"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > 1Pedro |
1Pe.1:1 | 1. Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, Pedro. Do gr. Petros, “pedra”, “rocha”, “rochedo” (ver com. de Mt.4:18). Apóstolo. Do gr. apostolos, “delegado”, “mensageiro”, “alguém enviado com uma mensagem” (ver com. de Mc.3:14; At.1:2; Rm.1:1). De Jesus Cristo. Isto é, nomeado ou comissionado por Jesus Cristo (cf. 2Co.1:1). Pedro não sugere nenhum tipo de superioridade; ele era simplesmente um apóstolo, embaixador e missionário que pertencia a Jesus Cristo e era autorizado por Ele, assim como os outros. Forasteiros. Do gr. parepidemoi, “hóspedes”, “exilados”, literalmente, “[aqueles] fora de casa” (comparar com Hb.11:13; 1Pe.2:11, únicas outras ocorrências da palavra no NT). Parepidemoi é usado de maneira metafórica para se referir tanto aos cristãos judeus quanto aos crentes gentios, os quais consideravam o Céu seu lar permanente, pois, para eles, esta Terra não passava de “terra alheia” (Hb.11:9). Dispersão. Literalmente, “da Diáspora” (ver com. de Jo.7:35). A palavra “diáspora” (ver vol. 5, p. 47, 48) é usada desde aquela época para se referir aos judeus dispersos entre as nações fora da Palestina. Entretanto, não se restringe a esse significado específico. Paulo classificava os cristãos judeus e gentios espalhados pela região do Mediterrâneo como membros da “diáspora”. No Ponto. Ponto e as outras províncias alistadas neste versículo consistem nas regiões norte e oeste do que hoje se conhece como Turquia (ver mapa, vol. 6, p. 19). |
1Pe.1:2 | 2. eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas. Eleitos. Do gr. ekletoi, literalmente, “os escolhidos” (ver com. de Rm.8:33). Os cristãos são aqui considerados escolhidos porque haviam atendido ao chamado de Deus (sobre eleição e salvação, ver com. de Rm.8:29). Presciência. Do gr. prognosis, “o ato de conhecer de antemão” (sobre o verbo derivado proginosko, ver com. de Rm.8:29). Deus Pai. É afirmada a presciência da primeira pessoa da Divindade, mas Pedro não sugere que tal conhecimento se restringia ao Pai. Embora a natureza exata e o trabalho de cada membro da Divindade continuem a ser um mistério para os seres humanos, Pedro sugere que, dentro da dinâmica do plano da salvação, algumas funções específicas são realizadas por cada um deles. Santificação. Do gr. hagiasmos (ver com. de Rm.6:19). Do Espirito. Isto é, pela atuação do Espírito Santo (comparar com 2Ts.2:13). Para a obediência. A resposta fiel do cristão ao chamado de Deus, junto à ação santificadora do Espírito Santo, leva à obediência ou completa submissão à vontade de Deus (ver com. do v. 1Pe.1:22). O plano de Deus para a raça humana, efetuado com a ação santificadora do Espírito Santo, conduz a uma vida semelhante à de Cristo (ver com. de Ef.5:9). Aspersão. Do gr. rhantismos, usado só aqui e em Hb.12:24. O verbo da mesma raiz, rhantizo, “aspergir”, ocorre quatro vezes (Hb.9:13; Hb.9:19; Hb.9:21; Hb.10:22). Pedro trata da aplicação do mérito do sangue de Cristo ao indivíduo. A aspersão do sangue de Jesus traz a paz da justificação (ver com. de Mt.26:28). Graça e paz. Sobre esta saudação, ver com. de Rm.1:7; 2Co.1:2. |
1Pe.1:3 | 3. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Bendito. Do gr. eulogetos, “digno de bênção”, usado apenas para Deus e Cristo no NT. Trata-se de um termo de adoração que reconhece a perfeição de caráter e os atributos. “Eulogia”, em língua portuguesa, deriva da palavra relacionada eulogia, “bênção”. O Deus e Pai de nosso Senhor. Ou, “Deus, a saber, o Pai de nosso Senhor”. A primeira pessoa da Divindade é destacada do ponto de vista da união adquirida e indissolúvel de Cristo com a natureza humana (cf. Rm.15:6; 2Co.1:3; Ef.1:3; ver com. de Lc.1:35). O termo “Senhor” denota elevada dignidade e exalta Cristo como Aquele a quem os seres humanos devem lealdade. Por ser divino e membro da Divindade, Jesus Cristo é igual ao Pai, a primeira pessoa da Trindade (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Jesus Cristo. Os dois nomes designam tanto a humanidade do Senhor quanto Seu poder como o Ungido (ver com. de Mt.1:1). Que. Em referência a Deus Pai. Muita misericórdia. Ou, “grande misericórdia”. Oferecida ao ser humano em oportunidades ilimitadas, a misericórdia divina engloba Sua preocupação infinita com o bem-estar das pessoas. Seu profundo amor vai além de qualquer cálculo ou comparação. Regenerou. Referência ao novo nascimento (ver com. de Jo.3:3; Jo.3:5) ou à nova criação (ver com. de Gl.6:15). Para uma viva esperança. A esperança é a grande força que impulsiona o cristão avante na vitória sobre os problemas. Sem Cristo, não há esperança (Ef.2:12); com Ele, a esperança é viva e dinâmica. O paganismo só pode oferecer ilusões vazias. Pedro fala aqui da esperança interior que dá perseverança ao crente enquanto ele contempla o fim da jornada cristã e o futuro eterno (comparar com a situação do não cristão; ver Ef.2:11-12). Ressurreição de Jesus Cristo. Ver com. de Rm.1:4; Rm.4:24-25; 1Pe.3:21. A ressurreição de Cristo enfatiza que a morte foi eternamente vencida. Ela se tornou o selo da aprovação divina à obra expiatória na cruz. O Cristo ressurreto é a garantia do futuro eterno dos remidos. |
1Pe.1:4 | 4. para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros Herança. Ver com. de At.20:32; Gl.3:18; Ef.1:14; Ef.1:18. Incorruptível. Do gr. aphthartos, “não sujeito à decomposição [ou ‘deterioração’]”, logo, “eterno” (comparar com Rm.1:23; 1Co.15:52; 1Tm.1:17). Sem mácula. Isto é, não pode ser poluída ou contaminada. Imarcescível. Do gr. amarantos, “não perecível”. Amaranto, nome de uma flor que, conforme a crença oriental, nunca murcha, é uma transliteração de amarantos. Reservada. A forma verbal no grego revela que a herança foi e continuará a ser salvaguardada (comparar com Mt.6:19-20). A herança dos remidos é tão certa quanto a fidelidade de Deus. Nos céus. A morada de Deus, que guarda a “herança” dos santos. A plena consumação dessa “herança” ocorrerá na terra renovada (ver com. de Mt.5:5; Ap.21:1; ver PP, 170). |
1Pe.1:5 | 5. que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Guardados. Do gr. phroureo, “guarnecer” (ver com. de Fp.4:7), termo militar que aponta para a proteção que uma guarnição militar provê (cf. 2Co.11:32). Poder de Deus. A segurança dos santos, bem como a vitória exitosa sobre os pecados pessoais, depende do poder infinito de Deus fazendo pelo ser humano aquilo que ele é incapaz de realizar sozinho (ver DTN, 466; MDC, 142). Sem a proteção e a orientação constantes de Deus, os cristãos nunca receberão a “coroa” hoje guardada por Deus para os remidos (ver com. do v. 1Pe.1:4). Mediante a fé. O que torna possível a proteção por parte da Onipotência é a fé demonstrada individualmente pelos crentes. Deus pouco pode fazer pela pessoa que se recusa a crer. O crente deposita sua fé em Deus e tem certeza de que Suas bênçãos satisfazem os mais profundos anseios da alma. Para a salvação. Ou, “para livramento”. Este é o objetivo do poder de Deus e da fé dos seres humanos. Pedro olha com expectativa para o livramento final de todas as consequências do pecado (ver com. de Rm.13:11). Para. O consolo do cristão fervoroso é que sua “esperança” (v. 1Pe.1:3), isto é, a “herança” (v. 1Pe.1:4), que lhe será entregue no dia de seu livramento final, está pronta e aguarda somente a sabedoria divina decidir o momento de consumá-la de fato. Revelar-se. Do gr. apokalupto (ver com. de 2Ts.2:3; sobre o substantivo da mesma raiz, apokalupsis, ver com. de Ap.1:1; cf. 1Co.1:7; 1Pe.1:7). Último tempo. Ou, “crise final”, referência ao momento da restituição de todas as coisas. Isto ocorrerá na segunda vinda de Cristo, quando os remidos serão finalmente livrados de todo contato com o pecado (ver com. de Mt.25:31; 1Ts.4:16-17). |
1Pe.1:6 | 6. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, Nisso. Ou seja, no período de crise iminente (v. 1Pe.1:5), quando o livramento final ocorrerá, evento que todos os cristãos aguardam com expectativa. Exultais. Do gr. agalliao, traduzido por “exultai” (Lc.6:23). A “viva esperança” (ver com. de 1Pe.1:3) torna possível para o cristão exaltar-se espiritualmente em meio às duras provas, na certeza de que Deus terá a última palavra no grande conflito. Breve tempo. Ou, “só um pouquinho”, em comparação com os privilégios eternos da “herança” do cristão (v. 1Pe.1:4). Se necessário. Neste mundo influenciado pelos poderes do mal, problemas diversos são inevitáveis. Sejais contristados. Ou, “pesarosos”, “aflitos”. Por várias provações. Ou, “em diversos tipos de provas” (sobre “provações”, do gr. peirasmoi, ver com. de Tg.1:2). O cristão é retratado como afetado por inúmeras perturbações, problemas, desapontamentos e tristezas. Satanás usa todas essas coisas para tentar destruir a fé pessoal em Deus. |
1Pe.1:7 | 7. para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; Para que. Ou, “a fim de que”. Valor. Do gr. dokimion, “qualidade comprovada”, “autenticidade” (ver com. de Tg.1:3; sobre o adjetivo derivado dokimos, ver com. de Rm.14:18; 2Tm.2:15). A veracidade e a qualidade da fé individual se revelam na magnitude dos problemas que ela é capaz de superar. Fé. Ver com. do v. 1Pe.1:5. Ouro. O ouro é provado e refinado pelo fogo. A fé individual também passa por provas, a fim de que seu valor seja plenamente demonstrado (cf. com. de 1Co.3:13; 1Co.3:15; ver Hb.12:29; Ap.1:14; Ap.2:18; Ap.19:12). Apurado. Do gr. dokimazo, “provar”, “aprovar” (ver com. de Rm.2:18; 1Tm.3:10). Por fogo. Literalmente, “por meio do fogo”. Louvor. A excelência do caráter cristão maduro desperta o elogio tanto das pessoas quanto de Deus (comparar com Mt.25:21; Rm.2:29; 1Co.4:5). Glória. Do gr. doxa (ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23; 1Co.11:7). Nesta passagem, Pedro se refere às gloriosas posses da eternidade que Deus dará a Seus filhos “no último tempo” (v. 1Pe.1:5; comparar com Rm.2:7). Honra. A avaliação de Deus acerca dos remidos será revelada no segundo advento e ao longo da eternidade. Revelação. Do gr. apokalupsis, “revelação”, “desvelamento”, “descobrimento” (cf 1Pe.1:5; ver com. de 1Co.1:7). A segunda vinda de Cristo marca o início do estado exaltado da igreja. A esperança da igreja ao longo dos séculos tem sido o breve retorno de Jesus Cristo. Esse acontecimento glorioso terminará o reino de pecado e inaugurará a era de alegria e paz eternas, com o livre cultivo da verdade e da comunhão com Deus. |
1Pe.1:8 | 8. a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, Não havendo visto. Comparar com Jo.20:29. Ao que parece, os leitores de Pedro nunca haviam visto Jesus pessoalmente. No entanto, pela fé e confiança, experimentavam profunda e indescritível união pessoal com o Salvador. Amais. Do gr. agapao (ver com. de Mt.5:43; Jo.21:15). Crendo. Ver Jo.20:29; 2Co.5:7. Exultais. Do gr. agalliao (ver com. do v. 1Pe.1:6). Indizível. Ou, “inexprimível”, isto é, além do poder de expressão da linguagem humana. A alegria da união espiritual com Cristo está acima da capacidade de compreensão dos descrentes e da habilidade de descrição do fiel cristão. Cheia de glória. Embora a plenitude de uma experiência glorificada só seja possível após o segundo advento, o cristão hoje pode provar (ver Hb.6:5) a doçura da presença de Deus ao viver orientado pelo Espírito Santo (ver 1Pe.4:14). |
1Pe.1:9 | 9. obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma. Fim. Do gr. telos, “fim”, “resultado”, “objetivo final em vista”, “alvo” (ver com. de Rm.10:4; 1Tm.1:5). O resultado da fé é o livramento do pecado (ver 1Pe.1:5) e o recebimento da herança eterna (v. 1Pe.1:4) que aguarda todo verdadeiro cristão no juízo final. O Éden restaurado é a recompensa para todos os remidos. Fé. Ver com. do v. 1Pe.1:5. Alma. Do gr. psuchai (ver com. de Mt.10:28; SI.16:10). Psuche é traduzido por “vida” (Mt.16:25) quando o tema da salvação da psuche também está em debate. Aqui, “vossa alma” pode ser interpretado como “vossa vida”, ou, idiomaticamente, como “vós”. |
1Pe.1:10 | 10. Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, Salvação. Isto é, “a salvação da vossa alma” (v. 1Pe.1:9). Indagaram. Ou, “procuraram saber”, referência ao estudo diligente do profeta sobre as declarações divinas, tanto por meio dele mesmo como de outros, sobretudo a respeito da vinda do Redentor. A posse do dom profético não significa pleno conhecimento de todos os assuntos. O profeta só sabe aquilo que Deus lhe revelou e só tem permissão de anunciar isso com um “Assim diz o Senhor”. Uma vez que as mensagens dadas a um profeta costumam complementar as de outros, torna-se necessário comparar as diversas revelações a fim de se obter uma visão equilibrada e abrangente das mesmas. É isso que os profetas antigos faziam. Inquiriram. Literalmente, “procurar saber”. A forma simples do verbo é traduzida por “examinais” (Jo.5:39). Graça a vós outros destinada. Esta última parte do versículo consiste numa referência à mais completa manifestação de Deus por intermédio de Jesus Cristo sobre a qual os profetas tanto escreveram. Que devia vir (TB). Estas palavras foram acrescentadas. Aquilo que fora uma profecia se tornara uma realidade dinâmica na vida dos fiéis desde a morte de Cristo. |
1Pe.1:11 | 11. investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. Qual a ocasião. Ou, “em relação a que”. Quais as circunstâncias. Ou, “em relação a que tipo”. Oportunas. Do gr. kairos (ver com. de Mc.1:15; At.1:7). Os profetas eram informados de alguns aspectos da prometida encarnação do Redentor, assim como a igreja hoje é informada acerca da segunda vinda de Cristo. No entanto, eles não sabiam o momento exato do primeiro advento, embora estudassem com afinco para descobrir os indicativos da chegada do Messias (ver com. de Lc.3:15). Indicadas. Do gr. deloo (ver com. de 2Pe.1:14). O tempo verbal no grego subentende que o Espírito continua a mostrar fatos significativos acerca da missão de Cristo. Espírito de Cristo. Isto é, o Espírito Santo (ver com. de Rm.8:9; Gl.4:6). Alguns sugerem que a expressão significa “o Espírito que é Cristo” (ver com. de 2Co.3:17-18). Isso apresenta Cristo como Aquele que trabalhava pessoalmente na mente dos profetas do AT, iluminando-os a respeito das coisas de então e dos acontecimentos futuros. Outros defendem que a expressão significa “Espírito enviado por Cristo”, ou seja, o Espírito Santo (ver com. de Jo.15:26; 2Pe.1:21). Os dois pontos de vista afirmam a divindade e a preexistência de Cristo, consolidando a inspiração divina do AT. Os profetas não eram motivados por caprichos pessoais, mas pela influência direta do Espírito. Eles falavam como porta-vozes do Espírito e eram Sua pena ao escrever. Que. Isto é, o “Espírito de Cristo”, o Espírito Santo. Dar de antemão testemunho. Ou, “estava testemunhando de antemão”. Por meio dos profetas, o Espírito frequentemente acrescentava mais conhecimento acerca da obra de Cristo, para que o plano de Deus se tornasse cada vez mais claro. Sofrimentos referentes a Cristo. LiteraImente, “sofrimentos a [ou ‘para’] Cristo”, isto é, aqueles destinados a Cristo. Isso confirma a visão cristã de que o sofrimento do Salvador fora profetizado no AT (ver com. de Is.53; At.3:18; At.26:22-23). Embora os judeus não tenham compreendido o significado dessas profecias, os primeiros cristãos logo entenderam seu verdadeiro sentido (ver com. de Lc.24:25-27). As glórias que os seguiriam. Literalmente, “depois dessas coisas [sofrimentos], viriam glórias”, isto é, a ressurreição e a ascensão de Cristo, além dos eventos ligados a Sua segunda vinda e a Seu reino eterno. |
1Pe.1:12 | 12. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar. Revelado. Alguns dos profetas entendiam que o cumprimento de certas coisas a eles reveladas ainda era futuro (ver com. de Nm.24:17; Dt.18:15; Dn.10:14). Os profetas sabiam que a vinda do Redentor era um acontecimento futuro e que a solução definitiva para o problema do pecado ocorreria além de seus dias. Para vós outros. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta variante. Isto é, para os leitores de Pedro ou, em sentido mais amplo, para todos os cristãos dos dias do apóstolo. Ministravam. Ou, “estavam servindo”. Os profetas do AT, além de servir à própria geração, também ministravam às pessoas dos dias de Pedro por meio das profecias que haviam se cumprido fazia pouco tempo no ministério de Cristo e ainda se cumpriam no crescimento da igreja cristã. Anunciadas. Do gr. anaggello (ver com. de At.20:20). Pelo. “Por”, ou, possivelmente, “em conexão com”. Espírito Santo. Ver com. de Mt.1:18. Os primeiros pregadores do evangelho estavam em íntima associação com o Espírito Santo e eram controlados por Ele. Ao que tudo indica, Pedro se refere aqui à manifestação do Espírito no Pentecostes (ver com. de At.2:4), sugerindo que os pregadores do evangelho proclamam uma mensagem em total harmonia com a dos profetas, pois o mesmo Espírito atua em ambos. Enviado do céu. Ver com. de At.2:2. Pregaram o evangelho. Do gr. euaggelizomai (ver com. de At.8:4). Pedro não identifica quem pregou o evangelho ao povo da Ásia Menor, nem se ele fez parte do grupo. Coisas essas. Isto é, coisas relativas à “salvação” (v. 1Pe.1:10), aos “sofrimentos referentes a Cristo” (v. 1Pe.1:12) e ao “evangelho” (v. 1Pe.1:12). Anjos. Ver com. de Hb.1:14. Anelam. Do gr. epithumeo, “colocar o coração em [algo]” (ver com. de Mt.5:28). Os anjos se interessam intensamente pela revelação do caráter divino demonstrada na salvação da humanidade. Cada manifestação do amor e da justiça de Deus, desde a criação de Adão até o presente, é fonte de admiração e alegria por parte dos anjos (ver PP, 155). Perscrutar. Do gr. parakupto, “abaixar-se para olhar”, de para, “ao lado de”, e kupto, “curvar-se”, “abaixar-se”. Com este verbo, o “outro discípulo” e Maria são retratados olhando de fora para dentro da tumba de Cristo (ver Lc.24:12; Jo.20:4-5; Jo.20:11). Ao escrever esta passagem, Pedro deve ter pensado nos anjos estudando com afinco o desenrolar do plano da salvação. Eles se interessam atentamente pelo resultado desse drama, pois a paz futura depende das consequências do grande conflito. |
