"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > 2Pedro |
2Pe.1:1 | 1. Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, Simão. Do gr. Sumeon, uma transliteração do heb. Shim’on, “Simão”. A transliteração grega mais comum é Simão. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) essa última transliteração (ver com. de Mt.4:18). Pedro. Ver com. de Mt.4:18 (sobre a autoria da epístola, ver p. 649). Servo. Do gr. doulos (ver com. de Rm.1:1). Apóstolo. Do gr. apostolos, “mensageiro” (ver com. de Mc.3:14; At.1:2; Rm.1:1; 2Co.1:1). De Jesus Cristo. Ver com. de 1Pe.1:1. Conosco. Ou seja, assim como nós temos. Pedro equipara a fé dos leitores à sua. Discute-se a quem ele se refere com o pronome “nós”. Alguns sustentam que Pedro fala por todo o corpo de cristãos judeus, supondo que ele escreve para os gentios, como na primeira epístola (ver com. de 1Pe.1:1). Outros, acreditando que ele escreve aos judeus da diáspora (ver com. de 1Pe.1:1), interpretam “nós” como o apóstolo e os membros da igreja local em que Pedro estava no momento da escrita. Outros ainda, consideram que “nós” é uma referência a todos os apóstolos que compartilhavam sua fé com os conversos nos mais diversos lugares. A última interpretação é preferível por evitar distinção que não seja a natural entre apóstolos e membros leigos. Obtiveram. Do gr. lagchano, “receber”, “obter por sorteio” (termo usado também em Lc.1:9; Jo.19:24; At.1:17; ver com. ali). Lagchano é usado para enfatizar a origem divina da herança. O dom é devido à graça de Deus e não a qualquer valor inerente ao indivíduo. O apóstolo não menciona especificamente para quem está escrevendo, mas presume-se que sejam os mesmos crentes a quem ele dirigiu a primeira epístola (ver p. 649; ver com. de 1Pe.1:1). Fé. Pode se referir à fé pela qual os crentes responderam ao chamado de Deus, ou ao corpo de crenças que eles aceitaram ao se tornar cristãos (cf. com. de At.6:7). Igualmente preciosa. Do gr. isotimos, “igualmente honrada”. Justiça do nosso Deus. Ver com. de Rm.1:17; sobre dikaiosune, “justiça”, ver com. de Mt.5:6. Aqui, Pedro explica que seus leitores compartilhavam da mesma fé que ele, em virtude da misericórdia divina, que traz salvação a todos. Salvador. A construção grega sugere que “nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” se refere a uma só pessoa: Jesus Cristo. A frase pode ser traduzida como “o nosso Deus, o Salvador Jesus Cristo”. Tão clara aceitação da divindade de Jesus não causa surpresa, pois o próprio Pedro reconheceu que o Senhor era “o Filho do Deus vivo” (Mt.16:16), e tinha ouvido Tomé chamá-Lo de “Senhor meu e Deus meu” (Jo.20:28; sobre os títulos de Cristo e Sua divindade, ver com. de Mt.1:1; ver vol. 5, p. 1013-1015). |
2Pe.1:2 | 2. graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Graça e paz. Ver com. de Rm.1:7; 2Co.1:2. Sejam multiplicadas. Os leitores já possuíam graça e paz. Então, o apóstolo deseja que eles obtenham ainda mais provisões desses dons celestiais (ver 2Pe.3:18). No pleno conhecimento. Ou, “no conhecimento”. A palavra aqui usada para “conhecimento” (epignosis) é mais enfática do que a forma substantiva simples (gnosis), e sugere um conhecimento mais amplo e mais perfeito, resultado da contemplação do objeto estudado. Esse conhecimento influencia a vida de quem o obtém. Quando se centra no Pai e no Filho, traz graça abundante e paz ao coração. O apóstolo está ciente da eficácia desse epignosis, e se refere a ele quatro vezes nesta epístola (2Pe.1:2-3; 2Pe.1:8; 2Pe.2:20). De Deus e de Jesus. Em contraste com a frase similar no v. 2Pe.1:1, a construção grega aqui indica que o apóstolo se refere tanto ao Pai quanto ao Filho. |
2Pe.1:3 | 3. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, Visto como. Ou, “visto que”. As palavras que se seguem são uma expansão do pensamento de que a graça e a paz vêm do conhecimento pessoal de Deus e de Cristo (v. 2Pe.1:2). Seu divino poder. Ou seja, o poder divino de Cristo, pois Ele é a última pessoa a que se refere o v. 2Pe.1:2, e considerando que Ele é chamado de “Deus”, no v. 2Pe.1:1. A palavra para “divino” (theios) é usada no NT somente aqui, no v. 2Pe.1:4 e em At.17:29, em que é traduzida como “Deus”. A palavra para “poder”, dynamis (ver com. de At.1:8), é encontrada em combinação com theios em inscrições gregas do primeiro século d.C. Portanto, Pedro emprega um termo com o qual seus leitores, sem dúvida, estavam acostumados. Aqui, ele está enfatizando o poder e a majestade do Senhor, como o faz em outros versículos (2Pe.1:11; 2Pe.1:16-17), e mostra o que o poder de seu Senhor é capaz de fazer por nós. Doadas. Do gr. doreo, “apresentar um presente”, “doar”, palavra mais forte do que a habitual didomi, “dar”. Todas as coisas. Um lembrete de que o Senhor não reteve nenhuma ajuda necessária à salvação. Vida. Ou seja, a vida espiritual, como se exige do cristão, e também a vida física (At.17:25; At.17:28). Piedade. Do gr. eusebeia, “religião”, a conduta cristã (ver com. de 1Tm.2:2). Os dons são concedidos por Cristo a fim de que Seus seguidores atinjam os padrões estabelecidos para eles. A vida vitoriosa não pode ser vivida sem os dons, por isso, cabe a nós aceitá-los e usá-los. Conhecimento. Do gr. epignosis (ver com. do v. 2Pe.1:2). Aquele que vos chamou. Isto pode se referir tanto ao Pai, que, em geral, no NT é Aquele que chama os cristãos (Rm.8:30), quanto ao Filho, que chamou os discípulos (Mc.3:13) e os pecadores (Mt.9:13). Qualquer distinção não teria efeito prático, uma vez que tanto o Pai quanto o Filho Se unem no chamado. O chamado de qualquer um dEles é igualmente eficaz. Glória e virtude. Literalmente, “por meio de Sua glória e virtude”. A palavra traduzida como “virtude” (aretê) pode ser “bondade” ou “excelência” (ver com. de Fp.4:8; 1Pe.2:9). A frase em questão apoia a aplicação a Cristo das palavras “Aquele que vos chamou”, visto que é essencialmente a própria glória e virtude de Cristo que o cristão se esforça por alcançar. A visão do Cristo “exaltado” estimula as pessoas a abandonar o pecado e buscar as gloriosas qualidades oferecidas pelo Salvador. |
2Pe.1:4 | 4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, Pelas quais. Ou, “por meio das quais”, referindo-se à glória divina e à excelência, que são o penhor das promessas mencionadas a seguir. Têm sido doadas. Ou, “concedidas”. Este verbo no mesmo tempo é usado no v. 2Pe.1:3. Mui grandes promessas. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta ordem: “preciosas e mui grandes promessas” (comparar com ARC). A palavra para “promessas” (epaggelmata) ocorre somente aqui e em 2Pe.3:13, e pode ser traduzida como “bênçãos prometidas”, referindo-se ao cumprimento das promessas, em vez de simplesmente às promessas como tais. O apóstolo se refere a todas as garantias divinas que se cumprem na salvação do crente. No entanto, tendo em vista o uso posterior (2Pe.3:13), a palavra pode se referir especialmente à segunda vinda e à glória que a acompanha, caso em que todas as promessas divinas se cumprirão. Para que por elas. Ou seja, pelos prometidos dons espirituais já recebidos pelo crente. Coparticipantes. Do gr. koinonoi (ver com. de 1Pe.5:1). Natureza divina. Sobre theios, “divina”, ver com. do v. 2Pe.1:3. Adão foi criado “à imagem de Deus” (Gn.1:27), mas veio o pecado, e essa imagem foi maculada. Cristo veio para restaurar o que fora perdido. Portanto, o cristão pode esperar ter a imagem divina restaurada em seu ser (ver com. de 2Co.3:18; Hb.3:14). Essa possibilidade deve estar sempre diante dos olhos do crente a fim de estimulá-lo à perfeita semelhança de Cristo. Ele atinge esse objetivo à medida que aceita e usa os dons espirituais que Cristo outorga. A transformação começa no novo nascimento e continua até o aparecimento de Cristo (ver com. de 1Jo.3:2). Livrando-vos. Do gr. apopheugo, “fugir”, sugerindo não um resgate em que o cristão é um objeto passivo, mas uma fuga ativa do mal. Isso enfatiza uma verdade importante: o crente não é salvo no pecado, mas recebe poder de abandonar o pecado, escapar de suas garras e viver livre de sua influência corruptora (ver com. de Mt.1:21). O tempo do verbo “livrando-vos” mostra que a participação na natureza divina só pode ocorrer depois que o cristão passa a fugir da corrupção. Corrupção. Do gr. phthora, “decadência”, “ruína”, “destruição”, usada aqui como um termo apropriado para a maldade no mundo. Paixões. A palavra pode ser interpretada como “cobiça”, sendo a origem do mal que há no mundo; ou “na cobiça”, nesse caso, o contexto em que o mal se manifesta (sobre “cobiça”, epithumia, ver com. de Rm.7:7). Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de 1Jo.2:15). |
2Pe.1:5 | 5. por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; Por isso mesmo. Ou, “na verdade, e por essa razão”. Certamente, o propósito de Deus ao conceder as bênçãos prometidas, a fim de que compartilhemos da natureza divina, é razão suficiente para nos estimular na busca pela justiça. Deus fez Sua parte, devemos agora fazer a nossa. Reunindo toda a vossa diligência. Literalmente, “trazendo ao lado toda a diligência” (sobre “diligência”, spoude, ver com. de Rm.12:8; Rm.12:11). O cristão deve acrescentar à busca diligente das virtudes cristãs os dons que Deus já concedeu. Trabalhando com Deus, está habilitado a cultivar vida santificada. Associai. Do gr. epichoregeo, “abastecer”, “fornecer”. Com a vossa fé. Ou, “em conexão com vossa fé”. Aqui, Pedro começa sua lista de virtudes, por vezes, chamada apropriadamente de “escada de Pedro”. Listas semelhantes eram comuns no mundo helênico. No entanto, a lista de Pedro é diferente dessas gregas em sua inspiração, nas características cristãs e na compreensão de que uma virtude se desenvolve a partir de outra. Virtude. Do gr. arete (ver com. do v. 2Pe.1:3). O pensamento de Pedro pode ser parafraseado desta forma: “em conexão com vossa fé, acrescentai excelência moral”. Acatando esse conselho, o cristão construirá uma vida equilibrada. Conhecimento. Assim como acontece com a frase anterior, esta pode ser traduzida como: “em conexão com excelência moral [acrescentai] o conhecimento”. O “conhecimento” (gnosis) se refere à compreensão prática dos caminhos e planos de Deus para o indivíduo, em lugar de um conhecimento meramente intelectual (cf. com. de 1Co.1:5; 1Co.12:8). |
2Pe.1:6 | 6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; Domínio próprio. Do gr. egkrateia, “autocontrole” (ver com. de At.24:25), que deve predominar em todos os aspectos da vida cristã. As qualidades anteriores serão de pouca importância se não forem acompanhadas de domínio próprio da parte do cristão (ver com. de Gl.5:23). Perseverança. Do gr. hupomone, literalmente, “permanecer sob”, destacando perseverança e coragem em face da adversidade (ver com. de Rm.5:3). Piedade. Ou, “reverência para com Deus” (ver com. do v. 2Pe.1:3). Esta qualidade impede o cristão de se tornar farisaico, mantendo-o humilde e gentil. |
2Pe.1:7 | 7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Fraternidade. Do gr. philadelphia, “amor entre irmãos”. No grego clássico, a palavra sugere a afeição pelos parentes de sangue. Contudo, no NT, philadelphia abrange todos os membros da igreja (ver com. de Rm.12:10). Em uma igreja cercada pelo paganismo, havia grande necessidade de genuíno amor fraternal. A necessidade da igreja moderna não é menor a esse respeito. Amor. Do gr. agape, “amor” (ver com. de Mt.5:43; 1Co.13:1). Este é o verdadeiro afeto cristão, que busca apenas o bem da pessoa amada. Agape é uma afeição fundada no conhecimento e na razão que se dispõe ao autossacrifício pelo bem da pessoa amada. É este o princípio que liga Deus Cristo e à humanidade; é o que Ele deseja que os seres humanos mantenham uns pelos outros. Esta é a pedra angular e a coroa de todas as qualidades anteriores mencionadas por Pedro. É a maior de todas as virtudes (1Co.13:13), que deve governar tudo o que fazemos (1Co.16:14). Todas as virtudes se fundam neste princípio maior e, sem ele, de nada valem (1Co.13:1-3). Esta é a virtude que não faz mal ao próximo (Rm.13:10); sua ausência não pode ser compensada por sacrifícios, nem mesmo da própria vida (1Co.13:3). |
