"As coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei."
Deuteronômio 29:29

Capítulo e Verso Comentário Adventista > 1 Corintios
1Co.1:1 1. Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes,

Paulo. Sobre o significado do nome, ver Nota Adicional 2 a Atos 7.

Vontade de Deus. Paulo enfatiza que é apóstolo pela vontade de Deus. Ele chama atenção para o mesmo fato nas cartas a outras igrejas (ver Rm.1:1; 2Co.1:1; Gl.1:1; Ef.1:1; Cl.1:1; 1Tm.1:1; 2Tm.1:1). Ele sabia que não havia sido apontado para o ministério por homem, mas por Deus (ver Gl.1:1). Todo verdadeiro ministro do evangelho de Jesus Cristo deveria ter a mesma convicção a respeito de seu chamado, e, como Paulo, crer que um “ai” cairá sobre ele se assumir outra tarefa (ver 1Co.9:16).

Apóstolo. Do gr. apostolos (ver com. de At.1:2). A frase diz, literalmente, “um apóstolo chamado”. O direito de Paulo ao apostolado foi questionado em Corinto. Nesta passagem e mais adiante na epístola, ele afirma e defende sem temor esse direito (ver 1Co.9).

Irmão. Designação comum entre os cristãos naquela época (ver Rm.16:23). Ainda não se usava o nome “cristão” (ver com. de At.11:26).

Sóstenes. De identidade incerta. É possível que seja o principal da sinagoga de Corinto (At.18:17). A tradição, que o conta como um dos 70 discípulos (Lc.10:1), não tem fundamento. Sóstenes pode ter sido ajudante de Paulo, como Tércio, na epístola aos romanos (ver com. de Rm.16:22). A ocorrência do nome de Sóstenes na saudação introdutória não significa que ele foi um coautor da epístola. Era costume de Paulo mencionar o nome de seus associados.

1Co.1:2 2. à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

Igreja. Do gr. ekklesia (ver com. de Mt.18:17).

Corinto. Sobre a obra de Paulo em Corinto e o estabelecimento da igreja aIi, ver p. 88; At.18:1-18.

Santificados. Do gr. hagiazo, “dedicar”, “santificar” (ver com. de Jo.17:17). Neste versículo, os que são santificados são chamados de “santos” (hagioi), literalmente “sagrados” (ver com. de Rm.1:7). Hagiazo e hagioi têm a mesma raiz. No português não se nota de forma tão clara a ligação, embora “santificado” e “santo” provenham da raiz latina sanctus, “santo”.

Em Cristo Jesus. Apenas é considerado santo quem busca e encontra refúgio em Jesus e está coberto pela justiça do Salvador.

Chamados para ser santos. Literalmente, “chamados santos”, isto é, que são chamados à santificação.

Em todo lugar. Estas palavras podem ser ligadas à frase “chamados para ser santos”, de modo que a ênfase da passagem está no fato de que os crentes de Corinto faziam parte da grande irmandade de crentes. Paulo relembra aos coríntios que eles não são os únicos possuidores dos privilégios do evangelho. É possível também que Paulo estivesse usando uma frase comum em saudações da época. Inscrições encontradas em sinagogas continham a seguinte saudação: “Que haja paz neste lugar e em todo Israel” (ver Hans Lietzmann, Handhuch zum Neuen Testament, com, de 1Co.1:2). A epístola não se destinava apenas a eles, mas continha instruções a todos e foi preservada no cânon sagrado para nossa instrução e edificação (ver 2Tm.3:16).

Invocam o nome. Ver com. de At.2:21.

Deles e nosso. Estas palavras podem se referir tanto a “lugar” como a “Senhor”. Caso se refira a “lugar”, acrescenta pouco à ideia já expressa. Caso se refira a “Senhor”, é uma ênfase a mais no fato de que o mesmo Senhor é adorado por cristãos de todas as comunidades, com possível referência ao espírito de dissensão em Corinto (1Co.11-31).

1Co.1:3 3. graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Graça.Do gr. charis, palavra que ocorre cerca de 150 vezes no NT, sendo traduzida como “graça” 123 vezes. Nos demais casos, é traduzida como “favor”, “alegria”, “recompensa”, “dádivas”, “gratidão” e “benefício”. Todas essas palavras juntas não podem expressar a glória, alegria, felicidade e gratidão despertadas na mente de quem tem um vislumbre da revelação dos atributos de Deus manifestados ao ser humano por meio de Jesus Cristo. Todos esses se resumem em uma palavra: charis. Os antigos gregos cultuavam a beleza. Eles usavam charis para sugerir um sentimento de beleza ou deleite. Essa ideia depois foi transferida para o objeto que produzia esse sentimento. O significado se estendeu e incluiu gratidão, graças, graciosidade e agrado. Num sentido concreto, a palavra indicava um favor feito.

A igreja cristã apostólica adotou a expressão e aplicou a conotação de natureza gentil, afetuosa, agradável e de disposição bondosa à atitude dos cristãos uns para com os outros. De forma mais particular, o termo foi usado para expressar “a conduta de Deus para com o ser humano pecador conforme revelada em e por meio de Cristo, especialmente como um ato de favor espontâneo” (Hermann Cremer, Bíblico-Theological Lexicon [1886], p. 574). Esse favor de Deus de forma alguma depende da condição humana. Isto é, nem seus esforços para obter a graça por meio de obras de justiça nem o fracasso em alcançá-la afetam a manifestação do favor de Deus. Portanto, cabe ao ser humano aceitar a graça, se assim o desejar. Seu nível de pecaminosidade não influi na disposição divina de conceder graça por meio de Jesus (ver Rm.1:7).

Paz. Do gr. eirene, palavra da qual deriva o nome “Irene”. Conforme empregado no NT, eirene significa a completa ausência de tudo que perturba ou interrompe a obra plena do Espírito Santo na vida de uma pessoa, por meio do qual esta entra em perfeita harmonia com o Criador. J. H. Thayer define esta palavra como “a condição de tranquilidade de uma pessoa certa de sua salvação por meio de Cristo, e, por isso nada temendo da parte de Deus, e satisfeita com sua sorte terrena, seja qual for” (ver Rm.1:7).

1Co.1:4 4. Sempre dou graças a [meu] Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus;

Dou. A singular evidencia que Sóstenes não foi coautor da epístola (ver com. 1Co.1:1).

Graças a [meu] Deus. Antes de tratar dos problemas que afetavam a igreja, Paulo elogia o que os crentes de Corinto alcançaram em sua experiência espiritual. O elogio à fidelidade e obediência antecede a repreensão ou advertência. Isso está bem exemplificado nas mensagens às sete igrejas (Ap.2:2-4; Ap.2:13-14; Ap.2:19-20). Deus encoraja a igreja ao mencionar o que está bem e, com isso, prepara o caminho para as advertências e repreensões necessárias, que, se levadas em consideração, como no caso da igreja de Corinto, resultarão em crescimento espiritual e bênçãos.

Graça. Do gr. charis (ver com. 1Co.1:3).

Nesta passagem, os dons da graça, os charis-mata (1Co.12:4), são enfatizados (ver 1Co.1:5-7).

1Co.1:5 5. porque, em tudo, fostes enriquecidos nEle, em toda a palavra e em todo o conhecimento;

Em tudo. Deus tinha abençoado grandemente os crentes de Corinto. Ele os tinha resgatado do ambiente corrupto em que viviam, levantando-os das profundezas do vício e do pecado, conferindo a eles dons espirituais em abundância de modo que não lhes faltava “nenhum dom” (v. 7;). Dessa forma, fez-se abundante provisão, além das necessidades, para que a igreja não tivesse motivo para reincidências e apostasia (comparar com 2Co.9:11).

Palavra. Do gr. logos, que em geral significa “palavra”, mas que designa também a expressão dessa palavra. Neste caso, provavelmente, denote a habilidade de se expressar de forma livre e clara com respeito a todo conhecimento verdadeiro. O dom deve ser o mesmo designado como “a palavra da sabedoria” (logos sophias, 1Co.12:8).

Conhecimento. Do gr. gnosis, do qual derivam as palavras “gnóstico” e “agnóstico” (sobre esse dom, ver com. de 1Co.12:8). O conhecimento é um fundamento essencial para a fé. Os fatos básicos relativos à existência de Deus e ao plano da salvação devem ser entendidos por aqueles que desejam se tornar cristãos. Era necessário haver na igreja quem pudesse transmitir tal conhecimento. Paulo dizia ter esse dom (2Co.11:6). Em Corinto, alguns haviam pervertido o dom (1Co.8).

1Co.1:6 6. assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós,

Assim como. Esta expressão parece indicar que o conhecimento do plano da salvação por meio de Jesus Cristo foi esclarecido e estabelecido pela obra poderosa do Espírito Santo na igreja de Corinto. Sugere também que esse poder ainda atuava na igreja, dando prova do favor de Deus e da verdade do evangelho na mesma medida de quando a mensagem foi pregada pela primeira vez naquela cidade.

De Cristo. Ou, “sobre Cristo”. O resultado do derramamento abundante do Espírito Santo sobre os crentes coríntios foi a confirmação de sua fé no evangelho, da convicção e aceitação da verdade do amor de Deus e do sacrifício de Jesus. O testemunho dos apóstolos a respeito de Cristo não foi apenas crido e aceito, mas, por meio do poder do Espírito de Deus, a igreja recebeu os dons do Espírito (ver 1Co.1:7; esses dons são alistados em 1Co.12:1; 1Co.12:4-10; 1Co.12:28; Ef.4:8; Ef.4:11-13). Declara-se que o propósito dos dons do Espírito é o desenvolvimento da igreja até que alcance unidade e perfeição em Jesus (Ef.4:12-15).Confirmado. Ou, "estabelecido”. A concessão dos dons do Espírito à igreja, incluindo a de Corinto, revela a intenção de Deus em dar a Seu povo meios abundantes para testemunhar da fé a um mundo descrente.

1Co.1:7 7. de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo,

Nenhum dom. “A manifestação do Espírito” foi “concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1Co.12:7). Os dons eram abundantes na igreja de Corinto, e cada crente recebeu algum deles.

Aguardando. Do gr. apekdechomai, “aguardar ansiosamente”.

Revelação. Do gr. apokalupsis, literalmente “descobrimento”, “revelação”, “descobrir o que está oculto”. Esta é a palavra usada para descrever a vinda de Jesus (2Ts.1:7; 1Pe.1:7; 1Pe.1:13; 1Pe.4:13). Cristo, que estava oculto aos olhos físicos, será revelado de modo que todo olho O verá (Ap.1:7). Uma palavra mais comum para descrever Sua vinda é parousia (ver com. de Mt.24:3). A palavra simples para “vinda”, erchomai, é também usada com frequência. A segunda vinda de Jesus era a expectativa e esperança da igreja do primeiro século, e ainda é a “bendita esperança” de todo verdadeiro discípulo (Tt.2:13). Os cristãos de Corinto, firmados na fé de Jesus pelos diversos dons do Espírito, esperavam ansiosamente a manifestação do Salvador em Sua segunda vinda. Os dons na igreja atual confirmam o testemunho de Jesus. A igreja remanescente é caracterizada como tendo “o testemunho de Jesus” (Ap.12:17), que é definido como o “espírito da profecia” (Ap.19:10).

1Co.1:8 8. o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.

O qual. Isto é, o Senhor Jesus Cristo (1Co.1:7).

Confirmará. Ou, “estabelecerá”.

Até ao fim. Comparar com Fp.1:10; 1Ts.5:23; Jd.1:24. Não se deve considerar que essa declaração signifique ser impossível sair da graça. Outras passagens revelam que isso é possível (ver, por exemplo, Hb.6:4-6). Os crentes serão confirmados até ao fim somente se permanecerem fiéis (Mt.24:13; ver com. de Jo.10:28).

Irrepreensíveis. Os cristãos têm a certeza de que Cristo os manterá firmes em meio às provas e tentações e que os guardará no caminho da santidade por toda a vida, de modo que na vinda de Cristo serão encontrados irrepreensíveis. Isto não é uma promessa de que serão perfeitos, no sentido de serem isentos de pecar, pois “todos pecaram” e “carecem da glória de Deus” (Rm.3:23). Jesus os capacitará a viverem de forma vitoriosa ao se submeterem a Ele constantemente. Em Sua vinda, serão achados irrepreensíveis porque estão cobertos por Sua justiça. “Irrepreensíveis” é diferente de “perfeitos”. “Irrepreensíveis” são aqueles que não podem ser culpados de nenhum crime, que se colocam perante o Juiz supremo, e contra quem não há base para acusação.

1Co.1:9 9. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

Fiel é Deus. Comparar com 1Co.10:13; 1Ts.5:24; 2Ts.3:3. A dependência absoluta de Deus é a base para a declaração de Paulo de que os crentes serão preservados irrepreensíveis até ao fim. As promessas de Deus, assim como Seu caráter, são imutáveis. Essa é uma fonte de constante conforto para o cristão que vive num mundo cada vez mais instável.

Chamados. Ver com. de Rm.8:30; cf. 1Co.9:24; 1Co.11:29. Todos são chamados por Deus para a comunhão com Jesus. Deus usa diversos meios para influenciar os eleitos a renunciar ao pecado e a aceitar a salvação por meio de Cristo.

Comunhão. Do gr. koinonia (ver com. de At.2:42; Rm.15:26).

1Co.1:10 10. Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.

Rogo-vos. Do gr. parakaleo, literalmente, “chamar para o lado de”, portanto, “admoestar”, “exortar” ou “confortar” (ver com. de Jo.14:16). Este versículo marca a transição da ação de graças e elogio para a repreensão. Após uma breve introdução, Paulo passa diretamente a abordar os problemas que demandavam sua atenção (ver com. de Mt.5:4).

Irmãos. Uma forma comum de Paulo se dirigir aos leitores de suas epístolas. Neste caso, o termo carinhoso é talvez usado com o fim de amenizar a severidade da repreensão que Paulo está prestes a fazer. O termo também implica unidade, algo em falta entre os crentes coríntios.

Pelo nome. Jesus é o intermediário da exortação (Rm.12:1; 1Ts.4:2). O fato de se recorrer a um nome pode ser uma repreensão direta contra o espírito de dissensão existente entre os crentes de Corinto.

Faleis todos a mesma coisa. Esta frase traduz uma expressão encontrada no grego clássico que significa “estar de acordo”. O emprego desta expressão mostra que Paulo estava familiarizado com as obras clássicas gregas (ver com. de At.17:28).

Divisões. Do gr. schismata, da palavra schizo, “partir”, “dividir”. Em Mateus 27:51 (Mt.27:51), schizo é empregado para descrever que o véu do templo se rasgou. Schisma é usado em Mateus 9:16 (Mt.9:16) para se referir à rotura de uma veste. Paulo usa a palavra num sentido moral para “dissensão” e “divisão”, com referência especial ao espírito de dissensão em Corinto. A palavra “cisma” deriva de schisma.

Inteiramente unidos. Do gr. katartizo, “emendar [como uma rede de pesca rasgada]” (Mt.4:21) ou “completar”. Esta súplica fervorosa pela unidade na igreja faz ressoar uma nota recorrente na pregação de Jesus e dos apóstolos (ver Jo.17:21-23; Rm.12:16; Rm.15:5-6; 2Co.13:11; Fp.2:2; 1Pe.3:8).

Disposição mental [...] parecer. Do gr. nous [...] gnome. Nous denota o estado mental e gnome, a opinião, parecer ou sentimento que resulta de um determinado modo de pensar.

1Co.1:11 11. Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós.

Irmãos. Ver com. do 1Co.1:10.

Fui informado. Membros da casa de Cloe informaram a Paulo sobre a condição da igreja em Corinto.

Pelos da casa. Estas palavras são um acréscimo. Não se pode especificar se esses tais eram membros da família de Cloe, parentes ou escravos.

Cloe. O nome significa “imaturo’’ ou talvez “loiro”, o nome era comum entre escravos libertos, fato que sugere que Cloe deve ter sido uma escrava liberta. Sem dúvida, a família vivia em Corinto, de onde levaram a Paulo informações de primeira mão sobre as dissensões na igreja (ver AA.300). Alguns buscam identificar a delegação mencionada em 1Co.16:17 com as pessoas aqui referidas, mas não há evidência para esta opinião.

Contendas. Do gr. erides (singular, eris), “contendas”, “disputas” ou “discórdias”. Eris ocorre numa lista de pecados (Rm.1:29-31) e entre as obras da carne (Gl.5:20).

1Co.1:12 12. Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo.

Cada um de vós. Ao que parece, o espírito de dissensão tinha afetado a todos. Os vários membros da igreja apoiavam um partido ou outro.

De Paulo. Primeiramente, o apóstolo menciona o partido que afirmava ser de seus seguidores. Ele não demonstra favor a nenhum deles, muito menos a seu próprio. Todos são condenados. O espírito de dissensão de qualquer forma é errado. Comparar um líder espiritual a outro é contrário ao espírito de Cristo.

Apolo. Judeu alexandrino, seguidor dos ensinos de João Batista e homem “eloquente e poderoso nas Escrituras” (At.18:24-25). Áquila e Priscila o instruíram nos princípios da fé cristã, em Éfeso. De lá viajou a Acaia, e por um tempo trabalhou na igreja de Corinto (At.18:27-28; 1Co.3:5-7). Sua instrução e eloquência levaram alguns na igreja a exaltarem-no acima de Paulo. Quando pregou o evangelho naquela metrópole pela primeira vez, Paulo adaptou seus ensinos à mentalidade dos que não conheciam as verdades espirituais (1Co.2:1-4; 1Co.3:1-2). Como teve o privilégio de construir sobre esse fundamento, Apolo pôde ensinar além dos rudimentos da fé (1Co.3:6-11). Sua personalidade, modo de trabalhar e o tipo de mensagem que transmitia apelavam a uma determinada classe que começou a mostrar preferência por ele. Outros se recusavam a se desviar da lealdade para com Paulo, que levara o evangelho pela primeira vez. Entre Paulo e Apolo havia perfeita harmonia (ver 1Co.1:5-10). Quando surgiram dissensões, Apolo deixou Corinto e voltou para Efeso. Paulo o instou a retornar a Corinto, mas Apolo se recusou.

Cefas. Isto é, Pedro. “Cefas” é uma transliteração do aramaico Kepha, que significa “pedra” (ver Jo.1:42). “Pedro” é a transliteração do grego Petros, que também significa “pedra” (ver com. de Mt.16:18). Os que pertenciam a esse partido criam que havia mérito especial em estar unido a um dos doze apóstolos. Pedro tinha estado associado intimamente a Jesus e era um dos líderes dos doze apóstolos. Acreditavam que isso o colocava acima de Paulo ou Apolo. Alguns acreditam que a existência desse partido indique que Pedro visitou Corinto. Porém, essa conclusão não encontra evidências sólidas.

De Cristo. Os que pertenciam a esse partido se recusavam a seguir um líder humano. Eram independentes nas suas atitudes e afirmavam receber instruções diretas de Cristo (ver AA, 278, 279).

1Co.1:13 13. Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?

Cristo está dividido? O absurdo da pergunta fica evidente de imediato.

Foi Paulo crucificado [...]? A forma da pergunta no grego implica uma resposta negativa. Paulo diplomaticamente usa a si mesmo como exemplo, em vez de Apolo ou Pedro.

Em nome de Paulo. Comparar com Mt.28:19; At.8:16.

1Co.1:14 14. Dou graças [a Deus] porque a nenhum de vós batizei, exceto Crispo e Gaio;

Deus. Evidências textuais (cf. p. xvi) sugerem a omissão desta palavra, resultando na tradução “dou graças”.

A nenhum de vós batizei. Os conversos de Paulo eram batizados por seus colaboradores, talvez para evitar que atribuíssem santidade especial ao rito, quando realizado por certos indivíduos. O rito em si, ou o fato de ser realizado por determinado indivíduo, não confere nenhum significado especial ao batismo. A exemplo de Paulo, “Jesus mesmo não batizava, e sim os Seus discípulos” (Jo.4:2).

Crispo. O principal da sinagoga de Corinto (At.18:8). Crispo é um nome romano.

Gaio. Este é o anfitrião de Paulo e de toda a igreja de Corinto, mencionado em Rm.16:23. Não se sabe se é o mesmo Gaio a quem a terceira epístola de João é endereçada (3Jo.1). Gaio é um nome romano.

1Co.1:15 15. para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome.

Fostes batizados. Ao que parece, era comum em Corinto a crença de que havia uma relação especial entre quem batizava e o batizado. Mesmo quem afirmava pertencer ao partido de Paulo não podia se vangloriar de ter sido batizado pelas mãos de seu líder. Paulo estava feliz por ter tomado a decisão de permitir que outros fizessem a maior parte de seus batismos.

1Co.1:16 16. Batizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se batizei algum outro.

Batizei também. Este versículo sugere que a epístola foi ditada a um escrevente. Do contrário, Paulo não teria acrescentado “a casa de Estéfanas” como algo que lhe veio depois à mente, mas a teria inserido a princípio com Crispo e Gaio (ver 1Co.1:14).

Estéfanas. A casa de Estéfanas foi um dos primeiros frutos do trabalho de Paulo em Acaia (1Co.16:15). Estéfanas estava com Paulo, quando escreveu esta epístola (1Co.16:17).

1Co.1:17 17. Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo.

Para batizar. Paulo esperava que apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele. Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu trabalho principal, mas sim persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua intenção insinuar que não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande número de batismos. Seu argumento (ver 1Co.1:13-17) evidencia seu desejo de que o agente humano na obra da salvação fosse perdido de vista e que os pecadores arrependidos contemplassem a Jesus somente. Isso mostra que Paulo estava ciente do perigo de que os batizados pelos apóstolos pensassem ser superiores a outros conversos que não tiveram essa oportunidade. Assim se iniciaria uma luta de partidos na igreja, o que de fato estava ocorrendo. Ele declara que sua obra era proclamar as boas-novas da salvação e chamar todos ao arrependimento e à fé em Jesus. Esse é o principal objetivo dos ministros do evangelho.

Sabedoria de palavra. Os gregos estimavam os métodos sutis e polidos que usavam em seus debates e a refinada eloquência de seus oradores. Paulo não buscou imitar o estilo complicado e filosófico da retórica deles. O êxito do evangelho não depende dessas coisas, e o apóstolo não as tinha exibido na sua pregação. Seu ensino e modo de falar não inspirava louvor dos sofisticados gregos. Eles não consideravam sábia sua pregação. O apóstolo anelava que a glória da cruz de Cristo não fosse obscurecida por filosofia humana e oratória elegante, exaltando-se assim o homem em lugar de Deus. O êxito da pregação da cruz não depende do poder do raciocínio humano nem do encanto de uma argumentação refinada, mas do impacto de sua verdade simples apoiada no poder do Espírito Santo.

Anule. Literalmente, “esvazie”, isto é, vazio de seu conteúdo essencial.

1Co.1:18 18. Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.

Palavra. Do gr. logos. Talvez um contraste intencional com “sabedoria de palavra” (ver com. de 1Co.1:17).

Da cruz. Isto é, sobre a cruz. A “palavra da cruz” é a mensagem da salvação por meio da fé no Senhor crucificado. Tal mensagem parecia o cúmulo da loucura para os gregos amantes da filosofia e para os judeus inclinados ao ritualismo.

Os que se perdem. Eles estão no caminho da perdição, pois a única coisa que tem poder para salvá-los, isto é, a palavra da cruz, parece-lhes loucura.

Somos salvos. Literalmente “estão sendo salvos”. Paulo descreve a salvação como um ato presente. As Escrituras representam a salvação como um fato passado, presente e também futuro (ver com. de Rm.8:24).

Poder. Do gr. dynamis (ver com. de Lc.1:35). Para os que “estão sendo salvos”, devido à fé na genuína afirmação do evangelho, a palavra da cruz é o “poder de Deus”. Esse poder é demonstrado pela transformação do caráter que ocorre quando o pecador aceita a graça. O evangelho é muito mais que uma declaração de doutrina ou um relato do que Jesus fez pela humanidade quando morreu na cruz. É o poder de Deus atuando no coração e na vida do pecador crente arrependido, fazendo dele nova criatura (ver Rm.1:16; 2Co.5:17).

1Co.1:19 19. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.

Está escrito. Uma citação de Is.29:14, que se harmoniza mais com a LXX do que com o hebraico. Paulo apresenta uma evidência bíblica à observação feita no versículo anterior. Todos os esforços para encontrar um caminho para a salvação por meio da filosofia humana e sem Deus serão rejeitados e aniquilados pelo Senhor.

1Co.1:20 20. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?

Onde está o sábio? Este versículo é uma citação livre que combina as idéias de Is.19:12 e Is.33:18 (cf. Is.44:25. Com a palavra “sábio”, talvez Paulo se referisse em particular aos gregos, que amavam a filosofia secular; com “escriba”, ao judeu, que enfatizava a autoridade da lei; e, com “inquiridor”, tanto ao grego quanto ao judeu, que apreciavam a argumentação filosófica. Este versículo destaca a completa inutilidade de todas as formas de pensamento e raciocínio humano como meio de promover a pregação e a salvação.

1Co.1:21 21. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não O conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação.

Na sabedoria de Deus. Embora rodeados de evidências da sabedoria divina no mundo natural, na glória dos céus estelares e na providência divina em favor da vida, os seres humanos não aprenderam a conhecer a Deus. Com amor e piedade pela humanidade caída, Deus proclamou as novas da salvação por meio da fé em Cristo. Essas novas, que para os indivíduos sábios segundo o mundo eram mera loucura, se tornaram, para os que as aceitaram, o meio escolhido por Deus para a salvação.

Não O conheceu. Isto é, não alcançou conhecimento de Deus. Paulo fala da sabedoria da salvação tal como é revelada no evangelho.

Por sua própria sabedoria. Apesar de os homens se gloriarem de seus feitos e de sua sabedoria, não tinham conhecimento do verdadeiro Deus. Os gregos eram conhecidos pela filosofia, mas toda sua busca por coisas novas e estranhas (ver At.17:21) não os levou ao conhecimento do “Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe” (1Co.1:24). Os judeus também se gloriavam da superioridade de sua lei, mas eram ignorantes acerca do conhecimento essencial para a salvação.

Pregação. Do gr. kerugma, “anúncio”, “proclamação”, com ênfase na mensagem pregada ou proclamada. Deve-se diferenciá-la de keruxis, “o ato de pregar”. A “loucura da pregação” é o anúncio do evangelho da salvação por meio da fé do Cristo crucificado, que para os gregos e judeus descrentes parecia loucura.

1Co.1:22 22. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria;

Os judeus. No texto grego não há o artigo definido, “os”. Assim, chama-se atenção para as características do substantivo antes de sua identidade. O mesmo se dá com “os gregos”.

Sinais. Sobre os judeus pedirem um sinal, ver com. de Mt.12:38; cf. Sanhedrin, 98.a, ed. Soncino, Talmude, p. 665. Ao falar de judeus e gregos Paulo designava as duas classes mais importantes da época. Os judeus buscavam demonstrações físicas exteriores em forma de maravilhas, milagres e fatos sobrenaturais.

Gregos. Por séculos, este povo foi visto como intelectual e pensador. Acreditavam que o intelecto era capaz de compreender tudo.

1Co.1:23 23. mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios;

Cristo crucificado. Ver com. de 1Co.2:2.

Escândalo. Do gr. skandalon, “o que dispara uma armadilha” ou “o que serve de isca numa armadilha”. É colocada de forma que, ao ser pisada, a armadilha se dispara e o animal é apanhado. Metaforicamente, skandalon significa aquilo que causa pecado, erro ou ofensa. Para os israelitas, que se apegavam à expectativa de um Messias que governaria como um rei terreno e faria de Israel o reino supremo do mundo, a mensagem do Salvador crucificado era ofensiva. O evangelho era diretamente contrário ao conceito que tinham do Messias, portanto, era rejeitado por eles, para sua ruína (ver Gl.5:11). A atitude dos judeus para com a ideia de que um crucificado pudesse ser o Messias é ilustrada no Diálogo com Trifo, de Justino Mártir, no qual Trifo diz: “Mas esse Cristo de vocês foi tão vil e ignominioso ao ponto de que a última maldição contida na lei de Deus caiu sobre ele, pois foi crucificado” (32; ANF, vol. 1, p. 210).

Para os gentios. Para os que confiavam na lógica, na ciência e nas descobertas intelectuais, a ideia de que alguém condenado à morte pela forma mais humilhante de punição usada pelos romanos, a crucifixão, pudesse salvá-los era completa tolice (ver AA.245). A dificuldade que a mente filosófica enfrenta para aceitar um crucificado como o Filho de Deus se reflete na seguinte passagem de Justino Mártir: “Pois com que razão deveríamos crer que um crucificado seja o primogênito de Deus, e que Ele próprio julgará toda a raça humana, a menos que tivéssemos encontrado testemunhos a respeito dEle publicados antes de Ele vir e nascer como homem, e a menos que víssemos que essas coisas aconteceram assim” (Primeira Apologia, 53; ANF, vol. 1, p. 180). No cap. 13, o mesmo apologista declara: “Eles proclamam que nossa loucura consiste nisso: o fato de darmos a um crucificado o segundo lugar depois do Deus imutável e eterno” (ibid, p. 167).

1Co.1:24 24. mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.

Chamados. Para esses, o chamado não só já foi feito; também foi aceito (sobre o significado de “chamados”, ver com. de Rm.8:28; Rm.8:30).

Tanto judeus como gregos. Ver com. de Rm.1:16. Todos os verdadeiros cristãos, independentemente de oportunidades e privilégios nacionais ou culturais, reconhecem Jesus como aquele por meio de quem o poder de Deus é exercido para a salvação. Consideram sábio o plano de Deus para a redenção do ser humano, e que Deus remove todas as barreiras e une pessoas de todas as classes e culturas numa comunidade de amor.

1Co.1:25 25. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Loucura de Deus. O meio que Deus dispôs para a salvação do ser humano parece loucura para quem está cego pela filosofia humana. A linguagem é figurada. Na realidade, não há loucura ou fraqueza em Deus, mas o modo como Ele lida com o ser humano parece completa insensatez ao coração não regenerado. De fato, os planos de Deus para a restauração do ser humano estão muito mais bem adaptados às necessidades humanas do que todos os esquemas e artifícios do pensador mais brilhante que o mundo pode ter.

Fraqueza de Deus. Isto é, aquilo que parece fraco ao ser humano.

1Co.1:26 26. Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento;

Reparai. Ou, “contemplai”.

Vocação. Ver com. de 1Co.1:24.

Foram chamados. Estas palavras foram acrescentadas e, caso permaneçam, devem ser compreendidas no sentido de “chamados efetivamente” (ver com. de 1Co.1:24). Seria melhor entender a passagem como: “Não há muitos sábios entre vós.”

Muitos sábios. Para estabelecer a igreja, Deus não se valeu da sabedoria, riqueza, ou do poder deste mundo. Ele procura ganhar todas as classes, mas a chamada sabedoria deste mundo com frequência leva as pessoas a se exaltarem em vez de se humilharem perante Deus. Portanto, não é grande a proporção de ricos segundo o mundo e dos considerados líderes do pensamento popular que aceitam o evangelho simples de Jesus Cristo. De fato, “o evangelho sempre alcançou seu maior sucesso entre as classes humildes” (AA, 461).

1Co.1:27 27. pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes;

As coisas loucas. A mente cheia da sabedoria deste mundo fica confusa diante da clara e simples pregação do evangelho por alguém instruído pelo Espírito de Deus, mas com pouca instrução secular. Os judeus ficaram surpresos com a sabedoria de Jesus, e perguntaram: “Como sabe este letras, sem ter estudado?” (Jo.7:15). Não podiam entender como alguém que não frequentou as escolas dos rabis fosse capaz de apresentar as verdades espirituais. O mesmo se dá hoje. O valor atribuído à instrução se calcula em geral pela quantidade de anos de estudo. A verdadeira instrução é aquela que torna a Palavra de Deus a fonte do saber. Quem obteve tal instrução é humilde, manso e submisso à orientação do Espírito Santo (comparar com Mt.11:25).

Coisas fracas. Isto é, as coisas que o mundo considera fracas.

1Co.1:28 28. e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;

Humildes. Do gr. agenes, literalmente, “de nenhuma família”, portanto, empregado para descrever alguém sem nome ou reputação. Neste caso, agenes indica os desprezados pela sociedade. Paulo enfatiza que Deus não depende da habilidade ou instrução humana para o cumprimento de Seu propósito: a redenção do ser humano. Instrumentos humildes que se entregam por completo a Deus são usados para mostrar como é vão e impotente confiar na instrução e no poder do mundo.

Aquelas que não são. Isto é, coisas que o mundo considera não existentes ou de nenhum valor.

1Co.1:29 29. a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.

Ninguém. Isto é, nenhum ser humano (Mc.13:20; Lc.3:6). Paulo resume o raciocínio dos v. 1Co.1:18-28 declarando que nenhuma classe de pessoas, ricas ou pobres, poderosas ou humildes, instruídas ou não, tem motivo para se gloriar perante Deus.

Vanglorie. O tempo do verbo grego indica que não pode haver qualquer jactância.

1Co.1:30 30. Mas vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,

Dele. Isto é, de Deus. A vida pertence a Deus (At.17:25; At.17:28).

Em Cristo Jesus. É a união com Cristo que torna os cristãos fortes e sábios. Eles não buscam posições honrosas, riqueza, honra ou poder para si mesmos. Deus, por meio de Jesus Cristo, supre todas as coisas. Muito embora o ser humano não reconheça, Cristo é quem provê tudo o que se possui. Todo o necessário para resgatar o ser humano da degradação em que se afundou, como resultado do pecado, se encontra em Jesus, em quem habita “toda a plenitude da Divindade” (Cl.2:9; cf. PJ, 115). Por meio de Jesus, nos tornamos sábios, justos, santos e remidos.

Sabedoria. Ver com. de Rm.11:33.

Justiça. Pela fé, a justiça de Cristo é imputada e concedida ao crente arrependido (ver com. de Rm.1:17; Rm.4:3).

Santificação. Do gr. hagiasmos (ver com. de Rm.6:19).

Redenção. Do gr. apolutrosis (ver com. de Rm.3:24).

1Co.1:31 31. para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.

Glorie-se no Senhor. Citação abreviada de Je.9:23-24. Não há motivo para exaltação ou jactância em nenhuma conquista humana. A única coisa pela qual o ser humano pode encontrar justificativa para se gloriar é no fato de conhecer o Senhor Jesus Cristo como seu salvador pessoal. A maravilha do amor e da sabedoria de Deus, revelada em Cristo, é fonte contínua de louvor e regozijo, diante da qual toda sabedoria e proeza humanas se perdem em total insignificância.

1Co.2:1 1. Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.

Quando fui. Paulo fala de sua chegada a Corinto e do início de seu ministério ali (ver At.18:1-18). Desde então haviam se passado cerca de três anos.

Testemunho. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “mistério” (NVI; sobre a palavra “mistério”, ver com. de Rm.11:25; Ef.6:19; Cl.2:2; Ap.10:7). O evangelho mostra as obras de Deus para resgatar o ser humano do pecado e restaurá-lo à harmonia com Ele. E o registro da evidência dada por Deus, na vida de Cristo, de Seu amor pelo ser humano.

Ostentação de linguagem. Paulo não tentou ganhar as pessoas por meio de retórica ou oratória. Tampouco se apoiou na “sabedoria”, isto é, filosofia, para provar a verdade do evangelho (ver com. de 1Co.1:17-19). Os coríntios não tinham conhecimento das obras divinas. Foi necessário que Paulo instruísse os novos conversos nos rudimentos do evangelho. Uma oratória humanamente sofisticada era inadequada para esse fim.

Comentários de EW: wAA.270.1-3.

1Co.2:2 2. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.

Decidi. Do gr. krino, denota um ato consciente da vontade. Neste caso, significa “resolver”, “tomar uma decisão”. A decisão de Paulo quanto ao método de trabalho não foi uma ideia do momento, mas um plano elaborado antes de ir a Corinto. Em Atenas, o apóstolo tinha usado argumentação e filosofia erudita para combater a idolatria pagã dos gregos. Seus esforços tiveram pouco êxito. Ao relembrar sua experiência em Atenas, decidiu adotar um método diferente de pregação em Corinto. Planejou evitar debates próprios de um erudito e argumentos detalhados, mas apresentar a simples história de Jesus e Sua morte expiatória (ver AA, 244).

Senão a Jesus Cristo e este crucificado. Paulo pregou Cristo crucificado a despeito de que a ideia de um Salvador crucificado fosse uma ofensa tanto a judeus quanto a gregos (ver com. de 1Co.1:23).

1Co.2:3 3. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós.

Grande tremor. Paulo estava ciente de suas limitações e debilidades (ver 2Co.10:1; 2Co.10:10; 2Co.11:30; 2Co.12:5; 2Co.12:9-10). Preocupava-se com o êxito da missão em Corinto, pois sabia que tinha muitos inimigos na cidade (ver At.18:6). Porém, Deus tinha lhe assegurado que sua obra teria êxito e que ele não tinha nada a temer (ver At.18:9-10). O apóstolo também desejava que sua obra não ficasse marcada por características meramente humanas. O ministro de Deus deve estar ciente de suas limitações e fraquezas. Tal atitude o leva a confiar em Deus em busca de força e sabedoria. “Nossa grande força está em compreender e sentir nossa fraqueza” (T5, 70).

Eu estive. Literalmente, “eu me tornei”, no sentido de “eu vim [a vós]”.

1Co.2:4 4. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder,

Pregação. Do gr. kerugma (ver com. de 1Co.1:21).

Linguagem persuasiva. Literalmente, “com palavras persuasivas”. Paulo não confiava no poder persuasivo do raciocínio humano, nem em debates, nem buscava encantar e cativar os ouvintes com o estilo de filosofia sutil que tanto atraía os gregos.

Humana (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. O significado da passagem não é alterado.

Demonstração. Do gr. apodeixis, “exposição”, “prova segura”, “evidência”, “demonstração”. A prova de que a mensagem que Paulo pregava era de origem divina não se estava na argumentação hábil, mas na evidência, ou “demonstração”, do Espírito Santo. A obra do apóstolo em Corinto foi acompanhada, bem como em outros lugares, de milagres (2Co.12:12; At.14:3). Os dons do Espírito Santo foram ricamente concedidos à igreja (ver 1Co.1:5-7; 1Co.14). A presença dos dons do Espírito na igreja era uma demonstração da verdade do evangelho pregado por Paulo. Mas o maior milagre foi a conversão de muitos coríntios, do paganismo a Cristo (ver At.18:8).

O ladrão se tornou honesto; o preguiçoso, trabalhador; o libertino, puro; o bêbado, sóbrio; o cruel, amável e gentil; e o miserável, feliz. Brigas e discórdias deram lugar a paz e harmonia. Essas evidências do poder do evangelho de Jesus Cristo podiam ser observadas por todos, portanto, eram inegáveis. O evangelho continua dando esse tipo de prova de sua origem divina através dos séculos. Cada crente convertido dá essa demonstração; e cada situação em que o evangelho produz paz, alegria, esperança e amor mostra que Deus é a fonte da mensagem.

1Co.2:5 5. para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.

Vossa fé. Paulo desejava que os coríntios confiassem no poder de Deus para mudar vidas. Ele não queria levá-los a depositar a confiança em nenhuma forma de poder humano. Em seus esforços, ele tinha evitado o uso de filosofias para convencer os ouvintes da verdade do evangelho. Buscou esconder-se em Jesus a fim de que a fé dos crentes estivesse alicerçada no Salvador. Não é pela vontade ou os esforços humanos que alguém é levado a se entregar ao Senhor, mas pelo poder persuasivo do Espírito Santo.

1Co.2:6 6. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada;

Entretanto. Isto introduz a segunda seção da argumentação do cap. 2, no qual Paulo mostra que somente a mente submetida ao Espírito Santo pode entender e apreciar o evangelho. Embora Paulo não tivesse abordado os coríntios com ostentação de linguagem ou de sabedoria, levou-lhes um tesouro de verdadeira sabedoria.

Experimentados. Do gr. teleioi, “crescido”, “maduro” (ver com. de Mt.5:48). Paulo descreve os cristãos maduros (ver Ef.4:13-14, contrastando a “perfeita varonilidade” (teleios) com “menino”; comparar com Fp.3:15, em que fala de si mesmo e de outros como “perfeitos” [teleioi]; em Hb.5:14, teleioi é traduzido como “adultos”). O cristão deve crescer no conhecimento da verdade e não continuar se alimentando de “leite” espiritual (Hb.5:12-13). O próprio Jesus sugere que a apresentação da doutrina devia ser adaptada aos diferentes estágios do crescimento cristão (ver Jo.16:12). Paulo relembra aos coríntios que estava instruindo os que já tinham aprendido os rudimentos do cristianismo e deviam ser capazes de apreciar as verdades mais profundas (ver 1Co.3:1-3).

Sabedoria deste século. Ver com. de 1Co.1:21-22. Poderosos desta época, identificados no v. 2Co.2:8 como os que crucificaram Jesus.

Reduzem a nada. O verbo grego indica que isso está para ocorrer. Os poderosos deste mundo, apesar de toda sua cultura e conquistas, mostram constantemente que não são dignos de confiança no reino espiritual. À luz da sabedoria ensinada por Cristo, eles são ignorantes e fracos.

1Co.2:7 7. mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;

Sabedoria de Deus. Neste caso, a sabedoria de Deus conforme revelada no plano da salvação.

Mistério. Do gr. musterion (ver com. de Rm.11:25). O plano da salvação, formulado antes da criação do mundo (ver DTN, 22; 63) e anunciado e posto em prática por Deus quando Adão pecou (ver PP, 64-66), era um grande mistério para o universo. Os anjos não podiam compreendê-lo plenamente (ver 1Pe.1:12; GC, 415). Os profetas, que escreveram sobre isso, entendiam apenas em parte as mensagens que transmitiam a respeito da salvação por meio de Cristo (1Pe.1:10-11). O ser humano não é capaz de compreender a sabedoria de Deus porque é diretamente contrária à filosofia de vida mundana. Mesmo o crente consagrado é incapaz de entender plenamente o plano da salvação (ver Rm.11:33-36).

Glória. Ver com. de Rm.3:23.

1Co.2:8 8. sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória;

Nenhum [...] conheceu. Devido à falsa interpretação das profecias do AT sobre o Messias, os judeus não reconheceram Jesus de Nazaré como o Libertador prometido. A crença popular de que o Messias viria como um rei terreno para fazer de Israel a nação dominante no mundo levou os judeus a rejeitar o Salvador. Do mesmo modo hoje, crenças errôneas e tradições cegam os olhos das pessoas para a verdade do segundo advento de Cristo. Além disso, os falsos ensinamentos da teologia popular sobre a natureza de Deus fazem com que muitos rejeitem o cristianismo e se tornem agnósticos ou mesmo incrédulos (ver T5, 710).

Senhor da glória. Comparar com At.7:2; Ef.1:17; Tg.2:1. Cristo é descrito como “Senhor da glória" em contraste com a ignomínia da cruz (ver com. de Jo.1:14; sobre glória, ver com. de Rm.3:23).

1Co.2:9 9. mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.

Mas. Do gr. alla, conjunção adversativa. Embora pessoas não convertidas não compreendam a “sabedoria de Deus em mistério” (1Co.2:7), o Senhor fez uma revelação maravilhosa de Sua sabedoria àqueles que O amam. As riquezas da graça divina não são discernidas pelos não convertidos, mas o cristão vê as coisas belas deste mundo como uma expressão do amor de Deus e uma garantia da restauração de todas as coisas.

Escrito. Citação de Is.64:4.

Nem olhos viram. O texto diz, literalmente: “As coisas que olho não viu e ouvido não ouviu, e não vieram sobre o coração do homem, é o que Deus preparou para aqueles que O amam.” Os aspectos físicos da existência são percebidos pelos sentidos e usados para se adquirir conhecimento das coisas ao redor. O fato de o olho nem o ouvido poderem entender as coisas de Deus prova que são necessárias outras faculdades além dos sentidos físicos para se entenderem as verdades espirituais (1Co.2:10).

Coração. Do gr. kardia, palavra que se refere ao centro das faculdades humanas (ver com. de Rm.1:21). A realidade dos reinos da graça e da glória não pode ser entendida pelos sentidos ou pelo intelecto. Mas, por meio do conhecimento que Deus confere, as pessoas podem obter compreensão cada vez mais ampla da verdade da salvação. Por si mesmo, o ser humano é incapaz de perceber ou valorizar as bênçãos do evangelho. A experiência do não convertido não se pode comparar com a paz que enche o coração do pecador que se entrega a Cristo e recebe a certeza do perdão de Deus.

O que. Tudo o que Deus tem planejado para Seu povo está incluído nesta expressão. Na aplicação imediata, a declaração trata do que é provido pelo evangelho para o bem-estar e felicidade do povo de Deus nesta Terra. Isso inclui perdão de pecados, justificação e santificação, alegria e paz que a graça de Deus confere ao crente, e seu livramento deste mundo. Por extensão, a declaração também compreende a maravilha, beleza e alegria do reino da glória, o lar eterno dos salvos. Todo esse conhecimento está além de tudo que o ser humano conhece neste mundo (ver com. de Is.64:4).

Preparado. Comparar com Mt.20:23; Mt.25:34.

1Co.2:10 10. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.

Deus no-lo revelou. Deus planejou uma revelação contínua da verdade a Seu povo (ver T5, 703). A compreensão das coisas de Deus é dada àqueles que O amam e apreciam o que Ele é e tudo o que tem feito por eles. É provida aos que buscam a verdade como a um tesouro escondido.

Pelo Espírito. A terceira pessoa da divindade proporciona a compreensão da verdade à humanidade (ver com. de Jo.14:16). A contínua aquisição do conhecimento espiritual só é possível àqueles que se submetem voluntariamente à direção e iluminação do Espírito Santo (ver Rm.8:5; Rm.8:14; Rm.8:16).

Perscruta. Como membro da divindade, o Espírito Santo sabe todas as coisas. Ele perscruta, não a fim de descobrir algo que desconhecia previamente, mas para trazer à luz os conselhos escondidos de Deus. É obra do Espírito trazer as coisas de Deus à lembrança de Seu povo e guiá-lo na investigação da verdade (Jo.16:13-14). Esta passagem mostra que o Espírito Santo não é uma força impessoal. Perscrutar é um atributo da personalidade que envolve pensamento e ação. O Espírito conhece e entende todos os planos e conselhos de Deus. Eis uma clara prova da onisciência e, por conseguinte, da divindade.

1Co.2:11 11. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.

O seu próprio espírito. Os pensamentos, desejos, intenções e planos particulares de um pessoa são plenamente conhecidos e compreendidos apenas por ela mesma. Nenhum amigo pode conhecê-los a menos que a própria pessoa escolha revelá-los. Mesmo quando ele decide revelar os pensamentos e planos a outros, estes só podem saber e entender o que lhes for revelado.

Ninguém. Inclui seres humanos e anjos.

1Co.2:12 12. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.

Espírito do mundo. Esta expressão pode ser paralela à “sabedoria deste século” (1Co.2:6). Nesse caso, o mundo é representado como possuindo um espírito cuja natureza é essencialmente má. O “espírito do mundo” se opõe ao Espírito de Deus. Quem o possui não tem prazer nas coisas celestiais, mas se concentra nas coisas temporárias desta vida.

Espírito que vem de Deus. Ou, “Espírito que é de Deus”. A referência é ao Espírito Santo.

Para que conheçamos. O propósito de Deus em conceder o Espírito é que entendamos as coisas providas pela graça. O Espírito de Deus não só revela ao ser humano as bênçãos do evangelho, mas também opera nele a vontade divina. O resultado desse recebimento do Espírito será visto na vida em harmonia com a vontade de Deus. Numa vida assim se veem os frutos do Espírito (ver Gl.5:22-23). Os que se desviam do “espírito do mundo” são esvaziados do eu e recriados pelo Espírito Santo, que os leva a fixar as afeições no reino de Deus. Estão capacitados a se tornar cidadãos do Céu.

1Co.2:13 13. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais.

Ensinadas pela sabedoria humana. A frase diz, literalmente: “não em palavras ensinadas de sabedoria humana”. As palavras e o raciocínio sutil da filosofia grega não poderiam apresentar de forma direta as verdades de Deus.

Ensinadas pelo Espírito. Literalmente, “em [palavras] ensinadas do Espírito”. Paulo era o receptor da instrução comunicada pelo Espírito do Deus vivente. Ele reconhecia que estava sob a liderança do Espírito Santo e que seus pensamentos eram motivados pelo Espírito (ver AA, 251; Ellen G. White, Material Suplementar sobre 2Pe.1:21). Visto que a sabedoria celestial é tão diferente de todo conhecimento terreno, deve ser expressa em forma e em linguagem diferente das que se usam comumente na Terra. A pessoa na qual o Espírito de Deus habita e por meio de quem Ele opera vive numa esfera diferente da que se volta para as coisas terrenas. O matemático expressa uma verdade lógica na linguagem técnica da matemática; o músico discute um tema musical com vocabulário da música. Do mesmo modo, verdades espirituais são expressas por palavras espirituais.

Conferindo. Do gr. sugkrino. Esta palavra ocorre no NT só aqui e em 2Co.10:12, em que é também traduzida como “comparar”. Na LXX, sugkrino significa “interpretar” (ver Gn.40:8; Gn.40:16; Gn.40:22; Gn.41:12-13; Gn.41:15; Dn.5:12; Dn.5:16). No emprego clássico, a palavra tem o sentido de “comparar” e “combinar”. Seu significado nos papiros não parece concordar com o desta passagem. Neles, indica “decidir”, principalmente em questões judiciais. A interpretação da presente passagem depende do significado dado a sugkrinõ e do gênero atribuído à expressão traduzida como “com espirituais” (pneumatikois). Na forma em questão, pneumatikois pode ser masculina ou neutra. Se for masculina, refere-se a pessoas espirituais, ou talvez a palavras espirituais; se for neutra, se refere a coisas espirituais.

A ambiguidade do termo pneumatikois e os diferentes significados atribuídos a sugkrino possibilitam várias traduções: (1) “combinando verdades espirituais com palavras espirituais”, (2) “interpretando coisas espirituais por meio de palavras espirituais”, (3) “interpretando coisas espirituais por pessoas espirituais”, (4) “comparando coisas espirituais com o espiritual”, isto é, a revelação espiritual dada antes, e (5) “revestindo o conteúdo espiritual com formas espirituais”, isto é, construídas pelo Espírito. Não há como determinar qual dessas interpretações Paulo tinha em mente. Todas se ajustam ao contexto e transmitem importantes verdades espirituais.

1Co.2:14 14. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

O homem natural. O homem cuja mente não está voltada para o que é espiritual; que não foi regenerado, cujos interesses estão nas coisas desta vida. Uma pessoa assim recorre à sabedoria humana para a solução de seus problemas. Vive para agradar a si mesmo e satisfazer os desejos do coração não convertido. Por isso, é incapaz de entender e apreciar o que vem de Deus. Para ele, o plano da salvação e a revelação do amor de Deus são loucura. Não consegue distinguir entre filosofia mundana e verdade espiritual porque a sabedoria de Deus é entendida apenas pelos que se permitem ser instruídos pelo Espírito Santo.

Discernem. Do gr. anakrino, “examinar”, “investigar”; neste caso, conhecer a verdade após exame e julgamento (comparar com o uso de anakrino, em Lc.23:14; At.4:9; 1Co.2:15; 1Co.10:25).

Espiritualmente. Não se pode conhecer a verdade espiritual sem ajuda divina (ver com. dos v. 1Co.2:9-10).

1Co.2:15 15. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.

O homem espiritual. Isto é, a pessoa regenerada, iluminada pelo Espírito Santo, em contraste com quem não é.

Julga. Do gr. anakrino, verbo traduzido como “discernem”, no v. 1Co.2:14. Anakrino indica que o homem espiritual estuda, examina e julga questões que chamam sua atenção e, guiado pelo Espírito, tira conclusões apropriadas.

Não é julgado por ninguém. As pessoas podem desejar fazê-lo, mas ninguém cuja mente esteja voltada para as coisas deste mundo (v. 1Co.2:14) pode entender os princípios, sentimentos e esperanças de alguém espiritual. O coração não regenerado não é capaz de apreciar as coisas do Espírito de Deus.

1Co.2:16 16. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.

Mente do Senhor. A primeira parte deste versículo é uma citação de Isaías 40:13. Os não regenerados não podem entender as ações divinas. Portanto, não estão em posição de ensinar a pessoa espiritual, que está sob a direção do Espírito. Quem é espiritual têm o Espírito, que lhe ensina o que é de Deus.

Mente de Cristo. Somos unidos a Cristo pelo Espírito, pois a presença do Espírito Santo equivale à presença de Jesus (ver Jo 14:16-19). Por isso, temos o mesmo sentimento de Cristo (ver Fp 2:5). Pelo Espírito Santo, Jesus habita no crente e atua nele e por meio dele (G1 2:20; Ef 3:17; Fp 2:13).

1Co.3:1 1. Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.

Carnais. Do gr. sarkikos, “carnal”, “de natureza e características carnais”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante sarkinos, “de carne”, “arraigado na carne”. Talvez não se deva enfatizar demais a distinção entre essas duas palavras, as quais podem ter o mesmo sentido, nesta passagem e no v. 3.

Como a crianças. Em seus labores em Corinto, Paulo adaptou seus métodos às circunstâncias locais. Ele se viu obrigado a apresentar o evangelho de forma simples, devido à incapacidade dos corintios de entender as coisas profundas do cristianismo. Ele teve de tratar o povo de Corinto como bebês espirituais e limitar sua instrução aos aspectos mais elementares da religião. Não podia tratá-los como maduros espiritualmente, qualificados a compreender as verdades mais plenas e profundas do evangelho. Não poderia considerá-los livres dos sentimentos e ambições que controlam e motivam as pessoas deste mundo. Entre eles havia facções e contendas, evidências dolorosas de que ainda estavam dominados por impulsos do coração natural.

1Co.3:2 2. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.

Leite. O alimento natural dos bebês. O “leite” representa os princípios elementares do evangelho.

Dei. Do gr. potizo, “dar a beber”. Comparar com Hb.5:12-14; 1Pe.2:2.

Alimento sólido. Do gr. broma, alimento em geral, neste caso, alimento sólido contrastado com o leite. Representa as verdades mais plenas e profundas do evangelho (ver Hb.6:1-2).

Nem ainda agora. Eles eram incapazes de compreender os profundos mistérios do evangelho quando Paulo visitou Corinto pela primeira vez. E, quando escreveu a epístola, ainda não tinham avançado no conhecimento cristão a fim de poder compreendê-lo.

1Co.3:3 3. Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?

Ciúmes e contendas. Do gr. zelos kai eris, alistados entre as obras da carne em Gálatas e traduzidos como “ciúmes” e “discórdias” (Gl.5:20). O primeiro resulta no último. O espírito de ciúmes e más suposições impedia ao Espírito Santo o livre acesso ao coração dos coríntios (ver AA, 271; T5, 241). Os desejos e sentimentos do coração natural devem ser submetidos ao poder de Jesus para que a pessoa possa entender e apreciar o plano da salvação.

Carnais. Do gr. sarkikos (ver com. do v. 1Co.3:1). Ao usar este termo, Paulo não indica que os coríntios estavam entregues por completo à carne, como os ímpios, mas que ainda estavam parcialmente sob sua influência.

Dissensões (ARC). Do gr. Dichostasiai (ver com. de Rm.16:17). Evidências textuais apoiam (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. Dichostasiai também é uma das obras da carne (Gl.5:20).

1Co.3:4 4. Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens?

Eu sou de Paulo. Ver com. de 1Co.1:12.

Homens. Do gr. sarkikoi, “carnal”. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a variante anthropoi, “homens”, isto é, meros seres humanos.

1Co.3:5 5. Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um.

Quem é Paulo? As evidências textuais (cf. p. xvi) se dividem entre esta frase e “O que então é Paulo?”, isto é, qual é sua posição especial? O mesmo se aplica à frase “quem é Apolo?” Paulo busca apresentar a verdadeira posição do ministro de Cristo. Ele não é chamado a ser líder de um partido. É simplesmente um ministro (diakonos, “servo”; ver com. de Mc.9:35) para levar salvação ao semelhante.

Conforme o Senhor concedeu. Pode ser entendido à luz de Rm.12:3: “segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (ver com. Rm.12:3). Portanto, a referência é aos coríntios que creram como resultado do ministério de Paulo e Apolo. Paulo também podia estar falando de si mesmo, de Apolo e outros ministros de Cristo, que, ao cumprirem sua missão, faziam simplesmente o que se esperava deles (cf. com. de Lc.17:10).

1Co.3:6 6. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus.

Eu plantei. Cada um dos servos de Deus tem uma tarefa a realizar. Alguns ministros fazem o trabalho pioneiro, semeando a semente da Palavra; outros trabalham na colheita. Diferentes instrumentos podem ser usados para conduzir um pecador a Cristo, como no trabalho do carpinteiro em que ferramentas diferentes são usadas para se construir um objeto.

Crescimento. Os seres humanos são apenas o meio empregado por Deus na obra de salvar pessoas, e todo o crédito da conversão de pecadores deve ser dado ao Senhor (ver T7, 298). Os que acreditam no ministério do ser humano devem centralizar a afeição em Jesus e não naqueles que apresentam o evangelho.

Veio. Literalmente, “foi dado”. Enfatiza-se a contínua bênção de Deus.

1Co.3:7 7. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.

Alguma coisa. Eis a resposta às questões do v. 1Co.3:5.

Mas Deus. Ele é tudo. Todo êxito se deve às bênçãos de Deus. O ser humano não deve se apropiar da glória de seu sucesso.

1Co.3:8 8. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho.

São um. Quem planta e quem rega não trabalham com propósitos opostos. Eles estão unidos em suas metas e objetivos. Não tem sentido apresentá-los como líderes rivais.

O seu galardão. Cada um receberá a recompensa segundo o serviço que realizou na causa de Deus. Todo remido recebe a vida eterna, mas, além disso, as bênçãos dadas aos remidos no reino da glória estão relacionadas à natureza de seu serviço nesta vida. A partir da parábola das dez minas parece razoável deduzir que há níveis diferentes de recompensa pelos serviços prestados (Lc.19:16-26; cf. T2, 284, 285; PJ, 330, 331, 363; DTN, 314). Como mordomos dos bens de Deus, espera-se que Seus filhos usem suas habilidades fielmente. Dinheiro investido na obra de Deus e talentos usados para testemunhar dEle resultarão na salvação eterna de homens e mulheres (ver T9, 58, 59).

1Co.3:9 9. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós.

De Deus somos cooperadores. Nesta frase, o texto grego enfatiza a palavra “Deus”. A obra é de Deus, e os seres humanos são meramente as mãos dos agentes celestiais. Como cooperadores do Mestre, os seres humanos devem estar dispostos a trabalhar segundo o método divino, mesmo que seja contrário aos seus pensamentos naturais (Cl.3:23). Eles se esforçarão para cooperar plenamente com o Senhor em cumprir Suas instruções. O filho de Deus sabe que o Pai jamais exigirá que ele faça algo que não seja para seu bem. Essa feliz relação de cooperação se baseia na confiança no grande amor do Pai onisciente. Confiança na sabedoria e no amor de Deus resulta em submissão voluntária a Sua direção.

Os que submetem a própria vontade dessa forma serão usados por Deus como Seus colaboradores (ver T8, 172). Uma visão do privilégio de ser colaborador, não dos poderosos deste mundo, mas do Criador e Mantenedor do universo, faz com que as mais elevadas honras e as maiores recompensas deste mundo pareçam insignificantes. Se todos tivessem a consciência desse grande privilégio e trabalhassem unidos para cumprir os planos de Deus, abalariam o mundo (ver T9, 221; cf. T2, 443).

Lavoura. Do gr. georgion, “terra cultivada”, “campo cultivado”. Esta palavra não ocorre em outro texto no NT. Paulo dá sequência à metáfora do v. 7. A igreja em Corinto é representada como um campo que Deus cultiva para produzir frutos para Seu reino. Deus é o agricultor supremo.

Edifício. Do gr. oikodome, de oikos, “casa”, e demo, “edificar”. Paulo introduz uma nova metáfora. Deus é o arquiteto mestre da construção espiritual da igreja (comparar com Rm.15:20; Ef.2:20-22).

1Co.3:10 10. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica.

Graça de Deus. Paulo tinha consciência de que tudo que alcançara, ao fundar a igreja de Corinto, fora pelo favor de Deus. Ele lhe designou a tarefa de ser o apóstolo dos gentios (ver At.9:15-16; At.26:16-18; 2Co.1:1; Gl.1:1). Uma característica especial de sua obra foi fundar igrejas (ver Rm.15:20).

Prudente. Do gr. sophos, neste caso, “hábil”.

Construtor. Do gr. architekton, da qual deriva a palavra “arquiteto”. Architekton vem de archi, no sentido de “chefe” (comparar a archaggelos, “arcanjo”), e tekton, “artesão”, derivado de tikto, “dar à luz”, “produzir”. Architekton não ocorre em outro texto do NT, mas a frase sophos architekton ocorre na LXX, de Is.3:3, que a ARA traduz como “hábil entre os artífices”. Ao fundar a igreja, Paulo tinha construído uma base firme, como faria um hábil arquiteto ao construir um edifício. Sobre um fundamento sólido, outros obreiros poderiam continuar o trabalho, sabendo que os crentes foram solidificados nos princípios da verdade.

Como edifica. Os sucessores de Paulo deveriam ser cuidadosos ao construir sobre o fundamento que o apóstolo lançara. Existe uma advertência implícita também contra falsos mestres. A obra de Paulo com frequência recebia interferência daqueles cujo ensino não se baseava nas verdades simples do evangelho (ver At.15:1-2; At.15:24; 2Co.11:26; Gl.1:8-9; Gl.2:4-5). Não só é essencial que novos conversos sejam fielmente instruídos nas doutrinas básicas da igreja, mas também que sejam protegidos contra instruções errôneas de fanáticos.

1Co.3:11 11. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.

Outro. Do gr. allos, “outro [do mesmo tipo]”, “mais um” (ver com. de Gl.1:6). Há apenas um Salvador. Outros proclamados como salvadores não são “outro” do mesmo tipo. Não são salvadores (ver Jo.14:6; At.4:12).

Foi posto. Ou, “está posto”.

1Co.3:12 12. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,

O que alguém edifica. A principal referência de Paulo é aos líderes da igreja de Corinto. Nem todos cumpriam sua tarefa como deveriam (ver com. do v. 1Co.3:10).

Ouro, prata. A metáfora dos materiais de construção, neste versículo, pode representar: (1) a instrução espiritual dos líderes ou (2) as pessoas que compõem o edifício espiritual de Deus. Essas duas idéias estão relacionadas e Paulo talvez tivesse ambas em mente quando usou a metáfora. Instrução espiritual adequada leva à formação de caracteres cristãos saudáveis; instrução inferior, a caracteres defeituosos. Os membros da igreja são representados como “pedras que vivem” de uma “casa espiritual” (ver 1Pe.2:5).

Pedras preciosas. Materiais de construção duráveis, como granito e mármore, ou simplesmente pedras ornamentais. Se Paulo tinha em mente o primeiro, enfatizou a durabilidade; se o segundo, o valor. Esses materiais de construção representam tanto instrução sólida quantos membros de igreja de vida espiritual saudável.

Madeira, feno, palha. Estes materiais representam a instrução deficiente ou membros de igreja de experiência restrita. Existem muitas crenças e doutrinas errôneas que não suportam o teste da Palavra de Deus e não contribuem para a formação de caracteres que subsistirão no juízo. Na religião, há fanatismo, intolerância, falsa humildade, atenção exagerada às formas e cerimônias externas, entusiasmo e agitação, os quais serão patenteados no grande dia de Deus.

1Co.3:13 13. manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará.

Manifesta. A real natureza da obra das pessoas nem sempre é evidente nesta vida, mas será vista em sua verdadeira luz “no dia em que Deus, por meio de CristoJesus, julgar os segredos dos homens” (Rm 2:16). O caráter da instrução espiritual conferida será então totalmente revelado nos resultados produzidos na vida daqueles que a receberam. Alguns serão pesados e achados em falta. Outros receberão a coroa da imortalidade.O Dia. Isto é, o dia do juízo final, o dia do Senhor, “esse Dia” (lTs 5:4).Revelada pelo fogo. Somente materiais à prova de fogo restam quando um edifício é tomado pelas chamas. O fogo representa tempos de crise, incluindo a “hora da provação”, que virá sobre todo o mundo “para experimentar os que habitam sobre a terra’’ (Ap 3:10). Este fogo parece não se referir ao fogo literal do último dia, pois representa uma prova da qual é possível se salvar (ver ICo 3:14, 15). Em tempos de angústia, a natureza da fé dos filhos de Deus será manifesta. Se forem realmente convertidos e tiverem sido doutrinados com o puro evangelho de Jesus Cristo, o fogo da perseguição e da prova apenas fortalecerá sua fé e fará que o amor pelo Senhor brilhe ainda mais. Se, por outro lado, receberam instrução defeituosa, um misto de filosofia humana e acordos mundanos, sua fé não passará no teste, e deixarão Cristo e Sua igreja. Só os que construíram sobre o fundamento da verdade, Jesus Cristo, usando materiais duráveis, verão sua obra permanecer até o fim.

1Co.3:14 14. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão;

Se permanecer a obra. Ver com. do v. 1Co.3:13.

Receberá galardão. Ver com. do v. 1Co.3:8.

1Co.3:15 15. se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

Se queimar. Quem não constrói com sabedoria, seguindo a instrução do Mestre, verá seu trabalho destruído (ver Mt.7:26-27). O construtor infiel pode se arrepender e ser aceito por Deus, mas os resultados de seu trabalho não mudarão, em vez disso, permanecerão como perda eterna. Com suas palavras e seus atos, uma pessoa pode representar mal os ensinos de Jesus e, assim, lançar sementes de dúvida, más conjecturas e amor ao mundo. Por sua influência, pode fazer com que pessoas se desviem do evangelho e aceitem o erro. Se, porém, mais tarde, ela reconhecer o erro e se arrepender, Deus a perdoará e salvará. Mas devido à construção defeituosa, pessoas ficarão de fora do reino. Portanto, muito embora seja salva, outros estarão para sempre perdidos por sua negligência (ver Gl.6:7; T5, 429).

Esse mesmo será salvo. Uma leitura superficial dos v. 1Co.3:12-15 tem levado alguns à conclusão de que Paulo ensina a predestinação individual, sem escolha pessoal. Uma análise atenta do contexto, porém, deixa claro que esse não é o caso (v. 1Co.3:3-15). O apóstolo fala de seus labores como apóstolo e da obra de outros “ministros” (v. 1Co.3:5) que serviram a igreja de Corinto. O “galardão” (v. 1Co.3:8) é uma recompensa pelo serviço prestado no ministério do evangelho, não pela vida pessoal como cristão (sobre a predestinação, ver com. de Jo.3:17-20; Rm.8:29; Ef.1:4-6).

Através do fogo. Literalmente, “por meio do fogo”. É uma metáfora que significa salvar-se com dificuldade. A pessoa que constrói sobre fundamento de madeira, feno e palha, no último momento de graça, pode se arrepender e ser salva, mas terá desperdiçado a vida. O arrependimento pode ser aceito, mas que oferta pobre e defeituosa será a presentada (ver T3, 165)!

1Co.3:16 16. Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Santuário. Do gr. naos, palavra usada pelos gregos antigos para descrever o cômodo mais interior do templo, onde se colocava a imagem do deus pagão. No NT, naos distingue o edifício do templo em relação ao complexo do templo, que inclui o templo e as estruturas adjacentes, o hieron (cf. com. de Mt.4:5). Paulo atenta para os que constituem o edifício espiritual. Coletivamente, eles formam o templo espiritual de Deus no qual habita o Espírito Santo. Paulo se refere à igreja e adverte seus sucessores em Corinto a não prejudicá-la (1Co.3:17). É verdade que o Espírito Santo também habita em cada cristão de forma individual (ver com. de 1Co.6:19-20).

1Co.3:17 17. Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.

Destruir. Do gr. phtheiro. O jogo de palavras no grego é preservado ao se traduzir ambas as ocorrências de phtheiro como “destruir”: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá.” A advertência de Paulo é dirigida àqueles cuja política de dissensão estava destruindo a igreja de Corinto. Num sentido secundário, pode-se entender que a advertência se aplica ao crente individual, que é a morada do Espírito Santo, embora essa característica seja tratada de forma mais direta em 1Co.6:19 (ver com. ali). É temeroso despertar injúria à igreja de Deus. Ouem destrói, por palavra ou exemplo, o que Deus construiu é digno da mais severa punição.

Que sois vós. A idéia de Paulo é que, assim como o edifício no qual a presença de Deus foi manifestada era santo, também são santos os crentes em quem o Espírito Santo habita. O adjetivo hagios, “santo”, significa dedicado a propósito sagrado (ver com. de Rm.1:7).

1Co.3:18 18. Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio.

Ninguém se engane. O texto grego indica que pessoas enganadas, tais como as que são descritas neste caso, se gloriavam de sua sabedoria, na igreja de Corinto. Paulo advertiu esses “sábios” iludidos a serem humildes e a deixarem de confiar em sua suposta sabedoria (cf. Pv.3:5-6). A confiança na instrução e conhecimento próprios tinha levado à confusão que havia na igreja. Pessoas com reputação de serem sábias correm o risco de exaltação própria e precisam se humilhar diante de Deus e reconhecer que toda verdadeira sabedoria vem dEle.

Se tem por sábio. Em vez disso, “se acha sábio”.

Faça-se estulto. Tanto aos seus próprios olhos como aos do mundo. É necessário compreender que a opinião que se tem de si mesmo, em termos de sabedoria, é um engano. Tal sabedoria não tem valor para a salvação. Essa pessoa deve se submeter humildemente à direção do Espírito Santo, embora possa ser considerada tola pelo mundo. Se fizer isso, então obterá a verdadeira sabedoria, que vem somente de Deus.

1Co.3:19 19. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles.

Sabedoria deste mundo. Todos os esforços para encontrar paz e felicidade, sem Deus, estão destinados ao fracasso. A filosofia humana não leva a Deus, mas à exaltação da criatura. Deus considerou como tolice as opiniões sobre religião dos gregos autossuficientes (ver 1Co.1:19-21). Deus distingue a imperfeição da sabedoria humana, pois Ele vê tudo como realmente é. Qualquer coisa que o ser humano busque acrescentar ao simples evangelho de Jesus é naturalmente marcada por sua apreciação imperfeita das coisas de Deus. Os falsos mestres que perturbavam a igreja de Corinto misturavam as próprias especulações com as Escrituras.

Está escrito. Citação de Jó.5:13 (ver com. ali).

Na própria astúcia deles. Não importa quão hábil, inteligente ou capaz o ser humano possa se considerar, ele não pode aperfeiçoar a Palavra de Deus, nem enganar o Espírito. Deus pode pôr abaixo os propósitos do ser humano e reduzir seus planos a nada. Ele faz isso para que se revele a insensatez humana (cf. Jó.5:12; Is.8:10). Os diferentes sistemas teológicos e as muitas filosofias religiosas existentes no mundo cristão ilustram a força dessa declaração.

1Co.3:20 20. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos.

Outra vez. Citação do Sl.94:11.

Pensamentos vãos. Em contraste, o ser humano que reconhece sua insuficiência e se submete à direção do Espírito Santo obtém a verdadeira sabedoria (ver Sl.94:12; Pv.3:5-8).

1Co.3:21 21. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso:

Portanto. Paulo apresenta a conclusão extraída dos argumentos anteriores. Devido ao fato de a verdadeira sabedoria não vir do ser humano, mas de Deus, não há razão para se exaltar o agente humano usado por Deus para compartilhar a verdade.

1Co.3:22 22. seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso,

Tudo é vosso. Esta linha de argumentação se baseia na verdade de que o crente, pela criação bem como pela redenção, pertence, por meio de Cristo, a Deus (ver Sl.100:2-4; At.20:28; Rm.14:8; Ef.1:14; 1Pe.2:9). Deus é dono de tudo, seja animado ou inanimado, e as coisas que Ele fez são para bênção de Seu povo redimido (ver MDC, 110, 111). Apóstolos, profetas, ministros ou outro tipo de mensageiro a quem Deus use, serve a toda a igreja, não apenas uma parte dela. Portanto, é errado se aliar a um líder ou agente em particular tal como Paulo ou Apolo. Eles são apenas instrumentos de Deus para cumprir Seus propósitos. A atenção dos crentes deve ser fixada em Deus e em Jesus, de quem provém toda sabedoria (ver Cl.2:2-3). No princípio, Deus pôs o ser humano numa terra perfeita, onde tudo foi planejado para seu bem-estar, alegria e satisfação. Mas o pecado entrou, trazendo morte e sofrimento. Deus impede os esforços de Satanás em destruir a raça humana. Tudo foi maculado pelo pecado, mas o Pai pode reverter tudo para benefício de Seus filhos (cf. Rm.8:28).

1Co.3:23 23. e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus.

E vós, de Cristo. Este é o grande clímax ao qual Paulo vinha direcionando seu argumento. Se todo crente pertence a Cristo, deve haver apenas um grande partido na igreja, não diferentes grupos. É a manifestação dessa unidade que o Salvador deseja ver na igreja, e que no fim haverá (ver Jo.17:9-11; Jo.17:21; Jo.17:23; Ef.4:13).

E Cristo, de Deus. Comparar com 1Co.11:3; 1Co.15:28; ver com. de Jo.1:1; ver Nota Adicional a João 1.

1Co.4:1 1. Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus.

Que [...] nos considerem. Paulo aconselha os coríntios a considerarem a ele e aos seus companheiros de obra como ministros e mordomos, não de homens, mas de Deus. Chamados por Deus para o ministério do evangelho, eles não deviam ser considerados líderes de facções ou cabeças de partidos em conflito. Cristo deu a Seus obreiros a responsabilidade de compartilhar Sua palavra com o mundo (ver Mt.28:19-20). Não lhes é permitido pregar e ensinar opiniões e crenças humanas, mas são responsáveis por apresentar a mensagem pura da salvação, não adulterada pela filosofia humana (ver 1Tm.6:20-21; 2Tm.4:1-3).

Ministros. Do gr. huperetai, “servos”, “atendentes”, “ministros”. A palavra foi usada originalmente para os remadores nas galés de guerra, e os distinguia dos soldados que combatiam no convés. Mais tarde, veio a ser usada em referência a qualquer subordinado que se ocupava com trabalho pesado; na terminologia militar, a oficiais que servem o comandante. Esse uso de huperetai como os oficiais militares cujo dever era servir os oficiais do exército de patente mais alta pode estar refletido no emprego do termo por Paulo neste versículo. Aqueles a quem se confia o ministério do evangelho são, em sentido especial, os servos de Jesus, o grande comandante celestial. São os representantes humanos de Cristo, os oficiais reais de Seu reino espiritual (ver Jo.18:36 [ARC], “servos”).