1Pe.1:13 | 13. Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Por isso. Levando em conta as bênçãos e as esperanças contidas no esplendor revelado do evangelho (v. 1Pe.1:3-12), Pedro prossegue com sua exortação. Cingindo. Do gr. anazonnumi, literalmente, “tendo se cingido”, denotando uma ação já realizada. O termo era usado para descrever a ação do homem oriental de ajuntar as longas dobras de tecido de sua veste exterior e colocá-las em sua faixa na cintura ou no cinto antes de realizar esforços físicos, como caminhar ou correr (ver com. de SI.65:6; Lc.12:35; Ef.6:14). À luz do dom incalculável da salvação (1Pe.1:9-10), Pedro exorta seus leitores a preparar a mente de maneira semelhante para ação diligente. Lombos (ARC). Ou, “cintura”, lugar onde o cinto era cingido. Nesta passagem, a palavra tem sentido metafórico, completando a imagem sugerida por “cingindo”. Entendimento. Do gr. dianoia (ver com. de Lc.1:51). O cristão deve reunir os fragmentos soltos de seus pensamentos, cessar as especulações não proveitosas e exercitar a mente nas grandes verdades da salvação reveladas pelo Espírito de Cristo (1Pe.1:11). Sede sóbrios. Do gr. nepho, usado no grego clássico para se referir à abstenção de bebidas embriagantes. No NT, o termo é bastante usado no sentido metafórico de sobriedade e equilíbrio intelectuais e espirituais (cf. com. de 1Ts.5:6; 2Tm.4:5; 1Pe.4:7; 1Pe.5:8). Inteiramente. Do gr. teleios, “completamente”, “perfeitamente”. O advérbio pode qualificar o verbo anterior, nepho, dando o sentido de “perfeitamente sóbrios”, ou modificar “esperai”, no sentido de “esperar completamente”, ou seja, perseverar na esperança. Graça. Do gr. charis (ver com. de Jo.1:14; Rm.3:24). Está sendo trazida. Este tempo verbal sugere recepção contínua de graça. Revelação. Do gr. apokalupsis (cf. v. 1Pe.1:5; 1Pe.1:7). Nesta passagem, Pedro define a caminhada cristã como a realidade crescente da presença de Jesus Cristo, uma comunhão aprofundada que ultrapassa a mais íntima das amizades terrenas. Dia a dia, a vida e a obra do Salvador serão cada vez mais reveladas ao filho de Deus, até que a “revelação” final ocorra na segunda vinda. Os que adorarão quando O virem são os que já O conhecem nesta vida. |
1Pe.1:14 | 14. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; Filhos da obediência. A ênfase recai sobre “obediência” (ver com. do v. 1Pe.1:2; comparar com “filhos da ira” [Ef.2:3], “filhos da luz” [Ef.5:8] e expressões semelhantes [Ef.2:2; Ef.5:6; Cl.3:6; 1Ts.5:5]; sobre “filhos”, do gr. tekna, ver com. de 1Jo.3:1). Amoldeis. Do gr. suschematizo (ver com. de Rm.12:2). Paixões. Ver com. de Rm.7:7; Mt.5:28. Ignorância. Alusão à experiência egocêntrica e de amor ao mundo antes da conversão, quando ainda não se conhece a Deus, a lei divina, nem Cristo e Seu sacrifício (ver com. de At.3:17; At.17:30; Ef.4:18). Os cristãos recém-convertidos deviam enfrentar a frequente tentação de voltar ao antigo estilo de vida de licenciosidade. Pedro reconhece a força da tentação, mas encoraja seus leitores a resistir a seus encantos. |
1Pe.1:15 | 15. pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, Pelo contrário. Do gr. ala, forte termo adversativo que contrasta as “paixões” do passado com a vida santa requerida dos cristãos. Santo. Do gr. hagios (ver com. de Rm.1:7). A primeira parte deste versículo pode ser parafraseada assim: “Mas contrariamente, em harmonia com aquele Santo que vos chamou.” Deus é santo; nenhum pecado ou contaminação podem existir em Sua presença (cf. Lv.11:44; Lv.19:2; Lv.20:7). Chamou. Ver com. de Rm.8:28; Rm.8:30; 1Co.1:9. Tornai-vos santos. Isto é, no que depender do crente, ele deve ser santo. O cristão fiel define seu padrão de conduta não dando espaço a nenhuma falta de santidade. Os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gn.1:26-27), mas perderam essa semelhança por causa do pecado. O propósito do evangelho é restaurar a imagem divina no ser humano, para que seja santo como o Criador. Procedimento. Do gr. anastrophe, “conduta” (ver com. de Ef.4:22). O padrão para o cristão é de natureza abrangente: ele deve ser santo em toda sua conduta; todos os aspectos de sua vida devem ser santificados (cf. 1Ts.5:23). |
1Pe.1:16 | 16. porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. Escrito está. A grande autoridade à qual os escritores do NT costumam apelar é o AT (ver com. de Mt.2:5; At.2:16; Rm.1:17). Sede santos. Citação de Lv.11:44; Lv.19:2; Lv.20:7. As evidências textuais (cf. p. xvi) estão divididas entre o uso do imperativo “sede” e do futuro “sereis”, mas a intenção é a mesma, uma vez que Pedro está chamando todos os cristãos a uma vida santa. |
1Pe.1:17 | 17. Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, Se. A construção gramatical grega sugere realidade, não dúvida. O autor está confiante de que seus leitores invocam o Pai e continuarão a fazê-lo. Pai. Ver com. de Mt.6:9; Mt.7:11; 1Pe.1:2. Sem acepção de pessoas. Do gr. aprosopolemptos, de a, “sem”, e prosopolemptes, “aquele que recebe a face” (ver com. de At.10:34; Rm.2:11; Tg.2:1). Julga. O Pai julga por intermédio do Filho (ver com. de Jo.5:22; 2Co.5:10). As obras de cada um. Ver com. de Rm.2:6. Portai-vos. Do gr. anastrepho, “conduzir-se” (ver com. de 2Co.1:12). A forma substantiva, anastrophe, é usada em 1Pe.1:15. Com temor. Isto é, com reverência (ver com. de At.9:31; Rm.3:18; 2Co.5:11; Ef.5:21). O relacionamento com Deus leva o cristão a viver de maneira reverente, sabendo que sua conduta diária reflete sua atitude em relação ao Senhor. O temor reverente a Deus serve para contrabalançar o temor aos homens, capacitando o cristão leal a permanecer firme quando princípios cristãos são ameaçados. Peregrinação. Do gr. paroikia, “morada próxima [de alguém]”, logo, “morada em terra estrangeira”. Com o uso de parepidemoi (v. 1Pe.1:1), Pedro fala da residência temporária do cristão neste mundo e reconhece que seu lar verdadeiro é com Deus e Cristo na nova terra. |
1Pe.1:18 | 18. sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, Sabendo. Ou, “porque vós sabeis”, apresentando mais um motivo para o temor a Deus. Corruptíveis. Ou, “perecíveis”, em contraste com a natureza eterna da oferta de Cristo. Prata ou ouro. Os minerais preciosos são exemplos de coisas “perecíveis” que não desempenham nenhum papel na redenção do ser humano. Embora os escravos terrenos fossem comprados e libertados por meio da prata e do ouro, o resgate espiritual do ser humano depende de um pagamento infinitamente mais precioso (v. 1Pe.1:19). Resgatados. Do gr. lutroo, “libertar após receber o resgate” (sobre o substantivo da mesma raiz, lutron, “resgate”, ver com. de Mt.20:28). Fútil. Do gr. mataios, “inútil” (ver com. de 1Co.15:17). Longe do cristianismo, o ser humano permanece impotente em suas tentativas de erradicar os males pessoais e sociais. Não encontra sentido para a vida nem esperança para o futuro. Procedimento. Do gr. anastrophe (ver com. do v. 1Pe.1:15). Que vossos pais vos legaram. Ou, “a vós entregue por vossos pais”. Era necessário um novo estilo de vida para suplantar a filosofia fútil e sem sentido do paganismo. |
1Pe.1:19 | 19. mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, Mas pelo. O texto grego contrasta o v. 1Pe.1:18 com o 19: entre as “coisas corruptíveis” e “o sangue de Cristo”. Precioso sangue. O “precioso sangue” de Cristo é sem igual e torna Sua redenção imensuravelmente maior do que qualquer outra (ver com. de Rm.3:25). De fato, somente o sangue de Cristo é capaz de nos remir do pecado. Cordeiro. Cristo é o Cordeiro de Deus para a redenção dos seres humanos (ver com. de Jo.1:29). Sem defeito. Do gr. amomos. O plural amomoi é traduzido por “irrepreensíveis” (ver com. de Ef.1:4). Sem mácula. Do gr. aspilos, “sem mancha moral” (ver Tg.1:27; ver com. de 1Tm.6:14). Embora o AT fale da perfeição física do cordeiro separado para o sacrifício (ver Lv.22:19-21; ver com. de Ex.12:5), essa condição era um tipo da perfeição moral de Cristo que O qualificava para ser o cordeiro sacrificial de Deus, digno e apto para expiar a raça humana. |
1Pe.1:20 | 20. conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós Conhecido. Do gr. proginosko, “saber de antemão”, “ter presciência” (ver com. de Rm.8:29). Antes da fundação. Ver com. de Jo.17:24. A apresentação de Cristo como o cordeiro redentor não foi um plano de emergência para resolver uma mudança imprevista, mas parte do propósito eterno de Deus (cf. Mt.13:35; Mt.25:34; ver com. de Rm.16:25; Ef.3:11; Ap.13:8). Esta passagem ensina a preexistência de Cristo (ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Manifestado. Do gr. phaneroo (ver com. de 1Jo.1:2). Embora a presciência de Deus e a provisão determinada de um Salvador remontem ao passado eterno, a encarnação transformou o plano divino em fato histórico (ver com. de Jo.1:14; 1Jo.1:1; 1Jo.1:3). O fato de Cristo haver Se “manifestado” subentende Sua existência prévia (cf. 1Tm.3:16; 2Tm.1:10; 1Jo.3:5; 1Jo.3:8; 1Jo.4:9). No fim dos tempos. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante (comparar com ARC; ver com. de Jl.2:28; Rm.13:11; Hb.1:2; ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14). Por amor de vós. Literalmente, “por causa de vós”. Os leitores de Pedro ficariam tanto perplexos quanto inspirados ao descobrir o que o propósito eterno de Deus, revelado na encarnação de Cristo, havia operado em prol deles. |
1Pe.1:21 | 21. que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. Por meio dEle. Jesus é o revelador que desperta a fé em Deus. Sem Sua revelação do caráter de Deus, as pessoas dos dias de Pedro e da nossa época não saberiam mais sobre Deus do que as do AT. A vida, morte e ressurreição de Cristo são o único fundamento para a esperança humana de livramento. Ressuscitou. Ver com. de At.3:15. A ressurreição de Jesus Cristo é a demonstração suprema do poder divino. Sem a ressurreição, Cristo não poderia ser revelado como o conquistador da morte (Ap.1:18). Sua ressurreição é a garantia da ressurreição futura dos santos (1Co.15:51-54; 1Ts.4:14). A invencibilidade do cristianismo gira em torno do Cristo ressurreto (ver com. de 1Co.15:14-20). Glória. Do gr. doxa (ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23). O Filho sempre teve “glória” (Jo.17:5), mas, após Sua ressurreição e exaltação, o Pai fez essa glória ser reconhecida pelos seres humanos. É nesse sentido que Deus “Lhe deu glória”. De sorte que. A última parte poderia ser parafraseada como: “com o resultado de que vossa fé e esperança se direcionem a Deus”. Uma das consequências da demonstração do grande poder divino na ressurreição e exaltação de Cristo deve ser o fortalecimento da confiança em Deus. Aquele que trabalhou tão poderosamente em Jesus pode exercer poder semelhante em favor do cristão. |
1Pe.1:22 | 22. Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, Purificado. Na expressão “tendo purificado a vossa alma”, o texto grego indica que os ouvintes de Pedro haviam se consagrado no passado e que a condição purificada continuava (ver com. de 1Jo.3:3). A obra de purificação é realizada sob a atuação do Espírito Santo (ver com. de 1Pe.1:2). Alma. Do gr. psuchai, plural de psuche (ver com. de Mt.10:28). Neste caso, trata-se do centro da vontade, dos desejos e das paixões. Pela vossa obediência. Literalmente, “na obediência”. O artigo definido indica a obediência que o evangelho requer. A purificação total do ser humano só pode ser realizada pela submissão à vontade de Deus. Verdade. Literalmente, “da verdade”, isto é, direcionado à verdade (sobre verdade, ver com. de Jo.8:32; ver também com. de Jo.1:17; Jo.17:17). A verdade não deve ser apenas conhecida, mas praticada para se tornar eficaz. Pelo Espírito (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. Contudo, as Escrituras ensinam com frequência que o Espírito Santo concede o poder que capacita o ser humano a obedecer (ver com. de Rm.8:4). Amor fraternal. Do gr. philadelphia (ver com. de Rm.12:10). A obediência à verdade deve resultar em amor pelos irmãos (ver com. de Jo.13:34; 1Jo.2:9-11; 1Jo.3:10-18). Não fingido. Do gr. anupokritos, “sem disfarce”, “sem hipocrisia”. A forma substantiva positiva hupokrites é transliterada pela palavra portuguesa “hipócrita”. Amai-vos. Do gr. agapao, afeição governada pela razão e pelo entendimento, na busca do melhor para a pessoa amada (ver com. de Mt.5:43; Jo.21:15). De. Ou, “proveniente de”, destacando a profundidade da fonte do amor cristão. Ardentemente. Do gr. ektenos, “amplamente”, “fervorosamente” (ver com. de At.12:5), do qual deriva a palavra portuguesa “estender”. A afeição cristã deve se estender sobre muitas áreas na vida do próximo, que pode não ser tão amável em si. Ela abrange todos os incidentes e inclui todas as pessoas (ver com. de 1Co.13:7). Puro (ARC). As evidências textuais (cf. p. xvi) estão divididas entre manter e omitir esta palavra. |
1Pe.1:23 | 23. pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Regenerados. Literalmente, “tendo nascido de novo”, com provável referência à conversão dos leitores mediante o poder da Palavra de Deus (sobre o novo nascimento, ver Jo.3:3-8). Semente. Possível referência à parábola do semeador, na qual a “semente” representa a “palavra de Deus”, lançada no coração dos seres humanos (ver com. de Mt.13:3-9; Mt.13:18-23). Ou, Pedro pode estar se referindo ao nascimento físico. Corruptível. Do gr. phthartos, “sujeito à decomposição” (ver com. do v. 1Pe.1:18). Incorruptível. Do gr. aphthartos (ver com. do v. 1Pe.1:4). Palavra de Deus. Isto é, a palavra que provém de Deus (comparar com “a palavra do reino”, em Mt.13:19). As Escrituras são a Palavra de Deus para a humanidade (ver com. de 2Tm.3:16). Ao aderir a seus princípios, qualquer pessoa experimenta um novo nascimento em esperança, força e caráter. Longe da “palavra de Deus”, o ser humano não pode esperar nenhuma transformação moral, nem regeneração espiritual. Vive e é permanente. Pedro pode estar se referindo aqui à “palavra” ou a “Deus”. Em ambos os casos, a afirmação é verdadeira (cf. Hb.4:12). Talvez a ideia de um Senhor que vive e é permanente seja mais harmoniosa com o contexto. Para sempre (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. |
1Pe.1:24 | 24. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; Pois. Do gr. dioti, termo muito usado por Pedro para introduzir citações do AT. Toda carne. Uma citação de Is.40:6-8. Ele fala da humanidade em seu estado frágil e natural, distante da graça mantenedora de Deus. Toda a sua glória. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta versão. Seca-se. Pedro destaca a brevidade da vida, comparada com a eternidade de Deus. Sem a esperança do dom divino da vida eterna, o ser humano só pode contar com alguns anos de existência. |
1Pe.1:25 | 25. a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada. Palavra. Do gr. rhema, “palavra”, “mensagem”, neste caso, qualquer declaração da verdade divina. Permanece. Do gr. meno. As declarações divinas valem para sempre; nada do que Deus diz necessita ser alterado ou corrigido (ver com. de SI.89:34). Os princípios do governo de Deus perdurarão enquanto Ele próprio continuar a existir (ver com. de Mt.5:17-18). Evangelizada. O eloquente clímax de Pedro é que a verdade eterna sobre o pecado e a salvação constitui a boa-nova da igreja cristã. Logo, a “obediência à verdade” (v. 1Pe.1:22) garante ao cristão infindável comunhão com o Deus eterno. |
1Pe.2:1 | 1. Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, Despojando-vos. Ou, “tirando”, como se faz com as roupas (ver Ef.4:25; Tg.1:21). É preciso se despojar de outras coisas para que o “genuíno leite espiritual” (v. 1Pe.2:2) se torne eficaz. Portanto. Pedro inicia aqui uma série de exortações voltadas aos que passaram pelo novo nascimento (ver 1Pe.1:23-25). Maldade. Do gr. kakia, “depravação”, “torpeza” (ver com. de Rm.1:29), incluindo todo tipo de vício e maldade. Dolo. Do gr. dolos, “traição”, “artimanha” (ver com. de Jo.1:47). Hipocrisias. Do gr. hupokriseis, “encenação”. Maledicências. Ou, “difamação aberta” (ver com. de 2Co.12:20). |
1Pe.2:2 | 2. desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, Desejai. Ou, “ansiai por”. Neste caso, trata-se de ansiar pela Palavra, assim como o recém-nascido anseia pelo leite materno. De igual modo, todo cristão deve desejar a nutrição espiritual das Escrituras. Ela é imprescindível para o crescimento espiritual. Recém-nascidas. Esta expressão dá continuidade à ilustração do novo nascimento (1Pe.1:3; 1Pe.1:23). Cristãos recém-nascidos têm pouca experiência de vida e limitado conhecimento espiritual (cf. Mt.18:3). Genuíno. Do gr. adolos, “sem dolo”, “sem artimanhas”. É possível que o sentido aqui seja de leite “não adulterado” (cf. 2Co.2:17). As Escrituras são “a palavra do Senhor” (1Pe.1:25), sem adulteração de teorias humanas. Leite. Isto é, os princípios elementares, fundamentais do evangelho (ver com. de Hb.6:1-2). Espiritual. Do gr. logikos, “racional”, “agradável à razão” (ver com. de Rm.12:1). Pedro se refere ao alimento espiritual da “palavra de Deus” (1Pe.1:23; 1Pe.1:25). Muitos estudiosos consideram que logikos alude a logon theou, “palavra de Deus” (1Pe.1:23) e, por isso, leem aqui “o leite que é a palavra”, “leite relativo à palavra”. Embora o apóstolo use “leite” no sentido de alimento espiritual necessário ao cristão ao longo da vida, o autor de Hebreus relaciona o “leite” às doutrinas mais elementares, algo que deveria ser complementado, o quanto antes, com “alimento sólido” (Hb.5:12-6:2). Pedro não está necessariamente sugerindo que seus leitores eram “bebês” na fé. Seja dado crescimento. Literalmente, “seja feito crescer”. Para salvação. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante. A salvação é o alvo e a recompensa de todos que vivem em harmonia com as instruções da Palavra de Deus. |
1Pe.2:3 | 3. se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Se é que. O texto grego indica que Pedro pressupõe que seus leitores tinham experimentado a bondade da orientação do Senhor; por isso, eles deveriam continuar ansiando pela nutrição das Escrituras. Bondoso. Do gr. chrestos, “adequado para uso”, “bom”, “beneficente”. A palavra deriva de um verbo que significa “fornecer o que é necessário”. O apóstolo cita o Sl.34:8, que descreve a bondade altruísta, a simpatia e a terna compaixão do Senhor em relação à humanidade. |
1Pe.2:4 | 4. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, Chegando-vos. Ou, “continuem vindo”. Assim como a criança sente fome com frequência (v. 1Pe.2:2), o cristão deve sentir continuamente sua necessidade de nutrição espiritual. Ele entrega a vida a Jesus todos os dias e as bênçãos de Deus lhe são renovadas. Para ele. Ou seja, ao Senhor (v. 1Pe.2:3). Pedra que vive. Isto é, o Senhor Jesus Cristo (sobre a “pedra” como símbolo de Cristo, ver com. de Mt.16:18). Pedro antecipa a citação do v. 1Pe.2:6, de uma profecia sobre Jesus como a “pedra angular” da igreja. Além da “Pedra que vive”, o apóstolo enfatiza a “viva esperança” (ver com. de 1Pe.1:3) e a palavra “que vive” (v. 1Pe.1:23). Rejeitada. Do gr. apodokimazo, “rejeitar depois de testar”, por uma falha em cumprir as especificações. As pessoas olharam para Cristo e O examinaram. Entretanto, entenderam que Lhe faltavam as qualidades desejadas no Messias, por isso O rejeitaram como salvador. A nação judaica fez essa escolha e vários indivíduos de muitas nações fizeram o mesmo desde então (cf. At.4:11). Para com Deus eleita. Do gr. eklektos (ver com. de 1Pe.1:2). Embora as pessoas em geral tenham repudiado a Cristo, Deus reconheceu que Ele cumpria todos os requisitos para ser o substituto sem pecado dos seres humanos. Preciosa. Ou, “honrada”, “estimada” por causa das qualidades. |