2Pe.1:8 | 8. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Porque. Pedro não está satisfeito com as virtudes mencionadas, na vida do cristão; ele deseja que elas floresçam e aumentem em poder e, possivelmente, em quantidade (ver com. de 2Pe.3:18). Fazem com que não sejais. Ou, “impedem-vos de ser”. Inativos. Do gr. argoi, “preguiçosos” ou “ociosos”. É impossível que os que são dotados das virtudes alistadas nos v. 2Pe.1:5-7 sejam membros inativos da igreja. A fé, a bondade fraterna e o amor, para citar apenas três das oito qualidades mencionadas, os impulsionam a trabalhar pelos outros e para o reino do Senhor. Infrutuosos. Aqui, o apóstolo inclui uma promessa de que o serviço cristão, prestado sob as virtudes mencionadas, será produtivo. Assim como o dinheiro bem investido produz dividendos e um campo cultivado produz boas colheitas, a vida cristã equipada com as virtudes necessárias certamente produzirá seus resultados (cf. Fp.1:11; Tg.3:17). Conhecimento. Do gr. epignosis, como no v. 2Pe.1:2 (ver com. ali), não gnosis, como no v. 2Pe.1:5. As virtudes mencionadas só podem ser desenvolvidas e aplicadas para seu verdadeiro objetivo em conexão com o pleno conhecimento de Jesus Cristo. Se não forem desenvolvidas em ligação com Cristo, deixarão de produzir seu pretendido fruto. No entanto, em conexão contínua com o Salvador, sua fecundidade não conhecerá limites. |
2Pe.1:9 | 9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Aquele a quem estas coisas não estão presentes. A pessoa destituída das virtudes cristãs, mencionadas por Pedro, não pode conhecer a Cristo verdadeiramente e permanece sem a luz do mundo. É capaz de ver as coisas do mundo, mas é míope às questões espirituais. Como diz o apóstolo, ela é “cega”. Vendo só o que está perto. Do gr. muopazo, “ser míope”, de onde vem a palavra “míope”. Pedro está falando de professos cristãos que não conseguiram acrescentar as virtudes desejadas à sua “fé” inicial (v. 2Pe.1:5). Toda a visão espiritual está em falta para eles. São vagamente conscientes dos valores espirituais, por isso acham mais fácil ver as coisas que estão ao alcance das mãos, as coisas presentes. Purificação dos seus pecados. O cristão incompleto, de quem Pedro está falando, permitiu que sua anterior justificação, testemunhada pelo batismo, escapasse de sua mente (cf. 1Pe.2:24; 1Pe.3:18). Aquele que esquece a purificação de todos os pecados passados até o momento de sua justificação está em perigo de rejeitar a cruz de Cristo e perder a base para o crescimento no conhecimento espiritual e na santificação. |
2Pe.1:10 | 10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Por isso. Ou, “por isso mais”, isto é, tendo em vista todo o raciocínio descrito nos v. 2Pe.1:3-9, os crentes deviam dar atenção redobrada à questão da salvação. Irmãos. Ao usar esta palavra, o apóstolo se associa carinhosamente a seus leitores. Com diligência. Do gr. spoudazo, “esforçar-se”, “ser diligente”, geralmente sugerindo pressa. O apóstolo compreendia claramente a posição central de Cristo na salvação da humanidade, mas desejava tornar os crentes conscientes de sua própria responsabilidade em cooperar com o poder divino. Confirmar. Do gr. bebaios, “tornar estável”, “seguro”. A vocação e a eleição são atos de Deus (1Pe.1:2; 1Pe.2:21), mas é possível alguém “[anular] a graça de Deus” (Gl.2:21). Assim, o crente precisa “desenvolver” a sua “salvação com temor e tremor” (Fp.2:12). Então, ele estará tornando certo o que Deus já tornou desejável e possível. Vocação. Ver com. de Rm.8:30; Fp.3:14. Eleição. Ver com. de Rm.9:11. Tropeçareis. O apóstolo não está dando a entender que aquele que segue seu conselho nunca vai cair em pecado, mas que não vai cair da vocação e da eleição de Deus. É possível pecar, mas vamos triunfar sobre o pecado e não cairemos totalmente da graça nem perderemos a salvação, evidentemente, desde que permaneçamos nas condições que o apóstolo estabelece (cf. com. de 1Jo.3:6-9). |
2Pe.1:11 | 11. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Desta maneira. Ou seja, cumprindo o conselho dado no v. 2Pe.1:10. Amplamente. Ou, “ricamente”. Todos os dons do Senhor são concedidos generosamente. O futuro que Ele preparou para os fiéis supera as mais elevadas expectativas dos salvos (cf. com. de 1Co.2:9-10). Suprida. Pedro usa aqui o mesmo verbo grego traduzido como “associar”, no v. 2Pe.1:5. Pelo prometido poder divino, equipamos nossa fé com as sólidas virtudes cristãs (v. 2Pe.1:5-7), pelo que Deus poderá nos oferecer um lar eterno no reino do Seu Filho amado. Reino eterno. Este é o único texto do NT em que o adjetivo “eterno” ocorre junto a “reino”. Ele é mais comumente ligado ao substantivo “vida” (ver com. de Jo.3:16). Senhor e [...] Cristo. Este título de Cristo confirma a sugestão de que a frase correspondente no v. 2Pe.1:1 se aplica também ao Salvador (ver com. ali). O reino é dEle (Lc.22:30; Jo.18:36), mas também de Seu Pai (Mt.6:33; Mt.26:29; Mc.14:25). É o reino que foi preparado para os fiéis desde a fundação do mundo (Mt.25:34; ver com. de Mt.4:17). |
2Pe.1:12 | 12. Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados. Por esta razão. Esta palavra sugere a ansiedade do apóstolo e seu senso de responsabilidade pessoal em relação aos perigos que ameaçam a igreja em seus dias. Sempre estarei pronto. Pedro está preparado para cumprir sua responsabilidade espiritual, continuando a ensinar as verdades apresentadas nos v. 2Pe.1:3-11. Ele está ciente da necessidade de manter a fé ancorada nas verdades do reino e a prática fiel dos deveres envolvidos. Verdade já presente. Ou, “a verdade que está presente [com vocês]”, isto é, a verdade em que os leitores foram ensinados. A palavra “verdade” (aletheia) se refere a todo o corpo da doutrina cristã, em que os crentes já haviam sido instruídos, e que eles “conheciam” (cf. com. de Jo.8:32). Confirmados. Do gr. sterizo (ver com. de Rm.16:25). Pedro cumpriu a ordem do Mestre (Lc.22:32), mantendo os crentes firmados na fé. |
2Pe.1:13 | 13. Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, Considero. Do gr. hegeomai, originalmente, “ir adiante [de outras pessoas]”, “sair na frente”; mais tarde, “ter em conta”, “considerar”. O apóstolo considera seu dever erguer-se para alertar a igreja, animando os crentes. Esse era um dever que ele não queria deixar de cumprir. Justo. Ou, “correto”, em referência ao dever. Tabernáculo. Ou, “tenda”, uma habitação temporária. Pedro está pensando no corpo mortal e físico, como algo temporário, que a seu tempo será substituído por um imortal (ver 1Co.15:50-53; cf. com. de 2Co.5:1). Enquanto viver, ele pretende ser um pastor fiel do rebanho que o Senhor colocou sob seus cuidados. Despertar-vos. Do gr. diegeiro, “despertar completamente”. O tempo presente, usado por Pedro, sugere “manter-se completamente desperto”. Pedro planejava continuar seu trabalho enquanto fosse necessário. Com essas lembranças. Frase semelhante ocorre em 2Pe.3:1. O apóstolo entende que uma clara lembrança da base da fé é suficiente para reafirmar a confiança dos crentes na doutrina cristã. |
2Pe.1:14 | 14. certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou. Certo. O conhecimento do apóstolo é certo, pois se trata do próprio Senhor. Estou prestes. Do gr. tachinos, “de repente” ou “logo”. Pedro pode estar se referindo a sua morte que se aproximava, como algo violento ou iminente. O Senhor havia dito a Pedro que ele morreria de forma violenta (Jo.21:18-19). Por outro lado, o apóstolo não era jovem e deve ter imaginado que seu fim estava próximo, como de tato estava. Deixar. Literalmente, “ato de despir”, metáfora mais apropriada para uma peça de roupa do que para uma tenda. Revelou. Do gr. deloo, “deixar claro”, “apontar”, também traduzido como “manifestar” e “indicar” em outras passagens (cf. 1Co.3:13; 1Pe.1:11). Aqui, o texto grego aponta para um tempo definido, ou seja, o momento em que o Senhor profetizou a morte de Pedro (Jo.21:18-19). |
2Pe.1:15 | 15. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo. Esforçar-me-ei. Ou, “serei diligente”; comparar com a expressão “com diligência” (v. 2Pe.1:10). A todo tempo. Isto é, em caso de necessidade. Partida. Do gr. exodos, “saída”; de onde vem a palavra “êxodo”. Lucas usa o termo exodos no relato da transfiguração, quando registra que Moisés e Elias falavam da “partida” [exodos], que Cristo “estava para cumprir em Jerusalém” (Lc.9:31). Pedro não esperava estar vivo por ocasião da volta do Senhor, e aceitava a profecia de Cristo sobre sua morte. Lembrança. Pedro esperava que os leitores se lembrassem das palavras dele, escondidas em seus corações. Entretanto, se as esquecessem, eles poderiam buscar sua carta e refrescar a memória com seu sábio conselho. |
2Pe.1:16 | 16. Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, Demos a conhecer. Talvez por meio da primeira epístola (1Pe.1:7; 1Pe.1:13; 1Pe.4:13), por sua influência sobre o evangelho de Marcos (ver vol. 5, p. 611, 612) ou por meio de instrução pessoal anterior. O poder e a vinda. O texto grego indica que as duas palavras se referem ao mesmo evento. Pedro havia testemunhado os milagres realizados por Cristo, inclusive o evento da transfiguração, que era uma representação em miniatura do futuro reino da glória (DTN, 422). Aqui, no entanto, ele está pensando principalmente na manifestação do poder divino que acompanhará a segunda vinda, da qual a transfiguração foi uma promessa. Isso é sugerido pelo fato de dynamis, “poder”, ser precedido de artigo definido; ao passo que parousia, “vinda”, não é. Os dois substantivos estão no mesmo caso e unidos pela conjunção; formando, portanto, uma unidade de pensamento: o poder divino em conexão com a segunda vinda (sobre parousia, ver com. de Mt.24:3). Fábulas. Do gr. muthoi, de onde vem “mitos”. Pedro deve estar se referindo aos mitos pagãos sobre a descida dos deuses em forma humana ou, mais provavelmente, alertando contra os ensinamentos dos falsos mestres, expostos em 2Pe.2 (cf. 1Tm.1:4; 1Tm.4:7; 2Tm.2:18; Tt.1:14). Engenhosamente inventadas. Ou, “inteligentemente concebidas”, “artisticamente planejadas”. Testemunhas oculares. O fato de os apóstolos terem sido testemunhas oculares da vida, do ministério, morte, ressurreição e ascensão de Cristo os convencia de que Ele era mesmo o Messias prometido, o Filho de Deus. Por sua vez, essa convicção conferia poder irresistível à mensagem que proclamavam (ver com. de Lc.1:2; 1Jo.1:1-3). Da Sua majestade. Literalmente, “da magnificência dAquele”. O fato de os três apóstolos terem sido testemunhas oculares da magnífica glória de Cristo na transfiguração atribui credibilidade a eles como pregadores da segunda vinda. Na transfiguração, o poder divino proclamou a divindade de Cristo aos três apóstolos (2Pe.1:17; Mt.17:5). Esse mesmo poder dará a conhecer a mesma verdade a todo o mundo, na segunda vinda. |
