"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei." Deuteronômio 29:29 |
Capítulo e Verso | Comentário Adventista > 1João |
1Jo.1:1 | 1. O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida O que era. Estas palavras iniciais da epístola podem receber duas interpretações, pois o pronome ho, que se traduz como “o que”, é neutro, e poderia se referir a: (1) ao testemunho a respeito da revelação do Verbo da vida, ou (2) ao Verbo da vida (Cristo). O estilo de João torna a segunda interpretação mais provável (cf. Jo.4:22; Jo.6:37, em que os pronomes neutros se referem a pessoas; sobre a flexão verbal “era” [en], ver com. de Jo.1:1). Desde o princípio. João começa seu evangelho com as palavras “no princípio”, e sua primeira epístola com a expressão “o que era desde o princípio”. A diferença é significativa. No evangelho se destaca que o Verbo já existia no momento do “princípio”; aqui ele se conforma em estabelecer que o Verbo existe desde o tempo do “princípio”. O evangelho enfoca o princípio e depois dele. Também é possível uma interpretação mais limitada, e a frase se referia ao início da era cristã (cf. com. de 1Jo.2:7), porém a comparação com Jo.1:1-3 concede pouco apoio a esta limitação (quanto ao termo “princípio”, ver com. de Jo.1:1). O que temos ouvido. João defende desde o início o que está prestes a escrever a respeito daquele a quem ele e seus companheiros haviam realmente ouvido, e contesta as afirmações do que negavam a realidade da encarnação. Assim, estabelece as bases de sua autoridade e de suas exortações aos leitores. Ninguém poderia negar que guardava preciosas lembranças quando pensava na amável voz que havia escutado com interesse, tempos atrás, na Palestina! O pronome “nós” nos versos iniciais pode ser interpretado como uma característica de estilo ou como uma referência a João e a seus companheiros (cf. com. de 1Jo.4:6). O uso do pretérito perfeito composto “temos ouvido” sugere que as lembranças estavam vivas em sua memória. O que temos visto. O comentário acima sobre a expressão “o que temos ouvido” se aplica aqui também. O verbo aqui traduzido como “temos visto” (horao) signilica o ato de ver fisicamente. E, para que não haja nenhuma dúvida quanto à realidade de sua experiência, o escritor acrescenta o pleonasmo “com os nossos olhos”. Não deixa, portanto, margem para dúvidas de que realmente viu “o Verbo”. O que contemplamos. Do gr. theaomai, “ver com atenção”, “contemplar”. Este verbo foi traduzido como “vimos” em Jo.1:14, sob o mesmo contexto: a contemplação do Verbo encarnado. Aqui, no entanto, a forma do verbo indica ação completa, em vez de uma ação passada cujos resultados continuam no presente, como em Jo.1:14. É natural interpretar essas palavras e as que seguem como uma afirmação de que o apóstolo havia testemunhado as cenas históricas da vida terrena de Cristo. E as nossas mãos apalparam. Do gr. pselaphao, “tatear”, “sentir”, “examinar de perto”, “lidar com”, de psao, “tocar” (ver com. de At.17:27; ver também com. de Lc.24:39), quando Jesus convidou Tomé para tocá-lo. João poderia estar se referindo em particular a esse momento e, talvez, a outros eventos semelhantes. Seria difícil conceber uma forma mais clara de afirmar que o escritor e seu grupo haviam tido uma ligação pessoal com o Verbo que Se fez carne, e de refutar as diversas heresias que diziam que não foi real a existência de Cristo na Terra (ver p. 687, 688). Com respeito ao Verbo. Ou, “sobre a Palavra”. O apóstolo não tem a pretensão de lidar com todos os aspectos concernentes ao Verbo, mas declara em sua epístola (v. 1Jo.1:3) verdades baseadas em experiência pessoal (v. 1-3) com o Verbo (sobre “o Verbo” [ho logos], ver com. de Jo.1:1). O uso da “palavra” (logos) referindo-se a Jesus Cristo é peculiar ao quarto evangelho (Jo.1:1; Jo.1:14), a esta epístola (1Jo.1:1; 1Jo.5:7) e ao Apocalipse (Ap.19:13) e apoia a ideia de que eles têm uma autoria comum. Da vida. Esta frase pode ser explicada como a Palavra que diz, respeito à vida, ou a Palavra que dá vida, ambas as interpretações são descrições válidas do Salvador. |
1Jo.1:2 | 2. (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), E a vida. A palavra “vida”, no v. 1Jo.1:1, fornece uma base para o aprofundamento do termo “vida” no v. 2, que está entre parênteses, sendo uma digressão da principal corrente de pensamento. A construção da frase dos v. 1Jo.1:1-3 é complicada, a conclusão do pensamento está contida até o v. 1Jo.1:3, em que o escritor sumariza seu raciocínio em uma conclusão abrangente. “A vida” refere-se principalmente ao aspecto da Pessoa de Cristo, que foi revelado em Sua encarnação, não em Sua eterna pré-existência. Manifestou. Do gr. phaneroo, “dar a conhecer”, “tornar visível”, “manifestar”, “mostrar”. João faz uso frequente de phaneroo (nove vezes no evangelho e outras nove, na epístola). Esta manifestação da vida corresponde a “o Verbo Se fez carne” (Jo.1:14) e se refere à encarnação vista pelos habitantes da terra, que contemplaram a Sua glória. Várias palavras recorrentes de João ocorrem nos v. 1Jo.1:1-3, embora as traduções, às vezes, obscureçam a precisão da palavra original. Arche, “princípio”, ocorre 21 vezes em seus escritos; zoe, “vida”, 64 vezes; martureo, “testemunhar”, 44 vezes. Nós a temos visto. O apóstolo não só tinha visto e ouvido “sobre” o Verbo da vida (v. 1Jo.1:1), mas também havia percebido sua importância como “vida” (ver com. de Jo.1:4). Damos testemunho. João não se contentou em ter contemplado a Cristo, mas se sentiu impelido a “dar testemunho” do que tinha visto (cf. com. de At.1:8). Anunciamos. Do gr. apaggello, “dar notícias”, “proclamar”, “declarar”. A mesma palavra é traduzida como “declarar” no v. 1Jo.1:3. A vida eterna. A associação de “vida” com “eterna” se apresenta 22 vezes nos escritos de João. O apóstolo pensa em termos de eternidade e sublinha a natureza eterna do seu amado Senhor e da vida que almeja compartilhar com Ele (ver com. de Jo.3:16). Com o Pai. Do gr. pros ton patera (ver com. sobre “com Deus”, em Jo.1:1). A palavra pros, “com”, expressa a proximidade do Verbo ao Pai e, ao mesmo tempo, deixa clara Sua personalidade distinta. Embora João ainda não tenha mencionado o Filho pelo nome, o uso do título “Pai” implica a filiação do Verbo e prepara o caminho para a identificação plena do Verbo como Jesus Cristo (1Jo.1:3). E nos foi manifestada. O autor está pleno de respeito reverente ao compreender o privilégio que lhe foi concedido de ver Aquele que estava com o Pai desde a eternidade. O esplendor da revelação nunca diminui na mente de João. Pelo contrário, permanece no centro de sua visão espiritual (cf. Jo.1:14; Jo.1:18). |
1Jo.1:3 | 3. o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. O que temos visto. Uma repetição retórica (v. 1Jo.1:1-2) para dar ênfase e recapitular tudo o que foi dito anteriormente. A importância dessa ênfase no conhecimento pessoal que o autor tinha de Jesus dificilmente pode ser exagerada, tendo-se em conta que um dos propósitos da epístola é fazer oposição às primeiras manifestações de gnosticismo (ver p. 687, 688). Comunhão. Do gr. koinonia (ver com. de At.2:42). A palavra implica compartilhar mutuamente, um companheirismo entre iguais, como o caso de irmãos na mesma fé, ou entre desiguais, como Deus e o ser humano (cf. At.2:42; 2Co.8:4; Gl.2:9; Fp.2:1). Neste caso, o apóstolo deseja que seus leitores compartilhem das mesmas bênçãos espirituais que ele desfruta através do conhecimento do Pai e do Filho. Fazer com que outros participem dessa comunhão é um dos principais objetivos da epístola. A palavra “comunhão” representa uma das notas-chaves do primeiro capítulo. Aquele que verdadeiramente conhece a Cristo sempre desejará que outros partilhem desse bendito companheirismo. Assim que alguém se achega a Cristo, nasce em seu coração o desejo de dar a conhecer aos outros o precioso amigo que encontrou em Jesus” (CC, 78). Aqueles que assim trabalham para os outros, participam da resposta à oração do Salvador, para que sejam um, como Nós somos” (Jo.17:22). Nossa comunhão. Literalmente, “a comunhão, [que é] a nossa”, isto é, o nosso tipo de comunhão, a comunhão que existe entre João e a divindade. O cristão se torna um vínculo entre o Céu e a Terra. Com uma das mãos, ele se apodera de seu conhecimento de Deus mediante Cristo e, com a outra, ele toma aqueles que não conhecem a Deus; dessa forma se converte em um elo vivo entre o Pai e Seus filhos rebeldes. Seu Filho, Jesus Cristo. João identifica o Verbo com Cristo. O duplo título: “Jesus Cristo”, mostra que João considera tanto o aspecto humano como o divino da vida do Filho (ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5; 1Jo.3:23). Somente mediante o Filho é possível manter comunhão com o Pai. Unicamente o Filho está qualificado para revelar Deus aos homens (cf. com. de Jo.1:18). |
1Jo.1:4 | 4. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa. Estas coisas. Ou seja, o conteúdo da epístola, que inclui o que já foi escrito nos v. 1Jo.1:1-3 e o que o autor pretende escrever no restante da carta. Escrevemos. Evidências textuais favorecem a omissão das palavras “vos escrevemos” (cf. p. xvi), restando lugar para a variante “estas coisas vos escrevo”, de uma forma enfática do sujeito do verbo no grego. Nossa. Evidências textuais favorecem esta variante. No entanto, o paralelismo com Jo.16:24 sugere “vossa”. É provável que João escreva mais para proporcionar alegria aos seus leitores do que para si mesmo. Alegria. Resultado natural da comunhão com Cristo (ver com. de Rm.14:17). Completa. Ou, “plena”. Jesus tinha expressado a mesma razão para falar “estas coisas” aos Seus discípulos (Jo.15:11), e as palavras do discípulo amado podem ter sido um eco às palavras de seu Mestre. A plenitude da alegria é um tema frequente nos escritos de João (Jo.3:29; Jo.15:11; Jo.16:24; Jo.17:13; 2Jo.1:12). A religião cristã é feliz (ver com. de Jo.15:11). Assim termina a breve introdução à epístola. João, que pessoalmente havia conhecido a Cristo, desejava partilhar seus conhecimentos com seus leitores, para que pudessem participar da mesma comunhão que ele já desfrutava com o Pai e o Filho. Ao expressar esse desejo amoroso, João confirma a divindade, a eternidade e a encarnação, portanto, a humanidade do Filho. Transmite esse conhecimento maravilhoso com uma linguagem simples, porém enfática, para que os leitores contemporâneos do apóstolo e também dos nossos dias não tivessem nenhuma dúvida acerca do fundamento da fé cristã e da natureza da obra de Jesus Cristo. Dessa forma, refuta com eficácia o ensino gnóstico sem sequer mencionar a heresia. |
1Jo.1:5 | 5. Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Temos ouvido. Ou, “ouvimos notícias dEle”, isto é, procedentes de Deus ou de Cristo. João desejava deixar claro que não havia inventado nem descoberto a mensagem que estava prestes a transmitir aos seus leitores, mas que a recebera do Senhor, diretamente de Cristo, ou por meio de revelação. Anunciamos. Do gr. anaggello, “anunciar”, “dar a conhecer”, “revelar”, uma palavra diferente da usada nos v. 1Jo.1:2-3 (apaggello) para “mostrar” e “declarar”. Anaggello sugere levar as notícias “até” ou “para” o receptor, enquanto apaggello destaca a fonte das notícias, isto é, onde se originam. Deus é luz. A ausência do artigo “a” no texto grego, antes do vocábulo “luz”, especifica que “luz” é um aspecto ou qualidade da natureza de Deus (cf. com. de 1Jo.4:8; comparar luz como um atributo de Cristo em Jo.1:7-9). Na Bíblia, a luz está associada com a divindade. Quando o Senhor iniciou a Criação, a luz foi o primeiro elemento a ser trazido à existência (Gn.1:3). As manifestações divinas são geralmente acompanhadas de glória inefável (Ex.19:16-18; Dt.33:2; Is.33:14; Hb.3:3-5; Hb.12:29). Deus é descrito como “luz eterna” (cf. Is.60:19-20) e “que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver” (1Tm.6:16). Essas manifestações físicas simbolizam a pureza moral e a santidade perfeita que distinguem o caráter de Deus (ver com. sobre “glória” [doxa], Jo.1:14; Rm.3:23; 1Co.11:7). Uma das mais notáveis qualidades da luz é seu poder de dissipar as trevas. Deus manifesta essa qualidade no plano supremo, o espiritual, em um grau superlativo, pois diante dEle a escuridão do pecado não pode existir (Hb.1:13). Não há nEle treva nenhuma. Literalmente, “não existe escuridão [trevas] nEle”. A dupla negativa exclui enfaticamente a presença de qualquer elemento de escuridão na natureza de Deus. É típico de João apresentar uma afirmação categórica, como “Deus é luz”, e, em seguida, reforçá-la com uma negação do oposto (cf. v. 1Jo.1:6; 1Jo.1:8; 1Jo.2:4; Jo.1:3; Jo.1:20; Jo.10:28). Há uma razão imediata para a ênfase da declaração de João. A teoria gnóstica afirmava que o bem e o mal eram contrários que mutuamente se necessitavam, e que ambos haviam emanado da mesma fonte divina, Deus. Portanto, se Deus é absolutamente e totalmente “luz”, sem a menor mistura de trevas, então o gnosticismo (ver vol. 6, p. 40, 41) ensinava algo contrário à natureza de Deus e devia ser rejeitado pelos que aceitavam as palavras do apóstolo. Nos escritos de João, “trevas” (skotos ou skotia) é a antítese de “luz”, assim como nas epístolas de Paulo, o pecado é a antítese da justiça (Rm.6:18-19) e “carne”, de “espírito” (Jo.12:35; Jo.12:46; ver com. de Jo.1:5; Jo.8:12). |
1Jo.1:6 | 6. Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se dissermos. Para chamar a atenção dos que precisam de seu conselho, o apóstolo suaviza algumas de suas repreensões implícitas, tornando-as hipotéticas (cf. v. 1Jo.1:8; 1Jo.1:10) e se inclui no enunciado. Sem dúvida, estava ciente de que muitos alegavam comunhão com o Pai, porém procediam de modo contrário à vontade divina. No entanto, usa uma linguagem amável, na esperança de não antagonizar com seus leitores. Mantemos comunhão. Ver com. do v. 1Jo.1:3. A pretensão de ter comunhão com Deus deve ser demonstrada por seus resultados práticos. Esses se manifestarão na vida mediante pensamento e ação, oração e trabalho (CBV, 512). Experimentar a presença de Deus é estar sempre consciente da Sua proximidade mediante o Espírito Santo. Cada pensamento, palavra e ato refletem a consciência de Sua presença amorosa e o reconhecimento de que Ele vê tudo. Temos aprendido a amar a Deus. Sabemos que Ele sempre nos amou e estamos agradecidos por Sua proteção (SI.139:1-12; Je.31:3). Tão naturalmente como uma criança confiante pega a mão de seu pai frente a aproximação do perigo, e a mantém segura até o perigo passar, da mesma maneira o filho de Deus caminha com seu Pai celestial. Esta é a verdadeira “comunhão com Ele”. Andarmos. Do gr. peripateo (ver com. de Ef.2:2; Fp.3:17). Trevas. Do gr. skotos (ver com. do v. 1Jo.1:5). Nada pode florescer na escuridão, exceto certas formas inferiores de vida que tendem a tornar as trevas mais sombrias. A deterioração prolifera rapidamente na ausência da luz que dá vida. Olhos que se acostumaram à escuridão perdem a capacidade de responder à luz. O mesmo sucede com a dimensão espiritual: a escuridão do pecado impede o crescimento na fé, e o pecado contínuo destrói a percepção. No entanto, as pessoas estão tão apegadas ao pecado, que buscam as trevas, a fim de lhes ser possível pecar de maneira mais completa (Jo.3:19-20). Mentimos. João destaca a hipocrisia daqueles que professam seguir o caminho da luz, porém voluntariamente andam nas trevas. Se Deus é luz (v. 1Jo.1:5), todos os que têm comunhão com Ele também devem andar na luz. Por isso, qualquer um que afirmar ter comunhão com o Pai e andar nas trevas estará mentindo. Sua pretensão de ter comunhão com Deus demonstra que, pelo menos em certa medida conhece a luz; porém a escuridão que o rodeia revela que ele evita a luz por ignorância ou deliberadamente se mantém longe dela. Não praticamos a verdade. Outro exemplo da maneira de João repetir uma afirmação, “mentimos”, com sua negação equivalente, “não praticamos a verdade” (ver com. do v. 1Jo.1:5). A ideia de “praticar a verdade” é peculiar a João, no NT (ver com. de Jo.3:21; 1Jo.8:32; sobre “verdade” [aletheia], ver com. de Jo.1:14). Além de mentir com suas palavras, os que “andam nas trevas” tampouco praticam a verdade em sua conduta. O pecado se expressa primeiramente como um pensamento, porém, em geral, o pensamento se transforma num ato. Quando as atividades do dia começam a negar o que se aprende na frequência à igreja, fica evidente a quebra da comunhão com Deus. Quando a religião deixa de ser uma prática cotidiana, Deus passa a ser excluído da vida, e as trevas se adensam ao redor. |
1Jo.1:7 | 7. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se, porém, andarmos na luz. A oração pode ser parafraseada: “Se, por outro lado, em vez de andarmos nas trevas, andamos [...]” João não deixa seu rebanho em desespero, mas se ocupa dos aspectos positivos da vida cristã, a fim de incentivá-los e para expressar sua confiança neles. Ele está na luz. Deus está constantemente cercado por uma luz que irradia de Si mesmo. O melhor que os cristãos podem fazer é caminhar sob os raios de luz que emanam de Deus. Assim como um viajante segue a luz do guia ao longo da estrada escura e desconhecida, do mesmo modo o filho de Deus deve seguir, no caminho da vida, a luz que procede do Senhor (2Co.4:6; Ef.5:8; cf. com. de Pv.4:18). Uns com os outros. Se andarmos na luz, andamos com Deus, de quem a luz brilha, e temos comunhão não só com Ele, mas também com todos os outros que estão seguindo ao Senhor. Se servimos ao mesmo Deus, cremos nas mesmas verdades e seguimos as mesmas instruções na senda da vida, não podemos deixar de caminhar em unidade. O mais tênue sinal de má vontade entre nós e nossos irmãos na fé deve nos fazer rever a nossa conduta, para ter certeza de que não estamos nos desviando do caminho iluminado da vida (cf. com. de 1Jo.4:20). E o sangue. A última frase deste versículo não é de nenhum modo um adendo, pois a experiência aqui descrita está intimamente relacionada com andar “na luz”. João reconhece que mesmo aqueles que mantêm comunhão com Deus ainda necessitam ser purificados do pecado, por isso, assegura ao cristão que Deus já se antecipou a essa necessidade e fez provisão para isso (sobre sangue para a purificação do pecado, ver com. de Rm.3:25; Rm.5:9; Jo.6:53). Jesus Cristo (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão de “Cristo”. Porém, como João com frequência utiliza em suas epístolas a expressão “Jesus Cristo”, ou fala de Jesus como “o Cristo” ou “o Filho de Deus” (1Jo.4:15; 1Jo.5:1; 1Jo.5:5), muitos preferem manter a palavra “Cristo”. No seu evangelho, o apóstolo fala muitas vezes de Jesus, o Verbo encarnado; porém aqui ele pensa particulamente no Salvador divino-humano, Jesus Cristo (sobre o título “Jesus Cristo”, ver com. de Mt.1:1). Seu filho. Esta identificação adicional de Jesus destaca a magnitude do sacrifício que proveu o sangue purificador do Filho de Deus (sobre a filiação divina de Cristo, ver com. de Lc.1:35). Purifica. Do gr. katharizo, “limpar”, palavra usada nos evangelhos para “purificação” de um leproso (Mt.8:2; Lc.4:27) e, em outras passagens, para purificação do pecado e da culpa do pecado (2Co.7:1; Ef.5:26; Hb.9:14). A limpeza a que João se refere aqui não é a que ocorre com o primeiro arrependimento e confissão, no início da vida cristã, e que antecede a comunhão. Aqui, fala da limpeza que continua durante toda a vida terrena e que é parte do processo de santificação (ver com. de Rm.6:19; 1Ts.4:3). Ninguém, a não ser Cristo, viveu uma vida sem pecado (ver com. de Jo.8:46; 1Pe.2:22); por isso, as pessoas necessitam continuamente do sangue de Cristo para serem purificadas de seus pecados (ver com. de 1Jo.2:1-2). O autor se inclui entre os que necessitam dessa purificação. Aqueles que andam mais próximos de Deus, na glória da Sua luz, são mais conscientes de sua própria pecaminosidade (1Jo.1:8; 1Jo.1:10; AA, 561, 562; CG, 469-473). De todo pecado. Ou, “cada pecado,” todo tipo de manifestação pecaminosa (sobre “pecado” ver com. de 1Jo.3:4). |
1Jo.1:8 | 8. Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos. Ver com. do v. 1Jo.1:6. Que não temos pecado. João não afirmou se houve alguns que publicamente reivindicavam ser perfeitos, ou se era uma atitude implícita; porém, ele estava ciente da existência dessa pretensão e revelou seu perigo. O uso do verbo no tempo presente mostra que os autoconfiantes reivindicavam uma justiça presente e contínua que em realidade não tinham alcançado. Eles não negavam ter pecado no passado, mas diziam, literalmente, “não estamos pecando”. Nesse aspecto, contrastavam com os que são realmente justos, que reconhecem sua pecaminosidade e necessidade de purificação (v. 1Jo.1:7). Somente Cristo poderia alegar estar sem pecado (ver com. do v. 1Jo.1:7; sobre “pecado” ver com. de 1Jo.3:4). A nós mesmos nos enganamos. Ver com. de Mt.18:12. Se enganamos a nós mesmos, não podemos culpar ninguém. A pretensão de estar sem pecado é uma exaltação própria, uma ressurreição do velho homem, um ato de orgulho, de pecado, portanto, uma contradição característica de uma pessoa que se engana. Recusando-se a admitir sua própria pecaminosidade, o coração humano enganoso inventa inúmeras maneiras de alegar sua inocência. Só o poder penetrante da Palavra de Deus pode revelar o verdadeiro estado do coração e predispor a mente a receber a revelação (Je.17:9; Hb.4:12). A verdade não está em nós. Ver com. do v. 1Jo.1:6. Outra vez, o autor, depois de uma afirmação positiva, acrescenta outra negativa (cf. v. 1Jo.1:5-6). Aquele que deliberadamente rejeita o que é certo e aceita uma falsidade, especialmente uma que o faz se sentir superior aos outros e sem necessidade do Salvador, jamais poderá estar seguro de que alguma vez se sentirá disposto a discernir a diferença entre o certo e o errado (cf. com. de Mt.12:31). A menos que tal pessoa retorne rapidamente à senda anterior e humildemente receba a luz reveladora da verdade, se apartará por um caminho que só pode terminar em condenação e morte. Não importa possuir profundo conhecimento de outros aspectos da verdade, um erro neste sentido tornará inúteis todos os outros conhecimentos. |
1Jo.1:9 | 9. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Confessarmos. Do gr. homologeo, “dizer a mesma coisa [como outra]”, “admitir a verdade de uma acusação” (ver com. de Rm.10:9), de homos, “uma e a mesma coisa”, e lego, “dizer”. Pecados. Do gr. hamartiai (ver com. de 1Jo.3:4). As palavras de João mostram que ele estava consciente de que os cristãos sinceros às vezes caem em pecado (cf. com. de 1Jo.2:1). Também é claro que ele fala de atos específicos de pecado, e não do pecado como um mau princípio na vida. Portanto, a confissão deve ser mais específica do que a mera admissão de que pecou. O reconhecimento da natureza exata de um pecado e a compreensão dos fatores que levaram a cometê-lo são essenciais para a confissão e para adquirir a força necessária a fim de resistir a uma tentação quando ela se repetir (T5, 639). Não estar disposto a ser específico pode revelar uma ausência do verdadeiro arrependimento e a falta de um desejo real de tudo o que implica o perdão (ver CC, 41; sobre a relação entre confissão e arrependimento, ver com. de Ez.18:30; ver T5, 640). O contexto dá a entender que o autor espera que a confissão seja feita a Deus, pois só Ele “é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça”. Por isso, não é necessário nenhum intercessor humano, nenhum sacerdote para nos absolver do pecado. Buscamos a Deus, não unicamente porque só Ele pode “limpar”, mas porque pecamos contra Ele. Esta verdade se aplica a todo pecado. Se o pecado também é contra alguma pessoa, então a confissão deve ser feita a essa pessoa, bem como a Deus (T5, 645, 646, DTN, 811). A extensão da confissão deve ser medida pela extensão do dano causado pelo nosso mau proceder (cf. com. de Pv.28:13). Ele é fiel. O único elemento de incerteza no processo de confissão e perdão encontra-se com o pecador. O Senhor é fiel para perdoar se a pessoa confessa de verdade. A fidelidade é uma das qualidades mais notáveis do Senhor (1Co.1:9; 1Co.10:13; 1Ts.5:24; 2Tm.2:13; Hb.10:23). João realça aqui a fidelidade de Deus para conceder o perdão (cf. com. de Ex.34:6-7; Mq.7:19). Com frequência se renuncia à paz, por se levantar uma dúvida sobre a fidelidadede Deus. Satanás faz o possível para quebrantar a nossa fé no solícito interesse que o Senhor tem em nós como indivíduos (MDC, 115). Ficará satisfeito se nos fizer crer que Deus cuida de muitos ou da maioria dos Seus filhos, desde que nos leve a duvidar de Seu cuidado por nós pessoalmente. Precisamos sempre nos lembrar do poder divino que nos impedirá de cair (Jd.1:24) e, se cairmos por não recorrer a esse poder, devemos ir, arrependidos, ao trono da graça e pedir misericórdia para alcançar o perdão (cf. Hb.4:16; 1Jo.2:1). Justo. Do gr. dikaios, “correto”, ou “certo” (ver com. de Mt.1:19). Deus é um juiz justo, e Sua justiça é mais evidente em contraste com “toda a nossa injustiça [adikia]”. Felizmente, para nós, a Sua justiça é temperada com misericórdia. Perdoar. Do gr. aphiemi, usado no NT com uma variedade de significados, “dispensar”, “despedir”, “sair”, “perdoar”. No entanto, quando o verbo é usado em relação a “pecado”, uniformemente se traduz como “perdoar” (ver com. de Mt.6:12; Mt.26:28). É no âmbito do perdão que a fidelidade e a justiça de Deus encontram sua expressão completa (sobre perdão, ver com. de 2Cr.7:14; SI.32:1; At.3:19). Os pecados. Isto é, os pecados específicos que foram confessados. O Senhor está pronto a perdoar o pecador arrependido, porém perdoar não significa de maneira alguma tolerar. Pecados confessados são levados pelo Cordeiro de Deus (Jo.1:29). O amor misericordioso de Deus aceita o pecador arrependido, o pecado confessado é retirado dele, e o pecador está diante do Senhor coberto com a vida perfeita de Cristo (Cl.3:3; Cl.3:9-10; PJ, 311, 312). O pecado se foi, e a condição do pecador é a de um novo homem em Cristo Jesus. Purificar. Ou, “limpar.” A frase “para nos purificar de toda injustiça” pode ser entendida tanto como em aposição, como explicação da frase “para nos perdoar os pecados”, ou como estabelecendo um processo distinto e posterior ao perdão. Ambas as ideias são corretas quando aplicadas à prática da vida cristã. Todo pecado envilece e, quando o pecador é perdoado, fica limpo dos pecados pelos quais recebeu o perdão. Ao confessar seu grande pecado, Davi orou: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (SI.51:10). O propósito do Senhor é purificar o pecador arrependido de toda injustiça. Ele pede perfeição moral de seus filhos (ver com. de Mt.5:48). E fez provisão para que todos os pecados possam ser resistidos e vencidos com sucesso (ver com. de Rm.8:1-4). Enquanto houver vida, haverá novas vitórias a ganhar e novas excelências a alcançar. Este processo diário de purificação do pecado e crescimento na graça é denominado santificação (ver com. de Rm.6:19). O passo inicial em que o pecador se converte do seu pecado e aceita a Cristo é chamado de justificação (ver com. de Rm.5:1). É possível ver esses dois processos nas palavras de João, mas não se sabe se o apóstolo tinha ou não uma concepção em mente tão próxima desses passos no processo da salvação. É mais provável que ele estivesse pensando na purificação que acompanha o perdão, embora suas palavras possam ser mais amplamente aplicadas. De toda injustiça. Esta declaração abrangente deixa claro o rigor com o qual Deus está preparado para remover a injustiça daqueles que confessaram e foram perdoados de seus pecados. Mas o próprio pecador deve cooperar com Deus, abandonando o pecado. Se o plano bíblico for seguido, a limpeza será completa. É necessário vigiar cuidadosamente em oração para evitar que os velhos hábitos de pensamento e conduta entrem em ação novamente (Rm.6:11-13; 1Co.9:27). A ação da vontade é decisiva, mas a vontade é fraca e vacilante, até que Cristo a purifique e a fortaleça. O coração enganoso, com frequência, tem um desejo oculto por seus velhos hábitos de vida e apresenta muitas desculpas para justificar uma continuada complacência com esses hábitos. Para permanecer sem pecar, são necessárias uma consciência constante deste perigo e uma renovação diária de propósito (CC, 52), pois o Céu não pode fazer nada por uma pessoa até que ela aceite a graça e o poder de Cristo para erradicar, de sua vida, toda tendência e todo desejo pecaminosos (ver com. de 1Jo.3:6-10; Jd.1:24). |
