema de sacrifícios prescrito pela Lei. Esta pregação seria interpretada como destruidora de quase tudo que os judeus estimavam. |
At.6:14 | 14. Temos ouvido dizer. E possível que os ensinos de Estêvão tenham sido incompreendidos pelos honestos e, com certeza, foram aplicados erroneamentepelos desonestos. Muitas vezes, é isso que produz disputas religiosas.Esse Jesus. Mais uma vez, uma menção com desprezo, embora este nome soasse belo ao sair de lábios cristãos (cf. At 2:22). As falsas testemunhas dão a Estêvão o crédito de continuar a pregação de Cristo.Destruirá este lugar. Comparar com Mt 24:2; 26:61; 27:40. As palavras de Cristo, possivelmente repetidas por Estêvão, haviam causado uma impressão duradoura na mente dos acusadores. Além disso, embora pensassem que Jesus estava morto, preocupavam- se com a destruição do templo e a mudança nos costumes.Mudará os costumes. E provável que esta acusação tenha sido feita pelos fariseus, uma vez que trata de "costumes" (ver vol. 5, p. 39-41). Embora a acusação fosse contra Estêvão, ela estava ligada a Jesus e a Seus ensinos. Eles já haviam acusado Estêvão de falar contra o templo e a Lei (v. 13). Então, o denunciaram por causa dos “costumes" ligados ao templo e à Lei. Afirmaram que eles foram dados por Moisés, mas isso não é verdade. Restrições enfadonhas foramacumuladas sobre o povo, principalmente após o retorno do exílio, em 536 a.C., quase mil anos depois de Moisés (ver com. de Mc 7:1-23). Foram essas tradições que Jesus condenou (Mt 15:1-13). |
At.6:15 | 15. Fitando. Esta palavra é característica de Lucas (ver com. de At 1:10). Os acusadores de Estêvão o encararam fixamente, esperando o que ele diria em sua defesa. Os membros do Sinédrio ficaram surpresos com o que viram e ouviram.Rosto de anjo. A expressão no rosto de Estêvão não se devia simplesmente a uma dignidade natural ou tranquilidade diante do perigo. Seu rosto devia estar iluminado com um brilho divino. O res- plendor dos mensageiros angelicais é mencionado vez após vez nas Escrituras, como no caso do “jovem" anjo de Marcos 16:5. A face de Moisés brilhava quando desceu do monte Sinai, onde estivera na presença de Deus (Êx 34:28-35). De igual modo, o rosto de Estêvão se iluminou por sua proximidade de Cristo e pela luz da visão que estava prestes a ter de Jesus à destra de Deus (At 7:56).San, 91Capítulo 7que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu. |
At.7:1 | 1. Porventura, é isto assim? A pergunta do sumo sacerdote serviu para interromper a perplexidade dos observadores ao contemplarem a face de Estêvão, mas era a forma padrão de dar início a um julgamento formal, semelhante à pergunta feita ao Senhor (Mt 26:62). O acusado era convocado a se declarar culpado ou inocente. Em seguida, Estêvão faz sua defesa. |
At.7:2 | 2. Estêvão respondeu. A resposta de Estêvão foi uma declaração de fé. Era também uma denúncia aos acusadores (ver Nota Adicionai I a Atos 7).Varões, irmãos e pais. O vocativo usado por Estêvão é honroso, porém mais familiar que o de Pedro (cf. At 4:8). O acusado chama os líderes judeus de irmãos e demonstra respeito pelos anciãos. Paulo usou as mesmas palavras quando se dirigiu à multidão das escadas da fortaleza (At 22:1).O Deus da glória. Isto é, o Deus que Se manifestou em glória a Israel por meio das colunas de nuvem e fogo e também do shekinah (Êx 13:21, 22; 40:34, 35). A glória de Deus é Seu caráter (ver com. de Ex 34:6). Ela foi revelada em seu clímax na vida e obra de Jesus Cristo (ver com. de Is 40:5; Jo 1:14; cf. Tg 2:1). A expressão "Deus da glória” consiste numa sábia introdução ao discurso. Rebate a acusação de blasfêmia e prepara o caminho para um novo conceito do Deus a quem os judeus afirmavam adorar.Apareceu. Evidência de que Deus Se manifestou antes da existência do templo.Gênesis alista cinco manifestações a Abraão, além das relacionadas ao chamado para deixar sua terra e parentela (Gn 12:1-3; 15:7): a promessa (Gn 12:7), a aliança (Gn 13:14-17), o selo da aliança (Gn 15), a aliança da circuncisão (Gn 17:10) e a renovação da aliança em Manre (Gn 18:1).Mesopotâmia. Literalmente, “entre os rios”, nome usado para a região localizada entre os rios Tigre e Eufrates (ver com. de Gn 24:10). Estêvão parece limitar o nome à região sul, acima do golfo Pérsico. A terra natal de Abraão é chamada de "Ur dos caldeus” (Gn 11:31; ver At 7:4) e ficava “dalém do rio” (Js 24:2, 3), isto é, além do Eufrates.Harã. Estêvão parece separar Harã da iMesopotâmia, embora, na verdade, a cidade f icasse na parte noroeste do que costuma ser chamado de Mesopotâmia. |
At.7:3 | 3. Sai. Estêvão cita Gênesis 12:1, mas omite “da casa de teu pai”, provavelmente por usar a passagem para se referir à partida de Abraão com a casa de seu pai de Ur, ao passo que Gênesis alude à partida de Abraão, deixando os parentes em Harã. |
At.7:4 | 4. Terra dos caldeus. A terra de Babilônia (ver com., de Gn 10:22).Com a morte de seu pai. Ter a morreu aos 205 anos de idade; Abraão tinha 75 na época (sobre a relação entre esta declaração e Gn 11:26, 32; 12:1, ver com. de Gn 11:26).Deus o trouxe. Ou seja, Deus fez Abraão migrar. O grego é menos vago do que o português. E possível que a mudançade assunto (cf. At 6:6) soasse mais natural na fala do que na escrita. Isso apoia o ponto de vista de que o cap. 7 é um relato real do discurso de Estêvão. |
At.7:5 | 5. Não lhe deu herança. Como Abraão comprou um local de sepultamento em Macpela (Gn 23), e isso não é herança, essa compra confirma este fato em vez de contradizê-lo. Aliás, caso o patriarca tivesse uma propriedade, não teria necessidade de comprar o local de sepultamento. Ele fazia uso das planícies desocupadas do centro e do sul de Canaã para seus rebanhos, mas essa terra não era só dele, nem tampouco era uma herança.Nem sequer o espaço de um pé. Literalmente: "nem mesmo o cumprimento de um pé".Mas prometeu. Ver Gn 12:7; 13:15, 16.A posse. Ou, "em posse”.Não tendo ele filho. Abraão tinha 75 anos quando partiu de Harã (Gn 12:4) e 100 quando Isaque nasceu (Gn 21:5). |
At.7:6 | 6. Falou Deus. As palavras são praticamente as mesmas da LXX de Gênesis 15:13 e 14.Em terra estrangeira. Referência tanto a Canaã quanto ao Egito (ver com. de Gn 15:13).Quatrocentos anos. Ver com. de Gn 15:13; Êx 12:40. |
At.7:7 | 7. Sairão daí. Com uma liberdade de narração natural, Estêvão associa a promessa a Abraão a uma versão livre da promessa dada a Moisés (Êx 3:12). |
At.7:8 | 8. A aliança da circuncisão, isto é, a aliança cujo sinal foi a circuncisão (ver com. de Gn 17:10-14).Nasceu Isaque. O nascimento de Isaque foi uma evidência objetiva de que Deus realmente cumpri ria a aliança com Abraão. Ao circuncidar isaque, Abraão cumpriu sua responsabilidade na afiança.Patriarcas. Ver com. de At 2:29. Neste caso, a expressão se aplica aos dozefilhos de Jacó, cada um deles fundador de uma família. |
At.7:9 | 9. Invejosos. O registro diz que seus irmãos “odiaram-no” (Gn 37:4, 5) e "lhe tinham ciúmes” (v. II). Este é o primeiro passo no argumento de Estêvão de que os mensageiros de Deus sempre sofreram oposição daqueles que eram representantes da nação hebraica em cada época.Venderam-no para o Egito. Na verdade, José foi vendido para os rnidianitas e isrnaelitas (Gn 37:25, 28), mas terminou sendo escravo no Egito. Por isso, fazer objeção à fala de Estêvão seria trivial. O próprio José disse aos irmãos: "Vós mesmos por me haverdes vendido para aqui” (Gn 45:5).Mas Deus. Ou, "e Deus”. Isto reflete o relato de Gênesis 39:2, 21 e 23. A presença de Deus não é limitada, pois o Senhor esteve com José mesmo no Egito pagão. A lembrança desse fato deve ter levado conforto a Estêvão durante seu julgamento. |
At.7:10 | 10. Lívrou-o. Do gr. exaireõ, "pinçar para fora”, “escolher para tirar”, “resgatar”. O livramento de José não foi do Egito, mas de suas aflições ali. O mesmo se dá com o livramento do povo de Deus. O Senhor lhe dá forças para triunfar sobre seus problemas e aflições.Governador. Ver Gn 41:38-45. |
At.7:11 | 11. Não achavam mantimentos.A palavra traduzida por “mantimentos” costuma ser usada para a forragem do gado (ver Gn 24:25, 32, na LXX). .Mas a fome afetou mais do que o alimento do gado; portanto, o termo deve se aplicar à comida tanto dos seres humanos quanto dos animais. |
At.7:12 | 12. Trigo. Do gr. sitia, “alimento”, “provisões”. "Trigo”, um grão pequeno e duro, é sitos. A referência não é ao trigo conhecido hoje.Os nossos pais. Isto é, os dez filhos a quem Jacó enviou primeiramente ao Egito (Gn 42:1-3). Estêvão estava fazendo mais do que desenvolver uma sequência histórica.Ele buscou mostrar que os que afligiam José se tornaram dependentes da generosidade que resultou de sua sabedoria. Da mesma forma, os judeus dos dias de Estêvão necessitavam se voltar para Cristo, a quem haviam afligido, a fim de obter o sustento espiritual. |
At.7:13 | 13. Segunda vez. Ver Gn 45:1-4.José se fez reconhecer. Esta expressãoocorre duas vezes neste versículo de forma semelhante. No entanto, na segunda (“se tornou conhecida”), o original grego é diferente e deveria ser traduzido como “tornou- se manifesta".Família. Do gr. genos, “raça”. José não procurara esconder sua origem hebraica (Gn 41:12); mas, até essa crise, o fato não era de conhecimento geral. Então o próprio faraó passa a saber disso (Gn 45:16). |
At.7:14 | 14. Parentela. Do gr. suggeneia, “clã” ou “família”, termo usado também no v. 3 e em Lucas 1:61.Setenta e cinco pessoas. Ver com.de Gn 47:26, 27. Há várias tradições judaicas sobre o número de pessoas que foi para o Egito (ver Baba Bathra, 123.a, 123.b, ed. Soncino, Talmude, p. 511, 512). |
At.7:15 | 15. Jaco desceu. Ponto de partida da permanência de 215 anos (ver com. de Gn 15:13; Ex 12:40) dos hebreus no Egito, longe da terra prometida.Morreu. Ou, “e ele morreu, ele mesmo”. Alguns comentaristas consideram que isto se refere a José, não a jacó. |
At.7:16 | 16. Foram transportados. Além do enterro dos ossos de José, em Siquém (Gn 50:25; Êx 13:19; Js 24:32), não há registro nas Escrituras do transporte cios corpos dos patriarcas a Canaã, Josefo afirma: “Seus corpos foram levados por seus descendentes [e seus filhos] algum tempo depois para Hebrom e sepultados ali” (Antiguidades, ii.8.2 [199]; ed. Loeb, vol. 4, p. 251). Uma antiga tradição judaica conta que os corpos dos patriarcas foram tirados da terra doEgito junto com os israelitas, quando estes partiram.Para Siquém. A mesma do AT (ver com. de Gn 12:6).Abraão ali comprara. A compra da caverna de Macpela, por Abraão, a leste de Manre, perto de Hebrom, é a única transação desse tipo registrada (ver com. de Gn 23:3-20). Ali foram sepultados Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Lia. No entanto, a região de Siquém foi o primeiro lugar onde Abraão se estabeleceu depois de entrar em Canaã, e ali construiu um altar (Gn 12:6, 7). Pode ser que ele tenha comprado terra para esse fim, mas não há registro da compra.A compra do campo de jacó em Siquém é o único relato de transação no qual os filhos de Hamor são citados como vendedores (Gn 33:19). Ali foi erigido um altar (Gn 33:20) e os ossos de José foram sepultados, mas não há registro de que o local se tornou o sepulcro de seus irmãos (“nossos pais”, At 7:15). Jerônimo, escritor cristão do 4o século, declara (Epístola 86, edição beneditina) que as sepulturas dos 12 patriarcas eram mostradas em Siquém nos seus dias e esta é uma tradição samaritana preservada por muitos séculos. Isso pode coincidir com a informação disponível a Estêvão, mas desconhecida hoje.Pai de Siquém (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a variante “em Siquém”. |
At.7:17 | 17. Como, porém. Sugerindo que o tempo estava se aproximando, não que já havia chegado.Aproximasse. Ou, “estava se aproximando”, em harmonia com “como, porém”.Tempo da promessa. Isto é, o tempo do cumprimento, no êxodo dos israelitas do Egito (ver com. de Gn 15:13, 14; Ex 12:40; ver vol. 1, p. 167-175). Os pais “morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, econfessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra’’ (Hb 11:13).Deus jurou. Ou, “garantiu".Cresceu e se multiplicou. Ver com.de Êx 1:7; 12:37. |
At.7:18 | 18. Outro rei. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) o acréscimo de “sobre o Egito". Não era apenas outro rei, mas um rei de um tipo diferente (ver com. de Êx 1:8) e, certamente, com outra atitude em relação aos hebreus.Não conhecia. Ou, “não havia conhecido”. Isto pode significar que o novo monarca não conhecia os serviços que José prestara ao Egito ou que os ignorava (sobre o uso do verbo “conhecer", ver Mt 7:23; 25:12). |
At.7:19 | 19. Com astúcia. Ver com. de Ex 1:10.Torturou. Ou, “tratou com maldade’”.Josefo (Antiguidades, ii.9.1 [203]) conta que os egípcios fizeram os israelitas abrirem canais e diques para o Nilo.Enjeitar. Ver com. de Ex 1:22. |
At.7:20 | 20. Por esse tempo. Enquanto os bebês estavam expostos.Formoso aos olhos de Deus. Ver com. de Êx 2:2. josefo (ibid., 9.6 [231]) descreve a beleza do bebê Moisés como algo que causava admiração. |
At.7:21 | 21. Exposto. Joquebede, mãe de Moisés, cumpriu a ordem do rei ao mesmo tempo em que colocou em prática o próprio plano (ver com. de Ex 2:3).Recolheu. Literalmente, “levantou", referindo-se ao fato de Moisés ter sido tirado do Nilo, ou a sua adoção pela filha do faraó. O radical do verbo significa “escolher”’ e é usado nesse sentido em Filipenses 1:22. O sentido pretendido fica claro na expressão seguinte.Seu próprio filho. Ver com. de Êx 2:5,10. Josefo (ibid., íi.9.7 [232-237]) declara que, segundo a tradição judaica da época, o faraó não tinha filho, e Moisés foi escolhido para ser o herdeiro do trono. |
At.7:22 | 22. Educado. Ou, “treinado", “instruído". O AT não afirma isto claramente, mas deixa subentendido pela relação de Moisés com a casa do faraó.Ciência dos egípcios. Ver com. de Ex 2:11; lRs 4:30. Há muitas lendas sobre os primeiros 40 anos da vida de Moisés. Filo (Life ofMoses, i.5) afirma ter detalhes sobre o currículo que Moisés aprendeu, mas a Bíblia não se pronuncia a esse respeito.Poderoso em palavras, isto se aplica, primeiramente, ao discurso de Moisés enquanto estava na corte egípcia, e não entra em conflito com a declaração posterior: “Eu nunca fui eloquente [...] pois sou pesado de boca e pesado de língua" (ver com. de Ex 4:10), proferida depois da permanência de 40 anos em Micliã.E obras. Não há registro bíblico de suas obras, mas seria estranho alguém que se provou tão capaz mais tarde não ter demonstrado grandes dons durante o início da idade adulta (ver com. de Ex 2:11). |
At.7:23 | 23. Completou quarenta anos. Literalmente, “quando um tempo de quarenta anos se cumpriu para ele ”, isto é, quando tinha cerca de 40 anos de idade. O AT não informa a idade de Moisés nessa ocasião. Revela que ele tinha 80 anos quando lhe foi ordenado comparecer diante do faraó (Ex 7:7) e que estava com 120 por ocasião de sua morte (Dt 34:7). A tradição judaica antiga divide a vida de Moisés em três períodos de 40 anos (Midrash fíabbah, sobre Gn 50:22; ed. Son- cino, p. 1001), e Estêvão segue uma divisão parecida: (1) 40 anos no Egito, (2) 40 anos como pastor no deserto e (3) 40 anos conduzindo o povo do Egito à fronteira de Ganaã.Visitar. Do gr. episkeptomai, “olhar para ”, a fim de ver como a pessoa está, “inspecionar" (cf. Êx 4:31; Lc 7:16; Tg 1:27). Moisés se sentia inclinado a ajudar seus compatriotas (ver com. de Ex 2:11). |
At.7:24 | 24. Tratado injustamente. Com tapas ou socos (cf. Èx 2:11).Vingou. Literalmente, “operou uma vingança’'’, fazendo o que deveria ser deixado para o Senhor.Matando o egípcio. Ver com. de Êx 2:12. |
At.7:25 | 25. Cuidava. Ou, “estava supondo”. Ele tinha certeza de que os hebreus entenderíam seu ato e seus motivos. Logo se desiludiu. O vislumbre do que se passou na mente de Moisés não é extraído do AT, mas pode ter sido revelado a Estêvão pelo Espírito Santo. O orador também podia estar sugerindo uma comparação entre Moisés e Jesus, uma vez que ambos foram rejeitados pelo povo que queriam ajudar.Por intermédio dele. Ao que parece, fora revelado a Moisés que ele libertaria Israel, mas compreendeu erroneamente que esta obra seria realizada da mesma lorma usada pelos egípcios para impor seu poder.Não compreenderam. Expressão sucinta, mas eficaz, em destacar a estupidez do povo. Com frequência, o povo de Deus não entende, nem está preparado para os atos divinos de livramento (cf. a atitude dos judeus em relação a Cristo, jo 1:11). |
At.7:26 | 26. Que brigavam. Isto é, dois homens hebreus (Êx 2:13).Procurou reconduzi-los à paz. Isto é, reconciliar os dois.Homens. O sentimento fraternal recém- despertado foi tão forte que Moisés parecia incapaz de tolerar qualquer coisa inferior a uma unidade como a de irmãos entre os hebreus, que sofriam juntos. |
At.7:27 | 27. Quem te constituiu [...]? Conforme demonstra o v, 35, Estêvão dá ênfase a esse desafio à autoridade de Moisés a fim de mostrar que toda a história de Israel fora marcada pela rejeição dos mensageiros de Deus, os quais foram enviados para o bem da nação. A rejeição a jesus foi o clímax. |
At.7:28 | 28. Acaso, queres [...]? Comparar com Êx 2:14. |
At.7:29 | 29. A estas palavras Moisés fugiu.A rápida síntese de Estêvão não menciona que o faraó ficou sabendo do ocorrido e estava à procura de Moisés. Josefo (.Antiguidades, 11.11.1 [254-256]) atribui a fuga de Moisés à suspeita dos egípcios, os quais temiam que ele liderasse uma revolta.Tornou-se peregrino. Isto é, um estrangeiro.Midiã. Em gr. Madiam, do heb. Midyan (ver com. de Ex 2:15, 16).Nasceram dois filhos. Gérson e Eliézer. A mãe era Zípora, filha de jetro (ver com. de Êx 4:20; 18:2-4). |
At.7:30 | 30. Quarenta anos. Somando aos 40 anos mencionados no v. 23, Moisés estaria com 80 anos de idade quando foi chamado para libertar Israel (ver com. de Ex 7:7).Monte Sinai. Muitas vezes chamado também de “Horebe” (ver com. de Ex 3:1).Um anjo. A referência de Estêvão à experiência de Moisés na sarça ardente era uma resposta indireta à acusação de que ele falava contra o patriarca, pois aqui lhe atribui honra total de alguém que tivera uma experiência pessoal com Deus (sobre o anjo como o Senhor, ver com. de Êx 3:2).As chamas. Ver com. de Ex 3:2.Sarça. Do gr. batos, “espinbeiro” ou uma “espécie de morácea”. Não é possível identificar esta planta com precisão. |
At.7:31 | 31. Observar. Comparar com Ex 3:3.Voz do Senhor. Ver com. de Êx 3:2. |
At.7:32 | 32. Deus de Abraão. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão de “Deus de” antes dos nomes 1 saque e Jacó. Se, conforme defende a tradição, Estêvão fez parte dos setenta (ver com. de At 6:5), sem dúvida, ele ouvira estas palavras serem citadas pelo Senhor como testemunha contra a descrença dos saduceus a respeito da ressurreição (iVlt 22:32). Se algum desses saduceus estivesse no Sinédrio, ele se lembraria da citação quando Estêvão a mencionou. As palavras majestosas levariam à mente delesa promessa da ressurreição e sua demonstração quando Jesus ressuscitou dos mortos. |
At.7:33 | 33. Tira a sandália. Em Êxodo 3, esta ordem vem antes de Deus se identificar a Moisés, que nem precisaria dessa instrução quando reconheceu a presença divina. Ao falar desta experiência, Estêvão enfatizou seu respeito verdadeiro pelos lugares sagrados, demonstrando que a presença do Senhor não se limitava à área do templo de Jerusalém (ver com. de Êx 3:5). |
At.7:34 | 34. Vi. A repetição desta palavra reflete, no grego, uma construção hebraica de ênfase, que é traduzida por ''certamente, vi” (em Ex 3:7). Este versículo é uma citação abreviada e composta de Êxodo 3:7, 8 e 10.En te enviarei. Estêvão pode ter usado este versículo para sugerir aos leitores que Cristo, assim como Moisés, fora enviado em resposta a orações a fim de trazer alívio à aflição e livrar Seu povo (ver com. do v. 35). |
At.7:35 | 35. Este Moisés. O vocabulário desta passagem tem o objetivo de enfatizar que Moisés foi a pessoa honrada com a manifestação do Senhor.A quem negaram. Novamente ele enfatiza a rejeição a Moisés pelo povo hebreu, embora sua condição de mensageiro de Deus fosse tão bem comprovada. Estêvão sugeria que seus ouvintes agiram de maneira semelhante ao rejeitar Jesus Cristo.Libertador. Do gr. hitrõtês, ‘‘libertador”, ‘‘redentor”. Esta palavra não é encontrada em outra passagem do NT, mas ocorre na LXX como tradução do heb. goel (ver com. de SI 9:14; cf. com. de Rt 2:20). Portanto, embora tenha o sentido básico de "libertador”, no uso bíblico tem a idéia hebraica de parente res- gatador. Moisés libertou e, portanto, redimiu o povo do Egito, mas Cristo liberta e redime Seu povo do pecado e da morte.Com a assistência do anjo. Literalmente, ‘‘com a mão de um anjo”. A preposição "com” destaca que a obra de Moisés era feita em cooperação com os poderescelestiais (sobre o anjo, ver com. de Êx 3:2; cf. com de At 7:30). |
At.7:36 | 36. Este os tirou. Moisés foi capaz de fazer isto, pois tinha o poder de Deus consigo (ver com. de Êx 3:12).Prodígios e sinais. Ver com. de At 2:19, 22; 6:8; cf. vol. 5, p. 204.Mar Vermelho. Este é o nome dado pelos gregos ao mar que os hebreus chamavam de mar dos Juncos (ver com. de Ex 10:19). Não se sabe ao certo qual foi o motivo para a escolha dos dois nomes.Quarenta anos. Ver Nm 14:33; Dt 29:5. |
At.7:37 | 37. Um profeta. Estêvão, assim como Pedro (ver com. de At 3:22), se refere à profecia de Deuteronômio 18:15 a 18. Assim como Pedro, ele entende que ela se cumpriu em Jesus. Ele pretendia confrontar o Sinédrio com este Profeta na pessoa de Jesus, a quem eles crucificaram.A ele ouvireis (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. Contudo, elas são mantidas na citação da mesma passagem em Atos 3:22. |
At.7:38 | 38. É este. A referência continua ser a Moisés.Na congregação. Do gr. ekklêsia, "assembléia” ou "congregação” (ver com. de Mt 18:17).No deserto. Estêvão tinha em mente a assembléia da nação hebraica no monte Sinai antes da entrega da lei (Êx 19),Com o anjo. Como no v. 35, o anjo é o próprio Senhor; no v. 31, a voz que fala é chamada de “voz do Senhor”.O qual recebeu. Isto é, Moisés.Palavras vivas. Do gr. logia zõnta, “oráculos vivos”. Logia é o diminutivo de logos, "palavra”. Na LXX, ela é usada para se referir às palavras de Deus (Nm 24:4, 16) e em Filo (ver vol. 5, p. 80), para falar do decálogo. Na ARA, logia é traduzida por “oráculos” (cf. Rm 3:2; Hb 5:12; 1 Pe 4:11). Neste versículo, a referência é à lei recebida por Moisés e transmitida às gerações seguintes. Esses oráculossão vivos, ou seja, cheios de vida, no sentido de que permanecem e duram de geração em geração (cf. Hb 4:12; lPe 1:23). |
At.7:39 | 39. Não quiseram obedecer. Literalmente, “não estavam dispostos a se tornar obedientes”. Essa rebelião dos filhos de Israel começou um mês depois do livramento no Mar Vermelho e antes de chegarem ao Sinai (Ex 1.6:2, 3). Enquanto Moisés estava no monte, o descontentamento do povo o levou à apostasia (Ex 32:1), conforme Estêvão resume nos versículos seguintes. Infere-se que ele apresenta um paralelo entre a atitude dos israelitas em relação a Aloisés e a atitude dos judeus no que diz respeito a Cristo. O povo das duas eras foi desobediente ao Redentor (sobre a obediência, ver com. de At 5:32).No seu coração. Eles não voltaram literalmente, mas ansiavam pelas supostas coisas boas que desfrutavam na terra do cativeiro (ver com. de Ex 16:13; cf. com. de Nm 1L4-6). Por isso, a mulher de Ló olhou para trás, em direção a Sodoma, e morreu (Gn 19:26). O Senhor condena aquele que, tendo colocado a mão no arado, olha para trás (Lc 9:62).Voltaram. Ou, simplesmente, “se viraram”. A referência imediata das palavras de Estêvão é às experiências registradas em Êxodo 16:2 e 3; e 32:1 a 6, mas houve muitas outras (Êx 17:1-3; Nm 11:1-5; 14:1-4). |
At.7:40 | 40. Faze-nos deuses. Ver com. de Ex 32:1. Estêvão mostra como a falta de fé na liderança de Moisés levou os israelitas a uma das piores formas de pecado: a idolatria. |
At.7:41 | 41. Fizeram um bezerro. Ver com. de Êx 32:4, 5. É provável que os hebreus tivessem visto os egípcios adorando ao boi Mnévis, em Heliópolis, ou ao boi Ápis, em Mênfis, e tenham desejado uma imagem animal parecida para representar o grande Deus do universo.ídolo. Os hebreus afirmaram que o bezerro de ouro era um deus (ver Êx 32:4),mas Estêvão o chama corretamente de “ídolo”.Alegrando-se. Ou, “estavam se alegrando”, isto é, continuaram a adorar ídolos e realizar as orgias que acompanhavam esse culto. O verbo expressa a alegria de uma festa, como em Lucas 15:23, 24 e 29 (ver com. de Êx 32:5, 6). Moisés ouviu não os clamores de conflito, mas “alarido dos que cantam” (Êx 32:18).Obras das suas mãos. A adoração de urna imagem é pior do que a negação de Deus, pois consiste na substituição de Deus. O idólatra dá as costas ao Criador e se prostra diante daquilo que ele mesmo cria (ver Os 6:6). |
At.7:42 | 42. Mas Deus Se afastou. Israel havia se afastado de Moisés, o representante de Deus e então o Senhor Se afastou do povo (cf. Js 24:20). As pessoas iicam temerosas quando Deus desiste delas (ver com. de Os 4:17; 5:6). É esta condição pavorosa que Paulo descreve em Romanos 1:24, 26 e 28.Ao culto. Do gr. latreuõ, “servir por contrato” e, por extensão, “prestar culto religioso” ou “adorar”.Milícia celestial. Ver com. de Dt 4:19; Sf 1:5. Israel recebeu a advertência de que essa forma de adoração é uma espécie de idolatria (Dt 4:19; 17:2). Mas tanto historiadores (2Rs 17:16; 23:5; 2Cr 33:3, 5) quanto profetas (Jr 8:2; 19:3; Sf 1:5) registram que a admoestação não era ouvida. O culto aos corpos celestes é conhecido como sabeismo.Livro dos Profetas. Isto é, os profetas do AT (ver com. Lc 24:44). De modo geral, os judeus consideravam os escritos dos doze profetas menores um só livro. Estêvão, segundo esse costume, não identifica o autor da citação.Oferecestes. Ou, com a ênfase da ordem das palavras no grego: “Vós oferecestes para Mim animais de holocausto e sacrifícios por quarenta anos no deserto, ó casa de Israel?” A citação é extraída, compequenas variações, da LXX de Amós 5:25 e 26. Levando em conta o fato histórico, a resposta à pergunta é afirmativa, pois eram oferecidos sacrifícios a Deus durante a peregrinação pelo deserto. Mas, espiritualmente, a resposta é negativa, pois muitos do povo, embora oferecessem os sacrifícios, também adoravam falsos deuses, e o Senhor rejeitou essa adoração dividida. |
At.7:43 | 43. Levantastes. Este versículo é uma citação, com poucas variações, de Amós 5:26 em sua versão na LXX, a qual, naquele tempo, era bem diferente do texto hebraico massorético. A passagem conecta a adoração inaceitável de Israel a sua devoção aos ídolos. Em sua peregrinação, os israelitas deveriam ter levantado apenas o taberná- culo do Senhor, mas, com frequência, também levantaram tabernáculos ou tendas com imagens pagãs.Moloque. A forma grega do nome do deus também chamado de Moleque, Milcom ou Malcã (ver com. de Lv 18:21; 20:2; Jr 7:31). iNesses textos, a adoração a Aloloque é severamente proibida. Alas a proibição de nada adiantava (ver 2Rs 16:2, 3; 23:10; jr 7:31; 32:35; Ez 23:37).Renfã. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre as variantes Renfã, Renfam, Renfa, Ronfa, Raifã e Refã. A LXX de Amós 5:26, da qual o versículo é extraído, traz Raifã, que parece ser o equivalente ao heb. Kyum ou Kiyyun (Quium, na ARA). Muitos eruditos supõem que este seja um termo hebraico para o planeta Saturno. Raifã seria o nome copta ou egípcio do planeta. Alas não se conhece nenhuma palavra egípcia semelhante ao grego. No entanto, Amós, o profeta citado por Estêvão, é claro ao condenar a adoração aos astros. Portanto, o mártir tem total justificativa para condenar os judeus antigos e chamá-los de idólatras.Além da Babilônia. Em Amós 5:26, texto que dá origem à citação deste versículo, tanto o hebraico quanto a LXXtrazem “Damasco”. Até o tempo de Amós, a Síria, representada por Damasco, foi um sério inimigo de Israel e Judá. O cativeiro babilônico ainda não tinha ocorrido, mas, ao olhar para trás, Estêvão percebe que a Babilônia se destacava como o arqui-inimigo dos judeus. Sem dúvida, por esse motivo, ele é inspirado a dizer “Babilônia” em lugar de “Damasco”. Nos v. 37 a 43, o mártir menciona a apostasia dos hebreus, que se afastaram de Deus ao rejeitarem Moisés. Nos dias de Estêvão, o mesmo aconteceu por meio da rejeição de Jesus. |
At.7:44 | 44. Tabernáculo do Testemunho. Vercom. de Êx 25:8; Nm 9:15.Determinara. A frase diz, literal mente, “mesmo ao determinar quem falou a Xíoisés” (ver com. de Êx 25:8, 9).Modelo. Ou, “padrão” (ver Hb 8:5; ver com. de Ex 25:9). O raciocínio de Estêvão subentende que o santuário celestial é uma instituição importante e central, enfatizando a natureza temporária do tabernáculo como ponto focal da adoração a Deus. |
At.7:45 | 45. Josué. Do gr. lêsous, equivalente ao heb. Yehoshud (ver com. de Alt 1:1). A referência nesta passagem é a Josué, que levou os israelitas e o tabernáculo a Canaã.Tendo-o recebido. Do gr. diadecho- mai, “receber de volta”, isto é, eles herdaram o tabernáculo de seus pais. Foi a geração seguinte à do êxodo que levou o tabernáculo a Canaã, pois todos que saíram do Egito, com exceção de Calebe e Josué, morreram no deserto.Tomaram posse. Literalmente, “na tomada de posse”.Nações. Isto é, “nações” ou “pagão”, com referência específica aos cananeus.Que Deus expulsou. Ver com. de Dt 9:3; SI 44:2.Dias de Davi. Esta expressão pode ter duas aplicações: (1) a população cananeia nativa da Palestina só foi total mente conquistada nos dias de Davi; (2) o tabernáculo foi oponto central da adoração israelita até o reinado de Davi, incluindo esse período. Depois disso, o templo tomou o lugar do tabernáculo. |
At.7:46 | 46. Achou graça. Davi, favorecido por Deus, desejava construir o templo, mas o Senhor não lhe permitiu (ver com. de 2Sm 7:1-17; iCr 22:6-10).Prover morada. Estas palavras, que parecem incomuns neste contexto, são retiradas da LXX do Salmo 132:5. A palavra gr. skênõma é mais bem traduzida por “habitação”, uma vez que o tabernáculo (skênê) existia desde os dias de Moisés, e Davi desejava construir um templo permanente.Deus de Jacó. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre as variantes “Deus de Jacó’’ e “casa de Jacó”, mas o contexto favorece a tradução proposta pela ARA. A LXX do Salmo 132:5, texto do qual as palavras são extraídas, traz “Deus de Jacó”. |
At.7:47 | 47. Salomão [...] edificou. Ver com. de lRs 6:1. |
At.7:48 | 48. Entretanto. A palavra aponta para o contraste entre os versículos anteriores, que falam do tabernáculo e do templo como os lugares de encontro entre Deus e os seres humanos, e os v. 48 e 49, que enfatizam que o Senhor não habita em construções feitas por homens.Não habita. A frase pode ser traduzida: “não habita em coisas feitas por mãos” (ver com. de Hb 9:11, 24), pois não existe a palavra “casas” no original. Os judeus não deveríam precisar deste lembrete da onipresença de Deus, pois foram bem instruídos sobre este aspecto da natureza divina (ver com. de lRs 8:27; SI 139:7-13). Mas eles haviam se concentrado tanto na verdade de que o Senhor prometera agraciar o templo com Sua presença que passaram a confiná-Lo ao local. Pior ainda, começaram a ter mais reverência pela construção do que por Aquele para quem o prédio fora erigido. Ao fazê-lo, demonstraram estar inaptos para reconhecer e aceitar Deus “manifestado na carne”(lTm 3:16) quando Ele Se fez carne e habitou em meio à humanidade.Paulo, que ouviu a defesa de Estêvão, usou um argumento parecido ao se dirigir aos filósofos de Atenas (At 17:24, 25).O Altíssimo. Sobre este título de Deus, ver Gn 14:18.Diz o profeta. A citação vem de Ísaías, o profeta do evangelho (Is 66:12), que viu Deus em Seu templo celestial (Is 6:1-7). |
At.7:49 | 49. O céu é o Meu trono. Sobre os v. 49 e 50, ver com. de Is 66:1, 2. Estêvão cita a LXX quase que palavra por palavra. ísaías afirma que o Altíssimo não pode se confinar a limitações humanas, mas habita com aquele que é “aflito e abatido de espírito”. Estas palavras eram uma repreensão aos judeus que as ouviram. Com uma adoração focada no templo terreno, eles estavam longe de ser aflitos e abatidos de espírito. O apelo velado de Estêvão era para que aceitassem o Ser Divino que andara entre eles com tanta humildade e lhes demonstrara o caráter amoroso do Pai celestial. Muitos dos sacerdotes já haviam aceitado o evangelho (ver At 6:7), e outros o fariam. Os conversos do antigo sistema cerimonial estavam construindo um templo espiritual no coração das pessoas. |
At.7:50 | Sem comentário para este versículo |
At.7:51 | 51. Homens de dura cerviz. Sem dúvida, a mudança súbita no discurso de Estêvão se deveu à agitação crescente do Sinédrio e ao ressentimento que suas palavras despertaram (cf. AA, 100; Mt 26:65). Ao que tudo indica, ele percebeu que seu fim estava próximo e que nada mais que ele dissesse mudaria a questão. Então irrompeu em repreensão severa. Os adjetivos que usou já haviam sido empregados para se referir aos pecados do antigo Israel: “dura cerviz” (Ex 33:3, 5; 34:9) e “coração incircunciso” (Lv 26:41). A “dura cerviz” se aplica a bois rebeldes (ver com. de Ex 32:8). A expressão “incircuncisos de coração” fora usada por Ezequiel (Ez 44:7) para se referir aos “estrangeiros’. Ao dizer que a veneraçãoque prestavam ao templo era excessiva e fútil, Estêvão lhes colocou junto aos gentios. Não haver ia insulto pior para aqueles judeus furiosos.Sempre resistis ao Espírito Santo.Um resumo histórico acertado, pois desde os dias de Moisés, a quem seus antepassados haviam desobedecido, até a época de Jesus Cristo, a quem crucificaram, os israelitas resistiram ao Espírito Santo. A palavra grega para resistir (antipi-ptõ) sugere oposição ativa e obstinada. |
At.7:52 | 52. Qual dos profetas [...]? Este é um eco das palavras do próprio Cristo (Mt 5:12; Lc 11:47; 13:34; sobre a perseguição aos profetas, ver com. de Mt 5:12; 23:37; cf. lTs 2:15; ver com. de 2Cr 36:16).Justo. Este título elevado é usado para se referir ao Senhor (At 3:14; 22:14). O nome já fora aplicado, na literatura judaica, para menção ao aguardado Messias (Enoque 38:2) e pode ter sido sugerido por Isaías 11:4 e 5. A esposa de Pilatos usou a expressão para se referir a Jesus (Mt 27:19). A igreja apostólica parece tê-la aceitado e uma aplicação dela está em 1 João 2:1, em que Jesus é “o justo”. Por ter recebido essa mesma justiça, Estêvão estava em contraste com os que desejavam executá-lo.Traidores e assassinos. Ao ler no rosto de seus acusadores o destino que logo lhe sobreviría, Estêvão os lembrou de suas ações passadas contra Cristo. |
At.7:53 | 53. Vós que recebestes. Forma de expressão enfática.Por ministério de anjos. Ou, “como ordenanças de anjos”. Foi Cristo, o Filho de Deus, quem entregou a lei no monte Sinai (ver com. de Ex 20:2). Ele também era o Anjo da aliança (ver com. de Ex 23:20). Mas uma hoste angelical estava com o Senhor no monte Sinai (ver com. de Dt 33:2; SI 68:17; G1 3:19; Fíb 2:2). A LXX de Deuteronômio 33:2 diz: “à Sua destra havia anjos com Ele” e josefo (Antiguidades, xv.5.3) expõe a mesma ideia.Não a guardastes. Estas palavras são proferidas em contraste com a expressão "recebestes a lei”, e devem ter sido um golpe a quem as ouviu. Eles não guardavam a letra da lei nem sua intenção. A lei, entregue por intermédio de anjos, poderia ter sido a glória deles; mas a perversão dela gerou vergonha e destruição. |
At.7:54 | 54. Ouvindo eles isto. Ou, 'enquanto eles estavam ouvindo”.Enfureciam-se no seu coração. Vercom. de At 5:33. A palavra grega descreve uma dor mais aguda do que a transmitida por “compungiu-se-lhes o coração” (At 2:37); e, nesta ocasião, em vez de produzir arrependimento, despertou ira.Rilhavam os dentes. Esta expressão, num sentido figurado, não é incomum (Mt 8:12; 13:42). Aqui, porém, trata-se de uma manifestação literal de ira. Os judeus deixaram sua raiva sem controle. Sem palavras, devido à fúria, eles queriam atacá-lo como animais selvagens que despedaçam a presa com os dentes. |
At.7:55 | 55. Mas Estêvão. Em contraste com seus oponentes enraivecidos.Cheio. Sugerindo não uma inspiração súbita, mas, sim, uma experiência contínua. Do início (At 6:5) ao fim, Estêvão estava “cheio do Espírito Santo”.Fitou. Ver com. de At 1:10.No céu. Estêvão viu “os céus abertos” (At 7:56; ver com. de ís 6:1). Nenhum dos observadores viu aquela glória do Céu, e a declaração de Estêvão parecia agravar sua culpa. Alas somente os profetas seriam capazes de dizer se o que viram foi com a percepção espiritual ou por meio da visão física (cf. Alt 3:16; 2Co 12:1-6).Viu a glória de Deus. Comparar com Gn 3:24; Êx 13:21; Jo 1:14; At 7:2. O discurso de Estêvão começa com a referência à ‘glória de Deus” e termina com urna visão da glória divina brilhando sobre sua mente. Com expressão extasiada, ele deveter fitado essa glória. Esqueceu o perigo mortal do momento e se entregou por completo à visão celestial.Jesus. Muitas vezes, Jesus é descrito assentado à direta (ou destra) de Deus.A Sua direita. Ver com. de Mt 26:64. Esta visão do Pai e do Filho deu forças a Seu fiel servo sofredor. |
At.7:56 | 56. Filho do Homem. Fora dos evangelhos, no NT, a expressão só ocorre aqui e em Apocalipse 1:13 e 14:14. Estêvão pode tê-la ouvido dos próprios lábios de Jesus, ou a aprendido na igreja apostólica, uma vez que seu discurso foi feito antes da escrita dos evangelhos. Provavelmente os membros do Sinédrio se lembravam do próprio Cristo usando as palavras em Seu julgamento diante deles (Mt 26:64; sobre este título, ver com. de Mc 2:10; cf. vol. 5, p. 1013). |
At.7:57 | 57. Eles, porém, clamando. Era uma tentativa de silenciar Estêvão, em vez de ouvi-lo e serem convencidos pela glória de Deus.Unânimes. Do gr. sunechõ, ‘comprimir'’, “segurar juntos”. Eles consideraram blasfemas as palavras de Estêvão e não desejavam ouvi-lo mais. Assim, provaram que mereciam a descrição do v. 51, Eles eram os blasfema- dores, não Estêvão.Arremeteram contra ele. Ou, “correram sobre ele de uma só vez”. Satanás dera ao Sinédrio o tipo de união exigido pela lei (Dt 13:9, 10) para a execução de um indivíduo. Não houve espera pelo veredito oficial; eles lorarn unânimes no desejo e na decisão (sobre os aspectos judiciais desse tipo de procedimento sumário, ver Mt 26:59). |
At.7:58 | 58. Lançando-o fora. De acordo com Levítico 24:14, a pessoa que sofreria o apedreja mento deveria ser levada para fora do arraial. No tempo de Estêvão, isto significava para fora dos muros de Jerusalém.E [...] o apedrejaram. Literalmente, “o estavam apedrejando”, como se a execução continuasse à medida que o mártirorava (v. 59, 60). O apedrejamento era a pena para a blasfêmia segundo a lei mosaica (Lv 24:14-16; ver com. de Jo 8:7). Todavia, por mais que o Sinédrio estivesse seguindo de perto essa lei, eles não tinham direito de tirar a vida de alguém sob o domínio romano, sobretudo se Estêvão fosse cidadão romano (ver com. de At 6:5). Mas era possível subornar os oficiais romanos para que permanecessem em silêncio (AA, 98, 101). Pode ser que Pilatos, que ainda era o procurador (ver vol. 5, p. 55), estivesse fora da cidade na ocasião, mas dificilmente interferiría no ataque a Estêvão depois de sua experiência humilhante no julgamento de Jesus.Deixaram suas vestes. A lei exigia que o acusador fosse o primeiro a atirar as pedras mortais (Dt 17:7; cf. com. de Jo 8:7). As capas largas e fluidas, usadas por cima das outras vestes, impediríam o livre movimento dos braços dos executores e, por isso, foram postas de lado (cf. At 22:20).Jovem. Do gr. neanias, termo abrangente, usado para pessoas de 20 a 40 anos de idade. Portanto, não ajuda a determinar a cronologia da vida de Paulo (ver com. de Fm 9; sobre uma possível data para o martírio de Estêvão, ver p. 86, 87).Saulo. Sobre o significado deste nome, ver com. de ISm 9:2; sobre a história anterior de Paulo, sua presença no martírio de Estêvão e a mudança posterior de seu nome para Paulo, ver Nota Adicional 2 a Atos 7. |
At.7:59 | 59. E apedrejavam. Ou, “à medida que estavam apedrejando”. Estêvão orava enquanto era apedrejado.Invocava. A oração mostra Estêvão invocando ao Senhor Jesus, a quem ele acabara de ver em pé, à direita de Deus (v. 56).Recebe o meu espírito. Ver com. de Mt 27:50; Lc 8:55; At 7:60. Lucas também registra uma oração semelhante de Jesus no momento da morte (Lc 23:46). |
At.7:60 | "60. Ajoeíhando-se. Em oração e adoração Àquele que ele vira à destra de Deus,embora, sem dúvida, tenha sido forçado a ficar de joelhos pelos golpes das pedras.Não lhes imputes este pecado!Estêvão não podia fazer muito pelos pecados anteriores daqueles que o perseguiram, mas podia pedir perdão pela transgressão presente. Ao rogar por eles, revelou que adquirira por completo o espírito de perdão que havia caracterizado seu Mestre (cf. Lc 23:34).Adormeceu. Ver com. de Mc 5:39; Jo 11:11. Ao longo de sua defesa, a conduta deEstêvão estava em contraste com a de seus acusadores. Eles estavam cheios de fúria, mas Estêvão manteve a mesma calma que Cristo demonstrou na sala de julgamento. Ao encerrar o relato do ministério do mártir, Lucas preserva a atmosfera santa em sua palavra linal: “adormeceu”. A batalha terminou e a vitória foi conquistada. O fiel guerreiro de Deus deixa o tumulto e adormece tranquilamente até o dia da ressurreição. Os capítulos seguintes revelam que sua morte não foi em vão.O discurso de Estêvão apresenta algumas dificuldades de propósito, do assunto que apresenta e de questões factuais. Ao abordar esses problemas, é necessário ter em mente alguns pontos:(1) O discurso é relatado não como Lucas compreendeu e interpretou 30 anos depois, ao escrever Atos, mas provavelmente conforme lhe foi contado por um ou mais ouvintes, como Saulo (Paulo) ou um dos sacerdotes convertidos (At 6:7). Além disso, Deus pode ter dado a Lucas o conhecimento direto do sermão.(2) O discurso não foi concluído, pois os ouvintes arremeteram enfurecidos contra Estêvão, arrastaram-no para fora da cidade e o apedrejaram até a morte.(3) O discurso de Estêvão foi de natureza histórica, assim como os de Pedro antes dele (At 2; 3) e os de Paulo posteriormente (At 13; 22; 26); e, por isso, registra pouco de seu pensamento teológico. A teologia de Estêvão, conforme se desenvolvera até a ocasião, deve ser compreendida dentro dos desdobramentos da história que ele traçou e por meio das acusações de seus inimigos.(4) Sem dúvida, seu discurso foi uma continuação da mensagem evangelística proferida pelos sete depois de serem ordenados (At 6:7-10) e da apresentação do evangelho que Estêvão vinha fazendo nas sinagogas dos helenistas (ver com. do v. 9). Portanto, sua defesa dava como certos muitos elementos que ajudariam hoje na análise e avaliação da mesma; assim, ele não sentiu necessidade de explicá-los.(5) Algumas das dificuldades históricas e exegéticas que o discurso parece apresentar são: o problema de Abraão só sair de Harã depois da morte de Tera (At 7:4); as 75 pessoas que totalizariam o clã de hebreus com josé no Egito (v. 14); a terra que ele diz que Abraão comprou em Siquém (v. 16); o enterro de Jacó nesse local (v, 15, 16); a citação extraída de A mós 5:26 e 27, na qual Estêvão diz “Babilônia” em lugar de “Damasco”; e o nome das divindades pagãs mencionadas (At 7:43). Elas podem ser atribuídas, parcial ou total mente, a nossa falta de informações que eram do conhecimento de Estêvão.Três objetivos relativamente óbvios podem ser inferidos do discurso de Estêvão:1. Conseguir a aprovação ou diminuir a desaprovação ao mostrar ao Sinédrio que ele tinha familiaridade com a história dos hebreus e fornecer bases para sua ortodoxia.
2. Demonstrar historicamente como Deus havia procurado orientar os hebreus e como eles foram insistentes em rejeitar a liderança divina por meio de Moisés, dos profetas e do esperado Messias.
3. Mostrar a natureza e o sentido da adoração que Deus ordenara aos patriarcas e ao povo escolhido e sua relação, conforme deveria ser reconhecida, com a obra recém-iniciada por Cristo à destra de Deus. Este objetivo pode ser considerado o mais importante, embora ele seja apresentado com menos clareza. E importante observar quatro fatos em relação a isso:a. Quando os diáconos, dos quais Estêvão fazia parte e se destacou como o evangelista principal, começaram seu ministério público, observou-se pela primeira vez que “muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6:7). Este resultado deve ter surgido por causa de uma ênfase particular na apresentação do evangelho por Estêvão e pelos outros diáconos.b. A séria acusação feita contra Estêvão, de que seu ensino era contrário ao “lugar santo”, isto é, ao templo, à “lei” e aos “costumes” (At 6:13, 14).c. Estêvão destaca o chamado de Abraão e o cuidado providencial de Deus a jacó e a seus descendentes (At 7:2-17); a libertação dos hebreus do Egito sob a liderança de Moisés (v. 18-36); o testemunho de Moisés de que viria um profeta futuro para a assembléia no deserto (v. 37, 38); a falsa adoração e os sacrifícios não consagrados dos hebreus (v. 39-43); o tabernáculo do deserto, construído segundo o modelo mostrado a Moisés (v. 44, 45); o templo de Salomão (v. 46, 47) e o fato de Deus não ter necessidade de templos feitos por mãos humanas (v. 48-50). A ênfase na adoração sugere que Estêvão se encaminhava para o tema do ministério de Cristo no Céu.d. O sermão de Estêvão se relaciona com a profecia das 70 semanas (Dn 9:24-27), que começou em 457 a.C. Na última semana, o Messias seria morto e já não estaria. Com isso, o sistema de sacrifícios terreno típico chegaria ao fim como meio eficaz de interces- são, resultando no encerramento do sacerdócio terreno. Este Comentário aceita o ponto de vista de que a crucifixão ocorreu em 31 d.C. (ver vol. 5, p. 249-264), “na metade da semana”. Portanto, a última das 70 semanas proféticas deveria terminar em 34 d.C. Logo, o ministério de Estêvão pode ser visto como um símbolo dramático do apelo de Deus a Seu povo escolhido durante a última semana profética, antes que o evangelho fosse levado aos gentios. Consequentemente, parece razoável datar o martírio de Estêvão em 34 d.C., pois sua morte pode ser considerada o ato final de rejeição do evangelho pelos judeus como nação.Quando o discurso de Estêvão é interpretado nesse contexto, passa a ser considerado um episódio dramático e vital num período crítico da história da igreja primitiva.O jovem Saulo, apresentado em Atos 7:58, desempenha um papel tão importante no cenário do NT que desperta atenção detalhada desde a primeira menção a seu nome. Detalhes biográficos diretos são escassos, mas as referências indiretas permitem uma reconstrução parcial do início de sua vida.Além da menção passageira a sua mãe (Cl 1:15, ABC) e das referências gerais a seus antepassados hebreus (At 24:14; G1 1:14; 2Tm 1:3), as Escrituras não dão pistas quanto ao parentesco de Saulo. Sabe-se que ele não foi filho único, pois Atos 23:16 apresenta “o filho da irmã de Paulo”. E possível que sua família o tenha considerado apóstata quando se tornou cristão e se afastado dele, cortando todos os laços (ver Fp 3:8). A menção a eles poderia ser dolorosa para o apóstolo, embora Romanos 16:7 possa ser compreendido com o sentido de que alguns de seus parentes eram cristãos.Uma tradição do 2o século, registrada pela primeira vez por Jerônimo, afirma que os pais de Saulo viviam originalmente em Giscala, na Galileia. Por volta do ano 4 a.C., eles teriam sido capturados e levados como escravos para Tarso, a principal cidade da Cilícia, na Ásia Menor, onde conquistaram a liberdade, prosperaram e se tornaram cidadãos romanos. Mais tarde, tiveram um filho ali, Saulo.A vida de Saulo começou em Tarso (At 22:3), onde foi circuncidado no oitavo dia (Fp 3:5) e, segundo o costume, recebeu um nome (ver com. de Lc 1:59). Como era da tribo de Benjamim (Rm 11:1; Fp 3:5), pode ter recebido o nome em homenagem ao primeiro rei de Israel, que vinha da mesma casa.Desde o nascimento, ele possuía alguns privilégios invejáveis. Era cidadão romano (At 22:28). No primeiro século d.C., a cidadania romana era um tesouro bem guardado, e é provável que a família de Saulo tivesse certa distinção e riqueza acima da média. O detentor dessa cidadania tinha todos os motivos para se sentir orgulhoso e, naturalmente, teria uma inclinação favorável ao governo de Roma imperial. Além disso, Saulo demonstrava lealdade a sua distinta cidade. Era um cidadão de Tarso (At 21:39). Isso quer dizer que não era mero residente, mas possuía direitos de cidadão. E provável que desfrutasse dessa condição por causa dos serviços prestados por sua família à cidade.No entanto, acima desses privilégios sociais, Paulo valorizava sua herança racial e religiosa. Ele se gloriava na descrição “hebreu de hebreus” (Fp 3:5; cf. 2Co 11:22) e era zeloso de suas tradições ancestrais. Isso era totalmente compatível com seu orgulho pelas cidadanias romana e de Tarso, pois, até 70 d.C., quando Vespasiano aboliu os direitos legais dos judeus, estes tinham permissão para preservar sua nacionalidade distinta, mesmo dentro de um contexto romano pagão. À satisfação por sua herança religiosa, ele acrescentava o orgulho especial de ser fariseu. Ele era “fariseu conforme a seita mais severa da [...] rel igião” (At 26:5; cf. At 23:6; Fp 3:5). Alguns comentaristas sugerem que o farisaísmo foi herdado de seu pai, mas também é possível que ele tenha se tornado fariseu por causa do ensino recebido de Gamaliel (ver com. de At 5:34).Ainda jovem, provavelmente por volta dos 12 anos de idade, Paulo foi enviado para Jerusalém (At 26:4), onde foi educado pelo célebre Gamaliel í (At 22:3; ver com. de At 5:34). Ele foi instruído “segundo a exatidão da lei”, passando a ser “zeloso para com Deus” e “extremamente zeloso das tradições de [seus] pais” (At 22:3; 24:14; G1 1:14). Parece que se tornou um adepto mais fanático do farisaísmo do que seu mestre (ver com. de At 5:34). Assim se lançaram os alicerces para sua enérgica cruzada posterior contra os cristãos (At 8:1, 3; 22:4, 5; 26:9-12). Com essa história de vida e neste contexto, Saulo entra na narrativa do livro de Atos (At 7:58). Sendo um membro da facção mais rígida do judaísmo, ele conferiu o peso e o consentimento de sua presença à morte de Estêvão, que parecia um crítico do judaísmo. Sua presença ali sugere que ele continuava morando em Jerusalém. Portanto, conhecia muito bem o ministério e a morte de Cristo, bem como o testemunho apostólico que se seguiu, cada vez mais poderoso. Contudo, como ele só menciona seu encontro sobrenatural com Jesus na estrada de Damasco (At 22:7, 8; 26:14, 15; ICo 15:8), é improvável que ele O tenha conhecido pessoalmente. Paulo estava bem preparado para perseguir os cristãos, e não havia nada de anormal em sua participação na morte do primeiro mártir.Existe um debate considerável centrado na mudança de nome que ocorre no meio do livro. Atos 13:9 fala de “Saulo, também chamado Paulo”, ou, numa tradução alternativa, ""Saulo, ou então Paulo”. Por que um segundo nome depois de “Saulo” ser usado 18 vezesentre Atos 7:58 e 13:9? Desde os dias de Jerônimo, o nome recém-apresentado tem sido ligado ao de Sérgio Paulo, deputado (procônsul) de Chipre. Sugere-se que Saulo adotou o nome de Paulo nesta ocasião para homenagear a conversão do político à fé cristã. Tal explicação parece improvável, pois há fortes razões para concluir que Saulo tinha mais de um nome desde seus primeiros anos.Saulo nasceu em um mundo multilíngue. A população heterogênea falava um conjunto surpreendente de idiomas, mas cada grupo tinha a própria língua nativa. Sobreposta a todos os idiomas se encontravam o grego, a língua franca do mundo civilizado (ver vol. 5, p. 90), e o latim, a língua oficial do império romano. Como resultado, muitas pessoas falavam não só a língua nativa, mas também grego e latim. Por causa disso, vários indivíduos tinham mais de um nome, ou formas diferentes do mesmo nome, usadas segundo a língua ou a sociedade no qual se encontravam. Em outros casos, tinham nomes sem conexão linguística um com o outro, ou seja, que não eram traduções de uma língua para a outra.O caso de Paulo pode ter sido assim: na circuncisão, ele recebeu um nome judaico, Saulo. Mas, como vivia em uma comunidade gentílica, também era chamado pelo nome latino comum Paulus. É possível citar diversos exemplos de nomes duplos, como Beltessazar- Danieí, Ester-Eiadassa, João Marcos (cf. At 1:23; 13:1; Cl 4:11). Lucas demonstra conhecer os dois nomes do apóstolo: Saulo e Paulo. Antes de Atos 13:9, ele é retratado num ambiente hebraico e, por isso, usa seu nome hebraico, Saulo. Então, em Atos 13:9, Lucas o descreve face a face com um oficial romano, que naturalmente lhe faria perguntas como: “Qual é seu nome?”, “Onde fica sua casa?” A questionamentos como esses, um cidadão romano não respondería: “Saulo, fariseu de Jerusalém”, mas, sim, “Paulo, cidadão romano de Tarso”. Portanto, a revelação feita por Lucas do outro nome de seu personagem é oportuna; é verdadeira diante das circunstâncias e não carece de grandes explicações. A partir de então, o autor de Atos usa o nome gentílico, com exceção de três outras referências a “Sau lo"" (At 22:7, 13; 26:14), mostrando como Lucas registrou com precisão os discursos de Paulo. Tudo isso é hem apropriado, uma vez que o ministério de Paulo na segunda metade de Atos se volta para os não judeus. Logo, o nome Paulo está ligado a seu trabalho aos gentios. O próprio apóstolo dá o mais forte apoio a essa idéia ao usar apenas a forma “Paulo”' em suas epístolas (Rm 1:1; ICo 1:12; 2Co 10:1; G1 5:2; Cl 4:18; etc.).Outra interpretação merece ser levada em conta. A palavra latina paulus (cujo equ ivalente grego é pauros) significa “pequeno” ou “baixo” e é considerada uma descrição da estatura de Saulo. Esta ideia recebe algum apoio das obras apócrifas Atos de Paulo e Tecla, que datam de 160-180 d.C.; e, embora não seja totalmente confiável, pode refletir uma tradição genuína ligada à aparência pessoal do grande apóstolo. Uma passagem relevante diz: ""Um homem de estatura baixa, calvo, pernas arqueadas, de constituição forte, com as sobrancelhas unidas, nariz um pouco comprido, cheio de graça. Âs vezes, parecia homem e, às vezes, tinha a aparência de um anjo” (The Ante-Nicene Fathers, vol. 8, p. 487). Todavia, deve-se reconhecer que tal explicação envolve aceitar que o nome Paulo teria surgido posteriormente, uma vez que só podería ser dado depois que as características físicas se tornassem evidenciadas.Qualquer que seja a origem do nome alternativo de Saulo, tratava-se de um nome romano apropriado para o objetivo do apóstolo de levar o evangelho até a capital do império (ver com. de At 19:21; Rm 1:15). Além disso, quando Lucas aborda o principal assunto de seu livro, o ministério de Paulo aos gentios, faz uso consistente do nome romano do apóstolo (sobre a cronologia experimental da vida de Saulo, ver p. 85-90).San, 91Capítulo 8] I Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, lcvantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da judeia e Samaria.Samaria, insinuando ser ele grande vulto;" |
At.8:1 | 1. Saulo consentia. Muitos eruditos colocam esta primeira frase no final do cap. 7, encerrando o relato do martírio de Estêvão com o registro da atitude de Saulo a esse respeito. Ele estava de acordo com o ato, embora não tenha participado do apedreja- mento. Sem dúvida, o testemunho destemido de Estêvão teve mais influência sobre Saulodo que ele se deu conta. Isso resultou num conflito interior entre seu fanatismo farisaico e a suspeita de que a causa de Estêvão era correta. A consequência desse conflito foi o aumento da amargura contra os cristãos e perseguição intensificada (AA, 101, 102, 112, 113). Na época, ele foi recompensado pela participação no martírio, tornando-semembro do Sinédrio (AA, 102; ver com. de iCo 7:7). Numa ocasião posterior, Saulo confessou em contrição o papel que desempenhou na morte de Estêvão (ver At 22:20).Naquele dia. O apedrejamento de Estêvão marcou o início da perseguição organizada contra a igreja. Depois de não poupar esforços para matar o diácono, a liderança judaica concentrou sua raiva nos cristãos.Grande perseguição. Mais uma vez, a igreja foi perseguida pelas autoridades judaicas, como já havia acontecido em menor escala depois da cura do coxo (At 4:1-7) e após a morte de Ananias e Safira (At 5:17, 18). Esta perseguição foi diferente das anteriores, a ponto de ser chamada de “grande”, em extensão e gravidade (ver mapa, p. 211).O v. 3 e descrições posteriores de Paulo (cf. At 22:4; 26:10, 11) deixam claro que esta perseguição envolveu sofrimento e muitas prisões.A igreja. Isto é, a congregação que se desenvolvera na capital desde o Pentecostes (ver com. de Mt 18:17). Isso sugere que havia outras ramificações da igreja fora de Jerusalém, sugerindo um crescimento animador.Exceto os apóstolos. Três possíveis razões para a permanência dos apóstolos seriam: (1) Os doze haviam aprendido do Mestre que “o mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas” (Jo 10:13); assim, recusaram-se a desertar de suas responsabilidades. (2) Os doze desejavam permanecer em Jerusalém a despeito da perseguição, porque a cidade era considerada a sede dos cristãos, e os fugitivos buscariam orientação e ajuda vinda dali. (3) A perseguição devia se dirigir, dc maneira específ ica, àqueles que, assim como Estêvão, ensinavam a natureza transitória dos “costumes” (ver com. de At 6:14) tão prezados pelos fariseus. Ao que tudo indica, os apóstolos continuaram a adorar no templo, mantinham-se cerimonialmente puros (At 10:14) eeram reservados no que se refere à convivência com gentios (v. 28). As pessoas comuns provavelmente olhavam para eles com respeito. Portanto, a perseguição devia se dirigir mais aos discípulos helenistas. Com certeza, essa classe foi a mais ativa no grande passo seguinte de expansão da igreja.Não é possível tomar nenhuma decisão dogmática em favor de ura desses três motivos apresentados por comentaristas e historiadores.Dispersos. Do gr. diaspeirõ, “espalhar como grão”, “dispersar”. A raiva dos inimigos só conseguiu ajudar a igreja a cumprir aquilo que Cristo havia predito (At 1:8). A expressão “todos” não inclui necessariamente a totalidade dos membros (ver com. de At 1:1), mas só os mais temerosos, mais ativos ou aqueles a quem os perseguidores conheciam pessoalmente. No entanto, permaneceram alguns crentes na cidade, tanto homens quanto mulheres (ver At 8:3).Judeia e Samaria. Cidades e vilas como Hebrom, Gaza, Lida e Jope podem ter se transformado em locais de refúgio para os cristãos. A existência inicial de comunidades cristãs em alguns desses lugares (cf. At 9:32, 36) pode ser atribuída a esse influxo de cristãos e à pregação de Filipe (ver At 8:40). Alguns fugiram para Samaria por causa do ódio desse povo em relação aos judeus. Uma pessoa fugindo dos sacerdotes e governantes de Jerusalém seria bem recebida ali. A segunda região mencionada em Atos 1:8 começava a ser alcançada. Isto pode ter servido como um primeiro passo para vencer a antipatia aos samaritanos e, depois, com os gentios. |
At.8:2 | 2. Piedosos. Do gr. eulabês,"firmando-se bem” e, por extensão, “cauteloso ”, “piedoso” (ver com. de At 2:5). Ananias, que conduziu Paulo ao batismo, é caracterizado por este adjetivo (At 22:21). Uma vez que os simpatizantes do judaísmo eram descritos como “piedosos” (At 13:50; 17:4, 17), alguns concluemque esses homens eram prosélitos. Todavia, a palavra grega traduzida por “piedosos” nessas referências não é eulabês, mas sebome- nos. Já foi sugerido que os “piedosos” eram um grupo de pessoas que respeitavam o falecido Estêvão, sem defender toda a verdade que ele pregava, como Nicodemos e José de Arimateia fizeram com Cristo depois da crucifixâo. Este versículo é uma conclusão do cap. 7.Sepultaram. A palavra abrange toda a cerimônia de enterro.Grande pranto. Comparar com Cn 23:2; Jó 1:20; 2:12; Mc 5:38, 39. Foi necessária muita coragem para realizar os ritos funerais para Estêvão, pois este fora alvo da fúria do Sinédrio. Em geral, a pessoa morta por apedrejamento, por acusação de blasfêmia, não tinha sepultamento honroso (Mishnah Sanhedrin, 6.5, 6, ed. Soncino, Talmude, p. 305). O lamento público por parte dos "piedosos" pode ter sido uma forma de protesto contra os que causaram a morte de Estêvão. |
At.8:3 | 3. Porém. Este versículo dá continuidade à narrativa iniciada no v. 1.Assolava. Do gr. lumainõ, “assolar”, “devastar”, "arruinar”. A palavra é usada na LXX do Salmo 80:13 para se referir à devastação causada pelo javali da selva. O tempo verbal desta passagem pode sugerir perseguição contínua. Paulo declara que perseguia “este Caminho até à morte” (At 22:4; cf. At 26:10). Parecia haver, como ele confessou depois (At 26:11), uma ferocidade insana em sua violência.Igreja. Em Jerusalém (ver com. do v. 1; cf. At 26:10).Casas. Atos 26:11 sugere que Saulo entrava primeiro nas sinagogas em busca das vítimas e depois perseguia os cristãos de casa em casa. As casas também podiam ser locais de encontro dos cristãos.Arrastando. Isto é, arrastando-os até o tribunal.Homens e mulheres. O fato de haver mulheres entre os perseguidos sugere que elas desempenhavam um papel preeminente na igreja (ver com. de Lc 8:2, 3; Al 1:14). Ao longo da história da igreja, elas demonstraram firmeza diante da perseguição.Cárcere. A fim de aguardar a ação judicial. O número de cristãos perseguidos era grande demais para que todos fossem levados a julgamento imediato. |
At.8:4 | 4. Iam por toda parte. Do gr. diercho- tnai, “ir através”, a palavra preferida de Lucas para o trabalho missionário (ver Lc 9:6; At 8:40; 9:32; 11:19; 13:6). Nesse caso, a tentativa de eliminar a nova fé acabou proporcionando um escopo mais amplo de ação, como o Senhor desejava (At 1:8). Isso também forçou a igreja a expandir os limites que, de outro modo, ficariam confinados por um período mais longo. Nessa época, assim como mais tarde, o sangue dos mártires foi a semente da fé.Pregando. Do gr. euaggelizomai, termo que tem uma tradução bem literal: "evange- lizar”. A expressão provê uma representação visual da obra realizada pelos cristãos perseguidos: eles levavam o evangelho ou as boas- novas (ver com. de Mc 1:1) para os muitos lugares por onde se espalhavam.Palavra. Este termo deve ser compreen dido no sentido mais amplo, que se refere a todos os ensinos sobre Cristo. Boa parte deles vinha do AT, mas uma porção significativa da “palavra” ainda não estava escrita e dependia das mensagens orais dos evangelistas voluntários. |
At.8:5 | 5. Filipe. Não é possível que a referência seja ao apóstolo Filipe, pois o v. 1 deixa claro que os apóstolos permaneceram em Jerusalém. Portanto, deve se referir ao diá- cono (ver com. de At 6:5). Por sua proemi- nência no início da obra evangelística, ele passou a ser conhecido como Filipe, o evangelista (At 21:8).Cidade de Samaria. As opiniões se dividem quanto a ser esta a cidade Sebnstc(conhecida no passado como Samaria), a capital de Samaria, ou um local não identificado (ver com. do v. 9). A despeito da localização precisa, a semente já havia sido lançada em Samaria (ver com. de Jo 4:4- 42), e os campos estavam "maduros para a colheita’’ (Jo 4:35, NVI).Anunciava-lhes. Do gr. kêriissõ, palavra diferente da usada no v. 4 e que significa “proclamar [como um arauto]”, subentendendo uma pregação mais formal e deliberada que a dos cristãos não ordenados. O mesmo termo é usado para a pregação de João Batista e a de Cristo (Mt 3:1; 4:17). O tempo verbal indica que Filipe pregava continuamente.Cristo. Ou, o “Ungido”. João 4:25 sugere que a expectativa pela chegada do Messias era forte entre os samaritanos, assim como entre os judeus. Portanto, a obra de Filipe era proclamar que o tão aguardado Salvador viera ao mundo, que Jesus de Nazaré era o Cristo, o Filho de Deus. |
At.8:6 | 6. Multidões. Uma grande congregação.Atendiam. Do gr. prosechõ, “apegar-sea", “aplicar [a mente]”, portanto, “dar crédito a” (At 8:10, II; 16:14; lTm 1:4; 3:8; 4:1, 13; 2Pe 1:19). O texto dá a entender que as multidões aceitavam o novo ensino. A prontidão com que isso ocorria demonstra que, a despeito da influência negativa do mago Simão (At 8:9-11), que surgira depois que o Senhor ensinara ali, a obra de Jesus não fora em vão.Unânimes. Ver com. de At 1:14.Ouvindo-as. Isto é, as palavras de Filipe. Anteriormente, os samaritanos creram como resultado de ouvir a pregação de Cristo (Jo 4:39- 42), sem nenhum “sinal” (cf. Mt 12:38-42). Os milagres realizados nesta ocasião não eram a base da té, mas um fortalecimento da mesma. Os sinais eliminaram toda a dúvida a respeito do poder que operava em Filipe. Também se contrapunham a influência do mago Simão (At 8:9-11). |
At.8:7 | 7. Espíritos imundos. A opinião se divide quanto à melhor tradução da primeiraparte deste versículo. Pode ser: “Pois espíritos imundos, clamando com alta voz, saíam dos possuídos.” Observe que Lucas, por ser médico, faz distinção entre pessoas com possessão demoníaca e os enfermos (sobre “espíritos imundos”, ver com. de At 5:16; ver também Nota Adicional a Marcos 1). |
At.8:8 | 8. Grande alegria. A euforia nesta cidade samaritana ilustra como a obra dos missionários cristãos foi recebida em Samaria. |
At.8:9 | 9. Simão. Ver com. de Jo 1:42. Este homem costuma ser chamado de mago Simão, do gr. magos, “feiticeiro” ou “mágico”. De acordo com Justino Mártir (Apologia I, 26), ele nasceu em Gito, vila de Samaria. Relatos posteriores dos pais da igreja o descrevem como um inimigo persistente de Pedro, a quem seguiu até Roma, a fim de se opor a seus ensinos ali. A maioria das lendas tem autoridade duvidosa. Simão era um exemplo típico de uma classe de judeus que se aproveitava do prestígio de seu povo e da credulidade dos pagãos, assim como Elimas, em Chipre (At 13:8), os exorcistas judeus ambulantes em Efeso (At 19:13) e Simão de Chipre, a menos que este seja o mesmo que o samaritano (Josefo, Antiguidades, xx.7.2; ver vol. 5, p. 1007; vol. 6, p. 20).Ali. O local é citado no v. 5. A menção separada a "Samaria”, no v. 9, sugere que o termo se refere à província, não à capital.Praticava a mágica. Ou, “que anteriormente vinha praticando magia na cidade”. “Mágica” se refere às artes praticadas pelos magos do Oriente, que alegavam ser encantadores, astrólogos, adivinhos e intérpretes de sonhos. E possível que Simão não tivesse nada mais do que um conhecimento elementar de química, que usava para chamar a atenção e depois se aproveitava da credulidade daqueles que iam consultá-lo. Os judeus tinham conhecimento desse tipo de prática desde sua permanência no Egito e, em sua literatura tradicional, parte da “ciência” ousabedoria de Moisés é falsamente atribuída a essa. forma de conhecimento (cf. At 7:22; ver com. de Dn 1:20).Iludindo o povo. Ou, “deslumbrava a nação”. A população de Samaria era supersticiosa e se impressionava com os supostos milagres do jactancioso “grande” mago.Grande vulto. O v. 10 define com mais clareza o sentido desta afirmação. Sem dúvida, o clamor do povo de que Simão era o grande poder de Deus ecoava as pretensões dele. De maneira indefinida, ele afirmava ser uma encarnação do poder divino. E possível que se identificasse com o Messias. A esperança messiânica dos judeus abria caminho para um padrão de impostores e os ajudava a granjear seguidores. Isso estava em contraste com Filipe (v. 5), que pregava a Cristo, não a si mesmo. |
At.8:10 | 10. Davam ouvidos. Ver com. do v. 6. Seus enganos eram bem-sucedidos, pois pessoas de todas as classes criam nele. O feiticeiro é um dos primeiros daqueles que viriam com sinais e maravilhas mentirosos para enganar, se possível, até os escolhidos (cf. Mt 24:24; 2Ts 2:9).O poder de Deus, chamado o Grande Poder. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a leitura "o poder de Deus que é chamado Grande”. Irineu (Contra Heresias, i.23; The Ante-Nicene Fathers, vol. 1, p. 348) diz que o mago Simão “era glorificado por muitos como se fosse um deus’ e que “ele se representava, em uma palavra, como se fosse o mais elevado de todos os poderes”. |
At.8:11 | 11. Aderiam a ele. Do gr. prosechõ (ver com. do v. 6).Iludira. Ver com. do v. 9. “Havia muito” que este fascínio era exercido sobre aquelas pessoas. Isso revela que o início das magias de Simão ocorreu perto da época do ministério de Cristo em Samaria, cerca de seis ou sete anos antes. |
At.8:12 | 12. Evangelizava. Ver com. do v. 5. As pessoas eram, como ainda o são, salvaspela evangelização (ver com. de ICo 1:21). O poder da mensagem de Filipe se mostrou mais forte do que o fascínio das mágicas de Simão.Reino de Deus. Ver com. de Mt 4:17; Lc 17:20, 21; At 1:6. A medida que o campo de trabalho missionário se expandia, a mensagem dos discípulos se tornava mais clara. Era abrangente e específica e levava ao batismo dos ouvintes.Nome de Jesus. Ver com. de At 2:21; 3:16.Iam sendo batizados. Ver com. de Mt 3:6. O tempo verbal do grego subentende uma sucessão de conversões de pessoas que eram admitidas na igreja, não apenas um grande batismo. |
At.8:13 | 13. O próprio Simão. Expressando a ênfase do texto grego, “até mesmo o próprio Simão”.Abraçou a fé. Sem dúvida, Simão ficou impressionado com os milagres que Filipe operava (v. 6). Viu que estava na presença de um Poder infinitamente maior do que o dele. Mas ele aceitou as declarações de Filipe sobre a morte e a ressurreição de Cristo sem desenvolver uma fé pessoal. Sua fé era como a que Tiago descreve (Tg 2:14, 19). Uma crença imperfeita semelhante é apresentada em joão 8:31, quando alguns judeus creram em Jesus. Simão compreendeu o bastante para ser batizado, mas a atitude posterior demonstrou que o batismo não representou um nascimento para uma vida mais elevada. Ele permaneceu era “iniquidade” (At 8:23). Lucas traça uma distinção entre a crença dos samaritanos e a de Simão: o povo foi conquistado pela pregação de Filipe, ao passo que Simão foi atraído pelas maravilhas que viu. Deus, porém, não rejeitou sua fé imperfeita. Ele a aceitou como uma base sobre a qual Simão deveria desenvolver uma crença mais aceitável. Ouando Simão escorregou, Pedro chamou sua atenção (v. 22), a fim de que se arrependesse e orasse pelo perdão.Observando extasiado. A situação se inverteu. O mago que era visto com admiração ficou extasiado ao contemplar o poder que acompanhava a proclamação do evangelho. |
At.8:14 | 14. Ouvindo. A despeito da perseguição, a comunicação entre os cristãos dispersos e a sede da igreja parece ter se mantido clara.Os apóstolos. Eles haviam ficado em Jerusalém (v. 1), dirigindo as atividades da igreja. Anteriormente, o Senhor estabelecera um limite geográfico para a pregação da mensagem do reino (Mt 10:5). Ele expandiu esses limites na grande comissão evangélica (Mt 28:19, 20) e na instrução de Atos 1:8. A notícia do êxito de Filipe em Samaria chegou aos doze como prova de que a expansão dos limites era real. Chegara o momento de testemunhar de Cristo em Samaria.Samaria. A mensagem de Filipe foi espalhada pelos conversos por toda a região.Palavra de Deus. A expressão é usada aqui por Lucas, assim como no evangelho, para se referir a todo o conteúdo do evangelho de Cristo (cf. Lc 5:1; 8:11, 21).Pedro e João. Não havia preeminência especial de qualquer um dos doze naquela época. Por decisão de todo o corpo apostólico, Pedro e João foram enviados em missão a Samaria. Era lógico escolhê-los, pois foram muito ativos no início da obra da igreja (ver At 1:15; 2:14; 8:1; 4:8). Esta passagem não dá evidência nenhuma da supremacia de Pedro; ele estava sob a coordenação de um grupo de apóstolos que o enviou em missão junto com João. No passado, João tentara invocar fogo do céu sobre os samaritanos (Lc 9:54); mas, então, em atitude de amor, estava pronto a levá-los ao batismo do Espírito Santo e de fogo (Mt 3:11). E pouco convincente a sugestão de que o João mencionado nesta ocasião seja João Marcos (ver com. de At 13:5, 13). Se João Marcos já tivesse passado pelas experiências narradas nos versículos seguintes, dificilmente teria abandonado Paulo e Barnabé (At 13:13). |
At.8:15 | 15. Oraram. Esta foi a primeira ação dos dois apóstolos. Eles não deram o Espírito Santo aos cristãos samaritanos recém-batizados, mas pediram ao Senhor que lhes concedesse o Espírito como resultado do batismo deles (cf. At 2:38) e como evidência de que haviam sido aceitos por Deus. |
At.8:16 | 16. Não havia ainda descido. Este versículo faz distinção entre o batismo na água, administrado por Filipe, e o recebimento do Espírito Santo por meio do ministério de Pedro e João. O verbo traduzido por “descido” é usado para se referir ao dom do Espírito (At 10:44; 11:15) e ao êxtase de Pedro (At 10:10).Somente haviam sido batizados. O batismo na água, realizado por Filipe. Os dons do Espírito só foram derramados após a chegada de Ped ro e João.Em o nome. A expressão indica o elo que uniu os novos convertidos a Cristo mediante o batismo. |
At.8:17 | 17. Impunham as mãos. Ver com. de At 6:6.Recebiam. Note os três passos que levaram os samaritanos a receber o Espírito Santo: eles professaram a fé por meio do batismo (v. 12), os apóstolos oraram (v. 15) e impuseram as mãos sobre eles (v. 17). |
At.8:18 | 18. Vendo, porém, Simão. O mago fora batizado por Filipe assim como os outros samaritanos, mas os apóstolos não lhe impuseram as mãos e ele não recebeu o Espírito, que graciosamente fora concedido aos outros crentes. Talvez a verdadeira natureza do mago fora percebida. Entretanto, a diferença entre ele e os conterrâneos despertou sua atenção. Simão percebeu as evidências do recebimento do Espírito. As pessoas foram transformadas; é possível que tenham começado a falar em línguas e a profetizar. Era evidente nelas a presença do Espírito.Ofereceu-lhes dinheiro. Simão notou que os outros foram dotados dehabilidades maiores que as dele e, embora não possuísse o dom, desejava o poder que acompanhava uma vida cheia do Espírito. Por isso, ofereceu dinheiro a Pedro e João, desejando comprar o que não recebera de graça. Tal conduta revela o caráter falho de sua fé e os motivos que o controlavam. O oferecimento de dinheiro deu seu nome a uma classe abrangente de ofensas eclesiásticas. Qualquer tentativa de comprar poderes ou ofícios espirituais é chamada de “simonia”. |
At.8:19 | 19. Concedei-me. O caráter de Simão foi plenamente revelado. Ele não queria o Espírito Santo como um dom espiritual que selaria seu batismo, mas para usar o poder e dominar os outros. Queria o poder exterior sem passar pela mudança interna que justifica o dom. E possível que tivesse a intenção de ganhar dinheiro com a habilidade de conceder o Espírito Santo a outros a seu bel-prazer. |
At.8:20 | 20. O teu dinheiro seja contigo para perdição. Esta foi a maneira de Pedro exprimir seu desagrado pela oferta de Simão. file percebeu que, se aquele homem não se convertesse, seria destruído. Mas não considerou a situação sem esperança, pois, no v. 22, conclamou Simão a se arrepender para ser perdoado.Dom de Deus. A frase pode ser tra- duzida como: “Pois pensaste em adquirir o dom de Deus com dinheiro.’’ A atitude de Simão revelou uma incompreensão básica do caráter divino e dos dons do Espírito. Ele ainda precisava aprender que as coisas mais preciosas da vida não se podem comprar com dinheiro. |
At.8:21 | 21. Não tens parte nem sorte. Este não foi um pronunciamento arbitrário, mas um juízo baseado no conhecimento do coração de Simão. Ele não pertencia à família de Deus; portanto, não se qualificava a ter parte em seus privilégios e responsabilidades (sobre “sorte”, ver com. de At 1:26).Neste ministério. Ou, “nesta palavra”. A expressão se refere claramente ao assunto em debate, isto é, ao poder de conceder o Espírito Santo mediante a imposição de mãos (v. 19). Alas, se a tradução literal “nesta palavra” (ARC) for adotada, a referência é ao v. 14, que diz: “Samaria recebera a palavra de Deus.”Reto. Do gr. euthus, num sentido moral, “reto”, “digno”, “verdadeiro”, “sincero”. O termo é raro no NT, mas, como muitas das palavras proferidas por Pedro, é encontrado novamente em uma de suas epístolas (2Pe 2:15). |
At.8:22 | 22. Arrepende-te. Ver com. de Alt 3:2. Esta é a primeira condição para se receber perdão e evitar a punição merecida. A atitude de Simão é chamada de “maldade”. O apelo de Pedro demonstra que a salvação ainda estava disponível para ele.Roga ao Senhor. Esta seria uma referência especial ao Senhor Jesus, contra quem a ofensa de Simão se dirigia.Talvez. O termo sugere dúvida, não da disposição divina em perdoar, mas da prontidão de Simão em se arrepender. E possível que Pedro também pensasse que o erro de Simão se assemelhava ao pecado imperdoável contra o Espírito Santo (ver com. de Alt 12:31). Nesse caso, o uso da palavra por Pedro, depois de Cristo dar grande poder disciplinar aos apóstolos (Jo 20:23), seria algo muito grave.Intento. Do gr. epinoia, “propósito”, “intento”, no sentido de um esquema premeditado. Isso tornaria a ofensa ainda mais séria. O apóstolo reconhece como a mente de Simão se ocupara por completo do plano e, embora sugira haver esperança para ele, percebe que sua cobiça, beirando a idolatria, tornava o arrependimento quase impossível. Deus está sempre pronto a perdoar, mas nem sempre as pessoas estão dispostas a pedir perdão (ver com. de SI 32:1; 130:4). |
At.8:23 | 23. Vejo. Com discernimento verdadeiro, Pedro avaliou o que se passava no coração de Simão.Fel de amargura. Isto é, “o fel que é amargura’’ e, na expressão seguinte, “o laço” que é “iniquidade”. Pedro vê o homem imerso em amargura e acorrentado em iniquidade. Simão permitira que a inveja e a cobiça amargurassem sua alma e que a iniquidade se transformasse num hábito, até se tornar um prisioneiro desses males. |
At.8:24 | 24. Rogai vós por mim. A súplica de Simão revela que ele não fora tocado por um arrependimento genuíno. Ele não demonstra tristeza nem senso de necessidade de mudança. Só pede para ser poupado da ameaça de punição. Seu pedido pode ser comparado ao que o faraó repetiu várias vezes a Moisés: “Rogai ao Senhor” (Ex 8:8, 28; 9:28; 10:17), que refletia apenas temor e não resultava em mudança de conduta. Não há registro de um arrependimento posterior da parte de Simão. Logo, pode-se presumir que ele permaneceu não convertido.Este é o fim da história de Simão no livro de Atos, mas há muitas lendas a seu respeito. Essas lendas o representam como um líder autodesignado de uma forma degradada do cristianismo que sempre entrava em conflito com a crença ortodoxa (ver Homílias, ii. 18-39; Recognições, ii.5-16, ambas da literatura pseudoclementina; Apologia I, 26, 56, de Justino Mártir; Contra Heresias, i.23, de lrineu; e História Eclesiástica, ii.13.13- 18; 14:1-6; 15:1, de Eusébio). Esses escritos retratam Simão como um precursor dos hereges gnósticos, um mestre cujo sistema se baseava na astrologia, angelolo- gia e na crença estarrecedora nos poderes divinos da própria pessoa (ver p. 20; vol. 5, p. 1007). |
At.8:25 | 25. Eles. Referência aos apóstolos Pedro e João. Alguns comentaristas acreditam que a palavra também inclua Filipe (ver AA, 107).Testificado. Do gr. diamarturomai, “testificar com avidez”.Falado. Do gr. laleõ, “falar”, “dizer”.Voltaram. A forma verbal do grego poderia ser traduzida por “começaram a retornar”. Eles continuaram a pregar o evangelho enquanto faziam o caminho de volta a Jerusalém.Este versículo encerra o relato inspirado do cristianismo em Samaria, com exceção de uma rápida referência (At 15:3). |
At.8:26 | 26. Um anjo. Lucas é atento ao ministério dos anjos (cf. Lc 1:38 e At 10:7; Lc 2:9 e At 12:7; Lc 24:4 e At 1:10; 10:30). A construção gramatical grega sugere que um anjo falou a Filipe enquanto Pedro e João evan- gelizavam. O chamado sobrenatural pode ter ocorrido em visão (At 10:3).Sei. Do gr. mesêmbria, normalmente traduzido por “meio-dia’'. Contudo, no hemisfério norte, o sol fica no sul quando alcança o meridiano, ao meio-dia. Por isso, a palavra também passou a significar localidade, ou seja, o “sul”. Alguns eruditos preferem a tradução “meio-dia”.No caminho. Ou, “ao longo da estrada”.Gaza. Este nome é a transliteração grega do heb. ‘Azzah, que significa “forte”. Gaza (já mencionada em Dt 2:23; lRs 4:24; Jr 25:20) era uma cidade de fronteira no sul, que pertencera aos cananeus (Gn 10:19). Foi ocupada pelos aveus e depois pelos caltorins (Dt 2:23). Josué não conseguiu conquistá-la (Js 10:41; 11:22). Judá a dominou por um breve período (Jz 1:18), mas logo a perdeu para os fiiisteus (Js 13:3; jz 3:3), que a transformaram na mais meridional de suas cinco grandes cidades. Ali ocorreu a cena da humilhação e morte de Sansão (Jz 16). Gaza estivera nas mãos dos fiiisteus desde o tempo de Samuel (ISm 6:17). Salomão (lRs 4:21, 24) e, posteriormente, Ezequias (2Rs 18:8) a atacaram. A cidade resistiu a Alexandre, o Grande, por cinco meses, mas acabou capturada e se tornou um importante posto militar durante os conflitos entre ptolomeus e selêucidas e nas guerras dos macabeus (I Macabeus 11:61).Por volta de 96 a.C., Gaza foi destruída e seus habitantes, massacrados por Alexandre janeu (Josefo, Antiguidades, xiii.13.3 [358- 364]), mas foi reconstruída pelo procônsul Gabínio (ibid., xiv.5.3 [88]), embora se afirme que a cidade restaurada ficasse mais perto do mar que a antiga. Havia mais de uma estrada de Jerusalém a Gaza, cerca de 80 km a sudoeste. A rota norte passava próximo a Lida, depois ficava paralela ao litoral, passando por Azoto até chegar a Gaza. Outra ia para o sul rumo a Hebrom, então se dirigia a oeste pela região desértica até Gaza. A segunda é a rota mais provável da narrativa, sobretudo se niesêmbriü for traduzido como "sul”.Este se acha deserto. Mesmo se tratando de uma frase separada, não há evidência se estas palavras foram do anjo ou uma explicação dada por Lucas. Também não fica claro se "este” se refere ao "caminho” ou à cidade, embora seja improvável Lucas citar uma cidade para depois chamá- la de deserta. Pela fé, Filipe deveria seguir pela estrada menos frequentada e promissora de Jerusalém a Gaza, sem saber que, no caminho, se encontraria com um v iajante cuja conversão se tornaria tão memorável.Ele se levantou e foi. A obediência instantânea revela total ausência de dúvida quanto à autenticidade da mensagem que recebera. |
At.8:27 | 27. Etíope. Assim como Cuxe no AT, Etiópia é um nome geral dado à região que fica ao sul da primeira catarata do Nilo e que se estende até a Etiópia atual. A parte norte era o grande reino de Meroé, no vale do alto Nilo, governado por rainhas durante um longo período. E provável que o eunuco fosse desse reino. Sua ligação com o povo judeu apresenta muitos pontos de interesse. De acordo com a Carta de A rí stea s 13, durante o reinado de um dos faraós de nome Psamético (talvez Psamético 11, 594-588 a .C.), u m exércitodej udeus foi enviado ao Egito a fim de ajudar numa campanhacontra a Etiópia. Com certeza, as influências judaicas existiam na região havia séculos. Isso pode ter se refletido na atuação corajosa do antigo eunuco Ebede-Meleque nos tempos de Jeremias (Jr 38:7-13; 39:15-18). Mesmo antes, os hebreus já tinham visto a admissão de etíopes em sua comunidade (Sl 68:31; 87:4).Eunuco. Ver com. de Et 1:10; 2:3; Mt 19:12.Alto oficial. Do gr. dunastês, "príncipe”, “potentado”, “alto oficial”. A carta da lei deu- teronômica (ver com. de Dt 23:1) era explícita a respeito da exclusão de eunucos do santuário de Deus. Sem dúvida, isso se modificara na prática. A admissão de eunucos guardadores do sábado entre o povo de Deus é prometida em Isaías 56:4. Posição, raça e condição física não são fatores restritivos para a admissão na família do Pai celestial (Gl 3:28, 29; Cl 3:10, 11).Candace. Este devia ser um nome dinástico ou título, como faraó ou ptolo- meu no Egito, e César entre os romanos, não o nome próprio de uma rainha específica. O nome ocorre em Geografia (xvii.1.54), de Estrabão, e História (liv.5.4-6), de Dio Cássio. Segundo Eusébío (c. 325 d.C,), a Etiópia ainda era governada por uma rainha em sua época (História Eclesiástica, ii.1.13).Tesouro. Do gr. gaza, “tesouro real”, "tesouro”, palavra de origem persa que estava se tornando habitual nessa época entre escritores gregos e latinos (De Officiis, ii.22 [76], de Cícero). Os tradutores da LXX a empregaram em Esdras 5:17; 6:1; 7:21; e Isaías 39:2. Não é encontrada em nenhuma outra parte do NT, mas uma forma composta é usada para o tesouro do templo (“gazofilácio”, Lc 21:1). Filipe conheceu um homem responsável por gaza, o tesouro. O evangelho o ajuda a encontrar um tesouro, assim como o homem da parábola de. Mateus 13:44 encontra um tesouro ao procurá-lo incansavelmente.Viera adorar. O eunuco devia ser um prosélito piedoso circuncidado (ver vol. 5, p. 50), que visitava Jerusalém para adorar no templo. Prosélitos e judeus iam a Jerusalém para esse fim, conforme se pode observar na lista dos presentes no Pentecostes (At 2:10). De acordo com João 12:20, gregos também compareciam às festas em Jerusalém. O eunuco fora à cidade em busca de uma bênção, mas, antes de chegar a casa, recebeu outra que superou todas as suas expectativas (ver vol. 4, p. 14-17). |
At.8:28 | 28. Estava de volta. Ou seja, de Jerusalém para a Etiópia, ao fim de sua recente visita para adorar no templo.Vinha lendo. O eunuco devia estar lendo em voz alta (ver v. 30), pois esta era uma prática comum entre os orientais. E possível que ele tivesse acabado de comprar o rolo de isaías enquanto estivera em Jerusalém. Se for o caso, as declarações maravilhosas do profeta do evangelho lhe pareceriam recentes e profundas. Os v. 32 e 33 deixam claro que ele estava lendo Isaías 53, na versão da LXX. |
At.8:29 | 29. Disse o Espírito. Comparar com o v. 26. O Espírito falou e deu instruções ao evangelista por meio de uma sugestão interior ou de uma voz audível.Aproxima-te. Sem dúvida, o oficial real era acompanhado por grande comitiva, à qual seria natural que um viajante independente numa estrada deserta se unisse. Filipe podería se aproximar e ouvir o que era lido sem ser considerado um intruso. |
At.8:30 | 30. Correndo. Isto é, correu até a carruagem, em obediência imediata à ordem do Espírito. Quem assim procede encontra pessoas ávidas a ouvir a verdade centrada em Cristo.Compreendes [...]? Observe a introdução habilidosa do diálogo: Filipe começou no ponto em que encontrou o homem e adequou uma abordagem ligada a seus interesses em potencial. Nisto, deixa um exemplopara todo obreiro cristão seguir. A pergunta de Filipe se referiu ao significado, não às palavras. No grego, é esperada uma resposta negativa. O eunuco já devia ter algumas explicações judaicas sobre a passagem, mas não sabia ainda que elas se referiam a Jesus Cristo. Mas Filipe conhecia o sentido e foi orientado pelo Espírito Santo a explicá-lo. |
At.8:31 | 31. Como poderei [...]? A pergunta indica falta de habilidade, pois ele não fora ensinado a interpretar as Escrituras.Explicar. Do gr. hodêgeõ, “orientar o caminho de alguém” ou “guiar”. A mesma palavra foi usada por Jesus para se referir à direção do Espírito Santo (Jo 16:13). O eunuco, no caminho de volta a Etiópia, onde ficaria longe dos que o haviam instruído em Jerusalém, percebe a necessidade de orientação qualificada para aquela passagem das Escrituras. A pergunta dele sugere que estava diante de um texto pela primeira vez ou que o Espírito o impressionara a respeito do mesmo.Convidou. Ou, “suplicou”. A palavra expressa um pedido intenso e revela a avidez do eunuco por receber mais instrução. A ordem do Espírito (v. 29) se cumpre de maneira natural. Filipe se aproxima, e o próprio eunuco convida o evangelista a entrar em sua carruagem e viajar com ele. |
At.8:32 | 32. A passagem. Do gr. periochê, “conteúdo”. Esta palavra era usada como equivalente dos termos heb. parashah ou haftarah, as passagens das Escrituras selecionadas para leitura pública na sinagoga (ver vol. 5, p. 44, 45). Era uma palavra comum entre os gregos e foi adotada por Cícero (Letters to Atticus, xiii.25). Incluía todo o contexto da passagem. Os versículos citados vêm de Isaías 53:7 e 8, lidos palavra por palavra, da LXX.Foi levado. Sobre a passagem citada, ver com. de Is 53:7, 8, considerando que a citação do NT é uma tradução, da LXX, não do texto hebraico. |
At.8:33 | 33. Sua humilhação. Literalmente, “em Sua humilhação, Seu julgamento foi removido”, mas a leitura é passível de receber diversas interpretações, Pode significar que “sua condenação foi removida” ou “cancelada”, isto é, por ter se humilhado, depois Ele foi exaltado; ou então: “A justiça Lhe foi negada em Sua humilhação.” Sem dúvida, isso aconteceu no julgamento de Cristo. O texto hebraico de Isaías 53:8 sugere que “Ele foi retirado por opressão e julgamento’ , ou seja, foi vítima de um assassinato judicial.A geração. Esta expressão pode ter várias interpretações: (1) “Quem declarará o número daqueles que compartilharam Sua vida e são como se tossem Sua geração?” isto é, quem pode contar o número de Seus discípulos fiéis? (2) “Quem em Sua geração foi sábio o suficiente para considerar?” e (3) “Quem declarará a maldade da geração tortuosa e perversa em meio à qual Ele viveu?” (ver também com. de Is 53:8).A sua vida é tirada. (3 texto hebraico de Isaías 53:8 sugere que o Salvador foi conduzido apressadamente a uma morte violenta. A versão proposta pela LXX transmite a mesma idéia e não faz referência à partida de Cristo da Terra por meio da ascensão. |
At.8:34 | 34. Peço-te. O breve encontro do eunuco com este homem de Deus deve ter causado uma impressão muito favorável sobre o estrangeiro, pois demonstrou confiança imediata na habilidade de Filipe para responder a sua pergunta. Isso deu ao evangelista a oportunidade que ele buscava. Com frequência, o evangelista fica surpreso com as oportunidades que surgem quando está pronto para aproveitá-las.A quem [...]? O eunuco foi perspicaz o suficiente para fazer a pergunta mais importante sobre o texto que lia, a saber, a quem as palavras de Isaías se referem? A questão não estava resolvida em sua época e continua a ser muito debatida (ver com. de Is 41:8; |
At.8:35 | 35. Explicou. Sempre que o termo ocorre no NT, sugere um discurso bem formulado, não o mero ato de falar (cf. Mt 5:2; 13:35; At 10:34).Esta passagem. Filipe foi ao ponto em que o eunuco se encontrava e começou com a passagem que ele estava estudando. Não haveria melhor forma para Filipe iniciar, nem há hoje para os pregadores atuais.Anunciou-lhe a Jesus. Em Jerusalém, o eunuco provavelmente ouviu sobre os ensinos de Jesus. Os feitos dos discípulos atraíram a atenção de toda a cidade (At 2:41; 4:33; 5:12-14; 6:7, 8). Mas, sem dúvida, muitas das discussões que ouviu classificaram Jesus como um impostor, e é improvável que ele estivesse vendo Isaías 53 conforme a pregação apostólica. Mas esta é uma das profecias mais claras do AT sobre a morte sacrifical e substitutiva de Jesus Cristo como único meio de salvação da experiência, da condenação e do poder destruidor do < pecado. A continuação indica que o ensino de Filipe incluiu não só uma aplicação da profecia a Jesus Cristo, como também instruções sobre o que significa se tornar um de Seus discípulos. O NT deixa claro que essas orientações eram dadas antes que os candidatos ao batismo fossem imersos.Anunciar a Jesus é a obra não só dos pregadores, mas de cada cristão, seja por palavras ou pelo testemunho de vida. Qualquer que seja o assunto de um sermão, seu tema principal deve ser Jesus Cristo. |
At.8:36 | 36. Seguindo eles. Filipe e o eunuco devem ter viajado juntos por algum tempo, pois, além de apresentar a salvação em Cristo nos termos de Isaías 53, ele também deu instruções suficientes para que o eunuco entendesse o significado do batismo e desejasse passar por essa experiência.Certo lugar onde havia água. NoQue impede [...]? E exemplar a ânsia do eunuco para terminar seu preparo e se tornar membro da igreja do Senhor que acabara de conhecer. A iniciativa foi dele. Filipe não precisou insistir. Ele havia descoberto o Salvador e desistira de sua vida de pecado. Fora instruído em o Nome e no Caminho (cf. At 4:12; Jo 14:6). Nada impediría seu batismo. |
At.8:37 | 37. Se crês. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão deste versículo. E possível que uma explicação marginal, extraída de uma antiga confissão de batismo, tenha entrado no texto aqui. No entanto, a verdade expressa no v. 37 é mencionada em outras partes da Bíblia (cf. jo 3:16; At 2:38; 16:30, 31). |
At.8:38 | 38. Mandou. Isto fez toda a comitiva parar. Seus acompanhantes devem ter sido testemunhas interessadas do batismo, e é possível que alguns deles tenham formado o núcleo da primeira congregação cristã na Etiópia. A tradição relata que o eunuco proclamou o evangelho a seus conterrâneos.Desceram à. Do gr. katabainõ eis, “descer até" ou “descer para dentro”. Caso a expressão ocorresse sozinha, não haveria como decidir se Filipe e o eunuco desceram até as margens da água ou se foram para dentro dela. Mas a expressão complementar no v. 39 deixa hem clara a questão. |
At.8:39 | 39. Saíram. Do gr. anabainõ ek, “subir para fora de”, isto demonstra que os doisforam para dentro da água, do contrário, não poderiam ter subido para fora dela. Isto ocorreu para que o eunuco fosse batizado por imersão (ver com. de Mt 3:6; Mc 16:16; Rm 6:3-6). Encontramos aqui uma ilustração clara do método de batismo empregado pela igreja apostólica, mesmo numa ocasião tão inesperada e informal.O Espírito. Deus tomara a iniciativa para o encontro entre Filipe e o eunuco, e, uma vez que ele obtivera sucesso, mais uma vez o Espírito abriu portas para novas possibilidades de serviço ao evangelista.Arrebatou. Do gr. harpazõ, “agarrar”, “levar embora à força” ou “arrebatar para longe”. O mesmo verbo é usado de forma semelhante no NT (lTs 4:17; Ap 12:5). O sentimento humano naturalmente levaria o evangelista a permanecer, a fim de terminar a obra com o eunuco e instruí-lo mais. Todavia, por intermédio de um poder sobrenatural, Filipe foi literal mente arrebatado da situação (comparar com lRs 18:12; 2Rs 2:16; Ez 3:12, 14).E este foi. Literalmente, “pois ele foi”. Isto sugere que o etíope aceitou o desaparecimento de Filipe como um ato sobrenatural, por isso não perdeu tempo buscando aquele que o ensinara e batizara. Em vez disso, seguiu o próprio caminho, ou seja, continuou a jornada.Cheio de júbilo. A posição desta palavra no fim de uma frase é típica de Lucas (cf. Lc 15:5; 19:6, ARC). Crendo que Filipe estava nas mãos de Deus, o eunuco não se preocupou quanto a ele. Em vez disso, seguiu seu caminho cheio de alegria pela nova luz que recebera. Eusébio (História Eclesiástica,ii. 1.13; ed. Loeb, vol. I, p. 110, I II) conta que o eunuco voltou para sua terra natal e lá pregou “o conhecimento do Deus do universo e a vinda de nosso Salvador que dá vida aos homens”, cumprindo a profecia de que “a Etiópia corre a estender mãos cheias para Deus” (Sl 68:31). E significativo constatarque a igreja etíope tem elementos semelhantes ao judaísmo ao longo de toda sua história. No princípio, permaneceu separada do restante da comunidade cristã, mantendo a simplicidade da vida e dos ensinos da igreja apostólica por algum tempo. Os cristãos etíopes guardaram o sábado por um longo período, junto com a observância do primeiro dia da semana. |
At.8:40 | 40. Veio a achar-se em. A preposição grega eis pode ser traduzida literalmente por "em”, sugerindo que Filipe foi encontrado dentro da cidade. Isso não aconteceu porque uma equipe de busca foi enviada atrás dele, mas porque sua presença se tornou conhecida.Azoto. Corresponde a Asdode do AT (ISm 5:1-7), uma das cinco principais cidades dos filisteus, que ficava a 4,8 km do mar, no meio do caminho entre Gaza e Jope. Assim como Gaza, sua história foi marcada por cercos sucessivos pelos assírios (Is 20:1), pelos egípcios (Heródoto, ii.159; ver com. de Jr 47:1) e pelos macabeus (1 Macabeus 5:68; 10:84). Foi restaurada pelo general romano Gabínio, em 55 a.C. O antigo nome permanece na moderna Esdüd. Os israelenses construíram uma grande cidade portuária ao lado do local antigo. Filipe não permaneceu ali, mas passou pelo local (ver com. de At 8:4). A narrativa de Lucas sugere que Filipe continuou seu trabalho de evangelista. O sal- mista cita a Filístia junto a Etiópia se uninclo ao grupo dos conversos na cidade de Deus (SI 87:4).Evangelizava. Ou, "ele estava evan- gelizando” ou "continuava a evangelizar”. A experiência extraordinária de Filipe com o eunuco não interrompeu suas outras atividades de pregação do evangelho.Todas as cidades. E provável que sua rota tenha passado por Lida e Jope. Sem dúvida, seus esforços produziram resultados nas comunidades cristãs em desenvolvimento, que foram encontradas nestas cidades (At 9:32, 36).Cesareia. Esta cidade ficava na estrada de Tiro para o Egito e tinha grande importância histórica. Data do período romano. Nos escritos do geógrafo Estrabão (Geografia, xvi.2.27; c. 20 d.C.), era conhecida apenas como Torre de Estrato, sendo um mero local para ancorar navios. Herodes, o Grande, a transformou num porto próspero com um ancoradouro tão grande quanto o de Pireu, em Atenas. Ele nomeou a cidade em homenagem a seu patrono imperial Augusto, chamando-a de Cesareia Sebaste. A segunda palavra é o equivalente ao título latino Augusta (ver josefo, Antiguidades, xvi.5,1; Guerra dos Judeus, í.21.5-7). Depois que Arquelau foi expulso da Judeia, a cidade passou a ser a residência oficial do procurador romano (cf. At 23:23, 24). Tácito (Histórias, ii.78) fala de Cesareia como a principal cidade (cafut) da judeia. Sua população era paga, com uma mistura de judeus, tornando-a um centro promissor para a evangelização. Conforme mostram os capítulos seguintes de Atos (a cidade é mencionada 15 vezes), Cesareia foi proeminente no início da história da igreja. Atos 21:8 permite inferir que Filipe a transformou na sede de sua obra evangelística. Mais tarde, a cidade foi o cenário dos esforços de Orígenes, um dos pais da igreja. E possível que o historiador e bispo Euséhio tenha nascido ali. Floje só existem algumas ruínas espalhadas no local da antiga cidade.Capítulo 9visão: Ananias! Ao que respondeu: Eis-me aqui, Senhor!para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo.!- em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. |
At.9:1 | 1. Saulo. Ver Nota Adicional 2 a Atos 7.Respirando. Do gr. empneõ, “inspirar” ou “respirar sobre”. A prisão e a morte dos cristãos eram, em sentido figurado, o próprio ar que Saulo respirava. Os povos semi- tas costumavam associar a emoção da raiva à respiração.Ainda. Do gr. eti; conecta a narrativa de Atos 9 a Atos 8:3. Enquanto a igreja se expandia fora de Jerusalém (At 8:4-40), Saulo continuava a persegui-la dentro e fora da capital.Ameaças e morte. Ou, “ameaças e assassinato”. O zelo do perseguidor se intensificou; ele estava disposto a chegar a limites extremos para aniquilar o odiado ensino. Ele próprio reconheceu isso (At 22:4 e 26:9 a 11). Não tentou minimizar a parte terrível que desempenhou no ataque à igreja. Os primeiros pais da igreja identificaram um paralelismo quase profético entre as palavras de Jacó: "Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o despojo” (Gn 49:27) e a conduta daquele que se gloriava de pertencer à tribo de Benjamim (Fp 3:5) e que tinha o nome do rei e herói desta tribo.Contra os discípulos. Os nomes das vítimas desta perseguição contínua não são mencionados, mas a confissão posterior de Paulo, “contra estes dava o meu voto, quando os matavam” (At 26:11), revela que Estêvão não foi o único a ser morto na época. O zelo que Paulo demonstrou na morte de Estêvão levou a sua eleição ao Sinédrio (AA, 102). Logo, ele estava munido de autoridade dos principais sacerdotes para perseguir os cristãos em Jerusalém. Caso tenha chegado a Jerusalém a notícia de que samaritanos foram admitidos na igreja (ver com. de At 8:1), o ódio dos judeus sem dúvida se intensificou.Sumo sacerdote. Anãs ou Caifás (ver com. de At 4:6), ambos saduceus, ao passo que Saulo se orgulhava de ser fariseu(At 26:5). Mas a estranheza da aliança entre eles (ver vol. 5, p. 39-41) não deteve o implacável perseguidor. O acordo entre saduceus e fariseus que já se formara contra Jesus Cristo no passado (Mt 26:3) se renovou contra Seus seguidores. |
At.9:2 | 2. Pediu. Possivelmente, para justificar sua elevação ao Sinédrio, tenha pedido em seu favor.Cartas. Eram os papéis que concediam “autorização” a Saulo (At 26:12). Parece que Roma cooperava com as autoridades judaicas, dando ao sumo sacerdote o poder de extradição de judeus fugitivos. E provável que essa autoridade tenha começado por volta de 56 a.C. (Josefo, Antiguidades, xiv.8.5 [146-148]; cf. 1 Macabeus 15:15-24).Sinagogas. Damasco era uma cidade cosmopolita, e judeus de muitas nações deviam morar ali. Assim como em Jerusalém (ver com. de At 6:9), os grupos das diferentes nações criavam a própria sinagoga. Estima-se que houvesse, na época, de 30 a 40 sinagogas em Damasco. Sem dúvida, os cristãos, em sua devoção, continuavam a frequentar as sinagogas, e o plano de Saulo era capturá- los ali.Damasco. E uma das cidades mais antigas do mundo. A tradição defende que nela ocorreu o assassinato de Abel. josefo (Antiguidades, i.6.4 [145]) atribui a fundação de Damasco a Uz, neto de Sem (vol. 1, p. 262). Figura na história de Abraão como a cidade natal de seu mordomo (Gn 15:2). Davi colocou tropas ali (2Sm 8:6), mas a cidade se transformou num centro de oposição a Salomão sob a liderança de Rezom (IRs 11:23-25). Seus rios, Abana e Farfar, eram, aos olhos de Naamã, o general sírio leproso, melhores do que todos os de Israel (2Rs 5:12). Era o centro do reino sírio e de suas alianças e guerras com Israel ejudá (2Rs 14:28; 16:9, 10; Am 1:3, 5). Realizava, com “Firo, comércio de produtos manufaturados e de vinho e lã, conforme observa Ezequiel (Ez 27:16, 18).Em 333 a.C., o general maceclônio Parmênio tomou a cidade para Alexandre, o Grande. Ela foi tomada de novo pelo romano Pompeu, em 64 a.C. Na época da conversão de Saulo, estava sob a jurisdição de Vitélio, governador romano da Síria. Quando Tibério morreu em 37 d.C., Vitélio correu para Roma, e Aretas IV, rei dos nabateus, assumiu o controle de Damasco, governando-a em seu lugar. Assim estava a situação quando Paulo fugiu da cidade (2Co 11:32).Damasco era um oásis no deserto sírio. O rio Abana, abastecido pela neve dos montes Antilíbano, molhava a terra, tornando-a produtiva. A cidade era caracterizada como a “capital predestinada”. Sua população era aramaica, mas havia ali uma grande colônia de judeus. A narrativa (At 9:2, 14) sugere que entre eles havia “discípulos do Senhor” (v. 1). Dentre eles, muitos eram refugiados da perseguição dentro e em volta de Jerusalém. Sem dúvida, as sinagogas da capital receberam a ordem de fazer valer o decreto do Sinédrio. Lucas não explica por que Paulo escolheu Damasco para sua obra de vingança contra a igreja. Mas os seguintes motivos podem ser sugeridos: (1) conforme se observou, alguns cristãos haviam se refugiado ali, a uma distância considerável da Judeia; (2) havia cristãos conversos que eram cidadãos de Damasco; (3) a cidade pode ter se transformado num centro afastado da igreja em expansão; e (4) é possível que Saulo conhecesse bem as autoridades judaicas e contasse com a cooperação delas contra os cristãos.Do Caminho. Isto é, “qualquer um que pertença ao caminho”. A palavra “Caminho” foi um dos primeiros sinônimos de cristianismo (cf. At 19:9, 23; 22:4; 24:14, 22). Lucas faz uso semelhante das expressões “esse Nome” (At 5:41), “a palavra” (At 4:4; 8:4; 14:25), “o caminho da salvação” (At 16:17)e "caminho do Senhor” (At 18:25). O termo pode ter se originado da declaração de Cristo sobre ser “o caminho” (Jo 14:6) ou de Sua referência ao “caminho” estreito (Mt 7:14).Assim homens como mulheres. A inclusão das mulheres entre as potenciais vítimas enfatiza a fúria de Paulo contra os cristãos (cf. At 22:4).Presos para Jerusalém. A missão de Paulo sugere que a ofensa dos cristãos ia além da jurisdição dos tribunais locais (ver com. de Mt 10:17) e precisou ser deliberada pelo Sinédrio, em Jerusalém (vol. 5, p. 54). O poder dos sacerdotes era tal que as autoridades judaicas tinham permissão para prender quem quisessem, mesmo em solo estrangeiro. |
At.9:3 | 3. Seguindo ele estrada fora. Não há como saber qual estrada Saulo e seus companheiros trilhavam, mas havia a opção entre pelo menos duas. Uma delas era a principal rota de caravanas do Egito a Damasco, paralela ao litoral palestino até ir para o leste, cruzando o rio Jordão acima do mar cia Galileia. O outro caminho passava por Samaria e atravessava o Jordão ao sul do mar da Galileia; depois de passar por Gaclara, seguia no sentido nordeste até Damasco. Era possível percorrer os 240 km em uma semana.Ao aproximar-se de Damasco. Não se sabe onde ocorreu a visão de Saulo. Tradições conflitantes e infundadas apontam para quatro locais diferentes. Contudo, deve ter sido relativamente próximo da cidade, pois seus companheiros de viagem, “guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco” (v. 8; cf. AA, 117).O livro de Atos apresenta três registros do que ocorreu perto de Damasco, com pequenas variações (ver Nota Adicional a Mateus 3). A seguinte tabela compara os principais pontos nos três relatos.Os Três Relatos da Conversão de PauloRelato histórico : de Lucas (Ãt 9:1-9)Discurso de Paulo ao povo ; ; v)' (At 22:4-11))^Discurso de Paulo ( perante Âgfipa (At 26:9-18)v. 1: Saulo persegue os discípulosv. 4: Saulo persegue o Caminhov. 9-11: Saulo persegue os santosv. 2: Pede cartas ao sumo sacerdote para as sinagogas em Damasco, a fim de levar cristãos para Jerusalémv. 5: Recebe cartas do sumo sacerdote e dos anciãos, a fim de levar cristãos para Jerusalémv. 12: E comissionado pelos principais sacerdotesV. 3: Perto de Damasco, uma luz do céu subitamente brilha sobre elev. 6. Perto de Damasco, por volta d o m e i o - d i a, uma 1 u z d o c é u brilha sobre elev. 13: Ao meio-dia, ele vê umaluz do céu, clara como o sol, que brilha sobre o grupov 4: Paulo cai prostrado. Ou\e uma \o/ dizendo- "Saulo, Saulo, por que Mc persegues?"\. 7: Saulo cai prostrado. Ouve uma \oz dizendo: "Saulo. Saulo, por que \le persegues?"v. 14: Iodos caem prostrados. Paulo ouve uma \oz di/ci em hebraico. "Saulo, Saulo, por queMe persegues?"v. 5; Fie diz: "Quem és Tu, Senhor'" 0 Senhor responde: "Fu sou Jesus, a quem tu persegues"v. 8: Ele díz: "Ouem és Tu, Senhor?'' O Senhor responde: "Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues"v. 1 5: Ele diz: "Quem és Tu, Senhor?" 0 Senhor responde: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues”v. 6: O Senhor diz: "Levanta-te e entra na cidade" para receber instruções"v. 10: Saulo pergunta: "Que farei. Senhor?" 0 Senhor díz: “Levanta- te, entra em Damasco" para receber instruçõesv. 7: Seus companheiros ficam sem palavras, ouvindo uma voz. mas sem ver ninguémv. v- Seus companheiros \cem a luz, mas não ouvem a vozv. S: Paulo se levanta, mas nada pode ver. Os companheiros de viagem o guiam pela mão até Damasco\. 1 l: Ele não consegue enxergar, por causa da glória da luz. Os companheiros de \iagem o guiam pela mão até Damascov. lb-18: O Senhor ordena que se levanteBrilhou. Ou, “lampejou”. Em Atos 22:6 e 26:13, é dito que isto ocorreu ao meio-dia. Por mais brilhante que seja a claridade do sol oriental ao meio-dia, Paulo afirmou que a luz vinda do céu era "mais resplandecente que o sol” (At 26:13). Em meio a esse fulgor, ele viu o Cristo glorificado com tanta clareza que mais tarde se incluiu entre os que tiveram o privilégio de contemplar o Senhor após Sua ressurreição (At 9:17; iCo 9:1; 15:8; A A. 115). Quanto à natureza da aparição, é natural pensar que tenha sido semelhante à que Estêvão viu (ver com. de At 7:55, 56). Na época, as palavras do mártir, “vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direitade Deus”, soaram como blasfêmia ao zelo do fariseu Saulo. Aqueles que o acompanhavam ouviram uma voz, mas não distinguiram as palavras (ver At 22:9; ver com. de At 9:7). Viram a luz (At 22:9), mas não identificaram a forma d Aquele que falou (ver com. de Jo 12:29). Esses detalhes provam a veracidade da experiência. |
At.9:4 | 4. Caindo. A luz do céu impressionou tanto os viajantes que todos se prostraram (At 26:14), embora Lucas só mencione Saulo nesta passagem. Não há evidências de que estivessem a cavalo.Ouviu uma voz. A comparação com Atos 9:7 e 22:9 sugere que Saulo ouviu ecompreendeu a voz, ao passo que os companheiros de viagem ouviram o som sem entender o que se dizia (ver com. de At 9:7).Saulo. Até aqui na narrativa, Saulo é chamado por seu nome na forma grega, Saulos. Mas neste versículo e em Atos 9:17; 22:7, 13; e 26:14 é. usada a forma hebraica do nome, Shaul. E provável que a diferença reflita as palavras proferidas por Jesus, que, de acordo com Atos 26:14, falou em hebraico (aramaico; ver vol. 1, p. 5, 6); e por Ananias, que provavelmente fosse judeu e, portanto, falava hebraico (aramaico; sobre a repetição do nome de uma pessoa em comunicações divinas, ver Gn 22:11; iSm 3:10; Mt 23:37; Lc 10:41; 22:31).Por que Me persegues? Cristo fez ao perseguidor uma pergunta penetrante, desafiando os motivos de sua conduta e mostrando que Saulo não conhecia Aquele a quem perseguia implacavelmente. Cristo Se identifica com os discípulos, e os sofrimentos deles se tornam Seus (AA, 117). “Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado” (Is 63:9) e “aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho” (Zc 2:8). Aquilo que era feito aos discípulos do Senhor contava como se fosse a Ele próprio (Mt 10:40). |
At.9:5 | 5. Quem és Tu, Senhor? Saulo dificilmente estaria usando a palavra “Senhor” com seu significado pleno do NT. Era uma declaração natural de deslumbramento e respeito (ver com. de Jo 1:38). Ele devia ter uma vaga sensibilidade à presença divina e demonstrou isso ao dizer “Senhor”.Jesus. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “Jesus de Nazaré” ou “Jesus, o Nazareno”. Contudo, é provável que isso seja uma inserção de Atos 22:8, em que a expressão completa ocorre numa narrativa do próprio Paulo. Jesus, o Nazareno, foi o título usado em tom de zombaria pelos acusadores de Estêvão (At 6:14), o nome que levara Saulo a acusar homens e mulheres de blasfêmia (At 26:11; cf. v. 9). Ao usar este nome,o Ser celestial Se identifica como Cristo. O perseguidor se rende. A percepção de que Jesus é o Cristo marca o momento da conversão de Saulo e o fim de sua fúria perseguidora. Ele reconhece aquilo que seu mestre Gamaliel, sugerira no passado: que perseguir Jesus era lutar “contra Deus” (At 5:39; ver com. de At 22:8; 26:15).A quem tu persegues. O pronome “tu” é enfático no texto grego, assim como o pronome anterior, “Eu”. Isso coloca Cristo, em Seu amor, poder e em Sua glória, em contraste com Saulo, perseguidor, mas então prostrado e temeroso.Duro é (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (ARC). Contudo, há bases textuais para a inclusão das mesmas em Atos 26:14. Embora elas sejam encontradas em muitos textos latinos de Atos 9:5, não ocorrem em nenhum manuscrito grego. Sua ocorrência na Bíblia grega, que deu origem a algumas versões atuais que a incluem, se deve a Erasmo (ver vol. 5, p. 130-132). Ao preparar sua edição impressa do NT em grego, ele as traduziu do latim para o grego e as acrescentou a seu texto (sobre estas palavras, ver com. de At 26:14). |
At.9:6 | 6. Tremendo (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras: “E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor” (ARC). No entanto, a pergunta de Saulo, “Senhor, que queres que faça?'', ocorre com suporte textual irrestrito em Atos 22:10. Assim como a última parte do v. 5, esta passagem não é encontrada em nenhum manuscrito e parece ter entrado em algumas versões atuais, como a ARC, por meio de uma inserção feita por Erasmo, na Vulgata latina.Levanta-te. Saulo continuava prostrado.Entra na cidade. Isto sugere que Saulo e aqueles que o acompanhavam estavam perto de Damasco (cf. v. 3).Onde te dirão. Em Atos 26:16 a 18, Paulo dá um relato mais completo das instruções que recebeu de Cristo. O relato de Lucas nesta passagem é mais breve. Ananias deu instruções adicionais nos v. 15 a 17. |
At.9:7 | 7. Companheiros. Além de receber autoridade para perseguir, Saulo tinha um grupo de assistentes. O plano era eliminar o cristianismo da cidade de Damasco.Pararam. Eles haviam caído por terra. E provável que tenham se levantado antes de Paulo.Emudecidos. Embora a experiência tenha sido menos intensa para eles do que para o líder, os homens ficaram mudos diante do ocorrido.Ouvindo a voz. Do gr. akouontes [...] lês phõnês. A primeira vista, esta declaração parece contradizer Atos 22:9, em que Paulo afirma que seus companheiros "viram a luz, sem, contudo, perceberem o sentido cia voz” (tên [...] phõnên ouk êkousan). No entanto, um estudo cuidadoso dos dois relatos ajuda a explicar a aparente discrepância. O verbo akouõ, “ouvir", pode se referir à habilidade de reconhecimento de sons pelo ouvido (ver \ 11 11:15; 13:15) ou à capacidade de compreender o que é escutado (ver Mc 4:33; ICo 14:2). Nesta passagem, a palavra traduzida por “voz” (phõnês) está no genitivo. No texto grego, isso significa que os companheiros de Saulo ouviram apenas o som da voz, mas não entenderam o cjue foi dito. Em Atos 22:9, a palavra traduzida por voz {phõnên) está no acusativo, que, junto com a negativa, significa que eles não ouviram a voz com distinção suficiente para entender o que foi dito. Em Atos 9:4, ao falar de Saulo, que compreendeu a voz, Lucas usa o acusativo para cfizer que ele “ouviu uma voz” [êkousen phõnên]). Esta explicação tem apoio em Atos 22:9, em que se diz que os homens “viram a luz”, enquanto o presente versículo afirma que eles “pararam emudecidos [...] não vendo, contudo, ninguém”. Eles viram aluz fulgurante, mas a visão não foi distinta o bastante para se discernir quem se revelava a Saulo. De igual modo, é razoável dizer que eles ouviram o som da voz, mas não com distinção suficiente para entender as palavras proferidas.Não vendo, contudo, ninguém. Eles viram a luz celestial (At 22:9), mas não reconheceram a forma divina que Paulo viu envolta no resplendor. |
At.9:8 | 8. Abrindo os olhos. Porém, Paulo estava cego.Nada podia ver. Ele ficou cego pela glória da luz celestial (cf. At 22:11). Sua cegueira provou que a visão não fora mera alucinação. Para Saulo, a cegueira pode ter adquirido significado espiritual. Ele se considerava “guia dos cegos”, gloriando-se de conseguir ver com clareza (cf. Rm 2:19). Então, por um período, até a luz interior e exterior brilhar sobre ele, Paulo precisou aceitar a cegueira.Alguns comentaristas encontram evidências de um efeito permanente desta experiência na visão do apóstolo por ele ter o costume de ditar suas cartas (ver 2Ts 3:17), de usar letras grandes ao escrever (ver com. de G1 6:11) e de não reconhecer o sacerdote que mandou agredi-lo (ver At 23:2-5). A teoria mais razoável dentre as muitas sobre seu “espinho na carne” é que se tratava de um problema nos olhos, que talvez envolvesse ataques de dor (ver com. de 2Co 12:7). Levando em conta esse pressuposto, o ávido desejo dos gálatas de, se possível, arrancar os próprios olhos para dar a Paulo adquire significado especial (ver com. de G1 4:15).Guiando-o pela mão. A visão cie seus companheiros de viagem permaneceu relativamente inalterada. Talvez não tenham olhado de maneira direta para a glóna. ou o brilho não tenha se revelado a eles. De todo modo, conseguiram guiar Saulo, levando pela mão aquele que fora o líder deles. O orgulho de Saulo se transformouem humilhação. Sua missão em Damasco já era conhecida, e a chegada dele era avidamente aguardada pela facção sacerdotal e temida pelos cristãos. Ele chegou ao destino, mas a missão fora cancelada. As cartas às sinagogas nunca foram entregues. |
At.9:9 | 9. Três dias. O conflito na mente de Saulo deve ter sido terrível, e ele precisou de três dias para conseguir paz. Além disso, o Espírito de Deus usou os três dias de cegueira para iluminar a mente dele. Em escuridão, Saulo conseguiu se lembrar das profecias messiânicas, aplicá-las a Jesus de Nazaré e julgar o próprio passado à luz de suas novas convicções. Certamente foi grande a angústia, em meio a fervorosas orações por perdão (ver AA, 118-120).Nada comeu, nem bebeu. A abstinência não foi um ato de penitência. Sua angústia mental temporária tirou a vontade normal de se alimentar. Os três dias de cegueira foram um período de busca interior e arrependimento. |
At.9:10 | 10. Numa visão. Assim como Ananias foi preparado em visão para visitar Saulo, este foi preparado para receber a visita de Ananias (v. 12). Os autores W. J. Conybeare e J. S. Hovvson estabelecem um paralelo entre esse evento e a experiência de Pedro e Cornélio (At 10:1-8). Eles destacam: “a preparação simultânea do coração de Ananias e de Saulo, e de Pedro e Cornélio; o questionamento e a hesitação tanto de Pedro quanto de Ananias, um duvidando se deveria fazer amizade com os gentios e o outro se deveria se aproximar de um inimigo da igreja; a pronta obediência de ambos quando a vontade divina foi claramente revelada; e o estado de espírito em que o fariseu e o centu- rião foram encontrados, ambos aguardando para ouvir o que o Senhor tinha a lhes dizer”. Para eles, “esta forte analogia não será esquecida por aqueles que lerem com reverência os dois capítulos consecutivos [9 e 10], nos quais o batismo de Saulo e o de Cornéliosão narrados” (The Life and Episiles of the Apostíe Paul, p. 94).Ananias. Leia sobre o significado deste nome no com. de At 5:1. Ananias era um nome comum entre os judeus. Só há mais uma menção a este discípulo nas Escrituras (At 22:12), quando Paulo o caracteriza como um homem “piedoso conforme a lei, tendo bom testemunho de todos os judeus que [...] moravam” em Damasco. E possível que essas qualidades o tenham transformado no líder da comunidade cristã e o prepararam para ser o mensageiro do Senhor a Saulo. Não se sabe como Ananias se tornou cristão. E possível que ele tenha seguido o Salvador durante Seu ministério na Terra ou que fosse um dos conversos judeus no Pentecostes ou em alguma ocasião posterior. E possível que depois tenha sido forçado a deixar Jerusalém por causa da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão. Todavia, essas são meras conjecturas. Mas as palavras de Ananias, ao expressar relutância em visitar Paulo (At 9:13, 14), deixam claro que ele mantinha comunicação com Jerusalém, pois sabia da devastação que o perseguidor causara e do propósito de sua missão em Damasco.Eis-me aqui, Senhor! Estas palavras expressam a disposição de Ananias de cumprir as instruções do Senhor (comparar com o exemplo de Samuel, em ISm 3:1-10, e Isaías, em Is 6:8). |
At.9:11 | 11. Rua. Do gr. rhumê, passagem estreita entre fileiras de casas. Com o tempo, o nome passou a ser aplicado a vias mais amplas. Mesmo assim, esta “rua” seria estreita segundo os padrões ocidentais.Direita. Uma longa rua reta, hoje conhecida pelo nome Sultaniyeh, ainda atravessa a cidade velha de Damasco, de leste a oeste. E possível que seja a mesma que Ananias percorreu para se encontrar com Saulo, na casa de Judas. A rua atual está em cima da que existia na época de Saulo. Portanto, nãoé possível identificar a casa onde o apóstolo ficou.Judas. O relato não traz informações acerca deste judas, nem diz o motivo pelo qual Saulo fora levado para lá. Os detalhes dessa história mostram como o conhecimento e o planejamento do Senhor são específicos.Saulo, apelidado de Tarso. Esta é a primeira menção nas Escrituras do local de nascimento do apóstolo (cf. Nota Adicional 2 a Atos 7). A localização física de Tarso atribuía importância à cidade. Embora ficasse a 16 km do mar, havia um ancoradouro seguro entre a cidade e o oceano, e embarcações pequenas conseguiam chegar a Tarso. Fora dos limites da cidade se elevavam os montes Tauro, em meio aos quais o estreito desfiladeiro conhecido como Portas da Cilícia clava acesso ao interior da Asia Menor. Mas a antiga cidade se destacava por algo mais que sua localização estratégica. Era um centro educativo, às vezes chamado de Atenas da Asia Menor. Seus eruditos eram respeitados pelo conhecimento científico e seus filósofos incluíram muitos estoicos célebres, que podem ter exercido influência no modo de pensar de Saulo. Na esfera comercial, a confecção de tendas, o ofício de Saulo (At 18:3), era destacada.Está orando. O tempo verbal denota continuidade na oração (cf. Eis 5:17). Aqui há um forte contraste entre as ameaças de morte que o perseguidor alimentava ao se aproximar de Damasco e a atitude humilde de arrependimento e oração na qual ele então se via. As orações de Saulo deviam incluir um pedido de perdão pelo passado, súplica por luz e sabedoria para o futuro, força para o trabalho ao qual fora chamado e interces- são por aqueles a quem perseguira. |
At.9:12 | 12. Numa visão (ARC). As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre a permanência e a omissão destas palavras, embora Saulo possa ter sido informadodesta maneira. Não seria estranho o Senhor, que Se revelou na estrada de Damasco, garantir o sucesso de Seu plano, dando visões quase simultâneas àqueles que planejava unir.Entrar. O Senhor usou uma maneira indireta para instruir Ananias. Ele conta a visão e espera que Ananias a transforme em realidade, encontrando Saulo e restaurando sua vista.Um homem. Embora Jesus estivesse falando com Ananias, Ele relatou o ponto de vista de Saulo. Esta descrição parece deixar claro que Saulo ainda não conhecia Ananias. |
At.9:13 | 13. De muitos tenho ouvido. Ananias recua diante da ordem implícita. Seu espírito obediente, mas humano, rejeita o pensamento de ministrar a alguém com uma reputação tão temível quanto Saulo. Respeitosamente protesta com o Senhor. As palavras indicam que Ananias morava em Damasco e não que acabara cie chegar de Jerusalém (ver com. do v. 10). Elas também revelam como havia se espalhado entre os cristãos o conhecimento sobre a fúria dos ataques de Paulo à igreja. Os relatos foram confirmados pelos refugiados que haviam chegado de Jerusalém.Quantos males. Ver com. de At 8:1,3; 9:1.Santos. Sobre o contexto hebraico do termo, ver com. de SI 16:3; em relação aos cristãos, ver com. de Rm 1:7. É digno de nota que este uso inicial da palavra no NT (cf. Mt 27:52) seja feito por Ananias, que foi enviado para instruir Saulo; posteriormente, o próprio apóstolo a empregou com muita frequência (Rm 1:7; 15:25; 16:2; 2Co 1:1; Ef 1:1; Fp 1:1). |