Despenseiros. Do gr. oikonomoi, “administradores”. Os gregos usavam esta palavra para a administração de uma propriedade, fosse uma casa ou terras, e a aplicavam aos escravos ou a homens livres encarregados de cuidar e administrar a casa e as terras que pertenciam ao seu senhor. O mordomo não só presidia sobre os assuntos da casa, mas também fazia provisões para ela. Esse era um ofício de responsabilidade considerável. A aplicação desta palavra aos ministros de Cristo é singularmente apropriada. O ministro do evangelho é responsável por cuidar da igreja de Deus na Terra e prover o necessário para seu bem-estar (ver Jo.21:15-17; 1Pe.5:1-3). A fidelidade tem importância suprema na mordomia.

O ser humano não possui coisa alguma neste mundo, nem mesmo sua força física e mental, pois “todas as habilidades que [...] possui pertencem a Deus” (T5, 277). Ele é um ser criado, e como tal pertence ao Criador. Também é um ser redimido, comprado pelo sangue de Cristo (ver At.20:28); portanto, os redimidos não pertencem a si mesmos em duplo sentido. A Terra e tudo o que nela há pertence a Deus; Ele é o dono supremo de todas as coisas. Ele confiou o cuidado de Sua propriedade ao ser humano, que então se tornou Seu mordomo, com a responsabilidade de usar os bens do Mestre de tal forma que o benefício se acumule para Deus. O reconhecimento dessa relação entre o ser humano e o Criador deve despertar a determinação de exercer todo cuidado no uso daquilo que é confiado a nós durante o período de permanência nesta Terra.

O verdadeiro crente em Cristo busca glorificar a Deus na maneira de administrar as coisas ao seu cuidado, sejam elas físicas, mentais ou espirituais. Reconhecerá que não é livre para usar os bens ou talentos para a satisfação dos desejos naturais e ambições de seu próprio coração. Ele deve em todos os momentos colocar os interesses de Deus em primeiro lugar em todas as atividades da vida. Essa verdade é ilustrada na parábola dos talentos (ver com. de Mt.25:14-30; PJ, 328, 329).

Mistérios. Do gr. musteria (ver com. de Rm.11:25; 1Co.2:7). Os planos de Deus para a restauração do ser humano à harmonia com a Divindade foram em princípio pouco compreendidos, mas então foram revelados por meio de Jesus Cristo (ver Ef.3:9-11; Cl.1:25-27; 1Tm.3:16). Os obreiros de Cristo são comissionados a deixar claras as sublimes verdades do evangelho a todos (Mt.28:19-20; Mc.16:15). Devem trabalhar de forma que os anseios de justiça de cada alma sejam satisfeitos. Essa responsabilidade de proclamar as boas-novas da salvação está sobre todo crente, pois todos são mordomos, a quem se confiou o pão da vida a ser compartilhado com um mundo faminto (ver T9, 246; Ed, 139).

1Co.4:2 2. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.

Fiel. Do gr. pistos, “digno de confiança”. Ser digno de confiança é uma das qualidades mais valiosas que alguém pode ter. Deus a estima sobremaneira. Fracassar nesse sentido significa não alcançar a vida eterna (ver Lc.16:10-12; PJ, 356). Apenas aqueles em quem Deus pode confiar sob quaisquer circunstâncias terão herança na nova Terra. Prova-se ser mordomo fiel quando se busca glorificar a Deus em todos os detalhes da vida.

1Co.4:3 3. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo.

Mui pouco. Paulo se refere à crítica dirigida a ele e seus métodos de trabalho, por parte de certos “sábios” (1Co.1:20; 1Co.1:27) da igreja de Corinto. Como mordomo dos “mistérios de Deus” (1Co.4:1), Paulo não era responsável diante de homens, mas de Deus, no desempenho de sua mordomia. Ele não se incomodava com a opinião das pessoas a esse respeito, contanto que tivesse a aprovação divina. Ele não desprezava o conselho e o julgamento de seus companheiros (ver 1Ts.4:12; 1Tm.3:7), mas seu objetivo era servir e agradar Aquele que o tinha chamado para ser um apóstolo (ver Fp.3:13-14; 2Tm.2:4).

Tribunal humano. Literalmente, “dia humano [de juízo]”. Paulo contrasta o juízo humano com o divino, no dia do Senhor (ver 1Co.3:13).

A mim mesmo. O apóstolo não considera valiosa nem sua opinião acerca de si mesmo. Apenas Deus pode julgá-lo. Se ele compreendia que não podia julgar a si mesmo, não era de se esperar que valorizasse a opinião de seus críticos, não importa quão qualificados fossem para julgar. Ninguém está qualificado para avaliar de forma adequada os motivos e atitudes de seu próximo, dado que não pode ler os pensamentos nem o coração. Portanto, não se deve criticar ninguém (ver com. de Rm.2:1-3; ver MDC, 124, 125).

1Co.4:4 4. Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.

De nada me argui. Isto é, contra mim mesmo. O apóstolo não estava ciente de nenhum erro em sua forma de trabalhar ou de nenhum defeito no seu modo de vida (ver At.20:18-21; At.20:26; 2Co.7:2). Todo ministro do evangelho deve ser capaz de defender a integridade de sua conduta. Paulo conhecia o perigo do espírito de autoconfiança, que pode levar alguém a crer que é reto quando na verdade vive no erro. Não foi com nenhum orgulho farisaico que Paulo declarou ser ignorante de qualquer falta em seu trabalho.

No entanto, ele sabia que não passava de um ser humano falível, propenso a julgar erroneamente, por isso disse que de forma alguma estava justificado ou se apresentava como justo. Isso fica claro a partir da declaração: “contudo, nem por isso me dou por justificado”. Ele entendia que o fato de não poder encontrar nenhum indício de infidelidade em sua administração dos “mistérios de Deus” não era suficiente para declará-lo livre de culpa. Sabia que Deus podia ver imperfeições onde ele não via, que sua opinião de si mesmo poderia facilmente ser distorcida pela parcialidade.

O Senhor. Somente Deus é capaz de fazer uma investigação completa da vida e da mordomia do apóstolo. Só Ele pode ler o coração e compreender o que motiva cada palavra e cada ação (ver 1Cr.28:9; 1Jo.3:20). Paulo não se incomodava com os juízos dos críticos, nem confiava em sua auto-avaliação, mas de modo voluntário submetia seu caso ao Senhor, sabendo que o juízo de Deus seria infalivelmente correto. Essa declaração de confiança no julgamento divino devia ser considerada pelos coríntios como um conselho sábio. Estavam inclinados a supervalorizar o próprio juízo acerca do próximo, sem atentar para o fato de que “o Senhor não vê como vê o homem” (1Sm.16:7).

1Co.4:5 5. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.

Nada julgueis. Paulo deixa claro que é errado acariciar uma opinião inflexível sobre o próximo. Como pessoas imperfeitas, não estamos qualificados a avaliar de forma correta o caráter alheio (ver Mt.7:1-3; Rm.2:1-3; Tg.4:11-12; MDC, 124; DTN, 805; AA, 276; T5, 347; T9, 185, 186). É particularmente perigoso se entregar à crítica destrutiva dos obreiros de Deus (ver 1Tm.5:1; 1Tm.5:17; 1Tm.5:19; Nm.16:3; Nm.16:13-14; Nm.16:29-35; T5, 497; TM, 410). O cristão não pode deixar de ver defeitos de conduta em seu próximo, mas deve se refrear de julgar as motivações e de julgar o próximo na esfera de seu relacionamento espiritual com Deus.

Tempo. Do gr. kairos, “ocasião adequada”, “tempo oportuno” (ver com. de Mc.1:15). Paulo se refere ao tempo apontado por Deus para juízo. É possível esconder os verdadeiros traços de caráter, mas no tempo certo, quando Cristo vier outra vez, nada permanecerá encoberto, nem mesmo os pensamentos mais secretos e os propósitos abrigados na mente (ver SI.44:21; Ec.12:14; T4, 63; T5, 147).

Louvor. Isto é, a recompensa. No tempo determinado, quando os planos e propósitos forem revelados, todo obreiro de Deus receberá sua medida justa de aprovação. Podemos com segurança confiar no justo Juiz, que nunca erra. Deve-se ter cuidado em louvar os servos de Deus (ver T4, 400; cf. PJ, 161, 162). Os ministros de Deus são apenas instrumentos e é Ele que os usa a fim de cumprir Seus propósitos; portanto somente Ele deve ser louvado e exaltado.

1Co.4:6 6. Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro.

Apliquei-as. Tudo o que escreveu a respeito dos mestres religiosos (ver 1Co.3:5-6; 1Co.3:21-22), Paulo aplica a si mesmo e a Apolo, que estava intimamente ligado a ele. Os princípios apresentados são verdadeiros, em geral, mas não universalmente aplicáveis na prática. Paulo e Apolo eram exemplos dos ideais apresentados. Mas isso não era verdade com respeito aos líderes dos partidos da igreja de Corinto.

Aprendais. Os coríntios deviam se conduzir de acordo com as normas da Palavra de Deus.

O que está escrito. Isto é, as instruções gerais encontradas nas Escrituras, neste caso, o AT. Em todas as questões concernentes à religião, as Escrituras devem ser a autoridade suprema.

Ninguém se ensoberbeça. Do gr. phusioo, de phusa, “rugido”, daí, “chamar atenção para si”, “envaidecer-se”. Paulo condena o orgulho dos que exaltavam seu próprio partido acima dos demais, ou seu líder acima dos outros líderes. Os cristãos devem se considerar como iguais, e ninguém deve olhar o outro como inferior a si, nem desprezar o próximo.

1Co.4:7 7. Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?

Quem é que te faz sobressair? Isto é, “quem te considera importante”?

Recebido. Ninguém tem motivos para se vangloriar, pois devemos tudo a Deus. Os talentos que possuímos vêm de Deus, que dá poder e sabedoria para desenvolvê-los. Portanto, nenhum mestre na igreja tem motivo para se orgulhar ou assumir preeminência, pois seus dons e o poder pelo qual são desenvolvidos vêm de Deus.

Vanglorias. Do gr. kauchaomai, que significa também “jactar-se”. Desde a entrada do pecado no mundo, o orgulho é natural aos seres humanos, especialmente em relação às próprias conquistas. Nessa tendência, seguem o exemplo de Satanás, que caiu de sua elevada posição no Céu por causa do orgulho (ver Is.14:12-14; Ez.28:15; Ez.28:17). O cristão deve se proteger contra essa tendência todo o tempo. A tentação de se nutrir o orgulho espiritual é sutil. Somente Deus deve ser glorificado e exaltado (ver Jr.9:23-24).

1Co.4:8 8. Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.

Fartos. Do gr. Korennumi, “saciar-se”. A palavra ocorre apenas nesta passagem e em Atos.27:38. A declaração é irônica, assim como as duas declarações seguintes. O objetivo do apóstolo é levar os cristãos coríntios a perceber sua condição, e levá-los a aceitar o conselho e a ajuda de líderes experientes, como ele, com espírito de humildade. A Bíblia tem diversos exemplos de ironia (1Rs.18:27; Jó.12:2). Os crentes de Corinto estavam satisfeitos com seu próprio conhecimento e não sentiam necessidade de mais nada. Não percebiam que Paulo poderia ajudá-los mais do que já tinham sido ajudados por outros mestres em Corinto.

Ricos. Paulo continua sua ironia, mas de forma diferente. Ele diz então que os coríntios se consideravam ricos nas coisas espirituais (comparar com Os.12:8; Ap.3:17).

Chegastes a reinar. Ou, “começaram a reinar como reis”. Esta declaração atinge o clímax da ironia. Paulo compara seus leitores orgulhosos com os que alcançaram o topo, onde não há nada mais para se alcançar ou desejar.

Sem nós. Isto é, sem Paulo e seus colaboradores. Os crentes de Corinto se sentiam prontos a conduzir a vida com êxito e cuidar dos interesses da igreja. Tinham desconsiderado a autoridade de Paulo e suposto que pudessem seguir adiante com ou sem ele.

Prouvera Deus (ARC). Do gr. ophelon, expressão usada para expressar um desejo infrutífero. Estas palavras não ocorrem no texto grego. O restante deste versículo pode ser entendido de duas formas: (1) como expressão de um forte desejo de que o reino da glória fosse estabelecido, quando todos os redimidos de Deus reinarão como reis e sacerdotes com Jesus (Ap.20:4; Ap.20:6); e (2) como continuação da ironia da primeira parte do versículo. Paulo estaria dizendo: “quisera Deus que vosso reino imaginário como reis fosse verdadeiro e pudéssemos nos unir a vós nesse gozo”.

1Co.4:9 9. Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.

Os apóstolos, em último lugar. A metáfora é a de um anfiteatro, onde os participantes que chegaram ao final da exibição tivessem que brigar entre si até a morte ou ser dilacerados por feras. Não havia esperança para eles. Esses jogos desumanos eram realizados em muitos lugares do império romano, e a alusão seria de pronto compreendida. Paulo com frequência extraía ilustrações desses jogos (ver 1Co.9:24-26; 1Co.15:32; 1Tm.6:12; 2Tm.4:7-8). Os apóstolos são apresentados como se estivessem na condição de prover diversão para espectadores cruéis.

Condenados à morte. Comparar com Rm.8:36; 1Co.15:30-31.

Espetáculo. Do gr. theatron, “um show”, “um espetáculo”. A palavra “teatro” deriva de theatron e se refere tanto ao local de diversão quanto ao objeto em exibição. Os servos de Deus que testemunham fielmente em Seu nome se tornam o foco da atenção dos habitantes deste mundo e do Céu (ver Hb.10:32-33; Hb.12:1; T4, 34-36). Este mundo é o palco em que o conflito entre o pecado e a justiça, a verdade e o erro, está se desenrolando diante de uma platéia atenta composta pelos habitantes do universo (ver T5, 526). É dever do crente fiel mostrar a luz da verdade a todos com quem entrar em contato. Se os cristãos entendessem que os olhos do universo estão focados neles, haveria um reavivamento do testemunho que caracterizou a igreja dos apóstolos (ver T7, 296).

1Co.4:10 10. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.

Loucos. “A palavra da cruz é loucura para os que se perdem” (1Co.1:18). Devido ao fato de persistirem em apresentar as boas-novas da salvação por meio da fé em Jesus Cristo, os apóstolos eram considerados como tolos e de pouco entendimento. Contudo, não ousavam misturar a sabedoria mundana com a simplicidade do evangelho. Dependiam do poder de Deus em vez da sabedoria deste mundo (ver Rm 1:16, 17). Cristãos fiéis devem prever ser mal compreendidos pelo mundo, mas isso não deve incomodá-los; eles sabem que os caminhos de Deus são contrários aos deste mundo, portanto podem parecer estranhos ao coração carnal (ver Is.55:8-9; Rm. 8:7-8; Tg.4:4; 1Jo.2:15-17).

E vós, sábios. Paulo está sendo irônico como no v. 1Co.4:8 (ver com. ali).

Vós, fortes. Um contraste entre o apóstolo que não confiava em si mesmo, sendo humilde e consagrado, que tinha ido a Corinto “em fraqueza, temor e grande tremor” (1Co.2:3), e os crentes coríntios auto-confiantes, arrogantes e que se sentiam fortes e sábios.

Vós, nobres. Por causa da suposta sabedoria mundana e da demonstração de suas vitórias espirituais, os coríntios tinham elevada estima de si mesmos. Os apóstolos, que não buscavam atenção para si ou para suas qualidades, eram desprezados. O objetivo de Paulo com essas comparações era enfatizar a tolice da exaltação própria e levar os coríntios a serem humildes e a exaltarem a Cristo (cf. Mt.23:12).

1Co.4:11 11. Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa,

Até à presente hora. Esta frase indica que, no ministério, os apóstolos passavam por todas as provas alistadas nos v. 1Co.4:11-13. Com alegria aceitavam tudo que lhes acontecia, sabendo que eram usados por Deus para a pregação do evangelho e para a salvação de pecadores (ver 1Ts.3:3-4; 1Ts.3:7-9; 1Pe.2:20-21). Essa Terra amaldiçoada pelo pecado é território do inimigo, e os cristãos não devem esperar viver sem problemas se forem testemunhas fiéis do Senhor (ver 2Tm.3:12). Satanás direciona sua ira contra os que buscam escapar de suas garras, fugindo para Cristo. Isso é especialmente verdade em relação à igreja remanescente (Ap.12:17).

Nudez. Isto é, vestidos com pouca roupa, de forma simples (ver com. de Mc.14:52).

Esbofeteados. Do gr. kolaphizo, “golpear com o punho”, “maltratar”.

Morada. Os apóstolos iam de lugar a lugar, e aceitavam a hospitalidade daqueles para os quais trabalhavam. Eles não podiam desfrutar o conforto e a conveniência de um lar fixo. Amavam ao Senhor e estavam felizes em ser peregrinos nesta Terra a fim de que a pregação do evangelho pudesse avançar. Esse é o espírito de todo verdadeiro obreiro da vinha do Senhor.

1Co.4:12 12. e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos;

Nossas próprias mãos. Embora tivesse sido chamado por Deus para o ministério do evangelho, Paulo se mantinha com seu trabalho manual (ver At.18:3; At.20:34; 1Ts.2:9; 2Ts.3:8-9).

Quando somos injuriados, bendizemos. Os apóstolos colocaram em prática os ensinos de Jesus no Sermão do Monte (Mt.5:11-12; Mt.5:44). Quando eram maltratados não revidavam, mas sofriam com paciência. Eles não buscavam vingança, mas pagavam o mal com o bem (ver At.27:33-36). A qualidade de tolerar o abuso com paciência, e fazer o bem a quem nos persegue, é uma característica importante do cristianismo. É evidência de que o Espírito Santo guia o crente (ver Gl.5:22). Tal atitude é contrária à filosofia deste mundo, que ensina a defender os direitos e a se vingar dos danos ou prejuízos ocasionados por outros (ver Mt.5:38-42). Os seguidores de Cristo são ensinados a deixar a vingança nas mãos de Deus (ver Dt.32:35; SI.94:1; Sl.94:4-7; Sl.94:21-23; Rm.12:19-21; MDC, 70, 71). Há circunstâncias em que não é errado sentir justa indignação. Contudo, deve-se enfatizar que tais sentimentos só são permitidos quando se vê que “Deus é desonrado, e Seu serviço exposto ao descrédito” (DTN, 310). O coração natural, não regenerado, deve ser crucificado e nunca permitir que se justifique (ver DTN, 353).

1Co.4:13 13. quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.

Caluniados. Do gr. dusphemeo, “denegrir”, “caluniar”, “difamar”.

Conciliação. Do gr. parakaleo, palavra de diversos significados (ver com. de Jo.14:16). Neste caso, provavelmente signifique “falar de modo amigável” (comparar com o uso de parakaleo, em Lc.15:28; At.16:39).

Lixo. Do gr. perikatharmata, “sujeira que se junta ao limpar algo”. Influenciado e cegado por Satanás, o mundo olha com ira e desprezo para as fiéis testemunhas de Cristo e as considera como lixo (ver Lm.3:45). Isso era verdade no caso de Paulo (ver 2Co.11:23-27). O Salvador buscou preparar Seus discípulos para tais experiências quando os advertiu de que o mundo não os receberia com gentileza, mas os submeteria a muitas privações (ver Mt.10:16-18; Mt.10:21-22; Mt.10:36; Jo.15:18-19; T9, 235). Não se deve esperar que uma mensagem oposta ao mundo e aos planos e propósitos de Satanás seja recebida com alegria. Se o cristão pensar que tudo está bem e que não é perturbado pelo adversário, deve indagar se não há algo de errado em seu relacionamento com Deus (ver Lc.6:26; Jo.15:19). Paulo regozijava-se na tribulação (ver Rm.5:3; 2Co.7:4). Sofrer por amor de Cristo traz alegria ao verdadeiro crente porque ele sabe que seu testemunho produz fruto, visto que Satanás está irado. Isso não significa que os cristãos devam de forma deliberada provocar a perseguição. Eles devem evitar dificuldades desnecessárias, mas não negligenciar o dever por causa de obstáculos e provas (ver T9, 241, 242; DTN, 355).

Escória. Do gr. peripsema, “a sujeira que se junta no processo de limpeza”. Peripsêma é sinônimo de perikatharmata, “lixo”.

1Co.4:14 14. Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados.

Para vos envergonhar. Paulo queria abrandar suas palavras e suavizar as severas observações. Havia razão para os membros da igreja de Corinto se envergonharem por causa das contendas e disputas entre eles. Com verdadeira cortesia cristã, Paulo levou em consideração seus sentimentos e não desejou fazer com que perdessem o respeito próprio. Quando os que estão no erro são levados a ver seu pecado, deve-se ter cuidado para que não lhes quebre a autoestima (ver CBV, 167, 168).

Admoestar. Literalmente, “pôr na mente”, portanto, “exortar”. O que é apresentado nos v. 1Co.4:7-13 não foi escrito com espírito severo para reprovar os coríntios, mas teve o propósito, não de desencorajá-los, mas de dar o conselho sábio de um pai que desejava salvar seus filhos e fazer uma reforma na igreja. O cristão jamais deve reprovar seu irmão de modo a envergonhá-lo (ver Rm.14:10; Rm.14:13; CBV, 166). Toda reprovação ou admoestação deve ser feita com espírito de terna compaixão a quem erra, e com o objetivo de ajudar a encontrar o caminho de volta à harmonia com Deus (ver Gl.6:1-2; DTN, 440; CBV, 495). O ministério fiel, amoroso e cheio de simpatia com os que tropeçam e se desviam do caminho terá mais êxito do que a condenação fria e a reprovação insensível (ver Tg.5:20; T5, 246, 247).

Filhos meus amados. Paulo considerava os crentes de Corinto como seus filhos espirituais pelos quais tinha trabalhado. Ele se dirigia a eles como um pai, alguém que lhes desejava só o bem, e que não queria causar-lhes dor. Todo pastor que tem o mesmo sentimento do Pastor supremo sempre buscará aliviar os sofrimentos das ovelhas e cuidar de suas feridas (ver SI.147:3; Is.61:1-2; Jo.10:11).

1Co.4:15 15. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus.

Preceptores. Do gr. paidagogoi, “tutores”, “guardiões”. A palavra foi adotada como “pedagogo”. Originalmente, o paidagogos num lar de gregos era o escravo cujo dever era levar as crianças à escola e cuidar delas fora do horário escolar; não era necessariamente um professor. Pessoas de diversas ocupações eram designadas para essa tarefa. Algumas delas ensinavam as crianças. No português, o termo se aplica a professores em geral. Como escravo, o paidagogos podia exercer apenas a autoridade delegada a ele pelo chefe da casa, ou seja, a de guardião. Paulo ressaltou que, embora os coríntios pudessem ter tido muitos tutores, nenhum deles poderia ter um relacionamento com eles como ele teve. Nenhum outro podia reivindicar autoridade paterna sobre eles; essa era uma prerrogativa especial do apóstolo. Apenas ele tinha o direito de admoestá-los como pai e de receber deles respeito filial.

Pais. Assim como pode haver apenas um pai, podia haver apenas um pai espiritual dos crentes de Corinto, o apóstolo Paulo, pois foi em resposta à sua pregação que eles foram levados a abandonar a idolatria e a se voltarem para o Deus vivo (ver At.18:10-11; At.18:18; 1Co.3:6). Ele foi o instrumento da conversão deles.

1Co.4:16 16. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.

Imitadores. Literafmente, “mímica”. Esta é uma declaração ousada para qualquer ministro cristão. Mas é verdade que cada obreiro de Deus deve viver de forma a refletir a imagem de Jesus, a fim de que possa, confiantemente, dizer àqueles para quem exerce seu ministério que siga seu exemplo. É natural que filhos imitem seus pais e copiem seu modo de vida. Visto que os coríntios eram os filhos espirituais de Paulo, era lógico que se esperasse que imitassem o apóstolo em seu relacionamento com Deus. Sabendo que filhos imitam seus pais, todo ministro deve estar ciente da responsabilidade colocada sobre si: a de ser exemplo adequado àqueles a quem apresenta o evangelho. Sua consagração era tão completa, tão sem reservas, que Paulo podia dizer “Cristo vive em mim” (Gl.2:20). Isso lhe dava a segurança de convidá-los que o imitassem (ver Fp.3:17; 2Ts.3:7). É verdade que os membros da igreja devem olhar para Cristo como seu exemplo, mas a humanidade é frágil, e as pessoas tendem a olhar para seus líderes. Isso torna imperativo que os ministros sejam cuidadosos em dar um exemplo correto para os membros (ver Tt.2:6-8; T1, 446; T2, 336, 548, 549).

1Co.4:17 17. Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja.

Por esta causa, vos mandei. Em cartas, os gregos às vezes usavam o passado para falar do presente, porque a ação, quando a carta fosse lida, já estaria no passado. De acordo com 1Co.16:10, é provável que Timóteo já estivesse a caminho, mas ainda não tivesse chegado nem se esperava que chegasse antes da carta. A carta foi enviada a fim de aconselhar a igreja a receber bem o representante do apóstolo, a dar ouvidos a seu conselho e instrução como se viessem do próprio Paulo.

Timóteo. Ver At.16:1; At.19:22; Fp.2:19; 1Ts.3:2; 1Tm.1:2. Timóteo era fiel colaborador em quem Paulo confiava para cuidar das igrejas que havia estabelecido.

Meu filho amado. Paulo viu no jovem Timóteo alguém que podia se tornar um obreiro útil para Deus, então o escolheu para ser um de seus companheiros de viagem e colaboradores (ver At.16:1-4; 1Tm.1:2; AA, 184, 185, 202, 203; OE, 440). O apóstolo tinha se referido aos coríntios como filhos (1Co.4:14); portanto, era apropriado enviar-lhes para representá-lo alguém que tinha nascido em Cristo por meio de sua pregação, assim como eles. Como companheiro do apóstolo, em suas viagens e no trabalho evangelístico, Timóteo estava qualificado para rever os ensinos de Paulo e levar os coríntios a imitar o modo de vida do apóstolo.

Em cada igreja. A mensagem de Paulo era a mesma onde quer que pregasse. Ele não tinha ensinado aos coríntios nada diferente do que ensinara aos efésios ou aos bereanos. Sua pregação pública e conduta pessoal eram as mesmas em todo lugar. Ele desejava que a igreja de Corinto estivesse em harmonia com as demais. Cristo orou pela unidade entre Seus seguidores (ver Jo.17:21-23), e a unidade doutrinária contribui para essa unidade (ver Rm.15:5-6; 1Co.1:10; Ef.4:3-6; Fp.2:2; T1, 210).

1Co.4:18 18. Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco;

Alguns se ensoberbeceram. Paulo afirma: “Pelo fato de meus planos de visitá-los terem tardado, alguns de vocês estão cheios de orgulho, crendo que não ouso ir a Corinto. Sem dúvida, vocês sentem que sua declaração de aliança a outros líderes me fez temer, e que tudo que farei será escrever cartas de reprovação e advertência.” O fato de ter enviado Timóteo e Tito a Corinto (ver 2Co.7:6-7; 2Co.7:14-15) pode ter influenciado os opositores a pensar que ele estava com medo de se aventurar entre eles.

1Co.4:19 19. mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos.

Mas, em breve, irei. Ele planejava ficar até depois do Pentecostes (1Co.16:8). Em 2Co.1:23, ele explica a demora inesperada de sua ida.

Se o Senhor quiser. Era desejo constante de Paulo lazer apenas o que estava em harmonia com a vontade do Mestre. Todos os seus planos estavam sujeitos à aprovação divina. Sua viagem dependia da vontade de Deus, e ele estava pronto a ir ou a ficar, conforme o Senhor indicasse (cf. At.18:21; 1Co.16:7; Hb.6:3). Esse é um exemplo de conduta cristã que todos devem seguir. Os planos do cristão devem ser feitos, tendo-se em mente que serão realizados ou não conforme a vontade de Deus (ver Pv.27:1; Tg.4:15).

O poder. O apóstolo visitaria Corinto e comprovaria o poder e o orgulho dos que afirmavam que ele estava com medo de ir até lá. Esta frase revela a coragem do apóstolo, nascida do conhecimento de que estava fazendo a vontade de Deus e ensinando a verdade. Todos os ministros de Deus deviam ter tal confiança e ousadia no cumprimento do dever. A despeito de toda oposição da parte de alguém ou de grupos, dentro ou fora da igreja, eles devem cumprir seu dever fielmente (ver Dt.1:17; Is.50:7; At.5:29).

1Co.4:20 20. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder.

O reino de Deus. Neste caso, o reino da graça (ver Cl.4:11; ver com. de Mt.3:2; Mt.4:17; Mt.5:3).

Não em palavra. O reino espiritual de Deus na Terra não é estabelecido ou promovido por pretensões jactanciosas e palavras humanas vãs. É preciso algo mais do que afirmações de autoridade da parte dos que não estão dispostos a se conformar com a simplicidade da mensagem do evangelho, acrescentando à verdade suas próprias interpretações e exaltando ambições de autoridade (ver Dn.7:25; Dn.11:36; 2Ts.2:3-4; Ap.13:5-6).

Poder. Do gr. dynamis, “força”, “poder”, “vigor”; de que deriva a palavra “dinamite”. A igreja de Deus é mantida pelo poder do Espírito Santo, que opera na vida de crentes consagrados. Cada acréscimo à igreja de Deus resulta do poder regenerador do Espírito Santo (ver Jo.3:5; Jo.16:13). Os líderes da igreja são guiados pelo Espírito de Deus e capacitados por Ele a administrar de forma sábia Seu reino na Terra (ver At.1:8; At.2:17-18; At.13:1-4).

1Co.4:21 21. Que preferis? Irei a vós outros com vara ou com amor e espírito de mansidão?

Que preferis? Este é o apelo de Paulo aos crentes rebeldes. Isto revela a relutância do apóstolo em adotar medidas severas ao tratar com os membros rebeldes da igreja de Corinto.

Vara. Símbolo da severidade paternal. Isto mostra que Paulo compreendia que, como apóstolo e instrutor deles no evangelho, tinha autoridade para administrar disciplina à igreja rebelde. A vara que usaria, se necessário, seriam suas palavras. Há ocasiões em que é necessário que os servos de Deus usem de alguma severidade ao corrigir membros rebeldes (ver Nm.16:8-11; Nm.16:26; Nm.16:28-30; Mt.18:15-17; At.5:3-4; At.5:8-9).

Amor. A correção deve sempre ser administrada com amor, tendo em vista o bem-estar e a felicidade de quem errou (cf. Gl.6:1-2). É preciso agir com firmeza e, às vezes, com severidade a fim de manter a igreja livre de confusão e contenda. No entanto, tudo deve ser suavizado com verdadeira preocupação pelo bem-estar eterno das pessoas envolvidas. O amor tem como objetivo o bem da pessoa amada e deve permear cada atitude do cristão, pois Cristo é a personificação do amor (1Jo.4:8; 1Jo.4:16).

Espírito de mansidão. Isto é, suavemente, com ternura. Paulo revela que não gostaria de usar disciplina severa. Ele esperava que o coração ensoberbecido se suavizasse e aceitasse o conselho do amor sem precisar de medidas disciplinares. O apóstolo encerra esta parte da epístola com um apelo direto. Nesta seção, ele lida com a situação com franqueza, contrastando isso com o orgulho e pretensão que anuviava a visão espiritual de muitos membros da igreja de Corinto.

1Co.5:1 1. Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai.

Geralmente, se ouve. Paulo introduz de forma abrupta o novo tema, que trata do caso do escândalo de incesto na Igreja. Esse caso, como o das facções, não tinha sido mencionado na carta escrita pela igreja a Paulo (ver com. de 1Co.7:1). É provável que tenha sido relatado pelos membros da casa de Cloe (ver 1Co.1:11). O relato fornecido ao apóstolo era um fato incontestável, o que ele sugere com o termo gr. holos, “na verdade”, mas traduzido como “geralmente”, na ARA. Era uma questão de conhecimento geral entre os crentes, o que tornava a atitude da igreja para com o ofensor ainda mais repreensível.

Imoralidade. Do gr. porneia. Esta palavra ocorre duas vezes neste versículo e é um termo geral para descrever relações sexuais ilícitas, seja entre pessoas casadas ou não (ver Mt 5:32; At 15:20).

Tal. Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a omissão desta palavra. A frase então seria: “imoralidade como nem mesmo entre os gentios”. O relato já seria ruim o suficiente se envolvesse qualquer forma de imoralidade, mas a que existia em Corinto era condenada até pelos pagãos. Isso era razão de espanto e perplexidade para Paulo e para qualquer pessoa que conhecesse a elevada norma de pureza ensinada por Cristo (ver Ex.20:14; Mt.5:8; Mt.5:27-32; 1Co.6:9-10; Gl.5:19-21; Ef.5:5; Ap.21:8). O fato de um crime, repugnante até para os pagãos, ser tolerado numa igreja cristã agravava o pecado e exigia atitude drástica e imediata.

Haver quem se atreva a possuir. O texto grego pode indicar que o culpado tinha se casado com a mulher ou que simplesmente coabitava com ela. O pai talvez já fosse morto, ou pode ser que sua esposa o tenha abandonado ou dele se divorciado.

A mulher de seu próprio pai. Não a própria mãe, mas outra esposa de seu pai. Os dois casos são distinguidos (Lv.18:6-8). O crime era punido com morte (Lv.20:11). A pena não foi amenizada no período mishnaico. A Mishnah diz: “Os seguintes são apedrejados: quem comete incesto com sua mãe, com a esposa de seu pai ou com sua nora” (Sanhedrin, 7.4, ed. Soncino, Talmude, p. 359). A lei romana também proibia essa relação (Gaius, Institutes, i.63)."

1Co.5:2 2. E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?

Andais vós ensoberbecidos. Os membros da igreja estavam convencidos e orgulhosos de sua condição espiritual. Mas, em vez disso, deviam baixar a cabeça pela vergonha de que tal impiedade ocorresse entre eles. isso não quer dizer que estivessem orgulhosos por causa desse mal na igreja, mas, a despeito disso, estavam cheios de soberba. Deviam se humilhar perante o Senhor e tomar atitudes para remediar a situação.

Lamentar. A presença de grave impiedade na igreja é sempre motivo de tristeza para as pessoas cujo coração deseja o melhor para seus irmãos e que zelam pelo nome da igreja (ver Jr 13:17). O Senhor revela que aqueles que de fato lamentam pelos erros que prevalecem na igreja são poupados na hora da provação (ver Ez 9:4-,6; 2Pe 2:8, 9). Os justos não podem estar contentes e felizes quando um irmão da igreja se desvia e cai em pecado. Os crentes de Corinto deviam ter se preocupado mais com o mal em seu meio e tomado atitudes para remover tal pecado da igreja.

Essa medida disciplinar deve ser aplicada por motivos corretos, jamais a ira, o orgulho, vingança, sentimentos separatistas, antipatia ou qualquer sentimento carnal do coração humano deve motivar os membros da igreja a agir contra um irmão que caiu em pecado. Pelo contrário, devem manifestar amor e piedade, junto com o devido cuidado para que outros não caiam no mesmo erro (ver Rm.15:1; Gl.6:1; Tg.5:19-20).

Tirado. A pessoa que vive praticando imoralidade deliberada e grave deve ser removida da igreja. Deus não abençoa Seu povo quando este permite que haja em seu meio contínua transgressão de Sua lei (ver Js.7:1; Js.7:5; Js.7:11-12; At.5:1-11; T3, 265, 266, 269-272).

1Co.5:3 3. Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja,

Presente em espírito. Paulo estava em Efeso quando escreveu esta epístola (ver p. 91), mas seu conhecimento da situação conforme apresentada a ele pelos da casa de Cloe (1Co.1:11) e por revelações divinas (ver AA, 302) o capacitaram a julgar o caso como se estivesse presente ali.

Já sentenciei. Ou, “pronunciei sentença”. Paulo tinha dado atenção especial ao caso, cujos fatos eram bem conhecidos (v. 1Co.5:1), e tinha tomado sua decisão. A direção a seguir estava clara, e o apóstolo deu instruções à igreja acerca de como o culpado devia ser tratado. Era necessária atitude drástica e imediata nesse caso de clara violação da lei de Deus.

1Co.5:4 4. em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,

Em nome. A sentença contra a pessoa que cometia incesto seria feita por meio da autoridade de Jesus Cristo, a cabeça da igreja (Ef.5:24). Devia-se recorrer ao poder divino para a sentença efetiva tanto na sua aplicação espiritual como na separação do culpado da igreja. A expressão “em nome”, referindo-se a Cristo, encontra-se em Mt.12:21. Em Lc.24:47, a expressão sugere que Jesus é a fonte de poder e autoridade (ver com. de At.3:16). Como apóstolo aos gentios, apontado por Deus (At.9:15; At.13:2; At.13:4; At.22:21; Cl.2:7-8), Paulo exerceu a autoridade dada a ele por Cristo a fim de dizer à igreja de Corinto o que deveria ser feito com relação a esse caso específico.

Reunidos. Cristo deseja atuar por meio de Sua igreja. Líderes e congregação estão habilitados a tomar ações disciplinares em nome de Cristo, quando necessárias. Quando são seguidos os procedimentos adequados, tais ações se confirmam no Céu (ver com. de Mt.16:19; Mt.18:15-20; Jo.20:23; T3, 428). Paulo não assumiu o papel de um ditador. Ele disse qual era sua recomendação e instruiu a igreja a se reunir para decidir o caso. Ele não se propôs a disciplinar sem que a igreja concordasse. Isso mostra que nenhum ministro deve reivindicar autoridade para decidir a natureza da ação disciplinar e executá-la sem consultar a igreja.

O próprio Deus respeita a autoridade que delegou à igreja e atua por meio dos agentes apontados por Ele para o cumprimento de Sua vontade na Terra. A conversão de Paulo é um exemplo desse plano. Deus enviou um dos irmãos dentre os crentes de Damasco para visitar o fariseu humilhado e transmitir-lhe as instruções divinas (ver At.9:10-18; T3, 430, 431).

Meu espírito. Ver com. do v. 1Co.5:3.

Poder de Jesus, nosso Senhor. Jesus prometeu que Seu poder estaria presente quando os crentes estivessem reunidos em Seu nome (ver Mt.18:18-20).

1Co.5:5 5. entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus].

Entregue. Paulo faz sua recomendação acerca da sentença que a igreja deveria pronunciar sobre o membro desviado. Em geral, entende-se que esta é uma sentença que significa a remoção da pessoa da igreja.

A Satanás. Existem apenas dois reinos espirituais neste mundo: o reino de Deus e o de Satanás. Se alguém deixa o reino de Deus, entra no reino de Satanás (ver Jo.12:31; Jo.16:11; 2Co.4:4). Esse pecador obstinado, com sua própria conduta pecaminosa, tinha se retirado do reino de Deus, e isso devia ser reconhecido com sua expulsão oficial da igreja (comparar com 1Tm.1:20).

Destruição da carne. As Escrituras chamam a prática imoral de “obras da carne” (Gl.5:19; Cl.3:5). Os cristãos são advertidos a não viverem “segundo a carne” (Rm.8:13). Portanto, a “destruição da carne” pode ser entendida como a mortificação dos desejos carnais. A ideia do sofrimento físico, que Satanás inflige com frequência, também pode estar envolvida. Paulo chamou sua própria aflição de “mensageiro de Satanás” (2Co.12:7). Ele é o autor da doença e do sofrimento (ver com. de Jo.9:2). O ímpio é deixado a sofrer as consequências de sua má conduta.

O espírito. Na morte, o corpo retorna ao pó (ver Gn.3:19); mas, na ressurreição, os salvos terão um corpo novo (ver com. de 1Co.15:50).

Seja salvo. O propósito desta ação tinha caráter remediador, como no caso de Himeneu e Alexandre, aos quais Paulo entregou “a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem” (1Tm.1:20). A disciplina na igreja tem o propósito de despertar o pecador a fim de atentar para sua perigosa situação e mostrar a ele a necessidade de arrependimento e contrição. Uma vez corrigido e humilhado por sua disciplina, o pecador pode ser convidado novamente à virtude e à fé. O objetivo da correção da igreja jamais deve ser a vingança, mas salvar da ruína. O membro separado da igreja deve ser objeto de interesse, e devem ser feitos esforços para sua recuperação espiritual (ver Mt.18:17; Rm.15:1; Gl.6:1-2; Hb.12:13).

1Co.5:6 6. Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?

Não é boa. Jactar-se das conquistas pessoais é sempre ruim, pois é uma forma de orgulho e de exaltação do eu. “É um orgulho ímpio que se deleita na vaidade das próprias obras, que se ensoberbece das excelentes qualidades de alguém” (T4, 223). Quando se contempla o calvário, toda jactância humana é aniquilada (ver Je.9:23-24; 1Co.1:29-31; Gl.6:14).

Jactância. Do gr. kauchema, “aquilo de que se jacta”, não o ato de se jactar. Os crentes coríntios não tinham motivo para se jactar de sua condição espiritual. Eles queriam dar a impressão de que tudo estava bem na igreja. Isso evidenciava a cegueira espiritual deles. Estavam tão familiarizados com as práticas más que os rodeavam que não percebiam a terrível natureza da imoralidade que existia no meio deles.

Um pouco de fermento. As mesmas palavras ocorrem em Gl.5:9. Paulo expressou surpresa de que os coríntios, com sua jactância, mostrassem que tinham se esquecido da verdade vital desse conhecido ditado. Uma pequena porção de fermento derramada numa grande quantidade de massa afeta toda ela. Da mesma forma, a presença de um transgressor obstinado na igreja tem um efeito corruptor sobre todo o conjunto (ver com. de Mt.13:33). Manter na igreja um membro claramente culpado, com justificativa de querer ajudá-lo a se reerguer, é desconsiderar o perigo de sua influência no grupo de crentes. Com frequência, é melhor para o indivíduo ser separado da igreja, a fim de que perceba que seus atos não estão em harmonia com as normas cristãs e, por isso, não podem ser tolerados (ver T7, 263; T3, 450-455).

1Co.5:7 7. Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.

Lançai fora. Do gr. ekkathairo, “limpar por completo”. Paulo convida os crentes a remover por completo o que é prejudicial à igreja. Não é apenas uma questão de eliminar da igreja a pessoa licenciosa; é uma exortação para despertar a todos quanto ao risco de serem complacentes e acomodados com a própria situação.

O velho fermento. O “fermento” é usado para representar o pecado (cf. Mt.16:6; DTN, 407, 408; PP, 278). Os judeus eram instruídos a remover de seus lares todo fermento, de modo que não restasse sequer uma partícula de pão levedado antes de comerem a Páscoa (ver Ex.12:19; Ex.13:7). Do mesmo modo, a igreja cristã em Corinto foi instruída a se assegurar de que o pecado tinha sido lançado fora, em especial, a imoralidade.

Nova massa. A igreja se tornaria pura e livre de toda influência corruptora resultante da condescendência com o mal quando expulsasse os culpados e se apartasse de todo pecado. Seria como uma porção nova de farinha ou massa antes de se adicionar o fermento. Eles participariam do poder regenerador do Espírito Santo.

Como sois, de fato, sem fermento. Isto é, o estado ideal. Os cristãos coríntios tinham sido limpados do pecado. Deviam se lembrar disso e se esforçar sempre para manter a pureza. Todos que aceitam a provisão feita para sua salvação por meio de Jesus Cristo estão obrigados por essa profissão de fé nEle a ser puros “assim como Ele é puro” (1Jo.3:2-3; 1Jo.2:6). O exemplo perfeito do viver cristão tinha sido apresentado a eles em Jesus, e a vida desses crentes devia ser uma ilustração contínua do viver vitorioso mediante o poder de Cristo (ver 1Co.1:4-8).

Cristo, nosso Cordeiro pascal. “A morte do cordeiro pascal era sombra da morte de Cristo” (GC, 399; cf. PP, 274, 277). A Páscoa também era um memorial do livramento do Egito. Na noite do livramento, o anjo destruidor passou acima das casas onde se via o sangue nos umbrais (ver Ex.11:7; Ex.12:29; PP, 279). Mais uma vez, nos últimos dias da história deste mundo, o anjo destruidor cumprirá sua terrível missão, e apenas os que tiverem eliminado o fermento do pecado e estiverem sob o sangue do Cordeiro pascal, Jesus Cristo, serão poupados (ver com. de Ez.9:1-6; Ap.7:1-3; Ap.14:1-5; TM, 445; T3, 266, 267; T5, 210, 212, 216, 505). A igreja de Deus deve ser pura e livre de toda corrupção e imperfeição, aqui simbolizada pelo “fermento” (ver Mt.5:48; Ef.1:4; Ef.5:27). Deve estar coberta pelo sangue de Jesus, que é representado pelo Cordeiro pascal.

1Co.5:8 8. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade.

Celebremos. No grego, isto significa “continuemos celebrando”. O cristão deve se manter livre da corrupção do pecado. Isto é, o “velho fermento” deve ser lançado fora. A epístola foi escrita na primavera, talvez próximo da Páscoa (ver p. 91).

Não com o velho fermento. Um convite para abandonar o antigo modo de vida, com paixões e sentimentos corruptos motivados pelos desejos de um coração não renovado.

Maldade. Do gr. kakia, “má vontade”, “impiedade” ou “mal” em geral. É provável que o uso da palavra neste caso se refira ao sentimento que causava facções e partidos na igreja de Corinto (1Co.1:11-13). As divisões em grupos separados na igreja, antagônicos entre si e disputando a supremacia, aumentam a inveja e os maus sentimentos.

Malícia. Neste caso, talvez uma referência à imoralidade pela qual o apóstolo tinha reprovado os coríntios (ver 1Co.5:1; 2Co.12:21). Os cristãos que se entregam a Jesus e que nascem de novo abandonam seus desejos e práticas anteriores. Isso tende a desaparecer quando se está revestido de Cristo (ver Gl.3:27; Gl.5:24-26). Ao estudar as Escrituras e colocar a vida em harmonia com a vontade divina, os cristãos podem celebrar a libertação representada pela Páscoa (ver Je.15:16; Ez.3:1; Ez.3:3; Mt.4:4; Jo.6:63; Hb.4:12).

Da sinceridade e da verdade. A integridade do cristão que vive de forma justa, pura e fiel é evidente a todos. Por sua vez, a condescendência com o pecado ou descrença, como o fermento, afeta todo o ser, mesmo quando não é vista por outros. Assim como o pão da Páscoa devia ser isento de qualquer partícula de fermento, o caráter do filho de Deus deve ser livre de toda mancha do mal. “A verdadeira piedade começa quando termina toda transigência com o pecado” (MDC, 91).

1Co.5:9 9. Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros;

Em carta. A expressão pode ser traduzida também como “em minha epístola”. Dificilmente se trata da epístola que estava escrevendo, pois ela não apresenta esta ordem. Além disso, se Paulo se referisse à epístola que estava escrevendo, a especificação “em carta” seria desnecessária. Essa outra carta se perdeu. Em 2Co.10:9-10, fica evidente que era costume do apóstolo escrever cartas às igrejas. As epístolas preservadas no NT são apenas uma parte de toda a instrução dada por Paulo às muitas igrejas que organizou.

Associásseis. Do gr. sunanamignumi, “misturar”, “ter associação estreita ou habitual com” (comparar com o uso da palavra, em 2Ts.3:14). Deus não quer que Seu povo se exponha à influência corruptora de pecadores rebeldes, e adverte os crentes a não se associar com eles. A proibição não é de se ter contato para pregação e testemunho, mas de associação habitual e amizade.

Impuros. Este termo se refere a pessoas pervertidas que praticam relações sexuais ilícitas em troca de dinheiro, ou simplesmente para satisfazer os próprios desejos lascivos. Tais práticas são abomináveis ao Senhor (ver 1Co.6:9-10; Gl.5:19-21; Ef.5:5; 1Tm.1:9-10; Ap.21:8; Ap.22:15).

1Co.5:10 10. refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo.

Deste mundo. Isto é, os pecadores incrédulos que estão fora da igreja e não aceitam a Cristo. Paulo não ensina que os cristãos não devam ter contato com os não cristãos ou incrédulos. Isso seria impraticável. A impureza era tão comum entre os coríntios que não seria possível realizar as tarefas do cotidiano, como comprar e vender, sem ter contato com os praticantes da mesma. Na oração por Seus seguidores, Jesus deixou claro que Seu povo permaneceria em contato com o mundo incrédulo ao seu redor, mas não deveria partilhar de seus costumes (Jo.17:14-16).

Avarentos. Do gr. pleonektai, de pleon, “mais”, e echo, “ter”. O termo descreve os que desejam ter cada vez mais.

Roubadores. Refere-se à classe de pessoas que, na cobiça por riquezas, oprimem o pobre e desafortunado. Não têm piedade nem compaixão. Essas pessoas estão a tal ponto escravizadas pela cobiça que usam qualquer método para atingir seu objetivo. Não levam em consideração os princípios da decência e da bondade (ver SI.109:11).

Idólatras. A grande maioria dos habitantes de Corinto era idólatra. Uma pessoa idólatra pode ser definida como alguém que se dedica a algo ou a alguém que tome o lugar de Deus. Os cristãos devem evitar associação amistosa com pessoas que não têm Deus em primeiro lugar em sua vida. A mente deve estar sob rígido controle todo o tempo, a fim de que pensamentos, ideias e princípios mundanos não dominem a vida em lugar dos princípios puros e santos do evangelho de Jesus Cristo (ver 2Co.10:5).

Sair do mundo. Enquanto estiverem neste mundo, os cristãos estarão em contato com pecadores impenitentes que não compreendem a natureza das práticas más aqui mencionadas. Eles não devem ser ermitões, isolando-se da sociedade. Eles têm um dever definido a desempenhar em prol do mundo incrédulo: testemunhar do poder salvador do evangelho de Cristo. Para isso, é necessário que tenham contato com o mundo. A associação deles com os incrédulos não deve ser a mesma que têm com os crentes (ver 2Co.6:14-16).

Jesus vivia entre as pessoas; Ele as visitava em seus lares e desfrutava a hospitalidade delas (ver Mt.4:23-25; Mt.9:10-13; Lc.19:5-7). O propósito de Sua associação com as pessoas era satisfazer as necessidades delas. Ele ensinava o caminho de Deus e oferecia salvação do pecado (ver DTN, 150-152). Esse deve ser o objetivo da associação dos cristãos com os incrédulos. Deus não deseja que Seu povo se isole do mundo. Ele espera que os crentes participem das várias atividades humanas lícitas e, ao mesmo tempo, que testemunhem contra os pecados do mundo.

1Co.5:11 11. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.

Escrevo. Ou, “escrevi”. O texto grego pode ser entendido de ambas as formas. “Escrevi” se referiria à carta anterior de Paulo (ver com. do v. 1Co.5:9); “escrevo” seria referência à carta que escrevia. Várias outras práticas ilícitas além da fornicação compõem a lista de pecados que deviam excluir uma pessoa do relacionamento estreito com os santos. Os crentes devem se manter separados mesmo de pessoas que professam ser cristãs, mas praticam tais coisas. Não há desculpa aos que se apegam a práticas imorais mesmo sabendo que Deus condena toda impureza. Não há razão válida para os crentes terem estreita relação com essas pessoas.

Avarento, ou idólatra. Ver com. do v. 1Co.5:10.

Maldizente. Ou, “ultrajador”, ou seja, quem maltrata e vitupera o próximo. Cristãos que têm o hábito da maledicência devem ser corrigidos. A tendência natural de pagar insulto com insulto, reprovação com reprovação, abuso com abuso, crueldade com crueldade é contrária ao espírito de Cristo, que, “quando ultrajado, não revidava com ultraje” (1Pe.2:23; comparar com 1Co.6:10; Ef.4:31; 1Tm.6:4; Tg.1:26; Tg.3:5-6; Tg.3:10; Tg.3:14; Tg.4:11; 1Pe.3:8-10).

Beberrão. Embriaguez é uma das obras da carne (Gl.5:19-21; ver com. de Pv.20:1).

Roubador. Ver com. do v. 1Co.5:10.

Nem ainda comais.

Um exemplo específico da proibição mais geral da primeira parte do versículo. A proibição inclui refeições de caráter social (cf. Gl.2:12) bem como a Ceia do Senhor (DTN, 656). Os cristãos não devem fazer nada que dê motivos para os observadores pensarem que transgressores da lei de Deus são considerados como de boa reputação pela igreja (ver 2Jo.1:10-11). Deve-se manter elevada a norma de verdade e pureza. Nos dias de Paulo, isso era muito importante. Os inimigos acusavam os cristãos de várias formas de pecado e vício.

Caso ficasse conhecido que cristãos toleravam pessoas ímpias e imorais em seu meio, ou que mantinham relacionamento com elas, essas acusações teriam fundamento e seriam consideradas fidedignas. Portanto, era preciso distanciamento por completo dos apóstatas e ímpios e divulgar que a igreja não tinha ligação com eles. Somente assim a igreja poderia se manter pura e livre de influência contaminadora de pecadores que se recusavam a se arrepender e abandonar a impiedade.

1Co.5:12 12. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?

Os de fora. Paulo afirmou não ter direito ou autoridade para exercer jurisdição sobre alguém que não pertencesse à igreja. Seus conselhos e instruções eram para os membros da igreja. Ele se dirigiu somente aos “de dentro”.

Os de dentro. A igreja só tem poder para disciplinar os próprios membros. Paulo deixa claro que é dever da igreja usar sua autoridade para lidar de forma eficaz com os membros que eram pecadores declarados e obstinados.

1Co.5:13 13. Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.

Deus os julgará. Deus julga os pensamentos, palavras e atos de todos. Quer a pessoa reconheça ou não a soberania divina, é Deus quem julga todos os aspectos da vida. Ele aprova ou condena segundo Sua sábia justiça (ver Gn.18:25; SI.50:6; Sl.75:7; Sl.94:1-10; At.10:42). Ter a certeza de que a justiça divina é segura ajuda o crente a permanecer calmo frente aos problemas. Ele sabe que Deus o observa e que, ao final, o vingará (ver Mt.5:10-12; Lc.6:22-23).

Pois. Evidências textuais favorecem (cf. p. xvi) a omissão desta palavra. As palavras “expulsai [...] de entre vós o malfeitor” são uma citação de Dt.17:7, que se aproxima mais da LXX do que do texto hebraico.

1Co.6:1 1. Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos?

Aventura-se algum de vós. Paulo trata de outro problema grave na igreja: pessoas que processavam uma à outra perante juizes pagãos em vez de resolverem suas diferenças entre si. Isso era contrário aos ensinos de Cristo (ver Mt 18:15-17); portanto, elas estavam em desarmonia com a natureza do cristianismo. A expressão “aventura-se” indica surpresa de que um membro da igreja se atrevesse a levar outro perante um tribunal pagão para resolver uma discórdia. O apóstolo sugere que eles não temiam expor a fraqueza da igreja perante os que não amavam o Senhor.

Tendo questão. Neste mundo, as divergências e diferenças de opinião entre as pessoas são comuns, mesmo dentro da igreja. Mas deve-se ter cautela ao escolher o caminho para solucioná-las, bem como em manifestar o espírito adequado na busca de solução. A presença de sérias diferenças de opinião na igreja indica ausência do espírito de unidade e de amor pelo qual Cristo orou pouco antes da crucifixão (ver Jo.17:11; Jo.17:21-26).

Contra outro. Obviamente, a responsabilidade por levar a questão diante de incrédulos é atribuída ao pleiteador. Ele tem o direito de escolher o tribunal perante o qual terá seu caso julgado. “Outro”, neste caso, se refere a outro crente, visto que não era possível trazer incrédulos perante a igreja para serem julgados. A discussão trata de dificuldades entre membros da igreja.

Injustos. Do gr. adikoi. O termo é contrastado com “santos” e se refere a não cristãos. Isso não implica que os tribunais pagãos fossem sempre injustos em suas decisões ou que não se podia esperar justiça deles.

Santos. Os judeus não permitiam que seus problemas fossem levados perante tribunais gentios. Entre eles, era lei que as diferenças fossem levadas perante homens aprovados, que tivessem a mesma fé e fossem da mesma nação (ver

Gittin, 88.b, ed. Soncino, Talmude, p. 429, 430). Gálio, procônsul de Roma em Corinto, parecia saber disso quando se recusou a ouvir as acusações feitas pelos judeus contra Paulo (ver At.18:15). Cristãos que levavam suas diferenças a tribunais pagãos admitiam com isso que sua lealdade para com a igreja era inferior à dos judeus. O próprio Senhor instruiu quanto ao procedimento a ser seguido para a solução de problemas entre membros da igreja (ver Mt.18:15-18). Pois o fato de um irmão processar legalmente a outro irmão desonra a igreja e desconsidera o poder de Deus em guiar e controlar Seu povo em todas as questões da vida (ver AA, 306).

1Co.6:2 2. Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas?

Não sabeis [...]? Em outras palavras, vós não sabeis do que estou prestes a falar, ou vossos sentidos ficaram tão obscurecidos por terem se desviado dos princípios corretos que não percebeis a verdade quanto a essa questão? Há pessoas muito sensíveis quanto ao que chamam de seus “direitos”. Essas pessoas se ofendem com facilidade, mesmo quando não há a intenção de ofendê-las. A verdadeira razão para a elevada consideração por seus direitos é o amor ao eu. Quando o pecador arrependido de fato se entrega a Cristo, não mais busca se defender, mas está sempre preocupado em fazer a vontade de Deus. O orgulho é a raiz da maioria das disputas que surgem na igreja; mas não há lugar para orgulho no coração de quem entende seu grande débito para com Jesus. A pessoa verdadeiramente convertida a Deus está alerta para ver o que pode fazer para ajudar seu próximo, em vez de perder tempo abrigando insultos e ofensas imaginários (ver Is.57:15; Rm.12:10; Rm.15:1-3; Gl.5:14; Fp.3:7-8; ver com. de Mt.7:12; Mt.18:1-35).

Julgar o mundo. Esta é uma referência ao período após o segundo advento de Cristo. Os santos ascendem aos céus com Cristo por ocasião do segundo advento (Jo.14:1-3; 1Ts.4:16-17); ali se assentam em tronos para compartilhar com Jesus a autoridade e o poder de julgar e executar juízo (Ap.20:4; cf. com. de Dn.7:22). Os santos julgarão os anjos caídos (1Co.6:3) e seres humanos impenitentes que não buscaram paz com Deus por meio de Cristo. Isso se dará durante o milênio, isto é, os mil anos que transcorrerão antes de Cristo e os santos voltarem para esta Terra (Ap.20:4; Ap.20:6). O juízo dos ímpios será um exame dos registros da vida deles e a declaração de seu castigo. O aniquilamento deles já foi determinado pela rejeição voluntária à oferta de Deus da salvação por meio de Cristo, tendo com isso escolhido a morte eterna. O exame do registro da vida dos ímpios fará com que os justos vejam a justiça divina na forma de Deus lidar com os que permaneceram rebeldes até o fim (Ap.15:3; ver GC, 661; cf. 544).

Sois, acaso, indignos [...]? Tendo em vista a participação que os santos terão no julgamento dos ímpios, não deveriam estar aptos a resolver as diferenças que surgirem na igreja sem expor suas disputas aos incrédulos? Os problemas entre os membros da igreja deveriam ser pequenos comparados aos dos ímpios. Sem dúvida, os crentes, guiados pelo Espírito Santo, serão competentes para lidar com eles. Se um membro da igreja se recusa a aceitar o conselho dos irmãos quando abordado adequadamente (Mt.18:15-17), ele então se coloca fora do círculo dos crentes e deve ser tratado como incrédulo (v. 1Co.6:17). Quando um membro da igreja permite que sua fé se enfraqueça a ponto de perder a Cristo de vista e de permitir que seu coração não regenerado se recuse a se reconciliar com seu irmão, ele não é digno de ser chamado cristão. Deve ser considerado como alguém que precisa se converter. Essa pessoa deve ser tratada no espírito de Cristo, e se deve fazer todo esforço a fim de levá-la de volta ao redil (ver Gl.6:1; Hb.12:12-15; Tg.5:19-20).

Coisas. Do gr. kriteria, “tribunais”, ou, talvez, “casos” (cf. com. do v. 1Co.6:4).

1Co.6:3 3. Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!

Julgar os próprios anjos. Os anjos mencionados neste versículo devem ser os que se rebelaram e foram expulsos do Céu junto com seu líder (Ap.12:7-9; 2Pe.2:4; Jd.1:6). Não há razão de anjos não caídos serem julgados. Esse julgamento se dará durante o milênio (ver com. de 1Co.6:2).

Quanto mais. Os seres humanos foram criados um pouco menor que os anjos. Em Cristo, foram elevados pela redenção a uma posição superior aos anjos que caíram. Por isso, são capazes de tomar decisões quanto a questões desta Terra.

Desta vida. Diante da responsabilidade de julgar o que afeta o destino eterno de anjos e seres humanos caídos, resolver assuntos terrenos é relativamente simples. Esse argumento é suficiente para provar que os santos devem ser capazes de tomar decisões justas sobre questões temporais entre membros da igreja.

1Co.6:4 4. Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja.

Julgar. Isto é, procurar tribunais para resolver questões seculares relacionadas à vida privada.

Constituís. Do gr. kathizo, “sentar”, “apontar”. A frase pode ser tanto interrogativa, “constituís?”, quanto imperativa. À luz do contexto, principalmente o v. 1Co.6:5, parece preferível “constituís?” Há uma ironia na pergunta de Paulo, que pode ser parafraseada assim: “escolhereis como juízes a magistrados incrédulos que não têm respeito pelo verdadeiro Deus, e que são desprezados pela igreja?” É pouco provável que a igreja escolhesse os menos capazes para serem juízes das dificuldades diárias que se levantavam entre os irmãos. No v. 1Co.6:5, o apóstolo indica que a igreja deveria buscar homens sábios para lidar com tais situações. Para entender o conselho do v. 4, é necessário conhecer algo dos tribunais pagãos da época de Paulo. Não é de surpreender quando não cristãos deixam de fazer justiça. Com frequência havia corrupção nos tribunais pagãos. Muitos dos juízes eram incorretos, dissolutos e, facilmente, subornáveis. Sem dúvida, os cristãos não podiam confiar no julgamento deles. A igreja de Corinto foi reprovada por levar seus casos a tais homens.

1Co.6:5 5. Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade?

Para vergonha. Paulo lidou com a questão de processos legais entre irmãos de forma clara e enérgica, a fim de levá-los a se sentirem envergonhados. Ele queria mostrar que eles não estavam dando exemplo de um viver cristão vitorioso perante os pagãos. Os membros da igreja devem manter sentimentos e desejos pessoais em sujeição e dar prioridade àquilo que diz respeito ao bem-estar da igreja. Não se deve permitir que diferenças entre irmãos maculem a imagem da igreja.

Um sábio. Os coríntios se gabavam de sua sabedoria e inteligência, e se consideravam superiores. Se isso era verdade, então seriam capazes de encontrar alguém na igreja que pudesse tomar decisões sábias e justas a respeito de diferenças entre os irmãos. Se a cidade deles era tão refinada e culta como afirmavam ser, era estranho eles serem incapazes de apontar um dos membros da igreja para resolver seus problemas, alguém em quem os irmãos confiassem, cujos juízos fossem aceitos pelos litigantes. Não é difícil notar a ironia de Paulo aqui.

1Co.6:6 6. Mas irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos!

Um irmão a juízo. Ver com. do v. 1Co.6:1. Já era negativo que os irmãos contendessem a ponto de não poderem se reconciliar e que ainda levassem seus problemas aos tribunais, mas era bem pior ir a um tribunal de “incrédulos”. Isso demonstrava que eles tinham perdido a visão de sua condição como filhos e filhas do Criador do universo (ver Hb.3:1; 1Jo.3:1-2). Permitiram que o velho homem, pecaminoso e não regenerado, fizesse valer seus direitos e exigisse compensação por danos, em vez de exaltar a Cristo, esquecer as diferenças e resolver tudo em amor (ver Pv.10:12; Pv.17:9; 1Co.13:4; 1Pe.4:8).

Incrédulos. Do gr. apistoi, literalmente, “os que não têm fé”. No v. 1Co.6:1, eles são chamados de “injustos”. Os que não têm fé no Deus verdadeiro e que, pela falta de conhecimento de Deus e dos princípios de Seu reino, não entendem nem praticam a justiça, não são pessoas adequadas para solucionar as diferenças entre os cristãos. Portanto, é inadmissível que os crentes exponham suas queixas mútuas diante dos “incrédulos”. Esse princípio se aplica hoje assim como nos dias de Paulo. É sempre um escândalo o povo de Deus se desviar do plano divino para a solução das diferenças e buscar direção dos incrédulos (ver T5, 242, 243).

1Co.6:7 7. O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?

Derrota. Do gr. hettema. O curso que os cristãos de Corinto estavam seguindo era uma derrota para eles. Com frequência, diferenças pessoais são motivadas pela falha natureza carnal que deveria ter sido crucificada com Cristo quando o pecador se converteu (ver Gl.2:20; Gl.3:27). Esses impulsos devem ser repelidos instantaneamente. Quando não são eliminados de imediato, terminam se convertendo em ressentimento, orgulho ferido e desejo de vingança. O relacionamento com Deus é interrompido, e a pessoa se distancia da salvação e perde a paz. Ao demandarem judicialmente um ao outro, os cristãos mostram que perderam a tolerância mútua, a paciência e o amor que são a motivação dos seguidores de Cristo.

A oração de Cristo por perfeita unidade entre Seus seguidores (Jo.17:11; Jo.17:21-23) proíbe permitir que sentimentos egoístas se convertam em discórdias que demandem solução de tribunais.

Por que não sofreis, antes, a injustiça? Paulo apresenta o modelo cristão pelo qual membros da igreja devem buscar justiça quando há contendas entre eles. Não há pecado em buscar assegurar o que, por direito, nos pertence. É justo ao trabalhador reivindicar o salário que, pela lei, deve receber do empregador. Mas é errado ir a tribunais seculares por uma determinação legal sobre diferenças entre irmãos. Os membros da igreja dependem da autoridade desta e devem procurá-la para solucionar suas diferenças. Quando leva uma questão à igreja, o membro deve estar disposto a aceitar a decisão emitida, mesmo que não esteja satisfeito com ela.

Quem vai à igreja para resolver uma questão e só aceita a decisão tomada a seu favor não age em harmonia com o conselho de Paulo. Se um membro leva uma questão à igreja, e esta de fato não exerce seu dever judicial, então ele esgotou as possibilidades do procedimento que Paulo apresenta. O que ele deve fazer, além disso, é uma questão de consciência individual. A liderança cristã através dos séculos nunca considerou que devesse declarar um membro como pecador diante de Deus se, nessas circunstâncias, ele busca uma decisão para seu caso perante um tribunal secular. Porém, a essência do cristianismo sugere ser melhor que o membro de igreja, de forma paciente e abnegada, suporte insulto, dano ou perda de outro membro, do que buscar justiça nos tribunais.

O exemplo do próprio Jesus é suficiente para o cristão consagrado. O Salvador foi injustiçado mais do que qualquer pessoa, mas o registro diz: “não abriu a boca” (Is.53:7; Mt.27:12). O espírito de retaliação e justificação própria é uma rejeição direta de Cristo, e todos que o adotam se colocam entre aqueles dos quais Jesus diz: “também Eu o negarei diante de Meu Pai” (Mt.10:33; Mc.8:38; 2Tm.2:12). O Senhor ensina Seus filhos a sofrer dano com paciência (ver Pv.20:22; Mt.5:39-41; Rm.12:17; Rm.12:19-21; 1Ts.5:15). O dano e o sofrimento de um membro individual é um mal menor do que o dano que a igreja sofreria por processos entre seus membros diante de cortes civis. Os cristãos deveriam amar a causa do Salvador mais do que seus interesses pessoais. Deveriam proteger mais a causa de Cristo de ser prejudicada ou estorvada do que a eles próprios.

Dano. Do gr. apostereo, “roubar”, “privar”, “despojar”. Seja em questão de insulto pessoal ou perda de bens materiais, Paulo aconselha que é melhor que o membro de igreja permita ser privado injustamente de uma propriedade ou sofrer devido a falsidades do que expor seu problema com outro membro perante incrédulos (ver com. de Mt.5:10-12; 1Pe.4:14).

1Co.6:8 8. Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!

Próprios irmãos. Na igreja de Corinto, o procedimento errôneo não estava limitado ao contato com os incrédulos. Também havia engano e injustiça entre os membros da igreja. Fraude e injustiça sempre são pecado, não importando quem as cometa. Mas são inaceitáveis entre os cristãos. A ofensa desses tais casos parece extrema, pois revela ausência de amor e respeito por aqueles que deveriam ser considerados com particular afeição e estima. Quando o membro da igreja comete injustiça e maldade contra seus irmãos em Cristo, é porque perdeu o amor por Deus e pelos irmãos.

1Co.6:9 9. Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,

Não sabeis [...]? A forma da pergunta requer resposta positiva: “certamente sabeis”. Paulo indaga se os crentes se desviaram dos ensinos do evangelho e dos princípios da justiça a ponto de ignorarem não haver lugar no reino de Deus para os injustos.

Injustos. O injusto que se beneficia à custa de seus irmãos não entrará no reino de Deus. Seu caráter egoísta e ambicioso é contrário ao amor abnegado e humilde que caracteriza os habitantes do Céu.

Herdarão. O reino celestial é mencionado em vários textos como uma herança (ver Mt.19:29; Mt.25:34; Lc.10:25; Lc.18:18; 1Co.15:50; Ef.1:11; Ef.1:14; Hb.11:9-10). Os injustos, tão ávidos por bens materiais a ponto de prejudicar a igreja com processos em tribunais civis, são advertidos de se privarem da herança eterna de valor incomparável a qualquer bem terreno.

O reino de Deus. Isto pode se aplicar tanto ao reino presente da graça quanto ao reino da glória que será revelado quando Jesus vier (ver com. de Mt.3:2; Mt.4:17; Mt.5:3). O injusto não se adapta a nenhum dos dois. Para ser cidadão do reino da glória no porvir, é necessário se qualificar para o reino da graça de Deus nesta Terra.

Não vos enganeis. O pecado cega seus praticantes de modo a não perceberem que estão em erro e, se percebem, seus sentidos estão obscurecidos e embotados pela condescendência com o mal, a ponto de não se conscientizarem do perigo (ver Je.17:9; Mt.13:14-15; 2Co.3:14; 2Co.4:4). A familiaridade com o pecado faz com que se perca de vista sua natureza real. Esses pecadores terminam acreditando que podem viver transgredindo a lei de Deus e, ao mesmo tempo, esperar confiantes a salvação. Deus deixa claro que não há acordo entre o pecado e a justiça, e que qualquer que se apega ao pecado terá sua recompensa (ver Pv.14:9; Gl.6:7-8; MDC, 91, 92). Os crentes coríntios não podiam ter má vontade para com seus irmãos, a ponto de os processarem em tribunais de incrédulos, e ainda esperar serem salvos.

Nem impuros. Os v. 1Co.6:9-10 apresentam uma lista de vícios comuns entre os pagãos de Corinto. A impureza sexual é apresentada em primeiro lugar talvez devido ao caso flagrante de incesto (1Co.5).

Idólatras. A idolatria é alistada junto a uma classe de pecados sensuais. Entre os pagãos, a imoralidade estava ligada à idolatria (ver 1Co.10:7-8). Outra razão para incluir a idolatria nesta lista é que a libertinagem consiste no abuso sexual do corpo humano, e pode-se dizer que quem a pratica idolatra o meio pelo qual satisfaz sua concupiscência.

Adúlteros. Ver com. de Mt.5:27-32.

Efeminados. Do gr. malakoi, que significa “suave”, “delicado” ou “terno”. Quando usado em relação a vício carnal, como os mencionados neste versículo, designa homossexuais, em particular aqueles que entregam o corpo para ser usado com propósitos imorais.

Nem sodomitas. Do gr. arsenokoitai, outro termo para homossexuais. A lista de pecados dos v. 1Co.6:9-10 inclui a maioria dos problemas comuns da carne (ver Gl.5:19-21; Ef.5:3-7). Se alguém persiste em quaisquer desses hábitos errôneos, será excluído do reino de Deus. Quem vive escravo dos pecados da carne não só renuncia a própria oportunidade da gloriosa herança dos santos, como também transmite à descendência um legado de debilidade física e espiritual (ver T4, 30, 31; San, 118; SG3, 291; T1, 304).

1Co.6:10 10. nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.

Ladrões. Do gr. kleptai (ver com. de Jo.10:1).

Maldizentes. Ou, “ultrajadores”; ver com. de 1Co.5:11.

1Co.6:11 11. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

Alguns de vós. Antes da conversão, os coríntios praticavam esses pecados.

Lavastes. Isto é, lavados dos pecados. O batismo é o sinal exterior, o reconhecimento e confirmação da experiência interior de renúncia do pecado por parte do pecador arrependido. O ato de lavar, mencionado neste versículo, é o milagre da regeneração experimentado pelo indivíduo cujos pecados foram perdoados e lavados pelo sangue de Cristo, em cujo sacrifício expiatório o pecador depositou sua fé (ver Mt.26:28; Ef.1:7; Hb.9:14; Hb.9:22; 1Jo.1:7; 1Jo.1:9; Ap.1:5). Embora uma pessoa possa ter sido contaminada e corrompida pelos pecados mais vis, ela pode encontrar completa salvação em Jesus. Quando alguém assim se arrepende e clama ao Senhor por libertação, realiza-se um poderoso milagre em sua vida, e ele é transformado pelo Espírito Santo num sincero seguidor de Cristo (ver Rm.7:24-25; Rm.8:1-4; Rm.8:11; Rm.12:1-2).

Santificados. Do gr. hagiazo (ver com. de Jo.17:11; Jo.17:17). Os crentes de Corinto foram chamados do mundo para servir a Deus. Foram “lavados” e se tornaram aceitáveis ao Pai por meio da fé no sangue purificador de Seu Filho. Quando os pecados são perdoados, o Espírito Santo começa a desenvolver no convertido um caráter semelhante ao de Cristo. Esse processo de santificação é um contínuo crescimento na graça e no conhecimento de Deus (ver 1Ts.4:3; 2Ts.2:13; GC, 469).

Justificados. Isto é, considerados livres de culpa, absolvidos, inocentados (ver com. de Rm.4:8). Este é o status que o crente arrependido que confessou seus pecados em nome de Cristo passa a ter diante de Deus. A justificação é possível porque a fé é contada como justiça (ver com. de Rm.3:24-26; Rm.4:3-5). O Pai, ao olhar para o pecador convertido, vê a veste limpa da justiça de Cristo com a qual foi coberto, e não os trajos manchados pelo pecado de uma vida corrupta. Essa transformação se tornou possível mediante a morte sacrifical de Jesus (ver com. de Rm.5:19; 2Co.5:17-19; 2Co.5:21; Hb.9:15; 1Pe.2:24; CC, 62, 63). Uma vez que o Espírito Santo opera essa transformação do pecado para a justiça, os crentes têm obrigação moral de viver em contínua consagração à vontade do Senhor.

1Co.6:12 12. Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.

Todas as coisas. Esta expressão não deve ser entendida em sentido absoluto. Os males morais alistados nos v. 1Co.6:9-10 certamente não estão incluídos. Paulo se refere a coisas que não são erradas em si mesmas. O cristão tem liberdade de participar de tudo que faz parte do estilo de vida ensinado por Deus como o mais benéfico para a humanidade. Ele pode fazer qualquer coisa que esteja em harmonia com a vontade de Deus revelada em Sua Palavra. O Senhor não Se contradiz. O que Ele ordena em um lugar não reprova em outro; o que proíbe ninguém tem liberdade de fazer. Se algo está em harmonia com a vontade de Deus, o cristão é livre para fazer o que deseja, mas há uma condição que deve ser observada: o cristão não deve fazer algo que cause escândalo a seu próximo.