1Pe.2:5 | 5. também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Também vós. O texto grego é enfático: “vós, vós mesmos, também”. Pedras que vivem. O apóstolo aplica aos crentes o mesmo termo que usou para se referir a Cristo (v. 1Pe.2:4). Cada cristão é uma pedra viva por causa da união com o Cristo vivo. Sem conexão vital com Jesus Cristo, ninguém pode ter vida santa (ver com. de Jo.6:51; Jo.6:57; Jo.15:1-6) nem expectativa de vida eterna (ver com. de Jo.14:19). Edificados. Do gr. oikodomeo, o mesmo verbo usado por Cristo quando anunciou a edificação da igreja (ver com. de Mt.16:18). Era Seu papel de construtor e mestre, Cristo coloca cada crente no lugar apropriado na igreja. A expressão também pode ter a versão “sede edificados”, que destaca a submissão do cristão a Deus como o edificador e mestre (ver com. de Ef.2:21-22). Espiritual. Do grego pneumáticos, “pertencente ao espírito”. Somente aqueles que dedicam a vida à glória de Deus serão incluídos no templo dos remidos. Aqui Pedro define a igreja como um corpo composto de seres humanos unidos pela devoção. Paulo também se refere à igreja como um templo (1Co.3:16; Ef.2:20-22). Sacerdócio santo. Literalmente, “por um sacerdócio santo”, “ser um sacerdócio santo”. Pedro se refere ao fato de todos os cristãos desfrutarem liberdade de acesso a Deus em virtude da obra de mediação realizada por Cristo e, por isso, não necessitam de mediador humano (ver com. de Hb.4:16). O sacerdócio se caracteriza não só pelo acesso direto a Deus, mas também pela santidade, separação do mundo, por privilégios e obrigações especiais. Os remidos serão “sacerdotes de Deus e de Cristo” durante o milênio (ver com. de Ap.20:6). Oferecerdes. Uma vez que os cristãos são sacerdotes, eles devem “ter o que oferecer” (cf. Hb.8:3). Sacrifícios espirituais. Isto é, sacrifícios caracterizados por um espírito de amor e devoção a Deus, em contraste com os sacrifícios animais do sistema ritual que havia passado a significar pouco mais do que a conformidade com a forma. Somente aqueles que adoram ao Senhor “em espírito e em verdade” (Jo.4:23-24) podem oferecer sacrifícios “agradáveis a Deus”. Os motivos e as atitudes são a prova da sinceridade (ver com. de Mt.20:15; comparar com os sacrifícios de Caim e Abel, ver com. de Gn.4:4-5). Agradáveis a Deus. O sacrifício vivo de uma vida dedicada sempre é “agradável a Deus” (ver com. de SI.51:16-17; Rm.12:1). Outros sacrifícios considerados aceitáveis a Deus são o louvor (Hb.13:15), fazer o bem e partilhar com os outros (v. Hb.13:16). Os donativos materiais têm o favor de Deus na medida em que refletem o amor e a devoção do doador (ver At.10:4; Fp.4:18). Por intermédio de Jesus Cristo. Ele é o agente pessoal por meio de quem nos aproximamos de Deus e que torna nossas ofertas aceitáveis. O cristão não necessita de sacerdote humano para apresentar seus sacrifícios a Deus (ver com. de Hb.4:16; Hb.10:19-22). |
1Pe.2:6 | 6. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Pois. Ou, “portanto”. Na Escritura. Citação da LXX, de Is.28:16. Sião. Nome poético para Jerusalém (ver com. de SI.48:2; Hb.12:22). Pedra angular. Do gr. akrogoniaios, “canto extremo”, de akros, “extremo”, “na beirada”, e gonia, “canto”, “ângulo”. Trata-se de uma referência à pedra mais importante de um edifício, que tem a função de alinhar o alicerce, e a estrutura externa, unindo as paredes (ver com. de Ef.2:20). Eleita. Ver com. de 1Pe.1:2; 1Pe.2:4. Preciosa. Ver com. do v. 1Pe.2:4. Uma vez que Deus tanto honrou a Cristo, é loucura os seres humanos O rejeitarem ou não Lhe darem a devida estima. Nela. Isto é, em Jesus Cristo, não em Pedro, nem em outro ser humano (ver com. de Mt.16:18). Neste texto, o apóstolo ensina claramente que Cristo, não Pedro, é a pedra fundamental sobre a qual a igreja é edificada. Crer. Literalmente, “criar o hábito de confiar”, isto é, exercitar uma confiança tranquila e constante. Envergonhado. Do gr. kataischuno (ver com. de Rm.5:5). Na forma usada aqui, quer dizer “cair em desgraça”. |
1Pe.2:7 | 7. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular É a preciosidade. A primeira frase diz, literalmente: “portanto, para vós que credes [é] uma honra [ou ‘preciosidade’]. Em contrapartida, o desobediente considera a pedra uma desonra (comparar com os v. 1Pe.2:4; 1Pe.2:6). Por mais que o mundo despreze a Cristo, os crentes verdadeiros acham uma honra ser conhecidos como cristãos. Os que obedecem nunca se envergonham, pois são “pedras que vivem” (v. 1Pe.2:5) na casa espiritual da qual Jesus Cristo é a pedra angular. Descrentes. Ou, “sem confiança”, em contraste com “aqueles que confiam”. Rejeitaram. Ver com. do v. 1Pe.2:4. Pedro cita o Sl.118:22, passagem que Cristo aplicou a Si mesmo (ver com. de Mt.21:42-44; At.4:11; sobre o evento ligado à construção do templo aqui referido, ver DTN, 597, 598). Principal pedra. Comparar com “pedra angular” (ver com. do v. 1Pe.2:6). |
1Pe.2:8 | 8. e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos. Pedra de tropeço. Uma citação de Is.8:14. Paulo faz citação semelhante (ver Rm.9:32). A nação judaica se ofendeu tanto com a mensagem de justificação pela fé proclamada por Cristo que crucificou exatamente Aquele que viera satisfazer os mais profundos anseios do coração por paz. Os judeus rejeitaram o meio proposto por Deus para edificá-los e fortalecê-los individual e nacionalmente (ver vol. 4, p. 19, 20). Ofensa. Do gr. skandalon, “graveto de armadilha”, “rede de armadilha”, que, quando tocada por um animal, se arma e fecha o alçapão (ver com. de 1Co.1:23). É como se a pessoa que rejeita a Cristo assinasse a própria sentença de morte. Tropeçam. Cristo veio ser o degrau para a salvação, para fazer paz com Deus e dar felicidade eterna. Entretanto, quando recusam subir pelo degrau, as pessoas “tropeçam”, fato pelo qual a “pedra” não é responsável (ver com. de Jo.3:19). Palavra. Isto é, o evangelho de Jesus Cristo conforme anunciado nas Escrituras (ver com. de 1Pe.1:23; 1Pe.2:2). Os desobedientes se recusam a aceitar a oferta de misericórdia da parte de Cristo. Postos. São “postos” para a salvação os que aceitam a Cristo e para a condenação os que O rejeitam. Ao escolher aceitar ou rejeitar a Jesus, cada ser humano se une voluntariamente a um grupo ou a outro, sendo destinado a compartilhar do destino que Deus preordenou para o grupo. Quando alguém escolhe rejeitar a Cristo, abre mão deliberadamente de seu único meio de salvação (ver At.4:12). O Senhor afirmou que todo aquele que desobedece será “reduzido a pó” pela “pedra” (Mt.21:44). Os resultados da transgressão foram “postos” por Deus. Portanto, quando rejeitou a Cristo, a nação judaica selou seu destino (ver vol. 4, p. 17-23; ver com. de 1Co.1:23; sobre presciência divina e predestinação, ver com. de Jo.3:17-19; Rm.8:28-29). |
1Pe.2:9 | 9. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; Raça eleita. Do gr. genos eklekton, “tipo eleito”, “povo escolhido”. A “pedra angular” também é chamada de “eleita” (eklekton, 1Pe.2:4; 1Pe.2:6; Ap.17:14). A nação judaica fora “eleita” para representar Deus na Terra (ver vol. 4, p. 13, 14; ver com. de Is.43:10). No entanto, por causa da descrença e da dureza de coração, perdeu sua posição privilegiada (ver vol. 4, p. 17, 18). Pedro declara aqui que Deus então incumbe a comunidade cristã dos privilégios e das responsabilidades da nação judaica, não mais na forma de grupo nacional, mas de um povo chamado de todas as nações para formar uma única entidade espiritual, uma grande família ao redor do mundo (ver com. de Cl.3:28). O status especial que o Israel literal detinha no passado foi revogado (ver vol. 4, p. 21-23). Sacerdócio real. Citação da LXX, de Ex.19:6 (ver com. ali), na qual é usada a mesma expressão grega, basileion hierateuma (comparar com Ap.1:6, em que evidências textuais apoiam a variante “um reino, sacerdotes”). No papel de sacerdotes, os cristãos devem oferecer a Deus “sacrifícios espirituais” (1Pe.2:5); também devem se apresentar como sacrifícios vivos (ver com. de Rm.12:1), um corpo de crentes consagrados ao Senhor. Eles não necessitam de sacerdote humano como mediador diante de Deus, pois só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (ver com. de Hb.7:17; Hb.7:24-28; Hb.4:16). Nação santa. Assim como Deus separou a nação judaica para dar testemunho dos princípios de Seu governo (ver com. de Dt.7:6), mais tarde, chamou a igreja para ser uma “nação santa” que O represente na Terra (ver vol. 4, p. 21-23). Propriedade exclusiva. Do gr. peripoiesis, “posse”, “propriedade pessoal”, literalmente, “uma aquisição” (ver com. de Ef.1:14; comparar com o verbo relacionado peripoieo, “adquirir para si”, “preservar [para si]”; ver com. de Dt.14:2). A expressão traduzida por “povo de propriedade exclusiva” quer dizer, literalmente, “um povo na posse”, com o sentido de “povo a quem Deus passou a possuir” ou “povo que Deus adquiriu para Si”, “povo que pertence a Deus” (ver com. de Ex.19:5; Dt.7:6; Ml.3:17). Cristo adquiriu a igreja e a considera Sua propriedade exclusiva (ver com. de At.20:28; Ef.1:14). Proclamardes. Literalmente, “colocar em circulação”. Virtudes. Do gr. aretai, “excelências”, “perfeições”, com ênfase nas qualidades manifestadas nas ações. A referência aqui é ao caráter glorioso de Deus, que transborda de amor e provisão para a salvação dos pecadores (ver Ex.34:6-7). O Senhor comprou a igreja como Sua propriedade exclusiva a fim de que seus membros reflitam os preciosos atributos do caráter divino e proclamem a misericórdia a todas as pessoas. Mediante a atração de uma personalidade semelhante à de Cristo e a compaixão de atos compatíveis com os dEle, os cristãos devem revelar Deus ao mundo assim como fez Jesus (ver com. de 2Co.2:14-16). Trevas. As Escrituras falam a respeito “deste mundo tenebroso” (Ef.6:12) e das “obras das trevas” (Rm.13:12), que são “infrutíferas” (Ef.5:11). O povo de Deus não está “em trevas” porque foi chamado para sair delas (ver com. de Jo.1:5). Maravilhosa. Ou, “surpreendente”. Luz. Termo que descreve a verdade (Mt.4:16; Lc.11:35) e os que vivem em conformidade com ela (Mt.5:14; At.13:47; Ef.5:8). Jesus Cristo (ver com. de Jo.1:4-5; Jo.1:9; Jo.8:12) e o Pai (1Jo.1:5) são a fonte de toda luz. A luz da verdade dissipa as trevas da ignorância e são um símbolo bíblico da presença e da orientação de Deus (ver com. de Jo.1:4; Jo.1:7). |
1Pe.2:10 | 10. vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. Antes. Isto é, sobretudo na época em que Abraão e seus descendentes eram o “povo de propriedade exclusiva” de Deus. Não éreis povo. O apóstolo parafraseia Os.2:23 e aplica o texto aos cristãos gentios. Ele não teria se dirigido dessa maneira aos cristãos judeus, cujos antepassados pertenciam ao povo de Deus havia séculos. O “povo” a quem ele se dirige aqui é descrito como converso da idolatria (1Pe.4:3-4). Paulo faz uma aplicação semelhante de Os.2:23 ao chamado dos gentios (ver com. de Rm.9:25-26). Povo de Deus. Sem Cristo, todas as pessoas, sejam judias ou gentias, estão destituídas de esperança (ver com. do v. 1Pe.2:9). Todavia, quando eles se tornam cidadãos do reino de Deus, passam a pertencer à “nação santa”, cuja tarefa é manifestar a glória do Mestre aos demais seres humanos (ver com. do v. 1Pe.2:9). Não tínheis alcançado misericórdia. Quando Israel era o povo escolhido de Deus, os gentios podiam obter misericórdia divina se tornando israelitas. Depois, porém, para obter a mesma misericórdia divina, o judeu precisaria se unir à igreja cristã. Nos tempos antigos, Israel era o canal por onde fluía a misericórdia divina ao mundo; hoje, a igreja é esse canal. Alcançastes misericórdia. Os crentes se tornaram os agentes designados por Deus para levar a “misericórdia” ao mundo. |
1Pe.2:11 | 11. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, Amados. Do gr. agapetoi, “amados”, palavra derivada de agape, que salienta a ideia de amor inteligente e altruísta (ver com. de Mt.5:43). Exorto-vos. Ou, “insisto convosco”. Peregrinos. Do gr. paroikoi, “estrangeiros”, ou seja, imigrantes estrangeiros que não desfrutam os direitos da cidadania (ver com. de Ef.2:19; 1Pe.1:1; 1Pe.1:17). Forasteiros. Do gr. purepidemoi, “hóspedes”, “estrangeiros”, “exilados” (ver com. de 1Pe.1:1; Hb.11:13). Absterdes. Os cristãos devem permanecer “sem mácula, nem ruga” (ver com. de Ef.5:27) em meio a um mundo caído. Devem evitar contato com maus hábitos e práticas ruins. É isso que os distingue como “peregrinos” e “forasteiros” no mundo. Eles permanecem alheios aos prazeres mundanos e se dedicam às coisas do espírito. Paixões. Do gr. epithumiai, “desejos”, “anseios”, “paixões” (ver com. de Jo.8:44; Rm.7:7; Mt.5:28). Carnais. Do gr. sarkikos (ver com. de 1Co.3:1). Guerra. Do gr. strateuo, “entrar em guerra”, “travar uma batalha”. As inclinações carnais provocam batalha constante na mente do cristão até que a graça de Cristo o livre dessas “paixões” (ver com. de Rm.7:21-25). Alma. Do gr. psuche (ver com. de Mt.10:28). Neste texto, refere-se às faculdades inteligentes, à consciência e à vontade (cf. 1Pe.1:9; 1Pe.1:22). |
1Pe.2:12 | 12. mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. Exemplar. Do gr. kalos, “nobre”, “servindo a um bom propósito”. O impacto do caráter cristão sobre os não conversos deve testificar da superioridade do estilo de vida cristão. O altruísmo, a paciência, a diligência e a vida do cristão contrastam com os hábitos pecaminosos dos não conversos. Procedimento. Ver com. de 1Pe.1:15. Gentios. Do gr. ethne, “nações”. Neste caso, o sentido não é de não judeus, mas de não cristãos figuradamente, uma vez que Pedro dirige esta epístola aos conversos do paganismo (1Pe.4:3-4). Os judeus usavam a palavra heb. goy e sua equivalente gr. ethnos para significar “nação”; ambas são traduzidas desse modo com frequência, às vezes, em referência ao povo hebreu (por exemplo, em Gn.12:2; Ex.19:6; Ex.33:13; Ez.37:22; Lc.7:5; Lc.23:2; Jo.11:43-52; At.26:4). Entretanto, na maioria das vezes, para aludir às nações pagãs que os cercavam (Lv.20:23; Dt.4:27; 2Rs.18:33; Je.5:15; Je.25:31; Ez.6:8; Ap.2:26; também em quase todas as ocorrências da palavra “gentios”, no NT). Os plurais goyim e ethne (traduzidos por “nações”, “gentios” ou “pagãos”) passaram a indicar não só as nações pagãs, mas também os pagãos individuais (At.10:45; At.13:42; At.13:48; Ef.2:11; Ef.3:1). Logo, para os judeus, que se consideravam superiores aos não judeus das “nações”, o termo ethne adquiriu a conotação depreciativa de inferiores e pagãos (ver com. de Gl.2:15). Os cristãos judeus haviam se acostumado a considerar “israelita” um sinônimo de membro do povo da aliança de Deus, e “nações” ou “gentios”, equivalentes de “pagãos”, como “separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef.2:12). Por isso, naturalmente relutavam em aplicar a palavra “israelita” a conversos gentios ou em deixar de considerá-los gentios (1Co.12:2; Ef.2:11) quando abandonavam o paganismo e entravam para a igreja. Isso explica por que tanto Paulo quanto Pedro usam ethne para contrastar gentios com cristãos, em vez de não judeus com judeus. Paulo repreende os cristãos de Corinto por serem coniventes com um pecado inaceitável “mesmo entre os gentios” (1Co.5:1) e contrasta esses cristãos (“vós”) com os gentios (“eles”), que “sacrificam [...] a demônios” (1Co.10:20). Pedro, neste versículo, também usa a terceira pessoa do plural e “vós” ao dizer que os ex-pagãos levavam uma vida “exemplar [...] no meio dos gentios”. Certamente, ele não chama de “gentios” aqueles que “antes, não [eram] povo, mas, agora, [são] povo de Deus” (1Pe.2:10), sobretudo desde que se tornaram “raça eleita, sacerdócio real, nação santa” (v. 1Pe.2:9), herdeiros das promessas da aliança a Israel. Malfeitores. Os cristãos eram mal interpretados pelos pagãos, sendo acusados de deslealdade ao estado e de perturbação da paz. Diante de tais circunstâncias, sua única defesa era uma vida irrepreensível, que até mesmo os pagãos só teriam como admirar. Observando-vos. Ou, “olhar cuidadosamente”, “analisar”. A esperança do apóstolo era que, à medida que examinassem o estilo de vida cristão, muitos pagãos fossem levados a adotá-lo (ver com. de 1Co.4:9; Hb.10:33). Boas. Do gr. kalos, traduzido por “exemplar” no início do versículo. Como representante de Cristo, o cristão deve ser conhecido não só por sua retidão moral, mas também pelo interesse prático no bem-estar das pessoas ao seu redor. Se a experiência religiosa de um indivíduo é genuína, ela se revela por meio de “boas obras” (ver com. de Mt.7:16-20; Tg.3:11-18). Glorifiquem a Deus. Isto é, que reconheçam a sabedoria e o poder de Deus, refletidos na vida dos cristãos. Pedro pode estar recordando aqui as palavras de Jesus (ver com. de Mt.5:16). Visitação. Do gr. episkope, “inspeção”, talvez da parte dos pagãos, à medida que analisam as “boas obras” dos membros da igreja, ou de Deus, ao inspecionar o registro dos seres humanos no juízo. Como um dos propósitos da vida cristã é revelar o caráter de Deus e levar os pagãos a temer a Deus, é provável que a primeira explicação se ajuste melhor ao contexto. Ao inspecionar o nobre caráter de um cristão genuíno, o pagão tem motivo suficiente para glorificar a Deus. A melhor maneira de um pagão glorificar a Deus é submetendo-se à graça e ao poder divinos que transformam o caráter. |
1Pe.2:13 | 13. Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, Sujeitai-vos. Literalmente, “submetei-vos de uma vez por todas”. Toda instituição humana. A não ser em caso de transgressão de princípios, o cristão deve submeter-se de boa vontade às leis escritas e implícitas da sociedade em que vive. Pedro classifica aqui as várias formas de governo como instituições criadas pelo ser humano. Ele não enfatiza, como Paulo (Rm.13), a permissão divina para que os governantes terrenos exerçam seu poder. Em vez disso, destaca o aspecto humano de sua autoridade. O cristão não usa a força contra as autoridades estabelecidas. Por causa do Senhor. O cristão deve desempenhar suas obrigações civis não por medo do castigo, mas por causa do preceito e do exemplo dado por Cristo quando esteve na Terra. Jesus cumpria as leis civis, chegando a Se submeter à injustiça, em vez de Se rebelar contra a autoridade estabelecida (ver com. de Mt.22:21; Mt.26:50-53). Soberano. Literalmente, “posicionar-se acima”, “estar acima dos outros”. |