At.9:14 | 14. Autorização. Paulo havia solicitado autoridade formal escrita (ver v. 1, 2).Todos os que invocam. Invocar a Cristo é crer nEle (ver com. de At 2:21; cf. At 9:21; ICo 1:2; 2Tm 2:22). |
At.9:15 | 15. Vai. A perplexidade de Ananias surgiu por desconhecer a situação real. Mas o Senhor, que sabia de todas as circunstâncias, orientou Seu servo de maneira apropriada.Instrumento. Do gr. skeuos, “vaso”, “utensílio”, termo usado com uma variedade de sentidos no NT (cf. Mt 13:48; Lc 8:16; Jo 19:29; At 10:11; Rm 9:21; 2Co 4:7; lTs 4:4). Era empregado por escritores clássicos para se referir a escravos úteis e confiáveis. Seguindo essa linha de pensamento, o Senhor aplica skeuos a Saulo, que seria um instrumento com o qual Ele poderia realizar Seus planos em relação aos gentios. A palavra para “escol hido” (eklogê), que ocorre aqui pela primeira vez no NT, é traduzida por “eleição” nas demais ocorrências.Levar o Meu nome. Isto explica o propósito divino para a eleição de Paulo. Ele levaria o nome de Cristo, ou seja, demonstraria Seu caráter (ver com. de At 3:16).Gentios. Eles são colocados em primeiro lugar na lista porque o campo de trabalho de Saulo seria especialmente entre eles (ver com. de Rm 1:13, 14; 11:13). Esta deve ter sido uma revelação chocante para Ananias, que, sendo um judeu devoto, ainda não se dera conta de que o mundo inteiro deveria ouvir de Cristo. Mas então ele reconheceu, no homem de quem ouvira falar como o grande perseguidor, alguém que fora escolhido para se tornar mais hábil do que todos os outros na obra de espalhar o evangelho pelo mundo.Reis. Esta promessa foi cumprida, não de forma exclusiva, no discurso de Paulo perante Agripa (At 26:1, 2) e, possivelmente, diante de Nero (ver com. de 2Tm 4:16).Filhos de Israel. Embora fosse um apóstolo aos gentios, Paulo pregava aos judeus sempre que tinha oportunidade (ver At 13:5; 14:1; 17:1, 10; 18:4, 19; 19:8). |
At.9:16 | 16. Eu lhe mostrarei. Isto sugere instruções especiais de Cristo a Paulo, talvez por meio de visões (cf. At 20:23). A expectativa de sofrimento tende a deter algumas pessoas de dar início a um projeto. Para Saulo de Tarso, porém, tal possibilidade seria um desafio. Mesmo que não expiasseo passado, ela o capacitaria a produzir frutos dignos de seu arrependimento. Esta pre- dição de sofrimento se cumpriu em diversas situações (ver 2Co 11:23-28; 2Co 6:4, 5; ver também com. de Mt 5:10-12; At 14:22; Rm 8:17; 2Tm 2:12). |
At.9:17 | 17. Ananias foi. Ele aceitou as declarações divinas e prestou obediência imediata.Impôs sobre ele as mãos. Este rito tinha dois propósitos: curar (ver Mc 16:18) e derramar o Espírito Santo (ver com. de At 6:6). Serviu para confirmar a visão de Saulo (At 9:12) e identificar o visitante enviado por Deus.Saulo, irmão. O antigo perseguidor havia rompido os laços com as autoridades judaicas e tinha poucas perspectivas de ser aceito pelos cristãos. Portanto, ao chamá-lo de “irmão”, Ananias despertou sua confiança e dissipou seus temores. Ananias usa a mesma forma hebraica (aramaica) do nome (Shaul) que Jesus empregou na visão a caminho de Damasco (ver com. do v. 4).O Senhor [...], o próprio Jesus. Este título composto combina a forma que Saulo usara para se dirigir ao interlocutor celestial (v. 5) e a identificação do próprio Cristo como “Jesus” (v. 5). Isto também daria segurança ao ex-perseguidor.Enviou. Isto liga a visão de Paulo na estrada à visita de Ananias. Saulo poderia então receber as instruções prometidas (v. 6), que são relatadas com detalhes em Atos 22:14 a 16.Que te apareceu. O fato de Ananias, até essa ocasião desconhecido de Saulo, já saber da revelação na estrada de Damasco deve ter sido uma confirmação ao ex- perseguidor da realidade daquilo que ele vira e ouvira.Recuperes a vista. Literalmente, “olhe para cima”, ou seja, recupere tua visão. Há uma relação íntima entre a imposição de mãos, a recuperação da vista e o recebimento do Espírito Santo.Fiques cheio. Comparar com At 2:4; 4:31; Ef 5:18. |
At.9:18 | 18. Escamas. Do gr. lepides, usado por Hipócrates como termo técnico para urna doença no olho. Uma vez que a cegueira de Paulo resultou de uma manifestação sobrenatural, é inútil tentar identificar essa limitação pela terminologia médica contemporânea. No entanto, é compreensível que Lucas tenha usado um termo médico para descrever a condição de Saulo.Tornou a ver. Literalmente, “ele olhou para cima", isto é, recuperou a visão.A seguir. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. Contudo, o termo “imediatamente'' deixa claro que a cura foi instantânea.Batizado. O relato mais completo em Atos 22:16 mostra que Ananias exortou Paulo a participar do rito. Fica claro que o batismo era considerado uma condição para a admissão na igreja (ver com. de Mt 3:6; At 22:16). Nenhuma visão ou revelação de Senhor, nem a intensidade da convicção pessoal eximiram Saulo de ser batizado. E provável que o batismo tenha sido realizado no rio Abana ou Parlar, ambos mencionados na narrativa de Naamã (2Rs 5:8-14). O rito foi oficiado por Ananias, como representante de Cristo (AA, 122). |
At.9:19 | 19. Ter-se alimentado. A primeira frase deste versículo parece se encaixar melhor como encerramento do v. 18 (ver com. de Mt 3:4). O jejum de três dias deve ter deixado Saulo debilitado.Fortalecido. Como disse Calvino, “ele só revigorou o corpo com alimento depois que sua alma foi fortalecida". Então, tanto o corpo quanto a mente ficaram fortes para o trabalho que o aguardava.Permaneceu. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante “ele estava”, numa referência clara a Saulo.Alguns dias. A expressão gr. hêmemi tines também é usada por Lucas em Atos 10:48; |
At.9:20 | 20. Logo. Cristo curou Saulo “imediatamente” (v. 18) e este começou a testemunhar “logo”. Os dois advérbios se originam da mesma palavra grega.Pregava f...] a Jesus. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante “Jesus”, em vez de “Cristo” (ACF), pois este termo ainda era pouco usado. A afirmação de que Jesus de Nazaré era o Cristo, o esperado Afessias, era a principal mensagem dos apóstolos aos judeus. Certamente, a pregação de Saulo, assim como a de Pedro (ver com. de At 2:16) tinha forte embasamento profético (AA, 123, 125).Nas sinagogas. Assim como Cristo (ver com. de Lc 4:16), Saulo começou a ir às sinagogas, onde teria um público garantido para ouvir o evangelho. Por guardar o sábado, ele frequentava a sinagoga nesse dia. Em vez de entregar aos chefes das sinagogas as cartas que recebera dos líderes de Jerusalém (At 9:2), anunciou-lhes o evangelho que provinha de autoridade muito superior à dos principais sacerdotes (sobre a prática de pregar aos “filhos de Israel” nas sinagogas, ver com. do v. 15).O Filho de Deus. Sobre este título, ver com. de Lc 1:35. Esta é a única ocasião em Atos na qual o título é usado para se referir a Jesus. O que Paulo proclamou foi que Cristo era o Filho de Deus, além de Filho de Davi e que Jesus de Nazaré demonstrara ser o Cristo. Além de causar perplexidade nos judeus (ver com. de Mt 22:41-46), pareciam ser declarações blasfemas. Era necessária muita graça para os judeus aceitarem a mensagem de que Jesus era o Filho de Deus. |
At.9:21 | 21. Atônitos. Ver com. de At 2:7. Esta surpresa é compreensível uma vez que a reputação de Paulo era de um perseguidor dos cristãos. As autoridades da sinagoga haviam sido instruídas a cooperar com Sardo na obra que ele estava por fazer. Os acontecimentos seguintes deixam claro que sua fama se tornara bem conhecida pelos judeus de Damasco,Exterminava. Ou, “devastava”. Paulo usa o mesmo verbo para descrever sua conduta (Cl 1:13, 23). A expressão forte usada aqui deixa claro que a matança dos cristãos em Jerusalém não se limitou ao apedreja- mento de Estêvão.Os que invocavam o nome. Ver com. de At 2:21; 3:16; 4:12.Para aqui veio. Isto sugere que o propósito da ida de Saulo a Damasco fora abandonado. |
At.9:22 | 22. Saulo, porém, mais e mais. Elecrescia em experiência e eficácia. O Espírito Santo lhe concedia mais e mais poder com o passar do tempo.Fortalecia. Posteriormente, esta palavra desempenhou um papel importante no pensamento de Paulo: "Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:13). Ele percebeu que era de Cristo a “força” que manifestava “todo o seu poder” na fraqueza dele (2Co 12:9, BJ);Confundia. Do gr. sugchunõ, "derramar junto”, “desnortear” ou “confundir ’. A instrução que Paulo recebera de Gamaliel o colocava em posição vantajosa. Ele pocfia usar seu conhecimento do judaísmo para emba- sar suas novas convicções. Seus métodos chamavam a atenção dos judeus que buscavam com sinceridade a Esperança de Israel, ínfelizmente, porém, esse grupo não era a maioria dos ouvintes. O restante dos judeus se “confundia”. Eles ouviam as passagens das Escrituras aplicadas à vida de Jesus com a mente fechada. Continuavam a rejeitar o Salvador, mas ainda não tinham chegado a atacar Saulo.Demonstrando. Do gr. sumbibazõ, "unir ’, “fazer uma pessoa se unir a si em uma conclusão”; logo, “demonstrar” ou “provar”. Com suas habilidades, Saulo demonstrava que as profecias do Messias se cumpriram em Jesus de Nazaré, e que Ele era o “Ungido”. |
At.9:23 | 23. Muitos dias. Do gr. hêmerai hika- nai, expressão que se refere, no v. 43, ao tempo que Pedro passou em Jope; em Atos 18:18, ao período que Paulo permaneceu em Corinto depois de sua audiência perante Gáfio; e, em Atos 27:7, ao longo período da lenta navegação de Paulo em sua viagem a Roma. Portanto, parece que a expressão abrange um intervalo relativamente longo, mas indefinido. Em contraste, a expressão “alguns dias” denota um período mais curto (ver com. do v. 19).Esta distinção é muito valiosa na tentativa de reconstruir esse período da carreira do apóstolo. A expressão “alguns dias”, do v. 19, e os “muitos dias” deste parecem diferenciar dois períodos de residência em Damasco. O primeiro foi breve e terminou quando Saulo confundiu os judeus (v. 22). O segundo foi mais longo e chegou ao fim com sua fuga de Damasco (v. 23-25). A visita à Arábia (G1 1:15-18) pode ser melhor encaixada entre os dois períodos (AA, 125-128).Lucas não faz menção a essa visita, mas Paulo afirma ter ido à Arábia logo depois de sua conversão, antes do retorno a Damasco e da volta a Jerusalém (G1 1:15-18). Após a crise na estrada de Damasco, repouso e isolamento eram desejáveis e a comunhão tranquila com Deus se fazia necessária a fim de prepará-lo para os anos de labor intenso à 1:rente. Se os “três anos” de Gálatas 1:18 forem contados a partir da conversão de Saulo, então as duas visitas a Damasco se incluiríam nesse período e a residência de “muitos dias” na cidade não teria se esten- dido desnecessariamente.Não se conhece a localização precisa da “Arábia” para onde Saulo foi. No entanto, o fato de Damasco, na época, se encontrar ocupada por tropas de Aretas IV, rei da Arábia Pétrea, ou Nabateia (ver mapa, p. 334), torna provável que ele tenha ido para essa região. Era uma área extensa, que ia da fronteira do Egito até os arredores de Damasco, portanto não há como ter uma icleia específica de para onde Saulo foi. Tampouco, há informações definitivas quanto ao período de sua visita (ver dados cronológicos, na p. 88).É provável que, no período da ausência de Saulo, tenha ocorrido um grande crescimento da comunidade cristã em Damasco, com um tipo de disciplina e adoração semelhante ao de Jerusalém. Não se sabe da admissão de nenhum converso gentio à igreja, e a pregação do evangelho ainda se restringia aos judeus. Sentindo afeição profunda por seus irmãos segundo a carne (Rim 10:1), Saulo começou uma obra vigorosa de evangeliza- çào entre eles, até que amarga oposição o afastou de Damasco. O próprio Saulo experimentava então o ódio que fora despejado sobre Estêvão.Deliberaram. As autoridades quiseram tramar contra Cristo por causa do sucesso de Seu ministério (ver com. de Mt 15:21; 19:2; Jo 5:16). De igual modo, a obra de Saulo levou os judeus a uma oposição criminosa.Sua opinião quanto ao testemunho do novo apóstolo pode ser avaliada pelas medidas drásticas que tomaram na tentativa de silenciá-lo. |
At.9:24 | 24. Plano. Do gr. epiboulê, "plano contra alguém”, portanto, “conspiração”. A mesma palavra é usada em Atos 20:3, 19; e 23:30 c peculiar a Atos. Denota urna oposição planejada com cuidado, cujo objetivo era a morte de Saulo. Este ficou sabendo do plano, talvez por meio de um de seus discípulos (ver com. do v 25). O fato de ser advertido demonstra que ele fizera amigos na cidade, os quais se encontravam dispostos a ajudá-lo.Guardavam. Ou, “estavam vigiando” em segredo, dia e noite (sobre detalhes acerca deste incidente, ver 2Co 11:32, 33). O etnarca (governador) da cidade tomou parte ativa na conspiração contra Saulo. Ele representava o nabateu Aretas, rei da Arábia Pétrea, cuja capital era Petra, no antigo reino de Edom. Era pai da mulher de quem Herodes Antipas se divorciou a fim de se casar com Herodias (ver vol. 5, p. 28, 51). Aretas tomara posse de Damasco (ver com. do v. 2). Foram encontradas moedas damas- cenas com o nome de Augusto e de Tibério, mas nenhuma citando o nome dos sucessores de Tibério, Calígula e Cláudio. Tibério foi amigo de Herodes Antipas e o apoiou contra Aretas, mas é possível que Calígula tenha invertido esta política, criando uma nova etnarquia em favor de Aretas, cujos antepassados haviam dominado Damasco (Josefo, Antiguidades, xiii.15.2 [392]). Parece que o etnarca queria granjear o favor da grande população judaica e, vendo Saulo como um perturbador da paz pública, tomou medidas para que fosse preso e condenado. O relato de Lucas deixa entrever que os judeus foram os maiores responsáveis pela prisão do apóstolo. A história contada por Paulo (2Co 11:32) não conflita com isso, mas revela que eles tiveram apoio do governador. Sentinelas foram posicionadas em todas as portas da cidade que poderíam ser usadaspara a passagem de um fugitivo, a fim de impedir a fuga de Saulo.Cesto. Do gr. spuris, "cesto”, provavelmente um cesto de mão (cf. Mt 15:37). Mas Paulo descreve o objeto usando outra palavra, sarganê, "grande cesto” (2Co 11:33), com tamanho suficiente para que coubesse uma pessoa. Essa experiência foi mencionada por Paulo em conexão com suas “fraquezas’', das quais ele se gloriava (2Co 11:30) e entre as quais podería se incluir sua baixa estatura, atribuída pela tradição. A fuga foi feita por uma abertura ou janela no muro da cidade (2Co 11:33; cf. a fuga dos espias da casa de Raabe, js 2:15; e a de Davi da própria casa, em ISm 19:12). Saulo devia ter consciência do caráter insólito da situação: ele foi salvo, de uma maneira humilhante, justamente por aqueles a quem planejara aniquilar. |
At.9:25 | Sem comentário para este versículo |
At.9:26 | 26. Jerusalém. A fuga de Damasco para Jerusalém ocorreu após os três anos de residência na Arábia (ver G1 1:17, 18). Portanto, seria a primeira visita de Paulo à capital desde a partida para Damasco e é provável que ainda fosse conhecido pelos cristãos em Jerusalém somente como um inimigo.Procurou juntar-se. O verbo traduzido por “juntar-se” (kollaõ) é usado para se referir a comunhão próxima, ou íntima, como a que existe entre marido e mulher, irmãos e amigos (ver com. de Mt 19:5; Lc 15:15). Saulo buscou plena fraternidade com os discípulos. Caso tivesse ido para Alexandria ou qualquer outra cidade onde havia muitos judeus, seu primeiro pensamento seria procurar seus companheiros de fé. Foi isso que ele fezem Jerusalém: buscou se juntar à comunidade cristã. Mas a igreja suspeitava dele. Os membros da igreja só conheciam Saulo por causa da perseguição. Não teria ele ainda o desejo de destruí-los? Eles seriam cautelosos até terem certeza da sinceridade dele. A ignorância quanto à natureza genuína da conversão de Saulo pode ser explicada por dois motivos: a ausência por “três anos” (ver com. do v. 23) abria pouco espaço para notícias confiáveis de sua atitude em relação ao cristianismo; e mudanças políticas na cidade de Damasco (ver com. do v. 24) podem ter interrompido a comunicação entre os cristãos dessa cidade e os de Jerusalém.Porém, o temiam. Esta frase devia ser acompanhada de “e”, não de “porém”. Essa mudança criaria um contraste menos acentuado entre o desejo de Saulo de se juntar aos irmãos e o comportamento que estes apresentavam. A frase ficaria assim: “e todos [os discípulos] o temiam”. Eles tinham motivos para temê-lo e, sem saber por que mudar, continuaram a tê-los. E possível que se perguntassem se Saulo não estaria apenas disfarçando sua natureza verdadeira a fim de espioná-los e provocar ainda mais confusão.Não acreditando. Isto mostra que alguém havia informado os discípulos sobre a conversão de Saulo, mas eles não estavam prontos para aceitar a notícia de tal milagre. Queriam evidências confiáveis de mudança antes de aceitá-lo na comunidade. Dadas as circunstâncias, a cautela era natural e até recomendável. |
At.9:27 | 27. Barnabé. Por que Barnabé aceitou Saulo enquanto os outros discípulos o temiam? A resposta é que ele era uma pessoa gentil e generosa (ver com. de At 4:36, 37). Muitos comentaristas sugerem que Barnabé acolheu Saulo por conhecê-lo previamente. Se for verdade, pode-se entender que Barnabé, confiando no caráter irrepreensível de Saulo, creu no milagre de sua conversão e o recomendou aos apóstolos. Esse ato debondade também revela a posição de influência que Barnabé ocupava na igreja.Aos apóstolos, isto é, levou-o até os apóstolos que se encontravam em Jerusalém. No relato mais específico encontrado em Gaiatas 1:18 e 19, Saulo declara que foi a Jerusalém “para avistar-[se] com Cefas” e que o único outro líder que ele viu foi “Tiago, o irmão do Senhor''. Embora tenha recebido seu chamado diretamente de Jesus, queria ouvir sobre o Senhor daqueles que foram testemunhas oculares de Sua vida e de Seu ministério na Terra. Uma vez que são mencionados só Pedro e João, é possível que os outros apóstolos não estivessem em Jerusalém na época. Outra possibilidade é que, sentindo a resistência da igreja, ele não tenha feito esforços para impor sua presença no meio dos cristãos. Ele registra que “não era conhecido de vista das igrejas da Judeia” (Gl 1:22). No entanto, esta expressão pode significar apenas que ele não era conhecido nas igrejas da província da judeia, embora conhecesse pessoalmente os membros de Jerusalém. Considerando sua vigorosa atividade evangelística em Jerusalém (At 9:28, 29), é bem difícil que ele não fosse conhecido pela igreja na capital. Em contrapartida, sua visita durou apenas 15 dias (Gl 1:18) e foi interrompida por tentativas de lhe tirarem a vida (At 9:29, 30).Contou-lhes. Do gr. diêgeomai, “declarar plenamente’', “contar em detalhes”. O texto grego deixa bem claro que foi Barnabé quem fez isso no lugar de Saulo. Pressupõe um relato anterior completo feito por Saulo de sua experiência de conversão a Barnabé, o qual contou a história em seguida.Vira o Senhor. Nenhum dos outros relatos do encontro de Saulo na estrada de Damasco (At 9:3-9; 22:6-11; 26:12-18) afirma que ele viu o Senhor Jesus. Contudo, em Atos 9:17 e 26:16, se diz que o Senhor apareceu a Saulo; e, em Atos 22:14, Ananias afirma que Saulo viu “o Justo”. Nessa ocasião,Barnabé diz com toda clareza que Saulo “vira o Senhor no caminho”. Isto está de acordo com declarações posteriores de Paulo: “Não vi Jesus, nosso Senhor?” e “[o Senhor] foi visto também por mim” (lCo 9:1; 15:8).Falara. Era importante os apóstolos saberem que Cristo havia falado àquele a quem Barnabé defendia. Eles haviam recebido um chamado direto do Senhor (ver com. de Mc 3:14; Mt 28:19, 20) e ficariam impressionados ao descobrir que Saulo também recebera um chamado pessoal do mesmo Mestre.Pregara ousadamente. Do gr. parrê- siazornai, “falar com clareza” ou “livremente”; logo, “crescer em confiança’' ou “ter ousadia” (cf. At 9:29; 14:3; 18:26). Isto era uma prova da natureza genuína da conversão de Saulo. Ele passou a defender com ousadia a causa que originalmente se propusera a destruir. Barnabé sabia muito bem que a notícia do ministério intrépido de Paulo deixaria uma impressão profunda na mente dos apóstolos e os levaria a aceitá-lo como um deles.Nome de Jesus. Ver com. de At 3:6, 16. |
At.9:28 | 28. Estava com eles. Isto subentende comunhão íntima.Entrando e saindo. Não significa que Paulo entrava e saía da cidade constantemente, mas que se movimentava livremente dentro de Jerusalém (ver com. de At 1:21). |
At.9:29 | 29. Falava. Ver com. do v. 27. A primeira frase do v. 29 deve ser interpretada junto com o v. 28. Literalmente, diz: “falando ousadamente em nome do Senhor”. A segunda sentença diz, literal mente: “ele estava tanto falando quanto debatendo com os gregos”.Nome (ARC). Ver com. de At 2:21; 3:6, 16.Discutia. A palavra grega traduzida por “discutia” é usada por Lucas para descrever o encontro de Estêvão com os helenistas (ver com. de At 6:9). Contudo, há uma diferença notável. Os helenistas haviam discutido comEstêvão, mas desta vez era Paulo quem discutia com eles. Por ser um judeu de Tarso, estava bem preparado para esse debate (ver com. do v. 11). Eles entraram num frenesi acalorado. Por duas vezes dentro de poucas semanas a vida do apóstolo correu perigo, primeiramente em Damasco (v. 24) e, então, em Jerusalém.Helenistas. Isto é, os judeus helenistas (ver com. de At 6:1).Procuravam. Do gr. epicheireõ, “colocar a mão em” ou “tentar” (ver At 19:13; cf. com de Lc 1:1; At 9:23, 24).Tirar-lhe a vida. Saulo estava disposto a enfrentar a morte que sobreviera a Estêvão, mas o Senhor tinha outros planos para esse corajoso crente. E nesse contexto que a visão de advertência e instrução pode se encaixar melhor (ver com. de At 22:17-21; cf. AA, 130). |
At.9:30 | 30. Ao conhecimento dos irmãos, Eles conheciam Saulo e a conspiração que fora feita contra ele. Tal conhecimento os despertou para ação imediata. Desceram com ele para o litoral, de onde poderia fugir.Cesareia. Não Cesareia de Filipe (ao pé. do monte Flermom), mas um porto marítimo que ficava cerca de 100 km a noroeste de Jerusalém. Dali seria fácil chegar a Tarso pelo mar, ou usando a estrada que seguia para o norte, pela costa da Síria. Em Cesareia, é provável que ele tenha se encontrado com Filipe. Os dois, um amigo e um ex- adversário de Estêvão, se veriam face a face como irmãos (ver com. cie At 8:40).Enviaram, Do gr. exapostellõ, literalmente, “enviar para fora de”. Isto parece sugerir que os discípulos mandaram Saulo de navio para Tarso. Não há conflito irreconciliável entre isto e a declaração de Paulo: “Depois, fui para as regiões da Síria e da Cilícia” (GJ 1:21). Juntas, a Síria e a Cilícia formavam uma província romana na época e, ao ir para Tarso, Saulo entrou nessa região. Há duas interpretaçõesalternativas: (1) sua embarcação parou em portos sírios a caminho de Tarso, na Cilícia; ou (2) Paulo foi primeiramente para Tarso e depois fez viagens missionárias em territórios próximos na Cilícia e na Síria. A última sugestão pode explicar a presença de igrejas cristãs na região, que devem ter sido fundadas sem ligação com a primeira viagem missionária de Paulo (ver com. de At 15:36, 41).Tarso. E possível que a cidade natal de Saulo (ver com. do v. 11) não fosse o refúgio mais confortável para o apóstolo. A declaração de Cristo de que "um profeta não tem honras na sua própria terra” (Jo 4:44) deve ter sido dolorosamente verdadeira no caso de Saulo. Ele não estava apenas voltando para sua terra natal, mas o fazia como um judeu renegado, um apóstata da fé de seus pais, líder da seita desprezada e perseguida dos cristãos. Pode-se imaginar como foi sua recepção e talvez isso explique seu silêncio em relação à própria família. Nesse ponto, a narrativa deixa de se concentrar em Saulo, até Barnabé procurá-lo para um ministério mais abrangente (At 11:25). |
At.9:31 | 31. Igreja. Evidências textuais (cf. p. xví) apoiam a variante “e a igreja em toda a Judeia e Galileia e Samaria teve paz”. A referência é a todo o corpo cristão, não a congregações específicas. Isto enfatiza a união entre as igrejas locais que formavam toda a igreja. Logo, a palavra “igreja” parece ser usada nesta passagem no sentido universal e não local.Na verdade. Ou, “portanto". O padrão de acontecimentos nos v. 29 a 32 é semelhante ao de Atos 8:3 a 5. Numa ocasião anterior, Saulo perseguira a igreja. Por isso, os cristãos se espalharam, pregando a palavra, e abriram caminho para Filipe levar o evangelho a Samaria. Nessa ocasião, o próprio Saulo foi perseguido, retirou-se para Tarso e a igreja teve uma trégua. Fez bom uso do momento de paz, e Pedro evangeli- zou a região litorânea.Paz. A trégua pode ter surgido pela partida de Paulo. Quando ele foi embora, o motivo de irritação dos judeus se foi. Outro motivo pode ser encontrado na manobra do imperador Calígula, que tentou colocar sua estátua no templo de Jerusalém (ver p. 65, 66), mas acabou sendo dissuadido, segundo Josefo (Antiguidades, xviii.8.2-8) pela oposição determinada dos judeus, pelas súplicas persistentes do rei Herodes Agripa, que residia em Roma na época, e pelos apelos de Petrônio, governador da Síria. De acordo com Josefo, o governador da Síria foi influenciado pelas chuvas que caíram no céu aberto, em resposta às orações de Israel, após um longo período de seca.Toda a Judeia. Esta breve nota abrange parte considerável da história da igreja apostólica e é significativa. Foi a primeira menção à existência de comunidades religiosas organizadas nas cidades e vilas da Palestina. Não é citado o nome de nenhuma igreja local. No entanto, muitas podem ter surgido como resultado tardio do ministério pessoal de Cristo. Além disso, a obra de Filipe, Pedro e João deve ser levada em conta (ver com. de At 8:5, 6, 14, 25). Seja qual for a origem cias igrejas palestinas, este versículo reconhece sua existência e demonstra que a ordem de Cristo (At 1:8) era fielmente obedecida.Edificando-se. Do gr. oikodemeõ, ‘‘construir uma casa”, “erigir um edifício” e, por extensão, “edilicar”, “construir'’ em geral. A “paz” mencionada no início do versículo deu oportunidade para a igreja ser edificada tanto no sentido organizacional quanto espiritual. Oikodemeõ é um termo frequente no vocabulário de Paulo (ver At 20:32; Rm 15:20; iCo 8:1; Cl 2:18; etc.).Temor do Senhor. A expressão é comum nos escritos do AT, nos quais expressa temor reverente (ver com. de Jó 28:28; Sl 19:9; Pv 1:7). Seu uso no NT é raro. A expressão em português só é usada nesta passagem e em 2 Coríntios 5:11.Conforto. Do gr. paraklêsis, “consolo”, "exortação”, “incentivo” (ver com. de Mt 5:4; Lc 6:24; Jo 14:16). A frase pode ser traduzida como “andando no [ou, pelo] conselho cio Espírito Santo”. Os membros da igreja temiam ao Senhor e eram guiados pelo Espírito. Toda a vida deles estava sob controle divino.Crescia em número. Em consequência do estado espiritual satisfatório da igreja, seus membros e grupos cresciam em número. A situação é sempre assim. Cristãos com uma vida espiritual ativa são frutíferos em levar a salvação aos perdidos. Essa lecun- didade ocorre tanto na vida dos leigos quanto no ministério dos oficiais da igreja. |
At.9:32 | 32. E aconteceu que (ARC). Ver com. de Lc 1:8. Esta expressão é típica de Lucas. Ele a utiliza pelo menos 39 vezes no evangelho e 14 em Atos. Em geral, marca um ponto crítico da narrativa.Passando. Do gr. dterckomai, “ir através de” (sobre a importância missionária do termo, ver com. de At 8:4; cf. Lc 9:6).Pedro. Deste ponto até Atos 11:25, o relato deixa Saulo e se volta para o trabalho de Pedro. Por isso, esta seção às vezes é chamada de “Atos de Pedro”. No entanto, fica claro que Lucas registra o ministério de Pedro não para fazer uma biografia parcial desse pilar da igreja, mas com o objetivo de cumprir seu plano literário geral de retratar a conversão dos gentios. Quando, por intermédio da obra de Pedro, esta nova fase do testemunho cristão se encontra encaminhada, o autor retorna para a carreira de Saulo e se concentra em seus esforços missionários entre os gentios.A narrativa de Lucas (At 8:25) deixara Pedro e João pregando o evangelho em vilas samaritanas no caminho de volta para Jerusalém. Depois de retornar, recebeu a visita de Saulo por 15 dias (G1 1:18). Fica claro que os apóstolos não se confinaram em Jerusalém; eles iam cada vez mais longe e ministravam a grupos de cristãosrecém-estabelecidos. Essas visitas ajudavam a unir a igreja e promoviam o crescimento.Por toda parte. A expressão também pode ser traduzida por “entre todos eles”, referindo-se aos grupos de igrejas do v. 31 ou aos “santos” mencionados neste versículo.Santos. Ver com. do v. 13.Lida. Esta é a Lode do AT (lCr 8:12; Ed 2:33; Ne 7:37; 11:35), conhecida nos tempos modernos como Ludd. A cidade foi fundada por membros da tribo de Benjamim (lCr 8:1, 12), na rica planície de Sarom. Ficava 17,7 km a sudeste de jope e um dia de viagem a noroeste de Jerusalém. Josefo (Antiguidades, xx.6.2) a chamou de uma vila “não menor do que uma cidade em tamanho”. A pedido de judas Macabeu, Demétrio Sóter transferiu seu território para o templo de Jerusalém (I Macabeus 11:32-34). Sob o governo romano de Cássio, célebre por se apropriar brutalmente de propriedades e recursos, seus habitantes foram vendidos como escravos (Josefo, Antiguidades,, xiv.l 1.2 [275]). No entanto, a vila havia recuperado sua prosperidade passada e devia abrigar uma animada comunidade cristã. Nas guerras anteriores à destruição de Jerusalém, foi queimada por Céstio Galo, em 66 d.C. (Josefo, Guerra dos judeus, ii. 19.1 [515, 516]), quando a maioria de seus habitantes se encontrava em Jerusalém para a Festa dos Tabernáculos. Depois, foi ocupada por Vespasiano, em 68 d.C. (ibid., iv.8.1 [444]). Ouando foi reconstruída, provavelmente durante o governo de Adriano (c. 130 d.C.), a cidade recebeu o nome de Dióspolis (cidade de Zeus). Mais tarde, se transformou na sede de um dos principais bispados da igreja síria. Sua característica marcante parece ter sido a pobreza. O antigo comentarista judeu, rabino Natã (160 d.C.), afirmou o seguinte: “Há dez porções de pobreza no mundo, nove em Lídia [Lida] e uma em todo o resto’’ (Midrash Rabbah, sobre Et 1:3; ed. Soncino, p. 30). E bem provável que a fé em Cristo tenha sido semeada na cidade pelo evangelista Filipe.A cidade fica na direção que Filipe viajou ao passar por “todas as cidades” no caminho cie Azoto a Cesareia (ver com. de At 8:40). |
At.9:33 | 33. Eneias. Do gr. Aineas, antigo nome grego. Não tem relação com o famoso herói de Troia, Eneias. Em Josefo (Antiguidades, xiv.10.22 [248]), o nome foi usado para se referir a um judeu, portanto este homem podia muito bem ser um judeu helenista (ver com. de At 6:1). Não se sabe se ele era discípulo, mas isso pode ser inferido por ele estar entre os “santos”. O cuidado de Lucas ao registrar que Eneias era um paralítico acamado havia oito anos pode refletir exatidão profissional (cf. Lc 13:11; At 3:2; 4:22; 14:8). Lucas demonstra seu interesse em assuntos médicos (ver com. de At 3:7; 9:18; 28:8; sobre a palavra “paralítico”, ver com. de Mt 4:24; Mc 2:3). Não há dúvida quanto à natureza milagrosa da cura deste homem. |
At.9:34 | 34. Jesus Cristo. Pedro toma o cuidado de não sugerir que ele possui poder pessoal para curar. Ele atribui a Cristo a habilidade de ajudar o sofredor (cf. At 3:6, 12; 4:9, 10).Cura. O uso do tempo verbal presente sugere que a cura foi imediata: “ele, imediatamente, se levantou”.Levanta-te. Ordem dada pelo Senhor em casos semelhantes (Alt 9:6; Jo 5:8).Arruma o teu leito. Ele deveria fazer, de imediato, aquilo que os outros precisaram fazer por ele durante tantos anos. |
At.9:35 | 35. Viram-no. A paralisia do homem havia oito anos devia ser bem conhecida na região, e vê-lo curado deve ter atraído tanta atenção quanto o caso do coxo no templo (cf. At 3). Sem dúvida, muitos procuraram saber como o homem fora curado.Todos os habitantes. Isto é, não necessariamente cada indivíduo, mas um grande número de habitantes. A propagação dessa notícia proporcionou à região um reaviva- mento geral da fé.Sarona. Do gr. ho Sarõn, “a Sarom”, do heb. Sharon. Não se conhece nenhumacidade ou vila com este nome. O uso do artigo torna possível que a referência seja à planície de Sarom, que fica entre as montanhas centrais da Palestina e o mar Mediterrâneo, estendendo-se pelo litoral de jope até o Carmelo. Era célebre por sua beleza e fertilidade (ver com. de Is 35:2; 65:10).Os quais se converteram. O milagre da restauração física de Eneias despertou fé no poder de Jesus Cristo para realizar curas espirituais. Desse modo, o círculo de cristãos aumentou ainda mais. Estava sendo preparado o caminho para a apresentação do evangelho aos gentios que viviam na região litorânea. |
At.9:36 | 36. Jope. Do gr. loppê, do heb, Yajo, que significa "beleza”, a atual Tell Aviv-Jaffa (ver com. de Js 19:46; 2Cr 2:16; Jn 1:3). A cidade é mencionada pelos egípcios do século 15 a.C. Nas lendas gregas, era famosa por ser o lugar onde Andrômeda estaria acorrentada quando foi salva por Perseu (Estrabão, Geografia,xvi. 2.28; Josefo, Guerra, dos Judeus, iii.9.3 [420, 421]). A cidade ficava numa colina tão alta que se afirmava ser possível avistar Jerusalém de seu cume. Era o porto mais próximo de Jerusalém; e, embora fosse difícil e perigoso entrar em seu ancoradouro, foi usada para desembarcar a madeira levada do Líbano para a construção do templo em duas ocasiões: na época de Salomão e de Zorobabel (LRs 5:9; 2Cr 2:16; Ed 3:7). Era desse porto que os navios partiam para Társis (Jn 1:3). Sob o domínio macaheu, o ancoradouro e as fortificações foram restaurados (1 Macabeus 14:5). Augusto deu a cidade a Herod.es, o Grande, e depois a Arquelau (Josefo, Antiguidades, xv.7.3;xvii. 11.4). Quando Arquelau foi deposto, a cidade passou a lazer parte da província romana da Síria. No entanto, permaneceu judia e leal ao judaísmo durante as revoltas de 66-70 d.C. No tempo de Pedro e mais tarde, era notória por funcionar como base para piratas. Ali, assim como no caso de Lida(ver com. do v. 32), a fundação de um grupo cristão deve ter sido realizada por Filipe (ver com. de At 8:40).Discípula. Do gr. mathêtria, feminino de discípulo.Tabita. Nome aramaico, Tabyetha, que corresponde ao heb. Zíbia, no AT (2Rs 12:1; 2Cr 24:1; ICr 8:9); e quer dizer “gazela”. A forma gr. Dorkas significa "cabra selvagem” ou “gazela”. A citação do nome desta discípula em duas línguas pode sugerir alguns pontos de contato entre os grupos hebreus e helenistas da igreja.Boas obras. Alguns consideram D orcas a diaconisa da igreja de Jope. Caso seja verdade, isso pode refletir a influência de Filipe. Ele era um dos sete (ver At 6:3, 5) e é possível que tenha instituído o modelo organizacional da igreja de Jerusalém nos grupos que fundou. Por isso, Dorcas demonstraria cuidado especial pelas viúvas da igreja (cf. At 6:1; 9:39).Esmolas. Do gr. eleêmosunê, “misericórdia”, sobretudo quando demonstrada por meio de esmolas; portanto, “caridade’, “beneficência” ou “esmolas”. A benevolência de Dorcas era demonstrada de duas formas principais: ela fazia serviços de “boas obras” e doava recursos por meio de “esmolas”. Não si. satisfazia em fazer caridade apenas a distância, mas doava de si mesma e de seus bens. |
At.9:37 | 37. Aconteceu. Ver com. do v. 32.Ela adoeceu e veio a morrer. Os detalhes quanto aos cuidados com o corpo de Dorcas são evidências de que ela havia morrido de fato. Alguns críticos lançam dúvidas quanto à veracidade dos milagres de ressurreição alegando que a pessoa estaria apenas em coma.Lavarem. O costume de lavar o cadáver era praticado por muitos povos na era clássica. Entre os judeus, era conhecido como “purificação do morto”. A Mishnah (Shabbath, 23.5; ed. Soncino, Tal mude, p. 771) declara: “Todos os cuidados com o morto podem serrealizados; ele pode ser ungido com óleo e lavado'’. As mulheres da igreja desempenharam essa tarefa em sua amada Dorcas.Puseram-na. Em Jerusalém, o sepultamento ocorria no dia da morte (cí. At 5:6, 10). Fora da capital, é possível que houvesse um intervalo de três dias entre a morte e o sepulta mento. O cadáver ficava ali até findar toda esperança de despertamento e não haver o perigo de enterrar a pessoa viva. Durante o período de espera, o corpo costumava ser colocado no cenáculo, o cômodo de cima, embaixo do telhado. No caso de Dorcas, é possível que a igreja tenha adiado o sepultamento na esperança de uma intervenção divina. Pedro acabara de curar Eneias, e os devotos podem ter ficado na expectativa de que Dorcas fosse ressuscitada. |
At.9:38 | 38. Perto de Jope. Lida fica menos de 18 km a sudeste de Jope. Portanto, a notícia da cura de Eneias deve ter chegado rapidamente à cidade.Não demores. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta forma de súplica direta. Os mensageiros podem ter deixado jope antes da morte de Dorcas, na esperança de que o apóstolo chegasse a tempo de curá-la. Contudo, a maior probabilidade é de que a morte já houvesse ocorrido e a igreja tivesse fé na ressurreição mediante o poder de Deus. De todo modo, a pressa era necessária para salvar a vida ou evitar o sepultamento. |
At.9:39 | 39. Pedro atendeu. Ele estava pronto para qualquer apelo genuíno, sobretudo para um chamado tão urgente quanto o dos cristãos em Jope.Cenáculo. Ver com. do v. 37.Todas as viúvas. Lucas demonstra simpatia especial pelas mulheres (ver com. de Lc 8:2, 3). Ele menciona viúvas nove vezes nos evangelhos e três vezes em Atos. As "viúvas’’ da igreja recebiam cuidado cristão (ver com. de \t (Cl). A expressão usada aqui sugere que a igreja de Jope era organizada em seu trabalho de caridade.Túnicas e vestidos. Do gr. chitones e himatia, respectivamente (ver com. deMt 5:40).Dorcas fizera. Ou, “costumava fazer”. Ela tinha o costume de fazer roupas com fins de caridade (ver com. do v. 36). |
At.9:40 | 40. Tendo feito sair a todos. Ao proceder assim, Pedro seguiu o exemplo do Senhor na ressurreição da filha de jairo Der com. de Mc 5:39, 40), que ele testemunhara. Havia barulho de grande lamento (At 9:39) no cômodo onde se encontrava o corpo de Dorcas. Pedro sentiu necessidade de silêncio, a fim de entrar em comunhão com Deus. isso lembra a atitude de Elias ao ressuscitar o filho da viúva (lRs 17:17-23) e o procedimento de Eliseu ao ressuscitar o filho da sunamita (2P\s 4:33). Os servos de Deus não ostentam demonstrações de poder.Orou. Pedro se ajoelhou e fez uma oração fervorosa, reconhecendo que somente o poder de Deus seria capaz de realizar o milagre. Mais uma vez, a oração demonstra ser o canal usado pela igreja apostólica para obter poder (ver com. de At 1:14, 24; 6:4, 6; 8:15; 9:11; 10:2). A natureza sincera, humilde e piedosa de Pedro é claramente revelada neste episódio (ver com. de At 3:1).Voltando-se. Depois de orar, ele teve a certeza de que sua oração fora ouvida. Pedro reconhecia sua total dependência do poder divino e, quando teve certeza de que este estava em operação, não hesitou em agir.Corpo. Este versículo não deixa dúvida a respeito da natureza do milagre que se seguiu. Dorcas estava morta (ver com. do v. 37). Pedro se voltou para seu corpo sem vida.Levanta-te. A brevidade desta ordem demonstra sua firme crença de que a oração seria respondida positiva mente.Sentou-se. Do gr. anakaihizõ, "sentar- se’’. O termo é usado por escritores médicos e por Lucas no evangelho (Lc 7:15) para descrever um paciente que estava deitado na cama e que conseguia se assentar. O breverelato da ressurreição de Dorcas é vivido. Seus olhos se abrem, como se, antes, estivesse dormindo; ela tem uma visão inesperada de Pedro, a quem não deveria conhecer. Depois, o momento culminante em que aquela que estivera morta se assenta. Esses detalhes revelam os interesses médicos de Lucas. |
At.9:41 | 41. Dando-lhe a mão. Ela aceitou a mão oferecida, pois já estava consciente, ao contrário da filha de Jairo, em cujo caso Jesus "tomou a menina pela mão” (Mt 9:25). Este detalhe é uma evidência de que as duas narrativas são independentes. A segunda não é um mero eco da anterior, como alguns argumentam.Os santos. Ver com. do v. 13. Isto não significa que as viúvas não faziam parte do grupo dos “santos”, ou cristãos, embora Dorcas pudesse ajudar também algumas que não faziam parte da igreja.Apresentou-a viva. Pedro garantiu que o milagre de Deus recebería o devido reconhecimento. Ele reuniu os que conheciam Dorcas pessoalmente e que poderíam dar testemunho da realidade de sua morte e, depois, a apresentou publicamente a eles. Assim, certificou-se de que a ocorrência do milagre seria testemunhada em grande escala. |
At.9:42 | 42. Muitos creram. A notícia do milagre se espalhou com rapidez. Toda a região de Jope passou por um despertamento espiritual,e a mensagem do evangelho recebeu poderoso ímpeto. |
At.9:43 | 43. Ficou. Não há como saber por quanto tempo Pedro ficou ali (ver sobre “muitos dias”, no com. do v. 23).Um curtidor chamado Simão. Lucas demonstra interesse pelos nomes dos personagens secundários da história (ver At 9:11, 33, 36; 12:13; 21:16) e por suas profissões (ver At 8:27; 10:1; 16:14; 18:3; 19:24). A profissão de curtidor era repudiada por judeus rigorosos porque a pessoa entrava em contato com carcaças e peles de animais mortos, com o risco de contaminação (ver Lc 11:24, 25), ou por se tratar de um negócio repugnante e desagradável. Os rabinos judeus afirmavam que se um curtidor estivesse prestes a se casar e escondesse sua profissão da futura esposa, o ocultamento seria considerado fraude e invalidaria o contrato nupcial (Mishnah Kethuboth, 7,10; ed. Soncino, Talmude, p. 482, 483). A casa deste curtidor ficava “à beira-mar” (At 10:6). Seria fácil para Pedro, durante a longa permanência com o humilde e hospitaleiro Simão, voltar a pescar e, assim, obter seu sustento. O lato de estar disposto a ficar na casa de um curtidor revela que o apóstolo já começava a abandonar seus preconceitos judaicos. Nisso, Deus já estava preparando Pedro para pregar ao gentio Cornélio (ver com. de At 10).Capítulo 10i O piedoso Cornélio 5 recebe ordem de um anjo para chamar Pedro. 11 O apóstolo tem uma visão 15, 20 em que recebe a ordem de evangelizar os gentios. |
At.10:1 | 1. Cesareia. Isto é, Cesareia Palestina, situada na costa mediterrânea, não Cesareia de Filipe. Era a capital da província romana (ver com. de At 8:40) e a residência costumeira do procurador romano da Judeia. Sem dúvida, era uma cidade cosmopolita e um centro comercial (ver mapa, p. 241).Cornélio. E possível que Lucas tenha ficado sabendo dos detalhes desta história em uma de suas permanências em Cesareia (At 21:8; 23:33; 24:27). A conversão de Cornélio marca uma nova etapa de expansão no crescimento da igreja. Ele era centurião romano, mas não completamente pagão. Era “piedoso”, "temente a Deus” e dava esmolas (ver com. do v. 2). Mesmo assim, aos olhos dos judeus, era um gentio, por não ser circuncidado. Em consequência, sua admissão na igreja marca uma nova fase na expansão cio cristianismo. Logo, é compreensível que os apóstolos em Jerusalém tenham dedicado atenção especial a este caso (At 11:1-18). As características surpreendentes e sobrenaturais da conversão de Cornélio devem ter sido um fator importante para ajudar os apóstolos a aceitar que um gentio incircunciso podia se tornar cristão. Contudo, a igreja ainda levaria muitos anos para entender que os gentios desfrutavam da mesma posição e dos mesmos privilégios que os judeus circuncídados (ver At 1 5:1-31; G1 2:12).Centurião. Ver com. de Lc 7:2. Um centurião comandava cerca de 100 homens. Ele era um oficial secundário no comando imediato de soldados, responsável principalmente por garantir que eles cumprissem seus deveres e fossem disciplinados. Não era frequente centuriões ascenderem a posições elevadas no exército romano. Cornélio devia ser um cidadão romano.Da coorte. Do gr. ek speirês. O termo indica que Cornélio não fazia parte do grupo de soldados, mas que era o oficial. A coorte, unidade administrativa das forçasauxiliares romanas, consistia de quinhentos a mil homens.Chamada Italiana. E provável que fosse a Cohors II italica, conhecida por ter permanecido na Síria durante a guerra entre judeus e romanos. Já devia estar ali antes da época desta narrativa. Acredita-se que esta coorte era formada por libertos, ou por homens que não eram de origem romana. Era uma coorte auxiliar de arqueiros. |
At.10:2 | 2. Temente a Deus. Esta expressão e as semelhantes “aquele que o teme” e “os que temeis a Deus”, assim como o termo “piedosos”, são usados várias vezes por Lucas (At 10:22, 35; 13:16, 26, 50; 16:14; 17:4, 17; 18:7) em referência a gentios que, assim como Cornélio, haviam aceitado o judaísmo no que se refere à adoração a Yahvveh. Muitas vezes, isso também envolvia a guarda do sábado e a abstinência de alimentos proibidos pela lei. Mas esses gentios não se identificavam por completo com o judaísmo a ponto de se submeterem à circuncisão ou de obedecerem a todas as regras exigidas de um judeu devoto (ver vol. 5, p. 49-51).Essas expressões dão origem a um debate considerável. A LXX se refere aos tementes a Deus (2Cr 5:6) de maneira a levar alguns eruditos a pensar que indica uma classe particular separada dos judeus exclusivos. De maneira semelhante, Josefo (Antiguidades, xiv.7.2 [110]) fala dos que adoravam a Deus enviando presentes para o templo de todas as partes do mundo.Já se sugeriu que os tementes a Deus e os que adoravam a Deus, mencionados em Atos, são os mesmos que os “prosélitos piedosos”. Supõe-se que constituíam um grupo reconhecido de semiprosélitos que adoravam a Aahweh e guardavam parte da lei judaica, mas não eram circuncídados, portanto não eram considerados plenamente judeus. Alguns, porém, questionam essa explicação.Portanto, pode ser que as expressões “temente a Deus” e “aquele que O teme”'^t-rfossem expressões técnicas no período do NT para se referir a uma classe especial de semiprosélitos do judaísmo, que tinham certo reconhecimento nas sinagogas, conforme se sugere com frequência. Um termo posterior semelhante do judaísmo, “tementes do Céu”, pode representar o mesmo grupo. Os tementes a Deus não tinham status formal reconhecido dentro das comunidades judaicas, e sua relação com o judaísmo devia ser de caráter mais informal. No entanto, a existência desses religiosos no mundo romano proporcionou uma audiência de gentios para os pregadores cristãos. Embora não estivessem presos ao legalismo judaico, tais indivíduos buscavam a Deus com sinceridade e tinham certo conhecimento das Escrituras (sobretudo da LXX) e dos costumes judaicos.Com toda a sua casa. Cornélio não se contentou em encontrar uma verdade mais elevada para si, mas procurou reparti-la com seus familiares, servos e outros que estavam sob sua influência. O soldado enviado para encontrar Pedro é qualificado como “piedoso” (v. 7).Muitas esmolas. Cornélio era generoso assim como o outro centurião, de quem os judeus disseram: “é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga” (Lc 7:5).Povo. isto é, os judeus, em contraste com as “nações”, os gentios.Orava. A combinação de esmolas e oração era comum tanto no judaísmo quanto no início do cristianismo (ver Mt 6:2, 5; At 10:4; lPe 4:7, 8; Tobias 12:8).Sem dúvida, a visão pode ser considerada uma resposta às orações de Cornélio. Logo, é natural pensar que ele estava buscando orientação e conhecimento mais detalhado dos caminhos de Deus (ver At 11:14). |
At.10:3 | 3. Claramente. Do gr. phanerõs, “distintamente'' ou “evidentemente”.Uma visão. Do gr. horama, “aquilo que é visto” e, sobretudo, como aqui, uma visão concedida por Deus. A expressão “duranteuma visão” também poderia ser traduzida por “em visão” (ver com. de ISm 3:1).Hora nona. Esta era a hora da oração vespertina no templo (ver com. de Mt 27:45; At 3:1). Parece que Cornélio havia adotado os horários judaicos de oração e estava orando quando recebeu a visão (v. 30). |
At.10:4 | 4. Fixando nele os olhos. Ou, “fitando-o atentamente”, “encarando-o ”.Possuído de temor. O anjo é chamado de “varão de vestes resplandecentes” (v. 30; cf. At 1:10). Na hora, sua aparição repentina aterrorizou Cornélio. Os soldados romanos que vigiavam a tumba de Cristo não tinham a sintonia espiritual de Cornélio; portanto, tremeram e ficaram como mortos na presença da glória do anjo da ressurreição (ver Mt 28:2, 4; cf. Dn 10:7-11).Que é [...]? Com esta pergunta, Cornélio demonstrou que a visão envolvia mais do que ele podia compreender, e suas palavras mostram a prontidão em seguir a direção divina. Isto lembra a resposta de Saulo a Cristo na aparição junto a estrada de Damasco (ver At 9:6).Senhor. Do gr. kurios, título de respeito, que pode ser usado tanto para seres humanos (cf. At 16:30) quanto para Deus (cf. 7:33). Oual era o sentido na mente de Cornélio depende de qual foi sua primeira impressão sobre o ser celestial, se o reconheceu como um mensageiro ou como o próprio Deus. E provável que ele tenha usado a palavra em referência ao “Senhor” Deus.As tuas orações e as tuas esmolas. Ver com. do v. 2. As esmolas de Cornélio consistiam numa expressão tangível da sinceridade de sua vida espiritual alimentada, como era, pelo hábito da oração.Subiram. A oração pode ser vista como o incenso que sobe ao trono de Deus (ver Ap 5:8; 8:3, 4) ou como a fumaça dos holocaus- tos, que, em hebraico, era chamada de olah, “aquilo que ascende”. Esta era uma expressão especialmente adequada para se referirà oração feita no momento do sacrifício da tarde (ver com. do v. 3).Memória. Do gr. ninêmosunon, palavra usada várias vezes na LXX para se referir à porção da carne do sacrifício que o sacerdote queimava sobre o altar (Lv 2:2, 9, 16; 5:12; 6:15). Ao subir, a fumaça do sacrifício 4 representava as orações de Israel. A mesma palavra ocorre em Tobias 12:12, passagem na qual um anjo diz: “Eu levava o memorial de vossas orações perante a glória do Senhor” (em R, H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament, vol. 1, p. 234). As orações de Cornélio eram aceitas por Deus. Ele seguia “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” e compartilhava a fé que, desde o princípio do mundo, abrira caminho para a justificação; a fé que se volta para o Deus verdadeiro que é “galardoador dos que O buscam” (tl h 11:6). |
At.10:5 | 5. Envia mensageiros. Deus desejava que Cornélio fizesse esforço ativo a fim de obter o conhecimento do evangelho. As verdades adquiridas em consequência de busca pessoa] são mais estimadas do que as que são impostas.Chamar Simão. Sem dúvida, o centu- rião poderia descobrir que o apóstolo Simão estava hospedado na casa de Simão, o curtidor. Deus, porém, deu orientações precisas a Cornélio. Em Sua onisciência, o Senhor conhece todos os detalhes de cada ser humano. A consciência disso pode ajudar o indivíduo a se afastar do pecado; melhor ainda, trata-se de um vasto incentivo para uma vida de obediência. As peregrinações do salmista e os sofrimentos que elas produziam eram conhecidos por Deus (SI 56:8). Até mesmo a queda de um pardal é observada pelo Senhor, e os fios de cabelo das pessoas são contados (iVlt 10:29-31). O paralelo entre a experiência de Cornélio e a de Ananias e Saulo (At 9:10-12) é notável. |
At.10:6 | 6. Simão, curtidor. Ver com. de At 9:43.Ele te dirá (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras: “ele te dirá o que deves fazer”. Contudo, o mesmo pensamento é expresso no relato do próprio Pedro sobre a visita a Cornélio, na frase: “o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa” (At 11:14). Este é um dos vários exemplos encontrados nos posteriores manuscritos de Atos em que parece ter havido uma tentativa de completar o relato de eapítulos anteriores, acrescentando e adaptando frases que só ocorrem originalmente em capítulos posteriores (cf. At 9:6; sobre o status dos prosélitos plenos e dos “prosélitos da porta” que aceitavam a fé judaica parcialmente, ver vol. 5, p. 49, 50). |
At.10:7 | 7. Um soldado piedoso. A palavra “piedoso” significa que este homem, assim como seu superior, o centurião, era um adorador do Deus verdadeiro, mas não um prosélito cir- cuncidado (ver vol. 5, p. 49, 50). |
At.10:8 | 8. Havendo-lhes contado tudo. Cornélio contou a seus subordinados sobre a visão com toda franqueza, demonstrando a confiança que tinha neles. Sem dúvida, eles conheciam as esperanças e orações anteriores de seu comandante. Portanto, estavam prontos a compartilhar das bênçãos prometidas. Tudo isso revela mais sobre o caráter do centurião, sugerindo que ele fazia o máximo para conduzir aqueles que estavam sob sua influência à verdade que o levara a uma vida superior.A Jope. A distância de Cesareia a Jope era de 48 km. Jope era a cidade de onde jonas fugira quando chamado para pregar aos gentios uma mensagem que os salvaria da destruição. Nesta mesma cidade, Pedro foi chamado para proclamar o evangelho aos gentios. |
At.10:9 | 9. Estando já perto. Os acontecimentos que precederam a visão de Pedro ocorreram de tal modo que o clímax da visão se deu exatamente no momento em que os mensageiros chegaram à porta da casa de Simão (verv. 17-20).Eirado. Do gr. dõma, “construção”, “casa”. Subir a uma casa era ir até a laje, que costumava ser plana, no Oriente. Era um lugar apropriado para orar e meditar. Numa cidade como Jope e na casa do curtidor, talvez fosse o único local adequado para esse fim (sobre eirados, ver iSm 9:25; Jr 19:13; Mt 10:27).Hora sexta. Isto é, meio-dia. Entre os judeus, é provável que este não fosse um dos horários regulares para oração, e a literatura judaica da época nada diz a esse respeito. Talvez pessoas mais piedosas o observassem (ver SI 55:17); a oração de Pedro neste momento pode ser interpretada assim (ver com. de At 3:1). No entanto, outras explicações também são possíveis. A oração matinal regular, que costumava ocorrer por volta das 9h, no horário do sacrifício da manhã, podia ser feita até o meio-dia. E possível que Pedro estivesse fazendo essa oração. Outra possibilidade é sugerida por uma regra judaica que remonta, no mínimo, ao 3° século d.C. Ela diz que se um indivíduo não se alimentasse até o meio-dia, ele deveria primeiro oferecer a oração vespertina antes de se alimentar. A oração da tarde, que normalmente ocorria por volta das 15h, não deveria ser proferida logo depois da refeição. Como Pedro estava “com fome” (At 10:10), pode ser que não houvesse se alimentado ainda e estivesse fazendo a oração vespertina mais cedo, de propósito. Qualquer que seja a explicação para Pedro ter orado nesse momento, fica claro que a meditação e a devoção abriram caminho para que ele recebesse a visão no momento certo, a fim de prepará-lo para a chegada dos mensageiros de Cornélio. |
At.10:10 | 10. Estando com fome. Pedro não devia estar em jejum, pois tinha a intenção de comer. Sua fome ao meio-dia o preparava para a ordem de “comer”, que recebeu em visão (v. 13). Nessas circunstâncias, o comando era particularmente enérgico.Enquanto lhe preparavam a comida.Literalmente, “estava desejando comer” ou “começou a querer comer”.Um êxtase. Do gr. ekstasis, “ficar de lado” e, por extensão, um deslocamento da mente de seu ponto normal. O termo semelhante em português deriva do grego. Lucas usa esta palavra de novo para se referir à visão de Paulo no templo (At 22:17). A LXX a emprega para descrever o sono profundo de Abraão (Gn 15:12). Representa um estado no qual a ação costumeira dos sentidos é suspensa, a fim de que a visão seja contemplada apenas mentalmente, como em um sonho (ver 2Co 12:3). O ekstasis de Pedro abriu um canal para a revelação da vontade divina. |
At.10:11 | 11. O céu aberto. Indicando que a visão e sua mensagem vinham de Deus (verAt 7:56).Objeto. Do gr. skeuos, palavra usada para se referir a utensílios domésticos e para outros fins; neste caso, trata-se de um termo geral para um recipiente.Um grande lençol. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante e “um grande lençol atado pelas quatro pontas, vindo para a terra” (ARC). A palavra traduzida por “pontas” é o termo comum para "início”; portanto, refere-se a uma extremidade, que, no caso de um lençol, seriam suas pontas. O apóstolo deve ter visto um lençol estendido, com as quatro pontas descendo daquilo que poderia ser chamado de as quatro extremidades do céu aberto. |
At.10:12 | 12. Toda sorte de quadrúpedes. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão das palavras "da terra", Contudo, elas são encontradas em Atos 11:6. A visão representava toda a criação animal. Com certeza, havia tanto alimentos permitidos aos judeus quanto os proibidos. |
At.10:13 | 13. Mata e come. Pedro estava com fome e o impulso natural foi confirmado por uma voz do céu. Ele resistiu por uma questão de consciência. Pedro ainda não haviaaprendido que a distinção entre judeus e gentios não se mantinha, em Cristo (G1 3:28, 29). Mesmo depois da visão, ele não conseguiu entender essa ideia com clareza. Isso ficou evidente mais tarde em sua dissimulação em Antioquia, quando Paulo o repreendeu abertamente (G1 2:9-21). |
At.10:14 | 14. De modo nenhum, Senhor! A enfática resistência de Pedro mesmo a uma voz do céu está em harmonia com seu caráter (ver Mt 16:22; Jo 13:8). Sua exclamação lembra a de Ezequiel, quando contemplou Israel comendo alimento imundo (Ez 4:14). A abstenção de carnes impuras era uma das marcas distintivas de um judeu, que devia ser cumprida com todo rigor. Foi um dos problemas básicos entre judeus e sírios durante a guerra dos macaheus (ver 2 Macabeus 6:18-31), uma questão pela qual judeus inflexíveis estavam dispostos a dar a própria vida.No entanto, a distinção entre animais limpos e imundos, que se tornou definitiva em Levítico 11, precede a nação judaica. A distinção foi feita por Deus e respeitada por Noé ao supervisionar a entrada de animais na arca (Gn 7:2; cf. Gn 8:20). A alimentação original dos seres humanos consistia de frutas, cereais e nozes (Gn 1:29). Antes da introdução de alimentos cárneos à dieta (Gn 9:2, 3), a diferença entre animais puros e imundos já ficara evidente. Portanto, não há base para a posição de que a restrição aos alimentos impuros foi removida quando o ritual das cerimônias judaicas se encerrou na cruz. Na visão de Pedro, essas restrições alimentares eram referências simbólicas da distinção feita pelos judeus entre eles e os gentios. O assunto em pauta era a anulação de tais diferenças étnicas (ver com. de Gn 9:3; Lv 11; At 10:15; Nota Adicional a Levítico 11).Comum. O uso da palavra “comum” no sentido de “impuro”, segundo o ritual mosaico, se refletia na atitude dos judeusem relação aos gentios. Todos os não judeus eram considerados gente comum, excluída da aliança com Deus. As práticas desses excluídos espirituais, ao contrário dos costumes do povo escolhido, eram chamadas de “comuns”. Como essas coisas “comuns'' costumavam ser proibidas pela lei, todas as coisas e ações proibidas passaram a ser conhecidas como “comuns”. Por extensão, quando as mãos estavam cerimonialmente impuras, eram chamadas de “mãos comuns”, uma tradução literal da expressão vertida por “mãos impuras” (Mc 7:2). |
At.10:15 | 15. Ao que Deus purificou. Na visão, animais puros e imundos estavam na mesma posição e eram trazidos do céu no mesmo lençol. Portanto, representavam uma mistura de coisas, nenhuma das quais deveria ser chamada de comum ou imunda. Ao interpretar esta visão, é preciso reconhecer que, embora tenha ocorrido no contexto cie fome física (v. 10), ela não trata cie comida, mas de pessoas. Pedro devia ver os gentios como “purificados” na era da graça. Depois de aprender essa lição, pelo menos em parte, o apóstolo declarou: “Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo” (v. 28). Os gentios, normalmente considerados impuros, estavam aguardando a ministração espiritual de Pedro. Ele não deveria hesitar em atendê-los, pois não eram mais considerados imundos. |
At.10:16 | 16. Sucedeu isto por três vezes. A visão se repetiu três vezes, sem dúvida para que permanecesse na mente do apóstolo. Assim como o faraó sonhara duas vezes (Gn 41:32) e Jesus repetira três vezes para Pedro a ordem: “apascenta os Meus cordeiros”, “pastoreia as Minhas ovelhas”, “apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:15-17), ordem que então adquiriu um significado mais amplo para ele. |
At.10:17 | 17. Perplexo. Isto é, “sem saber o que pensar”. Esta palavra foi usada para a perplexidade de Herodes em relação a Cristo,quando as pessoas disseram que ele era João Batista que ressuscitara dos mortos (Lc 9:7). Desperto do êxtase, Pedro não sabia como entender o que vira e ouvira. Os representantes de Cornélio, chamando por ele no momento, deram a resposta (ver v. 28).Pararam junto à porta. A localização da casa de Simão fora explicada a Cornélio (v. 6) e, quando seus mensageiros descobriram que os detalhes eram verdadeiros, devem ter se enchido de confiança de que sua missão seria bem-sucedida. O intervalo entre a visão de Cornélio e a de Pedro permitiu a chegada dos mensageiros no momento certo, depois de uma jornada de 48 quilômetros (ver com. do v. 8) até o local onde Pedro estava hospedado. Isso não foi coincidência. |
At.10:18 | 18. E, chamando. Isto é, para que alguém de dentro da casa saísse. Sem dúvida, os mensageiros eram gentios, portanto hesitariam entrar numa casa de judeus sem anunciar. |
At.10:19 | 19. Meditava Pedro. Ele refletia sobre as dificuldades que encontrara e perguntava a Deus o que Ele queria ensinar com a visão. Enquanto meditava nessas coisas, a explicação chegou.Disse-lhe o Espírito. Pedro não estava mais em êxtase. O Espírito divino então falou ao apóstolo. A instrução do Espírito subentendia que Pedro deveria relacionar a chegada dos mensageiros à visão que tivera.Dois homens. Os dois servos e o soldado a quem Cornélio enviara (v. 7). |
At.10:20 | 20. Desce. Pedro ainda estava no eirado.Duvidando. Ou, “hesitando”. Assimcomo antes, Pedro ainda não sabia o que o Senhor estava fazendo, mas descobriría logo em seguida (Jo 13:7). Tanto ele quanto os mensageiros de Cornélio estavam agindo em obediência às instruções do Espírito Santo. A visão não dera a Pedro nenhuma pista de que ele faria uma viagem. Então ficou sabendo disso e entendeu que “nada duvidando’’ significava, ao fim da jornada, nãofazer distinção entre os judeus e as outras pessoas. Dessa maneira, a visão foi se tornando inteligível pouco a pouco até que sua perplexidade terminou. |
At.10:21 | 21. Que lhe foram enviados por Cornélio (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.A que viestes? O Espírito havia revelado a Pedro que os homens estavam esperando por ele e que deveria ir com eles, mas ele não fora informado do motivo da visita. Portanto, era natural que sua primeira pergunta fosse sobre o propósito do chamado. |
At.10:22 | 22. O centurião Cornélio. A apresentação feita pelos mensageiros parece sugerir que Cornélio não era desconhecido em jope. Pedro pode ter se lembrado de outro centurião, cujo nome não é registrado, que se estabelecera em Cafarnaum e que havia construído uma sinagoga para os judeus (Lc 7:5). Com essa lembrança, pode ter vindo à memória dele as palavras proferidas pelo Mestre, elogiando a fé cio centurião: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mt 8:11).Temente a Deus. Ver com. do v, 2.Tendo bom testemunho. Por causa das esmolas que ele clava e por sua reverência pelo Deus verdadeiro. A piedade de Cornélio não era conhecida apenas pelo povo de Cesareia, mas também entre os judeus.Foi instruído por um santo anjo. Do gr. chrêmatizõ, "aconselhar”. Esta palavra foi usada muitas vezes por escritores pagãos para respostas por meio de um oráculo. Josefo a emprega algumas vezes para se referir a Deus falando aos seres humanos, exatamente o que ocorre nesta passagem. O termo é empregado para falar de admoestações aos reis magos (Mt 2:12), a José (Mt 2:22), à revelação dada a Simeão (Lc 2:26) e às mensagens divinas dadas a Moisés (I íb 8:5) e a Noé (Hb 11:7). Por isso, a ARA traduz esta única palavra por "foi instruído por um santo anjo’’.Ouvir as tuas palavras. Isto é, aprender de Pedro o que Deus queria que Cornélio fizesse (ver At 11:14). De maneira semelhante, os judeus tinham o costume de chamar os dez mandamentos de "dez palavras” (cf. Êx 34:28; 20:1). |
At.10:23 | 23. Convidando-os. O convite para os gentios entrarem na casa foi o primeiro passo de Pedro em abandonar as reservas dos judeus em relação aos não judeus.No dia seguinte. Como já era por volta de meio-dia quando Pedro subiu ao eirado para orar, a chegada dos mensageiros após a visão deve ter ocorrido no início da tarde. Uma vez que já era tarde para sair para Cesareia, a cerca de 48 km de distância, Pedro só partiu no dia seguinte. Além disso, com certeza os mensageiros precisavam descansar da jornada até Jope.Alguns irmãos. Estes homens eram cristãos judeus (v. 45) e, segundo Atos 11:12, totalizavam seis. Sem dúvida, Pedro se lembrou das palavras de Cristo: "Pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mt 18:16). Queria que eles relatassem à igreja tudo que fosse fazer. O valor do testemunho destes irmãos posteriormente em Jerusalém fica subentendido em Atos 11:12. Sem dúvida, Pedro lhes informou de sua visão e da mensagem que os servos do centurião haviam transmitido. A boa reputação de Cornélio teve influência sobre eles e os tornou prontos a ir com Pedro. |
At.10:24 | 24. No dia imediato. Pedro e seus companheiros devem ter dormido uma noite durante a jornada até Cesareia, assim como os mensageiros de Cornélio parecem ter feito a caminho de Jope (ver v. 7-9, 17). A estrada ficava ao longo da costa mediterrânea.Cornélio estava esperando. Sua atitude preparada demonstra o quanto ele tinha certeza de que sua visão fora real e de que Deus estava prestes a responder suas orações.Parentes e amigos íntimos. Com certeza, este grupo incluía os soldados sob o comando de Cornélio que sentiam simpatia por seus sentimentos religiosos, bem como amigos da comunidade. Ele tentou reunir o maior número de pessoas para terem também a nova luz que estava prestes a receber. |
At.10:25 | 25. Prostrando-se-lhe. Esta reverência era a maior expressão de homenagem oriental. Por isso, Jairo se prostrou perante Jesus (Mt 9:18), e João, diante de um anjo (Ap 22:8). Este ato da parte de Cornélio, um oficial romano, revela seu reconhecimenlo de que Pedro era o mensageiro de Deus. Sem dúvida, esta não era uma atitude comum entre soldados romanos, sobretudo em relação aos judeus. |
At.10:26 | 26. Pedro o levantou. A reação de Pedro demonstra que só Deus deve ser adorado. Um ser humano nunca deveria exigir ou receber esse tipo de homenagem. As palavras de Pedro são semelhantes às de Paulo em Listra (At 14:15). Adorar a santos ou mesmo anjos corresponde a apagar a distinção entre Deus e os seres humanos (ver Ap 22:9). |
At.10:27 | 27. Falando com ele. Os comentários seguintes de Pedro revelam que Cornélio contou aos apóstolos mais coisas além do que é mencionado no texto.Entrou. A primeira parte da conversa deve ter ocorrido perto da entrada da casa. A ação de Cornélio de sair para encontrar Pedro ocorreu no mesmo espírito do centurião, no evangelho, que disse: “não sou digno de que entres em minha casa” (Lc 7:6).Muitos. A personalidade e a conduta de Cornélio deram a ele muitos amigos. Com entusiasmo e fé, ele os reunira para ver e ouvir um homem de quem nada conheciam (ver com. do v. 24). |
At.10:28 | 28. E proibido. O apóstolo declarou como fato conhecido que um judeu não podia se associar a um gentio. A atitude dos mensageiros de Cornélio, que ficaram dolaclo de fora da casa de Simão, chamando alguém para encontrá-los ao ar livre, demonstra que sabiam do preconceito. Os escritores clássicos conheciam o exclusivismo judaico. O poeta romano Décimo j. Juvenal declarou: “Tendo o hábito de desprezar as leis de Roma, eles [os judeus] aprendem, praticam e reverenciam a lei judaica e tudo que Moisés lhes entregou em seu tomo secreto, proibindo-lhes de mostrar o caminho a todo aquele que não cumpre os mesmos ritos, conduzindo apenas os circuncidados à fonte desejada (Sátiras, xiv.100-104). De maneira semelhante, o historiador Tácito escreveu: “Os judeus são extremamente leais uns aos outros e sempre prontos a demonstrar compaixão, mas por todos os outros povos sentem apenas ódio e inimizade. Eles se sentam separados em refeições e dormem separados” (Histórias, v. 5; ecl. Loeb, vol. 2, p. 181, 183).É claro que Pedro se referia ao ponto de vista do farisaísmo tradicional, não à lei em si. Mas esses sentimentos eram demonstrados e se evidenciavam de maneira rigorosa sempre que judeus e pagãos entravam em contato. O judeu conservador hesitaria em entrar na casa de um gentio, conforme reflete uma proibição da Mishnah: “As moradas dos pagãos são imundas” (Oholoth, 18.7, ed. Soncino, Talmude, p. 226). Num comentário judaico antigo sobre Levítico, há um exemplo notável de contaminação cerimonial pelo contato com um gentio: “Conta-se que Simeão, filho de Kimhith, saiu para conversar com um rei árabe, e uma gota de saliva da boca deste foi lançada na roupa daquele e o contaminou. Seu irmão Judá entrou e ministrou o ofício do sumo sacerdócio em seu lugar” (Midrash Rabbah, sobre Lv 16:1, ed. Soncino, p. 263). O sentimento hindu ligado às castas, de recusar contato com quem pertence a um nível inferior, é um paralelo atual, embora a prática esteja desaparecendo por pressão da lei e pelas tendências liberais.Ajuntar-se. Ver com. de At 9:26. A palavra significa contato direto. Embora as situações cotidianas colocassem os judeus na companhia de gentios, eles deveríam evitar contato direito, para que não fossem cerimonialmente contaminados.A nenhum homem considerasse comum. O apóstolo demonstrou o que havia aprendido com a visão. Toda humanidade fora redimida por meio da encarnação, do sacrifício e da ascensão de Cristo. Nem mesmo o mais humilde pagão era considerado comum ou imundo. Deus estava disposto a aceitar todos os seres humanos e foi isso que Ele fez mediante Jesus. Somente o pecado faz separação entre as pessoas e Deus (Is 59:2). A impureza deve ser vista como algo moral e ético, não como uma questão racial ou física. O servo de Deus deve aprender a ver em todo pecador o potencial de um indivíduo redimido, justificado e santo. Uma vez que pode receber a transformação espiritual, toda pessoa deve ser respeitada como alguém em quem a imagem de Deus não foi completamente apagada e ainda pode ser restaurada (ver lPe 2:17). O orgulho de classe baseado em meras diferenças de cultura ou oportunidades, demonstrado em atos e palavras de desprezo, é ainda menos desculpável do que as distinções baseadas em motivos religiosos.Este versículo deixa claro que a lição ensinada por Deus a Pedro dizia respeito a seres humanos, não a animais. Todas as pessoas devem ser alcançadas pelo evangelho. Elas só permanecem impuras se rejeitam as iniciativas divinas para salvá-las. |
At.10:29 | 29. Sem vacilar. Pedro foi para Cesareia sem argumentar e questionar, seguindo, pela fé, a orientação do Espírito, embora ainda não compreendesse o que Deus queria que ele fizesse. |
At.10:30 | 30. Faz, hoje, quatro dias. Este é um exemplo claro do método de contagem inclu- siva de tempo (ver vol. 1, p. 160; vol. 2, p. 119- 121; vol. 5, p. 246-248), Cornélio recebeu avisão e enviou seus servos no primeiro dia (v. 3, 7, 8). Eles chegaram a Jope no segundo dia (v. 9, 17). Junto com Pedro e seus amigos, partiram de Jope no terceiro dia (v. 23) e todos chegaram a Cesareia no quarto dia (v. 24). Uma vez que des encontraram Cornélio mais ou menos na mesma hora que ele teve a visão, o período total não passou de 72 horas, mas como partes de quatro dias fizeram parte do intervalo, Cornélio disse “quatro dias”.Estava eu em jejum (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Por volta desta hora. O texto grego desta passagem é ambíguo, mas é provável que a tradução proposta pela ARA seja a melhor. Isto sugere que a chegada de Pedro a Cesareia ocorreu no meio da tarde, pela hora nona, o mesmo horário do dia em que Cornélio recebera sua visão.A hora nona de oração. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante: “Eu estava orando a nona”, isto é, a oração da hora nona, feita no horário do sacrifício vespertino (ver com. de At 3:1; 10:3, 9). Portanto, a melhor versão para o texto inteiro seria: “Quatro dias atrás, por volta desta hora, eu estava orando a [oração da hora] nona em minha casa.”De vestes resplandecentes. VerAt 1:10. Esta expressão, no original grego, é a mesma traduzida em Tiago por “trajos de luxo” (Tg 2:2, 3). O adjetivo traduzido por “resplandecentes” é usado por João para caracterizar o traje dos anjos (Ap 15:6) e da noiva do Cordeiro (Ap 19:8). |
At.10:31 | 31. A tua oração. Em contraste com a passagem paralela no v. 4, que faz referência a “orações” no plural, este texto se refere a "tua oração”, sugerindo uma súplica específica. Isso esclarece a oração de Cornélio e seu pedido, que, sem dúvida, era por mais luz e conhecimento da verdade (ver com. do v. 2).As tuas esmolas. Ver com. do v. 4.Lembradas. Forma verbal da palavra traduzida por “memória” na passagem paralela (ver com. do v. 4). |
At.10:32 | 32. Jope. Ver com. de At 9:36; 10:8.Simão, curtidor. Ver com. de At 9:43. |
At.10:33 | 33. Fizeste bem. A expressão não é de mera aprovação, mas de gratidão verdadeira (ver Fp 4:14).Estamos todos aqui. As palavras sugerem que os amigos reunidos na casa de Cornélio sentiam a mesma avidez por conhecer a verdade e estavam prontos para obedecer ao que lhes fosse revelado como a vontade de Deus.Para ouvir. Estas palavras também sugerem a intenção de crer e obedecer (ver com. de Jo 5:24). O centurião esperava ouvir de Pedro palavras de salvação para ele e toda sua casa. |
At.10:34 | 34. Falou Pedro. Expressão usada para declarações importantes (ver com. de At 8:35).Acepção de pessoas. Do gr. prosõ- polãmptes, “alguém que recebe a face” e, portanto, distingue as pessoas com base na aparência exterior. A expressão encontra um paralelo na expressão heb. naso' janim, literalmente, “levantar a face”, de uso comum e que também significa fazer distinções injustas entre pessoas (ver vol. 5, p. 93). Pedro vira no Mestre uma ausência de “acepção de pessoas”, pois Cristo não fazia distinção de posição social, conhecimento ou riqueza. Até Seus inimigos reconheceram isso (Alt 22:16). Tiago enfatiza o mesmo traço de caráter como algo essencial a todos que desejam ser verdadeiros discípulos de Cristo (Tg 2:1-9). Pedro precisava aprender a aplicação completa desse grande princípio exigido dos cristãos judeus, a fim de aceitarem a comunhão igualitária das outras etnias com eles. Paulo, o defensor do cristianismo aos gentios, destaca esse princípio (Rm 2:9-11). Por meio da visão de Cornélio, paralela à que ele tivera, Pedro aprendeu que Deus Se faz conhecido a todo aqueleque aspira à justiça, seja judeu ou gentio (ver Dt 10:17; iSm 16:7). |
At.10:35 | 35. Em qualquer nação. Pedro compreendia obscuramente que o cristianismo não seria uma religião nacional. Ao se relacionar com Cornélio, começou a entender como isso aconteceria. Logo, Paulo declararia que etnia, sexo e posição social não tinham a menor importância aos olhos de Deus (Cl 3:28; Cl 3:10, 11).Os judeus haviam passado a se considerar os únicos alvos do interesse, do cuidado e da misericórdia de Deus. Antes do cativeiro babilônico, eles incorporaram na vida e nas crenças religiosas as práticas das nações pagas (ver vol. 4, p. 17, 18). Contudo, após o cativeiro, fizeram esforços radicais para se isolar dos vizinhos gentios. Desenvolveram um espírito de exclusivismo que os levou a desprezar os não judeus e a negar que estes pudessem ser aceitos por Deus.Desde o princípio, esse espírito de exclusivismo foi a principal barreira para o avanço do evangelho aos não judeus. Caso o cristianismo continuasse a ser uma facção do judaísmo, como os cristãos judeus pensavam a princípio, nunca teria buscado a adesão de todas as pessoas em todos os lugares. Portanto, a principal tarefa da igreja era romper os fortes laços com o judaísmo. Por meio da conversão de Cornélio, o Espírito Santo conduziu a igreja em seu primeiro passo importante nessa direção.Que O teme e faz o que é justo. Esta expressão pode ser considerada uma síntese das duas tábuas da lei, a primeira se referindo aos deveres do ser humano em relação a Deus e a segunda, em relação às pessoas (ver com. de Mq 6:8; Mt 22:34-40).Aceitável. Deus não tem mais um povo escolhido. Ele convida todas as pessoas a se arrependerem e aceita quem o faz com sinceridade. |
At.10:36 | 36. A palavra. Isto é, a mensagem de boas-novas que trouxe paz à Terra por meiode um Salvador, que é Cristo, o Senhor (ver Lc 2:14). Ela foi pregada primeiramente a Israel, o povo escolhido de Deus, mas então Pedro reconheceu que o Senhor redime o pecado de todo aquele que nEle crê (ver At 10:43). A mensagem de paz não deveria ser somente entre Deus e o povo escolhido, mas também entre Deus e os gentios.Anunciando-lhes. Uma forma do verbo gr. euaggelizõ, Alar boas notícias” e, no sentido cristão técnico, “pregar o evangelho”' (ver Is 52:7).Paz. Deus concede paz tanto ao que está longe quanto ao que está perto, ao gentio e ao judeu (ver com. de Is 57:19; cf. Is 49:6). Cristo pregou esta paz entre Deus e todas as nações (ver Mt 8:11; Jo 12:32; cf. Mt 28:19). Os apóstolos transmitiram essas boas-novas ao mundo. Falando aos gentios, Paulo disse: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef 2:13). Os apóstolos sempre pregavam que não há outro nome pelo qual os seres humanos podem se salvar a não ser o de Cristo (At 4:12) e que, sejam judeus ou gregos, Cristo é tudo em todos (Cl 3:11). Portanto, nesta doutrina de paz por meio de Cristo, há harmonia entre o AT e. o NT, entre profetas e apóstolos. Cristo é Senhor de todos (Rm 3:29).A paz prometida não ocorre, em primeiro lugar, entre pessoas, mas entre Deus e o ser humano, e é obtida quando se recebe a expia ção mediante Jesus Cristo pela fé (R m 3:24- 26; 5:1). O mensageiro da paz é Jesus Cristo; a base da paz, Sua obra expiatória; os termos da paz são a fé; a bênção da paz é a remissão de pecados; e o fruto da paz é a santidade.Senhor de todos. Uma vez que Jesus Cristo é Senhor de todos, todas as pessoas se encontram na mesma posição diante dEle. Ao dizer isto, Pedro também preveniu Cornélio de pensar que o judeu que ele cria ser o Messias fosse um mero profeta e mestre. |
At.10:37 | 37. Palavra. Do gr. rhêma, que destaca i»> o anúncio ou a pregação da palavra, não apalavra” (logos) em si, como no v. 36, que se refere a toda a mensagem de salvação por intermédio de Cristo. O v. 37 se refere às novas sobre Jesus que haviam se espalhado após a pregação de João Batista. Ao que parece, Cornélio e seus amigos sabiam dessas novas, talvez por meio de ensinos que já haviam chegado a Cesareia (At 8:40). O conteúdo desse ensino era que, embora tivesse uma vida humana em Nazaré, Jesus era o Ungido de Deus, o Messias, e tal verdade se demonstrou pelas obras poderosas que Ele realizara (ver At 10:38). Isso revela que a história de Cristo era bem conhecida, que as novas a Seu respeito foram anunciadas com vigor e eficácia por apóstolos e leigos.Tendo começado desde a Galileia. Depois que Jesus foi batizado no Jordão, começou a pregar na Galileia (ver Mc 1:14). |
At.10:38 | 38. Ungiu. Do gr. chrio, “ungir”, a mesma palavra que ocorre em uma forma diferente como “Cristo” (ver com. de At 4:26). Como vem pouco depois da referência de Pedro a Cristo no v. 36, parece sugerir que foi no batismo, quando recebeu o Espírito, que Jesus de Nazaré Se apresentou como o Messias de maneira pública e oficiai (ver Alt 3:16, 17), ou o “Ungido”, embora já fosse o "Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8).Espírito Santo. Jesus foi ungido em Seu batismo não com óleo, mas com o Espírito Santo (Mt 3:13-17).Com poder. Isto é, quando o Filho de Deus Se humilhou na encarnação, deixando de lado o exercício independente de Seus atributos divinos (cf. vol. 5, p. 1014, 1015). Tudo o que realizou na Terra dependia do poder do alto, assim como os seres humanos devem fazer (ver DTN, 143; cf. Jo 5:19, 30; 8:28).Fazendo o bem. A vida de Jesus é um exemplo consistente de dedicação à humanidade (ver At 2:22; DTN, 70).Os oprimidos do diabo. Em certo sentido, todo o sofrimento e todas as doenças provêm de Satanás. Até o "espinho na carne’’ de Paulo era um “mensageiro de Satanás, para [o] esbofetear” (2Co 12:7). Mas há também a possessão demoníaca, ignorada pelos diagnósticos médicos. Esse tipo de possessão se manifestava durante os primeiros anos da proclamação do evangelho. Jesus vencia essa força, vez após vez, ao expulsar os demônios (ver Nota Adicional a Marcos 1).Deus era com Ele. Nicodemos confessou: "ninguém pode fazer estes sinais que Tu fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3:2). |
At.10:39 | 39. Nós somos testemunhas. Pedro andou com Jesus desde o início de Seu ministério (Jo 1:40-42). O apóstolo reconhecia que o principal propósito de Sua missão era testemunhar de Cristo às pessoas, como o Senhor havia ordenado (ver At 1:8, 21, 22; cf. Mt 28:19, 20; Lc 24:48).Terra. Do gr. chõra, "região”, "campo”, contrastando com a cidade de Jerusalém (ver Lc 2:8; At 26:20).Tiraram a vida, pendurando-O. Ver com. de At 5:30. Assim como em Atos 2:23, Pedro relata a crucifixão como um ato encabeçado pelos líderes e pelo povo de Jerusalém, não pelo governador romano.Madeiro. Do gr. xulon, "madeira”; mas usado na LXX e nos papiros para se referir também a "árvore”. Neste caso, fica claro que o sentido é a cruz. Não há nenhuma alusão à árvore do conhecimento do bem e do mal como sugeriram alguns comentaristas. |
At.10:40 | 40. No terceiro dia. Este é um exemplo de cálculo inclusivo do tempo (sobre esse método, ver vol. 1, p. 160, 161; vol. 2, p. 119- 121; vol. 5, p. 246-248; ver com. do v. 30; sobre o período que Cristo passou no túmulo, ver Mt 16:21; Lc 23:53-24:6).Concedeu que fosse manifesto. Isto é, "tornou-o manifesto”. Cristo não Se revelou publicamente (ver v. 41), porém muitas provas deixaram claro para aqueles queO viram que era o mesmo jesus, que fora pendurado na cruz, então vivo e glorificado. |
At.10:41 | 41. Não a todo o povo. Os judeus em geral, que não reconheceram Jesus como o Messias predito nas profecias do AT, não seriam testemunhas voluntárias de Sua ressurreição (ver Lc 16:31). O fato de mesmo alguns dos discípulos estarem despreparados, a princípio, para aceitar o Cristo res- s urre to (Mt 28:17; Mc 16:14) ilustra como uma aparição pública de jesus a todo o povo seria em vão.Anteriormente escolhidas. Os discípulos foram escolhidos desde o princípio não só para auxiliar Jesus em Seu ministério, mas também para ser testemunhas do que viram e ouviram após a partida do Mestre (ver Mt 28:19, 20; Jo 17:6-8; At 1:8; 2Pe 1:16-18).A nós. Ver At 1:3; ICo 15:5-8.Comemos e bebemos. Ver Lc 24:42, 43; Jo 21:13-15. O alo de comer e beber foi o teste crucial, provando que Cristo não era um fantasma, fruto da imaginação dos discípulos. |
At.10:42 | 42. E nos mandou pregar. Esta ordem está clara em Mateus 28:18 a 20 e foi reforçada (At 1:8) para o testemunho do reino de Deus (cf. At 1:2).Constituído por Deus. Segundo os termos da aliança eterna, Cristo deveria realizar a salvação da humanidade. Isso O tornou apto a julgar os seres humanos, em cumprimento completo da aliança.Vivos. Paulo concorda com Pedro e liga a ressurreição à certeza de que Aquele que ressuscitou será juiz de todas as pessoas (At 17:31). O lato de Jesus ter sido homem, mas vitorioso sobre o pecado e a morte, além de ser Deus e o autor da lei que julga os seres humanos, O transforma na escolha mais justa para ser juiz de todos (ver com. de Jo 5:22, 27). |
At.10:43 | 43. Todos os profetas. Em seus discursos anteriores (ver At 2:16, 30; 3:18), bem como aqui, Pedro revela compreensão dosignificado das profecias do AT em relação a Cristo e Sua obra. Sem dúvida, boa parte desse entendimento resultou do ensino que ele e os outros apóstolos receberam de Cristo no intervalo entre Sua ressurreição e ascensão (ver Lc 24:27, 44). No lar de Cornélio, é provável que Pedro tenha citado passagens como Isaías 49:6 e Joel 2:32. O uso de passagens do AT para reforçar seu raciocínio é evidência de que ele sabia que Cornélio e sua casa estavam familiarizados com esses escritos.Por meio de Seu nome. Estas palavras devem ter causado impressão profunda sobre os ouvintes de Pedro. Era uma resposta a suas dúvidas e perplexidades. Eles encontrariam salvação não passando pela circuncisão nem seguindo as tradições dos judeus e tudo que essas coisas implicavam, mas pelo ato simples da ié em Cristo e no poder de Seu nome (ver com. de At 3:16). A salvação ocorre pelo poder dos atributos de Cristo, dos quais Seu nome é um símbolo inclusivo. Por meio de Jesus de Nazaré, mesmo sendo gentios, eles receberiam a remissão dos pecados; e essa era a condição necessária para ter paz com Deus. A satisfação de seus anseios anteriores os colocou na condição espiritual de participar do evento maravilhoso narrado no versículo seguinte.Todo aquele que nEJe crê. Esta é a promessa de João 3:16. Pedro a repete aqui, assim como Paulo o faz posteriormente (At 16:31). A salvação ocorre pela aceitação da graça de Deus por intermédio de Jesus Cristo (Ef 2:5, 8), não pelas obras da lei (G1 2:16, 20, 21). As obras sucedem o recebimento do dom da salvação (Ef 2:10; Fp 2:12, 13).Remissão de pecados. Ver At 2:38; 3:19. |
At.10:44 | 44. Caiu o Espirito Santo, A descida do Espírito Santo sobre o gentio Cornélio e sua família antes do batismo cumpriu diretamente, para os companheiros de Pedro, apromessa de Cristo de que o Espírito Santo “vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:13). A despeito da visão que o apóstolo recebera, ele ainda estava despreparado para aceitar os gentios na igreja (At 10:45) até o momento em que o Espírito Santo demonstrou que esses eram aceitáveis para Deus.Muitos cristãos acreditam que o recebimento do Espírito Santo depende do ato do batismo nas águas. Entendem que o batismo tem poder de sacramento, constituindo uma causa instrumental que concede graça divina a quem dele participa. Esta ocasião, na qual Cornélio e sua família receberam o dom do Espírito Santo antes de serem batizados nas águas, revela que o recebimento do Espírito não depende do ato do batismo (ver com. do v. 47). Em vez disso, o batismo é um símbolo externo de uma regeneração espiritual interior e deriva seu significado dessa experiência (ver p. 29-31; ver com. de Mt 3:6; Rm 6:3-6). |
At.10:45 | 45. Os fiéis que eram da circuncisão. Isto é, os seis cristãos judeus mencionados em Atos 11:12 (ver com. de At 10:23) que eram companheiros de Pedro. A admiração deles é um testemunho da realidade do dom que Cornélio e sua família receberam. Até esse momento, os cristãos haviam dado como certo que os gentios, se quisessem se tornar cristãos, precisavam primeiro se tornar prosélitos judeus em todos os sentidos. O caso do eunuco etíope batizado por Filipe não deve ter sido uma exceção a essa crença. Mas Cornélio e seus familiares eram gentios, e os companheiros cristãos judeus de Pedro não conseguiram entender como eles receberam o dom do Espírito Santo antes de se tornarem prosélitos. Outra possível razão para a surpresa deles pode se encontrar no lato de que alguns judeus antigos declararam que, nos dias do Messias, nenhum prosei ito seria aceito em Israel (‘Aboãah Zarah,3.b, ed. Soncino, 1 ai mude, p. 8). Crendo que a era messiânica chegara, os companheirosde Pedro podem ter sido influenciados, em sua forma de pensar, por essa atitude exclusivista em relação aos prosélitos.Sobre os gentios. Os companheiros cristãos judeus de Pedro viram então um cumprimento definitivo da visão do apóstolo. Cornélio e sua família, cheios do Espírito Santo, eram prova de que ninguém, daquele momento em diante, poderia chamar os gentios de “comuns ou imundos". Para os companheiros de Pedro, esta evidência foi suficiente. |
At.10:46 | 46. Falando em línguas. O mesmo tipo de manifestação do dom divino ocorrido em Jerusalém no dia de Pentecostes (ver com. de At 2:4). As palavras sugerem uma empolgação súbita de alegria e enlevo espirituais que se manifestaram numa explosão de louvor. Na história da igreja apostólica, há uma série de registros da manifestação do Espírito Santo por meio do dom de línguas (cf. At 19:6; 2:4; ver com. de iCo 14). Este dom era concedido para um propósito útil. No Pentecostes, capacitou os apóstolos a proclamar o evangelho para a multidão que não falava aramaico, reunida na lesta. No caso dos conversos de Apoio que foram rebatizados por Paulo, em Efeso, é razoável concluir que o dom os preparou para uma atuação geográfica mais ampla (ver com. de At 19:6). Nesta ocasião, o dom de línguas foi um sinal e testemunho para os companheiros de Pedro, que não estavam prontos para aceitar os gentios na igreja.Então, perguntou Pedro. As palavras de Pedro no v. 47 respondem às indagações de seus amigos cristãos judeus quanto ao que ele deveria fazer, considerando que o gentio Cornélio e sua família haviam recebido o Espírito Santo. O apóstolo seguira a orientação divina e fora pregar para eles; diante disso, iria ele até o fim e os batizaria também? |
At.10:47 | 47. Recusar a água. Poderia ser recusado o rito exterior a esses gentios depoisque a graça interna e espiritual que o simbolizava fora derramada de maneira tão clara e direta por Deus? Em geral, como no caso dos samaritanos (At 8:15-17), o batismo era sucedido pela imposição de mãos e acompanhado pelo dom de poder espiritual. Nesta ocasião, porém, o Espírito fora concedido primeiro e só faltava o ato externo de receber estes crentes na comunidade da igreja. O evento revela que Deus distribui os dons diretamente, conforme as pessoas demonstram estar prontas para recebê-los (ver com. de At 10:44). Mas também mostra com a mesma clareza que nenhum dom espiritual, por mais maravilhoso que seja, torna desnecessária a obediência a formas exteriores, como o batismo. Aliás, o dom excepcional foi derramado justamente com o propósito de remover qualquer dúvida que os fiéis da circuncisão tivessem em relação ao batismo dos gentios. O dom do Espírito abriu caminho e o batismo ocorreu em seguida.Assim como nós. Pedro reconheceu que Deus escolhera os gentios do mesmo modo que os judeus e concedera a mesma graça a ambos. |
At.10:48 | 48. Ordenou que fossem batizados. A construção da frase sugere que não foi Pedro quem batizou os conversos. Jesus (Jo 4:1, 2) e Paulo (ICo 1:14-16) evitavam batizar e parece que Pedro adotou uma conduta semelhante nesta situação. Paulo declarou que se abstinha de batizar para não criar divisões e atrapalhar a unidade cristã pormeio da cisão entre partidos com o nome de quem batizou cada grupo. Este pode ter sido o motivo aqui (ver ICo 1:12).Não se sabe quem realizou o batismo; talvez os companheiros de Pedro. E também possível que já existisse uma congregação organizada em Cesareia, fruto do trabalho« de Filipe, e que seus anciãos, diáconos, ou o próprio Filipe, tenham agido sob orientação de Pedro.Senhor (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a variante '‘Jesus Cristo” (ARA).Permanecesse. E provável que Pedro tenha consentido em ficar (ver At 11:3), demonstrando que estava preparado para agir segundo a visão recebida. Ele eleve ter se misturado aos novos conversos, comendo e bebendo com eles (v. 2, 3), sem medo de ser contaminado. Lucas dedica tanto espaço à experiência de Pedro em Cesareia que ela pode ser considerada um ponto de virada na mente do apóstolo, provando que concordava com Paulo. Posteriormente, Pedro vacilou em sua atitude em relação aos cristãos gentios (G1 2:11-13) e sofreu por isso uma repreensão por parte de Paulo. No entanto, o relato da advertência revela que Pedro havia deixado de lado seus preconceitos do judaísmo em grande medida, e só agiu de maneira diferente quando se deixou influenciar por alguns judeus muito rígidos que foram de Jerusalém a Antioquia.Alguns dias. Ver com. de At 9:19.Ed, 80; GC, 20, 327; LS, 87; MCH, 118, 130, 166, 227; PJ, 417; PR, 718;Tl, 482; T2, 136, 337; T3, 217; T4, 139, 227,Capítulo 11estes seis irmãos; e entramos na casa daquele homem.também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos. |
At.11:1 | 1. Na Judeia. Ou, 'por toda a Judeia”. O contexto indica que, enquanto Pedro ficou em Cesareia, a notícia de seu contato com Cornélio se espalhou bastante, provavelmente primeiro para Jope e Lida e depois para Jerusalém.Os gentios. A nova situação deve ter sido um choque para a igreja de Jerusalém. Foi a primeira vez que gentios incircuncisos foram batizados e aceitos como povo de Deus. |
At.11:2 | 2. A Jerusalém. Que ainda era a sede (ver com. de At 8:14).Da circuncisão. Não há indícios de que esta expressão se refira a um grupo específico cie judeus cristãos, pois todos os cristãos da época em que esses acontecimentos ocorreram eram judeus ou prosélitos. Portanto, o protesto deve ter se originado de toda a igreja. No entanto, a narrativa de Lucas é de urna ocasião posterior, quando os “da circuncisão” haviam se tornado um partido distinto, cuja influência causava divisão aberta dentro das congregações. Portanto, o fato de Lucas optar pela expressão é significativo (ver com. do v. 3).Os judeus de nascença que não sabiam da visão de Pedro nem haviam visto o dom doEspírito ser derramado sobre Cornélio e sua casa devem ser desculpados por questionar a conduta de Pedro por causa dos costumes que mantinham. Quando ouviram o relato do apóstolo, ficaram satisfeitos (ver v. 18). Porém, muitos judeus cristãos em outros lugares continuaram a debater o assunto (ver At 15:1; G1 2:11-14).Arguiram. Do gr. cliakrmõ, “separar”, “duvidar”, “hesitar”, “fazer diferença”, ‘‘discriminar”, “opor-se” ou “contender” (ver At 10:20; 11:12; 15:9). Neste caso, significa que eles se separaram de Pedro de maneira hostil, opondo-se a ele e discutindo. Os interlocutores insistiam que as diferenças entre judeus e gentios permaneciam, e os cristãos deviam aceitar a comunhão só dos prosélitos do judaísmo que obedeciam à lei cerimonial. Cornélio não fora aceito na comunhão dos judeus de Cesareia (ver At 10:2) e o sentimento judaizante ativo na igreja tendia a impedir sua aceitação na comunidade cristã. O preconceito crescente entre os judeus ao longo de gerações de observância cerimonial torna compreensível essa reação. Não se mudam os sentimentos radicais de uma nação inteira em pouco tempo.O fato de Pedro ser abertamente contestado demonstra que ele não era considerado o cabeça da igreja, nem “chefe dos apóstolos", muito menos infalível. |
At.11:3 | 3. Entraste. Ver com. de At 10:28.¦Homens incircuncisos. Esta expressão, quando usada por um judeu, era a essência do desprezo. Ela mostra a força do sentimento contrário a Pedro. Os crentes com quem ele havia se juntado não são chamados de gentios, mas de “incircunci- sos". palavra de sentido grave na boca de um judeu devoto.Comeste. Pedro comera com pessoas que, normalmente, não se preocupariam com o tipo de alimento e com sua forma de preparo — coisas muito importantes para os judeus. Esta era a acusação principal, e era semelhante a outra feita contra Cristo (Lc 5:30; 15:1-2). A atitude dos judeus em relação a comer com gentios é retratada por uma passagem no livro de Jubileus, que deve datar do final do 3o século a.C.: “E tu, meu filho Jacó, lembra-te de Minhas palavras, e guarda os mandamentos de teu pai Abraão: Separa-te das nações, e não comas com elas” (22:16; em: R. H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Oíd Testament, vol. 2, p. 46). |
At.11:4 | 4. Pedro passou a fazer-lhes umaexposição. Ou, ‘‘começou a esclarecer a questão”. Aqui a repetição quase palavra por palavra da narrativa do cap. 10 parece, a princípio, inconsistente com a habilidade literária de Lucas. Alguns comentaristas explicam que Lucas ouviu o primeiro relato dos discípulos que encontrou em Cesareia, e o segundo, dos cristãos em Jerusalém, percebendo que a semelhança entre os dois confirmava o incidente. Ele faz o mesmo com as narrativas da experiência de Paulo em Damasco (At 9; 22; 26), deixando as pequenas variações como prova de que eram relatos independentes, testemunhados por pessoas diferentes (sobre os v. 5-17, ver com.de At 10:9-48; o com. de At 11:5-17 aborda apenas o que não foi tratado no cap. 10, considerando que as variações nas narrativas dos cap. 10 e 11 são de pequena importância). |
At.11:5 | 5. Vindo até perto de mim. Pedro relata os fatos de forma vivida e pessoal, ao falar do lençol “vindo até perto de mim”, ou seja, “em minha direção”. O lençol não só desceu, mas se moveu na direção de Pedro. |
At.11:6 | 6. Fitando. Outro detalhe vivido. O apóstolo relembra o olhar intenso e ávido com o qual contemplara a estranha visão. |
At.11:7 | Sem comentário para este versículo |
At.11:8 | Sem comentário para este versículo |
At.11:9 | 9. Não consideres comum. A admo- estaçâo diz respeito ao julgamento de pessoas, não de animais (ver com. de At 10:28). |
At.11:10 | 10. Tudo se recolheu para o céu. Uma descrição um pouco mais detalhada do que ocorre em Atos 10:16. |
At.11:11 | 11. Em que estávamos. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante, que inclui os seis companheiros, e “em que eu estava”. |
At.11:12 | 12. O Espírito me disse. Guiado pelo Espírito, Pedro não levantara objeções, como fizeram então os “da circuncisão”. Eles estavam questionando o que o Espírito ordenara Pedro a fazer.Sem hesitar. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras.Estes seis irmãos. Foram os companheiros de Pedro na viagem a Cesareia, e o apóstolo os levara a Jerusalém, a fim de confirmar o relato e declarar à igreja o que haviam testemunhado. |
At.11:13 | Sem comentário para este versículo |
At.11:14 | 14. Serás salvo. Estas palavras não estão no discurso do anjo em Atos 10:4 a 6, mas podem ser subentendidas. Cornélio ansiava pela salvação e, quando soube, em resposta a sua oração, que deveria mandar buscar alguém que falaria a ele, teve a certeza de que ouviría sobre o caminho verdadeiro. |
At.11:15 | 15. Comecei. O Espírito Santo estava pronto para agir sobre Cornélio e sua família assim que todos os envolvidos estivessem preparados para apreciar o que estava prestesa ocorrer. Sem dúvida, as palavras iniciais do sermão de Pedro (At 10:34-43) levaram os ouvintes a este ponto. O Espírito está sempre pronto a abençoar, quando as pessoas se encontram prontas.No princípio. Isto é, na Festa de Pentecostes. Estas palavras de defesa foram proferidas para os outros apóstolos e discípulos que também haviam recebido o dom no Pentecostes. Pedro testificou que aquilo que presenciara em Cesareia certamente não fora inferior à obra do Espírito experimentada pelos discípulos a princípio. |
At.11:16 | 16. Então, me lembrei. O Espírito despertou a lembrança dos discípulos para as coisas que Jesus lhes ensinara. Foi justamente isso que Cristo disse que aconteceria (ver Jo 14:26).Da palavra do Senhor. A promessa especial mencionada é a registrada em Atos 1:5, referente ao batismo do Espírito Santo. Quando foi feita, os discípulos acharam que a mesma se referia apenas a eles. Então Pedro compreendeu o dom do Espírito numa perspectiva mais ampla, que também pode- ria ser derramado sobre aqueles que não faziam parte de Israel. Como o batismo do Espírito Santo fora concedido aos gentios e, uma vez que o maior incluí o menor, estes estavam aptos a receber o batismo em água. |
At.11:17 | 17. O mesmo. Literalmente, “igual”. Eles eram, assim como os cristãos judeus, recebedores do Espírito Santo.Quando cremos. Literal mente, “tendo crido”, de maneira definitiva e final. As palavras se referem, tanto a “eles” quanto a “nós”. Portanto, os dois casos se tornam paralelos, como no v. 15. Assim como a fé de Pedro e dos apóstolos antecedera o dom do Espírito, Cornélio e sua casa já tinham certa medida de fé antes de receber o dom (ver com. de At 10:35). No caso deles, essa fé foi suficiente para qualificá-los a dons maiores, tornando evidente sua prontidão para o batismo e para a comunhão com a igreja.Quem era eu, A frase diz, literalmente: “Eu, quem era eu? Capaz de resistir a Deus?” Isto é, como eu, sendo quem sou, poderia resistir a Deus? |
At.11:18 | 18. Apaziguaram-se e glorificaram.A diferença de tempo nos dois verbos gregos sugere que primeiro eles “apaziguaram-se” e depois começaram uma expressão contínua de louvor. No entanto, evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “glorificaram”, no mesmo tempo verbal de "apaziguaram-se”. O fato de Cornélio e sua casa terem recebido o Espírito de Deus teve grande importância na controvérsia que logo surgiria entre Paulo e os judaizantes (ver At 15; G1 2). O Espírito conduziu o primeiro passo na admissão irrestrita de gentios na igreja por meio de Pedro, e foi acrescentada a aprovação formal dos apóstolos e de outros cristãos judeus de Jerusalém.Aos gentios. Os judeus se viam como superiores e criam que as bênçãos divinas eram planejadas só para eles. Por isso, desdenhavam das outras nações. “Fizeste o mundo por nossa causa”, diz 2 Esdras. “Quanto aos outros povos [...] disseste que não são nada, além de saliva. Esses pagãos 1...] sempre foram considerados nada” (2 Esdras 6:55-57). O Messias esperado deveria salvar os judeus, transformá-los num povo glorioso, e destruiría todas as outras nações ou as escravizaria nas mãos dos judeus. A fim de libertar dessa arrogância a igreja cristã em crescimento, o Senhor operou uma manifestação singular de Seu Espírito sobre Cornélio e aqueles que com ele estavam.A lição aprendida pela igreja na experiência de Cornélio foi que o desígnio divino era derrubar “a parede da separação” (Ef 2:14) entre judeus e gentios. Paulo sabia que o evangelho de Cristo deveria realizar essa obra. As cerimônias típicas chegaram ao fim com a morte de Cristo. Sua graça salvadora e Seu poder divino, outorgados ao que crê, habilitam-no a cumprir a lei e removema condenação do pecado de sobre o pecador (Rm 8:1-4). Uma vez que tanto judeus quanto gentios se beneficiam disso, não há diferença entre os dois: todos estão condenados, mas todos os que creem podem ser salvos (G1 3:27-29; Cl 3:10-11). Os dois grupos são reconciliados com Deus e levados à harmonia com o Pai celestial (Ef 2:11-22).Este é o '‘mistério'’ revelado (Ef 3:1-12). A graça de Deus repousara sobre Israel. O povo não reconheceu a intenção divina de estendê-la também às nações. Então, em Cristo, tudo fica claro. Os gentios podem entrar na “dispensação do mistério” (Ef 3:9) da justiça, que inclui todos no mesmo plano grandioso da salvação.Concedido o arrependimento. A fé é um dom divino (Rm 12:3), assim como o arrependimento que a sucede (Rm 2:4; 2Tm 2:25). Por meio do Espírito, Deus dera àqueles gentios não só a oportunidade, mas também a experiência de arrependimento. Com o coração transformado (cf. Jr 24:7; Ez 11:1.9; 36:26), arrependidos e perdoados, eles loram aceitos pelo Senhor. Como, então, Pedro poderia contrariar a Deus? |
At.11:19 | 19. Foram dispersos. O que se segue é uma continuação de Atos 8:1 a 4. Houve uma digressão para contar a história do trabalho de Filipe com os samaritanos e o etíope, de Paulo com os habitantes da Cilícia e de Pedro com Cornélio e sua casa. A digressão prepara o leitor para a narrativa a seguir, que conta a história da conversão dos gregos.Tribulação. Ou, “perseguição’. A referência é à perseguição da qual Saulo participara ativamente (ver At 8:1; 9:1, 2).A Estêvão. Como relata Atos 8:1 a 4, a morte do mártir desencadeou um movimento fanático contrário aos cristãos em Jerusalém. Isso resultou na dispersão de muitos crentes. Filipe pregou em Samaria e Cesareia. Outros foram à Fenícia, nas cidades de Tiro, Sidom e Ptolemaida. E provável que tenham sido fundamentais na fundação das igrejasmencionadas em Atos 21:3 a 7; e 27:3. Em Chipre, o caminho foi preparado para a obra futura de Barnabé e Saulo (ver At 13:4-13; ver mapa, p. 268).Até à Fenícia. O distrito no qual ficavam as importantes cidades de Tiro e Sidom (ver vol. 2, p. 52-55).Chipre. Ver com. de At 13:4.Antioquia. Este foi o primeiro contato mencionado entre a igreja cristã e a capital da Síria. Depois de Roma, Alexandria e Efeso, Antioquia era a maior cidade do império romano e, por muito tempo, foi um importante centro cristão. E possível que Nicolau, o prosélito de Antioquia (At 6:5) tenha voltado para lá a fim de proclamar sua nova fé. A chegada do cristianismo ali foi de grande importância. A cidade se localizava no rio Orontes, cerca de 24 km do porto de Selêucia. Foi fundada por Seleuco I Nicator, por volta de 300 a.C., e recebeu o nome de seu pai, Antíoco. Tornara-se rica e importante; a principal cidade da Ásia. O mundo aclamava seus homens das letras e sua literatura. Cícero fez um célebre discurso dedicado a um deles, Árquias. Juvenal reconheceu a influência de Antioquia sobre a vida e o gosto romanos ao declarar: “Que fração de nossos costumes vem da Grécia? O Orontes sírio há muito desaguou no Tibre, trazendo consigo seu linguajar e suas maneiras, suas flautas e suas harpas oblíquas” (Sátiras, iii.62-64).Antioquia tinha uma grande colônia de judeus, em cuja homenagem Herodes, o Grande, construíra uma fileira de colunas de mármore que atravessava a cidade. A cidade era a sede do prefeito ou propretor romano da Síria. Ali, o cristianismo esteve em contato mais direto com a cultura grega do que em Jerusalém ou Cesareia. Os cristãos se viram diante do paganismo em suas formas mais tentadoras e degradantes. Os bosques dedicados a Dafne eram conhecidos por seus cultos idólatras e voluptuosos. Foi uma vitóriasurpreendente a igreja conseguir transformar Antioquia em uma de suas principais bases.A ninguém [...] senão somente aosjudeus. Esta reação seria esperada daqueles que haviam partido de Jerusalém antes da conversão de Cornélio, ou antes que esse fato chegasse ao conhecimento de todos. Eles ainda não haviam sido informados, como ocorrera com Pedro, que chegara o momento de cumprir a ordem profética de Cristo em seu sentido mais amplo (At 1:8). A separação dos judeus é destacada em contraste tanto com a narrativa anterior sobre Pedro e í> Cornélio, quanto com a declaração seguinte sobre os esforços missionários. |
At.11:20 | 20. De Chipre e de Cirene. No caso destes homens, com seus antecedentes cosmopolitas, é provável que tenha havido menos hesitação em relação à mistura com os gentios do que entre os judeus da Palestina, terra natal do judaísmo e centro de seus preconceitos. Só é possível conjecturar sobre quem seriam eles: talvez Lúcio de Cirene, que ocorre na lista de profetas (At 18:1), e Si mão cireneu, que pode ter se tornado discípulo de Cristo (ver com. de Mt 27:32; ver Mc 15:21). Os fundadores da igreja em Antioquia permaneceram anônimos.Até Antioquia. Ver com. do v. 19.Falavam. O tempo verbal grego usado aqui sugere, que eles começaram a falar e continuaram.Gregos. As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre duas variantes: hellênistai, os judeus de fala grega, ou, num sentido mais amplo, "falantes de grego”; e hellênai, gregos por origem, ou gentios, num sentido mais amplo do NT. No caso de se aceitar hellênistai, como o faz a Kj V, deve-se supor que o problema seria que os evangelistas, em vez de pregar aos judeus como um todo (muitos deles, sendo sírios, falariam ara- maíco), pregavam especialmente aos judeus e prosélitos de fala grega. Nesse sentido, estariam seguindo os passos de Estêvão e,indiretamente, preparando o caminho para Paulo, pois os hellênistai eram, como um todo, o elo entre a raça judaica e os hellênai, os gentios.No entanto, o contexto amplo da passagem favorece a variante hellênai, ‘‘gregos” (gentios), como traz a ARA. Varias razões justificam essa opção: (1) Como os hellênistai eram judeus, seria natural Lucas incluí-los entre os judeus do v. 19, e não havería contraste ao mencioná-los no v. 20. Lucas dificilmente separaria tempo para mencionar que a pregação em Antioquia era aos hellênistai, judeus gregos, pois já havia um grande grupo deles na igreja em Jerusalém (ver At 6:1) e é provável que os próprios mestres gregos e cipriotas fossem judeus gregos. Mas a menção especial de Lucas foi apropriada se eles começaram a pregar aos hellênai, isto é, aos gregos (gentios) em Antioquia.(2) Assim, o contraste entre judeus e hellênai é natural (ver At 14:1; 18:4); e, se a palavra hellênai for a versão correta, trata-se de uma necessária nota de algo progresso. Referências posteriores subentendem a presença de cristãos gentios em Antioquia da Síria (At 15:1, 28-31; AA, 155-161, 188).(3) Além disso, caso a referência seja aos hellênai, é possível que eles não fossem idólatras totalmente pagãos quando se converteram. Talvez, como Cornélio, alguns deles já temessem a Deus (ver com. de At 10:2) e frequentassem os cultos na sinagoga (ver o caso dos coríntios, em At 18:4).Não se sabe se a conversão dos hellênai, mencionada neste capítulo, ocorreu anteriormente ou sucedeu a conversão de Cornélio. Os dados são insuficientes para fornecer urna resposta. E provável que a obra tenha prosseguido em Antioquia por muitos meses entre os helenistas e outros judeus, e que os homens de Chipre e de Cirene devem ter chegado depois de a experiência de Cornélio remover as barreiras de evangelização aos não judeus.Anunciando-lhes. Ver com. de At 10:36. |
At.11:21 | 21. A mão do Senhor. Esta expressão é comum no AT para se referir à interferência divina nas questões humanas. Exodo 14:31 diz: “E viu Israel o grande poder [do heb. Yad, 'mão’] que o Senhor exercitara contra os egípcios.’' Os magos egípcios disseram: “isto é o dedo de Deus” (Ex 8:19). A expressão mostra a atuação direta e pessoal de Deus.Muitos, crendo. Este é mais um registro do crescimento da igreja (ver At 2:47; 4:4; 5:14; 6:7; 8:6, 12; ver com. de At 9:31; 11:24). |
At.11:22 | 22. A notícia a respeito deles. Isto é, a respeito desses conversos em Antioquia. Se, como é provável, os novos conversos fossem gentios, a recepção favorável da conversão deles em Jerusalém se deve, sem dúvida, à aceitação já concedida a Cornélio.Igreja em Jerusalém. Ver com. de \t 8:14.Enviaram Barnabé. Isto foi feito a fim de fortalecer a obra em Antioquia e levar até ali a aprovação e as orientação da igreja de Jerusalém. Da mesma forma, Pedro e João haviam sido enviados para Samaria (At 8:14). A escolha deve ter recaído sobre Barnabé porque sabiam que ele simpatizava com o trabalho que ocorria na cidade. Era amigo de Saulo, a quem havia apresentado a alguns discípulos em Jerusalém (At 9:27). E provável que ele conhecesse as esperanças de Saulo em relação aos gentios. Logo, aceitaria de bom grado a oportunidade de trabalhar da mesma maneira. O fato de ser do mesmo país que alguns dos missionários presentes em Antioquia o tornava ainda mais qualificado.Até Antioquia. Barnabé pode ter visitado outras congregações a caminho deo .3Antioquia. |
At.11:23 | 23. Graça de Deus. Ver com. de Rm 3:24.Alegrou-se. Em sua nova obra, Barnabé teve grandes realizações, principalmente ante a adesão de mais membros à igreja.Exortava. Ou, “começou a exortar". O tempo verbal subentende o início de uma ação contínua.Firmeza de coração. Barnabé desejava que os crentes pudessem dizer, como o salmista, “firme está o meu coração (SI 57:7; 108:1).Permanecessem no Senhor. A lealdade do cristão é a Jesus Cristo. Barnabé via o resultado da operação cia graça de Deus na vida das pessoas de Antioquia. Mas sabia, como um pastor, que a vontade humana, ou a falta dela, pode frustrar essa graça. “Uma vez salvo, salvo para sempre” não é verdade. As pessoas precisam permanecer na graça. A cooperação com Deus é necessária para que a obra de santificação se complete. |
At.11:24 | 24. Bom. Ver Lc 18:18, 39. Referindo-se a Barnabé, tratava-se de um louvor elevado, que, sem dúvida, expressava a opinião pessoal de Lucas em relação a ele. Talvez o autor tenha tomado o cuidado de incluir esta recomendação no registro porque estava prestes a relatar o desentendimento que separaria Barnabé do amigo e companheiro de Lucas, Saulo de Tarso (At 15:39).Cheio do Espírito Santo. Uma pessoa como Barnabé, eminente entre os judeus gregos de Antioquia, exerceria grande influência entre judeus e gregos da cidade. A mesma qualificação é mencionada em relação a Estêvão (At 6:5). Foi em consequência da perseguição deflagrada após a morte de Estêvão que os pregadores chegaram a Antioquia. E possível que alguns deles fossem helenistas ativos na obra que levou ao martírio de Estêvão.Muita gente. Literalmente, “grande multidão", sugerindo um aumento nos resultados mencionados no v. 21. A aprovação da igreja de Jerusalém ao que estava sendo feito, conforme expressa na alegria e no incentivo de Barnabé, o “filho de exortação” (At 4:36), aumentaria o zelo por Cristo entre esses ávidos obreiros. |
At.11:25 | 25. Partiu Barnabé para Tarso. Isto pressupõe que Saulo aprovaria a obra levada avante em Antioquia e demonstra a confiança de Barnabé de que Saulo era a pessoa certa para ajudar no trabalho ali. Também sugere que algum tipo de contato fora mantido com Saulo por carta ou por um mensageiro desde sua partida de Jerusalém. O apóstolo permanecera em Tarso e na região, pregando o evangelho lá e nas cidades vizinhas da Cilícia (ver p. 88-90; ver com. de At 15:41).A procura de Saulo. Literalmente, "para caçar Saulo”. O Senhor aparecera a ele, distinguindo <> como um "instrumento escolhido” (At 9:15) para levar o nome de Cristo aos gentios. Então, ele recebeu o convite de se unir a Barnabé em sua nova obra de pregação aos gentios em Antioquia. Sem dúvida, Saulo já havia ouvido sobre a operação do poder de Deus ali e aceitara o convite. |
At.11:26 | 26. Por todo um ano. Ao contrário dos exemplos anteriores, neste caso, o intervalo é mencionado com exatidão. Saulo pregara em Damasco e Jerusalém, correndo risco, de morte. Na igreja de Antioquia, encontrou um pouco de tranquilidade e oportunidades mais amplas que explicam sua empolgação.Naquela igreja. Não no prédio da igreja, mas nas congregações. A igreja só passou a ter construções a partir do 3o século. Os interessados se encontravam com os cristãos e eram incorporados à igreja assim que aceitavam a mensagem do evangelho.Ensinaram numerosa multidão. Ver com. dos v. 21, 24.Foram [...] chamados cristãos. Ou,receberam o nome de cristãos”. O imperador romano Juliano, chamado de o Apóstata (361-363 d.C.), observou que a tendência de inventar apelidos como forma de sátira era uma característica da população de Antioquia. A mesma tendência prevalecia no início do cristianismo. A primeira sílaba da palavra cristão vem do grego Christos, Cristo”, ao passo que a terminação éessencialmente latina, comparável a palavras como Pompeiani, os seguidores de Pompeu. Os evangelhos apresentam um termo análogo, "herodianos” (herodianai, Mt 22:16), que sugere uma associação com os romanos. Também é possível que o nome tenha sido criado pelos pagãos para ridicularizar os cristãos, assim como o termo "luteranos” passou a ser usado em tom de deboche quinze séculos mais tarde pelos inimigos dos seguidores de Lutero.Não foram os cristãos que deram nome a si mesmos. Uma vez que a palavra sugere que se tratavam de seguidores do Messias, o Cristo, com certeza também não foi dado pelos judeus. O motivo para o novo termo é evidente. Quando os novos conversos gentios entraram para a igreja em Antioquia, nenhum dos nomes anteriores conseguia abarcar todo o corpo cosmopolita de crentes. Eles não eram mais todos nazarenos, galileus ou judeus gregos. Aos olhos do povo de Antioquia, devia parecer uma estranha mistura. Por isso, o termo híbrido "cristãos”, palavra grega com terminação latina, parecia adequado para descrevê-los. Numa época posterior, aquilo que, a princípio, fora um escárnio, se transformou em um nome no qual era possível se gloriar: “se sofrer como cristão, não se envergonhe disso” (iPe 4:16).A tradição, porém, atribui a origem do nome a Evódio, o primeiro bispo de Antioquia. Inácio, sucessor de Evódio na liderança da igreja ali, usava o termo com frequência. |
At.11:27 | 27. Naqueles dias. Ver Nota Adicional 2 a Atos 12.Desceram alguns profetas. Cumprimento da profecia de Joel, à qual Pedro se referiu em seu sermão no Pentecostes (At 2:17), de que haveria profetas na igreja (ver At 13:1, 2; Ef 2:20). Contudo, o NT não faz uma descrição clara de qual era o ofício desses "profetas”. Eram homens que possuíam o dom do Espírito, que às vezes seocupavam da pregação e explicação da Palavra de Deus e, em algumas ocasiões, tinham poder de prever eventos futuros, como o fez Ágabo (ver At 13:1; 15:32; 19:6; 21:9, 10; Rm 12:6; ICo 12:10, 28, 29; 13:2; 14:6, 29-37). A missão dos profetas deve ser tomada como uma aprovação adicional dada pela igreja de Jerusalém ao trabalho que Saulo e Barnabé continuaram em Antioquia.Dava a entender, pelo Espírito. Comparar com At 21:11.Grande fome. Esta fome provavelmente equivale à mencionada por Josefo (Antiguidades, xx.2.5). Ele conta que Helena, rainha de Adiabene, a leste do Tigre, visitou Jerusalém e ajudou o povo, conseguindo milho, de Alexandria, e figos secos, de Chipre. A fome pode ser considerada um cumprimento parcial da profecia de Jesus (Mt 24:7; sobre essa fome e a cronologia do NT, ver p. 86-88; Nota Adicional 1 a Atos 12).Mundo. Do gr. oikoumenê, palavra que se refere à Terra habitada. Ê também usada para se referir ao império romano (Lc 2:1; 4:5).Cláudio. O reinado de Cláudio durou de 41 a 54 d.C., período memorável por fomes frequentes (Suetônio, Cláudio, xviii.2; Tácito, Anais, xii.43). |
At.11:28 | Sem comentário para este versículo |
At.11:29 | 29. Os discípulos. Isto é, a igreja de Antioquia.Conforme as suas posses. Literalmente, "à medida que cada um prosperava”. Parece que foi feita uma coleta por causa da profecia, antes mesmo que a fome sobreviesse. Sem dúvida, Saulo e Barnabé foram ativos em conclamar os gentios a apoiar essa causa. Esta foi a primeira das coletas “em benefício dos pobres dentre os santos [...] em Jerusalém” (Rm 15:26), que depois se destacaram nos labores de Paulo (cf. At 24:17; ICo 16:1; 2Co 9; G1 2:10) e foram consideradas, pelo apóstolo, um eloentre as alas judaica e gentílica da igreja. A liberalidade dos conversos em Jerusalém em razão de seu primeiro amor (At 2:45), somada à perseguição subsequente, deve tê-los exposto mais do que os outros à pressão da pobreza. Por isso, quando a fome chegou, é possível que tenham ficado bastante dependentes do auxílio de igrejas localizadas em regiões não afetadas pela escassez. A igreja de Antioquia deu às outras igrejas um exemplo digno. |
At.11:30 | 30. Presbíteros. Do gr. presbyteroi, “[homens] mais velhos”, isto é, "anciãos”. Esta é a primeira menção a esse grupo na igreja cristã. É provável que não fossem os apóstolos, pois os presbíteros são mencionados separadamente deles (At 15:2, 4, 6). Desse momento em diante, eles se tornam elementos proeminentes na organização da igreja. O termo “presbítero'' ou “ancião" (ARC) e, de maneira considerável, o ofício na igreja ao qual se refere, tem antecedentes tanto no meio judaico quanto no gentílico. Papiros egípcios mostram que os “anciãos” desempenhavam importante papel na vida econômica das vilas locais. Eram feitos apelos a eles em questões relativas ao arrendamento de terras e pagamento de impostos (ver J. H. Moulton e G. Milligan, The Vocabulary of the Greek Testament, p. 535). Na Asia Menor, o termo era usado para se referir aos membros de uma corporação e, no Egito, para os sacerdotes de um templo (ver A. Deissman, Bihle Studies, p. 156, 233). Na judaísmo, “ancião” (pres- hyteros) designava o líder de uma sinagoga, conforme mostra a Inscrição de Teódoto (ver com. de At 6:9). A palavra também era usada para os membros leigos (do heb. zeqeviim) do Sinédrio (ver com. de At 4:5). Portanto, o termo já estava em uso, e a igreja o adotou para os oficiais que tinham as responsabilidades primárias nas congregações. Além dessas responsabilidades locais, é possível que os presbíteros ouanciãos da igreja de Jerusalém ocupassem posição análoga à dos zeqenim no Sinédrio, uma vez que, juntamente com os apóstolos, são retratados com autoridade além dos limites da própria congregação, em Atos 13. Nessa ocasião, os recursos recolhidos em Antioquia para serem distribuídos aos necessitados foram entregues a eles por Barnabé e Paulo.Na igreja apostólica, o ancião também era conhecido como episkopos, que significa “supervisor”, palavra traduzida por “bispo”, em português. Embora historicamente, pelo menos desde o 3o século d.C., os termos “presbítero” (ancião) e “bispo” tenham representado dois oficiais diferentes da igreja, as evidências do NT indicam que, no tempo dos apostólicos, ambos sereferiam ao mesmo oficial (comparar iTm 3:2-7 a Tt 1:5-9; ver com. de At 20:28; cf. Fp 1:1). Clemente de Roma (c. 96 d.C.) parece igualar os dois títulos (Epístola aos Coríntios, 44), e Crisóstomo (m. 407 d.C.) declarou: “Nos tempos antigos, os anciãos eram chamados de supervisores [ou bispos] e ministros [ou diáconos] de Cristo, e os supervisores, de anciãos’’ (First Homily on Epistle to the Corinthians 1, em: Migne, Patrologia Graeca, vol. 62, col. 183).De acordo com a epístola de Tiago, um dos deveres do presbítero ou ancião era visitar os enfermos, orar ao Senhor pedindo a restauração da saúde e ungi-los com óleo (Tg 5:14). Fíouve mudanças posteriores nos ofícios de ancião e bispo (ver p. 11, 26-29).Capítulo 12I Herodes persegue os cristãos, mata Tiago e prende Pedro, que é livrado por um anjo. 20 Por aceitar honra devida a Deus, Elerodes é ferido e morre. 24 A palavra do Senhor prospera..13 Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; |