Jesus resumiu tudo o que é legítimo a Seus seguidores na resposta à pergunta do intérprete da Lei (Mt.22:36-40). Amar a Deus e ao próximo são os princípios que governam a vida do verdadeiro cristão. Ele tem plena liberdade para fazer o que deseja, contanto que não entre em conflito com esses dois princípios (comparar com 1Co.10:23).

Lícitas. O v. 1Co.6:12 tem um jogo de palavras difícil de ser reproduzido em português, envolvendo a palavra exestin, “lícitas”, e exousiasthesomai, “dominar”, que deriva daquela. O que mais se aproxima dele é: “todas as coisas estão em meu poder, mas não ficarei sob o poder de nenhuma delas” (Vincent). Aparentemente, essa frase era um provérbio.

Convêm. Do gr. sumphero, “reunir”, por conseguinte, “ser útil” (ver com. de 1Co.10:23; sobre limitações à liberdade cristã, ver com. de Rm.14).

Dominar. Ou, “autoridade”.

Nenhuma. Isto é, por coisa alguma. Na segunda parte deste versículo se repete o argumento de que o cristão é livre para fazer de tudo, mas se acrescenta outra condição que limita essa liberdade. Uma pessoa sábia não se deixará escravizar por aquilo que é livre para fazer. Ela exercerá domínio próprio e temperança em tudo. Não cultivará um hábito que possa dominar sua vontade ou interferir de algum modo em sua devoção ao serviço de Deus (ver 1Co.9:27). Existem várias coisas que o cristão consagrado tem liberdade de fazer, mas não é sábio que se envolva em algo que possa prejudicar o avanço da obra de Deus. Não se deve praticar nada que faça tropeçar alguém que está buscando a verdade, mesmo que o ato seja inocente em si mesmo (ver Rm.14:13; 1Co.8:9; cf, T9, 215).

1Co.6:13 13. Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo.

Alimentos. Do gr. bromata, qualquer tipo de alimento. Deus proveu alimento para o ser humano, e fez o estômago para digeri-lo. Todos têm o direito de satisfazer o apetite por comida. Porém, embora Deus tenha dado ao ser humano o apetite por comida e feito provisão para que este o satisfaça, o cristão não é livre para comer tudo o que desejar, sem considerar a quantidade e a qualidade. Ele deve se lembrar que foi comprado pelo sangue de Cristo, e é seu dever manter seu corpo em boa condição (ver 1Co.6:20; 1Pe.1:18-19; Ap.5:9; CS, 41).

Destruirá. Literalmente, “aniquilar”. Os cristãos não devem se apegar àquilo que será destruído, mas se preparar para a vida eterna, cultivando um caráter que Deus aprova. Os que desejam ter mente clara e corpo saudável devem praticar a temperança. Comer em excesso, mesmo dos melhores alimentos, impede que se desfrute boa saúde e também interfere na compreensão e apreciação da verdade espiritual. Quem conhece a alegria da comunhão com Deus não permitirá que suas faculdades mentais e espirituais sejam obscurecidas pela glutonaria (cf. 1Co.9:27). O ser humano deve ser grato pela provisão feita por Deus para suprir as necessidades do corpo por alimento. Portanto, deve se alimentar de forma inteligente, a fim de obter força para servir ao Senhor de forma eficaz e cumprir seu dever neste mundo.

Para a impureza. Embora o estômago tenha sido projetado para digerir o alimento, o corpo não foi planejado para a impureza, e deve ser consagrado ao serviço do Senhor. O restante deste capítulo consiste de argumentação contra a imoralidade, um mal a que os coríntios estavam bastante expostos. Sem dúvida, os crentes compreendiam a impiedade da libertinagem, mas viviam entre pessoas que não só a praticavam, como também a consideravam normal (cf. Nm.25.1-8; Ap.2:14). Por isso, as Escrituras apresentam fortes argumentos contra esse pecado. Se acatada, essa instrução serviria para (1) guardá-los contra a tentação, (2) capacitá-los a se opor de forma eficaz aos que a defendiam e (3) definir os aspectos morais da questão sobre uma base sólida. O argumento apresentado nesta epístola é que o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gn.1:27), para Sua glória (ver 1Co.6:20; Ap.4:11), a fim de refletir a imagem divina (ver Ef.4:13; PE, 71) e demonstrar o poder de Deus (ver 1Pe.2:9; 1Pe.4:14). Portanto, o cristão deve preservar seu corpo puro, a fim de que seja uma oferta adequada ao Senhor (ver Rm.12:1). Paulo deixa implícito aqui que alguns argumentavam haver um paralelo entre o uso do estômago para o alimento e o uso do corpo para a condescendência sexual. No entanto, embora Deus tenha criado o estômago para digerir o alimento, e deva ter um suprimento regular para que possa funcionar, o corpo não foi feito para satisfazer os desejos sexuais ilícitos, mas para o Senhor (ver 1Co.6:15; Ef.5:23; Ef.5:29-30). Esse é o primeiro dos seis argumentos de Paulo contra a impureza (ver com. de 1Co.6:14-15; 1Co.6:18-19).

1Co.6:14 14. Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder.

Ressuscitou o Senhor. Ver Mt.28:1-6.

Também nos ressuscitará. Este versículo apresenta o segundo argumento contra a impureza (ver com. do v. 1Co.6:13). Os crentes estão unidos a Cristo pela fé. Deus ressuscitou Cristo dos mortos com um corpo glorificado. Os santos ressuscitados terão corpos glorificados como o de Cristo (ver Fp.3:21). Visto que os remidos serão ressuscitados pelo poder de Deus, que seus corpos serão imaculados, puros e santos, como o corpo glorificado de Cristo, e que isso se dará pelo poder de Deus, então não é correto o corpo ser entregue a práticas de corrupção moral e à satisfação de desejos carnais. Condescender com a imoralidade é indigno dos santos, pois eles pertencem ao Salvador puro e santo, que foi levantado dos mortos e que os ergueu para andar em novidade de vida (ver Rm.6:1-13).

Tal atitude é indigna também em vista da gloriosa verdade de que o corpo dos crentes será ressuscitado em perfeita e eterna pureza. A plena compreensão da união dos santos com o Salvador ressurreto imaculado e puro e a própria esperança de pureza imortal devem ser mais forte do que qualquer outra coisa para mantê-los afastados da imoralidade em todas as suas formas.

1Co.6:15 15. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não.

Membros de Cristo. Ele é a cabeça da igreja, e os crentes são seus membros (ver 1Co.12:27; Ef.1:22-23; Ef.4:12-13; Ef.4:15-16; Ef.5:30). Os santos estão tão íntima e vitalmente unidos a Cristo como a mão ou o pé está unido ao corpo. Assim como os membros do corpo são controlados e guiados em suas respectivas funções pela cabeça, também os crentes recebem de Jesus, a cabeça espiritual, direção e força para realizar seus deveres cristãos. Neste versículo, apresenta-se o terceiro argumento contra a imoralidade (cf. com. dos v. 1Co.6:13-14). Os cristãos estão unidos a Cristo, e é impensável que os membros do corpo de Cristo sejam contaminados pela imoralidade. Cristo é puro. Seus seguidores, unidos a Ele, devem ser puros como Ele, e os que têm a esperança de encontrá-Lo em Seu segundo advento se esforçam continuamente para preservar essa pureza (ver 1Jo.3:3). Um verdadeiro cristão pode dispor do que pertence a Cristo, isto é, um de seus membros, e que é parte dEle, a um propósito tão vil?

Os cristãos receberam um chamado nobre e santo e não podem aceitar os baixos padrões do mundo incrédulo como norma de conduta (ver Fp.3:14; 1Ts.1:4; 2Tm.1:9; Hb.3:1). O crente batizado “em Cristo” (Gl.3:27) se torna um membro de Cristo e deve preservar essa relação sagrada, mantendo todo seu corpo santo ao Senhor.

Absolutamente, não. Ver com. de Rm.3:4; Rm.3:31. Esta expressão manifesta a esperança de que nunca aconteça algo do que é sugerido nas declarações anteriores. A frase é encontrada 15 vezes no NT, e 14 delas estão nos escritos de Paulo. Neste versículo, a frase mostra a aversão do apóstolo à ideia de que os membros de Cristo sejam separados dEle para se tornarem “membros de meretriz”.

1Co.6:16 16. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne.

Que se une. No casamento, o homem e sua mulher são “um só corpo” numa união santa e legítima (Gn.2:24), mas na fornicação o homem e a mulher se tornam “um só corpo” numa união ilegítima e profana. A união só pode ser santa quando está de acordo com a lei divina. Os crentes corintios não duvidavam de que eram membros de Cristo, mas questionavam que a fornicação pudesse tirar deles sua condição elevada e fazê-los membros de uma prostituta. Possivelmente, consideravam um exagero o alegado efeito de uma queda moral. O raciocínio de Paulo, baseado nas Escrituras, não podia ser refutado com êxito.

1Co.6:17 17. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.

Que se une ao Senhor. Os v. 1Co.6:16-17 estabelecem um perfeito contraste, visto que apresentam duas situações incompatíveis. Quem ama e confia no Senhor busca se unir a Ele em todas as coisas. Rejeita tudo o que desagrada a Deus e aceita apenas o que está em harmonia com Sua vontade. Essa união com Cristo é uma atividade constante e se torna seu principal interesse. A fornicação, em que o corpo se une a uma prostituta, é uma experiência passageira, mas degrada o caráter. Embora a união seja física, ela rebaixa a pessoa ao mais baixo nível moral. Por outro lado, a união com Cristo eleva o crente ao mais alto nível moral e espiritual, tem o propósito de ser uma união duradoura em que a mente de Jesus se torna a mente do cristão, que assim se torna completamente unido à vontade de Deus.

Tudo o que ele deseja é ser um agente pelo qual a vontade de Deus encontre expressão por pensamento, palavra e ação (ver PJ, 312). Essa união com o Senhor, descrita por Paulo, é outra forma de definir a justiça pela fé. É uma afirmação da transformação misteriosa que ocorre quando o pecador eleva seus olhos a Cristo e, pela fé, lança mão da promessa divina expressa em Je.31:33-34. Jesus descreveu essa união por meio da metáfora da videira e seus ramos (ver com. de Jo.15:1; Jo.15:4-5). O crente não perde sua identidade e personalidade, mas se une a Cristo de tal forma que pensa como Cristo, deseja o que Cristo deseja e faz o que Cristo faria se estivesse na Terra. Essa experiência é comparada ao matrimônio (ver Ef.5:22-33). A união entre um homem e uma mulher em matrimônio deve ser considerada sagrada e imutável. A união entre Cristo e o cristão é mais íntima, rica, pura e completa do que qualquer união terrena.

1Co.6:18 18. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.

Fugi. O verbo grego indica uma atitude habitual e contínua. Isto é, fugir habitualmente. Não se deve deter para discutir com o tentador diante de qualquer convite para a imoralidade. É perigoso hesitar e argumentar com a consciência; a fuga determinada e imediata da tentação é o único caminho seguro a tomar (ver CS, 587). Esta ordem para não permanecer nem argumentar com a tentação da impureza, e em vez disso se desviar e fugir dela, não pode ser desconsiderada impunemente. A tentação da fornicação pode ser tão sutil que só está seguro quem foge dela. A pessoa só está livre da corrupção quando se recusa a abrigar um pensamento imoral; somente quando desvia o olhar do objeto que sugere um pensamento impuro (ver 2Sm.11:2-4; Jó.31:1; Pv.6:23-26; Mt.5:27-29). Não há outra forma de evitar a contaminação da fornicação além da apresentada por Paulo, e ninguém que recuse seguir esta instrução está seguro. José demonstrou a importância de fugir desse mal (ver Gn.39:7-12; T5, 596). Muitos seriam poupados de lágrimas, remorso, pobreza, necessidade, doença e calamidades permanentes se tão somente dessem ouvidos às palavras: “Fugi da impureza.”

Impureza. Do gr. porneia, termo geral para todas as formas de relação sexual ilícita.

Fora do corpo. Não está claro o significado exato do contraste aqui apresentado, mas o sentido geral é evidente. Nenhum pecado corrompe o corpo como o faz a fornicação. Nenhum pecado tem sua origem no corpo e está dentro dele, do mesmo modo como está a fornicação. Paulo apresenta o quarto argumento contra a imoralidade (cf. com. dos v. 1Co.6:13-15). O efeito mais imediato de pecados como roubo, falsidade e cobiça está na mente, mas a fornicação ou impureza afeta de forma direta o corpo. Embora excessos como bebedice e glutonaria sejam pecados cometidos contra o corpo e por meio dele, são iniciados de fora do corpo. Mas, no caso da fornicação, o corpo é usado como o agente direto do erro. Esse pecado é danoso de forma particular, pois interfere na unidade simbólica do casamento. Deus deseja que o casamento seja uma união duradoura entre um homem e uma mulher, que nada possa quebrar (ver Gn.2:23-24; Rm.7:2-3), a qual representa a união entre Cristo e Sua igreja (ver Ef.5:25-32; ver com. de Mt.5:28-32; Mt.19:5-9).

1Co.6:19 19. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?

Santuário. Do gr. naos (ver com. de 1Co.3:16). Este é o quinto argumento contra a imoralidade (cf. com. de 1Co.6:13-15; 1Co.6:18). Visto que o corpo dos santos é santuário sagrado do Espírito, eles não devem se contaminar por esse pecado. Pelo fato de os santos serem membros de Cristo (v. 1Co.6:15) e templos do Espírito Santo, que é dado por Deus (ver Jo.14:16-17), todo pecado cometido contra o corpo é contra o Senhor e contra o Espírito Santo.

Não sois de vós mesmos. Este é o sexto argumento contra a fornicação (cf. com. dos v. 1Co.6:13-15; 1Co.6:18-19). O ser humano não pertence a si mesmo; ele não tem direito de usar suas faculdades de acordo com os desejos e motivações de seu coração não convertido. Ele é propriedade de Deus pela criação e pela redenção. O ser humano deve viver mental, física e espiritualmente como Deus orienta, para a glória de Seu nome, e não para a satisfação dos desejos carnais. A pessoa convertida, serva voluntária de Jesus Cristo (ver com. de Rm.1:1; Rm.6:18), vive somente para agradar o Mestre.

1Co.6:20 20. Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

Preço. Deus atribui à raça humana um valor elevado. Isso fica claro diante do infinito preço de resgate que Jesus pagou na cruz. Jesus teria vindo ao mundo e daria Sua vida por um único pecador (ver Mt.18:12-14; T8, 73). Visto que foi comprado por Deus, o pecador redimido deve moralmente viver somente para Deus, obedecer os Seus mandamentos e “fugir” de toda imoralidade (ver T9, 104; GC, 475).

No vosso corpo. Visto que o ser humano foi redimido da morte eterna, seu dever é manter o corpo em condição de pureza, a fim de glorificar a Deus e servi-Lo de modo aceitável (ver CS, 40, 41, 73 , 74). Na preservação da pureza, é preciso entender as leis que governam nosso corpo, do ponto de vista da fisiologia e da anatomia (ver CS, 38; FEC, 321; PJ, 348). Os seguidores de Cristo não permitirão que apetites e desejos carnais os dominem. Em vez disso, seu corpo será dominado pela mente regenerada e guiado constantemente pela sabedoria divina (ver Rm.6:13; Rm.12:1; 1Co.9:25-27; AA, 311; CBV, 130; CS, 622).

Espírito (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão das palavras “e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (ARC). A ênfase de Paulo neste capítulo é sobre a consagração do corpo.

1Co.7:1 1. Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher;

Quanto ao que me escrevestes. Este versículo dá início a uma nova seção da epístola, em que Paulo trata de algumas questões que a igreja de Corinto tinha feito a ele. A carta que continha essas perguntas se perdeu, e só resta conjecturar sobre o intuito das indagações deles. Por exemplo, seria muito útil saber quais foram precisamente as perguntas relativas ao matrimônio. A interpretação do capítulo depende em parte da natureza do problema apresentado ao apóstolo. Parece que o tema do matrimônio deve ser tratado em primeiro lugar, na resposta de Paulo, em vista de sua advertência contra a fornicação (1Co.5-6). É provável que em Corinto houvesse quem perguntasse se as regras judaicas que exigiam que as pessoas se casassem, pelo menos os homens (ver Mishnah, Yebamoth, 6.6, ed. Soncino, Talmude, p. 411), se aplicavam aos cristãos.

Pode ser que alguns na igreja não quisessem se casar e tenham perguntado a Paulo se isso seria aceitável. Se essa indagação era o pano de fundo para a declaração de Paulo em 1Co.7:1, então o apóstolo não estava dando um conselho geral sobre o casamento, mas simplesmente informando a esse grupo em particular que era apropriado continuar solteiro. É possível que alguns cristãos cressem que o matrimônio era um estado pecaminoso, que devia ser evitado e se possível dissolvido. Essa seria uma reação compreensível diante da imoralidade tão difundida em Corinto naquela época.

No zelo de evitar a fornicação de qualquer tipo, eles poderiam ter ido ao outro extremo de se abster por completo do matrimônio.

Bom. Do gr. kalos, “próprio”, “apropriado”. A palavra não denota bondade no sentido moral (ver v. 1Co.7:28; 1Co.7:36). Portanto, esta declaração não pode ser usada para justificar o celibato como uma prática moralmente superior (ver Mt.19:4-6; Rm.7:2-4; Ef.5:22-32; 1Tm.4:1-3; Hb.13:4). Seria inconsistente Paulo ensinar que não é bom que a pessoa se case em qualquer circunstância e, depois, numa epístola para outra igreja, usar o casamento como uma ilustração da união entre Cristo e a igreja (ver Ef.5:22-27).

Toque em mulher. Um eufemismo para relação sexual (ver Gn.20:4; Gn.20:6; Gn.26:11; Pv.6:29). É provável que esta expressão seja sinônima de casamento. A instrução deve ser interpretada à luz de seu contexto, e não deve ser compreendida como uma proibição para o casamento.

1Co.7:2 2. mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido.

Mas. Embora não seja obrigatório, casar-se é uma atitude correta.

Por causa da. Do gr. dia, “ser causa de”, “devido a”. Visto que a imoralidade abundava em Corinto, o casamento era ainda mais aconselhável a todos os cristãos. Onde quer que o laço do matrimônio seja considerado com leviandade, a imoralidade predomina. Pureza e virtude estão estreitamente relacionadas à preservação do voto matrimonial. A recomendação de Paulo acerca do casamento, como proteção contra a fornicação, foi considerada por alguns como um conceito que rebaixa o casamento. Mas é preciso frisar que, por causa de uma situação particular em Corinto, Paulo tratou apenas do lado negativo da questão.

Ele não está apresentando a única razão para se casar. O apóstolo não nega os elementos positivos e as bênçãos que advêm do casamento (ver com. de Mt.19:12). À luz desta passagem, “não devemos considerar que Paulo esteja tratando do casamento em geral, mas somente tendo em vista a condição da sociedade em Corinto, onde temia o efeito dos preconceitos morais com relação ao celibato” (Langes Commentary, 1Co.7:2).

Impureza. Literalmente, “fornicações”. O plural se refere às muitas formas de pecados sexuais comuns em Corinto.

Sua própria esposa, [...] seu próprio marido. Esta expressão enfatiza a prática cristã da monogamia.

1Co.7:3 3. O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.

O que lhe é devido. Literalmente, “a obrigação”, “o que se deve”. Este versículo fala do dever do marido e da mulher um para com o outro quanto aos direitos conjugais e sexuais. Ambos estão unidos entre si por toda a vida e devem demonstrar carinho e consideração mútuos. Este conselho era necessário porque alguns cristãos criam que havia virtude no fato de marido e mulher viverem separados um do outro, negando os privilégios legítimos do casamento e expondo-os à tentação da imoralidade.

1Co.7:4 4. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.

Não tem poder. Paulo declara de forma clara os direitos iguais de marido e mulher. Nenhum dos dois tem o direito de negar ao outro os privilégios íntimos da relação marital. Isso, no entanto, não sanciona nenhum abuso ou excesso. Pelo contrário, os cristãos devem reconhecer a necessidade da temperança em tudo (ver 1Co.9:25; T1, 618; T2, 380, 381, 474). Pessoas casadas devem se considerar ligadas por uma união íntima e os laços mais ternos. Portanto, quando forem tentados a ser infiéis, cada um deve pensar no laço sagrado que os une e se recusar a quebrá-lo. Crisóstomo expressa essa ideia da seguinte forma: “Portanto, quando vires uma prostituta te tentando, diga: “Meu corpo não é meu, mas de minha esposa.” O mesmo diga a esposa àqueles que quiserem manchar sua castidade: “Meu corpo não é meu, mas de meu esposo” (Homilies, xix.2, 1Co.7:3; NPNF, vol. 12, p. 105).

Não se deve esquecer que o debate sobre os deveres e privilégios das pessoas casadas, nas relações íntimas, foi suscitado pelas perguntas feitas pela igreja de Corinto (ver com. do v. 1Co.7:1). Como afirmado antes, é provável que alguns crentes tivessem opiniões ascéticas que os levavam a pensar que, mesmo casados, deviam se abster de relações sexuais.Este versículo mostra que a própria natureza do casamento indica que a complacência ou negação dos privilégios do matrimônio não deve ser submetida ao capricho de uma das partes.

Cada um deve reivindicar os direitos conjugais; contudo, considerando que Deus deve ser honrado em tudo (ver 1Co.10:31). Sabendo que o corpo é um templo do Espírito Santo (ver 1Co.6:19-20), o cristão não permitirá que o privilégio concedido a ele pelo casamento se torne causa de violação da ordem de apresentar o corpo sem mácula ao Senhor (ver Rm.12:1; cf. T2, 380). O corpo deve ser mantido sob o domínio da mente santificada.

1Co.7:5 5. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência.

Priveis. Do gr. apostereo, “roubar”, “privar de”. A palavra ocorre em Ex.21:10, na LXX, em que um homem é aconselhado a não diminuir o alimento, a roupa e o dever conjugal para com sua esposa. Os cristãos são aconselhados a não privar um ao outro dos privilégios íntimos do matrimônio, a não ser por tempo limitado, sob circunstâncias especiais e consentimento mútuo. A declaração seguinte apresenta a razão de um acordo mútuo para a abstenção temporária nas relações íntimas: livre participação em práticas religiosas especiais, embora isso não sugira o ascetismo na vida conjugal. Não se deve concluir a partir deste conselho que a abstenção dos privilégios do casamento seja necessária a fim de se envolver em atividades de oração diárias e regulares.

No entanto, este é um plano admissível somente quando se tem a necessidade de um período de devoção tal como o sugerido pela frase “ao jejum e à oração” (ACF; cf. Ex.19:14-15).

Jejum (ACF). Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a omissão desta palavra (sobre o jejum entre os judeus, ver com. de Mc.2:18).

Ajuntardes. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “estar junto”. Passada a razão para o período de abstinência planejado mutuamente, marido e mulher devem retomar a conduta normal da vida de casados. A razão para essa admoestação de voltar às relações normais é evitar a má conduta sexual. O matrimônio protege a pureza. Por isso, qualquer tentativa de um longo período de abstenção sexual entre marido e esposa tenderia a remover a proteção contra a fornicação provida pelo casamento (ver PP, 46).

1Co.7:6 6. E isto vos digo como concessão e não por mandamento.

Isto. Não é possível determinar o que se inclui neste pronome, se apenas a sugestão no v. 1Co.7:5 ou toda a instrução nos v. 1Co.7:1-5.

Como concessão. Do gr. suggnome, “acordo”, “opinião ou julgamento mútuo”. O apóstolo não quiz dizer que as pessoas casadas fossem obrigadas a praticar períodos diferentes de abstinência mediante acordo mútuo. Ele explica que se assim desejarem, são perfeitamente livres para fazer tal acordo: não é uma ordem. Alguns acham que Paulo não teria sido inspirado pelo Espírito quando deu o conselho do v. 1Co.7:1-5. Um exame atento demonstra que Paulo não dá uma ordem quanto a questão de se casar ou não. Esse é um assunto que cada pessoa deve decidir.

1Co.7:7 7. Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro.

Tais como também eu sou. Isto é, que não sentem a necessidade de casar-se (ver Mt.19:10-12). Não há prova de que Paulo tenha sido casado antes. No entanto, de acordo com At.26:10, ele deu seu voto contra os santos, por isso interpreta-se que ele foi um membro do Sinédrio (cf. AA, 112), cujos componentes deviam ser casados (ver Sanhedrin, 36.b, ed. Soncino, vol. 1, Talmude, p. 229; cf. DTN, 133). Além disso, é natural pressupor que Paulo, como rígido fariseu, não teria negligenciado o que os judeus consideravam como uma obrigação sagrada, isto é, o casamento (ver Mishnah Yebamoth, 6.6, ed. Soncino, Talmude, vol. 1, p. 411). Seu conselho detalhado neste capítulo sugere uma familiaridade com questões relacionadas ao casamento. Portanto, parece haver pouca dúvida de que Paulo tenha sido casado antes de escrever a primeira epístola aos coríntios.

Seu próprio dom. Reconhecimento de que nem toda pessoa é igual quanto à questão de se casar ou não. Alguns preferem permanecer solteiros e têm disposição para viver satisfatoriamente sem se casar. Outros preferem seguir o curso normal da vida, e se casar. Ambas as condutas são aprovadas pelo Senhor quando em harmonia com Seu conselho.

1Co.7:8 8. E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo.

Solteiros. No grego, esta forma é masculina, sugerindo que Paulo se refere apenas a solteiros e viúvos. As jovens solteiras são mencionadas no v. 1Co.7:25.

Viúvos. Ou, viúvas, isto é, mulheres cujos maridos morreram.

Bom. Do gr. kalos; ver com. do v. 1Co.7:1.

Também eu vivo. Ver com. do v. 1Co.7:7.

1Co.7:9 9. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado.

Não se dominem. Paulo enfatiza a importância de se dominar, mas também reconhece que nem todos são como ele (ver com. do v. 1Co.7:7). Além disso, os que se acostumaram à vida de casados podem achar difícil ter esse domínio completo (ver 1Tm.5:11; 1Tm.5:14).

Abrasado. Paulo aconselha aos que têm dificuldade de exercer domínio sobre os desejos sexuais a se casarem em vez de estarem sujeitos à agitação do desejo insatisfeito. A instrução é clara e está em harmonia com o teor geral dos versículos anteriores, isto é, a preservação da pureza e uma melhor atitude para com o casamento (ver v. 1Co.7:2-3; 1Co.7:5). Mesmo quando se consideram todos os problemas associados à vida conjugal durante um período de perseguição e angústia (ver v. 1Co.7:26), é melhor se casar do que consumir-se interiormente com a condição mental, emocional e fisicamente perturbadora do desejo insatisfeito.

1Co.7:10 10. Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido

Aos casados. Isto é, cristãos já casados.

O Senhor. Paulo reforça a ordem inspirada ao se referir ao ensino claro do próprio Cristo. Visto que Jesus tinha falado de forma específica sobre esse tema, o apóstolo pôde fazer essa referência. Quando não havia uma instrução específica de Jesus, o apóstolo dava conselho novo, mas inspirado (ver com. do v. 1Co.7:12). O Salvador declarou que o laço matrimonial era santo e imutável (ver Mt.5:31-32; Mc.10:2-12; Lc.16:18). A ordem de Jesus não dá espaço para as muitas desculpas apresentadas para a separação legal, aceitas pelos tribunais civis atualmente, tais como incompatibilidade, crueldade mental e outras de natureza mais trivial. As leis gregas e romanas permitiam a separação de marido e mulher por razões banais. O mesmo se dava entre os judeus (ver com. de Mt.5:32). Sem dúvida, isso levou os cristãos a indagarem sobre o divórcio entre os crentes. A resposta é clara: o divórcio não faz parte do plano de Deus para o casal. A única razão pela qual se permite o divórcio é o adultério (ver com. de Mt.19:9).

A mulher. O fato de citar a mulher em primeiro lugar se deve a que ela estaria mais inclinada a buscar o divórcio. Como a parte mais frágil, ela era suscetível a sofrer opressão nas mãos do companheiro incrédulo. Ou, talvez, essa pergunta (ver com. do v. 1Co.7:1) tratava de um caso em particular em que a mulher pensava em abandonar o marido.

1Co.7:11 11. (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.

Se, porém, ela vier a separar-se. Esta declaração é praticamente uma admissão de que a ordem dada no versículo anterior não seria obedecida por completo, devido à condição imperfeita da igreja. Havia casos de diferenças matrimoniais que não seriam resolvidas pelo afeto e tolerância cristãos, e que acabariam em separação. Em tais casos, a esposa rejeitada ou separada não deveria se casar com outro, mas buscar se reconciliar com o marido.

Não se aparte. Do gr. aphiemi, “despedir”, “repudiar”, “divorciar-se”. Este é um termo mais forte do que o traduzido como “separar-se”. Talvez, neste caso, seja usado como sinônimo. No v. 1Co.7:13, aphiemi é usado em relação à esposa. A lei judaica reconhecia o direito da esposa de se divorciar sob circunstâncias específicas.

1Co.7:12 12. Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone;

Aos mais. Os deveres das pessoas não casadas são tratados, em particular, com relação à pergunta se é correto e aconselhável que se casem (ver v. 1Co.7:1-9). Também foi claramente apresentada a ordem do Senhor sobre crentes casados, como deveriam agir quanto à separação e ao divórcio (ver v. 1Co.7:10-11). Em seguida, se discute o caso em que um é cristão e o outro não. Seria aconselhável uma separação voluntária e apropriada? O marido ou a esposa crente poderia não desejar permanecer em contato íntimo com um descrente.

Não o Senhor. Cristo afirmou que o laço matrimonial é sagrado e indissolúvel (ver Mt.19:4-6; Mt.19:9). Paulo trata de casos para os quais não há instrução explícita da parte de Jesus, por isso a expressão “digo eu, não o Senhor”. Ele foi movido pelo Espírito Santo nos conselhos dados, embora não se baseasse em declaração de Jesus registrada previamente (cf. com. de 1Co.7:10).

Não a abandone. Poderia haver casos em que uma esposa não cristã fosse tão contrária ao evangelho que não desejasse viver com um marido cristão. Em tais casos, o marido não podia evitar a separação. Se, pelo contrário, a esposa incrédula desejasse permanecer com o esposo crente, ele não tinha a liberdade de buscar a separação. O voto matrimonial é sagrado e não pode ser desconsiderado por causa de uma mudança religiosa de uma das partes. O efeito natural da conversão de um cônjuge deveria ser torná-lo mais carinhoso, gentil, amoroso e leal do que antes. O cônjuge crente deve considerar legítima sua união com um descrente, desde que o incrédulo não se separe de forma voluntária de seu companheiro crente e se junte a outra pessoa.

1Co.7:13 13. e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido.

Não deixe o marido. O conselho dado neste versículo é semelhante ao do anterior, mas se aplica à esposa. Da mesma forma que o marido cristão não é livre para se divorciar da esposa incrédula, simplesmente com base em diferenças religiosas, a esposa cristã não deve se divorciar do marido incrédulo por esse motivo.

1Co.7:14 14. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.

Santificado. Do gr. hagiazo, “tornar santo”. O contexto desta declaração tem a ver com o temor de alguns crentes de que a permanência nas relações conjugais íntimas com incrédulos resultasse em corrupção ou impureza. Paulo não quis dizer que marido ou esposa não crente se tornaria santo, ou que seria convertido se continuasse a viver com um cristão, ou que o incrédulo de forma gradual se tornaria favorável ao cristianismo ao observar o efeito deste sobre seu cônjuge. Isso ele discute adiante (ver com. do v. 1Co.7:16). Ele se refere à condição que se produzia tão logo um cônjuge se tornava cristão, não de algo que aconteceria no futuro.

Portanto, “santificado” aqui descreve simplesmente alguém que não corrompe nem contamina. O incrédulo é santificado no sentido da legitimidade de cristãos e pagãos viverem juntos em matrimônio. Se o casamento é legítimo e reconhecido como tal pela igreja, os dois são uma carne e estão unidos de forma indissolúvel pelo laço matrimonial (ver Gn.2:24; Mt.19:5-6; Ef.5:31). Sendo assim, é apropriado que vivam juntos. Não há motivo para divórcio.

Filhos seriam impuros. Isto é, seriam nascidos de um casamento não santificado, e, portanto, ilegítimos. Caso se recomendasse o divórcio com base no fato de um dos cônjuges ser incrédulo, isso implicaria que um casamento assim era impróprio. Os próprios coríntios não criam que filhos de casamentos mistos fossem ilegítimos, portanto, mesmo de acordo com as próprias opiniões deles, o casamento devia ser correto.

Agora, são santos. Isto é, do mesmo modo que o marido incrédulo é santificado pela mulher crente. Os filhos são santificados no sentido de que nasceram de uma união santificada.

1Co.7:15 15. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz.

O descrente. Usa-se o masculino para ambos os cônjuges como se observa mais adiante no versículo.

Apartar-se. Ou, “separar-se”.

Sujeito à servidão. Do gr. douloo, “escravizar”. Se o cônjuge incrédulo não desejasse permanecer com o cristão e, voluntariamente, desejasse deixá-lo (ou deixá-la), o cristão não deveria se sentir obrigado a permanecer casado a todo custo. O incrédulo que deseja deixar seu cônjuge não deve ser impedido de fazê-lo. O cristão não é obrigado a tentar viver com um descrente contra a vontade deste.

A paz. Literalmente, “em paz”. O cristão deve buscar viver em harmonia com o cônjuge incrédulo sem comprometer os princípios (ver Rm.12:18; Hb.12:14). O cristianismo é uma religião de paz; busca impedir ou evitar contendas e discórdias (ver Jo.14:27; Rm.14:19; 2Co.13:11; Fp.4:7). Se não se pode ter paz no casamento legítimo entre um cristão e um não cristão, e o incrédulo insiste em se separar, deve haver um acordo de separação pacífica.

1Co.7:16 16. Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?

Salvarás. O crente não deveria abandonar ou desejar se separar do descrente porque este poderia ser levado a aceitar Cristo como Salvador pelo exemplo e influência do crente. A conversão do incrédulo traria felicidade e bênçãos à família como um todo, e para o incrédulo, em particular. Este propósito é tão importante que o cristão deve se dispor a ser paciente e tolerante a fim de obtê-lo. Ele jamais deve desistir de sua fé, a despeito de toda provocação que possa surgir. Deve haver contínua comunhão com Deus em oração para que o cônjuge incrédulo seja resgatado da incredulidade para uma vida pacífica, harmoniosa e feliz de preparação para o lar celestial.

1Co.7:17 17. Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas.

Ande. A adesão a Cristo não leva necessariamente a mudanças na condição econômica, social ou vocacional. As boas novas do evangelho, em alguns casos, produziam grande entusiasmo entre os que criam, tanto judeus quanto gregos. O vislumbre da experiência de vida eterna no reino de Deus tornava alguns indiferentes às atividades deste mundo. Esses buscavam viver apenas pelas coisas espirituais e tentavam renunciar suas vocações regulares (ver 2Ts.3:6-12). O evangelho não tem o objetivo de mudar repentinamente a ordem existente de coisas. Em vez disso, ele alcança todos os aspectos da vida e efetua uma mudança gradativa e ordenada. Neste versículo, “aprendemos o fato geral de que o cristianismo não altera as relações existentes, contanto que não sejam pecaminosas, mas apenas objetiva infundir-lhes um novo espírito” (Lange´s Commentary, 1Co.7:17).

Segundo o Senhor lhe tem distribuído. Ver com. do v. 1Co.7:7.

1Co.7:18 18. Foi alguém chamado, estando circunciso? Não desfaça a circuncisão. Foi alguém chamado, estando incircunciso? Não se faça circuncidar.

Não desfaça a circuncisão. Judeus circuncidados que se tornavam cristãos não deviam esconder que eram circuncidados, como o faziam alguns (ver Josefo, Antiguidades, xii.5.1 [241]; 1 Macabeus 1:15).

Não se faça circuncidar. O rito iniciatório da circuncisão praticado pelos judeus, segundo a ordem divina dada a Abraão, não devia ser exigido dos gentios convertidos ao cristianismo (At.15:24-29).

1Co.7:19 19. A circuncisão, em si, não é nada; a incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus.

A circuncisão, em si, não é nada. Nem o cumprimento do rito judaico da circuncisão nem o deixar de fazê-lo podia afetar a relação individual com Deus por meio da fé em Jesus. Paulo enfatiza que cerimônias e observâncias exteriores não têm valor sem a fé em Cristo (ver Gl.5:6; Gl.6:15). O cristão convertido é aceito por Deus não por meio de alguma obra que possa realizar, mas por causa da fé na obra realizada por Cristo na cruz em seu favor (ver Jo.3:16; Rm.4:5; Ef.2:8-9). Abraão, cuja fé é um exemplo a todos os que creem em Cristo, é chamado de pai de todos que têm fé semelhante em Jesus, sejam circuncidados ou não (ver Rm.4:9; Rm.4:11-12).

O que vale é guardar. Comparar com Gl.5:6; Gl.6:15. O que importa é a fé manifestada na obediência aos mandamentos de Deus. O Senhor não avalia a religiosidade individual pela observância de rituais, mas pelo relacionamento com os princípios da lei divina (ver Ec.12:13; Jo.14:15; Jo.14:21; Jo.14:23; Jo.15:10; 1Jo.2:4-6). Qualquer pessoa pode guardar os mandamentos, sendo circuncidado ou não.

1Co.7:20 20. Cada um permaneça na vocação em que foi chamado.

Cada um permaneça. Ver com. do v. 1Co.7:24. Paulo aconselha que as pessoas permaneçam na mesma condição ou circunstância de vida em que estão quando creem em Cristo. A aceitação de Cristo e de Seu modo de vida não autoriza o crente a se rebelar contra a ordem atual de coisas nem a escapar de seus deveres, a menos que haja um conflito entre estes e os princípios da verdade. Paulo ilustra esse argumento no v. 1Co.7:21.

1Co.7:21 21. Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade.

Escravo. Do gr. doulos, “escravo” (ver com. de Rm.1:1), Escravos que aceitavam o Salvador não eram, por isso, libertos de sua condição de escravidão.

Não te preocupes com isso. Paulo ensina que o crente não devia permitir que isso fosse causa de ansiedade e angústia, nem considerá-lo como desgraça. Não devia permitir que a recém-descoberta liberdade espiritual em Jesus o levasse a desprezar sua condição como escravo físico. Devia, em vez disso, aprender a conviver com a condição em que vivia quando encontrou o Salvador (ver Fp.4:11; 1Tm.6:6; 1Tm.6:8; Hb.13:5). O escravo é instruído a cumprir seu dever para com seu mestre terreno, testemunhando assim do poder transformador do evangelho (ver Ef.6:5-8; Cl.3:22-24; 1Tm.6:1; Tt.2:9-10; 1Pe.2:18-19). Deus cuida de todos os Seus filhos, não importa qual seja a posição deles na sociedade, e Ele dará graça e força a cada um segundo a necessidade e a circunstância (ver Fp.4:19).

Aproveita a oportunidade. Os comentaristas dão duas interpretações para a segunda parte deste versículo, uma vez que a frase “aproveita a oportunidade” pode se referir ao uso da liberdade ou ao uso da escravidão. Se a conexão é com o uso da liberdade, escravos convertidos não seriam aconselhados a se preocupar com sua condição social. Mesmo que pudessem obter a liberdade de forma legal, não deviam estar ansiosos por isso; podiam permanecer na escravidão, sabendo que livres e escravos são iguais perante Cristo (ver 1Co.12:13; Gl.3:27-28; Cl.3:11). Além disso, essa condição negativa seria alterada com a segunda vinda de Jesus (ver 1Co.7:26; 1Co.7:29) e, então, todos os crentes escravos seriam livres, física e espiritualmente. Se a frase é ligada ao uso da escravidão, então a passagem seria uma exortação ao crente escravo para que aproveitasse a oferta de liberdade, se tiver a oportunidade de fazê-lo. Essa última interpretação estaria em harmonia com o conselho de Paulo sobre casamentos mistos (ver v. 1Co.7:15). Contudo, é difícil determinar com certeza o significado da frase.

1Co.7:22 22. Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.

Liberto. Ou, “homem livre”. Pela conversão, o escravo fica livre da escravidão do pecado, pelo Senhor Jesus Cristo. O argumento parece ser dado a fim de consolar o escravo que foi exortado a estar satisfeito com sua condição e a não tentar escapar dela. A escravidão do pecado, em que o escravo estivera, era muito pior do que a escravidão social por um mestre terreno. Mas, então, o escravo foi liberto da escravidão do pecado. Assim, sua condição, embora ainda de escravo, é muito melhor do que a anterior. Ele foi libertado do pecado pelo Senhor. Os não convertidos, talvez mesmo o próprio mestre do escravo, estavam em condição espiritual inferior. Portanto, o escravo devia se alegrar de ser livre em Cristo. A maior dádiva é a liberdade da escravidão do pecado. Uma vez livre nesse aspecto, o cristão não deve nutrir ansiedade acerca das circunstâncias externas desta vida, pois as demais coisas lhe “serão acrescentadas” (ver Mt.6:25-31; Mt.6:33-34; Jo.8:32-34; Jo.8:36; Rm.7:14-20; Rm.7:23-24; Rm.8:2; Gl.5:1).

Escravo. Do gr. doulos, como no v. 1Co.7:21 e na primeira parte deste versículo. O cidadão livre que aceita a Cristo e entrega a vida ao Senhor sem reservas torna-se “escravo” de Jesus. Não existe independência absoluta. O ser humano pode ser escravo do pecado ou servo voluntário e feliz de Seu Criador e Salvador. Toda a sociedade é governada por leis. Não há desprestígio em obedecer as leis da sociedade, desde que essas leis estejam em harmonia com a Palavra de Deus. Os três amigos de Daniel estavam prontos a obedecer à ordem do imperador babilônio de ir à planície de Dura, onde a estátua de ouro tinha sido erigida, mas se recusaram a ajoelhar-se perante ela, pois isso era contrário à ordem de Deus (Dn.3:14; Dn.3:16-18; Ex.20:4-5). Obediência à lei de Deus, seja por parte do escravo ou do livre, é a mais elevada forma de reverência e uma prova do discipulado, bem como a expressão máxima da razão e da consciência (ver 1Co.7:19; CPPE, 111; CC, 60; MDC, 146, 147; AA, 506). O apóstolo indica que o escravo cristão bem como o livre devem viver em obediência à lei de Deus.

1Co.7:23 23. Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens.

Comprados. O preço do resgate é o precioso sangue de Jesus (ver Jo.3:16; Rm.5:8; Rm.5:18-19; 1Pe.1:18-19; 1Pe.3:18). Escravos que aceitam o evangelho, embora ligados a mestres humanos e privados da liberdade civil, têm valor incalculável aos olhos de Deus. Eles são os escravos de Cristo e podem servi-Lo em submissão a seus mestres terrenos, pois Cristo considerará esse serviço, se prestado com fidelidade, como feito para Ele (ver Ef.6:5-8; Cl.3:22-24).

Escravos de homens. A expressão “não vos torneis escravos de homens” não fica clara neste contexto. Alguns a entendem como um conselho aos livres, ou que foram libertados, a não se tornarem escravos. Outros consideram que a ordem é a todos os cristãos, escravos ou livres, a se guiarem pelos princípios da verdade, enquanto desempenham seus deveres segundo sua condição na sociedade. Sob nenhuma circunstância devem transgredir a lei de Deus a fim de cumprir as exigências humanas (ver At.5:29). Devem reconhecer que Deus, que pagou o preço de sua salvação, requer dedicação e lealdade (ver Lc.10:27). Não devem permitir que ninguém interfira em seus direitos e deveres de adorar a Deus de acordo com a própria consciência. O Espírito Santo é o guia e mestre do cristão (ver Jo.16:13; Rm.8:14).

A consciência pertence ao Senhor e deve ser guiada por Ele. Nunca deve ser submetida ao controle de alguém ou de um grupo de pessoas. A vida pertence a Deus e deve ser governada e usada para Ele de acordo com Sua vontade. Em todos os aspectos, o cristão é propriedade divina (cf. PJ, 312). Essa transação é, da parte de Deus, uma compra, e, da parte do crente, uma consagração voluntária e feliz. Dessa forma, o fato de Deus ser dono dos crentes, por meio de Cristo, é a garantia de que eles estão livres da servidão ao ser humano em tudo que tem a ver com a vontade e a consciência, e a prova de que o serviço de Cristo é a perfeita liberdade (ver Jo.8:32; Jo.8:36; Rm.6:14; Rm.6:18; Rm.6:22).

1Co.7:24 24. Irmãos, cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado.

Cada um permaneça. Este versículo repete a exortação do v. 1Co.7:20, a fim de enfatizar que o cristianismo não ignora a ordem social existente. A igreja do Deus vivo não está no mundo para desorganizar a sociedade humana, mas para uni-la. Os cristãos consideram corretamente que a escravidão é uma prática má que não deveria existir, mas Deus a tolerou no antigo Israel (ver Lv.25:44-46; ver com. de Dt.14:26). Sua tolerância, porém, não indica aprovação. A permissão no caso de divórcio é um exemplo disso: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher” (Mt.19:8). O missionário cristão em terras pagãs não deve tentar derrubar, pela violência, práticas e costumes estabelecidos, ao notar que são contrários aos ensinos de Jesus.

Ele sabe que tal conduta não faria avançar a causa da verdade, mas fecharia as portas para a obra missionária. A proclamação fiel do evangelho, no poder do Espírito Santo, opera reforma na vida de todos que o aceitam, e então há uma mudança no sistema social que progressivamente o coloca em harmonia com a verdade. A instrução de Paulo não é uma proibição para o cristão de buscar se libertar da escravidão, se ele pode fazê-lo de forma legal. O apóstolo sugere que o escravo espere que Senhor o guie nesse assunto. Se o Senhor não considerar adequado buscar a liberdade, então o escravo crente deve se contentar em servir ao Senhor onde estiver. Ele deve se lembrar de que pode servir a Deus enquanto serve seu mestre terreno (ver 1Co.7:22). Não deve causar escândalo para a igreja, dando a impressão aos incrédulos de que o cristianismo promove a insubordinação. O cristão deve viver a fé e testemunhar de Cristo a todos com quem tem contato e, desta forma, difundir o conhecimento da verdade (ver CC, 81, 82).

Diante de Deus. Algo glorioso na religião de Cristo é que o cristão nunca é deixado sozinho. Ele é aceito na família de Deus e tem a companhia de anjos e do próprio Senhor (ver Mt.28:20; Jo.14:16-18; Jo.14:21; Jo.15:7). Quaisquer que sejam as experiências que deve passar, sabe que não está só. O Deus que está com ele sabe e entende seus problemas e pesares. A todos que amam e confiam em Deus, é dada a certeza de que mesmo nas situações mais perplexas não estarão sem ajuda divina (ver Is.43:2; Hb.13:5). Quando compreende isso, o cristão permanece satisfeito no lugar atribuído a ele nesta vida, não importa qual seja. Quando, em resultado da comunhão com Jesus, o crente compreende que sua principal obra é fazer a vontade do Senhor e que suas posses são um meio de servi-Lo de forma mais eficaz, então terá a paz e a satisfação que o mundo não conhece (ver Is.26:3; Jo.14:27).

1Co.7:25 25. Com respeito às virgens, não tenho mandamento do Senhor; porém dou minha opinião, como tendo recebido do Senhor a misericórdia de ser fiel.

Com respeito às virgens. Paulo trata de outro tema a respeito do qual os coríntios tinham lhe pedido conselho (ver com. do v. 1Co.7:1).

Não tenho mandamento. O apóstolo não dispunha de declaração prévia das Escrituras ou dos ensinos de Jesus na qual se basear com respeito à questão do celibato. Em seu conselho aos “casados”, ele citou a ordem dada pelo próprio Cristo (ver com. do v. 1Co.7:10). Esse fato, porém, não diminui a força do conselho inspirado de Paulo sobre o tema.

Fiel. Paulo qualifica desta forma sua autoridade para o que está prestes dizer. Sua conversão e consagração foram aceitas, e o Senhor o honrou com iluminação celestial. Ele dedicou a vida a honrar a Deus e a fazer Sua vontade, e buscava a perfeição em Cristo (ver Fp.3:13-14). Por causa disso, ele não daria um conselho movido por interesses egoístas ou terrenos. O que escrevia devia ser aceito como a vontade de Deus sobre o tema em discussão.

1Co.7:26 26. Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom para o homem permanecer assim como está.

Considero. Ou, “eu penso”.

Angustiosa. Do gr. anagke, “necessidade” (1Co.7:37) ou “tribulação” (1Ts.3:7). Em Lc.21:23, anagke é usado para se referir à “aflição” que viria sobre as pessoas em relação à destruição de Jerusalém. Paulo estava se referindo à iminência de um tempo de grande tribulação e perplexidade para os cristãos.

Presente. Ou, “à mão”, “chegado” (2Ts.2:2).

Bom. Do gr. kalos (ver com. do v. 1Co.7:1). Ao regular a conduta quanto ao casamento, o crente deve lembrar que é necessário considerar não apenas o que é legítimo, mas também o que é conveniente (ver 1Co.6:12; 1Co.10:23).

Homem. Do gr. anthropos, termo genérico que se refere a ambos os gêneros.

Assim como está. Esta frase pode ser entendida de duas formas: (1) como um conselho a permanecer como estavam (ver v. 1Co.7:17-18; 1Co.7:20; 1Co.7:24) e (2) como referência ao que vem depois, isto é, que os crentes solteiros devem se guiar com base na instrução dos v. 1Co.7:27-38. Tendo em vista calamidades iminentes, aconselha-se a evitar envolvimento em situações que aumentem as dificuldades e angústia.

1Co.7:27 27. Estás casado? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures casamento.

Casado. Do gr. deo, “atar”, “ligar”. Com frequência se fala do casamento como um vínculo, enfatizando a natureza permanente da união estabelecida quando duas pessoas se casam.

Separar-te. Isto é, por meio de divórcio. O apóstolo ensina que, mesmo em tempos de crise ou emergência, não se deve descuidar da responsabilidade que recai sobre os casados. Requer-se que permaneçam casados e cumpram seu dever como tais. Embora possam encontrar dificuldades em tempos de prova e perseguição, não devem pensar em quebrar o laço do dever a fim de evitar inconveniência e sofrimento. Devem cumprir seu dever e confiar no cuidado divino.

Livre de mulher? Isto é, estás livre do vínculo matrimonial? A frase se aplica aos solteiros e aos viúvos.

Não procures casamento. Aconselha-se ao solteiro ou viúvo não estar ansioso para se casar (cf. com. do v. 1Co.7:1). Isso não significa que Paulo desaprovava o casamento ou que o declarou ilegítimo, como talvez pensavam alguns dos crentes coríntios (ver com. do v. 1Co.7:28). Em vez disso, buscava livrar os cristãos de envolvimentos desnecessários em tempos de angústia (ver com. do v. 1Co.7:26). É verdade que os solteiros passam por menos dificuldades em períodos de tribulação.

1Co.7:28 28. Mas, se te casares, com isto não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso não peca. Ainda assim, tais pessoas sofrerão angústia na carne, e eu quisera poupar-vos.

Com isto não pecas. Cada um deve decidir por si mesmo se deve se casar ou não, segundo a própria inclinação ou necessidade. O conselho de Paulo é um guia seguro a quem se questiona sobre o casamento, principalmente em circunstâncias adversas. Mas a decisão final cabe ao indivíduo. Cada um deve escolher o caminho que melhor lhe convém, sabendo que tanto o casamento quanto a condição de solteiro são aceitáveis a Deus. Há situações em que se casar pode parecer imprudente, mas o celibato não deve ser imposto a ninguém; deve ser uma decisão totalmente pessoal.

Angústia na carne. As preocupações e os deveres da vida de casado, para marido, esposa e filhos, geram perplexidades em tempos de perseguição e tribulação (ver Mt.24:19; Lc.23:28-30). As palavras “na carne” apontam para a vida terrena com todas as suas complexidades; indicam, em particular, a vida doméstica, com suas preocupações sobre alimento, vestimenta e a proteção das posses familiares. Nos dias de perseguição que viriam sobre a igreja, alguns crentes seriam aprisionados, torturados e mortos. Famílias seriam divididas, e pessoas, levadas ao exílio por causa da fé. Sob essas circunstâncias, diz Paulo, seria melhor permanecer solteiro.

Eu quisera poupar-vos. Comentaristas diferem quanto ao significado desta frase. Há duas interpretações: (1) “não falarei mais a respeito desses males, a fim de poupar-vos da dor de ouvir sobre eles”; e (2) “dou-vos essa instrução a fim de poupar-vos desses problemas”. A última é a mais provável.

1Co.7:29 29. Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem;

Tempo. Do gr. kairos, um ponto específico ou período (ver com. de Rm.13:11). O próprio Senhor advertiu os crentes a viverem na expectativa de Sua segunda vinda e do fim do mundo (ver Mt.24:42; Mt.24:44; Mt.25:13; Mc.13:32-37). Os ensinos de Jesus e dos apóstolos mostram que a prioridade da vida é se preparar para o reino de Deus, de eterna glória (ver Mt.6:19-21; Mt.6:33; Mt.10:38-39; Mc.10:21). O tempo desse preparo sempre é apresentado como breve (ver com. de Rm.13:11). O juízo investigativo rapidamente chegará a seu fim e, quando estiver terminado, será tarde demais para obter um lugar no Céu. Portanto, todos devem se assegurar de que serão aceitos como candidatos do reino de glória (ver Is.55:6-7; Dn.8:14; Dn.9:24-27; Rm.9:28; 2Co.6:2; Hb.3:13; 2Pe.1:10; Ap.22:10-12). Todos devem viver em comunhão estreita com o Céu, de modo que não sejam surpreendidos quando chegar o momento de deixar para trás os cuidados desta vida (ver Mc.13:35-37; Lc.18:1; Lc.21:34-36; 1Ts.5:1-6; 1Ts.5:17; 1Ts.5:22-23). O cristão ciente deste fato importante, de sempre estar pronto para se encontrar com Deus, não porá suas afeições nas coisas terrenas. Estará constantemente apercebido da incerteza da vida e da natureza temporária e transitória deste mundo. Assim, viverá em contínua prontidão para a vinda do Senhor (ver Cl.3:1-2).

O que resta. Tendo em vista o pouco tempo disponível para se preparar para a eternidade, que, na melhor das hipóteses, é o curto período da vida, os cristãos não se prenderão aos vínculos e posses terrenos. Não permitirão que nada, nem mesmo os laços familiares, interfira na determinação de estar pronto para o Céu.

Não o fossem. O argumento anterior leva à conclusão de que os casados não devem permitir que essa condição os leve a se esquecer do dever de estar em contato constante com o Céu. Em outras palavras, os cuidados, responsabilidades e prazeres do matrimônio não podem desviá-los do maior objetivo da vida: constante comunhão com o Senhor e preparação para Sua vinda. Este versículo enfatiza que, sob qualquer circunstância, o amor a Deus e a obediência a Seus mandamentos devem ter prioridade na vida do cristão (ver Dt.6:5; Dt.10:12; Ec.12:13; Mt.22:37-38). Não se deve concluir que Paulo defenda uma falta de afeição ou de bondade no casamento, ou que esteja em contradição com a instrução dos primeiros versículos deste capítulo.

1Co.7:30 30. mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem;

Não chorassem. Aqueles que estão cheios do Espírito Santo não são afetados indevidamente pelas experiências da vida terrena. Os que estão angustiados aliviam seu pesar com a esperança da vida porvir na glória. A fé em Deus e em Suas promessas acalma o coração pesaroso (ver Is.26:3).

Não se alegrassem. Os que estão satisfeitos com suas posses e bênçãos terrenas são advertidos a não buscar nelas sua maior felicidade. O sucesso e a fama do mundo não devem ser considerados motivo de alegria excessiva. Em vez disso, deve-se recordar sempre a fragilidade das coisas terrenas e ter a consciência de que jamais se encontra a felicidade em alguma conquista terrena (ver Tg.4:14; 1Pe.4:2-4; 1Jo.2:15-17). Porém, é perfeitamente correto ser grato pelas coisas boas da vida e feliz por tudo que o bom Pai provê a Seus filhos.

Nada possuíssem. É correto adquirir propriedade e negociar; mas deve-se reconhecer que toda a riqueza material é incerta e que logo será deixada. Tudo o que o ser humano possui será deixado para outros quando morrer (ver Lc.12:20-21). Além disso, o Senhor virá para levar Seu povo consigo; então, por que deveriam concentrar suas afeições em posses materiais? (ver Lc.12:15; Cl.3:2; 1Ts.4:16-17; 1Jo.2:15; 1Jo.2:17). Uma vez que um dia tudo o que é terreno deixará de existir, os crentes devem concentrar a atenção nos tesouros do Céu (ver Mt.6:19-21).

1Co.7:31 31. e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.

Utilizam. Do gr. chraomai, “fazer uso de”, “dispor”. Vivendo neste mundo, é preciso fazer uso das coisas do mundo a fim de satisfazer as necessidades diárias, como alimento, vestimenta e abrigo. Essas coisas foram feitas para esse fim (ver Gn.1:26-31; Is.45:18).

Não usassem. Do gr. katachraomai, “aproveitar”, “usar plenamente”. O verbo katachraomai não difere pouco de chraomai, “utilizam”. Os cristãos devem ser sábios ao utilizar as coisas deste mundo, não exercendo sua liberdade do uso dos bens do Senhor com o fim de satisfazer desejos egoístas e glorificar seres humanos. Devem estar alerta para que o interesse nas coisas deste mundo não supere o interesse pelo reino de Deus. Devem ser guiados pela razão santificada, subordinando os desejos egoístas do coração natural às nobres reivindicações do bem-estar espiritual (ver Mt.6:31-34; Mt.13:22; Lc.21:34).

Aparência. Do gr. schema, “aparência externa”, “forma”, referindo-se ao mundo em sua condição presente.

Passa. Visto que o presente mundo terá um fim (ver 2Pe.3:10; 1Jo.2:17; Ap.21:1), é tolice apegar-se a coisas temporárias. Em especial, os pais devem estar alerta a fim de não serem enredados por Satanás e devotem tempo e energia para adquirir riqueza, ao passo que negligenciam o desenvolvimento mental e moral de seus filhos.

1Co.7:32 32. O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor;

Livres de preocupações. Do gr. amerimnoi, “livre de cuidados” (cf. com. de Mt.6:25). O contexto desta passagem mostra que este conselho se refere especificamente a tempos de crise ou emergência, como a perseguição do império romano aos que criam em Cristo, no primeiro século. Em períodos assim, não convém que os cristãos façam algo que venha a agravar os problemas e as preocupações que inevitavelmente enfrentam. Portanto, pode ser melhor para eles que não se casem. O homem casado tende a ter mais responsabilidades materiais do que o solteiro. Porém, isso não significa necessariamente que ele não possa se entregar ao Senhor de forma plena tanto quanto o solteiro o poderia fazer. Na verdade, quando ambos no matrimônio se dedicam a Deus de forma plena, o resultado será mais devoção espiritual.

Das coisas do Senhor. Isto é, coisas concernentes à religião, assuntos espirituais, em contraste com as questões terrenas. O solteiro não se sobrecarrega com responsabilidades familiares. Seu tempo e energia não são consumidos em satisfazer as necessidades materiais de uma família, em particular, em períodos de prova e perseguição. Ele é livre para dar atenção completa ao avanço do reino de Deus. Paulo pessoalmente preferiu isso. Portanto, é correto que uma pessoa, se assim o desejar, permaneça solteira e se dedique totalmente à obra do Senhor. Mas Paulo já tinha esclarecido (v. 1Co.7:2-9) que, para a grande maioria, é melhor se casar (ver com. de Mt.19:10-12). O celibato em si mesmo não é uma condição de mais pureza ou honra do que o casamento. Deve-se ter isso bem claro na mente, a fim de se proteger contra conclusões falaciosas a que alguns chegam ao estudar este capítulo. Em algumas passagens deste capítulo, Paulo pode parecer qualificar o celibato como mais nobre; mas, em outros textos, ele exalta o valor e as virtudes do casamento e do lar cristão (ver Ef.5:21-32; Hb.13:4).

1Co.7:33 33. mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa,

Agradar à esposa. Isto é apropriado. No entanto, o esposo, na ânsia de agradar a esposa, pode deixar de cumprir como deveria seus deveres religiosos (ver T1, 436; T5, 362).

1Co.7:34 34. e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido.

Está dividido. As evidências textuais (cf. p. xvi) mostram diferentes variantes para esta passagem. A pontuação também é incerta. Há duas possibilidades principais: (1) A versão ARA une a primeira parte do v. 34 ao 33 e indica que a situação de “divisão” tem a ver com o marido que deseja agradar a esposa e negligencia os deveres religiosos. (2) A versão ARC separa os dois versículos com um ponto e indica que a “divisão” é entre a mulher solteira e a casada, estando esta última ocupada em agradar ao marido em vez de a Deus. O sentido não difere, isto é, o solteiro ou a solteira tem a vantagem de ser menos influenciados pela “angustiosa situação presente” (v. 1Co.7:26).

A mulher, tanto a viúva como a virgem. A vantagem da condição de solteiro em tempos de crise se aplica tanto à mulher quanto ao homem.

Santa. Não se deve concluir que a casada, por causa do casamento, seja menos santa do que a solteira (ver com. do v. 1Co.7:32). A vantagem da solteira não tem a ver com pureza e espiritualidade, mas com o fato de estar livre das responsabilidades da vida conjugal.

Corpo. Ver com. de Rm.12:1.

A que se casou. Comparar com o v. 1Co.7:33.

1Co.7:35 35. Digo isto em favor dos vossos próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos, mas somente para o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor.

Interesses. Paulo assegura aos crentes que tudo o que disse até então a respeito do casamento é para o bem deles. Sua intenção não é impor-lhes o celibato, embora acreditasse que essa condição fosse a melhor para a obra a qual tinha sido chamado pelo Senhor. Não há obrigação nesse assunto; cada um deve refletir com cuidado sobre o conselho e, então, tomar sua própria decisão. O cristão deve escolher o caminho que lhe trará menos obstáculos para se dedicar ao serviço do Senhor.

Enredar-vos. Do gr. brochos, “um laço” ou “um nó corrediço”. Paulo não buscava restringir os coríntios do que é legítimo e do que a sociedade provê, em tempos normais. Não havia o desejo de impedi-los de seguir uma direção que contribuiria para a felicidade deles, mas um esforço para ajudá-los em tempo de “angústia” (v. 1Co.7:26) e perseguição.

Decoroso. Do gr. euschemon, “decente”, “digno”. Paulo se refere ao que contribui para o decoro.

Desimpedidamente. Ver com. do v. 1Co.7:32.

1Co.7:36 36. Entretanto, se alguém julga que trata sem decoro a sua filha, estando já a passar-lhe a flor da idade, e as circunstâncias o exigem, faça o que quiser. Não peca; que se casem.

Se alguém. Os comentaristas apresentam duas interpretações divergentes dos v. 36 a 38. Alguns entendem que se referem ao pai de uma filha virgem ou a um tutor e a menor sob sua tutela, ao passo que outros os aplicam a um jovem e sua noiva (ver NTLH). A favor da primeira interpretação, argumenta-se que: (1) a expressão “filha” (parthenos, “virgem”) é um termo incomum para designar noiva; (2) a expressão “que se casem” (do gr. gamizo), em geral, significa o ato de um pai “dar em casamento” sua filha. Os que defendem a primeira opinião explicam que os gregos, da mesma forma que os orientais, criam que o pai tinha autoridade absoluta sobre suas filhas solteiras, e era ele quem decidia sobre o casamento delas. Esse ainda é o costume nos países orientais. Se uma jovem ficava solteira até certa idade, isso era considerado desonra para ela e para seu pai. Daí a ansiedade dos pais em encontrar companheiros adequados para as filhas antes de passarem da “flor” da idade.

A favor da segunda opinião, que se trata de um jovem e sua noiva, argumenta-se que: (1) a expressão “que se casem” não tem um sujeito expresso, se é que o pai e sua filha são os sujeitos da primeira parte do versículo; (2) expressões como “não tendo necessidade” e “domínio sobre o seu próprio arbítrio” (v. 1Co.7:37) parecem descrever uma luta de natureza diferente e mais intensa da que experimenta um pai ao dar sua filha em casamento. Sobre a objeção de que gamizo significa apenas “dar em casamento” e não “casar- se”, deve-se observar que os verbos gregos que terminam em izo muitas vezes perdem seu significado causal peculiar. Esse pode ter sido o caso de gamizo, embora em outra passagem no NT o termo signifique dar-se em casamento (Mc.12:25; ekgamizo ocorre em Mt.22:30; Mt.24:38; Lc.17:27, embora nesses últimos textos a evidência textual favoreça [cf. p. xvi] a variante gamizo).

Alguns comentaristas, que defendem que se refere ao jovem e a sua noiva, explicam a frase “sua filha (virgem)” com base na suposição de que Paulo se refere, neste caso, ao casamento espiritual, em que jovens piedosos tomavam para si virgens e viviam com elas uma união espiritual sob votos de celibato (sobre esse costume, ver Pastor de Hermas, Similitude, ix.11, visão i.l; Irineu, Contra Heresias, i.6.3; Tertuliano, Sobre o Jejum, 17; Do Véu das Virgens, 14). Essa interpretação deve ser rejeitada, pois faz parecer que Paulo aprovava um costume antibíblico. A segunda interpretação não precisa abranger mais do que o caso de um casal comprometido.

A passar-lhe a flor da idade. O texto grego pode ser traduzido como “se ela (ou ele) passou da flor da idade”. Se os v. 36 e 1Co.7:37 são paralelos, deve-se adotar a tradução “se ele passou da flor da idade”, a fim de concordar com a frase paralela “não tendo necessidade” (v. 1Co.7:37).

Circunstâncias o exigem. De acordo com a primeira interpretação, o conselho se refere ao pai, pois é evidente que seria inapropriado não consentir com o casamento, seja pela razão indicada acima ou por alguma outra razão válida. De acordo com a segunda interpretação, o conselho se dirige ao jovem que está dominado pelo desejo (cf. com. do v. 1Co.7:9).

O que quiser. O pai ou o jovem.

Não peca. Ver com. dos v. 1Co.7:9; 1Co.7:28.

Que se casem. Se o jovem e sua noiva são os sujeitos deste versículo, esta frase segue naturalmente; caso se refira ao pai e à sua filha virgem, então o sujeito da frase estaria implícito.

1Co.7:37 37. Todavia, o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas domínio sobre o seu próprio arbítrio, e isto bem-firmado no seu ânimo, para conservar virgem a sua filha, bem fará.

Todavia. Este versículo apresenta as circunstâncias opostas das apresentadas no v. 1Co.7:36, e tem sua explicação com base nele. O conselho do v. 1Co.7:36 foi dado “como concessão e não por mandamento” (ver v. 1Co.7:6). Qualquer decisão tomada com base no v. 1Co.7:36 ou 37 não seria considerada pelo Senhor como transgressão de Sua lei.

Bem. Do gr. kalos, advérbio relacionado a kalos e do mesmo significado (ver com. do v. 1Co.7:1).

1Co.7:38 38. E, assim, quem casa a sua filha virgem faz bem; quem não a casa faz melhor.

E, assim. Este versículo resume a discussão dos v. 1Co.7:36-37. Não é errado dar a filha em casamento, ou que um jovem se case com sua noiva. Tampouco é pecado permanecer solteiro.

Faz melhor. Isto é, à luz da “angustiosa situação presente” (ver com. do v. 1Co.7:26).

1Co.7:39 39. A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor.

Ligada. Do gr. deo, como no v. 1Co.7:27 (ver com. ali).

Vive o marido. O desejo de Deus é de que, com exceção da morte, nada separe marido e mulher (ver com. de Mt.19:5-9; cf. MDC, 63-65).

Livre. Não é pecado uma mulher se casar pela segunda vez, desde que siga a instrução do Senhor quanto à escolha do companheiro (ver Gn.2:24; Mt.19:6; Rm.7:1-3; Ef.5:31).

No Senhor. Mesmo após a morte do companheiro, uma mulher não é livre para se casar com um incrédulo. O dever para com Deus deve ser o mais importante, e não se deve adotar nenhum outro plano em que Deus não seja glorificado (ver 2Co.6:14-16; T5, 110; MJ, 456, 462). Entre as razões pelas quais os cristãos não devem se casar com incrédulos estão as seguintes: (1) A associação com um incrédulo, seja pagão ou cristão nominal, dificultaria seguir as instruções: “separai-vos”, sejais um “povo de propriedade exclusiva” e “não vos conformeis com este século” (ver 2Co.6:17; 1Pe.2:9; Rm.12:2). (2) Não pode haver simpatia e companheirismo reais com um cônjuge cuja filosofia de vida seja tão diretamente contrária à religião verdadeira. (3) Viver com alguém cuja vida mostre falta de respeito e falta de apreço pelo evangelho de Cristo pode levar a mulher a perder a piedade e a fé e a se afastar damensagem e dos padrões de Deus para Seu povo (ver MJ, 453, 454).

Sabendo que o casamento entre crentes e incrédulos é uma das maneiras mais fáceis de arruinar a felicidade e a utilidade de indivíduos, Satanás faz o possível para persuadir as pessoas a se desviarem do conselho seguro e seguir os impulsos do coração não santificado, criando assim situações que podem resultar em pesar e, finalmente, em perda eterna (ver T2, 248; T5, 363-365)

1Co.7:40 40. Todavia, será mais feliz se permanecer viúva, segundo a minha opinião; e penso que também eu tenho o Espírito de Deus.

Mais feliz. Do gr. makarios (ver com. de Mt.5:3). Tendo em vista a situação da época (ver com. de 1Co.7:26), mesmo se uma viúva pudesse se casar com um crente, seria mais prudente que permanecesse solteira.

Minha opinião. Ver com. dos v. 1Co.7:10; 1Co.7:12.

Eu tenho o Espírito. Parece haver referência a certos líderes da igreja em Corinto que criam ser inspirados. O apóstolo afirma sua crença de que ele também é inspirado pelo Espírito Santo. Portanto, essa declaração é uma afirmação de que suas cartas deviam ser recebidas não como opinião humana, mas como sabedoria divina. Era necessário que Paulo apresentasse seu direito de afirmar que tinha iluminação divina. Só assim ele poderia contrapor a instrução dada por falsos mestres em Corinto, e poderia estabelecer regras para a conduta dos crentes coríntios que os fortaleceria contra as tentações a que estavam expostos.

1Co.8:1 1. No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica.

No que se refere. Este versículo introduz outro tema sobre o qual a igreja de Corinto havia buscado o conselho de Paulo, a saber, se era lícito comer alimentos oferecidos a ídolos por seus adoradores pagãos. Quando se sacrificavam animais aos deuses nos templos pagãos, parte do animal era dada aos sacerdotes oficiantes, que vendiam a carne. Parte dela era encontrada nos mercados públicos. Por isso, surgiram dois questionamentos: se era apropriado comprar tais alimentos nos mercados públicos e comê-los, e se era correto comer tal alimento ao visitar um amigo pagão (sobre a posição do concílio de Jerusalém acerca de carnes sacrificadas a ídolos, ver com. de At.15:20).

Todos somos senhores do saber. Talvez os coríntios tenham se vangloriado disso na carta que enviaram a Paulo (ver com. de 1Co.7:1). Os crentes de Corinto estavam cientes da real natureza dos ídolos, sabiam que não tinham importância alguma (1Co.8:4).

Ensoberbece. Isto é, conduz ao orgulho e a superestimar a opinião de um ser humano, bem como a falta de amor para com outros.

Amor. Do gr. agape, “amor” na forma mais elevada. Não se trata de uma atração sensual ou biológica, mas amor baseado em princípio; interesse real no bem-estar do próximo por causa de seu valor para Deus como pessoa pela qual Cristo morreu (ver com. de Mt.5:43). Tal amor “não se ensoberbece” (1Co.13:4). Edifica em vez de destruir; portanto, busca sempre ajudar o próximo (ver 1Co.13). O mero conhecimento é insuficiente para a vida cristã. Isso estava claro nas facções e contendas na igreja como resultado da suposta sabedoria dos coríntios (ver 1Co.1:11-12; 1Co.3:3-4). Paulo relembrou-lhes que não é seguro confiar num guia tão defeituoso como a sabedoria humana.

Se o coração não está ligado a Deus, o conhecimento e a ciência acaba enchendo a pessoa de orgulho, vaidade e confiança na própria capacidade. Com frequência, esse saber afasta a pessoa da religião genuína e lhe confunde a mente (ver 1Co.1:20-21). A resposta à pergunta sobre alimentos oferecidos a ídolos não devia se basear apenas no conhecimento abstrato, mas no amor verdadeiro pelo próximo. A preocupação principal deve ser por aquilo que melhor contribui para a paz, pureza, felicidade e salvação do próximo. O amor é a resposta para todo problema doutrinário, moral e social.

1Co.8:2 2. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber.

Saber alguma coisa. Paulo condena o orgulho pelo conhecimento intelectual que leva ao desprezo e à negligência pelos menos instruídos. A pessoa orgulhosa por seu conhecimento, a ponto de desprezar os outros e ignorar suas necessidades, demonstra que ainda não aprendeu o princípio do verdadeiro conhecimento. Aquele que é verdadeiramente instruído é humilde, modesto e se preocupa com os demais. Não é orgulhoso e não desconsidera a felicidade dos outros. Quem não usa o conhecimento para contribuir para a felicidade e o bem-estar de outros prova que desconhece um dos propósitos fundamentais do conhecimento, que é o bem geral da humanidade. Assim como um avarento acumula riquezas e não faz o uso delas para abençoar e ajudar outros, quem não reconhece a responsabilidade que a aquisição de conhecimento traz pisa nos interesses dos outros ao redor.

Seu conhecimento será usado em benefício próprio, a despeito da necessidade das pessoas em geral. Isso tem sido visto repetidamente na história do mundo. O saber, como a luz do sol, não tem valor a menos que ilumine a Terra. Os seres humanos devem sempre se lembrar de que é Deus quem lhes dá a capacidade de adquirir conhecimento, e é seu dever como mordomos do Senhor usar esse dom em benefício do próximo (ver Pv.2:1-6; Tg.1:5). Somente os que conhecem o amor e o colocam em prática é que possuem conhecimento verdadeiramente útil (ver 1Co.13:2). Este versículo ensina que conhecimento sem amor é nada, pois não considera o que é mais necessário, a saber, a aplicação correta do conhecimento em favor do próximo.

1Co.8:3 3. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele.

Ama a Deus. A obediência ao primeiro grande mandamento, “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração”, promove a verdadeira sabedoria (Mt.22:37; Pv.1:7). Onde existe tal amor, existe atitude de amor desinteressado pelo próximo (ver 1Jo.4:19-21).

É conhecido por Ele. Isto é, a pessoa que ama a Deus é conhecida por Ele. Deus conhece a todos, mas tem estreita comunhão apenas com os que O amam, considerando-os como amigos (ver Jo.10:14; Gl.4:9; 2Tm.2:19). Por outro lado, Deus declara não conhecer quem não O ama nem Lhe obedece (ver Mt.7:23).

1Co.8:4 4. No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus.