2Pe.1:17 | 17. pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ele recebeu. Isto se refere ao tempo real da transfiguração. Honra e glória. A honra de ser reconhecido pelo Pai e a glória que brilhou de Sua pessoa na transfiguração, lembrando a shekinah, deixaram bem claro que Jesus de Nazaré era digno de ser honrado e adorado por todos os seres criados (ver com. de Jo.1:14). Excelsa. Do gr. megaloprepes, “próprio de um grande ser”, “cheio de majestade”, “magnificente”. O termo é usado somente aqui no NT, mas ocorre na LXX (Dt.33:26), sendo traduzido como “alteza”, com referência a Deus. Pedro aplica a palavra à “nuvem luminosa” que ofuscou a visão dos participantes e testemunhas da transfiguração (Mt.17:5). A seguinte voz. Ver com. de Mt.17:5. Filho Amado. A expressão completa é idêntica à de Mateus (ver com. de Mt.17:5). Pedro nunca esqueceu a mensagem proferida pela voz divina. Esse evento condicionou o conceito dele acerca do Filho, de quem o Pai deu testemunho na ocasião. |
2Pe.1:18 | 18. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo. Nós a Ouvimos. O pronome é enfático no grego. Pedro salienta, assim, a autoridade pessoal dos três apóstolos como testemunhas. Estávamos com Ele. Ênfase sutil, mas clara, na credibilidade do relato. Pedro e seus companheiros tinham realmente estado presentes com Jesus no momento da transfiguração. Portanto, estavam plenamente qualificados para testemunhar sobre sua realidade e importância. Monte santo. A montanha não pode ser identificada (ver com. de Mt.17:1). Contudo, de sua santidade, não há dúvida, pois o Santo de Deus foi revelado ali em Sua glória e majestade. Independente da presença de Cristo, no entanto, o ambiente não tinha santidade (cf. com. de Ex.3:5). |
2Pe.1:19 | 19. Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, Temos, assim. Ou, “e temos”, isto sugere que, nas palavras que se seguem, Pedro fala de algo adicional à sua experiência única na transfiguração, embora de modo algum a substitua. Os leitores de Pedro não tinham estado presentes no monte e poderiam duvidar de que o evento confirmasse “o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 2Pe.1:16). Entretanto, havia algo igualmente convincente para Pedro, e talvez ainda mais a seus leitores – a “confirmada [...] palavra profética”. Tanto mais confirmada a palavra profética. Pedro e seus condiscípulos baseavam suas firmes convicções sobre a missão de Cristo na forma como Sua vida cumpriu as profecias do AT (cf. At.2:22-36; At.3:18; At.4:10-11; At.4:23-28). Esse conhecimento, somado ao conhecimento pessoal do Senhor durante Seu ministério terrestre (cf. 1Jo.1:1-3), dava a eles uma base inabalável para a fé. Eles passaram a vida compartilhando a fé com os outros, edificando, assim, a igreja apostólica. Hoje, os representantes de Cristo têm a mesma missão. Fazeis bem em atendê-la. Pedro se dirige especificamente aos leitores, como indica o pronome “vós”. Pelo pronome relativo “a qual”, ele pode estar se referindo tanto a toda a sua linha de raciocínio (v. 2Pe.1:16-18), que conecta a transfiguração e a palavra profética em apoio a suas convicções, quanto apenas à palavra profética, que acaba de mencionar. Ambas as interpretações são válidas, e ambas dirigem a mente dos leitores às Escrituras como fonte de orientação e autoridade. Candeia. Do gr. luchnos, “luz” (ver com. de SI.119:105; Mt.5:15). Lugar tenebroso. Ou, “lugar miserável”, que tanto pode ser escuro como sujo. Os leitores de Pedro viviam no ambiente escuro da cultura pagã e precisavam de toda luz espiritual possível a fim de evitar as muitas armadilhas que os cercavam. O dia. Literalmente, “dia”, embora existam evidências textuais (cf. p. xvi) para a inclusão do artigo definido. A mente de Pedro parece ter passado, muito naturalmente, da transfiguração, que prefigurava o retorno glorioso do Senhor para o grande “dia” em si. Ele não estava apenas lembrando seus leitores do espetáculo que tinha contemplado no monte, mas dirigindo a mente deles para o evento glorioso prenunciado: a segunda vinda de Cristo em poder e glória. Clareie. Literalmente, “brilhe”, como uma luz que atravessa a escuridão. O apóstolo sabia que a vinda do Senhor dissiparia as trevas do mundo e traria a luz eterna. Então, não haveria a mesma necessidade da candeia: a luz do mundo daria toda a luz necessária a Seu povo. Pedro também pode ter pensado no amanhecer do dia que traz a salvação ao coração individual. Estrela da alva. Do gr. phosphoros, composto de phos, “luz”, e do verbo phero, “portar”; portanto, “portador de luz” ou “aquele que traz luz”. Phosphoros, que ocorre somente aqui no NT, era utilizado para o planeta Vênus, em geral conhecido como a estrela da manhã (cf. com. de Is.14:12). Aqui, sem dúvida, o apóstolo se refere a Cristo (cf. com. de Ml.4:2; Lc.1:78-79; Ap.2:28; Ap.22:16). Em vosso coração. Ou, “vossa mente”. Pedro destaca a experiência do crente, quando a fé em Cristo tem pleno domínio. Essa certeza de convicção é o foco da linha de raciocínio seguida nos v. 2Pe.1:16-19. |
2Pe.1:20 | 20. sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; Sabendo, primeiramente. Ou seja, quando procura estudar a palavra profética, o cristão deve ter sempre em mente o princípio básico que o apóstolo enuncia a partir daqui. Profecia da Escritura. Pedro se refere ao AT, possivelmente, fazendo distinção entre a Palavra inspirada e as declarações dos falsos profetas de que trata no cap. 2Pe.2. Particular elucidação. Ou, “interpretação própria”, referindo-se ao profeta que originalmente deu a profecia. O profeta era porta-voz do Espírito Santo, portanto, estava sob a orientação divina. Não lhe cabia acrescentar suas próprias ideias às mensagens que lhe eram dadas para o benefício do povo de Deus. O mesmo princípio vale para o estudo das profecias. O leitor deve se esforçar para entender o significado inspirado pelo Espírito, nas passagens em consideração. |
2Pe.1:21 | 21. porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Nunca jamais. Do gr. pote, “antigamente”, ou seja, nos tempos do AT. Profecia. Pedro fala da profecia em geral, não de alguma passagem particular (sobre “profecia”, ver com. de Rm.12:6; 1Co.12:10). Por vontade humana. A verdadeira profecia é uma revelação de Deus. A iniciativa é de Deus. Ele decide o que deve ser revelado e o que deve permanecer oculto. A menos que o Espírito Santo impressione a mente, o ser humano é incapaz de profetizar e falar em nome de Deus, não importando o quanto deseje fazê-lo. Homens [santos] falaram da parte de Deus. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “homens falaram da parte de Deus”, isto é, aqueles que foram movidos pelo Espírito Santo transmitiram as mensagens que haviam recebido de Deus. Os homens movidos pelo Espírito Santo são os homens santos, homens de Deus. Qualquer que seja a redação adotada, o significado é praticamente o mesmo. Movidos. Do gr. phero, aqui utilizado no sentido passivo de “ser transmitido”, “ser levado”, com a ideia de velocidade ou força, como pelo vento. A palavra é usada para a condução de um navio diante do vento (At.27:15; At.27:17) e para um vento impetuoso, quando o Espírito Santo desceu sobre os crentes no dia de Pentecostes (At.2:2). Aqui, o uso de phero indica que os profetas foram movidos pelo Espírito, assim como um navio é movido pelo vento. Eles estavam inteiramente sob a motivação do Espírito. Espírito Santo. Ver com. de Mt.1:18. Esta é a única referência direta ao Espírito nesta epístola. |
2Pe.2:1 | 1. Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Do povo. Ou seja, dos israelitas. Surgiram. Ou, “ergueram-se”, com ênfase no contraste entre os profetas de Deus, que acabavam de ser discutidos (2Pe.1:20-21), e os falsos mestres, sobre os quais o apóstolo passa a discorrer. Falsos profetas. Ver com. de Mt.7:15. Pedro se refere a um fato histórico com o qual seus leitores estavam bem familiarizados: havia muitos falsos profetas em ação nos tempos do AT (ver com. de Je.14:13). Posteriormente, ele se refere a um claro exemplo: Balaão (2Pe.2:15). Haverá. O tempo futuro sugere que os falsos mestres ainda não haviam começado seu trabalho destrutivo entre os crentes a quem Pedro estava escrevendo, embora já estivessem operando em outros lugares, visto que nos v. 2Pe.2:10-22 eles são referidos tanto no presente quanto no passado. Um dos principais propósitos do apóstolo, ao escrever, era advertir contra os enganos desses falsos mestres, a fim de que o rebanho fosse salvo de suas armadilhas. Entre vós. Isto pode sugerir que os falsos mestres surgiriam entre os próprios crentes, ou que eles viriam de outros lugares para estar entre eles (cf. At.20:29-30). Falsos mestres. Pedro faz distinção entre profetas e mestres. Os primeiros afirmam portar a mensagem de Deus e os últimos pretendem interpretar a mensagem. Os quais. Os falsos mestres são o tipo de pessoas que introduzem heresias. Introduzirão, dissimuladamente. Literalmente, “introduzirão pelo lado de”, possivelmente sugerindo a natureza secreta da ação dos falsos mestres, que agem da mesma forma que os espiões ao se infiltrarem em um país. Heresias. Do gr. haireseis (ver com. de At.5:17; 1Co.11:19). Ao longo deste capítulo, o apóstolo se refere a algumas das heresias propagadas pelos falsos mestres: negação do Senhor (v. 2Pe.2:1), ensinos licenciosos (v. 2Pe.2:10; 2Pe.2:18) e abandono do santo mandamento (v. 2Pe.2:21). A descrição que Pedro faz do trabalho deles justifica a linguagem forte com que os condena. Heresias destruidoras. Literalmente, “heresias de destruição” ou “heresias de perdição”, isto é, heresias que levam à perdição. A palavra para “perdição” é apoleia (ver com. de Jo.17:12). Nesta epístola, Pedro faz uso frequente de apoleia (duas vezes neste versículo, no v. 2Pe.2:3, e em 2Pe.3:7; 2Pe.3:16). Renegarem. Comparar com a passagem paralela de Jd.1:4. Lembranças devem ter vindo à mente de Pedro, quando usou esta palavra, ao se lembrar de sua própria negação do Senhor (ver com. de Mt.26:75; Mt.10:33). Senhor. Do gr. despotes, “mestre” (ver com. de Lc.2:29; At.4:24). A palavra era usada pelos escravos para se dirigir a seus senhores. Sugere senhorio absoluto e propriedade, geralmente mediante compra. Despotes torna-se um título apropriado a Cristo por causa do preço que Ele pagou pela redenção da humanidade (ver com. de Mt.20:28; 1Co.6:19-20). Não pode haver heresia pior do que viver de acordo com os óbvios ensinos dos falsos mestres, negando o Senhor que deu a própria vida para resgatar do pecado e de suas consequências. O fato de os falsos mestres negarem o Senhor sugere que, no passado, eles tinham sido cristãos, apesar de terem se apostatado desde então. Repentina destruição. Ou, “perdição súbita”, isto é, destruição inesperada. A palavra aqui traduzida como “repentina” é traduzida como “prestes” (2Pe.1:14). O fim de toda mentira é a destruição, tanto para os mestres como para seus seguidores. |
2Pe.2:2 | 2. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; Seguirão. Ou, “seguirão de perto”, o que sugere uma próxima imitação dos enganadores. O apóstolo enfrenta a perspectiva de que muitos seguirão os falsos mestres, mas espera que este aviso poupe os leitores desse engano fatal. Práticas libertinas. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “vida imoral” (ver NTLH). O uso da palavra aselgeiai, aqui e no v. 2Pe.2:18, sugere que as doutrinas dos falsos mestres encorajavam a licenciosidade entre seus seguidores, e que essa frouxidão moral atraía muitos de caráter instável. Por causa deles. Alguns aplicam estas palavras aos falsos mestres. Talvez seja melhor aplicá-las aos membros da igreja que se envolviam nas práticas imorais ensinadas pelos falsos mestres. Será infamado. Literalmente, “será blasfemado”. Os pagãos não faziam distinção entre os cristãos genuínos e os que seguiam os falsos mestres e se engajavam em suas práticas imorais. A doutrina cristã era responsabilizada pelos excessos dos apóstatas. A conduta não cristã de alguns lança descrédito sobre toda a igreja. Caminho da verdade. Ou seja, o caminho que é a verdade, o caminho cristão (sobre “caminho”, ver com. de At.9:2; At.16:17). |