At.12:1 | 1. Por aquele tempo. O evento narrado neste capítulo não deve ter ocorrido muito antes da morte de Herodes Agripa I (ver v. 20-23). Gomo ele morreu em 44 d.C., os eventos da primeira parte deste capítulo podem datar do ano anterior ou dos primeiros meses de 44 d.C.O rei. Herodes Agripa I era filho de Aristóbulo e Berenice, neto de Herodes, o Grande, e da princesa hasmoneia Mariane, e irmão de Herodías, mencionada na história de João Batista (ver vol. 5, p. 28).Ele recebeu o nome do estadista que foi o primeiro-ministro de Augusto. Depois de seu pai ser vítima das suspeitas de seu avô Herodes, o Grande, em 7 a.C. (ver vol. 5, p. 29, 30), ele foi enviado a Roma, em parte como refém, em parte para evitar que se envolvesse em intrigas. Lá, tornou-se íntimo de Calíguki e Cláudio, os quais se tornaram imperadores tempos depois. Quando Herodes Antipas se casou com Herodias, irmã de Elerodes Agripa, Agripa foi nomeado supervisor comercial de Tiberíades, maslogo se desentendeu com Antipas e foi para Roma. Lá. incorreu no desprazer de Tibério, pois expressou o ávido desejo de que seu amigo Calígula se tornasse imperador. Foi preso por Tibério e permaneceu confinado até a morte do imperador. Quando Calígula sucedeu Tibério no trono, encheu o amigo de honras, dando-lhe primeiro a tetrarquia de Filipe, depois de Lisânias (Lc 3:1); também lhe concedeu o título de rei. Quando Antipas foi deposto (ver vol. 5, p. 52), Agripa herdou seus territórios (sobre seu reinado, ver vol. 5, p. 56, 231).Prender. Ou, “colocar as mãos em".Maltratar. Isto é, “ferir’’ ou "afligir”. Como Agripa estava ansioso para ser considerado um judeu devoto, era fácil para os judeus incitá-lo a atacar os cristãos. Assim começou a perseguição da igreja, "pilhando as casas e os bens dos crentes” (AA, 143). |
At.12:2 | 2. Fazendo passar [...] a Tiago. Se o apóstolo losse culpado de blasfêmia ou heresia, o Sinédrio o teria sentenciado à morte por a pedreja mento. Como no caso de João Batista (Mt 14:10), a decapitação de Tiago mostra que sua morte foi decretada por um governante civil, que usava métodos romanos de punição (cl. Mt 20:23). Não há como saber por que Herodes escolheu Tiago como sua primeira vítima. No entanto, enquanto pregava o evangelho, é possível que tenha continuado a ocupar a posição proeminente que compartilhava com Pedro e João. Talvez uma de suas características fosse uma veemência natural, pois era chamado de filho do trovão (Mc 3:17). Uma tradição, preservada por Eusébio (História Eclesiástica, ii.9), de Clemente de Alexandria, registra que o acusador de Tiago se converteu quando contemplou a lé e a paciência do mártir.Tiago desempenhou um curto ministério de apenas 13 anos após a ascensão de Cristo. Foi o primeiro dos apóstolos a morrer, ao passo que seu irmão João provavelmente tenha sido o último dos doze.A fio de espada. A morte a fio de espada era um castigo romano, que, de acordo com a Mishnah (Sanhedrin, 7.3, ed. Soncino, Talmude, p. 354), também era usada na época pelos judeus. |
At.12:3 | 3. Agradável aos judeus. Este era o objetivo de Agripa. Josefo faz esta observação. Ao comparar Agripa com Antipas, diz que o segundo era “mais amigo dos gregos do que dos judeus”, ao passo que Agripa “não era em nada como” Antipas (Antiguidades, xix.7.3).A Mishnah (Sotsah, 7.8, ed. Soncino, Talmude, p. 202) ilustra a sensibilidade do rei à aclamação ou incriminação popular: Na Festa dos Tabernáculos de um ano sabá- tico, o rei Agripa estava lendo a lei. Quando chegou às palavras de Deuteronômio 17:15, “homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti”, seus olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar de sua origem idumeia. O povo o viu chorando e, pensando em seu lado hasmo- neu, gritou: “Tu és nosso irmão! Tu és nosso irmão!” e o coração do rei foi consolado.A menos que o objetivo de Agripa fosse agradar principalmente os líderes judeus, essa história sugere que ocorreu uma grande mudança no sentimento popular anterior favorável aos apóstolos (ver At 2:47; 5:26). Sem dúvida, a mudança se deveu ao rápido crescimento no número de cristãos.Prosseguiu, prendendo. Literalmente, "acrescentou a tomar". Ele prendeu Pedro e Tiago. Esta é uma tradução literal de uma expressão comum do hebraico.Também a Pedro. Por ser urna figura de destaque entre os doze, Pedro era um alvo lógico do ataque de Herodes.Os dias dos pães asmos. Esta expressão se refere a toda a Festa da Páscoa, como se conclui de Lucas 22:1: “a Festa dos Pães Asmos, chamada Páscoa”. |
At.12:4 | 4. Tendo-o feito prender. Para mantê- lo na prisão até o término da festa.Quatro escoltas. A escolta era formada por quatro homens com a função de manter a guarda. E provável que dois soldados ficassem acorrentados ao prisioneiro e que dois ficassem de guarda do lado de fora (ver com. do v. 10). Quatro escoltas assim ficaram responsáveis por vigiar Pedro, ao que tudo indica, em sistema de rodízio.Tencionando apresentá-lo. Literalmente, "conduz.indo-o em frente” para a condenação, assim como Pilatos conduziu Jesus para o tribunal (Jo 19:13).Páscoa. Do gr. pascha. O sentido indica toda a festa pascal, não apenas um dia. Pedro foi preso no início cia Festa da Páscoa; a refeição pascal era feita na noite que inicia o dia 15 de nisã; e a intenção do rei era sentenciá-lo e puni-lo após o fim da festa, no dia 21.Hoje a mesma palavra é usada para se referir à festa cristã que substituiu a antiga Páscoa. Ela ocorreu pela primeira vez na história cristã no 2° século e foi celebrada como uma festa da ressurreição. Os bispos romanos insistiram para a comemoração cair sempre num domingo (Eusébio, História Eclesiástica, v. 23-25), costume que, sem dúvida, contribuiu para a prática da observância semanal do domingo (ver p. 36). |
At.12:5 | 5. Pedro [...] estava guardado. Isto sugere vários dias de prisão.Incessante. Do gr. ektenõs, “fervorosamente”, a mesma palavra usada para caracterizar a oração de Jesus no Getsêmani (Lc 22:44). A palavra é traduzida por '‘intenso” (IPe 4:8). Dada a situação da igreja, pode se supor que essas orações eram feitas por grupos de cristãos que se reuniam nos lares (At 12:12), pois a perseguição encabeçada por Agripa tornaria perigosa a realização de cultos cristãos abertos, como costumava acontecer nos primeiros dias da igreja. |
At.12:6 | 6. Estava para apresentá-lo. Literalmente, "estava prestes a trazer’’. Isto é uma evidência adicional do intervalo entrea prisão de Pedro e o momento de sua execução planejada.Pedro dormia. E uma inspiração e um desafio à fé saber que o apóstolo dormia como um amado de Deus (ver SI 127:2), sem temor diante do sofrimento e da morte iminentes.Sentinelas. Ou, "guardas”, isto é, provavelmente os dois soldados da escolta que não ficavam acorrentados ao prisioneiro. |
At.12:7 | 7. Sobreveio. Do gr. ephistêmi, literalmente, "pairar sobre”, o mesmo verbo usado para falar dos anjos que apareceram aos pastores (Lc 2:9).Uma luz iluminou. Assim como "a glória do Senhor brilhou ao redor” (Lc 2:9) dos pastores, a presença do anjo levou glória celestial à prisão escura.Prisão. Do gr. oikêma, "morada”, "câmara” ou “cela”. Os atenienses usavam este termo como eufemismo para "prisão”.Despertou. O anjo acordou Pedro de seu sono.As cadeias caíram-lhe. Pedro estava preso por correntes a dois soldados da escolta. Embora as cadeias tenham caído de seus tornozelos e punhos, os guardas não acordaram. |
At.12:8 | 8. Cinge-te. Ao se deitar para dormir, Pedro naturalmente teria tirado a capa, afrouxado o cinto que prendia a túnica e removido as sandálias. Cingir-se era uma preparação necessária para viajar (ver Êx 12:11; 2Rs 4:29).Capa. Do gr. himation, a vestimenta exterior, ou manto, ao contrário da túnica que ficava por baixo (ver vol. 5, p. 35).Segue-me. O anjo não deu explicações, apenas libertou Pedro de suas algemas, evidência suficiente para justificar que o apóstolo o seguisse com fé. |
At.12:9 | 9. Não sabendo. Para Pedro, a situação parecia muito semelhante ao transe e à visão registrados em Atos 10. Ele deve ter pensado que acordaria acorrentado aos dois soldados, assim como antes acordara e perceberaque tivera uma visão no eirado da casa, enquanto orava, |
At.12:10 | 10. Sentinela. Do gr. •phulakê, “guarda”. A primeira e a segunda sentinelas podem se referir aos guardas posicionados, respectivamente, perto da porta interna da prisão e em uma porta um pouco mais distante; ou, aos guardas acorrentados a ele e aos outros à porta (ver com. do v. 4). Talvez Pedro tenha sido colocado num calabouço interno e, por isso, precisasse passar por dois pátios.Para a cidade. A prisão devia ficar dentro da cidade; talvez fosse a Fortaleza de Antônia (ver vol. 5, p. 222).Automaticamente. Ou, “por vontade própria”. A ideia é que não foi usado nenhum agente humano (cf. Lv 25:5). Sem dúvida, o portão foi aberto por um anjo invisível.A forma simples e quase casual de Lucas registrar esse milagre é um testemunho de sua veracidade.Enveredaram. Há algumas evidências textuais (cf. p. xvi) para a variante "saindo, desceram sete degraus e continuaram por uma rua”. Embora não se possa demonstrar que essa versão seja a original, ela sugere um conhecimento mais detalhado de Jerusalém do que se possui hoje. Pode se basear na tradição de que Pedro ficou preso na Fortaleza de Antônia, na qual, para se entrar, era preciso subir um lance de escadas (ver At 21:34, 35, 40).Rua. Do gr. rhumê, palavra que significa rua ou viela.O anjo se apartou. Quando a ajuda sobrenatural não era mais necessária, o anjo deixou que Pedro caminhasse sozinho para a fuga. |
At.12:11 | 11. Caindo em si. Pedro se descobriu liberto no ar fresco da noite, na rua, ao ar livre.O Senhor. Pedro não tinha dúvidas quanto à fonte do auxílio em tempo certo.E me livrou. Assim como antes (At 5:19), o Mestre cie Pedro enviou Seu anjo paralivrá-lo. Não haveria como questionar a realidade de sua libertação. |
At.12:12 | 12. Considerando. Ou, “entendendo”, “compreendendo’. A princípio, Pedro ficou “como quem sonha”, em relação ao livramento, mas depois conseguiu compreender a verdade maravilhosa e foi capaz de partir para a ação. O verbo indica que ele também percebeu as circunstâncias em torno da libertação; percebeu de urna vez toda a situação e se deu conta do que deveria fazer.Maria. Esta Maria era parente de Barnabé (ver Cl 4:10, texto que chama Marcos cie “primo de Barnabé”). Como o pai de Marcos não é mencionado, é possível que Maria tosse viúva. Assim como Barnabé (ver At 4:36, 37), parece que ela tinha posses, pois tinha uma casa grande o suficiente para servir de igreja e de ponto de encontro para oração.João. Uma vez que Pedro chama Marcos de “filho” (lPe 5:13), é possível que o jovem tenha se convertido por sua influência. O nome latino Marcus sugere algum ponto de contato com os romanos ou judeus romanos.Congregadas e oravam. E provável que essas reuniões fossem comuns na casa de Maria. Nessa ocasião, Pedro foi libertado da prisão enquanto o grupo orava com fervor (ver v. 5) por seu livramento, pois os cristãos perceberam que a igreja passava por uma crise. |
At.12:13 | 13. Bateu ao postigo. Quando o anjo abriu as portas da prisão, o sobrenatural interveio para atender a uma necessidade extraordinária. Entretanto, minutos depois desse milagre de libertação, Pedro precisou bater à porta da casa para entrar de maneira comum.Portão. Do gr. piilõn, ver com. de Mt 26:71.Criada. Do gr. paidiskê, “moça nova”, “menina serva”.Rode. Nome comum em grego, que significa “rosa”. Rode só é mencionada nestaexperiência, mas poucas servas são tão conhecidas. Assim como o ladrão na cruz, a Maria que lavou os pés de Jesus e a viúva anônima que deu duas moedas de oferta no templo. Rode é conhecida de todos os leitores da Bíblia.Ver quem era. Subentende-se um senso de perigo por causa da perseguição que o zelo de Agripa pelo judaísmo levava aos discípulos. Antes, Saulo entrava de casa em casa, levando homens e mulheres para a prisão (At 8:3), e então havia a perspectiva de um perigo semelhante. Por isso, Rode não abriu a porta. |
At.12:14 | 14. A voz de Pedro. Sem dúvida, a jovem conhecia Pedro e estava familiarizada com sua voz. Além disso, o apóstolo conservava um pouco do sotaque galileu em sua fala, característica que o levou a ser reconhecido por uma serva numa ocasião anterior (Mt 26:73).Tão alegre. Não foi por falta de fé, mas por pura alegria que Rode não abriu a porta. Ela compartilhava da ansiedade dos irmãos pelo apóstolo e participara das orações em seu favor. O desejo de contar a boa-nova a levou a perder o equilíbrio de ação. De maneira semelhante, Lucas registra que, na noite da ressurreição, quando os discípulos reconheceram Jesus, eles demoraram a acreditar “por causa da alegria” (Lc 24:41). |
At.12:15 | 15. Estás louca. Quando Rode contou que Pedro estava à porta, os irmãos não conseguiram acreditar. Lies não acreditavam que Deus já havia respondido suas orações. Por isso, concluíram que a jovem deveria estar fora de si.Persistia em afirmai*. Isto é, repetiu com firmeza.Seu anjo. Em Hebreus 1:14, a crença dos judeus em relação aos anjos é expressa na pergunta: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” Os judeus criam que um anjo da guarda era separado para cada ser humano e que,quando o anjo aparecia em forma humana, ele assumia a aparência da pessoa de quem cuidava. Durante o período intertestamen- tário, os judeus desenvolveram uma complicada angelologia. |
At.12:16 | 16. Continuava batendo. Pedro persistiu em chamar para que pudesse entrar onde os crentes estavam orando por sua libertação.Ficaram atônitos. Seria difícil encontrar uma expressão melhor da dificuldade, inclusive de pessoas boas, de crer que suas orações foram respondidas com tal rapidez. Ouando Pedro apareceu diante dos fiéis, mal conseguiam admitir que era ele mesmo que estava aii. Todavia, Jesus dera plena garantia a Seus seguidores de que suas orações de fé seriam atendidas (Jo 14:13, 14). |
At.12:17 | 17. O Senhor o tirara. Quando Pedro foi libertado da prisão e caiu em si, exclamou: “o Senhor enviou o Seu anjo” (v. 11). Então ele testificou de que foi o Senhor quem o livrara.Anunciai. Do gr. apaggellõ, “dar notícias”, “levar a palavra”, “declarar”.Tiago. Trata-se, sem dúvida, do Tiago que presidiu o concilio em Jerusalém sobre a circuncisão e que apresentou seu parecer sobre o assunto (At 15:13). De alguma forma, ele era o ancião líder da igreja em Jerusalém, e era natural que Pedro quisesse informá- lo de sua libertação. Este pode ser o Tiago filho de Alfeu, ou o Tiago irmão do Senhor. Os irmãos de Jesus só creram nEle no fim de Sua vida na Terra, muito depois da escolha dos doze. Ao Tiago que foi um dos pilares da igreja em Jerusalém, após a morte de Tiago, filho de Zebedeu, Paulo dá o título de “irmão do Senhor" (GJ 1:19; cf. G1 2:9). Provavelmente, é a esse Tiago que Pedro se refere aqui. Eusébio (Ecclesiastical History, ii.23, ed. Loeb, vol. 1, p. 171) o chama de bispo de Jerusalém, citando as Memórias (180 d.C.) de Hegésipo a respeito de Tiago, que, embora não seja uma fonte exata, deve preservar alguns elementos de verdade:“Ele era chamado de ‘Justo’ por todos os homens desde os tempos do Senhor, até o nosso, uma vez que muitos se chamam Tiago, mas ele foi santo desde o ventre materno. Não tomava vinho, nem bebidas fortes; não passava navalha sobre sua cabeça; ele não se ungia com óleo, nem ia aos banhos. Só ele tinha permissão para entrar no santuário, pois não vestia lã, mas linho. Costumava entrar sozinho no templo e ser encontrado ajoelhado em oração pedindo perdão pelo povo, tantas vezes, que seus joelhos ficaram ásperos como os de um camelo, por sua constante adoração a Deus, ajoelhado pedindo perdão pelo povo.’’ Segundo a tradição, ele foi levado até o pináculo do templo e, quando se recusou a renegar a Cristo, insistindo em se apegar à crença nEle, foi jogado para baixo, apedrejado e espancado até a morte com o cabo de um machado (ver vol. 5, p. 58). De acordo com Josefo, ele foi morto por apedreja mento (Antiguidades, xx.9.1; ver Introdução à epístola de Tiago).Para outro lugar. A retirada de Pedro para outro lugar estava cie acordo com a ordem que o Senhor dera aos doze (Mt 10:23). Não há como saber para onde Pedro fugiu. Alguns escritores católicos afirmam que ele foi para Roma e, depois de fundar a igreja lá, voltou para Jerusalém a tempo para o concilio registrado em Atos 15. Outros sugerem que ele foi para Antioquia, o que é mais provável, mas não há vestígios de sua presença ali até depois do Concilio de Jerusalém (a menos que G1 2:1-10 seja equivalente a At 11:30; ver Nota a Adicional a Atos 15; cf. Cl 2:12). E possível que uma cidade mais próxima, como Lida ou Jope, fosse suficiente para servir de refúgio. O fato de o nome do lugar não ser mencionado sugere que era algo de pouca importância para o registro de Lucas. |
At.12:18 | 18. Não pouco alvoroço. Os guardas que estavam acorrentados a Pedro descobriram, assim que acordaram, que o prisioneirose fora e sabiam que a vida deles seria ceifada por causa disso.Este é o fim do relato sobre as atividades de Pedro nas Escrituras. Paulo faz menção a ele (G.1 1:18; 2:7, 8, 11, 14). Pedro dá algumas pistas sobre suas realizações (LPe 1:1; 5:12, 13; 2Pe 1:14). Além disso, o registro inspirado não diz nada mais a seu respeito. A tradição tem muito a dizer, mas algumas de suas afirmações devem ser aceitas e outras, rejeitadas. Jerônimo, na paráfrase da Crônica de Eusébío, declara que Pedro pregou em Roma durante 25 anos. Essa afirmação é bastante questionável, pois o apóstolo estava em Jerusalém para o concilio (At 15) e, ao que tudo indica, em Antioquia depois disso (Cl 2:11-14; ver Nota Adicional a Atos 15). Além disso, ele mesmo dá pistas de ter pregado na região noroeste da Ásia Menor (lPe 1:1; ver Eusébio, História Eclesiástica, iii.l). Levando em conta Atos 8 a 12, tudo isso deve ter acontecido após a libertação do apóstolo, em 44 d.C. |
At.12:19 | 19. Fossem justiçadas. Literalmente, “para que fossem levados embora", isto é, para execução. O mesmo verbo é traduzido por “levaram’’ ou “conduziram’’, nos relatos do julgamento e da crucifixão de Jesus nos evangelhos (Mt 26:57; 27:2, 31; Mc 1.4:53; Lc 23:26). Uma lei romana, promulgada em 529 d.C., declara: “A custódia e o cuidado dos presos é responsabilidade do carcereiro, o qual não deve pensar que algum dependente abjeto e vil será responsável caso o prisioneiro consiga, de algum modo, escapar, pois desejamos que ele próprio sol ra a mesma pena do prisioneiro que fugiu, a fim de demonstrar sua responsabilidade” (The Code ofjustinian, ix.4.4; em: S. P. Scott, trad. The Civil Laiv, vol. 14, p. 364). Sem dúvida, esta já era a lei havia muito ou, pelo menos, o costume em relação a um guarda quando um de seus prisioneiros fugia. Em Filipos, o carcereiro, ao pensar que seus prisioneiros haviam escapado, estava pronto para cometersuicídio, em vez de enfrentar a pena de morte sob a lei (At 16:27; comparar com At 27:42).Para Cesareia. Agripa não era governador romano, mas exercia o poder em Cesareia nessa época. Josefo diz que ele havia recebido a Judeia e Samaria de Cláudio, além dos distritos que havia governado quando Calígula era imperador (Antiguidades, xix.8.2). |
At.12:20 | 20. Havia séria divergência. Ou, “estava exasperado”, “estava num estado de espírito hostil”, sugerindo raiva.De Tiro e de Sidom. Estas duas cidades fenícias, centros da indústria marítima, não eram subordinadas a Agripa. Em certo sentido, eram autônomas, embora sujeitas a Roma. Talvez a consideração de Agripa pelo povo de Beirute (Beirút), outro porto marítimo fenício ao norte de Sidom, estivesse ligada a sua raiva pelo povo das duas cidades mais antigas. Josefo descreve as constru- v ções esplêndidas que Agripa fez em Beirute (ibid., 7.5; vol. 5, p. 56). Fica claro que, de alguma forma, a ira do rei se fazia sentir, interferindo na prosperidade comercial de Tiro e Sidom.Estes [...] se apresentaram. Isto é, compareceram a uma embaixada em comum, enviando representantes das duas cidades a fim de usar sua influência para apaziguar a ira de Herodes.Blasto. Nada mais se sabe sobre este homem. O título de “camarista”, encontrado em inscrições, era comum no período bizantino. Esse costume imperial foi transportado para as cortes europeias. Era o oficial responsável pelo quarto de dormir do rei, uma espécie de secretário de alta posição. E possível que os representantes das duas cidades tenham conquistado a amizade de Eíerodes por meio de suborno.Pediram reconciliação. Isto é, “estavam pedindo paz”. Estas palavras não significam que Agripa estava em guerra contra Tiro e Sidom, mas que lidava com as cidadesde forma hostil. Israel manteve boas relações comerciais com Tiro (ver IRs 5:11), que também negociava com diversas nações (Ez 27:1-17).Abastecia. A extensão territorial do governo de Herodes era ampla (ver vol. 5, p. 56, 231) e, caso ele favorecesse outro porto e retirasse o tráfego de Tiro e Sidom, podería prejudicar seriamente os negócios das duas cidades. |
At.12:21 | 21. Em dia designado. Josefo afirma (Antiguidades, xix.8.2) que este foi um dia designado para uma festa na qual seriam proferidos votos pela segurança de César.Assentado. Ver Josefo, Antiguidades, xviii.6-8; xix.8.2; conferir Nota Adicional 1 a Atos 12.Palavra. Ou, discurso populista. |
At.12:22 | 22. O povo. Do gr. demos, “massa popular”, o povão, reunido em local público. Só Lucas usa esta palavra e sempre em contextos não judaicos.Voz de um deus. Provavelmente no sentido de adoração pagã ao imperador, não de um ser celestial (ver com. do v. 21). |
At.12:23 | 23. Um anjo do Senhor o feriu. No v. 7, um anjo toca Pedro para despertá-lo e salvá-lo. Aqui, o toque do anjo fere Herodes, para destruí-lo. A ferida por um agente divino costuma significar grave juízo (ver lSm 25:38; 2Rs 19:35; At 23:3).Não haver dado glória a Deus. Estas palavras não significam, necessariamente, que Agripa havia falhado em dar a Deus o louvor devido. Dar glória a Deus sempre envolve realizar a ação apropriada. Às vezes, isso significa confissão de pecados (ver Js 7:19; com. de Jo 9:24).Comido de vermes. Em seu relato paralelo, Josefo não menciona o nome específico da doença. A descrição mais detalhada de Lucas pode refletir sua profissão, embora haja dúvida se “comido de vermes” tem a intenção de ser uma descrição técnica de urna doença específica. Foi um juízo divino.SOB HERODES AGRIPA i14.1-44 d.C.)ãí AmI O U M j:e caracterizam a mesma doença: “O Senhor que tudo vê, o Deus de Israel, o feriu com um golpe fatal e invisível; as palavras não saíram mais de sua boca. Foi tomado por uma dor incurável nas entranhas e seus órgãos internos o torturavam cruelmente. [...] Vermes infestavam o corpo da ímpia criatura” (2 Macabeus 9:5, 9; em: R. H. Charles, Apocrypha and Pseudepigmpha of lhe Old Testament, vol. 1, p. 144). Josefo via Agripa com aprovação, por isso apenas descreveu como a doença do rei se manifestou a princípio e omitiu os detalhes da história da morte do que, a seu ver, fora um grande rei. As Escrituras fazem o relato mais completo, uma vez que o objetivo do autor de Atos é enfatizar, em toda sua gravidade, o pecado pelo qual Agripa sabia que fora ferido. Os pontos comuns dos dois registros são muitos, e as diferenças, mínimas e facilmente explicáveis. De forma que o relato de Josefo deve ser visto como uma confirmação da precisão histórica de Lucas.No final de Atos 12, surge a dúvida quanto se a visita de Barnabé e Saulo durante a fome (At 11:27-30) ocorreu antes ou depois do aprisionamento de Pedro e da morte de Herodes Agripa I. O último versículo de Atos 12 é uma conclusão da narrativa iniciada cm Atos 11:27 a 30. Este problema se deve ao fato de as evidências cronológicas sugerirem que a morte de Herodes ocorreu antes da visita durante a fome, ordem que parece inversa à narrativa de Lucas.Ao analisar o problema, deve-se reconhecer que Lucas nem sempre é estritamente cronológico em seus relatos no evangelho e em Atos. Em Lucas 1:1 a 3, ele menciona “muitos [...] que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram”. Desses relatos, ele escolheu, segundo o que lhe "pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem”, os acontecimentos que formavam uma narrativa coerente de certas fases do início da história cristã. Depois de relatar as atividades de um personagem (como Pedro, em At 1-12) ou de formar um retrato coerente do desenvolvimento de uma região (como o evangelho na Palestina, até At 11:18), Lucas retorna e inicia outra fase ou outro personagem e avança até outro clímax ou outra conclusão lógica (cf. a transição, At 11:18, 19). As vezes, a ordem cronológica é menos importante para Lucas do que outros tipos de organização, como por assunto ou localização geográfica. Esta atitude é característica da literatura de sua época, assim como do AT (ver com. de Gn 25:19; 27:1; 35:29; Êx 16:33, 35; 18:25).As expressões “naqueles dias” (At 11:27) e “por aquele tempo” (At 12:1) são usadas, assim como ocorre com frequência nos evangelhos, meramente como expressões estereotipadas de transição, não como um momento cronológico específico. E possível que os eventos de Atos 12:1 a 24 possam ser inseridos entre os v. 26 e 27 de Atos 11; pois Atos 12:25 segue logicamente Atos 11:30. A “missão” (At 12:25) parece se referir ao envio de “socorro aos irmãos que moravam na Judeia” (At 11:29). Logo, a visita durante a fome teria ocorrido após a prisão cie Pedro, sua libertação milagrosa e sua partida de Jerusalém, e depois da morte de Herodes Agripa I, em 44 d.C.Seguindo seu método histórico, conforme explicado, Lucas relatou a história do início da obra entre os gentios em Antioquia. Ao fim da narrativa, seus heróis, Barnabé e Saulo, são enviados a Jerusalém para levar a contribuição entregue aos presbíteros. Por causa dessa mudança de cenário, Lucas retrocede no tempo (At 12:1) e conduz os leitores ao que ocorria em Jerusalém durante o período representado por sua narrativa, sobre Antioquia. Ele conta a históriaSer comido de vermes era algo sempre classificado pelos antigos como um castigo divino, por ser repugnante. Há vários exemplos registrados na história: Feretime, rainha de Cirene (Heródoto, História, :iv.205); Antíoco Epifânio (2lVIc 9:5-10); Herodes, o Grande (josefo, Antiguidades, xvii.6.5) e Galério, inimigo da igreja na época da perseguição de Diocleciano (303-313 d.C.; Lactâncio, De Mortibus Persecutorum, 33). Um relato semelhante é feito sobre a morte de Filipe II, da Espanha. Agripa morreu em 44 d.C., no sétimo ano de seu reinado, aos 53 anos.Expirou. Ver com. de At 5:5. |
At.12:24 | 24. A palavra do Senhor crescia e se multiplicava. Ver At 6:7; 19:20; ver com. de At 11:24. Cristo afi rmara que “a semente é a palavra" (Lc 8:11). De igual modo, o historiador Lucas diz que a palavra era como semente, que, semeada com diligência, cresce e dá frutos. A expressão descreve uma expansão contínua da igreja. A morte de Agripa, o líder dos perseguidores, deixou os pregadores do evangelho livres para proclamar a mensagem, e eles não deixariam a oportunidade passar. |
At.12:25 | 25. Barnabé e Saulo [...] voltaram. Isto é, da visita a Jerusalém (At 11:27-30) e deseus esforços entre os conversos gentios em Antioquia (cf. Nota Adicional 2 a Atos 12).Cumprida a sua missão. Ou, “ministério”, "diaconato”, "ministração”. A palavra grega é a mesma traduzida por “socorro” em Atos 11:29. Barnabé e Saulo cumpriram a missão que os levara a ser enviados à igreja de Antioquia.De Jerusalém. Evidências textuais (cf. p. xví) apoiam a variante “a Jerusalém”, E como se Barnabé e Saulo estivessem voltando a Jerusalém de “sua missão" em Antioquia. No entanto, a maioria dos editores do texto grego, à luz do contexto e considerando Atos 12:25 uma conclusão de Atos 11:27 a 30, prefere classificar como original a variante “de Jerusalém” (ARA). Além disso, o original grego não tinha pontuação, permitindo a tradução, que significa, literalmente: “Barnabé e Saulo voltaram, cumprida a sua missão a Jerusalém”.Levando também consigo a João. Ver com. do v. 12. A escolha se explica, parcialmente, pela ligação entre João e Barnabé (Cl 4:10), mas também mostra João se envolvendo no ministério aos gentios (ver At 13:5,Comparando a narrativa de Lucas com a de Josefo, parece provável que os delegados de Firo e Sidom fizessem parte dos que exclamaram: “E a voz de ura deus, e não de homem!”, acrescentando: “Sê misericordioso para conosco.” Há um contraste marcante entre a recusa de Pedro em receber a homenagem de Cornélio e a aceitação de Agripa da bajulação da multidão em Cesareia. O relato de Josefo está de acordo com o de Lucas nos seguintes detalhes: (1) entre a multidão dos que aclamaram Agripa, havia alguns tentando reconquistar seu favor; (2) o dia já estava "designado”; (3) Herodes trajava vestes reais; (4) a bajulação consistiu em chamá-lo de deus; (5) ele não repreendeu o povo; (6) foi ferido imediatamente e precisou ser carregado até o palácio. Josefo acrescenta que Agripa reconheceu que a tragédia veio de Deus, como repreensão por ter aceitado a bajulação e que todos esperavam que ele morresse logo.A última parte do relato de josefo diz que a dor aumentava rapidamente, e Lucas diz que Agripa foi comido de vermes. Em relação a essa aparente divergência, é preciso notar que, no relato da morte de Antíoco Epifânio, esses dois efeitos são mencionados distintamentee caracterizam a mesma doença: “O Senhor que tudo vê, o Deus de Israel, o feriu com um golpe talai e invisível; as palavras não saíram mais de sua boca, Foi tomado por uma dor incurável nas entranhas c seus órgãos internos o torturavam cruel mente. [...] Vermes infestavam o corpo da ímpia criatura" (2 Macabeus 9:5, 9; em: R. H. Charles, Apocrypha and Pseudepigmpha of the Olcl Testament, vol. 1, p. 144). Josefo via Agripa com aprovação, por isso apenas descreveu como a doença do rei se manifestou a princípio e omitiu os detalhes da história da morte do que, a seu ver, fora um grande rei. As Escrituras fazem o relato mais completo, uma vez que o objetivo do autor de Atos é enfatizar, em toda sua gravidade, o pecado pelo qual Agripa sabia que lora ferido. Os pontos comuns dos dois registros são muitos, e as diferenças, mínimas e facilmente explicáveis. De forma que o relato de Josefo deve ser visto como uma confirmação da precisão histórica de Lucas.No final de Atos 12, surge a dúvida quanto se a visita de Barnabé e Saulo durante a fome (At 1 1:27-30) ocorreu antes ou depois do aprisiona mento de Pedro e da morte de Herodes Agripa I. O último versículo de Atos 12 é uma conclusão da narrativa iniciada em Atos 11:27 a 30. Este problema se deve ao fato de as evidências cronológicas sugerirem 7 que a morte de Herodes ocorreu antes da visita durante a fome, ordem que parece inversa à narrativa de Lucas.Ao analisar o problema, deve-se reconhecer que Lucas nem sempre é estritamente cronológico em seus relatos no evangelho e em Atos. Em Lucas 1:1 a 3, de menciona "muitos [...) que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram". Desses relatos, de escolheu, segundo o que lhe "pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem", os acontecimentos que formavam uma narrativa coerente de certas fases do início da história cristã. Depois de relatar as atividades de um personagem (como Pedro, em At 1—f 2) ou de formar um retrato coerente do desenvolvimento de lima região (como o evangelho na Palestina, até At 11:18), Lucas retorna e inicia outra fase oli outro personagem e avança até outro clímax ou outra conclusão lógica (cf. a transição, At 1J:J8, 19). As vezes, a ordem cronológica é menos importante para Lucas do que outros tipos de organização, como por assunto ou localização geográfica. Esta atitude c característica da literatura de sua época, assim como do AT (ver com, de Gn 25:19; 27:1; 35:29; Êx 16:33, 35; 18:25).As expressões “naqueles dias’ (At 11:27) e “por aquele tempo" (At 12:1) são usadas, assim como ocorre com frequência nos evangelhos, meramente como expressões estereotipadas de transição, não como um momento cronológico específico, E possível que os eventos de Atos 12:1 a 24 possam ser inseridos entre os v. 26 e 27 de Atos 11: pois Atos 12:25 segue logicamente Atos 11:30. A "missão" (At 12:25) parece se referir ao envio de "socorro aos irmãos que moravam na Judeia'' (At 11:29). Logo, a visita durante a fome teria ocorrido após a prisão de Pedro, sua libertação milagrosa e sua partida de Jerusalém, e depois da morte de Herodes Agripa l, em 44 d.C.Seguindo seu método histórico, conforme explicado, Lucas relatou a história do início da obra entre os gentios em Antioquia. Ao fim da narrativa, seus heróis, Barnabé e Saulo, são enviados a Jerusalém para levar a contribuição entregue aos presbíteros. Por causa dessa mudança de cenário, Lucas retrocede no tempo (At 12:1) e conduz os leitores ao que ocorria em Jerusalém durante o período representado por sua narrativa sobre Antioquia. Ele conta a históriada perseguição da igreja por Herodes, incluindo a morte de Tiago e a prisão de Pedro, além do terrível lim que teve o perseguidor. Assim, fica pronto para retomar a narrativa de Antioquia, com o envio de Barnabé e Saulo como missionários ordenados (At 13:1-3). Primeiramente, porém, ele leva seus personagens principais de volta àquele lugar, mencionando que "cumprida a sua missão, voltaram de Jerusalém" (At 12:25). Ele também aproveita a oportunidade para apresentar um novo personagem, João Marcos (já mencionado de maneira incidental em Jerusalém, v. 12), pois Marcos acompanharia os dois missionários mais velhos na jornada que Lucas começa a narrar (At 13:4-14:27), a primeira viagem missionária de Paulo.Essa breve mudança de posição do relato da visita durante a fome é compreensível, quando se leva em conta o método costumeiro de organização do relato por parte de Lucas e não envolve grandes rearranjos dos eventos, nem a união entre os dois, como alguns defendem (ver Nota Adicional 1 a Atos 15).Capítulo 13I Paulo e Barnabé são enviados aos gentios. 7 A história de Sérgio Paulo e do mágico Elimas. 14 Em Antioquia, Paulo prega que Jesus é o Cristo. 42 Os gentios acreditam, 45 mas os judeus blasfemam. 46 Os missionários se voltam para os gentios 48 e muitos creem.palavra de Deus nas sinagogas judaicas; tinham também João como auxiliar..30 Mas Deus O ressuscitou dentre os mortos;Eu, hoje, Te gerei. |
At.13:1 | 1. Igreja de Antioquia. Ver At 11:26. Lm Atos 13, o centro da narrativa passa de Jerusalém para Antioquia, conforme já antecipado em Atos 11:19 a 30. De Antioquia, Paulo, o apóstolo aos gentios, partiu para suas três grandes viagens missionárias. O registro dessas três jornadas preenche a maior parte dos capítulos restantes do livro de Atos. Logo, é apropriado que o ponto focal da narrativa mude para Antioquia. Ali, pela primeira vez, grande número de gentios entrou para a igreja (ver p. 13—15; ver com. clc Al 11:19, 20, 26), Profetas e mestres. Esta é a primeira g. menção a pessoas com dons específicos do Espírito atuando de forma administrativa na igreja. Não há indício específico dc uma organização formal da igreja em Antioquia, embora, sem dúvida, isso existisse. Em todos os acontecimentos, fica claro que as pessoas batizadas no Espírito estavam atuando (ver p. 11, 12, 26. 27).O NT menciona essas pessoas como um grupo reconhecido, embora não estivessem organizadas como uma classe oficial. Para ser reconhecido como um deles, não bastava ser apenas "espiritual” no sentido de. “devoto” (ver G1 6:1); em vez disso, era necessário ter um dom ativo do Espírito Santo. Mais tarde, na literatura cristã do 2o século, eles passaram a ser uma ciasse conhecida como pneumatikoi, ‘‘[homens] espirituais”. Com o tempo, os presbíteros ou bispos desapareceram, injustamente desacreditados por "lalsos proletas" (ver ljo 4:1) e pela pressão dos oficiais eleitos (ver p. II, 12, 26; sobre os dons do Espírito, ver com. de ICo 1:1.2).As diferentes conexões e atividades das pessoas mencionadas nesta passagem indicam que a igreja em Antioquia tinha uma liderança cosmopolita. Barnabé era cipriota; Lúcio, cireneu; Manaém aparentemente eraum aristocrata palestino; c Saulo, um rabino cie Tarso, na Cilícia.Barnabé. Ver com. de At 4:36; cf. Al 9:27; 11:22.Simeão [...J Niger. O primeiro nome, Simeão ou Simão, aponta para a origem judaica do personagem. O segundo nome é um adjetivo latino que signilica 'negro", que pode ter sido adotado ou recebido por ser ele de pele escura. Com frequência, os judeus tinham nomes gentílicos além do nome judaico, assim como João Marcos, Simão Pedro, José Barnabé e Saulo, "também chamado Paulo" (ver com. do v. 9). lambém é possível que o segundo nome de Simeão servisse para distingui-lo de outros com o mesmo nome.Lúcio de Cirene. O fato de este homem ser natural de Cirene sugere que podia ser um dos muitos judeus que habitavam naquela província e um dos "de Chipre e de Cirene" (At 11:20) que estiveram entre os primeiros a evangelizar os gentios em Antioquia. Talvez seja o Lúcio mencionado em Romanos 16:21. Cirene era famosa por sua escola de medicina. Além disso, evidências de inscrições mostram que os nomes Lúcio e Lucas podiam ser usados de maneira intercambiá- vel. Por essas razões, alguns escritores identificaram este homem com o autor de Atos, o médico Lucas. Contudo, tal ídentilicação deve ser vista com reserva, considerando que Lúcio era um nome romano comum, que poderia designar mais de um cristão proeminente.Manaém. Forma grega do nome heb. Menaheru.Colaço. Do gr. suntraphos. A palavra indica que Manaém podia ser irmão de criação cie Herodes. talvez, no sentido de que a mãe de Manaém Lenha sido ama de leite de Herodes. que os dois loram criados juntos, ou ainda que Manaém tinha alguma ligação com a corte de Herodes. “Herodes, o tctrarca" eleve ser Herodes Antipas (ver Mt 14:1;Lc 3:19; 23:7-12; vol. 5; p. 51-53), o governante que Jesus chamou de “essa raposa" (Lc 13:32). Joseto (Antiguidades, xv.10.5) menciona um essênio chamado Menaém, o qual previu que Herodes, o Grande, se tornaria rei. (3 Talmude também se relere a um Menaém que supostamente estaria a serviço de Herodes, o Grande (ver Hagigah,16.b, ed. Soncino, Talmude p. 108). A identidade do nome pode indicar que Manaém era um dos nomes preferidos entre aqueles que caíam nas graças da casa hero- diana. Tanto Herodes Antipas quanto seu irmão Arquelau loram educados cm Roma, e Manaém de Antioquia pode tê-los acompanhado lá. Não se sabe como nem quando ele passou a crer em Jesus. Sua atuação como mestre cristão em Antioquia se contrasta com a carreira de Herodes Antipas, o governante que mandou matar João Batista, zombou de Jesus e, alguns anos antes dessa época, foi exilado em situação de desgraça na Gália.Saulo. Saulo de Tarso surge aqui "entre os profetas", como o rei Saul um milênio antes (ISm 10:11, 12). O nome de Saulo ocorre no fim da lista. A construção grama- 3 tical do texto grego sugere que os três primeiros fossem profetas e os dois últimos, mestres. E possível que Saulo não tenha exercido o dom de profecia. |
At.13:2 | 2. Servindo. Do gr. leitourgeõ, "ministrar’, palavra usada no grego secular para caracterizar o serviço prestado por um oficial do estado e, tanto na I \\ quanto no NT, para falar do ministério dos sacerdotes e levitas no santuário (Nm 18:2; I 1 b 10:11). Paulo usou o termo de maneira figurada para se referir a seu ministério aos gentios, comparando-se a um sacerdote que apresentava os gentios como ofertas a Deus (Brn 15:16).Ao Senhor. 0 ministério dos profetas e mestres de Antioquia e a obra deles de oração, exortação e ensino eram dedicados a Deus (ver Rm 14:18; Cl 3:24).JejLiando. Esta era uma atitude solene por parte dos crentes de Antioquia ao se depararem com a obra diante deles. Tem sido dito que com o estômago cheio não se estuda diligentemente nem se oferece oração apropriada (ver com. de Mt 4:2, 3).Disse o Espírito Santo. Sem dúvida, o Espírito revelava Sua vontade por meio dos profetas (ver At 20:23).Separai-me. No texto grego, a partícula dê vem depois deste verbo, indicando o aspecto definitivo da ordem e a necessidade de executá-la imediatamente. Paulo e Barnabé deveriam ser separados para uma nova obra.Barnabé e Saulo. Eles já eram colegas (ver At 9:27; 11:25. 26). Desde o princípio, Saulo fora chamado de "instrumento escolhido" (ver com. de At 9:15) e a intenção divina era que ele tivesse ampla atuação missionária. Por causa da afinidade entre os dois, era lógico que Barnabé losse escolhido para ser colaborador de Saulo. Até esse momento, os dois faziam parte do grupo de profetas e mestres da igreja. Então, foram enviados para uma missão distinta, sob uma ordem inspirada. Assim, eles loram consagrados para o apostolado entre os gentios.Para a obra. Uma vez que a ordem vinha do Espírito Santo, pode-se supor que o itinerário geral da primeira viagem missionária também foi delineado pelo Espírito. Não há registro de que a igreja Lenha parado para estudar os planos para a jornada. |
At.13:3 | 3. Jejuando, e orando. A repetição destas palavras indica que o jejum do v. 2 continuava. A nova empreitada exigia uma vida espiritual intensa, da qual o jejum era parte essencial. Subentende-se que o jejum se concluiu com um culto de consagração.Impondo sobre eles as mãos. Ver com. de At 6:6. Assim como os apóstolos haviam imposto as mãos sobre os sete, os profetas e mestres de Antioquia testemunharam acomissão divina de Saulo e Barnabé e suplicaram que os dois recebessem a bênção divina. |
At.13:4 | 4. Enviados. Neste ponto se iniciou a primeira viagem missionária de Paulo (ver mapa, p. 287). Ele e Barnabé prosseguiram sob a ordem do Espírito Santo, com instruções específicas desta fonte divina (ver p, 14, 15).Como esses missionários eram sustentados? Não há indício de que recebessem salário ou quaisquer recursos. E provável que, como numa ocasião posterior (At 18:3, 4), Paulo trabalhasse em seu ofício durante a semana e pregasse nas sinagogas aos sábados. Mais tarde, escrevendo aos filipen- ses, ele disse ter recebido pouco auxílio (Fp 4:15-18). A igreja ainda parecia não ter se dado conta de que o dízimo, que era dado aos levitas, poderia servir para a manutenção do ministro cristão consagrado. Ainda não havia um clero assalariado.Selêucia. Esta cidade se localizava a 24 km cie -Antioquia, próxima à foz do rio Oronles. e servia de porto marítimo para Antioquia. Selêucia recebeu o nome de seu fundador, Seleuco 1 Nicator (m. 280 a.C.), o general de Alexandre que fundou o império selêucida.Navegaram para Chipre. Se des não foram especificamente direcionados, sem dúvida, escolheram este local primeiramente, porque Chipre era a terra natal de Barnabé. Sua população era cm maioria grega. O povo tinha Afrodite, ou Vênus, como sua padroeira. O principal centro de adoração da ilha ficava em Paios, que era célebre pela licenciosidade das sacerdotisas do templo. O metal cupmm, "cobre", recebeu este nome por causa da ilha e de suas minas de cobre. A ilha ficava a uma curta viagem da Síria c havia atraído muitos judeus. E pro- 2 vável que o evangelho tivesse sido pregado entre esse grupo por evangelistas cristãos itinerantes (At 11:19) e também que alguns dos cipriotas tenham se convertido emJerusalém, no dia de Pcntccostes, e levado a mensagem cristã a sua terra natal. |
At.13:5 | 5. Salamina. Localizada na extremidade oriental da ilha, era o porto mais próximo para quem chegava de Selêucia.Anunciavam. Proclamavam a palavra de Deus, as Escrituras, anunciando a mensagem de um Salvador crucificado e ressur- reto (ver v. I 2).Sinagogas. A menção a “sinagogas", no plural, sugere uma população judia considerável. Seguindo a regra geral de pregar primeiro aos judeus (v. 46), os apóstolos fizeram o contato inicial nas sinagogas. As reuniões nas sinagogas eram oportunas para visitantes como Saulo e Barnabé pregarem (ver vol. 5, p. 44-46).João. Isto é, João Marcos, primo de Barnabé (ver com. de Cl 4:10).Auxiliar. Do gr. hupêretês, "remador de porão" num navio e, por extensão, um “assistente" de qualquer tipo. A palavra é usada no NT para o oficial que executa sentenças impostas por um juiz (Mt 5:25), para o chazzan na sinagoga (ver vol. 5, p. 44) e para os oficiais sob o comando dos líderes judeus (Jo 7:32). Além do uso nesta passagem. Lucas usa o termo duas vezes para sc referir a ministros do evangelho (Lc 1:2; At 26:16). Os deveres específicos de Marcos não são mencionados, mas ele devia ser um auxiliar gerai no ministério cios dois apóstolos. |
At.13:6 | 6. Toda a ilha. Evidências textuais apoiam (cl . p. xvi) a variante "através da ilha inteira", E provável que Paulo e Barnabé tenham ensinado cm vários lugares em sua jornada através da ilha.Pafos. Esla cidade ficava na extremidade oesle da ilha. Havia a antiga Paios, conhecida por seu santuário dedicado a Airodite. Mas, nos dias de Paulo, uma nova cidade lora construída 11 km a noroeste, a qual servia de sede para o governador romano de Chipre. Foi para esta cidade nova que Paulo e Barnabé se dirigiram.Judeu. Impostores que tingiam ter poderes mágicos eram comuns entre os judeus (ver Berakoth, 59.a, ecl. Soncino, Talmude, p. 367). Eles se aproveitavam do prestígio religioso de seu povo e ostentavam, além de livros sagrados, feitiços e encantamentos que supostamente teriam sido ensinados por Salomão.Mágico. Do gr. magos, "mago", palavra de origem persa que denota uma classe de sacerdotes entre os iranianos adoradores do fogo. A esta classe pertenciam os "magos" que visitaram o bebê Jesus (ver com. de Mt 2:1). Desde o 5o século a.C., o termo magos passara a ter o sentido negativo de "feiticeiro" ou "charlatão". Assim, o poeta grego Sólocles lez Èdipo insultar Tirésias com este nome, uma vez que ele praticava magia (Edipo Rei, 387). Lucas usa um termo semelhante para Si mão, o mágico de Sarna ria (At 8:9). Ao que tudo indica, para Lucas, o termo tem um sentido geral, ligado a “falso profeta", para expressar que, embora Barjesus tivesse uma posição de influência junto ao governador, não passava de um charlatão.Falso profeta. Uma decadência no uso da revelação verdadeira produz falsos profetas, os quais, por sua vez, aceleram o processo descendente.Barjesus. Este nome é claramente judeu, mas as evidências textuais sc dividem em relação u sua gral ia em grego, e saber seu sentido exato cm hebraico ou ammaico é quase impossível. Pode scr “lilho de Josué" (ver com. de Mt El). |
At.13:7 | 7. Procônsul. Do gr. anthupatos, equivalente grego ao título romano de "procôn- sul”. As províncias do império romano, sob a organização de Augusto (27 a.C.), eram divididas em duas classes. Aquelas que requeriam controle militar eram sujeitas ao imperador em sua função de comandante das legiões e governadas por procuradores. Já as mais pacíficas ficavam sol) o domínio do Senado e eram governadas por procônsuies.Chipre fora uma província imperial (ver Estrabão, Geografia, xiv.6.6), mas, posteriormente, foi atribuída ao Senado (Dio Cássio, História Romana, liii.12.7). Por isso, nos dias de Paulo, era governada por um pro- cônsul. A existência de um governo procon- g sular ali também é comprovada por moedas de Chipre, da época de Cláudio, que dão o título de proeônsul ao governante local, Cominius Proclus. Nesta passagem, assim como em outras, Lucas toma o cuidado de usar os títulos corretos para os diversos oficiais mencionados em sua narrativa (ver com. de At 23:24; cf. com. de Mt 27:2).Sérgio Paulo. Uma inscrição latina de 35 d.C. alista um grupo da irmandade arval, sacerdotes que atuavam como conservadores do rio Tibre, e contém o nome "L|ucius| Sergius Paullus". Embora não sc possa lazer uma identificação incontestável desse homem com o proeônsul da narrativa bíblica, não é impossível que se refiram à mesma pessoa, e que Sérgio Paulo tenha atuado como sacerdote em Roma antes de ser enviado para Chipre. Outra inscrição, de Soli, Chipre, declara ser da cpoca de "Paulo, proeônsulEruditos tentaram, diversas vezes, identificar esse proeônsul com o Sérgio Paulo de Atos. Mas a data dessa inscrição não pode ser conciliada com a época da primeira viagem missionária. É provável que se refira ao proeônsul que governou Chipre várias décadas depois. Acredita-se que Plínio, o Velho, escrevendo em 90 d.C., tenha citado Sérgio Paulo como sua autoridade principal em alguns fatos em certos trechos de sua obra História Natural. Mas um estudo crítico das evidências do manuscrito revela que o homem mencionado era, na verdade, alguém chamado Sérgio Plauto. Consequentemente, nada se sabe ao certo acerca do Sérgio Paulo de Atos, além daquilo que Lucas registra.Homem inteligente. O adjetivo descreve inteligência e discernimento (assimcomo em Mt 11:25; Lc 10:21; ICo 1:19). A companhia de Elimas mostra que o pro- cônsul Sérgio Paulo era um homem curioso. Sem dúvida, demonstrou essa característica quando pediu para ouvir Barnabé e Saulo. Ele demonstrou prudência ao reconhecer um tipo de caráter mais elevado apresentado pelos missionários. E difícil que fosse dominado pelo feiticeiro. |
At.13:8 | 8. Opunha-se-lhes. O charlatão temia perder a influência que acreditava exercer sobre o proeônsul. Ele viu sua vítima se emancipar, passando da credulidade em sua mágica à íé no evangelho e quis impedir essa mudança. Janes e Jambres resistiram a Moisés (2Tm 3:8) em circunstâncias até certo ponto paralelas, e com o mesmo tipo de iniciativa satânica.Elimas. Os eruditos já fizeram várias conjecturas quanto ao significado deste nome, mas não foi possível chegar a uma conclusão definitiva. Talvez represente uma palavra semita com o sentido de feiticeiro ou bruxo. Neste caso, a expressão "assim se interpreta" não significaria que "Elimas" é uma tradução de “Barjesus”, mas uma mera forma de dizer que era feiticeiro.Mágico. Do gr. magos (ver com. do v. 6).Procurando afastar. Sérgio Paulo ainda não havia aceitado a doutrina de Cristo, embora seja provável que tanto Elimas quanto ele tivessem ouvido bastante os apóstolos desde a chegada deles a Salamina. 0 feiticeiro percebeu o interesse do proeônsul e desejava desviar a atenção dele, para que não mandasse buscar Barnabé e Saulo. Mas o proeônsul estava determinado em seu propósito e convocou os apóstolos. |
At.13:9 | 9. Chamado Paulo. Pela primeira vez, o apóstolo é apresentado por seu nome mais conhecido entre os gentios (sobro os nomes Saulo e Paulo, ver Nota Adicional 2 a Atos 7).Cheio do Espírito Santo. O tempo verbal parlieípio grego aqui empregado subentende um acesso súbito de poder espiritual,demonstrado por meio da iluminação, indignação justa c previsão do castigo divino a ser aplicado. Fica claro que a sentença que recairía sobre Elimas lora revelada ao apóstolo pelo Espírito. Paulo sabia que aquilo que estava prestes a dizer aconteceria.Fi xando nele os olhos. Do gr. utenizo, “olhar atentamente í Alguns sugerem que esse olhar fixo era necessário porque a visão de Paulo ficara defeituosa depois do forte clarão na estrada de Damasco. No entanto, Lucas usa esta palavra várias vezes para se relerir ao olhar fixo de pessoas com visão normal, como expressão de deslumbre ou escrutínio (ver At 3:4; Lc 4:20; 22:56). Elimas precisava ser observado, pois estava por perto, pronto para usar qualquer meio a sua disposição para desacreditar os apóstolos. Paulo, porém, fixou nele os olhos e proferiu uma amarga condenação. |
At.13:10 | 10. Filho do diabo. Ver com. de Jo 8:44. Uma vez que o diabo é o pai da mentira, Elimas, treinado na arte de enganar, podería muito bem receber este epíteto. Caso o nome Barjesus significasse “filho de Josué" (nome cujo sentido é "Yahweh é salvação”; ver com. do v. 6), a caracterização de Paulo ter ia sido um contraste notável.Cheio de todo o engano e de toda a malícia. A palavra traduzida por “malícia" só é encontrada nesta passagem no NT. Seu significado primário é "facilidade em trabalhar", passando a ter o sentido negativo de “falsidade" e “trapaça". Paulo fez a Elimas uma condenação explícita e sem reservas. Cheio do Espírito Santo, ele acusou o feiticeiro de maneira desmoralizante, mas verdadeira. Algumas pessoas pensam que o cristão cheio do Espírito só demonstra o “fruto do Espírito' cm termos de amor e tolerância (Cl 5:22, 23). Mas o Espírito também leva Seus mensageiros a identificar e acusar o pecado com franqueza, condenando-o em termos claros. Foi justamente isso que Paulo, cheio do Espírito, fez no caso de Elimas.Inimigo de toda a justiça. Paulo reconheceu no procônsul o desejo sincero de conhecer a verdade. Descarregou sua ira contra Elimas por interferir nesse processo.Perverter os retos caminhos. A influência de Elimas era tortuosa, uma representação equivocada do verdadeiro caminho de Deus. Ele torcia o caminho reto do Senhor. Era o contrário do que Isaias chamou dc preparação do caminho do Senhor, que consiste em endireitar os caminhos tortuosos (Is 40:4). |
At.13:11 | 11. Mão do Senhor. Ver com. de At 11:21; cf. Éx 9:3; Jz 2:15. As perguntas que Sérgio Paulo fizera a Elimas provavelmente se referiam ã fé judaica. Em vez de ensinar o procônsul a conhecer a Deus, o mágico o desviara desse caminho. A mão do Senhor, cujos caminhos Elimas pervertera, estava prestes a recair sobre ele.Ficarás cego. Um juízo hem adequado, pois Elimas estava lutando contra a luz da verdade. O castigo de Elimas se contrasta com a experiência anterior do apóstolo. Paulo ficara cego à luz externa, mas fora iluminado por uma luz, celestial (ver com. de Al 9:9). Elimas, cego por um tempo, ainda poderia receber a luz que ilumina todo ser humano (jo 1:9).Por algum tempo. A cegueira temporária sugere que não se tratava apenas de um castigo, mas da tentativa de cura. A punição sobre Elimas foi mais leve do que a recebida por Ananias e Safira, uma vez que a conduta do casal levaria ruína à igreja. O pecado dos dois ocorreu diante de luz maior do que a que fora concedida ao mágico de Chipre.Névoa e escuridade. A ordem das palavras demonstra uma diminuição gradativa da visão. A princípio, os olhos de Elimas ficaram enevoados e depois ele ficou cego. Essa precisão reflete a habilidade do autor médico (ver Cl 4:14; ver com. dc At 9:18).Procurava quem o guiasse. Elimas havia usado o conhecimento que possuía demaneira tais a e egoísta para guiar os outros ao erro, a fim de obter vantagens. Então ele precisou procurar outros para guiar seus passos. Ele deve ter feito isso discretamente, para não demonstrar o eleito das palavras do apóstolo sobre si. |
At.13:12 | 12. O procônsul. Ele viu o milagre e ouviu as palavras que o acompanharam. Ele creu que os apóstolos tinham mais poder e aceitou a mensagem de Cristo, muito superior ao que Elirnas fazia.Maravilhado. Assim como em Mateus 7:28. a palavra é usada aqui para se referir ao deslumbramento de se ouvir o evangelho.Doutrina do Senhor. Isto é, o ensino sobre Jesus Cristo. |
At.13:13 | 13. Navegando. Do gr. anagõ, usado comumente para se referir aos marinheiros dando início a uma viagem marítima. Paulo e sua equipe navegaram no sentido noroeste.Paulo e seus companheiros. Literalmente, "aqueles ao redor de Paulo". Deste momento em diante, Paulo é reconhecido como o líder da missão. A partir deste ponto, o apóstolo aos gentios se transforma na figura central dc quase todas as cenas do livro de Atos.Perge da Panfília. Panfília era uma pequena região no meio da costa meridional da Asia Menor. Em 43 d.C., pouco antes da visita de Paulo, foi unida à Lícia, área vizinha a oeste, para formar uma província imperial. Perge era a principal cidade, situada às margens do rio Cestro, a 13 km do mar. Lucas não registra nenhuma obra cvangelís- tica nesta ocasião, talvez porque a!i não existissem sinagogas. A perturbação por causa da partida de João Marcos pode ter levado Paulo e Barnabé a prosseguirem. Eles pregaram em Perge, na v iagem de volta (At 14:25; ver mapa, p. 287).João, porém, apartando-se. Isto é, João Marcos (ver com. do v. 5), Não há pista sobre por que ele se foi. Talvez temesse os perigos e as dificuldades da viagem pelo interior.E prováv el que João Marcos seja o mesmo que escreveu o segundo evangelho. Mais tarde, ele se tornou um diligente obreiro na causa de Cristo. Paulo sc relere a ele em ocasião posterior (Cl 4:10) e manifestou o desejo de vê-lo na última vez em que ficou preso (2Tm 4:11). Caso Lucas soubesse o motivo para a retirada de João Marcos, o respeito por sua bem-sucedida experiência lutura o fez escolher não o revelar. |
At.13:14 | 14. Atravessando de Perge. Ou, "passando através de Perge’. A rota de Paulo e Barnabé era para o norte, talvez por um dos braços do rio Cestro até a província da Galácia. Para chegar a Antioquia, eles "passaram através" de toda a extensão da Panfília e da fronteira sudoeste da Galácia (ver mapa, p. 287).Antioquia. Pisídia era apenas uma região nos dias de Paulo e só se tornou província no final do 3° século d.C. Essa Antioquia em questão não ficava na Pisídia, mas próximo à região da Frigia. Todavia, em 39 a.C., passou para o domínio do reino da Pisídia e, por isso, era conhecida como Antioquia da Pisídia, a fim de distingui-la das outras cidades dc mesmo nome. No tempo do N E, ela (oi incluída na província da Galácia.Antioquia loi uma das muitas cidades construídas por Seleuco I Nicator (m. 280 a.C.), que homenageou seu pai Antíoco ao escolher o nome da localidade. Picava nas encostas inferiores dos montes lauro, numa altitude de quase 1.100 m acima do nível do mar. Seu povo recebera uma espécie de cidadania romana durante o governo de Augusto. A cidade provavelmente havia atraído Lima população judia considerável, e isso levou, ao que tudo indica, os gentios a sc interessarem pelo judaísmo (v. 42).Ê possível que nesta v iagem, Paulo e seus companheiros tenham sido expostos aos "perigos dc salteadores” referidos em 2 Coríntíos 11:26. A Pisídia, região que percorreram para chegar a Antioquia, era montanhosa, subindogradualmente em direção ao norte. Eslrabão ím. 24 d.C., Geografia, xii.7.2) menciona muito banditismo nessa área.Num sábado. Assim como O Senhor (ver Lc 4:16), Paulo tinha o hábito de frequentar os cultos na sinagoga aos sábados (ver At 14:42-44; 17:2; 18:4; cf. At 16:13). Obviamente, o apóstolo tinha um duplo propósito com esse costume: ele desejava lazer contato com os judeus e santilicar o dia de sábado, “segundo o mandamento” (Lc 23:56).A sinagoga. Embora Paulo seja chamado de apóstolo aos gentios, ele sempre ia primeiramente às sinagogas (ver com. de At 13:5, 14), onde era costume oferecer aos visitantes a oportunidade de lalar (ver vol. 5, p. 55, 46). A organização da sinagoga excluía qualquer tipo de cerimônia sacerdotal, c a pregação era um costume para os instruídos nessa arte. Nem os anciãos nem os cscribas da sinagoga precisavam ser da tribo de Lcvi, como os sacerdotes do templo. |
At.13:15 | 15. Leitura da lei. Sobre o papel da leitura da Lei e cios Profetas nos cultos nas sinagogas, ver vol, 5, p. 44-46. Em geral, essas leituras formavam a base para o sermão proferido cm seguida. Embora não seja possível dizer que leituras foram feitas nesse sábado, os v. 17 e 18 contêm palavras-chave também encontradas em Isaías 1:2 e Deuteronômio 1:31, passagens lidas juntas nas sinagogas aos sábados (ver com. de At 1 3:17, 18). Isso sugere que os dois textos, de semelhança temática, também podiam ser lidos juntos na época de Paulo. No entanto, não há evidências de um ciclo pré-detínido de leituras bíblicas sabáticas na época desta narrativa (ver Nota Adicional a Lucas 4). Por isso, qualquer tentativa de identificar o período do ano em que Paulo visitou Antioquia com base na £ leitura dessas passagens seria infrutífera.Chefes da sinagoga. Do gr. archisunagõgoi, termo de uso tanto pagão quanto judaico. Uma inscriçãopagã descobertana Trácia aplica o título ao líder da associação dc barbeiros. Nos círculos judaicos, era o equivalente da expressão heb. rosh hakkeneseth, “chefe de uma assembléia", um dos principais oficiais da comunidade judaica. Seu principal dever era organizar os cultos nas sinagogas. Ele escolhia quem laria as orações, leria as Escrituras e pregaria o sermão (ver vol. 5, p. 44). Devia ser comum haver apenas um oficial desse tipo cm cada sinagoga. Entretanto, esta passagem parece indicar que, em algumas ocasiões, havia uma comissão de oficiais responsáveis por dirigir a sinagoga.Sem dúvida, o chefe notou Paulo e Barnabc na congregação e, talvez, por ter sabido da instrução rabínica de Paulo, o convidou para falar, uma vez que fazia parte de seu privilégio oficial estender esse tipo de convite.Irmãos. Literalmente, “homens, irmãos . Assim como em Atos 1:16; e 2:37, esta era uma forma cortês de se dirigir às pessoas.Exortação. Ou, “consolação". Barnabé era chamado de “filho de exortação” (ver com. de At 4:36) e a mesma palavra é usada aqui. |
At.13:16 | 16. Fazendo com a mão. Ou, “sinalizando” (ver At 12:17).Varões israelitas. Ao analisar o público, assunto e propósito, não é de se espantar que esta fala de Paulo em Antioquia, o discurso de Pedro no Pcntecostes e a defesa de Estêvão sejam semelhantes. Paulo ouvira a defesa de Estêvão. As visões em Damasco (At 9:3-7) e Jerusalém (At 22:17-21) confirmaram as verdades que Estêvão pronunciara; então, o apóstolo aos gentios proclamou com ousadia a verdade acerca da ressurreição.Vós outros que também temeis a Deus. ü público cie Paulo devia incluir gentios ou, pelo menos, prosélitos (ver com. de At 10:2; cf. At 13:42). |
At.13:17 | 17. O Deus deste povo. Paulo introduziu seu discurso assim como Estêvão. A abordagem judaica à religião era histórica, em vez de teológica. Assim Paulo começou a recapitulação dos principais latos dahistória de Israel, um tema que os judeus nunca se cansam dc ouvir. Tal abordagem também mostrou que os apóstolos reconheciam que os hebreus eram o povo escolhido de Deus.Exaltou. Do gr. hupsoõ, palavra encontrada também na LXX de lsaías 1:2 (ARA, "engrandeci"). E possível que seja um eco da Hajtarah, a leitura bíblica dos Profetas, que acabara dc ser feita (ver com. de At 13:5; ci. com. do v. 18).Braço poderoso. Isto é, com uma demonstração de poder. |
At.13:18 | 18. Suportou-lhes. Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam a variante “ele sofreu” ou “ele suportou”, e “ele levou”, “ele nutriu”. A mesma variante textual é encontrada nos manuscritos da LXX de Dcuteronômio 1:31, nos quais o hebraico devería ser traduzido por “ele vos levou”. Tudo isso sugere a possibilidade de que Paulo estivesse se referindo ao cuidado gracioso de Deus por Israel no deserto, não a Sua longanimidade. A conexão entre este versículo e Dcuteronômio 1:31 pode não ser coincidência, uma vez que a passagem do AT talvez fizesse parte da leitura da Lei (a Parashah), realizada antes de Paulo começar sua fala (ver vol. 5, p. 45, 46; ver com. de At 13:1 5; et. com. do v. 17).Quarenta anos. O tempo que os hebreus levaram da partida do Egito até a chegada a Canaã (ver Ex 16:35; Nm 14:33, 34; Dt 8:2-4). |
At.13:19 | 19. Sete nações. Elas são alistadas em Dcuteronômio 7:1, antes da história da travessia do Jordão pelos israelitas: heteus, girgaseus, amorreus, cananeus, terezeus, hex-eus e jebuseus.Deu-lhes [...] por herança. Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam esta variante (ver |
At.13:20 | 20. Quatrocentos e cinquenta anos.Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante: “Ele deu a terra como herança por cerca de quatrocentos e cinquenta anos.E depois deu juizes até o profeta Samuel” (sobre a importância desta passagem para a cronologia hebraica, ver vol. I, p. 172).Juizes. A administração política por meio de juizes itinerantes foi o primeiro plano de Deus para o governo de Seu povo em Canaã. Só quando os israelitas se mostraram resistentes em cooperar com este plano é que o Senhor lhes deu um rei “como o têm todas as nações’ (ver ISm 8:5-9). |
At.13:21 | 21. Pediram um rei. Ao fazê-lo, os antepassados dos ouvintes de Paulo rejeitaram a Deus (ISm 8:7). (.) apóstolo logo lhes diría (At 13:23-28) que seus conterrâneos também rejeitaram Jesus, o rei Messias. A expectativa de um Messias, pelo qual os judeus da época de Paulo esperavam cm vão, os levara a cometer pecado semelhante ao dos antepassados.Saul. Paulo também era Saulo (variação do nome Saul), da tribo de Benjamim (ver Fp 3:5).Quarenta anos. O período do reinado de Saul não é mencionado no AT, mas Jsbosete. o filho mais novo de Saul (ver com. de iCr 8:33) tinha 40 anos por ocasião da morte do pai (2Sm 2:10). Saul era “moço” quando foi escolhido para ser rei (ISm 9:2). Josefo (Antiguidades, vi.14.9) diz que Saul reinou 18 anos antes da morte de Samuel e 22 anos depois disso, declaração que concorda com o relato de Paulo nesta ocasião (ver com. de ISm 13:1). |
At.13:22 | 22. Achei Davi. Aqui Paulo faz uma citação composta, segundo o costume dos rabinos, do Salmo 89:20 e de 1 Samuel 13:14.Homem segundo o Meu eoração. Ver ISm 13:14 (ARC). Davi foi ungido rei porque era um homem segundo o coração de Deus. O desejo de seu coração era servir ao Senhor (SI 57:7; 108:1) e, quando pecava, arrependia- se com sinceridade e humildade (SI 32:5-7; 51:1-17). “O caráter se revela, não por boas ou más ações ocasionais, mas pela tendência das palavras e atos costumeiros” (CC, 57).Fará toda a Minha vontade. A linguagem lembra as palavras tle Deus a Ciro (ver ls 44:28). Declara o requisito básico para ser aceito por Deus e para realizar Seu serviço (ver Lc 22:42; Jo 14:15; Hb 10:9). Entrará no reino não quem fizer grandes obras, mas quem cumprir a vontade do Pai que está no Céu (IY1t 7:21-23). |
At.13:23 | 23. Conforme a promessa. Relerên- cia geral às promessas do Messias e talvez, de maneira mais específica, a passagens como 2 Samuel 22:51 e Salmo 132:11 (cf. At 2:30).Trouxe. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante.O Salvador, que é Jesus. O nome Jesus signilica “Yahweh é salvação’ (ver com. de Mt 1:1). Dessa forma, Paulo poderia apresentá-lo, com toda eficácia, como "Salvador”. E provável que o nome não fosse desconhecido mesmo nas regiões distantes da Pisídia. Qualquer judeu que tivesse comparecido a uma lesta em Jerusalém nos últimos anos teria ouvido falar de Cristo. Por sua forma de falar, Paulo parece presumir que seus ouvintes tivessem um conhecimento vago sobre Jesus c se oferece a proporcionar mais esclarecimento. |
At.13:24 | 24. Batismo de arrependimento. Ver Mt 3:1-12. A mensagem de João era um convite ao arrependimento em preparo para a chegada do Messias. Portanto, o batismo significava arrependimento e remissão de pecados (Lc 3:3). Havia diferença entre o batismo de João e o conhecimento espiritual dos que passaram por essa experiência e o batismo em nome de Jesus (ver At 19:1-7). |
At.13:25 | 25. Completar. Ou, "estava completando”.Não sou quem supondes. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante, e "o que supondes?” Esta pergunta específica não é encontrada nos evangelhos (sobre as palavras de João, ver Mt 3:11; Mc 1:7; Lc 3:16; Jo 1:10, 21, 27). |
At.13:26 | 26. Irmãos. Ver com. do v. 15.Descendência de Abraão. Do gr. geri os Abmam, "a raça de Abraão”, "descendência abraâmica”.Vós [...] que temeis a Deus. Ver com. do v. 16.A nós. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante e “a vós". Caso a primeira opção seja a original, estaria em concordância com o v. 17: "Deus f...| escolheu nossos pais”. Ao longo de todo o discurso, fica claro que Paulo evita ferir os sentimentos dos judeus. Sempre que podia, mantendo a verdade, Paulo se colocava na mesma classe dos ouvintes.Desta salvação. Em conexão com o v. 23, o pronome demonstrativo deixa claro que a salvação pregada por Paulo estava ligada à obra de Jesus Cristo e era obtida por meio da união com Ele. |
At.13:27 | 27. Não conhecendo. Ver At 3:17. . Paulo subentende que pregava a gentios e judeus da diáspora porque a oferta de salvação fora rejeitada por aqueles que deveríam tê-la aceitado e, caso o tivessem feito, se tornariam testemunhas aos que estavam geográfica e espiritualmente "longe" (Ef 2:17).'Os ensinos dos profetas. Isto é, seus escritos, que preservavam, em forma escrita, as mensagens que haviam proclamado diversas vezes.Leem todos os sábados. Ver com. do v. 15. Paulo apela às leituras sabáticas nas reuniões das sinagogas como testemunhas do Messias sofredor, fato que se cumpriu em Jesus. A ideia de um Messias assim contrastava com o conceito de um Messias real, o qual se tornou um obstáculo para a aceitação do evangelho por parte dos judeus.Cumpriram. Paulo usa as Escrituras judaicas para condenar os judeus pela cru- ciiixão de Cristo. Ele coloca os judeus diante das profecias messiânicas e declara que eles mesmos haviam causado seu cumprimento (comparar com Lc 24:26, 27, 32). |
At.13:28 | 28. Nenhuma causa de morte.O Sinédrio condenara Jesus com a acusação técnica de blasfêmia (Mt 26:65, 66), mas não conseguira reunir evidências suficientes para prová-la (v. 59, 60). Quando compareceram perante Pilatos, os membros da corte hesitaram em fazer a acusação e se contentaram em declarar que o haviam condenado como um malfeitor (Jo 18:30). Depois, porém, na presença de Pilatos, acrescentaram que, segundo a Lei, Ele deveria morrer, porque havia dito ser Filho de Deus (Jo 19:7) e, ao se colocar na posição de rei, talara contra o imperador (Jo 19:12). Mas Pilatos disse: "nada achei contra Ele para condená-lo à morte" (Lc 23:22). Cristo “não cometeu pecado" (lPe 2:22). |
At.13:29 | 29. Cumprirem tudo. Isto é, as profecias que apontavam para o tratamento cruel que Jesus recebeu e as outras circunstâncias ligadas a Sua morte.Tirando-O. Neste contexto, Paulo diz que as mesmas pessoas que condenaram Jesus também O tiraram da cruz. Na verdade, os responsáveis por esse cuidado foram |osé de Arimateia e Nicodemos, dois judeus proeminentes que não parecem ter se envolvido na condenação de Cristo (ver Lc 23:50, 51; ct. Jo 19:39). Ao mesmo tempo, fica claro que a retirada do corpo de Jesus da cruz estava em harmonia com o desejo dos líderes judeus (Jo 19:31). Lm vista disso, o breve resumo de Paulo pode ser compreendido como uma generalização.Madeiro. Ver com. de At 5:30. |
At.13:30 | 30. Deus O ressuscitou. Vér com. de At 2:32; cf. com. de Jo 5:26; 10:17, 18. Paulo menciona a ressurreição como prova de que Deus estava cumprindo a promessa feita a Abraão e a Davi, da "semente’ por meio da qual todas as nações da Terra seriam abençoadas (CSn 12:1-3). Em outra passagem, Paulo diz que Jesus “foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:4).Assim como em outros argumentos dos apóstolos nos primeiros passos da igreja, a ressurreição era parte necessária da explicação do evangelho. A ressurreição é prova de que Jesus é o Messias. |
At.13:31 | 31. Visto muitos dias. Paulo tala como alguém que conversou com testemunhas e que se convenceu da verdade do testemunho delas (ver ICo 15:3-8; ver Nota Adicional a Mateus 28).Da Galileia para Jerusalém. Os apóstolos e a maior parte dos seguidores clc Cristo eram naturais da Galileia. Por isso, mesmo antes da crueitixão, Seus seguidores eram popularmente chamados de galiieus (Mc 14:70). Paulo confirma essa origem galileia, diante do desprezo oficial e mesmo popular em relação a pessoas provenientes dessa região (ver Jo 7:52; cf. At 1:46).Os quais são agora as Suas testemunhas. Sem meneionar a ascensão de jesus, Paulo sugere que Ele não estava mais na Terra para ser visto. A ênfase recai no testemunho daqueles que estiveram com Cristo pessoalmente. Ao que parece, nesta ocasião, Paulo não contou que ele próprio vira o Senhor ressurreto (ver ICo 15:8).O povo. Isto é, os judeus, a quem os doze ainda restringiam a proclamação do evangelho (ver At 26:17, 23). |
At.13:32 | 32. Anunciamos o evangelho. Do gr. euaggelizõ, ‘proclamai' boas-novas" e, no sentido técnico cristão, "pregar o evangelho" (ver com. de At 5:42). Paulo declara que, enquanto os doze eram testemunhas de jesus, Barnabé e ele eram Seus evangelistas, os portadores das "boas-novas".Da promessa. A promessa da profecia se transforma nas "boas-novas" do evangelho. A promessa c as boas-novas são uma coisa só. |
At.13:33 | 33. Cumpriu. Do gr. ekflemõ, "cumprir completamente", "fazer valer" uma promessa.Ressuscitando a Jesus. Estas palavras podem ser compreendidas como uma referência natural à ressurreição de Cristo.Mas, se for assim, surge um problema relacionado à aplicação da citação do Salmo 2, a seguir. Por isso, muitos comentaristas compreendem as palavras "ressuscitando a Jesus”, aqui, com o mesmo sentido em que elas ocorrem em Atos 3:22 e 7:27, em que não se referem à ressurreição, mas à introdução de Cristo neste mundo por Deus (ver com. de Dt 18:15).Salmo segundo. A citação vem do Salmo 2:7. No entanto, antes, o primeiro e o segundo salmos eram, às vezes, contados como um só. Por essa razão, alguns manuscritos se referem a esta passagem como parte do primeiro salmo.Meu Filho. Ver com. de Lc 1:35.Hoje. Esta citação do Salmo 2:7 tem sido compreendida de várias formas neste contexto. Alguns intérpretes a consideram uma referência direta à ressurreição de Jesus. Segundo outros, o Salmo 2 era, em seu contexto histórico original, um cântico de triunfo escrito para celebrar uma vitória de um rei de Israel. A vitória celebrada era prova que o rei era um “filho” escolhido de Deus, e o dia marcava um tipo de novo nascimento ou uma manifestação de sua filiação. Sob inspiração divina, Paulo aplica as palavras desse salmo a Cristo como Hei de Israel e Filho de Deus, num sentido único, e à ressurreição d Ele (ver com. de Dt 18:15). Os cristãos fizeram da ressurreição a base de sua crença na filiação de Cristo. Ele é “o Primogênito dos Mortos” (Ap 1:5), e a ressurreição é compreendida como uma confirmação de Seu título de “Filho de Deus” (ver com. de Lc 1:35).Outra visão desta passagem é compreender a "promessa " (At 1 3:32) no sentido amplo de todas as promessas veterotestamentá- rias de Cristo como Salvador, das quais a ressurreição é o cumprimento auge. Segundo esse ponto de vista, a citação do Salmo 2:7 não seria uma referência direta à ressurreição, mas à carreira de Jesus como um todo, coroada pela ressurreição. Essa perspectivacoloca a citação no mesmo contexto encontrado em Flebreus 1:5.Uma quarta interpretação surge do entendimento das palavras “ressuscitando a |esus” não como uma referência à ressurreição, mas à encarnação. Logo, a citação do Salmo 2:7 seria uma referência também à encarnação, no mesmo contexto de Hebreus 1:5. Assim, Atos 13:34 falaria da ressurreição de maneira específica. |
At.13:34 | 34. Deus O ressuscitou. Paulo se volta diretamente para o assunto da ressurreição, e isso pode sugerir que, no versículo anterior, este pode não ser o tema específico em questão (ver com. do v. 33).À corrupção. Não como Lázaro, que, depois de ressuscitar para esta vida, teria de morrer novamente. Embora Ele seja para sempre “Cristo Jesus, homem" (lTm 2:5: ver Hb 2:9-18), também é eternamente exaltado e glorificado (ver ICo 15:20-25; Fp 2:9-11).Fiéis promessas feitas a Davi. Ou, "santas, fiéis [misericórdias ou bênçãos] de Davi”. Esta é uma citação da LXX de Isaías 55:3, na qual o hebraico pode ser traduzido por "o amor verdadeiro e constante por Davi”.A palavra gr. hosios, traduzida por “santas", é a que a LXX costumava usar para traduzir o heb. chesed, “misericórdia”, "amor”. Sem dúvida, Paulo usou a LXX para falar em Antioquia, pois era a Bíblia dos judeus de fala grega. As “fiéis promessas” de Deus a Davi incluíam um reino eterno (2Sm 7:16), que se cumpriu por intermédio de Cristo, o Filho de Davi. Esta compreensão ampla das “fiéis promessas feitas a Davi” é expressa pela promessa: "convosco farei uma aliança ? perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Is 55:3). A vitória de Cristo, confirmada pela ressurreição, foi o cumprimento dessa aliança e um ponto crucial no estabelecimento do reino prometido a Davi. |
At.13:35 | 35. O teu Santo. Uma citação do Salmo 16:10. No original, a citação está ligada àanterior por meio da repetição da palavra “santo” (ver com. cie At 13:34). O raciocínio de Paulo aqui é paralelo ao de Pedro no Pentecostes (ver At 2:25-31) e expressa a tese básica da pregação apostólica.Veja corrupção. O fato de Cristo ter ressuscitado no terceiro dia significa que Seu corpo, em contraste com o de pessoas que morrem, não sofreu decomposição. |
At.13:36 | 36. Servido à sua própria geração. Isto contrasta o serviço limitado que um ser humano presta à humanidade, por mais poderoso que seja, e o ministério infinito que Jesus Cristo, o Filho do homem, exerce por toda a família humana.Conforme o desígnio de Deus. Estas palavras podem ser traduzidas por "a vontade de Deus" e consideradas como o objeto direto de "servido'. Nesse caso, o trecho anterior podería ser traduzido como: “em sua própria geração’ ou conectado ao verbo seguinte. A palavra traduzida por “desígnio” é boulê, “conselho”, “propósito”. Portanto, o sentido da passagem é que Davi serviu ao propósito divino, de acordo com a vontade do Senhor, ou que ele dormiu de acordo com a vontade divina quando terminou sua obra na Terra.Adormeceu. Paulo usa aqui o sentido bíblico costumeiro para morte, “sono" (ver At 7:60; Jo 11:11-14; lTs 4:13, 14). Os pagãos achavam que o sono da morte seria eterno, como mostram vários epitáfios gregos e romanos. |
At.13:37 | 37. A quem Deus ressuscitou. Ver com. do v. 30.Não viu corrupção. Ver v. 35; At 2:27. Isso se contrasta com a experiência do rei Davi, que. a despeito da elevada posição que ocupava na história dos hebreus, continuava morto. |
At.13:38 | 38. Tomai [...] conhecimento. Era característico da pregação apostólica marear o clímax do sermão com uma aplicação direta ao público (ver At 2:36; /:51).Irmãos. Ver com. do v. 15.Anuncia. O tempo verbal presente enfatiza que o perdão estava "sendo proclamado” naquele momento.Remissão de pecados. A mensagem de perdão é a boa-nova do evangelho, levando alegria a Lodo coração que carrega o fardo do pecado (ver IJo 1:9). Era o ponto central da pregação de Paulo (ver At 26:18), bem como de Pedro (At 2:38; 5:31; 10:43). Fora o fardo dc João Batista (Mc 1:4) e do próprio Jesus (Mt 9:2, 6; Lc 7:47, 48; 24:47). |
At.13:39 | 39. Por meio dEle. Ou, “nElc", isto é, a justificação obtida por meio da conexão vital com Cristo.Todo o que crê. Declaração tão personalizada quanto o próprio evangelho.É justificado. O verbo t raduzido por “é justificado” não se encontra em nenhuma outra parte de Atos. Aliás, nos ensinos de Paulo, este é o primeiro exemplo registrado da doutrina da justificação, que se tornou o centro de sua teologia (ver Rni 3:21-26). No contexto do “perdão dos pecados”, a palavra “justificado” significa “absolvido", “declarado inocente".Não pudestes ser justificados. Comparar com Rm 3:27, 28; Gl 2:16-21. Este é um ponto central nos ensinos de Paulo. A lei apresenta o padrão mais elevado possível de justiça; ela exige obediência completa; os sacrifícios dão testemunho da atrocidade do pecado. No entanto, a lei não tem poder para limpar a consciência nem para justificar. Desde a queda da humanidade, o propósito da lei é apontar o pecado e condenar (Rm 7:7), e não libertar do pecado. O próprio Paulo descobriu que a liberdade da culpa e a vida plena que se segue só podem ser obtidas por meio da fé cm Cristo. “O justo viverá pela sua fé" (Ele 2:4; ver Rm 1:17; Gl 3:11).Lei de Moisés. Para os otivintes de Paulo, isto significa a Tomh, toda a Lei contida no Pentateuco, conforme interpretada pelos escribas. |
At.13:40 | 40. Notai. Uma advertência solene, sem a qual a pregação do evangelho é mero exercício retórico.Que não vos sobrevenha. Pouco depois dos dias de Habacuque, cuja profecia estava prestes a ser citada, os caldeus, sob o governo de Nabucodonosor, levaram terrível juízo sobre a terra e o povo de Judá, o qual culminou no cativeiro babilônico. Esse destino cruel foi resultado da desobediência dos hebreus ao Senhor. Paulo, então, advertiu os judeus de que eles não poderíam esperar destino melhor caso rejeitassem Jesus Cristo como o Messias.Nos profetas. Referência genérica à seção profética do AT, da qual fazia parte Habacuque, a quem Paulo cita em seguida (ver com. de Lc 24:44). |
At.13:41 | 41. Vede, ó desprezadores. Esta é uma citação da LXX de Habacuque 1:5.Desvanecei. O texto hebraico tradicional traz tetnahu, "ficar atônito”.Realizo [...] obra. Paulo começa a concluir seu raciocínio e faz uma aplicação severa. Praticar constantemente o mal resulta em descrença e endurecimento do coração contra as advertências. A "obra" de que Habacuque falou foi o surgimento dos caldeus, "nação amarga e impetuosa , para executar o juízo divino (Hc 1:6). É possível que Paulo tivesse em mente um juízo semelhante, já previsto por Cristo e prestes a ser executado pelos romanos (Mt 24:2-20), intimamente ligado à rejeição de Jesus pela nação judaica. Assim corno no discurso de Estêvão (ver com. de At 7:51), o tom cia admoestação sugere que Paulo percebeu sinais de ira e impaciência entre os ouvintes. |
At.13:42 | 42. Ao saírem eles. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante "enquanto eles estavam saindo, suplicaram”, subentendendo-se que tanto judeus quanto prosélitos pediram mais instruções.No sábado seguinte. Do gr. eis to metaxu sabbaton. Como advérbio de tempo.metaxn pode ser traduzido por "entre" ou “depois”. A comparação com o v. 44 mostra que "no sábado seguinte [depois]", é a melhor tradução.Palavras. Do gr. rhemaia, "palavras" e, por extensão, "discurso" ou "declaração" (ver com. de At 10:37). O povo queria ouvir uma declaração completa da doutrina cristã. |
At.13:43 | 43. Despedida a sinagoga. Ouando Barnabé e Paulo se retiraram, loram seguidos por muitos de seus ouvintes, tanto judeus quanto gentios.Prosélitos piedosos. Ou, "prosélitos adoradores". A real posição destes indivíduos é alvo de debate acadêmico, mas é provável que fossem gentios de nascimento que haviam se tornado judeus por opção religiosa. Sem dúvida, formavam um grupo comum nas sinagogas da diáspora (vervol. 5, p. 49, 50).Persuadiam. Ou, "tentavam persuadir", "insistiam”. A forma verbal usada nesta passagem pode ser interpretada como um sinal de que esta exortação deu continuidade ao que começara a ser dito na sinagoga.Na graça de Deus. Em circunstâncias semelhantes, Barnabé havia feito o mesmo apelo aos conversos em Antioquia da Síria (At 11:23). Embora Lucas não diga que houve conversos em Antioquia da Pisídia, os apóstolos devem ter percebido a intenção dos inquiridores e, por isso, os incentivaram a perseverar na "graça de Deus” que já haviam começado a desfrutar. |
At.13:44 | 44. Sábado seguinte. Do gr. tõ erchu- menõ sabbalõ, "no sábado seguinte" ou "na semana seguinte”. A ocorrência de uma grande reunião pública, além de a tradução normal de tõ erchomenõ sabbatõ ser ”no sábado seguinte", indica que o evento sc deu "no sábado" (ver com. do v. 42).Quase toda a cidade. A pregação do evangelho, tanto por Cristo na Palestina quanto pelos apóstolos em diversos lugares, não era feita em segredo nem a poucos.Grandes multidões ouviam a proclamação; cidades inteiras eram esclarecidas e admoestadas. O contraste subentendido entre “quase toda a cidade” e “os judeus” (v. 45) sugere que a multidão tinha elevada proporção de gentios.E evidente que a sinagoga judaica não comportaria a multidão. Por isso, os ouvintes devem ter se aglomerado em volta das portas e janelas enquanto os apóstolos falavam lá dentro, ou licarain reunidos em algum espaço aberto próximo à sinagoga, enquanto Paulo discursava de sua entrada. Como Lucas não registra o discurso, presume-se p que tenha sido semelhante ao que (ora pregado na semana anterior.A palavra de Deus. Há ênfase na palavra de "Deus” nos v. 44, 46 e 48. Barnabé declarou aos ouvintes que o evangelho é a mensagem de Deus. |
At.13:45 | 45. Os judeus. Em contraste com a multidão que se reunira para ouvir Paulo e Barnabé, a qual certa mente era composta por grande número de gentios (ver com. do v. 44).Inveja. Do gr. zelos, “zelo”' e, num sentido negativo, "inveja". Parece que dois fatores provocaram este sentimento. Sem dúvida, os judeus de Antioqnia estavam incomodados com o fato de os recém- chegados Paulo e Barnabé despertarem tal interesse entre os gentios. Eles também perceberam que os gentios eram convidados a desfrutar os mesmos privilégios religiosos que eles, e isso os aborrecia. Por muito tempo, haviam crido serem os únicos ti 1 hos de Deus para se conformarem com a ideia de convidar os gentios a receber a mesma salvação. Eles seriam capazes de aceitar uma mensagem de Deus e suportar mudanças em seus ensinos e em sua tovina de adoração, mas não conseguiam lidar com a realidade de gentios serem iguais ao povo escolhido diante do Senhor. O repúdio da parte de Paulo e Barnabé em relação aos privilégios exclusivos dos quaisos judeus se orgulhavam era mais do que podiam suportar.Blasfemando, contradiziam. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da palavra “contradiziam” (ver conduta semelhante dos judeus de Corinto, em At 18:6). |
At.13:46 | 46. Falando ousadamente. Ver At 9:27, 29; 13:9-11.Avós outros, em primeiro lugar. Cristo viera primeiramenle para os Seus (jo 1:11); por isso, Seus mensageiros declaravam as boas-novas primeiro aos judeus. A ordem de pregação do evangelho era “ao judeu primeiro e também ao grego” (Rm 2:10). A pregação aos judeus tinha o objetivo de que se tornassem instrumentos de bênção a “todas as nações da terra”, por meio do conhecimento da salvação em Jesus Cristo (Gn 22:18). Grande parte deles rejeitou esse privilégio. A despeito disso, a mensagem foi levada aos gentios.Indignos. Há certa ironia nas palavras de Paulo. Os judeus se consideravam dignos das mais elevadas bênçãos de Deus, e os apóstolos estavam levando a eles a maior bênção de todas: a vida eterna em Jesus. Mas, em seu exciusivismo, rejeitaram a mensagem e se revelaram “indignos”. Logo, pela própria recusa, os judeus atraíram juízo sobre si mesmos.Para os gentios. Estas palavras eram um eco do que Paulo ouvira em visão no templo de Jerusalém pouco depois de sua conversão (At 22:21). Embora fossem ouvidas com alegria pelos gentios que creram, os judeus as receberam com inveja. |
At.13:47 | 47. Eu te constituí. Citação de ísaías 49:6, em que o texto pode ser compreendido com uma referência primária a Israel e, profética, a Cristo (ver com. de Is 41:8; 49:6). Foi feita uma aplicação messiânica da passagem pelos judeus, durante o período íntertesla- mentário, pois o livro apócrifo de Enoque (48:4) declara que o Messias “será luz aos gentios”. O idoso Simão aplicou essa profecia diretamente a Jesus, em Seu nascimento,declarando que seria "luz para revelação aos gentios" (Lc 2:32). Portanto, Paulo e Barnabé tomaram uma profecia originalmente destinada a Israel, cujo cumprimento Cristo iniciara, e a aplicaram à igreja cristã, em geral, e a eles próprios, em particular. A eles cabia, então, a responsabilidade de levar as boas- novas de salvação ao mundo, responsabilidade que os judeus não cumpriram.Até aos confins da terra. Ver Mt 28:19; Cl 1:23. |
At.13:48 | 48. Regozijavam-se. Em contraste com os judeus, que ficaram ebeios de inveja da pregação de Paulo, os gentios creram com alegria.Palavra do Senhor. Isto é, o ensino cujo tema era o Senhor Jesus (ver com. do v. 44).Sido destinados. Do gr, tassõ, “alistar”. "designar" ou "dispor’. Esta passagem tem sido objeto dc debate entre os teólogos. A tradução da ARA parece apoiar o dogma do decreto divino determinando o destino final dos seres humanos. Mas o texto grego não requer essa leitura. O verbo pode ser com- p preendido tanto na forma reflexiva quanto na passiva, podendo significar "designaram a si mesmos ou "foram destinados' . Este sentido é ilustrado por dois papiros egípcios do 3o século d.C. Um deles diz: “Eu combinei com Apoio e ele destinou por certo a décima primeira de sua descida ' [ou “ele se designou por certo que deseeria na décima primeira"]. O outro diz: “Estou, por todos os meios, procurando cobre, como eu arranjei” [ou "corno eu me destinei”]. Estes exemplos ilustram que é possível interpretar a passagem com o sentido: "c creram todos os que se destinaram [ou 'sc dispuseram’] para a vida eterna”.Essa interpretação se harmoniza com o texto, pois, de acordo com o v. 46, os judeus haviam se mostrado indignos da vida eterna e as palavras deste versículo têm o objetivo de retratar o oposto dessa experiência. Os judeus haviam agido de modo a se tornarindignos, ao passo que os gentios manifestaram o desejo de ser considerados dignos. Os dois grupos eram como tropas opostas, alinhando-se e, até certo ponto, pareciam organizadas por Deus em lados diferentes. Assim, os gentios se destinaram e foram destinados para a vida eterna. O texto não expressa que Deus destina alguém a uma escolha específica ou que o ser humano não possa mudar de opção caso as mudanças de circunstâncias o exijam (ver com. de Jo 3:16-18; Rm 8:29). |
At.13:49 | 49. Por toda aquela região. O evangelho já havia recebido grande divulgação na Antioquia da Pisídia (ver v, 44). Então, a mensagem evangélica estava sendo plantada nas regiões vizinhas, fronteiriças à Frigia, Licaônia e Galácia. E provável que em muitas cidades e vilas houvesse alguns que tinham parado de adorar os deuses da terra e se convertido ao judaísmo. Então, muitos deles, junto com os judeus que aceitaram a Cristo, se reuniam em pequenos grupos aqui c ali como discípulos de seu novo Mestre, Jesus de Nazaré, o Messias Salvador. |
At.13:50 | 50. Mulheres piedosas. Provavelmente fossem mulheres gentias da alta sociedade interessadas no judaísmo. Talvez, por meio delas, os judeus tentassem influenciar os homens de Antioquia. Em muitos casos, os judeus encontraram um anseio real da parte destas mulheres por uma vida mais elevada e pura do que tinham na depravada sociedade greco-romana. Por isso, muitas delas passavam a apreciar a ética da vida e a fé defendidas por Israel. Com frequência, chegavam ao ponto de se tornar prosélitas.Os principais. Por intermédio de magistrados pagãos, os judeus de Antioquia tentaram atacar Paulo e Barnabé, assim corno os judeus de Jerusalém fizeram com Jesus.Levantaram perseguição. Barnabé e Paulo não foram os únicos a sofrer. Desde o início, os cristãos de Antioquia da Pisídia precisaram aprender que o reino de Deus só vem “através dc muitas tribulações” (At. 14:22).A lembrança desses sofrimentos sempre vinha à mente de Paulo c emergiu, por fim, naquilo que escreveu em seus últimos momentos de vida (2Tm 3:11).Território. Isto é, "fronteiras’’ ou “regiões”. A palavra “território” costumava ser usada para designar os limites ou fronteiras de uma nação. |
At.13:51 | 51. Sacudindo [...] o pó. Em obediência à ordem do Senhor (Mt 10:14), isso mostra que esses missionários tinham conhecimento do que Jesus ensinara aos doze. Este gesto não foi leito contra os pagãos, mas contra os judeus incrédulos. Por rejeitarem o evangelho, ate mesmo o pó da rua onde pisavam era imundo para os apóstolos.Para Icônio. Ver com. de At 14:1. |
At.13:52 | 52. Transbordavam de alegria. A forma verbal usada indica que se tratava de uma experiência contínua. Tal “alegria” é um resultado da conversão.E do Espirito Santo. Talvez a presença do Espírito Santo indique dons específicos, como línguas e proíecia. Mas, além desses dons, o transbordamento do Espírito certamente era um estímulo à vida espiritual, e a alegria, o resultado natural. A mensagem dessa nova fé era tão inovadora para os conversos gentios que eles devem ter demonstrado mais sinais exteriores de alegria do que seus irmãos de fé, os conversos judeus (ver Rm 14:17; ver com. de At 2:4; 15:9).Capítulo 14I Paulo e Barnabé são perseguidos em Icônio. 8 Paulo cum um coxo em Listra e é visto como um deus. 19 Ele é apedrejado. 21 Eles passam por várias igrejas e confirmam os discípulos. 26 Em Antioquia, relatam o que Deus fez por eles.concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios. |
At.14:1 | 1. Icônio. Lucas relata dc forma breve a jornada de Paulo e Barnabé a Icônio. A inferência c que houve pouca oportunidade para trabalho missionário pelo caminho. A cidade ficava cerca de 140 km a sudeste de Antioquia, na junção de várias estradas importantes. Alguns escritores antigos dizem que ela pertencia à Frigia; outros, à Licaônia. A cidade tinha tamanho e dignidade suficientes para ser chamada de Damasco daLicaônia e se destacou na tradição cristã posterior como o local onde ocorreu o episódio do encontro de Paulo com a convertida Tecla. Na Idade Média, Icônio cresceu cm importância, ocupando a posição de capital dos sultões sel- júcidas. Hoje, com o nome modificado e abreviado de Konya, continua a ser uma cidade próspera da Turquia (ver mapas, p. 19, 287).Juntos. Isto não se refere a uma visita especial à sinagoga, mas a ocasiões nas quaisPaulo e Barnabé foram juntos se reunir com os judeus.Na sinagoga. Como cie costume, Paulo iniciou seu trabalho com os judeus e gentios tementes a Deus com quem se encontrava nos cultos. Obviamente, as visitas à sinagoga ocorriam aos sábados (ver com. de At 13:14, 44).Falaram de tal modo. Eles falaram em diversas ocasiões. Em algumas delas, não só judeus, mas também gentios pareciam estar presentes.Grande multidão. Assim como na pregação em Antioquia da Síria (ver At 11:21, 24), houve êxito na pregação do evangelho em Icônio.Gregos. Do gr. hellênes, palavra usada por Lucas para se referir a um gentio, em contraste com hellenista, em alusão aos judeus gregos (ver com. de At 11:20). Parece que aqui, assim como em Antioquia, havia na sinagoga gentios “crentes” (cf. At 13:16). Além disso, os apóstolos ficaram em Icônio por um período considerável (ver At 14:3) e, sem dúvida, falaram em outros lugares além da sinagoga. |
At.14:2 | 2. Judeus incrédulos. Ou, “judeus que não I ora na convencidos”. A palavra traduzida por “incrédulos" indica descrença que se manifesta em forma de rebelião, descrevendo o caráter dos judeus que perseguiam Paulo e Barnabé.Incitaram [...] gentios. A maior parte das perseguições registradas no livro de Atos ioí causada pela inimizade dos judeus. Ü caso de Demétrio (At 19:24) c quase uma exceção e, até nessa situação, parece que os judeus foram responsáveis pela forte reação do ourives grego. Numa data posterior, após a metade do 2" século, os judeus contribuíram ativa mente para a morte de Poliearpo, em Esmirna (O Martírio de Poliearpo, 13; Eusébio, História Eclesiástica, iv. 15.29). No início do 3° século, Tertuliano chamou as sinagogas judaicas de sua época de “fontes de perseguição" (Scorpiace, 10).Irritaram os ânimos. Esta expressão se refere não só à ira despertada contra os irmãos, mas também ao mal provocado àqueles em quem o sentimento foi incitado.Contra os irmãos. Isto c, os novos conversos, em contraste com os “judeus incrédulos”. |
At.14:3 | 3. Muito tempo. Provavelmente, meses. Como os novos crentes eram muitos, era necessária uma longa permanência para confirmá-los na lé.Falando ousadamente. A ousadia deles consistia no anúncio completo do evangelho da graça divina, que eles pregavam em contraste com a mentalidade estreita do judaísmo, com a qual os prosélitos gentios estavam familiarizados até então (ver At 9:27-29). A ousadia estava ligada a atos A miraculosos e a outros sinais e prodígios leitos em nome de Jesus Cristo.O qual confirmava. Ou, “quem", isto c, o Senhor. Por meio dos milagres que capacitava Paulo e Barnabé a realizar. Deus dava testemunho de que aqueles homens eram dEle e que revelavam Sua verdade.Palavra da Sua graça. Isto c. a mensagem da graça salvadora de Deus, o evangelho. A pregação de Paulo se referia ao lavo; imerecido da parte de Deus e à salvação (vi Ef 2:5, 8; Rm 5:1, 2).Sinais e prodígios. Eles não eram a base da té, mas evidências para a fé. O registro não especifica que tipo de “sinais” (oram realizados. |
At.14:4 | 4. Dividiu-se. Cristãos e não cristãos se tornaram grupos distintos da população, e havia uma amargura de espírito por parte do segundo grupo. Lucas se refere à maior parte da população pagã. Sem dúvida, os conversos ao cristianismo eram a minoria e deviam ser das classes mais baixas da sociedade, como costumava ser o caso nos primeiros dias da igreja (ver ICo 1:26-28). Assim como em Antioquia da Pisídia, os principais da cidade, tanto homens quantomulheres, foram contrários aos cristãos (ver At 13:50).Uns eram pelos judeus. Assim ocorreu posteriormente com a pregação de Paulo em Tcssalônica (At 17:4, 5). Jesus havia previsto que essas divisões resultariam da pregação de Sua palavra (Lc 12:51-53). |
At.14:5 | 5. Tumulto. Do gr. hormê. “ataque" ou “tentativa ”, A palavra não expressa um ataque direto, pois isso não ocorreu (ver v. 6). Os judeus incitaram seus companheiros pagãos, na expectativa de que a situação acabasse em violência.Autoridades. Isto é, as autoridades da sinagoga judaica, onde Paulo e Barnabé haviam começado a pregação quando chegaram a Icônio.Para os ultrajar. Eles sofreram insulto e humilhação injustificados. O plano era incitar a multidão. Paulo usa uma palavra bem próxima para caracterizar a própria conduta como perseguidor (iTm 1:13).Apedrejar. 0 apedrejamento era a punição judaica por blasfêmia (Lv 24:14-16). Eles entendiam que o ensino dos apóstolos se encaixava nesse caso. Não deve ter havido um processo judicial para chegar ao plano, cies simplesmente decidiram “ultrajar" os apóstolos (ver com. de At 7:58; cf. Jo 10:31). |
At.14:6 | 6. Sabendo-o. Sem dúvida, havia pessoas do lado dos apóstolos com contato suficiente com o grupo de oposição, a ponto de saberem do plano. Lucas não tenta exagerarFugiram. A reação dos apóstolos ocorreu em obediência à ordem de Cristo de tugir para outra cidade, quando perseguidos (ver com. de Ml 10:23).Listra. Até 1885, a localização exata dcPartindo da estrada de Icônio, os apóstolos teriam subido por uma cadeia de montanhas até o planalto onde se localizava Listra. Embora a Licaônia seja caracterizada na literatura clássica como uma terra selvagem e incivilizada, evidências em inscrições revelam que Listra se tornou uma colônia romana na época de Augusto. Portanto, possuía uma cultura superior à da região circunvizinha. Por ser um centro comercial romano, é possível que Listra contasse com judeus em sua população, mas o registro de Atos não dá indícios de que houvesse uma sinagoga na cidade, e os contatos de Paulo parecem ter sido, em sua maior parte, com os gentios. Mesmo Timóteo, filho de uma judia devota, provavelmente de Listra, crescera incircunciso (ver com. de At 16:1, 3; ver mapa, p. 287).Derbe. A localização desta cidade foi feita em 1956, quando uma inscrição mencionando a cidade foi encontrada em Kerti Hiiyük, 83 km a sudeste de Icônio, a atual Konya. Gaio, que se tornou um dos companheiros de viagem de Paulo, era natural dc Derbe (At 20:4; ver mapa, p. 287).Licaônia. Esta não era uma província romana, mas uma região étnica em cuja parte ocidental ficava a província da Galácia e, na parte oriental, o reino de Antíoco de Gomagena. Paulo e Barnabé devem ter per- 2 manecido dentro das fronteiras da província da Galácia. No período do NT, Icônio era considerada uma cidade da Frigia. Portanto, ao irem para Listra e Derbe, os apóstolos entraram em uma região nova.Circunvizinhança. Isto sugere que Listra c Derbe eram cidades pequenas e que Paulo e Barnabé as evangelizaram em pouco tempo. Ao trabalharem em vilas interioranas, eles devem ter encontrado quase só gentios. |
At.14:7 | 7. Anunciaram o evangelho. Do gr. euagoeliiõ (ver com. dc At 13:32)1. |
At.14:8 | 8. Desde o seu nascimento. Exemplo do cuidado médico de Lucas ao registrar os detalhes do caso (ver com. de At 3:7; 9:33). |
At.14:9 | 9. Ouviu. Ou, “costumava ouvir”.Fixando nele os olhos. Do gr. atenizõ(ver com. de At 13:9; 23:1). A fé do coxo resplandeceu em sua face, e Paulo reconheceu nele alguém pronto a ser curado e se tornar um sinal para o povo de Listra.Possuía fé. Este é um pré-requisito para o milagre (ver Mt 9:22; Mc 9:23). |
At.14:10 | 10. E m alta voz. Paulo elevou o tom de voz que usara até então para falar com o povo.Apruma-te direito. Este comando soaria como escárnio para alguém que não estivesse preparado, pela fé, para ir além dos limites da experiência comum. O coxo demonstrou desejo de agir em resposta à fé. Este milagre se alinha ao mesmo modelo usado na cura do paralítico (Mt 9:6, 7), do aleijado de Betesda (Jo 5:11, 14) e do coxo na porta do templo (At 3:6-8). Em todos esses casos, a restituição espiritual acompanhou a cura física. E evidente o paralelo entre a cura do coxo por Pedro, junto à porta Formosa do templo (At 3:1-11), e a cura desse aleijado por Paulo, em Listra.Saltou e andava. Ou, “colocou-se de pé num salto e começou a andar" (ver com. de At 3:8). |
At.14:11 | 11. Língua licaôníca. Embora Paulo declare que falava várias línguas (ICo 14:18), fica evidente que seu dom não incluía o idioma de Licaônia. Certamente, ele e Barnabé não sabiam que o povo de Listra estava prestes a adorá-los. Seria uma acusação contra o caráter de ambos supor que eles permitiríam que as pessoas lhes prestasse adoração divina, a fim de então causarem um efeito mais dramático ao rejeitá-la. Sem dúvida, os habitantes de Listra eram bilíngues c conseguiam entender Paulo e Barnabé em grego. Mas os missionários não foram capazes de compreender o que as pessoas falavam enquanto laziam planos de olcrecer um sacri- lício pagão. Pouco se sabe sobre a língua lieaônica.Os deuses. Nos tempos do NT, acreditava-se que os deuses se misturavam aos seres humanos. Esta não era apenas uma crença dos simples licaônios, mas era comum entre os pagãos das cidades e do campo. Em Licaônia, havia uma antiga lenda que justificava aquilo que o povo estava prestes a fazer com Barnabé e Paulo. Segundo esse mito, Zeus e Hermes (Júpiter e Mercúrio) haviam aparecido em forma humana e foram recebidos pelo idoso casal Eilemom e Baucis, a quem concederam presentes (Metamorfoses, viii.262-724). A lenda diz que o lugar onde os deuses supostamente habitavam se tornou, mais tarde, um refúgio para adoradores devotos, os quais faziam peregrinações ao local e ali deixavam suas ofertas. |
At.14:12 | 12. Júpiter [...] Mercúrio. Do gr. Zeus [...] Hermes, ou seja Zeus, chefe de todos os deuses, e seu filho Hermes, arauto e mensageiro dos deuses, patrono da eloquência.No panteão romano, os equivalentes a esses deuses eram Júpiter e Mercúrio, nomes usados pela versão ARA. A adoração a Zeus e Hermes parecia bem popular na região de Listra. Foi descoberta uma inscrição próxima a Listra que fala de homens de nomes licaôni- cos dedicando uma estátua a Zeus. Também foi encontrado um altar de pedra próximo a Listra, dedicado “àquele que ouve as orações”, provavelmente Zeus, e a Hermes. Seria natural para os habitantes de Listra crerem que, se uma divindade aparecesse no meio deles com boas intenções, seria o deus Júpiter, pois havia um templo cm sua homenagem na frente da cidade (ver com. do v. 13), a quem prestavam a principal adoração. Mercúrio era q considerado o principal auxiliar de Júpiter. Barnabé devia ter um porte mais impressionante do que Paulo e, por isso, recebeu o título de Júpiter. Uma vez que falava mais, Paulo loi identificado como Mercúrio. |
At.14:13 | 13. Sacerdote de Júpiter. O sentido desta passagem parece ser: "o sacerdote local de Zeus [localizado] na frente da cidade”.Portanto, Zeus era a divindade tutelar de Listra e seu templo devia estar à porta da cidade, como se a estivesse protegendo. O povo correu ao sacerdote de Zeus, trazendo-o com todos os preparativos para um sacrifício.Portas. Do gr. pulõnes, palavra que pode se referir ao portão de uma casa (ver At 12:14) ou de uma cidade (ver Ap 22:14). Neste versículo, provavelmente seja melhor entender que o termo se refere às portas da cidade ou à entrada do templo de Zeus.Grinaldas. Essas grinaldas eram comuns em esculturas antigas. Feitas, em geral, de lã branca, às vezes eram decoradas com folhas e flores. Sacerdotes, auxiliares, portas e altares, bem como sacrifícios animais, costumavam ser adornados assim.Sacrificar. O sacrifício devia consistir de cortar a garganta de bois e derramar parte do sangue sobre o altar. |
At.14:14 | 14. Os apóstolos. Os elaborados preparativos para o sacrifício despertaram as suspeitas deles.Rasgando as suas vestes. Entre os judeus, esta era uma expressão de horror, sobretudo como protesto contra a blasfêmia (ver com. de Mt 26:65). Paulo e Barnabé perceberam que era isso que os habitantes pagãos de Listra estavam prestes a fazer em ignorância. Não se sabe até que ponto a população compreendeu este ato, mas seu caráter drástico deve ter chamado a atenção e detido o povo.Saltaram. Do gr. ekpêdaõ, “saltar”, "apressar-se . Os dois apóstolos correram à porta da cidade onde o povo se reunira para o sacrifício, ou no templo dedicado a Zeus, que ficava "em frente da cidade” (ver com. do v. 13). |
At.14:15 | 15. Mesmos sentimentos. A palavra inclui mais do que os sentimentos passivos, que o termo costuma descrever (ver Tg 5:17). Há uma semelhança entre as palavras de. Paulo e Barnabé e as de Pedro a Gornélio (ver At 10:26).E vos anunciamos. Literalmente, "tra- zemo-vos boas-novas” (ver com. de At 13:32). Para os idólatras, a mensagem que exaltava o Deus vivo em lugar de ídolos devia ser, de fato, uma ótima notícia, especialmente considerando que Jesus Cristo Se fez Deus encarnado, o Salvador da humanidade.Destas coisas vãs. isto é, o sacrifício pagão prestes a ser feito e tudo que isso acarretava. Lstas palavras são usadas para a futilidade e inutilidade da adoração pagã (Ef 4:17; lPe 1:18). 'Deus vivo. Em contraste com a idolatria, o apóstolo conclama os habitantes de Listra a adorar um Deus que vive e age, o qual criou os céus e a terra, o Doador de tudo que é bom e que julgará todos os seres humanos (ver Is 40:6-31; 41:18-29; 44:6-28).O céu, a terra, o mar. Isto está em contraste com as religiões pagãs populares, que costumavam dividir o céu, a terra e o mar entre divindades diferentes. Paulo proclama que um só Deus criou todas essas coisas e as controla.O apelo ao papel criador de Deus c feito repetidas vezes nas Escrituras. Encontra-se no início de toda a história da relação entre Ele e o universo (Gn 1) e é também a base para a última mensagem evangélica de advertência ao mundo (Ap 14:7). |
At.14:16 | 16. Povos. Do gr. ethnê, termo comum no NT para designar os gentios. Este é o primeiro indício do que se pode chamar de filosofia paulina da história. Pensamento semelhante ocorre no discurso de Paulo em Atenas (At 17:30), no qual declara que Deus não leva em conta os tempos de ignorância. Aqueles que. viveram assim receberão tratamento justo e serão julgados de acordo com seu conhecimento. Ele expande essa filosofia em Romanos 1 e 2. A ignorância e o pecado no mundo gentílico tiveram permissão para seguir seu caminho como parte de um drama divino, a fim de levar os gentios .: a sentir necessidade de redenção e prepará- los para recebê-la. |
At.14:17 | 17. Sem testemunho. Deus não fica sem testemunho entre os pagãos, como os de Listra. Há aqui um esboço do que Paulo expande depois, em Romanos 1:19 e 20, embora no segundo texto, sua ideia principal seja que, por isso, os pagãos são indesculpáveis. Na situação presente, o apóstolo enfatiza a evidência da bondade divina demonstrada na natureza, que seus ouvintes contemplavam constantemente. Mais tarde, ao se dirigir aos filósofos de Atenas, Paulo declarou que "nEle [Cristo] vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28; cf. Rm 2:14, 15).Fazendo o bem. Isto subentende a manifestação contínua da graciosa vontade de Deus ern favor dos seres humanos (ver Alt 5:45). Paulo incluiu o envio da chuva, fazendo um contraste com Júpiter, o suposto deus da chuva.Vosso. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta variante. |
At.14:18 | 18. Com dificuldade que impediram. Tamanha era a avidez do povo em realizar o ato de adoração. Sem dúvida, alguns dos que foram impedidos deixaram as "coisas vãs” e passaram a servir o Deus vivo. De todo modo, Paulo trabalhou em Listra o suficiente para que uma igreja fosse fundada ali. A judia Loide, junto com a filha Eunice e o neto Timóteo estiveram entre os primeiros conversos (2Tm 1:5; ver com. de At 16:1). |
At.14:19 | 19. judeus de Antioquia. O contexto deixa claro que a referência é a Antioquia da Pisídia (ver com. de At 13:14). A inimizade dos judeus de Antioquia fica evidente por agirem junto com os judeus de Icônio. Para atrapalhar a obra dos apóstolos, os judeus de Antioquia precisaram viajar mais de 160 quilômetros.A relação entre os habitantes de Antioquia e os de Listra é sugerida por uma inscrição descoberta numa estátua de Antioquia, a qual declara que fora erguido um monumento em homenagem à primeira cidade pelo povo de Listra.Os judeus sabiam que Paulo e Barnabé pertenciam a sua nação, e a ira deles se devia ao fato de pensar que os apóstolos menosprezavam as leis que lhes eram tão preciosas. Em Listra, porém, os judeus precisariam apresentar outra acusação a fim de incitar os pagãos contra os apóstolos. O milagre da cura do coxo provara a realidade do poder dos apóstolos, mas não sua origem. E possível que os judeus o atribuíram a um agente maligno, a fim de influenciar os pagãos (comparar com a experiência de Jesus, em Mt 12:24-27).Instigando as multidões. A mudança súbita de atitude por parte do povo de Listra lembra a transformação da multidão em Jerusalém, das hosanas para o clamor "Seja crucificado!” (Mt 21:9; 27:22). Não c difícil compreender essas ondas de emoção no caso de pessoas supersticiosas, como os licaôni- cos, tradicionalmente vistos como não confiáveis. Uma mudança comparável na direção inversa ocorreu entre o povo pagão de Malta (At 28:3-6). O povo de Listra deve ter raciocinado que, se Paulo e Barnabé possuíam tais poderes misteriosos, mas não eram deuses em forma humana, deviam ser feiticeiros ou até mesmo demônios. Os judeus podem ter contribuído para esse sentimento e incitado o povo a partir para a barbárie.Apedrejando a Paulo. A forma de punição característica dos judeus; nesse caso, ajudados pelos habitantes pagãos de Listra. Este é o único episódio registrado da vida de Paulo em que sofreu esse tipo de ataque (ver 2Co 11:25). Em Icônio, Paulo acabara de escapar do apedrejamento (At 14:5, 6). Ambas as ocasiões são mencionadas por Lucas, mas o apóstolo só Ia/, referência ao sofrimento em si. Esta experiência em Listra permaneceu patente na memória de Paulo até o fim de sua vida (2Tm 3:11, 12).Fora da cidade. A lei hebraica especificava que o apedrejamento deveria ocorrerfora do arraial ou da cidade (Lv 24:14). Neste caso, porém, talvez porque a cidade fosse pagã e o apedrejamento tenha resultado de um tumulto promovido pela multidão, o episódio parece ter ocorrido dentro da cidade. Por isso, o corpo de Paulo precisou ser levado para fora. |
At.14:20 | 20. Discípulos. Isto é, os novos cristãos. Certamente eles foram incapazes de impedir o ataque, mas seguiram até o lugar para onde Paulo fora arrastado inconsciente, com o pensamento de providenciar um funeral. E possível que Timóteo, para quem a amarga experiência de Paulo seria tanto um desafio ao serviço quanto um exemplo de devoção, tenha testemunhado o apedrejamento (A A, 184, 185). Talvez Loide e Eunice também estivessem presentes, primeiro chorando, mas depois se regozijando ao descobrirem que seu mestre estava vivo.Levantou-se. A recuperação da consciência de Paulo, a demonstração imediata de vigor e a ousadia ao entrar de novo na cidade podem ter sido consideradas um milagre. O falo de um apedrejado por uma multidão irada, considerado morto, reviver e sair andando como se nada houvesse acontecido era uma evidência ainda mais clara do poder de Deus do que a cura do coxo.No dia seguinte, partiu. Depois de poupado da morte pelo poder de Deus, Paulo percebeu que os ânimos da turba em relação a ele não haviam mudado e, por um tempo, o melhor a fazer era sair da cidade. O apóstolo fez, no mínimo, mais duas visitas a Listra (verv. 21; At 16:1).Com Barnabé. Ele não fora alvo da inveja dos judeus. Embora tivesse o dom da '‘exortação" ou "consolação’’ (ver com. de At 4:36), essas características não foram demonstradas com tanta evidência quanto as de seu companheiro apóstolo.Para Derbe. Ver com. do v. 6. |
At.14:21 | 21. Anunciado o evangelho. Do gr. euaggelizõ (ver com. de At 13:32).Feito muitos discípulos. Talvez Gaio, de Derbe, a quem Lucas menciona como um dos companheiros de Paulo numa viagem posterior (At 20:4), tenha sido um dos conversos. A obra realizada subentende uma permanência de meses.Voltaram. Seria mais simples ir para o leste, em direção a Tarso, e voltar de navio para Antioquia da Síria. Mas Paulo e Barnabé escolheram um trajeto longo e cansativo, viajando cerca de 400 km de volta para o mar. Mas, ao voltar pelo caminho que haviam percorrido, tiveram a oportunidade de semear ainda mais a palavra que já haviam iniciado antes, correndo muitos perigos. A hostilidade dos judeus em Antioquia e Icônio deve ter arrefecido, dando aos apóstolos condições de voltar às duas cidades sem correr riscos. E possível que, em alguns lugares, os líderes da cidade tivessem sido substituídos (ver mapa, p. 287). |
At.14:22 | 22. Fortalecendo. A ação de Paulo aqui está em harmonia com a ordem de Jesus a Pedro: "Tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos" (Lc 22:32). Paulo podia fazer isso por meio de advertências e exortações extraídas das próprias tribulações e dos livramentos que recebera.Na fé. Provável referência à expressão objetiva de fé, isto é, naquilo que se ensinava. Esse sentido da palavra “fé", um "conjunto de crenças ”, ocorre posteriormente na literatura apostólica (ver 2Tm 4:7; Jd 3, 20) e tem um uso semelhante aqui.Que [...] nos. A palavra gr. hoti, “que”, costuma introduzir citações diretas, funcionando como as aspas em língua portuguesa. As palavras "através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus" parece ser uma citação direta do que Paulo disse às igrejas durante essa visita. Alguns consideram que o uso do pronome "nos" indica que Lucas também estava presente e ouviu os sermões. No entanto, corno ele não dá nenhum outro indicativo de fazer parte dogrupo de viagens de Paulo até a segunda viagem missionária em Trôade (At 16:10), é preferível compreender que o “nos” se refere a uma citação direta das palavras de Paulo, o qual estava se identificando com os ouvintes ao falar. Certamente ele podia apontar para as próprias tribulações como ilustração da veracidade de sua mensagem.Muitas tribulações, Na segunda epístola de Paulo a Timóteo, o discípulo eleito de Listra (ver At 16:1-3), há uma referência à tribulação. Paulo se refere à perseguição que sofreu em Antioquia, Icônio e Listra, declarando em seguida que ‘'todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3:12; cf. Ap 1:9; 7:14).Reino de Deus. Ver com. de At 1:6. Esta expressão, comum nos evangelhos, ocorre cedo e diversas vezes nos ensinos de Paulo !/ (Rm 14:17; lCo 4:20; 6:9; Cl 4:11; 2Ts 1:5). Paulo considera que este é um reino de verdade, do qual Cristo é o Rei. |
At.14:23 | 23. Eleição. Do gr. cheirotoneo, literalmente, “estender a mão ”. Esta palavra era usada pelos gregos para o ato de eleger oficiais levantando a mão; daí derivou o sentido geral de "eleição” , sem consideração específica pelo método empregado (ver 2Co 8:19, em que cheirotoneo é traduzido por "eleito”); deste significado se desenvolveu o sentido adicional de "nomear ”, por eleição ou outros meios (ver At 10:41). Com base neste verbo, alguns eruditos sugerem que os anciãos escolhidos em Listra, Icônio e Antioquia foram eleitos por voto popular. Embora seja verdade que algum sistema de eleição fosse praticado pela igreja apostólica (ver At 6:3; 2Co 8:19), há sérias dúvidas se esse teria sido o método de seleção empregado aqui. A passagem sugere que Paulo e Barnabé fizeram a seleção, não as igrejas. Em vista disso, o sentido mais amplo de “escolher” ou "nomear” parece ser a melhor tradução. Embora tenha acontecido uma ordenação formal (ver lTm 4:14; 5:22; 2J.m 1:6), ela não é atestada pelo verbo usado aqui.É provável que as circunstâncias locais tenham levado os apóstolos a considerar mais sábio nomear oficiais de forma direta nessas novas igrejas, do que abrir a questão para eleição geral. Paulo parece ter recomendado um procedimento semelhante a f ito (Tt 1:5).Numa ocasião posterior, os bispos foram eleitos regularmente pelo voto do clero e do povo. Foi assim que Fabiano, de Roma, foi escolhido pelo povo, em 236 d.C. (Eusébio, História Eclesiástica, vi.29.2-4). Cipriano de Cartago (m. 258 d.C.) fala do “sufrágio de toda a irmandade” (Epístola, lxvii.5; ANE, vol. 5, p. 371). As Constituições Apostólicas, provavelmente do 4° século, estabelecem que os líderes da igreja deveríam scr “escolhidos por todo o povo” (viii.2.4; ANF, vol. 7, p. 481). Do 4° século em diante, foi criada a política de que um novo bispo fosse nomeado pelos outros bispos, e seu nome, aprovado pelo clero e a comunidade laica da diocese. Na Idade Média, a comunidade laica significava, é claro, a aristocracia, não as pessoas comuns.Presbíteros. Ver com. de At 11:30. Pela autoridade investida a Paulo e Barnabé como missionários (ver At 13:3), eles lideraram a escolha dos presbíteros. Foi assim que instituíram, nas igrejas gentílicas, a forma de organização já adotada pelos cristãos de Jerusalém. Baseava-se na sinagoga, não no templo (ver vol. 5, p. 44). Paulo organizou essas comunidades de crentes logo depois de seus membros se tornarem cristãos, mostrando que a organização é essencial para a manutenção da vida espiritual e do crescimento da igreja.Orar com jejuns. O mesmo procedimento de quando os apóstolos loram enviados para Antioquia (ver com. de At I 3:3).Encomendaram. Isto é, "confiaram””. Esta palavra indica a confiança que uma pessoa tem em quem recebeu o encargo de cuidar de seus bens preciosos. Neste caso, tem a ver com a conf iança absoluta cm Deus. |
At.14:24 | 24. Pisídia. Ver com. de, At 13:14.Panfília. Ver com. de At 13:13. |
At.14:25 | 25. Perge. A cidade de onde Marcos resolvera voltar (At 13:13). Não há menção de os apóstolos terem pregado anteriormente ali. Então, durante o retorno, eles realizam o que antes parece ter ficado de tora.Atália. No caminho para a província, parece que os apóstolos foram de Pafos para Perge, subindo o rio Cestro (ver com. de Al 13:13). Na volta, fizeram um desvio que os levou a Atália, cidade portuária na foz do rio Catarract.es. Esta cidade foi construída por Atalo II Eiladello, rei de Pérgamo (159-138 a.C.). Não há registro de trabalho evangelístico realizado ali. E provável que os apóstolos só tenham passado por Atália, por ser um porto, onde poderíam embarcar para a Síria (ver mapa, p. 287). |
At.14:26 | 26. Antioquia. Na Síria, de onde os apóstolos haviam partido em jornada. O navio poderia passar entre a Cilícia e Chipre, ancorando na Selêucia ou entrando pelo rio Orontes, subindo até Antioquia.Recomendados. Isto é, "elogiar”, "conceder". Ao enviar Paulo e Barnabé, a igreja lhes concedera a graça de Deus para orientação, proteção e continuidade de seus esíor- 3: ços. Essa graça não lhes faltou.Que haviam já cumprido. Paulo e Barnabé hav iam sido enviados pela igreja em Antioquia para a realização de uma tarefa específica: a evangelização dos gentios. Então podiam retornar para sua congregação com a alegria de uma missão cumprida. Embora tivessem apenas iniciado a obra de pregar aos gentios, o que realizaram fora bem feito. |
At.14:27 | 27. A igreja, isto é, a congregação cristã em Antioquia, que fora movida pelo Espírito (At 13:2) a lhes enviar em viagem. Era adequado os apóstolos relatarem a esta igreja os resultados de sua primeira jornada missionária.Relataram quantas coisas. Durante o período da viagem missionária, os cristãos devem ter ouvido pouco ou mesmo nada acerca dos apóstolos. Pode-se imaginar a empolgação com que se reuniram para ouvir o relatório.Fizera Deus. As grandes coisas que eles realizaram eram, na verdade, atos de Deus.Abrira [...] a porta. Esta expressão é uma das metáforas preferidas de Paulo (ver ICo 16:9; 2Co 2:12; Cl 4:3) e deve Ler sido parte de seu discurso.Aos gentios. Os privilégios do evangelho, concedidos a todos os que creem. Esta liberdade foi oferecida primeiramente aos gentios em Antioquia, onde Paulo auxiliara Barnabé e outros no trabalho (At 11:20-26). O evangelho fora levado a um campo mais amplo de gentios. Paulo estava cumprindo a missão de ir aos gentios (At 22:21). |
At.14:28 | 28. Não pouco tempo. Natural mente, Paulo se sentia mais atraído por Antioquia do que por Jerusalém, pois foi ali que os gentios formaram uma igreja pela primeira vez, e essa era a igreja que o enviara como missionário. Durante este período, eom certeza, os dois apóstolos continuaram a atrair muitos conversos gentios, além dos que já haviam sido conquistados.Capítulo 15! Alguns indivíduos que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidar- des segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos.há muito. Deus me escolheu dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem.sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios. |