1Jo.1:10 | 10. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Não temos cometido pecado. Esta é a terceira e especificamente a mais falsa alegação de santidade (ver v. 1Jo.1:6; 1Jo.1:8). O v. 1Jo.1:6 menciona o pensamento ilusório de uma pessoa manter comunhão com Deus enquanto caminha na escuridão. É uma afirmação fácil de se fazer, porém difícil de se refutar. O v. 1Jo.1:8 faz alusão à pretensão de possuir um coração sem pecado, também seria difícil provar o contrário. No entanto, aqui João diz que alguns afirmam não ter cometido atos pecaminosos; porém, tal afirmação é falsa, pois todos pecaram (Rm.3:23). A epístola é dirigida a cristãos, os quais teriam que saber bem o que era pecado. Por essa razão, João se refere claramente à conduta após a conversão. Fazemo-Lo mentiroso. A consequência da reivindicação de impecabilidade se apresenta de acordo com o padrão seguido nos v. 1Jo.1:6; 1Jo.1:8, em que os resultados se expressam tanto positiva como negativamente; porém, aqui, são usados termos mais graves. A falsa alegação de comunhão nos transforma em mentirosos (v. 1Jo.1:6); reivindicar que não temos pecado significa que estamos nos desviando do caminho (v. 1Jo.1:8), mas a alegação de não ter pecado faz de Deus um mentiroso. Não que a suposição de qualquer homem possa afetar a perfeição divina, mas, se a alegação fosse verdadeira, estaria em contradição com as claras afirmações da Palavra de Deus. Sua palavra. A referência não é a Cristo, a Palavra viva, mas à palavra escrita ou falada de Deus como o veículo mediante o qual Sua verdade (v. 1Jo.1:8) é transmitida. Essa Palavra é a verdade (Jo.17:17) e não pode habitar em quem contradiz suas declarações evidentes. Se os seres humanos não aceitam o testemunho de Deus, negam-se a validar a descrição de sua condição. Assim agindo, rejeitam Sua Palavra e não podem mais tê-la no coração. A Palavra inspirada é o meio ordenado por Deus para revelar ao ser humano sua verdadeira condição e salvá-lo, a fim de que não seja enganado crendo que não tem pecado. Todo cristão, portanto, deve ser um estudante aplicado da Palavra. As verdades da Bíblia devem estar gravadas na memória para fortalecer a mente com a Palavra vivificante. Suas preciosas promessas darão apoio nos momentos de provação e dificuldade, e sua instrução na justiça nos conduzirá ao Salvador e nos preparará para receber Seu caráter santo (2Tm.3:16-17). Com a Palavra de Deus, portanto, escondida em nosso coração, não vamos mais pecar deliberadamente contra Ele (SI.119:11). E, apesar disso, não haverá jamais afirmação alguma de ter completado a santificação (cf. GC, 618, 619). |
1Jo.2:1 | 1. Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; Filhinhos. Do gr. teknia (ver com. de Jo.13:33), uma forma diminutiva de tekna, “crianças” (ver com. de Rm.8:14); pode ser traduzido por “queridos filhos”, pois o diminutivo é usado para expressar carinho ao invés de tamanho ou idade. No NT, só o Salvador e Seu discípulo amado usaram esta palavra (Jo.13:33; 1Jo.2:12; 1Jo.2:28; 1Jo.3:7; 1Jo.3:18; 1Jo.4:4; 1Jo.5:21), além de sua possível utilização por Paulo em Gl.4:19. A ternura desta expressão pode significar que ele estivesse se dirigindo a seus próprios conversos. O idoso apóstolo poderia chamar apropriadamente até mesmo os pais de “filhinhos” (1Jo.2:12-14). Considerava a todos os cristãos como membros de uma grande família cujo Pai é Deus (cf. Ef.3:14-15), mas na qual havia muitos pais e filhos humanos. Isso não indica, porém, que João aceitara o título de “pai”. Cristo havia ordenado aos discípulos para não chamar um ao outro por qualquer nome que significaria o controle sobre a consciência de um homem ou sobre o que ele devia acreditar (Mt.23:7-9; cf. DTN, 613). Estas coisas. Pode ser uma referência ao capítulo anterior ou ao conteúdo de toda a epístola. Ambas as possibilidades concordam com a intenção do escritor. Escrevo. Em uma passagem anterior (1Jo.1:4), João escreve no plural; porém, aqui ele dá mais intimidade a sua mensagem e limita a referência a si mesmo, assim como se dirige a seus leitores: “filhinhos meus”. Para que não pequeis. O tempo do verbo grego mostra que João aqui fala de cometer atos específicos de pecado (cf. com. de 1Jo.3:9). O apóstolo queria que seus leitores evitassem cometer um único ato pecaminoso sequer. Não há verdadeira ruptura no pensamento do autor entre os cap. 1 e 2, sendo que ambos encorajam os cristãos a se apropriar do poder divino para viver livres do pecado. No entanto, em 1Jo.1:10, o apóstolo alertara contra a alegação de alguém não haver pecado. Será que, com isso, ele quis dizer que esperava que as pessoas se contentassem em continuar pecando? Certamente não! Livrar-se totalmente do pecado é a meta estabelecida perante os filhos de Deus, e cada provisão foi feita para que todos possam alcançá-la (ver com. de 1Jo.3:6). Se, todavia, alguém pecar. Isto é, que tenha caído em pecado ou cometido um ato pecaminoso. Embora o objetivo do cristão seja a impecabilidade, João reconhece a possibilidade de um cristão sincero cometer um pecado (cf. com. de 1Jo.1:7-9). Ele faz isso não para tolerar o pecado, mas para apresentar Aquele que pode salvar o cristão que tenha caído. Temos. João novamente se inclui entre seus leitores, talvez para destacar que Cristo Se tornou o defensor de todos os cristãos. Advogado. Do gr. parakletos (ver com. de Jo.14:16). Parakletos é usado no NT apenas por João. No evangelho, a palavra se refere ao Espírito Santo, e aqui, pela própria identificação, ao Filho na Sua obra de salvação. É claro, então, que o escritor via tanto o Filho quanto o Espírito desempenharem o trabalho de parakletos. “Mediador”, ou “intercessor” teria sido uma tradução preferível a “Advogado”. Junto ao Pai. “Junto” é uma tradução de pros, a mesma palavra grega que é usada em 1Jo.1:2; Jo.1:1-2. O termo indica a associação íntima entre o Advogado e o Pai – o Mediador está na presença de Deus, em igualdade de condições com Ele (ver com. de Jo.1:1; Hb.7:25). Jesus Cristo. Ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5. O justo. Do gr. dikaios (ver com. de Mt.1:19). É porque Ele permaneceu justo, depois de ter sido tentado em todos os pontos como nós (Hb.2:18; Hb.4:15; Hb.7:26), que Cristo está qualificado para ser nosso sumo sacerdote e advogado. Tivesse Ele pecado e não poderia Se manter diante do Pai. Se não tivesse experimentado a tentação, não poderia ter sido o nosso verdadeiro representante. Os gnósticos afirmavam que todos os seres são portadores de luz e de trevas em graus diferentes, e concluíam, a partir desse conceito, que até mesmo no caráter do Salvador o pecado tinha uma pequena proporção. Mas esse falso ensino é aqui vigorosamente refutado pelo apóstolo. |
1Jo.2:2 | 2. e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. Propiciação. Do gr. hilasmos, “validade”, de hilaskomai, “ser misericordioso” (Lc.18:13), “expiar” (Hb.2:17; ver com. de Rm.3:25). No conceito pagão, a “propiciação” era um presente ou sacrifício que tinha o propósito de apaziguar a ira de um deus e para torná-lo amigável ou perdoador. Porém, nosso Deus não tem por que ser apaziguado ou se reconciliar conosco, pois Ele ama as pessoas, mesmo quando são pecadoras (Rm.5:8; Ap.13:8). Somos nós que necessitamos ser reconciliados com Deus (2Co.5:18-19). A sintaxe grega destaca que o próprio Cristo é a propiciação, bem como o propiciador. Ele é, ao mesmo tempo, sacerdote e vítima. Pelos nossos pecados. Ou, “a respeito de nossos pecados”, a esfera em que a “propiciação” opera. Se não houvesse pecado, não haveria necessidade de propiciação; porém João reconhece que até mesmo os cristãos pecaram e têm a garantia de que “Jesus Cristo, o justo” cuidou do pecado pela Sua morte expiatória. Ele oferece Seu próprio sangue para a remoção dos nossos pecados (Jo.1:29; Hb.9:25-26; DTN, 652). Mundo inteiro. As palavras anteriores a “pelos pecados” foram acrescentadas. A frase completa pode ser traduzida como “mas também do mundo inteiro”. Alguns interpretaram isso como se referindo à soma total dos pecados do mundo. No entanto, a adição das palavras põe a declaração de acordo com o ensinamento bíblico de que Cristo morreu para levar os pecados de todo o mundo (ver Jo.1:29; Hb.2:9; 2Pe.3:9). Os pecados de cada homem, mulher e criança foram colocados sobre o Salvador. No entanto, isso não significa que a salvação seja universal, pois a Bíblia declara explicitamente que a salvação oferecida é nossa somente quando a aceitamos individualmente. |
1Jo.2:3 | 3. Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Ora. Do gr. en touto, literalmente, “nisto”, se refere à condição registrada na segunda metade do verso, “se guardamos os Seus mandamentos” (v. 1Jo.1:5; 1Jo.3:16; 1Jo.3:19). João frequentemente usa em seu evangelho uma frase similar dia touto, “por isso”, para remeter ao que se passou antes e prosseguir com o tema (Jo.5:18). Porém, nesta epístola, en touto geralmente se refere ao que se segue (cf. com. de 1Jo.4:9). Sabemos que O temos conhecido. Os verbos gregos expressam diferentes temporalidades. Para mostrar a distinção entre esses tempos, a frase pode ser traduzida como: “Sabemos o que viemos a conhecer e continuamos a saber”. João frequentemente usa o verbo “conhecer” (Jo.14:7; Jo.17:3; Jo.17:25; 1Jo.2:4-5; 1Jo.2:13; 1Jo.3:1; 1Jo.4:2) em conexão com “Deus” para designar não apenas o conhecimento de Deus, mas um relacionamento pessoal com Ele (cf. com. de Jo.17:3). Essa experiência era uma barreira eficaz contra as incursões heréticas dos ensinamentos gnósticos a que Cristo já havia se referido (ver p. 687, 688). O. Cristo, o advogado (v. 1Jo.2:1), a propiciação (v. 1Jo.2:2). A vida conforme a vontade de Deus é a única evidência segura de que uma pessoa conhece a Deus. Ao longo desta epístola, João continua a contradizer a afirmação gnóstica de que só o conhecimento tem valor e que a conduta não é de importância particular na determinação da posição de um homem diante de Deus. Os apóstolos declaram que não são os ouvintes da Palavra que são justificados, mas os praticantes dela (Rm.2:13; Tg.1:22-23). Alegações piedosas devem corresponder com a conduta moral. Guardamos os Seus mandamentos. O verbo traduzido por “guardar” (tereo) expressa a ideia de observar ou manter estrita vigilância. Aqui implica um propósito íntimo que resulta na conformidade dos nossos atos com a vontade de Deus expressa em Seus “mandamentos” (sobre os “mandamentos” [entolai] ver com. de Mt.19:17; Jo.14:15). João usa a expressão “guardam os Meus mandamentos” e seu equivalente “guarda as Minhas palavras”, ou frases semelhantes, muitas vezes, em seus escritos (Jo.14:15; Jo.14:23; 1Jo.3:22; 1Jo.3:24; 1Jo.5:2; 2Jo.1:6; Ap.3:10; Ap.12:17). |
1Jo.2:4 | 4. Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele que diz. Comparar com o com. de 1Jo.1:6. É provável que se trate dos que, de fato, influenciados por tais heresias como o docetismo (ver p. 687), pretendiam conhecer a Cristo, ignorando os Seus mandamentos. É a essas pessoas que João aludiu, para evitar nomeá-las ou incluir especificamente entre seus leitores (cf. 1Jo.2:6; 1Jo.2:9). Não havia nenhuma desculpa para esses ensinamentos espúrios na igreja, pois Cristo havia deixado claro que aquele que estivesse disposto a receber a verdade, ela lhe seria revelada (ver com. de Jo.7:17), e que aqueles que verdadeiramente O amavam guardariam Seus mandamentos (ver com. de Jo.14:15). É mentiroso. Tanto a pessoa como sua pretensão são falsas. O mentiroso demonstra com sua conduta que “a verdade não está nele” (cf. com. de 1Jo.1:6; 1Jo.1:8). Note novamente o uso paralelo e contrastante de expressões afirmativas e negativas (ver 1Jo.1:5-6; 1Jo.1:8; 1Jo.1:10). |
1Jo.2:5 | 5. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: Aquele [...] que guarda. O apóstolo não se satisfaz em deixar seus leitores com a imagem negativa, mas logo descreve o aspecto positivo para incentivá-los. Nele, verdadeiramente. O advérbio “verdadeiramente” se destaca no grego, para designar o contraste com as falsas pretensões mencionadas no v. 1Jo.2:4. Aperfeiçoado. Do gr. teleioo, “levar a um fim”, “completar”, “aperfeiçoar”. Em vez de “ser aperfeiçoado” devemos ler “ter sido aperfeiçoado” (sobre teleios, ver com. de Mt.5:48). Amor de Deus. Este pode ser o amor do ser humano a Deus ou o amor de Deus concedido ao ser humano. Nesta epístola, João usa a expressão em ambos os sentidos, mas parece referir-se principalmente ao amor de Deus para com o ser humano (1Jo.4:9; 1Jo.3:1; 1Jo.3:16-17; 1Jo.4:14; 1Jo.4:16; 1Jo.2:15; 1Jo.5:3). “O amor procede de Deus” (1Jo.4:7). Todo amor verdadeiro vem de Deus, e aquele que está motivado a guardar os mandamentos do Senhor o faz em virtude do amor, que é derivado de Deus (sobre “amor” [agapê], ver com. de Mt.5:43-44; 1Co.13:1). Nisto. Ver com. do v. 1Jo.2:3. Neste caso “por este meio” pode se referir a obedecer à palavra de Deus (v. 1Jo.2:5), ou a andar como Cristo andou (v. 1Jo.2:6). Ambas as afirmações demonstram a permanência em Cristo. NEle. Isto é, em Cristo (ver com. de 2Co.5:17; Ef.1:1; Jo.15:4; Gl.2:20). |
1Jo.2:6 | 6. aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou. Aquele que diz. Ver com. do v. 1Jo.2:4. Uma referência a todos os que dizem ser cristãos, sejam sinceros ou não. Permanece. Do gr. meno, “permanecer”, “continuar presente”, “ficar”, João usa com frequência o verbo meno: 41 vezes em seu evangelho e 26 vezes em 1 e 2 João (não ocorre em 3 João). Em seus escritos, adquire muitas vezes um sentido místico para indicar a união entre Deus e Cristo (Jo.14:10) e a união semelhante que deve existir entre Cristo e o cristão (Jo.15:4-10; 1Jo.2:24; 1Jo.2:28; 1Jo.3:6; 1Jo.3:24). A frase “permanecer nEle” é equivalente a “estar em Cristo”, de Paulo. Embora a frase tenha um significado místico, também tem uma aplicação prática e diz respeito à vida diária do cristão. Deve. Do gr. opheilo, “dever”, com referência a dívidas (Mt.18:28), “estar sob obrigação” de fazer alguma coisa (Jo.13:14). João usa a palavra quatro vezes em suas epístolas (aqui e em 1Jo.3:16; 1Jo.4:11; 3Jo.1:8). No contexto bíblico, opheilo transmite um forte senso de obrigação moral. Andar. Do gr. peripateo (ver com. de Ef.2:2), comumente usado no NT com referência à conduta cristã (cf. com. de 1Ts.2:12). Como Ele andou. Em Sua vida terrena, Jesus deixou um exemplo perfeito para todas as pessoas seguirem. O cristão precisa estar completamente familiarizado com a vida sem pecado, a fim de imitá-la e aplicar seus princípios às condições em que deve viver. João insiste em que aquele que afirma permanecer em Cristo deve demonstrar diariamente que imita seu Salvador. Sua vida deve concordar com sua profissão de fé (CC, 58, 59). |
1Jo.2:7 | 7. Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual, desde o princípio, tivestes. Esse mandamento antigo é a palavra que ouvistes. Irmãos (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “amados” (ARA). Seria adequado para João, ao introduzir uma seção que trata do amor pelos irmãos (v. 7-11), também se dirigir a seus leitores com termos carinhosos, como “irmãos” ou “amados”. Novo. Do gr. kainos, “novo”, no sentido qualitativo, em vez de cronológico. Aqui pode ser traduzido como “novo tipo de”. Na frase seguinte, a palavra usada para “velho” (palaios) indica que o “mandamento” foi dado há muito tempo. Aqui João se exime de qualquer intenção de dar aos seus leitores um novo tipo de “mandamento” porque o velho é adequado. O contexto (v. 1Jo.2:9-11) indica que o “mandamento” do qual fala é o amor para com os irmãos (ver com. de Jo.13:34). Desde o princípio. Provavelmente, desde o início da vida cristã dos leitores, embora alguns sugiram que se refere ao momento em que Cristo deu este “mandamento”, ou mesmo antes, no Sinai (ver com. de Mt.22:39-40). Palavra. Do gr. logos, aqui, “um corpo de doutrinas”, “uma mensagem”. João se refere a um ensino anterior, devido ao qual, os “irmãos” abraçaram a fé cristã. |
1Jo.2:8 | 8. Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha. Outra vez (ARC). Este versículo explica o precedente. Novo mandamento. O “velho” mandamento seria suficiente, se atentassem ao seu conselho. Mas os homens obscureceram de tal modo o verdadeiro propósito da lei que perderam de vista a sua qualidade espiritual. Em seus ensinamentos, mais particularmente no Sermão do Monte, Cristo removeu os acréscimos da idade e revelou o brilho original do “mandamento” (ver com. de Mt.5:22). Essa instrução parecia tão nítida e significativa, que apropriadamente poderia ser descrita como um mandamento “novo” (ver com. de Jo.13:34). Aquilo. Ou, o “novo mandamento”. NEle e em vós. A repetição da preposição sugere que há uma diferença entre a forma como esse mandamento opera em Cristo e no crente. Em Cristo, o mandamento não exige renovação, pois é uma expressão de Seu caráter. Em nós, o mandamento deve transformar o caráter, a fim de que ele possa ser “verdadeiro”. Isto é conseguido quando amamos uns aos outros como Cristo nos amou. Trevas. Ver com. de Jo.1:5. Vão dissipando. Do gr. parago, “passar”, “ir embora”, na forma aqui usada, “estar passando”. No v. 1Jo.2:17, parago descreve a natureza transitória do mundo pecaminoso. O tempo presente, “está passando”, “está vindo à luz”, mostra que João percebeu que a escuridão não seria imediatamente dissipada. A conquista da “verdadeira luz” seria gradual, mas certa. A escuridão é a ignorância, voluntária ou não, que impede as pessoas de enxergar a verdadeira natureza da Palavra de Deus. A verdadeira luz. Ou, a revelação de Deus através de Jesus Cristo (ver com. de Jo.1:4-9). Já brilha. Literalmente, “já está brilhando”. A luz verdadeira tem brilhado sobre o mundo desde a encarnação, e as pessoas têm tido menos desculpa do que antes para permanecer nas trevas do pecado. A vinda de Jesus representou uma nova responsabilidade e também uma nova bênção para a humanidade. |
1Jo.2:9 | 9. Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que diz. Ver com. do v. 1Jo.2:4. João novamente parece referir-se aos ensinamentos heréticos, como os dos gnósticos. Ele já havia contrastado a luz com a escuridão (1Jo.1:5-7; 1Jo.2:8), e a verdade com a falsidade (1Jo.1:8-10; 1Jo.2:4). Então, ele lida de forma semelhante com o amor e o ódio (1Jo.2:9-11). Na luz. O estado daqueles que estão verdadeiramente “na luz” está implícito em 1Jo.1:5-7 (ver com. ali). Odeia. Nada é dito sobre o grau de ódio. Pode existir, em um estado passivo de falta de amor, ou como uma antipatia ativa ou até como um ódio maligno que visa prejudicar o objeto do seu ódio. O menor traço de ódio é suficiente para mostrar que o Deus de amor não tem pleno domínio no coração (Mt.5:21-22; MDC, 55-58). Irmão. Nos escritos de João, exceto quando se especifica um relacionamento familiar, a palavra “irmão” geralmente se refere a um membro da igreja cristã. Embora o ódio signifique que um homem esteja em trevas, João se interessa e se preocupa com os relacionamentos cristãos. Trevas. Ver com. de 1Jo.1:5. Aquele que afirma possuir luz espiritual, mas nutre ódio por um irmão demonstra que está em trevas espirituais “até agora”, isto é, no exato momento em que se ufana de estar na luz. |
1Jo.2:10 | 10. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele que ama. Deus é amor (1Jo.4:8) e luz (1Jo.1:5). Quem continua a amar seu irmão, apesar das circunstâncias que possam ser resultantes do ódio, vive uma vida com Deus, habitando em Sua luz. Nele. O texto grego pode ser entendido de duas formas: “Nele” pode se referir ao homem que ama seu irmão, ou “nela”, se referir “à luz” (cf. Jo.11:9-10). A comparação com 1Jo.2:11 pode favorecer o último caso. Se assim for, o v. 10 constituiria a primeira parte de uma antítese (a luz impede alguém de tropeçar), e o v. 1Jo.2:11, a segunda parte (a escuridão que cega). Nenhum tropeço. Do gr. skandalon (ver com. de Mt.5:29; Mt.16:23; 1Co.1:23). |
1Jo.2:11 | 11. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos. Aquele, porém, que odeia. Contraste com o homem que ama (v. 1Jo.2:10). Em vez de permanecer ou habitar na luz de vida que Deus dá, ele habita nas trevas espirituais. Está. Ver com. do v. 1Jo.2:6. O ato de odiar o irmão afeta outras áreas da vida da pessoa, até o ponto em que a sua existência fica completamente na escuridão. Não sabe para onde vai. A expressão completa é uma citação das próprias palavras de Cristo (Jo.12:35). Seria estranho se o discípulo amado não fizesse eco a algumas das palavras de seu Mestre. O que odeia, sem dúvida, pensa que sabe para onde vai, mas está enganado. Ele não tem consciência do seu destino final. Estivesse ciente disso, provavelmente mudaria seu estilo de vida (ver Pv.14:12). As trevas lhe cegaram. A cegueira já ocorreu. A luz é essencial para a visão, e quem rejeita a luz perde a capacidade de enxergar. A ideia de que a rejeição da luz leva à cegueira espiritual também é encontrada no AT (cf. SI.82:5; Ec.2:14; Is.6:10). Por outro lado, toda pessoa que escolhe habitar na luz recebe mais iluminação e orientação (Pv.4:18-19). Nenhuma metáfora pode retratar adequadamente a condição daqueles que odeiam seus irmãos. O cego vive nas trevas e sabe que é cego, mas aqueles a quem Satanás cegou pensam que veem, quando em realidade vagueiam na escuridão. Eles se veem como seres superiores andando em um caminho iluminado em direção a um fim desejável (ver com. de Gn.3:6). |
1Jo.2:12 | 12. Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Filhinhos. Do gr. teknia (ver com. do v. 1Jo.2:1). O termo abrange todos os membros fiéis da Igreja, dos idosos aos jovens. Mensagens para faixas etárias específicas ocorrem nos v. 1Jo.2:13-14. Eu vos escrevo. A partir de considerações gerais (1Jo.1:4-2:11), o apóstolo se volta para problemas específicos. Antes, porém, ele lista suas razões para escrever, nomeando grupos particulares. Três vezes ele diz, “escrevo” (v. 12, 13), e outras três vezes, “escrevi” (v. 14). O significado da diferença de emprego do tempo verbal tem sido muito discutido. Alguns pensam que por “escrevi” João se refere ao seu evangelho. Mas não há provas conclusivas de que o evangelho foi escrito antes da epístola (ver p. 686, 687). Outros veem nisso referência a uma epístola anterior, agora perdida. Outros sugerem que João está apenas variando a sua linguagem para evitar a repetição monótona. Porém ele, mais do que outros escritores do NT, não teme uma aparente monotonia, pois considera um dispositivo literário eficaz, e suas variações raramente carecem de significado. Portanto, alguns sugerem que, ao usar o tempo presente, João se refere ao que está prestes a escrever, e com o passado, ao que ele já escreveu. Porque. Do gr. hoti, “que” ou “porque”. Alguns preferem “que”, entendendo que João quer lembrar seus leitores que seus pecados estão perdoados. Embora esta tradução de hoti seja possível aqui, não é aceitável nos v. 13 e 14. São perdoados. Ou, “foram perdoados”. O tempo verbal grego indica o resultado contínuo de um ato passado (ver com. de 1Jo.1:9). Por causa do Seu nome. Ou, “por causa do nome de Cristo”, “por amor do Seu nome” (ver com. de SI.31:3; At.3:6; At.3:16; At.4:12). O Pai perdoa o pecado do pecador arrependido, por causa do “nome” de Cristo, isto é, em virtude de Seu caráter e obra. O apóstolo se sente livre para discutir as verdades espirituais profundas com eles porque o poder perdoador do nome de Jesus era conhecido dos leitores de João. O perdão abriu um novo mundo diante deles, e o apóstolo se propõe a ajudá-los a explorar esse dom. |
1Jo.2:13 | 13. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno. Pais. Esta é uma forma de tratamento incomum no NT. No AT, o termo se refere aos antepassados (Gn.15:15; Gn.31:3) e também é usado assim no NT (At.3:13; At.3:22; At.3:25). “Pais” também podem ser os anciãos ou líderes do povo (At.7:2; At.22:1). Aqui, parece que João se dirige aos homens mais velhos, quer sejam pais carnais ou não, em contraste com o grupo seguinte, os “jovens”. A palavra “pais” pode também se referir aos cristãos de longa data, além de ser de idade avançada, atingiram a maturidade espiritual. Eu vos escrevo. Ver com. do v. 1Jo.2:12. Porque. Ver com. do v. 1Jo.2:12. Conheceis. Do gr. ginosko (ver com. do v. 1Jo.2:3). É pouco provável que alguns dos leitores de João houvessem conhecido a Cristo pessoalmente, porém todos tiveram o privilégio de cultivar um verdadeiro relacionamento espiritual com Ele. Temos o privilégio de desfrutar a mesma convicção íntima de comunhão com o Salvador (cf. com. de Fp.3:10). Todos os cristãos devem ser capazes de declarar como Paulo: “Eu sei em quem tenho crido” (2Tm.1:12, ARC). Aquele que existe. Referência ao Filho (cf. 1Jo.1:1-3). No final do versículo ele afirma que todos os crentes possuem um conhecimento do Pai. Jovens. João divide seus leitores em dois grupos, “pais” e “jovens”. Quem não pertence ao primeiro grupo, pertence ao segundo. Eu vos escrevo. Evidências textuais favorecem a variante “vos escrevi” (cf. p. xvi). Tendes vencido. Do gr. nikao, “conquistar”. Das 28 vezes em que a palavra nikao é usada no NT, seis ocorrem nesta epístola e 18 em outros escritos de João. O conceito de vitória cristã ocupa um papel de destaque no pensamento do apóstolo. O tempo do verbo grego indica, como em português, que os crentes já tinham vencido e estavam colhendo os frutos de sua vitória. O maligno. Ou, o diabo (cf. com. de Jo.17:15). A vitória que os crentes tinham conquistado não foi apenas sobre seus próprios desejos errados e hábitos rebeldes, mas também sobre o ódio maligno e as tentações hábeis do próprio adversário (cf. com. de Mt.4:1). Nesta época de maior conhecimento e ceticismo arrogante, poucos percebem o poder do maligno e seus inúmeros cooperadores. As pessoas gostam de se sentir donas do próprio destino, mas se esquecem de que, desde que Adão pecou, todas se tornaram escravas do maligno. A única maneira de escapar dessa servidão é apropriar-se do único poder pessoal que permanece com o ser humano, a faculdade de escolher outro Senhor e entregar sua fraca vontade a Ele. Cristo, então, liberta-as da escravidão do diabo e direciona sua vontade para o hem (Rm.6:13-23). |