2Pe.2:3 | 3. também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme. Movidos por avareza. Ou, “pela cobiça”, sendo este o recurso com que os falsos mestres atuavam para enganar e extrair riqueza dos incautos (cf. 1Tm.6:5; Tt.1:11; Jd.1:16; comparar com a experiência de Balaão, em Nm.22-24; sobre “cobiça”, ver com. de Rm.1:29; Ef.5:3; Cl.3:5). Farão comércio. Do gr. emporeuomai, “ir a alguma negociação”, “viajar a negócios”. A palavra portuguesa “empório” vem da mesma raiz. Os mestres estavam negociando a salvação de suas vítimas, vendendo-lhes falsas doutrinas em troca de seus presentes. Os crentes que davam de seus meios para enriquecer aqueles mestres certamente recebiam pouco em troca. Palavras fictícias. Do gr. plastoi, “moldadas”, “formadas”, portanto, “forjadas”, “fabricadas”; daí vem a palavra “plástico”. Os falsos mestres fingiam ter conhecimento secreto e persuadiam os crentes a lhes dar dinheiro, revelando assim seus reais motivos. Juízo. Do gr. apoleia (ver com. do v. 2Pe.2:1). A referência aqui é à destruição final dos falsos mestres. Para eles [...] não tarda. Literalmente, “para quem a sentença proferida há muito tempo não está inativa”. A sentença há muito decidida por Deus não pode ser ignorada. Dorme. Do gr. nustazo, “balançar a cabeça durante o sono”; termo encontrado no NT somente aqui e em Mt.25:5. A frase anterior de Pedro se referia à sentença do juízo. Aqui ele garante aos fiéis que a sentença será cumprida de acordo com o plano de Deus. |
2Pe.2:4 | 4. Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo; Ora, se Deus não poupou. Com estas palavras, Pedro começa uma série de ilustrações sobre a inevitabilidade dos juízos de Deus. Esse pensamento se estende até o v. 2Pe.2:9, em que ele conclui que o Senhor livrará os justos e punirá os ímpios (sobre o verbo “poupar”, pheidomai, ver com. de Rm.8:32). Anjos. Ver a passagem paralela de Jd.1:6. O autor não especifica o pecado que provocou a queda desses anjos (cf. com. de Jd.1:6; Ap.12:4; Ap.12:7-9). O raciocínio de Pedro é de que se Deus não poupou os anjos, seres espirituais que viveram em Sua presença, não deixará de punir os ímpios que levam outros a se desviar. Precipitando-os no inferno. Tradução do verbo grego tártaroo, “manter cativo no tártaro”. Os antigos gregos consideravam que o “tártaro” era a morada dos ímpios mortos e o lugar em que o castigo lhes era dado. Portanto, correspondia ao geena dos judeus (cf. com. de Mt.5:22). Escrevendo às pessoas que viviam em um ambiente helenístico, Pedro emprega um termo grego para transmitir seu pensamento. No entanto, ao fazer isso, não endossa nem a ideia grega do tártaro nem o conceito popular judaico de geena. Aqui, o tártaro se refere simplesmente à condição a que os anjos maus estão restritos até o dia do juízo. Abismos de trevas. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “abismos da escuridão”. A linguagem de Pedro é figurativa e não serve para identificar algum lugar em particular como a morada dos anjos caídos. Esta frase é diferente daquela usada por Judas em sua passagem paralela (ver Jd.1:6). Juízo. Do gr. krisis, “[o ato de] julgar”. No v. 2Pe.2:3, Pedro usa uma palavra diferente para “juízo” (krima), que se refere ao veredito que resulta do julgamento (cf. com. de Jo.3:19; Jo.9:39; Jo.16:11). Aqui, o apóstolo olha para o futuro, quando o juízo aplicado a Satanás e seus seguidores angelicais finalmente será executado (ver com. de Ap.20:10). |
2Pe.2:5 | 5. e não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios; E não poupou. Com estas palavras, o apóstolo começa sua segunda ilustração sobre a certeza do juízo (cf. com. do v. 2Pe.2:4). O mundo antigo. Ou seja, o mundo que existia antes do dilúvio. Preservou. Do gr. phulasso, “proteger”, “prestar atenção”, aqui, no sentido de “proteger” (cf. Gn.7:16). Pregador. Do gr. kerux, “arauto” (ver com. de 1Tm.2:7). Desde os tempos antigos, o ofício do kerux era sagrado, e sua pessoa, inviolável, uma vez que o arauto era considerado como estando sob a proteção imediata dos deuses. Noé foi “arauto da justiça” do Senhor, isto é, proclamou uma mensagem sobre a justiça. Josefo (Antiguidades, i.3.1 [72-74]) registra a tradição judaica de que Noé tentou convencer seus contemporâneos a mudar de vida (cf. com. de Gn.6:3; 1Pe.3:19-20). Mais sete pessoas. Do gr. ogdoos, “oitavo”, isto é, acompanhado por sete pessoas, neste caso, os membros imediatos da família de Noé (ver Gn.6:10; Gn.7:7). A ênfase de Pedro está no fato de que tão somente oito pessoas escaparam vivas do mundo antediluviano. Fez vir. “Ao mesmo tempo em que trouxe”. Dilúvio. Ver com. de Gn.7:17-24. Ímpios. Do gr. asebeis, singular de asebes (ver com. de Rm.4:5). Essa descrição de Pedro sobre o mundo antediluviano pode ser justificada à luz de Gn.6:1-7 (cf. PP, 90-92). |
2Pe.2:6 | 6. e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; Reduzindo. Comparar com a passagem paralela de Jd.1:7. Esta é a terceira ilustração dos juízos de Deus (cf. com. de 2Pe.2:4-5). A palavra grega para “reduzir a cinzas” (tephroo) é usada pelo escritor clássico Dio Cássio (História Romana, xvi.21) para descrever a erupção do Vesúvio. Sodoma e Gomorra. Sobre a destruição dessas cidades, ver com. de Gn.19:24-25. Ruína. Literalmente, “catástrofe”. Isto pode sugerir um ato adicional de juízo após a redução das cidades a cinzas (cf. com. de Gn.19:25). Tendo-as posto. Ou, “tendo criado”. Exemplo. Do gr. hupodeigma, “exemplo”, isto é, um aviso. Impiamente. A frase diz, literalmente: “aqueles prestes a viver impiamente”. O terrível destino das cidades da planície deveria desencorajar outros de se entregar à mesma maldade que provocou a queda delas. |
2Pe.2:7 | 7. e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados Livrou. Ou, “resgatou”. Assim como Deus salvou Noé do dilúvio, Ele resgatou Ló e sua família do holocausto que consumiu Sodoma (Gn.19:15-16). Embora Pedro esteja preocupado principalmente com a certeza dos juízos divinos, ele tem o cuidado também de enfatizar os atos misericordiosos do Senhor. Justo. Do gr. dikaios (ver com. de Mt.1:19). A palavra ocorre duas vezes em 2Pe.2:8, em que é traduzida como “justo(a)”. Afligido. Do gr. kataponeo, “cansar-se com a labuta”, dando a ideia de Ló estar desgastado e revoltado com a imoralidade do povo de Sodoma. No v. 2Pe.2:8, uma palavra grega diferente também é traduzida como “atormentava”. Procedimento. Do gr. anastrophe, “conduta”, “comportamento”, termo usado seis vezes em 1 Pedro e duas vezes nesta epístola (aqui e em 2Pe.3:11). Insubordinados. Do gr. athesmoi, de a, “sem”, e thesmoi, “leis”, “ordenanças”; portanto, “sem lei”; geralmente designa os que se rebelam contra os decretos divinos. Athesmoi ocorre no NT somente aqui e em 2Pe.3:17. |
2Pe.2:8 | 8. (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles), Pelo que via e ouvia. Literalmente, “pela visão e pela audição”. Os atos pecaminosos assaltavam Ló por todos os lados, atingindo sua integridade pelos olhos e pelos ouvidos até parecer não haver fuga de sua influência. Habitava. Pedro usa a palavra rara e enfática egkatoikeo para falar da residência de Ló no meio dos ímpios habitantes de Sodoma. Atormentava. Do gr. basanizo, “torturar”, “molestar”, cujo tempo verbal enfatiza que a tortura continuava dia após dia. Ló sofria contínua dor mental enquanto via diariamente a má conduta de seus vizinhos. Obras iníquas. Ou, “maldades”. |
2Pe.2:9 | 9. é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo, O Senhor sabe. O apóstolo chega ao fim de sua longa série de ilustrações, iniciada no v. 2Pe.2:4. Ele conclui que, tendo em vista os cuidados do Senhor sobre Noé e Ló, e Seus juízos contra seus contemporâneos, o crente pode confiar inteiramente na justiça de Deus. Livrar. Comparar com o com. do v. 2Pe.2:7. Provação. Literalmente, “tentação”, que aqui parece se referir à tentação ao pecado e às provações que vêm sobre os que a resistem firmemente (cf. com. de Tg.1:2; Tg.1:12). A certeza da proteção do Senhor fortaleceria os leitores da epístola a suportar as tentações fomentadas pelos falsos mestres. Piedosos. Do gr. eusebes; ver At.10:2; At.10:7. Reservar. Ou, “guardar” (v. 2Pe.2:4). Sob castigo. Do gr. kolazomenous, um particípio presente; literalmente, “ser punido”. Há duas linhas de pensamento bem definidas sobre a teologia de Pedro neste contexto: 1. Que “sob castigo” expressa finalidade, como refletido na tradução “ser castigado”, isto é, com a finalidade de ser punido. Essa explicação atribui o castigo aqui mencionado ao dia do juízo. 2. Que o verbo deve ser traduzido como “enquanto é castigado”, com referência à retribuição que o pecado traz aos injustos durante a vida terrena. Essa interpretação está mais de acordo com a primeira metade do v. 2Pe.2:9, segundo a qual os piedosos são livrados das tentações e provações que os cercam nesta vida. Entretanto, os injustos, ao mesmo tempo, sofrem com o resultado de seus atos. Essa interpretação tem a vantagem adicional de preservar a força do tempo presente do particípio kolazomenous, “sendo castigado”, em harmonia com o presente do indicativo do infinitivo terein, “reservar” (ver Problems in Bible Translation, p. 237-240). Interpretar esta passagem no sentido de que os maus estão sob punição, após a morte e antes do juízo, contraria todo o teor das Escrituras (ver com. de Lc.16:19; Ap.14:10-11). Injustos. Do gr. adikoi, o oposto de eusebes, “dos deuses”. Dia de juízo. Nesta epístola, Pedro trata o “dia de juízo” como sendo o “dia do Senhor” (cf. 2Pe.3:7; 2Pe.3:10) e “o dia de Deus” (v. 2Pe.3:12; sobre o dia de juízo, ver com. de Ap.14:7; Ap.20:11-15). |
2Pe.2:10 | 10. especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, Especialmente. Pedro retorna aos fatos de seus dias e novamente lida com os falsos mestres e seus caminhos corruptores. Que [...] andam. Esta palavra descreve uma classe específica de pessoas que seriam punidas no juízo (v. 2Pe.2:9). Seguindo a carne. Comparar com a passagem paralela em Jd.1:7. Na vida dos falsos mestres, as obras da carne eram dominantes, e eles as buscavam (cf. com. de Rm.8:4-5). Imundas. Do gr. miasmos, “poluição”, “corrupção”; de onde deriva a palavra em português: “miasma”. A palavra ocorre somente aqui no NT e se refere ao ato de profanar ou poluir (cf. com. do v. 2Pe.2:20). O contexto (v. 2Pe.2:2; 2Pe.2:12-22) indica que os que perturbavam a igreja espalhavam não só falsas doutrinas, como também imoralidade. É um fato que, ao longo da história da igreja cristã, a fraqueza doutrinária muitas vezes foi acompanhada pela fraqueza moral. Os que se afastam da verdade divina também abandonam seu padrão de conduta pessoal. Paixões. Do gr. epithumia (ver com. de Rm.7:7). Menosprezam qualquer governo. Ou, “desprezam o senhorio”. A palavra para “senhorio” (kuriotes) é traduzida como “domínio”, e é aplicada aos anjos (Ef.1:21; Cl.1:16; Jd.1:8). No entanto, a maioria dos comentaristas concorda que aqui se refere ao senhorio de Cristo. No v. 2Pe.2:1, o apóstolo prediz que os mestres heréticos negarão “o Senhor que os resgatou” e, no v. 2Pe.2:11, sugere que eles prestam pouco respeito ao Senhor. Portanto, deles se podia verdadeiramente dizer que desprezavam o senhorio de Jesus Cristo. Uma forma de testar a validade de uma nova doutrina é analisar sua consideração para com a Divindade: ela é verdadeiramente reverente ou trata a Divindade de forma desrespeitosa? Atrevidos. Ou, “pessoas ousadas”, isto é, pessoas temerariamente imprudentes, especialmente na oposição à autoridade. Arrogantes. Literalmente, “obstinados”, sugerindo arrogância. Os enganadores estavam determinados a andar por si mesmos, em desafio à autoridade. Não temem. A frase diz, literalmente: “não tremem [quando] blasfemam as glórias”. As opiniões se dividem quanto a quem se refere a expressão “autoridades” ou “glórias” (doxai). Alguns veem uma referência aos anjos maus, mas é difícil entender como poderiam ser blasfemados. Outros, com alguma razão, aplicam as palavras aos anjos bons, o que sugere que os falsos mestres falavam de forma depreciativa sobre os mesmos. No entanto, outros consideram uma referência a toda a família celestial, incluindo Deus, Cristo e os anjos. Outros, ainda, preferem ver uma alusão às autoridades terrenas locais contra quem os hereges, de forma imprudente, falavam mal. A escolha final entre as possíveis aplicações depende da interpretação dada ao v. 2Pe.2:11 (ver com. ali). |