At.15:1 | 1. Alguns indivíduos. Ao que tudo indica, eram fariseus que se tornaram cristãos (ver v. 5).Desceram da Judeia. Isto é, da Judeia para Antioquia. Os novos mestres saíram do centro da autoridade apostólica, mas sem autorização para ensinar o que defendiam.Ensinavam aos irmãos. A igreja em Antioquia era uma comunidade cosmopolita, formada por judeus, prosélitos gentios e pessoas convertidas diretamente do paganismo (ver com. de At 11:19, 20). Além disso, Paulo c Barnabé, os principais detensores da pregação aos gentios, eram proeminentes ali e haviam sido enviados pela igreja em missão. Por essas razões e por ser a igreja mais próxima da Judeia, com muitos gentios, o questionamento dc como orientar os crentes gentios do ponto de vista do judaísmo surgiu naturalmente em Antioquia.Circuncidardes. Ver com. de At 7:8. Esta exigência prova algo que não tora dito com clareza em outra passagem bíblica: que Paulo e Barnabé não exigiam que os conversos gentios fossem circuncidados. Aqui se inicia o relato da primeira grande controvérsia da igreja cristã. Certamente ela surgiría logo que o cristianismo saísse das fronteiras da Palestina. Os primeiros conversos ao cristianismo eram judeus que preservavam a maior parte das práticas e dos preconceitos da religião na qual haviam sido criados. Por isso, íicaram chocados ao descobrir que gentios entravam na igreja sem antes se tornarem prosélitos do judaísmo. Era dc se esperar que a conversão de Cornélio, do etíope ou dos samaritanos já tivesse resolvido a questão. E possível que aqueles que levantaram as objeções estivessem dispostos a aceitar Cornélio e sua casa na igreja.Mas talvez eles argumentaram que o Espírito Santo havia feito uma exceção no caso de Cornélio que não anulava a regra da circuncisão. Por isso, declaravam que os gentios aceitos na igreja por intermédio do batismo, com a clara orientação do Espírito Santo, deveríam ser circuncidados.E provável que esses agitadores tenham chegado a Antioquia afirmando falar em nome de Tiago, o líder da igreja em Jerusalém. Mas Tiago negou tê-los autorizado (v. 24). No entanto, como ele parecia ser um defensor dos rituais e costumes judaicos em sua vida pessoal (cf. Gl 2:12), aqueles homens se sentiríam justificados em identificá-lo com seu ensino, Eles defendiam que a circuncisão fazia parte da lei e, se fosse negligenciada, toda a lei seria quebrada. Não estavam preparados para reconhecer a verdadeira relação entre Cristo e a lei, nem dispostos a fazê-la. Em Antioquia, os judaizantes iniciaram uma discussão que se tornaria uma causa de dis- sensão contínua ao longo do ministério de Paulo, deixando sua marca na maioria dos escritos do NT e mesmo na literatura cristã pós-apostólica.Pode-se perguntar por que o Senhor não antecipou esses questionamentos durante Seu ministério. Ele não lidou de maneira específica com esse assunto, mas defendeu que a verdadeira religião envolve a vida por completo, não sendo baseada em obser- vâncias exteriores. Cristo lançou um fundamento amplo e enunciou princípios, cm vez de dogmas detalhados. A igreja devería ser guiada pelo Espírito Santo a toda a verdade (Jo 16:13). Não deveria desenvolver uma tradição baseada em autoridades, mas deveria estar aberta a novas descobertas e experiências com a verdade. O cristianismo enfrenta situações novas permanentemente, mas ao resolvê-las não pode mudar os ensinos e exemplos das Escrituras (Rm 15:4). A nova luz, para a solução de problemas imprevistos, deve provir do estudo contínuodas verdades bíblicas e da aplicação dos princípios da Palavra,Costume de Moisés. A circuncisão fora dada por Deus a Abraão (Gn 17:10-13) e confirmada a Moisés (Lv 12:3; cf. Jo 7:22).Não podeis ser salvos. Este era o cerne do problema. A circuncisão não podia ser exigida dos gentios com base na antiguidade do costume nem como condição para se tornar membro da igreja. Mas os judaizantes foram além: apresentaram a prática como uma condição para a salvação. Contudo, Deus “abrira -•§ aos gentios a porta da fé” (At 14:27), o que comprovava que os ritos cerimoniais não eram mais necessários. |
At.15:2 | 2. Paulo e Barnabé. Os apóstolos estavam no centro da disputa, pois as exigências dos judaizantes representavam uma condenação direta do trabalho que os missionários haviam realizado na Cilícia, Antioquia e em toda a primeira viagem missionária. Mas os dois sabiam que sua obra só podería ser interpretada como um triunlo da graça de Deus. Eles haviam proclamado a salvação pela fé em Cristo. Então não podiam permanecer em silêncio enquanto os conversos eram levados a crer que a aceitação da graça divina pela fé não era suficiente e que ritos exteriores eram necessários para a salvação.Contenda. Do gr. stasis, ''status”, “partido” ou “facção”. O termo é usado para se referir à insurreição liderada por Barrabás (Mc 15:7; Lc 23:19). Nesta ocasião, retrata uma disputa vigorosa.Discussão. Do gr. zêtêsh, "busca”, “questionamento” ou “debate”.Resolveram. Do gr. tassõ, “nomear", “arranjar” (ver com. de At 13:48).Esses dois. Não poderíam ser escolhidos representantes melhores da causa da liberdade no evangelho do que Paulo e Barnabé, que já haviam trabalhado com êxito entre os gentios.Alguns outros. O nome deles não é citado. É possível que fossem alguns dosprofetas de Antioquia (At 13:1) ou homens de Chipre e Cirene (At 11:20), que tinham interesse pelos gentios. Tito foi, provavelmente, para servir de exemplo do tipo de obra que o Espírito Santo capacitara Paulo e Barnabé a realizar (Cl 2:1).A Jerusalém. Sobre a identificação desta visita a Jerusalém com a de Gálatas 2, ver Nota Adicional 1 a Atos 15.Apóstolos e presbíteros. Pedro, João e Tiago, o irmão do Senhor, estavam em Jerusalém (ver G12:9; cf. G11:19). Juntamente com os presbíteros (ver com. de At 11:30) e talvez outros apóstolos, Eles pareciam ser os líderes da jovem igreja. O fato de se levar a difícil problemática da circuncisão a um concilio de apóstolos e presbíteros, em Jerusalém, é um precedente significativo para a organização da igreja. A igreja nascente não apoiava a teoria de que as decisões eclesiásticas deveríam ser feitas por uma só autoridade. Também ilustra a necessidade de conselho e deliberação num nível mais amplo do que o da congregação local, quando são postas em debate questões que afetam toda a igreja. Os apóstolos e oficiais da primeira congregação em Jerusalém constituíam logicamente essa comissão deliberativa. Além disso, conforme se observa depois (At 15:22, 25), a decisão final nesse caso se baseou no acordo de todos os envolvidos, inclusive daqueles que haviam apresentado o caso, os delegados de Antioquia. Ou seja, não foi uma mera decisão dos líderes de Jerusalém. Ao levar o problema a Jerusalém, Paulo e Barnabé, junto com a igreja de Antioquia, demonstraram confiança na orientação do Espírito Santo por intermédio da liderança em Jerusalém. Por isso, Paulo declara que subiu a Jerusalém “em obediência a uma revelação” (G1 2:2; ver AA, 96). |
At.15:3 | 3. Até certo ponto acompanhados.Este era um costume (At 20:38; 21:16). Acompanhar um convidado cm seu caminho por certa distância, sobretudo um mestre quepartia, era considerado um ato de hospitalidade pelos judeus. Por isso, Abraão acompanhou os anjos a Sodoma (Gn 18:16). Uma tradição judaica antiga declara: "Um mestre [acompanha] seus pupilos até a periferia da cidade; um colega [acompanha] o outro até o limite do sábado; um pupilo [acompanha] seu mestre por uma distância sem limites” (Sotah, 46.b; ed. Soncino, TaJmude, p. 243). Uma declaração atribuída ao rabino Meir (c. 150 d.C.) diz: “Quem não acompanha os outros ou não permite ser acompanhado age como se derramasse sangue” (ibid., p. 244).Fenícia. O trajeto dos apóstolos de Antioquia a Jerusalém passava pelo litoral, através de Sidom, Tiro e, provavelmente, Cesareia, e depois cruzando Sarnaria. Eles encontraram "irmãos”, ou seja, congregações estabelecidas, pelo caminho. Sem dúvida, algumas delas haviam sido fundadas por Filipe. Nada se sabe acerca da origem dos outros locais além desta breve alusão, sugerindo cjue muito do início da história cristã não foi preservado.Conversão dos gentios. Este era o tema principal de Paulo. Ele deve ter relatado essa história diversas vezes com muitos detalhes. Assim como Pedro com a experiência de Cornélio, salientava que o Espírito havia colocado Seu selo de. aprovação sobre os incircuncisos.Causaram grande alegria. A forma verbal usada aqui sugere que, enquanto Paulo e Barnabé se dirigiam a Jerusalém, a notícia da conversão dos gentios sempre era recebida com alegria. Essa atitude por parte da igrejas da Fenícia e de Sarnaria contrasta com a mentalidade estreita e amargurada dos fariseus na igreja de Jerusalém (v. 5) e da facção judaizante que tentava falar por meio deles.A todos. Comparar com At 11:2-4, 18. A igreja se alegrou com as boas notícias trazidas por Paulo c Barnabé. Aqueles que insistiam na circuncisão dos gentios eramapenas um grupo entre os cristãos judeus, caracterizados como "alguns da seita dos fariseus que haviam crido ’ (At ] 5:5). Os fariseus eram defensores ferrenhos dos aspectos cerimoniais da Lei. |
At.15:4 | 4. Bem recebidos pela igreja. Ao chegarem a Jerusalém, os apóstolos foram recebidos com cordialidade pela igreja. A facção opositora só se manifestou depois que os apóstolos destacaram em público o êxito deles entre os gentios.Pelos apóstolos. Ver com. de At 1:2.Relataram. A comparação com o v. 6 parece sugerir que houve uma reunião preliminar, na qual Paulo e Barnabé contaram a história de seus esforços missionários. Esta deve ter sido a reunião feita "em particular" com os "que pareciam de mais influência", à qual Paulo se relere posteriormente (Cl 2:2). Certamente foi necessário algum tempo para se contar a história dos feitos, dos sofrimentos, dos sinais e das maravilhas, bem como da fé dos conversos gentios. Tal narrativa seria a melhor introdução possível à questão prestes a ser debatida e decidida no concilio. |
At.15:5 | 5. Insurgiram-se. Talvez esta atitude dosjudaizant.es tenha dado origem à narrativa de uma reunião mais formal acerca do concilio.Seita. Do gr. hairesis (ver com. de Al 5:17). Alguns dos fariseus haviam se tornado cristãos. Eles aceitaram Jesus como um mestre da parte de Deus (ver Jo 3:2), lato comprovado por Sua ressurreição. Por isso, esperavam que Ele Se tornasse o líder do reino que transmitiría à humanidade um judaísmo restaurado e gloriticado, exaltando a Lei e o templo. Os gentios seriam admitidos por um favor, depois de passarem pela circuncisão. Foram esses que então se levantaram e protestaram contra o que Paulo e Barnabé estavam laz.endo. Talvez a questão geral tenha sido debatida na forma de um caso individual, o de Ti to (ver Cl 2:3), gentio que não fora antes feito prosélíto.O envolvimento de Tito nessa controvérsia o preparou para uma contenda posterior com os judaizantes e sua insistência cm formas religiosas obsoletas (cf. Tt 1:10, 14, 15).A lei de Moisés. Ver com. de At 6:13.A circuncisão não era o único requisito que os judaizantes propunham aos cristãos, mas somente o primeiro. |
At.15:6 | 6. Os apóstolos e os presbíteros. Ver com. do v. 2; At 11:30. A comparação com o v. 23 sugere que, além dos oficiais da igreja, os "irmãos", hoje conhecidos como membros leigos, também participaram do concilio. |
At.15:7 | 7. Debate. Do gr. zêíêsis (ver com. do v. 2). O que fica evidente na maneira como a questão foi tratada é que o Espírito trabalha eom seres humanos c, por meio deles, realiza Sua vontade a despeito de frágil idades e desavenças pessoais.Pedro tomou a palavra. O apóstolo ocupava posição de autoridade, mas não de primazia. Ele não presidiu o concilio e, embora seu discurso tenha dado o tom da decisão, não foi ele quem propôs a solução final. O fato de ele haver desempenhado papel importante na conversão do primeiro gentio (Corncho) e de essa conversão ter sido aprovada pela igreja (ver At 11:1-18) o colocou numa posição favorável para incentivar a aceitação de outros gentios.Irmãos. Ver com. de At 1:16: 2:37; 13:15.Desde há muito. Literalmente, “desde os primeiros dias". Pedro se relere à con- -•= versão de Cornélio (At 10), que devia ter ocorrido havia uma década. Essa experiência era relevante para o problema que surgira desde então.Por meu intermédio. Pedro não reivindica distinção de posição, mas se coloca como porta-voz de Deus. |
At.15:8 | 8. Conhece os corações. Literalmente, “conhecedor dos corações". Esta expressão só ocorre em mais uma passagem do N I (At 1:24). Deus agira, colocando o incir- cunciso no mesmo nível dos circuncisos,e a única coisa que a igreja pocleria fazer era agir da mesma forma.O Espírito Santo. Ver com. de At 10:44. |
At.15:9 | 9. Distinção alguma. Deus concedera aos novos conversos gentios, sem circuncisão, o mesmo Espírito derramado pela primeira vez no Pentecostes, sem fazer distinção entre judeus e gentios. Isso significava a aceitação completa dos gentios na igreja. Mais tarde, Paulo declarou o mesmo princípio (Rm 10:12).Purificando-lhes pela fé o coração.A fé purificou o coração de Cornélio e dos membros de sua casa. A observância das cerimônias era supérflua e sem signilicado se o coração estava limpo diante de Deus, o único capaz de julgar a pureza. As cerimônias serviam para purificar, mas a fé em Cristo é um meio mais elevado de purificação. Os fariseus acusavam os gentios de impureza, por não observarem a lei cerimonial e as tradições dos anciãos. Pedro havia aprendido que ninguém pode ser chamado de comum ou imundo (At 10:28) e que a purificação deve. ser do coração, não da carne (ver Tt 1:15). |
At.15:10 | 10. Por que tentais a Deus [...]? Isto é, por que provais a Deus em Sua vontade acerca dos gentios, depois de Ele ja ter manifestado Seu desígnio? üs hebreus tentaram a Deus no deserLo (Hb 3:9) quando, cm face de poderosos leitos, murmuraram contra os líderes colocados em posição de autoridade. Tentaram a Deus (ICo 10:9) e, por isso, atraíram sobre si o castigo de serpentes abrasado- ras. Ananias e Safira tentaram o Espírito de Deus ao procurar enganar a igreja (At 5:9). Pedro advertiu os irmãos do perigo de tentar ao Senhor quanto à aceitação dos gentios.Um jugo. Este jugo era a lei cerimonial (ver A A, 194) e seus detalhamentos pela tradição. Por meio dela, os judeus tentavam conquistar a salvação. O próprio Paulo não poderia ter proferido palavras mais duras do que estas. Elas lembram o vocabulário de Cristo, que talou dos "fardos pesados" dastradições dos fariseus (Mt 23:4) em comparação com Seu fardo “leve” (Mt 11:30). Também antecipam a advertência de Paulo aos gálatas, para que não se submetesse "de novo, a jugo de escravidão" (Gl 5:1).Puderam suportar. Segundo a intenção divina original, os requisitos cerimoniais da lei de Moisés não eram intoleráveis.Os judeus perderam de vista o real significado dessa lei e a transformaram numa série de cerimônias para tentar garantir a salvação. Além disso, os rabinos tentaram levantar um muro em volta da lei de Deus, a fim de proteger seus preceitos por meio de regras adicionais que deviam impedir a quebra dos mandamentos. O resultado é que a observância de ambas as leis havia se tornado um fardo intolerável. |
At.15:11 | 11. Fomos salvos. A salvação é pela graça (ver Rm 3:21-26; 5:1, 2; 11:5, 6; El. 2:5, 8).As obras são consequência do recebimento da salvação (Rm 8:4; I f 2:9, 10; ! i 2:12. 13).Graça do Senhor. Pedro insistiu que não era a conformidade com a lei que proporcionava a salvação, mas a graça do Senhor. Esta declaração foi seu argumento conclusivo. |
At.15:12 | 12. A multidão. Isto é, o grupo reunido (ver com. do v. 6).Silenciou. Não houve vozes divergentes em resposta ao convincente testemunho de Pedro. A oposição foi silenciada, ainda que nem todos tenham mudado de ideia. Pedro vencera seus preconceitos no caso de Cornélio e, então, ajudava outros a vencerem também.Passando a ouvir. Até esse momento, parece que Paulo e Barnabé não haviam falado ao grupo reunido. O discurso de Pedro | preparara o público para escutar o relato dos eventos da primeira viagem missionária. Os dois missionários repetiram ao público o que já haviam contado aos apóstolos e presbíteros (v. 4).Sinais e prodígios. Ver vol. 5, p. 204. Diante das dúvidas de alguns, Paulo eBarnabé deram destaque à fase milagrosa de seu trabalho, comprovando a aceitação divina dos resultados. O relato mostrou que milagres haviam sido operados entre os gentios assim como entre os judeus. |
At.15:13 | 13. Tiago. Provavelmente, o irmão de Jesus e líder da igreja de Jerusalém (ver com. de At 12:17).Irmãos. Ver com. de At 1:16; 2:37; 13:15.Atentai. Tiago rompeu o “grande debate” (v. 7). A defesa de Pedro (v. 7-11) estava de acordo com as profecias do AT, e Tiago baseou sua decisão nesse fato. |
At.15:14 | 14. Simão. Do gr. Sumeon, uma forma do nome “Simão’’ ou "Simeão", que reflete mais de perto o heb. Shimon. Esta forma é usada por Pedro somente aqui e talvez em 2 Pedro 1:1, e seria natural para l iago, originário da Galileia.Como Deus, primeiramente. O quePedro narrava era o marco da primeira aceitação de um gentio na igreja.Visitou. Do gr. episke-ptomai, “olhar por". Com frequência, como ocorre aqui, tem a conotação de olhar com bondade (ver I c 1:68; 7:16; I li) 2:6).Um povo. Os judeus acreditavam que só eles eram “o povo de Deus", e que todos os outros estavam fora do círculo do amor divino. Mas Tiago proclamou que Deus estava fazendo para Si um povo também das nações gentílicas. Paulo reconheceu a mesma mudança (Bni 9:26). Uma vez que “o povo escolhido ' não mais era formado apenas por judeus, as exigências cerimoniais que dist inguiam judeus de gentios passaram a ser desnecessárias. |
At.15:15 | 15. Conferem coin isto. Ou seja, os proletas estão de acordo com essa ação da parte de Deus. Eles haviam antecipado a conversão dos gentios, que estava acontecendo naquela época.Como está escrito. A citação nos v. 16 e 17 é da LXX de Amos 9:11 e 12. Os ouvintes, familiarizados com o AT, devem ter selembrado de outras profecias semelhantes, como o fez Paulo em Romanos 15:9 a 12. Como a citação de Tiago vinha da LXX, e esta versão apresenta o argumento com mais força do que a tradução alternativa do texto massorético, alguns entendem que o concilio foi realizado em grego. Um fato favorável a essa ideia é que muitos judeus, mesmo na Palestina, eram bilíngues na época. Além disso, o assunto debatido estava relacionado a cristãos de fala grega. Havia cristãos de Antioquia presentes (ver At 15:2), que talvez não falassem aramaico, além de Tito, um gentio incircunciso (ver Gl 2:3). Por causa dessas pessoas, seria apropriado falar em grego.No entanto, há bons motivos para se supor que Tiago fez seu discurso em aramaico, provavelmente citando as Escrituras no idioma bem semelhante, o hebraico. Tiago aparece, no NT e nas primeiras literaturas cristãs, como o líder da cristandade judaica.O assunto em questão era essencialmente judaico e fora levantado pelos mais radicais dentre os cristãos, os fariseus. Em vista disso, era de se esperar que uma discussão entre os apóstolos em Jerusalém nessa ocasião fosse realizada em aramaico. Isso não significa que Lucas errou ao citar a LXX, a versão bíblica familiar aos leitores gregos.(3 texto hebraico cie Amós 9:11 e 12, conforme está no texto massorético, não seria inadequado para a argumentação. E, caso não tenha usado essa fonte, I iago pode ter citado um texto hebraico mais semelhante ao da LXX do que o massorético. As descobertas em Ournran mostram que existiam textos assim pelo menos para algumas partes do AT (ver vol. 5, p. 79, 80). |
At.15:16 | 16. Voltarei. Esta palavra não segue o texto hebraico nem a LXX de Amós 9:11. No entanto, é um termo hebraico comum para expressar a ideia “farei isso vez após vez” (ver Ec 9:11; Os 2:9; 11:9). Pode ser um indicativo de que Tiago citou o AT em hebraico. 2Tabernáculo. Do gr. sízSnê, “tenda”, equivalente à palavra heb. sukkah, "cabana", usada na Festa cios Tabernáeulos (ou das Cabanas), na qual os hebreus moravam por uma semana em abrigos Frágeis c temporários. |
At.15:17 | 17. Os demais homens. Neste ponto, o texto massorétieo de Amós 9:12 traz sheerilh 'edom, “o remanescente de Edom". Entretanto, no alfabeto hebraico, as palavras edom, “Edom”, e 'adom, “homem”, são quase idênticas. Parece que a LXX interpretou como sendo a segunda e, por isso, traduziu por "os demais homens". O argumento de Tiago é enfatizado pela versão grega. “Os demais homens’’, ou seja, os gentios, deveríam invocar o nome de Deus. Tiago reconheceu que a profecia era uma predição da conversão dos gentios e, portanto, relevante para o assunto em questão.Busquem. O texto massorétieo difere bastante da citação de Tiago, conforme ilustra a comparação desta passagem de Atos com Amós 9:12, na ARA. A última retrata o povo de Israel restaurado (na figura do Laber- náculo), com o remanescente de Edom e de todos os pagãos. Mas a aplicação que Tiago faz da profecia declara a intenção divina de que os gentios O buscassem. Tiago deixa claro que essa busca ao Senhor é que seria a verdadeira edificação da casa de Davi e de toda a humanidade.Tem sido invocado o Meu nome. A expressão “sobre os quais tem sido invocado o Meu nome é semita e significa “que se chamam pelo Meu nome" (ocorre no texto hebraico de l)t 28:10, e no grego de fg 2:7). |
At.15:18 | 18. Diz o Senhor. Evidências textuais apoiam (cf. p. wi) as seguintes versões para a o v. 18: (1) "diz o Senhor, que torna essas coisas conhecidas desde os tempos antigos"; ou (2) “diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde os tempos antigos”. Ambas as traduções mostram que a salvação dos gentios não era novidade no plano de Deus (ver vol. 4, p. 14-17).Conhecidas. Os judeus se espantavam com o fato de Deus aceitar os gentios, mas Ele havia revelado isso por meio dos proletas. Ele estava realizando o que sabia e planejara desde o princípio (ver Ef 3:2-12). |
At.15:19 | 19. Julgo eu. Literalmente, "eu decido . As palavras dc Tiago sugerem que ele exercia autoridade. Mas o que vem em seguida não é um decreto, pois, quando finalmente promulgado, sua autoridade se baseou nos apóstolos e presbíteros (ver Eí i6:4).Perturbar. Do gr. parenochieõ, “preocupar , "incomodar", “perturbar". Esta é a ú nica vez que o verbo é usado no NT.Que [...] se convertem. Ou, “estão se convertendo’’. A conversão ocorria naquele momento entre os gentios. Este verbo (do gr. epistrephõ) ocorre diversas vezes em Atos, em referência à conversão (ver com. de At 3:19). O fato de gentios já estarem se convertendo e de Deus aceitá-los fora evidenciado pelo relato de Paulo e Barnabé, c talvez pela presença de Tilo, um cristão gentio (ver Cl 2:1; cf. Nota Adicional 1 a Atos 15). Este foi o motivo básico para a decisão tomada. Os gentios estavam se convertendo e Deus os aceitava. Como a igreja podería recusá-los?A igreja ainda não entendia com clareza que as leis cerimoniais, que apontavam para Cristo, haviam se cumprido nEle e que os critérios étnicos que diferenciavam o povo judeu não eram mais signilicativos. Durante décadas, os cristãos continuaram a se identificar com os rituais do templo, e mesmo Paulo participava deles quando estava em Jerusalém (At 20:16; 21:18-26; 18:19). Mais tarde foi revelado, especial mente a Paulo, que havia um motivo teológico para não ser necessário observar os rituais mosaicos. Muitos deles eram “sombras’ que apontavam para Cristo e Sua obra; depois que Sua missão terminou, perderam a vigência (Cl 2:11-20; Mb 9:1-12). Outros eram símbolos característicos do judaísmo e deixaram de ser necessários quando iodas as pessoaspuderam receber a salvação simplesmente pela Ic em Jesus Cristo (ver Rm 10:11, 12; Cl 3:10, 11). Paulo percebeu que o espírito de legalismo, encorajado pelos rituais, havia se transformado numa barreira entre judeus | e gentios, e isso não tinha mais validade para quem estava em Cristo (Cf 2:13-16). |
At.15:20 | 20. Escrever-lhes. Do gr. epistellõ, "enviar uma mensagem”, “escrever uma carta" (ver Hb 13:22). Os mensageiros enviados pelos apóstolos levaram consigo a decisão escrita do concilio (ver At 15:23).Que se abstenham. A decisão era de natureza prática (ver com. do v. 19). Com. mais luz, a questão de comer carne oferecida a ídolos passou a ser compreendida, posteriormente, de maneira um pouco diferente. Nas condições presentes, porém, esta decisão foi a mais adequada para a igreja. Os gentios tinham razões para ficar satisfeitos, pois nenhum lardo extremo lhes foi imposto e os indivíduos com tendências larisaicas não podiarn negar que os gentios haviam se convertido de verdade. Os requisitos estipulados pareciam ser aceitáveis, sobretudo para os cristãos judeus.Contaminações dos ídolos. Uma vez que o pronunciamento escrito oticial do concilio de Jerusalém foi contrário a "coisas sacrificadas a ídolos" (do gr. eiclõlothuta. v. 29), é provável que a melhor interpretação para “contaminações dos ídolos", neste caso. sejam alimentos (e bebidas) oferecidos a divindades pagãs. Na religião greco- romana, os alimentos eram rotineiramente apresentados às divindades nos templos. Contudo, somente uma pequena porção era colocada sobre o altar. O restante era consumido por aqueles que trabalhavam no templo. ou enviado ao mercado para ser vendido. Aos olhos dos judeus radicais, essas comidas eram imundas. Por isso, um juízo atribuído ao rabino Akiba (c. 100 d.C.) declara: “A carne que está sendo levada aos ídolos é permitida, mas a que sai é proibida, pois é |considerada]um sacrifício aos mortos” (IVIishnah, Aboclah Zarah, 2.3, ed. Soneino, Talmude, p. 145). De maneira semelhante, outra regra da Mishnah (codificada e. 200 d.C.) declara o seguinte em relação ao vinho oferecido a um ídolo: “Yen-nesck (vinho de libação) é proibido e torna [outro vinho] proibido mesmo diante da menor mistura. Vinho [misturado] com água e água com vinho [desqualificam quando o elemento proibido| passa seu sabor. Esta é uma regra gerai: com as mesmas espécies [a mistura é desqualificacla| pela menor quantidade, mas com uma espécie diferente [a mistura é desqualificada quando o elemento proibido] transmite seu sabor" (íbid., 5.8, ed. Soneino, Talmude, p. 349). Por causa disso, nenhum judeu radical comprava carne em mercados a eéu aberto, mas somente de um açougueiro judeu. Ouando viajava, levava seu kofinos, isto é, sua cesta nas costas, onde carregava comida (ver com. de Mc 6:43). Juvenal fala de “judeus que possuem uma cesta e uma trouxa de palha com todos os seus suprimentos'’ (Sátiras, iii.13, 14; ed. Loeb. p. 33).Levando em conta esse sentimento forte entre os judeus, o concilio achou apropriado pedir aos cristãos gentios que se abstives- sern da carne sacrificada a ídolos. Isso exigiría uma grande medida de autonegação. O converso precisaria recusar convites a muitas ocasiões festivas, ou, quando presente, se recusar a comer. O indivíduo de consciência escrupulosa também se negaria a comer o alimento oferecido a ele na casa dos outros, a menos que tivesse certeza de que não fora antes oferecido em um templo. Ao mesmo tempo, essa restrição tinha o benefício prático de resguardar os cristãos gentios da tentação de participar de rituais pagãos, ao provarem do alimento e do vinho que faziam parte da adoração a ídolos. Se era preciso se abster de tudo oferecido a ídolos, o cristão zeloso entendería que era proibido inclusive provar a comida e a bebida no altar ao imperador. Parece que isso foi um problemasobretudo na época em que o Apocalipse foi escrito (ver com. de Ap 2:14).Alguns anos depois do concilio de Jerusalém, essa restrição encontrou certa resistência. Em Corinto, as pessoas reivindicavam o direito de comer o que quisessem, e Paulo lhes concedeu esse direito, uma vez que eles poderíam comprar comida nos mercados sem se preocupar se fora oferecida a ídolos, pois "o ídolo, de si mesmo, nada é”. Mas apoiou a restrição com base no amor fraternal e no respeito aos escrúpulos alheios (lCo 8-10; ver com. de Rm 14).Das relações sexuais ilícitas. A princípio, pode surpreender encontrar uma lei =*> moral em meio a restrições que parecem cerimoniais. Mas o primeiro item da decisão do concilio também era moral, uma vez que se baseava no segundo mandamento do decálogo. No que se refere às relações sexuais ilícitas, a lei levítica era rígida contra qualquer forma de imoralidade (Lv 18; 20:10-21).O pecado da fornicação, que envolve a falta de respeito pela pureza do corpo, era um mal comum no mundo greco-romano. As vezes, idolatria e fornicação estavam ligadas nos cultos pagãos. Assim como no caso das prostitutas-saeerdotisas de Alrodite, em Corinto e Patos, a prostituição era parte comum da idolatria. O adepto que participava desses atos nos templos expressava sua suposta fé na deusa adorada dessa maneira. Por isso, os cristãos judeus queriam saber se os conversos gentios haviam adotado o padrão de pureza (ver lCo 6:15; Ap 2:14). Portanto, no concilio de Jerusalém, o cristianismo deu o primeiro passo público na defesa ele elevados padrões de santidade e moralidade, não só por meio de ensinos gerais, mas de uma regra específica.Animais sufocados. Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam a omissão das palavras “de animais sufocados . Não há proibição clara no AT quanto a comer carnes sufocadas.No entanto, o princípio envolvido parece ser o mesmo da proibição seguinte: abster-se de comer sangue. Em geral, não era feita a sangria de animais sufocados e, por isso, a carne era imprópria para consumo (ver Lv 17:13, 14). A declaração de Tiago também pode ter se baseado nas restrições mosaicas contra comer carne de animais que morreram sozinhos ou que foram mortos por outros animais (Lv 17:15: Dt 14:21). Essas restrições eram observadas pela igreja apostólica, conforme atesta Tertuliano (m. 230 d.Cl.), ao escrever aos pagãos: “Corem por seus maus caminhos diante dos cristãos, que não comem o sangue de animais em suas refeições de alimentos simples e naturais, que se abs- têm de animais sufocados e que morrem naturalmente, pela única razão de não se poluírem com o sangue secretado nas vísceras'’ (Apologeticum, 9; ANF, vol. 3, p. 25). De maneira semelhante, uma antiga autoridade da igreja oriental ordena: “Se qualquer bispo, presbítero ou diácono, ou qualquer outro do grupo de sacerdotes, comer carne com o sangue de sua vida, ou animais dilacerados por bestas, ou que morreram por conta própria, que seja deposto. Se for um leigo, que seja suspenso’’ (Cânon Apostólico, 63; ANb, vol. 7, p. 504). A tradição judaica antiga declara que, quando o pescoço de um animal se quebrava, o sangue fluía para as entranhas de tal maneira que não era possível tirá-lo, nem mesmo com o uso de sal (Hiillin, 113.a, ed. Soncino, Talmude, p. 621, 622).Do sangue. A proibição do uso de sangue na alimentação foi (cila logo que o consumo de carne foi permitido ao ser humano (Gn 9:4) e é repetida com frequência na lei de Moisés (Lv 3:17; 7:26; 17:10; 19:26).Comer sangue era considerado um pecado contra o Senhor nos dias de Saul (ISm 14:33). Alimento preparado com sangue era comum para gregos e romanos. O seguinte exemplo é encontrado em Homero: “Aqui estão as barrigas de cabra que preparamos para o jantar,recheando-as com gordura e sangue. Aquele entre os dois que vencer e provar ser superior, se levantará e escolherá para si aquela que quiser” (Odisséia, xvii.44-49; ed. Loeb, vol. 2, p. 199, 201).Os pagãos estavam acostumados, em seus sacrifícios, a tomar sangue misturado com vinho. Josefo, talando da perspectiva de um judeu do primeiro século d.C., registrou que 'sangue de qualquer natureza ele [Moisés] proibiu que fosse usado como alimento, considerando-o a alma e o espírito” (.Antiguidades, iii.11.2 |260], ed. Loeb, vol. 4, p. 443). A atitude dos judeus sobre essa proibição pode ser encontrada numa declaração atribuída ao rabino Simon ben Azzai (c. 100 d.C.): "Na Torah, há 365 proibições e, dentre todas as leis, não há nenhuma como esta. [...] Se as Escrituras assim vos advertem quanto à proibição do sangue [Dt 12:23], em comparação com a qual não há manda- p mento mais fácil dentre toclos, quanto mais isso se aplica a todo o restante dos mandamentos!” (citado em Strack e Billerbeck, Kommentiir zum Nenen Testament aus lahmul itnd Muhvsch, vol. 2, p. 734). O fato de a proibição do sangue ser considerada o mandamento mais fácil de ser guardado ajuda a entender o sentimento dos cristãos judeus de que os conversos gentios dcveriam observá-lo. Durante vários séculos, pelo menos em algumas regiões do Oriente, a igreja cristã primitiva parece ter se apegado a essa regra. Ao mesmo tempo, sobretudo no Ocidente, 1 oí feita a tentativa de se interpretarem as restrições do concilio de Jerusalém como proibições puramente morais. Por isso, lrineu (c. 185 d.C.) cita essa passagem da seguinte forma: “Que sejam orientados a se abster das vaidades de ídolos, e da fornicação, e do sangue; e tudo que não quiserem que os outros lhes façam, não façam aos outros" (Contra Heresias, iii. 12.14; ANF, vol. 1, p. 435, 436). Nesse pronto de vista, o "abster-se de sangue" foi interpretadocomo derramar sangue humano, ou seja, homicídio. Isso fica claro na declaração de Tertuliano (m. 230 d.C.): ‘‘A proibição sobre o sangue’ deve ser compreendida muito mais (como uma proibição) sobre o sangue humano'’ (A Puâicfcia, 12; ANF, vol. 4, p. 86; ver com. de Cn 9:4). |
At.15:21 | 21. Desde tempos antigos. Ou, "desde gerações antigas”. Parece que Tiago entendia que os cristãos judeus manteriam tudo aquilo que haviam recebido do judaísmo e não sc separariam da sinagoga.Nas sinagogas. Sobre as reuniões na sinagoga, ver vol. 5, p. 44-46. Os cristãos judeus continuavam a frequentar a sinagoga. A ligação deste versículo com o anterior pode ser compreendida de várias formas. Alguns entendem que significa que os cristãos judeus não precisavam temer que a liberdade aos gentios transgrediría a observância dos judeus às leis de Moisés, pois eles e seus filhos continuariam a ser instruídos na lei sábado após sábado, ao frequentarem a sinagoga. Outros entendem que essa é a base para as proibições de Tiago nesse assunto, pois, uma vez que Moisés é lido na sinagoga, os gentios deveríam pelo menos se abster das coisas que ele proíbe. Outros ainda interpretam que os cristãos gentios certamente não achariam difíceis as proibições de Tiago, pois já estavam familiarizados com elas por seu contato com as sinagogas, nas quais a lei era lida com regularidade. |
At.15:22 | 22. Pareceu bem. Do gr. dokeõ, "parecer adequado , ou, como o termo é usado em sentido oficial, a passagem poderia ser traduzida como "foi ordenado" ou "foi votado”.Toda a igreja. Isto mostra a importância da participação dos membros da igreja nas decisões. Eles opinaram na escolha dos representantes enviados com a carta. Nos séculos seguintes, os leigos passariam a ser excluídos dos concílios oficiais.Com Paulo e Barnabé. Os homens escolhidos foram enviados com Barnabé ePaulo, a fim de que a decisão adotada fosse ouvida de outros, além dos dois envolvidos pessoalmente na questão. Dessa maneira, não havería espaço para nenhuma acusação a Paulo e Barnabé por parte dos judaizantes.Judas, chamado Barsabás. O nome Barsabás também era usado por José, “cog- nominado Justo'' (ver com. de At 1:23). Caso Barsabás seja um sobrenome, é possível que Judas e José fossem irmãos. José fora um dos seguidores pessoais de Jesus. Judas é chamado de profeta (At 15:32).Silas. Pode ser um nome aramaico ou a contração do nome romano SiJvano. Assim como judas, ele era profeta (v. 32). Tornou-se companheiro de Paulo na segunda viagem missionária (v. 40) e é provável que seja Silvano (mencionado em 1'ls 1:1; 2Ts 1:1; lPe 5:12).Homens notáveis. Ou, '‘líderes”, "autoridades) Sua posição pode ter surgido do fato de serem proletas (ver v. 32). Caso tenham sido seguidores de Jesus, isso também os levaria a ser respeitados pelos irmãos. |
At.15:23 | 23. Escrevendo. O trecho que se segue no capítulo é a transcrição do documento enviado, o primeiro de uma longa série de ~ decretos e cânones de concílios na história da igreja. Provavelmente essa carta foi escrita em grego. Os gentios, os mais envolvidos nas decisões em questão, falavam grego, em sua maioria, assim como a igreja de Antioquia, para onde a carta foi enviada.Por mão deles. Talvez esta expressão seja um hebraísmo. Não significa que a carta loi escrita por estes homens, mas que seria enviada por eles.Os irmãos, tanto os apóstolos comoos presbíteros. Evidências textuais (ef. p. xví) apoiam a variante: “os apóstolos e os presbíteros, irmãos) Assim, os líderes de Jerusalém garantiram aos cristãos a quem escreveram que todos eles eram irmãos em Cristo.Gentios. Conforme indicado nos v. 19 e 20, a carta do concilio foi dirigida aos gentios, não aos cristãos judeus.Antioquia, Síria e Cilícia. Em Antio-quia, o debate sobre as exigências a serem feitas aos gentios chegaram a um ponto crítico. As igrejas das regiões vizinhas da Síria devem ter se envolvido. A menção à Cilícia sugere que Paulo fez um trabalho importante em sua província natal antes de trabalhar com Barnabé em Antioquia (ver At 11:25).Saudações. Do gr. chairein (ver com. de Rm 1:7). Esta palavra é uma saudação comum em cartas gregas. Porém, no N E, só é usada aqui, em Atos 23:26 e Tiago 1:1. |
At.15:24 | 24. Que saíram. As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre manter ou omitir estas palavras. Desde o v. I, fica claro que esses perturbadores eram da Judeia. A falta de autoridade deles contrasta com a autoridade que o concilio concedeu a Judas e Silas (v. 27).Sem nenhuma autorização. Ou, ‘hão demos nenhuma ordem”. Esta era uma completa negação de que qualquer autoridade tivesse sido dada aos judaizantes. A passagem também é importante para avaliar as afirmações feitas pelo mesmo grupo numa ocasião posterior (Gl 2:12).Perturbado. Do gr. anaskeuazõ, “abalar”. Os judaizantes haviam abalado a fé dos conversos gentios. As contendas deles desestabilizavam a base da experiência e da vida cristã, de que a salvação não é obtida por meio de observâncias externas nem por etnia, mas pela fé em Cristo.Palavras. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras "dizendo que deveis circuncidar-vos e guardara lei” (ACE). |
At.15:25 | 25. Pareceu-nos bem. Do gr. dokeõ\ ver com. do v. 22. A primeira parte do versículo pode ser traduzida corno: "votamos por unanimidade e n v i a r ”.Eleger alguns homens, isto é. Judas Barsabás e Silas.Amados. Do gr. agapêtos, adjetivo referente aos que são unidos em fé e amor. A cartainteira expressa honra a Paulo e Barnabé. O termo "amados” confirma a declaração de Paulo de que os líderes da igreja de Jerusalém estenderam a ele e a Barnabé "a destra de comunhão" (G1 2:9). Pedro fala de Paulo usando este termo (2Pe 3:15).Barnabé e Paulo. É provável que aqui o nome de Barnabé esteja antes porque ele lora um mensageiro especial enviado pela igreja de Jerusalém a Antioquia (At 11:22). |
At.15:26 | 26. Exposto. Do gr. paraãidõmi, “entregar", “comprometer’. Esta passagem pode significar que houve pessoas dispostas a dar a própria vida pela causa de Cristo (ver At 13:50; 14:5, 19) ou que elas haviam comprometido a vida com a causa de Cristo.Pelo nome. Aqui, assim como antes, “nome” representa a dignidade messiânica e a autoridade divina de Jesus. Os missionários pregavam que Jesus era o Cristo (ver com. de At 3:16). |
At.15:27 | 27. Pessoalmente. Literalmente, “por palavra". |
At.15:28 | 28. Pareceu bem. O verbo grego é o mesmo usado no v. 25. Jesus havia prometido que o Espírito da verdade guiaria os discípulos a toda a verdade (Jo 16:13), e, muitas vezes, Lucas se refere a eles como cheios do Espírito. Assim, os homens do concilio afirmaram, sem hesitar, que seu Cuia era o Espírito de Deus. Sob a direção do Espírito,~ os cristãos judeus estavam deixando de lado o antigo preconceito contra os gentios. A igreja entendeu que devia poder continuar a dizer, com honestidade, que se encontrava sob o comando do Espírito Santo.Não vos impor maior encargo. Os próprios judeus lamentavam o fardo de suas inúmeras observâncias religiosas (ver com. de At 15:10; Ap 2:24). |
At.15:29 | 29. Coisas sacrificadas a ídolos. Estas palavras dão uma definição mais precisa da advertência de Tiago contra as "contaminações dos ídolos" (ver com. do v. 20).De animais sufocados. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras, assim como no v. 20 (sobre essas proibições, ver com. do v. 20).Fareis bem. Do gr. eu prassõ. Esta expressão pode significar “relacionar-se bem" ou “fazer certo”. Embora o primeiro sentido seja mais comum, a literatura cristã do 2° século apoia a segunda, que parece mais adequada ao presente contexto. Evidências de papiros mostram que eu prassõ era usado nas epístolas do período koinê para expressar um pedido cortês. Esta passagem podería até ser traduzida por “dos quais, por favor, abstende-vos”.Saúde. Uma forma do verbo gr. rhõnnumi, “ser forte”, "prosperar”, saudação comum nas cartas gregas. Esta carta segue o estilo grego do início ao fim (ver com. do v. 23). |
At.15:30 | 30. Desceram logo para Antioquia. E natural supor que os enviados pelo concilio tenham voltado para o norte passando por Samaria e Fenícia. Sem dúvida, houve alegria entre os cristãos gentios com a nova acerca da liberdade.Comunidade. Do gr. ¦píêthos, palavra usada repetidas vezes em Atos para a reunião dos crentes (At 4:32; 5:14; 6:2; 15:12). Aqui se refere à congregação cristã em Antioquia.Entregaram a epístola. A leitura solene da carta deve ter despertado ânimo e alegria, talvez com murmúrios de um lado e aplausos do outro, à medida que frase após frase ela repudiava os ensinos dos judaizantes e confirmava a posição de Paulo e Barnabé. Para os cristãos gentios de Antioquia, essa epístola era como uma carta de alforria, conquistada depois de muita luta. |
At.15:31 | 31. Conforto. Barnabé, o “filho de exortação”, ou da eonsolação (ver com. de At 4:36), era digno desse título. Esse coníorto seria sentido tanto por judeus quanto por gentios; os primeiros, porque então sabiam de que modo deveríam receber os conversos gentios como irmãos de té; os últimos, porque foramlibertos do jugo das cerimônias e dos rituais (ver Nota Adicional 2 a Atos 15). |
At.15:32 | 32. Judas e Silas, que eram também profetas. Ver com. de At 13:1. “Profetas” não se refere aqui necessariamente a alguém que prevê o futuro, mas a quem, cheio do Espírito, prega a palavra de Deus com autoridade. Desta maneira. Judas e Silas eram qualificados tanto para exortar quanto para fortalecer os discípulos. A exortação seria necessária aos gentios. O Senhor ordenara Pedro a fazer esse tipo de trabalho (Lc 22:32), que deveria ser feito com os mesmos métodos usados na evangelização de Cornélio. |
At.15:33 | 33. Em paz. Esta é a tradução da expressão de despedida comum em hebraico. Não significa que os homens receberam permissão para ir embora calados, mas que as orações da igreja para que tivessem paz os acompanhavam (comparar com Mc 5:34).Aos que os enviaram. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam esta variante, em lugar de "para os apóstolos" (ARC). |
At.15:34 | 34. Mas. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão deste versículo. Todavia, uma vez que, pouco depois, Paulo escolheu Silas para ser seu companheiro na viagem missionária seguinte (v. 40; cf. v. 36), Silas deve ter permanecido em Anlioquia depois da partida de Judas, ou retornou logo em seguida. |
At.15:35 | 35. Pregando. Uma forma do verbo gr. euaggelizõ (ver com. de At 13:32). Tanto o ensino quanto a pregação deveriam ter o objetivo de mostrar que Jesus é o Salvador e instruir no caminho da vida com Deus. Sem dúvida, isto era essencial, sobretudo para os gentios que, como estava claro, tornavam-se então participantes da nova aliança do evangelho. |
At.15:36 | 36. Alguns dias depois. Ver com. de At 16:1.Voltemos. Esta proposta era característica de Paulo. Ele estava cheio dc "preocupaçãocom todas as igrejas" (2Co 11:28), as quais ele mencionava constantemente em suas orações (Rm 1:9; Ef 1:16; Fp 1:3). A julgar pela preocupação por Timóteo, revelada nas epístolas que escreveu ao jovem, Paulo cuidava tanto do crescimento espiritual de seus filhos na fé quanto da condição geral das igrejas que fundava. Ele propôs a viagem como uma oportunidade de revisitar as igrejas fundadas na primeira jornada, mas ampliou o roteiro quando se sentiu movido pelo Espírito a ir para a Europa, em resposta ao chamado macedônico. |
At.15:37 | 37. Queria. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “estava determinado”. Sem dúvida, loi a ligação familiar de Barnabé com João Marcos que o lez, querer levar o jovem novamente em uma viagem missionária, a fim de lhe dar a oportunidade de se redimir (ver Cl 4:10). Sem dúvida, ele reconhecia, ao contrário de Paulo, que as circunstâncias desculpavam, pelo menos parcialmente, a recuada anterior de João Marcos (ver com. de At 13:13). Paulo, o ávido e corajoso guerreiro de Cristo, entendia que quem agisse assim, nas palavras do próprio Senhor, não estaria “apto para o reino de Deus” (Lc 9:62) e precisaria de disciplina pelo menos por um período, a fim de se preparar melhor. |
At.15:38 | 38. Aquele que se afastara. Ver com. de At 13:13. João Marcos voltou para Jerusalém, partindo de Perge.Não os acompanhando. Estas palavras sugerem que a queixa de Paulo contra Marcos era que, ao voltar para Jerusalém, ele deixara de cumprir sua parcela de responsabilidade na viagem. |
At.15:39 | 39. Desavença. Do gr. paroxusmos, “irritação) “raiva aguda') Deste termo vem a palavra portuguesa “paroxismo”, que significa o auge de uma crise ou de um sentimento. A amizade de longa data selada pelo auxílio que Barnabé dera a Paulo num momento crucial (ver com. de At 9:27) e a realização de uma grande obra em conjunto tornaramdolorosa a separação entre os dois. Esta é a ultima menção que Atos faz a Barnabé e Marcos. Para a igreja, o resultado foi a realização de duas viagens missionárias, em vez de uma só. Embora os apóstolos tenham diferido sobre quem estava apto a participar da obra, não havia divergência quanto ao trabalho a ser feito em prol do evangelho. Paulo cita o nome de Barnabé em suas epístolas (ICo 9:6; G1 2:1, 9, 13; Cl 4:10). Ao escrever para os coríntios (ICo 9:6), Paulo afirma que o apóstolo Barnabé dava o mesmo exemplo nobre que ele, labutando com as próprias mãos, sem precisar de auxílio financeiro das igrejas. Em Colossenses 4:10, ele revela que voltou a receber João Marcos como companheiro na obra (Fm 24) e reconheceu que o jovem lhe era "útil para o ministério" (2Tm 4:11). Depois de trabalhar com Barnabé em Chipre, parece que Marcos retornou com Pedro e ficou com ele em Roma (iPc 5:13). Pode ter sido durante essa permanência em Roma que Marcos tenha voltado a trabalhar com Paulo.Navegou para Chipre. Esta era a terra natal de Barnabé. Era natural que ele e Marcos começassem a obra ali. |
At.15:40 | 40. Paulo, tendo escolhido a Silas.Ver com. do v. 34. Isto revela o interesse de Silas pelo evangelismo entre os gentios. Ele era tão capacitado quanto Barnabé, pois tinha o dom de profecia. Podia então usar o título de apóstolo, no sentido mais amplo de “missionário”, pois foi enviado pela igreja de Antioquia.Encomendado. Ver com. de At 14:26. |
At.15:41 | "41. Passou. Embora o pronome se refira apenas a Paulo, a narrativa mostra que Silas acompanhou o apóstolo mais experiente. Portanto, o melhor sentido é “passaram” (cl. At 16:1, 6).Síria e Cilícia. Uma vez que Paulo não visitou sua província natal, a Cilícia, durante a primeira viagem, é provável que as igrejas ali localizadas tenham sido fundadas ao longo dos anos que ele passou em Tarso após a conversão (ver At 9:30; 11:25). üsjudaizan- tes, porém, haviam trabalhado ativamente nas duas províncias, A presença de Paulo, juntamente com Silas, um dos enviados do concilio, deve ter ajudado a dissipar dúvidas ou questionamentos de judeus ou gentios, nas igrejas que eles visitavam, então.Confirmando. Ver com. de At 14:22.Um dos problemas mais complexos do livro de Atos é a comparação entre o relato das visitas de Paulo a Jerusalém, feito por Lucas, e a narrativa do próprio apóstolo, em Gálalas 1 e 2. Até este ponto de Atos, Lucas já registrou três visitas (At 9:26-30; 11:27- 30; 12:25; 15:1-29), ao passo que Paulo só fala em duas (G1 1:18, 19; 2:1-10). As visitas de Atos 9:26 a 30 e Gálalas 1:18 e 19 são as mesmas. No entanto, a dúvida surge em relação á segunda e a terceira visitas registradas em Atos, em comparação com a segunda visita mencionada em Gálalas.Os eruditos propõem diversas abordagens para o problema. Alguns equiparam a visita para alívio da fome (At 11:27-30; 12:25) à jornada de Gálatas 2:1 a 10. Um segundo grupo defende que a jornada registrada por Paulo em Gálatas 2 é a viagem de Atos 15, envolvendo o concilio de Jerusalém. Outros, ainda, vendo dificuldades nas duas identificações, concluem que os relatos de Lucas e Paulo só podem ser harmonizados por meio de uma reconstrução radical. Uma dessas soluções sugere que a visita para alívio da fome (At 11-12) e a visita do concilio (At 15) são, na verdade, a mesma viagem, registrada também por Paulo em Gálatas. Segundo esse ponto de vista, Lucas teria se informado sobre os dois relatos de Atos comfontes diferentes e, embora se refiram à mesma jornada, ele teria compreendido erroneamente que foram duas visitas.Outra visão mais crítica defende que a visita de socorro à fome ocorreu no final da terceira viagem missionária de Paulo, antes de sua primeira permanência na prisão, identificando-a com a viagem a Jerusalém registrada em Atos 21, quando levou ofertas das igrejas da Macedônia e de Acaia (ver Rm 15:25, 26). O profeta Ágabo c mencionado tanto em Atos 21 quanto em Atos 11 e, nas duas ocasiões, ele fez uma profecia.Ao avaliar esses pontos de vista, é preciso dizer que a primeira e a terceira abordagens, que propõem uma reconstrução radical da narrativa de Lucas, parecem ignorar o conhecimento que o autor tinha dessa fase da carreira de Paulo, bem como a inspiração que iluminava sua mente. Alguém tão interessado na biografia de Paulo, como Lucas, e que teve contato pessoal com o apóstolo, dificilmente seria ignorante acerca da relação entre Paulo e a igreja de Jerusalém no que se refere ao problema dos gentios, a ponto de não saber em que momento da carreira do apóstolo ocorrera o concilio de Jerusalém. Tampouco parece razoável que ele tenha se confundido tanto em relação aos fatos na história de Agabo. A posição deste Comentário é que essas reconstruções radicais são injustificadas.Certas evidências podem ser apresentadas em favor da equivalência entre a visita para alívio da lome, leita por Paulo e Barnabé (At 11:27-30; 12:25), e a jornada que Paulo registra em Gaiatas 2:1 a 10:1. Paulo declara que subiu a Jerusalém ""em obediência a uma revelação’’ (Cl 2:2). Lucas parece fazer um paralelo com isso ao relatar a visita de socorro à fome como resultado direto de uma profecia de Agabo sobre o início de um período de escassez (At 11:28).
2. Em Gaiatas I e 2, Paulo argumenta que não aprendeu com homens sua visão do evangelho e, com certeza, não com elementos judaizantes da igreja de Jerusalém, mas com Cristo. Em seguida, faz uma síntese de sua vida desde a conversão, dando ênfase ao contato com os líderes de Jerusalém, a fim de mostrar que sua ligação com eles fora breve e sempre contrária ao espírito judaizante. Se a segunda visita a Jerusalém mencionada por Paulo (Cl 2:1-10) for equiparada à de Atos 15, o apóstolo simplesmente teria omitido uma visita (a de At LI) de sua narrativa em Gaiatas. Isso o tornaria vulnerável à acusação de minimizar proposital mente o relato de seus contatos com Jerusalém para dar ênfase à própria argumentação. Paulo não seria ingênuo, para lazer isso. Caso, porém, em Gálatas 2, ele se refira à visita para socorro à fome e tenha escrito antes da realização do concilio de Jerusalém, como defendem muitos eruditos (ver p. 91, 92), então ele teria relatado todos os seus contatos com |erusalém até esse momento, não podendo ser acusado de ocultar evidências para dar torça à sua argumentação.
5. Paulo declara que, entre sua primeira visita a Jerusalém (Cl 1:18. 19) e a visita cm í~ questão, ele “não era conhecido de vista das igrejas da Judeia’’ (G1 1:22). Essa declaração dificilmente estaria de acordo com o fato de ter passado por lá para levar socorro à fome (At 11:27-30), caso tal jornada houvesse ocorrido entre as duas visitas narradas em Gálatas 1 e 2.
4. Em Gálatas, epístola em que Paulo se preocupa bastante com a relação entre os cristãos gentios c o judaísmo, não há menção à decisão oficial tomada pelos líderes de Jerusalém a respeito do problema. Isso seria estranho, a menos que a segunda viagem a Jerusalém, relatada em Gálatas, seja a de Atos 11:27 a 30, quando o concilio ainda não havia acontecido.
5. Se as jornadas de Atos 11 e Gálatas 2 forem a mesma, a dissimulação de Pedro e Barnabé em Antioquia (G1 2:11-13) teria ocorrido antes do concilio de Jerusalém e da primeira
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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA
viagem missionária. Isso seria mais fácil de se entender do que se os dois houvessem cedido à pressão cios judeus depois da experiência de Barnabé com os gentios na primeira viagem missionária e após ambos terem se expressado publicamente em defesa da decisão tomada em Jerusalém (ver At 15:7-12). Se Pedro e Barnabé não tiveram medo de falar em Jerusalém, por que dissimulariam posteriormente em Antioquiar
Argumentos como esses têm levado muitos eruditos a concluir que a visita de socorro à lome ( At 11) é a mesma registrada por Paulo em Gálatas 2, não a do concilio de Jerusalém (At I 5).
No entanto, a maioria dos comentaristas mais antigos identifica a visita de Gálatas 2 com a de Atos 15, e ainda há vários elementos favoráveis a tal ponto de vista, conforme os argumentos a seguir:
1. Em Atos 11:27 a 30 e 12:25, não há indicativos de que o problema dos gentios tenha surgido na época da visita de alívio à lome. Em contrapartida, é o problema evidente tanto em Atos 15 quanto em Gálatas 2. Além disso, a primeira viagem missionária (At 13-14) provê o pano de fundo lógico para o problema apresentado em Gálatas 2.
2. 1'anlo em Atos 15 quanto cm Gálatas 2, o assunto em questão foi levantado por intrusos. Lucas se relere a eles como ""alguns da seita dos fariseus"" (At 15:5). Mas Paulo faz uma referência mais enfática, chamando-os de ""falsos irmãos” (G1 2:4). Não há pistas da existência dessas pessoas no relato da visita de socorro à tome.
3. No que se refere à ausência de uma visita no relato de Gálatas 1 e 2, caso Gálatas 2 seja considerado equivalente a Atos 15, já foi sugerido que, na ocasião da visita de socorro à lome, Paulo não tez nenhum contato com os apóstolos. Lucas diz apenas que de c Barnabé levaram os donativos ""aos presbíteros'’ (At 11:30) cm Jerusalém. Por isso, ao contai: sobre seus contatos com os apóstolos, Paulo pode não ter considerado a visita de alívio à fome significativa o bastante para ser mencionada.
4. Não há, necessariamente, contradição entre a declaração de Lucas de que o ""socorro"" foi enviado “aos presbíteros por intermédio de Barnabé c Saulo” (At 11:30) e a declaração de Paulo de ser ""desconhecido de vista das igrejas da Judeia"" (Gl 1:22). O breve relato de Lucas poderia ter indicado, caso algo mais tivesse acontecido na viagem do que a entrega das ofertas aos presbíteros, uma missão que ambos devem ter cumprido rapidamente a fim de voltar em seguida ao trabalho urgente em Antioquia (sobre os ""presbíteros”, ver com. de At 11:30.) Logo, essa viagem pode ter sido omitida por Paulo cm Gálatas, por não ser importante o suficiente para sua mensagem às igrejas da Galácia.
5. Embora seja mais fácil entender a dissimulação de Barnabé e Pedro antes do concilio de Jerusalém, não é impossível que eles tenham se acovardado posteriormente, cedendo à pressão dos judeus. Paulo expressa, com toda clareza, que eles agiram sabendo que sua atitude não era correta (Gl 2:12, 13).
6. O registro de Lucas da visita de socorro à lome não dá indícios de que outra pessoa lenha acompanhado Paulo c Barnabé a Jerusalém. Mas afirma, de maneira específica, que levaram consigo “alguns outros dentre eles"" para o concilio. Há um paralelo disso no lato de que Paulo levou Tito para Jerusalém na visita registrada em Gálatas 2:1.
Por esses motivos, muitos eruditos preferem equiparar a visita de Paulo e Barnabé a lerusalém, registrada em Atos 15, com a visita registrada cm Gálatas 2. A cronologia experimental deste Comentário considera a jornada de Gálatas 2 equivalente à visita do concí- lio de At 15 (ver p. 88).
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ATOS
NOTA ADICIONAL 2 A ATOS 15
É difícil exagerar a importância das decisões do concilio de Jerusalém. Quatro questões específ icas foram citadas, mas a provisão geral “não vos impor maior encargo ’ (Al 15:28) parece ler sido vital. Por toda a igreja, num ato oficial, os gentios foram declarados livres de ritos cerimoniais. Foi uma proclamação de emancipação.
Os eventos de aceitação do etíope, dos samaritanos, de Cornélio e sua casa e, sobretudo, dos gregos em Antioquia foram uma série de passos significativos c de eleito cumulativo no pensamento da parte judaica da igreja. Mas, em Jerusalém, a igreja se reuniu em concilio e partiu para urna ação definitiva. A circuncisão, a apresentação de sacrifícios, os ritos de purificação e todos os atos formais que faziam parte da religião judaica ou que foram acrescentados a ela não seriam exigidos dos gentios batizados na igreja cristã.
Considerando a importância dessa decisão, a estipulação das coisas específicas recomendadas aos gentios seria menos importante, mas, ainda assim, necessária para completar o quadro. O ponto crucial da decisão se encontrava na declaração geral do que não deveria ser imposto aos gentios. Junto a isso, havia a breve citação do que seria esperado. E evidente que os pontos selecionados enfatizavam coisas que poderíam levar os gentios ao erro ou à indiferença.
A hesitação de Pedro em Antioquia (G1 2:11-14), a insistência dos judaízantes radicais na Galácia (Cl 3:1, 2) e o surgimento posterior das seitas judaízantes dos nazarenos e dos ebionitas (ver p. 39, 40) mostram como era essencial para a igreja chegar a uma decisão clara sobre a questão das práticas judaicas dentro da igreja cristã. Caso contrário, a igreja continuaria olhando para antigas formas e cerimônias, honráveis, mas apenas típicas, das quais o bendito Antítipo já viera e realizara Sua obra. A igreja dependería para sempre da influência de um centro, Jerusalém, mesmo depois da destruição da cidade. Pior ainda, seria uma igreja nacional, étnica e judaica em seu âmago. Sem dúvida, os gentios pensariam, cada vez mais, que eram admitidos não pela graça de Deus, mas pelo favor de homens da nação “escolhida ”. A introversão, a formação étnica e a centralização em seres humanos teriam consequências limitadoras e fatais para a vida, os planos e o progresso da igreja.
Essa situação marcaria a igreja como uma instituição sujeita a formas e rituais. Mas a verdadeira natureza do cristianismo não se encontra cm formas e cerimônias. A essência do cristianismo é a vida espiritual e a adoração a Deus em espírito e em verdade. O cristianismo devia se libertar das formas, dos rituais e das cerimônias típicas, uma vez que Cristo já era uma realidade viva. Se o sentido básico da decisão do concilio de Jerusalém tivesse sido incorporado plenamenle à experiência posterior da igreja, grande parte do erro e da apostasia teria sido evitada.
Pode surgir a dúvida acerca do porquê de o concilio de Jerusalém não ter especificado que todos os dez mandamentos eram obrigatórios. A resposta é que o concilio não tratava acerca do decálogo. A adoração a Deus, a observância do sábado, a honra aos pais, a permissão de que o próximo viva e desfrute a vida, a honestidade e o contentamento eram latores tão elementares na moral básica do cristianismo que nem necessitariam ser mencionados. Estas não eram as questões que motivaram o concilio. Conforme já destacado, as proibições estavam ligadas a coisas relacionadas aos gentios, que, mesmo
ÒZÍ
COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA
após a conversão, precisariam ser alvo de atenção, quer para evitar o pecado aberto, quer para ser abster de práticas que traziam discórdias à igreja. Comer sangue ou carne cujo sangue não fora drenado implicava envolver-se em idolatria e tornicação, práticas comuns entre os gentios, nas quais se envolviam sem pensar no quanto eram prejudiciais para o corpo e a mente. Portanto, eles precisavam ser advertidos contra elas, a fim de se absterem.
No que diz respeito às estipulações em si, é natural se perguntar qual seria a validade delas na vida posterior da igreja, uma vez que o acordo entre os gentios e os judeus da igreja era, em alguns aspectos, uma concessão ou, pelo menos, uma base para a vida em comum (ver com. do v. 19). Ainda não era chegado o tempo para a proclamação do sentido pleno do ensino de Paulo (Gl 2:2). Ele aceitou a decisão do concilio como uma solução satisfatória do assunto debatido e nunca se referiu depois a suas exigências, nem mesmo ao falar sobre um dos pontos da decisão, isto é, o consumo de alimentos oferecidos a ídolos (ICo 8; 10). Na verdade, seu conselho em relação à comida não estava em total harmonia com a decisão do concilio, embora certamente não seja contrário a seu espírito e sua intenção. Paulo argumenta que não era necessariamente errado comer alimentos oferecidos a ídolos, pois os deuses que os ídolos representavam não existiam. Errado seria deixar de considerar a sensibilidade de out ro cristão, que não comia tais coisas e se sentiría incomodado com o outro que o fazia, 'lal instrução tendería a evitar atritos desnecessários entre judeus e cristãos gentios em sua convivência social.
Quando Paulo abordava a questão da impureza sexual, algo que ele fez diversas vezes,
também não lazia relerência ao concilio de Jerusalém, mas ao princípio bíblico básico no qual a decisão do concilio se baseou. Em outras palavras, ele lidou com o problema com base no fato de que o cristão pertence a Deus e todo seu ser se torna um templo habitado pelo Espírito Santo. Diante de tal presença divina, não deve existir a impureza.
Logo, a importância do concilio não se faria sentir, em primeiro lugar, nas consequências ligadas a suas proibições específicas. Em vez, disso, a decisão foi signil icativa ao liberar a igreja cristã gentílica de ritos religiosos realizados como um fim em si mesmos." |
At.16:1 | 1. Chegou. Do gr. katantaõ, “ir para”, "chegar a” algum lugar (sobre o uso da forma singular, ver At 15:41). Evidências textuais (ci. p. xvi) se dividem sobre a inclusão de "também” entre “chegou” e "a”. Essa inclusão pode servir para entatizar a continuidade entre Atos 15:41 c 16:1. A divisão dos capítulos ficaria mais adequada entre os v. 35 e 36 de Atos 15.A Derbe e a Listra. O relato dá continuidade tá visita às igrejas mencionadas (At 15:36; ver com. de Al 14:6, cm que a ordem c inversa, seguindo a posição geográfica). Nesta ocasião, Paulo e Silas iriam primeiramente para Derbe (ver mapa, p. 329). Para ir até esta região, partindo da Cilícia, Paulo e seus companheiros devem ter atravessado a célebre passagem montanhosa conhecida como Portas da Cilícia, atravésdas quais Alexandre, o Grande, conduzira seus soldados.Havia ali. Não se sabe ao certo se a expressão se refere a Listra ou a Derbe. Estudiosos favorecem Listra, ao passo que alguns, com base em Atos 20:4, preferem Derbe (ver com. de At 14:6). Pelo menos, está claro que Timóteo era da região de Derbe- Listra e conhecido pelas igrejas de lá como um discípulo frutífero.Timóteo. Nome grego comum, que significa "honrado de Deus”. I£ provável que limóteo lenha se convertido pela pregação de Paulo quando este visiLou Listra e Derbe na primeira viagem missionária (ver com. de At 14:6). É por isso que Paulo podia chamá- lo de "meu filho amado” (iCo 4:17) e “verdadeiro filho na fé” (El m 1:2). Ele era jovem (iTm 4:12; ver AA, 203). Não devia ter maisdo que 18 ou 20 anos, pois, 12 anos depois, ainda é chamado de jovem (lTm 4:12). Todavia, durante os quase dois anos que se passaram desde a partida de Paulo de Listra (ver cronologia, p. 88-90), Timóteo deixou uma boa reputação, por ser devoto e ter uma “fé sem hipocrisia’’ (2Tm 1:5). Ele conhecia as Escrituras desde a infância (2Tm 3:15).Uma judia. Literalmente, “certa mulher, uma fiel [ou 'crente’] judia’’. Há algumas evidências textuais (cf. p. xvi) para o acréscimo de "viúva" após "mulher ”. A morte do pai deou “boa vitória”). Parece que Loide e Eunice eram cristãs dev-otas (2Tm 1:5) e tiveram o cuidado de oferecer a Timóteo uma educação cristã baseada no conhecimento pessoal das Escrituras (2Tm 3:15).Pai. Lucas não dá informações claras a respeito da religião do pai de Timóteo. O fato de ser “grego” pode significar que era um gentio pagão. Nesse caso, seu casamento com Eunice não tería sido aceito pelos judeus. Também é possível que ele fosse um gentio "temente a Deus” (ver com. de At 10:2). No entanto, parece que não era um prosélito, pois seu filho Timóteo não fora cireimcidado. |
At.16:2 | 2. Dele ciavam bom testemunho. Expressões semelhantes são usadas em relação a Cornélio (At 10:22) e a Ananias (At 22:12). Tal relato tenderia a incentivar Paulo a escolher o jovem para ser seu companheiro de missões.Irmãos. Isto é, os membros das igrejas cristãs da região. Durante os três ou quatro anos que se passaram desde a visita anterior de Paulo (At 14:6, 7). Novas congregações haviam surgido, e o caráter de um membro fiel como Timóteo era hem conhecido. O contato entre as igrejas de Listra e Icônio era constante, pois era de 36 km a distância entre as duas cidades. |
At.16:3 | 3. Quis Paulo. Parece que Paulo sentiu o desejo de que Timóteo ocupasse o lugar de João Marcos, a fim de atuar como “auxiliar” (ver com. de At 1 3:5), iniciando, assim, “o trabalho de um evangelista” (2Tm 4:5). O apóstolo percebeu como Timóteo poderia ser uma companhia útil, mas reconheceu que, sem a circuncisão, poderia se transformar em fonte de problemas, em vez de ajuda.Circuncidou-o. É provável que o próprio Paulo tenha realizado o rito. A princípio, este ato parece inconsistente com sua conduta em relação a Fito, a quem ele se recusou a circuncidar (ver com. de Cl 2:3) e com seu ensino geral sobre a circuncisão (ver com. de ICo 7:18, 19; Gl 5:2-6).Mas há uma diferença evidente entre os casos de Tito e Timóteo. Tito era grego, e eircuneidá-lo equivalería a ceder num princípio de que Paulo não desejava abrir mão. A origem mista de Timóteo fazia clele um judeu, pois o código rabfnico afirmava que o filho de mãe judia era considerado judeu (Yebamoth, 45.b, ed. Soncino, Talmude, p. 297). Caso tanto seu pai quanto sua mãe fossem judeus fiéis, ele teria sido circunci- dado no oitavo dia (Lv 12:3), mas as diferenças religiosas entre o casal impediram isso.Porém, o jovem Timóteo estava prestes a iniciar uma obra pública e a entrar em contato próximo com os judeus. Caso fosse íneircunciso, isso se tornaria uma fonte dc dificuldade para os judeus, os quais pensariam que um mau judeu não podería ser um bom exemplo de cristão. Por isso, Paulo não viu inconsistência entre se opor ao ensino de que a circuncisão fosse uma necessidade espiritual essencial para a salvação e, ao mesmo tempo, circuncídar este jovem de origem judaica para não causar ofensa. Tal atitude estava em harmonia com sua filosofia manifesta (ver com. de lCo 9:20) e foi o motivo registrado por Lucas para a ação: "por causa dos judeus". |
At.16:4 | 4. Decisões. l)o gr. Jogmatci, "opiniões ', "julgamentos ", “decretos '', dedokeõ, “dar uma opinião . As “decisões”, neste caso, eram aquelas tomadas pelo concilio de Jerusalém (ver At 15:22-31). A inlerência é que Paulo distribuiu cópias das decisões (chamadas de "epístola ', em At 15:30) para as igrejas que havia Iundado anteriormente. Os apóstolos tomaram as decisões para orientar os gentios cristãos naquilo que deveríam observar. Não hav ia nada nelas que os cristãos judeus tenderíam a desconsiderar, e a liberdade concedida aos gentios não se aplicava aos cristãos judeus. Todavia, elas serviríam como guia pura os gentios assumirem uma posição no caso dc qualquer disputa com os judaizan- íes. lais decisões também devem ter ajudadomuitos gentios a se decidir fazer parte da igreja cristã, ao ficarem sabendo que não precisariam se submeter a um fardo pesado cie cerimônias. |
At.16:5 | 5. Fortalecidas. A igreja, saindo da infância, se preparava para fazer grande progresso, e os missionários lorlaleccram seus membros para esse desenvolvimento.Aumentavam em número. Uma barreira bastante significativa para a admissão dos gentios fora removida, e o número de cristãos se multiplicava a cada dia. Mas a referência, neste caso, pode não ser somente ao número de cristãos, mas também ao crescimento das congregações. Não Há nenhuma informação adicional. Três séculos depois, quando o cristianismo foi legalizado, uma igreja incluía todos os cristãos de uma cidade, organizados em uma série de congregações. As congregações das vilas vizinhas também faziam parte dessa "igreja’, seguindo o estilo grego e romano das cidades-estados. Por volta dessa época, o presbítero da congregação central havia se transformado no bispo, epie desempenhava pesadas responsabilidades tanto na igreja quanto na região dele. Nos dias de Paulo c ao longo de mais de dois séculos, até o cristianismo se tornai a religião olicial, os cristãos não tinham igrejas em prédios (ver p. 12, 26). |
At.16:6 | 6. E, percorrendo. Evidências textuais (ci. p. xvi) atestam a variante "mas eles percorreram”, em vez de “e, percorrendo”. A construção grega dos v. 5 e 6 subentende uma divisão na narrativa neste ponto. Um episódio termina e outro começa. Isto é relevante para a interpretação dos versículos a seguir.Região frígio-gálata. A Frigia era uma área meio indefinida no oeste da Asia Menor (ver mapa, p. 19). Este nome era usado por significado etnológico, e não político. Naquele período, a região não era uma província romana. A mensagem do evangelho pode ter sido levada para lá por habitantesda região que se encontravam em Jerusalém no dia de Pentecostes. A Frigia era de interesse especial para os cristãos, pois no íuturo incluiría as igrejas do vale do Lico, Colossos e Laodiceia (ver Nota Adicional a Atos 16).já a Galácia era a terra dos gauleses (do gr. galaial). Uma grande parte do povo gau- lês havia se mudado para o oeste, na Europa, ocupando o território que passou a ser conhecido por Gália, o qual corresponde aproximadamente à atual França. No 3o século a.C., outra parte do mesmo povo se dirigiu para o sul, passando pela Grécia e Ásia Menor, onde se estabeleceram, na região central, absorvendo muitos cios povos trígios. Os gaiatas, por sua vez, foram conquistados pelos romanos e, em 25 a.C., nos dias de Augusto César, seu território se transformou numa província romana (ver vol. 5, p. 9). Os habitantes talavam um dialeto cclla semelhante ao usado pelos gauleses na Europa ocidental e conservaram a rapidez na manifestação de emoções e a tendência a mudanças súbitas que caracterizavam o temperamento celta. Logo aderiram à religião frigia, com sua adoração à grande deusa da terra Cibele, marcada por orgias. Em seus templos, foram encontrados sacerdotes eunucos consagrados a seu serviço (ver com. de Gl 5:12). A sede dessa adoração ticava na cidade de Pessino.Em Gaiatas 4:13 a 15 (ver com. da passagem), Paulo se refere a esta visita à Galácia, onde parece ter sido (orçado a ficar por causa de uma enfermidade grave, talvez ligada a seus olhos. Muitos comentaristas entendem que a declaração de Paulo sobre um "espinho na carne" (2Co 12:7; ver com. de At 9:18) se refere a uma doença nos olhos. E provável que isso tenha levado a uma permanência mais longa na região tio que o apóstolo planejava. Durante o período de doença, os gaiatas tiveram a oportunidade de demonstrar SLia devoção singular a Paulo. Ele declara que aqueles cristãos teriam "arrancado os próprios olhos', se pudessem trocar com oapóstolo e, assim, aliviar seu sofrimento. Acreditavam ser motivo de “exultação" ter alguém como Paulo no meio deles. Os gála- tas o receberam “como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus ’. A lembrança dessa recepção tornou a tristeza do apóstolo ainda mais amarga quando descobriu que os gaiatas sc desviaram sob a influência de mestres judaizantes e os repreendeu por haverem deixado seu primeiro amor.Tendo sido impedidos. Subentende-se que a proibição do Espírito fora feita logo depois que o grupo partiu do distrito de Icônio, antes de entrar na Frigia (ver Nota Adicional a Atos 16).Espírito Santo. Lucas não conta (ver com. de At 2:4; 8:29, 39; J 3:2) como o Espírito instruiu Paulo, se por sugestão interior, visões noturnas ou profecias dadas àqueles que receberam o dom (cf. At 21:4). De alguma forma, porém, Paulo soube que Deus, por meio do Espírito, estava impedindo-o de entrar na Ásia e depois na Bitínia (At 16:7), portanto, não iria para nenhuma dessas regiões. Por um tempo, licou distante da Asia e de suas fervilhantes cidades como Efeso, Esmirna c Sardes, que tinham grandes comunidades de judeus e eram grandes centros de adoração pagã. Elas deveríam exercer um forte apelo sobre Paulo, mas ele era obediente às ordens do Espírito. Por isso, o grupo de missionários loi conduzido através da costa noroeste, sem saber onde se concentrariam os esforços seguintes.Na Asia. Ver com. de At 2:9; ver Nota Adicional a Atos 16. |
At.16:7 | 7. Mísía. Ver Nota Adicional a Atos 16.Tentavam. Ver At 9:26.Bitínia. A Bitínia, ao norte da rota de Paulo, contava com grandes cidades como Nicomédía e Níceia, além de uma população considerável de judeus. Era natural que Paulo e sua equipe desejassem trabalhar ali, em seguida. Mas o Senhor linha outros planos para Seus servos dispostos c obedientes,que foram conduzidos não para o norte, mas, sim, para o oeste (ver Nota Adicional a Atos 16). Não há registro do trabalho que realizaram nesta etapa da jornada, e é provável que tenham passado apenas por algumas vilas.Espírito de Jesus. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam esta variante. Ela confirma a ideia de que o Espírito tem a mesma posição em relação ao Filho e ao Pai, podendo ser chamado tanto de Espírito de Deus, quanto de Espírito de Cristo (ou de Jesus; ver com. de Rm 8:9).Não o permitiu. E possível que Pedro tenha trabalhado em “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia c Bitínia", pois foi aos conversos dessas regiões que ele escreveu sua primeira epístola (lPe 1:1). Um momento provável para este ministério foi após sua “dissimulação’ em Antioquia (Cl 2:11-16). Alguns sugerem que, enquanto Paulo trabalhava na Frigia, a caminho da Europa, e Barnabé, que também havia “se deixado levar pela dissimulação” (Cl 2:13), pregava cm Chipre (At 15:39), Pedro podia estar nas regiões das quais o Espirito excluiu Paulo, inclusive no norte da Galácia. Não se sabe até que ponto Paulo e Pedro resolveram suas dilerenças. Mas talvez esses dois grandes homens de Deus tenham sido poupados de se encontrar de novo no campo missionário, e Paulo foi capaz de dizer que evitara edifi- car sobre fundamento alheio (Rm 15:20). Por mais que isso possa ser verdade, o principal motivo para a proibição da obra na Bitínia e na Asia parece ter sido o propósito divino de que o evangelho tosse levado à Europa naquela ocasião. |
At.16:8 | 8. Tendo contornado Mísia. Isto é, eles omitiram a Mísia. Em geral, a Mísia era considerada parte da Asia, onde eles haviam recebido do Espírito a proibição de pregar (ver Nota Adicional a Atos 16).Desceram. Do interior montanhoso.Trôade. Enfim as viagens os levaram à costa, e eles contemplavam, a oeste, as águasdo mar Egeu. A cidade de Alexandria, de Trôade, assim denominada em homenagem a Alexandre, o Grande, era, naquela época, considerada uma colônia romana e cidade livre. O sítio da antiga Troia ficava poucos quilômetros ao norte de Trôade. Sem dúvida, porém, Paulo tinha pouco interesse pelo relato de Homero do cerco à antiga cidade grega. As questões que ocupavam seus pensamentos nessa ocasião se relacionavam à melhor maneira de proclamar que Cristo é o Salvador, para que os habitantes de Trôade encontrassem a vida eterna. Com certeza, ele expressava tais pensamentos em oração e, em resposta, recebeu a visão registrada no v. 9. Não há menção de qualquer obra missionária realizada por Paulo desta vez, mas há indícios de que uma igreja foi fundada ali (ver com. de At 20:5-12; 2Co 2:12, 13; 2Tm 4:13). |
At.16:9 | 9. Visão. Do gr. horama, “aquilo que é visto”, logo, “visão”. Horama é um termo usado 11 vezes por Lucas em Atos e só ocorre mais uma vez em outros livros (Mt 17:9; sobre “visões”, ver com. de At 2:17; comparar com a visão anterior de Paulo, em At 22:17-21).Rogava. Do gr. parakaleõ, "chamar para seu lado", logo, “convocar”, "dirigir-se”, “rogar". A palavra revela um senso de urgência no apelo do homem (ver com. de Mt 5:4).Passa. Do gr. áiabainõ, literalmente, “passar através’’ ou “atravessar”.Macedônia. Originalmente, uma região ao norte da Grécia clássica. Ascendeu ao poder sob os governos de Filipe (359-336 a.C.) e de Alexandre, o Grande (336-323 a.C.). Em 142 a.C., porém, se tornou uma província romana e preservava este status até os dias de Paulo (ver vol. 5, p. 9-1 5). Muitas de suas vicejantes cidades contavam com grandes comunidades judaicas, olerecendo urna excelente base para o evangelismo cristão. Alguns sc perguntam como Paulo sabia que o homem de sua visão era macedônio. Uma resposta se encontra nas próprias palavras do homem: ele sc associa com a Macedônia.Outra explicação é que Lucas pode não estar fazendo um relato completo da visão, registrando apenas suas características principais e omitindo detalhes que dão apoio à síntese sA feita por ele.Ajuda-nos. "Ajuda’’ vem do gr. boêtheõ, “correr até o grito [daqueles em perigo]”, logo, “socorrer", “ajudar’’.O homem fala em nome de todos os seus conterrâneos na Macedônia. De um ponto de vista moderno, é possível atribuir uma interpretação mais ampla ao reconhecermos que o homem se encontrava na Europa, chamando Paulo para entrar naquele grande continente com a mensagem evangélica. Esse foi um dos momentos cruciais da história. Boa parte do futuro da Europa dependia da resposta do apóstolo ao apelo. O continente pode ser grato ao corajoso Paulo, que não hesitou em atender ao chamado. Até então, ele fora impedido de cumprir seu grande desejo de evangelizar a Asia e a Bitínia (ver com. dos v. 6, 7). mas um continente inteiro o chamava, e ele não podia deixar de compreender o motivo por trás das proibições às quais cie tão ficlmente obedecera.O chamado maccdônico, isto c, o chamado daqueles que não conhecem a Cristo, tem motivado milhares e milhares a deixar seus lares para levar o evangelho a terras estranhas, onde trabalham enfrentando desconforto, solidão, enfermidade e a sombra da morte. Tal serviço marcado pelo sacrifício pessoal dá forças á igreja. Ouando esta fecha os ouvidos a chamados macedônicos, a fraqueza espiritual se instala. O chamado poclc não ser expresso pelo que tem a necessidade, pois talvez não tenha consciência de sua destituição espiritual. Mas sua necessidade é um forte apelo ao cristão, que deve se apressar, como Paulo, para resgatar aqueles que ainda não perceberam que estão perdidos. |
At.16:10 | 10. Imediatamente. Por causa da urgência do chamado, Paulo fez preparativos imediatos para entrar na Macedônia. Tendosido impedido de pregar anteriormente, sem dúvida, estava mais ávido do que nunca por contar aos outros sobre Cristo.Procuramos. Este é o início do primeiro trecho de Atos na primeira pessoa do plural (v. 10-17). Os outros ocorrem em Atos 20:5 a 21:18; e 27:1 a 28:16. A maior parte deles fala de viagens, c infere-se que o autor foi um companheiro de viagem de Paulo nessas ocasiões (ver vol. 5, p. 727). Ouando uma narrativa é feita em terceira pessoa e a primeira pessoa é introduzida de repente, subentende- se, com toda clareza, que o autor passou a fazer parte dos eventos registrados. A maioria dos comentaristas conclui que Lucas, o autor de Atos (ver introdução), uniu-se ao grupo dc missionários em Trôade, não que escreveu artificialmente do ponto de vista de Silas ou Timóteo. Uma vez que Lucas não menciona a própria conversão, é razoável supor que esta ocorreu algum tempo antes cie participar do trabalho missionário cm Trôade. Como ele sc inclui na frase “Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho’’, Lucas também deve ser contado como um dos evangelistas.“Procuramos" também pode ter o sentido de “buscamos”. Essa procura seria do caminho e dos meios de atravessar o mar Egeu para chegar à Europa.Partir. Litcralmentc, "sair” da Asia para a Macedônia, que, até o momento, era desconhecida aos missionários. E importante notar, porém, que a distinção entre a Asia e a Europa não existia nos dias dc Paulo. A mesma cultura grega abrangia as duas regiões e provia um pano de fundo comum.Concluindo. Do gr. smnbibazõ (ver com. de At 9:22). Neste caso, sumbibazõ pode ser traduzido por “concluir”. Os evangelistas usaram a razão santificada para ajudá-los a decidir qual era a vontade dc Deus para eles. |
At.16:11 | 11. Navegado. () termo original tem associações náuticas, referindo-se à liberação dos cabos que seguram o navio noancoradouro (ver mais evidências do conhecimento náutico de Lucas na Nota Ad icional a Atos 27).Seguimos em direitura. Do gr.euthudromeõ, "percorrer um caminho reto’ e, como termo náutico, "correr à frente do vento". O fato de seguirem "em direitura" subentende que Paulo e seus companheiros contaram com o vento a seu favor. A corrente deveria estar contra eles, pois corre ao sul do Helesponto e a leste, entre a Samotrácia e o continente. A viagem de I rôade a Filipos, cerca de 200 km, demorava cinco dias (At 20:6).Samotrácia. Ilha que fica ao norte do 0 mar Lgeu, em frente à costa da Lrácia, no meio do caminho entre Trôade e o porto de Neápolis. E provável que eles tenham passado cada noite em um porto, conforme o costume da época.Neápolis. O nome, que significa “cidade nova", era muito comum em todas as regiões de fala grega. Ele permanece cm dois exemplos notáveis: Nápoles, na Itália e Nablus, na Palestina. A cidade em questão ficava na Trácia, mas servia como porto para Filipos, que se localizava cerca de 16 km a noroeste. Neápolis tem sido identificada com a atual Kavallu, onde há um aqueduto e colunas romanas, além de inscrições em «rego e latim testemunhando da importância da cidade, hoje em ruínas. Era o ponto final a leste da via Egnatia, a grande estrada que ligava o mar Egeu ao Adriático.E dali. E m Neápolis, eles provavelmente saíram do navio e seguiram por terra para seu objetivo imediato, Filipos.Filipos. Originalmente conhecida como Krenides, “lugar de pequenas fontes", a cidade foi reconstruída por Filipe da Macedônia (359-336 a.C.), pai de Alexandre, o Grande, e nomeada em sua homenagem. Entre Neápolis e Filipe ficava urna cordilheira, na qual havia ricas minas de ouro e prata.Primeira do distrito. Esta expressão traz consigo algumas dificuldades. Fil ipos não era a primeira cidade de nenhuma das quatro subdivisões da província da Macedônia (ver com. do v. 9). Estas, por sua vez, eram Anfípolis, Tessalônica, Pela e Pelagônia. No entanto, não há artigo deiinido no grego, portanto é possível que Lucas simplesmente quisesse dizer que era a principal cidade daquela área, não a capital oficial. O adjetivo prõlos, traduzido por “primeira”, é encontrado com frequência em moedas de cidades que não eram capitais. Também pode ser que ele tenha usado a palavra meris, traduzida por “distrito", com o sentido de "fronteira”, e que se tratava da primeira cidade daquele distrito de fronteira, por ser a mais importante ou por ser a primeira aonde chegavam os viajantes vindos da Trácia. Esta era a localização precisa de Filipos, que consistia num entreposto romano guarnecido por tropas, por causa das incansáveis tribos da Trácia.Colônia. Filipos se transformou em colônia romana após a derrota de Brutos e Cássio por Otaviano e Antônio em 42 a.C. Após a batalha de Accio, em 31 a.C., este status se fortaleceu, e o título completo da cidade, conforme demonstram moedas encontradas na região, passou a ser Colônia Augusta Júlia Filipense. As colônias romanas se pareciam muito pouco com o conceito moderno de colônia. Tratava-se de uma porção de terras conquistadas que cra atribuída' a cidadãos romanos, em geral, soldados veteranos. Estes eram enviados sob a autoridade de Roma e marchavam até seu destino como um exército, a fim de reproduzir uma estrutura equivalente à vida social e civil romana. Essas colônias costumavam ficar em regiões de fronteira para fins de proteção e conferência do trabalho dos magistrados das províncias. O nome dos colonos permanecia na lista das tribos de Roma. Levavam consigo a língua latina e o sistema monetário romano. Com frequência, seusprincipais magistrados eram nomeados na cidade-mãe e desempenhavam sua função com independência em relação aos governadores da província onde a colônia se localizava. Por isso, as colônias eram ligadas a Roma. As vezes, eram descritas como os “baluartes do império" (Cícero, De Lege Agraria, ii.27.73; ed. Loeb, Speeches, vol. 3, p. 449) ou "espécie de miniaturas e, de certa forma, cópias" do povo de Roma (Aulus Gellius, Attic Nights, xvi.]3.9; ed. Loeb, vol. 3. p. 181). Portanto, o espírito de uma colônia era romano. Assim, nesta cidade ntacedônica, Paulo, um cidadão romano, entrou em contato direto com um exemplo vivido da organização romana imperial, Alguns dias. Ver com. de At 9:19. Neste caso, a expressão parece se referir a menos de uma semana, pois o sábado de Atos 16:13 deve ter sido o primeiro do grupo em Filipos. |
At.16:12 | Sem comentário para este versículo |
At.16:13 | 13. No sábado. Paulo, Silas, Timóteo e Lucas estavam numa cidade e numa terra estranhas. Já estavam ali havia alguns dias, mas, quando o sábado chegou, sentiram o desejo natural de congregar com seus conterrâneos judeus, com quem poderíam adorar e compartilhar as boas-novas da salvação (ver com. de At 13:14).Saímos da cidade. Ou, "fora do portão". E possível que eles tenham procurado uma sinagoga na cidade e, ao não encontrarem, foram em busca de um lugar temporário de adoração às margens do rio. Eles tam- A bénr podiam saber que a sinagoga ou o local de reunião ficava fora das portas da cidade.Para junto do rio. Do gr. para potaruon, "ao lado do rio , isto é, sem dúvida, às margens do ribeiro Gangites, que desaguava no rio Estrimom.Onde nos pareceu haver. Evidências textuais (cl. p. xvi) favorecem a variante: “onde deveria haver [um local de] oração” Lugar de oração. Do gr. proseuche, "oração", ou, como é mais provável neste caso, “lugar de oração" (ver 3 Macabeus 7:20;cf. com. de At 1:14; 16:16). Caso não houvesse sinagogas em Filipos, os poucos judeus podem ter definido um local de encontro às margens do rio, onde poderíam realizar suas purificações cerimoniais (cf. Ed 8:15, 21; SI 137:1). Juvenal (Sátiras, iii.13, 14; ed. Loeb, p. 33) destaca essa prática como um dos exemplos da decadência da antiga religião de Roma: "o manancial, o bosque e o lugar sagrado são deixados para os judeus". Uma aplicação relevante, é encontrada em outra parte do mesmo texto (ibid., 296; ed. Loeb, p. 55): "Diga-me, onde estás? Em qual local de oração [proseuche] posso te encontrar?” Tais lugares fechados ou oratórios costumavam ser circulares e sem teto. A prática de adorar em locais assim continuou até a época de Tertuliano, que laia de orações junto às águas (orationes litorales) dos judeus (Ad Nationes, i.13).Assentando-nos. Costume comum dos mestres judeus (ver vol. 5, p. 45, 46).Falamos. Ou, “começamos a falar". A forma do verbo grego sugere que os quatro apóstolos se dirigiram ao grupo.Mulheres que para ali tinham concorrido. Ou, "mulheres que haviam se reunido” ou "mulheres reunidas". Já se observou que o “varão macedônio” (v. 9) seria, na verdade, um grupo de mulheres judias devotas. .Alguns pregadores veríam nisso uma desculpa para negligenciar o chamado, mas Paulo e seus companheiros não se deixavam dissuadir facilmente de sua tarefa. O fato dc só haver mulheres reunidas naquele lugar de oração indica uma ausência quase que completa de homens judeus na população local. Esta seria a explicação para a provável ausência de uma sinagoga, já que só seria possível fundar uma com um mínimo de dez homens. Algumas das mulheres que os missionários encontraram poderíam ser prosélitas, como Lídia (ver com. do v. 14). Naturalmente, elas receberíam de bom grado os judeus estrangeiros que haviam chegado paradar instruções. Parece que, na Macedônia, as mulheres desfrutavam mais liberdade do que em outras regiões. |
At.16:14 | 14. Lídia. Nome feminino popular nos tempos romanos. Mas ela pode ter assumido o nome, assim como muitas escravas e mulheres libertas, em homenagem a seu país de origem, o antigo reino da Lídia, que havia se tornado uma colônia macedôníca.Vendedora de púrpura. Isto é, do tecido púrpura (ver com. de Lc 16:19). O fato de ela, e não seu marido, ser chamada de vendedora de púrpura sugere que Lídia administrava o próprio negócio e provavelmente era uma mulher de recursos.Tiatira. Cidade lídia na província da Asia. Foi fundada como colônia da Macedônia, em continuação à conquista da monarquia persa por Alexandre, o Grande. Seu nome inclusive faz parte das sete igrejas do Apocalipse (Ap 1:11; 2:18-29), Assim como muitas outras cidades da Ásia Menor, Tiatira era famosa por seu trabalho de tin- turaria, que competia com o encontrado em Tiro e Mileto. Inscrições encontradas na região revelam que na cidade havia uma associação de tingidores de púrpura, à qual Lídia pode ter pertencido.Temente a Deus. Ver com. de At 10:2.Escutava. Ou, "estava escutando", isto é, ouvindo por um período.O Senhor lhe abriu o coração. () Senhor havia chamado os evangelistas para pregar na Macedônia e eles não perderam tempo em cumprir a ordem. Então, o Senhor cooperou com seus esforços, abrindo o coração de um membro importante do público ouvinte. Lucas reconhece a necessidade de cooperação divina; ele sabe que a pregação é vã sem a atuação do Espírito no coração dc quem ouve.Para atender. Literalmente, "atender", "prestar atenção”. O Senhor abriu o coração de Lídia para que desse ouvidos à mensagem. O contexto revela que ela a aceitou. |
At.16:15 | 15. Ser batizada. Provavelmente, no rio ao lado de onde ficava o “lugar de oração" (ver com. de Mt 3:6; At 8:38). Não é neces- cg sário supor que o batismo tenha ocorrido naquele sábado. Na verdade, a expressão "estava ouvindo” (ver com. do v. 14) sugere tempo para instrução e que o batismo tenha ocorrido um período depois do primeiro encontro entre a mulher e o grupo de missionários. O fato de "sua casa” ser batizada não é prova da prática do batismo infantil pelos apóstolos. A “casa” de Lídia podia consistir de escravos e outros funcionários (ver com. de At 10:2; 16:32, 33). L possível que eles também fossem prosélitos (ver com. de At 10:2). Para eles, o judaísmo foi um "aio” que os conduziu a Cristo (ver G1 3:24). Talvez Evódia e Síntique, bem como as outras mulheres de Filipos que "se esforçaram” com Paulo “no evangelho” (ver com. dc Fp 4:2, 3), fizessem parte do grupo de "mulheres” do v. 13. Elas formaram a primeira igreja cristã fundada por Paulo na Europa. Por sua hospitalidade amorosa e lirrne adesão à fé, conquistaram um lugar especial nas afeições do apóstolo.Rogou. Do gr. parakaleõ, "suplicar” (ver com. do v. 9). O tempo verbal em grego sugere que ela continuou a rogar até que Paulo aceitou.Se julgais. A construção gramatical grega antecipa uma resposta afirmativa. Os pregadores haviam reconhecido a qualidade de sua fé e a batizaram. Se ela eslava pronta a participar do sagrado rito, não seria apta a recebê-los em sua casa?Aí ficai. Assim como os dois discípulos que seguiram a Jesus (Jo 1:37-39), Lídia estava ansiosa por passar mais tempo com os mestres cujas lições se mostraram tão úteis a seu coração aberto. L provável que os quatro missionários estivessem sc sustentando por meio do trabalho deles próprios: Paulo, produzindo tendas (ver com. de At 18:3; lTs 2:9; 2Ts 3:8; etc.) e Lucas,talvez como médico. Então, Lídia insistiu que fossem seus convidados.Constrangeu. Do gr. parabiazomai, "convencer à força", "constranger por suplicas". O "nos" sugere que a casa de Lucas não licava em Filipos, como alguns pensaram. |
At.16:16 | 16. Lugar de oração, livídências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante "para a oração". Portanto, pode ser interpretado “para o lugar de oração" (ver com. do v. 13). Trata-se de uma expressão comparável à atual “ir à igreja". O episódio relatado em seguida deve ter ocorrido num sábado, algum tempo depois do sábado mencionado no v. 13, após o batismo dos primeiros conversos (v. 15), e de a obra dos missionários se tornar conhecida pela cidade.Jovem. Do gr. paidiskê, urna jovem escrava.Espírito adivinhador. Evidências textuais (cl. p. xvi) favorecem a variante “espírito de Píton”. Na mitologia grega, acreditava-se que Píton era um dragão ou uma serpente que guardava o oráculo de Dellos e teria sido morta por Apoio, que passou a ser conhecido, a partir de então, como Apoio Pítio. Píton era adorada em Dellos como símbolo de sabedoria. Plutarco (morte c. 120 d.C.), ele próprio sacerdote de Apoio Pítio, diz. que o nome "Píton era dado àqueles que. por meio da prática do ventriloquismo, eram considerados possuidores dc poderes extraordinários (Sobre o Declínio dos Oráculos, 9). O falo de Lucas usar este adjetivo incomum sugere que era assim que o povo de Filipos chamava a moça, ou que ele próprio reconheceu em seus contorcio- nismos desenfreados e gritos estridentes uma semelhança com as técnicas das sacerdotisas em Delfos. Fica clara a crença da população local de que a escrava possuía habilidades sobrenaturais. Sem dúvida, seus gritos frenéticos eram considerados oráculos e aceitos como tais. Seus donos se aproveitavam da suposta inspiração da jovemc a faziam dar respostas àqueles que a procuravam.Adivinhando. Do gr. manteuomai, “adivinhar”, “proletizar”. O termo só é usado aqui no 1NT iNa LXX, a palavra sempre é usada para se reterir às palavras de profetas mentirosos (Dl 18:10; ISm 28:8; Lz 13:6; etc.). Neste caso, pode ser interpretada com o mesmo sentido: "fingir predizer o futuro’’.Grande lucro. Ver com. do v. 19.Seus senhores. Os homens que hav iam descoberto o estranho poder da moça e a exploravam para ganho pessoal. |
At.16:17 | 17. Seguindo. Do gr. katakoloulheõ, “ir atrás’’, "seguir de perto’’. A menina seguia os missionários de perto e não parava de clamar em voz alta (cf. v. 18; comparar com a divulgação que os espíritos imundos ou demônios fizeram de Jesus, em Lc 4:33-37; 8:26-36),Nós. A última ocorrência do pronome de primeira pessoa nesta parte da narrativa. Ele | só volta a ser usado em Atos 20:5, quando Paulo retorna para Filipos. Assim, parece provável que Lucas tenha permanecido em Filipos, talvez com o objetivo de espalhar o evangelho na região e tenha voltado a se unir aos apóstolos quando Paulo passou pela cidade em sua terceira viagem missionária. Isso significaria que Lucas passou cerca de sete anos em Filipos (ver p. 89, 90), embora, é claro, ele possa ter leito várias viagens pelas regiões vizinhas durante o período.Deus Altíssimo. Do gr. ha theos ho hup- sistos, literalmente, “o Deus o Altíssimo’. Para formar uma compreensão correta deste título, é necessário ter em mente o contexto em que foi usado e o sentido da palavra hupsis- tos. Trata-se de um termo poético que significa “mais alto” ou “mais elevado" e, com frequência, se refere à posição. Sua conotação religiosa pode ser relacionada à terminologia semítica. Os cananeus tinham um deus da abóbada celeste a quem chamavam de 'Elyon. “altíssimo". Esse título também era aplicado ¦ i Viliv,eii. o Deus dos judeus. E muito usadona LXX (Gn 14:18-22; Nm 24:16; Dt 32:8; 2Sm 22:14; etc.). O termo se tornou tão conhecido por meio das atividades missionárias dos judeus da diáspora que passou a ser usado em referência à div indade por pessoas que haviam absorvido alguns ensinos judaicos, sem aceitar por completo sua religião. Inscrições do reino do Bósforo, ao norte do Mar Negro, feitas no primeiro século d.C., portanto, contemporâneas de Paulo, dão amplo testemunho do uso de hnpsistos neste sentido.Neste caso, o título hupsistos foi proferido pela jovem escrava. Como o registro conta que ela possuía um “espírito de Píton" (ver com. de At 16:16), suas palavras precisam ser interpretadas, levando-se em conta seus antecedentes pagãos. Portanto, ao talar do “Deus Altíssimo ’, ela provavelmente se referia ao conceito pagão comum de uma divindade vaga que deveria presidir sobre todo o panteão grego conhecido. Mesmo assim, suas palavras expressavam uma grande verdade. Os cristãos a quem ela seguia eram servos verdadeiros do único c altíssimo Deus (sobre exemplos semelhantes, comparar com Mc 1:24; 5:7).Caminho da salvação. Ver com. de jo 14:6; At 4:12. Jesus Cristo é revelado nessas e em outras passagens como o único caminho [tara a salvação. A mente obscurecida da moça ansiava por uma parte no “caminho da salvação", mas o demônio dentro dela desafiava esse "caminho”, e suas palavras estorvavam a obra dos missionários. |
At.16:18 | 18. Muitos dias. Isto é, em sábados sucessivos, quando Paulo e seu grupo voltavam ao local de oração; ou ela começou a laia em um sábado (ver v. 16) e continuou em todas as oportunidades, dia após dia.Já indignado. Ver com. de At 4:2. Há um limite para o cristão suportar passivamente o impedimento da obra do Senhor.Ao espírito. Paulo identifica o agente por trás das adivinhações (v. 16) da menina (ver Nota Adicional a Marcos 1).Em nome. Ver com. de At 3:6, 16.Eu te mando. Nesta ocasião, Paulo seguiu o exemplo de seu Mestre com os endemoniados de Gadara (ver Lc 8:29; ver com. de Mc 5:7).Saiu. Em cumprimento à promessa do Mestre (Mc 16:17). O espírito maligno não foi capaz de resistir à ordem; sua obediência foi imediata (cf. Mc 9:26; ver com. de Mt 15:28; Mc 1:31; Jo 4:53). Essa é a última informação do relato sobre a jovem, mas não podemos pensar que ela foi deixada à mercê da ignorância, descrença ou de algo até pior mais uma vez. Ê plausível pensar que ela se tornou cristã (AA, 213) e encontrou abrigo em meio às mulheres que “se esforçaram" com o apóstolo (Fp 4:3). |
At.16:19 | 19. Que se lhes desfizera. A ocorrência do mesmo verbo grego usado no versículo anterior para “saiu’’ enfatiza que, nos 2 dois casos, foi a mesma ação. Tanto o negócio dos homens quanto o espírito de adivinhação haviam ido embora.Lucro. Do gr. ergasia (ver com. de At 19:24, 25). As pessoas conseguiam tolerar religiões estranhas e especulações de filósofos, mas eram incitadas à violência por qualquer coisa que ameaçasse seus negócios (ver com. de At 19:23-28). dais circunstâncias deviam fazer parte do motivo para muitas das perseguições à igreja.Paulo e Silas. Os dois membros mais preeminentes do grupo dc missionários e ambos judeus (cf. v. 20). É possível que Lucas e Timóteo tenham escapado graças à aparência gentílica deles (ver vol. 5, p. 728, v. 1).Arrastaram. Do gr, helkõ, "arrastar |à torça]’’. O termo também é usado em Atos 21:30; e Tiago 2:6.Praça. Do gr. agora (ver com. de Mt 11:16). Correspondia ao fórum romano e era o centro não só da vida social e comercial, como também da execução da justiça.Autoridades. Do gr. archontes, "comandantes", “chcles”, “governantes’’ e, de modogeral, "autoridades”. Membros particulares deste grupo são designados no versículo seguinte. |
At.16:20 | 20. Pretores. Do gr. stratégoi, “comandantes cívicos” ou “governadores”. O título romano para tais oficiais era dimmviri ou fmelorês. Eram os principais magistrados civis em uma colônia romana. Costumava haver dois pretores. Eles tinham o poder para infligir uma pena sobre os ofensores. Inscrições de Filipos mostram que o povo da cidade usava incorretamente o termo stmtêgoi para se referir aos chtumviri. Isso acaba confirmando a exatidão de Lucas ao usar o termo aqui.Sendo judeus. A situação é característica de muitas das primeiras perseguições que os cristãos sofreram. Eram expostos à inimizade dos judeus, mas. ao mesmo tempo, identificados como judeus pelos pagãos. Logo, sofriam duas vezes, tanto por serem cristãos quanto por serem judeus. Caso o imperador Cláudio já tivesse decretado a expulsão dos judeus da cidade de Roma (ver com. de Al 18:2; ver p. 86), sem dúvida seu edito seria conhecido na colônia romana de Filipos (ver com. de At 16:12, 13), intensificando esta acusação.Perturbam. Do gr. ektamssõ, uma forma intensiva do verbo traduzido por “ficaram agitadas'' (At 17:8). O tipo de problema e perturbação é sugerido em Atos 17:6, em que os missionários cristãos são acusados de ter “transtornado o mundo”. |
At.16:21 | 21. Propagando. Ou, ‘'declarar”, "proclamar".Costumes. As acusações dos donos da escrava não se referem somente à pregação ele Paulo, mas aos hábitos sociais e cerimoniais dos judeus, os quais acreditavam que o apóstolo defendia (ver com. de At 15:1).Não podemos receber. Os judeus tinham permissão de seguir a própria religião, mas eram proibidos de transformar cidadãos romanos em prosélitos.Somos romanos. O povo de Filipos, por habitar numa colônia, tinha direito à cidadania romana, título que os habitantes de cidades gregas, como Tessalônica ou Corinto, não podiam reivindicar (ver p. 81, 82; ver com. do v. 12). |
At.16:22 | 22. Levantou-se a multidão. Em simpatia pelos homens cujos lucros foram ameaçados pela cura da jovem escrava.Rasgando-lhes as vestes. Isto é, rasgaram as vestes de Paulo e Silas, preparando- os para o açoitamento que viría em seguida.Açoitá-los. Do gr. rhabdizõ, “bater com a vara", de rhabdos, ‘Vara”, em referencia a uma forma romana de castigo. Os stmtêgoi (ver com. do v. 20) tinham assistentes oficiais, conhecidos como lictores, os quais carregavam feixes de vara como símbolo de seu ofício. Tais varas foram usadas para açoitar os missionários. E possível que Lucas tenha visto o cruel castigo ser administrado. Paulo suportou um sofrimento semelhante em outras duas ocasiões (ver 2Co 11:25). Surge a pergunta: por que ele não reivindicou a dispensa de um castigo tão doloroso e degradante com base em sua cidadania romana, como fez mais tarde em Jerusalém (At 22:25)7 Alguns questionam a veracidade de seu status de cidadão. Outros sugerem que ele só conseguiría dispensa para si, deixando Silas sofrer o castigo do qual ele escaparia. Mas é provável que Silas também fosse cidadão romano (ver com. dc At 16:37). Talvez a violência da turba fosse tamanha que tenha tornado impossível ouvir seus argumentos (ver com. do v. 37). |
At.16:23 | 23. Darem muitos açoites. Os judeus limitavam o castigo a 39 chibatadas (ver com. de Dt 25:3; 2Co 11:24), mas a prática romana dependia da decisão do oficial local. Paulo fala que cie e Silas foram “maltratados e ultrajados” em Filipos (iTs 2:2).No cárcere. A prisão impediría os dois cristãos de continuar a ensinar. O v. 35 sugere que as autoridades tinham a intençãode mantê-los no cárcere durante a noite e depois lazê-los voltar à cidade.Carcereiro. Do gr. desmophulax, literalmente, "responsável pela prisão'"; não era alguém responsável apenas por trancar as portas, mas, sim, um oficial, possivelmente um ex-soldado. |
At.16:24 | 24. Cárcere interior. Era comum que as prisões romanas tivessem uma seção externa e interna. Na primeira, ficava a sala da guarda, onde entravam luz c ar. Depois dela, se localizava o cárcere interior, onde a porta era fechada, deixando para tora a luz e o ar. As condições dentro dessa cela eram horrendas, infligindo um castigo terrível sobre o prisioneiro.Tronco. Do gr. xulon, “madeira' , “tora”. No N E, xulon também se refere a “árvore'’ (Lc 23:31; Ap 2:7; 22:2, 14), a artigos feitos de árvore, como “forca" ou “cruz” (At 5:30; 10:39; 13:29; G1 3:13; IPe 2:24) e a "varas" e “porretes” (Mt 26:47; etc.). Neste caso, a palavra se refere ao tronco, um instrumento de tortura. Era uma estrutura de madeira com buracos nos quais a cabeça, os pés e as mãos do prisioneiro eram colocados, deixando-o numa posição de extremo desconforto. É possível que tal castigo já los.se conhecido desde um período bem anterior no Oriente (jó 13:27; 33:11). No caso de Paulo e Silas, somente os pés foram presos e o restante do corpo ficou jogado no chão, uma posição dolorosa para homens tão castigados como os apóstolos. |
At.16:25 | 25. Meia-noite. Uma vez que dormir eslava fora cie cogitação, Paulo c Silas passaram a noite em devoção.Oravam e cantavam louvores. Ou, “orando, cantavam louvores”, pois o grego exprime um ato contínuo, em vez de dois. O hábito consolidado de devoção dos missionários superou a mais desanimadora das circunstâncias. Mesmo dentro de uma masmorra e acorrentados, sem condições de ,se ajoelhar e orar, eles continuaram a louvarao Senhor. O hino podia ser um dos salmos de oração. Contudo, a despeito do que cantassem, as palavras de Tertúlia no são verdadeiras: “Embora esteja o corpo acorrentado e a carne confinada, todas as coisas estão abertas ao espírito [,..J A perna não sente as correntes quando a mente se encontra nos Céus” (Ad Martyras, 2; ANF, vol. 3, p. 694).A Deus. Eles eram servos do Deus Altíssimo, estavam sofrendo em nome d Ele e louvavam Seu santo nome com sinceridade.O Senhor, por sua vez, lhes dava conforto e torça de maneira incompreensível àqueles que não O serviam.Escutavam. Ou, "ouviam". Havia outros ocupantes no cárcere interior, excluídos e criminosos que nunca antes tinham ouvido tais sons num lugar onde costumavam ecoar xingamentos vis e eseárnios de baixo calão. |
At.16:26 | 26. Tamanho terremoto. Um indício da intervenção divina (cf. Mt 28:2; Ap 16:18; ver com. de At 4:31), pois anjos foram livrar os fiéis servos de Deus (AA, 215). As consequências deste tremor não se restringiram à prisão, mas se fizeram sentir por toda a cidade, preparando a mente dos pretores e da população para quando soubessem da ligação entre o terremoto e os prisioneiros cristãos.Abriram-se todas as portas. A gravidade do terremoto foi suficiente para justificar esta consequência. Os alicerces da prisão (oram abalados e as portas devem ter sido destrancadas (ver com. de At 5:19; 12:10).Cadeias. Ou, “grilhões”. Os prisioneiros eram atados por correntes que ficavam presas às paredes. A violência do terremoto foi suficiente para soltar as cadeias e libertar os presos. O livramento também pode ter sido operado por anjos (AA, 215), embora eles não sejam mencionados como em Atos 5:19 c 12:7. |
At.16:27 | 27. Carcereiro. Ver com. do v. 23.Despertou. Eoi desperto do sono peloterremoto. Ele deveria dormir onde conseguia bver se as portas da prisão estavam fechadas, ou correr para ver se os prisioneiros haviam fugido por causa do terremoto.Ia suicidar-se. Ou, “estava prestes a se matar ". O carcereiro sabia que, de acordo com a lei romana, eJc precisaria responder com a própria vida se os prisioneiros fugissem (ver com. de At 12:19). Diante de tais circunstâncias, o suicídio parecia preferível. Algumas das maiores mentes do mundo pagão achavam que o suicídio por uma causa como esta era justificável e até mesmo louvável. |
At.16:28 | 28. Paulo bradou. Da escuridão do cárcere interior, o apóstolo conseguia ver a silhueta do carcereiro contra a luz exterior. Ele percebeu a intenção do homem tomado pelo terror, entendeu a conclusão a que o carcereiro chegara e sentiu o desejo de impedir o suicídio. Mesmo em meio a um sofrimento pessoal considerável, Paulo pensou na salvação cie outra pessoa. Ele não desejava que nem mesmo o homem que o mantinha naquela prisão abominável perecesse em desespero.Não te faças nenhum mal [...]! O somda voz de Paulo toi suficiente para deter o carcereiro. Pelo menos um de seus prisioneiros não fugira! A mensagem do apóstolo foi ainda mais confortante: ninguém estava ausente. A possibilidade de fuga não ocorrera aos outros prisioneiros. Eles também permaneceram, perante o exemplo de calma dado por Paulo. |
At.16:29 | 29. Uma luz. Ou, "luzes ", provavelmente (tara poder contar os prisioneiros.Entrou precipitadamente. Ou, “entrou correndo ”.Trêmulo. Literalmente, "ficou aterrorizado". A rápida sucessão de acontecimentos extraordinários abalou sua dureza profissional, enchendo-o de temor.Prostrou-se. Talvez ele tivesse ouvido o tributo da jovem escrava, dizendo que os dois eram servos do Deus Altíssimo (v. 17).Ele sabia, pelas instruções que recebera (v. 23), que aqueles dois eram prisioneiros incomuns. Sendo que não haviam fugido, provavelmente o carcereiro pensasse que fossem mais do que homens. |
At.16:30 | 30. Trazendo-os para fora. Fora do cárcere interior escuro e longe dos outros prisioneiros. Isso era admissível, a despeito da ordem que recebera (v. 231, pois Paulo e Silas já haviam demonstrado que não tinham intenção de escapar.Senhores. Do gr. hurioi, um título de respeito. Kurios (singular) geralmente é traduzido por “senhor” e é a mesma palavra que Paulo e Silas usam para se referir a Cristo no v. 31 (ver com. de At 9:5).Que devo fazer (...]? É improvável que o carcereiro entendesse a própria pergunta, e se deve cuidar para não acrescentar um significado atual a suas palavras. Mas, sob a influência do Espírito Santo, sobreveio uma grande sensação de necessidade espiritual e, junto com todos os outros temores, ele temia se encontrar na presença de um Deus justo. O medo de consequências terrenas abriram caminho para o temor das consequências eternas. Quando a mente se encontra tomada pelo temor, ela não separa os medos em categorias. Mas o medo que exigia uma certeza de segurança presente também despertou o desejo por salvação tina! (comparar esta pergunta com a de Paulo na estrada de Damasco, At 9:6). Mal sabia o carcereiro pagão o quanto sua dúvida seria eficaz em conduzir incontáveis outros seres humanos ao encontro da vida eterna! |
At.16:31 | 31. Responderam-lhe. O apelo se dirigiu aos dois missionários e eles se uniram ao dar uma resposta.Crê. As circunstâncias não permitiam uma discussão teológica profunda. O homem cheio de temor precisava de orientações sucintas para a salvação. Sua situação pode se comparar à do ladrão na cruz (ver com. de Lc 23:39-43). Os prisioneiroscristãos ministraram à necessidade urgente do carcereiro. Eles sintetizaram os ensinos cristãos numa fórmula simples que o homem aflito pudesse compreender. Ela não representava a totalidade de seus ensinamentos. No momento, porém, eles lhe impressionaram a mente com a verdade de que a salvação depende da crença pessoal na vida e obra redentora de Jesus (sobre a importância da crença nos ensinos cristãos, ver com. de Mt 9:28; Jo 1:7, 12; 3:18; At 10:43).Senhor Jesus Cristo (ARC). Evidências textuais (cf, p. xvi) apoiam a omissão da palavra "Cristo”, conforme a versão da ARA.Serás salvo. Observe a certeza da resposta, sem dúvida, nem oscilação, mas com contiança garantida. O apóstolo e seu companheiro sabiam que a fórmula era verdadeira. Eles desfrutaram a salvação por meio da crença no Senhor Jesus e estavam aptos a garantir a outro pecador que ele também poderia encontrar a redenção por meio da lé. A promessa se estendeu à "casa” do carcereiro, isto é, aos membros de sua família que cressem em Cristo. |
At.16:32 | 32. E lhe pregaram. Depois de dar uma resposta curta, de só uma frase, à dúvida urgente do carcereiro, eles passaram a explicar a mensagem cristã em mais detalhes (ver com. de At 8:5, 12; 10:36-38).Sua casa. O carcereiro não se conteve em garantir apenas a própria salvação; ele queria que outros desfrutassem o dom divino. Por isso, cooperou com os servos de Deus e reuniu os membros de sua casa, a fim de que todos pudessem aprender o caminho da vida. Que congregação incomum e que local de reunião estranho, mas quão benditos os resultados! |
At.16:33 | 33. Cuidando deles. Assim que a convicção tomou conta do carcereiro, ele deu evidências da mudança em seu coração. O embrutecido oficial pagão se tornara um cristão empático, preocupado como bem-estar dos evangelistas sofredores. Ele não tinha autoridade para libertar os prisioneiros, mas fez o que pôde para minimizar a dor dos dois, lavando-lhes as costas dilaceradas. Tal ministração de cuidado consistia numa prova prática de sua conversão.A seguir. Tempo nenhum foi perdido. Entre a meia-noite e o amanhecer (v. 25, 35), a prisão fora abalada, os prisioneiros foram libertos, a pergunta vital fora feita, a resposta dada, a conversão aconteceu e o batismo veio em seguida.Foi ele batizado. Fica claro que a instrução dada por Paulo e Silas foi completa e aceita de coração pela casa do carcereiro, levando-os a desejar e receber o batismo. Aquele que acabara de lavar as feridas dos prisioneiros era, agora, junto com seus queridos, lavado e limpo das manchas do pecado. Esse ministério recíproco é típico da genuína comunhão cristã. Não é absurdo supor que a prisão tivesse um tanque ou uma cisterna onde seria possível realizar o batismo por imersão (ver com. de Mt 3:6). |
At.16:34 | 34. Para a sua própria casa. O recérn- converso manifestou ponderada hospitalidade. Ele tirou os missionários da prisão e os levou para o conforto de sua casa.Pôs a mesa. Expressão grega comum para oferecer uma refeição. E provável que Paulo e Silas estivessem sem comer desde a manhã anterior, e o alimento seria mais do que bem-vindo após a provação pela qual haviam passado. Mas o primeiro pensamento deles fora nas necessidades espirituais do pagão; as próprias vontades físicas ficaram em segundo lugar.Manifestou grande alegria. Do gr. agalliaõ, “regozijar-se [intensamentej”, uma expressão de alegria extraordinária. A expressão “com todos os seus” pode ser relacionada ao pensamento de alegria, crença ou ambos, isto é, toda a casa se alegrou e creu.Terem crido em Deus. As pessoas creram de todo coração e por completo, de umavez por todas. Com alegria quase inexprimível ansiavam pela nova vida com Cristo.Este capítulo apresenta um retrato vivido do início da obra cristã na Europa. As conversões registradas toram comoventes c bem variadas. Houve Lídia, uma imigrante da Asia, que parecia ser uma mulher rica e reti- nacla. Também é provável que tenha incluído a jovem escrava, que foi liberta da possessão demoníaca (ver com. do v. 18). Então lemos o registro da conversão de um carcereiro pagão e, sem dúvida, cidadão romano, um tipo severo e duro, que seria considerado menos propenso a aceitar a mensagem. Nesse grupo misto de conversos, encontrava-se a promessa dos triunfos futuros do evangelho no continente europeu. |
At.16:35 | 35. Pretores. Ver com. do v. 20.Oficiais de justiça. Do gr. rhabdou-ckoi, “carregadores dc varas’, isto é, os oficiais romanos conhecidos como lictores (ver com. do v. 22). Talvez íossem os mesmos que haviam desferido os açoites.Põe aqueles homens em liberdade. Não é dada nenhuma explicação para a ordem. Os pretores devem ter considerado o castigo suficiente, ou sentido que agiram apressadamente ao punir os acusados, sem lazer um julgamento regular ou uma pesquisa de seus antecedentes. E provável que o terremoto os tenha alarmado. O Espírito Santo também pode ter despertado neles a inquietação de ter feito algo errado. De todo modo, quiseram libertar os prisioneiros o quanto antes e da forma mais secreta possível. |
At.16:36 | 36. O carcereiro. Ver com. do v. 23.Comunicou a Paulo. Sem dúvida, ocarcereiro chegou cheio de alegria, esperando que Paulo e Silas se aproveitassem imediatamente da ordem de soltura.Fôsseis postos em liberdade. Ou, "saindo, partam", isto é, das dependências da prisão.Em paz. Provavelmente seja uma expressão convencional, mas pode ter um sentidoa mais, advindo da luz encontrada na nova fé do carcereiro. |
At.16:37 | 37. Paulo, porém, lhes replicou. Isto é, dirigiu a palavra aos enviados dos pretores. A resposta contém uma acusação con- V cisa da injustiça feita pelos magistrados, pois cada palavra é judicialmente significativa.Sem ter havido processo formal. Ou, “sem julgamento”. Não houve um julgamento formal. A multidão arrastara os missionários até os pretores, mas eles não tiveram oportunidade de se defender (v. 22). Punição sumária foi executada sobre os prisioneiros, antes mesmo de serem considerados culpados.Açoitaram publicamente. Sem dúvida, foram amarrados ao palus, o tronco onde eram executados os açoitamentos públicos, à vista do povo da cidade. Segundo Lex Valéria, 509 a.Cl, e Lex Porcia, 248 a.Cl., os cidadãos romanos estavam isentos de castigos degradantes como o açoítamento. Uma das acusações mais graves que Cícero tez contra Verres, governador da Sicília, foi ter infringido esta lei (Conlra Verres, v.66.170, ed. Loeb, Ver tine Orations, vol. 2, p. 655). Com frequência, a declaração "sou cidadão romano’ funcionava como um encantamento para deter a violência injusta dos pretores provincianos.Sendo nós cidadãos romanos. Os donos da escrava haviam baseado seu raciocínio numa declaração semelhante (v. 21). Aqui Paulo inclui Silas como cidadão romano.A falsa declaração de cidadania romana era uma ofensa passível de morte. O desafio que Paulo lançou às autoridades civis só podería ser feito por um cristão consagrado, guiado pelo Espírito. O método do apóstolo não sanciona uma detesa agressiva por parte de cristãos acusados.Venham eles. Os magistrados cometeram um erro grosseiro ao castigar em público pessoas que não haviam sido condenadas pela justiça. Paulo insistiu que eles reparassem pessoal mente a injustiça. Ao fazê-lo, é possível que seu objetivo lossegarantir um tratamento melhor para os conversos 1 ilipcnses, uma vez que muitos deles deveriam ser cidadãos romanos. Não era a honra de Paulo que estava em jogo, mas, sim, a do evangelho. |
At.16:38 | 38. Estes ficaram possuídos de temor. E com razão, pois a punição errada a um cidadão romano poderia levar à remoção dos pretores, humilhação e impossibilidade de ocupar outras posições de responsabilidade. Isso explica os esforços mais do que solícitos para encontrar uma solução silenciosa para o apuro em que se encontravam. Alegar ignorância quanto à cidadania das vítimas não seria uma defesa suficiente para suas ações ilegais. Sua única esperança seria persuadir Paulo e Silas a aceitarem um acordo discreto pela injustiça que lhes fora feita. Pouco sabiam sobre o caráter altruísta dos homens a quem haviam maltratado com tanta violência. |
At.16:39 | 39. E lhes pediram desculpas. Do gr. parakaleõ, “rogar" (ver com. do v. 9). A tradução da ARA acrescenta um significado objetivo.Relaxando-lhes a prisão. No esforço de fazer as pazes, eles foram libertar Paulo e Silas da prisão pessoalmente.Rogaram. Do gr. erõiaõ, “pedir", “questionar", mas também usado no sentido de implorar, suplicar. A lorma do verbo sugere que os magistrados continuaram a pedir aos evangelistas que partissem de Filipos em silêncio. |
At.16:40 | "40. Tendo-se retirado. Depois de alcançarem o propósito de mostrar aos magistrados o erro sério que haviam cometido e vindicar o evangelho em público, os missionários demonstraram magnanimidade exemplar. Não fizeram nenhuma exigência embaraçosa, para benelício pessoal; em vez disso, cederam sem alarde ao pedido dos oliciais.Para a casa de Lídia. Parece que a casa de Lídia era o local de reunião dos irmãos, bem como o local onde os missionários se hospedavam. E provável que tenham ficado com ela até estarem prontos para viajar mais longe.Irmãos. O grupo de irmãos incluía a casa de Lídia e a do carcereiro.Confortaram. Ou, “exortaram"". Em meio ao sofrimento e à convalescência, a principal preocupação dos missionários continuava a ser com os cristãos que haviam levado para a igreja.Partiram. Uma vez que a narrativa termina em terceira pessoa, fica claro que Lucas permaneceu em Filipos. Não há menção específica ao que Timóteo tez. É possível que cie tenha ficado com Lucas, pois só é mencionado em Atos 17:14, quando é visto cm Bereia junto com Silas. Por outro lado, pode ser que tenha acompanhado Paulo e Silas nas viagens seguintes.Lucas entra cm cena novamente em Atos 20:5, iniciando o segundo trecho em primeira pessoa do plural (ver com. de At 16:10).E provável que cie tenha permanecido nas redondezas de Filipos (At 20:6) até Paulo passar de novo pela Macedônia durante sua terceira viagem missionária. Portanto, 7 os dois obreiros cristãos licaram separados por cerca de seis anos (ver p. 89, 90). Podemos crer que Lucas usou esses anos para espalhar o evangelho na carente região macedônica e tenha provido uma forte liderança para a igreja de Filipos. A qualidade moral da igreja iilipense era indiscutível, julgando pela carta que Paulo escreveu a seus membros. Com certeza, a igreja era grata pelo ministério do apóstolo e fazia seu melhor para recompensá-lo com atos de hospitalidade (Fp 4:14-18; e, possivelmente, 2Co 11:9).A narrativa cie Lucas em Atos 16:6 a 8 dá origem a dois problemas relacionados entre si. O primeiro diz respeito à rota de Paulo pela região central da Ásia Menor e o segundo está ligado à identidade das igrejas da Galácia. O estudo desses dois questionamentos resultou na criação das teorias do norte e do sul da Galácia. Sir William Ramsay, o principal defensor da teoria meridional, diz que a epístola de Paulo aos gaiatas se dirigia às igrejas fundadas no sul da Galácia durante a primeira viagem missionária. J. B. Lightíoot, Kirsopp Lake e outros acreditam que a carta foi escrita para as igrejas que surgiram como fruto do ministério de Paulo no norte da Galácia durante a segunda viagem missionária, conforme o registro dos v. 6 a 8. Não é possível encontrar uma resposta definitiva para esses problemas, mas é possível obter uma compreensão mais clara das questões envolvidas ao se considerar certas expressões-chaves da passagem:1. A região jrígio-gãlala (v. 6), do gr. phrugia kai galatíkê chora. O sentido desta expressão já foi alvo de muito debate, e visões divergentes continuam a ser defendidas pelos eruditos. Contudo, o peso das evidências contextuais e gramaticais parece sugerir que Lucas estava se referindo a dois distritos ligados: a Frigia e uma área mais indefinida habitada pelos gaiatas. A história da Frigia remonta ao segundo milênio a.C., quando invasores frí- gios desceram dos Bálcãs, dominaram urna parte do povo heteu no oeste da Asia Menor e estabeleceram o próprio distrito étnico. Cerca de mil anos depois, em 278 a.C., os gaule- ses invadiram a Asia Menor a partir do norte, destruíram o que restava da Frigia e lançaram as bases do que passou a ser conhecido posteriormente como Galácia (ver com. do v. 6). Na época de Lucas, a província romana da Galácia se estendia pela região central da Asia Menor na direção norte-sul, incluindo áreas que não correspondiam à Galácia no sentido original do termo. O fato de Lucas não se referir a essa divisão política pode ser inferido pelo uso da palavra chora, clc sentido mais genérico, para denotar “terra"", “país"" ou “região"". Não era, portanto, um termo técnico usado para definir áreas políticas específicas. Portanto, parece provável que, depois de visitar Derbe, Listra, icônio e outras cidades da Licaônia (At 16:1-4; d. 14:6: ver mapa, p. 429), Paulo e seu grupo se dirigiram para o oeste, rumo à Frigia, e para o norte, rumo à região conhecida localmente como Galácia. Lm ambas, pregaram as boas-novas a habitantes pagãos, fundando grupos de crentes que se transformaram nas igrejas gaiatas (AA, 207, 208: ver mapa, p. 19).