1Jo.2:14 | 14. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. Filhinhos. Do gr. paidia, um termo que não transmite a mesma nota de afeto como teknia (ver com. do v. 1Jo.2:1), mas salienta, ao contrário, a ideia de subordinação e dependência, implicando uma necessidade de orientação. Como teknia, sem dúvida, inclui também todos os crentes, idosos e jovens (ver com. do v. 1Jo.2:12). Eu vos escrevi. Ver com. do v. 1Jo.2:12. O Pai. Ou, “Deus”. No v. 1Jo.2:12, o apóstolo havia dotado os crentes com o conhecimento do perdão dos pecados; aqui ele atribui a eles um conhecimento pessoal do Deus verdadeiro. João destaca esse conhecimento em suas epístolas e no seu evangelho, pois compreende que é essencial para a vida eterna (ver com. de Jo.17:3). Pais. Comparar com o v. 1Jo.2:13. O conhecimento íntimo que eles tinham do Salvador provinha de uma longa experiência. Essa era a característica mais importante que João lhes podia atribuir. Aqueles que já conhecem a Deus também devem conhecer o Filho, o único meio pelo qual se pode conhecer o Pai (ver com. de Jo.1:18). Sois fortes. João expande sua exortação aos jovens. No v. 1Jo.2:13, ele registra sua vitória sobre o diabo. Aqui, ele revela o fator que a torna possível (cf. Ef.6:10-18). A Palavra de Deus. À primeira vista, pode-se pensar que João se refere ao Verbo encarnado (cf. com. de Jo.1:1-3; 1Jo.1:1-3). Todavia, parece claro que, aqui, pensou na Palavra escrita, as Escrituras Sagradas, que podem “permanecer”, ou estar escondidas no coração (Jo.15:7; SI.119:11). A Palavra de Deus no coração inspira e prepara o soldado da cruz a combater o bom combate (ver com. de Ef.6:17). Revela a condição decaída do ser humano, a arte e a malícia de Satanás, o poder salvífico de Cristo exercido através do Espírito Santo; os elevados padrões que os homens devem alcançar através da devoção e o glorioso prêmio do vencedor. O próprio Salvador usou a palavra escrita em sua batalha com o tentador (Mt.4:1-11). Lutando a batalha humana como um homem, o Salvador não tinha nenhuma arma mais eficaz do que as palavras que o Espírito Santo havia inspirado para ocasiões como aquela (Mt.4:4; Mt.4:7; Mt.4:10). Somente quando os cristãos seguem o exemplo de Cristo, entesourando em sua memória a preciosa Palavra de Deus e seguindo seus conselhos, é que conseguem obter a vitória sobre si mesmos e sobre o pecado. Tendes vencido. Como aos pais, João repete o motivo de sua recomendação (cf. v. 1Jo.2:13). |
1Jo.2:15 | 15. Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; Não ameis. Depois de expor a razão de lhes escrever e esperar que atendessem ao seu conselho, João continua a advertir os jovens acerca das coisas que devem evitar. João faz isso de uma forma direta e inequívoca, usando o imperativo do verbo “amar” (agapao, ver com. de Mt.5:43; Jo.21:15). Sua palavra de admoestação pode ser traduzida como “pare de amar”, ou “não continue a amar”. O mundo. Do gr. kosmos, o “mundo”, considerado como um arranjo ordenado de coisas ou pessoas (ver com. de Mt.4:8; Jo.1:9). No NT, kosmos, muitas vezes, representa o povo ímpio, alienado e hostil a Deus, ou ocupado com assuntos mundanos que levam para longe de Deus. João usa kosmos 96 vezes em seus escritos, mais do que qualquer outro autor do NT. Na maioria dos casos, ele transmite uma imagem do mundo como estranho e hostil a Deus e em oposição ao Seu reino. Esse uso pode refletir preocupação com falsos ensinos que, mais tarde, evoluíram para o gnosticismo, com seu dualismo, a sua crença na luta entre as trevas e a luz, entre a matéria e o espírito, entre o demiurgo e o verdadeiro Deus (ver vol. 6, p. 40-44). Portanto, quando João exorta seus leitores a não amar o mundo, não está pensando na terra ao sair das mãos do Criador, mas em elementos terrestres, animados e inanimados que Satanás arregimentou em rebelião contra Deus. João sabia quão atraentes eles podiam parecer, e advertiu os cristãos a tomar cuidado com eles e resistir a seu poder sedutor. Odiar o mundo de pecado não deve impedir o cristão de tentar ajudar o pecador. Ao contrário, irá capacitá-lo a amar a vítima do pecado. Nesse aspecto, o próprio Deus é o nosso exemplo (Jo.3:16). As coisas. Isto é, as peças separadas que, em conjunto, formam o kosmos. Coisas que não são úteis devem ser totalmente evitadas, e muitas coisas boas em si mesmas podem estar entre o homem e Deus. Casas e terras, roupas e móveis, parentes e amigos, são bens que valem a pena, mas não devem se tornar centro de atenção, em detrimento da vida espiritual que substitui Deus, como um ídolo (ver com. de Mt.10:37; Lc.14:26). Sem dúvida, é o eu que finalmente se interpõe entre a pessoa e Deus. Se alguém. O apóstolo apresenta novamente uma declaração condicional, pois deve ter conhecido muitos que tinham dado um lugar no coração ao amor do mundo (cf. com. de 1Jo.1:6). Aqueles que permitem que seus afetos se apeguem a interesses que se opõem a Deus realmente não O amam. O cristão não pode servir nem amar ao mesmo tempo a Deus e às riquezas (ver com. de Mt.6:24). O amor do Pai. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “amor de Pai”. Esta é a única vez em que as palavras “amor do Pai” ocorrem na Bíblia. A frase se refere à afeição do crente para com o Pai celestial, não ao amor do Pai por Seus filhos terrestres (ver com. do v. 1Jo.2:5; cf. Rm.5:5; 2Ts.3:5). Mesmo quando permitimos que o amor do mundo entre em nosso coração, Deus ainda nos ama, pois Ele nos amou antes de pensarmos em nos arrepender e servi-Lo integralmente (Rm.5:8). |
1Jo.2:16 | 16. porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Porque. Cf. com. do v. 1Jo.2:12. João declara a razão para suas afirmações categóricas do v. 1Jo.2:15. Concupiscência. Do gr. epithumia, “vontade”, “desejo”, “sentir falta” (ver com. de Mt.5:28; Jo.8:44; Rm.7:7). Carne. A natureza sensual do ser humano, que cobiça o mal e na qual “não habita bem algum” (Rm.7:18; Rm.8:1). A concupiscência da carne é o desejo que impele à indulgência ao mal. João não trata do corpo, que posteriormente os gnósticos ensinaram ser intrinsecamente mau. Os escritores do NT consideram que o corpo humano tem disposição para o bem e também para o mal, portanto, está sujeito à redenção adquirida por Cristo (Rm.12:1; 1Co.6:15; Fp.1:20; Fp.3:21). A expressão “concupiscência da carne” inclui tudo aquilo que tende irresistivelmente a uma complacência que contradiz a vontade de Deus. O apóstolo não acusa seus leitores de pecados vis, mas os adverte contra a inimizade entre Deus e todas as manifestações de pecado, a fim de salvá-los. A concupiscência dos olhos. Se a “concupiscência da carne” se aplica aos pecados decorrentes do corpo, a “concupiscência dos olhos” pode ser entendida como uma referência ao prazer mental, estimulado através da visão. Grande parte do prazer pecaminoso do mundo se experimenta mediante os olhos (ver com. de Mt.5:27-28). Muitos dos que se apressam em negar qualquer intenção de ceder ao pecado aberto, sentem um vivo desejo de ler sobre o pecado, contemplá-lo em uma imagem, ou vê-lo retratado numa tela. Aqui se aplicam as palavras de 1Co.10:12: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia” (cf. com. de Gn.3:6). João pode ter pensado nos espetáculos de esportes brutais da arena romana, onde os homens lutavam entre si ou com animais selvagens até a morte. Esses espetáculos despertavam a mesma curiosidade mórbida que os esportes sádicos hoje. Soberba. Do gr. alazoneia, “vanglória”, “ostentação”, “exibição” (cf. com. de Tg.4:16). Vida. Do gr. bios, aqui, “modo de vida” (ver com. de Rm.6:4). A expressão “orgulho da vida” implica uma satisfação materialista com bens terrenos, um estado de espírito que substitui o espiritual pelo material. Todos, em diferentes graus, são propensos a tal orgulho e devem se precaver contra ele. Alguns se orgulham indevidamente de seu trabalho, outros, de suas posses, de sua própria beleza, ou de seus filhos. Do Pai. Nem o desejo, nem o orgulho do quais João acaba de falar procedem do Pai. Essas características indesejáveis se originaram em Satanás (cf. Jo.8:44). Do mundo. Portanto, em inimizade com Deus (ver com. do v. 1Jo.2:15). |
1Jo.2:17 | 17. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente. O mundo. Ver com. do v. 1Jo.2:15. Aqui, o termo aparentemente se refere aos princípios que se opõem a Deus e que produzem os maus desejos mencionados no v. 1Jo.2:16. Passa. Ou, “está passando” (ver com. do v. 1Jo.2:8). João lembra seus leitores que os propósitos duvidosos do amor das pessoas são transitórios. Muitos deles podem parecer permanentes e importantes, mas todos chegarão ao fim. Assim, o que se pode ganhar, cobiçando-os e concentrando-se neles? Aquele que faz. Ver com. de Mt.7:21. Aquele que faz a vontade de Deus aplica a vontade revelada de Deus a sua vida diária, em contraste com o que ignora a Deus e prefere os caminhos sedutores do mundo. Permanece. Do gr. meno (ver com. do v. 1Jo.2:6). Para sempre. Do gr. eis ton aiona (ver com. de Mt.13:39; Ap.14:11). O apóstolo destaca o contraste entre a vida transitória do amante do mundo e a experiência permanente do que cumpre a vontade de Deus. A morte pode surpreender o cristão fiel, mas ele tem a certeza da vida eterna e dele pode ser dito que permanecerá “para sempre” (ver com. de Jo.10:28; Jo.11:26). Aquele que ama o mundo ama o que é transitório, o que se tornou tão plenamente identificado com a morte e o pecado que deve perecer com eles. Com a passagem do mundo e sua pecaminosidade, o que ama o pecado também desaparecerá; porém, o que dedica suas afeições ao Deus eterno, ao Seu reino eterno e Seus princípios de justiça, permanecerá para sempre. |
1Jo.2:18 | 18. Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Filhinhos. Do gr. paidia (ver com. do v. 1Jo.2:13; cf. com. do v. 1Jo.2:1). Última hora. Literalmente, “hora derradeira”. A ausência do artigo definido no grego com frequência destaca uma qualidade e, como aqui, pode indicar a singularidade de um evento. João fala de uma única “última hora”. A menção desta hora final segue naturalmente o pensamento do v. 1Jo.2:17. A consideração da natureza fugaz do “mundo [...] e a sua concupiscência” põe o leitor face a face com o pensamento do fim das coisas terrenas, com a chegada da “última hora” e com a vinda do Salvador (v. 1Jo.2:28; cf. 1Jo.3:2). A implicação das palavras do apóstolo precisa ser estudada, tendo-se em vista as circunstâncias em que foram dadas. O escritor tinha vivido com Jesus, e de Seus próprios lábios ouvira de Seu retorno. Idoso, ele vivia em meio aos distúrbios políticos e sociais do mundo romano, e era natural que sua mente estivesse cheia da esperança de ver pessoalmente o retorno de seu Senhor. Desejava compartilhar essa esperança. Todos os outros eventos eram de importância secundária, em comparação com a perspectiva do reencontro tão esperado (comparar com Jo.14:1-3; 1Ts.4:16-17). A principal preocupação dos escritores da Bíblia que buscavam preparar os seus leitores para o encontro com Jesus era espiritual e não cronológica. Eles não pretendiam fornecer dados cronológicos sobre os últimos dias (cf. com. de At.1:6-7). A mensagem de João teve o valor imediato de estimular seus irmãos na fé a viver na expectativa do breve retorno de Cristo. Estimulou-os a viver, como todos os cristãos deveriam, como se cada dia fosse o último. O solene anúncio: “E a última hora”, também moveria os crentes a testemunhar mais fervorosamente, apressando o advento de Cristo (ver Nota Adicional a Romanos 13; Rm.13:14; ver com. de Mt.24:34; Rm.13:11; 2Pe.3:12; Ap.1:1). Como ouvistes. Por meio de João, ou de outros mestres cristãos respeitados. Os crentes haviam sido bem instruídos sobre os eventos dos últimos dias (cf. 2Ts.2:3). Vem. Literalmente, “vem” ou “está prestes a vir” (cf. com. de Jo.14:3). A forma do verbo dá ênfase à certeza de um evento que ainda está no futuro, quando os crentes ouviram pela primeira vez sobre o assunto. João passa a explicar que a profecia sobre a vinda do “anticristo” está em processo de cumprimento no momento em que ele escreve. O anticristo. No grego não há artigo, como se fosse nome próprio. A palavra “anticristo” é uma transliteração do grego antichristos, um substantivo formado de anti, “contra” ou “no lugar de”, e christos, “Cristo”. A palavra pode significar, portanto, “aquele que se opõe a Cristo”, ou “alguém que reivindica o lugar de Cristo”, ou quem combina essas duas funções. O título de vice-Cristo, ou vice-regente de Cristo, transmitiria uma ideia semelhante quando usado por alguém que falsamente alegava ser investido da autoridade de Jesus. O apóstolo João é o único que usa o vocábulo “anticristo” no NT (aqui, e em 1Jo.2:22; 1Jo.4:3; 2Jo.1:7), porém não dá nenhuma pista definitiva para a identificação de uma pessoa específica, pessoas, ou instituição. Ele supõe que seus leitores já conheciam o tema, que esperavam a vinda do “anticristo” e que acreditavam que sua presença indicava a proximidade dos últimos dias. Sem dúvida, João pensava em heresias da sua época como o docetismo e o cerintianismo, ramificações do gnosticismo (ver p. 625, 626; vol. 6, p. 40-45; ver também com. de 1Jo.2:22; 2Jo.1:7). É oportuno recordar que o “anticristo” original é Satanás, que se opõe a Cristo com a ajuda de diversos instrumentos humanos. Antes de o homem ter sido criado, Satanás tentou destituir a Cristo (ver com. de ls.14:12-14; Ez.28:12-13) e, desde então, tem inspirado sem cessar toda oposição contra Deus e Seu Filho Jesus Cristo (cf. com. de 2Ts.2:8-9). Muitos anticristos. O plural indica que João não se referia a nenhuma manifestação particular específica, mas classificou todos os oponentes heréticos da verdade como “anticristos”. Embora o cristianismo ainda estivesse em sua infância, vários ensinamentos falsos já haviam ganhado terreno e atacavam a jovem igreja (ver vol. 6, p. 38-46). Têm surgido. Literalmente, “vieram a existir”, ou “surgiram”. Pelo que conhecemos. Lamentável como pudesse ser a apostasia, João a via como um sinal do fim que se aproximava e advertiu seus leitores apropriadamente. |
1Jo.2:19 | 19. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. Eles saíram de nosso meio. Ou, “eles nos deixaram”. A deserção dos falsos mestres (cf. v. 1Jo.2:18) já havia ocorrido. Não era preciso contar aos seus leitores as circunstâncias da apostasia com a qual, sem dúvida, eles estavam familiarizados. Não se sabe se os anticristos e seus seguidores se retiraram voluntariamente da igreja ou se foram excomungados. É claro, porém, que esses falsos mestres tinham originalmente professado o cristianismo. Não eram dos nossos. Eles não tinham experimentado o genuíno arrependimento e nunca haviam pertencido de coração à igreja. Porém, sem dúvida, estavam convencidos de que seus falsos ensinos sobre a natureza de Cristo eram verdadeiros. Permanecido. Do gr. meno, “permanecer”, palavra que João usa frequentemente (ver com. do v. 1Jo.2:6). Se os membros desertores verdadeiramente pertencessem à igreja, teriam permanecido nela e compartilhado de seu espírito. Sua saída demonstrou a fragilidade de sua ligação com Cristo e a Igreja. Ficasse manifesto. Enquanto os falsos mestres permaneceram na igreja, não foi fácil para os fiéis discernir seu verdadeiro caráter. Porém, quando deixaram a igreja, sua heresia foi revelada, ficou evidente que nunca tinham realmente pertencido a Cristo. Nenhum deles é dos nossos. Ou, “eles não pertencem a nós.” O texto grego deixa claro que, no fundo, nenhum dos apóstatas jamais pertenceu à igreja. Com base nesta declaração de João, alguns têm concluído que esses apóstatas tinham sido predestinados à perdição e que nenhum verdadeiro crente pode cair da graça. No entanto, João adverte seus leitores contra os perigos que cercam o caminho do cristão (v. 1Jo.2:15-17), tendo em vista a possibilidade de que alguns dos que pertenciam a Cristo também poderiam ser desencaminhados. Caso se afastassem da igreja, seria em virtude de sua própria escolha (ver com. de Jo.10:28), e não por algum decreto divino irrevogável (sobre a predestinação bíblica, ver com. de Jo.3:17-21; Rm.8:29; Ef.1:4-6; 1Pe.1:2). |
1Jo.2:20 | 20. E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. Unção. Do gr. chrisma, “unção”, de chrio, “ungir” (ver com. de Mt.1:1). O uso de chrisma pode ter sido sugerido pelo uso de antichristos no v. 1Jo.2:18 (comparar com Mt.3:11; Lc.24:49). Santo. O AT fala de Deus como o Santo de Israel (SI.71:22; ls.1:4), o NT aplica especificamente o título a Cristo (Mc.1:24; At.3:14; ver com. de Jo.6:69). João sabia que o Espírito Santo foi dado pelo Pai por intermédio do Filho (Jo.14:16; Jo.14:26), e a referência aqui pode, portanto, ser ao Pai ou ao Filho. Tendes conhecimento. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) esta variante. De acordo com a mesma, João não diz que o cristão possui todo o conhecimento, mas que todos os cristãos têm conhecimento. No entanto, a variante “sabeis tudo” (ARC) tem um bom apoio textual e não precisa implicar que o cristão possui todo o conhecimento, mas que simplesmente possui todo conhecimento essencial para sua salvação. No AT, a unção era restrita aos sacerdotes, governantes e profetas (Ex.29:7; 1Sm.9:16; 1Rs.19:16), porém, sob a nova aliança, todos os crentes são ungidos e todos recebem o conhecimento divinamente transmitido que orienta para a vida eterna (ver com. de Jo.14:26; Jo.16:13). |
1Jo.2:21 | 21. Não vos escrevi porque não saibais a verdade; antes, porque a sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade. Não vos escrevi. Com tato, o apóstolo não se dirige a seus leitores como se precisassem de instrução, mas apela em termos do conhecimento que já possuem (cf. com. dos v. 1Jo.2:12-14). Porque não saibais. Ou, “vocês conhecem a verdade”. O verdadeiro cristão não tem necessidade de temer as reivindicações dos opositores ao conhecimento superior. Sua unção contínua do Espírito Santo lhe confere o conhecimento essencial para a salvação e a capacidade de usar esse conhecimento com habilidade na causa da verdade. Mentira alguma. A frase diz, literalmente: “não pode haver verdade alguma na mentira”, isto é, qualquer vestígio de mentira vem de uma fonte diferente de onde emana a verdade. A verdade se origina em Cristo; as mentiras, de qualquer tipo, têm sua origem em Satanás, o pai da mentira (ver com. de Jo.8:44). |
1Jo.2:22 | 22. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Quem é o mentiroso [...]? Ou, “quem é o grande mentiroso?” Aquele que nega. João já havia advertido da presença dos falsos mestres (v. 1Jo.2:18-21) e passou a identificar suas doutrinas. O tempo do verbo grego implica uma negação contínua. Jesus é o Cristo? Ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5. João estabelece como crença fundamental que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Ungido, o Messias, o Filho de Deus, o Salvador do mundo (ver com. de Lc.1:35; Jo.1:14, ver Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Aquele que nega isso nega o fato histórico central da redenção e, desse modo, impossibilita sua própria (ver com. de At.4:12). Não pode haver perversão mais destrutiva no cristianismo do que a negação da divindade de Jesus. O docetismo e, mais tarde, o gnosticismo e outras heresias perverteram a verdade sobre a natureza de Cristo (ver vol. 5, p. 984, 985, vol. 6, p. 40-44), e foi a essas negações que João se referiu principalmente. Para ele, a verdade presente era a plena aceitação de Jesus como o Filho de Deus encarnado, como apresentada de forma eloquente e enfática em seu evangelho (Jo.1:1-3; Jo.1:14) e nesta epístola (ver 1Jo.4:1-3; 1Jo.4:15; 1Jo.5:1; 1Jo.5:5). A mesma verdade gloriosa deve ser proclamada com ênfase hoje, juntamente às mensagens projetadas especialmente para o nosso tempo (ver com. de Ap.14:6-12). Este é o anticristo. Literalmente, “este é o anticristo” (ver com. do v. 1Jo.2:18). João claramente identifica o anticristo, sobre o qual ele escreve, como qualquer mestre supostamente cristão que nega o Pai e o Filho. Nega o Pai. Tão próxima é a união entre o Pai e o Filho que é impossível enfraquecer a posição do Filho sem prejudicar o respeito pelo Pai (ver com. de Jo.10:30). Os falsos mestres faziam isso. Aqueles que se recusam a aceitar a revelação de Deus em Cristo também não compreendem a natureza e os propósitos do Pai (ver com. de Jo.1:18; Jo.14:6; Jo.14:9; 2Co.5:19; Mt.10:32-33). |
1Jo.2:23 | 23. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. Esse não tem o Pai. Aqueles que atacavam a posição de Cristo talvez achassem que, assim fazendo, de modo algum prejudicavam o Pai. O apóstolo enfatiza seu erro, afirmando que esses mestres não tinham a íntima comunhão com Deus que eles julgavam ter, e sua profissão de fé se provaria vã (cf. com. 1Jo.4:3; Mt.10:33). Confessa. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a inclusão da declaração. A sintaxe da última parte deste versículo se harmoniza com o estilo literário do apóstolo de reforçar um ensino com uma afirmação positiva ou negativa de sua declaração anterior, conforme o caso. |
1Jo.2:24 | 24. Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai. Portanto (ARC). Literalmente, a frase completa diz: “Quanto a vocês, que obedeçam ao que ouviram desde o início”. Dessa forma, João contrasta o anticristo com o cristão fiel. Permaneça. Do gr. meno (ver com. do v. 1Jo.2:6), traduzida como “permanecer”, “continuar”. A força do estilo joanino é mais aparente se “permanecer” trouxer a ideia de “habitar”. Desde o princípio. Ver com. do v. 1Jo.2:7. João suplica a seus leitores que mantenham a fé que lhes havia sido entregue pelos apóstolos e seus colaboradores. O autor lhes assegurou que, se eles fizessem isso, continuariam a desfrutar o que os anticristos tinham perdido: uma comunhão constante com o Pai e o Filho. Esse conselho é válido para o cristão hoje (cf. com. de Ap.2:4). |
1Jo.2:25 | 25. E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. Esta é a promessa. Em uma passagem anterior (1Jo.1:5), há uma expressão similar. Em primeiro lugar, é dada a segurança e, mais tarde, se apresenta a promessa. A promessa é feita por “Ele”, por Cristo, mediante quem todas as promessas de Deus são feitas e cumpridas (2Co.1:20). Algumas das promessas relativas à vida eterna se encontram nos evangelhos (Mt.5:1-12; Jo.3:15-17; Jo.6:47). A vida eterna. Ver com. de 1Jo.1:2. |
1Jo.2:26 | 26. Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar. Isto. Ou, o conselho contido nos v. 1Jo.2:18-25, nos quais o escritor adverte contra os anticristos. Enganar. Do gr. planao, “extraviar” (cf. com. de 1Jo.1:8; Mt.18:12). A construção grega torna possível traduzir a última metade da frase como “aqueles que estão tentando levá-lo ao erro”. Não há nenhuma evidência de que os falsos mestres tenham conseguido levar os supostos leitores de João ao engano. |
1Jo.2:27 | 27. Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou. Alguém vos ensine. Somos ungidos com o Espírito Santo, que nos ensina “todas as coisas” (Jo.14:26). Unção. Do gr. chrisma (ver com. do v. 1Jo.2:20, em que a mesma palavra é traduzida por “unção”). A frase inteira diz, literalmente, “mas quanto a vós, a unção que recebestes”. A ênfase se encontra no contraste entre a preparação espiritual do crente e as ciladas do anticristo (ver v. 1Jo.2:20; 1Jo.2:24). O apóstolo prossegue com seu método habitual de encorajar os membros de seu rebanho, lembra-os de seus privilégios e, com tato, assume que eles se provarão dignos de sua herança espiritual (cf. v. 1Jo.2:5; 1Jo.2:12-14; 1Jo.2:20; 1Jo.2:24). DEle. Ou, de Cristo. Na epístola, os pronomes “ele” e “dele” geralmente se referem ao Filho. Permanece. Do gr. meno (ver com. do v. 1Jo.2:6). João espera que o Espírito Santo permaneça no coração dos cristãos e, desse modo, seja a influência que governe sua vida. Não tendes necessidade. O dom original do Espírito Santo e Sua presença contínua no coração asseguram o avanço na compreensão espiritual (Jo.14:26; Jo.16:13). Portanto, o crente não depende completamente da instrução humana, nem está à mercê dos falsos mestres. No entanto, ele não deve contar com a orientação direta do Espírito Santo, com a exclusão de tudo o mais, ou João não escreveria esta carta. A sua unção. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “Sua unção” (cf. com. do v. 1Jo.2:20). É verdadeira. Ou, “é verdade”, referindo-se à unção do Espírito Santo. A instrução original dada ao crente antes do batismo, quando recebeu o Espírito Santo de uma forma especial, é sempre verdadeira. Nada que for dado mais tarde pelo Espírito Santo vai entrar em conflito com os ensinamentos básicos da fé cristã. O Senhor pode ter mais luz para nós, mas uma nova luz confirmará os princípios antigos. A atitude ou consagração do povo de Deus para com uma nova luz é o que revela sua devoção à verdade e o recebimento da unção de Cristo (OE, 297-300). Não é falsa. Novamente João reforça uma declaração positiva através da negação do oposto. Não há mistura de erro nas revelações feitas pelo Espírito Santo. Permanecei. Ou, “cumprir”, seja na forma imperativa, “permanecei”, ou afirmativa, “vós permaneceis”. NEle. Ou seja, em Cristo (v. 1Jo.2:28). A construção grega da segunda metade do v. 27 é obscura. O apóstolo parece afirmar que aqueles que permanecem fiéis à instrução do Espírito continuam em comunhão com Cristo. |