2Pe.2:11 | 11. ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na presença do Senhor. Ao passo que. Comparar com a passagem paralela em Jd.1:8-9. Pedro aponta o contraste entre os mestres fracos e os poderosos anjos. Os primeiros são imprudentes a ponto de acusar até mesmo as mais elevadas autoridades, enquanto os anjos, que são mais fortes do que os falsos mestres, mantêm um discreto silêncio sobre esses assuntos. Anjos. O contexto torna razoavelmente claro que Pedro se refere aos anjos santos e não aos caídos. Maiores. Ou seja, superiores aos falsos mestres. Contra elas. A interpretação do v. 11 depende da aplicação destas palavras. Alguns as dirigem aos falsos mestres, mas o contexto sugere que podem ser mais aplicáveis às “autoridades”, sendo que o sentido da passagem seria: “Os mestres heréticos difamam livremente as autoridades, enquanto os santos anjos, embora muito superiores a esses mestres, por temor piedoso, se abstêm de qualquer acusação.” Quão atrevida parece a conduta dos mestres à luz dessa comparação! Juízo infamante. Ou, “juízo blasfemo”, isto é, julgamento injuriante. Na presença do Senhor. Isto é, na presença divina, onde os santos anjos habitam. Embora não o percebam, os falsos mestres também vivem constantemente na presença de Deus e devem agir com tanta reverência quanto os anjos sem pecado. |
2Pe.2:12 | 12. Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos, Esses. Ou seja, os falsos mestres. Comparar com a passagem paralela de Jd.1:10. Brutos irracionais. Ou seja, “criaturas irracionais”. A palavra traduzida como “animais” é zoa, “criaturas vivas” (ver com. de Ap.4:6). Feitos para presa e destruição. Literalmente, “para a captura e destruição”. A descrição devastadora de Pedro enfatiza a natureza irracional e não espiritual desses enganadores. Falando mal. Do gr. blasphemeo, “blasfemar”, “falar mal contra”. Pode ser comparado com o mesmo verbo usado nos v. 2Pe.2:2; 2Pe.2:10 e com o adjetivo blasphemos, “caluniador” ou “blasfemo” (v. 2Pe.2:11). Daquilo. A expressão diz, literalmente: “de coisas em que são ignorantes” (cf. 1Tm.1:7). Os iludidos poderiam ter obtido uma compreensão dos assuntos divinos, mas optaram por permanecer na ignorância e induzir os outros ao erro. Na sua destruição. Ou, “no seu perecimento também perecerão”. Há um jogo de palavras no grego que não é possível reproduzir na tradução. O escritor pode estar sugerindo que os falsos mestres perecerão como os animais, ou que morrerão em consequência de seus próprios atos corruptos. As duas interpretações são válidas, e o fim é o mesmo, os mestres serão destruídos. |
2Pe.2:13 | 13. recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; Recebendo. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “sofrendo o erro”, tornando a frase completa como: “recebendo o erro como o salário do malfeito”. Tais homens (ARC). A frase diz, literalmente: “considerando a vida luxuriosa um prazer”. A palavra para “prazer” (hedone) muitas vezes sugere a gratificação sensual (cf. Lc.8:14; Tt.3:3; Tg.4:1; Tg.4:3), enquanto “luxúria” (truphe) tem a conotação de vida luxuosa. Pedro descreve os sedutores como se estivessem se entregando aos desejos sensuais que pertencem às trevas da noite, no entanto, considerando-os como experiências felizes e legítimas, acima de qualquer suspeita, mesmo à luz do dia. Nódoas. Os mestres são manchas e imperfeições na face da Terra e, em particular, sobre a igreja. Eles se regalam. Ou, “deleitam-se”, da mesma raiz da palavra traduzida como “luxúria” na frase anterior. Mistificações. Do gr. apatai, “enganos”. Porém, evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante agapai, “festas de amor” (cf. Jd.1:12; ver vol. 6, p. 32, 33; ver com. de 1Co.11:20). É possível que Pedro tenha evitado deliberadamente o uso de agapai por não considerar conveniente mencionar o sagrado amor, que esses falsos mestres desonravam com suas orgias. Mesmo que se mantenha a variante apatai, “enganos”, que é bem comum, deve-se respeitar o contexto e reconhecer que o apóstolo tem em mente a festa do amor. Paulo fala da embriaguez e dos excessos na Ceia do Senhor, praticados por alguns na igreja de Corinto (ver com. de 1Co.11:20-22). Banqueteiam. Do gr. suneuocheo, de sun, “juntos”, e euocheo, “alimentar abundantemente”. O fato de Pedro falar dos falsos mestres festejando com os crentes sugere que os desordeiros ainda eram membros da igreja, fato que tornava sua influência ainda mais perigosa. |
2Pe.2:14 | 14. tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; De adultério. Ou, “de uma adúltera”. Isto dá uma imagem vívida de homens cujos pensamentos refletem continuamente a imagem de uma adúltera. Seus principais desejos são sexuais, e cada mulher que encontram é imediatamente avaliada sob esse ponto de vista (cf. com. de Mt.5:28). Não é surpreendente que se achem incapazes de controlar suas paixões e evitar o pecado. Engodando. Ou, “seduzindo”, isto é, oferecendo atrativos. Inconstantes. Do gr. asteriktoi, literalmente, “não apoiados”, “não fundamentados”. A referência principal é às mulheres que os falsos mestres seduziam para práticas adúlteras. É possível que os enganadores participassem das festas do amor a fim de se familiarizar com as mulheres que pudessem seduzir posteriormente. A referência de Pedro também pode incluir os homens que foram desviados pela má influência dos mestres. Exercitado. Do gr. gumnazo, “treinar na disciplina da ginástica”, de onde vem a palavra “ginástica”. Esses falsos mestres treinavam cuidadosamente para adquirir a habilidade pela qual obtinham as coisas que desejavam. Na avareza. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “na cobiça”. Este é mais um pecado em que os mestres estavam viciados, além de blasfêmia e sensualidade. Filhos malditos. Literalmente, “filhos de maldição”, isto é, os que são merecedores de execração, de tão mau que é seu caráter. |
2Pe.2:15 | 15. abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça Abandonando. Ou, “tendo abandonado completamente”. Comparar os v. 15 e 16 com a passagem paralela de Jd.1:11. Reto. Do gr. euthus (ver com. de At.8:21). Caminho. Do gr. hodos (ver com. de At.9:2). Pedro declara que os adversários, em todos os sentidos, tinham abandonado completamente a fé. Extraviaram. Ou, “foram desencaminhados”. Os que deixam o caminho cristão acabam por se extraviar. Seguindo. Ou, “seguindo de perto”, o que sugere uma imitação próxima (cf. com. do v. 2Pe.2:2). Caminho de Balaão. Em vez de seguir o caminho de Cristo, esses falsos mestres seguiam servilmente o rumo tomado por Balaão. Ao longo deste capítulo, parece que Pedro tinha Balaão em mente como o protótipo dos enganadores de sua época. Esses amavam o ganho financeiro e incentivavam a sensualidade, assim como o antigo profeta (sobre a conduta de Balaão, ver com. de Nm.22-24). Beor. Ver Nm.22:5. Prêmio da injustiça. A mesma frase grega é traduzida como “salário da injustiça” (v. 2Pe.2:13). Balaão e os falsos mestres tinham os olhos na recompensa material proveniente de suas práticas más. |
2Pe.2:16 | 16. (recebeu, porém, castigo da sua transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta). Sua transgressão. Ou, “sua própria transgressão [da lei]”. O erro de Balaão não passou despercebido nem sem repreensão, e Pedro sugere que a conduta dos falsos mestres não ficaria impune. Animal de carga. Do gr. hupozugios, literalmente, “sob um jugo”, aplicado ao jumento como a besta de carga comum no Oriente. Falando. Do gr. phtheggomai, “dar um som”, “proferindo [um grito ou um ruído]”. É usado para qualquer ruído feito por pessoas ou animais e não necessariamente se refere ao discurso articulado. Assim, Pedro define o ruído da jumenta como “voz humana” (cf. Nm.22:27-31). Refreou. Ou, “reprimiu”, “deteve”. O fenômeno da jumenta falante de Balaão deteve seu curso rebelde e lhe permitiu reconhecer o anjo e ser sensível às orientações divinas. Insensatez. Aqui, a condição de estar fora de si. Caso Balaão houvesse preservado os sentidos, recusando-se a ser desequilibrado pelos desejos da cobiça, ele não teria cometido um erro tão grave. O apóstolo novamente deixa a seus leitores a aplicação da ilustração com os falsos mestres, que seguiram o caminho de Balaão. |
2Pe.2:17 | 17. Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; Esses. Comparar os v. 17 a 19 com a passagem paralela em Jd.1:12-13; Jd.1:16. Pedro deixa sua ilustração e fala diretamente dos falsos mestres (cf. v. 2Pe.2:12). Fonte sem água. Ou, “fontes secas”. Os enganadores alegavam refrescar os espiritualmente sedentos. Contudo, quando chegavam até eles, os sedentos ficavam desapontados, pois os mestres não tinham água viva para dar. Estavam espiritualmente secos (cf. Jo.4:14; Ap.7:17; Ap.21:6). Nuvens (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “névoas” (ARA). A frase, então, diz, literalmente: “névoas impelidas por temporal”. Os mestres heréticos, alegando portar luz, levavam uma névoa espessa que apagava a paisagem espiritual e os cristãos eram impedidos de ver para onde estavam indo. Além disso, as “névoas” não eram consistentes e a instrução se desviava para todos os lados sob o impulso das paixões dos mestres. Está reservada. Ou, “tem sido reservada” (cf. v. 2Pe.2:4; 2Pe.2:9). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da palavra “eternamente” (ARC), apesar de ela ser confirmada na passagem correspondente em Jd.1:13. Negridão das trevas. Isto é, do mundo inferior. Ver com. do v. 2Pe.2:4, em que a palavra “trevas” (zophos) também é utilizada. |
2Pe.2:18 | 18. porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, Proferindo palavras. Do gr. phtheggomai (ver com. do v. 2Pe.2:16). Pedro não credita aos enganadores um discurso ordenado, mas os descreve como emitindo sons semelhantes aos da jumenta (v. 2Pe.2:16). Palavras jactanciosas. Do gr. huperogka, literalmente, “[assuntos] bombásticos”, isto é, discurso imoderado e extravagante, com possível referência a termos filosóficos dos mestres gnósticos (cf. com. de Jd.1:16). Engodam. A mesma palavra grega traduzida como “engodando” (v. 2Pe.2:14). Paixões carnais. Comparar com “imundas paixões” (ver com. do v. 2Pe.2:10). Libertinagens. Do gr. aselgeiai (ver com. do v. 2Pe.2:2). Aqueles que estavam prestes a fugir. Estes são os que os falsos mestres atraíam com palavras grandiosas, argumentos filosóficos e seduções sensuais. As vítimas acabavam de aceitar o cristianismo, ou estavam a ponto de aceitá-lo, quando eram confrontadas com os enganos ilusórios desses obreiros heréticos. Aqueles que enganavam esses “pequeninos” certamente mereciam a sentença prescrita pelo Salvador (Mt.18:6). Dos que andam no erro. Ou seja, os gentios pagãos com quem os novos conversos tinham estado intimamente associados e de cuja influência eles tinham conseguido escapar. |