2. Asia. Há várias interpretações para este termo, Mas, no contexto, elas podem ser reduzidas a duas: (La província romana da Asia, que abrangia o extremo oeste da península da Asia Menor; e (2) a região litorânea dessa província, margeando as praias orientais do mar Egeu, onde licavarn cidades gregas como Êteso, Esmirna, Pcrgamo e Laodiceia (c(. Ap 1—3). Na tentativa de decidir qual das duas é a proposta por Lucas, depara-se com uma questão gramatical na narrativa que precisa ficar clara. E possível que a construção grega em Atos 16:6 sugira que Paulo e seus companheiros foram pregar na região Irígio-gálata porque haviam sido impedidos de pregar na Asia pelo Espírito (ver com. do v. 6). Tal interpretação situa a proibição depois que deixaram a área das cidades nas quais já haviam fundado igrejas, subentendendo que a Galácia se referiría a uma região diferente. Segundo essa interpretação, eles teriam o plano dc passar da região onde haviam trabalhado antes para a Asia. Nesse caso, ""Asia"" podería se relerir à província, uma vez que sua fronteira ficava perto das cidades que haviam acabado de visitar (v. 1, 2, 4). A objeção dc que, cm seguida, elespassaram pela província da Asia ao ir a Trôade (v. 8) pode ser desfeita ao se perceber que a orientação do Espírito impediu a pregação da palavra na região (v. 6), mas não os proibiu de passar por ali. Em contrapartida, Laodiceia, a mais oriental das cidades gregas, também estava próxima dos viajantes (ver mapa, p. 19) e pode ser que Paulo tivesse o plano de visitá-la. Parece que a limitação linguística fazia seu plano regular se concentrar em regiões de fala grega, em vez de tentar se lançar na tarefa de propagar o evangelho por meio de intérpretes em idiomas nos quais ele era incapaz de se comunicar. Além disso, qualquer que tenha sido sua rota exata, com certeza não passou por aquelas cidades gregas nessa ocasião. Portanto, a segunda alternativa é uma interpretação aceitável. Atos 2:9 e 10 favorece esta ideia, ao deixar claro que a Asia e a Frigia eram regiões separadas, ao passo que a província da Asia, sem dúvida, incluía parte da Frigia. Portanto, os evangelistas cumpriram a ordem divina passando pela fronteira oriental da província romana da Asia sem parar para pregar ou não entrando na região urbana grega densamente povoada que se espalhava rumo ao interior desde o mar Egeu.
3. Mísia (v. 7). Era o promontório no extremo noroeste da Asia Menor, que fazia tronteira com o Helesponto e com o mar de Mármara (Propontis) ao norte, e com o Egeu, a oeste. Ficava dentro dos limites da província da Asia. Lucas usa a expressão kata tên Musian, que pode ser traduzida por “em frente à Mísia’, mostrando que ele estava nas redondezas da Mísia, sem necessariamente ter entrado. Isso está em harmonia com a declaração de Paulo de que desejava ir à Bitínia, adjacente à Mísia, a leste. Parece que o grupo de cristãos saíra do oeste, da região I rígío-gálala, até perto da junção entre a Bitínia e a Mísia, com a intenção de evangelizar primeiramente a Bitínia. Mais uma vez, o Espírito interveio, a entrada na Bitínia loi proibida e o grupo se dirigiu ao oeste, passando perto da (ronleira sul da Mísia, entrando, por fim, no distrito, a caminho de Trôade, seu porto principal.É importante então concentrar a atenção no problema com a Galácia. Os que defendem a teoria do sul da Galácia acreditam que, durante a primeira viagem missionária, o trabalho de Paulo dentro e em torno das cidades de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe fundou igrejas que poderíam ser legítimamente chamadas de “gálatas”, uma vez. que todas se localizavam dentro das fronteiras da província romana da Galácia. Mas é difícil harmonizar tal teoria com a linguagem cuidadosa de Lucas. Ele fala de Antioquia da Pisídia (ver com. de At 13:14), não localiza Icônio dentro de nenhuma região política (Al 13:51; 14:1) e, especificamente, identifica Listra e Derbe como cidades licaônicas (At 14:6). Em nenhuma parte, ele relaciona qualquer dessas cidades à Galácia. Em contrapartida, ele faz menção específica à “Galácia' na segunda viagem missionária e parece distingui-la de todas as áreas mencionadas até então. Conforme já demonstrado, Paulo saiu da Licaônia e foi para a Frigia, um distrito distinto da Galácia (At 16:6; 18:23), embora os dois, possivelmente, tivessem uma ligação íntima. Logo, parece provável que as ""igrejas da Galácia” (Gl 1:2) sejam as fundadas pelo apóstolo depois de sair da Frigia e antes de chegar à fronteira da Bitínia e da Mísia. Alguns argumentam que a teoria do norte da Galácia estendería as viagens de Paulo aos distritos setentrionais da província da Galácia, em torno da capital Ancvra (atual Aneara). lal extensão é possível, mas não necessária. E razoável limitar o trabalho de Paulo a uma região logo ao sul da Bitínia, levando à adoção de uma versão modificada da teoria do norte da Galácia. A divergência dc opiniões em relação a este problema não é vital para a integridade do livro de Atos. Entretanto, é útil ter uma ideia tão clara quanto possível da localização das igrejas às quais Paulo escreveu a importante epístola aos Gálatas.aios 17:1Com a chegada do apóstolo a Trôade, a incerteza em relação a sua rota desaparece.A maior e mais frutífera parte da segunda viagem missionária estava à frente, e a Europa se encontrava prestes a receber o evangelho.Capítulo 17alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de |asom, procuravam trazê-los para o meio do povo.C- minante na cidade." |
At.17:1 | 1. Tendo passado por. Do gr. diodeuõ, "fazer o caminho", derivado de dia, “através", e hodos, “caminho". No NT, esse verbo grego só ocorre aqui e em Lucas 8:1. Seu uso é mais uma evidência da autoria comum dos dois livros.Anfípolis. Localizada cerca de 48 km a sudoeste de Filipos, esta cidade era conhecida como Ennea Hodoi (“Nove Estradas”), devido a sua posição estratégica. Sob o domínio dos romanos, Anfípolis se transformou na capital da primeira das quatro regiões em que a província da Macedônia foi dividida.Apolônia. Cerca de 48 km a sudoeste de Anfípolis. Não se sabe qual era o tamanho preciso da cidade. As duas cidades mencionadas podiam servir de paradas noturnas para os viajantes vindos de Filipos. Embora a distância de quase 50 km por dia pudesse ser um fardo muito grande para homens que haviam sido açoitados recentemente, os missionários não permaneceram nas cidades, talvez porque tivessem poucos judeus ou mesmo nenhum.Tessalônica. Situada cerca de 60 km a noroeste de Apolônia, a cidade fora conhecida como Termas no passado, mas fora ampliada por Filipe da Macedônia e renomeada por Cassandro em homenagem a Tessalônica, sua esposa e filha de Filipe. Ficava bem localizada para a rota do comércio no golfo Termaico e se transformara num porto de relevância considerável. Ainda hoje é uma cidade importante.Sinagoga de judeus. For ser um ativo centro comercial, léssalônica atraía grande número dc judeus. Esses judeus da diáspora I (ver vol. 5, p. 47-49) desfrutavam liberdade religiosa e puderam construir o próprio local de adoração. E provável que a sinagoga de léssalônica também atendesse cidades vizinhas, onde a população de judeus não era grande o suficiente para construira própria. |
At.17:2 | 2. Segundo o seu costume. Ver com. de At 13:5, 14; Lc 4:16.Foi. Como era seu direito de judeu. É possível que ele tenha sido convidado a discursar, como em Antioquia da Pisídia (ver com. de At 13:14).Por três sábados. Do gr. epi sabbata tria, literalmente, ”e.m três sábados”. A versão inglesa RSV traz “por três semanas ", mas tal tradução parece injustificada. Aplicando a regra de que a tradução primária, direta e óbvia deve ser favorecida, a menos que a forma ou o contexto exija um sentido alternativo, a tradução “sábados" é apropriada neste texto. Não há nada no grego, nem no campo linguístico, nem no contextual, nem sequer nas circunstâncias narradas, que exija a tradução "semanas”. Das 68 versões consultadas nesta pesquisa, em 13 idiomas, somente uma delas, além da RSV, a saber, a alemã de Eohmer, traz a versão “três semanas”. A RSV apresenta “sábados"à margem. Muitas versões usam a expressão "dias de sábado" ou "sábados sucessivos”, excluindo qualquer noção sobre “semanas ". Portanto, pode-se concluir que a tradução “por três sábados'' é válida e preferível (sobre a relação de Paulo com a observância do sábado, ver com. de At 13:14; 16:13). Nos intervalos entre os sábados, sem dúvida, o apóstolo trabalhara cm seu ofício ele lazer tendas (ver At 18:3; 1 I s 2:9; 2Ts 3:8). O lato de ter recebido permissão para pregar por três sábados consecutivos demonstra o respeito que ele recebia por scr rabino e também por sua grande eloquência.Arrazoou. Do gr. dialegomai, “conversar", “discursar", “debater ", ou mesmo “dis- sertar”, como o mesmo verbo é traduzido no v. 17. O testemunho de Paulo foi destemido como de costume. Ele pregava o evangelho de Deus não “tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e cm plena convicção” (1 Ts 1:5). Ao mesmo tempo, ele era brando “qual ama que acaricia os próprios filhos" (lTs 2:7). Em resultado, não só judeus e prosélitos foram salvos, mas muitosgentios deixaram “os ídolos” para servirem "o Deus vivo e verdadeiro” (lTs 1:9).Acerca das Escrituras. Paulo extraía seus argumentos das Escrituras, assim como Jesus (Lc 24:25-27, 44), Estêvão (At 7) e como ele próprio fizera em Antioquia da Pisídia (At 13:16-41). |
At.17:3 | 3. Expondo. Do gr. dianoigõ. A mesma palavra é usada por Lucas para: (1) a explicação das Escrituras leita por Cristo aos discípulos a caminho dc Emaús (Lc 24:32); (2) Jesus abrindo a mente dos onze “para compreenderem as Escrituras" (Lc 24:45); c (3) o Senhor abrindo o coração de Lídia para que ela entendesse os ensinos de Paulo (At 16:14). Nessa ocasião, Paulo seguiu o exemplo dc seu Mestre e abriu a Bíblia, a lím de que a mente dos ouvintes se abrisse para recebera mensagem.Demonstrando. Do gr. pamtithêmi, "organizar ao longo de”, usado para arrumar a mesa (At 16:34). ou, num sentido figurado, expor argumentos. “Demonstrar", neste caso, tem também o significado de “citar”. Paulo dá provas bíblicas para seu ensino, expondo-as de maneira convincente aos ouvintes na sinagoga.Ter sido necessário. Ou, “foi necessário". Paulo demonstrou como o Messias só poderia vencer o pecado por meio do sofrimento. Sua morte era essencial para o triunfo (ver com. de Lc 24:26, 27).O Cristo. O grego traz o artigo, assim como a ARA, no sentido de "o Messias”. O apóstolo tem a intenção de corrigir o conceito equivocado dos judeus sobre o Messias (ver com. de Lc 4:19).Padecesse e ressurgisse. Ou, “sofrer e ressuscitar”. Paulo lida com dois aspectos do ensino cristão que os judeus tinham dificuldade para aceitar: o Messias sofredor e Sua ressurreição, fsaías 53 deve ter desempenhado um papel preponderante nesse estudo (ver com. de Lc 24:26, 27; At 8:32-35; 13:26-33).Dizia ele, é o Cristo, Jesus. A construção grega justifica a inserção do “dizia"antes de "ele". Portanto, o trecho significa: "dizendo que este é o Messias, Jesus, a quem proclamo publicamente a vós” (ver com. de Al. 9:22). |
At.17:4 | 4. Alguns deles. Isto c, os judeus da sinagoga (ver At 13:43). E provável que fos- 2 sem uma minoria ern comparação com os judeus incrédulos (At 17:5).Foram persuadidos. Isto é, pela argumentação de Paulo.Unidos a Paulo. Literalmente, “foram designados a Paulo [por Deus]" para ser discípulos. Rotherham traduz: “lançaram sua sorte, com Paulo".Numerosa multidão. Os gentios não foram afastados pelos preconceitos aos quais aqueles que eram nascidos judeus tanto sc apegavam.Gregos piedosos. Algumas evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a tradução ‘pessoas piedosas e gregos . Alguns deles eram prosélitos (ver com. de At 10:2). Mas a igreja de Tessalônica devia ser em sua maioria gentílica e alguns de seus membros deixaram a idolatria sem passar pelo judaísmo (lTs 1:9; 2:14).Distintas mulheres. É possível que fossem econômica e socialmente independentes, como Lídia (At 16:14) ou as esposas dos principais homens da cidade. Não há evidências textuais (cf. p. xvi) para definir se eram judias ou gentias. As mulheres desfrutavam grande liberdade na Macedônia. Parece provável que este versículo (At 17:4) se refira a mais do que os três sábados mencionados no v. 2. O teor da narrativa, com o retrato de uma obra próspera em Tessalônica. e a epístola de Paulo (1 Tessalonicenscs) sugerem uma permanência superior a três semanas. |
At.17:5 | 5. Desobedientes (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. Tal omissão tem pouca signíficância, pois o v. 4 declara que alguns judeus creram, e é evidente que os judeus que incitaram a multidão contra Paulo e Silas não faziamparte desse grupo. A pregação do evangelho nas sinagogas quase sempre despertava forte divisão entre aqueles que a ouviam (ver At 13:14, 43-45; 14:1, 2; 19:8, 9).Movidos de inveja. Do gr. zêloõ, “inflamar-se de inveja”, isto é, ficar com ciúmes (ver com. de At 13:45).Homens maus dentre a malandragem. As palavras se aplicam a homens que, sem uma profissão fixa, vagavam pela praça, encontrando trabalhos incertos, prontos para qualquer coisa boa ou ruim que surgisse. Os judeus invejosos estavam dispostos a empregar tais tipos de mau-caráter, organizá- los numa turba e usá-los para fomentar intriga contra os missionários e seus conversos.Alvoroçaram. Do gr. thorubeõ, “perturbar', “lançar em confusão”. A técnica de tumulto usada pelos judeus tem sido copiada pelos inimigos do cristianismo ao longo dos séculos. Adversários da igreja incitam contusão e depois culpam os cristãos de causarem o problema.Assaltando. Do gr. ephistêmi, “lançar- se sobre [alguém, algo] subitamente” (cf. Lc 20:1; At 22:13; 23:27). Este ataque foi um ato de desordem pública que devería ter levado as autoridades a disciplinar os judeus, em vez de castigar Jasom ou Paulo.Jasom. Nome grego adotado com frequência pelos judeus como uma versão do nome Josué (2 Maeabeus 4:7; ver josefo, Antiguidades, xii.5.1 [239]). O nome também é encontrado numa lista dos "parentes” de Paulo (Km 16:21), mas não há evidências de que a referência seja a este amigo tessalonieense. O lato de Paulo ter se hospedado na casa de jasom pode indicar que este era judeu. Tal ato cie hospitalidade trazia sobre si a ira fanática de seus conterrâneos incrédulos.Procuravam trazê-los. Estavam em busca de Paulo e Silas.Povo. Do gr. dêmos, possivelmente "assembléia popular”, em contraste comlaos, que costumava representar povo como tribo ou nação. Uma vez que Tessalônica era uma cidade grega livre, os judeus podem ter planejado levar a questão diante do dêmos, em sua função dc tribunal da comunidade. Em contrapartida, é possível que tivessem a expectativa de que a turba agitada linchasse os missionários, sem que estes tivessem o benefício de um julgamento. |
At.17:6 | 6. Não os encontrando. Amigos em estado de alerta deviam ter tirado Paulo e Silas da casa, escondendo-os até que pudessem sair em segurança de Tessalônica (v. 10). Ouando deixaram escapar as tão esperadas presas, os desordeiros agarraram as vítimas locais, mas seguiram melhor a lei ao lidar com elas.Arrastaram. Do gr. surõ, “arrastar" ou “atrair”. Em Atos 8:3, a palavra é usada para Saulo, que arrastava homens e mulheres para a prisão.Alguns irmãos. O nome destes irmãos não é citado, mas, de maneira alguma, eles passam despercebidos.Autoridades. Do gr. politarchai, derivado de polis (“cidade”) e archõn ("governante”). Na literatura conhecida, a palavra parece ter sido usada apenas por Lucas, mas a arqueologia demonstrou que seu uso era correto. Foram descobertas 19 inscrições em que o termo politarchês é empregado. Na maioria dos casos, a referência é a magistrados nas cidades macedônicas, e cinco inscrições mencionam Tessalônica especificamente. Logo, a precisão detalhada de Lucas se confirma. Ele caracterizou de maneira correta os oficiais dc Filipos, uma colônia romana, como stratêgoi (ver com. de At 16:20); mas Tessalônica cra uma cidade macedônica livre, e seus magistrados não romanos, cinco ou seis na época, eram conhecidos oficial mente como politarchai. Foi a eles que jasom e seus amigos fora m c on d u z i d o s.Têm transtornado o mundo. Ou, “incitou o mundo’’ (ver At 21:38; Cl 5:12;sobre a palavra “mundo”, do gr. oikoumenê, ver com. de Mt 24:14; Lc 2:1). Acusações semelhantes de causar confusão foram feitas contra Elias (1 Rs 18:17) e contra os cristãos do 3° século (Tertuliano, Apologia, 40; Ad Naliones, 9). O povo de Deus dos últimos tempos também será alvo de denúncias parecidas (GC, 614, 615).A acusação foi exagerada no calor do momento, mas sua consequência era grave. Os romanos se orgulhavam de sua pax romana (“paz romana”) e estavam prontos a punir severamente quem a perturbava. Mas não importa o quanto a acusação tenha sido exagerada, ela mostra que a reputação dos missionários em ganhar conversos chegara antes deles a Tessalônica, testificando da rápida disseminação do cristianismo. |
At.17:7 | 7. Hospedou. Do gr. hupodechomai, “receber [como convidado]”, “acolher” (ver Lc 10:38; 19:6; Fg 2:5). Os apóstolos eram convidados de Jasom e, por isso, ele foi considerado simpatizante do ensino deles.Todos estes. Isto é, Jasom e alguns irmãos. Paulo e Silas, a quem os acusados não encontraram, também seriam incluídos na acusação se fossem pegos. Num sentido ainda mais amplo, a acusação pode ter se dirigido a toda a igreja cristã.Decretos. Do gr. dogmata (ver com. de At 16:4). A provável referência é às leis romanas contra ensinos revolucionários. No entanto, também é possível que “decretos’’ aqui se refira aos termos do edito feito pelo imperador Cláudio, que levara à expulsão dos judeus de Roma, caso o edito tenha sido impulsionado pelo crescimento do cristianismo (ver vol. 5, p. 58; ver com. de At 18:2). Na verdade, este edito só era válido em Roma e em suas colônias (como Filipos). Embora Tessalônica fosse uma cidade livre, estava sob o domínio do governo imperial e harmonizava sua legislação com o teor da política imperial romana.Outro rei. Do gr. hasileus heteros, isto é, um tipo diferente de rei (ver com.de Mt 6:24). Os oponentes basearam sua acusação principal nesta expressão: alegaram que os cristãos estavam proclamando um rei ou imperador rival. Seria difícil fazer uma acusação mais grave a qualquer grupo (ver Mc 12:14; ver com. de Lc 23:2) e, embora não fosse verdade, tinha base suficiente para parecer plausível. Os cristãos de todas as partes aprendiam sobre a superioridade do reino de Cristo (ver com. de Mt 3:2, 3; jo 18:36) e suas palavras poderíam prontamente scr interpretadas como sentimentos revoltosos por críticos hostis. As cartas aos tessaloni- censes deixam claro que Paulo enfatizava o reino em sua pregação, destacando a segunda vinda de Cristo no papel clc rei (lTs 1:9, 10; 2:12; 4:14-17; 5:2, 23; 2Ts 1:5-8; 2:8). Aos olhos de um oficial romano, tal ensino era suficiente para dar credito à acusação que os judeus irados e seus comparsas fizeram. |
At.17:8 | 8. Multidão. Do gr. ochlos, “multidão", “massa”, “povo comum” — palavra diferente da traduzida por “povo" (demos) no v. 5.Agitadas. Do gr. tarassõ, “agitar”, "incitar”. A notícia dada pelos judeus perturbou os habitantes de Tessalônica. O público temia uma insurreição, com os horrores que a acompanhavam, ao passo que os oficiais temiam a responsabilidade de falhar cm manter a ordem e permitir atividades de traição ao império. |
At.17:9 | 9. A fiança estipulada. Do gr. hika- nos, literal mente, “suficiente”, mas, neste ¦:'£ caso, usado como termo técnico equivalentea "fiança”. Jasom deve ter precisado entregar uma soma de dinheiro, em vez de apresentar Paulo e Silas em pessoa, como garantia de que os evangelistas não voltariam a perturbar a cidade ou como penhor da própria boa conduta. Os cristãos locais correram grandes riscos em defesa dos missionários, mas enfrentavam os perigos voluntariamente em nome do evangelho (ef. ITs 1:6: 2:14). Fica claro que os magistrados se recusaram a ceder à pressão de agir fora da lei e merecem serelogiados por sua decisão moderada. Devem ter julgado que havia evidências insuficientes para a condenação. |
At.17:10 | 10. Logo [...J os irmãos enviaram.Isto por ordem das autoridades ou por causa do perigo iminente (cf. At 9:25). Paulo e Silas haviam sido os benfeitores dos novos crentes, mas a situação se invertera, e os cristãos tessalonieenses cuidaram muito bem dos missionários. Paulo nunca se esqueceu da bondade deles e, muitas vezes, disse que ansiava por revê-los. Em pelo menos duas ocasiões, tentou fazer uma visita à igreja de Tessalôniea, mas precisou se contentarem enviar Timóteo em seu lugar (ver com. de I Is 2:18; 3:1, 2).Bereia. Pequena cidade macedônica, cerca de 80 km a sudoeste de Tessalôniea. Sua importância econômica cra bem menor que a de fessalôniea. A cidade ainda conserva o nome na moderna Ver ria. A forma bíblica do nome podería ser traduzida com mais precisão por Beroeia (ver mapa, p. 329).À sinagoga. A população judaica era grande o suficiente para manter o próprio local de adoração. Era costume de Paulo começar seu trabalho de evangelismo na sinagoga (ver com. dos v. 1, 2). Neste caso, porém, logo depois do problema em Tessalôniea, tal ato exigiu coragem extraordinária. |
At.17:11 | 11. Nobres. Literalmente, ‘'bem-nascidos" (ver ICo 1:26). Aqui a palavra significa o temperamento generoso e leal que idcal- mente deveria caracterizar aqueles de nascimento aristocrático. Era essa qualidade de bondade e mente aberta que o apóstolo e Lucas admiravam nos judeus da Bereia. Em contraste com os da sinagoga de Tessalôniea, não eram escravos do preconceito, mas, com a mente aberta, estavam prontos para estudar as verdades apresentadas por Paulo.Receberam a palavra. Isto é, a Palavra de Deus. Paulo lhes apresentou o mesmo ensino bíblico que anunciara aos judeus de Icssalònica (v. 3).Avidez. Ou, "zelo”. Eles desejavam a iluminação.Examinando. Do gr. ancikrinõ, “investigar’’, “examinar”, “analisar [evidências]”, sobretudo num sentido legal (At 4:9; 12:19). Em João 5:39 é utilizada uma palavra diferente, ereimaõ ("procurar”, “examinar"). Os berea- nos usaram a razão santificada ao estudar as Escrituras e descobriram que as palavras inspiradas falavam de um Messias que sofreria c ressuscitaria. Depois dc examinar as evidências e descobrir a verdade, provaram sua sinceridade ao aceitar o novo ensino. Os conversos de Bereia sempre têm sido considerados, em especial por aqueles que enfatizam o direito do raciocínio individual, como representantes de quem demonstra o equilíbrio adequado entre razão e fé, evitando tanto a credulidade cega quanto o ceticismo. Em sua avidez por investigar aquilo que era proposto como verdade e em conferir na autoridade venerada, as Escrituras, para então seguir a verdade que haviam descoberto, constituem um bom exemplo a seguir.Todos os dias. O uso desta expressão sugere que a permanência de Paulo com os bereanos foi suficiente para pelo menos orientar os alunos cm um estudo aprofundado da Palavra, |
At.17:12 | 12. Com isso. Como resultado da busca diligente e diária das Escrituras, muitos creram na mensagem evangélica. A Bíblia continua a levar convicção e conversão àqueles que buscam a verdade em suas páginas.Muitos deles creram. Em contraste com “alguns deles foram persuadidos" (v. 4).Mulheres [...] de alta posição. Isto é, mulheres distintas por sua influência e riqueza (ver com. de At 13:50).Gregas. A palavra se relere especialmente às mulheres, mas c possível que os homens também estivessem inclusos (ver com. do v. 4). |
At.17:13 | 13. Os judeus de Tessalôniea. Eles nãose contentaram em expulsar os missionários £cia própria cidade: seu ódio os levou a perseguir os cristãos até em Bereia (ver com. de At 14:19).Palavra de Deus. Este é um termo de Lucas. Os judeus de Tessalônica não aceitariam que a mensagem de Paulo fosse caracterizada como "a palavra de Deus". O preconceito e o longo doutrinamento nos ensinos judaicos lhes cegara a mente (ver com. de 2Co 3:14, 15).Excitar. Do gr. saleuõ, "agitar", "abalar por completo”. A figura de linguagem sugere uma tempestade no mar na qual todos são perturbados, uma descrição compatível com a confusão que os judeus de Tessalônica tentaram criar. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante: “eles também foram ate lá, excitando e perturbando o povo ’. Os judeus devem ter feito acusações semelhantes às que lançaram contra os cristãos em Tessalônica, culpando os liéis de fomentar revoltas políticas.O povo. Do gr. hoi ochloi, "as multidões". Parece que os judeus tessalonicen- ses tentaram a mesma ação da turba contra os apóstolos em Bereia, uma vez que obtiveram sucesso, fazendo isso na própria cidade (v. 5-10). |
At.17:14 | 14. Sem detença. Assim como na partida de Tessalônica (v. 10), os apóstolos saíram de Bereia com toda a pressa. Mais uma vez, os cristãos locais, novos na fé, cuidaram da segurança de seus mestres, mesmo correndo risco pessoal.Para os lados do mar. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “para longe, até chegar ao mar". Essa ação súbita preparou os missionários para embarcar no navio rumo a um destino que talvez ainda não estivesse decidido. Como não há menção de parada cm lugares entre Bereia e Atenas (como Anfípolis e Apolônia foram citadas entre Pilipos e Tessalônica, no v. i), presume-se que Paulo de fato viajou pelo mar. Depois de rodear o promontório de Sunium,ele entraria em Atenas pelo porto de Pireus (ver com. do v. 16). Foi acompanhado até ali por alguns que haviam ido com ele desde Bereia (v. 15), mas retornaram, e o apóstolo ficou só. Seu desejo de companhia e conselho é expresso na mensagem que enviou pelos bereanos a Silas e I imóteo, para que fossem ter com ele "o mais depressa possível" (v. 15). O texto de lTessalonícenses 3:1 a 3 parece sugerir que Timóteo foi para Atenas, provavelmente após o incidente no Areópago c foi enviado de volta logo depois, com palavras de aconselhamento e consolo para os de Tessalônica, que, segundo o relato do jovem, sofriam muitas tribulações.Silas e Timóteo. Timóteo não tora mencionado pelo nome desde sua apresentação na narrativa em Listra (ver com. de At 16:1), mas parece que, desde sua circuncisão (v. 3), ele permanecera com Paulo o tempo todo. Então, junto com Silas, estava separado do experiente evangelista. Os judeus perseguidores estavam sedentos pelo sangue de Paulo e provavelmente não incomodariam os missionários cristãos menos destacados, em Bereia. Logo, Silas c 1 imóteo estariam livres para fortalecer os recém-converticlos em Bereia e Tessalônica. |
At.17:15 | 15. Levaram-no. Parece que lodo o cuidado e a direção da jornada de Paulo 1 ica- ram a cargo dos bereanos, não dele próprio. Os cristãos dc Bereia o acompanharam na viagem, garantindo sua segurança.Até Atenas. E provável que o apóstolo planejasse atravessar a Macedônia a pé até a Grécia, mas a crise inesperada o fez abandonar o plano, e ele foi diretamente para Atenas (ver mapa, p. 329; ver com. do v. 16). Lá ele poderia esperar em segurança seus amigos missionários. E possível que tivesse planejado aguardar sem pregar, mas seu espírito evangelístico ardente foi despertado por aquilo que viu na cidade.Regressaram. Isto é, os bereanos que levaram Paulo a Atenas. Pela primeira vez emsuas grandes viagens missionárias, o apóstolo ficou sem a companhia dos colegas de trabalho.O mais depressa possível. Aqueles que conduziram Paulo a Atenas foram enviados de volta para Bereia com o pedido de chamar Timóteo e Silas para que se unissem ao apóstolo imediatamente. Há razões para pensar que Paulo não teria lacilidade de viajar ou trabalhar sozinho, por causa de sua enfermidade (ver com. de At 9:18). Ele desejava a presença de seus companheiros fiéis, a tim de iniciar sua obra o mais rápido possível. Em 1 Tessalonieenses 3:1 e 2, sugere- se que pelo menos Timóteo loi a Atenas. Parece que logo depois Paulo o enviou de volta para cuidar dos conversos tessaloni- eenses. De Atenas, Paulo foi para Corinto (Al 18:1), onde Silas e Timóteo o encontraram posteriormente (At 18:5), |
At.17:16 | 16. Atenas. A capital da antiga Atica e da Grécia atual, situada na extremidade sudeste cia província romana de Aeaia (ver mapa, p. 19). locava a 65 km do mar, conectada com o porto de Pireus por um amplo corredor murado. A tradição remonta sua história a 1581 a.C., mas a cidade se tornou proeminente por volta de 600 a.C. Durante os 200 anos seguintes. Atenas chegou ao ápice de seu poder c alcançou sua fase áurea sob o governo de Péricles (461-430 a.C.). Seus filhos ilustres incluem Sófocles, Sócrates, Platão, Aristóteles e Demóstenes. Contudo, em 338 a.C., a cidade loi subjugada pelo poder em ascensão da Macedônia e, no 2" século a.C., incluída na província romana de Aeaia. Aos dias de Paulo, Atenas não possuía mais poder político efetivo, mas continuava a ser o centro intelectual reconhecido do mundo e considerada a cidade universitária do império romano. Ê provável que sua população girasse em torno de 250 mil habitantes na época (ver mapa p. 329).O ponto focal de Atenas era a Acrópole (cidade "superior" ou "alta"). Era uma colinade cerca de 150 m de altitude, e lá Ficavam vários templos famosos. Os principais e mais belos dentre eles eram o Partenon, o Erecteion e o templo de Atena Nike. Numa colina mais baixa, a oeste da Acrópole, I icava o Areópago (ver com, do v 19), um descampado rochoso que se entendia da direção noroeste para a sudeste. Eoi nesse ambiente que Paulo permaneceu enquanto aguardava a chegada de Silas e Timóteo de Bereia.O seu espírito. Isto é, sua mente, seus anseios espirituais profundos.Revoltava. Do gr. paroxunõ, "irritar’, “provocar", "despertar a ira" (ver com. de At 15:39), Parece que Paulo não tinha intenção de pregar em Atenas, mas aquilo que viu o provocou a agir, e ele se sentiu impelido a falar mesmo antes de Timóteo e Silas chegarem.Idolatria dominante. Ou, "cheia de ídolos’, Josefo descreve os atenienses como "os mais piedosos dentre os gregos” (Contra Àpion, ii.12 1130]; cd. Loeb, p. 345). Segundo um antigo relato, havia mais de três mil estátuas em Atenas nos dias de Paulo. Uma de suas ruas era adornada com um busto do deus-mensageiro Hermes em frente a cada casa. Templos, pórticos, fileiras de colunas e pátios eram repletos de obras de arte esculpidas, que anunciavam em profusão o amor grego à beleza. Seria difícil que Paulo, com seus antecedentes helenistas, permanecesse indiferente ao apelo estético de tamanha riqueza artística, mas todo prazer que porventura sentiu foi obscurecido pelas implicações espirituais daquilo que presenciou. A maior parte das estátuas estava ligada à adoração pagã e poderia ser muito hem classificada como "ídolos'’. Para um judeu, lal ostentação seria um desprezo aberto aos dois primeiros mandamentos. Para um cristão, tal visão proporcionaria tristeza ainda maior, ao revelar o abismo existente entre o paganismo grego e a revelação redentora de Deus em Cristo. Todavia, Paulo compartilhava tãoplenamente do desejo do Salvador de redimir a humanidade de suas loucuras que sua reação linal foi evangelística. Ele não podia negligenciar a oportunidade de anunciar o evangelho aos atenienses. |
At.17:17 | 17. Por isso. A ira justa contra a idolatria gritante não se manifestou simplesmente em condenações, mas o levou à tentativa de evangelizar a cidade pagã.Dissertava. Ver com. do v. 2.Sinagoga. Não há evidências de que existisse uma grande colônia de judeus em Atenas, mas inscrições judaicas antigas foram encontradas na cidade. Paulo, seguindo seu costume (ver com. de At 9:15; 13:5, 1.4; ct. com. de Lc 4:16), se dirigiu primeiro aos judeus, naturalmente esperando apoio deles em sua luta contra a idolatria. A narrativa não dá pistas de como foi a recepção do apóstolo em meio a seus compatriotas e também não registra resultados tangíveis de seu trabalho com eles.Gentios piedosos. Ver com. de At 10:2.Praça. Do gr. agora (ver com. de Vlt 11:16; At 16:19). Em Atenas, havia duas agorae, uma era o mercado comercial e a outra, à qual a passagem faz referência, era o centro social da cidade. Nos tempos de Paulo, era adornada por uma série de estátuas, imagens dc heróis nacionais, bem como da maioria dos deuses do panteão grego. A praça era a arena onde se realizava a maioria das discussões políticas e filosóficas de Atenas. Ali Paulo ouvi ria filósofos profissionais e amadores ç debatendo uns com os outros e com seus ouvintes. O apóstolo ficaria livre para participar das discussões e expor a própria filosofia de vida.Entre os que se encontravam ali. Ou, "os que passavam ao acaso", um solo difícil para a semeadura do evangelho. |
At.17:18 | 18. Filósofos. Literalmente, "amantes da sabedoria", termo usado para as pessoas dadas à busca da sabedoria, ou do aprendizado.Epicureus. As duas escolas filosóficas, os epicureus e os estoicos, eram, na época, os maiores representantes do pensamento grego. O epicurismo derivou o nome de seu fundador, Epicuro, que teve uma vida longa e tranquila em Atenas, dc cerca dc 342 a 270 a.C. Em harmonia com a vontade do fundador, as reuniões ocorriam num jardim e, por isso, os epicureus eram, à.s vezes, conhecidos como a Escola do Jardim. As especulações de Epicuro incluíam uma solução física e ética para os problemas do universo. Na companhia dos homens mais reflexivos da época, ele rejeitava o politeísmo popular, ao qual não ousou renunciar abertamente, ensinando que os deuses, em sua serenidade, estavam distantes demais dos seres humanos para se incomodar com suas tristezas ou seus [recados. Eles não necessitavam de sacril ícios, nem respondiam orações. O maior mal do mundo seria a superstição, que escravizava a mente da maioria das pessoas e era a fonte de grande parte dos crimes e misérias. O objetivo do ser humano seria alcançar a felicidade, e o primeiro passo nessa direção seria se emancipar da ideia de um castigo futuro. O passo seguinte seria reconhecer que a felicidade consiste de emoções prazerosas. A experiência demonstra que aquilo que alguns chamam dc prazer costuma ser obscurecido pela dor que se segue; logo, ele ensinava que era importante evitar excessos sensuais. A vida de Epicuro parece ter sido marcada por autocontrole, gentileza, generosidade, piedade e patriotismo (Diógenes, Laércio, x.10). Mas ele considerável as leis humanas meros arranjos convencionais, sem encontrar lugar para uma lei moral superior. Cada homem deveria ser livre para arbitrar sobre a legalidade dos próprios prazeres, e a maioria escolhia uma vida de facilidade e autocondescendência. As vezes, o raciocínio cuidadoso equilibrava a tendência dos epicureus de resvalar para o animalismo. Na maioria das vezes, aqueles que se entregavam à indulgência do paladare da liberdade sexual davam tristes exemplos da degradação profunda na qual o epieurismo permitia às pessoas se afundarem.Epícuro recebe o crédito por ter previsto algumas das supostas descobertas da ciência moderna no mundo da física. Ele excluía tanto a icleia da criação quanto de controle. Ensinava que a matéria existe desde a eternidade e que os átomos infinitos que compõem a matéria haviam, por um processo de atração e aversão, se transformado em diversas combinações, as quais geraram o mundo natural conforme o homem o vê. li possível que o poema de Lucrério, De Rermn Niitura, seja a mais elevada expressão desse sistema negativo e pratícamente ateu, pois possui certa nobreza no protesto indignado contra a superstição que tanto assolava o mundo pagão.A poesia dos epicureus dá exemplos característicos dos ensinos éticos desse sistema. Horácio diz: “Cessa de dizer o que o amanhã trará e considera ganho cada dia que a l oriuna conceder" (Odes, i.9; cd. Locb, 29).Demonstra sabedoria. Purifica o vinho; e como a vida é breve, ignora esperanças duradouras! Mesmo enquanto lalamos, o invejoso tempo acelera. Colhe a ceifa de hoje, colocando no amanhã o mínimo de confiança! ’ (jbid., 11: ecl. Loeb, p. 33).Então Paulo ficou lace a lace com esta filosofia. Nos v. 22 a 31, descobrimos como ele lidou com ela. Declarou a personalidade do Deus vivo como criador, governante e pai; a força unificadora da lei divina escrita no coração; a nobreza de uma vida superior à busca frenética por prazer, dedicada não a si, mas aos outros e a Deus. Por fim, declarou a responsabilidade moral do ser humano à luz da ressurreição e do juízo, dais ensinos separavam o apóstolo dos prolessores pagãos da mais elevada filosofia.Estoicos. Esta escola de. filosofia não derivou seu nome do fundador Zenão ic. 340-260 a.C.) de Cítio, em Chipre, mas deStoa Poikilê, a varanda pintada na ágora de Atenas onde Zenão costumava ensinar. £ Josefo (Vida, 2[12]) declara que havia pontos de contato entre os estoicos e os fariseus. De fato, pode-se dizer que a atitude deles em relação à vida moral do paganismo da época apresentava muitas características semelhantes às dos fariseus. Eles ensinavam que a verdadeira sabedoria consistia em ser mestre, e não escravo, das circunstâncias. As coisas que não se encontram em nosso poder não devem ser cobiçadas, nem evitadas, mas aceitas com placidez. Aquele que buscava sabedoria era ensinado a ser indilerente tanto ao prazer quanto à dor, e a manter neutralidade intelectual. A teologia cstoica era mais nobre que a dos epicureus.Os estoicos concebiam uma mente divina por trás do universo e ordenando suas questões. Eles reconheciam sua autoridade sobre as nações e a vida das pessoas, ao mesmo tempo em que defendiam uma crença prática na liberdade da vontade humana. O Manual de Ética, registro filosófico do ex-escravo Epiteto e as Meditações do imperador Mareo Aurélio mostram como o escravo e o imperador são, de certo modo, considerados iguais segundo esse sistema filosófico. Os escritos cie Sêneca revelam que a ética dos estoicos era semelhante à cios cristãos. Muitos estoicos se tornaram tutores dos filhos de lamílius nobres e exerceram influência comparável à dos confessores jesuítas na Europa durante os séculos 17 e 18.Há diversos obstáculos para a eficácia ética da filosofia dos estoicos: (1) ao se concentrarem na falta de preocupação consigo mesmos, acabavam perdendo a simpatia pelos outros também; (2) ao aspirar à perfeição ética por meio do controle da própria vontade, presumiam falsamente que os seres humanos são capazes de alcançar sua salvação; e (3) ao salientar a vida perfeita, o ideal elevado — assim como os fariseus - transformavam tais metas numa máscara para umavida egoísta e corrupta. Assim como os fariseus, os cstoicos eram, por vezes, "hipócritas’ (ou "atores ), desempenhando um papel diante do mundo ao qual não correspondia seu caráter interior. Usando as palavras do sátiro, "pessoas que imitam filósofos e vivem num eterno bacanal ousam falar sobre, moral" (Juvenal, Sátiras, ii.2, d; ed. Loeb, p. 17).Com certeza, havia diversos pontos de contato entre os melhores representantes desta escola de pensamento e o apóstolo Paulo. Todavia, até mesmo para eles, os princípios básicos do que o apóstolo representava pareceríam um sonho vão. Quando Paulo talou sobre Jesus e a ressurreição, e do juízo vindouro, os cstoicos resistiram à ideia de que necessitariam de perdão ou redenção.Contendiam. Do gr. surnballõ, "reunir", não necessariamente com uma intenção ruim, mas como numa reunião casual.Tagarela. Do gr. spermologos, literalmente, “coletor de sementes ) usado com frequência para se referir aos pássaros que pegam sementes espalhadas. Nesta ocasião, os I ilósolos aplicam o termo a Paulo como se houvesse pegado partes dispersas de conhecimento e se sentisse preparado para instruir pessoas mais bem informadas do que ele.Estranhos deuses, isto é, divindades estrangeiras. A palavra grega traduzida neste versículo por “deuses" (daimonia) é usada pelos autores do NT para se referir a "demônios" (ver com. de Mc 1:23), seres sobrenaturais malignos, indignos da adoração humana. Mas os escritores pagãos usavam daimonia para se referir a uma ordem interior de seres divinos, não necessariamente maus, que reivindicavam a adoração humana. Uma das acusações contra Sócrates, dentre o conjunto de motivos usados para condená-lo, toi o lato de ter introduzido novas daimo- ma (Xenofonte, Memorabiiia, i.1.1. 2). Mas a atmosfera intelectual de Atenas havia mudado desde a perseguição de Sócrates, pois não Ioi a ira, mas, sim, a curiosidadeque impeliu os questionadores de Paulo. Eles não atacaram o apóstolo por seus ensinos; em meio à abundância de ídolos, é provável que não tivessem dificuldade em abrir espaço para Jesus, contanto que Ele não procurasse tomar o lugar de suas divindades.Alguns já pensaram que os atenienses, ao usarem o plural “deuses", compreenderam que "Jesus" era uma nova divindade e Anasiasis (grego para "ressurreição ’) era outra. Os atenienses haviam dedicado templos e altares a Concórdia, e Epimênides lhes instruira a erigir altares à Insolência e à Desgraça (Cícero, De Legilms, ii.ll), os dois demônios culpados por levar a cidade ã ruína. Seria natural para os gregos pensarem que o pregador cristão estava apresentando novas "divindades", 'lambém perceberam que ele tinha mais a dizer do que haviam ouvido até então.Jesus. O Salvador era o tema constante da pregação apostólica (cf. Al 2:22; 3:13; 5:30, 42; 8:5, 35; 9:20; 11:20; 13:23; etc.). Paulo proclamou o mesmo Jesus com ousadia aos intelectuais céticos dc Atenas.Ressurreição. Esse também era um tema central na pregação da igreja apostólica (cf. At 2:24; 3:15; 4:2, 10; 10:40: etc.). Paulo tivera uma experiência pessoal comprovando a ressurreição de Cristo, pois de mesmo conversou com o Senhor ressurreto (Al 9:4-6). Mas o apóstolo também ensinava a ressurreição final de todos os seres humanos (ver com. de At 17:32; I Co 15:51; l i s 4:14-16), c toi isso que chocou os filósofos de Atenas. Eles já criam na imortalidade da alma, mas ficaram espantados ao ouvir alguém ensinar sobre a ressurreição literal do corpo. Em 1 Coríntios 15:35 a 44, vemos a natureza das objeções levantadas contra essa doutrina c como Paulo as respondeu. |
At.17:19 | 19. Tomando-o. Do gr. epilambanõ, "segurar". Não se deve supor que qualquer violência foi usada, ou que havia intenção de lançar mão desse recurso. Paulo estava só c.se lor verdade que a visão era um problema para ele (ver com. de At 9:18), é possível que dependesse dos outros para se deslocar de um lugar para o outro. Epilambanõ costuma ser usado para tomar pela mão, a fim de ajudar ou proteger (ver Mc 8:23; At 23:19). O termo é usado por Lucas para caracterizar a ação de Barnabé quando este tomou Paulo consigo, "levou-o aos apóstolos” (At 9:27). Além disso, o contexto revela que a ação do povo não foi, de modo nenhum, equivalente a uma prisão, pois, quando terminou o discurso, “Paulo se retirou do meio deles” (At 17:83), sem passar por nenhum tipo de constrangimento.Areópago. Do gr. Areios Pagos, "colina de Ares”, sendo Ares o equivalente grego ao latino Marte, o deus da guerra (sobre sua localização, ver com. do v. 16). O local era um famoso ponto de encontro do conselho ateniense do Areópago, que assumiu este nome por causa da colina onde se reunia. Esse conselho, que atribuía sua origem a Atena, a deusa patrona da cidade, era o tribunal mais antigo e venerado de Atenas. Incluía entre seus membros os homens da mais elevada posição olicial. Originalmente, era formando somente por aqueles que haviam servido no alto cargo de areonte e atingido 60 anos de íclade. Péricles limitou um pouco a ampla autoridade do conselho (5o século a.C.). Foi como porta-voz do partido que se opunha às idéias de progresso de Péricles que Esquilo escreveu a tragédia Emnênicies, a qual destaca a autoridade divina do grupo. Não se sabe ao certo qual era a autoridade exata que o conselho exercia nos dias de Paulo.A opinião se divide se Paulo loi levado para a colina ou perante o conselho. O texto grego traz um artigo definido antes de Areios Pagos, ou seja, “o Areópago”, que pode se relerir tanto à colina quanto ao conselho do Areópago, que, há muito, era chamado simplesmente de “o Areópago”. A colina em si era relativamcntc pequena e repleta dealtares, por isso o conselho costumava se reunir em Stoa Basileios, a “Varanda do Hei”, e só ia à Colina de Marte para pronunciar seu julgamento. Caso Paulo tenha siclo levado perante o conselho, é improvável que tenha ocorrido qualquer procedimento judicial. Sua presença teria o propósito de apresentar seus ensinos diante do corpo intelectual supremo da cidade universitária. Em contrapartida, caso tenha sido levado apenas para a colina, é possível que o público ouvinte tenha se formado pelo grupo seleto de filósofos epicureus e estoicos que desejavam entender o valor de seus ensinos estranhos.Lá, distantes da agitação da ágora (ver com. do v. 17), o apóstolo ficaria livre para expor sua doutrina. Alguns supõem que o conselho estava reunido quando Paulo foi levado à colina, sobretudo porque um de seus membros se converteu pela pregação do apóstolo (ver com. do v. 34). Mas não há evidencias quanto a esse ponto.Poderemos saber [...]'? Uma expressão idiomática, que pode ter sido cortês, sarcástica ou irônica. Os epicureus e estoicos não tinham dúvidas da própria habilidade de compreender tudo que Paulo lhes diria, mas estavam obviamente ansiosos por ouvir sobre o estranho ensino,Nova doutrina. Do gr. lutinos, “novo” cm qualidade; portanto, cm consequência, ,2 algo diferente das f ilosof ias normal mente estéreis difundidas e tão valorizadas pelos atenienses. |
At.17:20 | 20. Coisas estranhas. A frase pode ser traduzida por: “coisas surpreendentes trazes a nossos ouvidos”. Nunca antes aquele público ouvira algo como o que Paulo dizia.A mensagem do apóstolo lhes chamou a atenção pela estranheza do conteúdo.Queremos saber. Ver com. do v. 19.A grande paixão daqueles homens era “saber”, adqu irir conhecí mento.O que vem a ser isso. Paulo pôde delinear apenas um esboço de sua mensagem (v. 18),Então, os ouvintes quiseram que os conceitos e a aplicação lhes fossem explicados. |
At.17:21 | 21. Todos os de Atenas. Isto é. “todos os atenienses". Este versículo é um parêntese para explicar os anteriores. A curiosidade incansável da mente ateniense era notória. Em palavras quase idênticas às usadas por Lucas, Demóstenes reprovou seus concidadãos pelo tempo ocioso que passavam na agora, pedindo notícias sobre Filipe e os movimentos macedônicos, ou sobre as ações de seus enviados, quando deveríam dedicar seus esforços à preparação para a guerra (7 hilfpicas, 10-13 [43]).Estrangeiros. Isto é, residentes estrangeiros; Havia grande número deles em Atenas. A vida intelectual da cidade atraía um grupo bem variado; jovens romanos enviados para concluir os estudos, artistas, observadores, tilósotos e amantes da curiosidade de todas as províncias do império e até de fora dele.Não cuidavam senão. Mais literalmente, “tinham prazer em". O tempo do verbo grego sugere que este cra seu estado mental constante, quando todo o tempo ele alguém é gasto em determinada ocupação, não sobrando momentos vagos para nada mais. Os atenienses encontravam tempo para correr atrás de novidades e para quase nada além disso.As últimas novidades. Literalmente, “alguma coisa mais nova", Essa propensão do povo de Atenas é confirmada por declarações de autores clássicos, lúcídides relata Clêon reclamando de seus conterrâneos, que tinham o hábito de desempenhar o papel de "espectadores de palavras e ouvintes de atos" (História, iii.38.3;ed. Loeb.T/nícpIide.s, vol. 2, p. 63). Há referências de uma acusação semelhante feita por Demóstenes. |
At.17:22 | 22. Areópago. Ver com. do v. 19. Se o apóstolo estivesse no topo da colina rochosa, olharia para baixo e veria o templo de Helesto a noroeste, e para cima, na direção do Partenon, localizado na Acrópole.Em cima dessa colina ainda mais alta ficava a colossal estátua de bronze de Atenas, considerada a deusa tutelar de sua amada cidade. Abaixo do apóstolo ficava a cidade em si, que estava cheia de ídolos (ver loto, p. 371).Senhores atenienses! Embora esta seja uma saudação respeitosa, o discurso que se segue não é o de um homem no tribunal (ver com. do v. 19), mas de um defensor apaixonado dc crenças peculiares e estimadas. Paulo adota o vocabulário dos oradores atenienses, em harmonia com seu costume de se adaptar ao público (ver com. de ICo 9:19-22).O fato de Paulo ser capaz de fazer isso revela muito sobre sua habilidade. Lucas resume o discurso do apóstolo em dez versículos (At 17:22-31), mas é provável que Paulo tenha falado muito mais, sobretudo diante de uma audiência tão distinta.Vejo. Do gr. theõreõ, "contemplar", "olhar para", sugerindo que Paulo baseava seus comentários naquilo que via.Acentuadamente religiosos. Do gr. deisidahnonesteroi, adjetivo comparativo Ior- rnado por deiáõ ("temer") e daknõn ("divindade"), que também pode ser traduzido por "muito tementes a deus’. A palavra grega (deisidairnõn) era usada tanto num sentido positivo quanto negativo. Um deisidairnõn, que consultava feiticeiros e cria em presságios, por exemplo, evitaria fazer uma viagem caso visse uma doninha na estrada. Um exemplo revelador desse excesso de religiosidade na alta sociedade é o de Nícías, o general ateniense, que sempre se sentia oprimido com a sensação cie inveja dos deuses e, por isso, chegou a mudar as ordens referentes a importantes movimentos estratégicos, porque havería um eclipse lunar (Tucídides, História, vii.504). O imperador Mareo Aurélio, um estoico (Meditações, J .16) se parabeniza por não ser um deisidairnõn, 2 mas um lheosebês, ou seja, homem devoto, como sua mãe (ibid., i.3). Paulo não usaria a palavra em seu sentido depreciativo logono inicio do discurso. Em vez disso, fez um comentário sobre o modo escrupuloso dos atenienses de tentar prestar o devido reconhecimento a todas as formas de divindade. Tal introdução lhe granjearia a atenção dos I ilósofos e dos atenienses de modo geral. |
At.17:23 | 23. Passando. Ao vagar por acaso pela cidade ou ao entrar nela para chegar ao centro.Observando. Do gr. anatheõreõ, “olhar com atenção", “observar precisamente".Os objetos de vosso culto. Do gr. sebíismcita, "objetos de adoração', não “atos de adoração'. Paulo vira e estudara muitas das numerosas estátuas e suas inscrições. Ele as identifica como as divindades dos atenienses, seus objetos de culto. Assim, procurou despertar boa vontade desde o princípio para continuar a ser ouvido. Seu objetivo era conquistar o público, não espantá-lo.Encontrei também um altar. Isto c, além da série de objetos dc culto já mencionada. A palavra grega para “altar" (bõtnos) só é usada aqui em todo o NT. mas ocorre na LXX. referindo-se, por vezes, a altares pagãos (Êx 34:13; Nm 23:1; Dt 7:5).No qual está inscrito. Literalmente, “sobre o qual tora escrito".Ao Deus Desconhecido. Do gr. agnõsiõ lheõ, “a um deus desconhecido", lesta legenda incomum tem sido alvo de muita discussão. Alguns duvidam da existência de um altar com esta inscrição e outros acreditam que Paulo ou Lucas falaram no singular de uma inscrição geralmente encontrada no plural, os seja, "aos deuses desconhecidos". Uma solução razoável para o problema pode ser encontrada na análise de referências antigas a altares com inscrições semelhantes. Quatro delas podem ser mencionadas: (1) Pausânias (c. 150 d.C.) afirma que na estrada dc Lalcro, um dos portos de Atenas, havia altares a deuses que eram chamados de desconhecidos (i. I.4). (2) O mesmo escritor registra que em Olímpia também haviaum altar a deuses desconhecidos (i. 14.8). (3) Diógenes Laércio (i.l 10), escritor do início do 3° século, conta que Epimênicles de Creia foi convidado para ajudar Atenas num período grave de peste. O cretcnse levou algumas ovelhas brancas e pretas para o Areópago e as soltou para vagarem pela cidade. Onde quer que uma das ovelhas se deitasse, era oferecido um sacrifício e erguido um altar. Os memoriais desta expiaçâo não tinham nome. (4) Lilostrato (c. 200 d.C.), em Vida de Àpolônio de liana (ví.3), faz menção especial a Atenas, na qual ele afirma que havia altares até mesmo a divindades desconhecidas. Tais referências são suficientes para confirmar o lato de que os gregos construíam altares a deuses cujo nome não conheciam. Embora não haja, tora do NT, nenhum registro conhecido de um altar com a inscrição “ao deus desconhecido" no singular, as evidências citadas demonstram a possibilidade da existência dc um altar com essas características nos dias de Paulo. A presença desse altar estaria em conformidade com o que se sabe sobre a filosofia religiosa de Atenas. Os habitantes da cidade eram ávidos por reconhecer todas as divindades e erguiam altares a um deus desconhecido ou a deuses desconhecidos, a fim de que nenhum tosse negligenciado. Tal prática representa a suprema confissão da impotência do ser humano para resolver os problemas do universo, semelhante à que se ouve, às vezes, dos lábios dc cientistas atuais. Um equivalente latino das inscrições gregas foi encontrado num altar descoberto em Ostia, o porto marítimo de Roma, hoje no museu do Vaticano. Este altar representa um grupo de sacrifícios mitraicos e traz a inscrição: “O símbolo do deus que não se pode descobrir", boi encontrado um altar em Pérgamo com uma inscrição incompleta em grego que parece dedicá-lo a deuses desconhecidos.Esse que. Evidências textuais (cl. p. xvi) favorecem a variante adotada pela ARA.Sem dúvicki, Paulo usou pronomes neutros, embora estivesse se referindo à Divindade, uma vez que os atenienses ainda não conheciam a 7 pessoa do Deus vivo. E possível que, assim como no v. 29, em que usa uma palavra grega neutra (iheion), Paulo tivesse Deus em mente.Sem conhecer. Do gr, agnoount.es, parli- cípio que significa '‘desconhecido". Paulo faz aqui um trocadilho de palavras gregas. Ele declara que o "deus desconhecido |agwos- íos|" c Aquele "que vocês estão adorando sem conhecer \agnoountes\".Anuncio. Do gr. kataggellõ, “anunciar", "proclamar”. No v. 18, os filósofos haviam usado praticamente a mesma palavra (kata- ggeleus. "anunciador', "proclamador ”) para descrever Patdo como um "apresentador de estranhos deuses". Paulo não se deu ao trabalho de negar a acusação; cm vez disso, apropriou-se da palavra (kataggellõ) e a usou para justificar o próprio procedimento. Desta forma, conseguiu apresentar o Deus verdadeiro. a quem amava e servia. |
At.17:24 | 24. O Deus. Ao falar do Deus verdadeiro, Paulo deixa de lado a forma neutra do v. 23 c usa o gênero masculino, colocando aquele a quem adorava num plano superior ao dos deuses dos atenienses.Que fez o mundo. Aqui o apóstolo faz a identiReação suprema do Deus a quem ele se relere: Ele é o Criador. Isso O dístin- guia dc todos os falsos deuses (ver com. de Jr 10:10-12). A criação por um Deus pessoal era um pensamento oposto às filosofias epi- curista c estoica. Todavia, Paulo a apresenta de uma forma que desperta o deslumbramento e o interesse dos ouvintes, recebendo permissão para continuar. A palavra traduzida por “mundo" (cosmos) era usada pelos gregos em referência ao universo ordenado e pode abranger tanto o céu quanto a Terra (ver com. de Ml 4:8).E tudo o que nele existe. O intrépido orador não deixou espaço para a interpretação incorreta de suas palavras, nem para ainserção de idéias céticas: Deus não só criou o universo, como também formou todas as coisas que nele existem. Tal ensino era uma sentença de morte à mitologia pagã.Sendo Ele Senhor. Ou, "Ele, sendo Senhor”. Isto coloca o Deus de Paulo muito acima dc iodas as outras supostas divindades, transformando-0 no dono e governante do universo inteiro.Não habita em santuários. Ver com. de At 7:48; cl. Jo 4:21-24. Ao falar de “santuários", Paulo provavelmente apontava para os exemplos magníficos da perícia arquitetônica grega pela qual estava cercado em Atenas. Seu ensino da onipresença c transcendência de Deus fez a adoração pagã parecer inútil e distanciada das grandes qualidades espirituais que ele proclamava. |
At.17:25 | 25. Servido. Do gr. therapeuõ, “tratar” ou “curar" num sentindo médico, mas usado aqui com sentido religioso, signiticando "servir”. Paulo enfatiza a natureza espiritual do serviço que Deus espera de todos os seres humanos, em contraste com a adoração materialista que as pessoas não regeneradas tendem a prestar.De alguma coisa precisasse. Litcral- mente, "[como que| precisando de alguma coisa a mais”. As religiões pagas apresentavam seus deuses como dependentes e invejosos dos presentes humanos. Paulo explica que o Deus verdadeiro é diferente. As pessoas devem pensarem Deus como o supremo doador, que nada exige além de justiça, misericórdia e humildade (Mq 6:8). Outros escritores judeus e pagãos haviam testemunhado da mesma verdade. Davi disse: "Pois não Te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu Tos daria" (Sl 51:16); o poeta latino e epicureu Lucrccio (De Re rum N atura, ii.649-651; ecl. Loeb, p. 131) escreveu o seguinte sobre a natureza divina: "sem perigo, poderosa por si só. usando os próprios recursos, não necessitando em nada de nós, não é propiciada por serviços, nem tocada pela ira".A todos dá. Por meio destas palavras, Paulo inclui seus ouvintes e declara que eles também são dependentes do Deus sobre o qual ele laia.Vida, respiração. Os dois substantivos devem ser interpretados como abrangentes da existência mortal do ser humano. Deus dá ao homem vida original e a mantém, concedendo-lhe a respiração. Assim, Paulo enfatiza a dependência completa do ser humano em relação ao único Deus verdadeiro. |
At.17:26 | 26. De um só. Ou, "de um só sangue" (AGP). Podem-se citar evidências textuais (cI. p. xvi) para a omissão de “sangue ’, palavra que pode ter sido acrescentada pos- teríormentc para ajudar a esclarecer o pensamento. Paulo declara a verdade histórica de que todos os seres humanos e, em consequência, todas as nações, derivaram de um ancestral comum, Adão. Essa era uma crença que nenhum grego e, sobretudo, nenhum ateniense aceitaria facilmente. Para eles, a distinção entre gregos c bárbaros era radi- £ cal e essencial. Um grupo era, por natureza, tadado a ser escravo do outro (Aristóteles, Política, i.2.6). Mas não havia lugar na teologia de Paulo para uma raça "superior”. Ele cria no relato da criação do homem, em Gênesis. Reconhecia a unidade de estrutura física e de. desenvolvimento potencial ou real, impedindo qualquer raça ou nação (hebraica, helênica, latina ou teutônica) de presumir ser o suprassumo da humanidade (comparar com Gl 3:28; Cl 3:11, textos em que Paulo destaca a unidade conquistada mediante a crença em Cristo). O cristão é duplamente obrigado a reconhecer a igualdade entre os seres humanos: pela criação e pela redenção.Toda a face da terra. Miais um elo na cadeia do raciocínio de Paulo. O Criador tinha a intenção de que os seres humanos habitassem todas as partes da Terra, sem atribuir superioridade aos moradores de qualquer região em particular.Havendo fixado. Do gr. horizõ, “demarcar as Fronteiras”, “designar”, “determinar”. A forma da palavra usada aqui é um particípio c pode ser traduzida por "tendo determinado”.Tempos previamente estabelecidos. Do gr. prostetagmenoi kairoi, "tempos determinados [ou estações’]". O sentido é compreendido com mais facilidade se a palavra “seus” for inserida, ficando da seguinte forma: “havendo fixado seus tempos previamente estabelecidos”. A palavra “tempos” (kairoi) se refere a períodos históricos, em vez de a estações do ano. A referência é ao conhecimento divino das questões humanas.Limites. Isto é, Deus, por intermédio de Sua providencia, lixou as fronteiras ou os limites naturais para as nações (ver com. de Dn 4:17; cf. Dt 32:8). |
At.17:27 | 27. Buscarem a Deus. Evidências textuais (cf. p. xví) favorecem a variante adotada pela ARA, mas também há evidências para a tradução “buscar a Divindade”. O sentido, porém, é. claro: Deus planejou a criação a fim de que todos que desejassem pudessem buseá-Lo e encontrá-Lo.Se, porventura. Do gr. ei ara ge, “se então de fato” ou "para que de lato ”. Deus espera que os seres humanos O busquem. A única dúvida envolvida é que nem sempre as pessoas optam por fazê-lo.Tateando. Do gr. pselaphao, “manusear", "tocar" ou “sentir”, usado na LXX para o ato de apalpar no escuro (Dt 28:29; Jo 5:14; etc.). A imagem descreve muito hem a busca ás cegas dos seres humanos por conhecimento do Ser supremo.Tateando, O possam achar. O altar ao deus desconhecido era testemunha de que eles não O haviam achado. “O mundo não O conheceu por sua própria sabedoria” (lCo 1:21). Mas Paulo deu a cerleza de que. aquele que O busca de verdade poderia conhecê-Lo. Deus deseja ser achado. Ele é o “galardoador dos que O buscam” (I Ih 11:6).Não está longe. A 1 rase inteira é bem enfática e diz, literalmente: "e, contudo, Ele não está longe de cada um de nós”. Não há dúvida nas palavras de Paulo; pelo contrário, ele faz uma declaração inegável de fatos. O Senhor está perto dos seres humanos, mesmo quando estes não O reconhecem. Isso torna relativamente simples para as pessoas encontrar a Deus, pois Ele está ao lado delas, esperando que despertem e as auxiliando em seus esforços para descobri-Lo. Deus pode Se revelar e o faz de acordo com o grau de zelo e vontade demonstrado por aqueles que O procuram. Neste ponto, os estoicos encontrariam um paralelo entre seus próprios ensinos e o pensamento de Paulo, mas os epieureus o rejeitariam, pois as palavras do apóstolo constituíam um ataque ao ateísmo básico de seu sistema filosófico. |
At.17:28 | 28. NEle vivemos. A frase inteira diz, literalmente: "NEle [ou por Ele] vivemos, e somos movidos, e estamos existindo". As palavras do apóstolo exprimem o pensamento de que derivam do Criador não só nossa dependência inicial dEle, mas também todas as nossas atividades — físicas, mentais e espirituais. No ensino de Paulo, a personalidade do De us onipotente e onisciente não se confunde com a alma impessoal e panteísta do mundo, mas se distingue com toda nitidez no caráter do Criador e Mantenedor de toda vida. “Por intermédio de agentes naturais, Deus está operando dia a dia, hora a hora, momento a momento, para nos conservar em vida, edifícar e restaurar-nos. [...] O poder que opera por seu intermédio é o poder de Deus (CBV, 112, 113).Vossos poetas. E possível que esta expressão se retira mais uma vez à primeira declaração do versículo, bem como à citação que se segue. As palavras "pois nEle vivemos, e nos movemos, c existimos" são uma cita- E ção quase exata de uma estrofe que parece ter sido composta pelo cretense Epimênides(6° século a.C.), registrada pelo comentarista do 9° século Isho dad:Construíram uma sepultura para ti, ó santo e altíssimoOs cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos!Mas tu não estás morto; vives e habitas para sempre;Pois em ti vivemos e nos movemos e existimos."(citado por: F. K Brucc. lhe Bookofthe Acts. The New International Commentary on the New Testament, p. 359).Essa passagem é interessante não só pela possível conexão de Epimênides com o altar ao "deus desconhecido” (ver com. do v. 23), mas sobretudo por conter a citação que Pardo usa para se referir aos cretenses em Tito 1:12. O fato de o apóstolo ter citado Epimênides no segundo caso aumenta a probabilidade dc que também tivesse este poema em mente na situação presente.A segunda frase, "porque dele também somos geração” é uma citação clara de um poeta grego, usada por Paulo com reconhecimento da fonte. Vem de Arato (e. 270 a.C.), amigo de Zenão, o fundador do estoicismo. Assim como Paulo, Arato era da Cilícia. Seu poema didático, Phaenomena, que trata dos principais fatos da ciência astronômica e meteorológica conforme o conhecimento da época, inicia com uma invocação a Zeus e contém as palavras citadas pelo apóstolo:Com Zeus comecemos; ele, nós, mortais, nunca o deixamos anônimo.Cheias de Zeus estão todas as tuas e todos os mercados dos homens.Cheios estão o mar e os céus, acima. Todos sempre necessitamos dc Deus, Pois dele também somos geração."(Phaenomena, 1-5; Loeb ed., p. 381).A citação chamaria a atenção dos ouvintes de Paulo imediatamente. Ao citar a literatura dos gregos, cie ilustrou sua prática de se fazer "tudo para com todos" (ICo 9:22). Eles reconheceríam que não estavam lidando com um judeu sem instrução, como os comerciantes e exorcistas tão presentes nas cidades gregas, mas com um homem de cultura semelhante à deles, familiarizado com os pensamentos de seus poetas. Não há necessidade de exagerar a educação clássica de Paulo, mas está claro, com base nas referências mencionadas e na citação de 1 Coríntios 15:32, que o apóstolo conhecia os autores gregos e era capaz, de fazer citações adequadas de suas obras quando a situação exigia. Ao fazê-lo, não está necessariamente apoiando os sentimentos revelados no contexto das palavras que utilizava, mas tão somente usando escritos gregos a I im de ilustrar o ensino mais elevado que apresentava.A abordagem psicológica de Paulo nesse momento oportuno foi esclarecedora. O apóstolo não disse a seus ouvintes, logo de início, que eles tinham uma opinião elevada demais sobre si mesmos, que eram meras criaturas leitas de pó. Em vez disso, destacou que também tinham uma estimativa inferior demais sobre a própria posição, pois haviam se esquecido de que eram geração de Deus. considerando-se, assim como os judeus descrentes haviam feito, "indignos da vida eterna” (At 13:46). |
At.17:29 | 29. Geração de Deus. O apóstolo imediatamente usa as palavras do poeta grego (ver com. do v. 28) para combater a idolatria. Se somos de fato "geração de Deus", nosso conceito sobre Ele deve crescer, não descer em direção aos ídolos, que, sendo feitos por seres humanos, são inferiores a eles. Embora profira a mesma verdade proclamada pelos profetas do AT (lRs 18:27; SI 135:15-18; Is 44:9-20), o tom de Paulo ao falar da idolatria é muito diferente do deles. O apóstolo estudou a origem da idolatria e, em vez defalar dela com escárnio, ódio e menosprezo, demonstrou piedade por aqueles que eram suas vítimas.Não devemos pensar. Assim como o ser humano vale mais do que bens materiais, Deus deve estar muito acima de ambos.Divindade. Do gr. theion, “divindade'’. O termo é usado por Josefo (Antiguidades, viii.4.2 [107]) e Filo (Oiiocl Deus Sit Immutabilis, xxiii [ 1051) para o único Deus verdadeiro e empregado aqui por Paulo como uma palavra aceitável para seu público grego.Ao ouro, à prata ou à pedra. 7\ primeira palavra lembraria aos atenienses o uso generoso de ouro na colossal estátua de Atena que ficava no Partenon, feita por Fídias. A prata não era muito empregada, mas os relicários de Artêmis (Diana), cm Efeso (ver com. de At 19:24), são exemplos de seu uso. "Pcxlra" era o termo normalmcntc empregado para se referir ao mármore do monte Pcntélico, tão usado nas belas esculturas e na arquitetura de Atenas.Trabalhados pela arte. Ou, “obra de arte entalhada |ou ‘esculpida’] .Imaginação do homem. Esta expressão, juntamente com a anterior, revela a consciência de Paulo sobre a arte que o cercava em Atenas. |
At.17:30 | 30. Não levou Deus em conta. Do gr. hypereidon, "passar por alto”. Paulo extraía conforto do pensamento de que a ignorância diminuía a culpa e, portanto, o castigo ao mundo pagão. No passado, houve um momento de “passar por alto” (paresis) os pecados da humanidade, no sentido de que a retribuição plena não recaiu sobre os pecadores. Isso ocorreu por causa da longanimidade de Deus (ver com. de Rm 3:25). Em sua imensa misericórdia, o Senhor concede perdão às pessoas, contanto que estas se arrependam, por causa do sacrifício expiatório de Cristo.Tempos da ignorância. A frase diz, literalmente, "os tempos da ignorância, portanto". A palavra usada aqui para "ignorância”(ugnoia) e os Lermos "desconhecido’’ e "sem conhecer' no v. 23 vêm do mesmo radical e ilustram a estrutura bem entretecida do discurso de Paulo. Ele caracteriza e desculpa pareiahnente todo o período pré-cristão, por se basear na falta de conhecimento, em especial, de conhecimento do divino.Agora, porém. A palavra "porém’’ não está no original. No entanto, a expressão grega aponta para o contraste entre os tempos passados de ignorância e o momento então presente de iluminação trazida por pregações como a de Paulo.Notifica. Ou, "proclama ”, “anuncia”, "declara".Aos homens que todos, em toda parte. Expressão abrangente que abarca todos os seres humanos, em harmonia com a natureza mundial da comissão evangélica (cf. \ I! 24:14; Mc 16:15).Arrependam. Deus havia apontado para a situação de pecado do ser humano, mas Sua rica misericórdia torna possível o encontro do perdão, sob a condição do arrependimento.Neste momento dodiscurso de Paulo, a reação tanto dos estoicos quanto dos epicureus, que haviam seguido a linha de raciocínio do apóstolo, começou a mudar. E possível que os epicureus lamentassem os erros que eles cometeram em sua busca por prazer. Mas o arrependimento subentendia uma mudança de opinião, a renúncia ao passado e a resolução de viver de maneira mais elevada no futuro, algo contrário à filosofia deles. Os estoicos, por sua vez, aceitavam as consequências de suas ações com apatia serena. Agradeciam por não serem como os outros homens, por terem conseguido, mediante os próprios esforços, alcançar a perfeição ética. Mas a ideia de arrependimento ainda não lhes havia ocorrido (ver Marco Aurélio, Meditações, i. 1-16). |
At.17:31 | 31. Porquanto. Paulo extrai o convite ao arrependimento da realidade do juízo iminente.Um dia. Isto é, numa determinada época, não necessariamente em um dia literal.Há de julgar. Do gr. mellõ krinein, "estar prestes a julgar” ou, simplesmente no futuro, "julgará”, “ter a intenção de julgar ”. Citando o Salmo 9:8. Paulo enfatiza a certeza e talvez a proximidade do juízo (et. At 24:25; llm 2:5, 6, 16). A proclamação do juízo vindouro é parte da doutrina pauiina e cristã (ver com. de Ap 14:6, 7). O cristianismo não deixa os seres humanos ignorantes quanto ao que os espera; em vez disso, apresenta uma explicação abrangente e, ao mesmo tempo, breve dos eventos que virão. Mas o pensamento de juízo dificilmente é bem aceito pelas pessoas. Ninguém gosta da expectativa de comparecer diante do tribunal de julgamento divino. Os gregos não eram exceção e é provável que, deste momento em diante, os epicureus e estoicos tenham resistido com toda (orça à exposição de Paulo.Mundo. Do gr. oikomnenõ, “a terra habitada” (ver com de Mt 24:14; Lc 2:1). A palavra também era muito usada para designar o mundo romano, ou mundo civilizado, em contraste com as regiões bárbaras.Com justiça. Isto é, numa atmosfera justa (cf. Sl 9:8; 96:13; 21m 4:8).Por meio de um varão. De acordo com o que vem em seguida, fica claro aos cristãos que Paulo se refere a Jesus, mas o registro do discurso não mostra que o apóstolo teve uma oportunidade pública para identificar quem era o "varão” (ver com do v. 32).Que destinou. Isto é, escolheu, par- ticularmcnte, para a obra de julgamento (comparar com At 10:42; Rm 2:16).Acreditou. Isto é, forneceu razões para confiança.Diante de todos. Mais uma vez, Paulo destaca a natureza universal do chamado evangélico.Ressuscitando-O. A ressurreição de Jesus é apresentada aqui como urna forte intenção divina para a humanidade, no quediz respeito ao juízo e, cm consequência, à vida eterna que Ele dá mediante Cristo Jesus. Paulo não teve a oportunidade de desenvolver este assunto, pois, ao mencionar a ressurreição, despertou o escárnio dos ouvintes, levando o discurso a um fim abrupto. Caso houvesse a oportunidade de completar a fala, provavelmente o apóstolo explicaria em termos mais detalhados a vida e a obra de Jesus, além de Sua posição-chave no plano do Senhor para a humanidade. Observe como seu argumento progride: Paulo primeiro fala que Deus é o criador do mundo e dos seres humanos, e das regras que Ele fez para a permanência das pessoas na lerra. Em seguida, argumenta que tudo isso devería inspirar as pessoas a saber que Deus é muito mais exaltado do que os seres humanos. Isso devería levá-los a buscar ao Senhor, sabendo que o Criador nunca está distante, mas, sim, aguardando a aproximação de Suas criaturas. Mas então estavam chegando ao fim os dias de trevas, nos quais as pessoas precisavam depender da revelação divina por intermédio da natureza, uma vez que Ele falou por meio do Filho do Homem, cuja ressurreição provara ser o Filho de Deus. Mediante este Filho, Deus julgará o mundo, e os seres humanos devem se preparar para tal juízo, arrependendo-se. |
At.17:32 | 32. Quando ouviram. Parece que o apóstolo recebeu atenção respeitosa até abordar o assunto da ressurreição dos mortos. A ressurreição de mortos parecia impossível para epicureus e estoicos, bem como para os gregos de modo geral, assim como para os saduceus (cf. At 23:8; 26:8; ICo 15:35). O mundo de então, assim como o de agora, estava pronto para crer na imortalidade da alma, mas indisposto a aceitar a doutrina da ressurreição do corpo.Uns escarneceram. O tempo verbal do grego sugere que eles começaram a zombar nesse momento do discurso de Paulo. A palavra ''uns' pode incluir tanto epicureus quanto estoicos.Ouviremos noutra ocasião. É possível que alguns tivessem o desejo genuíno de ouvir mais sobre um assunto tão vital, mas parece que eles nunca mais escutaram o apóstolo aos gentios (comparar com a atitude de Félix, Ât 24:25). |
At.17:33 | Sem comentário para este versículo |
At.17:34 | 34. Porém. Isto é, em contrapartida, num feliz contraste com aqueles que rejeitaram a mensagem de Paulo.Agregaram. Do gr. kallaõ (ver com. de At 5:13; 9:26). Havia um poder de atração no caráter e nas palavras do apóstolo que aproximava as pessoas dele. Alguns classificam o discurso de Paulo em Atenas como um fracasso, mas tal julgamento não é justo, se considerarmos os conversos feitos ali.Dionísio, o areopagita. Isto é, um membro do conselho do Areópago (ver com do v. 19). Pelo menos em tempos anteriores, para ser membro do conselho era necessário ter desempenhado uma função de autoridade, a de arconte, e ter mais de 60 anos de idade. Portanto, provavelmente este converso era alguém de elevada reputação. Segundo uma tradição atribuída por Eusébio (História Eclesiástica, íii.4.9. 10; iv.4.23) a um bispo de Corinto, este Dionísio se transformou no primeiro bispo de Atenas. Foi descoberto um elaborado tratado sobre A Hierarquia Celestial no nome deste homem, mas a data do documento é bem posterior, provavelmente, do 4° ou 5° século. A lenda dos sete campeões da cristandade transformou Dionísio em São Dinis da França.Dâmaris. Possivelmente Damalis. "novilha’’, nome grego relativamente comum. Não há nenhuma identificação sobre essa cristã convertida. Crisóstomo e outros creem que se trate da esposa de Dionísio, mas isso não se baseia em nenhum lato conhecido.Com eles, outros mais. O contraste entre a expressão a "numerosa multidão’ em íéssalônica (v. 4) e os “muitos" em Bereia •> (v. 12) é significativo. Também chama aatenção a total falta de menção a Atenas nas epístolas de Paulo. A menção mais próxima é a provável inclusão dos cristãos atenienses entre “os santos em toda a Aeaia" (2Co 1:1). Quando Paulo chegou a Corinto, encontrou um público de nível intelectual mais simples e pregou de acordo com os ouvintes. Ele decidiu "nada saber entre’’ eles, "senão a Jesus Cristo e este crucificado" (iCo 2:2). Concentrou sua mensagem na cruz de Cristo e o Espírito de Deus lbeconcedeu sucesso notável. Mas em Atenas, Paulo toi guiado peJo mesmo Espírito a falar aos filósofos e adaptou seu discurso aos hábitos mentais deles. Não fez vários conversos, conforme observado acima, mas uma igreja foi lundada, transformando-se num memorial constante e honroso do podei: do evangelho para resgatar os seres humanos da escravidão do pecado c da tentação e torná-los livres em Cristo Jesus (comparar com A A, 240-241).Ed, 67, 174; HR, 313I i. 54Capítulo 18/ Paulo trabalha com as próprias mãos e prega em Corinto. 9 O Senhor o incentiva em uma visão. 12 Acusado perante o procônsul Gálio, ele é absolvido. 18 Passa de cidade em cidade para fortalecer os discípulos. 24 Apoio, após instrução de Áquila e Priscila, 28 prega a Cristo com poder.companhia Priscila e Aquila, depois de ler raspado a cabeça em Ccncreia. porque tomara voto. |
At.18:1 | 1. Deixando Paulo. Evidências textuais (ct. p. xvi) favorecem a omissão de “Paulo”, lendo-se “deixando ele”.Corinto. Cerca de 65 km a sudoeste de Atenas. Paulo pode ter viajado pelo istmo de Corinto, ou pelo mar, de Pireus a Cencreia. A cidade de Corinto ficava no istmo c tinha um ancoradouro nas duas praias: um em Cencreia, a leste, e outro em Lecaion, a oeste.Tinha importância comercial desde o início da era grega. O comércio levava o povo à luxúria e ao vício. Ali Paulo começou a trabalhar, com resultados muito mais frutíferos do que em /Atenas. |
At.18:2 | 2. Aquila. Nome latino que signilica "águia”, cujo equivalente grego 6 Akylas. O nome Onkelos, provavelmente outra forma alterada, foi o nome dc um escritortradicional de um dos targuns judaicos (ver vol. 5, p. 83). Era uma tendência comum dos judeus, quando moravam em países pagãos, dar nomes derivados de animais.Natural do Ponto. Literalmente, "um homem de Ponto, por sua raça". As províncias da Asia Menor estavam cheias de famílias judaicas da diáspora, conlorme se observa no livro de Atos (ver com dc At 2:9, 10; cl. 1 Pe 1:1). Alguns judeus do Ponto estavam em Jerusalém no Pentecostes (At 2:9). O reino do Ponto foi subjugado pelo domínio romano quando seu rei Mitrídates foi conquistado por Pompeu cerca de um século antes dessa época.Recentemente chegado da Itália. Ver com. sobre "ter Cláudio decretado", abaixo.Priscila. O nome ocorre em outras passagens (ICo 16:19), na forma de Prisca, o diminutivo. O nome "Prisca" provavelmente reflete urna conexão com o gens, ou clã. de prisci, o qual, desde o início dos tempos romanos, forneceu à cidade-estado uma série de pretores e cônsules. Logo, o casamento de Aquila e Priscila pode ser exem- C pio da influência de um judeu instruído com uma mulher da classe alta de Roma. A citação do nome de Priscila antes (At 18:18; Rm 16:3; 2Tm 4:19) se explicaria caso ela fosse uma nobre romana. O fato dc ter participado da instrução de Apoio (ver At 18:26) sugere qué era uma mulher culta.Não é possível definir com certeza se os dois foram conversos de Paulo, mas alguns latos sugerem que não: (1) O registro não informa nada sobre terem ouvido o apóstolo, como no caso de Lídia (At 16:14); Lucas dificilmente teria omitido um fato como esse, caso tivesse ocorrido. (2) Paulo aceitou morar com eles sem hesitar (At 18:3), antes mesmo de pregar na sinagoga, Isso pode sugerir uma atitude simpática da parte do casal.Ter Cláudio decretado. O relato da expulsão dos judeus da cidade de Roma(ver p. 68) é feito por Suetônio, nas seguintes palavras: “Como os judeus constantemente provocavam perturbações instigados por Crestos, ele [Cláudio] os expulsou de Roma" (A Vida dos Doze Césares, v.25.4; ed. Loeb, Siietonius, vol. 2, p. 53). Uma colônia considerável de judeus havia se estabelecido em Roma na época, ao pé da colina Janículo (ver mapa, p. 504). Eles exerciam influência considerável sobre as classes mais altas da cidade. Tinham as próprias sinagogas e locais de oração (ver com. de At 16:13); eram tolerados como urna religio licita (religião reconhecida legalmente) e possuíam os próprios cemitérios ao longo da via Apia. A ordem de expulsão de Roma parece ter sido súbita; Suetônio acreditava que um homem chamado “Crestos-’ (em latim), estava ligado ao decreto. O autor não fala mais nada sobre tal homem. Na época, porém, os sons do “i" e do “e” do grego eram difíceis de diferenciar, e Tertuliano (Apologeticum, iii.5) diz que, com frequência, o nome Christos era pronunciado como Chrestos, “bom", “útil" ou "gentil". Uma possível explicação para o decreto de Cláudio é que cristãos foram para Roma após o Pentecostes e ocorreram tumultos ali, como os de Antioquia da Pisíclia (At 13:50), Listra (At 14:19), lessalônica (At 17:5-8) e Bereia (At 17:13). O nome de Cristo estava nos lábios tanto daqueles que O aceitavam quanto dos que rejeitavam Sua afirmação de ser o .Messias. Logo, autoridades romanas que, assim como Gálio, pouco se importavam com questões de nomes e palavras (At 18:15). facilmente concluiríam que Cristo era o líder de um dos partidos e presumiríam (como em Tessalônica, At 17:7) que ele afirmava ser um usurpador do trono terreno. Tal explicação justificaria os tumultos, a confusão de nomes e o decreto de expulsão (ver vol. 5, p. 58, 59).Aquila e sua esposa permaneceram em Roma até serem expulsos. Como muitos dos judeus em Roma, ou seus descendentes, eram libertos (ver com. de At 6:9),Aros 18:4é provável que Áquila ou seus parentes pertencessem a essa classe. Aquila e Priscila são mencionados posteriormente (Rm 16:3) como se tivessem voltado para Roma. Caso isso tenha acontecido, foi depois de ficarem com Paulo em Efeso. Eles estavam com o apóstolo em Efeso quando ele escreveu a primeira epístola aos Coríntios (ICo 16:19). Além disso, a casa onde moraram foi colocada a serviço dos cristãos de Efeso. Caso Timóteo estivesse em Efeso quando Paulo lhe escreveu a segunda carta, o casal ainda estaria na eidacle (2Tm 4:19). Além disso, não se sabe mais nada do paradeiro dos dois.A respeito dos primeiros pregadores da nova té cm Roma. é possível formar uma ideia com base nos ciados a seguir: (!) seria impossível que se passassem 25 anos desde o Pentecostes sem que os judeus de Roma recebessem notícias específicas sobre os acontecimentos na Palestina, onde o evangelho eia pregado com sucesso notável. (2) Entre os presentes no Pentecostes, havia "romanos [...] tanto judeus como prosélitos” (At 2: 11). (3) Dentre os judeus helenistas que contenderam com Estêvão, havia libertos de Roma e é possível que o próprio Estêvão pertencesse a essa classe (ver com. de At 6:5, 9). (4) Andrônico e Júnías, a quem Paulo saúda, "estavam em Cristo" antes dele (Rm 16:7). Faz sentido, portanto, procurar entre estes os fundadores cia igreja de Roma, em vez de atribuir a honra ao apóstolo Pedro, como faz a tradição. Tudo indica que a teologia dos cristãos de Roma era semelhante C aos grandes princípios expostos por Estêvão, cuja compreensão do evangelho influenciou Paulo. Isso explica bastante por que Aquila e. Priscila acharam tão fácil receber o apóstolo em Corinto. E possível que muitas das pessoas citadas por Paulo em Romanos 16:3 a 15 tenham sido expulsas de Roma por Cláudio e depois retornado para a cidade. |
At.18:3 | 3. Passou a morar com eles. Segundo o Talmude (Siikkah, 51.b; ed. Soncino, p. 245),pelo menos em .Alexandria, os membros de cada profissão se sentavam juntos nos cultos da sinagoga. O estrangeiro que chegasse encontraria os colegas de ofício ali e podería conseguir hospedagem com eles. Caso esse também fosse o costume em Corinto, como c provável, Paulo encontrou abrigo e emprego com Aquila e Priscila.Fazer tendas. O ofício de fazer tendas era lima atividade que. Paulo facilmente pode ter aprendido e praticado em sua cidade natal. Tarso era célebre, tanto na época quanto depois, pelos tecidos resistentes de pelo de cabra, do qual havia grande demanda para velas de navio e lendas. O material era conhecido pelos romanos com o nome da província, cilicium. A província do Ponto, de onde vinha Aquila. cra famosa pelo mesmo tipo de produto, cuja matéria-prima era fornecida pelas cabras que pastavam nas encostas dos montes Tauros e nas cadeias montanhosas da região. Os indícios de que Paulo tivesse uma origem rica e o fato de ter recebido elevado grau de instrução não influem em haver aprendido um ofício manual, pois o provérbio rabínico "quem não ensina ao filho um ofício, o ensina a ser ladrão” tornava tal ensino quase que universal entre as famílias hebreias. Por exemplo, o grande Hillel era carpinteiro. Por isso Paulo estava apto a trabalhar pelo próprio sustento em Corinto assim como havia feito em Eessalônica, pro- tegendo-sc de qualquer acusação de interesse pessoal ao pregar o evangelho para os gregos (ICo 9:15-19; 2Co 11:7-13; Eis 2:9). Ele começou a vida em Corinto como um novo artesão assalariado ou sócio no ateliê de um judeu, sendo conhecido tão somente como judeu na cidade de Corinto. |
At.18:4 | 4. Todos os sábados. Paulo permaneceu em Corinto por pelo menos dezoito meses (ver v. 11).Discorria. Paulo sempre ia primeiramente aos judeus (ver com. de At 13:5, 14). Mas em Corinto, assim como posteriormenteem Èfeso (At 19:8, 9), ele não recebeu permissão para continuar pregando na sinagoga durante toda sua permanência na cidade (cf. At 18:7).Persuadindo. Ou. “tentando persuadir’.Gregos. Do gr. hellênai, provavelmente não seja uma relerência a judeus de laia grega, nem a prosélitos no sentido técnico da palavra, mas, assim como em outras passagens (ver com. de At 11:20), aos gentios. Paulo pode ter conhecido alguns deles na sinagoga, caso fossem “tementes a Deus” (ver com. de Al. 10:2). Sem dúvida, porém, muitos deles foram conhecidos em contatos feitos no trabalho c em outras atividades. |
At.18:5 | 5. Quando Silas e Timóteo desceram. Isto é, “da Macedônia”. 1 Tessaloni- censes 3:2 sugere que Timóteo, que parece ter ido ver Paulo em Atenas, loí enviado de volta quase que de imediato para Tessalô- nica, a fim de obter mais notícias da igreja ali. Ele voltou com um bom relato da fé e do amor dos cristãos tessalonicenses (l i s 3:6). Talvez também tenha sido nessa ocasião que “os irmãos, quando vieram da Macedônia" (2Co I 1:9) deram provas renovadas cie consideração e amor por Paulo em forma de presentes.Paulo se entregou totalmente à palavra. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a variante "ele foi constrangido [ou 'pressionado'] pela palavra [ou ‘mensagem’] ’. Por conhecer a Palavra de Deus, Paulo se sentia impelido a anunciá-la (cf. SI 39:3). Não se sabe ao certo se houve alguma relação entre a chegada de Silas e Timóteo e seu impulso de pregar. Não há indicativos de que os presentes deixaram o apóstolo menos ocupado em seu ofício, e 1 Coríntíos 9 c contrário a essa ideia, embora seja possível que os presentes tenham permitido que ele se dedicasse, por um tempo, somente à pregação. Paulo já sentia o ímpeto de pregar e, sem dúvida, as palavras de ânimo da parte de Silas e Timóteo só fortaleceram essa vontade.Testemunhando [...] que o Cristo é Jesus. Enfatizando que Jesus era o Messias sofredor, o Salvador, uma verdade que os judeus tanto precisavam aprender. |
At.18:6 | 6. Opondo-se eles. Ou, “levantaram-se em oposição", O verbo sugere forte oposição, como uma força organizada num campo cie batalha. A oposição a Paulo era bem organizada e determinada.Blasfemando. Do gr. blasphêineõ, “falar mal [de alguém]’’, “repreender ”, "blasfemar". A palavra vem de blax, “estúpido’’ e phêmi, “falar". Com certeza, a reprovação injustificada é um “discurso estúpido”, c a blasfêmia, muito mais, No presente exemplo, sem dúvida, a blasfêmia dos judeus envolvia não só falar mal de Paulo, mas também de Cristo, blasfemando no sentido mais pleno da palavra (comparar com o uso de blasphêmeõ em 2Pe 2:2: "será infamado o caminho da verdade”). A mesma conduta, embora caracterizada por uma palavra diferente, c expressa cm Atos 19:9: “talando mal do Caminho diante da multidão”. Essas confusões reproduziam o que havia acontecido em Roma (ver com. de At 18:2) e em muitos outros lugares (ver At 13; 14; etc.). Una eco das blasfêmias pode ser encontrado na expressão “Jesus seja amaldiçoado’’ (ICo 12:3, NVI).Sacudiu Paulo as vestes. Ver com. de Ne 5:13; Mt 10:14; At 13:51. Como um ato de um judeu para outros judeus, expressava a indignação do apóstolo mais do que qualquer outro gesto. Foi o último recurso de Paulo. Seus apelos à razão e à consciência só receberam violência bruta como resposta.Sangue. Ele usa a palavra "sangue” no sentido figurado, significando “destruição” (cl . Js 2:1 9). O pensamento e a forma de expressão são hebraicos (ver com. de Mt 27:25; comparar com a linguagem de Ezequiel que definia sua responsabilidade, como atalaia, em Ez 3:18, 19).Para os gentios. Ver com. de At 13:46. Sem dúvida, o que Paulo disse sobre seaiastar dos judeus só tinha aplicação limitada e local. Ele não parou de trabalhar com seus conterrâneos, apenas deixou de pregar para eles em Corinto (cf. At 9:15; 19:8). |
At.18:7 | 7. Na casa de um homem. Paulo usou esta casa para ensinar e cultuar. Ê provável que continuasse morando com Aquila c Priscila.Tito Justo (ARC). Este c um sobrenome romano (ver com. de At 1:23). Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam o nome “Tício Justo” (ARA). Contudo, não há motivo para inierir, com base neste fato, que seja o mesmo II ito de Gálatas 2:3, o qual Paulo deixou posteriormente em Creta. O nome Pito era um dos mais comuns entre os romanos. Porém, o Tito enviado a Creta era muito próximo da igreja de Corinto (2Co 7:14; 8:16, 23). Tício Justo mencionado neste versículo era um gentio incir- cunciso assim como Tito, que frequentava a sinagoga por ser "temente a Deus".Temente a Deus. Do gr. sebomai, "reverenciar'’. "adorar". A forma da palavra usada aqui se aplica aos "prosélitos piedosos” (At 13:43) c aos “gregos piedosos” (At 17:4; ver com. de At 10:2). Portanto, sua casa era um local de encontro apropriado tanto para judeus quanto para gentios, à qual os gentios seriam mais propensos a visitar do que a de um judeu.Contígua. Ou seja, ao lado. Depois de enlrentur oposição na sinagoga de Corinto, Paido escolheu um local próximo para as reuniões, a fim de lacilitar o acesso para judeus que mudassem de ideia em relação ao evangelho. Mas essa proximidade também seria um motivo adicional de amargura, sobretudo quando o número de adeptos à fé começasse a crescer e depois que até o principal da sinagoga aceitasse o evangelho (v. 8). |
At.18:8 | 8. Crispo, o principal da sinagoga. (.) tema “principal ’ inclui o conceito de “chefe’’. Crispo foi um dos primeiros a quem o próprio Paulo bati/ou em Corinto (ICo 1:14).Sua posição de liderança entre os judeus antes da conversão e a aceitação do evangelho por toda sua lamília o notabilizaram entre os cristãos.Criam e eram batizados. A forma grega dos dois verbos sugere um processo contínuo por um período não especil içado. Entre os conversos, encontrava-se Gaio (ICo 1:14), que talvez ocupasse uma posição social mais elevada do que os demais. Ele ficou conhecido entre os cristãos por sua hospitalidade e por ter alojado Pardo cm sua segunda visita (Rm 16:23). Os membros da casa de Esléfanas, "as primícias da Acaia”, parecem ter sido alguns dos primeiros conversos dali (ICo 16:15). O próprio 3 Paulo os batizou (ICo 1:16). As seguintes pessoas também podem ter se convertido na época ou logo depois: Fortunato e Acaico (ICo 16:17); Cloe, mulher proeminente entre os conversos (ICo 1:11); o irmão Quarto; Erasto, o tesoureiro da cidade (Rm 16:23); e Epêneto, uma das “primícias da Asía” (Rm 16:5). Silas c Timóteo estavam com Paulo nesse período e, sem dúvida, batizaram a maior parte dos conversos (ver ICo 1:14-16). |
At.18:9 | 9. O Senhor lhe disse. Aqui encontramos outra visão dada a Paulo. Considerando as palavras do Senhor, por algum motivo, o apóstolo estava perdendo a coragem c correndo perigo de danos físicos. Paulo recebeu essa mensagem da mesma forma que o chamado macedônico (At 16:9, 19), mas, nessa ocasião, o próprio Senhor apareceu a Seu servo. Ele recebeu visões de Deus em várias circunstâncias de crise em sua vida. Primeiro, viu Jesus no dia de sua conversão (At 9:4-6; cf. AA, 115). Mais tarde, ouviu a mesma voz e viu a mesma forma em visão no templo em Jerusalém (At 22:17-21). Enlão viu e ouviu o Senhor mais uma vez.Não temas. Ou, “pare de temer”. As palavras subentendem que, no momento, Paulo estava sentindo temor e depressão,sofrendo com o pesado fardo da tarefa que tentava realizar por seu Senhor. A maior parte de seus conversos pertencia à classe dos escravos ou libertos; aqueles cuja cultura correspondia à sua, lossem gregos ou judeus, pareciam lentos em aceitar sua pregação (cf. ICo 1:26, 27). Sem dúvida, ele também corria perigos pessoais lísieos. |á tinha visto a hostilidade dos judeus se transformar em violência física. Não seria difícil isso se repetir. Cheio de graça, o Senhor dirigiu ao apóstolo as palavras: "pare de l icar com medo”.Fala. Ou, "contínua falando".Não te cales. Ou, "não comece a ficar em silêncio". A tentação, num momento de Iraqueza, era de partir para a segurança do silêncio, quando as palavras não pareciam dar resultado. Mas o apóstolo recebeu a exortação de pregar com constância ainda maior. Nada deveria deter o testemunho de Paulo. Elias passou por uma crise semelhante de desânimo (lRs 19:4-14) e Jeremias também, mais ele uma vez (Jr 1:6-8; 15:15-21). |
At.18:10 | 10. Eu estou contigo. No original, o "Eu” é enfático. A ordem que Jesus acabara de dar foi acompanhada de uma promessa que supria as necessidades de Paulo no momento. Embora os homens estivessem contra ele. Cristo estava ao seu lado. A promessa dada no passado à igreja de modo geral, "eis que estou eonvosco todos os dias" (Mt 28:20), foi repetida de maneira pessoal para Paulo: “Eu estou contigo”. Embora a obediência a esta ordem signilicasse uma vida de sofrimento, havia nela a certeza de que os maus desígnios dos homens seriam refreados e a obra de Paulo não seria prejudicada de maneira definitiva.Fazer-te mal. Ou, "causar-le dano”, “maltratar-te”. Cristo não prometeu que Paulo ficaria livre de ataques. Mas o inimigo não recebería permissão para agir com violência contra ele. lal segurança signili- coli para o apóstolo o que Eliseu aprendera e proclamara séculos antes: "mais são os queestão conosco do que os que estão com eles”(2Rs 6:16).Muito povo. As palavras lembram as que foram ditas a Elias em seu momento de fraqueza: "Também conservei em Israel sete mil” (lRs 19:18). Mesmo em meio às pessoas mais envolvidas nos vícios de Corinto (ICo 5:10, 11), havia pessoas honestas ansiando por libertação e esperando o convite ao arrependimento. Esse era o chamado que Paulo e seus seguidores deveríam atender.Uma vez que Corinto era um dos importantes centros de atividades comerciais da época, humanamente talando, era vital que a igreja tivesse, desde o início, uma boa reputação. A importância e a abrangência da comunidade cristã de Corinto pode ser avaliada pelas epístolas que Paulo escreveu a ela. Por meio de urna visão, o Senhor deu a Paulo a misericordiosa certeza de que sua pregação seria ricamente abençoada. Ele se levantou confortado, pronto para qualquer tarefa. |
At.18:11 | 11. Permaneceu. Do gr. kathizõ, "sentar”, “estabelecer-se num lugar”. () verbo sugere permanência e continuidade.Um ano e seis meses. O tempo gasto em Corinto também deu a Paulo a oportunidade de, além de fundar e organizar uma igreja, trabalhar em regiões vizinhas, como o porto de Cencreia (ver Rm 16:1). Além de pregar e ensinar aos coríntios, é provável que tenha escrito, nessa época, as duas epístolas 2 aos tessalonieenses, que são consideradas as primeiras de suas cartas e talvez os primeiros livros de todo o NT, a menos que a epístola de Tiago seja anterior. Os destinatários de 2 Coríntios (1:1), a "igreja de Deus que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia ", revela com clareza que o evangelho se expandiu além dos limites da cidade. Essa colheita extensa foi reconhecida por Paulo como o cumprimento da promessa do Senhor recebida em visão, a qual o preparou para a persegu ição segui nte. |
At.18:12 | 12. Gálio. Seu nome completo era originalmente Marcus Annaeus Novatus, mas depois de ser adotado por um romano rico chamado Lueius Junios Gallio, passou a ser conhecido por junius Annaeus Gallio. hle era irmão do filósofo estoico Sêneca, o tutor de Mero. Sêncea dedicou dois tratados a seu irmão procônsul, De Ira e De Vita Beaiu. E provável que Gálio tenha sido procurador da Acaia em algum momento entre 51 e 53 d.C. (ver p. 86). Depois de se aposentar da Acaia, em consequência dc um ataque de lebre (Sêneca, Epístolas, civ. 1), ele voltou para Roma. A princípio, desfrutou do lavor de Nero, mas acabou incorrendo no desprazer do tirano c, de acordo com uma tradição, foi executado por ele. Outra tradição o representa antecipando seu destino por meio do suicídio. Tácito, porém, o menciona apenas "perplexo pela morte de seu irmão Sêneca e suplicando a Nero que poupasse sua vida (Amials, xv.73; ecl. Loeb; Tacitus, vol. 4. p. 833).Procônsul. Ver com. de At 13:7. Nesterelato, Lucas revela mais uma vez sua precisão característica no uso dos títulos ol i- ciais. Sob o governo de Tibcrio, a Acaia, que incluía todo o sul da Grécia pertencente à província da Macedônia, fora uma província imperial; logo, governada por um procurador. Por volta de 44 d.C., voltou a ser uma província do Senado sob o comando de Cláudio, não mais carecendo de controle militar direto (Tácito. Anuals, i.76; Suetônio, A Vida dos Doze Césares, v.25.3). Portanto, por ocasião da visita de Paulo, mais uma vez a região era governada por um procônsul.Levantaram-se os judeus. Os judeus tinham a expectativa de que, se estivessem unidos contra Paulo, conseguiríam expulsá-lo da cidade.Tribunal. Havia o costume de que os governadores romanos das províncias tomassem decisões judiciais na agora, ou fórum, isto é, na praça, em alguns dias lixos (vercom. de At 19:38). Qualquer pessoa poderia apelar para eles, a fim de que suas preocupações fossem atendidas. Os judeus devem ter aproveitado uma dessas ocasiões. Para Gálio, porém, eles pareciam um grupo dc judeus fazendo uma acusação religiosa contra um indivíduo da própria raça. Sc ele tivesse visitado Roma nos últimos tempos, provavelmente teria ouvido falar dos problemas ligados a "Crestos” (ver com. do v. 2) e julgaria Itaver uma disputa a esse respeito (ver fotos das p. 487, 488). |
At.18:13 | 13. Este. Do gr. hoiitos, "este" ou "este aqui', pronome demonstrativo que exprimia bem o desprezo que desejaram comunicar a Gálio.A lei. Parece óbvio que, neste apelo ao procônsul, os judeus não se referiram à lei de Moisés, mas, sim, à lei de Roma. Sua linha de raciocínio era que, embora os judeus tivessem sofrido banimento de Roma, na eslera política, o judaísmo continuava a ser uma religio licita, tolerada e reconhecida pelo estado romano. Logo, a acusação do grupo pode não se referir a algum ponto da religião judaica, mas ao fato de Paulo pregar uma nova religião, não reconhecida (ver com. de At 17:7). " |
At.18:14 | 14. Ia Paulo falar. Fórmula comum usada para introduzir um discurso formal (cf. Mt 5:2; 13:35; At 10:34). Paulo estava prestes a iniciar uma defesa formal, mas isso acabou não sendo necessário.Gálio declarou. Seria bem dilícil Gálio morar na Acaia por um tempo sem ter ouvido sobre o novo movimento cristão. Sem dúvida, sabia das dificuldades dos judeus, lambérn é provável que soubesse algo sobre Paulo. Mas, de seu ponto de vasta, o de um filósofo e estadista, não era uma questão que lhe cabia julgar. Não tinha a intenção de criar uma linha definida entre as religiões reconhecidas ou não por Roma.Alguma injustiça ou crime de maior gravidade. As duas únicas coisas que os .$magistrados podiam levar em conta eram: (1) qualquer maldade (cf. At 24:20) ou ato de injustiça; e (2) qualquer conduta ines- erupulosa envolvendo danos morais. Ao julgai' tais casos, desempenhavam seu papel como administradores da lei e da equid ade romanas. As duas expressões usadas aqui apontam para atos abertos de maldade, como roubo ou assalto; a segunda designa aqueles cuja astúcia ou sagacidade fraudulenta consiste em sua principal característica.De razão. Ou, "de acordo com a razão", "conforme é correto .Atender-vos. Isto c, cu escutaria seu caso. O verbo também é usado como termo técnico para aceitar uma queixa. Cálio demonstrou, por meio deste vocabulário, que os romanos se consideravam superiores aos tolerados judeus. Contudo, se a situação justificasse, os judeus desfrutariam os benefícios de tal tolerância e ele investigaria as questões ligadas a seu ofício e à lei romana. |
At.18:15 | 15. Questão. Ou, “questões”.De palavra, de nomes. Ou, "fala c. nomes". Sem dúvida, muitos aspectos relativos aos ensinos de Paulo seriam detalhados pelos judeus, caso tivessem a oportunidade. Mas se Jesus era ou não o Cristo, para os romanos, era apenas uma questão teológica, na qual não influenciariam. Se Gálio tivesse ouvido o nome "Crestos" ern Roma (ver com. do v. 2), estaria ainda mais disposto a seguir a conduta de seu mestre real e se livrar dos judeus contestantes o mais rápido possível (cf. At 23:29).Vossa lei. Literalmente, “a lei que vos [é] contorme”. Por meio desta ênfase, Gálio revelou que enxergava além do apelo à lei. O caso envolvia a lei judaica, não a romana, e ele se recusava a se envolver.Não quero ser juiz. A recusa enfática de Cálio diz, literalmcnte, o seguinte: "juiz destas coisas eu não desejo ser." A palavra grega para ‘'juiz” é enfática, assim como o pronomepara “eu". Cálio negou jurisdição sobre o caso porque ele não envolvia a lei romana. |
At.18:16 | 16. E os expulsou. Ele estava assentado na ágora ou no fórum com seus lictores e outros oficiais ao redor, e então ordenou que o lugar ficasse livre dos contestantes problemáticos com suas questões "de palavras, de nomes”. Gálio já tinha o suficiente para resolver com os assuntos adequados de sua jurisdição na agitada vida comercial de Corinto. |
At.18:17 | 17. Agarraram. Ver At 16:19. O mesmo verbo também é usado para se referir à ação violenta da multidão em Jerusalém (At 21:30) e, logo depois (At 21:33), aludindo à ação do comandante ao prender Paulo.Sóstenes. Nome comum na época. Não há necessidade de identificá-lo com o Sóstenes mencionado em i Coríntios 1:1, embora seja possível que o líder da perseguição tenha se convertido posteriormente, como foi o caso do próprio Paulo.O principal. Ver v. 8. Parece que Sóstenes se tornou o principal da sinagoga depois da conversão de Crispo (v. 8). L possível que estivesse ansioso por mostrar seu zelo contra os cristãos e, por isso, se apressou em acusar Paulo perante o procônsul. Por ser o porta-voz, seria alvo dos olhares da multidão ao redor, composta de muitos gregos. Com certeza, essas pessoas notaram o tom de desprezo de Gálio e, após a decisão contrária do governante, decidiram dar ao con- teslante uma dura lição. Ou pode ser que os judeus entregaram o próprio líder após seu fracasso no caso. Scrrt dúvida, Paulo contava com simpatizantes entre os gentios. De todo modo, a multidão concentrou sua atenção em Sóstenes.E o espancavam. Ou, “começaram a espancá-lo”.Gálio [...] não se incomodava. Ou, “nenhuma destas coisas era uma preocupação para Gálio”. A declaração do procônsul reflete a indiferença das pessoas mundanas em relação à verdade revelada. Mas as^ros 18:19palavras não significam necessariamente que ele era indiferente à religião. Gálio reconhecia os limites de seu domínio. Sua decisão deve ter aberto um precedente útil para a propagação do cristianismo (sobre a opinião dos romanos em relação ao estilo de vida dos judeus, ver v. 14; ver também p. 45, 46; vol. 5, p. 47-63). |
At.18:18 | 18. Permanecido [...] muitos dias. Paulo ali morou e trabalhou em silêncio 3 considerável durante um ano e seis meses (v. 11). Depois desse período, ou talvez em sua última parte, foi levado perante Gálio. Após essa crise, o apóstolo não mais desfrutou nenhum momento de paz em sua obra.Síria. Os motivos para esta viagem podem ter sido os seguintes: (1) assim como numa ocasião posterior (ver com. de Al 20:3, 4), com certeza ele desejava entregar pessoalmente os donativos recolhidos para os discípulos em Jerusalém (ct. Rm 15:25, 26; G1 2:10). bica claro que, quando Paulo resolveu voltar, queria chegar a |erusalém o mais rápido possível, pois se recusou a permanecer em Efeso, muito embora sua pregação tenha sido mais bem aceita pelos judeus dali do que de muitos outros lugares; (2) seu voto recente exigia uma v isita ao templo; (3) ele desejava relatar os resultados de seus esforços entre os gentios, sobretudo nas distantes regiões da Maeedônia e da Acaia (cl. At 15:4).Priscila e Aquila. Ver com. do v. 2.Cencreia. O porto oriental de Corinto, no gollo Sarônico. t possível que houvesse tima igreja organizada ali (Rm 16:1). A gratidão de Paulo em relação a Febe e a seu serviço cristão (Rm 16:2) indica que ele teve contato direto com essa igreja. E provável que lenha sido seu lundador.Voto. Este “voto" deveria ser particular, uma forma modificada do voto temporário de nazircu (Nm 6:1-21). Exigia separação do mundo e da vida humana comum (a palavra "nazircu' significa pessoa "separada” ou "consagrada"). Durante o período de voto, onazircu não podia beber vinho, nem bebida forte, não raspava o cabelo nem a barba. Ao fim do voto, deveria raspar a cabeça no templo e queimar o cabelo no altar cie fogo, debaixo de seu sacrifício. Ao concluir o voto, os nazireus raspavam a cabeça (At. 21:24). Parece que quando as pessoas estavam distantes de Jerusalém podiam cortar o cabelo bem curto e levar os cabelos cortados consigo para o templo, a fim dc oferecê-los quando o restante do cabelo fosse raspado. Foi isso que Paulo fez em Cencreia, antes de começar sua viagem para a Síria. Em 1 Coríntios 11:14 fica evidente que Paulo considerava efeminada homens usarem cabelos longos, mas o voto de nazireu necessariamente implicava cabelos longos. Logo, embora estivesse seguindo o voto, ele o fez de forma modificada, raspando a cabeça antes da viagem, para conservar a aparência e os costumes, a menos que o período do voto tenha chegado ao fim em Cencreia.O principal impulso [tara fazer um voto costumava ser a gratidão acentuada por um livramento de perigos, após certo medo. O medo, a promessa e o livramento foram observados no registro da obra de Paulo em Corinto e um voto de consagração ao objetivo de pregar o evangelho seria o resultado natural. Paulo não desprezava nem condenava as expressões de devoção, pois não as considerava legalistas, como outras práticas judaicas.Também é possível que Paulo tenha aplicado seu princípio de se fazer "tudo para com todos" (lCo 9:22) e, por isso, agisse como judeu, em demonstração de simpatia por seus conterrâneos (v. 20). O voto de nazireu demonstraria a todos os seus irmãos judeus que ele não desprezava a lei, nem ensinava outros judeus a fazê-lo (ver com. de At 21:21-24). |
At.18:19 | 19. Chegados a Efeso. O verbo grego traduzido por "chegados' é um termo náutico que significa “chegar a terra". Efeso era li ma cidade célebre, capital do distrito grego daJônia e, posteriormcnle, da pro\ íncia romana da Asia. Tornou-se o local dos trabalos posteriores do apóstolo João. A cidade não ficava longe do mar, na região montanhosa próxima à loz do rio Caístro, entre os grandes rios Hermos e Meandro. Éfeso fora inicialmente um povoado grego na costa oeste da Asia Menor, mas no 6o século a.C., caiu ante o poder dos reis da Lídia. Desde o princípio, foi um centro da adoração a Artêmis (a romana Diana; ver com. de At 19:24). cujo templo era visitado por peregrinos de todo o mundo conhecido. Ao longo de séculos, o Oriente e o Ocidente estiveram em contato próximo em Ll.eso. Lã, a religião grega assumiu características mais orientais, envolvendo magia, mistérios e encantamentos. Nos dias de Paulo, Efcso era, de longe, a eidade mais agitada e popular da Asia proconsular. Havia judeus suficientes para a existência de, no '2 mínimo, uma sinagoga.Deixou-os alí. Presume-se que Áquila e Priscila se estabeleceram em Éfeso por algum tempo (sobre as várias mudanças do casal, ver com. do v. 2).Entrando na sinagoga. Esta era a prática costumeira de Paulo: ele não desistia do próprio povo, embora losse exposto a maus- tratos constantemente. Assim que chegou, de novo os procurou nessa cidade. Todavia, sua pregação parece ter sido recebida com menos hostilidade, pois os judeus de Éfeso imploraram que ele permanecesse mais tempo (v. 20). Pode ser que o caráter cosmopolita da população cie Éfeso esteja relacionado a essa diferença de atitude.Pregava. Do gr. Jialegomai (ver com. de At 20:7). |
At.18:20 | 20. Rogando-lhe. O verbo traduzido por “rogando-lhe" costuma ser traduzido mais vezes por "perguntar". Esse desejo era um sinal esperançoso e prometia uma boa colheita futura. Em nenhum outro lugar, com exceção de Bercia, Paulo encontrou entre os judeus uma atitude tão receptivaà verdade. Ele via os corínfios como criancinhas que precisavam ser alimentadas com leite flCo 2:2), mas, posteriormente, pôde declarar aos clésios “todo o desígnio de Deus" (At 20:2/), pois eram capazes de participar de seu conhecimento do mistério do evangelho (Ef 3:4).Com eles [NTLH]. Evidências textuais (ef. p. xvi) favorecem a omissão destas palavras. |
At.18:21 | 21. Despedindo-se. Evidências textuais (ef. p. xvi) favorecem a omissão das palavras: "E-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém; mas' (ACE). Estas palavras são consideradas uma inserção sugerida por Atos 20:16. A omissão da frase torna desnecessário o debate sobre qual seria a festa judaica.Se Deus quiser. Paulo e Tiago concordavam em descansar na vontade do Pai. que organiza tudo da melhor maneira, usando até mesmo uma expressão quase idêntica (ci. lg 4:15). Para eles, essa era mais do que uma fórmula de deo vnlento, “sendo da vontade dc Deus , tão comum nos lábios dos cristãos (sobre a demonstração da vontade de Deus por meio do impedimento dos [danos dc Paulo pelo Espírito, ver At 16:6, 7).Voltarei. Assina que teve oportunidade, Paulo cumpriu sua promessa (At 194). |
At.18:22 | 22. A Cesareia. Este versículo abrange uma sequência considerável de ações. Com certeza, em Cesareia, Paulo refez, contato com o evangelista Filipe. Ali ele seria hóspede na casa de Filipe numa ocasião posterior (At 21:8).Subindo. Isto é, da cidade litorânea para Jerusalém.Tendo saudado a igreja. Esta é uma breve nota de uma visita ao que era, na época, o centro dc toda a vida e atividade cristãs. Eoi a quarta visita de Paulo a Jerusalém depois de se converter (et. At 9:26: 11:30; 15:4; 21:17). Não há menção de um ajuntamento da igreja como em Atos 14:27, nem umrelato sobre o que Paulo e seus companheiros vinham lazendo. Nem mesmo o nome da cidade é mencionado, além de nada se dizer sobre o cumprimento do voto. Alguns sugerem que o apóstolo foi recebido íríamente e que sua opinião sobre a lei e os cristãos gentios o alienou dos cristãos de Jerusalém, os quais eram zelosos pela lei. Mas tudo isso não passa de especulação. Qualquer que tenha sido o motivo, o apóstolo se apressou ao máximo para chegar à amistosa sociedade de cristãos em Antioquia.Desceu para Antioquia. O retorno de Paulo a Antioquia marca o fim da segunda viagem missionária, por volta de 52 d.C. (cf. p. 90). |
At.18:23 | 23. Passado ali algum tempo. A visita deve ter durado alguns meses. E nesta ocasião que alguns identificam a dissensâo relatada em Cálatas 2:11 a 14. O raciocínio é que Paulo estava ausente de Antioquia havia muito e que o partido judaizante tivera tempo para organizar um novo ataque à liberdade dos gentios, Colocaram mais pressão sobre Pedro, e um elemento persistente de instabilidade em seu caráter o levou a ceder. Todavia, outros defendem que o incidente ocorreu antes de Paulo e Silas partirem de Antioquia, após o concilio de Jerusalém (ver com. de At 15:39, 40).Saiu. Antioquia foi o ponto de partida da terceira viagem missionária, assim como das 9 anteriores (At 13:1-3; 15:36-40).Galácia e Frigia. Sem dúvida, Paulo seguiu o mesmo rumo de antes, visitando Listra c Derbe antes de chegar à parte mais setentrional da Asia Menor (ver Nota Adicional a Atos 16).Confirmando. Paulo não era um mero evangelista que lundava igrejas, mas, sim, um pastor, uma vez que mantinha um cuidado ativo pelo bem-estar contínuo de suas igrejas. Para algumas delas, fundadas na primeira viagem missionária, esta era a quarta visita de Paulo (ver At 13:51; 14:6, 21; 16:1, 6). |
At.18:24 | 24. Natural de Alexandria. Literalmente, "alexandrino de nascimento”. A tradução do AT conhecida como I \\ foi feita em Alexandria, pelos judeus. A cidade era um grande centro de aprendizado, que continha uma das maiores bibliotecas do mundo antigo. O filósofo Filo foi um líder intelectual notável dos judeus ali. Como viveu até cerca de 50 d.C., é possível que Apoio tenha sido influenciado por ele.Apoio. Uma provável contração de Apolônio ou Apolodoro. Os versículos seguintes são parentéticos e apresentam o contexto para o que acontece depois. Os fatos citados no NT sobre Apoio sugerem que ele ocupou um lugar de preeminên- cia na igreja. Sua influência como mestre cristão se tez sentir na comunidade cristã de Corinto, cujos membros Paulo menciona (ver 1 Co 1:12; 3:5; 4:6).Eloquente. Do gr. logios, ‘'erudito') “eloquente) Qualquer uma das traduções traz apenas metade do sentido da palavra. Apoio era erudito e capaz de usar sua formação com eficácia.Poderoso. Do gr. dynatos, “capaz”, “poderoso) |