1Jo.2:28 | 28. Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda. Filhinhos. Do gr. teknia (ver com. do v. 1Jo.2:1). Agora. Estas palavras marcam a conclusão da primeira parte da epístola e não têm nenhuma referência ao tempo em que João escreveu a carta. Atingindo o clímax de seu raciocínio, João exorta solenemente seus leitores, tendo em conta o que escreveu nos v. 1Jo.2:18-27. Permanecei nEle. Ou, em Cristo. Este é o conselho direto para tomar as medidas recomendadas no v. 1Jo.2:27, tendo em vista o retorno de Jesus (ver com. do v. 1Jo.2:18). Somente os que permanecem em Cristo estarão preparados para encontrá-Lo em Sua vinda (Mt.24:13; Jo.15:6). Quando Ele Se manifestar. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “se Ele Se manifestar”, sem, contudo, implicar nenhuma incerteza (comparar as frases, “quando Eu for levantado” e “se Eu for e vos preparar lugar” [ARC], em Jo.12:32; Jo.14:3). Em vez disso, as palavras implicam forte segurança. Em outras passagens, João sublinha a realidade da volta de Cristo (cf. 1Jo.3:2; Jo.14:1-3; Jo.21:22; Ap.1:7; Ap.22:12; Ap.22:20), mas reconhece a imprevisibilidade do tempo de Sua vinda (cf. com. de Mt.24:36-44). Confiança. Do gr. parresia. Originalmente, “liberdade de expressão”, portanto, “ousadia” (ver com. de At.4:13), usada por João 13 das 31 vezes em que ocorre no NT. A imagem é de alguém que, tendo consistentemente permanecido em Cristo, não tem medo de encontrá-Lo na Sua vinda. Aqueles que passam esta vida com seu Senhor irão recebê-Lo com alegria em Sua vinda (cf. Is.25:9). Pecadores arrependidos irão cumprimentá-Lo, não com a ousadia da autoconfiança, mas com a certeza tranquila de que são filhos de Deus. Envergonhados. João enfatiza novamente seu significado, ao reafirmá-lo negativamente (cf. 1Jo.1:5-6; 1Jo.1:8; 1Jo.2:4; 1Jo.2:27). Ao fazê-lo, apresenta a atitude de quem não se preparou para encontrar seu Senhor. Eles se sentirão envergonhados diante da perspectiva de conhecer Aquele a quem desprezaram e rejeitaram. Terão vergonha de como trataram seu Redentor, assim como do próprio registro pecaminoso deles. Perceberão que a culpa pela perda da vida eterna é deles mesmos (cf. com. de Ap.6:15-17). No entanto, os que permanecem em Cristo podem olhar para frente com alegria por Sua vinda. Na Sua vinda. Do gr. parousia (ver com. de Mt.24:3), vocábulo que João utiliza somente esta vez, porém, muito frequente nos escritos de Paulo (1Co.15:23; Fp.1:26; 1Ts.2:19), Mateus (Mt.24:3; Mt.24:27; Mt.24:37; Mt.24:39), Tiago (Tg.5:7-8) e Pedro (2Pe.1:16; 2Pe.3:4; 2Pe.3:12). |
1Jo.2:29 | 29. Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele. Se sabeis. O “se” não implica dúvida ou incerteza, mas é a maneira característica de João de impressionar o coração dos seus leitores com a verdade. A primeira palavra traduzida como “conhecer” neste versículo é oida, que se refere ao conhecimento intuitivo. A segunda, ginosko, refere-se ao conhecimento adquirido pela experiência (ver com. de 1Jo.1:3; Rm.3:19). Dessa forma, o apóstolo conecta o conhecimento teórico do crente ao conhecimento prático, como base para um apelo a uma vida digna. Ele. As opiniões se dividem sobre se João aqui se refere a Cristo ou ao Pai. Alguns, raciocinando que as palavras finais “nascido dEle” só podem se referir ao Pai, porque João fala do crente ser “nascido de Deus” (1Jo.3:9; 1Jo.4:7; 1Jo.5:1; 1Jo.5:4; 1Jo.5:18), deduzem por isso que o apóstolo fala do Pai. Certamente, ninguém disputará a justiça de Deus, e, finalmente, todos os que são resgatados são nascidos dEle (Jo.1:13). Entretanto, também é certo que João se referiu, até este ponto, ao Filho (1Jo.2:25; 1Jo.2:27-28), e é improvável que faria uma mudança súbita do Filho para o Pai. Cristo é justo, e é através do Seu poder, em cooperação com o Espírito, que o cristão renasce. Assim, é possível que a referência continue sendo, em primeiro lugar, ao Filho. Justo. Do gr. dikaios (ver com. de Mt.1:19; 1Jo.1:1). Justiça. Ver com. de Mt.5:6. Aquele que é sempre justo em pensamento, palavra, atitude e ação demonstra que é nascido de Deus, de quem provém toda boa dádiva (Mt.7:20; Tg.1:17). Se tal pessoa continua a permitir que Deus trabalhe nela, receberá mais instrução, até que chegue a andar na plena luz do Céu (Pv.4:18; Jo.7:17; DTN, 238; GC, 528). No entanto, alguns podem ser capazes de apresentar momentaneamente uma falsa aparência de justiça, inspirada pelo amor ao próprio eu (Mt.6:1-18; 1Co.13:3; T3, p. 336; CC, p. 18, 28, 29). Nascido dEle. Ver com. de Jo.1:12-13; Jo.3:3-8. |
1Jo.3:1 | 1. Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Vede. No cap. 1Jo.2:29, o apóstolo apresentou a ideia de ser nascido de Deus. Aqui, ele explica que esse nascimento se deve à operação do amor divino. Isso o leva a considerar esse amor e o tipo de conduta que devem se manifestar no crente. Então, pede aos leitores que compartilhem esses pensamentos, contemplando o incomparável amor do Pai. Que grande. Do gr. potapos, uma frase interrogativa que significava originalmente “de qual país?”, mas que veio a significar “de que tipo?”, “de que qualidade?” e que muitas vezes expressava admiração e espanto (cf. Mt.8:27; Mc.13:1; Lc.1:29). A admiração de João não conhece limites quando ele contempla a altura e a profundidade do imensurável amor divino. Amor. Do gr. agape (ver com. de 1Co.13:1; Mt.5:43-44), ocorre somente nove vezes nos quatro evangelhos, porém mais de 100 vezes no restante do NT. João usa agape 18 vezes, e o verbo relacionado agapao, “amar”, 32 vezes nesta epístola. Ele é tão cativado pela magnitude do afeto divino, que o tema enche seu coração, como deve também preencher o coração de todos os cristãos. Tem concedido. Do gr. didomi, “dar.” O uso do pretérito perfeito denota que o ato de doação foi concluído, mas seus resultados continuam. Nada pode alterar o fato de que Deus concedeu Seu amor à humanidade, em geral, e aos Seus filhos, em particular. Os seres humanos podem responder a esse amor ou podem rejeitá-lo, mas Deus, de Sua parte, derramou-o de forma absoluta sobre a Sua criação. Pai. O uso deste nome familiar naturalmente precede a menção aos “filhos de Deus”. Sermos chamados. Possivelmente, esse verbo não se refere ao chamado divino no sentido paulino (Rm.8:28-30), porém, é clara a referência ao ato gracioso de Deus em conduzir os pecadores à Sua família, chamando-os de filhos. Filhos de Deus. (ver com. de Jo.1:12). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) o acréscimo da expressão “e nós somos”. As palavras adicionais, em harmonia com o estilo de João (cf. 1Jo.1:2) reforçam a realidade da filiação, que existe não apenas na mente de Deus, mas na vida dos crentes. Por essa razão. Referindo-se à filiação, que fornece a razão pela qual o mundo não reconhece o cristão. Também se refere antecipadamente à afirmação de que o mundo não conhece a Deus. O mundo. Aqui, significa aqueles que se opõem a Deus (ver com. de 1Jo.2:15). Não nos conhece. Do gr. ginosko (ver com. de 1Jo.2:29). A oração pode ser parafraseada como, “o mundo não nos reconhece porque nunca conheceu pessoalmente a Deus”. Os amantes do mundo têm se negado a conhecer o Pai, portanto é natural que não estejam dispostos a reconhecer aqueles a quem Deus chama de Seus filhos. Quanto mais os filhos de Deus refletem o caráter divino, mais se desperta a ira daqueles que rejeitam Seu amor. Embora os mundanos tenham todos os motivos para amar os cristãos por causa de sua vida bondosa e honesta, os cristãos não devem se surpreender se, em vez disso, forem odiados (cf. Mt.5:10-12; Mt.10:16-18). |
1Jo.3:2 | 2. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. Amados. Uma forma apropriada de se dirigir aos leitores, já que João trata do amor. Com naturalidade, ele usa essa forma de tratamento no decorrer da epístola (v. 1Jo.3:21; 1Jo.4:1; 1Jo.4:7; 1Jo.4:11). Agora. E agora, enquanto somos ainda imperfeitos, caindo em pecado, e não totalmente moldados à semelhança de nosso Pai, que é dito sermos “filhos de Deus” (ver com. de Mt.5:48). Isso é possível e verdadeiro porque fomos aceitos no Amado e somos considerados como já estando no Céu através de nosso Representante (Ef.1:5-7; Ef.2:4-6). Sua justiça foi aceita no lugar da nossa pecaminosidade (PP, 431), e nós estamos diante do Pai tão completamente revestidos de Cristo que passamos a não ser vistos (PJ, 311, 312). Ainda não. Semelhante mudança ainda está no futuro (cf. com. de 1Co.15:51-52; Fp.3:20-21). Manifestou. Ver com. de 1Jo.2:28. O apóstolo mostra que considera como certa a suprema perfeição de caráter e de corpo. Quando Ele Se manifestar. Ou, “quando Ele aparecer”. O texto grego pode ser traduzido das duas maneiras. Teologicamente, ambas são aceitáveis, pois as duas se referem ao mesmo evento (comparar com o com. de 1Jo.2:28). Semelhantes a Ele. Refere-se ao cumprimento do plano de Deus para o homem caído, a restauração da imagem divina. O homem foi criado à imagem de Deus (ver com. de Gn.1:26), mas o pecado arruinou essa semelhança. O propósito de Deus é restaurar essa semelhança, dando ao ser humano a vitória sobre o pecado e sobre toda tentação (ver com. de Rm.8:29; Cl.3:10; ver DTN, 37, 38, 391, 827; PJ, 194). A restauração será concluída na segunda vinda (1Co.15:51-53; Fp.3:20-21). Porque haveremos de vê-Lo. Ou, “pois O veremos”. Quando Jesus esteve na Terra, só os que tinham discernimento espiritual perceberam Sua divindade (Mt.16:17). A mesma condição espiritual existirá em quem olhar para Cristo no último dia. Como Ele é. Ou, “como também Ele é.” Aqueles que viram Jesus de Nazaré não viram o Filho de Deus como Ele realmente é, pois Sua glória divina foi velada por Sua humanidade (DTN, 43). Porém, quando Cristo vier pela segunda vez, aparecerá em toda a Sua glória (Mt.25:31) e será contemplado em Seu verdadeiro esplendor. |
1Jo.3:3 | 3. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro. Purifica. Do gr. hagnizo, “purificar da corrupção”, “limpar”. Esta palavra é aplicada tanto para a limpeza cerimonial como para a moral (Jo.11:55; At.21:24; At.21:26; At.24:18; Tg.4:8; 1Pe.1:22). O pecador não pode se purificar, ele é vendido sob o pecado e depende totalmente do Salvador para sua purificação (Je.17:9; Jo.3:3; Jo.15:4-5; Rm.8:7). No entanto, há uma obra que o pecador, com a ajuda divina, deve fazer em favor de si mesmo (ver Fp.2:12-13). Essa obra exige vigiar e orar com diligência (Ef.6:13-18; Cl.4:2; Ap.3:3). A luta principal consiste em manter a fé na vitória que Cristo conquistou para nós, e viver crendo que Sua graça é suficiente para nos dar o domínio sobre qualquer obstáculo (Cl.2:20; Fp.4:13; CC, 47, 48; CBV, 159). Os gnósticos ensinavam que a esperança cristã poderia ser mantida sem se levar em consideração a moral do indivíduo. Porém, João refuta esse ensino, mediante sua declaração a respeito da purificação. Todos os que verdadeiramente anseiam ver a Cristo se empenharão para manter a pureza de vida. NEle. Em Cristo. João escreve sobre a esperança centrada em Jesus, e não no ser humano. Tem essa esperança. O autor não se refere àqueles que vagamente esperam o Salvador aparecer, mas ao crente que se apega a uma expectativa definida do retorno de Cristo. Assim como Ele é puro. O cristão deve se esforçar em busca do padrão de pureza de Cristo (cf. com. de Fp.3:8-15). Ele obteve vitória sobre toda tentação (ver com. de Jo.8:46; 2Co.5:21; 1Pe.2:22) e tornou possível a todas as pessoas viver uma vida vitoriosa (ver com. de Mt.1:21; Rm.7:24-25; Rm.8:1-2; 1Jo.1:9). |
1Jo.3:4 | 4. Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. Todo aquele. João apresenta o caso oposto, com explicação suficiente para ampliar sua declaração anterior, bem como confirmá-la: todos os que têm a esperança purificam-se, e todos os que cometem pecado, também cometem impiedade. Pecado. Do gr. hamartia, “não acertar a marca”, “uma ação errada”, “um pecado”, de hamartano, “errar o alvo”, “errar”, “fazer errado”, “seguir na direção errada”, “pecar”, é uma palavra usada na Bíblia para o ato de se desviar da lei de Deus, de violar a lei moral. Hamartia é uma violação da lei moral dada por Deus. A palavra também pode se referir ao princípio e poder que faz com que alguém cometa pecados (ver com. de Rm.5:12), porém é óbvio que João se refere aqui à má ação em si. O texto grego diz, literalmente, “o pecado”. Não parece, portanto, que o autor se refira a algum pecado, em particular, nem o contexto identifica “o pecado”. Porém, o uso do artigo definido sugere que o escritor está falando de “pecado” para se referir a todo tipo de pecados, ou seja, o pecado que causa a separação entre Deus e a pessoa (cf. Is.59:2). Transgride a lei. Tradução do gr. anomia (“inconformidade com a lei”, “pecado”), derivada do grego a, “sem”, e nomos, “lei” (ver com. de Mt.7:23; Rm.6:19; 2Ts.2:3; 2Ts.2:7). Ao ligar anomia a hamartia, o apóstolo destaca a estreita e inevitável ligação entre pecado e iniquidade. Com sua clareza habitual, reafirma esse fato na declaração seguinte. O pecado é transgressão da lei. Literalmente, “o pecado é a ilegalidade”. O uso do artigo com cada substantivo indica que hamartia e anomia são sinônimos e podem se intercambiar. Todo pecado é ilegalidade, e toda ilegalidade é pecado. João, com sua maneira simples e profunda, desvela o verdadeiro caráter do pecado. Declara que pecado é não fazer caso da lei, isto é, da lei de Deus (sobre a definição de “lei”, ver com. de Pv.3:1; Mt.5:17; Rm.2:12; Rm.3:19). Deus formulou leis para guiar os seres humanos, a fim de que desfrutassem plenamente da vida, para salvá-los do mal e preservá-los para o bem (ver com. de Ex.20:1). A lei de Deus é uma transcrição do Seu caráter. Jesus veio para revelar à humanidade o caráter de Seu Pai. Ele é, portanto, a lei amplificada e demonstrada. Se as pessoas querem ordenar sua vida em harmonia com a lei de Deus, devem contemplar a Jesus e imitar Sua vida. A lei pode ser resumida nas seguintes palavras: “ser como Deus” ou “ser como Jesus”. A transformação do caráter à semelhança divina é o grande propósito do plano de salvação. A lei revela o caráter de Deus e de Cristo; o plano de salvação provê a graça que capacita para obter todas as virtudes. |
1Jo.3:5 | 5. Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado. Sabeis. Outra vez João apela ao conhecimento do plano da salvação dos seus leitores (cf. 1Jo.2:12-14; 1Jo.2:20; 1Jo.2:27). Ele Se manifestou. Do gr. phaneroo, “revelar”, “dar a conhecer”; na forma passiva, “tornar-se visível”, “tornar-se conhecido”, “ser revelado”. Phaneroo é utilizado em outras passagens (v. 1Jo.3:2; 1Jo.2:28) para descrever a segunda vinda de Cristo; porém aqui se aplica à encarnação. Tirar. Do gr. airo (ver com. de Jo.1:29). Uma referência ao principal propósito da vinda de Cristo: salvar os seres humanos do pecado (ver com. de Mt.1:21). Pode-se considerar que esse propósito foi cumprido por Cristo (1) ao carregar o pecado em um sentido expiatório, ou (2) por destruir o poder do pecado. Ambas as interpretações são válidas, pois Ele cumpriu o primeiro a fim de poder realizar o segundo. Ao fazê-lo, o Salvador remove a ilegalidade, da qual o pecado é uma expressão, e salva o ser humano da transgressão da lei de Deus. No entanto, Cristo tira o pecado somente daqueles que desejam ser libertos dele. É digno de nota que, no contexto em que João faz a declaração, Cristo Se manifestou para tirar o pecado, não para abolir a lei. Os gnósticos gostavam de acreditar que, no caso deles, as restrições da lei haviam sido suprimidas. Contudo, João sabia que Cristo manteve a lei, enquanto removia a transgressão da lei (cf. com. de Mt.5:17-19; Rm.3:31). Os pecados. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão de “nossos” (ARC). A omissão não afeta o significado básico das palavras de João, porém a inclusão do pronome “nossos” acrescenta força pessoal à mensagem e mostra que o apóstolo não falava de um modo geral, mas do pecado do cristão, em particular. NEle não existe pecado. Em Cristo não há nem o princípio do pecado, nem o ato do pecado. João usa o tempo presente para destacar que, na vida de Cristo, nunca houve nem haverá pecado, nem na Terra nem no Céu. Jesus foi tentado, mas a tentação em si não contamina. O ser humano é contaminado quando cede à tentação. Nosso Salvador estava ciente das tentações que O pressionavam de todos os lados (Hb.4:15), mas nem por um momento permitiu que Seu pensamento se apartasse da vontade do Pai. O pecado O cercava constantemente e O oprimiu ao longo de Sua vida terrena; no entanto, não encontrou nenhum eco nEle (Jo.14:30). Jesus permaneceu imaculado. O Inocente foi feito pecado por nós (ver com. de 2Co.5:21). Ele foi contado como transgressor (Is.53:12) e tratado como o mais vil pecador, mas não por qualquer pecado Seu. |
1Jo.3:6 | 6. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. Todo aquele que permanece. Mais uma das declarações abrangentes de João (cf. 1Jo.2:23; 1Jo.3:4; 1Jo.3:9; 1Jo.3:15; 1Jo.4:15; 1Jo.5:1). “Permanece” pode sugerir o desejo e a disposição de ficar em união com Cristo. O verbo grego no presente significa continuidade. Esta frase trata da constante permanência em Cristo. Não vive pecando. Ou, “não continua a pecar”, ou “não peca habitualmente”, como implica a forma do verbo grego. O apóstolo se refere ao pecado habitual, não a erros ocasionais que qualquer cristão é propenso a cometer (ver com. de 1Jo.2:1). João sabe que os cristãos são induzidos a pecar (1Jo.1:8; 1Jo.1:10), mas também conhece o remédio para tais falhas (1Jo.1:9; 1Jo.2:1). Aqui, fala do estado ideal que é alcançável por aquele que permanece constantemente na presença protetora do Salvador sem pecado. Todo aquele que vive pecando. Ou seja, todo aquele que peca por costume. Não O viu. Aquele que continua a pecar demonstra que não conservou sua visão original de Cristo. Nem O conheceu. Ver com. de 1Jo.2:3. |
1Jo.3:7 | 7. Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Filhinhos. Ver com. de 1Jo.2:1. Enganar. Do gr. planao, “desencaminhar” (ver com. de Mt.18:12). Os gnósticos tentavam levar os leitores de João a se extraviar (ver p. 687, 688), especialmente no que diz respeito à importância de o cristão viver em retidão. O gnosticismo induzia à indiferença para com o pecado, e suas normas estavam muito abaixo das descritas por João no versículo anterior (1Jo.3:6). Pratica a justiça. Ver com. de 1Jo.2:29. É justo. É uma referência irrefutável a Cristo (cf. com. de 1Jo.2:29), a fonte de nossa justiça (ver com. de Je.23:6; Rm.3:22; Fp.3:9). Logo, aquele que permanece em Cristo possui um caráter semelhante ao dEle. |
1Jo.3:8 | 8. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Pratica o pecado. Ver com. do v. 1Jo.3:4. Do diabo. Ou, é filho do diabo e pratica a vontade do diabo (cf. Jo.8:44). Desde o princípio. Esta frase pode se referir tanto a (1) o início da oposição do diabo a Deus, isto é, desde o começo de seu pecado, pois ele peca continuamente; ou (2) o momento em que induziu Adão e Eva a pecar, isto é, desde o início do pecado humano, pois desde aquele tempo ele tem pecado sem cessar e levado outros a fazer o mesmo (ver com. de 1Jo.1:1). Para isto. Esta resolução é parte do “eterno propósito de Deus” (ver com. de Ef.3:11). Filho de Deus. Esta é a primeira vez em que João usa este título nesta epístola, porém já havia reconhecido a filiação divina de Cristo (1Jo.1:3; 1Jo.1:7; 1Jo.2:22-24) e continua a fazê-lo (1Jo.3:23; 1Jo.4:9-10; 1Jo.4:14), e em 1Jo.4:15; 1Jo.5:5; 1Jo.5:10; 1Jo.5:13; 1Jo.5:20 faz muitas outras referências ao Filho de Deus (sobre a filiação divina de Cristo, ver com. de Mt.1:1; Lc.1:35; Jo.1:1; Jo.1:14; ver também Nota Adicional a João 1; Jo.1:51). Manifestou. Do gr. phaneroo (ver com. do v. 1Jo.3:5). Uma clara referência à encarnação, o que implica a preexistência de Cristo como o eterno Filho de Deus (ver com. de Mq.5:2; Jo.1:1-3; ver vol. 5, p. 1013). Porém, o interesse de João aqui não é estabelecer a natureza de Cristo: ele se ocupa em explicar o propósito que levou o Filho de Deus a Se “fazer carne”. Destruir. Do gr. luo, “soltar”, “liberar”, “dissolver”, portanto, “romper”, “destruir” (comparar com o uso de luo em Mt.5:19; Jo.2:19; Jo.5:18; Jo.7:23). As obras do diabo. Essas “obras” incluem todo o mal que Satanás tem sempre feito no mundo e na criação de Deus, porém, esta referência particular pode ser aos pecados que o diabo fomenta na vida dos seres humanos. Cristo veio para libertar os homens da escravidão do pecado (ver com. de Mt.1:21), desfazendo a obra do maligno. |
1Jo.3:9 | 9. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. Todo aquele. O apóstolo usa outra vez esta expressão abrangente (cf. com. de Jo.3:16; 1Jo.3:4; 1Jo.3:6). O que ele diz se aplica a todos os que são “nascidos de Deus”. Nascido de Deus. Ver com. de 1Jo.2:29. Neste versículo, ao contrário do que diz em 1Jo.2:29, o autor trata de ser nascido do Pai. João é o único autor do NT que fala da experiência de ser “gerado” ou “nascido de Deus” (Jo.1:13; 1Jo.4:7; 1Jo.5:1; 1Jo.5:4; 1Jo.5:18). A forma do verbo grego mostra que ele se refere àqueles que são nascidos de Deus e continuam sendo Seus filhos. Inclui, portanto, todo cristão que não voltou para o mundo, negando o Senhor que o redimiu. Não vive na prática do pecado. Isto é, não continua a pecar ou não peca habitualmente. O tempo do verbo grego aqui é o mesmo do v. 1Jo.3:6 (ver com. ali). O apóstolo caracteriza aqueles que nasceram de Deus. Eles experimentam o novo nascimento, sua natureza é transformada, e se assemelham ao Pai celestial (ver com. de Jo.3:3-5; 1Jo.3:1). Odeiam o pecado que costumavam amar, e amam a virtude que antes desprezavam (ver com. de Rm.6:2; Rm.6:6; Rm.7:14-15). Não continuam escravos de seus antigos pecados, nem cometem habitualmente os antigos erros. O poder divino lhes deu a vitória sobre os pontos fracos e sempre está disponível para ajudá-los a vencer outras faltas que não teriam reconhecido previamente. Divina semente. Trata-se do princípio divino da vida que, implantado em um pecador, dá lugar ao nascimento do novo homem e produz o cristão. Essa “semente” divina habita no homem verdadeiramente convertido, garante energia espiritual e lhe permite sucesso para resistir ao pecado. Desse modo, João atribui a Deus o fato de que um cristão pode viver livre do pecado. O poder divino atua no íntimo do seu ser e, por essa razão, o cristão não continua no pecado. Não pode viver pecando. Ou, “não é capaz de continuar em pecado”, ou “não é capaz de pecar habitualmente”. Isso não significa que o cristão seja incapaz de cometer um ato errado. Se ele não fosse capaz de pecar, não haveria nenhuma virtude em ser sem pecado, e não haveria nenhum verdadeiro desenvolvimento do caráter. João já deu a entender que o cristão comete erros ocasionais (ver com. de 1Jo.2:1). A passagem significa que, tendo nascido de Deus e, tendo a habitação do poder vivificante de Deus, ele não pode continuar em sua antiga e crônica prática do pecado. Segue os ideais sem pecado que foram implantados em seu ser pelo novo nascimento. |
1Jo.3:10 | 10. Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão. Nisto. João inicia outra seção da epístola (v. 10-18). Suavemente, efetua a transição ao falar dos “filhos de Deus”, isto é, daqueles que são nascidos de Deus (1Jo.2:29-3:9). Passa a mostrar que os filhos de Deus amam uns aos outros, enquanto os servos do diabo odeiam seus irmãos. São manifestos. Aos homens, pois Deus não necessita ser informado acerca do caráter de Seus próprios filhos, e Ele conhece os que não Lhe pertencem. Filhos de Deus. Uma referência aos que foram “nascidos de Deus” (ver com. do v. 1Jo.3:9; Jo.1:12). Filhos do diabo. Ver com. do v. 1Jo.3:8. Não pratica a justiça. João apresenta o aspecto negativo da verdade já enunciada: “todo aquele que pratica a justiça é nascido dEIe” (ver com. de 1Jo.2:29). A verdade é expressa em forma positiva e negativa. Na conduta não há terreno neutro, pois quem não pratica a justiça está, em certa medida, praticando o mal e demonstrando que não é “de Deus” (isto é, “não provém de Deus”), pois sua motivação procede do diabo. Não ama. Os mestres gnósticos (ver p. 687, 688) acreditavam-se eleitos, mas não estendiam o amor fraternal aos seus companheiros. João mostra que o verdadeiro cristão não pode fazer menos do que amar seu irmão. |
1Jo.3:11 | 11. Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; A mensagem. Ver com. de 1Jo.1:5, em que o autor enuncia sua primeira mensagem, que trata da natureza de Deus. A partir deste versículo ele se ocupa da natureza do cristão e ensina que ela deve se basear no amor. Esse tema foi introduzido em 1Jo.2:7-11, e é enfatizado em seguida em termos ainda mais definidos. Desde o princípio. Comparar com 1Jo.2:7. Esta frase pode se referir ao início da experiência cristã dos leitores ou ao início da pregação do evangelho. Que nos amemos. Esta é a mensagem que João transmite aos seus leitores. É também o “novo mandamento” dado por Cristo aos Seus seguidores (ver com. de Jo.13:34-35). Sua importância é inquestionável, e a igreja deve colocá-la num lugar destacado entre suas normas, de modo que cada membro possa perceber que um de seus primeiros deveres cristãos é cultivar e expressar um amor sincero e prático pelos irmãos. |
1Jo.3:12 | 12. não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. Caim. Esta é a única referência direta nesta epístola a um incidente do AT. João apresenta Caim como o exemplo supremo da falta de amor fraternal. Pode-se notar que não se põe em dúvida a historicidade do assassinato de Abel por Caim. O apóstolo aceita a narrativa do Gênesis como genuína e analisa as motivações do ato de Caim (ver com. de Gn.4:8-15). Do maligno. Caim demonstrou ser filho do diabo, assim como um cristão pode provar ser um filho de Deus (cf. com. do v. 1Jo.3:10). Assassinou. Do gr. sphazo, “abateu”, “matou.” A palavra ocorre no NT só aqui e no Apocalipse (Ap.5:6; Ap.6:4). E por que [...]? Com esta pergunta João estimula seus leitores a examinar os motivos que impulsionaram Caim a assassinar Abel, e introduz uma explicação do ódio que o mundo sente pelos cristãos (v. 1Jo.3:13). Suas obras eram más. Nestas palavras temos um comentário inspirado da cena descrita em Gn.4:1-15. João enxerga além dos fatos e vê, no contraste entre as “obras” ou ações dos dois irmãos, a verdadeira causa do ódio e da inveja de Caim (cf. com. de Hb.11:4). Ações resultantes de pensamentos humanos servem como uma indicação do caráter, e parece que Caim revelou sua verdadeira natureza antes do ato culminante do assassinato. Não havia falha em Abel que pudesse desculpar ou explicar esse ato terrível. A humilde obediência de Abel a Deus despertou o ódio ciumento do seu irmão. A única ofensa de Abel foi praticar a justiça. A consciência de Caim condenou seu próprio modo de vida, e ele se viu confrontado com a escolha de reconhecer seu pecado ou destruir Abel, cuja obediência o fez tão consciente de sua própria pecaminosidade (PP, 74). Do mesmo modo agiram os líderes judeus ao condenar Jesus à morte. |