2Pe.2:19 | 19. prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. Prometendo-lhes liberdade. Os falsos mestres sugeriam que aqueles que tomassem os caminhos que eles pregavam estariam livres de todas as cansativas restrições. No entanto, a liberdade que prometiam era licença sem lei, não a liberdade cristã (ver com. de 2Co.3:17; Gl.5:13). A liberdade que o cristão deve ter, a liberdade do pecado, os enganadores não poderiam oferecer nem desejavam alcançar. Corrupção. Do gr. phthora (ver com. de 2Pe.1:4), que transmite a ideia de destruição, bem como de imundícia moral. Os falsos mestres eram incapazes de ajudar qualquer pessoa num plano moral mais elevado, visto que eles próprios estavam presos aos vícios sensuais. Aquele que. Ou, “pela qual”, referindo-se à corrupção. Vencido. Ou, “dominado”, como em uma luta, quando o competidor mais fraco é derrotado. Fica escravo. Ou, “é escravizado” (ver com. de Rm.6:16). Embora os falsos mestres não assumissem isso, o pecado os tinha derrotado e eles se haviam tornado seus escravos. Como poderiam oferecer liberdade aos outros? |
2Pe.2:20 | 20. Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Depois de terem escapado. A frase diz, literalmente, “pois se, tendo escapado”. A fim de dar aos crentes uma solene advertência sobre os perigos e os resultados da apostasia, o apóstolo usa o caso daqueles que foram levados a seguir os falsos mestres. Contaminações. Do gr. miasmata, “coisas que contaminam”, “impurezas” resultantes do contato com o mundo (cf. com. do v. 2Pe.2:10). Mundo. Ver com. de 1Jo.2:15. Conhecimento. Do gr. epignosis (ver com. de 2Pe.1:2). Senhor e Salvador Jesus Cristo. Aqui, o apóstolo atribui ao Senhor um título múltiplo que incorpora a maioria de Seus gloriosos atributos e representa Seus principais ofícios (ver com. de Mt.1:1; Mt.1:21; Mt.1:23; Lc.2:29; Jo.13:13; Jo.20:28). Aquele que obteve o pleno conhecimento de Jesus terá uma compreensão pessoal dos poderes do Salvador, tendo-os experimentado na própria vida. Seu conhecimento experimental de Cristo o levará a fugir do mundo e de suas corrupções, e o poder de Cristo o terá capacitado totalmente a escapar deles. Assim, Pedro vê seu próprio rebanho como tendo escapado e está ansioso para que não seja seduzido a voltar ao mundo pelas seduções dos falsos mestres. Enredar. Do gr. empleko, “entrelaçar”, “ser enredado”. Assim como os gladiadores se enredavam nas redes um do outro durante o combate, o crente que cede às seduções mundanas ficará irremediavelmente enredado e será facilmente destruído. A palavra “nelas” (ARC) pode ser traduzida como “nestas”, isto é, nas corrupções do mundo, ou “por estas”, dando a entender que é pelas impurezas que o cristão é vencido. Vencidos. Ver com. do v. 2Pe.2:19. Seu último. A frase diz, literalmente: “as últimas coisas para eles se tornaram piores do que as primeiras”. Aquele que, tendo sido cristão, volta para o mundo, torna-se espiritualmente endurecido e menos sensível aos apelos espirituais. Sua salvação se torna mais difícil (cf. Mt.12:45; Lc.11:26; Hb.6:4-8; Hb.10:26). |
2Pe.2:21 | 21. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Melhor lhes fora. A posição dos apóstatas teria sido melhor se nunca tivessem se tornado cristãos, pois poderiam ainda ser alcançados como pagãos. A beleza da verdade cristã causaria forte impressão em seu coração e eles seriam mais suscetíveis às influências do evangelho. Conhecido. Do gr. epignosko, verbo que corresponde ao substantivo epignosis (ver com. de 2Pe.1:2). Aquele que obteve o pleno conhecimento do Salvador não pode mais ser o mesmo de quando não tinha o conhecimento. O conhecimento traz responsabilidade. A pessoa é responsável por aquilo que conhece. Embora o cristão apóstata retorne às maneiras mundanas, não pode escapar à responsabilidade pelo conhecimento salvífico de Cristo que uma vez aceitou e depois rejeitou. O caminho da justiça. O apóstolo destaca que este é o único caminho para a salvação (ver com. dos v. 2Pe.2:2; 2Pe.2:15). Volverem. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “voltar atrás”, enfatizando a rejeição completa do modo de vida cristão. O santo mandamento. O artigo definido e o singular indicam uma referência a um conceito específico. Em Rm.7:7, Paulo utiliza uma construção semelhante para se referir a um mandamento particular, o décimo. Aqui, a linguagem de Pedro parece se referir ao corpo completo de instruções dadas aos cristãos para orientá-los no “caminho da justiça”. Dado. Do gr. paradidomi, “entregar”, “passar”, “transmitir”. O verbo está relacionado com o substantivo paradosis, “transferência”, ou seja, a tradição (2Ts.3:6; ver com. de Mc.7:3). Pedro se refere, portanto, à instrução que os crentes haviam recebido dos mestres cristãos. |
2Pe.2:22 | 22. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal. Adágio. Do gr. paroimia (ver com. de Jo.10:6). O conteúdo do provérbio se cumpriu, no caso dos apóstatas. O cão. Este está em Pv.26:11, com referência a um tolo que retorna à própria loucura. Aqui, Pedro usa para ilustrar a conduta vil e insensata daqueles que, tendo deixado a imundície moral do mundo, voltam a se deleitar com ela novamente. Porca. Este não é um provérbio bíblico, mas pode ter sido corrente nos círculos judaicos da época de Pedro. A figura é usada para descrever o cristão que foi lavado das corrupções do mundo, mas que, pela apostasia, volta a se poluir novamente com as impurezas morais de que havia sido resgatado pelo evangelho. |
2Pe.3:1 | 1. Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida, Amados. O apóstolo deixa o assunto desagradável dos falsos mestres (2Pe.2) e passa a exortar seus leitores a respeito de eventos dos últimos dias. Assim fazendo, ele emprega naturalmente o termo “amados”, aqui e nos v. 2Pe.3:8; 2Pe.3:14; 2Pe.3:17 (cf. com. de 1Jo.3:2). Agora. Ou, “já”. A frase de abertura diz, literalmente: “Esta já é, amados, uma segunda carta que estou lhes escrevendo”, o que pode sugerir que esta segunda carta foi escrita logo após a primeira. A segunda epístola. É natural entender que 1 Pedro seja a primeira das epístolas do apóstolo. Nenhum argumento conclusivo ainda foi apresentado contra esse ponto de vista e as palavras de Pedro podem ser consideradas como prova incidental da autoria comum das duas epístolas. Em ambas. Isto é, a primeira e a segunda epístolas. Procuro despertar. Do gr. diegeiro (ver com. de 2Pe.1:13). Com lembranças. A mesma frase grega ocorre em 2Pe.1:13 (ver com. ali). Neste caso, Pedro procura lembrar aos leitores a instrução anterior sobre a volta do Senhor em poder e glória. Mente esclarecida. Do gr. eilikrines dianoia, usado no grego clássico como “razão pura”, mas, aqui, no sentido de mente sem mancha ou sincera (sobre eilikrines, ver com. de Fp.1:10). Dianoia é a mente como faculdade da compreensão, dos sentimentos e dos desejos. Pedro reconhece em seus leitores uma mente singular, não poluída pela sensualidade, em contraste com a mente dos falsos mestres. |
2Pe.3:2 | 2. para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, Para que vos recordeis. Literalmente, “para lembrar”, expressando o propósito de Pedro ao escrever a epístola. Ele pretendia enfatizar a instrução passada, em vez de dar novo ensinamento (comparar com a passagem paralela de Jd.1:17). Santos profetas. Neste versículo, Pedro se refere ao que está no AT e ao que tinha sido escrito até esse tempo no NT. Mandamento. Ver com. de 2Pe.2:21. Como apóstolos do Senhor e Salvador (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “vossos apóstolos” (ARA). O mandamento, ou instrução, veio do Senhor, mas foi entregue pelos apóstolos. |
2Pe.3:3 | 3. tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões Tendo em conta, antes de tudo. Comparar com 2Pe.1:20, em que a mesma frase ocorre. Aqui, o apóstolo usa a frase como um prefácio para a declaração que está prestes a fazer, que deve ser considerada no contexto dos ensinamentos conjuntos dos profetas e dos apóstolos. Pedro não cita nenhuma passagem específica dos profetas ou apóstolos, mas entende que o que passará a dizer será reconhecido como estando em consonância com o teor geral de seus ensinos sobre o assunto em discussão (comparar com a passagem paralela em Jd.1:18). Nos últimos dias. Literalmente, “perto [dos] últimos dias”. A palavra “últimos” pode ser tomada no singular como referência a um último dia, ou, como apoiam algumas evidências textuais (cf. p. xvi), no plural, “os últimos dias”. O apóstolo deseja esclarecer os leitores para que não sejam desviados pelos que zombam da ideia do breve retorno do Salvador. Ele não está fazendo declarações específicas sobre o tempo da vinda de Cristo, mas aconselhando ao preparo para os “últimos dias”, quando quer que ocorram (ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14; ver com. de 1Pe.4:7; Ap.1:1). Virão. Com base nos ensinamentos dos profetas e dos apóstolos, os leitores de Pedro já sabiam o que esperar. O apóstolo havia advertido que “o fim de todas as coisas está próximo” (ver com. de 1Pe.4:7: “nos últimos dias”) e, aparentemente, considera seu conselho oportuno e adequado (ver com. de 1Jo.2:18; Jd.1:18). Escarnecedores. Ou, “zombadores”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a inclusão das palavras “em zombaria” antes de “escarnecedores”. Isso reforça a descrição dos céticos como “escarnecedores” e mostra que eles atuavam de forma maligna para ridicularizar a ideia da segunda vinda. Segundo as próprias paixões. Literalmente, “de acordo com suas próprias concupiscências”; conforme seus desejos pecaminosos. Esses escarnecedores eram semelhantes aos falsos mestres, regidos pelas próprias paixões (cf. 2Pe.2:2; 2Pe.2:10). As paixões decidiam a teologia deles. Pessoas de mente sensual não podem desejar o retorno do Santo. |
2Pe.3:4 | 4. e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Dizendo. A igreja tinha sido bem instruída sobre a volta de Cristo e de que os escarnecedores estavam ridicularizando abertamente o ensino dos apóstolos a respeito desse evento. Onde está a promessa [...]? Esta não é uma referência a uma promessa em particular, mas às declarações dos profetas e dos apóstolos quanto à certeza da segunda vinda. A pergunta dos escarnecedores indica seu ceticismo; eles não esperavam que as promessas se cumprissem. Vinda. Do gr. parousia, palavra comum do NT para o retorno de Cristo (ver com. de Mt.24:3). Os pais. Isto pode ser interpretado de duas formas: como referência aos patriarcas (cf. com. de Rm.9:5; 1Co.10:1; Hb.1:1) ou à geração imediatamente anterior de cristãos que pessoalmente ouviram Jesus e os apóstolos proclamando as promessas da segunda vinda. Dormiram. Do gr. koimaomai, “dormir”. Das 18 ocorrências de koimaomai no NT, 14 se referem ao sono da morte (ver com. de Jo.11:11; 1Ts.4:13). Todas as coisas. A frase diz, literalmente: “todas as coisas permanecem assim, desde o início da criação”. Esse argumento permanece até nossos dias. Seu tom secular e cético parece refletir o pensamento contemporâneo. Ao apelar a uma extensão tão grande da história, desde a criação até seus próprios dias, os escarnecedores pretendem dar um argumento plausível. Eles dizem que, na verdade, as leis da natureza continuam a funcionar, estação após estação, com incrível uniformidade e regularidade, e isso tem acontecido ao longo da história; por que não continuariam a fazê-lo? No v. 2Pe.3:5, Pedro responde a esse raciocínio. |