At.18:25 | 25. Era ele instruído. Do gr. kulêcheõ, “falar sobre" c, por extensão, “ensinar oralmente”. A palavra, que deu origem a “catequizar” em português, significa que Apoio fora instruído por alguém, além de ter estudado o AE por conta própria. Josefo conta (.Antiguidades, xviii.5.2) que o ensino e o batismo de João produziram um grande eleito entre os judeus. Portanto, não surpreende que aparecessem judeus em lerusalém e Efeso que houvessem aceitado o ensino de João Batista sobre Jesus. Sem dúvida, porém, tal instrução era incompleta. Eles sabiam que João batizara em preparação para o reino vindouro, ouviram que ele apontou para Jesus como o Cordeiro de Deus e também sobre a voz do céu quando Cristo foi batizado. Mas João fora decapitadoa t o s 18:26logo depois disso c Jesus, morto no Calvário. L possível que muitos dos discípulos de João não tenham ficado sabendo o que aconteceu com a mensagem de Cristo depois: a fundação de sua igreja, as ordenanças do batismo cristão e da Ceia do Senhor, o derramamento do Espírito Santo, o ensino sobre a conversão após o arrependimento e a aceitação do dom da salvação pela graça mediante a fé. Até o próprio João Batista só compreendia vagamente o que |esus estava ensinado, pois chegou a enviar mensageiros para perguntar ao Senhor: "lis Tu aquele que estava para vir?" (Mt 11:3).No caminho do Senhor. Havia muito a aprender sobre o "caminho do Senhor para alguém que estivesse andando no "caminho de João. A expressão é usada em sentido quase técnico, como a expressão "alguns que eram do Caminho" (ver com. de At 9:2), equivalente ao que hoje chamaríamos de religião cristã.Fervoroso de espírito. Ou, "ardente em espírito" (d. Rm 12:11, no qual a palavra "espírito" também se refere ao espírito do homem, não ao Espírito Santo de Deus).Falava e ensinava com precisão. Ou, "estava talando e ensinando [ou ‘começou a ensinar e a falar ] com precisão".A respeito de Jesus. A expressão "o caminho do Senhor" é urna tradução dc palavras do AT (1 s 40:3), citadas por escritores cios evangelhos para se referir à pregação de João (Mt 3:3; Mc 1:3; Lc 3:4; Jo 1:23). E possível que Apoio fosse bastante preciso em anunciar o que João pregara sobre a chegada do reino dos céus, ilustrando com seu estudo pessoal do AT. Ele podia clemons- Lrar como João apontara para Jesus e indicar várias obras e palavras de Cristo como evidência de que Deus estava enviando pro- lelas maiores do que os judeus tiveram por um bom tempo. Logo, a vida de Cristo seria um testemunho de que a redenção se aproximava. Mas o mestre de Apoio, quem querque tenha sido, não levara o pupilo além da mensagem cio Batista, que reconhecia |esus como o Cristo. Sem dúvida, Jesus parecia, para Apoio, o líder de um judaísmo gloriJi- cado, que conservava as características distintivas da antiga religião. Ele ainda não havia aprendido que “a circuncisão, em si, não é nada” (lCo 7:19; cf. G1 5:6) e não havia percebido que o sistema de sacrif ícios estava destinado a "desaparecer" (Hb 8:13).Conhecendo. Do gr. epistamai, "ser versado em", "estar familiarizado com".O batismo de João. Em "batismo", é importante incluir a ideia dc conhecimento e experiência religiosos, dos quais o rito cra a introdução. As palavras se encontram repletas de interesse, demonstrando que a obra de João Batista como precursor de Cristo fora além do que a história do evangelho relata. Com certeza, chegara a Alexandria. |
At.18:26 | 26. Falar ousadamente. Era preciso ousadia, pois nem todos os judeus estavam prontos para ouvir anúncios acerca da vinda do Messias. O orador precisava estar munido de instrução e eloquência, bem como de coragem, para debater esse tema, uma vez que os judeus já haviam sido enganados várias vezes por impostores.Priscila e Aquila. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta ordem, como no v. 18 (cf. Rm 16:3; 2Tm 4:19). Com certeza, Priscila desempenhou um papel ativo na instrução de Apoio, demonstrando que era uma mulher de grande poder e zelo entre os cristãos. Parece que Aquila e Priscila continuaram a frequentar as reuniões da sinagoga. Quando Apoio surgiu no papel de rabino e proclamou sua mensagem (cf. At 13:14, 15), eles o ouviram e se sentiram atraídos a ele.Tomaram-no consigo. Depois de tanta dedicação à mensagem dc João, Apoio sentiría muito mais simpatia pelo ensino de Aquila e Priscila a respeito de Cristo do que os judeus céticos. Apoio estava preparado para aceitar o Messias, só não entendia comoJesus havia cumprido os requisitos necessários para receber esse título.Com mais exatidão. Esta é uma tradução literal do texto original.Expuseram. Ou, "apresentaram", "explicaram .O caminho de Deus. Eles “expuseram” a Apoio o que haviam aprendido com Paulo e talvez antes, por meio do contato com o crisLianismo em Roma (ver com. do v. 2). A instrução incluiría as doutrinas da salvação pela graça, justificação pela fé, o dom do Espírito Santo após a conversão e o batismo, o sentido e a necessidade da Ceia do Senhor. Com certeza, depois disso, Apoio, que antes só conhecia o batismo de João, seria rebati- zado "em o nome do Senhor Jesus”, como aconteceu com os doze homens apresentados em Atos 19:1 a 7. |
At.18:27 | 27. Querendo ele percorrer, isto é, desejava ir.A Acaia. Provavelmente para Corinto, a principal cidade da Acaia. As palavrasde Atos 19:] e a referência a Apoio em ICoríntios 1:12 transformam essa possibilidade numa certeza. Sua formação, habilidade natural, instrução recente e a experiência o qualificavam a desempenhar uma obra semelhante à que Paulo realizara em Atenas. Não há registro de nenhuma comissão aposLóIica a Apoio, mas alguns dos coríntios passaram a considerá-lo igual a Paulo (iCo 1:12). Dessa posição, surgiu um forte sentimento partidário naquela igreja, o qual Paulo repreendeu (ICo 3:3-17). Não há motivo para supor que o próprio Apoio tenha sido o causador dessa situação, pois Paulo faia sobre Apoio regando o que ele havia plantado (lCo 3:6). E possível que, ao tomar conhecimento da existência de partidarismo na igreja de Corinto, Apoio tenha sentido o desejo dc não voltar para lá (iCo 16:12).Animaram-no. Esta passagem também pode ser traduzida como: "encorajando [Apoio], os irmãos escreveram aos discípulos”.Escreveram. Este é o primeiro registro de algo que se tornou conhecido como “cartas de recomendação” (ver com. de 2Co 3:1; cf. Rm 16:1, 2; Cl 4:10), escritas por uma igreja a outra em favor da pessoa levando a recomendação. Eram as "credenciais" da época. O lato de a igreja de Eleso estar disposta a entregar tal carta a Apoio demonstra a excelente impressão que ele deixou enquanto esteve lá.Auxiliou muito [...J mediante agraça. Esta passagem também pode ser traduzida como: “mediante a graça auxiliou muito aqueles que haviam crido”. Tal tradução parece preferível, pois foi pela graça de Deus, f cooperando com os dons da sabedoria e da eloquência, que Apoio foi capaz, de conduzir as pessoas a uma experiência mais profunda com Cristo. Isso corresponde com exatidão àquilo que Paulo disse sobre Apoio em relação à própria obra: "Eu plantei, Apoio regou"; “lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edilica sobre ele" (ICo 3:6, 10). |
At.18:28 | 28. Com grande poder, convencia.Do gr. diükatelegchoiiuii, "argumentar ¦minuciosamente”, “convencer por completo". Apoio submetia as objeções dos judeus ao teste das Escrituras e as relutava. Levou os judeus à mesma conclusão que Paulo instigara. É provável que seu método fosse diferente do de Paulo, por causa de sua personalidade. Seus esforços atraíam seguidores à nova fé, e talvez produzissem mais resultado numérico do que as iniciativas de Paulo. Uma vez que Apoio não é mais citado cm Atos, é importante mencionar o que se sabe sobre sua história posterior. Embora seu nome fosse usado cm Corinto para representar um partido, Paulo revela que não havia diferenças doutrinárias entre ele e Apoio. Uma vez que ambos eram amigos próximos de Aquila e Priscila, é provável que não houvesse discordâncias entre os dois. Com base em 1 Coríntios 16:12, parece que Apoio acabou voltando a Éfeso, provavelmentecom cartas de recomendação da igreja de Corinio (2Co 3:1). Paulo confiava nele, conforme demonstra seu desejo de que voltasse para Corinto mais uma vez com Estéfanas, Fortunato e Acaico (1 Co 16:12, 17). Apoio sai de cena até o fim da carreira de Paulo. Podemos crer que os anos passados nesse meio tempo (oram preenchidos com ávidos esforços evangelísticos, como os realizados em Ffeso e Corinto. Perto do fim do ministério de Paulo (c. 67 d.C.), Apoio é mencionado pelo apóstolo (Tt 3:13). Ele estava na companhia de Zenas, o intérprete da lei,homem que, assim como Apoio, havia criado a reputação de ter profundo conhecimento tanto da lei judaica quanto da romana (ver com. de Mt 22:35; vol. 5, p. 43, 44). O sentimento de Paulo em relação a Apoio continuou a ser de interesse afetuoso, pois pediu a d ito que lhe desse toda a ajuda possível. Apoio estava trabalhando em Creta e parece que reuniu ao seu redor um grupo distinto de discípulos, a quem Paulo diferencia dos que se associavam a ele (Tt 3:13, 14).O Cristo é lesus. Ver com. do v. 5; At 17:3.Capítulo 19S ponderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo.separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano. |
At.19:1 | 1. Estando Apoio em Corinto. Após o fim do parêntese sobre Apoio, o registro volta a falar de Paulo. Apoio encontrou em Corinto um centro muito eficaz para sua obra na Acaia e parece ter transformado a cidade em sua base na época. Naquele momento crucial, Paulo estava se dirigindo para o oeste (At 18:23), atravessando a Ásia Menor, em direção a Efeso.Regiões mais altas. Areas mais elevadas de uma região mais ampla (ver com. de At 13:50) que ficavam mais no interior. Provavelmente, a jornada do apóstolo passou pela Licaônia, Galácia e Erigia, as quais Paulo já havia visitado.Chegou a Efeso. Essa visita foi o cumprimento da promessa feita pelo apóstolo ao deixar a cidade (At 18:21).Alguns discípulos. São chamados de “discípulos porque, assim como Apoio, haviam aprendido algumas coisas sobre Jesus. Essa base os atraíra a ouvir Paulo, que podería ensinar-lhes mais. |
At.19:2 | 2. Quando crestes. Ou, "tendo crido ’. Isto é, ou "quando crestes” ou "uma vez que crestes". Paulo se dirigiu aos homens corno crentes. Por haver chegado reeentemenle, não conhecia a história de todos que apareciam na congregação. Mas é provável que tenha observado neles uma carência de dons espirituais e talvez a falta de paz, alegria e brilho revelados naqueles que conheciam toda a mensagem do evangelho.Que existe o Espírito Santo. A posição desses discípulos é tão semelhante à de Apoio quando chegou em Efeso, queé razoável supor que fossem conversos de sua pregação. Deveríam, é claro, conhecer o Espírito Santo como um nome citado no AT e nos ensinos de João Batista (Mt 3:11). Apesar disso, porem, pareciam ignorantes no que se refere à identidade do Espírito. Eles haviam aceitado o batismo como sinal de arrependimento e, sem dúvida, tinham uma vida de retidão, mas ainda não haviam entrado na experiência de "justiça, e paz, e alegria” que era deles “no Espírito Santo” (Rm 14:17). Fica evidente que eram judeus, e não discípulos gentios. |
At.19:3 | 3. Em que [...] fostes batizados? Ver com. de At 2:41; 8:38. A expressão do N Jf “batizar em” exprime a união íntima com Deus na qual os seres humanos entram por meio do ato simbólico da imersão. As respostas dos homens até então haviam demonstrado uma instrução incompleta, interior à que os candidatos ao batismo costumavam receber, além de uma experiência espiritual incompleta, correspondente a sua (alta de conhecimento. Sem dúvida, não sabiam de suas carências c é provável que se. considerassem qualificados a pertencer à congregação de cristãos.No batismo de João. O batismo pode ter sido realizado por Apoio, antes que este recebesse uma instrução mais completa de Aquila e Priscila, ou por alguém como ele. Com exceção do v. 4, esta é a última referência do NT a João Batista. |
At.19:4 | 4. Batismo de arrependimento. Pau Io resumiu o que João ensinava: o batismo de arrependimento e a fé naquele que o sucedería,g mas os discípulos efésios nada sabiam sobre o batismo e os dons do Espírito e pouco sabiam sobre as doutrinas da fé em Cristo. |
At.19:5 | 5. Tendo ouvido isto. "Isto” é uma palavra suprida pelos tradutores e deveria ser omitida. Sem dúvida, o que os conversos ouviram não foi a mera declaração de que Jesus cra o Messias, mas os argumentos, com textos do AT, que Paulo usava para provar esta verdade, demonstrando que o AT se cumpria em Cristo. Embora a descrição aqui seja breve, a convicção dos discípulos não foi necessariamente súbita ou sem instruo ões co m ple ta s.Em o nome. Sobre o significado do "nome", ver com. de At 3:16; 4:12. Este c um exemplo de indivíduos sendo rebatiza- dos após aceitar uma verdade vital nova. Mas não é uma justificativa para rebatis- mos I requentes. O rebatismo deve ser raro. A purificação dos pecados que entram na experiência do cristão em sua caminhada diária num mundo pecador é providenciada pela graça perdoadora de Deus por intermédio de Cristo (IJo 1:9; 2:1, 2) e testemunhada pela ordenança do lava-pes, que simboliza a purificação dos pecados (Jo 13:4-10). Quando alguém é batizado em Cristo, o rebatismo só é necessário se houver apostasia clara das crenças c dos padrões que a comunhão com Jesus requer. As exceções a esta regra devem ser casos como o narrado nesta passagem. O batismo em nome de Cristo é a garantia de entrada na aliança da salvação. A intenção é que seja uma experiência duradoura e abrangente. |
At.19:6 | 6. Impondo-lhes Paulo as mãos. Ver com. de At 6:6.Veio sobre eles o Espírito Santo. Esta experiência foi partilhada por todos aqueles cujo batismo se encontra registrado em Atos. O Espírito veio, neste caso, como provisão para a grande obra que estava prestes a tornar Efeso, de uma cidade devota à deusa Artêmis (Diana), num lugar conquistadopara Cristo, a ponto de se tornar um polo cristão para toda a região eircunvizinha, ao longo de vários séculos.Falavam em línguas. Ou, “começaram a falar em línguas’. Foi um derramamento pentecostal. Em Jerusalém o dom do Espírito produzira seu efeito sobre os judeus de todas as partes do império reunidos para a lesta. Por sua vez concedido neste centro de atividades gentílicas, o Espírito operou um resultado semelhante, a I im de que o deslumbramento do povo diante de ta! visão atraísse atenção para a mensagem e conquistasse conversos para Cristo. "Assim [eles] foram qualificados a trabalhar como missionários em Efeso c. região, além dc ir avante proclamar o evangelho na Ásia Menor" (Ellen G. White, RH, 31/08/1911).Profetizavam. Ou, “começaram a profetizar) Isto se refere a uma apresentação mais convincente do evangelho, que incluía a exposição dc prolecias do AT e grande poder na pregação. A predição de acontecimentos futuros não ajudaria muito a causa de Cristo na época e não é o que a palavra necessariamente signitica. |
At.19:7 | 7. Erain, ao todo, uns doze. A narrativa sugere que os doze formavam um grupo e talvez comparecessem juntos às reuniões da igreja, mas, até aquela época, ainda não participavam plenamente da vida cristã. |
At.19:8 | 8. Durante três meses. Estas breves palavras abrangem o relato de um período de trabalho intenso. Sem dúvida, a labuta diária de produção de tendas prosseguiu para Paulo, como antes (cf. At 20:34), enquanto pelo menos aos sábados ele estava na sinagoga, pregando que Jesus é o Cristo, explicando a natureza de Sua obra e as leis eternas de Seu reino.A sinagoga. Mantendo seu costume apostólico (ver com. de At 9:20). Sem dúvida, as visitas às sinagogas ocorriam principalmente aos sábados. Em primeiro lugar, ele fazia isso pois era um guardador do sábado(ver At 13:14; 16:13) e também porque realizava um trabalho manual durante a semana (At 18:3; 20:34; ITs 2:9; 2Ts 3:8). Além disso, aos sábados se abriam as melhores oportunidades para fazer contato com os judeus.Falava ousadamente. Ver com. de At 9:27.Dissertando. Ou, “raciocinando”, como em Atos 17:2; 18:4 e 19; ver com. de At 20:7.Persuadindo. Ou, “tentando persuadir’.Reino de Deus. Ver com. de At 1:6. |
At.19:9 | 9. Alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes. Ou, “alguns estavam se tornando mais endurecidos e desobedientes” (ver com. de At 14:2).Falando mal do Caminho. Isto é, dos cristãos e do cristianismo. Os judeus descrentes agiram em Eleso assim como seus 7 conterrâneos haviam feito em Tessalônica. Eles provavelmente demonstraram sen ódio por Paulo, tentando incitar os gentios contra ele. As pessoas das classes mais baixas sempre estavam prontas para a confusão.Apartando-se. isto c, parou de participar dos cultos públicos da sinagoga.Separou os discípulos. Ou seja, aparte cristã da congregação na sinagoga se retirou, junto com todos os judeus que haviam se interessado pelos ensinos de Paulo. Esta é a primeira ocasião registrada em que todo um grupo dc cristãos cortou relações com a sinagoga. O processo de separação deve ter se acelerado durante o período das guerras judaicas (68-135 d.Cl.), no qual ser associado aos judeus não era só descontortável, mas perigoso em alguns lugares (ver vol. 5, p. 67).Discorrer. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “discorrendo diariamente na escola de um homem chamado I irano, da quinta à décima hora’’. Os eruditos discordam se tal versão pode ser considerada original. Se lor, ela sugere um pensamento interessante, uma vez que o período da quinta à décima hora (das 1 lh às 14h) é o momento da sesta nos países orientais. Portanto, Pauloestaria usando o local para ensinar durante as horas de folga, quando a escola de Tirano não estivesse em aidas.Diariamente. Não é possível saber com que frequência Paulo ensinou na sinagoga durante seus três primeiros meses em Eíeso, embora, sem dúvida, ele o fizesse a cada sábado e talvez com frequência até maior. Agora, porém, iniciou um programa intensivo de evangelismo público, ao qual dedicava pelo menos parte de cada dia. Presume-se que o apóstolo continuou a ganhar o próprio sustento ao mesmo tempo (ver com. do v. 8).Na escola. Do gr. scholê. Esta palavra tem urna história interessante. Originalmente, significava “lazer"; em seguida, passou a ser aplicada ao lazer que acontecia durante um debate ou estudo instruído; depois, como aqui, ao lugar onde o estudo era feito. Por fim, passou a ser um termo coletivo para designar os seguidores de determinado mestre, como “a escola de Zenão”. Este versículo provavelmente indica uma sala de aula, que, por ser uma propriedade privada, era alugada ou emprestada ao apóstolo.De Tirano. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão de “um certo” (ARC). Tirano devia ser uma pessoa bem conhecida. Nada mais sc sabe ao certo sobre este homem. E possível que fosse professor de filosofia ou retórica, mas, se for o caso, seria difícil se tratar de um pagão não convertido. Uma pessoa assim não tendería a abrir sua sala de aula para ser usada pelo mestre de uma nova fé que era ridicularizada em alguns círculos (ver At 17:32).Portanto, alguns pensam que era uma escola judaica, uma beth-hammidnish, na qual seria mais provável que os ouvintes judeus dc Paulo se reunissem para aprender. Com certeza, alguns dos ouvintes eram judeus, e outros, gregos. Sem dúvida, havia judeus suficientes cm Efeso para tornar necessária a existência dc "escolas" para a formação deles. O líder de uma escola comoessa podería adotar um nome gentílico, além do judeu. Logo, é possível que Tirano fosse judeu. |
At.19:10 | 10. Espaço de dois anos. Quando falou depois aos anciãos efésios em Mileto. Paulo declarou que havia admoestado a igreja de Efeso “por três anos” (At 20:31). Não há conflito entre as duas afirmações. Aos dois anos mencionados aqui é preciso acrescentar os três meses do v. 8 e o tempo que pode ter precedido os ensinos na sinagoga (ycr AA, 291).Todos os habitantes da Asia. Sobre “Asia”, ver com. de At 2:9. Fica claro que Efeso se transformou no centro dos esforços de Paulo e, de lá, ele também visitava as cidades vizinhas. Portanto, existe a possibilidade de que as igrejas mencionadas em Apocalipse 2 e 3 devam sua origem a Paulo, embora esta possibilidade mereça a ressalva de que algumas não haviam conhecido o apóstolo pessoalmentc (Cl 2:1; ver com. de At 18:23). O crescimento da nova comunidade cristã cm Efeso, atraindo tanto membros judeus quanto gregos, se tornou um fato visível. O número de presentes para Artêmis e a venda de memoriais para a deusa caíram acentuadamente. Lucas sugere que o público atraído por Paulo não era composto apenas por habitantes estabelecidos em Efeso, mas também pelos que visitavam a cidade, levando notícias sobre o pregador e sua mensagem para todos os cantos da região. Eilemom de Colossos pode ter sido um dos conversos de Paulo durante esse período (ver Em 19). |
At.19:11 | 11. Pelas mãos de. Reprodução literal de uma expressão idiomática popular do hebraico que expressa ação (ver com. de At 3:12),Fazia. O tempo verbal do grego .subentende que as manilestações do poder de Deus eram contínuas durante a permanência do apóstolo em Efeso. Esta não foi uma manifestação esporádica resultante dc um discurso poderoso e isolado.Milagres extraordinários. Literalmente, "[feitos] poderosos, não por acaso", isto é, não era algo com o que alguém se depararia num dia qualquer (ver com. dc At 28:2). O substantivo grego usado neste versículo para “milagre” é dynamis (ver vol. 5, p. 204, 205). Deus fazia a obra, Pardo era o instrumento. |
At.19:12 | 12. Do seu uso pessoal. As palavras gregas para “lenços” e “aventais” são transli- terações do latim. Os “lenços'’ (sudaria) eram usados para enxugar o suor do rosto; já os “aventais” (semicinctía) eram aventais curtos usados por artesãos. Parece estranho que, depois de resumir dois anos de ministério em poucas palavras, Lucas gaste tanto tempo com esses detalhes. Pode ser que a formação de médico atraísse naturalmente sua atenção aos atos sobrenaturais de cura. Parece que pessoas sinceras se aproximavam do apóstolo enquanto ele realizava seu trabalho manual e recebiam o lenço e o avental que ele usava. A eficácia desses instrumentos de cura é comparável à orla das vestes do Senhor (ver com. de Mc 5:27, 28) e ao barro que Ele usou para curar o cego (ver com. de Jo 9:6). Só há duas condições universais necessárias para atos sobrenaturais dc cura divina: poder de Deus e fé. Objetos materiais que cobrem o abismo entre o poder divino e a fé humana são meros veículos para o exercício da fé.As enfermidades fugiam. Na cidade de Efeso, onde, conlorme revela este capítulo, o exorcismo e a arte oculta da feitiçaria e do encantamento erarn realizados diante dos olhos do povo, parece que Deus fez essas curas miraculosas se destacarem como evidências especiais do poder da fé. |
At.19:13 | 13. Alguns. Ou, "alguns até mesmo", “alguns também”.Judeus, exorcistas ambulantes. Impostores se deslocavam em busca de benefício pessoal, usando o nome de Paulo e de Jesus. Eles professavam curar doenças por meio de leiti- ços e encantamentos (ver com. de At 8:9; 13:6).O historiador judeu Joseto, ao escrever sobre a suposta habilidade de Salomão contra os demônios e o uso do exorcismo, acrescenta: "Esse tipo de cura possui muito grande poder entre nós até hoje’’ (Antiguidades, viii.2.5 [46]; cd. Loeb, vol. 5, p. 595).Invocar. Desde tempos muito remotos, a literatura tradicional dos judeus atribuía grandes resultados à declaração do nome incomunicável da Divindade. Eles afirmavam que tora assim que Moisés matara o egípcio e que Elíseti destruira os rapazes zombeteiros pelo nome de Yahvveh. Ê fácil entender que, depois de ver os resultados do uso do nome de Jesus por Paulo, esses "judeus, exorcistas ambulantes' tentassem operar curas pelo mesmo nome [ver com. de At 3:16).Esconjuro-vos. Evidências textuais (cf. p. xví) atestam esta variante. Sem dúvida, ela é correta, pois as palavras seriam proferidas pela pessoa que estivesse realizando o ato de exorcismo. |
At.19:14 | 14. Os que faziam isto. Os sete filhos de Ceva adotaram, para seu exorcismo, a forma das palavras citadas, uma fórmula que lhes revestiría de aparente respeitabilidade.Um judeu [...] sumo sacerdote. Isso sugere que ele poderia ser líder de um dos 24 turnos nos quais os sacerdotes eram divididos (ver com. de. Mt 2:4: Lc 3:2). Se for o caso, é possível que esse homem houvesse perdido sua posição por algum motivo, mas, depois de chegar a Éfeso, continuava a se denominar sumo sacerdote e é chamado assim por Lucas. |
At.19:15 | 15. Respondeu. Os exorcistas ficaram face a lace com um endemoniado tão agitado e forte quanto o que se encontrou com o Senhor cm Gadara (Mc 5:3, 4; cl. Mt 8:28).Conheço a Jesus. Do gr. ton lêsoun ginõskõ, "Jesus eu reconheço”. Ginõskõ, neste caso. não sugere mero conhecimento pessoal, mas o reconhecimento da autoridade.Sei quem é Paulo. Do gr. ton Pmdon 7 epistiinuii, “estou familiarizado com Paulo”.Ton epistamai pode significar um conhecimento familiar ou de um fato.Mas vós, quem sois? Literalmente, “mas e vocês, quem são vocês}" Então o possesso se identificou com o demônio (cl. Mc 5:7- 12). Ele temia o nome de Jesus quando proferido por alguém como Paulo, mas não tinha o mesmo temor diante dos impostores. |
At.19:16 | 16. Saltou sobre eles. A possessão demoníaca neste caso, assim como no do gadareno, dava à vítima uma força sobrenatural. Os impostores fugiram aterrorizados diante da ira demoníaca do homem.Subjugando a todos. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante "subjugando a ambos'. Esta variante pode indicar que dois dos sete filhos se envolveram neste caso. Todavia, existem evidências em papiros gregos de. que a palavra grega traduzida por "ambos" também pode ter o sentido de "todos” (mais de dois).Desnudos. E possível que somente a capa dos homens tenha sido rasgada, deixa ndo-os vestidos apenas com suas túnicas curLas (ver com. de Mt 5:40). O registro termina aqui. Caso o escritor estivesse inventando coisas extraordinárias, poderia ter encerrado a história com o clímax da cura do homem nas mãos de Paulo, após o fracasso dos filhos de Ceva. Mas o relato de Lucas se atém aos fatos. |
At.19:17 | 17. Chegou este fato ao conhecimento de todos. Sem dúvida, a história se espalhou rapidamente. Os filhos de Ceva provavelmente tinham pouco a dizer sobre o incidente.Assim judeus como gregos. Ou seja, "tanto judeus quanto gregos”.O nome do Senhor Jesus era engrandecido. O tempo do verbo subentende engrandecimento contínuo. A narrativa indica que o nome de Jesus se destacava acima de qualquer outro nome da lista usada pelos exorcistas. Também ficou evidente que era perigoso usar esse nome precipitadamente.sem a lé que ele requer. Como nunca antes, o povo de Efeso passou a respeitar o nome depois de testemunhar o castigo que recaiu sobre quem o proíanara. |
At.19:18 | 18. Muitos dos que creram vieram confessando. Ou, '“muitos dos que creram começaram a vir, confessando”. Assim como no v. 2, o verbo "crer” deve ser usado para expressar todo o processo de conversão, incluindo o batismo (cf. v. 3). Esses crentes tinham leito uma profissão de fé, mas está claro que haviam entrado numa experiência cristã imperfeita. Então, confessaram o mal que vinham fazendo, em alguns casos, relacionado à prática de ocultismo, na qual haviam recaído depois do batismo. Sob a direção do Espírito, a igreja passou por uma experiência de conversão interior completa. Não fica claro sc as confissões foram feitas em particular a Paulo e outros mestres, ou em público, na presença da congregação. A segunda alternativa é mais provável, de maneira semelhante às confissões feitas a João Batista (ver com. de Mt 3:6). Eles tinham visto quanto mal é possível fazer com o uso indevido do nome de Jesus e sc perguntaram se não estariam fazendo um mal uso desse nome ao se denominarem cristãos. Reconheceram que deveriam enfrentar Cristo como juiz de todos. Sua consciência loi despertada a uma intensa atividade. Confessaram seus pecados, entrando assim na graciosa provisão do perdão c da inter- cessão de Cristo (ljo 1:9; 2:1; ver AA, 288). |
At.19:19 | 19. Muitos. .A I rase diz, literalmenle, "muitos dos que estavam praticando coisas supérfluas”, em relerência à magia e às práticas supersticiosas. Tais artes eram quase que Lima especialidade dc Elcso. Havia magos e aslrólogos em grande quantidade, que administravam um próspero comércio dc encantamentos, livros de magia e regras para interpretar sonhos. Os chamados "feitiços efésios” ou “escritos elesios" (ephesum gretm- nialii), eram pequenas tiras de pergaminhoconservadas em bolsas de seda, nas quais se encontravam escritas palavras arcaicas de significado enigmático. Clemente de Alexandria alista tais palavras (Miscelânea, v. 8) e, apesar de serem tão obscuras a ponto de desafiar a análise linguística, ele as interpreta como significando trevas e luz, terra c ano, sol e verdade. Sem dúvida, representam a sobrevivência do antigo culto frígio à natureza, anterior à deusa grega Artêmis, o qual foi posteriormente combinado a superstições derivadas de outras religiões.Reunindo os seus livros. Isto deve se referir à reunião dos papéis nos quais estavam escritos os feitiços e encantamentos, os y “escritos efésios’', além cios livros que reuniam tratados sobre as '“artes” ocultas. Alguns desses “escritos" eram, supostamente, muito antigos, datando talvez da época de Moisés.E possível que talismãs ou amuletos também tenham sido levados.Queimaram. Parece haver uma ligação entre esta queima e as curas dc Paulo após os exorcistas terem sido atacados pelo demônio (ver v. 12, 16). As pessoas que “creram" sentiram, com toda clareza, que o poder do cristianismo era superior ao das “artes mágicas". Talismãs, nomes místicos, fórmulas e “cartas' foram expostos como artifícios vazios. Por isso, os encantamentos escritos, bem como os tratados que os continham, foram queimados. O tempo do verbo grego pode indicar: (1) uma queima contínua, por algumas horas, à medida que livro após livro era jogado na logueira; ou (2) a atos repetidos de queima. Tal demonstração deve ter atraído a atenção do público.Calculados os seus preços. O sacrifício feito pelos cristãos não consistiu apenas no preço dos livros, que é citado por Lucas, mas também na perda de renda em potencial, que poderíam receber por meio da prática das “artes mágicas”.Cinquenta mil denários. Como esta queima radical dc. livros, considerada tãovaliosa por alguns, ocorreu em meio a uma população grega, é provável que Lucas estivesse se referindo às dracmas gregas. Como a dracma era equivalente a um dia de salário na época, o valor de mercado do total seria muito maior do que o sugerido pelo número equivalente em dinheiro. Sem dúvida, alguns dos livros custariam caro se tossem colocados à venda (ver vol. 5, p. 27). |
At.19:20 | 20. A palavra do Senhor crescia [...] poderosamente. Líteralmente, '‘poderosamente a palavra do Senhor continuava a crescer”. “Poderosamente" pode ser entendido como "com torça e poder extraordinários, aos quais nada é capaz de resistir".Prevalecia. Ou, "continuava a fortalecer”. |
At.19:21 | 21. Cumpridas estas coisas. Acontecera em Éfeso um grande acréscimo de pessoas à igreja. Por meio de acontecimentos marcantes, Deus entrara nas atividades da igreja e da cidade. Aqueles que “creram” passaram por uma reforma. Houve uma destruição extraordinária dos instrumentos do mal, atraindo a atenção da cidade inteira. A obra se encontrava bem estabelecida, e Paulo sentiu que podia partir de lá.Resolveu, no seu espírito. No grego, a expressão é ambígua. Pode se referirão espírito de Paulo ou significar que Paulo foi inspirado pelo Espírito Santo para tomar a resolução à qual se propôs (ver com. de At 17:16).Ir a Jerusalém. Para levar as contribuições mencionadas a seguir. Paulo havia falado dc “leras" "cm Éfeso" (ICo 15:32) e que "uma porta grande e oportuna para o trabalho" se abrira para cie naquela cidade (ICo 16:9). Sem dúvida, os problemas sérios que ele enfrentara ali foram tanto portas de oportunidade quanto ameaças mortais. Enfim, cie podia partir, visitar as igrejas da Grécia e então prosseguir para Jerusalém.Pela Macedônia e Acaia. A primeira epístola aos eoríntios explica o contexto do propósito de Paulo. Ele mantivera um contato mais ou menos frequente com as igrejasda Macedônia e da Acaia durante os anos que passara em Éfeso e tinha motivos para estar ansioso. Fora necessário escrever uma carta aos eoríntios, à qual não temos acesso, advertindo-os contra o grave pecado da for- nicação entre eles (ICo 5:9-11). Membros da casa de Cloe tinham relatado divisões. Ele também soube de desordens sérias, de falta de disciplina eclesiástica e até mesmo de adultério incestuoso (ICo 1:11; 5:1; 11:18-22). Tais questões necessitavam da atenção pessoal de Paulo. Além disso, ele desejava visitar Jerusalém mais uma vez, para levar as contribuições das igrejas gentil icas aos cristãos judeus necessitados da Palestina (ver ICo 16:1; 2Co 8:1-4).Ver também Roma. Este c o primeiro registro do desejo de Pau lo de ir a Roma. Seu propósito de visitar a cidade (ver Rm 1:13; 15:23) revela que ele guardou essa vontade por anos, possivelmente desde a ocasião em que fora chamado para ser um apóstolo aos gentios (At 22:21), Sem dúvida, seu desejo de alcançar a capital do império era lortale- 3 ciclo pelo fato de ter grande número de amigos ali, os quais havia conhecido cm outros lugares (Rm 16:1-15). A obra de Paulo não lhe parecería completa até que conseguisse levar seu testemunho ao grande centro do império. Mas tais expectativas haviam sido frustradas até então; por isso, ao deixar Éfeso, declarou que planejava ir a Roma e também à Espanha (Rm 15:28). |
At.19:22 | 22. Enviado à Macedônia. Sem dúvida, isto era afim de que as contribuições para as igrejas estivessem prontas, para que, como escreveu aos eoríntios, não houvesse necessidade de fazer a coleta quando chegasse (ICo 16:2).Ministravam. Do gr. diakoneõ, "ministrar”, “servir”. O substantivo “diácono" deriva deste verbo (ver p. 11).Timóteo. As informações sobre a missão de Timóteo são fornecidas em I Coríntios 4:17. Ele tora enviado antes paraadvertir e aconselhar os cristãos, poupando Paulo da necessidade de ser severo quando visitasse Corinto. Paulo exortou os cristãos coríntíos a receber Timóteo com respeito (ICo 16:10). Ele foi instruído a voltar para Paulo (ICo 16:11) e assim ocorreu, pois estava com Paulo quando este escreveu a segunda carta aos coríntíos (2Co 1:1).Erasto. Foi encontrado um bloco de pavimentação em Corinto datando do meio do primeiro século d.C. com a seguinte inscrição: “Erasto, em retribuição pela magistratura, colocou [o pavimento] às próprias custas’. Os eruditos costumam identificar esse Erasto com o .mencionado aqui (ver com. de Rm 16:23; cf. 2Tm 4:20). |
At.19:23 | 23. Houve grande alvoroço. Expressão com I ins de cnlase.Acerca do Caminho. Ou, “deste Caminho’’. Com trequôncia, o artigo grego possui força demonstrativa (ver com. de At 9:2). |
At.19:24 | 24. Demétrio. Nada mais se sabe sobre esse homem. Seu nome era comum entre os gregos.Nichos. Do gr. tutoi (singular, naos; ver com. de Mt 4:5). Esta palavra, comumcnte traduzida por "templosempre se refere ao santuário interior, onde a presença da divindade supostamente habitava. Nesse caso, deve ser uma alusão ao santuário interior, contendo a estátua da deusa. E provável que as pequenas representações em prata (ou terracota) do templo contivessem uma estatueta da deusa. Tais modelos poderíam ser colocados dentro de casa ou carregados como amuletos.Diana. Do gr. Artemis. Parece não haver razão suficiente para os tradutores da ARA usarem aqui o nome romano da deusa (Diana), que se identifica apenas de maneira aproximada com a divindade dos efésíos, em vez de optar pelo nome que ocorre no texto grego. Desde tempos remotos, a adoração a Artemis, um culto de origem asiática, se concentrava em Efeso.Quando os gregos enviaram colonos para a Ásia Menor, encontraram essa forma de religião já estabelecida ali e. por se assemelhar em alguns pontos a sua própria adoração, deram à divindade asiática o nome da deusa grega Artemis.O quarto templo de Artemis devia grande parte de sua magnificência a Creso. Afirma-se que o santuário foi incendiado na noite do nascimento dc Alexandre, o Grande, em 356 a.C., por Heróstrato. impelido pelo desejo insano de garantir imortalidade de seu nome, ou notoriedade, por meio desse ato. Nos tempos de Alexandre, o Grande, o tempo foi reconstruído com mais glória do que nunca e passou a ser considerado uma das sete maravilhas do mundo. Seus pórticos eram adornados com pinturas e esculturas dos grandes mestres da arte grega. Linha um grande círculo de sacerdotes, sacerdotisas e meninos auxiliares. As crianças empregadas no serviço do templo recebiam educação. Sacerdotes e sacerdotisas se aposentavam aos 60 anos de idade (cf. 1 Lm 5:9). Uma classe de sacerdotes conhecida como iheo- logoi recebia a incumbência de interpretar os mistérios religiosos.Eram feitas grandes contribuições para a manutenção do templo. Os benfeitores recebiam as mais altas honras que a cidade era capaz de conceder. Peregrinos de todas as partes do mundo chegavam para adorar e compravam objetos feitos dc prata, bronze, mármore ou barro, que retratavam o santuário e a imagem de Diana que licava ali dentro.A parte superior da imagem de Diana era uma figura feminina com muitos seios. Da cintura para baixo era simplesmente uma coluna quadrada, ornamentada com símbolos misteriosos, incluindo abelhas, espigas de milho e flores misturadas. Fora escul- A pida em madeira e, então, estava escura por causa do tempo. Flá uma reprodução dessa imagem no museu do Vaticano. No museu deÉfeso há duas notáveis esculturas de Diana em marfimAo longo dos séculos, o primeiro golpe sério que a idolatria recebeu em Éfeso foi durante a permanência de Paulo na cidade, O segundo se deveu a Nero, que roubou o templo de Artêmis, assim como fizera a outros da Grécia e da Asia (Tácito. Armais, xv.45), a fim de adornar sua Casa Dourada, em Roma, com tesouros da arte. Mais tarde, Trajano enviou suas portas esculpidas como presente a um templo de Bizâncio. o local da futura cidade de Constantinopla.A medida que o cristianismo avançava, a adoração a Artêmis declinou e logo seus santuários I icaram quase vazios. Quando os góticos devastaram a Asia Menor por volta de 262 d.C., saquearam o templo de Diana, e sua destruição loi completada séculos depois pelos turcos. Quando o império se tornou cristão, o templo de Éfeso, assim como o de Dellos, forneceu materiais para a igreja de Santa Sofia, construída cm Constantinopla por Justiniano, em homenagem à Santa Sabedoria. Após a invasão turca, a igreja passou a funcionar como mesquita. Hoje é um museu. A cidade de Éfeso caiu num estado de tamanha decadência que o lugar do templo permaneceu incerto até o século 19. Escavações feitas desde então revelaram sua localização e trouxeram à tona várias inscrições ligadas a ele.Lucro. Do gr. ergasia, “trabalho”, “negócios"; também "ganho produzido pelo trabalho , isto é, lucro. A palavra é usada duas vezes cm Atos 16:16 e 19 para o “lucro” que os mestres filipenses obtinham por meio dos delírios da jovem possessa. Os ourives de Efeso armaram a confusão porque seus lucros estavam desaparecendo. Talvez o próprio Demétrio, o mais radical dos amotinadores, não fizesse o trabalho pesado, mas, ao empregar vários trabalhadores, recebia uma grande parcela do lucro. Iodas as imagens e o simbolismo deArtêmis ofereciam amplas oportunidades para o ofício dos ourives. |
At.19:25 | 25. Convocando-os. O ofício de Demétrio era esculpir e entalhar os nichos. Mas, antes que a obra chegasse a essa etapa superior, os materiais precisavam passar por muitas mãos em preparo, até serem entregues ao artesão habilidoso, que dava os toques finais de adorno e polimento. Iodos estavam preocupados com a ameaça de perder negócios.Senhores. Literalmente, “homens".Deste ofício. A palavra traduzida por 'ofício” aqui é a mesma empregada para “lucro” no v. 24. Em ambos os casos, pode significar "negócio”. Com uma simplicidade cjua.se ingênua, Demétrio revela o fato de que a religião costuma ameaçar interesses econômicos antigos, resultando em perseguição. Essa situação aumentou muito as dificuldades de trabalho dos evangelistas cristãos, Cada cidade tinha templos e sacerdotes, oráculos e santuários. Sacrifícios e festas criavam um mercado para a indústria que, de outro modo, ficaria em falta. Portanto, no início cia era cristã, quando o evangelho entrava em conflito com o paganismo, com frequência, a interferência econômica provocada pela nova mensagem despertava a ira daqueles cuja renda era afetada. |
At.19:26 | 26. Estais vendo e ouvindo. O ourives lembra ao povo de que era testemunha ocular do que estava acontecendo em Efeso: a queda na demanda dos produtos ligados à adoração pagã, à medida que as pregações e os pregadores do cristianismo se espalhavam jaor toda parte.Em quase toda a Asia. O discurso de Demétrio, embora influenciado por seus temores, conlirma a declaração do v. 10 a respeito do sucesso dos esforços de Paulo. Conforme já se observou, é possível que os escritos do apóstolo, se não sua presença, tenham chegado a Colossos, Laodiccia e Hierápolis. As igrejas das cidades próximasde Pérgamo, Esmirna, Tiatira, Sardes eFiladélfia são mencionadas no Apocalipse. De uma maneira ou de outra, o evangelho se espalhou ao longo da região hoje chamada de Ásia Menor. Plínio, em sua epístola a Irajano (Cartas, x.96), quase meio século depois, usa um vocabulário semelhante ao de Demétrio. Ele fala de templos "quase desertos" c de “poucos compradores’ de vítimas para sacrifício na região de Ponto, ÍA a nordeste de Efeso.Este Paulo. Caso a aparência de Paulo não causasse muito impacto, como ele próprio reconheceu (ver 2Co 10:10; G1 4:13-15), podemos imaginar o escárnio nas palavras de Demétrio ao se referir a "este Paulo”.Desencaminhado muita gente. Eram desencaminhados de sua devoção a Artêmis e, por isso, da compra de nichos e outros objetos ligados ao templo.Não serem deuses. Ver com. de At 14:14, 15; ICo 8:4. Irado, Demétrio quase se comprometeu com a ideía oposta: de que o ídolo era deus. Os filósofos pagãos sempre insistiram que as imagens eram meramente simbólicas, representações ideais. |
At.19:27 | 27. Profissão. Do gr. meros, "parle ”, "porção", isto é, ramo de negócio. Meros não é a palav ra grega traduzida por "ofício" no v. 25.Grande deusa. O adjetivo "grande” (megas) era usado especialmente para se referir à Artêmis, de Efeso. Ocorre em várias moedas e medalhas da cidade.Ser estimado em nada. Isto ocorrería caso as pessoas começassem a se dar conta de que os deuses representados pelas obras das mãos humanas não eram de verdade. Em seu discurso apaixonado, Demétrio se esqueceu cie expressar o que o escrivão da cidade mencionou depois (v. 35): que a imagem deveria ter caído do céu. Ele só estava interessado na questão da renda ligada à adoração da deusa. O ourives de Efeso, sem o saber, se transformou num profeta da ruína lutura do paganismo.Destruída a majestade. Ou, "estar prestes a ser destituída de sua grandeza". A grande deusa estava a ponto de perder a majestade. A palavra grega traduzida por "majestade" é usada com frequência para se referir a esse atributo na pessoa de Deus.Toda a Ásia e o mundo. A As ia era uma das províncias proconsulares, e a palavra "mundo” é usada de maneira convencional, como em Lucas 2:1 (ARC), para se referir ao império romano. As riquezas do Oriente, bem como da Grécia e até mesmo do povo de Roma convergiam para esse santuário estupendo. |
At.19:28 | 28. Encheram-se de furor. Demétrio apelara ao povo a fim de incitá-lo cada vezmais com seus argumentos. Os apelos foram feitos de maneira hábil, primeiramente ao interesse próprio e, depois, ao orgulho e à superstição.Clamavam. Ou, "eles começaram a clamar". O tempo verbal subentende o início de uma ação continuada ou repetida.Grande é a Diana. A turba, incitada pela oratória de Demétrio, começou a usar este clamor como lema, gritando-o vez após vez à medida que a empolgaçâo crescia c o bom-senso se perdia na inundação de emoções em massa. |
At.19:29 | 29. A cidade. Parece que a cidade não estava tão interessada no ganho dos ourives quanto na glória e magnificência de que Efeso desfrutava por ser o centro da adoração a Artêmis. Logo o tumulto que começara na reunião convocada por Demétrio absorveu toda a população elésia.Para o teatro. Sem dúvida, trata-se do anfiteatro de Efeso. Suas ruínas ainda existem e dão evidências de que era capaz de comportar 24.500 pessoas. Não há o registro de nada mais sendo feito a Gaio e Aristarco além de serem levados para o teatro. Talvez pensassem que eles revelariam o local do esconderijo de Paulo (ver ilustração da p. 372).Gaio e Aristarco. Pode ser que a multidão tenha tentado encontrar Paulo e, ao não conseguir, agarrou esses dois homens. A inclusão de conversos maceclônios no grupo de cristãos dá evidências do eleito permanente dos esforços de Paulo na região em sua viagem anterior. A brevidade do registro de .Atos torna ainda mais significativa essas menções incidentais, incluídas sem premedilação. ‘'Gaio” representa o nome romano "Caio ", comum no latim (ver At 20:4; Rm 16:23; lCo 1:14: 3Jo 1). Aristarco era de Tessalônica (Al 20:4; 27:2) e talvez já tivesse experimentado a violência que então sofreu (ct. ITs 2:14). Parece que ele foi um dos companheiros de Paulo na viagem a Jerusalém (At 20:4) no papel de delegado das igrejas macedônicas. E possível que tenha lieado na prisão junto com o apóstolo em Roma (Cl 4:10), como prisioneiro ou para auxiliar Paulo.Companheiros de Paulo. Não se sabe como Caio e Aristarco se tornaram "companheiros de Paulo" em viagem. Talvez tenham sido eles que o levaram de Bereia para Atenas (At 17:15). E possível que a viagem com o apóstolo tenha sido alguma iniciativa missionária não registrada fora de Efeso durante § sua permanência ali. |
At.19:30 | 30. Querendo este apresentar-se. Ou, “Paulo desejando entrar". O zelo dc Paulo não o permitia deixar seus companheiros suportarem a violência do ataque sozinhos. Ele eslava pronto para licar na linha de frente da batalha.Não lhe permitiram. O temor pela segurança de Paulo levou os irmãos a impedi- lo de dar um passo que colocaria em perigo sua vida, sem ajudar os dois amigos. Não há como saber a que extremos de ferocidade a multidão chegaria depois de incitada. |
At.19:31 | 31. Asíarcas. Este título oficial se aplicava aos que eram escolhidos anualmente nas principais cidades da província para presidir os festivais religiosos é osjogos públicos. Dez asiarcas eram selecionados, dentre o grupo maior de representantes da cidade, e um deles era nomeado presidente pelo procônsul. Seus deveres os levavam às várias cidades onde e quando os jogos e festivais ocorriam. Como estavam ligados ao teatro e à adoração a Artêmis, bem como ao imperador, os asiarcas provavelmente foram informados do tumulto e de sua causa. As referências à Páscoa em 1 Coríntios 5:5 a 8 podem sugerir que Paulo escreveu a epístola nessa época. Como deve ter saído de Corinlo poucas semanas depois (2 Coríntios foi escrita na iVlacedônia) e sua partida se deu logo após o levante (At 20:1), há uma forte possibilidade de que este tenha ocorrido pouco depois da Páscoa, na primavera. Nessa ocasião, o povo estava observando ou antecipando o grande festival em homenagem a Artêmis, no mês que recebera seu nome, arlemision (abril-maio). Por isso, as pessoas se encontravam mais susceptíveis ao apelo de Demétrio. Naquela época do ano, os asiarcas também estariam em Efeso.Amigos de Paulo. O tato e a cortesia de Paulo, associados a sua ousadia, parecem ter conquistado a atenção e o respeito das autoridades. Isso aconteceu com os asiarcas, bem como em outras ocasiões com Sérgio Paulo (At 13:7-12), Gálio (At 18:14-17), besto (At 25:9-12), Agripa (At 26:28, 32) e o ccnturião Júlio (Al 27:3, 43). Os asiarcas deram o mesmo conselho que os discípulos, mas por motivos diferentes. Eles reconheciam que a presença do apóstolo só levaria a multidão a exacerbar ainda mais seus sentimentos.Não se arriscasse. Esses o( iciais amistosos se interessaram pessoalmente pela segurança de Paulo. |
At.19:32 | 32. Gritavam. Ou, "continuavam a gritar’". A riqueza de detalhes da narrativa mostra que se trata de um relato de testemunhas oculares. Aristarco e Gaio, companheirosde Paulo a caminho de Jerusalém (At 20:4) podem ter relatado a história a Lucas.Assembléia. Do gr. ekklêsiu, um grupo "convocado . A multidão que sc reunira no anfiteatro não era uma ekklêsia, no sentido de assembléia legal e governamental, sentido da palavra em seu uso clássico (ver com. de Mt 18:17; At 19:39). Em vez disso, o termo é usado no sentido mais amplo de multidão d e sorganiza d a.Confusão. Literal mente, "colocar junto’, "misturar [com violência]". Uma turba irracional segue seus líderes cegamente.Nem sabiam por que motivo. O relato de Lucas da descrição da grande multidão gritando e se aglomerando em volta do anfiteatro seria jocoso, se não fosse tão trágico pelo lato de o sucesso do evangelho estar cm perigo. |
At.19:33 | 33. Tiraram. Evidências textuais (ct. p. xvi) favorecem uma versão alternativa com o sentido de "instigaram" (ver NTLH). Assim, a leitura de toda a frase ficaria: "alguns da multidão instigaram Alexandre ”.Alexandre, lalvez este Alexandre seja o "latoeiro" (2Tm 4:14) que causou "muitos males" contra o apóstolo em Efeso.Falar ao povo. Do gr. cvpologeomai, “jus- tilicar-se [aos olhos do outro)”'. O tumulto foi essencialmente pagão: Demétrio era um artífice de ídolos, e sua acusação contra Paulo só faria sentido para os pagãos. Sem dúvida, á?" o apóstolo era conhecido como judeu, e os judeus de Efeso, que também se recusavam a adorar Artêrnís, parecem ter sentido medo de que a confusão se transformasse numa perseguição antissemita. Certamente, a defesa que Alexandre tentou fazer foi dissociar os judeus efésios da figura de Paulo e seu grupo, na mente dos pagãos. |
At.19:34 | 34. Reconheceram. Ou, "perceberam". Parece que as características e as vestes judaicas apenas incitaram a multidão ainda mais, ao se lembrar de como os judeus abominavam a idolatria. Eles eramacusados de traficar bens roubados dos templos (ver com. de 12m 2:22). A linguagem do escrivão da cidade (At 19:37) sugere o mesmo pensamento, pois ele apontou para Aristarco e Caio e declarou enfaticamente: "estes homens [...] não são sacrílegos”, ou seja, ladrões de templos.Todos, a uma voz. A multidão Linha então um alvo para sua ira e, por duas horas, continuaram a repetir o clamor. Isso torna evidente que os judeus não eram populares; a raiva que Demét rio despertou contra o judeu Paulo estava prestes a se voltar para toda a comunidade judaica da cidade. |
At.19:35 | 35. O escrivão da cidade. Do gr. gram- mciteus, termo traduzido por "escriba” nos evangelhos. Era a pessoa responsável pelos registros da cidade e alguém de grande influência em Efeso. Por meio dele eram feitas todas as comunicações públicas à cidade e dadas as respostas. O título grego ocorre cm muitas inscrições de Efeso, muitas vezes junto com os dos asiarcas, todos eles cidadãos locais, e com o procônsul. A linguagem usada pelo oficial público é cautelosa, assim como a de Demétrio tora inflamadora, Da mesma forma que os asiarcas, ele nutria um respeito por Paulo e seus companheiros. Não era fanático, nem tinha a intenção de se tornar perseguidor. Não se opôs à multidão, mas tentou acalmá-la, ao professar identificação com a religião do povo.Guardiã do templo. Do gr. neõkovos, literalmente, “varredor do templo’ e, por extensão, qualquer pessoa devota a um deus e seu santuário. A cidade inteira é representada como consagrada ao serviço da deusa. A palavra neõkoros é encontrada em moedas da Asia Menor, expressando a devoção de determinadas cidades a um deus ou imperador. O povo de Efeso via Artêrnís como sua guardiã e protetora. Uma inscrição da cidade alega a honra de ser sua "ama”.Grande Diana. Ou, “grande deusa Diana” (ARC), embora evidências textuais(ef. p. xvi) atestem a omissão da palavra "deusa ". Em algumas inscrições de Êfeso, ela é caracterizada como “a maior”, ‘ a altíssima’.Imagem que caiu de Júpiter. Do gr. diopetes, “caído de Zeus [ou do céu]”, nome dado com frequência a imagens antigas, pré-históricas, como a de Palas Atena e o Paládio dos troianos (Virgílio, Eneida, ii. 183). Nesse caso, a palavra pode ter o significado mais literal aplicado a uma pedra meteórica que era adorada em sua forma original ou usada numa escultura do passado. Portanto, talvez não se refira à imagem de Artêmis (ver com do v. 24), que, segundo vários autores antigos, não era feita de pedra, mas sim, de oliveira, ébano, cedro ou madeira da vinha, se não de ouro. |
At.19:36 | 36. Contraditado. O escrivão da cidade afirmou que ninguém podia se opor ao que ele acabara de dizer. Seu discurso teve mais o tom de declaração oficial em relação à religião estabelecida do que de devoção pessoal a ela.Convém que vos mantenhais calmos. Ou, “devem ficar ordeiros”, outra forma da palavra traduzida por "apaziguado”, no v. 35.Nada façais precipitadamente. Literalmente, “não fazer nada precipitado”. O adjetivo grego descreve bem o levante forte e enlureciclo para o qual não houvera motivos reais e do qual não podería sair nada de bom, bem como a conduta impulsiva da multidão, ao agarrar dois indivíduos que não eram transgressores e contra quem não poderíam tomar nenhuma medida disciplinar. |
At.19:37 | 37. Sacrílegos. Ou, “saqueadores de templos”. Uma vez que no extraordinário templo de Efeso reservava-se um grande tesouro, é possível que essa ofensa não fosse desconhecida do povo. Tudo que era colocado dentro do templo estava sob a guarda da deusa e. durante o período, seria propriedade do templo. Roubar qualquer coisa dali era considerado sacrilégio (ver com. do v. 34).Nossa deusa. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante, em vez de “vossa” (ARC). Num discurso popular, era natural que o orador se identificasse com seus concidadãos. Este versículo deixa subentendido que a linguagem de Paulo e seus companheiros fora escolhida com muito cuidado, ao falar da adoração especial em Efeso. Eles haviam inculcado os grandes princípios de que deuses feitos por mãos humanas não eram deuses e deixaram tal ideia lazer sua obra (v. 26). Paulo teve o mesmo cuidado em Atenas, embora tenha ficado indignado ao ver a "idolatria dominante na cidade" (At 17:16). |
At.19:38 | 38. Têm alguma queixa. Isto é, caso houvesse alguma acusação especílica, cia devería ser anunciada. Caso a situação fosse como eles alegavam, deveria haver motivo para uma ação judicial. Mas não havia desculpas para o tumulto encabeçado pelo ourives e seus companheiros.Há audiências. Esta tradução dá o sentido genérico. As palavras gregas podem significar “há dias designados para audiências , isto é, momentos específicos para se ouvir esse tipo de caso; ou ainda melhor podería ser: “há audiências acontecendo agora mesmo”, uma vez que o tempo verbal subentende que a oportunidade para ação judicial estava aberta no momento. Este foi o sentido adotado pela NVI na tradução “os tribunais estão abertos .Procônsules. Do gr. anlhupatoi (cf. At 13:7, 8, 12; 18:12, nos quais ‘'procônsul' também c a tradução correia). A Ásia era uma província proconsular (ver com. de At 6:9). A dificuldade desta passagem surge do uso do plural, uma vez que só havia um procônsul por província na época; logo, apenas um em Efeso quando o escrivão falava. Há diversas explicações: (1) Os assessores (consiliarii) do procônsul talvez fossem chamados pelo mesmo nome. (2) É possível que o escrivão estivesse lembrando ao povo da provisão feitapelas instituições do império a fim de garantir justiça em caso de transgressão, como se dissesse: "Os procônsules são uma instituição imperial. Em todas as províncias como a nossa existe um magistrado supremo, logo não é necessário temer a ausência de reparação no caso de danos reais”. (3) O procônsul Si lano fora envenenado havia pouco (Tácito, Anais, xiií.l) e o título no plural podería se relerir a Celer e Hélio, responsáveis pelos negócios imperiais na Asia. (4) Outro procônsul de uma província vizinha, como Cilícia, Chipre, Bitínia ou outra, podia estar presente em Efeso. A segunda das quatro explicações parece a mais plausível.Que se acusem. Do gr. egkaleõ, “fazer uma acusação". Demétrio e seus seguidores deveriam fazer uma declaração formal da acusação feita contra Paulo. Este daria sua réplica e, após o caso assim posto, cada lado iria cm busca de suas testemunhas. |
At.19:39 | 39. Se alguma outra coisa pleiteais.Ou, “se buscais algo". Certas questões deveríam ser levadas ao procônsul, para julgamento, enquanto outras deveriam ser levadas para a assembléia, para consideração.Assembléia regular. Parece que alguns casos eram levados para o procônsul julgar, ao passo que outros eram analisados pela assemblcia. |
At.19:40 | 40. Sedição. Ou, “o tumulto deste dia".Ajuntamento. Do gr. sustrophe, “distorcer juntos", “conspiração", “comoção”. |
At.19:41 | 41. Dissolveu a assembléia. Ele tinha poder para lazer isso por sua posição oficial. Ê provável que o último argumento tenha sido o de maior peso para os ouvintes. Caso a conduta sediciosa da qual hav iam acabado de participar fosse relatada a Roma, poderíam perder os privilégios da cidade. O escrivão colocou bom-scnso na multidão c a acalmou, a ponto de sc dispersar para seus lares.Capítulo 20:om eles e vai para Jerusalém.dirigiu-se para a Grécia, |
At.20:1 | 1. Tumulto. Do gr. thorubos, “barulho”, "tumulto'. A mesma palavra é usada para se referir ao julgamento de Jesus (Mt 26:5; 27:24; Mc 14:2), à ressurreição da filha de Jairo (Mc 5:38) e ao ataque a Paulo em Jerusalém (At 21:34; 24:18).Chamar os discípulos, e, tendo-os confortado. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem o acréscimo da segunda parte, que também pode scr traduzida por “tendo- os exortado". Paulo convocou urna reunião com os membros da igreja, a fim de se despedir deles.Despediu-se. A expressão grega significa "dizer palavras de despedida" (ver At 21:6). Com certeza, Paulo permaneceu em Eleso até a igreja se acalmar mais uma vez. Ele passou cerca de três anos ali (provavelmente, de 54 a 57 d.Cf; ver p. 90).Para a Macedônia. Há aqui uma lacuna na narrativa de Atos, que pode ser suprida com informações das epístolas aos coríntios. Durante essa viagem peia Macedônia, Paulo escreveu a epístola de 2 Coríntios (ver 2Co 2:12, 13: 7:5; 9:2). |
At.20:2 | 2. Aquelas terras. Sem dúvida, Paulo desejava visitar mais uma vez as igrejas que havia fundado em Tessalônica e Bereia, assim como cm Filipos. Ele deve ter passado pela estrada romana que atravessava a Macedônia no sentido oeste, até as praias do Adriático e ter proclamado o evangelho pela primeira vez em Ilírico (ver Rm 15:19; ver mapa, p. 389).Grécia. Do gr. Hellas, Grécia. Lucas usa Hellas como sinônimo para a Acaia, a província do sul. A jornada levou Paulo a Corinto, onde havia muitas coisas para serem colocadas em ordem na igreja. Os cristãos de lá já haviam recebido suas duas epístolas. Na primeira, enviada cie Efeso, o apóstolo considerou necessário repreender o espírito cie partidarismo. Também censurou as irregularidades na Ceia do Senhor e pronunciou seu julgamento contra o incesto. As tarefas pastorais diante de Paulo não deixariam muito espaço para descanso durante os três meses de permanência ali, mesmo que todo o tempo tenha sido passado em Corinto.Na cidade, o apóstolo pode não ter conseguido ver muitos de seus amigos. O decreto de Cláudio fora revogado ou não era mais fiscalizado, pois parece que Aquila e Priscila haviam deixado Eleso e voltado para Roma (cf. At 18:18, 19; Rm 16:3). Sem dúvida, outros a quem o apóstolo conhecera em Corinto (ver Rm 16) haviam feito o mesmo. Tudo isso fortalecia ainda mais seu ávido desejo de ir para Roma (At 19:21; Rm 1:10, 11). A obra de Paulo na Grécia estava concluída c ele sentia torça sobrehumana conduzindo-o para o oeste. Por isso, seu plano era fazer uma rápida viagem até Jerusalém, onde deixaria os donativos das igrejas gentílicas e seguiría para Roma e a Espanha (Rm 15:24-28). (.) restante do livro de Atos revela como foi diferente o caminho que o aguardava. |
At.20:3 | 3. Onde se demorou três meses. Ou,“depois de passar três meses''. No grego, a expressão está ligada ao que vem em seguida.Uma conspiração por parte dos judeus. Os judeus haviam tentado envolver Gálio em seus ataques a Paulo durante sua última visita a Corinto e, então, tentaram se vingar do apóstolo secretamente. Sem dúvida, a intenção era matá-lo. Quando Paulo ficou sabendo da conspiração, mudou os planos e partiu com seus companheiros para a Macedônia, a fim de frustrar os conspiradores.Embarcar rumo à Síria. Lí possível que Paulo tenha chegado a comprar passagens e até a entrar a bordo, mas foi advertido antes que o navio partisse.Pela Macedônia. Conto a trama para matar Paulo parece ter se desenvolvido enquanto ele navegava para a Síria, a rápida mudança de planos que o levou para o norte tornou impossível o reajuste da conspiração às novas circunstâncias. |
At.20:4 | 4. Acompanharam-no. Timóteo e, provavelmente, Sópalro também (talvez uma variante de Sosípatro) tenham ficado com Paulo em Corinto (ver Rm 16:21). O tamanho da delegação pode ser explicado pelo fato de o apóstolo estar levando uma grande quantia destinada às igrejas da Judeia. Ao levar consigo um grupo de testemunhas das regiões contribuintes, evitaria qualquer suspeita que línguas difamadoras dirigissem contra ele (2Co 8:19-21). Por isso, foram escolhidos representantes das principais igrejas, os quais poderíam testemunhar que a conduta de Paulo em relação aos donativos fora irrepreensível. Havia oito pessoas com Paulo, incluindo Lucas (ver com. do v. 5).Até a Asia. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. |
At.20:5 | 5. Esperando-nos. A mudança súbita para a primeira pessoa do plural nesta passagem indica que Lucas, que não cita a si próprio pelo nome, deve ser incluído na lista doscompanheiros de Paulo. Ele pode ter participado como delegado da igreja de Fílipos ou como amigo e médico do apóstolo. A demora permitiu que Paulo observasse a Páscoa em Filipos, de onde partiu “depois dos dias dos pães asmos” (v. 6). Os discípulos que loram à frente anunciariam a chegada de Paulo à igreja dc Trôade, para que houvesse uma reunião de todos os crentes por ocasião de sua chegada. |
At.20:6 | 6. Dias dos pães asmos. Paulo deve ter permanecido em Filipos, por causa da festa judaica. A época da Páscoa continuava carregada de grandes sentimentos religiosos para Paulo, um judeu e ex-fariseu (At 23:6). Também é possível que os cristãos estivessem começando a pensar nesse período como o aniversário da morte e ressurreição de Cristo (ver ICo 5:7, 8).Em cinco dias [...] naquele porto. A viagem para o oeste de Trôade a Filipos (ver com. de At 16:11, 12) levara apenas três dias. Mas, então, o navio, ao se dirigir para o leste, deparava-se com a corrente sudoeste vinda de Dardanelos e, provavelmente, também com os ventos nordestes que prevalecem no arquipélago durante a primavera (ver mapa, p. 389). Paulo, Lucas e Timóteo estavam juntos em Trôade quando o apóstolo teve a visão de um macedônio chamando-o para passar para a Europa. Sópatro, Aristarco e Secundo representam parte dos frutos que Deus lhes concedera em sua obra na Macedônia.Uma semana. Paulo e Lucas passaram urna semana em Trôade. E provável que tenham desembarcado depois do sábado, concluindo os cinco dias de viagem marítima através do Egeu. Os sete dias, ou a semana inteira, que passaram em Trôade terminou no sábado. No dia seguinte, o primeiro da semana, Paulo planejava começar a viagem a pé para Assôs (v. 13), enquanto o restante do grupo prosseguia de navio para o mesmo local. Entre o fim do sábado e sua partida noinício da manhã, os missionários passaram a parte escura do primeiro dia da semana, isto é, o sábado à noite, numa animada e longa reunião com a igreja de Trôade. |
At.20:7 | 7. Primeiro dia da semana. No grego, a expressão é a mesma que ocorre em Mateus 28:1 (ver com, ali). Não há dúvida de que corresponde, pelo menos de modo geral, ao domingo. Contudo, os comentaristas se dividem quanto à noite cm que ocorreu a reunião: depois do domingo ou antes dele. Aqueles que favorecem o ponto de vista de que a reunião ocorreu no domingo à noite afirmam que Lucas, provavelmente um gentio, usou a contagem de tempo romana, segundo a qual o dia se iniciava à meia-noite. Por meio desse sistema de contagem do tempo, uma reunião na noite do primeiro dia da semana só poderia ser no domingo à noite, files também declaram que a sequência do versículo, “no primeiro dia da semana' e “no dia imediato', sugere que a partida de Paulo ocorreu no segundo dia da semana; se esse for o caso, então a reunião só pode ter acontecido no domingo ã noite. Também se pode observar que João chama a noite de domingo de “primeiro dia da semana'’ (Jo 20:19), muito embora, segundo o sistema judaico de contagem do tempo, já fosse o segundo dia da semana (ver vol. 2, p. 85). E possível que Lucas tenha usado a expressão com o mesmo sentido aqui.Outros comentaristas, inclusive Ellicott, Conyheare e I lowson, e A. T. Robertson preferem compreender que a reunião ocorreu na noite anterior ao domingo. Uma vez que a contagem de tempo judaica marca o início do dia no pôr do sol, a parte escura do primeiro dia da semana correspondería à noite anterior ao domingo, ou seja, ao sábado à noite. Tal sistema de contagem continuou a ser usado pelos cristãos por séculos e é razoável pensai' que Lucas, sendo gentio ou não, o tenha empregado em sua narrativa. Em consequência disso, a reunião de Paulo emTrôade teria começado após o pôr do sol no sábado à noite e se estendido pela madrugada. No dia seguinte, o domingo, o apóstolo teria caminhado até Assôs.Alguns escritores encontram nesta passagem um indício da observância do domingo no início da era cristã. O lato de Lucas ter usado o sistema de contagem de tempo judaico ou romano tem pouca importância sobre essa questão, pois cie diz de forma clara que a reunião aconteceu “no primeiro dia da semana”. Caso estivesse usando o sistema judaico, a noite anterior ao domingo seria considerada o primeiro dia e, caso tenha empregado a marcação romana de tempo, a noite depois do domingo continuaria a corresponder ao primeiro dia. O fator significativo aqui, no que se refere à observância do domingo no início do cristianismo, é se esta reunião no primeiro dia constitui uma prática cristã regular ou se simplesmente acabou acontecendo no primeiro dia por causa da visita de Paulo.A análise de toda a narrativa não apoiaa visão de que Paulo fez essa reunião por se tratar do primeiro dia da semana. Ele estivera em Trôade por sete dias e com certeza já havia se encontrado com os cristãos de lá mais de uma vez. Quando estava prestes a partir, o mais lógico seria realizar uma reunião de despedida e celebrar a Ceia do Senhor com eles. Q comentário de Lucas de que isso ocorreu no primeiro dia da semana, em vez de consistir numa nota da observância do domingo, está em harmonia com toda a série de registros cronológicos com os quais o autor preenche a narrativa dessa viagem (ver At 20:3, 6, 7, 15, 16; 21:1, 4, 5, 7, 8, 10, 15). Portanto, a melhor maneira de entender essa passagem é que a reunião ocorreu não por ser domingo, mas porque Paulo "devia seguir viagem no dia imediato” (At 20:7). Lucas inclui o relato da reunião por causa da experiência de Eu tico e a observação de que sc tratava do ‘primeiro dia da semana’ é meracontinuação do registro cronológico da jornada dc Paulo. Ao avaliar se essa passagem é uma evidencia da guarda do domingo no início do cristianismo, Augustus Neander, destacado historiador da igreja, observa:“A passagem não é totalmente convincente, pois a partida iminente do apóstolo pode ter unido a pequena igreja numa refeição fraterna e, nesta ocasião, o apóstolo tez seu último discurso, embora não tenha havido nenhuma celebração particular do domingo no caso (The History of the Ckristian Religton and Chiirch, trad. llenryjohn Rose, vol. l,p. 337).Exortava-os. Do gr. dialegomai, "conversar , “discutir". Em todos os exemplos do N i . com exceção deste e do v. 9, este verbo é traduzido por “discorrer”, “disser- tar", “discutir ", “disputar" e, uma vez, por “pregar". Aqui c no v. 9, a melhor tradução seria "discursar”. Fica evidente que a reunião não foi um culto regular da igreja com sermão, mas um encontro informal no qual argumentos e diálogos foram usados para responder perguntas e esclarecer dificuldades dos cristãos de ITôacle, além de lhes transmitir instruções.Até à meia-noite. Eles haviam se reunido para um culto noturno de despedida, mas a alegria da comunhão cristã e o fato de que o apóstolo estava prestes a deixá-los fez a discussão se estender bem além do tempo costumeiro. Sem dúvida, os irmãos estavam desfrutando por completo a festa espiritual informal que Paulo lhes ofereceu antes de dizer adeus. |
At.20:8 | 8. Muitas lâmpadas. As ‘'lâmpadas" a óleo (ver com. de Mt 25:1, 3) são mencionadas por dois motivos: (D justificar a sonolência de Eu tico, sugerindo presença de calor e fumaça no ambiente fechado; e (2) dar uma resposta indireta à acusação de que, em suas reuniões noturnas, os cristãos praticavam atos desavergonhados dc licen- ciosidade (Tertuliano, A-pologeticmn, 8).Sena natural que duas ou mais lâmpadas fossem colocadas perto do orador.Cenáculo. No antigo Oriente, o ccná- eulo (ou cômodo superior) de uma casa costumava ser usado para fins sociais ou devocionais. Lucas escreve com a riqueza de detalhes de uma testemunha ocular. |
At.20:9 | 9. Jovem. Do gr. neanis, em sentido estrito, um homem entre 24 e 40 anos de idade. No entanto, a palavra podia ser usada com abrangência maior, como talvez seja o caso aqui (ver com. do v. 12).Eutico. Significa "afortunado". Este nome, da mesma forma que outros de significado semelhante, como Félix, Felícia, Felícimo, Fortunato, Fausto, Felicita e Síntique, ocorre repetidas vezes em inscrições. Parece que era comum, sobretudo entre os libertos.Janela. Nas casas mais antigas, a janela consistia apenas em uma abertura na parede, talvez sem uma estrutura e sem barras para impedir o acidente aqui narrado, a menos que se tratasse de treliças frágeis.Adormecendo profundamente. Literalmente, “vencido pelo sono”. Sem dúvida, o ar ficou pesado por causa do calor e da fumaça das lâmpadas a óleo, e o jovem não conseguiu mais resistir ao sono.Terceiro andar. Do gr. tristegos, "terceiro telhado”, talvez, corresponda ao que hoje se conhece como quarto piso.Levantado morto. Se havia alguma treliça na abertura da janela, deveria estar aberta para deixar o ar fresco entrar no ambiente lotado. O rapaz caiu no chão, provavelmente do pátio. Elá um debate considerável sobre a restauração de Eutico, se havia o objetivo de descrevê-la de maneira miraculosa e se "morto" não poderia ser entendido como "desmaiado, desacordado". Mas as expressões de Lucas aqui e no v. 12 (“conduziram vivo o rapaz") não parecem deixar espaço para dúvidas. Aquela vida foi ceilada em decorrência da queda e restaurada pelaoração do apóstolo, esta é a interpretação natural da história. |
At.20:10 | 10. Descendo. O acesso às casas do Oriente costumava ser por meio de uma escada externa. O ato de Paulo lembra o de Elias (IRs 17:21) e Eliseu (2Rs 4:34). Sem dúvida, assim como os profetas do AT, a ação do apóstolo foi acompanhada de um clamor a Deus.Não vos perturbeis. Literalmente, "parem de fazer tumulto’’ ou "parem de se afligir’'. |
At.20:11 | 11. Subindo. A calma do apóstolo, hem como suas palavras, devem ter impressionado a congregação agitada. Paulo voltou para o cenáculo e deu continuidade à reunião.Partiu o pão. "Ele deslrutou pacífica e feliz comunhão com eles" (AA, 391: ver Mt 26:26-30; At 2:46; ICo 11:23-30; ver com. de Al 2:42). Este foi um momento planejado de um encontro que. até então, demonstrara apenas características informais (ver com. do v. 7).Falou. A expressão grega sugere a fala em uma conversa amistosa, em vez de um discurso formal.Romper da alva. O nascer do sol, naquela latitude, pouco depois da Páscoa, ocorre entre as cinco e as seis da manhã. |
At.20:12 | 12. Vivo. Não havería motivo para usar esta palavra caso “levantado morto” (v. 9)| não significasse morte real. f ica claro que o médico Lucas narra um milagre de restauração da vida.Rapaz. Do gr. pais,, palavra que normalmente signilica "criança”, mas que também podia se referir a um jovem ou a um escravo de qualquer idade. E provável que o "jovem’’ deste episódio fosse um adolescente ou apenas um pouco mais velho (ver com. do v. 9).Grandemente confortados. Expressão de ênfase, ressaltando o quanto os cristãos se sentiram confortados. |
At.20:13 | 13. Prosseguindo. Os companheiros de Paulo (ver v. 4), incluindo Lucas,prosseguiram em sua jornada marítima, antes que Paulo partisse de Trôade a pé. Não se sabe se eles estavam presentes na reunião noturna.Devendo ele. Isto é, lendo a intenção. Com exceção de Atos 23:24, não há registro de Paulo viajando por outro meio além de navio ou a pé. O apóstolo caminhou cerca de 55 km, sem dúvida, numa estrada romana pavimentada, num percurso de terra entre a cidade de Trôade e Assôs. |
At.20:14 | 14. Fomos a Mitilene. A cidade, no passado chamada de Castro, era a capital da ilha de Lesbos, famosa na época por seus atrativos naturais c edifícios esplêndidos. Lesbos é uma das maiores ilhas do mar Egeu c a sétima em tamanho na bacia do Mediterrâneo, com 270 km de circunferência. |
At.20:15 | 15. Defronte de Quios. Quis ou Quios é uma ilha entre Lesbos e Sarnos. Ficava a um dia de viagem marítima de Mitilene.Samos. Ilha na costa de Lídia, a um dia de viagem marítima de Quis (ver mapa, p. 389). "Ficando em Trogílio (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. Trogílio era uma cidade de terra tirme no litoral da Lídia, entre EFeso e o tortuoso rio Meandro (ver mapa, p. 389).Mileto. Cidade portuária (ver mapas, p. 389; ver também mapa, p. 19). fora 1 Lindada por colonos de Creta. Logo se tornou um centro colonizador ativo e uma importante cidade nas esferas política e comercial, ficava a cerca dc 50 km de Éfeso. Os companheiros de Paulo chegaram ali três dias depois de partir de Assôs. |
At.20:16 | 16. Não aportar em Éfeso. Isto é, passar direto, pois parar significaria gastar mais tempo do que Paulo tinha disponível, levando em conta sua intenção de chegar a Jerusalém para o Pentecostes.Pentecostes. Ver com. de At 2:1. Não se diz por que Paulo estava tão desejosode chegar a Jerusalém a tempo para o Pentecostes. Talvez a reunião dos cristãos judeus que estariam ali na época, provenientes de toda a Palestina, possibilitaria uma distribuição mais eficiente dos donativos que ele levava à cidade. Ou então o derramamento do Espírito Santo numa festa anterior de Pentecostes a tornasse especial para o coração do apóstolo. De todo modo, ele não conseguira terminar a viagem a tempo para a Páscoa (At 20:6) e, indo a Jerusalém, era natural que desejasse estar lá para a testa seguinte. |
At.20:17 | 17. Mandou. Paulo não podería deixar a região sem lazer contato com a igreja de Efeso, na qual sofrerá tanto (ver lCo 15:32) e onde produzira tantos frutos para o Senhor. Por isso, convocou os líderes a fazer a jornada até Mileto para se encontrar com ele e conversar sobre os problemas da igreja.Presbíteros. Ver com. do v. 28: At 11:30; 14:23. |
At.20:18 | 18. Disse-lhes. A partir daqui se inicia o discurso mais terno dos lábios de Paulo do qual há registro. Não loi uma fala evangelís- tica, mas, sim, de exortação, lembrando os ouvintes dos sacrifícios pessoais e da integridade de seu caráter, bem como desafiando-os a aceitar as responsabilidades de seu ofício e a desempenhá-lo com fidelidade. As advertências se aplicam a qualquer era e localidade da igreja, ecoando nas palavras de Elcsíos 5 e 6 (sobretudo Ef 6:10 a 18).Vós bem sabeis. Como fato, por conhecimento pessoal. Expressão enfática, na qual o texto grego destaca a palavra "vós . Paulo estivera com eles por três anos (v. 31) e cumprira "cabalmente” seu ministério, assim como admoestou um líder futuro de Efeso a lazer (2 Fm 4:5). Esse apelo à experiência daqueles cristãos consigo mesmo deve ser compreendido á luz das calúnias espalhadas por alguns sobre seu trabalho.Como foi que me conduzí. Paulo apela a seu estilo de vida entre eles como prova desua autoridade espiritual e apostólica, e também como evidência dc que seu chamado e sua comissão provinham de Deus.Em todo o tempo. Isto é, durante todo o tempo de sua obra ali.Desde o primeiro dia. O relato de Paulo foi consistente, abrangendo toda sua permanência em Efeso.Ásia. Ver com. de At 2:9. |
At.20:19 | 19. Servindo. Do gr. douleuõ, "servir [como escravo|”. Paulo usa esta palavra com frequência, bem como o substantivo doidos, "servo", "escravo', para se referir a seu relacionamento com Cristo, denotando servidão absoluta de mente e vontade ao Senhor. Indo que ele fazia era em serviço a Jesus, seu único Mestre. Nem os interesses pessoais do apóstolo, nem os interesses do inundo seriam capazes de compelir com Cristo em sua devoção.Toda a humildade. O Paulo que se gloriava apenas na cruz de Cristo, por meio da qual estava crucificado para o mundo (G1 6:14), era incapaz de se orgulhar de seu chamado ou ofício, nem sentia autossuficiên- cia em relação a isso. Ele tinha motivos para confiar na carne, mas não o tazia (Ep 3:4-7). Podería se gloriar em sua experiência apostólica e em seus sofrimentos, mas se recusava a fazê-lo (2Co 11:18-30). Paulo tinha a humildade do nobre cristão que mede sua pequenez e fraqueza em comparação com a grandeza e o poder de Cristo.Lágrimas. Como Jesus, Paulo chorava (2Co 2:4: cf. Jo 11:35). Ele se entristecia ao ver seus irmãos judeus perderem o reino (Rrn 9:1-5; ch Lc 19:41, 42). Soí ria ao veios obstáculos colocados no caminho da verdade. Sofria também por causa das almas que se perdiam e diante da dureza do coração humano. E assim que o ministro cristão deve sofrer pelos perdidos ao seu redor e ser despertado a um zelo divino, em face da oposição à verdade.Provações. Do gr. peirasmoi, "provas", "testes" (comparar com lPe 4:12, texto cmque a mesma palavra é traduzida por "provar”). Atos 19 cita algumas dessas provações, que surgiam por causa da oposição de inimigos.Sobrevieram. Ver com. de At 9:24. |
At.20:20 | 20. Deixando. Do gr. hyposiello, "colocar em baixo", logo, "esconder”, "suprimir”. A palav ra era usada para o ato de recolher as velas. Paulo não poupava nenhuma iniciativa ou labor, não perdia oportunidades, não omitia doutrinas ou admoestações, nem suprimia verdade alguma (cl. v. 27).Proveitosa. Literalmente, “as coisas sendo colocadas juntas" ou "as coisas que valem a pena”. Assim como Paulo, o ministro do evangelho deve dar a seu rebanho aquilo que ele necessita, seja agradável ou não, contanto que nutra espiritualmenle.Vo-la ensinar. Do gr. anaggellõ, "anunciar". "declarar’. A palavra costuma ser aplicada à pregação do evangelho em público.De casa em casa. Um método mais pessoal e particular de ministério evangélico. Com Paulo, a obra pessoal não tomava o lugar do evangelismo público, mas consistia numa companheira indispensável deste (T6, .421 -.423; A A, 250, 296; sobre a obra de casa em casa realizada pelo povo de Deus dos últimos dias, ver GC, 612). Nenhum ministro é capaz de cuidar de seu rebanho sem visitas de casa em casa. |
At.20:21 | 21. Testificando. Isto é, dando testemunho, por meio do ensino, da exortação e do desafio a uma vida melhor. A mesma palavra é traduzida por “conjuro-te" e “dá testemunho” (iTm 5:21; 2Tm 2:14), isto é, instando ou rogando.Tanto a judeus como a gregos. Paulo sempre abordava primeiramente seus irmãos judeus, para lhes apresentar o evangelho (ver At 14:5, 14; 14:1; 17:1, 2; 18:4; 19:8; cf. Rm 1:16; 2:9, 10; 5:1, 2).Arrependimento. Do gr. melanoia (ver no com. de Mt 5:2 uma definição do verbo do qual este substantivo deriva).Para com Deus. O arrependimento é “para com Deus”, pois: (1) o pecado sempre é uma ofensa primeiramente contra Deus; e (2) embora o ser humano possa manifestar um espírito perdoador, somente Deus é capaz de perdoar de verdade, por intermédio de Jesus Cristo, aquele que levou nossos pecados (2Co 5:21; 1 Pe 2:24), com base no reconhecimento sincero da culpa.Fé. A aceitação da graça expiatória de Jesus Cristo, “a quem, não havendo visto’, amamos (JPe 1:8), só pode ocorrer pela fé (ver com. de Rm 4:3). De fato, “tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14:25).A paz que o pecador tem com Deus mediante Jesus Cristo vem pela fé (Rm 5:1, 2). "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11:6). |
At.20:22 | 22. Constrangido em meu espírito.A mente dc Paulo pode ter se sentido pressionada por influência das circunstâncias, ou foi torçada pela própria vontade; também é possível que ele tenha se sentido constrangido pelo Espírito de Deus. Levando em conta o v. 23, alguns defendem o primeiro ponto de vista, dizendo que o uso da palavra "santo" no v. 23 sugere um contraste. Outros se sentem inclinados a apoiar a segunda possibilidade, crendo que o uso de "Santo" no v. 23 identifica o "Espírito” de ambos os versículos (ver g com. de At 16:6, 7, texto nr) qual o Espírito Santo impede Paulo de realizar certas ações).O verbo, que é enfático por sua posição, costuma se aplicar a restrições de cordas ou grilhões (Mt 13:30: 21:2), ou, no sentido figurado, à pressão de uma forte obrigação (Rm 7:2), ou ainda, a um grande ímpeto ou impulso (el. o substantivo em fm 13). Paulo era um homem com forte convicção do dever. Quando se acrescentava o impulso da direção do Espírito Santo, o "constrangimento” era rcalmente forte. O dever precisava ser cumprido; os resultados ficavam nas mãos de Deus.Que ali me acontecerá. Paulo sabia que perigos o esperavam em sua visita alerusalém (At 20:23; cl. Rm 15:30. 31), mas não sabia qual seria a natureza, a seriedade e as consequências do que o ameaçava. Mas seus caminhos estavam comprometidos com Deus e iria aonde o Espírito o guiasse. |
At.20:23 | 23. Senão que. Isto é, "exceto que”.O Espírito Santo [...] me assegura. O registro não diz se isto ocorreu por meio de revelação direta (ver com. de At 16:6, 7), pela predição de profetas, como em Atos 21:4 e 11 ou mediante uma impressão profunda e repetida na mente de Paulo.Cadeias e tribulações. Paulo tinha forte convicção das calamidades que estavam prestes a lhe sobrevir, mas não sabia dos detalhes. |
At.20:24 | 24. Em nada. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a leitura da primeira parte deste versículo da seguinte forma: "Mas eu não considero minha vida de nenhum valor, nem preciosa para mim mesmo."Considero a vida. Literalmente, "não dou nenhum valor a minha vida”. Isto é, Paulo não considerava as questões pessoais como algo digno de qualquer valor (ver Fp 3:7, 8). Essa foi a atitude de Jesus quando aceitou a encarnação (Fp 2:7, 8).Preciosa para mim mesmo. Isto é, valiosa para os próprios desejos. Nenhuma escolha e nenhum desejo pessoal distraíam Paulo dos árduos privilégios de seu ministério. Ele não pertencia a si mesmo; em vez disso, era servo de Cristo (Rm 1:1). Nada tinha importância suficiente para lazê-lo negligenciar o dever. Esse era o espírito do Salvador e dos primeiros cristãos.Com alegria (ARC). Evidências textuais (cl. p. xvi) favorecem a omissão destas palavras.Carreira. Do gr. dromus, "corrida", “duração da vida ou “termo de um ofício", "carreira". Paulo se apresentou como uma oferta viva (Rm 12:1), a lim de que a corrida proposta para ele fosse concluída com sucesso. Em sua epístola de despedida.ele afirma tê-la terminado (2Tm 4.7). De maneira semelhante, exortou os hebreus a correrem “com perseverança, a carreira" que lhes estava proposta (Hb 12:1). Paulo queria direcionar assim o rumo dc sua vida para que, ao fim, não se arrependesse de nenhuma negligência ou falha por descuido ou indiferença. Desejava finalizar sua carreira sentindo o contentamento de uma consciência limpa.O ministério. Do gr. diakoniu, "serviço”, do qual se originam os termos “diácono’ e “diaconato” em português. Nesse caso, não significa um ofício eclesiástico, mas um serviço prestado a Deus. Ser fiel no serviço era a principal regra de Paulo. O apóstolo admoestou seu “filho’’ Timóteo a demonstrar a mesma devoção (2Tm 4:5).Do Senhor Jesus. O forte senso de responsabilidade que Paulo linha em relação a seu ministério era consequência dc sua conversão única, na qual o próprio Cristo o chamou e lhe disse, por intermédio de Ananias, o que ele deveria fazer (At 9:15-17; 22:14, 15; 26:16-18). Paulo nunca duvidou de seu chamado, embora pareça que outros o tenham feito (2Co 3:1-6; G1 1:10-24).Para testemunhar. Ou, "dar completo testemunho de"O evangelho. Y'er com. dc Mc 1:1.O evangelho é a boa-nova da misericórdia de Deus a homens pecadores mediante o saeriiício expiatório de Jesus Cristo na cruz.Tal testemunho só pode ser dado por aqueles que reconhecem ser pecadores afastados de Deus e que, pela fé, experimentaram na própria vida a graça salvadora e o poder de Jesus Cristo. |
At.20:25 | 25. Reino. Ver com. de At 1:1; Mt 4:17. Este era o reino no qual Paulo concentrava suas esperanças e que, correndo grande perigo pessoal, proclamou diante do absolu- tismo dos imperadores romanos.De Deus (ARC). Evidências textuais (cl. p. xvi) apoiam a omissão desta expressão. CNão vereis mais o meu rosto. Paulo acreditava, por motivos não reveladas aqui, que aqueles presbíteros de Eíeso e, sem dúvida, as igrejas de Mileto e Efeso nunca mais o veríam. Essa crença podia se dever aos perigos que ele sabia que o aguardavam (At 20:22, 23; Rm 15:30, 31) e também a sua firme intenção de visitar Roma e a Espanha (At 19:21; Rm 15:23-28). Contudo, é provável que Paulo tenha voltado à Macedônia e à Àsia, embora talvez não tenha ido a Mileto ou a Efeso, entre a primeira e a segunda vez em que foi preso em Roma (Fp 1:25-27; Fm 22). Mas o apóstolo ainda não tinha sido informado disso pelo Espírito de Deus. |
At.20:26 | 26. Eu vos protesto. Isto é, “eu vos tes- tilico, laço-vos uma declaração solene''.Estou limpo. Do gr. katharos. Paulo não reivindica aqui perfeição deiinitiva de seu caráter cristão (ver Fp 3:12-14), mas, sim, que estava limpo no que se refere ao cumprimento do dever de levar pessoas a Cristo para a salvação.Do sangue. Esta é uma clara referência à responsabilidade do atalaia, exposta em Ezequicl 33:6. Paulo cumprira seu dever com os elésios. Seu pensamento é uma repetição clara daquilo que exprimiu quando deixou a sinagoga em Corinto. Ele fizera tudo que podia por aquelas pessoas. Seu sangue, isto é, a morte que lhes sobreviría caso rejeitassem a mensagem evangélica de salvação, recairía sobre eles próprios (At 18:6; d. Mt 27:25).De todos. Paulo pregara tanto a judeus quanto a gentios. Ele fizera seu melhor, no poder do Espírito Santo. Ninguém podería acusá-lo de negligência. Trata-se de um exemplo inspirador e desafiador para o ministro cristão. |
At.20:27 | 27. Jamais deixei de vos anunciar.Ver com. do v. 20. Nenhum medo ou desejo indigno de popularidade que resultasse na omissão de verdades impopulares haviamanchado o ministério de Paulo. Não houve disfarce, nem ocultamento da verdade.Todo o desígnio de Deus. Isto é, o plano de Deus para salvar a humanidade. E provável que Paulo tenha ouvido sobre esse plano pela primeira vez por meio da pregação de Estêvão (ver At 7:54-58) e depois o aprendeu do próprio Cristo (At 9:4-6; Gl 1:15-20). Ele expunha ao povo o propósito da morte de Cristo na cruz, Sua ressurreição e ascensão, Sua obra como Sumo Sacerdote no santuário celeslial e Sua promessa de voltar no fim de Sua obra de mediação a fim de levar Seu povo para Si. Ffsse é o plano que o apóstolo esboçou com clareza na epístola aos Romanos. |
At.20:28 | 28. Atendei. Em vista da partida de Paulo e do que ele estava prestes a lhes contar, os presbíteros deveríam vigiar com cuidado, em primeiro lugar, quanto a si próprios (ver v. 30) e, depois, cm relação ao rebanho. Perigos e tentações peculiares cercam os líderes religiosos no tocante à conduta pessoal, à estabilidade religiosa, à constância na doutrina e até mesmo a perigos externos (cf. 2Co 11:23-28) que aumentarão à medida que o tempo se aproxima do íirn.O rebanho. A igreja é o corpo de Cristo (ICo 12:12-17; I f 4:12), o templo de Deus (ICo 3:16, 17) e a noiva do Senhor (Ef 5:23-32). Mas é também, de maneira muito íntima, o rebanho de Deus (jo 104 116; cf. IPe 5:4; Fib 13:20). Como tal, eleve ser conduzida, não arrastada (Jo 10:26-30), alimentada, não explorada (SI 23; Jo 10:7-14; 1 Pc 5:2). 'Pastor é uma palavra do latim que se origina do verbo pasco, “eu alimento". A imagem atraente do Elom Pastor, apresentada com tanta clareza nas Escrituras, é um exemplo para o ministro do evangelho. O “todo’ significa o rebanho inteiro e todas as partes dele, pois não se deve fazer acepção de pessoas (Tg 2:1-9).O Espírito Santo. A terceira pessoa da Trindade. Com certeza, os presbíteros deEfeso foram escolhidos sob a supervisão de Paulo (ver com. de At 14:22). Mas o apóstolo considerava que eles haviam sido selecionados pelo Espírito Santo por meio do processo de eleição ou nomeação, e estavam cheios doEspírito (cf. At 6:3). Mais uma vez, revela- se aqui a forle crença da era apostólica de que o Espírito de Deus estava na igreja e que esta atuava por meio de Suas orientações (verAt 2:2-4; 4:31; 3:3. 4; 6:3, 3; 8:39; 10:43; 13:2; 13:28; 16:6, 7).Bispos. Do gr. episkopoi, literalmente, ''supervisores', termo técnico que passou a ser conhecido por “bispos . A comparação com o v. 17 revela que, nos dias de Paulo, os ''presbíteros'' {¦presbyteroi) e os "bispos'' (episkopoi) eram os mesmos homens (ver com. de At 11:30; cl. At: 1:20; Tt 1:5-7). Esses oliciais, conhecidos como presbíteros ou anciãos, atuavam como “supervisores' da igreja.Pastoreardes. Do gr. poimainõ, “cuidar de um rebanho “ser pastor”. E dever 9 do pastor cuidar de seu rebanho e levá-lo a boas pastagens. Assim, o pastor da igreja deve alimentar seu rebanho com as pastagens da Palavra dc Deus. Foi essa advertência que Pedro recebeu três vezes de seu Senhor (Jo 21:13-17), comissão que ele transmitiu mais tarde a seus conversos (lPe 3:2). O dever pastoral se divide em cineo aspectos: (1) pregar a Palavra de Deus ao rebanho, levando-o a compreender o evangelho (ICo 2:4-7; El 3:8-11) e a vivcnciar o poder da verdade (Jo 3:11; 2Co 4:13), apresentando a palavra cia verdade a suas ovelhas (2 Em 2:15), a fim de que cresçam com prudência em sua condição espiritual; (2) orar pelo rebanho (Jo 17:9-17; Rm 1:9; 14 1:16; ]Ts 1:2; 2Tm 1:3); (3) administraras ordenanças da casa do Senhor em seu sentido espiritual profundo, a saber, o batismo (Rm 6:3-6), o lava-pés (Jo 13:3-17) e a Ceia do Senhor (Mt 26:26-30; ICo 11:23-30); (4) preservar a verdade do evangelho na igreja(Jd 3; ITm 1:3, 4; 4:6, 7, 16; 6:20; 21 m 1:14; 2:25; 3:14-17); e (5) buscar a conversão das pessoas, acrescentando-as ao rebanho(At 2:47; 11:24; cf. Lc 14:23).igreja de Deus. As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre as variantes "igreja de Deus", "igreja do Senhor" e "igreja do Senhor e Deus , sendo a última uma combinação característica das duas opções anteriores. Com frequência, Paulo chama Jesus Cristo de Deus (Rm 9:5; Tt 2:13; cf. Cl 1:15-20; 2:9; Ep 2:5-11; sobre este problema textual, confira também P roble ms m Bible 1'nmslation, p. 205-208).Comprou. Cristo comprou os remidos, que formam a igreja, com o próprio sangue (lPe 1:18, 19). Aquele que não conheceu pecado Se fez pecado por nós (2Co 5:21). Ele nos tomou quanto estávamos mortos em nossas transgressões e em nossos pecados e nos elevou a lugares celestiais (El 2:1-6). Fomos “comprados por preço" (ICo 6:20; 7:23; cf. 2Pe 2:1).Com o Seu próprio sangue. A expressão grega c ambígua e também pode ser traduzida por “com o sangue do seu [Eilho|”. Essa tradução combinaria com a versão "igreja de Deus que ocorre anteriormente no parágrafo, ao passo que a outra atribui a divindade a Cristo (conceito que outras referências deixam claro) ou combina com a variante “igreja do Senhor’. “O sangue é a vida" (Dt 12:23). Quando o sangue era derramado, a vida acabava. O animal do sacrifício morria, com o sangue escorrendo pelo chão, prefiguranclo a morte de Cristo pelos pecadores. Por isso, o sangue de Jesus que, junto com água, saiu de Seu coração, partido por causa da separação do Pai (Mt 27:46; Jo 19:34, 35) em sua morte na cruz do Calvário, é chamado de sangue salvador (ICo 1:17, 18), sangue comprador (At 20:28) e sangue purificador (1 jo 1:7). Uma vez que a morte de Cristo foi o sacri- líeio expiatório que tornou a salvação possível, a igreja deve ser supervisionada por seuspastores com devoção e cuidado especiais. Assim como Jesus amou a igreja e Se sacrificou por eia, o ministro deve amar a congregação e sc sacrificar no serviço a ela. |
At.20:29 | 29. Eu sei. Por meio de seu conhecimento sobre a natureza humana e pela experiência, bem como mediante a luz concedida ao apóstolo pelo Espírito de Deus.Depois da minha partida. Paulo atuara como guardião das igrejas que ele reunira. O perigo que elas enfrentavam aumentaria em sua ausência. De maneira semelhante, Israel foi fiel durante os dias de Josué e dos anciãos que viveram mais do que ele (Jz 2:7), mas logo depois veio a apostasia.Lobos vorazes. Aqui Paulo faz um paralelo da alegoria de Cristo como o bom pastor. O contratado não enfrenta o lobo (Jo 10:12), mas o verdadeiro pastor do rebanho fica firme em defesa das ovelhas indefesas. Cristo, sabendo do perigo de tais ataques, advertiu quanto a eles (Mt 7:15). Os anciãos de bfeso deveríam proteger as ovelhas dos lobos que Paulo previu que invadiríam o aprisco da igreja. A advertência àqueles anciãos não é única. Ele já havia escrito aos tessalonieenses sobre uma grande apostasia que estava por vir (2Ts 2:1-12) e escreveu mais tarde a Timóteo, alertando-o de perigos da mesma natureza (ITm 4:1-3; 2Tm 3:1-15). O apóstolo João, nos últimos momentos do primeiro século, considerou a apostasia um perigo atual de seus dias (ljo 4:1) e, no Apocalipse, ele relata visões sobre a decadência chocante da igreja, tomada por influências pagãs (Ap 2:12-24; 6:3-11; 17; 18; ver p. 50—54). |
At.20:30 | 30. Dentre vós mesmos. Os lobos do versículo anterior, que fariam um ataque externo ao rebanho, representam as influências judaizantes e pagãs que, até 400 d.C., haviam modificado o cristianismo popular. Então, Paulo adverte contra as influências apóstatas provindas de dentro, como nos casos de Demas (2Tm 4:10), Himeneue Fileto (2Tm 2:17J, cujas palavras corroíam “como câncer", abalando a fé de alguns.Arrastar. Do gr. apospaõ, “retirar", “rasgar”. Os membros da igreja cristã que caíssem atrairíam outros para sua apostasia. |
At.20:31 | 31. Vigiai. E stas palavras parecem uma repetição significativa da admoestação do Senhor (Mt 24:42; 25:13), que Paulo devia conhecer. Era apropriada para os presbíteros de Efeso, a quem o apóstolo acabara de chamar de “supervisores” (ver com. de At 20:28). Paulo enfatiza a vigilância que deve caracterizar aqueles que guiam e pastoreiam a igreja.Três anos. Ao longo de três anos, Paulo dera exemplo de vigilância diante da igreja de Efeso. A história em Atos registra três meses de pregação na sinagoga (At 19:8), dois anos na escola de Tirano (At 19:10) e um período não especificado antes e depois da conspiração de Demétrío. Isso e o conhecido método judeu de contagem inclusiva (vervol. 1, p. 160) dão explicações suficientes para a declaração geral de “três anos” (ver p. 88-90). 'Admoestar. Do gr. noutheteõ, literalmente, “colocar na mente", “exortar”, “admoestar”. Paulo deixou claro quais seriam os deveres e os perigos diante deles.Com lágrimas. A simpatia profunda de Paulo, no sentido literal de “compartilhar os sentimentos”, fica evidente em muito daquilo que ele escreve (ver At 20:19; 2Go 11:29). O apóstolo faz aqui afirmações elevadas sobre sua eficiência pastoral e sua solicitude, contudo nenhum dos presbíteros contesta sua declaração. |
At.20:32 | 32. Encomendo-vos. Do gr. paratithêmi, “colocar ao lado”, "confiar”, usado aqui no sentido de “comprometer” (d . I Pe 4:19). Paulo faz os professores se “comprometerem” uns com os outros na verdade que receberam (cf. 21 m 1:14), transformando-se num "compromisso" ou “depósito” {paralhêks) da fé (2Tm 1:12), até o dia de Cristo.Âo Senhor. Evidências textuais (et. p. xvi) atestam esta variante. No contexto, “ao Senhor" e “a Deus são expressões equivalentes.Palavra da Sua graça. Esta expressão pode ser classil ieada como adjetiva, significando “Sua palavra graciosa”. Uma expressão paralela é “palavra do Seu poder” (Hb 1:3) ou “Sua palavra poderosa ”, isto é, uma palavra que tem poder para sustentar o universo. De maneira semelhante, a “palavra da Sua graça” é graça de dar a salvação àqueles que nEle creem (Jd 24). Com frequência, a palavra “graça” (charis) eslá ligada à palavra “poder” (dyuamis), como em 2 Coríntios 12:9. A ‘‘palavra” (logos) não se encontra personalizada aqui com o significado de Jesus Cristo. Mas, quando Ele fala. Sua palavra é cheia tanto de graça quanto de poder ícf. Tg 1:21; Hb 4:12; Jr 23:29; sobre a palavra charis, ver com. de Rm 3:24).Para vos edificar. Deus é o grande construtor. O alicerce c Jesus Cristo (lCo 3:11). Os dons do Espírito Santo operando nas pessoas espirituais são concedidos para essa edificação ou construção (Ef 2:20; 4:11-13). O resultado é a inteire/.a da igreja ou assembléia dos santos (1 Fe 2:5, 9, 10; Hb 12:22-24; El 5:27) e a reprodução do caráter de Cristo em cada um dos que nEle creem (Fp 3:8-14; Ef 3:14-21; 2Pe 1:3-8).Herança. Ou, “a herança”. A imagem se refere à divisão da terra entre os israelitas (|s 14—19). Mas o povo de Deus lalhou em ocupar toda a terra, por causa de sua falta de íé (|z 1—2: Hb 3-4). A herança dos filhos de Deus deve scr considerada uma posse definitiva, assim como a entregue aos hebreus, e deve ser reivindicada era Cristo com toda certeza (comparar com o desenvolvimento do pensamento de Paulo sobre a herança em Elésios). Há o “penhor da nossa herança” (El 1:14), que é a garantia da salvação trazida pelo Espírito Santo, a “herança nos santos” (Ef 1:18), a posse espiritual presente do cristão; a “herança no reino' (Ef 5:5), naqual entraremos por ocasião do segundo advento de Cristo (Mt 25:34; Lc 12:32). Na segunda vinda, os santos de Deus entrarão no Céu e reinarão por mil anos (lTs 4:16, 17; o Ap 20:4, 5), depois, habitarão a Terra renovada (Ap 21:1-4).Todos os que são santificados. Ou, “aqueles que foram santificados", pois a santificação dos filhos de Deus será terminada, em Cristo, antes do recebimento da herança íinal. Ser santificado é ser santo (Rm 1:7; lCo 1:2; 2Co 1:1), e a expressão se aplica a todo o corpo de crentes. “A santificação é obra dc toda uma vida”’ (PJ, 65), mas, como ninguém sabe quanto tempo terá de vida, a obra de santif icação deve ser imediata e desimpedida. A santificação está nas mãos de Deus (Ex 31:13; Ez 37:28; lTs 5:23; Jd 1), ocorre segundo Sua vontade (Hb 10:10), em Cristo (JCo 1:2; 6:1 I; El 5:26; Hb 13:12), pelo Espírito Santo (lCo 6:11; Rm 15:16), mediante a Palavra de Deus (Jo 17:17). |
At.20:33 | 33. Cobicei. Comparar com o apelo dc Samuel ao povo (ISm 12:3-5). Tanto no caso de Samuel quanto de Paulo havia um motivo especial para o que parece ser uma delesa desnecessária. (9s filhos de Samuel haviam perdido a integridade e eram corruptos (ISm 8:3); Paulo foi acusado de ter "intuitos gananciosos” (lTs 2:5; cf. 2Co 7:2; 12:17, 18). O apóstolo tinha direito de pedir compensação linanceira por seu trabalho em prol do evangelho (ICo 9:13, 14), mas não o fez a fim de não ser acusado dc cobiça (JCo 9:12, 15). Com a influência notável que exercia sobre as pessoas (cl. Cl 4:13-15), poderia ter atraído benefícios materiais para si a fim de enriquecer, mas não o lez. Ele tinha experiência "assim de abundância como de escassez” (Fp 4:1 2). Aprendera a "viver contente em toda e qualquer situação'” (Ep 4:11). Nunca mercado jara a Palavra de Deus (2Co 12:17). Não procurou nenhum “donativo” dos filipenses (Fp 4:17).t-CEEm vez de aceitar auxílio financeiro, trabalhava com as próprias mãos e expôs esse (ato no versículo seguinte, ao se defender da acusação de que seus esforços para propagar o evangelho eram motivados pela cobiça da riqueza de outros.Prata, nem ouro, nem vestes. A riqueza oriental costumava ser computada dc acordo com essas posses. Assim aconteceu com Naamã (2Rs 5:5) e com outros (Gn 24:53; 45:22; 2Rs 7:8; cf. Ml 6:19; Tg 5:2, 3). |
At.20:34 | 34. Vós mesmos sabeis. O contato de Paulo com os cristãos etésios fora tão intenso e duradouro que eles sabiam da veracidade daquilo que o apóstolo estava dizendo a respeito de si mesmo.Estas mãos serviram. Esta expressão aponta para o costume de Paulo de trabalhar para se sustentar e é introduzida como parte de sua defesa da acusação de cobiça. Ele trabalhou em seu ofício de fazer tendas com Aquilo e Priscila, em Corinto (At 18:1-3). Trabalhara anteriormente em Efeso (ICo 4:12) e cm Tessalônica (]Ts 2:9; 2Ts 3:8). Este versículo dá evidências dc que ele fizera o mesmo em Efeso. Paulo trabalhava não só para se sustentar, mas também para prover para alguns que estavam com ele e necessitavam de sua ajuda. Talvez Timóteo, com suas “( requentes enlermidades” (ITm 5:23), fosse um deles. O apóstolo não considerava degradante trabalhar para custear suas despesas enquanto pregava o evangelho, numa época em que a igreja ainda não havia aprendido a prover para seus ministros.Necessário. Do gr. chreiai, “necessidades’'. A medida que Paulo e seus companheiros iam de um lugar para o outro, sentiam-se contentados quando suas necessidades básicas eram atendidas e podiam ministrar as riquezas da graça divina aos outros. Eles não tinham nenhum desejo de desfrutar os luxos deste mundo. |
At.20:35 | 35. Tenho-vos mostrado. Do gr. hypo- de.iknmui, “mostrar [pelo exemplo]’’.Em tudo. As instruções de Paulo aos cristãos de Efeso não se restringiram à doutrina, mas também abrangeram questões de piedade prática: sustento próprio, com fé em Deus, e caridade cristã.Socorrer. Do gr. anülambanõ, “agarrar, pelo lado oposto’’, expressão vivida que transmite a ideia dc “ajudar”. A admoestação surge no contexto do trabalho físico de Paulo em prol dos outros.Os necessitados. Ou, “os doentes”, "os aflitos”. A palavra pode ser aplicada a alguém que é "débil na fé” (Rm 14:1). No entanto, uma vez que Paulo acabou de se referir ao trabalho braçal (At 20:34, 35), a conclusão incscapáve! é que os ‘‘necessitados" eram as pessoas pobres e enfermas. O restante do versículo conduz à mesma conclusão. Os membros da igreja apostólica estavam mais dispostos a cumprir essa responsabilidade do que em alguns períodos posteriores (ver com. de At 6:1. 2).Recordar. Paulo reforça a admoestação de que os presbíteros cuidassem dos necessitados. citando palavras de Jesus até então não registradas. A citação sai dos lábios de Paulo com autoridade apostólica inspirada, embora o mesmo não possa ser dito em relação às várias declarações que a tradição atribui a Cristo. Não é dito se Paulo ouviu a declaração de alguém que escutara Jesus ou se o próprio Cristo lalou ao apóstolo em uma de suas revelações diretas a ele. “Recordar’ subentende um conhecimento geral prévio da mensagem. Trata-se de uma das “muitas outras coisas’ (Jo 21:25) que Jesus disse e fez, mas não foram registradas nos evangelhos.As palavras do próprio. Literal mente, “que Ele mesmo disse". No grego, esta expressão é enfática.Bem-aventurado. A bem-avenlurança éuma bênção de mão dupla. Ouem a recebe é abençoado ou fica feliz, independentemente de ser uma necessidade espiritualou física. Mas a maior bênção recai sobre o doador. Há júbilo em compartilhar. O doador se afasta dos próprios interesses, dá vazão à melhor parte de sua natureza e recebe a aprovação de Deus (iVIt 25:34-40). Uma vez que Deus é um provedor ilimitado (Gn 22:8-] 3; SI 23; Jo 3:16, 34), dar é um ato divino. |
At.20:36 | 36. Ajoelhando-se. Postura normal de oração (SI 95:6: Dn 6:10), apropriada por consistir num marco de humildade diante da majestade divina a quem a oração se dirige, adotada sobretudo em momentos solenes (2Cr 6:13; lRs 8:54; Lc 22:41). Pardo é retratado se ajoelhando também ao se despedir dos irmãos de Tiro (At 21:5; cf. Ef 3:14).Orou com todos eles. Embora Lucas registre resumos completos de discursos públicos e até de conversas, não relata as palavras da oração de Paulo com os anciãos de Efeso. O tema da prece pode. estar sugerido em Efésios 3:14 a 21. A responsabilidadeque o apóstolo sentia de orar por seus companheiros e conversos era evidente (At 28:8; Rm 1:9, 10; Ef 1:16-19; Fp 1:4, 5; lis 1:2; 2Tm 1:3; Fm 4-6). |
At.20:37 | 37. Houve grande pranto entretodos. Não poderia haver evidência maior de elevada estima e terna afeição.Abraçando afetuosamente a Paulo. Forma oriental de abraço por ocasião de um encontro ou de uma despedida (ver Gn .33:4; 45:14; 46:29; Lc 15:20). Os amigos de Paulo o amavam. |
At.20:38 | 38. Entristecidos. Ou, "estando em angústia", “estando atormentados . "afligindo-sc .Não mais veriam o seu rosto. \1 * 7er com. do v. 25.Acompanharam-no. Literalmente, “o enviaram”. As mesmas palavras são traduzidas por "acompanhados” (At 15:3; 21:5). Os presbíteros de Efeso permaneceram o maior tempo possível com Paulo, indo até o navio no qual ele embarcaria (ver eont. de At 15:3).TI, 372, 581; T3, 27 26-OE, 59 26, 27 - T4, 647 26-28 - FEC, 223 27 - AA, 364; OE, 188; Tl, 247Capítulo 21 |
At.21:1 | 1. Depois de nos apartarmos. O verbo grego sugere separar-se com esforço, c a expressão podería scr traduzida como: “depois de termos nos desgrudado deles”.Correndo em direitura. Com venlo e corrente marítima favoráveis.Cós. Pequena ilha em frente à costa ela Asia Menor, na entrada do arquipélago grego (ver mapa, p. 389), Antigamcnle, havia naquela ilha um templo a Esculápio e uma escola de medicina. Era conhecida por seu vinho, pela produção de seda c de tecidos.No dia seguinte. Lucas, com seu interesse evidente por viagens marítimas, toma o cuidado de registrar o número de dias necessários para a viagem (cf. At 20:6, 7, 15).Rodes. Esta ilha lica no extremo sudoeste da Asia Menor (ver mapa, p. 389). Tornou-se lamosa durante a Guerra do Peloponeso. O antigo nome da ilha era Astéria, o lugar das estrelas. O nome. Rodes foi dado por causa da profusão de rosas que crescia ali. Sua madeira, usada para construir navios, permitiu que seus cidadãos desenvolvessem uma marinha forte. Era um importante ponto de cruzamento, tanto para fins comerciais quanto militares. Tinha um grande templo dedicado ao sol, e suas moedas traziam a cabeça de Apoio como o deus-sol. Uma gigantesca estátua de metal de Hélios, o deus-sol, com mais de 30 m dc altura, conhecida como Colosso de Rodes, era uma dassete maravilhas do mundo. Feita por Carés por volta do ano 280 a.C., toi derrubada por um terremoto cm 224 a.C., permanecendo deitada de costas por cerca de 900 anos. No 7o século d.C., foi vendida pelos conquistadores sarracenos a um judeu. Relata-se que ele usou 900 camelos para carregar a grande peça de metal.Pátara. Há evidências textuais (ct. p. xvi) para o acréscimo de "e Mirra", talvez numa transferência da viagem de Paulo a Roma (At 27:5). Britara era uma cidade litorânea da província da Eícia (ver mapa. p. 389), conhecida pela adoração a Apoio. Ficava próxima à foz do rio Xanto e era o porto da cidade com esse nonre. Ali, Paulo e seus companheiros mudaram de um barco costeiro para um navio destinado à Fenícia. |
At.21:2 | 2. Fenícia. Região costeira, ao norte da Palestina (ver, no vol. 5, mapa, p. 327). Suas principais cidades eram Tiro e Sidom. |
At.21:3 | 3. Chipre. Ver com. de At 13:4-6.Síria. A antiga região ao norte da Palestinae a oeste do rio Eulrates. Lucas inclui Tiro da Fenícia na região mais ampla da Síria.Firo. Porto muito antigo da Fenícia, que ficava a cerca de cinco dias de viagem marítima de Pátara. E conhecida por ter sido um local fortificado nos dias dc Josué (Js 19:29). Também se tornou célebre por sua ligação com a construção do templo dc Salomão (1 Rs 7:13-45; 2Cr 2:11-16). A cidade l(.ii cercada pelos assírios e babilônios, c conquistada mais tarde por Alexandre, o Grande.Descarregado. Ou seja, “tirar a carga”. |
At.21:4 | 4. Encontrando os discípulos. Literalmente, “tendo olhado os discípulos ”. Não se trata de uma referência a discípulos que estavam lá por acaso, mas a uma agregação de cristãos de Firo. Portanto, esta é a primeira menção específica à existência de uma igreja em F iro, embora seja provável que ela já existisse ali por muitos anos (ver At 11:19; 15:3).Sete dias. Paulo desejava chegar a Jerusalém para o Pentecosles (At 20:16), mas ao perceber que tinha tempo e, sem dúvida, após a insistência da igreja de Tiro, passou a semana ali.Movidos pelo Espírito. Neste caso, a referência não pode ser ao "espírito" humano, mas ao Espírito Santo de Deus, personagem tão preeminente no livro de Atos (cf. At 2:2- 4; 5:3; 8:39; 10:44, 45; 13:2; 15:28; 16:6, 7).Recomendavam. Ou, “continuavam a dizer”. Talvez estas advertências proféticas tenham sido feitas no sábado ou em outras reuniões da igreja de Tiro, por homens que possuíam os dons do Espírito (ver G1 6:1; cf. p. 11, 12, 27).Não fosse. Com certeza, não se trata de uma proibição feita pelo Espírito Santo quanto à continuação da viagem a Jerusalém, como ocorrera antes em relação à ida para a Asia e a Bitínia (At 16:6, 7), pois Paulo não desobedecería a uma proibição direta do Espírito Santo. Em vez disso, deve ser compreendida como uma advertência, feita com ainda mais clareza por Agabo. em Cesareia, um pouco depois (Al 21:10, II). |
At.21:5 | 5. Passados aqueles dias. Os “sete dias” do v. 4. O verbo grego é traduzido neste versículo por "passados” e, em 2 Timóteo 3:17, por "habilitado”. Tem o sentido primário de tornar pronto, equipar ou prover equipamentos, como no caso de um navio. Por isso, alguns concluem que o navio precisava permanecer uma semana em Tiro para ser equipado. Todavia, como uma expressão temporal, como é o caso aqui, a melhor tradução seria "completar ou “terminar”.Tendo-nos retirado, prosseguimos. Literalmente, “tendo partido, estávamos seguindo em nosso caminho”.Acompanhados por todos. Ioda a igreja de Firo, inclusive mulheres e crianças, acompanharam Paulo e seus companheiros da cidade até a praia (ver com. de At 15:3; 20:38).Ajoelhados [...] oramos. Ver com. de At 20:36. |
At.21:6 | 6. D espedindo-nos. Literal mente, “saudamo-nos para ir embora", isto é, dissemos adeus uns aos outros.Voltaram para casa. Do gr. eis ta idia, "para as próprias [coisas]", isto é, para casa (ver com. de Jo 1:11). |
At.21:7 | 7. Viagem. Do gr. ploos, "viagem"’; neste caso, ou a viagem desde Tiro ou o percurso inteiro desde a Macedônia. Paulo e seus companheiros parecem ter feito o restante da rota por terra, de Ptolemaida a Jerusalém.Ptolemaida. Nome dado por governantes gregos e romanos à cidade antiga conhecida como Aco (Jz 1:31). Mais tarde, foi denominada Saint Jean d "Acre pelos cruzados, ou simplesmente Acre. Nos tempos do AT, era uma cidade importante, mas perdeu destaque depois que Merodes, o Grande, construiu Cesareia.Os irmãos. Também havia uma igreja em Ptolemaida. Gomo ela ficava próxima à grande estrada que ligava as cidades litorâneas, sem dúvida, os primeiros cristãos que se dispersaram durante a perseguição cjue sucedeu a morte de Estêvão visitaram a cidade e lizeram conversos (ver At 11:19). |