1Jo.3:13 | 13. Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia. Meus irmãos (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão de “meus”, como se fez na ARA. Possivelmente, João quisesse destacar o fato de compartilhar o sofrimento de seus leitores, devido à perseguição do mundo. Não vos maravilheis. Tendo em vista o contínuo registro do ódio dos ímpios para com os justos, os leitores de João não tinham motivo algum para se surpreender, se fossem objeto de ódio da parte de seus contemporâneos. Mundo. Ver com. de 1Jo.2:15. Odeia. Ver com. de Jo.15:18-25. |
1Jo.3:14 | 14. Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Nós sabemos. De acordo com a mútua afinidade de interesses sugerida no v. 1Jo.3:13, João se inclui com seus leitores e continua a fazê-lo (cf. v. 1Jo.3:16; 1Jo.3:18-19). Os cristãos têm um conhecimento interior que os mundanos não possuem. Esse conhecimento pode fortalecê-los e orientá-los numa conduta piedosa consistente. A natureza desse conhecimento é explicada na frase seguinte. Passamos. Do gr. metabaino, “passar [de um lugar para outro]”, “remover”, “partir”. A forma do verbo grego mostra que João se refere àqueles que haviam passado para uma nova experiência e permaneceram em sua nova esfera, da mesma maneira como os imigrantes se estabelecem permanentemente no país que escolheram para viver. Da morte para a vida. A presença dos artigos definidos antes de “morte” e “vida” indica esses dois estados como realidades exclusivas, e que todos os homens se encontram numa ou noutra. Por natureza, somos cidadãos do reino da morte (Ef.2:1-3), porém, o cristão, como resultado da dádiva de seu Mestre, passa para o reino da vida eterna (1Jo.5:11-12; ver com. de 1Jo.3:2). Amamos os irmãos. A expressão “amemos uns aos outros” é bastante frequente no NT (Jo.13:34; 1Pe.1:22; 1Jo.3:11). Porém, “amamos os irmãos” ocorre somente aqui e pode ter ampla interpretação. Aqueles que já passaram da morte para a vida não restringem suas afeições ao círculo mais próximo de seus relacionamentos, mas estendem seu amor a todos os irmãos na fé (cf. com de 1Pe.2:17). Essa ação demonstra que saíram do mundo da morte e entraram no reino da vida eterna. Eles já começaram a exercer as virtudes que serão eternamente deles, as quais são fundamentais para o reino dos céus. É importante que o cristão pratique a arte de amar seus irmãos, para que possa estar em harmonia com os princípios do reino para o qual está se preparando. Não ama a seu irmão (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão das palavras “seu irmão”, deixando a declaração mais geral, “aquele que não ama permanece na morte” (ARA), isso inclui, é claro, aqueles que não amam seus irmãos. A ausência de amor indica que a pessoa ainda está morta no pecado. Esta frase é um exemplo de correção habitual do apóstolo no negativo do que ele já disse de forma positiva (cf. com. de 1Jo.1:5). Se a demonstração do amor fraterno comprova a posse da vida eterna, a falta de amor prova que o indivíduo ainda não passou “para a vida”, mas permanece na “morte” original, da qual outros foram resgatados. |
1Jo.3:15 | 15. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si. Todo aquele. Ver com. do v. 1Jo.3:9. João tem tanta certeza da precisão de sua análise que pode empregar esta expressão que inclui a todos, pois sabe que é verdadeira. Odeia. A comparação com o v. 1Jo.3:14 mostra que “odiar” é sinônimo de “não amar”. A ausência de amor indica a presença do ódio. Aos olhos de Deus não há terreno neutro. Assassino. Do gr. anthropoktonos, literalmente, “homicida”. A palavra só ocorre aqui no NT e em Jo.8:44. João aponta com firmeza o resultado final do ódio. Há outras maneiras de matar sem tirar a vida de uma pessoa pela violência física. A calúnia ou a difamação podem desanimá-la, impedindo-a de desenvolver plenamente suas capacidades inatas, e, desse modo, se destrói parte da vida que ela poderia ter levado. Às vezes, ao sentir-se menosprezado por membros de boa reputação da igreja, pode ser suficiente para desanimar alguns e até mesmo levá-los a perder sua fé em Cristo, destruindo, assim, sua vida espiritual. Sabeis. O autor recorre ao conhecimento intuitivo de seus leitores. Não era preciso um profundo critério teológico para se chegar à conclusão de que um assassino não era candidato idôneo para a vida eterna. Se a prova das Escrituras fosse necessária, o Salvador havia afirmado que o homicídio se originou com o diabo (Jo.8:44), e Paulo havia escrito que os culpados de assassinato não herdariam o reino de Deus (Cl.5:21). Isso não significa que o assassinato e o ódio sejam pecados imperdoáveis, mas que não podemos entrar na vida se os acalentamos. Podemos ser lavados de todo o pecado (ver com. de 1Jo.1:9). Em si. A vida eterna permanece em nós sempre que Cristo habita no íntimo do nosso ser. Ele não pode morar num coração cheio de ódio, e “quem não tem o Filho cie Deus não tem a vida” (1Jo.5:11-12). |
1Jo.3:16 | 16. Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Nisto conhecemos. Ver com. de 1Jo.2:3; 1Jo.3:10. Embora o conhecimento do amor de Deus venha com um impacto especial na conversão, o entendimento desse amor continua a crescer e se aprofundar com o passar dos anos. O amor. Não há aqui as palavras “de Deus”, no texto grego. Não há necessidade de uma nova descrição de “amor”, já que o sacrifício de Cristo revelou a fonte divina de todo o amor genuíno. Deu. Ver Jo.10:11; Jo.10:17-18. Vida. Do gr. psuche (ver com. de Mt.10:28). Por nós. Ele, o reconhecido Rei do universo, deu a Sua própria vida inestimávelmente preciosa em favor de miseráveis pecadores. Ao longo da eternidade, o ato de Deus dar Seu filho (Jo.3:16) continuará a nos ensinar mais e mais das profundezas do amor infinito (CBV, 466). Nós. O pronome é enfático no grego. Devemos. Do gr. opheilo (ver com. de 1Jo.2:6). Nós, que fomos redimidos pelo sacrifício do Salvador, temos a obrigação moral de seguir Seu exemplo, se necessário, até entregando nossa vida. Pelos irmãos. Ou, “em favor dos irmãos”. João anima seus leitores a promover o amor que fará o sacrifício supremo, quando necessário (Jo.13:37; Jo.15:13). Cristo fora muito mais longe, pois aqueles pelos quais Ele morreu não eram, então, “irmãos”, mas Seus inimigos (ver com. de Rm.5:8). |
1Jo.3:17 | 17. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Ora. João muda o tema da morte pelos irmãos para os sacrifícios menores que com frequência se requerem de nós, devido às necessidades de nossos irmãos na fé. Recursos deste mundo. Literalmente, a “subsistência” material. A palavra traduzida como “recursos” (bios, ver com. de 1Jo.2:16) denota os meios de subsistência, necessidades, em vez de luxos. O fato de pertencerem ao mundo não significa que sejam maus, mas que estão conectados somente com este mundo. Vir. Do gr. theoreo, “ser um espectador”, “observar”, “perceber” (comparar com o uso da palavra em Mc.15:40; Lc.23:85). O que o irmão egoísta faz ou se recusa a fazer é resultado de propósito deliberado e não da falta de reflexão. Ele tem o suficiente para suprir suas necessidades e está ciente de que seu irmão na fé possui pouco ou nada. Coração. Ver com. de 2Co.6:12; Fp.1:8. As entranhas e o coração eram considerados a sede das emoções mais profundas. A frase seria mais bem traduzida hoje como: “próximo ao coração”. Nele. Uma descrição de alguém virando as costas deliberadamente a um irmão em necessidade. Como [...]? É impossível dizer que o amor de Deus habita em alguém que é indiferente às necessidades dos outros. Se o amor estiver ausente, Cristo está ausente. O cristão só de nome não tem a vida eterna. |
1Jo.3:18 | 18. Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade. Filhinhos. Do gr. teknia (ver com. de 1Jo.2:1). Não amemos. É possível dar um sentido contínuo a esta frase “não vamos continuar amando”, como se os leitores de João estivessem amando apenas em palavra e precisassem parar com uma farsa. Porém, é mais provável que o apóstolo estivesse fazendo uma exortação simples para que seus irmãos praticassem o amor verdadeiro e evitassem a atitude hipócrita implícita (v. 1Jo.3:17). De palavra. Não há mal algum em amar na palavra, se o objeto do afeto não tiver necessidade de uma ajuda mais ativa. O amor expresso por palavras escolhidas é louvável. Mas João desencoraja o amor que se limita a palavras, quando são necessárias ações úteis (comparar com Tg.2:15-16). De fato e de verdade. Há os que praticam boas ações, sem sentir afeto real pelas pessoas que estão ajudando. Eles podem estar agindo somente por um senso de dever ou um desejo de ganhar o louvor das pessoas. Por isso, João destaca a necessidade do amor genuíno. Nossos atos de amor devem ser inspirados por uma verdadeira afeição por outros, especialmente por aqueles que precisam. |
1Jo.3:19 | 19. E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos o nosso coração; E nisto conheceremos. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão de “e” tornando, assim, o versículo em harmonia com a construção habitual de João (cf. com. do v. 1Jo.3:16). Evidências textuais também favorecem a variante “conheceremos”. Ao contrário das construções semelhantes (1Jo.2:3; 1Jo.3:10; 1Jo.3:16), “nisto”, aparentemente, refere-se ao v. 1Jo.3:18. O autor quer dizer que, quando se pratica o preceito aqui enunciado, notamos convicção naquele que fala. Quando amamos de fato e de verdade, estamos seguros da realidade da nossa conversão. Então, nossos frutos nos fazem saber que nossa profissão de fé é genuína (Mt.7:16-20). Da verdade. Comparar com a referência à “verdade” no v. 1Jo.3:18. Aqueles que amam em obras e em verdade são filhos da verdade. Tranquilizaremos. Do gr. peitho, aqui ou “persuadir” ou “acalmar”. A convicção de que nascemos de Deus dá a confiança que tranquiliza o coração e nos capacita a ir a Deus, apesar de nossa pecaminosidade. Nosso coração. Em outras palavras, “nossa consciência” (cf. com. de Mt.5:8). Perante Ele. É fácil tranquilizar o coração, quando o exame é realizado à luz de padrões humanos, mas estar na presença de Deus e ainda ter um coração tranquilo é outro assunto. No entanto, João nos assegura que isso é possível. Ouanto mais nos aproximamos de Deus, mais nos tornamos conscientes de nossas imperfeições e mais necessidade temos de confiar nos méritos do Salvador (ver 1Jo.2:1-2). Se amamos os irmãos de fato e de verdade, sabemos que somos da verdade, e porque somos da verdade, podemos nos apresentar sem temor diante do Pai celestial. |
1Jo.3:20 | 20. pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas. Pois, se. Comentaristas têm encontrado dificuldade em estabelecer uma ligação, entre os v. 19 e 20, bem como em explicar o significado do v. 20. Na paráfrase a seguir, se apresenta o que, segundo parece, deve ser o significado dos v. 19 e 20: “Se amamos verdadeiramente o nosso irmão, podemos saber que somos filhos da verdade, ou de Deus. Esse conhecimento nos capacitará a permanecer confiantes na presença de Deus, pois, mesmo que nosso coração nos condene (pois ainda somos pecadores), sabemos que Deus é maior do que o nosso coração. O conhecimento e a compreensão do Senhor superam em muito os nossos, e Ele pode perceber nossa sinceridade e ser compassivo com os erros que cometemos. Acusar. A autocondenação desnecessária tem prejudicado a experiência de muitos cristãos. Muitos dependem de seu discernimento moral para determinar sua condição espiritual e não compreendem que seus conceitos são um critério insatisfatório para qualificar o estado de sua saúde espiritual. João consola seus leitores ao desviar sua atenção de uma concentração mórbida na própria debilidade, para uma contemplação da altura e da profundidade do amor de Deus. Deus é maior. A percepção da consciência de Deus pode ter dois efeitos: aterrorizar o coração culpado, ou trazer consolo ao pecador contrito. O autor tem procurado animar seus leitores ao longo de todo este capítulo (v. 1Jo.3:1-3; 1Jo.3:5; 1Jo.3:9; 1Jo.3:11; 1Jo.3:16; 1Jo.3:18), e é razoável supor que tenha o mesmo propósito positivo aqui. Para o cristão genuíno é reconfortante o pensamento da onisciência de Deus. |
1Jo.3:21 | 21. Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus; Amados. Ver com. do v. 1Jo.3:2. Não nos acusar. É bom lembrar que essas palavras foram dirigidas aos que tinham sido instruídos “desde o princípio” (1Jo.2:7), cujos pecados foram perdoados (1Jo.2:12), que conheceram o Pai (1Jo.2:13) e que tinham sido aceitos como filhos de Deus (1Jo.3:1-2). Uma suposta vã autoconfiança por parte dos cristãos menos maduros seria, no caso dos leitores de João, um reconhecimento da misericórdia redentora de Deus. Confiança. Do gr. parresia (ver com. de 1Jo.2:28). O contexto (1Jo.3:23) mostra que se faz referência, em primeiro lugar, à forma pela qual que nos achegamos a Deus em oração, mas o apóstolo também pode ter em mente nossa atitude perante o Juiz de toda a Terra. No que diz respeito à oração, não há nada de presunção nas petições do crente confiante. Podemos abrir o coração a Deus em oração, como a um amigo sincero e confiável (CC, 93). Diante de Deus. O pecador redimido pode, como filho de Deus, chegar tão livremente à presença do Pai, como o Salvador fazia (Jo.16:23). |
1Jo.3:22 | 22. e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável. E aquilo. No v. 1Jo.3:21, João estabelece as condições prévias para que se cumpra o que é exposto no v. 22. Aquele que ora precisa ter uma consciência clara, com a consequente liberdade para chegar a Deus, antes de apresentar seus pedidos. João, então, declara que o crente cumpre duas outras condições: (1) guarda os mandamentos de Deus e (2) faz as coisas que agradam a Deus. Quando o cristão cumpre esses requisitos, pode reivindicar o cumprimento do que o apóstolo assegura neste versículo (sobre as condições para a resposta às orações, ver com. de Mt.7:7; Lc.11:9; Jo.14:13; Jo.15:16). Pedimos. Os leitores de João conheciam bem a forma cristã de orar e sabiam como pedir em nome de Cristo (ver com. de Jo.14:13). Recebemos. Cada oração que cumpre as condições aqui apresentadas recebe uma rápida resposta. A aparente demora pode surgir por várias causas: (1) A resposta à petição pode ser um “não”, e nesse caso talvez não se receba nenhuma resposta tangível. Podemos ter pedido a coisa errada, e a sabedoria divina vê que não seria melhor deferir o pedido. Assim foi com Paulo, com o espinho em sua carne, depois de três fervorosas orações por libertação (ver com. de 2Co.12:7-9). (2) A resposta pode ser: “espere”, porque ainda não estamos preparados para receber aquilo que pedimos, ou porque as circunstâncias ainda não são favoráveis para a resposta. Daniel teve que esperar até que a oposição fosse vencida, antes que pudesse saber a respeito do futuro (Dn.10:12-14). Porém, nesses casos, a decisão divina é tomada de antemão, e a ação começa imediatamente para garantir que a resposta seja dada no devido tempo. Por vezes, a resposta é um “sim” imediato. Isso ocorre em todos os pedidos de ajuda espiritual. Quando pedimos perdão, poder sobre o pecado, um coração puro, sabedoria, podemos acreditar que nossas orações têm sido respondidas, assim agradecemos ao Senhor por Sua resposta. Então, devemos agir na certeza de que recebemos o poder solicitado (ver com. de Tg.1:5-6; Ed, 258). Guardamos Seus mandamentos. O pecado, que é a desobediência aos mandamentos de Deus (ver com. do v. 1Jo.3:4), levanta uma barreira entre o homem e Deus (ver com. de Is.59:1-2), impede que as orações ascendam ao Céu e incapacita o homem para receber as respostas que Deus pode ter preparado. A obediência à vontade de Deus, que se revela em Seus mandamentos, é de suma importância na questão da oração respondida. Essa obediência é possível por meio do poder divino prometido ao filho de Deus. E fazemos. A segunda condição adicional. Temos que fazer algo mais do que guardar os mandamentos de Deus, ou evitar a transgressão da lei. É necessário que continuemos fazendo as coisas que agradam a Deus. Devemos viver uma vida cristã ativa, lembrando-nos da ordem: “sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste” (ver com. de Mt.5:48; Fp.3:12-15). DEle. Isto é, de Deus. Agradável. O cristão sempre deseja fazer as coisas que Deus declarou boas ou adequadas, e se abstém de praticar o que Deus considera prejudicial. Essa foi uma das regras que orientaram a vida do Salvador (Jo.8:29). Quando observamos a mesma regra em nossa vida, podemos esperar mais respostas positivas às nossas orações. |
1Jo.3:23 | 23. Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou. Seu mandamento é este. João define, em parte, “os Seus mandamentos” (v. 1Jo.3:22) e usa a forma singular, pois sua definição se refere a uma lei que abrange tudo: a lei de crer e amar (ver com. de Mt.22:36-40). Creiamos em o nome. Com relação a esta frase, ver com. de Jo.1:7; Jo.1:12; At.3:16; At.10:43. Este é o primeiro uso, nesta epístola, do verbo “crer”, mas o verbo grego ocorre nove vezes na epístola e desempenha um papel importante na mensagem que João apresenta mais à frente. O apóstolo emprega o verbo 100 vezes em seu evangelho. Seu Filho, Jesus Cristo. Quanto à filiação divina de Jesus, ver com. de Lc.1:35; sobre o título “Jesus Cristo”, ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5. Paulo usa o mesmo título composto (Rm.1:3; 1Co.1:9). João condensa aqui a essência da doutrina cristã em poucas palavras (cf. com. de 1Jo.1:3; 1Jo.5:20), para que seus leitores possam compreender os elementos indispensáveis à crença cristã. Crer na pessoa descrita neste admirável nome composto [“Jesus” e “Cristo”] é reconhecer a divindade de Jesus, Sua humanidade, Sua vitória sobre o pecado e a morte, e também é reconhecer a possibilidade de ganharmos a mesma vitória pelos mesmos meios que o Salvador empregou e coloca ao nosso alcance. Amemos uns aos outros. Para João, assim como para seu Mestre, os requisitos de Deus se resumem à lei do amor (ver com. do v. 1Jo.3:11). O amor é o elemento ativo que se une à fé no nome de Jesus. A fé deve estar acompanhada das obras (Tg.2:17). Segundo. Ou, “como”. João, nos versículos finais deste capítulo, molda conscientemente seus pensamentos aos ensinos do seu Senhor (ver com. de Jo.13:34-35). É necessário que nos amemos uns aos outros do mesmo modo que Cristo nos disse para amar (Mt.22:39). Quando os apóstolos expandiram as instruções do Salvador, deram mais detalhes sobre como devemos amar uns aos outros: com um coração puro, fervorosamente, em um espírito de bondade, preferindo uns aos outros afetuosamente, perdoando uns aos outros como nós fomos perdoados (Rm.12:10; Ef.4:32; 1Pe.1:22). Que nos ordenou. Aquele que guarda os mandamentos de Deus tem o privilégio de permanecer nEle, de morar com Ele. O profeta Amós ilustra em forma de pergunta: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Am.3:3). Ninguém pode habitar com Deus enquanto vive quebrantando a expressa vontade divina; contudo, aquele que está disposto a fazer a vontade de Deus pode permanecer sempre com o Todo-Poderoso. |
1Jo.3:24 | 24. E aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu. O mandamento. Ou, os mandamentos de Deus (ver com. de 1Jo.2:3). Se guardamos os mandamentos de Deus, temos confiança de que receberemos dEle o que Lhe pedimos (1Jo.3:22) e, como resultado, temos íntima comunhão com Deus. Permanece em Deus. A permanência é sempre mútua (ver Jo.15:4-5). Aquele que deseja permanecer com Deus pode estar seguro de que Deus sempre tem desejado permanecer com ele. Porém, a pessoa deve mostrar que está em harmonia com o Senhor, guardando Seus mandamentos. E nisto. Uma referência antecipada ao dom do Espírito mencionado no final do versículo. A presença do Espírito na vida do cristão é uma prova de que Deus permanece nele, pois Deus habita no ser humano mediante o Espírito (Rm.8:9; Rm.8:11; Rm.8:14-16; 1Co.3:16). Um pensamento quase idêntico é expresso em 1Jo.4:13. Pelo Espírito. O apóstolo João não utiliza em suas epístolas nem no Apocalipse o termo “Espírito Santo”, embora fale da terceira pessoa da Trindade. Que. Ou, “a quem” (ver com. de Rm.8:16). Ele nos deu. Ou, “outorgou”, pois João se refere ao tempo quando os crentes receberam pela primeira vez o Espírito Santo. Em Jo.14:16 se esclarece que o Pai deu o Espírito, embora o Filho coopere ao enviar a terceira pessoa do trio celestial, (cf. Jo.16:7). |
1Jo.4:1 | 1. Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Amados. Ver com. de 1Jo.3:2. Não deis crédito. Ou, “deixai de acreditar”, como também poderia ser traduzido do grego. O texto indica que muitos estavam dando ouvidos a diversos espíritos. Espírito. O apóstolo exortou seus leitores a que comprovassem o que se lhes dizia, que não fossem crédulos e que não aceitassem toda manifestação espiritual como províncias de Deus. Parece que eles estavam sob a influência de homens que alegavam autoridade divina para ensinar o que não era verdade. Como bom pastor, o apóstolo adverte seu rebanho contra enganos sutis. A natureza do engano se revela no v. 1Jo.4:3. Provai. Do gr. dokimazo (ver com. de Rm.2:18; Fp.1:10; sobre o substantivo relacionado dokime, ver com. de Rm.5:4; 2Co.9:13). Deus não espera que os cristãos sejam crédulos. Ele confere à igreja o dom de distinguir entre verdadeiros e falsos espíritos (ver com. de 1Co.12:10). As mensagens dos mestres que asseguram ter a aprovação divina devem ser provadas por meio da Palavra de Deus. Os bereanos, de bom grado, escutaram Paulo, mas estudaram as Escrituras para verificar se o apóstolo lhes ensinara a verdade (ver com. de At.17:11). Paulo aconselhou seus outros conversos a agir da mesma forma (ver com. de 1Ts.5:21). De Deus. Literalmente, “procede de Deus” (cf. 1Jo.3:10) ou tem sua origem nEle. Porque. João apresenta a razão para seu conselho e cita exemplos com os quais seus leitores estavam familiarizados. Falsos profetas. Ver com. de Mt.24:11; Mt.24:24-26; ver também com. de Mt.7:15. É evidente que João se refere a falsos mestres que podem ser identificados ou, pelo menos, relacionados com os anticristos já mencionados (1Jo.2:18-22) e com os falsos apóstolos (Ap.2:2). Tem saído. Ou, “tem se levantado”, e sua influência ainda se faz sentir. Observa-se também que o escritor usa o verbo “sair” em um sentido diferente do empregado 1Jo.2:19 (ver com. ali), em que a apostasia está implícita. Aqui ele apenas afirma o fato de falsos profetas aparecerem (sobre outras evidências no NT de que os falsos profetas eram ativos durante os dias de João, ver At.13:6; Ap.2:2). Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de 1Jo.2:15). Mundo significa, aqui, uma distribuição ordenada de coisas e pessoas. Não parece que se apresenta o mesmo contraste que se estabelece entre a igreja e o mundo (1Jo.2:15-17), pois os falsos mestres estavam ativos dentro e fora da igreja. |
1Jo.4:2 | 2. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; Nisto. Referência que antecipa a prova que se apresenta no final do versículo (cf. com. de 1Jo.2:3). Reconheceis. O modo do verbo grego pode ser traduzido como imperativo, “conhecei”, ou como um indicativo, “conheceis”. O estilo de João favorece a segunda opção (comparar com 1Jo.2:3; 1Jo.2:5; Jo.3:16). O apóstolo apela ao conhecimento que os crentes têm, em vez de instar para que obtenham esse conhecimento. Espírito de Deus. Esta é a única ocorrência deste título nos escritos de João. A forma idêntica no grego (cf. 1Co.2:14; 1Co.3:16) é rara no NT. João espera que os cristãos identifiquem por experiência o Espírito que vem de Deus. Nenhuma pretensão de autoridade ou origem divina deve ser aceita para qualquer ensino, sem que antes seja provada. As Escrituras proporcionam uma norma fidedigna para provar todo ensino, pois cada mensagem divinamente inspirada se harmonizará com o que o Senhor já revelou (ver com. de 2Pe.1:20-21). Todo espírito. As palavras de João são abrangentes. Ele está pronto a reconhecer a “todo espírito” que preenche as devidas condições. Confessa. Do gr. homologeo (ver com. de 1Jo.1:9; Mt.10:32). Este verbo parece ter um duplo significado (1) reconhecer a verdade da doutrina da encarnação do Filho de Deus e (2) revelar na vida o efeito da crença nessa doutrina. A plena interpretação exige mais do que aceitar um ensino verbalmente: exige a vida plena de Cristo. Jesus Cristo. Ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5; 1Jo.2:22; 1Jo.3:23. Veio. O pretérito perfeito do verbo grego indica que Cristo existiu antes de Se tornar um homem. De seu estado anterior, Ele veio à Terra. A forma do verbo grego pode ser entendida como significando que o Salvador não veio temporariamente em carne e, em seguida, deixou-a, mas que Ele ainda mantém a natureza humana, bem como a divina. É um representante humano no Céu, ainda que divino, pois é membro da Trindade (ver com. de Jo.1:14; ver vol. 5, p. 1013, 1014). Em carne. Alguns dos que negavam a humanidade de Cristo asseguravam que o Verbo se unira ao Jesus homem no batismo, e o havia deixado antes da crucifixão. João identifica essa ideia como heresia. Em cada etapa da história do mundo tem havido uma verdade presente a ser ressaltada, mas essa verdade presente tem variado através dos tempos. Os judeus que se converteram depois do Pentecostes precisavam aceitar Jesus como o Messias esperado, a fim de se tornarem cristãos, pois o ponto essencial era reconhecer a divindade de Cristo. Poucos anos depois, os gnósticos começaram a negar não a divindade, mas a humanidade do Salvador. Eles acreditavam que os deuses se manifestavam aos homens de várias maneiras, mas negaram que “o Verbo se fez carne” (ver p. 687, 688). Por isso, a ênfase de João na encarnação tinha um significado peculiar para os dias em que ele viveu. Porém, a verdade que ele enuncia necessita sempre receber ênfase e, mais do que nunca, em nossos dias. O fato de que o Filho de Deus Se fez homem para salvar os seres humanos deve ser ensinado, em especial nestes tempos em que as pessoas tentam eliminar o elemento milagroso com explicações racionais (ver com. de Mt.1:23; Lc.1:35). Precisamos estar conscientes da encarnação para nos lembrar de que o Deus que possibilitou esse milagre é bem capaz de realizar qualquer milagre necessário para nossa salvação. Nossa aceitação de Seus planos e nossa adesão à Sua orientação pode ser uma confissão de nossa crença de que “Jesus Cristo veio em carne”. Esse testemunho não pode ser apoiado sem o auxílio divino, pois “ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1Co.12:3). É de Deus. Literalmente, “procede de Deus” (ver com. do v. 1Jo.4:1). Aquele que confessa que Jesus Cristo veio em carne demonstra a origem divina do espírito que opera nele. |