1Pe.2:14 | 14. quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Autoridades. Isto é, os governadores das províncias. Por princípio, todos os oficiais menores estariam inclusos. Enviadas por ele. As autoridades menores devem ser obedecidas porque são nomeadas pelo rei, que governa por permissão divina a fim de que a lei e a ordem sejam mantidas (ver com. de Dn.4:17). Castigo. Uma das principais funções do governo é suprimir a desordem (ver com. de Rm.13:3-4). Os cristãos não devem ter a reputação de dificultar a manutenção da lei e da ordem para aqueles imbuídos de tal responsabilidade. Louvor. Comparar com 1Pe.1:7. As autoridades públicas têm o dever não só de conter as forças do mal, como também de incentivar pessoas e atividades que contribuam para o bem-estar da sociedade. |
1Pe.2:15 | 15. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; Porque. Pedro apresenta então o motivo fundamental para a submissão cristã às autoridades civis. Vontade de Deus. O cristão se submete não por temer o castigo, mas porque Deus requer que ele o faça. Prática do bem. Ou, “conduta exemplar”. Façais emudecer. Ou, “continueis fechando a boca”. A melhor forma de silenciar as críticas é não dar motivo para elas. Ignorância. Ou, “insensatez”, vinda de pessoas que acusam injustamente os cristãos de “malfeitores” (v. 1Pe.2:12). |
1Pe.2:16 | 16. como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Como livres. Isto é, agir como homens livres. Os cristãos se submetem à autoridade (v. 1Pe.2:13) não como escravos servis e ignorantes, mas com inteligência e por vontade própria, no papel de homens livres em Jesus Cristo. Liberdade. Ou seja, liberdade para agir como um ser inteligente. Pretexto. Ou, “cobertura”, “véu”, em sentido figurado, um “pretexto”. O cristão não abusa de sua liberdade, nem tira vantagem de sua reputação como cidadão que cumpre as leis. A liberdade cristã não isenta o indivíduo das responsabilidades de cidadão perante uma autoridade idoneamente constituída (cf. 1Co.6:12; 1Co.10:23). Malícia. Do gr. kakos (ver com. do v. 1Pe.2:1). Servos. Ou, “escravos”. Por ser servo de Deus, o cristão é obediente a Ele. O mundo tem o direito de esperar que o servo de Deus viva segundo sua profissão de fé e de concluir que o que ele faz tem a aprovação divina. Portanto, o nome de Deus está em questão quanto à maneira como o cristão conduz sua vida. Ele nunca deve dar aos outros motivo para pensar que o padrão divino de conduta seja inferior ao defendido pelos não cristãos. |
1Pe.2:17 | 17. Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei. Tratai todos com honra. Isto é, a despeito da posição social. Cada pessoa deve ser respeitada, não só pelo que é, mas também pela função que exerce. Amai. Ou, “continuai amando”. O mesmo sentido de continuidade é usado com “temei” e “tratai [...] com honra”, enfatizando a consistência da atitude cristã, que silencia os ignorantes (v. 1Pe.2:15). Os irmãos. Isto é, os crentes em Cristo. Temei a Deus. Ver com. de SI.19:9. O rei. Ver com. do v. 1Pe.2:13. |
1Pe.2:18 | 18. Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso; Servos. Do gr. oiketai, “escravos domésticos” (ver com. de Rm.14:4; Ef.6:5-8). Sede submissos. Ou, “continuai em sujeição” (ver com. de Ef.6:5). Senhor. Do gr. despotai (ver com. de Lc.2:29; At.4:24). A palavra enfatiza o domínio absoluto sobre os escravos. Uma vez que muitos conversos da igreja apostólica viviam em regime de servidão física a senhores terrenos, era necessário que os líderes abordassem o problema da escravidão de uma perspectiva prática, não idealizada (ver com. de Dt.14:26). Os escravos cristãos deveriam conquistar a estima e a bondade de seus senhores, por meio da demonstração de fidelidade, lealdade, humildade, paciência e espírito perdoador. Bom. Do gr. agathos, “bom” do ponto de vista moral. Cordato. Do gr. epieikes, “justo”, “razoável”, “manso de conduta”. Pedro reflete aqui o conselho de Cristo dado no Sermão do Monte (ver com. de Mt.5:43-48). Perverso. Literalmente, “torto”, em sentido metafórico, uma “mente perversa”, revelada na maneira de tratar os outros. Pode não ser difícil servir a um senhor bom e sensato, mas é necessário firmeza cristã para servir a um senhor tortuoso e mau. No entanto, um senhor “perverso” não é desculpa para desrespeito ou desobediência. Não importando quão mau fosse o senhor, o servo deveria desempenhar fielmente seus deveres. |
1Pe.2:19 | 19. porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Grato. Do gr. charis, “graça”; neste caso, aceitável (ver com. de Jo.1:14; Rm.1:7; Rm.3:24; 1Co.1:3). Jesus usou charis no sentido de “recompensa” (Lc.6:32). Para o escravo cristão conseguir permanecer fiel a um senhor intolerante e “perverso” (v. 1Pe.2:18), era necessária muita graça de Deus. Vendo a devoção do escravo fiel, Deus lhe proporcionaria recursos celestiais para aliviar seu fardo. Suporte tristezas. Ou, “continue a aguentar durante o sofrimento”. Saber que Deus está ao nosso lado em cada experiência dolorosa da vida, desperta coragem e serenidade. Injustamente. O princípio se aplica não só ao escravo cristão fiel, mas a todos os crentes que são julgados ou representados de maneira injusta. Sabendo que Deus tudo vê e julga com justiça, o cristão deve suportar a injustiça, pois assim Cristo, seu Mestre, o fez com nobreza (ver com. de Mt.5:10-12). Por motivo de sua consciência para com Deus. Literalmente, “por causa da consciência de Deus”, isto é, uma consciência iluminada pelo Espírito que mantém Deus em mente à medida que os deveres diários são realizados. A percepção constante da permanente presença divina capacita o cristão a cooperar com o Senhor e a triunfar sobre os problemas difíceis da vida. |
1Pe.2:20 | 20. Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Que glória há [...]? Literalmente, “que tipo de mérito?”. Pecando. Literalmente, “erros contínuos” contra Deus ou seres humanos. Ao se recusar a obedecer, o servo cristão violava a ordem divina e desafiava os desejos de seu senhor terreno. Assim, a reputação cristã era depreciada entre os pagãos e, aos olhos do Senhor, suas ações não eram charis (ver com. do v. 1Pe.2:19), isto é, dignas do favor divino. Esbofeteados. Do gr. kolaphizo, “golpear os ouvidos”, “socar com os punhos”. Com paciência. Isto é, sabendo que ele, o escravo, merece o castigo por falta de fidelidade a seu senhor terreno. Isto. Ou seja, o sofrimento paciente do abuso não merecido. Grato. Do gr. charis (ver com. do v. 1Pe.2:19). O escravo cristão nunca deveria ser culpado de preguiça, ineficiência ou desonestidade, motivos de castigo aos escravos pagãos. Deus tem formas de compensar os fiéis que sofrem por causa da justiça, e a certeza do cuidado divino lhes sustentará a fé e a coragem. |
1Pe.2:21 | 21. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, Chamados. A frase diz, literalmente, “pois para isto fostes chamados”, isto é, os cristãos foram “chamados” para fazer o bem e até para sofrer ao fazê-lo, se necessário. Um escravo ou qualquer membro da igreja que alegremente cumpre o que se exige dele pode ser injustiçado algumas vezes, mas deve passar por isso sem se queixar. Também Cristo sofreu. Principalmente durante o julgamento e a crucifixão (ver v. 1Pe.2:23), Ele sofreu injustamente porque nunca cometeu um ato sequer que merecesse castigo (ver v. 1Pe.2:22). A medida da nobreza de Seu caráter foi a intensidade dos tormentos que O assolaram desde a infância (ver com, de Mt.5:10-12). Ele enfrentava insultos e insinuações perversas sem retaliar. Confrontava a maldade humana com amor magnânimo. Sofreu pacientemente, confiando que Deus faria todas as coisas cooperarem para o bem (ver com. de Rm.8:28; 1Pe.2:19). Em vosso lugar. Ou, “em nosso lugar”. Deus planejou que o nobre sofrimento do Salvador fosse um exemplo a ser seguido por todos os fiéis. A vida perfeita de Cristo, forjada no crisol do sofrimento, é a solução divina para todo o problema do pecado. Aqui, porém, Pedro não aborda a expiação em primeiro lugar, mas o nobre exemplo de paciência e força que Cristo deu em relação a Seus sofrimentos. Exemplo. Do gr. hupogrammos, literalmente, “cópia”, ou seja, um padrão perfeito de escrita do qual seria possível fazer uma cópia perfeita. Cristo proveu o padrão supremo para o sofrimento com paciência, o qual o cristão deve imitar. Seguirdes. Literalmente, “seguir de perto”, isto é, passo a passo. Passos. Ou, “pistas”, “pegadas”, como as deixadas por uma pessoa que caminha na areia. |
1Pe.2:22 | 22. o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; Não cometeu pecado. Citação de Is.53:9; sobre a ausência de pecado em Cristo, ver vol. 5, p. 1014, 1015. Dolo. Ou, “engano” (ver com. do v. 1Pe.2:1). Não havia nada de enganoso nas palavras de Cristo, nenhum subterfúgio para aliviar o desconforto pessoal ou o sofrimento (comparar com Ap.14:5). Boca. Uma vez que os pensamentos de Cristo eram puros, nenhum “dolo” saía de Sua boca. “Porque a boca fala do que está cheio o coração” (Mt.12:34). |
1Pe.2:23 | 23. pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, Ultrajado. Ou, “abusado”. Não revidava com ultraje. Cristo não Se rebaixava para retaliar ou pagar mal com mal. Um segundo erro não conserta o primeiro. Assim, o exemplo de Cristo revelou o único espírito capaz de finalmente reconciliar seres humanos em discórdia. Quando Paulo disse que “o amor nunca falha” (1Co.13:8, ARC), ele não via outra solução para os problemas humanos, a não ser o exemplo de Cristo. Maltratado. Pedro lembra das coisas monstruosas feitas ao Senhor por ocasião de Seu julgamento e de Sua morte, e o fato de Cristo não ter feito nenhuma acusação direta contra aqueles que O maltrataram. Entregava-Se. O pronome “se” foi acrescentado pelos tradutores. O texto grego não deixa claro se Cristo “entregava” a Si mesmo, Sua causa, ou Seus algozes “àquele que julga retamente”. A oração de Cristo na cruz, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc.23:34), sugere a última das três possibilidades. Cristo não respondeu aos perseguidores que O escarneciam e maltratavam. Julga. Comparar com Jo.5:22; Jo.5:27; Jo.5:29. Retamente. Até mesmo o julgamento dos ímpios seria efetuado em harmonia com a natureza reta e compassiva de Deus (ver Rm.3:26; Ap.15:3; Ap.16:5; Ap.16:7; Ap.19:11). |
1Pe.2:24 | 24. carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. Carregando. Ou, “levando”, “levantando” (cf. Hb.7:27; Hb.9:28; Hb.13:15). O pecado foi imputado a Cristo (ver com. de Is.53:3-6; 2Co.5:21) a fim de que a justiça fosse imputada aos crentes (cf. DTN, 25). Ao carregar os pecados da humanidade na cruz, Jesus foi capaz de cancelar a pena porque Ele próprio a pagou (ver com. de Hb.9:26). Sua morte foi vicária e substitutiva, pois pagou a pena pelos pecados alheios (ver com. de Hb.9:28). “Ele é a propiciação pelos [...] pecados [...] do mundo inteiro” (1Jo.2:2). Ele mesmo. O apóstolo cita, secundariamente, o sacrifício substitutivo de Cristo como um fato sempre digno de ênfase. No entanto, o principal argumento dele é o exemplo heróico de Jesus diante da zombaria e de uma dura prova (ver com. do v. 1Pe.2:23). Em seu corpo. Comparar com Hb.10:10. Madeiro. Do gr. xulon, literalmente, “madeira [cortada e pronta para o uso]”. Para o apóstolo, a cruz era o antítipo dos altares de sacrifício da época do sacerdócio levítico. Os nossos pecados. Cristo não cometeu pecado (2Co.5:21), mas veio para carregar nossos pecados (Mt.1:21; Jo.1:29; 1Co.15:3; Gl.1:4; cf. DTN, 25). Mortos. Do gr. apoginomai, “tirar da mente”, “partir de” (ver Rm.6:11). A morte de Cristo tinha o propósito de prover mais do que perdão pelo pecado. A purificação de todas as práticas pecaminosas era o objetivo de Sua missão terrena. Ele veio salvar Seu povo “dos pecados deles” (ver com. de Mt.1:21; 1Jo.1:9). Vivamos para a justiça. Isto é, em harmonia com os princípios corretos. Chagas. Mais uma citação de Is.53:5. Sarados. Jesus Cristo veio para “proclamar libertação aos cativos” (Lc.4:18) e socorrer “os que tinham necessidade de cura” (Lc.9:11), tanto física quanto espiritual (ver com. de Mc.2:5; Mc.2:10). |
1Pe.2:25 | 25. Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma. Desgarrados. Ou, “vagando continuamente”. É Satanás quem “desgarra” os seres humanos (Ap.12:9; Ap.20:3; Ap.20:7-9). Como ovelhas. Ver com. de Is.53:6. Assim como o bom pastor (Jo.10:11-16; Hb.13:20), Jesus deu a própria vida pelas ovelhas (Jo.10:15-16). Convertestes. Do gr. epistrepho, “virar-se”, “cair em si”, “converter-se” (Lc.22:32; Jo.12:40; At.3:19; Tg.5:20). O ser humano voltou as costas para Deus, mas, na conversão, vira-se de novo de frente para o Senhor. Pastor. Do gr. poimen, que significa pastor de ovelhas (sobre poimaino, “ser pastor”, ver com. de At.20:28). Este termo sugere o cuidado e a proteção de Cristo por Suas ovelhas (ver com. de Jo.10:11). Nos muros das catacumbas, trabalhos artísticos dos primeiros cristãos retratam Jesus como pastor. Bispo. Do gr. episkopos, “supervisor”, “superintendente”, “guardião” (ver vol. 6, p. 12, 25; ver com. de At.20:28). Vossa alma. Ou, “vós” (ver com. de Hb.13:17). A ovelha errante corre risco de perda eterna. Pastor e oficiais da igreja precisam ser ricos em graça e experiência a fim de restaurar ao grande Pastor os membros que se afastam. |
1Pe.3:1 | 1. Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, Mulheres. Pedro reafirma, nesta passagem, os ensinos de Paulo em relação à ética de um lar cristão (ver com. de Ef.5:22; Tt.2:5). Sede vós [...] submissas. Ou, “continuai a ser submissas”. Igualmente. As esposas cristãs devem honrar o marido em palavra e conduta (ver com. de Gn.3:16; Ef.5:22; Ef.5:25). A vosso próprio marido. Pedro enfatiza aqui o relacionamento único que existe no casamento. A esposa crente deve, em todo tempo, demonstrar um espírito cristão, vivendo em paz com o marido descrente. Seus votos cristãos não a liberam dos votos anteriores a um esposo descrente. Se ele. Isto é, o marido descrente. Não obedece à palavra. Isto é, não aceita nem obedece ao evangelho. Não era incomum uma mulher aceitar a verdade de Cristo e o marido rejeitar e se opor à mesma. Contudo, a esposa cristã não deveria procurar se livrar dos laços do matrimônio, desde que o marido desejasse permanecer com ela (ver com. de 1Co.7:12-15). Ela deveria prosseguir com o esposo, ser submissa a ele como esposa, esperando e orando para que sua vida piedosa o conquistasse para Cristo. Seja ganho. Para a fé em Cristo. Sem palavra alguma. Literalmente, “sem uma palavra”, “sem falar”. A construção grega deixa claro que “palavra” aqui não é a mensagem evangélica, como a ocorrência anterior de “palavra” no mesmo versículo. Levando em conta que as esposas cristãs devem ganhar o marido descrente por meio de seu “procedimento”, “palavra” aqui, em contrapartida, certamente designa persuasão verbal. Às vezes, a esposa crente pode se sentir tentada a argumentar, procurando surpreender o marido com evidências lógicas. De modo geral, esta não é a melhor maneira de conquistar um esposo descrente. O espírito de discussão argumentativa e insistente é alheio aos métodos de Cristo. Procedimento. Do gr. anastrophe, “conduta” (ver com. de 1Pe.1:15). O comedimento e uma vida santa e mansa de negação do eu são persuasivos e costumam ser mais eficazes do que a argumentação constante. |
1Pe.3:2 | 2. ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Ao observar. Literalmente, “enquanto eles olham de perto” (ver 1Pe.2:12). Honesto. Ou, “puro” (ver com. de 1Tm.5:22). Toda a vida da esposa cristã deve ser comedida em estilo e gosto. Ela deve ser conhecida pelo decoro consistente em todas as coisas. Comportamento. Ver com. do v. 1Pe.3:1. Cheio de temor. Ou, “em temor”, isto é, no santo temor de Deus (ver 1Pe.2:17-18; ver com. de SI.19:9). Este versículo pode ser traduzido por: “Tendo observado de perto sua conduta pura no temor de Deus.” |
1Pe.3:3 | 3. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; Adorno. Do gr. kosmos, “ornamento”, “decoração” (ver com. de Is.3:16-24; 1Tm.2:9-10). A palavra portuguesa “cosmético” deriva de kosmos. Não é adequado à mulher cristã fazer demonstração de vestes e ornamentos a fim de atrair a atenção para si. Seu maior atrativo deve ser a conduta limpa (ver com. do v. 1Pe.3:2). Frisado de cabelos. Pedro cita aqui o exemplo de um “adorno” da Antiguidade que não refletia motivos honestos (ver com. do v. 1Pe.3:2). Penteados complexos, que demoravam para ser feitos, eram sinal de riqueza e moda no mundo greco-romano. O motivo era um claro desejo por atenção pessoal, que não está em harmonia com os princípios cristãos (ver com. de 1Tm.2:9). Adereços de ouro. As mulheres ligadas à moda da época do império romano usavam muitos anéis, braceletes e tornozeleiras brilhantes. Tais “adereços de ouro” eram contrários ao princípio da modéstia e simplicidade cristãs. Aparato de vestuário. Provável referência ao costume de trocar de roupa e de acessórios várias vezes ao dia para comparecer a diferentes compromissos sociais. O amor por um guarda-roupa lotado tem sido uma cilada enganosa a homens e mulheres de todas as eras. O dinheiro que poderia ser usado de forma mais proveitosa para o bem eterno de quem o recebe e o gasta é, muitas vezes, desperdiçado em roupas extravagantes. |
1Pe.3:4 | 4. seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Homem interior. O interior da pessoa, o verdadeiro eu (Rm.7:22; 2Co.4:16; Ef.3:16). Coração. Isto é, o caráter e a personalidade intrínsecos. O tempo empregado para o adorno do caráter com atributos semelhantes aos de Cristo é de muito mais valor do que o despendido à decoração exterior do corpo. Incorruptível. O caráter incorruptível é o manto de justiça que Cristo promete a todos que O aceitam pela fé e que O buscam por orientação (ver com. de Mt.22:11; Ap.3:18). É esse ornamento que Deus deseja para a esposa cristã, isso a exalta, junto com sua religião, perante o marido e os amigos descrentes como nada mais é capaz de fazê-lo. Espírito. Isto é, disposição mental. Manso. Do gr. praus (ver com. de Mt.5:5). A simplicidade despretensiosa da mulher cristã se destaca em contraste com a vaidade daquelas que tentam atrair atenção para si com penteados vistosos, ornamentos reluzentes e roupas da moda. Tranquilo. A boa disposição do cristão não depende da moda e de suas constantes mudanças, mas de Cristo que, “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb.13:8), e cuja companhia tem muito mais valor do que a de pessoas instáveis. De grande valor. O valor material dos adereços de ouro e aparatos de vestuário é insignificante em comparação com o valor eterno de pessoas verdadeiramente convertidas. |