At.21:8 | 8. Para Cesareia. Ver com. de At 10:1. A inferência é que a jornada foi feita por terra (ver com. do v. 7). Havia uma excelente estrada entre Ptolemaida e Cesareia (sobre a aparente preferência de Paulo por viajar por terra, ver com. de At 20:13).Filipe, o evangelista. Filipe tora um b dos "servidores das mesas" ou diáconos originais. Seu nome é alistado após o de Estêvão (At 6:5). E possível que essa obra tenha se unido à dc "evangelista’’, ou desaparecido, em lunção da última (ver At 8:5-13, 26-40). Não se deve pensar nesta designação como um título, mas, como a descrição dc seu trabalho, resultado de haver recebido esse dom em especial do Espírito Santo (ver El 4:11; ver com. de At 13:1). A importância desse dom éindicada pela exortação de Paulo a Timóteo, para que fizesse "o trabalho de um evangelista” (2Tm 4:5) e reavivasse "o dom de Deus” que havia nele (2Tm 1:6).Sem dúvida, os esforços evangelíslicos dc Filipe o levaram para muito além das fronteiras de Cesareia, onde fora visto pela última vez (At 8:40). E possível que tenha pregado ao longo do litoral da Palestina e da Fenícia, junto com outros que se refugiaram no exterior durante a perseguição que sucedeu a morte de Estêvão (ver At 11:19). Ê provável que tenha sido o primeiro encontro entre Filipe e Lucas e também a primeira vez que os caminhos de Filipe e Paulo se cruzaram.Um dos sete. Os sele, dc Atos 6, ainda eram considerados um grupo distinto. Quer a intenção de Lucas tenha sido organizacional, quer comemorativa, o lato é que a igreja havia mantido a ordem dos diáconos.Ficamos com ele. Com certeza, a casa dc Filipe ficava em Cesareia. Lucas, o historiador da igreja, deve ter aproveitado ao máximo essa oportunidade para coletar informações valiosas sobre a situação da igreja com Filipe e sua família. |
At.21:9 | 9. Quatro filhas. Estas mulheres tinham o dom de profecia (ver com. de At 13:1; cl. ICo 14:1, 3, 4; EÍ 2:20; 4:11). O verbo "profetizar’’ significa "anunciar", isto é, em nome de Deus (ver com. de Gn 20:7; Mt 11:9). Um profeta pode ou não prever acontecimentos. A Bíblia apresenta uma série de casos em que mulheres receberam o mais desejável dos dons do Espírito (ICo 14:1). Miriã, a irmã de Moisés, era profetisa (Ex 15:20), assim como Débora, cujo auxílio inspirado ajudou Baraque a conquistar os cananeus (Jz 4:4). A mulher de Isaias era profetisa (Is 8:3) e também Ilulda, que auxiliou o sacerdote Hilquias nas reformas de Josias, rei dc Judá (2Rs 22:14; 2Cr 34:22). A profetisa Ana reconheceu seu Senhor ainda bebê (Lc 2:36-38). Há também menção a falsas profetisas (Ne 6:14; Ap 2:20). Joel previu oderramamento do dom de profecia sobre as “servas", no futuro ÍJ1 2:28, 29). |
At.21:10 | 10. Alguns dias. Ou, “mais dias", sugerindo uma permanência mais longa do que o plano original.Judeia. Em sentido restrito, referindo-se ao antigo território de Judá, não à província romana de Judeia, que incluía a Cesareia.Ágabo. Trata-se do mesmo homem que prolelizara a íome (cl. At 11:28). A coincidência do nome incomum e do dom incomum dificilmente abriria espaço para que tossem duas pessoas diferentes. |
At.21:11 | 11. Cinto. O cinto era uma faixa ou um cordão de linho, lã ou couro, usado em volta da cintura para juntar as partes folgadas das vestes orientais, sobretudo se houvesse trabalho ou uma caminhada a serem feitos. Tinha tamanho suficiente para conter uma espécie de bolso de carregar dinheiro, tabuletas para escrever, um buril, etc.Ligando. Foi uma maneira dramatizada de apresentar uma profecia, método usado sob orientação divina por Is.nas (Is 20), jeremias (Jr 13:1-11; 18:1-10; 19:1-3; 27:2, 3; 28) e Ezeqtiicl (Ez 4:1-13; 5:1-4).O Espírito Santo. As pessoas da igreja apostólica tinham consciência da presença direta, dinâmica e pessoal do Espírito Santo em seu pensamento, nas palavras c nos atos. A presença do Espírito era tão real para eles quanto jesus havia sido para os discípulos (comparar com Jo 16:7; At 2:2-4; 5:3; 13:2).Assim os judeus. Isto se cumpriu (ver v. 33; At 24).Gentios. Os romanos em cujas mãos Paulo foi parar quando a profecia de Ágabo se cumpriu controlavam a administração civil c militar da Palestina conquistada. O apóstolo não se intimidou diante cia advertência, nem se deteve pelo perigo. |
At.21:12 | 12. Tanto nós como os daquele lugar. Paulo, seus companheiros, inclusive Lucas, e a igreja de Cesareia ouviram a protecia,que deve ter sido proferida em público, talvez num culto de sábado.Rogamos. Ou, “continuaram suplicando’. |
At.21:13 | 13. Que fazeis [...] quebrantando-me o coração? Neste caso, quebrantar o coração não tem o sentido de afetar o espírito de Paulo com tristeza, mas de enfraquecer sua resolução de cumprir sua missão em Jerusalém.Estou pronto. No grego, o pronome “eu” é enlátieo. Indica a determinação inflexível de Paulo de la/.er o que ele achava correto e de considerar válido o custo do sofrimento (cf. At 20:24; a mesma atitude de Jesus [Lc 9:51]).Para morrer. Isto expressa o verdadeiro espírito do mártir.Pelo nome. Comparar com Fp 3:7, 8. Os apóstolos e seus companheiros fizeram proezas pelo nome de Cristo (comparar com At 4:12; 5:41; ver com. de At 3:16). |
At.21:14 | 14. Faça-se a vontade. A igreja percebeu que nenhum apelo seria suficiente e que Paulo eslava resolvido a ir para lerusalém. A vontade divina ficou clara por meio da determinação do apóstolo de prosseguir até a cidade, apesar das ameaças dos perigos. Fazer a vontade de Deus traz paz interior, embora possa resultar em tumulto e sofrimento exteriores (comparar com Lc 22:42). |
At.21:15 | 15. Tendo feito os preparativos. Ou, “depois de nos equipar” ou "pegando nossa bagagem”.Subimos. Ou, "começamos a subir”, “estávamos subindo’, isto é, continuando a jornada a Jerusalém. |
At.21:16 | 16. Trazendo consigo Mnasom. Ou, “levando[-nos| para certo Mnasom". Este discípulo sobre quem nada mais se sabe, havia partido de Chipre c lixado residência em Jerusalém ou numa vila a caminho da capital judaica. Seu nome era comum entre os gregos e é possível que lenha sido ura dos primeiros conversos helenistas.Deveriamos nos hospedar. Este versículo sugere que alguns dos cristãos deCesareia acompanharam Paulo e seus amigos até Jerusalém, a 102 km de distância, a fim de apresentar Paulo a seu amigo Mnasom, um discípulo antigo a quem o apóstolo ainda não conhecia e que o hospedaria. Não era a primeira visita de Paulo a Jerusalém; ele não era desconhecido da igreja e não precisava ser apresentado a um estranho para que tivesse um lugar onde pousar. Essa aparente discrepância na história deve ser compreendida e harmonizada com a análise de fatores geográl icos e dos costumes sociais da época.A distância entre Cesareia e Jerusalém era demasiada para uma jornada de um dia, mas podem ser percorrida em dois ou três dias. Os costumes de hospitalidade não exigiam que os cristãos de Cesareia acompanhassem Paulo e seus companheiros até Jerusalém, apenas para apresentá-lo ao amigo que seria anfitrião do apóstolo. É bem mais provável que o tenham acompanhado em um dia de viagem até a casa do amigo Mnasom numa vila no meio do caminho, onde Paulo e seu grupo se hospedaram durante a noite.Esta proposta de solução para o problema é apoiada por uma versão textual alternativa. Em vez de "trazendo [,..| Mnasom”, há algumas evidências textuais (cf. p. xvi) para a variante “e estes nos trouxeram a alguém com quem deveriamos nos hospedar; e sendo levados para determinada vila, fomos para a casa dc certo Mnasom de Chipre, um velho discípulo". O v. 17 segue a lógica desta versão, narra ndo a continuidade da jornada e a recepção de Paulo pelos irmãos de Jerusalém. |
At.21:17 | 17. Os irmãos nos receberam. Os membros da igreja de Jerusalém, com quem Paulo se encontrara em suas visitas anteriores. estavam felizes por recebê-lo. |
At.21:18 | 18. Tiago, e todos os presbíteros. Assim que possível, Paulo chamou Tiago, ao que parece, o presbítero-chefe, e os demais líderes da igreja dc Jerusalém. E possível que fossem os apóstolos que ainda residiam na cidade, em vez. de presbíteros eleitos da igreja‘‘local" (cf. At 14:23; ver também At 15:2, 4, 6, em que se menciona apóstolos e presbíteros). Este Tiago, sem dúvida, o "irmão do Senhor”, fora o presidente do concilio de Jerusalém (ver com. de At 12:17; ver At 15:13; GI 1:19). |
At.21:19 | 19. Contou minuciosamente. Literalmente, "ele continuou a relatar um por um" (comparar com At 15:3; Pv 15:30). O relato de Paulo informaria aos anciãos o que ocorrera em sua experiência desde a visita a Jerusalém (At 18:22), além de incluir referência aos donativos que o apóstolo trouxera dos cristãos gentios para cristãos judeus necessitados da Palestina. |
At.21:20 | 20. Deram eles glória. Ou, “eles começaram a glorificar”, talvez por meio de uma expressão geral de ação de graças quando Paulo concluiu. Não há nenhuma menção de louvor a Paulo.A Deus. As evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante.Quantas dezenas de milhares há entre os judeus. Esta expressão dá uma ideia do progresso notável do evangelho entre os judeus. Mas esses números aproximados podem incluir mais do que os judeus conversos que moravam em Jerusalém, pois podería haver milhares de judeus ali no Pentecostes, assim como Paulo (sobre a multidão dos que creram, ver At 6:1, 7; 9:31; 11:21, 24; 14:1; 17:4).Zelosos da lei. Estes cristãos judeus não haviam sido liberados pelo concilio dc Jerusalém, como os cristãos gentios, das cerimônias da religião judaica (ver com. de At 15:19-21). Eles ainda praticavam, pelo menos até certo ponto, os rituais do AT. Sem dúvida, também seguiam muitas das regras tradicionais dos fariseus (sobre essa prática, ver vol. 5, p. 39, 40, 55). Paulo se considerava como alguém que vivia "conforme a seita mais severa” de sua religião, ou seja, como um fariseu (At 26:5). É evidente que desta classe provinha a maioria dos primeirosconversos ao cristianismo, mas, ao contrário de Paulo, eles ainda eram legalistas. |
At.21:21 | 21. Foram informados. Ou, "foram ensinados ’. Os judaizantes oponentes de Paulo, além de serem “zelosos da lei" (v. 20), também estavam sendo zelosos em espalhar relatos exagerados e prejudiciais em relação aos ensinos teológicos do apóstolo. Portanto, não surpreende que o apóstolo faça uma admoestaçào tão firme contra o julgamento dos outros em relação ao cumprimento de cerimônias religiosas (Rm 14:1-10; Cl 2:16). Ele próprio sofreu nas mãos de críticos legalistas zelosos. Embora professassem ser cristãos, esses juizes autodesignados não tinham experiência no evangelho de Cristo, pois lhes faltava fé. E fazer as obras religiosas sem fé é pecado (Rm 14:23).Ensinas [...] a apostatarem de Moisés. Literalmente, “você está ensinando a apostasia de Moisés”. Esta era a acusação que circulava contra Paulo e não poder ia haver nada mais sério contra um judeu zeloso. Despertava ressentimento por questões de patriotismo, partidarismo, tradição histórica, relações sociais e lei pública, bem como os mais profundos sentimentos religiosos. O fato cie multidões (ver v. 20) de judeus terem aceitado Jesus como Messias, aquele que restauraria todas as coisas, evídentemente as tornava ainda mais ávidas por preservar as exigências e os ritos do judaísmo, temendo e repudiando Paulo ao máximo como um apóstata tanto do povo quanto da religião.Não devem circuncidar. Esta era uma acusação específica, que ilustrava a generalização anterior. Segundo ela, Paulo não estava transgredindo uma tradição, mas o sinal da aliança dos judeus, amparado na própria lei.Andar segundo os costumes. Comparar com At 6:14. Paulo foi acusado de atacar as observáncias detalhadas que surgiram da lei e das práticas tradicionais que passaram a ser v istas como acréscimos inevitáveis.Eram acusações sérias, nas quais a multidão cria com rigor. Aplicadas ao ensino dc Paulo, aos judeus e a sua conduta pessoal na religião, eram facilmente negadas (At 22:3; 23:1, 6; 24:11-16; 25:10, 11; 26:4-7, 22), embora a refutação de Paulo tenha sido malsueedida por causa da violência surgida em decorrência do preconceito. O procedimento de Paulo no que se refere à manutenção das exigências cerimoniais pelos judeus era o do concilio de Jerusalém (At 15), isto é, os cristãos judeus deveríam continuar a praticar todos os ritos que a consciência lhes exigisse. Mas o apóstolo insistia em que os conversos gentios permanecessem livres. Aquele que é justificado pela fé não poderia, de maneira nenhuma, ser ajudado no caminho ao Céu por práticas legalistas (Rm 2:24-29; Gl 4:1-11; 5:1-6; Cl 2:16-22).Sua regra própria de adaptação pessoal (iCo 9:19-23) o levava a continuar a viver corno judeu, sobretudo entre os judeus. Ele dava liberdade aos judeus na igreja cristã para continuar as práticas cerimoniais até que percebessem a falta de significado das mesmas, na presença do evangelho da lé (Rm 14:1-10; ICo 7:17-24). O próprio Paulo fizera um voto de nazircu (At 18:18). Ele proveu a circuncisão de Timóteo (At 16:3). Não havia motivo para acusá-lo de ensinar os cristãos judeus que "não devem circun- ciclar os filhos". Tal acusação era inventada por seus inimigos.Todavia, seu ensino do evangelho acabaria resultando, em algum momento, no abandono, por parte dos judeus, de prát icas e cerimônias não mais significativas. Os ensinos de Cristo eram a base para os do apóstolo. Nosso Senhor instruiu Seus seguidores a ter uma justiça que excedia a dos cscri- bas e fariseus (Mt 5:20); Ele condenou práticas religiosas externas como um fim em si mesmas (Mt 6:1-7) e insistiu que Deus devia ser adorado "em espírito e em verdade ’ (jo 4:24). Paulo negava a religião do tipo "nãomanuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro', desenvolvida e imposta por seres humanos (Cl 2:20-22), de regras e escrúpulos ligados a coisas que não têm significân- cia moral e espiritual verdadeira (Rm 14:1-10; G1 4:9-11; Hb 9:9, 10) e que, levando cm conta a vida e o sacrifício de Cristo, deixaram de lazer sentido (Cl 2:8-17).Os sacrifícios e a circuncisão foram instituídos por ordem divina. Os sacrifícios deixaram de fazer sentido quando Aquele para quem apontavam morreu, a fim de suportar a culpa da humanidade. De igual modo, o templo, como local para onde se levavam os sacrifícios, e os sacerdotes, como ofertantes (Dn 9:24-27; Ml 27:51; Hb 8:13; 9:11-15) também perderam significado. A circuncisão era um sinal exterior da relação de aliança entre uma nação ou um povo e seu Deus (Rm 4:11). Embora o rito fosse realizado individualmente, não era recebido com fé pelo bebê e representava apenas um símbolo tribal ou nacional. Logo, perdeu sentido quando a adoração e o culto a Deus, em Cristo, deixaram de ser exclusividade de uma tribo ou uma nação (Gl 3:28, 29; Cl 3:11), passando a constituir uma questão de aceitação individual, pela fé, de Cristo Jesus, o Salvador (Rm 3:22-24; Gl 3:26, 27; Ef 2:8). Mais uma vez, com a revelação em Cristo da aliança da salvação e o caminho da lé (Jr 31:31-34: 2Co 3:6-9; Hb 8:6-13), o antigo sinal da aliança, a circuncisão, deixou de ser significativo. O judeu que quisesse prosseguir "em conhecer ao Senhor" (Os 6:3) pela fé, inevitavelmente, deveria deixar de considerai' a circuncisão como algo de qualquer valor para a vida espiritual.Portanto, Paulo ensinava que "a circuncisão, em si, não é nada”, no que se refere ao relacionamento do homem com (Deus (iCo 7:19; cf. Rm 3:31; 8:4; IJo 2:3). Frente ao evangelho de Cristo, a circuncisão (e qualquer outro rito realizado por si só) não tem razão para existir (Gl 5:5; 6:12-17). Judeus egentios são um em Cristo (Gl 3:16, 27-29; Cl 2:9-14), que derrubou a "parede de separação que estava no meio” deles (Ef 2:11-17). Todos são salvos apenas por intermédio de Cristo, "pela graça [...] mediante a fé” (Ef 2:4-10; cf. Rm 3:26-30). Paulo não instruiu os judeus a pararem de praticar a circuncisão, mas se um cristão judeu fervoroso e provido de discernimento espiritual perguntasse: “Por que eu, sendo um homem de íé, salvo em Cristo pela graça, deveria cir- cuncidar meu filho-", a resposta precisaria ser: “Por nenhum motivo em Cristo, mas somente pelo bem de seus irmãos que ainda não entendem.” Era nisso que Paulo acreditava e pautava sua conduta. Logo, pode-se concluir que as acusações dos judaizantes contra Paulo eram falsas, mas seus temores relativos ao futuro de todos os ritos judaicos tinham justificativa. |
At.21:22 | 22. A multidão (ARC). Evidências textuais (ct. p. xvi) apoiam a omissão da frase “é necessário que a multidão se ajunte". O contexto não dá nenhuma pista do ajuntamento.Saberão. A notícia da chegada de Paulo se espalharia, não necessariamente por meio de uma reunião dos santos, mas, sim, pela notícia que se difundiría entre os numerosos cristãos judeus (cf. v. 20). |
At.21:23 | 23. Faze, portanto, o que te vamos dizer. Os líderes de Jerusalém criam que o conselho que estavam dando era o melhor. Não havia intenção de envolver Paulo em problemas, mas de neutralizar o preconceito contra ele, pois parece que pensavam que o apóstolo tinha alguma culpa (AA, 403). Em vez disso, deveriam ter reconhecido que Deus agia por intermédio de Paulo, 'lambem deveriam tentar, por si próprios, eliminar a oposição a ele.Quatro homens. Com certeza, os quatro homens eram membros da comunidade judaica cristã, outra ilustração da forte influência das cerimônias judaicas sobreos conversos da Judeia. Os quatro irmãos judeus já estavam cumprindo seus votos, mas era permitido que outro se unisse a eles em tais circunstâncias, sobretudo se assumisse as despesas daqueles que já estavam cumprindo votos. |
At.21:24 | 24. Purifica-te com eles. Esta parte do conselho, ao ser cumprida, seria uma admis-: são de que Paulo necessitava de purificação perante Deus. Seria um impedimento, não um auxílio, para conquistar a aceitação dos judeus. Significaria entrar na abstinência exigida dos nazireus e raspar a cabeça ao fim do período (ver com. de At 18:18).Faze a despesa. Paulo deveria arcar com as despesas dos homens que estavam cumprindo votos. Isso equivalia ao custo da raspagem cerimonial do cabelo, pela qual o barbeiro levita cobrava, e dos sacrifícios: duas rolas ou pombas, um cordeiro, uma cordeira, um carneiro, um cesto de pães asmos, uma oferta de manjares e uma liba- ção (Nm 6:9-21).Raspem a cabeça. Ao fim do voto, a cabeça era raspada e, enquanto se ofereciam os sacrifícios, o cabelo era queimado no fogo debaixo do cordeiro da oferta pacífica.Saberão todos. A participação de Paulo nas cerimônias do voto deveria convencer os judeus de que o apóstolo não era um apóstata de Moisés (ver com. do v. 21) e que as coisas que diziam contra ele não eram "verdade".Guardando a lei. A "lei" ou a 7brah era o centro do pensamento, da vida e da religião judaica. A Toruh, ou ensinos, englobava todas as instruções deixadas nos escritos de Moisés. Paulo ganhara a reputação de agir contra a lei. Os líderes de Jerusalém pensavam que a única forma de conquistar a aprovação dos judeus era provar que ele era fiel à lei mosaica. |
At.21:25 | 25. Quanto aos gentios. Tiago, irmão de Jesus e porta-voz dos presbíteros ao dar a Paulo a sugestão de que se purificasse,também havia presidido o concilio de Jerusalém (At 15:13-21). Ele garantiu ao apóstolo que não se questionava mais a liberdade dos gentios. Eles não precisavam seguir as observâncias dos judeus (ver com. do v. 20).Da carne de animais sufocados. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. |
At.21:26 | 26. Paulo, tomando aqueles homens.Paulo pensou que estava sendo sábio ao agir como judeu entre os judeus (ICo 9:19-23). Na verdade, porém, loi inconsistente, pois participou não para revelar a própria crença, mas para satisfazer a outros que eram “zelosos da lei'' (At 21:20; comparar com AA, 405, 406).Acertando o cumprimento. Isto é, declarar aos sacerdotes oficiantes do templo quando os votos se cumpriríam. Faltavam sete dias para o término do voto dos quatro homens (v. 27). De acordo com Joseto (Guerra dos Judeus, Ü.15.J [313] ), o período completo desse tipo de voto era de 30 dias; faltavam apenas sete. |
At.21:27 | 27. Judeus vindos da Ásia. A pregação do evangelho por Paulo em Éfeso e região havia incomodado os judeus (como em At 19:22, 23). Alguns deles, que estavam em Jerusalém para a festa, reconheceram o apóstolo no templo e incitaram o povo contra ele. Agarraram-no, com as marcas do processo de purificação sobre si, enquanto aguardava que chegasse o último dos sete dias (At 24:18).Alvoroçaram. Ou, “começaram a alvoroçar’’.Todo o povo. Ou, “toda a multidão". Não as "dezenas de milhares (...) entre os judeus que creram’’ (v. 20), mas a multidão que, conforme se aproximava o Pentecostes, enchia os recintos do templo. |
At.21:28 | 28. Gritando. O grito de protesto era que Paulo era culpado de algum crime sério de atentado à ordem.Contra o povo, contra a lei e contra este lugar. A mesma acusação fora feitacontra Estêvão (At 6:13,14) e. sem dúvida, contra Paulo cm diversas ocasiões anteriores (ver At 13:45; 14:2; 17:5, 6: 18:6, 12-15; 19:9). Saulo, que, no passado, acusara Estêvão e consentira em sua morte (At 26:10; A A, 98, 102, 116), então era Paulo, firme c corajoso diante de uma acusação semelhante, sob a ameaça de uma execução parecida.Introduziu até gregos. Acreditava-se que de havia levado gentios incircuncisos para os recintos sagrados, ultrapassando a “parede de separação que estava no meio” (El 2:14), a qual separava o átrio externo dos gentios da área na qual somente os judeus tinham permissão de entrar (Josefo, Antiguidades, xv. 11.5). 1 nscrições em grego e hebraico na parede de separação advertiam os não judeus de não prosseguir (ver foto, p. 488: ver vol. 5, p. 54). |
At.21:29 | 29. Trófimo, o efésio. Trófimo era um companheiro de Paulo, que o acompanharaã desde a Macedônia (At 20:4). Alguns do.s judeus acusadores provavelmente conheciam IVólimo de sua cidade natal. Eles o haviam visto com Paulo em Jerusalém, mas não tinham motivos para crer que o apóstolo o conduzira para dentro dos recintos proibidos aos gentios. Sua liberdade no evangelho nunca o levou a ignorar os escrúpulos alheios (Rm 14:3-10: ICo 9:19-23; 10:27-31), nem sua coragem se degenerou em negligência.ei to n oA acusação era falsa. |
At.21:30 | 30. Agítou-se toda a cidade. Eucas indica que o tumulto assumiu grandes proporções, com o relato da prolanação do templo se espalhando como um incêndio a céu aberto, e os judeus prontos para agir por causa de algo que, para eles, consistia uma genuína provocação. Era em torno de 58 d.C., oito anos antes da revolta dos judeus contra Roma. A cidade já estava agitada.Agarrando a Paulo. Ou, “pegaram Paulo".Arrastaram-no. Ou, "o estavam arrastando'. Aqueles que agarraram Paulo oretiraram, de imediato, dos recintos sagrados que ele supostamente havia profanado.Foram fechadas as portas. Os levitas, guardas das portas, as fecharam imediatamente, não só para impedir mais profanações, como também para evitar que o templo se tornasse o cenário do tumulto em si, como já fora em outras ocasiões. |
At.21:31 | 31. Procurando eles matá-lo. Os homens que agarraram Paulo tinham a intenção de tirar sua vida, assim como íi/eram com Estêvão (At 7:54-60). Enquanto isso não acontecia, espancavam-no (At 21:32).Conhecimento. Do gr. phasis, "revelação [de crime secreto]", "informação por relato”.Comandante. Do gr. chiliarchos. "líder de mil homens", termo usado para um tribuno militar romano, comandante de uma coorte.Força. Do gr. speira, uma "coorte" (ver com. de At 10:1). Esta tropa romana, na época considerada suficiente para restringir até os turbulentos judeus, com seus armamentos e sua disciplina rígida, se alojava na torre construída numa rocha no lado noroeste da área cio templo. A torre fora construída por Herodes, o Grande, e denominada Antônia. em home nagem ao triúnviro Marco Antônio, tamosí por seu caso com Cleópatra e pela derrota que sofreu na batalha de Accio. A Fortaleza Antônia tinha uma pequena torre em cada canto e dois lances de escadas levavam às colunas dos lados norte e oeste do templo. E) possível que a guarda ficasse em alerta especial numa época como o Pentecosles, na qual milhares de estrangeiros al luíam para a cidade (ver, no vol. 5, mapa, p. 585).Amotinada. Embora ainda não se tratasse dc um motim, o tumulto envolvia a cidade inteira e facilmente poderia se descontrolar. |
At.21:32 | 32. Soldados e centuriões. O quiliarco ou Lribuno mandou para o meio da multidão desordeira várias centenas de soldados, comcenturiões, cargo semelhante ao de um sargento, dirigindo cada pelotão.Cessaram de espancar Paulo. Ou, “de repente, pararam de espancar Paulo’. A presença dos soldados romanos acovardou os judeus captores do apóstolo. O episódio não valia uma revolta. Até os judeus descontrolados perceberam isso. |
At.21:33 | 33. Apoderou-se. Ou, “prendeu-o”, "levou-o para a prisão'. A ideia não era resgatar Paulo, mas descobrir o motivo da confusão e impedir que um dos principais envolvidos fosse morto antes de se realizar uma investigação adequada. Para Paulo, porém, foi um resgate, como em Corinto (At 18:14-17).Acorrentado. Seguindo a prática romana, com certeza uma corrente foi presa em volta dc cada um dos braços de Paulo, cujas extremidades ficavam seguras pelos soldados que o vigiavam (ver At 12:4, 6). Acorrentado dessa maneira, ele foi levado perante o tribuno Lísias (ct. Al 23:26; 24:7, 22), para uma investigação preliminar.Perguntando. Ou, “começou a perguntar", "começou a investigar judicialmente ”. |
At.21:34 | 34. Uns gritavam. Ou, “alguns estavam gritando . 1 al confusão de relatos e acusações seria esperada de uma turba agitada, como ocorrera em Eleso (At 19:32).Fortaleza. Do gr. parembolê, “aquilo que é armado", isto é, um acampamento (Hb 13:11. 13; Ap 20:9) ou “o exército acampado” (ver Hb 11:34). A transição desses signiiiçados, termos militares, para o sentido de “torre fortificada’ é semelhante à transição da palavra latina castra, "campos”, paracasteliuni, "local lortif içado” ou "castelo". Paulo, embora prisioneiro, pelo menos estava seguro no abrigo da lortaleza. O resgate aconteceu a tempo. |
At.21:35 | 35. Ao chegar às escadas. Os soldados o levavam até uma das escadarias que conduzia do templo à lortaleza Antônia (ver com. do v. 3 I).Os soldados o carregassem. Os guardas precisaram carregar Paulo, a iirn delivrá-lo das mãos dos judeus furiosos, que tinham a óbvia intenção de matá-lo.Violência da multidão. A agitação da multidão e a avidez dos líderes do movimento por matar Paulo se intensificaram quando viram que a vítima lhes fora tirada. |
At.21:36 | 36. Mata-o! Exprimindo a intenção da turba em relação a Paulo e sua esperança de que os soldados o matassem. De maneira semelhante, judeus da geração anterior haviam exigido a morte de Jesus (Le 23:18; Jo 19:15). |
At.21:37 | 37. É-ine permitido dizer-te? Paulo desejava esclarecer sua identidade paraLísias, o capitão chefe ou tribuno e, sem dúvida, tornar conhecido o lato de ser cidadão romano (cf. v. 39; At 22:26).Sabes o grego? O tribuno pensava que Paulo só sabia falar hebraico (aramaico) e ficou surpreso ao ouvi-lo se comunicar em grego. Em contrapartida, u povo parece ter se surpreendido ao ouvi-lo falar sua língua (ver At 22:2). O grego de Paulo era o koinê, forma comum do idioma lalada por todo o mundo mediterrâneo. O NT foi escrito em koinc. |
At.21:38 | 38. O egípcio. A estrutura grega da pergunta antecipa um "sim” como resposta. O homem aqui mencionado, conhecido das autoridades romanas, era um judeu egípcio, suposto profeta que, logo depois de Eélix se tornar procurador, conduziu uma multidão de 30 mil homens (caso o número da tradição seja verdadeiro) até o monte das Oliveiras para ver os muros de Jerusalém cair. a lim de poderem entrar triunfantes (Joselo, Antiguidades, xx.8.6; Guerra dos judeus, íi.13.5 [261 -263J). Os soldados de Eélix os expulsaram, infligindo grandes perdas, mas o líder conseguiu escapar.Quatro mil. Este número deve ser substituído pelos 30 mil de joselo. ou então, seria o total dos que escaparam e voltaram a se unir a seu líder.Sicários. Do gr. sikarioi. iiternlmente, "homens-punhaís”. isto é, matadores,assassinos (comparar com a palavra latina sicarii). Eram membros de uma organização extremista dos judeus, os assassinos dentre os zelotes (ver vol. 5, p. 42, 43), que dizimavam pequenas tropas romanas onde conseguiam fazer ataques noturnos de surpresa e assassinavam os judeus que se recusavam a apoiá-los (Joselo, Guerra dos Judeus, ii.13.3 [254-258]). Em meio às multidões que se reuniam para as lestas, cometiam muitos assassinatos em plena luz do dia. O cerco posterior a Jerusalém intensificou os horrores daquele período amargo, por meio de suas atrocidades e teitos sanguinários. |
At.21:39 | 39. Judeu, natural de Tarso. Ver com. de At 9:11 (ver também p. 81, 82).Cidade não insignificante. Ou, “nenhuma cidade despercebida’, “nenhuma cidade sem importância’. Trata-se de um motivo de orgulho legítimo, tanto do ponto de vista cultural quanto comercial. Foram encontradas moedas de Tarso com o título metropu- lis autonomous, “cidade que sc autogoverna”.Que me permitas falar ao povo.Paulo ainda tinha esperança, certamente mais para o bem do evangelho e da igreja do que para si próprio, de levar os judeus a compreenderem suas verdadeiras atitudes e atividades. |
At.21:40 | 40. Obtida a permissão. Do gr. epitrepõ, “permitir”, “deixar”, “dar licença”. A palavra é usada no papiro nesse sentido.Na escada. Posição acima da multidão e relativamente segura, caso as pessoas tivessem uma reação desfavorável, o que acabou acontecendo (At 22:22-25).Fez com a mão sinal. Cesto com o propósito de silenciar a multidão, subentendendo que Paulo desejava laiar.Em língua hebraica. Isto é, em ara- maico, literalmente, "dialeto”. Paulo estava prestes a fazer uma breve defesa da qual dependiam sua liberdade de pregar o evangelho e até mesmo a própria vida. Sua calma se destaca em contraste com a turbulência da multidão abaixo (ver vol. 1, p. 6).Capítulo 22] Irmãos e pais, ouvi, agora, a minha defesa perante vós.Aros 22:1soí- |
At.22:1 | 1. Irmãos e país. Forma cortês de voca- livo (ver com. de At 1:16; 7:2). Paulo tinha o objetivo de apaziguar a multidão turbulenta.Defesa. Do gr. apologia, discurso leito em defesa a uma acusação. |
At.22:2 | 2. Hebraica. Isto é, aramaico, a língua lalada pelos judeus da época (ver com. deAt 21:40).Maior silêncio. O gesto com as mãos (At 21:40), a fala em aramaieo e o vocabulário educado garantiram plena atenção do público turbulento. A maré de emoções humanas baixou de repente para dar espaço a uma calma expectante. |
At.22:3 | 3. Eu. A palavra “eu" é enfática (ver com. dc At 21:39).Tarso. Ver com. de At 6:9; 9:11; 21:39.Instruído. Provavelmente não quando criança, mas quando jovem. Embora houvesse nascido fora, Paulo chegou à maturidade na atmosfera conservadora do refúgio do judaísmo.Aos pés. Nos dias de Paulo, tanto o professor quanto os alunos ficavam assentados, o primeiro, num nível mais elevado do que os últimos.Gamaliel. Ver com. de At 5:34.Exatidão. Do gr. akribeia, “exatidão ”, “rigidez”. Paulo garante à multidão que seus antecedentes eram judaicos. Ele compreendia por completo o ponto de vista daquelas pessoas (ver com. de At 23:6; 24:14; 26:3-5).Da lei. Isto é, o sistema judaico de crenças e práticas religiosas.Zeloso. Ver com. de At 21:20. Paulo sabia, por experiência própria, o que significava ser “zeloso” “da lei’”.Como todos vós o sois. Paulo garante aos ouvintes judeus que tinham elementos em comum para chegar a um acordo. De certo modo, o apóstolo os elogia por seu desejo de conservar o templo sagrado e íntegro. |
At.22:4 | 4. Persegui. Ver com. de At 7:58; 8:1-4; 9:1, 2, 13, 14; 26:10.Este Caminho. Ver com. de At 9:2.Até à morte. Paulo já fora tão “zeloso” quanto aquelas pessoas demonstravam ser.Em cárceres. (9 plural sugere que a perseguição encabeçada por Paulo ocorreu em várias cidades (ver At 26:11). |
At.22:5 | 5. O sumo sacerdote. Isto é, Ananias (At 23:2). Segundo a cronologia da vida de Paulo adotada por este Comentário, Caitás (ver com. de Lc 3:2) ainda era o sumo sacerdote na época (35 d.C.) da conversão de Paulo. Ananias foi o sétimo sumo sacerdote depois de Caifás.Todos os anciãos. Do gr. presbyterion, “presbitério”, neste caso, uma provável referência ao Sinédrio. Embora talvez houvessem se passado 23 anos desde a conversão de Paulo, alguns dos “anciãos” vivos na época devem ter ajudado a sancionar sua perseguição aos cristãos (At 8:3; 9:1, 2).Cartas. Ver com. de At 9:2: cf. 2Co 3:1-3.Irmãos. Paulo se refere aos conterrâneos judeus com delicadeza (ver com. de At 22:1; cf. Dt 18:15).Ia. Literalmente, “estava indo”, isto é, estava a caminho (ver com. de Al 9:3).Damasco. O zelo religioso de Paulo o levara a terras estrangeiras, primeiramente, para perseguir os cristãos e, mais tarde, para proclamar o cristianismo.Manietados. Ou, “algemados”. |
At.22:6 | 6. Quase ao meio-dia. O fulgor da presença divina obscureceu o brilho do sol sírio ao meio-dia (ver At 26:13). |
At.22:7 | 7. Ouvindo uma voz. Ver com. de Al 9:4-6; cf. 22:9.Por que Me persegues? Ver com. de At 9:4. Confira uma comparação dos vários relatos da conversão de Paulo no com. de At 9:3. |
At.22:8 | 8. Ouem és Tu, Senhor? Ver com. de At 9:5." |
At.22:9 | 9. E se atemorizaram muito (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) aomissão destas palavras. Todavia, não hádúvida de que os acompanhantes ficaram com medo.Sem [...] perceberem o sentido davoz. Ver com. de At 9:7. |
At.22:10 | 10. Que farei, Senhor? Ver com. de At 9:6 |
At.22:11 | 11. Tendo ficado cego. Ver com. de- At 9:8. |
At.22:12 | 12. Piedoso. Isto é, Ananias era fiel na observância das regras da religião judaica. Ele não é caracterizado assim em Atos 9:10, em que é chamado simplesmente de “um discípulo”. Aqui, Paulo parece tentar conciliar seus ouvintes (ver com. de At 22:1-4). Presume-se que um judeu piedoso não recebería Paulo se este losse uma pessoa profana, culpada de comportamento blasfemo como alegavam ser seu caso.Bom testemunho. A integridade de Ananias corno judeu piedoso era inquestionável. Ele era bem conhecido por ser leal à fé. Sua aceitação de Paulo testificava do caráter genuíno da experiência do apóstolo na estrada de Damasco. |
At.22:13 | 13. Veio procurar-me. Ver com. de At 9:11:17. |
At.22:14 | 14. O Deus de nossos pais. Ver com. de At 7:32. Nem Estêvão nem Ananias pensavam que, ao se tornarem cristãos, estavam abandonando o Deus de seus pais. Ao que parece, os cristãos judeus não pensavam em abandonar o judaísmo. Na verdade, eles se consideravam os mais devotos dentre seus irmãos. Assim como Paulo, desejavam com fervor que seus conterrâneos cegos conseguissem enxergar que Jesus de Nazaré é o Messias (ver Rm 9:1-3; 10:1-3).De antemão, te escolheu. Ou, “te nomeou ' (ver com. de At 9:15).Conheceres a Sua vontade. Antes da conversão, Paulo não sabia qual era a vontade de Deus. Sendo fariseu, achava que a conhecia bem e que a estava cumprindo rigorosamente (ver At 23:1; 24:14). Existe uma ligação íntima entre conhecer a vontade doSenhor e cumpri-la (ver com. de Mt 7:21-27; Jo 7:17; 13:17). Vez após vez, Paulo se refere à vontade de Deus (ver ICo 1:1; 2Co 1:1; Ef 1:1; Cl 1:1).O Justo. Isto é, Jesus (cf. At 3:14; 7:52; ljo 2:1). Os doze haviam visto o Senhor e se relacionado com Ele dia após dia (ljo 1:1, 3). Paulo, depois de receber um chamado especial ao apostolado, também teve o privilégio de ver o Senhor (ver At 22:17-21; ICo 15:3-9; 2Co 12:1-5).Uma voz. Esta é uma provável referência à visão recebida perto de Damasco; é possível que também englobe as instruções especiais recebidas do Senhor numa ocasião posterior (2Co 12:1-5; Gi 1:11, 12). |
At.22:15 | 15. Ser Sua testemunha. Assim como os doze, Paulo também vira o Senhor, ouvira Sua voz e conhecera Sua vontade (v. 14). Da mesma forma que eles, fora comissionado a proclamar o evangelho (cf. At 1:8). Suas credenciais e sua autoridade não eram inferiores à dos discípulos (ICo 15:10; 2Co 11:5; G1 2:8, 11).Diante de todos os homens. Cautelosa mente ainda evitando mencionar seu chamado especial de pregar aos gentios (cf. v. 21).Visto e ouvido. O poder para testemunhar vem da experiência pessoal (cf. fJo 1:1-3; 2Pe 1:16-18). Paulo havia se encontrado com o Salvador vivo e recebera d Ele um conhecimento sistemático, claro e íntimo da verdade, assim como os doze. |
At.22:16 | 16. Por que te demoras? As evidências eram suficientes; por que adiar o processo de se tornar formalmente um cristão (cf. At 8:36)?Recebe o batismo. Ver com. de Mt 3:6; At 2:38; 9:18; Rm 6:1-6; cf. At 8:36.Lava os teus pecados. O batismo é uma ordenança designada por Deus (ver Mt 3:15; Mc 16:15, 16; Jo 3:3, 5; Tt 3:5). Todavia, em si mesmo, não é capaz de lavar os pecados. O ato exterior deve ser acompanhadode crença, arrependimento e derrama* mento do Espírito Santo para que seja eficaz (ver Mt 28:19; At 2:38; 3:19; 8:36, 37). Foi a morte de Cristo que tornou possível a remoção da culpa do pecado (2Co 5:20, 21; IPe 2:24; 3:21; ljo 1:7, 9).Invocando. Isto é, aceitando a salvação por intermédio de Cristo e ingressando em Seu serviço.O nome dele. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) esta variante. |
At.22:17 | 17. Para Jerusalém. Esta é a visita de Atos 9:26 (ver com. ali).No templo. Provavelmente, na hora da oração matutina ou vespertina (ver com. de Le 1:9; At 3:1). Como Deus havia honrado Paulo com uma visão bem no lugar que ele era acusado de profanar, os judeus fariam hem em investigar os fatos antes de decidirem matá-lo.Êxtase. A mensagem transmitida nesta visão é relatada nos v. 18 a 21. Isso ocorreu na visita a Jerusalém registrada cm Atos 9:26 a 30. " |
At.22:18 | 18. Apressa-te. Em Atos 9:29 e 30 relata-se apenas que os discípulos o fizeram partir. A conspiração contra a vida de Paulo (v. 29) os convenceu de que ele deveria sair da cidade imediatamente. Sofrendo pelos judeus descrentes (cí. Rm 9:1-3; 10:1) e com sua característica falta de preocupação com a própria segurança (cf. Ar 19:30; 20:22-24; 2Co 4:7-9; 11:24-27), parece que Paulo sentia o dever de permanecer ria cidade (AA, 130). Há momentos em que o mensageiro do evangelho deve ignorar circunstâncias ameaçadoras, mas há outras em que, quando perseguido em uma cidade, deve partir para outra (ver com. de Mt 10:23). Ouando pressionado aparentemente além do limite, deve buscar em Deus uma compreensão clara do dever, Foi isso que aconteceu com Paulo nessa ocasião, pois, ao conselho dos irmãos, Deus acrescentou instruções diretas e específicas. Paulo não lora chamadopara trabalhar primeiramente com os judeus, mas, com os gentios (Al 22:21; G1 2:7-9), e os propósitos divinos seriam mais bem cumpridos com sua partida (sobre a orientação divina somada ao conselho dos irmãos, comparar Êx 18:17-25 com Nm 11:16; At 15:2 com Gl 2:2; ver At 13:2-4; 15:28).Logo. Paulo só permanecera lá por 15 dias (Gl 1:18). |
At.22:19 | 19. Eles. O grego é enfático e poderia ser traduzido por “estes mesmos ’. Os que haviam tentado tirar sua vida sabiam do antigo zelo de Paulo em perseguir os cristãos.Eu encerrava em prisão e [...] açoitava. É provável que não fosse o próprio Paulo quem impusesse os açoites. O tempo dos verbos indica ação por um período de tempo. Ele translormou as perseguições em sua ocupação. Diante da turba enfurecida ávida por sangue, seu propósito era encontrar pontos em comum para deixar claro que entendia como esses judeus se sentiam, lalvez, depois disso, eles se mostrassem dispostos a ouvir o que mais cie tinha a dizer.Nas sinagogas. Sobre a sinagoga como local onde as acusações contra os hereges e perturbadores eram feitas e o castigo administrado, ver Mt 10:17; 23:34; Mc 13:9; Le 12:11. Tertuliano, por volta de 225 cl.C., escreveu que, em sua época, as sinagogas continuavam a ser “fontes de perseguição" contra os cristãos (Scorpiace, x).Criam em Ti. Ver com. de At: 15:21. |
At.22:20 | 20. Testemunha. Do gr. martas, “testemunha”. Na época do NT, a palavra martas ainda não havia adquirido o signif içado hoje ligado ao termo “mártir", que deriva dela. No entanto, à medida que os cristãos passaram a ser chamados cada vez mais a dar o testemunho final de entregar a própria vida, tais testemunhas passaram a ser conhecidas de maneira especial como mártires.Nisso. Ou, “na sua morte" (ARC). Evidências textuais favorecem (cf p. xvi) a omissão destas palavras. Contudo, fica claroque este é o significado pretendido por Paulo (ver com. de At 7:58; 8:1). |
At.22:21 | 21. Enviarei. A partida de Paulo de Jerusalém não foi o cumprimento desta declaração do propósito divino para ele. Ainda se passariam cerca de sete anos até Paulo e Barnabé darem início a primeira viagem missionária (ver p. 14, 15, 88—90).Para longe. Ou, "distante”, "bem longe".Gentios. O trabalho de Paulo se destinaria primariamente aos não judeus (ver com. de At 9:1 5). |
At.22:22 | 22. Até essa palavra. Ou, "até esta declaração”. Silenciosos em sua curiosidade enfurecida até então, os judeus não puderam mais se conter. A idéia de que a salvação podia se estender aos gentios os enraiveceu (ei. Le 4:25-29; Al 7:51-54). Logo, clamaram pela morte de Paulo, mesmo sem a formalidade de um julgamento. Em sua mente fechada, Paulo era um apóstata do judaísmo. |
At.22:23 | 23. Arrojando de si as suas capas. Tirai' a capa folgada que bicava por cima das outras vestes (do gr. himation; ver com. cie Mt 5:40; ver vol. 5, p. 35) refletia grande agitação. A turba estava pronta para agir (comparar com 2Rs 9:13).Atirando poeira. Gesto de ódio e repúdio. |
At.22:24 | 24. Comandante. Do gr. chiliarchos, "comandante de mil’ (ver com. de Jo 18:12). Este oficial, Cláudio Lísias (At 23:26), que não conhecia o aramaico, não deve ter entendido nada cio que Paulo disse e só conseguiu concluir, com base no tumulto, que ele deveria scr culpado de algo muito grave.Fortaleza. Isto é, a fortaleza Antônia, que I icava ao norte da área do templo (ver, no vol. 5, mapa, p. 585; ver também com. de At 21:31).Sob açoite. Não com o propósito de castigar, mas de conseguir uma coniissão.Assim clamavam. Ou, "gritavam” (cf. At 12:22). |
At.22:25 | 25. Quando o estavam amarrando com correias. O texto grego pode sugerir que o curvaram para frente com laixas, ;± numa postura pronta para receber os açoites.Centurião. Do gr. hekatontarchos (ver com. de At 10:1; Lc 7:2). Este era o oficial responsável pelo destacamento de soldados escolhido para infligir o açoitamento.Ser-vos-á, porventura, lícito [...]?A lei de Roma proibia o açoitamento de um cidadão romano (Livy, Roman 1 listory, x.9.4, 5). ' 'Um cidadão romano. Paulo estaria cometendo uma grave ofensa se alegasse faI- samente ser cidadão romano. O centurião percebeu, de imediato, que tinha em mãos mais do que um perturbador judeu. A cidadania romana era algo muito valorizado (ver v. 28; p. 81, 82; cl. vol. 5, p. 24), pois assegurava muitos privilégios ao seu possuidor.Em diversas ocasiões, esse título foi uma proteção para Paulo (ver com. de At 16:37-39). |
At.22:26 | 26. Que estás para fazer? Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) esta variante. |
At.22:27 | 27. Es tu romano? A ênfase na pergunta do oficial, conforme a estrutura grega, repousa sobre o pronome "tu”; “és lu romano?". O oficial ficou surpreso com a possibilidade de ser cidadão romano alguém que acabara de agitar uma multidão de judeus, por meio de um discurso cm aramaico. |
At.22:28 | 28. Título de cidadão. Do gr. politeia-, neste caso, significando “cidadania" (comparar com Fp 3:20). A referência tem sentido semelhante aos privilégios que uma cidade concedia a um convidado de honra ou herói.De nascimento. Literalmente, “assim nascido, isto é, nascido cidadão romano. |
At.22:29 | 29. Estavam para. Isto é. estavam prestes a fazer algo.Inquirir. Eufemismo para a tortura a que Paulo estava prestes a ser submetido.Receoso. O temor do "comandante" não se devia a ter algemado Paulo. O apóstolo recebera esse tratamento várias vezes(At 28:20: Fp 1:7, 13, 14, 16; Cl 4:18; Fm 10, 13), pois os cidadãos romanos podiam ser presos. Paulo continuou encarcerado (At 22:30). O medo do oficial era de ter colocado o apóstolo em vias de um açoitamento. |
At.22:30 | 30. Querendo certificar-se. Ou, "desejava saber”. Por ser um oficial romano cuidadoso, o comandante estava determinado a chegar à raiz do problema e descobrir por que os judeus estavam tão obstinados para tirar a vida de Paulo.Das prisões (ARC). Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras.Todo o Sinédrio. Lísias percebeu que era um assunto referente à religião judaica. Em relação à câmara onde o Sinédrio se reunia, ver com. de Mt 27:2; ver, no vol. 3, mapa, p. 585).Mandando trazer Paulo. Isto é, da torre da fortaleza Antônia (ver com. do v. 24; cf. 21:34). A presença da guarda romana garantia a segurança pessoal dc Paulo.Capítulo 23exclamou: Varões, irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus! No tocante à esperança e à ressurreição dos mortos sou julgado! |
At.23:1 | 1. Fitando Paulo os olhos. Do gr.atenizõ, “fixar os olhos em”, “olhar atentamente', "encarar fixamente'’ (ver Al 1:10;a talar seriamente. É usado dc maneira apropriada para caracterizar a expressão de Paulo ao olhar atentamente para a mais importante assembléia judaica pela primeira vez cm 25 anos. Sem dúvida, houvera muitas mudanças de membros ao longo dos anos, mas o apóstolo pode ter reconhecido alguns rostos (ver At 23:5; ver com. de At 23:5).Varões, irmãos. Ver com. de At 1:16.Com toda a boa consciência. Esta seria uma afirmação muito abrangente para qualquer pessoa lazer. Para Paulo, uma declaração deste tipo, depois de anos contendendo eom os judaizantes e suas vítimas, torna evidente suas convicções pessoais a respeito de suas ações. A conduta dele fora de acordo com a observância da vontade de Deus, eom a lei e os profetas (ver At 24:14; 28:17). Se Paulo eslava certo, então seus acusadores se encontravam errados. O apóstolo se refere várias vezes à consciência (At 24:16: Rm 2:15; 13:5; ICo 10:25; lTm 1:5; 2Tm 1:3). |
At.23:2 | 2. Ananias. Filho de Nebedeu, nomeado sumo sacerdote por 1 lerodes, rei de Caleis (Josefo, Antiguidades. \x.5.2).Que lhe batessem. A declaração de Paulo equivalia a acusar o Sinédrio de hipocrisia. Se a conduta de Paulo lora escrupulosa, então a deles não tora (comparar eom .1 Rs 22:24; Alt 26:67; Lc 22:63, 64). |
At.23:3 | 3. Deus há de ferir-te [...]! Alguns acham que Paulo talou sem pensar e que o v. 5 teiáa a intenção dc funcionar como um pedido de desculpas. Ouando provocado, Jesus permaneceu em silêncio (Mt 26:63; lPe 2:23). Contudo, é possível que o apóstolo tenha lalado por inspiração c, sem saber que estava se dirigindo ao sumo sacerdote (ver v. 5), predisse seu destino. Ananias foi assassinado (Joselo, Guerra dos Judeus, ii.17.6, 9) em 66 d.C., sete ou oito anos depois, provavelmente por sicários (ver vol. 5, p. 57, 58, 60, 61; ver com. de At 21:38; comparar com Jr 28:15-17).Parede branqueada! Isto é, tu, hipócrita (cf. Mt 23:27). Assim como uma parede caiada, este alto oficial de justiça poderia até se aproveitar da pompa de sua posição, mas não era a pessoa justa c criteriosa que, como líder, deveria ser.Tu estás aí sentado. No grego, o pronome é enfático: “e tu te assentas’. Ou seja, como tu, uma parede branqueada de hipocrisia, te assentas para julgar outros?Segundo a lei. Ou seja, de acordo eom a lei judaica.Contra a lei. O espancamento era permitido pela lei judaica, mas somente após um processo judicial corrcLo que resultasse na condenação do réu (Dt 25:1,2; cf. Jo 7:51). Por ser um ex-membro do Sinédrio (ver AA, 112, 410), Paulo conhecia a lei e os procedimentos judiciais adequados, garantindo, portanto, seu direito a um processo legal adequado (comparar com o vol. 5, p. 580, 581). |
At.23:4 | 4. O sumo sacerdote de Deus? Por ser o mais elevado oficial religioso e civil dos judeus, o sumo sacerdote era, supostamente, o representante de Deus. Os juizes do Al eram chamados, às vezes, de elohim, literalmente, “deuses’ (ver vol. 1, p. 149; ver com. de SI 82:1). |
At.23:5 | 5. Não sabia. Cl. At 3:17. Esta declaração dc Paulo já recebeu diversas explicações: (1) por causa de sua visão insuficiente (ver com. de At 9:8, 18), ele não reconheceu que Ananias era o sumo sacerdote; (2) ele não perceheu que tora o sumo sacerdote quem dera a ordem para lhe bater; (3) o apóstolo falou eom ironia, sem crer que o sumo sacerdote desse uma ordem daquela, inclíre- tamente desafiando o direito de Ananias à posição que ele ocupava; e (4) ele não pensou antes de falar, embora soubesse que o interlocutor era o sumo sacerdote Ananias. Dentre estas, a primeira explicação parece a mais provável. A segunda, que talvez também sugere uma limitação na visão de Paulo, também parece possível. As duas últimasparecem destoantes do caráter do apóstolo e da seriedade da situação diante da qual se encontrava.Não falarás mal. Paulo cita Êxodo 22:28, passagem na qual o heb. elohitn, “deuses”, é usado para se reterír a juizes humanos (ver com. de At 23:4). Sem dúvida, o apóstolo citou a passagem em hebraico, ao passo que l aicas a reproduz, usando o texto da LXX. A sinceridade de Paulo no momento é inquestionável. Os arautos do evangelho devem reconhecer e prestar o respeito devido às autoridades, mesmo quando tais lideres abusam dela. |
At.23:6 | 6. Sabendo Paulo. Por ter sido membro do Sinédrio, Paulo sabia que alguns eram saduceus, e outros, fariseus. Talvez tenha reconhecido membros específicos de um partido ou do outro.Eu sou fariseu. A respeito dos fariseus, ver vol. 5, p. 39, 40: ver com. de At 5:34. No grego, o pronome “eu” é enfático. Sendo cristão, Paulo ainda se identificava como fariseu. O fariseu Nicodemos era seguidor de Caásto (Jo 3:1; AA, 104, 105). Pela pregação dos apóstolos, muitos fariseus se converteram (ver At 15:5). Alguns estudiosos da Bíblia sugeriram que a maioria dos conversos do judaísmo ao cristianismo eram fariseus. Por causa de algumas semelhanças entre os ensinos de Jesus e os dos fariseus, alguns chegavam a considerar que Jesus era fariseu. Tanto cristãos quanto lariseus reconheciam a autoridade da Palavra inspirada, davam ênfase à justiça e ã separação do mundo, ambos criam na ressurreição e na vida futura. A principal diferença entre os grupos dizia respeito ao método de alcançar a justiça (ver com. de sYlt 5:20: Mc 7:5-13; Lc 18:9-14; Gl 2:16-21). Portanto, Paulo podia afirmar com honestidade: "Eu sou fariseu”, sem necessariamente querer dizer que concordava com todas as crenças e práticas dessa facção. |
At.23:7 | 7. Dissensão. É signif icativo Pau Io ter feito esta declaração logo no início da audiência.Ele sabia que não tinha esperanças de ser ouvido com justiça pelo Sinédrio e, sem dúvida, desejava revelar a incompetência do conselho em julgá-lo. Por isso, deu fim ao julgamento colocando os juizes uns contra os outros (v. 7). O assunto escolhido, a ressurreição, constituía uma crença básica do cristianismo (ver ICo I 5:12-23) e era quase certo que produziría o resultado desejado (ver com. de Mt 22:23-33).Dividiu. Do gr. schizõ, “rasgar”, "fender- se em pedaços”, “dividir [em facçôes|”. A palavra em língua portuguesa “cisma” vem do gr. schisma, substanti vo cognato de schizo. |
At.23:8 | 8. Os saduceus. Sobre os saduceus, ver vol. 5, p. 40; ver com. de At 4:1. Eles reconheciam a autoridade dos escritos de Moisés, mas tinham reservas em relação aos profetas e rejeitavam por completo tanto as partes literárias do AT quanto a tradição. Consideravam os anjos meras manifestações da glória celestial e negavam a realidade da vida futura. De modo geral, os fariseus eram o equivalente judaico dos esloicos, e os saduceus, dos epicurcus (ver com. de At 17:18). |
At.23:9 | 9. Vozearia. Do gr. krauge, "grito”, "clamor”. Os membros impassíveis e instruídos do Sinédrio demonstraram ser tão incitáveis e irracionais quanto a multidão íletrada e instável (ver At 22:22, 23).Alguns escribas. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) esta variante. Nem todos os escribas lariseus participaram.Contendiam. Do gr. diamactiomcn, “contender ferozmente”.Mal algum. Comparar com a decisão de Pilatos em relação a Jesus (Jo 18:38: 19:4, 6). Nos dois casos, a corte suprema do judaísmo buscou cegamente a destruição de um homem justo.Espírito ou anjo. Os saduceus não criam em nenhum dos dois. Talvez a relerên- cia aqui seja à visão a caminho de Damasco (At 22:6-10) ou ao êxtase no templo (v. 17-21). O testemunho de Paulo não fora em vão.A atitude dos fariseus nesta ocasião lembra a de GamalieJ numa ocasião anterior (At 5:33-40).Não resistamos a Deus (ARC).Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras. Elas podem ter vindo por empréstimo da passagem semelhante (At 5:39). |
At.23:10 | 10. O comandante. Parece que Lísias, preocupado não só com a ordem pública, mas também com a segurança de um cidadão romano, estava presente (cf. At 22:30).Espedaçado. Fica claro que teve início uma luta física entre saduceus e fariseus, um grupo tentando agarrar Paulo, e outro, protegê-lo.Mandou descer a guarda. A julgar pela posição de. Lísias como chiliarchos (ver com. de At 22:24; cf. com. de Jo 18:12; At 21:31, 32), a guarda deveria consistir de cerca de mil homens, a força máxima de uma corte militar de auxiliares. Esta tropa era comandada por um chiliarchos (ver com. de At 21:31; 27:1). Para continuar seguro, Paulo foi escoltado até a fortaleza Antônia (ver com. dc At 22:24). |
At.23:11 | 11. O Senhor, pondo-Se ao lado dele. Este Ser deveria ser o próprio Cristo (cf. At 9:5, 6; 22:17-21). As perspectivas pareciam sombrias e, sem dúvida, Paulo se lembrava da aquiescência servil de Pilatos aos desejos dos judeus no caso de Cristo. O conforto divino nessas circunstâncias significaria muito para o apóstolo e lhe daria coragem para enfrentar as provas dos anos seguintes.Coragem! Sem dúvida, ao refletir sobre os acontecimentos dos dois dias anteriores, Paulo deve ter começado a se questionar a respeito da sabedoria de seu propósito obstinado de visitar Jerusalém (At 20:24), diante das repetidas advertências quanto ao que lhe aconteceria ali (v. 22, 23); de haver consentido em participar com outros cristãos judeus de um ritual de purificação(At 21:20-28); e de sua conduta perante o Sinédrio (At 23:1-10). Seus pensamentos também devem ter se voltado para o futuro. Sua obra por Cristo havia terminado? Seu desejo de testemunhar do evangelho em Roma seria frustrado (At 19:21; Rm 1:13)? Enquanto abria o coração em prece, o Senhor lhe apareceu pessoalmente, com palavras de conforto e segurança.Também o faças em Roma. Paulo já tinha o propósito de visitar Roma (ver At 19:21). |
At.23:12 | 12. Os judeus. Evidências textuais (cf. p. xvi) confirmam esta variante. De acordo com o v. 13, havia cerca de 40 deles. Parece que tinham um ímpeto assassino e estavam certos de que sua conspiração seria bem- sucedida. Houve um assassinato semelhante, cometido por Malatias, o antigo sacerdote de Modim, na época da revolta dos maca- beus (1 Macabeus 2:24; Josefo, Antiguidades, xii.6.2 [268-272]), bem como uma tentativa de assassinar Herodes, o Grande, quando ele construía um anfiteatro e introduzia jogos de gladiadores em Jerusalém (Josefo, Antiguidades, xv. 8.3).Sob anátema, juraram. Do gr. anathematizõ, "declarar maldito", "jurar sob maldição [caso o juramento não seja cumprido]’’. Esses homens haviam rogado sobre si as mais severas penalidades divinas caso falhassem em cumprir seu objetivo (comparar com o heb. charam, ver com. de ISm 15:3).Comer, nem beber. Por meio deste voto, os futuros assassinos demonstraram seu fanatismo e sua determinação em matar Paulo o quanto antes. |
At.23:13 | 13. Mais de quarenta. O tamanho deste grupo de fanáticos significava que a vida de Paulo corria extremo perigo. |
At.23:14 | 14. Os principais sacerdotes. Parece que nem os conspiradores, nem “os principais sacerdotes eram fariseus (ver com. dos v. 6-9), mas todos eram fanáticos. Os líderes da nação estavam prontos para cooperarcom qualquer um, por mais inescrupuloso que fosse, a fim de alcançar seus objetivos, |
At.23:15 | 15. O Sinéil rio. Parece que era necessário recorrer a uma trama como esta, pois: (1) o Sinédrio não podia condenar à morte (ver com. de jo 18:31; At 7:58); (2) mesmo se pudesse, teria pouca ou nenhuma jurisdição sobre Paulo, um cidadão romano; c (.3) mesmo se tivesse jurisdição, a influência dos lariseus provavelmente tornaria impossível conseguir um veredito contrário ao apóstolo.Amanhã (ARC). Evidências textuais atestam (cl. p. xvi) a omissão desta palavra.Como se. A frase diz, literalmente, "corno se vocês lossem examinar com mais precisão as questões relativas a ele '.Nós. Enfático no grego.Prontos para assassiná-lo. Eles encontrariam urna maneira de Paulo não chegar à câmara do Sinédrio. Dessa forma, seria presumível a falta ele cumplicidade por parte dos membros do conselho. O assassinato seria atribuído a fanáticos. E possível que os 40 conspiradores fossem, de fato, matadores ou "sicários” (ver com. de At 2E.38). Aqui, assim como no evangelho, Lucas deixa claro que os judeus, não os romanos, foram os principais responsáveis pelas dificuldades ligadas à proclamação do evangelho (ver Lc 23:2, 4, 14, 22). Josefo registra uma intriga semelhante dos judeus contra Herodes (Antiguidades, xv.8.1-4) e houve também as conspirações contra Cristo (Jo 7:19; 8:40; 10:39).Filo justificava o assassinato de apóstatas: “E bom que todos aqueles que têm zelo pela virtude recebam permissão de executar as penalidades de imediato e sem demora, sem levar o olensor perante júri, conselho, ou qualquer tipo de magistrado, dando plena vazão aos sentimentos que os inflamam, a iim de que o ódio ao mal e o amor a Deus, que os impele, os leve a infligir punição sobre os ímpios sem misericórdia. Eles devem se lembrar de que a ocasião os transformou em membros do conselho,juristas, altos oficiais, membros da assembléia, acusadores, testemunhas, leis, pessoas, tudo, na verdade, a fim de que, sem temor ou impedimento, defendam a religião com total segurança” (7 he Special Laws, i.9.55; ed. Loeb, vol. 7, p. 131). |
At.23:16 | 16. O filho da irmã de Paulo. Esta é a única referência a parentes de Paulo em Jerusalém. Ele tinha familiares em Roma (Rm 16:7, 11) e parece que em Corinto também (Rm 16:21). Sugere-se que o sobrinho de Paulo estava estudando em Jerusalém, assim como ele próprio fizera no passado (ver com. de At 22:3). Não há evidências de que a irmã e o sobrinho do apóstolo fossem cristãos.Foi. Literalmente, "tendo chegado perto", ou talvez "tendo estado presente”. Alguns sugerem que isso se aplica ao sobrinho de Paulo ouvir sobre a conspiração, não a seu relato ao tio. E possível que estivesse presente quando a trama foi leita. ou a tenha ouvido por acaso.Entrou na fortaleza. Detido mais para resguardar a proteção pessoal do que por qualquer outro motivo, parece que o apóstolo tinha o privilégio de receber amigos. A lei romana dispunha de três tipos de custódia: (1) confinamento de homens comuns na cadeia pública; (2) atribuição da custódia pessoal de homens de alta posição a um magistrado ou senador, que se responsabilizava pelo comparecimento do réu no dia do julgamento; e (3) custódia militar, quando o acusado ficava sob a responsabilidade de um soldado, considerado responsável pela segurança do prisioneiro, à custa da própria vida; em geral, sua mão esquerda l icava presa, por uma cadeia, à direita do prisioneiro. Paulo estava, no momento, sob custódia militar (ver com. do v. 18). |
At.23:17 | 17. Este, chamando. A ic do apóstolo em Deus e em Sua orientação (ver com. do v. 11) não o levou a permanecer sem ação. Ele reconheceu a providência divina na mensagem levada pelo sobrinho e achouconsistente com a própria fé dar os passos necessários para impedir o perigo ameaçador que o rondava.Rapaz. Do gr. neanias (ver com. de At 20:9). |
At.23:18 | 18. O preso. Do gr. desmios, “[alguémj em cadeias", “cativo”, “prisioneiro”. A palavra não significa necessariamente que Paulo estava algemado, embora o costume fosse que os presos sob custódia militar ficassem atados ao soldado responsável (ver com. de At 21:33; 23:16). |
At.23:19 | 19. Tomou-o pela mão. Para ouvir a mensagem do sobrinho com mais privacidade e encorajá-lo a falar sem reservas. Ele lora a Lísias como emissário de um cidadão romano acusado. Com certeza, o “comandante' tinha uma opinião mais favorável em relação a Paulo do que a seus acusadores (ver v. 26-33). De modo geral, os romanos trataram Paulo com mais justiça e consideração do que os judeus.Pondo-se à parte. Pode-se compreender a expressão mais como uma referencia a perguntas do que a levai' para um canto. |
At.23:20 | 20. Os judeus. Uma vez que os líderes estavam envolvidos na conspiração, a nação inteira fazia parte dela. |
At.23:21 | 21. Estão pactuados. Ou, “sob maldição" (ver com. dos v. 12-14).Esperando a tua promessa. Isto é, aguardando o consentimento de Lísias para levar Paulo ao lugar onde os judeus alegavam que o investigariam (cí. v. 15). |
At.23:22 | 22. Então, o comandante. Paulo era cidadão romano, e os judeus pareciam acusá- lo injustamente. Os líderes judeus estavam divididos e tinham a inclinação de boicotara tentativa de Lísias de garantir um julgamento justo ao apóstolo. Por tudo isso, o “comandante se tornava cada vez mais lavorável a~ Paulo e determinado a protegê-lo.A ninguém dissesse. Sc os judeus descobrissem que Lísias sabia da conspiração, seus esforços para proteger Paulo aindapoderíam ser frustrados. Além disso, o informante não deveria dizer nada, para seu próprio bem.Trazido. Ou,' 'tornou conhecido”. |
At.23:23 | 23. Hora terceira. Por volta das 21 h ou 22h (ver com. de At 2:15; 3:1).Da noite. A lim de que fosse impossível aos passantes identificar Paulo no meio deles.Duzentos soldados. Estes soldados receberam a incumbência de proteger Paulo; cem para cada um dos centuriões convocados.Lanceiros. Do gr. dexiolaboi, literalmente, "seguradores pela [mão| direita”. A Vulgata latina traduz dexiolaboi por hm- cecirii, "lanceiros”. O significado é inferido pelo lato de a lança normalmente ser segurada na mão direita. Um destacamento tão grande, 470 homens, designados para proteger um só prisioneiro é uma evidência cio estado turbulento da Judeia, da torça da guarda em Jerusalém e da importância que Lísias parece Ler atribuído à segurança de Paulo. Ele percebeu que os judeus fariam qualquer coisa para cumprir seu objetivo. Devia haver também muitos anjos à disposição, enviados pelo Senhor dos exércitos (cf. 2Rs 6:17; Dn 6:22; Mt 26:53).Até Cesareia. A sede do governo romano na Palestina e residência comum do procurador ou governador (ver com. de At 8:40; 10:1). A distância por terra cra de cerca de 100 quilômetros. |
At.23:24 | 24. Preparai também animais, listes animais não eram para todo o grupo, mas para Paulo e talvez para os oficiais. Seu status de cidadão romano e de prisioneiro protegido lhe garantia privilégios que não seriam estendidos a um judeu ou prisioneiro comum. Sem dúvida, o meio de transporte provido era um luxo que Paulo não desfrutara com frequência em suas jornadas.Ir com segurança. A segurança de um prisioneiro que afirmava ser cidadãoromano, a vida de ccnturiões e soldados, além da habilidade da força romana para manter a ordena, tudo isso estava em jogo na transferência de Paulo de Jerusalém para Cesareia.Governador. Do gr. hégernõn, procurador (ver com. de Mt 27:2).Félix. Vervol. 5, p. 57, 58, 231. O mandato de Félix se estendeu de aproximadamente 52 d.C. até cerca de 60 d.C. Tácito (Annals, xii.54; ed. Locb, vol. 3, p. 393) afirmou que f élix “achava que, com tantas influencias por trás dele, todos os delitos seriam perdoáveis" porque seu irmão era um favorito do imperador Cláudio. Suetônio (A Vida dos Doze Césares, v.28) descreve Félix como marido de três mulheres, com as quais se casou sucessivamente. Uma delas era Drusila, filha de I lerodes Agripa 1 e, portanto, descendente tanto de I lerodes, o Grande, quanto dos macabeus (ver, no vol. 5, gráfico, p. 28; At 24:24). A despeito da revolta incipiente dos judeus contra Roma, Félix conseguiu preservar certo grau de ordem na Judeia (cf. At 24:1), a despeito de sua má administração (Tácito, Atinais, xii.54). |
At.23:25 | 25. Uma carta. Em Atos 21:15, 18, Lucas se inclui entre os companheiros de Paulo em Jerusalém (ver vol. 5, p. 727). A carta provavelmente foi escrita em latim, o idioma das comunicações oficiais. Se for o caso, Lucas apresenta aqui uma tradução para o grego.Nestes termos. Literaimente, “tendo esta forma ’, ou seja, o efeito a seguir. E provável que a reprodução da carta feita por Lucas não seja uma cópia exata, mas algo que se assemelha muito ao original. Transmite a essência do que foi escrito. |
At.23:26 | 26. Excelentíssimo. Esta palavra e o termo “saúde'’ refletem um bom uso literário do grego da época (ver com. de Lc 1:3;d) At 1:1; 15:23; Tg 1:1). |
At.23:27 | 27. Homem. Do gr. anêr. “homem” em contraste com mulher. O termo pode indicarcerto respeito, talvez levando em conta que Paulo havia provado ser cidadão romano.Preso. Do gr. sullambanõ, “pegar”, “agarrar” (cf. Mt 26:55; At 12:3).Estava prestes a ser morto. A carta omite os detalhes da controvérsia religiosa que levaram ao ataque a Paulo, talvez por causa da ignorância de Lísias em relação a tais questões, e ele sabia que isso poderia ser relatado na presença de Félix (ver v. 30).Quando [...] O livrei. Isto é, quando Paulo foi atacado pela primeira vez (At 21:32).Por saber que ele era romano. Ou, “tendo descoberto”, “tendo sido inlormado”. Lísias expressou seu relato de uma forma - que desse a Félix a ideia de que ele resgatara Paulo por já saber que este era cidadão romano. É claro que a verdade era o oposto disso (ver At 22:25-29). |
At.23:28 | 28. Querendo certificar-me. Literalmente, “desejando saber”. Lísias tinha a intenção de obter as informações desejadas por meio do açoitamento (ver At 22:24). Paulo foi salvo desse castigo, por reivindicar seus direitos de cidadão romano (v. 25). |
At.23:29 | 29. Coisas referentes à lei que os rege. Estas incluíam as regras do templo (ver com. de At 21:28) e questões teológicas (At 23:6). Tais assuntos tinham pouca importância para Lísias (ct. At 18:15), com exceção de quando ocasionavam a perturbação da paz.Justificasse. A lei romana não adotava procedimentos para esse tipo dc situação. Sem dúvida, o tratamento brando que Paulo recebeu em Cesareia e em Roma se deveu, em parte, ao relato favorável de Lísias. |
At.23:30 | 30. Os judeus (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. A frase Iicaria assim: “l oi-me mostrado que haveria uma conspiração contra o homem.”Sem demora. Ou, “imediatamente”. Aoenviar o prisioneiro para Félix, Lísias sugere um elogio tanto à posição superior do governador quanto a seu conhecimento mais profundo dos costumes judaicos.Saúde. As evidências textuais se dividem (ct. p. xvi) entre a omissão e a conservação desta palavra. |
At.23:31 | 31. Durante a noite, o conduziram.Isto é, partiram de Jerusalém à noite e já estavam bem adiantados no caminho para Cesareia por volta do amanhecer (ver com. do v. 23).Antipátride. ídentiliçada com a atual lias el-Ain. Esta cidade foi construída por 1 lerodes, o Grande, sobre o sítio de Chafar Saba (ao sul da moderna Kefr Suba), de acordo com Josefo (Antiguidades, xvi.5.2), e nomeada em homenagem a seu pai Antípatro (ver vol. 5, p. 26). Antipátride significa “pertencente a Antípatro’. A cidade se localizava na hela planície de Sarom, arborizada e bem abastecida de água. Ficava na estrada romana de Jerusalém para Cesareia (ver, no vol. 5, mapa, p. 327; sobre uma cidade mais antiga no mesmo lugar, provavelmente a Afeea do AT. ver Joselo, Guerra dos judeus, i.4.7; íí.19.1; iv.8.1; cf. 1 Macabeus 7:31; ver. no vol. 1, mapa, p. 1049). |
At.23:32 | 32. No dia seguinte. Antipátride ficava a cerca de 60 km de Jerusalém. Saindo no início da noite (ver com. do v. 23) e viajando com soldados que estavam à pé, Paulo eseus acompanhantes chegariam à cidade em algum momento do dia seguinte.Voltaram. Considerando que Paulo estava lora dc perigo, os soldados sem montaria voltaram para Jerusalém.Fortaleza. Isto é, a fortaleza Anlônia em Jerusalém (ver At 21:34), onde a tropa se alojava. A tropa de Jerusalém deveria ter tamanho considerável para ser capaz de abrir mão de um destacamento tão grande dc soldados num período problemático como aquele (ver vol. 5, p. 57-59). |
At.23:33 | 33. Entregaram a carta. O comandante do destacamento entregou a carta, o prisioneiro e o problema ao governador. Cumpriu sua missão sem nenhum incidente. |
At.23:34 | 34. O governador. Evidências textuais atestam (cí. p. xvi) a variante "ele .Cilícia. Ver com. de At 6:9; 15:41. Na época, é provável que tanto a Cilícia quanto a Palestina fizessem parte da província romana da Síria. |
At.23:35 | 35. Ouvir-te-ei. Literal mente, “eu te ouvirei por completo", isto é, darei a ti uma audiência completa. Félix aceitou a jurisdição do caso. Os acusadores só chegaram a Cesareia após cinco dias (At 24:1).Pretório. Do gr. ¦praitõrion (ver com. de Mt 27:27), do latim praetorium. Estas palavras se aplicavam à tenda do comandante, às casernas da guarda imperial em Roma e, como aqui, ao palácio de um governador provincial do império romano.Capítulo 24ó o qual também tentou prolanar o templo, nós o prendemos com o intuito de julgá-lo segundo a nossa lei.[ I visto poderes veril icar que não há mais de du/c dias desde que subi u Jerusalém paru adorar;amedrontado o disse: Por agora, podes retirar-te, e, quando eu tiver vagar, chamar-te-ei;mais f requentemente, conversava com ele. |
At.24:1 | 1. Cinco dias depois. Isto é, depois da chegada de Paulo a Cesareia (ver com. do v. 11). Cinco dias não seria muito para preparar acusações formais e instruir um porta-voz profissional e competente para apresentar o caso (cf. At 21:17, 18, 27; 24:11).Desceu. Isto é, de Jerusalém, no alto das montanhas, para a capital romana em Cesareia, no litoral.Ananias. Ver com. de At 23:2. O sumo sacerdote não tinha simpatia por Paulo, que o chamara de "parede branqueada" (At 23:3).Alguns anciãos. Ver com. de At 23:14. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) esta variante. E improvável que o saduceu Ananias tenha levado muitos fariseus do Sinédrio em lerusalém, pois os fariseus haviam defendido Paulo (ver com. de At 23:9).Orador. Do gr. rhétõr, "orador”. O rhêtõr era um advogado, um solicitante profissional. Este título nunca é usado no N Epara se referir a "pregador” ou "arauto" (do gr. kêrux, iTm 1:7) da mensagem evangélica, nem para Cristo, nosso "advogado” (do gr. paraklêtos, IJo 2:1; ver com. de Mt 5:4).Tértulo. () nome é latino, um diminutivo de 'lerdo, que significa "terceiro” (comparar com Secundo, "segundo”, At 20:4). Em todas as cortes provinciais havia homens versados no sistema jurídico romano disponíveis para falar em favor dos provincianos não romanos. E possível que Tértulo tosse um judeu versado nos procedimentos legais de Roma ou um romano familiarizado com as tradições judaicas. Caso fosse romano, o uso de pronomes na primeira pessoa cio plural pode subentender que ele era um prosélito ao judaísmo, ou que fez esta escolha gramatical apenas para enfatizar que estava falando em favor de seus clientes.Os quais apresentaram. O grego também está no plural, incluindo, portanto, Ananias, os anciãos e Tértulo. Toda a delegação se uniu para fazer a acusação contra Paulo. Como em Atos 25:2 e 15, o gr. emphanizõ, “apresentaram", é usado para o ato de apresentar uma acusação formal. |
At.24:2 | 2. Chamado. Uma provável referência a Paulo ser convocado de seu conl inamento para comparecer à audiência.Passou Tértulo a acusá-lo. O discurso de Tcrtulo, embora iniciado com a adula- ção exagerada costumeira, era de acusação. Havia o hábito de dar início aos discursos com esse tipo de bajulação (ver Cícero, De Oratore, ii.80). Sem dúvida, o relato do discurso por Lucas (v. 2-8) é um breve resumo, que só preserva os pontos principais.Excelentíssimo. Do gr. kratislos, "nobilís- simo", "ilustríssimo”, palavra usada também por Lísias para se referir a Félix em sua carta (At 23:26), traduzida igualmente por "excelentíssimo”. O termo não exprime caráter, mas posição social. De maneira semelhante, é usado por Paulo para se dirigir a Festo (At 26:25).Paz perene. Literalmentc, "muita paz". Durante esse período sombrio da história dos judeus, a Palestina tinha tudo, menos paz. A revolta fervilhava por baixo da superfície, e sete ou oito anos depois, irrompería em rebelião aberta (vol. 5, p. 57-61). A paz que a terra desf rutava era a paz romana, imposta por armas. Félix reprimira vários messias políticos e cortara pela raiz revoltas incipientes contra a autoridade romana (ver Joseto, Antiguidades, xx.8.6, 7; Guerra dos Judeus, ü.13.2 [253]). ’ 'Previdente cuidado. Do gr. pronoia, “providência", "previdente cuidado".Notáveis reformas. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) esta variante. Segundo Tácito (Annals, xii.54), Félix tinha uma renda considerável proveniente de bandidos da Palestina, em troca por ignorar suas atividades. A firma-se que Félix só suprimia o roubo quando servia para aumentar a própria riqueza. Em decorrência de sua má administração. seu mandato foi revogado durante a prisão dc Paulo.Povo. Do gr. ethnos, termo comum usado pelos judeus para se referir aos gentios. Os autores do N F costumam chamar os judeus de “povo", do gr. laos (ver At 10:2; 26:17, 23). Em geral, ethnos só era usado pelos judeus a respeito da própria nação na presença dc gentios, ou com respeito a eles (ver Lc 7:5; 23:2). |
At.24:3 | Sem comentário para este versículo |
At.24:4 | 4. Deter. Do gr. egkoptõ, "impedir'1, “deter". Tértulo dá a Félix o crédito de se manter ocupado, preservando a paz c promovendo reformas (ver com. do v. 2), com pouco tempo para questões insignificantes como o presente problema. Assim, ele subentende que seria desejável uma resposta ime-ç’ diata em favor de seus clientes.Clemência. Do gr. epieikeia, “brandura ”, "justiça'’, “bondade” (ver 2Co 10:1). Neste caso, "consideração' seria uma boa tradução. Tértulo tem o objetivo de cegar os olhos de Félix aos fatos do caso, saturando o ar da corte com bajulação. |
At.24:5 | 5. Tendo nós verificado. A frase sugere uma investigação cuidadosa, que resultou na evidência de Paulo ser o indivíduo corrompido que eles alegavam.Peste. l)o gr. loimos, "peste’’, "praga ’. Em 1 Macabeus 10:61, loimos é usado para se referir a criminosos.Promove sedíções. Ou, “um agitador”, acusação grave que, segundo a expectativa dos acusadores, colocaria Paulo em con- 11ito direto com a lei romana. Paulo era uma "peste aos olhos dos judeus, não dos romanos. Todavia, Félix era conhecido por trataros revolucionários com severidade (ver com. do v. 2) e se Tértulo conseguisse convencê-lo do que alegava, o destino do apóstolo estaria selado (comparar com as acusações contra o Senhor levadas a Pilatos, no com. de Lc 23:2).Entre os judeus esparsos por todo o mundo. Com os milhares de judeus do exterior reunidos em Jerusalém para as lestas anuais, relatos das agitações que acompanhavam os esforços de Paulo em lugares como Filipos (At 16:16-24), Tessalônica (At 17:5-9), Corinto (At 18:12-17) e Éfeso (At 19:8-10, 1.3—20:2) haviam chegado aos ouvidos dos líderes. Tais perturbações poderíam ser interpretadas como resultantes de uma conduta revoltosa da parte de Paulo e parecia dar força à acusação leita contra ele. Tértulo pode ter citado episódios específicos, extraindo o máximo deles, dando-lhes a pior interpretação possível (cf. At 24:18).Mundo. Do gr. oikoumene, neste caso, significando o império romano (ver com. de Lc 2:1).Principal agitador. Do gr. prõtosUtlês, “aquele que fica na primeira fileira", “um homem dojront", logo. “um líder”. Em I ucíclides (Guerra do Peloponeso, v.71), o prõtostates da asa direita é responsável pela direção seguida ao avançar ou atacar. Nesta passagem, a palavra é usada em sentido metafórico.Seita. Ver com. de At 8:17.Nazarenos. Termo aplicado aos cristãos somente aqui em todo o N 1, com o sentido evidente dc seguidores de Jesus de Nazaré. Durante o 2o e 3° séculos, surgiu uma seita judaico-cristã chamada dc "nazarenos', mas a referência aqui é simplesmente aos cristãos, quer judeus, quer gentios (ver vol. 5, p. 43; ver Mt 2:23, texto no qual o termo "nazareno” se aplica a Jesus como residente de Nazaré). A palavra não tem nenhuma ligação conhecida com o termo “nazireu” (ver com. de Nm 6:2; Mt 2:23), nem é possível demonstrarrelação com a palavra heb. natsoir, "observar , ‘'vigiar", "manter". |
At.24:6 | 6. Tentou. Os inimigos dc Paulo mencionam o suposto crime cjue levara à prisão do apóstolo (ver At 21:21, 28).Profanar. Do gr. bebêloõ, “profanar”, "violar a santidade". Está ligado a uma palavra que significa “soleira da porta”. Portanto, o verbo quer dizer “passar pela soleira da porta". Paulo foi acusado de levar gentios a cruzar a barreira do átrio do templo, para a parte onde só era permitida a presença de judeus (ver vol. 5, p. 54), profanando o santuário. Essa acusação contra Paulo era muito grave, tanto segundo a lei romana quanto sob a judaica (ver foto, p. 488).Nós o prendemos. Do gr. kraieõ, "pegar”, “agarrar”, deixando subentendido o uso da força. Eles retrataram Paulo como um criminoso perigoso [rego à força.Com o intuito de julgá-lo. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras e de tudo que vem depois, até “à tua presença', no v. 8, incluindo esta expressão. Contudo, esta passagem recapitula eventos, do ponto de vista de Iértulo, que Lucas já havia registrado (Al 21:32—23:30). Os v. 6 a 8 retratam Tértulo explicando por que se tornara necessário incomodar Eélix com o caso. Seus clientes haviam tentado lidar com Paulo por conta própria, mas Lísias interferira.Segundo a nossa lei. A lei judaica não permitia executar um homem por ser uma “peste", ou seja, um incômodo público. As leis do AT são justas, nobres e explícitas, lodavia, até mesmo a melhor lei, assim como a melhor doutrina, pode se tornar um instrumento de perseguição nas mãos de pessoas voluntariosas e intolerantes. No caso da profanação do templo, porém, a lei romana permitia que os judeus executassem o transgressor, mesmo que este fosse romano (ver çL vol. 5, p. 54). |
At.24:7 | 7. O comandante. Ver com. cie At 22:24.Com grande violência. O tato é que os próprios judeus foram culpados de violência. Entretanto, nada mais natural do que eles interpretarem qualquer interferência a seus planos como "violência”. |
At.24:8 | 8. Ordenando que os seus acusadores. Lísias só deu esta ordem quando ficou claro que os judeus estavam tramando assassinar Paulo (ver com. de At 23:30).Examinando-o. Isto é, a Paulo, conforme deixa clara a forma singular da palavra grega para “o ". Com certeza, o antecedente não pode ser Lísias do v. 7, que já se pronunciara favorável à libertação dc Paulo (At 23:29) e tornara evidente, no passado, seu propósito de proteger o apóstolo de ataques (ver At 21:31-40; 22:24; 23:23-31). Em vez disso, o antecedente é a palavra “homem” (Paulo) do v. 5, assim como de “o qual” e “lo” do v. 6. Uma análise cuidadosa dos pronomes dos v. 6 a 8 tende a apoiar a conclusão de que uma parte desses versículos não se encontrava no texto original de Atos (ver com. do v. 6). |
At.24:9 | 9. Concordaram. Ou, uniram-se na acusação. I értulo era o porta-voz dos judeus, os quais confirmaram a suposta veracidade do que ele enunciara. |
At.24:10 | 10. Paulo. A defesa de Paulo é uma negação categórica da acusação feita contra ele (ver v. 12, 13). O apóstolo apresenta quatro argumentos; (1) ele fora a Jerusalém adorar, levar “esmolas” e “oferendas” (v. 11, 17); (2) não causara nenhuma perturbação (v. 12,18); (3) desafia seus acusadores a provar aquilo que alegavam, por meio de testemunhas (v. 13, 19); e (4) insiste que sua única ofensa era obedecer a Deus e a Sua lei, além de crer na ressurreição (v. 14, 15, 21). A primeira metade de sua defesa consiste numa declaração geral (v. 11-16) e a segunda parte, em uma revisão detalhada dos argumentos enunciados (v. 16-21). A ação judicial provavelmente foi conduzida em grego. Caso Paulo tivesse falado em latim, sem dúvidaLucas mencionaria o fato, como o fez quando o apóstolo falou em hebraico (At 21:40).Há muitos anos és juiz. É provável que Félix já fosse procurador por seis ou oito anos, mais tempo do que a maioria dos procuradores da Judeia (ver vol. 5, p. 57, 58). Além de ter o próprio mandato de governador, Félix deve ter sido coprocurador por algum tempo com Cumano (Tácito, Annals, xii.54).Defender. Do gr. apologeomai, "fazer a defesa’ . Paulo se sente “à vontade’’ para presumir que Félix era digno de sua confiança. Ele também sabia que o governador entendia dos costumes judaicos. Mas sua coragem se baseava na garantia da proteção divina (At 23:11). " |
At.24:11 | 11. Visto poderes verificar. Seria lácil para Félix verificar tal declaração. Não houvera tempo para incitar uma insurreição. Na verdade, o propósito de Paulo ao ir a Jerusalém e completamente distinto (ver v. 11, 17) e Félix sabia que judeus de todas as partes do mundo tinham o costume de ir à cidade para adorar e levar donativos.Doze dias. Pelo sistema de contagem mclusiva, o período completo desde a chegada de Paulo a Jerusalém parece ter sido de 14 dias, que podem ser enumerados da seguinte forma: dia 1, chegada a Jerusalém e recepção pelos irmãos (At 21:17); dia 2, encontro com os apóstolos (v. 18-25); dias 3 a 7 (aproximadamente: cf. AA, 406), cinco dos sete dias de purificação (v. 26, 27); dia 7 (aproximadamente), ataque por parte dos judeus, resgate por Lísias (v. 27-33); dia 8, defesa de Paulo perante o Sinédrio (At 22:30-23:11); dia 9, trama e descoberta da conspiração para matar Paulo (At 23:12- 22). o qual parte para Cesareia, passando por Antipátride (At 23:31); dia 10, chegada a Cesareia e comparecimento diante de Félix (At 23:32, 33); e dias 10 a 14, os cinco dias mencionados em Atos 24:1. E provável que Paulo não tenha contado o dia de sua chegada a Jerusalém, nem o dia do julgamentoperante Félix, referindo-se aos 12 dias intermediários.Adorar. Este era o principal motivo para Paulo ter ido a Jerusalém. Seria absurdo pensar que alguém entraria no templo para adorar a seu Deus e, logo em seguida, voltaria para profaná-lo. |
At.24:12 | 12. Não me acharam. Aqui Paulo começa uma negação aberta e uma refutação completa das acusações, primeira mente, de modo mais geral, c depois, em detalhes (ver com. do v. 10). Ninguém seria capaz de dizer que vira o apóstolo fazer as coisas de que seus inimigos o acusavam. Já as declarações que cie próprio fazia podiam ser provadas. Não havia testemunhas para provar que Paulo havia falado ou se comportado de maneira ofensiva.Amotinando o povo. Literalmente, “incitando uma multidão'. Foram os judeus que reuniram o povo para atacar Paulo(At 21:27, 28). |
At.24:13 | 13. Provar. Do gr. paristemi, significando, neste caso, uma apresentação ponto a ponto das evidências, josefo usa paristemi de seu conjunto de provas para af irmar que os judeus foram incitados à revolta pela má administração romana (Vida, 6). |
At.24:14 | 14. Confesso-te. Do gr. hotnologeõ, “declarar”, “professar ”. Paulo não confessou no sentido de admitir qualquer aspecto da acusação feita contra ele.O Caminho. Um termo técnico para o cristianismo (ver com. de At 9:2).Seita. Do gr. hairesis (ver com. de At 5:17; cf. At 24:5).Assim eu sirvo. Paulo reconhece que adorava a Deus no “Caminho” dos “nazarenos” (v. 5). Mas não havia, na época, nenhuma lei romana ou judaica contra ser nazareno ou cristão. Os judeus não haviam pedido um vereclito com base no fato de Paulo ser cristão.Deus de nossos pais. Paulo insiste que não negara a fé israelita, ao se tornar nazareno.Ele continuava a adorar o mesmo Deus. O apóstolo nega ser heterodoxo.Acreditando em todas as coisas.Além de adorar ao mesmo Deus, Paulo tinha fé e confiança plenas no AT, as Escrituras judaicas. Nesta ocasião, o apóstolo revela a falácia do argumento de que o AT tem valor inferior para os cristãos. Todos aqueles que, como Paulo, buscam em Cristo a salvação fariam bem em imitar seu exemplo de acreditar "em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas" (ver com. cie Lc 24:27).De acordo com a lei. Ver com. de Lc 24:44. Da forma usada aqui, junto com os “profetas”, constitui um termo técnico para o Pentateuco, os cinco livros de Moisés. A Lei e os Profetas constituem duas das três divisões do AT hebraico, e, quando utilizado de um modo geral, como aqui, a expressão é equivalente a todo o Antigo Testamento. A Lei indica o caminho verdadeiro, e os Profetas ilustram e ampliam a Lei. Paulo acreditava em tudo isso. Ele não era um herege. Paulo concluiu que o AT, a autoridade suprema do judaísmo, validou sua crença e prática como um cristão |
At.24:15 | 15. Tendo esperança. Ver com. de Rm 5:4, 5. Sem a esperança da ressurreição e da vida futura, tanto o cristianismo quanto o judaísmo perdem o significado (ver lCo 15:14, 32; Tt 2:13; ljo 3:3). A esperança é tima das maiores virtudes cristãs (SI 146:5; Zc 9:1 2; lCo 13:13; Gl 5:5; Hb 6:19; I IV 1:3). Para aqueles que não têm esperança e estão "sem Cristo" (Ef 2:12), a vida é, no máximo, uma experiência vã.Como também estes a têm. Do gr.prosdech.omai, "admitir”, "esperar". Parece que Paulo fala de seus acusadores, pelo menos dos fariseus dentre eles, presentes na sala de julgamento (ver At 23:6). Os judeus, de modo geral, criam na ressurreição (ver Is 26:20; Dn 12:2, 13; cf. 2 Macabeus 7:9; Enoque 91:10; Salmos de Salomão 3:16; ver vol. 5, p. 73-78).De mortos (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão destas palavras. Os judeus eram praticamente o único povo na época a ensinar com toda certeza a ressurreição do corpo. A ideia de uma vida futura era menos estranha, em alguns aspectos, aos egípcios, babilônios, persas e gregos (ver At 17:32). Os seguidores de Platão e até mesmo os romanos estoicos não tinham um ensino claro acerca da vida após a morte; já os cínicos e epicureus rejeitavam a ideia.Injustos. A doutrina de Paulo não era de que somente os justos ressuscitariam (lCo 15:5-54; ITs 4:16), mas os injustos também (cf. Dn 12:2). A ressurreição será separada para cada categoria, assim como as recompensas serão distintas (Rm 2:5-10). João revela que as duas ressurreições se separarão por um intervalo de mil anos (Ap 20:3- 10). A menção da ressurreição dos injustos pode ter abalado a consciência de Eélix (ver com. de At 23:24; 24:2). |
At.24:16 | 16. Por isso. Isto é, levando em conta a fé, a esperança e o serviço piedoso que ele já havia mencionado (v. 14, 15).Esforço. Do gr. askeõ, “exercitar”, “lutar", “tomar as dores”. Paulo levava a sério suas crenças e práticas religiosas. Para ele, a religião era mais do que um sistema filosófico; tratava-se de um estilo de vida. O apóstolo se esforçava avidamente para vencer nas questões espirituais, que considerava vitais para a felicidade (ver Alt 7:24-27; Fp 2:12, 13; 3:7-15).Consciência. Para Paulo, a consciência, a capacidade de distinguir entre o certo e o errado, era de suprema importância (lTm 1:5; 3:9; Hb 9:14). Mais uma vez,, ele afirma ter consciência limpa diante de Deus até aquele momento (At 23:1; cf. Rm 9:1; 2Tm 1:3; Hb 13:18).Pura. Do gr. aproskopos, literal mente, "não tendo nada contra que lutar". Ao longo de toda a vida, Paulo fizera aquilo que imaginava scr um serviço a Deus. Mesmo enquantoperseguidor, ele pensava que estava servindoao Senhor (At 26:9, 10; cf. [o 16:2). Portanto, sua vida ilustra o lato de que não c menos importante ter uma consciência esclarecida do que ser consciencioso. A consciência, por "melhor' que já seja, deve estar atenta à voz dc Deus (is 30:21) e a Sua Palavra (is 8:19, 20: 2Tm 3:15-17; cf. Mt 24:21-27). |
At.24:17 | 17. Depois de anos. A última visita de Paulo a Jerusalém ocorrera por volta de 52 d.C., no final de sua segunda viagem mis-o cssionária (At 18:21, 22). Cerca de seis anos haviam se passado (ver p. 89, 90).Trazer esmolas. Paulo explica o propósito específico de seu retorno a Jerusalém. Sua visita estava em harmonia com o propósito determinado de servir a Deus e ao próximo (ver com. do v. 16). Ele não fora à cidade para lazer mal a seu povo, mas para beneficiá-lo (cf. At 1.1:29, 30; 20:35; Rm 15:25-27; ICo 16:1-4; 2Co 8:1-4).Minha nação. Embora fosse um cidadão romano, Paulo continuava a ser judeu de coração e, sem hesitar, se identifica com seu povo (cf. At 22:3). Seu propósito, além das "esmolas” e "oferendas”, demonstra que ele não tinha nenhuma intenção de profanar o templo, nem de interferir em seus rituais. |
At.24:18 | 18. E foi nesta prática. Literaimentc, "nestas coisas", isto é, aparentemente, enquanto ele estava ocupado oferecendo as "esmolas'’ e "olerendas”. Talvez cie não estivesse transferindo os donativos no exato momento em que os judeus da Asia o viram, mas envolvido em atividades ligadas a isso.Jud eus da Ásia. Provavelmente de Eleso, a principal cidade da província romana da Asia (ver mapa, p. 19), onde o apóstolo enfrentou muitos problemas, em parte, por causa dos judeus (cf. At 19:13-16; 21:27; ] Co 15:32).Já purificado. Ouando apreendido, Paulo estava ocupado se preparando para oferecer sacrílícios, não incitando um tumulto (cf. AA. 406).Sem ajuntamento. Os únicos companheiros de Paulo eram os quatro homens aos quais ele se unira para completar seus votos (At 18:18; 21:23, 24). Não havia base factual para acusar que se tratava de um ato de revolta (At 24:5). |
At.24:19 | 19. Os quais deviam. Isto é, os judeus da Ásia (v. 18).Acusar. Literalmente, "fazer acusação". Parece que a acusação deles consistiu de um apelo barulhento e incitador da turba no átrio do templo (ver Ap 21:27-30). (.) tumulto resultante (At 21:30-32) e as terríveis acusações feitas mais tarde contra Paulo dependiam tão somente do testemunho daqueles homens. Mas parece que eles não estavam disponíveis. Logo, sem testemunhas diretas da única acusação específica lançada conLra o apóstolo (ver com. de At 24:5, 6), o caso deveria ser encerrado. |
At.24:20 | 20. Ou estes mesmos. Se os acusadores da Asia não fossem aparecer (v. 19), Paulo desafia os judeus presentes a lazer acusações específicas das quais tivesse conhecimento pessoal ou que pudessem apresentar com evidências aceitáveis.Em mim. Evidencias textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta expressão. O trecho ficaria, então, “que iniquidade acharam".Perante o Sinédrio. O supremo conselho dos judeus não conseguira concordar quanto às acusações contra Paulo. Na verdade, muitos membros do Sinédrio foram favoráveis a ele, cptase ocasionando um tumulto (At 23:1-10). Se muitos dos líderes judeus julgavam Paulo inocente e se mostraram prontos a usar a força para protegê-lo, que causa judicial os acusadores do apóstolo poderíam apresentar naquele momento diante de Féli.xr |
At.24:21 | 21. Salvo. Alguns encontram na declaração do v. 21 a ideia de que Paulo iaz uma admissão de conduta incorreta. Não é este o caso. Se houvesse algo repreensível em sua declaração ao Sinédrio (At 23:6), seusacusadores íariam questão de deixar isso bem claro. Em vez disso, eles evitaram a menção ao incidente, que era constrange- >dor para eles. Além disso, se contassem o ocorrido, provariam que eles próprios se dividiram quanto à culpa ou inocência de Paulo e que o verdadeiro assunto em pauta era um ponto da teologia judaica. Caso o apóstolo tenha contado todo o acontecimento, como c provável, ele provou que não havia nenhuma causa judicial contra ele que uma corte romana devesse levar em conta (sobre a reação de Félix, ver com. do v. 22). |
At.24:22 | 22. Então. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão das palavras "então ’ e "havendo ouvido estas coisas ’ (ABC). O contexto, porém, deixa dam que este era o sentido da passagem. O testemunho de Paulo (v. 10-21) tornou óbvio que seus acusadores não tinham nada contra ele c, por isso, Eélix despediu a corte. No entanto, ele queria ouvir mais sobre o que Lísias tinira a dizer acerca cie Paulo.Conhecendo mais acuradamente. Eélix atuara na Palestina por vários anos (ver com. do v. 10) e deve ter aprendido bastante sobre o judaísmo c o cristianismo durante o período. Além disso, sua esposa Drusila, irmã de Herodes Agripa 11 (ver com. do v. 24), era judia (ver com. de At 23:24).Com respeito ao Caminho. Isto é, a íé cristã (ver com. de At 9:2: 24:14).Adiou. Sem mais informações, Félix não podería tomar uma decisão inteligente e, assim, dar seguimento ao caso.Tomarei inteiro conhecimento. Isto é, descobrirei ou determinarei. |
At.24:23 | 23. Ao eenturião. Provavelmente, um dos dois que escoltaram Paulo desde Jerusalém.Detido. Do gr. têreõ, “cuidar”, “vigiar”, “manter". O verbo não significa necessariamente detenção em regime fechado, mas proteção. Parece que Félix tinha uma atitude positiva em relação a Paulo, em partepelo despertamento de sua consciência (ver v. 14-16, 24, 25), em parte porque esperava receber suborno (v. 26).Tratando-o com indulgência. Isto é, com privilégios que um prisioneiro comum não desfrutaria (ver com. de At 23:16, 17). Ele ficaria sob custódia, mas sem sofrer os desconfortos da prisão comum.Os seus próprios. Do gr. idioi, "próprios [parentes ou amigos íntimos]" (ver com. de Jo 1:11). Talvez estes incluíssem Filipe (At 21:8), outros cristãos que moravam na região de Cesareia e possivelmente Lucas, que acompanhara Paulo a Jerusalém (At 21:17).Servissem. Do gr. hypêreteõ, "ser útil” (ver com. de At 13:5). Isto inclui a gentileza do contato social, confortos de vestuário e alimentação, além da transmissão de mensagens. E possível que Félix tivesse a intenção de facilitar para Paulo a obtenção de um resgate com seus amigos (ver At 24:26).Ou vir ter com ele (ARC). Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão destas palavras. |
At.24:24 | 24. Alguns dias. Ver com. de At 9:19.Vindo Félix. Talvez Eélix tenha se ausentado de Cesareia por um tempo e, ao retornar, se preparou para interrogar Paulo novamente.Drusila. Segunda esposa de Félix. Era lilha de Herodes Agripa 1, neto de Herodes, o Grande, e Mariamne, da antiga lamí- lia real judaica dos hasmoneus (ver vol. 5, p. 28). Portanto, Herodes Agripa II era seu irmão, e Berenice, sua irmã. Ela havia deixado seu primeiro marido, o rei Azi/.us de Emesa, prosélito ao judaísmo, para se casar com Félix (Joseto, Antiguidades, xx.7.1, 2). Era, então, uma mulher de cerca de 22 anos de idade. Tinha seis anos quando seu pai mandara matar Tiago (At 12:1, 2), e é possível que soubesse desse trágico acontecimento. Talvez também tivesse conhecimento de como Pedro fugira da prisão (At 12:3-19) e sabia da morte infeliz de seupai (At 12:21-23). Sua situação conjugal complicada revela que cia não levava a serio a moral judaica. Devia estar curiosa para ver e ouvir o homem a quem os líderes judeus tentaram sentenciar à morte.Mandou chamar Paulo. Talvez Félix tivesse a intenção de obter mais inlorma- ções, para salislazer a curiosidade de Drusila e para impressionar Paulo com a insinuação de que estava disposto a soltá-lo, por um preço (ver v. 26).Cristo. Paulo deve ter argumentado em lavor da crença no Messias c que este era Jesus de Nazaré (ver com. de Mt 1:1), em Sua morte pelos pecadores e. em Sua graça salvadora, na ressurreição, na certeza de Seu retorno e no julgamento de todos os seres humanos. A "té em Cristo ’, neste caso, se rclere aos "fatos que entre nós sc realizaram" (Le 1:1). |
At.24:25 | 25. Dissertando ele. A formação de Paulo, sobretudo sob a tutela de Gamaliel em Jerusalém, sem dúvida desenvolvera as habilidades naturais de sua mente e sua capacidade de falar em publico. Seu contato pessoal com o Senhor em visão, perto ã de Damasco, c no templo em Jerusalém (At 9:4-6: 22:17, 18), além do poder enérgico do Espírito Santo, o dotavam de um conceito claro da verdade, o qual tornava possível a apresentação lógica das verdades vitais do evangelho que lhe eram tão preciosas. Os anos de experiência de pregação também translormavam sua apresentação do evangelho numa lorça poderosa para ganhar pessoas para Deus.Justiça. Do gr. dikaiosiinê (ver com. de Km 1:17). Sem dúvida, nesse momento, Paulo tala da atitude certa e da conduta correta para com Deus e os outros seres humanos. Por meio dessa palavra, Lucas resume a exposição paulina das grandes verdades da lei e do evangelho (ver com. de Mq 6:8; Mt 22:26-40). A consciência de Félix deve tê-lo incomodado ao refletir sobre aprópria conduta (ver com. de At 24:2). Não é de se espantar que o líder romano tenha estremecido, imaginando-se diante do tribunal divino.Domínio próprio. Do gr. evkraleüi, "autocontrole ”, ou seja, o domínio sobre apetites e paixões (ver com. de CAI 5:23). Fsse traço de caráter ê de importância crucial para um líder, e certamente Paulo explicou a Félix como obtê-lo.Juízo. Do gr. krima, a sentença que resulta do julgamento (ver com. de Jo 9:39), neste caso, do juízo final. Félix sc assentava na cadeira de juiz, mas, no luturo, seria o réu diante do tribunal de Deus. A ganância, crueldade c devassidão de Félix (Tácito, Annah, xii.54; Histories, v.9) tornavam a mensagem de Paulo especial mente apropriada. O apóstolo devia conhecer o caráter do homem com quem falava ou foi conduzido pelo Espírito Santo a dar ênlase justamente às coisas de que Félix necessitava. Paulo não era um mero professor de ética; ele não se limitava a argumentos abstratos sobre a beleza e a utilidade da justiça e da temperança. Suas palavras eram intensas e práticas, simbolizando um convite do Céu para Félix e sua esposa se voltarem ao Deus verdadeiro.Amedrontado. Do gr. emphobos, “aterrorizado”, “assustado". A palavra não denota agitação física, mas mental. O Espírito Santo estava agindo na consciência perturbada do procurador, convencendo-o "do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8). /Assim como os demônios, Félix cria e tremia ( Ig 2:19). O governador, que negava justiça a Paulo, na esperança de ganhar um suborno por sua libertação, teve medo diante do pensamento de prestar contas por seus atos perante o |uiz do universo.Quando eu tiver vagar. Félix silenciou sua consciência ao adiar uma decisão pessoal. Ele não rejeitou o convite do Espírito Santo num primeiro momento. Mas, aovacilar diante da decisão pelo que era direito, determinou-se a adiar o processo doloroso de colocar em ordem sua vida pessoal. O melhor momento para essa tarefa por vezes desagradável sempre é o presente, mas, para quem tem a consciência culpada, o presente sempre se revela unia ocasião inconveniente e problemática.Chamar-te-ei. Lélix chamou Paulo várias vezes (v. 26), mas nunca chegou aoponto de tomar uma decisão. Lie nunca teve o "vagar" de que talou. |
At.24:26 | 26. Que Paulo lhe desse dinheiro. Lélix pensava que se Paulo era importante a ponto de suscitar tamanha oposição dos líderes judeus, sua liberdade devia valer um suborno substancial. Como o apóstolo levara donativos para os judeus de Jerusalém (v. 17), o político deve ter concluído que Paulo tinha amigos ricos que poderíam comprar sua libertação. Talvez Lélix pensasse que, dentre os amigos com permissão para visitar o prisioneiro (v. 23), houvesse pessoas com condições de fazê-lo.Para que o soltasse (ARC). Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a omissão destas palav ras. Todavia, o contexto deixa claro que esta era sua intenção.Mais frequentemente. Félix continuava a conversar com Paulo tanto por ainda sentir uma inquietação a respeito "da justiça, do domínio próprio e do Juízo" (v. 25), quanto pela expectativa de receber suborno, uma estranha combinação de motivais que, na verdade, não o levaram a receber a propina, nem a paz de espírito.Conversava. O texto grego subentende um diálogo amistoso. O contraste entre Pardo e Félix é drástico. Quando ainda era Saulo de Tarso, Paulo tentara agradar aqueles que podiam elevá-lo a uma posição de destaque dentro da própria nação. Mas deu as costas a tudo aquilo que um jovemhebreu podería desejar (cf. Fp 3:8, 10) c se aliou a um grupo odiado, passando a viven- ciar a vergonha e o sofrimento que os cristãos sofredores enfrentavam por toda parte. Félix, na expectativa de se beneficiar por meio de métodos perversos entre seu povo, encontrou-se tratando o desprezado Paulo com integridade e invejando a ousada hones- t tidade do apóstolo em suas convicções. Ele deve ter refletido no coração, levando a sério os ensinos de Paulo, pois parece que apreciava conversar com um homem tão capaz, direto e cuidadoso como aquele prisioneiro distinto. |
At.24:27 | 27. Dois anos mais tarde. Lateral mente, "quando dois anos se cumpriram ou "se passaram”. A expressão parece inlerir dois anos completos, não partes de dois anos, por contagem inclusiva (ver p. 87-90); vol. 1,p. 160, 161).Teve por sucessor. Por volta dc 60 d.C. (ver p. 89, 90).Pórcio Festo. Ver vol. 5, p. 58, 59. Joselo retrata o caráter deste procurador sob uma luz mais favorável do que o de Félix {Guerra dos Judeus, xi.14.1), mas o mostra com tantas dificuldades com sedições e assassinatos quanto seu antecessor (Antiguidades, xx. 8.9, 10). "Assegurar o apoio dos judeus. Ao deixar Paulo preso, refém da sorte, Félix esperava aliviar as reclamações que os judeus faziam contra ele em Roma. Mesmo em desgraça, jogava com o destino de Paulo para benefício pessoal.Encarcerado. Isto é, em cadeias, uma expressão forte, sugerindo que o tratamento indulgente que Paulo recebera a princípio como prisioneiro (ver v. 23) pode ter terminado por ordem do governador, antes de sua partida. Não há informações do que Paulo fez durante os dois anos em que ficou detido por Félix.Capítulo 25/ Os judeus acusam Paulo diante de Festo. 8 O apóstolo se defende e 11 apela a César. 14 Festo aborda a questão com o rei Agripa, e 23 Paulo é levado a ele.a Jerusalém e ser ali julgado por mim a respeito destas coisas?assentando-me no tribunal, determinei fosse tra/ido o homem; |
At.25:1 | 1. Festo. Ver com. de At 24:27.Assumido. Isto é, assumira o distrito quegovernaria ou o posto para dar início a suas responsabilidades (ver Josefo, Antiguidades, xx.8,9; Guerra dos Judeus, ií.14.1).Cesareia. Sede da administração romana na Palestina (ver com. de At 8:40).Para Jerusalém. A capital da subpro- víncia da Judeia. Sem dúvida, Festo estava inspecionando o território do qual havia sc tornado procurador, com a intenção de descobrir quais eram seus problemas. O fato de só ter passado três dias no cargo e já sair em viagem é um testemunho positivo de suas habilidades administrativas. Em habilidade e integridade, parece que ele era muito superior a Eélix (ver vol. 5, p. 58, 59). |
At.25:2 | 2. Os principais sacerdotes. Evidências textuais atestam (ct. p. xvi) esta variante. Ismael era o sumo sacerdote, depois de ser nomeado por .Agripa 11 (Josefo, Antiguidades, \x.8.8). Os acusadores dc Paulo tentaram se aproveitar de Festo antes que elena audiência juntamente com oficiais superiores c homens eminentes da cidade, PaLdo loi tm/.ido por ordem de Festo.tivesse tempo cie compreender as questões judaicas na perspectiva correta.Maiorais. Ou, “líderes", "homens principais’. (Os judeus mais ricos e notáveis eram membros do Sinédrio e a maior parte deles, saduceus. Parece que os sadueeus, por negarem a ressurreição, foram os principais responsáveis por acusar Paulo (ver com. de At 23:6-9; cf. com. de |o 11:46). |
At.25:3 | 3. Pedindo como favor. Queriam receber consideração especial dc suas acusações contra Paulo, pois eram os maiorais da nação; Paulo não. Sua honra c integridade como líderes do povo estavam em iogo. Por causa de sua hostilidade a Paulo, colocaram- se numa posição delicada. Já se sugeriu que o “favor” (charis) que os judeus pediram loi urna ordem oficial, transleríndo Paulo para a jurisdição deles.Armando eles cilada. A cilada anterior contra Paulo (ver com. de At 23:12-15) não fora abandonada. A opinião pública dos judeus e a lei comum aprovavam medidasdiretas para lidar com pessoas supostamente culpadas de violar determinadas regras religiosas (d. Mishnah Sanhedrin, 9.6; ed. Soncino. lalmude, p. 542). Talvez alguns membros do Sinédrio tivessem se comprometido com um juramento, assim como certos lunáticos haviam teito dois anos antes. |
At.25:4 | 4. Detido. Isto é, em custódia. Félix enviara Paulo para lá, o qual estava seguro nas mãos romanas e lá permanecería, pois não havia nenhum bom motivo para transferi-lo.Muito em breve. Isto é, cerca de dez dias depois. |
At.25:5 | 5. Habilitados. Do gr. dynaloi, lite- ralmenle, “|osJ poderosos', isto c, pessoas de autoridade, ou homens capazes, qualificados para representar a nação judaica. A mesma palavra c traduzida por “poderoso" (l,e 24:19; At 7:22); c por “poderosos” (ICo 1:26; Ap 6:15). Tratava-se de líderes c homens de posição, provavelmente, membros do Sinédrio.Desçam comigo. Os delegados judeus deveríam ser homens dignos de viajar com o governador romano. Festo estava honrando esses líderes judeus e, ao mesmo tempo, reconhecendo a importância do caso de Paulo.Qualquer crime. Evidências textuais atestam (cl. p. ,\vi) a variante “qualquer coisa imprópria . "qualquer impmpriedade", “qualquer erro . A palavra equivalente a “crime ’ não se encontra no texto grego, mas parece ter sido acrescentada pelos tradutores da Vulgala latina, que traz crimen. |
At.25:6 | 6. Mais de oito ou dez dias. Evidências textuais (cl. p. xvi) confirmam esta variante. Ela destaca a brevidade da permanência denão podia se ausentar da sede do governo (ver com. do v. 1).No dia seguinte. Parece que os judeus conseguiram convencer Festo dc que a solução adequada do caso de Paulo era de importância crucial para a manutenção de relações satisfatórias entre o administrador romano da Palestina c o povo judeu.Assentando-se no tribunal. O procedimento foi o de um julgamento lormal. |
At.25:7 | 7. Rodearam-no. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) a variante "lizeram um círculo a seu redor". Alguns dos que fizeram acusações contra Paulo, sem dúvida, o conheceram como o empedernido perseguidor dos cristãos mais de vinte anos antes, c o odiavam, considerando-o um traidor da nação judaica.Os judeus que haviam descido. O pedido de Festo por uma delegação de homens capazes e influentes fora atendido (v. 5). Os líderes judeus estavam a postosquando Paulo foi convocado para a audiência.Muitas e graves acusações. Durante o intervalo dc dois anos (At 24:27), parece que os judeus se mantiveram ocupados, reunindo toda espécie de relato e rumor. Possivelmente, tinham argumentos muito mais fortes contra Paulo. Parece estranho que uma cópia desse apanhado de pormenores não tenha sido transmitida posteriormente aos judeus de Roma (ver At 28:21).Contra ele. Evidências textuais atestam (cl. p. xvi) a omissão destas palavras.Não podiam provar. Deve ter I içado claro para Festo que as evidências do caso contra Paulo não resistiríam ao tribunal (cl. At 24.18, 19; ver com. de At 25:1). Ao que tudo indica, ele não era nenhum novato nesse tipo dc questão. |
At.25:8 | 8. Paulo, porém. Evidências textuais atestam (cl. p. xvi) a variante "enquanto Paulo".Defendendo-se. Literal mente, "fez sua defesa”. E provável que ele não lenha respondido em detalhes às acusações triviais feitascontra cie (v. 7), mas somente àquelas que, se aceitas, seriam usadas contra ele ate mesmo num tribunal romano. Eram a suposta profanação do templo e o desprezo pela lei judaica, além da hipotética participação em tumultos revolucionários. Roma prestava atenção a esse tipo dc coisa, assim, Festo podia ser influenciado a pensar que Paulo era culpado de insurreição contra a autoridade romana. Lucas relata a defesa do apóstolo em relação a esses três assuntos principais.Contra a lei. Talvez os líderes judeus soubessem do ensino de Paulo de que a circuncisão não passava de um ato simbólico (ver Rm 2:23-29) e retrataram isso como uma tentativa de transgressão da lei. Eles haviam leito a mesma acusação contra )esLis (ver com. de Mt 5:17; Mc 2:16; 7:1-5). Os judeus nunca confrontaram Paulo a respeito do sábado, como fizeram com Cristo (Jo 5:16-18).Contra o templo. A antiga acusação de levar gentios para o templo (At 21:27, 28) provavelmente foi relembrada ao longo da audiência.Contra César. Se Paulo não tivesse feito nada "contra César", nenhuma corte romana o condenaria. A superficialidade das acusações e a sinceridade da defesa de Paulo elevem ter impressionado Festo, um administrador capaz e honesto (ver vol. 5, p. 58, 59). |
At.25:9 | 9. O apoio. Ou um favor (ver com. de At 24:27). A princípio, Festo recusara o pedido dos judeus de que Paulo fosse levado a Jerusalém (At 25:3, 4). Tenha ele se deixado influenciar contra Paulo pelas acusações feitas ou não, pelo menos percebeu ainda mais a intensidade do sentimento dos judeus contra o apóstolo. Tudo que ele pudesse fazer para agradar os judeus contribuiría, é claro, para o sucesso de sua administração.Queres tu [...]? Ficou claro que as acusações contra Paulo eram questões da lei judaica, não da romana; portanto, pareciarazoável para Festo investigar o assunto em Jerusalém, a capital dos judeus.Por mim. A presença de Festo na audiência era uma garantia de que Paulo continuaria sob custódia e proteção romanas. Contudo, os líderes judeus estariam à frente do procedimento judicial, e Festo desempenharia mais o papel de um observador interessado. Ele não estava transferindo o apóstolo para a jurisdição judaica, embora a proposta sugira uma possível disposição em fazê-lo. Essa sugestão praticamente declarou Paulo inocente dc qualquer ofensa "contra César". Todas as acusações que talvez fossem dignas de consideração estariam ligadas à lei c aos costumes judaicos. Embora, como representante de Roma, Festo não tivesse mais interesse direto no caso, seu desejo de conquistar o (avor dos líderes de seu novo distrito administrativo o deixaram disposto a ceder ao máximo a seus desejos. Ao que tudo indica, a proposta não se baseou na suspeita dc que Paulo fosse culpado de algum delito aberto ou da intenção de cometer algo assim, mas somente em uma medida política. |
At.25:10 | 10. Estou perante. Literal mente, "eu [estive perante] e estou perante". Desde o princípio, Paulo fora detido pelos romanos. Ele fora salvo de um açoitamento brutal por ser cidadão romano. Talvez o apóstolo tivesse em mente a promessa divina de Atos 23:11, embora não dê sinais disso aqui. Por dois anos, ele fora mantido prisioneiro pelos romanos, agindo sob a autoridade de César. Paulo lembra esse tato ao governador romano e recusa enfrentar o julgamento dc homens cuja cumplicidade numa conspiração para assassiná-lo já era conhecida (ver At 23:12- 15, 30; 25:2, 3).Tribunal. Paulo preferia a justiça relativa da lei romana á hostilidade caprichosa de seus conterrâneos enraivecidos, os quais só conheciam a lei dos próprios preconceitos.Convém seja eu julgado. Isto é, como cidadão romano.Os judeus. Paulo negou toda a gama de acusações leílas contra ele. Não houvera nenhuma injúria a pessoas, propriedades, ao caráter ou à religião judaicos por sua causa.Como tu muito bem sabes. Paulo sabia que o motivo de besto para lazer a proposta do v. 9 era conciliar os judeus. |