No tocante. Paulo se desvia do tema principal introduzido no v. 1Co.8:1 para mostrar que o problema não poderia ser solucionado apenas por meio do conhecimento. Algo mais era necessário: o amor (ver v. 1Co.8:1-3). Este versículo resume a análise da atitude do cristão quanto aos alimentos oferecidos aos ídolos.

Nada. No texto grego, esta palavra é enfática, destacando que o ídolo é absolutamente nada. O ídolo é apenas madeira, pedra ou metal sem vida, e não tem existência de fato no céu nem na Terra. Deve-se considerar que a palavra “ídolo” não se refere apenas à imagem, mas ao deus que supostamente representa. A declaração de Paulo nega a existência desse deus. A crença de que divindades habitam nos ídolos fabricados é apenas uma fantasia da mente dos adoradores. Um dos nomes dados aos deuses pagãos, no AT, é elilim, plural de nada.

Senão. As Escrituras enfatizam a verdade fundamental de que existe apenas um Deus, o criador e pai de toda a humanidade (ver Ne.9:6; Is.43:10; Is.44:6; Is.44:8; Ml.2:10; Mc.12:29-30; 1Co.8:6; Ef.4:6).

1Co.8:5 5. Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores,

Que se chamem deuses. Povos pagãos adoram e creem em muitos seres imaginários que chamam de deuses, mas não o são na verdade; eles sequer existem (ver com. do v. 1Co.8:4). Sem a Bíblia, que é a revelação inspirada da verdade, o pagão não sabe que existe apenas um Deus, que é o criador. Em sua ignorância, ele atribui qualidades divinas a muitas coisas tanto imaginárias quanto reais. Pagãos deificam o sol, a lua, as estrelas, o fogo, a água, a Terra, animais e pássaros, bem como seres mitológicos como Apolo, Júpiter, Vênus e Baco. Paulo declara que, embora existam representações de coisas nos céus e na Terra às quais os pagãos chamam de deuses, elas não possuem nenhum poder divino. Mas, embora rejeite a ideia de que esses deuses sejam reais, o cristão não defende com isso que não existam seres sobrenaturais capazes de afetar o destino humano. Satanás e seus anjos têm o poder de se manifestar aos seres humanos de várias formas (ver 2Co.11:13-15). O diabo é capaz de enganar e escravizar milhões de pessoas na adoração de falsos deuses.

Deuses [...] senhores. Os pagãos criam que o céu e a Terra eram habitados por deuses e senhores de níveis e poderes diferentes. Mas eram apenas divindades imaginárias.

1Co.8:6 6. todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.

Para nós. Embora os pagãos falem de diversos deuses, os cristãos sabem que há apenas um Deus, e só Ele tem o direito de governar sobre o mundo. Não é que haja um Deus que governa sobre uma parte da família humana e outros que governam outras parcelas da humanidade. Deus criou todas as coisas e, em virtude disso, tem poder e autoridade sobre tudo na Terra.

Pai. Este título destaca o contraste entre os pontos de vista do cristão e do pagão. O cristão conhece a Deus como seu Pai amoroso e compreensivo. Ele criou a todos e provê tudo de que o ser humano precisa. Ele os protege como um pai protege seus filhos. Deus Se compadece deles nas suas dores e os ajuda a suportar as provas. De todas as formas, Ele Se revela como pai amoroso (ver SI.68:5; Sl.103:13; Je.31:9). O pagão não conhece a Deus como pai, mas apenas como um ser que tem grande poder e cuja ira deve ser aplacada.

De quem. Ver com. de Rm.11:36.

Para quem. Do gr. eis auton, “para ele”. Deus é o objetivo da existência.

Pelo qual. Por meio do Filho, tudo no universo veio a existir (ver Jo.1:1-3; Jo.1:14; Cl.1:16-17; Hb.1:2). Os pagãos diziam haver muitos governantes e senhores do universo, mas os cristãos sabem que há apenas um. Paulo apresenta a grande verdade de que Deus, e apenas Deus, trouxe “todas as coisas” à existência, e que fez isso por meio do Filho Jesus Cristo, que é a segunda pessoa da divindade.

Por ele. Por meio do Senhor Jesus Cristo, fomos criados e também remidos do pecado. Tudo, tanto a criação quanto a salvação, e tudo que se inclui nesses termos, provém do Pai por meio de Cristo.

1Co.8:7 7. Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se.

Esse conhecimento. Embora a maioria dos crentes coríntios entendesse que um ídolo era nada, e que havia apenas um Deus, era difícil para alguns deles abandonar de imediato todas as superstições e os costumes antigos.

Por efeito da familiaridade. Ou, “segundo o uso habitual” ou “pela força do hábito ”. Havia alguns na igreja de Corinto que não consideravam o alimento oferecido a ídolos como alimento comum, embora não mais cressem na existência de ídolos. Como resultado do hábito de anos, eles não conseguiam se dissociar por completo do passado. Compartilhar desse alimento os colocava de forma vívida no seu antigo contexto, uma situação além do que podiam suportar.

Por ser fraca. A consciência não estava instruída o suficiente para que essas pessoas abandonassem seus preconceitos e crenças supersticiosas de outrora.

Contaminar-se. Está contaminada porque foi violada. Tudo o que se faz com dúvida é pecado (ver com. de Rm.14:23).

1Co.8:8 8. Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos.

Recomendará. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “não nos recomendará” (TB). O favor de Deus não depende do uso ou abstenção de alimento oferecido a ídolos. Deus vê o coração e leva em conta os pensamentos e motivações que impulsionam as ações. A adoração a Deus é espiritual e não se baseia em questões dessa natureza.

Nada perderemos. Literalmente, “nos falta”. Não é recusando-se a comer esse tipo de alimento que os crentes aumentam seu valor moral ou sua excelência. Paulo trata aqui do alimento oferecido a ídolos, e sua declaração não deve ser generalizada para além do tema em consideração, como se nenhum alimento ou bebida pudesse afetar o relacionamento com Deus. O princípio não se aplica aos casos em que o alimento ou a bebida seja prejudicial ao corpo, ou no caso de alimentos estritamente proibidos por Deus.

Nada ganharemos. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a inversão da ordem das frases; assim sendo, Paulo apresenta em primeiro lugar o caso dos que não comem.

1Co.8:9 9. Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos.

Vede. Conhecer a verdade sobre os ídolos não constitui em si uma desculpa ilimitada para se satisfazer o apetite sem considerar a influência desses atos sobre os outros.

Liberdade. Do gr. exousia, “direito” ou “autoridade”, isto é, de comer a carne oferecida a ídolos. Em muitas circunstâncias, o cristão tem o direito ou autoridade de fazer algo, mas não é sábio nem cortês para com os demais exercer esse direito de forma indiscriminada (ver com. de 1Co.6:12; 1Co.10:23).

Não venha, de algum modo. É preciso cuidar para que a conduta de alguns, que julgam compreender o assunto, não leve outros, com menos entendimento, a uma conduta errada. Esse é um princípio geral do comportamento cristão, uma regra áurea mesmo em casos de pouca importância.

Tropeço. Isto é, qualquer coisa que faça com que o outro se desvie do caminho da verdade e cometa pecado. Havia o perigo de que aqueles cuja consciência não censurava comer carne oferecida a ídolos pudessem levar outros a pecar por despertar neles uma inclinação para condescender numa conduta que estava em conflito com seus critérios de consciência (ver com. de Mt.18:6-9; Rm.14:13; Rm.14:20).

Fracos. Ver com. de 1Co.8:7; cf. com. de Rm.14:1. O cristão deve sempre se lembrar de que é guardião de seu irmão. Seu dever é viver de modo tal que nenhum ato ou palavra desvie alguém da harmonia com a vontade de Deus. Conveniência e inclinação pessoal não deve ser a principal preocupação, mas sim o efeito de seus atos sobre os demais.

1Co.8:10 10. Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos?

A mesa. Isto é, em uma refeição. Talvez a ocasião fosse de uma função oficial, associada a uma refeição no templo dedicado ao ídolo.

Em templo de ídolo. Neste versículo, apresenta-se o que pode ser considerado um caso extremo, embora se aceite que os que não consideram a influência de suas ações sobre outros possam se comportar da forma descrita. O fato de Paulo ter usado um exemplo desse tipo mostra a negligência dos crentes de Corinto. Poderia ocorrer de alguém que conhecia a verdadeira natureza da idolatria ser considerado como um exemplo de comportamento cristão adequado. Assim, suas ações podiam dar razão a outros, menos alicerçados na fé em Jesus, a condescender com o mesmo ato sem aprovação de sua consciência (ver com. do v. 1Co.8:7).

Induzida. Do gr. oikodomeo, literalmente “edificar”. A palavra talvez seja usada de forma irônica. O grupo em Corinto que se vangloriava da liberdade cristã provavelmente argumentava que sua atitude edificava a consciência fraca de seus irmãos. Paulo afirma que, em vez de edificar, estavam fazendo os fracos perecerem (v. 1Co.8:11).

1Co.8:11 11. E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.

Perece. Ver com. de Rm.14:15. Este resultado mostra a seriedade do assunto em discussão.

Irmão fraco. Ver com. de Rm.14:1; 1Co.8:9. O irmão fraco é aquele a quem mais se deve tratar com paciência e tolerância. É um irmão na fé, alguém unido ao Senhor pelo mesmo laço familiar que une aqueles cuja fé é mais amadurecida. Ele tem direito ao amor e à ajuda dos demais na igreja. Deve-se fazer todo o possível para evitar pôr em risco os interesses espirituais de tal pessoa.

Cristo morreu. Este é o argumento mais forte contra o mau uso da liberdade, quando esse mau uso põe em risco a salvação dos outros. Não se deve fazer nada que torne infrutífero o sacrifício de Cristo por uma pessoa. Essa possibilidade deve ser o suficiente para impedir alguém de tomar qualquer atitude que resulte nisso. Certamente o cristão consciente do que o Salvador fez por ele não insiste em ser indiferente ao bem-estar de seus irmãos, fazendo algo que os levaria a violar sua consciência.

1Co.8:12 12. E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais.

Pecando. Aquele que tem o amor de Jesus no coração não deseja usar a liberdade de forma que seus irmãos se desviem. Pelo contrário, fica feliz em se abster de privilégios e prazeres, se com isso puder evitar que alguém se desanime. Existe uma ideia enganosa de que toda pessoa tem o direito de fazer o que desejar sem considerar o efeito disso sobre outros, desde que não faça nada contrário à lei (cf. Rm.14:13; Rm.14:16; Rm.14:21; 1Pe.2:15-16). Cristãos amadurecidos devem cuidar para não fazer nada que possa escandalizar os crentes mais fracos ou ser pedra de tropeço no caminho deles. Influenciar outros de forma errada é uma violação da lei que instrui os cristãos a amar seus irmãos e a buscar o bem-estar deles (ver Mt.22:39; Jo.15:12; Jo.15:17; Rm.13:10; Gl.5:14; Tg.2:8).

Golpeando-lhes. Do gr. tupto, “golpear”, “bater”; neste caso, “maltratar”.

Consciência fraca. Ver com. do v. 1Co.8:7.

Contra Cristo. O Salvador Se identifica com Seu povo, incluindo Seus irmãos mais fracos. Na estrada para Damasco, Ele disse a Saulo que a perseguição contra os santos era, na verdade, contra Ele próprio (At.9:5; Mt.25:40).

1Co.8:13 13. E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.

Comida. Do gr. broma, alimento em geral; não apenas carne.

Nunca mais. Ver com. de Mt.25:41.

Carne. Do gr. kreas, “carne”. A palavra ocorre apenas nesta passagem e em Rm.14:21. Alimentos cárneos eram parte essencial nos sacrifícios aos ídolos. Paulo preferia ficar sem o alimento que poderia comer de forma legal, a servir de tropeço para seu irmão. A liberdade é valiosa. Mas, se o exercício dela resulta em fraqueza para um irmão, o correto é renunciar essa liberdade em favor daquele. O amor ao próximo deve ser o princípio orientador em tais questões. Com certeza, satisfazer um desejo particular não é mais importante do que a salvação do irmão fraco que pode tropeçar no exercício da liberdade de alguém.

Esse princípio se aplica a muitos aspectos como recreação, vestuário, música; aplica-se à vida em geral. Negar o eu em favor dos demais é uma característica importante da experiência de um genuíno seguidor de Jesus (ver Mt.16:24; Jo.3:30; Rm.12:10; Rm.14:7; Rm.14:13; Rm.14:15-17; Fp.2:3-4). Esse princípio é a essência do espírito de Jesus, em cuja vida terrena se manifestava constantemente.

1Co.9:1 1. Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?

Não sou eu, porventura, livre? Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a ordem inversa das primeiras duas perguntas (ver ARC). Assim, fica mais evidente a ligação entre este versículo e o anterior, no capítulo 8. É como se Paulo dissesse: “Peço-vos que abram mão de vossa liberdade e que vos abstenhais de usá-la de forma arbitrária. Peço-vos que considerem a condição espiritual de vossos irmãos mais fracos e, de acordo com ela, controlem vossa liberdade. Não estou fazendo o mesmo? Como apóstolo, tenho certos privilégios os quais não estou desfrutando, pois se assim o fizesse poderia atrapalhar alguém de avançar no caminho de Cristo.” A construção gramatical das perguntas deste v. 1 requer uma resposta afirmativa.

Apóstolo. Aparentemente, este capítulo seria um desvio da principal linha de argumentação do capítulo anterior. Porém, é uma continuação do tema do capítulo 8, em especial do v. 1Co.8:13. Paulo ilustra sua disposição de renunciar a seus direitos pelo bem dos outros, mostrando que abriu mão de seus direitos legítimos como apóstolo. Seu direito de ser apóstolo tinha sido contestado (v. 1Co.9:3). A seguir, ele dá provas de seu apostolado. A declaração do direito de ser reconhecido como apóstolo constitui um dos mais nobres relatos sobre a virtude da abnegação e dos princípios que devem motivar o ministro do evangelho. Aquele que está cheio do espírito de Cristo está disposto a se empenhar pelo avanço dos interesses do reino de Deus.

Não vi Jesus. Uma objeção ao apostolado de Paulo era que ele não tinha acompanhado Cristo quando Ele esteve na Terra. Jesus chamou os apóstolos de Suas testemunhas (ver At.1:8). É verdade que Paulo não esteve com o Senhor antes de Sua morte, mas ele O viu após a ressurreição e, assim, pôde reivindicar a inclusão no grupo dos apóstolos (ver At.9:3-5; ver com. de 1Co.15:8). Paulo muitas vezes defende sua credencial apostólica, referindo-se à visão que teve do Senhor (ver At.22:14-15; At.26:16; 1Co.15:8-9).

Meu trabalho. O apóstolo afirma que os mesmos que levantavam objeções ao seu apostolado foram convertidos para o Senhor por meio de seu ministério. Ele oferece isso como prova de que Jesus o reconheceu e o abençoou como apóstolo. Não seria razoável pensar que Deus abençoaria assim um impostor; portanto, o estabelecimento da igreja em Corinto por meio do ministério de Paulo testemunhava de seu apostolado. Um ministro pode de forma justa apontar as bênçãos que permeiam sua pregação do evangelho como prova de que ele é chamado por Deus para o ministério da Palavra (ver Mt.7:16; Mt.7:20).

No Senhor. Paulo admite que tudo o que fez foi por meio do poder dado pelo Senhor. Ele sabia que, por si mesmo, nada podia fazer (cf. Jo.15:5). Toda sua capacidade e sabedoria vinham do Senhor, que o chamou para o ofício apostólico (Rm.1:1; 1Co.1:1; 1Tm.2:7; 2Tm.1:1; Tt.1:1). A submissão à vontade de Deus e o reconhecimento da própria incapacidade, por parte de um ministro do evangelho, é o primeiro e mais importante fator para o êxito.

1Co.9:2 2. Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.

Para outrem. Isto é, outros que não estavam em Corinto, que não tinham sido convertidos pelo ministério de Paulo. Pode ser que esses duvidassem de que Paulo tinha sido enviado por Deus para pregar o evangelho. Mas, com certeza, seus irmãos em Corinto não tinham essa dúvida. Ele tinha trabalhado entre eles por um longo período, e eles tiveram oportunidade de conhecê-lo e ver como seus esforços tinham tido êxito. Tinham evidências suficientes de que Paulo havia sido enviado para realizar uma grande obra para Deus.

Selo. Isto é, o certificado de autenticação. Paulo enfatiza que a conversão dos membros da igreja de Corinto, os mesmos que levantavam dúvidas sobre seu apostolado, era uma confirmação de seu chamado pelo Senhor. A conversão deles não poderia ter ocorrido apenas por influência humana. Era obra divina e evidenciava que Deus estava com seu servo e o tinha de fato enviado. Deus usa Seus servos como um hábil artesão usa suas ferramentas. Eles são os instrumentos em Suas mãos para a realização de Seus propósitos.

Assim como o carpinteiro usa várias ferramentas para fazer um móvel, e o artigo acabado é reconhecido como produto de suas mãos, assim o Senhor usa Seus obreiros para transformar em troféus de Sua graça homens e mulheres perdidos no pecado. O carpinteiro conhece suas ferramentas e as usa com habilidade; assim o Senhor conhece Seus servos, e sob Sua liderança são capacitados a ganhar pessoas para Seu reino. Esse êxito em salvar vidas para o Senhor indica a aceitação de Deus ao serviço de uma pessoa e que a considera como Sua testemunha.

1Co.9:3 3. A minha defesa perante os que me interpelam é esta:

Defesa. Do gr. apologia, “apologia”. Este é um termo legal aplicado em defesa de alguém que estava sendo julgado (ver At.25:16; Fp.1:7; Fp.1:17; 2Tm.4:16). Nesse caso, a palavra significa a resposta de Paulo aos que contestavam seu apostolado. Visto que tinha plena certeza de que fora pelo poder divino que havia fundado a igreja de Corinto, Paulo aponta os crentes como selo e confirmação de seu apostolado, sua defesa contra todos os oponentes.

Interpelam. Do gr. anakrino. Como apologia, este é um termo legal aplicado a juízes nos tribunais, que se sentam para julgar, examinam e decidem questões levadas perante eles (ver Lc.23:14; At.4:9; At.24:8).

Esta. Comentaristas discordam se o pronome se refere ao termo que o precede (v. 1Co.9:1-2) ou ao que se segue. Este pronome talvez seja uma introdução adequada à discussão mais longa dos versículos seguintes e não um resumo dos dois versículos anteriores. Nessa ocasião, o que segue constitui a defesa que Paulo apresenta aos que questionavam sua autoridade como apóstolo. Nos v. 1Co.9:4-6, ele apresenta as principais objeções levantadas e, nos seguintes, mostra que não têm força alguma.

1Co.9:4 4. não temos nós o direito de comer e beber?

Direito. Do gr. exousia, “direito”, “autoridade”. Paulo reivindica todos os direitos e privilégios que qualquer outro apóstolo possuía.

Comer e beber. Pode-se deduzir do capítulo 8 que Paulo se referia ao direito de comer alimentos oferecidos aos ídolos se assim o desejasse, mas o contexto não apoia esse ponto de vista (ver v. 1Co.9:2-3; 1Co.9:6-7). Ele fala de seu direito, como apóstolo, de ser mantido pelas igrejas às quais ministrava. A declaração de Paulo de que ele, assim como todos os obreiros do evangelho que dedicam a vida ao ministério da Palavra de Deus, tem o direito de ser mantido pelas igrejas, baseia-se em fundamentos sólidos, que ele apresenta em seguida (v. 1Co.9:7-14). A questão que Paulo parece responder é: ele e seu companheiro Barnabé trabalhavam para se sustentar (At.18:3; At.18:6), mas outros pregadores e instrutores cristãos são mantidos por aqueles a quem ministram.

Assim sendo, podia parecer que Paulo considerava que ele e Barnabé não tinham direito de ser mantidos pelos membros da igreja porque sabiam que não eram apóstolos. A isso Paulo respondeu que, embora trabalhasse para se manter, a dedução feita a partir desse fato estava errada. Não era porque não tinha direito de ser mantido, nem porque não o quisesse, mas porque ele sabia que seria para o bem espiritual da igreja que não exigisse ser mantido.

1Co.9:5 5. E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?

Mulher. A frase “mulher irmã” talvez devesse ser entendida como “uma irmã como esposa”. Assim como o marido, ela teria o direito de ser mantida pela igreja. Paulo parece dizer: “Não temos o direito de ter uma esposa cristã e viajar com ela às vossas custas, como fazem outros apóstolos?” Alguns pensam que uma “irmã” não se refere à esposa, mas a uma ajudante que acompanhava os apóstolos da mesma forma que algumas mulheres acompanhavam a Cristo (ver Lc.10:38-42). Mas a referência a Pedro, que era casado (ver Mt.8:14; Mc.1:30), mostra que se refere a uma esposa. A palavra “irmã” sugere uma mulher cristã, membro da igreja (ver Rm.16:1; 1Co.7:15; Tg.2:15).

Os demais apóstolos. Isto indica que o casamento era uma prática geral entre os apóstolos. Pode haver várias razões por que as esposas dos apóstolos os acompanhavam em suas viagens. Nas regiões orientais, não é adequado aos homens encontrar mulheres com o propósito de instruí-las na religião, mas as esposas dos apóstolos podiam facilmente fazer isso. Assim, seria benéfico para os apóstolos ter consigo a esposa para ajudá-los nas tarefas domésticas, bem como em tempos de enfermidade e perseguição. Paulo preferiu ficar solteiro (ver com. de 1Co.7:7), e de fato há casos em que um homem pode fazer mais sem ter que se preocupar com uma família. Mas, definitivamente, não existe base bíblica para a imposição do celibato ao ministério.

Irmãos do Senhor. Ver com. de Mt.12:46. No começo do ministério de Cristo, seus irmãos não criam nEle (ver com. de Jo.7:3-5). Ao que tudo indica, mais tarde, mudaram de opinião e se tornaram pregadores do evangelho. Também é evidente a partir desta declaração que eles eram casados e levavam a esposa consigo, ao menos em algumas de suas viagens (ver com. de At.1:14).

Cefas. Isto é, Pedro (ver com. de Mt.4:18; Mt.16:18; Mc.3:16; 1Co.1:12; sobre Pedro ser casado, ver Mt.8:14; Mc.1:30). Visto que o apóstolo Pedro, por seu próprio exemplo, aprovava o casamento dos companheiros, é estranho qualquer igreja ou sacerdote proibir o casamento aos clérigos.

1Co.9:6 6. Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?

Barnabé. Ele era proprietário de terras da ilha de Chipre e se uniu à igreja em Jerusalém. Compartilhava sua riqueza com os mais pobres (At.4:36-37). Mais tarde, foi enviado para cuidar da crescente obra em Antioquia (At.11:22). Tendo necessidade de ajuda, ele contou com os serviços de Paulo (At.11:25-26). Depois, uniu-se a Paulo em sua primeira viagem missionária (At.13:1-4). Após essa jornada, a parceria foi suspensa, quando discordaram quanto a levar João Marcos consigo na segunda viagem (ver At.15:36-39). Essa é a primeira vez que Paulo menciona Barnabé depois da separação deles muitos anos antes de escrever esta epístola aos coríntios.

Direito de deixar de trabalhar. A forma da pergunta no grego sugere uma afirmação enfática de que Paulo e Barnabé tinham esse direito, de deixar de trabalhar para o sustento próprio se assim quisessem. Após a conversão, Paulo tinha apenas um desejo: testemunhar do evangelho e convencer pessoas a aceitar a Cristo como salvador (ver 1Co.9:16; 2Co.5:11; Fp.3:13-14). Ele estava alerta a fim de evitar qualquer coisa que pudesse impedir as pessoas de crer na mensagem (ver Rm.9:1-3; Rm.10:1; Rm.14:16; Rm.14:19-21; 1Co.8:13; 1Co.9:22-23). Os pagãos suspeitavam de estranhos; por isso, o apóstolo decidiu não lhes dar motivo para o acusarem de ir até eles como um mestre religioso a fim de obter sustento deles. Parece que algumas pessoas seguiam Paulo de perto em suas viagens missionárias para lhe causar problemas, destruir sua autoridade e atrapalhar a obra (ver At.13:45; At.13:50; At.14:2; At.14:19; At.17:5; Cl.2:4; Cl.3:1; Cl.5:12). Esses indivíduos eram, em parte, mestres cristãos judeus que criam que a lei de Moisés estava em vigor para os cristãos e que tentavam impor suas doutrinas às igrejas fundadas por Paulo e Barnabé, levantando dúvidas sobre o apóstolo. Aparentemente incapazes de encontrar um motivo real contra ele, apresentavam a recusa dele de aceitar ser mantido pelos cristãos de Corinto como evidência de que não era um verdadeiro apóstolo de Cristo (ver com. de 2Co.11:22). O ministro do evangelho, onde quer que trabalhe, deve estar em constante alerta contra o perigo de fazer ou dizer algo que possa ser motivo de tropeço para aqueles pelos quais trabalha. Isso requer disposição de abandonar os direitos e privilégios legítimos, se necessário, para o bem dos demais.

1Co.9:7 7. Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?

Vai à guerra. Do gr. strateuo, “servir como soldado”, em tempos de guerra ou de paz. A expressão é usada no caso do serviço militar em geral. O soldado dedica a vida ao serviço militar em favor de seu próprio povo e pátria. É seu dever guardar os interesses daqueles que o empregam como soldado, até mesmo dando a vida, se necessário. Mas o soldado espera daqueles que o alistaram a provisão de suas necessidades, deixando-o livre para dedicar as energias à obra que lhe é confiada. Assim como é correto para o soldado receber o pagamento daqueles que o empregam, é correto que o ministro do evangelho seja mantido por aqueles a quem ministra. Essa é a primeira ilustração.

Custa. Do gr. opsonion, “ração militar”, “estipêndio”, “salários”. Antigamente, era costume pagar aos soldados parcialmente com rações de carne, cereal ou fruta. Os soldados não esperavam ter que assegurar seu próprio alimento; essa era a responsabilidade daqueles que o alistavam. Da mesma forma, o obreiro do evangelho não devia ter a necessidade de dedicar seu tempo e energia para obter seu próprio alimento e outras coisas.

Vinha. A segunda ilustração é extraída da agricultura. O homem que planta uma vinha não deseja que seu trabalho seja em vão; ele anseia comer do fruto de seu trabalho. Do mesmo modo, o ministro dedica tempo, trabalho e talentos a fim de estabelecer a igreja, que é a vinha de Deus, e é correto que seja mantido por ela (ver SI.80:8-9; Is.5:1-4; Is.27:2-3).

Rebanho. A terceira ilustração fortalece o argumento das duas anteriores. Paulo tinha em mente a figura da igreja de Deus como um rebanho de ovelhas (Jo.10:7-9; Jo.10:11; Hb.13:20), e do ministro como um pastor (Et.4:11) ao escolher essa ilustração. Há um princípio importante no plano divino para a manutenção do ministério. O coração é extremamente egoísta; o ser humano se esforça para acumular riqueza material. O arranjo pelo qual a igreja mantém os que lhe ministram as coisas espirituais ajuda os membros a vencer a tendência natural do coração egoísta. Também provê a eles uma maneira de expressar na prática seu apreço pelos esforços do ministro em favor deles. Além disso, esse plano é um meio de expressar gratidão a Deus por Seu amor e cuidado manifestos nos serviços de Seus ministros designados.

1Co.9:8 8. Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei?

Como homem. A forma da pergunta em grego requer uma resposta negativa. Seria o plano para a manutenção do ministério uma ideia meramente humana? Talvez existissem os que argumentavam assim e afirmavam que não havia apoio bíblico para tal arranjo.

Não o diz também a lei? A lei de Deus, fossem os dez mandamentos ou as ordenanças da Lei de Moisés, era considerada com grande respeito pelos judeus e pelos cristãos de origem judaica. Ao falar com os judeus, Paulo costumava provar seus argumentos com base no AT. No v. 1Co.9:7, ele demonstrou por meio de raciocínio humano que é justo que a igreja mantenha os ministros do evangelho. Ele prova, a partir de ilustrações do AT, que o mesmo princípio era reconhecido e posto em prática na época do antigo Israel.

1Co.9:9 9. Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?

Lei de Moisés. Ver uma definição desta lei, em Lc.2:22; Lc.24:44; At.15:5.

Atarás. Citação de Dt.25:4. A boca do boi era atada ao passar correias em volta da boca ou ao colocar sobre ela uma pequena cesta, atada por correias aos chifres do animal, de modo que o hoi pudesse respirar sem dificuldade, mas não pudesse comer. A lei que permitia ao boi comer do grão enquanto o trilhava mostra a consideração de Deus pelos animais domésticos. Em geral, considera-se uma provisão humana para os animais de carga, mas este versículo sugere que há um significado mais profundo do que mera bondade para com os animais.

Deus Se preocupa. A forma desta pergunta requer uma resposta negativa. Contudo, não se deve concluir a partir disso a proibição de uma interpretação literal do versículo. Deus cuida dos animais. Paulo enfatiza que a norma solidária que permitia ao boi comer do grão que ele trilhava contém um princípio de aplicação universal. Os que trabalham têm o direito de ser mantidos pelos frutos de seus esforços (1Co.9:7; 2Ts.3:10). Esse arranjo sábio e justo tem sido deturpado em diferentes regiões do mundo. Milhões de trabalhadores não recehem compensação adequada por seu trabalho. A partejusta dos frutos de seus esforços não lhes é repassada. Deus está ciente dessa injustiça e assegura a Seu povo fiel que, em Seu reino de glória eterna, todos desfrutarão o fruto de seu trabalho (ver Is.65:21-22).

1Co.9:10 10. Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida.

Seguramente. Do gr. pantos, “certamente”, “seguramente”, “sem dúvida”. No entanto, Paulo não nega a aplicação literal da lei (ver com. do v. 1Co.9:9). Ele faz uma aplicação tão ampla do princípio que, em comparação com a amplitude da aplicação, a interpretação é, por assim dizer, insignificante.

Por nós. Paulo aplica essa lei aos que são chamados por Deus para proclamar o evangelho. Pode-se perguntar em que sentido essa norma foi dada por causa do ministério. A resposta mostra que é plano de Deus que todos que honestamente se esforçam tenham direito a uma recompensa. Não que a recompensa seja o principal objetivo do obreiro do evangelho; ele prega porque, como Paulo, não pode fazer outra coisa (ver v. 1Co.9:16). Mas o Senhor demonstra Sua terna consideração por Seus servidores. Embora o verdadeiro ministro do evangelho se sinta impelido a trabalhar pela salvação de seu próximo, não se espera que faça isso sem compensação, na forma de apoio material e também de alegria futura (ver Je.20:9; 2Co.1:14; 1Ts.2:19-20).

Lavra [...] com esperança. Quem cultiva o solo deve se sentir motivado a se empenhar nisso. Para que assim seja, deve ter a esperança e expectativa de que seu trabalho e sua diligência serão coroados de êxito.

Deve trabalhar com a segurança de que poderá desfrutar o resultado de seus labores. Quem é obrigado a trabalhar sem essa esperança motivadora se acha em grande desvantagem e é improvável que seja capaz de se esforçar ao máximo. Como pode alguém que não tem a certeza de receber uma compensação justa manifestar interesse em seu trabalho? Como se pode esperar que se dedique de forma desinteressada e incansável à tarefa a ele confiada? Como pode estar livre de ansiedade ao pensar nas necessidades de sua família? Se é assim com alguém que se dedica a uma obra secular, não é também verdade no caso daquele que trabalha na vinha do Senhor?

Faça-o na esperança de receber. No plano de salvação, Deus emprega muitos instrumentos para a realização de Seus propósitos. Assim como na agricultura, um prepara o solo e o outro faz a colheita, na nobre tarefa de salvar pessoas para o reino de Deus, o Santo Espírito pode usar um para semear a semente do evangelho, e outro para conduzir a pessoa ao batismo (ver 1Co.3:6-7). Qualquer que seja a parte desempenhada na conversão de uma pessoa para Cristo, a recompensa é a mesma para todos que o Senhor usa para tal tarefa (ver Mt.20:8-10; Jo.4:36-38; 1Co.3:8; 1Co.3:14). Assim, o obreiro que lança a semente da verdade tem tanto direito ao sustento material quanto o que, mais tarde, tem o privilégio de fundar uma igreja composta pelos que foram apresentados ao evangelho pelo primeiro obreiro (ver 2Tm.2:6).

1Co.9:11 11. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?

Semeamos. O símbolo da semeadura é empregado na Bíblia para ilustrar a pregação do evangelho e da salvação oferecida por meio da fé em Cristo (ver Mt.13:3; Mt.19-23; Jo.4:38). Esta metáfora sugere que o semeador, ao lançar o grão num campo, o espalha por todo o terreno. Assim, o ministro do evangelho prega a Palavra de Deus a todo tipo de pessoa. Ele prega a todos que desejam ouvir, sem saber quem responderá favoravelmente e quem será como o solo rochoso da parábola do semeador (ver Mt.13:4-5). Seu dever é semear a semente, deixando que o Espírito de Deus a faça frutificar (ver Ec.11:6; Mc.4:26-28)

Coisas espirituais. O obreiro de Cristo transmite bênçãos de valor infinitamente superior ao apoio material que recebe. Ele proclama o evangelho, com todas as suas bênçãos e consolações. Apresenta Deus às pessoas, o plano da salvação e a esperança de vida eterna. Ele conduz os crentes em caminho de segurança e de paz. Sob o poder do Espírito Santo, tira pessoas da degradação da idolatria e do culto a falsos deuses para a alegria da comunhão com o Deus vivo. Em suma, o embaixador de Cristo convida as pessoas a obter o conhecimento que lhes dará vida eterna (ver Jo.17:3; 2Co.5:20). Ele apresenta tesouros de valor eterno, em comparação com os quais todas as riquezas terrenas se tornam insignificantes (ver Is.55:2; Mt.13:44-46; Ap.3:17-18; Ap.21:3-4; Ap.21:7; Ap.22:14).

Muito. A demanda por sustento material é justificada porque a compensação à qual os obreiros têm direito é muito inferior àquilo que compartilham. Para a comunidade cristã, apoiar o ministro do evangelho com “bens materiais” não só é simples como também é um alegre dever, por meio do qual se pode demonstrar o apreço por aquilo que o Senhor tem feito (ver Rm.15:27).

1Co.9:12 12. Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.

Outros. Isto se refere a outros mestres religiosos da igreja de Corinto. Talvez Paulo tivesse em mente alguns dos líderes das diferentes divisões na igreja que talvez exigissem ser sustentados por ela (1Co.1:10-11; 1Co.3:3). Pode ser que fossem esses mesmos que procuravam provar que Paulo não era um apóstolo porque não exercia a autoridade, como eles, para receber apoio da igreja. Mas ele mostrou que, se outros tinham direito a esse sustento, ele tinha mais. Ele era o instrutor original; ele os tinha conduzido ao Senhor e os ajudado a organizar a igreja. Ele tinha trabalhado por mais tempo e os instruído e guiado nas coisas espirituais.

Direito. Do gr. exousia, “direito”, “autoridade”, “privilégio”.

Não usamos. Apesar de Paulo ter mais direito ao sustento material da igreja, ele não exigiu isso. Ao contrário, escolheu abrir mão desse privilégio e trabalhar para se sustentar. Ele era cuidadoso a fim de não ser motivo de tropeço; para que ninguém o acusasse de ter ido a Corinto pregar o evangelho com o fim de obter lucros materiais (ver At.18:3; 2Co.11:7-9; 2Co.12:14). Isso ilustra a completa dedicação de Paulo a sua obra de salvar pessoas para o reino de Deus (ver 1Co.9:22). Sua preocupação primordial e única em todo o tempo era o que podia ser feito por aqueles a quem ministrava. Essa dedicação abnegada à causa do Senhor caracteriza os que obtiveram uma visão de Cristo e que conhecem por experiência o que significa estar morto para o pecado e vivo para Deus por meio de Cristo (ver At.9:6; Gl.2:20; Gl.5:24-26).

Suportamos. A decisão de Paulo em se sustentar fez com que enfrentasse todos os tipos de dificuldades. Ele estava disposto a enfrentá-las se, com isso, a obra de Deus pudesse avançar.

Obstáculo. Paulo se preocupava em eliminar todo obstáculo ao progresso da pregação do evangelho. Não porque tivesse dúvida de seu direito ao sustento material, mas porque acreditava que, renunciando a esse direito, ele podia beneficiar a causa de Cristo e evitar consequências da insistência nesse direito legítimo.

1Co.9:13 13. Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?

Sabeis. Paulo se refere ao que era sabido entre os judeus, e os que estavam familiarizados com eles, que os sacerdotes tinham direito de ser mantidos com os recursos do templo. A história israelita foi registrada para o bem da igreja cristã, e os princípios de administração da igreja encontrados no serviço do antigo templo são dignos de estudo cuidadoso.

Os que prestam serviços sagrados. Não somente os sacerdotes, mas também os levitas trabalhavam no templo e cuidavam da mobília sagrada do edifício. Eles mantinham o templo limpo e proviam o necessário para o santuário, como azeite e incenso. Também exerciam a música para o serviço do templo (ver Nm.1:50-53; Nm.3:5-37; Nm.4:1-33; Nm.8:5-22; 1Cr.23:3-6; 1Cr.23:24; 1Cr.23:27-32).

Do próprio templo. Deus tinha dado instruções por meio de Moisés para que os sacerdotes e seus ajudantes não tivessem herança na terra, mas que tirassem do templo o seu sustento (ver Nm.18:20-24; Nm.26:57; Nm.26:62; Dt.18:1-8). Livres das responsabilidades ligadas ao cuidado da terra e outras propriedades, os sacerdotes e levitas podiam dedicar toda atenção à obra do templo. Não deviam se preocupar com os recursos para satisfazer suas necessidades temporais; Deus tinha ordenado que tudo isso se conseguisse por meio do dízimo e das ofertas cerimoniais da congregação.

Ao altar. Esta frase se refere especificamente aos sacerdotes, pois era dever deles oferecer os sacrifícios no altar. Os levitas ajudavam a preparar os sacrifícios e cuidavam das vasilhas e dos instrumentos usados pelos sacerdotes. Era prerrogativa dos sacerdotes somente oferecer o sacrifício diante do Senhor e colocar o incenso no altar de ouro diante do véu (ver Ex.28:1-3; Nm.18:1-7).

Do altar. Parte dos animais de alguns sacrifícios era reservada para o sacerdote. Assim, o sacerdote compartilhava do animal sacrificado no altar (ver Lv.6:16-18; Lv.7:15-16; Lv.7:31-34; Nm.18:8-10; Dt.18:1-2).

1Co.9:14 14. Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho;

Ordenou. Do gr. diatasso, “arranjar”, “indicar”. Deus ordenou que Seus ministros fossem poupados da dupla responsabilidade de pregar o evangelho e prover suas próprias necessidades materiais. Jesus enviou Seus discípulos às cidades e vilas da Palestina e lhes disse que não levassem nada consigo para suas necessidades físicas; isso era responsabilidade daqueles pelos quais trabalhariam (ver Mt.10:9-10; Lc.10:7). Deus disse aos israelitas que um décimo de tudo que produziam era dEle e era dever deles entregar o dízimo fielmente aos sacerdotes do templo (ver Lv.27:30-32; Nm.18:21; Ml.3:10-11; Hb.7:5). Jesus defendeu esse plano (ver Mt.23:23). Assim, se estabeleceu claramente o método ordenado por Deus que a igreja cristã deve seguir para a manutenção do ministério. O antigo Israel se desviou das instruções de Deus nesse sentido (ver Ml.3:8-9).

Falhar em levar a Deus o que é dEle expõe o cristão à mesma condição de Israel, ao passo que cumprir com amor e boa disposição essa ordem justa dá ao crente o direito de reclamar a maravilhosa promessa feita ao dizimista fiel (ver Ml.3:10-12). Por natureza, o ser humano é egoísta e segue o exemplo do adversário da verdade que perdeu sua posição no Céu ao cultivar o desejo de exaltação própria (ver Is.14:12-15; Je.17:9). Devolver o dízimo e ofertar é uma repressão contínua ao egoísmo, além de uma ajuda para se confiar em Deus e não nas coisas materiais (ver Mt.6:19-21). Assim, torna-se evidente que dizimar e ofertar para a manutenção do ministério e o avanço da obra de Deus na Terra traz bênçãos tanto ao doador quanto a quem recebe. O egoísmo é refreado, e se fortalece o interesse no trabalho da igreja. Ao mesmo tempo, os que se dedicam ao ministério são devidamente atendidos e ficam livres do fardo e da ansiedade das questões seculares.

Que vivam. Se todos os membros da igreja forem fiéis nos dízimos e nas ofertas, haverá suprimento abundante de recursos para levar adiante a obra do evangelho. Mais trabalhadores podem ser empregados e a vinda do Senhor será apressada. É dever dos ministros instruir os membros da igreja nessa questão, a fim de que recebam as bênçãos que Deus promete aos que cumprem Seu propósito nesse assunto, e também promovam a proclamação do evangelho no mundo (ver 2Co.8:4-8; 2Co.8:11-12; 2Co.9:6-12; AA, 345).

1Co.9:15 15. eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória.

Nenhuma. Ver com. do v. 2Co.9:12.

Assim se faça. Sem dúvida, os coríntios estariam dispostos a sustentar Paulo se ele assim o desejasse. Aqui, ele assegura que a defesa de seus direitos não seria mal interpretada.

Melhor me fora morrer. A declaração parece exagerada, até que se perceba que Paulo não busca a glória pessoal, mas a glória de Deus, como mostram os versículos seguintes. A passagem provê outro vislumbre da dedicação de Paulo ao Senhor e à Sua causa e enfatiza sua completa negação do eu em favor do Senhor que o redimiu. O ser humano pode fazer tudo o que acredita ser a vontade de Deus, mas se o faz sem alegria, com o coração resistente, não poderá experimentar a glória que Paulo desfrutou. Mas aquele que, com alegria, faz mais do que lhe é pedido, como o fez Paulo em relação à questão do sustento, obtém uma recompensa maior.

1Co.9:16 16. Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!

Se. O raciocínio de Paulo nos v. 16 e 17 não é claro, e há muitas interpretações a respeito. Alguns acrescentam as palavras “como fazem outros” na primeira parte do v. 16: “Se anuncio o evangelho como fazem outros [recebendo pagamento], não tenho de que me gloriar.” Outros consideram a declaração de forma mais geral, como se Paulo dissesse: “O simples fato de que eu pregue o evangelho não é motivo de glória para mim, pois me é imposta essa necessidade.”

Não tenho de que. Paulo sugeriu no v. 2Co.9:15 que tinha motivos para se gloriar, mas neste versículo deixa claro que não havia nada no fato de pregar o evangelho que lhe rendesse alguma glória própria, porque se sentia obrigado a pregar.

Obrigação. Toda esperança de recompensa devia estar ligada a algo que fizesse de forma voluntária, não por obrigação. Isso mostraria a inclinação real e o desejo de seu coração. Por “obrigação”, ele se refere a seu chamado para o ministério (ver At.9:4-6; At.9:17-18; At.13:2; At.22:6-15; At.22:21; At.26:15-19), o qual não podia ignorar e ficar em paz com Deus.

Se não pregar. Paulo conhecia a punição do silêncio. Sabia que tinha sido incumbido por Deus para proclamar as boas-novas do livramento do pecado, e que se permanecesse em silêncio, não teria paz nem comunhão com Cristo. Permanecer em silêncio seria negar a responsabilidade que o Senhor lhe havia dado (ver At.22:14-15; At.22:21; Rm.11:13; Rm.15:16; Ef.3:7-8). Todos que são chamados por Deus para pregar o evangelho não podem se envolver em outra atividade e, ainda assim, serem realizados como ministros. Se alguém pode deixar de pregar e, mesmo assim, ter paz e a consciência tranquila, então essa pessoa não deve entrar para o ministério (ver OE, 437). O ministério do evangelho é o chamado de maior responsabilidade, e apenas os que estão dispostos a ser guiados pelo Espírito do Senhor e que têm o senso do dever sagrado devem aceitá-lo (ver T3, 243).

O verdadeiro ministro de Jesus Cristo não considera a própria conveniência. Não busca fazer o mínimo possível nem limitar seu serviço a determinado número de horas cada dia; ele anseia fazer mais do que parece necessário, porque ama o Senhor e é ciente do valor da salvação das pessoas. Ele é compelido por um senso interior de urgência de buscar e salvar os perdidos (ver Je.20:9). Isso também se aplica a todo seguidor de Cristo. O Senhor ordenou que todos os que creem nEle sejam Suas testemunhas (ver Mt.28:19-20; At.1:8; DTN, 347, 348; T9, 19, 20). Todos os que amam o Salvador cumprirão essa ordem, permitindo que o Espírito Santo brilhe por meio deles a todos com quem entrarem em contato (ver Dn.12:3; Mt.5:16; Fp.2:15).

1Co.9:17 17. Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada.

De livre vontade. Do gr. hekon, “ansiosamente”, “por iniciativa própria”. Paulo não quis dizer que realizava seu trabalho com relutância ou de má vontade, mas que sua vocação não era resultado do plano que ele tinha originalmente para sua vida (ver com. do v. 2Co.9:16).

Galardão. Não está claro o sentido deste trecho. Talvez Paulo quisesse dizer que, se pregasse o evangelho como outros mestres o faziam, receberia uma recompensa como eles aparentemente recebiam (v. 2Co.9:14). Mas esse não era o galardão que buscava (ver com. do v. 2Co.9:18).

Se constrangido. Do gr. akon, oposto de hekon; portanto, segundo o contexto, quer dizer “não por escolha própria”. Ele foi chamado à obra quando tinha outros planos em mente. Por isso, o fato de pregar o evangelho não era motivo para se gloriar.

Despenseiro. Do gr. oikonomia, “mordomia”, “comissão”. Paulo foi indicado como mordomo. Na época dele, mordomos eram com frequência escravos escolhidos dentre os servos domésticos a quem se delegava a tarefa de cuidar dos bens da casa (ver Lc.12:42-43). A ideia, neste caso, não é degradar o ministério cristão ao nível de um ofício servil. A palavra é empregada para ilustrar a maneira como ele foi chamado ao apostolado. Paulo não quis dizer que pregava o evangelho por mera obrigação ou porque tinha essa carga sobre ele, nem que sua vontade não estava em harmonia com o que fazia. Uma vez chamado, ele aceitou com alegria a responsabilidade como um mordomo e decidiu enaltecer seu cargo. Ele considerou adequado realizar essa obra negando-se o direito legítimo a uma recompensa material ordenada pelo Senhor para os ministros do evangelho (ver Lc.10:7; 1Co.9:13-14). Isso significava que trabalharia sem as comodidades e conveniências que poderia desfrutar legitimamente, e que se sujeitaria a dificuldades e problemas para se sustentar enquanto pregava. Essa conduta demonstrava que seu coração estava em seu trabalho e que de fato amava realizá-lo.

1Co.9:18 18. Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá.

Galardão. Uma razão para a atitude de Paulo pode estar em seu passado antagonismo a Cristo e Seus seguidores, em sua conversão miraculosa (ver At.7:58; At.8:1; At.8:3; At.9:1-6) e na consciência da elevada responsabilidade a ele confiada (ver 1Co.15:8-10; Ef.3:7-8; 1Tm.1:15-16). Ele sabia do grave erro que cometera ao perseguir os seguidores de Jesus, embora pensasse sinceramente que fazia a vontade de Deus (ver 1Tm.1:13). A misericórdia pela qual Paulo obteve perdão para sua antiga oposição ao evangelho é ilustrada nas palavras de Cristo ao Pai com respeito aos que O crucificaram (ver Lc.23:34). O arrependimento sincero pelos maus atos faz com que Deus perdoe o pecador arrependido (ver At.2:37-38; At.3:19).

Paulo reconhecia que a maneira misericordiosa como o Senhor o salvara e a confiança posta sobre ele com o chamado ao apostolado o tornavam recipiente de favores dos quais ele era completamente indigno e que jamais poderia retribuir (ver 1Tm.1:11-12; 1Tm.1:14; 1Tm.1:16).

Com alegria, porém, ele aceitava o encargo e sem reservas reconhecia a obrigação de pregar o evangelho a todas as pessoas (ver Rm.1:14-15; 1Co.9:16). Constrangido pelo amor a Jesus, entregou-se à feliz tarefa de levar a mensagem de salvação a judeus e gentios. Ele se sentia impelido a renunciar à provisão legítima para seu sustento (ver v. 1Co.9:13-14). Não desejava que sua alegria na obra fosse perturbada ao aceitar pagamento por aquilo que para ele era um trabalho de amor. Estava determinado a não permitir que seu privilégio de prestar serviço abnegado lhe fosse tirado (v. 1Co.9:15). Para ele, era uma grande recompensa que o Senhor o considerasse digno do nobre chamado para o ministério, e que pudesse demonstrar amor abnegado pelo Salvador, trabalhando pelas pessoas às suas próprias custas, sem ser um fardo para a igreja.

De graça. Isto é, sem solicitar fundos dos conversos para seu sustento.

Valer. Do gr. katachraomai, “abusar”; ou simplesmente “usar”, como é o caso neste versículo, pois Paulo não pedia nem recebia sustento parcial. A palavra não deve ser entendida de forma incorreta. Paulo repetidamente afirmou seu direito de reivindicar o sustento da parte dos crentes (ver v. 1Co.9:4-5; 1Co.9:11-12), mas decidiu não exercer esse direito. Em seu caso, fazer isso seria um obstáculo para o evangelho e o privaria de sua estimada recompensa de oferecer salvação sem qualquer tipo de custo a todos a quem se dirigisse (ver v. 1Co.9:12). Não se pode concluir a partir das declarações de Paulo nos v. 1Co.9:15-18 que os ministros do evangelho devam trabalhar em algum ofício para se manter, em vez de esperar que as igrejas o façam. O apóstolo deixa claro que sua atitude era a exceção e não a regra (ver v. 1Co.9:5-7; 1Co.9:9). Deus instruiu a igreja a respeito de Seu plano para o sustento dos ministros (ver v. 1Co.9:14; AA, 338-341).

Do direito que Ele me dá. Isto é, o direito de Paulo de reivindicar o sustento da parte de seus conversos ao pregar o evangelho.

1Co.9:19 19. Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.

Livre. Ver com. do v. 1Co.9:1. Paulo retorna ao tema de 1Co.8:9-13, de não permitir que sua liberdade se torne pedra de tropeço para os fracos. Ele prossegue com mais exemplos de renunciar direitos em favor dos demais.

Fiz-me escravo. Paulo estava disposto a trabalhar em favor do bem-estar dos outros, como o faz o escravo sem recompensa ou pagamento. Como um escravo, desejando agradar seu mestre, ou porque era forçado a fazê-lo, ele estava disposto a se aproximar em hábitos, costumes e opiniões de outros tanto quanto possível, sem comprometer princípios. Os ministros de Deus devem estar prontos a se adaptar e adaptar seus métodos ao modo de vida daqueles pelos quais trabalham (ver T2, 673).

Ganhar o maior número. Todas as coisas na vida de Paulo estavam sujeitas a seu grande objetivo de pregar o evangelho e ganhar pessoas para Cristo. Ele estava preparado a ficar em segundo plano se com isso alguns pudessem ser atraídos ao Senhor (ver Rm.9:3). A ambição do apóstolo era de ser usado pelo Espírito Santo para conduzir o maior número de pessoas possível a aceitar a salvação por meio de Cristo. Essa é a ambição do verdadeiro ministro do evangelho.

1Co.9:20 20. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei.

Como judeu. Neste e nos v. 1Co.9:21-22, Paulo detalha o comportamento mencionado no v. 1Co.9:19. Ele tinha se conduzido dessa forma entre todo tipo de pessoas. Ele tinha pregado aos judeus, e sua abordagem para eles era do ponto de vista de um deles (ver At.13:14; At.13:17-35; At.17:1-3; At.28:17-20). Paulo não só adaptou sua pregação aos judeus, como também pareceu se adaptar a seus costumes quando nenhum princípio estivesse envolvido (ver At.16:3; At.18:18; At.21:21-26; At.23:1-6). Ele conhecia bem os costumes dos judeus, sendo um ex-fariseu e ex-membro do Sinédrio (ver At.23:6; At.26:5; Fp.3:5; AA, 102). Paulo tirou vantagem de seu conhecimento do judaísmo em seus esforços evangelísticos entre seus compatriotas e em sua própria defesa (ver At.23:6-9). Ele se adequava às práticas deles no que era possível fazê-lo de consciência limpa. Ele não os ofendia, mas se esforçava para usar sua familiaridade com as crenças e os costumes deles de forma a tornar mais fácil apresentar-lhes o evangelho. Seu propósito ao se adaptar à filosofia de vida dos judeus era levá-los ao Salvador.

Sob o regime da lei. Comentaristas divergem quanto ao significado desta expressão. Alguns dizem que o primeiro grupo que Paulo menciona neste versículo são os judeus como nação, e aqueles “sob o regime da lei” são os judeus considerados em relação à religião deles. Outros argumentam que “judeus” significa os que o são pela origem, isto é, segundo a carne, e aqueles “sob o regime da lei” são gentios convertidos em prosélitos do judaísmo. Outros ainda pensam que os que estão “sob o regime da lei” seriam os judeus ortodoxos ou fariseus. Outra explicação é de que os dois grupos são idênticos, e que Paulo usa o recurso literário do paralelismo para dar ênfase e preparar o caminho para a expressão oposta “aos sem lei” (v. 1Co.9:21). Ainda outro ponto de vista é de que a expressão se refira aos que acreditavam que a salvação era obtida mediante a observação da lei, como os judeus convertidos ao cristianismo que ainda se sentiam obrigados a cumprir as observâncias ritualísticas da lei de Moisés (ver At.15:1; At.21:20-26; ver ainda com. de Rm.6:14).

Paulo não violava as leis judaicas. Não repreendia os judeus por respeitarem a lei de Moisés nem se recusava a se adequar a essa lei quando podia fazê-lo. Ele era tão cuidadoso a esse respeito que pôde afirmar, quando acusado pelos líderes judeus, que observava as leis e os costumes judaicos (ver At.25:8; At.28:17).

Para ganhar os que vivem. Paulo entendia que os cristãos não precisavam cumprir as leis cerimoniais e as observâncias, mas desejava criar uma impressão favorável e, desse modo, estar numa posição melhor a fim de convencer do evangelho aqueles “sob o regime da lei” (ver At.15:24-29) e ganhá-los para Cristo.

1Co.9:21 21. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.

Sem lei. Isto é, aqueles que não conheciam os preceitos da lei como os judeus; em outras palavras, gentios ou pagãos (ver com. de Rm.2:14).

Para com Deus. Para não ser mal interpretado e acusado de rejeitar a lei, o apóstolo explicou que, em suas relações pessoais com judeus ou gentios, estava sempre ciente de seu dever para com Deus.

De Cristo. Paulo obedecia a Cristo e seguia Suas instruções desde sua conversão. Ele estava ligado ao Senhor por laços de amor, gratidão e dever. O principal propósito de sua vida era prestar contínua obediência à vontade do Salvador.

Para ganhar. O primeiro anelo de Paulo ao entrar em contato com as pessoas era ganhá-las para Cristo.

1Co.9:22 22. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.

Fraco. Aqueles cuja compreensão do evangelho era limitada e que podiam se ofender com coisas que eram perfeitamente legítimas (ver com. de Rm.14:1). Ao lidar com esses, Paulo não se comportava de modo a causar preconceito ou confundir-lhes a limitada compreensão da verdade. Ele não os escandalizava com a não conformidade com seus costumes de vestuário, alimento e serviços religiosos (ver At.16:1-3; Rm.14:1-3; Rm.14:13; Rm.14:15; Rm.14:19-21; 1Co.8:13). Essa condescendência para com o ponto de vista dos irmãos mais fracos pode parecer fraqueza da parte de Paulo. Mas, na verdade, era um sinal de que possuía grande força moral. A certeza do amor de Jesus e a segurança da supremacia da verdade da salvação pela fé em Cristo lhe permitiam agradar os fracos, adaptando-se às suas peculiaridades em coisas que não eram de grande importância, como se abster do alimento oferecido aos ídolos (ver 1Co.8:4; 1Co.8:7-9).

Tudo. A versatilidade de Paulo o capacitava a se adaptar a diferentes circunstâncias e classes de pessoas no que não comprometia seus princípios. Paulo nunca renunciava a seus princípios.

Por todos os modos. Do gr. pantos, “certamente”, “definitivamente”, “ao menos”.

Salvar alguns. Tudo o que Paulo fazia, sua pronta adaptação a circunstâncias particulares e sua disposição para ser tolerante e paciente, tinha um só objetivo: a salvação dos que aceitariam o evangelho. Não se expressava acreditando que todos se salvariam, pois sabia que muitos não creriam (Rm.9:27; Rm.11:5). Com o ato de se adequar aos costumes, hábitos e opiniões das diversas classes de pessoas a fim de que pudesse salvar algumas, Paulo seguiu de perto o modelo estabelecido pelo Salvador, sobre quem o profeta escreveu: “Não esmagará a cana quebrada” (Is.42:3). Adaptação é uma qualidade útil ao ministério. Ela possibilita trabalhar como Jesus trabalhava: nos lares dos pobres e ignorantes, no mercado entre negociantes, nas festas e entretenimentos dos ricos e no diálogo com os sábios. O ministro deve se dispor a ir a todo lugar e usar os métodos mais adequados a fim de ganhar pessoas para o reino de Deus (ver CBV, 23-25; OE, 118, 119).

1Co.9:23 23. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.

Por causa do evangelho. Isto revela o princípio motivador que guiava Paulo em tudo o que fazia. Ele estava ciente do amor de Jesus, da realidade de Sua ressurreição e da verdade da misericórdia divina para com o pecador arrependido. Essa é a experiência de todos que são regenerados pelo Espírito Santo e estão em comunhão com Jesus (ver At.1:8; At.2:17-18; At.2:21; At.4:13; CC, 72, 73). O eu desaparece da vida de quem ama o Salvador, e vive para fazer a vontade de Deus (ver Gl.2:20).

Cooperador. Este é o clímax da esperança do apóstolo: ter a alegria de compartilhar a recompensa da vida eterna com aqueles pelos quais trabalhou e sofreu. Nessa declaração, pode-se ver o mesmo amor fervoroso pelo próximo, que motivou Moisés, o qual não queria ser salvo se Israel não fosse perdoado e restaurado ao favor divino (Ex.32:31-32), e o indizível amor de Jesus. O céu perderia parte de sua alegria sem a presença das pessoas pelas quais Ele morreu (Jo.14:3; Jo.17:24; cf. CBV, 105).

1Co.9:24 24. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.

Não sabeis [...]? Nos v. 24 a 27, Paulo usa as famosas competições de atletismo que ocorriam periodicamente na Grécia e no mundo helênico para ilustrar sua discussão, a saber, a necessidade de exercitar a abnegação a fim de promover a salvação de outros. Nos v. 1Co.9:26-27, ele aplica a lição a si mesmo. É provável que Paulo se refira aos jogos ístmicos ou coríntios, bem conhecidos dos habitantes de Corinto. Os jogos consistiam em competições de corridas, luta e lançamento de discos. Paulo se refere a dois: corrida (v. 24, 25) e luta (v. 1Co.9:26-27).

Correm. Do gr. stadion, “um hipódromo”.

Prêmio. Apenas uma pessoa poderia ser a vitoriosa nos jogos. Mas todos os que participavam estavam dispostos a passar pelas dificuldades e pelo treinamento severo a fim de ampliar as chances de obter o prêmio. O reconhecimento do vitorioso era uma coroa de folhas de pinho, louro, oliva, salsa ou maçã.

Correi. Todos os que competiam nas corridas gregas se esforçavam ao máximo para ganhar o prêmio. Usavam toda habilidade e todo vigor adquiridos por meio de treinamento intensivo. Nenhum deles era indiferente, apático ou descuidado. A coroa da vida eterna é oferecida a todos, mas somente os que se sujeitam ao treinamento terão o prêmio. Isso significa que a todo tempo o cristão deve ser guiado em palavra, pensamento e ação pelos elevados padrões bíblicos, e não será controlado pelos desejos e inclinações do próprio coração. Perguntará a cada passo da jornada: “O que Jesus faria? Essa atitude, esse plano de trabalho ou essa forma de recreação vai aumentar ou diminuir minha força espiritual?” Qualquer coisa que de alguma forma interfira no progresso espiritual deve ser rejeitada; do contrário, não se poderá obter a vitória (ver Hb.12:1-2).

1Co.9:25 25. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.

Todo atleta que luta (ARC). Do gr. agonizomai, “lutar”, “contender”, “esforçar-se”; da qual vem a palavra “agonizar” (ver com. de Lc.13:24). Competir pela vitória nos jogos gregos significava mais do que fazer esforços intermitentes; era uma luta do início ao fim, sem trégua.

Em tudo se domina. Do gr. egkrateuomai, “exercer autocontrole”. Para ter esperança de vitória, um atleta que competia devia ser capaz de controlar seus desejos e apetites. Mais que isso, devia ser capaz de fazer o corpo responder de imediato aos comandos da mente e derrotar a indolência natural e a relutância a se esforçar, que com frequência aflige o ser humano. Devia se abster de tudo que pudesse estimular, excitar e enfraquecer, como o vinho, uma vida desregrada e passional e as complacências exageradas.

Devia ter autocontrole em tudo, não apenas no que é claramente prejudicial. Devia comer e beber com moderação e rejeitar por completo tudo que pudesse enfraquecer o corpo. O cristão que se empenha para obter o prêmio da vida eterna deve seguir um programa que se assemelhe em alguns aspectos ao do competidor dos jogos gregos. Coragem, fé, perseverança, abnegação e treino são necessários para quem deseja permanecer perante o Senhor no último dia, da mesma forma que o são para atletas que competem por honras terrenas e efêmeras (cf. Mt.24:13; Lc.13:24; Fp.3:13-15; 1Tm.6:12; 2Tm.2:4-5; 2Tm.4:7; Hb.12:1-4; Tg.1:12; Ap.2:10). Na corrida cristã, todo competidor que cumpre os requisitos do treinamento receberá o prêmio (ver Ap.2:10; Ap.22:17). Embora a vida eterna seja um dom de Deus, é dada apenas aos que a buscam e se esforçam por ela com toda a energia (ver Rm.2:7; Hb.3:6; Hb.3:14).

Coroa. Do gr. stephanos, “aquilo que rodeia” ou “aquilo que abrange”, “uma coroa” ou “uma grinalda”, que consiste de folhas usadas como sinal de vitória ou de alegria (ver com. do v. 1Co.9:24).

Incorruptível. A diferença entre a recompensa do vencedor nos jogos gregos e do cristão vitorioso é incalculável. Os seres humanos se esforçam ansiosamente por êxito temporal; até se sujeitam a dificuldades e sofrimentos a fim de serem considerados grandes. Se eles estão dispostos a fazer isso por uma coroa corruptível e efêmera, muito mais fervoroso e perseverante deve ser o esforço do cristão pela coroa incorruptível da vida eterna. Por causa do pecado, os pensamentos e as idéias do ser humano foram pervertidos. Satanás tem êxito em levar as pessoas a transgredir as leis da saúde, a fim de que vivam de forma a degenerar o corpo por meio de hábitos errôneos quanto a comer, beber, vestir, dormir, trabalhar, divertir-se e pensar (ver CS, 18, 19). Deus requer que Seu povo tenha consciência da necessidade de reforma nesse aspecto, bem como da estrita temperança em tudo o que tem a ver com a preservação da saúde.

O cristão não vive para se agradar; ele foi comprado por Deus e tem o dever de seguir as leis da saúde a fim de manter saudáveis o corpo e a mente (ver 1Co.6:19-20; 1Co.10:31). O cristão que ama o Salvador não permite que os apetites e as paixões o controlem, mas em tudo aceita o conselho que Deus deu para seu bem-estar físico, mental e espiritual. Os desejos devem ser sujeitados às faculdades superiores da mente, sob a liderança do Espírito Santo (ver Rm.6:12; T2, 380, 381). Os venenos do álcool e do tabaco são exemplos claros do que Satanás tem planejado para o ser humano, ele deseja provocar debilidade física e espiritual, impedindo as pessoas de ter a recompensa eterna oferecida a todos que estão dispostos a ser temperantes em tudo (ver Pv.23:20-21; Pv.23:29-32; 1Co.6:10; CS, 125).

Como pode alguém que se recusa a abandonar hábitos errôneos esperar ser abençoado por Deus e receber as boas-vindas no reino de Sua glória? A única conduta segura é manter o corpo em sujeição a Deus até que Jesus venha (ver SI.51:5; Rm.7:18; Rm.7:23-24; Rm.8:13; Rm.8:23; 1Co.9:27; Fp.3:20-21; Cl.3:5-6). A bênção da vida eterna (Ap.2:10) não será concedida aos que consideram a vida presente como oportunidade para a indulgência com apetites e paixões e para satisfação de todo desejo não regenerado. Deus dará vida eterna apenas aos que usam cada oportunidade para obter a vitória sobre tudo que prejudica a saúde mental, física e espiritual, demonstrando amor e obediência ao Salvador que por eles morreu (ver Tg.1:12; 1Pe.5:4; Ap.2:10; Ap.3:10-11; Ap.7:14-17).

1Co.9:26 26. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.

Não sem meta. Paulo sabia para onde estava indo e o que estava fazendo. Anelava avançar o mais rápido possível na corrida cristã. Não havia dúvida em sua mente sobre que direção tomar. Ele correu com a plena segurança de alcançar a meta. Esforçou-se ao máximo para não perder sua coroa, uma coroa não de folhas, mas de vida, paz e felicidade eternas no reino da glória. O corredor nos jogos gregos não tinha a certeza de alcançar seu objetivo e ganhar o prêmio. Mas Paulo sabia que ele e todos os que tinham fé operante em Cristo poderiam ter a certeza da vitória. Ao se aproximar do fim de sua vida, expressou absoluta certeza de que receberia a coroa juntamente com todos os vitoriosos (ver 2Tm.4:7-8).

Luto. Do gr. pukteuo, “lutar com os punhos”, “boxear”, que era uma das formas de entretenimento nas antigas competições de atletismo. Paulo introduz uma mudança da metáfora de um corredor para o de um pugilista no ringue.

Golpes no ar. Pode-se concluir que um boxeador dá golpes no ar quando pratica sem um oponente, ou quando seu adversário se esquiva de seus golpes, tornando vãos seus esforços. Paulo mostra que ele não poupava seu adversário, nem permitia que escapasse de seus golpes; não perdia tempo lutando com sua sombra, pois seu adversário estava sempre presente e devia ser tratado com firmeza. Cada golpe seu era certeiro, dirigido com vontade e energia para que fosse efetivo. Os desejos corruptos da carne deviam ser suprimidos e todo o seu ser devia ser posto em sujeição a Deus por meio de Cristo (ver 2Co.10:3-5). Muitos cristãos sabem que precisam obter a vitória sobre os desejos e apetites que se opõem à vontade divina, mas não se empenham para subjugar o eu. Supõem que estão lutando, mas não desejam que seus golpes castiguem o que é parte de si mesmos, pois temem a dor da renúncia.

Amam demais a natureza pecaminosa para machucá-la e não têm força de vontade para negar as demandas da carne. Não foi assim com Paulo. Ele não queria mostrar nenhuma misericórdia à sua natureza pecaminosa. Na verdade, envergonhava-se dela, a odiava e desejava sua morte; portanto, descartava todo pensamento e sentimento de piedade ou compaixão a ela, e dirigia seus golpes com toda força e habilidade e com toda vontade (ver Cl.3:5; CS, 51). Essas palavras não devem ser interpretadas como o ponto de vista dos gnósticos (ver p. 40-44). Paulo não considerava que o corpo em si fosse intrinsecamente mau e incurável. Ele buscava o aperfeiçoamento do corpo, não sua destruição.

1Co.9:27 27. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.

Esmurro. Do gr. hupopiazo, literalmente, “golpear debaixo do olho”, “esmurrar o olho de alguém”. Esta tradução não ilustra a metáfora da antiga luta de boxe ou luta dos gregos, que Paulo usou para ilustrar a natureza do conflito enfrentado pelo cristão sincero. As luvas de boxe usadas pelos lutadores não eram como as de hoje; em geral, eram feitas de tiras de couro de boi e, às vezes, reforçadas com bronze. Hupopiazo retrata de forma vívida o rigor e a dureza com que o genuíno cristão deve lidar com a natureza pecaminosa. Paulo sugere a disciplina rígida e a abnegação a serem exercidas a fim de se obter a vitória sobre todas as paixões corruptas das tendências humanas.

E o reduzo à escravidão. Literalmente, “levar à escravidão”, portanto, “tornar um servo de”. Paulo mostra assim seu firme propósito de obter vitória absoluta sobre todas as inclinações, paixões e tendências corruptas. Para ele não havia meio termo. Sabia que devia ser uma luta até o final, sem se importar com o sofrimento e a angústia da natureza terrena; o mal que lutava contra suas aspirações espirituais devia morrer. Esse é um princípio que todos que desejam ser cidadãos celestiais devem aprender. As inclinações e os desejos naturais devem ser banidos. Isso só é possível quando a vontade é submetida a Cristo (ver Fp.4:13; CC, 43, 44, 60).

Para que. Paulo não queria permitir que nada o impedisse de obter a salvação; estava preparado para fazer qualquer coisa que Deus desejasse a fim de ser qualificado para o Céu. Ele sabia do perigo constante de ser enganado por causa da sutileza do pecado, e estava determinado a fazer tudo que pudesse assegurar seu êxito em obter a coroa da vida eterna.

Pregado a outros. Pode ser que Paulo estivesse dando continuidade à metáfora dos jogos, referindo-se a si próprio como o arauto que chamava os corredores à prova. Ao mesmo tempo, ele também é um competidor.

Desqualificado. Do gr. adokimos, “reprovado no teste”, “rejeitado no teste”. Como um arauto, Paulo anunciou as regras do jogo. Também como competidor, se esperaria que, ele cumprisse as regras mais do que os outros. Paulo foi zeloso ao proclamar a outros as regras e normas que governam a competição para a vida eterna. Ele declara sua determinação de controlar rigidamente a natureza pecaminosa, a fim de não ser encontrado em falta pelo grande Juiz no fim da corrida. Ministros cristãos, que defendem perante o mundo as regras da vitória na corrida para a vida eterna, devem cuidar da própria condição espiritual a fim de não falharem em nenhum aspecto e perder a recompensa pela qual passaram a vida incentivando outros a ganhar. Se todos os que são chamados para o ministério fossem tão fiéis e firmes em trabalhar pelas pessoas como Paulo, o reavivamento e a reforma pelos quais a igreja anseia tanto seriam apressados e Cristo voltaria em breve.

1Co.10:1 1. Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar,

Ora. Esta conjunção faz a ligação entre o cap. 9 e o 10. Ao mostrar a possibilidade de ser eliminado, o apóstolo enfatiza o perigo de outros também serem rejeitados. Embora favorecidos por Deus, os israelitas que deixaram o Egito não receberam a recompensa de entrar na terra prometida. Se o povo escolhido diante do qual Deus tinha operado tantos milagres falhou, os coríntios não deviam se orgulhar a ponto de ficar cegos ao perigo de ter o mesmo destino.

Ignoreis. Os membros da igreja de Corinto estavam ao menos parcialmente familiarizados com as experiências dos antigos israelitas durando o êxodo do Egito. Mas Paulo queria que se lembrassem dessas coisas e permitissem que o exemplo dos israelitas influenciasse a conduta deles.

Pais. A igreja de Corinto era composta de gentios e judeus convertidos ao cristianismo. A referência aos “pais”, que aponta para os israelitas sob a liderança de Moisés, indica que na mente de Paulo a igreja cristã é a continuação do povo de Deus. Assim, tem direito a reivindicar a descendência espiritual da linhagem dos verdadeiros adoradores que se estende através dos séculos da história de Israel (ver Rm.2:28-29; Gl.3:28-29).

Nuvem. Referência à presença visível de Deus com Seu povo na peregrinação desde o Egito até Canaã. Durante o dia, uma nuvem precedia o exército de Israel enquanto marchavam e, durante a noite, tornava-se uma coluna de fogo (ver com. de Ex.13:21).

Mar. Referência à travessia do Mar Vermelho pelos filhos de Israel por um caminho que o Senhor abriu de forma miraculosa (ver Ex.14:21-22). Essa era mais uma prova da proteção e do favor de Deus. Paulo relembrou aos cristãos de Corinto todas essas provisões especiais que o Senhor fez para o antigo Israel. Mostrou que os filhos de Israel tiveram tanta proteção evidente contra a apostasia como a que a igreja de Corinto tinha e da qual se jactava tanto.

1Co.10:2 2. tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés.

Batizados. A experiência dos filhos de Israel figurava o batismo. Com a nuvem acima e o mar de ambos os lados, os israelitas estavam envolvidos pelas águas ao passarem pelo mar; e, nesse sentido, foram batizados. Essa experiência pode ser considerada como símbolo da anulação da antiga aliança deles com o pecado na escravidão egípcia, e uma promessa de lealdade a Deus por meio de Seu representante Moisés.

Com respeito a Moisés. Os israelitas foram guiados pela nuvem até as margens do Mar Vermelho, e, então, quando Moisés lhes ordenou a seguir adiante, Deus abriu o caminho, e eles passaram com segurança para o outro lado. Com essa experiência, eles foram entregues a Moisés como seu líder (ver Ex.14:13-16; Ex.14:21-22); reconheceram sua autoridade e se comprometeram a obedecer às suas instruções. Como “líder visível”, Moisés transmitia ao povo as leis e ordenanças de Deus. Portanto, pode-se dizer que, ao serem batizados “com respeito a Moisés”, eles se comprometeram a obedecer a Deus e a servi-Lo (ver PP, 374). Durante a longa servidão no Egito, os israelitas tinham perdido de vista, em certa medida, o verdadeiro Deus e o culto a Ele. Muitos não O conheciam, e era propósito divino libertá-los da escravidão para que O servissem (ver Ex.3:13-15; Ex.3:18; Ex.5:1; Ex.6:6-7; Ex.7:16; Ex.8:1; Ex.8:20; Ex.9:1; Ex.9:13; PP, 258). Deus apontou Moisés para conduzir o povo para fora do Egito e instruí-lo a respeito de Seus planos e de Suas leis para eles (ver Ex.3:10; PP, 246, 252, 253). A evidência de que Deus aceitou Moisés como seu representante foi testemunhada pelos israelitas na travessia pelo Mar Vermelho.

1Co.10:3 3. Todos eles comeram de um só manjar espiritual

Manjar espiritual. Ou, “alimento espiritual”. A palavra “manjar” é usada no sentido de “alimento” em geral. O adjetivo “espiritual” indica que o alimento não lhes era dado por processos naturais. Além disso, é provável que Paulo também tivesse em mente o significado espiritual do maná (Jo.6:32-33; Jo.6:35), da mesma forma que identificou a “pedra espiritual” como Cristo (1Co.10:4). Todos os israelitas foram alimentados e nutridos no deserto dessa forma miraculosa. O alimento deles era provido diretamente por Deus. Desse modo, todos tiveram uma evidência clara de que Deus os protegia e guiava. Naquele lugar ermo não havia outra comida, de modo que dependiam por completo do pão que caía dos céus (ver Ex.16:3). Se recusasse a comer o maná, a pessoa pereceria. Da mesma forma, não há outro alimento para o cristão além daquele que vem do Céu e é personificado no Salvador.