2Pe.3:5 | 5. Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, Isto (ARC). A frase diz, literalmente: “isto escapa à sua atenção por sua própria vontade”. Os escarnecedores sabiam do dilúvio, mas deliberadamente escolhiam ignorar a catástrofe e sua mensagem para a humanidade. Assim fazendo, eles fechavam a mente à possibilidade de uma nova intervenção divina, quando Cristo voltar. De longo tempo. Ou, “há muito tempo”. Alguns comentaristas interpretam a frase como “originalmente”, ou seja, desde a criação, que é claramente a intenção de Pedro. Céus. Do gr. ouranoi, “céus atmosféricos”. Alguns comentaristas veem no plural, “céus”, uma referência ao conceito judaico de sete céus acima da terra. Contudo, Pedro está preocupado com as Escrituras e não com a tradição. No entanto, a palavra hebraica para “céus” nunca ocorre no singular, embora a referência do AT seja com frequência ao envoltório atmosférico que circunda a Terra. A palavra é plural, mas, no significado, ela é geralmente singular. Aqui, Pedro reflete, sem dúvida, esse idiomatismo hebraico comum. A forma plural, ouranoi, “céus”, ocorre 261 vezes no NT, mas a ARA a traduz como “celeste” sete vezes (Mt.5:45), “celestial” cinco vezes (Mt.11:25), “céu” 167 vezes (Mt.5:18) e “céus” 82 vezes (Mt.3:2). Pedro a emprega seis vezes nesta epístola (aqui e nos v. 2Pe.3:7; 2Pe.3:10; 2Pe.3:12-13; 2Pe.1:18). Surgiu. A expressão pode ser traduzida como: “composta de água e por meio de água”. Um dos passos na preparação da Terra como a morada da humanidade foi o ajuntamento das águas em um só lugar (Gn.1:9). Pedro não está tentando descrever a criação em termos científicos modernos, mas explicando o trabalho criativo de Deus para as pessoas de sua época. Pela palavra de Deus. Pedro acreditava no mesmo poder criador, assim como os outros escritores bíblicos. Ele se refere à palavra de Deus falada na criação (cf. com. de Gn.1:3; SI.33:6; Sl.33:9). |
2Pe.3:6 | 6. pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Pela qual. Literalmente, “por meio da qual as coisas”, isto é, as águas que estavam acima e sobre a Terra. As águas, usadas inicialmente na criação, são destacadas aqui por terem sido usadas também para a destruição. Perecer. Do gr. apollumi, “destruir totalmente”, “demolir e deixar em ruínas”, descrição apropriada para a desolação causada pelo dilúvio (ver Gn.7:11-24). O mundo daquele tempo. Literalmente, “o mundo, então”, o mundo antediluviano. Provavelmente, Pedro se referia aos ímpios habitantes do mundo antediluviano e sua civilização. Afogado. Do gr. katakluzo, “submergir com a água”, “inundar”, “transbordar”, palavra forte que não é usada em outras passagens do NT. |
2Pe.3:7 | 7. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios. Os céus. A frase diz, literalmente, “os agora céus e a terra”, isto é, nossos céus e Terra atuais, em contraste com “o mundo daquele tempo” (ver com. do v. 2Pe.3:6). Pela mesma palavra. Isto é, a palavra de Deus (v. 2Pe.3:5). Entesourados. Do gr. thesaurizo, “entesourar”, de onde vem thesaurus. O tempo verbal implica que os céus foram e estão sendo preservados. Para fogo. De acordo com o texto grego, estas palavras podem se relacionar com “reservados” ou “entesourados”. A maioria prefere ligá-las à segunda. Assim, a tradução seria: “estão sendo entesourados para o fogo”, isto é, para que o fogo faça sua destruição, assim como a água fez seu trabalho destrutivo na época do dilúvio (cf. com. de Ml.4:1; 2Ts.1:8). Reservados. Ou, “sendo mantidos” (cf. 2Pe.2:4; 2Pe.2:9). Para o Dia do Juízo. Literalmente, “até o dia do juízo” (ver com. de 1Pe.4:17; 2Pe.2:4-9). Destruição. Do gr. apoleia (ver com. de 2Pe.2:1; 2Pe.2:3). Homens ímpios. Ver com. de 2Pe.2:5. Serão julgados e punidos os pecadores, e não a matéria inanimada. |
2Pe.3:8 | 8. Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. Todavia. A frase inicial pode ser traduzida como: “mas não deixem que uma coisa escape de sua observação, amados” (cf. v. 2Pe.3:5). Em outras palavras, os escarnecedores deliberadamente fecham os olhos aos fatos, mas os cristãos nunca devem cair nesse grave erro. Essa “coisa” é definida na frase seguinte. Um dia. Pedro tem em mente o Sl.90:4: Deus é eterno, para Ele, não há passado nem futuro; todas as coisas são eternamente presentes. Ele não está restrito ao nosso conceito de tempo. Não podemos limitá-Lo à nossa escala de dias e anos. Ao sublinhar esta verdade, Pedro repreende a impaciência e o ceticismo dos escarnecedores, que, ao julgar Deus por seus próprios padrões débeis, duvidam de que Ele cumpra as promessas relacionadas ao fim do mundo. Está claro nesse contexto que Pedro não está criando um padrão de referência profética para calcular os tempos. No v. 2Pe.3:7, ele diz que Deus está esperando pacientemente o dia do juízo e, no v. 2Pe.3:9, que Ele é “longânimo para convosco”. |
2Pe.3:9 | 9. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Retarda. Do gr. braduno, “atrasar”, “demorar”, usado aqui e em 1Tm.3:15, no NT. O Senhor. É difícil decidir a que pessoa da Divindade Pedro se refere. No v. 2Pe.3:15, “nosso Senhor” pode se referir a Jesus e, no v. 2Pe.3:18, Jesus é chamado de “nosso Senhor”. No entanto, o “dia do Senhor” (v. 2Pe.3:10) também é descrito como sendo “o dia de Deus” (v. 2Pe.3:12). Contudo, não importa que pessoa está sendo designada aqui, pois os propósitos e as promessas do Pai e do Filho são idênticos. Tudo o que Pedro atribui a um pode ser igualmente aplicado ao outro. Todavia, a julgar por esta epístola (2Pe.1:2; 2Pe.1:8; 2Pe.1:11; 2Pe.1:16; 2Pe.2:1; 2Pe.3:2), a evidência é de que, neste caso, “o Senhor” é Cristo. Sua promessa. Isto é, a promessa da Sua vinda (v. 2Pe.3:4), que era o ponto em questão com os escarnecedores. Alguns. Ou seja, os zombadores (v. 2Pe.3:3). Demorada. Ou, “tardia” (ARC). O substantivo grego é derivado da mesma raiz do verbo braduno. Os céticos supunham que os planos de Deus haviam sido prejudicados ou alterados porque Cristo ainda não havia retornado. Eles não conseguiam entender que Deus é todo-poderoso e imutável, que Seus projetos serão todos cumpridos no tempo devido (DTN, 32). Pelo contrário. Do gr. alla, uma adversativa enfática, que pode aqui ser traduzida como “ao contrário”. Aponta o contraste entre a acusação dos escarnecedores e os fatos relativos à confiabilidade do Senhor. Longânimo. Do gr. makrothumeo, de makros, “longo”, e thumos, “paixão”, “raiva”, portanto, “longo para a ira”, “paciente” (ver com. de Rm.2:4; sobre o substantivo makrothumia, ver com. de 2Co.6:6; ver Ex.34:6; Sl.86:5; Sl.86:15; Sl.103:8). Para conosco (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “convosco” (ARA), ou seja, os leitores, os santos que precisavam se lembrar do paciente cuidado de Deus para com eles, especialmente nos momentos em que eram tentados a duvidar de Sua direção sobre os fatos. Não querendo. Aqui, Pedro emprega o verbo boulomai, que muitas vezes expressa a inclinação da mente, como “querer” e “desejar”, em vez de thelo, que geralmente se refere a um propósito definido: “decidir” ou “determinar”. Longe de ativamente determinar a morte do pecador, Deus fez tudo para salvá-lo disso (Jo.3:16). No entanto, Pedro considera que alguns rejeitam o plano da salvação e, assim, se perdem (2Pe.3:7). Pereça. Do gr. apollumi (ver com. do v. 2Pe.3:6). Senão. Do gr. alla. Esta adversativa destaca o contraste entre a interpretação errônea da natureza de Deus, de que Ele houvesse determinado que alguns morressem, e a verdade de que Ele deseja que todos sejam salvos. Cheguem. Do gr. choreo, “abrir espaço” ou “avançar”, neste caso, para o arrependimento. Arrependimento. Do gr. metanoia (ver com. de 2Co.7:9). Nos v. 8 e 9, Pedro deixa claro que a promessa de Deus a respeito da volta de Cristo tem cumprimento assegurado. Qualquer aparente demora na vinda do Senhor é devida ao desejo de Deus de manter aberta a porta da salvação enquanto houver esperança de arrependimento para qualquer pecador. |
2Pe.3:10 | 10. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Virá. No texto grego, o verbo é enfático. O fato de que o dia do Senhor virá é incontestável. Ladrão. Do gr. kleptes (ver com. de Jo.10:1). A mesma figura é usada por Jesus (Mt.24:43), Paulo (1Ts.5:2) e João (Ap.3:3; Ap.16:15) para salientar a imprevisibilidade do retorno do Senhor. Aquele que deseja ser salvo deve estar em paz com Deus antes que chegue o dia do Senhor, pois, naquele grande dia, não haverá oportunidade para arrependimento. O Dia do Senhor. O mesmo que “o dia de Deus” (v. 2Pe.3:12; ver com. de At.2:20; Fp.1:6; 1Ts.5:2). De noite (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. No qual. Ou seja, no dia do Senhor. Os céus. Ver com. do v. 2Pe.3:5. Passarão. Do gr. parerchomai, “passar”, “perecer” (cf. Mt.5:18; Mt.24:35; Ap.21:1). Com estrepitoso estrondo. Do gr. rhoizedon, advérbio que indica o ruído produzido pelas asas dos pássaros ou por um objeto arremessado pelo ar. Pedro provavelmente usa a palavra para representar o ruído das chamas. Elementos. Do gr. stoicheia, “coisas dispostas em fileiras”, aplicado às letras do alfabeto como sendo definido em linhas e, mais posteriormente, aos corpos celestes, o Sol, a Lua e as estrelas (cf. com. de Gl.4:3). É provável, embora não seja certo, que Pedro fale dos elementos físicos de que o mundo é composto, matéria que vai se “desfazer”, sob os fogos purificadores do último dia. Desfarão. Do gr. luo, geralmente traduzido como “soltar”, mas, nos v. 2Pe.3:11-12, como “desfarão”, no sentido de “demolir” ou “destruir”. Abrasados. Do gr. kausoo, termo médico que indica “calor febril”; portanto, aqui e no v. 2Pe.3:12, seria “queimar”. Fogo e calor sobre a terra acompanharão a segunda vinda de Cristo (ver com. de SI.50:3; Ml.4:1; 2Ts.1:8; Ap.20:9). A Terra e as obras que nela existem. Ou seja, todas as coisas terrenas, as obras humanas e a natureza. Atingidas. As evidências textuais (cf. p. xvi) estão divididas entre esta variante e “serão descobertas” (TB). A tradução da ARA é adequada ao contexto, mas a adotada pela TB também é possível, pois indica que a inutilidade das coisas terrenas e materiais será exposta e exibida diante do universo. |
2Pe.3:11 | 11. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, Visto que. Tendo em vista que todas as coisas ligadas ao pecado devem ser destruídas, cabe àqueles que conhecem a iminência do dia, em que o mundo atual será dissolvido em um holocausto de fogo, ser diligentes em afastar de sua vida todos os vestígios do pecado. Deveis ser. Ou seja, com especial referência ao caráter. Tais. Ou, “que tipo de pessoas?” de uma palavra mais antiga que significa “de qual país?” Aqui, Pedro revela que sua grande preocupação não é com os eventos, mas com as pessoas, isto é, com a vida de seus leitores. Ele entrou em detalhes sobre os acontecimentos dos últimos dias a fim de lhes mostrar a necessidade imperativa de santidade; então, dedica o restante da epístola para impressioná-los com essa necessidade. Como os que vivem em [...] piedade. Literalmente, “em santos comportamentos e piedades”. Ambos os substantivos estão no plural, no grego, visto que Pedro está tornando seu pensamento tão abrangente quanto possível e deseja que seus leitores mantenham toda a sua conduta em conformidade com os mais elevados padrões cristãos (sobre “comportamento”, anastrophe, ver com. de 2Pe.2:7; e “piedade”, eusebeia, com. de 1Tm.2:2). |