1Pe.3:5 | 5. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, Foi assim também. Isto é, no adorno do caráter. Ataviaram. Isto é, em “espírito manso e tranquilo” (ver com. do v. 1Pe.3:4). Mulheres. Ou, “esposas”. Esperavam. Do gr. elpizo, “ter esperança”. Nas promessas de Deus às mulheres piedosas repousava a esperança que elas tinham de reconhecimento e segurança. Seus desejos estavam em harmonia com os planos de Deus para elas. Estando submissas. Elas não tentaram quebrar os votos conjugais como solução para os problemas do casamento. Muitas esposas crentes enfrentavam situações difíceis no lar, mas mereciam a aprovação divina por encarar essas circunstâncias com perseverança, em espírito de mansidão. Elas suportavam as provas sem irritação. |
1Pe.3:6 | 6. como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma. Sara. A mulher de Abraão é apresentada como a matriarca de todas as esposas piedosas e como exemplo que elas podem seguir com segurança. Chamando-lhe senhor. Sara respeitava Abraão e se submetia a sua liderança dentro do lar (ver com. de Gn.18:12). Filhas. O apóstolo Paulo afirma o papel de Abraão como nosso pai espiritual (ver com. de Rm.4:11; Gl.3:7). Praticando o bem. As esposas cristãs devem seguir o exemplo de Sara de comportamento despretensioso no lar e na sociedade. Essa conduta as qualifica como “filhas” de Sara, assim como os homens fiéis manifestam as qualidades de Abraão, seu pai espiritual. Perturbação. Do gr. ptoesis, “medo”, “terror” (cf. Pv.3:25, LXX). As esposas cristãs não se perturbam pelas situações de conflito que podem surgir por causa da atitude do marido descrente, pelos problemas na educação dos filhos nem pela má vontade expressa por amigos e vizinhos descrentes. A despeito desses problemas, ela conserva “um espírito manso e tranquilo” (1Pe.3:4). Os problemas da vida a levam para mais perto do Senhor, não a desanimam. |
1Pe.3:7 | 7. Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações. Igualmente. O apóstolo fala agora dos deveres dos esposos. Deus não espera menos do marido cristão do que de sua esposa. Com discernimento. Isto é, com reflexão e análise, cumprindo todos os deveres conjugais com sabedoria e altruísmo. A esposa cristã deve respeitar o marido em seu papel de chefe do lar, mas o marido não tem direito de tirar vantagem dessa prerrogativa. Com o conhecimento do amor divino, o esposo cristão nunca se aproveita da mulher, nem lhe faz exigências injustas (ver com. de 1Co.7:2-5). Tendo consideração. Isto é, respeito. Parte. Ou, “instrumento”; neste caso, significa “pessoa”. Mais frágil. Em comparação com os homens. Juntamente, herdeiros. Ou, “coerdeiros”. Aos olhos de Deus, não há desigualdade entre homens e mulheres. Ambos compartilham o reino eterno como “coerdeiros”. Graça de vida. Ou seja, o dom da vida eterna, resultado da graciosa bondade de Deus (ver com. de Jo.3:16). Não se interrompam as vossas orações. O marido que não trata a mulher com respeito cristão não pode esperar que Deus atenda suas orações (cf. Mt.18:19). Deus não pode derramar bênçãos sobre homens de espírito injusto, egoísta e tirano para com a própria esposa. |
1Pe.3:8 | 8. Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, Finalmente. Pedro se dirigiu aos cristãos de modo geral (1Pe.2:1-17) e, em particular, aos servos (v. 1Pe.2:18-25), às esposas (1Pe.3:1-6) e aos maridos (v. 1Pe.3:7). Então, ele passa a advertir os cristãos como um todo novamente. Todos. Ou seja, os “forasteiros” espalhados pela Ásia Menor (ver com. de 1Pe.1:1) e, em sentido mais amplo, os cristãos de todos os lugares, em todas as eras. De igual ânimo. Do gr. homophrones, “mente semelhante”, “unido em espírito”, “harmonioso”. A harmonia entre os cristãos e a unidade de ação exigem a união básica com respeito às crenças fundamentais e aos objetivos e métodos da igreja. Contudo, união não significa uniformidade em todos os aspectos. Sempre que as pessoas pensarem, haverá diferenças de opinião nos detalhes. No entanto, apesar dessa diversidade, ainda é possível haver comum acordo quanto aos princípios e à política de ação. Na verdade, a união é mais uma questão de coração do que de mente. Os cristãos devem ser capazes de trabalhar em harmonia, a despeito de haver diferentes pontos de vista, desde que o espírito de orgulho seja suprimido pelo desejo genuíno de agir conjuntamente. Dessa forma, as diferenças serão minimizadas, e a comunhão unirá a todos (ver com. de Jo.17:21; Rm.12:10; Rm.12:16). Compadecidos. Do gr. sumpathes, “sofrendo com [outro]”, termo do qual deriva a palavra “simpatia” (ver com. de 1Co.12:26). Fraternalmente amigos. Ver com. de 1Pe.1:22; cf. com. de Mt.5:43-48. Misericordiosos. Do gr. eusplagchnoi, “compassivos”, “de coração terno” (ver com. de Ef.4:32). Humildes. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a versão “de mente humilde” (ver com. de Mt.11:29; Rm.12:16; 2Co.12:21). |
1Pe.3:9 | 9. não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança. Não pagando. Literalmente, “não retribuindo”. Mal por mal. Ver com. de Mt.5:39; Rm.12:17; 1Ts.5:15. Injúria. Ou, “abuso” (ver com. de 1Pe.2:23). Bendizendo. Ver com. de Rm.12:14. Pois para isto mesmo fostes chamados. Deus nos chamou a fim de ajudarmos os outros, não para obter sozinhos as bênçãos. O cristão genuíno procura, de forma espontânea, maneiras de ser uma bênção para os outros (ver com. de Mt.5:43-44). Receberdes bênção por herança. A maior bênção que se pode receber é ser uma bênção aos outros. O reino eterno de Deus será habitado por homens e mulheres que fizeram da partilha de sua felicidade um hábito de vida. Em um universo perfeito, a felicidade dos outros é a única preocupação dos seres inteligentes. |
1Pe.3:10 | 10. Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente; Quem quer. Isto é, “quem deseja”. Este é o espírito que move o grande coração de Deus (ver com. de Jo.3:16) e caracteriza Seu povo (ver com. de Mt.25:40). O apóstolo inicia aqui (v. 10-12) uma citação do Sl.34:12-16 (ver com. ali). Em meio aos problemas da vida (ver 1Pe.2:12-20), o cristão se propõe a ter uma vida plena e cheia de valor que leva bênçãos para os outros. Amar a vida. O texto hebraico do Sl.34:12, que Pedro cita aqui, diz, literalmente: “encontrar prazer na vida”, nesta vida (ver com. de Mt.10:39). Ver dias felizes. Isto é, dias que trazem satisfação verdadeira. Refreie a língua. Muitas amizades e carreiras promissoras são interrompidas por uma palavra impetuosa, dita sem pensar. Certa vez, Calvin Coolidge observou: “Nunca me magoei por algo que não disse.” Quem acha difícil refrear “a língua” pode muito bem se apropriar da oração do Sl.141:3 (ver com. de Pv.15:1; Pv.15:18; Pv.17:27-28; Pv.18:21; Pv.29:11; Tg.1:19; Tg.1:26; Tg.3:2-18). |
1Pe.3:11 | 11. aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la. Aparte-se do mal. Após as duas exortações negativas do v. 1Pe.3:10, seguem-se quatro positivas. Literalmente, a expressão quer dizer “volte as costas para o mal”, isto é, não faça mal aos outros. O cristão não deve prejudicar a ninguém. Pratique o que é bom. Para os outros. O cristão aproveita cada oportunidade para dizer o que é bom sobre as pessoas (v. 1Pe.3:10) e para fazer o bem (v. 11). Paz. Ver com. de Je.6:14; Hb.12:14. Empenhe-se por alcançá-la. É necessário empenho para preservar a paz. |
1Pe.3:12 | 12. Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males. Porque. Pedro dá o motivo para os cristãos se apartarem do mal e praticarem o que é bom. Olhos do Senhor. Comparar com SI.33:18; Hb.4:13. Justos. Isto é, aqueles que dão ouvidos à admoestação do v. 1Pe.3:11. Seus ouvidos. Além de cuidar dos que escolhem servi-Lo, Deus permanece atento a suas súplicas por graça, para praticar “o que é bom”, e por misericórdia, quando não conseguem fazê-lo. Está contra. Deus coloca impedimentos no caminho daqueles que difamam e que agem contra os outros (ver com. de Mt.6:15). Praticam males. O mal caracteriza a vida desses indivíduos. Os que prejudicam o próximo não podem esperar que Deus os ajude. |
1Pe.3:13 | 13. Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Há de maltratar. De maneira geral, quem se compromete a fazer o bem aos outros é retribuído na mesma medida. Zelosos. Evidências textuais (ci. p. xvi) favorecem esta variante (ver ACF). Os cristãos que vivem no zelo de fazer o bem aos outros privam os descrentes de qualquer motivo legítimo para acusações (cf. Rm.8:33-35). Todavia, isso não quer dizer que toda oposição desaparecerá, pois até Jesus foi falsamente acusado e maltratado. Seus seguidores não podem esperar um tratamento mais favorável do que o que Ele recebeu (ver com. de Jo.15:20). |
1Pe.3:14 | 14. Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; Mas, ainda que. Ou, “mas mesmo se”. Por causa da justiça. Ver com. de Mt.5:10-11; 1Pe.2:20. A perseguição sobreviria, e os cristãos deveriam estar preparados. Bem-aventurados. Do gr. makarios, também traduzido por “bendito” (ver com. de Mt.5:3). As suas ameaças. Isto é, as tentativas de amedrontar. Esta frase poderia ser parafraseada da seguinte forma: “Não deixeis que eles vos assustem.” A “esperança da salvação” é um “capacete” (1Ts.5:8), cujo propósito é impedir golpes mortais na confiança no poder de Deus para livrar os fiéis dos desígnios dos maus. Alarmados. Do gr. tarasso, “confundir”, “desorganizar”, a mesma palavra usada por Cristo quando aconselhou os discípulos: “Não se turbe o vosso coração” (Jo.14:1). Nunca se deve esquecer de que Deus se assenta no trono do universo, segurando nas mãos os problemas de todas as pessoas que O temem (cf. Rm.8:31). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão da frase “nem fiqueis alarmados”. |
1Pe.3:15 | 15. antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, Santificai. Ou, “reverenciai”, “consagrai”. A primeira parte do v. 15 é uma citação de Is.8:13. Senhor. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta variante, numa referência a Cristo. Ela identifica que o “Senhor”, ou Yahweh (Is.8:13), é Jesus Cristo (sobre a natureza divina de Cristo, ver vol. 5, p. 1013). Em vosso coração. A presença de Cristo desperta uma duradoura alegria (ver com. de Gl.2:20). Responder. Do gr. apologia, “defesa” (ver com. de 1Co.9:3). As pessoas inteligentes devem ser capazes de explicar os motivos de suas crenças e práticas. Razão da esperança. Ou, “uma justificativa acerca da esperança”. A esperança cristã se concentra em Jesus Cristo (1Tm.1:1) e é motivo de regozijo (Rm.5:2; Rm.12:12), pois vislumbra a vida eterna (Tt.1:2; Tt.3:7). Uma rotina de diligente e contínua busca para compreender a vontade de Deus é o único meio para o aperfeiçoamento do caráter cristão. Devemos crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe.3:18; Ef.4:13; Fp.1:9; Cl.1:9-10; ver com. de Ef.1:17). Pessoas honestas têm o direito de esperar que os servos de Deus sejam capazes de expor suas convicções de maneira inteligente e convincente. Na verdade, eles devem estar preparados para enfrentar os desafios das mais aguçadas mentes. A verdade é repleta de razão e nunca teme os fatos. Em vós. Devemos entender a mensagem antes de ser capazes de partilhá-la com os outros. Além disso, à medida que os cristãos compreendem mais e mais acerca da verdade em Jesus Cristo, seu estilo de vida passa a refletir melhor o caráter divino. Os princípios do cristianismo devem ser colocados em prática para que o testemunho da verdade seja eficaz. Muitas vezes, a igreja não é julgada por sua teologia nem pelos sermões que o pastor prega, mas pelo testemunho espontâneo dos membros, em atos e palavras. |
1Pe.3:16 | 16. fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, Mansidão. Ou, “brandura”. A verdade pode ser rejeitada se comunicada em tom autoritário. O alvo da verdade é tornar as pessoas semelhantes a Cristo. Mas, quando ela não é apresentada à semelhança de Cristo, perde seu poder de atração. Temor. Isto é, o temor de Deus (ver com. de SI.19:9). Com. Ou, “mantendo”. Consciência. Do gr. suneidesis, literalmente, “conhecendo consigo mesmo”, sugerindo uma autoconsciência interior dos próprios pensamentos (ver com. de Rm.2:15). O respeito pelos outros, sem falar do respeito próprio, só pode ser construído sobre o fundamento de uma “boa consciência”. Falam contra vós outros. Ver com. de 1Pe.2:12. Envergonhados. A conduta honrosa dos santos difamados prova que seus acusadores são mentirosos. Difamam. Do gr. epereazo, “tratar abusivamente” (cf. Mt.5:44; Lc.6:28; ver com. de 1Pe.2:12). Procedimento. Do gr. anastrophe, “conduta [moral]” (ver 1Pe.2:12; ver com, de 1Pe.1:15). Em Cristo. Isto é, em harmonia com os princípios cristãos. |
1Pe.3:17 | 17. porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal. Vontade de Deus. Satanás é o autor do sofrimento (ver com. de Jó.42:5; SI.38:3; Sl.39:9; Tg.1:2-5; Tg.1:13). Contudo, Deus sabe quando o sofrimento pode ser útil para o desenvolvimento do caráter e, por isso, permite que ele sobrevenha (ver com. de Hb.2:9; 1Pe.2:19). |
1Pe.3:18 | 18. Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, Também Cristo. Os destinatários desta epístola enfrentavam perseguição na época ou havia uma perspectiva iminente disso (ver 1Pe.3:14-17; 1Pe.4:12-16; 1Pe.4:19). Pedro os encorajou a não considerar esse “fogo ardente” uma experiência estranha ou “extraordinária” (1Pe.4:12), considerando que “também Cristo morreu” (1Pe.3:18). Era privilégio deles ser “coparticipantes dos sofrimentos de Cristo”, isto é, encontrar no sofrimento companheirismo com o Senhor e Mestre (1Pe.4:13; Jo.15:20). Ele deixara o exemplo de como suportar o sofrimento (1Pe.2:20-23). Além disso, Cristo foi vitorioso por meio do sofrimento (ver 1Pe.1:11; 1Pe.4:13; 1Pe.5:1). Ele ressuscitou dos mortos glorificado (ver com. do v. 1Pe.3:21; cf. 1Pe.1:11; 1Pe.5:1); ascendeu ao Céu, onde lhe ficaram “subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1Pe.3:22). Cristo havia advertido Seus seguidores de que eles também deveriam esperar “aflições”, mas acrescentou: “tende bom ânimo; Eu venci o mundo” (Jo.16:33). Sua vitória mediante o sofrimento era a certeza da vitória dos cristãos sobre o “fogo ardente” que se encontrava à frente deles. Pedro advertiu seus leitores a não fazer nada que os levasse a merecer o sofrimento (1Pe.2:20; 1Pe.3:16-17; 1Pe.4:15). Em vez disso, deveriam ter a certeza de que sofriam “por causa da justiça” (v. 1Pe.3:14), por praticar “o que é bom” (v. 1Pe.3:17; cf. 1Pe.4:14). De igual modo, Cristo sofreu “pelos pecados, o justo pelos injustos” (v. 1Pe.3:18; cf. 1Pe.2:24). Ele nada fizera para merecer o maltrato. Por isso, aqueles que afligiram a Cristo e os que atormentam Seus seguidores merecem um castigo compatível com o delito. Os leitores da epístola podiam ter certeza de que, no tempo certo, Deus julgaria seus algozes e lhes retribuiria segundo suas obras (1Pe.4:5; 1Pe.4:17-18). Eles tinham o exemplo de Cristo, que “entregava-Se Àquele que julga retamente” (1Pe.2:23). Assim como Cristo, eles eram inocentes e podiam ter certeza de que a justiça seria feita. Diante de tudo isso, os seguidores de Cristo não deveriam se envergonhar de sofrer como cristãos (1Pe.4:16), mas se alegrar porque, “na revelação de Sua glória”, eles se alegrariam “exultando” (1Pe.4:13). Podiam se sentir “bem-aventurados” quando “injuriados” “pelo nome de Cristo”, porque sobre eles repousaria “o Espírito da glória e de Deus” (1Pe.4:14). Cristo “padeceu por nós” (1Pe.4:1, ARC) e é nosso privilégio ser “injuriados” “pelo nome de Cristo” (v. 1Pe.4:14). Morreu. As evidências textuais (cf. p. xvi) estão divididas entre esta e a variante “padeceu” (ARC). A segunda opção harmoniza-se melhor com o contexto (ver com. de 1Pe.2:21). Uma única vez. Ver com. de Hb.9:26. Pelos pecados. Cristo cumpriu a pena pelos pecados de todos os seres humanos (ver com. de 1Co.15:3; 2Co.5:14; Hb.4:15; 1Jo.2:2; ver vol. 5, p. 1014), embora Ele próprio não tivesse nenhum pecado (ver com. de 1Pe.2:22). O justo. Isto é, Cristo (ver com. de At.3:14). Pelos. Do gr. huper, “em favor de”, “para o bem de”, “em vez de”. O fato significativo acerca da morte de Cristo é sua natureza vicária. Ele não morreu como um bom homem que deixou um exemplo nobre, mas como o Salvador dos pecadores (ver com. de Is.53:4-5; Mt.20:28; 1Pe.2:24; cf. DTN, 25). Conduzir-vos a Deus. Ou seja, “restaurar-vos ao favor divino” (ver com. de Rm.5:1-2). Morto, sim. Literalmente, “de fato, sendo colocado para morrer”. O restante do versículo explica a primeira parte: “Cristo morreu [...] pelos pecados”, “morto, sim, na carne”, e é capaz de “conduzir-vos a Deus” porque foi “vivificado no espírito”. Cristo sofreu até a morte. Nosso sofrimento “por causa da justiça” (1Pe.3:14) não pode exceder o dEle. E, se Ele triunfou sobre a morte, não temos nada a temer quanto ao “fogo ardente[...] destinado a provar” (1Pe.4:12; ver com. de 2Co.13:4). Na carne. Literalmente, “na carne” ou “em relação à carne”, isto é, no que se refere à natureza física que Cristo assumiu na encarnação. Ele ressuscitou com a natureza humana glorificada que todos os remidos possuirão (ver com. de 1Co.15:38; 1Co.15:48). Vivificado. Literalmente, “tornar vivo” (cf. 1Co.15:45). No espírito. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta variante ou “no tocante ao espírito”. A alternativa “pelo Espírito” (NVI, en to pneumati) não recebe o apoio de nenhum manuscrito antigo. A segunda parte do versículo pode ser traduzida literalmente como: “posto para morrer, de fato, na carne [sarki], mas vivificado no espírito [pneumati]”. As construções paralelas “no espírito” e “na carne” parecem contrárias à ideia de que a referência aqui seja ao Espírito Santo. Em outras palavras, a coerência parece exigir que se traduza “na carne [...] no espírito” ou “pela carne [isto é, ‘pelo ser humano’] [...] pelo Espírito”. No entanto, a versão “pelo ser humano” não é usada em nenhuma outra passagem do NT e não parece fazer sentido. Em outras passagens do NT, quando a expressão “na carne [...] no espírito” ou uma equivalente é usada para se referir a Cristo, “carne” se refere à existência terrena de Jesus como ser humano, e “espírito”, à Sua existência como ser divino após a ressurreição. Paulo usa uma antítese semelhante (ver com. de Rm.1:3-4). Quando encarnado, Cristo tinha toda a aparência de ser humano; após a ressurreição, embora tenha mantido a natureza humana, tornou-Se essencialmente um ser espiritual (ver vol. 5, p. 1013-1016; cf. Jo.4:24; comparar com 1Tm.3:16, em que o texto grego diz, literalmente, “na carne” e “no espírito”). As expressões paralelas “na carne” e “no espírito” (1Pe.4:6) são aplicadas a seres humanos (ver com. ali; ver ainda com. de Rm.14:9; 2Co.13:4). O fato de Cristo ter morrido “na carne” não significou o fim de Sua existência. Na ressurreição, Ele foi “vivificado”, embora, daquele momento em diante, Sua natureza humana tenha se subordinado mais completamente à natureza divina ou espiritual (ver com. de Lc.24:39; cf. vol. 5, p. 1013-1015) do que quando estava nesta terra como homem entre os seres humanos. O fato sublime de que o Cristo crucificado vive é anunciado aqui como a certeza de que aqueles que participam de Seus sofrimentos não precisam temer (cf. 2Co.13:4). Cristo triunfou sobre a morte, e aqueles que sofrem com Ele certamente sairão vitoriosos também. O apóstolo Paulo explica que a ressurreição do Senhor é a garantia de que os que dormem nEle hão de ressurgir (1Co.15:13-23). |