O maná transitório proporcionou sustento material suficiente para as necessidades terrenas dos israelitas, mas seu efeito era apenas temporário, e aqueles que se alimentaram dele morreram afinal. Aqueles que se alimentam da Palavra viva de Deus, Jesus Cristo, não perecerão, mas terão vida eterna (ver Jo.6:48-51; Jo.6:53-54; Jo.6:58; Jo.6:63). Neste deserto terrenal, os seres humanos se esforçam para alcançar invenções e desenvolver filosofias humanas, mas não existe esperança de paz ou de felicidade sem Cristo (ver Mt.11:28-29; Jo.10:10; Jo.15:6; 1Co.1:21; 1Co.1:25; 1Co.1:30). Assim como o maná devia ser recolhido todos os dias, na quantidade suficiente para a necessidade diária, o cristão deve se alimentar com a porção adequada da Palavra de Deus, a fim de manter saudável a vida espiritual (ver Ex.16:16; Ex.16:21; Jó.23:12; Mt.6:11).

1Co.10:4 4. e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.

Fonte espiritual. Como o “manjar espiritual” do v. 1Co.10:3, a “fonte espiritual” recebeu este nome por causa de sua origem sobrenatural. O Senhor a providenciou aos israelitas a fim de satisfazer a necessidade urgente quando ficaram sem água no deserto (ver Ex.17:1; Ex.17:6; Nm.20:2; Nm.20:8). Deus não abandonou Seu povo ingrato, apesar de suas reclamações sem fundamento, mas satisfez suas necessidades por meio de Moisés, Seu servo escolhido (ver PP, 298, 411).

Pedra espiritual. Alguns comentaristas creem que Paulo se refere à tradição rabínica de que uma pedra ou rocha seguia os filhos de Israel nas suas peregrinações pelo deserto, proporcionando-lhes água. Com essa aplicação, ele, no entanto, não dá crédito à tradição, como Jesus não endossou a doutrina do estado consciente na morte ao propor a parábola do rico e do mendigo (ver com. de Lc.16:19). A Toseftah (ver vol. 5, 87) relata a tradição da seguinte forma: “Foi assim também com a fonte que esteve com os filhos de Israel no deserto, ela [a fonte] era como uma pedra cheia de orifícios, como uma peneira, da qual fluía água e saía como que da boca de uma garrafa. Ela [a fonte-pedra] subia com eles até o topo dos montes e descia aos vales; aonde quer que fosse Israel ali estava a fonte à entrada do tabernáculo” (Sukkah, 3.11 ff., citado em Strack e Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament, vol. 3, p. 406; comparar com PP, 411-421).

Era Cristo. O Senhor é retratado como a Rocha na qual os pecadores arrependidos podem confiar para se reanimarem, com a bebida que sacia a sede pela verdade divina (ver SI.42:1-2; Sl.63:1; Jo.7:37). A grande verdade que esse versículo ensina é que Jesus está com Seu povo em todos os caminhos e está pronto a suprir suas necessidades quando clamam a Ele. O mundo é um deserto árido, sem alimento e sem água para o faminto e sedento da verdade espiritual, mas o Salvador que nunca muda pode apoiar, sustentar e fortalecer Seu povo desfalecido, se tão somente este clamar a Ele (ver SI.46:1; Sl.91:15). Historicamente, Cristo foi o líder de Israel, não apenas nas peregrinações pelo deserto, mas ao longo de sua história como nação. De fato, toda a relação de Deus com a humanidade caída se dá por meio de Cristo (ver PP, 311, 366, 373, 396; DTN, 52).

1Co.10:5 5. Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto.

Da maioria. Literalmente, “com a maioria”. Embora Israel fosse abençoado por Deus com manifestações de poder, da grande multidão que deixou o Egito sob a liderança de Moisés poucos estavam dispostos a obedecer ao Senhor. A Bíblia relata repetidas murmurações e rebeliões mesmo após terem cruzado o Mar Vermelho de forma miraculosa (ver Ex.16:2-3; Ex.16:27-28; Ex.17:3; Ex.32:1; Ex.32:6; Nm.11:1-2; Nm.11:4; Nm.11:10; Nm.11:13; Nm.14:2; Nm.14:26-30). Um ato de desobediência após outro trouxe sobre o povo os juízos do Senhor, até que finalmente Ele decretou que deviam perecer no deserto (ver com. de Nm.14:29). O propósito de Deus era que todos os que estavam indo rumo a Canaã tivessem seu lar nessa terra da qual manava leite e mel (ver Ex.3:8; Ex.3:17; Ex.13:5). Ele deixou claro que iria conduzir, instruir e sustentar Seu povo, mas aquela geração se recusou a acreditar e a obedecer. Assim, perdeu sua herança. Mas seus filhos tiveram a oportunidade de herdar a terra.

Prostrados. Do gr. katastronnumi, literalmente, “espalhar pelo chão”. No NT, esta é a única ocorrência da palavra, mas ela se encontra na LXX (Nm.14:16). Os israelitas descrentes e desobedientes foram “espalhados” pelo deserto porque se recusaram a confiar no amor e na direção do Pai celestial e porque foram indulgentes na satisfação de desejos e paixões carnais (ver Nm.11:5-6; Nm.11:32-33; Nm.16:31-35; Nm.16:49; Nm.25:1-5; Nm.25:9). O apóstolo mostrou aos cristãos de Corinto que as bênçãos e os privilégios concedidos a eles não lhes conferia imunidade da tentação. Era necessário estar continuamente alerta a fim de evitar o pecado. Os favores e as bênçãos concedidos por Deus a Seu povo não o salvou da justa punição pela desobediência voluntária e rejeição de Suas instruções claras.

1Co.10:6 6. Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.

Exemplos para nós. Isto é, exemplos de advertência. Os males que sobrevieram aos israelitas na jornada desde o Egito até Canaã foram ilustrações do que certamente acontecerá se o povo de Deus, que desfruta tantas bênçãos e favores na jornada em direção à Canaã celestial, cometer os mesmos erros e desobedecer a Deus como o fez Israel no deserto. Os cristãos que desobedecerem ao Senhor terão sua recompensa tão certamente quanto teve Israel por sua rebeldia. Ter mais conhecimento de Deus do que outros não dá permissão para ignorar nenhuma das ordenanças divinas. Pelo contrário, mais amplo conhecimento de Deus traz mais responsabilidade de estrita obediência. Sob tais circunstâncias, a desobediência é muito mais grave do que no caso de quem não tem luz (ver Lc.12:47-48; Tg.4:17).

Cobicemos. A frase diz, literalmente: “que não nos tornemos cobiçadores de coisas más”. Os israelitas daquele tempo eram habitualmente governados pelos desejos. Não se guiavam serenamente pela razão, mas pelos impulsos de paixões e apetites não santificados (ver Ex.16:3; Nm.11:4-5). Há o perigo de o povo de Deus repetir o erro de Israel nesse sentido (ver Mt.24:37-39; Lc.17:26-30).

Cobiçaram. Do gr. epithumeo, “desejar ansiosamente”, “desejo desenfreado”, “desejar algo além do limite daquilo que é legítimo”.

1Co.10:7 7. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se.

Não vos façais. A ordem pode ser traduzida da seguinte forma: “parem de ser [ou de se tornar] idólatras”, indicando que alguns dos israelitas ainda praticavam idolatria.

Idólatras. Esta é uma referência à adoração ao bezerro de ouro, enquanto Moisés estava no monte com Deus (ver Ex.32:1-5). A advertência era adequada aos coríntios, visto que alguns deles se sentiam livres para participar de festas em templos de ídolos (ver com. de 1Co.8:10; 1Co.10:20-21).

Comer e beber. Ver com. de Ex.32:6.

Divertir-se. Uma citação de Ex.32:6. Os israelitas no monte Sinai, não tinham se esquecido das coisas que viram e praticaram no Egito, onde a idolatria era a religião principal. Estavam bem familiarizados com as práticas sensuais associadas aos cultos a falsos deuses e, sem dúvida, as imitaram na adoração ao bezerro de ouro. A glutonaria e a embriaguez anuviaram a mente deles, de modo que não conseguiam mais discernir entre o bem e o mal. Estavam escravizados pelas paixões da carne, expondo-se às sutis tentações do inimigo.

1Co.10:8 8. E não pratiquemos imoralidade, como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil.

Não pratiquemos. A ordem pode ser traduzida assim: “Paremos de cometer fornicação.” Havia um caso notável em Corinto (1Co.5). Aqui se faz referência ao vergonhoso episódio dos israelitas em Sitim, onde Satanás usou as moabitas para seduzir muitos do acampamento de Israel e influenciá-los a participar do culto idólatra dos moabitas (ver Nm.25:1-5). Deus deu aos israelitas instruções enfáticas para não se associarem com os pagãos que viviam ao redor deles. O Senhor os tinha advertido contra o perigo de se distanciarem dEle e de adorarem falsos deuses (ver Dt.7:1-5).

Vinte e três mil. Ver com. de Nm.25:9.

1Co.10:9 9. Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes.

À prova. Do gr. ekpeirazo, “tentar ao limite”, “tentar por completo”, “tentar ao máximo”. Além daqui, ekpeirazo ocorre no NT só em Mt.4:7; Lc.4:12; Lc.10:25, com relação à tentação de Cristo. A ordem pode ser traduzida assim: “Cessemos de tentar.” Paulo se refere ao incidente registrado em Nm.21:4-6, quando o povo, fraco e desanimado pela longa jornada no deserto, reprovou Moisés por tê-lo tirado do Egito e reclamou do maná. A reclamação do alimento que Deus provia resultou na praga das “serpentes abrasadoras”, pela qual muitos deles morreram (ver Nm.21:6).

Cristo (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem “o Senhor” (ARA). A despeito disso, era Cristo quem estava com os israelitas no deserto, e cuja paciência eles tentaram até o limite com rebelião e murmurações. Cristo está sempre presente com Seu povo por meio do Espírito, para ensinar, proteger, guiar e livrar (ver Mt.28:20; Jo.14:16-18; Jo.16:13). Os cristãos devem estar cientes da tolice de testar a paciência do Salvador, insistindo em continuar com antigos apetites, costumes e paixões em vez de abandonar com alegria tudo que pertence à antiga vida não regenerada, em favor das provisões feitas pelo Senhor.

1Co.10:10 10. Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador.

Nem murmureis. Ou, “nem continueis a murmurar”. No AT, há dois exemplos de murmuração seguida de morte: o caso dos dez espias (Nm.13-14) e a rebelião de Corá, Datã e Abirão (Nm.16).

1Co.10:11 11. Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.

Exemplos. Isto não significa que os israelitas tiveram muitas e diferentes experiências apenas para servir de exemplos aos cristãos. Indica simplesmente que a experiência deles serve de advertência para a igreja acerca da importância de evitar os erros do passado.

Para advertência nossa. Isto é, advertir os cristãos de todos os tempos a não confiar na própria força ou sabedoria. A tolice de Israel em desobedecer a Deus resultou na morte de muitos no deserto e, mais tarde, no cativeiro babilônico (ver Je.17:23; Je.17:27; Je.25:4-11). A advertência para que os cristãos aprendam com a experiência de Israel no deserto é especialmente apropriada ao se aproximar o segundo advento de Cristo. Muitos israelitas pereceram quando tinham quase completado sua jornada até Canaã (ver Nm.25:9). Eles eram o povo a quem Deus tinha abençoado de forma particular, dando-lhes a conhecer Sua lei e a Si mesmo muito além do que a qualquer outro povo.

Contudo, eles não foram fiéis a Deus. Aos cristãos foi confiado o evangelho de Jesus Cristo e o conhecimento profético de Seu breve retorno. Tendo em mente o exemplo dos israelitas, eles devem ter o cuidado de não permitir que os enganos da natureza humana pecaminosa lhes impeçam de chegar à Canaã celestial (ver Rm.11:20; 1Co.10:12; Hb.3:12-14).

Os fins dos séculos. Do gr. tele ton aionon, isto é, o fim dos grandes períodos passados da história de Deus com a humanidade. Em Hb.9:26, afirma-se que o primeiro advento de Cristo ocorreu “ao se cumprirem os tempos” (do gr. sunteleia ton aionon, literalmente, “consumação dos séculos”). Nota-se que a mensagem do apóstolo Paulo era relevante para sua época devido ao pronome “nós”. Ela é cada vez mais relevante visto que os que vivem atualmente têm a vantagem dos registros acumulados de todas as épocas da história sagrada, e vivem no tempo quando o propósito de Deus terá seu clímax com a segunda vinda de Jesus.

1Co.10:12 12. Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.

Pois. Conclusão a ser tirada das advertências dadas nos v. 1Co.10:6-11. Paulo enfatiza a necessidade de atenção especial por parte dos cristãos à peregrinação dos filhos de Israel no deserto até Canaã. Eles devem aprender com o relato dos trágicos resultados da autoconfiança de Israel e de terem contado com sua própria força, tanto mental quanto física.

Em pé. Embora essa advertência possa ter uma aplicação geral, a primeira seria aos cristãos de Corinto que estavam acomodados ao uso de alimentos oferecidos aos ídolos e à participação em festas idólatras (ver 1Co.8:2; 1Co.8:4; 1Co.8:7; 1Co.8:9). Eles pensavam não ter necessidade de temer associações com os idólatras, mas essa confiança própria poderia ser a precursora de uma queda fatal (ver Pv.16:18).

Caia. A autoconfiança é perigosa. O caso de Pedro é um exemplo disso. Ele pensava que nada poderia fazer com que traísse a Cristo (ver Mc.14:31; Mc.14:50; Mc.14:67-68; Mc.14:70-72). Todos devem estar atentos à advertência a fim de que não sejam enganados pela ideia de que alcançaram um estado de força espiritual em que nada pode induzi-los a pecar. A verdadeira segurança está em reconhecer que nada podemos fazer separados de Cristo, e que precisamos sempre da presença do Espírito Santo em nós para nos livrar do pecado (ver Jo.14:26; Jo.15:4-7; Jo.16:7-11; Jo.16:13; 2Co.12:9-10). Essa admoestação precisa ser repetida com frequência, pois o ser humano é inclinado a pensar que é capaz de cuidar de si mesmo. O orgulho espiritual é um grande engano, e é fácil para o tentador levar o cristão autoconfiante a cair em pecado fatal (cf. 2Sm.11:1-4; Rm.11:20). A exortação para estar em constante alerta contra o perigo do orgulho espiritual é bastante apropriada aos que vivem neste período da história, quando os seres humanos são confrontados dia após dia com as mais variadas tentações para satisfazer os apetites carnais (ver Lc.21:34-36).

1Co.10:13 13. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.

Humana. Do gr. anthropinos, “humano”, isto é, tentação normal para os seres humanos, que possam suportar. Os coríntios não deviam pensar que as expectativas em relação à vida espiritual deles fossem excepcionais nem que enfrentavam dificuldades anormais. Suas provas e tentações não eram diferentes das experimentadas pelas pessoas ao redor do mundo. Esta declaração parece ter sido acrescentada à advertência do versículo anterior como um encorajamento. Os coríntios corriam perigo de cair e deviam vigiar, mas podiam ser reanimados, pois a tentação não seria maior do que a força para suportá-la.

Fiel. Deus cumpre Suas promessas e é fiel ao chamado que fez ao ser humano para que O servisse. Se Ele permitisse a Seu povo ser tentado acima da força disponível para suportar, então suas promessas pareceriam indignas de confiança (ver SI.34:19; 1Co.1:9; 2Pe.2:9). A fidelidade de Deus é a segurança do cristão contra o inimigo. Não existe segurança em depender de si mesmo. Mas se o crente confia por completo nas promessas do Deus que cumpre Seu pacto, ele estará seguro. Contudo, deve lembrar-se de que Deus não o livrará se, de forma deliberada, adentrar o terreno do inimigo aonde é mais provável que seja derrubado pelas tentações (ver Mt.7:13-14; Mt.7:24-25; 1Co.9:25; 1Co.9:27; 1Co.10:14; Gl.5:24; 2Tm.2:22; PE, 124, 125; MDC, 118).

Tentados. O fato de Deus não permitir que o inimigo tente Seus filhos além do que possam suportar deve ser motivo de encorajamento. Deus não deseja que os seres humanos sofram. Ele não tenta a ninguém (ver Tg.1:13). As dificuldades que o ser humano enfrenta são muitas vezes causadas por sua teimosia (ver Gn.1:27; Gn.1:31; Gn.3:15-19; Ec.7:29; Rm.6:23). Visto ser assim, Deus usa essas experiências para aprimorar o caráter humano segundo Sua vontade (ver 1Pe.4:12-13; CBV, 470, 471, 478). Portanto, quando a pessoa é tentada, deve se lembrar de que a tentação não vem de Deus, mas Ele a permite. Além disso, se enfrentadas, de forma correta, com a força que vem de Deus, as tentações podem ser meios de crescer na graça. Visto que Deus não permite tentações maiores do que se possa suportar, o cristão é totalmente responsável se cair em pecado.

Livramento. Literalmente, “a saída”. Para cada tentação há uma provisão feita por Deus. Essa “saída” não é um jeito de evitar a tentação, mas um modo de evitar a tragédia de cair em pecado, de ser vencido pela tentação. Ao mesmo tempo em que Deus permite que venha a prova ou a tentação, também disponibiliza os meios pelos quais se pode obter a vitória e o escape do pecado. Jesus, o exemplo cristão do viver correto, encontrou esse “livramento” na Palavra de Deus (ver Lc.4:4; Lc.4:8; Lc.4:12). Assim, Seus seguidores podem encontrar o “livramento” em Jesus, a Palavra viva (ver Jo.1:1-3; Jo.1:14). Ele está pronto a livrar os que clamam a Ele e a impedir que caiam em pecado (SI.9:9; Sl.27:5; Sl.41:1; Sl.91:15; 2Pe.2:9; Ap.3:10).

1Co.10:14 14. Portanto, meus amados, fugi da idolatria.

Portanto. Diante dos perigos aos quais os coríntios estariam expostos ao participar de festas aos ídolos, e tendo em vista as provisões feitas pelo Senhor para que se obtenha vitória sobre toda tentação, aconselha-se evitar todo e qualquer contato com a idolatria.

Fugi. Isto é, fazer da fuga um hábito. A ordem sugere urgência, pressa e atenção imediata e contínua em ficar longe da idolatria. Não deve haver tolerância com nada relacionado a ídolos.

Idolatria. O conselho de Paulo aos coríntios em relação aos templos de ídolos, entretenimentos e alimentos oferecidos a eles também é aplicável aos cristãos de todos os lugares e épocas. A idolatria tem muitas formas, incluindo a cobiça por lucro, a paixão pelo poder, a satisfação dos apetites carnais de vários tipos e a busca desenfreada pelo prazer (ver AA, 317). Os perigos de se relacionar com quem não ama nem obedece a Deus são tão grandes que o Senhor manda que Seu povo se abstenha de todo contato com essas pessoas (ver 2Co.6:14-17; Ap.18:1-4). Ninguém é forte o suficiente para se expor de forma deliberada e sem necessidade ao contato com a “idolatria” de qualquer tipo, e ainda assim não se contaminar.

1Co.10:15 15. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo.

Criteriosos. Do gr. phronimoi, “inteligentes”, “prudentes”, “sensíveis”, isto é, pessoas capazes de entender o que é dito e de tirar conclusões corretas. Paulo apelou ao discernimento e ao bom-senso dos cristãos de Corinto, que os tornava capazes de julgar por si mesmos quanto à verdade do que ele estava prestes a dizer. Ao fazer esse apelo, o apóstolo demonstrou que ele mesmo estava convencido de sua opinião. As razões que apresentaria para a posição dele quanto a participar ou não de diversões idólatras eram tais que convenceriam os mais criteriosos. O restante do capítulo discorre sobre essas razões. Todas as ordens e os conselhos de Deus apelam aos sábios e criteriosos, e Ele nos convida a meditar com Ele, sabendo que Sua posição é sempre correta.

Julgai vós mesmos. Pode haver alguma ironia nesta declaração, uma maneira jeitosa de recordar aos coríntios suas pretensões de possuir conhecimento (ver 1Co.1:5; 1Co.8:1-2; 1Co.8:10). Cada pessoa é exortada a usar o intelecto a fim de examinar com cuidado toda a instrução dada pelo Senhor por meio de Seu servo Paulo, para ver se é razoável e justa.

1Co.10:16 16. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?

Cálice da bênção. Isto é, o cálice sobre o qual se pronuncia a bênção na celebração da Ceia do Senhor. Ao instituir esse rito, na última Páscoa que comeu com os discípulos, imediatamente antes de ser preso, Jesus “tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos” e os instruiu a beberem dele (ver Mt.26:27; 1Co.31:25; DTN, 149, 653). Paulo dá continuidade ao assunto acerca de comer alimentos oferecidos a ídolos. Seu argumento se baseia no fato de que, ao participar do serviço da comunhão, os crentes se tornam participantes do corpo e do sangue de Cristo e, assim, são um corpo com Cristo (ver Mt.26:26-28; Jo.6:51; Jo.6:53-56; 1Co.11:23-26; DTN, 660, 661). Depois de testemunhar de sua unidade com Cristo dessa forma, era totalmente incoerente tomar parte nas festas idólatras e, assim, entrar em comunhão com os espíritos aos quais se ofereciam os sacrifícios (1Co.10:21).

Que abençoamos. Cristo deu graças (Mt.26:27) pelo cálice, um ato cujo paralelo é a oração de gratidão pelo sangue derramado de Jesus, feita antes de se tomar o vinho no serviço de comunhão. Quando tomam esse cálice, os cristãos agradecem a Deus todas as bênçãos concedidas por meio do sangue de Jesus. Em silêncio, O louvam por tê-los resgatado da escravidão do pecado e lhes dado a gloriosa liberdade de filhos e filhas de Deus.

Comunhão. Do gr. koinonia, “companheirismo”, “participação”.

Do sangue. O sangue representa a morte do Filho de Deus, e, pela fé, os crentes participam dessa morte. Assim, os que participam de um sacrifício pagão se tornam participantes desse sacrifício. Talvez o motivo de Paulo ter mencionado o cálice antes do pão (o inverso em relação a Mt.26:26-27 ; 1Co.11:23-25) é que ele desejava colocar o tema da participação no pão ao lado do tema dos alimentos sacrificados aos ídolos. Ele não discute a importância da Ceia do Senhor nem apresenta a ordem em que os emblemas devem ser servidos.

Pão. Assim como se parte o pão no serviço de comunhão antes de dá-lo aos participantes, o corpo do Salvador foi “quebrantado” em favor do mundo todo; mas somente quem confessar os pecados e buscar o perdão é beneficiado pelo sacrifício de Cristo (ver Mt.26:26; 1Co.11:23-24; 1Co.11:26; 1Co.11:29; 1Jo.1:9; 1Jo.2:1-2).

1Co.10:17 17. Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.

Porque. Do gr. hoti, neste caso, significa “visto que”. Esta palavra inicia uma nova frase, e a passagem deve ser traduzida como: “Visto que há um só pão, nós que somos muitos somos um só corpo.”

Um pão. Referência ao fato de o pão da comunhão ser partido em muitos pedaços que são comidos pelos crentes. Assim como todos os pedaços vêm do mesmo pão, todos os que participam do serviço de comunhão estão unidos a Ele cujo corpo quebrantado é simbolizado pelo pão partido. Ao participar desse rito, os cristãos mostram publicamente que estão unidos e que pertencem a uma grande família cuja cabeça é Cristo. O pão material é uma das principais fontes de nutrição. Da mesma forma, Cristo é o alimento espiritual do qual todos devem participar a fim de manter a saúde espiritual (ver Jo.6:50-51; Jo.6:56-57). Existem muitos tipos de pão, feitos de diferentes tipos de grãos, como trigo, cevada, centeio e milho. Mas existe apenas um pão espiritual que provê nutrição espiritual. Há apenas um Senhor e Salvador, e o ser humano não pode encontrar o caminho para a vida eterna de outro modo a não ser participando do Pão que desceu do Céu na pessoa de Jesus Cristo (ver Mt.24:5; Mt.24:24; Jo.6:33; Jo.6:53-54; At.4:12; 1Tm.2:5-6).

1Co.10:18 18. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar?

Considerai o Israel. Paulo chama os coríntios a considerar as práticas do povo ao qual Deus tinha favorecido com instruções diretas a respeito do método a ser seguido ao adorar o Senhor.Segundo a carne. Isto é, os israelitas descendentes naturais de Abraão. Os judeus não reconheceram Jesus como o Messias e se desviaram do conselho de Deus. Mesmo assim, permanece o fato de que as leis e disposições relativas aos serviços do templo, dadas pelo Senhor por meio de Moisés aos judeus acampados no Sinai, são uma declaração fidedigna da forma de culto que Deus requeria deles. Esse registro contém diversos princípios de verdade relativos aos cristãos tanto quanto aos judeus, e o ensino da unidade que Deus deseja ver entre Seu povo é um dos mais importantes.

Participantes. Sacerdotes e participantes se tornavam um ao adorar no altar. Esse era o meio visível de comunhão com Deus, e era ali que todos estavam num mesmo nível diante de Deus e compartilhavam da comunhão da família divina. Essa união nos serviços cerimoniais no altar os identificava como membros do povo de Israel, adoradores de Yahweh, o único e verdadeiro Deus.

1Co.10:19 19. Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor?

Que digo, pois? Isto é, qual é o significado daquilo que estava sendo dito? Paulo indaga aos coríntios: Meu raciocínio justifica a crença de que um ídolo de fato existe? A resposta é “não”. Paulo não queria dizer que um ídolo tivesse alguma importância, ou que o alimento oferecido a ele diferia de qualquer outro simplesmente porque tinha sido usado dessa forma. A afirmação de que os ídolos não existem naturalmente levaria à conclusão de que as coisas oferecidas a eles não são nada. Essa dedução é lógica. Mas Paulo estava também advertindo acerca da verdadeira natureza da idolatria (v. 1Co.10:20) para que os crentes não deduzissem que, em alguns casos, podiam participar com os idólatras das festas pagãs sem comprometer princípios cristãos.

1Co.10:20 20. Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios.

Antes. Qual então seria o verdadeiro significado de tudo o que foi dito sobre o perigo de se ter contato com os ídolos e com a adoração a eles? Paulo rejeita a lógica de que a não realidade dos ídolos removeria a objeção à participação no entretenimento nos templos dos ídolos.

Demônios. Do gr, daimonia. Na LXX, daimonia traduz o hebraico elilim (SI.96:5), que significa literalmente, “nada”, e o hebraico shedim (Dt.32:17), “espíritos maus”, “demônios”. No NT, daimonia é usado sempre com referência a espíritos maus (ver Mt.7:22; Mc.1:34; Mc.1:39; 1Tm.4:1; Ef.6:12; ver com. de Mc.1:23; ver Nota Adicional a Marcos 1).

Associados aos demônios. Conhecendo a natureza real do culto aos ídolos, isto é, a comunhão com Satanás e seus anjos, Paulo adverte aos coríntios a deixar a idolatria com urgência. Os cristãos são consagrados a Cristo e pertencem a Ele pela criação e redenção, por isso não devem fazer a mínima concessão a uma forma de culto que honraria a qualquer ser que não fosse o único e verdadeiro Deus (ver Ex.20:3-5; Mt.4:9-10). Do mesmo modo, é errado para os cristãos conceder seu tempo ou afeições a qualquer coisa ou pessoa em vez de a Deus e a Seu serviço. O Senhor deve sempre estar em primeiro lugar, bem como a Sua obra (ver Mt.22:37).

1Co.10:21 21. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.

Não podeis. Os crentes não devem praticar a idolatria, uma vez que sabem de sua real natureza; não se trata de um impedimento físico, mas moral. Como poderiam os que são dedicados ao verdadeiro Deus ser participantes dos sacrifícios a Satanás e sua hoste?

Cálice do Senhor. Referência ao vinho do serviço de comunhão (ver Mt.26:27-28). Esse cálice pertence ao Senhor, foi consagrado a Ele e é a comunhão de Seu sangue. Portanto, todos os que dele participam se colocam em comunhão com o Senhor.

Cálice dos demônios. Ícone das festas em honra a deuses pagãos. Satanás e seus seguidores sempre buscam se opor ao bom e sábio governo de Deus na tentativa de estabelecer a norma do pecado e da rebelião. Não pode haver comunhão ou associação entre esses dois modos de vida. Não pode haver acordo entre Deus e Satanás, verdade e erro, justiça e pecado. Todos são chamados a escolher a quem servir. É impossível ter comunhão com Deus e com Satanás ao mesmo tempo (ver Gn.35:2-4; Js.24:14-16; 1Rs.18:21; Mt.6:24).

1Co.10:22 22. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?

Provocaremos. Os cristãos cheios da luz do evangelho, cientes da natureza do culto aos ídolos, jamais devem correr o risco de provocar a ira do Senhor participando de festividades aos ídolos, jamais devem permitir que seus apetites e paixões sensuais anuviem a razão a ponto de desafiar o Senhor pela complacência com entretenimentos idólatras. A advertência contida no segundo mandamento é suficiente para indicar a atitude de Deus com respeito a idolatria, mostrando que considera esse culto um insulto direto a Si mesmo (ver Ex.20:5). O Senhor é Deus zeloso e não divide a honra e a obediência de Seu povo com nenhum outro poder (ver Ex.20:4-5; Ex.34:12-16; Js.24:19; Mt.6:24). Unir-se ao culto aos ídolos e participar de suas festividades seria tomar parte naquilo a que Deus sempre teve particular aversão, e que, mais do que qualquer outra coisa, provoca-Lhe ira (ver Lv.19:4; Lv.26:30; Dt.18:10-12; 1Co.6:9; Ef.5:5; Ap.21:8; Ap.22:15).

Qualquer coisa que desvie de Deus a afeição do crente e a direcione a outros seres ou coisas é um pecado semelhante ao dos coríntios ao participarem de festividades e entretenimentos dedicados aos ídolos. Qualquer ligação com amigos, propriedade, fama, popularidade ou sucesso material que leve a pessoa a dedicar tempo ou atenção a essas coisas, a tal ponto que a adoração a Deus seja negligenciada, é de natureza idólatra e só merece a reprovação e a ira divina (ver Mt.10:37-39; Lc.14:26).

Zelos. Deus emprega a metáfora do casamento para ilustrar Seu amor à igreja (ver Je.6:2; 2Co.11:2). Os profetas retratam como adultério o ato de se distanciar de Deus para adorar a ídolos (ver Os.4:12-15; Os.8:14; Os.9:1; Os.9:15; Os.9:17). Deus, como marido de Sua igreja, quer que Sua noiva seja exclusivamente dEle, e não Se agrada daquilo que compromete a afeição dela. Certamente, nenhum cristão que de fato ame o Senhor permitirá que alguém ou algo provoque o zelo de Deus. Portanto, nenhum cristão jamais deve se associar a algo de natureza idólatra.

Somos, acaso, mais fortes do que Ele? A forma da pergunta requer uma reposta negativa. Nenhum ser humano pode ter êxito em contender com Deus. Portanto, é extrema tolice envolver-se em qualquer forma de atividade contrária às Suas ordens e esperar escapar do juízo divino. Esse princípio deve ser levado em consideração por aqueles que amam o pecado e continuam a se envolver com ele e que, ao mesmo tempo, professam amar e servir a Deus. Contudo, a certeza do juízo não deve ser o principal motivo do serviço a Deus, mas sim o reconhecimento do amor e da fidelidade dEle (ver Rm.5:8; Rm.8:35; 1Co.10:13).

1Co.10:23 23. Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.

Lícitas. Ver com. de 1Co.6:12.

Convêm. Do gr. sumphero, literalmente, “unir”; se empregado de forma impessoal, como neste caso, o significado é “vantajoso”, “lucrativo”. Embora o cristão possa fazer tudo que não esteja em conflito com a vontade de Deus, algumas vezes não é conveniente que faça determinadas coisas, as quais não servirão para atrair ou “unir” à verdade aqueles que observam seu comportamento. O cristão deve agir de modo a ajudar a outros em seu esforço de viver corretamente. Se determinada conduta “legítima” puder servir de pedra de tropeço no caminho de alguém, então o cristão deve abandonar tal atitude (ver Mt.18:7-10; Rm.14:13; Rm.14:15; 1Co.8:9; 1Jo.2:10). O bem-estar dos demais, em vez da própria conveniência, deve orientar as atitudes do cristão, se deseja fazer o que é correto.

Edificam. Do gr. oikodomeo. Esta palavra explica o que Paulo quis dizer com “convêm”. O comportamento cristão deve ser guiado pelo princípio apresentado neste versículo; a saber, que tudo seja feito para a glória de Deus e para ser uma bênção ao próximo. Quem não segue esse princípio e experimenta tudo o que deseja, contanto que não seja pecado, com frequência prejudica o próximo. As circunstâncias podem tornar errado algo que em si não é pecado. Embora fosse possível afirmar que não era pecado comer alimentos sacrificados a ídolos, havia boas razões para saber que, em determinadas circunstâncias, não se devia comê-los. Nem tudo edifica a igreja e promove os interesses do evangelho. Paulo constantemente buscava o bem-estar da igreja, com o objetivo de salvar as pessoas. Tudo que ajudasse a alcançar esse objetivo era correto e apropriado, e tudo que fosse um obstáculo a isso devia ser evitado. Os que amam ao Senhor estarão ansiosos em fazer tudo que estiver em seu poder para influenciar outros a deixar o pecado e a servir a Deus, e se conduzirão de tal forma que sua influência seja útil em todo tempo.

Também vão comer, vestir-se, conversar e viver de forma a serem capazes de fazer o bem ao máximo de suas possibilidades. Eles podem não ser capazes de citar uma passagem bíblica para condenar determinado procedimento, mas, se percebem que não contribuirá para o bem espiritual de outros, então vão considerá-lo inconveniente (ver Rm.14:21-23; 1Co.6:12).

1Co.10:24 24. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem.

Busque o seu próprio. O crente não deve buscar em primeiro lugar satisfazer seus próprios desejos, prazeres e conveniências. Deve considerar primeiramente o bem-estar de outros. Deve se perguntar: satisfazer meu gosto e minhas inclinações ajuda ou prejudica o próximo? Muitas coisas podem ser permitidas, mas sua prática pode resultar em dano espiritual a outros; portanto, é dever do cristão se abster das mesmas. Quando determinada atitude não é proibida, mas pode influenciar a outros, o cristão deve se guiar não pelo próprio desejo de conforto ou conveniência, mas pela consideração do efeito de sua conduta sobre outros.

O de outrem. Do gr. to tou heterou, literalmente “o que é de outro”. A palavra “interesse” é empregada, neste caso, no sentido de “bem-estar”. O verdadeiro cristão busca ser como o Mestre, que “andou por toda parte, fazendo o bem” (At.10:38). Ele age, não segundo impulsos egoístas, mas pelo espírito de Cristo, que o leva a pôr em prática a regra áurea (ver Mt.7:12; Rm.13:10).

1Co.10:25 25. Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência;

Mercado. Do gr. makellon, do latim macellum, “mercado de carne”. Em Corinto, foram escavadas as ruínas de um grande mercado de carne, com colunata e pequenas lojas ao redor de um pátio pavimentado. Uma laje de mármore construída no pavimento de uma das lojas tem uma inscrição em latim que se refere a um mercado de peixe, usando a palavra macellum, para “mercado”. Talvez esse fosse o “mercado” mencionado aqui. Após os sacrifícios nos templos idólatras, partes dos animais eram vendidas no mercado. Visto que essa carne não era separada das outras à venda no mercado, um cristão podia comprar carne que fora oferecida aos ídolos sem o saber. O conselho do apóstolo é que essa carne poderia ser comprada pelos cristãos.

Por motivo de consciência. Literalmente “devido à consciência” ou “por causa da consciência”. O cristão não tinha necessidade de perguntar ao vendedor se a carne havia sido oferecida a ídolos (ver com. de 1Co.8:7).

1Co.10:26 26. porque do Senhor é a terra e a sua plenitude.

Do Senhor. Citação do Sl.24:1. Essa passagem, mais tarde, foi usada pelos judeus como uma forma comum de dar graças antes da refeição (Shabbath, 119.a, ed. Soncino, Talmude, p. 586). Não se sabe se o costume já existia na época de Paulo, ou se era praticado em Corinto. É Deus quem provê todas as coisas, e Ele não deixa Seus filhos passarem necessidades (ver com. de 1Tm.4:4).

1Co.10:27 27. Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência.

Incrédulos. Isto é, amigos, parentes ou outros que não fossem cristãos.

Para uma refeição (NVI). Estas palavras foram acrescentadas. O contexto deixa claro que o convite é para uma refeição particular, não numa celebração sacrificial num templo pagão. Com frequência cristãos podem receber convites de não cristãos, e não são obrigados a rejeitá-los. Eles têm o exemplo de Cristo, que aceitou a hospitalidade daqueles que não eram discípulos (ver Lc.11:37). O cristianismo não requer que os crentes se tornem ermitões nem que se abstenham do convívio social (ver Rm.12:13; Tt.1:8; Hb.13:2; T2, 645).

Quiserdes ir. Muitas oportunidades podem ser perdidas pela relutância em aceitar convites de não crentes. Em todo lugar, o convite para uma refeição é um gesto de amizade e indica atitude de boa disposição em ouvir o que o convidado tenha a dizer. Essas ocasiões devem ser usadas pelo cristão para testemunhar do Senhor e mostrar às pessoas o amor de Deus e Seu plano para a salvação da humanidade. Jesus aceitava convites com esse objetivo (ver DTN, 150, 151).

De tudo o que for posto diante de vós. Esta frase deve ser interpretada neste contexto. O assunto é se o cristão deve ou não comer carnes sacrificadas a ídolos. É com respeito a isso que Paulo orienta que o convidado deixe de lado seus critérios e compartilhe com alegria do alimento servido. Ele não deve constranger seu anfitrião ou se colocar em situação delicada, indagando se o alimento à mesa foi oferecido a falsos deuses. Porém, essa declaração não permite o uso de alimentos proibidos em outras passagens das Escrituras. A carne não deve ser de animal considerado imundo, conforme a lei de Deus referente às carnes limpas e imundas (Lv.11). Se o alimento se ajusta aos critérios, então pode ser aceito com cortesia e gratidão, sem questionamentos (cf. com. de Rm.14:1). A instrução tem a ver com a pergunta sobre o uso de alimentos oferecidos a ídolos, e nada tem a ver com nutrição e saúde. O cristão saberá usar o discernimento com respeito a alimentos prejudiciais que são um perigo para seu bem-estar físico (ver Rm.12:1-2; 1Co.6:19-20).

1Co.10:28 28. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência;

Alguém. Paulo não identifica a pessoa mencionada. Alguns creem que se trata de um convidado pagão; outros, que se refere a um membro “fraco” (ver com. de Rm.14:1). Em favor da primeira opinião está o fato de que as palavras traduzidas como “sacrificada a ídolo” significam “sacrificada aos deuses”, uma expressão que seria usada pelo pagão, que não chamaria seus deuses de “ídolos”. Em favor da segunda opinião está a observação de que a consciência do pagão dificilmente seria levada em conta (ver 1Co.10:29).

Não comais. A base para a recusa é o efeito desta ação sobre os outros (ver com. dos v. 1Co.10:23-24). Os cristãos não escandalizarão a outros, em especial a um crente.

Consciência. Não há necessidade de se comer o que é questionável. Não há por que apoiar os idólatras usando conscientemente determinado alimento, ou levar outro cristão a comer quando não se compreende o assunto plenamente e há dúvida acerca da legitimidade desse ato. Cristãos que amam a Deus e conhecem Sua lei não escandalizarão a outros de forma deliberada.

Do Senhor (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a omissão da frase “a terra é do Senhor e toda a sua plenitude ". Contudo, ela ocorre no v. 1Co.10:26.

1Co.10:29 29. consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro. Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência alheia?

A do outro. O apelo de Paulo neste versículo se baseia no fato de que o amor cristão não fere de forma consciente e desnecessária os sentimentos alheios, nem cria uma falsa impressão para conduzir outros ao pecado (ver 1Co.13:4-6). O irmão “débil”, que não compreende plenamente o problema, pode censurar e condenar o outro como alguém disposto a se comprometer com idólatras. Sendo esse o caso, por que alguém deveria agir de modo a se expor a tal acusação? Não seria melhor não comer o alimento e, assim, evitar um mal-entendido ou servir de tropeço desnecessário? Os direitos e privilégios devem ser rapidamente deixados de lado para que um irmão não seja prejudicado (ver Rm.15:1-2; 1Co.10:24; 1Co.10:33; 1Co.13:5; Fp.2:4). Os cristãos devem se precaver para que o exercício de sua liberdade não se torne pedra de tropeço no caminho de outros, ou que eles mesmos sejam reprovados.

Minha liberdade. O v. 1Co.10:29 e o 1Co.10:30 podem representar o protesto do irmão amadurecido, a quem Paulo parece mostrar como protestando contra a restrição de suas liberdades (ver com. do v. 1Co.10:30).

1Co.10:30 30. Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser vituperado por causa daquilo por que dou graças?

Com ações de graças. Oração de agradecimento antes das refeições (sobre o contexto da declaração do v. 30, ver com. do v. 1Co.10:29). Se alguém agradece a Deus o que come, e pode fazê-lo sem peso de consciência, por que deveria ser criticado?

Vituperado. Do gr. blasphemeo, “denegrir”, “difamar”.

1Co.10:31 31. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.

Portanto. Para concluir, Paulo apresenta uma regra simples e fácil de se entender, mas profunda e abrangente. De forma consciente e determinada, o cristão deve fazer todas as coisas, mesmo as atividades rotineiras, de forma tal que Deus seja honrado, e não o ser humano. Essa conduta requer dedicação constante de todas as faculdades mentais e físicas ao Senhor, e a entrega diária de todo o ser ao Espírito Santo (ver Pv.18:10; 1Co.15:31; 2Co.4:10; Cl.3:17).

Comais, quer bebais. A aplicação é, em primeiro lugar, ao assunto de se comer e beber aquilo que fez parte do culto aos ídolos, mas o conselho tem uma aplicação geral a comidas e bebidas de todos os tipos. O ser humano tem o poder de escolha, mas o cristão exerce esse poder a todo o tempo de acordo com a vontade de Deus. A saúde deve ser preservada, assim como o caráter (ver T2, 70; Ed, 195). Comida e bebida são de vital importância na preservação da vida. Muitas enfermidades que afligem a humanidade se devem a maus hábitos no comer e no beber (ver CBV, 295; CRA, 122, 123). Deus requer que o cristão cuide de seu corpo e o mantenha limpo para ser templo do Espírito Santo (ver 1Co.6:19-20). Por isso, os cristãos devem aprender como selecionar alimentos e bebidas que não prejudiquem o corpo e promovam a saúde física e mental (ver CRA, 118, 119). Deus assegurou aos antigos israelitas que preservaria a saúde deles se obedecessem às Suas instruções (ver Ex.15:26; Dt.7:12-15; Dt.28:58-61). Ele também fará isso por Seu povo se este seguir Seu conselho e consumir apenas o que está em harmonia com Suas leis (ver Gn.1:29; Gn.3:18; Lv.11:2-31; Ec.10:17; 1Co.10:6; CRA, 121; CBV, 113; DTN, 824; CS, 168). O ideal do cristão é a dieta original provida pelo Criador no Éden (Gn.1:29).

Fazei tudo. A ordem é ampliada a fim de incluir todas as ações e os planos da vida. Os cristãos não têm liberdade de seguir os impulsos naturais não regenerados. Eles têm o dever de colocar todo pensamento, palavra e ação em harmonia com a vontade de Deus revelada (ver Cl.3:17; 1Pe.4:11; AA, 482, 483; T2, 590, 591). A religião de Cristo abrange todos os aspectos da vida física, mental e espiritual. A redenção dada por meio de Cristo é completa e se aplica a todo o ser humano (ver Rm.8:5-9; Rm.8:13-14; 1Co.9:27; Gl.5:16; Gl.5:24; 1Ts.5:23; CS, 67, 68).

Glória. Ou, “honra” (ver com. de Rm.3:23). A principal motivação do cristão para viver em harmonia com as leis divinas deve ser a de glorificar a Deus. Essa motivação surge do amor a Deus e do desejo de agradar ao Criador (ver Jo.14:15; 1Jo.5:3). Todas as energias individuais devem ser empregadas para fazer avançar os interesses do reino de Deus e, assim, honrá-Lo.

1Co.10:32 32. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus,

Não vos torneis causa de tropeço. Os cristãos jamais devem agir de forma a conduzir outros a pecar por meio de sua influência (ver Rm.14:13). Três tipos de pessoas são mencionados, e se adverte a não ofender a nenhuma delas. Esses tipos incluem toda a comunidade em qualquer lugar: judeus, cristãos e pagãos. Os crentes coríntios deviam evitar escandalizar os judeus, mantendo contato com a idolatria, pois os judeus detestavam ídolos e o culto a eles. Os cristãos não deviam fazer nada que levasse os judeus a pensar que eram coniventes ou que aprovavam o culto a ídolos. Fazer isso resultaria em mais preconceitos contra o cristianismo e fortaleceria seus opositores. Por isso, os crentes deviam permanecer longe de todo entretenimento relacionado a ídolos.

Os gentios, isto é, os que não eram judeus nem cristãos, ofereciam culto a ídolos e buscavam se justificar por todos os meios possíveis. Os cristãos não deviam fazer nada que os encorajassem nisso. Muitos membros da igreja de Corinto não estavam totalmente convencidos da verdadeira natureza da idolatria, e os irmãos mais amadurecidos foram advertidos a evitar toda conduta que pudesse confundir esses membros. Esse princípio tem aplicação permanente. Um cristão jamais deve fazer algo que possa escandalizar desnecessariamente alguém, seja judeu, pagão ou outro cristão. Ele deve buscar levar quem não conhece a Deus a reconhecer a bondade, a sabedoria e o amor divinos, cumprindo assim o grande propósito de sua redenção, que é a glória de Deus (ver Is.43:25; Ez.36:22-23; Jo.17:23). O mundo busca paz, mas há somente um caminho seguro para se encontrar a paz real: seguir os conselhos divinos.

1Co.10:33 33. assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.

Agradável a todos. O principal propósito de Paulo era salvar as pessoas, e ele estava preparado para fazer tudo que fosse legítimo para atingir esse objetivo. Portanto, o apóstolo estava determinado a tornar os interesses dos demais superiores aos seus próprios a fim de atraí-los para Cristo. Evitava preconceitos, não insistindo desnecessariamente em seus direitos, nem despertando oposição. O reino de Cristo está baseado em princípios totalmente diferentes daqueles que fundamentam este mundo. Os pensamentos humanos são naturalmente contrários aos de Deus, devido à natureza pecaminosa do ser humano (ver SI.51:5; Rm.8:6-7). É natural das pessoas se exaltar e impor suas próprias idéias e opiniões a despeito dos sentimentos e crenças de outros. Mas o cristão nega o eu, exalta a Cristo e dedica sua vida à salvação de outros (ver Mt.16:25; Mc.8:35; DTN, 550).

Muitos. Paulo não discriminava ninguém, nem buscava o bem apenas de quem seguia suas orientações. Ele se interessava, como todo verdadeiro cristão, na salvação de pessoas de todas as raças e de todos os níveis sociais.

1Co.11:1 1. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.

Imitadores. Do gr. mimetai. A palavra “mímica” vem desta palavra grega. Este versículo é mais apropriado como conclusão do cap. 10 do que como introdução ao cap. 11. Ao dizer aos coríntios que abrissem mão de seus próprios desejos e prazeres pelo bem de outros que não compreendessem corretamente suas motivações, Paulo lhes pede que façam apenas o que ele próprio fez. Ele já lhes tinha mostrado seu próprio exemplo de como deviam se comportar com relação à vontade de Deus e, então, com as palavras deste versículo, finaliza a discussão do assunto de comer carne oferecida a ídolos e participar de festividades idólatras (ver Rm.15:1-3; 1Co.8:13; 1Co.9:12; 1Co.9:19; 1Co.9:22-23).

Como também eu sou. Todo ministro do evangelho de Cristo deve estar apto a pedir que seus ouvintes imitem seu exemplo ao seguir o Mestre. Se não pode fazê-lo, deve esquadrinhar o coração e rogar a Deus para que viva para Ele em todos os aspectos, e não para si mesmo. Paulo fez de Cristo seu padrão e pôde exortar os coríntios a seguir seu exemplo. Cristo é o grande exemplo para todos, e os cristãos deveriam olhar para Ele em busca de direção, e aceitar apenas aquilo que está em completa harmonia com os ensinos e exemplo dEle (ver Mt.16:24).

1Co.11:2 2. De fato, eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei.

Louvo. Paulo elogiava os crentes naquilo que fosse possível (ver Ef.1:15-16; Fp.1:3-5; Cl.1:3-4; 1Ts.1:2-4; 1Ts.1:7-8; 1Ts.2:19-20). Era necessário que Paulo dissesse a eles algumas coisas que não eram aceitáveis. Mas, antes disso, elogiava o que podia. Embora fossem lentos em seguir o comportamento abnegado e conciliador do apóstolo, em geral, os coríntios eram cuidadosos em observar as regras da conduta cristã que tinham aprendido. Porém, é possível que Paulo esteja se referindo a algo em particular que os coríntios tinham escrito na carta, que poderia ser algo assim: “visto que é nosso objetivo seguir tuas instruções, gostaríamos de ter tua opinião sobre o tema do uso do véu nas reuniões públicas”.

Lembrais. Haviam surgido diferenças de opinião entre eles sobre certas práticas na igreja, e concordaram em consultar seu instrutor.

Tradições. Do gr. paradoseis, “regras”, “princípios”, “instruções”, traduzido como “tradições” (Gl.1:14) ou, no singular, “tradição” (Mt.15:2). A palavra significa literalmente “coisas transmitidas”. A ideia de se transmitir algo de uma geração a outra não está necessariamente na palavra. Paulo se refere aos regulamentos que tinha ensinado aos coríntios sobre adoração pública e conduta privada. Ele não pregava o evangelho e, então, deixava as pessoas formularem suas próprias regras para a igreja e a vida social. Em vez disso, fazia a obra completa nas igrejas que estabelecia. Dava instruções que capacitavam os novos cristãos a estarem confiantes de que, na adoração a Deus e na vida cotidiana, estavam vivendo segundo a vontade do Senhor (ver 1Co.4:17; 1Co.7:17; 2Ts.2:15). Ao fazer isso, ele deixava um exemplo a ser seguido por todos os ministros do evangelho. Os recém-convertidos à fé devem ser bem instruídos sobre as atividades da igreja e as questões da vida social e doméstica, a fim de que possam estar seguros de cumprir a vontade do Senhor quanto ao bem-estar deles em todos os aspectos (ver Ev, 337-339).

Entreguei. Do gr. paradidomi, a forma verbal de paradoseis.

1Co.11:3 3. Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo.

Entretanto. Antes de responder ao questionamento sobre o véu, Paulo chama atenção para determinadas considerações que os ajudariam a formar uma opinião correta do assunto.

Cabeça. Aqui, significando “Senhor” ou “mestre”.

Homem. Do gr. aner, homem distinguido de mulher. Apresentam-se três níveis de submissão. O homem deve reconhecer Cristo como seu Senhor e Mestre; a mulher, além de reconhecer a supremacia de Cristo como Senhor, deve reconhecer que na vida doméstica está sob a direção e proteção do marido. Cristo, embora igual ao Pai (ver Nota Adicional a João 1), é representado como reconhecendo Deus como cabeça. Mesmo entre iguais, deve haver uma cabeça. Numa comissão de pessoas do mesmo nível, escolhe-se alguém que as presida. Alguns veem aqui referência à submissão voluntária de Cristo no cumprimento do plano da salvação (ver com. de 1Co.15:25-28). O poder e a dignidade do marido dependem da posição que assume para com Cristo, a cabeça da igreja. Portanto, a dependência da esposa com relação ao marido é, na verdade, sua dependência de Cristo por meio do marido.

A dependência da esposa em relação ao marido foi um plano apontado por Deus para o bem de ambos os cônjuges (ver PP, 58, 59). No entanto, a dependência não implica nenhuma degradação. Assim como a igreja não é desonrada em depender de Cristo (ver Ef.1:18-23; Ef.3:17-19; Ef.4:13; Ef.4:15-16), a mulher não é desonrada ao depender do marido.

1Co.11:4 4. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça.

Todo homem. Nos v. 1Co.11:4-16, Paulo discute a questão do véu em relação aos serviços religiosos. Deve-se lembrar, desde o início, que esta é uma das passagens paulinas às quais podem se aplicar as palavras de Pedro “há certas coisas difíceis de entender” (2Pe.3:16). Em geral, os comentaristas confessam certa perplexidade no esforço para entender o raciocínio de Paulo e na tentativa de descobrir o alcance da aplicação de seus pronunciamentos. Eles parecem concordar que, neste caso, Paulo trata do princípio básico do decoro religioso e do bom gosto, no contexto dos costumes e hábitos da época na qual escreveu e as pessoas às quais escreveu. Sem dúvida, certos aspectos desse princípio básico encontram diversas expressões em diferentes países e podem mudar num mesmo país com o passar do tempo.

O AT fornece várias ilustrações a esse respeito. Quando Moisés foi até a sarça ardente, o Senhor lhe ordenou: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Ex.3:5). Era costume naquela parte do mundo, e ainda o é, mostrar respeito por lugares sagrados tirando os sapatos. Portanto, o Senhor estava requerendo de Moisés que mostrasse reverência pelo lugar sagrado. Contudo, nenhum expositor das Escrituras jamais concluiu que a ordem explícita de Deus a Moisés estabelece um precedente para o culto religioso ao redor do mundo, certamente não em países ocidentais. O princípio da devida reverência ainda permanece, mas o modo de expressá-la pode variar no tempo e no local. Portanto, é possível entender que Paulo, em 1Co.11:4-16, raciocina com os coríntios quanto ao decoro religioso com base nos costumes particulares da época.

Embora fontes antigas não forneçam testemunho inequívoco quanto ao costume de se cobrir a cabeça em Corinto ou em outro lugar, parece evidente que o costume considerava adequado ao homem ficar com a cabeça descoberta, mas impróprio para a mulher. Dizemos “evidente”, pois se não fosse assim, seria impossível que o raciocínio de Paulo fizesse sentido. Então, partindo da premissa plausível de que Paulo lida com a aplicação de um princípio ao costume do país e da época, pode-se considerar suas palavras como literais e significativas sem concluir que sua aplicação específica do princípio requer a mesma aplicação nos dias de hoje. Esta segunda aplicação seria ilógica, visto que desconsideraria a premissa na qual se baseia seu raciocínio: o costume da época. Isso seria o mesmo que remover o fundamento de uma construção enquanto se tenta salvar e usar a estrutura suspensa no ar.

Há ainda outro ponto que pode ser relevante para a consideração de toda a passagem. Paulo proclamava uma liberdade nova e gloriosa no evangelho. Essa proclamação tinha em si as sementes dos princípios cristãos da dignidade e da libertação das mulheres da condição rebaixada a que elas eram submetidas nas culturas pagãs. Ele declarou: “Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). Era fácil que algumas mulheres convertidas ao cristianismo distorcessem e fizessem mal uso de sua liberdade no evangelho para trazer descrédito à igreja. Uma das acusações infundadas e difamatórias contra o cristianismo, à medida que se difundia e suscitava o ódio de muitas pessoas, era de que os cristãos eram imorais.

Na verdade, a acusação já podia estar disseminada nos dias de Paulo. Assim, era muito necessário que os cristãos se abstivéssem de “toda forma de mal” (1Ts.5:22) e recordassem a advertência de Paulo de que, embora determinada conduta fosse legítima, podia não ser conveniente (1Co.6:12). O que segue no comentário sobre 1Co.11:4-16 deve ser entendido à luz dessa declaração geral e introdutória. Assim, evita-se impor às mulheres de diversos países pesadas cargas que não precisam carregar. Por outro lado, desvia-se de fazer com que Paulo pareça retrógrado, e sua mensagem, sem valor para os leitores de outros tempos e lugares.

Que ora ou profetiza. Estes eram aspectos importantes da adoração pública. Na oração, o adorador apresenta a congregação a Deus, em gratidão, petição e intercessão. Quanto à profecia, quem profetiza é o instrumento do Espírito Santo, que transmite a mensagem de Deus à igreja. Este dom se refere aqui à pregação e instrução pública por meio de pessoas inspiradas, pois um profeta é alguém que fala por Deus, sob inspiração do Espírito Santo (ver 1Co.12:10; 1Co.12:29; 1Co.14:1; 1Co.14:4; 1Co.14:22; 1Ts.5:20; 2Pe.1:21).

Tendo a cabeça coberta. Do gr. kata kephales echon, literalmente, “tendo [algo] pendendo desde a cabeça”. Alguns pensam haver aqui alusão à prática que os judeus tinham de usar um lenço de quatro pontas sobre a cabeça ao orar ou falar no culto. Esse lenço, ou tallith, era colocado na cabeça do adorador quando entrava na sinagoga. Porém, não se sabe ao certo se o costume já existia na época de Paulo. O apóstolo não indica que os homens da igreja de Corinto cobrissem a cabeça ao orar ou profetizar. Ele parece se referir a essa situação apenas como um contexto para orientar as mulheres que aparentemente acreditavam ser adequado participar sem véu das atividades espirituais públicas.

Sua própria cabeça. Isto pode se referir tanto a Cristo, que é “a cabeça de todo homem” (v. 1Co.11:3), ou à cabeça literal do homem, que seria desonrada estando coberta. O homem que, como servo do Senhor, se recusa publicamente a demonstrar respeito por Cristo, traz desonra tanto ao Senhor quanto à sua própria cabeça. Corinto era uma cidade grega, e, por consideração ao costume grego, Paulo ensinou que ao adorar a Deus, nessa cidade, os homens deviam seguir o modo usual de mostrar respeito, removendo a cobertura da cabeça na presença de um superior. Os homens não deviam agir como mulheres.

1Co.11:5 5. Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada.

Mulher. Este versículo mostra o contraste que deve ser mantido entre os sexos, à luz dos costumes correntes, ao participarem de atividades na igreja.

Profetiza. Há vários exemplos no AT de mulheres que tinham o dom de profecia (Ex.15:20; Jz.4:4; 2Rs.22:14; Ne.6:14). Também na época do NT havia mulheres que profetizavam (Lc.2:36-37; At.21:9). É possível que as mulheres de Corinto argumentassem que, ao desempenhar suas funções espirituais como oração e profecia, deverIam estar com a cabeça descoberta, como os homens (1Co.11:4). Algumas também podem ter racionalizado que a liberdade do evangelho (ver Gl.3:28) eliminava a obrigação de se observar os sinais de distinção entre os sexos. Paulo expôs os problemas dessa postura.

Sem véu. Do gr. akatakaluptos, literalmente, “sem véu pendendo [da cabeça]”. Era costume das mulheres cobrir a cabeça com véu, como evidência de que eram casadas, e também como modéstia.

Desonra. Visto que as mulheres daquela época não se apresentavam em público com a cabeça descoberta, seria considerado uma desgraça para uma mulher e seu marido se ela aparecesse em público sem o véu, especialmente ao presidir um culto. Uma mulher em Corinto que participasse dos serviços da igreja com a cabeça descoberta daria a impressão de agir de forma vergonhosa e imodesta (ver 1Tm.2:9). Paulo parece ter argumentado que, ao descartar o véu, emblema reconhecido de seu sexo e posição, ela mostra desrespeito pelo marido, pelo pai, pelo sexo feminino em geral e por Cristo.

Rapada. O cabelo curto algumas vezes era a marca de uma mulher de má reputação. Portanto, uma mulher de Corinto que participasse das atividades da igreja com a cabeça descoberta seria considerada no nível de uma mulher vil e sem pudor.

1Co.11:6 6. Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso, que rape o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu.

Que rape o cabelo. Em outras palavras, se uma mulher queria agir como homem, devia, para ser coerente, cortar o cabelo como homem. Mas isso seria considerado um demérito. Sendo assim, devia usar o véu.

1Co.11:7 7. Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem.

Imagem. Referência à condição em que o homem foi criado (ver Gn.1:26-27). O homem que usasse véu ou outra cobertura indicaria servidão ou inferioridade. Seria impróprio adotar esse procedimento. Devia vestir-se de modo a não esconder que era um representante de Deus na Terra.

Glória. Do gr. doxa. Esta palavra originalmente significava “opinião”, “reputação”, “reconhecimento”. Com base em seu emprego na LXX, o significado de “esplendor”, “brilho”, “magnificência”, “caráter” e “atributos que se manifestam” (cf. com. de Jo.1:14; Rm.3:23) foi atribuído a doxa pelos escritores do NT. Nesse caso, a expressão “glória de Deus” parece significar que o homem tem em si mesmo uma semelhança do esplendor, grandeza e caráter de Deus, contanto que administre as questões em sua esfera designada, em harmonia com os princípios divinos. Aqui temos um vislumbre da grande responsabilidade à qual Deus chamou o homem. Deus o colocou como cabeça da terra recém-criada, e lhe deu “domínio [...] sobre toda a terra” (Gn.1:26).

Assim, era propósito de Deus revelar, por meio do homem, Seu cuidado paterno sábio e amoroso perante o universo (ver CPPE, 33; PP, 45). Mesmo após a queda do homem e a consequente perda desse domínio, Deus planejou que o homem tivesse a responsabilidade de liderar as questões do lar (ver Gn.3:16; PP, 58, 59). Não há indicação na Bíblia de que essa ordem de coisas tenha mudado desde então, mas parece que algumas mulheres na igreja de Corinto tentavam mudá-la.

Glória do homem. No caso da mulher, usa-se somente a palavra “glória”. Omite-se a palavra “imagem”, embora ela também tenha sido criada à imagem de Deus (ver v. Gn.1:27). Aqui se fala da relação entre homem e mulher, não a relação dela com Deus. Mediante a aceitação do plano de Deus para a família humana, a mulher reflete a glória de seu marido e, por meio dele, a glória de Deus, que fez tão sábia provisão para a humanidade (ver T3, 483, 484). A mulher foi feita do homem, sendo ossos de seus ossos e carne de sua carne. Portanto, em certo sentido, a beleza e pureza feminina refletem a dignidade e a honra do homem (ver Gn.2:22-23). Paulo parece, então, dizer que essa relação devia ser mantida e demonstrada na igreja em Corinto, com as mulheres se apresentando em público com a cabeça coberta pelo costumeiro véu.

1Co.11:8 8. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem.

Da mulher. Deus criou Adão primeiro e depois Eva, para ser sua companhia (Gn.2:20-23). A criação de Adão foi independente, mas não a da mulher. Ela foi feita do homem e reconhecida por ele como parte de si mesmo (ver Gn.2:23). Parte da glória do homem é que a mulher foi criada de sua carne e de seus ossos, especialmente para ele, não para ser independente dele, nem para ter autoridade sobre ele, mas para estar ao seu lado como “auxiliadora”.

1Co.11:9 9. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem.

Por causa do homem. Este versículo é paralelo ao v. 1Co.11:8 e uma reafirmação do que é dito ali. O registro da criação de Adão e Eva mostra que a mulher foi criada para completar o homem. Sem Eva, Adão não tinha ninguém de sua espécie com quem pudesse conversar e compartilhar experiências, então Deus satisfez essa necessidade criando a mulher. Ela foi feita para a felicidade e conforto do homem; não devia ser uma escrava, mas uma companheira. Não devia ser considerada inferior, mas amiga do homem e seu consolo na vida para dividir as tristezas e aumentar as alegrias. Contudo, em especial após a queda, ela devia estar subordinada a ele (ver Gn.2:18-22; Gn.3:16; Ef.5:22-25; Ef.5:33; 1Pe.3:5-7). O marido deve ser cabeça da família e governante do lar; a esposa deve ajudá-lo em seus deveres, confortá-lo em suas aflições e compartilhar seus prazeres. Sua posição é honrosa e, em alguns aspectos, mais honrosa por ser subordinada. Por causa de sua dependência, ela tem prioridade do cuidado e da proteção do marido.

1Co.11:10 10. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade.

Causa. Isto é, por causa do propósito de Deus expresso na criação da mulher e da clara ordem sobre sua posição com relação ao marido, a mulher deve cumprir com o costume de usar véu em público (ver Gn.2:18; Gn.3:16; 1Co.14:34; Ef.5:22-24; 1Tm.2:11-12; Tt.2:5; 1Pe.3:1; 1Pe.3:5-6).

Dos anjos. Esta frase é entendida de diferentes maneiras. Dentre as interpretações fantásticas estão: (1) os anjos representam anciãos ou bispos que presidem a igreja; (2) os anjos representam os espias que se supunha estar presentes nas reuniões dos cristãos e que dariam relatórios desfavoráveis se vissem as mulheres sem o véu em tais reuniões; e (3) os anjos representam anjos maus que seriam tentados pela beleza das mulheres sem véu. A explicação mais simples é que Paulo se refere aos anjos bons presentes nas reuniões religiosas públicas e diante de quem as mulheres devem se conduzir com devido decoro. Os anjos, que possuem uma compreensão exaltada da majestade e grandeza de Deus, velam sua face em respeito quando falam Seu nome (ver OE, 178).

Qualquer manifestação de irreverência ou desrespeito em reuniões cristãs de adoração não só seria um insulto ao Criador, mas também ofenderia os anjos. Os anjos têm prazer em honrar a Deus e fazer Sua vontade, em reconhecimento de Sua glória (SI.103:20; Is.6:2-3; Ap.4:8). Os seres humanos precisam ter um senso muito elevado da santidade e da grandeza de Deus, aproximando-se dEle com reverência e fazendo tudo em harmonia à Sua vontade (ver SI.29:1-2). Se as mulheres tinham de cumprir com o costume sobre o sinal de sua posição subordinada por temor de ofender os anjos, deviam temer ainda mais ofender Aquele a quem todas as criaturas, até os anjos, estão sujeitas.

Autoridade. Do gr. exousia. É provável que isso se refira ao sinal da autoridade do marido, o véu, que as mulheres usavam como reconhecimento público de sua posição sob a autoridade do marido. Aceitar de boa vontade esse costume era um privilégio honrado, indicando que a mulher tinha posição de respeito na comunidade, pois ela “pertencia” a alguém, e podia reclamar apoio e proteção deste sob cuja “autoridade” vivia.

1Co.11:11 11. No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher.

No Senhor. Esta relação entre homem e mulher está de acordo com o desígnio e a direção do Senhor. É intenção e ordem de Deus que dependam um do outro, vivam em mútua consideração e promovam o bem-estar e a felicidade um do outro. Cada um é necessário ao bem-estar do outro, e esse fato deve ser reconhecido na relação. O homem não pode existir sem a mulher, nem a mulher sem o homem. Um é incompleto sem o outro. Isso devia ser motivo suficiente para evitar a jactância por parte do homem.

Todavia. Nos v. 1Co.11-12, Paulo procura se guardar de possível mal-entendido do que afirmou nos v. 1Co.11:7-10. Devem-se evitar todas as tentativas de o homem se exaltar acima das mulheres, bem como toda inclinação da parte das mulheres de se considerarem inferiores. Na vida cristã, os representantes de ambos os sexos são mutuamente dependentes. Ao afirmar a supremacia do homem e a maneira como essa supremacia deve ser sinalizada, mesmo na adoração pública, Paulo não quis dizer que o homem é independente da mulher. O homem e a mulher se complementam. A igreja não é uma comunidade apenas de homens, mas também de mulheres, que junto com os homens são membros de Cristo em quem não há “nem homem nem mulher” (Cl.3:28).

Nem homem nem mulher está sozinho, ambos estão essencialmente juntos e dependem um do outro. Essa dependência mútua deve ser enfatizada a fim de que o homem não assuma demasiada superioridade e venha a considerar que a mulher foi feita apenas para seu prazer. O homem não deve tratar a mulher como inferior nem lhe faltar com o devido respeito.

1Co.11:12 12. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus.

Do homem. Referência à origem da mulher, tomada da costela do homem para ser sua auxiliadora, sua companheira, sua igual (ver Gn.2:18; Gn.2:21-22). Antes da desobediência às ordens de Deus, que resultou na degradação de toda a Terra, era plano de Deus que a mulher tivesse plena igualdade com o homem. Mas o pecado mudou essa situação, e a mulher foi posta em subordinação ao homem (ver Gn.3:16; PP, 46, 58, 59).

Da mulher. O primeiro homem, Adão, passou a existir por um ato criador direto da parte de Deus, no qual a mulher não teve parte. Mas todos os seres humanos, seja homem ou mulher, dependem de uma mulher para nascer. Deus escolheu usar esse método para a reprodução da raça. Esse fato deve fazer com que o homem considere com respeito e reverência o processo da reprodução humana. Nesse processo, tanto o homem como a mulher são usados por Deus para trazer à existência outro ser a quem o Senhor dedicará afeição, e que pode ter a oportunidade de ser contado entre aqueles que recebem o dom da vida eterna (ver Gn.1:28; Gn.9:1; Gn.9:7; Jo.3:16; 1Jo.5:11; 2Tm.4:8).

De Deus. Tudo no universo foi criado e planejado por Deus e existe para Sua glória (ver Is.43:7; Ap.4:11). O pecado interferiu no plano original de Deus, e o ser humano perdeu a beleza e a perfeição da forma e do caráter que recebeu na criação (ver Gn.1:26-27; PP, 64, 65). O plano de salvação busca restaurar o ser humano à sua perfeição original (Mq.4:8; PP, 68). Sabendo que a mão de Deus está sobre tudo e que cumpre Seu propósito no mundo, tanto o homem quanto a mulher devem reprimir qualquer tendência a expressar queixas ou insatisfação com a maneira como Deus dispõe as coisas. A mulher, reconhecendo a direção, a sabedoria e o amor de Deus, se contenta com a posição que Deus lhe atribuiu. O homem confessa humildemente que a presente condição imperfeita das coisas na Terra é resultado do pecado, e não assume falsa superioridade. Ambos entendem que Deus é a fonte de tudo, da existência da mulher a partir do homem, e do homem por meio da mulher. Essa aceitação inteligente e voluntária do plano ordenado por Deus ajuda marido e esposa a alcançar o ideal de uma união indissolúvel ilustrada pela união de Cristo com a igreja (ver Gn.2:24; Ef.5:22; Ef.5:33).

1Co.11:13 13. Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu?

Vós mesmos. Após discutir o plano divino sobre a relação entre o homem e a mulher em relação à liderança, Paulo levanta outra vez a questão da mulher participar do culto público com ou sem o véu. Os crentes devem consultar suas convicções interiores e não considerar nenhuma autoridade externa pela qual suas ideias possam ser influenciadas.

Próprio. Do gr. prepon, “apropriado”, “correto”. Mesmo que não fosse o costume do país, as mulheres deviam usar o véu ao participar de cultos públicos, pois esse momento de solenidade o exigia. Se não o fizessem, poderiam desviar a atenção de outros adoradores. Além disso, criaria uma impressão errada na mente de um pagão que testemunhasse o culto.

1Co.11:14 14. Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso para o homem usar cabelo comprido?

Natureza. Neste caso, o termo indica a ordem natural das coisas, o que em geral é aceito pelas pessoas, o costume prevalecente. Na época de Paulo, era costume para um judeu, grego e romano usar cabelo curto. Entre os israelitas se considerava vergonhoso que um homem tivesse cabelo comprido, com exceção daquele que tivesse feito voto de nazireu (ver Nm.6:1-5; Jz.13:5; Jz.16:17; 1Sm.1:11; ver com. de Nm.6:2).

1Co.11:15 15. E que, tratando-se da mulher, é para ela uma glória? Pois o cabelo lhe foi dado em lugar de mantilha.

Glória. Paulo argumenta que a natureza (ver com. do v. 1Co.11:14) leva as pessoas a reconhecer que o cabelo comprido é um ornamento para a mulher, e o cabelo curto é adequado ao homem.

Mantilha. Do gr. peribolaion, literalmente, “o que se põe ao redor”. Paulo não quer dizer que a mulher de cabelo longo pode dispensar o véu. O v. 1Co.11:6 mostra que a mulher sem véu tem cabelo longo, que deve ser cortado se ela deseja dispensar o véu. Ele parece considerar que o cabelo longo não substitui o véu.

1Co.11:16 16. Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.

Quer ser. Ou, “deseja ser”.

Contencioso. Do gr. philoneikos, “que gosta de brigas”. Depois de tudo o que foi dito sobre o assunto, era possível que ainda houvesse alguém na igreja de Corinto que sentisse ter o direito de se opor à instrução de que as mulheres deviam usar o véu, e pudesse desejar impor seu ensinamento à igreja, contrariamente ao conselho de Paulo. Tal pessoa devia compreender que Deus conduz a igreja como um todo, e não indivíduos isolados. A opinião pessoal deve se submeter à voz da igreja à medida que o corpo de crentes avança de acordo com as instruções do Senhor (ver TM, 30, 476; T5, 534, 535; T4, 239, 256, 257; T9, 257, 258). Isso não elimina a necessidade de estudo individual e investigação da verdade. Do contrário, os crentes são advertidos a examinar as Escrituras e se preparar para testemunhar da verdade. Mas se alguém mantém uma opinião que não está em harmonia com a Bíblia, deve renunciar a ela, sabendo que não pode haver luz em nenhuma ideia ou crença que conflite com a Palavra de Deus (ver Is.8:20; Jo.5:39; 2Tm.2:15).

Nós. Isto é, os apóstolos, os líderes da igreja apontados por Deus.

Não temos tal costume. Os apóstolos não ensinavam nem aprovavam que as mulheres devessem participar da adoração pública sem o véu. O fato de que, nas igrejas cristãs em toda parte, em especial na Judeia, as mulheres não participavam dos serviços com a cabeça descoberta devia ter sugerido às mulheres de Corinto o que deveriam fazer. O não cumprimento da regra aceita nas igrejas de outros lugares seria motivo de má compreensão e ofensa. A opinião e a conduta do grande corpo de crentes deviam ser respeitadas e não criticadas por membros com opiniões próprias e equivocadas da igreja de Corinto. Eis um princípio verdadeiro: um indivíduo ou alguns indivíduos não devem crer que suas ideias são superiores à opinião geral da igreja como um todo, nem procurar impor essas ideias à maioria, sem considerar os ensinos das Escrituras e a prática aceita pela igreja (ver At.15:5-6; At.15:22-29; T9, 260, 261).

1Co.11:17 17. Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior.

Nisto. O pronome se refere ao que se segue, isto é, a conduta correta que se deve ter na instituição sagrada da Ceia do Senhor.

Não vos louvo. Tendo em vista que não mantinham o decoro adequado na adoração, principalmente com respeito ao modo de observar a Ceia do Senhor, Paulo não podia elogiá-los. A contenda na igreja indicava a presença de um grupo que desejava ter um grau mais elevado de liberdade do que a que era possível dentro das provisões que Deus tinha feito para Seu povo. Lutar para manter uma opinião pessoal, que com frequência tem suas raízes no orgulho, se assemelha ao espírito de Satanás, que causou guerra no Céu a fim de tentar provar que estava certo, e Deus, errado (ver Is.14:12-15; Ap.12:7-10).