1Jo.4:3 | 3. e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Não confessa. João apresenta outra prova, desta vez em forma negativa, para discernir entre os verdadeiros e os falsos mestres. Ele vê apenas duas classes: aqueles que confessam ou não a Cristo. Jesus Cristo (ARC). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão de “Cristo” e da expressão “veio em carne”. A frase então seria: “todo espírito que não confessa a Jesus” (ARA), de maneira que se coloca ênfase sobre a confissão ou aceitação de uma pessoa e não de um credo. As variantes textuais não representam uma mudança significativa no significado da passagem, pois de todos os modos se referem aos mestres que não glorificavam ao Jesus divino-humano. Não procede de Deus. Ver com. dos v. 1Jo.4:1-2. Não há terreno neutro no grande conflito. Aqueles que ouvem a proclamação da mensagem da divindade e humanidade de Cristo, e que deliberadamente rejeitam e se opõem ao ensino da encarnação, pertencem ao maligno e estão sob seu controle, não importando quão livres eles possam se sentir (ver com. de Mt.12:30; 1Jo.3:10). Este. Aquele que não confessa a Jesus. É o espírito. A palavra “espírito” não se encontra no texto grego. O pronome neutro touto, traduzido por “este”, refere-se ao substantivo neutro pneuma, “espírito”. A palavra “espírito” pode ser interpretada aqui como (1) o espírito que habita no anticristo não confessa a Jesus, ou (2) a não confissão de Jesus é uma característica típica do anticristo. Talvez ambos os significados sejam válidos. Anticristo. Ver com. de 1Jo.2:18-23. Tendes ouvido. O apóstolo lembra seus leitores de que eles já foram instruídos sobre muito do que ele diz (cf. com. de 1Jo.2:18). Que vem. Literalmente, “ele está chegando” (comparar com 1Jo.2:18). A frase que se segue mostra que João usa o tempo presente do verbo para lembrar os crentes que a profecia sobre o anticristo já estava em cumprimento. |
1Jo.4:4 | 4. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Filhinhos. Ver com. de 1Jo.2:1. Vós. O uso deste pronome é enfático no grego. Destaca o contraste entre os crentes a quem João escreve e os falsos mestres que acaba de mencionar (v. 1Jo.4:3). As linhas de batalha já estavam delineadas. Os leitores de João estão do lado de Cristo, enquanto aqueles que não apoiam com firmeza o que é correto estão do lado do inimigo, mesmo que não assumam abertamente sua posição sob a bandeira do erro. De Deus. Ver com. de 1Jo.3:9-10; 1Jo.4:1-2. Tendes vencido. Do gr. nikao (ver com. de 1Jo.2:13). Ao escrever aos jovens (1Jo.2:13-14), João reconhece: “tendes vencido o maligno”. Aqui ele se refere à derrota dos falsos profetas pelos crentes. Ele não revela como eles obtiveram a vitória, mas relaciona isso a pertencer a Deus. Seu relacionamento íntimo com o Pai lhes permitiu rejeitar as doutrinas dos falsos mestres. Eles já haviam recebido a unção divina que lhes dava o verdadeiro conhecimento (1Jo.2:20; 1Jo.2:27) e, então, tinham usado essa unção na sua luta contra a falsidade. Vitórias semelhantes são possíveis para todos os filhos de Deus. Maior é aquele. O apóstolo revela a razão básica para a vitória do cristão. Deus permanece no crente (1Jo.2:14; 1Jo.3:24) e o torna potencialmente mais forte do que qualquer adversário. Precisamos sempre nos lembrar deste fato e agir na confiança espiritual que produz essa experiência em nós. Aquele que está no mundo. Ou, o diabo (cf. com. de Jo.12:31; Jo.16:33; PR, 175, 513; GC, 530). Seria de esperar João dizer “neles”, isto é, nos falsos mestres, em vez de “no mundo”, mas ele usa o termo mais amplo, pois o espírito desses falsos profetas é o mesmo espírito egoísta de Satanás, que prevalece no mundo. Ao apresentar a verdade mais geral, ele torna ainda mais claro o contraste entre o poder ilimitado de Deus e os recursos limitados do autor da mentira. |
1Jo.4:5 | 5. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Eles. Este pronome é enfático no grego (comparar com a ênfase dada ao pronome “vós” no v. 1Jo.4:4; ver com. ali). A referência é aos falsos profetas, cujos ensinamentos eram usados pelo enganador Satanás para ganhar o controle da igreja cristã. Eles procedem do mundo. Literalmente, “eles falam do mundo”, não que falem sobre o mundo, mas a fonte de sua inspiração é o mundo. Por serem eles mesmos uma parte do mundo e terem sido educados em inimizade real para com Deus, não podem deixar de falar “do mundo”. Só quando nascerem de novo e pertencerem à família de Deus e não à família do mundo, poderá se esperar que falem de outra forma. Da parte do mundo. Comparar com a frase contrastante “de Deus”, literalmente, “da parte de Deus” (v. 1Jo.4:1-2). Embora os falsos mestres afirmem falar por Deus e ter uma mensagem para a igreja, a fonte de sua inspiração é Satanás, e sua forma de trabalho é típica do governante do mundo caído. O mundo os ouve. É muito natural que o mundo escute com agrado aqueles que se identificam com ele e que se agradam com o discurso dos falsos mestres. Em geral, é muito agradável ouvir filosofias que estejam de acordo com o próprio pensamento. |
1Jo.4:6 | 6. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. Nós somos. O pronome é enfático como “vós” e “eles” nos v. 1Jo.4:4-5. Depois de já ter dito que os crentes são “de Deus” (v. 1Jo.4:4), o apóstolo não exagera quando aplica a mesma descrição a si mesmo e a seus colaboradores. Aquele que conhece a Deus. Esta descrição corresponde ao “que é de Deus”, mas enfatiza o aspecto de um relacionamento pessoal com Ele. Nos ouve. Há harmonia natural entre os mestres que “são de Deus” e aqueles que conhecem a Deus. Os ouvintes ouvem ansiosamente a instrução que vem de quem já conhece profundamente o Pai. Ao lembrar seus leitores desta verdade, João também registra um teste da genuinidade da profissão, pois os cristãos que conhecem a Deus ouvem atentamente Seus verdadeiros mensageiros. Não é da parte de Deus. Ver com. do v. 1Jo.4:3. Não nos ouve. Se um homem resistir ao poder convincente do Espírito, é pouco provável que ouça um servo de Deus. Se a resistência for consciente e determinada, essas pessoas, muitas vezes, nem mesmo permitem que o servo de Deus fale com elas, e os rejeitam como rejeitaram o Espírito. Por isso, não há muito que possa ser feito diretamente por elas (ver com. de 1Co.2:14). Porém, há muitos que têm sido enganados em resistir à verdade sem ter ideia da gravidade do que fazem. Os sofismas de Satanás obscureceram tanto seu discernimento que a verdade de Deus parece uma fábula. No entanto, muito pode ser feito por eles. A demonstração dos resultados da crença cristã na vida daqueles que são “de Deus” poderá, muitas vezes, despertar interesse. Especialmente, a confiança tranquila dos que são verdadeiramente convertidos apela àqueles que reconhecem que o futuro, segundo o apresentam os sábios do mundo, carece de esperança. Nisto. Parece preferível falar “nisto”, em relação ao conteúdo do v. 6, em vez, de aplicá-lo aos v. 1Jo.4:4-6, embora a prova estabelecida possa ser aplicada ao contexto mais amplo, sem distorcer o que João quis dizer. A natureza do espírito que domina uma pessoa pode ser discernida pela forma como ela reage aos ensinos dos verdadeiros servos de Deus. Reconhecemos. Isto pode se referir a mestres apostólicos, aos leitores ou a ambos os grupos. O espírito da verdade. Muitos acreditam que é uma referência ao Espírito Santo, o Espírito de Deus (cf. v. 1Jo.4:2; cf. com. de Jo.14:17), já que João, neste capítulo, trata a respeito dos espíritos opostos (v. 1Jo.4:1-3). O Espírito Santo é a fonte do impulso dos crentes para buscar a verdade. Os crentes comparam os ensinos com as verdades que já foram ensinadas pelo Espírito, podendo assim reconhecer o que é correto. As ovelhas reconhecem a voz do Bom Pastor (Jo.10:27). Outros acreditam que o “espírito da verdade” se refere de modo mais geral à atitude interior que motiva aqueles que pregam a verdade (cf. com. de Rm.8:15). O espírito. Se esta for tomada como antítese de “espírito da verdade”, pode ser considerada como o espírito de Satanás, ou o espírito do anticristo, ou a atitude daqueles que propagam o erro (cf. com. de Rm.8:15). Erro. Do gr. plane, “vagar”, “errar” (ver com. de Mt.18:12). É possível errar por ignorância, mas o espírito do erro procura deliberadamente levar as pessoas a se desviar do caminho da verdade. |
1Jo.4:7 | 7. Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Amados. João introduz outra fase de seu tema (cf. v. 1Jo.4:1). A transição do tema sobre o discernimento dos espíritos para a necessidade de amor pode parecer abrupta, mas, na realidade, não é assim, pois o apóstolo continua a discutir as características daqueles que são “de Deus” (v. 1Jo.4:2). A capacidade de identificar falsos mestres é necessária para aqueles que são nascidos de Deus, mas João agora mostra que o amor também é essencial. Como a confissão ou a negação da realidade da encarnação é o teste-chave no plano da crença (v. 1Jo.4:2-3), de modo que a presença ou a ausência de amor genuíno seja a prova da qualidade moral de quem professa ser de Deus, pois o Espírito de Deus e o espírito de ódio não podem coexistir no mesmo coração. Amemo-nos uns aos outros. Ver com. de 1Jo.3:11. É impressionante a relação entre “amados” e “amemo-nos uns aos outros”. Sua força se destaca mais com a tradução “amados, amai-vos uns aos outros”. Aqueles a quem João se dirige são amados por seus ministros e, por sua vez, são convidados a retribuir o amor que recebem e compartilhá-lo com outras pessoas. Como podemos amar pessoas pelas quais não somos naturalmente atraídos? Aqueles a quem devemos amar nem sempre parecem dignos de amor, e é fácil nos afastarmos deles e dedicar nosso carinho àqueles que são compatíveis conosco. Deus e Cristo nos deixaram exemplos de amor universal (ver com. de Mt.5:43-45; Jo.3:16; Rm.5:8), e Eles darão a Seus seguidores a graça de amar todas as pessoas, até mesmo as aparentemente indignas de amor. Orar por aqueles a quem não amamos fortalece o amor de Deus em nosso coração e desperta um interesse no bem-estar alheio. À medida que aprendemos mais sobre Deus, o conhecimento acelera o entendimento; o entendimento, a simpatia; e a simpatia, o amor. Assim, podemos aprender a amar o outro, mesmo quando parece muito difícil fazê-lo (sobre esse tipo de amor, ver com. de Mt.5:43-44). O amor procede de Deus. Esta é a razão que João dá para fundamentar seu apelo em favor do amor fraternal. Todo amor verdadeiro é derivado de Deus, que é a única fonte de amor. Todos os que são de Deus (ver com. do v. 1Jo.4:2) devem, em razão da sua origem divina, mostrar o amor que vem de seu pai. Todo aquele. Ou, “quem” (cf. com. de 1Jo.3:6). Ama. Ou, “continua a amar.” João não sugere que o ato de amar produz o novo nascimento, pois isso seria como esperar que o fruto produzisse a árvore que o deu, e seria contrário aos ensinamentos sobre o novo nascimento, como registrado pelo apóstolo (ver com. de Jo.3:3-5). Em vez disso, ele afirma que todo aquele que continua a amar demonstra que nasceu de novo. É nascido de Deus. Ou, “é de Deus” (ver com. de 1Jo.2:29; 1Jo.3:9). Somente os que são nascidos de Deus podem amar no sentido cristão do termo. Conhece a Deus. Ver com. de 1Jo.2:3-4. |
1Jo.4:8 | 8. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Não ama. Outra das formas negativas de João precedida por uma declaração positiva (cf. com. de 1Jo.1:5-6). O cristão que afirma conhecer a Deus, mas não ama seus irmãos, vive uma mentira (cf. 1Jo.2:4; 1Jo.2:9; 1Jo.3:6). Não conhece. Ou, “não sabe, de fato”, “não chegou a saber”, “nunca conheceu a Deus”. É impossível chegar ao conhecimento de Deus sem começar a amar nossos semelhantes (ver com. de 1Jo.3:10-11). João poderia ter dito que aquele que não ama não é nascido de Deus, mas escolheu destacar o fato de que tal pessoa não O tenha sequer conhecido. Deus é amor. A construção grega não torna “Deus” e “amor” idênticos, como outras traduções parecem fazer. Em vez disso, o amor é apresentado como uma qualidade essencial ou atributo de Deus. A prova decisiva de que uma pessoa que “não ama” não tem conhecimento de Deus está contida na frase “Deus é amor”. Aquele que não ama, prova que não está familiarizado com a qualidade básica da natureza divina. Em sua declaração simples, porém sublime, João atinge o auge da crença cristã. Para os pagãos, se existe uma divindade suprema, é um ser com pouco interesse em seus adoradores, enquanto os espíritos malignos estão sempre por perto; assim, eles ignoram o Deus do Céu e buscam aplacar os demônios. Em certas religiões orientais, Deus é um espírito que permeia tudo, indiferente às necessidades humanas, e a esperança se centra em que a pessoa se anule em um “não-ser” universal. O cristão nominal, muitas vezes, vê Deus como um tirano irritado que precisa ser aplacado com orações e penitências ou súplicas de seus filhos. Os antigos judeus, às vezes, pensavam em Deus como se fosse uma divindade tribal que favorecia apenas Seu povo, e criam que o Senhor tinha formas ampliadas de suas próprias ambições egoístas e crueldades. Muitos viam a Deus revelado nas Sagradas Escrituras, porém, com frequência, não obtinham uma verdadeira compreensão da natureza divina. Quando o Filho de Deus veio ao mundo, não puderam compreender que Deus é amor. A informação de que Deus é amor é uma revelação, pois a humanidade nunca poderia descobri-la por si mesma. A revelação é de suprema importância para o bem-estar humano. Quanto a Deus ser um “espírito” (Jo.4:24), é importante, mas não diz nada sobre a possibilidade de termos um relacionamento feliz com Ele. Que “Deus é luz” (1Jo.1:5) é intelectualmente satisfatório, mas a ideia de um ser imaculado e que tudo vê pode incutir medo em vez de conforto, pois à luz do que somos, que bem Deus pode encontrar em nós? Mas quando aprendemos que Deus é amor, o medo é substituído pela confiança e nos colocamos confiantemente nas mãos do nosso Pai celestial, sabendo que Ele cuidará de nós (1Pe.5:7). O fato de Deus ser amor também implica que não houve nem haverá tempo em que Ele não foi ou não será amor. Sua natureza nunca muda (ver com. de Tg.1:17), o amor tem sido Sua qualidade dominante no passado e continuará a ser no futuro. Podemos provar por nós mesmos, pois, como diz Charles Wesley, ao falar de sua relação com Deus: “Toda a eternidade para provar que Tua Natureza e Teu Nome é Amor” (The Oxford Book of Christian Verse, p. 332). A afirmação de que Deus é amor é de valor infinito para a compreensão do plano de salvação. Só o Amor poderia dar o livre-arbítrio para as Suas criaturas e correr o risco de incorrer no sofrimento que o pecado trouxe para a divindade e os anjos, assim como aos homens caídos. Somente o Amor estaria interessado em conquistar o serviço voluntário alegre daqueles que eram livres para seguir seu caminho. Quando o pecado entrou, somente o Amor poderia ter a paciência e a vontade de elaborar um plano que permitiria ao universo chegar a uma compreensão plena dos fatos básicos do grande conflito entre o bem e o mal, e, assim, prevenir o surgimento de qualquer novo levante de egoísmo e ódio. Na guerra contra o pecado, Deus, sendo amor em essência, pode usar somente a verdade e o amor, enquanto Satanás emprega mentiras ardilosas e força cruel. Só o Amor poderia inspirar o plano que permitiria ao Filho resgatar a raça humana da culpa e do poder do pecado, primeiro através de Sua vida terrena, morte e ressurreição, e, em seguida, tornar-Se o Cabeça de uma nova raça e sem pecado (cf. com. do v. 1Jo.4:9). Por Sua própria natureza, Deus foi impelido a conceber e levar a cabo este plano incrível (Jo.3:16). |
1Jo.4:9 | 9. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto. A frase se refere ao que se segue e não ao anterior. Manifestou. Comparar com 1Jo.1:2; 1Jo.3:5. O Seu amor. Ou, o amor de Deus, como o contexto mostra. Em nós. Ou, “para conosco” (ARC). Enviado. Literalmente, “foi enviado”. A forma do verbo grego apresenta o ato de enviar, como no passado, mas com efeito de permanência. Significativamente, os resultados do envio são permanentes para Cristo, pois Ele continua a ser um de nós (ver com. de Jo.1:14, ver vol. 5, p. 1013, 1014, 1257-1264). O envio não foi o de um pai pedindo ao filho para empreender uma missão difícil, pois o sacrifício de Cristo foi voluntário (ver com. de Jo.10:17-18; ver DTN, 22, 23). De bom grado, Ele Se comprometeu a Se tornar homem e morrer pelos pecadores (ver SI.40:8; Fp.2:5-8; Ap.13:8; PP, 63: DTN, 23). Filho unigênito. Do gr. monogenes (ver com. de Jo.1:14). Monogenes, como é aplicado ao Filho, ocorre somente nos escritos de João e, portanto, é uma evidência de que o evangelho e a epístola têm o mesmo autor (ver p. 685). Ao mundo. O Filho de Deus não tentou salvar o ser humano a distância. Ele desceu ao ambiente humano, embora ainda mantivesse conexão com o Céu (ver com. de Jo.1:9-10). Ele estava no mundo, mas nunca foi “do mundo”, assim como não devemos ser (Jo.17:14; 1Jo.4:4-5). Vivermos. Este é o grande propósito para o qual Deus enviou Seu Filho ao mundo (cf. com. de Jo.3:16; Jo.10:10). Em seu evangelho, João emprega a frase “ter vida”, em vez do verbo “viver”, como aqui, mas a variação na fraseologia não implica diferença de sentido. Por meio dEle. Toda a vida deriva de Cristo (ver com. de Jo.1:3; Cl.1:16-17; Hb.1:3). Nada tem vida sem Cristo. Mas, em um sentido especial, o cristão vive “por meio dEle”, a única vida que tem valor permanente, a vida eterna, somente se obtém por meio de Jesus (cf. com. de Jo.10:10; 1Jo.5:11-12). |
1Jo.4:10 | 10. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nisto. Ver com. do v. 1Jo.4:9. A palavra se refere ao que segue. O amor. A sublimidade do conceito de amor de João dificilmente pode ser exagerada. Ele vê o amor como o maior de todos os princípios, ele vê que o próprio Deus é amor (v. 1Jo.4:8). Portanto, quando o apóstolo trata de dar um exemplo de amor, por meio de definição, ele se volta para a maior ilustração possível, o imensurável amor de Deus pelo homem. Não em que nós tenhamos amado. O pronome acrescenta ênfase no texto grego e está em contraste com o pronome “Ele”, que também é enfático. João não nega que seus leitores houvessem amado a Deus; o que ele destaca é a inadequação do amor humano para ilustrar seu alto conceito de amor. O amor do ser humano por Deus não causa admiração, pois é uma resposta natural à incrível afeição que o Senhor derramou sobre a raça humana (ver v. 1Jo.4:19). Ele nos amou. O “Ele” é enfático. A maravilha do amor divino reside na iniciativa divina de nos amar. Não houve uma influência externa para persuadi-Lo a amar a humanidade: o impulso veio inteiramente de dentro de Si mesmo. A consideração por parte daqueles a quem o amor foi dado faz com que o amor seja ainda mais surpreendente, pois a raça humana não tem nada que a recomende à benevolência divina, além da sua extrema necessidade. No entanto, a partir de outro ponto de vista, o grande ato de Deus não deve causar nenhuma surpresa, pois João já havia explicado que Deus é amor (v. 1Jo.4:8) e que, ao conhecermos a natureza de Deus, esperamos, naturalmente, que Ele manifeste Seu atributo supremo ao lidar com a rebeldia humana (cf. com. de Rm.5:8). Enviou o Seu Filho. Ver com. do v. 1Jo.4:9. O verbo aqui utilizado está no aoristo, significando um ato completo, de enviar, em contraste com o empregado no v. 1Jo.4:9, que se refere ao ato e a seus resultados contínuos. Propiciação. Do gr. hilasmos (ver com. de 1Jo.2:2). Pelos nossos pecados. Literalmente, “a respeito de nossos pecados” (ver com. de 1Jo.2:2). |
1Jo.4:11 | 11. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Amados. Esta é a última ocorrência deste termo afetuoso na epístola. É empregado aqui para introduzir uma declaração importante (comparar o uso do termo em 1Jo.3:2; 1Jo.3:21; 1Jo.4:1; 1Jo.4:7). De tal maneira nos amou. Comparar com Jo.3:16. João não expressa alguma dúvida de que Deus nos ama, mas chama a atenção para a extensão infinita do Seu amor e da maneira como foi demonstrado, com o propósito de incentivar seus leitores a imitar o exemplo divino. Devemos. Do gr. opheilo (ver com. de 1Jo.2:6). Nós. O pronome é enfático no grego (cf. com. do v. 1Jo.4:10). Amar uns aos outros. Ver com. de 1Jo.3:11. Nós, que estamos cientes da magnitude incomparável do amor de Deus por nós, somos compelidos a imitar esse amor em relação aos nossos semelhantes. Posto que Deus nos amou assim, indignos como somos, não deveríamos amar nosso irmão, indigno quanto possa parecer? Recusar amar um irmão, que não é pior do que nós aos olhos do Senhor, é se colocar na posição do devedor ingrato que, perdoado de grande dívida a qual nunca poderia pagar, saiu e atacou um companheiro que lhe devia pequena quantia (ver com. de Mt.18:23-35). Somos instados a compartilhar um amor mútuo, e esse amor aumenta à medida que cada irmão procura ajudar o outro. Quanto mais dispostos estivermos de colocar os outros em primeiro lugar (Rm.12:10) e “dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo.3:16), mais parecidos com Deus nos tornamos, e nosso amor se assemelha mais ao dEle. Perto do fechamento da porta da graça, mudanças notáveis ocorrerão entre o povo de Deus. Os corações se ligarão uns aos outros em amor semelhante ao amor de Deus por nós, e permanecerão firmes e corajosos diante dos seus inimigos (TM, 186, 187). |
1Jo.4:12 | 12. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado. Ninguém jamais viu a Deus. Ver com. de Jo.1:18. No texto grego, a palavra “Deus” não está precedida por artigo, o que indica que João pensou na natureza e no caráter da divindade, não em Sua personalidade. A palavra para “viu” é diferente nas duas passagens. No evangelho, João usa horao, termo genérico para “ver”; na epístola utiliza o verbo theaomai, “ver com atenção”, “contemplar” (ver com. de 1Jo.1:1). Se amarmos. João explica no evangelho que somente o Filho pode revelar o Pai, porque só Ele entre os homens já tinha visto a divindade. O apóstolo nos diz aqui que, embora não possamos ver a Deus, ao exercer o amor fraternal, podemos ter o Deus invisível habitando em nosso coração. Permanece. Do gr. meno (ver com. de 1Jo.2:6). Deus tem um lar permanente no coração que ama de verdade. Que forma melhor pode haver de adquirir um conhecimento pessoal do Senhor do que tê-Lo como hóspede permanente em nosso coração? O desejo de uma visão física da divindade assume um lugar secundário, quando o Senhor, na verdade, habita com o crente. Seu amor. Ou seja, o amor de Deus. Isto pode se referir tanto ao amor do homem por Deus quanto ao amor de Deus pelo homem (ver com. de 1Jo.2:5). Os comentaristas estão divididos quanto ao significado exato. Aperfeiçoado. Ver com. de 1Jo.2:5. O enunciado completo, “Seu amor é, em nós, aperfeiçoado”, é aberto a mais de uma interpretação. Pode ser tomado no sentido de: (1) a operação do amor redentor de Deus é perfeitamente demonstrada na vida transformada do crente; ou (2) o mesmo amor que Deus mostrou ao homem é exemplificado na vida de quem ama seus irmãos: ou (3) o nosso amor por Deus é perfeito quando amamos nossos irmãos. Esse é o segundo dos dois aperfeiçoamentos discutidos por João. O primeiro (1Jo.2:5) se refere àqueles que guardam a palavra de Cristo. |
1Jo.4:13 | 13. Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito. Nisto. Ou, “nisso”. Conhecemos. João indica um sinal pelo qual podemos reconhecer que Deus atua em nós, ou seja, “se amarmos uns aos outros”. Recorre, então, a mais um sinal que vai dar a certeza de que temos um lar permanente em Deus e que Ele nos fez templos aptos para Sua habitação. À medida que podemos ver esse sinal atuando em nossa vida, devemos estar sempre cientes, por experiência, que o Deus invisível habita em nós pelo Seu Espírito. Permanecemos nEle. Ver com. de 1Jo.2:28. Em que nos deu. A frase completa diz literalmente, “por causa do Seu Espírito, Ele nos deu” (ver com. de 1Jo.3:24). O que determina se recebemos o Espírito e se o Espírito é capaz de nos usar é a nossa entrega à Sua orientação. Nosso Salvador deixou-Se guiar pelo Espírito em tudo o que fez (ver com. de. Mt.3:16; Mt.4:1; Lc.4:18). Ele podia dizer que não agia de Si mesmo, mas pelo Pai através do Espírito Santo (ver Jo.5:19; Jo.5:30; Jo.14:10), portanto, recebeu o Espírito Santo sem medida (ver com. de Jo.3:34). Assim como o Pai deu o Espírito para capacitar o Filho durante Sua vida na Terra, Deus também nos dará o Espírito. Mas temos um papel a desempenhar, temos de estar dispostos a receber o Espírito Santo e ser sensíveis ao Seu controle. A não ser que a vontade esteja presente em nós, o dom de Deus será em vão. Os cristãos a quem João escreveu já tinham aberto o coração para receber o dom de Deus e continuaram a experimentar as bênçãos que vêm com a presença do Espírito. Se seguirmos seu exemplo, podemos estar seguros de desfrutar a mesma agradável experiência. |
1Jo.4:14 | 14. E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. Nós. Ou, o grupo apostólico (cf. com. do v. 1Jo.4:6), aqueles que pessoalmente tinham visto Aquele a quem o Pai enviou. O pronome acrescenta ênfase no grego. Temos visto. Do gr. theaomai, “ver com atenção”, “contemplar” (ver com. do v. 1Jo.4:12; ver também o com. de 1Jo.1:1, em que o verbo traduzido é “ver”). A flexão do verbo grego indica os resultados permanentes de uma ação passada. Os apóstolos nunca esqueceram a revelação de Deus que eles haviam testemunhado em Jesus Cristo. Embora jamais tivessem visto a Deus (v. 1Jo.4:12), viram Seu Filho, o que era suficiente. Testemunhamos. Ou, “estamos testemunhando” (cf. com. de 1Jo.1:2). Ao assim fazer, João e seus companheiros de ministério cumpriam a ordem do seu Mestre (At.1:8). A igreja cristã foi edificada, em grande parte, sobre o testemunho dos discípulos que haviam estudado a natureza de Deus como foi revelada na vida do Salvador e tinham comparado a vida de Cristo com as profecias do AT a respeito do Messias. Na igreja apostólica havia muitos que tinham sido convertidos pelo próprio trabalho do Salvador, outros aceitaram a fé através do testemunho no Pentecostes; muitos mais creram por causa do testemunho posterior dos apóstolos, porém, um número ainda maior, incluindo nós mesmos, temos dependido espiritualmente do testemunho escrito que se encontra no NT. O Pai enviou. A forma do verbo no grego é a mesma do v. 1Jo.4:9 (ver com. ali). Como Salvador. As palavras “para ser” são dadas, e a frase diz corretamente, “o Pai enviou Seu Filho, [para ser] o Salvador do mundo”. Jesus não Se tornou o Salvador por ser enviado, mas era o Salvador tanto antes como depois da encarnação. Apesar de tudo o que João tem a dizer sobre a obra redentora de Cristo, a palavra “Salvador” ocorre somente mais uma vez em seus escritos (Jo.4:42) e também está acompanhada das palavras “do mundo” (sobre o significado de “Salvador”, ver com. de Mt.1:21). Do mundo. Isto é, as pessoas no mundo, embora, ao final, a obra de Cristo incluirá a renovação da Terra (Ap.21:1; Ap.21:5). A morte do Salvador possibilitou a salvação de todas as pessoas de todas as nações (Jo.3:16-17; Jo.12:32). O resultado de Seu sacrifício não se limita à era cristã. Cristo é o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap.13:8; Gn.3:15; Gn.4:3-4; Gn.22:13; Nm.21:9). Ele é o Salvador de todos os que serão resgatados, não importa o tempo em que possam ter vivido. |