1Pe.3:19 | 19. no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, No qual. Ou, “com respeito a”, “em virtude do que”. As opiniões divergem se “no qual” é uma referência ao “espírito” (v. 1Pe.3:18) ou ao pensamento do v. 18 como um todo. Alguns dos que adotam a variante “no espírito” (v. 18) defendem que as palavras “no qual” fazem referência a “espírito”. Interpretam que o v. 19 indica que, entre a crucifixão e a ressurreição, Cristo “pregou” aos supostos espíritos desencarnados dos antediluvianos (ver NTLH). No entanto, esta conclusão não é necessária para a aceitação da variante “no espírito”, no v. 18. Além disso, é totalmente antibíblica e, por isso, deve ser rejeitada. As três explicações a seguir para esta difícil passagem estão em harmonia com o ensino geral das Escrituras sobre o estado do ser humano após a morte: 1. “No qual” se refere ao “Espírito”, e o v. 19 significa que Cristo pregou aos antediluvianos por intermédio do Espírito Santo, mediante o ministério de Noé. 2. “No qual” se refere à variante preferível “espírito”, uma alusão a Cristo em Sua condição preexistente que, assim como Sua natureza glorificada posterior à ressurreição, pode ser caracterizada como “espírito” (comparar com a expressão “Deus é espírito”; ver com. de Jo.4:24). A pregação de Cristo aos antediluvianos ocorreu “enquanto se preparava a arca” (v. 1Pe.3:20); logo, durante Seu estado preexistente (comparar com Hb.9:14). 3. “No qual” se refere ao v. 18 como um todo. Assim, o v. 19 significaria que, em virtude de Sua morte vicária e ressurreição futuras, em “espírito”, Cristo “foi e pregou” aos antediluvianos por meio do ministério de Noé. Foi por causa do fato de que seria “morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (v. 18), que Cristo pregou a salvação no passado usando Noé e “salvou, através da água” (v. 1Pe.3:20), aqueles que aceitaram a mensagem. De maneira semelhante, é “por meio da ressurreição de Jesus Cristo” que “o batismo, agora também nos salva” (v. 1Pe.3:21). A primeira das três explicações é possível se a variante “o Espírito” for aceita (ver com. do v. 18). A segunda e a terceira são mais compatíveis com a construção linguística do grego (dos v. 18, 19), com o contexto imediato e com as passagens paralelas do NT. Também. Ou seja, além de “vos” (v. 18). As providências tomadas no Calvário para nos levar a Deus “também” estavam disponíveis aos antediluvianos. Na verdade, não há outro meio para os seres humanos fugirem da prisão satânica (ver com. de At.4:12). Foi e pregou. A ênfase recai sobre a pregação, não sobre o ato de ir. A palavra traduzida por “pregou” (kerusso) é a que costumava ser empregada para designar as pregações de Cristo enquanto andou nesta Terra (ver com. do v. 1Pe.3:20). Espíritos. Do gr. pneumata, plural de pneuma, “vento”, “fôlego”, “espírito” (ver com. de Lc.8:55; Nm.5:15). O fôlego é uma das características mais evidentes dos seres vivos e, por meio de uma figura de linguagem (sinédoque), na qual uma parte característica de algo representa o todo, pneuma pode significar simplesmente “pessoa” (comparar com 1Co.16:18, em que “meu espírito” quer dizer “mim”; e Gl.6:18; 2Tm.4:66, em que “com o vosso espírito” significa “convosco” e “com o teu espírito” significa “contigo”; cf. Fp.4:23; ver ainda com. de Hb.12:9; Hb.12:23; cf. Nm.16:22; Nm.27:16). Consequentemente, estes “espíritos” devem ser interpretados como seres humanos vivos. Na verdade, a primeira parte do v. 1Pe.3:20 parece identificá-los com pessoas que viveram na Terra antes do dilúvio. Eram seres humanos vivos e reais, assim como as “oito almas” (v. 1Pe.3:20, ARC). Alguns defendem que a epístola (1Pe.3:18-20; 1Pe.4:6) apoia a doutrina da imortalidade da alma e da consciência após a morte e que, durante o intervalo entre a crucifixão e a ressurreição, Cristo desceu ao hades, o reino figurado dos mortos (ver com. de Mt.11:23), para pregar aos espíritos desencarnados definhando ali. Todavia, a lógica desse ponto de vista requer que os “espíritos” aqui mencionados estivessem em um tipo de purgatório quando Cristo pregou para eles e que o propósito da pregação fosse lhes dar uma chance de ser salvos e escapar dali. No entanto, a maioria dos protestantes que creem que Pedro ensina a consciência do ser humano após a morte ficaria horrorizada em aceitar a doutrina papal do purgatório e o conceito igualmente antibíblico de uma segunda chance. Quem defende que Pedro apoia aqui a crença na suposta imortalidade natural da alma também precisa explicar por que Cristo seria parcial em não dar aos pecadores de outras gerações a mesma oportunidade dada aos “espíritos” dos pecadores da época de Noé. As Escrituras ensinam que as pessoas precisam aceitar a salvação no presente e que a porta da graça pessoal se fecha por ocasião da morte (ver com. de Mt.16:27; Lc.16:26-31; Rm.2:6; Hb.9:27; Ez.18:24; Ap.22:12). Também ensinam que os mortos não têm consciência (ver com. de SI.146:4; Ec.9:5-6; Mt.10:28; Jo.11:11; 1Ts.4:13; Gn.2:7; Ec.12:7). Por isso, dizer que esses “espíritos” são seres conscientes capazes de ouvir e aceitar o evangelho é algo que contradiz vários ensinos claros da Bíblia. É importante notar que Pedro não afirma que Cristo pregou a espíritos supostamente desencarnados. O argumento de que as pessoas da época de Noé não tiveram uma chance justa de serem salvas ignora que o patriarca foi um “pregador da justiça” para sua geração 2Pe.2:5) e que elas rejeitaram a mensagem que Deus lhes enviou por intermédio de Seu servo (ver com. do v. 1Pe.3:20). “A longanimidade de Deus” não teria aguardado “nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (v. 1Pe.3:20), a menos que as pessoas pelas quais o Senhor esperava com tanta paciência tivessem a oportunidade de crer e obedecer. Prisão. Do gr. phulake, “vigiar”, “guardar”, portanto, o lugar onde as pessoas são vigiadas, uma “prisão”. O contexto deve determinar se Pedro fala aqui de maneira literal ou figurada. Se compreendida de maneira literal, esta “prisão”, segundo alguns, seria o lugar onde as almas ou “espíritos” (v. 1Pe.3:19) ficariam guardados até seu destino ser decidido. Se interpretada figuradamente, “prisão” seria uma referência ao estado espiritual dos “espíritos” “desobedientes” (v. 1Pe.3:20; sobre o uso de “prisão” no segundo sentido, ver Is.4:27; Is.61:1; Lc.4:18). O fato de somente oito pessoas terem escapado do dilúvio (Gn.6:5-13; 1Pe.3:20) evidencia que os antediluvianos estavam firmemente presos ao pecado. Ninguém, além de Cristo, é capaz de libertar os seres humanos dos hábitos e desejos maus que Satanás usa para acorrentá-los. |
1Pe.3:20 | 20. os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água, Noutro tempo. Ou, “no passado”. Desobedientes. Do gr. apeitheo, “desacreditar”, “desobedecer”, indicando descrença e desobediência deliberada. Os pecadores dos dias de Noé tiveram luz suficiente para tomar uma decisão inteligente, e não há justificativa para que tivessem uma segunda chance. Na verdade, eles foram tão abertamente “desobedientes” que Deus não mais os tolerou (ver Gn.6:5-13). Mesmo assim, porém, “a longanimidade de Deus aguardava” que eles se arrependessem. Se o Senhor “aguardava” por eles, é certo que espera por nós com a mesma paciência. Quando. Isto é, quando os “espíritos”, os antediluvianos, foram desobedientes e quando “a longanimidade de Deus aguardava” por eles, “enquanto se preparava a arca”. Aguardava. Do gr. apekdechomai, “esperar com paciência”. Deus anseia bondosamente pelo arrependimento dos pecados. Ele não quer “que nenhum pereça” (2Pe.3:9). Dias de Noé. Ver Gn.6:5-13. Preparava. Ou, “sendo construída e equipada”. Oito. Ver Gn.7:7. Pessoas. Do gr. psuchai, “pessoas [vivas]” (ver com. de Mt.10:28). Foram salvos. Literalmente, “conduzidas a salvo através de”, expressão também usada para se referir à recuperação de uma doença (ver Mt.14:36) e a uma jornada bem-sucedida (At.23:24). Os oito deram ouvidos à mensagem enviada por Cristo e proclamada por Noé, o “pregador da justiça”, para aquela geração (2Pe.2:5). Através da água. As mesmas águas do dilúvio, que enterraram os pecadores “desobedientes”, carregaram em segurança os que se encontravam dentro da arca, preservando-lhes a vida. A salvação das oito pessoas “através da água” é o clímax deste longo parêntese acerca dos antediluvianos e o motivo para Pedro incluí-lo. A lição que ele tirou da experiência é afirmada no v. 1Pe.3:21: assim como eles foram “salvos, através da água”, “o batismo, agora também nos salva”. Contudo, tanto os antediluvianos quanto os cristãos são salvos em virtude da ressurreição de Cristo dentre os mortos (ver com. dos v. 1Pe.3:19; 1Pe.3:21), pois, caso contrário, não haveria esperança para nenhum dos dois grupos (ver 1Co.15:13-23). |
1Pe.3:21 | 21. a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo; Figurando. Do gr. antitupos, “antítipo”, “cópia”, “representação”. Assim como Noé e sua família foram “salvos, através da água” (v. 1Pe.3:20), nós também somos salvos mediante o batismo. Pedro se apressa em explicar que, na verdade, a salvação vem “por meio da ressurreição de Jesus Cristo”, tanto para os antediluvianos (ver com. do v. 1Pe.3:19) quanto para nós (ver com. dos v. 1Pe.3:18; 1Pe.3:21). Batismo. Do gr. baptismos, de baptizo, “mergulhar”, “imergir” (ver com. de Mt.3:6; Rm.6:3-6). Não sendo a remoção. O apóstolo nega que a mera limpeza do corpo tenha poder para purificar a pessoa e expiar seus pecados. Até mesmo as purificações cerimoniais do judaísmo eram meros símbolos da purificação mais profunda do ser interior, assim como o batismo cristão apenas representa uma experiência interna. Imundícia da carne. Isto é, sujeiras normais do corpo. Boa consciência. Ou, “consciência limpa” (ver com. de 1Pe.3:16). O batismo só é válido quando o coração e a mente estão transformados (ver com. de Rm.12:2). Por meio da. A água é mera “figura” ou “representação”. Sem a ressurreição de Cristo, o batismo seria uma forma vazia, toda pregação seria inútil, e toda fé, sem valor (ver com. de 1Co.15:4; 1Co.15:14). |
1Pe.3:22 | 22. o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes. Ir para o céu. Ver com. de At.1:9; Hb.4:14; Hb.6:20; Hb.9:24. Destra. Ver com. de Rm.8:34; Hb.1:3. Ficando-lhe subordinados. Comparar com 1Co.15:27; Cl.2:10; Hb.2:8. |
1Pe.4:1 | 1. Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, Ora. Ou, “consequentemente”. Pedro tira então suas conclusões dos fatos apresentados em 1Pe.3:18-22. Tendo Cristo sofrido. Ver com. de 1Pe.2:21; 1Pe.3:18. Por nós (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras, embora elas estejam comprovadas no texto paralelo (1Pe.2:21; ver com. de 1Pe.3:18). Na carne. Ver com. de 1Pe.3:18. Armai-vos. Do gr. hoplizo, “guarnecer-se” (cf. Ef.6:12-17). Pensamento. Do gr. ennoia, “maneira de pensar e sentir”, não nous, a palavra que o NT costuma usar para se referir à mente. Pedro persuade cada cristão a moldar sua vida, tanto em pensamentos quanto em atos, seguindo o exemplo de Jesus Cristo (ver com. de 1Pe.2:21; Fp.2:5). Sofreu na carne. Ver com. de 1Pe.3:18. O fogo da perseguição (v. 1Pe.4:12) leva o cristão para mais perto de Deus e o conduz a uma entrega mais completa ao poder e controle do Espírito Santo. Deixou o pecado. Isto é, abandonou o pecado como estilo de vida (ver com. de Rm.6:7; Rm.6:12-17). Pedro não quer dizer que a pessoa deixou de ser pecadora, mas que voltou as costas para o mundo, a carne e o diabo, e que, pela graça de Deus, tomou a resolução de seguir os passos do Mestre. A perfeição de caráter é sua meta (ver com. de Mt.5:48; cf. DTN, 555; CC, 62; PJ, 316). “Quando estivermos revestidos da justiça de Cristo, não teremos nenhum prazer no pecado; pois Ele estará trabalhando conosco. Poderemos cometer erros, mas havemos de aborrecer o pecado que causou os sofrimentos do Filho de Deus” (MJ, 338). O pecado não mais reina na pessoa dirigida por Cristo (ver com. de 2Co.5:14; Gl.2:20). |
1Pe.4:2 | 2. para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. No tempo que vos resta. Isto é, durante o restante da vida. Na carne. Ou seja, em sua condição humana. Já não. Ver com. de Rm.6:11-15. Paixões dos homens. Desejos e paixões que levam o ser humano a pecar. Vontade de Deus. A vida da pessoa que “deixou o pecado” (v. 1Pe.4:1) segue um novo rumo. Sua vontade é submissa à vontade de Deus assim como a bússola ao polo magnético. Ele anda “não [...] segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm.8:4). A comunhão eterna com Deus é prometida a todos que fazem “a vontade de Deus” (1Jo.2:17). |
1Pe.4:3 | 3. Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. O tempo decorrido. Literalmente, “o tempo que é passado”. A referência é à vida anterior dos leitores gentílicos de Pedro e a primeira parte do versículo pode, portanto, ser traduzida como: “vocês já passaram tempo suficiente da vida fazendo o que os pagãos gostam de fazer”. Gentios. Ver com. de 1Pe.2:12. Dissoluções. Ou, “licenciosidade”, “devassidão”, “sensualidade” (ver com. de 2Co.12:21). Concupiscências. Ver com. de Jo.8:44; Rm.7:7. Borracheiras. Do gr. oinophlugia, de ionos, “vinho”, e phluo, “transbordar”. A passagem se refere à atitude devassa nas festas com bebedeiras. Orgias. Do gr. komoi, palavra usada com frequência na literatura secular para se referir a procissões e festas descontroladas, caracterizadas por bebedeira e sensualidade. Bebedices. Ou, “festivais de bebidas”. Detestáveis idolatrias. Literalmente, “idolatrias ilícitas”. Este versículo indica que Pedro escrevia, pelos menos em primeiro plano, para cristãos gentios, ex-idólatras. O fato de os vizinhos pagãos ficarem surpresos (v. 1Pe.4:4) ao verem os cristãos se recusando a participar das atividades mencionadas é mais uma evidência de que não eram cristãos judeus, mas gentios convertidos (ver com. de 1Pe.2:10). |
1Pe.4:4 | 4. Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, Por isso. Isto é, por causa da conduta descrita no v. 1Pe.4:3. Difamando-vos. Literalmente, “blasfemando”. Os pagãos falavam mal dos cristãos porque julgavam que eles assumiam uma postura de superioridade ao se recusarem a participar do “mesmo excesso de devassidão”. Com frequência, esse conceito pagão errôneo era o que despertava perseguição. Estranham. Uma vez que os não conversos não enxergam as vantagens e bênçãos da vida cristã, ficam pasmos quando seus ex-companheiros, agora cristãos, evitam o antigo estilo de vida. Partindo da premissa de que o ser humano só encontra satisfação e felicidade neste mundo, a vida do não cristão é uma incessante busca por prazer por meio da gratificação dos desejos carnais. Negar os desejos, sejam eles por comida, bebida ou indulgência sensual, é uma loucura incompreensível para essas pessoas. No entanto, o cristão deve “guardar-se incontaminado do mundo” (Tg.1:27), pois “a amizade do mundo é inimiga de Deus” (Tg.4:4). Assim, os fiéis não devem se maravilhar “se o mundo [os] odeia” (1Jo.3:13). Excesso de devassidão. Literalmente, “no mesmo transbordamento de devassidão”, retrato de um fluxo de imundícia e dissolução, em contraste com a pureza que cerca o cristão convertido. |
1Pe.4:5 | 5. os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos; Os quais. Literalmente, “aqueles”, isto é, os blasfemadores do v. 1Pe.4:4. Prestar contas. Ver com. de Rm.14:10-12. Àquele. Isto é, a Jesus Cristo (cf. 2Tm.4:1; Ap.19:11). Competente para julgar. Ver com. de 2Tm.4:1. Vivos. Ver com. de At.10:42; 1Ts.4:15-17. |
1Pe.4:6 | 6. pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus. Para este fim. A primeira oração deste versículo pode ser traduzida como: “pois para este fim até os mortos foram evangelizados. Cada um será julgado com base em sua resposta pessoal à medida da verdade que recebeu. Foi o evangelho pregado. O texto grego indica que a pregação aqui mencionada ocorreu antes de Pedro escrever e continuava em andamento enquanto ele escrevia. Caso ele estivesse falando dos espiritualmente mortos, teria dito, em vez disso, “o evangelho está sendo pregado”. A mortos. A referência deve ser a cristãos mortos, conforme sugere a última parte do versículo. O contexto torna improvável a sugestão de que Pedro esteja falando, em sentido figurado, daqueles que estão espiritualmente mortos, embora este sentido figurado seja comum em outras passagens (ver com. de Mt.8:22; Ef.2:1; Cl.2:13). Os “mortos” (de 1Pe.4:5) são mortos no sentido literal e, uma vez que os v. 5 e 6 falam dos “mortos” em relação ao juízo, o mais provável é que os mortos do v. 6 também sejam literais. Contudo, as Escrituras ensinam o estado de inconsciência após a morte e que o tempo da graça se encerra com a morte (ver com. de 1Pe.3:19). Logo, a única conclusão coerente com os ensinos das Escrituras como um todo é que os “mortos”, na época de Pedro, haviam ouvido o evangelho antes de morrerem. O evangelho fora pregado a eles, que estavam mortos quando o apóstolo escreveu. Para que. O apóstolo indica aqui os dois resultados da pregação do evangelho aos vivos que morreram desde então. Julgados. Ver com. de Jo.5:29; 2Co.5:10; Hb.9:27. Eles não podem prestar contas pelo evangelho se nunca ouviram falar dele (ver com. de Ez.3:18-20; Jo.3:19; Jo.15:22; At.17:30; Tg.4:17; Lc.23:34; 1Tm.1:13). Na carne. Literalmente, “com respeito à carne”, isto é, aos seres humanos vivos (ver com. de 1Pe.3:18). Segundo. Os que morreram serão julgados com base na maneira como viveram. A base do julgamento deles será a mesma que para os “vivos” (v. 1Pe.4:5). Vivam. Fica claro que Pedro se refere a cristãos que dormiram em Cristo, com quem os cristãos do NT muito se preocupavam (ver com. de 1Co.15:12-14; 1Ts.4:13-17). Esses “mortos” ouviram e aceitaram o evangelho enquanto estavam vivos e, no juízo, seriam considerados dignos de viver “no espírito segundo Deus”. No espírito. Isto é, com um corpo imortal e glorificado, assim como o de Cristo após a ressurreição (ver com. de 1Pe.3:18; comparar, porém, com Jo.3:6; Rm.8:9). Segundo Deus. Isto pode significar “assim como Deus vive”, ou seja, eles se tornarão imortais (ver com. de 1Co.15:51-55; 1Ts.4:16-17), ou “conforme Deus quiser”, isto é, de acordo com a vontade de Deus para a vida deles, segundo a decisão do julgamento. |