Não para melhor. O propósito das reuniões regulares dos crentes é o fortalecimento espiritual e o encorajamento dos participantes a enfrentar a batalha da vida com mais fé e esperança. Longe de louvar seu comportamento e a forma de observar os ritos da casa do Senhor, o apóstolo achou necessário repreendê-los. Primeiramente, declarou de forma categórica que suas reuniões não produziam bons resultados, mas ruins. Em seguida, ampliou essa afirmação e mostrou como tinham permitido que práticas errôneas privassem o serviço da comunhão de sua santidade e inspiração adequadas.

1Co.11:18 18. Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio.

Antes de tudo. Paulo já tinha lidado com discórdias e facções na igreja de Corinto resultantes de diferenças de crenças e práticas (ver 1Co.1:10-12). Neste caso, ele pode ter se referido ao hábito de congregar em vários grupos separados para celebrar a Ceia do Senhor. Essa separação em grupos era a primeira coisa a ser reprovada. Nos cap. 12 e 14 ele trata da segunda questão que precisava ser corrigida, isto é, um mal-entendido da natureza e do propósito dos diferentes dons espirituais.

Estou informado. Literalmente, “estou ouvindo” ou “continuo ouvindo”. Sem dúvida, Paulo recebia relatórios contínuos e se preocupava muito com as igrejas que tinha ajudado a estabelecer. Tudo o que perturbasse o funcionamento delas era motivo de angústia para ele (ver Gl.3:1; Gl.4:19; Fp.1:7-8; Cl.1:24).

Divisões. Do gr. schismata (ver com. de 1Co.1:10). O espírito de união e harmonia que devia prevalecer nas reuniões dos santos estava ausente.

Igreja. Do gr. ekklesia, “reunião”, “assembléia”. Ekklesia não significa o edifício da igreja, mas seus membros.

Em parte. A crítica sobre o comportamento dos coríntios a esse respeito foi suavizada com esta expressão, o que indica que Paulo tinha muita estima por eles para dar crédito a tudo que tinha ouvido sobre a condição deles.

1Co.11:19 19. Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio.

Partidos. Do gr. haireseis, singular hairesis. Originalmente hairesis significava “escolher”, “escolha”, então “o que é escolhido”, “opinião”. Mais tarde, veio a significar um grupo de pessoas que defendia uma opinião particular, uma seita, um partido. Neste caso, é provável que a palavra não seja usada num tom negativo, e sim para referir a opiniões diferentes. Quando indivíduos de diferentes origens se associam em companheirismo cristão, é inevitável que existam diferentes níveis de compreensão da verdade do evangelho. Essas diferenças provocam discussões que podem ter efeitos saudáveis e não precisam levar a divisões.

Os aprovados. Isto é, os que estão dispostos a obedecer a Deus e a cooperar com Ele. Divisões na igreja revelam os revoltosos, ambiciosos e insatisfeitos, os que não estão dispostos a ser guiados pelo Espírito Santo, mas que buscam fazer a própria vontade. Esses não estão preparados para abandonar suas próprias opiniões em nome da paz e da harmonia na igreja. Pessoas desse tipo devem ser evitadas (ver com. de Rm.16:17). Por outro lado, existem os que reconhecem sua pecaminosidade natural e não se dispõem a confiar nas próprias opiniões, percebendo o perigo de ser influenciados por impulsos, desejos e inclinações do coração natural.

Esses se declaram a favor do cumprimento, com satisfação e de forma pacífica, de todas as instruções de Deus (ver Rm.8:14; Gl.5:16-17; Gl.5:19-26). Durante os eventos que abalarão o mundo pouco antes do final da história da Terra, quando todos terão que demonstrar de que lado estão, muitos, cuja fidelidade à verdade passou quase despercebida, brilharão como estrelas numa noite escura (ver T5, 80, 81).

Para que [...] se tornem conhecidos. A presença na igreja de Corinto de alguns em desarmonia com o evangelho tornava necessário que os problemas fossem tratados publicamente a fim de que os crentes fossem estimulados a buscar o conhecimento da vontade de Deus. Isso faria com que se descobrissem aqueles que se recusavam a ser guiados pelo Espírito Santo (ver Lc.2:34-35; 1Jo.2:18-19). Assim, a presença de diferenças doutrinárias e de opiniões diversas relativas ao correto de procedimento na igreja e na sociedade serviu como um meio de peneirar a igreja e separar o joio do trigo.

1Co.11:20 20. Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis.

Reunis. Isto é, para celebrar a ceia do Senhor.

Não é [...] que comeis. Quaisquer que fossem as intenções dos crentes, não era possível naquelas circunstâncias observar o serviço sagrado da comunhão. Eles se reuniam para uma ceia, mas não para a Ceia do Senhor, isso não se devia à falta de recursos, mas à falta do ambiente espiritual necessário e do discernimento para que apreciassem a importância da celebração. Os coríntios não deviam continuar achando que as práticas permitidas entre eles, nessas ocasiões, eram coerentes com a celebração da Ceia do Senhor. Cobiça, egoísmo e intemperança se opõem por completo ao espírito de Cristo, que deixou as alegrias do Céu para dar tudo que tinha pela salvação dos pecadores (ver 1Co.11:21-22; Jo.3:16; Fp.2:6-8).

Ceia do Senhor. Do gr. kuriakon deipnon, literalmente, “uma ceia que pertence ao Senhor”, que pode significar uma ceia consagrada ao Senhor ou instituída por Ele, ou ambas. Os cristãos apostólicos tinham o costume de celebrar antes da Ceia do Senhor o que chamavam de refeição da amizade, ou agapê. Assim, todo o evento constituía a comemoração da última ceia da Páscoa, em que Cristo instituiu o rito da Ceia do Senhor (ver Mt.26:17-21; Mt.26:26-28; 1Co.11:23-26). Na refeição da amizade, cada membro trazia um prato especial a ser compartilhado com todos os demais. Assim, a igreja demonstrava companheirismo, amor e fraternidade sem distinção de casta ou classe. Essa refeição, seguida pela Ceia do Senhor, mostrava que não havia parcialidade entre eles e que todos compartilhavam das provisões que Deus faz para Seu povo, tanto materiais quanto espirituais. Esse costume continuou até o final do 4º século, quando, por causa do crescimento da igreja e do tamanho das congregações, foi necessário separar as refeições da amizade da Ceia do Senhor (ver p. 31, 32).

1Co.11:21 21. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague.

Sua própria ceia. Por causa das divisões e facções na igreja de Corinto, o espírito de amor e comunhão que caracteriza os verdadeiros seguidores de Jesus tinha quase desaparecido. Essa situação negativa se revelava na celebração da refeição que, se supunha, devia ser a Ceia do Senhor, em que cada participante trazia seu alimento e o comia, sem compartilhar com os outros. Os ricos tinham em abundância e, com frequência, os pobres nada tinham. A Ceia, que tinha sido instituída para comemorar a suprema demonstração de amor, tornou-se uma mera refeição particular, algo sem significado ou importância, que cada um poderia fazer em casa. Essa atitude desacreditou a sagrada ordenança da Ceia do Senhor. As separações na igreja foram em grande parte responsáveis por essa condição, e é possível que membros de diferentes partidos comessem separadamente por causa do orgulho, recusando a humildade que deve caracterizar o companheirismo em volta da mesa do Senhor.

Fome. O crente pobre, confiando na caridade de seus irmãos mais afortunados, vinha à refeição crendo que sua necessidade seria satisfeita, mas era desapontado pelo egoísmo e orgulho dos demais.

Embriague. Do gr. methuo, “estar intoxicado”. Esta palavra se refere ao consumo excessivo de bebidas inebriantes a ponto de se perder o autocontrole. Paulo sugere que os coríntios comiam e bebiam em excesso nessas refeições; e, como resultado, a Ceia do Senhor se tornava numa falsa celebração. Pode parecer surpreendente que cristãos que viveram nos dias dos apóstolos e que foram instruídos por Paulo pervertessem a natureza e o propósito da Ceia do Senhor a ponto de torná-la uma cópia de seus antigos entretenimentos pagãos. Os coríntios tinham abandonado o paganismo fazia pouco tempo. Estavam acostumados a participar de festas em honra aos falsos deuses, e era relativamente fácil para eles imaginar que a Ceia do Senhor pudesse ser celebrada de maneira semelhante.

As divisões e as contendas que maculavam a experiência espiritual deles prejudicavam o discernimento e os levava a corromper a observância do rito. Essa experiência dos crentes de Corinto mostra que novos cristãos precisam de instrução cuidadosa e prolongada, de liderança sábia e compreensiva e de supervisão até estarem enraizados nas verdades fundamentais do evangelho. A indulgência com crenças e práticas não cristãs sempre resulta no distanciamento da pureza e da simplicidade do evangelho (ver Dt.7:1-4; Dt.18:9-14; 2Co.6:14-17).

1Co.11:22 22. Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo.

Não tendes, porventura, casas[...]? Se eles se reuniam apenas para comer o alimento e tomar a bebida que levavam individualmente, então podiam fazer isso em suas casas e evitar desonrar a causa de Deus.

Menosprezais. Paulo afirma que eles pouco pensavam na prática geral das igrejas cristãs em outros lugares e, por isso, colocavam de lado os princípios, a fim de satisfazer o orgulho das facções e os apetites egoístas.

Nada têm. A pobreza dos necessitados se tornava ainda mais evidente pela maneira insensível com que muitos dos membros da igreja agiam nas cerimônias de comunhão. Não ajudar o pobre não só atraía atenção para sua condição de carência, mas também revelava que os que agiam dessa maneira estavam despreparados para participar do rito. O fato de eles terem perdido de vista a natureza santa da Ceia do Senhor, praticando glutonaria e negligenciando o pobre, mereceu a mais severa repreensão. Isso mostrava que os que agiram desse modo estavam desprovidos do espírito de Cristo, que a todos ama igualmente e considera os desafortunados de Seu rebanho (ver Lv.19:10; Sl.41:1; Sl.72:4; Sl.132:15; Pv.14:21; Is.14:32; Is.58:7; Mt.26:11; Lc.14:13; Tg.2:5). Desprezar e ignorar os pobres é considerado pelo Senhor como maus-tratos a Ele próprio. Os que tratam os pobres dessa maneira estão equivocados quanto aos princípios do reino de Deus (ver Mt.25:40-46; T2, 24-29, 34-37). Ajudar os pobres, doentes e anciãos é pôr em prática os princípios do cristianismo.

Não vos louvo. Embora procurasse um motivo para elogiar os coríntios, o apóstolo não encontrou nada de bom em relação ao modo como observavam o rito sagrado. Pelo contrário, havia muitas coisas a censurar. A situação exigia a explicação do propósito da Ceia do Senhor, descrito nos v. 1Co.11:23-30.

1Co.11:23 23. Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;

Recebi do Senhor. Paulo não estava presente quando Cristo instituiu a Ceia. Porém, ele tinha sido instruído sobre o rito não apenas por outros apóstolos ou por meio da tradição, mas diretamente pelo próprio Salvador, durante as revelações que recebeu (ver 2Co.12:7; Gl.1:12).

Entreguei. Paulo fielmente transmitira aos coríntios o que o Senhor tinha revelado a ele quanto à maneira como se devia observar a Ceia. Tendo em vista a falta de percepção da importância do rito, que resultou nos erros mencionados, Paulo apresentou as solenes circunstâncias em que Jesus e os discípulos o observaram pela primeira vez no cenáculo, em Jerusalém (ver Lc.22:13-14).

Traído. Literalmente, “estava sendo traído”. O complô para a traição de Cristo estava em andamento, e ainda não tinha se efetuado. No momento em que Jesus dava as instruções para que se observasse o memorial de Sua morte, Seus inimigos colocavam em ação o plano para prendê-Lo. A solenidade e o sentimento da santa Ceia contrastavam com a atitude descuidada e leviana dos coríntios nas refeições da amizade. A traição pela qual Cristo passou foi uma das mais amargas experiências. É difícil suportar perseguição de inimigos declarados, mas isso não causa a mesma angústia mental que a traição ou o abandono por parte de amigos em quem se confia (ver Jó.19:21; SI.38:11; Zc.13:6; Jo.13:21; Jo.13:26-27; Jo.13:30; DTN, 655).

Ao relembrar à igreja de Corinto os eventos daquela noite de sofrimento, Paulo procurou incutir neles a solenidade do rito e, desse modo, ensinar-lhes que era inadequado que o celebrassem com glutonaria, embriaguez e orgulho. A fim de apreciar o significado do rito, era necessário meditar nos eventos que marcaram sua instituição. Um desses eventos, cuja recordação tem o objetivo de despertar simpatia pelo Salvador, é o ter sido traído por alguém que se dizia Seu amigo (ver SI.41:9).

Tomou o pão. O pão que havia sido preparado para a ceia pascal (ver com. de Mt.26:26).

1Co.11:24 24. e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.

Tendo dado graças. Do gr. eucharisteo, “dar graças”, do qual deriva a palavra “eucaristia”. O termo “eucaristia” é aplicado por alguns teólogos à Ceia do Senhor como um sacrifício de gratidão por todos os dons de Deus. Alguns dos pais da igreja, no 2º século, aplicavam a palavra ao pão e ao vinho usado no rito. No relato da instituição do rito, Marcos usa a palavra eulogeo, “louvar” ou “abençoar”; em Mateus, a evidência textual (cf. p. xvi) favorece eulogeo, mas em Lucas se usa também eucharisteo (ver Mt.26:26; Mc.14:22; Lc.22:19). As palavras possuem significado semelhante e, no contexto, transmitem a idéia de consagrar o pão por meio da ação de graças pelo amor e a misericórdia de Deus.

Partiu. Jesus partiu o que, daquela hora em diante “até que Ele venha” (v. 1Co.11:26) seria um símbolo de tudo o que Seu sofrimento expiatório significa para a raça humana. O ato de partir o pão indicava o sofrimento pelo qual estava prestes a passar em nosso favor.

Isto é o Meu corpo. Sobre esta figura de linguagem, ver com. de Mt.26:26. O significado espiritual de compartilhar do pão deve ser compreendido a partir do contexto do estado original de perfeição do homem, sua queda e sua redenção por meio de Jesus Cristo. O homem foi originalmente criado à imagem de Deus, tanto na forma quanto no caráter; sua mente estava em harmonia com a mente de Deus (ver Gn.1:26-27; PP, 45). Ele mantinha comunhão com Deus e com os anjos e se alimentava do fruto da árvore da vida (ver Gn.2:15-16; PP, 47, 50). Mas, ao pecar, tudo isso mudou. Ele perdeu o privilégio da comunhão com Deus, e em vez de estar em harmonia com a mente divina, sua mente se perverteu, e o temor tomou o lugar do amor (ver Gn.3:8; Gn.3:10; Gn.3:12; Is.59:2; Je.17:9).

Deixado a si mesmo, o ser humano não pode encontrar o caminho de volta para Deus e para a felicidade; não pode escapar das garras de Satanás, e está destinado à morte eterna (ver Je.13:23; PP, 62). Em sua infinita misericórdia, Deus Se revelou ao mundo por meio de Seu Filho e possibilitou a restauração de Sua imagem no ser humano (ver SI.2:7; Sl.2:12; Sl.40:7; Jo.14:9-11; 2Co.5:19). Em Sua sabedoria, o Pai escolheu falar à humanidade por meio do Filho, por isso o Filho é chamado de o Verbo de Deus (ver Jo.1:1-3; Jo.1:14; DTN, 19, 22, 23). É por meio do estudo e da assimilação da Palavra de Deus que os crentes mantêm comunhão com o Céu e podem ter vida espiritual. A assimilação de Suas palavras é descrita por Jesus de forma simbólica no ato de comer o pão, Seu corpo, e beber do vinho, Seu sangue (ver Jo.6:47-48; Jo.6:51; Jo.6:54-58; Jo.6:63; DTN, 660, 661).

O pão partido da Ceia significa a maravilhosa verdade de que, assim como o ser humano obtém vida física de Deus, que é a fonte da vida, também o pecador arrependido obtém vida espiritual de Jesus, a Palavra de Deus. O alimento material é provido a todos pelo poder e pela graça de Deus. O alimento físico assimilado pelo corpo é transformado por meio da digestão em tecidos do cérebro, músculo, nervo e osso; e torna-se a pessoa em si. Assim, o ser humano, fisicamente, é aquilo que come. Da mesma forma, aqueles que assimilam a Palavra de Deus e vivem em conformidade com ela pelo poder de Deus são transformados. O rebelde que vivia em contínua oposição a Deus e, portanto, buscava os próprios interesses, se transforma num filho de Deus obediente, cujo propósito é refletir a imagem de seu Criador (ver DTN, 660). Essa experiência preciosa é possível ao ser humano somente mediante o sacrifício de Cristo.

É dado. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão deste verbo.

Em memória de Mim. Esta frase indica que Cristo não estaria presente quando os discípulos comessem a Ceia posteriormente. A fim de incutir nos seres humanos a natureza terrível da desobediência, Deus ordenou aos hebreus o sacrifício de animais. Mas os sacrifícios não podiam, por si só, mudar o caráter do pecador que fazia o sacrifício; podiam apenas apontar-lhe o Redentor que viria e que faria, com Seu próprio corpo, o grande sacrifício pelo qual o ser humano pudesse se reconciliar com Deus. A Ceia do Senhor, que substituiu a Páscoa como memorial do livramento da escravidão do Egito, foi dada não como um sacrifício, mas para relembrar ao cristão de forma vívida tudo que foi alcançado para ele pelo único e grande sacrifício do Filho de Deus (ver Hb.9:25-28; Hb.10:3-12; Hb.10:14).

O sacrifício de Cristo foi perfeito; portanto, foi oferecido apenas uma vez. Mas, para torná-lo eficaz a todos que buscam o perdão do pecado, Jesus tornou-Se o sumo sacerdote no Céu depois da ascensão. Ali, apresenta os méritos do sacrifício de Seu próprio corpo em favor dos pecadores arrependidos, “até que Ele venha” (1Co.11:26; Hb.4:14-16; Hb.7:24-25; Hb.8:1; Hb.8:6; Hb.9:11-12; Hb.9:14; Hb.9:24). Assim como o Salvador ministra em nosso favor no Céu, diante do Pai pelos méritos de Seu sacrifício, Ele exorta Seu povo na Terra a observar o rito que mantém diante deles o mistério da expiação.

1Co.11:25 25. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.

Por semelhante modo. Isto é, com a mesma solenidade e propósito, e para ensinar a mesma grande verdade. Estas palavras também indicam que o Senhor deu graças antes de convidar os discípulos a beberem do vinho (ver Mt.26:27; Mc.14:23; Lc.22:17).

Depois de haver ceado. É impossível determinar em que ponto no ritual da Páscoa o novo rito foi introduzido (ver com. de Jo.13:2). Era para ser um rito completamente novo, não uma continuidade da celebração pascal, cujo significado veio ao fim quando Cristo morreu.

O cálice. O vinho da Páscoa não fermentado (ver com. de Mt.26:27).

Aliança. Do gr. diatheke, “pacto”, “acordo”, “arranjo”. Neste caso, diatheke se refere ao acordo que Deus fez com o ser humano, por meio do qual, por causa da reconciliação obtida pela morte sacrifical de Cristo, Deus provê a vida eterna a todos que creem (ver Jo.3:16; Jo.3:36; Jo.5:24; 1Jo.5:12). Este pacto para a salvação do ser humano estava vigente antes de Jesus vir à Terra, pois Abraão, entre outros, foi salvo pela fé no Redentor prometido (Rm.4:3; Rm.4:16-22; Hb.11:39-40). Como, então, poderia esta ser chamada de nova aliança? Não era “nova” em relação ao tempo, mas por causa de sua ratificação pelo sangue de Cristo (sobre a relação entre a nova aliança e a antiga, ver com. de Ez.16:60).

No Meu sangue. Na época do AT, era costume ratificar ou selar acordos entre duas partes mediante o sacrifício de um animal. Em alguns casos o animal era cortado em pedaços e os envolvidos na aliança andavam entre as partes do animal, simbolizando com isso seu voto de fidelidade aos termos da aliança (Gn.15:9-18; Je.34:18-19). A antiga aliança entre Deus e Israel foi confirmada pelo sangue de animais (Ex.24:3-8). A nova aliança entre Deus e o ser humano, baseada totalmente nas promessas divinas, foi ratificada pelo sangue de Jesus (ver Hb.10:12; Hb.10:14; Hb.10:16; Hb.10:20; PP, 371). O pecador que se arrepende e aceita o plano divino para sua redenção entra na nova aliança e testifica de sua aceitação desse plano ao beber do vinho da comunhão, símbolo do sangue de Cristo que ratificou a aliança.

Todas as vezes. Deus definiu o tempo e a frequência para a observância da Páscoa (Ex.12:1-20), mas não para a Ceia do Senhor, cuja frequência de celebração é deixada à escolha dos crentes. É natural que aqueles que amam ao Senhor e são cientes de sua grande necessidade dEle, em todos os momentos, se sentirão felizes em participar do rito com frequência.

Em memória de Mim. É essencial que o grande sacrifício do Calvário, com todas as suas implicações, nunca esteja ausente do pensamento de todos que valorizam a vida eterna. O estudo da ciência da salvação ocupará a atenção dos remidos por toda a eternidade. Cristãos verdadeiros desejarão meditar sempre nesse tema inesgotável enquanto esperam pela volta do Senhor (ver Ed, 126; DTN, 659).

1Co.11:26 26. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.

Todas as vezes. Ver com. do v. 1Co.11:25.

Anunciais. Do gr. kataggello, “proclamar”, “declarar”. Ao participar do rito da Ceia do Senhor, os cristãos proclamam ao mundo sua fé na obra expiatória de Cristo e em Sua segunda vinda. As palavras do Salvador: “até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de Meu Pai” (Mt.26:29) encorajam Seus seguidores a desejar ansiosamente, em meio às provas e dificuldades, o glorioso dia quando Ele voltará para levar Seu povo deste mundo de pecado para a morada de paz e eterna felicidade (ver DTN, 659). Essa declaração sobre anunciar, ou proclamar, a morte do Senhor sugere que o rito não deve ser observado em segredo. Sua observância pública, com frequência, causa profunda impressão em quem a testemunha. De acordo com este versículo, é óbvio que todos os crentes devem comer o pão e tomar o vinho no rito da comunhão. Nenhum elemento é exclusivo dos oficiantes.

Ao comer e beber os emblemas do pão e do vinho, os crentes declaram sua fé na plena reconciliação efetuada pelo corpo quebrantado e pelo sangue vertido de Cristo, e em Seu retorno a este mundo para receber Seu povo (Jo.14:1-3). O rito deve ser observado enquanto durar esse tempo, por todos os que creem. A observância cessará somente quando todos os crentes virem Jesus face a face. Então, não haverá necessidade de nada que os relembre dEle, pois todos O verão como Ele é (1Jo.3:2; Ap.22:4). Os sacrifícios oferecidos no tabernáculo dos dias de Moisés e, mais tarde, no templo em Jerusalém apontavam para a morte de Jesus ao longo dos séculos, até que Cristo veio pela primeira vez. Da mesma forma, a celebração da Ceia do Senhor declara que Ele pagou o preço pelos pecados da humanidade e continuará a declarar isso “até que Ele venha” pela segunda vez.

1Co.11:27 27. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.

Por isso. Em vista do que foi dito sobre o propósito da Ceia do Senhor.

Indignamente. Ou, sem a devida reverência pelo Senhor, cujo sofrimento e sacrifício estão sendo lembrados. Pode-se dizer que a indignidade consiste na conduta imprópria (ver v. 1Co.11:21) ou na falta de fé vital e ativa no sacrifício expiatório de Cristo.

Réu. Os que ignoram a dívida incalculável que têm para com o Salvador e que tratam com indiferença o rito designado para relembrar aos crentes a morte de Cristo, são culpados de desrespeito para com Ele. Essa atitude se assemelha com a dos que condenaram e crucificaram o Senhor. Tal atitude na Ceia do Senhor deve ser considerada como rejeição do próprio Senhor, portanto, quem a mantém compartilha da culpa daqueles que O crucificaram.

1Co.11:28 28. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;

Examine-se. Antes de participar da Ceia do Senhor, a pessoa deve rever sua experiência cristã e certificar-se de estar pronta para receber as bênçãos que esse rito proporciona a todos que estão em relacionamento com Deus. Deve refletir se, dia a dia, tem experimentado a morte para o pecado e o novo nascimento para o Senhor, se está ganhando a batalha contra os pecados que o afligem e se sua atitude para com o próximo está correta. Palavras, pensamentos e ações devem ser inspecionados, bem como hábitos de devoção pessoal e tudo que influencie no progresso em direção a um caráter que reflita a imagem de Jesus (ver 2Co.13:5; Gl.6:4). O autoexame e o desviar-se de tudo que é contrário à vontade de Deus é um exercício que os cristãos devem fazer todos os dias (ver Lc.9:23; 1Co.15:31; T7, 252). A Ceia do Senhor representa uma ocasião especial para a declaração pública de novas resoluções. O rito do lava-pés deve auxiliar o crente nessa preparação espiritual (ver com. de Jo.13:4-17).

Assim. Depois de cuidadoso exame da vida e do relacionamento com o Senhor, o cristão deve se aproximar da mesa da Ceia com gratidão por tudo o que o Salvador crucificado significa para ele.

1Co.11:29 29. pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.

Indignamente (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. Se omitida, o sentido da passagem é: “pois quem come e bebe e não discerne o corpo”.

Discernir. Do gr. diakrino, “distinguir”, “discriminar”. Neste caso, o sentido é de que os coríntios não distinguiam entre uma refeição comum e os emblemas consagrados do rito. Eles não faziam diferença entre o alimento regular e aqueles preparados para relembrá-los da morte expiatória de Cristo. Há grande diferença entre ritos memoriais de eventos comuns e o memorial do evento pelo qual se tornou possível a restauração do pecador. Os cristãos não devem considerar a Ceia como uma cerimônia meramente comemorativa de um acontecimento histórico. É muito mais. É uma renovação da consciência do que o pecado custou a Deus e da dívida que o ser humano tem para com o Salvador. É também um meio de manter vivo na mente do discípulo o dever de testemunhar de sua fé na morte expiatória do Filho de Deus (ver DTN, 656).

Juízo. Do gr. krima, não necessariamente a punição futura e final do ímpio. Ao participar de forma imprópria da Ceia do Senhor, a pessoa se expõe ao desagrado de Deus e à punição, tal como a mencionada nos v. 1Co.11:30 e 1Co.11:32.

1Co.11:30 30. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.

Fracos e doentes. Em geral, acredita-se que estes adjetivos descrevam doença física e sofrimento. Pode ser que a intemperança e a glutonaria associadas aos banquetes que precediam a Ceia em Corinto fossem fatores que contribuíssem para os males mencionados. Pecado é desobediência e produz sofrimento e morte.

Dormem. Do gr. koimaomai, palavra usada nas Escrituras com frequência para indicar morte (Jo.11:11-12; At.7:60; 1Co.7:39; 1Co.15:51; 1Ts.4:13-15). Embriaguez e glutonaria têm sua própria recompensa, que é doença e morte. A intemperança dos crentes coríntios nas refeições da amizade deve ter sido de natureza tal a merecer essa advertência. Mas ela pode se aplicar a todos os casos em que se cometa excesso semelhante. No entanto, ela não pode ser separada do tema da observância da Ceia do Senhor. A pessoa que, por conduta descuidada na Ceia, mostra desrespeito pelos sofrimentos de Cristo perde as bênçãos que Deus deseja que receba. Essa mesma pessoa é propensa a ser descuidada em outros mandamentos divinos, o que atrai sofrimento sobre si mesma e até a morte.

1Co.11:31 31. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.

Julgássemos. Do gr. diakrino, “discernir”, “discriminar”. É traduzido como “discernir”, no v. 1Co.11:29. A palavra indica autoexame, um diagnóstico da própria condição espiritual à luz da norma divina. Se examinassem estritamente suas atitudes e conduta e participassem do rito com a devida reverência, os coríntios não seriam condenados por Deus.

Não seríamos julgados. Isto é, por Deus. Um autoexame adequado poderia salvar os coríntios do juízo divino. A experiência deles está registrada para nosso aprendizado. Se os cristãos se lembrarem dessa experiência da igreja de Corinto e forem criteriosos no exame de seus pensamentos, sentimentos e motivações, serão muito mais abençoados ao participar do rito e evitarão desagradar a Deus.

1Co.11:32 32. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.

Julgados. Os sofrimentos que o Senhor permitiu aos coríntios por causa da forma descuidada com que celebravam a Ceia foram um meio misericordioso de lidar com suas falhas. A disciplina tinha o propósito de salvá-los de contínua transgressão. É melhor ser “disciplinado” pelo Senhor nesta vida, e ser levado a mudar o que não está de acordo com a vontade dEle, do que continuar no pecado e estar para sempre perdido (ver 1Co.5:5; 1Tm.1:20). O sofrimento resulta em refinamento e purificação da vida do verdadeiro crente (ver Hb.12:5-11).

Condenados com o mundo. Isto se refere ao juízo final condenatório, do qual não há escapatória. O “mundo” compreende todos os que se recusam a se arrepender de seus pecados, a se humilhar perante Deus e a aceitar Jesus como Salvador. Esses são dignos da morte eterna (ver SI.34:16; Ez.18:24; Ml.4:1-2; 2Ts.1:8-9).

1Co.11:33 33. Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.

Esperai. Existem duas opiniões a respeito deste versículo; ambas parecem apropriadas. Alguns creem que a referência seja ao comportamento adequado na refeição da amizade que antecedia a Ceia do Senhor (ver p. 45) na igreja de Corinto. Outros entendem que se refere estritamente ao rito em si. Em ambos os casos, o cuidado é contra a desordem e o egoísmo. Alguns se embebedavam; outros negligenciavam os pobres. Tudo isso era contrário ao espírito de Cristo (ver v. 1Co.11:21-22). Deus requer ordem e discernimento em tudo o que pertence ao culto a Ele (ver 1Co.14:33; 1Co.14:40). Nesse solene rito da igreja, a Ceia do Senhor, não deve haver qualquer traço de orgulho, egoísmo, glutonaria e intemperança. A mente deve estar voltada para Cristo e Seu sacrifício, e não se deve dar lugar ao coração natural.

1Co.11:34 34. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.

Fome. Isto se refere ao desejo físico por alimento, não o anseio espiritual pelo pão da vida. A Ceia do Senhor não tem o objetivo de satisfazer a fome física. Seu propósito é ser um memorial do maior e mais solene evento, e não um banquete. As instruções dadas neste capítulo, quando seguidas cuidadosamente, fazem da Ceia do Senhor um serviço cheio de consolo e santa alegria (ver DTN, 660, 661).

Quanto às demais coisas. Podia haver outros assuntos sobre os quais os coríntios queriam saber, questões que Paulo entendeu que podiam ser tratadas quando fosse a Corinto. Esta declaração mostra que ele planejava visitar Corinto novamente, o que de fato o fez, mas não antes de escrever outra epístola (ver p. 89-92, 903, 904). Este capítulo enfatiza a necessidade de se exercer cuidado com tudo o que está relacionado à adoração a Deus. Os adoradores devem se aproximar de Deus com motivações corretas e consciência pura, e com o objetivo de glorificá-Lo e receber as bênçãos que Ele deseja conceder (ver SI.24:3-5; Sl.29:2; Sl.95:2-3; Sl.95:6; Sl.100:4; Jo.4:23-24).

1Co.12:1 1. A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

A respeito. Este capítulo marca o início de um novo tema, que continua no capítulo 1Co.14. O tema são os dons espirituais, sobre os quais havia muita incompreensão. Também é evidente que havia certo abuso dos dons, bem como rivalidade entre os que possuíam vários dons.

Dons espirituais. A palavra “dons” foi acrescentada, porém, corretamente, conforme o contexto indica. Estes dons foram concedidos à igreja quando Jesus ascendeu aos céus (Ef.4:8; Ef.4:11). Tinham o objetivo de levar a igreja à unidade e de prepará-la para se encontrar com o Senhor (ver Ef.4:12-15). Pode ser que os coríntios tivessem indagado sobre a grandeza relativa desses dons, e que alguns deles se orgulhassem dos dons que exerciam como se fossem mais importantes do que os concedidos a outros (ver 1Co.12:18-23). Paulo aproveitou a oportunidade para instruí-los acerca da obra do Espírito no corpo de Cristo, isto é, a igreja. O Espírito Santo sempre esteve com a igreja (ver AA, 37, 53; PP, 593, 594; PJ, 218). Portanto, os dons não foram limitados à época do NT. Isso é evidente porque existiram muitos profetas antes de Cristo.

É a vontade e o plano de Deus que a igreja seja capacitada pelos dons até o fim dos tempos (Ef.4:8; Ef.4:11-13; AA, 54, 55). Todos os dons provêm de Deus; portanto, não há razão para que um cristão se glorie em relação aos demais por ser um instrumento para a manifestação do poder de Deus para benefício da igreja como um todo (ver 1Co.12:11). Deve-se observar que os dons do Espírito não são os mesmos que o fruto do Espírito (Gl.5:22-23). Os primeiros compreendem atributos do poder divino concedidos aos crentes para o cumprimento do propósito de Deus na edificação da igreja. O fruto do Espírito são qualidades de caráter dos membros da igreja que se entregam à direção do Espírito Santo e são movidos pelo supremo atributo do Espírito, que é o amor (ver 1Co.13:13; Gl.5:22-23; AA, 388; PJ, 68, 69; T5, 169; T4, 355).

Ignorantes. Paulo ansiava que os coríntios não fossem enganados com respeito à verdadeira natureza dos dons espirituais nem do uso correto desses dons na igreja. A necessidade de esclarecimento com respeito ao assunto se devia ao fato de os coríntios serem cristãos recém-convertidos (ver v. 1Co.12:2). Antes, como pagãos, eles não possuíam o conhecimento da revelação do verdadeiro Deus e da obra do Espírito Santo. Portanto, não podiam ter opiniões corretas sobre essas novas experiências, a menos que fossem instruídos e aceitassem essa instrução sem reservas. Quando aceitaram o Salvador, eles foram libertados do poder que antes os influenciava, e o poder de Deus tinha sido confirmado neles pelos dons do Espírito.

1Co.12:2 2. Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados.

Gentios. Do gr. ethne, termo usado para designar todos que não eram judeus, mas que também adquiriu o sentido de “pagão”, para os cristãos. Neste versículo, esse parece ser o significado. A ideia é que os coríntios tinham sido pagãos, adoradores de ídolos, sem nenhum conhecimento do verdadeiro Deus, e dados a superstições. Os poderes que os conduziam eram das trevas, dos espíritos maus representados pelos deuses falsos aos quais adoravam (ver 1Co.10:20). Se tivessem percebido as vantagens que estavam desfrutando desde que aceitaram o cristianismo, eles valorizariam sua condição como seguidores de Cristo. Essa referência à antiga condição de pagãos é usada por Paulo em outros textos para estimular os cristãos a ser gratos pela misericórdia de Deus demonstrada a eles por meio do evangelho (ver Rm.6:17; Ef.2:11-12; Tt.3:3).

Conduzir-vos. Esta expressão indica que não eram capazes de se controlar, que estavam sendo atraídos ao culto dos ídolos por um poder exterior. Esse poder que atuava sobre suas paixões e apetites para enganá-los, levando-os a crer que estavam se beneficiando dos ritos idólatras, quando na verdade eram destruídos.

Mudos. Os ídolos para cujos altares e templos eles eram atraídos, fosse para adorar, sacrificar ou consultar, são chamados de “mudos” em contraste com o Deus vivo, que Se revelou por meio do Verbo encarnado e que concede dons espirituais que capacitam Seus seguidores a falar em Seu nome. Com frequência, o Senhor chama a atenção para essa característica dos deuses falsos pagãos como um argumento contra a tolice de adorá-los (SI.115:4-5; Sl.135:15-17; Hc.2:18-19). Portanto, quaisquer manifestações sobrenaturais ou vozes provinham de poderes demoníacos e não dos ídolos ou deuses representados por eles.

1Co.12:3 3. Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.

Por isso. Os coríntios precisavam formar uma opinião correta sobre a obra do Espírito Santo; em particular, sobre palavras ou vozes que afirmavam ser do Espírito. Para isso, Paulo lhes deu uma regra pela qual pudessem distinguir o falso do verdadeiro.

Anátema. Do gr. anathema, “devotado à destruição” (ver com. de Rm.9:3). Eis uma regra simples mediante a qual se pode saber se alguém que se diz estar sob a influência do Espírito Santo é realmente dirigido por Ele. Quem está sob a direção do Espírito Santo não dirá que Cristo é amaldiçoado ou que merece destruição. É impossível que alguém inspirado pelo Espírito rebaixe a Jesus, em vez de exaltá-Lo. Qualquer afirmação desta natureza prova que a pessoa que a pronuncia definitivamente não é influenciada pelo Espírito Santo. O Espírito de Deus sempre, e sob todas as circunstâncias, honra a Cristo e motiva qualquer pessoa sob Sua influência a amar e reverenciar o nome de Cristo (ver 1Jo.4:1-3).

Senhor Jesus! Alguém não influenciado pelo Espírito de Deus não reconheceria que Jesus é o Filho de Deus. Isso não nega a possibilidade de que se pronunciem palavras que pareçam reconhecer Cristo como Senhor ou Salvador, sem a influência do Santo Espírito, pois pessoas más fizeram isso como zombaria. Mas a confissão genuína de que Jesus é o Senhor vem somente dos lábios de alguém dirigido pelo Espírito (cf. Mt.16:16-17). Os que verdadeiramente honram o nome e a obra de Jesus provam que são influenciados pelo Espírito Santo. Jamais alguém terá verdadeiro apreço por Cristo, nem amará Seu nome ou Sua obra, a menos que seja dirigido pelo Espírito a perceber a natureza divina do Salvador.

Ninguém pode mostrar seu amor pelo nome e pela obra de Cristo seguindo as inclinações e motivações do coração não regenerado. Em todos os casos em que alguém aceita a Cristo, é por meio do Espírito de Deus. A pessoa que fala de Jesus de modo leviano ou desacredita de Sua obra, ou ainda ensina doutrinas contrárias à Sua Palavra, prova com isso que não é dirigida pelo Espírito (ver DTN, 412). Deve-se orar pela presença do Espírito Santo e aceitá-la. Entristecer o Espírito Santo, recusando-se a seguir Sua direção, é tirar do coração todo verdadeiro conhecimento do Salvador. Isso resulta em frieza, ignorância e morte espiritual (ver Ef.4:30; DTN, 587, 588).

1Co.12:4 4. Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo.

Dons. Do gr. charismata, literalmente, “dons da graça”. Neste caso, a palavra se refere aos dons extraordinários do Espírito Santo que habita e opera nos crentes. A diversidade de dons é dada nos v. 1Co.12:8-11.

O Espírito é o mesmo. Os diferentes modos de atuação dos dons são produzidos e controlados pelo Espírito Santo (ver v. 1Co.12:8-11). A finalidade de Paulo ao se referir aos diferentes dons era mostrar aos coríntios que, visto que todos os dons são dados pelo mesmo Espírito e têm o mesmo propósito, nenhum deve ser desprezado ou considerado menos importante. Ninguém que receba determinado dom do Espírito deve olhar com desprezo para outro crente por não ter sido favorecido do mesmo modo. A distribuição que Deus faz dos dons deve ser aceita com gratidão, e o devido reconhecimento deve ser dado Àquele que concede esses atributos, e não a quem os recebe como se fosse superior a seus irmãos.

1Co.12:5 5. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo.

Serviços. Do gr. diakoniai, “ministrações”, “serviços” (ver Rm.15:31). Com frequência, a palavra é traduzida como “ministério” (ver At.1:17; At.1:25; At.6:4; At.20:24; Rm.12:7; 1Tm.1:12). Existem diferentes tipos de serviços na igreja, mas todos são controlados por um único Senhor.

Senhor. No NT, em geral, este termo se refere a Cristo. É um dos nomes pelos quais Ele é conhecido pelos discípulos (Jo.20:25).

1Co.12:6 6. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.

Realizações. Do gr. energemata, “funcionamento”, de energeo, “estar no trabalho”, “estar em ação”, “operar”. A palavra “energia” vem dessa raiz. No NT, energemata ocorre apenas neste e no v. 1Co.12:10. A palavra talvez se refira ao poder divino que dá energia à igreja e talvez a toda a natureza.

O mesmo Deus. Após ter apresentado o Espírito e o Filho nos v. 1Co.12:4-5, Paulo completa a menção das três pessoas da Divindade referindo-se ao Pai como o originador e sustentador dos dons e poderes espirituais providos para o cumprimento da missão da igreja. Existem diferentes “dons”, “ministérios” e “realizações”, mas todos procedem de um Deus, um Senhor, um Espírito, isto é, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

1Co.12:7 7. A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso.

A manifestação do Espírito. A referência é aos dons espirituais como manifestações produzidas pelo Espírito e, ao mesmo tempo, como manifestações que revelam o caráter e a obra do Espírito.

A cada um. Isto é, cada cristão. Na igreja apostólica, os dons foram distribuídos de forma ampla e universal entre os membros. A frase “a cada um” pode significar a cada um a quem foi dado certo dom.

Fim proveitoso. Isto é, para o bem comum ou benefício da igreja como um todo, embora não se exclua o benefício particular (ver 1Co.14:4; 1Co.14:12). Os dons são distribuídos de acordo com as necessidades da igreja em cada situação. Na sabedoria de Deus, a igreja de Corinto recebeu uma generosa profusão de dons (1Co.1:7). As manifestações sobrenaturais confirmaram a fé dos crentes, que não tinham a evidência histórica que se tem hoje do poder do cristianismo. Tampouco tinham dirigentes treinados ou homens peritos e experientes na Palavra de Deus. As Bíblias, que consistiam apenas do AT, eram raras. Para satisfazer as diversas necessidades, Deus concedeu dons sobrenaturais de forma ampla.

1Co.12:8 8. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento;

Palavra da sabedoria. Isto é, expressão de sabedoria. A pessoa que possuísse este dom não era apenas sábia, mas também capaz de transmitir a sabedoria a outros (sobre sabedoria e a relação entre sabedoria e conhecimento, ver com. de Pv.1:2).

Palavra do conhecimento. Isto é, a expressão do conhecimento. Em termos gerais, conhecimento é a habilidade de apreender fatos. Com relação ao evangelho, seria a habilidade de apreender a verdade espiritual e apresentá-la de forma ordenada. Essa apreensão da verdade vem do estudo das Escrituras ou diretamente de Deus, por meio da inspiração. A “palavra do conhecimento” é, portanto, o poder para discorrer sobre essas verdades, apresentando-as de forma correta aos ouvintes a fim de que sejam convencidos do que ouvem.

1Co.12:9 9. a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar;

Fé. Esta não é a fé que todo cristão possui. É um tipo especial de fé que capacita o possuidor a fazer coisas excepcionais para Deus (ver Mt.17:20; Mt.21:21; 1Co.13:2).

Dons de curar. Referem-se a poderes sobrenaturais como os exercidos pelos apóstolos (Mc.16:18; At.3:2-8; At.14:8-10). É privilégio de todos pedir a cura para o enfermo e receber respostas à oração. Mas isso deve ser diferenciado dos “dons de curar” mencionados neste caso. Parece que as pessoas com esse dom recebiam conhecimento e direção divinos para curar apenas aqueles a quem Deus lhes indicava. Portanto, possuíam certo conhecimento do resultado.

1Co.12:10 10. a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las.

Operações de milagres. Como no caso dos “dons de curar” (ver com. do v. 1Co.12:9), este era um dom especial executado sob direcionamento divino. Contudo, é privilégio de quem não o possui orar por intervenções miraculosas e ter suas orações atendidas se for essa a vontade de Deus.

Profecia. Poder para falar com autoridade como porta-voz de Deus, ou em favor de Deus, seja prevendo o futuro ou declarando a vontade de Deus para o presente (ver Ex.3:10; Ex.3:14-15; Dt.18:15; Dt.18:18; 2Sm.23:2; Mt.11:9-10; 2Pe.1:21). A profecia é o meio escolhido por Deus para estabelecer comunicação com o ser humano (ver Nm.12:6; Am.3:7). A Bíblia chegou às nossas mãos por meio deste dom (ver 2Tm.3:16; 2Pe.1:20-21). As Escrituras testificam de Jesus, e o dom de profecia é chamado corretamente de “testemunho de Jesus” (Ap.19:10; Jo.5:39; Ap.12:17). Visões, sonhos e iluminação divina são meios pelos quais o dom de profecia atua (ver Nm.12:6; Ap.1:1-3). Assim o agente humano se torna o porta-voz de Deus (ver 2Sm.23:2; Mt.3:3; 2Pe.1:21). O propósito divino é que este importante dom do Espírito esteja com a igreja até o fim dos tempos (Jl.2:28-29; Ap.12:17; Ap.19:10). De fato, é uma marca de identificação da verdadeira igreja de Deus nos últimos dias (Ap.12:17; Ap.19:10). Deus sempre usou este canal para Se revelar e transmitir Suas mensagens ao mundo desde a queda de Adão.

Discernimento de espíritos. Esta é a habilidade de distinguir entre inspiração divina e contrafação (ver 1Jo.4:1-3; TM, 228, 229). Cristo advertiu a igreja de que surgiriam falsos profetas, em especial nos últimos dias, e todos deviam estar alerta para reconhecer e rejeitar os falsos mestres (ver Mt.24:4-5; Mt.24:11; Mt.24:23-25). Os apóstolos tinham a habilidade de distinguir entre os falsos mestres e os verdadeiros (ver At.5:1-10; At.13:9-11). Nos primeiros anos da igreja, houve grande necessidade deste dom, quando muitos fingiam ter dons. Satanás sempre esteve pronto a falsificar a verdade e, com frequência, apoia as falsas pretensões dos falsários por meio de sinais espetaculares (2Ts.2:9; Ap.13:13-14).

Variedade de línguas. Este dom é discutido no cap. 1Co.14, em que é contrastado com o dom de profecia.

Capacidade para interpretá-las. Era necessário um dom especial para interpretar as mensagens transmitidas (ver 1Co.14:27-28; Nota Adicional a 1 Coríntios 14).

1Co.12:11 11. Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.

O mesmo Espírito. Todos os dons concedidos à igreja provêm do Espírito Santo, que opera nos crentes e por meio deles. Visto que Deus controla a atuação dos dons do Espírito, é seguro concluir que todos devem estar em perfeita harmonia com Seu plano supremo para o cumprimento de Sua obra na Terra. A consciência de que todos os dons vêm de Deus deve ser suficiente para impedir qualquer demonstração de orgulho em possuí-los.

Como lhe apraz. O Espírito Santo distribui os dons de acordo com o conhecimento das capacidades e das necessidades de cada indivíduo. Não é uma distribuição arbitrária, mas baseada em conhecimento e compreensão supremos. O grande objetivo de preparar a igreja para se encontrar com Cristo sem mancha e sem culpa, na segunda vinda, é o fator determinante na distribuição dos dons (ver Ef.4:12-13; Ef.3:27; Ap.14:5). A consciência de que os dons são concedidos a cada um, à medida que o Espírito Santo considera necessário, é motivo de encorajamento. Isso assegura que cada pessoa recebe exatamente a habilidade necessária para viver corretamente e testemunhar com poder sob quaisquer circunstâncias.

A cada um. Ver com. do v. 1Co.12:7. Da mesma forma hoje, todos os que se entregam a Cristo e se tornam membros de Sua igreja, não importando sua nacionalidade, condição social, econômica ou intelectual, têm a certeza de que o Espírito Santo os capacitará a realizar sua missão com eficácia (ver DTN, 823). A personalidade do Espírito Santo é revelada neste versículo, pois o ato de distribuir dons conforme Ele considera melhor para as pessoas e para o bem da igreja revela que se trata de um Ser inteligente. A soberania do Espírito também é provada aqui, pois Ele distribui os dons como Lhe apraz.

1Co.12:12 12. Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.

O corpo é um. O corpo humano é um organismo, mas é composto de diferentes membros e órgãos, cada qual com sua função indispensável, unidas em harmonia num todo. Embora sejam distintos na forma, tamanho e funções, os diferentes membros do corpo são todos essenciais, unem-se para formar um corpo e estão sob o mesmo poder que os controla: a pessoa.

Cristo. O apóstolo descreve a igreja como o corpo de Cristo, indicando que é um corpo unido, sendo Cristo a cabeça (ver 1Co.12:27; Ef.1:22-23; Cl.1:18-24). Por meio de uma figura de linguagem, uma parte representa o todo. Cristo, a cabeça da igreja, representa toda a igreja. Todos os membros da igreja são indivíduos separados, com funções e responsabilidades diferentes. Para essa tarefa, recebem dons de Deus apropriados às suas necessidades individuais, mas todos estão sob a direção de Cristo e unidos a Ele.

1Co.12:13 13. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.

Batizados em um corpo. Este é o batismo que acompanha o batismo nas águas de todo filho de Deus que nasce de novo (ver Mt.3:11). O batismo nas águas não tem valor a menos que a pessoa batizada tenha nascido pelo Espírito Santo (Jo.3:5-6; Jo.3:8). É por meio da obra do Espírito que as pessoas se tornam membros do corpo de Cristo.

Quer judeus, quer gregos. Qualquer que tenha sido a condição anterior de uma pessoa ou sua nacionalidade, a entrega a Cristo e o batismo por meio de Seu Espírito remove todas as antigas diferenças entre ela e as demais, pois todas têm o mesmo valor aos olhos de Deus. Não é a nacionalidade que conta, mas a fé em Jesus como Salvador e a disposição de se render a Ele em todos os momentos.

Quer escravos, quer livres. Ou, “escravos e homens livres” (comparar com Gl.3:28; Cl.3:11). O fato de haver muitas nacionalidades e classes sociais formando o corpo de Cristo, enfatiza a diversidade. Porém, a despeito da diversidade, existe a unidade.

De um só Espírito. Provavelmente, a referência seja à obra do Espírito Santo no momento do batismo, incluindo a concessão dos dons. Alguns interpretam a frase “e a todos nós foi dado beber” como a participação em comum do cálice na Ceia do Senhor, ato pelo qual os crentes demonstravam que todos pertenciam a um mesmo corpo, a igreja de Deus, e estavam unidos na fé. Porém, a forma do verbo traduzido como “dado beber” indica ter bebido num tempo passado definido, em vez de repetidas participações no ritual da Ceia do Senhor.

1Co.12:14 14. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.

Corpo. Nos v. 1Co.12:14-26, Paulo defende que a unidade de organização inclui, em vez de excluir, uma pluralidade de membros. Ele ilustrou isso por meio da organização do corpo humano, um sistema em que cada parte tem seu dever essencial. Para que o corpo funcione com eficiência, nenhuma parte dele pode ser ignorada. Paulo apresenta os diferentes membros como se estivessem discutindo esse problema.

Um só membro. O corpo é composto de diferentes membros, com muitas tarefas a desempenhar. Espera-se semelhante variedade na igreja, e não se deve pensar que todos sejam semelhantes ou que algum membro que Deus colocou ali seja inútil. Não é meramente de uma multiplicidade de partes que o corpo precisa, nem de mera multiplicidade de pessoas que a igreja necessita. Em ambos os casos, o que se requer é que os membros se complementem de forma plena, desempenhando, unidos, todas as funções necessárias para o bem do todo. O corpo humano não tem lugar para membros inativos nem pode haver algum que não contribua para a eficiência geral do organismo inteiro. Do mesmo modo, a igreja precisa de membros consagrados e ativos que continuamente deem sua contribuição ao desempenho da igreja em salvar pessoas para o reino de Deus (ver T4, 590; T5, 456, 457; T6, 434, 435).

1Co.12:15 15. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo.

Não sou do corpo. Nenhum membro do corpo pode dizer que não é necessário por não desempenhar um papel elevado nas funções do corpo. Da mesma forma, nenhum membro da igreja de Cristo pode dizer que não é essencial por não exercer determinada função supostamente mais importante. O membro mais humilde da igreja faz parte do corpo de Cristo tanto quanto aquele que recebeu muitos dons (ver Mt.23:8-12; Tg.3:1; 1Pe.5:3). Todos os membros são importantes para Cristo. Ele deu Sua vida por todos, e teria morrido por uma só pessoa (ver Lc.15:4-7; DTN, 480; T8, 73).

1Co.12:16 16. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser.

Ouvido. O argumento é o mesmo que o do v. 1Co.12:15 (ver com. ali).

1Co.12:17 17. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato?

Olho. Se todos os membros da igreja tivessem os mesmos dons e fossem aptos para o mesmo serviço, fases importantes da atividade da igreja na proclamação do evangelho seriam negligenciadas e a igreja declinaria em espiritualidade e força. Cada parte deve dar sua contribuição ao bem-estar do corpo, caso contrário não é possível manter sua eficiência máxima.

Olfato. Para desfrutar a vida de forma plena, não se pode prescindir de nenhum sentido corporal. O olfato pode ser considerado como menos importante do que a visão ou a audição, mas facilmente se percebe que a pessoa que não tenha o olfato está exposta a certos riscos detectados por esse sentido. Tudo o que Deus faz para a igreja é benéfico. Seus planos para ela são bons (ver Je.29:11; Ef.5:27). Todos os diversos atributos espirituais que Ele provê para o crescimento e edificação da igreja são úteis, e não se pode omitir nenhum sem que haja perda para o todo. Cada membro deve ter consciência de sua grande dívida para com o Senhor e ser tão submisso à Sua vontade que aceite qualquer função que lhe for designada no serviço da igreja.

1Co.12:18 18. Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.

Deus dispôs. Em Sua sabedoria, Deus designou as várias partes do corpo para funções diferentes. O ser humano não tem controle sobre essa disposição, visto que está totalmente a cargo de Deus. Do mesmo modo, Ele designou diferentes indivíduos em Corinto para vários tipos de serviço. Cada um foi escolhido segundo a sabedoria de Deus e dotado de dons que o capacitaram a cumprir suas responsabilidades (ver v. 1Co.12:27-28). Os dons são distribuídos por Deus; o ser humano não tem parte nisso (ver com. do v. 1Co.12:11). Ao reclamar e se opor ao seu papel na igreja, o membro pode estar se rebelando contra Deus.

1Co.12:19 19. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?

Um só membro. Aparentemente, havia descontentamento por parte de alguns em Corinto, com o modo como os dons foram distribuídos. Os que não tinham cargos proeminentes na igreja deviam estar insatisfeitos, entendendo que se não eram ministros ou mestres não eram importantes. Com uma ilustração eficaz do corpo humano, Paulo buscou eliminar essas ideias falsas, apontando para o absurdo que resultaria se todas as partes do corpo humano se fundissem em um só membro.

Corpo. Para que mãos, pés, olhos e ouvidos realizem seu trabalho designado, devem estar unidos no corpo. Se essa união é desfeita, nenhum deles poderá funcionar. Se toda a força do corpo fosse canalizada a um membro em particular, tal como os olhos, todas as outras partes sofreriam, e os próprios olhos se tornariam inúteis. Assim, Paulo enfatiza que qualquer interferência no plano do Criador, quanto à atuação ordenada do corpo, resultaria em danos, não em benefícios.

1Co.12:20 20. O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.

Mas. Há paz e alegria em aceitar o plano de Deus.

Um só corpo. Unidade na diversidade, e diversidade na unidade, é a disposição que produz os melhores resultados (ver Ez.1:28; Ez.1:10; T5, 751; OE, 489). As mãos de Deus estão sobre todos, e cada cristão deve se regozijar em ser considerado digno de desempenhar uma parte, por menor que seja, no grandioso plano da redenção.

1Co.12:21 21. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós.

Não precisamos. Este versículo repreende o orgulho de quem se sentia mais importante. Paulo mostra que o orgulho que fazia alguns pensarem que podiam prescindir dos dons menores é errado. Existe dependência mútua nos diferentes departamentos de atuação da igreja para o bom funcionamento do todo. Os membros da igreja que possuem mais dons são tão dependentes dos que possuem menos dons quanto esses últimos dependem dos primeiros. Sendo assim, não existe lugar para orgulho ou descontentamento. Cada parte do corpo tem um dever peculiar a realizar, e a falha de uma parte afeta a eficiência das demais. Então a contribuição da função aparentemente insignificante é importante para a operação eficaz e o desenvolvimento harmônico de toda a organização. Em vez de orgulho e descontentamento, os cristãos devem manifestar amor e simpatia uns pelos outros. Aqueles que parecem ter mais dons devem apreciar seus irmãos menos destacados e fazer com que saibam que estimam o que fazem pelo corpo de Cristo (ver T5, 279). Que todos os crentes se lembrem de que o amor e a unidade vistos entre os cristãos é o meio apontado por Deus para informar ao mundo que Ele enviou Seu Filho a esta Terra (ver Jo.17:21).

1Co.12:22 22. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários;

Parecem ser mais fracos. Não se sabe ao certo a quais membros do corpo Paulo se refere. Talvez seja a certas partes do corpo que parecem ser estruturalmente mais fracas do que outras e precisam ser protegidas.

Necessários. Uma pessoa continua viva se perder uma mão, uma perna, um olho ou uma orelha, mas não se perder o coração, pulmões ou cérebro. Portanto, embora esses órgãos pareçam mais frágeis e necessitem de proteção, de fato são de importância vital, portanto mais essenciais do que membros aparentemente mais fortes como braços e pernas.

1Co.12:23 23. e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra.

Menos dignos. Paulo não identifica esses membros, mas seriam os que normalmente estão cobertos pela roupa. A diferença entre esses e os que “não são decorosos” parece ser de grau, sendo que talvez os últimos sejam os órgãos sexuais e excretores. É costume deixar a face exposta, sem nenhum tipo de cobertura. O mesmo se dá com as mãos; mas existem certas partes do corpo que a modéstia, decência e o pudor exigem que sejam cobertas. A origem dessa prática de cobrir certas partes do corpo se encontra no registro da queda do ser humano. Antes da entrada do pecado, os primeiros pais estavam cobertos com um traje de glória, mas o pecado fez com que esse lhes fosse retirado, e Adão e Eva, percebendo que estavam nus, se cobriram (ver Gn.2:25; Gn.3:7; Gn.3:10-11; PP, 45, 57). Deus espera que Seu povo se vista de forma adequada e se certifique de que as exigências da modéstia e da pureza cristãs sejam satisfeitas.

Muito maior honra. A face fica descoberta e é considerada atrativa, ao passo que outras partes do corpo são cobertas. Isso sugere que os membros da igreja providos de dons espirituais menos evidentes não devem ser desprezados nem tratados como inferiores. Os dons mais simples não devem ser menos estimados, mas tratados com mais consideração e cuidado, pois são indispensáveis para o corpo como um todo.

1Co.12:24 24. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha,

Não têm necessidade. O rosto e as mãos ficam descobertos, e a exposição deles não implica vergonha ou desonra. Da mesma forma, os membros da igreja com mais dons não precisam da mesma direção e instrução espiritual como os que têm menos dons.

Deus coordenou o corpo. Do gr. sugkerannumi, literalmente, “misturar junto”. A palavra é encontrada apenas neste versículo e em Hb.4:2. Neste caso, a palavra pode significar juntar num arranjo ordenado. Deus fez com que uma parte do corpo dependesse da outra e fosse necessária à função específica da outra. Todas trabalham juntas numa união harmoniosa.

Muito mais honra. No sentido de exigir mais atenção e cuidado. Os demais devem trabalhar para prover cobertura adequada a essas partes.

1Co.12:25 25. para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.

Divisão. Do gr. schisma (ver com. de 1Co.1:10). Os diferentes talentos e dons dos membros da igreja não devem ser motivo para a formação de partidos. Ninguém deve ser constrangido a concluir que não pertence ao grupo que tem dons supostamente superiores. Parece haver uma referência aqui às divisões na igreja de Corinto (ver 1Co.1:10-12; 1Co.11:18). Todas as partes do corpo humano são necessárias e dependem umas das outras. O mesmo se dá com a igreja: cada membro é necessário em seu lugar designado.

Igual cuidado. Não importa que parte do corpo esteja afetada por dor ou enfermidade, os recursos e energias de todo o corpo se concentram em aliviar essa dor e restaurar o membro prejudicado. Da mesma forma, no corpo espiritual todos os membros devem se interessar em promover os interesses de seus irmãos sem acepção de pessoas nem de dons.

1Co.12:26 26. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.

Sofre. Quando um membro do corpo sofre, todo o corpo é afetado. É assim também com a igreja; deve haver estreita e viva ligação entre os membros, de modo que o sofrimento de um seja sentido por toda a igreja, e todos se esforcem para ajudar o sofredor. É responsabilidade de toda a igreja aliviar o sofrimento do membro pobre, aliviando suas necessidades materiais. Se alguém é perseguido por causa da fé, todo o corpo de crentes deve apoiá-lo (ver Rm.12:13; Rm.12:15-16; Gl.6:2; T7, 292). A igreja é uma organização intimamente entrelaçada; nela deve haver a mesma unidade existente entre os membros da Divindade (Jo.17:21; Jo.17:23; Rm.12:4-5). Cristo Se identifica com Seu povo e sente a dor de cada membro de Seu corpo (Mt.25:40; Mt.25:45; At.9:5). No corpo físico, a dor de uma picada no dedo se estende ao braço e a todo o corpo. Na igreja, igualmente, quando dardos do maligno atravessam o coração de um membro, toda a igreja é afetada.

Honrado. A saúde de um membro é refletida no bem-estar de todo o organismo. O mesmo se dá na igreja. A honra que advêm a um de seus membros por um dom especial é compartilhada por todos, pois todos são beneficiados.

1Co.12:27 27. Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.

Vós. O pronome é enfático no grego. Paulo se dirigia a todos os crentes coríntios, entre os quais havia alguns que causavam divisões na igreja, outros que não tinham se desligado por completo da idolatria e ainda outros que tinham caído em imoralidade (ver 1Co.1:10-11; 1Co.3:3; 1Co.5:1-2; 1Co.8:1). Eles deviam se esforçar para permanecer como membros firmes e saudáveis, fazendo a parte que lhes correspondia na igreja. Deviam ser fiéis e leais a Cristo e um ao outro.

Corpo de Cristo. Comparar com Ef.1:22-23; Ef.4:4; Ef.4:12; Ef.4:16; Ef.5:23; Ef.5:30; Cl.1:18; Cl.1:24; Cl.2:19; Cl.3:15. Os membros da igreja devem se sujeitar a Cristo em tudo, assim como as partes do corpo são regidas pela vontade da pessoa; e, assim como todos os membros do corpo mantêm ligação vital com a cabeça e uns com os outros, os crentes devem manter entre si a relação de membros do mesmo corpo; todos sujeitos à mesma cabeça, Cristo.

Individualmente. Do gr. ek merous, literalmente, “de parte”, que neste caso significa “individualmente” ou “separadamente”. A ideia é que cada membro individual tem sua responsabilidade em servir a Deus no posto designado e segundo sua função, isso parece ser ampliado nos v. 1Co.12:28-31, que descrevem as diferentes funções dos membros individuais de acordo com os dons distribuídos pelo Espírito.

1Co.12:28 28. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

Uns. Paulo quer dizer, alguns apóstolos, alguns profetas.

Estabeleceu Deus. Literalmente, “estabeleceu Deus para Si”. No v. 1Co.12:11, o Espírito Santo é representado como quem distribui os dons; neste versículo, é Deus. Os membros da Divindade trabalham em unidade.

Primeiramente. Isto é, não apenas em relação a tempo (ver Mt.10:1-8; DTN, 290, 291), mas também em hierarquia, como os ofícios mais importantes da igreja.

Apóstolos. Literalmente, “enviados”. O termo não deve ser limitado aos doze. Outros também foram chamados de apóstolos (ver 1Co.15:7; Gl.1:19). As igrejas parecem ter estado sob jurisdição geral dos apóstolos.

Profetas. Ver com. do v. 1Co.12:10.

Mestres. Aqueles dotados de habilidades especiais para expor as Escrituras. Provavelmente os mesmos que possuem a “palavra do conhecimento”, que sabem expor os mistérios do reino de Deus a mentes inquiridoras (v. 1Co.12:8). Pregar e ensinar estão estreitamente relacionados. O pregador proclama a verdade de forma a alcançar o coração do ouvinte e o motivar a agir segundo o que ouviu. O mestre analisa e resume a verdade com tal clareza e lógica que os que a ouvem entendem a mensagem. Assim, são capazes de dar razão à esperança que foi implantada no coração pelo pregador.

Milagres. A operação de milagres era um dos dons mais espetaculares do Espírito. Os milagres tiveram uma parte importante no ministério de Cristo na Terra, e Ele deu a Seus discípulos o poder de operar milagres (ver Mt.10:8; DTN, 350, 351; PE, 189). Era o plano de Cristo que Seus seguidores tivessem poder para realizar milagres e fazer avançar Sua obra na Terra (ver Mc.16:15-18; DTN, 823; ver com. de 1Co.12:10).

Curar. Ver com. do v. 1Co.12:9.

Socorros. Do gr. antilepsis, derivado de um verbo que significa, literalmente, “apoderar-se de”. A palavra ocorre apenas neste versículo no NT, mas é frequente nos papiros, com a ideia de “assistência” e “socorro”. Em geral, entende-se que este dom é conferido aos que realizam o trabalho de diaconato na igreja, particularmente nos casos em que esse cargo requer ministrar às necessidades do pobre e do doente. Esse é um trabalho de pouca publicidade, mas é parte importante da vida da igreja. Visitar os doentes e lhes estender ajuda real e solidária, física e espiritualmente, é um meio poderoso para fazer com que o coração se volte para o Salvador. Cuidar do pobre e do necessitado, aliviando suas necessidades materiais, é algo que pode ser bem feito somente por aqueles que são dirigidos pelo Espírito. Esse é um ministério frutífero (ver Is.58:7; T5, 612, 613; T6, 282, 306, 307; CBV, 147, 148).

Governos. Do gr. kuberneseis, derivado do verbo que significa “dirigir”, “atuar como piloto”, daí, “guiar”, “governar”. Kuberneseis deve se referir aos dons de administração dentro da igreja.

Línguas. Ver com. de 1Co.14; ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14.

1Co.12:29 29. Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres?

São todos apóstolos? A forma da pergunta no grego requer resposta negativa. Os v. 29 e 30 mostram que Deus não concede nenhum dom específico a todos os crentes. Eles são distribuídos de acordo com a necessidade de uma dada situação que confronta a igreja em determinado tempo e lugar. Os dons nunca são para glorificação e exaltação do ser humano, mas para o cumprimento dos planos e propósitos de Deus, que concede esses poderes a Seu povo como Lhe apraz, e não segundo ideias e opiniões humanas (ver v. 1Co.12:4-5; 1Co.12:11). Nem todos os crentes de Corinto foram qualificados pelo Espírito Santo para algum ofício particular na igreja, como o de mestre ou profeta. A distribuição foi feita pelo Espírito Santo às pessoas que escolheu para certos propósitos específicos. Isso deve remover dos que recebem os dons o orgulho e qualquer ideia de superioridade sobre seus irmãos.

1Co.12:30 30. Têm todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?

Dons. Este versículo dá sequência ao raciocínio do v. 1Co.12:29 (ver com. ali).

1Co.12:31 31. Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente.

Procurai, com zelo. Do gr. zeloo, “ser zeloso por”. Os coríntios são admoestados a continuar suplicando fervorosamente a Deus para que derrame o Espírito sobre eles e lhes conceda os dons necessários para cumprir sua missão. Receber um dom ou certos dons não é o final da experiência cristã. Como na parábola dos talentos (ver com. de Mt.25:14-30), a fidelidade ao dever pode levar ao aumento dos atributos alcançados.

Os melhores. Do gr. kreittona. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem “mais excelentes”. Os dons espirituais são concedidos pelo Espírito Santo para a edificação da igreja à perfeição e unidade em Cristo (ver Ef.4:12-13). Sem dúvida, aqueles dons relacionados diretamente com o principal propósito da igreja, isto é, pregar o evangelho, e que contribuem mais para a edificação geral (ver 1Co.14:1), são considerados de mais importância.

Um caminho sobremodo excelente. Isto é, o caminho do amor, descrito no cap. 1Co.13.

1Co.13:1 1. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.

Ainda que. Paulo enumerou e definiu o papel dos dons do Espírito na igreja (1Co.12). Neste capítulo, ele mostra que possuir dons e qualidades adicionais não torna alguém um cristão se ele não tiver o dom supremo do amor. Este lindo poema em prosa é chamado de “a maior, mais forte e mais profunda declaração feita por Paulo”. Paulo apresenta a natureza, o valor e a duração eterna do amor em comparação com os dons temporários. Este capítulo continua a discussão do cap. 1Co.12 sobre os dons espirituais. O apóstolo observou que os vários dons espirituais foram conferidos para a edificação da igreja (ver 1Co.12:4-28). Ele mostra então que os dons já mencionados, por mais excelentes que sejam, podem ser substituídos por um atributo que é mais valioso do que todos os dons, e que esse dom está disponível a todos (cf. Gl.5:22).

Línguas dos homens. Pode ser uma referência ao poder de expressão dos oradores mais qualificados e talentosos ou aos muitos idiomas usados pelas nações da Terra. Se ao orador lhe falta amor, uma das características básicas de Deus, sua eloquência superior ou sua facilidade com os idiomas é tão inútil para promover o reino de Deus quanto os ruídos sem sentido de um pedaço de bronze que retine ou um sino que soa (ver 1Jo.4:8; DTN, 22; GC, 487, 493).

Dos anjos. Paulo pode estar se referindo ao dom de línguas tão estimado em Corinto (ver com. de 1Co.14) ou ao idioma dos anjos. Contudo, a manifestação espetacular do dom de línguas ou mesmo a habilidade de falar na língua dos anjos não confere honra a ninguém, tampouco tem valor real se não estiver associado ao amor. O propósito do apóstolo era corrigir a avaliação errada que os Coríntios faziam do dom de línguas e motivá-los a buscar o amor como o atributo mais valioso.

Amor. Do gr. agape, o tipo mais elevado de amor, que reconhece o valor da pessoa ou do objeto amado; amor baseado em princípio, não em emoção; amor que emana do respeito pelas qualidades admiráveis de seu objeto. Esse é o amor existente entre o Pai e Jesus (ver Jo.15:10; Jo.17:26); é o amor redentor da Divindade pela humanidade perdida (ver Jo.15:9; 1Jo.3:1; 1Jo.4:9; 1Jo.4:16); é a qualidade especial demonstrada no relacionamento dos cristãos uns com os outros (ver Jo.13:34-35; Jo.15:12-14); e demonstra a relação do crente com Deus (ver 1Jo.2:5; 1Jo.4:12; 1Jo.5:3). O amor a Deus é demonstrado pela aceitação de Cristo e pela conformidade com Sua vontade; essa é prova do amor (ver Jo.2:4-5; ver Nota Adicional ao Salmo 36; ver com. de Mt.5:43-44).

A palavra “caridade” não é suficiente para indicar a amplitude de interesse no bem-estar dos outros que contém a palavra agape. Na verdade, “caridade” pode transmitir uma ideia limitada de assistência material. A palavra “amor” é melhor, mas deve ser entendida à luz de tudo o que é dito neste capítulo sobre esse dom. Esse “amor” (agape) não deve ser confundido com o que é chamado de amor, qualidade composta em grande parte de sentimento e emoção que se centraliza no eu e nos desejos do eu. Agapê enfatiza o interesse e a preocupação pelos outros e leva à atitude apropriada para tanto. A igreja de Corinto sofria grande perturbação com discórdias internas resultantes de divisões e partidos (ver 1Co.1:11-12). Alguns se jactavam de suas qualificações e dons superiores (ver 1Co.3:3-5; 1Co.3:8; 1Co.3:18-19; 1Co.3:21; 1Co.4:6-7). Este capítulo mostra que ter vários dons do Espírito não significa nada se a pessoa não tiver amor.

Bronze. Do gr. chalkos, “bronze”, ou qualquer coisa feita de bronze. Neste caso, devido à frase “que soa”, provavelmente se refira a um gongo ou um trompete. A ideia é de um instrumento que ressoa, que produz um som alto e que dá a impressão de grande importância, mas que é apenas um emissor de som sem vida.

Retine. Do gr. alalazo, palavra onomatopeica que originalmente expressava os alaridos de um exército ao ir à batalha. Desse emprego original veio a significar qualquer som alto, tal como um gemido de lamentação. Aqui, alalazo é usado para descrever o som monótono de um sino.

1Co.13:2 2. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.

Profetizar. O apóstolo se refere então ao mais importante, embora talvez menos sensacional, dom de falar como mensageiro inspirado por Deus e que transmite à igreja as instruções do Céu. A superioridade desse dom sobre o de línguas e outros dons espirituais é enfatizada em 1Co.14:1; 1Co.14:39. O profeta que está entre Deus e o ser humano e que revela a vontade divina deve ser dominado pelo amor, do contrário suas mensagens terão pouco efeito nos ouvintes.

Mistérios. Do gr. mysteria (ver com. de Mt.13:11; Rm.11:25). Por causa do pecado, as faculdades mentais foram enfraquecidas; a capacidade de entender as maravilhas da vida, tanto naturais quanto espirituais, é muito inferior àquilo que Deus originalmente planejou para o ser humano (ver Is.6:9-10; Jo.12:37-40; 2Co.4:4; T4, 585; T5, 698, 701). São necessários longos e árduos períodos de estudo e pesquisa para se descobrirem certos segredos da natureza, que eram logo percebidos por Adão antes do pecado (ver PP, 50, 51). A mente dominada pelo pecado e não convertida não consegue entender as coisas de Deus. Isso se deve à completa mudança efetuada pelo pecado na natureza espiritual do ser humano, de modo que seu proceder é diametralmente oposto ao do Criador (ver Is.55:8-9).

Deus considerou conveniente revelar aos profetas a forma como Sua vontade atua em favor do ser humano. Por sua vez, os profetas têm o dever de instruir as pessoas quanto à relação com Deus e com o próximo (ver SI.25:14; Am.3:7).

Ciência. Por “ciência”, Paulo se refere não à ciência em geral, mas ao dom do conhecimento, descrito em 1Co.12:8 como “a palavra do conhecimento”, que também representa a “expressão do conhecimento” (ver com. de 1Co.12:8; 1Co.12:28).

Fé. Isto é, o dom da fé (ver com. de 1Co.12:9).

Amor. Ver com. do v. 1Co.13:1.

Nada. Depois de enumerar os dons de profecia, conhecimento e fé, atributos espirituais notáveis e muito desejados, Paulo declara que todos eles, por mais admiráveis e importantes que sejam, são ineficazes sem o amor. O mesmo ocorre com dons adquiridos, como habilidades intelectuais. Satanás tem grande poder intelectual e conhecimento que excedem os do ser humano, mas não é santificado por isso (ver T2, 171; PP, 36; T5, 504). A mente que não é submissa a Cristo nem dirigida por Seu Espírito fica sob o controle de Satanás, que trabalha nela para cumprir seus próprios objetivos (ver T5, 515).

Portanto, mera habilidade intelectual, sem o amor de Deus, serve apenas para ajudar o inimigo a alcançar seus propósitos e pouco contribui com os interesses espirituais (ver 1Jo.4:8). A pessoa que tem a sabedoria deste mundo e compreende teoricamente a relação entre o ser humano e Deus, mas não conhece o amor, ainda estará perdida. Seus esforços para fazer o bem a outros serão infrutíferos, e ela não chega a cumprir o grande objetivo da vida que é glorificar a Deus (ver Jo.4:7-8; MDC, 37).

1Co.13:3 3. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.