1Jo.4:15 | 15. Aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele, em Deus. Aquele que. Ver com. de Jo.3:16; 1Jo.3:4; 1Jo.3:6; Ap.22:17. Confessar. Ou, “confessa” (ver com. do v. 1Jo.4:2). Jesus. João usa o nome terrestre do Salvador porque deseja que seus leitores reconheçam Jesus de Nazaré como o Filho de Deus (ver com. de 1Jo.1:3; 1Jo.3:23). Filho de Deus. Ver com. de Lc.1:35; Jo.1:14. Deus permanece. Não apenas somos “de Deus” (v. 1Jo.4:2) quando confessamos o Salvador, mas Deus “permanece” em nosso coração e nós permanecemos nEle. Assim, a confissão de Jesus pelo crente constitui uma prova ainda maior pela qual pode saber que Deus habita nele (cf. v. 1Jo.4:12-13; 1Jo.2:5), e ele, em Deus. A conexão entre os v. 1Jo.4:14-15 reside no fato de que a confissão da filiação divina de Jesus pelo crente depende do testemunho dos apóstolos, pois eles haviam testemunhado a vida terrena de Cristo. Nunca vimos Jesus, a não ser com os olhos da fé nas páginas da Sagrada Escritura. Porém, nosso testemunho pessoal de Sua divindade, com base na realidade de nossa própria comunhão com Deus, influirá mais para ganhar outros (a fim de que compartilhem a mesma alegria), do que a apresentação mais hábil de razões doutrinárias. É claro que nossa vida deve estar em conformidade com a nossa elevada profissão de fé, se esperamos que tenha valor para os outros, pois a mesma constância da nossa comunhão com o Pai garantirá que sempre se verá Cristo em nós (Gl.2:20). O tipo de comunhão possível foi demonstrada por nosso Senhor. Ele estava sempre em estreita comunhão com Deus e constantemente rendia Sua vontade à do Pai e, conscientemente, procurava fazer Sua vontade (ver com. do SI.40:8). Em nosso caso, essa experiência é intermitente, porque poucos de nós aprendemos a entregar nossa vontade constantemente. Estamos propensos a retirar nossa vida das mãos do Salvador e romper o vínculo que nos une ao Pai. Satanás compreende bem o imenso valor que essa comunhão direta com os seres celestiais tem para o ser humano. Por isso, ele trabalha arduamente para nos roubar o privilégio que perdeu há muito tempo (Ap.12:7-10). Porém, devemos estar conscientes de seus sofismas e resistir a seus esforços para nos separar de Deus. Desde que o ato de professar Jesus Cristo é um sinal de que Deus permanece no ser humano, a quebra da comunhão com Ele é uma negação do Salvador. Quando O negamos, deixamos de usufruir de Sua missão como nosso Advogado (Mt.10:32-33). |
1Jo.4:16 | 16. E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. E nós. O pronome pode se referir aos que são mencionados no v. 1Jo.4:14, ou ao grupo apostólico que, em contraste com o universal “aqueles que” (v. 1Jo.4:15), já confirmados como cristãos por muitos anos. Devido à sua experiência estabelecida, o testemunho do grupo merece consideração e respeito. Conhecemos e cremos. A segurança que se expressa com estas palavras indica que João e seus companheiros não só tinham conhecido e acreditado, mas que continuavam a fazê-lo. Há necessidade de crer e de conhecer, pois ambos são essenciais na vida cristã. Devemos conhecer a Deus antes que possamos crer nEle. Temos de aprender sobre o plano de salvação antes que possamos confiar nossa vida eterna a ele. Além disso, tanto o conhecimento como a crença podem se aprofundar progressivamente. Quando acreditamos que aprendemos, estamos prontos a aprender mais e acreditar nisso também. Assim, nem sempre a tarefa é completa. Vamos continuar a aprender mais e acreditar mais, e nunca vamos entender totalmente as insondáveis profundezas do amor de Deus pelo ser humano. Tem por nós. Ou, “tem em nós”. A forma do verbo grego enfatiza a continuidade do amor de Deus para com Seus filhos. A preposição “em” indica que estamos na esfera em que o amor de Deus é revelado. Um cristão consagrado é a demonstração mais persuasiva do fruto do amor de Deus. O amor de Deus, depois de ter operado nele, transformou um pecador em um santo. Tal amor milagroso não pode deixar de ser reconhecido por seu receptor, bem como pelas testemunhas de seu poder transformador. Assim, o amor de Deus é conhecido e crido por meio de Seus filhos fiéis. Deus é amor. Ver com. do v. 1Jo.4:8. A identificação está relacionada aqui com uma declaração positiva, enquanto no v. 1Jo.4:8 segue uma declaração negativa. A verdade de que Deus é amor é a base constante do raciocínio de João, a qual condiciona suas afirmações categóricas. Permanece no amor. Sempre que nos mantivermos na atmosfera de amor, atuamos naturalmente na presença de Deus. Porque vivemos no amor, vivemos em Deus, que é amor (v. 1Jo.4:8). Permanecer no âmbito do amor a Deus e aos seres humanos, mesmo em face de influências contrárias, apela para a resistência espiritual que pode ser sustentada apenas pela constante comunhão com o Senhor (sobre a dificuldade de se manter sempre a comunhão necessária entre nós e Deus, ver com. do v. 1Jo.4:15). E Deus, nele. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “Deus está nele”. Todos os que provaram as alegrias do relacionamento com o Deus do amor sabem que a recompensa supera o esforço. Satanás também sabe disso e é inteligente o suficiente para não negar diretamente seu valor. Em vez disso, ele pinta com cores brilhantes muitas coisas boas, porém menos importantes, e nos leva a centrar nossos pensamentos nisso, mesmo que apenas por um breve momento. Desse modo, já que ele pode desviar nossa atenção de Deus, com frequência consegue conduzir a mente a pensamentos nocivos quanto a nós mesmos e aos outros. Antes de conhecer ou até mesmo perceber o perigo, estamos abrigando ressentimentos. O resultado é que tanto o amor como Deus têm sido eliminados do nosso coração. É uma técnica antiga, mas ainda muito bem-sucedida. Nossa melhor defesa consiste em concentrar cada dia a mente nas bênçãos que temos recebido das mãos de Deus (SI.63:6; Sl.139:17-18). A memória do que Deus fez por nós, do que a comunhão com Ele significou, também é fortalecida quando contamos aos outros as nossas alegrias. Tais testemunhos encorajam nossos irmãos e fortalecem nossa determinação de manter a conexão entre nós e o Céu (Ml.3:16; CBV, 100). |
1Jo.4:17 | 17. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. Nisto. Esta frase pode se referir ao v. 1Jo.4:16 ou pode antecipar a oração “para que tenhamos confiança”. Ambas as interpretações são possíveis, porém o estilo de João nesta epístola favorece a segunda. Em nós [...] o amor. Literalmente, “o amor conosco”. Pode se referir ao amor de Deus por nós ou ao nosso amor por Deus. Ambas as interpretações se aperfeiçoam no “conosco”, ou seja, em nossas vidas transformadas. Se “nisto” remete ao v. 1Jo.4:16, esta interpretação de “conosco” concorda com a ideia de habitação no amor. Se, porém, “nisto” se refere ao que vem em seguida, é possível que João quisesse dizer que, em nosso caso, o amor é aperfeiçoado quando enfrentarmos com confiança o dia do julgamento. Aperfeiçoado. Do gr. teleioo (ver com. de 1Jo.2:5). Do Dia do Juízo. Esta é a única passagem do NT em que ocorre esta expressão com dois artigos, em grego. O efeito dos artigos é salientar que tanto é um dia (“o dia”) ou um tempo definido e que há um grande julgamento (“o juízo”) em que todos os casos são considerados e decididos. As duas fases do trabalho de julgamento (ver com. de Ap.14:7; Ap.20:11-15) não estão sob consideração aqui. João estava à espera de comparecer perante o tribunal de Cristo (cf. com. de 2Co.5:10), e seu propósito era que seus leitores também se preparassem para essa hora terrível (ver com. de At.17:31; 2Pe.2:9). Mantenhamos. Referência a um dos grandes propósitos do amor. O amor de Deus pelo ser humano e o amor do ser humano por Deus têm como objetivo comum a preparação do ser humano para enfrentar o dia do juízo com confiança. A norma de juízo é a lei (Tg.2:12), e o amor é o cumprimento da lei (Rm.13:10), portanto, o aperfeiçoamento do nosso amor é um processo essencial e indispensável. Confiança. Do gr. parresia (ver com. de 1Jo.2:28). Pois. Assinala a razão definitiva para a confiança do cristão, quando confrontado com o pensamento do dia do juízo. Ele pode ter confiança, pois é semelhante a Cristo. Ele. Do gr. ekeinos, “aquele [um]”. Quando aplicado a pessoas, esse pronome uniformemente se refere a Cristo nesta epístola (1Jo.2:6; 1Jo.3:3; 1Jo.3:5; 1Jo.3:7; 1Jo.3:16), e essa é a intenção clara aqui, embora o contexto imediato sugira uma referência a Deus Pai. O pensamento de Cristo acudiu à mente de João devido à obra do Salvador em relação ao juízo (ver com. de Jo.5:22; Jo.5:27; Rm.2:16). Também nós somos. João já havia salientado a semelhança do cristão com o Salvador (ver com. de 1Jo.3:1-3), e novamente destaca a semelhança, a fim de proporcionar segurança aos seus leitores, tendo em conta que estes não poderiam evitar o juízo. Aqueles que são verdadeiramente semelhantes ao Juiz, não precisam temer o juízo. A segurança não está nas próprias realizações imperfeitas, mas no caráter impecável e no sacrifício propiciatório de Cristo, seu Salvador (ver com. de Fp.3:9; Tt.3:5). Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de 1Jo.2:15). Embora o pensamento de João tenha chegado ao dia do juízo, ele está principalmente preocupado com a conduta do cristão neste mundo. Tão firmemente como qualquer escritor do NT, ele se recusa a adiar a semelhança com Cristo para um futuro indefinido, mas insiste na possibilidade de ser uma realidade presente (ver com. de 1Jo.3:2; 1Jo.3:9). João declara que, assim como Jesus é eternamente justo em Sua esfera, podemos ser justos em nossas condições atuais. A expressão “neste mundo” implica o caráter temporário da nossa estada aqui, mas sugere que devemos ser representantes de Cristo enquanto vivermos na Terra. Deve-se observar, no entanto, que essa descrição do nosso ser como Cristo no mundo está condicionada a nossa permanência no amor e em Deus (v. 1Jo.4:16). É o amor que nos liga ao Mestre que nos torna semelhantes a Ele (1Jo.2:7-10; 1Jo.3:10-18). Alguns creem que essa descrição não pode ser aplicada aos membros da igreja, pois ninguém permanece continuamente no âmbito do amor altruísta. Argumentam que essa descrição só pode ser aplicada à igreja como um todo. No entanto, até que todos os membros permaneçam no amor, a igreja não pode, como um todo, ser como Cristo no mundo. É a pessoa que, individualmente, pode ser habitada ou inspirada por Deus e guiada por Ele. É por meio de tais pessoas que o Senhor edifica a Sua igreja na Terra (Ef.2:19-22). |
1Jo.4:18 | 18. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Não existe medo. João se refere aqui ao medo covarde (ver com. de Rm.8:15) e não ao “temor do Senhor” desejável que todos os crentes possuem (ver com. de At.9:31; 2Co.5:11; 2Co.7:1). O medo é o oposto de “ousadia” (1Jo.4:17) e não terá lugar na mente do cristão. Como Allan E. Brooke diz ao comentar este versículo: “O medo, que é essencialmente egoísta, não tem lugar no amor, que em sua perfeição envolve completamente a autorrendição. Os dois não podem existir lado a lado” (The International Critical Commentary, The Johannine Epistles, p. 124, 125). Antes, o perfeito amor. Ou, “por outro lado, o amor perfeito”. A palavra “amor” ocorre três vezes neste versículo. O apóstolo fala do amor cristão que já foi aperfeiçoado (v. 1Jo.4:17). Lança fora. O amor perfeito, que está centrado em Deus, não pode tolerar o temor servil, e não precisa dele, pois “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (ver com. de Rm.8:31-39). Aquele que verdadeiramente ama não tem medo de Deus e não precisa temer as artimanhas dos homens (Mt.10:28; Hb.3:6). Tormento. Do gr. kolasis, “correção”, “castigo”, “pena”. O medo, decorrente de uma vida passada de forma errada, traz a sua própria punição imediata, para além de qualquer penalidade que o futuro possa nos reservar (cf. com. de Hb.10:26-27). Aquele que teme. A referência é ao temor que é fruto da impiedade, e não ao temor reverente que os verdadeiros adoradores sentem por seu Criador. Não é aperfeiçoado. Como não há temor no amor, quem teme demonstra que ainda não está aperfeiçoado no supremo amor do qual o apóstolo fala. Felizmente, o desenvolvimento é possível. À medida que aprendemos a conhecer o Senhor, começamos a amá-Lo, e nosso temor muda de um medo apavorante de um Deus poderoso e vingador para um temor “límpido” (SI.19:9), de quem não quer decepcionar um amigo. Quanto mais crescemos no amor, menos tememos. Quando o amor está perfeitamente desenvolvido e livre de todo traço egoísta, cessa o medo de Deus e do homem. Não tememos a Deus, porque sabemos que Ele é amor. Não tememos o homem, pois sabemos que o amoroso Senhor não permite nada que não seja para o nosso bem final; Ele está sempre conosco nas provações e nos perigos (Is.43:1-7; Rm.8:28; Ed, 255). |
1Jo.4:19 | 19. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. O (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a omissão deste pronome. A frase em seguida diz: “nós amamos”, uma declaração mais ampla e talvez mais importante do que “nós O amamos”. Amar alguém que já nos ama não é incomum, mas João afirma que o amor de Deus por nós resultou não só no nosso amor recíproco por Ele, o que é natural, mas também em uma atitude geral de amor de nossa parte. Amaremos continuamente a Deus e a todas as criaturas, devido ao imenso amor divino que temos experimentado em nossas vidas. Primeiro. Deus é o originador de todo bem (Tg.1:17), e ninguém exerce qualquer boa qualidade que não proceda do Senhor. Se Deus não tivesse nos amado primeiro, não seríamos capazes de amar. Teríamos sido abandonados no pecado e sentiríamos ódio em vez de afeição. João nunca deixa de se maravilhar com a primazia do amor de seu Pai celestial e quer tornar seus leitores igualmente conscientes de sua admiração (cf. Rm.5:8; 2Co.5:18-19). |
1Jo.4:20 | 20. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Se alguém disser. João emprega novamente esta frase hipotética com a qual suaviza as repreensões implícitas (ver com. de 1Jo.1:6). Poderia também estar se referindo aos falsos mestres (cf. com. de 1Jo.2:4). Amo a Deus. É fácil fazer esta afirmação verbal, mas o apóstolo mostra que é igualmente fácil colocar à prova a verdade dela. Fazer profissão de fé com palavras é natural e necessário (cf. Rm.10:9), mas não é suficiente. Essa profissão deve ser comprovada pela atitude em relação aos semelhantes. Um exame da qualidade do amor de uma pessoa por seus irmãos revelará muito a respeito da autenticidade do seu amor a Deus. Odiar seu irmão. João mostra o que ele quer dizer quando utiliza o verbo “odiar”, como equivalente de “não amar”, na segunda metade do versículo. Em outras passagens da Bíblia, com frequência, odiar significa preferir a si mesmo acima do outro, ou amar o próximo menos do que se deve amá-lo (ver com. de Lc.14:26). É mentiroso. João dá um teste simples pelo qual podemos saber se amamos a Deus. Se falhamos no teste, mas insistimos em que temos sido aprovados, somos deliberadamente mentirosos (ver com. de 1Jo.2:4). Que não ama. Este é o equivalente a odiar, que é a forma ativa de não amar (ver com. de 1Jo.3:14-15). A quem vê. Para a mente humana finita é muito mais fácil amar o que pode ser visto do que o invisível. Como pode [...]?(ARC) Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a expressão “não pode amar” (ARA). Aquele que não experimentar a menor afeição por seu irmão não pode esperar alcançar o sentimento mais sublime de amar ao Deus invisível. Por outro lado, aquele que ama seu irmão ajuda-se a amar a Deus, pois pratica o atributo essencialmente característico de Deus (1Jo.4:8). Isso não significa que o amor pelas pessoas seja o primeiro em importância, ou até mesmo o primeiro em sequência. Se Deus, que é amor, não permanece em nós, não podemos amar nosso irmão. Por isso, é mais importante amar a Deus do que amar um irmão. Porém, João argumenta que não podemos ter o maior sem o menor, nem o menor sem o maior. Amamos a Deus e as pessoas, mas nosso amor é mais facilmente provado por nossas atitudes com os seres humanos do que por nossa conduta em relação a Deus. A quem não vê. Ver com. do v. 1Jo.4:12. |
1Jo.4:21 | 21. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão. Da parte dEle. Em seu contexto imediato, esta frase parece se referir a Deus, mas, nesta epístola, João, com frequência, menciona o Filho desta maneira (ver com. de 1Jo.2:27). O fato de João recorrer à autoridade de um mandamento específico de Cristo pode ser comparado ao de Paulo em seu conselho aos coríntios em relação a determinados problemas que afetam o casamento. Em um exemplo, ele diz: “E isso vos digo como concessão” e em outro, “ordeno, não eu, mas o Senhor” (ver com. de 1Co.7:6; 1Co.7:10). Este mandamento. O escritor acaba de demonstrar que aquele que não ama a seu irmão não pode amar a Deus (v. 1Jo.4:20). Então, expressa seu pensamento (cf. 1Jo.1:5-6) de forma positiva, referindo-se a um mandamento específico. Embora a Bíblia não contenha nenhum mandamento na forma citada, é provável que João esteja se referindo à definição do primeiro e do segundo mandamentos (Mc.12:29-31; comparar com Dt.6:4-5; Lv.19:18). Ele também pode ter citado por memória a instrução do Salvador (Jo.13:35; Jo.15:12; Jo.15:17). Ame também seu irmão. O apóstolo mostrou que odiar a um irmão e amar a Deus são coisas incompatíveis (v. 1Jo.4:20). O autor destaca aqui que o amor pelas pessoas é o cumprimento da ordem de Deus por parte dos que O amam. |
1Jo.5:1 | 1. Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. Todo aquele. Ver com. de 1Jo.3:4; 1Jo.3:6. Que crê. Os v. 1 a 12 tratam da fé que produz vitória e vida eterna. O verbo “crer”, até este versículo, ocorreu somente três vezes nesta epístola (1Jo.3:23; 1Jo.4:1; 1Jo.4:16), porém aqui, ocupa uma posição-chave no pensamento do autor. Ocorre sete vezes neste capítulo (aqui, e nos v. 1Jo.5:5; 1Jo.5:10; 1Jo.5:13). Em contraste, a palavra “amor” ou “amar” é utilizada 50 vezes. A forma substantiva (“amor”) ocorre pela última vez no v. 1Jo.5:3. O Cristo. “O Ungido”, ou “o Messias” (ver com. de Mt.1:1). Acreditar que o homem Jesus de Nazaré também é o Messias é aceitar o plano de salvação (ver com. de 1Jo.3:23; 1Jo.4:2; 1Jo.4:15). A negação da divindade de Jesus é um dos sinais de heresia (ver com. de 1Jo.2:22). É nascido de Deus. Ou, “nasceu de Deus” (ver com. de 1Jo.2:29; 1Jo.3:9). Todo aquele. Ou, “quem”, como no início do versículo. João assume que os que são gerados de Deus O amam, e afirma que eles também amarão todos os outros membros da família em que foram gerados. O que dele é nascido. Ou, “aquele que foi gerado”, isto é, um irmão na fé que nasceu do mesmo Pai celeste e é, portanto, um membro da mesma família do crente. |
1Jo.5:2 | 2. Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. Nisto. Referência ao que se segue. Conhecemos. Ver com. de 1Jo.2:3; 1Jo.2:29. João havia demonstrado como podemos saber que amamos a Deus (1Jo.4:20-21), então o apóstolo mostra como descobrir se amamos ou não os filhos de Deus, que são nossos irmãos. Filhos. Do gr. tekna (ver com. de Jo.1:12; Rm.8:14; Rm.8:16). Quando amamos a Deus. João ensina que o amor a Deus é fundamental na experiência do cristão. Aquele que ama a Deus deve ter a certeza de também amar seus irmãos. Por isso, é de suma importância para o crente cultivar um amor genuíno para com o Criador: isso é uma fonte inesgotável da qual todas as outras qualidades desejáveis fluem incessantemente. O cristão também controla seus outros afetos, mantendo-os puros e bem equilibrados, o que contribui para o desenvolvimento simétrico do caráter cristão. Praticamos os Seus mandamentos. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante “observam os Seus mandamentos”. Essa diferença influi muito pouco no significado básico do texto (ver com. do v. 1Jo.5:3). |
1Jo.5:3 | 3. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, Porque. Esta palavra introduz o motivo da declaração anterior (v. 1Jo.5:2). João pode ter sentido não haver apresentado com clareza a estreita ligação entre amar a Deus e obedecê-Lo, por isso reforça sua ligação de amor a Deus e obediência aos Seus mandamentos, mostrando que um implica e exige o outro (sobre a relação entre amor e observância dos mandamentos, ver com. de Mt.22:37-39; Rm.13:8-9). Ele apresenta essa relação em seu evangelho, ao citar textualmente o ensinamento de Cristo sobre o tema (ver com. de Jo.14:15; Jo.14:21; Jo.14:23; Jo.15:10). O amor de Deus. Há, por vezes, a dúvida se esta frase significa o nosso amor por Ele ou o Seu amor por nós (ver com. de 1Jo.2:5; 1Jo.2:15; 1Jo.3:16-17; 1Jo.4:9), mas, desta vez, não há dúvida de que o apóstolo trata do nosso amor a Deus (1Jo.5:2). Seus mandamentos. Ver com. de 1Jo.2:3; 1Jo.3:4. Os mandamentos de Deus podem ser expressos de várias formas, como amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo (Lc.10:27), ou acreditar no nome de Seu Filho Jesus Cristo e amar os irmãos (1Jo.3:23), ou obedecer aos dez mandamentos. Afinal, os dez mandamentos são a ampliação dos dois preceitos, amar a Deus e ao próximo (Mt.19:17-19; Mt.22:36-40; Rm.13:8-10). Penosos. Do gr. bareis, “pesados”, “difíceis de guardar” (comparar o uso da palavra em Mt.23:4; Mt.23:23; At.20:29; At.25:7). Para o cristão, os mandamentos de Deus não são pesados, pois a obediência é o resultado do amor. Aqueles que amam a Deus encontram alegria em cumprir Suas ordens e em seguir Seu conselho, e o próprio Deus provê poder para observar a Sua lei (1Co.10:13; Fp.2:13). |
1Jo.5:4 | 4. porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Porque. João está prestes a dar mais um motivo pelo qual as exigências de Deus não são um fardo cansativo e desgastante. Para o ser humano sem ajuda, elas são impossíveis de se cumprir (Rm.8:7), mas para o cristão nascido de novo (Jo.3:3) todas as coisas são possíveis (Mc.11:22-24; Fp.4:13). Ele participa da natureza divina (2Pe.1:4) e se firma nos mesmos recursos que sustentaram a Cristo em Sua vida terrena (TM, 386; DTN, 123). Todo o que é. João pode ter usado esse termo em vez de “quem”, para enfatizar a natureza abrangente da verdade que expressa (cf. Jo.3:6). Todo princípio correto provém de Deus e pode vencer os princípios mundanos que têm sua origem em Satanás. Nascido de Deus. Ver com. de 1Jo.3:9. Vence. Do gr. nikao (ver com. de 1Jo.2:13). A forma do verbo no grego mostra que a vitória na nova vida pode ser contínua. Sempre que, no poder do Céu, o cristão recém-nascido resiste ao tentador, o adversário é derrotado (Tg.4:7). Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de 1Jo.2:15). Vitória. Do gr. nike, “conquistar a vitória”, de nikao, “conquistar” (ver “vence” abaixo). Nike ocorre somente aqui no NT, mas era comum no grego clássico e era o nome da deusa grega da vitória. Vence. Do gr. nikao (ver com. de 1Jo.2:13). No grego, há um jogo interessante nas palavras nike e nikao, que pode ser traduzido como “esta é a vitória que vence o mundo”. O tempo passado do verbo parece referir-se ao momento em que os crentes romperam com o mundo, uma vez que o apóstolo está falando da fé que eles têm. Também pode haver uma referência mais distante à grande vitória que permite aos cristãos conquistar o mundo, ou seja, a vitória de Cristo sobre o diabo, mas esse não é o pensamento central de João neste versículo. Fé. Do gr. pistis (ver com. de Hb.11:1). Esta é a única ocorrência desta palavra no evangelho e nas epístolas de João. Como “a nossa fé” nos capacitará a vencer o mundo? João dá a resposta no v. 1Jo.5:5, em que afirma que a fé à qual se refere é aquela que aceita Jesus como o Filho de Deus. Essa fé se apropria da vitória do Salvador sobre o mundo e a reproduz na vida do crente. Não é uma fé que se limita a um assentimento mental, mas que impulsiona a uma ação positiva. Assim como foi ordenado ao paralítico se levantar, tentamos o que parece impossível (Jo.5:5-9). Quando a nossa vontade escolhe se levantar da escravidão do pecado, o poder de Deus que dá a vida se manifesta em cada fibra moral e nos permite realizar o que desejamos pela fé. Se esperássemos pelo Senhor para nos levantar do pecado, nada aconteceria. Nossa fé deve se apropriar das promessas divinas e desejar, escolher, querer agir e depender dessas promessas, para que essa força possa nos ajudar. |
1Jo.5:5 | 5. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? Quem é o que vence. Ou, “aquele que continua a conquistar”. O texto original denota contínua vitória sobre o mal. A fé aumenta com a prática. Quanto mais confiamos nas promessas de Deus, mais forte se tornará a nossa confiança e mais fé obteremos para progredir. Crê ser Jesus o Filho de Deus. Novamente João afirma a verdade central da igreja cristã como a prova de uma genuína vida cristã vitoriosa (ver com. de 1Jo.2:22-23; 1Jo.3:23; 1Jo.4:1-3). |