2Pe.3:12 | 12. esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Esperando. Do gr. prosdokao, “esperar”, “procurar por”, usado três vezes nos v. 12 a 14, sempre implicando grande expectativa. Os crentes deveriam sempre estar em alerta quanto ao retorno do Senhor (cf. com. de Mt.24:42; Mt.24:44). Apressando. Ou, “desejando ansiosamente”, ou seja, acelerando a chegada do “dia de Deus”. Os que confessaram os pecados podem ansiosamente desejar a vinda de Cristo e dedicar as energias em espalhar o evangelho, preparando assim o caminho para Sua vinda (ver PJ, 69). Vinda. Do gr. parousia (ver com. de Mt.24:3). Dia de Deus. Há evidência textual (cf. p. xvi) para a variante “dia do Senhor”; “o dia do Senhor” e “o dia de Deus” são expressões sinônimas (ver com. do v. 2Pe.3:10). Por causa do qual. Ou, “em razão de que”, isto é, por causa da vinda do dia de Deus. Céus. Ou seja, os céus atmosféricos (ver com. do v. 2Pe.3:5). Incendiados. Ver com. do v. 2Pe.3:10. Desfeitos. Do gr. luo (ver com. do v. 2Pe.3:10). Abrasados. Pedro repete a exposição dos eventos associados ao retorno do Senhor a fim de levar certeza e solenidade à mente de seus leitores. Em seguida, ele se volta para assuntos mais positivos, que seguem a dissolução das coisas terrenas. Derreterão. Do gr. teko, “tornar líquido”, isto é, derreter. No texto grego, o tempo está no presente, o que atribui dramaticidade à narrativa. |
2Pe.3:13 | 13. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. Sua promessa. A despeito do que os escarnecedores pensam sobre a promessa do Senhor (v. 2Pe.3:4), Pedro confia totalmente nela e ordena a própria vida segundo a mesma (ver v. 2Pe.3:9). Esperamos. Ver com. do v. 2Pe.3:12. Novos. Do gr. kainos, “novos”, no sentido de diferente, novos em espécie, em vez de neos, que geralmente significa “recente” ou novo no sentido de idade. Pedro antecipa que os céus e a Terra renovados serão purificados de toda imundícia (cf. com. de Ap.21:1). Habita. Ou, “faz sua casa”, com sugestão de permanência. A justiça é descrita como residindo permanentemente nos novos céus e na nova Terra (ver com. de Is.11:9). |
2Pe.3:14 | 14. Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, Amados. O apóstolo usa o vocativo carinhoso (ver com. do v. 2Pe.3:1) para um apelo especial. Esperando estas coisas. O conhecimento e a antecipação do fim de todas as coisas colocam sobre o crente a responsabilidade espiritual que Pedro passa a enfatizar. Empenhai-vos. Do gr. spoudazo (ver com. de 2Pe.1:10). Achados por Ele. O cristão vive na expectativa de ficar face a face com o Senhor. A perspectiva o estimula a se preparar para o evento, a fim de que Cristo o encontre impecável. Paz. Ver com. de Rm.6:1. Sem mácula e irrepreensíveis. Comparar com com. de Ef.1:4; Fp.2:15; Ap.14:5. Aquele a quem Cristo encontrar assim certamente estará “em paz”, isto é, imbuído da calma interior que provém da ausência de culpa. Essa pessoa vive em paz com Deus e com os semelhantes. Os falsos mestres vivem numa situação oposta a isso (ver 2Pe.2:13; comparar com o remorso dos ímpios, no com. de Je.8:20). |
2Pe.3:15 | 15. e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, Salvação. Não que a longanimidade de Cristo seja a salvação, mas que possibilita a salvação. Os escarnecedores consideram a tardança do Senhor como prova de que Suas promessas nunca se cumpririam, mas Pedro mostra que, ao contrário, é uma prova da paciência e da misericórdia do Salvador. Ele espera para que todos os que desejam tenham a oportunidade de aceitar a salvação. Longanimidade. Do gr. makrothumia, forma substantiva relacionada ao verbo makrothumeo (ver com. do v. 2Pe.3:9). Nosso Senhor. Provável referência a Cristo (ver com. do v. 2Pe.3:9). Nosso amado irmão Paulo. Se Pedro não está usando o pronome “nosso” só por questão de estilo literário, então suas palavras sugerem que Paulo era bem conhecido e amado pelos leitores de Pedro. Ainda que seja assim, suas palavras demonstram o carinho dele por Paulo a despeito de qualquer diferença de opinião passada (ver com. de Gl.2:11-14). Escreveu. A identificação das epístolas paulinas a que Pedro se refere depende da resposta às seguintes perguntas: (1) Que assunto Pedro tinha em mente? Seria apenas a aparente tardança da vinda do Senhor, a questão da frouxidão moral na igreja ou o tema geral da volta de Cristo? (2) A quem a epístola de Pedro foi escrita? Os comentaristas sugerem muitas respostas a essas perguntas, mas as soluções não são definitivas. Se a epístola de Pedro foi escrita aos cristãos asiáticos (ver p. 597), então as epístolas paulinas mencionadas provavelmente seriam Gálatas, Efésios e Colossenses, ou outras não preservadas. No entanto, uma coisa é clara: os escritos de Paulo estavam em circulação, eram aceitos como autorizados e Pedro poderia recorrer a eles em apoio a sua própria instrução. A sabedoria que lhe foi dada. Pedro sugere que a sabedoria espiritual de Paulo não lhe era inerente, mas dependia do dom divino, como em todos os crentes. |
2Pe.3:16 | 16. ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Todas as suas epístolas. Nas grandes cidades do império romano, as epístolas eram facilmente copiadas a um pequeno custo e sua rápida distribuição era assegurada por meio da excelente rede de estradas romanas. Portanto, é provável que a maioria ou todas as epístolas de Paulo estivessem em circulação antes mesmo de sua morte. Não há como saber por estes versículos se o grande apóstolo Paulo estava vivo ou morto no momento em que Pedro escreveu. Certas coisas. Não fica claro a que temas Pedro se refere. No entanto, se a referência for ao tema geral da segunda vinda, esse assunto encontra lugar em todas as principais cartas de Paulo e não há necessidade de uma identificação mais específica (ver com. do v. 2Pe.3:15). Difíceis de entender. Embora estas questões difíceis não sejam identificadas, a maioria dos comentaristas concorda que dizem respeito à frouxidão moral decorrente de má interpretação dos ensinos de Paulo sobre a segunda vinda e sobre a relação do cristão para com a lei, assuntos de destaque em 1 Tessalonicenses e Gálatas. Ignorantes. Eles seriam ignorantes em relação aos escritos de Paulo, ou talvez, simplesmente sem instrução e ignorantes nos assuntos espirituais em geral. A religião de Jesus Cristo, quando levada ao coração, refina e cultiva a mente, mas aqueles que rejeitam seus preceitos caem presa de tentações, como aquelas defendidas pelos escarnecedores e falsos mestres. Instáveis. Do gr. asteriktoi (ver com. de 2Pe.2:14). Deturpam. Do gr. strebloo, “torturar”, “torcer”, “perverter”. Os ignorantes e instáveis pervertem as Escrituras, distorcendo e deturpando seu significado como um inquisidor tortura e aflige sua vítima. Demais Escrituras. Indaga-se acerca de que escritos Pedro tem em mente. Alguns limitam a referência ao AT, enquanto outros incluem o que existia do NT. Não é possível uma conclusão, mas é muito claro que Pedro coloca os escritos de Paulo no mesmo nível das outras Escrituras inspiradas (ver vol. 5, p. 173, 174). Destruição. Do gr. apoleia (ver com. de 2Pe.2:1; 2Pe.2:3). As Escrituras se destinam a conduzir as pessoas à salvação (ver com. de Jo.5:39; 2Tm.3:16-17). Contudo, quando são pervertidas, perdem seu poder benéfico, e aquele que as perverte segue um caminho que leva à própria destruição. |
2Pe.3:17 | 17. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; Vós. O pronome é enfático no grego. Pedro, deixando os tolos que interpretavam mal as Escrituras, se dirige a seus leitores, a quem procura proteger desses erros. Prevenidos [...] de antemão. Os crentes foram bem instruídos e conheciam previamente os ensinamentos ilusórios dos falsos mestres. Por isso, eles nada deviam temer, caso os ensinamentos heréticos chegassem até eles ou os astutos sedutores atravessassem seu caminho. Acautelai-vos. O crente tem a responsabilidade pela própria segurança; não pode cair no sono durante a guerra espiritual em que está envolvido (cf. com. de 1Co.16:13; Ef.6:10-18). Arrastados. Do gr. sunapago (ver com. de Rm.12:16). Erro desses insubordinados. O apóstolo já havia falado “dos que andam em erro”, isto é, os gentios pagãos (2Pe.2:18). Então, ele sugere que os falsos mestres compartilhem dos pecados ou “erros” dos gentios, e suplica urgentemente que seus leitores não se deixem seduzir por essa conduta (sobre “ímpios”, athesmoi, ver com. de 2Pe.2:7). Firmeza. Do gr. sterigmos, usado em contraste com asteriktoi, “instável” (v. 2Pe.3:16), e aqui, provavelmente, seria melhor traduzido como “fundamento”. O verdadeiro cristão tem seu próprio fundamento seguro (cf. 1Co.3:10-14) e não deve abandoná-lo por qualquer tipo de liberdade que os mestres licenciosos procurem lhe oferecer. |
2Pe.3:18 | 18. antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno. Antes. Isto enfatiza o caminho alternativo oferecido pelo apóstolo. Em vez de se desencaminhar, o crente pode avançar na perfeição cristã. Crescei. O tempo verbal sugere “continuai a crescer”. Os leitores de Pedro já tinham feito grandes avanços, mas não deviam se acomodar. Deveriam continuar em seu crescimento espiritual (cf. com. de Mt.5:48; Ef.4:13-15; 1Pe.2:2). O crescimento é uma característica do verdadeiro filho de Deus, que deve ocorrer naturalmente, visto que encontrou uma nova vida em Cristo Jesus (cf. 1Co.4:15). Seu objetivo é a semelhança com o caráter perfeito do Senhor e uma mente capaz de reproduzir a mente de Cristo. Aspira a “[crescer] em tudo nAquele que é a cabeça, Cristo” (ver com. de Ef.4:15). Nesta vida e, posteriormente, na vida futura, o cristão pode aspirar a um crescimento sem fim no caráter e na compreensão da vontade e dos caminhos de Deus. Sempre haverá novos domínios de mente e espírito para ele conquistar, novas alturas a escalar, novas portas de aventura e oportunidade para abrir. Como Pedro já havia mencionado, os recém-nascidos “bebês” cristãos crescem no “genuíno leite espiritual” (1Pe.2:2). Entretanto, chega um momento em que eles já não devem subsistir apenas com uma dieta de “leite” espiritual, mas aprender a participar do “alimento sólido” (ver com. de Hb.5:11-14; Hb.6:1-2). Graça. Do gr. charis (ver com. de Jo.1:14; Rm.1:7; 1Co.1:3). A graça é uma das esferas em que o cristão deve crescer; deve se tornar cada vez mais firmemente estabelecido na experiência pessoal da bondade do próprio Cristo. Conhecimento. Do gr. gnosis (ver com. de 1Co.1:5; 1Co.12:8). Pedro se refere a um conhecimento particular, aquele que nos familiariza totalmente com a pessoa, o ofício, o trabalho e o poder de Jesus Cristo. Esse é um conhecimento que pode e deve crescer. A cada dia, o cristão deve crescer na compreensão da missão do Mestre para o mundo e para si mesmo (sobre o título abrangente atribuído a Cristo, cf. com. de Mt.1:1; Mt.1:21; Lc.2:11; Fp.3:20; 1Tm.1:1; Tt.1:4; 2Pe.1:1; 2Pe.1:11). A Ele. Isto é, a Cristo. Ao longo desta epístola, Pedro reafirma de diversas maneiras a divindade de Cristo (cf. 2Pe.1:11; 2Pe.1:17; 2Pe.2:20) e, aqui, no mesmo espírito, faz sua doxologia (cf. com. de Jd.1:24-25). Glória. Do gr. doxa (ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23; 1Co.11:7). No grego, o termo doxa é precedido pelo artigo definido, sugerindo que toda a glória deve ser atribuída ao Salvador. Como no dia eterno. Do gr. eis hemeran aionos, literalmente, “até o dia da eternidade” (cf. com. de Ap.1:6). Amém (ARC). Ver com. de Mt.5:18. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra, mas pode ser mantida como uma conclusão adequada para a epístola. |