1Pe.4:7 | 7. Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações. O fim de todas as coisas. Isto é, o fim do mundo (ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14; ver com. de Mt.24:3; Mt.24:34; Ap.1:3; Rm.13:11-12; 1Co.7:29; 1Co.7:10:11; Fp.4:5; Tg.5:3; Tg.5:8-9; 1Pe.4:17; 2Pe.3:11; 1Jo.2:18; Ap.22:10). Está próximo. Literalmente, “chegou perto”. A perspectiva iminente de encarar o grande Juiz universal (v. 1Pe.4:5-6) tende a colocar tudo em sua perspectiva correta. O conselho de Pedro aos cristãos, sobretudo dos versículos seguintes, é dado com espírito de urgência, pois “o fim de todas as coisas está próximo” (comparar com 1Jo.3:3). Criteriosos. Do gr. sophroneo, “ter a mente sensata”, “exercer autocontrole” (ver com. de Rm.12:3; Tt.2:4-5; cf. com. de 1Ts.5:6). Embora o retorno de Cristo esteja cada vez mais próximo, as pessoas não devem, com base nisso, negligenciar suas responsabilidades. Até o fim, os cristãos devem se manter em suas posições, cumprindo fielmente seus deveres. O Senhor ordena: “Negociai até que eu volte” (Lc.19:13). Sóbrios. Do gr. nepho, “ser sóbrio”, isto é, abster-se de intoxicantes (ver com. de 1Ts.5:6). Pedro adverte seus leitores a ser vigilantes, diante dos acontecimentos iminentes (ver com. de Mt.24:42; Mt.24:44). |
1Pe.4:8 | 8. Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados. Acima de tudo. O teste supremo do cristianismo diz respeito a nossos relacionamentos uns com os outros. Tende. Literalmente, “continuai a ter [como tendes agora]”. Amor. Do gr. agape, “amor” (ver com. de Mt.5:43; 1Co.13:1). O amor não conhece fronteiras e nunca falha. Ele une em comunhão cristã pessoas de diferentes origens e opiniões. Qualquer problema da igreja pode ser resolvido em uma atmosfera de amor inteligente e altruísta. Intenso. Literalmente, “totalmente estendido”. Cobre. Uma citação de Pv.10:12; ver com. de Tg.5:20. Quando falta amor, há a tendência de ampliar os defeitos e falhas dos outros. Quando o amor reina, as pessoas ficam dispostas a perdoar e esquecer. Além disso, um espírito de amor fraternal certamente atrai a atenção dos não conversos e leva muitos deles ao conhecimento salvador de Jesus Cristo. |
1Pe.4:9 | 9. Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração. Sede [...] hospitaleiros. Do gr. philoxenoi (ver com. de Rm.12:3). Sem murmuração. Literalmente, “sem reclamar”. A hospitalidade é quebrada quando o anfitrião dá indícios de estar incomodado. A verdadeira hospitalidade inclui simpatia, pois o presente, sem aquele que o dá, é vazio. Em tempos de perseguição (v. 1Pe.4:12), seria grande o número de cristãos refugiados que necessitariam do apoio de seus irmãos de fé, e a pessoa em condição de atender às necessidades de outro tinha o dever, diante de Deus, de fazer isso com alegria. |
1Pe.4:10 | 10. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Servi [...] conforme. Deve-se partilhar com os outros o que Deus concede com tamanha bondade, “principalmente” com os “da família da fé” (ver com. de Gl.6:10). Cada um. Nenhum cristão é tão pobre que não possa estender uma mão ajudadora aos outros. O espírito de hospitalidade atribui ao local mais humilde um valor incalculável. Cada um tem certa capacidade de servir ao próximo. Partilhar é um privilégio e uma responsabilidade cristã. Dom. Do gr. charisma, “presente” dado com generosidade, um “favor” concedido. Pedro não se refere aos dons miraculosos que o Espírito Santo reparte, mas aos presentes naturais e às bênçãos mantenedoras que todo filho de Deus recebe continuamente. “De graça recebestes, de graça dai.” (ver com. de Mt.10:8). Bons. Do gr. kaloi, “excelente”, “eficiente”. Despenseiros. Ver com. de 1Co.4:1. Multíforme. Ver com. de Tg.1:2. Os dons de Deus são concedidos com alegria e fartura. Seus despenseiros devem distribuir essas bênçãos com o mesmo espírito com que as recebem. |
1Pe.4:11 | 11. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! Se alguém fala. Isto é, em sua capacidade como cristão. Oráculos. Do gr. logia (ver com. de At.7:38; Rm.3:2). Um exemplo da “multiforme graça” de Deus (v. 1Pe.4:10) é a habilidade de falar com fluência e convicção. No entanto, tal dom só deve ser usado para a glória do Senhor. Os talentos dados por Deus devem ser cuidados e desenvolvidos com segurança, a fim de que a propagação do evangelho nunca seja atrapalhada pela falta de sinceridade ou frivolidade. Serve. A passagem diz, literalmente: “se alguém serve [que seja] da força que Deus provê”. A vida cristã coerente é um desenrolar constante do poder capacitador divino. Ninguém pode viver sem pecado se não confiar a todo instante no poder de Cristo. Em todas as coisas. Ou seja, em qualquer atividade de que o cristão participar. Glorificado. Literalmente, “continua a ser glorificado”. O verdadeiro propósito das atividades da vida é honrar e exaltar a Deus. O cristão nunca está isento de representar ao Senhor e demonstrar a eficácia de Seu poder para salvar. Jesus Cristo. Ver com. de Mt.1:1. É por meio de Cristo que o cristão se torna filho de Deus e pode glorificá-Lo. A quem. Este pronome pode se referir a Deus Pai, que deve ser glorificado por intermédio de Jesus, ou ao próprio Cristo. Assim como nesta vida, esta doxologia será cantada às três pessoas da Divindade quando os redimidos se reunirem no lar eterno (cf. Rm.11:36; 2Tm.4:18; Ap.1:6). Glória. Ver com. de Ef.1:6; Ef.1:14. Já foi sugerido que a última parte deste versículo corresponde à citação de uma oração feita pelos cristãos apostólicos (comparar com 1Pe.5:11). O domínio. Do gr. kratos (ver com. de Ef.1:19). A palavra é usada em doxologia cinco vezes (aqui e em 1Tm.6:16; Jd.1:25; Ap.1:6; Ap.5:13). Atribuir “o domínio” a Cristo é reconhecer Seu direito de governar e aclamá-Lo como governante. Amém. Ver com. de Mt.5:18. |
1Pe.4:12 | 12. Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; Amados. Uma saudação carinhosa que enfatiza comunhão mútua e preocupação. Como antevia dias difíceis no futuro, Pedro dá conselhos com o propósito de preparar os crentes. Não estranheis. Literalmente, “não continueis a se pasmar”. Enquanto o grande conflito entre Cristo e Satanás prosseguir, o cristão deve esperar uma série de provas e problemas planejados por Satanás para destruir a fé em Deus (ver com. de 1Pe.1:7; 1Pe.3:17). Fogo ardente. Do gr. purosis, “queimadura”, “ardência” (comparar com 1Pe.1:7). A ferrenha perseguição de Nero logo assolaria a igreja; as perturbações crescentes entre judeus e romanos era um prelúdio do holocausto iminente. Satanás tentou todas as estratégias que conseguiu imaginar para destruir a infante igreja. Levando em conta que a hora do juízo se aproxima, os cristãos atuais fariam bem em dar ouvidos às palavras de Pedro à igreja de sua época. Provar-vos. Do gr. peirasmos (ver com. de Mt.6:13; Tg.1:2). Assim como aconteceu a Jó, Deus permite que Satanás prove o caráter daqueles que Lhe são fiéis. O Senhor conhecia a perseverança de Jó e, desde então, os que sofrem têm se fortalecido pelo exemplo e pela constância do patriarca, diante de um “fogo ardente”. Os sofrimentos da vida são planejados por Satanás, não por Deus. No entanto, Ele pode transformá-los em instrumentos para o desenvolvimento do caráter de Seus filhos (ver com. de Jó.42:5; SI.38:3; Sl.39:9). Coisa extraordinária. Isto é, algo inédito. O “fogo ardente” não é uma novidade, pois Cristo sofreu mais do que qualquer ser humano pode ser chamado a suportar (v. 1Pe.4:13). O “fogo ardente” leva os discípulos tão somente a se tornarem “coparticipantes” dos sofrimentos de Jesus. |
1Pe.4:13 | 13. pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Alegrai-vos. Ver com. de Tg.1:2. Na medida em que. Ou, “contanto que”, já é de se esperar o surgimento de problemas por causa da incompreensão do mundo em relação à fé cristã. O cristão pode se alegrar em saber que não será chamado a suportar mais do que Jesus sofreu (ver com. de Hb.2:18; Hb.4:15-16). Para que. Ou, “a fim de que”, mostrando o propósito do regozijo presente. Revelação. Do gr. apokalupto (ver com. de 1Co.1:7; 1Pe.1:7). Sua glória. Isto é, a glória de Sua segunda vinda (ver com. de Mt.25:31). Alegreis exultando. A inefável alegria da primeira hora da eternidade rapidamente obscurecerá todas as horas de solidão e aflição na Terra. A alegria e a maravilha do Céu excederão em muito os mais ousados sonhos da imaginação. |
1Pe.4:14 | 14. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Pelo. Ou, “por causa de”, “em conexão com”. Nome de Cristo. Ver com. de At.3:16. Assim como o mundo romano repudiava a pureza e a honra de Cristo, os ímpios de todas as eras rejeitariam Seus representantes (ver com. de Mt.5:11-12; 1Pe.2:21). Injuriados. Do gr. oneidizo, “reprovar”, “ultrajar”, “lançar insultos sobre” alguém. Os perseguidores costumam começar sua obra difamando a integridade, a inteligência e a conduta do cristão como cidadão. A reprovação é um prelúdio para ataques morais mais cruéis (ver com. de Mt.5:11). Bem-aventurados. Do gr. makarios (ver com. de Mt.5:3; SI.1:1). Sobre vós repousa. Isto é, habita dentro de vós. O Espírito da glória. Ou, “o Espírito glorioso”, isto é, o Espírito Santo. Na perseguição e no sofrimento, o cristão tem a certeza de que Deus está com ele por intermédio do Espírito Santo, para consolar, animar, guiar e abençoar. E de Deus. Literalmente, “a saber [o Espírito] de Deus”. A presença do poder de Deus, que capacita o cristão a enfrentar os problemas da vida, é fonte de serenidade e confiança. Uma vida farta de bens materiais e prazeres mundanos nunca pode compensar a presença interior do Espírito de Deus. Quanto a eles (ACF). Ou, “por eles”. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão do restante deste versículo, a partir destas palavras. É Ele, sim, blasfemado (ACF). Ver com. de Mt.5:11-12. Glorificado (ACF). Ou, “louvado”. |
1Pe.4:15 | 15. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; Não sofra [...] como assassino. É privilégio sofrer por Cristo e, assim, honrar Seu nome. No entanto, se o cristão comete maldade, dá ao descrente a oportunidade de ridicularizar a igreja e blasfemar contra o nome de Cristo (ver com. de 1Pe.2:20). Ladrão. Ver com. de Ex.20:15; Mt.19:18; Rm.2:21; Ef.4:28. Malfeitor. Termo que designa os que praticam maldade e dano. Quem se intromete em negócios de outrem. Do gr. allotriepiskopos, “supervisor das questões alheias”. Não se sabe ao certo qual é o significado desta palavra. Uma vez que Pedro estava falando sobre o relacionamento dos cristãos com não cristãos, podia estar pensando em membros da igreja indiscretos que criticavam sem critério algum as práticas e os costumes dos pagãos. Parte da reprovação e da perseguição à igreja poderia ser eliminada por uma conduta cristã cativante. O cristão não se torna consciência para as outras pessoas. Seu dever é garantir que seu comportamento pessoal seja tão nobre que não só os seres humanos, mas também Deus, possam aprová-lo com louvor. |
1Pe.4:16 | 16. mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome. Mas, se. Ver com. de 1Pe.3:14. Cristão. Este termo ocorre apenas três vezes no NT. Primeiro, foi dito de maneira pejorativa (ver com. de At.11:26), mas se tornou motivo de honra e uma palavra usada com orgulho pela igreja apostólica (ver At.26:28). A despeito dos insultos, os cristãos sabem que ser honrados por Deus vale infinitamente mais do que receber honra do mundo. Jesus também sofreu injustamente por aderir sem vacilar aos princípios celestiais. Não se envergonhe. Ver com. dos v. 1Pe.4:12-14. Glorifique a Deus. Isto é, por ser cristão e pelo privilégio de participar dos sofrimentos de Cristo e de testemunhar de Deus (v. 1Pe.4:13). Com esse nome. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “em conexão com este nome”, isto é, por causa do nome “cristão”. |
1Pe.4:17 | 17. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? A ocasião. Do gr. kairos, um tempo particular e específico (ver com. de Mc.1:15; At.1:7). Começar. Literalmente, “começa”. A primeira frase deste versículo pode ser traduzida como: “porque é o tempo apropriado para que o julgamento comece na casa de Deus”. Tendo em vista a brevidade do tempo (ver com. do v. 1Pe.4:7) e o “fogo ardente” que se aproximava (v. 1Pe.4:12), Pedro conclama seus irmãos de fé a se lembrarem de suas solenes responsabilidades como cristãos (compare com Ez.9:6: os mensageiros do juízo começam no santuário, por aqueles que ali oficiavam). No “fogo ardente” e na hora do “juízo”, Deus espera mais daqueles que professam o nome de Cristo. O juízo. Do gr. krima, “a sentença” (ver com. de Ap.17:1). A cena do juízo de Ez.9 parece formar o cenário para a comparação feita por Pedro entre os cristãos fiéis e os ímpios diante do julgamento. Casa de Deus. Isto é, a igreja (ver com. de 1Tm.3:15). É chegada. Estas palavras foram apropriadamente supridas pelos tradutores (ver com. do v. 1Pe.4:7). O fim. Isto é, o destino. Ao contrário dos perversos, os cristãos sinceros recebem a vida eterna. Se Deus se propõe a lidar com rigor com o próprio povo, será ainda mais criterioso com aqueles que se opuseram de maneira deliberada à verdade na pessoa de Suas testemunhas. Por isso, os cristãos não precisam se preocupar acerca de como Deus vai tratar os que os atormentam. Daqueles que não obedecem. Em outras palavras, os responsáveis pelo “fogo ardente” que os cristãos devem enfrentar (v. 1Pe.4:12). |
1Pe.4:18 | 18. E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador? Se é com dificuldade que o justo é salvo. Neste versículo, o apóstolo cita a LXX (de Pv.11:31; ver com. ali). É somente em virtude dos méritos de Cristo que os justos são salvos. É só pela fé nEle que podem reclamar a misericórdia divina no dia do juízo. Comparecer. Isto é, sob que luz o ímpio aparecerá? Ele rejeitou o único meio de garantir a entrada segura no reino eterno dos remidos. Ímpio. Do gr. asebes, “ímpio”, “irreverente” (ver com. de Rm.4:5). |
1Pe.4:19 | 19. Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem. Por isso. Pedro conclui então seu extenso conselho acerca do sofrimento que os cristãos podem esperar durante o iminente “fogo ardente”. Segundo a vontade de Deus. Ou seja, por causa da fidelidade à vontade de Deus, não por causa da má conduta (ver com. de At.2:12; At.2:19-20; At.3:14; At.3:16-18; At.4:14; At.4:16). Encomendem. A segurança do cristão está na certeza de que Deus nunca abandona Seus filhos (ver com. de 2Tm.1:12; 2Tm.2:19). Como pastor, Pedro guia seus irmãos de fé ao único porto seguro diante da tempestuosa perseguição. A sua alma. Eles confiam a vida ao único capaz de protegê-los do mal e de fortalecê-los para suportar o sofrimento (sobre “alma”, ver com. de Mt.10:28). Fiel Criador. Deus nos criou e pertencemos a Ele. Certamente Ele cuidará dos que são Seus. Os fiéis têm a garantia de que o Senhor os sustém em Seu amor e em Sua misericórdia. Nenhuma força no Céu nem na Terra é capaz de “arrebatar” uma pessoa comprometida da mão protetora de Deus (ver com. de Jo.10:28-29). Prática do bem. A proteção mais segura para o cristão é uma vida sem mancha (ver com. de Dn.6:4). O cristão deve fazer seu melhor, pela graça e pelo poder de Deus, em qualquer circunstância, e deixar o restante nas mãos do Senhor. |
1Pe.5:1 | 1. Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: Rogo. Do gr. parakaleo, “apelar a”, “exortar”, “animar”, “suplicar” (ver com. de Mt.5:4). Pedro aconselha seus companheiros presbíteros como um amigo solícito, não como um dominador “dos que vos foram confiados” (1Pe.5:3; cf. com. de Mt.16:18). Presbíteros. Do gr. presbuteroi (ver vol. 6, p. 12; ver com. de At.11:30). Até aqui, Pedro se dirigira aos membros da igreja de modo geral. Então, passa a aconselhar os responsáveis pela supervisão imediata do rebanho de Deus (ver com. dos v. 1Pe.5:3-4). Eu, presbítero como eles. Literalmente, “o companheiro presbítero”. Pedro não dá nenhum indício de primazia. Ele se contenta em assumir o mesmo título que aplicou aos oficiais da igreja. O fato de ser conhecido dos leitores pode ser inferido pelo uso do artigo definido: “o companheiro presbítero”. Testemunha. Do gr. martus (ver com. de At.1:8; sobre os testemunhos de Pedro acerca de Cristo, ver com. de 2Pe.1:16-18; 1Jo.1:1-2). Embora tenha afirmado ser igual aos outros presbíteros no que se refere ao ofício, ele ocupava uma posição única entre eles por ter sido testemunha ocular da vida e morte de Cristo (cf. At.5:32). As cenas finais da vida do Salvador eram uma lembrança vívida e sempre presente para ele (ver com. de Lc.24:48). Sofrimentos de Cristo. Ver com. de 1Pe.2:21. Coparticipante. Do gr. koinonos, “alguém que compartilha”, “parceiro” (ver com. de 1Pe.1:4). Pedro escreve com confiança acerca de um acontecimento futuro como se já estivesse desfrutando seus benefícios. Ele se fiava nas promessas de Cristo (ver Mt.19:28; Jo.13:36; sobre a compreensão do apóstolo do próprio futuro imediato, ver 2Pe.1:14). Glória. Do gr. doxa (ver com. de Rm.3:23). Há de ser revelada. Literalmente, “está prestes a ser revelada” (ver com. de 1Pe.4:7; Rm.8:18). |
1Pe.5:2 | 2. pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; Pastoreai. Do gr. poimaino, “pastorear”, “cuidar”, que inclui não só o ato de alimentar, mas todo o cuidado que o pastor dispensa às ovelhas (sobre os deveres de um pastor, ver com. de At.20:28; comparar com 1Pe.5:4). Nesta passagem, Pedro passa adiante a ordem que recebera de Cristo (ver com. de Jo.21:16). Rebanho. Do gr. poimne. Pelo fato de o rebanho ser de Deus, os presbíteros deveriam cuidar dele ainda mais fielmente do que se pertencesse a eles próprios. O oficial da igreja deve sempre lembrar que os membros pertencem ao Senhor e ministrar às necessidades deles sob esse prisma. Cristo enfatizou que as ovelhas Lhe pertencem (ver Jo.10:14; Jo.21:15). Tendo cuidado dele (ARC). Do gr. episkopeo, “inspecionar”, “supervisionar”, do mesmo radical de episkopos, “supervisor”, traduzido quatro vezes por “bispo” (ver vol. 6, p. 12; ver com. de At.20:28; 1Pe.2:25). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta expressão. No entanto, o contexto favorece sua manutenção. Pedro espera que os presbíteros, exercendo o papel de pastores fiéis, cuidem da segurança, do sustento e do crescimento do rebanho. Por constrangimento. Do gr. anagkastos, “à força”, “compulsóriamente”, palavra usada para se referir à intimidação dos escravos, ao recrutamento compulsório de soldados e à obrigação mediante tortura. Pedro queria que os anciãos da igreja cumprissem seus deveres com alegria, não como se isso fosse um fardo ou uma imposição colocada sobre eles contra a própria vontade. Espontaneamente, como Deus quer. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam o acréscimo das palavras kata theon, aqui traduzidas por “como Deus quer”. Desse modo, a expressão significa “segundo a vontade de Deus”. O serviço dos presbíteros deveria ser prestado de maneira voluntária, pois este é o único tipo de serviço aceito por Deus (ver com. de 2Co.9:7). Sórdida ganância. Do gr. aischrokerdos, “gosto pelo ganho desonesto” Esta declaração não confirma se os presbíteros eram remunerados por seus serviços. Embora isso seja possível, eles não deveriam atuar com “sórdida ganância”. “O trabalhador é digno do seu salário” (ver com. de 1Tm.3:8), mas sua recompensa é apenas uma consequência do serviço que presta. O serviço à igreja nunca deve ser realizado como meio de enriquecimento pessoal (ver com. de 1Tm.3:8). De boa vontade. Ou, “com avidez”. O pastor verdadeiro, além de disposto, está ávido por cumprir seu dever. De igual modo, os obreiros consagrados servem ao Senhor sem se preocupar com recompensas financeiras. |