At.25:11 | 11. Caso, pois. Literal mente, "se de tato então". Paulo já negara ter cometido qualquer ofensa contra os judeus e, ao propor submetê- lo a um julgamento judaico, Festo deixara subentendido que o apóstolo era inocente no que se releria ã lei romana. Se, porém, a despeito disso, houvesse ainda alguma suspeita de Paulo sei' culpado de algum crime, ele escolhia exercer sua prerrogativa de cidadão romano para ser julgado pela lei de Roma.Estou pronto para morrer. Literalmente, "não suplico para impedir a morte" (comparar com Josefo, Vida, 29). Paulo declara sua disposição de enfrentar os resultados de um julgamento justo, a despeito do veredíto.Ser agradável. Do gr. charizomai, "lazer um favor", "gratificar”. Paulo não estava disposto a ser entregue a seus acusadores apenas para lhes lazer um favor. O apóstolo sabia que besto tentava conquistar o favor q dos judeus. Lie se recusou a abrir mão de seus direitos de cidadão romano apenas para agradar seus acusadores e lhes tornar mais fácil conseguir cumprir seus desígnios perversos contra sua vida. Paulo também sabia muílo bem que o Sinédrio não lhe concedería justiça, nem misericórdia.Apelo para César. Paulo encerra sua delesa com outra afirmação de seus direitos (ver com. de At 22:25-29). Ele estava pronto para correr o risco que podería vir com sua acusação em Roma e de contar com a justiça de César em tomar uma decisão com base nas evidências. Havia muito, o apóstolo tinha o propósito de visitar Roma, embora não como um preso (Rm 1:9-12; 15:23, 24).O imperador correspondia à suprema corte de apelo para todos os tribunais subordinados ao redor do império.Desde que fora escolhido para ser apóstolo aos gentios, Paulo enfrentara sofrimentos e seu ministério fora dificultado tanto por judeus quanto por pagãos (2Co 11:24-27). Ele enfrentava a oposição de bom grado, se, por meio dela, a causa de Cristo avançasse (At 20:22-25; 2Co 4:5-18; G1 6:14; Lp 1:12). Todavia, já estava confinado cm Cesarcia havia dois anos, sem ser condenado e sem a perspectiva de um novo julgamento. Lísías (At 22:29), Félix (ver com. de At 24:23-27) e Festo (ver com. de At 25:8, 9, 25) haviam todos concluído que o apóstolo era inocente de qualquer violação da lei romana. Mesmo assim, Félix o mantivera preso por motivos pessoais c para agradar aos judeus. Parece que Festo se propunha a dar continuidade à política de conciliação com os judeus à custa de Paulo. Portanto, enquanto ele permanecesse sob a jurisdição do procurador romano da Judeia, não parecia haver perspectiva de absolvição e soltura. Fazia pouca diferença se ele estava detido como réu condenado ou como mero joguete político. Das duas lormas, não estava livre para pregar o evangelho. Para alguém cuja vida não tinha outra ambição ou um interesse distinto, tal possibilidade deveria parecer insuportável. Sem dúv ida, outros embaixadores da cruz viam seu ministério ser impedido de maneira semelhante.Nos tempos do NT, o cristianismo não desfrutava a posição dc uma religião reconhecida pela lei romana. L era proibida a prática e a divulgação de religiões não reconhecidas. Roma tolerava o cristianismo somente por considc.rá-lo, a princípio, uma facção do judaísmo, o qual era reconhecido. Ao acusar Paulo e o cristianismo, os judeus poderíam acabar privando os cristãos desse benefício, tornando sua posição legalmente insustentável diante da lei romana (ver p. 33, 34, 81).)á foi sugerido que. ao apelar para César. Paulo tinha o propósito não só de garantir uma decisão para seu caso, que chegara a um ponto de paralisação, mas também de garantir pelo menos algum grau de reconhecimento do cristianismo como religião legal independente, lista seria uma ótima notícia que daria mais liberdade aos embaixadores da cruz onde quer que lossem e os ajudaria a superar a oposição local mais rapidamente. Mesmo enquanto estava na prisão em Roma, Paulo não foi impedido de pregar o evangelho na corte imperial; alguns “da casa de César" (Fp 4:22), inclusive, tornaram-se cristãos. Esses dois latos conferiram ousadia a outros obreiros cristãos para “falar com mais desassombro a palavra de Deus" (ver Fp 1:12- 14). Ouando chegasse ao conhecimento dc todos que o imperador decretara a absolvição do principal dos evangelistas cristãos, havería maior liberdade em todo o império para proclamar o evangelho. Logo, a absolvição dc: Paulo nas mãos do imperador apontaria, ou. no mínimo, prepararia o caminho para a permissão oficial à pregação do evangelho. |
At.25:12 | 12. Conselho. Do gr. symhoidion, o “grupo de conselheiros' do procurador. Lucas sempre usa a palavra sunedrion para se referir ao "conselho" dos judeus, o Sinédrio (At 5:21; 6:12; 22:30; 23:1; 24:20; etc..'). O apelo a César não foi concedido automaticamente, mas a consulta confirmou que o pedido de Paulo não podia ser negado, por ele ser cidadão romano.J3, Alguns dias. Com certeza, um breve período (ver com. de At 9:19).Rei Agripa. Isto é, 1 lerodes Agripa 11, filho de I lerodes Agripa 1 (cuja morte foi relatada em At 12:20-23), logo, bisneto de T-lerodes, o Grande (ver vol. 5, p. 26, 27, 56, 57, 231). Assim como sua irmã Drusila (ver com. de At 24:24), este monarca era judeu, por descender dc Mariamne, esposa de I lerodes, o Grande. Agripa II foi considerado jovem demais para assumir o reino daPalestina quando seu pai morreu (44 d.C.; |oselo, Antiguidades, xix.9.2), mas com a morte de um tio logo depois, foi consolado com o governo de Cálcis (ibid., xx.5.2). Mais tarde, recebeu as províncias ao norte, antes sob o domínio de Filipe e Lisânias (ibid., 7.10), com o título de rei. Posleriormenle, Nero lhe deu ainda outras cidades. Ala guerra de 68 a 73 d.C., Agripa se aliou aos romanos contra os judeus, aos quais tentou dissuadir da rebelião (Joselo, Guerra dos judeus, ii.16.4 [345-401]). FIc sc retirou para Roma, onde morreu em 100 d.C. Festo naturalmcnte procuraria o conselho dc Agripa 11 em relação ao caso de Paulo. Agripa era responsável pelo tesouro cio templo c tinha o privilégio dc escolher o sumo sacerdote. Portanto, em certo sentido, cra um colega religioso do governador romano em posição adequada para dar um conselho sensato sobre o caso.Berenice. A filha mais velha de Agripa I e irmã dc Agripa 11 e dc Drusila, esposa dc Félix. Ela se casara primeiramente com seu tio, Herodes, rei cie Cálcis (ver vol. 5, p. 28), a quem Agripa 11 sucedera (ver vol. 5, p. 23 1). Tanto escritores judeus quanto romanos caracterizam a relação dela com o irmão Agripa II como pecaminosa. Posteriormcnle, cia sc casou com Polemo, rei da Cilícia, mas logo o deixou e foi para Roma ficar com o irmão. Ela se tornou amante do imperador lito, que lamentou muito quando o Senado o forçou a dispensá-la (Suetônio. Ti to, vii.2; Tácito, Histories, ii.81; Josefo, Antiguidades, xx.7.3).Saudar a Festo. Esta foi a primeira visita de cortesia de Agripa II ao novo procurador, com o propósito de lhe dar boas- vindas. Agripa 11 era, logicamente, um rei vassalo de Roma. |
At.25:13 | Sem comentário para este versículo |
At.25:14 | 14. Alguns dias. Paulo loi levado perante .Agripa e Berenice quando a permanência prolongada dos dois abriu oportunidade para isso. Festo mencionou o caso de Paulo não como uma questãoadministrativa importante, mas no decorrer de uma conversa. |
At.25:15 | 15. Principais sacerdotes. Ver com. do v. 2.Pedindo que o condenasse. Ver com. dos v. 1-3. |
At.25:16 | 16. Condenar. Do gr. charitomai (ver com. do v. 11). Um oficial romano não deveria entregar um homem acusado para ser punido mera mente como um favor. No entanto, foi justamente isso que Pilatos fez com Cristo. A conduta de Festo foi mais honrosa (ver vol. 5, p. 58).À morte (ARC). Evidências textuais favorecem (cl. p. xvi) a omissão destas palavras. O significado não é alterado.Possa. Do gr. topos, literalmente, "lugar", com o sentido de "oportunidade’, não de "permissão" (ver Rm 15:23). Festo estava determinado a dar uma oportunidade para Paulo fazer sua defesa. |
At.25:17 | 17. Chegando eles aqui. Ver com. dos v. 6, 7. |
At.25:18 | 18. Crimes. Evidências textuais lavo- recem (cl:. p. xvi) a versão "coisas perversas”. |
At.25:19 | 19. Algumas questões. Isto é, pontos de disputa, não perguntas a serem feitas c respondidas (ver com. dos v. 7, 8).Sua própria. Esta expressão pode se relerir tanto aos judeus quanto a Paulo.Religião. Do gr. deisidaimouia, "reverência pelos deuses , "religião' e, às vezes, embora provavelmente não seja o caso aqui, "superstição", a menos que a reterência seja à religião de Paulo. Festo não podería rotular o judaísmo de superstição sem ofender Agripa, um judeu nominal.Jesus. Esta 6 a primeira referência direta a Jesus nas conversas registradas com Félix e besto, mas é impossível pensar que seu nome não tora mencionado antes. Paulo havia lalado da ressurreição, da qual a experiência de Cristo era uma ilustração triunfante, além de dissertar "acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro (At 24:25).Paulo não podería ter lalado destas coisas sem mencionar Cristo. Ao citar Jesus, Festo reflete o testemunho de Paulo sobre o Salvador. |
At.25:20 | 20. Perplexo. Festo confessa sua ignorância a respeito das crenças e dos costumes judaicos. Em Jerusalém, a sede do judaísmo, era de se presumir que tosse mais fácil averiguar os fatos relativos a questões religiosas (ver com. do v. 9). Mas Paulo se recusara a ir para Jerusalém (ver com. do v. 10). Quando Paulo tosse para Roma, seria necessário que Festo enviasse com ele um relatório sobre o caso, e Agripa, um judeu esclarecido, podería ajudar o procurador a saber o que dizer. Além disso, esse pedido a Agripa trazia consigo um elogio implícito que seria valioso £ para besto em seu relacionamento luturo com o monarca. |
At.25:21 | 21. Apelado. Do gr. têreõ (ver At 24:23).Julgamento. Do gr. diagnosis, literalmente, "conhecimento completo", indicando uma investigação total. £ provável que fosse um termo técnico legal (ver com. de At 23:35). "Augusto (ARC). Do gr. Sebastos, "respeitável" “reverendo", "venerável", equivalente ao termo latino Aiigustits, "majestoso' , "augusto", “digno de honra” (ver p. 45; vol. 5, p. 24-26). Não se trata dc César Augusto, que governou de 27 a.C. a 14 d.C. (ver vol. 5, p. 231), mas de um título equivalente a César. Os romanos chamavam seu governante de Augusto, não de imperador.César. O imperador da época era Nero (54-68 d.C.; ver p. 69-72). |
At.25:22 | 22. Gostaria de ouvir. Com certeza, Agripa havia ouvido talar sobre Paulo e eslava curioso a respeito dele c de seus ensinos (comparar com o desejo do tio-avô de Agripa, Herodes Antipas, de ver Jesus,Lc 23:8). ’ |
At.25:23 | 23. Com grande pompa. Talvez para impressionar [ esto e intimidar Paulo. Essa foi a primeira oporLunidade do apóstolo detestemunhar de sua té perante a realeza (ver At 9:15).Audiência. Do gr. akroatêrion, ‘câmara dc audiência". E provável que fosse o grande auditório separado para audiências especiais, de natureza mais ou menos pública.Oficiais superiores. Ver com. de At 22:24. Assim como Lísias, que prendeu Paulo. Festo reuniu os altos oficiais da guarda para essa audiência especial, talvez para dar cor e importância à ocasião, em homenagem a Agripa.Homens eminentes. Isto é, os homens proeminentes de Cesareia. |
At.25:24 | 24. A multidão dos judeus. Ou seja, o povo judeu como nação, representado, é claro, pelos principais sacerdotes e membros do Sinédrio.Recorreu a mim. Ou, “fez uma solicitação a mim ', “me pediu", "intercedeu junto a mim” (ver Rm 8:27, 34; 11:2; Hb 7:25).Como aqui. Fica claro que os líderes de Jerusalém haviam incitado um grupo contrário a Paulo em Cesareia, cjue se uniu a eles na petição ao novo governador que condenasse o apóstolo à morte.Clamando. Parece que as súplicas dos judeus para que Paulo iosse morto eram veementes e barulhentas (cf. At 22:22, 23). |
At.25:25 | 25. Nada praticara passível de morte. Ver com. do v. 11. Um romano consideraria absurda a ideia de condenar alguém à morte por uma ofensa contra a religião judaica. Mas Paulo havia apelado para César, e Festo recebería de bom grado sugestões para preparar seu relatório ao imperador.O imperador. Ver com. do v. 21. |
At.25:26 | 26. Nada tenho de positivo. Festo conhecia tão pouco sobre a religião judaica que sentia dificuldades para apresentar uma acusação esclarecida contra Paulo em algo relacionado exclusivamente a questões religiosas do povo judeu.Escreva. Festo deveria mandar um apanhado de pormenores sobre o caso para o trono imperial.Soberano. Do gr. ho kurios, "o [ou ‘meu’] senhor”, neste caso, o imperador Nero. Quando aplicado a imperadores e também a Cristo, o título subentendia características divinas. Augusto proibiu aos súditos que o chamassem de soberano ou senhor, assim como seu sucessor Tibério (Suetônio, Augusto, iii.53.1; Tibério, xxvii), mas sucessores menos modestos aceitaram o título dado por antigos e bajuladores. Calígula se denominou dominus, o equivalente latino de kurios, e Domiciano adotou o título dominus deus, “senhor deus”. Com frequência, Plínio, o jovem, chamava seu patrono, o imperador Trajano, de dominus (ver p. 47, 48).Mormente, à tua. Festo esperava que Agripa lhe. desse uma ajuda especial para resolver este caso difícil. Ao mesmo tempo, o monarca ficaria satisfeito de ver seu conselho ser estimado. |
At.25:27 | 27. Não me parece razoável. A justiça romana era, em princípio, íntegra, embora os juizes que a administravam tossem, por vezes, corruptos. Festo era um homem de certa honestidade (ver com. do v. 1).Aros 26:1Capítulo 26 |
At.26:1 | 1. Agripa. Ver com. de At. 25:13. O jovem rei se apresentava em forte contraste com Paulo, liste último descendente de uma linhagem decadente de reis judeus, os maca- beus, c da casa de Herocles, professava ser judeu, mas, em seu coração, era romano. Seu reinado marcou o fim de uma dinastia e de uma era. Desde o princípio, a dinastia licro- diana fora cativa de Roma c, com certeza, tivera um registro nada brilhante. Perante ele se encontrava Paulo, já idoso, mas firme em suas convicções e conf iante, apesar das circunstâncias. Agripa era cínico e indiferente aos valores reais. Paulo era ardente pela verdade, sem se importar com o custo que teria para si próprio.Estendendo a mão. A menção a este gesto espontâneo sugere que Lucas pode ter sido uma testemunha ocular (cf. At 21:40).Defender-se. Isto é, fez sua defesa (ver com. de At 25:8). Ao se defender perante Agripa, Paulo se dirigiu a alguém que era nominalmente judeu, embora não parecesse hostil a ele. Confiante de que seria mais bem compreendido, falou com mais liberdade e talvez com mais detalhes do que nas audiências anteriores diante de Félix e Festo. |
At.26:2 | 2. Feliz. Do gr. makarios, "feliz", "afortunado’, "abençoado” (ver com. de tVU 5:3). Paulo (icou mais à vontade com Agripa do que com todos os outros perante os quais havia comparecido desde que lora preso. O monarca seria capaz de avaliar com muito mais precisão e rapidez as emoções que sentiam tanto os acusadores quanto o acusado. Sem dúvida, Paulo tinha a esperança de alcançar a mente romana de besto, por intermédio de Agripa. Embora tenha falado cm sua delesa, sem dúvida, seus pensamentos se concentravam principalmente em anunciar a Cristo para aqueles cjue se reuniram a seu redor. A conversão daquelas pessoas e sua libertação das cadeias do pecado significariam muito mais para ele do que a própria libertação das cadeias que o prendiam (ver At 26:29). Paulo foi tolal- mente sincero em sua frase de abertura: “Tenho-me por feliz”.De. Ou, "a respeito de". |
At.26:3 | 3. Mormente. Lsta palavra provavelmente se refere à felicidade de Paulo (y. 2) de contar tudo a Agripa, não por Agripa ser superior a todos os judeus preeminentes c bem informados (cf. At 25:26).Costumes e questões. Ver com. de At 6: ] 4; 21:21. |
At.26:4 | 4. Vida. A conduta de Paulo, seus princípios c sua Filosofia dc vida.Desde o princípio. Paulo chegara a Jerusalém ainda jovem. Mesmo em Tarso, desde a infância, ele estivera imerso nos costumes judaicos. Em Jerusalém, passara os anos muito importantes para a íormação do caráter, e todos que o conheciam desde aquela época poderíam testificar de seu estilo de vida no meio deles.E em Jerusalém. A conjunção "e” sugere que, até mesmo em Tarso, Paulo se associava primeiramente ao próprio povo, que, sem dúvida, lormava uma colônia independente dentro daquela cidade pagã (ver com. de At 9:11). Paulo estava imbuído dos costumes c preconceitos judaicos e seria improvável que agisse de maneira contrária a eles. Seus estudos adicionais em Jerusalém durante a juventude aprofundaram sua experiência e lealdade infantil.Todos os judeus a conhecem. Muitos líderes judeus conheciam Paulo c vários outros haviam ouvido falar sobre ele, sobretudo como o jovem admitido no Sinédrio (At 8:1, 3; AA, 102) e da reputação que conquistara como perseguidor fervoroso da odiada seita dos nazarenos. Por causa da confiança que os ç líderes depositavam nele, fora incumbido de tima missão especial em Damasco (At 9:1, 2). |
At.26:5 | 5. Desde o princípio. Expressão que Lucas usa de maneira semelhante a respeito de seu conhecimento da história do evangelho (Lc 1:3).Se assim o quiserem testemunhar.Mas eles não estavam dispostos a falar coisas que sabiam ser verdade a iavor de Paulo.Fariseu. Ver vol. 5, p. 39, 40.Seita. A palavra pode significar "heresia' ou "seita" (ver com. de At 5:17; 15:5; 24:14). Neste caso, designa os fariseus como uma seita.Mais severa. Comparar com Fp 3:4-6. |
At.26:6 | 6. Estou sendo julgado. Ou, "para ser julgado", isto é, a despeito de sua lealdade aos princípios fundamentais do judaísmo (v. 4, 5). Por ser cristão, Paulo cria no "que os profetas c Moisés disseram haver dc acontecer” (v. 22).Promessa, isto é, a promessa de um Messias vindouro, em torno da qual se concentravam todas as outras promessas a Israel, pela qual as doze tribos esperavam. Segundo Paulo, tal promessa se cumprira em Jesus. Implícita na ideia dc um Messias, se encontra Sua ressurreição (ver com. de ls 53:10-12), pois de que valcria um Messias morto para Israel? Na opinião de Paulo, a ressurreição de Jesus era o grande fato central que justificava toda sua esperança (ICo 15:12-23; Fp 3:10, 11; ris 443-18; Tt 2:13). A principal dificuldade do pensamento judaico a respeito do Messias é que os judeus haviam se concentrado tanto nas promessas do AT sobre grandeza nacional e sobre, a vinda dc um Messias destinado a derrotar seus inimigos, (tudo isso previsto pelos profetas, ver vol. 4, p. 14-19), que perderam de vista o fato de que o Messias precisaria sof rer e morrer pelos pecados da humanidade (ver com. de Lc 4:19). Paulo sabia que as promessas de glória se cumpriríam no segundo advento de Cristo (ICo 15:51-54; 11b 9:28).Nossos pais. Incluindo, de maneira especial, Abraão, Lsaque c Jacó. |
At.26:7 | 7. A qual. Isto é, a bênção prometida a Abraão (Gn 12:1-3) e repetida a seus descendentes de geração em geração. Para Paulo, Jesus era a personificação, o instrumento c a concretização dessa bênção (Rm 4:12, 13; ICo 1:30).Doze tribos. Embora dez das tribos estivessem, de modo geral, espalhadas entre as nações para as quais loram levadas cativas, ainda eram consideradas herdeiras das promessas. Sem dúvida, um remanescente dessas tribos permanecera l iei a Deus (cf. 1 Rs 19:18). Tiago dirigiu sua epístola "àsdoze tribos que se encontram na diáspora" (Tg 1:1). A profetisa Ana pertencia à tribo de Aser (Le 2:36). Nos anos após a restauração, muitos dos exilados podem ter retornado a sua terra pátria. O Talmude (Benikoth, 20.a; ed. Soncino, p. 120), afirma que o rabino Joanà era “da semente de José”.Fervorosamente. Do gr. en ekteneia.De noite e de dia. Esta expressão intensifica a ideia do zelo e do fervor com os quais os judeus devotos praticavam sua religião.Agripa (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra.Eu sou acusado. Paulo foi desafiado cm dois aspectos básicos de sua esperança messiânica: (1) a ideia de Jesus ser o Messias e (2) o fato de o Messias ter ressuscitado dentre os mortos (ver com. do v. 6). Portanto, Paulo, judeu dos judeus e fariseu dos fariseus, estava sendo acusado por seus conterrâneos justamente por causa da espera nça central do judaísmo. Ele, o mais zeloso dentre os zelosos, foi rotulado de apóstata; o mais lervoroso patrioLa, declarado traidor!Pelos judeus. Eles, dentre todos os povos, deveriam defender a causa de Paulo perante os gentios, em vez de assumir o papel de acusadores. |
At.26:8 | 8. Incrível. Para Paulo, fariseu e cristão, a crença na ressurreição dos mortos, de modo geral, e de Jesus, em particular, era inevitável. Sem a esperança da ressurreição, toda a estrutura da fé judaica (ver At 24:15) e o do cristianismo (ver ICo 15:12-22) se desfaz. Sem a esperança da ressurreição, a fé em Deus perde seu signif icado (ver com. de Mt 22:32; ICo 15:14, 17, 19).Vós. O pronome no plural inclui toda a audiência. |
At.26:9 | 9. Contra. No passado, Paulo combatera o cristianismo “com toda a boa consciência” (Al 23:1), mas tratava-se de uma consciência insensibilizada pelos anos dentro do ambiente e da instrução judaica.O nome. Expressão comum em Atos para se relerir ao Ressurreto (ver com. deAt 2:38), que, em verdade, era a encarnação de todas as esperanças de Israel (ver com, de Jo 1:14). |
At.26:10 | 10. E assim procedi. Parece estranho pensar que Paulo, o grande herói da igreja apostólica, apóstolo aos gentios e autor de quase um terço do NE, foi, numa fase de sua vida, uma estrela reluzente no firmamento do judaísmo, muito estimado entre os judeus (ver At 7:58; 8:1; 9:1, 2; 22:4, 5). Ele fora, no passado, promovido a grandes honras (cf. AA, 102) e incumbido de importantes responsabilidades (At 9:1, 2) pelos próprios homens que então o acusavam com tanta veemência, ou por seus sucessores imediatos. Seu trabalho de perseguidor não resultara de uma explosão de raiva; em vez disso, fora uma campanha planejada dc um homem devoto, desejoso de servir à nação e à igreja, e implacável em alcançar seus objetivos. Além disso, tais atividades haviam se, concentrado em Jerusalém, onde seus adversários, ainda mais amargos por terem sido seus amigos no passado, então tramavam matá-lo (At 25:1-3).Dava o meu voto. Isto é, era favorável.Quando os matavam. Somente a morte de Estêvão é especificamente mencionada por Lucas. Fica claro que houve outros que morreram e pelos quais Paulo foi responsável. |
At.26:11 | 11. Por todas as sinagogas. Ao que tudo indica, os primeiros cristãos não se separaram das sinagogas, mas continuaram a se reunir com seus irmãos judeus nelas e no templo (At 2:46; sobre o uso das sinagogas como local de punição, ver Mt 10:17; 23:34; Mc 13:9; Lc 12:11; vol. 5, p. 44). Por volta de 205 d.C., lertuliano chamou as sinagogas de fontes de perseguição (Scorpiace, 10).Obrigando-os. Literalmente, “continuava obrigando” ou “estava tentando forçar”.Blasfemar. Isto é, renunciar a fé em Cristo como o Messias (cf. Lv 24:11-16).Plínio (c. 108 d.C.) descobriu que os cristãos preferiam a morte a renunciar a Cristo (Ckirtas, x.96).Enfurecido. Literalmente, “irado”, Curioso”. Paulo fora um fanático religioso, cm parte, na tentativa de abafar os apelos do Espírito Santo (ver 1 ím 1:13).Cidades estranhas. Isto é, cidades estrangeiras, que ficavam além das fronteiras da Palestina. |
At.26:12 | 12. Com estes intuitos. Literalmente, “em [busca] destas coisas”, com o sentido de "nesta tarefa”.Levando autorização. Paulo era o emissário itinerante do Sinédrio contra a heresia. Era o inquísidor-geral do judaísmo. |
At.26:13 | 13. Ao meio-dia. A luz ofuscante não era a do sol, pois Paulo estava viajando havia horas sob uma claridade cada vez maior, sem incômodos. Em meio à luz solar mais clara, uma luz sobrenatural, mais brilhante que o sol, o cegou. Nos v. 13 a 18 só serão discutidos os pontos não comentados da narrativa sobre a conversão de Paulo em Atos 9:1 a 22 (ver p. 227). |
At.26:14 | 14. Uma voz que me falava. Todos ouviram o som, mas somente Paulo entendeu as palavras (ver com. de At 9:4, 5; cf. Dn 10:7; Jo 12:28, 29).Recalcitrares contra os aguilhões. Parece que este era um provérbio grego bem conhecido, que devia ser comum em meio a qualquer povo agrícola, até entre os judeus. A imagem é extraída do costume dos camponeses orientais de usar um aguilhão de ferro para apressar o ritmo lento dos bois. E possível que esta cena estivesse ocorrendo de verdade junto à estrada de Damasco e que o Senhor a tenha usado como uma ilustração útil de Sua mensagem ao perseguidor (sobre o uso de provérbios populares por Jesus, ver com. de Lc 4:23). A forma do verbo traduzido por “recalcitrares" pode ser compreendida com o sentido de “continuar chutando”, ea palavra traduzida por “aguilhões" (ken- tra) tem o significado de “espinhos” (cf. lCo 15:55, em que o termo ocorre no singular). A mensagem divina sugere que a consciência de Paulo vinha resistindo aos apelos do Espírito Santo (ver com. de Al 8:1). O espírito de Camaliel, o mestre de Paulo (At 22:3), era mais tolerante do que a conduta adotada por Paulo. Sem dúvida, seus antecedentes educacionais e o fato de já ter parentes cristãos antes de se converter (Rm 16:7) foram elementos que contribuíram para sua crise espiritual. |
At.26:15 | 15. Eu sou Jesus. 13o gr. egõ eiini lêsoits (ver com. de At 9:5). |
At.26:16 | 16. Para te constituir ministro. Ver com. de At 9:10, 15, texto em que Deus instrui Paulo por meio de Seu representante, Ananias, de Damasco.Em que Me viste. As ev idências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta variante e “que tu viste”. Paulo realmente viu seu Senhor (At 22:17, 18; ICo 9:1; 15:8). Era com base nessa ordem direta que se justificava seu título de apóstolo. Ele sabia, por experiência pessoal, que Cristo havia, de tato, ressuscitado (cf. G1 1:15-18; iTm 2:7). Para uma pessoa ser uma testemunha genuína, ela deve ter conhecimento em primeira mão daquilo de que testifica.Que te aparecerei. Cristo apareceu a Paulo em várias ocasiões, para orientar e intervir (At 18:9, 10; 22:17-21; 23:11; ICo 11:23; 2Co 12:1-5). Paulo foi urna testemunha ocular do Senhor ressurret.o e conheceu, por experiência, a verdade da ressurreição. |
At.26:17 | 17. Livrando-te. Este e outros detalhes da experiência não são mencionados em relatos anteriores (At 9:22). Não se trata de uma promessa de que o Senhor mante- ria Paulo fora de perigo, mas de que estaria com ele em situações de perigo.Povo. Isto é, os judeus, em contraste com os gentios (ci. v. 23).Eu te envio. O pronome "cu" é enfático. Foi o próprio Jesus quem invest iu Paulo com autoridade apostól ica. |
At.26:18 | 18. Para lhes abrires os olhos. Ver com. de Lc 4:18. Uma promessa de sucesso em sua missão. Paulo sabia que o diabo cegava os olhos espirituais dos seres humanos (Rni 1:20-32; 2Co 4:4). Após Jesus lhe falar, Paulo sofreu de cegueira lísica. Ouão bem ele sabia apreciar a necessidade de abrir os olhos!E os converteres. Com os olhos abertos, as pessoas seriam capazes de enxergar a morte certa no fim da estrada que estavam percorrendo. Isso as levaria a mudar de rumo.Das trevas para a luz. Ver com. de Jo 1:4-9.Potestade de Satanás. Satanás conduz toda a humanidade ao pecado. Ele é, de lato, o autor do pecado. Somente o poder superior de Cristo é capaz de libertar os seres humanos de suas garras.Remissão de pecados. Nem judeus nem gentios conseguem, por conta própria, livrar-se do pecado. O evangelho lhes tornou acessível a boa-nova da remissão dos pecados (Jo 1:7-9; IPe 2:24).Herança. Em vez das vaidades deste mundo temporal, repleto de perversidade, Paulo deveria oferecer aos gentios “uma herança incorruptível, sem mácula, imar- ccscível" (IPe 1:4).Santificados pela fé. Paulo menciona a santificação com frequência, o processo de transformação do caráter pelo qual os santos devem passar. A liberdade instantânea da culpa do pecado (obtida mediante a justificação, ver com. de Rm 4:8), esse processo acrescenta uma dedicação repetida e contínua da mente e da vida ao objetivo da perfeição em Cristo. E "obra [...] da vida toda” (ver A A, 560-562; ver com. de Mt 5:48). Assim como todos os cristãos devem fazer, Paulo vivência va uma dedicação contínua,proveniente da vitória cm Cristo I p 3:12- 14; ver com. dc Rm 8:1-4). |
At.26:19 | 19. Não fui desobediente. Paulo não recalcitrou “contra os aguilhões" (ver com. do v. 14). Ele lez uma entrega total, em resposta à visão que Cristo lhe concedeu. A dedicação foi tão completa que, daquele momento em diante, ele nunca mais hesitou depois que o caminho do dever ficou claro. Só questionava a fim de saber o que o Senhor queria, e então, partia para a ação (ver At 16:6-12).Ao longo da vicia, sua única pergunta era: "Que farei, Senhor?" (At 22:10). Ele podería ate ter escolhido desobedecer, mas “o amor de Cristo" o constrangia (2Co 5:14).À visão celestial. Ver com. de At 9:3-7. Não toi um sonho. Saulo literalmente encontrou o Senhor na estrada de Damasco e O conheceu pessoal mente, cm certo sentido, de maneira ainda mais pessoal do que aqueles que O conheceram em carne. Para Paulo, essa visão se manteve como uma realidade viva. Ele sabia em quem cria (2'1'm 1:12). |
At.26:20 | 20. Anunciei. Ou, "declarei". Paulo era o evangelista de Deus, Seu arauto das boas-novas.Aos de Damasco. Paulo começou a trabalhar no local onde havia se convertido, onde pretendia causar graves danos à igreja (ver com. de At 9:19-22).Em Jerusalém. Paulo voltou para Jerusalém cerca de três anos depois (Cl 1:18).Lá, arriscando a própria vida, testemunhou eom tamanha ousadia que os judeus, em % especial, os helenistas (ver eom. de At 6:1; 14:1), ficaram enfurecidos (At 9:29).Toda a região da Judeia. Não fica claro quando Paulo realizou esta cvangelização da Judeia, embora seja possível que ela tenha ocorrido durante uma ou mais de suas várias viagens a Jerusalém (ver Al 11:29, 30; 12:25; 15:3, 4; 18:22; 21:8-15; cf. Cl 1:22).Gentios. A missão de Paulo aos gentios começou cerca de nove ou dez anos depois, em Antioquia da Síria (At 11:25, 26; 13:1-4).a io s 26:24Arrependessem. Do gr. metanoeo, "mudar a opinião [de alguémj' (ver com. de Ml. A:2; At 3:19-21).Praticando obras. Ver com. dc IVlt 3:8. Paulo não estava delendendo a justificação pelas obras, mas o tipo de "obras’ que caracteriza a vida alcançada mediante a justificação pela lé em Cristo. He não afirma que é possível conquistar a justificação por meio do desempenho dc certos atos, mas que a verdadeira justilicação produz, de maneira automática, atos compatíveis com a presença da graça divina da vida e que atestam tal fato. Nenhum evangelista enfatizou mais do que Paulo o hiLo glorioso da justificação pela fé por intermédio da graça salvadora de Deus (Rm 3:21, 22, 27; Ef 2:3-8), Contudo, sempre que menciona o dom gratuito da salvação, o apóstolo também reflete, como o faz aqui, sobre as boas obras que se seguem (ver Km 8:1-4). A pessoa de té confirma a lei (lím 8:3J). pois é criada "em Cristo Jesus para boas obras’ (Ef 2:10). Sempre que há verdadeira justificação pela fé, ela se manifesta por meio dc boas obras. "A fé, se não tiver obras, por si só está morta" (ver lg 2:14-24). |
At.26:21 | 21. Alguns judeus me prenderam. Ver com. de At 21:27-31. |
At.26:22 | 22. Socorro de Deus. Ver com. de At 21:31. 32; 23:11, 12, 30. Aos olhos humanos. loram Lísias e seus soldados que resgataram Paulo, mas ele sabia que Deus enviara a ajuda (ver At 23:11).Dando testemunho. Ver com. de At 9:18: 26:1.Os profetas e Moisés. Isto é, o AT (ver com. de Lc 24:44). Paulo alirma repetidas vezes sua confiança nas Escrituras c sua lealdade a elas (ver com. de At 24:14). As profecias sobre o Messias, cumpridas cm Jesus, se encontram espalhadas entre as páginas do AT. |
At.26:23 | 23. O Cristo. \ Cr com. de Mt 1:1.Devia padecer. Os sofrimentos, amorte e a ressurreição de Cristo eramjustamente os pontos de atrito entre os judeus e Paulo. No pensamento messiânico judaico, não havia espaço para um Messias sofredor e moribundo; logo, não havia razão para o Messias ressuscitar dentre os mortos (ver com. do v. 6). A declaração de Paulo aqui é quase idêntica ã de Jesus a caminho de Emaús (ver com. de Lc 24:23-27). “Cristo crucificado" sempre foi um "escândalo" para os judeus (iCo 1:23; ver com. de At 13:27-37).O primeiro da ressurreição. Cristo c “as primícias dos que dormem” (ICo 13:20) e "o primogênito de entre os mortos ’ (Cl 1:18). Ele também foi o primeiro a proclamar que os mortos viveriam pela lc nlàle (Jo 5:21-29; 11:23-26). Cristo não toi o primeiro da história a ressuscitar dos mortos. Moisés loi o primeiro nesse sentido (Le 9:28-30; Jd 9). Cristo é o “primeiro” cm preeminência c por ser o Autor da vida (Cl 1:15, 16; 3:4). Depois de vencera morte (At 2:24; Ap 1:18), garantiu vida a todos os que conliam nEle c em Seu poder. Sua ressurreição loi o penhor da ressurreição geral dos justos (ICo 15:12-22). Foi Ele quem "trouxe à luz a vida e a imortalidade" (2Tm 1:10).Anunciaria a luz. Ou, "proclamar luz". O evangelho, tão antigo quanto a necessidade humana de um Salvador, é proclamado com nova lorça à luz da morte e ressurreição de Cristo (ver com. de Jo 1:4-9).Ao povo. Isto é, os judeus. Simeào chamou o bebê Jesus de “luz para revelação aos gentios e para a glória do [...] povo de Israel’ (1x2:32).Aos gentios. A quem Paulo loi escolhido pelo Céu para ser um mensageiro e proclamar a luz da verdade (ver com. de At 9:1 5). |
At.26:24 | 24. Dizendo [...] em sua defesa, isto é, fez sua defesa.Festo o interrompeu. Ele havia ouvido mais do que era capaz dc compreender ou do que queria escutar. Seu protesto foi em alto c bom som. A pregação da cruz é “loucura'para os ouvidos sintonizados com a Terra(ICo 1:23).Estás louco, Paulo! A ideia de loucura é repetida mais tarde neste versículo e no v. 25. E provável que Félix acreditasse com sinceridade que a obsessão de Paulo com temas celestiais havia afetado sua mente. Aquilo que Agripa linha condições de entender estava muito além do alcance do romano Festo. |
At.26:25 | 25. Excelentíssimo. Título honroso de uso comum, apropriado para a posição oficial e elevada de Festo (ver com. de Lc 1:3; At 23:26; 24:3).Bom-senso. O oposto da loucura de que fora acusado. |
At.26:26 | 26. Do conhecimento do rei. Paulo apela para o conhecimento de Agripa sobre a precisão histórica das declarações referentes a Cristo.A quem me dirijo com franqueza.O relato da conversão de Paulo registrado neste capítulo é apresentado com mais detalhes do que as versões da mesma narrativa nos cap. 9 e 22. O apóstolo falou mesmo com franqueza, em parte porque o rei Agripa era um ouvinte esclarecido e talvez em parte também por perceber que aquela deveria ser sua última audiência na Palestina. Muito dependia dela, tanto para si quanto para aqueles que o escutavam.Nenhuma destas coisas. Isto é, a vida e o ministério de jesus, Sua morte e ressurreição, a experiência do Pentccostes, os milagres realizados por Pedro, João e os outros apóstolos, a conversão extraordinária de Paulo e os resultados notáveis que sucederam a pregação do evangelho.Nada se passou em algum lugar escondido. Os fariseus haviam reclamado que "o mundo" ia “após” Jesus (Jo 12:19), e osjudeus disseram aos magistrados de Tessalônica que os apóstolos haviam "transtornado o mundo" (At 17:6). O interesse e a empolgação, bem como a controvérsia que acompanhavam a proclamação doevangelho confirmavam aquilo que Paulo havia dito. |
At.26:27 | 27. Acreditas, ó rei Agripa [...]?Presume-se que, por ser judeu, ele acreditava. Os profetas haviam predito tudo que Paulo contara sobre Jesus (ver com. do v. 22).Bem sei. Sem querer ser indelicado e colocar Agripa numa posição difícil, Paulo antecipa a resposta do monarca. Agripa reconheceu que todas as coisas ditas pelo apóstolo eram verdadeiras, mas, no caso dele, o conhecimento e a convicção não foram suficientes para o levar à ação (ver com. de Mt 7:21-27). |
At.26:28 | 28. Por pouco. Do gr. cn oligõ, literalmente, "em um pouco , possivelmente, "cm pouco [tempo]". A ambiguidade do grego neste versículo tem resultado cm várias tentativas de tradução e exegese. De modo geral, os comentaristas concluíram que Agripa falou com ironia, como se não quisesse levar a sério o importante apelo de Paulo nos v. 26 e 27. Se tor o caso, a ironia consistia numa máscara para esconder seus reais sentimentos (ver A A, 438). Assim como Agripa. aqueles que sentem convicção profunda costumam falar e agir com indiferença, em especial quando se encontram na presença de descrentes. Embora tenha sentido convicção profunda, talvez Agripa desejasse passar a impressão, para os que se reuniram na câmara de audiência do procurador, de que achava Paulo ingênuo por pensar que um prisioneiro seria capaz de converter um rei dentro de tão pouco tempo, ou com uma explicação tão breve. |
At.26:29 | 29. Por pouco ou por muito. Numa referência ao “por pouco’’ da exclamação de Agripa (v. 28). Ouer Paulo tivesse apresentado poucas evidências, quer muitas, eram suficientes para embasar seu apelo para um judeu esclarecido como o rei,Não apenas tu. Em nada intimidado, Paulo continuou a fazer seu apelo.Todos [...] se tornassem. Literal mente, "pudessem se tornar”.Exceto estas cadeias. Ao gesticular com as mãos, Paulo lembra das cadeias que o prendiam. |
At.26:30 | 30. A essa altura. Evidências textuais lavorecem (cí. p. xvi) a omissão destas palavras.Levantou-se o rei. A audiência terminou sem resultados visíveis após a apresentação breve e competente de Paulo e seu apelo lervoroso. Só podemos imaginar a decepção que o apóstolo deve ter sentido. |
At.26:31 | 31. Falavam uns com os outros.Trocando opiniões sobre o caso de Paulo. Nada tem feito passível de morte.Paulo podia ser “louco" (v. 24, 25), mas não era perigoso. Parece que besto e Agripa estavam dispostos a admitir que o prisioneiro era sincero, esclarecido e cheio de zelo e fervor por Deus. |
At.26:32 | 32. Podia ser solto. Ver com. de At 25:11.Capítulo 27 |
At.27:1 | 1. Navegássemos para a Itália. Einalmente, embora em circunstâncias bem distintas das que de havia pretendido, Paulo estava prestes a reali/ar seu antigo desejo de "ver |...J Roma" (At 19:21; ver Rm 1:15; j5:22- 24; mapas p. 480, 19).Entregaram Paulo. Os soldados encarregados de Paulo durante sua permanência em Cesareia o entregaram a um oficial para a viagem até Roma.Outros. Do gr. heleroi, subentendendo- se uma classe de prisioneiros diferentes de Paulo em algum aspecto.Centurião. Oficial romano que comandava cem homens (ver com. de At 10:1).Júlio. Nome romano característico.Coorte. Do gr. speira, "corte". Uma corte auxiliar romana, como parece ser o caso aqui, consistia de cerca de mil homens (ver com. de At 21:31; 23:10). Já foram feitas várias sugestões quanto à identidade dessa coorte imperial. Há evidências de inscrições da existência de uma coorte chamada AugusLa que se posicionou na Síria durante o primeiro século. E possível que a coorte mencionada se identifique com ela. |
At.27:2 | 2. Embarcando. Do gr. epíbaiiiõ, neste caso, um termo técnico que signilica "embarcar", "entrar a bordo".Adramitino. Adramítio era um porto na costa noroeste da iVlísia, na Asia Menor, 80 km a leste de Trôade. Era um centro comercial com alguma importância. Seu nome atual é Edremit. Parece que era o porto de origem do navio e seu destino nesta viagem.Estava de partida. Literalmente, "prestes a navegar”, com referência ao navio. O centurião tinha o propósito de [tarar em vários portos ao longo do caminho até encontrar um navio destinado a Roma.Indo conosco. As palavras subentendem que tanto Aristarco quanto Lucas, o autor cia narrativa, estavam na companhia de Paulo. A lei romana estabelecia que os cidadãos romanos viajando como prisioneiros podiam ser acompanhados por um escravo e um medico pessoal. Talvez Aristarco atuasse como servo de Paulo, e Lucas, como seu médico.Aristarco. Companheiro de viagem de Paulo. Ele estivera com Paulo em Efeso (At 19:29), e depois, na Macedônia e na Grécia (At 20:4). Permaneceu com o apóstolo durante o primeiro período de encarceramento em Roma (Cl 4:10; l m 24). |
At.27:3 | 3. Sidom. O conhecido porto marítimo no litoral da Fenícia mencionado muitas vezes junto com Tiro (ver vol. 2, p. 52-54; ver com. dc At 12:20).Tratando. Do gr. chraoniau "usar", “lidar com”, "tratar" (cf. At 7:19). Paulo deixava uma impressão favorável sobre todos os que entravam em contato com ele.Com humanidade. Do gr. phiíanlhrõpõs, "humanamente”, “bondosamente”.Obter assistência. Ou, “receber hospitalidade”. |
At.27:4 | 4. Partindo. Isto é, lançar-se mar, começar a navegar (cf. Ee 5:4).Proteção de Chipre. Isto é, em direção à terra, ou a sota-vento, entre a ilha e aterra (irrnc. Sem dúvida, se os ventos fossem lavoráveis, o trajeto passaria em algum ponto ao sul de Chipre (ver com. de At 21:1-3). |
At.27:5 | 5. O mar ao longo da Cilícia e Panfília. 1 sto é, "o mar fora |da costa de] Cilícia e Panlília".Mirra. Cidade cerca de três quilômetros da costa, no rio Miros. Hoje é chamada de Dembrc pelos turcos. Não era o porto de chegada costumeiro para os navios que iam da Palestina para Roma. Uma inscrição antiga chama Mirra de depósito de grãos; logo, o navio, proveniente de Alexandria, pode ter se desviado para descarregar grãos ali (v. 38). O Egito era o produtor de cereais que abastecia o império romano. |
At.27:6 | 6. Navio de Alexandria. Mirra ficava hem distante do itinerário direto entre Alexandria e Roma. |
At.27:7 | 7. Navegando vagarosamente. Certamente por causa dos fortes ventos contrários.Com dificuldade. Do gr. malis (cí. v. 8).Cnido. Agitado porto marítimo no extremo sudoeste da Asia Menor, hoje em ruínas, bra célebre como centro de adoração a Afrodite. Havia uma colônia de judeus ali pelo menos desde a época dos maeabeus (1 Maeabeus 15:15-24). Parece que os ventos forçaram o navio a se aproximar da costa. Navegando pelo Egeu, sentiu toda a força da ventania e se dirigiu para o sul, rumo a Creta.Não nos sendo permitido. Naquela época, os ventos costumavam vir do noroeste e são conhecidos até hoje como ventos eté- sios (ver, porém, v. 14).Sob a proteção de Creta. Isto é, a solavento de Creta, protegido da ventania (cf. v. 4). Ali o mar seria menos bravio.Salmona. Provavelmente, o cabo Sidero, promontório na extremidade oriental de Creta, em direção ao ponto no mar onde o navio se encontrava protegido do vento. |
At.27:8 | 8. Penosamente. Isto é, com dificuldade (cf. v. 7).Bons Portos. No grego, não há artigo definido. A cidade não é mencionada em outras literaturas, mas conserva o mesmo nome. Fica na costa sul de Creta, cerca de oito quilômetros a leste do cabo Malala, o principal na parle sul da ilha. Hoje é conhecido como Limenes Kali.Laseia. As ruínas desta cidade loram identificadas alguns quilômetros a leste de Bons Portos. |
At.27:9 | 9. Depois de muito tempo. Isto é, aguardando um vento favorável e debatendo sobre o que deveria ser feito.Tendo-se tornado a navegação perigosa. O inverno se aproximava. Só se tentava navegar pelo Mediterrâneo em clima favorável.Dia do Jejum. Com certeza, o Dia da Expiação, no décimo dia do sétimo mês do calendário eclesiástico, tisri (vervol. 2, p. 92; Josefo, Antiguidades, iii.10.3 [240]). E provável que fosse final de outubro, e eram esperadas fortes tempestades. |
At.27:10 | 10. Vejo. Do gr. theõreõ, “discernir" (cf. Jo 4:19). A percepção de Paulo do perigo que os ameaçava não ocorreu necessariamente por um despertamento sobrenatural, mas por observação e juízo pessoal, provenientes de sua experiência como viajante. Ele não parece ter falado como profeta. Observe que o "dano’’ que ele temia à vida daqueles que estavam a bordo não se concretizou (At 27:44).Dano e muito prejuízo. Ou, "avaria e muitas perdas". Com certeza, Paulo havia conquistado o respeito dos responsáveis pelo navio, pois sentia a liberdade para dar conselhos. Ele já fizera várias viagens pelos mares Mediterrâneo e Egeu. Alguns anos antes desta viagem, o apóstolo escrevera: “em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar (2C<> 11:25; ver análise da viagem de Paulo e o naufrágio na ilha de Malta, em Nota Adicional a Atos 27). |
At.27:11 | 11. Dava mais crédito. Líteralmente, "era persuadido". Nestas questões, o centu- rião conliava mais no capitão e no mestre do nav io do que cm Paulo. Por ser olicial da guarda imperial, o centurião exercería influencia sobre os homens do mar.Piloto. Do gr. kubernetês. ‘'timoneiro", "mestre navegador", o homem responsável pela navegação do navio. Naluralmcntc, o centurião preferiu a opinião de um especialista em navegação do que a de um rabino itinerante.Mestre do navio. Provavelmente era o proprietário tanto do navio quanto da carga de trigo egípcio (v. 38) destinado a Roma. Esse alimento básico era responsável por grande parte do comércio intenso e lucrativo entre Alexandria e Roma (ver eom. do v. 5). |
At.27:12 | 12. Não sendo [...] próprio. Ou, "não adequado ”, "não apropriado". E possível que o porto não parecesse oferecer proteção suficiente para o navio durante o inverno, ou talvez Bons Portos fosse um lugar muito limitado para fornecer provisões adequadas.Partissem. Do gr. imagõ, neste caso, com o sentido de "começar a navegar".Fenice. Ou, "Fênix", em geral identificada com o porto atual de Lutro em Clreta, o melhor porto na costa sul da ilha para scr usado ao longo de todo o ano. Ê mencionado por Estrabào (Geografia, x.4.3), geó- gralo grego. Na região, foi encontrada uma tabuleta dedicada a Senípis e a Júpiter como olerta de agradecimento pela proteção no mar, feita pelo administrador de um navio proveniente de Alexandria.Olhava para o nordeste e para o sudeste. Esta é a tradução literal da frase. O porto de Lutro está voltado para o leste, e a pessoa a bordo de um navio entrando nele volta-sc para o oeste. Do outro lado do cabo que forma o porto dc Lutro há o porto menos protegido de Phineka, voltado para o oeste. |
At.27:13 | 13. Vento sul. Isto representaria uma total reviravolta no clima, pois o piloto havia mantido o rumo do navio ao sul de Creia para fugir do vento norte (v. 7, 8).Alcançado o que desejavam. Isto é, depois dc esperarem o suficiente para que o clima mudasse.Levantaram âncora. Ou, "zarpando".Foram costeando. Líteralmente, "estavam navegandoMais de perto. Do gr. assou. Há muito tempo, a palavra era considerada um nome de lugar, mas de modo geral, acredita-se que significa “mais perto". Não foi identificado este local. O propósito do capitão era permanecer próximo à costa até chegar a Fenice, cerca dc 65 km a oeste. |
At.27:14 | 14. Desencadeou-se. Literalmente, “desceram de lá", isto é, da ilha montanhosa de Creta. I louve outra mudança abrupta, de um vento sul brando para um intenso vento norte, forçando o navio a se dirigir para o sul, em direção à ilha de Cauda (v. 16; ver mapa p. 480; ver também mapa, p. .19).Um tufão. Do gr. tuphõnihos, adjetivo derivado do nome do deus Filão, que personificava as (orças tempestuosas da nature/a, sobretudo, os ventos impetuosos. As rápidas mudanças no vento indicam que se t ratou de uma grande tempestade ciclôniea.Euroaquilão. Do gr. eumkludõu. de duas palavras que significam "vento leste" e “[grandej onda" ou "águas turbulentas’’. Eurokhulõn designava, portanto, um vento oriental que levantava grandes ondas. Contudo, também se podem citar importantes evidências textuais (cf. p. xvi) para a variante eumknlõn. Esta palavra híbrida, cuja primeira parte é grega, e a segunda, latina, se refere a um vento leste-nordeste. |
At.27:15 | 15. Sendo o navio arrastado. Enquanto o navio navegava próximo à costa, a leste do cabo Matala, estava protegido do vento e de suas alterações. Alas quando se dirigiu para a baía aberta, a caminho de Fenice,o violento vento nordeste o atingiu com toda sua fúria, arrastando a embarcação para o sudoeste. na direção de Cauda.Resistir ao vento. Isto c, não conseguiu enfrentar o vento.Deixando levar. Literal mente, "abrimos caminho [para o ventoj c fomos arrastados". Era impossível conduzir o navio. Não havia nada a la/er, a não ser se deixar levar pelo vento, na direção sudoeste. |
At.27:16 | 16. Passando sob a proteção. Isto é, navegou a sota-vento (ver com. do v. 4).Cauda. Evidências textuais (cf. p. xvi) eonl inna esta variante. 0 nome atual da ilka é Cozzo ou Gaudo. Ptolomcu (Geografia, iii.18.8) a chamou de Claudos. A ilhota fica cerca de 70 km a sudoeste do cabo Matala, próximo do qual o vento nordeste assolou o pequeno navio.A custo conseguimos recolher o bote. Ou seja, "com dificuldade, fomos capazes de 7 controlar o bote [salva-vidas]". Esse pequeno bote costumava licar ã reboque para uso emergencial. Naquele mar bravio, ele estava se enchendo de água rapidamente e se tornando ineontrolãvel. A tripulação tentou colocá-lo a bordo do navio, para não perdê-lo. |
At.27:17 | 17. Levantando. Ou, "içanclo".Todos os meios. Cordas fortes cercavamo casco do navio, para evitar que a estrutura de madeira se partisse pela força do vento e das ondas. Este procedimento de cingir uma embarcação de madeira c conhecido hoje como amarra, f ica claro que o navio estava em péssimas condições para navegar e deveria estar vazando tanto que as emendas das tábuas ameaçavam se romper. A embarcação corria risco de soçobrar (comparar com Tucídides, Histories, i.29.3; e I lorácio, Odes, i. 14).Dessem. Do gr. ekpiptõ, aqui com o sentido de “ser lançado |em direção à terra]" ou "ser empurrado [ para] '.Sirte. Do gr. svrtis, nome do braço oriental do grande gollo que laz recuar a costa norte do continente alricano, boje chamadode golfo de Sirte, distinto do gollo de Cabes, o braço ocidental do mesmo golfo. As águas dos gol (os de Sirte e de Cabes são rasas e escondem bancos de areia, ou areia movediça, transformando-os no cemitério de incontáveis navios desde o início cia navegação. O navio de Paulo fora arrastado pelo vento da direção do golfo de Sirte (ver Lucan, The Civil War, ix.3U.T2IO; cf. Milton, Píimdise Losl, ii.939).Arriaram. Do gr. chalaõ, "soltar", "descer’, "abaixar'.Aparelhos. Do gr. skeuos, "equipamento’', “aparelhos”, "engrenagens", neste caso, o cordame do navio. Os marinheiros tiraram de dentro do navio tudo de que podiam abrir mão, em especial, a pesada vela mestra e seus aparelhos. Com certeza, deixaram equipamentos suficientes para manter o navio sob controle e para evitar Sirte e seus temidos bancos de areia.As várias precauções (v. 16. 17) foram concluídas quando o navio desfrutou calma relatava e momentânea ao abrigo do vento proporcionado pela ilha de Cauda (confira um relato desta parte da viagem na Nota Adicional a Atos 27).E. Ou, “então", isto é, com o bote a bordo, com os cabos seguros em volta do casco do navio c com os equipamentos não essenciais removidos.Foram ao léu. Em um ou dois dias. o vento nordeste arrastaria o navio para o oeste-sudoesle, dentro de Sirte. A fim de evitar isso, os marinheiros prepararam a embarcação para o clima tempestuoso, viraram o navio contra o vento e rumaram para estibordo. Então, com a proa do navio apontada praticamente para o norte e o vento nordeste assolando a embarcação a estibordo, ele seria conduzido, quase que de lado, para a direção oeste-noroeste. A distância entre Cauda e Malta é de cerca de 760 quilômetros. |
At.27:18 | 18. Açoitados severamente. A fúria da tempestade aumentou.No dia seguinte. Isto é, no segundo dia da tempestade. O navio havia passado do abrigo momentâneo proporcionado pela ilha de Cauda.Aliviavam o navio. Eles começaram a lançar a carga de trigo (y. 28) ao mar. O navio continuava com muitos vazamentos, a despeito das cordas presas cm torno do casco para impedir que se partisse (ver com. do v. 17). |
At.27:19 | 19. Com as próprias mãos. Isto é, as mãos dos tripulantes. Os equipamentos não caíram na água, nem loram levados pelo vento; em vez disso, foram lançados ao mar.Lançamos. Evidências textuais (ci. p. xvi) favorecem a variante "eles lançaram’'.Armação. Ou, "equipamentos . Ver com. do v. 17. lodo equipamento que podería ser removido do navio, particularmente o que estava no convés, foi lançado ao mar. |
At.27:20 | 20. Alguns dias. Quase duas semanas, conforme os acontecimentos demonstraram (v. 27).Nem sol nem estrelas. Antes da invenção da bússola, os navegadores em alto mar dependiam de observar o Sol durante o dia e as estrelas à noite para assinalar sua orientação e conhecer sua posição. O v. 27 deixa claro que os oficiais do navio não sabiam qual era sua posição náutica. Estavam perdidos.Afinal. Do gr. íoipon, “afinal”, "finalmente". Ouando a tempestade continuou a impossibilitar o encontro da posição, com o perigo momentâneo de ir a pique ou de ser arrastado pelo vento para Sirte ou uma praia rochosa, os marinheiros finalmente perderam a esperança. |
At.27:21 | 21. Muito tempo sem comer. Umareferência aos tripulantes e provavelmente à maioria dos passageiros também, conforme o grego deixa claro. A agitação e a dificuldade de controlar o navio durante a tempestade tornaram difícil o preparo e consumo regulares do alimento. Além disso, sem dúvida, muitos estavam sofrendo enjoos.Paulo, pondo-se em pé. Desde que seu conselho fora rejeitado em Bons Portos, parece que Paulo, junto com seus companheiros, havia deixado o capitão e os tripulantes por conta própria.Era preciso terem-me atendido. Paulo não tinha o propósito de censurar, mas dc convencer os oficiais do navio a dar ouvidos àquilo que estava prestes a dizer. Caso seu conselho (v. 10) tivesse sido atendido, o perigo e o medo sofridos naqueles dias teriam sido evitados. Assim, eles fariam bem em dar ouvidos ao seu conselho.Evitar. Ou, "não incorrer".Dano e perda. Eles já haviam perdido a carga e o cordame do navio (v. 18, 19) e pareciam estar prestes a perder não apenas o navio como a própria vida (v. 20). |
At.27:22 | 22. Bom ânimo. Ou, "animem-se". No devido tempo, tudo daria certo. Contraste as palavras de ânimo de Paulo com a perda de “toda a esperança’’ por parte das pessoas no navio (v. 20; comparar com |o 16:32; At 23:11). A atitude de Paulo e o tom de sua voz devem ter acompanhado o teor alegre da mensagem. Assim deve ser com o cristão que proclama as boas-novas de salvação mediante Jesus Cristo a um mundo atribulado.Nenhuma vida. Antes, Paulo antecipara que podería haver perda de vidas (v. 10), mas Deus lhe revelou que ninguém morrería.Somente o navio. Isto c, só o navio se perdería. |
At.27:23 | 23. Um anjo. Sobre a intervenção de anjos em favor dos filhos de Deus, ver At 5:19; 8:26; ]2:7; cf. Hb 1:13, 14.De quem eu sou. A religião é algo pessoal. Trata-se de consagração, adoração e serviço pessoais prestados a um Deus pessoal. Aos pagãos temerosos na embarcação condenada, Paulo deu um testemunho retumbante. O apóstolo sabia que o Senhor estava prestes a intervir em favor de todos a bordo do navio, pois era o Deus de Paulo c Pauloera dLle na comunhão mútua do serviço. O apóstolo tomou sobre si o jugo do serviço c havia se tornado íntimo daquele com quem dividia o jugo (ver Mt 11:28-30; cí. Rm 1:9; 2Tm 1:3, 12).Esteve comigo. Sem dúvida, Paulo se lembrou da visita do anjo a sua cela em Jerusalém, quando toi informado de que ainda comparecería perante César (At 23:11). |
At.27:24 | 24. Paulo, não temas! Ouanlas vezes visitantes celestiais saudaram os seres humanos com estas palavras (ver Lc 1:13, 30; 2:10; Ap 1:17)!Compareças perante César. Esta foi a renovação de uma promessa anterior (At 23:11), que, desde então, fortalecera o apóstolo. Paulo passaria em segurança por todas as provações e, por I im, chegaria a Roma.Deus [...] te deu. Isto é, te concedeu, provavelmente em resposta a oração. Paulo deve ter passado muito tempo cm oração durante aqueles dias de perigos. Naquele ponto, todos a bordo do navio já deviam saber que seu companheiro de viagens não era um prisioneiro comum. Paulo e seus companheiros cristãos demonstravam ser um “aroma de vida para vida’’ (2Co 2:16; cf. Gn 18:23-32; Mt 5; 13). |
At.27:25 | 25. Eu confio em Deus. A lé demonstrada por Paulo se fortalecia à medida que o perigo e a desesperança da situação aumentava. Iodos os motivos para confiar na robustez do navio ou nas habilidades do capitão e cios marinheiros haviam terminado muito tempo antes (cf. v. 20). |
At.27:26 | 26. Uma ilha. Malta (At 28:1). |
At.27:27 | 27. A décima quarta noite. O ato tinal no drama da tempestade ocorreu depois de duas semanas (cf. v. 18, 19, 33). Durante este período, eles ficaram à deriva sem poder lazer nada e sem saber qual era sua posição no mar. Percorreram uma distância de cerca de 760 km, cerca de 58 km por dia (ver Nota Adicional a Atos 27).Mar Adriático. Mais precisamente, a parte do mar Mediterrâneo ao su Ido que hoje se conhece como o mar Adriático (cf. Eslra- bâo, Geugrajia, ii.5.20; Joselo, Vida, 3 [15]).Pressentiram os marinheiros. Talvez tenham detectado as gotículas da arrebentação que se chocava conlra as rochas cio Ponto de Koura, na extremidade oriental da baía de São Paulo, na praia nordeste da ilha de Malta (At 28:1; ver mapa p. 480). |
At.27:28 | 28. Lançando. Literalmente, “levantando [o prumo] '. Eles sondaram, usando um peso, talvez um prumo suspenso na ext remidade dc uma corda. Antigamente, esta era a única forma de determinar a posição de um navio em £ relação à praia durante à noite ou sob neblina.Vinte braças. A "braça” grega era considerada a extensão dos braços abertos, da ponta dos dedos de uma mão à outra, medida próxima à braça inglesa de 1,8 metros (vervol. 5, p. 38). Logo, a sondagem foi de cerca dc 36 metros, A profundidade do mar a 400 m do Ponto de Koura (ver com. do v. 27) é dc 36 m (ver Nota Adicional a Atos 27).Passando um pouco mais adiante. Literalmente, um pequeno espaço depois”.Quinze braças. Ou, cerca de 27 metros. Uma diminuição tão acentuada dc profundidade após um intervalo temporal c uma distância tão pequena indicavam que o navio estava se aproximando rapidamente da terra firme. |
At.27:29 | 29. Lugares rochosos. Literal mente, “lugares violentos” (ver com. do v. 27).Lançaram da popa quatro âncoras.A escuridão da noite tornava impossível escolher a melhor parte da praia para ancorar o navio. As âncoras foram lançadas da popa a fim de manter a proa do navio em direção à terra firme.Oravam. Literalmente, “estavam orando”(cf. jn 1:4, 5). |
At.27:30 | 30. Procurando os marinheirosfugir. A fim de salvar a própria vida, os tripulantes haviam decidido abandonar o navioCOMENTA Rí O BÍBLICO ADVENT1STAe seus passageiros. Isso revela o quadro de desespero.A pretexto. Do gr. propluisis, "pretexto", "aparência . |
At.27:31 | 31. Disse Paulo. Ele tinha experiência suficiente no mar (ver com. do v. 10) para saber que a operação proposta era desnecessária c, por isso, concluir que a única intenção dos marinheiros era abandonar o navio.Se estes não permanecerem. Somente os tripulantes tinham a habilidade necessária para aportar o navio e salvar os passageiros. |
At.27:32 | 32. Bote. Colocado a bordo perto da ilha de Cauda duas semanas antes (ver com. do v. 16). |
At.27:33 | 33. Enquanto amanhecia. Levaria cerca de seis horas desde o momento em que os marinheiros perceberam a proximidade da terra (v. 27-29) até o dia raiar. Nada podería ser leito na escuridão.Que se alimentassem. Do gr. tropke, “alimento” de qualquer tipo (ver com. de Alt 3:4). A nutrição era essencial por causa do esforço e do abandono às intempéries que todos enf rentariam quando deixassem o navio.O décimo quarto dia. Ver com. do v. 27.Esperando. Lileralmente. "demorando” ou "aguardando .Estais sem comer. Uma provável referência a refeições regulares. A rotina da vida a bordo do navio fora completamente alterada e ficara impossível comer mais do que bocadinhos de comida de ve/ em quando. Além disso, sem dúvida muitos estavam sofrendo com enjoos. |
At.27:34 | 34. Comais alguma coisa. Ver com. do v. 33.Segurança. Do gr. sõtêria, “salvação", neste caso, no sentido físico (cf. v. 31).Perderá nem mesmo um fio de cabelo. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam esta variante ou “nenhum fio de cabelo perecerá". Essa figura de linguagem é uma expressão bíblica familiar para livramentocompleto (ver Lc 21:18; cl. ISm 14:48; 2Sm 14:11; lRs 1:52). |
At.27:35 | 35. Deu graças. Paulo reconhece que Deus é o doador do alimento e o preservador da vida. Então, deu um exemplo consistente com sua admoestação aos companheiros de embarcação. |
At.27:36 | 36. Cobraram ânimo. A esperança, fé e coragem de Paulo eram contagiantes. Todos se animaram a despeito do perigo que os espreitava nas rochas ao longo da praia.Comer. Ver com. do v. 33. |
At.27:37 | 37. No navio. O navio devia ter um tamanho considerável. Sabe-se que navios de mais de 60 m de comprimento singravam o Mediterrâneo nos dias de Paulo. Estima-se que esta embarcação pesava cerca de 1.200 toneladas (ver Nota Adicional a Atos 27). |
At.27:38 | 38. Aliviaram o navio. E provável que a maior parte da carga ou toda ela tivesse sido lançada ao mar (v. 18). O cordame já fora reduzido ao mínimo (ver com. do v. 17).Lançando o trigo. Parece que se tratava de um navio de trigo egípcio a caminho de Roma. O povo da Itália e, em especial de ç Roma, dependia do suprimento de trigo do Egito (Juvenal, Sátiras, v.1.18, 119; ver com. do v. 5). |
At.27:39 | 39. Não reconheceram a terra.Somente ao chegar a terra firme é que descobriram a identidade da ilha (At 28:1). E claro que Malta era bem conhecida. Alas a baía de São Paulo, o provável lugar de chegada.ficava distante do porto costumeiro e, por isso, não foi reconhecida.Enseada. l.)o gr. kolpos, “golfo”, “baía”, literal mente, “seio”. A palavra portuguesa "golfo'' deriva de kolpos, por meio do latim colphu. Ali havia uma interrupção da praia rochosa que os marinheiros tanto temiam e a oportunidade de aportar o navio com relativa segurança (ver ilustração, p. 487).Consultaram. Literal mente, “tomaram o propósito” ou “planejaram”.Encalhai* alí. Isto é, pôr na praia. |
At.27:40 | 40. Levantando as âncoras. Literalmente, “retirar [soltar] as âncoras”.Deixaram-no. A referência pode ser às âncoras, caso elas tenham sido de fato levantadas, ou ao próprio navio.As amarras. Isto é, as cordas que erguiam os lemes da água e os prendiam às laterais da embarcação. Os navios daquela época tinham dois lemes, um de cada lado. Para virar o navio até a praia, os lemes foram colocados de novo na água.Vela de proa. Do gr. artemõn, “tra- quete”. Parece que a vela mestra, junto com seu mastro, fora lançada ao mar (ver com. do v. 17, 19). |
At.27:41 | 41. Onde duas correntes se encontravam. E provável que as correntes secundárias tenham forçado o navio a encalhar, a despeito da ação dos lemes.A popa se abria. Ou, “a popa começava a se romper”. Com a proa do navio bem segura, as violentas correntes secundárias gradualmente quebraram a popa.Pela violência do mar. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão desta expressão. A veracidade de seu sentido, porém, é indiscutível. |
At.27:42 | 42. Matassem os presos. Ver com. de At 12:19; 16:27. |
At.27:43 | 43. Querendo salvar. Literal mente, “desejando salvar”. O centurião tinha grande respeito por Paulo e por seus companheiros de viagem. Ele também reconhecia que todos a bordo deviam a vida ao apóstolo (ver v. 9, 10, 21-26, 31, 34-36).Os que soubessem nadar. Parece que o navio encalhou perto da praia. Os que sabiam nadar receberam permissão para pular primeiramente, deixando as tábuas do navio disponíveis para os que não sabiam. |
At.27:44 | 44. Uns, em tábuas. Literal mente, “alguns em qualquer [parte]”. Trata-se de uma descrição vivida da fuga de um navio soço- brando, de sobreviventes agarrando pedaços da embarcação que se partiam em meio às ondas ou que eram arrancados à mão.Todos se salvaram. Isto é, todos escaparam com segurança, em cumprimento da promessa de Deus a Paulo e da garantia que o apóstolo dera a todos no navio (v. 24).Vários detalhes da narrativa da tempestade e do naufrágio em Atos 27 são enigmáticos porque: (1) o significado técnico preciso de alguns termos náuticos permanece incerto; e (2) poucos comentaristas bíblicos, se é que há algum, têm conhecimento pessoal adequado sobre navegação. Certamente, espera-se que alguém capaz de aliar certo grau de competência em grego do NT com experiência náutica, sobretudo na região do Mediterrâneo que compõe o cenário da narrativa, consiga dar uma explicação mais clara sobre o relato do que aqueles destituídos de tais qualificações.Esse indivíduo pode ser o tenente Edwin Smith, pastor da Igreja Presbiteriana Avondale, de Tillsonburg, Ontário, Canadá, que serviu como oficial naval no Mediterrâneo em 1918 e 1919. No periódico Homiletic Review, de agosto de 1919 (vol. LXXVIII, n. 2, p. 101-110), o tenente Smith explica a narrativa do naufrágio de Atos 27, com base em sua experiênciae observações como oficial naval atuante no Mediterrâneo. O artigo, intitulado 'The Last Voyage and Shipwreck of Saint Paul” ["A última viagem e o naufrágio de São Paulo".], foi : escrito a bordo de seu navio, no porto de Valeta, na ilha de Malta, a cerca de 13 km do lugar tradicionalmente atribuído ao naufrágio, a baía de São Paulo.Sem necessariamente endossar tudo que diz o artigo, este Comentário reproduz parte dele. Os fatos citados e as conclusões extraídas com base neles confirmam a narrativa bíblica e retratam Lucas como um historiador bem informado, preciso e confiável.O autor começa observando a necessidade de se levar em conta, na história cio naulrágio, o conhecimento dos navios da época, dos sistemas de navegação e pilotagem antigos, das águas, dos portos e das terras adjacentes à região e de Paulo e Lucas. Em seguida, faz uma declaração geral sobre o conhecimento dos antigos acerca de “ir para o mar”. Então observa que a descrição cie Lucas do que o capitão e os marinheiros fizeram para lidar com as várias emergências que surgiram “é quase, palavra por palavra, aquilo que a maioria das obras atuais sobre navegação nos instruem a fazer, quando colocados em circunstâncias semelhantes’.Após mencionar a descrição de um navio alexandrino de grãos feita pelo autor grego Luciano, da época do imperador Cômodo (180-192 d.C.), o autor continua:“Quem pensaria em ir a Pompeia para descobrir algo sobre navios antigos, ou sobre os da época de Paulo? Todavia, é lá que encontramos o auxílio mais real, pois os mármores e afrescos de Pompeia nos dão detalhes valiosos e têm a vantagem adicional de estarem em sincronia temporal perfeita com a viagem de Paulo; a catástrofe â qual devem sua preservação aconteceu menos de vinte anos após o naufrágio.‘'Em seguida, tentarei fazer a reconstrução de um desses navios antigos, apresentando, creio eu, uma idéia correta de um navio mercante do primeiro século da era cristã.“Em linhas gerais, eles não diferem muito dos navios de cinquenta anos atrás, sobretudo nas partes subaquáticas, com exceção do fato de que a proa e a popa eram bem parecidas. A curvatura ou contorno da parte de cima do convés era quase reta no meio, mas com uma inclinação acentuada nas duas extremidades. Desse modo, a proa e a popa subiam até uma altura considerável e terminavam com algum ornamento, em geral a cabeça e o pescoço de uma ave aquática inclinada para trás. Luciano, ao descrever o navio alexandrino, menciona que a popa subia gradualmente numa curva, finalizada pela projeção do pescoço de um ganso em tom dourado. A proa era elevada de maneira semelhante. O afresco do navio no túmulo de Naevolia lyche, em Pompeia, retrata um navio de construção semelhante, cuja parle mais alta terminava com a caheça de Minerva.“Os quebra-mares eram amuradas abertas, e havia o costume de se construir cozinhas ou plataformas em ambas as extremidades. No navio de Teseu, representado em uma das pinturas encontradas em Herculano, vemos um cabrestante com uma espia enrolada a seu redor. Na figura do navio de Ulisses (afirma-se que foi retirada dc um mármore antigo) numa edição de Virgílio (3 vols., Roma, 1765), vemos o cabo enrolado em torno de um molinete.Talvez a maior diferença entre esses navios antigos e todos os tipos de navios modernos sejam os equipamentos de pilotagem. Os navios antigos não eram conduzidos como os atuais, com um só leme preso ao cadaste de talhamar, mas por dois grandes remos ou pás (do gr. padalía), uma em cada lado da proa; por isso, são mencionados no plural por Lucas. Eram operados por intermédio de dois buracos no escovém, um de cadalado, que também eram usados para os cabos quando o navio era ancorado pela popa. Na verdade, foi só por volta do fim do século 13 que o leme articulado moderno passou a ser o mais usado.“Entretanto, o ponto de maior interesse em relação a estes navios antigos é seu tamanho. Muitos dos navios de trigo que navegavam entre o Egito e a Itália nos dias de Paulo deviam pesar mais de mil toneladas. Inferimos que precisavam ter tamanho considerável para valer a pena. Os navios pequenos só eram lucrativos para viagens curtas. Mas não somos deixados à mercê de inferências, sem o auxílio de uma declaração de fatos. Por exemplo, o navio em que Lucas e Paulo navegaram na ocasião levava uma carga de trigo e 276 pessoas no total. O número de tripulantes chegava a 26, e a lista de passageiros ainda ficaria em 250. Para acomodar todas essas pessoas a bordo por semanas, além da carga e da tripulação, o navio deveria ser bem maior do que um barco pesqueiro comum, s O navio no qual Josefo naufragou em sua viagem para a Itália tinha 600 pessoas, uma excelente lista de passageiros para um transatlântico de cinco ou seis mil toneladas da atualidade. Mas o melhor relato que temos do tamanho de alguns destes navios é o feito pelo carpinteiro (do gr. nautegós) do Isis, o navio alexandrino de trigo que foi empurrado por ventos contrários para Atenas. Segundo os dados fornecidos e depois de permitir espaço para as diferenças na construção, esse navio devia ter entre 1.100 e 1.200 toneladas. Descobri que, alguns escritores, usando os mesmos dados, consideram que ele tinha mais de 1.300 toneladas.“O cordame desses navios antigos era muito simples. Em sua maior parte, consistiam de um mastro principal, que levava consigo uma verga bem comprida, provavelmente do tamanho do navio, esticando uma grande vela quadrada, que se enrolava na verga do topo. Além disso, esses grandes navios de cereais tinham velas de joanete. Em geral, contavam com outro mastro menor perto da proa, no qual estendiam uma pequena vela quadrada chamada arte- nion. Além disso, continham velas triangulares a fim de fazer o navio mudar de direção com facilidade sob diferentes circunstâncias e com o propósito de executar manobras. Também eram usadas durante tempestades, quando as velas principais precisavam ser recolhidas.“Não podemos nos esquecer de que o navio no qual Paulo viajou também estava equipado para emergências. A falta de compreensão relativa à construção e à estrutura desses navios é o motivo de tantos comentaristas haverem cometido erros graves infelizes ao falar dos incidentes registrados no vigésimo sétimo capítulo de Atos.“O que sabemos sobre a experiência marítima anterior de Lucas, Paulo ou de ambos? Nenhuma outra evidência além dos cap. 27 e 28 de Atos é necessária para provar, de maneira conclusiva, que Lucas, o autor do evangelho que leva seu nome, bem como de Atos dos Apóstolos, tinha um conhecimento completo sobre navios e navegação que só poderia se obter de uma maneira, a saber, pela experiência. Nem toda a leitura ou observação de navios em terra firme o habilitariam para escrever a narrativa do naufrágio do navio dele e de Paulo. Tal conhecimento e discernimento como os encontrados no texto só provêm da experiência. Não estou afirmando que ele passara tempo no mar como marinheiro. Na verdade, as mesmas evidências demonstram que não. Contudo, ele passou muito mais tempo no mar do que duas ou três viagens curtas. [...]“Sobre Paulo, minha opinião é que ele também tinha experiência considerável no mar. Você pode perceber que Paulo não é tão reticente sobre si mesmo e o próprio passado quanto Lucas. [...]“Vá para 2 Coríntios 11:25: em naufrágio, três vezes’. Ora, um homem não naufraga a cada viagem que faz, e a menção a três desastres como esse indicam que ele tinha uma experiência ao mesmo tempo longa e amarga com o mar. [...]“Passaremos por alto os detalhes da viagem até a embarcação chegar a Bons Portos, no litoral sul de Creta. Foi desse porto que o navio partiu para o que demonstrou ser sua última viagem, a narrativa que agora me proponho a examinar.“Embora Lucas não faça referência à condição do navio, omissão que um marinheiro de verdade não cometería, estou convencido cie que ela não era muito boa, por motivos que surgirão enquanto prosseguirmos. A narrativa nos revela que, após uma longa e tediosa viagem descendo o litoral, eles permaneceram por um tempo considerável em Bons Portos, impedidos de navegar por um vento desfavorável. A estação se adiantava e as noites ficariam escuras e nubladas; logo, não seria nada fácil conduzir o navio por uma distância cie quase 960 km até o estreito de Messina sem bússola; por isso, o capitão decidiu que eles abandonariam a ideia de seguir viagem e passariam o inverno na ilha de Creta. Parece que Paulo foi favorável a essa decisão. No entanto, quando o capitão anunciou depois sua intenção cie seguir viagem subindo a costa por cerca de 60 a 64 km até Fenice, por dizer que o porto de lá era mais adequado para invernar, isto é, mais seguro para o navio, encontramos Paulo objetando e insistindo para que permanecessem onde estavam. Ele afirmou que tal medida se encontrava repleta de perigo 'não só da carga e cio navio, mas também da [...] vida’ deles. Somos informados de que isso aconteceu quando soprava ‘brandamente o vento sul’. Logo, o perigo não se manifestava pela condição ameaçadora do clima, mas podemos ter a certeza de que, uma vez que a sugestão do capitão prometia mais segurança e conforto para todos, Paulo não teria se oposto a ela caso não tivesse bons motivos para isso. Mas os motivos não são explicados, outra característica da narrativa de Lucas e a segunda prova de que ele não era marinheiro, afinal, um marinheiro de verdade nunca deixa de explicar os motivos; na verdade, ele está sujeito a se tornar entediante nesse aspecto. No entanto, nenhum marinheiro que lê essa narrativa deixa de descobrir quais foram as razões: o navio já não era muito seguro, nem no melhor dos climas e não seria uma embarcação na qual seria recomendado correr o risco de passar por um temporal naquela época do ano, caso se pudesse evitar. Já fazia algumas semanas que Paulo estava no navio. Eles haviam passado por uma situação difícil a barlavento na descida até Creta e, naquelas semanas, o apóstolo fizera algumas observações e reflexões. Ele notou, por exemplo, que o navio tinha vazamentos consideráveis e que, quando as rajadas de vento sopravam com mais força, a embarcação era forçada e não tinha uma reação tranquilizadora. [...] Portanto, o argumento de Paulo foi: ‘Embora eu concorde que Fenice (atual Lutro) seja um porto melhor do que Bons Portos para invernar, defendo que o risco de navegar nesta época do ano neste navio é grande demais para valer a pena; além disso, não gosto de perceber esse ameno vento sul nesta época, pois em geral ele volta para o leste-nordeste e provoca um temporal. Caso a tempestade nos atinja enquanto estivermos atravessando a baía de Messara, seremos arrastados para longe da terra e aí...’“Mas o centurião deu mais ouvidos ao piloto e ao mestre do navio ‘do que ao que Paulo dizia'. Por isso, começaram a navegar e justamente aquilo que Paulo temia aconteceu.“Depois de deixarem o porto, o caminho, até passarem o cabo Matala, era próximo à terra firme. Do ancoradouro em Bons Portos até o cabo Matala, a distância é de cinco a seis quilômetros. Como a rota é oeste-norte-oeste, o vento sul era favorável, dois pontos àré cio vau. Portanto, eles tinham todas as perspectivas de chegar a seu destino dentro de poucas horas. Porém, não haviam ido muito longe, quando sobreveio uma súbita mudança no clima. [...]O navio foi pego por um vendaval semelhante a um tufão que soprava com tanta força que não conseguiram enfrentá-lo e foram obrigados a correr com o vento. Sabemos que este os tirou do rumo em direção à ilha de Cauda, cerca de 37 km oeste-sul-oeste de Creta. Portanto, se soubermos qual era a localização do navio quando o vendaval o atingiu, podemos fazer uma estimativa tolerável da direção do vento que o arrastou até ali.“De acordo com a narrativa, não foi muito depois (do gr. ou polu) da partida de Bons Portos que o vendaval atingiu o navio. Filólogos informam que o termo ou polu é relativo e significa menos da metade. Logo, o navio estava em algum lugar entre o cabo Matala e o ponto no oceano, marcando 29 km de distância. [...]“A primeira coisa a se fazer é preparar o navio para sair do vendaval. A grande vela quadrada precisava ser enrolada no topo do mastro e as velas de carangueja, estendidas; em seguida, eles deveriam imediatamente amarrar com firmeza o navio. Já para cingir! Ah, não! Então, os maiores temores de Paulo se confirmaram. O navio era fraco e mostrava sinais de pressão excessiva, muito embora estivessem correndo com o vento por apenas três horas: não era possível perder tempo fortalecendo a embarcação. Sabe-se muito bem que os ventos cie tufões submetem o casco do navio a uma grande pressão. Plínio, por exemplo, os chama de "principal peste dos marinheiros, destruidores não sé) dos mastros, mas também do próprio casco”. Você questiona, então, por que Paulo temia zarpar durante o inverno, num navio que ele sabia estar em péssimo estado de navegação? Lucas nos conta que eles amarraram o navio depois de percorrer somente 40 km, um indicativo claro de que ele estava sob pressão e vazando muito. Não é difícil encontrar muitos exemplos em que esse tipo de fortalecimento de navios foi colocado em prática em tempos relativamente atuais, mas, em todos os casos, a embarcação era velha e frágil ou havia sofrido algum dano.“Gostaria de destacar algo que a grande maioria dos comentaristas falhou em perceber, embora seja da maior importância, a saber, que o real perigo diante do navio no qual Lucas e Paulo navegavam era o de afundar no meio do oceano em decorrência dos vazamentos. Se eles não tivessem sido levados até a terra firme, conseguindo salvar a vida encalhando o navio, ele teria ido a pique, e todos a bordo pereceríam.Em seguida, ficamos sabendo que, por causa da apreensão de ser arrastados rumo a Sírte, ‘arriaram os aparelhos' (v. 17). É difícil imaginar uma tradução mais errônea do que esta: ‘temendo que dessem em Sirte, arriaram os aparelhos e foram ao léu’. Isso teria sido fatal. L o equivalente a dizer que, temendo determinado perigo, eles se privaram dos únicos meios possíveis para evitá-lo. Não é arriando o mastro ou a vela que tais perigos seriam evitados. Abaixar as velas e navegar com os mastros vazios significaria ir na direção para a qual o vento soprava. Mas, quando levamos em conta a direção do vento e o rumo que o navio tomou quando correu a sua frente até Cauda, isso significaria ir direto para Sirte, justamente aquilo que Lucas diz que todos estavam ansiosos por evitar. Observe que, de acordo com a ARA, Lucas diz: ‘temendo que dessem na Sirte, arriaram os aparelhos e foram ao léu’. Se isso tivesse sido feito, eles ter iam encalhado nos bancos de areia em cerca de um dia, e é provável que esta história nunca fosse escrita, pois Sirte ficava a oeste-sul-oeste, isto é, bem â frente deles, a cerca de 320 quilômetros.“Como hoje sabemos que eles não caíram na areia movediça, temos certeza de que não abaixaram a vela nem correram com o vento, mas adotaram outro plano. Até meus leitores que nada souberem sobre o mar conseguirão acompanhar meu raciocínio neste ponto. [...] “Para um navio em tais circunstâncias, só há duas coisas, até onde sei, que o capitão pode fazer: a primeira é ancorá-lo onde ele se encontra, e a segunda é virá-lo contra o vento sob a mastreação adequada para a tempestade, mudando a direção para afastá-lo do perigo, em vez de levá-lo justamente para perto dele. A narrativa revela que a primeira alternativa não foi adotada, e o fato de que o navio não evitou o perigo é prova suficiente, a despeito do silêncio torturante de Lucas, de que o segundo plano foi adotado. Quando um navio é virado contra o vento, tem a tendência de seguir em frente, na direção para a qual está se voltando, apontando para a cabeça, como dizem os marinheiros, mas seu principal movimento será à deriva, isto é, a distância será percorrida em direção lateral e, comparativamente falando, não será grande. Quando ura navio é virado contra o vento, em proximidade de qualquer perigo, o melhor a lazer é colocá-lo em cruzeiro, que, levando em conta seu movimento para f rente, sempre o levará para longe do perigo, não para perto dele. Neste caso, eles colocariam o navio para rumar a estibordo, ou seja, com o lado direito de frente para o vento. Assim, ele apontaria para o norte, longe da costa africana e de Sirte e qualquer progresso que fizesse enquanto suspenso o levaria em direção à Itália, com o movimento lateral, de modo geral, para o oeste. Quase todos os comentaristas caíram no erro de acreditar que a expressão da NVl chamou de ‘baixaram as velas’ era uma forma de Lucas exprimir o ajuste de velas que ocorreu na ocasião, ao passo que a expressão usada pelo autor não faz referência alguma às velas, conforme demonstrarei posteriormente. A virada do navio contra o vento em tais circunstâncias era algo tão necessário e comum a ser feito que Lucas, com seu hábito de mencionar apenas as coisas mais importantes, a omite e continua a nos relatar os outros passos tomados para fazer a embarcação permanecer na posição adequada e impedir que caísse no mar, tirando ao máximo possível a pressão de seu casco. O primeiro passo foi o que a NVI chamou de 'baixaram as velas’, mas a ARA traduz por arriaram os aparelhos’. A segunda opção é melhor. Ao perceber que, mesmo contra o vento, o navio trabalhava pesado no mar e que o peso da grande verga com a vela enrolada sobre ela, junto com o peso adicional de todas as cordas, picadeiros, etc. que estavam presos a ela causavam pressão demais, decidiram que ela precisava descer e ser acomodada no convés. [...]Entendemos que, quando Lucas nos informa que eles foram ao léu (do gr. outõs ephe- zonto), o navio não foi apenas cingido e preparado, inas adequadamente virado contra o vento, rumando a estibordo, a única rota capaz de evitar que a embarcação desse em Sirte. Com esta observação, conclui-se o primeiro e agitado dia.No dia seguinte, como o vendaval continuou sem dar trégua, eles ‘aliviavam o navio’. Cada um dos passos tomados daqui para frente indica habilidade na arte de navegação, 'iodas as obras sobre pilotagem naval recomendam este como um dos procedimentos. A carga do convés deve ser lançada ao mar junto com todos os equipamentos não necessários para o funcionamento do navio. No terceiro dia, eles lançaram ao mar ‘a armação do navio’ (v. 19). A expressão ‘com as próprias mãos’ nos permite compreender que os equipamentos eliminados, a grande verga principal com velas, picadeiros, etc., provavelmente exigiram o esforço unido de passageiros e tripulantes para lançá-los ao mar. O alívio proporcionado ao navio é o mesmo que ocorre quando navios de guerra jogam as armas ao mar, ou seja, para viajar com mais leveza e acumular menos água.Segue-se um sombrio intervalo cie onze dias; a tormenta continua com fiíria incessante. Não era possível ver o sol, nem as estrelas. Por fim, somos informados que ‘dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento’. Mas por que a esperança se dissipou-3 Um navio sem bússola e sem poder observar o céu nâo tinha meios de calcular sua posição. Sem dúvida, era uma situação de perigo, mas não necessariamente de desespero, pois poderia estar rumando para a segurança. A verdadeira explicação, conforme já indiquei, é esta; os esforços para conter os vazamentos não estavam funcionando; eles não sabiam que direção tomar para chegar à terra mais próxima a fim de encalhar o navio, o único recurso para uma embarcação em vias de afundar. A menos que chegassem a terra firme, submergiríam no mar. Logo, a apreensão não era causada tanto pela fúria da tempestade, mas pelas condições do navio. [...]“Finalmente, na décima quarta noite em que estavam vagando pelo mar Adriático, por volta da meia-noite, os marinheiros suspeitavam de que se aproximava da terra. Lucas não nos conta qual foi o indício que eles tiveram, mas é provável que tenham visto a arrebentação da praia, pois com o vento forte e as margens rochosas, as ondas seriam bem visíveis á distância, mesmo numa noite cinzenta no mar.“Se considerarmos que a baía de São Paulo, em Malta, foi o real cenário do naufrágio, não teremos dificuldade em definir quais foram esses indícios. Nenhum navio é capaz de vir do leste sem passar a no mínimo 400 m do Ponto de Koura; antes de chegar ali, porém, a terra é muito baixa e afastada da trilha dos navios vindos do leste para ser vista numa noite escura. A essa distância, é impossível ver a arrebentação. Quando ele atinge essa distância, é impossível não avistar as grandes ondas arrebentando, pois, com o vendavaI nordeste. o mar se chocava contra as rochas com tanta violência que faria lembrar o verso de Campbell; 'A onda branca espumejando no céu distante/ O escritor visitou o local recentemente, onde permaneceu a noite inteira. O Euroaquilão estava em progresso, o jato branco se elevava de 12 a 15 m pelo ar e o barulho na praia era ensurdecedor. Nenhum navio poderia entrar na baía de São Paulo naquela noite escura sem que os marinheiros vissem tais arrebentações na costa.Durante uma segunda visita, ele pegou um barco, velejou pela baía e observou mais o mar, prestando atenção aos sons. O resultado é que agora, em sua mente, não há a menor dúvida de que o Ponto de Koura foi a terra da qual o navio se aproximou naquela noite memorável.Mas será que os marinheiros conseguiríam ver a arrebentação a 400 metros, numa noite escura? Depois de contemplar aquele local com meus próprios olhos, digo que consegui riam sim e talvez, num momento de calmaria da tempestade, ouvir o barulho das ondas também.Temos algumas evidências nos registros do almirante da marinha real inglesa que con- lirmaiu minha opinião neste ponto. Numa noite escura, 10 de agosto de 1810, a fragata Lively estava naufragada justamente no Ponto de Koura. No testemunho feito sob juramento durante a corte marcial com os oficiais da embarcação, o intendente de plantão, que deu o alarme de rochas a sota-vento, disse que não viu a terra, mas ‘o curvar do mar’ sobre as rochas, a uma distância de cerca de 400 metros. Devo acrescentar que havia apenas uma brisa comum soprando na ocasião, não um vendava] como o que estava em progresso enquanto Lucas e Paulo passaram por ali. [...]“Lucas diz que eles naufragaram era Malta e eu demonstrei que a deriva do navio o levaria para essa direção.“O próximo ponto é interessante. A que distância a embarcação estaria de Cauda por volta da meia-noite da décima quarta noite? A resposta a esta pergunta depende da velocidade da deriva e do tempo decorrido. Desde minha chegada a Malta, entrevistei vários capitães que navegam pelo Mediterrâneo há vários anos e, durante a guerra, têm feito regularmente o percurso entre Malta e Creta. Perguntei-lhes que distância um navio como o que suponho ser aquele no qual Paulo se encontrava percorreria à deriva por hoje. O consenso geral de opinião foi de 1,6 a 3,2 km por hora, provavelmente 2,4 km por hora ou 58 km em 24 horas.“Chego agora à questão do tempo decorrido. Lucas conta o tempo desde o dia em que navio partiu de Bons Portos. Lemos sobre o terceiro dia no v. 19; o dia anterior é chamado de ‘no dia seguinte’, que nos leva ao primeiro dia tanto do vendava! quanto da viagem. Parece que os acontecimentos narrados no primeiro dia ocuparam grande parte dele. O tempo decorrido navegando no mar Adriático desde o momento em que partiram da ilha de Cauda até perceberem que estavam próximos da terra, à meia-noite do décimo quarto dia, foi, portanto, de 13 dias completos mais uma fração de um dia. Usando a distância calculada de 57,6 km por dia à deriva e considerando que o tempo decorrido foi de 13 dias e 1/4, tudo que precisamos fazer é multiplicar 57,6 por 13 e 1/4, chegando a 763,2 km de deriva, numa rota acima de norte-82°-oeste.Como isso se compara com a rota e a distância real entre a ilha de Cauda, na entrada da baía de São Paulo, em Malta, da maneira que um navegador atual as determinaria? Usando qualquer mapa recente do almirante real inglês sobre o mar Mediterrâneo, descobrimos que a rota de um ponto 'sob a campina de Cauda’ até a baía de São Paulo, Malta, é norte-82°-17°-oeste. E a distância é de 762 quilômetros. Portanto, segundo esses cálculos, um navio que zarpasse tarde da noite de Cauda estaria, à meia-noite do décimo quarto dia, em algum ponto entre 1,6 km e 400 m da entrada da baía de São Paulo, Malta. Admito que uma coincidência tão grande quanto esta pode ser, até certo ponto, acidental, mas se trata de um acidente que não poderia ocorrer caso houvesse alguma imprecisão por parte do autor da narrativa em relação às diversas variáveis envolvidas nos cálculos, ou caso o navio houvesse naufragado em qualquer outro lugar que não Malta, pois não há outro local que concorde em nome ou descrição com os limites determinados pelos cálculos que se baseiam no relato bíblico.Agora o navio se aproxima do fim da desastrosa viagem. A terra ainda não fora avistada, mas, para os sentidos vigilantes dos marinheiros, o som e a aparência da arrebentação dizia que ela se encontrava próxima, ou, usando o vocabulário náutico de Lucas, dela 'se aproximavam’. Tais indícios costumam ser preniincios de destruição. Neste ponto, foi- lhes exigida uma demonstração de presença de espírito, prontidão e habilidade náutica que não poderia ser superada nos dias atuais e, com tudo isso, sob a direção da Providência, a vida de todos a bordo foi salva. A esperança que se fora é restaurada. Eles então poderíam usar o último recurso de um navio em naufrágio e correr para a praia, mas fazê-lo antes do raiar do dia seria uma corrida rumo à destruição certa. Precisavam ancorar o navio, se possível, e aguardar até o amanhecer, quando talvez pudessem descobrir alguma enseada onde encalhar a embarcação.Quando o dia raiou, não reconheceram a terra, mas, ao verem uma enseada, decidiram que, se possível, levariam o navio para lá. Cortaram os cabos e deixaram as âncoras no mar. Soltando as cordas dos lemes e içando a artemon (vela frontal que sai do mastro), eles seprepararam para encalhar o navio. Após escolher um ponto onde duas correntes se encontravam’, deram à costa com a proa, o que explica a ancoragem pela popa, pois isso colocava o navio na posição correta para encalhar. [,..]“Quando todos chegaram a terra com segurança, só nos resta verificar se o local corresponde à descrição feita por Lucas. A primeira circunstância mencionada é que, à meia-noite, os tripulantes suspeitavam da proximidade de terra, mesmo sem vê-la. Uma embarcação naquela rota, entrando na baía de São Paulo, passaria a 400 m de um ponto rochoso baixo protuberante que forma a entrada oriental na qual a arrebentação podia ser vista à distância e, na verdade, foi vista à mesma distância pelo contramestre do Lively, embora não conseguisse avistar a terra.“Temendo se chocar com as rochas, das quais estavam perto agora a sota-vento, ancoraram pela popa e esperaram amanhecer. Nesse momento, como em vários outros, é demonstrada boa capacidade de navegação e uma sábia precaução se manifesta, pois, quando raiou o dia, tudo que precisaram fazer foi içar a vela do mastro, cortar os cabos da âncora e o navio estaria sob controle, encalhando com facilidade. O local onde as duas correntes (ou, 'dois mares' [ ARC]) se encontravam sem dúvida era a abertura entre a ilha de Salmoneta e a principal, onde dois mares continuam a se encontrar, hoje.“A segunda circunstância mencionada por Lucas foi a profundidade da água quando perceberam que estavam perto da terra. Eles mediram e encontraram vinte braças. Um pouco depois, mediram novamente e encontraram quinze braças. O escritor encontrou a medida de vinte braças próximo ao ponto de Koura, no lugar onde o navio deveria estar e, seguindo seu rumo, quinze braças a 400 m da praia, no local onde ancoraram a embarcação pela popa. [...]Constatamos em nossa análise que todas as afirmações feitas por Lucas sobre os movimentos do navio desde a partida de Bons Portos até o encalhe em Malta foram verif icadas por evidências externas e independentes, do modo mais exato e satisfatório possível. Além disso, suas declarações quanto ao tempo que o navio permaneceu no mar correspondem à distância percorrida. Por fim, sua descrição do local está de acordo com a realidade. Tudo isso contribuí para provar que Lucas fez a viagem narrada e também para demonstrar que se trata de um homem cujas observações e afirmativas podem ser consideradas confiáveis até o mais alto grau. O vigésimo sétimo capítulo de Atos dos Apóstolos é uma simples declaração de fatos. Concluo, portanto com Bres: ‘Ou não há certeza moral dos fatos históricos ou deve-se admitir que Paulo naufragou em Malta’.’’Capítulo 28I 2 Tocando em Siracusa, ficamos a li três dias,respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas.os olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e se convertam, e por mim sejam curados. |
At.28:1 | 1. Verificamos. Evidências textuais atestam (cf. p. xvi) as variantes "nós escapamos" e "nós sabíamos”.Malta. Pequena ilha a sudeste da Sicília. Alguns afirmam que o naufrágio ocorreu na ilha de Meleda, no mar Adriático, perto da costa ilírica (região da antiga Iugoslávia). Defendem que a menção ao mar Adriático em Atos 27:27 indica que o navio havia saído do Mediterrâneo e chegado a esse mar. Também observam que o povo de Meleda era, na época, composto por não romanos e não gregos, por isso eram considerados bárbaros (ver At 28:2), além do fato de que hoje não se encontram víboras em Malta. Cremos ser suficiente observar que essa explicação é bastante improvável e não é levada a sério por nenhum erudito competente (ver mais nos com. de At 27:27; 28:2). |
At.28:2 | 2. Bárbaros. Do gr. barbaroi, palavra originada de uma onomatopéia, aplicada a povos cujo idioma soava como grunhidos rudes aos ouvidos gregos e romanos (ver com. de Rm 1:14). E possível que os nativos de Malta fossem aparentados dos fení- eios, ou, em consequência do contato com estes, falassem um dialeto da língua icnícia, a qual era relacionada ao hebraico. A ilhade Malta era governada por romanos desde a Segunda Guerra Pó nica (ver vo 1. 5, p. 13; Lívio, Annals, xxi.51), quando a tomaram dos cartagineses.Singular. Ou seja, com uma humanidade. ou gentileza “fora do comum” (ver At 19:11), texto em que a mesma expressão grega é traduzida por “extraordinários".Acolheram-nos. Isto é, nos deram as boas-vindas. Parece que o tempo continuava chuvoso e com vento. |
At.28:3 | 3. Tendo Paulo ajuntado. Mais uma vez, Paulo toma frente para garantir o conforto de seus companheiros.Gravetos. Galhos, e ramos leves também.Víbora. Afirma-se que não existem mais cobras em Mata, mas isso não prova que não houvesse serpentes por lá na época de Paulo. Por alguns anos, por exemplo, as cobras foram eliminadas das ilhas do Havaí.Fugindo do calor. Entorpecida pelo frio, talvez já hibernando, a cobra ficou ativa e ciente do perigo. |
At.28:4 | 4. Víbora. Literalmente, ‘‘criatura".Pendente da mão. .Além de morder amão de Paulo, a cobra permaneceu pendurada nela.justiça. Do gr. dikê, "justiça'', “castigo”. Para os malteses, Paulo era um rnalleitor aquem os deuses estavam punindo por meio da picada letal da serpente. |
At.28:5 | 5. Sacudindo. Paulo permaneceu calmo e sereno diante desse novo perigo. Deus não prometera que ele comparecería perante César?Mal nenhum. Ele não sofreu nenhum dano físico ou psicológico (ver Mc 16:18; Lc 10:19). |
At.28:6 | 6. Esperavam. Os ilhéus esperaram o momento em que o corpo envenenado de Paulo começaria a inchar, mas nada aconteceu.Ser ele um deus. Ver com. de At 14:11. |
At.28:7 | 7. Perto daquele lugar. Isto é, nas redondezas.Sítio. Ou seja, terra, propriedade.Homem principal. Do gr. prõtos, ‘'primeiro”, isto é, líder. Esse termo é confirmado por inscrições designando o governante romano da ilha, muito embora o título pareça ter origem não romana.Públio. Nome totalmente romano.O qual nos recebeu. Provavelmente, o líder recebeu o centurião, por sua posição. Com ele, também recebeu Paulo.Hospedou benignamente por três dias. A hospitalidade do homem principal da ilha continuou até que providências mais permanentes fossem tomadas. |
At.28:8 | 8. Aconteceu, isto é, provavelmente mais tarde durante aquele inverno.Disenteria. Do gr. dysenteria.Orando. Ver com. de Tg 5:14, 15. No entanto, esta parece ter sido uma manifestação do dom da cura (ICo 12:9).E o curou. Paulo havia demonstrado o mesmo poder do Espírito em Listra (At 14:8-10), em Filipos (At 16:18), em Éfeso (At 19:11, 12) e em Trôade (At 20:9, 10). |
At.28:9 | 9. Os demais. Isto é, outros habitantes da ilha. |
At.28:10 | 10. Muitas honrarias. Não como taxas, mas como presentes, talvez dinheiro, alimento e roupas, necessidades apropriadaspara homens que haviam perdido toda a bagagem.Prosseguir viagem. Do gr. anagõ, neste caso com o sentido de “navegar” (cf. At 27:12).E [...] nos puseram a bordo. A generosidade deve ter começado por Públio, e outros seguiram seu exemplo. |
At.28:11 | 11. Ao cabo de três meses. Isto é, depois que a temporada de tempestades passou e voltou a ser seguro seguir viagem.Navio alexandrino. Provavelmente, outro navio com grãos egípcios (cf. At 27:6, 38).Invernara na ilha. Possivelmente, no porto de Valeta, cerca de 13 km a sudeste da baía de São Paulo.Emblema. Uma provável referência à figura de proa no navio, abaixo do gurupés.Dióscuros. Do gr. Dioskouroi, literalmente, os "gêmeos”, os lendários filhos de Júpiter e Leda. Os nomes latinos dos dois eram Castor e Pólux, chamados de Gemini. |
At.28:12 | 12. Tocando. O navio foi para o norte, em direção à Sicília. A antiga cidade grega de Siracusa seria o porto seguinte.Siracusa. A principal cidade da Sicília, na costa sudeste da ilha. No passado, fora uma colônia grega e cenário de um grande desastre naval ateniense durante a guerra do Peloponeso. E provável que o grupo tenha passado três dias ali à espera de ventos favoráveis. |
At.28:13 | 13. Bordejando. Do gr. perierchomai, literalmente, “ir em volta”, “lazer um circuito”; neste caso, uma provável manobra em zigue-zague, a fim de progredir em face de ventos desfavoráveis.Régio. A atual Régio, no extremo su 1 da Itália, no estreito de Messina. Certa vez, o imperador Cláudio planejou construir instalações portuárias ali para descarregar navios egípcios com trigo, mas o projeto nunca se concretizou.Vento sul. Era possível singrar para o norte, em vez de fazer movimentos de zigue- zague, como fora necessário de Siracusa até Régio.Putéoli. Atual Pozzuoli, perto de Nápoles, Itália. Embora ficasse cerca de 225 km ao sul da capital, era, na época, o principal porto de acesso a Roma, sobretudo para navios de trigo vindos do Egito. Ostia, junto à foz do rio Tibre, o substituiu posteriormente (cf. p. 68). |
At.28:14 | 14. Achamos alguns irmãos. É animador saber que apenas 30 anos após a cru- cilixão já houvesse um grupo de cristãos na distante Putéoli, principal porto para a cidade de Roma. Ali havia urna grande colônia de judeus, e é provável que pelo menos alguns daqueles cristãos fossem conversos do judaísmo. Na falta de informações mais precisas, podemos fazer a razoável suposição de que essa igreja, assim como a de Roma, foi fundada em resultado dos esforços de judeus italianos que podem ter se convertido no PentecQStes do ano 31 d.C., ou em alguma peregrinação posterior à Palestina.Que nos rogaram. Ou, insistiram. Paulo permaneceu uma semana com a igreja de Putéoli, passando, portanto, pelo menos um sábado ali.Que nos dirigimos a Roma. Ou, “que chegamos a Roma”. |
At.28:15 | 15. Ouvido notícias nossas. A semana de intervalo em Putéoli dera tempo para que a notícia da chegada de Paulo passasse ao conhecimento dos cristãos em Roma. A capital estava em constante comunicação com Putéoli, por causa de seu porto. A chegada de navios era relatada prontamente, com informações tanto da carga quanto da lista de passageiros.Vieram ao nosso encontro. Paulo tinha parentes e amigos entre os cristãos de Roma (Rm 16:13-15). Sem dúvida, alguns daqueles que foram citados por nome estavam lá para saudar o apóstolo.Praça de Apio. Literalmente, “a praça do mercado de Apio”, que deu origem ao nome cia famosa Via Apia, que levava de Roma a Brindisi. O nome da cidade e daestrada provavelmente se referem a Apio Cláudio, o célebre censor romano. A praça de Ápio ficava na Via Apia, cerca de 65 km ao sul de Roma. Horácio faz uma menção pejorativa ao lugar, dizendo que era cheio de tavernas de má reputação, frequentadas por marinheiros (Sátiras, i.5, 3, 4). Ali uma delegação de Roma aguardava Paulo.Três Vendas. O termo latino taberna significa mais do que “bar” ou “taverna”, inclui lojas de qualquer tipo. Não se conhece ao certo a localização dessa vila, mas afirma-se que ficava por volta de 50 km ao sul cie Roma. Ali outro grupo de cristãos, que deve ter saído de Roma depois do primeiro, se encontrou com Paulo. Essa pequena cidade é mencionada por Cícero (Cartas a Ático, ii. 10).Dando [...] graças a Deus. Todos os cristãos que já passaram por experiências de provação se identificam prontamente com a gratidão de Paulo pela viagem segura. !Sentiu-se mais animado. Por anos, Paulo sentiu o desejo de visitar Roma e pregar o evangelho ali (Rm 1:11-13). Ele deve ter refletido sobre o contraste gritante entre sua expectativa e a realidade de sua chegada. Mesmo diante desse contraste chocante, porém, o apóstolo encontrou motivos para recobrar os ânimos e sentir mais uma vez a certeza da orientação divina. Paulo era hábil em encontrar motivos para ter grande esperança em meio às circunstâncias mais clesa- nimadoras (ver 2Co 4:7-10; AA, 449). Era um cristão otimista, convicto e inabalável. |
At.28:16 | 16. Uma vez em Roma. O leitor do último capítulo de Atos fica com o ávido desejo de que houvesse um relato mais completo da experiência de Paulo em Roma. lãIvez Lucas tivesse a intenção de acrescentar mais detalhes ou de começar um novo livro com a chegada de Paulo à cidade.O centurião entregou (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão de toda a frase que começa com estas palavras. No entanto, o fato mencionado é verdadeiro.General dos exércitos (ARC). Provavelmente o praefectus praetorii, o chefe da guarda pretoriana ou imperial. Era seu dever assumir a custódia daqueles que eram trazidos das províncias para comparecer perante o imperador (ver Plínio, Cartas, x.57). Na época, o prefeito pretoriano era Burrus, homem de boa reputação. Em 62 d.C., época em que Paulo ainda era prisioneiro, o lugar de Burrus foi assumido por Tigelino, infame favorito de Nero.Morar por sua conta. Sem duvida, a consideração demonstrada no tocante à moradia de Paulo se deveu, em parte, ao cen- turião Júlio, que ainda estava com a custódia do apóstolo quando este chegou a Roma. Paulo fora responsável, em grande parte, pelo sucesso da parada de emergência em Malta. Junto com outras evidências de seu caráter nobre, sabedoria assinalada e poder espiritual, isso lhe conquistara o favor e a gratidão do centurião. Sem dúvida, tudo foi incluído no relatório a seu respeito, junto com a declaração enviada por Festo.Que o guardava. O soldado ficaria acorrentado a Paulo (ver v. 20), com o grilhão indo de um dos pulsos do guarda até um pulso do apóstolo. O apóstolo faz alusões frequentes a estas cadeias nas epístolas escritas durante o período em que ficou preso em Roma (Ef 6:20; Fp 1:7, 13, 14, 16; Cl 4:3, 18; cf. At 28:20). Qual deve ter sido o efeito, sobre um soldado pagão, de ficar acorrentado, hora após hora, ao apóstolo Paulo? Qual seria o efeito sobre um pagão que ficasse acorrentado, desta mesma maneira, a um de nós? A medida que os guardas eram trocados, os efeitos da vida de Paulo sobre eles durante os dois anos de prisão devem ter se difundido amplamente por toda a corporação (ver com. de Fp 1:13). |
At.28:17 | 17. Três dias depois. Sem dúvida, Paulo primeiramente retomou o contato com cristãos que havia conhecido em outros lugares e fez novos amigos na comunidadede crentes em Roma. Em seguida, teve o desejo de encontrar os judeus não cristãos da cidade.Os principais dos judeus. A regra de Paulo sempre fora “primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16; 2:9; cf. At 13:5, 14, 46; 17:1, 2, 10; 18:4; etc.). Então, ele convidou os anciãos dos judeus a ouvirem um relato direto sobre como ele fora parar em Roma. Parece que o decreto de Cláudio, expulsando todos os judeus da cidade (At 18:2), fora suspenso ou se tornara ineficaz de algum modo.Varões irmãos. Ver com. de At 1:16.Nada havendo feito. Paulo repete a declaração de inocência que já havia feito em Jerusalém e Cesareia (ver At 23:1; 24:12, 13; 25:8, 11; 26:4-7).Contra o povo. As dificuldades que Paulo enfrentara foram, de modo geral, ocasionadas pelos próprios judeus, como em Antio- quia da Pisídia (At 13:50), Listra (At 14:19), Tessalônica (At 17:5-8), Bereia (At 17:13, 14) e Corinto (At 18:12-17).Costumes paternos. Paulo cria com sinceridade que seus ensinos do evangelho de Jesus Cristo eram uma interpretação correta das verdades do judaísmo (ver com. de At 23:1, 6; 24:14-16; 26:5-7; comparar com a acusação contra Estêvão, ver At 6:13, 14).Vim preso. Sem mencionar os detalhes de tudo que acontecera desde o tumulto em Jerusalém (At 21:27-36), Paulo destacou o resultado frustrante e humilhante. Durante os dois anos anteriores ou mais, ele fora prisioneiro dos romanos, em cadeias. Os judeus que. causaram sua prisão e suas acusações contínuas o mantiveram encarcerado. |
At.28:18 | 18. Quiseram soltar-me. Ou, “colocar- me em liberdade” (comparar com At 25:25; 26:32). Se o corrupto governador Félix houvesse recebido suborno como esperava, sem dúvida teria libertado Paulo (At 24:26).Todos os oficiais perante os quais o apóstolo comparecera tinham certeza de sua inocência, assim como os tribunos da guarda.(c. 61-63 e 66-67 d.C.)Durante a primeira prisão, Paulo escreve para Filemom e para os filipenses, efésios e colossensesQuartel-general da guarda pretoriana, cujo comandante tem em custódia réus cidadãos que apelavam ao imperadorPassagens de diversas cartas indicam que Paulo foi levado a julgamento, e solto, e lhe foi permitido trabalhar sem impedimento por possivelmente três anos. Detido novamente, Paulo foi aprisionado uma segunda vez e martirizado (ver 2Tm 1:8; 4:6, 7) |
At.28:19 | 19. Nada de que acusar. Paulo amava o povo judeu (ver Rm 9:1-3; 10:1) e o afeto que sentia por seus compatriotas não diminuira depois de sofrer nas mãos deles. A despeito da injustiça que enfrentava, Paulo não os culpava, nem fez qualquer acusação contra eles. Não havia apelado para César para causar problemas aos judeus de Roma ou de outro lugar, mas por não contar com outro recurso. |
At.28:20 | 20. Por isto vos chamei. Ele não podia ir até os judeus nas sinagogas, ou em particular, mas, seguindo seu costume, tentou criar urna base de compreensão com eles. Por isso os chamou para vê-lo (ver com. do v. 17).Esperança de Israel. Isto é, a expectativa da vinda do Messias. Paulo cria que Jesus fora o cumprimento completo desta expectativa. Sua fé era a mesma de todos os judeus. O único e grande problema era a aplicação desta fé a Jesus, o nazareno.Preso com esta cadeia, Na verdade, fora sua firme crença no judaísmo que o levara a ser preso. Ele preferia sofrer com as cadeias e até a morte a desistir da esperança de Israel. |
At.28:21 | 21. Nós não recebemos [...] nenhuma carta. Isto não era estranho, Seria improvável que um navio partindo de Cesareia, depois de Paulo apelar a César, chegasse a Roma antes dele. Logo, a mente daqueles judeus não se encontrava cheia de preconceito contra ele. Lucas não dá indícios da chegada de qualquer carta de Jerusalém contra o apóstolo durante os dois anos (v. 30) que ele passou em Roma, nem de providências que os líderes judeus tenham tomado contra ele (cf. AA, 453). |
At.28:22 | 22. Gostaríamos de ouvir. Talvez esta professa mente aberta fosse sincera. Sem dúvida, os judeus de Roma tinham ouvido algo sobre Paulo e sua mensagem e estavam ávidos por escutar mais.É corrente. Já havia alguns cristãos judeus em Roma (ver com. do v. 15), por meio dos quais um conhecimento limitadojá deveria ter chegado aos líderes judeus. E certo que também havia relatos ou, pelo menos, rumores, da Judeia, trazidos por peregrinos de regresso.Desta seita. Ver com. de At 5:17; 24:5, 14.E ela impugnada. Entre os judeus, devia haver muitos relatos nada lisonjeiros sobre os cristãos. Tácito escreveu os maiores disparates sobre a nova seita (Annals, xv.44), e Suetônio (Nem, xvi.2) é igualmente con- denador. justino Mártir (morte c. 165 d.C.) falou de calúnias contra os cristãos, provin- das, com certeza, de fontes judaicas (Diálogo com Irifo. 17). Talvez os judeus romanos tivessem ouvido não só das várias situações nas quais os cristãos se envolveram e rumores sobre seu mau caráter, mas também de seu crescimento numérico surpreendente. Até então, nada do que os judeus romanos ouviram tinha lhes tornado preconceituosos contra os cristãos. Por isso, estavam dispostos a escutar mais. |
At.28:23 | 23. Em grande número. Literal mente, '‘mais”. Na reunião seguinte, havia mais judeus do que no primeiro encontro.Sua própria residência. Ver com. do v. 16; cf. v. 30.Desde a manhã até à tarde. Com certeza, alguns dos judeus resistiam ao evangelho, ao passo que outros ansiavam por ouvir mais a palavra da verdade. Logo, por motivos diversos, os judeus permaneceram o dia inteiro.Fez uma exposição. Embora preso, Paulo ainda assim conseguiu pregar o evangelho aos ouvintes judeus. Ele deve ter feito uma apresentação teológica hem pensada, comparável à de Estêvão (At 7:2-53) e ao sermão que ele próprio pregara em Antioquia da Pisídia (At 13:14-41).Testemunho. Ele testemunhou da esperança messiânica, então personificada em Jesus, e da certeza do retorno de Cristo.Reino de Deus. Ver com. de Mt 3:2; 4:17; 5:2; Lc 4:19; At 8:12,Moisés. Ver com. de Lc 24:27, 44. |
At.28:24 | 24. Alguns [...] ficaram persuadidos. Reação costumeira à pregação de Paulo (ver At 14:4; 17:4; 19:9). Na verdade, esta é a experiência de todo evangelista cristão. Ciente de que a consciência de cada ser humano é livre, ele deve dar graças a Deus pelos que creem e nunca se desanimar pelo fato de alguns não crerem. |
At.28:25 | 25. Havendo discordância. E possível que alguns favorecessem os saduceus e outros, os fariseus (cf. At 23:6-10).Vossos pais. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) esta variante. Sem dúvida, os judeus descrentes professavam lealdade aos “pais . Paulo os desalia a reconhecer o fato de que esses mesmos “pais” censuraram a descrença que eles então manifestavam (ver com. de Lc 16:31; Jo 8:39, 56).Isaías. Isto é, o profeta Isaías. |
At.28:26 | 26. Dize-lhe. Paulo cita Isaías 6:9, texto que o próprio Jesus havia usado contra os judeus (Alt 13:14; Mc 4:12; Lc 8:10; Jo 12:40).Ouvireis. Ver com. de Is 6:9, 10; cf. Alt 7:21-27. |
At.28:27 | 27. E se convertam. Literal mente, “voltem de novo" (ver com. de Alt 3:2; At 2:38; 3:19, 20). |
At.28:28 | 28. Salvação de Deus. Isto é, conforme foi revelado por meio de Jesus Cristo (ver com. de Alt 1:21).Eles a ouvirão. Paulo se dirige, em particular, aos judeus que se recusaram a ouvir (ver com. dos v. 24-26). Ouando os judeus recusavam a mensagem desta forma, Paulo se voltava para os gentios. |
At.28:29 | 29. Ditas estas palavras. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão do v. 29. lodavia, o lato mencionado é inquestionável. |
At.28:30 | 30. Por dois anos. Parece que Lucas não foi guiado pelo Espírito ou pela própria inclinação a registrar os acontecimentos desses dois anos. Talvez ele planejasse escreveruma terceira obra para complementar Lucas e Atos. A única informação sobre esses dois anos vem das quatro epístolas do cárcere, as quais devem ter sido escritas em Roma nesse período: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Sabemos que o apóstolo sentiu o preço da prisão, tanto psicológica quanto fisicamente (Ef 3:1; 4:1; Fp 1:16; Cl 4:18; Em 1:9, 10). Ele se preocupava com o resultado de seu julgamento (Fp 2:23, 24). Sabemos que Lucas e Aristarco (At 27:2) estavam com ele, assim como Tíquico (Ef 6:21), que levou a epístola a Efeso e a Timóteo, cujo nome é citado junto com o do apóstolo nas cartas a Filipos (Fp 1:1), Colossos (Cl 1:1) e ao convertido senhor de escravos, Filemom (Fm 1). Epafrodito levou auxílio a Paulo, de Filipos (Fp 4:18). Onésimo, que fugira de seu senhor Filemom, fizera amizade com o apóstolo enquanto estava em Roma (Cl 4:9; Fm 10). Marcos, parente de Barnabé, e o converso Jesus, conhecido por Justo, além de Epafras de Colosso, também estavam com ele (Cl 4:10-12). Dem as também estava lá (Cl 4:14; cf. 2Tm 4:10). Embora fosse prisioneiro, o testemunho de Paulo foi tão eficaz durante esses anos que, no fim de seu encarceramento, pôde declarar: “as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1:12).Sua própria casa, que alugara. Deve ter chegado apoio financeiro dos amigos de Roma e de outros lugares, em especial de Filipos (Fp 4:18), uma vez que Paulo não podia mais trabalhar manualmente para custear suas despesas pessoais.Recebia todos. Paulo desfrutava liberdade de comunicação. |
At.28:31 | 31. O reino de Deus. Desde o princípio, a mensagem cristã se concentra no “reino” (Mt 3:2; Mc 1:14, ARC).Intrepidez. Literalmente, "liberdade”, “confiança destemida”, “coragem".Sem impedimento algum. Nem imperador, tribuno ou guarda, nem judeuproibiram Paulo de proclamar o evangelho. O evangelista estava preso, mas a mensagem do evangelho, não.Referentes ao Senhor Jesus Cristo.Este era o centro e o tema das conversas de Paulo.Este é o encerramento da história bíblica da igreja apostólica. Caso Lucas tenhaescrito mais um relato, ele não se encontra mais disponível. Durante os anos que se seguiram à libertação de Paulo e em seu segundo período encarcerado, só encontramos pistas nas chamadas epístolas pastorais (1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito) e na tradição da igreja apostólica (ver também p. 88-90, 94, 95). |