Distribua. Do gr. psomizo, literalmente, “alimentar dando pedaços do alimento na boca”, “distribuir”, “alimentar em bocados”. Este termo é empregado no NT apenas neste versículo e em Rm.12:20. Aqui, a palavra pode ser aplicada à distribuição de bens aos pobres em pequenas porções. Provavelmente, na época de Paulo, pessoas ricas tivessem o costume de distribuir esmolas aos pobres nos portões de suas propriedades (ver Lc.16:20-21). Pode ser que distribuíssem esmolas em pequenas quantidades a muitas pessoas de modo que haveria um número maior de beneficiados e mais pessoas para louvar o doador. Dar esmolas era considerado uma grande virtude, com frequência, praticada com ostentação. Jesus reprovou esse desejo de aclamação popular (ver com. de Mt.6:1-4). Para destacar a inutilidade desse tipo de caridade, Paulo enfatizou que se alguém distribuísse tudo o que possuía, mas sem o verdadeiro amor, seria isso uma hipocrisia de nenhum valor espiritual. Embora essa atitude pudesse resultar em bem para os outros, não seria aprovada por Deus, pois lhe faltariam as qualidades requeridas.

Para ser queimado. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “para que me glorie”. Assim, o significado da passagem seria: “Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo a fim de me gloriar, nada disso me aproveitará.” A ideia é que o martírio em busca de glorificação própria não tem mérito algum. Nos dias de Paulo, não era costume a execução em fogueira. Apedrejamento, crucifixão e decapitação pela espada eram os métodos comuns de execução. A pergunta é: por que então Paulo se referiu ao martírio na fogueira? A resposta seria que esta é uma das formas mais dolorosas de execução.

Entregar o corpo para ser queimado representa uma forma extrema de autossacrifício. Alguns consideram que esta passagem é uma profecia da tortura pelo fogo que a igreja sofreu na época de Nero e posteriormente. Assim, consideram as palavras de Paulo uma advertência contra o engano de que se pode obter mérito pelo martírio em fogueira.

Nada disso me aproveitará. Se a pessoa executada em fogueira não tiver “amor” (agape), morrerá sem esperança de vida eterna e, por conseguinte, perderá tudo. Por isso, o amor é mais precioso e valioso do que os dons do Espírito que os coríntios desejavam ter (v. 1Co.13:1-2), ou do que atos singulares de beneficência e autossacrifício. Nada pode substituir o amor. Deus aceita apenas o serviço motivado pelo amor (ver Jo.14:15; Jo.14:21; Jo.14:23; Jo.15:9-10; Jo.15:12; Jo.15:14; 1Jo.4:11-12; 1Jo.4:16-21; Jo.5:1-3).

1Co.13:4 4. O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,

Paciente. Nos v. 4 a 7, Paulo continua a analisar o amor. Ele enfatiza sete excelentes características do amor e oito atitudes estranhas à sua natureza. Nessa apologia, ele apresenta as qualidades superiores do amor tanto no aspecto positivo quanto no negativo. A personificação do amor nestes versículos exalta a beleza da descrição, pois Paulo atribui ao amor as características encontradas em todos os que verdadeiramente amam. No parágrafo há vislumbres ocasionais das falhas da igreja de Corinto em contraste direto com as qualidades do amor. Em um mundo onde prevalecem a impaciência e a intolerância, a paciência e a longanimidade são atributos preciosos. O amor é paciente com as faltas, quedas e fraquezas do próximo. Reconhece que todos os seres humanos são falíveis e que, portanto, são previsíveis os erros que resultam de sua natureza pecaminosa. A paciência é o oposto de precipitação, de expressões e pensamentos apaixonados e de irritabilidade.

O adjetivo “paciente” denota o estado mental que capacita a pessoa a ser tranquila e a suportar opressão, acusação e perseguição injustas (ver Ef.4:2; Cl.3:12; 2Tm.4:2; 2Pe.3:15; Mt.26:63; Mt.27:12; Mt.27:14; ver com. de Mt.5:10-12). A pessoa paciente possui o fruto do Espírito (ver Gl.5:22).

Benigno. Do gr. chresteuomai, “ser gentil”, “exercer gentileza”, “ser atencioso e suave”. A palavra retrata a natureza bondosa da pessoa dirigida pelo Espírito de Deus e que sempre procura revelar, por palavras e ações, simpatia e preocupação pelas lutas e dificuldades de outros. A ideia da palavra é de que, sob todas as circunstâncias da vida, quer sejam duras ou desafiadoras, dolorosas ou tristes, o amor é suave e gentil. O amor é o contrário do ódio, que se manifesta em severidade, ira, dureza e vingança. Quem realmente ama trata bem, alegra-se em ser gentil e cortês, pois não deseja ferir os sentimentos de ninguém e promove a felicidade do próximo (ver 1Pe.3:8).

Não arde em ciúmes. Do gr. zeloo, “ser zeloso”, tanto no bom quanto no mau sentido. Neste caso, no mau sentido, “ter ciúmes”, isto é, demonstrar sentimentos negativos por causa de vantagens que alguém possua. Tais sentimentos provocam luta e divisão, o que contraria os ensinos de Jesus, pois Ele exortou ao amor uns pelos outros e a viver em unidade (ver Jo.15:12; Jo.17:22; 1Jo.3:23). Inveja e ciúmes são fraquezas cruéis e desprezíveis (ver Pv.27:4; Ct.8:6). Lúcifer, o anjo privilegiado por ser um dos querubins da guarda junto ao trono de Deus, foi vencido pela inveja e perdeu sua posição elevada (ver Is.14:12-15; Ez.28:14-15). Desde sua queda, Satanás procura implantar seu próprio atributo de inveja no coração dos seres humanos, para que todos se percam como ele se perdeu. Somente o amor pode eliminar o ciúme. Porém, sentir-se satisfeito com o que o Senhor nos permite ter não exclui o desejo sincero de buscar os melhores dons e ansiar pelo “caminho sobremodo excelente” do amor, descrito neste capítulo (ver 1Co.12:31).

Não se ufana. Do gr. perpereuomai, “vangloriar-se”, “jactar-se”. O amor não louva a si mesmo; é humilde e não tenta se exaltar. Aquele em cujo coração se encontra o verdadeiro amor mantém em mente a vida e a morte de Jesus e, assim, repele qualquer pensamento ou sugestão que possa levá-lo à autoglorificação (ver PE, 112, 113). Como dom do Espírito, o amor leva a pessoa a considerar que tudo o que é bom provém de Deus e é concedido por Ele, e que, portanto, não há razão para se jactar por possuir algum dom divino.

Não se ensoberbece. Do gr. phusioo, “inchar”, “inflar”, metaforicamente, “se orgulhar”. Phusioo vem de phusa, “berro”. O amor não infla a pessoa de vaidades; não produz uma condição de convencimento e exaltação própria. Esta expressão aponta para o estado subjetivo de orgulho e satisfação própria que, com frequência, caracteriza os que se destacam em conhecimento e habilidades diversas (ver 1Co.8:1). O amor não se compraz na exaltação própria, na alegação de se ter os melhores dons, nem em se vangloriar. O amor não produz sentimentos de importância própria, nem procura exaltar alguém por alguma conquista (ver T5, 124).

1Co.13:5 5. não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;

Não se conduz inconvenientemente. Do gr. aschemoneo, “agir indecorosamente”, “comportar-se de modo desonroso”. Na LXX, a palavra é usada com o significado “estar nu” (ver Ez.16:7; Ez.16:22). O amor nunca é descortês, rude ou tosco; nunca se comporta de modo a ofender os outros. Cristo, quando esteve na Terra, sempre Se preocupava com os sentimentos das pessoas e era amável com todos (ver OE, 121). O verdadeiro seguidor de Cristo será cortês em todo tempo e nunca responderá aos impulsos do coração natural para reagir de forma rude e dura ante qualquer descortesia (ver OE, 123). O amor busca o que é certo e apropriado em todos os relacionamentos, porque promove a felicidade dos outros e, assim, evita tudo que possa ofender ou atrapalhar a alegria. Nestas palavras, pode haver alusão a conduta imprópria de alguns dos coríntios quanto à adoração pública e às festas pagãs (ver 1Co.8:10-12; 1Co.11:4-6; 1Co.11:20-22).

Para o cristão, opiniões pessoais, desejos e práticas egoístas são suplantados pelo amor, em benefício do conforto, conveniência e felicidade dos demais. O comportamento correto do amor impede fanatismo e extremismo que levam a explosões emotivas desenfreadas e desonram a causa de Deus. A declaração de que o amor nunca se porta de forma inconveniente mostra que está sob o controle da razão constantemente e que não é mera emoção ou sentimento. Aquilo que é apenas uma resposta ao sentimento e à emoção, e que é falsamente chamado de amor, não age pela razão, nem considera os sentimentos dos outros.

Os seus interesses. Literalmente, “suas próprias [coisas]”. O oposto do amor é a busca de vantagem própria, influência ou honra como o grande objetivo na vida (ver 1Co.10:24; 1Co.10:33). De todas as características do amor, esta é a mais difícil para a pessoa cujo coração não está santificado. Naturalmente, o ser humano se interessa em primeiro lugar por si mesmo; e, com frequência, esse interesse predomina sobre todos os demais.

Mas o caminho de Cristo, o caminho do amor, coloca o eu em segundo lugar e os outros, em primeiro (ver com. de Mt.5:43-46; Mt.7:12). A natureza egoísta do ser humano é mais uma evidência de que o pecado inverteu por completo a ordem divina, levando o ser humano a concentrar as afeições e os interesses em si mesmo (ver Je.17:9; Rm.7:14-18; Rm.7:20; Rm.8:5-8; Tg.4:4; ver com. de Mt.10:39). Aqueles que possuem o amor de Deus esquecem o eu e são dominados pelo desejo de fazer a vontade divina. É por isso que estão dispostos a dar a vida no ministério em favor de outros (ver Mt.22:37-39; At.10:38; OE, 112; T7, 9, 10). Jesus “andou por toda parte, fazendo o bem” (At.10:38). Essa declaração deixa claro que ninguém pode ser um cristão genuíno e um verdadeiro seguidor de Cristo se vive para promover os próprios interesses. O cristão segue e imita a Cristo. Por isso, nega os apelos do coração natural para se dedicar a si mesmo e está disposto a sacrificar conforto, tempo, tranquilidade, riqueza e talentos para promover o bem-estar dos outros.

Não se ira facilmente (NVI). O advérbio “facilmente” foi acrescentado e, ao que tudo indica, sem autorização. De fato, ele confere um sentido errado à frase. O amor não se ira, quer facilmente ou não. Nada pode perturbar a tranquilidade do perfeito amor nem causar demonstração de perturbação, impaciência ou raiva. Inserir a palavra “facilmente” seria sugerir que, às vezes, se permite raiva, irritabilidade ou ressentimento, mas isso não acontece com o amor (ver SI.119:165; Hb.12:3; 1Pe.2:23). O cristão sabe que o eu, o coração natural, se opõe à vontade de Deus; mas que, ao se entregar ao Senhor, o eu morre para o pecado.

Por isso, não tem motivo para se irritar nem se perturbar. Ele simplesmente entrega tudo a Deus, sabendo que qualquer coisa que ocorra estará sob o olhar atento e amoroso dAquele que controla todas as coisas para o seu bem (ver Rm.6:11; Rm.8:28; 1Pe.5:6-7). Um dos efeitos mais evidentes da conversão é a mudança no caráter. A pessoa que era naturalmente irritável, ressentida e pronta a se irar, sob a influência do Espírito Santo, torna-se calma, suave e gentil. Todos os esforços de Satanás para perturbá-la e fazer com que desista e se renda a seu antigo temperamento são infrutíferos.

Não se ressente do mal. Literalmente, “não considera o mal”. A expressão grega sugere não levar em consideração o mal que foi feito; não imputar o mal a alguém, nem acusar. Este é outro belo atributo do amor. Mostra que o amor entende da melhor forma o comportamento dos outros. Quem é dirigido pelo amor não é severo nem disposto a encontrar falhas ou a atribuir motivos errados a outros.

1Co.13:6 6. não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;

Injustiça. Do gr. adikia. O amor não tem prazer na injustiça, seja da parte de amigo ou inimigo. A injustiça é um pecado (ver 1Jo.5:17) e é contrária à natureza divina do amor; portanto, aquele que ama não se alegra com o que está em desarmonia com a vontade divina. O amor não se alegra com os defeitos dos outros ou em que outros sejam tidos como culpados de erro. Não se alegra em saber que alguém errou (ver Pv.10:12; Pv.11:13; Pv.17:9; 1Pe.4:8). A pessoa cujo coração não é santificado fica feliz quando um inimigo peca ou quando um oponente comete um erro que o envolva em desgraça. Mas isso não acontece com o amor. Ele toma o caminho oposto e procura ajudar mesmo um inimigo que esteja em dificuldades (ver Pv.24:17; Pv.25:21; Mt.5:44; Rm.12:20). Somente aqueles que não são santificados pela verdade se deleitam em fazer o mal a outros (ver Rm.1:32; Rm.12:9).

Verdade. Neste caso, “verdade” contrasta com “injustiça” e significa virtude, justiça, bondade. O amor se deleita, não nos defeitos, mas nas virtudes dos outros. Está interessado no avanço da verdade e na própria felicidade, portanto, é grato sempre que a causa da verdade é fortalecida (ver Mc.9:35-40; Fp.1:14-18). O amor não se alegra com o pecado nem com a punição do pecador. Ao contrário, encontra prazer no livramento do ser humano dos grilhões do pecado, pois isso o coloca em harmonia com a verdade e o torna um candidato à felicidade no Céu, para a qual foi criado (ver Ez.18:23; Ez.18:32; Ez.33:11; Jo.8:32; Jo.17:17; 1Jo.4:8; PJ, 290).

1Co.13:7 7. tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Sofre. Do gr. stego, “cobrir”, “proteger”, “sustentar”, “apoiar”. O amor cobre os erros e faz silêncio sobre as falhas das pessoas, o que o egoísmo do coração natural divulgaria com satisfação. O amor não sente a necessidade de inspecionar as debilidades dos outros nem de permitir que sejam inspecionadas por alguém.

Tudo crê. Isto não significa que a pessoa que ama o próximo é crédula a ponto de acreditar em coisas absurdas, nem de ser incapaz de distinguir entre o que é verdade e o que não é. O amor está disposto a pensar o melhor possível da conduta dos demais, imputando-lhes bons motivos. Essa é a atitude do amor, pois procura promover a felicidade dos outros e não apoia nada que possa lhes prejudicar, exceto uma evidência irrefutável. Com relação a Deus, o amor crê sem questionar a vontade divina revelada. Não há dúvida sobre a palavra de Deus e Suas instruções. O amor tudo aceita e obedece com gratidão.

Espera. Independente de quão más sejam as aparências e de haver motivos para se questionar a sinceridade das pessoas, o amor ainda tem esperança de que tudo acabará bem. Por isso, mantém sua posição até que se prove o contrário. Essa fé no próximo, inspirada pelo amor, motiva o indivíduo a ser um defensor da justa causa alheia, mesmo em face da oposição. O amor se baseia na confiança, e essa confiança se baseia em Deus. Portanto, o amor está disposto a enfrentar o ridículo, a luta e o desprezo, em defesa de outros, esperando que no tempo devido a verdade seja confirmada.

Suporta. O amor suporta de forma serena as dificuldades, provas, perseguições e os danos infligidos pelo ser humano, e todos os ataques que Deus considera conveniente permitir que o adversário faça (ver Jó.13:15). Esta declaração sobre o amor mostra a infinita paciência daquele que está sob o domínio do amor. Tal pessoa suporta com paciência o comportamento estranho dos outros, mesmo que planejado para feri-la ou perturbá-la. Pois vê no próximo alguém pelo qual Cristo morreu, alguém enganado por Satanás e que, portanto, deve ser ajudado e tratado com compaixão em vez de dureza e condenação. Como a expressão perfeita da lei de Deus, o amor trabalha para o bem dos demais e, como consequência, está preparado para considerar a conduta desfavorável dos outros com paciência, compreensão e simpatia inspiradas por Deus (ver Mt.22:37-40; Rm.13:10; 1Jo.4:7; 1Jo.4:12; 1Jo.4:16; 1Jo.4:18; 1Jo.4:20-21).

1Co.13:8 8. O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará;

Acaba. Do gr. ekpipto, “cair de [ou desde]”, “cair de seu lugar”, “falhar”, “perecer”. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante pipto, a forma simples do verbo. O amor genuíno não cai como uma folha ou uma flor (ver Tg.1:11; 1Pe.1:24). Quando uma flor exala sua beleza e fragrância durante as horas de brilho do sol, cumpre seu propósito. Logo, vem o vento frio e a faz murchar e cair. Isso não acontece com o amor. Tanto nos dias difíceis quanto nos de bonança, o amor sempre permanece o mesmo, exalando sua fragrância de confiança, esperança e fé ao redor. Assim deve ser, pois o amor é o fundamento da lei, e a lei de Deus é eterna (ver SI.119:160; Mt.5:17-18; Lc.16:17). Todo crente deve cultivar esse fruto do Espírito e estar certo de que não existe circunstância para a qual o amor não encontre uma saída; o cristão conta sempre com o amor para solucionar os problemas.

Profecias. O dom de profecia foi concedido por Deus para guiar a igreja ao longo dos séculos (ver SI.77:20; Os.12:13; Ap.12:17; Ap.19:10). Quando não houver mais necessidade dessa direção, isto é, quando o povo de Deus alcançar seu lar celestial, as profecias cessarão.

Desaparecerão. Do gr. katargeo, “anular”, “findar”.

Línguas. Como a profecia, este dom, que teve grande utilidade na igreja apostólica (ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14), já não será mais necessário.

Cessarão. Do gr. pauo, “pausar”.

Ciência. Ou, conhecimento. Não o conhecimento em geral, mas o dom do conhecimento que capacita as pessoas a explicar a verdade de forma clara e lógica (ver com. de 1Co.12:8). Paulo apresenta a superioridade do amor sobre os vários dons espirituais que são úteis na edificação da igreja, mas que não serão necessários para a igreja triunfante no reino da glória.

Passará. Do gr. katargeo, “anular”, “fundar”.

1Co.13:9 9. porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.

Em parte. Os dons de conhecimento e profecia fornecem apenas vislumbres parciais dos tesouros inextinguíveis do conhecimento divino. Esse conhecimento limitado desaparecerá diante da luz superior do mundo eterno, como a luz de uma vela perde a sua importância diante do brilho da luz solar.

1Co.13:10 10. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.

Perfeito. Do gr. teleios, “completo”, “inteiro”, “plenamente maduro”. Mesmo o conhecimento adquirido pelo mais brilhante ser humano é insignificante quando comparado ao vasto oceano de conhecimento do universo. Assim, a jactância dos coríntios estava completamente fora de lugar (ver 1Co.8:1-2). Quando Jesus Cristo vier outra vez para buscar os Seus, então a iluminação parcial da mente humana baseada no conhecimento hoje disponível se desfará em vista da iluminação superior da verdade. Assim, ocorre como a luz das estrelas que desaparece quando o sol desponta no horizonte.

Será aniquilado. Do gr. katargeo (ver com. do v. 1Co.13:8). Estas palavras não sugerem que o conhecimento da verdade cessará ou passará. A verdade é eterna, e o conhecimento que o ser humano tem da verdade eterna sempre permanecerá. É a natureza parcial desse conhecimento que cessará quando o ser humano for transformado de mortal a imortal (ver 1Co.13:12; 1Co.8:2). Do mesmo modo, quando este mundo terminar, e o ser humano tiver comunhão face a face com Deus, a profecia terá cumprido seu propósito e não mais será necessária.

1Co.13:11 11. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.

Menino. Do gr. nepios, literalmente, “alguém que não fala”, um “infante”. O apóstolo usa as diferenças entre as experiências da infância e da vida adulta para ilustrar a grande diferença entre a obscura compreensão que o ser humano possui e a luz brilhante do conhecimento que terá no Céu.

Falava. Ou, “costumava falar”, isto é, era meu hábito falar. Os sons sem sentido de uma criança, que está aprendendo a falar, são contrastados com a sabedoria que substituirá o conhecimento terreno na condição imortal futura. Quando alguém chega à fase adulta, deixa de lado, como se não tivessem valor, as ideias e os sentimentos da infância, que antes pareciam tão importantes. De forma semelhante, quando alcançarem o Céu, as pessoas vão deixar ideias, opiniões e sentimentos tão estimados e valorizados nesta vida.

Sentia. Ou, “costumava sentir”, isto é, “era meu hábito sentir”. Isto se refere ao exercício rudimentar da mente infantil, um modo de pensar que não pode ser considerado como raciocínio completo. Essa compreensão era estreita e imperfeita, e o conhecimento, escasso. Coisas que chamavam a atenção antes perdem seu valor na fase adulta.

Pensava. Ou, “costumava pensar”, isto é, “era meu hábito pensar”. O pensamento e o raciocínio da infância parecem pueris, de curto alcance, inconclusivos e errados para um adulto. Assim será quando o povo de Deus estiver no reino da glória. Os salvos perceberão uma grande diferença entre os planos, opiniões, compreensão e faculdades de raciocínio da vida nesta Terra e do Céu, assim como se vê entre os da infância e da fase adulta.

Desisti. Do gr. katargeo (ver com. do v. 1Co.13:8).

1Co.13:12 12. Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.

Como em. Ou, “por meio de”.

Espelho. Do gr. esoptron. Outra ilustração para mostrar a imperfeição do mais elevado conhecimento que se possa obter na Terra. Espelhos antigos eram feitos de peças de metal polido (ver com. de Ex.38:8). A imagem vista nesses espelhos era com frequência borrada e turva. O conhecimento da verdade eterna é obscuro e limitado em comparação com o que será no Céu. Agora, a visão está anuviada pelas débilidades físicas próprias da condição de pecado; mesmo a percepção mental está enfraquecida pelos hábitos errôneos, de modo que as coisas espirituais são percebidas apenas obscuramente (ver T7, 199, 257, 258; 12, 399, 400).

Obscuramente. Do gr. en ainigmati, “num enigma”, como num quebra-cabeças em que faltam peças e, por isso, não pode ser montado corretamente. Assim é a visão presente da verdade espiritual. É parcial, obscura e limitada. No entanto, aquilo que se pode entender hoje é suficiente para trazer alegria ao cristão fiel, pois é capaz de ver algo da beleza do plano que Deus fez para a redenção do ser humano. No Céu, aquilo que obscurece a visão espiritual será retirado, e as coisas que confundem a humanidade se tornarão claras; o conhecimento se ampliará e, com isso, haverá alegria crescente (ver T8, 328).

Conhecerei. Isto é, conhecer plenamente, reconhecer, entender. A ideia de se conhecer plenamente não está na palavra traduzida como “conheço”, antes no mesmo versículo.

Como também. Isto é, da mesma maneira; não necessariamente com o mesmo alcance. Quando passarem as imperfeições desta vida e ocorrer a grande mudança do “corruptível” para a “incorruptível ”, quando “o que é mortal” se revestir de “imortalidade” (1Co.15:52-54), então a visão turva será substituída por uma visão clara, pois todas as obstruções serão removidas. Haverá comunhão face-a-face, de modo que a pessoa redimida, segundo sua habilidade cada vez mais ampla, conhecerá e entenderá plenamente todas as coisas.

Sou conhecido. Ou, “fui plenamente conhecido” ou “tenho sido plenamente conhecido ”, por Deus. Embora, nesta vida, o ser humano conheça a Deus de forma parcial, o conhecimento que Deus tem das pessoas é completo. O conhecimento mais completo que o ser humano terá no mundo porvir é comparado ao conhecimento que Deus tem dele nesta vida. Porém, o conhecimento do ser humano jamais se igualará ao de Deus, nem se aproximará dele. Por essa razão, as palavras “como também” não devem ser interpretadas como “igual em alcance”. Alguns usam este versículo para afirmar que, no reino da glória, as pessoas vão reconhecer umas às outras (ver DTN, 804). Mas esse não é o significado que Paulo quis atribuir à passagem. De fato, haverá tal reconhecimento, mas o apóstolo está falando das presentes perplexidades que serão explicadas no porvir e do conhecimento imperfeito que lá se tornará completo (ver F5, 706).

1Co.13:13 13. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

Permanecem. Com exceção do amor, tudo o que foi mencionado neste capítulo, incluindo profecias, línguas e outros dons do Espírito, deixará de ter valor ou findará. Mas os três elementos básicos da experiência cristã não passarão; eles são permanentes. Portanto, o cristão é exortado a concentrar a atenção nesses três dons. A fé tem valor eterno, pois sempre será um elemento essencial à harmonia na nova Terra. Neste caso, a fé não é o dom espiritual conhecido como fé (ver com. de 1Co.12:9), mas a experiência descrita em Hb.11 (cf com. de Rm.4:3). A esperança, como desejo de algo bom e expectativa de obtê-lo, será por sua própria natureza uma parte da experiência no Céu, onde sempre haverá novas realidades a se explorar e novos prazeres a desfrutar (ver 1Co.2:9; Ed, 306, 307). Os remidos não podem desfrutar de uma vez todos os tesouros do Céu; e, enquanto houver algo desejado e esperado para o futuro, haverá esperança.

Maior. De todas as qualidades de caráter, o amor é a que as Escrituras usam para descrever a própria natureza de Deus. Por isso, é fácil entender por que o apóstolo afirmou que acima de todos os dons do Espírito, está o amor (ver 1Jo.4:7-8; 1Jo.4:16). Como filosofia de vida, o amor é mais eficaz, mais vitorioso e mais satisfatório do que a posse e o exercício dos vários dons do Espírito enumerados em 1 Coríntios 12 (ver 1Co.12:31). O amor por Deus e pelo próximo é a mais elevada expressão de harmonia com Deus (ver Mt.22:37-40; T8, 139). A maior prova da sinceridade do cristianismo é o amor (ver Is.58:6-8; Mt.25:34-40; T6, 273-280). Ser cristão é ser como Cristo, que “andou por toda parte, fazendo o bem” (At.10:38). Portanto, cristãos são aqueles que no espírito de Cristo fazem o bem a todos que precisam. Fazem isso sem interesse próprio, mas por causa do amor de Deus no coração que torna impossível eles agirem de outra forma (ver T6, 268; T3, 524).

Amor é o caminho sobremodo excelente, porque sua expressão prática é a prova que decidirá o destino eterno de todos os seres humanos. Aqueles cuja religião é mero cumprimento exterior de formas e ritos descobrirão que isso não é aceitável a Deus (ver T5, 612). O amor que nega o eu, produzindo unidade entre os crentes, convencerá o mundo de que Deus enviou Seu Filho a esta Terra para salvar a humanidade. Esse é o método que Deus escolheu para Seu povo testemunhar da verdade do evangelho (ver Jo.17:21; Jo.17:23). Tal amor, que não deseja se exaltar, justificar ou comprazer-se egoistamente, mas que se dedica a ajudar os necessitados, é um argumento irrefutável. Os descrentes veem nesse amor algo incompressível à sua filosofia de vida. O coração deles é tocado e sua inteligência responde à evidência do poder da piedade na vida dos fiéis de Deus. Sendo assim, o amor demonstra ser o caminho sobremodo excelente para se pregar o evangelho e fazer avançar o reino de Deus.

1Co.14:1 1. Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.

Segui. Do gr. dioko, “buscar”. Os coríntios foram advertidos a usar toda diligência em buscar o amor e fazê-lo crescer. Antes de analisar o dom de línguas, Paulo faz uma exortação final e urgente sobre o caminho sobremodo excelente que louva e descreve de forma tão vívida em 1Co.13.

Amor. Do gr. agape; ver com. de 1Co.13:1.

Com zelo. Do gr. zeloo, “ser zeloso por”. A palavra é traduzida como “procurai com zelo” (1Co.12:31; ver com. ali).

Que profetizeis. Sobre o dom de profecia, ver com. de 1Co.12:10. No capítulo 14, Paulo contrasta o dom de profecia com o de línguas, mostrando que o primeiro traz mais benefícios a um maior número de pessoas. Os coríntios exaltavam o dom de línguas acima do de profecia, sem dúvida, devido a sua natureza espetacular. Alguns talvez desprezassem a profecia, como parece ter acontecido em Tessalônica (1Ts.5:20). Os coríntios foram advertidos a buscar o amor, que leva as pessoas a obter dons que beneficiam os outros, bem como a si mesmos. Não se deve buscar os dons para exaltação própria, mas para servir melhor a Deus e ajudar a igreja (ver At.8:18-22; At.19:13-17).

1Co.14:2 2. Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.

Língua estranha (ARC). A palavra “estranha” foi acrescentada (sobre diferentes pontos de vista da natureza dessas línguas, ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14: no final do com. do v. 1Co.14:40).

Não fala a homens. Ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14: no final do com. do v. 1Co.14:40.

Em espírito. Isto é, sob influência do Espírito, como ao de um profeta quando está “em Espírito” (ver com. de Ap.1:10).

Mistérios. Ver com. de Rm.11:25. O Espírito revelaria verdades divinas a quem falasse em línguas. Contudo, a revelação beneficiaria apenas a pessoa que tinha esse dom. Os sons que emitia não eram inteligíveis aos que o ouviam e não eram dirigidos a eles.

1Co.14:3 3. Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.

O que profetiza. Isto é, aquele que fala sob inspiração. O profeta falava numa língua conhecida a quem o ouvia. Seus serviços traziam bênçãos e instruções à igreja, ao passo que quem falava em línguas edificava apenas a si mesmo (v. 1Co.14:4).

Aos homens. O profeta é chamado por Deus para ser um agente por meio do qual os mistérios divinos são revelados (ver Is.6:9; Je.1:5-7; Jl.1:1-2).

Edificando. Literalmente, “construindo”. As mensagens dos profetas serviam para edificar a experiência do cristão em estágios progressivos.

Exortando. Do gr. paraklesis, “admoestação”, “conforto”, “encorajamento”. A palavra de mesma origem, parakletos, é um nome dado ao Espírito Santo (Jo.14:16; Jo.14:26; Jo.15:26; Jo.16:7; sobre o significado do nome, ver com. de Jo.14:16).

Consolando. Do gr. paramuthia, cujo significado é quase idêntico a paraklesis.

1Co.14:4 4. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja.

Língua estranha (ARC). Literalmente “uma língua”. A palavra “estranha” é um acréscimo.

A si mesmo se edifica. Portanto, o dom desempenha uma função útil e tem o seu lugar, mas não em assembléias públicas, a menos que haja um intérprete (ver 1Co.14:5; 1Co.14:19). Tendo em vista que eram raras as cópias das Escrituras do AT, havia mais necessidade de revelações pessoais da verdade divina.

Edifica a igreja. O profeta recebe revelações divinas, mas ele é meramente um agente pelo qual essas revelações são transmitidas à igreja, para edificação.

1Co.14:5 5. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação.

Que vós todos falásseis. Para que não fosse acusado de menosprezar algum dom do Espírito, Paulo expressou o desejo de que todos os crentes falassem em línguas. Este era um dom importante e tinha um papel a desempenhar na igreja. No entanto, o dom não devia ofuscar o menos espetacular, porém mais importante, dom de profecia.

Superior. O dom de profecia era superior devido a seu valor para a igreja. Mais pessoas eram beneficiadas por ele do que pelo dom de línguas. Os dons do Espírito devem ser avaliados segundo a utilidade e não segundo sua natureza espetacular.

Salvo se as interpretar. Aparentemente, quem falava em línguas nem sempre era capaz de interpretar os mistérios revelados a ele. Paulo aconselha a orar para que “a possa interpretar” (v. 1Co.14:13), mas adverte que “não havendo intérprete, fique calado na igreja” (v. 1Co.14:27-28).

Edificação. Ver com. do v. 1Co.14:4.

1Co.14:6 6. Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

Falando em outras línguas. Paulo afirmou que falava em línguas mais do que todos os coríntios (v. 1Co.14:18).

Revelação. Do gr. apokalupsis, “tirar o que cobre”, “tirar o véu”. Aqui, o termo se refere à atividade de Deus de revelar aos seres humanos aquilo que não pode ser descoberto pelas faculdades naturais da mente.

De ciência. É provável que Paulo se refira ao dom conhecido como “palavra do conhecimento” (ver com. de 1Co.12:8).

De profecia. É difícil distinguir entre “profecia” e “revelação”, pois o profeta fala mediante a revelação. É provável que Paulo faça distinção entre novas revelações da verdade e declarações inspiradas que adaptam verdades conhecidas a aplicações específicas. O primeiro também pode se referir ao conteúdo, e o último, ao meio em que é transmitido.

Doutrina. Do gr. didache, “ensino”. Instruir era a obra dos “mestres” (ver 1Co.12:29).

1Co.14:7 7. É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara?

Flauta. Do gr. aulos, na LXX o equivalente ao heb. chalil (ver vol. 3, p. 23, 24). A palavra aulos no NT talvez se referisse a uma flauta simples.

Cítara. Do gr. kithara, “lira” ou “cítara”.

Distintos. Mesmo instrumentos sem vida, para que emitam sons que toquem a emoção dos ouvintes, devem produzir sons possíveis de ser discernidos. Eles devem ser regidos pelas leis reconhecidas de tom, ritmo e de intervalos de escala e medida; do contrário, seus sons não produzem o efeito desejado.

1Co.14:8 8. Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?

Trombeta. Sobre chifres antigos e trombetas, ver no vol. 3, p. 23, 24. A linguagem da trombeta era inteligível para o exército. Mas, se a pessoa que tocava a trombeta não fizesse um chamado claro, resultaria em confusão, e o exército não estaria preparado para a batalha.

1Co.14:9 9. Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar.

Língua. Neste caso, talvez se refira ao órgão da fala em vez de ao exercício do dom. Este versículo seria uma ilustração adicional à ideia dos v. 1Co.14:7-8.

Ao ar. Isto é, que não produz efeito.

1Co.14:10 10. Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido.

Vozes. Do gr. phonai, “tons”, “sons”, “vozes”. Alguns preferem traduzir a palavra como “línguas” (NTLH). As línguas são faladas com a intenção de transmitir alguma ideia inteligível aos ouvintes. Todas têm o propósito de ser úteis e não de ostentar.

1Co.14:11 11. Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim.

Estrangeiro. Termo comum para indicar quem não era grego, que estava fora da esfera da língua e da cultura gregas. Neste caso, é usado para indicar uma pessoa que falava outra língua.

1Co.14:12 12. Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.

Dons espirituais. Literalmente, “espíritos”. As diferentes manifestações dos poderes espirituais são representadas aqui como espíritos.

Edificação. Não há nada de errado em desejar dons espirituais. Deus quer que Seu povo seja abençoado com dons espirituais, mas o grande objetivo do derramamento do Espírito, a saber, a edificação da igreja, deve ser a meta da busca pelos dons. Os dons não devem ser buscados de forma egoísta, para exaltar o eu e satisfazer ambições pessoais.

1Co.14:13 13. Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.

Língua estranha (ARC). Literalmente, “a língua”. O adjetivo “estranha” foi acrescentado.

Interpretar. Ver com. do v. 1Co.14:5.

1Co.14:14 14. Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.

Língua estranha (ARC). Literalmente, “a língua”.

Meu espírito ora. O dom de línguas era exercido sob influência do Espírito. Mistérios divinos eram manifestados “em espírito” (cf. com. do v. 1Co.14:2). A experiência talvez fosse semelhante ao de um profeta “em visão” (ver com. de Ap.1:10).

Mente. Do gr. nous.

Infrutífera. Isto pode ser entendido de dois modos: (1) a oração é infrutífera porque não é entendida pelos ouvintes e, assim, não transmite benefício; ou (2) a mente consciente fica em parte, se não totalmente, inoperante durante o exercício do dom, como no caso de um profeta em visão.

1Co.14:15 15. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.

Que farei, pois? Qual é o caminho correto a seguir? Uma expressão similar se encontra em Rm.3:9 e Rm.6:15.

Com o espírito. Isto é, num estado de êxtase (ver com. do v. 1Co.14:2).

Mas também orarei com a mente. Esta combinação se daria se quem fala numa língua fosse capaz de interpretá-la ao mesmo tempo (ver com. do v. 1Co.14:5). A interpretação seria na língua dos ouvintes.

1Co.14:16 16. E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes;

Indouto. Do gr. idiotes, “alguém sem conhecimento profissional”, “sem habilidade”, “sem educação formal”. Neste contexto, parece se referir a uma pessoa “ignorante” quanto ao dom de línguas. Se alguém que pudesse falar em línguas exercesse esse dom na igreja sem interpretação, então os demais presentes seriam incapazes de participar da adoração. Dessa forma, seriam privados de compartilhar das bênçãos do serviço.

Amém. Do gr. amen, do heb. ‘amen, que significa “firme”, “estabelecido” (ver com. do Mt.5:18). Quando empregado pela congregação, no final de um sermão ou de uma oração, expressa concordância com o que foi dito (ver 1Cr.16:36; Ne.5:13; Ne.8:6). Também era dito pela congregação no final de uma oração para indicar confiança de que a prece seria atendida (ver Dt.27:15-26; Ne.8:6). Dava-se muita importância a essa prática; fato comprovado por declarações de alguns rabinos, por exemplo: “maior é aquele que responde amém do que quem profere a bênção” (Berakoth, 53.b, ed. Soncino, Talmude, p. 325). “Que seja bendito o nome de quem responde amém, com toda sua força, retira-se sua sentença. [...] Quem responde amém com toda sua força tem os portões do paraíso abertos para ele” (Shabbath, 119.b, ed. Soncino, Talmude, p. 589). Se a palavra fosse usada sem a devida consideração, era chamada de “amém órfão” (Berakoth, 47.a, ed. Soncino, Talmude, p. 284). O costume de responder com “amém” era comum na sinagoga, de onde foi adotado pela igreja cristã (ver Justino Mártir, Primeira Apologia, 65; Tertuliano, De Spectaculis, 25).

1Co.14:17 17. porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

Bem. Ou, “corretamente”. Para não se pensar que quem louvava em oração ou cântico por meio do dom de línguas não se aproximava de Deus de modo aceitável, Paulo diz que essa adoração é boa e correta. Embora não edifique a igreja, edifica só quem louva desse modo (ver v. 1Co.14:4).

1Co.14:18 18. Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.

Dou graças a Deus. Deus deve ser reconhecido como a fonte do dom de línguas. Este versículo mostra que Paulo não diminuía nem desprezava o dom.

Mais do que todos vós. Porém, a Bíblia não registra nenhum caso em que o apóstolo tenha exercido esse dom.

1Co.14:19 19. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.

Igreja. Do gr. ekklesia; ver com. do Mt.18:17. A referência não é ao edifício no qual ocorrem as reuniões, mas ao corpo organizado de crentes, independente do local onde estejam reunidos.

Cinco palavras. No NT, o número “cinco” é usado com frequência como indicando uns poucos. Então havia cinco pardais (Lc.12:6), cinco numa casa (Lc.12:52), cinco juntas de bois (Lc.14:19), etc.

Com o meu entendimento. Ou, “com minha mente”, isto é, num modo diferente ao de “línguas”, a fim de ser inteligível aos outros.

Instruir. Do gr. katecheo, “instruir oralmente”, “ensinar por palavra ou boca”. Desta palavra vem o termo “catecismo”, que originalmente significava instrução oral, como no caso dos dogmas da fé. É melhor dar uma exortação breve à igreja, como indicado pelas “cinco palavras”, para edificação, do que um longo sermão que não é compreendido pelos ouvintes e assim não serve para instruí-los.

Língua desconhecida (ARC). Ou, outra língua” (ARA).

1Co.14:20 20. Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.

Irmãos. Palavra comumente usada por Paulo para exortar (ver com. de 1Co.1:10).

Meninos. Os coríntios tinham muito orgulho de sua sabedoria (ver 1Co.1:20; 1Co.8:1-2). Eles exultavam por suas conquistas intelectuais, mas estavam se comportando como crianças em relação aos dons do Espírito. Tinham mais interesse nos dons espetaculares, como o de línguas, do que nos dons que atuavam de forma mais discreta, contudo, com mais eficiência para a igreja, como o de profecia. Com essa conduta, eles estavam colocando de lado a inteligência superior da qual se gloriavam e se rebaixando ao nível de crianças, pois avaliavam os fatos por sua aparência exterior. Muitas coisas triviais ocupam o tempo e a atenção dos cristãos, em detrimento do que é de fato digno. Várias questões que assumem importância serão comparadas a brincadeiras de crianças quando os seres humanos encararem a realidade do juízo.

Malícia. Do gr. kakia, “maldade”, “impiedade”, “depravação”, “malignidade”. Com respeito a essa qualidade, as crianças pequenas são consideradas inocentes. Essa é a atitude que será vista em todos que estão cheios do Espírito de Cristo.

Sede crianças. Do gr. nepiazo, “ser bebês”. Esta expressão indica uma condição mais infantil do que paidia, traduzida por “meninos” na frase anterior. Ela sugere que cristãos que verdadeiramente nasceram de novo não terão familiaridade com a corrupção moral do mundo. É provável que essa inocência com respeito à “malícia” seja parte do que Jesus tinha em mente quando afirmou que quem quer herdar o reino dos céus deve ser como uma criança (ver Mt.18:3).

Homens. Do gr. teleioi, “plenamente crescidos”, “maduro”, “de idade plena”. Em outras palavras Paulo diz: “Demonstrai com vosso pensamento que sois adultos”.

1Co.14:21 21. Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.

Lei. Do gr. nomos. Neste caso, é evidente que se refere a todo o AT (ver com. de Jo.10:34).

Está escrito. A citação é de Is.28:11, mas concorda apenas vagamente com o texto hebraico ou com a LXX. A passagem original é uma advertência para Israel com respeito à descrença e ao desprezo com que tratavam os mensageiros de Deus. Eles devem ter perguntado com escárnio se deviam ser tratados como meninos por ter sido repetido aos ouvidos deles como se ensinavam aos pequeninos “linha sobre linha” e “preceito sobre preceito”. Por meio do profeta, Deus respondeu que, pelo fato de terem desprezado uma instrução tão simples, seriam instruídos por um povo estrangeiro, de língua diferente. Essa é uma referência às nações gentílicas, em especial, Assíria e Babilônia, às quais os judeus foram levados em cativeiro. No cativeiro, eles ouviam apenas uma língua que lhes era ininteligível e bárbara. Porém, parece que no emprego dessa passagem do AT, Paulo enfatiza que, assim como Deus antigamente usou outras línguas com um propósito, Ele usa o dom de línguas para servir a um propósito importante na era cristã.

1Co.14:22 22. De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que creem.

De sorte que. Esta expressão liga a frase seguinte à observação anterior. Assim como Deus outrora usou os assírios e os babilônios para convencer os israelitas incrédulos, Ele usa o dom de línguas para convencer os incrédulos e fracos na certeza de que a mensagem do evangelho tem o selo do Céu. Um exemplo disso pode ser o Espírito Santo derramado sobre os que estavam reunidos na casa de Cornélio (At.10:24; At.10:44-47).

Sinal. Era um sinal para os que não criam. Isso não significa que, no momento em que se aceitava a fé, o dom não mais era útil. Ele deixava de ser um “sinal”, mas continuava a edificar o crente (ver com. do v. 1Co.14:4).

Para os que creem. A profecia edifica a igreja, o corpo de crentes (v. 1Co.14:2-4). É um sinal da presença contínua de Deus.

1Co.14:23 23. Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?

Toda a igreja se reunir. Este caso representa um uso errôneo do dom de línguas. Esse dom tinha o objetivo de ser um sinal para os incrédulos (v. 1Co.14:22), mas, quando exercido como o era em Corinto, com todos falando ao mesmo tempo, o dom tinha o efeito contrário.

Indoutos. Do gr. idiotai (ver com. do v. 1Co.14:16). Neste caso, a palavra parece se referir a pessoas não familiarizadas com o fenômeno das línguas.

Incrédulos. Podem ser judeus ou pagãos. A menção a incrédulos mostra que não cristãos frequentavam as reuniões dos cristãos. Talvez por curiosidade, ou por desejo de conhecer algo sobre a religião. Como os “indoutos”, eles também seriam incapazes de compreender o que estava acontecendo.

Loucos. Do gr. mainomai, “estar fora de si”. A palavra ocorre também em Jo.10:20; At.12:15; At.26:24-25. A confusão resultante da situação mencionada não poderia transmitir nenhuma ideia de verdade ou santidade a estranhos ou visitantes presentes. Pelo contrário, criaria uma impressão errada do cristianismo, sugerindo ser uma religião de confusão e loucura.

1Co.14:24 24. Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado;

Todos profetizarem. O efeito do dom de profecia sobre crentes e pessoas ignorantes é então contrastado a uma demonstração confusa do dom de línguas. Quem profetiza fala numa língua conhecida à congregação.Por todos convencido. Ou, “convencido de todos”. O Espírito Santo convence do pecado (ver com. de jo 16:8), neste caso, por meio da mensagem dos que profetizam.

1Co.14:25 25. tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.

Tornam-se-lhe manifestos. Isto podia ocorrer por que a consciência era despertada e os desígnios e motivações reais do coração eram revelados pelo Espírito Santo. Também podia ser que fatos secretos sobre os estranhos presentes na reunião seriam revelados sob inspiração do Espírito Santo. Foi a revelação de segredos de sua vida que convenceu a mulher samaritana de que Jesus era um profeta (Jo.4:19; Jo.4:29).

Prostrando-se. Postura de adoração comum no Oriente.

Testemunhando. Do gr. apaggello, “declarar”. A reação, neste caso, seria o oposto da manifestada pelos visitantes que frequentavam as reuniões em que havia uma demonstração desordenada de línguas (v. 1Co.14:23). A convicção interior resultante do testemunho poderoso daqueles que têm o dom de profecia, quando cada um apresenta com clareza, lógica e persuasão a revelação concedida pelo Espírito, leva o incrédulo ou indouto a confessar sua fé no poder de Deus.

1Co.14:26 26. Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

Que fazer, pois, irmãos? Isto é, “o que se deve concluir do que foi dito?”; “o que deve ser feito, então?”

Cada um de vós (ARC). Paulo não quer dizer que todos possuíam os vários dons alistados aqui, mas que todos os dons estariam na igreja ao mesmo tempo, distribuídos entre os vários membros segundo a sabedoria e a vontade de Deus (ver 1Co.12:6-11).

Tem salmo. Isto é, uma pessoa teria a habilidade de cantar um cântico sagrado do livro dos Salmos; ou um crente poderia ser inspirado a compor um cântico de louvor e desejar cantá-lo na reunião (cf. Ex.15:20-21; Jz.5:1; Lc.2:25-32).

Doutrina. Ou, “ensino” (ver com. do v. 1Co.14:6).

Revelação. Provavelmente uma referência àquilo que é revelado a alguém que tem interpretação. Ver com. de 1Co.12:10; 1Co.14:5.

Edificação. Comparar com os v. 1Co.14:3-5; ver com. do v. 1Co.14:12.

1Co.14:27 27. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete.

Sucessivamente. Isto é, não ao mesmo tempo.

E haja quem interprete. Ver com. de 1Co.12:10; 1Co.14:5. É possível que alguém pudesse interpretar tudo o que era dito pelo que falasse em línguas.

1Co.14:28 28. Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.

Fique calado. Isto mostra que a pessoa com o dom de línguas teria certo controle sobre o exercício do dom (cf. com. do v. 1Co.14:32).

Consigo mesmo. Edificação pessoal seria o principal propósito do dom conforme exercido em Corinto (ver Nota Adicional a Coríntios 14: no final do com. do v. 1Co.14:40).

1Co.14:29 29. Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.

Dois ou três. O conselho aos profetas é similar ao dado a quem falava em línguas: evitar confusão (ver v. 1Co.14:33).

Julguem. Do gr. diakrino, “discriminar”, “discernir”. Alguns acreditam que a expressão “os outros” se refere a outros na igreja que tinham o dom de profecia e também o dom de discernimento, que deviam avaliar os dizeres dos profetas que falavam e determinar se a mensagem deles era de Deus ou se era inspirada por outro poder (cf. 1Ts.5:21; 1Jo.4:1). Jesus advertiu a igreja de que haveria “falsos profetas” que surgiriam e tentariam enganar os crentes, e que a igreja deveria estar alerta contra estes a todo tempo, em especial à medida que se aproximasse do fim (ver Mt.24:5; Mt.24:11; Mt.24:24; 2Ts.2:9-11). Outros creem que o conselho de Paulo é dirigido aos ouvintes, cujo dever era fazer uma aplicação adequada da mensagem a suas experiências individuais.

1Co.14:30 30. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro.

Vier revelação. Deus é quem revela. Em respeito à nova revelação, quem estivesse falando deveria concluir sua fala. Apenas um profeta devia falar por vez (v. 1Co.14:31).

Assentado. Isto indica que a congregação estava assentada, e quem se dirigia à congregação estava em pé (cf. com. de Lc.4:16).

Cale-se. Do gr. sigao, “ficar em silêncio”, “manter silêncio”.

1Co.14:31 31. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados.

Todos podereis profetizar. Se na reunião houvesse ordem, e cada pessoa por vez se dirigisse à igreja, seria possível a todos transmitirem a verdade recebida.

Para todos [...] serem consolados. Ou, “todos possam ser exortados”. As mensagens combinadas instruiriam apropriadamente a todos. Um membro poderia ser encorajado e ajudado ao ouvir um falante em particular, ao passo que outros dariam exortação a outros membros da congregação, e assim todos seriam edificados.

1Co.14:32 32. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas;

Estão sujeitos aos próprios profetas. Devia haver pessoas que afirmavam não poder ficar em silêncio quando estavam sob inspiração do Espírito Santo. Paulo rejeita essa pretensão. Os verdadeiros profetas tinham controle de sua mente e podiam falar ou permanecer em silêncio. A inspiração não elimina a individualidade e o livre-arbítrio. O agente humano expressa em seu próprio estilo e pensamento as verdades reveladas a ele.

1Co.14:33 33. porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos,

Confusão. Deus não é de desordem, desunião, discórdia ou confusão. O verdadeiro culto a Deus não encoraja desordem de nenhum tipo. Este versículo apresenta um princípio geral que rege o cristianismo e deriva da natureza divina. Ele é o Deus da paz, e não se deve ensinar que Ele Se agradaria de uma forma de culto caracterizada por confusão de algum tipo (ver Rm.15:33; Rm.16:20; 1Ts.5:23; Hb.13:20). O cristianismo tende a promover a ordem (ver 1Co.14:40). Ninguém submisso à direção do Espírito Santo estará disposto a se envolver em desordem e confusão como a que resultaria de várias pessoas falando ao mesmo tempo em línguas ou profetizando. O adorador estará pronto a expressar amor e gratidão a Deus em oração e testemunho, mas o fará com seriedade, delicadeza e um respeito genuíno à manutenção da ordem na casa de Deus, e não com desejo de interromper e perturbar o culto.

Todas as igrejas. Paulo observa que o princípio de procedimento ordenado no culto a Deus prevalece em todas as igrejas. Portanto, devia ser aceito também em Corinto. Deus é o autor da paz em todos os lugares, e quem realmente crê nEle busca preservar a paz ao adorá-Lo, refreando todo desejo de se exaltar em vista da demonstração dos dons do Espírito dados a ele. Alguns editores e tradutores ligam a frase “como em todas as igrejas dos santos” ao v. 1Co.14:34. Não é possível definir a qual declaração pertence a frase.

1Co.14:34 34. conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina.

Mulheres caladas. Se a última frase do v. 33 está ligada ao v. 34 (ver com. do v. 33) a passagem diria: “como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas”. Com essa divisão, a ordem para que as mulheres fiquem em silêncio demonstra ser não uma mera restrição regional devido a alguma circunstância local, mas um reflexo do costume geral em todas as igrejas. É possível que o costume fosse geral, pois, sem especificar nenhuma igreja em particular, Paulo adverte: “a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” (1Tm.2:11-12). Alguns encontram dificuldades em entender esta proibição, não só com base no conceito atual do lugar da mulher na igreja, mas também no lugar e no serviço da mulher na história da Bíblia (ver Jz.4:4; 2Rs.22:14; Lc.2:36-37; At.21:9). O próprio Paulo elogiou as mulheres que trabalharam com ele no evangelho (Fp.4:3). Não há dúvidas de que elas desempenhavam parte importante na vida eclesiástica. Então, por que deveriam ser proibidas de falar em público? A resposta encontra-se no v. 1Co.14:35.

Lei. As Escrituras ensinam que, devido a seu papel na queda do homem, a mulher foi designada por Deus a uma posição subordinada ao marido (ver Gn.3:6; Gn.3:16; Ef.5:22-24; 1Tm.2:11-12; Tt.2:5; 1Pe.3:1; 1Pe.3:5-6). Por causa da mudança na natureza humana resultante da entrada do pecado, a harmonia que o ser humano desfrutava foi alterada. Não convinha mais que o homem e a mulher tivessem a mesma autoridade na direção do lar, e Deus escolheu colocar sobre o homem mais responsabilidade na hora de tomar decisões e instruir a família (ver PP, 58, 59).

1Co.14:35 35. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.

Interroguem [...] a seu próprio marido. Este procedimento preveniria interrupções inadequadas no serviço de culto e evitaria a confusão resultante.

É vergonhoso. Isto era assim por causa do costume dos gregos e dos judeus de que as mulheres deviam se retirar quando se discutiam assuntos públicos. A violação desse costume seria considerada vergonhosa e traria desonra à igreja.

1Co.14:36 36. Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros?

No meio de vós. A igreja de Corinto não foi a primeira, mas uma das últimas, fundadas por Paulo. Por isso, essa igreja não estava em posição de estabelecer regras de conduta para as demais ou de reivindicar se diferenciar das outras. Ela não estava sozinha na proclamação do evangelho; portanto, devia dar a devida consideração aos princípios de conduta e aos procedimentos na adoração aceitos em geral. Aparentemente, a igreja de Corinto tinha adotado costumes incomuns, como permitir que as mulheres participassem dos serviços públicos sem o véu (ver com. de 1Co.11:5; 1Co.11:16) e que falassem na igreja de uma forma não praticada em outras congregações. Eles permitiram que houvesse irregularidade e confusão na igreja. Mas não tinham o direito de se diferenciar assim de outras igrejas, nem de dizer às outras igrejas que elas também deviam tolerar confusão e desordem. Deviam ter reconhecido o dever de se harmonizar às práticas do conjunto das igrejas cristãs.

Exclusivamente para vós. A igreja de Corinto não foi a primeira a ser estabelecida, nem era a única. Por meio de Seus servos, Deus estava estabelecendo igrejas em muitos locais. Se uma igreja tinha o direito de ter seus próprios costumes e hábitos, outras também o teriam. Se essa ideia fosse adotada, resultaria em confusão e desordem. Portanto, todas as igrejas deviam adotar o mesmo plano geral para procedimento na adoração pública, e costumes que não eram seguidos em outras igrejas não deviam ser permitidos em Corinto.

1Co.14:37 37. Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo.

Se alguém se considera profeta. Quem afirmasse ter qualquer dom do Espírito, mas se recusasse a reconhecer que a instrução dada por Paulo provinha do Senhor, demonstraria que sua inspiração não era divina.

Senhor. Paulo não falava com sua própria autoridade ou em seu nome. Ele falava aos coríntios no nome do Senhor e inspirado pelo Espírito. Ao aceitar o conselho do apóstolo e obedecer às instruções que lhes eram dadas por meio dele, os coríntios demonstrariam estar dispostos a ser dirigidos pelo Senhor. A verdadeira fé sempre demonstra sua legitimidade por meio do respeito para com os mandamentos de Deus. Por outro lado, qualquer profissão de fé que não leve em consideração os mandamentos divinos, que rejeite a autoridade das Escrituras e não zele pela paz e ordem na igreja prova não ser genuína.

1Co.14:38 38. E, se alguém o ignorar, será ignorado.

Ignorar. Do gr. agnoeo, “não reconhecer”. De fato, Paulo disse que se alguém não reconhecia que ele era inspirado por Deus e, por isso, não recebia suas instruções como ordens divinas, o fazia para seu próprio mal. O apóstolo tinha dado evidências suficientes de estar cumprindo uma missão designada por Deus e não precisava dizer nada mais a esse respeito. Quem rejeitasse seu conselho pagaria as consequências. Não havia mais nada a se fazer por essa pessoa; ela responderia perante Deus por sua rebelião. A ignorância voluntária acerca das ordens divinas não será desculpa para ninguém, mas resultará em ruína. O Espírito Santo não continuará a rogar eternamente por alguém que se apega com obstinação às próprias idéias erroneas, mesmo depois de ter conhecido o caminho correto (ver Gn.6:3; Os.4:17). Tal obstinação e ignorância voluntária dos planos de Deus para o mundo é uma atitude característica de certos tipos de pessoas dos últimos dias, e é um sinal da proximidade do fim (ver 2Pe.3:3-5). É perigoso rejeitar a luz divina para continuar a satisfazer os desejos do coração natural, que está sempre em inimizade contra Deus (ver Rm.8:6-8; Gl.5:16-17; 1Jo.2:15-16).

Será ignorado. Nesse caso, essas pessoas não seriam reconhecidas por Deus. Essa experiência é o oposto da descrita em 1Co.8:3: “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Ele.”

1Co.14:39 39. Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em outras línguas.

Com zelo. Do gr. zeloo, “ter zelo por”. Resumindo seu raciocínio, Paulo reafirma a prioridade dada ao dom de profecia no v. 1Co.14:1, em que aponta esse dom como o mais desejado ao qual os cristãos podem aspirar. É maravilhoso que alguém seja capaz de falar inspirado pelo Espírito Santo de forma que toda a igreja seja edificada.

Não proibais. Não pode haver nenhum obstáculo ao exercício do dom de línguas. O que se deve evitar é o uso desse dom nas reuniões públicas quando não houver intérprete (ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14: no final do com. do v. 1Co.14:40).

1Co.14:40 40. Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.

Ordem. Do gr. kata taxin, “segundo a ordem”, “segundo a distribuição”. A expressão foi empregada como termo militar, indicando a regularidade e ordem com que se formam as fileiras de um exército em disposição ordenada. Podem surgir muitas perguntas sobre os métodos e formas de culto nas igrejas, mas o bom senso e a devida reverência a Deus indicam o que é apropriado e evita erros. Tudo deve ser feito com decoro na adoração ao onipotente Criador. Na igreja, não deve haver confusão, ruído desnecessário nem desordem (ver Hc.2:20; Ev, 314, 636, 637; Ed, 243; PR, 48, 49; PP, 303; T4, 626). O cristão deve sempre se guardar contra o mal da formalidade no culto público. Deus não deseja demonstração exterior ou exibições de talento, mas a devoção sincera com amor externada em oração e louvor (ver Jo.4:24; T9, 143). Dignidade e reverência são essenciais, mas serão inspiradas por um genuíno senso da majestade e da grandeza de Deus, e não pela resposta ao impulso do coração natural por exaltação própria. Para que a adoração pública a Deus seja de fato reverente deve ser conduzida de modo que todos os presentes possam participar de forma inteligente de tudo o que é feito. Portanto, o uso de línguas ininteligíveis é inadequado, a menos que sejam interpretadas para o benefício de todos.

NOTA ADICIONAL A 1 CORÍNTIOS 14. Há dois pontos de vista principais com respeito ao dom de línguas discutido em 1 Coríntios 14. Alguns entendem que a manifestação deve ser explicada com base no fenômeno de línguas no Pentecostes (At.2). O idioma falado sob a influência do dom era estrangeiro, mas podia ser facilmente compreendido pelo que o falasse. Os coríntios estariam pervertendo o emprego do dom ao falar numa língua estrangeira na igreja quando ninguém presente podia entender. Isso seria o mau uso do dom, o que Paulo reprovou. Outros afirmam que a manifestação do dom em Corinto era diferente da ocorrida no Pentecostes. A língua não seria um idioma falado por seres humanos. Por isso, ninguém poderia compreendê-la a menos que estivesse presente um intérprete que possuísse o dom do Espírito (1Co.12:10). A função desse tipo do dom seria a de confirmar a fé dos novos conversos (1Co.14:22; At.10:44-46; At.11:15) e prover edificação espiritual pessoal (1Co.14:4). O exercício desse dom em assembléias públicas, com o fim principal de edificação pessoal, seria o que Paulo condenou em 1 Coríntios 14. Outros pontos de vista combinam elementos dessas duas opiniões principais. Ao analisar essa questão, é útil enumerar as características do dom de línguas manifestado no Pentecostes e em Corinto. Havia claramente a habilidade de falar línguas estrangeiras, e seu propósito era facilitar a divulgação do evangelho (cf. AA, 39, 40). Uma segunda função pode ser vista na experiência de Pedro na casa de Cornélio, em que a manifestação do dom convenceu Pedro e os cristãos judeus que estavam com ele de que Deus aceitava os gentios (ver com. de At.10:46) e, sem dúvida, também convenceu Cornélio e os que estavam com ele de que a obra de Pedro era divina. A respeito do dom posteriormente manifestado em Corinto, observam-se as seguintes características: o dom é inferior ao de profecia (1Co.14:1); quem fala em línguas se dirige a Deus e não aos seres humanos (v. 1Co.14:2); ninguém entende o que fala em línguas (v. 1Co.14:2); quem fala está “em Espírito”, isto é, em êxtase (1Co.14:2; 1Co.14:14; cf. com. de Ap.1:10); a pessoa que fala em línguas fala de mistérios (1Co.14:2; sobre mistérios, ver com. de Rm.11:25); o falante edifica a si mesmo e não a igreja (1Co.14:4); Paulo gostaria que todos tivessem o dom (v. 1Co.14:5); quem tinha esse dom devia orar para que pudesse interpretar, a fim de que a igreja fosse edificada (v. 1Co.14:12-13); o entendimento, ou seja, a mente, não recebe proveito quando se ora em “línguas”, indicando que a experiência não corresponde a um estado mental consciente (v. 1Co.14:14); o dom devia servir de sinal para os que não criam (v. 1Co.14:22); o dom devia ser usado na igreja somente se um intérprete estivesse presente (v. 1Co.14:27); do contrário, a pessoa devia falar apenas para si e para Deus (v. 1Co.14:28); e os coríntios foram admoestados a não proibir o falar em línguas (v. 1Co.14:39). A lista das características do dom implica que o apóstolo não lida com um dom falso. Ele alistou o dom de línguas entre os dons genuínos do Espírito (1Co.12:8-10) e, em nenhum texto, sugere que o dom descrito em 1 Coríntios 14 não seja de Deus. Pelo contrário, ele o louva (1Co.14:5; 1Co.14:17) e afirma que falava em línguas mais do que os coríntios (v. 1Co.14:18). Expressa o desejo de que todos tivessem esse dom e insta os crentes a não proibir seu exercício (v. 1Co.14:39). O propósito de Paulo nessa discussão é mostrar o lugar e a função do dom e advertir contra o mau uso. É evidente que os coríntios faziam mau uso desse dom. Falavam em línguas na igreja quando não havia intérprete e quando ninguém era beneficiado, exceto aqueles que falavam. Aparentemente, vários falavam ao mesmo tempo enquanto outros profetizavam e ensinavam. Isso resultava em confusão geral (v. 1Co.14:26-33; 1Co.14:40). A questão se as línguas eram um idioma conhecido ou não, ou se eram simplesmente sons inarticulados, é muito debatida pelos comentaristas. Quem acredita que se falava numa língua estrangeira, desconhecida do falante, mas compreendida por aqueles familiarizados com ela, argumentam com base no que chamam de analogia das Escrituras, que o dom em Corinto deve ser explicado com base na manifestação do Pentecostes (At.2) e em outras ocasiões (At.10:44-46; At.11:15; At.19:6) e que, portanto, o propósito era claramente o de habilitar as pessoas a pregar o evangelho em línguas antes desconhecidas para eles. Explicam 1Co.14:2, em que se diz que nenhum dos presentes pode entender, como indicando que ninguém que estava ali podia entender, embora estrangeiros o pudessem. Eles ainda observam que é difícil conceber que o Espírito Santo Se manifestaria numa língua desconhecida, levando em consideração o contexto de 1 Coríntios 14. Aqueles que defendem que o fenômeno consistia de sons não inteligíveis, não relacionados a uma linguagem humana, argumentam que esse é o modo mais natural de se interpretar as várias passagens que tratam do tema, e que essa é a conclusão inevitável a que se chega quando se leva em conta todas as características alistadas. Creem que a ilustração de Paulo nos v. 1Co.14:7-10 tem o propósito de mostrar que o que se ouviam eram sons inarticulados ou uma língua não compreendida, a menos que também estivessem possuídos pelo Espírito e tivessem o dom da interpretação (1Co.12:10). Qualquer que seja o ponto de vista adotado, uma coisa é certa: a manifestação do dom no Pentecostes e os objetivos pelos quais foi dado (At.2) diferiam em muitos aspectos do dom manifestado em Corinto. O dom em Corinto servia para edificar quem falava, não a outros (1Co.14:4). Paulo não encorajou seu uso em público, a menos que houvesse um intérprete presente (v. 1Co.14:12-13; 1Co.14:27). Não recomendou seu uso na igreja (v. 1Co.14:19; 1Co.14:28). A mensagem era direcionada a Deus, não às pessoas (v. 1Co.14:2; 1Co.14:28). Quem falava em línguas ficava em êxtase e inconsciente (v. 1Co.14:14). Isso não aconteceu quando esse dom foi dado aos discípulos no Pentecostes. A habilidade de falar em línguas estrangeiras foi claramente designada para edificar a outros. Foi concedida para que os discípulos pudessem pregar o evangelho sem os serviços de um intérprete. A mensagem se dirigia às pessoas, não a Deus, e quem falava não se encontrava em êxtase, mas agia como quem tivesse adquirido uma nova língua por meio de estudo (ver com. de At.2). Devido a alguns aspectos obscuros com respeito à maneira em que o dom de línguas se manifestou no passado, Satanás encontrou facilidade em falsificar esse dom. Nos cultos pagãos, o fenômeno se manifestava com frequência, e seus sons incoerentes eram bem conhecidos. Também mais tarde, sob disfarce do cristianismo, surgem várias manifestações do suposto dom de línguas de tempos em tempos. Porém, quando se comparam essas manifestações às especificações bíblicas do dom de línguas, conclui-se que são algo bem diferente do dom outrora concedido pelo Espírito. Portanto, devem ser rejeitadas como espúrias. Contudo, a existência da falsificação não deve levar a se ignorar o dom genuíno. A manifestação adequada do dom abordado em 1 Coríntios 14 tinha uma função útil. É verdade que foi mal empregado, mas Paulo tentou corrigir os abusos e atribuir ao dom o seu devido lugar e função.

1Co.15:1 1. Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais;

Também (ARC). Do gr. de, “mas” ou “agora”, marcando uma mudança na linha de pensamento e a introdução de um novo tema: a ressurreição. Este capítulo contém o que se pode chamar de a glória com a qual culmina a epístola: uma exposição da verdade sobre a ressurreição. A discussão pode ser dividida em quatro partes: a realidade da ressurreição (v. 1Co.15:1-34); a natureza do corpo ressuscitado (v. 1Co.15:35-50); o que ocorre aos vivos por ocasião do segundo advento de Cristo (v. 1Co.15:51-54); e as consequências práticas dessa doutrina (v. 1Co.15:55-58). O testemunho da ressurreição de Jesus nos v. 1Co.15:3-8 se refere a acontecimentos não registrados nos evangelhos (ver v. 1Co.15:6-7). Paulo declara que a morte e a ressurreição de Cristo foram profetizadas antes e foram testemunhadas por pessoas que ainda viviam (v. 1Co.15:5-6). Este é um dos primeiros testemunhos da ressurreição, escrito dentro dos primeiros 25 anos depois de acontecido o fato (ver p. 89-91).

Paulo argumenta que a evidência da ressurreição como um fato literal e histórico foi suficiente para convencer um poderoso intelecto de um contemporâneo hostil: ele mesmo. Dentre os erros inseridos na igreja de Corinto como resultado do rebaixamento do padrão moral por alguns dos crentes, estava a rejeição da crença na ressurreição (ver 1Co.3:3; 1Co.5:1-2; AA, 319). A discussão detalhada de Paulo dessa doutrina enfatiza sua importância vital (Jo.5:28-29; Jo.11:25; At.23:6; At.24:14-15; Rm.1:3-4; Fp.3:10-11; Ap.20:6). Satanás sempre deseja ocultar uma verdade vital e substituí-la por um engano; portanto, os cristãos fazem bem em revisar com frequência as principais verdades do evangelho, preenchendo a mente com elas a fim de não haver lugar para ideias errôneas (ver com. de 2Tm.2:15).

Lembrar-vos. Do gr. gnorizo, “tornar conhecido”, “fazer saber”, mas, visto que Paulo está repetindo o que já disse aos coríntios, a palavra deve ser usada no sentido de “reiterar”, “relembrar”. O apóstolo sente necessidade de repetir o conteúdo de sua pregação e, ao fazer isso, enfatiza a doutrina da ressurreição.

Evangelho. Ver com. de Mc.1:1. O conteúdo do evangelho, ou “boas-novas”, que Paulo pregou aos coríntios pode ser reunido de 1Co.1:7-9; 1Co.1:17-24; 1Co.2:2, em que a cruz de Cristo é o destaque. A doutrina da morte expiatória do Salvador está necessariamente associada a esse tema central (1Co.15:3). Tudo relacionado à vida de Cristo na Terra é de interesse e importância para o crente, mas Paulo revela que as gloriosas novas da salvação atingem seu clímax na ressurreição.

Recebestes. Paulo tinha pregado fielmente o evangelho, e relembra aos membros da igreja que eles receberam e aceitaram a mensagem.

Perseverais. A forma grega do verbo sugere que eles tinham permanecido e continuavam a permanecer na fé que Paulo lhes transmitira. Ele tinha fundado a igreja em Corinto (ver At.18). Portanto, era apropriado que ele lhes relembrasse as grandes verdades sobre as quais a igreja tinha sido estabelecida, mas das quais tinham desviado a atenção por causa de erros introduzidos entre eles, como brigas e contendas. É bom que os cristãos sejam com frequência relembrados do evangelho mediante o qual o Espírito Santo realizou neles a conversão. Isso os ajuda a permanecer humilde e impede de confiar nas próprias filosofias (Cl.2:8).

1Co.15:2 2. por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.

Salvos. Literalmente “estão sendo salvos”. A salvação é uma experiência contínua (ver com. de Rm.8:24; cf. PJ, 65).

Se retiverdes. Ou, “se apegarem”, isto é, ao que Paulo pregou a eles. Este apego significa mais do que concordância com as doutrinas, indica convicção absoluta do que se crê. Essa convicção os levaria a se conduzir em harmonia com a fé, e não lhes permitiria abrigar pensamentos errados.

Crido em vão. Não havia nada de errado com a mensagem pregada, mas a forma como os coríntios criam na mensagem podia dar espaço a questionamentos. Se a crença deles era indiferente, teria pouco valor. Se a fé fosse firme, então considerariam a doutrina de Paulo suficiente para guiá-los no caminho da salvação. Tendo dito isso, o apóstolo garante que de fato lhes anunciou o verdadeiro evangelho.

1Co.15:3 3. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,

Antes de tudo. Em ordem de apresentação ou de importância. O apóstolo alista os quatro “primeiros” fatos que tinha ensinado aos crentes: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, foi ressuscitado, e apareceu aos discípulos (v. 1Co.15:3-5). Alguns sugerem que esses fatos formam a base para o mais antigo credo cristão de que se tem conhecimento.

Entreguei. Paulo nunca afirmou que era o autor do evangelho que pregava. Ele deixou claro que transmitia uma mensagem dada a ele pelo Senhor (cf. 1Co.11:2; 1Co.11:23; Gl.1:12; Ef.3:2-3). Isso enfatiza a origem divina da doutrina que ele pregava, exaltando dessa forma a mensagem e tornando imperativa sua observância.

Pelos nossos pecados. A palavra grega traduzida como “pelos” (hyper) tem o significado de “em favor de” ou “por causa de”. Jesus, o Cordeiro de Deus, morreu como uma oferta expiatória pelos nossos pecados. Ele morreu para fazer expiação pelo pecado (ver com. de Rm.3:24-26; Rm.4:25; Rm.5:8; 2Co.5:21; Gl.1:4; 1Pe.2:24). Essa foi a primeira grande verdade que Paulo ensinou aos coríntios. A morte vicária de Cristo expiou nossos pecados, mas Ele não permaneceu sob o poder da morte. Visto que não pecou, a morte não podia retê-Lo, e Ele ressurgiu triunfante da sepultura (ver com. de Jo.10:17; At.2:22-24).

Escrituras. É evidente que Paulo deu a seus conversos uma base bíblica sólida para sua fé e recorreu a muitas das profecias do AT sobre o Messias (cf. com. de Lc.24:26-27; Lc.24:44). Suas aplicações sábias das passagens que falam da vida, dos sofrimentos e da morte do Messias prometido levaram convicção aos que creram e silenciaram a oposição dos críticos judeus (ver com. de At.9:19-22; At.13:14-41; At.17:3; At.18:4-6; At.24:14; At.26:4-8; At.26:22-23; At.28:23).

1Co.15:4 4. e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

Sepultado. O sepultamento certificou que o Salvador, de fato, tinha morrido e proporcionou a condição necessária à ressurreição. O pedido de José de Arimateia para remover o corpo de Cristo da cruz fez com que Pilatos perguntasse se Ele tinha morrido (Mc.15:43-45). A preparação para o sepultamento conforme registrada nos evangelhos, e o relato de como foi posto na tumba e vigiado por soldados romanos, diante da sugestão dos principais sacerdotes, confirmam Sua morte (ver Mt.27:57-60; Mt.27:62-66; Lc.23:50-56; Jo.19:38-42).

Ressuscitou. O verbo está na voz passiva do tempo perfeito e, assim, indica que “foi ressuscitado e ainda está vivo”. Os verbos “morreu” (v. 1Co.15:3) e “foi sepultado” (v. 4) estão no modo aoristo, como eventos históricos no passado, em contraste com o sentido de continuidade implícito no tempo perfeito. Assim, Paulo não só enfatiza que Jesus tinha ressuscitado dos mortos, mas que Ele estava vivo, e que essa condição é permanente.

Terceiro dia. Sobre o intervalo entre a morte e a ressurreição de Cristo, ver vol. 5, p. 246-249; comparar com Mt.12:40; Lc.24:46.

1Co.15:5 5. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze.

Apareceu. Neste caso, a ação é creditada ao Senhor ressurreto em vez de a Pedro. Paulo continua a alistar os pontos principais do evangelho que transmitiu aos coríntios (v. 1Co.15:3).

Cefas. Do gr. Kephas, uma transliteração do aramaico Kepha’, que é traduzido para o grego como Petros, “Pedro” (ver com. de Mt.4:18; sobre a aparição de Cristo a Pedro, ver com. de Lc.24:34). Paulo recorre ao testemunho daqueles que em primeiro lugar souberam da ressurreição, e em especial aos que ainda viviam para atestar sua veracidade. Como estava apenas relembrando a eles a doutrina previamente ensinada, ele não buscou reproduzir toda a evidência disponível, mas apenas resumiu o que eles já sabiam.

Doze. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam o número “onze”, que seria uma tentativa de harmonizar este versículo com o número de apóstolos que permaneceram após a morte de Judas e antes da escolha de Matias (cf. At.1:26). Na primeira aparição de Cristo aos apóstolos, apenas dez estavam presentes, visto que Tomé não se encontrava no grupo (Jo.20:24). Mas, sem dúvida, Paulo usou o número “doze” como uma designação oficial do grupo de apóstolos. Portanto, não há discrepância vital entre este versículo e os fatos históricos.