1Pe.5:3 | 3. nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Como dominadores. Ou, “dominando”. A liderança da igreja não justifica medidas ditatoriais. A nomeação a qualquer posição de liderança deve ser considerada uma oportunidade para servir, não para exercer autoridade. Pedro adverte os anciãos a não ceder a essa tentação; em vez disso, deveriam ser exemplares em toda sua conduta (ver com. de Tt.1:7). Confiados. Do gr. kleroi, “porção, parte”, logo, “o que é obtido como porção”, usado aqui no sentido de “ter parte” (ver com. de At.1:17). A ênfase de Pedro é sobre o que foi confiado aos presbíteros, ou seja, o que se tornou responsabilidade deles. O uso do plural (no grego) provavelmente designa comunidades cristãs separadas umas das outras. Cada uma delas estava sob o cuidado de um presbítero, que deveria servir aos crentes, não de maneira tirana, mas como um terno pastor de ovelhas carentes. Modelos. Do gr. tupoi, “cópias”, “padrões”, “tipos” (sobre a forma singular, tupos, ver no com. de Rm.5:14; comparar com o uso de tupos por Paulo em 1Ts.1:7; 2Ts.3:9; 1Tm.4:12; Tt.2:7). Os presbíteros deveriam ser cristãos modelares, verdadeiros representantes da fé que outros poderiam imitar com segurança. |
1Pe.5:4 | 4. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. Supremo Pastor. Do gr. archipoimen, “pastor chefe” ou “primeiro pastor ”, termo composto por archi, prefixo que designa “chefe”, “alto” ou “primeiro”, e poimen, “pastor” (ver com. do v. 1Pe.5:2). O título “Supremo Pastor” só ocorre aqui em todo o NT, em referência a Cristo (ver com. de Is.40:11; Jo.10:2; Jo.10:11; 1Pe.2:25). Pedro considera a si mesmo e aos presbíteros como pastores do rebanho, mas enxerga em Jesus o Supremo Pastor, que cuida tanto dos subpastores quanto das ovelhas (ver com. de Jo.10:1-16; Lc.15:1-7). Manifestar. Literalmente, “tendo sido manifesto”. Embora o apóstolo imaginasse morrer antes do retorno de Cristo (ver com. de Jo.21:18-19; 2Pe.1:14), seus olhos estavam fixos no glorioso evento, e ele o exaltou perante os presbíteros, a fim de animá-los. Recebereis. A Bíblia não exclui, de maneira nenhuma, o pensamento da recompensa pelo serviço cristão, mas se refere a ele como um incentivo à fidelidade (ver com. de Mt.5:12; 2Co.4:17; 2Tm.4:8). Imarcescível. Do gr. amarantinos, “composta de amaranto”; o amaranto era uma flor supostamente eterna. O apóstolo usa o termo relacionado amarantos (ver com. de 1Pe.1:4), salientando, em ambos os casos, a natureza eterna da recompensa. Coroa. Do gr. stephanos, “guirlanda” ou “grinalda”, como a que era dada aos vencedores em jogos de atletismo (ver com. de 2Tm.4:8; Ap.2:10). O termo “coroa da glória” pode ser interpretado como “uma coroa gloriosa” ou “uma coroa que é glória”. Os presbíteros fiéis partilhariam uma glória que seria como uma coroa sobre a cabeça (ver com. de Rm.8:18). |
1Pe.5:5 | 5. Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Igualmente. Assim como os presbíteros deveriam permanecer sob a liderança de Cristo, os jovens cristãos deveriam se submeter à orientação dos presbíteros. Jovens. Referência aos membros mais jovens das várias congregações às quais Pedro escreve. Sede submissos. Do gr. hupotasso (ver com. de Rm.13:1). Os “jovens” devem respeitar a experiência e a opinião dos “mais velhos”. Aos que são mais velhos. Literalmente, “aos presbíteros”. Provavelmente, porém, a referência aqui seja à idade, não ao cargo (cf. 1Tm.5:1; 1Tm.5:17), embora a ordem de Pedro se aplicasse, naturalmente, aos “presbíteros” oficiais. Os jovens devem respeitar os mais experientes, atentando para o conselho deles. Outrossim. Então o apóstolo se dirige a todo o corpo de crentes. Sede [...] sujeitos (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão destas palavras. A frase poderia ser traduzida, literalmente, como: “Sim, todos vocês se revistam de humildade uns para com os outros.” Cingi-vos. Do gr. egkomboomai, “colocar o cinto em si”, como os escravos costumavam amarrar o avental (egkomboma), o que passou a ser considerado sinal de sua servidão, distinguindo aqueles cujo dever era servir aos outros. Em suas relações mútuas, os cristãos devem se revestir de humildade, assim como os escravos colocam seu avental. A igreja teria paz se todos os membros seguissem o conselho do apóstolo. Humildade. Do gr. tapeinophrosune (ver com. de Ef.4:2; Fp.2:3). Resiste. Do gr. antitasso, “travar batalha contra”. Deus abomina o orgulho. Pedro cita aqui a LXX (de Pv.3:34; assim como Tiago, em Tg.4:6; ver com. ali). Há outras semelhanças entre a mensagem de Pedro sobre este assunto e a de Tiago (cf. 1Pe.5:5-8; Tg.4:6-10). Soberbos. Ou, “orgulhosos”, “arrogantes”. |
1Pe.5:6 | 6. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, Humilhai-vos. Do gr. tapeinoo (ver com. de 2Co.12:21). No v. 1Pe.5:5, Pedro aborda o relacionamento que deve haver entre os irmãos de fé e, no v. 6, entre o cristão e Deus. Poderosa mão. Esta expressão ocorre com frequência no AT, tanto com referência ao livramento de Israel do Egito quanto ao ajuntamento do remanescente disperso nos diferentes países (Ex.3:19; Dt.3:24; Ez.20:34). Por servir a um Deus poderoso, o cristão deve agir com humildade sob todas as circunstâncias, sobretudo porque o Senhor “resiste aos soberbos” (v. 1Pe.5:5). Em tempo oportuno. Do gr. kairo, literalmente, “em um tempo apropriado” (sobre kairos, o nominativo de kairo, ver com. de Mc.1:15; At.1:7). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam o acréscimo das palavras “da visitação”, que ocorrem em 1Pe.2:12. O apóstolo anseia pelo clímax da história do mundo, quando os santos que perseveraram receberão a recompensa eterna. Exalte. Deus promete honrar quem se humilha voluntariamente em Seu nome (ver com. de Lc.14:11; Tg.4:10). |
1Pe.5:7 | 7. lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Lançando. Ou, “jogando”, “colocando”. A forma verbal grega indica que o ato é realizado de uma vez por todas. Aqui o apóstolo cita o Sl.55:22 (ver com. ali). Sobre ele. Isto é, sobre Deus (cf. v. 1Pe.5:5-6). Ansiedade. Do gr. merimna, “ansiedade” (sobre o verbo da mesma raiz, merimnao, “ficar ansioso por [algo]”, ver com. de Mt.6:25). No grego, a expressão “toda a vossa ansiedade” é enfática. Aquele que coloca sobre Deus toda a sua ansiedade livra-se das preocupações, que enfraquecem tantos cristãos. Porque Ele tem cuidado de vós. Literalmente, “porque para Ele é uma responsabilidade cuidar de vós”, ou seja, Deus se preocupa bastante com o bem-estar de Seus filhos (ver com. de Mt.10:29-30; Lc.21:18). Esta certeza é essencial para quem enfrenta perseguição; na verdade, trata-se de uma fonte de conforto para todo cristão. |
1Pe.5:8 | 8. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; Sóbrios. Do gr. nepho (ver com. de 1Ts.5:6; 1Pe.1:13; 1Pe.4:7, que usa um verbo grego diferente). Vigilantes. Do gr. gregoreo (ver com. de 1Ts.5:6, “vigiemos”). A gravidade dos tempos e as dificuldades que se multiplicavam levaram Pedro a apelar a cada cristão por estrita autodisciplina. Diabo. Do gr. diabolos (ver com. de Mt.4:1; Ef.4:27). Por trás de toda perseguição que os leitores estavam sofrendo, Pedro enxerga o arqui-inimigo, Satanás (cf. Jó.1:7). Vosso adversário. Do gr. antidikos, “oponente em um processo judicial”, logo, “um inimigo”. O texto grego usa o artigo definido, indicando que a identidade do inimigo é bem conhecida, ele é o adversário. Anda. Ou seja, procurando vários meios para encurralar sua presa. Pedro pode ter se lembrado de Jó.1:7: Satanás está a “rodear a terra”. Como leão que ruge. Literalmente, “como um leão rugindo”, isto é, como um leão faminto que ruge para assustar e capturar sua presa. Uma figura própria para representar o diabo que, por meio da perseguição, tentava assustar os cristãos e forçá-los á apostasia. Procurando. Nenhum leão espera que a presa venha a seu território, tampouco Satanás aguarda as vítimas caírem em suas armadilhas. Ele perambula longas distâncias para encontrar e caçar os que deseja capturar. Devorar. Literalmente, “deglutir”, “engolir”. Assim como o leão despedaça a presa, o diabo arrasta suas vítimas do seio da igreja para devorá-las. |
1Pe.5:9 | 9. resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. ResistI-lhe. Do gr. anthistemi, “resistir” no sentido de vencer, não de demonstrar resistência como no v. 1Pe.5:5, para o qual outro verbo é usado (comparar com os com. de At.18:6; Rm.13:2, em que anthistemi se traduz por “opondo-se” e “resiste”). Pedro adverte o cristão a se posicionar firmemente contra o Diabo, não permitindo que ele ocupe espaço em sua vida (ver com. de Tg.4:7). Firmes. Do gr. stereoi, “sólidos”, “duros”, “firmes” (ver com. de 2Tm.2:19). O apóstolo recomenda uma proteção sólida como a rocha diante dos ataques do Diabo à nossa fé. A covardia é perigosa, mas a coragem em Cristo fará o inimigo retroceder. Na fé. Ver At.6:7; Rm.1:5. Outra interpretação possível é “pela fé”, isto é, em harmonia com a fé que os leitores de Pedro já haviam demonstrado (cf. 1Pe.1:5; 1Pe.1:7; 1Pe.1:9; 1Pe.1:21). As duas interpretações podem se unir na ideia de que o cristão fiel, quando fundamentado em suas crenças, se encontra bem equipado para resistir aos ataques de Satanás. Certos de que. Ou, “sabendo de que maneira”. Sofrimentos iguais. Literalmente, “as mesmas coisas de sofrimentos”. O significado preciso pode ser: “o mesmo preço do sofrimento sendo pago”. Cumprindo. Do gr. epiteleo, “aperfeiçoando” (ver 2Co.7:1). É usado no grego clássico com o sentido de “pagar todo o preço”, que pode ser o sentido pretendido aqui. Irmandade. Como em 2Pe.2:17. Pelo mundo. O sentido da expressão deve ser: “em outras partes do mundo”, uma vez que os leitores de Pedro se encontravam no mesmo mundo hostil de seus irmãos (sobre “mundo”, kosmos, ver com. de 1Jo.2:15). A frase completa, “certos de que [...] pelo mundo”, tem problemas gramaticais. Entretanto, duas interpretações são possíveis: (1) certos de que o mesmo encargo de sofrimento está sendo pago pelos irmãos de outras partes do mundo, ou (2) certos de como pagar o mesmo encargo de sofrimento que os irmãos de outras partes do mundo. |
1Pe.5:10 | 10. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. O Deus de toda a graça. Ou, “o Deus de todas as graças”. O Pai é a fonte de toda virtude (cf. Tg.1:17; 1Pe.4:10). A referência a Deus é uma antítese de “vosso adversário”, principal assunto dos v. 1Pe.5:8-9. O apóstolo adverte os leitores das ações do inimigo, mas então os lembra de que Deus não os deixa à própria mercê. Que [...] chamou. Referência feita ao convite estendido pelo evangelho, ou, em sentido mais amplo, ao chamado original de Deus, implícito no plano da salvação (ver com. de Rm.8:28-30; 1Ts.5:23-24). Em Cristo. Deus nos chama por intermédio de Seu Filho (ver com. de 2Co.5:17). Alguns comentaristas preferem associar as palavras “em Cristo” à expressão “eterna glória”, acreditando que Pedro se refere à glória eterna revelada em Cristo. Vos. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem esta variante. Sua eterna glória. Ver com. de Rm.8:30; cf. Jo.12:28; Jo.17:22. Depois de terdes sofrido. Isto é, depois de passar pelo “fogo ardente” prestes a vir (1Pe.4:12). Pedro não minimiza o sofrimento iminente, mas olha além (ver com. de Hb.12:2). Os escritores do NT reconhecem a perspectiva de sofrimento (Mt.5:10-12; Mt.10:17-18; Rm.8:17; Rm.8:36; 2Tm.2:12). Por um pouco. Ou, “um pouquinho” (ver com. de Ap.12:12). Embora a perseguição possa parecer interminável enquanto é experimentada, sua duração é breve à luz da eternidade, e o cristão pode aprender a enfrentá-la com essa perspectiva (ver com. de 2Co.4:17). Há de aperfeiçoar. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “aperfeiçoará”, omitindo o pronome “vos” (ver com. de Mt.5:48). O verbo katartizo, “aperfeiçoar”, é traduzido também por “consertando” (Mt.4:21; Mc.1:19), “formado”, isto é, organizado, ordenado (Hb.11:3). Contudo, nesta passagem, o termo é usado no sentido ético, “equipar completamente”. O próprio Deus equipa o cristão para suportar os ataques de Satanás. Firmar. Do gr. sterizo (ver com. de Rm.16:25; Rm.1:11; 2Ts.2:17; 2Ts.3:3). Fortificar. Ver Ef.3:16; Fp.4:13; 2Tm.4:17; ver com. de 1Tm.1:12. Fundamentar. Do gr. themelioo, “lançar o alicerce”, de themelios, “alicerce”; logo, “tornar estável”. Neste versículo, Pedro destaca que Deus dará ao cristão tudo que for necessário para que resista ao Diabo e a seus agentes humanos, os perseguidores. |
1Pe.5:11 | 11. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém! A Ele seja. Ou, “a Ele é”. Comparar com as doxologias de Rm.16:27; Fp.4:2; 1Tm.6:16; 1Pe.4:11; 2Pe.3:18; Jd.1:25. A glória (ARC). Sobre doxa, “glória”, ver com. de Jo.1:14; Rm.3:23. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras “a glória e” (ARC), deixando apenas “o domínio”, nesta doxologia. Pedro também usa “a glória” associada a “o domínio” (1Pe.4:11). O domínio. Sentido literal, com o artigo definido. Pelos séculos dos séculos. Ver com. de Ap.1:6. |
1Pe.5:12 | 12. Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes. Por meio de Silvano. A epístola foi escrita pelas mãos de Silvano, que provavelmente era o secretário de Pedro e portador da epístola (ver p. 547). Silvano era outra forma do nome Silas (comparar At.18:5 com 2Co.1:19). É possível que Silas seja a forma hebraica do nome, e Silvano, a romana. Portanto, pode ser que o secretário de Pedro tenha sido o mesmo Silas que acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária. Silas devia ser um cristão judeu de elevada posição na igreja de Jerusalém, que se convenceu da necessidade de evangelizar os gentios. Foi companheiro fiel de Paulo tanto na prosperidade quanto na adversidade (ver com. de At.15:22; At.15:40-41; At.16:19; At.16:37; At.17:10; At.17:14; At.18:5; 1Ts.1:1). Se a primeira epístola de Pedro foi escrita em Roma, conforme se costuma supor (ver p. 548), Silas pode ter se unido a Pedro algum tempo depois de trabalhar com Paulo em Corinto (At.18:5). É possível que o próprio Pedro tenha escrito a conclusão da epístola (ver com. de Gl.6:11; 2Ts.3:17). Para vós outros. Pode-se entender que esta expressão modifica “por meio de Silvano”. A epístola foi escrita e talvez entregue por Silvano. Fiel irmão. A expressão diz, literalmente, “para vós, o fiel irmão”. Pode-se inferir pelo artigo definido, que os cristãos já conheciam bem a Silvano. É possível, portanto, que ele houvesse ministrado pessoalmente a eles, na Ásia Menor (ver com. de 1Pe.1:1). O artigo também pode ser interpretado com sentido possessivo, “nosso”, sugerindo que Pedro recomenda Silvano a seus leitores, em vez de enfatizar uma virtude que eles já conheciam. Como também o considero. Ou, “como o vejo”. Esta frase apoia a ideia sugerida acima: “nosso irmão”. Pedro queria que seus leitores soubessem do valor que ele atribuía a Silvano, a fim de que também o tivessem em alta estima (comparar com a recomendação de Tíquico feita por Paulo, em Ef.6:21). Escrevo. Isto é, nesta epístola. Resumidamente. Literalmente, “mediante poucas [palavras]”. O apóstolo tinha mais para dizer do que era possível naquele momento. Talvez Silvano suplementasse as instruções escritas com conselhos verbais quando chegasse à Ásia Menor. Exortando. Foi isso que Pedro fez fielmente ao longo da epístola (1Pe.1:7; 1Pe.1:13; 1Pe.2:1-2; 1Pe.2:11; 1Pe.3:1; 1Pe.4:1; 1Pe.5:1). Testificando. Isto é, testemunhando de (ver com. do v. 1Pe.5:1). Esta [...] graça de Deus. Em 1Pe.1:10, o apóstolo usa a palavra “graça” para se referir à mensagem do evangelho. Aqui ele a emprega de maneira semelhante, para enfatizar que o evangelho defendido ao longo de toda a epístola é a mensagem genuína da graça de Deus. Nela estai firmes. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a forma verbal imperativa, exortando os leitores a permanecerem firmes no evangelho. |
1Pe.5:13 | 13. Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos. Aquela. Não fica claro se Pedro está se referindo, aqui, a uma mulher cristã distinta, talvez sua esposa, que o acompanhava nas viagens (ver com. de 1Co.9:5) ou à igreja cristã “em Babilônia”. A maioria dos eruditos prefere a segunda explicação. Babilônia. Não há apoio para a ideia de Pedro ter trabalhado na cidade de Babilônia. A tradição confirma que seus últimos esforços missionários ocorreram em Roma, bem como sua morte (ver AA, 537, 538). Sabe-se que os cristãos apostólicos usavam o título enigmático “Babilônia” para se referir à capital romana, a fim de evitar represálias políticas (ver com. de Ap.14:8). De modo geral, os eruditos concordam que Pedro usou o termo Babilônia para fazer referência velada a Roma. Também eleita. Do gr. suneklekte, “escolhida junto com [outros]”. Os cristãos de Roma foram “escolhidos junto com” os da Ásia Menor, a quem Pedro escreveu (ver com. de 1Pe.1:1-2; sobre a eleição cristã, ver com. de Rm.8:33). Meu filho Marcos. Do nome latino Marcus, e grego Markos (ver vol. 5, p. 611,612). Alguns defendem que Marcos era filho biológico de Pedro e identificam neste versículo apenas uma referência ao fato de o apóstolo ser casado. Contudo, a maioria dos eruditos interpreta “meu filho” de forma metafórica, considerando-o um filho espiritual de Pedro e seu companheiro no final do ministério (ver referências semelhantes de Paulo a Timóteo e Tito, em 1Tm.1:2; Tt.1:4). |
1Pe.5:14 | 14. Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em Cristo. Saudai-vos. Do gr. aspazomai (ver com. de Rm.16:3). A mesma palavra é traduzida por “saúda” (v. 1Pe.5:13). Ósculo de amor. Isto é, beijo de amor (comparar com as palavras de Paulo, no com. de Rm.16:16; 1Co.16:20; 2Co.13:12). Jesus (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. Assim, a frase inteira ficaria: “Paz a todos vós em Cristo”. Pedro usa o termo “paz” em circunstâncias nas quais Paulo provavelmente falaria de “graça” (cf. Rm.16:24; 1Co.16:23; Ef.6:24). Não se sabe se as palavras “em Cristo” tinham o mesmo sentido teológico para Pedro e Paulo (ver com. de 2Co.5:17). Para Pedro, estar “em Cristo” parece ser sinônimo de ser cristão. Amém (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavras (comparar com 2Pe.3:18). |