1Jo.5:6 | 6. Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não somente com água, mas também com a água e com o sangue. E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. Este. Ou, Jesus, a quem João se referiu no v. 1Jo.5:5. Aquele que veio. Uma referência ao fato histórico da encarnação. Nos evangelhos, o verbo “vir” é usado de forma significativa em relação à encarnação de Cristo (Mt.5:17; Mt.9:13; Mt.10:34; Mt.11:3; Lc.7:19; Jo.1:11; Jo.3:2; Jo.3:31; Jo.7:27-28). Por meio da água e sangue. A aplicação básica destas palavras é facilmente percebida quando se tem em mente que João fala da encarnação. Jesus veio “pela água”, isto é, por Seu batismo, e pelo “sangue”, isto é, pela sua crucifixão. Esses dois eventos são marcos em Seu ministério sacrificial e O identificam como o Filho redentor de Deus. Aqueles que acreditam em Sua divindade não podem ignorar qualquer um desses acontecimentos. Alguns viram nas palavras de João uma referência aos sacramentos cristãos do batismo e da ceia do Senhor; mas o uso do pretérito “veio” e o fato óbvio de que o apóstolo se refere à encarnação, se opõem a tal interpretação. Além disso, “sangue” nunca é usado em outro lugar para se referir ao sacramento da ceia do Senhor. É possível que, ao escrever as palavras “por água e sangue”, João estivesse pensando no incidente na cruz, que só Ele registra (Jo.19:34), quando “sangue e água” fluíram do lado traspassado do Salvador. Na verdade, seria estranho se uma testemunha ocular desse evento comovente não se lembrasse da cena, mas ainda não se pode dizer que Jesus, em seguida, “veio por água e sangue”. O significado principal das simples palavras de João deve ser que a vinda messiânica de seu Mestre foi confirmada publicamente, no início de Seu batismo, e no fim pelo derramamento do Seu sangue na cruz. Jesus Cristo. Sobre o significado deste nome, ver com. de Mt.1:1; Fp.2:5. Não somente com água. Alguns dos que estavam perturbando a igreja aceitavam o batismo de Jesus, acreditando que esse evento marcou o momento em que a divindade entrou na humanidade, mas negavam a morte do Filho de Deus, acreditando que a divindade e a humanidade se separaram antes da morte na cruz (ver p. 687, 688). Portanto, João enfatiza a importância tanto da água como do sangue para a correta compreensão da divindade de Jesus Cristo (cf. vol. 5, p. 1013). E o Espírito. Ao longo da história do mundo, uma das principais tarefas do Espírito Santo tem sido dar testemunho do plano de salvação e do Salvador. Imediatamente depois de ter o pecado cortado a comunicação direta dos seres humanos com Deus, o Espírito Santo tornou-Se o controlador dos mensageiros humanos inspirados, garantindo que as mensagens divinas fossem entregues e registradas de uma forma que assegurasse o cumprimento de sua finalidade (2Pe.1:21). O maior propósito de todas as profecias é levar as pessoas a Cristo como o Redentor. Por meio de profecias orientadoras, o Espírito Santo dá um testemunho mais eficaz do Salvador e merece o título de “Espírito de Cristo” (ver com. de Jo.14:17; Jo.14:26; 1Pe.1:11). O Espírito é a verdade. O testemunho do Espírito pode ser recebido com completa confiança, pois todo o Seu testemunho é verdadeiro, e a soma total de Sua revelação é a verdade. Portanto, quando o Espírito testifica que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, Seu testemunho é definitivo e não pode haver outro maior. |
1Jo.5:7 | 7. Pois há três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. Pois há três. A prática hebraica, com base em Dt.17:6; Dt.19:15, exigia o testemunho consistente de duas ou três testemunhas antes de se tomar uma ação em certas disputas legais. João cita três testemunhas em apoio da divindade de Seu Mestre (1Jo.5:5-6; 1Jo.5:8), garantindo a seus leitores a confiabilidade de sua declaração. Que dão testemunho. Do gr. martureo, “testemunhar”, “testificar.” Martureo é traduzido como “dar testemunho” (v. 1Jo.5:6) e “testificar” (v. 1Jo.5:9). O texto grego implica que o testemunho está sendo transmitido de forma contínua. No Céu. Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi.) a omissão da variante “no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra”. A variante resultante dos v. 7 e 8 é a seguinte: “Porque três são os que testificam: o Espírito, e a água, e o sangue: e esses três estão de acordo.” O texto como se apresenta na ARA não se encontra em nenhum manuscrito grego anterior aos séculos 15 e 16. As palavras mencionadas encontraram seu caminho nas Bíblias a partir do século 16, através do texto grego do NT de Erasmo (ver vol. 5, p. 130, 131). Diz-se que Erasmo se ofereceu para incluí-las em seu Testamento grego se lhe fosse mostrado pelo menos um manuscrito grego que as contivesse. Uma biblioteca em Dublin produziu esse manuscrito, conhecido como 34, e Erasmo incluiu a passagem em seu texto. Acredita-se hoje que as edições posteriores da Vulgata incluíram a passagem pelo erro de um escrivão, que inseriu um comentário exegético marginal no texto da Bíblia que estava copiando. As palavras em litígio têm sido amplamente utilizadas em apoio à doutrina da Trindade; mas, em vista da evidência esmagadora contra a Sua autenticidade, seu apoio é sem valor e não deve ser usado. Apesar de aparecer na Vulgata, o A Catholic Commentary on Holy Scripture admite em relação a essas palavras: “Geralmente, considera-se que esta passagem, chamada de Comma Joanina, é um brilho que penetrou no antigo texto da Vulgata Latina em uma data antiga, mas encontrou seu caminho para o texto grego somente nos séculos 15 e 16” (Thomas Nelson and Sons, 1951, p. 1186). |
1Jo.5:8 | 8. E três são os que testificam na terra]: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito. O Espírito. O apóstolo agora recapitula seu testemunho, mas coloca o Espírito no topo da lista. Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo, na forma de uma pomba, testemunhou a João que aquele que fora batizado era o Messias divinamente designado, e o próprio Deus proclamou o louvor ao Seu Filho (Mt.3:16-17). Quando Cristo derramou Seu sangue na cruz, Seu porte nobre e calma dignidade, auxiliado pela escuridão sinistra e o terremoto, impressionaram os espectadores com Sua divindade (Mt.27:45-54). Assim, o Espírito operava com os eventos representados pela água e pelo sangue (ver com. de 1Jo.5:6) para afirmar que Jesus era o Filho de Deus. E os três são unânimes. Literalmente, “os três são apenas um”, ou seja, as três testemunhas têm o mesmo objetivo: dar testemunho da divindade de Cristo, para que as pessoas cressem nEle e fossem salvas. Foi com este propósito que João escreveu seu evangelho (Jo.20:31). |
1Jo.5:9 | 9. Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca do seu Filho. Se admitimos. João salienta que as pessoas aceitam o testemunho de seus semelhantes quando cumprem as condições legais exigidas. Por que então eles não aceitam o testemunho ainda mais confiável que vem de Deus? No entanto, havia aqueles que preferiam crer nas pessoas a crer em Deus. Eles davam ouvidos às teorias e sofismas dos gnósticos (ver p. 687). Muitas das pessoas que se recusaram a seguir a Jesus começaram a ir após diversos falsos messias que ofereciam promessas de vitória sobre o odiado poder romano. O testemunho de Deus é maior. O testemunho de Deus é superior, não só porque se trata daquele que nunca mente, mas porque se trata do Único que é plenamente qualificado para testemunhar sobre a filiação de Jesus, isto é, o Pai. Ninguém pode ser consistente em sua crença em Deus, sem também crer em Seu Filho. Este é o testemunho de Deus. O fato de que Deus testificou a filiação de Jesus deve ser testemunho suficiente para convencer as pessoas, que muitas vezes aceitam o testemunho menos confiável de seus semelhantes. João se refere ao reconhecimento de Seu Filho por Deus durante a vida terrena de Cristo, e Seu testemunho contínuo da íntima relação que existe desde a eternidade entre o Pai e o Filho. |
1Jo.5:10 | 10. Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho. Aquele que crê. Ou, aquele que continuamente crê que Cristo é o Filho de Deus. Aquele que tem uma convicção transitória e flutuante não pode exigir o cumprimento dessa promessa ou dizer que ela está invalidada. No. Do gr. eis, “em” João usa essa preposição específica, com a palavra “crer” com mais frequência do que todos os outros escritores do NT juntos. Essa crença é uma forma de se aproximar de Cristo em firme confiança sobre a verdade do testemunho de Deus, portanto, tendo fé na obra redentora do Salvador (cf. com. de Jo.1:12). Em si. Aquele que tem uma fé viva em Jesus terá um testemunho íntimo quanto à validade dessa crença. Saberá, por experiência pessoal, que Jesus é tudo o que as Escrituras dizem sobre Ele. Essa crença não é facilmente derrubada; pode resistir aos piores ataques do inimigo. É necessário recordar ao mesmo tempo que é perigoso confiar exclusivamente em sentimentos como a nossa relação com Deus. Com frequência, haverá momentos em que nos sentiremos confiantes em nossa comunhão com o Senhor, porém, também haverá dias quando a dúvida nos assaltará. Em tais ocasiões, o Senhor prometeu estar especialmente perto de Seus filhos (Is.43:2). Devemos, portanto, apegar-nos com todas nossas forças a Deus, mesmo quando os sentimentos nos digam o contrário. A vida cristã deve se basear em princípios, não em sentimentos (T1, 167). À medida que a fé se fortalece, o testemunho em nosso coração é fortalecido também (1Jo.3:24). Que não dá crédito a Deus. Poderíamos ter esperado João dizer: “não crê no Filho de Deus”, como a negativa de sua declaração anterior, mas o apóstolo é mais profundo, uma vez que ele sabe que a recusa em aceitar o testemunho do Pai acerca de seu Filho é uma recusa a crer em Deus (cf. 1Jo.2:22-23). Em sua forma penetrante, João analisou a natureza última de toda descrença que é a rejeição inclusive do Pai. Mentiroso. Não que o homem possa fazer Deus mentir, mas ele pode fazê-Lo passar por mentiroso ao afirmar que o testemunho de Deus não é verdadeiro. Porque não crê. Literalmente, “porque ele não tem crido”. Uma clara repetição de que os que descreem e rejeitam a divindade de Cristo são culpados. João desvenda, assim, a verdadeira natureza de toda a descrença. Testemunho. Do gr. marturia, “testemunhar”. Dá. Do gr. martureo, “testemunhar”, “dar testemunho”. Martureo ocorre sete vezes, e marturia, seis vezes no texto original (ver com. do v. 1Jo.5:7); destas, 11 vezes estão nos v. 1Jo.5:6-11. O tempo verbal, tanto em grego como em português, indica que a referência é a testemunha de Deus no passado, cujo efeito ainda continua. |
1Jo.5:11 | 11. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. E o testemunho é este. O testemunho consiste no dom divino da vida eterna através da pessoa do Filho de Deus, Jesus Cristo. Esse dom é o mais eficaz de todos os testemunhos da verdade de Deus. Deus nos deu. Ou, “concedeu”, com referência ao ato histórico da encarnação, com os eventos associados a ela, ou à conversão, quando o crente recebe o dom da vida eterna (ver com. de Jo.3:16). A vida eterna. Ver com. de Jo.3:16; cf. com. de 1Jo.1:2. Esta vida. Uma nova parte do testemunho de Deus, Ele nos deu a vida eterna, na pessoa de Seu Filho, que é “a vida” (Jo.14:6; ver com. de Jo.1:4). |
1Jo.5:12 | 12. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Tem o Filho. Ter o Filho significa crer nEle de tal maneira, que chega a ser para nós tudo o que Seu nome significa: Salvador, Senhor, o ungido para ser o nosso Rei (ver com. de Jo.1:12; Jo.5:24). Significa ter a Cristo habitando no coração como hóspede que recebe a honra suprema (ver com. de Gl.2:20; Ef.3:17; Ap.3:20). Tem a vida. Isto é, a vida eterna a que se refere o v. 1Jo.5:11. Essa vida começa com o novo nascimento do cristão e continua no mundo vindouro (ver com. de Jo.8:51; Jo.10:10). Os que cultivam a amizade de Jesus chegam a partilhar do Seu caráter. Dessa forma, ter o Filho é garantia de ter a vida que jamais termina. Não tem. Como o Pai decidiu disponibilizar a vida eterna apenas por meio de Seu Filho (Jo.1:4; Jo.3:16; Jo.17:2), deduz-se que aqueles que rejeitam o Filho rejeitam a única fonte de verdadeira vida. Deve-se notar que, na declaração negativa, João acrescenta o título de Cristo e o descreve não apenas como “o Filho”, mas como “o Filho de Deus”. Desse modo, coloca ênfase na verdadeira origem da vida que o Filho concede: essa vida provém de Deus (ver com. de Jo.5:26). |
1Jo.5:13 | 13. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. Estas coisas. A referência é ao conteúdo de toda a epístola até este ponto ou ao conteúdo de 1Jo.5:1-12. O restante do versículo é muito semelhante à declaração de propósito que João faz em seu evangelho (Jo.20:31). Escrevi. As palavras são retrospectivas, como se o apóstolo olhasse para trás em sua epístola e recordasse a finalidade para a qual ele escreve aos crentes. Ao reafirmar esse propósito, ele novamente impressiona a mente de seus leitores. Saberdes. Esta é a finalidade específica para a qual João escreveu a seção anterior de sua carta (v. 1Jo.5:1-12), mas também pode ser aplicada a toda a epístola. O texto grego sugere que o conhecimento aqui referido é intuitivo e absoluto, e implica plena convicção. Parece que a fé dos leitores de João estava em perigo de enfraquecimento, e ele se esforçava para fortalecê-la. Isso complementa o desígnio inicial da epístola (1Jo.1:3-4). Que credes. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) colocar a frase “aquele que crê no nome do Filho de Deus” depois de, “a fim de saberdes que tendes a vida eternal. No entanto, a frase ainda define “vós”. E para que creiais (ARC). Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão destas palavras e do restante deste versículo. Um pensamento semelhante ocorre antes no versículo. |
1Jo.5:14 | 14. E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. Confiança. Do gr. parresia (ver com. de 1Jo.2:28), que aqui talvez seja usado em sua principal acepção de “liberdade de expressão” (ver com. de 1Jo.3:21). Os pensamentos de João acerca da posse da vida eterna e a crença no Filho de Deus sugerem a confiança que o crente pode ter ao se aproximar do Filho, e assim se introduz o tema da oração. Para com Ele. Ou, em direção a Ele (ver com. de 1Jo.3:21). Pedirmos alguma coisa. Isso introduz a “confiança” da qual João acaba de falar. Embora o Senhor conheça todas as nossas necessidades antes de as expressarmos, Ele deseja que Seus filhos tornem essas necessidades conhecidas a Ele em nossa própria linguagem. Essa segurança é muito ampla, e sua única limitação é apresentada pela próxima frase. Segundo a Sua vontade. Ou, a vontade do Filho. Apenas a condição de que nossas petições estão em harmonia com a Sua vontade é aqui mencionada. Em outras passagens se apresentam outras condições: pedir em nome de Cristo (Jo.14:13; Jo.16:23), ter harmonia entre os irmãos (Mt.18:19), crer (Mc.11:24), guardar os mandamentos de Deus (1Jo.3:22 ). Nosso onisciente e bondoso Senhor sabe o que é para o nosso bem, e dispõe de Sua graça e poder para a promoção da nossa felicidade e salvação (ver com. de 1Ts.4:3). Nosso desejo de ser salvos não é mais ardente do que o desejo que Cristo tem de nos salvar. Seu desejo de nos redimir é muito mais firme do que é o nosso (Gl.1:4; Ef.1:5). Portanto, podemos ter a certeza de que, se fizermos qualquer petição sobre a nossa salvação, o Salvador estará mais do que pronto para nos ouvir. Ele estará esperando para satisfazer esse pedido. Esta segurança se aplica aos aspectos menores e maiores da vida cotidiana. Aquele que conta os cabelos da nossa cabeça não é indiferente aos pequenos detalhes da vida daqueles pelos quais Cristo morreu (Mt.10:29-31). Ele nos ouve. Comparar com Jo.9:31; Jo.11:41-42. Podemos estar certos de que toda oração sincera é ouvida no Céu e será atendida com uma resposta positiva ou negativa (ver com. de 1Jo.3:22). |
1Jo.5:15 | 15. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito. E se sabemos. João baseia sua segurança no conhecimento que o crente tem do Senhor. A compreensão do caráter divino inspira confiança no julgamento do Senhor e na bondade de Suas intenções (cf. Je.29:11). Aquele que conhece a Deus não tem dúvidas incômodas quanto à retidão de Seus caminhos, mas confia, com calma confiança, sabendo que a obra de Deus é perfeita (ver com. de Rm.8:28). O conhecimento de que o Senhor é um Deus que ouve a oração nos assegura que Ele nos concederá o que é para o nosso bem, segundo Sua sabedoria. Quanto ao que Lhe pedimos. Esta declaração abrangente já foi condicionada pela frase “segundo a Sua vontade” (v. 1Jo.5:14). Os pedidos. Ou, a resposta às petições. Uma leitura cuidadosa das palavras de João sugere que ele não dá uma garantia de resposta a todas as orações de um cristão, tanto que ele incentiva os cristãos a descobrir a vontade do Senhor e enquadrar suas petições em harmonia com o desígnio divino, na certeza de que as orações aprovadas por Deus receberão a melhor resposta possível. |
1Jo.5:16 | 16. Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue. Se alguém. Comparar com 1Jo.1:6; 1Jo.2:1; 1Jo.4:20. João usa um caso hipotético para apresentar uma lição importante. Aqui, a referência é, obviamente, a um homem cristão que tem uma consciência saudável sobre o pecado. A seu irmão. Isso limita a lição de João à comunidade cristã: ele fala da preocupação com um irmão. Cometer pecado. Literalmente, “cometer um pecado”, isto é, na verdade, no ato do pecado. Não para a morte. Parece inegável que João identifica classes de pecado, pois, um pouco mais adiante, neste mesmo versículo, fala de “pecado para a morte”. Porém, o contexto deve ser mantido em mente. Nos v. 1Jo.5:14-15, ele deu a segurança de que as orações dos crentes serão respondidas. Aqui ele aplica a promessa a um tipo específico de oração (a que se faz em favor de alguém) e explica em que circunstâncias ela pode ser eficaz. Ao fazê-lo, ele discute duas classes de pecados: aqueles em que há ou não esperança para o pecador. Na primeira classe, a oração pode ser uma ajuda eficaz para a redenção; no segundo, como João explica mais tarde, não há nenhuma garantia de que a oração será eficaz. Geralmente se entende que o pecado para a morte é o pecado imperdoável (ver com. de Mt.12:31-32). Portanto, o pecado que não é para a morte é qualquer outra forma de pecado em que um irmão pode cair. Pedirá. A pessoa pedirá a Cristo, isto é, deve orar pelo irmão que erra. Este verbo pode ser entendido como um imperativo para orar ou como uma declaração da reação natural do crente sincero quando confrontado pela falha de alguém. A igreja seria mais feliz se, em vez de se ocupar com a fraqueza de um irmão, orasse por ele, e, se possível, com ele. Essa obra de intercessão nos capacitará para a tarefa delicada de falar ao pecador, conduzindo-o ao Salvador. Essas conversações edificam a igreja, enquanto comentários maldosos e críticas a destroem. E Deus lhe dará vida. É difícil determinar a quem se referem os pronomes nesta frase. A sequência de pensamento sugere que o apóstolo ainda fala do cristão que ora por uma irmão que erra e, por isso, é um instrumento para que o pecador receba vida. Porém, também é possível que João tenha mudado abruptamente de assunto e esteja dizendo: “Cristo dará vida ao cristão que ora para que a transmita aos pecadores que não tenham definitivamente endurecido seu coração.” A diferença de interpretação é apenas uma, pois a operação é a mesma em ambos os casos. O cristão não tem poder se está fora do Salvador, por isso, no final, é Cristo que dá a vida, ainda que a oração intercessória possa ter sido o instrumento mediante o qual a vida foi concedida. No entanto, essa “vida” só é concedida se houver arrependimento sincero por parte do pecador. Aos. Ou, “a eles”. O autor passa de um caso particular para o geral, e fala de todos os que “não pecam para a morte”. Há pecado para morte. Ou, “há pecado que leva à morte”. Considerando que João não define um pecado particular, resultando inevitavelmente na morte, é provável que esteja aqui se referindo a um tipo de pecado que certamente produzirá a morte. Se soubesse de um pecado específico capaz de deixar uma pessoa sem esperança de salvação, poderia se esperar que ele o identificasse para que todos pudessem tomar cuidado para não cair em condenação irrevogável. Embora seja verdade que todo pecado leva à morte, quando insistimos nele (Ez.18:4; Ez.18:24; Tg.1:15), há uma diferença no grau em que qualquer pecado particular pode conduzir uma pessoa ao caminho da morte. Os pecados cometidos por aqueles que realmente desejam servir a Deus, mas que sofrem de uma vontade débil e com hábitos fortes, são muito diferentes dos pecados deliberadamente cometidos em desafio aberto e intencional contra Deus. É mais a atitude e o motivo que determinam a diferença, do que propriamente o ato do pecado em si. Nesse sentido, há distinções de pecados. O pecado menor, que passa rapidamente pelo arrependimento e é perdoado, não é um pecado para morte. O pecado grave, cometido de repente através da falha em manter o poder espiritual, ainda não é um pecado para a morte, se for seguido de arrependimento genuíno; mas a recusa em se arrepender torna inevitável a morte eterna. A distinção é ilustrada na experiência de Saul e Davi. O primeiro não se arrependeu do pecado; o segundo pecou gravemente, mas se arrependeu sinceramente. Saul morreu sem esperança de desfrutar a vida eterna, enquanto Davi foi perdoado e garantiu um lugar no reino de Deus (ver PP, 634, 679, 723-726; sobre o pecado imperdoável, ver com. de Mt.12:13; Mt.12:32). Não digo que rogue. João não nos ordena orar, nem diz que não deveríamos fazê-lo, mas hesita em dar garantia de resposta às orações para aqueles que deliberadamente se afastaram de Deus. Há diferença entre a oração por nós e a oração em nome de terceiros. Quando a nossa vontade está do lado de Deus, podemos pedir de acordo com a Sua vontade e saber que receberemos uma resposta às nossas orações. Mas, quando há uma terceira pessoa em questão, é preciso lembrar que ela também tem uma vontade. Se ela não quiser se arrepender, todas as nossas orações e todo o trabalho que Deus possa fazer e que nos induza a fazer, não pode forçar a vontade dela. Quando Deus prefere não forçar a pessoa a permanecer sem pecado, também renunciou ao poder de obrigar um pecador a se arrepender. Isso não quer dizer que não devemos continuar a orar por aqueles que se afastaram do caminho da justiça, ou que nunca se renderam ao Salvador. Isso não significa que não haverá muitas conversões notáveis como consequência de orações longas e sérias feitas por corações fiéis. Mas João mostra que não adianta orar pedindo perdão para o pecador se ele se recusar a se arrepender de seu pecado. No entanto, enquanto houver algum motivo de esperança, devemos continuar a orar, pois não podemos dizer com certeza quando uma pessoa já foi longe demais. |
1Jo.5:17 | 17. Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte. Injustiça. Do gr. adikia (ver com. de Rm.1:18; Rm.1:29; comparar com anomia, “transgressão da lei” ver com. de 1Jo.3:4). Qualquer ato de impiedade é pecado, como se tratasse do crime mais aberto e horrível. João afirma este fato, a fim de revelar a ampla variedade de pecados que se encontra diante do intercessor que ora por outra pessoa. Há pecado. João repete sua afirmação anterior (cf. v. 1Jo.5:16) para encorajar seus leitores a perseverar em suas orações por outros (ver com. do v. 1Jo.5:16). |
1Jo.5:18 | 18. Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca. Sabemos. O discípulo amado dá a sua mensagem de encerramento em palavras que procuram transmitir a certeza serena que preenche seu ser. Três vezes usa o plural “sabemos” (aqui e nos v. 1Jo.5:19-20), para se referir a si mesmo e a seus leitores que também possuem o conhecimento do qual ele fala. Aquele que nasceu de Deus. Ver com. de 1Jo.3:9. Não vive em pecado. Ver com. de 1Jo.3:9. Aquele que nasceu de Deus. Ou, “aquele que foi gerado de Deus”. Guarda. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam esta variante, caso em que a frase completa será: “Aquele que foi gerado de Deus [isto é, Cristo] o guarda [isto é, o crente).” Esta variante faz mais do que qualquer declaração, pois dá a reconfortante promessa de que Cristo guardará de todo o mal o crente convertido. João afirma que a atitude do cristão em um mundo pecaminoso deve ser proteger as avenidas de seu ser e não permitir que o pecado entre. O maligno. Literalmente, “o perverso” (ver com. de 1Jo.2:13). Toca. Do gr. haptomai, “prender a”, “lançar mão de”. O verbo implica mais força do que geralmente está associado ao verbo “tocar”. A garantia é dada de que o nascido de Deus não será atingido pelo diabo, mas se guardará, ou será guardado por Cristo, o Unigênito de Deus (cf. Jo.6:39; Jo.10:28; Jo.17:12). |
1Jo.5:19 | 19. Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. Sabemos. João se refere à convicção interior de que todos os verdadeiros crentes possuem. De Deus. Ver com. de 1Jo.3:10; 1Jo.4:1. Não só nascemos de Deus, mas continuamos como membros de Sua família. Esse conhecimento vai nos manter no caminho para o Céu; nos inspirará a manter imaculado o nome da família à qual pertencemos. Mundo. Do gr. kosmos (ver com. de 1Jo.2:15). Maligno. Literalmente, “o ímpio”, possivelmente significando “o maligno” (cf. com. de 1Jo.2:13). João destaca o contraste entre os filhos de Deus e os do mundo. Os primeiros pertencem inteiramente ao Senhor, os últimos estão, por assim dizer, sob o domínio do maligno, o diabo (cf. com. de 1Jo.2:15-17). |
1Jo.5:20 | 20. Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Sabemos. Aquele que nasceu de novo sabe que Cristo veio e realizou a obra da redenção, pois experimentou pessoalmente o perdão do pecado e o poder da presença interior do Salvador que o protege contra o pecado. O Filho de Deus. O título “Filho” aplicado a Jesus ocorre 10 vezes nos v. 1Jo.5:5-20. É vindo. Do gr. heko. Os fatos históricos da encarnação, vida, morte e ressurreição do Filho de Deus são as verdades centrais em torno das quais é construída a fé do cristão. Entendimento. Do gr. dianoia (ver com. de 1Pe.1:13). A palavra aqui se refere à faculdade de compreensão, a mente. Cristo tem aberto ao crente os tesouros inesgotáveis do conhecimento divino. Devemos sempre estar ansiosos para explorar esses tesouros e aprimorar nosso conhecimento sobre eles. Para. O apóstolo deixa claro o propósito básico da vinda de Cristo e Sua obra pela humanidade: revelar-Se como “o verdadeiro”, para que as pessoas possam conhecê- Lo como Ele realmente é (cf. Jo.1:18; Jo.17:5). Reconhecermos o verdadeiro. Literalmente, “conhecer o verdadeiro”, ou “conhecer o genuíno”, ou, Deus o Pai (cf. Jo.7:28; Jo.17:8; 1Ts.1:9), a quem o Filho veio para revelar aos homens e que pode ser verdadeiramente conhecido apenas por meio do Filho (ver com. de Jo.1:18; Jo.14:9). Por essa descrição do Pai, João se volta para a mente de seus leitores, partindo da falsidade do gnosticismo (ver p. 687, 688) para a verdade da genuína fé cristã. Estamos no verdadeiro. Obviamente, Deus o Pai. Este é o verdadeiro Deus. É possível aplicar essas palavras a Jesus Cristo, mas a sua aplicação mais provável é ao Pai, devido ao contexto. Mas, aqui, como em outras passagens, não há necessidade de distinguir entre o Pai e o Filho, uma vez que eles são um em natureza, caráter e propósito. Vida eterna. Ver com. de Jo.5:26. |
1Jo.5:21 | 21. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Filhinhos. Ver com. de 1Jo.2:1. Guardai-vos. Do gr. phulasso. O Salvador cuida de Seus filhos (cf. com. do v. 1Jo.5:18), mas aqui o apóstolo destaca a responsabilidade do crente em guardar sua vida espiritual. Se ele não faz isso, o cuidado de Cristo terá sido em vão (ver com. de 1Co.16:18). Ídolos. Ou, todas as falsas imagens, materiais ou mentais, que impediriam o crente de adorar o verdadeiro Deus. Amém! (ARC). Evidências textuais favorecem a omissão desta palavra (cf. p. xvi). |