1Co.15:6 6. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem.

Mais de quinhentos. Os evangelhos não mencionam que Jesus tenha aparecido a um grupo tão numeroso, mas uma declaração de Mateus sugere esse ajuntamento (ver Mt.28:10; Mt.28:16; Nota Adicional a Mateus 28). Os onze, em obediência à instrução do Senhor ressuscitado (Mt.28:9-10), foram para a Galileia. É pouco provável que guardassem para si essa grande notícia. Devem ter informado aos crentes que Jesus planejava se encontrar com eles. Mais de 500 compareceram, demonstrando que o Senhor tinha muito mais discípulos do que em geral se supõe.

A maioria sobrevive. Isto é, a maior parte dos 500 ainda estava viva quando Paulo escreveu esta epístola. Unidos, podiam dar poderoso testemunho da ressurreição de Cristo, pois algo confirmado por tantas testemunhas não podia ser descartado.

Dormem. Do gr. koimao (ver com. de Jo.11:11). Esta expressão é usada nas Escrituras para indicar a morte (ver Mt.9:24; At.7:60; 1Co.15:18; 1Ts.4:13-15; 2Pe.3:4).

1Co.15:7 7. Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos

Tiago. Não há evidência acerca de qual Tiago se fala aqui, mas a maioria dos comentaristas o identifica com Tiago, o irmão de Jesus (sobre os diversos homens chamados Tiago, ver introdução à epístola de Tiago). Não existe outro registro da aparição do Senhor a Tiago, mas se o Tiago mencionado neste versículo era de fato o irmão do Senhor, e quem presidiu o concílio da igreja em Jerusalém (ver com. de At.12:17; At.15:13), então Paulo o tinha encontrado em Jerusalém e, sem dúvida, teria ouvido o testemunho pessoal de Tiago sobre a aparição à qual se refere.

Por todos os apóstolos. Sem dúvida, esta é uma referência à última aparição de Cristo aos apóstolos, por ocasião da ascensão aos céus (ver At.1:6-12).

1Co.15:8 8. e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo.

Depois de todos. Esta frase sugere que a enumeração anterior de aparições está em ordem cronológica e que Paulo foi o último a quem Cristo apareceu pessoalmente.

Nascido fora de tempo. Do gr. ektroma, “aborto”, “natimorto”. A palavra ocorre somente nesta passagem no NT grego, mas é usada na LXX (Nm.12:12; Jó.3:16; Ec.6:3). O apóstolo quer dizer que, comparado aos outros apóstolos, ele não passa de um bebê que nasce morto. Os outros cresceram e amadureceram no ministério, ao passo que Paulo foi introduzido ao apostolado de forma abrupta. Ele também pode ter expressado aqui sua indignidade de ser contado com os discípulos, por causa do modo como tinha tratado os que criam em Cristo (ver com. de At.7:58; At.8:1; At.8:3; At.9:1; At.9:13; At.9:21; At.26:10). Por sua incansável diligência, o apóstolo parecia mostrar que sentia grande obrigação de compensar a falta de relacionamento pessoal com Jesus quando esteve na Terra.

1Co.15:9 9. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.

O menor. Ele tinha sido o último de todos (v. 8) e afirma ser o menor (cf. com. de Ef.3:8).

Não sou digno. Isto é, não qualificado o suficiente. Paulo reconhece que ninguém, em sentido algum, é digno de ser chamado ao serviço de Deus (ver com. de 2Co.3:5).

Pois persegui. Parece que ele nunca se perdoou por sua antiga oposição feroz aos crentes, e a lembrança dessa experiência o mantinha humilde e grato pela bondade do Senhor (ver At.22:4; At.26:9-11; Gl.1:13; 1Tm.1:13). No coração verdadeiramente convertido, o perdão divino produz percepção do pecado bem como sentimentos de gratidão e humildade. Tal experiência capacita a testemunhar.

1Co.15:10 10. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.

Graça de Deus. Sobre a graça, ver com. de Rm.3:24. Tudo o que ele tinha se tornado ou o que tinha alcançado no serviço do Senhor, Paulo atribuiu à misericórdia imerecida, ao favor e poder de Deus. Ele havia aprendido a lição essencial de que todas as conquistas não têm valor na obra de Deus se a pessoa não recebeu a dádiva espiritual do Pai, chamada “graça”. Paulo sabia que todo zelo, piedade, habilidade e o êxito como apóstolo eram resultado do favor imerecido de Deus. Pela graça de Deus ele foi habilitado a realizar mais do que os outros.

Sou o que sou. A frase enfatiza a condição espiritual de Paulo e não contém jactância.

Não se tornou vã. Nestas palavras se manifesta uma nota de grata satisfação. Ele está feliz porque a graça de Deus não lhe foi concedida em vão.

Trabalhei muito mais. Isto é, com mais intensidade. Consagração e trabalho duro quase sempre produzem colheita abundante. Mas, como revela a frase seguinte, o apóstolo não permitia que o orgulho destruísse seu êxito evangelístico.

Não eu. Paulo não deu margens para alguém imaginar que tomava o crédito para si. Ele confere toda a glória a Deus. Todos os que alcançam êxito verdadeiro na obra de Deus reconhecerão que todo bem alcançado resultou da graça de Deus que os habilitou para Sua obra (cf. GI.2:20; Fp.2:13; Fp.4:13).

1Co.15:11 11. Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes.

Portanto. Paulo encerra a comparação entre ele e os outros apóstolos (v. 1Co.15:9-10), e conclui: visto que todo poder de um testemunho cristão válido vem de Deus, a identidade e personalidade do agente humano é insignificante.

Assim pregamos. Que corajosa afirmação quanto à unidade do testemunho apostólico! Todos os apóstolos davam o mesmo testemunho sobre a ressurreição de Cristo. Portanto, não importava qual deles tinha levado a mensagem aos coríntios. Esse princípio tem aplicação universal e pode ser sempre útil na igreja. O agente humano é meramente um porta-voz usado pelo Espírito Santo para transmitir a verdade às pessoas; e, se o êxito coroa seus esforços, o crédito pertence a Deus (cf. 1Co.3:6).

Assim crestes. Paulo recorda os coríntios de terem aceitado sua doutrina, a mesma de todos os apóstolos.

1Co.15:12 12. Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?

Ora. Com este versículo, o apóstolo dá início a seus argumentos sobre a ressurreição. Nos v. 1Co.15:5-8, estabelece a base histórica da ressurreição por meio do testemunho fidedigno de uma multidão de testemunhas oculares. Ele então pergunta como, à luz desse fato comprovado, algum crente coríntio poderia negar a ressurreição dos mortos.

Não há ressurreição. Devia haver em Corinto alguns que negavam a ressurreição. Nos v. 1Co.15:13-19, Paulo demonstra a natureza nociva dessa negação e mostra como essa crença é incompatível com o fato comprovado da ressurreição de Jesus (ver v. 1Co.15:16).

De mortos. Literalmente, “de dentre os mortos”.

1Co.15:13 13. E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou.

Cristo não ressuscitou. Se a ressurreição dos mortos é considerada impossível, e a crença nela é absurda, então se deve concluir que Cristo não levantou da sepultura, pois a objeção geral à ressurreição dos mortos se aplicaria ao Seu caso também. Portanto, não seria possível negar a ressurreição geral sem negar a comprovada ressurreição de Jesus. Isso, diz Paulo, é o resultado inevitável de se negar a ressurreição, e envolve negar o cristianismo e eliminar a esperança cristã da vida eterna.

1Co.15:14 14. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé;

Pregação. Do gr. kerugma, “o que é pregado”. A ênfase está no conteúdo da pregação (ver com. de 1Co.1:21).

Vã. Do gr. kenos, “vazio”, “sem conteúdo”, “carente de verdade” (cf. com. do v. 1Co.15:17), uma descrição adequada de qualquer tentativa de pregar o evangelho sem a ressurreição de Jesus. Tal pregação de fato seria “vã”, sem um de seus fatos históricos centrais. Se Cristo não foi ressuscitado, o testemunho cristão é falho por dois motivos: (1) Jesus declarou várias vezes que ressuscitaria dos mortos (ver Mt.16:21; Mt.17:22-23; Mt.20:17-19), e, se Ele não ressuscitou, seria um impostor; (2) os apóstolos baseavam sua pregação num fato que afirmavam ter acontecido; portanto, seriam cúmplices do impostor, pregando sobre uma esperança que não poderia ser cumprida.

Vossa fé. A descrença na ressurreição invalida não só a pregação apostólica, mas também a crença nessa pregação. Ao duvidar da possibilidade da ressurreição, os incrédulos estavam destruindo tudo o que outrora estimavam.

1Co.15:15 15. e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.

Falsas testemunhas de Deus. A implicação é que teria sido um pecado pregar que Cristo ressuscitou dos mortos, se isso não fosse verdade. Seria errado dizer que Deus tinha feito algo que não fez, como seria o caso se a ressurreição não tivesse acontecido e Cristo não tivesse ressurgido. Os apóstolos teriam anunciado a ressurreição como um ato de Deus e afirmado ter testemunhado algo que não aconteceu.

Ele não ressuscitou. Paulo considera a atitude cética em relação a ressurreição. Seu argumento trata da suposição de que os mortos não ressuscitam, embora rejeite tal opinião. Negar a possibilidade de uma ressurreição geral demonstra a impossibilidade de Cristo ter ressuscitado, e assim se nega toda a base para a crença em Cristo.

1Co.15:16 16. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.

Não ressuscitam. A repetição da conclusão já declarada no v. 1Co.15:13 mostra a preocupação de Paulo com o ensinamento insidioso que desviara alguns dos crentes coríntios da verdade acerca da ressurreição. Satanás tenta minar a fé na ressurreição a fim de tornar mais fácil que as pessoas aceitem a primeira grande mentira, com a qual negou a sentença de morte pronunciada por Deus aos desobedientes (ver Gn.2:17; Gn.3:4). Se o ser humano não morre de fato quando esta vida terrena chega ao fim, então não há necessidade de uma ressurreição. Se, por outro lado, a morte é o fim da existência, então a vida posterior depende da ressurreição (ver com. de SI.146:4; Ec.9:5-6; Ec.9:10).

1Co.15:17 17. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.

Vã. Do gr. mataios, “inútil”, “sem objetivo”, “sem propósito” (cf. com. do v. 1Co.15:14). A atenção é dirigida à absoluta falta de objetivo da fé cristã se Cristo não tivesse sido levantado dos mortos. Os membros de Corinto eram fortes o suficiente para rejeitar a sugestão de que sua fé era “vã”; portanto, se sentiriam ainda mais inclinados a crer na ressurreição.

Pecados. Nos v. 1Co.15:16-17, Paulo repete a linha de raciocínio dos v. 1Co.15:13-14, mas com uma diferença. Antes, ele enfatiza o vazio da fé sem a ressurreição de Cristo; depois, ele revela a condição perdida e sem esperança da humanidade sem a ressurreição. Embora seja verdade que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (v. 1Co.15:3), também é verdade que “ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm.4:25; 1Co.10:9). Se Jesus não foi ressuscitado dos mortos, então Ele seria um impostor; a fé nEle não traria perdão pelo pecado, e o pecador permaneceria culpado. Tal afirmação não poderia ser tolerada por ninguém que tivesse experimentado a alegria de ter seus pecados perdoados. Além disso, o batismo, que é um símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, perderia sua importância se não houvesse ressurreição, pois se dá a exortação de que “andemos nós em novidade de vida”, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos (ver Rm.6:3-4).

1Co.15:18 18. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram.

E ainda. Paulo apresenta outra consequência inevitável de se negar a ressurreição.

Dormiram. Ver com. do v. 1Co.15:6.

Em Cristo. Para os coríntios, isto se referia em primeiro lugar aos cristãos mortos, mas num sentido mais amplo, refere-se a todos que, desde Adão até o final da história humana, morreram crendo que a confissão dos pecados e a fé no sangue expiatório do Salvador lhes assegurariam perdão e vida eterna.

Pereceram. Se não há ressurreição, então os que morreram permanecem mortos, as perspectivas defendidas pelo cristianismo são um engano cruel, e todos os justos mortos estão condenados a permanecer em seus túmulos. Nenhum cristão pode aceitar conclusões que destruam sua esperança. Assim, o raciocínio de Paulo outra vez enfatiza a posição vital da ressurreição na doutrina cristã (ver com. do v. 1Co.15:16).

1Co.15:19 19. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

Apenas a esta vida. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a seguinte ordem de palavras: “se nesta vida em Cristo esperamos apenas”. Essa ordem mostra que Paulo não enfatiza “esta vida”, mas o fato de que a fé cristã está baseada em algo mais do que mera esperança. Ele então retrata a futilidade de um cristianismo sem vitalidade. A descrença na ressurreição priva o ser humano da certeza da vida após a morte e o deixa com uma fé ineficaz na existência presente.

Infelizes. Do gr. eleeinos, “infeliz”, “desgraçado”, “miserável”. Esta expressão diz, literalmente, “somos mais miseráveis do que todos os homens”. Deve-se notar que Paulo não sugere que piedade e conformidade com a vontade revelada de Deus nesta vida não sejam acompanhadas por felicidade. O crente se torna mais feliz do que os demais. Mas, se a ressurreição é um engano, então os cristãos são mais dignos de pena do que qualquer outra pessoa. Ninguém teve tantas esperanças elevadas de desfrutar a eternidade, então ninguém poderia experimentar um desapontamento tão profundo se essas esperanças fossem destruídas caso se comprovasse a falsidade da ressurreição. O apóstolo emprega esse raciocínio para demonstrar aos coríntios que negar a doutrina cristã da ressurreição é ilógico e destruiria a fé. Além disso, os cristãos estavam sujeitos a grandes provas e perseguições mais do que outro povo.

Portanto, se após sofrerem por causa de sua fé, fossem desapontados na esperança da ressurreição, sua condição seria de fato miserável. Uma forte demonstração da genuinidade do cristianismo pode ser encontrada neste versículo. É concebível que alguns estejam dispostos a enfrentar provação e dificuldades se tiverem a certeza da recompensa por seu sacrifício. Mas é inconcebível que os apóstolos trabalhassem e sofressem sabendo que a gloriosa esperança que proclamavam era uma ilusão, que Cristo não tinha ressuscitado. Negar a ressurreição, portanto, seria negar a sanidade deles.

1Co.15:20 20. Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.

Mas, de fato. Paulo demonstrou historicamente a verdade da ressurreição de Cristo (v. 1Co.15:5-8) e enfatizou os efeitos destrutivos de se negá-la (v. 1Co.15:13-19). Ele pôde afirmar ter demolido o ensinamento nocivo e triunfalmente atestar a certeza da ressurreição de Cristo. A expressão “mas, de fato” imprime essa certeza na mente dos leitores de Paulo. Ele se desvia das considerações negativas dos v. 1Co.15:12-19 e foca os resultados positivos derivados da crença na ressurreição (v. 1Co.15:20-34).

Ressuscitou. Ver com. do v. 1Co.15:4, em que ocorre a mesma forma do verbo grego.

E foi feito (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) atestam a omissão destas palavras.

Primícias. Os antigos israelitas deviam apresentar um molho das primícias da colheita de cevada ao sacerdote, que o movia diante do Senhor como uma promessa da colheita completa que se seguiria. Essa cerimônia devia ser realizada no dia 16 de nisã (abibe; ver com. de Lv.23:10; ver v. Lv.23:11). A Páscoa era celebrada no dia 14 de nisã (ver com. do v. Lv.23:5) e, no dia 16, se realizava a oferta das primícias. O molho das primícias da colheita tipificava Cristo, as “primícias”, ou promessa, da grande colheita que se seguirá quando todos os justos mortos forem ressuscitados na segunda vinda de Jesus (ver 1Co.15:23; 1Ts.4:14-16). Cristo levantou dos mortos no mesmo dia que as primícias foram apresentadas no templo (ver com. de Lv.23:14; Lc.23:56; Lc.24:1; ver vol. 5, p. 246-249). Assim como as primícias eram uma promessa e uma certeza da reunião de toda a colheita, também a ressurreição de Cristo é uma promessa de que todos os que confiam nEle serão ressuscitados dos mortos.

Dos que dormem. Sobre o sono como metáfora da morte, ver com. do v. 1Co.15:6. O termo se refere aos que morreram como cristãos, crendo no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador.

1Co.15:21 21. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.

Visto que. Com este versículo, Paulo introduz a comparação entre o primeiro e o segundo Adão (v. 1Co.15:21-22; 1Co.15:45-47). A linha de raciocínio é muito semelhante à de Romanos (ver com. de 1Co.5:12-19).

A morte veio. O pecado entrou na vida do ser humano pela desobediência de um homem. Como resultado do pecado, a morte se tornou o destino de todos (ver com. de Rm.6:23). Se não tivesse pecado, o ser humano não morreria. Se o pecado não existisse, jamais haveria morte (ver com. de Gn.2:17; ver PP, 49, 51, 53).

Por um homem. Adão (cf. v. 1Co.5:22).

Por um homem. Cristo (cf. v. 1Co.5:22).

Ressurreição. Paulo ainda está no tema da ressurreição. Visto que a morte entrou na experiência humana por meio de um homem pecaminoso, era necessário que, no plano de Deus, o livramento do ser humano da morte se desse por meio de um Homem sem pecado, Cristo Jesus. O pecado entrou no mundo por meio de um homem, e a eliminação de seus efeitos acontece por meio de outro Homem.

1Co.15:22 22. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.

Em Adão. Este versículo esclarece o v. 1Co.15:21. Também fornece um resumo admirável do tema, o qual Paulo trata de forma mais completa em sua epístola aos Romanos (ver com. de Rm.5:12-18). Aos coríntios, ele aponta os contrastes entre os resultados da vida de Adão: “todos morrem”; e os resultados da vida de Cristo: “todos serão vivificados”.

Todos morrem. Ver com. de Rm.5:12. A sentença pronunciada sobre Adão afetou toda a raça humana, envolveu todos na certeza da morte e trouxe consequências assim que Adão pecou.

Assim também. Isto é, da mesma maneira. Porém, é necessário lembrar que as obras de Adão e a de Cristo não são completamente paralelas, visto que Adão é um pecador, e Cristo não pecou.

Todos serão vivificados. Todos estão sujeitos à morte por causa do pecado de Adão e de sua própria pecaminosidade, mas os que estão “em Cristo” compartilharão dos benefícios eternos da ressurreição do Salvador. Nesse aspecto, o primeiro “todos”, neste versículo, é universal, ao passo que o segundo “todos” é necessariamente limitado. Alguns interpretam que o segundo “todos” abrange a humanidade, os ímpios e os justos. A partir da frase “em Cristo”, e da comparação com os v. 1Co.15:51-53, em que “todos” se refere apenas aos crentes, pode-se ver que essa interpretação não é correta.

Em Cristo. Isto é, por meio da fé na morte expiatória e na ressurreição vivificadora de Cristo.

1Co.15:23 23. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda.

Ordem. Do gr. tagma, “aquilo que foi posto em ordem”, “tropa [de soldados]”. Tagma não ocorre em outra parte no NT. A palavra era originalmente um termo militar e se refere a uma série de categorias, como sugerido neste versículo. O Cristo triunfante abriu o caminho na manhã da ressurreição e será seguido pelas fileiras de Seus santos que dormem.

Primícias. Ver com. do v. 1Co.15:20. Outros, como Moisés (ver com. de Mt.17:3) e Lázaro (ver com. de Jo.11:43), morreram e foram ressuscitados antes de Jesus ressurgir. Mas isso aconteceu apenas em virtude e na expectativa da ressurreição do próprio Cristo (cf. DTN, 530). Sem a vitória de Cristo sobre a morte, nenhuma ressurreição teria sido possível. Nesse sentido real, Cristo é as primícias daqueles que são vivificados.

Depois. Do gr. epeita, “daí em diante”, “então’’ ou “depois”, usado para enumerar eventos sucessivos e, em geral, sugere uma ordem cronológica. É empregado dessa forma nos v. 1Co.15:6-7, ocorrendo nos v. 1Co.15:7 ; 1Co.15:24 com sentido semelhante. A ressurreição do próprio Cristo como as primícias é separada da ressurreição dos justos.

De Cristo. Isto é, o povo que pertence a Cristo, os que morreram confiando no Redentor. Esse grupo inclui todos que foram justificados pela fé na época do AT, que creram em Cristo nos dias de Paulo e os que desde então têm crido nEle. Os redimidos de todas as eras são “de Cristo”, pois o Redentor comprou cada um com Seu próprio sangue.

Na Sua vinda. Sobre a “vinda” (do gr. parousia), ver com. de Mt.24:3. Paulo relaciona a ressurreição dos remidos à volta de Cristo (ver com. de Jo.14:3; 1Co.15:51-53; 1Ts.4:14-16; Ap.20:6).

1Co.15:24 24. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.

Então. Do gr. eita, “seguinte”, “depois” (ver com. do v. 1Co.15:23). Eita nunca significa “ao mesmo tempo”. Em Mc.4:17; Mc.4:28, as palavras “logo”, “depois”, “por fim” [eita] são usadas para indicar sequência cronológica. Portanto, não se diz que o evento seguinte ocorre ao mesmo tempo em que a ressurreição dos justos. Em vez disso, eita introduz uma nova época, que segue um intervalo de tempo.

Virá o fim. O significado de “o fim” poderia ser questionado se Paulo não o tivesse explicado na sequência. Ele se referiu à grande controvérsia que traz dor e sofrimento ao universo. Não se pode ir além disso com segurança, visto que as Escrituras não dão luz específica sobre o assunto.

Quando. Do gr. hotan, “no tempo que”, usado frequentemente em referência a acontecimentos dos quais o autor está certo, mas cujo tempo não se atreve a estabelecer.

Reino. É difícil estabelecer o significado exato da palavra “reino” neste contexto, mas ela pode ser considerada legitimamente a partir dos seguintes pontos de vista: (1) O reino deste mundo se rebelou contra Deus. Cristo veio restaurá-lo ao governo de Deus e, quando Sua tarefa estiver completa, Ele entregará, por assim dizer, o reino restaurado ao Pai. (2) O Salvador veio estabelecer “o reino dos céus” (ver com. de Mt.3:2; Mt.4:17; Mc.1:15) e, quando esta obra estiver finalmente concluída, Ele dará esse reino ao Pai. Isso se harmoniza a todo o teor da vida de Cristo, pois Ele viveu para glorificar a Deus (Lc.2:49; Jo.4:34; Jo.6:38; Jo.17:4). Assim que isso acontecer, o Pai receberá novamente a completa soberania, pois toda a oposição terá sido vencida, e a unidade reinará em todo o universo (GC, 678).

Quando houver destruído. Ou, “assim que tiver abolido”.

Principado. Do gr. arche, “soberania”, “governo”. O plural, archai, é traduzido como “principados” (Rm.8:38; ver com. ali).

Potestade. Do gr. exousia; ver com. de Rm.13:1.

Poder. Do gr. dynamis, “governo”, “autoridade”, neste caso, descreve os poderes que se opõem a Deus, tanto terrestres quanto celestiais (cf. com. de Ef.1:21; Ef.6:12).

1Co.15:25 25. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés.

Convém que Ele reine. É necessário, segundo o plano divino (ver Sl.110:1; Mt.22:43-44), que Cristo continue reinando até que estejam subjugados todos os inimigos de Deus. Fica claro a partir de 1Co.15:24 que é Cristo quem subjuga os adversários. Os v. 1Co.15:27-28 mostram que Ele faz isso por ordem do Pai.

Haja posto. Isto é, o Pai (v. 1Co.15:28).

Debaixo dos pés. Isto corresponde a “escabelo” (Sl.110:1, AA).

1Co.15:26 26. O último inimigo a ser destruído é a morte.

O último inimigo. A morte é personificada, como no v. 1Co.15:55 e em Ap.6:8. Não há artigo no grego, e a palavra para “último” ocupa o primeiro lugar na frase, enfatizando a finalidade da vitória de Cristo sobre toda a oposição, mesmo sobre o inimigo mais temido: a morte. O fim da morte coincidirá com o fim do pecado. Quando não houver mais pecado, não haverá mais morte, pois a morte é a consequência do pecado (ver com. de Rm.6:21; Rm.6:23; Tg.1:15). Alguns afirmavam que não havia ressurreição e que a morte era o fim de tudo. O apóstolo dá a surpreendente resposta de que, no plano de Deus, finalmente não haverá morte, pois ela será destruída (ver com. de Is.25:8; Na.1:9; Ap.21:4).

Destruído. Do gr. katargeo, “eliminar”, “abolir”, “pôr abaixo” (v. 1Co.15:24).

1Co.15:27 27. Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou.

Porque. Os v. 27 e 28 são explicações adicionais do tema apresentado nos v. 1Co.15:24-25, e começam com uma citação do Sl.8:6. Paulo toma as palavras que foram primeiramente escritas quanto ao domínio do homem sobre a criação de Deus e as aplica ao governo de Cristo sobre “todas as coisas”. O primeiro Adão perdeu seu domínio e sucumbiu à morte; o segundo Adão recuperou esse domínio perdido e destruiu a morte.

Sujeitou. Do gr. hupotasso, “sujeitar”, “subordinar”. Este verbo é usado nos v. 27 e 28, sendo traduzido como “sujeitou debaixo”, “sujeitas”, “subordinou”. As Escrituras asseguram que nada será excluído da completa sujeição a Cristo, principalmente a morte (cf. Fp.3:21; Hb.2:8).

Diz. Isto é, o Pai.

Exclui aquele. Deus não está incluído nas coisas postas sob os pés de Cristo. Paulo tem cuidado de evitar qualquer sugestão que pudesse exaltar o Filho acima do Pai (ver vol. 5, p. 1014-1016). Ele entende que Deus delegou alguns poderes a Cristo para o cumprimento do plano de ambos para subjugar o pecado, mas reconhece que o relacionamento eterno de Pai e Filho não é afetado por causa do papel desempenhado por Cristo no grande conflito.

1Co.15:28 28. Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.

Quando, porém. Do gr. hotan de. O v. 1Co.15:27 trata da liderança de Cristo na vitória sobre o pecado. O v. 28 fala da relação subsequente entre o Filho vencedor e o Pai.

Filho. No plano divino para a redenção do mundo, o Pai confiou tudo nas mãos do Filho (ver com. de Mt.11:27; Cl.1:19). Quando a missão de Cristo estiver completada, e os inimigos de Deus subjugados, então o Filho entregará “o reino ao Deus, e Pai” (1Co.15:24). Esse ato não indica que o Filho seja inferior ao Pai. É uma demonstração da unidade de propósito entre os membros da Divindade, em que as atividades de um são vistas como cumprimento da vontade de todos (vol. 5, p. 1014-1016; ver com. de Jo.10:30).

Para que Deus seja. Este é o resumo do objetivo supremo da missão de Cristo: o Filho viveu para glorificar o Pai (ver Jo.17:1; Jo.17:4; Jo.17:6). Cristo não descansará até que a supremacia do Pai seja reconhecida em todo o universo (ver com. de Ef.4:6; Fp.2:11) e nada esteja fora da órbita do controle de Deus.

1Co.15:29 29. Doutra maneira, que farão os que se batizam por causa dos mortos? Se, absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles?

Doutra maneira. Paulo volta a sua linha de raciocínio principal sobre a ressurreição.

Os que se batizam por causa dos mortos. Esta é uma das passagens difíceis dos escritos de Paulo. Comentaristas elaboraram 36 tentativas de solucionar os problemas suscitados por este versículo, sendo que a maioria das sugestões não é relevante. Na busca de uma compreensão da passagem, é preciso considerar que Paulo ainda trata da ressurreição, e qualquer sugestão deve estar estritamente relacionada ao tema principal do cap. 15. Além disso, uma interpretação razoável precisa estar em harmonia com a tradução correta da frase em grego hyper ton nekron (“pelos mortos”). Há um consenso geral de que hyper (“pelos”) significa, neste caso, “em favor dos”. Sugerem-se três possíveis interpretações: (1) A passagem deve ser traduzida como “o que farão então os que são batizados? [São eles batizados] pelos mortos? Se os mortos não ressuscitam de forma alguma, por que são batizados? Por que também corremos perigo a toda hora por eles?” Essa tradução, embora possível, não explica de modo satisfatório a frase “por causa dos mortos”. (2) Paulo está se referindo a um costume pagão pelo qual crentes vivos eram batizados em nome de parentes e amigos mortos que não tinham sido batizados, que então supostamente seriam salvos por esse ato. Os pais da igreja fazem várias referências a essa prática, citando o costume dos hereges marcionitas (Tertuliano, Contra Marcion, v.10; A Ressurreição da Carne, 48; Crisóstomo, Homílias em l Coríntios, xl.1).

Além disso, Tertuliano se refere ao festival pagão Kalendae Februariae, em que os adoradores se submetiam a uma purificação na água em favor dos mortos (Contra Marcion, v.10). Marcion viveu em meados do 2º século d.C. Para este segundo ponto de vista é necessário supor que a prática data dos dias de Paulo. Levantou-se a objeção de que o apóstolo dificilmente citaria uma prática pagâ ou herege em apoio a uma doutrina cristã fundamental. Mas Paulo de modo algum apoia essa prática. Portanto, em essência, poderia estar dizendo: “Até os pagãos e hereges afirmam sua fé na esperança da ressurreição, e se eles têm essa esperança, tanto mais nós.” Jesus usou o relato do rico e Lázaro como contexto para uma parábola, embora não apoiasse sua aplicação literal (ver com. de Lc.16:19). (3) É possível interpretar o v. 29, com base no contexto (v. 1Co.15:12-32), como outra prova para a ressurreição: (a) As palavras “doutra maneira” se referem ao argumento dos v. 1Co.15:12-28 e podem ser parafraseadas como: “mas se não há ressurreição [...]”.

(b) A palavra “batizam” é usada de forma figurada, significando exposição a um perigo extremo ou morte (como em Mt.20:22; Lc.12:50). (c) A expressão “os que se batizam” se refere aos apóstolos, que constantemente enfrentavam a morte ao proclamar a esperança da ressurreição (1Co.4:9-13; Rm.8:36; 2Co.4:8-12). Paulo escreveu esta epístola em Efeso e, devido às dificuldades que enfrentou ali, declarou que estava “a perigo a toda hora” (1Co.15:30), que tinha se desesperado “até da própria vida” (2Co.1:8-10) e que morria dia após dia (1Co.15:31). (d) Os “mortos” do v. 29 são os cristãos mortos dos v. 1Co.15:12-18 e, potencialmente, todos os cristãos vivos, que, de acordo com alguns de Corinto, não tinham esperança além da morte (v. 1Co.15:12; 1Co.15:19). Segundo essa interpretação, o v. 29 poderia ser parafraseado assim: “mas se não há ressurreição, o que devem fazer os mensageiros do evangelho, se continuamente encaram a morte em favor de pessoas destinadas a perecer na morte de qualquer forma?” Para eles, seria tolice (v. 1Co.15:17) enfrentar a morte para salvar outros, “se os mortos não ressuscitam” (v. 1Co.15:16; 1Co.15:32).

A constante coragem dos apóstolos em face da morte é uma importante evidência de sua fé na ressurreição. Muitas passagens bíblicas declaram que não é possível, como ensinam alguns, que cristãos sejam batizados em favor de parentes e amigos mortos. A pessoa deve crer em Cristo e confessar seus pecados para poder ser batizada e salva (At.2:38; At.8:36-37; Ez.18:20-24; Jo.3:16; 1Jo.1:9). Mesmo os justos “salvariam apenas a sua própria vida” (Ez.14:14; Ez.14:16; SI.49:7). A morte marca o fim da provação e das oportunidades humanas (ver SI.49:7-9; Ec.9:5-6; Ec.9:10; Is.38:18-19; Lc.16:26; Hb.9:27-28).

1Co.15:30 30. E por que também nós nos expomos a perigos a toda hora?

Nós nos expomos a perigos. Do gr. kinduneuo, de kindunos, “perigo”. Por que os apóstolos deviam constantemente arriscar a vida para pregar arrependimento e fé em Cristo se não existisse ressurreição dos mortos? Os mensageiros do evangelho não têm outro objetivo ao encarar os perigos por terra e mar além de divulgar a verdade acerca do glorioso futuro no reino de Deus. Se não existisse felicidade futura, não faria sentido correr tais perigos.

1Co.15:31 31. Dia após dia, morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Dia após dia, morro! Paulo exibe seu orgulho e sua glória pelos frutos de seu ministério, a fim de apoiar seu raciocínio e enfatizar seu “protesto” sobre morrer dia após dia. Ele não atribuía a si mesmo o mérito por sua obra, e sim a “Cristo Jesus, nosso Senhor”. A vida do grande apóstolo dos gentios foi tão cheia de provas, perseguições, perigos e dificuldades, que podia se assemelhar à morte em vida (ver Rm.8:36; ver com. de 2Co.4:8-11). Mas, se não existisse ressurreição dos mortos, esse morrer diário pareceria tolice. Portanto, mais uma vez a experiência do próprio Paulo fortalece a certeza da ressurreição.

Eu o protesto. Esta expressão é uma tradução da partícula gr. ne, usada para uma vigorosa afirmação ou um juramento da certeza do que se declara. Paulo dificilmente afirmaria sua convicção de forma mais forte.

Pela glória que tenho. Ver 1Co.9:2; cf. Rm.15:17. A frase “dia após dia, morro” pode também ter uma interpretação homilética. Ela contém o segredo da experiência vitoriosa de Paulo. Em toda sua vida de serviço fiel ao Salvador que encontrou na estrada para Damasco, Paulo viu que sua natureza antiga não regenerada lutava por reconhecimento e tinha que ser constantemente reprimida (ver com. de Rm.8:6-8; Rm.8:13; Ef.4:22). Ele sabia bem que a vida do cristão devia ser de abnegação a cada passo do caminho (ver com. de Gl.2:20; cf. com. de Mt.16:24-26). Cristãos cientes de que os desejos antigos ainda clamam por satisfação, a despeito de suas boas intenções de servir ao Senhor, devem ser animados pelo fato de que Paulo teve experiência semelhante. A vida cristã é uma luta contínua, bem descrita como uma batalha e uma marcha, sem descanso até a volta de Jesus (ver CBV, 453). Mas a ideia da ressurreição, e a vida gloriosa da qual é apenas o começo, sustenta o crente em todas as provas.

1Co.15:32 32. Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

Como homem. Ou, “do ponto de vista humano”.

Lutei em Éfeso com feras. Esta parece ser uma referência figurada ao episódio da luta de Paulo com adversários ferozes em Éfeso (cf. At.19:23-41). Um cidadão romano não podia ser punido sendo forçado a lutar com animais ferozes. Ele pergunta: “O que ganhei ao me expor a perigos comparáveis a lutar com animais ferozes, se a mensagem de ressurreição para a vida eterna por meio de Jesus Cristo não fosse verdadeira? Por que passaria eu por tais riscos para anunciar um falso ensinamento? Isso não faria sentido. Eu poderia ter deixado as pessoas a sua sorte e não lhes dizer nada.” Não se sabe a quais experiências em Éfeso Paulo se refere. Na sua fúria insana, os adoradores pagãos da deusa Diana (ou Artêmis) se pareciam mais com animais selvagens do que com seres humanos. Paulo, no entanto, não poderia ter se referido a esse incidente em particular neste versículo, pois isso aconteceu depois de esta carta ter sido enviada (cf. 1Co.16:8-9).

Comamos e bebamos. Citação de Is.22:13, na LXX. Seria tolice de Paulo, ou de qualquer pessoa, passar por privações, dificuldades e perseguição a fim de pregar o evangelho da salvação do pecado e da felicidade futura e eterna se os mortos não ressuscitarão. Ele deveria, em vez disso, aproveitar ao máximo esta vida desfrutando os prazeres, sabendo que a morte será o fim de tudo. Essa de fato parece ser a filosofia hedonista de muitos, principalmente à medida que o segundo advento de Cristo se aproxima (ver Mt.24:38-39; 2Tm.3:1-4).

1Co.15:33 33. Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.

Não vos enganeis. Ou, “parai de serdes desviados”.

Conversações. Ou, “companhias”. Este é um verso da poesia de Menandro (343c. 280), talvez um provérbio comum. Visto que todos são grandemente influenciados por aqueles com quem se associam, a escolha de amigos e companhias requer cuidado. Paulo exortou os crentes a ter cuidado com os argumentos enganosos dos falsos mestres, que negavam a ressurreição dos mortos. A companhia de tais indivíduos deveria ser evitada. A associação com aqueles que têm opiniões errôneas, ou cujas vidas são impuras, tende a corromper a fé e a moral. A associação diária com os que não criam na ressurreição dos mortos e as frequentes conversações sobre esse assunto poderiam fazer com que os crentes perdessem sua compreensão clara da verdade. A familiaridade com o erro tende a remover a objeção a ele e a minimizar o cuidado contra ele. Por essa razão, Deus sempre aconselhou Seu povo a não se associar aos incrédulos (ver Gn.12:1-3; Ex.3:9-10; Dt.7:1-4; Is.52:11; Je.51:6; Je.51:9; 2Co.6:14-17; Ap.18:4), o que não exclui o testemunho.

1Co.15:34 34. Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não pequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto digo para vergonha vossa.

Tornai-vos. Do gr. eknepho, “despertar-se de um sono profundo [ou estupor]”. A palavra era aplicada com frequência àqueles que acordavam sóbrios após terem se embriagado. Aqui indica eliminar o atordoamento mental e se apartar da confusão e tolice de duvidar da verdade da ressurreição. É um chamado a se desviar do pensamento errôneo e a se voltar para o que é correto, uma advertência contra o perigo da apatia que se compraz em si mesma. Os cristãos precisam estar em constante alerta contra as infiltrações de ensinos falsos.

Não pequeis. Ou, “parai de pecar”, “não continueis pecando”. Sede vigilantes contra o erro; não aceiteis um ensino que não só é falso, mas também tende a conduzir ao pecado. A rejeição da crença na ressurreição poderia levar ao total desprezo por toda restrição e a complacência desenfreada. Para o apóstolo, negar a doutrina da ressurreição tinha consequências perigosas para a conduta e o modo de vida cristão.

Conhecimento de Deus. Alguns dentre os coríntios não conheciam a Deus como o Onipotente; a crença deles era mera teoria. Como resultado, podiam aceitar prontamente a ideia de não haver ressurreição. A presença dessas pessoas era uma desonra para toda a igreja e não devia ser tolerada.

1Co.15:35 35. Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?

Como [...]? A mente natural levanta objeções à ideia da ressurreição dos mortos. A constatação é a de que depois da morte vem a decomposição e, por fim, o corpo se esvai por completo. Portanto, pode-se perguntar como o pó poderia ser reunido para a ressurreição do indivíduo como era antes (ver Jó.34:15; Ec.12:7). Outra pergunta que traz perplexidade é: como o corpo reconstituído será comparado ao corpo que se desfez?

1Co.15:36 36. Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer;

Insensato. Do gr. aphron. A insinuação nas perguntas (v. 1Co.15:35) mostra que quem indaga fala sem reflexão ou inteligência.

O que semeias. A dificuldade proposta no v. 1Co.15:35 poderia ser solucionada com a ilustração sobre o crescimento do grão, fenômeno com o qual todos estavam familiarizados. Quando se coloca um grão no solo, ele morre. Esse processo é essencial para que nasça uma nova planta. Se esse processo natural é bem aceito sem questionamentos, por que deveria haver problema com a ressurreição de um novo corpo a partir do antigo que se desfez?

1Co.15:37 37. e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente.

Simples grão. Isto é, uma semente sem folhas, nem talos. Assim é o grão quando semeado. A planta que brota não é a mesma que a semente. Assim, o corpo que ressurgirá do túmulo na ressurreição não será o mesmo que foi depositado ali. É claro que haverá semelhanças, mas, ao mesmo tempo, diferenças. O novo corpo não é composto das mesmas partículas de matéria que formavam o antigo. Contudo, a identidade do indivíduo será preservada (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre os v. 42 a 52).

1Co.15:38 38. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado.

Deus lhe dá corpo. O milagre da natureza que produz os muitos tipos de grão tem sua fonte em Deus, o autor de toda vida e todo crescimento. Não há nada na semente que por si, sem auxílio, a faça brotar para a vida (ver T8, 259, 260). Do mesmo modo, não há nada no corpo desfeito que, por si só, resulte na ressurreição. No entanto, Deus ordenou que houvesse uma ressurreição, e é somente por Seu poder que o milagre acontece. Na ressurreição, cada um terá um corpo apropriado. Os justos terão corpos glorificados, e os ímpios ressurgirão com corpos carregando as marcas de sua condição de perdidos (ver GC, 644, 645, 662).

1Co.15:39 39. Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra, a dos animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes.

Nem toda carne é a mesma. Carne é a matéria da qual se compõe o corpo. A natureza tem diferentes tipos de matéria. Se Deus ordenou que houvesse tantas variedades de carne, e assim de corpos, não é de se surpreender que Ele venha a prover, na ressurreição, um tipo glorificado de corpo para o ser humano.

1Co.15:40 40. Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres.

Celestiais. Do gr. epourania, “existente no céu”. Os comentaristas se dividem na interpretação desta palavra. Alguns creem que Paulo se refere ao Sol, à Lua e às estrelas, ao passo que outros aplicam a expressão aos anjos. Ambas as aplicações são apropriadas como ilustração de que todos os corpos não possuem a mesma forma e aparência. No entanto, a referência no versículo seguinte ao Sol, à Lua e às estrelas parece apoiar a primeira interpretação. Dois tipos diferentes de corpos são apresentados como exemplo: um totalmente fora desta Terra, e outro confinado a ela. Após se notar a ampla diferença entre esses dois tipos de corpos, não é difícil perceber que haverá uma grande diferença entre os corpos humanos terrenos atuais e os corpos gloríficados na ressurreição.

Glória dos celestiais. O esplendor, a beleza e a magnificência dos corpos celestes é bem diferente dos corpos desta Terra. Embora pássaros, flores, árvores, minerais e seres humanos tenham sua beleza e atrativo, diferem do que é celestial. Os seres humanos não questionam a diferença entre a beleza das coisas celestiais e das coisas terrenas. Então, por que deveria haver alguma hesitação em reconhecer uma diferença entre o corpo do ser humano adaptado à vida nesta Terra e o adaptado à vida no Céu?

1Co.15:41 41. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor.

Uma é a glória do sol. Os corpos celestes, o sol, a lua e as estrelas têm níveis variados de esplendor e beleza. Existem estrelas de diferentes magnitudes e até de diferentes cores. No v. 1Co.15:40, Paulo mostra que há diferença entre os variados tipos de corpos celestes e terrenos. Neste versículo, ele declara que há diferenças entre os corpos do mesmo tipo, a saber, corpos celestes. Eles diferem não só dos corpos terrenos, mas também entre si. Dessa forma, ele fortalece seu raciocínio de que o corpo ressurreto será diferente do corpo mortal. Deus estabeleceu essa variedade na natureza e não está limitado em poder para fornecer um corpo novo e diferente para Seus santos na ressurreição.

1Co.15:42 42. Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória.

Semeia-se o corpo na corrupção. Paulo volta à comparação entre o reino vegetal e o ser humano (v. 1Co.15:37-38). Ele fala dos corpos dos remidos como sementes lançadas ao solo que produzirão uma colheita para o reino de Deus. O cemitério é apropriadamente chamado, algumas vezes, de campo de Deus. A decomposição que silenciosamente acontece ali, sem ser vista, é o preâmbulo da ressurreição gloriosa, quando findar a história deste mundo e começar a do eterno reino celestial, com o retorno de Cristo (ver 1Co.15:52; 1Ts.4:16).

Ressuscita. Paulo afirma que a ressurreição dos justos mortos com corpos glorificados não só é possível, mas de fato acontecerá. Essa é uma das verdades mais encorajadoras aos que lutam contra uma enfermidade e que temem a morte.

Incorrupção. O corpo ressuscitado do crente jamais será sujeito outra vez à enfermidade, decomposição e morte.

1Co.15:43 43. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder.

Semeia-se. Em certo sentido, o cadáver é uma desonra. Devido à rápida decomposição, torna-se repugnante e deve ser sepultado.

Fraqueza. Do gr. astheneia, “falta de força”, “fragilidade”, “doença”, isso não se refere simplesmente à debilidade do corpo terreno quando vivo, mas também à sua completa impotência como cadáver e à incapacidade de resistir à corrupção. As débeis energias do corpo terreno são logo prostradas pela doença, e sua vitalidade rapidamente desaparece diante da morte.

Ressuscita. Dignidade, beleza, honra e perfeição caracterizarão os santos ressuscitados. Seus corpos serão semelhantes ao de Cristo (Fp.3:20-21; GC, 645).

Poder. Do gr. dynamis, “força”, “energia”, “poder”. O poder de Deus se manifestará no milagre da ressurreição. O corpo ressuscitado não experimentará nenhuma das debilidades e falta de resistência que afligem o corpo terreno (ver Is.33:24; Is.40:31; Ap.7:15-16; Ap.22:5; GC, 676).

1Co.15:44 44. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.

Natural. Do gr. psychikos, adjetivo derivado da palavra psychê, traduzida em geral como “alma”. Psychikos significa pertencente a esta vida presente. É uma palavra difícil de ser traduzida para o português. A tradução da ARA, “natural”, é inadequada e sugere ideias não presentes em psychikos. Por exemplo, natural pode significar “material”, mas o contraste não é entre um corpo material e um imaterial, embora o último seja por definição uma contradição. Os santos ressuscitados terão corpos reais. Paulo apresenta o contraste entre o corpo que pertence a esta breve vida terrena e o corpo glorioso com que os remidos serão erguidos para a vida eterna no reino de Deus (ver 1Co.15:50; 1Co.15:52; Fp.3:21; Cl.3:4; 1Jo.3:2). O corpo natural é o que está sujeito às limitações da existência temporal, como dor, doença, fadiga, fome e morte. Esse corpo é posto no túmulo no fim da vida mortal (ver Jó.14:1-2; Jó.14:10-12; Jó.21:32-33). O corpo espiritual será livre de todas as marcas da maldição do pecado (ver GC, 644, 645).

Se há corpo natural. O raciocínio de Paulo não está totalmente claro. Parece se basear na suposição de que o corpo inferior pressupõe a existência do superior. Ou talvez Paulo baseie sua declaração nas observações que fez sobre a certeza da ressurreição. O corpo corruptível semeado brotará para a vida como um corpo incorruptível assim como uma semente lançada no solo produz sua planta.

1Co.15:45 45. Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante.

Assim está escrito. A referência é a Gn.2:7. Paulo parafraseia a declaração, acrescentando as palavras “primeiro” e “Adão”.

Alma. Do gr. psyche, de que deriva psychikos, “natural” (ver com. do v. 1Co.15:44).

Último Adão. Isto é, Cristo (ver com. de Rm.5:14). O ser humano deriva sua natureza terrena de Adão, o primeiro homem, e obtém a ressurreição por meio de Cristo. Um é a cabeça dos que têm uma existência temporal; o outro é a cabeça de todos que pela fé nEle receberão, na Sua segunda vinda, um corpo espiritual e herdarão a vida eterna (ver Rm.5:15-18; 1Co.15:51-54).

Espírito vivificante. Isto é, um ser que tem o poder de dar vida. Adão se tornou “alma vivente”, mas Cristo é o doador de vida. Jesus afirmou poder ressuscitar os mortos (ver Jo.5:21; Jo.5:26; Jo.11:25) e exerceu esse poder ao ressuscitar alguns nesta vida temporal (ver Lc.7:14-15; Lc.8:54-55). Essas demonstrações de Seu poder de dar vida devem ser aceitas como evidência de Seu poder para ressuscitar os mortos no segundo advento.

1Co.15:46 46. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual.

Primeiro o espiritual. Os corpos espirituais que os santos terão na ressurreição são uma continuação de seus corpos naturais. O natural vem primeiro. O corpo espiritual não existe ainda, e não existirá antes da ressurreição. Deus dá a cada santo um corpo novo.

1Co.15:47 47. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu.

Da terra. Do gr. choikos, “feito de pó”. Adão, o primeiro homem, cabeça da raça humana, foi feito por Deus do “pó da terra” (Gn.2:7).

Segundo homem. Isto é, Cristo (cf. com. do v. 1Co.15:45).

O Senhor (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão destas palavras, mas isso não altera o significado da passagem, pois Jesus é o único que veio do Céu para se tornar cabeça da humanidade. Esse “segundo homem” já existia antes de Se associar ao ser humano, mas Se humilhou e ocultou Sua divindade com humanidade (ver Gl.4:4; DTN, 48, 49) na encarnação.

1Co.15:48 48. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais.

Como foi o primeiro homem, o terreno. Isto é, Adão. Todos os descendentes de Adão partilham sua natureza pecaminosa. Eles são frágeis, mortais e sujeitos a corrupção e morte.

Celestial. Na ressurreição, o corpo dos santos será transformado, e o novo corpo será “igual ao corpo da Sua [de Cristo] glória” (Fp.3:20-21).

1Co.15:49 49. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial.

Devemos trazer também. As evidências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “que também tenhamos”. Porém, o futuro simples parece estar mais em harmonia com o contexto (ver com. do v. 1Co.15:44).

1Co.15:50 50. Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção.

Isto afirmo. Paulo mais uma vez enfatiza o que apresentou nos v. 1Co.15:35-49, que a ressurreição do corpo será diferente do corpo presente. O corpo corruptível é inadequado para desfrutar o reino da glória. Antes da entrada do pecado, o corpo humano era adaptado às condições de um mundo perfeito (ver Gn.1:31). Tudo que Deus criou era perfeito; portanto, o corpo de Adão e Eva também era perfeito, livre de corrupção, e adequado ao ambiente perfeito. Quando o homem pecou, sua natureza foi mudada. Portanto, antes de desfrutar a bem-aventurança do Éden restaurado, o corpo será mudado e adaptado à perfeição celestial. Alguns creem que esse texto ensina que o corpo ressuscitado não será de carne e sangue. Mas essa conclusão não tem fundamento. “Carne e sangue” é uma figura de linguagem que designa as condições humanas no contexto de pecado (ver Mt.16:17; Gl.1:16; Ef.6:12).

Portanto, não deve ser tomada com significado literal. Paulo apenas afirma que o corpo presente é inadequado para entrar no reino de Deus. O corpo ressuscitado terá carne e sangue, e isso se pode deduzir do fato de que o novo corpo terá a semelhança do glorioso corpo do Cristo ressuscitado (Fp.3:20-21), que consistia de carne e ossos (Lc.24:39; cf. DTN, 803). Também é razoável concluir que o corpo dos santos ressuscitados não será muito diferente do tipo de corpo que Adão possuía quando foi criado (Gn.2:7). Se não tivesse pecado, ele teria permanecido com esse corpo para sempre.

1Co.15:51 51. Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos,

Mistério. Ver com. de Rm.11:25.

Nem todos dormiremos. Sobre o sono como metáfora da morte, ver com. de Jo.11:11. Paulo chama atenção para o fato de que alguns não morrerão, mas serão transladados do estado físico imperfeito para o estado celestial perfeito. Essa mudança instantânea os fará como os santos ressuscitados (ver GC, 322, 323; HR, 411, 412).

Transformados seremos todos. A expressão “todos” inclui os que estiverem vivos quando Jesus voltar e os que morreram. Os primeiros terão o corpo mortal transformado em corpo imortal instantaneamente; os últimos serão ressuscitados com corpo imortal (cf. com. de 2Co.5:1-4).

1Co.15:52 52. num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.

Num momento. Do gr. en atomo, “num ponto do tempo indivisível”, “num instante”. Atomos ocorre apenas nesta passagem no NT. É a palavra da qual deriva “átomo”. Junto com a expressão “piscar de olhos”, esta frase indica a extrema rapidez com que se dará a mudança do corpo dos santos vivos.

Da última trombeta. O tempo em que se dará essa gloriosa transformação é indicado a seguir. Será na segunda vinda de Cristo, pois é então que a “trombeta de Deus” soará, e os fiéis que tiverem morrido serão ressuscitados com corpo inteiramente livre de todos os efeitos do pecado (Cl.3:4; ver com. de 1Ts.4:16). Então, os salvos que estiverem vivos e ansiosos pela vinda do Senhor passarão por uma maravilhosa mudança, em que todos os traços de corrupção e imperfeição serão removidos de seu corpo, que se tornará como o corpo glorioso de Cristo (ver Fp.3:20-21; 1Jo.3:2). Eles passarão pela maravilhosa experiência de serem levados da Terra para o Céu sem morrer, como Elias, que foi um símbolo de todos os salvos que estarão vivos quando Cristo retornar (ver 2Rs.2:11; PR, 227).

1Co.15:53 53. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.

É necessário que. É essencial que ocorra uma mudança no corpo dos santos, seja pela ressurreição com corpo imortal incorruptível (v. 1Co.15:42), ou pela transformação sem ver a morte; pois não podem entrar no paraíso com as marcas da corrupção (v. 1Co.15:50).

Este corpo [...] se revista. Do gr. enduo, “colocar-se”, como veste. Isto indica a manutenção da identidade individual e pessoal quando houver a mudança do corpo. Cada remido manterá seu caráter individual, (ver PJ, 332, 361; T2, 266, 267; T5, 215, 216; Ellen G. White, Material Suplementar sobre 1Co.15:42-52).

Mortal. Isto é, “sujeito à morte”. Só os que aceitam a oferta divina de salvação por meio de Jesus Cristo receberão o dom da imortalidade, e isso acontecerá quando Jesus retornar (ver Jo.3:16; Rm.2:7; Rm.6:23; 2Co.5:4).

1Co.15:54 54. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.

Tragada foi a morte. A citação é de Is.25:8, embora não concorde exatamente com o hebraico nem com a LXX. Quando, por ocasião da volta de Cristo, ocorrer a transformação da mortalidade para a imortalidade, tanto nos justos mortos como nos que vivem, o grande inimigo não mais perturbará os remidos. O último pensamento que lhes ocupava a mente à medida que a sombra da morte os envolveu foi o do sono que se aproximava, seu último sentimento foi o da dor da morte. Ao verem que Cristo voltou e lhes concede o dom da imortalidade, a primeira sensação será de grande regozijo, pois jamais sucumbirão ao poder da morte (ver GC, 550).

1Co.15:55 55. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

Ó morte. Alusão a Os.13:14 (ver com. ali). Neste clamor feliz e vitorioso, tanto a morte quanto a sepultura são personificadas, e as palavras são-lhes dirigidas, provavelmente por todos os santos triunfantes, que estarão libertos para sempre do sofrimento e da separação impostos pela morte. O domínio que esse inimigo exerce sobre todos desde a queda de Adão será para sempre removido dos remidos na segunda vinda de Cristo.

Aguilhão. Do gr. kentron, “ponta aguda”, “um ferrão [como de abelha, vespa e escorpião]”.

1Co.15:56 56. O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.

O aguilhão da morte. Ou, o “pecado”. A morte, como o escorpião, tem um ferrão, um poder fatal concedido a ela por meio do pecado, a causa da morte (ver Rm.6:23). Mas os remidos não pecarão outra vez; portanto, jamais sentirão de novo o ferrão da morte (ver Na.1:9; Is.11:9; Ap.21:4).

A lei. Ver com. de Rm.7:7-11.

1Co.15:57 57. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.

Graças a Deus. Este versículo apresenta o tema ou objetivo de toda a Bíblia, a saber, que a restauração do ser humano ao favor de Deus e à condição original de perfeição e liberdade de todos os efeitos do pecado ocorre pelo poder de Deus que opera por meio de Cristo (ver Ed, 125, 126; cf. Rm.7:25). Os remidos darão louvor e graças a Deus por toda a eternidade por esse triunfo sobre o poder do adversário (ver Ap.5:11-13; Ap.15:3-4; Ap.19:5-6).

1Co.15:58 58. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.

Portanto. Em vista da gloriosa verdade revelada sobre a ressurreição, os crentes são exortados a resistir a todos os esforços que os agentes de Satanás possam fazer para minar a fé em Cristo.

Meus amados irmãos. Em toda sua vida, Paulo demonstrou a verdade de que os discípulos de Jesus amam uns aos outros (ver Jo.13:34-35). Esse amor é manifesto na disposição de sofrer uns pelos outros (ver Gl.4:19; Cl.1:24; Cl.2:1-2; 1Ts.2:8-9; 1Ts.3:7-8).

Sede firmes, inabaláveis. Os crentes são instados a permanecer firmes na fé, sem permitir que nada os perturbe. Este apelo para se manter uma firmeza inabalável é reforçado pela verdade da ressurreição exposta pelo apóstolo neste capítulo. À luz de garantias maravilhosas para o futuro, crentes não deveriam ser influenciados pelas tentações do diabo, seja para satisfazer a carne ou se desviar dos fatos evidentes do evangelho por meio da influência das filosofias mundanas. Não se deve permitir que nada nem ninguém abalem o crente do fundamento de sua fé e esperança.

Abundantes. O grande incentivo à contínua atividade na causa da verdade é a certeza de que tais esforços não serão vãos no Senhor, mas resultarão na salvação de pessoas e no avanço da glória de Deus (ver SI.126:6; Ec.11:6; Is.55:11; 1Co.3:8-9).

1Co.16:1 1. Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia.

Quanto à coleta. Paulo estava promovendo um projeto especial em favor dos crentes necessitados de Jerusalém (cf. 2Co.8; 2Co.9). Anos antes, ele tinha sido o portador de uma dádiva especial para os afetados pela fome na igreja de Antioquia (cf. com. de At.11:28-30; At.12:25). Paulo se preocupava com seus amigos cristãos de origem judaica (cf. Gl.2:10). As condições econômicas e os encargos na Palestina oprimiam tanto judeus como cristãos. Estima-se que os impostos civis e religiosos combinados alcançavam um total de quase 40 por cento da renda de um indivíduo. Para o povo comum não havia esperança de escapar da pobreza. Além disso, a igreja de Jerusalém sofria perseguição. A maioria dos crentes dali era pobre, alguns deles como resultado de terem se tornado cristãos (cf. At.4:34-35; At.6:1; At.8:1; At.11:28-30). Eles precisavam da ajuda de seus irmãos mais afortunados de outros lugares (ver At.8:1; AA, 70). Paulo tinha assumido a responsabilidade de pedir ajuda em nome deles para outras igrejas que visitava, e apelou aos coríntios que fizessem sua parte ao lhes apresentar o exemplo de suas igrejas irmãs na Acaia e Macedônia (ver Rm.15:25-26; 2Co.8:1-7).

Como ordenei. Os crentes de Corinto deviam aceitar esse dever assim como tinham feito os gálatas. A obra de ajudar os pobres é dada à igreja em todas as épocas a fim de que seus membros desenvolvam simpatia e amor e revelem a outros o poder do evangelho de Cristo (ver Lc.14:13-14; T6, 261, 270, 273, 280; T4, 619, 620; DTN, 369, 370). A atitude para com os menos favorecidos da sociedade exerce importante papel em determinar o destino final (ver Is.58:6-8; Mt.25:34-46; T5, 612). O próprio Jesus deu o exemplo em ministrar às necessidades da humanidade sofredora; Ele passou mais tempo curando os doentes do que pregando o evangelho (ver T4, 225; DTN, 350).

1Co.16:2 2. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.

No primeiro dia da semana. Ver com. de Mt.28:1.

Ponha de parte. A construção grega indica que eles deviam fazer isso regularmente, a cada primeiro dia da semana.

Em casa. Do gr. par heauto, literalmente, “por si próprio”.

Conforme a sua prosperidade. Dar proporcionalmente à prosperidade pode envolver cuidadosa análise das finanças, tarefa que Paulo não recomendaria ser feita num dia de descanso sagrado.

Juntando. Literalmente, “entesourando”, “armazenando”, talvez em algum recipiente ou em parte da casa.

Coletas. Do gr. logeiai. Paulo queria as contribuições prontas quando chegasse. Este versículo é citado com frequência para apoiar a observância do domingo. No entanto, quando analisado em relação ao projeto do apóstolo em favor dos crentes pobres de Jerusalém, observa-se que é uma exortação a um planejamento sistemático da parte dos membros da igreja de Corinto para que fizessem a sua parte. Não há nada no versículo que sugira alguma santidade ao primeiro dia da semana (ver T3, 413; cf. F. D. Nichol, Answers to Objections, p. 218, 219). Se todos os crentes adotassem esse princípio de benevolência sistemática, haveria abundância de meios para levar a mensagem de salvação ao mundo de forma rápida (ver T3, 389).

1Co.16:3 3. E, quando tiver chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes.

Com cartas. Literalmente, “por cartas”. Há uma diferença de opinião sobre o autor das “cartas” mencionadas por Paulo, as quais podem ser dele mesmo ou da igreja. A frase pode ser ligada tanto às palavras anteriores quanto às seguintes. A ARC sugere que as cartas foram escritas pelos líderes da igreja de Corinto e que, por meio delas, eram nomeados e autorizados os portadores como seus representantes. As versões ARA e NVI afirmam que Paulo se ofereceu para escrever as cartas recomendando os representantes dos irmãos de Corinto à igreja de Jerusalém. Porém, não há nenhum nome de Corinto na lista de At.20:4.

1Co.16:4 4. Se convier que eu também vá, eles irão comigo.

Convier. Do gr. axios, “digno”, “apropriado”, “vale a pana”. Se a quantia a ser levada justificava que ele acompanhasse os mensageiros, Paulo estava disposto a ir a Jerusalém a fim de assegurar que não houvesse suspeita sobre a oferta enviada pela igreja de Corinto. Isso evidencia sua cautela em evitar dar motivos para incompreensão ou crítica (cf. Rm.14:13; Rm.14:16; Rm.14:21; 1Co.8:9; 1Co.8:13).

1Co.16:5 5. Irei ter convosco por ocasião da minha passagem pela Macedônia, porque devo percorrer a Macedônia.

Macedônia. Ver com. de At.16:9.

1Co.16:6 6. E bem pode ser que convosco me demore ou mesmo passe o inverno, para que me encaminheis nas viagens que eu tenha de fazer.

Passe o inverno. Paulo queria permanecer por mais tempo em Corinto e não apenas estar só de passagem (v. 1Co.16:7). Por isso, ele propôs primeiro completar seu itinerário na Macedônia (v. 1Co.16:5) e, então, passar os meses de inverno com a igreja de Corinto.

Para que me encaminheis nas viagens. Ver com. de At.15:3; At.20:38; At.21:16.

1Co.16:7 7. Porque não quero, agora, ver-vos apenas de passagem, pois espero permanecer convosco algum tempo, se o Senhor o permitir.

Se o Senhor o permitir. Ver com. de At.18:21; 1Co.4:19.

1Co.16:8 8. Ficarei, porém, em Éfeso até ao Pentecostes;

Éfeso. Ver com. de At.18:19.

Pentecostes. Ver com. de At.2:1.

1Co.16:9 9. porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários.

Uma porta [...] se me abriu. Paulo se referia a oportunidades incomuns em Éfeso para a pregação do evangelho como o motivo pelo qual desejava permanece ali por algum tempo em vez de seguir de vez para a Macedônia e Corinto (ver v. 1Co.16:7-8). Éfeso era um centro importante de adoração pagã na província romana da Ásia. A deusa Diana (ou Artêmis) era a mais popular (ver com. do At.19:24). Nessa cidade, quase completamente entregue a idolatria, superstição e vícios, Deus manifestou Seu poder por meio de Paulo para a conversão de pecadores e para confundir os adversários (ver At.19:8-12; At.19:18-20).

Adversários. Quando a oposição se levantou em Éfeso, Paulo não deixou a cidade, mas trabalhou ainda mais para o avanço do reino de Deus. A oposição pode em geral ser considerada como evidência de que Satanás está alarmado com a ameaça de seu domínio sobre os seres humanos e como indício de que o Espírito de Deus está operando.

1Co.16:10 10. E, se Timóteo for, vede que esteja sem receio entre vós, porque trabalha na obra do Senhor, como também eu;

Timóteo. Um dos conversos de Paulo e seu auxiliar na obra de Deus (ver com. de At.16:1). Ele foi enviado à igreja de Corinto para ajudar os irmãos com seus problemas (ver com. de 1Co.4:17). Paulo buscou preparar o caminho para ele, solicitando a hospitalidade e cordialidade dos coríntios em seu favor, de forma que o jovem Timóteo não se sentisse constrangido quando tivesse que instruir aquela igreja.

1Co.16:11 11. ninguém, pois, o despreze. Mas encaminhai-o em paz, para que venha ter comigo, visto que o espero com os irmãos.

Despreze. Do gr. exoutheneo, “não dar importância”, “tratar com desprezo”.

Encaminhai-o. Isto é, providencie o necessário a ele para sua viagem.

Em paz. Ou seja, com a boa vontade dos coríntios. Paulo esperava que não houvesse pontos de incompreensão entre Timóteo e os crentes de Corinto.

Visto que o espero. Paulo esperava notícias de Corinto (ver com. de 1Co.4:17). Sem dúvida foi na Macedônia que Timóteo encontrou Paulo, pois ele estava com o apóstolo quando este escreveu a segunda carta aos coríntios (ver com. de 2Co.1:1; cf. AA, 323).

1Co.16:12 12. Acerca do irmão Apolo, muito lhe tenho recomendado que fosse ter convosco em companhia dos irmãos, mas de modo algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando se lhe deparar boa oportunidade.

Apolo. Ver com. de At.18:24; cf. At.19:1; 1Co.1:12. De modo algum era a vontade dele ir. Ver com. de 1Co.1:12.

1Co.16:13 13. Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos.

Sede vigilantes. Isto é, “estejam despertos”, como os sentinelas ao redor do acampamento de um exército ficam alerta a todo tempo diante da menor insinuação de perigo. O fato de haver no NT vários textos em que se encontra essa exortação enfatiza a necessidade do cristão de estar alerta aos esforços do inimigo para destruí-lo (ver Mt.24:42; Mt.25:13; Mc.13:35; At.20:31; 1Ts.5:5-6). Neste versículo, a admoestação se aplicava especialmente aos perigos peculiares que ameaçavam os crentes coríntios. Eles deviam cuidar para que sua salvação não ficasse ameaçada por dissensões, falsas doutrinas, falsos mestres, práticas errôneas e idolatria.

Permanecei firmes na fé. Sobre “fé”, aqui, ver com. de At.6:7. Jesus advertiu que haveria muitos falsos mestres e falsos profetas que buscariam desviar o povo da pureza do evangelho e levá-los a aceitar doutrinas de Satanás (ver Mt.24:4-5; Mt.24:11; Mt.24:23-24; Mt.24:26). É preciso determinação para se apegar decididamente à Palavra de Deus (ver Is.8:20; Mt.24:13; Fp.1:27; Fp.4:1; 1Ts.5:21; Ap.2:10).

Portai-vos varonilmente. Do gr. andrizo, “agir como homem”. Ser cristão requer coragem, intrepidez, perseverança e ânimo. Não há lugar para covardia, timidez ou medo. Apenas os que se colocam sem reservas sob a liderança do Salvador desenvolverão caráter nobre (ver Ef.6:10).

1Co.16:14 14. Todos os vossos atos sejam feitos com amor.

Amor. Do gr. agape, “amor” como princípio (ver com. de 1Co.13:1; sobre o verbo agapao, ver com. de Mt.5:43-44). O amor é a solução para todos os problemas. O conselho dado aqui pode ser considerado como a característica suprema da instrução de Paulo aos crentes coríntios e aos cristãos de todos os lugares e épocas. O amor supremo a Deus e o abnegado amor ao próximo silencia toda contenda e divisões despertadas pelo orgulho humano (ver Pv.10:12; Mt.22:37-40; Rm.13:10). Este atributo básico do caráter divino (1Jo.4:8) deve estimular todo filho de Deus, de forma que sua vida seja uma demonstração do poder do amor e uma prova da verdade do evangelho de Jesus Cristo (cf. Jo.14:23; Jo.15:9-10; Jo.15:12; 1Jo.3:14; 1Jo.3:18; 1Jo.3:23-24; 1Jo.4:7-8; 1Jo.4:11-12; 1Jo.4:16; 1Jo.4:18; 1Jo.4:20-21; 1Jo.5:2).

1Co.16:15 15. E agora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sabeis que a casa de Estéfanas são as primícias da Acaia e que se consagraram ao serviço dos santos):

Eu vos peço. Do gr. parakaleo, “exortar”, “admoestar” (ver com. de Jo.14:16).

Casa de Estéfanas. Uma família influente cujos membros foram batizados pelo próprio Paulo (ver 1Co.1:16).

Primícias. Isto é, eles foram os primeiros de uma grande conversão na Acaia.

Acaia. Uma província composta pelo Peloponeso e a parte principal da Grécia, ao sul da Macedônia. Sua capital era Corinto.

Consagraram ao serviço. Isto é, dedicaram-se à tarefa.

1Co.16:16 16. que também vos sujeiteis a esses tais, como também a todo aquele que é cooperador e obreiro.

Também vos sujeiteis. Isto é, mostrar deferência e respeito pelo que é fiel no serviço da igreja. As opiniões e os conselhos desses irmãos (v. 1Co.16:15) deviam ser merecedores de séria consideração. Todos os que ajudam na grande obra divina na Terra devem ser tratados com respeito e ter todo o auxílio de que necessitem.

1Co.16:17 17. Alegro-me com a vinda de Estéfanas, e de Fortunato, e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte faltava.

A vinda de. Os três mensageiros nomeados deviam ser de Corinto. Fortunato e Acaico não são mencionados em nenhuma outra passagem. É provável que os três homens fossem portadores da carta dos coríntios a Paulo (1Co.7:1), bem como da carta de Paulo a eles, conhecida como 1 Coríntios.

Supriram. Literalmente, “encheram”. Comparar com a tradução “supriram a vossa ausência” (BJ).

Da vossa parte faltava. A expressão grega significa “deficiência”, isto é, ausência ou falta.

1Co.16:18 18. Porque trouxeram refrigério ao meu espírito e ao vosso. Reconhecei, pois, a homens como estes.

Refrigério. A presença e as palavras desses mensageiros de Corinto levaram encorajamento e consolo a Paulo. Tudo indica que informaram ao apóstolo sobre a igreja de Corinto (v. 1Co.16:17), o que o ajudou a compreender a situação (ver Pv.15:30).

1Co.16:19 19. As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles.

Ásia. Ver com. de At.2:9; ver Nota Adicional a Atos 16; At.16:40.

Áquila e Priscila. Ver com. de At.18:2.

Igreja que está na casa deles. Os cristãos primitivos tinham suas reuniões nos lares. A construção de igrejas passou a ser comum só no final do 2º século.

1Co.16:20 20. Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.

Todos os irmãos. Sem dúvida, os crentes de Éfeso. Eles deviam ter interesse pela igreja de Corinto e desejavam que soubessem do amor e preocupação por eles. O mesmo Espírito atua em todos os que amam o Senhor e a igreja. Eles se interessam por todos os demais membros da grande família de Deus. Esse Espírito de amor entre os irmãos, dominante entre o povo de Deus, é motivo de assombro para os que não conhecem o amor de Deus e é uma evidência do poder do evangelho (ver Jo.17:23; T3, 446, 447; SC, 115).

Ósculo. Forma comum de saudação no Oriente. O beijo santo era uma prova da afeição cristã (cf. Rm.16:16; 2Co.13:12; 1Ts.5:26; 1Pe.5:14). Paulo parece ter desejado que os crentes de Corinto se saudassem desta forma uns aos outros quando recebessem a carta, como demonstração de terem renovado a unidade e o amor cristãos. Como consta das Constituições Apostólicas (2:57; 8:11), o costume era que os homens se saudassem assim entre si, e as mulheres, entre si. Segundo o costume da Palestina, o beijo era na face, testa, barba, nas mãos ou nos pés.

1Co.16:21 21. A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de próprio punho.

De próprio punho. Paulo tinha o costume de contar com a ajuda de um secretário para escrever suas epístolas às igrejas. Ele dava autenticidade à carta, assinando seu nome e expressando suas saudações aos irmãos (cf. Cl.4:18; 2Ts.3:17). Essa assinatura era uma prova de que o conteúdo da carta era de fato dele, assim como uma indicação de seu interesse pela igreja. Ele tinha sido incomodado por cartas forjadas em seu nome (ver com. de 2Ts.2:2). Sua assinatura pessoal tinha o propósito de frustrar os desígnios desses falsários.

1Co.16:22 22. Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata!

Ama. Do gr. phileo, “amar com afeição humana” (sobre agapao, outro tipo de amor, ver com. de Mt.5:43-44). O significado aqui é “se alguém não sente nem amor humano pelo Senhor [...]”.

Anátema. Uma transliteração do gr. anathema, que significa “amaldiçoado” ou “devotado à destruição”. Aqueles que não acreditam nem amam o Senhor Jesus Cristo não podem ter a esperança da salvação. Pelo ato de rejeitar o único meio de salvação, escolhem a ruína eterna (ver Mc.16:16; Jo.12:48; At.16:30-32; 1Jo.5:11-13; Gl.1:8-9).

Maranata. Uma transliteração do gr. maran atha, que, por sua vez, é uma transliteração do aramaico maran ‘athah. Esse é o único texto da Bíblia em que ocorre a palavra. A expressão em aramaico pode ser traduzida como “nosso Senhor vem” ou “vem, nosso Senhor”. A epístola aos coríntios foi escrita em grego, assim como todas as demais, mas Paulo era bilíngue e conhecia o aramaico, o vernáculo do povo da Palestina. Ao se aproximar da conclusão de seu enérgico apelo aos coríntios para que abandonassem as facções, falsas doutrinas e práticas e se entregassem ao Senhor por completo, ele culmina seus argumentos com esse poderoso pronunciamento sobre a vinda do Senhor. A expressão segue a palavra “anátema”, mas separadas por ponto, não havendo uma conexão direta entre elas. Nos primeiros dias da igreja cristã, a expressão “maranata” parece ter sido usada pelos crentes como uma saudação (ver Didachê, 10:6). A vinda de Jesus deve ser o tema da vida de todo cristão (ver T6, 406; T7, 237; PE, 58).

1Co.16:23 23. A graça do Senhor Jesus seja convosco.

A graça. Paulo conclui a epístola com uma bênção comum (ver Rm.16:24; 2Co.13:14; Cl.6:18).

1Co.16:24 24. O meu amor seja com todos vós, em Cristo Jesus.

Amor. Que bênção mais bela poderia seguir a repreensão dirigida àqueles que rejeitam o amor de Deus? Esta epístola, que lida de forma franca com determinados abusos na igreja, é encerrada com uma expressão de amor e de interesse pelo bem-estar eterno dos destinatários. O pós-escrito depois do v. 24 (ver KJV) não ocorre em nenhum manuscrito antigo. Seu conteúdo é incorreto, ao menos em parte, pois informa que o local em que a carta foi escrita é “Filipos”, ao passo que a própria epístola menciona o lugar de origem como Éfeso (1Co.16:8). O pós-escrito de um manuscrito uncial (P), do 9º século, diz “de Éfeso” em vez de “de Filipos”. Visto que a informação sobre o lugar de onde a carta foi escrita está errada, surge a pergunta quanto a se Estéfanas, Fortunato e Acaico foram os portadores da carta aos coríntios (ver com. do v. 1Co.16:17). O pós-escrito foi um acréscimo editorial posterior, não parte do registro original inspirado.